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A escola ensina os alunos a ler e a escrever orações e períodos e exige que interpretem e redijam textos Algumas pessoas poderiam dizer que essa afirmação não é verdadeira porque hoje todos os professores dão aulas de redação e de interpretação de textos Mas como é uma aula de redação O professor põe um tema na lousa pede que os alunos escrevam sobre ele corrige os erros localizados na frase A aula de interpretação de texto consiste em responder a um questionário com perguntas que não representam nenhum desafio intelectual ao aluno e que não contribuem para o entendimento global do texto Muitas vezes o professor não se satisfaz com os textos e os roteiros de interpretação dos livros didáticos seleciona algum texto e faz uma bela interpretação em classe Se o aluno lhe pergunta como enxergar numa produção discursiva as coisas geniais que ele nela percebeu costuma apresentar duas respostas para analisar um texto é preciso ter sensibilidade para descobrir os sentidos do texto é necessário lêlo uma duas três inúmeras vezes As duas respostas estão evadidas de ingenuidade Não basta recomendar que o aluno leia atentamente o texto muitas vezes é preciso mostrar o que se deve observar nele A sensibilidade não é um dom inato mas algo que se cultiva e se desenvolve Atualmente os estudiosos da linguagem começam a desenvolver uma série de teorias do discurso em que se mostra que existe uma gramática que preside a construção do texto Assim como ensinamos aos alunos por exemplo a coordenação e a subordinação como processos de estruturação do período é preciso ensinarlhes a gramática do discurso para que eles possam com mais eficiência interpretar e redigir textos O texto pode ser abordado de dois pontos de vista complementares De um lado podemse analisar os mecanismos sintáticos e semânticos responsáveis pela produção do sentido de outro podese compreender o discurso como objeto cultural produzido a partir de certas condicionantes históricas em relação dialógica com outros textos Neste livro pretendemos tratar apenas de alguns elementos da gramática do discurso As determinações ideológicas que incidem sobre a linguagem foram por nós analisadas em outros livros que constam da bibliografia Nosso objetivo não é apresentar a teoria da análise do discurso mas sim dos projetos teóricos de análise discursiva que hoje se desenvolvem Outros projetos com essa mesma finalidade estão em andamento Cada um deles tem virtudes e limites Por isso neste livro não está a verdade mas uma das muitas verdades a respeito da linguagem fenômeno multiforme e heterogêneo que tem desafiado o homem de todas as épocas e de todos os lugares A finalidade de um livro que apresenta elementos de uma gramática do discurso é tornar explícitos mecanismos implícitos de estruturação e de interpretação de textos Quem escreve ou lê com eficiência conhece esses procedimentos de maneira mais ou menos intuitiva Explicálos contribui para que um maior número de pessoas possa de maneira mais rápida e eficaz transformarse em bons leitores Observese que a concepção em que se funda este livro é completamente diferente da que presidiu a elaboração de antologias e folhetos Na verdade tratase de dois conceitos de Para este estudioso da linguagem uma Semântica deve ser a gerativa ou seja deve estabelecer modelos que aprendam os níveis de invariância crescente do sentido de tal forma que se perceba que diferentes elementos do nível de superfície podem significar a mesma coisa num nível mais profundo por exemplo a aprovação no vestibular e a Arca da Aliança no filme Os caçadores da arca perdida significam a mesma coisa num nível mais profundo poder fazer no primeiro caso poder fazer um curso superior no segundo poder vencer os inimigos b sintagmática isto é deve explicar não as unidades lexicais que entram na feitura das frases mas a produção e a interpretação do discurso c geral ou seja deve ter como postulado a unicidade do sentido que pode ser manifestada por diferentes planos de expressão por um de cada vez ou por vários deles ao mesmo tempo por exemplo o conteúdonegação pode ser manifestado por um plano de expressão verbal não ou por um gesto como repetidos movimentos horizontais da cabeça o conteúdo de uma reelavela manifestado ao mesmo tempo por um plano de expressão verbal por um visual etc manual um que o concebe como um conjunto de exemplos a imitar e outro que o entende como explicitação de mecanismos de entendimento de sentido Na base dessas concepções estão dois modos de avaliar o ato de escrever o primeiro considera a escritura como um gesto de reproduzir textos já produzidos o outro como produção de sentidos a partir das possibilidades muito amplas que a gramática discursiva oferece Esse texto é bastante singelo e por isso serve ao nosso propósito de expor um modelo de produção do sentido Há no texto uma oposição entre a percepção dos cavaleiros e o da derrive Cada um dos cavaleiros colocado num determinado ponto do espaço respectivamente na frente e atrás vê o escudo de uma maneira um o vê como um objeto de ouro o outro como um objeto de prata O derrive ao contrário tendose dado ao trabalho de observar de mais de um ângulo sabe que o escudo é de ouro numa das faces e de prata na outra As diferentes pontos de vista dos dois cavaleiros levamnos ao desentendimento à luta A maneira de o dercive considerar o objeto conduz ao entendimento ao acordo Esse é o nível mais concreto de percepção do sentido POR QUE UMA SEMÂNTICA DO DISCURSO Em situação de pouco a água equivale a uma palavra em situação dicionarizada isolada estagna no poço dela mesma e porque assim estagna estagnada e mais porque assim estancada muda e muda porque com nenhuma comunica porque cortouse a sintaxe desse rio o fio de água por que ele discorria Rios sem discurso João Cabral de Melo Neto A Semântica definese normalmente como estudo do significado ou teoria da significação Essa definição é entretanto muito genérica para ser satisfatória Não explica por exemplo qual é a unidade lingüística cujo significado a Semântica estuda Não se sabe a partir desses conceitos se ela se debruça sobre o morfema a palavra a frase ou o texto Para conceituar a Semântica de maneira satisfatória é necessário percorrer ao menos rapidamente a história de seu desenvolvimento1 Esse termo foi utilizado em fins do século XIX por Michel Bréal para designar o estudo do sentido Esse lingüista estabeleceu que o objetivo desse ramo do conhecimento era investigar as mudanças de sentido das palavras a fim de determinar os mecanismos que regulam essas alterações Instituiu eles fundamentos de uma Semântica diacrônica S¹ com pés S² para sentarse S³ com braços S⁴ com pés S⁵ para sentarse S⁶ com material rígido Se tomássemos cinco lexemas desse campo cadeira poltrona tamborete canapê e pufe teríamos as seguintes combinatórias S¹ S² S³ S⁴ S⁵ S⁶ cadeira poltrona tamborete canapé pufe Não é nossa intenção discutir todos os conceitos envolvidos numa análise semiótica como a apresentada mas mostrar seus limites e suas dificuldades Podese sustentar teoricamente que algumas dezenas de categorias semióticas binárias cuja combinatória produza milhões de combinações possam estar na base de todo o universo semântico das línguas naturais Estruturas sêmionarrativas Estruturas discursivas Nível profundo Sintaxe fundamental Semântica fundamental Nível de superfície Sintaxe narrativa Semântica narrativa Sintaxe discursiva Semântica discursiva Tematização Figurativização É preciso que tenham algo em comum e sobre esse traço comum que se estabeleça uma diferença Não opomos por exemplo sensibilidade a horizontalidade pois esses elementos não têm nada em comum Contrapomos no entanto masculinidade a feminilidade pois ambos se situam no domínio da sexualidade Assim quando no discurso político dos conservadores estabelecese uma oposição entre democracia versus comunismo cometese uma violência semântica uma vez que o primeiro termo concerne a regime político e o segundo a sistema econômico não tendo pois nada em comum O contrário de democracia é ditadura o oposto de comunismo é capitalismo No Apólogo dos dois escudos dada a categoria parcialidade termo a versus totalidade termo b há a seguinte organização sintática fundamental afirmação da parcialidade quando cada um dos cavalheiros afirma seu ponto de vista negação da parcialidade no momento em que derme diz que os dois têm razão e nenhum a tem afirmação da totalidade quando o darês mostra que o escudo é de ouro num dos lados e de prata no outro A semântica e a sintaxe do nível fundamental representam a instância inicial do percurso gerativo e procuram explicar os níveis mais abstratos da produção do funcionamento e da interpretação do discurso Se pela última vez me permite perguntar não existe outro trabalho para mim neste lugar Como aqui a morte é tanta só é possível trabalhar nessas profissões que fazem da morte oficio ou bazar Imagine que outra gente de profissão similar farmacêuticos coeiros doutor de anel no anular remando contra a corrente da gente que baixa ao mar retrains as avessas sobem do mar para cá Só os roçados da morte comprensam aqui cultivar e cultivarse é fácil simples questão de plantar não se precisa de limpas de adubar nem de regar as estaginas e as pragas fazemnos mais prosperar e dá lucro imediato nem é preciso esperar pela colheita recebese na hora mesma de semear 2 Nesse texto temos um diálogo entre Severino retirante e uma mulher a quem ele pede informações sobre trabalho O texto poderia ser dividido em dois blocos o primeiro em que Severino diz o que sabe fazer e a mulher desqualifica esse saber dizendo ser inútil naquele lugar o segundo em que ela explica qual é o saber útil no lugar em que estão Os elementos da superfície do texto poderiam ser agrupados em três blocos a saber de Severino lavrador cultivar a terra arar a calva de pedra conhecer todas as rochas b desqualificação do saber de Severino de pouco adianta pouco existe o que lavrar nem pedra aqui há que amassar o banco já não quer financiar c saber útil naquele lugar rezar benditos cantar excelen cias encomendar defuntos tirar ladainhas enterrar mortos ajudar a morte profissões que fazem da morte oficio ou bazar etc A categoria semântica do nível fundamental deve dar sentido ao conjunto de elementos do nível superficial Os elementos do primeiro grupo referemse à vida o ato de produzir de dar vida os do segundo negam a vida não se pode produzir os do terceiro relacionamse à morte O texto constróise pois sobre a oposição semântica vida versus morte Sua organização sintática é a seguinte afirmação da vida negação da vida e afirmação da morte Levando em consideração que ajudar a morte é o único trabalhoRentável podese dizer que o oficio de produzir a vida é valorizado negativamente pois não tem nenhum valor enquanto o de ajudar a morte é valorizado positivamente pois é lucrativo Considerar a morte como o termo eufórico e a vida como o disfórico ressalta o absurdo da situação relatada Essas fases não se encadeiam numa sucessão temporal mas em virtude de pressuposicões lógicas Com efeito se se reconhece que uma transformação se realizou a transformação está pressuposta pela constatação Por outro lado a efetivação de uma performance implica um poder e um saber realizaria além disso um querer e um dever executar É claro que quando se diz que um querer um dever um saber um poder estão presentes numa narrativa pressupõese também a existência de um não querer um não dever um não saber e um não poder Numa ação involuntária por exemplo o sujeito operado é um sujeito segundo o não querer Na terceira novamente se dá uma provocação Se é o Filho de Deus lançate daqui abaixo porque está escrito Ordenou aos seus anjos a teu respeito que te guardassem E que se estiveres em suas mãos para não ferires o teu pé em alguma pedra Nas três vezes Cristo não aceita a manipulação e a história não prossegue para nessa fase Em terceiro lugar as narrativas realizadas podem relatar preferentemente uma das fases Um jornal sensacionalista ao contar um assassinato narra em geral a performance como foi o crime quem o realizou quem era a vítima etc Num romance policial como por exemplo O assassinato no Expresso do Oriente de Agatha Christie o relato da performance ocupa poucas páginas e o romance então ocupase da sanção ou seja da descoberta do criminoso Nele a sanção é o desvendamento de um segredo Além disso as narrativas realizadas não contêm uma única sequência canônica mas um conjunto delas Essas sequências podem encadearse umas nas outras ou sucederse Observemos o trecho abaixo do Auto da Compadecida de Gil Vicente Voume à feira de Trancoso Logo nome de Jesus E farei dinheiro grosso Do que este azeite render Comprareis ovos de pata Que é a coisa mais barata Que eu de lá posso trazer Estes ovos chocarão Cada ovo dará um pato E cada pato um tostão Que passaré de um milhão E meio a vender barato Casarei rica e honrada Per estes ovos de pata A sequência principal é casar rica e honrada Para isso é preciso enriquecer Portanto o enriquecimento é a competência necessária para o matrimônio No entanto o enriquecimento Tragédia brasileira Misael funcionário da Fazenda com 63 anos de idade Conheceu Maria Elvira na Lapa prostituta com sífilis derrete nos dedos uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria Misael tirou Maria Elvira da vida instaloua num sobrado no Estácio pagou médico dentista manicura Dava tudo quanto ela queria Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita arranjou logo um namorado Misael não queria escândalo Podia dar uma surra um tiro uma facada Não fez nada disso mudou de casa Viveram três anos assim Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado Misael mudava de casa Os amantes moraram no Estácio Rocha Capeta Rua General Pedra Olaria Ramos Bom Sucesso Vila Isabel Rua Marquês de Sapucaí Niterói Encantado Rua Clapp outra vez no Estácio Todos os Santos Cartumbi Lavradio Boca do Mato Inválidos Por fim na Rua da Constituição onde Misael privado de sentidos e de inteligência matoua com seis tiros e a polícia foi encontrála caída em decúbito dorsal vestida de organdi azul5 se apanhou de boca bonita Observese que para Misael é uma performance com vistas a uma troca para Maria Elvira é aquisição de competência para obter seus valores o prazer e o carinho O que para Misael era um fim para Maria Elvira era um meio ou seja a obtenção de uma competência A sanção da performance de Maria Elvira é realizada por Misael Ele reconhece que a ação de arranjar um namorado ocorreu e julga que pode aplicálhe um castigo podia dar uma surra um tiro uma facada O castigo sanção pragmática não ocorre porque tinha medo da sanção negativa dos outros escândalo O que faz ele então Muda de casa Essa é a concretização discursiva de uma performance em que Misael afasta Maria Elvira de seus objetos de valor colocaa em disjunção com eles As fases da manipulação e da competência dessa sequência narrativa estão pressupostas Misael queria afastar Maria Elvira do namorado e ele podia fazêlo pois ele é quem mantinha a casa onde moravam As sequências da Maria Elvira arranjar um namorado e de Misael afastála dela repetemse inúmeras vezes O narrador mostra essa reiterativa das ações indicando os lugares onde os amantes moraram Observese que as reticências com que termina o parágrafo mostram que a lista não é exaustiva Eu gosto você me gosta desde tempos imemoriais Eu era grego você troiana troiana mas não Helena Sá foi o cavalo de pau para matar seu irmão Matei brigamos morremos Virei soldado romano perseguidor de cristãos Na porta da catacumba encontreite novamente Mas quando vi você nua caída na areia do circo e o leão que vinha vindo dei um pulo desesperado e o leão comeu nós dois Depois fui pirata mouro flagelo da Tripolitânia NÍVEL DA MANIFESTAÇÃO Quando se fala em percurso gerativo de sentido a rigor se fala de plano de conteúdo No entanto não há conteúdo linguístico sem expressão linguística pois um plano de conteúdo precisa ser veiculado por um plano de expressão que pode ser de diferentes naturezas verbal gestual pictórico etc O percurso gerativo é um modelo que simula a produção e a interpretação do significado do conteúdo Na verdade ele não descreve a maneira real de produzir um discurso mas constitui para usar as palavras de Denis Bertrand um simulacro metodológico que nos permite ler um texto com mais eficácia Esse modelo mostra aqui o que sabemos de forma intuitiva que o sentido do texto não é reduzível à soma dos sentidos das palavras que o compõem nem dos enunciados em que os vocábulos se encadeiam mas que decorre de uma articulação dos elementos que o formam que existem uma sintaxe e uma semântica do discurso Esse conteúdo descrito pelo modelo aqui exposto precisa unirse a um plano de expressão para manifestarse Chamamos manifestação a No nível discursivo a conjunção do lugar onde cai a chuva com o movimento e o ruído aparece sob a forma de saravia a tombar sobre a terra Há uma oposição discursiva entre a atividade de saravia e a passividade de terra ou dos elementos a lidar Verbos e substantivos que indicam atividade se referem à chuva tombam saltam cantam pulam dançam baque Enquanto isso a terra está internamente a receber a saravia ao fazer ressoar o canto da chuva e as rosas são a humildade mansa a acolher a carícia bruta Algumas observações fazemse necessárias sobre a organização dos elementos do nível discursivo um sema dureza está presente nos lexemas que se referem à chuva gotas duras seixos vidros pedras para manifestar um sentido de agressividade no movimento da chuva a atribuição à chuva de lexemas que geralmente combinamse com elementos dotados de sema humor ressalta ao humanizar a saravia seu caráter ativo canto da saravia pulam de alegria dança louca a comparação como vidro moído mostra o aspecto dos seixos pequenos a cair Além disso os versos Cada rosa meiga é uma humildade mansa na carícia bruta revelam a passividade dos elementos de terra manifestada pelos lexemas meiga humildade e mansa frente à agressividade da chuva de pedra O oximoro carícia bruta manifesta os contrários englobados pela saravia Ela é a carícia da chuva cujas gotas tocam as rosas mas também a aspereza a dureza da pedra Para descobrir ainda esse caráter contraditório da saravia atribuise a elas um epíteto não pertinente duras A beleza e a magia deste texto no entanto não estão no nível fundamental nem no narrativo Mesmo a interessante organização dos elementos do nível discursivo não consegue explicar o singular encanto do poema Na verdade devemos buscar no nível da manifestação isto é nos efeitos estilísticos da expressão Ler esse texto é como estar vendo sentindo e ouvindo uma chuva de pedra O poema não apenas fala do movimento e do ruído da saravia mas recriaos no plano da expressão dandolhes uma dimensão sensível Examinemos pois mais detidamente o plano da manifestação No ritmo predominantemente do poema é dado por um esquema acentual francofraca fortefraca Tômbam gotas duras sobre a terra saltam Essa cadência é a recriação no plano da expressão do ritmo da queda das gotas duras sobre a terra No entanto o poema ressalta por meio da quebra do ritmo que o compasso da saravia não é uniforme Observese por exemplo o rompimento do ritmo no segundo verso da última estrofe Ouve como soa sobre a terra o baque da saravia clara fria fria fúria nãm chuva boa No domínio da seleção fônica podese observar por exemplo a predominância de oclusivas que são momentos não primeiro verso do poema revela a pontualidade de tombar das gotas sobre a terra a alteração do p no verso Pedras pingos pulam manifesta o salto iteratividade ligeiro dos pingos em sua dança louca ou seja sem obedecer a qualquer esquema a oposição entre a assonância do a e do o respectivamente vogais abertas e fechadas Nesse poema Oswald de Andrade opõe a esterilidade do culto à palavra correta à fecundidade da ação Pessoas falam erradamente mas constroem Para estabelecer essa oposição trabalha com formas linguísticas divergentes milho versus milho etc A contrapartida de formas linguísticas é essencial ao sentido do poema Por isso dificilmente esse texto poderia ser traduzido para uma linguagem pictórica Quando se traduz de uma língua para outra a coerção do material leva à perda dos efeitos estilísticos de expressão que estão presentes no texto produzido na língua de partida E por isso que Haroldo de Campos diz que a tradução do texto poético que faz largo uso dos efeitos estilísticos da expressão é uma transcrição Oh qui dira les torts de la rime Quel enfant sourd ou quel nègre fou nous a forgé ce bijou dun sou qui sonne creux et faux sous la lime Oh quem mostrará os prejuízos da rima Que criança surda ou que negro louco nos forjou esta joia de um canto que soa ace falsa sob a lima Nesses versos ao queixarse da escravidão da rima o poeta extrai de seu uso belos efeitos Rime é assimilada semanticamente a limpo o que a tradução conserva No entanto perdese na tradução feita a relação entre o u acentuado e a valorização negativa Com efeito no poema o u tônico é próprio de uma série de termos de valor negativo soar fôu sou a que se assimilam o s retex e o o faux No nível da manifestação devemse levar em conta principalmente a recursos fônicos como aliteração e assonância Ela fria fluente frouxa clareidade flutua com as brumas de um letargo No meio das tabas de amenos verdes cercadas de troncos cobertos de flores aleiamse os tetos da altiva nação são muitos seus filhos nos ânimos fortes temíveis na guerra que em densas coortes assobram das matas a imensa extensão O esquema acentual cria um ritmo que dá uma dimensão sensível à batida dos tambores na festa indígena recursos sintáticos como paralelismos estruturas frásicas etc The seed ye sow another reaps The wealth we find another keeps The robes we weave another wears The arms ye forge another bears A semente que você semeia outro colhe A riqueza que você encontra outro guarda As roupas que você tece outro veste As armas que você forja outro empunha figuras de construção como repetição quiasmo gradação etc birth and copulation and death Thats all thats all nascimento e cópula e morte Isso é tudo isso é tudo Usamos alguns exemplos de outras línguas para mostrar que esses recursos não pertencem a uma língua específica mas à linguagem Não basta no entanto anotar que existem no plano da manifestação esses recursos Durante muito tempo nas escolas mandavase que os alunos identificassem e classificassem figuras recursos fônicos etc No entanto o exercício esgotavase na identificação e na classificação Feito desta forma o exercício não tem valor nem sentido É preciso sempre mostrar a função do recurso da manifestação na economia geral de produção do sentido de um texto Sexo contém tudo corpos almas significações provas purezas finuras consequências divulgações canção ordens saúde orgulho o mistério materno e leite seminal Nesse texto ocorre uma enumeração caótica de palavras em que os elementos mais díspares são colocados lado a lado ganhando uma equivalência para mostrar que o sexo não pode ser definido univocamente porque contém uma multiplicidade de aspectos que se justapõem desordenadamente desafiando qualquer classificação Depois do termos percorridos as etapas do percurso gerativo de sentido vamosnos dedicar a uma análise mais detalhada da sintaxe e da semântica do nível discursivo o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos Mesmo quando se simula a enunciação dentro do enunciado da forma que se diga Eu digo que a Terra gira em torno do Sol haverá ainda assim uma instância pressuposta que terá produzido esse enunciado Eu digo Eu digo que a Terra gira em torno do Sol Isso implica que é preciso distinguir duas instâncias o eu pressuposto e o eu projetado no interior do enunciado Teoricamente essas duas instâncias não se confundem a do pressuposto e a do enunciador e a do projetado no interior do enunciado é do narrador Como a cada um corresponde um há um eu pressuposto ou enunciativo e um projetado no interior do enunciado o narratório Além disso o narrador pode dar a palavra a personagens que falam em discurso direto instaurandose então como eu e estabelecendo aqueles com quem falam como tu Nesse nível temos o interlocutor e o interlocutórico O enunciador e o enunciatório são o autor e o leitor Não são o autor e o leitor reais de carne e osso mas o autor e o leitor implícitos ou seja uma imagem do autor e do leitor construído pelo texto A enunciação definese como a instância de um enaquiagora O eu é instaurado no ato de dizer eu é quem diz eu A pessoa a quem o eu se dirige é estabelecida como tu O eu e tu são os agentes da enunciação os participantes da ação enunciativa Ambos constituem o sujeito da enunciação porque o primeiro produz o enunciado e o segundo funcionando como uma espécie de filtro elevado em consideração pelo eu na construção do enunciado Com efeito a imagem do enunciatório a quem o discurso se dirige constitui uma das correções discursivas a que obedecem o enunciador e o enunciário A sintaxe do discurso abrange assim dois aspectos a as projeções da instância da enunciação no enunciado b as relações entre enunciador e enunciatório ou seja a argumentação Na realidade essas duas faces da sintaxe discursiva confundemse pois as diferentes projeções da enunciação no enunciado visam em última instância a levar o enunciatório a aceitar o que está sendo comunicado No primeiro enunciado estão projetados uma pessoa eu um tempo agora e um espaço aqui No segundo uma pessoa ele um tempo não agora então e um espaço em algum lugar alhures Esses três elementos definemse em relação à instância da enunciação ele é aquele que não fala e aquilo que não se fala então é o tempo não relacionado diretamente ao momento da enunciação alhures é o espaço não ordenado em relação ao aqui onde se produz o enunciado Nos dois casos operouse uma debreagem que é o mecanismo em que se projeta no enunciado quer as pessoas eutu o tempo agora e o espaço aqui da enunciação quer a pessoa ele o tempo então e o espaço alhures do enunciado No primeiro caso projeção do euaquiagora ocorre uma debreagem enunciativa no segundo projeção do elealhuresentão acontece uma debreagem enunciativa A partir deste esquema básico podemse fazer inúmeras combinações Na sua Canção do exílio Gonçalves Dias projeta no enunciado um eu e um agora ao mesmo tempo um aqui terra do exílio e um lá pátria estabelecendo uma comparação repleta de subjetividade entre dois espaços enunciativos o primeiro aqui é o lugar do exílio o segundo ordenado em relação ao aqui lá é a pátria distante Nesse confronto o lá é melhor do que o aqui Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá Minha terra tem primores Que tais não encontro eu cá Em cismar sozinho à noite Mais prazer encontro no lá Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá Há três tipos de debreagens enunciativas e três de enunciados as de pessoa actancial as de espaço espacial e as de tempo temporal A debreagem enunciativa projeta pois no enunciado tempos e espaços Por isso a sintaxe do discurso ao estudar as marcas da enunciação no enunciado analisa três procedimentos de discursivização a catorialização a espacialização e temporalização ou seja a constituição das pessoas do espaço e do tempo do discurso Como se produz um enunciado para comunicálo a alguém o enunciador realiza um fazer persuasivo isto é procura fazer com que o enunciário aceite o que ele diz enquanto o enunciatório realiza um fazer interpretativo Para exercer a persuasão o enunciador utilizase de um conjunto de procedimentos argumentativos que são parte constitutiva das relações entre o enunciador e o enunciatório exemplo Mandarei tudo para você em algum momento depois de agora mandarei tudo para você conoscimento em relação a um momento de referência futuro por exemplo Quando você chegar porei o peixe para assar no momento de sua chegada que é futura porém o peixe para assar posterioridade a um momento de referência futuro por exemplo Depois que você chegar sairei a minha saída será posterior à sua chegada que é futura Para que não haja confusão entre esses valores chamamos ao primeiro futuro do presente ao segundo presente do futuro e ao terceiro futuro do futuro O chamado futuro do presente composto na verdade não expressa um tempo do sistema do presente mas manifesta a anterioridade do futuro por exemplo Quando você chegar terei terminado meu trabalho antes de sua chegada que é futura ocorrerá o término do meu trabalho Por isso esse tempo foi denominado futuro anterior Jerusalem a palavra do Senhor Ele julgará as nações e convencerá de outros muitos povos os quais de suas espadas forjarão relhas peça de ferro que no arado fura e leva a solo de arados e de suas lanças foices uma nação não levantará a espada contra outra nem da por diante se adestrarão mais para a guerra Esse é o esquema básico das articulações temporais Não explica ele evidentemente todos os valores de cada uma das formas verbais porque a seleção dos chamados tempos verbais implica também valores aspectuais e modais A partir dessas articulações temporais o narrador pode dispor os acontecimentos no texto presentes passados passados em relação a um passado etc A oposição entre debragem enunciativa e debragem enunciativa pode em certos textos ser a manifestação do discurso de oposição fundamental As conversações no ajuntamento variavam em prós e contras Havia alguns que diziam corajosamente como ouvi em bares Eles os guerrilheiros estão certos Ninguém agüenta mais a situação Gigantesco e enervantes Apanhei um ônibus apinhado Apertavanos um calor insuportável afogávamos comprimidos suados O barulho das buzinas o ronco da desordem aumentavam a impaciência Naquele inferno um homem aparentemente um representante comercial ou um vendedor descontrolado se da sua gravata começou a incentivar os terroristas elesédia sujá pois são culpados Só servem para atrapalhar quem trabalha Baleia respirava depressa a boca aberta os olhos descobertos a língua pendente e insensível Não sabia o que tinha sucedido O estrondo a pancada que recebera no quarto e a viagem difícil do barqueiro ao fim do dito desvaneceuse no seu espírito Provavelmente estava na cozinha entre as pedras que serviam de tema Antes de se dizer Sinha Vitória retirava dulcá de carvoeira e a cinza varria com um molho de vassourinha que queimado aqui o fluía um bom lugar para a cachorrinha descansar O calor afugentava as pulgas a terra se ameicava E findos os olhos numerosos pés cortinas e saltavam um fogareiro de pedras invadia a cozinha A tremura sua deixava a barriga e chegava ao peito de Baleia Do peito para trás era tudo insensibilidade e esquecimento Mas o do corpo era esperável espinhos de mandibular penetravam a carne meio comida pela doença Não se usam aleatoriamente esses diferentes tipos de discurso Seu emprego faz parte da arquitetura do texto com vistas a produzir determinados efeitos de sentido Soneto XIII Via láctea Ora diriz ouvir estrelas Certo Perdeste o senso Eu vos direi não entanto Que para ouvilas muita vez desperto E abro as janelas pálido de espanto E conversamos toda a noite enquanto A via láctea como um pálio aberto Cíntila E ao vir do sol saudoso e em pranto Inda as procuro pelo céu deserto Direis agora Tressolucado amigo Que conversas com elas Que sentido Tem o que dizem quando estão contigo E eu vos direi Amai para entendêlas Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas Não são muitos que perguntam mas as mulheres são mais numerosas por que as afligem as lágrimas de Fidélia ou porque nem Tristão interessante ou porque não ninguém beleza a vê viva Também pode ser que as três razões conjuraram juntas para tanta curiosidade mas enfim a pergunta fazse e a resposta é um gesto parecido com esta outrora resposta equivalente Ah minha amiga ou meu amigo se se fosse desligar de paros mortos andaria a infinito a acabar a eternidade É engenhoso mas não é bom principalmente não é certo Os mortos foram ao cemitério e lei vai ter a afeição dos vivos com as suas flores e recordações Tal sucederá à própria Fidélia quando para lá for tal sucede ao Noronha que lhe está A questão é que virtualmente não se quebre este laço e que a lei da vida não destrua o que foi da vida e da morte Creio a crer que as duas formam uma só continuada RELAÇÕES ENTRE ENUNCIADOR E ENUNCIATÁRIO A finalidade última de todo ato de comunicação não é informar mas persuadir o outro a aceitar o que está sendo comunicado Por isso o ato de comunicação é um complexo jogo de manipulação com vistas a fazer o enunciatário crer naquilo que se transmite Por isso ele é sempre persuasão Nesse jogo de persuasão o enunciador utilizase de certos procedimentos argumentativos visando a levar o enunciatário a admitir como certo como válido o sentido produzido A argumentação consiste no conjunto de procedimentos lingüísticos e lógicos usados pelo enunciador para convencer o enunciatário Por isso não há sentido na divisão que se costuma fazer entre discursos argumentativos e não argumentativos pois na verdade todos os discursos têm um componente argumentativo uma vez que todos visam a persuadir É claro que alguns se assumem como explicitamente argumentativos como os discursos publicitários enquanto outros não se mostram como tais como os discursos científicos que se mostram como discursos informativos Não podemos nos limites deste livro estudar pormenorizadamente todos os procedimentos argumentativos Eles vão desde o uso da norma linguística adequada por exemplo a não utilização da norma culta em situações de comunicação em que ela é exigida desacreditando o falante até o modo de organização do texto Para chamar a atenção sobre os procedimentos argumentativos vamos tratar de dois muito frequentes a a ilustração b as figuras de pensamento Enunciado o esquema narrativo básico da primeira forma de chegada ao poder desapossamento tematizado por crime e tomado do poder o narrador vai relatar dois casos particulares nesse fragmento apresentamos apenas um que confirmam a verdade geral exposta Por isso a narrativa de como Agatocles Siciliano ascendeu ao principado é a particularização do princípio narrativo geral já exposto Temos então o argumento por ilustração No caso o recurso argumentativo utilizado pelo narrador é inteiramente adequado porque o caso particular comprova a verdade geral enunciada e nenhum exemplo pode desmentila Com efeito mesmo que arrolássemos centenas de outros casos para mostrar que se pode atingir o principado de outras maneiras o princípio exposto pelo narrador permaneceria válido pois um único exemplar é suficiente para assegurar que se pode atingir o princípio mediante crise O procedimento da ilustração é bastante adequado quando se mostram várias maneiras de ser ou de fazer porque nesse caso os contraexemplos não destroem a afirmação geral Não costuma ser boa a utilização desse recurso quando a afirmação geral engloba uma totalidade Se disséssemos que todos os ingleses são secos e déssemos um exemplo para ilustrar o único contraexemplo Na verdade bastaria mostrar que há um único inglês que se caracterize pelo calor humano para demonstrar que nem todos os ingleses são secos As chamadas figuras de pensamento também são empregadas pelo enunciador para fazer o enunciado crer naquilo que ele diz Isso significa que nem todas as figuras de pensamento pertencem à mesma ordem de fenômenos Há algumas figuras de pensamento que se constroem a partir de relações semânticas e outras que se estabelecem a partir de mecanismos da sintaxe discursiva É destas que vamos tratar agora Há duas instâncias no discurso o do enunciado e a da enunciação Não se pensa aqui na instância da enunciação pressuposta por todo enunciado mas nas marcas deixadas pela enunciação no enunciado por exemplo pronomes pessoais e possessivos adjetivos e advérbios apreciativos direitos temporais e espaciais verbos performativos Com as marcas da enunciação deixadas no enunciado podese reconstruir o ato enunciativo Este não é da ordem do inefável mas é tão material quanto o enunciado na medida em que ele se enuncia Podemos distinguir pois no texto a enunciação enunciada e a enunciação enunciada Aquela é o conjunto de elementos lingüísticos que indica as pessoas os espaços e os tempos da enunciação bem como todas as avaliações julgamentos pontos de vista que são de responsabilidade do eu revelados por averbos substantivos verbos etc O enunciado enunciado é o produto da enunciação despido das marcas enunciativas enunciada afirma que ocorre o contrário e enumera as qualidades do rapaz Do estrito ponto de vista linguístico a frase a mim não me desagrada não pressupõe necessariamente que Tristão lhe agrade A afirmação só traz de oposição entre enunciado e enunciação enunciada No entanto por que empregar a litotes e não uma afirmação categórica Porque a litotes em lugar de uma afirmação clara produz um efeito de atenuação Embora Tristão não desagrade ao Conselheiro este não revela grande entusiasmo pelo rapaz É para esse efeito de sentido que o narrador chama a atenção do narratário Poderia causar estranheza o fato de termos considerado a frase a mim não me desagrada como elemento do enunciado uma vez que está ela em primeira pessoa No entanto cabe lembrar que se trata de um jogo do en Na verdade o ponto de vista do eu narrador não está dito mas não dizer Temos como que dois eu o da enunciação e o do enunciado O primeiro não demonstra muito entusiasmo pela pessoa que agradava a todos mas vê nela uma série de qualidades o segundo nega que o rapaz lhe desagrade Brás Cubas Virglia Brás Cubas Virglia Brás Cubas Virglia Virglia Brás Cubas Virglia Brás Cubas Virglia Brás Cubas Virglia O narrador depois de remeter o narratário à memória intertextual a história bíblica de Adão e Eva utilizase apenas das indicações dos interlocutores e de sinais de pontuação bem como de brancos e não brancos Assim diz sem dizer criando uma forte sugestão de erotismo No domínio das oposições graduais a Quando se atenua no enunciado e se intensifica na enunciação ocorre a figura chamada eufemismo pela retórica A seguir exemplificaremos esse procedimento num texto b Quando se intensifica no enunciado e se atenua na enunciação temos a hipérbole Nesses duas figuras é preciso que o jogo atenuaçãointensificação esteja presente no texto para que o enunciador perceba que se trata de uma atenuação do sentido exato ou um exagero No romance O coronel e o lobisomem de José Cândido de Carvalho o narrador relata em certa passagem seu encontro com um lobisomem De repente relembrei estar em noite de lobisomem era sextafeira Já um estirão era andado quando numa roça de mandioca adivei aquela figura de cabrito uma pecha de vinte pintas de pelo e raiva Dei um pulo de cabrito e preparado estava para a guerra do lobisomem Por descargo de consciência do que nome parecia chamei os santos de que sou devocionista São Jorge Santo Onerio São José Em presença de tal apalação mais banteno apareceu a peste Ciscava o chão de soltar terra e macaco na longe de seus braços ou mais Era trabalho de gelar qualquer cristão que não levasse o nome de Poncliano de Azeredo Furtado Dos lobos do lobisomem pingava labareda em risco de contaminar de fogo overd adjacent Tanta chispa largava o penteente que uma caçador de pace estando em distância de bom respeito cuidado que o mato estivesse ardendo Já nessa altura eu tinha pedido a segurança de uma figueira a leí em cima no galho mais firme aguardava a deliberacão do lobisomem Garrucha engridada só deixava a assombração desse franquia de tiro Sabido cheio de voltas e negaças deu de executar macaco que nunca cuidou que um lobisomem pudesse fazer Aquel de brasas esplaviais aqui ia na esperança de que pensasse ser uma situação de alma a pessoa sozinha O que o golhfista queria é que control de ânimo desenfreado fosse para o barro demerir a fada e deslustrar a patente Sujeito especial em lobisomem como não ia cair em armadilha de pouco pau No alto da figueira estava no alto da figueira fluí Em relação ao lobismo o enunciado intensifica o que a enunciação atenua Ele ciscava o chão de soltar terra e macega no longe de dez braços ou mais dos seus olhos pingava labareda em risco de contaminar do fergo o vernal adjacente e segundo o ponto de vista do narrador o lobismo que o enunciado descrevera como vinte palmos de pelo e raiva espichava aqui e lá como uma precaução desnecessária a levar o enunciado ao pé da letra na esperança de que o coronel pensasse ser uma súcia deles e não uma pessoa sozinha Em relação ao coronel o enunciado atenua o que a enunciação enfatiza Observese por exemplo o período já nessa altura tinha pegado a segurança de uma figura e lá em cima no galho mais firme aguardava a deliberação do lobismo Nele a atenção dada aguardava a deliberação do lobismo contrapõese à ênfase dada à segurança por exemplo pelo adjetivo no comparativo de superioridade mais firme No se fazer persuasivo o enunciador procura criar efeitos de estranhamento com a finalidade de chamar a atenção do enunciatiário para sua mensagem Para isso utilizase de recursos retóricos Assim o enunciatório por meio de uma percepção inédita e inesperada pode atentar melhor para certos elementos que estão sendo comunicados e aceitar mais facilmente o enunciado Dizendo sem ter dito simulando moderação para afirmar de maneira enfática o enunciador quer fazer cer Quando há acordo entre enunciação e enunciado o narrador trabalha com verdades e falsidades Quando ocorre um conflito entre essas duas instâncias manipula o segredo e a mentira o que parece dizer não diz o que não parece diz Diz Com efeito esses procedimentos retóricos operam no âmbito da simulação parecer e não ser ou da dissimulação não parecer e ser Cabe ao enunciatiário perceber esse segredo ou essa mentira no seu fazer interpretativo O acordo entre enunciado e enunciação funda a previsibilidade a normalidade a certeza a não contraditoriedade enquanto o desacordo constitui o terreno da imprevisibilidade da incerteza da anormalidade da labilidade da contraditoriedade Desse ponto de vista os mecanismos retóricos não são ornatos que se possam suprimir mas constituem uma maneira insubstituível de dizer Aliás não deveriam ser chamados figuras mas procedimentos mecanismos Fazem parte dos recursos de persuasão do enunciatório pelo enunciador pois instaurando no discurso o segredo e a mentira desvelam uma nova verdade produzem um novo saber descobrem significados encobrindoos SEMÂNTICA DISCURSIVA Fazer com que a palavra frouxa ao corpo da coisa adira fundila em coisa espessa sólida capaz de chocar com a contígua Não deixar que silente fale sim obrigála à disciplina de proferir a fala anônima comum a todas de uma linha João Cabral de Melo Neto No nível narrativo temos esquemas abstra Miserá tiveste aquela enorme aquela Claridade imortal que toda a luz resume Mas o sol inclinando à rítula cela Pesame esta azul e desmedida umbelas Por que não hácia eu um simples vagalume A oposição entre tema e figura remete em princípio à oposição abstratoconcreto No entanto é preciso ter em mente que concreto e abstrato não são termos polares que se opõem de maneira absoluta mas constituem um continuum em que se vai de maneira gradual do mais abstrato ao mais concreto A figura é o termo que remete a algo existente no mundo natural árvore vagalume sol correr brincar vermelho quente etc Assim a figura é todo conteúdo de qualquer linha natural ou de qualquer sistema de representação que tem um correspondente perceptível no mundo natural Considerar gradual a oposição concreto abstrato permite aplicar essa categoria a todas as palavras lexicais e não apenas aos substantivos como sempre fez a gramática Quando se diz que a figura remete ao mundo natural pensase não só no mundo natural efetivamente existente mas também no mundo natural construído É o caso por exemplo de um texto de ficção científica em que apareça um ser que tenha carne mas um revestimento de pedra etc Esse ser é uma figura de um mundo natural construído Tema é um investimento semântico de natureza puramente conceitual que não remete ao mundo natural Temas são categorias que organizam categorizam ordenam os elementos do mundo natural elegância vergonha raciocinar calculista orgulho etc Já vimos que dependendo do grau de concretude dos elementos semânticos que revestem os esquemas narrativos há dois tipos de texto os figurativos e os temáticos Os primeiros criam um efeito de realidade pois constroem um simulacro de realidade representando dessa forma o mundo os segundos procuram explicar a realidade classificam e ordenam a realidade significativa estabelecendo relações e dependências Os discursos figurativos têm uma função descritiva ou representativa enquanto os temáticos têm uma função preditiva ou interpretativa Aqueles são feitos para simular o mundo estes para explicálo É importante ressaltar que quando se fala em textos figurativos e temáticos falase respectivamente em textos predominantemente e não exclusivamente figurativos e temáticos Com isso em geral aparecem algumas figuras nos textos temáticos ou alguns temas nos textos figurativos A classificação decorre assim da dominância de elementos abstratos ou concretos e não de sua exclusividade Quando tomamos um texto figurativo precisamos descobrir o tema subjacente às figuras pois para que estas tenham sentido precisam ser a concretização de um tema que por sua vez é o revestimento de um esquema narrativo O almocreve Vai então empacou o jumento em que eu vinha montado fustigueio de deu dois corcóvios depois mais três enfim mais um que me sacudiu fora da cela com tal desastre que o esquerdo me ficou preso no estribo tentei agarrarme à frente do animal mas já então espantado disparou pela estrada afora Digo mal tentou disparar e efetivamente deu dous saltos mas um almocreve que ali estava acudiu a tempo de lhe pegar a réde e detêlo não sem esforço nem perigo Dominando o bruto desveleihme do estribo e pusme de pé Olhe do que vocêse escapou disse o almocreve E a verdade se o jumento correu por ali fora conundiname deveras a não sei se a morte não estaria no fim do desastre cabeça partida uma congestão qualquer transtorno de centro li me ia a ciência em fio O almocreve salvarme tal vez a vida era positivo eu sentiao no sangue que me agitava o coração Bom almocreve enquanto me tornava a consciência de mim mesmo ele cuidava de contratar os arreiros do jumento com muito zelo e cuidado Resolvi darlhe três moedas de ouro aos cinco que trazia comigo não porque valesse o preço da minha vida essa era incalculável mas porque era uma recompensa digna de dedicação com que ele salvou Estou doulhe as três moedas Pronto disse apresentandome a rédea da cavalgadura Duanal respondi deixame que ainda não estou em mim Ora qual Pois não é como é natural Se o jumento corre por aí fora é possível mas com a ajuda do Senhor você não vê aconteceu nada Fui aos aflorges tirei um colete velho em cujo bolso trazia as cinco moedas de ouro e durante este tempo cogitei se não era excessiva a gratificação se não bastava umas moedas Talvez uma Com efeito uma moeda era bastante para dar desprezo Examineilhe a roupa era um pobrediabo que nunca jamais vira uma moda de ouro Portanto uma moda Tireia via reluzir a luz do sol não vi o almocreve porque eu tinhalhe voltado às costas mas supuslhe então a falar ao jumento do modo significativo davalhe conhecimentos dizialhe que tomasse juízo que o senhor doutor podia castigálo um monólogo paternal Valhame Deus até ouvi estalar um beijo era o almocreve que lhe beijava a est Olé exclameli Queria vocême perdoar mas o diabo do bicho está a olhar para a gente com tanta graça Rime hesitei nem lhe na mão um cruzado em prata calvaguei o jumento e segui a trote largo um pouco vexado enquanto dirigi um pouco em direção de direito ao pratinha Mas algumas braças de distância olha para trás o almocreve faziame grandes cortesias com evidentes mostras de contentamento Adverti que devia ser assim mesmo eu pagaralhe bem pagaralhe talvez demais Meti os dedos no bolso do colete que trazia no corpo e senti umas moedas de cobre eram os vinténs que eu devera ter dado ao almocreve em lugar do cruzado de prata Esse texto é figurativo Nele representase o mundo com termos como cavalo estorvo almocreve segurar as rédeas moedas de ouro cruzado de prata vinténs de cobre etc É necessário que na leitura encontremos os temas subjacentes que dão sentido a essas figuras São basicamente três temas o acidente a salvação o valor da recompensa Esses temas são concretizações de esquemas narrativos há uma performance em que um sujeito tira a vida do outro essa performance embora possível não chega a concretizarse porque um terceiro sujeito impede sua realização há em seguida uma sanção em que o sujeito que não entrou em disjunção com a vida reconhece que o terceiro sujeito e que impede que a disjunção se desse e por isso recompensao A performance não realizada é tematizada como um acidente em outro texto poderia ser tematizada como tentativa de homicídio e posteriormente figurativizada como os corcóvios de um cavalo que derrubaram um cavaleiro da sela que ao cair prende o pé no estribo O ato de impedir a realização dessa performance é tematizado como salvação figurativa por assegurar a rédea e deter o animal A recompensa é tematizada como oferecendo um bem material figurativizado como dinheiro Aí aparece o tema principal do texto o valor da recompensa não é fixado pelo valor do ato mas pelo valor de quem o faz O narrador à medida que vai desvalorizando o almocreve vai diminuindo o valor da recompensa o que é figurativizado pelo seu valor pecuniário decrescente três moedas de ouro duas uma um cruzado de prata umas vinténs de cobre O narrador deu ao almocreve um cruzado de prata mas aprendeuse pois chegou à conclusão de que pagara demais e que deveria terlhe dado uns vinténs de cobre Em todo texto temos um nível de organização narrativa que será tematizado Posteriormente o nível de organização temática poderá ou não ser figurativizado O nível temático dá sentido ao figurativo e o nível narrativo ilumina o temático A tematização pode ser manifestada diretamente sem a cobertura figurativa Temos então os textos temáticos No entanto não há texto figurativo que não tenha um nível temático subjacente pois este é um patamar de concretização do sentido anterior à figurativização Por entre a diáfana limpidez dessas nuvens de linha preceço e molde esfuziante da cama de paucetim pudicamente envolta em seus véus nupciais e forrada por uma colcha de chamalote também de ouro Um texto pode ter mais de um percurso figurativo O número de percursos depende dos temas que se desejem manifestar Percursos podem oporse sobreporse etc quando for descrito com todas as suas propriedades Um tempo agora anterioridade posterioridade recebe uma cobertura temática quando for investido de qualificações abstratas tempo de alegriasrem poda dor etc Será figurativo quando essas qualificações forem concretizadas Nesse texto Rocha Pita descreve o Brasil Observe que deve o temaática como um paisagem ideal onde a natureza é bela agradável opulenta Isso figurativizado com de mais claro fontes mais cristalinas etc Nesse lugar vivese uma eterna primavera Ele é o pomar verlo do mundo Diante dessa paisagem podese esquecer de outros lugares conhecidos por serem belos e aprazíveis Tempe vale da Tessália Grécia entre os montes Olimpo e Ossa famoso pela frescura de seus bosques pênsés da Babilônia jardins suspensos da Babilônia uma das sete maravilhas do mundo antigo jardins da Hesperídes na geografia antiga ilhas que marcavam as fronteiras ocidentais do mundo identificadas como as ilhas Canárias ora com a ilha de Cabo Verde No Brasil os que antagos o tivessem conhecido se os antigos o alcançaram poderiam pôr os lugares míticos que imaginariam o terral Paraíso terrestre jardim de inigualável beleza e abundância onde Deus colocou Adão e Eva logo depois da Criação Letes na mitologia grega um dos rios do Inferno cujas águas faziam esquecer o passado àqueles que a bebessem Campos Elíseos na mitologia grega lugar muito belo e aprazível onde moravam as almas dos mortos que tinham sido virtuosos e onde elas experimentavam a felicidade eterna Como se vê na descrição de Rocha Pita o Brasil é tematizado como um lugar paradisíaco que excede a todos os lugares que a literatura antiga descreveu como os mais agradáveis do mundo Percurso temático Um encadeamento de temas reservase o nome de percurso temático Esses percursos só ocorrem evidentemente nos textos temáticos Um conjunto de lexemas abstratos que manifesta um tema mais geral constitui num texto verbal um percurso temático Da mesma forma que os percursos figurativos os percursos temáticos devem manter uma coerência interna Quando isso não ocorre o texto fica contraditório Não cabe por exemplo no percurso temático do amargo do exílio colocar o tema das delícias da vida numa paisagem É claro que podemos mostrar num texto percursos temáticos antitéticos ou mesmos supostos para criar determinados efeitos de sentido Assim do mesmo modo que nos textos figurativos a grande corelação nos textos temáticos pode ser um recurso para transmitir determinados conteúdos Exemplificamos a noção de percurso temático Mas não é menos verdade que tal como os demais autores e embora com maior lucidez talvez a única proposta das canções de Chico Buarque é cantemos Sua perspectiva nega a possibilidade de as coisas virem a ser diversas nega que o homem seja sujeito da História e que ele possa transformar o mundo Debruçarse sobre a infelicidade humana e deplorar o destino de cada indivíduo no mundo em que vivemos ao mesmo tempo que se afirma que não pode ser de outro jeito redundam em fatalismo conservador Daí não há na canção popular brasileira sinais de uma consciência avançada nem proposta para qualquer ação que não seja cantar Como essa canção não é folclórica mas semiruitas vale o cotejo com exemplos da mesma linha Por isso nem é preciso apelar para as canções de Bécher e Kurt Weil basta pensar nÁ Marseilha Enquanto nossos autores oferecem ao público um contraditório da que virá A Marseilha diz o dia já chegou Tornemos mais concreto esse conceito Meus oito anos Oh que saudades que tenho Da aurora da minha vida Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Que amor que sonhos que flores Naquelas tardes faqueiras À sombra das bananeiras Debruços dos laranjais Como são belos os dias Do despertar da existência Respira a alma a inocência Como perfumes a flor O mar é lago sereno O céu um manto azulado O mundo um sonho dourado A vida um hino de amor Que auroras que sol que vida Que noites de melodia Naquele doce alegria Naquele ingênuo folgar O céu bordado de estrelas A terra de aromas cheia As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar Oh dias da minha infância Oh meu céu de primavera Que doce a vida não era Nessa risonha manhã Em vez das mágoas de agora Eu tinha massas deliciosas De minha máe as carícias E beijos de minha irmã Livre filho das montanhas Eu ia bem satisfeita De camisas abertas o peito Pés descalços braços nus Correndo pelas campinas À roda das cachoeiras Depois Petrópolis novamente Eu junto do tanque de linha amarrada no incisivo de leite sem coragem de puxar Véspera de Natal Os chinelinhos atrás da porta E a manhã seguinte na cama deslumbrado com os brinquedos trazidos pela fada E a chácara da Gávea E a casa da Rua DonAna Boy o primeiro achador Não haveria outro nome depois Em casa até as cadeiras chamavam Boy Medo de gatunos Para mim eram homens com caradepau A volta a Pernambuco Descoberta dos casarões de telhavá Meu avô materno um santo Minha avó batalhadora A casa da Rua da União O pátio núcleo de poesia O banheiro núcleo de poesia O cambone núcleo de poesia la fâcheur des latrines A alcova de música núcleo de mistério Tapetinhos de peles de animais Ninguém nunca ia lá Silêncio Obscuridade O plano de armário tetas amarelecidas cordas desafinadas Descoberta da rua Os vendedores a domicílio Ai mundo dos pagãos de papel dos písces da amarelinha Uma noite a menina me tirou da roda de coelhosai me levou impetuosa e ofegante para um desvio da casa de Dona Aninha Viegas levantou a sainha e disse mete Depois meu avô Descoberta da morte Com dez anos vim para o Rio Conhecia a vida em suas verdades essenciais Estava maduro para o sofrimento E para a poesia A configuração discursiva desses dois poemas é a infância O núcleo semiótico comum dessa configuração é primeiro período da vida humana A esse núcleo comum são adicionadas variantes narrativas temáticas e figurativas A primeira leitura percebese que os dois poetas tratam de maneira distinta essa configuração Essa diversidade devese às variações que se aglutinam ao núcleo invariável Em Casimiro de Abreu aparece o estado de conjunção com a felicidade tematizado como harmonia do homem com a natureza com os outros e consigo mesmo Esse tema é figurativizado com tardes ligeiras sombra das bananeiras lago sereno noites do meiodia manto azulado sonho dourado hino de amor carícias de minha mãe beijos de minha irmã livre filho da montanha bem satisfeito achava o céu sempre lindo adornecia sorrindo despertava a cantar etc Em oposição à infância a idade adulta e o tempo da mágoa do desamparo da infelicidade Em vez das mágoas de agora Em Casimiro a infância é estética é um tempo em que não há transformações pois nela só existem alegrias Em Bandeira a infância recebeu o percurso narrativo da conjunção com o saber tematizado como descoberta das verdades essenciais da vida a morte o sexo etc A infância é para Bandeira dinâmica é a passagem do estado de não saber para o de saber Vamos dar apenas um exemplo de figuratividade do tema da descoberta Tomemos a descoberta do sexo Esse tema é recontado como as figuras noite menina tirou da roda de coelhosai impertiosa ofegante levantou a sainha dizeime ISOTOPIA Inúmeras vezes ouvimos dizer que o texto é aberto e que por isso qualquer interpretação de um texto é válida Quando se diz que um texto está aberto para várias leituras isso significa que admite mais de uma e não toda a qualquer leitura Qual é a diferença As diversas leituras que o texto aceita já estão inscritas como possibilidades Isso quer dizer que o texto admite múltiplas interpretações possuindo indicadores dessas possibilidades Assim as várias leituras não fazem a partir do arbítrio do leitor mas das virtualidades significativas presentes no texto Antes de tratar mais detalhadamente das várias possibilidades de leitura é preciso estudar um outro fenômeno Que é que garante a coerência semântica de um texto Como distinguimos um texto bem estruturado do ponto de vista semântico de um amontoado de frases sem qualquer relação O que é coerência semântica a um texto e o que dá dele unidade é a reiteracão a redundância a repetição a recorrência de traços semânticos ao longo do discurso Esse fenômeno recebe o nome de isotopia Empregouse esse termo inicialmente na Física em que isotopia serve para designar elementos de mesmo número atômico ocupam um único lugar na tabela de Mendeljev Em análise de discurso isotopia é a recorrência de um dado traço semântico ao longo de um texto Para o leitor a isotopia oferece um plano de leitura determina um modo de ler o texto Não pretendemos analisar integralmente esse poema mas apenas mostrar que se pode lêlo sob diversas isotopias As figuras se renega morte quebradoa perde a elegância a antiga linha quebralhe os ossos mutilada etc compõem o percurso da dissolução da especificidade da transformação de elementos distintos num todo homogêneo Segundo a retórica clássica que considera metáfora e metonímia como figuras de palavra esses dois procedimentos retóricos definemse da seguinte forma metáfora é a substituição de uma palavra por outra quando há uma relação de similaridade entre o termo de partida substituído e o de chegada substituinte metonímia é a substituição de uma palavra por outra quando há uma relação de contiguidade entre o termo substituído e o substituinte isotopia astronômica determina a leitura de pingos de leite e de derramado sobre esta isotopia Aí eles ganham novos significados estrelas surgindo Essas expressões tomamse metáforas projetadas Entre por exemplo o significado gota de leite pertencente à isotopia objetal e o significado estrela concernente à isotopia astronômica existe uma interseção sémica a forma e a cor uma flor nasce monótona cinquenta anos se passaram e de compaixão divina e de divina indiferença20 Esse texto constróise fundamentalmente sobre o princípio da antítese Há uma oposição de percursos figurativos o do vício e o do prazer condensados em padre Júlio contrapõemse aos da virtude e da acesse resumidos em padre Olímpio Essa antítese nítida durante a vida desaparece após a morte O desaparecimento depois da morte das contrariedades englobadas nos dois padres parece indicar que a antítese víciovirtude só existe na Terra NOTAS Machado de Assis Obra completa Rio de Janeiro Nova Aguilar 1979 v II p 151 Machado de Assis Memórias póstumas de Brás Cubas em Obra completa Rio de Janeiro Nova Aguilar 1979 v I pp 5423 Machado de Assis Memórias póstumas de Brás Cubas em Obra completa Rio de Janeiro Nova Aguilar 1979 v I p 534 José de Alencar Senhora Rio de Janeiro Edições de Ouro 1967 pp 989 Aluísio de Azevedo Casa de pensão 20 ed São Paulo Martins sd p 58 As figuras de pensamento estratégias do enunciador para persuadir o enunciário Alfa São Paulo Unesp 1988 n 32 pp 5367 As astúcias da enunciação as categorias de pessoa espaço e tempo São Paulo Ática 1996 Linguagem e ideologia São Paulo Ática 2004 Greimas Algirdas Julien Semântica estrutural São Paulo Cultrix Edusp 1973 Du sens II essais sémiotiques Paris Seuil 1983 COURTES Joseph Dicionário de semiótica São Paulo Cultrix sd