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DAVI
Um dos contos presentes no livro "Laços de Família", de Clar...
Um dos contos presentes no livro "Laços de Família", de Clarice Lispector, acompanha a epifania da personagem Ana ao fugir de seus afazeres domésticos. Ela, que se via sentenciada a cuidar da casa e dos filhos, assemelha-se a muitas mulheres brasileiras, que exercem essa e outras tarefas diariamente, sem valorização e, até mesmo, sem remuneração. Nesse sentido, cabe analisar as causas socioeconômicas da invisibilidade do trabalho de cuidado no Brasil contemporâneo.
Em primeira perspectiva, a sociedade limita a mulher e sua função social ao ambiente caseiro e à realização de cuidados especiais. Isso ocorre porque, de acordo com o corpo social estabelecido, a essência cuidadosa é algo inerente ao feminino, muitas vezes associada à maternidade. Todavia, essa característica é construída e imposta às mulheres, que são frequentemente moldadas — assim como elucidado por Simone de Beauvoir: "Não se nasce mulher, torna-se". Esse cenário é instigado pela cultura patriarcal e machista da nação, que atribui o cuidado e o lar somente ao sexo feminino. Desse modo, esse trabalho é visto como uma obrigação da mulher, e não como um trabalho de fato, o que, por conseguinte, gera a desvalorização de tão importante exercício.
Ademais, o cuidado não é percebido com valor de mercado. Isso, porque não é uma atividade altamente lucrativa e produtiva, do ponto de vista mercadológico, o que, segundo Byung Chul-Han em "A Sociedade do cansaço", são fatores valorizados nos dias atuais. Esse panorama se dá pela lógica capitalista que norteia as relações de trabalho no mundo hoje, priorizando o lucro de indústrias e empresas em detrimento do cuidado com pessoas — majoritariamente exercido por mulheres. Consequentemente, há a má remuneração dessa ocupação, o que afeta a igualdade de gênero na inserção no mercado de trabalho e atrapalha a emancipação feminina.
Portanto, fazem-se evidentes as matrizes da invisibilidade do trabalho de cuidado em solo nacional. Logo, não se deve hesitar: são necessárias medidas para a erradicação da problemática. É responsabilidade, então, do Ministério da Educação — órgão federal que gere o ensino brasileiro — alterar a estrutura machista e patriarcal nas salas de aula. Isso pode ser feito por meio da inserção na Base Nacional Comum Curricular de formas de empoderamento feminino como assunto obrigatório na formação cidadã. Essa mudança deve ser alcançada com a finalidade de valorizar o trabalho exercido por mulheres, principalmente os mais invisíveis, como o de cuidado. [...] Quem sabe, assim, todas as "Anas" que cuidam do Brasil tornar-se-ão visíveis, valorizadas e prestigiadas.
Ana Luiza Coutinho
Ana Luiza Coutinho é uma estudante de 18 anos que gabaritou a redação do Enem 2023. Ela é do Rio de Janeiro e foi aprovada em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Disponível em: https://querobolsa.com.br/revista/redacoes-nota-1000-enem-2023 Acesso em: 22 mar. 2024.
(D07) 4 - No texto 02, a ideia defendida pela autora está no trecho:
A) “Um dos contos presentes no livro "Laços de Família", de Clarice Lispector, acompanha a epifania da personagem Ana ao fugir de seus afazeres domésticos.”
B) “Nesse sentido, cabe analisar as causas socioeconômicas da invisibilidade do trabalho de cuidado no Brasil contemporâneo.”
C) “...esse trabalho é visto como uma obrigação da mulher, e não como um trabalho de fato, o que, por conseguinte, gera a desvalorização de tão importante exercício.”
D) Consequentemente, há a má remuneração dessa ocupação, o que afeta a igualdade de gênero na inserção no mercado de trabalho e atrapalha a emancipação feminina.
E) Quem sabe, assim, todas as "Anas" que cuidam do Brasil tornar-se-ão visíveis, valorizadas e prestigiadas.
Um dos contos presentes no livro "Laços de Família", de Clarice Lispector, acompanha a epifania da personagem Ana ao fugir de seus afazeres domésticos. Ela, que se via sentenciada a cuidar da casa e dos filhos, assemelha-se a muitas mulheres brasileiras, que exercem essa e outras tarefas diariamente, sem valorização e, até mesmo, sem remuneração. Nesse sentido, cabe analisar as causas socioeconômicas da invisibilidade do trabalho de cuidado no Brasil contemporâneo. Em primeira perspectiva, a sociedade limita a mulher e sua função social ao ambiente caseiro e à realização de cuidados especiais. Isso ocorre porque, de acordo com o corpo social estabelecido, a essência cuidadosa é algo inerente ao feminino, muitas vezes associada à maternidade. Todavia, essa característica é construída e imposta às mulheres, que são frequentemente moldadas — assim como elucidado por Simone de Beauvoir: "Não se nasce mulher, torna-se". Esse cenário é instigado pela cultura patriarcal e machista da nação, que atribui o cuidado e o lar somente ao sexo feminino. Desse modo, esse trabalho é visto como uma obrigação da mulher, e não como um trabalho de fato, o que, por conseguinte, gera a desvalorização de tão importante exercício. Ademais, o cuidado não é percebido com valor de mercado. Isso, porque não é uma atividade altamente lucrativa e produtiva, do ponto de vista mercadológico, o que, segundo Byung Chul-Han em "A Sociedade do cansaço", são fatores valorizados nos dias atuais. Esse panorama se dá pela lógica capitalista que norteia as relações de trabalho no mundo hoje, priorizando o lucro de indústrias e empresas em detrimento do cuidado com pessoas — majoritariamente exercido por mulheres. Consequentemente, há a má remuneração dessa ocupação, o que afeta a igualdade de gênero na inserção no mercado de trabalho e atrapalha a emancipação feminina. Portanto, fazem-se evidentes as matrizes da invisibilidade do trabalho de cuidado em solo nacional. Logo, não se deve hesitar: são necessárias medidas para a erradicação da problemática. É responsabilidade, então, do Ministério da Educação — órgão federal que gere o ensino brasileiro — alterar a estrutura machista e patriarcal nas salas de aula. Isso pode ser feito por meio da inserção na Base Nacional Comum Curricular de formas de empoderamento feminino como assunto obrigatório na formação cidadã. Essa mudança deve ser alcançada com a finalidade de valorizar o trabalho exercido por mulheres, principalmente os mais invisíveis, como o de cuidado. [...] Quem sabe, assim, todas as "Anas" que cuidam do Brasil tornar-se-ão visíveis, valorizadas e prestigiadas. Ana Luiza Coutinho Ana Luiza Coutinho é uma estudante de 18 anos que gabaritou a redação do Enem 2023. Ela é do Rio de Janeiro e foi aprovada em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Disponível em: https://querobolsa.com.br/revista/redacoes-nota-1000-enem-2023 Acesso em: 22 mar. 2024.
(D07) 4 - No texto 02, a ideia defendida pela autora está no trecho:
A) “Um dos contos presentes no livro "Laços de Família", de Clarice Lispector, acompanha a epifania da personagem Ana ao fugir de seus afazeres domésticos.” B) “Nesse sentido, cabe analisar as causas socioeconômicas da invisibilidade do trabalho de cuidado no Brasil contemporâneo.” C) “...esse trabalho é visto como uma obrigação da mulher, e não como um trabalho de fato, o que, por conseguinte, gera a desvalorização de tão importante exercício.” D) Consequentemente, há a má remuneração dessa ocupação, o que afeta a igualdade de gênero na inserção no mercado de trabalho e atrapalha a emancipação feminina. E) Quem sabe, assim, todas as "Anas" que cuidam do Brasil tornar-se-ão visíveis, valorizadas e prestigiadas.