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Ética e Espiritualidade Aula 2 Espiritualidade e reconhecimento do outro Espiritualidade e reconhecimento do outro Aula 2 Módulo 1 Espiritualidade e Linguagem O que é Linguagem Diferentes Linguagens em diálogo O pensamento que medita e o pensamento que calcula O que você vai aprender nessa aula 1 As relações entre linguagem cultura religiosidade e espiritualidade 2 Ser humano as múltiplas dimensões do humano e as manifestações culturais através da linguagem 3 Linguagem base arquitetônica da cultura 4 Espiritualidade e abertura ao outro cultural e religioso através dos Mitos Linguagem modo de sernomundo Mitos Símbolos e Ritos Caminhos para compreendermos nossa situação no mundo Não se opõem à vida na sua concretude mas a significam Carência hermenêutica Indiferença Literalismo perdemos a mensagem Hermenêutica acolhemos e interpretamos os mitos O que é Mito O que é Símbolo O que são ritos Contudo o Mito precisa ser interpretado Precisamos de recursos para os acolher e aprender com os Mitos Problema carência hermenêutica e literalidade Cultura segundo Edvino Rabuske Cultura em primeira definição é toda ação consciente realizada pelo ser humano sobre a natureza alheia que resulta na transformação de sua própria natureza como indivíduo e espécie Nãoespecializado plástico o homem pelo trabalho precisa cultivar o meioambiente obtendo assim sua sobrevivência Setores da Cultura Ser multidimensional o ser humano expressa através da cultura e dos seus setores o que é Exemplo ser de necessidades precisa cuidar da Casa Comum e produzir os bens necessários à sobrevivência A economia é um setor da cultura Assim como ser social a política em sentido amplo é um setor da cultura Os diversos setores da Cultura se interrelacionam Linguagem e Religião O ser humano ser em processo de transcendência descobre na religiosidade uma das múltiplas dimensões A religiosidade manifestase através da religião mediação um dos setores da cultura Ora a Linguagem segundo Cassirer é a base da Cultura A linguagem da Religião é o Mito O que isso significa O que é linguagem Verificaremos a resposta de Ernest Cassirer É a base arquitetônica da Cultura As diferentes Linguagens e a remitificação As linguagens para superar conflitos precisam dialogar Fenômeno Contemporâneo a racionalização o sequestro dos Mitos e a remitificação O ser humano enquanto seraínomundo é um serdecultura Ao largo da história humana em todas as regiões habitadas pelo homem encontramos sinais da cultura A cultura é aquilo que nos constitui une e diferencia como humanos O que é a cultura É uma das perguntas mais difíceis de responder Seguem alguma tentativas de respostas Cultura nãoespecialização e Linguagem Proposicional a O ser humano é um ser não especializado mas dotado de uma plasticidade pode ser moldado pela cultura Por plasticidade entendemos o inacabamento devido ao nascimento precoce Portmann que permite que o indivíduo humano via ensaio e erro aprendizagem seja moldado pela cultura uma segunda natureza que o envia para além do biológico Somos desde a herança fisiológicocorporal e comportamental resultado da cultura recebida passivamente em um primeiro momento mas com o tempo ativamente pois poderemos contribuir em graus distintos à alteração de padrões culturais b Pelo trabalho empreendimento social e consciente o homem cria sua própria natureza humanizando a natureza externa Ser gregário portador de inusitada capacidade comunicativa o homem pode antecipar o resultado de suas ações e cultivando e transformando a natureza adquirir uma segunda natureza a cultura c O biólogo alemão Uexküll considerava que todos os organismos vivos únicos no modo de relação com o ambiente são portadores de um círculo funcional Todo círculo funcional é composto por um sistema de recepção de estímulos e de reação aos mesmos A linguagem proposicional existe na base de complexa classificação de sons formando palavras frases discurso ordenado por regras fonéticas gramaticais e semânticas Quando o ser humano fala portanto propõe logicamente um conteúdo a ser decifrado mentalmente apto a ser compartilhado A linguagem proposicional valese de símbolos Enquanto os sinais são físicos materiais e imediatos os símbolos são funcionais abstratos universais e aplicáveis às diversas coisas ou situações A capacidade de simbolizar ou seja de nomear o mundo caracteriza a linguagem humana O exercício da linguagem é a base da inteligência teórica especificamente humana possibilitando a capacidade de contemplar as coisas situandoas organizativamente no mundo E se inteligência prática compartilhada com outros animais permite solucionar problemas relacionados à sobrevivência a inteligência teórica possibilitada via linguagem simbólica caracterizaria especificamente o homem O homem segundo Cassirer já não vive em um mundo físico mas em um mundo simbólico construído pela imaginação e pela inteligência simbólica A Linguagem Simbólica ou Proposicional O ser humano segundo Cassirer alterou nãoapenas quantitativamente o círculo funcional mas também qualitativamente pois entre a recepção do estímulo e a resposta encontramos um complicador ou seja a reflexão A reflexão é possibilitada pela função simbólica ou linguagem Os outros animais contudo não atingiram também a linguagem simbólica Somente o ser humano haveria qualificado seu círculo funcional ao ponto de retardar ou até não responder ao estímulo externos Se compartilhamos com os outros animais a linguagem das emoções e a linguagem prática s linguagem proposicional é própria apenas dos seres humanos Segundo Cassirer sim Em primeiro lugar porque o ser humano além da linguagem das emoções alcançou o extrato da linguagem proposicional A linguagem das emoções compartilhada com outros animais é linguagem corporal caracterizada pela pantomima um teatro gestual que usa pouquíssimas palavras e muitos gestos através da mímica e emissão de sons aleatórios Já a linguagem proposicional própria do ser humano permite nomear as coisas e vivências significar o mundo A linguagem ou função simbólica é equipamento da mente humana que permite sofisticada comunicação organização simbólica do espaço vital estando na base da cultura Essa capacidade é atualizada pela aprendizagem de uma determinada língua através da fala pelo ingresso numa determinada cultura Nessa perspectiva para Ernst Cassirer a linguagem a capacidade de nomear as coisas é a base arquitetônica da cultura Cassirer afirma O homem é mais que um animal racional é um animal simbólico CASSIRER Ernst Antropologia Filosófica São Paulo Mestre Jou 1977 P 4545 Exemplo Caso Helen Keller Formada em Filosofia Escritora Era cega e surda Tornouse líder de pessoas portadoras de deficiência Como aprendeu a ler Quando teve acesso aos símbolos Em 3 de março de 1887 antes de completar sete anos de idade passou a contar com a ajuda da professora Anne Sullivan que foi contratada pela família e passou a morar em sua casa Quando descobriu a funcionalidade das palavras símbolos ingresso no mundo na cultura O CASO HELEN KELLER Para comprovar sua tese Cassirer em Antropologia Filosófica relatanos o caso de Helen Keller baseandose no diário de sua professora a senhora Sullivan Helen Keller menina extremamente inteligente era cega e surda Isolada na escuridão de seus dias através de técnicas especiais teria aprendido com sua mestra o alfabeto manual que até o caso que será relatado utilizava mecanicamente Numa manhã enquanto se lavava revela Sullivan Helen quis saber o nome correspondente à água water A professora tendo soletrado água conta não teria pensado mais no assunto Após o café foram à casa da bomba onde Sullivan soletrou na mão de Helen enquanto a água lhe escorria sobre a mão a palavra água Inesperadamente a menina associou a palavra ao objeto tendo aprendido que todas as coisas têm um nome A partir daquele momento perguntava o nome de todas as coisas tendo adquirido rapidamente um grande vocabulário Helen de fato atualizou a função simbólica aprendeu a comunicarse ingressando assim no mundo da cultura Seu rosto iluminado pelas descobertas realizadas naqueles dias gradativamente segundo Sullivan se tornava mais humano mais expressivo Helen após aprender braile tendo realizado estudos preliminares cursou universidade escreveu livros e inclusive aprendeu falar utilizando os órgãos fonadores mesmo que não pudesse escutar as palavras proferidas A linguagem ou função simbólica é um equipamento da mente humana que permite sofisticada comunicação organização simbólica do espaço vital estando na base da cultura Essa capacidade é atualizada pela aprendizagem de uma determinada língua através da fala pelo ingresso numa determinada cultura O exemplo citado por Cassirer pensamos confirma a importância da cultura na constituição do humano enquanto essa segunda natureza adquirida Palavra Mito Símbolo e Rito a Cultura é o resultado da ação que ao transformar a natureza externa modifica o ser humano individual e socialmente Cultura é a obra humana Linton b A base da Cultura é a Linguagem Simbólica ou proposicional Cassirer c A cultura segunda natureza adquirida não apensas insere o ser humano no espaço mas também no tempo O ser humano serdecultura habita o mundo e ao cultiválo forma a si mesmo Tornase responsável pela habitabilidade do mundo d A religião é um dos setores da cultura O Mito é a linguagem da religião SERENIDADE O homem atual está pois em fuga do pensamento entrementes paradoxalmente nega essa fuga Dirá com plena razão que vivemos num período de realizações formidáveis avanços sequer sonhados pelos nossos antepassados São tantas as pesquisas em andamento são tantas as descobertas e aplicações que apaixonadamente somos tentados a negar a fuga do pensamento Sem dúvida esse dispêndio de sagacidade e reflexão foi muito útil Entretanto não é o pensamento operativo que negamos O pensamento que calcula capaz de medir e projetar apto em dominar preditivamente as forças ocultas da natureza transformando todas as coisas em objetos úteis e mercantilizáveis é cotidianamente louvado Todavia não é a única forma de pensar Existe outro tipo de pensamento o pensamento que medita que indaga pelo sentido das teorias conceitos e práticas O pensamento negligenciado portanto não é o pensamento que calcula mas o pensamento que medita Existem pois duas formas de pensamento igualmente importantes o pensamento que medita e o pensamento que calcula Entretanto o pensamento que calcula efetivamente não exerce a atividade do pensamento em caráter estrito pois não pergunta pelo sentido não permanece junto às coisas acolhendoas em sua manifestação originária O pensamento que calcula ao representar esquematicamente as coisas as esvazia de conteúdo obstaculizando assim a relação do homem com o mundo Esse pensamento útil e operativo sobretudo é incapaz de pensar a si mesmo de indagar a si mesmo Martin Heidegger em SERENIDADE Gelassenheit Sobre o uso prudente dos utensílios técnicos SERENIDADE Nesse sentido o poder oculto da técnica moderna determina a relação do homem com tudo aquilo que existe A natureza transformada num único posto de abastecimento gigantesco está a serviço da técnica e indústria moderna8 Exemplo da operatividade e capacidade de intervenção do pensamento que calcula é o domínio da energia atômica9 Mas o que realmente nos preocupa Diante da bomba atômica que poderia um dia varrer a vida humana da face da terra o que nos causa apreensão é nosso despreparo para lidar com a quantidade gigantesca de informações e possibilidade proporcionadas pelos avanços tecnológicos No entanto o que é mais inquietante não é o fato de o mundo se tornar cada vez mais técnico Extremamente perturbador é o fato de o homem não estar preparado para essa transformação do mundo é o fato de ainda não conseguirmos através do pensamento que medita lidar com aquilo que está a emergir10 O pensamento que medita exige que não permaneçamos presos unilateralmente a uma representação que não continuemos a correr em sentido único na direção dessa representação do mundo e do homem justificadora do poder do pensamento instrumental O pensamento que medida exige que perguntemos pelo sentido da técnica e sobre a legitimidade de sua onipresença em nossas vidas Afinal se não podemos viver com a técnica e paradoxalmente não podemos viver sem ela qual seria o modo de relação adequado com os objetos técnicos Podemos utilizar os objetos técnicos mas ao utilizálos permanecer livres deles Podemos utilizar os objetos técnicos tal como devem ser utilizados Podemos utilizálos com liberdade sem nos tornarmos seus escravos Podemos dizer sim e não aos objetos técnicos impedindo que nos absorvam11 e desconstituam nossa relação responsável com o mundo Se dissermos sim e não aos objetos técnicos usandoos prudentemente nossa relação com o mundo tornarseá tranquila Deixemos os objetos técnicos entrarem em nosso mundo cotidiano e ao mesmo tempo os deixemos fora ou seja permitamos que repousem em si mesmos Martin Heidegger em SERENIDADE Gelassenheit Sobre o uso prudente dos utensílios técnicos SERENIDADE Espiritualidade e sentido exercer o pensamento que medida A atitude frente os objetos técnicos dizer sim e não denominemos serenidade para com as coisas12 Todavia se ainda não compreendemos o poder oculto da técnica é necessário indagar pelo sentido do fazer técnico e aprender a lidar inteligentemente com os utensílios técnicos13 A serenidade em relação às coisas e a abertura ao mistério asseguram perspectiva de novo enraizamento que permitirá existir com responsabilidade que evitará transferirmos à técnica nossa comum tarefa de habitar o mundo Permanece entretanto um perigo No que consiste tal perigo De acreditarmos que o único pensamento legítimo capaz de responder às questões humanas é o pensamento que calcula Contudo em todos os lugares convidemos à reflexão pois somente o pensamento que medita é capaz de dar conta do sentido inclusive do significado implicitamente aceito de que a técnica moderna é o único lenitivo aos problemas do homem Exerçamos então o pensamento na sua essência insistindo e pergunta pelo sentido radical de todas as coisas Martin Heidegger em SERENIDADE Gelassenheit Sobre o uso prudente dos utensílios técnicos Pensamento que calcula e pensamento que medita a Há dois pensamentos Precisamos de ambos Contudo somos indigentes de pensamento Por que somos pobres de pensamento E negamos essa indigência Ora dispomos de tantos recursos tecnológicos que facilitam a vida Negligenciamos o pensamento que medita O pensamento que medita indaga pelo sentido dos recursos que se nos são oferecidos pelas ciências aplicadas b O que fazer com todas as possibilidades inauguradas pela Técnica moderna Se renunciamos tantas vezes à reflexão ao pensamento em sentido estrito No que consiste o desafio que vivemos Frente o enigma não podemos viver sem a Técnica mas ainda não aprendemos a lidar adequadamente com ela é preciso superar esse despreparo o que nos convida a pensála Frente o perigo contudo há a salvação segundo o poeta alemão Hölderlin Lá aonde persiste a reflexão surgem respostas O pensamento que calcula não é o único legítimo Há o pensamento que medita e que precisa ser cultivado para recuperarmos o protagonismo frente à Técnica moderna e conferirmos sentido à vida sendo capazes de nos destinarmos na direção do cuidado c Nessa direção os mitos como a poesia e as artes em geral podem nos ajudar a pensar a condição humana Há muitos aprendizados quando refletimos sobre o legado míticoreligioso multimilenar e que nutre até os presentes dias a Filosofia as Tradições Religiosas e até as ciências Desafio Compreender as múltiplas linguagens que tecem a existência a O grande desafio é compreender as múltiplas linguagens que tecem a existência humana Há âmbitos da existência que solicitam linguagens distintas a compreensiva e a explicativa Precisamos distinguir valorizar e compreender sem sobrepor as diferentes linguagens que permitem ao ser humano existir com significado aínomundo b Linguagens da experiência linguagem compreensiva linguagem que indica ou toca no sentido linguagem explicativa linguagem que explica os fenômenos que procura dar conta de como o mundo funciona segundo certo modelo filosófico ou científico c Ao desconsiderar o Mito reduzindoo à mera explicação mágica ou procurando esgotálo por meio de interpretações racionalizantes acabamos por não reconhecer sua importância âmbito linguístico específico e lugar na existência humana ESPIRITUALIDADE E LINGUAGEM RELIGIOSA A proclamação da mensagem religiosa segundo Jean Ladrière é um procedimento existencial total Pelo qual aquele que crê assume de certo modo novamente como que pela primeira vez a mensagem proclamada No que consiste o essencial da fé Poderíamos dizer que se trata de uma operação do coração pois a existência inteira se assume se arrisca e se decide E porque palavra do coração a palavra da fé é sempre e ao mesmo tempo compreensão e incompreensão de si mesma e do Mistério Nesse sentido a compreensão própria da fé é um processo infinito pois as clarezas que proporciona não passam jamais de indicações das clarezas que haverão de vir A palavra da fé logo é vinculada a esperança acesso ao sentido do que vivemos mas ainda não vimos Contudo a fé atitude não é adesão ao irracional mas ao Mistério O Mistério não é o irracional mas o que não pode ser condensado pela linguagem lógica A razão é também afeto acolhe via coração o sentido o sagrado o mundo o outro A Fragmentação do sentido As ciências pela gradativa separação da Filosofia e esquecimento do pensamento que medita caminharam rumo à afirmação delas próprias justificando seus objetos e domínios Contudo dificilmente conversam entre si A Filosofia as Artes as Tradições Religiosas e a Teologia estariam preparadas a dialogar com as ciências Aprender com elas Ou o projeto das ciências e da tecnologia exclui o polo do sentido lugar próprios dessas últimas Eis um desafio Pensamos que estão a caminho do diálogo Algumas inferências a partir de Jean Ladrière e de Martin Heidegger Percebemos que a razão redescobrindo a finitude da vida humana dáse conta dos seus limites e se abre ao mundo através da pluralidade de possibilidade que as linguagens oferecem Para além da linguagem operativa e manipuladora de um tipo de ciência e filosofia que estamos acostumados a exercitar contudo existe o pensamento que medita O pensamento que medita no silêncio desde o nada ou aberto que é o seraínomundo ser humano convocado a destinarse poderá acolhe o ser na sua doação original pois é clareira lugar da luz Poderá responder assim à convocação da palavra que revela e oculta o Sagrado Sentido Responderá ao apelo do Sagrado recusando a tentação da representação da manipulação conceitual porque sabe que as explicações fáceis são arbitrárias e desconstituem o mundo da vida lugar da manifestação da vivências originárias Na atitude de abertura e respeito ao Sagrado há espaço à inteligibilidade da fé crer fornecendo razões creio porque razoável atitude compreendida como inteligibilidade do coração Tal afirmação indubitavelmente convoca ao pensar LEITURA COMPLEMENTAR HINRICHSEN LE Resenha In HEIDEGGER Martin Serenidade Lisboa Instituo Piaget 2000 VerlagGünter Neske Pfullingen 1959 Discurso proferida pelo filósofo por ocasião da homenagem ao seu conterrâneo o músico Conradin Kreutzer Ética e Espiritualidade Aula 2 Espiritualidade e reconhecimento do outro Espiritualidade e reconhecimento do outro Aula 2 Módulo 2 Espiritualidade e Linguagem O que é Linguagem Mitos Símbolos e Ritos O que você vai aprender nessa aula 1 As diferentes linguagens conflito ou carência de diálogo 2 Espiritualidade símbolos e Mito Linguagem da Religião 3 Racionalização desmitologização e remitologização 4 Diálogo hermenêutico para além dos literalismos e da indiferença a mensagem dos Mitos podem e devem enriquecer nossas vidas Exemplo a releitura de Platão do Mito de Prometeu O Livro das Árvores do Ticuna 5 Hermenêutica e revalorização do Mito e das suas mensagens Linguagem modo de sernomundo Mitos Símbolos e Ritos Caminhos para compreendermos nossa situação no mundo Não se opõem à vida na sua concretude mas a significam Carência hermenêutica Indiferença Literalismo perdemos a mensagem Hermenêutica acolhemos e interpretamos os mitos O que é Mito O que é Símbolo O que são ritos Contudo o Mito precisa ser interpretado Precisamos de recursos para os acolher e aprender com os Mitos Problema carência hermenêutica e literalidade A linguagem ou função simbólica é equipamento da mente humana que permite sofisticada comunicação organização simbólica do espaço vital estando na base da cultura Essa capacidade é atualizada pela aprendizagem de uma determinada língua através da fala pelo ingresso numa determinada cultura Nessa perspectiva para Ernst Cassirer a linguagem a capacidade de nomear as coisas é a base arquitetônica da cultura Cassirer afirma O homem é mais que um animal racional é um animal simbólico CASSIRER Ernst Antropologia Filosófica São Paulo Mestre Jou 1977 P 4545 Exemplo Recordando o Caso Helen Keller Formada em Filosofia Escritora Era cega e surda Tornouse líder de pessoas portadoras de deficiência Como aprendeu a ler Quando teve acesso aos símbolos Em 3 de março de 1887 antes de completar sete anos de idade passou a contar com a ajuda da professora Anne Sullivan que foi contratada pela família e passou a morar em sua casa Quando descobriu a funcionalidade das palavras símbolos ingressou no mundo na cultura A Linguagem da Religião é o Mito O mito via narrativa conduz ao desconhecido que passa a ser reconhecido pelas mediações da Linguagem O Mito por sua vez é tecido pelos símbolos Mas o que é realmente um símbolo Conforme reflete Martin Heidegger em Carta sobre o Humanismo se a Linguagem é Casa do Ser e o homem habita essa casa logo é preciso exercer o cuidado para com a palavra Há muitas palavras palavra coloquial dita entre amigos e pela qual nos enviamos ou nos encontramos palavra da poesia e da arte que permite viajar sondar os limites e possibilidades da vida palavra da lei que solicita obediência palavra da filosofia que via conceitos indaga pela verdade das coisas palavra da ética que convoca à realização do bem palavra da ciência que é a posse intelectual dos fenômenos captados como objetos palavra que toca o mistério que liga às origens que oportuniza comunhão com o Sagrado A palavra que toca o mistério nos envia além das expressões lógicoformais mas é o símbolo porque permite transcender e comungar com o sentido que une todas as coisas Mistério não é o irracional mas é o que não cabe na linguagem predicativa ou representativa é o que nos envia para além da própria linguagem Símbolos e Mito a Símbolo do grego symballo por junto é o que reúne como por exemplo um artefato de cerâmica partido Reunidas as partes do artefato ocorre o reconhecimento Símbolo identifica via ligação das partes une conhecido e desconhecido envia ao mistério Une o existente finito ao Sagrado O símbolo sempre é composto une o visível ao invisível o presente ao ausente o agora ao passado ou ao futuro Podemos dizer que o símbolo é também uma ponte pois permite a passagem para um outro nível de comunicação b Pela narrativa os símbolos abrem o indivíduo ao Mistério aquilo que não pode ser possuído pela mente ou exaurido pela linguagem predicamental ou representativa Segundo Paul Ricouer filósofo hermeneuta a metáfora dá o que pensar acrescentamos o símbolo dá o que pensar O símbolo na narrativa mítica oportuniza que se possa ultrapassar as barreiras dos conceitos e definições oportunizando encontro com a unidade de significados que enlaça homem mundo Sagrado c O Mito tecido de Símbolos linguagem da experiência religiosa pode ser interpretado mas não poderá ser esgotado pois sempre permanecerá o insondável para o qual nos envia O Mito ao responder às questõeschave da existência ao abordar as situações limite dá conta do não objetificável Precisamos do Mito tal qual da água num dia quente de verão após exaustiva caminhada Os que já não vivem inseridos do Mito precisam interpretálo compreendêlo sem esgotálo Tal qual o Símbolo o Mito dá o que pensar O Mito é o relato de um acontecimento originário no qual Deus ou deuses agem e cuja finalidade é conferir sentido à realidade significada Mito Símbolo e Rito Quadro Sinóptico Erich Bethe 1940 afirma que Mito Mythus lenda Sage e conto Märchen diferenciamse entre si por sua origem e finalidade a O Mito é a Filosofia primeva a mais ampla forma intuitiva de pensamento uma série de tentativas de compreender o mundo de explicar a vida a morte o destino a natureza os deuses e o culto b A lenda é a história primitiva modelada ingenuamente em ódio e amor transformada e simplificada inconscientemente c O conto por sua vez surgiu da necessidade de diversão e serve para essa finalidade Por isso não transcorre nem em tempo e nem em lugar determinados considerando apenas a diversão e omitindo o incômodo segundo gosto do narrador Não é outra coisa senão a poesia a quinta essência de todas as obras fantasia da humanidade BETHE Erich Apud José Severino Croato In As Linguagens da Experiência Religiosa São Paulo Paulinas 2001 Dentre as classificações dos Mitos encontramos as narrativas sobre as origens como por exemplo a narração do Gênesis Os Mitos descrevem as origens são relatos sobre a criação ou organização do kosmos sobre o aparecimento dos seres humanos sobre o sentido da existência Os Mitos abordam assuntos fundamentais tais quais o amor o bem e o mal o destino da vida após morte a instituição de princípios éticos que unem comunidades Exemplos a O Livro das Árvores dos Ticunas Link httpslemadfflchuspbrnode3908 b O relato da criação dos seres humanos relido por Platão no diálogo Protágoras Prometeu o fogo e a arte da política Linkhttpsfilosofianaescolacomtextosdefilosofiaplataomitodeepimeteusobreacriacaodohomem c Antígona Tragédia grega de Sófocles lei positiva e lei religiosa até que ponto somos responsáveis por nosso destino Podemos culpar os deuses Segue breve apresentação Link httpswwwculturaanimicombrpostantigonadesofocles d A criação do mundo e dos seres humanos no poema do Gênesis ser humano administrador e participante da criação que continua no tempo Como interpretar o poema do Gênesis Mitos Símbolos Ritos No começo tudo se achava em estado de caos Da união de Caos com Gea A Terra nasceram Urano o Céu e Ponto o Mar De Gea e Urano nasceram os poderosos Titãs Gigantes e Ciclopes Temendo que os filhos lhe tirassem o poder Urano encerrouos num abismo sob a Terra mas um deles Cronos o Tempo os libertou destronou o Pai e se tornou o dono do mundo Cronos por sua vez foi destronado por seu filho Zeus Este lutou contra os Titãs venceos e se converteu no indiscutível soberano do universo ao qual dá harmonia e paz O primeiro homem Epimeteu foi feito de argila pelo Titã Prometeu Para darlhe a vida Prometeu teve a audácia de roubar o fogo do céu Zeus se enfureceu e o castigou acorrentandoo a uma rocha onde todos os dias uma águia ou um abutre lhe roía o fígado Zeus castigou os homens por meio de Pandora forjada por Hefestos à qual entregou uma caixa misteriosa que nunca deveria ser aberta Pandora muito curiosa abriu a caixa dela voaram imediatamente todos os males desgraças e sofrimentos que perseguem os homens No fundo da caixa porém ficou a esperança Apresentação esquemática do surgimento do kosmos dos deuses e dos seres humanos cf Teogonia de Hesíodo Por que Platão discordo do destino reservado aos seres humanos e a Prometeu RACIONALIZAÇÃO NEGAÇÃO DOS MITOS E REMITOLOGIZAÇÃO a Os que vivem no século XXI e convivem com os benefícios das ciências aplicadas entendidas por muitos como única fonte de respostas às inquietações humanas recriam o Mito A desmitologização dá origem a remitificação b Por desmitologização compreendemos a substituição dos Mitos da Tradição na medida em que já não mais vigoram por novos mitos como os mitos seculares Como exemplos do processo desmitologização destacamse culto ao cientificismo culto às ideologias políticas culto ao progresso culto ao bemestar material como fimemsimesmo Importante O cientificismo difere do exercício atento crítico e interrogante das ciências é crença no poder inquestionável das ciências aplicadas ou nos seus resultados inquestionáveis A desmitologização substitui os Mitos da Tradição por novos mitos na medida em que as Narrativas da Tradição não mais explicam a constituição do mundo c Primeiramente vamos distinguir os termos secularização e secularismo A secularização permitiu distinguir os âmbitos do religioso e de suas estruturas dos âmbitos da Filosofia e das ciências e seus objetos libertando o ser humano de fixações literais e mágicas A secularização não elimina o Sagrado da vida individual e pública O secularismo contudo ao dogmatizar explicações científicas e interpretações filosóficas é reducionista e fundamentalista Há dimensões da existência que solicitam diferentes linguagem que não podem ser superpostas embora devam escutarse mutuamente uma ação que se operacionaliza pelo diálogo entre áreas e disciplinas atitude que oportuniza nas situações de fronteira mútuoesclarecimento colaboração d Ciência não é opinião É conhecimento rigoroso É informação criticada que supõe experimentação revisão esforço coletivo e interdisciplinar As ciências que possuem uma história dialogam com a Filosofia e com os Mitos Sabemse em processo Ciência é tarefa inacabada examina constantemente a si mesma É humilde e possui uma história Supõe sublinhamos muito esforço No contexto contemporâneo está para além do legado do positivismo do século XIX e início do século XX Ciência não é opinião É conhecimento rigoroso É informação criticada que supõe experimentação revisão esforço coletivo e interdisciplinar As ciências que possuem uma história dialogam com a Filosofia e com os Mitos Sabemse em processo Ciência é tarefa inacabada examina constantemente a si mesma É humilde e possui uma história Supõe sublinhamos muito esforço No contexto contemporâneo está para além do legado do positivismo do século XIX e início do século XX COVID19 ciência não é opinião é conhecimento por Peter Schulz Link httpswwwunicampbrunicampindexphpjuartigospeterschulzcovid19ciencianaoeopiniaoe conhecimento CONFLITO ENTRE LINGUAGENS Ciência e Religião setores da cultura linguagens necessárias à vida a A tensão exacerbada que testemunhamos até meados do século XX e que ecoa em nossos tempos tem origem segundo Jean Ladrierè em um conflito de linguagens pois em muitas situações somente escutamos o que queremos escutar Jean Ladrierè propõe o diálogo entre as fontes da cultura Ocidental entre o Polo da Ciência e da Tecnologia e o Polo da Tradição ou do sentido Há distinção das linguagens mas também aproximação no tratamento das questõeslimite Se as ciências explicam não chegam às certezas incontestáveis pretendidas por Descartes bem como se a Tradição que inclui as religiões toca no sentido viabiliza a esperança precisa das ciências b Deveríamos falar de ciências no plural recuperando a noção de conhecimento rigoroso e integrativo e não de ciência apenas no singular pois são amplos e vastos os campos de observação e múltiplos os métodos Superar a unidade de métodos como já o concebia Roger Bacon no século XIII propor a multiplicidade de metodologias afirmar a finitude da razão assumir a tarefa infinita de procura da verdade valorizando o alerta de Edmund Husserl é sem dúvida antídoto ao negacionismo ao fundamentalismo ao exclusivismo e ao setorialismo c Nessa direção ao estudarmos as Tradições Religiosas e ao recuperarmos o sentido dos Mitos igualmente o recurso às ciências e renúncia aos exclusivismos é saudável Em um mundo plural frente a problemas variados e questões complexas devese valorizar a interdisciplinaridade a colaboração o diálogo que conduz até as abordagens complexas sistêmicas e integrativas Nenhuma área do saber deve deter o monopólio da verdade pois a descoberta do ser das coisas des velamento descoberta é tarefa intersubjetiva humilde e interminável Importante a mensagem religiosa através de símbolos e mitos não é resposta científica A mensagem sonda o sentido da existências Se as ciência explicam a Linguagem religiosa sonda o sentido da existência Compreensão e explicação a Linguagem compreensiva linguagem que indica ou toca no sentido Linguagem explicativa linguagem que explica os fenômenos que procura dar conta de como o mundo funciona segundo certo modelo filosófico ou científico b Ao desconsiderar o Mito reduzindoo à mera explicação mágica ou procurando esgotálo por meio de interpretações racionalizantes acabamos por não reconhecer sua importância âmbito linguístico específico e lugar na existência humana c O Mito então recordando renasce em formato secularista culto a um modelo de ciência reducionista apto a fornecer certezas incontestáveis sobre todos assuntos e dimensões da vida exaltação da razão que esquece a finitude e acredita na infalibilidade de suas asserções fixação em ideologias políticas veneração eou entusiasmo acrítico ao progresso Ilustra esse movimento a recusa ao diálogo a noção de que evidências científicas valem por si mesmas a crença de que o presente é sempre melhor do que o passado O RITO A CELEBRAÇÃO DO MITO a O Mito é revivido nos Ritos Pelos Ritos fazse memória de um evento primordial fundador inaugurador de novo modo de ser No Rito vivese comunitariamente a relação com o Sagrado Se o Mito é a Linguagem da Religião nos Ritos o Mito é celebrado b Na celebração do Mito dáse na condição finita temporal e peregrina a revelação do eterno Mitos e Ritos linguagem e presentificação ou visibilização do Sagrado via práticas religiosas é sempre experiência individual e coletiva O indivíduo ao abrirse ao Sagrado se une ao outro e ao mundo A vivência religiosa autêntica portanto é sempre comunitária convoca à responsabilidade Exemplo de Rito Vídeo Festa ritual Kuarup Celebra os mortos que são enviados para o mundo dos espíritos quando após os ritos e partilha de alimentos as Torás de Kuarup são jogadas na água pondo fim ao luto mas também há a integração entre os membros da família e tribo o vigor dos atletas e a integração das jovens à vida adulta Link O que é o Kuarup Vídeos e Texto Link httpswwwyoutubecomwatchvONybYpGGWHc Link httpswwwsignificadoscombrkuarup Link Texto ISA httpspibsocioambientalorgptPovoXinguOlongoritualdoKwarup A vida é penetrada por ritos a Rituais podem ser sagrados ou seculares Rituais seculares são aqueles do dia a dia e vinculados às nossas regras de etiqueta social por exemplo Rituais sagrados consolidam as ações do indivíduo em relação às suas crenças religiosas b São os rituais que possibilitam a passagem de status e de reconhecimento do indivíduo É por isso que boa parte dos rituais são conhecidos como Rituais de Passagem e estão diretamente atrelados aos fenômenos religiosos como é o caso dos momentos de nascimento casamento e morte ou da comemoração de festejos sazonais vinculados ao calendário e que se repetem ano após ano c Os ritos de Passagem são bem significativos para entender o fenômeno religioso Pois conforme a crença haverá procedimentos que devem ser seguidos para integrar nascimento ou casamento ou desintegrar morte os indivíduos c Assim praticamente todas as religiões possuem algum ritual que visa integrar um recémnascido à comunidade o Batizado catolicismo a Circuncisão judaísmo ou a Imposição do nome islamismo só para citar algumas Há também rituais que visam mudar o status do indivíduo e preparálo para assumir funções e posições na hierarquia social e no serviço religioso Estes rituais são conhecidos como Ritos de Iniciação d Mas igualmente na vida cotidiana e nos momentos significativos Exemplos os ritos que envolvem o chimarrão as formaturas como sentamos à mesa como nos dirigimos aos nossos pais etc Valorização a adequada compreensão da Linguagem Religiosa a As perguntas formuladas e respondidas pelos Mitos referemse às questões centrais da existência tocam nas situaçõeslimite pois não são respostas a serem superadas pelas explicações científicas Se a Linguagem Mítica procura dar conta do nãoobjetivável respondendo a dimensão da existência humana que toca no Sagrado logo é modo específico do estaraínomundo b Os discursos filosófico e científico são incapazes de abordar os assuntos que a linguagem mítica desvela pois supõem a transformação dos fenômenos em objetos ou esquemas Ora se a linguagem mítica trata do sentido logo os Mitos não são esgotáveis e superáveis pelo discurso científico O que aprendemos A adequada valorização da Linguagem Religiosa e em consequência da dimensão espiritual da vida em breve conclusão contribui ao conhecimento sobre si mesmo sobre os outros sobre o kosmos e sobre o Sagrado Em síntese Os Mitos são narrativas de Criação são modelares situam o ser humano no tempo e no espaço indicam a relação dos humanos com o cosmos e as demais criaturas São narrativas poéticas verdadeiras Nos mitos os elementos como astros animais acidentes geográficos são símbolos que instituem novo modo de perceber e ser Mitos são narrativas construídas coletivamente são narradas oralmente de geração após geração podendo ser fixados em textos ou registrados por pesquisadores Mitos situam o ser humano com sentido no mundo Constituem uma cosmovisão o que permite que o homem possa habitar o mundo com familiaridade Sinalizam o lugar do ser humano no cosmos fornecem modos de relacionamento com a criação e com o Sagrado Mitos buscam responder questões diretamente relacionadas a existência humana Quem é o ser humano O que sou Por que estou aqui no mundo Qual é a sua origem e sentido Há vida após a morte Como o sagrado manifestase Qual o sentido da vida e da morte O que aprendemos A adequada valorização da Linguagem Religiosa em breve conclusão contribui ao conhecimento sobre si mesmo sobre os outros sobre o kosmos e sobre o Sagrado Em síntese A experiência religiosa é mediada pela linguagem não predicativa do Mito No mito símbolos nos enviam para o que não pode ser fixado em conceitos rígidos definido com exatidão tematizado filosófica ou cientificamente Os Símbolos e os Ritos permitem tocar e sentir o mistério narrado no mito Mitos são sincréticos pois abertos podem incorporar elementos de outras tradições Mitos em resumo acolhem e interpretam o aqui e agora Para quem vive no Mito não é preciso interpretálo Para os que pela Filosofia e pelas Ciências já se encontram para além do Mito é preciso compreendêlo sem esgotálo O Rito é o Símbolo em ação gestos cantos narrativas que ligam a comunidade ao Mistério A espiritualidade para qualquer pessoa creia seja agnóstico não creia participe ou não de uma comunidade religiosa destacamos ao valorizar os mitos constituídos de símbolos e vivenciados nos ritos pode e deve enriquecer através de adequada hermenêutica a vida de cada um a e de todos Para os que já não vivem na dimensão mítica logo ao acolher e interpretar os mitos ao vivenciar os símbolos há enriquecimento da vida com significados sentido LEITURA COMPLEMENTAR HINRICHSEN LE A Linguagem Religiosa PDF Inédito PLATÃO O Mito de Criação do ser Humano In Protágoras Platão relê em filosoficamente o Mito de Hesíodo O Longo Ritual do Kuarup In ISA httpspibsocioambientalorgptPovoXinguOlongoritualdoKwarup Acesso 16062023 O que Carl Gustav Jung afirma sobre a vivência simbólica O que é espiritualidade para Jung É o que veremos a seguir Ética e Espiritualidade Aula 2 Unidade 03 Espiritualidade e reconhecimento do outro Carl Gustav Jung e a vivência Simbólica Espiritualidade Ética diálogo intercultural e religioso reconhecimento do outro AULA 02 UNIDADE 03 Carl Gustav Jung e a vivência Simbólica O que você vai aprender nessa aula 1 A vivência simbólica segundo Carl Gustav Jung 2 Arquétipos e símbolos 3 A superação da dissintonia entre consciente e inconsciente através da vivência simbólica 4 Racionalismo e a perda dos símbolos 4 Espiritualidade a religação religiosa segundo a perspectiva da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung 5 Espiritualidade e o equilíbrio entre afeto e razão razão e afeto Comecemos ouvindo o próprio Carl Gustava Jung A ALMA DO HOMEM Aquilo que chamamos de consciência civilizada não tem cessado de afastarse dos nossos instintos básicos Mas nem por isso os instintos desapareceram apenas perderam contato com a consciência sendo obrigados a afirmarse de maneira indireta Podem fazêlo através de sintomas físicos como no caso de uma neurose ou por meio de incidentes de vários tipos como humores inexplicáveis esquecimentos inesperados e lapsos de palavra O homem gosta de acreditarse senhor da sua alma Mas enquanto for incapaz de controlar os seus humores e emoções ou de se tornar consciente das inúmeras maneiras secretas pelas quais os fatores inconscientes se insinuam nos seus projetos e decisões certamente não é seu próprio dono Esses fatores inconscientes devem sua existência à autonomia dos arquétipos O homem moderno para não ver essa cisão do seu ser protegese com um sistema de compartimentos Certos aspectos da sua vida exterior e do seu comportamento são conservados em gavetas separadas e nunca confrontados uns com os outros O Homem e seus símbolos Carl Gustav Jung 3ª edição especial brasileira Jung denuncia a negligência para com a vida interior que precisa ser examinada bem como a separação entre as camadas da psique que denomina consciente e inconsciente e a crescente racionalização e tecnificação da existência que conduz ao malestar individual e civilizatório Por instintos básicos Jung caracteriza os equipamentos pelos quais podemos não apenas sobreviver mas viver bem melhor se escutarmos e trabalharmos os afetos Somos afetos e razão mas usualmente cultivamos apenas a razão isolandonos dos desafios e da totalidade da vida Carl Gustav Jung 1875 1961 dedicou a vida à pesquisa da psyché Médico psiquiatra terapeuta pesquisador e fundador da Psicologia Analítica ou Profunda constatou que a vida consciente confundida com a noção de eu é apenas a superfície pois há outra dimensão denominada inconsciente A racionalidade no percurso evolutivo dos humanos foi uma conquista que permitiu o desenvolvimento da Filosofia e Ciências as invenções tecnológicas o processo civilizatório Consciente e Inconsciente Arquétipos e Símbolos Segundo Jung ao não reconhecermos a existência do inconsciente e não prestarmos atenção às manifestações sinalizações entretanto ocorreria a dissintonia causadora de perturbações emocionais e existências A totalidade da psyché segundo Jung inclui a vida desperta e vivências inconscientes No inconsciente comum há os arquétipos formas présimbólicas aptas a serem preenchidas por conteúdos simbólicos No inconsciente comum é presente de modo vago arquetípico e présimbólico a memória herdada via processo evolutivo longo processo de maturação de significados a serem atualizados através da experiência simbólica O arquétipo unificador das vivências psíquicas é o self si mesmo se ipso selbst self que é Imago Dei As vivências simbólicas cumprem a função de superar a dissintonia e permitir a comunicação entre consciente e inconsciente permitindo vida não dicotômica oportunizando que escutemos os sinais enviados da dimensão inconsciente à consciência Nessa perspectiva Jung afirma para uma vida psíquica equilibrada é preciso vencendo a dissintonia escutando os sinais enviados pelo inconsciente religar as duas dimensões da existência sem as quais a vida é partida cindida incompleta A vivência simbólica e a superação da dissintonia a Se prestando atenção nos sonhos portadores de significados à vida somos capazes de escutar o inconsciente b A vivência simbólicoreligiosa igualmente permite equilíbrio psíquico e oferece recursos importantes à administração da existência Em um mundo no qual o todas as coisas são explicáveis através de definições quando o útil para muitos é o único critério de verdade desvalorizando os símbolos perdemos equipamentos psíquicos fundamentais à gestão da vida pessoal e coletiva c Os símbolos para Carl Gustav Jung salientemos não são neutros devem ser intencionados e vividos precisam despertar emoções e significados Se visito por exemplo a Basílica da Sagrada família de Gaudi posso apenas descrevêla baseado nos estudos de história da arte ou procurando entender as técnicas construtivas A Sagrada Família na qual as partes e o todo formam unidade simbólica admirável todavia permite e comunica vivências simbólicas que ultrapassam explicações Um símbolo somente será compreendido portanto se vivenciado se desejamos acolhêlo sem a pretensão de esgotálo com descrições esquemáticas CARECEMOS DE VIVÊNCIAS SIMBÓLICAS AUTÊNTICAS A vivência simbólica embora compartilhável é individual precisa ser experienciada Quando a comunicamos claro brotam sentidos que correspondem aos arquétipos revelando significados compartilháveis Visitando a Basílica de Gaudi seremos surpreendidos por símbolos précristãos incorporados à mensagem evangélica e esculpidos em cada centímetro do templo desde o trabalho e intuição genial de um arquiteto que era também uma pessoa de fé O templo revela Gaudi e revela cada um a si mesmo desde que desejemos e intencionemos os significados simbólicos existentes A palavra símbolo em sua etimologia deriva de Symballo pôr junto unir partes separadas Na perspectiva de Jung via símbolos podemos vencer a dissintonia realizando a sintonia entre vida consciente e vida inconsciente do que resulta vida emocional equilibrada mente saudável orientação à vida capacidade de administrar os desafios da existência e situaçõeslimites FUNÇÃO SIMBÓLICA TRANSCENDENTE a A função psicológica transcendente segundo Jung resulta da reunião dos conteúdos conscientes e inconscientes A consciência ao exercer função inibitória sobre o inconsciente possibilitou necessários avanços civilizatórios Tratase de fato novo na história e que exigiu sacrifícios e contrapartidas b A região psíquica denominada inconsciente entretanto exerce influência decisiva sobre a região luminosa consciente A dissintonia entre as regiões da psyché é superável através das vivências arquétiposimbólicas c A função transcendente através da vivência simbólica em resumo permite que o consciente dê contas das mensagens emitidas pelo inconsciente região indiretamente acessível superando a dualidade que cinde a psyché e causa desconfortos A função transcendente vivenciada nos símbolos permite enfim superar a dissintonia e alcançar a sintonia vital à vida psíquica Vivemos em período da história paradoxal pois determinamos a existência por padrões de racionalidade rígidos inibidores da capacidade de perceber e administrar emoções Sinal da dissintonia verificamos nas instabilidades emocionais comumente experimentadas causadas pela aceleração do tempo racionalização excessiva do diaadia fragmentação da existência A contrapartida à racionalização excessiva resulta em crise valorativa ética e política incapacidade relacional e irracionalidade que assombra perturba existência de indivíduos e sociedades Se pautamos o comportamento exclusivamente pelas determinações da racionalidade técnica em consequência desconsideraremos os equipamentos pelos quais podemos administrar a vida emocional Se não formos capazes de silenciar e escutar os sinais emitidos pelo inconsciente é possível constatar quão irracionais nos tornamos no trato consigo no estarnomundo e comos outros Símbolos a Os símbolos formam o equipamento psíquico pelo qual poderemos alcançar vida mais plena e harmônica b A vivência simbólica em resumo ao doar sentido e ao superar a dissintonia é possibilidade de existência prudentemente administrada mais completa e serena Carl Gustav Jung pensamos ao refletir sobre a dissintonia é atual e oferece chaves importantes para compreendermos e superarmos a fragmentação da existência oferecendo preciosas indicações para pensarmos o malestar que afeta a civilização contemporânea c Prestemos atenção enfim em nós mesmos nos outros e no mundo É importante concordamos com Jung recuperar o equipamento simbólico vivenciar símbolos Mitos Símbolos Ritos Se o Mito é a Linguagem da experiência Religiosa o Símbolo envia ao Sagrado Absoluto Mistério constituindo a narrativa mítica Nessa direção Enquanto signos indicam denotam metáforas comparam símbolos transignificam enviam além Um exemplo O TAO e o WU WEY A vivência simbólica a experiência poética e o Tao Thomas Merton In A Via de Chuang Tzu Vozes permite através de uma narrativa poética de caráter não predicamental não definível entender o que é uma vivência simbólica O Homem nasce do Tao como Os peixes nascem da água O homem nasce do Tao Se os peixes nascidos na água Procuram a sombra frondosa De um lago ou piscina Todos seus anseios são satisfeitos Se o homem nascido no Tao Mergulha na sombra frondosa Da Inação Para esquecer a combatividade e a preocupação Não necessita de Nada Sua vida está segura Qual é a possível mensagem Tudo que o peixe necessita é de perderse na água Tudo o que o homem necessita é de perderse no Tao O que é o Tao Curso Caminho Absoluto Como encontrálo Estando atentos à espontaneidade da vida via nãoação wu wei Wu Wei que paradoxalmente não é passividade mas atividade Como devemos compreender o Wu Wei a nãoação que não é passividade Mas ação no tempo oportuno Seguindo o Curso Agindo no momento oportuno com prudência PROPOSTA Um EXERCÍCIO Materiais simbólicos A vivência simbólica vital ao equilíbrio da Psyché não acontece apenas em templos nos quais o Sagrado penetra o mundo o profano Os astros os elementais as situações da vida carregam potencial de vivência simbólica O que significa por exemplo para mim o nascer do Sol frente o Mar o poente frente o Guaíba a aurora desde uma montanha o céu estrelado em uma noite clara a água que acalma a sede e cura o fogo que aquece a escuridão que convida à intimidade Os elementais os astros os acidentes geográficos os vegetais e até animais são capazes de revelar conteúdos simbólicos se contemplados com interesse intencionalidade e abertura Quais são os possíveis significados que carregam por exemplo a Lua o Sol a Estrela a Respiração Sopro o Céu o Ar o Rio o Oceano a Nuvem o Vento a Chuva o Arcoíris o Fogo a Alvorada a Noite a Escuridão o Deserto a Árvore Tarefa O Exercício será realizado em duas etapas a Escolhe dois símbolos dentre os mencionados e após brevereflexão e livre associação escreve sobre o que cada um dos símbolos escolhidos despertou em mim b Posteriormente compare o que foi escrito com os possíveis significados e interpretações propostos por Jung Orientação escreve um pequeno texto sobre as primeiras impressões Observação a Tarefa é pessoal e não é para entregar Tratase de proposta de um exercício para retornarmos a observar as manifestações da vida que passam despercebidas no cotidiano Breve reflexão desde o Livro dos Símbolos de Jung Se os arquetipos ou formas présimbólicas são presentes no inconsciente se o self é o arquétipo que unifica os demais pois é Imago Dei imagem de Deus ou do Sagrado no inconsciente nessa direção o que significam para mim as manifestações da natureza O Sol é a fonte da vida aquece permite que existamos comparável por Platão ao Bem Se nos aproximarmos demasiadamente vemos seu poder sequer podemos o contemplar diretamente por muito tempo A Lua refletindo a luz do Sol acalma sobretudo em noites claras quando ilumina a existência e permite transitar pela Noite A noite é momento de repouso de estar em casa de nos prepararmos para o dia traz tranquilidade mas ao mesmo tempo faz presente a escuridão A escuridão lembra que devemos ingressar nos mistérios da psique mas ao mesmo tempo conduz ao desconhecido desperta medo solicita cautela e precisa ser compreendida A chuva renova a vida sobre a Terra mas em excesso pode causar enchentes como os dilúvios descritos em inúmeros mitos de renovação O vento presente em uma tarde de verão brisa é reconfortante mas se adquire altas velocidades e força pode tornarse perigoso Se falamos em vento lembramos a respiração se há respiração há vida Por isso o filósofo présocrático Anaxímenes associou o ar ao elemento primordial pois aonde há ar há respiração e há vida O que é válido para as plantas animais para a totalidade da Casa Planetária O fogo é calor permite conservar os alimentos transforma todas as coisas mas pode destruir Se olharmos com atenção todos os astros elementais noite e dia veremos que despertam em nós sentimentos diversos e que foram e são incorporados aos mitos ao diaadia ao transcurso da vida Contudo considerando o sequestro da vida vivida pela Técnica já não mais os observamos e pensamentos na vida Vamos quem sabe sentar frente às árvores em um dia de Sol e observar as árvores e movimentos As flores os insetos os pássaros O que essas realidades nos comunicam Escutemos Carl Gustav Jung Nesse período da história humana em que toda a energia disponível é dedicada ao estudo e à investigação da natureza dedicase pouquíssima atenção à essência do homem a sua psique enquanto multiplicamse as pesquisas sobre as suas funções conscientes No entanto as regiões verdadeiramente complexas e desconhecidas da mente onde são produzidos os símbolos ainda continuam virtualmente inexploradas E é incrível que apesar de recebermos quase todas as noites sinais enviados por essas regiões pareça tão tedioso decifrálos e que poucas pessoas se tenham preocupado com o assunto O mais importante instrumento do homem a sua psique recebe pouca atenção e é muitas vezes tratado com desconfiança e desprezo É apenas psicológico é uma expressão que significa habitualmente Não é nada O Homem e seus símbolos Carl Gustav Jung 3ª edição especial brasileira Escutemos Carl Gustav Jung Esse ponto de vista moderno é certamente unilateral e injusto Nosso conhecimento atual do inconsciente revela que ele é um fenômeno natural e tal como a própria natureza pelo menos neutro Nele encontramos todos os aspectos da natureza humana a luz e a sombra o belo e o feio o bom e o mau a profundidade e a tolice O estudo do simbolismo individual e do coletivo é tarefa gigantesca que ainda não foi vencida Mas ao menos já existe um trabalho inicial Os primeiros resultados são encorajadores e parecem oferecer resposta às muitas perguntas até então sem nenhuma replica que fazem à humanidade hoje O Homem e seus símbolos Carl Gustav Jung 3ª edição especial brasileira LEITURA COMPLEMENTAR HINRICHSEN LE Resenha In JUNG Carl Gustav org O Homem e seus Símbolos 3 ed Especial brasileira Vídeo Complementar O Deus de Jung Link httpswwwyoutubecomwatchvqPecbcMNiaE O que aprendemos A vivência simbólica em tempos de racionalização da vida conduzem à ruptura entre as estruturas da psique e em consequência à crise pessoal e civilizatória Precisamos ultrapassando a remitificação que cultua o progresso pelo progresso e o novo tecnológico pelo culto à tecnociência recuperar a capacidade de observar e viver autênticas vivências simbólicas através da observação da criação ou valorizando e resgatando a mensagem dos símbolos e mitos que a multimilenar tradição nos legou Ética e Espiritualidade Aula 02 Espiritualidade e reconhecimento do outro Espiritualidade e reconhecimento do outro Módulo 04 Espiritualidade e Linguagem Ciência e Filosofia diante da cosmovisão dos Povos Originários O que você vai aprender nessa aula 1 O que é ciência Um conceito polissêmico 2 Ciências e saberes da Tradição superando o negacionismo e dialogando com os saberes 3 Conflito de Linguagem ou conflito entre Religião Mito e Ciências 4 As Ciências como resposta da Cultura e os Saberes Tradicionais ou dos Povos Originários entrevista com Ailton Krenak 5 Para além do exclusivismo fundamentalismos e da carência hermenêutica saberes em diálogo O que você vai aprender nessa aula CIÊNCIA NÃO É OPINIÃO MAS CONHECIMENTO O QUE ISSOS SIGNIFICA Como se relacionam os diversos saberes Platão EPISTEME CONHECIMENTO RIGOROSO Ciência para os gregos IV e V aC é Episteme conhecimento rigoroso demonstração que difere de doxa opinião discurso não silogístico que permanece no aparente Para Platão herdeiro de Sócrates a dialética é o método de investigação é preciso pôr o todo em questão examinar as partes eliminar o falso permanecer com os conteúdos que resistirem e mostraremse sólidos no processo do diálogo dia logos em torno da palavra debate que procura via conceitos chegar à definições Aristóteles foi o primeiro a classificar as ciências compreendidas como conhecimento das causas Lemos em Met I 1 ARISTÓTELES Há o conhecimento sensorial a experiência comparando situações chegamos às leis da vida cotidiana Ex chá de boldo faz bem para o fígado Dentre as ciências a primeira é a arte ou técnica techné conhecimento aplicado às necessidades dos seres humanos a seguir descreve a Filosofia Prática Ética Política e Economia Qual é a diferença entre o empírico que vive da experiência e os que exercem a arte O primeiro sabe o quê o segundo é capaz de responder por quê O empírico usa o chá para amenizar um desconforto o médico chega as causas realiza um diagnóstico faz um prognóstico e aplica a terapia adequada no caso da medicina hipocrática oferece a justa medida entendida como dieta adequada o não muito e o não pouco próprio a cada indivíduo Os antigos viveram a tensão entre Mythos e Logos não renunciaram ao Mito mas com o nascimento da Filosofia o precisaram interpretar AGOSTINHO Crer para saber Saber para crer No período tardoromano Agostinho século IV dC descreve as Artes Liberais como caminho à sabedoria As artes liberais estão divididas em práticas e matemáticas As práticas gramática retórica e lógica As matemáticas aritmética geometria astronomia e música Ao ler o texto bíblico indaga como o ler Interpretandoo pois há muitas alegorias inclusive há ensinamentos nos números pois Deus governa o mundo através da ordem ou ritmo ou seja através dos números Agostinho no Sermão 43 afirma a recompensa da fé é o entendimento Ora para crer é preciso compreender para compreender preciso crer Fé fides confiança supõe adesão da razão à revelação presente nas Escrituras A inteligência da fé portanto supõe o auxílio da Filosofia e a interpretação hermenêuticas do texto sagrado As Universidades e a concepção de ciência no Medievo No medievo através de Abelardo séc XII o príncipe da dialética e no século XIII apogeu das universidades as questões disputadas alunos defendiam teses opostas cabia ao professor julgálas e posteriormente oferecer uma resposta rigorosamente elaborada permitiram intensos e calorosos debates A recepção completa dos textos de Platão e Aristóteles revigorou a pesquisa Carlos Arthur do Nascimento professor emérito da Unicamp fala do renascimento do século XII possibilitado pela lógica do renascimento do século XIII via renovação universitária proporcionada pela recepção de Aristóteles interpretado múltipla e contraditoriamente mas motivo de debates e renovação O renascimento artístico e literário dos séculos XIV e XV foi portanto possibilitado pelos renascimentos dos séculos XII e XIII As conquistas da modernidade e a fragmentação do conhecimento Com o advento do iluminismo sobretudo pós revolução francesa o conceito moderno de religião e ciência é construído A religião mais do que uma atitude racional e afetiva de adesão ao Sagrado passa a ser compreendida como conjunto de dogmas e normas estrutura A ciência passa a ser entendida como a mediação que conduz às certezas evidências incontestáveis A adoção do método mecanicista cartesianonewtoniano de pesquisa baseado na física dos sólidos impõe unidade de método para os diversos âmbitos do saber e da investigação Há avanços descobertas muito devemos aos filósofos ou cientistas do período Desconheceram contudo a finitude da razão e acreditavam na marcha triunfante do esclarecimento que superaria a ignorância e levaria inevitavelmente ao progresso É preciso em consequência diferenciar ciência de religião Da precisa distinção entre os âmbitos do Sagrado e da pesquisa científica entre Religião e Ciência resultam várias possibilidades a antagonismo entre ciência e religião b conciliação artificial c instrumentalização da religião ou da ciência b O que pensamos Religião e Ciência enquanto instituições mas sobretudo entendidas como processo não se anulam são linguagens complementares que se encontram nas fronteiras das formulações historicamente elaboradas e que incompletas tocam nas situaçõeslimite e na pergunta pelo sentido A religião mito é sua linguagem contudo não precisa forçar a ciência a provar suas asserções e também a ciência não deve desconhecer a contribuição da mensagem das Tradições Religiosas reduzindoas às suas expectativas A tensão entre Mito e Filosofia antigos entre fé e razão do período tardoromano ao renascimento é paradigmática pois nem a Filosofia nega o valor do Mito nem a razão através das disciplinas liberais nega a fé Há tensão mas igualmente colaboração e mútuo esclarecimento Diálogo e respeito A tensão que testemunhamos até meados do século XX e que ecoa em nossos tempos tem origem segundo Jean Ladrierè em um conflito de linguagens pois em muitas situações somente escutamos o que queremos escutar Jean Lardrierè propõe diálogo entre as fontes da cultura Ocidental entre o Polo da Ciência e da Tecnologia e o Polo da Tradição ou do sentido Há logo distinção das linguagens mas também aproximação no tratamento das questõeslimite Se as ciências explicam não chegam às certezas incontestáveis pretendidas por Descartes bem como se a Tradição que inclui as Religiões toca no sentido viabilizam a esperança precisa das ciências Ciências no Plural a Deveríamos falar de ciências no plural recuperando a noção de conhecimento rigoroso e integrativo e não de ciência pois são amplos e vastos os campos de observação e múltiplos os métodos b Superar a unidade de métodos como já o concebia Roger Bacon no século XIII propor multiplicidade de métodos afirmar a finitude da razão assumir a tarefa infinita de procura da verdade Valorizar o alerta de Edmund Husserl conhecimento é uma tarefa infinita é antídoto ao negacionismo fatos devem ser valorizados e examinados ao fundamentalismo posição fixista e fechada ao exclusivismo há contribuições em todas as áreas do saber e ao setorialismo o antídoto é a interdisciplinaridade pensamento complexo ou sistêmico c Nessa direção ao estudarmos as Tradições Religiosas suas fontes igualmente o recurso às ciências e renúncia aos exclusivismos é saudável e necessário É antídoto ao negacionismo pois mesmo o acesso às fontes das Tradições supõe esforço científico e interdisciplinar Em um mundo plural frente questões complexas interdisciplinaridade colaboração diálogo conduz à abordagens complexas sistêmicas integrativas Nenhuma área do saber detém o monopólio da verdade pois a descoberta do serdacoisas desvelamento é tarefa intersubjetiva humilde e interminável A ciência conhecimento baseado em argumentos e evidências é vital ao Cuidado da Casa Comum e vazio existencial Como precisamos de ciência nos tempos de falência ambiental e vazio existencial de crise sociopolítica e fracasso diplomático Em tempos de integração planetária quando os problemas precisam ser pensados e respondidos integrativamente há espaço para o diálogo nas fronteiras dos saberes lá onde ciência e religião se encontram desafiadas frente situaçõeslimite confrontadas pelo mistério da vida À Filosofia pensamos cabe um papel decisivo um convite ao diálogo à proposição da interligação práxica entre os saberes Com humildade somos convidados a repensar nossas crenças sobre ciência e religião Mito e nos pormos a caminho na permanente procura da verdade sempre em diálogo e na tarefa e procura de nos tornarmos pessoas melhores Mas o que podemos aprender com o pensamento dos Povos Originários Há um novo modo de fazer ciência e filosofia que pode inspirarse no pensamento dos povos originários O tradutor do pensamento mágico Entrevista com Ailton Krenak escritor filósofo ativista e líder de seu povo Krenak a partir de seu livro KRENAK Ailton Ideias para adiar o fim do mundo São Paulo Companhia das Letras 2019 Fonte MASSUELO Amanda e WEIS Bruno O tradutor do pensamento mágico Revista Cult N 251 04112019 Disponível em httpsrevistacultuolcombrhomeailton krenakentrevista Acessado em 230921 O tradutor do pensamento mágico Aos 66 anos Krenak segue resistindo Lançou este ano o livro Ideias para adiar o fim do mundo Companhia das Letras e vive intensa agenda de palestras entrevistas e eventos De sua aldeia Krenak às margens do rio Doce em Minas Gerais ecossistema destruído pela lama da mineração o filósofo escritor jornalista ativista e líder de seu povo circula pelo mundo orientado pela intuição e por seus sonhos com a urgência de traduzir para os brancos fragmentos da cosmovisão dos povos indígenas O tradutor do pensamento mágico Quando os índios falam que a Terra é nossa mãe dizem Eles são tão poéticos que imagem mais bonita Isso não é poesia é a nossa vida Estamos colados no corpo da Terra Somos terminal nervoso dela Quando alguém fura machuca ou arranha a Terra desorganiza o nosso mundo diz Krenak em entrevista à Cult realizada em outubro passado em São Paulo Tenho sonhado com uma sequência tão absurda de desastres que me lembra quando eu era jovem e encontrava os velhos principalmente quando comecei a visitar as aldeias nas florestas do Acre de Rondônia e os pajés diziam Vocês precisam tomar cuidado porque o mundo está invadindo a nossa existência ao olhar as estradas os tratores e as motosserras chegando o barulho delas derrubando as grandes árvores a revolta dos rios os rios falando Às vezes com raiva bravos às vezes com sentimento de ofensa Nós acabamos nos constituindo como terminal nervoso do que eles chamam de natureza O tradutor do pensamento mágico Que cosmovisão seria essa No livrinho Ideias para adiar o fim do mundo eu estava experimentando a ideia de compartilhar com outras pessoas que vivem nessa realidade de um mundo prático que existem outros mundos Se conseguirmos fazer essa comunicação já distendemos um pouco o lugar que habitamos Esse mundo pragmático em que a gente coexiste é um lugar de passagem de outros povos outras mentalidades e culturas E não existe só este mundo de concreto ruas e cidades que imprime no corpo da Terra a marca dos homens como se eles fossem a única existência inteligente e sensível Se você conversar com os sábios dos Krenak dos Guarani dos Xavante e perguntar O que quer dizer o nome do seu povo eles vão dizer ente humano nós desmantelando a ideia de indivíduo e dando oportunidade de conversarmos com o rio com a montanha com outros seres que não são os eletivos humanos O tradutor do pensamento mágico Que cosmovisão seria essa Ao longo da história desses brancos na cosmovisão deles também já houve um fim de mundo e eles olham para nós com estranhamento quando falamos em fins de mundo porque não têm memória Isso que a gente chama de capitalismo na Idade Moderna já existia no coração dessas pessoas porque o mito de origem dos brancos é um mito de dominação da Terra O deus deles mandou eles dominarem a Terra Então eles são obedientes só estão fazendo o que foi mandado O tradutor do pensamento mágico Que cosmovisão seria essa Os povos nativos de vários lugares do mundo resistem a essa investida do branco porque sabem que ele está enganado e na maioria das vezes tratam ele como um louco Sempre olhei essas grandes cidades do mundo como um implante sobre o corpo da Terra Como se pudéssemos fazer a Terra diferente do que ela é não satisfeitos com a beleza dela A gente deveria é diminuir a investida sobre o corpo da Terra e respeitar sua integridade O tradutor do pensamento mágico Que cosmovisão seria essa Em Ideias para adiar o fim do mundo eu estou invocando um pensamento amplo que existe em muitos lugares do planeta naquelas vilas remotas do Pacífico Sul lá no Ártico na Terra do Fogo em toda essa extensão que a gente acha que é o continente americano na Europa na África na Ásia onde ainda existem muitos mundos por vir As ideias para adiar o fim do mundo na verdade são uma janela para outros mundos possíveis O tradutor do pensamento mágico Dá pra fazer esses mundos diferentes coexistirem sem uma cosmovisão compartilhada A longa história de resistência do nosso povo me faz acreditar que quando este mundo acabar nós vamos assistir Porque nós sabemos onde estamos Os nossos netos tataranetos vão sobreviver a essa experiência ruim de desencontro que a gente persiste em manter se repetindo Esses brancos eles saíram algum dia num tempo muito antigo do nosso meio Conviveram com a gente depois esqueceram quem eram e foram viver de outro jeito Se agarraram às suas invenções ferramentas ciência e tecnologia Eles se extraviaram saíram predando o planeta A coreografia deles é a mesma É pisar duro sobre a Terra A nossa é pisar leve bem leve sobre a Terra O tradutor do pensamento mágico Dá pra fazer esses mundos diferentes coexistirem sem uma cosmovisão compartilhada Se você imaginar que o tempo de constituir um passo na direção de uma cosmovisão compartilhada demora eras estamos com pouco tempo pra isso porque a constatação é que estamos diante de um colapso socioambiental Pelo menos desse mundo que todo mundo acha que pode saquear Se você olhar um lago que não recebe água de fora e acompanhar ao longo do tempo o que acontece com ele vai ver que aquela água apodrece Estamos passando por uma transformação assim no planeta mas a maioria das pessoas não está vendo O que aprendemos A respostas de Ailton Krenak conteúdo presente no pequeno Livrinho O Amanhã não está à venda são incisivas nos tocam profundamente a Há uma Sabedoria ancestral denominada Pensamento Mágico a ser compreendido como Sabedoria dos Povos Originários ou Mítica que permite visitar o mundo de outra forma b Somos parte da Casa Comum Devemos cuidála A pandemia revelou estamos interconectados Céu e Terra se interligam somos parte da família humana e da Casa Planetária c O desastre ambiental do Rio Doce transcorrido em 2015 afetou a Comunidade Krenak Ailton é tradutor de um modo de pensar que nos convida a rever valores e a novo modo de ser d O que realmente é importante Água limpa solo sem venenos ar puro florestas preservadas vida em comunidade Como habitamos e convivemos em nossas cidades Como partilhamos as riquezas produzidas via trabalho na Casa Comum Como concebemos a vida Ciência Ensinamentos das Tradições Religiosas notadamente em destaque desde a entrevista de Ailton Krenak precisam ser repensados O que aprendemos a Precisamos das ciências para cuidar da vida na Casa Planetária para cuidarmos da saúde das pessoas e dos demais seres vivos para assegurarmos responsavelmente a continuidade da vida na Casa Planetária c Mas de uma ciência que examine criticamente a si mesma em diálogo com os demais saberes seja interdisciplinar e integrativa continue rigorosa mas aberta c Igualmente desde a recuperação da mensagem das Tradições Religiosas necessitamos de uma crítica das religiões e das práticas religiosas respeitosa mas efetiva d Evitando o negacionismos e a manipulação das mensagens das Tradições Religiosas para fins escusos e Precisamos pensar a relação entre Ciências Comum legado da mensagem das Tradições Religiosas valorizando a visão dos Povos Originários f Respeito diálogo observância dos âmbitos de cada uma das linguagens pois se religião não é ciência ciência não é religião Mas na fronteira lá aonde surgem as grandes questões da vida são convidadas necessariamente a dialogar Ailton Krenak contribui para revisarmos nossa visão de mundo valores e modo de ser Há muito o que aprendermos juntos O que aprendemos a Ciência é conhecimento rigoroso As concepções de ciência possuem uma história Fazemos ciência desde o mundo que nos antecede e acolhe Mundo que é lugar do habitar Fazer ciência inclui interesses e influências Se a ciência é saber rigoroso que supõe métodos e evidências ainda assim é fazer contextuado b Deveríamos designar ciências no plural em permanente diálogo com os diversos saberes frente o desafio da interdisciplinaridade c Religião tecido de símbolos que formam sua linguagem o mito não é ciência Não encontraremos tratados científicos em textos e nas mensagens religiosas E nem deveríamos pretender que as ciências justifiquem as mensagens religiosas O contrário igualmente São saberes complementares que na fronteira das questões limite se encontram e precisam dialogar d Os conflitos entre ciência e pensamento religioso resultam de fechamentos fundamentalismos racionalização intensa que conduziu e conduz ao negacionismo e Precisamos de ciências sem as quais a vida não prosperará sob a Casa Planetária Precisamos da Mensagem das Tradições religiosas como Ailton Krenak nos traduz no pensamento ecológico que apresenta f Respeitados os âmbitos dialogando aprendendo a pensar sendo críticos e valorizando a complexidade seremos pessoas melhores O que está em jogo A continuidade da vida na Casa Planetária LEITURA COMPLEMENTAR AILTON KRENAK O amanhã não está à venda São Paulo Companhia das Letras Link Pode ser baixado da Amazon gratuitamente Ética e Espiritualidade Espiritualidade e Reconhecimento do outro Espiritualidade e Reconhecimento do outro O que você vai aprender nessa aula 1 As mediações do Sagrado 2 Identidade imagens do Sagrado e fixação indevida 3 O fenômeno da remitificação 4 A vivência simbólica e a unidade da psique 5 O reconhecimento do outro na sua distinção pessoal cultural e religiosa via diálogo O que você vai aprender nessa aula Independentemente de nossas convicções religiosas cada um a possui uma história religiosa pois há uma pertença familiar e cultural É preciso ainda que brevemente investigar as relações entre identidade afetos projeção indevida imagens do sagrado que ainda que não nos demos conta influenciam nossos comportamentos e modos de ser Quando nos reconciliamos e nos libertamos de imagens inadequadas do Sagrado ou investigamos brevemente a constituição do self si mesmo crescemos como pessoas Religiosidade e Religião a Se religião indica uma atitude e correspondente prática fundamentase na estrutura multidimensional do ser humano O processo de transcendência ultrapassar a si mesmo denominamos religiosidade corresponde à dimensão espiritual que constitui o ser humano em sua multidimensionalidade Nessa direção a abertura ao Sagrado é expressão da multidimensionalidade constitutiva da pessoa O ser humano existe e no aberto do mundo destinase procurando a verdade agindo criando fazendo o bem conferindo unidade e sentido à vida ultrapassando a si mesmo e abrindose ao outro Via reconhecimento do outro no mundo lugar do habitar reconhece a si mesmo b A religiosidade abertura ao outro e ao Sagrado acontece desde o mundo A religião setor da cultura é a institucionalização da religiosidade É processo pessoal e comunitário e como a língua supõe mediações como mitos ritos e textos sagrados O processo de institucionalização do religioso dimensão do humano portanto denominamos religião c A religiosidade portanto vivida desde o mundo visibilizase e viabilizase via institucionalização O processo de institucionalização da vivência religiosa denominado por religião é pessoal e comunitário subjetivo e intersubjetivo e acontece através da linguagem e mediações Problema quando as mediações tornam se fins em si mesmas impedem o contacto com o Sagrado que é sempre contato consigo e com o outro desde o mundo Exemplos de inautenticidade religiosa o zelo excessivo pelo rito ritualismo a fixação em regras que se tornam mais importantes que a vida das pessoas legalismo A inautenticidade religiosa é presente na vida religiosa concreta É um modo de decadência da prática religiosa A decadência é uma possibilidade humana nas diversas dimensões e expressões da vida Oscilamos entre a autenticidade e inautenticidade claro o horizonte ético é a autenticidade d Se o ser humano é multidimensional as dimensões que constituem atualizamse através da cultura 2 ª natureza adquirida Problema como a religião setor da cultura mantém relações por exemplo com o direito a política e a economia em consequência influencia e é afetada pelos outros setores da cultura Alerta a manipulação da mensagem religiosa para fins escusos entretanto afeta o sentido da sua própria existência e questiona a existência da própria religião Nota as religiões devem sem impor mas propondo participar do debate público contribuindo ao bemcomum contudo sem jamais ultrapassar os limites da laicidade ou seja a separação entre Estado e Religiões é benéfica para ambas Identidade e Vivência Religiosa A constituição do self si mesmo identidade é processo que abrange a totalidade da existência O ser humano realiza a si mesmo no tempo seraínomundo é ente relacional sercom inserido num tempo e espaço reconhece a si via reconhecimento do outro A identidade é progressiva descoberta e afirmação de si na relação comosoutros no mundo Através da capacidade compreensiva e práxica interventiva o Dasein Humano é formador de mundo Multidimensional capaz de conhecer e transformar tecnicamente o mundo apto a destinarse a direção do cuidado convidado à realização de um mundo habitável ser em transcendência é tocado pelo Sagrado O ser humano no processo de constituição da identidade religiosa serderelações em resumo via vivências é portador de história religiosa constituída no tempo No processo da identidade religiosa há possibilidade de vivências abertas capazes de transcendência ou até fechamento em experiências limitadoras originadas de imagens inadequadas do Sagrado Deus Absoluto Perguntamos então o que é Projeção Religiosa O que é fixação indevida Há imagens adequadas provisórias pelas quais podemos acessar o Sagrado Absoluto Deus O que são místicas secularistas O que recordo e posso relatar de minha história religiosa Psicologia da Religião Mediações Religiosas e Psicologia da Religião aO que é Projeção Religiosa Exemplos bO que é fixação indevida Exemplos cHá imagem adequada pela qual podemos acessar o Sagrado Absoluto Deus dO que são místicas secularistas Mediações Religiosas e Psicologia da Religião a A vivência Religiosa é relação desde o mundo com o outro e com o Sagrado Santo Deus Absoluto b Possibilitado pelas esferas mediadoras da religião mitos e símbolos ritos livros etc c Não cabe contudo em conceitos ou representações objetificadoras d O Mistério Fascinante e Tremendo cf Rudolf Otto desperta nova atitude e solicita linguagem específica o Mito A linguagem mítica e seus símbolos não constituem explicação fantástica apta a preencher lacunas explicativas da Filosofia ou Ciências A linguagem mítica que toca no mistério que nos envia no tempo e espaço para além do aqui e agora que unindo passado presente e futuro é sempre atual reivindicando atenta hermenêutica doadora de sentidos à existência A Religião através de suas esferas ou estruturas via Mitos Símbolos e Ritos através da vivência comunitária fixa as experiências religiosas fundadoras ou originais transmitidas via testemunho na história a Resultado o importante legado das Tradições Religiosas presente nos Mitos e ensinamentos dos fundadores e que precisa ser respeitado estudado valorizado resgatado Projeção Religiosa e Imagens de Deus Sagrado Absoluto a O conceito de projeção religiosa encontra sua origem na ótica iluminando uma imagem transparente a projetamos na parede oposto à fonte luminosa b Analogamente o ser humano projetaria imagens de sua realidade contra a parede do infinito c Assim denominado Deus por exemplo como Pai para compreender seu amor afirmamos que é pessoa d Aplicamos categorias humanas para expressar nossa percepção do Mistério que não cabe em conceitos Pergunta O recurso da projeção é válido O valor da projeção religiosa não deve medirse pelo fato de utilizar imagens humanas não obstante o valor relativo dessas mas pelo que indicam sinalizam enviam A projeção é válida pois revela algo que não se vê diretamente nas imagens projetadas Por que o ser humano pode conceber projetar imagens do Sagrado Deus Absoluto Por que o Sagrado Deus Absoluto não lhe é completamente estranho alheio porque o Mistério é presente na realidade humana Inferência A projeção é o polo humano de uma dialética cujo polo divino é a revelação a manifestação infinita no finito do Sagrado Contudo a plenitude dessa dialética não se atinge nos limites do espaço e do tempo As imagens logo são sempre provisórias precisam ser compreendidas e percebidas com maturidade Projeção Religiosa e Fixação Indevida a A projeção religiosa é sempre provisória Acontece porém que pessoas descuidam do crescimento religioso e fixam suas primeiras projeções religiosas de Sagrado Deus indefinidamente Concebendo em consequência imagem infantil do Sagrado que as acompanha a vida inteira A constatação vale para os que creem mas também para todas as pessoas b No Mito quando a inspiração originária do fenômeno religioso perde vitalidade as imagens tornamse ídolos literalidade ou perdem significação carência hermenêutica Do mesmo modo quando as projeções infantis não são continuamente substituídas por novas concepções há fixação regressiva registrada em imagens inadequadas c Exemplo Imagem de Deus como Pai ou Mãe Tal como precisamos desidealizar a imagem do pai via aceitação do pai real portador de qualidades e imites operando sadia reconciliação com a figura paterna e com nós mesmos analogamente precisamos libertar a imagem de Pai pela qual concebemos Deus de representações inadequadas d As projeções religiosas fechadas conduzem à imagens inadequadas caracterizando a projeção indevida e Jung nessa direção em sua prática clínica considerando a imagem de Deus como o arquétipo modelar da psique declarou que somente obteve êxito terapêutico pela religação com o sagrado via acesso à psique e consequente sintonia entre consciente e inconsciente através de reconfiguração religiosa o que supõe valorização da história religiosa dos pacientes f A devida reconfiguração das imagens representativas do Sagrado em resumo segundo Jung foram fundamentais nos processos terapêuticos que orientou Vivência Religiosa e Afetos O teólogo Jung Mo Sung situa a vivência religiosa na esfera da existência humana onde moram todos desejos e esperanças que nos movem levam à transcendência e sustentam nossas vidas De fato o núcleo de sentido presente na experiência do Sagrado nos envia na história ao encontro com os outros com a natureza e com o Sagrado Deus Absoluto Encontro marcadamente ético que nos tornando responsáveis pela criação nos envia ao Totalmente Outro Desde o encontro com o Sagrado descobrimos a dimensão do cuidado e da ternura para com todos seres nossos irmãos com os quais compartilhamos a casa planetária e o universo Os tus humanos são mediação ao Tu Eterno Com Martin Buber aprendemos que o encontro com o Tu Eterno é mediado pelo encontro com os tus humanos e com toda criação Cf BUBER em Eu e Tu A vivência religiosa autêntica é portanto experiência do encontro que liberta humaniza e responsabiliza O amor a Deus ensina Jesus de Nazaré supõe o amor ao próximo cuidado acolhida atenção ver pergunta de Jesus ao doutor da lei quem foi próximo Resposta o Samaritano e não o levita ou o sacerdote Imagens adequadas do Sagrado É mais fácil descrever as imagens inadequadas do Sagrado do que descrever o Sagrado com imagens adequadas Ouvimos por exemplo Não faz isso que Deus castiga Ora Deus se Deus é o Sumo Bem sua justiça é amor logo não castiga tampouco é juiz implacável Nessa direção seguem alguns exemplos de imagens que nos aproximam do Sagrado desde concepção que apreciamos como adequada a Deus como Pai e Mãe b No cristianismo Jesus revela o Rosto do Pai fala com autoridade do Pai mas chama os discípulos como amigos Jo 1514 se considera Servo Jo 13 14 Revelase no partir do Pão aos discípulos de Emaús c As palavras e gestos de Jesus aproximam e libertam descontroem barreiras e muros entre pessoas eliminam medos convidam assumir a existência com responsabilidade permitem perceber o outro como próximo O Deus anunciado por Jesus não exige sacrifícios sua proposta supõe livre adesão não é motivo de temor ou alienação Revelase na solidariedade na acolhida dos frágeis na denúncia das estruturas religiosas opressoras Imagens do Sagrado d Encontramos no Antigo testamos inúmeras tentativa de enunciar Deus Sagrado i Iahweh Deus revelase a Moisés Eu sou no sentido de Agir Vi a miséria de meu povo e desci para libertálo ii Rocha Ex 17 17 iii Luz Sl 27 1 d iv Pai Sl 89 27 Isaias 63 16 v Mãe dos Filhotes Sl 91 4 Comparar com Isaias 31 5 vi Esposo Isaias 54 5 vii Pastor Sl 23 1 viii Orvalho Oséias 14 6 e Nas Tradições Orientais O Absoluto é o Céu O Tao é o caminho que une Terra e Céu No Budismo Tibetano que não possui uma noção de Deus criador há a bela expressão Dharmakaya representado pelo azul profundo do céu que consiste na manifestação da verdade em forma absoluta para além da necessidade de discriminação em conceitos quem ingressa no Absoluto vive o pleno despertar No Hinduísmo aprendemos que Atman é Brahman o divino no ser humano é parte do Absoluto f Nas Tradições dos Povos Originários do Brasil nos diversos Mitos o Céu Deus deuses é na Terra que precisa ser protegida e cultivada Exemplo Ticunas fomos pescados por nossos pais nesse Igarapé pertencemos à Floresta pois nela fomos criados cf Livro das Árvores O que aprendemos Identidade afetos projeção indevida e imagens do Sagrado a Se a religiosidade necessita de mediações para ser vivenciada ressaltamos é sempre comunitária e na sua autenticidade afastase da fixação nas mediações distanciase dos esteticismos rigorismos legalismo é sempre aberta relativiza as mediações prioriza a vida sobre a institucionalização das vivências b A vivência religiosa igualmente valorizando os estudos de Carl Gustav Jung possui uma dimensão inconsciente dáse na vivência simbólica pode entretanto desvincularse de uma experiência afetiva aberta ocultando inclusive emoções não trabalhadas adequadamente Nessa direção a releitura da história religiosa das pessoas é importante no processo de reconfiguração da identidade c Muitas vezes as pessoas amadurecem científica e profissionalmente mas permanecem com imagens regressivas do Sagrado Há portanto projeções inadequadas que precisam ser superadas na reconfiguração do self d A identidade o si mesmo necessita investigarse auscultarse A libertação de imagens religiosas opressivas ou inadequadas é importante nesse processo pois implica em reconciliação aceitação se si mesmo crescimento pessoal O Sagrado ou Deus como nos ensina Jesus o Rosto do Pai é amigo próximo revelase na proximidade no partir do pão Há duas belas imagens Deus não é o trovão mas a brisa mansa Deus é tal qual a ave que protege sob suas asas seus pintinhos Deus enfim é quem liberta os frágeis viúva órfão estrangeiro escravo dos opressores O Sagrado ou Absoluto nos permite ver abrangentemente e nos tornando melhores A tarefa das religiões que justifica a sua existência não obstante contradições inerentes à vida humana é possibilitar a transcendência o encontro com o Sagrado que torne as pessoas melhores Desmitologização e a mitificação da Técnica Moderna a Segundo Carl Gustav Jung substituímos o legado da Tradição considerando a racionalização excessiva presente em nossas vidas pelo culto aos resultados da ciência aplicada e que servem à sociedade tecno mercantil b O processo de desmitologização que implica em carência hermenêutica conduz como vimos aos novos mitos remitologização culto ao progresso pelo progresso aos utensílios tecnológicos à compreensão equivocada de uma ciência que nos oferece certezas incontestáveis à racionalização do cotidiano o que conduziria à ruptura entre as dimensões consciente e inconsciente da psique Perdemos os símbolos que em sua originalidade permitem equilíbrio entre afetos e razão c Como responder aos desafio de nossos tempos Vivendo em sociedades nas quais as relações são mediadas por mídias eletrônicas nas quais o tempo do faceaface é sequestrado Se já nem há tempo para pensarmos sobre o tempo Se o tempo da existência kairós tempo oportuno da presença é sequestrado pelas reivindicações do tempo informático Pelo culto ao tecnomercantil Pela eficiência medida em produtividade segundo exigências da tecnoburocracia Pensar a Técnica e valorizar os Símbolos a É preciso segundo Martin Heidegger afastarse da Técnica moderna para pensála Redescobrir o tempo de ser que é o tempo do cuidado prestar atenção em si darse conta da vida vivida no mundo abrirse ao outro b Se a vivência simbólica segundo Jung é vital ao reconhecimento de si mesmo via acolhida e reconhecimento do outro revisitemos a herança das Tradições que através de Mitos e Símbolos nos convidam a pensar c Carl Gustav Jung descrevendo a função transcendente afirma que é possível atualizar os arquetipos herdados no processo de evolução psíquica vivenciados nos símbolos retornando aos símbolos e mitos da Tradição Nessa perspectiva o psiquiatra e fundador da Psicologia analítica estudou extensiva e profundamente a herança das Tradições do Ocidente e Oriente e dos Povos Originários d Há muito o que aprender se exercermos o processo hermenêutico acolhendo o legado das tradições estudandoo interpretandoo atualizandoo O que precisamos nesse contexto cultivar a O exercício hermenêutico pelo qual acolhemos e interpretamos os símbolos e mitos sem os esgotar mas valendose de recursos científicos os atualizamos e vivemos b O diálogo entre pessoas que cultivam as diferentes Tradições portadoras de diferenças mas de um legado ético e existencial comum c Na tarefa de resgate dos símbolos e mitos todos as estão incluídos crentes e não crentes pessoas de todas as formações em diálogo d Podemos pensar em uma espiritualidade secular Creio que sim Exemplo Jean Paul Sartre escreveu o existencialismo é um humanismo bem como refletiu sobre contribuições do judaísmo na humanização das sociedades Erich Fromm igualmente em toda obra de divulgação de sua Filosofia e Psicologia valorizou e analisou o legados das Tradições religiosas Espiritualidade valorizando e atualizando a tradição é em cada um a e para todos as Mente Alerta A Grande Onda de Kanagawa 18301831 Xilogravura do Mestre Japonês Hokusai a Viver o presente concentrase nas coisas a fazer acolher o outro deixarse acolher enviarse Ser presente no que sou faço nas relações b Respirar espirar evitar flutuações mentais permitirse vivências simbólicas c Meditar Ser presente a si acolhendo o mundo e o outro Simples Sim mas complexo pois exposto a n estímulos é por vezes difícil retornar a si mesmo no processo de acolhida da vida d Mas é possível e necessário É preciso começar passo a passo Caminhando sentados presentes nas tarefas que realizamos evitando as flutuações mentais concentrado no que realmente é importante ser presença vivendo o kairós ou tempo da presença Comecemos Espiritualidade é em cada um a e em todos as e nos conduz à serenidade e responsabilidade Vivência Simbólica mente alerta Um exemplo em A Alegria dos Peixes Thomas Merton em A Alegria dos Peixes In A via de Chuang Tzu Vozes convida a prestarmos atenção à totalidade que nos envolve ao essencial à espontânea manifestação da vida Chuang Tzu e Hui Tzu Atravessavam o Rio Hao Pelo açude Disse Chuang Veja como os peixes Pulam e correm tão livremente Isto é a sua felicidade Respondeu Hui Desde que você não é um peixe Como sabe O que torna os peixes felizes Chuang respondeu Desde que você não é eu Como é possível que saiba Que eu não sei O que torna os peixes felizes Hui argumentou Se eu não sendo você Não posso saber o que você sabe Daí se conclui que você Não sendo peixe Não pode saber o que eles sabem Disse Chuang Um momento Vamos retomar a pergunta primitiva O que você perguntou foi Como você sabe O que torna os peixes felizes Conheço a alegria dos peixes No Rio Através de minha própria alegria à medida Que vou caminhando no mesmo rio Qual é a possível mensagem Os versos através de paradoxos convidam a sentir e acolher antes de definir classificar exercer a posse mental sobre o que se mostra à existência Chuang experimenta a alegria dos peixes através da própria alegria Há superação da convencional oposição entre sujeito quem conhece e coisa conhecida possuída pela mente via acolhida do que se mostra originariamente A vacuidade vazio ou abertura da mente aos fenômenos permite o apresentarse originário das coisas doando como dizíamos sentido à existência No evento poético narrado podemos inferir acontece vivência simbólica que supera a dissintonia acontece a sintonia entre as dimensões consciente e inconsciente da psyché tãoimportante à vida mental satisfatória e rica de significados Materiais simbólicos A vivência simbólica vital ao equilíbrio da Psyché não acontece apenas em templos nos quais o Sagrado penetra o mundo o profano Os astros os elementais as situações da vida carregam potencial de vivência simbólica O que significa por exemplo para mim o nascer do Sol frente o Mar o poente frente o Guaíba a aurora desde uma montanha o céu estrelado em uma noite clara a água que acalma a sede e cura o fogo que aquece a escuridão que convida à intimidade Os elementais os astros os acidentes geográficos os vegetais e até animais são capazes de revelar conteúdos simbólicos se contemplados com interesse intencionalidade e abertura Como nos versos de A Alegria dos Peixes somos capazes de vivenciar Conhecer a si mesmo Quem sou O conhecimento de si é mediado pelo reconhecimento do outro a Sócrates inaugurou no Ocidente a pesquisa por si mesmo Quem sou Não sei É preciso pesquisar Somente sei que nada sei Por isso foi considerado pelo Oráculo de Delfos o cidadão mais sábio de Atenas o que despertou animosidades contra o Mestre de Platão A mesma motivação encontramos nos 13 Livros de As Confissões de Santo Agostinho quem sou não sei ajudame Senhor tu que conheces melhor a mim do que me conheço e sou sincero nessa pesquisa É preciso coragem para investigar a si mesmo Quem sou Não é o resultado da soma de tarefas que executo Sou alguém e preciso conhecer a mim mesmo b O movimento de conhecimento de si mesmo contudo sempre supõe habitar conscientemente o mundo vivendo o tempo da presença e sobretudo reconhecer o outro na sua distinção ou singularidade destacando sua pertença cultural e religiosa e como quebra nossas referências Acolher o outro Tarefa nem sempre fácil pois antes de acolher muitas vezes o julgamos sem permitir que se apresente Sobretudo quando nos encerramos através das facilidades eletrônicas em nós mesmos evitando o faceaface Somos capazes de superar uma primeira impressão do outro Acolher o outro supõe libertarme de préconceitos exige atividade intelectual exercício do pensamento e abertura afetiva pela qual crescemos como pessoas e ampliamos nossa visão de mundo Pensar significa parar Fazer silêncio Prestar atenção Controle o impulso de julgar precipitadamente Pesar as possibilidades Aprofundar nas coisas com racionalidade e da empatia Pensar é difícil é por isso que as pessoas preferem julgar In httpswwwgetpersonalgrowthcomptpensaredificilporissoaspessoaspreferemjulgar Acesso em 16062022 Como o que estudamos na presente aula e nessa unidade me auxiliam no constante e interminável processo de conhecimento do si mesmo Espiritualidade é para cada um a e para todos as e supõe a pergunta pelo conhecimento de si via reconhecimento do outro O que aprendemos Foto Edson Boff São Gabriel da Cachoeira a No percurso realizado examinamos as diferenças entre religiosidade e religião verificamos que as mediações da religião não são fins em si mesmas que precisamos conhecer nossa história religiosa pertençamos ou não à uma comunidade religiosa creiamos ou não pois há uma história familiar e social uma pertença cultural b Verificamos que nos tempos de hegemonia da Técnica Moderna é preciso retornar e valorizar símbolos e mitos da Tradição pois permitem a superação da dissintonia da psique e contato com a vida vivida no tempo da presença As vivências simbólicas segundo Jung valorizando os equipamentos da psique permitem gradativo conhecimento de si e vida emocional equilibrada c Aprendemos que as religiões somente cumprem não obstante a finitude humana e as contradições das práticas sua tarefa quando são mediações que conduzem ao conhecimento do mundo e à ciência de si via reconhecimento do outro Se as práticas religiosas oscilam entre autenticidade e inautenticidade como vimos o horizonte ético e a justificativa da existência das religiões é a autenticidade são mediações ao conhecimento de si via reconhecimento da dignidade do outro d Permanece a pergunta quem sou É a pergunta pelo si mesmo que supõe pesquisa de minha pertença ao mundo e reconhecimento do outro Nessa direção é importante indagar procuro viver o momento presente Sendo presente nas atividades que executo e nas relações que mantenho com o mundo e sobretudo com as outras pessoas Permitome acolher a vida sem evasões e barreiras Espiritualidade é para cada um a é para todos as
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Ética e Espiritualidade Aula 2 Espiritualidade e reconhecimento do outro Espiritualidade e reconhecimento do outro Aula 2 Módulo 1 Espiritualidade e Linguagem O que é Linguagem Diferentes Linguagens em diálogo O pensamento que medita e o pensamento que calcula O que você vai aprender nessa aula 1 As relações entre linguagem cultura religiosidade e espiritualidade 2 Ser humano as múltiplas dimensões do humano e as manifestações culturais através da linguagem 3 Linguagem base arquitetônica da cultura 4 Espiritualidade e abertura ao outro cultural e religioso através dos Mitos Linguagem modo de sernomundo Mitos Símbolos e Ritos Caminhos para compreendermos nossa situação no mundo Não se opõem à vida na sua concretude mas a significam Carência hermenêutica Indiferença Literalismo perdemos a mensagem Hermenêutica acolhemos e interpretamos os mitos O que é Mito O que é Símbolo O que são ritos Contudo o Mito precisa ser interpretado Precisamos de recursos para os acolher e aprender com os Mitos Problema carência hermenêutica e literalidade Cultura segundo Edvino Rabuske Cultura em primeira definição é toda ação consciente realizada pelo ser humano sobre a natureza alheia que resulta na transformação de sua própria natureza como indivíduo e espécie Nãoespecializado plástico o homem pelo trabalho precisa cultivar o meioambiente obtendo assim sua sobrevivência Setores da Cultura Ser multidimensional o ser humano expressa através da cultura e dos seus setores o que é Exemplo ser de necessidades precisa cuidar da Casa Comum e produzir os bens necessários à sobrevivência A economia é um setor da cultura Assim como ser social a política em sentido amplo é um setor da cultura Os diversos setores da Cultura se interrelacionam Linguagem e Religião O ser humano ser em processo de transcendência descobre na religiosidade uma das múltiplas dimensões A religiosidade manifestase através da religião mediação um dos setores da cultura Ora a Linguagem segundo Cassirer é a base da Cultura A linguagem da Religião é o Mito O que isso significa O que é linguagem Verificaremos a resposta de Ernest Cassirer É a base arquitetônica da Cultura As diferentes Linguagens e a remitificação As linguagens para superar conflitos precisam dialogar Fenômeno Contemporâneo a racionalização o sequestro dos Mitos e a remitificação O ser humano enquanto seraínomundo é um serdecultura Ao largo da história humana em todas as regiões habitadas pelo homem encontramos sinais da cultura A cultura é aquilo que nos constitui une e diferencia como humanos O que é a cultura É uma das perguntas mais difíceis de responder Seguem alguma tentativas de respostas Cultura nãoespecialização e Linguagem Proposicional a O ser humano é um ser não especializado mas dotado de uma plasticidade pode ser moldado pela cultura Por plasticidade entendemos o inacabamento devido ao nascimento precoce Portmann que permite que o indivíduo humano via ensaio e erro aprendizagem seja moldado pela cultura uma segunda natureza que o envia para além do biológico Somos desde a herança fisiológicocorporal e comportamental resultado da cultura recebida passivamente em um primeiro momento mas com o tempo ativamente pois poderemos contribuir em graus distintos à alteração de padrões culturais b Pelo trabalho empreendimento social e consciente o homem cria sua própria natureza humanizando a natureza externa Ser gregário portador de inusitada capacidade comunicativa o homem pode antecipar o resultado de suas ações e cultivando e transformando a natureza adquirir uma segunda natureza a cultura c O biólogo alemão Uexküll considerava que todos os organismos vivos únicos no modo de relação com o ambiente são portadores de um círculo funcional Todo círculo funcional é composto por um sistema de recepção de estímulos e de reação aos mesmos A linguagem proposicional existe na base de complexa classificação de sons formando palavras frases discurso ordenado por regras fonéticas gramaticais e semânticas Quando o ser humano fala portanto propõe logicamente um conteúdo a ser decifrado mentalmente apto a ser compartilhado A linguagem proposicional valese de símbolos Enquanto os sinais são físicos materiais e imediatos os símbolos são funcionais abstratos universais e aplicáveis às diversas coisas ou situações A capacidade de simbolizar ou seja de nomear o mundo caracteriza a linguagem humana O exercício da linguagem é a base da inteligência teórica especificamente humana possibilitando a capacidade de contemplar as coisas situandoas organizativamente no mundo E se inteligência prática compartilhada com outros animais permite solucionar problemas relacionados à sobrevivência a inteligência teórica possibilitada via linguagem simbólica caracterizaria especificamente o homem O homem segundo Cassirer já não vive em um mundo físico mas em um mundo simbólico construído pela imaginação e pela inteligência simbólica A Linguagem Simbólica ou Proposicional O ser humano segundo Cassirer alterou nãoapenas quantitativamente o círculo funcional mas também qualitativamente pois entre a recepção do estímulo e a resposta encontramos um complicador ou seja a reflexão A reflexão é possibilitada pela função simbólica ou linguagem Os outros animais contudo não atingiram também a linguagem simbólica Somente o ser humano haveria qualificado seu círculo funcional ao ponto de retardar ou até não responder ao estímulo externos Se compartilhamos com os outros animais a linguagem das emoções e a linguagem prática s linguagem proposicional é própria apenas dos seres humanos Segundo Cassirer sim Em primeiro lugar porque o ser humano além da linguagem das emoções alcançou o extrato da linguagem proposicional A linguagem das emoções compartilhada com outros animais é linguagem corporal caracterizada pela pantomima um teatro gestual que usa pouquíssimas palavras e muitos gestos através da mímica e emissão de sons aleatórios Já a linguagem proposicional própria do ser humano permite nomear as coisas e vivências significar o mundo A linguagem ou função simbólica é equipamento da mente humana que permite sofisticada comunicação organização simbólica do espaço vital estando na base da cultura Essa capacidade é atualizada pela aprendizagem de uma determinada língua através da fala pelo ingresso numa determinada cultura Nessa perspectiva para Ernst Cassirer a linguagem a capacidade de nomear as coisas é a base arquitetônica da cultura Cassirer afirma O homem é mais que um animal racional é um animal simbólico CASSIRER Ernst Antropologia Filosófica São Paulo Mestre Jou 1977 P 4545 Exemplo Caso Helen Keller Formada em Filosofia Escritora Era cega e surda Tornouse líder de pessoas portadoras de deficiência Como aprendeu a ler Quando teve acesso aos símbolos Em 3 de março de 1887 antes de completar sete anos de idade passou a contar com a ajuda da professora Anne Sullivan que foi contratada pela família e passou a morar em sua casa Quando descobriu a funcionalidade das palavras símbolos ingresso no mundo na cultura O CASO HELEN KELLER Para comprovar sua tese Cassirer em Antropologia Filosófica relatanos o caso de Helen Keller baseandose no diário de sua professora a senhora Sullivan Helen Keller menina extremamente inteligente era cega e surda Isolada na escuridão de seus dias através de técnicas especiais teria aprendido com sua mestra o alfabeto manual que até o caso que será relatado utilizava mecanicamente Numa manhã enquanto se lavava revela Sullivan Helen quis saber o nome correspondente à água water A professora tendo soletrado água conta não teria pensado mais no assunto Após o café foram à casa da bomba onde Sullivan soletrou na mão de Helen enquanto a água lhe escorria sobre a mão a palavra água Inesperadamente a menina associou a palavra ao objeto tendo aprendido que todas as coisas têm um nome A partir daquele momento perguntava o nome de todas as coisas tendo adquirido rapidamente um grande vocabulário Helen de fato atualizou a função simbólica aprendeu a comunicarse ingressando assim no mundo da cultura Seu rosto iluminado pelas descobertas realizadas naqueles dias gradativamente segundo Sullivan se tornava mais humano mais expressivo Helen após aprender braile tendo realizado estudos preliminares cursou universidade escreveu livros e inclusive aprendeu falar utilizando os órgãos fonadores mesmo que não pudesse escutar as palavras proferidas A linguagem ou função simbólica é um equipamento da mente humana que permite sofisticada comunicação organização simbólica do espaço vital estando na base da cultura Essa capacidade é atualizada pela aprendizagem de uma determinada língua através da fala pelo ingresso numa determinada cultura O exemplo citado por Cassirer pensamos confirma a importância da cultura na constituição do humano enquanto essa segunda natureza adquirida Palavra Mito Símbolo e Rito a Cultura é o resultado da ação que ao transformar a natureza externa modifica o ser humano individual e socialmente Cultura é a obra humana Linton b A base da Cultura é a Linguagem Simbólica ou proposicional Cassirer c A cultura segunda natureza adquirida não apensas insere o ser humano no espaço mas também no tempo O ser humano serdecultura habita o mundo e ao cultiválo forma a si mesmo Tornase responsável pela habitabilidade do mundo d A religião é um dos setores da cultura O Mito é a linguagem da religião SERENIDADE O homem atual está pois em fuga do pensamento entrementes paradoxalmente nega essa fuga Dirá com plena razão que vivemos num período de realizações formidáveis avanços sequer sonhados pelos nossos antepassados São tantas as pesquisas em andamento são tantas as descobertas e aplicações que apaixonadamente somos tentados a negar a fuga do pensamento Sem dúvida esse dispêndio de sagacidade e reflexão foi muito útil Entretanto não é o pensamento operativo que negamos O pensamento que calcula capaz de medir e projetar apto em dominar preditivamente as forças ocultas da natureza transformando todas as coisas em objetos úteis e mercantilizáveis é cotidianamente louvado Todavia não é a única forma de pensar Existe outro tipo de pensamento o pensamento que medita que indaga pelo sentido das teorias conceitos e práticas O pensamento negligenciado portanto não é o pensamento que calcula mas o pensamento que medita Existem pois duas formas de pensamento igualmente importantes o pensamento que medita e o pensamento que calcula Entretanto o pensamento que calcula efetivamente não exerce a atividade do pensamento em caráter estrito pois não pergunta pelo sentido não permanece junto às coisas acolhendoas em sua manifestação originária O pensamento que calcula ao representar esquematicamente as coisas as esvazia de conteúdo obstaculizando assim a relação do homem com o mundo Esse pensamento útil e operativo sobretudo é incapaz de pensar a si mesmo de indagar a si mesmo Martin Heidegger em SERENIDADE Gelassenheit Sobre o uso prudente dos utensílios técnicos SERENIDADE Nesse sentido o poder oculto da técnica moderna determina a relação do homem com tudo aquilo que existe A natureza transformada num único posto de abastecimento gigantesco está a serviço da técnica e indústria moderna8 Exemplo da operatividade e capacidade de intervenção do pensamento que calcula é o domínio da energia atômica9 Mas o que realmente nos preocupa Diante da bomba atômica que poderia um dia varrer a vida humana da face da terra o que nos causa apreensão é nosso despreparo para lidar com a quantidade gigantesca de informações e possibilidade proporcionadas pelos avanços tecnológicos No entanto o que é mais inquietante não é o fato de o mundo se tornar cada vez mais técnico Extremamente perturbador é o fato de o homem não estar preparado para essa transformação do mundo é o fato de ainda não conseguirmos através do pensamento que medita lidar com aquilo que está a emergir10 O pensamento que medita exige que não permaneçamos presos unilateralmente a uma representação que não continuemos a correr em sentido único na direção dessa representação do mundo e do homem justificadora do poder do pensamento instrumental O pensamento que medida exige que perguntemos pelo sentido da técnica e sobre a legitimidade de sua onipresença em nossas vidas Afinal se não podemos viver com a técnica e paradoxalmente não podemos viver sem ela qual seria o modo de relação adequado com os objetos técnicos Podemos utilizar os objetos técnicos mas ao utilizálos permanecer livres deles Podemos utilizar os objetos técnicos tal como devem ser utilizados Podemos utilizálos com liberdade sem nos tornarmos seus escravos Podemos dizer sim e não aos objetos técnicos impedindo que nos absorvam11 e desconstituam nossa relação responsável com o mundo Se dissermos sim e não aos objetos técnicos usandoos prudentemente nossa relação com o mundo tornarseá tranquila Deixemos os objetos técnicos entrarem em nosso mundo cotidiano e ao mesmo tempo os deixemos fora ou seja permitamos que repousem em si mesmos Martin Heidegger em SERENIDADE Gelassenheit Sobre o uso prudente dos utensílios técnicos SERENIDADE Espiritualidade e sentido exercer o pensamento que medida A atitude frente os objetos técnicos dizer sim e não denominemos serenidade para com as coisas12 Todavia se ainda não compreendemos o poder oculto da técnica é necessário indagar pelo sentido do fazer técnico e aprender a lidar inteligentemente com os utensílios técnicos13 A serenidade em relação às coisas e a abertura ao mistério asseguram perspectiva de novo enraizamento que permitirá existir com responsabilidade que evitará transferirmos à técnica nossa comum tarefa de habitar o mundo Permanece entretanto um perigo No que consiste tal perigo De acreditarmos que o único pensamento legítimo capaz de responder às questões humanas é o pensamento que calcula Contudo em todos os lugares convidemos à reflexão pois somente o pensamento que medita é capaz de dar conta do sentido inclusive do significado implicitamente aceito de que a técnica moderna é o único lenitivo aos problemas do homem Exerçamos então o pensamento na sua essência insistindo e pergunta pelo sentido radical de todas as coisas Martin Heidegger em SERENIDADE Gelassenheit Sobre o uso prudente dos utensílios técnicos Pensamento que calcula e pensamento que medita a Há dois pensamentos Precisamos de ambos Contudo somos indigentes de pensamento Por que somos pobres de pensamento E negamos essa indigência Ora dispomos de tantos recursos tecnológicos que facilitam a vida Negligenciamos o pensamento que medita O pensamento que medita indaga pelo sentido dos recursos que se nos são oferecidos pelas ciências aplicadas b O que fazer com todas as possibilidades inauguradas pela Técnica moderna Se renunciamos tantas vezes à reflexão ao pensamento em sentido estrito No que consiste o desafio que vivemos Frente o enigma não podemos viver sem a Técnica mas ainda não aprendemos a lidar adequadamente com ela é preciso superar esse despreparo o que nos convida a pensála Frente o perigo contudo há a salvação segundo o poeta alemão Hölderlin Lá aonde persiste a reflexão surgem respostas O pensamento que calcula não é o único legítimo Há o pensamento que medita e que precisa ser cultivado para recuperarmos o protagonismo frente à Técnica moderna e conferirmos sentido à vida sendo capazes de nos destinarmos na direção do cuidado c Nessa direção os mitos como a poesia e as artes em geral podem nos ajudar a pensar a condição humana Há muitos aprendizados quando refletimos sobre o legado míticoreligioso multimilenar e que nutre até os presentes dias a Filosofia as Tradições Religiosas e até as ciências Desafio Compreender as múltiplas linguagens que tecem a existência a O grande desafio é compreender as múltiplas linguagens que tecem a existência humana Há âmbitos da existência que solicitam linguagens distintas a compreensiva e a explicativa Precisamos distinguir valorizar e compreender sem sobrepor as diferentes linguagens que permitem ao ser humano existir com significado aínomundo b Linguagens da experiência linguagem compreensiva linguagem que indica ou toca no sentido linguagem explicativa linguagem que explica os fenômenos que procura dar conta de como o mundo funciona segundo certo modelo filosófico ou científico c Ao desconsiderar o Mito reduzindoo à mera explicação mágica ou procurando esgotálo por meio de interpretações racionalizantes acabamos por não reconhecer sua importância âmbito linguístico específico e lugar na existência humana ESPIRITUALIDADE E LINGUAGEM RELIGIOSA A proclamação da mensagem religiosa segundo Jean Ladrière é um procedimento existencial total Pelo qual aquele que crê assume de certo modo novamente como que pela primeira vez a mensagem proclamada No que consiste o essencial da fé Poderíamos dizer que se trata de uma operação do coração pois a existência inteira se assume se arrisca e se decide E porque palavra do coração a palavra da fé é sempre e ao mesmo tempo compreensão e incompreensão de si mesma e do Mistério Nesse sentido a compreensão própria da fé é um processo infinito pois as clarezas que proporciona não passam jamais de indicações das clarezas que haverão de vir A palavra da fé logo é vinculada a esperança acesso ao sentido do que vivemos mas ainda não vimos Contudo a fé atitude não é adesão ao irracional mas ao Mistério O Mistério não é o irracional mas o que não pode ser condensado pela linguagem lógica A razão é também afeto acolhe via coração o sentido o sagrado o mundo o outro A Fragmentação do sentido As ciências pela gradativa separação da Filosofia e esquecimento do pensamento que medita caminharam rumo à afirmação delas próprias justificando seus objetos e domínios Contudo dificilmente conversam entre si A Filosofia as Artes as Tradições Religiosas e a Teologia estariam preparadas a dialogar com as ciências Aprender com elas Ou o projeto das ciências e da tecnologia exclui o polo do sentido lugar próprios dessas últimas Eis um desafio Pensamos que estão a caminho do diálogo Algumas inferências a partir de Jean Ladrière e de Martin Heidegger Percebemos que a razão redescobrindo a finitude da vida humana dáse conta dos seus limites e se abre ao mundo através da pluralidade de possibilidade que as linguagens oferecem Para além da linguagem operativa e manipuladora de um tipo de ciência e filosofia que estamos acostumados a exercitar contudo existe o pensamento que medita O pensamento que medita no silêncio desde o nada ou aberto que é o seraínomundo ser humano convocado a destinarse poderá acolhe o ser na sua doação original pois é clareira lugar da luz Poderá responder assim à convocação da palavra que revela e oculta o Sagrado Sentido Responderá ao apelo do Sagrado recusando a tentação da representação da manipulação conceitual porque sabe que as explicações fáceis são arbitrárias e desconstituem o mundo da vida lugar da manifestação da vivências originárias Na atitude de abertura e respeito ao Sagrado há espaço à inteligibilidade da fé crer fornecendo razões creio porque razoável atitude compreendida como inteligibilidade do coração Tal afirmação indubitavelmente convoca ao pensar LEITURA COMPLEMENTAR HINRICHSEN LE Resenha In HEIDEGGER Martin Serenidade Lisboa Instituo Piaget 2000 VerlagGünter Neske Pfullingen 1959 Discurso proferida pelo filósofo por ocasião da homenagem ao seu conterrâneo o músico Conradin Kreutzer Ética e Espiritualidade Aula 2 Espiritualidade e reconhecimento do outro Espiritualidade e reconhecimento do outro Aula 2 Módulo 2 Espiritualidade e Linguagem O que é Linguagem Mitos Símbolos e Ritos O que você vai aprender nessa aula 1 As diferentes linguagens conflito ou carência de diálogo 2 Espiritualidade símbolos e Mito Linguagem da Religião 3 Racionalização desmitologização e remitologização 4 Diálogo hermenêutico para além dos literalismos e da indiferença a mensagem dos Mitos podem e devem enriquecer nossas vidas Exemplo a releitura de Platão do Mito de Prometeu O Livro das Árvores do Ticuna 5 Hermenêutica e revalorização do Mito e das suas mensagens Linguagem modo de sernomundo Mitos Símbolos e Ritos Caminhos para compreendermos nossa situação no mundo Não se opõem à vida na sua concretude mas a significam Carência hermenêutica Indiferença Literalismo perdemos a mensagem Hermenêutica acolhemos e interpretamos os mitos O que é Mito O que é Símbolo O que são ritos Contudo o Mito precisa ser interpretado Precisamos de recursos para os acolher e aprender com os Mitos Problema carência hermenêutica e literalidade A linguagem ou função simbólica é equipamento da mente humana que permite sofisticada comunicação organização simbólica do espaço vital estando na base da cultura Essa capacidade é atualizada pela aprendizagem de uma determinada língua através da fala pelo ingresso numa determinada cultura Nessa perspectiva para Ernst Cassirer a linguagem a capacidade de nomear as coisas é a base arquitetônica da cultura Cassirer afirma O homem é mais que um animal racional é um animal simbólico CASSIRER Ernst Antropologia Filosófica São Paulo Mestre Jou 1977 P 4545 Exemplo Recordando o Caso Helen Keller Formada em Filosofia Escritora Era cega e surda Tornouse líder de pessoas portadoras de deficiência Como aprendeu a ler Quando teve acesso aos símbolos Em 3 de março de 1887 antes de completar sete anos de idade passou a contar com a ajuda da professora Anne Sullivan que foi contratada pela família e passou a morar em sua casa Quando descobriu a funcionalidade das palavras símbolos ingressou no mundo na cultura A Linguagem da Religião é o Mito O mito via narrativa conduz ao desconhecido que passa a ser reconhecido pelas mediações da Linguagem O Mito por sua vez é tecido pelos símbolos Mas o que é realmente um símbolo Conforme reflete Martin Heidegger em Carta sobre o Humanismo se a Linguagem é Casa do Ser e o homem habita essa casa logo é preciso exercer o cuidado para com a palavra Há muitas palavras palavra coloquial dita entre amigos e pela qual nos enviamos ou nos encontramos palavra da poesia e da arte que permite viajar sondar os limites e possibilidades da vida palavra da lei que solicita obediência palavra da filosofia que via conceitos indaga pela verdade das coisas palavra da ética que convoca à realização do bem palavra da ciência que é a posse intelectual dos fenômenos captados como objetos palavra que toca o mistério que liga às origens que oportuniza comunhão com o Sagrado A palavra que toca o mistério nos envia além das expressões lógicoformais mas é o símbolo porque permite transcender e comungar com o sentido que une todas as coisas Mistério não é o irracional mas é o que não cabe na linguagem predicativa ou representativa é o que nos envia para além da própria linguagem Símbolos e Mito a Símbolo do grego symballo por junto é o que reúne como por exemplo um artefato de cerâmica partido Reunidas as partes do artefato ocorre o reconhecimento Símbolo identifica via ligação das partes une conhecido e desconhecido envia ao mistério Une o existente finito ao Sagrado O símbolo sempre é composto une o visível ao invisível o presente ao ausente o agora ao passado ou ao futuro Podemos dizer que o símbolo é também uma ponte pois permite a passagem para um outro nível de comunicação b Pela narrativa os símbolos abrem o indivíduo ao Mistério aquilo que não pode ser possuído pela mente ou exaurido pela linguagem predicamental ou representativa Segundo Paul Ricouer filósofo hermeneuta a metáfora dá o que pensar acrescentamos o símbolo dá o que pensar O símbolo na narrativa mítica oportuniza que se possa ultrapassar as barreiras dos conceitos e definições oportunizando encontro com a unidade de significados que enlaça homem mundo Sagrado c O Mito tecido de Símbolos linguagem da experiência religiosa pode ser interpretado mas não poderá ser esgotado pois sempre permanecerá o insondável para o qual nos envia O Mito ao responder às questõeschave da existência ao abordar as situações limite dá conta do não objetificável Precisamos do Mito tal qual da água num dia quente de verão após exaustiva caminhada Os que já não vivem inseridos do Mito precisam interpretálo compreendêlo sem esgotálo Tal qual o Símbolo o Mito dá o que pensar O Mito é o relato de um acontecimento originário no qual Deus ou deuses agem e cuja finalidade é conferir sentido à realidade significada Mito Símbolo e Rito Quadro Sinóptico Erich Bethe 1940 afirma que Mito Mythus lenda Sage e conto Märchen diferenciamse entre si por sua origem e finalidade a O Mito é a Filosofia primeva a mais ampla forma intuitiva de pensamento uma série de tentativas de compreender o mundo de explicar a vida a morte o destino a natureza os deuses e o culto b A lenda é a história primitiva modelada ingenuamente em ódio e amor transformada e simplificada inconscientemente c O conto por sua vez surgiu da necessidade de diversão e serve para essa finalidade Por isso não transcorre nem em tempo e nem em lugar determinados considerando apenas a diversão e omitindo o incômodo segundo gosto do narrador Não é outra coisa senão a poesia a quinta essência de todas as obras fantasia da humanidade BETHE Erich Apud José Severino Croato In As Linguagens da Experiência Religiosa São Paulo Paulinas 2001 Dentre as classificações dos Mitos encontramos as narrativas sobre as origens como por exemplo a narração do Gênesis Os Mitos descrevem as origens são relatos sobre a criação ou organização do kosmos sobre o aparecimento dos seres humanos sobre o sentido da existência Os Mitos abordam assuntos fundamentais tais quais o amor o bem e o mal o destino da vida após morte a instituição de princípios éticos que unem comunidades Exemplos a O Livro das Árvores dos Ticunas Link httpslemadfflchuspbrnode3908 b O relato da criação dos seres humanos relido por Platão no diálogo Protágoras Prometeu o fogo e a arte da política Linkhttpsfilosofianaescolacomtextosdefilosofiaplataomitodeepimeteusobreacriacaodohomem c Antígona Tragédia grega de Sófocles lei positiva e lei religiosa até que ponto somos responsáveis por nosso destino Podemos culpar os deuses Segue breve apresentação Link httpswwwculturaanimicombrpostantigonadesofocles d A criação do mundo e dos seres humanos no poema do Gênesis ser humano administrador e participante da criação que continua no tempo Como interpretar o poema do Gênesis Mitos Símbolos Ritos No começo tudo se achava em estado de caos Da união de Caos com Gea A Terra nasceram Urano o Céu e Ponto o Mar De Gea e Urano nasceram os poderosos Titãs Gigantes e Ciclopes Temendo que os filhos lhe tirassem o poder Urano encerrouos num abismo sob a Terra mas um deles Cronos o Tempo os libertou destronou o Pai e se tornou o dono do mundo Cronos por sua vez foi destronado por seu filho Zeus Este lutou contra os Titãs venceos e se converteu no indiscutível soberano do universo ao qual dá harmonia e paz O primeiro homem Epimeteu foi feito de argila pelo Titã Prometeu Para darlhe a vida Prometeu teve a audácia de roubar o fogo do céu Zeus se enfureceu e o castigou acorrentandoo a uma rocha onde todos os dias uma águia ou um abutre lhe roía o fígado Zeus castigou os homens por meio de Pandora forjada por Hefestos à qual entregou uma caixa misteriosa que nunca deveria ser aberta Pandora muito curiosa abriu a caixa dela voaram imediatamente todos os males desgraças e sofrimentos que perseguem os homens No fundo da caixa porém ficou a esperança Apresentação esquemática do surgimento do kosmos dos deuses e dos seres humanos cf Teogonia de Hesíodo Por que Platão discordo do destino reservado aos seres humanos e a Prometeu RACIONALIZAÇÃO NEGAÇÃO DOS MITOS E REMITOLOGIZAÇÃO a Os que vivem no século XXI e convivem com os benefícios das ciências aplicadas entendidas por muitos como única fonte de respostas às inquietações humanas recriam o Mito A desmitologização dá origem a remitificação b Por desmitologização compreendemos a substituição dos Mitos da Tradição na medida em que já não mais vigoram por novos mitos como os mitos seculares Como exemplos do processo desmitologização destacamse culto ao cientificismo culto às ideologias políticas culto ao progresso culto ao bemestar material como fimemsimesmo Importante O cientificismo difere do exercício atento crítico e interrogante das ciências é crença no poder inquestionável das ciências aplicadas ou nos seus resultados inquestionáveis A desmitologização substitui os Mitos da Tradição por novos mitos na medida em que as Narrativas da Tradição não mais explicam a constituição do mundo c Primeiramente vamos distinguir os termos secularização e secularismo A secularização permitiu distinguir os âmbitos do religioso e de suas estruturas dos âmbitos da Filosofia e das ciências e seus objetos libertando o ser humano de fixações literais e mágicas A secularização não elimina o Sagrado da vida individual e pública O secularismo contudo ao dogmatizar explicações científicas e interpretações filosóficas é reducionista e fundamentalista Há dimensões da existência que solicitam diferentes linguagem que não podem ser superpostas embora devam escutarse mutuamente uma ação que se operacionaliza pelo diálogo entre áreas e disciplinas atitude que oportuniza nas situações de fronteira mútuoesclarecimento colaboração d Ciência não é opinião É conhecimento rigoroso É informação criticada que supõe experimentação revisão esforço coletivo e interdisciplinar As ciências que possuem uma história dialogam com a Filosofia e com os Mitos Sabemse em processo Ciência é tarefa inacabada examina constantemente a si mesma É humilde e possui uma história Supõe sublinhamos muito esforço No contexto contemporâneo está para além do legado do positivismo do século XIX e início do século XX Ciência não é opinião É conhecimento rigoroso É informação criticada que supõe experimentação revisão esforço coletivo e interdisciplinar As ciências que possuem uma história dialogam com a Filosofia e com os Mitos Sabemse em processo Ciência é tarefa inacabada examina constantemente a si mesma É humilde e possui uma história Supõe sublinhamos muito esforço No contexto contemporâneo está para além do legado do positivismo do século XIX e início do século XX COVID19 ciência não é opinião é conhecimento por Peter Schulz Link httpswwwunicampbrunicampindexphpjuartigospeterschulzcovid19ciencianaoeopiniaoe conhecimento CONFLITO ENTRE LINGUAGENS Ciência e Religião setores da cultura linguagens necessárias à vida a A tensão exacerbada que testemunhamos até meados do século XX e que ecoa em nossos tempos tem origem segundo Jean Ladrierè em um conflito de linguagens pois em muitas situações somente escutamos o que queremos escutar Jean Ladrierè propõe o diálogo entre as fontes da cultura Ocidental entre o Polo da Ciência e da Tecnologia e o Polo da Tradição ou do sentido Há distinção das linguagens mas também aproximação no tratamento das questõeslimite Se as ciências explicam não chegam às certezas incontestáveis pretendidas por Descartes bem como se a Tradição que inclui as religiões toca no sentido viabiliza a esperança precisa das ciências b Deveríamos falar de ciências no plural recuperando a noção de conhecimento rigoroso e integrativo e não de ciência apenas no singular pois são amplos e vastos os campos de observação e múltiplos os métodos Superar a unidade de métodos como já o concebia Roger Bacon no século XIII propor a multiplicidade de metodologias afirmar a finitude da razão assumir a tarefa infinita de procura da verdade valorizando o alerta de Edmund Husserl é sem dúvida antídoto ao negacionismo ao fundamentalismo ao exclusivismo e ao setorialismo c Nessa direção ao estudarmos as Tradições Religiosas e ao recuperarmos o sentido dos Mitos igualmente o recurso às ciências e renúncia aos exclusivismos é saudável Em um mundo plural frente a problemas variados e questões complexas devese valorizar a interdisciplinaridade a colaboração o diálogo que conduz até as abordagens complexas sistêmicas e integrativas Nenhuma área do saber deve deter o monopólio da verdade pois a descoberta do ser das coisas des velamento descoberta é tarefa intersubjetiva humilde e interminável Importante a mensagem religiosa através de símbolos e mitos não é resposta científica A mensagem sonda o sentido da existências Se as ciência explicam a Linguagem religiosa sonda o sentido da existência Compreensão e explicação a Linguagem compreensiva linguagem que indica ou toca no sentido Linguagem explicativa linguagem que explica os fenômenos que procura dar conta de como o mundo funciona segundo certo modelo filosófico ou científico b Ao desconsiderar o Mito reduzindoo à mera explicação mágica ou procurando esgotálo por meio de interpretações racionalizantes acabamos por não reconhecer sua importância âmbito linguístico específico e lugar na existência humana c O Mito então recordando renasce em formato secularista culto a um modelo de ciência reducionista apto a fornecer certezas incontestáveis sobre todos assuntos e dimensões da vida exaltação da razão que esquece a finitude e acredita na infalibilidade de suas asserções fixação em ideologias políticas veneração eou entusiasmo acrítico ao progresso Ilustra esse movimento a recusa ao diálogo a noção de que evidências científicas valem por si mesmas a crença de que o presente é sempre melhor do que o passado O RITO A CELEBRAÇÃO DO MITO a O Mito é revivido nos Ritos Pelos Ritos fazse memória de um evento primordial fundador inaugurador de novo modo de ser No Rito vivese comunitariamente a relação com o Sagrado Se o Mito é a Linguagem da Religião nos Ritos o Mito é celebrado b Na celebração do Mito dáse na condição finita temporal e peregrina a revelação do eterno Mitos e Ritos linguagem e presentificação ou visibilização do Sagrado via práticas religiosas é sempre experiência individual e coletiva O indivíduo ao abrirse ao Sagrado se une ao outro e ao mundo A vivência religiosa autêntica portanto é sempre comunitária convoca à responsabilidade Exemplo de Rito Vídeo Festa ritual Kuarup Celebra os mortos que são enviados para o mundo dos espíritos quando após os ritos e partilha de alimentos as Torás de Kuarup são jogadas na água pondo fim ao luto mas também há a integração entre os membros da família e tribo o vigor dos atletas e a integração das jovens à vida adulta Link O que é o Kuarup Vídeos e Texto Link httpswwwyoutubecomwatchvONybYpGGWHc Link httpswwwsignificadoscombrkuarup Link Texto ISA httpspibsocioambientalorgptPovoXinguOlongoritualdoKwarup A vida é penetrada por ritos a Rituais podem ser sagrados ou seculares Rituais seculares são aqueles do dia a dia e vinculados às nossas regras de etiqueta social por exemplo Rituais sagrados consolidam as ações do indivíduo em relação às suas crenças religiosas b São os rituais que possibilitam a passagem de status e de reconhecimento do indivíduo É por isso que boa parte dos rituais são conhecidos como Rituais de Passagem e estão diretamente atrelados aos fenômenos religiosos como é o caso dos momentos de nascimento casamento e morte ou da comemoração de festejos sazonais vinculados ao calendário e que se repetem ano após ano c Os ritos de Passagem são bem significativos para entender o fenômeno religioso Pois conforme a crença haverá procedimentos que devem ser seguidos para integrar nascimento ou casamento ou desintegrar morte os indivíduos c Assim praticamente todas as religiões possuem algum ritual que visa integrar um recémnascido à comunidade o Batizado catolicismo a Circuncisão judaísmo ou a Imposição do nome islamismo só para citar algumas Há também rituais que visam mudar o status do indivíduo e preparálo para assumir funções e posições na hierarquia social e no serviço religioso Estes rituais são conhecidos como Ritos de Iniciação d Mas igualmente na vida cotidiana e nos momentos significativos Exemplos os ritos que envolvem o chimarrão as formaturas como sentamos à mesa como nos dirigimos aos nossos pais etc Valorização a adequada compreensão da Linguagem Religiosa a As perguntas formuladas e respondidas pelos Mitos referemse às questões centrais da existência tocam nas situaçõeslimite pois não são respostas a serem superadas pelas explicações científicas Se a Linguagem Mítica procura dar conta do nãoobjetivável respondendo a dimensão da existência humana que toca no Sagrado logo é modo específico do estaraínomundo b Os discursos filosófico e científico são incapazes de abordar os assuntos que a linguagem mítica desvela pois supõem a transformação dos fenômenos em objetos ou esquemas Ora se a linguagem mítica trata do sentido logo os Mitos não são esgotáveis e superáveis pelo discurso científico O que aprendemos A adequada valorização da Linguagem Religiosa e em consequência da dimensão espiritual da vida em breve conclusão contribui ao conhecimento sobre si mesmo sobre os outros sobre o kosmos e sobre o Sagrado Em síntese Os Mitos são narrativas de Criação são modelares situam o ser humano no tempo e no espaço indicam a relação dos humanos com o cosmos e as demais criaturas São narrativas poéticas verdadeiras Nos mitos os elementos como astros animais acidentes geográficos são símbolos que instituem novo modo de perceber e ser Mitos são narrativas construídas coletivamente são narradas oralmente de geração após geração podendo ser fixados em textos ou registrados por pesquisadores Mitos situam o ser humano com sentido no mundo Constituem uma cosmovisão o que permite que o homem possa habitar o mundo com familiaridade Sinalizam o lugar do ser humano no cosmos fornecem modos de relacionamento com a criação e com o Sagrado Mitos buscam responder questões diretamente relacionadas a existência humana Quem é o ser humano O que sou Por que estou aqui no mundo Qual é a sua origem e sentido Há vida após a morte Como o sagrado manifestase Qual o sentido da vida e da morte O que aprendemos A adequada valorização da Linguagem Religiosa em breve conclusão contribui ao conhecimento sobre si mesmo sobre os outros sobre o kosmos e sobre o Sagrado Em síntese A experiência religiosa é mediada pela linguagem não predicativa do Mito No mito símbolos nos enviam para o que não pode ser fixado em conceitos rígidos definido com exatidão tematizado filosófica ou cientificamente Os Símbolos e os Ritos permitem tocar e sentir o mistério narrado no mito Mitos são sincréticos pois abertos podem incorporar elementos de outras tradições Mitos em resumo acolhem e interpretam o aqui e agora Para quem vive no Mito não é preciso interpretálo Para os que pela Filosofia e pelas Ciências já se encontram para além do Mito é preciso compreendêlo sem esgotálo O Rito é o Símbolo em ação gestos cantos narrativas que ligam a comunidade ao Mistério A espiritualidade para qualquer pessoa creia seja agnóstico não creia participe ou não de uma comunidade religiosa destacamos ao valorizar os mitos constituídos de símbolos e vivenciados nos ritos pode e deve enriquecer através de adequada hermenêutica a vida de cada um a e de todos Para os que já não vivem na dimensão mítica logo ao acolher e interpretar os mitos ao vivenciar os símbolos há enriquecimento da vida com significados sentido LEITURA COMPLEMENTAR HINRICHSEN LE A Linguagem Religiosa PDF Inédito PLATÃO O Mito de Criação do ser Humano In Protágoras Platão relê em filosoficamente o Mito de Hesíodo O Longo Ritual do Kuarup In ISA httpspibsocioambientalorgptPovoXinguOlongoritualdoKwarup Acesso 16062023 O que Carl Gustav Jung afirma sobre a vivência simbólica O que é espiritualidade para Jung É o que veremos a seguir Ética e Espiritualidade Aula 2 Unidade 03 Espiritualidade e reconhecimento do outro Carl Gustav Jung e a vivência Simbólica Espiritualidade Ética diálogo intercultural e religioso reconhecimento do outro AULA 02 UNIDADE 03 Carl Gustav Jung e a vivência Simbólica O que você vai aprender nessa aula 1 A vivência simbólica segundo Carl Gustav Jung 2 Arquétipos e símbolos 3 A superação da dissintonia entre consciente e inconsciente através da vivência simbólica 4 Racionalismo e a perda dos símbolos 4 Espiritualidade a religação religiosa segundo a perspectiva da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung 5 Espiritualidade e o equilíbrio entre afeto e razão razão e afeto Comecemos ouvindo o próprio Carl Gustava Jung A ALMA DO HOMEM Aquilo que chamamos de consciência civilizada não tem cessado de afastarse dos nossos instintos básicos Mas nem por isso os instintos desapareceram apenas perderam contato com a consciência sendo obrigados a afirmarse de maneira indireta Podem fazêlo através de sintomas físicos como no caso de uma neurose ou por meio de incidentes de vários tipos como humores inexplicáveis esquecimentos inesperados e lapsos de palavra O homem gosta de acreditarse senhor da sua alma Mas enquanto for incapaz de controlar os seus humores e emoções ou de se tornar consciente das inúmeras maneiras secretas pelas quais os fatores inconscientes se insinuam nos seus projetos e decisões certamente não é seu próprio dono Esses fatores inconscientes devem sua existência à autonomia dos arquétipos O homem moderno para não ver essa cisão do seu ser protegese com um sistema de compartimentos Certos aspectos da sua vida exterior e do seu comportamento são conservados em gavetas separadas e nunca confrontados uns com os outros O Homem e seus símbolos Carl Gustav Jung 3ª edição especial brasileira Jung denuncia a negligência para com a vida interior que precisa ser examinada bem como a separação entre as camadas da psique que denomina consciente e inconsciente e a crescente racionalização e tecnificação da existência que conduz ao malestar individual e civilizatório Por instintos básicos Jung caracteriza os equipamentos pelos quais podemos não apenas sobreviver mas viver bem melhor se escutarmos e trabalharmos os afetos Somos afetos e razão mas usualmente cultivamos apenas a razão isolandonos dos desafios e da totalidade da vida Carl Gustav Jung 1875 1961 dedicou a vida à pesquisa da psyché Médico psiquiatra terapeuta pesquisador e fundador da Psicologia Analítica ou Profunda constatou que a vida consciente confundida com a noção de eu é apenas a superfície pois há outra dimensão denominada inconsciente A racionalidade no percurso evolutivo dos humanos foi uma conquista que permitiu o desenvolvimento da Filosofia e Ciências as invenções tecnológicas o processo civilizatório Consciente e Inconsciente Arquétipos e Símbolos Segundo Jung ao não reconhecermos a existência do inconsciente e não prestarmos atenção às manifestações sinalizações entretanto ocorreria a dissintonia causadora de perturbações emocionais e existências A totalidade da psyché segundo Jung inclui a vida desperta e vivências inconscientes No inconsciente comum há os arquétipos formas présimbólicas aptas a serem preenchidas por conteúdos simbólicos No inconsciente comum é presente de modo vago arquetípico e présimbólico a memória herdada via processo evolutivo longo processo de maturação de significados a serem atualizados através da experiência simbólica O arquétipo unificador das vivências psíquicas é o self si mesmo se ipso selbst self que é Imago Dei As vivências simbólicas cumprem a função de superar a dissintonia e permitir a comunicação entre consciente e inconsciente permitindo vida não dicotômica oportunizando que escutemos os sinais enviados da dimensão inconsciente à consciência Nessa perspectiva Jung afirma para uma vida psíquica equilibrada é preciso vencendo a dissintonia escutando os sinais enviados pelo inconsciente religar as duas dimensões da existência sem as quais a vida é partida cindida incompleta A vivência simbólica e a superação da dissintonia a Se prestando atenção nos sonhos portadores de significados à vida somos capazes de escutar o inconsciente b A vivência simbólicoreligiosa igualmente permite equilíbrio psíquico e oferece recursos importantes à administração da existência Em um mundo no qual o todas as coisas são explicáveis através de definições quando o útil para muitos é o único critério de verdade desvalorizando os símbolos perdemos equipamentos psíquicos fundamentais à gestão da vida pessoal e coletiva c Os símbolos para Carl Gustav Jung salientemos não são neutros devem ser intencionados e vividos precisam despertar emoções e significados Se visito por exemplo a Basílica da Sagrada família de Gaudi posso apenas descrevêla baseado nos estudos de história da arte ou procurando entender as técnicas construtivas A Sagrada Família na qual as partes e o todo formam unidade simbólica admirável todavia permite e comunica vivências simbólicas que ultrapassam explicações Um símbolo somente será compreendido portanto se vivenciado se desejamos acolhêlo sem a pretensão de esgotálo com descrições esquemáticas CARECEMOS DE VIVÊNCIAS SIMBÓLICAS AUTÊNTICAS A vivência simbólica embora compartilhável é individual precisa ser experienciada Quando a comunicamos claro brotam sentidos que correspondem aos arquétipos revelando significados compartilháveis Visitando a Basílica de Gaudi seremos surpreendidos por símbolos précristãos incorporados à mensagem evangélica e esculpidos em cada centímetro do templo desde o trabalho e intuição genial de um arquiteto que era também uma pessoa de fé O templo revela Gaudi e revela cada um a si mesmo desde que desejemos e intencionemos os significados simbólicos existentes A palavra símbolo em sua etimologia deriva de Symballo pôr junto unir partes separadas Na perspectiva de Jung via símbolos podemos vencer a dissintonia realizando a sintonia entre vida consciente e vida inconsciente do que resulta vida emocional equilibrada mente saudável orientação à vida capacidade de administrar os desafios da existência e situaçõeslimites FUNÇÃO SIMBÓLICA TRANSCENDENTE a A função psicológica transcendente segundo Jung resulta da reunião dos conteúdos conscientes e inconscientes A consciência ao exercer função inibitória sobre o inconsciente possibilitou necessários avanços civilizatórios Tratase de fato novo na história e que exigiu sacrifícios e contrapartidas b A região psíquica denominada inconsciente entretanto exerce influência decisiva sobre a região luminosa consciente A dissintonia entre as regiões da psyché é superável através das vivências arquétiposimbólicas c A função transcendente através da vivência simbólica em resumo permite que o consciente dê contas das mensagens emitidas pelo inconsciente região indiretamente acessível superando a dualidade que cinde a psyché e causa desconfortos A função transcendente vivenciada nos símbolos permite enfim superar a dissintonia e alcançar a sintonia vital à vida psíquica Vivemos em período da história paradoxal pois determinamos a existência por padrões de racionalidade rígidos inibidores da capacidade de perceber e administrar emoções Sinal da dissintonia verificamos nas instabilidades emocionais comumente experimentadas causadas pela aceleração do tempo racionalização excessiva do diaadia fragmentação da existência A contrapartida à racionalização excessiva resulta em crise valorativa ética e política incapacidade relacional e irracionalidade que assombra perturba existência de indivíduos e sociedades Se pautamos o comportamento exclusivamente pelas determinações da racionalidade técnica em consequência desconsideraremos os equipamentos pelos quais podemos administrar a vida emocional Se não formos capazes de silenciar e escutar os sinais emitidos pelo inconsciente é possível constatar quão irracionais nos tornamos no trato consigo no estarnomundo e comos outros Símbolos a Os símbolos formam o equipamento psíquico pelo qual poderemos alcançar vida mais plena e harmônica b A vivência simbólica em resumo ao doar sentido e ao superar a dissintonia é possibilidade de existência prudentemente administrada mais completa e serena Carl Gustav Jung pensamos ao refletir sobre a dissintonia é atual e oferece chaves importantes para compreendermos e superarmos a fragmentação da existência oferecendo preciosas indicações para pensarmos o malestar que afeta a civilização contemporânea c Prestemos atenção enfim em nós mesmos nos outros e no mundo É importante concordamos com Jung recuperar o equipamento simbólico vivenciar símbolos Mitos Símbolos Ritos Se o Mito é a Linguagem da experiência Religiosa o Símbolo envia ao Sagrado Absoluto Mistério constituindo a narrativa mítica Nessa direção Enquanto signos indicam denotam metáforas comparam símbolos transignificam enviam além Um exemplo O TAO e o WU WEY A vivência simbólica a experiência poética e o Tao Thomas Merton In A Via de Chuang Tzu Vozes permite através de uma narrativa poética de caráter não predicamental não definível entender o que é uma vivência simbólica O Homem nasce do Tao como Os peixes nascem da água O homem nasce do Tao Se os peixes nascidos na água Procuram a sombra frondosa De um lago ou piscina Todos seus anseios são satisfeitos Se o homem nascido no Tao Mergulha na sombra frondosa Da Inação Para esquecer a combatividade e a preocupação Não necessita de Nada Sua vida está segura Qual é a possível mensagem Tudo que o peixe necessita é de perderse na água Tudo o que o homem necessita é de perderse no Tao O que é o Tao Curso Caminho Absoluto Como encontrálo Estando atentos à espontaneidade da vida via nãoação wu wei Wu Wei que paradoxalmente não é passividade mas atividade Como devemos compreender o Wu Wei a nãoação que não é passividade Mas ação no tempo oportuno Seguindo o Curso Agindo no momento oportuno com prudência PROPOSTA Um EXERCÍCIO Materiais simbólicos A vivência simbólica vital ao equilíbrio da Psyché não acontece apenas em templos nos quais o Sagrado penetra o mundo o profano Os astros os elementais as situações da vida carregam potencial de vivência simbólica O que significa por exemplo para mim o nascer do Sol frente o Mar o poente frente o Guaíba a aurora desde uma montanha o céu estrelado em uma noite clara a água que acalma a sede e cura o fogo que aquece a escuridão que convida à intimidade Os elementais os astros os acidentes geográficos os vegetais e até animais são capazes de revelar conteúdos simbólicos se contemplados com interesse intencionalidade e abertura Quais são os possíveis significados que carregam por exemplo a Lua o Sol a Estrela a Respiração Sopro o Céu o Ar o Rio o Oceano a Nuvem o Vento a Chuva o Arcoíris o Fogo a Alvorada a Noite a Escuridão o Deserto a Árvore Tarefa O Exercício será realizado em duas etapas a Escolhe dois símbolos dentre os mencionados e após brevereflexão e livre associação escreve sobre o que cada um dos símbolos escolhidos despertou em mim b Posteriormente compare o que foi escrito com os possíveis significados e interpretações propostos por Jung Orientação escreve um pequeno texto sobre as primeiras impressões Observação a Tarefa é pessoal e não é para entregar Tratase de proposta de um exercício para retornarmos a observar as manifestações da vida que passam despercebidas no cotidiano Breve reflexão desde o Livro dos Símbolos de Jung Se os arquetipos ou formas présimbólicas são presentes no inconsciente se o self é o arquétipo que unifica os demais pois é Imago Dei imagem de Deus ou do Sagrado no inconsciente nessa direção o que significam para mim as manifestações da natureza O Sol é a fonte da vida aquece permite que existamos comparável por Platão ao Bem Se nos aproximarmos demasiadamente vemos seu poder sequer podemos o contemplar diretamente por muito tempo A Lua refletindo a luz do Sol acalma sobretudo em noites claras quando ilumina a existência e permite transitar pela Noite A noite é momento de repouso de estar em casa de nos prepararmos para o dia traz tranquilidade mas ao mesmo tempo faz presente a escuridão A escuridão lembra que devemos ingressar nos mistérios da psique mas ao mesmo tempo conduz ao desconhecido desperta medo solicita cautela e precisa ser compreendida A chuva renova a vida sobre a Terra mas em excesso pode causar enchentes como os dilúvios descritos em inúmeros mitos de renovação O vento presente em uma tarde de verão brisa é reconfortante mas se adquire altas velocidades e força pode tornarse perigoso Se falamos em vento lembramos a respiração se há respiração há vida Por isso o filósofo présocrático Anaxímenes associou o ar ao elemento primordial pois aonde há ar há respiração e há vida O que é válido para as plantas animais para a totalidade da Casa Planetária O fogo é calor permite conservar os alimentos transforma todas as coisas mas pode destruir Se olharmos com atenção todos os astros elementais noite e dia veremos que despertam em nós sentimentos diversos e que foram e são incorporados aos mitos ao diaadia ao transcurso da vida Contudo considerando o sequestro da vida vivida pela Técnica já não mais os observamos e pensamentos na vida Vamos quem sabe sentar frente às árvores em um dia de Sol e observar as árvores e movimentos As flores os insetos os pássaros O que essas realidades nos comunicam Escutemos Carl Gustav Jung Nesse período da história humana em que toda a energia disponível é dedicada ao estudo e à investigação da natureza dedicase pouquíssima atenção à essência do homem a sua psique enquanto multiplicamse as pesquisas sobre as suas funções conscientes No entanto as regiões verdadeiramente complexas e desconhecidas da mente onde são produzidos os símbolos ainda continuam virtualmente inexploradas E é incrível que apesar de recebermos quase todas as noites sinais enviados por essas regiões pareça tão tedioso decifrálos e que poucas pessoas se tenham preocupado com o assunto O mais importante instrumento do homem a sua psique recebe pouca atenção e é muitas vezes tratado com desconfiança e desprezo É apenas psicológico é uma expressão que significa habitualmente Não é nada O Homem e seus símbolos Carl Gustav Jung 3ª edição especial brasileira Escutemos Carl Gustav Jung Esse ponto de vista moderno é certamente unilateral e injusto Nosso conhecimento atual do inconsciente revela que ele é um fenômeno natural e tal como a própria natureza pelo menos neutro Nele encontramos todos os aspectos da natureza humana a luz e a sombra o belo e o feio o bom e o mau a profundidade e a tolice O estudo do simbolismo individual e do coletivo é tarefa gigantesca que ainda não foi vencida Mas ao menos já existe um trabalho inicial Os primeiros resultados são encorajadores e parecem oferecer resposta às muitas perguntas até então sem nenhuma replica que fazem à humanidade hoje O Homem e seus símbolos Carl Gustav Jung 3ª edição especial brasileira LEITURA COMPLEMENTAR HINRICHSEN LE Resenha In JUNG Carl Gustav org O Homem e seus Símbolos 3 ed Especial brasileira Vídeo Complementar O Deus de Jung Link httpswwwyoutubecomwatchvqPecbcMNiaE O que aprendemos A vivência simbólica em tempos de racionalização da vida conduzem à ruptura entre as estruturas da psique e em consequência à crise pessoal e civilizatória Precisamos ultrapassando a remitificação que cultua o progresso pelo progresso e o novo tecnológico pelo culto à tecnociência recuperar a capacidade de observar e viver autênticas vivências simbólicas através da observação da criação ou valorizando e resgatando a mensagem dos símbolos e mitos que a multimilenar tradição nos legou Ética e Espiritualidade Aula 02 Espiritualidade e reconhecimento do outro Espiritualidade e reconhecimento do outro Módulo 04 Espiritualidade e Linguagem Ciência e Filosofia diante da cosmovisão dos Povos Originários O que você vai aprender nessa aula 1 O que é ciência Um conceito polissêmico 2 Ciências e saberes da Tradição superando o negacionismo e dialogando com os saberes 3 Conflito de Linguagem ou conflito entre Religião Mito e Ciências 4 As Ciências como resposta da Cultura e os Saberes Tradicionais ou dos Povos Originários entrevista com Ailton Krenak 5 Para além do exclusivismo fundamentalismos e da carência hermenêutica saberes em diálogo O que você vai aprender nessa aula CIÊNCIA NÃO É OPINIÃO MAS CONHECIMENTO O QUE ISSOS SIGNIFICA Como se relacionam os diversos saberes Platão EPISTEME CONHECIMENTO RIGOROSO Ciência para os gregos IV e V aC é Episteme conhecimento rigoroso demonstração que difere de doxa opinião discurso não silogístico que permanece no aparente Para Platão herdeiro de Sócrates a dialética é o método de investigação é preciso pôr o todo em questão examinar as partes eliminar o falso permanecer com os conteúdos que resistirem e mostraremse sólidos no processo do diálogo dia logos em torno da palavra debate que procura via conceitos chegar à definições Aristóteles foi o primeiro a classificar as ciências compreendidas como conhecimento das causas Lemos em Met I 1 ARISTÓTELES Há o conhecimento sensorial a experiência comparando situações chegamos às leis da vida cotidiana Ex chá de boldo faz bem para o fígado Dentre as ciências a primeira é a arte ou técnica techné conhecimento aplicado às necessidades dos seres humanos a seguir descreve a Filosofia Prática Ética Política e Economia Qual é a diferença entre o empírico que vive da experiência e os que exercem a arte O primeiro sabe o quê o segundo é capaz de responder por quê O empírico usa o chá para amenizar um desconforto o médico chega as causas realiza um diagnóstico faz um prognóstico e aplica a terapia adequada no caso da medicina hipocrática oferece a justa medida entendida como dieta adequada o não muito e o não pouco próprio a cada indivíduo Os antigos viveram a tensão entre Mythos e Logos não renunciaram ao Mito mas com o nascimento da Filosofia o precisaram interpretar AGOSTINHO Crer para saber Saber para crer No período tardoromano Agostinho século IV dC descreve as Artes Liberais como caminho à sabedoria As artes liberais estão divididas em práticas e matemáticas As práticas gramática retórica e lógica As matemáticas aritmética geometria astronomia e música Ao ler o texto bíblico indaga como o ler Interpretandoo pois há muitas alegorias inclusive há ensinamentos nos números pois Deus governa o mundo através da ordem ou ritmo ou seja através dos números Agostinho no Sermão 43 afirma a recompensa da fé é o entendimento Ora para crer é preciso compreender para compreender preciso crer Fé fides confiança supõe adesão da razão à revelação presente nas Escrituras A inteligência da fé portanto supõe o auxílio da Filosofia e a interpretação hermenêuticas do texto sagrado As Universidades e a concepção de ciência no Medievo No medievo através de Abelardo séc XII o príncipe da dialética e no século XIII apogeu das universidades as questões disputadas alunos defendiam teses opostas cabia ao professor julgálas e posteriormente oferecer uma resposta rigorosamente elaborada permitiram intensos e calorosos debates A recepção completa dos textos de Platão e Aristóteles revigorou a pesquisa Carlos Arthur do Nascimento professor emérito da Unicamp fala do renascimento do século XII possibilitado pela lógica do renascimento do século XIII via renovação universitária proporcionada pela recepção de Aristóteles interpretado múltipla e contraditoriamente mas motivo de debates e renovação O renascimento artístico e literário dos séculos XIV e XV foi portanto possibilitado pelos renascimentos dos séculos XII e XIII As conquistas da modernidade e a fragmentação do conhecimento Com o advento do iluminismo sobretudo pós revolução francesa o conceito moderno de religião e ciência é construído A religião mais do que uma atitude racional e afetiva de adesão ao Sagrado passa a ser compreendida como conjunto de dogmas e normas estrutura A ciência passa a ser entendida como a mediação que conduz às certezas evidências incontestáveis A adoção do método mecanicista cartesianonewtoniano de pesquisa baseado na física dos sólidos impõe unidade de método para os diversos âmbitos do saber e da investigação Há avanços descobertas muito devemos aos filósofos ou cientistas do período Desconheceram contudo a finitude da razão e acreditavam na marcha triunfante do esclarecimento que superaria a ignorância e levaria inevitavelmente ao progresso É preciso em consequência diferenciar ciência de religião Da precisa distinção entre os âmbitos do Sagrado e da pesquisa científica entre Religião e Ciência resultam várias possibilidades a antagonismo entre ciência e religião b conciliação artificial c instrumentalização da religião ou da ciência b O que pensamos Religião e Ciência enquanto instituições mas sobretudo entendidas como processo não se anulam são linguagens complementares que se encontram nas fronteiras das formulações historicamente elaboradas e que incompletas tocam nas situaçõeslimite e na pergunta pelo sentido A religião mito é sua linguagem contudo não precisa forçar a ciência a provar suas asserções e também a ciência não deve desconhecer a contribuição da mensagem das Tradições Religiosas reduzindoas às suas expectativas A tensão entre Mito e Filosofia antigos entre fé e razão do período tardoromano ao renascimento é paradigmática pois nem a Filosofia nega o valor do Mito nem a razão através das disciplinas liberais nega a fé Há tensão mas igualmente colaboração e mútuo esclarecimento Diálogo e respeito A tensão que testemunhamos até meados do século XX e que ecoa em nossos tempos tem origem segundo Jean Ladrierè em um conflito de linguagens pois em muitas situações somente escutamos o que queremos escutar Jean Lardrierè propõe diálogo entre as fontes da cultura Ocidental entre o Polo da Ciência e da Tecnologia e o Polo da Tradição ou do sentido Há logo distinção das linguagens mas também aproximação no tratamento das questõeslimite Se as ciências explicam não chegam às certezas incontestáveis pretendidas por Descartes bem como se a Tradição que inclui as Religiões toca no sentido viabilizam a esperança precisa das ciências Ciências no Plural a Deveríamos falar de ciências no plural recuperando a noção de conhecimento rigoroso e integrativo e não de ciência pois são amplos e vastos os campos de observação e múltiplos os métodos b Superar a unidade de métodos como já o concebia Roger Bacon no século XIII propor multiplicidade de métodos afirmar a finitude da razão assumir a tarefa infinita de procura da verdade Valorizar o alerta de Edmund Husserl conhecimento é uma tarefa infinita é antídoto ao negacionismo fatos devem ser valorizados e examinados ao fundamentalismo posição fixista e fechada ao exclusivismo há contribuições em todas as áreas do saber e ao setorialismo o antídoto é a interdisciplinaridade pensamento complexo ou sistêmico c Nessa direção ao estudarmos as Tradições Religiosas suas fontes igualmente o recurso às ciências e renúncia aos exclusivismos é saudável e necessário É antídoto ao negacionismo pois mesmo o acesso às fontes das Tradições supõe esforço científico e interdisciplinar Em um mundo plural frente questões complexas interdisciplinaridade colaboração diálogo conduz à abordagens complexas sistêmicas integrativas Nenhuma área do saber detém o monopólio da verdade pois a descoberta do serdacoisas desvelamento é tarefa intersubjetiva humilde e interminável A ciência conhecimento baseado em argumentos e evidências é vital ao Cuidado da Casa Comum e vazio existencial Como precisamos de ciência nos tempos de falência ambiental e vazio existencial de crise sociopolítica e fracasso diplomático Em tempos de integração planetária quando os problemas precisam ser pensados e respondidos integrativamente há espaço para o diálogo nas fronteiras dos saberes lá onde ciência e religião se encontram desafiadas frente situaçõeslimite confrontadas pelo mistério da vida À Filosofia pensamos cabe um papel decisivo um convite ao diálogo à proposição da interligação práxica entre os saberes Com humildade somos convidados a repensar nossas crenças sobre ciência e religião Mito e nos pormos a caminho na permanente procura da verdade sempre em diálogo e na tarefa e procura de nos tornarmos pessoas melhores Mas o que podemos aprender com o pensamento dos Povos Originários Há um novo modo de fazer ciência e filosofia que pode inspirarse no pensamento dos povos originários O tradutor do pensamento mágico Entrevista com Ailton Krenak escritor filósofo ativista e líder de seu povo Krenak a partir de seu livro KRENAK Ailton Ideias para adiar o fim do mundo São Paulo Companhia das Letras 2019 Fonte MASSUELO Amanda e WEIS Bruno O tradutor do pensamento mágico Revista Cult N 251 04112019 Disponível em httpsrevistacultuolcombrhomeailton krenakentrevista Acessado em 230921 O tradutor do pensamento mágico Aos 66 anos Krenak segue resistindo Lançou este ano o livro Ideias para adiar o fim do mundo Companhia das Letras e vive intensa agenda de palestras entrevistas e eventos De sua aldeia Krenak às margens do rio Doce em Minas Gerais ecossistema destruído pela lama da mineração o filósofo escritor jornalista ativista e líder de seu povo circula pelo mundo orientado pela intuição e por seus sonhos com a urgência de traduzir para os brancos fragmentos da cosmovisão dos povos indígenas O tradutor do pensamento mágico Quando os índios falam que a Terra é nossa mãe dizem Eles são tão poéticos que imagem mais bonita Isso não é poesia é a nossa vida Estamos colados no corpo da Terra Somos terminal nervoso dela Quando alguém fura machuca ou arranha a Terra desorganiza o nosso mundo diz Krenak em entrevista à Cult realizada em outubro passado em São Paulo Tenho sonhado com uma sequência tão absurda de desastres que me lembra quando eu era jovem e encontrava os velhos principalmente quando comecei a visitar as aldeias nas florestas do Acre de Rondônia e os pajés diziam Vocês precisam tomar cuidado porque o mundo está invadindo a nossa existência ao olhar as estradas os tratores e as motosserras chegando o barulho delas derrubando as grandes árvores a revolta dos rios os rios falando Às vezes com raiva bravos às vezes com sentimento de ofensa Nós acabamos nos constituindo como terminal nervoso do que eles chamam de natureza O tradutor do pensamento mágico Que cosmovisão seria essa No livrinho Ideias para adiar o fim do mundo eu estava experimentando a ideia de compartilhar com outras pessoas que vivem nessa realidade de um mundo prático que existem outros mundos Se conseguirmos fazer essa comunicação já distendemos um pouco o lugar que habitamos Esse mundo pragmático em que a gente coexiste é um lugar de passagem de outros povos outras mentalidades e culturas E não existe só este mundo de concreto ruas e cidades que imprime no corpo da Terra a marca dos homens como se eles fossem a única existência inteligente e sensível Se você conversar com os sábios dos Krenak dos Guarani dos Xavante e perguntar O que quer dizer o nome do seu povo eles vão dizer ente humano nós desmantelando a ideia de indivíduo e dando oportunidade de conversarmos com o rio com a montanha com outros seres que não são os eletivos humanos O tradutor do pensamento mágico Que cosmovisão seria essa Ao longo da história desses brancos na cosmovisão deles também já houve um fim de mundo e eles olham para nós com estranhamento quando falamos em fins de mundo porque não têm memória Isso que a gente chama de capitalismo na Idade Moderna já existia no coração dessas pessoas porque o mito de origem dos brancos é um mito de dominação da Terra O deus deles mandou eles dominarem a Terra Então eles são obedientes só estão fazendo o que foi mandado O tradutor do pensamento mágico Que cosmovisão seria essa Os povos nativos de vários lugares do mundo resistem a essa investida do branco porque sabem que ele está enganado e na maioria das vezes tratam ele como um louco Sempre olhei essas grandes cidades do mundo como um implante sobre o corpo da Terra Como se pudéssemos fazer a Terra diferente do que ela é não satisfeitos com a beleza dela A gente deveria é diminuir a investida sobre o corpo da Terra e respeitar sua integridade O tradutor do pensamento mágico Que cosmovisão seria essa Em Ideias para adiar o fim do mundo eu estou invocando um pensamento amplo que existe em muitos lugares do planeta naquelas vilas remotas do Pacífico Sul lá no Ártico na Terra do Fogo em toda essa extensão que a gente acha que é o continente americano na Europa na África na Ásia onde ainda existem muitos mundos por vir As ideias para adiar o fim do mundo na verdade são uma janela para outros mundos possíveis O tradutor do pensamento mágico Dá pra fazer esses mundos diferentes coexistirem sem uma cosmovisão compartilhada A longa história de resistência do nosso povo me faz acreditar que quando este mundo acabar nós vamos assistir Porque nós sabemos onde estamos Os nossos netos tataranetos vão sobreviver a essa experiência ruim de desencontro que a gente persiste em manter se repetindo Esses brancos eles saíram algum dia num tempo muito antigo do nosso meio Conviveram com a gente depois esqueceram quem eram e foram viver de outro jeito Se agarraram às suas invenções ferramentas ciência e tecnologia Eles se extraviaram saíram predando o planeta A coreografia deles é a mesma É pisar duro sobre a Terra A nossa é pisar leve bem leve sobre a Terra O tradutor do pensamento mágico Dá pra fazer esses mundos diferentes coexistirem sem uma cosmovisão compartilhada Se você imaginar que o tempo de constituir um passo na direção de uma cosmovisão compartilhada demora eras estamos com pouco tempo pra isso porque a constatação é que estamos diante de um colapso socioambiental Pelo menos desse mundo que todo mundo acha que pode saquear Se você olhar um lago que não recebe água de fora e acompanhar ao longo do tempo o que acontece com ele vai ver que aquela água apodrece Estamos passando por uma transformação assim no planeta mas a maioria das pessoas não está vendo O que aprendemos A respostas de Ailton Krenak conteúdo presente no pequeno Livrinho O Amanhã não está à venda são incisivas nos tocam profundamente a Há uma Sabedoria ancestral denominada Pensamento Mágico a ser compreendido como Sabedoria dos Povos Originários ou Mítica que permite visitar o mundo de outra forma b Somos parte da Casa Comum Devemos cuidála A pandemia revelou estamos interconectados Céu e Terra se interligam somos parte da família humana e da Casa Planetária c O desastre ambiental do Rio Doce transcorrido em 2015 afetou a Comunidade Krenak Ailton é tradutor de um modo de pensar que nos convida a rever valores e a novo modo de ser d O que realmente é importante Água limpa solo sem venenos ar puro florestas preservadas vida em comunidade Como habitamos e convivemos em nossas cidades Como partilhamos as riquezas produzidas via trabalho na Casa Comum Como concebemos a vida Ciência Ensinamentos das Tradições Religiosas notadamente em destaque desde a entrevista de Ailton Krenak precisam ser repensados O que aprendemos a Precisamos das ciências para cuidar da vida na Casa Planetária para cuidarmos da saúde das pessoas e dos demais seres vivos para assegurarmos responsavelmente a continuidade da vida na Casa Planetária c Mas de uma ciência que examine criticamente a si mesma em diálogo com os demais saberes seja interdisciplinar e integrativa continue rigorosa mas aberta c Igualmente desde a recuperação da mensagem das Tradições Religiosas necessitamos de uma crítica das religiões e das práticas religiosas respeitosa mas efetiva d Evitando o negacionismos e a manipulação das mensagens das Tradições Religiosas para fins escusos e Precisamos pensar a relação entre Ciências Comum legado da mensagem das Tradições Religiosas valorizando a visão dos Povos Originários f Respeito diálogo observância dos âmbitos de cada uma das linguagens pois se religião não é ciência ciência não é religião Mas na fronteira lá aonde surgem as grandes questões da vida são convidadas necessariamente a dialogar Ailton Krenak contribui para revisarmos nossa visão de mundo valores e modo de ser Há muito o que aprendermos juntos O que aprendemos a Ciência é conhecimento rigoroso As concepções de ciência possuem uma história Fazemos ciência desde o mundo que nos antecede e acolhe Mundo que é lugar do habitar Fazer ciência inclui interesses e influências Se a ciência é saber rigoroso que supõe métodos e evidências ainda assim é fazer contextuado b Deveríamos designar ciências no plural em permanente diálogo com os diversos saberes frente o desafio da interdisciplinaridade c Religião tecido de símbolos que formam sua linguagem o mito não é ciência Não encontraremos tratados científicos em textos e nas mensagens religiosas E nem deveríamos pretender que as ciências justifiquem as mensagens religiosas O contrário igualmente São saberes complementares que na fronteira das questões limite se encontram e precisam dialogar d Os conflitos entre ciência e pensamento religioso resultam de fechamentos fundamentalismos racionalização intensa que conduziu e conduz ao negacionismo e Precisamos de ciências sem as quais a vida não prosperará sob a Casa Planetária Precisamos da Mensagem das Tradições religiosas como Ailton Krenak nos traduz no pensamento ecológico que apresenta f Respeitados os âmbitos dialogando aprendendo a pensar sendo críticos e valorizando a complexidade seremos pessoas melhores O que está em jogo A continuidade da vida na Casa Planetária LEITURA COMPLEMENTAR AILTON KRENAK O amanhã não está à venda São Paulo Companhia das Letras Link Pode ser baixado da Amazon gratuitamente Ética e Espiritualidade Espiritualidade e Reconhecimento do outro Espiritualidade e Reconhecimento do outro O que você vai aprender nessa aula 1 As mediações do Sagrado 2 Identidade imagens do Sagrado e fixação indevida 3 O fenômeno da remitificação 4 A vivência simbólica e a unidade da psique 5 O reconhecimento do outro na sua distinção pessoal cultural e religiosa via diálogo O que você vai aprender nessa aula Independentemente de nossas convicções religiosas cada um a possui uma história religiosa pois há uma pertença familiar e cultural É preciso ainda que brevemente investigar as relações entre identidade afetos projeção indevida imagens do sagrado que ainda que não nos demos conta influenciam nossos comportamentos e modos de ser Quando nos reconciliamos e nos libertamos de imagens inadequadas do Sagrado ou investigamos brevemente a constituição do self si mesmo crescemos como pessoas Religiosidade e Religião a Se religião indica uma atitude e correspondente prática fundamentase na estrutura multidimensional do ser humano O processo de transcendência ultrapassar a si mesmo denominamos religiosidade corresponde à dimensão espiritual que constitui o ser humano em sua multidimensionalidade Nessa direção a abertura ao Sagrado é expressão da multidimensionalidade constitutiva da pessoa O ser humano existe e no aberto do mundo destinase procurando a verdade agindo criando fazendo o bem conferindo unidade e sentido à vida ultrapassando a si mesmo e abrindose ao outro Via reconhecimento do outro no mundo lugar do habitar reconhece a si mesmo b A religiosidade abertura ao outro e ao Sagrado acontece desde o mundo A religião setor da cultura é a institucionalização da religiosidade É processo pessoal e comunitário e como a língua supõe mediações como mitos ritos e textos sagrados O processo de institucionalização do religioso dimensão do humano portanto denominamos religião c A religiosidade portanto vivida desde o mundo visibilizase e viabilizase via institucionalização O processo de institucionalização da vivência religiosa denominado por religião é pessoal e comunitário subjetivo e intersubjetivo e acontece através da linguagem e mediações Problema quando as mediações tornam se fins em si mesmas impedem o contacto com o Sagrado que é sempre contato consigo e com o outro desde o mundo Exemplos de inautenticidade religiosa o zelo excessivo pelo rito ritualismo a fixação em regras que se tornam mais importantes que a vida das pessoas legalismo A inautenticidade religiosa é presente na vida religiosa concreta É um modo de decadência da prática religiosa A decadência é uma possibilidade humana nas diversas dimensões e expressões da vida Oscilamos entre a autenticidade e inautenticidade claro o horizonte ético é a autenticidade d Se o ser humano é multidimensional as dimensões que constituem atualizamse através da cultura 2 ª natureza adquirida Problema como a religião setor da cultura mantém relações por exemplo com o direito a política e a economia em consequência influencia e é afetada pelos outros setores da cultura Alerta a manipulação da mensagem religiosa para fins escusos entretanto afeta o sentido da sua própria existência e questiona a existência da própria religião Nota as religiões devem sem impor mas propondo participar do debate público contribuindo ao bemcomum contudo sem jamais ultrapassar os limites da laicidade ou seja a separação entre Estado e Religiões é benéfica para ambas Identidade e Vivência Religiosa A constituição do self si mesmo identidade é processo que abrange a totalidade da existência O ser humano realiza a si mesmo no tempo seraínomundo é ente relacional sercom inserido num tempo e espaço reconhece a si via reconhecimento do outro A identidade é progressiva descoberta e afirmação de si na relação comosoutros no mundo Através da capacidade compreensiva e práxica interventiva o Dasein Humano é formador de mundo Multidimensional capaz de conhecer e transformar tecnicamente o mundo apto a destinarse a direção do cuidado convidado à realização de um mundo habitável ser em transcendência é tocado pelo Sagrado O ser humano no processo de constituição da identidade religiosa serderelações em resumo via vivências é portador de história religiosa constituída no tempo No processo da identidade religiosa há possibilidade de vivências abertas capazes de transcendência ou até fechamento em experiências limitadoras originadas de imagens inadequadas do Sagrado Deus Absoluto Perguntamos então o que é Projeção Religiosa O que é fixação indevida Há imagens adequadas provisórias pelas quais podemos acessar o Sagrado Absoluto Deus O que são místicas secularistas O que recordo e posso relatar de minha história religiosa Psicologia da Religião Mediações Religiosas e Psicologia da Religião aO que é Projeção Religiosa Exemplos bO que é fixação indevida Exemplos cHá imagem adequada pela qual podemos acessar o Sagrado Absoluto Deus dO que são místicas secularistas Mediações Religiosas e Psicologia da Religião a A vivência Religiosa é relação desde o mundo com o outro e com o Sagrado Santo Deus Absoluto b Possibilitado pelas esferas mediadoras da religião mitos e símbolos ritos livros etc c Não cabe contudo em conceitos ou representações objetificadoras d O Mistério Fascinante e Tremendo cf Rudolf Otto desperta nova atitude e solicita linguagem específica o Mito A linguagem mítica e seus símbolos não constituem explicação fantástica apta a preencher lacunas explicativas da Filosofia ou Ciências A linguagem mítica que toca no mistério que nos envia no tempo e espaço para além do aqui e agora que unindo passado presente e futuro é sempre atual reivindicando atenta hermenêutica doadora de sentidos à existência A Religião através de suas esferas ou estruturas via Mitos Símbolos e Ritos através da vivência comunitária fixa as experiências religiosas fundadoras ou originais transmitidas via testemunho na história a Resultado o importante legado das Tradições Religiosas presente nos Mitos e ensinamentos dos fundadores e que precisa ser respeitado estudado valorizado resgatado Projeção Religiosa e Imagens de Deus Sagrado Absoluto a O conceito de projeção religiosa encontra sua origem na ótica iluminando uma imagem transparente a projetamos na parede oposto à fonte luminosa b Analogamente o ser humano projetaria imagens de sua realidade contra a parede do infinito c Assim denominado Deus por exemplo como Pai para compreender seu amor afirmamos que é pessoa d Aplicamos categorias humanas para expressar nossa percepção do Mistério que não cabe em conceitos Pergunta O recurso da projeção é válido O valor da projeção religiosa não deve medirse pelo fato de utilizar imagens humanas não obstante o valor relativo dessas mas pelo que indicam sinalizam enviam A projeção é válida pois revela algo que não se vê diretamente nas imagens projetadas Por que o ser humano pode conceber projetar imagens do Sagrado Deus Absoluto Por que o Sagrado Deus Absoluto não lhe é completamente estranho alheio porque o Mistério é presente na realidade humana Inferência A projeção é o polo humano de uma dialética cujo polo divino é a revelação a manifestação infinita no finito do Sagrado Contudo a plenitude dessa dialética não se atinge nos limites do espaço e do tempo As imagens logo são sempre provisórias precisam ser compreendidas e percebidas com maturidade Projeção Religiosa e Fixação Indevida a A projeção religiosa é sempre provisória Acontece porém que pessoas descuidam do crescimento religioso e fixam suas primeiras projeções religiosas de Sagrado Deus indefinidamente Concebendo em consequência imagem infantil do Sagrado que as acompanha a vida inteira A constatação vale para os que creem mas também para todas as pessoas b No Mito quando a inspiração originária do fenômeno religioso perde vitalidade as imagens tornamse ídolos literalidade ou perdem significação carência hermenêutica Do mesmo modo quando as projeções infantis não são continuamente substituídas por novas concepções há fixação regressiva registrada em imagens inadequadas c Exemplo Imagem de Deus como Pai ou Mãe Tal como precisamos desidealizar a imagem do pai via aceitação do pai real portador de qualidades e imites operando sadia reconciliação com a figura paterna e com nós mesmos analogamente precisamos libertar a imagem de Pai pela qual concebemos Deus de representações inadequadas d As projeções religiosas fechadas conduzem à imagens inadequadas caracterizando a projeção indevida e Jung nessa direção em sua prática clínica considerando a imagem de Deus como o arquétipo modelar da psique declarou que somente obteve êxito terapêutico pela religação com o sagrado via acesso à psique e consequente sintonia entre consciente e inconsciente através de reconfiguração religiosa o que supõe valorização da história religiosa dos pacientes f A devida reconfiguração das imagens representativas do Sagrado em resumo segundo Jung foram fundamentais nos processos terapêuticos que orientou Vivência Religiosa e Afetos O teólogo Jung Mo Sung situa a vivência religiosa na esfera da existência humana onde moram todos desejos e esperanças que nos movem levam à transcendência e sustentam nossas vidas De fato o núcleo de sentido presente na experiência do Sagrado nos envia na história ao encontro com os outros com a natureza e com o Sagrado Deus Absoluto Encontro marcadamente ético que nos tornando responsáveis pela criação nos envia ao Totalmente Outro Desde o encontro com o Sagrado descobrimos a dimensão do cuidado e da ternura para com todos seres nossos irmãos com os quais compartilhamos a casa planetária e o universo Os tus humanos são mediação ao Tu Eterno Com Martin Buber aprendemos que o encontro com o Tu Eterno é mediado pelo encontro com os tus humanos e com toda criação Cf BUBER em Eu e Tu A vivência religiosa autêntica é portanto experiência do encontro que liberta humaniza e responsabiliza O amor a Deus ensina Jesus de Nazaré supõe o amor ao próximo cuidado acolhida atenção ver pergunta de Jesus ao doutor da lei quem foi próximo Resposta o Samaritano e não o levita ou o sacerdote Imagens adequadas do Sagrado É mais fácil descrever as imagens inadequadas do Sagrado do que descrever o Sagrado com imagens adequadas Ouvimos por exemplo Não faz isso que Deus castiga Ora Deus se Deus é o Sumo Bem sua justiça é amor logo não castiga tampouco é juiz implacável Nessa direção seguem alguns exemplos de imagens que nos aproximam do Sagrado desde concepção que apreciamos como adequada a Deus como Pai e Mãe b No cristianismo Jesus revela o Rosto do Pai fala com autoridade do Pai mas chama os discípulos como amigos Jo 1514 se considera Servo Jo 13 14 Revelase no partir do Pão aos discípulos de Emaús c As palavras e gestos de Jesus aproximam e libertam descontroem barreiras e muros entre pessoas eliminam medos convidam assumir a existência com responsabilidade permitem perceber o outro como próximo O Deus anunciado por Jesus não exige sacrifícios sua proposta supõe livre adesão não é motivo de temor ou alienação Revelase na solidariedade na acolhida dos frágeis na denúncia das estruturas religiosas opressoras Imagens do Sagrado d Encontramos no Antigo testamos inúmeras tentativa de enunciar Deus Sagrado i Iahweh Deus revelase a Moisés Eu sou no sentido de Agir Vi a miséria de meu povo e desci para libertálo ii Rocha Ex 17 17 iii Luz Sl 27 1 d iv Pai Sl 89 27 Isaias 63 16 v Mãe dos Filhotes Sl 91 4 Comparar com Isaias 31 5 vi Esposo Isaias 54 5 vii Pastor Sl 23 1 viii Orvalho Oséias 14 6 e Nas Tradições Orientais O Absoluto é o Céu O Tao é o caminho que une Terra e Céu No Budismo Tibetano que não possui uma noção de Deus criador há a bela expressão Dharmakaya representado pelo azul profundo do céu que consiste na manifestação da verdade em forma absoluta para além da necessidade de discriminação em conceitos quem ingressa no Absoluto vive o pleno despertar No Hinduísmo aprendemos que Atman é Brahman o divino no ser humano é parte do Absoluto f Nas Tradições dos Povos Originários do Brasil nos diversos Mitos o Céu Deus deuses é na Terra que precisa ser protegida e cultivada Exemplo Ticunas fomos pescados por nossos pais nesse Igarapé pertencemos à Floresta pois nela fomos criados cf Livro das Árvores O que aprendemos Identidade afetos projeção indevida e imagens do Sagrado a Se a religiosidade necessita de mediações para ser vivenciada ressaltamos é sempre comunitária e na sua autenticidade afastase da fixação nas mediações distanciase dos esteticismos rigorismos legalismo é sempre aberta relativiza as mediações prioriza a vida sobre a institucionalização das vivências b A vivência religiosa igualmente valorizando os estudos de Carl Gustav Jung possui uma dimensão inconsciente dáse na vivência simbólica pode entretanto desvincularse de uma experiência afetiva aberta ocultando inclusive emoções não trabalhadas adequadamente Nessa direção a releitura da história religiosa das pessoas é importante no processo de reconfiguração da identidade c Muitas vezes as pessoas amadurecem científica e profissionalmente mas permanecem com imagens regressivas do Sagrado Há portanto projeções inadequadas que precisam ser superadas na reconfiguração do self d A identidade o si mesmo necessita investigarse auscultarse A libertação de imagens religiosas opressivas ou inadequadas é importante nesse processo pois implica em reconciliação aceitação se si mesmo crescimento pessoal O Sagrado ou Deus como nos ensina Jesus o Rosto do Pai é amigo próximo revelase na proximidade no partir do pão Há duas belas imagens Deus não é o trovão mas a brisa mansa Deus é tal qual a ave que protege sob suas asas seus pintinhos Deus enfim é quem liberta os frágeis viúva órfão estrangeiro escravo dos opressores O Sagrado ou Absoluto nos permite ver abrangentemente e nos tornando melhores A tarefa das religiões que justifica a sua existência não obstante contradições inerentes à vida humana é possibilitar a transcendência o encontro com o Sagrado que torne as pessoas melhores Desmitologização e a mitificação da Técnica Moderna a Segundo Carl Gustav Jung substituímos o legado da Tradição considerando a racionalização excessiva presente em nossas vidas pelo culto aos resultados da ciência aplicada e que servem à sociedade tecno mercantil b O processo de desmitologização que implica em carência hermenêutica conduz como vimos aos novos mitos remitologização culto ao progresso pelo progresso aos utensílios tecnológicos à compreensão equivocada de uma ciência que nos oferece certezas incontestáveis à racionalização do cotidiano o que conduziria à ruptura entre as dimensões consciente e inconsciente da psique Perdemos os símbolos que em sua originalidade permitem equilíbrio entre afetos e razão c Como responder aos desafio de nossos tempos Vivendo em sociedades nas quais as relações são mediadas por mídias eletrônicas nas quais o tempo do faceaface é sequestrado Se já nem há tempo para pensarmos sobre o tempo Se o tempo da existência kairós tempo oportuno da presença é sequestrado pelas reivindicações do tempo informático Pelo culto ao tecnomercantil Pela eficiência medida em produtividade segundo exigências da tecnoburocracia Pensar a Técnica e valorizar os Símbolos a É preciso segundo Martin Heidegger afastarse da Técnica moderna para pensála Redescobrir o tempo de ser que é o tempo do cuidado prestar atenção em si darse conta da vida vivida no mundo abrirse ao outro b Se a vivência simbólica segundo Jung é vital ao reconhecimento de si mesmo via acolhida e reconhecimento do outro revisitemos a herança das Tradições que através de Mitos e Símbolos nos convidam a pensar c Carl Gustav Jung descrevendo a função transcendente afirma que é possível atualizar os arquetipos herdados no processo de evolução psíquica vivenciados nos símbolos retornando aos símbolos e mitos da Tradição Nessa perspectiva o psiquiatra e fundador da Psicologia analítica estudou extensiva e profundamente a herança das Tradições do Ocidente e Oriente e dos Povos Originários d Há muito o que aprender se exercermos o processo hermenêutico acolhendo o legado das tradições estudandoo interpretandoo atualizandoo O que precisamos nesse contexto cultivar a O exercício hermenêutico pelo qual acolhemos e interpretamos os símbolos e mitos sem os esgotar mas valendose de recursos científicos os atualizamos e vivemos b O diálogo entre pessoas que cultivam as diferentes Tradições portadoras de diferenças mas de um legado ético e existencial comum c Na tarefa de resgate dos símbolos e mitos todos as estão incluídos crentes e não crentes pessoas de todas as formações em diálogo d Podemos pensar em uma espiritualidade secular Creio que sim Exemplo Jean Paul Sartre escreveu o existencialismo é um humanismo bem como refletiu sobre contribuições do judaísmo na humanização das sociedades Erich Fromm igualmente em toda obra de divulgação de sua Filosofia e Psicologia valorizou e analisou o legados das Tradições religiosas Espiritualidade valorizando e atualizando a tradição é em cada um a e para todos as Mente Alerta A Grande Onda de Kanagawa 18301831 Xilogravura do Mestre Japonês Hokusai a Viver o presente concentrase nas coisas a fazer acolher o outro deixarse acolher enviarse Ser presente no que sou faço nas relações b Respirar espirar evitar flutuações mentais permitirse vivências simbólicas c Meditar Ser presente a si acolhendo o mundo e o outro Simples Sim mas complexo pois exposto a n estímulos é por vezes difícil retornar a si mesmo no processo de acolhida da vida d Mas é possível e necessário É preciso começar passo a passo Caminhando sentados presentes nas tarefas que realizamos evitando as flutuações mentais concentrado no que realmente é importante ser presença vivendo o kairós ou tempo da presença Comecemos Espiritualidade é em cada um a e em todos as e nos conduz à serenidade e responsabilidade Vivência Simbólica mente alerta Um exemplo em A Alegria dos Peixes Thomas Merton em A Alegria dos Peixes In A via de Chuang Tzu Vozes convida a prestarmos atenção à totalidade que nos envolve ao essencial à espontânea manifestação da vida Chuang Tzu e Hui Tzu Atravessavam o Rio Hao Pelo açude Disse Chuang Veja como os peixes Pulam e correm tão livremente Isto é a sua felicidade Respondeu Hui Desde que você não é um peixe Como sabe O que torna os peixes felizes Chuang respondeu Desde que você não é eu Como é possível que saiba Que eu não sei O que torna os peixes felizes Hui argumentou Se eu não sendo você Não posso saber o que você sabe Daí se conclui que você Não sendo peixe Não pode saber o que eles sabem Disse Chuang Um momento Vamos retomar a pergunta primitiva O que você perguntou foi Como você sabe O que torna os peixes felizes Conheço a alegria dos peixes No Rio Através de minha própria alegria à medida Que vou caminhando no mesmo rio Qual é a possível mensagem Os versos através de paradoxos convidam a sentir e acolher antes de definir classificar exercer a posse mental sobre o que se mostra à existência Chuang experimenta a alegria dos peixes através da própria alegria Há superação da convencional oposição entre sujeito quem conhece e coisa conhecida possuída pela mente via acolhida do que se mostra originariamente A vacuidade vazio ou abertura da mente aos fenômenos permite o apresentarse originário das coisas doando como dizíamos sentido à existência No evento poético narrado podemos inferir acontece vivência simbólica que supera a dissintonia acontece a sintonia entre as dimensões consciente e inconsciente da psyché tãoimportante à vida mental satisfatória e rica de significados Materiais simbólicos A vivência simbólica vital ao equilíbrio da Psyché não acontece apenas em templos nos quais o Sagrado penetra o mundo o profano Os astros os elementais as situações da vida carregam potencial de vivência simbólica O que significa por exemplo para mim o nascer do Sol frente o Mar o poente frente o Guaíba a aurora desde uma montanha o céu estrelado em uma noite clara a água que acalma a sede e cura o fogo que aquece a escuridão que convida à intimidade Os elementais os astros os acidentes geográficos os vegetais e até animais são capazes de revelar conteúdos simbólicos se contemplados com interesse intencionalidade e abertura Como nos versos de A Alegria dos Peixes somos capazes de vivenciar Conhecer a si mesmo Quem sou O conhecimento de si é mediado pelo reconhecimento do outro a Sócrates inaugurou no Ocidente a pesquisa por si mesmo Quem sou Não sei É preciso pesquisar Somente sei que nada sei Por isso foi considerado pelo Oráculo de Delfos o cidadão mais sábio de Atenas o que despertou animosidades contra o Mestre de Platão A mesma motivação encontramos nos 13 Livros de As Confissões de Santo Agostinho quem sou não sei ajudame Senhor tu que conheces melhor a mim do que me conheço e sou sincero nessa pesquisa É preciso coragem para investigar a si mesmo Quem sou Não é o resultado da soma de tarefas que executo Sou alguém e preciso conhecer a mim mesmo b O movimento de conhecimento de si mesmo contudo sempre supõe habitar conscientemente o mundo vivendo o tempo da presença e sobretudo reconhecer o outro na sua distinção ou singularidade destacando sua pertença cultural e religiosa e como quebra nossas referências Acolher o outro Tarefa nem sempre fácil pois antes de acolher muitas vezes o julgamos sem permitir que se apresente Sobretudo quando nos encerramos através das facilidades eletrônicas em nós mesmos evitando o faceaface Somos capazes de superar uma primeira impressão do outro Acolher o outro supõe libertarme de préconceitos exige atividade intelectual exercício do pensamento e abertura afetiva pela qual crescemos como pessoas e ampliamos nossa visão de mundo Pensar significa parar Fazer silêncio Prestar atenção Controle o impulso de julgar precipitadamente Pesar as possibilidades Aprofundar nas coisas com racionalidade e da empatia Pensar é difícil é por isso que as pessoas preferem julgar In httpswwwgetpersonalgrowthcomptpensaredificilporissoaspessoaspreferemjulgar Acesso em 16062022 Como o que estudamos na presente aula e nessa unidade me auxiliam no constante e interminável processo de conhecimento do si mesmo Espiritualidade é para cada um a e para todos as e supõe a pergunta pelo conhecimento de si via reconhecimento do outro O que aprendemos Foto Edson Boff São Gabriel da Cachoeira a No percurso realizado examinamos as diferenças entre religiosidade e religião verificamos que as mediações da religião não são fins em si mesmas que precisamos conhecer nossa história religiosa pertençamos ou não à uma comunidade religiosa creiamos ou não pois há uma história familiar e social uma pertença cultural b Verificamos que nos tempos de hegemonia da Técnica Moderna é preciso retornar e valorizar símbolos e mitos da Tradição pois permitem a superação da dissintonia da psique e contato com a vida vivida no tempo da presença As vivências simbólicas segundo Jung valorizando os equipamentos da psique permitem gradativo conhecimento de si e vida emocional equilibrada c Aprendemos que as religiões somente cumprem não obstante a finitude humana e as contradições das práticas sua tarefa quando são mediações que conduzem ao conhecimento do mundo e à ciência de si via reconhecimento do outro Se as práticas religiosas oscilam entre autenticidade e inautenticidade como vimos o horizonte ético e a justificativa da existência das religiões é a autenticidade são mediações ao conhecimento de si via reconhecimento da dignidade do outro d Permanece a pergunta quem sou É a pergunta pelo si mesmo que supõe pesquisa de minha pertença ao mundo e reconhecimento do outro Nessa direção é importante indagar procuro viver o momento presente Sendo presente nas atividades que executo e nas relações que mantenho com o mundo e sobretudo com as outras pessoas Permitome acolher a vida sem evasões e barreiras Espiritualidade é para cada um a é para todos as