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Ciências Cognição 2006 Vol 08 127142 httpwwwcienciasecognicaoorg Ciências Cognição Submetido em 18062006 Revisado em 13082006 Aceito em 14082006 ISSN 18065821 Publicado on line em 15 de agosto de 2006 Revisão A ciência como forma de conhecimento Science as a kind of knowledge Carlos Alberto Ávila Araújo Escola de Ciência da Informação Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Belo Horizonte Minas Gerais Brasil Resumo Analisase as particularidades da ciência enquanto forma de conhecimento a partir da distinção em relação a outras formas como o senso comum a religião a arte a filosofia e a ideologia A seguir definese o conhecimento científico e são vistos os autores que promovem sua fundamentação Descartes Bacon e Galileu Discutese ainda as particularidades da ciência no contexto contemporâneo da pósmodernidade com destaque para os estudos que têm a ciência por objeto de problematização Ciências Cognição 2006 Vol 08 127142 Palavraschave ciência formas de conhecimento pósmodernidade Abstract In this study the particularitities of science while a knowledge form will be analyzed from the distinction in relation to other forms as common sense religion art philosophy and ideology Next the scientific knowledge will be defined and will be seen the authors who promote its foundations Descartes Bacon and Galileu Finnally the particularitities of science in the context of postmodernity will be studied with special attemption for the studies that have science as research object Ciências Cognição 2006 Vol 08127142 Keywords science kinds of knowledge postmodernity A ciência e o conhecimento científico são definidos de maneiras diferentes pelos diversos autores que se lançam à tarefa de refletir sobre eles Algumas definições são bastante semelhantes outras levantam algumas diferenças Contudo a maior parte dos que buscam definir a ciência concorda que ao se falar em conhecimento científico o primeiro passo consiste em diferenciálo de outros tipos de conhecimento existentes Lakatos e Marconi 1986 17 Antes de se apresentar cada uma das formas de conhecimento convém explicitar o que se entende por conhecimento e por processo de conhecer Conhecer é atividade especificamente humana Ultrapassa o mero darse conta de e significa a apreensão a interpretação Conhecer supõe a presença de sujeitos um objeto que suscita sua atenção compreensiva o CAÁ Araújo é jornalista mestre em Comunicação Social e doutor em Ciência da Informação Atua como professor adjunto na Escola de Ciência da Informação UFMG nas áreas de Teoria e Epistemologia da Informação Usuários da Informação e Fundamentos Sociais da Informação Email para correspondência casalavilayahoocombr Ciências Cognição 2006 Vol 08 httpwwwcienciasecognicaoorg Ciências Cognição uso de instrumentos de apreensão um trabalho de debruçarse sobre Como fruto desse trabalho ao conhecer criase uma representação do conhecido que já não é mais o objeto mas uma construção do sujeito O conhecimento produz assim modelos de apreensão que por sua vez vão instruir conhecimentos futuros França 1994 140 A autora destaca assim os principais elementos envolvidos no processo de conhecer o sujeito que conhece a coisa conhecida que uma vez conhecida tornase objeto isto é a coisa elemento da realidade da perspectiva de quem a conhece para quem se torna objeto o movimento do sujeito em direção ao objeto que é o próprio processo de conhecer e os instrumentos utilizados neste processo Um último elemento é apresentado pela autora o fato de que todo processo de conhecimento se dá no cruzamento de duas dinâmicas opostas duas atitudes básicas a abertura para o mundo a cristalização ou enquadramento do mundo Conhecer significa voltarse para a realidade e deixar falar o nosso objeto mas conhecer significa também apreender o mundo através de esquemas já conhecidos identificar no novo a permanência de algo já existente ou reconhecível O predomínio de uma ou outra dessas tendências tem efeitos negativos e é através de seu equilíbrio que se pode alcançar o conhecimento ao mesmo tempo atento ao novo e enriquecido pelas experiências cognitivas anteriores França 2001 43 É a partir destes aspectos os elementos que compõem o processo de conhecer e as duas dinâmicas envolvidas nesse processo que podem ser distinguidos diferentes tipos ou formas de conhecimento A primeira forma de conhecimento normalmente identificada pelos autores que se dedicam à conceituação de ciência é o senso comum Tratase de uma forma de conhecimento adquirido no cotidiano empírico por excelência normalmente adquirido por meio da experiência É um conhecimento produzido e aprendido por intuição acidente ou uma observação causal mas pode ser também resultado de um esforço deliberado para a solução de um problema É um conhecimento limitado pois não é sistemático nem eficiente e não permite identificar conhecimentos complexos ou relações abstratas Gressler 2003 27 Para Lakatos e Marconi 1986 18 o senso comum também denominado conhecimento vulgar ou popular é um modo corrente e espontâneo de conhecer que não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido o que os diferencia é a forma o modo ou o método e os instrumentos do conhecer As autoras destacam as seguintes características do senso comum ele é superficial sensitivo subjetivo assistemático e acrítico Lakatos e Marconi 1986 19 E mais adiante levantam outro conjunto de características dessa forma de conhecimento valorativo reflexivo assistemático verificável falível e inexato A caracterização do senso comum como uma forma de conhecimento acrítica que não reflete sobre si mesmo e assistemática pois não tem a preocupação de uma sistematização e organização de idéias num conjunto coerente consistindo antes uma série de conhecimentos dispersos e desconexos também é destacada por Demo para quem o senso comum não possui sofisticação Não problematiza a relação sujeitoobjeto Acredita no que vê Não distingue entre fenômeno e essência entre o que aparece na superfície e o que existe por baixo Ao mesmo tempo assume informações de terceiros sem as criticar Demo 1985 30 Ainda sobre o senso comum devese destacar seu caráter imediatista colado às necessidades imediatas a dose comum de Ciências Cognição 2006 Vol 08 httpwwwcienciasecognicaoorg Ciências Cognição conhecimentos da qual dispomos para nossas atividades rotineiras Demo 1985 31 e o fato de ele ser transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal Lakatos e Marconi 1986 17 Embora sem métodos críticos e sem sistematização mas sendo colado às necessidades imediatas e fruto da intuição e da experiência o conhecimento derivado do senso comum existe numa constante tensão entre os préconceitos os modelos consagrados que se transmitem ao longo das gerações sem o devido questionamento de sua validade ou de suas reais relações de causa e efeito e o dinamismo e a espontaneidade que formulam a todo momento novas teorias e novos modelos explicativos Enfim apresenta as duas dinâmicas de conhecimento a abertura e a cristalização Uma outra forma de conhecimento destacada por diversos autores é o pensamento religioso que inclusive acompanha a humanidade desde os seus primórdios Um dos processos mais antigos e ao longo dos séculos mais comumente adotado pelo homem na busca de conhecimento e verdade é o do apelo à autoridade ou à tradição e aos costumes A autoridade estava nas mãos de chefes de tribo dignatários religiosos de políticos ou sábios a verdade seria o que afirmavam os que detinham o poder Gressler 2003 26 O conhecimento religioso ou teológico se caracteriza por ser valorativo inspiracional sistemático não verificável infalível e exato Lakatos e Marconi 1986 21 O princípio da autoridade é fundamental para seu funcionamento pois ele se apóia em doutrinas com proposições sagradas reveladas pelo sobrenatural que consistem em verdades indiscutíveis já que na experiência religiosa está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado Lakatos e Marconi 1986 21 O conhecimento religioso pressupõe um sujeito que a tudo conhece e tudo sabe e portanto o desafio do conhecimento colocado para os sujeitos não é o de conhecer e produzir verdades sobre o mundo mas sim compreender uma verdade que já está pronta revelada concedida O homem é menos sujeito do conhecimento na medida em que não pratica experimentações ou busca novas formulações mas apenas busca compreender cada vez mais um corpo de conhecimentos que se lhe apresenta já organizado sistematizado com regras hierarquias e leis Ao mesmo tempo tratase de um tipo de conhecimento não falseável isto é que não permite a verificação porque vem da transcendência E exatamente por essa característica representa uma forma de conhecimento que evolui muito lentamente tende a ser estacionário Uma boa demonstração dessa concepção é a frase de Santo Agostinho que diz que aquilo que a verdade descobrir não pode contrariar aos livros sagrados quer do Antigo quer do Novo Testamento Aranha e Martins 1993 101 Assim o conhecimento é entendido por Santo Agostinho como ato da iluminação divina Andery et al 2004 145 Ou seja na experiência religiosa o sujeito se relaciona não com coisas da realidade que ele vai tentar conhecer mas com objetos que surgem a ele já interpretados e explicados pela doutrina religiosa Uma outra forma de conhecimento levantada por alguns autores França 1994 141 Santaella 2001 103 é a experiência artística Diferentemente do senso comum e do conhecimento religioso a arte consiste numa forma de conhecimento subjetiva e não objetiva isto é não se propõe a ser a verdade não propõe explicações universais e generalizáveis Antes é a forma de conhecimento mais ciente de que constrói representações da realidade afirmações inexatas propositalmente imprecisas e indiretas Ela possui métodos e técnicas mas é por definição embora tal característica seja ideal e não ocorra necessariamente na maioria das situações espontânea dinâmica e aberta A arte não apresenta discursos fechados e definitivos sobre a realidade mas antes formula enunciados abertos às diferentes interpretações convoca os sujeitos para com o uso da imaginação produzirem diferentes representações daquilo que lhes é apresentado A arte assim está muito mais voltada para a primeira dinâmica do processo de conhecer para o descobrimento do mundo Barilli 1994 4950 argumenta que a experiência estética proporcionada pela arte pode se dar também em outros campos O autor dá como exemplo o ato de comer que em princípio é um ato da ordem biológicofisiológica pertencente à esfera da natureza e não da cultura Entretanto esse ato pode convertese em experiência estética desde que se faça intervir as três características da experiência estética a novidade a totalização e a ritmicidade Assim o ato de comer não como aquela refeição normal e vulgar de todo dia marcado pela pressa e pela economia mas como uma prática em que os pratos surpreendem em que há um empenho em recolher daquela experiência um grande número de elementos pode se transformar numa experiência estética Assim no processo de conhecimento instaurado pela arte as manifestações artísticas são apresentadas aos sujeitos enquanto coisas na relação com os objetos e produtos artísticos cada sujeito vai elaborar sua interpretação construindo então objetos Outros autores costumam destacar ainda uma outra forma de conhecimento que é o conhecimento filosófico Lakatos e Marconi o apresentam como um dos quatro tipos de conhecimento caracterizado por ser valorativo racional sistemático não verificável infalível e exato Contudo é mais comum encontrar a filosofia não exatamente como uma forma de conhecimento da realidade como as outras mas como uma forma de conhecimento que avalia as demais formas de conhecimento que estuda a natureza e os limites das diferentes manifestações do conhecimento humano A filosofia trata das idéias idéias sobre o mundo sobre as pessoas idéias sobre o viver A filosofia se preocupa de modo geral com o modo como sabemos as coisas e com o que podemos saber Raeper e Smith 2001 13 Alguns autores ainda identificam como uma outra forma de conhecimento distinta das demais a ideologia É o caso de Demo 1985 31 que distingue a ideologia como forma de conhecimento composta de enunciados que justificam relações de poder Essa é uma concepção de ideologia oriunda do pensamento marxista que define a ideologia como a transposição involuntária para o plano das idéias de relações sociais muito determinadas Chauí 1981a 10 Essa definição de ideologia não destaca tanto as características do conhecimento ideológico que pode ser mais ou menos sistematizado sofisticado coerente mas sim seu efeito sobre a realidade e a sociedade ou seja a forma como se dá a inserção desse conhecimento nas relações sociais Fundamentalmente a ideologia é um corpo sistemático de representações e de normas que nos ensinam a conhecer e a agir A sistematicidade e a coerência ideológicas nascem de uma determinação muito precisa o discurso ideológico é aquele que pretende coincidir com as coisas anular a diferença entre o pensar o dizer e o ser e destarte engendrar uma lógica de identificação que unifique pensamento linguagem e realidade para através dessa lógica obter a identificação de todos os sujeitos sociais com uma imagem particular universalizada isto é a imagem da classe dominante Chauí 1981b 3 Concrebida dessa forma mostrase mais coerente pensar na ideologia não como 130 uma forma de conhecimento distinta das demais mas como uma dimensão do conhecimento que pode estar presente em todas as formas de conhecimento Tanto o senso comum quanto a religião ou a arte podem funcionar como discursos ideológicos em determinados contextos Assim também a ciência pode se revestir de uma dimensão ideológica como aliás salientam vários autores Alves 1987 11 alerta para o fato da ciência ter virado um mito e como tal induzir o comportamento e inibir o pensamento Gressler 2003 32 também identifica a possibilidade da ciência se tornar um produto ideológico E ainda Lacey 1998 14 critica a idéia de neutralidade e imparcialidade do conhecimento científico constatando que a ciência não é livre de valores e que ela assume uma postura ideológica quando busca se legitimar e negar a legitimidade de conhecimentos alternativos pelo modo como transforma a natureza e a sociedade e quando ocorre desigualdades e dominação pelo forma como o conhecimento é gerado e estruturado A construção da ciência na era moderna Tornase mais fácil compreender a ciência após a delimitação das outras formas de conhecimento Afinal o conhecimento científico nasce da proposta de um conhecimento diferente dos demais porque busca compensar as limitações do conhecimento religioso artístico e do senso comum A busca de um conhecimento mais confiável da realidade está presente desde a préhistória Mas o que é ciência Quando o homem do paleolítico encontrou um mamute percebeu imediatamente que não podia enfrentálo Fugiu correndo e na incoerência aterrorizada da corrida caiu e feriu o joelho num sílex Compreendeu que o sílex era mais duro que o joelho Ora o homem é o único animal que reuniu essas diversas experiências para formular uma hipótese de trabalho após construir uma arma para enfrentar o mamute o homem concebera uma hipótese de trabalho e verificara experimentalmente o seu valor Era sem dúvida uma atividade científica Laborit 1988 23 Contudo a maior parte dos autores que definem ciência a identificam com um momento específico da história da humanidade Um novo tipo de abordagem do problema do conhecimento desenvolveuse a partir do século XV Já o método de investigação difundido por Galileu é mais do que simples indução ou dedução Compreende uma série de procedimentos para testar criticamente e selecionar as melhores hipóteses e teorias para explicar a realidade Gressler 2003 27 A necessidade do homem de uma compreensão mais aprofundada do mundo bem como a necessidade de precisão para a troca de informações acaba levando à elaboração de sistemas mais estruturados de organização do conhecimento Gérard Fourez destaca que no início os homens se comunicavam a partir de uma linguagem que utilizava um código restrito em que os objetos do mundo são descritos sem uma preocupação com o alcance das descrições não havendo pois uma reflexão elaborada É a linguagem do diaadia útil na prática e que não leva adiante todas as distinções que se poderia fazer para aprofundar o meu pensamento Fourez 1995 18 Mas com o tempo passaram a desenvolver um código elaborado com o objetivo de tornar as noções mais precisas e sistematizar os campos de conhecimento Aqui se tem a origem dos conceitos noção fundamental para a formação dos campos disciplinares De acordo com outro Maslow 1979 206 a ciência tem as suas origens nas necessidades de conhecer e compreender ou explicar isto é nas necessidades cognitivas 131 De um conhecimento difuso espalhado assistemático e desorganizado passase a um trabalho de arranjo segundo certas relações de disposição metódica Esse processo é fundamental para a composição de campos específicos do conhecimento Michel Serres 1989 no tratado que organiza sobre a história da ciência apresenta as principais eras científicas ou do conhecimento isto é eras marcadas por uma grande sistematização dos conhecimentos a Matemática no Egito Antigo e Mesopotâmia a Grécia Clássica a Intermediação Árabe a Teologia da Idade Média e a Ciência Moderna que em sentido estrito é a única forma de conhecimento que realmente pode ser classificada como científica Embora se possa dizer que não existe um lugar de nascimento daquela realidade histórica complicada que hoje chamamos de ciência moderna Rossi 2001 09 uma vez que a nova forma de conhecimento é fruto do trabalho de autores de diversas nacionalidades e contextos existe uma força de agregação do projeto científico que é sua orientação marcada pelo racionalismo de Descartes e pelo empirismo de Bacon e Galilei Lara 1986 O projeto racional proporciona um acúmulo de conhecimentos teorias e métodos que vão exigindo separações tratamentos diferenciados posturas específicas Não se observa do mesmo modo um neutrino um micróbio uma cratera sobre a Lua uma nota de música um gosto de açúcar ou um pôrdosol Fourez 1995 41 Sob a justificativa de que objetos diferentes reclamam conceitos de naturezas diferentes produziramse cisões e compartimentalizações no conhecimento científico Tratamse das disciplinas científicas A maior dessas cisões é a que separa as ciências em inorgânicas que estudam o mundo físico orgânicas que estudam o mundo biológico isto é tudo aquilo que tem vida e superorgânicas que estudam o mundo social Depois com a distinção entre objeto material o fenômeno propriamente dito o que está no mundo o ens reale e objeto formal o objeto construído recortado por uma ciência abrese caminho para a construção de várias ciências já que uma definição científica é a releitura de um certo número de elementos do mundo por meio de uma teoria Fourez 1995 46 Contudo uma análise do processo de fortalecimento das disciplinas que queira ir além da visão da ciência como um processo absoluto e de modo algum histórico Fourez 1995 59 vai incorporar toda a dimensão política sociológica e histórica que levou à consolidação do conhecimento científico como forma de conhecimento O ponto de partida para essa visão é a análise de Rossi que aponta para o fato de que as universidades não estiveram no centro da pesquisa científica A ciência moderna nasceu fora das universidades muitas vezes em polêmica com elas e no decorrer do século XVII e mais ainda nos dois séculos sucessivos transformouse em uma atividade social organizada capaz de criar as suas próprias instituições Rossi 2001 10 A criação das academias e posteriormente dos institutos de pesquisa Rossi 2001 337386 representa não apenas o movimento de renúncia ao trabalho solitário Rossi 2001 371 como principalmente o fortalecimento do saber científico com a reunião daqueles que partilhavam interesses conceitos e métodos e sua distinção em relação a outros Essa análise é confirmada pela historiografia de Deus 1979 12 que analisa a importância da ciência para o desenvolvimento do capitalismo desde a astronomia de Copérnico que mina o aparelho espiritual feudal controlado pela Igreja passando pelas orientações marítimas para os comerciantes à procura de novos mercados chegando à industrialização quando a ciência tornase força produtiva e passa a ser apropriada pelo Estado Esse processo 132 acontece com o concurso fundamental do agrupamento dos cientistas engajados no processo de construção de uma nova forma de apreender o mundo Os primeiros cientistas eram indivíduos mais ou menos isolados profissionais das universidades ou simples amadores Graças às boas ligações e à maleabilidade política conseguem pouco a pouco agruparse em sociedades científicas e ir ocupando os lugares de controle das velhas universidades medievais A consolidação da ciência particularmente marcada do século XVII significou antes de mais nada a consolidação das instituições científicas a criação de comunidades científicas cada vez mais estáveis autoreprodutivas autosuficientes Deus 1979 15 De acordo com Chalmers 1994 a organização de cientistas em comunidades científicas vai ser discutida e analisada por diversos autores como Imre Lakatos Karl Popper e Paul Feyerabend nas décadas de 1960 e 1970 no âmbito da filosofia da ciência a partir de discussões que vêem o conhecimento científico como questão política e destacam seu papel ideológico Deus 1979 17 destaca também a contribuição de autores da sociologia da ciência tais como Robert Mertoon 1979 com sua análise dos imperativos institucionais da ciência entre os quais se destaca o cepticismo organizado e de Thomas Kuhn 1975 que analisa as comunidades científicas como o suporte material e real do saber institucionalizado A fundamentação da ciência Ao apontar o surgimento do método científico no século XV Gressler não descarta que desde a idade antiga já houvesse habilidades e preocupações com uma linguagem técnica e uma argumentação lógica fundamentada na razão como bem demonstra por exemplo a geometria desenvolvida pelos gregos Contudo a autora particulariza o projeto científico como uma forma específica de conhecer a realidade desenvolvida com a contribuição de uma série de personagens destacandose sobretudo três A necessidade de se ter fundamentos sobre o processo de investigação e sobre a certeza dos resultados despertou o interesse de pensadores já no início do século XVI em três povos distintos do Ocidente Na França René Descartes pautou sua defesa no método dedutivo na Inglaterra o grande teorizador da experimentação Francis Bacon deu uma configuração doutrinária à indução experimental procurando ensinar alguns métodos rudimentares de observação e apontamentos e na Itália Galileu Galilei preocupado em instituir um pensamento baseado na experimentação resolveu pôr à prova alguns ensinamentos de Aristóteles Gressler 2003 28 A fundamentação do projeto de construção do conhecimento científico se deu então a partir do trabalho destes três pensadores Descartes 15961650 em obras como O discurso do método e Meditações propôs como ponto de partida de todo conhecimento a busca da verdade primeira que não pudesse ser posta em dúvida Por isso converte a dúvida em método Se duvido penso se penso existo Cogito ergo sum Com isso Descartes promove um questionamento radical do princípio de autoridade como forma de conhecimento pois sua atitude coloca em suspenso as verdades adquiridas por via da tradição e da revelação isto é do senso comum e da religião Quintaneiro et al 1996 09 Ao mesmo tempo o pensador francês promove a razão informada pelas regras do método à condição de guia supremo do processo de conhecer Ao teorizar sobre a racionalidade ele promove uma separação entre mente e corpo entre matéria e pensamento e entre a razão e as demais formas de conhecimento nascendo daí a ruptura da ciência com o sensível a natureza a imaginação e o sagrado Para Descartes o conhecimento sensível isto é sensação percepção imaginação memória e linguagem é a causa do erro e deve ser afastado O conhecimento verdadeiro é puramente intelectual parte das idéias inatas e controla por meio de regras as investigações filosóficas científicas e técnicas Chauí 1996 116 Descartes opera uma redução da subjetividade humana a seus aspectos racionais o que resultou numa imagem do cientista como alguém que não pertence a uma coletividade que não estabelece relações como se fosse apenas uma mente pensante um cérebro é a idéia do cientista isolado do mundo Alves 1987 1011 Também é de Descartes o mérito de propor como método científico a redução da complexidade isto é separar para estudar dividir o objeto de conhecimento em suas menores unidades e estudar cada uma dessas unidades separadamente Já Francis Bacon 15611626 tem no Novum organum uma obra fundamental em que compreende a ciência como um novo órgão um novo sentido do pensamento Com ele tem início o caráter prometéico da ciência não um saber contemplativo e desinteressado mas um saber instrumental que possibilite a dominação da natureza Bacon acreditava que o avanço dos conhecimentos e das técnicas as mudanças sociais e políticas e o desenvolvimento das ciências e da Filosofia propiciariam uma grande reforma do conhecimento humano que seria também uma grande reforma na vida humana Tanto assim que ao lado de suas obras filosóficas escreveu uma obra filosóficopolítica a Nova Atlântida na qual descreve e narra uma sociedade ideal e perfeita nascida do conhecimento verdadeiro e do desenvolvimento das técnicas Chauí 1996 116 Bacon propôs uma separação entre a ciência e as humanidades estas preocupadas com a justiça com as pessoas com a natureza com o sagrado e foi forte propulsor do empiricismo difundindo a crença de que o ponto de partida de todo conhecimento deveria ser a observação a descrição fiel da realidade isenta de julgamentos e interpretações Por fim Galileu Galilei 15641642 é reconhecido por muitos como o pai do método científico Seu trabalho é menos filosófico do que o dos dois pensadores citados anteriormente mas foi sobretudo ele quem enfatizou a atitude empírica na pesquisa científica e rompendo com as indicações de Aristóteles que eram tomadas sem questionamentos por outros pesquisadores buscou medir os fenômenos e fazer observações quantitativas Dentre suas diversas contribuições como a lei da inércia destacase a teoria heliocêntrica por meio da qual pôde comprovar as idéias de Copérnico e pela qual foi submetido a julgamento durante a Inquisição em Roma em 1633 Foi obrigado a se retratar publicamente do conceito de rotação da Terra em torno do Sol Nessa ocasião contudo após se retratar teria dito em voz baixa e olhando para o solo a frase eppur si move mas ela se move o que se tornou um dos lemas do pensamento científico Devese a Galileu ainda o início do projeto da Mathesis universalis isto é a busca de um ideal matemático Outra frase sua O livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos Alves 1987 80 demonstra sua intenção de construir um conhecimento em que as relações entre os objetos conhecidos se expressem em línguagem matemática o que resultaria na produção de um conhecimento exato e preciso A ciência pois é uma forma de conhecimento que compreendida num sentido mais específico surge historicamente no século XVI dentro do processo da Modernidade de ruptura com o mundo feudal e eclesiástico embasada filosoficamente pelo Iluminismo e originada com o Renascimento O discurso científico tem a intenção confessada de produzir conhecimento numa busca sem fim da verdade Alves 1987 170 Para conseguir alcançar esse conhecimento mais adequado mais fiel à realidade a ciência busca o desejado equilíbrio entre as duas dinâmicas do conhecimento isto é a constante renovação e a consolidação dos conhecimentos já construídos Lakatos e Marconi 1986 20 identificam como características do conhecimento científico ser factual lidar com ocorrências e fatos reais contingente a veracidade ou falsidade do conhecimento produzido pode ser conhecida através da experiência sistemático ordenado logicamente num sistema de idéias verificável o que não pode ser comprovado não é do âmbito da ciência falível não é definitivo absoluto e aproximadamente exato novas descobertas podem reformular o acervo de idéias existentes Essas características são também levantadas por Alves Para o autor contudo não se deve falar em ruptura do conhecimento científico com o senso comum Embora eles sejam muito diferentes um do outro Alves 1987 37 existe uma continuidade entre o pensamento científico e o senso comum Alves 1987 17 Com isso o autor argumenta que a ciência não deve ser vista como uma forma de conhecimento completamente distante do fazer humano dotada de autoridade inquestionável Entre as características da ciência ainda conforme o autor destacamse a busca de ordem a formulação de modelos e leis que explicam o funcionamento dos fenômenos e da natureza o abandono dos valores e a busca de um saber objetivo o uso de hipóteses e de experimentação que permite medir os eventos com precisão e o rigor do pensamento com a utilização do raciocínio lógico Alves identifica ainda duas características essenciais A primeira é a busca por um conhecimento geral universal aplicável a todos os casos Sempre que passamos do passado para o futuro ou do particular para o geral nós ampliamos aquilo que sabemos Alves 1987 116 Buscase tanto as regularidades e uniformidades quanto também a possibilidade da previsão A segunda é a falseabilidade isto é os enunciados científicos podem ser testados para se confirmar se são verdadeiros ou falsos Uma proposição verificável é aquela sobre a qual a partir de testes podemos tomar uma decisão sobre sua verdade ou falsidade Alves 1987 176 Entre os objetivos da ciência estão a busca do controle prático da natureza a descrição e compreensão do mundo e a possibilidade de predição Gressler 2003 37 Posteriormente ela se alia à técnica é quando ela realmente se destaca Gressler 2003 24 e passa a resultar numa série de avanços nos modos de produção da sociedade tendo seu ápice na Revolução Industrial do século XVIII com grandes inventos como a lançadeira 1733 o tear mecânico 1738 a máquina a vapor 1768 a locomotiva 1813 o barco a vapor 1821 e muitas outras que alteraram de forma significativa as formas de produção e de vida das sociedades Ao mesmo tempo o conhecimento científico se desenvolve e busca sua legitimidade a partir de sua institucionalização nas universidades conselhos associações congressos institutos publicações e eventos A ciência na pósmodernidade No século XX a ciência vai ser questionada em vários de seus princípios e suas propostas De acordo com Santos 1996 o paradigma dominante que é o modelo de ciência surgido no século XVI caracterizado pela luta apaixonada contra todas as formas de dogmatismo e autoridade pela busca de leis e da objetividade e pelo uso da matemática como instrumento privilegiado de análise apenas o que é quantificável é cientificamente relevante passa a sofrer um processo de perda de confiança Para o autor isso acontece a partir de dois tipos de condições O primeiro tipo são as condições teóricas isto é descobertas científicas que colocam em evidências limitações do modelo tradicional Entre essas descobertas o autor destaca as contribuições de Einstein Heisenberg e Bohr Gödel Prigogine e outros que derrubam entre outros pilares do paradigma dominante o mito da objetividade da possibilidade de se estudar um objeto sem perturbálo e a idéia de tempo e espaço absolutos O segundo tipo são as condições sociais Diversas experiências do século XX como as duas grandes guerras as experiências totalitárias os desastres ecológicos a submissão da ciência aos interesses militares e econômicos levaram a uma perda do interesse no conhecimento científico tal como vinha sendo produzido Essa foi uma questão amplamente discutida por Adorno e Horkheimer 19471985 logo após a II Guerra Os autores realizam uma extensa análise sobre os processos de dominação na sociedade ocidental contemporânea e percebem como a ciência a partir da razão instrumental converteuse em elemento de mistificação das massas Habermas 1989 deu continuidade ao debate buscando determinar a maneira como a ciência deixou de ser um elemento libertador e passou a inserirse na lógica industrial da sociedade capitalista Conforme Santos essas duas condições estariam levando a uma crise do paradigma dominante e à emergência de um novo paradigma Outros autores têm discutido a questão Wersig 1993 229 percebe a emergência no século XX de um novo tipo de ciência denominada por ele ciência pósmodema voltada não para a compreensão do modo de funcionamento da natureza como a ciência clássica mas para a resolução de alguns problemas causados pela ciência moderna e suas tecnologias Morin e Le Moigne apresentam a proposta do pensamento complexo como a forma mais adequada de produção do conhecimento compreendendoo como uma evolução da ciência clássica em vários aspectos como por exemplo a superação da compartimentalização dos saberes Morin e LeMoigne 2000 199213 também Capra 1987 percebe uma grande revolução em todas as ciências com a crise do modelo cartesiano Para outros autores contudo não se estaria vivendo um momento de crise da ciência É o caso de Gomes que alerta para um certo modismo atual de se identificar uma crise dos paradigmas da ciência moderna poderseia detectar tal crise apenas se estivéssemos vivendo uma ruptura revolucionária generalizada Não me parece haver qualquer coisa desse tipo no ar A ciência contemporânea dedicase ao labor cotidiano da investigação discute suas descobertas a partir de categorias comuns submetese a discussões com pressupostos comuns publica em periódicos com compreensões comuns de cientificidade Pode ser que pessoas mais atentas notem algum furor revolucionário varrendo convicções anteriores eu consigo ver um tempo de ciência normal normal até demais com costumes preguiçosos e arraigados com distribuição em formas tradicionais de prestígio e reconhecimento Gomes 2003 319 De toda forma percebendose um momento de crise ou apenas um processo de continuidade o que se pode verificar é que a idéia nascida com a Modernidade de ciência como um conhecimento completamente objetivo capaz de conhecer um objeto sem qualquer perturbação por parte do sujeito que o conhece em busca de leis definitivas e absolutas deu lugar a uma compreensão da atividade científica como um produto social Gressler 2003 32 dotado de uma matriz coletiva Alves 1987 206 que lida com objetos construídos Demo 1985 45 Essa evolução da forma de se encarar a ciência foi possível sobretudo a partir do momento em que a ciência tornouse também ela objeto de 136 estudo a partir da intervenção de diferentes disciplinas Estudos sobre a ciência e o fazer científico A realização de estudos sobre a produção de conhecimento científico e a necessidade de avaliação do trabalho dos pesquisadores dos produtos e dos processos de divulgação científica foi um fator condicionante ao longo do século XX da evolução de toda uma área do conhecimento Essa área não se desenvolveu de maneira uniforme mas antes consistiu na realização de diferentes pesquisas com várias naturezas métodos e filiações teóricas Nela se encontram tradições tão diversas como a história da ciência a sociologia da ciência a teoria do conhecimento e as preocupações epistemológicas e filosóficas dentro de cada área específica entre outras Entre os vários campos de estudos dedicados às investigações sobre a produção científica merecem destaque as contribuições de dois autores que têm tido um impacto fundamental no direcionamento dos estudos contemporâneos O primeiro deles é Bourdieu cuja importância é salientada a seguir Em artigo bastante conhecido Pierre Bourdieu introduz a noção de campo científico em clara oposição ao conceito de comunidade científica de Kuhn apesar de incorporar muitos dos seus termos Para Bourdieu a noção de comunidade científica autônoma insuslad a autoreprodutora com cientistas neutros e interessados somente no progresso da sua disciplina esconde mais que elucida a dinâmica das práticas científicas na sociedade moderna Hochman 1994 208 O autor está se referindo à aplicação por Bourdieu de sua teoria dos campos sociais à ciência definindo esta como um campo científico Bourdieu 1983 define o campo social como um espaço configurado pelas relações que ocorrem entre os atores sociais Nessas relações podem ser identificadas as posições que os atores ocupam uns em relação aos outros Tratase na verdade da retomada dos princípios marxistas relativos ao conflito e à determinação das condições sociais de produção o que abre caminho para uma abordagem sociológica da ciência que entende que o conhecimento científico enquanto produto é afetado pelas condições de um contexto específico Silva 2002 109 ou em outros termos que a verdade científica reside numa espécie particular de condições sociais de produção Bourdieu 1983 122 Essa compreensão permite entender a ciência como resultado não propriamente de progressos e questões científicas mas como resultado dos processos de luta de utilização e busca por recursos e capital simbólico pela lógica de distinção Essa distinção pode ser compreendida como instâncias de consagração e de prestígio que se relacionam com o grau de aceitação no campo o que implica entre outras práticas a aceitação das regras da prática científica O campo científico exige dos seus participantes um saber prático das leis de funcionamento desse universo isto é um habitus adquirido pela socialização prévia eou por aquela praticada no próprio campo Silva 2002 119 O habitus uma das categorias de Bourdieu diz respeito àquilo que está introjetado em cada indivíduo que foi construído por suas experiências e história de vida mas também é possível identificar um habitus coletivo ou de grupo Cientistas estão constantemente em luta por autoridade e reconhecimento traçando variadas estratégias e efetuando ações em uma ou outra direção para atingir seus objetivos As lutas se dão em torno da apropriação de um capital específico do campo eou pela redefinição daquele capital Nesse esforço criar ou fortalecer novas áreas ou campos de pesquisa disciplinas pode ser em determinados momentos a atitude mais interessante ou lucrativa dentro do jogo científico São contextos específicos de 137 reações e contrareações à estrutura de posições dentro de um campo que motivam a criação de novos campos e a migração de alguns cientistas para estes novos campos dando assim origem a novas disciplinas que com o tempo vão buscar se legitimar enquanto campos do conhecimento Nesse processo é fundamental a formação de uma infraestrutura de discursos e de uma dinâmica de institucionalização que garanta a legitimidade dos novos campos científicos criados Do ponto de vista da filosofia da ciência um dos autores mais importantes voltados para a problemática dos discursos científicos e de sua legitimidade é Michel Foucault Sobre esse autor é importante destacar que ao considerar a questão da história e da filosofia do ponto de vista de Foucault é preciso primeiramente levar em consideração que seu interesse não diz respeito à ciência propriamente mas ao saber não à sua racionalidade imanente mas às condições externas de possibilidade de sua existência Portocarrero 1994 45 Ao utilizar a expressão saber Foucault salienta o fato de que o discurso científico não é formado apenas por ciência propriamente dita pelas teorias e conceitos científicos mas por uma quantidade imensa de saberes políticos administrativos institucionais culturais literários artísticos etc Com isso se abre a possibilidade de análise da ciência para além dos seus próprios critérios de cientificidade pois são exatamente essas condições de cientificidade ou de verdade que vão ser analisadas pelo autor Compondo esse conjunto de saberes que o autor identifica como estando presentes na prática científica Foucault vai então trabalhar com o discurso científico enquanto formação discursiva A caracterização de um conjunto de discurso pertinente a uma vertente específica do saber vista por Foucault como uma formação discursiva é reconhecida e amplamente aceita por estudiosos da área da análise do discurso e achase extensamente trabalhada no livro do referido autor Alvarenga 1996 255 O livro ao qual a autora se refere é Arqueologia do saber cuja primeira edição data de 1969 em que o autor empreende seu grande projeto de buscar as regras de formação de discursos dentro de um campo específico de conhecimento a arqueologia pode assim e eis um de seus temas principais constituir a árvore de derivação de um discurso Foucault 1972 181 O método da arqueologia do saber busca uma abordagem dialógica entre o dado e o nãodado fazendo emergir o que fica oculto os componentes históricos e contextuais Alvarenga 1996 254 Buscase com isso a superação do positivismo compreendendo a ciência dentro dos limites do que é possível dizer Em alternativa às categorias de objetividade e verdade Foucault busca compreender a ciência como locus de luta entre sistemas competitivos isto é como um conhecimento que possui um suporte institucional reforçado por práticas sociais preciso e definido controlado Ainda para Foucault um campo discursivo não se caracterizaria pelos objetos que estuda pelas modalidades de enunciação pelos conceitos ou pelas temáticas privilegiados mas sim pela maneira pela qual se formam os seus objetos Alvarenga 1994 256 A formação de objetos de um campo discursivo se dá pela demarcação das superfícies primeiras de emergência que limita o domínio desse campo pelas instâncias de delimitação campos institucionais e disciplinas pelas grades de especificação relações entre instituições e processos sociais e pela análise das relações entre esses 138 planos Tudo isso nos dá o contexto no qual se origina o conhecimento Os critérios de cientificidade seriam apenas uma das formas entre outras existentes e que como ela são histórica e contextualmente dependentes de legitimação de saberes e discursos Dentro dessa formulação teórica cumpre destacar que A arqueologia não descreveria disciplinas tomandose aqui disciplina como conjunto de enunciado que empresta sua organização a modelos científicos que tendem à coerência e à demonstratividade e que são recebidos institucionalizados transmitidos e ensinados como ciência As disciplinas segundo o autor podem servir de iscas para a descrição de positividades Alvarenga 1996 256 Ou seja também em Foucault a ciência pode ser vista como produto do desenvolvimento histórico e social dos processos de produção de conhecimento sendo mais um elemento da realidade a ser estudado e descrito do que uma categoria científica Ao colocar em suspensão a categoria de cientificidade o autor passa a compreender a ciência dentro de um espectro teórico mais amplo e mais crítico Outros estudos relevantes são aqueles que se debruçam sobre a comunicação científica isto é sobre as formas como os cientistas se comunicam entre si trocam informações e referenciam uns aos outros na produção do conhecimento científico Afinal entre o início da pesquisa e sua publicação normalmente em artigo de periódico há várias instâncias de comunicação e divulgação em diferentes níveis de abrangência e formalidade O objetivo dos estudos nessa área é conhecer essas atividades de comunicação e divulgação que precedem a publicação do artigo para estudar os periódicos devese conhecer a intensa atividade de comunicação que o precede Os estudos clássicos em comunicação científica compreendem os estudos sobre os colégios invisíveis e sobre o fluxo de informação Os colégios invisíveis foram estudados por Price Crane Crawford Zaltman Kohler Gaston e muitos outros Mueller 1994 310311 e podem ser definidos como grupos não formais de cientistas que estão num dado momento trabalhando em torno de um mesmo problema ou área de pesquisa e que se comunicam entre si sobre o andamento de seus trabalhos Já os estudos sobre o fluxo da comunicação científica representam esforços para identificar e representar o fluxo total da informação científica e foram desenvolvidos por autores como Garvey Griffith Menzel Paisley e Lipetz Mueller 1994 312313 A referência comum a toda essa corrente de estudos é a tradição de pesquisa conhecida como Sociologia da ciência cujo precursor ainda em 1957 é Robert K Merton e que na década de 60 se desenvolveu com pesquisadores como Crane David Encel e Storer e que se preocupa com fatores como motivação reconhecimento comportamento visibilidade criatividade que afetam a produtividade dos cientistas quer no referente às propriedades psicológicas individuais quer num contexto institucional e organizacional na pesquisa Mueller 1994 8 Atualmente estão em destaque os estudos de laboratório de cunho etnográfico iniciados por Latour e Woolgar análise do cotidiano da atividade científica das práticas cotidianas dos ritos dos ciclos de credibilidade e motivações No âmbito dos estudos sociológicos sobre a ciência a proposta de Latour e Woolgar da macro para a microanálise da ciência Hochman 1994 214 marca o início de uma linha de estudos influenciada principalmente pelo interacionismo simbólico e pela etnometodologia Nessa linha se desenvolve uma nova postura É preciso rever essas atitudes epistemológicas em relação à ciência Então vá ao laboratório e veja sugerem Latour Woolgar e KnorrCetina à produção do conhecimento científico Isto implica uma recusa a qualquer privilégio epistemológico em face da descrição etnográfica das práticas científicas Em vez de impor categorias e conceitos estranhos ao mundo dos observados os autores defendem que o fenômeno deve ser analisado contextualmente tendo em vista o que os participantesobservados consideram como relevante Hochman 1994 214 Outros campos atuais de estudo são o Programa Forte da Sociologia do Conhecimento que estuda a relação entre o conhecimento científico e o contexto social tendo em Bloor e Barnes da Escola de Edimburgo seus principais representantes e a perspectiva construtivista de autores como KnorrCetina que estuda a ciência a partir da noção de arena transepistêmica Outras temáticas incorporadas ao campo de pesquisa são as relativas aos condicionamentos das pesquisas por interesses privados políticos e comerciais Crossen 1996 à divulgação científica como atividade de difusão do conhecimento partilha social do saber e atividade de reformulação discursiva Zamboni 2001 à importância do periódico científico Stumpf 1996 Targino 1998 bem como os estudos sobre divulgação científica centrados nos papéis educacional cívico e de mobilização popular que a ciência tem ou deveria ter Albagli 1996 397 sobre a inserção da ciência na problemática da sociedade da informação Takahashi 2000 Mattelart 2002 e mesmo sobre os limites epistemológicos do conhecimento científico Morin 1987 Referências bibliográficas Adorno T e Horkheimer M 1985 Dialética do esclarecimento Rio de Janeiro Editora Zahar Albagli S 1996 Divulgação científica informação científica para a cidadania Ciência da Informação 25 396404 Alvarenga L 1994 Bibliometria e arqueologia do saber de Michel Foucault traços de identidade teóricometodológica Ciência da Informação 27 253261 Alvarenga L 1996 A institucionalização da pesquisa educacional no Brasil Tese de doutorado Programa de PósGraduação em Educação Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Alves R 1987 Filosofia da ciência introdução ao jogo e suas regras São Paulo Brasiliense Andery MAP 2004 Para compreender a ciência uma perspectiva histórica Rio de Janeiro Garamond São Paulo EDUC Aranha ML e Martins MH 1993 Filosofando introdução à filosofia São Paulo Editora Moderna Barilli R 1994 Curso de estética Lisboa Estampa Bourdieu P 1983 O campo científico Em Ortiz R org Pierre Bourdieu Sociologia São Paulo Editora Ática Capra F 1987 O ponto de mutação a ciência a sociedade e a cultura emergente São Paulo Editora Cultrix Chalmers A 1994 A fabricação da ciência São Paulo UNESP Chauí M 1981a O que é ideologia São Paulo Editora Brasiliense Chauí M 1981b Cultura e democracia o discurso competente e outras falas São Paulo Editora Moderna Chauí M 1996 Convite à filosofia São Paulo Editora Ática Crossen C 1996 O fundo falso das pesquisas Rio de Janeiro Revan Demo P 1985 Introdução à metodologia da ciência São Paulo Editora Atlas Deus J D org 1996 A crítica da ciência sociologia e ideologia da ciência Rio de Janeiro Editora Zahar Foucault M 1972 A arqueologia do saber Petrópolis Editora Vozes Fourez G 1995 A construção das ciências introdução à filosofia e à ética das ciências São Paulo UNESP França VRV 1994 Teorias da comunicação busca de identidade e de cami nhos Rev Esc Biblioteconomia UFMG 23 138152 França VRV 2001 O objeto da comunicaçãoa comunicação como objeto Em Hohlfeldt A Martino L e França V Orgs Teorias da comunicação escolas conceitos tendências pp 3960 Petrópolis Editora Vozes Gomes W 2003 O estranho caso de certos discursos epistemológicos que visitam a área de Comunicação Em Lopes M I Org Epistemologia da comunicação pp 313329 São Paulo Editora Loyola Gressler LA 2003 Introdução à pesquisa projetos e relatórios São Paulo Loyola Habermas Jurgen 1989 Consciência moral e agir comunicativo Rio de Janeiro Tempo Brasileiro Hochman G 1994 A ciência entre a comunidade e o mercado leituras de Kuhn Bourdieu Latour e KnorrCetina Em Portocarrero V Org Filosofia história e sociologia das ciências abordagens contemporâneas Rio de Janeiro Fiocruz Kuhn T 1975 A estrutura das revoluções científicas São Paulo Editora Perspectiva Laborit H 1988 Deus não joga dados São Paulo Trajetória Cultural Lacey H 1998 Valores e atividade científica São Paulo Discurso Editorial Lakatos EM e Marconi M 1986 Metodologia científica São Paulo Editora Atlas Lara T 1986 Caminhos da razão no Ocidente a filosofia ocidental do Renascimento aos nossos dias Petrópolis Editora Vozes Maslow A 1979 As necessidades de conhecimento e o seu condicionamento pela mente e pela coragem Em Deus J D Org A crítica da ciência sociologia e ideologia da ciência pp 206218 Rio de Janeiro Editora Zahar Mattelart A 2002 História da sociedade da informação São Paulo Editora Loyola Merton RK 1979 Os imperativos institucionais da ciência Em Deus J D org A crítica da ciência sociologia e ideologia da ciência pp 3752 Rio de Janeiro Editora Zahar Morin E 1987 O método III o conhecimento do conhecimento Lisboa Publ EuropaAmerica Morin E e LeMoigne JL 2000 A inteligência da complexidade São Paulo Editora Peirópolis Mueller S 1994 O impacto das tecnologias de informação na geração do artigo científico tópicos para estudo Ciência da Informação 23 309317 Portocarrero V Org 1994 Filosofia história e sociologia das ciências I abordagens contemporâneas Rio de Janeiro Fiocruz Quintaneiro T Barbosa M Le Oliveira M 1996 Um toque de clássicos Durkheim Marx e Weber Belo Horizonte Editora da UFMG Raeper W e Smith L 2001 Introdução ao estudo das idéias religião e filosofia no passado e no presente São Paulo Editora Loyola Rossi P 2001 O nascimento da ciência moderna na Europa Bauru EDUSC Santaella L 2001 Comunicação pesquisa projetos para mestrado e doutorado São Paulo Editora Hacker Santos BS 1996 Um discurso sobre as ciências Porto Afrontamento Santos IE 2000 Textos selecionados de métodos e técnicas da pesquisa científica Rio de Janeiro Editora Impetus Serres M Org 1989 Éléments dhistoire des sciences Paris Bordas Silva EL 2002 A construção do conhecimento científico o processo a atividade e a comunicação científica em um laboratório de pesquisa Perspectivas em Ciência da Informação 7 109125 Stumpf I 1996 Passado e futuro das revistas científicas Ciência da Informação 25 383386 Takahashi T Org 2000 Sociedade da informação no Brasil Livro Verde Brasília Ministério da Ciência e Tecnologia Targino M 1998 Comunicação científica o artigo de periódico nas atividades de ensino e pesquisa do docente universitário brasileiro na pósgraduação Tese de Doutorado Programa de PósGraduação em Ciência da Informação Universidade de Brasília Brasília DF Wersig G 1993 Information science the study of postmodern knowledge usage Information proc Manag 29 229239 Zamboni L 2001 Cientistas jornalistas e a divulgação da ciência Campinas Autores Associados DESCARTES OS QUATRO PRECEITOS DO DISCURSO DO MÉTODO RODRIGUES Paulo R R Porto Alegre Veritas junho 1998 p 365369 O texto destaca e discute sobre as quatro regras do método científico elaboradas por René Descartes defensor da filosofia baseada na verdade e nunca no falso em seu Discurso do Método que defende a importância da evidencia divisão ordem dos pensamentos e revisões para alcançar a verdade Iniciando pela evidência onde afirma a necessidade de ter clareza sobre a veracidade das ideias de não aceitar como verdadeiro aquilo que não é claramente definido evitando se precipitar e assim prevenir a inclusão em seus juízos o que não é evidentemente esclarecido E então nos diz sobre a simplificação ou divisão de um problema para então conhecer sua complexidade Portanto Descartes propõe ordenar os pensamentos do mais simples ao mais complexo obtendo assim uma lógica de raciocínio e que por fim devese revisar as ideias para garantia de nada omitir O texto ressalta a importância da clareza distinção divisão e busca pela evidência dos elementos essenciais para conduzir a razão de forma eficaz na busca pela verdade É notório buscando a clareza e distinção dos fatos combinada com a análise minuciosa e revisão dos pensamentos são de suma importância para evitar equívocos na própria conclusão e tornar a mesma mais sólida certeira e evidente A abordagem metódica e rigorosa proposta por Descartes é realmente valiosa para a investigação científica e a busca pelo conhecimento
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Ciências Cognição 2006 Vol 08 127142 httpwwwcienciasecognicaoorg Ciências Cognição Submetido em 18062006 Revisado em 13082006 Aceito em 14082006 ISSN 18065821 Publicado on line em 15 de agosto de 2006 Revisão A ciência como forma de conhecimento Science as a kind of knowledge Carlos Alberto Ávila Araújo Escola de Ciência da Informação Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Belo Horizonte Minas Gerais Brasil Resumo Analisase as particularidades da ciência enquanto forma de conhecimento a partir da distinção em relação a outras formas como o senso comum a religião a arte a filosofia e a ideologia A seguir definese o conhecimento científico e são vistos os autores que promovem sua fundamentação Descartes Bacon e Galileu Discutese ainda as particularidades da ciência no contexto contemporâneo da pósmodernidade com destaque para os estudos que têm a ciência por objeto de problematização Ciências Cognição 2006 Vol 08 127142 Palavraschave ciência formas de conhecimento pósmodernidade Abstract In this study the particularitities of science while a knowledge form will be analyzed from the distinction in relation to other forms as common sense religion art philosophy and ideology Next the scientific knowledge will be defined and will be seen the authors who promote its foundations Descartes Bacon and Galileu Finnally the particularitities of science in the context of postmodernity will be studied with special attemption for the studies that have science as research object Ciências Cognição 2006 Vol 08127142 Keywords science kinds of knowledge postmodernity A ciência e o conhecimento científico são definidos de maneiras diferentes pelos diversos autores que se lançam à tarefa de refletir sobre eles Algumas definições são bastante semelhantes outras levantam algumas diferenças Contudo a maior parte dos que buscam definir a ciência concorda que ao se falar em conhecimento científico o primeiro passo consiste em diferenciálo de outros tipos de conhecimento existentes Lakatos e Marconi 1986 17 Antes de se apresentar cada uma das formas de conhecimento convém explicitar o que se entende por conhecimento e por processo de conhecer Conhecer é atividade especificamente humana Ultrapassa o mero darse conta de e significa a apreensão a interpretação Conhecer supõe a presença de sujeitos um objeto que suscita sua atenção compreensiva o CAÁ Araújo é jornalista mestre em Comunicação Social e doutor em Ciência da Informação Atua como professor adjunto na Escola de Ciência da Informação UFMG nas áreas de Teoria e Epistemologia da Informação Usuários da Informação e Fundamentos Sociais da Informação Email para correspondência casalavilayahoocombr Ciências Cognição 2006 Vol 08 httpwwwcienciasecognicaoorg Ciências Cognição uso de instrumentos de apreensão um trabalho de debruçarse sobre Como fruto desse trabalho ao conhecer criase uma representação do conhecido que já não é mais o objeto mas uma construção do sujeito O conhecimento produz assim modelos de apreensão que por sua vez vão instruir conhecimentos futuros França 1994 140 A autora destaca assim os principais elementos envolvidos no processo de conhecer o sujeito que conhece a coisa conhecida que uma vez conhecida tornase objeto isto é a coisa elemento da realidade da perspectiva de quem a conhece para quem se torna objeto o movimento do sujeito em direção ao objeto que é o próprio processo de conhecer e os instrumentos utilizados neste processo Um último elemento é apresentado pela autora o fato de que todo processo de conhecimento se dá no cruzamento de duas dinâmicas opostas duas atitudes básicas a abertura para o mundo a cristalização ou enquadramento do mundo Conhecer significa voltarse para a realidade e deixar falar o nosso objeto mas conhecer significa também apreender o mundo através de esquemas já conhecidos identificar no novo a permanência de algo já existente ou reconhecível O predomínio de uma ou outra dessas tendências tem efeitos negativos e é através de seu equilíbrio que se pode alcançar o conhecimento ao mesmo tempo atento ao novo e enriquecido pelas experiências cognitivas anteriores França 2001 43 É a partir destes aspectos os elementos que compõem o processo de conhecer e as duas dinâmicas envolvidas nesse processo que podem ser distinguidos diferentes tipos ou formas de conhecimento A primeira forma de conhecimento normalmente identificada pelos autores que se dedicam à conceituação de ciência é o senso comum Tratase de uma forma de conhecimento adquirido no cotidiano empírico por excelência normalmente adquirido por meio da experiência É um conhecimento produzido e aprendido por intuição acidente ou uma observação causal mas pode ser também resultado de um esforço deliberado para a solução de um problema É um conhecimento limitado pois não é sistemático nem eficiente e não permite identificar conhecimentos complexos ou relações abstratas Gressler 2003 27 Para Lakatos e Marconi 1986 18 o senso comum também denominado conhecimento vulgar ou popular é um modo corrente e espontâneo de conhecer que não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido o que os diferencia é a forma o modo ou o método e os instrumentos do conhecer As autoras destacam as seguintes características do senso comum ele é superficial sensitivo subjetivo assistemático e acrítico Lakatos e Marconi 1986 19 E mais adiante levantam outro conjunto de características dessa forma de conhecimento valorativo reflexivo assistemático verificável falível e inexato A caracterização do senso comum como uma forma de conhecimento acrítica que não reflete sobre si mesmo e assistemática pois não tem a preocupação de uma sistematização e organização de idéias num conjunto coerente consistindo antes uma série de conhecimentos dispersos e desconexos também é destacada por Demo para quem o senso comum não possui sofisticação Não problematiza a relação sujeitoobjeto Acredita no que vê Não distingue entre fenômeno e essência entre o que aparece na superfície e o que existe por baixo Ao mesmo tempo assume informações de terceiros sem as criticar Demo 1985 30 Ainda sobre o senso comum devese destacar seu caráter imediatista colado às necessidades imediatas a dose comum de Ciências Cognição 2006 Vol 08 httpwwwcienciasecognicaoorg Ciências Cognição conhecimentos da qual dispomos para nossas atividades rotineiras Demo 1985 31 e o fato de ele ser transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal Lakatos e Marconi 1986 17 Embora sem métodos críticos e sem sistematização mas sendo colado às necessidades imediatas e fruto da intuição e da experiência o conhecimento derivado do senso comum existe numa constante tensão entre os préconceitos os modelos consagrados que se transmitem ao longo das gerações sem o devido questionamento de sua validade ou de suas reais relações de causa e efeito e o dinamismo e a espontaneidade que formulam a todo momento novas teorias e novos modelos explicativos Enfim apresenta as duas dinâmicas de conhecimento a abertura e a cristalização Uma outra forma de conhecimento destacada por diversos autores é o pensamento religioso que inclusive acompanha a humanidade desde os seus primórdios Um dos processos mais antigos e ao longo dos séculos mais comumente adotado pelo homem na busca de conhecimento e verdade é o do apelo à autoridade ou à tradição e aos costumes A autoridade estava nas mãos de chefes de tribo dignatários religiosos de políticos ou sábios a verdade seria o que afirmavam os que detinham o poder Gressler 2003 26 O conhecimento religioso ou teológico se caracteriza por ser valorativo inspiracional sistemático não verificável infalível e exato Lakatos e Marconi 1986 21 O princípio da autoridade é fundamental para seu funcionamento pois ele se apóia em doutrinas com proposições sagradas reveladas pelo sobrenatural que consistem em verdades indiscutíveis já que na experiência religiosa está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado Lakatos e Marconi 1986 21 O conhecimento religioso pressupõe um sujeito que a tudo conhece e tudo sabe e portanto o desafio do conhecimento colocado para os sujeitos não é o de conhecer e produzir verdades sobre o mundo mas sim compreender uma verdade que já está pronta revelada concedida O homem é menos sujeito do conhecimento na medida em que não pratica experimentações ou busca novas formulações mas apenas busca compreender cada vez mais um corpo de conhecimentos que se lhe apresenta já organizado sistematizado com regras hierarquias e leis Ao mesmo tempo tratase de um tipo de conhecimento não falseável isto é que não permite a verificação porque vem da transcendência E exatamente por essa característica representa uma forma de conhecimento que evolui muito lentamente tende a ser estacionário Uma boa demonstração dessa concepção é a frase de Santo Agostinho que diz que aquilo que a verdade descobrir não pode contrariar aos livros sagrados quer do Antigo quer do Novo Testamento Aranha e Martins 1993 101 Assim o conhecimento é entendido por Santo Agostinho como ato da iluminação divina Andery et al 2004 145 Ou seja na experiência religiosa o sujeito se relaciona não com coisas da realidade que ele vai tentar conhecer mas com objetos que surgem a ele já interpretados e explicados pela doutrina religiosa Uma outra forma de conhecimento levantada por alguns autores França 1994 141 Santaella 2001 103 é a experiência artística Diferentemente do senso comum e do conhecimento religioso a arte consiste numa forma de conhecimento subjetiva e não objetiva isto é não se propõe a ser a verdade não propõe explicações universais e generalizáveis Antes é a forma de conhecimento mais ciente de que constrói representações da realidade afirmações inexatas propositalmente imprecisas e indiretas Ela possui métodos e técnicas mas é por definição embora tal característica seja ideal e não ocorra necessariamente na maioria das situações espontânea dinâmica e aberta A arte não apresenta discursos fechados e definitivos sobre a realidade mas antes formula enunciados abertos às diferentes interpretações convoca os sujeitos para com o uso da imaginação produzirem diferentes representações daquilo que lhes é apresentado A arte assim está muito mais voltada para a primeira dinâmica do processo de conhecer para o descobrimento do mundo Barilli 1994 4950 argumenta que a experiência estética proporcionada pela arte pode se dar também em outros campos O autor dá como exemplo o ato de comer que em princípio é um ato da ordem biológicofisiológica pertencente à esfera da natureza e não da cultura Entretanto esse ato pode convertese em experiência estética desde que se faça intervir as três características da experiência estética a novidade a totalização e a ritmicidade Assim o ato de comer não como aquela refeição normal e vulgar de todo dia marcado pela pressa e pela economia mas como uma prática em que os pratos surpreendem em que há um empenho em recolher daquela experiência um grande número de elementos pode se transformar numa experiência estética Assim no processo de conhecimento instaurado pela arte as manifestações artísticas são apresentadas aos sujeitos enquanto coisas na relação com os objetos e produtos artísticos cada sujeito vai elaborar sua interpretação construindo então objetos Outros autores costumam destacar ainda uma outra forma de conhecimento que é o conhecimento filosófico Lakatos e Marconi o apresentam como um dos quatro tipos de conhecimento caracterizado por ser valorativo racional sistemático não verificável infalível e exato Contudo é mais comum encontrar a filosofia não exatamente como uma forma de conhecimento da realidade como as outras mas como uma forma de conhecimento que avalia as demais formas de conhecimento que estuda a natureza e os limites das diferentes manifestações do conhecimento humano A filosofia trata das idéias idéias sobre o mundo sobre as pessoas idéias sobre o viver A filosofia se preocupa de modo geral com o modo como sabemos as coisas e com o que podemos saber Raeper e Smith 2001 13 Alguns autores ainda identificam como uma outra forma de conhecimento distinta das demais a ideologia É o caso de Demo 1985 31 que distingue a ideologia como forma de conhecimento composta de enunciados que justificam relações de poder Essa é uma concepção de ideologia oriunda do pensamento marxista que define a ideologia como a transposição involuntária para o plano das idéias de relações sociais muito determinadas Chauí 1981a 10 Essa definição de ideologia não destaca tanto as características do conhecimento ideológico que pode ser mais ou menos sistematizado sofisticado coerente mas sim seu efeito sobre a realidade e a sociedade ou seja a forma como se dá a inserção desse conhecimento nas relações sociais Fundamentalmente a ideologia é um corpo sistemático de representações e de normas que nos ensinam a conhecer e a agir A sistematicidade e a coerência ideológicas nascem de uma determinação muito precisa o discurso ideológico é aquele que pretende coincidir com as coisas anular a diferença entre o pensar o dizer e o ser e destarte engendrar uma lógica de identificação que unifique pensamento linguagem e realidade para através dessa lógica obter a identificação de todos os sujeitos sociais com uma imagem particular universalizada isto é a imagem da classe dominante Chauí 1981b 3 Concrebida dessa forma mostrase mais coerente pensar na ideologia não como 130 uma forma de conhecimento distinta das demais mas como uma dimensão do conhecimento que pode estar presente em todas as formas de conhecimento Tanto o senso comum quanto a religião ou a arte podem funcionar como discursos ideológicos em determinados contextos Assim também a ciência pode se revestir de uma dimensão ideológica como aliás salientam vários autores Alves 1987 11 alerta para o fato da ciência ter virado um mito e como tal induzir o comportamento e inibir o pensamento Gressler 2003 32 também identifica a possibilidade da ciência se tornar um produto ideológico E ainda Lacey 1998 14 critica a idéia de neutralidade e imparcialidade do conhecimento científico constatando que a ciência não é livre de valores e que ela assume uma postura ideológica quando busca se legitimar e negar a legitimidade de conhecimentos alternativos pelo modo como transforma a natureza e a sociedade e quando ocorre desigualdades e dominação pelo forma como o conhecimento é gerado e estruturado A construção da ciência na era moderna Tornase mais fácil compreender a ciência após a delimitação das outras formas de conhecimento Afinal o conhecimento científico nasce da proposta de um conhecimento diferente dos demais porque busca compensar as limitações do conhecimento religioso artístico e do senso comum A busca de um conhecimento mais confiável da realidade está presente desde a préhistória Mas o que é ciência Quando o homem do paleolítico encontrou um mamute percebeu imediatamente que não podia enfrentálo Fugiu correndo e na incoerência aterrorizada da corrida caiu e feriu o joelho num sílex Compreendeu que o sílex era mais duro que o joelho Ora o homem é o único animal que reuniu essas diversas experiências para formular uma hipótese de trabalho após construir uma arma para enfrentar o mamute o homem concebera uma hipótese de trabalho e verificara experimentalmente o seu valor Era sem dúvida uma atividade científica Laborit 1988 23 Contudo a maior parte dos autores que definem ciência a identificam com um momento específico da história da humanidade Um novo tipo de abordagem do problema do conhecimento desenvolveuse a partir do século XV Já o método de investigação difundido por Galileu é mais do que simples indução ou dedução Compreende uma série de procedimentos para testar criticamente e selecionar as melhores hipóteses e teorias para explicar a realidade Gressler 2003 27 A necessidade do homem de uma compreensão mais aprofundada do mundo bem como a necessidade de precisão para a troca de informações acaba levando à elaboração de sistemas mais estruturados de organização do conhecimento Gérard Fourez destaca que no início os homens se comunicavam a partir de uma linguagem que utilizava um código restrito em que os objetos do mundo são descritos sem uma preocupação com o alcance das descrições não havendo pois uma reflexão elaborada É a linguagem do diaadia útil na prática e que não leva adiante todas as distinções que se poderia fazer para aprofundar o meu pensamento Fourez 1995 18 Mas com o tempo passaram a desenvolver um código elaborado com o objetivo de tornar as noções mais precisas e sistematizar os campos de conhecimento Aqui se tem a origem dos conceitos noção fundamental para a formação dos campos disciplinares De acordo com outro Maslow 1979 206 a ciência tem as suas origens nas necessidades de conhecer e compreender ou explicar isto é nas necessidades cognitivas 131 De um conhecimento difuso espalhado assistemático e desorganizado passase a um trabalho de arranjo segundo certas relações de disposição metódica Esse processo é fundamental para a composição de campos específicos do conhecimento Michel Serres 1989 no tratado que organiza sobre a história da ciência apresenta as principais eras científicas ou do conhecimento isto é eras marcadas por uma grande sistematização dos conhecimentos a Matemática no Egito Antigo e Mesopotâmia a Grécia Clássica a Intermediação Árabe a Teologia da Idade Média e a Ciência Moderna que em sentido estrito é a única forma de conhecimento que realmente pode ser classificada como científica Embora se possa dizer que não existe um lugar de nascimento daquela realidade histórica complicada que hoje chamamos de ciência moderna Rossi 2001 09 uma vez que a nova forma de conhecimento é fruto do trabalho de autores de diversas nacionalidades e contextos existe uma força de agregação do projeto científico que é sua orientação marcada pelo racionalismo de Descartes e pelo empirismo de Bacon e Galilei Lara 1986 O projeto racional proporciona um acúmulo de conhecimentos teorias e métodos que vão exigindo separações tratamentos diferenciados posturas específicas Não se observa do mesmo modo um neutrino um micróbio uma cratera sobre a Lua uma nota de música um gosto de açúcar ou um pôrdosol Fourez 1995 41 Sob a justificativa de que objetos diferentes reclamam conceitos de naturezas diferentes produziramse cisões e compartimentalizações no conhecimento científico Tratamse das disciplinas científicas A maior dessas cisões é a que separa as ciências em inorgânicas que estudam o mundo físico orgânicas que estudam o mundo biológico isto é tudo aquilo que tem vida e superorgânicas que estudam o mundo social Depois com a distinção entre objeto material o fenômeno propriamente dito o que está no mundo o ens reale e objeto formal o objeto construído recortado por uma ciência abrese caminho para a construção de várias ciências já que uma definição científica é a releitura de um certo número de elementos do mundo por meio de uma teoria Fourez 1995 46 Contudo uma análise do processo de fortalecimento das disciplinas que queira ir além da visão da ciência como um processo absoluto e de modo algum histórico Fourez 1995 59 vai incorporar toda a dimensão política sociológica e histórica que levou à consolidação do conhecimento científico como forma de conhecimento O ponto de partida para essa visão é a análise de Rossi que aponta para o fato de que as universidades não estiveram no centro da pesquisa científica A ciência moderna nasceu fora das universidades muitas vezes em polêmica com elas e no decorrer do século XVII e mais ainda nos dois séculos sucessivos transformouse em uma atividade social organizada capaz de criar as suas próprias instituições Rossi 2001 10 A criação das academias e posteriormente dos institutos de pesquisa Rossi 2001 337386 representa não apenas o movimento de renúncia ao trabalho solitário Rossi 2001 371 como principalmente o fortalecimento do saber científico com a reunião daqueles que partilhavam interesses conceitos e métodos e sua distinção em relação a outros Essa análise é confirmada pela historiografia de Deus 1979 12 que analisa a importância da ciência para o desenvolvimento do capitalismo desde a astronomia de Copérnico que mina o aparelho espiritual feudal controlado pela Igreja passando pelas orientações marítimas para os comerciantes à procura de novos mercados chegando à industrialização quando a ciência tornase força produtiva e passa a ser apropriada pelo Estado Esse processo 132 acontece com o concurso fundamental do agrupamento dos cientistas engajados no processo de construção de uma nova forma de apreender o mundo Os primeiros cientistas eram indivíduos mais ou menos isolados profissionais das universidades ou simples amadores Graças às boas ligações e à maleabilidade política conseguem pouco a pouco agruparse em sociedades científicas e ir ocupando os lugares de controle das velhas universidades medievais A consolidação da ciência particularmente marcada do século XVII significou antes de mais nada a consolidação das instituições científicas a criação de comunidades científicas cada vez mais estáveis autoreprodutivas autosuficientes Deus 1979 15 De acordo com Chalmers 1994 a organização de cientistas em comunidades científicas vai ser discutida e analisada por diversos autores como Imre Lakatos Karl Popper e Paul Feyerabend nas décadas de 1960 e 1970 no âmbito da filosofia da ciência a partir de discussões que vêem o conhecimento científico como questão política e destacam seu papel ideológico Deus 1979 17 destaca também a contribuição de autores da sociologia da ciência tais como Robert Mertoon 1979 com sua análise dos imperativos institucionais da ciência entre os quais se destaca o cepticismo organizado e de Thomas Kuhn 1975 que analisa as comunidades científicas como o suporte material e real do saber institucionalizado A fundamentação da ciência Ao apontar o surgimento do método científico no século XV Gressler não descarta que desde a idade antiga já houvesse habilidades e preocupações com uma linguagem técnica e uma argumentação lógica fundamentada na razão como bem demonstra por exemplo a geometria desenvolvida pelos gregos Contudo a autora particulariza o projeto científico como uma forma específica de conhecer a realidade desenvolvida com a contribuição de uma série de personagens destacandose sobretudo três A necessidade de se ter fundamentos sobre o processo de investigação e sobre a certeza dos resultados despertou o interesse de pensadores já no início do século XVI em três povos distintos do Ocidente Na França René Descartes pautou sua defesa no método dedutivo na Inglaterra o grande teorizador da experimentação Francis Bacon deu uma configuração doutrinária à indução experimental procurando ensinar alguns métodos rudimentares de observação e apontamentos e na Itália Galileu Galilei preocupado em instituir um pensamento baseado na experimentação resolveu pôr à prova alguns ensinamentos de Aristóteles Gressler 2003 28 A fundamentação do projeto de construção do conhecimento científico se deu então a partir do trabalho destes três pensadores Descartes 15961650 em obras como O discurso do método e Meditações propôs como ponto de partida de todo conhecimento a busca da verdade primeira que não pudesse ser posta em dúvida Por isso converte a dúvida em método Se duvido penso se penso existo Cogito ergo sum Com isso Descartes promove um questionamento radical do princípio de autoridade como forma de conhecimento pois sua atitude coloca em suspenso as verdades adquiridas por via da tradição e da revelação isto é do senso comum e da religião Quintaneiro et al 1996 09 Ao mesmo tempo o pensador francês promove a razão informada pelas regras do método à condição de guia supremo do processo de conhecer Ao teorizar sobre a racionalidade ele promove uma separação entre mente e corpo entre matéria e pensamento e entre a razão e as demais formas de conhecimento nascendo daí a ruptura da ciência com o sensível a natureza a imaginação e o sagrado Para Descartes o conhecimento sensível isto é sensação percepção imaginação memória e linguagem é a causa do erro e deve ser afastado O conhecimento verdadeiro é puramente intelectual parte das idéias inatas e controla por meio de regras as investigações filosóficas científicas e técnicas Chauí 1996 116 Descartes opera uma redução da subjetividade humana a seus aspectos racionais o que resultou numa imagem do cientista como alguém que não pertence a uma coletividade que não estabelece relações como se fosse apenas uma mente pensante um cérebro é a idéia do cientista isolado do mundo Alves 1987 1011 Também é de Descartes o mérito de propor como método científico a redução da complexidade isto é separar para estudar dividir o objeto de conhecimento em suas menores unidades e estudar cada uma dessas unidades separadamente Já Francis Bacon 15611626 tem no Novum organum uma obra fundamental em que compreende a ciência como um novo órgão um novo sentido do pensamento Com ele tem início o caráter prometéico da ciência não um saber contemplativo e desinteressado mas um saber instrumental que possibilite a dominação da natureza Bacon acreditava que o avanço dos conhecimentos e das técnicas as mudanças sociais e políticas e o desenvolvimento das ciências e da Filosofia propiciariam uma grande reforma do conhecimento humano que seria também uma grande reforma na vida humana Tanto assim que ao lado de suas obras filosóficas escreveu uma obra filosóficopolítica a Nova Atlântida na qual descreve e narra uma sociedade ideal e perfeita nascida do conhecimento verdadeiro e do desenvolvimento das técnicas Chauí 1996 116 Bacon propôs uma separação entre a ciência e as humanidades estas preocupadas com a justiça com as pessoas com a natureza com o sagrado e foi forte propulsor do empiricismo difundindo a crença de que o ponto de partida de todo conhecimento deveria ser a observação a descrição fiel da realidade isenta de julgamentos e interpretações Por fim Galileu Galilei 15641642 é reconhecido por muitos como o pai do método científico Seu trabalho é menos filosófico do que o dos dois pensadores citados anteriormente mas foi sobretudo ele quem enfatizou a atitude empírica na pesquisa científica e rompendo com as indicações de Aristóteles que eram tomadas sem questionamentos por outros pesquisadores buscou medir os fenômenos e fazer observações quantitativas Dentre suas diversas contribuições como a lei da inércia destacase a teoria heliocêntrica por meio da qual pôde comprovar as idéias de Copérnico e pela qual foi submetido a julgamento durante a Inquisição em Roma em 1633 Foi obrigado a se retratar publicamente do conceito de rotação da Terra em torno do Sol Nessa ocasião contudo após se retratar teria dito em voz baixa e olhando para o solo a frase eppur si move mas ela se move o que se tornou um dos lemas do pensamento científico Devese a Galileu ainda o início do projeto da Mathesis universalis isto é a busca de um ideal matemático Outra frase sua O livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos Alves 1987 80 demonstra sua intenção de construir um conhecimento em que as relações entre os objetos conhecidos se expressem em línguagem matemática o que resultaria na produção de um conhecimento exato e preciso A ciência pois é uma forma de conhecimento que compreendida num sentido mais específico surge historicamente no século XVI dentro do processo da Modernidade de ruptura com o mundo feudal e eclesiástico embasada filosoficamente pelo Iluminismo e originada com o Renascimento O discurso científico tem a intenção confessada de produzir conhecimento numa busca sem fim da verdade Alves 1987 170 Para conseguir alcançar esse conhecimento mais adequado mais fiel à realidade a ciência busca o desejado equilíbrio entre as duas dinâmicas do conhecimento isto é a constante renovação e a consolidação dos conhecimentos já construídos Lakatos e Marconi 1986 20 identificam como características do conhecimento científico ser factual lidar com ocorrências e fatos reais contingente a veracidade ou falsidade do conhecimento produzido pode ser conhecida através da experiência sistemático ordenado logicamente num sistema de idéias verificável o que não pode ser comprovado não é do âmbito da ciência falível não é definitivo absoluto e aproximadamente exato novas descobertas podem reformular o acervo de idéias existentes Essas características são também levantadas por Alves Para o autor contudo não se deve falar em ruptura do conhecimento científico com o senso comum Embora eles sejam muito diferentes um do outro Alves 1987 37 existe uma continuidade entre o pensamento científico e o senso comum Alves 1987 17 Com isso o autor argumenta que a ciência não deve ser vista como uma forma de conhecimento completamente distante do fazer humano dotada de autoridade inquestionável Entre as características da ciência ainda conforme o autor destacamse a busca de ordem a formulação de modelos e leis que explicam o funcionamento dos fenômenos e da natureza o abandono dos valores e a busca de um saber objetivo o uso de hipóteses e de experimentação que permite medir os eventos com precisão e o rigor do pensamento com a utilização do raciocínio lógico Alves identifica ainda duas características essenciais A primeira é a busca por um conhecimento geral universal aplicável a todos os casos Sempre que passamos do passado para o futuro ou do particular para o geral nós ampliamos aquilo que sabemos Alves 1987 116 Buscase tanto as regularidades e uniformidades quanto também a possibilidade da previsão A segunda é a falseabilidade isto é os enunciados científicos podem ser testados para se confirmar se são verdadeiros ou falsos Uma proposição verificável é aquela sobre a qual a partir de testes podemos tomar uma decisão sobre sua verdade ou falsidade Alves 1987 176 Entre os objetivos da ciência estão a busca do controle prático da natureza a descrição e compreensão do mundo e a possibilidade de predição Gressler 2003 37 Posteriormente ela se alia à técnica é quando ela realmente se destaca Gressler 2003 24 e passa a resultar numa série de avanços nos modos de produção da sociedade tendo seu ápice na Revolução Industrial do século XVIII com grandes inventos como a lançadeira 1733 o tear mecânico 1738 a máquina a vapor 1768 a locomotiva 1813 o barco a vapor 1821 e muitas outras que alteraram de forma significativa as formas de produção e de vida das sociedades Ao mesmo tempo o conhecimento científico se desenvolve e busca sua legitimidade a partir de sua institucionalização nas universidades conselhos associações congressos institutos publicações e eventos A ciência na pósmodernidade No século XX a ciência vai ser questionada em vários de seus princípios e suas propostas De acordo com Santos 1996 o paradigma dominante que é o modelo de ciência surgido no século XVI caracterizado pela luta apaixonada contra todas as formas de dogmatismo e autoridade pela busca de leis e da objetividade e pelo uso da matemática como instrumento privilegiado de análise apenas o que é quantificável é cientificamente relevante passa a sofrer um processo de perda de confiança Para o autor isso acontece a partir de dois tipos de condições O primeiro tipo são as condições teóricas isto é descobertas científicas que colocam em evidências limitações do modelo tradicional Entre essas descobertas o autor destaca as contribuições de Einstein Heisenberg e Bohr Gödel Prigogine e outros que derrubam entre outros pilares do paradigma dominante o mito da objetividade da possibilidade de se estudar um objeto sem perturbálo e a idéia de tempo e espaço absolutos O segundo tipo são as condições sociais Diversas experiências do século XX como as duas grandes guerras as experiências totalitárias os desastres ecológicos a submissão da ciência aos interesses militares e econômicos levaram a uma perda do interesse no conhecimento científico tal como vinha sendo produzido Essa foi uma questão amplamente discutida por Adorno e Horkheimer 19471985 logo após a II Guerra Os autores realizam uma extensa análise sobre os processos de dominação na sociedade ocidental contemporânea e percebem como a ciência a partir da razão instrumental converteuse em elemento de mistificação das massas Habermas 1989 deu continuidade ao debate buscando determinar a maneira como a ciência deixou de ser um elemento libertador e passou a inserirse na lógica industrial da sociedade capitalista Conforme Santos essas duas condições estariam levando a uma crise do paradigma dominante e à emergência de um novo paradigma Outros autores têm discutido a questão Wersig 1993 229 percebe a emergência no século XX de um novo tipo de ciência denominada por ele ciência pósmodema voltada não para a compreensão do modo de funcionamento da natureza como a ciência clássica mas para a resolução de alguns problemas causados pela ciência moderna e suas tecnologias Morin e Le Moigne apresentam a proposta do pensamento complexo como a forma mais adequada de produção do conhecimento compreendendoo como uma evolução da ciência clássica em vários aspectos como por exemplo a superação da compartimentalização dos saberes Morin e LeMoigne 2000 199213 também Capra 1987 percebe uma grande revolução em todas as ciências com a crise do modelo cartesiano Para outros autores contudo não se estaria vivendo um momento de crise da ciência É o caso de Gomes que alerta para um certo modismo atual de se identificar uma crise dos paradigmas da ciência moderna poderseia detectar tal crise apenas se estivéssemos vivendo uma ruptura revolucionária generalizada Não me parece haver qualquer coisa desse tipo no ar A ciência contemporânea dedicase ao labor cotidiano da investigação discute suas descobertas a partir de categorias comuns submetese a discussões com pressupostos comuns publica em periódicos com compreensões comuns de cientificidade Pode ser que pessoas mais atentas notem algum furor revolucionário varrendo convicções anteriores eu consigo ver um tempo de ciência normal normal até demais com costumes preguiçosos e arraigados com distribuição em formas tradicionais de prestígio e reconhecimento Gomes 2003 319 De toda forma percebendose um momento de crise ou apenas um processo de continuidade o que se pode verificar é que a idéia nascida com a Modernidade de ciência como um conhecimento completamente objetivo capaz de conhecer um objeto sem qualquer perturbação por parte do sujeito que o conhece em busca de leis definitivas e absolutas deu lugar a uma compreensão da atividade científica como um produto social Gressler 2003 32 dotado de uma matriz coletiva Alves 1987 206 que lida com objetos construídos Demo 1985 45 Essa evolução da forma de se encarar a ciência foi possível sobretudo a partir do momento em que a ciência tornouse também ela objeto de 136 estudo a partir da intervenção de diferentes disciplinas Estudos sobre a ciência e o fazer científico A realização de estudos sobre a produção de conhecimento científico e a necessidade de avaliação do trabalho dos pesquisadores dos produtos e dos processos de divulgação científica foi um fator condicionante ao longo do século XX da evolução de toda uma área do conhecimento Essa área não se desenvolveu de maneira uniforme mas antes consistiu na realização de diferentes pesquisas com várias naturezas métodos e filiações teóricas Nela se encontram tradições tão diversas como a história da ciência a sociologia da ciência a teoria do conhecimento e as preocupações epistemológicas e filosóficas dentro de cada área específica entre outras Entre os vários campos de estudos dedicados às investigações sobre a produção científica merecem destaque as contribuições de dois autores que têm tido um impacto fundamental no direcionamento dos estudos contemporâneos O primeiro deles é Bourdieu cuja importância é salientada a seguir Em artigo bastante conhecido Pierre Bourdieu introduz a noção de campo científico em clara oposição ao conceito de comunidade científica de Kuhn apesar de incorporar muitos dos seus termos Para Bourdieu a noção de comunidade científica autônoma insuslad a autoreprodutora com cientistas neutros e interessados somente no progresso da sua disciplina esconde mais que elucida a dinâmica das práticas científicas na sociedade moderna Hochman 1994 208 O autor está se referindo à aplicação por Bourdieu de sua teoria dos campos sociais à ciência definindo esta como um campo científico Bourdieu 1983 define o campo social como um espaço configurado pelas relações que ocorrem entre os atores sociais Nessas relações podem ser identificadas as posições que os atores ocupam uns em relação aos outros Tratase na verdade da retomada dos princípios marxistas relativos ao conflito e à determinação das condições sociais de produção o que abre caminho para uma abordagem sociológica da ciência que entende que o conhecimento científico enquanto produto é afetado pelas condições de um contexto específico Silva 2002 109 ou em outros termos que a verdade científica reside numa espécie particular de condições sociais de produção Bourdieu 1983 122 Essa compreensão permite entender a ciência como resultado não propriamente de progressos e questões científicas mas como resultado dos processos de luta de utilização e busca por recursos e capital simbólico pela lógica de distinção Essa distinção pode ser compreendida como instâncias de consagração e de prestígio que se relacionam com o grau de aceitação no campo o que implica entre outras práticas a aceitação das regras da prática científica O campo científico exige dos seus participantes um saber prático das leis de funcionamento desse universo isto é um habitus adquirido pela socialização prévia eou por aquela praticada no próprio campo Silva 2002 119 O habitus uma das categorias de Bourdieu diz respeito àquilo que está introjetado em cada indivíduo que foi construído por suas experiências e história de vida mas também é possível identificar um habitus coletivo ou de grupo Cientistas estão constantemente em luta por autoridade e reconhecimento traçando variadas estratégias e efetuando ações em uma ou outra direção para atingir seus objetivos As lutas se dão em torno da apropriação de um capital específico do campo eou pela redefinição daquele capital Nesse esforço criar ou fortalecer novas áreas ou campos de pesquisa disciplinas pode ser em determinados momentos a atitude mais interessante ou lucrativa dentro do jogo científico São contextos específicos de 137 reações e contrareações à estrutura de posições dentro de um campo que motivam a criação de novos campos e a migração de alguns cientistas para estes novos campos dando assim origem a novas disciplinas que com o tempo vão buscar se legitimar enquanto campos do conhecimento Nesse processo é fundamental a formação de uma infraestrutura de discursos e de uma dinâmica de institucionalização que garanta a legitimidade dos novos campos científicos criados Do ponto de vista da filosofia da ciência um dos autores mais importantes voltados para a problemática dos discursos científicos e de sua legitimidade é Michel Foucault Sobre esse autor é importante destacar que ao considerar a questão da história e da filosofia do ponto de vista de Foucault é preciso primeiramente levar em consideração que seu interesse não diz respeito à ciência propriamente mas ao saber não à sua racionalidade imanente mas às condições externas de possibilidade de sua existência Portocarrero 1994 45 Ao utilizar a expressão saber Foucault salienta o fato de que o discurso científico não é formado apenas por ciência propriamente dita pelas teorias e conceitos científicos mas por uma quantidade imensa de saberes políticos administrativos institucionais culturais literários artísticos etc Com isso se abre a possibilidade de análise da ciência para além dos seus próprios critérios de cientificidade pois são exatamente essas condições de cientificidade ou de verdade que vão ser analisadas pelo autor Compondo esse conjunto de saberes que o autor identifica como estando presentes na prática científica Foucault vai então trabalhar com o discurso científico enquanto formação discursiva A caracterização de um conjunto de discurso pertinente a uma vertente específica do saber vista por Foucault como uma formação discursiva é reconhecida e amplamente aceita por estudiosos da área da análise do discurso e achase extensamente trabalhada no livro do referido autor Alvarenga 1996 255 O livro ao qual a autora se refere é Arqueologia do saber cuja primeira edição data de 1969 em que o autor empreende seu grande projeto de buscar as regras de formação de discursos dentro de um campo específico de conhecimento a arqueologia pode assim e eis um de seus temas principais constituir a árvore de derivação de um discurso Foucault 1972 181 O método da arqueologia do saber busca uma abordagem dialógica entre o dado e o nãodado fazendo emergir o que fica oculto os componentes históricos e contextuais Alvarenga 1996 254 Buscase com isso a superação do positivismo compreendendo a ciência dentro dos limites do que é possível dizer Em alternativa às categorias de objetividade e verdade Foucault busca compreender a ciência como locus de luta entre sistemas competitivos isto é como um conhecimento que possui um suporte institucional reforçado por práticas sociais preciso e definido controlado Ainda para Foucault um campo discursivo não se caracterizaria pelos objetos que estuda pelas modalidades de enunciação pelos conceitos ou pelas temáticas privilegiados mas sim pela maneira pela qual se formam os seus objetos Alvarenga 1994 256 A formação de objetos de um campo discursivo se dá pela demarcação das superfícies primeiras de emergência que limita o domínio desse campo pelas instâncias de delimitação campos institucionais e disciplinas pelas grades de especificação relações entre instituições e processos sociais e pela análise das relações entre esses 138 planos Tudo isso nos dá o contexto no qual se origina o conhecimento Os critérios de cientificidade seriam apenas uma das formas entre outras existentes e que como ela são histórica e contextualmente dependentes de legitimação de saberes e discursos Dentro dessa formulação teórica cumpre destacar que A arqueologia não descreveria disciplinas tomandose aqui disciplina como conjunto de enunciado que empresta sua organização a modelos científicos que tendem à coerência e à demonstratividade e que são recebidos institucionalizados transmitidos e ensinados como ciência As disciplinas segundo o autor podem servir de iscas para a descrição de positividades Alvarenga 1996 256 Ou seja também em Foucault a ciência pode ser vista como produto do desenvolvimento histórico e social dos processos de produção de conhecimento sendo mais um elemento da realidade a ser estudado e descrito do que uma categoria científica Ao colocar em suspensão a categoria de cientificidade o autor passa a compreender a ciência dentro de um espectro teórico mais amplo e mais crítico Outros estudos relevantes são aqueles que se debruçam sobre a comunicação científica isto é sobre as formas como os cientistas se comunicam entre si trocam informações e referenciam uns aos outros na produção do conhecimento científico Afinal entre o início da pesquisa e sua publicação normalmente em artigo de periódico há várias instâncias de comunicação e divulgação em diferentes níveis de abrangência e formalidade O objetivo dos estudos nessa área é conhecer essas atividades de comunicação e divulgação que precedem a publicação do artigo para estudar os periódicos devese conhecer a intensa atividade de comunicação que o precede Os estudos clássicos em comunicação científica compreendem os estudos sobre os colégios invisíveis e sobre o fluxo de informação Os colégios invisíveis foram estudados por Price Crane Crawford Zaltman Kohler Gaston e muitos outros Mueller 1994 310311 e podem ser definidos como grupos não formais de cientistas que estão num dado momento trabalhando em torno de um mesmo problema ou área de pesquisa e que se comunicam entre si sobre o andamento de seus trabalhos Já os estudos sobre o fluxo da comunicação científica representam esforços para identificar e representar o fluxo total da informação científica e foram desenvolvidos por autores como Garvey Griffith Menzel Paisley e Lipetz Mueller 1994 312313 A referência comum a toda essa corrente de estudos é a tradição de pesquisa conhecida como Sociologia da ciência cujo precursor ainda em 1957 é Robert K Merton e que na década de 60 se desenvolveu com pesquisadores como Crane David Encel e Storer e que se preocupa com fatores como motivação reconhecimento comportamento visibilidade criatividade que afetam a produtividade dos cientistas quer no referente às propriedades psicológicas individuais quer num contexto institucional e organizacional na pesquisa Mueller 1994 8 Atualmente estão em destaque os estudos de laboratório de cunho etnográfico iniciados por Latour e Woolgar análise do cotidiano da atividade científica das práticas cotidianas dos ritos dos ciclos de credibilidade e motivações No âmbito dos estudos sociológicos sobre a ciência a proposta de Latour e Woolgar da macro para a microanálise da ciência Hochman 1994 214 marca o início de uma linha de estudos influenciada principalmente pelo interacionismo simbólico e pela etnometodologia Nessa linha se desenvolve uma nova postura É preciso rever essas atitudes epistemológicas em relação à ciência Então vá ao laboratório e veja sugerem Latour Woolgar e KnorrCetina à produção do conhecimento científico Isto implica uma recusa a qualquer privilégio epistemológico em face da descrição etnográfica das práticas científicas Em vez de impor categorias e conceitos estranhos ao mundo dos observados os autores defendem que o fenômeno deve ser analisado contextualmente tendo em vista o que os participantesobservados consideram como relevante Hochman 1994 214 Outros campos atuais de estudo são o Programa Forte da Sociologia do Conhecimento que estuda a relação entre o conhecimento científico e o contexto social tendo em Bloor e Barnes da Escola de Edimburgo seus principais representantes e a perspectiva construtivista de autores como KnorrCetina que estuda a ciência a partir da noção de arena transepistêmica Outras temáticas incorporadas ao campo de pesquisa são as relativas aos condicionamentos das pesquisas por interesses privados políticos e comerciais Crossen 1996 à divulgação científica como atividade de difusão do conhecimento partilha social do saber e atividade de reformulação discursiva Zamboni 2001 à importância do periódico científico Stumpf 1996 Targino 1998 bem como os estudos sobre divulgação científica centrados nos papéis educacional cívico e de mobilização popular que a ciência tem ou deveria ter Albagli 1996 397 sobre a inserção da ciência na problemática da sociedade da informação Takahashi 2000 Mattelart 2002 e mesmo sobre os limites epistemológicos do conhecimento científico Morin 1987 Referências bibliográficas Adorno T e Horkheimer M 1985 Dialética do esclarecimento Rio de Janeiro Editora Zahar Albagli S 1996 Divulgação científica informação científica para a cidadania Ciência da Informação 25 396404 Alvarenga L 1994 Bibliometria e arqueologia do saber de Michel Foucault traços de identidade teóricometodológica Ciência da Informação 27 253261 Alvarenga L 1996 A institucionalização da pesquisa educacional no Brasil Tese de doutorado Programa de PósGraduação em Educação Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Alves R 1987 Filosofia da ciência introdução ao jogo e suas regras São Paulo Brasiliense Andery MAP 2004 Para compreender a ciência uma perspectiva histórica Rio de Janeiro Garamond São Paulo EDUC Aranha ML e Martins MH 1993 Filosofando introdução à filosofia São Paulo Editora Moderna Barilli R 1994 Curso de estética Lisboa Estampa Bourdieu P 1983 O campo científico Em Ortiz R org Pierre Bourdieu Sociologia São Paulo Editora Ática Capra F 1987 O ponto de mutação a ciência a sociedade e a cultura emergente São Paulo Editora Cultrix Chalmers A 1994 A fabricação da ciência São Paulo UNESP Chauí M 1981a O que é ideologia São Paulo Editora Brasiliense Chauí M 1981b Cultura e democracia o discurso competente e outras falas São Paulo Editora Moderna Chauí M 1996 Convite à filosofia São Paulo Editora Ática Crossen C 1996 O fundo falso das pesquisas Rio de Janeiro Revan Demo P 1985 Introdução à metodologia da ciência São Paulo Editora Atlas Deus J D org 1996 A crítica da ciência sociologia e ideologia da ciência Rio de Janeiro Editora Zahar Foucault M 1972 A arqueologia do saber Petrópolis Editora Vozes Fourez G 1995 A construção das ciências introdução à filosofia e à ética das ciências São Paulo UNESP França VRV 1994 Teorias 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das revistas científicas Ciência da Informação 25 383386 Takahashi T Org 2000 Sociedade da informação no Brasil Livro Verde Brasília Ministério da Ciência e Tecnologia Targino M 1998 Comunicação científica o artigo de periódico nas atividades de ensino e pesquisa do docente universitário brasileiro na pósgraduação Tese de Doutorado Programa de PósGraduação em Ciência da Informação Universidade de Brasília Brasília DF Wersig G 1993 Information science the study of postmodern knowledge usage Information proc Manag 29 229239 Zamboni L 2001 Cientistas jornalistas e a divulgação da ciência Campinas Autores Associados DESCARTES OS QUATRO PRECEITOS DO DISCURSO DO MÉTODO RODRIGUES Paulo R R Porto Alegre Veritas junho 1998 p 365369 O texto destaca e discute sobre as quatro regras do método científico elaboradas por René Descartes defensor da filosofia baseada na verdade e nunca no falso em seu Discurso do Método que defende a importância da evidencia divisão ordem dos pensamentos e revisões para alcançar a verdade Iniciando pela evidência onde afirma a necessidade de ter clareza sobre a veracidade das ideias de não aceitar como verdadeiro aquilo que não é claramente definido evitando se precipitar e assim prevenir a inclusão em seus juízos o que não é evidentemente esclarecido E então nos diz sobre a simplificação ou divisão de um problema para então conhecer sua complexidade Portanto Descartes propõe ordenar os pensamentos do mais simples ao mais complexo obtendo assim uma lógica de raciocínio e que por fim devese revisar as ideias para garantia de nada omitir O texto ressalta a importância da clareza distinção divisão e busca pela evidência dos elementos essenciais para conduzir a razão de forma eficaz na busca pela verdade É notório buscando a clareza e distinção dos fatos combinada com a análise minuciosa e revisão dos pensamentos são de suma importância para evitar equívocos na própria conclusão e tornar a mesma mais sólida certeira e evidente A abordagem metódica e rigorosa proposta por Descartes é realmente valiosa para a investigação científica e a busca pelo conhecimento