CHICÓ - Por que essa raiva dela?
JOÃO GRILO Ó homem sem vergonha! Você inda pergunta? Está esquecido de que ela o deixou? Está esquecido da exploração que eles fazem conosco naquela padaria do inferno? Pensam que são o cão só porque enriqueceram, mas um dia hão de pa- gar. E a raiva que eu tenho é porque quando estava doente, me acabando em cima de uma cama, via passar o prato de comida que ela mandava para o cachorro. Até carne passada na manteiga tinha.
Para mim nada, João Grilo que se danasse. Um dia eu me vingo.
CHICÓ - João, deixe de ser vingativo que você se desgraça. Qualquer dia você inda se mete numa embrulhada séria.
SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 35 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2005.
A partir da leitura do fragmento da peça o auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, conclui-se que:
A. O texto recupera aspectos da tradição dramática medieval, afastando-se, portanto, da estética clássica de origem greco-romana.
B. A palavra "auto", no título do texto, sugere que se trata de peça teatral de tradição popu- lar, porém isso é negado na estrutura do texto devido à presença de muitos personagens e à temática de crítica social.
C. O teor crítico da fala da personagem, entre outros aspectos, remete ao teatro Iluminista de Gil Vicente.
D. Na escrita, há traços regionalistas sulistas, visíveis na variação linguística da fala do per- sonagem, próxima da linguagem coloquial, que demonstra, também, sua classe social.
E. Sendo um texto de circulação predominantemente palaciano, a linguagem coloquial é utilizada como recurso linguístico para satirizar a classe social mais baixa.