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Maioria dos alunos que moram em favelas ficou sem estudar na pandemia mostra pesquisa Moradores revelam ao DataFavela medo de abandono escolar e insegurança com retorno presencial aos colégios Bruno Alfano 09112020 0430 Atualizado em 09112020 1758 RIO Mais da metade 55 dos estudantes de favelas do Brasil estão sem estudar durante a pandemia Parte 34 não consegue participar por falta de acesso à internet e outra parcela 21 não está recebendo as atividades da escola ou faculdade na qual está matriculada A informação é de uma pesquisa obtida com exclusividade pelo GLOBO e realizada pelo instituto DataFavela uma parceria entre o Instituto de Pesquisa Locomotiva e a Central Única das Favelas Cufa O levantamento ouviu 3585 alunos universitários e pais de estudantes de comunidades de todo o país entre 9 e 10 de setembro A desigualdade de educação que é uma das causas estruturais da desigualdade econômica tende a se aprofundar É um dado que me preocupa afirma Renato Meirelles presidente do Locomotiva preocupa afirma Renato Meirelles presidente do Locomotiva Veja os dados completos Foto Editoria de arte Ainda segundo o estudo os principais motivos que afastam alunos de favelas de atividades educacionais remotas são a falta de local adequado de estudo que seja sem barulho e permita concentração má conexão com a internet e ausência de dispositivos adequados e a distância dos professores Alunos se queixam da falta dos espaços para debates discussões e dúvidas e reclamam que gastam muito mais tempo para ouvir os conteúdos ou respostas a dúvidas afirma o trabalho Na casa de Suellen Pires de 28 anos ela precisou escolher comprar comida a ter crédito no celular Trancista que faz bicos vendendo empadas e cocadas a moradora da Vila Kennedy na Zona Oeste do Rio não pôde trabalhar durante a pandemia De renda teve só o Bolsa Família R 345 mensais já que não conseguiu acessar o auxílio emergencial Por isso as irmãs Geovanna e Gabrielle do Nascimento de 9 e 11 anos ficaram de março a outubro sem estudar A minha casa é muito úmida Eu e uma das minhas filhas já tivemos tuberculose e por isso ficamos com problemas pulmonares Então sou de risco e fiquei em casa durante a pandemia para me proteger e proteger minhas filhas conta Suellen Aprendizagem prejudicada Sem poder receber as crianças presencialmente a escola das meninas o Ciep Vila Kennedy adotou o ensino remoto com o envio de um link para os pais dos alunos com os conteúdos da semana Sem crédito no celular Suellen não conseguia acessar o material Em outubro ela ganhou um chip do Alô Social uma campanha da Cufa que arrecadou e distribuiu 500 mil chips de celular em quase 5 mil favelas assistidas pela organização em todo o Brasil Eles foram entregues para mães como Suellen que poderiam rotear a conectividade para outros aparelhos Mas na casa da moradora da Vila Kennedy não era possível rotear Lá só tem um celular para todo mundo Por isso a chefe de família que mora com mais uma filha e a irmã desempregada recebe o material copia no caderno e se senta com as filhas pra estudar A minha de 9 anos é muito esperta Tenho medo de por causa do ano perdido ela ter dificuldade na volta Já a mais velha tem dificuldades e está fazendo o 3º ano pela segunda vez Ela só consegue estudar com minha ajuda diz Suellen E a hora do estudo é hora séria igual refeição Elas têm que prestar atenção Mas a gente não tem a paciência igual a professora que até me ajuda muito pelo celular Não é a mesma coisa que na escola Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília Catarina Santos afirma que quando for possível o retorno às escolas com segurança as redes vão precisar reorganizar os currículos para recuperar a aprendizagem dessas crianças que ficaram tanto tempo afastadas da escola e até aquelas que acompanharam as aulas remotas mas não aprenderam o necessário É preciso fazer uma avaliação diagnóstica para saber o que precisa ser recuperado Com o diagnóstico de cada criança tem que pensar uma ação necessária para cada escola Pode ser por exemplo períodos de calendário letivo que não precisam estar vinculados a um ano mas em etapas de desenvolvimento para que elas aprendam o que é essencial do ano que o aluno estava matriculado na pandemia antes de passar para o seguinte explica a especialista O que não dá é para fazer de conta que nada aconteceu e não pensar um programa de recuperação especial Celso Athayde presidente da Cufa afirma que crianças nas favelas têm sempre maior risco de evasão Pais presentes diz ele minimizam isso No entanto ele alerta esse é um momento de dificuldades acumuladas crise financeira pandemia desesperança entre outras que podem tirar o foco da família em relação aos estudos de seus filhos Chega um ponto que a pandemia parece não ter fim e essas pessoas começam a ver o mundo como algo que está acabando E isso se reflete nos filhos Tem extrato da sociedade que estuda para ser patrão Na favela é estudar para ser um bom empregado diz A pesquisa do DataFavela ainda captou um sentimento de angústia que perpassa pelos moradores das comunidades durante a pandemia 75 dos pais e mães de alunos sentem muito medo da possibilidade de seus filhos perderem o ano 47 dos estudantes temem querer desistir da escola se não conseguirem acompanhar as aulas remotas 71 dos pais se sentem muito inseguros em mandar as crianças de volta para a escola presencialmente e 90 acreditam que as escolas não vão estar preparadas para um retorno seguro Esse medo é uma tônica do território A favela convive com o medo sempre diz Athayde Na pandemia o favelado tem a convicção de que não vai ter atendimento médico adequado para se tratar Esse cara não tem plano de saúde para recorrer á Meirelles afirma que o país precisa intensificar estratégias como a obrigatoriedade de matrícula dos filhos para a garantia de acesso a programas de renda como o Bolsa Família com o objetivo de garantir que as crianças e adolescentes não abandonem as salas de aulas do país Celular na mão A pesquisa identificou ainda uma centralidade quase exclusiva do celular como meio de acesso à internet entre crianças e adolescentes das classes populares Segundo o estudo isso tem impactos na sua situação de exclusão O estudo cita o levantamento TIC Kids Online Brasil de 2019 que mostra que 1 das crianças e jovens de 9 a 17 das classes D e E só tem acesso à internet pelo computador 73 pelo celular e 20 em ambos equipamentos Já nas classes A e B esses percentuais são invertidos respectivamente 1 25 e 74 O estudo da Locomotiva e da Cufa lista problemas em depender apenas do celular Segundo eles nem todos os modelos de smartphone têm boa capacidade de processamento de dados e alguns desses territórios sofrem com sinal de internet de má qualidade