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Psicologia ·
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O dispositivo gênerosexualidaderacismos e a educação libertária Ensaios Analíticos de Psicologia Social O DISPOSITIVO GÊNEROSEXUALIDADERACISMOS E A EDUCAÇÃO LIBERTÁRIA ensaios analíticos de Psicologia Social Transversalidade e Criação Ética Estética e Política Volume 15 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Catalogação na fonte Biblioteca Luzernira Alves dos Santos CRB91506 D611 O dispositivo gênerosexualidaderacismos e a educação libertária ensaios analíticos de Psicologia Social Flávia Cristina Silveira Lemos et al organizadores Curitiba CRV 2022 Transversalidade e Criação Ética Estética e Política v 15 Conselho Editorial Aldira Guimarães Duarte Domingues UNB Andreiia da Silva Quintalinha Sousa UNIRUFRN Anselmo Alencar Colares UFOPA Antônio Pereira Galvão Júnior UFRJ Carlos Alberto Vilar Estêvão UFMHINO PI Carlos Frederico Dominguez Ávila Unicentro Carmen Tereza Velinha UNIR Celso Conti UFSCAR César Gerônimo Tello Universidad Nacional Três de Fevereiro Argentina Eduardo Fernandes Barbosa UFMG Elione Maria Nogueira Dioneses UACL Elizeu Clemente de Souza UNB Êlísio José Corá UFFS Fernandinho Gonçalves Alcoforado IPB Francisco Carlos Duarte PUCPR Gilvan Farias León Universidade de La Habana Cuba Guillermo Arriaza Betón Universidade de La Habana Cuba Helmuth Krüger UCP Jailson Alves dos Santos UFRJ Josenia Portela UFPI Leonel Severo Rocha UNISINOS Lídia de Oliveira Xavier UNIERRO Lourdes Helena da Silva UFV Marcelo Paixão UFRJ e Unilas US Maria Cristiane dos Santos Bezerra UFSCar Maria de Lourdes Pinto de Almeida UNESOC Maria Lília Imbiriba Soares Colares UFOPA Paulo Romaldo Hermandos UNEFALMG Renato Francisco dos Santos Paula UFG Rodrigo PratteSantos UFES Sérgio Nunes de Jesus IFRO Simone Rodrigues Pinto UNB Solange Helena XimenesRocha UFOPA Sydione Santos UEPG Tadeu Oliver Gonçalves UFPA Tania Suely Azevedo Brasileiro UFOPA Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 19 LEITURA E ESCRITA NA PESQUISA notas do cotidiano atreladas em práticas do cuidado de si e do reexistir 21 Leticia Lages Assunção John L Lima e Silva A GEOPOLÍTICA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO A PARTIR DE UM OLHAR DECOLONIAL AMAZÔNICO 37 Edilson Mateus Costa da Silva Raimundo Erudino Santos Diniz DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PROTEÇÃO DOS VULNERÁVEIS E DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE NA AMAZÔNIA LEGAL análise das cláusulas obrigatórias nos contratos agrários como instrumento de garantia 55 Jorge Calandrini Paula Arruda AS FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NOS PROCESSOS DE DESTERRITORIALIZAÇÃO CAMPONESA 73 Maria Ivaneide Pereira Ramos Jéssica Modinne de Souza e Silva ESCREVIVÊNCIAS DOS CORPOS DO SUL DO GLOBO teorias feministas do outro do centro invadindo a academia 87 Bárbara Cossetin Costa Beber Brunini Murilo dos Santos Moscheta ESTUDOS SOBRE GÊNERO NA PSICOLOGIA SOCIAL uma aposta ética e política nas epistemologias decoloniais 99 Livia Lima Gurgel João Paulo Pereira Barros TRAUMAS DECOLONIAIS SOFRIMENTOS E REEXISTÊNCIAS a produção coletiva de cuidados na Universidade Federal da Bahia 111 Thais Seltzer Goldstein Irene Guilliien Demoulieres Maira Ferreira dos Santos Sashenka Meza Mosqueira TRISTE LOUCA OU MÁ PENSAMENTOS FEMINISTAS DECOLONIAIS E PSICOLOGIAS 137 Luciola Santana Pastana Silva AS MULHERES MUNDIALIZADAS PELO BOTO 151 Carla Regina Guerra Moreira Lobo Daniãnisse Baliero de Castro Miguel Pereira de Assis AS RELAÇÕES DE GÊNERO DE LIDERANÇAS NA ETNIA TENETEHARTEMBÉ 165 Antônia Elinalde Alves Corrêa Miriam Dantas de Almeida CORPO PERFORMATIVO RELAÇÕES DE GÊNERO E A NORMALIZAÇÃO MÉDICOHIGIENISTA DE MULHERES 175 Giane Silva Santos Souza Fernanda Teixeira de Barros Neta Adriana Elisa de Alencar Macedo Ana Claudia Assunção Chaves Lauany Câmara Chermont Pinheiro NOTAS ACERCA DE UM GRUPO DE MULHERES NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL CREAS 201 Ana Carolina Carvalho Pinheiro Vanessa Luane Farias Sampaio Valber Luiz Farias Sampaio Jéssica Modinne de Souza e Silva TRANSEXPERIÊNCIAS MASCULINAS E CONTROLE DOS CORPOS apontamentos sobre a subjetivação de Trans homens 217 Silviane Campos de Souza Maria Regina Momesso GÊNERO E SEXUALIDADE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES reflexões na região dos cocais maranhenses 227 Simone Cristina Silva Simões Raimunda Nonata da Silva Machado LEITURA FEMINISTA DO FILME A EXCÊNTRICA FAMÍLIA DE ANTÔNIA 243 Carolina Natividade CONCEITO DE VIOLÊNCIA E ALGUNS APORTES TEÓRICOS PARA PENSAR RELAÇÕES DE GÊNERO 249 Giane Silva Santos Souza Ana Claudia Assunção Chaves Fernanda Teixeira de Barros Neta Cristina Simone de Sousa Reis Pamella Augusta Passos Ventura Pina Joelma do Socorro Lima Bezerra A FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICORACIAIS inquietações acerca do curso de Psicologia da Universidade Federal do Pará 261 Adriana Moraes e Moraes Lauany Câmara Chermont Pinheiro Jéssica Costa Veiga PROBLEMATIZAÇÕES INICIAIS DA GOVERNAMENTALIDADE DO RACISMO COM A PSICOLOGIA 277 André Benassuly Arruda Flávia Cristina Silveira Lemos Dolores Galindo BREVE HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS NEGRO E FEMINISTAS as políticas afirmativas na educação 299 Ronilda Bordô de Freitas Garcia José Augusto Lopes da Silva Felipe Sampaio de Freitas Ana Carolina Farias Franco Bruno Jây Mercês de Lima DISPOSITIVOS DE GÊNERO PORNOGRAFIA E PROCESSOS DE SUBJETIVACAO FEMININA 317 Jéssica Batista Araújo Júlia Tôrres Barbosa Rhullya Rhasya M Claudino MULHERES VÍTIMA DE AMPUTAÇÃO TRAUMÁTICA E SEU ATENDIMENTO NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE a importância de se qualificar a perspectiva dos estudos de gênero na formação dos profissionais de saúde 333 Isabela Castelli Valeska Zanello ROMA relações de gênero classe e raça em uma perspectiva feminina 347 Maria Vitória Ferreira Tatiana Machiavelli Carmo Souza CONTOS EM DESENCANTOS uma análise localizada do fluxo de práticas violentas a partir do discurso de mulheres atendidas em uma defensoria pública no interior de Mato Grosso 361 Márcio Alessandro Neman do Nascimento Jéssica Matos Cardoso João Paulo dos Santos de Oliveira FEMINISMO E NEOLIBERALISMO mulheres em tempo de empresariamento do sujeito 379 Caelen Yumi Takada Barros Jéssica Modinne de Souza e Silva DESIGUALDADES DE GÊNERO A UNIVERSIDADE BRASILEIRA invisibilidades das mulheres 395 Larissa Kimberlie de Oliveira Vieira Melina Navegantes Alves Luana Borges Teixeira Flávia Cristina Silveira Lemos OS IMPACTOS DO BIOPODER NA TRAJETÓRIA DA MULHER da universidade ao mercado de trabalho 405 Hadassa Milene Coelho de Almeida Thiago Veríssimo de Paiva Costa A DOCILIZAÇÃO DE CORPOS EM DISCURSOS POLÍTICOS E SUA REPERCUSSÃO NOS CONTEXTOS EDUCATIVOS 423 William Roslindo Paranhos Eliz Marine Wiggers Inara Antunes Vieira Willerding LEITURA DE LITERATURA COM TEMÁTICA LGBT NA ALA PR SIONAL LGBT AQUARELS 441 Márcio Alessandro Neman do Nascimento Jefferson Adriâ Reis RECONHECIMENTO E INCLUSÃO PELO CONSUMO a reprodução social do capitalismo na comunidade LGBTQIA 453 Aline Rebouças Azevedo Soares Stephanie Caroline Ferreira de Lima Aluísio Ferreira de Lima Deborah Christina Antunes NOTAS SOBRE POLÍTICAS DO CONHECIMENTO NA FORMAÇÃO DE EDUCADORXS EM GÊNERO E SEXUALIDADES 467 Leonardo Lemos de Souza Gabriel Batista Mota Matheus Estevão Ferreira da Silva A FORMAÇÃO DE SUBJETIVIDADES NAS POLÍTICAS DE CURRÍCULO PARA A DIVERSIDADE dissonâncias do projeto escola sem homofobia 485 José Rafael Barbosa Rodrigues Carlos Jorge Paixão FEMINICIDIO NA PANDEMIA relações de poder direitos humanos e políticas públicas 501 Luane Michelle Carvalho Costa Jéssica Modinne de Souza e Silva SOBRE A MENINA À VENDA da prostituição infantojuvenil à exploração sexual 519 Ana Maria Ricci Molina EU PASSEI POR ISSO percorrendo a rede de atendimento às mulheres em situação de violência em Mato Grosso 537 Renata Vilela Rodrigues Ariane M Lemes Bárbara dos S Maroni Luiz Guilherme Araújo Gomes A PRODUÇÃO DO SUICÍDIO INDÍGENA NO BRASIL uma revisão sistemática 559 Carmen Hannud Carballeda Adsura João Iríude de França Neto Leandro Passarinho Reis Júnior DESLOCAMENTOS E PRODUÇÃO DE SENTIDOS A PARTIR DO ENCONTRO DA PSICOLOGIA COM AS CAPITOAS TENETEARTEMBÉ uma construção de saberes 573 Carmen Hannud Carballeda Adsura Mírian Dantas de Almeida Robenilson Moura Barreto Thiago Costa RACISMO breves considerações a partir de Frantz Fanon Maria Eduarda de Pinho Oliveira 589 MULHERES VÍTIMAS DE AMPUTAÇÃO TRAUMÁTICA E SEU ATENDIMENTO NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE a importância de se qualificar a perspectiva dos estudos de gênero na formação dos profissionais de saúde Isabela Castelli Valeska Zanello funcionalidade e qualidade de vida MILIOLI et al 2012 SANTOS LUZ 2015 SEREN TILIO 2014 Discutese as consequências físicas e psicológicas que uma cirurgia de amputação pode ocasionar OLIVEIRA ALMEIDA 2019 BERGO PREBIANCHI 2018 como a justiça a escola a saúde Isso ocorre não apenas através da repetição e reprodução de valores estereótipos e ideais culturais CASARES 2008 mas de forma ativa como por exemplo no ato diagnóstico ZANELLO 2014 e através da avaliação do estado emocional de alguém Na saúde isso pode se dar ao se eleger certos valores gêneros como parâmetro de avaliação do bemestar caso o paciente seja um homem ou uma mulher Nas palavras de Martins e Modena 2016 as instituições de saúde se constituem assim como um palco privilegiado para manifestação e reprodução das desigualdades de gênero frequentemente desconsideradas negadas ou silenciadas p 401 Como isso se manifesta no atendimento e no serviço de saúde a mulheres e homens que passaram por amputação traumática É o que se pretende discutir no presente capítulo O objetivo é apresentar e comparar a leitura e o tratamento de dois casos clínicos de mulheres usando como pano de fundo dois casos clínicos de homens que também passaram por esse procedimento A ênfase será dada na diferença de avaliaçãomanejo dos casos a depender dos valores de gênero envolvidos Foi realizada uma análise dos prontuários de um serviço de atendimento pela equipe de Psicologia da Unidade de Trauma e Ortopedia de um hospital público de nível terciário de uma capital brasileira referência em trauma entre os meses de julho de 2018 a agosto de 2019 Nesse período foram identificados 10 pacientes que passaram por uma amputação traumática ou seja decorrentes de situações de traumas como acidentes de trânsito ferimento por arma branca ou de fogo agressão física etc sendo oito homens e duas mulheres Nesse serviço a primeira abordagem por parte da equipe de Psicologia ocorreu em tempo médio inferior a 48 horas Os pacientes são submetidos à entrevista inicial para avaliação de demandas por meio de roteiro de entrevista semiestruturado e posteriormente acompanhados durante a internação hospitalar até a alta Constam em seu prontuário todas as observações referentes a essas etapas e acompanhamento No grupo masculino sete possuíam vida laboral ativa um dos pacientes era um homem era menor de idade e portanto estudante Nenhum dos homens acompanhados apresentava comorbidades conhecidas Cinco dos oito homens acompanhados no estudo eram casados ou viviam relacionamentos conjugais estáveis Três homens eram solteiros sendo que destes um era menor de idade Quanto aos homens que possuíam relacionamentos estáveis todos os cinco foram acompanhados por suas companheiras principais cuidadoras durante o período de internação hospitalar Em relação aos homens solteiros as principais cuidadoras foram as genitoras Quanto às duas mulheres avaliadas no estudo uma declarava relacionamento estável porém recente menos de seis meses de relacionamento e uma declaravase solteira Quanto aos cuidadores destas pacientes destacouse a mãe no caso da paciente mais jovem e das sobrinhas no caso da paciente mais velha Apenas uma das mulheres estava inserida formalmente no mercado de trabalho enquanto a outra paciente realizava atividades de maneira informal Uma das pacientes apresentava comorbidades conhecidas em decorrência de obesidade outra não apresentava nenhum sinal alterado de saúde Da amostra foram escolhidos dois casos clínicos de pacientes mulheres vítimas de amputações traumáticas as duas únicas atendidas nesse período e dois casos de pacientes homens Os casos masculinos foram tomados como elemento comparativo com o objetivo de ressaltar as diferenças e singularidades dos casos femininos O critério de seleção dos pacientes homens foi a maior semelhança possível com o quadro clínico das mulheres Um dos homens selecionados apresentava faixa etária próxima à faixa etária de V entre 2025 anos Já o outro apresentava nível de amputação similar ao nível de amputação de L Além disso é importante ressaltar que uma das autoras trabalhava no serviço nesse período de modo que documentos falas e avaliações informais da equipe também foram anotadas e utilizadas na análise após a alta não acompanhou o tratamento de saúde da paciente e em pouco tempo terminou a relação Na fala desta paciente foi possível observar que a rede de apoio extensa também não se manteve após a alta hospitalar No momento desta avaliação a paciente referiu passar por questões conflituosas quanto a sua autoimagem Ressaltase que a mesma não compreendeu na consulta arrumada como era vista durante a internação reforçando a hipótese avaliativa levantada de que os adornos anteriormente observados não faziam parte de seu repertório natural mas eram sugeridos por outras pessoas que a acompanhavam durante a internação tanto familiares quanto a equipe de saúde No início de 2021 foi feita nova pesquisa em sistemas de prontuário eletrônico da rede pública de saúde Não foi encontrado nenhum registro de acompanhamento ambulatorial indicando que a paciente descontinuou o acompanhamento em saúde e a reabilitação A segunda paciente L 66 anos foi vítima de acidente automobilístico estava no banco do carona quando o condutor perdeu o controle do carro e bateu contra uma árvore Em decorrência do trauma a paciente teve o braço direito amputado desarticulação de ombro com lesão e perda parcial da mão direita De forma diferente de V L permanecia alguns anos em um estado geral grave tendo suas funções corporais mantidas por aparelhos Quando a paciente apresentou melhora clínica e consequentemente melhora do nível de consciência afirmava não se lembrar de nada do acidente e que também não queria ler falar sobre o assunto informação retirada do prontuário da paciente Diferentemente das falas de culpabilização dirigidas a V L recebia por parte da equipe falas e comportamentos de empatia pois estava na bonde do corona no momento do seu acidente Além disso os familiares apresentavam uma equipe multiprofissional preocupação com a reação emocional de L quando compreendesse a amputação e o prejuízo funcional que isto traria Os familiares afirmavam que a paciente já possuía o emocional fragilizado SIC informação retirada do prontuário da paciente Durante a internação hospitalar por vezes a paciente apresentava afeto irritável e recusava os cuidados de enfermagem eou realização de procedimentos por exemplo deslocamento para realização de raioX levantar a cabeceira para receber dieta possibilitar troca de curativos etc Os casos dos homens JN e F Paciente do sexo masculino JN 34 anos casado pai de duas crianças trabalhador rural foi vítima de amputação de membro superior esquerdo em nível de ombro desarticulação do ombro decorrente de esmagamento por máquina agrícola JN residia em área rural próximo ao DF onde possuía rede de apoio estabelecida por familiares e sua esposa Durante o período de sua internação hospitalar JN foi acompanhado diuturnamente por sua esposa que por sua vez delegava os cuidados dos filhos a familiares Uma das questões levantadas foi que espontaneamente pelo próprio paciente era de que sua esposa em acompanhamento psiquiátrico por ansiedade apresentavase como fator estressor durante aquela internação A reação da mulher fatigada durante os muitos meses de acompanhamento hospitalar por diversas vezes era alvo de comportamentos hostis por parte do JN necessitando de intervenção da equipe Ressaltase que assim como L JN preocupavase com a possibilidade de retorno às atividades laborais pois era o único provedor da família Em nenhum momento presenciouse por parte da equipe discurso de minimização ou desqualificação da preocupação laborativa e financeira que assolava JN JN manteve acompanhamento pelo serviço de Psicologia do hospital em regime ambulatorial até dezembro de 2020 Até o momento passandose mais de um ano após seu acidente o paciente apresenta grande preocupação quanto a limitação da atividade laboral Solicita sua aposentadoria por invalidez ainda sem aprovação por parte do órgão responsável No caso da rede de apoio observase que seguia recebendo auxílio financeiro e emocional de seus familiares em especial de sua esposa Também se mantinham presentes e expressos diretamente à equipe de saúde sentimentos de raiva e ideação suicida durante todo o acompanhamento Já F paciente do sexo masculino 20 anos solteiro vítima de amputação de perna direita a nível de coxa amputação transfemural por atropelamento de carro Ele não estava inserido no mercado de trabalho formal residindo com os pais em região do entorno do DF Durante sua internação F teve como principal cuidadora sua mãe que prestava cuidados físicos e emocionais ao rapaz Durante o primeiro momento de internação hospitalar F chamou atenção da equipe pois não possuía reações emocionais compatíveis com o momento vivido estando sempre muito sorridente e disposto Por este motivo recebeu o título de bom paciente como se tal comportamento fosse de resignação Passado este momento que durou alguns dias F entrou em contato com o que a amputação significava na sua vida e as dificuldades que isto lhe implicaria A partir de então começou a apresentar grandes queixas de dor que eram de difícil manejo medicamentoso Também começou a exibir comportamentos agressivos com os cuidadores em especial com a mãe Ao longo da internação e com a melhora da cicatrização da ferida bem como melhor controle álgico F foi se aproximando de sua nova realidade apresentando comportamentos mais adaptados e lineares Contudo em nenhum momento foi questionado quanto às suas oscilações de humor sendo estas consideradas próprias do momento Também não teve nenhuma sinalização por parte da equipe de saúde de que a agressividade dirigida para a mãe era inadequada No início de 2021 foi feita nova pesquisa em sistemas de prontuário eletrônico da rede pública de saúde não foi encontrado nenhum registro de acompanhamento ambulatorial indicando que o paciente descontinuou o acompanhamento em saúde e reabilitação compartilhas de maneira repetitiva pelos profissionais até mesmo quanto a forma de suporte que cada paciente recebeu de sua rede de apoio Dos pacientes homens atendidos no ano de 20192020 n 8 três foram vítimas de acidentes automobilísticos envolvendo moto Os três pilotavam as motos no momento do acidente Outros quatro homens foram vítimas de atropelamento sendo dois vítimas de atropelamento por trem outros dois atropelamento foram deixados por terceiros sobre os trilhos do trem os sujeitos foram alterada por uso de substância álcool e drogas Um homem teve seu braço esmagado durante manuseio de máquina agrícola em um acidente de trabalho Independente do mecanismo de trauma nenhum dos oito homens abordados neste estudo foi culpabilizadoseja pela equipe ou pelos familiaresacompanhantes pelo acidente Até mesmo o uso de substâncias psicoativas foi visto como natural sem nenhuma implicação maior distinto durante a acompanhamento Quanto aos homens que foram vítimas de acidente automobilístico ainda que todos pilotassem as motos nenhum foi considerado responsável pelo seu estado de saúde Não se observou de qualquer parte falas que desmotivassem os mesmos na manutenção de seu interesse por motos Contudo no caso de V é possível avaliar que as falas de culpabilização pela forma como a paciente familiares quanto entre os profissionais da equipe de saúde Em relação à preocupação de V quanto à manutenção de seu relacionamento também se observou como um fenômeno único Nenhum homem nem mesmo aqueles que possuíam parceria fixa apresentou preocupação com a manutenção de seu relacionamento Sequer observouse a elaboraçãotemor de uma possível rejeição por parte das companheiras após a mutilação física como se fosse mais do que esperado garantindo que elas se mantinham nos relacionamentos Diferentemente do caso de V que relatou ter à época uma relação estável e não recebeu sequer uma visita de seu companheiro Podese atribuir este comportamento à função que os dispositivos amoroso e materno ZANELLO 2018 exercem em homens e mulheres sendo este constitutivo para mulheres e altamente lucrativo afetivamente para os homens Tratase de situações nas quais a assimetria gendrada de investimento e disposição afetiva é colocada em questão demandando deles um darcuidar maior e mais igualitário ou pelo menos mais próximo aquele oferecido pelas mulheres o que subverteria a lógica desigual da economia dos afetos e cuidados numa as relações de gênero estão estruturadas Este fenômeno também é observável em situações nas quais mulheres em relação às estáveis padecem de câncer de mama COSTA LIMA NEVES 2020 nascimento de um filho com algum tipo de deficiência VALE ALVES CARVALHO 2020 ou sãopresas OLIVEIRA et al 2021 Nessas situações é comum o abandono do parceiro Não à toa Singh et al 2007 apontam sobre as diferenças de gênero no processo de reabilitação após cirurgia de amputação maior tendência das mulheres a viverem sozinhas Além disso podese observar tanto no acompanhamento de homens quanto no de mulheres a presença de figuras familiares femininas não só a esposa no caso dos homens mas a mãe em ambos os casos como principais cuidadores caso que se repete constantemente quando se analisa perfil de cuidados no Brasil KANTORSKI et al 2019 Outro ponto que merece destaque é que nenhum dos oito homens contemplados no presente estudo relatou prejuízo à autoestima durante a acompanhamento psicológico Também não foram incentivados comportamentos de autocuidado que não estivessem absolutamente ligados à higiene íntima do paciente homem por exemplo em nenhum momento estes pacientes foram induzidos a fazer a barba cortar ou pentear o cabelo usar outras roupas que não as de uso hospitalar Nem por isso estes homens foram considerados como desarrumados com a autoestima baixa Em outras palavras suas estratégias de enfrentamento não foram associadas ao cuidado físico Não à toa somente as pacientes mulheres relataram algum nível de sofrimento pela drástica mudança físicocorporal que a amputação causaria e seus desdobramentos na autoestima e nas relações afetivoemocionais No que concerne à preocupação para a volta ao trabalho expressa por L mal avaliada pelos profissionais de saúde ela foi expressa por todos os pacientes homens atendidos nesse período e que estavam inseridos no mercado de trabalho Porém em nenhum momento estes foram críticos ou questionados diante de suas condutas Tinham pelo contrário empatia por parte da equipe de saúde pois de forma geral apresentavamse como provedores do lar e desta forma encaixavamse nos scripts socialmente esperados de um homem Assim essa preocupação com a reinserção no ambiente de trabalho tornavase validada No entanto como apontam Oliveira e Almeida 2019 em estudo acerca das estratégias de enfrentamento de pacientes submetidos a cirurgias de amputação o foco na atividade de trabalho é no pósoperatório uma via possível para o enfrentamento saudável de todos os pacientes amputados e não apenas de homens Os preconceitos de gênero e a falta de formação nessa perspectiva por parte dos profissionais de saúde podem assim ser vistos como fatores que limitaram a escuta clínica do sofrimento e as possíveis intervenções que dela poderiam decorrer Conclusões A leitura do campo da saúde sob a perspectiva de gênero ainda é incipiente e em certos ramos quase inexistente Este é o caso do campo de estudos sobre a amputação sendo muito raros os estudos sobre o fenômeno nessa perspectiva SINGH et al 2007 HEIKKINEN et al 2007 mais ainda no caso de amputações traumáticas Além disso como grande parte dos usuários que passam por esse procedimento são homens as especificidades e diferenças que as mulheres passam despercebidas Gênero medeia tanto a constituição identitária através da qual o paciente vivencia a amputação e seus medos e temores decorrentes da mudança corporal quanto a avaliação que é feita pelos profissionais de saúde Assim embora silenciadas as questões de gênero atravessam os muros das instituições de saúde e se materializam nos discursos nas práticas e no cotidiano dos trabalhadores ainda que de um modo válido e quase imperceptível MARTINS MODENA 2016 p 413 Ao não se questionarem e problematizarem os próprios preconceitos e estereótipos de gênero os profissionais de saúde acabaram por não oferecer uma escuta qualificada a uma intervenção capaz de operar mudança e ressignificação das vivências de sofrimento e temores do paciente Além disso homens recebem mais suporte afetivoamoroso do que mulheres na mesma condição Como esses fatores influenciam o próprio prognóstico do caso clínico É um tema que merece ser pesquisado a fundo Por exemplo estudos sugerem que homens apresentam melhor desempenho físico e no trabalho após cirurgias de amputações se comparados a mulheres WEN et al 2018 Além disso mulheres tendem a relatar maior intensidade de dor fantasma após amputação No entanto as razões permanecem desconhecidas WEN et al 2018 Talvez os pacientes aqui apresentadas se beneficiassem se pudessem ter tido suas falas validadas seja quanto ao gosto pessoal por um objeto específico considerado masculino seja pelo desejo de manter seu trabalho onde sempre esteve no centro de sua vida O presente capítulo utilizouse de estudos de caso expostos No entanto apontase uma lacuna e uma invisibilidade de um tema que merece maior atenção e formulação de pesquisas Por fim fazse mister sublinhar que em países sexista como o Brasil gênero é um importante fator que contribui para a saúde mental e bemestar PATTEL 2005 devendo ser levado em consideração pelas equipes de saúde seja na compressão dos casos clínicos seja na formulação de suas intervenções Para que isso seja possível é necessário que esta perspectiva seja ensinada de forma transversal na formação desses profissionais REFERÊNCIAS HIRS Adam T et al Sex differences in pain and psychological functioning in persons with limb loss J Pain v 11 n 1 2010 VALE Paulo Roberto Lima Falcão do ALVES Deisyane Vitória CARVALHO Evanilda Souza de Santana Bem corrido reorganização cotidiana das mães para cuidar de crianças com Síndrome Congênita pelo Zika Rev Gaúcha de Enfermagem v 41 2020
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O dispositivo gênerosexualidaderacismos e a educação libertária Ensaios Analíticos de Psicologia Social O DISPOSITIVO GÊNEROSEXUALIDADERACISMOS E A EDUCAÇÃO LIBERTÁRIA ensaios analíticos de Psicologia Social Transversalidade e Criação Ética Estética e Política Volume 15 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Catalogação na fonte Biblioteca Luzernira Alves dos Santos CRB91506 D611 O dispositivo gênerosexualidaderacismos e a educação libertária ensaios analíticos de Psicologia Social Flávia Cristina Silveira Lemos et al organizadores Curitiba CRV 2022 Transversalidade e Criação Ética Estética e Política v 15 Conselho Editorial Aldira Guimarães Duarte Domingues UNB Andreiia da Silva Quintalinha Sousa UNIRUFRN Anselmo Alencar Colares UFOPA Antônio Pereira Galvão Júnior UFRJ Carlos Alberto Vilar Estêvão UFMHINO PI Carlos Frederico Dominguez Ávila Unicentro Carmen Tereza Velinha UNIR Celso Conti UFSCAR César Gerônimo Tello Universidad Nacional Três de Fevereiro Argentina Eduardo Fernandes Barbosa UFMG Elione Maria Nogueira Dioneses UACL Elizeu Clemente de Souza UNB Êlísio José Corá UFFS Fernandinho Gonçalves Alcoforado IPB Francisco Carlos Duarte PUCPR Gilvan Farias León Universidade de La Habana Cuba Guillermo Arriaza Betón Universidade de La Habana Cuba Helmuth Krüger UCP Jailson Alves dos Santos UFRJ Josenia Portela UFPI Leonel Severo Rocha UNISINOS Lídia de Oliveira Xavier UNIERRO Lourdes Helena da Silva UFV Marcelo Paixão UFRJ e Unilas US Maria Cristiane dos Santos Bezerra UFSCar Maria de Lourdes Pinto de Almeida UNESOC Maria Lília Imbiriba Soares Colares UFOPA Paulo Romaldo Hermandos UNEFALMG Renato Francisco dos Santos Paula UFG Rodrigo PratteSantos UFES Sérgio Nunes de Jesus IFRO Simone Rodrigues Pinto UNB Solange Helena XimenesRocha UFOPA Sydione Santos UEPG Tadeu Oliver Gonçalves UFPA Tania Suely Azevedo Brasileiro UFOPA Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 19 LEITURA E ESCRITA NA PESQUISA notas do cotidiano atreladas em práticas do cuidado de si e do reexistir 21 Leticia Lages Assunção John L Lima e Silva A GEOPOLÍTICA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO A PARTIR DE UM OLHAR DECOLONIAL AMAZÔNICO 37 Edilson Mateus Costa da Silva Raimundo Erudino Santos Diniz DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PROTEÇÃO DOS VULNERÁVEIS E DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE NA AMAZÔNIA LEGAL análise das cláusulas obrigatórias nos contratos agrários como instrumento de garantia 55 Jorge Calandrini Paula Arruda AS FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NOS PROCESSOS DE DESTERRITORIALIZAÇÃO CAMPONESA 73 Maria Ivaneide Pereira Ramos Jéssica Modinne de Souza e Silva ESCREVIVÊNCIAS DOS CORPOS DO SUL DO GLOBO teorias feministas do outro do centro invadindo a academia 87 Bárbara Cossetin Costa Beber Brunini Murilo dos Santos Moscheta ESTUDOS SOBRE GÊNERO NA PSICOLOGIA SOCIAL uma aposta ética e política nas epistemologias decoloniais 99 Livia Lima Gurgel João Paulo Pereira Barros TRAUMAS DECOLONIAIS SOFRIMENTOS E REEXISTÊNCIAS a produção coletiva de cuidados na Universidade Federal da Bahia 111 Thais Seltzer Goldstein Irene Guilliien Demoulieres Maira Ferreira dos Santos Sashenka Meza Mosqueira TRISTE LOUCA OU MÁ PENSAMENTOS FEMINISTAS DECOLONIAIS E PSICOLOGIAS 137 Luciola Santana Pastana Silva AS MULHERES MUNDIALIZADAS PELO BOTO 151 Carla Regina Guerra Moreira Lobo Daniãnisse Baliero de Castro Miguel Pereira de Assis AS RELAÇÕES DE GÊNERO DE LIDERANÇAS NA ETNIA TENETEHARTEMBÉ 165 Antônia Elinalde Alves Corrêa Miriam Dantas de Almeida CORPO PERFORMATIVO RELAÇÕES DE GÊNERO E A NORMALIZAÇÃO MÉDICOHIGIENISTA DE MULHERES 175 Giane Silva Santos Souza Fernanda Teixeira de Barros Neta Adriana Elisa de Alencar Macedo Ana Claudia Assunção Chaves Lauany Câmara Chermont Pinheiro NOTAS ACERCA DE UM GRUPO DE MULHERES NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL CREAS 201 Ana Carolina Carvalho Pinheiro Vanessa Luane Farias Sampaio Valber Luiz Farias Sampaio Jéssica Modinne de Souza e Silva TRANSEXPERIÊNCIAS MASCULINAS E CONTROLE DOS CORPOS apontamentos sobre a subjetivação de Trans homens 217 Silviane Campos de Souza Maria Regina Momesso GÊNERO E SEXUALIDADE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES reflexões na região dos cocais maranhenses 227 Simone Cristina Silva Simões Raimunda Nonata da Silva Machado LEITURA FEMINISTA DO FILME A EXCÊNTRICA FAMÍLIA DE ANTÔNIA 243 Carolina Natividade CONCEITO DE VIOLÊNCIA E ALGUNS APORTES TEÓRICOS PARA PENSAR RELAÇÕES DE GÊNERO 249 Giane Silva Santos Souza Ana Claudia Assunção Chaves Fernanda Teixeira de Barros Neta Cristina Simone de Sousa Reis Pamella Augusta Passos Ventura Pina Joelma do Socorro Lima Bezerra A FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICORACIAIS inquietações acerca do curso de Psicologia da Universidade Federal do Pará 261 Adriana Moraes e Moraes Lauany Câmara Chermont Pinheiro Jéssica Costa Veiga PROBLEMATIZAÇÕES INICIAIS DA GOVERNAMENTALIDADE DO RACISMO COM A PSICOLOGIA 277 André Benassuly Arruda Flávia Cristina Silveira Lemos Dolores Galindo BREVE HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS NEGRO E FEMINISTAS as políticas afirmativas na educação 299 Ronilda Bordô de Freitas Garcia José Augusto Lopes da Silva Felipe Sampaio de Freitas Ana Carolina Farias Franco Bruno Jây Mercês de Lima DISPOSITIVOS DE GÊNERO PORNOGRAFIA E PROCESSOS DE SUBJETIVACAO FEMININA 317 Jéssica Batista Araújo Júlia Tôrres Barbosa Rhullya Rhasya M Claudino MULHERES VÍTIMA DE AMPUTAÇÃO TRAUMÁTICA E SEU ATENDIMENTO NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE a importância de se qualificar a perspectiva dos estudos de gênero na formação dos profissionais de saúde 333 Isabela Castelli Valeska Zanello ROMA relações de gênero classe e raça em uma perspectiva feminina 347 Maria Vitória Ferreira Tatiana Machiavelli Carmo Souza CONTOS EM DESENCANTOS uma análise localizada do fluxo de práticas violentas a partir do discurso de mulheres atendidas em uma defensoria pública no interior de Mato Grosso 361 Márcio Alessandro Neman do Nascimento Jéssica Matos Cardoso João Paulo dos Santos de Oliveira FEMINISMO E NEOLIBERALISMO mulheres em tempo de empresariamento do sujeito 379 Caelen Yumi Takada Barros Jéssica Modinne de Souza e Silva DESIGUALDADES DE GÊNERO A UNIVERSIDADE BRASILEIRA invisibilidades das mulheres 395 Larissa Kimberlie de Oliveira Vieira Melina Navegantes Alves Luana Borges Teixeira Flávia Cristina Silveira Lemos OS IMPACTOS DO BIOPODER NA TRAJETÓRIA DA MULHER da universidade ao mercado de trabalho 405 Hadassa Milene Coelho de Almeida Thiago Veríssimo de Paiva Costa A DOCILIZAÇÃO DE CORPOS EM DISCURSOS POLÍTICOS E SUA REPERCUSSÃO NOS CONTEXTOS EDUCATIVOS 423 William Roslindo Paranhos Eliz Marine Wiggers Inara Antunes Vieira Willerding LEITURA DE LITERATURA COM TEMÁTICA LGBT NA ALA PR SIONAL LGBT AQUARELS 441 Márcio Alessandro Neman do Nascimento Jefferson Adriâ Reis RECONHECIMENTO E INCLUSÃO PELO CONSUMO a reprodução social do capitalismo na comunidade LGBTQIA 453 Aline Rebouças Azevedo Soares Stephanie Caroline Ferreira de Lima Aluísio Ferreira de Lima Deborah Christina Antunes NOTAS SOBRE POLÍTICAS DO CONHECIMENTO NA FORMAÇÃO DE EDUCADORXS EM GÊNERO E SEXUALIDADES 467 Leonardo Lemos de Souza Gabriel Batista Mota Matheus Estevão Ferreira da Silva A FORMAÇÃO DE SUBJETIVIDADES NAS POLÍTICAS DE CURRÍCULO PARA A DIVERSIDADE dissonâncias do projeto escola sem homofobia 485 José Rafael Barbosa Rodrigues Carlos Jorge Paixão FEMINICIDIO NA PANDEMIA relações de poder direitos humanos e políticas públicas 501 Luane Michelle Carvalho Costa Jéssica Modinne de Souza e Silva SOBRE A MENINA À VENDA da prostituição infantojuvenil à exploração sexual 519 Ana Maria Ricci Molina EU PASSEI POR ISSO percorrendo a rede de atendimento às mulheres em situação de violência em Mato Grosso 537 Renata Vilela Rodrigues Ariane M Lemes Bárbara dos S Maroni Luiz Guilherme Araújo Gomes A PRODUÇÃO DO SUICÍDIO INDÍGENA NO BRASIL uma revisão sistemática 559 Carmen Hannud Carballeda Adsura João Iríude de França Neto Leandro Passarinho Reis Júnior DESLOCAMENTOS E PRODUÇÃO DE SENTIDOS A PARTIR DO ENCONTRO DA PSICOLOGIA COM AS CAPITOAS TENETEARTEMBÉ uma construção de saberes 573 Carmen Hannud Carballeda Adsura Mírian Dantas de Almeida Robenilson Moura Barreto Thiago Costa RACISMO breves considerações a partir de Frantz Fanon Maria Eduarda de Pinho Oliveira 589 MULHERES VÍTIMAS DE AMPUTAÇÃO TRAUMÁTICA E SEU ATENDIMENTO NA REDE PÚBLICA DE SAÚDE a importância de se qualificar a perspectiva dos estudos de gênero na formação dos profissionais de saúde Isabela Castelli Valeska Zanello funcionalidade e qualidade de vida MILIOLI et al 2012 SANTOS LUZ 2015 SEREN TILIO 2014 Discutese as consequências físicas e psicológicas que uma cirurgia de amputação pode ocasionar OLIVEIRA ALMEIDA 2019 BERGO PREBIANCHI 2018 como a justiça a escola a saúde Isso ocorre não apenas através da repetição e reprodução de valores estereótipos e ideais culturais CASARES 2008 mas de forma ativa como por exemplo no ato diagnóstico ZANELLO 2014 e através da avaliação do estado emocional de alguém Na saúde isso pode se dar ao se eleger certos valores gêneros como parâmetro de avaliação do bemestar caso o paciente seja um homem ou uma mulher Nas palavras de Martins e Modena 2016 as instituições de saúde se constituem assim como um palco privilegiado para manifestação e reprodução das desigualdades de gênero frequentemente desconsideradas negadas ou silenciadas p 401 Como isso se manifesta no atendimento e no serviço de saúde a mulheres e homens que passaram por amputação traumática É o que se pretende discutir no presente capítulo O objetivo é apresentar e comparar a leitura e o tratamento de dois casos clínicos de mulheres usando como pano de fundo dois casos clínicos de homens que também passaram por esse procedimento A ênfase será dada na diferença de avaliaçãomanejo dos casos a depender dos valores de gênero envolvidos Foi realizada uma análise dos prontuários de um serviço de atendimento pela equipe de Psicologia da Unidade de Trauma e Ortopedia de um hospital público de nível terciário de uma capital brasileira referência em trauma entre os meses de julho de 2018 a agosto de 2019 Nesse período foram identificados 10 pacientes que passaram por uma amputação traumática ou seja decorrentes de situações de traumas como acidentes de trânsito ferimento por arma branca ou de fogo agressão física etc sendo oito homens e duas mulheres Nesse serviço a primeira abordagem por parte da equipe de Psicologia ocorreu em tempo médio inferior a 48 horas Os pacientes são submetidos à entrevista inicial para avaliação de demandas por meio de roteiro de entrevista semiestruturado e posteriormente acompanhados durante a internação hospitalar até a alta Constam em seu prontuário todas as observações referentes a essas etapas e acompanhamento No grupo masculino sete possuíam vida laboral ativa um dos pacientes era um homem era menor de idade e portanto estudante Nenhum dos homens acompanhados apresentava comorbidades conhecidas Cinco dos oito homens acompanhados no estudo eram casados ou viviam relacionamentos conjugais estáveis Três homens eram solteiros sendo que destes um era menor de idade Quanto aos homens que possuíam relacionamentos estáveis todos os cinco foram acompanhados por suas companheiras principais cuidadoras durante o período de internação hospitalar Em relação aos homens solteiros as principais cuidadoras foram as genitoras Quanto às duas mulheres avaliadas no estudo uma declarava relacionamento estável porém recente menos de seis meses de relacionamento e uma declaravase solteira Quanto aos cuidadores destas pacientes destacouse a mãe no caso da paciente mais jovem e das sobrinhas no caso da paciente mais velha Apenas uma das mulheres estava inserida formalmente no mercado de trabalho enquanto a outra paciente realizava atividades de maneira informal Uma das pacientes apresentava comorbidades conhecidas em decorrência de obesidade outra não apresentava nenhum sinal alterado de saúde Da amostra foram escolhidos dois casos clínicos de pacientes mulheres vítimas de amputações traumáticas as duas únicas atendidas nesse período e dois casos de pacientes homens Os casos masculinos foram tomados como elemento comparativo com o objetivo de ressaltar as diferenças e singularidades dos casos femininos O critério de seleção dos pacientes homens foi a maior semelhança possível com o quadro clínico das mulheres Um dos homens selecionados apresentava faixa etária próxima à faixa etária de V entre 2025 anos Já o outro apresentava nível de amputação similar ao nível de amputação de L Além disso é importante ressaltar que uma das autoras trabalhava no serviço nesse período de modo que documentos falas e avaliações informais da equipe também foram anotadas e utilizadas na análise após a alta não acompanhou o tratamento de saúde da paciente e em pouco tempo terminou a relação Na fala desta paciente foi possível observar que a rede de apoio extensa também não se manteve após a alta hospitalar No momento desta avaliação a paciente referiu passar por questões conflituosas quanto a sua autoimagem Ressaltase que a mesma não compreendeu na consulta arrumada como era vista durante a internação reforçando a hipótese avaliativa levantada de que os adornos anteriormente observados não faziam parte de seu repertório natural mas eram sugeridos por outras pessoas que a acompanhavam durante a internação tanto familiares quanto a equipe de saúde No início de 2021 foi feita nova pesquisa em sistemas de prontuário eletrônico da rede pública de saúde Não foi encontrado nenhum registro de acompanhamento ambulatorial indicando que a paciente descontinuou o acompanhamento em saúde e a reabilitação A segunda paciente L 66 anos foi vítima de acidente automobilístico estava no banco do carona quando o condutor perdeu o controle do carro e bateu contra uma árvore Em decorrência do trauma a paciente teve o braço direito amputado desarticulação de ombro com lesão e perda parcial da mão direita De forma diferente de V L permanecia alguns anos em um estado geral grave tendo suas funções corporais mantidas por aparelhos Quando a paciente apresentou melhora clínica e consequentemente melhora do nível de consciência afirmava não se lembrar de nada do acidente e que também não queria ler falar sobre o assunto informação retirada do prontuário da paciente Diferentemente das falas de culpabilização dirigidas a V L recebia por parte da equipe falas e comportamentos de empatia pois estava na bonde do corona no momento do seu acidente Além disso os familiares apresentavam uma equipe multiprofissional preocupação com a reação emocional de L quando compreendesse a amputação e o prejuízo funcional que isto traria Os familiares afirmavam que a paciente já possuía o emocional fragilizado SIC informação retirada do prontuário da paciente Durante a internação hospitalar por vezes a paciente apresentava afeto irritável e recusava os cuidados de enfermagem eou realização de procedimentos por exemplo deslocamento para realização de raioX levantar a cabeceira para receber dieta possibilitar troca de curativos etc Os casos dos homens JN e F Paciente do sexo masculino JN 34 anos casado pai de duas crianças trabalhador rural foi vítima de amputação de membro superior esquerdo em nível de ombro desarticulação do ombro decorrente de esmagamento por máquina agrícola JN residia em área rural próximo ao DF onde possuía rede de apoio estabelecida por familiares e sua esposa Durante o período de sua internação hospitalar JN foi acompanhado diuturnamente por sua esposa que por sua vez delegava os cuidados dos filhos a familiares Uma das questões levantadas foi que espontaneamente pelo próprio paciente era de que sua esposa em acompanhamento psiquiátrico por ansiedade apresentavase como fator estressor durante aquela internação A reação da mulher fatigada durante os muitos meses de acompanhamento hospitalar por diversas vezes era alvo de comportamentos hostis por parte do JN necessitando de intervenção da equipe Ressaltase que assim como L JN preocupavase com a possibilidade de retorno às atividades laborais pois era o único provedor da família Em nenhum momento presenciouse por parte da equipe discurso de minimização ou desqualificação da preocupação laborativa e financeira que assolava JN JN manteve acompanhamento pelo serviço de Psicologia do hospital em regime ambulatorial até dezembro de 2020 Até o momento passandose mais de um ano após seu acidente o paciente apresenta grande preocupação quanto a limitação da atividade laboral Solicita sua aposentadoria por invalidez ainda sem aprovação por parte do órgão responsável No caso da rede de apoio observase que seguia recebendo auxílio financeiro e emocional de seus familiares em especial de sua esposa Também se mantinham presentes e expressos diretamente à equipe de saúde sentimentos de raiva e ideação suicida durante todo o acompanhamento Já F paciente do sexo masculino 20 anos solteiro vítima de amputação de perna direita a nível de coxa amputação transfemural por atropelamento de carro Ele não estava inserido no mercado de trabalho formal residindo com os pais em região do entorno do DF Durante sua internação F teve como principal cuidadora sua mãe que prestava cuidados físicos e emocionais ao rapaz Durante o primeiro momento de internação hospitalar F chamou atenção da equipe pois não possuía reações emocionais compatíveis com o momento vivido estando sempre muito sorridente e disposto Por este motivo recebeu o título de bom paciente como se tal comportamento fosse de resignação Passado este momento que durou alguns dias F entrou em contato com o que a amputação significava na sua vida e as dificuldades que isto lhe implicaria A partir de então começou a apresentar grandes queixas de dor que eram de difícil manejo medicamentoso Também começou a exibir comportamentos agressivos com os cuidadores em especial com a mãe Ao longo da internação e com a melhora da cicatrização da ferida bem como melhor controle álgico F foi se aproximando de sua nova realidade apresentando comportamentos mais adaptados e lineares Contudo em nenhum momento foi questionado quanto às suas oscilações de humor sendo estas consideradas próprias do momento Também não teve nenhuma sinalização por parte da equipe de saúde de que a agressividade dirigida para a mãe era inadequada No início de 2021 foi feita nova pesquisa em sistemas de prontuário eletrônico da rede pública de saúde não foi encontrado nenhum registro de acompanhamento ambulatorial indicando que o paciente descontinuou o acompanhamento em saúde e reabilitação compartilhas de maneira repetitiva pelos profissionais até mesmo quanto a forma de suporte que cada paciente recebeu de sua rede de apoio Dos pacientes homens atendidos no ano de 20192020 n 8 três foram vítimas de acidentes automobilísticos envolvendo moto Os três pilotavam as motos no momento do acidente Outros quatro homens foram vítimas de atropelamento sendo dois vítimas de atropelamento por trem outros dois atropelamento foram deixados por terceiros sobre os trilhos do trem os sujeitos foram alterada por uso de substância álcool e drogas Um homem teve seu braço esmagado durante manuseio de máquina agrícola em um acidente de trabalho Independente do mecanismo de trauma nenhum dos oito homens abordados neste estudo foi culpabilizadoseja pela equipe ou pelos familiaresacompanhantes pelo acidente Até mesmo o uso de substâncias psicoativas foi visto como natural sem nenhuma implicação maior distinto durante a acompanhamento Quanto aos homens que foram vítimas de acidente automobilístico ainda que todos pilotassem as motos nenhum foi considerado responsável pelo seu estado de saúde Não se observou de qualquer parte falas que desmotivassem os mesmos na manutenção de seu interesse por motos Contudo no caso de V é possível avaliar que as falas de culpabilização pela forma como a paciente familiares quanto entre os profissionais da equipe de saúde Em relação à preocupação de V quanto à manutenção de seu relacionamento também se observou como um fenômeno único Nenhum homem nem mesmo aqueles que possuíam parceria fixa apresentou preocupação com a manutenção de seu relacionamento Sequer observouse a elaboraçãotemor de uma possível rejeição por parte das companheiras após a mutilação física como se fosse mais do que esperado garantindo que elas se mantinham nos relacionamentos Diferentemente do caso de V que relatou ter à época uma relação estável e não recebeu sequer uma visita de seu companheiro Podese atribuir este comportamento à função que os dispositivos amoroso e materno ZANELLO 2018 exercem em homens e mulheres sendo este constitutivo para mulheres e altamente lucrativo afetivamente para os homens Tratase de situações nas quais a assimetria gendrada de investimento e disposição afetiva é colocada em questão demandando deles um darcuidar maior e mais igualitário ou pelo menos mais próximo aquele oferecido pelas mulheres o que subverteria a lógica desigual da economia dos afetos e cuidados numa as relações de gênero estão estruturadas Este fenômeno também é observável em situações nas quais mulheres em relação às estáveis padecem de câncer de mama COSTA LIMA NEVES 2020 nascimento de um filho com algum tipo de deficiência VALE ALVES CARVALHO 2020 ou sãopresas OLIVEIRA et al 2021 Nessas situações é comum o abandono do parceiro Não à toa Singh et al 2007 apontam sobre as diferenças de gênero no processo de reabilitação após cirurgia de amputação maior tendência das mulheres a viverem sozinhas Além disso podese observar tanto no acompanhamento de homens quanto no de mulheres a presença de figuras familiares femininas não só a esposa no caso dos homens mas a mãe em ambos os casos como principais cuidadores caso que se repete constantemente quando se analisa perfil de cuidados no Brasil KANTORSKI et al 2019 Outro ponto que merece destaque é que nenhum dos oito homens contemplados no presente estudo relatou prejuízo à autoestima durante a acompanhamento psicológico Também não foram incentivados comportamentos de autocuidado que não estivessem absolutamente ligados à higiene íntima do paciente homem por exemplo em nenhum momento estes pacientes foram induzidos a fazer a barba cortar ou pentear o cabelo usar outras roupas que não as de uso hospitalar Nem por isso estes homens foram considerados como desarrumados com a autoestima baixa Em outras palavras suas estratégias de enfrentamento não foram associadas ao cuidado físico Não à toa somente as pacientes mulheres relataram algum nível de sofrimento pela drástica mudança físicocorporal que a amputação causaria e seus desdobramentos na autoestima e nas relações afetivoemocionais No que concerne à preocupação para a volta ao trabalho expressa por L mal avaliada pelos profissionais de saúde ela foi expressa por todos os pacientes homens atendidos nesse período e que estavam inseridos no mercado de trabalho Porém em nenhum momento estes foram críticos ou questionados diante de suas condutas Tinham pelo contrário empatia por parte da equipe de saúde pois de forma geral apresentavamse como provedores do lar e desta forma encaixavamse nos scripts socialmente esperados de um homem Assim essa preocupação com a reinserção no ambiente de trabalho tornavase validada No entanto como apontam Oliveira e Almeida 2019 em estudo acerca das estratégias de enfrentamento de pacientes submetidos a cirurgias de amputação o foco na atividade de trabalho é no pósoperatório uma via possível para o enfrentamento saudável de todos os pacientes amputados e não apenas de homens Os preconceitos de gênero e a falta de formação nessa perspectiva por parte dos profissionais de saúde podem assim ser vistos como fatores que limitaram a escuta clínica do sofrimento e as possíveis intervenções que dela poderiam decorrer Conclusões A leitura do campo da saúde sob a perspectiva de gênero ainda é incipiente e em certos ramos quase inexistente Este é o caso do campo de estudos sobre a amputação sendo muito raros os estudos sobre o fenômeno nessa perspectiva SINGH et al 2007 HEIKKINEN et al 2007 mais ainda no caso de amputações traumáticas Além disso como grande parte dos usuários que passam por esse procedimento são homens as especificidades e diferenças que as mulheres passam despercebidas Gênero medeia tanto a constituição identitária através da qual o paciente vivencia a amputação e seus medos e temores decorrentes da mudança corporal quanto a avaliação que é feita pelos profissionais de saúde Assim embora silenciadas as questões de gênero atravessam os muros das instituições de saúde e se materializam nos discursos nas práticas e no cotidiano dos trabalhadores ainda que de um modo válido e quase imperceptível MARTINS MODENA 2016 p 413 Ao não se questionarem e problematizarem os próprios preconceitos e estereótipos de gênero os profissionais de saúde acabaram por não oferecer uma escuta qualificada a uma intervenção capaz de operar mudança e ressignificação das vivências de sofrimento e temores do paciente Além disso homens recebem mais suporte afetivoamoroso do que mulheres na mesma condição Como esses fatores influenciam o próprio prognóstico do caso clínico É um tema que merece ser pesquisado a fundo Por exemplo estudos sugerem que homens apresentam melhor desempenho físico e no trabalho após cirurgias de amputações se comparados a mulheres WEN et al 2018 Além disso mulheres tendem a relatar maior intensidade de dor fantasma após amputação No entanto as razões permanecem desconhecidas WEN et al 2018 Talvez os pacientes aqui apresentadas se beneficiassem se pudessem ter tido suas falas validadas seja quanto ao gosto pessoal por um objeto específico considerado masculino seja pelo desejo de manter seu trabalho onde sempre esteve no centro de sua vida O presente capítulo utilizouse de estudos de caso expostos No entanto apontase uma lacuna e uma invisibilidade de um tema que merece maior atenção e formulação de pesquisas Por fim fazse mister sublinhar que em países sexista como o Brasil gênero é um importante fator que contribui para a saúde mental e bemestar PATTEL 2005 devendo ser levado em consideração pelas equipes de saúde seja na compressão dos casos clínicos seja na formulação de suas intervenções Para que isso seja possível é necessário que esta perspectiva seja ensinada de forma transversal na formação desses profissionais REFERÊNCIAS HIRS Adam T et al Sex differences in pain and psychological functioning in persons with limb loss J Pain v 11 n 1 2010 VALE Paulo Roberto Lima Falcão do ALVES Deisyane Vitória CARVALHO Evanilda Souza de Santana Bem corrido reorganização cotidiana das mães para cuidar de crianças com Síndrome Congênita pelo Zika Rev Gaúcha de Enfermagem v 41 2020