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Psicologia ·
Avaliação Psicológica
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Acompanhantes sobre o status científico das técnicas projetivas Liza Fensterseifer Blanca Susana Guevara Werlang Existe uma variedade expressiva de instrumentos de avaliação psicológica gerados para a exploração de diversas variantes e processos psicológicos. Cada tipo de instrumento oferece atributos positivos e limitações que o psicólogo deve considerar quando inclui ou exclui de um processo avaliativo. As técnicas projetivas, como instrumentos que geram hipóteses interpretativas, são importantes ferramentas para a identificação de características e traços de personalidade, bem como de sinais e sintomas relacionados a quadros psicopatológicos. Qualquer avaliação psicológica tem como objetivo fornecer informações, para que, a partir destas, sejam tomadas decisões sobre o indivíduo avaliado. Estas decisões situam-se nos mais variados âmbitos, tais como no organizacional (indivíduo sendo ou não considerado para determinado cargo), no jurídico (indivíduo devido ou não de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico), citando apenas alguns. Em todos estes ambientes é comum que se faça uso de técnicas projetivas. Independentemente da área de atuação, a atividade profissional do psicólogo vincula-se diretamente ao ato de avaliar, na sociedade contemporânea, ainda vez mais é preciso avaliar comportamentos humanos em diferentes contextos e com alto grau de precisão e confiabilidade. Testes e técnicas projetivas podem ser utilizados na avaliação da personalidade e de outros elementos (relações interpessoais, dinâmica familiar) que se mostrem importantes para a compreensão de um sujeito ou de uma situação vivenciada ou percebida por ele. Na \"leitura\" de um fenômeno projetivo, deve-se considerar a percepção externa que um indivíduo tem de determinado estímulo, que é influenciada e determinada pelo seu mundo interno. Assim, é possível pensar que a produção feita a partir de uma mancha de tinta, um desenho ou uma história sempre trará consigo informações sobre o que se passa internamente e com aquele que a faz. Essa ideia abrange espaço para que as técnicas projetivas sejam utilizadas em outros contextos e não apenas na investigação da personalidade, trazendo dados sobre a forma com que aquele sujeito percebe determinadas cenas ou situações. Por isso, considera-se que a eleição do instrumento que será utilizado em cada situação de avaliação deve ser pautada por três grupos de fatores: 1) os objetivos da avaliação; 2) a orientação teórica e a PROJEÇÃO, PSICOLOGIA PROJETIVA E TÉCNICAS PROJETIVAS Projeção é um termo introduzido na área da psicologia por Freud, para nomear, primeiramente, um mecanismo de defesa, que consiste em atribuir aos outros ou ao mundo externo, no impulsos e afetos que pertencem ao próprio sujeito. No momento em que é possível projetar (para o exterior) conteúdos inconscientes, o indivíduo pode, através estratégias, ignorar o que é indesejável, protegendo-se de um possível sofrimento doinedade (Freud, 1894/1986; Freud, 1896/1986a). Em 1913, como no texto Totem e Tabu, Freud (1994) passa a considerar a projeção como um mecanismo normal, determinando, em parte, o modo como cada um percebe o mundo externo. Dessa forma, o autor destaca que tal mecanismo ocorrerá onde não há conflito, salientando que as lembranças passadas de um indivíduo têm papel decisivo em suas percepções de estímulos atuais. A projeção também pode ser entendida como uma forma de funcionamento mental, proporcionando ao sujeito a estruturação de seu mundo externo, a partir do interno. A \"principal suposição de Freud é que as lembranças conscientes ou inconscientes influenciam na percepção de estímulos contemporâneos\" (Werlang, 2002, p. 410). Fica claro, então, que a projeção desempenha importante papel na maneira com que cada um estrutura e percebe o mundo externo. Valendo-se das ideias psicanalíticas e protestando contra as principais correntes da psicologia, que podiam estar envolvidos naquele processo, surgiu a psicologia projetiva, formando um ramo da psicologia e que se refere a um conjunto de pressupostos, hipóteses e proposições, expresso em métodos projetivos usados por psicólogos clínicos, para o estudo e o diagnóstico da personalidade humana (Abt, 1984). Diferentemente das correntes teóricas vigentes naquele período, a psicologia projetiva baseia-se na rotação dos indivíduos, que avaliações dessa ordem sempre serão expressas em termos dinâmicos. Para Anziue (1981), o principal objetivo da psicologia projetiva é \"colocar em evidência a dinâmica de fatores internos, de registro permanente psicológico, intervenientes nas condutas humanas\" (p. 263). Quando a psicologia projetiva insiste em uma análise dinâmica e funcional da personalidade, entende-se que ela não se ocupa de segmentos isolados da conduta, mas de técnicas mais complexas. São as funções e os processos psicológicos que compõem a personalidade total de um sujeito que interessam à psicologia projetiva. ser humano como uma totalidade, que sempre terá prioridade e representará mais do que as partes que o compõem. O terceiro fator é o surgimento da psicologia do indivíduo, cujo maior representante é Alfred Adler, que defendia a ideia da personalidade como uma unidade indissolúvel e única. Por fim, outro fundamento que merece menção é a personalidade de Murray, segundo a qual os indivíduos necessitam, que fazem esforços/força para serem satisfeitos. Sob grande influência desses fatores, a psicologia projetiva sustenta firmemente que a causalidade psicológica sempre será singular, ou seja, os indivíduos não podem ser estudados como representantes de classes de indivíduos ou de características, e sim como sujeitos únicos. Entretanto, a crescente necessidade de criação de classes para a prática formal e validada de técnicas projetivas, exige a maior consolidação de uma teoria da psicologia projetiva, sugerindo o exigência conceitos claros para condutas e para a personalidade, passíveis de verificação (Bernstein, 1951; Abt, 1984; Abt & Bellak, 1984). É evidente que essa verificação deve, por um lado, ser empreendida como métodos e condições viáveis para esse tipo de técnica - as projetivas. Por outro, é de grande importância os dados gerados por esta investigação passar no sentido do conjunto geral de conceitos e propostas de pesquisa, mostrando sua utilidade no estudo e na avaliação da personalidade. O conceito de projeção é a psicologia projetiva forma, então, aqueles que sustentaram o nascimento dos métodos projetivos, expressão utilizada pela primeira vez por L. K. Frank, em 1939, para se referir a três técnicas (Teste de Associação de Palavras de Jung, Rorschach e Teste de Percepção Temática - TAT), que, segundo ele, \"formavam o modelo de uma investigação dinâmica e global da personalidade\" (Werlang & Cunha, 1993, p. 123), ideia central destes instrumentos. Tipicamente, enfatiza-se por uma situação-estímulo, sendo aquele sujeito imerso em seu próprio funcionamento, abrindo-se à observação do instrumento, sobre a qual o sujeito atribui as próprias qualidades e necessidades a estímulos externos, sem que tome consciência disso. Entretanto, cabe lembrar que não somente na projeção é que se fundamentam as técnicas projetivas, uma vez que aquele fenômeno integra outros processos psicológicos em seu dinamismo, tais como a identificação e a introjeção, que participam da estruturação do mundo interno do sujeito e o auxiliam, igualmente, a modelar sua impressão e percepção do meio externo. Considerando que as técnicas projetivas visam a favorecer intensamente o aparecimento do mundo interno do testando, justifica-se o uso de estímulos com elementos suficientes. apenas, para elicitar uma resposta possível de ser avaliada. Cabe destacar que a percepção é uma função exercida por fatores externos, do campo da estimulação, e por fatores internos, conforme a ordem e a intensidade das necessidades do indivíduo, e os estímulos serão percebidos conforme o que estiver mais evidente, lembrando que \"os estímulos não agem isoladamente; organizam-se num campo de forças que, sendo estruturado, faz predominar os fatores externos; sendo pouco estruturados, predominarão os fatores internos\" (Silva, 1989, p. 2). Por esse motivo, os estímulos utilizados em técnicas projetivas são, de maneira geral, pouco estruturados, proporcionando o aparecimento de elementos do funcionamento interno do indivíduo, impedindo que este se apóie e se refugie em informações do mundo convencional e que podem ser controladas. Laplanche e Pontalis (1997) salientam, ainda, que não se trata apenas da correspondência entre a construção da personalidade do indivíduo avaliado e sua resposta aos estímulos apresentados. É importante lembrar que, mais do que projetar o eu, o sujeito projeta o que pode ser. Em oposição à tradição psicométrica, que valorizava os procedimentos quantitativos, estatísticos e normativos, as técnicas baseadas na projeção enfatizam os aspectos qualitativos e psicológicos do sujeito avaliado, identificando tendências constantes, motivadas por necessidades implícitas (Villemor-Amaral & Pasqualini-Cascardo, 2006). É como se esta terceira realidade, no momento em que \"há uma interação dinâmica entre os objetos do mundo externo e o mundo interno de pessoa (...) esta percepção dinâmica significando a realidade Bellak propõe o termo apreensão\" (Silva, 1989, p. 1). Considerando essa definição, é claro a ideia de que a apreensão dos dados não só levaria a um resultado em si, mas também à construção de um mundo repleto de significados; necessidades e desejos internos dos sujeitos. As evidências dos desejos internos direcionam uma atenção para as possibilidades de gratificação, produzindo uma perspectiva de ambiente, podendo, até mesmo, haver \"falsificação da realidade, em que o indivíduo cria fantasiamente a possibilidade de satisfazer suas vontades. Por exemplo: se estiver com fome, uma pessoa pode confundir a placa de uma farmácia com a de um restaurante. Dessa forma, Silva (1989) salienta que é possível pensar que a capacidade de percepção de um sujeito existe como um continuum, que vai desde a percepção totalmente objetiva da realidade até a distorção; a percepção extrema, que implica na perda de contato com a realidade e pode estar presente em alguns quadros psicopatológicos. Apreensão é o \"processo pelo qual uma experiência é assimilada e transformada pelo resíduo da experiência passada, ou seja, é a interpretação subjetiva da percepção, que é apenas a interpretação objetiva de um estímulo\" (Werlange, 2002, p. 410). Sendo assim, duas pessoas podem ter a mesma percepção sobre determinado evento ou situação, mas nunca a mesma interpretação ou apreensão. De acordo com seus conteúdos internos, cada pessoa, frente a uma percepção, fará uma \"deformação\" perceptiva do que percebeu. Há que se acrescentar que \"cada percepção é modificada por todas as demais, e se integra a elas\" (Bellak, 1984, p. 32), como demonstra o princípio gestáltico de que o todo é mais do que a soma das partes. Juntamente com os elementos mencionados acima, a interpretação é a compreensão do fenômeno da projeção no contexto das técnicas projetivas, Werlang e Cunha (1993) fazem referência à importância do conceito de regressão à serviço do ego, que possibilita a interrupção temporária da ação do juízo crítico, como o relaxamento da censura, liberando material em que envolve não só conflitos, fantasias, desejos e emoções\" (p. 125). As técnicas projetivas, portanto, servem a um movimento regressivo ao longo de um continuum do pensamento, que vai do processo secundário (princípio da realidade) ao processo primário. princípio do prazer, através do afrouxamento de controles. Nas tarefas de ordem projetiva (dizer o que veem manchas de tinta, contar histórias), assim como em sonhos, em lapsos, em produções artísticas e na associação livre, há uma redução dos controles do ego, o que permite ao sujeito que se sinta livre para fugir às regras rígidas do processo secundário, mesmo que temporariamente, introduzindo em suas respostas elementos simbólicos que tenham significado dinâmico de conteúdos mais profundos. As tarefas menos estruturadas, como as de Rorschach, têm maior probabilidade de fazer aparecer conteúdos primitivos do indivíduo que responde ao teste, em função da projeção. Nas técnicas apperceptivas, como o TAT, um produto final (histórias) requer um mínimo de organização; a projeção também acontece, mas, além dela, é necessário que o sujeito lance mão de outros recursos para a execução da tarefa; mais características do processo secundário (Werlang & Cunha, 1993). Cabe mencionar, ainda, que a regressão é uma função ego que pode operar de maneira adaptativa ou não-adaptativa. Isso significa que não há a perda do controle do ego, apenas seu relaxamento. Por isso, a diminuição excessiva deste controle pode representar indícios de funcionamento de nível psicótico, assim como a dificuldade em executar a função de regressão pode ser sinalizada por problemas para expressar eventos como resposta ao teste. É graças a essa função do ego que se torna possível o processo de elaboração frente ao estímulo projetivo, uma vez que para responder este e indivíduo precisa, concretamente, diminuir a sua tensão interna e mobilizar recursos para conseguir executar com sucesso sua proposta (Werlang & Cunha, 1993). Por fim, destaca-se que, na tarefa de interpretação de testes projetivos, cabe ao psicólogo desvendar as motivações primordiais que se deflagraram no momento em que as respostas são elaboradas. O mundo interno dos indivíduos traduziu-se em desvios e desvantagens psicológicas envolvidas nas atividades, identificando-se que \"não podemos tomar esta interpretação como sendo a expressão de todo comportamento do sujeito, mas sim das suas necessidades e fantasias\" (Montagna, 1989, p. 9). Por outro lado, Freitas (2002) completa essa ideia, salientando que, na interpretação desse tipo de teste, leva-se em consideração que as vivências infantis têm papel decisivo nas condutas e comportamentos adultos. Além disso, há um profundo interesse pela verbalização da pessoa que, acredita-se, revela suas motivações inconscientes. No momento em que uma pessoa é colocada frente a determinada situação, a forma como vai experimentá-la é de acordo com sua perspectiva pessoal, e é nisso que se traduz a estrutura da personalidade de cada indivíduo. Quando conta histórias, compara imagens ou constrói formas, a pessoa utiliza-se ações como formas que lidam com as situações da vida, bem como demonstrando seus recursos e habilidade para o enfrentamento e a resolução de problemas. Esse fenômeno sinaliza não apenas como funciona o psíquico da pessoa, mas também, para os demais, ao compõem. Logo, as respostas dadas nos testes descontrolam a dinâmica afetiva do sujeito avaliado, assim como suas habilidades cognitivas (Güntter, 2000). Finalmente, concorda-se com Aronow, Rezninkoff e Moreland (1995), que chamam a atenção para a distinção entre as aproximações normotécnicas (abordagem estatística e idiográficas (abordagem clínica) na avaliação da personalidade e de testes apperceptivos, que dizem respeito a um indivíduo. Vale destacar que ambas são importantes e complementares, já que não devem ser desconsideradas (Villemor-Amaral & Pasqualini-Cascado, 2006). Na abordagem nomotética, o interesse centra-se na avaliação dos dados de um grupo, a partir de grupos normativos (para avaliar características de uma população) ou de grupos-critérios (para avaliar características de grupos especiais, tais como os portadores de algum transtorno psicopatológico. A performance da pessoa avaliada é comparada aos meios e desvios do grupo do qual ela faz parte (população geral ou clínica). As conclusões geradas por essa comparação da validade baseiam-se na premissa de que sujeitos diferentes respondem de maneira semelhante a um determinado procedimento, conforme características que se asseveram (por exemplo, traços de personalidade, capacidade intelectual/cognitiva, presença de sintomas). A abordagem idiográfica fundamental-se na comparação intra-sujeito, e não mais intersujeitos ou intragrupos. Nessa forma de investigação da validade, há a suposição de que, para isso, especialmente nas técnicas projetivas, o caráter idiográfico é o ponto forte, uma vez que os sujeitos atribuem conteúdos subjetivos às suas respostas, mas desconhecem a relação entre eles (Aronow et al., 1995). Ao encontro disso está a ideia de Sendin (2000), que sustenta que \"este tipo de prova está sujeita a uma grande controvérsia, que ainda tem estado em resolução satisfatoriamente: tanto seus críticos como seus defensores apresentam argumentos sólidos e difíceis de contra-argumentar\" (p. 295). Os críticos sustentam o excessivo subjetivismo na interpretação daquelas intervenções; a grande influência que sofrem de ambiente e o examinador; a baixa fiabilidade, poucos trabalhos de validação e necessidade de dados normativos. Os defensores, por sua vez, destacam a riqueza qualitativa das informações produzidas pelos testes projetivos e a possibilidade de ir além dos dados de grande complexidade. Taveira, justamente por essas qualidades, exerce ainda assim uma defesa... (texto truncado) processo pelo qual a experiência nova é assimilada e transformada pelo traço da experiência passada. Portanto, a percepção e uma interpretação e, como tal, dá sentido à experiência do sujeito, que pode, por sua vez, ser compreendida à luz de diferentes contextos referentes. No momento em que o sujeito responde a uma instrução, ele lançará mão de recursos próprios para realizar a tarefa proposta, construindo-lhe um sentido, a partir de sua subjetividade, de seu mundo interno. Entre em jogo, então, além da projeção, a cognição, a percepção e a percepção, intercedendo essas técnicas em outras abordagens teóricas, que na psicodinâmica. Nesse sentido, fica evidente que a forma como o cada indivíduo percebe e responde ao teste pode ser interpretada com base em outros parâmetros, sem que necessariamente se recorra a compreensão intrapsíquica e inconsciente do sujeito (Telles, 2000; Ribeiro, Pompéia & Bueno, 2005; Bunchart & Vasconcelos, 2006).\n\nO uso da teoria sistêmica para a interpretação das respostas dadas a uma técnica projetiva ganha espaço neste contexto. Osório (2002) enfatiza que diferentes referências contribuem para a compreensão de famílias e dos eventos relacionados a elas, e que, mesmo valendo-se da teoria sistêmica, conceitos psicanalíticos, como as motivações, os conscientes das ações, a possibilidade de falar de si remete à perspectiva do panel de uma dramatização, postulados do psicodrama, ao mesmo tempo em que explicita-se a possibilidade de uma integração de conceitos, sendo de particular interesse aqui, o uso da projeção em uma abordagem sistêmica. Ou seja, acredita-se que o sujeito expressa, através do projeção ou representação, motivações inconsistentes, percepções inconscientes, no momento em que o externo é filtrado pelo interno, de um sujeito, mesmo.\" O STATUS CIENTÍFICO DAS TÉCNICAS PROJETIVAS\n\nApesar de o teste de Rorschach ter surgido na década de 1920, foi a Segunda Guerra Mundial que testemunhou o aumento no uso dos testes projetivos, quando essa finalidade de avaliar soldados que voltavam do front com severos problemas emocionais. Passadas algumas décadas, esses instrumentos começaram a ser alvo de críticas (Lilienfeld, 1999). Contudo, em seu contexto, certamente, o status científico das técnicas projetivas já sempre discutido e, ainda, um dilema. Dados sobre a validade e a fidelidade desse tipo de instrumento psicológico são alvos de críticas há várias décadas (Lilienfeld, 1999; Lilienfeld, Wood & Garb, 2000; Garb, Wood, Lilienfeld & Nezworski, 2002).\n\nA popularidade no uso clínico das técnicas projetivas continua muito expressiva, apesar de nem sempre apresentarem resultados psicométricos positivos, o que encerra uma discrepância entre a pesquisa e a prática (Anastasi & Urbina, 2000). Nessa mesma direção, estão Camara, Natan e Puente, que em um estudo realizado nos Estados Unidos, citado por Seitz (2001), demonstraram que o Desenho da Figura Humana (DFH), o Rorschach, o Teste do Apercepção Temática (TAT) e o House-Tree-Person (HTP) são alguns dos mais utilizados por psicólogos clínicos. No Brasil, Hutz e Bandelira (1993), Pereira, Prim e Cebrián (2003), Goyl e Noronha (2005) e Noronha, Prim e Alvear (2006) demonstraram que esses testes são variados contextos que, apesar de todo descredito existente em relação aos resultados dos produzidos por testes projetivos, muitos psicólogos utilizam-nos em suas práticas, com o objetivo de subsidiar suas avaliações. Testes como Rorschach, TAT, DFH e Teste das Fábulas figuram na lista dos mais populares entre os profissionais da área. Esse dado revela que é equivocado a ideia de que tal tipo de inatividade é destinada à extinção. Lowenstein (1987) relata que, embora estejam sendo utilizadas menos do que no passado, essas técnicas estão longe de morte, e ainda há razões para usá-las estudá-las. O autor cita, ainda, que Rorschach e TAT têm se mostrado de grande utilidade no estudo de pacientes suicidas e regressivos, além de fornecerem mais informações do que testes psicométricos, quando aplicados em pessoas que tiveram vivências traumáticas.\n\nÉ certo que as concepções que guiam a interpretação e o uso de técnicas projetivas devem ser explicitadas e estudadas, buscando cada vez mais solidez e confiança em seus resultados, bem como nos pilares que sustentam a psicologia projetiva, uma vez que não é possível ver que se trabalhe com conceitos que são \"mais esotéricos do que públicos\" (Abt, 1984, p. 50). Além disso, as histórias servem, igualmente, como imagens que trazem à luz algo que escapa do pensamento, dando vazio a elementos dispostos no íntimo/inconsciente dos indivíduos, muitas vezes, clamando para serem vistos. Em seus trabalhos com contos de fadas, os autores ressaltam o importante papel da identificação, não sendo difícil, a partir das história de vida dos sujeitos, entender por que um histório em específico foi escolhida como predileta por um indivíduo. Essa questão não é diferente quando uma pessoa tem liberdade para, frente a uma imagem, contar a história criada. Aqui também os fenômenos identificatórios são determinantes e ajudam no entendimento de Críticas às técnicas projetivas\n\nA maior parte das críticas feitas aos testes psicológicos ainda sim, de acordo com Alves (2004), aos testes psicométricos, dos quais \"mais claramente se espera que devam apresentar normas, validade e fidedignidade, bem como uma fundamentação teórica que os sustente\" (p. 361). Especificamente para os testes projetivos, as críticas centralizam-se na suposta ausência de espírito científico por parte daqueles que constrõem esses instrumentos como para os que os utilizam. Realmente existem práticas documentadas que, ao invés, de agregar cientificidade a técnicas já criticadas, dificultam ainda mais as possibilidades de estarem adquirindo um status mais adequado/confiável entre os membros da comunidade acadêmica e científica. Muitos atribuem, erroneamente, as eventuais dificuldades na determinação das propriedades psicométricas de técnicas projetivas ao material utilizado, modificando-o. Entre tanto, nenhuma análise experimental ou estatística costuma ser empreendida para que a adequação dessa amostra seja verificada, bem como sua relação com o favorecimento ou a inibição da capacidade dos sujeitos submetidos ao teste projetivo. Além disso, mesmo com as modificações do material, a tendência é de que o sistema utilizado para a categorização das respostas seja mantido como o original, o que compromete ainda mais o resultado do teste e a avaliação decorrente dele. Essa mesma discussão aplica-se às modificações empreendidas, especialmente na aplicação dos testes, o que aponta para a necessidade de uma padronização.\n\nOutra crítica, talvez a mais contundente, relaciona-se ao nível irredutível das técnicas projetivas, questionando seu status de verdadeiros testes. Essa ideia ainda se apoiaria no argumento de que, nesse tipo de instrumento, as respostas do sujeito estavam demasiadamente influenciadas pelo examinador, assinalando para a impossibilidade do sujeito não deixar marcas da sua própria personalidade sobre a técnica por ele empregado. Uma última crítica encontra sustentação na fragilidade da maioria dos trabalhos realizados, na tentativa de validação das técnicas projetivas. Anzeu (1981) cita um estudo de Cronbach, em que foram identificados erros estatísticos grosseiros em inúmeros trabalhos sobre o Rorschach, além de pesquisas envolvendo amostras pouco representativas e sem controle de variáveis como sexo, idade, origem étnica e cultural, escolaridade; nível socioeconômico, capacidade cognitiva.\n\nDessa forma, vê-se que muitas críticas e objeções podem ser reiteradas. Primeiramente, é importante relatar que, assim como autores e estudiosos que encontram, em sua maioria, pesquisas que apontaram para a ineficácia dos testes projetivos, pregando, então, o seu abandono, há, também, aqueles que citam a existência de inúmeros estudos que demonstram o contrário. Pesquisadores tendem a realizar buscas a partir de uma ideia preconceituosa, e que faz com cada um encontre argumentos favoráveis à sua tese.\n\nDiz-se que os testes projetivos têm importância somente no contexto clínico, ao que Anzeu (1981) contra-argumenta, chamando a atenção para a ideia de que \"consignar o caráter eminentemente clínico dos métodos projetivos não invalida o seu rigor\" (p. 257). Certamente isso não autoriza o profissional a basear-se em uma intuição no levante ou análise do teste, de porque o próprio método clínico em psicologia não se reduz a simples. intuição. Vale lembrar, também, que ainda não se dispôe de técnicas de pesquisa totalmente adequadas para a investigação envolvendo os testes projetivos, o que gera dificuldades. Por um lado, as pesquisas que se valem de métodos quantitativos são facilitadas pelas aplicações coletivas, ação não passível de implementação na administração de técnicas projetivas, instrumentos essencialmente individuais. Por outro, a investigação intensiva da personalidade toma muito tempo, o que explica por que as exigências estatísticas de amostragem e de diferenças significativas são difíceis de serem satisfeitas, além de exigirem alto grau de experiência e treinamento por parte do pesquisador. Considerando esses argumentos, fica explícito que esse tipo de técnica ainda carece de estudos sérios, que possam delimitar seu papel e sua função na avaliação da personalidade, indicando para os profissionais, seu grau de confiança e utilidade. Controvérsias sempre existirão, mas nesse ponto, parece de extrema importância e relevância que alguns aspectos positivos das técnicas projetivas possam ser discutidos.\n\nPontes fortes das técnicas projetivas\n\nSe a maioria das críticas lançadas às técnicas projetivas fundamenta-se em seus resultados pobres de validade e fidedignidade (Lilienfeld, 1999; Seitz, 2001), por que elas ainda são tão populares e usadas com expressiva frequência? As ideias de Shindler (1965) podem contribuir para a compreensão desses aspectos. O autor concorda que algumas vantagens dos testes psicométricos, tais como objetivo, economia e simplicidade, não são totalmente contempladas nas técnicas projetivas; por outro lado, estas últimas valorizam o conteúdo e o singular. A sintonia desse tipo de instrumento pode ser pessoal e não só interna de personalidade, que fornecem uma compreensão um tanto simplista do ser humano. As qualidades científicas das técnicas projetivas sempre foram e são questionadas. Em contrapartida, também deveria existir uma preocupação em relação às habilidades dos testes psicométricos de capturarem e referirem os múltiplos fatores e aspectos de personalidade de um indivíduo, de acordo, igualmente, com o seu contexto e momento de vida. Além disso, concorda-se com Tavares (2003), que sustenta que as críticas em relação ao uso da técnica no procedimento objetivo do sujeito de coleta de informações devem fundamentar-se mais no processo de verificação da validade da informação do que na forma de apresentação dos instrumentos - por exemplo, questionários e inventários versus técnicas projetivas.\n\nAnastasi e Urbina (2000) tecem alguns comentários sobre o uso dos testes de tipo projetivo. O primeiro deles diz respeito ao rapport e à sua aplicabilidade, destacando sua capacidade de funcionar como \"quebra-gelo\" durante os contatos iniciais entre o indivíduo que está sendo avaliado e o psicólogo. Uma vez que não há resposta certa ou errada, as técnicas projetivas não põem em risco o prestígio do sujeito, o que costuma reduzir seu embaraço e sua postura, alguns testes projetivos podem ser de muita utilidade na avaliação de crianças pequenas ou de pessoas análogas, possibilitando a comunicação entre avaliador e avaliado. Além disso, vê-se que a natureza não verbalizada dos comportamentos do indivíduo podem ser esclarecidos, inclusive, em relação ao próprio, através desse tipo de instrumento.\n\nOutro ponto destacado pelas autoras é a questão da fraude ou da simulação. De maneira geral, os testes projetivos são menos suscetíveis a esses eventos do que os inventários de
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Estas decisões situam-se nos mais variados âmbitos, tais como no organizacional (indivíduo sendo ou não considerado para determinado cargo), no jurídico (indivíduo devido ou não de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico), citando apenas alguns. Em todos estes ambientes é comum que se faça uso de técnicas projetivas. Independentemente da área de atuação, a atividade profissional do psicólogo vincula-se diretamente ao ato de avaliar, na sociedade contemporânea, ainda vez mais é preciso avaliar comportamentos humanos em diferentes contextos e com alto grau de precisão e confiabilidade. Testes e técnicas projetivas podem ser utilizados na avaliação da personalidade e de outros elementos (relações interpessoais, dinâmica familiar) que se mostrem importantes para a compreensão de um sujeito ou de uma situação vivenciada ou percebida por ele. Na \"leitura\" de um fenômeno projetivo, deve-se considerar a percepção externa que um indivíduo tem de determinado estímulo, que é influenciada e determinada pelo seu mundo interno. Assim, é possível pensar que a produção feita a partir de uma mancha de tinta, um desenho ou uma história sempre trará consigo informações sobre o que se passa internamente e com aquele que a faz. Essa ideia abrange espaço para que as técnicas projetivas sejam utilizadas em outros contextos e não apenas na investigação da personalidade, trazendo dados sobre a forma com que aquele sujeito percebe determinadas cenas ou situações. Por isso, considera-se que a eleição do instrumento que será utilizado em cada situação de avaliação deve ser pautada por três grupos de fatores: 1) os objetivos da avaliação; 2) a orientação teórica e a PROJEÇÃO, PSICOLOGIA PROJETIVA E TÉCNICAS PROJETIVAS Projeção é um termo introduzido na área da psicologia por Freud, para nomear, primeiramente, um mecanismo de defesa, que consiste em atribuir aos outros ou ao mundo externo, no impulsos e afetos que pertencem ao próprio sujeito. No momento em que é possível projetar (para o exterior) conteúdos inconscientes, o indivíduo pode, através estratégias, ignorar o que é indesejável, protegendo-se de um possível sofrimento doinedade (Freud, 1894/1986; Freud, 1896/1986a). Em 1913, como no texto Totem e Tabu, Freud (1994) passa a considerar a projeção como um mecanismo normal, determinando, em parte, o modo como cada um percebe o mundo externo. Dessa forma, o autor destaca que tal mecanismo ocorrerá onde não há conflito, salientando que as lembranças passadas de um indivíduo têm papel decisivo em suas percepções de estímulos atuais. A projeção também pode ser entendida como uma forma de funcionamento mental, proporcionando ao sujeito a estruturação de seu mundo externo, a partir do interno. A \"principal suposição de Freud é que as lembranças conscientes ou inconscientes influenciam na percepção de estímulos contemporâneos\" (Werlang, 2002, p. 410). Fica claro, então, que a projeção desempenha importante papel na maneira com que cada um estrutura e percebe o mundo externo. Valendo-se das ideias psicanalíticas e protestando contra as principais correntes da psicologia, que podiam estar envolvidos naquele processo, surgiu a psicologia projetiva, formando um ramo da psicologia e que se refere a um conjunto de pressupostos, hipóteses e proposições, expresso em métodos projetivos usados por psicólogos clínicos, para o estudo e o diagnóstico da personalidade humana (Abt, 1984). Diferentemente das correntes teóricas vigentes naquele período, a psicologia projetiva baseia-se na rotação dos indivíduos, que avaliações dessa ordem sempre serão expressas em termos dinâmicos. Para Anziue (1981), o principal objetivo da psicologia projetiva é \"colocar em evidência a dinâmica de fatores internos, de registro permanente psicológico, intervenientes nas condutas humanas\" (p. 263). Quando a psicologia projetiva insiste em uma análise dinâmica e funcional da personalidade, entende-se que ela não se ocupa de segmentos isolados da conduta, mas de técnicas mais complexas. São as funções e os processos psicológicos que compõem a personalidade total de um sujeito que interessam à psicologia projetiva. ser humano como uma totalidade, que sempre terá prioridade e representará mais do que as partes que o compõem. O terceiro fator é o surgimento da psicologia do indivíduo, cujo maior representante é Alfred Adler, que defendia a ideia da personalidade como uma unidade indissolúvel e única. Por fim, outro fundamento que merece menção é a personalidade de Murray, segundo a qual os indivíduos necessitam, que fazem esforços/força para serem satisfeitos. Sob grande influência desses fatores, a psicologia projetiva sustenta firmemente que a causalidade psicológica sempre será singular, ou seja, os indivíduos não podem ser estudados como representantes de classes de indivíduos ou de características, e sim como sujeitos únicos. Entretanto, a crescente necessidade de criação de classes para a prática formal e validada de técnicas projetivas, exige a maior consolidação de uma teoria da psicologia projetiva, sugerindo o exigência conceitos claros para condutas e para a personalidade, passíveis de verificação (Bernstein, 1951; Abt, 1984; Abt & Bellak, 1984). É evidente que essa verificação deve, por um lado, ser empreendida como métodos e condições viáveis para esse tipo de técnica - as projetivas. Por outro, é de grande importância os dados gerados por esta investigação passar no sentido do conjunto geral de conceitos e propostas de pesquisa, mostrando sua utilidade no estudo e na avaliação da personalidade. O conceito de projeção é a psicologia projetiva forma, então, aqueles que sustentaram o nascimento dos métodos projetivos, expressão utilizada pela primeira vez por L. K. Frank, em 1939, para se referir a três técnicas (Teste de Associação de Palavras de Jung, Rorschach e Teste de Percepção Temática - TAT), que, segundo ele, \"formavam o modelo de uma investigação dinâmica e global da personalidade\" (Werlang & Cunha, 1993, p. 123), ideia central destes instrumentos. Tipicamente, enfatiza-se por uma situação-estímulo, sendo aquele sujeito imerso em seu próprio funcionamento, abrindo-se à observação do instrumento, sobre a qual o sujeito atribui as próprias qualidades e necessidades a estímulos externos, sem que tome consciência disso. Entretanto, cabe lembrar que não somente na projeção é que se fundamentam as técnicas projetivas, uma vez que aquele fenômeno integra outros processos psicológicos em seu dinamismo, tais como a identificação e a introjeção, que participam da estruturação do mundo interno do sujeito e o auxiliam, igualmente, a modelar sua impressão e percepção do meio externo. Considerando que as técnicas projetivas visam a favorecer intensamente o aparecimento do mundo interno do testando, justifica-se o uso de estímulos com elementos suficientes. apenas, para elicitar uma resposta possível de ser avaliada. Cabe destacar que a percepção é uma função exercida por fatores externos, do campo da estimulação, e por fatores internos, conforme a ordem e a intensidade das necessidades do indivíduo, e os estímulos serão percebidos conforme o que estiver mais evidente, lembrando que \"os estímulos não agem isoladamente; organizam-se num campo de forças que, sendo estruturado, faz predominar os fatores externos; sendo pouco estruturados, predominarão os fatores internos\" (Silva, 1989, p. 2). Por esse motivo, os estímulos utilizados em técnicas projetivas são, de maneira geral, pouco estruturados, proporcionando o aparecimento de elementos do funcionamento interno do indivíduo, impedindo que este se apóie e se refugie em informações do mundo convencional e que podem ser controladas. Laplanche e Pontalis (1997) salientam, ainda, que não se trata apenas da correspondência entre a construção da personalidade do indivíduo avaliado e sua resposta aos estímulos apresentados. É importante lembrar que, mais do que projetar o eu, o sujeito projeta o que pode ser. Em oposição à tradição psicométrica, que valorizava os procedimentos quantitativos, estatísticos e normativos, as técnicas baseadas na projeção enfatizam os aspectos qualitativos e psicológicos do sujeito avaliado, identificando tendências constantes, motivadas por necessidades implícitas (Villemor-Amaral & Pasqualini-Cascardo, 2006). É como se esta terceira realidade, no momento em que \"há uma interação dinâmica entre os objetos do mundo externo e o mundo interno de pessoa (...) esta percepção dinâmica significando a realidade Bellak propõe o termo apreensão\" (Silva, 1989, p. 1). Considerando essa definição, é claro a ideia de que a apreensão dos dados não só levaria a um resultado em si, mas também à construção de um mundo repleto de significados; necessidades e desejos internos dos sujeitos. As evidências dos desejos internos direcionam uma atenção para as possibilidades de gratificação, produzindo uma perspectiva de ambiente, podendo, até mesmo, haver \"falsificação da realidade, em que o indivíduo cria fantasiamente a possibilidade de satisfazer suas vontades. Por exemplo: se estiver com fome, uma pessoa pode confundir a placa de uma farmácia com a de um restaurante. Dessa forma, Silva (1989) salienta que é possível pensar que a capacidade de percepção de um sujeito existe como um continuum, que vai desde a percepção totalmente objetiva da realidade até a distorção; a percepção extrema, que implica na perda de contato com a realidade e pode estar presente em alguns quadros psicopatológicos. Apreensão é o \"processo pelo qual uma experiência é assimilada e transformada pelo resíduo da experiência passada, ou seja, é a interpretação subjetiva da percepção, que é apenas a interpretação objetiva de um estímulo\" (Werlange, 2002, p. 410). Sendo assim, duas pessoas podem ter a mesma percepção sobre determinado evento ou situação, mas nunca a mesma interpretação ou apreensão. De acordo com seus conteúdos internos, cada pessoa, frente a uma percepção, fará uma \"deformação\" perceptiva do que percebeu. Há que se acrescentar que \"cada percepção é modificada por todas as demais, e se integra a elas\" (Bellak, 1984, p. 32), como demonstra o princípio gestáltico de que o todo é mais do que a soma das partes. Juntamente com os elementos mencionados acima, a interpretação é a compreensão do fenômeno da projeção no contexto das técnicas projetivas, Werlang e Cunha (1993) fazem referência à importância do conceito de regressão à serviço do ego, que possibilita a interrupção temporária da ação do juízo crítico, como o relaxamento da censura, liberando material em que envolve não só conflitos, fantasias, desejos e emoções\" (p. 125). As técnicas projetivas, portanto, servem a um movimento regressivo ao longo de um continuum do pensamento, que vai do processo secundário (princípio da realidade) ao processo primário. princípio do prazer, através do afrouxamento de controles. Nas tarefas de ordem projetiva (dizer o que veem manchas de tinta, contar histórias), assim como em sonhos, em lapsos, em produções artísticas e na associação livre, há uma redução dos controles do ego, o que permite ao sujeito que se sinta livre para fugir às regras rígidas do processo secundário, mesmo que temporariamente, introduzindo em suas respostas elementos simbólicos que tenham significado dinâmico de conteúdos mais profundos. As tarefas menos estruturadas, como as de Rorschach, têm maior probabilidade de fazer aparecer conteúdos primitivos do indivíduo que responde ao teste, em função da projeção. Nas técnicas apperceptivas, como o TAT, um produto final (histórias) requer um mínimo de organização; a projeção também acontece, mas, além dela, é necessário que o sujeito lance mão de outros recursos para a execução da tarefa; mais características do processo secundário (Werlang & Cunha, 1993). Cabe mencionar, ainda, que a regressão é uma função ego que pode operar de maneira adaptativa ou não-adaptativa. Isso significa que não há a perda do controle do ego, apenas seu relaxamento. Por isso, a diminuição excessiva deste controle pode representar indícios de funcionamento de nível psicótico, assim como a dificuldade em executar a função de regressão pode ser sinalizada por problemas para expressar eventos como resposta ao teste. É graças a essa função do ego que se torna possível o processo de elaboração frente ao estímulo projetivo, uma vez que para responder este e indivíduo precisa, concretamente, diminuir a sua tensão interna e mobilizar recursos para conseguir executar com sucesso sua proposta (Werlang & Cunha, 1993). Por fim, destaca-se que, na tarefa de interpretação de testes projetivos, cabe ao psicólogo desvendar as motivações primordiais que se deflagraram no momento em que as respostas são elaboradas. O mundo interno dos indivíduos traduziu-se em desvios e desvantagens psicológicas envolvidas nas atividades, identificando-se que \"não podemos tomar esta interpretação como sendo a expressão de todo comportamento do sujeito, mas sim das suas necessidades e fantasias\" (Montagna, 1989, p. 9). Por outro lado, Freitas (2002) completa essa ideia, salientando que, na interpretação desse tipo de teste, leva-se em consideração que as vivências infantis têm papel decisivo nas condutas e comportamentos adultos. Além disso, há um profundo interesse pela verbalização da pessoa que, acredita-se, revela suas motivações inconscientes. No momento em que uma pessoa é colocada frente a determinada situação, a forma como vai experimentá-la é de acordo com sua perspectiva pessoal, e é nisso que se traduz a estrutura da personalidade de cada indivíduo. Quando conta histórias, compara imagens ou constrói formas, a pessoa utiliza-se ações como formas que lidam com as situações da vida, bem como demonstrando seus recursos e habilidade para o enfrentamento e a resolução de problemas. Esse fenômeno sinaliza não apenas como funciona o psíquico da pessoa, mas também, para os demais, ao compõem. Logo, as respostas dadas nos testes descontrolam a dinâmica afetiva do sujeito avaliado, assim como suas habilidades cognitivas (Güntter, 2000). Finalmente, concorda-se com Aronow, Rezninkoff e Moreland (1995), que chamam a atenção para a distinção entre as aproximações normotécnicas (abordagem estatística e idiográficas (abordagem clínica) na avaliação da personalidade e de testes apperceptivos, que dizem respeito a um indivíduo. Vale destacar que ambas são importantes e complementares, já que não devem ser desconsideradas (Villemor-Amaral & Pasqualini-Cascado, 2006). Na abordagem nomotética, o interesse centra-se na avaliação dos dados de um grupo, a partir de grupos normativos (para avaliar características de uma população) ou de grupos-critérios (para avaliar características de grupos especiais, tais como os portadores de algum transtorno psicopatológico. A performance da pessoa avaliada é comparada aos meios e desvios do grupo do qual ela faz parte (população geral ou clínica). As conclusões geradas por essa comparação da validade baseiam-se na premissa de que sujeitos diferentes respondem de maneira semelhante a um determinado procedimento, conforme características que se asseveram (por exemplo, traços de personalidade, capacidade intelectual/cognitiva, presença de sintomas). A abordagem idiográfica fundamental-se na comparação intra-sujeito, e não mais intersujeitos ou intragrupos. Nessa forma de investigação da validade, há a suposição de que, para isso, especialmente nas técnicas projetivas, o caráter idiográfico é o ponto forte, uma vez que os sujeitos atribuem conteúdos subjetivos às suas respostas, mas desconhecem a relação entre eles (Aronow et al., 1995). Ao encontro disso está a ideia de Sendin (2000), que sustenta que \"este tipo de prova está sujeita a uma grande controvérsia, que ainda tem estado em resolução satisfatoriamente: tanto seus críticos como seus defensores apresentam argumentos sólidos e difíceis de contra-argumentar\" (p. 295). Os críticos sustentam o excessivo subjetivismo na interpretação daquelas intervenções; a grande influência que sofrem de ambiente e o examinador; a baixa fiabilidade, poucos trabalhos de validação e necessidade de dados normativos. Os defensores, por sua vez, destacam a riqueza qualitativa das informações produzidas pelos testes projetivos e a possibilidade de ir além dos dados de grande complexidade. Taveira, justamente por essas qualidades, exerce ainda assim uma defesa... (texto truncado) processo pelo qual a experiência nova é assimilada e transformada pelo traço da experiência passada. Portanto, a percepção e uma interpretação e, como tal, dá sentido à experiência do sujeito, que pode, por sua vez, ser compreendida à luz de diferentes contextos referentes. No momento em que o sujeito responde a uma instrução, ele lançará mão de recursos próprios para realizar a tarefa proposta, construindo-lhe um sentido, a partir de sua subjetividade, de seu mundo interno. Entre em jogo, então, além da projeção, a cognição, a percepção e a percepção, intercedendo essas técnicas em outras abordagens teóricas, que na psicodinâmica. Nesse sentido, fica evidente que a forma como o cada indivíduo percebe e responde ao teste pode ser interpretada com base em outros parâmetros, sem que necessariamente se recorra a compreensão intrapsíquica e inconsciente do sujeito (Telles, 2000; Ribeiro, Pompéia & Bueno, 2005; Bunchart & Vasconcelos, 2006).\n\nO uso da teoria sistêmica para a interpretação das respostas dadas a uma técnica projetiva ganha espaço neste contexto. Osório (2002) enfatiza que diferentes referências contribuem para a compreensão de famílias e dos eventos relacionados a elas, e que, mesmo valendo-se da teoria sistêmica, conceitos psicanalíticos, como as motivações, os conscientes das ações, a possibilidade de falar de si remete à perspectiva do panel de uma dramatização, postulados do psicodrama, ao mesmo tempo em que explicita-se a possibilidade de uma integração de conceitos, sendo de particular interesse aqui, o uso da projeção em uma abordagem sistêmica. Ou seja, acredita-se que o sujeito expressa, através do projeção ou representação, motivações inconsistentes, percepções inconscientes, no momento em que o externo é filtrado pelo interno, de um sujeito, mesmo.\" O STATUS CIENTÍFICO DAS TÉCNICAS PROJETIVAS\n\nApesar de o teste de Rorschach ter surgido na década de 1920, foi a Segunda Guerra Mundial que testemunhou o aumento no uso dos testes projetivos, quando essa finalidade de avaliar soldados que voltavam do front com severos problemas emocionais. Passadas algumas décadas, esses instrumentos começaram a ser alvo de críticas (Lilienfeld, 1999). Contudo, em seu contexto, certamente, o status científico das técnicas projetivas já sempre discutido e, ainda, um dilema. Dados sobre a validade e a fidelidade desse tipo de instrumento psicológico são alvos de críticas há várias décadas (Lilienfeld, 1999; Lilienfeld, Wood & Garb, 2000; Garb, Wood, Lilienfeld & Nezworski, 2002).\n\nA popularidade no uso clínico das técnicas projetivas continua muito expressiva, apesar de nem sempre apresentarem resultados psicométricos positivos, o que encerra uma discrepância entre a pesquisa e a prática (Anastasi & Urbina, 2000). Nessa mesma direção, estão Camara, Natan e Puente, que em um estudo realizado nos Estados Unidos, citado por Seitz (2001), demonstraram que o Desenho da Figura Humana (DFH), o Rorschach, o Teste do Apercepção Temática (TAT) e o House-Tree-Person (HTP) são alguns dos mais utilizados por psicólogos clínicos. No Brasil, Hutz e Bandelira (1993), Pereira, Prim e Cebrián (2003), Goyl e Noronha (2005) e Noronha, Prim e Alvear (2006) demonstraram que esses testes são variados contextos que, apesar de todo descredito existente em relação aos resultados dos produzidos por testes projetivos, muitos psicólogos utilizam-nos em suas práticas, com o objetivo de subsidiar suas avaliações. Testes como Rorschach, TAT, DFH e Teste das Fábulas figuram na lista dos mais populares entre os profissionais da área. Esse dado revela que é equivocado a ideia de que tal tipo de inatividade é destinada à extinção. Lowenstein (1987) relata que, embora estejam sendo utilizadas menos do que no passado, essas técnicas estão longe de morte, e ainda há razões para usá-las estudá-las. O autor cita, ainda, que Rorschach e TAT têm se mostrado de grande utilidade no estudo de pacientes suicidas e regressivos, além de fornecerem mais informações do que testes psicométricos, quando aplicados em pessoas que tiveram vivências traumáticas.\n\nÉ certo que as concepções que guiam a interpretação e o uso de técnicas projetivas devem ser explicitadas e estudadas, buscando cada vez mais solidez e confiança em seus resultados, bem como nos pilares que sustentam a psicologia projetiva, uma vez que não é possível ver que se trabalhe com conceitos que são \"mais esotéricos do que públicos\" (Abt, 1984, p. 50). Além disso, as histórias servem, igualmente, como imagens que trazem à luz algo que escapa do pensamento, dando vazio a elementos dispostos no íntimo/inconsciente dos indivíduos, muitas vezes, clamando para serem vistos. Em seus trabalhos com contos de fadas, os autores ressaltam o importante papel da identificação, não sendo difícil, a partir das história de vida dos sujeitos, entender por que um histório em específico foi escolhida como predileta por um indivíduo. Essa questão não é diferente quando uma pessoa tem liberdade para, frente a uma imagem, contar a história criada. Aqui também os fenômenos identificatórios são determinantes e ajudam no entendimento de Críticas às técnicas projetivas\n\nA maior parte das críticas feitas aos testes psicológicos ainda sim, de acordo com Alves (2004), aos testes psicométricos, dos quais \"mais claramente se espera que devam apresentar normas, validade e fidedignidade, bem como uma fundamentação teórica que os sustente\" (p. 361). Especificamente para os testes projetivos, as críticas centralizam-se na suposta ausência de espírito científico por parte daqueles que constrõem esses instrumentos como para os que os utilizam. Realmente existem práticas documentadas que, ao invés, de agregar cientificidade a técnicas já criticadas, dificultam ainda mais as possibilidades de estarem adquirindo um status mais adequado/confiável entre os membros da comunidade acadêmica e científica. Muitos atribuem, erroneamente, as eventuais dificuldades na determinação das propriedades psicométricas de técnicas projetivas ao material utilizado, modificando-o. Entre tanto, nenhuma análise experimental ou estatística costuma ser empreendida para que a adequação dessa amostra seja verificada, bem como sua relação com o favorecimento ou a inibição da capacidade dos sujeitos submetidos ao teste projetivo. Além disso, mesmo com as modificações do material, a tendência é de que o sistema utilizado para a categorização das respostas seja mantido como o original, o que compromete ainda mais o resultado do teste e a avaliação decorrente dele. Essa mesma discussão aplica-se às modificações empreendidas, especialmente na aplicação dos testes, o que aponta para a necessidade de uma padronização.\n\nOutra crítica, talvez a mais contundente, relaciona-se ao nível irredutível das técnicas projetivas, questionando seu status de verdadeiros testes. Essa ideia ainda se apoiaria no argumento de que, nesse tipo de instrumento, as respostas do sujeito estavam demasiadamente influenciadas pelo examinador, assinalando para a impossibilidade do sujeito não deixar marcas da sua própria personalidade sobre a técnica por ele empregado. Uma última crítica encontra sustentação na fragilidade da maioria dos trabalhos realizados, na tentativa de validação das técnicas projetivas. Anzeu (1981) cita um estudo de Cronbach, em que foram identificados erros estatísticos grosseiros em inúmeros trabalhos sobre o Rorschach, além de pesquisas envolvendo amostras pouco representativas e sem controle de variáveis como sexo, idade, origem étnica e cultural, escolaridade; nível socioeconômico, capacidade cognitiva.\n\nDessa forma, vê-se que muitas críticas e objeções podem ser reiteradas. Primeiramente, é importante relatar que, assim como autores e estudiosos que encontram, em sua maioria, pesquisas que apontaram para a ineficácia dos testes projetivos, pregando, então, o seu abandono, há, também, aqueles que citam a existência de inúmeros estudos que demonstram o contrário. Pesquisadores tendem a realizar buscas a partir de uma ideia preconceituosa, e que faz com cada um encontre argumentos favoráveis à sua tese.\n\nDiz-se que os testes projetivos têm importância somente no contexto clínico, ao que Anzeu (1981) contra-argumenta, chamando a atenção para a ideia de que \"consignar o caráter eminentemente clínico dos métodos projetivos não invalida o seu rigor\" (p. 257). Certamente isso não autoriza o profissional a basear-se em uma intuição no levante ou análise do teste, de porque o próprio método clínico em psicologia não se reduz a simples. intuição. Vale lembrar, também, que ainda não se dispôe de técnicas de pesquisa totalmente adequadas para a investigação envolvendo os testes projetivos, o que gera dificuldades. Por um lado, as pesquisas que se valem de métodos quantitativos são facilitadas pelas aplicações coletivas, ação não passível de implementação na administração de técnicas projetivas, instrumentos essencialmente individuais. Por outro, a investigação intensiva da personalidade toma muito tempo, o que explica por que as exigências estatísticas de amostragem e de diferenças significativas são difíceis de serem satisfeitas, além de exigirem alto grau de experiência e treinamento por parte do pesquisador. Considerando esses argumentos, fica explícito que esse tipo de técnica ainda carece de estudos sérios, que possam delimitar seu papel e sua função na avaliação da personalidade, indicando para os profissionais, seu grau de confiança e utilidade. Controvérsias sempre existirão, mas nesse ponto, parece de extrema importância e relevância que alguns aspectos positivos das técnicas projetivas possam ser discutidos.\n\nPontes fortes das técnicas projetivas\n\nSe a maioria das críticas lançadas às técnicas projetivas fundamenta-se em seus resultados pobres de validade e fidedignidade (Lilienfeld, 1999; Seitz, 2001), por que elas ainda são tão populares e usadas com expressiva frequência? As ideias de Shindler (1965) podem contribuir para a compreensão desses aspectos. O autor concorda que algumas vantagens dos testes psicométricos, tais como objetivo, economia e simplicidade, não são totalmente contempladas nas técnicas projetivas; por outro lado, estas últimas valorizam o conteúdo e o singular. A sintonia desse tipo de instrumento pode ser pessoal e não só interna de personalidade, que fornecem uma compreensão um tanto simplista do ser humano. As qualidades científicas das técnicas projetivas sempre foram e são questionadas. Em contrapartida, também deveria existir uma preocupação em relação às habilidades dos testes psicométricos de capturarem e referirem os múltiplos fatores e aspectos de personalidade de um indivíduo, de acordo, igualmente, com o seu contexto e momento de vida. Além disso, concorda-se com Tavares (2003), que sustenta que as críticas em relação ao uso da técnica no procedimento objetivo do sujeito de coleta de informações devem fundamentar-se mais no processo de verificação da validade da informação do que na forma de apresentação dos instrumentos - por exemplo, questionários e inventários versus técnicas projetivas.\n\nAnastasi e Urbina (2000) tecem alguns comentários sobre o uso dos testes de tipo projetivo. O primeiro deles diz respeito ao rapport e à sua aplicabilidade, destacando sua capacidade de funcionar como \"quebra-gelo\" durante os contatos iniciais entre o indivíduo que está sendo avaliado e o psicólogo. Uma vez que não há resposta certa ou errada, as técnicas projetivas não põem em risco o prestígio do sujeito, o que costuma reduzir seu embaraço e sua postura, alguns testes projetivos podem ser de muita utilidade na avaliação de crianças pequenas ou de pessoas análogas, possibilitando a comunicação entre avaliador e avaliado. Além disso, vê-se que a natureza não verbalizada dos comportamentos do indivíduo podem ser esclarecidos, inclusive, em relação ao próprio, através desse tipo de instrumento.\n\nOutro ponto destacado pelas autoras é a questão da fraude ou da simulação. De maneira geral, os testes projetivos são menos suscetíveis a esses eventos do que os inventários de