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Pedro Duarte E EDITORA PUC RIO asa da Palavra ABERTURA O MODERNISMO NA HISTÓRIA atas são símbolos Não é diferente com 1922 para a cultura do Brasil O ano em que se realizou a célebre Semana de Arte Moderna evidentemente não inaugurou a entrada do pais no horizonte estético ocidental da época Muito já se fazia de arte moderna antes e muito só seria feito depois O caráter simbólico da Semana de 22 reside menos nas obras apresentadas naqueles três afamados dias de fevereiro no Teatro Municipal de São Paulo embora elas também contem e mais em ser ela a primeira expressão coletiva de vanguarda da cultura brasileira Por isso os textos chamados de manifestos proliferaram desde então Foi a partir da Semana de 22 que se sistematizou um desejo programático autoconsciente e grupal de atualização estética diante do que acontecia na Europa coerentemente desdobrado num projeto de naçãoo Modernismo Ëpoca nenhuma da história foi mais propícia à nossa entrada no concerto das nações pois RBERTURR 0 MODERNISMO NA HISTORIR que estamos na época do desconcerto escrevia Oswald de Andrade Revelava assim não sóo anseio de tomar parte no projeto civilizacional moderno através da arte mas um diag nostico crítico deste projeto O concerto ocidental estara desconcertado e dal o interesse de se destacar uma contr Duiçao que sem se situar inteiramente fora dele tampoUCo encaixavase completamente derntro dele o Brasil Nesse sentido o que poderia parecer somente defeto e aberração quando comparamos o Modernismo brasileiro com seus parentes no mundo tornase em vez disso sua potência mais intima porque original diante do modelo prévio Eo que a modernidade periférica da arte latinoamericana como chama a crítica argentina Beatriz Sarlo tem a ofe recer em um mundo cuja globalização tornouse a cada dia mais desconcertada Se a diversidade cultural pode ser uma ideia tranquilizadora conforme pensa Fredric Jameson que somente particulariza a Modernidade em tipos locais fora do estilo europeu e anglosaxão mas acata intacto o padrão universal do mercado capitalista cabe perguntar se a periferia ainda pode se apresentar criticamente nesse sistema através de sua singularidade sem apelar para exotismos banais Pensar a arte e o Brasil de uma tacada só era o compromisso do Modernismo determinante no século XX Se essa articulação faz sentido no século XXI só podemos avaliar conhecendo sua história Meu objetivo neste livro é contála dando ênfase a ideias defendidas em manifestos e obras a fim de escutar a palavra modernista Reatualizando o discurso acerca da nação que pros perara no Romantismo alemão desde o século XVII o Modernismo brasileiro considerava que o espírito do país encontravase nas fontes culturais do povo e procurou então associálas a uma arte vanguardista Conhecendo na formação primitiva das nacionalidades o quanto importa 1 Oswald de Andrade Memórias sentimentais de João Miramar p 10 2 Beatriz Sarlo Modernidade peritérica Buenos Aires 1920 e 1930 3 Fredric Jameson Modernidade singular ensaio sobre a ontologia do presente p 22 que estamos na época do desconcerto escrevia Oswald de Andrade Revelava assim não só o anseio de tomar parte no projeto civilizacional moderno através da arte mas um diag nostico critico deste projeto O concerto ocidental estara desconcertado e dal o interesse de se destacar uma contr Duiçao que sem se situar inteiramente fora dele tampouco encaixavase completamente dentro dele o Brasil Nesse sentido o que poderia parecer somente deterto e aberração quando comparamos o Modernismo brasileiro Com seus parentes no mundo tornase em vez disso 8ua potência mais intima porque original diante do modelo prévio Eo que a modernidade periférica da arte latinoamericana como chama a critica argentina Beatriz Sarlo tem a ofe recer em um mundo cuja globalização tornouse a cada dia mais desconcertada Se a diversidade cultural pode ser uma ideia tranquilizadora conforme pensa Fredric Jameson que somente particulariza a Modernidade em tipos locais fora do estilo europeu e anglosaxão mas acata intacto o padrão universal do mercado capitalista cabe perguntar se a periferia ainda pode se apresentar criticamente nesse sistema através de sua singularidade sem apelar para exotismos banais Pensar a arte e o Brasil de uma tacada só era o compromisso do Modernismo determinante no século XX Se essa articulação faz sentido no século XXIl só podemos avaliar conhecendo sua história Meu objetivo neste livro contála dando énfase a ideias defendidas em manifestos e obras a fim de escutar a palavra modernista Reatualizando o discurso acerca da nação que pros perara no Romantismo alemão desde o século XVIl o Modernismo brasileiro considerava que o espirito do pais encontravase nas fontes culturais do povo e procurou então associálas a uma arte vanguardista Conhecendo na formação primitiva das nacionalidades o quanto importa 1 Oswald de Andrade Memórias sentimentais de João Miramar p 10 2 Beatriz Sarlo Modernidade periférica Buenos Aires 1920 e 1930 3 Fredric Jameson Modernidade singular ensaio sobre a ontologia do presente p 22 a Ccaracteres daria nacional porque poe a mosira lieder a tematica len is do que tinham feito nos icos e sabendo mais Andrade psicologico Lenau etc reconheceu Mario de An y Goethe Heine Len brasileirandoo 0 processo can Wg ao de seguir abras tive intenc lemaes E assim foi O exemplo alemo era maes tador desses ale re de forma consciente E ido mesmo que nem semp seguido da época moderna que assim como os alemaes no alvorecer p ma os brasileiros no comeco do século XX constitulam u periferia da cultura ocidental e Precisavam procurar sua identidade entre 0 ja inevitavel pertencimento a este todo e a descoberta de sua diferenca enquanto uma parte dele Por isso 0 Modernismo embora Seja um movimento artistico foi também um movimento de Pensamento O lugar dos livros de Mario de Andrade e Oswald de Andrade nas Prateleiras da estante pode ser tanto préximo de Obras literdrias quanto de classicos sobre a formacao do Brasil como aqueles de Sérgio Buarque de Holanda Gilberto Freyre e Caio Prado Jr Todos Perguntavam quem somos Nos brasileiros No caso Modernista a resposta passava Pela arte pois a brasilidade S existisse seria tanto descoberta quanto criada Socialmente Modernismo brasileiro foi feito por uma i Como Nunca antes Contudo buscou Contato com a diner do pais Olhavase 9 futuro com otimismo tic O pov ee Presente alteraria aS relacées como Passado a Outrora Constituido de SCravos e ainda basica mente an al abeto Converteuse em Involuntario ducador dos artistas alienados do Pais os despaisadogs Dara Expressao io USar aq oie ck a Ue Por isso mMpreendey viagens 8tno Fasil como turista a rendiz ndiz tinha em vista P aprendizado NO sua re r Sua assim Producao NgEnua ou naif e si nimlagao Moderna Proprio Mario ue trata de Sistema SClarece ue Matizacdo que se a dmitindo Se oy ne i ata nado fotografia do Popular SSE egga gi UM escrito sentiments Sistematizacao U Seria almente Popular e quero ge rum Escritor 4 Mario de Andrade Mario de A d 5 Mario de Andrade A rade screve Cartac a MOD ERN ISMO A ORIGEM DOS MANIFESTOS esde o manifesto que fundou o gênero como o conhe cemos o Manifesto comunista de 1848 esse tipo de discurso preocuparase tanto com seu assunto quanto com o modo de expressálo Lero texto de Karl Marx e Friedrich Engels é uma experiência tão politica quanto esté tica Sua força veio dessa aliança Já a primeira frase um espectro ronda a Europa o espectro do comunismo cria uma emoção de suspense misto de ameaça e expectativa que prende o leitor O que virá depois Essa é a pergunta que nos acossa armando a estratégia retórica explosiva graças å qual o texto espraiouse pelo mundo O futuro revolucionário em que Max e Engels apostaram no manifesto não veio até agora maso próprio manifesto teve um grande futuro E um documento histórico fundamental da era moderna Marshal Berman observou que a imaginação do Manifesto comunista captava possibilidades luminosas e perturbadoras da Vida 1 Karl Marx e Friedrich Engels Manifesto do Partido Comunista p 93 moderna concluindo que era a primeira grand arte modernista2 Não exagerou muito não foi o primeiro ainda que funde o gênero em sua forma moderna E que antes dele manifestos eram feitos porem em sentido diferente Reis e principes tinham m a n i f e s t o s nos quais comunicavam ao povo decisões já tomadas as leis ou seja era subscrita a autoridade do sistema político Na verdade entretanto o manifesto de Marxe tn uOminante e sem elementos estéticos notáveis O contrário OCorre quando a partir do século XVII pobres oprimidos 0s Diggers and the Levellers são o marco inicial da Inglaterra valemse do nome manifesto para expressar as suas reivindi cações De instrumento do poder individual ele se tornava agora contestação coletiva do poder Herdeiro dessa tradição mas a elevando a unm patamar sem precedentes surge o Manifesto comunista Sua origi nalidade foi perceber que a resistência ao poder exigia uma linguagem tão ou mais vigorosa que a do poder estabelecido e que a sua fonte seria a sensibilidade histórica moderna do presente Mais tarde durante a Revolução Russa o poeta Maiakovski diria numa frase famosa que só há conteúdo revolucionário com forma revolucionária Marx a rigor já tinha essa consciência quando buscou a poesia da revolução em seu texto Bertolt Brecht a percebeu e buscou traduzir omani festo em versos num longo poema no qual trabalhou entre as décadas de 1940 e 1950 Contudo o resultado parece ao fim menos bemsucedido do que o próprio texto de Marx O manifesto mudou com o tempo portanto mas o tempo concebido pelo manifesto também mudou Se antes delibe rações já passadas eram transmitidas agora possibilidades futuras serão anunciadas Modernamente o manifesto volta 2 Marshall Berman Tudo que sólido desmancha no ar a aventura da moderni dade p 101 3 Luca Somigli Legitimizing the Artist Manifesto Writing and Eruropean Mode 18851915 p 2945 4 Bertold Brecht O manifesto Tradução de Marcelo Backes itn P Por Vir Nesta Sua form que sofrera alteracées depois 9 Manifesto endos a ginal ralidade das filosofias da historia do SéCulo XIX P 8 tempo o futuro Rompiase com o Passado Eo Presente vse mM fazer a critica dialéticg desse Passado g Ser Supe deveris 35 aquele futuro ado por Inspirada na filosofia alema de Hegel essa e8trutura dialética foi a Matriz temporal Que Orlentoy Nicialmente manifesto O Passado faz as vezes da tese 6 a tradica dada O presente seria a antitese que S Ope ao Passady eé realizada Concretamente POr alguma evolugao Cujo prototipo seria a Franca de 1789 Eo futuro qe nasce dai faz as vezes da Sintese Conciliadora Utdopica O fildsofo alemao vé uma ruptura do Presente Moderno na histdria o passado submerge e d4 lugar ao go Nascente que revela num clardo a imagem do NOVO mundos5 Hegel Porém jamais teria escrito um Manifesto Pois Para ele a filosofia NO possui a tarefa de interferéncia direta no momento Presente Caberia a ela so Compreender esse Processo Sey discipulo Marx embora endosse 9 raciocinio dialético do mestre sobre aq historia eo Seu apelo para Pensa la universalmente M vez de apenas local e nacionalmente julga que Os fildsofos ja interpretaram demais o mundo tratandose agora de transformaloé Ele concede Papel ativo para o fildsofo no Presente que deve ajudar no nasci Mento do so que iluminaria 6 Novo mundo histérico Por isso pertinente que escreva um manifesto Se o Capitalismo seria implodido através das suas Proprias Contradiées internas até alcancar Sua superacado numa sociedade sem diferencas de Classes 9 Manifesto Conscientizaria os trabalhadores para atuarem Nessa luta O Manifesto Comunista ganha assim a forma de uma Narrativa Ele Conta uma historia No entanto nado somente a Conta mas Pretende Participar dela intervir nela Eis ai uma ie eget Fenomenologia 00 espirito Parte p26 bB bA Ah deologia alema p 103 STOS característica essencial de todo manifesto sua posição e Simultaneamente a do narrador e a do ator Ele é visao e atuação entendimento e movimento Ele adentra a história que nara Nenhum manifesto é neutro Pretende contribur para a transformação que considera necessária Manifestos sao combativos Sao ativos Ouerem contar e fazer história São além disso um convite Marx e Engels terminam con clamando Univos Evidentemente contudo há aqui um problema Palavras contam histórias mas são os atos que as fazem Manifestos são palavras frases linguagem Como poderiam participar ativamente da história Martin Puchner sugere a hipótese de que os manifestos encaixamse no que o filósofo J L Austin chama de atos de fala Palavras como as do padre ao declarar as pessoas casadas são atos de fala pois são ação e discurso ao mesmo tempo O que elas dizem tem efeito imediato fora da linguagem solteiros tornam se casados por exemplo Ou seja o efeito da linguagem extravasa a si própria e afeta o ser diretamente Entretanto esse esquema só funciona quando o falante detém uma autoridade graças à qual o que ele fala é também feito o padre no exemplo O manifesto moderno contudo é uma contestação do poder o que significa que não o detém Eis aqui o decisivo sua autoridade não viria do presente e sim do futuro um futuro a ser cumprido graças ao que o próprio manifesto diz Ele deseja usurpar a autoridade existente em nome de uma que ainda não existe e quue Ihe daria a legitimidade necessária para não só dizer mas também para ser Não espanta que o manifesto ao se deslocar da politica para a arte tenha encontrado lugar num movimento chamado de Futurismo em 1909 O futuro foi desde o principio a orientação do manifesto O Manifesto decadente de Ana tole Baju ou o Manifesto simbolista de Jean Moréas nao Martin Puchner Poetry of the Revolution Marx Manifestos and the AvantGarae P 2324 decidida e por isso embora possuem essa orientação tão cronologicamente antecedam o Manifesto futurista têm importancia menor SSão prenuncios ainda desajeitados do seu gênero E que Marinetti tornouse pai dos manifestos artisticos pois apenas com ele apareceu uma convergência entre a forma intrinseca do manitesto e a arte que se procura através dele Como o nome indica o manifesto deve mani festar E o Simbolismo defendia uma estética misteriosa e ambigua mais indireta Com o Futurismo a linguagem poé tica deve ser manifestada diretamente com firmeza franca assim como cabe ao próprio manifesto Descobriase então a sua potência explorando um estilo dinâmico agressivo veloz e sem floreios ornamentais com violência agitada e incendiária adjetivos estranhos à estética anterior Os manifestos futuristas carregam toda a poesia das obras de arte futuristas na sua forma e não só no conteúdo de seus comandos Chegando até a superar estas em interesse e qualidade fazem parte da mesma poética modernista de primeira hora Muitas passagens do Manifesto futurista confirmam que a sua autoridade pretende situarse não na sua própria época e menos ainda na tradição que o precede mas sim no futuro Museus são comparados a cemitérios Ironicamente Marinetti comenta que se deve visitálos uma vez por ano como é cOstume fazer com os mortos Jovens porém precisam de companhias vivas e presentes a fim de construírem o futuro Os artistas são como os jovens precisam de distância de seus pais quer dizer da tradição vinda do passado pois só assim poderão criar o novo o futuro Precisam matar os pais Simbolicamente para constituirem suas próprias identidades No caso da vanguarda futurista os pais eram instituiçoes como museus e bibliotecas guardiães da tradição que poderiam cair bem para anciãos já próximos da morte mas pais eram instituições não para a juventude cheia de vida 8 Marjorie Perlof O mome da ruptura p 169 momento futurista avantgarde avantguerre e a linguagen 70 11 Para os moribundos para os inválidos e para os prisioneiros ain nda va E talvez um bálsamo para as suas feridaso admirável passado desde que o seu futuro é interditado Mas nós não o queremos nos os jovens os fortes e os vivos futuristas Venham porano SDons incendiários de dedos carbonizados Eilos aquil Er Os aqui E metam logo o fogo nas prateleiras das bibliotecas O manifesto grita Daí seus pontos de exclamação Nao eo sussurro calmoe sereno dos mais velhos e sim o berro quase adolescente dos mais novos Esse grito no caso quer colocar fogo na tradição e abrir terreno para o futuro Jovens deviam tomar as rédeas da carruagem da arte ou melhor assumir o manche do aeroplano para usar uma metáfora mais moderna Onde eles estão O manifesto responde aqui O manifesto é a autoapresentação do agente trans formador que ele mesmo é Eilos aqui Os próprios autores dos manifestos são os responsáveis pelo movimento que anunciam E o Futurismo aqui O manifesto se autonomeia Por isso a voz mais comum dos manifestos será sempre a da primeira pessoa do plural nóós Reconheçamse nela os que quiserem o novo o futuro Tal arrojo do Futurismo de Marinetti admite até mesmo que no momento seguinte ao seu outros viriam combatêlo Ele conclama que quando tiver feito 40 anos os mais jovens e corajosos deveriam atirálo para o cesto de lixo Parecia prever a sorte não apenas do Futurismo mas de todos os movimentos de vanguarda se o Futurismo rompera com o Simbolismo o Dadaismo romperia já depois com o Futurismo eo Surrealismo mais tarde com o Dadaismo e assim em diante Cada um combatia o anterior jogava no cesto do lixo Em sua célebre formulação o poeta mexicano Octavio Paz descreveu esse processo da arte vanguardista como aquele que foi do gesto inaugural da ruptura com a tradição pelo qual a era moderna se funda até sua estabilização numa tradição nova e paradoxal a tradição da ruptura 9 FTMarinetti Manifesto futurista p 93 10 Octavio Paz Os filhos do barn din n diferenças Paradoxal pois tradi definemse pela continui para criar uma descontinuidade uma novidade na ordem de cada época Retrospectivamente vemos com toda clareza a Nova porque ao contrario da anterior sua obsessão não é a permanência do mesmo e do igual mas a criação de contínuoo esforço dade enquanto esta somente possui de continuo o esforco com toda clareza a longo da história os movimentos de vanguarda um após oo outro negaram os seus antecessores embora os homens e as mulheres que a começaram com o Romantismo alemáo no fim do século XVIIl não tivessem consciência de que este seriao destino de sua ruptura primeira com a tradição classicista Isso porém não é tudo Se os manifestos tradicionais foram a comunicação das ordens vindas do passado e os manifestos políticos moder nos foram ao contrário a convocação do progresso e do futuro os manifestos estéticos acrescentarão uma nova forma de pensar o tempo a este quadro Perdiase a confiança que Max e Engels tinham no progresso da história a ser movido através dessas sucessivas negações que o presente faria do passado na direção de um futuro melhor Essa linearidade da evolução mesmo que espiralada foi recusada por parte das vanguardas E que a arte moderna não foi só fruto da sua época Foi sua critica ferrenha também Desde o alvorecer da Modernidade a arte tornouse um filho que usa sua herança genética a critica contra a progeni tora Romantismo e Modernismo são assim Jürgen Habermas Os classificou como critica estética à Modernidade Mais constituição dessa tradição oderna de rupturas já que ao sensivel Octavio Paz fala de uma paixão critica uma crítica enamorada de seu objeto apaixonada por aquilo que nega Nesse sentido a Modernidade na arte foi ambivalente entu Siasmada com a racionalização ea industrialização da nova sOCiedade mas também num conflito com ela Futurismo e 2 onstrutvismo de um lado Dadaismo e Surrealismo de outro 11 Jürgen Habermas O discur 12 Octavio Paz Os filhos do barro do Roma curso filosófico da dernidade p 65 mantismo à vanguarda p 21 72 73 O Modernismo brasileiro carregou os dois lados Procurava se o futuro sim mas se remetia também a um passado anterior à Modernidade quase imemorial e inconsclen OImento artístico brasileiro de vanguarda foi niss0 e em muito mais uma mistura AY BRASIL 0 Modernismo a forma do manifesto chegou ao Brasil pelas vanguardas da arte nado da politica Dos dois manifestos que anunciavam as transformacées do mundo eu conheci em Paris 0 menos importante o do futurista Marinetti diz Oswald de Andrade Karl Marx me escapara Ccompletamente Essa admissdo tardia feita na autobiografia evidencia que na década de 1920 foi o Futurismo que Oswald conheceu ou seja foi ele que contou Para o Modernismo no Brasil Esse envolvimento foi tao forte que a Semana de Arte Moderna em 19292 chegou a ser intitulada de Semana de Arte Futurista O Teatro Municipal de Sao Paulo foi alugado para o evento sob este ultimo nome Oswald chamou Mario de Andrade em um famoso artigo no Jornal do Comércio de 1921 de meu Peete futur sta elogiando seus versos de verve urbana desafiadora jovem siemens Oswaid de Andrade Um homem sem profissao p 70 WI 2 Oswaid de Andrade O meu poeta futurista p 185 IL Com frases arrojadas e ritmos novos Falaria por fim da existência de um futurismo paulista Mário porém recusoU a classificação do amigo Não era futurista dizia ele Mais ainda o movimento estético e cultural brasileiro cujo ep centro fora a cidade de São Paulo no início da década de T920 tampouco devia ser chamado de futurista O nome para Mário tinha que ser Modernismo E assim toi Os motivos de Mário de Andrade para evitar a identifica çao da vanguarda brasileira como Futurismo são reveladores Esses motivos são três O primeiro é de ordem politica tomar distancia do viés fascista que o movimento ganhara na ltala segundo é de ordem estética escapar do exclusivismo que seria iliarse a uma só matriz vanguardista esquecendo se das outras O terceiro é de ordem histórica impedir uma orientação temporal drástica para o futuro que pudesse sepultar o passado Nenhum desses três motivos portanto exclui o Futurismo do rol de influências do Modernismo brasileiro mas relativiza o seu peso Não sou futurista de Marinetti afirma Mário de Andrade no Prefácio interes santissimo um dos primeiros textos com cara de manifesto do Brasil porém ressalva Tenho pontos de contato com o Futurismo3 De cada motivo oferecido por Mário para negar a identificação com Marinetti extraise um elemento positivo do projeto do Modernismo o caráter politico antifascista ao contrário do destino que toma Plinio Salgado com seu Integralismo a disposiçäão para diria Oswald de Andrade antropofagicamente devorar todos os movimentos interna cionais de vanguarda e a vontade de forjar uma tradição nacional menos alienada da cutura do país O poeta Menotti del Picchia cuja participação com artigos em jornais foi decisiva nos primeiros anos do Moder nismo esclarecia em sua conferência na Semana de Arte Moderna que a estética do grupo todo tinha sido errada mente etiquetada como futurista e acolhida somente porque era um cartel de desafio confessando que pessoalmente 3 Mário de Andrade Prefácio interessantirnimn n f oe bominava 0 dogmatismo e a liturgia do movi entretanto a Marinetti é reconhecido como um precursor Tl mento ee ald general da grande batalha da Reforma 95 iluminado i front no mundo Sem duvida No entanto a que ar al que no Brasil nao ha porém razdo légica e cones o futurismo ortodoxo porque o prestigio do seu social Oto é de molde a tolher a liberdade de sua maneira Oe ture Os modernistas do Brasil nao se dobraram a determinaao vanguardista estrangera procurando antes com a sua incorporagao heterodoxa e livre forjar um movi mento original Repugna a jaula de uma escola sentencia Menotti A Cabe frisar entao que tal consciéncia de filiaao do Modernismo no Brasil é tudo menos a prova de mimetizacao do que faziam os movimentos modernos europeus Nao se deve perder de vista que filhos podem diferir dos pais Ou seja que acolhem sua heranca mas o que vao fazer com ela 6 outra quest4o O contato dos modernistas brasileiros com as vanguardas da Europa foi intimo e constante Muitas viagens foram empreendidas nas quais eles encontravam pessoalmente obras e artistas recentes Foi o que fizeram Oswald desde 1912 e Tarsila do Amaral E quem nao ia até ld como Mario de Andrade estudava as revistas e os materiais que chegassem divulgando o que se passava fora Vocé universalizou o mais que péde a sua inteligéncia escreve Drummond em carta a Mario Isso entretanto demonstra que os nossos modernistas eram informados e antenados e nado que eram copiadores menores Como notou Benedito Nunes empregavase a combinacao ausente do epigonismo e da subserviéncia roe nig Sa da moda da receptividade gene ritico que rejeita seleciona e assimila es ieee ee moderna p 288 8 Benedito Tia atone eave Marta 70 P 2021 918 vanguarda acerca do canibalismo literario bi modernistas brasileiros Eles mesmos aliás fizerar rabaho em diversos momentos Menos fácil é explicar Como Ssas matrizes foram transformadas na prática das obras produzidas por esses artistas Digase só de passagem que TOa esse desafio que correspondera a noção oswaldiana ae antropofagia Em suma o Modernismo foi de vanguarda mas não mera cópia das vanguardas Essa distância que o Modernismo toma do Futurismo prova a consciência histórica do movimento que é da década de 1920 O Manifesto futurista era de 1909 Não seria possivel 10 anos após vários outros desdobramentos da arte moderna assinar embaixo das teses de um Marinetti Sob custo de ingenuidade Quando Mário e Osvwald escre vem os primeiros textos com tom de manifesto no Brasilo Manifesto dadá tinha sido publicado anos antes em 1918 dando conta da autoconsciência do gênero O Modernismo daqui ao nascer acha a forma do manifesto refletindo sobre si Para lançar um manifesto é preciso querer ABC fulmi nar 1 2 3 escrevera Tristan Tzara provocando Sou por principio contra os manifestos Delineou a forma básica de tal gênero proposição e negação nascimento e morte criação e destruição Por fim a provocação Os modernistas do Brasil seguiram essa fórmula dadaísta mas já calejados em relação a ela Na cronologia da origem dos manifestos os brasileiros foram um pouco tardios contemporâneos do surrealista e por isso fazem um balanço do que veio antes a fim de se apropriarem dos impulsos de vanguarda sem contudo só copiálos No tratado de poética com impeto de manifesto que Mário de Andrade escreveu na década de 1920 sob o nome A escrava que não é Isaura são citados Rimbaud Mallarme Dermée Aragon Tzara Picasso Picabia Cendrars Wagner Apolinaire Whitman Maiakovski Freud Valéry Cocteau Eluard Só para arrolar alguns Num folego infatigáve Man 7 Tristan Tzara Manifpsto daA 104 0n 4o racil apontar as matrizes de vanguarda acolhidas pelos modernistas brasileiros Eles mesmos aliás fizeram esse trabalho em diversos momentos Menos fácil é explicar como essas matrizes foram transtormadas na prática das oDras produzidas por eses artistas Digase só de passagem que TOa esse desafio que correspondera a noção oswaldiana de antropofagia Em suma o Modernismo foi de vanguarda mas não mera cópia das vanguardas Essa distância que o Modernismo toma do Futurismo prova a consciência histórica do movimento que é da década de 1920 O Manifesto futurista era de 1909 Näão seria possivel 10 anos após vários outros desdobramentos da arte moderna assinar embaixo das teses de um Marinetti sob custo de ingenuidade Quando Mário e Oswald escre vem os primeiros textos com tom de manifesto no Brasil o Manifesto dadá tinha sido publicado anos antes em 1918 dando conta da autoconsciência do gênero O Modernismo daqui ao nascer acha a forma do manifesto refletindo sobre si Para lançar um manifesto é preciso querer ABC fulmi nar 1 2 3 escrevera Tristan Tzara provocando Sou por principio contra os manifestos Delineou a forma básica de tal gênero proposição e negação nascimento e morte criação e destruição Por fim a provocação Os modernistas do Brasil seguiram essa fórmula dadaista mas já calejados em relação a ela Na cronologia da origem dos manifestos os brasileiros foram um pouco tardios contemporâneos do surrealista e por isso fazem um balanço do que veio antes a fim de se apropriarem dos impulsos de vanguarda sem contudo só copiálos No tratado de poética com impeto de manifesto que Mário de Andrade escreveu na década de 1920 sob o nome A escrava que não é Isaura são citados Rimbaud Mallarme Dermée Aragon Tzara Picasso Picabia Cendrars Wagner Aplinaire Whitman Maiakovski Freud Valéry Cocteau Eluard Só para arrolar alguns Num fôlego infatigável Maro T uAA busca dar conta do que se passa no mundo das vanguardas internacionais Mas ao mesmo tempo cita entre eles sem fazer distinção hierárquica Guilherme de Almeida Sergio Milliet Menotti del Picchia Ribeiro Couto Manuel Bandeira E dedica o texto a Oswald de Andrade A meta era explici tar que os modernistas do Brasil estavam em suas obras 0 inseridos nas mesmas questöes estéticas que a Europa debatia Mais tarde em 1928 Oswald de Andrade adotará procedimento semelhante no Manifesto antropófago ao falar das revoluções embora de modo mais desordenado Cita a Revolução Francesa a Revolução Bolchevista e a Revolução Surrealista Só para contudo propor uma outra a Revolução Caraiba supostamente maior ainda a ser feita no Brasil Tanto pelas análises de Mário quanto pelas intuições de Oswald o Modernismo mostrava conhecer a história moderna na arte e na política que o precedera na Europa entrando em contato com ela mas também bus cando entender qual seria o papel do Brasil em seu interior a partir desse momento Nem poderia ser diferente uma vez que o mundo ociden tal no começo do século XX experimentava já o processo que culminaria mais tarde naquilo que viemos chamar de globalização Nenhum país era mais alienado do que os outros faziam a não ser que voluntariamente buscasse um isolamento artificial Embora para nós em 2014 possa parecer pouco o trânsito comunicacional da época era um enorme avanço frente ao passado dando a impressão de uma simultaneidade das mais diferentes nações entre si Nos tempos de agora com jornais revistas livros em penca facilidade enorme de comunicação generalização universal das linguas francesa inglesa e alemä uma tendência uma deia nova pregada por um fogo fica sabida de toda gente e encontra adeptos no mundo todo1 conforme observou 8 Mário de Andrade A escrava que não é lsaura Oswald de Andrade Manifesto antropófago p 48 10 Mário de Andrade Arquitetura colonial Il p 27 78 79 D M A N I F E S T D L A L Mário de Andrade Sendo assim a ideia de manifesto os m a n i f e s t o s e seus desdobramentos mais atuais também chegariam ao Brasil que deveria então ser c o n s c i e n t e de sua história nas vanguardas internacionais Essa autoconsciência do M o d e r n i s m o brasileiro quanto sua posição na história da arte deve ser apontada pois só assim e n t e n d e m o s que a absorção que ele fez das outras vanguardas não se deu a despeito de certa confusão mas sim através dela Literalmente foi uma fusão conjunta eis a forma singularmente brasileira do manifesto e talvez da cultura em geral Nesse sentido a vanguarda brasileira ter ficado com o nome Modernismo no lugar do nome Futurismo já é revelador A Itália teve o Futurismo a Alemanha é famosa pelo Expressionismo a Rüssia forjou o Construtivismo e a França foi berço do Surrealismo Todos esses movimentos e ainda muitos outros foram assinalados na história da arte como modernistas O Brasil entra nesse mapa da arte com um movimento que embora especificamente seu foi bati zado com o nome genérico pelo qual todos os outros eram classificados Modernismo E que se houve especificidade na vanguarda brasileira foi ter feito uma mistura geral de todas as influências que recebeu O nome Modernismo era coerente com a incoerência vanguardista do Brasil mas mantinha o seu impeto futurista genérico cujo sentido Simplesmente livrar os poetas de certos preconceitos trad cionais comenta Sérgio Buarque de Holanda aliado canoca dos modernistas nos anos 1920 ele encoraja todas asS tentafivas todas as pesquisas ele incita a todas as afoutezas a todas as liberdades11 Sergio Buarque de Holanda O génio do século p 112