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Língua Portuguesa Material Teórico Responsável pelo Conteúdo Profa Dra Sílvia Augusta Barros Albert Revisão Textual Profa Dra Geovana Gentili Santos O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Introdução Língua Linguagem Cognição e Sociedade Texto e Contexto O Uso Situado da Língua O Novo Acordo Ortográfico Apreender os conceitos de Língua e Linguagem Verbal em contextos de uso e os conceitoschave que respaldam os estudos da língua materna na disciplina modalidades variações linguísticas texto e gênero contexto produtor e leitor situação comunicativa Aprimorar conhecimentos a respeito do Novo Acordo Ortográfico e sua contextualização além de apreender as mudanças gráficas e as novas regras acentuação OBJETIVO DE APRENDIZADO O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional siga algumas recomendações básicas Assim Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina Por exemplo você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu momento do estudo Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar lembrese de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo No material de cada Unidade há leituras indicadas Entre elas artigos científicos livros vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade Além disso você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados Após o contato com o conteúdo proposto participe dos debates mediados em fóruns de discussão pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento além de propiciar o contato com seus colegas e tutores o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco Evite se distrair com as redes sociais Mantenha o foco Evite se distrair com as redes sociais Determine um horário fixo para estudar Aproveite as indicações de Material Complementar Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar lembrese de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias Isso amplia a aprendizagem Seja original Nunca plagie trabalhos UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Introdução Nesta unidade vamos tratar sobre o uso da língua portuguesa em diferentes contextos evidenciando seu caráter e vocação dinâmicos portanto passível de mudanças e transformações Vamos nos orientar pela concepção de língua não como um código estático e sim como uma atividade social e cognitiva sempre situada historicamente e construída interativamente Ficou muito complicado Então prossiga na leitura deste material teórico que retomaremos e explicaremos essa concepção Pode manter a tranquilidade ok Temos como objetivo neste momento da disciplina sobretudo ampliar a concepção de língua que ainda é amplamente veiculada em manuais didáticos na escolarização básica e que circula socialmente de maneira bem aceita Esta concepção aproxima de forma tão intensa as noções de língua e de gramática normativa que leva os usuários da língua a confundir uma com a outra Frequentemente é dado como certo que para aprender a usar a língua em sociedade ou seja para interagir com o outro e comunicarse socialmente para ler e escrever basta estudar a gramática e conhecer suas regras Não é mesmo Lemos e ouvimos isso muitas vezes concorda Para transformar essa crença e abalar algumas convicções bem arraigadas que vêm do senso comum e de teorias e de práticas mais descontextualizadas no intuito de ampliar conhecimentos propomos aqui algumas reflexões e algumas práticas abordando conceitos que acreditamos ser essenciais para o estudo da língua respaldados em fundamentos teóricos dos estudos do âmbito da língua e da linguística contemporâneos É claro que conhecer a gramática normativa da língua e obedecer às suas re gras é muito importante para usála adequadamente principalmente em situações comunicativas que exigem maior formalidade como na faculdade e no trabalho No entanto não podemos restringir a sua concepção apenas a essas situações de uso Há muito o que entender sobre os aspectos e os processos que determinam a con cepção de língua inclusive para poder adequar o seu uso como veremos a seguir Esperamos assim contribuir para a sua formação acadêmica e profissional pois acreditamos que aperfeiçoar o uso da língua em diferentes contextos pode ser de terminante para o seu desenvolvimento como cidadão que vive em sociedade como estudante do Ensino Superior e como futuro especialista do mundo do trabalho Esta unidade apresenta conceitos que serão mais especificamente desenvolvidos ao longo desta disciplina de Língua Portuguesa e outros que são a base para tratarmos dos processos de leitura e de escrita também abordados em unidades específicas nesta disciplina Orientamos que você faça ao final desta unidade uma ficha síntese de leitura que contemple as principais noções aqui apresentadas 8 9 Assim essa ficha vai servir como uma referência teórica que com certeza vai lhe ajudar na leitura das outras unidades combinado Então mãos olhos ouvidos mente e palavras à obra Língua Linguagem Cognição e Sociedade O uso da Linguagem permite ao homem constituir comunidades em torno de um desejo de viver juntos e instituise como um poder talvez o primeiro poder do homem Charaudeau 2014 A linguagem humana é o que nos distingue como ser vivo que pensa e que se comunica para viver em sociedade Inseparável do homem ela está presente em todos os seus atos É o que nos permite elaborar e expressar pensamentos sentimentos emoções desejos atitudes Ao lançarmos mão da linguagem influenciamos e somos influenciados educamos e somos educados transformamo nos e também transformamos o meio em que vivemos É importante perceber que há sempre um aspecto interativo isto é de alguém para outrem em relação à linguagem e ao uso que o homem faz dela não é mesmo Isso está na natureza humana pois como afirma Marcuschi 2007 respaldado em Tomasello 1999 o que diferencia os humanos de outras espécies de seres vivos é que os homens compreendem os outros de sua espécie como agentes capazes de interagir com eles o que traz uma dupla vantagem possibilita que consigam agir colaborativamente e possibilita também o aprendizado cultural e a internalização de produtos culturais os quais serão legados a outras gerações A diferença do homem com os outros seres vivos portanto de acordo com esses autores é que nós interagimos com o meio ambiente como eles o fazem também mas o dominamos para nossos objetivos MARCUSCHI 2007 p83 Compreender a linguagem dessa perspectiva é entendêla como um dos aspectos humanos mais antigos que diferenciam o homem de outros seres vivos Muito anterior à roda ao machado à descoberta do fogo a linguagem foi o motor da própria construção da condição social do homem que só assim conseguiu fazer o outro saber que pensa e o quê pensa MARCUSCHI 2007 p 108 Desde os gregos os homens do lado ocidental do mundo se perguntam sobre como nos apropriamos da realidade ou seja como se dá nosso acesso à realidade e como construímos o conhecimento Foram muitas as respostas desde então mas atualmente afirmase que a ação comunicativa é uma das bases para a construção do conhecimento e da produção de sentidos MARCUSCHI 2007p82 Além disso vale lembrar das atividades relacionadas à cognição que precisamos realizar para efetivar essa ação comunicativa Mas o que entendemos por cognição De acordo com Marcuschi 2007 a cognição diz respeito ao conhecimento suas 9 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos formas de produção e processamento da qual se ocupa a Ciência Cognitiva Nessa área estudase a natureza e os tipos de operações mentais que realizamos no ato de conhecer ou de dar a conhecer De acordo com o autor no nosso caso tratase dos meios de produzir e transmitir o conhecimento linguisticamente MARCUSCHI 2007 p330 Cultura sociedade e cognição estão portanto na base de toda nossa capacidade de pensar e de dizer o mundo Ao entendermos assim a linguagem como fenômeno humano que se dá como uma interlocução situada e se oferece como conhecimento para o outro vamos entender que essa é a forma de ser da língua Vamos conceber a língua ressaltando a sua dinamicidade não como um retrato do mundo mas como uma forma de agir sobre ele A língua então deixa de ser apenas um instrumento um código de que lançamos mão para falar o mundo e passa a ser uma atividade social e cognitiva sempre situada historicamente e construída interativamente A língua é estável mas não estática deixase normatizar mas de forma variável e variada MARCUSCHI 2007 p108 Assim ampliase bem a noção de língua não é mesmo Dessa perspectiva fica muito difícil confundila com a gramática normativa concorda Dispomos a seguir de algumas definições de estudiosos brasileiros da língua que são convergentes com o que aqui propomos Língua é um produto cultural histórico constituída como unidade ideal reconhecida pelos falantes nativos ou por falantes de outras línguas e praticada por todas as comunidades integrantes desse domínio linguístico no nosso caso os países que compõem a comunidade lusófona BECHARA 2004 p37 A língua é uma entidade complexa é mais que um sistema em potencial em disponibilidade É uma atividade interativa direcionada para a comunicação social ANTUNES 2007 p 40 A língua é heterogênea social histórica cognitiva indeterminada variável interativa e situada MARCUSCHI 2008 p 65 Podemos perceber nessas concepções que os aspectos sociais culturais históricos e cognitivos estão sempre presentes em sua definição Vamos ver ainda nesta unidade que a utilização da língua está sujeita a diferentes tipos de regras tanto àquelas relativas aos processos de produção e recepção de textos quanto às normas sociais de atuação Restringir o estudo da língua apenas à sua gramática é limitar as possibilidades de compreendêla em suas múltiplas possibilidades e determinações não é mesmo Mas por outro lado não podemos prescindir do estudo da gramática por isso cada unidade da disciplina como informamos antes traz um conteúdo para o seu aperfeiçoamento no uso da língua ok Contamos com seu empenho em estudálos 10 11 Vale lembrar ainda que a língua portuguesa é o meio de expressão da cultura de todos os falantes que pertencem à chamada comunidade lusófona ou seja aqueles que usam o idioma para se expressar e se comunicar cotidianamente Vamos voltar a tratar desse tema na seção em que abordamos o Novo Acordo Ortográfico Por ora vale acessar o link a seguir para compreender a extensão do uso da língua portuguesa no mundo Veja mapa da comunidade lusófona httpsgooglJtHbVD Explor Enfim dessa perspectiva podemos depreender que há muitas possibilidades do uso da língua portuguesa e diferentes falares que dependem de fatores socioculturais e históricos além de aspectos cognitivos comunicacionais e situacionais No empre go da língua há pois diferenças geográficas falares locais e variações regionais socioculturais nível culto nível coloquial ou popular registros formal e informal e modalidades fala e escrita que conferem peculiaridades e marcas de expressão pró prias dos sujeitos usuários em diferentes situações comunicativas e contextos É o que veremos a seguir Contamos com a sua companhia e atenção A Língua em Uso Conceber a língua como heterogênea social histórica cognitiva indeterminada variável interativa e situada Marcuschi 2008 é determinar que estamos abordando a língua em uso em uma situação comunicativa específica em diferentes contextos É preciso portanto levar em consideração os vários aspectos que a constituem no processo como modalidades níveis registros contemplando também as suas variações e a sua normatização É o que veremos a seguir Para entrar em contato com esse tema da variação linguística selecionamos um vídeo em que Marco Luque repórter do programa CQC de Marcelo Tas incorpora a personagem do motoboy Jackson Five num quadro que satiriza os programas eleitorais Observe o uso que Jackson Five faz da Língua Portuguesa refletindo sobre as seguintes questões Você costuma usar alguma expressão utilizada por ele Você considera que Jackson Five usa um Português errado Assista ao vídeo e depois leia o material teórico para continuar a sua refl exão sobre o uso da língua e suas variações Para assistir ao vídeo acesse o link httpsyoutube3M1izoCv6jA Explor 11 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Níveis e Registros da Língua Para falar das muitas possibilidades de variação da língua vale lembrar que se existem situações sociais diferentes deve haver padrões de uso da língua diferentes ANTUNES 2007 p103 Foi o que vimos ao assistir ao vídeo do motoboy Jackson Five não é mesmo As variações linguísticas são normais e esperadas no uso da língua e existem não porque as pessoas são ignorantes ou indisciplinadas mas porque a língua é um ato social situado num tempo e espaço concretos ANTUNES 2005 p104 Em relação às variações o uso da língua pode ocorrer em dois níveis o coloquial e o culto determinados pela cultura e formação escolar pelo grupo social a que pertencem os usuários e pela situação concreta em que a língua é utilizada Além disso a língua pode ser utilizada em dois registros diferentes o formal e o informal que admitem certa escala de graus indo do mais formal ao mais informal Um falante adota portanto diferentes níveis e registros da língua ao falar ou escrever dependendo das circunstâncias em que se encontra conversando com amigos escrevendo emails pessoais ou profissionais expondo um tema histórico na sala de aula ou dialogando com colegas de trabalho O nível culto mais utilizado em ocasiões formais é também aquele que mais obedece às regras gramaticais Já o nível coloquial ou popular é utilizado na conversação diária em situações informais descontraídas Há nesse nível de linguagem o registro informal da língua ou seja uma utilização mais espontânea das formas linguísticas e mais livre em relação às regras da gramática normativa Nos diálogos do cotidiano falados podemos perceber deslizes de concordâncias repetições até jargões e gírias além de vícios de linguagem Foi o que vimos no vídeo do motoboy Jackson Five não é mesmo Algumas gírias e expressões podem ser até desconhecidas para alguns falantes da língua A gíria consiste em um uso específico da língua são palavras criadas inventadas por determinado grupo social com o objetivo de distinguir seus usuários dos demais falantes da língua As gírias se renovam com o tempo e são determinadas por fatores socioculturais e históricos Elas renovam a língua e revelam a criatividade dos falantes em seu uso Explor Vamos ver ainda nesta unidade outros exemplos de variação linguística para compreender melhor como ela pode ocorrer na língua em uso e que fatores predispõem a diferentes variações da língua Em geral os falantes acreditam que usar a língua no nível culto é de fato a única variação válida é o ideal ocorrendo o nível coloquial como uma deturpação desse nível Muitos falantes creditam apenas àqueles que não sabem a língua o nível coloquial o que acontece em decorrência de sua falta de instrução PRETI 2003 ANTUNES 2007 12 13 Essa não é a perspectiva nem a posição adotada pelos estudos da sociolinguística que vê na ocorrência de ambos os níveis um natural processo de variação linguística que atende assim às mais diversas situações de comunicação na sociedade Em rigor ninguém comete erro em língua O que normalmente se comete são transgressões às regras gramaticais e inadequações no uso da língua De fato aquele que num momento de conversa descontraída entre amigos diz Ninguém deixou ele falar não comete propriamente um erro na verdade transgride à determinada regra da gramática normativa Ressaltamos então que quem pratica a língua em nível coloquial não fala de forma errada apenas fala de acordo com o meio em que vive ou com a situação comunicativa em que se encontra O importante é usar a língua de forma adequada ao interlocutor à intenção e aos objetivos do produtor enfim ao contexto em que está inserido Vamos então transformar a ideia de certo e errado quanto ao uso da língua para adequado e não adequado concorda Assumindo essa prerrogativa então afirmamos que o nível da linguagem deve variar de acordo com a situação comunicativa o ambiente sociocultural também pode determinar o nível de linguagem a ser empregado além disso o vocabulário a sintaxe organização lógica das frases a pronúncia e até a entoação podem variar segundo o nível empregado Por isso um padre não fala com uma criança como se estivesse rezando uma missa assim como uma criança não fala como um adulto Um engenheiro não usa o mesmo nível de linguagem quando se dirige a colegas e a funcionários da obra assim como nenhum professor utiliza o mesmo nível de linguagem quando está com sua família e quando está em sala de aula Não defendemos o simplismo de que qualquer forma de falar e de escrever vale à pena e serve para qualquer situação pois tudo comunica e é o que basta Nem sempre basta comunicar ser eficiente no uso da língua vai além de se fazer entender conforme nos ensina Antunes 2007 De acordo com a autora para qualquer situação vale o jeito de falar que é adequado a essa situação ANTUNES 2007 p 99 Como veremos mais adiante há fatores sociais econômicos e regionais que justificam a variação Precisamos estar atentos ao preconceito linguístico e às patrulhas do bem falar e escrever pois como todo preconceito essa atitude leva à intolerância e à desarmonia na convivência social Vamos lembrar sempre que o bom uso da língua é aquele que é adequado às condições de uso ANTUNES 2007 p104 e o usuário competente é aquele que domina o maior número possível dos falares inclusivamente aquele falar apropriado às situações mais ligadas à fala e à escrita formais ANTUNES IRANDÉ 2007 p100 Enfim a título de epígrafe conclusiva trazemos um dizer de Millôr Fernandes um dos grandes usuários da língua portuguesa Nenhuma língua morreu por falta de gramáticos Algumas estagnaram por ausência de escritores Nenhuma sobreviveu sem o povo Millôr 1994 13 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Modalidades da Língua A Fala e a Escrita A fala e a escrita são modalidades da língua Segundo MacKay 2000 na linguagem as modalidades oral e escrita se completam guardando cada uma suas propriedades O fato de possuírem formas características não pode nos levar à falsa noção de que são modalidades destituídas de pontos de integração Marcuschi 2010 concorda com essa afirmação ressaltando que a relação entre fala e escrita não é dicotômica nem paralela mas complementar e que as propriedades que as distinguem são mais da ordem da materialidade fônica som e a gráficovisual Em todos os casos tratase de eventos em que se dá um uso situado da mesma língua Sendo assim não é válido dizer que a fala sempre faz uso da língua no nível coloquial e no registro informal e a escrita opera no nível culto e no registro formal Vamos ver isso melhor Por um lado é possível observar o uso da língua em nível coloquial e no registro informal também no texto escrito tanto na reprodução da fala de alguns personagens na literatura quanto em bilhetes de nosso dia a dia Além disso o desenvolvimento de novas Tecnologias de Informação e de Comunicação TIC as redes sociais e as novas mídias aliados aos dispositivos móveis nos oferecem muitas situações de escrita no nível coloquial quando por exemplo publicamos textos no Facebook enviamos mensagens por WhatsApp ou publicamos no Instagram eou no Twitter Essas novas formas de comunicação aproximaram ainda mais a linha contínua que existe entre as modalidades da fala e da escrita Por outro lado podemos pensar na utilização do nível culto e do registro formal na fala dos noticiários da TV nas conferências e mesmo na fala de professores em sala de aula Nessas práticas comunicativas ocorre uma mescla de fala e da escrita pois se trata de eventos orais que têm por trás um texto escrito Além disso são falas que ocorrem em situações formais de comunicação Koch em seu livro O texto e a construção de sentidos 2003 reafirma que os textos podem se apresentar de várias formas ou seja ora se aproximando do polo da fala por exemplo os bilhetes domésticos os bilhetes de casais emails entre amigos as piadas ora se aproximando do polo da escrita por exemplo os discursos de posse de cargo as conferências as entrevistas especializadas e propostas de produtos de alta tecnologia por vendedores especialmente treinados Conforme observa a autora a fala e a escrita constituem duas possibilidades de uso da língua que utilizam o mesmo sistema linguístico e que apesar de possuírem características próprias não devem ser vistas de forma dicotômica ou seja totalmente distinta Koch 2003 ainda aponta para algumas diferenças que podem ocorrer entre fala e escrita em seu processo de produção e elaboração a fala não é planejada é mais fragmentada e incompleta às vezes pouco elaborada e possui a predominância de frases curtas e simples a escrita já é mais planejada não é fragmentada e apresentase mais completa às vezes mais elaborada e possui a predominância de frases mais complexas entre outras características 14 15 Fávero Andrade e Aquino 2002 apud MacMay 2000 observam que as gramáticas ao adotarem como parâmetro a escrita e associarem a fala a um dos seus registros de realização o informal fortalecem o enfoque que polariza as duas modalidades por não incluir a possibilidade da existência de níveis de formalidade As autoras sinalizam para o fato de que na verdade tanto a fala como a escrita abarcam um continuum que vai do registro mais informal ao mais formal passando por graus intermediários As autoras afirmam ainda que essa variação depende das condições de produção do texto Fávero Andrade e Aquino 2002 p273 Tais condições estão em estreita relação com o contexto com as condições de interação com os interlocutores e com o tipo de processamento da informação Assim na língua falada há entre falante e ouvinte um intercâmbio direto o que não ocorre com a língua escrita na qual a comunicação se faz geralmente na ausência de um dos participantes na fala as marcas de planejamento do texto não aparecem porque a produção e a execução se dão de forma simultânea por isso o texto oral é pontilhado de pausas interrupções retomadas correções etc o que não se observa na escrita porque o texto se apresenta acabado tendo existido um tempo para a sua elaboração revisão e reescrita Destacamos no quadro a seguir a título de ilustração e orientação algumas especificidades quanto ao uso da língua em relação às modalidades da fala e da escrita reafirmando sempre que ambas atuam num contínuo e que não há uma separação uma fronteira absolutamente clara entre uma e outra A fala Mais espontaneidade e fluidez Sem planejamento mais direta e econômica Apoio da situação física do contexto do conhecimento do interlocutor das expressões faciais dos gestos das pausas das modulações da voz das referências do ambiente Repetição de informações para explicar ou resolver dúvidas do interlocutor Uso de frases mais simples e diretas períodos curtos com orações coordenadas Expressão das ideias com mais truncamentos cortes repetições titubeios e problemas de concordância Uso de expressões de nível mais informais com mais frequência A escrita Planejamento cuidadoso do texto para assegurar que o leitor compreenda Sem o apoio imediato e direto do contexto ou seja não é possível resolver dúvidas imediatamente Sem o auxílio de recursos como gestos voz expressões faciais Revisão para avaliar o texto e evitar repetições desnecessárias de palavras truncamentos problemas de concordância regência colocação pronominal pontuação ortografia Utilização de sintaxe organização da frase mais complexa Observação da exatidão e clareza do pensamento Orações subordinadas mais frequentes na escrita que na fala Utilização de um vocabulário mais exato e preciso pois temos tempo de procurar a palavra adequada Não recomendável o uso de gírias e expressões coloquiais principalmente a situação comunicativa é formal 15 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Destacamos ainda como afirma Marcuschi 2010 p35 que assim como a fala não apresenta propriedades intrínsecas negativas também a escrita não possui propriedades intrínsecas positivas Para o autor seria equivocado pensar em algum tipo de supremacia ou superioridade de uma das modalidades em relação a outra Se a escrita é vista como mais prestigiosa do que a fala não devemos atribuir esse prestígio a algum critério intrínseco ou a parâmetros linguísticos e sim a uma postu ra ideológica e a um valor sociocultural Vale lembrar que há culturas em que a fala tem mais prestígio do que a escrita como na Índia em que a forma oral é sagrada e a escrita não inspira confiança MARCUSCHI 2007 apud OLSON 1997 A título de comparação por um lado podemos dizer que em relação ao uso da língua e ao processamento da fala em situações comunicativas face a face a acentuação relevo de sílaba ou sílabas a entoação melodia da frase as pausas intervalos significativos no decorrer do discurso além da possibilidade de gestos olhares piscadas conferem a essa modalidade um caráter expressivo mais espontâneo estando ela também mais sujeita a transformações no léxico e a evoluções mais rápidas em suas formas de dizer Por outro a modalidade escrita quanto ao uso e ao processamento de textos exige do produtor mais planejamento na elaboração além de outros recursos para marcar a expressividade como o uso da pontuação e de diferentes marcas gráficas como tipos de letras negritos itálico etc Na escrita as transformações relativas ao léxico e às formas de dizer se processam de forma lenta e em número consideravelmente menor quando cotejada com a modalidade da fala Em síntese podemos afirmar respaldados em Marcuschi 2010 p37 que as diferenças entre a fala e a escrita se dão em um contínuo tipológico das práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica entre dois polos opostos Partindo da concepção e do funcionamento da língua que apresentamos as diferenças entre a fala e a escrita podem ser vistas na perspectiva do uso Para ilustrar um pouco mais o que afirmamos anteriormente observe a analogia que o Prof Evanildo Bechara faz em suas palestras em casa costumamos nos vestir de maneira mais simples sem maquiagem salto alto ou artifícios Andamos de roupa caseira simples confortável Quando saímos procuramos cuidar um pouco mais da aparência Colocamos uma roupa melhor usamos sapatos novos penteamos o cabelo com maior cuidado etc E se vamos a uma festa então é que nos arrumamos mais ainda E assim deve acontecer com língua tanto na modalidade da fala quanto na modalidade escrita a língua deve variar de acordo com as diferentes situações de uso quanto mais formal for a situação mais cuidados serão exigidos do falanteprodutor de textos 16 17 Variações Linguísticas e a Norma urbana de prestígio ou Norma Padrão Para falar de uma língua e de seus usos precisamos lembrar que toda língua tem uma história No caso da língua portuguesa que se fala no Brasil para conhecêla é preciso recuar quase 500 anos e começar pela chegada dos primeiros colonos portugueses à baía de São Vicente em 1532 até chegar ao momento atual Não faremos todo esse percurso pois não é esse o intuito dessa disciplina mas vale lembrar que para a formação do português que se fala no Brasil concorreram as contribuições dos seguintes contingentes humanos colonos portugueses indígenas africanos imigrantes europeus e asiáticos Todas essas influências contribuíram para uma natural diversidade da língua que utilizamos atualmente Além disso nenhuma língua é homogênea e em seu uso denota características que estão relacionadas a diversos fatores como espaço geográfico condições socioculturais nível de escolarização idade atuação profissional entre outros Sendo assim encontramos no uso da língua portuguesa que se fala no Brasil uma gama de variações de uma mesma língua variações estas influenciadas pela extensão geográfica do Brasil pelas diferentes culturas regionais pela diversidade de colonização pela acentuada diferença socioeconômica entre outros Vamos conhecer algumas delas Basta conversar um pouco com algumas pessoas que começamos a perceber uma diferença em seus falares Erres mais puxados o som do s que parece um x uma entonação e um ritmo diferentes no encadeamento das frases concorda Não demora e já estamos perguntando Você é daqui mesmo De que lugar do Brasil você vem Essa é a variação que denominamos de regional A variação regional é determinada pela localização dos falantes de um certo espaço geográfico onde moram onde nasceram É possível fazer a relação entre a região de origem de um falante e marcas específicas que utiliza quando se expressa na língua No Brasil reconhecemos facilmente se estamos falando com um mineiro um carioca um nordestino pela pronúncia que faz de alguns sons da língua pela entonação que dá às frases pelo vocabulário que usa pela sintaxe que emprega na construção das frases Os falares regionais brasileiros são riquíssimos em suas diferenças não é mesmo Às vezes a diferença é tão grande que as variações regionais parecem ser uma outra língua Assista a um vídeo para ouvir algumas delas acessando o link Variações Linguísticas Regionais httpsyoutubeiu4ra9tkFWM Explor Mas os diferentes falares da língua portuguesa no Brasil não são determinados apenas pelas diferenças geográficas E importante quando estamos nos referindo a falares não se trata apenas da modalidade oral a fala As variações ocorrem 17 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos também na escrita fique atento Mas como íamos dizendo mesmo em uma só região vamos encontrar diversidade no uso da língua por grupos de falantes que procedem de diferentes segmentos da sociedade Como no Brasil as classes sociais menos favorecidas têm pouco acesso à escolarização veremos que há um outro tipo de variação a Social A variação social é estabelecida por dois grupos distintos falantes mais escolarizados e falantes menos escolarizados Esse segundo grupo em geral é aquele que transgride as regras da gramática normativa Observe no poema a seguir de Patativa do Assaré poeta popular nordestino as marcas de variação regional e social e veja como elas podem se transformar em poesia O Poeta da Roça Sou fio das mata canto da mão grossa Trabáio na roça de inverno e de estio A minha chupana é tapada de barro Só fumo cigarro de paia de mío Sou poeta das brenha não faço o papé De argun menestré ou errante cantô Que veve vagando com sua viola Cantando pachola à percura de amô Não tenho sabença pois nunca estudei Apenas eu sei o meu nome assiná Meu pai coitadinho Vivia sem cobre E o fio do pobre não pode estudá Meu verso rastero singelo e sem graça Não entra na praça no rico salão Meu verso só entra no campo e na roça Nas pobre paioça da serra ao sertão 18 19 Você acredita que a forma de falar e de escrever comprometeu a emoção transmitida por esse poema Patativa do Assaré era analfabeto sua filha é quem escrevia o que ele ditava mas sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida mesmo na Europa Observe que nesse poema podemos falar em marcas de variação regional no uso de algumas palavras típicas da região nordestina chupana tapada de barro cobre menestré pachola paioça e outras que revelam a variação social todas as transgressões de concordância nominal sou fio das mata nas pobre paioça e ortográficas e fonéticas fio argun assiná estudá rastero veve etc Em alguns casos temos mesmo dificuldade em entender a língua portuguesa mesmo escrita não é Disponível em httpsgooglIFw17I Explor Além desses fatores podemos observar que o uso da língua também varia de pessoa para pessoa e até varia na fala de uma mesma pessoa Não falamos com um amigo da mesma forma que falamos com nosso chefe no trabalho Não é só uma diferença de assunto é também na forma com que construímos as frases as escolhas de palavras a observação e cuidado com as regras gramaticais Esse é outro tipo de variação a que denominamos variação situacional pois depende da situação de comunicação e de todos os elementos que a compõem contexto mais formal ou informal interlocutor conhecido íntimo hierarquicamente posicionado das intenções de comunicação contraporse agradecer dar ordens aconselhar etc entre outros Observe no link a seguir como alguns adolescentes em uma gravação bem simples no Youtube ilustram cenas de variação situacional ou seja em que alguns interlocutores observam a adequação no uso da linguagem em situações mais formais e outros não ou ainda não observam a adequação ao usar a linguagem para falar com um bebê por exemplo Vai ficar fácil de entender Acesse Variação Situacional httpsyoutubexy77IRV9cmE Explor Isso mostra como é importante adequar o uso da língua às práticas sociais diferentes concorda Todas essas variações comprovam que o uso da língua portuguesa no Brasil é diverso e de uma riqueza muito grande No entanto além dessas variações temos um uso que segue mais as normas da gramática que teima em ser reconhecido como o uso mais correto da língua a que nomeamos Norma urbana de prestígio ou norma padrão Os princípios que regulam as propriedades dessa variação extrapolam critérios puramente linguísticos Na maioria das vezes o que a determina se relaciona à classe social de prestígio e ao grau relativamente alto de educação formal dos falantes As outras variações geralmente desviam desses parâmetros 19 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Assim a Norma urbana de prestígio ou Norma padrão está associada ao nível culto da língua De acordo com Irandé Antunes 2007 essa Norma é um projeto da sociedade letrada que pretende garantir para a comunidade nacional certa uniformidade linguística uniformidade aqui entendida como o cuidado por criar uma língua comum estandardizada com ênfase no geral e não em particularidades regionais locais ou setoriais Percebese portanto que a ideia subjacente ao conceito de norma urbana de prestígio é a unificação linguística na tentativa de facilitar a interação pública neutralizando certos usos Em Faraco 2002 encontramos a seguinte definição de norma urbana de prestígio Norma linguística praticada em determinadas situações aquelas que envolvem certo grau de formalidade por aqueles grupos sociais mais diretamente relacionados com a cultura escrita em especial aquela legitimada pelos grupos que controlam o poder social Faraco 2002 p40 A norma urbana de prestígio é pois aquela que segue as regras da gramática normativa ou seja a gramática que tem como função não só descrever a língua e seus fatos mas sobretudo de prescrever o que se deve usar e o que não se deve usar na língua Sendo assim em sua concepção retomamse os parâmetros definidos por uma classe social de prestígio e por certos órgãos oficiais que sistematizam o que se costuma chamar de o melhor uso da língua e tudo o que foge a esse padrão é inferiorizado desprestigiado e faz parte das variações não padrão aquelas que vimos um pouco antes no texto que estão associadas ao nível coloquial ou popular da língua Daí decorre a ideia do falar certo e falar errado que circula socialmente e costuma ser tão bem aceita não é No entanto vale ressaltar que é exatamente esse nível o coloquial e popular que assimila as mudanças provocadas pelo próprio fluxo natural da língua ao incorporar novos usos mas que são vistas como decadência degeneração ou erros Segundo Irandé Antunes 2007 o problema é que o movimento da língua ficou inexoravelmente destinado a ser do melhor para o pior Para a autora no entanto toda mudança na língua tem sua lógica e sua motivação o que possibilita que um padrão possa ser substituído por outros É o que o texto do Millôr que vimos anteriormente nesta unidade dizia nenhuma língua sobreviveu sem o povo Precisamos pensar entretanto conforme pondera Preti 2003 que a noção de norma urbana de prestígio serve diretamente às intenções do ensino no sentido de padronização da língua criando condições ideais de comunicação entre as várias áreas geográficas e também propiciando aos estudantes as condições para a leitura e compreensão dos textos literários e científicos que se expressam nessa variação Vale lembrar ainda que é a norma urbana de prestígio a variação adotada pelos meios de comunicação emissoras de rádio e televisão jornais revistas internet etc o que permite a divulgação dos mesmos textos e informações para todos os brasileiros Só é preciso ficar atento para que essa padronização no uso da língua não sirva a discriminações a preconceitos linguísticos e à supremacia de uma só classe social 20 21 Importante Dominar a norma urbana de prestígio é essencial para que possamos nos desenvolver e ter mais desenvoltura nos meios acadêmicos e profi ssionais Por isso aproveite a disciplina para ampliar e atualizar seus conhecimentos da língua portuguesa sobretudo os relativos à norma urbana de prestígio Importante Em síntese este estudo sobre as variações linguísticas não pretende que você apenas saiba identificálas avaliar sua adequação à situação comunicativa e ao contexto mas também que ao compreendêlas você possa posicionarse frente a todo e qualquer preconceito linguístico Além disso é preciso ter em mente que em seus textos acadêmicos em suas redações para concursos em textos e relatórios que colocar em circulação no âmbito profissional é a norma urbana de prestígio que precisa prevalecer Em textos escritos em apresentações orais no âmbito acadêmico e profissional portanto é necessário evitar gírias regionalismos repetições desnecessárias cacoetes abreviações clichês e todos os elementos típicos do uso da língua em nível coloquial Quando fazemos essas observações estamos falando no uso situado da língua Estamos admitindo que nos comunicamos por meio de textos Essas ideias nos remetem a nossos próximos temas e concepções o texto e o contexto Texto e Contexto O Uso Situado da Língua Agora que nos apropriamos da noção de língua e de suas variações vale lembrar que estamos sempre interagindo socialmente por meio de textos que pertencem a determinados gêneros em situações comunicativas específicas que ocorrem em diferentes contextos Ficou difícil de entender Tranquilizese Esses são os conceitos que abordaremos nas próximas seções Vamos lá Concepção de Texto Para apresentar a concepção de texto partimos da ideia essencial que ninguém interage verbalmente a não ser por meio de textos Antunes 2005 p40 Mas o que vem a ser essa entidade o texto É o que pretendemos responder nessa seção já ressaltando que esse é um conceito bastante complexo pois o texto é objeto de pesquisa das ciências da linguagem há muitas décadas e sua concepção se transformou e se transforma a partir da perspectiva teórica pela qual o abordamos Nessa disciplina tomaremos o texto como um evento comunicativo para o qual convergem ações linguísticas culturais sociais e cognitivas BEAUGRANDE 1997 p10 Veja que por essa definição ficou distante a ideia de texto apenas como 21 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos uma sequência de frases organizadas em períodos e agrupadas em parágrafos não é mesmo Da forma como concebemos o texto nele estão imbricados aspectos que não são apenas linguísticos embora esses últimos também sejam elementos que constituem os textos responsáveis por sua materialidade Além disso essa con cepção aponta para o caráter dinâmico do texto em que o entendemos como um processo do qual participam o produtor e o leitor e não mais um produto acabado que depende apenas de ser produzido e colocado para recepção de um interlocutor Dessa perspectiva podemos admitir então que um conjunto aleatório de palavras ou de frases não constitui um texto ANTUNES 2010 p30 Todo usuário da língua tem esse discernimento mesmo que intuitivamente pois como nos afirma Antunes 2010 p30 não é muito difícil não têlo até porque não andamos por aí esbarrando em não textos Vale lembrar ainda que em todas as situações comunicativas o que falamos e o que escrevemos mesmo que não seja totalmente adequado para os padrões mais formais são textos Precisamos então delimitar alguns aspectos que são imprescindíveis para que possamos nos apropriar efetivamente da concepção de texto que apresentamos aqui Em primeiro lugar recorremos a um texto quando queremos nos comunicar e buscamos expressar esse desejo de comunicação Assim todo texto tem uma intenção um ou mais objetivos que precisam ser identificados pelo interlocutor para que a nossa atuação comunicativa seja bemsucedida Desse primeiro aspecto decorre um segundo bem importante que é o fato de o texto como atividade comunicativa envolver sempre um outro isto é o interlocutor que podemos chamar também de leitor ou ouvinte caso seja um texto produzido na fala ou na escrita Além desses dois primeiros o terceiro aspecto relevante para a noção de texto que apresentamos é que todo texto é caracterizado por uma orientação temática quer dizer o texto se constrói a partir de um tema de uma ideia central que lhe dá continuidade e unidade ANTUNES 2010 p32 Vamos entender melhor esses três aspectos essenciais para nos apropriarmos da noção de texto Observe o trecho a seguir Religiosidade Monstro planos sexo cantor pela denúncia paguei fazer sobre pretendem enfermeira menino milhões presente vivavoz telefone estar risco com mercado o Computador completo ficar frontal você veloz se para esperar doméstico brincando mamífero moda Relógios cartas sobre expectativa inteiro promoção empregadas sabati na campanha novo queijo compra Brasil meninosExemplo retirado de Antunes I 2010 p32 22 23 Então Deu para perceber nesse trecho uma intenção comunicativa do produtor É possível perceber nele uma função comunicativa um tema sobre o qual ele se constrói Podemos dizer que esse apanhando de palavras que parece um texto possui uma continuidade e constitui uma unidade Claro que não concorda Esbarramos aqui pois com um nãotexto Mas nos resta então saber quais são os critérios que nos permitem reconhecer um texto Na literatura linguística Beaugrande 1997 apresenta sete princípios de textualidade que orientam nossa análise para identificar uma sequência de palavras como texto ou não além de eles servirem como parâmetros para nos certificar como produtores se estamos elaborando algo que será identificado como um texto e que tem chances de ser bemsucedido em seu propósito comunicativo Os sete princípios são a coesão a coerência a intencionalidade a aceitabi lidade a informatividade a intertextualidade a situacionalidade Não nos detere mos muito nesses princípios pois não é esse o objetivo desta unidade Vale saber entretanto que os princípios da coesão e da coerência que dizem respeito à continuidade e à unidade temática no texto serão trabalhadas especificamente em outra unidade Quanto aos outros apresentamos a seguir uma breve definição 1 a intencionalidade e a aceitabilidade remetem para a disponibilidade de cooperação dos interlocutores envolvidos na interação verbal o produtor de dizer somente o que tem sentido e o ouvinte ou leitor de fazer o esforço necessário para processar os sentidos e as intenções expressas pelo produtor 2 a situacionalidade é uma condição para que o texto aconteça pois todo texto ocorre em uma determinada situação comunicativa Nenhum texto ocorre no vazio mas em um determinado contexto sociocultural Se pensarmos em uma palestra ela faz parte de uma programação de um evento e será determinada por ela em seus detalhes tema duração público a quem se dirige etc 3 a informatividade diz respeito ao grau de novidade e de imprevisibilidade que o texto traz dentro de uma dada situação comunicativa ou contexto Tanto uma como outra podem estar relacionadas à forma ou ao conteúdo do texto por exemplo se na época de natal uma empresa divulga seus produtos em anúncio de revista que se apresenta como cartas ao Papai Noel escritas por produtores de diferentes estilos e idades há um grau de novidade quanto à forma pois não é esperado que o texto de uma propaganda venha na forma de uma carta e ainda mais dirigida ao Papai Noel Podemos dizer então que o texto possui um alto grau de informatividade pois traz novidade e imprevisibilidade quanto à forma e ao conteúdo Ficou mais fácil de entender esse princípio Em geral encontramos em textos criativos e surpreendentes um alto grau de informatividade 23 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos 4 a intertextualidade diz respeito à inserção em um determinado texto de outros textos já existentes já em circulação Fazemos isso diretamente em citações teóricas por exemplo em monografias textos didáticos ou dissertações também podemos fazêlo de maneira mais indireta quando inserimos em um texto um trecho uma frase que remete a outro texto Observe Queridíssima Há muito tempo que não te escrevo Notícias poucas Aqui na terra estão jogando futebol O seu Corinthians olha nem te conto Ivan Ângelo Queridíssima Revista Veja 28 de nov p 246 O trecho acima faz parte de uma crônica do escritor Ivan Ângelo na revista Veja A frase destacada foi retirada da letra de uma canção de Chico Buarque de Holanda e Francis Hime Meu Caro Amigo observe Meu caro amigo me perdoe por favor Se eu não lhe faço uma visita Mas como agora apareceu um portador Mando notícias nessa fita Aqui na terra tão jogando futebol Tem muito samba muito choro e rockn roll Uns dias chove noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta Letra completa e a canção disponíveis em httpsgoogltccB9c Sempre que lançamos mão do princípio da intertextualidade como produtor temos uma intenção um objetivo Nesse caso Chico Buarque e Francis Hime criaram uma carta em forma de canção durante a ditadura militar para dar notícias do Brasil para quem estava exilado E a frase aqui na terra tão jogando futebol é colocada no texto de forma irônica pois ele fala de uma série de coisas normais chuva samba e depois conclui que a coisa aqui tá preta Ou seja embora pareça nada aqui anda bem Na crônica o autor Ivan Ângelo utiliza a mesma frase com a mesma intenção em um mesmo contexto No caso ele escreve uma crônica em forma de carta assim como os compositores fizeram uma música em forma de carta Além disso Ivan Ângelo logo após inserila em seu texto vai falar do time da amiga Corinthians que não anda bem e na sequência da crônica também mostra que não é só o futebol que não está dando certo no Brasil Ao fazer um texto remeter a outro estamos muitas vezes reforçando os nossos objetivos com aquele texto de forma que o meu leitor possa percebêlos com mais facilidade Para isso preciso contar 24 25 com os conhecimentos do meu interlocutor não é mesmo É necessário ainda que o leitor da revista conheça a música de Chico Buarque para atribuir sentidos à crônica e perceber os objetivos do autor Esses princípios nos remetem então à importância de estarmos sempre atentos à relação entre os parceiros da interação verbal produtorlocutor e leitorouvinte ou seja os interlocutores da atividade comunicativa Afinal a interação verbal é a realidade fundamental da língua Isto quer dizer que a produção de sentidos nos textos não ocorre dentro da mente de cada interlocutor mas numa atividade conjunta entre eles que surge na interação Toda interação verbal pressupõe comunicação conversação e troca de informações Mas isso não ocorre apenas em práticas comunicativas online ou face a face mas também nas produções escritas Nesse último caso na escrita para que a interação ocorra de maneira bemsucedida é preciso levantar hipóteses sobre os interlocutores envolvidos tanto para a produção quanto para a leitura organizar o texto pensar bem nas escolhas das palavras enfim é preciso planejar e se antecipar Vale destacar portanto que a interação é o lugar e o modo de funcionamento da linguagem em relação à maneira como o sentido é construído na atividade textual Essa noção de interação verbal nos leva a perceber que tanto produtor quanto leitor são sujeitos do fazer textual Esse fato tornaos sujeitos complexos determinados e mobilizados do ponto de vista sociocultural para atuar por meio da linguagem Podemos definir esses interlocutores pois como atores sociais Assim como as práticas comunicativas são situadas isto é estão relacionadas a um determinado contexto produtor e leitor trazem para a interação verbal suas experiências vivências conhecimentos crenças e valores Não produzimos textos não lemos textos e não falamos de maneira isenta Sempre trazemos para a interação verbal quem somos o que sabemos como vivemos Por isso dizemos que os processos de leitura e de escrita não dependem apenas do domínio das palavras do material linguístico Vamos ver como isso ocorre analisando um pequeno texto Acompanhe o texto a seguir com atenção Circuito Fechado Chinelos vaso descarga Pia sabonete Água Escova creme dental água espuma creme de barbear pincel espuma gilete água cortina sabonete água fria água quente toalha Creme para cabelo pente Cueca camisa abotoaduras calça meias sapatos telefone agenda copo com lápis caneta blocos de notas espátula pastas caixa de entrada de saída vaso com plantas quadros papéis cigarro fósforo Bandeja xícara pequena Cigarro e fósforo Papéis telefone relatórios cartas notas vales cheques memorandos bilhetes telefone papéis Relógio Mesa cavalete cinzeiros cadeiras esboços de anúncios fotos cigarro 25 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos fósforo bloco de papel caneta projetos de filmes xícara cartaz lápis cigarro fósforo quadronegro giz papel Mictório pia água Táxi Mesa toalha cadeiras copos pratos talheres garrafa guardanapo Xícara Maço de cigarros caixa de fósforos Escova de dentes pasta água Mesa e poltrona papéis telefone revista copo de papel cigarro fósforo telefone interno gravata paletó Carteira níqueis documentos caneta chaves lenço relógio maço de cigarros caixa de fósforos Jornal Mesa cadeiras xícara e pires prato bule talheres guardanapos Quadros Pasta carro Cigarro fósforo Mesa e poltrona cadeira cinzeiro papéis externo papéis prova de anúncio caneta e papel relógio papel pasta cigarro fósforo papel e caneta telefone caneta e papel telefone papéis folheto xícara jornal cigarro fósforo papel e caneta Carro Maço de cigarros caixa de fósforos Paletó gravata Poltrona copo revista Quadros Mesa cadeiras pratos talheres copos guardanapos Xícaras cigarro e fósforo Poltrona livro Cigarro e fósforo Televisor poltrona Cigarro e fósforo Abotoaduras camisa sapatos meias calça cueca pijama espuma água Chinelos Coberta cama travesseiro Ricardo Ramos O texto de Ricardo Ramos é uma crônica texto que tem o objetivo de relatar um fato contar uma história e também de fazer uma reflexão sobre aquilo que relata ou conta Nesse caso o autor faz isso usando apenas substantivos e a pontuação Esse fato mostra um alto grau de informatividade pela novidade e imprevisibilidade que traz Em geral usamse verbos adjetivos advérbios enfim frases completas para elaborar um relato e contar uma história Além disso podemos perceber os princípios de intencionalidade e aceitabilidade o autor ao selecionar apenas substantivos tem a intenção de surpreender o seu leitor e chamar atenção para o que diz ao mesmo tempo em que espera que seu interlocutor compreenda o seu objetivo e utilize seus conhecimentos para isso Em relação à situacionalidade podemos pensar que por se tratar de um texto como a crônica que circula no âmbito literário o autor pôde lançar mão dessa estratégia e surpreender o seu leitor pois isso é admissível no âmbito da literatura O mesmo não ocorreria se estivéssemos no âmbito profissional por exemplo em que não se admite essa quebra de expectativas Os gêneros profissionais admitem poucas mudanças Quanto à coesão e à coerência observe que embora não haja frases completas conjunções que ligam orações nem mesmo marcadores temporais que mostrem que as ações acontecem num tempo cronológico a própria seleção de palavras que remete a diferentes momentos do cotidiano de um personagem realiza esse encadeamento de ações e compõe uma unidade no texto Ao fim da leitura podemos compreender que se trata do relato de um dia da vida de um profissional que trabalha na área de publicidadepropaganda um fumante solitário cujo objetivo na vida é levantar trabalhar e retornar para a sua casa o que leva a uma reflexão sobre o sentido da vida Concorda Podemos com nossos conhecimentos e analisando detidamente as palavras chegar a mais detalhes e 26 27 encontrar outros sentidos para esse texto pois esse é um bom exemplo de como o produtor e leitor participam ativamente da produção de sentidos em um texto e como não utilizamos apenas as palavras na interação verbal Contexto A partir da noção que estabelecemos de texto em que estão imbricados aspectos culturais sociais e cognitivos podemos compreender melhor a noção de contexto e sua importância para a produção de sentidos Se como vimos o sentido não está somente nas palavras mas é construído na interação entre locutortextointerlocutor então estamos dizendo que em toda a situação de interação os sujeitos orientam as suas ações linguísticas e não linguísticas levando em conta o contexto Vejamos alguns exemplos quando fazemos uma visita a um professor não agimos da mesma maneira quando visitamos amigos e parentes ou uma mensagem no WhatsApp que enviamos para o namorado é bem diferente daquela que escrevemos para um chefe ou outra pessoa do trabalho concorda Podemos dizer então que em toda situação de interação temos de levar em conta os interlocutores os conhecimentos que compartilhamos o propósito da comunicação o lugar e o tempo em que nos encontramos os papéis sociais que assumimos e os aspectos históricos e culturais que estão aí implicados Em síntese a noção de contexto engloba as situações comunicativas o tempo e o lugar as determinações e condições socioculturais e históricas as representações sociais compartilhadas conhecimentos prévios e vivências dos interlocutores as relações dos participantes médicopaciente patrão empregado os objetivospropósitos comunicativos transferir ou buscar conhecimentos provocar o riso aconselhar orientar O contexto é enfim tudo aquilo que de alguma forma contribui paraou determina a construção do sentido KOCH e ELIAS 2006 É importante perceber que o contexto não é apenas o entorno o que está em volta do texto mas todos os elementos internos e externos ao texto em si que contribuem para a realização desse evento comunicativo Seguindo adiante na apresentação dos conceitos que estão presentes nas diferentes unidades desta disciplina veremos que ao interagir verbalmente por meio de textos estamos na verdade nos referindo aos gêneros textuais que circulam socialmente Vamos entender melhor isso Acompanhe a próxima seção 27 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Os Gêneros e as Esferas de Atividade Toda vez que nos referimos às nossas interações verbais na fala ou na escrita damos um nome a elas Observe em nossos diálogos cotidianos que não dizemos hoje recebi um texto ou então vou assistir a um texto do professor Gilberto nesse congresso não é mesmo Normalmente vamos falar assim hoje recebi um email do escritório ou então vou assistir a uma palestra do Professor Gilberto nesse congresso certo Sendo assim formamos intuitivamente a noção de gêneros que nada mais são do que os textos materializados com que nos deparamos no nosso dia a dia Palestra email carta horóscopo monografia artigo científico entrevista notícias reportagem editorial conto romance receita culinária manual de instrução bula de remédio conferência videoaula etc são exemplos de gêneros com os quais lidamos de maneira mais ou menos cotidiana A lista dos gêneros que circulam socialmente é muito extensa e não caberia aqui tentar apresentála integralmente O importante é apreender que esse conceito está diretamente relacionado às esferas de atividade humana ou seja esferas de comunicação verbal como a jurídica jornalística religiosa acadêmica profissional entre tantas outras Essas esferas de atividade são regidas por leis próprias as quais determinam a posição os poderes os deveres os valores dos indivíduos que nelas atuam Em todos os campos de atuação humana vamos encontrar gêneros específicos que correspondem às práticas sociais comunicativas que lhes são próprias por exemplo na esfera de atividade jornalística vamos encontrar gêneros como a notícia a reportagem o editorial a carta do leitor a entrevista etc já na esfera acadêmica vamos encontrar a monografia a dissertação o artigo científico o resumo a resenha entre outros Ficou mais clara essa relação entre gêneros e esfera de atividade Vamos então completar a noção intuitiva que temos de gêneros são textos materializados que encontramos em nossa vida diária que estão relacionados a determinadas esferas de atividade que apresentam características sociocomunica tivas definidas por conteúdos propriedades funcionais estilo e composição especí ficos MARCUSCHI 2010 p25 28 29 Veja a seguir em um exemplo como podemos identificar essas características sociocomunicativas em um gênero específico Um advogado e sua sogra estão em um edifício em chamas Você só tem tempo pra salvar um dos dois O que você faz Você vai almoçar ou vai ao cinema Explor O gênero em questão é uma piada que circula em uma esfera de atividade pessoal pública ou privada ou seja a piada ocorre em ambientes em que estamos em um círculo de amigos ou de colegas de trabalho ou nas redes sociais etc Este gênero como todos os outros apresenta algumas características sociocomunicativas pelas quais pode ser identificado tem como função propriedades funcionais provocar o riso é um texto para divertir sua temática traz dois elementos bastante presentes e comuns ao gênero a sogra e os advogados os quais em geral como tipos sociais desagradam as pessoas o estilo e a composição são bem específicos e identificáveis texto curto uma narrativa que apresenta uma situação problema e que surpreende na solução sempre com a intenção de fazer graça Além disso a linguagem em geral é utilizada em nível coloquial e em forma de diálogos ou perguntas que se dirigem diretamente ao interlocutor Ficou mais fácil compreender esse conceito e suas propriedades Muitas são as linhas teóricas e os autores que se dedicam a estudar os gêneros pois esse é um rico conceito da linguística que pode nos falar da mente da sociedade da linguagem e da cultura conforme atesta Bazerman 2006 p9 De acordo com esse autor o gênero dá forma às nossas ações e intenções por isso sempre que vamos interagir verbalmente precisamos escolher o gênero adequado à determinada prática social e esfera de atividade Essa escolha é uma decisão estratégica que deve levar em conta os objetivos o lugar social dos participantes a situação comunicativa a composição e o estilo do texto Esses são alguns pontos aos quais devemos estar atentos em nossa vida aca dêmica e profissional ao interagir verbalmente na fala e na escrita Com certeza apreender a noção de gêneros vai nos auxiliar a lidar com os textos que circulam socialmente nas diferentes esferas em que atuamos pela linguagem Lembrando que dominar um gênero não é apenas dominar uma forma linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais parti culares MARCUSCHI 2010 p31 Acreditamos que nesta unidade ampliamos nosso olhar sobre a língua que usamos e sobre as atividades de linguagem relativas aos processos de leitura e de escrita que teremos como desafio tanto na formação acadêmica quanto na vida profissional 29 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Relembramos que você deve elaborar uma ficha de estudos que contemple as noções aqui apresentadas que com certeza vai auxiliáloa no acompanhamento da disciplina Como dissemos no início vamos sempre contemplar no material teórico um conteúdo gramatical Nesta unidade apresentamos o Novo Acordo Ortográfico Você está a par das mudanças que esse Acordo propõe Na seção seguinte informese sobre o que muda e o que permanece no uso da língua em relação à sua ortografia a partir desse Acordo Bom trabalho O Novo Acordo Ortográfico Como visamos nesta disciplina ampliar os conhecimentos gramaticais que a norma urbana de prestígio segue e exige destacamos o Novo Acordo Ortográfico vigente desde o ano de 2009 para os países lusófonos No Brasil sua implementação obrigatória ocorreu a partir de 2012 Acompanhe um pouco da história desse Acordo a seguir Após muita polêmica entre os países lusófonos atualmente representados por Portugal Brasil Angola Moçambique GuinéBissau São Tomé e Príncipe Cabo Verde Timor Leste e Guiné Equatorial o Congresso Nacional o Ministério da Educação do Brasil e o meio acadêmico o Novo Acordo Ortográfico foi implantado Nessa trajetória as maiores resistências ao acordo vieram de Portugal justamente o país que teve mudanças mais significativas Os portugueses só ratificaram o acordo em maio de 2008 As primeiras tentativas de unificação ortográfica aconteceram no início do século XX No Brasil já houve duas reformas ortográficas em 1943 e em 1971 Ou seja um brasileiro com mais de 65 anos está vivenciando a terceira grande mudança em relação à ortografia de sua língua Há muita gente que rechaçou a unificação dizendo que havia coisas mais importantes a fazer em relação à língua portuguesa Quem defendeu argumentou por exemplo que o português está entre as línguas mais faladas no mundo sendo a única que ainda não estava unificada Para entender melhor os prós e os contras leia a reportagem com o professor Evanildo Bechara acessando o link Gramático Evanildo Bechara defende novo acordo ortográfico httpsgooglF1E039 Explor 30 31 A seguir apresentamos uma síntese das principais mudanças que o Novo Acordo Ortográfico propõe Leia com atenção para que possa aplicar essas mudanças na produção escrita em suas esferas de atividades acadêmica e profissional Saiba o que muda com o Novo Acordo Ortográfico 1 Alfabeto ganha três letras Antes 23 letras Depois 26 letras entram k w e y 2 Trema desaparece em todas as palavras Antes freqüente lingüiça aguentar Depois frequente linguiça aguentar Fica o acento em nomes como Müller 31 Acentuação some o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas as que têm a penúltima sílaba mais forte Antes européia idéia heróico apóio bóia asteróide Coréia estréia jóia platéia paranóia jibóia assembléia Depois europeia ideia heroico apoio boia asteroide Coreia estreia joia plateia paranoia jiboia assembleia Herói papéis troféu mantêm o acento porque têm a última sílaba mais forte 32 Acentuação some o acento no i e no u fortes depois de ditongos junção de duas vogais em palavras paroxítonas Antes Baiúca bocaiúva feiúra Depois Baiuca bocaiuva feiura Se o i e o u estiverem na última sílaba o acento continua como em tuiuiú ou Piauí 33 Acentuação some o acento circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo ou ôos Antes Crêem dêem lêem vêem prevêem vôo enjôos Depois Creem deem leem veem preveem voo enjoos 31 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos 34 Acentuação some o acento diferencial Antes Pára péla pêlo pólo pêra côa Depois Para pela pelo polo pera coa Não some o acento diferencial em pôr verbo por preposição e pôde pretérito pode presente Fôrma para diferenciar de forma pode receber acento circunflexo 35 Acentuação some o acento agudo no u forte nos grupos gue gui de verbos como averiguar apaziguar arguir redarguir enxaguar Antes Averigúe apazigúe ele argúi enxagúe você Depois Averigue apazigue ele argui enxague você Observação as demais regras de acentuação permanecem as mesmas 4 Hífen veja como ficam as principais regras do hífen com prefixos Prefixos Usase hífen Não se usa hífen Agro ante anti arqui auto contra extra infra intra macro mega micro maxi mini semi sobre supra tele ultra Quando a palavra seguinte começa com h ou com vogal igual à última do prefixo autohipnose autoobservação antihigiênico antiherói anti imperalista microondas minihotel Em todos os demais casos autorretrato autossustentável autoanálise autocontrole antirracista antissocial antivírus minidicionário minissaia minirreforma ultrassom Hiper inter super Quando a palavra seguinte começa com h ou com r superhomem interregional Em todos os demais casos hiperinflação hipermercado supersônico Sub Quando a palavra seguinte começa com b h ou r subbase subreino subhumano Em todos os demais casos subsecretário subeditor Vice Sempre vicerei vicepresidente Pan circum Quando a palavra seguinte começa com h m n ou vogais panamericano circumhospitalar Em todos os demais casos pansexual circuncisão Fonte wwwg1combr Para pesquisar e aprofundar seus estudos sobre o Novo Acordo Ortográfico encontramse disponíveis para consulta valiosas informações sobre as alterações resultantes desse acordo ortográfico entre os países lusófonos Seguem indicações de links para acesso e consulta e Guia Prático da Nova Ortografia Michaelis Saiba o que mudou na ortografia brasileira de Douglas Tufano Fonte httpsgoogleCq82h f E para consultas rápidas para que você não erre em relação às mudanças do Novo Acordo Ortográfico consulte sempre o VOLP Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras no link Fonte httpsgooglkUsc5z 32 33 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade Livros Guia Prático da Nova Ortografia De Maurício Silva e Elenice Alves da Costa Editora Contexto 2012 Vídeos Diversidade Linguística e Escola httpsyoutubewgVvSEbrY Fala e Escrita Sobre a fala e a escrita assista ao professor Marcuschi que traz alguns elementos e aspectos interessantes sobre essas duas modalidades no link httpsyoutubeXOzoVHyiDew 33 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Referências ANTUNES I Lutar com palavras coesão e coerência São Paulo Parábola 2005 Muito Além da Gramática São Paulo Parábola Editorial 2007 Análise de Textos Fundamentos e Práticas São Paulo Parábola Editorial 2010 BAZERMAN C Gênero agência e escrita São Paulo Cortez 2006 BEAUGRANDE R New foundations for a science of text and discourse cognition communication and freedom of access to knowledge and society Norwood New Jersey Ablex Publishing Corporation 1997 BECHARA E Moderna Gramática Portuguesa Edição Revista e Ampliada Rio de Janeiro Lucerna 2004 CHARAUDEAU P Linguagem e Discurso modos de organização 2 ed São Paulo Contexto 2014 FARACO CA Norma Padrão Brasileira Desembaraçando alguns nós In BAGNOMorg Linguística da Norma São Paulo Edições Loyola 2002 p3761 FÁVERO L L ANDRADE M L O AQUINO Z Oralidade e escrita perspectivas para o ensino de língua materna São Paulo Cortez 2002 KOCH I O texto e a construção de sentidos São Paulo Contexto 2003 KOCH I V ELIAS V M Ler e Compreender os sentidos do texto São Paulo Contexto 2006 MACKAY Ana Paula MG Atividade Verbal processo de diferença e integração entre fala e escrita São Paulo Plexus 2000 MARCUSCHI L A Cognição linguagem e práticas interacionais Rio de Janeiro Lucerna 2007 Gêneros textuais definição e funcionalidade In DIONÍSIO A P MACHADO A R BEZERRA M A Org Gêneros textuais e ensino São Paulo Parábola 2010 Produção textual análise de gêneros e compreensão São Paulo Parábola 2008 PRETI Dino Sociolinguística os níveis de fala São Paulo Edusp 2003 34 wwwcruzeirodosulvirtualcombr Campus Liberdade Rua Galvão Bueno 868 CEP 01506000 São Paulo SP Brasil Tel 55 11 33853000 Cruzeiro do Sul
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Língua Portuguesa Material Teórico Responsável pelo Conteúdo Profa Dra Sílvia Augusta Barros Albert Revisão Textual Profa Dra Geovana Gentili Santos O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Introdução Língua Linguagem Cognição e Sociedade Texto e Contexto O Uso Situado da Língua O Novo Acordo Ortográfico Apreender os conceitos de Língua e Linguagem Verbal em contextos de uso e os conceitoschave que respaldam os estudos da língua materna na disciplina modalidades variações linguísticas texto e gênero contexto produtor e leitor situação comunicativa Aprimorar conhecimentos a respeito do Novo Acordo Ortográfico e sua contextualização além de apreender as mudanças gráficas e as novas regras acentuação OBJETIVO DE APRENDIZADO O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional siga algumas recomendações básicas Assim Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina Por exemplo você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu momento do estudo Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar lembrese de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo No material de cada Unidade há leituras indicadas Entre elas artigos científicos livros vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade Além disso você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados Após o contato com o conteúdo proposto participe dos debates mediados em fóruns de discussão pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento além de propiciar o contato com seus colegas e tutores o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco Evite se distrair com as redes sociais Mantenha o foco Evite se distrair com as redes sociais Determine um horário fixo para estudar Aproveite as indicações de Material Complementar Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar lembrese de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias Isso amplia a aprendizagem Seja original Nunca plagie trabalhos UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Introdução Nesta unidade vamos tratar sobre o uso da língua portuguesa em diferentes contextos evidenciando seu caráter e vocação dinâmicos portanto passível de mudanças e transformações Vamos nos orientar pela concepção de língua não como um código estático e sim como uma atividade social e cognitiva sempre situada historicamente e construída interativamente Ficou muito complicado Então prossiga na leitura deste material teórico que retomaremos e explicaremos essa concepção Pode manter a tranquilidade ok Temos como objetivo neste momento da disciplina sobretudo ampliar a concepção de língua que ainda é amplamente veiculada em manuais didáticos na escolarização básica e que circula socialmente de maneira bem aceita Esta concepção aproxima de forma tão intensa as noções de língua e de gramática normativa que leva os usuários da língua a confundir uma com a outra Frequentemente é dado como certo que para aprender a usar a língua em sociedade ou seja para interagir com o outro e comunicarse socialmente para ler e escrever basta estudar a gramática e conhecer suas regras Não é mesmo Lemos e ouvimos isso muitas vezes concorda Para transformar essa crença e abalar algumas convicções bem arraigadas que vêm do senso comum e de teorias e de práticas mais descontextualizadas no intuito de ampliar conhecimentos propomos aqui algumas reflexões e algumas práticas abordando conceitos que acreditamos ser essenciais para o estudo da língua respaldados em fundamentos teóricos dos estudos do âmbito da língua e da linguística contemporâneos É claro que conhecer a gramática normativa da língua e obedecer às suas re gras é muito importante para usála adequadamente principalmente em situações comunicativas que exigem maior formalidade como na faculdade e no trabalho No entanto não podemos restringir a sua concepção apenas a essas situações de uso Há muito o que entender sobre os aspectos e os processos que determinam a con cepção de língua inclusive para poder adequar o seu uso como veremos a seguir Esperamos assim contribuir para a sua formação acadêmica e profissional pois acreditamos que aperfeiçoar o uso da língua em diferentes contextos pode ser de terminante para o seu desenvolvimento como cidadão que vive em sociedade como estudante do Ensino Superior e como futuro especialista do mundo do trabalho Esta unidade apresenta conceitos que serão mais especificamente desenvolvidos ao longo desta disciplina de Língua Portuguesa e outros que são a base para tratarmos dos processos de leitura e de escrita também abordados em unidades específicas nesta disciplina Orientamos que você faça ao final desta unidade uma ficha síntese de leitura que contemple as principais noções aqui apresentadas 8 9 Assim essa ficha vai servir como uma referência teórica que com certeza vai lhe ajudar na leitura das outras unidades combinado Então mãos olhos ouvidos mente e palavras à obra Língua Linguagem Cognição e Sociedade O uso da Linguagem permite ao homem constituir comunidades em torno de um desejo de viver juntos e instituise como um poder talvez o primeiro poder do homem Charaudeau 2014 A linguagem humana é o que nos distingue como ser vivo que pensa e que se comunica para viver em sociedade Inseparável do homem ela está presente em todos os seus atos É o que nos permite elaborar e expressar pensamentos sentimentos emoções desejos atitudes Ao lançarmos mão da linguagem influenciamos e somos influenciados educamos e somos educados transformamo nos e também transformamos o meio em que vivemos É importante perceber que há sempre um aspecto interativo isto é de alguém para outrem em relação à linguagem e ao uso que o homem faz dela não é mesmo Isso está na natureza humana pois como afirma Marcuschi 2007 respaldado em Tomasello 1999 o que diferencia os humanos de outras espécies de seres vivos é que os homens compreendem os outros de sua espécie como agentes capazes de interagir com eles o que traz uma dupla vantagem possibilita que consigam agir colaborativamente e possibilita também o aprendizado cultural e a internalização de produtos culturais os quais serão legados a outras gerações A diferença do homem com os outros seres vivos portanto de acordo com esses autores é que nós interagimos com o meio ambiente como eles o fazem também mas o dominamos para nossos objetivos MARCUSCHI 2007 p83 Compreender a linguagem dessa perspectiva é entendêla como um dos aspectos humanos mais antigos que diferenciam o homem de outros seres vivos Muito anterior à roda ao machado à descoberta do fogo a linguagem foi o motor da própria construção da condição social do homem que só assim conseguiu fazer o outro saber que pensa e o quê pensa MARCUSCHI 2007 p 108 Desde os gregos os homens do lado ocidental do mundo se perguntam sobre como nos apropriamos da realidade ou seja como se dá nosso acesso à realidade e como construímos o conhecimento Foram muitas as respostas desde então mas atualmente afirmase que a ação comunicativa é uma das bases para a construção do conhecimento e da produção de sentidos MARCUSCHI 2007p82 Além disso vale lembrar das atividades relacionadas à cognição que precisamos realizar para efetivar essa ação comunicativa Mas o que entendemos por cognição De acordo com Marcuschi 2007 a cognição diz respeito ao conhecimento suas 9 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos formas de produção e processamento da qual se ocupa a Ciência Cognitiva Nessa área estudase a natureza e os tipos de operações mentais que realizamos no ato de conhecer ou de dar a conhecer De acordo com o autor no nosso caso tratase dos meios de produzir e transmitir o conhecimento linguisticamente MARCUSCHI 2007 p330 Cultura sociedade e cognição estão portanto na base de toda nossa capacidade de pensar e de dizer o mundo Ao entendermos assim a linguagem como fenômeno humano que se dá como uma interlocução situada e se oferece como conhecimento para o outro vamos entender que essa é a forma de ser da língua Vamos conceber a língua ressaltando a sua dinamicidade não como um retrato do mundo mas como uma forma de agir sobre ele A língua então deixa de ser apenas um instrumento um código de que lançamos mão para falar o mundo e passa a ser uma atividade social e cognitiva sempre situada historicamente e construída interativamente A língua é estável mas não estática deixase normatizar mas de forma variável e variada MARCUSCHI 2007 p108 Assim ampliase bem a noção de língua não é mesmo Dessa perspectiva fica muito difícil confundila com a gramática normativa concorda Dispomos a seguir de algumas definições de estudiosos brasileiros da língua que são convergentes com o que aqui propomos Língua é um produto cultural histórico constituída como unidade ideal reconhecida pelos falantes nativos ou por falantes de outras línguas e praticada por todas as comunidades integrantes desse domínio linguístico no nosso caso os países que compõem a comunidade lusófona BECHARA 2004 p37 A língua é uma entidade complexa é mais que um sistema em potencial em disponibilidade É uma atividade interativa direcionada para a comunicação social ANTUNES 2007 p 40 A língua é heterogênea social histórica cognitiva indeterminada variável interativa e situada MARCUSCHI 2008 p 65 Podemos perceber nessas concepções que os aspectos sociais culturais históricos e cognitivos estão sempre presentes em sua definição Vamos ver ainda nesta unidade que a utilização da língua está sujeita a diferentes tipos de regras tanto àquelas relativas aos processos de produção e recepção de textos quanto às normas sociais de atuação Restringir o estudo da língua apenas à sua gramática é limitar as possibilidades de compreendêla em suas múltiplas possibilidades e determinações não é mesmo Mas por outro lado não podemos prescindir do estudo da gramática por isso cada unidade da disciplina como informamos antes traz um conteúdo para o seu aperfeiçoamento no uso da língua ok Contamos com seu empenho em estudálos 10 11 Vale lembrar ainda que a língua portuguesa é o meio de expressão da cultura de todos os falantes que pertencem à chamada comunidade lusófona ou seja aqueles que usam o idioma para se expressar e se comunicar cotidianamente Vamos voltar a tratar desse tema na seção em que abordamos o Novo Acordo Ortográfico Por ora vale acessar o link a seguir para compreender a extensão do uso da língua portuguesa no mundo Veja mapa da comunidade lusófona httpsgooglJtHbVD Explor Enfim dessa perspectiva podemos depreender que há muitas possibilidades do uso da língua portuguesa e diferentes falares que dependem de fatores socioculturais e históricos além de aspectos cognitivos comunicacionais e situacionais No empre go da língua há pois diferenças geográficas falares locais e variações regionais socioculturais nível culto nível coloquial ou popular registros formal e informal e modalidades fala e escrita que conferem peculiaridades e marcas de expressão pró prias dos sujeitos usuários em diferentes situações comunicativas e contextos É o que veremos a seguir Contamos com a sua companhia e atenção A Língua em Uso Conceber a língua como heterogênea social histórica cognitiva indeterminada variável interativa e situada Marcuschi 2008 é determinar que estamos abordando a língua em uso em uma situação comunicativa específica em diferentes contextos É preciso portanto levar em consideração os vários aspectos que a constituem no processo como modalidades níveis registros contemplando também as suas variações e a sua normatização É o que veremos a seguir Para entrar em contato com esse tema da variação linguística selecionamos um vídeo em que Marco Luque repórter do programa CQC de Marcelo Tas incorpora a personagem do motoboy Jackson Five num quadro que satiriza os programas eleitorais Observe o uso que Jackson Five faz da Língua Portuguesa refletindo sobre as seguintes questões Você costuma usar alguma expressão utilizada por ele Você considera que Jackson Five usa um Português errado Assista ao vídeo e depois leia o material teórico para continuar a sua refl exão sobre o uso da língua e suas variações Para assistir ao vídeo acesse o link httpsyoutube3M1izoCv6jA Explor 11 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Níveis e Registros da Língua Para falar das muitas possibilidades de variação da língua vale lembrar que se existem situações sociais diferentes deve haver padrões de uso da língua diferentes ANTUNES 2007 p103 Foi o que vimos ao assistir ao vídeo do motoboy Jackson Five não é mesmo As variações linguísticas são normais e esperadas no uso da língua e existem não porque as pessoas são ignorantes ou indisciplinadas mas porque a língua é um ato social situado num tempo e espaço concretos ANTUNES 2005 p104 Em relação às variações o uso da língua pode ocorrer em dois níveis o coloquial e o culto determinados pela cultura e formação escolar pelo grupo social a que pertencem os usuários e pela situação concreta em que a língua é utilizada Além disso a língua pode ser utilizada em dois registros diferentes o formal e o informal que admitem certa escala de graus indo do mais formal ao mais informal Um falante adota portanto diferentes níveis e registros da língua ao falar ou escrever dependendo das circunstâncias em que se encontra conversando com amigos escrevendo emails pessoais ou profissionais expondo um tema histórico na sala de aula ou dialogando com colegas de trabalho O nível culto mais utilizado em ocasiões formais é também aquele que mais obedece às regras gramaticais Já o nível coloquial ou popular é utilizado na conversação diária em situações informais descontraídas Há nesse nível de linguagem o registro informal da língua ou seja uma utilização mais espontânea das formas linguísticas e mais livre em relação às regras da gramática normativa Nos diálogos do cotidiano falados podemos perceber deslizes de concordâncias repetições até jargões e gírias além de vícios de linguagem Foi o que vimos no vídeo do motoboy Jackson Five não é mesmo Algumas gírias e expressões podem ser até desconhecidas para alguns falantes da língua A gíria consiste em um uso específico da língua são palavras criadas inventadas por determinado grupo social com o objetivo de distinguir seus usuários dos demais falantes da língua As gírias se renovam com o tempo e são determinadas por fatores socioculturais e históricos Elas renovam a língua e revelam a criatividade dos falantes em seu uso Explor Vamos ver ainda nesta unidade outros exemplos de variação linguística para compreender melhor como ela pode ocorrer na língua em uso e que fatores predispõem a diferentes variações da língua Em geral os falantes acreditam que usar a língua no nível culto é de fato a única variação válida é o ideal ocorrendo o nível coloquial como uma deturpação desse nível Muitos falantes creditam apenas àqueles que não sabem a língua o nível coloquial o que acontece em decorrência de sua falta de instrução PRETI 2003 ANTUNES 2007 12 13 Essa não é a perspectiva nem a posição adotada pelos estudos da sociolinguística que vê na ocorrência de ambos os níveis um natural processo de variação linguística que atende assim às mais diversas situações de comunicação na sociedade Em rigor ninguém comete erro em língua O que normalmente se comete são transgressões às regras gramaticais e inadequações no uso da língua De fato aquele que num momento de conversa descontraída entre amigos diz Ninguém deixou ele falar não comete propriamente um erro na verdade transgride à determinada regra da gramática normativa Ressaltamos então que quem pratica a língua em nível coloquial não fala de forma errada apenas fala de acordo com o meio em que vive ou com a situação comunicativa em que se encontra O importante é usar a língua de forma adequada ao interlocutor à intenção e aos objetivos do produtor enfim ao contexto em que está inserido Vamos então transformar a ideia de certo e errado quanto ao uso da língua para adequado e não adequado concorda Assumindo essa prerrogativa então afirmamos que o nível da linguagem deve variar de acordo com a situação comunicativa o ambiente sociocultural também pode determinar o nível de linguagem a ser empregado além disso o vocabulário a sintaxe organização lógica das frases a pronúncia e até a entoação podem variar segundo o nível empregado Por isso um padre não fala com uma criança como se estivesse rezando uma missa assim como uma criança não fala como um adulto Um engenheiro não usa o mesmo nível de linguagem quando se dirige a colegas e a funcionários da obra assim como nenhum professor utiliza o mesmo nível de linguagem quando está com sua família e quando está em sala de aula Não defendemos o simplismo de que qualquer forma de falar e de escrever vale à pena e serve para qualquer situação pois tudo comunica e é o que basta Nem sempre basta comunicar ser eficiente no uso da língua vai além de se fazer entender conforme nos ensina Antunes 2007 De acordo com a autora para qualquer situação vale o jeito de falar que é adequado a essa situação ANTUNES 2007 p 99 Como veremos mais adiante há fatores sociais econômicos e regionais que justificam a variação Precisamos estar atentos ao preconceito linguístico e às patrulhas do bem falar e escrever pois como todo preconceito essa atitude leva à intolerância e à desarmonia na convivência social Vamos lembrar sempre que o bom uso da língua é aquele que é adequado às condições de uso ANTUNES 2007 p104 e o usuário competente é aquele que domina o maior número possível dos falares inclusivamente aquele falar apropriado às situações mais ligadas à fala e à escrita formais ANTUNES IRANDÉ 2007 p100 Enfim a título de epígrafe conclusiva trazemos um dizer de Millôr Fernandes um dos grandes usuários da língua portuguesa Nenhuma língua morreu por falta de gramáticos Algumas estagnaram por ausência de escritores Nenhuma sobreviveu sem o povo Millôr 1994 13 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Modalidades da Língua A Fala e a Escrita A fala e a escrita são modalidades da língua Segundo MacKay 2000 na linguagem as modalidades oral e escrita se completam guardando cada uma suas propriedades O fato de possuírem formas características não pode nos levar à falsa noção de que são modalidades destituídas de pontos de integração Marcuschi 2010 concorda com essa afirmação ressaltando que a relação entre fala e escrita não é dicotômica nem paralela mas complementar e que as propriedades que as distinguem são mais da ordem da materialidade fônica som e a gráficovisual Em todos os casos tratase de eventos em que se dá um uso situado da mesma língua Sendo assim não é válido dizer que a fala sempre faz uso da língua no nível coloquial e no registro informal e a escrita opera no nível culto e no registro formal Vamos ver isso melhor Por um lado é possível observar o uso da língua em nível coloquial e no registro informal também no texto escrito tanto na reprodução da fala de alguns personagens na literatura quanto em bilhetes de nosso dia a dia Além disso o desenvolvimento de novas Tecnologias de Informação e de Comunicação TIC as redes sociais e as novas mídias aliados aos dispositivos móveis nos oferecem muitas situações de escrita no nível coloquial quando por exemplo publicamos textos no Facebook enviamos mensagens por WhatsApp ou publicamos no Instagram eou no Twitter Essas novas formas de comunicação aproximaram ainda mais a linha contínua que existe entre as modalidades da fala e da escrita Por outro lado podemos pensar na utilização do nível culto e do registro formal na fala dos noticiários da TV nas conferências e mesmo na fala de professores em sala de aula Nessas práticas comunicativas ocorre uma mescla de fala e da escrita pois se trata de eventos orais que têm por trás um texto escrito Além disso são falas que ocorrem em situações formais de comunicação Koch em seu livro O texto e a construção de sentidos 2003 reafirma que os textos podem se apresentar de várias formas ou seja ora se aproximando do polo da fala por exemplo os bilhetes domésticos os bilhetes de casais emails entre amigos as piadas ora se aproximando do polo da escrita por exemplo os discursos de posse de cargo as conferências as entrevistas especializadas e propostas de produtos de alta tecnologia por vendedores especialmente treinados Conforme observa a autora a fala e a escrita constituem duas possibilidades de uso da língua que utilizam o mesmo sistema linguístico e que apesar de possuírem características próprias não devem ser vistas de forma dicotômica ou seja totalmente distinta Koch 2003 ainda aponta para algumas diferenças que podem ocorrer entre fala e escrita em seu processo de produção e elaboração a fala não é planejada é mais fragmentada e incompleta às vezes pouco elaborada e possui a predominância de frases curtas e simples a escrita já é mais planejada não é fragmentada e apresentase mais completa às vezes mais elaborada e possui a predominância de frases mais complexas entre outras características 14 15 Fávero Andrade e Aquino 2002 apud MacMay 2000 observam que as gramáticas ao adotarem como parâmetro a escrita e associarem a fala a um dos seus registros de realização o informal fortalecem o enfoque que polariza as duas modalidades por não incluir a possibilidade da existência de níveis de formalidade As autoras sinalizam para o fato de que na verdade tanto a fala como a escrita abarcam um continuum que vai do registro mais informal ao mais formal passando por graus intermediários As autoras afirmam ainda que essa variação depende das condições de produção do texto Fávero Andrade e Aquino 2002 p273 Tais condições estão em estreita relação com o contexto com as condições de interação com os interlocutores e com o tipo de processamento da informação Assim na língua falada há entre falante e ouvinte um intercâmbio direto o que não ocorre com a língua escrita na qual a comunicação se faz geralmente na ausência de um dos participantes na fala as marcas de planejamento do texto não aparecem porque a produção e a execução se dão de forma simultânea por isso o texto oral é pontilhado de pausas interrupções retomadas correções etc o que não se observa na escrita porque o texto se apresenta acabado tendo existido um tempo para a sua elaboração revisão e reescrita Destacamos no quadro a seguir a título de ilustração e orientação algumas especificidades quanto ao uso da língua em relação às modalidades da fala e da escrita reafirmando sempre que ambas atuam num contínuo e que não há uma separação uma fronteira absolutamente clara entre uma e outra A fala Mais espontaneidade e fluidez Sem planejamento mais direta e econômica Apoio da situação física do contexto do conhecimento do interlocutor das expressões faciais dos gestos das pausas das modulações da voz das referências do ambiente Repetição de informações para explicar ou resolver dúvidas do interlocutor Uso de frases mais simples e diretas períodos curtos com orações coordenadas Expressão das ideias com mais truncamentos cortes repetições titubeios e problemas de concordância Uso de expressões de nível mais informais com mais frequência A escrita Planejamento cuidadoso do texto para assegurar que o leitor compreenda Sem o apoio imediato e direto do contexto ou seja não é possível resolver dúvidas imediatamente Sem o auxílio de recursos como gestos voz expressões faciais Revisão para avaliar o texto e evitar repetições desnecessárias de palavras truncamentos problemas de concordância regência colocação pronominal pontuação ortografia Utilização de sintaxe organização da frase mais complexa Observação da exatidão e clareza do pensamento Orações subordinadas mais frequentes na escrita que na fala Utilização de um vocabulário mais exato e preciso pois temos tempo de procurar a palavra adequada Não recomendável o uso de gírias e expressões coloquiais principalmente a situação comunicativa é formal 15 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Destacamos ainda como afirma Marcuschi 2010 p35 que assim como a fala não apresenta propriedades intrínsecas negativas também a escrita não possui propriedades intrínsecas positivas Para o autor seria equivocado pensar em algum tipo de supremacia ou superioridade de uma das modalidades em relação a outra Se a escrita é vista como mais prestigiosa do que a fala não devemos atribuir esse prestígio a algum critério intrínseco ou a parâmetros linguísticos e sim a uma postu ra ideológica e a um valor sociocultural Vale lembrar que há culturas em que a fala tem mais prestígio do que a escrita como na Índia em que a forma oral é sagrada e a escrita não inspira confiança MARCUSCHI 2007 apud OLSON 1997 A título de comparação por um lado podemos dizer que em relação ao uso da língua e ao processamento da fala em situações comunicativas face a face a acentuação relevo de sílaba ou sílabas a entoação melodia da frase as pausas intervalos significativos no decorrer do discurso além da possibilidade de gestos olhares piscadas conferem a essa modalidade um caráter expressivo mais espontâneo estando ela também mais sujeita a transformações no léxico e a evoluções mais rápidas em suas formas de dizer Por outro a modalidade escrita quanto ao uso e ao processamento de textos exige do produtor mais planejamento na elaboração além de outros recursos para marcar a expressividade como o uso da pontuação e de diferentes marcas gráficas como tipos de letras negritos itálico etc Na escrita as transformações relativas ao léxico e às formas de dizer se processam de forma lenta e em número consideravelmente menor quando cotejada com a modalidade da fala Em síntese podemos afirmar respaldados em Marcuschi 2010 p37 que as diferenças entre a fala e a escrita se dão em um contínuo tipológico das práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica entre dois polos opostos Partindo da concepção e do funcionamento da língua que apresentamos as diferenças entre a fala e a escrita podem ser vistas na perspectiva do uso Para ilustrar um pouco mais o que afirmamos anteriormente observe a analogia que o Prof Evanildo Bechara faz em suas palestras em casa costumamos nos vestir de maneira mais simples sem maquiagem salto alto ou artifícios Andamos de roupa caseira simples confortável Quando saímos procuramos cuidar um pouco mais da aparência Colocamos uma roupa melhor usamos sapatos novos penteamos o cabelo com maior cuidado etc E se vamos a uma festa então é que nos arrumamos mais ainda E assim deve acontecer com língua tanto na modalidade da fala quanto na modalidade escrita a língua deve variar de acordo com as diferentes situações de uso quanto mais formal for a situação mais cuidados serão exigidos do falanteprodutor de textos 16 17 Variações Linguísticas e a Norma urbana de prestígio ou Norma Padrão Para falar de uma língua e de seus usos precisamos lembrar que toda língua tem uma história No caso da língua portuguesa que se fala no Brasil para conhecêla é preciso recuar quase 500 anos e começar pela chegada dos primeiros colonos portugueses à baía de São Vicente em 1532 até chegar ao momento atual Não faremos todo esse percurso pois não é esse o intuito dessa disciplina mas vale lembrar que para a formação do português que se fala no Brasil concorreram as contribuições dos seguintes contingentes humanos colonos portugueses indígenas africanos imigrantes europeus e asiáticos Todas essas influências contribuíram para uma natural diversidade da língua que utilizamos atualmente Além disso nenhuma língua é homogênea e em seu uso denota características que estão relacionadas a diversos fatores como espaço geográfico condições socioculturais nível de escolarização idade atuação profissional entre outros Sendo assim encontramos no uso da língua portuguesa que se fala no Brasil uma gama de variações de uma mesma língua variações estas influenciadas pela extensão geográfica do Brasil pelas diferentes culturas regionais pela diversidade de colonização pela acentuada diferença socioeconômica entre outros Vamos conhecer algumas delas Basta conversar um pouco com algumas pessoas que começamos a perceber uma diferença em seus falares Erres mais puxados o som do s que parece um x uma entonação e um ritmo diferentes no encadeamento das frases concorda Não demora e já estamos perguntando Você é daqui mesmo De que lugar do Brasil você vem Essa é a variação que denominamos de regional A variação regional é determinada pela localização dos falantes de um certo espaço geográfico onde moram onde nasceram É possível fazer a relação entre a região de origem de um falante e marcas específicas que utiliza quando se expressa na língua No Brasil reconhecemos facilmente se estamos falando com um mineiro um carioca um nordestino pela pronúncia que faz de alguns sons da língua pela entonação que dá às frases pelo vocabulário que usa pela sintaxe que emprega na construção das frases Os falares regionais brasileiros são riquíssimos em suas diferenças não é mesmo Às vezes a diferença é tão grande que as variações regionais parecem ser uma outra língua Assista a um vídeo para ouvir algumas delas acessando o link Variações Linguísticas Regionais httpsyoutubeiu4ra9tkFWM Explor Mas os diferentes falares da língua portuguesa no Brasil não são determinados apenas pelas diferenças geográficas E importante quando estamos nos referindo a falares não se trata apenas da modalidade oral a fala As variações ocorrem 17 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos também na escrita fique atento Mas como íamos dizendo mesmo em uma só região vamos encontrar diversidade no uso da língua por grupos de falantes que procedem de diferentes segmentos da sociedade Como no Brasil as classes sociais menos favorecidas têm pouco acesso à escolarização veremos que há um outro tipo de variação a Social A variação social é estabelecida por dois grupos distintos falantes mais escolarizados e falantes menos escolarizados Esse segundo grupo em geral é aquele que transgride as regras da gramática normativa Observe no poema a seguir de Patativa do Assaré poeta popular nordestino as marcas de variação regional e social e veja como elas podem se transformar em poesia O Poeta da Roça Sou fio das mata canto da mão grossa Trabáio na roça de inverno e de estio A minha chupana é tapada de barro Só fumo cigarro de paia de mío Sou poeta das brenha não faço o papé De argun menestré ou errante cantô Que veve vagando com sua viola Cantando pachola à percura de amô Não tenho sabença pois nunca estudei Apenas eu sei o meu nome assiná Meu pai coitadinho Vivia sem cobre E o fio do pobre não pode estudá Meu verso rastero singelo e sem graça Não entra na praça no rico salão Meu verso só entra no campo e na roça Nas pobre paioça da serra ao sertão 18 19 Você acredita que a forma de falar e de escrever comprometeu a emoção transmitida por esse poema Patativa do Assaré era analfabeto sua filha é quem escrevia o que ele ditava mas sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida mesmo na Europa Observe que nesse poema podemos falar em marcas de variação regional no uso de algumas palavras típicas da região nordestina chupana tapada de barro cobre menestré pachola paioça e outras que revelam a variação social todas as transgressões de concordância nominal sou fio das mata nas pobre paioça e ortográficas e fonéticas fio argun assiná estudá rastero veve etc Em alguns casos temos mesmo dificuldade em entender a língua portuguesa mesmo escrita não é Disponível em httpsgooglIFw17I Explor Além desses fatores podemos observar que o uso da língua também varia de pessoa para pessoa e até varia na fala de uma mesma pessoa Não falamos com um amigo da mesma forma que falamos com nosso chefe no trabalho Não é só uma diferença de assunto é também na forma com que construímos as frases as escolhas de palavras a observação e cuidado com as regras gramaticais Esse é outro tipo de variação a que denominamos variação situacional pois depende da situação de comunicação e de todos os elementos que a compõem contexto mais formal ou informal interlocutor conhecido íntimo hierarquicamente posicionado das intenções de comunicação contraporse agradecer dar ordens aconselhar etc entre outros Observe no link a seguir como alguns adolescentes em uma gravação bem simples no Youtube ilustram cenas de variação situacional ou seja em que alguns interlocutores observam a adequação no uso da linguagem em situações mais formais e outros não ou ainda não observam a adequação ao usar a linguagem para falar com um bebê por exemplo Vai ficar fácil de entender Acesse Variação Situacional httpsyoutubexy77IRV9cmE Explor Isso mostra como é importante adequar o uso da língua às práticas sociais diferentes concorda Todas essas variações comprovam que o uso da língua portuguesa no Brasil é diverso e de uma riqueza muito grande No entanto além dessas variações temos um uso que segue mais as normas da gramática que teima em ser reconhecido como o uso mais correto da língua a que nomeamos Norma urbana de prestígio ou norma padrão Os princípios que regulam as propriedades dessa variação extrapolam critérios puramente linguísticos Na maioria das vezes o que a determina se relaciona à classe social de prestígio e ao grau relativamente alto de educação formal dos falantes As outras variações geralmente desviam desses parâmetros 19 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Assim a Norma urbana de prestígio ou Norma padrão está associada ao nível culto da língua De acordo com Irandé Antunes 2007 essa Norma é um projeto da sociedade letrada que pretende garantir para a comunidade nacional certa uniformidade linguística uniformidade aqui entendida como o cuidado por criar uma língua comum estandardizada com ênfase no geral e não em particularidades regionais locais ou setoriais Percebese portanto que a ideia subjacente ao conceito de norma urbana de prestígio é a unificação linguística na tentativa de facilitar a interação pública neutralizando certos usos Em Faraco 2002 encontramos a seguinte definição de norma urbana de prestígio Norma linguística praticada em determinadas situações aquelas que envolvem certo grau de formalidade por aqueles grupos sociais mais diretamente relacionados com a cultura escrita em especial aquela legitimada pelos grupos que controlam o poder social Faraco 2002 p40 A norma urbana de prestígio é pois aquela que segue as regras da gramática normativa ou seja a gramática que tem como função não só descrever a língua e seus fatos mas sobretudo de prescrever o que se deve usar e o que não se deve usar na língua Sendo assim em sua concepção retomamse os parâmetros definidos por uma classe social de prestígio e por certos órgãos oficiais que sistematizam o que se costuma chamar de o melhor uso da língua e tudo o que foge a esse padrão é inferiorizado desprestigiado e faz parte das variações não padrão aquelas que vimos um pouco antes no texto que estão associadas ao nível coloquial ou popular da língua Daí decorre a ideia do falar certo e falar errado que circula socialmente e costuma ser tão bem aceita não é No entanto vale ressaltar que é exatamente esse nível o coloquial e popular que assimila as mudanças provocadas pelo próprio fluxo natural da língua ao incorporar novos usos mas que são vistas como decadência degeneração ou erros Segundo Irandé Antunes 2007 o problema é que o movimento da língua ficou inexoravelmente destinado a ser do melhor para o pior Para a autora no entanto toda mudança na língua tem sua lógica e sua motivação o que possibilita que um padrão possa ser substituído por outros É o que o texto do Millôr que vimos anteriormente nesta unidade dizia nenhuma língua sobreviveu sem o povo Precisamos pensar entretanto conforme pondera Preti 2003 que a noção de norma urbana de prestígio serve diretamente às intenções do ensino no sentido de padronização da língua criando condições ideais de comunicação entre as várias áreas geográficas e também propiciando aos estudantes as condições para a leitura e compreensão dos textos literários e científicos que se expressam nessa variação Vale lembrar ainda que é a norma urbana de prestígio a variação adotada pelos meios de comunicação emissoras de rádio e televisão jornais revistas internet etc o que permite a divulgação dos mesmos textos e informações para todos os brasileiros Só é preciso ficar atento para que essa padronização no uso da língua não sirva a discriminações a preconceitos linguísticos e à supremacia de uma só classe social 20 21 Importante Dominar a norma urbana de prestígio é essencial para que possamos nos desenvolver e ter mais desenvoltura nos meios acadêmicos e profi ssionais Por isso aproveite a disciplina para ampliar e atualizar seus conhecimentos da língua portuguesa sobretudo os relativos à norma urbana de prestígio Importante Em síntese este estudo sobre as variações linguísticas não pretende que você apenas saiba identificálas avaliar sua adequação à situação comunicativa e ao contexto mas também que ao compreendêlas você possa posicionarse frente a todo e qualquer preconceito linguístico Além disso é preciso ter em mente que em seus textos acadêmicos em suas redações para concursos em textos e relatórios que colocar em circulação no âmbito profissional é a norma urbana de prestígio que precisa prevalecer Em textos escritos em apresentações orais no âmbito acadêmico e profissional portanto é necessário evitar gírias regionalismos repetições desnecessárias cacoetes abreviações clichês e todos os elementos típicos do uso da língua em nível coloquial Quando fazemos essas observações estamos falando no uso situado da língua Estamos admitindo que nos comunicamos por meio de textos Essas ideias nos remetem a nossos próximos temas e concepções o texto e o contexto Texto e Contexto O Uso Situado da Língua Agora que nos apropriamos da noção de língua e de suas variações vale lembrar que estamos sempre interagindo socialmente por meio de textos que pertencem a determinados gêneros em situações comunicativas específicas que ocorrem em diferentes contextos Ficou difícil de entender Tranquilizese Esses são os conceitos que abordaremos nas próximas seções Vamos lá Concepção de Texto Para apresentar a concepção de texto partimos da ideia essencial que ninguém interage verbalmente a não ser por meio de textos Antunes 2005 p40 Mas o que vem a ser essa entidade o texto É o que pretendemos responder nessa seção já ressaltando que esse é um conceito bastante complexo pois o texto é objeto de pesquisa das ciências da linguagem há muitas décadas e sua concepção se transformou e se transforma a partir da perspectiva teórica pela qual o abordamos Nessa disciplina tomaremos o texto como um evento comunicativo para o qual convergem ações linguísticas culturais sociais e cognitivas BEAUGRANDE 1997 p10 Veja que por essa definição ficou distante a ideia de texto apenas como 21 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos uma sequência de frases organizadas em períodos e agrupadas em parágrafos não é mesmo Da forma como concebemos o texto nele estão imbricados aspectos que não são apenas linguísticos embora esses últimos também sejam elementos que constituem os textos responsáveis por sua materialidade Além disso essa con cepção aponta para o caráter dinâmico do texto em que o entendemos como um processo do qual participam o produtor e o leitor e não mais um produto acabado que depende apenas de ser produzido e colocado para recepção de um interlocutor Dessa perspectiva podemos admitir então que um conjunto aleatório de palavras ou de frases não constitui um texto ANTUNES 2010 p30 Todo usuário da língua tem esse discernimento mesmo que intuitivamente pois como nos afirma Antunes 2010 p30 não é muito difícil não têlo até porque não andamos por aí esbarrando em não textos Vale lembrar ainda que em todas as situações comunicativas o que falamos e o que escrevemos mesmo que não seja totalmente adequado para os padrões mais formais são textos Precisamos então delimitar alguns aspectos que são imprescindíveis para que possamos nos apropriar efetivamente da concepção de texto que apresentamos aqui Em primeiro lugar recorremos a um texto quando queremos nos comunicar e buscamos expressar esse desejo de comunicação Assim todo texto tem uma intenção um ou mais objetivos que precisam ser identificados pelo interlocutor para que a nossa atuação comunicativa seja bemsucedida Desse primeiro aspecto decorre um segundo bem importante que é o fato de o texto como atividade comunicativa envolver sempre um outro isto é o interlocutor que podemos chamar também de leitor ou ouvinte caso seja um texto produzido na fala ou na escrita Além desses dois primeiros o terceiro aspecto relevante para a noção de texto que apresentamos é que todo texto é caracterizado por uma orientação temática quer dizer o texto se constrói a partir de um tema de uma ideia central que lhe dá continuidade e unidade ANTUNES 2010 p32 Vamos entender melhor esses três aspectos essenciais para nos apropriarmos da noção de texto Observe o trecho a seguir Religiosidade Monstro planos sexo cantor pela denúncia paguei fazer sobre pretendem enfermeira menino milhões presente vivavoz telefone estar risco com mercado o Computador completo ficar frontal você veloz se para esperar doméstico brincando mamífero moda Relógios cartas sobre expectativa inteiro promoção empregadas sabati na campanha novo queijo compra Brasil meninosExemplo retirado de Antunes I 2010 p32 22 23 Então Deu para perceber nesse trecho uma intenção comunicativa do produtor É possível perceber nele uma função comunicativa um tema sobre o qual ele se constrói Podemos dizer que esse apanhando de palavras que parece um texto possui uma continuidade e constitui uma unidade Claro que não concorda Esbarramos aqui pois com um nãotexto Mas nos resta então saber quais são os critérios que nos permitem reconhecer um texto Na literatura linguística Beaugrande 1997 apresenta sete princípios de textualidade que orientam nossa análise para identificar uma sequência de palavras como texto ou não além de eles servirem como parâmetros para nos certificar como produtores se estamos elaborando algo que será identificado como um texto e que tem chances de ser bemsucedido em seu propósito comunicativo Os sete princípios são a coesão a coerência a intencionalidade a aceitabi lidade a informatividade a intertextualidade a situacionalidade Não nos detere mos muito nesses princípios pois não é esse o objetivo desta unidade Vale saber entretanto que os princípios da coesão e da coerência que dizem respeito à continuidade e à unidade temática no texto serão trabalhadas especificamente em outra unidade Quanto aos outros apresentamos a seguir uma breve definição 1 a intencionalidade e a aceitabilidade remetem para a disponibilidade de cooperação dos interlocutores envolvidos na interação verbal o produtor de dizer somente o que tem sentido e o ouvinte ou leitor de fazer o esforço necessário para processar os sentidos e as intenções expressas pelo produtor 2 a situacionalidade é uma condição para que o texto aconteça pois todo texto ocorre em uma determinada situação comunicativa Nenhum texto ocorre no vazio mas em um determinado contexto sociocultural Se pensarmos em uma palestra ela faz parte de uma programação de um evento e será determinada por ela em seus detalhes tema duração público a quem se dirige etc 3 a informatividade diz respeito ao grau de novidade e de imprevisibilidade que o texto traz dentro de uma dada situação comunicativa ou contexto Tanto uma como outra podem estar relacionadas à forma ou ao conteúdo do texto por exemplo se na época de natal uma empresa divulga seus produtos em anúncio de revista que se apresenta como cartas ao Papai Noel escritas por produtores de diferentes estilos e idades há um grau de novidade quanto à forma pois não é esperado que o texto de uma propaganda venha na forma de uma carta e ainda mais dirigida ao Papai Noel Podemos dizer então que o texto possui um alto grau de informatividade pois traz novidade e imprevisibilidade quanto à forma e ao conteúdo Ficou mais fácil de entender esse princípio Em geral encontramos em textos criativos e surpreendentes um alto grau de informatividade 23 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos 4 a intertextualidade diz respeito à inserção em um determinado texto de outros textos já existentes já em circulação Fazemos isso diretamente em citações teóricas por exemplo em monografias textos didáticos ou dissertações também podemos fazêlo de maneira mais indireta quando inserimos em um texto um trecho uma frase que remete a outro texto Observe Queridíssima Há muito tempo que não te escrevo Notícias poucas Aqui na terra estão jogando futebol O seu Corinthians olha nem te conto Ivan Ângelo Queridíssima Revista Veja 28 de nov p 246 O trecho acima faz parte de uma crônica do escritor Ivan Ângelo na revista Veja A frase destacada foi retirada da letra de uma canção de Chico Buarque de Holanda e Francis Hime Meu Caro Amigo observe Meu caro amigo me perdoe por favor Se eu não lhe faço uma visita Mas como agora apareceu um portador Mando notícias nessa fita Aqui na terra tão jogando futebol Tem muito samba muito choro e rockn roll Uns dias chove noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta Letra completa e a canção disponíveis em httpsgoogltccB9c Sempre que lançamos mão do princípio da intertextualidade como produtor temos uma intenção um objetivo Nesse caso Chico Buarque e Francis Hime criaram uma carta em forma de canção durante a ditadura militar para dar notícias do Brasil para quem estava exilado E a frase aqui na terra tão jogando futebol é colocada no texto de forma irônica pois ele fala de uma série de coisas normais chuva samba e depois conclui que a coisa aqui tá preta Ou seja embora pareça nada aqui anda bem Na crônica o autor Ivan Ângelo utiliza a mesma frase com a mesma intenção em um mesmo contexto No caso ele escreve uma crônica em forma de carta assim como os compositores fizeram uma música em forma de carta Além disso Ivan Ângelo logo após inserila em seu texto vai falar do time da amiga Corinthians que não anda bem e na sequência da crônica também mostra que não é só o futebol que não está dando certo no Brasil Ao fazer um texto remeter a outro estamos muitas vezes reforçando os nossos objetivos com aquele texto de forma que o meu leitor possa percebêlos com mais facilidade Para isso preciso contar 24 25 com os conhecimentos do meu interlocutor não é mesmo É necessário ainda que o leitor da revista conheça a música de Chico Buarque para atribuir sentidos à crônica e perceber os objetivos do autor Esses princípios nos remetem então à importância de estarmos sempre atentos à relação entre os parceiros da interação verbal produtorlocutor e leitorouvinte ou seja os interlocutores da atividade comunicativa Afinal a interação verbal é a realidade fundamental da língua Isto quer dizer que a produção de sentidos nos textos não ocorre dentro da mente de cada interlocutor mas numa atividade conjunta entre eles que surge na interação Toda interação verbal pressupõe comunicação conversação e troca de informações Mas isso não ocorre apenas em práticas comunicativas online ou face a face mas também nas produções escritas Nesse último caso na escrita para que a interação ocorra de maneira bemsucedida é preciso levantar hipóteses sobre os interlocutores envolvidos tanto para a produção quanto para a leitura organizar o texto pensar bem nas escolhas das palavras enfim é preciso planejar e se antecipar Vale destacar portanto que a interação é o lugar e o modo de funcionamento da linguagem em relação à maneira como o sentido é construído na atividade textual Essa noção de interação verbal nos leva a perceber que tanto produtor quanto leitor são sujeitos do fazer textual Esse fato tornaos sujeitos complexos determinados e mobilizados do ponto de vista sociocultural para atuar por meio da linguagem Podemos definir esses interlocutores pois como atores sociais Assim como as práticas comunicativas são situadas isto é estão relacionadas a um determinado contexto produtor e leitor trazem para a interação verbal suas experiências vivências conhecimentos crenças e valores Não produzimos textos não lemos textos e não falamos de maneira isenta Sempre trazemos para a interação verbal quem somos o que sabemos como vivemos Por isso dizemos que os processos de leitura e de escrita não dependem apenas do domínio das palavras do material linguístico Vamos ver como isso ocorre analisando um pequeno texto Acompanhe o texto a seguir com atenção Circuito Fechado Chinelos vaso descarga Pia sabonete Água Escova creme dental água espuma creme de barbear pincel espuma gilete água cortina sabonete água fria água quente toalha Creme para cabelo pente Cueca camisa abotoaduras calça meias sapatos telefone agenda copo com lápis caneta blocos de notas espátula pastas caixa de entrada de saída vaso com plantas quadros papéis cigarro fósforo Bandeja xícara pequena Cigarro e fósforo Papéis telefone relatórios cartas notas vales cheques memorandos bilhetes telefone papéis Relógio Mesa cavalete cinzeiros cadeiras esboços de anúncios fotos cigarro 25 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos fósforo bloco de papel caneta projetos de filmes xícara cartaz lápis cigarro fósforo quadronegro giz papel Mictório pia água Táxi Mesa toalha cadeiras copos pratos talheres garrafa guardanapo Xícara Maço de cigarros caixa de fósforos Escova de dentes pasta água Mesa e poltrona papéis telefone revista copo de papel cigarro fósforo telefone interno gravata paletó Carteira níqueis documentos caneta chaves lenço relógio maço de cigarros caixa de fósforos Jornal Mesa cadeiras xícara e pires prato bule talheres guardanapos Quadros Pasta carro Cigarro fósforo Mesa e poltrona cadeira cinzeiro papéis externo papéis prova de anúncio caneta e papel relógio papel pasta cigarro fósforo papel e caneta telefone caneta e papel telefone papéis folheto xícara jornal cigarro fósforo papel e caneta Carro Maço de cigarros caixa de fósforos Paletó gravata Poltrona copo revista Quadros Mesa cadeiras pratos talheres copos guardanapos Xícaras cigarro e fósforo Poltrona livro Cigarro e fósforo Televisor poltrona Cigarro e fósforo Abotoaduras camisa sapatos meias calça cueca pijama espuma água Chinelos Coberta cama travesseiro Ricardo Ramos O texto de Ricardo Ramos é uma crônica texto que tem o objetivo de relatar um fato contar uma história e também de fazer uma reflexão sobre aquilo que relata ou conta Nesse caso o autor faz isso usando apenas substantivos e a pontuação Esse fato mostra um alto grau de informatividade pela novidade e imprevisibilidade que traz Em geral usamse verbos adjetivos advérbios enfim frases completas para elaborar um relato e contar uma história Além disso podemos perceber os princípios de intencionalidade e aceitabilidade o autor ao selecionar apenas substantivos tem a intenção de surpreender o seu leitor e chamar atenção para o que diz ao mesmo tempo em que espera que seu interlocutor compreenda o seu objetivo e utilize seus conhecimentos para isso Em relação à situacionalidade podemos pensar que por se tratar de um texto como a crônica que circula no âmbito literário o autor pôde lançar mão dessa estratégia e surpreender o seu leitor pois isso é admissível no âmbito da literatura O mesmo não ocorreria se estivéssemos no âmbito profissional por exemplo em que não se admite essa quebra de expectativas Os gêneros profissionais admitem poucas mudanças Quanto à coesão e à coerência observe que embora não haja frases completas conjunções que ligam orações nem mesmo marcadores temporais que mostrem que as ações acontecem num tempo cronológico a própria seleção de palavras que remete a diferentes momentos do cotidiano de um personagem realiza esse encadeamento de ações e compõe uma unidade no texto Ao fim da leitura podemos compreender que se trata do relato de um dia da vida de um profissional que trabalha na área de publicidadepropaganda um fumante solitário cujo objetivo na vida é levantar trabalhar e retornar para a sua casa o que leva a uma reflexão sobre o sentido da vida Concorda Podemos com nossos conhecimentos e analisando detidamente as palavras chegar a mais detalhes e 26 27 encontrar outros sentidos para esse texto pois esse é um bom exemplo de como o produtor e leitor participam ativamente da produção de sentidos em um texto e como não utilizamos apenas as palavras na interação verbal Contexto A partir da noção que estabelecemos de texto em que estão imbricados aspectos culturais sociais e cognitivos podemos compreender melhor a noção de contexto e sua importância para a produção de sentidos Se como vimos o sentido não está somente nas palavras mas é construído na interação entre locutortextointerlocutor então estamos dizendo que em toda a situação de interação os sujeitos orientam as suas ações linguísticas e não linguísticas levando em conta o contexto Vejamos alguns exemplos quando fazemos uma visita a um professor não agimos da mesma maneira quando visitamos amigos e parentes ou uma mensagem no WhatsApp que enviamos para o namorado é bem diferente daquela que escrevemos para um chefe ou outra pessoa do trabalho concorda Podemos dizer então que em toda situação de interação temos de levar em conta os interlocutores os conhecimentos que compartilhamos o propósito da comunicação o lugar e o tempo em que nos encontramos os papéis sociais que assumimos e os aspectos históricos e culturais que estão aí implicados Em síntese a noção de contexto engloba as situações comunicativas o tempo e o lugar as determinações e condições socioculturais e históricas as representações sociais compartilhadas conhecimentos prévios e vivências dos interlocutores as relações dos participantes médicopaciente patrão empregado os objetivospropósitos comunicativos transferir ou buscar conhecimentos provocar o riso aconselhar orientar O contexto é enfim tudo aquilo que de alguma forma contribui paraou determina a construção do sentido KOCH e ELIAS 2006 É importante perceber que o contexto não é apenas o entorno o que está em volta do texto mas todos os elementos internos e externos ao texto em si que contribuem para a realização desse evento comunicativo Seguindo adiante na apresentação dos conceitos que estão presentes nas diferentes unidades desta disciplina veremos que ao interagir verbalmente por meio de textos estamos na verdade nos referindo aos gêneros textuais que circulam socialmente Vamos entender melhor isso Acompanhe a próxima seção 27 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Os Gêneros e as Esferas de Atividade Toda vez que nos referimos às nossas interações verbais na fala ou na escrita damos um nome a elas Observe em nossos diálogos cotidianos que não dizemos hoje recebi um texto ou então vou assistir a um texto do professor Gilberto nesse congresso não é mesmo Normalmente vamos falar assim hoje recebi um email do escritório ou então vou assistir a uma palestra do Professor Gilberto nesse congresso certo Sendo assim formamos intuitivamente a noção de gêneros que nada mais são do que os textos materializados com que nos deparamos no nosso dia a dia Palestra email carta horóscopo monografia artigo científico entrevista notícias reportagem editorial conto romance receita culinária manual de instrução bula de remédio conferência videoaula etc são exemplos de gêneros com os quais lidamos de maneira mais ou menos cotidiana A lista dos gêneros que circulam socialmente é muito extensa e não caberia aqui tentar apresentála integralmente O importante é apreender que esse conceito está diretamente relacionado às esferas de atividade humana ou seja esferas de comunicação verbal como a jurídica jornalística religiosa acadêmica profissional entre tantas outras Essas esferas de atividade são regidas por leis próprias as quais determinam a posição os poderes os deveres os valores dos indivíduos que nelas atuam Em todos os campos de atuação humana vamos encontrar gêneros específicos que correspondem às práticas sociais comunicativas que lhes são próprias por exemplo na esfera de atividade jornalística vamos encontrar gêneros como a notícia a reportagem o editorial a carta do leitor a entrevista etc já na esfera acadêmica vamos encontrar a monografia a dissertação o artigo científico o resumo a resenha entre outros Ficou mais clara essa relação entre gêneros e esfera de atividade Vamos então completar a noção intuitiva que temos de gêneros são textos materializados que encontramos em nossa vida diária que estão relacionados a determinadas esferas de atividade que apresentam características sociocomunica tivas definidas por conteúdos propriedades funcionais estilo e composição especí ficos MARCUSCHI 2010 p25 28 29 Veja a seguir em um exemplo como podemos identificar essas características sociocomunicativas em um gênero específico Um advogado e sua sogra estão em um edifício em chamas Você só tem tempo pra salvar um dos dois O que você faz Você vai almoçar ou vai ao cinema Explor O gênero em questão é uma piada que circula em uma esfera de atividade pessoal pública ou privada ou seja a piada ocorre em ambientes em que estamos em um círculo de amigos ou de colegas de trabalho ou nas redes sociais etc Este gênero como todos os outros apresenta algumas características sociocomunicativas pelas quais pode ser identificado tem como função propriedades funcionais provocar o riso é um texto para divertir sua temática traz dois elementos bastante presentes e comuns ao gênero a sogra e os advogados os quais em geral como tipos sociais desagradam as pessoas o estilo e a composição são bem específicos e identificáveis texto curto uma narrativa que apresenta uma situação problema e que surpreende na solução sempre com a intenção de fazer graça Além disso a linguagem em geral é utilizada em nível coloquial e em forma de diálogos ou perguntas que se dirigem diretamente ao interlocutor Ficou mais fácil compreender esse conceito e suas propriedades Muitas são as linhas teóricas e os autores que se dedicam a estudar os gêneros pois esse é um rico conceito da linguística que pode nos falar da mente da sociedade da linguagem e da cultura conforme atesta Bazerman 2006 p9 De acordo com esse autor o gênero dá forma às nossas ações e intenções por isso sempre que vamos interagir verbalmente precisamos escolher o gênero adequado à determinada prática social e esfera de atividade Essa escolha é uma decisão estratégica que deve levar em conta os objetivos o lugar social dos participantes a situação comunicativa a composição e o estilo do texto Esses são alguns pontos aos quais devemos estar atentos em nossa vida aca dêmica e profissional ao interagir verbalmente na fala e na escrita Com certeza apreender a noção de gêneros vai nos auxiliar a lidar com os textos que circulam socialmente nas diferentes esferas em que atuamos pela linguagem Lembrando que dominar um gênero não é apenas dominar uma forma linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais parti culares MARCUSCHI 2010 p31 Acreditamos que nesta unidade ampliamos nosso olhar sobre a língua que usamos e sobre as atividades de linguagem relativas aos processos de leitura e de escrita que teremos como desafio tanto na formação acadêmica quanto na vida profissional 29 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Relembramos que você deve elaborar uma ficha de estudos que contemple as noções aqui apresentadas que com certeza vai auxiliáloa no acompanhamento da disciplina Como dissemos no início vamos sempre contemplar no material teórico um conteúdo gramatical Nesta unidade apresentamos o Novo Acordo Ortográfico Você está a par das mudanças que esse Acordo propõe Na seção seguinte informese sobre o que muda e o que permanece no uso da língua em relação à sua ortografia a partir desse Acordo Bom trabalho O Novo Acordo Ortográfico Como visamos nesta disciplina ampliar os conhecimentos gramaticais que a norma urbana de prestígio segue e exige destacamos o Novo Acordo Ortográfico vigente desde o ano de 2009 para os países lusófonos No Brasil sua implementação obrigatória ocorreu a partir de 2012 Acompanhe um pouco da história desse Acordo a seguir Após muita polêmica entre os países lusófonos atualmente representados por Portugal Brasil Angola Moçambique GuinéBissau São Tomé e Príncipe Cabo Verde Timor Leste e Guiné Equatorial o Congresso Nacional o Ministério da Educação do Brasil e o meio acadêmico o Novo Acordo Ortográfico foi implantado Nessa trajetória as maiores resistências ao acordo vieram de Portugal justamente o país que teve mudanças mais significativas Os portugueses só ratificaram o acordo em maio de 2008 As primeiras tentativas de unificação ortográfica aconteceram no início do século XX No Brasil já houve duas reformas ortográficas em 1943 e em 1971 Ou seja um brasileiro com mais de 65 anos está vivenciando a terceira grande mudança em relação à ortografia de sua língua Há muita gente que rechaçou a unificação dizendo que havia coisas mais importantes a fazer em relação à língua portuguesa Quem defendeu argumentou por exemplo que o português está entre as línguas mais faladas no mundo sendo a única que ainda não estava unificada Para entender melhor os prós e os contras leia a reportagem com o professor Evanildo Bechara acessando o link Gramático Evanildo Bechara defende novo acordo ortográfico httpsgooglF1E039 Explor 30 31 A seguir apresentamos uma síntese das principais mudanças que o Novo Acordo Ortográfico propõe Leia com atenção para que possa aplicar essas mudanças na produção escrita em suas esferas de atividades acadêmica e profissional Saiba o que muda com o Novo Acordo Ortográfico 1 Alfabeto ganha três letras Antes 23 letras Depois 26 letras entram k w e y 2 Trema desaparece em todas as palavras Antes freqüente lingüiça aguentar Depois frequente linguiça aguentar Fica o acento em nomes como Müller 31 Acentuação some o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas as que têm a penúltima sílaba mais forte Antes européia idéia heróico apóio bóia asteróide Coréia estréia jóia platéia paranóia jibóia assembléia Depois europeia ideia heroico apoio boia asteroide Coreia estreia joia plateia paranoia jiboia assembleia Herói papéis troféu mantêm o acento porque têm a última sílaba mais forte 32 Acentuação some o acento no i e no u fortes depois de ditongos junção de duas vogais em palavras paroxítonas Antes Baiúca bocaiúva feiúra Depois Baiuca bocaiuva feiura Se o i e o u estiverem na última sílaba o acento continua como em tuiuiú ou Piauí 33 Acentuação some o acento circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo ou ôos Antes Crêem dêem lêem vêem prevêem vôo enjôos Depois Creem deem leem veem preveem voo enjoos 31 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos 34 Acentuação some o acento diferencial Antes Pára péla pêlo pólo pêra côa Depois Para pela pelo polo pera coa Não some o acento diferencial em pôr verbo por preposição e pôde pretérito pode presente Fôrma para diferenciar de forma pode receber acento circunflexo 35 Acentuação some o acento agudo no u forte nos grupos gue gui de verbos como averiguar apaziguar arguir redarguir enxaguar Antes Averigúe apazigúe ele argúi enxagúe você Depois Averigue apazigue ele argui enxague você Observação as demais regras de acentuação permanecem as mesmas 4 Hífen veja como ficam as principais regras do hífen com prefixos Prefixos Usase hífen Não se usa hífen Agro ante anti arqui auto contra extra infra intra macro mega micro maxi mini semi sobre supra tele ultra Quando a palavra seguinte começa com h ou com vogal igual à última do prefixo autohipnose autoobservação antihigiênico antiherói anti imperalista microondas minihotel Em todos os demais casos autorretrato autossustentável autoanálise autocontrole antirracista antissocial antivírus minidicionário minissaia minirreforma ultrassom Hiper inter super Quando a palavra seguinte começa com h ou com r superhomem interregional Em todos os demais casos hiperinflação hipermercado supersônico Sub Quando a palavra seguinte começa com b h ou r subbase subreino subhumano Em todos os demais casos subsecretário subeditor Vice Sempre vicerei vicepresidente Pan circum Quando a palavra seguinte começa com h m n ou vogais panamericano circumhospitalar Em todos os demais casos pansexual circuncisão Fonte wwwg1combr Para pesquisar e aprofundar seus estudos sobre o Novo Acordo Ortográfico encontramse disponíveis para consulta valiosas informações sobre as alterações resultantes desse acordo ortográfico entre os países lusófonos Seguem indicações de links para acesso e consulta e Guia Prático da Nova Ortografia Michaelis Saiba o que mudou na ortografia brasileira de Douglas Tufano Fonte httpsgoogleCq82h f E para consultas rápidas para que você não erre em relação às mudanças do Novo Acordo Ortográfico consulte sempre o VOLP Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras no link Fonte httpsgooglkUsc5z 32 33 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade Livros Guia Prático da Nova Ortografia De Maurício Silva e Elenice Alves da Costa Editora Contexto 2012 Vídeos Diversidade Linguística e Escola httpsyoutubewgVvSEbrY Fala e Escrita Sobre a fala e a escrita assista ao professor Marcuschi que traz alguns elementos e aspectos interessantes sobre essas duas modalidades no link httpsyoutubeXOzoVHyiDew 33 UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos Referências ANTUNES I Lutar com palavras coesão e coerência São Paulo Parábola 2005 Muito Além da Gramática São Paulo Parábola Editorial 2007 Análise de Textos Fundamentos e Práticas São Paulo Parábola Editorial 2010 BAZERMAN C Gênero agência e escrita São Paulo Cortez 2006 BEAUGRANDE R New foundations for a science of text and discourse cognition communication and freedom of access to knowledge and society Norwood New Jersey Ablex Publishing Corporation 1997 BECHARA E Moderna Gramática Portuguesa Edição Revista e Ampliada Rio de Janeiro Lucerna 2004 CHARAUDEAU P Linguagem e Discurso modos de organização 2 ed São Paulo Contexto 2014 FARACO CA Norma Padrão Brasileira Desembaraçando alguns nós In BAGNOMorg Linguística da Norma São Paulo Edições Loyola 2002 p3761 FÁVERO L L ANDRADE M L O AQUINO Z Oralidade e escrita perspectivas para o ensino de língua materna São Paulo Cortez 2002 KOCH I O texto e a construção de sentidos São Paulo Contexto 2003 KOCH I V ELIAS V M Ler e Compreender os sentidos do texto São Paulo Contexto 2006 MACKAY Ana Paula MG Atividade Verbal processo de diferença e integração entre fala e escrita São Paulo Plexus 2000 MARCUSCHI L A Cognição linguagem e práticas interacionais Rio de Janeiro Lucerna 2007 Gêneros textuais definição e funcionalidade In DIONÍSIO A P MACHADO A R BEZERRA M A Org Gêneros textuais e ensino São Paulo Parábola 2010 Produção textual análise de gêneros e compreensão São Paulo Parábola 2008 PRETI Dino Sociolinguística os níveis de fala São Paulo Edusp 2003 34 wwwcruzeirodosulvirtualcombr Campus Liberdade Rua Galvão Bueno 868 CEP 01506000 São Paulo SP Brasil Tel 55 11 33853000 Cruzeiro do Sul