Questão 7
A Casa de Detenção é a maior escola que um malandro tem. Na Detenção, um malandro fica malandro dos malandros. Entrei com o pé-frio no ano de 54, perturbei bem pouco e quase me virando sozinho, dei a maior onda de azar [...]. Uma virada do destino [...]. Um absurdo que Zião, sem querer, acabasse me levantando dúvidas bestas. É que fiz trinta anos e pensei umas coisas de minha vida [...]. Sou chamado às conversas comigo mesmo. E é uma porcaria. Meu nome é ninguém. Paulinho duma Perna Torta, de quem andam encurtando o nome por aí é uma mentira. Como foram Saracura, Marrom, Diabo Loiro, Bola Preta... e como são esses de hoje em dia, donos disso e daquilo [...]. A gente não é ninguém, a gente nunca foi. A gente some, apagado, qualquer hora dessas, em que a polícia ou outro mais malandro nos acerte.
– O que é qu’eu tenho feito?
A gente pensa que está subindo muito nos pontos de uma carreira, mas apenas está se chegando para mais perto do fim. E como percebo, de repente, quanto estou sozinho!
ANTONIO, J. Melhores contos. São Paulo: Global, 2013.
No fragmento de conto acima, narrado por um detento, os desvios da norma-padrão da língua portuguesa têm a função de
facilitar a leitura da narrativa.
induzir o leitor a condenar o narrador.
conferir toques realistas ao personagem.
aproximar o narrador de seu interlocutor.