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DOI 1014393DL32v11n5a201715 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete considerações pedagógicas1 Sight Translation in interpreter training some pedagogical considerations Glória Regina Loreto Sampaio RESUMO A Tradução Oral à Prima Vista TrPV é um elemento de relevância para a formação do intérprete e um componente essencial para o desempenho do futuro profissional em muitos ambientes de atuação Consequentemente a prática da TrPV se faz presente em cursos de formação bem estruturados Neste escrito após uma breve referência à natureza complexidade e desafios impostos pela TrPV e tendo como base uma vivência docente extensa da autora será apresentada uma possível abordagem pedagógica voltada à aquisição da competência em TrPV e a um desempenho de qualidade nessa modalidade híbrida situada no espaço fronteiriço tradução escrita e tradução oral PALAVRASCHAVE Tradução Oral à Prima Vista Abordagem metodológica para ensinoaprendizagem da TrPV Formação de intérpretes ABSTRACT Sight Translation STr competence is a relevant element in interpreter training and an essential component of professional performance in several interpretation settings Therefore STr practice is an integral part of welldesigned interpreter training programs After a brief introduction to the characteristics and complexity of as well as the challenges imposed by STr and drawing on the extensive teaching experience of the author a pedagogical approach to the acquisition of STr skills and to competent performance in this hybrid oral translation mode will be suggested KEYWORDS Sight Translation Pedagogical approach and teaching methodology Interpreter training 1 Introdução A Tradução Oral à Prima Vista TrPV é de longa data percebida como uma atividade tradutóriointerpretativa de natureza híbrida por sua ancoragem na matriz da linguagem escrita como ponto de partida e na linguagem oral como ponto de chegada Essa característica é 1 Este texto referese a apresentação científica realizada durante o ENTRAD 2016 XII Encontro Nacional e VI Encontro Internacional de Tradutores Tradução e Inovação realizado em Uberlândia MG O conteúdo é parcialmente inspirado em apresentação feita na ATA NYC Conference 2009 e em texto da autora publicado nas Actas V Congreso Latinoamericano de Traducción e Interpretación do CTBA 2011 Doutora em Comunicação e Semiótica PUCSP atua como docente e pesquisadora no Departamento de Inglês Faculdade de Filosofia Comunicação Letras e Artes Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Email gloriasampaiohotmailcom Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1675 referida por vários estudiosos e pesquisadores dentre os quais podemos destacar Mikkelson 1994 e MoserMercer 1991 Outra característica importante da TrPV é ser ela considerada como uma modalidade tradutória simultânea visto sua execução ser marcada pelo imediatismo baixa recursividade e realização em tempo real Herbert 19522 ao discorrer sobre métodos de interpretação arrola a TrPV como uma das modalidades interpretativas simultâneas ao lado da interpretação sussurrada e da interpretação telefônica sendo que está última corresponderia à interpretação simultânea em cabine dos dias de hoje3 Ratificando a percepção da TrPV como modalidade simultânea Pöchhacker 2004 p 19 comenta A special type of simultaneous interpreting is the rendition of a written text at sight In sight translation the interpreters targettext production is simultaneous not with the delivery of the source text but with the interpreters realtime visual reception of the written source text Um aspecto relevante da TrPV é que a produção oral do intérprete deve soar tão natural e fluida que passe a impressão de que o intérprete está lendo um texto escrito no idioma que está utilizando ANGELELLI 19994 A esse cenário devemos acrescentar que existem diferentes modos de realização da TrPV Jiménez 1999 p 198 descreve cinco variedades i a TrPV ao bater do olho quando não é dado ao intérprete tempo para preparo prévio ii a TrPv preparada quando é concedido um pequeno espaço de tempo para o intérprete se familiarizar com o texto de partida iii a TrPV consecutiva quando o intérprete lê o texto todo e a seguir apresenta uma versão oral sintética ou explicativa do conteúdo do texto de partida iv a TrPV em interpretação 2 There are three varieties of simultaneous interpretation a Whispering when the interpreter whispers into the ear of one or two delegates occasionally three what is being said by the speaker b Telephonic simultaneous when the interpreter who generally listens to the original speech through earphones himself speaks into a microphone c Translation at sight when the interpreter is given a written text which he has never seen before and either directly or through a microphone reads it aloud at normal readingspeed in a language other than the one in which it is written HERBERT J The Interpreters Handbook How to Become a Conference Interpreter p 7 3 Acreditamos que tal denominação decorreria possivelmente do fato de o equipamento utilizado pelos intérpretes à época assemelharse àquele utilizado pelas telefonistas 4 Sight translation is an oral translation of a written text that should sound as if the interpreter were merely reading a document written in the target language ANGELELLI 1999 p 27 Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1676 consecutiva quando o palestrante lê em voz alta o texto escrito que será objeto da TrPV e a seguir o intérprete procede à reformulação oral na língua de chegada e v a intepretação simultânea com texto quando o intérprete que está realizando interpretação simultânea normalmente em cabine tem em mãos o texto escrito que serve de base para o discurso do palestrante Esta última variedade também conhecida pelos profissionais da área como interpretação simultânea documentada ou recitada é considerada a mais dificultosa por uma série de razões dentre as quais destacamos o input duplo texto de partida escrito e texto de partida oral e a possibilidade de discrepâncias entre o conteúdo do texto escrito e o texto oral de fato apresentado pelo palestrante Tais fatos podem criar enorme desconforto para o intérprete demandando maior esforço de atenção e de capacidade de processamento podendo até mesmo impossibilitar a execução da tarefa A recomendação é que em situações extremas o intérprete dê precedência ao input oral GILE 2009 p 183 No que concerne à importância e incidência da TrPV nos contextos interpretativos profissionais Jiménez 19995 afirma que a presença constante dessa modalidade interpretativa marca sua relevância como atividade tradutória Gile 20096 por sua vez esclarece que se comparada à interpretação simultânea e à interpretação consecutiva a TrPV é menos frequente na interpretação de conferências embora segundo informação pessoal recebida seja muito comum na interpretação de língua de sinais Pöchhacker 20047 assevera que a TrPV é sem dúvida parte integral da competência tradutória do intérprete Pelo viés pedagógico Viaggio 19928 e Weber 2008 19909 destacam o papel da TrPV como um exercício preparatório eficiente para outras modalidades da interpretação Sem dúvida podemos argumentar que por exigir do intérprete um esforço cognitivo considerável na consecução de tarefas múltiplas e concomitantes a TrPV antecipa e propicia 5 La única modalidad pura constante que participa en todos los tipos de traducción oral es la traducción a la vista La presencia constante de esta variedad de traducción marca su relevancia como actividad traductora JIMÉNEZ 1999 p 104 6 Sight translation is less frequent in conference interpreting than simultaneous or consecutive but is very common in signedlanguage interpreting according to a personal communication by Carol Patrie GILE 2009 p 178 7 There is no doubt that sight translation is an integral part of an interpreters translational competence PÖCHHACKER 2004 p 186 8 Personal experience has led me to believe that sight translation in general is perhaps the most effective and complete prelude to and preparation for attacking simultaneous interpretation VIAGGIO 1992 p 45 9 Just as consecutive interpretation is an ideal preparation for simultaneous interpretation sight translation may be equally useful as a preparation for both types of interpretation WEBER 2008 p 4550 Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1677 um trabalho de reformulação textual interlingual muito complexo que partilha muitas de suas demandas cognitivas como aquelas impostas pela interpretação simultânea Em seu Modelo dos Esforços Gile 19952009 elenca o Esforço de Leitura e Análise ou seja a intelecção do texto escrito o Esforço de Produção isto é a reformulação do conteúdo na língua de chegada o Esforço de Memória neste caso mais minimizado do que nas outras modalidades interpretativas e o Esforço de Coordenação administração dos demais Esforços conforme as necessidades especificas de cada momento e situação como componentes do modelo para a TrPV Reiterando essa visão mas expressandoa de outra maneira Syysnummi 2003 p 7 assinala que O intérprete tem de ler o texto fonte compreender o que está lendo traduzir e produzir a fala no outro idioma monitorar seu próprio discurso e como se essas tarefas não fossem suficientemente difíceis em si mesmas o intérprete tem de realizálas simultaneamente tradução nossa10 Estudos comparativos inovadores em situação experimental desenvolvidos por Jakobsen e Jensen 2008 no CRITT Centre for Research and Innovation in Translation and Translation Technology da Copenhagen Business School tendo como ferramenta o rastreamento do movimento do olho e suas fixações durante a realização de quatro tarefas a saber leitura simples leitura preparatória para tradução leitura com TrPV e leitura durante a digitação de tradução de um texto sugerem que a TrPV é comparativamente uma tarefa com maior demanda cognitiva do que as duas primeiras tarefas levadas a cabo no experimento11 Agregando aos pontos apresentados Agrifoglio 2004 p 99 destaca que a TrPV constitui uma técnica complexa e singular cujas demandas cognitivas para o intérprete 10 The interpreter has to read the source text comprehend what he is reading translate and produce the speech in another language monitor his own speech and as if these tasks were not difficult enough by themselves the interpreter has to do all of them simultaneously 11 Task 3 Reading while sight translating required more time more fixations and was more cognitively demanding than the earlier tasks for two reasons A sight translation had to be produced of the source text displayed on the screen and while translators were in the process of articulating the words their eyes were working to coordinate comprehension and translation processes this involved both reading source text and monitoring what portions of text had been dealt with and what portions were still waiting to be translated JAKOBSEN JENSEN 2008 p 121 Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1678 não são de modo algum menores do que as da interpretação simultânea a consecutiva tradução nossa12 Vale ainda lembrar que segundo Weber 2008 p 50 a realização da TrPV requer a maioria das habilidades exigidas de um intérprete de conferências com destaque à questão da velocidade de processamento O referido autor recomenda que no que tange à formação de futuros profissionais a TrPV deve ser introduzida logo no início da formação e mantida ao longo de todo o curso Tendo em mente que a TrPV é uma parte integral da competência em interpretação que é uma forma tradutóriointerpretativa de caráter híbrido e que é uma tarefa cognitiva complexa passemos à questão pedagógica e à proposta de uma possível sequência de passos metodológicos para o ensinoaprendizagem dessa forma de expressão tradutório interpretativa interlingual de caráter tão peculiar 2 A questão pedagógica passos metodológicos O objetivo da metodologia aqui sugerida é viabilizar o processo de construção da competência específica em TrPV ou seja fazer com que o intérprete em formação caminhe em direção a um desempenho compatível àquele de um intérprete profissional no que tange à TrPV Nesse sentido visualizamos um processo que engloba uma etapa inicial correspondente aos primeiros passos uma etapa intermediária em que ocorre uma prática intensiva e uma etapa posterior propiciando a consolidação e o refinamento da competência em TrPV 21 Etapa inicial Na etapa inicial a pergunta que paira na mente dos alunos é em geral e segundo vivência da autora em sala de aula a seguinte Do que se trata afinal O que almejamos Para responder de modo concreto a tal interrogação o professor exporá os alunos a exercícios introdutórios de TrPV realizados inicialmente de forma intuitiva ou seja por 12 a complex and unique technique whose cognitive demands on the interpreter by no means less than those of simultaneous and consecutive interpreting Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1679 exposição à tarefa em si Sugerimos começar pela direção da língua estrangeira para língua materna e posteriormente na direção inversa A partir dos desafios questionamentos dúvidas e resultados concretos seguemse momentos de reflexão e conscientização sobre a TrPV entremeados por intervenções do professor ou mesmo dos colegas de classe de forma a trazer à tona os princípios subjacentes a um bom desempenho O professor de maneira gradativa contínua e bem ponderada tendo como base os fatos e questões suscitadas pela situação real de exercício elencará os aspectos mais importantes com aportes conceituais sempre que for o caso e oferecerá encaminhamentos para as questões em curso de modo a responder às questões iniciais Nessa etapa haverá o necessário destaque aos fatores comumente envolvidos no processo tais como os saberes conhecimentos e competências exigidas na execução da TrPV Dentre outros os elementos linguísticos e extralinguísticos tais como os complementos cognitivos ligados ao contexto situacionalinterativo à bagagem cultural conhecimento de mundo e repertório Uma estratégia referida por Weber 19902008 p 45 e bastante conhecida pelos profissionais e formadores e que se deve logo fazer saber ao aluno é que na TrPV o olho do intérprete está sempre à frente daquilo que ele enuncia ou seja seu olhar busca sempre captar a unidade de sentido que ele irá processar na sequência àquela anterior que ele já está enunciando oralmente Especial atenção deve ser alocada à questão da desverbalização x transcodificação SELESKOVITCH LEDERER 1989 ou seja a reformulação do texto na língua de chegada deve ter como base o sentido apreendido e não a tradução mecanicista baseada apenas no significado linguístico do texto de origem Nessa mesma linha de pensamento devem ser enfatizadas as recomendações de Weber 19902008 p 50 Uma tradução palavraporpalavra nunca deve ser aceita o aluno deve analisar o texto o tempo todo Assegurese sempre de que os alunos apresentem a tradução como um discurso oral não como uma tradução escrita tradução nossa13 Outro ponto bastante delicado e muitas vezes bastante espinhoso é a passagem do discurso escrito ao discurso oral que exigirá a ativação de estratégias específicas para garantir 13 A wordforword translation should never be accepted the student should analyse the text at all times Always ensure that students give their rendition like a speech not a written translation Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1680 a fluidez e inteligibilidade da TrPV Caberá ao professor a partir das situações concretas em sala de aula orientar os futuros profissionais sobre como proceder em cada caso específico Ainda nessa etapa inicial entra a questão da avaliação da qualidade da TrPV Para tanto critérios claros e bem fundamentados devem não apenas ser trazidos aos alunos mas também ser aplicados aos exercícios em sala de aula por intermédio de dinâmicas variadas avaliação pelo professor pelos pares e autoavaliação Com base em propostas anteriores SAMPAIO 2007 2009 e com algumas atualizações sugerimos uma avaliação baseada na qualidade da compreensão do texto de origem omissões falhas na captação do sentido atenção a aspectos contextuais e marcadores culturais elementos discretos do texto tais como cifras acrônimos da produção do intérprete clareza inteligibilidade marcas de assertividade ou de hesitação elementos prosódicos ritmo entonação pronúncia qualidade da voz capacidade de se expressar em público dos aspectos gramatical e lexical do texto produzido estruturas sintáticas ausência ou incidência de erros regras de concordância recursos de vocabulário colocados e registro aderência exagerada a cognatos ou presença de falsos cognatos da reformulação da mensagem relação de equivalência entre o texto de origem e o texto de chegada qualidade da tradução precisão completude da mensagem desenvoltura e capacidade de solução de problemas gestão do discurso e do desempenho global Uma outra proposta de critérios avaliativos para TrPV tendo como foco a certificação de intérpretes para o serviço público DPSI Diploma in Public Service Interpreting do Reino Unido é apresentada pelo Chartered Institute of Linguists CIOL O modelo CIOL 2015 p 15 disponível online em um manual para os candidatos ao exame de certificação destaca três critérios maiores Completude Exatidão e Adequação Fluência e Pronúncia Para cada um desses critérios avaliativos é oferecida uma descrição sucinta do desempenho desejável É muito importante que no espaço de formação os critérios avaliativos adotados sejam utilizados de maneira consistente durante os exercícios de TrPV O levantamento dos acertos ou falhas no desempenho dos profissionais em formação deve estar sempre apoiado nos critérios adotados com ênfase em uma crítica construtiva em ambiente de ensino aprendizagem Desse modo haverá consistência na abordagem pedagógica e os alunos terão elementos objetivos pelos quais se pautar sentindose mais seguros no encaminhamento de soluções e adoção de estratégias eficientes Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1681 Nesta etapa inicial recomendamos trabalhar primeiramente a TrPV preparada isto é dando aos alunos um pequeno espaço de tempo algo em torno de 1 a 2 minutos para um texto de uma página para uma rápida leitura Em um segundo momento exercitálos na TrPV ao bater do olho começando com textos de atualidades e de baixa densidade informacional 22 Etapa intermediária Estando os alunos razoável e suficientemente cientes dos aspectos fundamentais que regem uma realização competente da TrPV o professor passa para a etapa intermediária caracterizada por uma prática intensiva abarcando exposição a uma ampla variedade de textos tópicos gêneros e registros com intensificação gradativa do nível de dificuldade dos textos A questão da pesquisa prévia ou posterior em relação aos tópicos abordados incluindo antecipação de possíveis dificuldades determinação e ampliação de conhecimentos sobre variados campos semânticos e decorrente expansão lexical assim como a questão da bidirecionalidade devem ser amplamente discutidas a cada passo e em cada situação de exercício de forma a enriquecer a percepção dos alunos sobre os desafios e estratégias para a consecução de uma TrPV bem realizada A busca e exploração de textos paralelos sobre os temas trabalhados em sala de aula é um recurso valioso para ampliação de repertório linguístico e conceitual Uma sugestão de caráter prático que funciona bem é o uso de textos paralelos nos dois ou mais idiomas de trabalho No caso dos alunos brasileiros a sugestão seria começar com a TrPV de um texto em língua estrangeira e a seguir realizar a TrPV de um texto paralelo na língua portuguesa momento esse em que os alunos muito provavelmente irão se valer do contexto cognitivo qual seja a memória recente armazenada do conteúdo e formas de expressão do texto em língua estrangeira construído na realização da primeira parte do exercício Esse tipo de abordagem sempre rende bons frutos Outra recomendação importante é que as apresentações devem em princípio ser com exposição ao olhar do público no caso os colegas de classe estando o aluno postado à frente da classe se possível em local um pouco elevado e bem visível isso para que o aluno se acostume a falar diante de uma plateia Apresentações gravadas podem também compor esse cenário Nos dois casos as apresentações devem ser objeto de um processo de avaliação contínua construída por comentários correções sugestões encaminhamentos Conforme enfatiza Weber 1990 2008 Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1682 p 50 Sempre grave o desempenho do aluno O único modo para corrigir idiossincrasias e maus hábitos na expressão oral é ouvirse em gravação tradução nossa14 Além das dinâmicas já referidas é recomendável dependendo da viabilidade uma avaliação formal por examinadores externos se possível envolvendo a participação de intérpretes profissionais e afiliados a associações de classe Evidentemente os critérios avaliativos anteriormente apresentados e discutidos continuarão a ser amplamente utilizados nesta etapa intermediária assim como na etapa que se segue As outras variedades de TrPV à exceção da simultânea com texto podem ser trabalhadas nesta etapa intermediária 23 Etapa posterior Esta última etapa tem como objetivo a consolidação e refinamento do processo de aquisição da competência em TrPV Nesse momento a recomendação é integrar da TrPV com as outras modalidades interpretativas ou seja a exploração de uma determinada temática com exercícios bidirecionais de TrPV e interpretação consecutiva eou simultânea conforme o caso Sugerese também a introdução de textos de maior complexidade assim como um forte incentivo a uma prática intensiva extraclasse seja de forma individual seja por exercícios em grupos de trabalho Nesta etapa é possível introduzir a interpretação simultânea com texto já mencionada anteriormente Contudo é aconselhável iniciar essa modalidade somente quando o desempenho dos alunos em interpretação simultânea em cabine esteja bem consolidado 3 Considerações finais Tendo em conta os diferentes aspectos da TrPV discutidos e a argumentação desenvolvida neste escrito assim como ratificando pontos elencados em trabalhos anteriores SAMPAIO 2007 2009 2011 acreditamos que a metodologia para o ensinoaprendizagem da TrPV deva idealmente atender aos seguintes propósitos maiores 14 Always record the students performance The only way to correct idiosyncrasies and poor speaking habits is through listening to ones own recordings Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1683 levar os alunos a uma conscientização crescente a respeito das especificidades e complexidades da TrPV assim como sobre sua relevância no exercício profissional propiciar condições adequadas para que os alunos pratiquem intensamente a TrPV identifiquem seus pontos positivos e negativos percebam quais são suas dificuldades mais recorrentes para que possam com o apoio e orientações do professor vencer gradativamente os obstáculos construir e aprimorar sua competência nessa modalidade de interpretação garantir que a TrPV seja praticada não apenas isoladamente mas que seja integrada a outras modalidades da intepretação no espaço de formação uma vez que tal será a realidade com que os alunos se depararão na vida profissional ajudar os alunos a compreender que a aquisição e aprimoramento dessa competência específica constitui um processo contínuo que exige dedicação e empenho um investimento para toda a vida Esperase que as considerações aqui apresentadas sem dúvida alguma restritas a apenas algumas das várias questões que envolvem a TrPV possam suscitar novas indagações e investigações profícuas sobre essa modalidade interpretativa simultânea instigante que por sua singularidade habita um espaço fronteiriço no âmbito das atividades tradutóriointerpretativas próprias do intérprete profissional Referências ANGELELLI C The Role of Reading in Sight Translation The ATA Chronicle Alexandria n 38 p 2730 1999 AGRIFOGLIO M Sight Translation and Interpreting A Comparative Analysis of Constraints and Failures Interpreting Amsterdam Philadelphia v 6 n 1 p 4367 2004 httpsdoiorg101075intp6105agr CIOL Chartered Institute of Linguists DPSI Handbook for Candidates 2015 Disponível em httpwwwciolorguksitesdefaultfilesHandbookDPSIpdf Acesso em 10 dez 2016 GILE D The effort models of interpreting In Basic Concepts and Models for Interpreter and Translator Training Amsterdam Philadelphia John Benjamins Publishing Company 2009 p 157190 httpsdoiorg101075intp11108gil Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1684 HERBERT J The Interpreters Handbook How to Become a Conference Interpreter Genève Librarie de LUniversité Georg Cie SA 1952 JAKOBSEN A L JENSEN K TH Eye movement behaviour across four different types of reading tasks Copenhagen Studies in Language Copenhagen v 36 2008 p 103124 JIMÉNEZ A La Traducción a la vista Un Análisis descriptivo 1999 415 f Tesis Doctorado en Lingüística i llengües Universitat Jaume I Facultat de Ciênces Humanes i Socials Castellón Espanha 2009 Disponível em httpwwwtdxcatbitstreamhandle1080310564jimeneztdxpdf1 Acesso em 17 set 2004 MIKKELSON H Text analysis exercises for sight translation In ANNUAL CONFERENCE OF THE AMERICAN TRANSLATORS ASSOCIATION 34 Metford 1994 Proceedings Metford NJL Learned Information 1994 p 381390 MOSERMERCER B Sight Translation and Human Information Processing FORUM ON TRANSLATION STUDIES 2 Kent 1991 Proceedings Kent Institute for Applied Linguistics 1991 p 159166 PÖCHHACKER F Introducing Interpreting Studies London New York Routledge 2004 SAMPAIO G R L Mastering Sight Translation Skills Tradução Comunicação São Paulo n 16 p 6369 2007 Sight Translation Step by Step Different Approaches to Interpreter Training CONFERENCE OF AMERICAN TRANSLATORS ASSOCIATION 50 New York 2009 Proceedings New York ATAs 50th Annual Conference 2009 Exploring the Interface Sight Translation in Translator and Interpreter Training CONGRESSO LATINOAMERICANO DE TRADUCCIÓN Y INTERPRÉTATION 5 Buenos Aires 2011 Actas Buenos Aires CTBA Editorial 2011 SELESKOVITCH D LEDERER M The Interpretation Process In A systematic Approach to Teaching Interpretation Translated by Jacolyn Harmer Luxembourg Office for Official Publications of the European Communities 1989 p 2126 SYYSNUMMI L Cognitive Load during Sight Translation an Experimental Study 2003 40 f Masters Degree Dissertation in Letters Translation Studies Program University of Turku Turku Finland 2003 VIAGGIO S The Praise of Sight Translation and squeezing the last drop thereout of The Interpreters Newsletter Trieste n 4 p 4558 1992 WEBER K W The Importance of Sight Translation in an Interpreter Training Program In BOWEN D BOWEN M Ed Amsterdam Philadelphia John Benjamins Company 2008 p 4452 httpsdoiorg101075ataiv10web Artigo recebido em 05012017 Artigo aprovado em 04062017
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DOI 1014393DL32v11n5a201715 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete considerações pedagógicas1 Sight Translation in interpreter training some pedagogical considerations Glória Regina Loreto Sampaio RESUMO A Tradução Oral à Prima Vista TrPV é um elemento de relevância para a formação do intérprete e um componente essencial para o desempenho do futuro profissional em muitos ambientes de atuação Consequentemente a prática da TrPV se faz presente em cursos de formação bem estruturados Neste escrito após uma breve referência à natureza complexidade e desafios impostos pela TrPV e tendo como base uma vivência docente extensa da autora será apresentada uma possível abordagem pedagógica voltada à aquisição da competência em TrPV e a um desempenho de qualidade nessa modalidade híbrida situada no espaço fronteiriço tradução escrita e tradução oral PALAVRASCHAVE Tradução Oral à Prima Vista Abordagem metodológica para ensinoaprendizagem da TrPV Formação de intérpretes ABSTRACT Sight Translation STr competence is a relevant element in interpreter training and an essential component of professional performance in several interpretation settings Therefore STr practice is an integral part of welldesigned interpreter training programs After a brief introduction to the characteristics and complexity of as well as the challenges imposed by STr and drawing on the extensive teaching experience of the author a pedagogical approach to the acquisition of STr skills and to competent performance in this hybrid oral translation mode will be suggested KEYWORDS Sight Translation Pedagogical approach and teaching methodology Interpreter training 1 Introdução A Tradução Oral à Prima Vista TrPV é de longa data percebida como uma atividade tradutóriointerpretativa de natureza híbrida por sua ancoragem na matriz da linguagem escrita como ponto de partida e na linguagem oral como ponto de chegada Essa característica é 1 Este texto referese a apresentação científica realizada durante o ENTRAD 2016 XII Encontro Nacional e VI Encontro Internacional de Tradutores Tradução e Inovação realizado em Uberlândia MG O conteúdo é parcialmente inspirado em apresentação feita na ATA NYC Conference 2009 e em texto da autora publicado nas Actas V Congreso Latinoamericano de Traducción e Interpretación do CTBA 2011 Doutora em Comunicação e Semiótica PUCSP atua como docente e pesquisadora no Departamento de Inglês Faculdade de Filosofia Comunicação Letras e Artes Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Email gloriasampaiohotmailcom Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1675 referida por vários estudiosos e pesquisadores dentre os quais podemos destacar Mikkelson 1994 e MoserMercer 1991 Outra característica importante da TrPV é ser ela considerada como uma modalidade tradutória simultânea visto sua execução ser marcada pelo imediatismo baixa recursividade e realização em tempo real Herbert 19522 ao discorrer sobre métodos de interpretação arrola a TrPV como uma das modalidades interpretativas simultâneas ao lado da interpretação sussurrada e da interpretação telefônica sendo que está última corresponderia à interpretação simultânea em cabine dos dias de hoje3 Ratificando a percepção da TrPV como modalidade simultânea Pöchhacker 2004 p 19 comenta A special type of simultaneous interpreting is the rendition of a written text at sight In sight translation the interpreters targettext production is simultaneous not with the delivery of the source text but with the interpreters realtime visual reception of the written source text Um aspecto relevante da TrPV é que a produção oral do intérprete deve soar tão natural e fluida que passe a impressão de que o intérprete está lendo um texto escrito no idioma que está utilizando ANGELELLI 19994 A esse cenário devemos acrescentar que existem diferentes modos de realização da TrPV Jiménez 1999 p 198 descreve cinco variedades i a TrPV ao bater do olho quando não é dado ao intérprete tempo para preparo prévio ii a TrPv preparada quando é concedido um pequeno espaço de tempo para o intérprete se familiarizar com o texto de partida iii a TrPV consecutiva quando o intérprete lê o texto todo e a seguir apresenta uma versão oral sintética ou explicativa do conteúdo do texto de partida iv a TrPV em interpretação 2 There are three varieties of simultaneous interpretation a Whispering when the interpreter whispers into the ear of one or two delegates occasionally three what is being said by the speaker b Telephonic simultaneous when the interpreter who generally listens to the original speech through earphones himself speaks into a microphone c Translation at sight when the interpreter is given a written text which he has never seen before and either directly or through a microphone reads it aloud at normal readingspeed in a language other than the one in which it is written HERBERT J The Interpreters Handbook How to Become a Conference Interpreter p 7 3 Acreditamos que tal denominação decorreria possivelmente do fato de o equipamento utilizado pelos intérpretes à época assemelharse àquele utilizado pelas telefonistas 4 Sight translation is an oral translation of a written text that should sound as if the interpreter were merely reading a document written in the target language ANGELELLI 1999 p 27 Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1676 consecutiva quando o palestrante lê em voz alta o texto escrito que será objeto da TrPV e a seguir o intérprete procede à reformulação oral na língua de chegada e v a intepretação simultânea com texto quando o intérprete que está realizando interpretação simultânea normalmente em cabine tem em mãos o texto escrito que serve de base para o discurso do palestrante Esta última variedade também conhecida pelos profissionais da área como interpretação simultânea documentada ou recitada é considerada a mais dificultosa por uma série de razões dentre as quais destacamos o input duplo texto de partida escrito e texto de partida oral e a possibilidade de discrepâncias entre o conteúdo do texto escrito e o texto oral de fato apresentado pelo palestrante Tais fatos podem criar enorme desconforto para o intérprete demandando maior esforço de atenção e de capacidade de processamento podendo até mesmo impossibilitar a execução da tarefa A recomendação é que em situações extremas o intérprete dê precedência ao input oral GILE 2009 p 183 No que concerne à importância e incidência da TrPV nos contextos interpretativos profissionais Jiménez 19995 afirma que a presença constante dessa modalidade interpretativa marca sua relevância como atividade tradutória Gile 20096 por sua vez esclarece que se comparada à interpretação simultânea e à interpretação consecutiva a TrPV é menos frequente na interpretação de conferências embora segundo informação pessoal recebida seja muito comum na interpretação de língua de sinais Pöchhacker 20047 assevera que a TrPV é sem dúvida parte integral da competência tradutória do intérprete Pelo viés pedagógico Viaggio 19928 e Weber 2008 19909 destacam o papel da TrPV como um exercício preparatório eficiente para outras modalidades da interpretação Sem dúvida podemos argumentar que por exigir do intérprete um esforço cognitivo considerável na consecução de tarefas múltiplas e concomitantes a TrPV antecipa e propicia 5 La única modalidad pura constante que participa en todos los tipos de traducción oral es la traducción a la vista La presencia constante de esta variedad de traducción marca su relevancia como actividad traductora JIMÉNEZ 1999 p 104 6 Sight translation is less frequent in conference interpreting than simultaneous or consecutive but is very common in signedlanguage interpreting according to a personal communication by Carol Patrie GILE 2009 p 178 7 There is no doubt that sight translation is an integral part of an interpreters translational competence PÖCHHACKER 2004 p 186 8 Personal experience has led me to believe that sight translation in general is perhaps the most effective and complete prelude to and preparation for attacking simultaneous interpretation VIAGGIO 1992 p 45 9 Just as consecutive interpretation is an ideal preparation for simultaneous interpretation sight translation may be equally useful as a preparation for both types of interpretation WEBER 2008 p 4550 Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1677 um trabalho de reformulação textual interlingual muito complexo que partilha muitas de suas demandas cognitivas como aquelas impostas pela interpretação simultânea Em seu Modelo dos Esforços Gile 19952009 elenca o Esforço de Leitura e Análise ou seja a intelecção do texto escrito o Esforço de Produção isto é a reformulação do conteúdo na língua de chegada o Esforço de Memória neste caso mais minimizado do que nas outras modalidades interpretativas e o Esforço de Coordenação administração dos demais Esforços conforme as necessidades especificas de cada momento e situação como componentes do modelo para a TrPV Reiterando essa visão mas expressandoa de outra maneira Syysnummi 2003 p 7 assinala que O intérprete tem de ler o texto fonte compreender o que está lendo traduzir e produzir a fala no outro idioma monitorar seu próprio discurso e como se essas tarefas não fossem suficientemente difíceis em si mesmas o intérprete tem de realizálas simultaneamente tradução nossa10 Estudos comparativos inovadores em situação experimental desenvolvidos por Jakobsen e Jensen 2008 no CRITT Centre for Research and Innovation in Translation and Translation Technology da Copenhagen Business School tendo como ferramenta o rastreamento do movimento do olho e suas fixações durante a realização de quatro tarefas a saber leitura simples leitura preparatória para tradução leitura com TrPV e leitura durante a digitação de tradução de um texto sugerem que a TrPV é comparativamente uma tarefa com maior demanda cognitiva do que as duas primeiras tarefas levadas a cabo no experimento11 Agregando aos pontos apresentados Agrifoglio 2004 p 99 destaca que a TrPV constitui uma técnica complexa e singular cujas demandas cognitivas para o intérprete 10 The interpreter has to read the source text comprehend what he is reading translate and produce the speech in another language monitor his own speech and as if these tasks were not difficult enough by themselves the interpreter has to do all of them simultaneously 11 Task 3 Reading while sight translating required more time more fixations and was more cognitively demanding than the earlier tasks for two reasons A sight translation had to be produced of the source text displayed on the screen and while translators were in the process of articulating the words their eyes were working to coordinate comprehension and translation processes this involved both reading source text and monitoring what portions of text had been dealt with and what portions were still waiting to be translated JAKOBSEN JENSEN 2008 p 121 Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1678 não são de modo algum menores do que as da interpretação simultânea a consecutiva tradução nossa12 Vale ainda lembrar que segundo Weber 2008 p 50 a realização da TrPV requer a maioria das habilidades exigidas de um intérprete de conferências com destaque à questão da velocidade de processamento O referido autor recomenda que no que tange à formação de futuros profissionais a TrPV deve ser introduzida logo no início da formação e mantida ao longo de todo o curso Tendo em mente que a TrPV é uma parte integral da competência em interpretação que é uma forma tradutóriointerpretativa de caráter híbrido e que é uma tarefa cognitiva complexa passemos à questão pedagógica e à proposta de uma possível sequência de passos metodológicos para o ensinoaprendizagem dessa forma de expressão tradutório interpretativa interlingual de caráter tão peculiar 2 A questão pedagógica passos metodológicos O objetivo da metodologia aqui sugerida é viabilizar o processo de construção da competência específica em TrPV ou seja fazer com que o intérprete em formação caminhe em direção a um desempenho compatível àquele de um intérprete profissional no que tange à TrPV Nesse sentido visualizamos um processo que engloba uma etapa inicial correspondente aos primeiros passos uma etapa intermediária em que ocorre uma prática intensiva e uma etapa posterior propiciando a consolidação e o refinamento da competência em TrPV 21 Etapa inicial Na etapa inicial a pergunta que paira na mente dos alunos é em geral e segundo vivência da autora em sala de aula a seguinte Do que se trata afinal O que almejamos Para responder de modo concreto a tal interrogação o professor exporá os alunos a exercícios introdutórios de TrPV realizados inicialmente de forma intuitiva ou seja por 12 a complex and unique technique whose cognitive demands on the interpreter by no means less than those of simultaneous and consecutive interpreting Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1679 exposição à tarefa em si Sugerimos começar pela direção da língua estrangeira para língua materna e posteriormente na direção inversa A partir dos desafios questionamentos dúvidas e resultados concretos seguemse momentos de reflexão e conscientização sobre a TrPV entremeados por intervenções do professor ou mesmo dos colegas de classe de forma a trazer à tona os princípios subjacentes a um bom desempenho O professor de maneira gradativa contínua e bem ponderada tendo como base os fatos e questões suscitadas pela situação real de exercício elencará os aspectos mais importantes com aportes conceituais sempre que for o caso e oferecerá encaminhamentos para as questões em curso de modo a responder às questões iniciais Nessa etapa haverá o necessário destaque aos fatores comumente envolvidos no processo tais como os saberes conhecimentos e competências exigidas na execução da TrPV Dentre outros os elementos linguísticos e extralinguísticos tais como os complementos cognitivos ligados ao contexto situacionalinterativo à bagagem cultural conhecimento de mundo e repertório Uma estratégia referida por Weber 19902008 p 45 e bastante conhecida pelos profissionais e formadores e que se deve logo fazer saber ao aluno é que na TrPV o olho do intérprete está sempre à frente daquilo que ele enuncia ou seja seu olhar busca sempre captar a unidade de sentido que ele irá processar na sequência àquela anterior que ele já está enunciando oralmente Especial atenção deve ser alocada à questão da desverbalização x transcodificação SELESKOVITCH LEDERER 1989 ou seja a reformulação do texto na língua de chegada deve ter como base o sentido apreendido e não a tradução mecanicista baseada apenas no significado linguístico do texto de origem Nessa mesma linha de pensamento devem ser enfatizadas as recomendações de Weber 19902008 p 50 Uma tradução palavraporpalavra nunca deve ser aceita o aluno deve analisar o texto o tempo todo Assegurese sempre de que os alunos apresentem a tradução como um discurso oral não como uma tradução escrita tradução nossa13 Outro ponto bastante delicado e muitas vezes bastante espinhoso é a passagem do discurso escrito ao discurso oral que exigirá a ativação de estratégias específicas para garantir 13 A wordforword translation should never be accepted the student should analyse the text at all times Always ensure that students give their rendition like a speech not a written translation Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1680 a fluidez e inteligibilidade da TrPV Caberá ao professor a partir das situações concretas em sala de aula orientar os futuros profissionais sobre como proceder em cada caso específico Ainda nessa etapa inicial entra a questão da avaliação da qualidade da TrPV Para tanto critérios claros e bem fundamentados devem não apenas ser trazidos aos alunos mas também ser aplicados aos exercícios em sala de aula por intermédio de dinâmicas variadas avaliação pelo professor pelos pares e autoavaliação Com base em propostas anteriores SAMPAIO 2007 2009 e com algumas atualizações sugerimos uma avaliação baseada na qualidade da compreensão do texto de origem omissões falhas na captação do sentido atenção a aspectos contextuais e marcadores culturais elementos discretos do texto tais como cifras acrônimos da produção do intérprete clareza inteligibilidade marcas de assertividade ou de hesitação elementos prosódicos ritmo entonação pronúncia qualidade da voz capacidade de se expressar em público dos aspectos gramatical e lexical do texto produzido estruturas sintáticas ausência ou incidência de erros regras de concordância recursos de vocabulário colocados e registro aderência exagerada a cognatos ou presença de falsos cognatos da reformulação da mensagem relação de equivalência entre o texto de origem e o texto de chegada qualidade da tradução precisão completude da mensagem desenvoltura e capacidade de solução de problemas gestão do discurso e do desempenho global Uma outra proposta de critérios avaliativos para TrPV tendo como foco a certificação de intérpretes para o serviço público DPSI Diploma in Public Service Interpreting do Reino Unido é apresentada pelo Chartered Institute of Linguists CIOL O modelo CIOL 2015 p 15 disponível online em um manual para os candidatos ao exame de certificação destaca três critérios maiores Completude Exatidão e Adequação Fluência e Pronúncia Para cada um desses critérios avaliativos é oferecida uma descrição sucinta do desempenho desejável É muito importante que no espaço de formação os critérios avaliativos adotados sejam utilizados de maneira consistente durante os exercícios de TrPV O levantamento dos acertos ou falhas no desempenho dos profissionais em formação deve estar sempre apoiado nos critérios adotados com ênfase em uma crítica construtiva em ambiente de ensino aprendizagem Desse modo haverá consistência na abordagem pedagógica e os alunos terão elementos objetivos pelos quais se pautar sentindose mais seguros no encaminhamento de soluções e adoção de estratégias eficientes Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1681 Nesta etapa inicial recomendamos trabalhar primeiramente a TrPV preparada isto é dando aos alunos um pequeno espaço de tempo algo em torno de 1 a 2 minutos para um texto de uma página para uma rápida leitura Em um segundo momento exercitálos na TrPV ao bater do olho começando com textos de atualidades e de baixa densidade informacional 22 Etapa intermediária Estando os alunos razoável e suficientemente cientes dos aspectos fundamentais que regem uma realização competente da TrPV o professor passa para a etapa intermediária caracterizada por uma prática intensiva abarcando exposição a uma ampla variedade de textos tópicos gêneros e registros com intensificação gradativa do nível de dificuldade dos textos A questão da pesquisa prévia ou posterior em relação aos tópicos abordados incluindo antecipação de possíveis dificuldades determinação e ampliação de conhecimentos sobre variados campos semânticos e decorrente expansão lexical assim como a questão da bidirecionalidade devem ser amplamente discutidas a cada passo e em cada situação de exercício de forma a enriquecer a percepção dos alunos sobre os desafios e estratégias para a consecução de uma TrPV bem realizada A busca e exploração de textos paralelos sobre os temas trabalhados em sala de aula é um recurso valioso para ampliação de repertório linguístico e conceitual Uma sugestão de caráter prático que funciona bem é o uso de textos paralelos nos dois ou mais idiomas de trabalho No caso dos alunos brasileiros a sugestão seria começar com a TrPV de um texto em língua estrangeira e a seguir realizar a TrPV de um texto paralelo na língua portuguesa momento esse em que os alunos muito provavelmente irão se valer do contexto cognitivo qual seja a memória recente armazenada do conteúdo e formas de expressão do texto em língua estrangeira construído na realização da primeira parte do exercício Esse tipo de abordagem sempre rende bons frutos Outra recomendação importante é que as apresentações devem em princípio ser com exposição ao olhar do público no caso os colegas de classe estando o aluno postado à frente da classe se possível em local um pouco elevado e bem visível isso para que o aluno se acostume a falar diante de uma plateia Apresentações gravadas podem também compor esse cenário Nos dois casos as apresentações devem ser objeto de um processo de avaliação contínua construída por comentários correções sugestões encaminhamentos Conforme enfatiza Weber 1990 2008 Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1682 p 50 Sempre grave o desempenho do aluno O único modo para corrigir idiossincrasias e maus hábitos na expressão oral é ouvirse em gravação tradução nossa14 Além das dinâmicas já referidas é recomendável dependendo da viabilidade uma avaliação formal por examinadores externos se possível envolvendo a participação de intérpretes profissionais e afiliados a associações de classe Evidentemente os critérios avaliativos anteriormente apresentados e discutidos continuarão a ser amplamente utilizados nesta etapa intermediária assim como na etapa que se segue As outras variedades de TrPV à exceção da simultânea com texto podem ser trabalhadas nesta etapa intermediária 23 Etapa posterior Esta última etapa tem como objetivo a consolidação e refinamento do processo de aquisição da competência em TrPV Nesse momento a recomendação é integrar da TrPV com as outras modalidades interpretativas ou seja a exploração de uma determinada temática com exercícios bidirecionais de TrPV e interpretação consecutiva eou simultânea conforme o caso Sugerese também a introdução de textos de maior complexidade assim como um forte incentivo a uma prática intensiva extraclasse seja de forma individual seja por exercícios em grupos de trabalho Nesta etapa é possível introduzir a interpretação simultânea com texto já mencionada anteriormente Contudo é aconselhável iniciar essa modalidade somente quando o desempenho dos alunos em interpretação simultânea em cabine esteja bem consolidado 3 Considerações finais Tendo em conta os diferentes aspectos da TrPV discutidos e a argumentação desenvolvida neste escrito assim como ratificando pontos elencados em trabalhos anteriores SAMPAIO 2007 2009 2011 acreditamos que a metodologia para o ensinoaprendizagem da TrPV deva idealmente atender aos seguintes propósitos maiores 14 Always record the students performance The only way to correct idiosyncrasies and poor speaking habits is through listening to ones own recordings Glória Regina L Sampaio p 16741684 Tradução Oral à Prima Vista na formação do intérprete Domínios de Lingugem Uberlândia vol 11 n 5 dez 2017 ISSN 19805799 1683 levar os alunos a uma conscientização crescente a respeito das especificidades e complexidades da TrPV assim como sobre sua relevância no exercício profissional propiciar condições adequadas para que os alunos pratiquem intensamente a TrPV identifiquem seus pontos positivos e negativos percebam quais são suas dificuldades mais recorrentes para que possam com o apoio e orientações do professor vencer gradativamente os obstáculos construir e aprimorar sua competência nessa modalidade de interpretação garantir que a TrPV seja praticada não apenas isoladamente mas que seja integrada a outras modalidades da intepretação no espaço de formação uma vez que tal será a realidade com que os alunos se depararão na vida profissional ajudar os alunos a compreender que a aquisição e aprimoramento dessa competência específica constitui um processo contínuo que exige dedicação e empenho um investimento para toda a vida Esperase que as considerações aqui apresentadas sem dúvida alguma restritas a apenas algumas das várias questões que envolvem a TrPV possam suscitar novas indagações e investigações profícuas sobre essa modalidade interpretativa simultânea instigante que por sua singularidade habita um espaço fronteiriço no âmbito das atividades tradutóriointerpretativas próprias do intérprete profissional Referências ANGELELLI C The Role of Reading in Sight Translation The ATA Chronicle Alexandria n 38 p 2730 1999 AGRIFOGLIO M Sight 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