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13 Socialização: Como Ser um Membro da Sociedade* Peter L. Berger e Brigitte Berger A infância: componentes não-sociais e sociais Bem ou mal, a vida de todos nós tem início com o nascimento. A primeira condição que experimentamos é a de criança. Se nos propusermos a análise do que esta condição acarreta, obviamente nos defrontaremos com uma porção de coisas que nada têm que ver com a sociedade. Antes de mais nada, a condição de criança envolve certo tipo de relacionamento com o próprio corpo. Experimentam-se sensações de fome, prazer, conforto e desconforto físico e outras mais. Enquanto perdura a condição de criança, o indivíduo sofre as incursões mais variadas do ambiente físico. Percebe a luz e a escuridão, o calor e o frio; objetos de todos os tipos provocam sua atenção. É agarrado pelos raios do sol, sente-se intrigado com uma superfície lisa ou, se tiver azar, pode ser molhado pela chuva ou picado por uma pulga. O nascimento representa a entrada num mundo que oferece uma quase aparentemente infinita de experiências. Grande parte dessas experiências não se reveste de caráter social. Evidentemente, a criança ainda não sabe estabelecer essa espécie de distinção. Só em retrospecto toma-se possível a diferenciação entre as componentes não-sociais e sociais de suas experiências. Mas, uma vez estabelecida essa distinção, podemos afirmar que a experiência social também começa com o nascimento. O mundo da criança é habitado por outras pessoas. Esta logo se aprende a distinguir essas pessoas, e algumas delas assumem uma importância toda especial. Desde o início a criança desenvolve uma interação não apenas com o próprio corpo e o ambiente físico, mas também com outros seres humanos. A biografia do indivíduo, desde o nascimento, é a história de suas relações com outras pessoas. Além disso, os componentes não-sociais das experiências da criança estão entremeados e são modificados por outros componentes, ou seja, pela experiência social. A sensação de fome surgida em seu estômago só pode ser aplacada pela ação de outros pessoas. Na maior parte das vezes a sensação * (t0) Peter L. Berger e Brigitte Berger, Sociology — A Biographical Approach, 2.ed., Basic Books, Inc., New York, 1975, pp 69-69. Tradução de Richard Paul Neves. Reproduzido com autorização de Basic Books, Inc. 170 Conceitos Sociológicos Fundamentais de conforto ou desconforto físico resulta da ação ou omissão de outros indivíduos. Provavelmente é objeto com a superfície lisa tão agradável foi colocado ao alcance da mão da criança por alguém. E é quase certo que, se a mesma fi molhada pela chuva, isso aconteceu porque alguém a deixou do lado de fora, sem proteção. Dessa forma, a experiência social, embora possa ser destacada de outros elementos da experiência da criança, não constitui uma categoria isolada. Quase todas as facetas do mundo da criança estão ligadas a outros seres humanos. Sua experiência relativa aos outros indivíduos constitui o ponto crucial de toda experiência. São os outros que criam os padrões por meio dos quais se realizam as experiências. É só através desses padrões que o organismo consegue estabelecer relações estreitas com o mundo exterior — e não apenas com o mundo social, mas também com o da ambiência física. E esses mesmos padrões penetram no organismo; em outra palavras, interferem em seu funcionamento. São os outros que estabelecem os padrões pelos quais se satisfaz a ansiedade da criança pelo alimento. E, ao procederem assim, esses outros interferem no próprio organismo da criança. O exemplo mais ilustrativo é o horário das refeições. Se a criança é alimentada somente em horas determinadas, seu organismo é forçado a adaptar-se a esse padrão. E ao realizar o processo de adaptação, suas funções sofrem uma modificação. O que acaba acontecendo é que a criança não só é alimentada em horas determinadas, mas também sente fome nessas horas. Embora, nesse tipo de representação gráfica, poderíamos dizer que a sociedade não apenas impõe seus padrões de comportamento, mas também estreita de maior pressão de seu organismo a fim de regular as funções de seu estômago. O mesmo aplica-se à secreção, ao sono e a outros processos fisiológicos ligados ao es- Alimentar ou não alimentar: uma questão de fixação social Alguns dos padrões socialmente impostos à criança podem resultar das características peculiares dos adultos que lidam com ela. Uma mãe, por exemplo, talvez alimente a criança sempre que começa a chorar, independentemente de qualquer horário, porque sempre fez isso muito sensíveis ou, por uma sensação de desconforto, por qualquer tempo que seja. Na maior parte das vezes, porém, a opção entre a alternativa de alimentar a criança sempre que a mesma chora ou submetê-la a um horário rígido de refeições não resulta de uma decisão individual da mãe, mas representa um padrão bem mais amplamento prevalecente na sociedade em que esta vive e foi ensinada que esse padrão constitui a maneira adequada de solucionar o problema. 171 Socialização: Como Ser um Membro da Sociedade tuação geral na sociedade. E o mesmo princípio de relatividade aplica-se aos estágios posteriores da infância, à adolescência e a qualquer outra fase da biografia. As práticas alimentares podem ser consideradas um exemplo de suma importância. É claro que admitem grande número de variações — pode-se escolher entre a alimentação segundo um horário regular ou a alimentação ao pedido, entre a amamentação no seio materno e a mamadeira, entre vários tempos de desmama etc. Neste ponto existem diferenças consideráveis não somente de uma sociedade para outra, mas também de uma para outra classe da mesma sociedade. Assim, por exemplo, nos Estados Unidos o pioneirismo da alimentação por mamadeira coube às mães da classe média. A prática logo se disseminou entre outras classes. Posteriormente, foram novamente as mães da classe média que lideraram a reação a favor da amamentação no seio materno. Podemos dizer, portanto, que é geralmente o nível de renda dos pais da criança que decide se esta, ao sentir fome, deve ser apresentada com o seio materno ou com uma mamadeira.(1) Se compararmos várias sociedades, as diferenças nesta área são verdadeiramente notáveis. Na família de classe média da sociedade ocidental adotava-se, antes da divulgação das ideias avançadas do perito sobre a alimentação a pedido, um regime rígido, quase industrial, de alimentação segundo um horário prefixado. A criança era alimentada em certas horas, e somente nessas horas. Nos intervalos podia chorar à vontade. Esse procedimento era justificado de várias maneiras, tanto com base em considerações práticas como sob o fundamento de ser útil à saúde da criança. A título de contraste, poderíamos examinar áreas que incluem áreas gui isi ou Quênia.(2) Os guis não conhecem qualquer horário de alimentação. A mãe amamenta a criança toda vez que esta chora. De noite dorme nua sob uma coberta, com a criança nos braços. Na medida em que ela ver, a criança tem acesso interrompido à atenção ao seio materno. Quando a mãe trabalha, carrega a criança amarrada às costas, ou então esta é carregada por algum deles que se mantém ao seu lado. Também nessa oportunidade, a criança, assim que começa a chorar, é alimentada o mais rapidamente possível. De acordo com um cronograma, a criança não deve chorar mais de cinco minutos antes de ser alimentada. Em comparação, a prática da alimentação rígida floresce nas sociedades ocidentais, esta prática considera-se por excessivo. Mas existem outros aspectos das práticas alimentares dos guisi que nos impressionam sob um ângulo totalmente diverso. Poucos dias após o nascimento, a criança passa a receber um mingau como complemento alimentar ao leite materno. Segundo indicam os dados de que dispomos, a criança não demonstra muito entusiasmo por esse mingau. Mas isso não lhe adianta nada, pois é alimentada à força. E a alimentação forçada é realizada de uma maneira bastante desagradável: a mãe segura o nariz da criança. Quando esta abre a boca para respirar, o mingau é empurrado para dentro da mesma. Além disso, a mãe demonstra pouca afeição pela criança, e raramente a acaricia, embora outras pessoas possam fazê-lo. Provavelmente procede assim no intuito de evitar os ciúmes das pessoas que poderiam assistir às suas demonstrações de afeto; de qualquer maneira, na prática isso significa que a experiência da criança encontra maiores demonstrações de afeto de outras pessoas que da própria mãe. Vê-se que mesmo sob outros aspectos, a maneira pela qual os guis criam os filhos na fase inicial da vida nos choca bastante, se a comparamos com os padrões ocidentais. De outro lado, em relação à desmama os guisi mais uma vez demonstram um elevado grau de “permissividade”, em comparação com as sociedades ocidentais. Enquanto nestas a grande maioria das crianças passa da amamentação materna para a alimentação por mamadeira antes de atingir a idade de seis meses, as crianças dos guisi são amamentados no seio materno até a idade de 22 meses. (1) John e Elizabeth Newson, Patterns of Infant-Care, Penguin Books, Baltimore, 1965, pp. 176 e segs. (2) Beatrice Whiting (compiladora), Six Cultures — Studies on Child Rearing, Wiley, New York, 1963; pp. 139 e segs. 172 Conceitos Sociológicos Fundamentais O treinamento para o uso da toalete: a moita ou a "inspiração" O treinamento para o uso da toalete constitui outro setor do comportamento da criança em que as próprias funções fisiológicas do organismo são forçadas, de maneira bastante óbvia, a submeter-se aos padrões sociais. Em linhas gerais, nas sociedades primitivas raramente surgem problemas nesta área. Segundo a regra geral a criança, assim que sabe andar, segue os adultos para a moita ou outra área que a comunidade considere apropriada para as funções eliminatórias. O problema é ainda menor nas regiões quentes, onde as crianças usam pouca ou nenhuma roupa. Entre os gusii, por exemplo, o treinamento para o uso da toalete resume-se na tarefa relativamente simples de fazer a criança defecar fora de casa. Em média, essa tarefa é iniciada aproximadamente com a idade de vinte e cinco meses, e concluída mais ou menos dentro de um mês. Ao que parece, não há maior preocupação com o ato de urinar. Uma vez que as crianças não usam vestes na parte inferior do corpo, não existe o problema de molhar a roupa. Ensinac-lhes que devem proceder com descrição ao desempenhar a função eliminatória, mas ao que tudo indica elas o aprendem por meio de um simples processo de imitação, independentemente de ameaças ou sanções.(3) Já nas sociedades ocidentais o treinamento para a toalete constitui uma grande preocupação. É bem provável que, se Freud tivesse sido um gusii, nunca se teria lembrado de conferir ao treinamento para o uso do toalete um lugar importante na sua teoria do desenvolvimento infantil. Se a compararmos, por exemplo, à sociedade norte-americana com a dos gusii, não teremos maiores dificuldades em explicar por que, na primeira, o treinamento para a toalete constitui um problema mais importante que na última. Afinal, devemos considerar a variedade de roupas usadas pelas crianças e a complexidade dos arranjos domésticos, além da ausência generalizada de moitas. Desta forma, as atribulações, os sucessos e os insucessos experimentados nesta área constituem um tópico bastante frequente na conversação das mães norte-americanas. Em estudo recente realizado numa comunidade do Havaí longearra,(4) os pesquisadores descobriram uma série expressiva de medidas punitivas aplicadas às crianças que não reagiam de forma esperada ao treinamento para o uso da toalete. Essas medidas punitivas consistiam tanto em repreender a criança em palavras ásperas como, nos casos mais extremos, queimá-la com cigarros quando a criança não usava a toilette nos momentos e lugares de evacuação. (Na verdade, entre um quarto e um terço das mães entrevistadas informaram ter aplicado estas últimas medidas.) Ao que parece, a criança vota um desrespeito total aos silences, motivo por que a simples ameaça de sua aplicação geralmente era suficiente para "inspirar" a mesma a defecar quando a mãe o desejasse. Esses dados poderiam levar um sociólogo gusii a concluir-se do que o treinamento para o uso da toilette nos Estados Unidos é extremamente rígido, mas o mesmo incidiria em erro se generalizasse essa conclusão, aplicando-a à maneira pela qual as crianças americanas são tratadas em outras áreas de comportamento. Os americanos, por exemplo, acham perfeitamente natural que uma criança queira muito movimento, e via de regra esse comportamento é tolerado até mesmo nos graus elementares da escola. Já dos franceses têm uma opinião totalmente diversa a esse respeito.(5) Num estudo recente sobre a maneira pela qual são criadas as crianças francesas, um observador americano mostrou-se espantado pelo fato de que as mesmas são levadas para brincar no parque elegantemente vestidas, e conseguem manter-se limpas. Evidentemente uma criança americana colocada em situação semelhante conseguiria sujar-se num instante. A explicação do fenômeno reside na relativa imobilidade da criança francesa. O estudioso americano notou o fato em crianças francesas de dois a três anos: ficou surpreso ao ver que as meninas eram capazes de se manter absolutamente imóveis por longos períodos. O mesmo estudo relata o caso de uma criança americana que o professor encami- (3) Whiting, inaf. pp. 154 e segs. (4) Idaf., nw. p. 944 seg. (5) Margaret Mead e Martha Wolfenstein (compiladoras), Childhood in Contemporary Cultures, Phoenix Books, Chicago, 1955, pp. 106 e segs. 173 Sociologia: Como Ser um Membro da Sociedade nhou ao psicólogo escolar, unicamente porque a mesma não conseguia manter-se quieta durante as aulas. O professor francês, totalmente desabituado a esse tipo de comportamento, concluiu que a criança deveria estar doente. Em outras palavras, um grau de atividade motora considerado normal nas escolas americanas passou a ser visto como sintoma dum estado patológico na França. A socialização: padrões relativos experimentados como absolutos O processo por meio do qual o indivíduo aprende a ser um membro da sociedade é designado pelo nome de socialização. O mesmo revela uma série de facetas diversas. Os processos que acham de ser examinados constituem facetas da socialização. Vista sob este ângulo, a socialização é a imposição de padrões sociais à conduta individual. Conforme procuramos demonstrar, esses padrões desempenham um no 
 importante nos processos fisiológicos do organismo. Conclui-se que na biografia do indivíduo a socialização, especialmente em sua fase inicial, constitui um fato que se reveste dum tremendo poder de construção e duma importância extraordinária. Sob o ponto de vista do observador estranho, os padrões impostos durante o processo de socialização são altamente relativos, conforme já vimos. Dependem não apenas das características individuais dos adultos que cuidam da criança, mas também dos vários agrupamentos a que pertencem esses adultos. Assim, por exemplo, a natureza dos padrões de conduta aplicados a uma criança depende não somente do fato de ser a mesma um gusii ou um americano, mas também da circunstância de pertencer à classe média alta ou à classe operária dos Estados Unidos. Mas, sob o ponto de vista da criança, estes mesmos padrões são sentidos de forma bastante absoluta. Temos razões para supor que, se não fosse assim, a criança seria perturbada e o processo de socialização não poderia ser levado avante. O caráter absoluto com que os padrões sociais atingem a criança resulta de dois fatos bastante simples: o grande poder que os adultos exercem numa situação como aquela em que se encontram em relação à ignorância desbravada e total incapacidade de oferecer alternativas. Os psicólogos divergiram sobre a questão de saber até que ponto a criança se apercebe de que está em situação de contínua vitória diante dos seus pais. Contudo, tudo indica que a criança é principalmente, se não completamente, orientada mediante a força dos padrões sociais aplicados pelos adultos. Isso quase deixa de ser fato, porque a qual é denominado pela comunidade como um sistema de controle de ações e a sociedade qual sua parte indeterminada localiza-se. É exatamente aos padrões sociais a que o indivíduo está situado (conforme mostrei anteriormente). Contudo, parece que dela não de uma força ou poder. Metaforicamente falando, elas são como um polici-caste americanim sentido de direção de sua liberdade. Se denominarmos também a criança em oposição a deixá-la. O indivíduo, sob as severas condições de sua exposição, inicia a criação inicial para que este mesmo fato deve ser deixado em aberto, com seu de ser claramente um apoio das a força emocional diante do seu desenvolvimento mental ao obter a corte. Na mesma linha de pensamento, a exposição deste processo foi do que qualquer apoio deste ponto se revela a mísera perspectiva proporcionada pelo mundo ideologicamente que tem às dificuldades em avançar através da aquisição deste processo devolutivo de seus valores à sociedade índia sobre o que desejar. Em qualquer episódio, o cuidado aos criadores entre o real e o pessoal. São Paulo, 1958, Psicologia infantil;. Ali o dilema pode ser considerado, mas até ali a síntese independente, ao longo de um século e meio, pode ser que se trata do dele mesmo a serviço dos senhores, uma vez aplicados os instrumentos no lugar onde encontrar que apoio do comitê social de uma tentativa de considerar a comunicação com nossa maior autoridade vanguardal, igualmente a evidência ao mesmo tempo sê-la para o mesmo oposto da razão de aspecto da força de coordenação dos seus assistentes aliados, quando mularam, Isso não quer dizer que pesquisadores traduzem símbolos com as cenas. 174 Conceitos Sociológicos Fundamentais volver-se e expandir-se a fim de ingressar num mundo que está ao seu alcance. Sob este ponto de vista a socialização constitui parte essencial do processo de humanização integral e plena realização do potencial do indivíduo. A socialização é um processo de iniciação num mundo social, em suas formas de interação e nos seus numerosos significados. De início, o mundo social dos pais apresenta-se à criança como uma realidade externa, misteriosa e muito poderosa. No curso do processo de socialização este mundo torna-se inteligível. A criança penetra nesse mundo e adquire a capacidade de participar dele. Ele se transforma no seu mundo. A linguagem, o pensamento, a reflexão e a "fala responda" O veículo primordial da socialização, especialmente sob a segunda faceta, é a linguagem. Logo mais realizaremos um exame mais detalhado da linguagem. Neste ponto só queremos ressaltar que ela constitui um elemento essencial do processo de socialização, e mais do que isso, de qualquer participação posterior na sociedade. Ao desenhar-se da linguagem, a criança apreende e transmite e retém certos significados socialmente reconhecidos. Adquire a capacidade de pensar abstratamente, isto é, consegue ir além da situação imediata com que se defronta. É também por meio da aquisição da linguagem que a criança adquire a capacidade de refletir. As reflexões incidem sobre a experiência presente, que é integrada num esquema coerente e cada vez mais amplo da realidade. A experiência presente é continuamente interpretada em conformidade com essa visão e a experiência futura não pode ser apenas imaginada, mas também planejada. É através dessa reflexão que mais tarde a criança toma consciência de si mesma como uma individualidade, no sentido literal de reflexo, isto é, do fenômeno através do qual a atenção da criança retorna do mundo exterior para si mesma. É muito fácil dizer, ou seja, por outro não deixa de ser correto, que a socialização é um processo de comparticipação coletiva. A criança é comparável a uma tigela, espécie de que é moldada de forma através da modelação em que participa ao colocá-la completamente, mas é ideal para utilizar um conceito tão unilateral. Mesmo no início da vida, a criança não é uma vítima passiva da socialização. Resiste a mesma, dela participa e nela colabora de forma variadas. A socialização é um processo recíproco, vistoque esta não apenas o indivíduo socializando, mas também os socializantes. Não é difícil observar esse fato na vida quotidiana. Geralmente os pais alcançam um êxito maior ou menor em moldar a criança de acordo com os padrões gerais criados pela sociedade e desejados por eles. Mas as experiências também produzem modificações nos pais. A reciprocidade de criança, isto é, sua capacidade de exercer uma ação individual e independente sobre o mundo e as pessoas que o habitam, cresce na razão direta da capacidade de usar a linguagem. No sentido literal da palavra, a criança nessa fase começa a responder aos adultos. Neste contexto, torna-se necessário admitir que há limites para a socialização. Essas limitações estão fixadas no organismo da criança. Desde que possa uma inteligência razoável, qualquer criança de qualquer parte do mundo pode ser socializada para ser transformada num membro da sociedade americana. Qualquer criança normal pode aprender o inglês. Qualquer criança normal pode aprender os valores e padrões de vida ligados ao uso da língua inglesa nos Estados Unidos. Provavelmente qualquer criança normal poderia aprender um sistema de notação musical. Mas é evidente que nem toda criança normal poderia ser transformada num gênio musical. Se essa qualidade não estiver presente, em potencial, no organismo da criança, qualquer tentativa de socialização que se desenvolvesse nesse sentido esbarraria em resistências duras e invencíveis. O estado atual do conhecimento científico (especialmente na área da Biologia Humana) não nos permite traçar os limites precisos da socialização. Todavia, é muito importante que não nos esqueçamos de que esse limite existe. Socialização. Como Ser um Membro da Sociedade 175 Tomando as atitudes e desempenhando o papel dos outros Através de que mecanismo é levada avante a socialização? O mecanismo fundamental consiste num processo de interação e identificação com os outros. Um passo decisivo é dado no momento em que a criança aprende, na expressão de Mead, a tomar as atitudes do outro.(6) Isso significa que a criança não só aprende a reconhecer certa atitude em outra pessoa e a compreender seu sentido, mas também aprende a tomá-la ela mesma. Por exemplo, a criança observa quando a mãe toma, em certas ocasiões, uma atitude de cólera — por exemplo, nas ocasiões em que a criança se suja. Além de exprimir-se por gestos e palavras, a atitude de cólera encerra um sentido perfeitamente definido, qual seja o de que não é correto sujar-se. De início a criança imitará as exteriorizações dessa atitude, assim verbais como não-verbais. É nesse processo de interação e identificação que o sentido dessa atitude é absorvido pela criança. Essa fase específica da socialização terá sido coroada de êxito quando a criança tiver aprendido a tomar a mesma atitude para consigo mesma, até na ausência da mãe. Pode-se observar uma criança 'brincando de mãe' quando se encontra sozinha. Isso acontecerá, por exemplo, quando ela se repreender a si mesma por infrações às regras ligadas ao uso da toalete, chegando por vezes a elaborar uma figura caricata a título de imitação da papel anteriormente desempenhado pela mãe. Chegará o dia em que não mais será necessário realizar a caricatura. A atitude acha-se finalmente implantada na consciência da criança, que conseguirá realizá-la em silêncio, sem elaborar conscientemente o repertório do papel. Da mesma forma, a criança aprende a desempenhar o papel do outro. Para os fins ora visados, podemos ver no papel desempenhado pela mãe uma atitude que se fixou num padrão de conduta e posteriormente reiterado. O que vai de transição ao filho não é apenas uma série de atitudes, mas sim um padrão geral de conduta que pode ser designado como “o papel de mãe”. A criança representa como são os tomar atitudes específicas, mas a assumir os respectivos papéis. O brinquedo representa uma parte e muito importante desse aprendizado. Não há quem não tenha visto uma criança que representa um pai, irmã ou irmã mais velho, e, uma tarde de 'polícia', 'cowboy' ou módio. A importância desse tipo de brinquedo de criança resulta porque se baseia essencialmente em papéis, e não objetos fora de si mesma. Na realidade, a criança desempenha vários papéis e, por exemplo, deverá desempenhar ao mesmo tempo o papel do 'polícia', de sua mãe, ou do professor primário, enquanto o 'réu' é quem cometeu as infrações. Afinal, é na realidade uma 'banda', senão um 'polícia' ou um 'cowboy' ou um índio. Ao desempenhar estes papéis aprende, antes de mais nada, a seguir um padrão de conduta reiterada. O que importa não é tornar-se um índio, mas aprender como desempenhar um papel. Socialização: dos “outros significativos” ao “outro generalizado” Além da função de aprendizado, generalizada realizada através do ato de 'desempenhar' papéis, esse mesmo processo pode transmitir significados sociais 'verdadeiros'. A maneira pela qual uma criança americana desempenha o papel de policial depende em larga escala do significado que esse papel assume em seu ambiente social imediato. Para a criança dum bairro residencial branco, o policial representa a imagem da autoridade e da segurança; é uma pessoa a qual se deve recorrer sempre que haja algum problema. Já para a criança negra do centro da cidade, o mesmo papel lhe transmitirá possivelmente envolto uma ideia de hostilidade e perigo, uma ameaça antes que um fator de segurança, uma pessoa a qual não se deve recorrer, mas da qual é preciso fugir. Ainda é possível definir, na diferença dos papéis de 'cowboy' e 'indio', que alguns mesmo significados totalmente diversos numa residência branca e numa reserva indígena. Vê-se que a socialização se realiza numa contínua interação com outros. Mas nem todos os outros com que a criança se defronta assumem a mesma importância nesse processo. Alguns deles evidentemente ocupam uma posição de relevo. Para a maior parte das crianças, refere-se pais e os irmãos e é mais que possamos rodá-los. Em alguns casos pertencem ao mesmo grupo de avós, os amigos íntimos dos pais e os empregados domésticos. Outras pessoas se situam num segundo plano, e, sua função no processo de socialização poderia ser concebida como a de quem providência o fundo musical. Entram nesta categoria os contatos ocasionais de todos os tipos, desde o carteiro até o vizinho que só aparece de vez em quando. Se quiséssemos ver na socialização uma espécie de drama, o mesmo poderia ser comparado a uma peça da Grécia antiga, na qual alguns dos participantes podem ser equiparados aos grandes protagonistas, enquanto outros desempenhariam suas funções no coro. Mead designou os grandes protagonistas do drama da socialização como os outros significativos. São as pessoas que com maior frequência se tornam o objeto da interação da criança, com as quais mantém relações emocionais mais intensas e cujas atitudes assumem importância crucial na situação em que se encontra. Obviamente, o que acontecerá à criança dependerá em larga escala de quem ou o que são esses outros significativos. Não nos referimos apenas às suas características ou excentricidades individuais, mas à posição que ocupam num mundo mais amplo da sociedade. Nas fases iniciais da socialização toda ou qualquer atitude adotada pela criança terá sido fixada por outros significativos. Num sentido bastante real, eles são o mundo social da criança. Mas, à medida que prossegue a socialização, a criança começa a compreender que essas atitudes e papéis se ligam a uma realidade muito mais ampla. A criança começa a compreender, por exemplo, que o que é somente sua mãe fica no que uma mãe é e, mais do que isso, pelo mundo dos adultos em geral. Nessa altura a criança passa a relacionar-se não apenas com determinados outros significativos, mas com um outro generalizado (nos campos como numa expressão meadiana), que representa a sociedade em geral. Este passo é facilmente identificável na linguagem. Na fase inicial, tudo se passa como se a criança dissesse a si mesma (muitas vezes realmente lhe diz) 'Mamãe não quer que eu me suje'. Depois da descoberta do outro generalizado, essa frase transformar-se numa afirmação como esta: 'A gente não se deve sujar.' As atitudes específicas assumiram caráter universal. Os comando s e a passos específicos de outras conduzidos de um crítico disser: 'eu me senti em normas gerais. Este passo representa um dos marcos cruciais do processo de socialização. 176 Conceitos Sociológicos Fundamentais Interiorização, consciência e autodescoberta A esta altura compreenderemos por que um dos termos usados para definir a socialização, que por vezes chega a ser empregado quase indiferentemente no lugar deste, é interiorização. Esse termo significa que o mundo social, com sua multiplicidade de significados, passa a interiorizar-se na consciência da criança. Aquilo que anteriormente era experimentado como alguma coisa existente fora dela agora também pode ser experimentado dentro dela. Através de um complicado processo de reciprocidade e reflexão, certa simetria se estabelece entre o mundo interior do indivíduo e o mundo social externo, em cujo âmbito o mesmo está sendo socializado. O fenômeno é claramente ilustrado pelo fato que costumamos chamar de consciência. Afinal, a consciência é basicamente a interiorização (ou melhor, a presença interiorizada) dos comandos e proibições de ordem moral vindos do exterior. Tudo teve início quando, em certo ponto do processo de socialização, um outro significativo disse 'faça isso' ou 'não faça aquilo'. À medida que a socialização foi levada avante, a criança passou a identificar-se com esses postulados morais. Ao identifica-se com eles, realizou sua interiorização. Em certa oportunidade, a criança disse a si mesma 'faça isto' ou 'não faça aquilo' provavelmente quase no mesmo tom em que a mãe ou outra pessoa lhe destas estas palavras pela primeira vez. Com isso tais postulados foram absorvidos por sua mente. As vozes transformar-se-ão em vozes interiores. Finalmente, passaram à própria consciência que lhe falava. Talvez este fenômeno possa ser encarado de várias maneiras. A interiorização pode ser vista sob o ângulo que mais atrás designamos pela expressão 'visão policiaisca', e esse ângulo não deixará de ser correto. Conforme evidencia o exemplo da consciência, a interiorização relaciona-se com o controle da conduta individual. Através dela o controle pode tornar-se contínuo e consciente. Seria extremamente indispensioso para a sociedade, e provavelmente até mesmo impossível, se o indivíduo não vivesse ser que rodeado constantemente por outros que lhe dissessem 'faça isso' ou 'não faça aquilo'. Depois que essas injunções se interiorizaram na consciência do indivíduo, só ocasionalmente haverá necessidade de reforços vindos de fora. Na sua maioria, os indivíduos se controlam a si mesmos na maior parte das vezes. Acontece que é apenas uma das maneiras de encarar o fenômeno. A interiorização não só controla o inñdividuo, mas abre-lhe as portas do mundo. Não só permite que o mesmo participe do mundo social externo, mas capacitada para uma vida interior mais rica. É só por meio da interiorização das vozes dos outros que podemos falar a nós mesmos. Se ninguém nos tivesse dito uma mensagem significativa vinda de fora, em nosso tentar também remitirá no silêncio. É só através dos outros que podemos descobrir-no a nós mesmos. Ou, em termos mais precisas, é só através dos outros significativos que podemos desenvolver um relacionamento significativo com nossa própria pessoa. É esta uma das razões por que é tão importante que tenhamos um certo cuidado na escolha dos pais. Socialização. Como Ser um Membro da Sociedade 177 'É apenas uma criança' — crescimento biológico e etapas biográficas É claro que existe certo paralelismo entre os processos biológicos de crescimento e a socialização. Quando menos, o crescimento do organismo impõe certos limites à socialização. Seria um contrassenso, por exemplo, uma sociedade querer ensinar a linguagem a uma criança de um mês de matemática a outra criança de dois anos de idade. Indicaremos, porém, em grave de sangue e acreditássemos que as etapas biográficas da vida, definidas pelas sociedade, são baseadas diretamente nas etapas de crescimento biológico. Isso se aplica todas as etapas da biografia, não necessariamente à morte, inclusive à infância. Existem social americanas tendem estreitar a infância, não apenas segundo a união, mas também pelas características morais. Não há dúvida de que o biólogo pode afirmar que, no grau de desenvolvimento do organismo; o próprio chefe definirá originou-se em dado laço em conceitos biológicos, porém, o sociólogo há de insistir em que a infância depende de construção social. Em outras palavras, a sociedade dispõe dum campo bastante amplo ao decidir o que será a infância. A infância, conforme é entendida e conhecida hoje, constitui uma criação do mundo moderno, especialmente da burguesia.(7) Foi só época bem recente da história do Ocidente que a infância passou a ser considerada uma idade especial e altamente protegida. A estrutura moderna da infância encerra sua expressão não só em numerosas crenças e valores ligados à criança (como, por exemplo, na ideia de que a criança é de certa forma uma criatura “inocente”), mas também na nossa legislação. Assim, hoje em dia prevalece nas sociedades modernas a opinião quase universal de que as crianças não devem ficar sujeitas aos preceditos gerais da lei penal. Não faz muito tempo que as crianças eram consideradas apenas adultos em miniatura, Isso se exprimia de forma patente na maneira de vestir-los. Conforme se dependeu das pintaras da época, ainda no século XVIII, as crianças andavam com suas pais em trajes idênticos aos deles — exceto, naturalmente, quanto ao anamanhã. Quando a infância passou a ser concepção e organizada como uma fase muito especial da vida, distinta da idade adulta, as crianças passaram a usar trajes especiais. Um ponto de deve ser considerado é da criança na 'inocência' da criança, hoje prevalecente, isto é, a crença de que a criança deve ser protegida contra certos aspectos da vida adulta. A título de computação, podemos examinar o relato fascinante encontrado no diário mantido pelo médico da corte durante a infância de Luís XIII da França, no início do século XVII.(8) Sua ári já brincava com o pênis (7) Philippe Ariès, Centuries of Childhood, Knopf, New York, 1962. (8) Ibid., pp. 100 e seq. 178 Conectos Sociológicos Fundamentais de criança quando esta tinha menos de um ano. Todo mundo achava isso muito engraçado. Não demmorou que o principezinho fizesse questão de exibir constantemente seu pênis, em meio ao regozijo geral. Além disso, pedia à toda mondo que beijasse essa parte de seu corpo. Essa inteira irreverência pelos ógnos genitais de criança durou alguns anos, envolvendo não apenas criadas triviais, mas ate meso uma rae, à rainha. Com quatro anos de idade uma dama da corte levou o principezinho à cama de mãe e lhe disse: “Monsieur, aquio senhor foi fabricado.” Só aos sete anos, aproximadamente, surgiu em sua mente a ideia de que deveriam mostrar certa discrição em ralação à essa parte do corpo. Ainda cabe mencionar que Luís XIII casou com idade de quatorze anos quando, segundo certa pessoa co mentan ironicamente, não tinha mais nada à aprender. Os diferentes mundos da infância Um exemplo clássico dos diferentes mundos da ainfância, que quase todos conhecem, é o contraste que Atenas e Esparta nos oferecem neste ponto. (9) Os atenienses estavam empenhados em que seus povenis, ao crescerem, se transformassem em indivíduos bem formados, habilitados tanto para a poesia e a Filosofia como para a arte da guerra. E a educação de Atenas refletia este ideal. O mundo de criança ateniense (ao menos do sexo masculino) era um mundo de competição intelectual, num fu não terreno físico com menor e estético. Num contrate flagrante a este mundo de competição educação espartana insistia pe desenvolvimento de disciplina, de obediência e de bravura física — ou enter, das virtudes do soldado. Em comparação com os métodos atenienses, a maneira pela qual os espartanos criavam suas criancas era excessivamente rude, talvez mesmo declaradamente brutal. O costume de fazer as crianças passarem fome a fin de levá-las a roubarem sua comida era apenas uma das muitas formas pelas que eles exprimiam essa concepção da infância. Evidentemente seria muito mais agradável ser um menino em Atenas que em Esparta. Mas não é o contraste entre as duas que não sob o domínio sociológico. O que realmente importa é que a socialização espartana produzia indivíduos muito diferentes dos que resultavam da socialização realizada em Atenas. A sociedade espartana estava centralizada em uma situação envolvente que dominava inteiramente a vida de cada indivíduo, e face a esse objeitivo o sistema espartano de educar as crianças era perfeitamente sensato. O tipo de infáncia criado ocidente moderno se vem disseminando rapidamente por todo o mundo. O fenômeno resultou de várias causas. Uma delas é o declínio dramático da mortalidade infantily e das doenças da infância, que constituem uma das consequências verdadeiramente revolucionárias de Medicina moderna. Em virtude desse fator, a infáncia passou a ser uma fase mais segura e feliz do que jamais fó, e esse fato emstitui a propagação das concepções ocidentais sobre essa fase d vida, sequando as quais a mesma é mais precisa e digna de proteção que as outras. Em compar com os períodos anteriores da história do Ocidente e de todas as outras partes do mundo, a socialização de hoje assume qualidades sem precedentes de delicadeza e interesse por todas as necessid das de criança. É bastante provável que a propagação do conceito de socialização e a estruturacão da infância que à acompanha estejam produzindo influência poderosa da sociedade, até mesmo no terreno político. O encontro conosco mesmos: o eu e o me Até aqui enfatizamos a maneira pela qual a socialização introduz a criança num mundo social es pecífico. Um aspecto que assume igual importância é a maneira pela qual a socialização apresenta a 179 Sociociólogo: Como Ser um Membro de Sociedade a criança a si mesma. Da mesma forma que a sociedade constitui um mundo no qual a criança pode ser iniciada, ela também produz vários tipos de individualidade. A criança é socializada não só para um mundo específico, mas anchem para determinar individualidade. Mead exprimiria através dos conceitos do eu e do me os fatos que se desenrolam na consciência da criança no curso desse proces so. (10) Já mencionamos uma consequência interessante do processo de socialização: a criança ad quire a capacidade de falar a si mesma. O eu e o me são precisamente os parceiros desse tipo de con versação. O eu representa a consciência espontânea ininterrupta de individualidade que todos te mos. Já o me representa a parte da individualidade que foi configurada ou moldada pela sociedade. Essas duas facias da individualidade podem conversar uma com a outra. Um menino que estaja sendo criada na sociedade americana, por exemplo, aprende certas coisas — ou seja, se suponhe, ele bem a um menino, como a coragem diante da dor. Suponhamos que o menino machuque o dedo e lute coece a sangrar. O eu regista a dor, e que imaginamos, ocorre um impernato, O me, de outro lado, aprendeu que um bom menino deve ser corajoso. E o me que or menino morrer o lboio e suportar a dor. Ou então, suponhamos que o menino já esteja velha na mente, e uma profesora muito simpática na escola que frequenta. O eu registra a atração sentida pelo niño e não quer outru cosa empenhar a profesora e fazer amor com ela. Ainda mejando-su enseña social seqund o qual simplemente serias me fan oialdas. Não é difícil imaginar uma conversa atan mantenida entre as duas facias da individualidade. Uma delas dirá: “Anápia, agarre”, ceruga o 10 portanto evitará “Pare, iese não é certo! ” ou algo toonçe em linha a torn. Importante ensociali zação configura a individualidade. Não pode se configurá-la em toda a extensão. Sempre restará algo antigo e incontrovertil, que eu o eu restar um trompe de forma imprevisível. E é essa parte es potentânea da individualidade que se colende da mende resulta socializada. Assimilando uma identidade: atribuição ou aquisição A parte socializada da individualidade deve por ser atingida estone a identificação. (11) Ouquie se reforça pelo menos idealmente, somente um mundo no qual surgirem. algumas es dessas identidades elo policía de de la d de De Schnal e é de São atribuídas cons, como o de meninho, menina. Outras vezes a identificneo do indinuyu numa fase posterior da vida, como a do menino que ou menina bontio no contrário, Em de buen ou da menina feia). Outras identidades são guardadas como que para aquisição, foi exemplo sso de indivíduous podem oba-les através de um esforço espontáneo como, por exemplo, o de polilou catésp ideal m, do Papa ale as identidades são atribuídas às diversas indivíduos. Algumas delas já são atribuídas pre naci mento, como a de menino ou menina. Outras vezes a identificanho atribui ao individuao umia fase posterior da vida, como a do menino que ou menino bonito (ou, ao contrário, em menino estúpido ou da menina feia). Outras identidades são guardas como que para aquisição, a fim de que os indi iduols possam obte-las através de um esforço espontáneo como, por exemplo, a do policial ou arece bispo. Mas, quer a identidade seja atribuída ao individuo, quer seja aquirída por ele, ela senpre é assimilada através de um processo de interação com outros. São autores que o identificam de certa maneira. Sé depois que uma identidade é confirmada pelos outros, é que pode tornar-se real para o indivíduo ao downlingsotenguol oseóntero. Em outras palavras, a identidade resulta do inaurnou a identificação com a auto-identinação. Isto aplum-se arhé mesmas as identidades deliberadamente constuídas pelo próprio indivíduo. Por exemplo, em nossa sociedade existem indivíduos identificados como homens que preferiram ser mulheres. Podem fazer váriases que vão até á cirurgia destinada a reconstru-los de acordo com a nova identidade. O objetivo principal a ter atingido, porém, consiste em fazer com que ao menos alguns outros aceitem a nova identidade, ou seja, que os identifiquem nesses termos. É impos sível ao individuo ser alguém ou alguma coisa por muito tempo, exclusivamente por sua conta. (10) Estes conceitos pertencento ao Mead. (11) Não há entra absoluto sobre que ponto sous que primeira ves n o conceito de Identidade no sentido em que aqui o empregamos. A respe. laralade que o meno alianco amo ultima amor a devies em grande parte ao tmanhle do Erk Eruisson osr pode se consideredue um pis-esssss consolado com inflencingo soci auxiliar. Vera a dese mdonlouinha Childhood and Society, Norton, New York, 1950. 180 Conectos Sociológicos Fundamentais Outros têm de dizer quem somos, outros têm de confirmar nossa identidade. É bem verdade que existem casas em que certos indivíduos mantêm uma identidade que ngém no nesse mundo con considera real. Esses indivíduos costumam ser chamados de psicopatas. São personalidades marginais que despertam grande interesse, mas sua análise é estranha ao presente trabalho. Sociedades diferentes, identidades diferentes: a socialização americana e a socialização soviética Uma vez examinandas as relações entre a socialização e a identidade, logo perceberemos porque grupos ou sociedades inteiras podem ser caracterizados de acordo com identidades específicas. Os americanos, por exemplo, podem ser reconhecidos não apenas por determinados padrões de condu ta, mas também com base em certas características que muitos deles têm em comum, — ou seja, se gundo uma identidade especificamente americana. Numerosos estudios revelam que certos valores básicos da sociedade americana, como a independência, as relações inviáveis e a seriedade com que é encarada a carreira do indivíduo são incluídos no processo de socialização desde o início, po calmamente quando se trata du um menino. (12) Até mesmo os jogos das crianças americanas refletem esses valores, o que se depende, por exemplo do ênfase que poem na competição individual. Há sé veros castigos para quem não consegue viver segundo esses valores e identificar o que lhes. Esses castigos vão desde a gozação das outras crianças até o fracasso no mundo ocupacional. Jà a socialização soiviética enfaiça a disciplina, a lealdade a e a cooperação com outros mollosính, pradéis realizações coletivas. São esses os valores enfaticados nos métodos soviéticos de curação çacnaocialista. Evidentemente o objetivo consiste em produzir uma identidade adequada ao ideal soviético da so ciedade socialista. A criança soiviética cresce numa situação em que se substituía a um controle muito mais rígido que a criança americana da mesma idade. (13) Podemos deixar de lado a pergunta sobre se é correta a afirmativa soviética segundo a qual casa sociedade produziu “o novo homem so cialista”. Certo é que, bem ou mal, a sociedade soviética montou processos de socialização condu centes ao tipo específico de identidade que se harmonize com os ideais e as necessidades dessa socie dade. Socialização secundária: o ingresso em novos mundos Ao falarmos sobre a educação, já deixamos implícito que a socialização náo cheaga ao fim no mo mento em que a criança se torna um participante integral da sociedade. Na verdade, poderíamos di ver que a socialização nunca chega ao fim. O que acontece numa biografia normal é apenas que a in tensidade e o alcance de socialização diminuem depois da primeira fase da infância. Os sociologos estabelecem distinção entre a socialização primária e a socialização secundaria. A socialização primária é o proceso por meio do qual a criança se transforma num membro participante da sociedade. A so cialização secundária compreende todos os processos posteriores, por meio dos quais o individuo é introduzido num mundo social específico. Qualquer treinamento profissional, por exemplo, consti (12) Existe um trecho sobre a vida de uma communidade de subúrbio residencial canaubare, com énfise cuidadir sobre a familia e os pro das aplicados as crianças. Tratá-se de obra de J. R. Seeley, R. A. Sims e E. W. Losley, intitulada Commitment Haphes, Basic Books, New York, 1956 lorla ne Sager. (13) David Vem Maner, The Soviet Famly, Dolphim Books, Garden City, New York, 1964, pg. 264 et seqa. tui um processo de socialização secundária. Em certos casos esses processos são relativamente superfi- ciais. Assim, por exemplo, nenhuma modificação profunda na identidade do indivíduo se tornaria necessária para habilitá-lo a exercer a profissão de contador. No entanto, isso não ocorre se o indivídu- lo for treinado para tornar-se um sacerdote ou um revolucionário profissional. Existem exemplos de so- cialização desse tipo que se parecem com a socialização realizada na primeira infância. A socialização secundária também se acha presente em experiências das mais variadas, como a de melhorar a posi- ção social, mudar de residência, adaptar-se a uma doença crônica ou ser aceito num novo círculo de amigos. Relacionamento com os indivíduos e com o universo social Todos os processos de socialização se realizam numa interação face a face com outras pessoas. Em outras palavras, a socialização sempre envolve modificações no micromundo do indivíduo. Ao mes- mo tempo, a maior parte dos processos de socialização, tanto primária como secundária, liga o indi- víduo às estruturas complexas do macromundo. As atitudes que o indivíduo assume e a sua socializa- ção geralmente se relacionam com sistemas amplos de significados e valores que se estendem muito além de sua situação imediata. Os hábitos de comer e limpar, por exemplo, não são apenas ideias excêntricas de determinado par de pais, mas constituem valores muito importantes num cam- po em mudança de média. Da mesma forma, os papéis aprendidos no curso da socialização relacio- nam-se com vastas instituições, que talvez não sejam imediatamente visíveis no micromundo do in- divíduo. A aprendizagem do papel de menino curioso não só acarretará a aprovação dos pais e dos companheiros de folguedo, mas assume certa importância para o indivíduo enquanto este estuda na áulu num mundo bem mais amplo de instituições, que inclui desde o campo de futebol do colégio daté as organizações militares. A socialização liga o micromosmo ao macrocosmo. De início, habilita o indivíduo a ligar-se a determinados outros indivíduos; após isso, torna-o capaz de estabelecer contato com um universo social inteiro. Para o bem ou para o mal, a condição primordial de viver consigo mesmo tipo de relacionamento numa base vitalícia.

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13 Socialização: Como Ser um Membro da Sociedade* Peter L. Berger e Brigitte Berger A infância: componentes não-sociais e sociais Bem ou mal, a vida de todos nós tem início com o nascimento. A primeira condição que experimentamos é a de criança. Se nos propusermos a análise do que esta condição acarreta, obviamente nos defrontaremos com uma porção de coisas que nada têm que ver com a sociedade. Antes de mais nada, a condição de criança envolve certo tipo de relacionamento com o próprio corpo. Experimentam-se sensações de fome, prazer, conforto e desconforto físico e outras mais. Enquanto perdura a condição de criança, o indivíduo sofre as incursões mais variadas do ambiente físico. Percebe a luz e a escuridão, o calor e o frio; objetos de todos os tipos provocam sua atenção. É agarrado pelos raios do sol, sente-se intrigado com uma superfície lisa ou, se tiver azar, pode ser molhado pela chuva ou picado por uma pulga. O nascimento representa a entrada num mundo que oferece uma quase aparentemente infinita de experiências. Grande parte dessas experiências não se reveste de caráter social. Evidentemente, a criança ainda não sabe estabelecer essa espécie de distinção. Só em retrospecto toma-se possível a diferenciação entre as componentes não-sociais e sociais de suas experiências. Mas, uma vez estabelecida essa distinção, podemos afirmar que a experiência social também começa com o nascimento. O mundo da criança é habitado por outras pessoas. Esta logo se aprende a distinguir essas pessoas, e algumas delas assumem uma importância toda especial. Desde o início a criança desenvolve uma interação não apenas com o próprio corpo e o ambiente físico, mas também com outros seres humanos. A biografia do indivíduo, desde o nascimento, é a história de suas relações com outras pessoas. Além disso, os componentes não-sociais das experiências da criança estão entremeados e são modificados por outros componentes, ou seja, pela experiência social. A sensação de fome surgida em seu estômago só pode ser aplacada pela ação de outros pessoas. Na maior parte das vezes a sensação * (t0) Peter L. Berger e Brigitte Berger, Sociology — A Biographical Approach, 2.ed., Basic Books, Inc., New York, 1975, pp 69-69. Tradução de Richard Paul Neves. Reproduzido com autorização de Basic Books, Inc. 170 Conceitos Sociológicos Fundamentais de conforto ou desconforto físico resulta da ação ou omissão de outros indivíduos. Provavelmente é objeto com a superfície lisa tão agradável foi colocado ao alcance da mão da criança por alguém. E é quase certo que, se a mesma fi molhada pela chuva, isso aconteceu porque alguém a deixou do lado de fora, sem proteção. Dessa forma, a experiência social, embora possa ser destacada de outros elementos da experiência da criança, não constitui uma categoria isolada. Quase todas as facetas do mundo da criança estão ligadas a outros seres humanos. Sua experiência relativa aos outros indivíduos constitui o ponto crucial de toda experiência. São os outros que criam os padrões por meio dos quais se realizam as experiências. É só através desses padrões que o organismo consegue estabelecer relações estreitas com o mundo exterior — e não apenas com o mundo social, mas também com o da ambiência física. E esses mesmos padrões penetram no organismo; em outra palavras, interferem em seu funcionamento. São os outros que estabelecem os padrões pelos quais se satisfaz a ansiedade da criança pelo alimento. E, ao procederem assim, esses outros interferem no próprio organismo da criança. O exemplo mais ilustrativo é o horário das refeições. Se a criança é alimentada somente em horas determinadas, seu organismo é forçado a adaptar-se a esse padrão. E ao realizar o processo de adaptação, suas funções sofrem uma modificação. O que acaba acontecendo é que a criança não só é alimentada em horas determinadas, mas também sente fome nessas horas. Embora, nesse tipo de representação gráfica, poderíamos dizer que a sociedade não apenas impõe seus padrões de comportamento, mas também estreita de maior pressão de seu organismo a fim de regular as funções de seu estômago. O mesmo aplica-se à secreção, ao sono e a outros processos fisiológicos ligados ao es- Alimentar ou não alimentar: uma questão de fixação social Alguns dos padrões socialmente impostos à criança podem resultar das características peculiares dos adultos que lidam com ela. Uma mãe, por exemplo, talvez alimente a criança sempre que começa a chorar, independentemente de qualquer horário, porque sempre fez isso muito sensíveis ou, por uma sensação de desconforto, por qualquer tempo que seja. Na maior parte das vezes, porém, a opção entre a alternativa de alimentar a criança sempre que a mesma chora ou submetê-la a um horário rígido de refeições não resulta de uma decisão individual da mãe, mas representa um padrão bem mais amplamento prevalecente na sociedade em que esta vive e foi ensinada que esse padrão constitui a maneira adequada de solucionar o problema. 171 Socialização: Como Ser um Membro da Sociedade tuação geral na sociedade. E o mesmo princípio de relatividade aplica-se aos estágios posteriores da infância, à adolescência e a qualquer outra fase da biografia. As práticas alimentares podem ser consideradas um exemplo de suma importância. É claro que admitem grande número de variações — pode-se escolher entre a alimentação segundo um horário regular ou a alimentação ao pedido, entre a amamentação no seio materno e a mamadeira, entre vários tempos de desmama etc. Neste ponto existem diferenças consideráveis não somente de uma sociedade para outra, mas também de uma para outra classe da mesma sociedade. Assim, por exemplo, nos Estados Unidos o pioneirismo da alimentação por mamadeira coube às mães da classe média. A prática logo se disseminou entre outras classes. Posteriormente, foram novamente as mães da classe média que lideraram a reação a favor da amamentação no seio materno. Podemos dizer, portanto, que é geralmente o nível de renda dos pais da criança que decide se esta, ao sentir fome, deve ser apresentada com o seio materno ou com uma mamadeira.(1) Se compararmos várias sociedades, as diferenças nesta área são verdadeiramente notáveis. Na família de classe média da sociedade ocidental adotava-se, antes da divulgação das ideias avançadas do perito sobre a alimentação a pedido, um regime rígido, quase industrial, de alimentação segundo um horário prefixado. A criança era alimentada em certas horas, e somente nessas horas. Nos intervalos podia chorar à vontade. Esse procedimento era justificado de várias maneiras, tanto com base em considerações práticas como sob o fundamento de ser útil à saúde da criança. A título de contraste, poderíamos examinar áreas que incluem áreas gui isi ou Quênia.(2) Os guis não conhecem qualquer horário de alimentação. A mãe amamenta a criança toda vez que esta chora. De noite dorme nua sob uma coberta, com a criança nos braços. Na medida em que ela ver, a criança tem acesso interrompido à atenção ao seio materno. Quando a mãe trabalha, carrega a criança amarrada às costas, ou então esta é carregada por algum deles que se mantém ao seu lado. Também nessa oportunidade, a criança, assim que começa a chorar, é alimentada o mais rapidamente possível. De acordo com um cronograma, a criança não deve chorar mais de cinco minutos antes de ser alimentada. Em comparação, a prática da alimentação rígida floresce nas sociedades ocidentais, esta prática considera-se por excessivo. Mas existem outros aspectos das práticas alimentares dos guisi que nos impressionam sob um ângulo totalmente diverso. Poucos dias após o nascimento, a criança passa a receber um mingau como complemento alimentar ao leite materno. Segundo indicam os dados de que dispomos, a criança não demonstra muito entusiasmo por esse mingau. Mas isso não lhe adianta nada, pois é alimentada à força. E a alimentação forçada é realizada de uma maneira bastante desagradável: a mãe segura o nariz da criança. Quando esta abre a boca para respirar, o mingau é empurrado para dentro da mesma. Além disso, a mãe demonstra pouca afeição pela criança, e raramente a acaricia, embora outras pessoas possam fazê-lo. Provavelmente procede assim no intuito de evitar os ciúmes das pessoas que poderiam assistir às suas demonstrações de afeto; de qualquer maneira, na prática isso significa que a experiência da criança encontra maiores demonstrações de afeto de outras pessoas que da própria mãe. Vê-se que mesmo sob outros aspectos, a maneira pela qual os guis criam os filhos na fase inicial da vida nos choca bastante, se a comparamos com os padrões ocidentais. De outro lado, em relação à desmama os guisi mais uma vez demonstram um elevado grau de “permissividade”, em comparação com as sociedades ocidentais. Enquanto nestas a grande maioria das crianças passa da amamentação materna para a alimentação por mamadeira antes de atingir a idade de seis meses, as crianças dos guisi são amamentados no seio materno até a idade de 22 meses. (1) John e Elizabeth Newson, Patterns of Infant-Care, Penguin Books, Baltimore, 1965, pp. 176 e segs. (2) Beatrice Whiting (compiladora), Six Cultures — Studies on Child Rearing, Wiley, New York, 1963; pp. 139 e segs. 172 Conceitos Sociológicos Fundamentais O treinamento para o uso da toalete: a moita ou a "inspiração" O treinamento para o uso da toalete constitui outro setor do comportamento da criança em que as próprias funções fisiológicas do organismo são forçadas, de maneira bastante óbvia, a submeter-se aos padrões sociais. Em linhas gerais, nas sociedades primitivas raramente surgem problemas nesta área. Segundo a regra geral a criança, assim que sabe andar, segue os adultos para a moita ou outra área que a comunidade considere apropriada para as funções eliminatórias. O problema é ainda menor nas regiões quentes, onde as crianças usam pouca ou nenhuma roupa. Entre os gusii, por exemplo, o treinamento para o uso da toalete resume-se na tarefa relativamente simples de fazer a criança defecar fora de casa. Em média, essa tarefa é iniciada aproximadamente com a idade de vinte e cinco meses, e concluída mais ou menos dentro de um mês. Ao que parece, não há maior preocupação com o ato de urinar. Uma vez que as crianças não usam vestes na parte inferior do corpo, não existe o problema de molhar a roupa. Ensinac-lhes que devem proceder com descrição ao desempenhar a função eliminatória, mas ao que tudo indica elas o aprendem por meio de um simples processo de imitação, independentemente de ameaças ou sanções.(3) Já nas sociedades ocidentais o treinamento para a toalete constitui uma grande preocupação. É bem provável que, se Freud tivesse sido um gusii, nunca se teria lembrado de conferir ao treinamento para o uso do toalete um lugar importante na sua teoria do desenvolvimento infantil. Se a compararmos, por exemplo, à sociedade norte-americana com a dos gusii, não teremos maiores dificuldades em explicar por que, na primeira, o treinamento para a toalete constitui um problema mais importante que na última. Afinal, devemos considerar a variedade de roupas usadas pelas crianças e a complexidade dos arranjos domésticos, além da ausência generalizada de moitas. Desta forma, as atribulações, os sucessos e os insucessos experimentados nesta área constituem um tópico bastante frequente na conversação das mães norte-americanas. Em estudo recente realizado numa comunidade do Havaí longearra,(4) os pesquisadores descobriram uma série expressiva de medidas punitivas aplicadas às crianças que não reagiam de forma esperada ao treinamento para o uso da toalete. Essas medidas punitivas consistiam tanto em repreender a criança em palavras ásperas como, nos casos mais extremos, queimá-la com cigarros quando a criança não usava a toilette nos momentos e lugares de evacuação. (Na verdade, entre um quarto e um terço das mães entrevistadas informaram ter aplicado estas últimas medidas.) Ao que parece, a criança vota um desrespeito total aos silences, motivo por que a simples ameaça de sua aplicação geralmente era suficiente para "inspirar" a mesma a defecar quando a mãe o desejasse. Esses dados poderiam levar um sociólogo gusii a concluir-se do que o treinamento para o uso da toilette nos Estados Unidos é extremamente rígido, mas o mesmo incidiria em erro se generalizasse essa conclusão, aplicando-a à maneira pela qual as crianças americanas são tratadas em outras áreas de comportamento. Os americanos, por exemplo, acham perfeitamente natural que uma criança queira muito movimento, e via de regra esse comportamento é tolerado até mesmo nos graus elementares da escola. Já dos franceses têm uma opinião totalmente diversa a esse respeito.(5) Num estudo recente sobre a maneira pela qual são criadas as crianças francesas, um observador americano mostrou-se espantado pelo fato de que as mesmas são levadas para brincar no parque elegantemente vestidas, e conseguem manter-se limpas. Evidentemente uma criança americana colocada em situação semelhante conseguiria sujar-se num instante. A explicação do fenômeno reside na relativa imobilidade da criança francesa. O estudioso americano notou o fato em crianças francesas de dois a três anos: ficou surpreso ao ver que as meninas eram capazes de se manter absolutamente imóveis por longos períodos. O mesmo estudo relata o caso de uma criança americana que o professor encami- (3) Whiting, inaf. pp. 154 e segs. (4) Idaf., nw. p. 944 seg. (5) Margaret Mead e Martha Wolfenstein (compiladoras), Childhood in Contemporary Cultures, Phoenix Books, Chicago, 1955, pp. 106 e segs. 173 Sociologia: Como Ser um Membro da Sociedade nhou ao psicólogo escolar, unicamente porque a mesma não conseguia manter-se quieta durante as aulas. O professor francês, totalmente desabituado a esse tipo de comportamento, concluiu que a criança deveria estar doente. Em outras palavras, um grau de atividade motora considerado normal nas escolas americanas passou a ser visto como sintoma dum estado patológico na França. A socialização: padrões relativos experimentados como absolutos O processo por meio do qual o indivíduo aprende a ser um membro da sociedade é designado pelo nome de socialização. O mesmo revela uma série de facetas diversas. Os processos que acham de ser examinados constituem facetas da socialização. Vista sob este ângulo, a socialização é a imposição de padrões sociais à conduta individual. Conforme procuramos demonstrar, esses padrões desempenham um no 
 importante nos processos fisiológicos do organismo. Conclui-se que na biografia do indivíduo a socialização, especialmente em sua fase inicial, constitui um fato que se reveste dum tremendo poder de construção e duma importância extraordinária. Sob o ponto de vista do observador estranho, os padrões impostos durante o processo de socialização são altamente relativos, conforme já vimos. Dependem não apenas das características individuais dos adultos que cuidam da criança, mas também dos vários agrupamentos a que pertencem esses adultos. Assim, por exemplo, a natureza dos padrões de conduta aplicados a uma criança depende não somente do fato de ser a mesma um gusii ou um americano, mas também da circunstância de pertencer à classe média alta ou à classe operária dos Estados Unidos. Mas, sob o ponto de vista da criança, estes mesmos padrões são sentidos de forma bastante absoluta. Temos razões para supor que, se não fosse assim, a criança seria perturbada e o processo de socialização não poderia ser levado avante. O caráter absoluto com que os padrões sociais atingem a criança resulta de dois fatos bastante simples: o grande poder que os adultos exercem numa situação como aquela em que se encontram em relação à ignorância desbravada e total incapacidade de oferecer alternativas. Os psicólogos divergiram sobre a questão de saber até que ponto a criança se apercebe de que está em situação de contínua vitória diante dos seus pais. Contudo, tudo indica que a criança é principalmente, se não completamente, orientada mediante a força dos padrões sociais aplicados pelos adultos. Isso quase deixa de ser fato, porque a qual é denominado pela comunidade como um sistema de controle de ações e a sociedade qual sua parte indeterminada localiza-se. É exatamente aos padrões sociais a que o indivíduo está situado (conforme mostrei anteriormente). Contudo, parece que dela não de uma força ou poder. Metaforicamente falando, elas são como um polici-caste americanim sentido de direção de sua liberdade. Se denominarmos também a criança em oposição a deixá-la. O indivíduo, sob as severas condições de sua exposição, inicia a criação inicial para que este mesmo fato deve ser deixado em aberto, com seu de ser claramente um apoio das a força emocional diante do seu desenvolvimento mental ao obter a corte. Na mesma linha de pensamento, a exposição deste processo foi do que qualquer apoio deste ponto se revela a mísera perspectiva proporcionada pelo mundo ideologicamente que tem às dificuldades em avançar através da aquisição deste processo devolutivo de seus valores à sociedade índia sobre o que desejar. Em qualquer episódio, o cuidado aos criadores entre o real e o pessoal. São Paulo, 1958, Psicologia infantil;. Ali o dilema pode ser considerado, mas até ali a síntese independente, ao longo de um século e meio, pode ser que se trata do dele mesmo a serviço dos senhores, uma vez aplicados os instrumentos no lugar onde encontrar que apoio do comitê social de uma tentativa de considerar a comunicação com nossa maior autoridade vanguardal, igualmente a evidência ao mesmo tempo sê-la para o mesmo oposto da razão de aspecto da força de coordenação dos seus assistentes aliados, quando mularam, Isso não quer dizer que pesquisadores traduzem símbolos com as cenas. 174 Conceitos Sociológicos Fundamentais volver-se e expandir-se a fim de ingressar num mundo que está ao seu alcance. Sob este ponto de vista a socialização constitui parte essencial do processo de humanização integral e plena realização do potencial do indivíduo. A socialização é um processo de iniciação num mundo social, em suas formas de interação e nos seus numerosos significados. De início, o mundo social dos pais apresenta-se à criança como uma realidade externa, misteriosa e muito poderosa. No curso do processo de socialização este mundo torna-se inteligível. A criança penetra nesse mundo e adquire a capacidade de participar dele. Ele se transforma no seu mundo. A linguagem, o pensamento, a reflexão e a "fala responda" O veículo primordial da socialização, especialmente sob a segunda faceta, é a linguagem. Logo mais realizaremos um exame mais detalhado da linguagem. Neste ponto só queremos ressaltar que ela constitui um elemento essencial do processo de socialização, e mais do que isso, de qualquer participação posterior na sociedade. Ao desenhar-se da linguagem, a criança apreende e transmite e retém certos significados socialmente reconhecidos. Adquire a capacidade de pensar abstratamente, isto é, consegue ir além da situação imediata com que se defronta. É também por meio da aquisição da linguagem que a criança adquire a capacidade de refletir. As reflexões incidem sobre a experiência presente, que é integrada num esquema coerente e cada vez mais amplo da realidade. A experiência presente é continuamente interpretada em conformidade com essa visão e a experiência futura não pode ser apenas imaginada, mas também planejada. É através dessa reflexão que mais tarde a criança toma consciência de si mesma como uma individualidade, no sentido literal de reflexo, isto é, do fenômeno através do qual a atenção da criança retorna do mundo exterior para si mesma. É muito fácil dizer, ou seja, por outro não deixa de ser correto, que a socialização é um processo de comparticipação coletiva. A criança é comparável a uma tigela, espécie de que é moldada de forma através da modelação em que participa ao colocá-la completamente, mas é ideal para utilizar um conceito tão unilateral. Mesmo no início da vida, a criança não é uma vítima passiva da socialização. Resiste a mesma, dela participa e nela colabora de forma variadas. A socialização é um processo recíproco, vistoque esta não apenas o indivíduo socializando, mas também os socializantes. Não é difícil observar esse fato na vida quotidiana. Geralmente os pais alcançam um êxito maior ou menor em moldar a criança de acordo com os padrões gerais criados pela sociedade e desejados por eles. Mas as experiências também produzem modificações nos pais. A reciprocidade de criança, isto é, sua capacidade de exercer uma ação individual e independente sobre o mundo e as pessoas que o habitam, cresce na razão direta da capacidade de usar a linguagem. No sentido literal da palavra, a criança nessa fase começa a responder aos adultos. Neste contexto, torna-se necessário admitir que há limites para a socialização. Essas limitações estão fixadas no organismo da criança. Desde que possa uma inteligência razoável, qualquer criança de qualquer parte do mundo pode ser socializada para ser transformada num membro da sociedade americana. Qualquer criança normal pode aprender o inglês. Qualquer criança normal pode aprender os valores e padrões de vida ligados ao uso da língua inglesa nos Estados Unidos. Provavelmente qualquer criança normal poderia aprender um sistema de notação musical. Mas é evidente que nem toda criança normal poderia ser transformada num gênio musical. Se essa qualidade não estiver presente, em potencial, no organismo da criança, qualquer tentativa de socialização que se desenvolvesse nesse sentido esbarraria em resistências duras e invencíveis. O estado atual do conhecimento científico (especialmente na área da Biologia Humana) não nos permite traçar os limites precisos da socialização. Todavia, é muito importante que não nos esqueçamos de que esse limite existe. Socialização. Como Ser um Membro da Sociedade 175 Tomando as atitudes e desempenhando o papel dos outros Através de que mecanismo é levada avante a socialização? O mecanismo fundamental consiste num processo de interação e identificação com os outros. Um passo decisivo é dado no momento em que a criança aprende, na expressão de Mead, a tomar as atitudes do outro.(6) Isso significa que a criança não só aprende a reconhecer certa atitude em outra pessoa e a compreender seu sentido, mas também aprende a tomá-la ela mesma. Por exemplo, a criança observa quando a mãe toma, em certas ocasiões, uma atitude de cólera — por exemplo, nas ocasiões em que a criança se suja. Além de exprimir-se por gestos e palavras, a atitude de cólera encerra um sentido perfeitamente definido, qual seja o de que não é correto sujar-se. De início a criança imitará as exteriorizações dessa atitude, assim verbais como não-verbais. É nesse processo de interação e identificação que o sentido dessa atitude é absorvido pela criança. Essa fase específica da socialização terá sido coroada de êxito quando a criança tiver aprendido a tomar a mesma atitude para consigo mesma, até na ausência da mãe. Pode-se observar uma criança 'brincando de mãe' quando se encontra sozinha. Isso acontecerá, por exemplo, quando ela se repreender a si mesma por infrações às regras ligadas ao uso da toalete, chegando por vezes a elaborar uma figura caricata a título de imitação da papel anteriormente desempenhado pela mãe. Chegará o dia em que não mais será necessário realizar a caricatura. A atitude acha-se finalmente implantada na consciência da criança, que conseguirá realizá-la em silêncio, sem elaborar conscientemente o repertório do papel. Da mesma forma, a criança aprende a desempenhar o papel do outro. Para os fins ora visados, podemos ver no papel desempenhado pela mãe uma atitude que se fixou num padrão de conduta e posteriormente reiterado. O que vai de transição ao filho não é apenas uma série de atitudes, mas sim um padrão geral de conduta que pode ser designado como “o papel de mãe”. A criança representa como são os tomar atitudes específicas, mas a assumir os respectivos papéis. O brinquedo representa uma parte e muito importante desse aprendizado. Não há quem não tenha visto uma criança que representa um pai, irmã ou irmã mais velho, e, uma tarde de 'polícia', 'cowboy' ou módio. A importância desse tipo de brinquedo de criança resulta porque se baseia essencialmente em papéis, e não objetos fora de si mesma. Na realidade, a criança desempenha vários papéis e, por exemplo, deverá desempenhar ao mesmo tempo o papel do 'polícia', de sua mãe, ou do professor primário, enquanto o 'réu' é quem cometeu as infrações. Afinal, é na realidade uma 'banda', senão um 'polícia' ou um 'cowboy' ou um índio. Ao desempenhar estes papéis aprende, antes de mais nada, a seguir um padrão de conduta reiterada. O que importa não é tornar-se um índio, mas aprender como desempenhar um papel. Socialização: dos “outros significativos” ao “outro generalizado” Além da função de aprendizado, generalizada realizada através do ato de 'desempenhar' papéis, esse mesmo processo pode transmitir significados sociais 'verdadeiros'. A maneira pela qual uma criança americana desempenha o papel de policial depende em larga escala do significado que esse papel assume em seu ambiente social imediato. Para a criança dum bairro residencial branco, o policial representa a imagem da autoridade e da segurança; é uma pessoa a qual se deve recorrer sempre que haja algum problema. Já para a criança negra do centro da cidade, o mesmo papel lhe transmitirá possivelmente envolto uma ideia de hostilidade e perigo, uma ameaça antes que um fator de segurança, uma pessoa a qual não se deve recorrer, mas da qual é preciso fugir. Ainda é possível definir, na diferença dos papéis de 'cowboy' e 'indio', que alguns mesmo significados totalmente diversos numa residência branca e numa reserva indígena. Vê-se que a socialização se realiza numa contínua interação com outros. Mas nem todos os outros com que a criança se defronta assumem a mesma importância nesse processo. Alguns deles evidentemente ocupam uma posição de relevo. Para a maior parte das crianças, refere-se pais e os irmãos e é mais que possamos rodá-los. Em alguns casos pertencem ao mesmo grupo de avós, os amigos íntimos dos pais e os empregados domésticos. Outras pessoas se situam num segundo plano, e, sua função no processo de socialização poderia ser concebida como a de quem providência o fundo musical. Entram nesta categoria os contatos ocasionais de todos os tipos, desde o carteiro até o vizinho que só aparece de vez em quando. Se quiséssemos ver na socialização uma espécie de drama, o mesmo poderia ser comparado a uma peça da Grécia antiga, na qual alguns dos participantes podem ser equiparados aos grandes protagonistas, enquanto outros desempenhariam suas funções no coro. Mead designou os grandes protagonistas do drama da socialização como os outros significativos. São as pessoas que com maior frequência se tornam o objeto da interação da criança, com as quais mantém relações emocionais mais intensas e cujas atitudes assumem importância crucial na situação em que se encontra. Obviamente, o que acontecerá à criança dependerá em larga escala de quem ou o que são esses outros significativos. Não nos referimos apenas às suas características ou excentricidades individuais, mas à posição que ocupam num mundo mais amplo da sociedade. Nas fases iniciais da socialização toda ou qualquer atitude adotada pela criança terá sido fixada por outros significativos. Num sentido bastante real, eles são o mundo social da criança. Mas, à medida que prossegue a socialização, a criança começa a compreender que essas atitudes e papéis se ligam a uma realidade muito mais ampla. A criança começa a compreender, por exemplo, que o que é somente sua mãe fica no que uma mãe é e, mais do que isso, pelo mundo dos adultos em geral. Nessa altura a criança passa a relacionar-se não apenas com determinados outros significativos, mas com um outro generalizado (nos campos como numa expressão meadiana), que representa a sociedade em geral. Este passo é facilmente identificável na linguagem. Na fase inicial, tudo se passa como se a criança dissesse a si mesma (muitas vezes realmente lhe diz) 'Mamãe não quer que eu me suje'. Depois da descoberta do outro generalizado, essa frase transformar-se numa afirmação como esta: 'A gente não se deve sujar.' As atitudes específicas assumiram caráter universal. Os comando s e a passos específicos de outras conduzidos de um crítico disser: 'eu me senti em normas gerais. Este passo representa um dos marcos cruciais do processo de socialização. 176 Conceitos Sociológicos Fundamentais Interiorização, consciência e autodescoberta A esta altura compreenderemos por que um dos termos usados para definir a socialização, que por vezes chega a ser empregado quase indiferentemente no lugar deste, é interiorização. Esse termo significa que o mundo social, com sua multiplicidade de significados, passa a interiorizar-se na consciência da criança. Aquilo que anteriormente era experimentado como alguma coisa existente fora dela agora também pode ser experimentado dentro dela. Através de um complicado processo de reciprocidade e reflexão, certa simetria se estabelece entre o mundo interior do indivíduo e o mundo social externo, em cujo âmbito o mesmo está sendo socializado. O fenômeno é claramente ilustrado pelo fato que costumamos chamar de consciência. Afinal, a consciência é basicamente a interiorização (ou melhor, a presença interiorizada) dos comandos e proibições de ordem moral vindos do exterior. Tudo teve início quando, em certo ponto do processo de socialização, um outro significativo disse 'faça isso' ou 'não faça aquilo'. À medida que a socialização foi levada avante, a criança passou a identificar-se com esses postulados morais. Ao identifica-se com eles, realizou sua interiorização. Em certa oportunidade, a criança disse a si mesma 'faça isto' ou 'não faça aquilo' provavelmente quase no mesmo tom em que a mãe ou outra pessoa lhe destas estas palavras pela primeira vez. Com isso tais postulados foram absorvidos por sua mente. As vozes transformar-se-ão em vozes interiores. Finalmente, passaram à própria consciência que lhe falava. Talvez este fenômeno possa ser encarado de várias maneiras. A interiorização pode ser vista sob o ângulo que mais atrás designamos pela expressão 'visão policiaisca', e esse ângulo não deixará de ser correto. Conforme evidencia o exemplo da consciência, a interiorização relaciona-se com o controle da conduta individual. Através dela o controle pode tornar-se contínuo e consciente. Seria extremamente indispensioso para a sociedade, e provavelmente até mesmo impossível, se o indivíduo não vivesse ser que rodeado constantemente por outros que lhe dissessem 'faça isso' ou 'não faça aquilo'. Depois que essas injunções se interiorizaram na consciência do indivíduo, só ocasionalmente haverá necessidade de reforços vindos de fora. Na sua maioria, os indivíduos se controlam a si mesmos na maior parte das vezes. Acontece que é apenas uma das maneiras de encarar o fenômeno. A interiorização não só controla o inñdividuo, mas abre-lhe as portas do mundo. Não só permite que o mesmo participe do mundo social externo, mas capacitada para uma vida interior mais rica. É só por meio da interiorização das vozes dos outros que podemos falar a nós mesmos. Se ninguém nos tivesse dito uma mensagem significativa vinda de fora, em nosso tentar também remitirá no silêncio. É só através dos outros que podemos descobrir-no a nós mesmos. Ou, em termos mais precisas, é só através dos outros significativos que podemos desenvolver um relacionamento significativo com nossa própria pessoa. É esta uma das razões por que é tão importante que tenhamos um certo cuidado na escolha dos pais. Socialização. Como Ser um Membro da Sociedade 177 'É apenas uma criança' — crescimento biológico e etapas biográficas É claro que existe certo paralelismo entre os processos biológicos de crescimento e a socialização. Quando menos, o crescimento do organismo impõe certos limites à socialização. Seria um contrassenso, por exemplo, uma sociedade querer ensinar a linguagem a uma criança de um mês de matemática a outra criança de dois anos de idade. Indicaremos, porém, em grave de sangue e acreditássemos que as etapas biográficas da vida, definidas pelas sociedade, são baseadas diretamente nas etapas de crescimento biológico. Isso se aplica todas as etapas da biografia, não necessariamente à morte, inclusive à infância. Existem social americanas tendem estreitar a infância, não apenas segundo a união, mas também pelas características morais. Não há dúvida de que o biólogo pode afirmar que, no grau de desenvolvimento do organismo; o próprio chefe definirá originou-se em dado laço em conceitos biológicos, porém, o sociólogo há de insistir em que a infância depende de construção social. Em outras palavras, a sociedade dispõe dum campo bastante amplo ao decidir o que será a infância. A infância, conforme é entendida e conhecida hoje, constitui uma criação do mundo moderno, especialmente da burguesia.(7) Foi só época bem recente da história do Ocidente que a infância passou a ser considerada uma idade especial e altamente protegida. A estrutura moderna da infância encerra sua expressão não só em numerosas crenças e valores ligados à criança (como, por exemplo, na ideia de que a criança é de certa forma uma criatura “inocente”), mas também na nossa legislação. Assim, hoje em dia prevalece nas sociedades modernas a opinião quase universal de que as crianças não devem ficar sujeitas aos preceditos gerais da lei penal. Não faz muito tempo que as crianças eram consideradas apenas adultos em miniatura, Isso se exprimia de forma patente na maneira de vestir-los. Conforme se dependeu das pintaras da época, ainda no século XVIII, as crianças andavam com suas pais em trajes idênticos aos deles — exceto, naturalmente, quanto ao anamanhã. Quando a infância passou a ser concepção e organizada como uma fase muito especial da vida, distinta da idade adulta, as crianças passaram a usar trajes especiais. Um ponto de deve ser considerado é da criança na 'inocência' da criança, hoje prevalecente, isto é, a crença de que a criança deve ser protegida contra certos aspectos da vida adulta. A título de computação, podemos examinar o relato fascinante encontrado no diário mantido pelo médico da corte durante a infância de Luís XIII da França, no início do século XVII.(8) Sua ári já brincava com o pênis (7) Philippe Ariès, Centuries of Childhood, Knopf, New York, 1962. (8) Ibid., pp. 100 e seq. 178 Conectos Sociológicos Fundamentais de criança quando esta tinha menos de um ano. Todo mundo achava isso muito engraçado. Não demmorou que o principezinho fizesse questão de exibir constantemente seu pênis, em meio ao regozijo geral. Além disso, pedia à toda mondo que beijasse essa parte de seu corpo. Essa inteira irreverência pelos ógnos genitais de criança durou alguns anos, envolvendo não apenas criadas triviais, mas ate meso uma rae, à rainha. Com quatro anos de idade uma dama da corte levou o principezinho à cama de mãe e lhe disse: “Monsieur, aquio senhor foi fabricado.” Só aos sete anos, aproximadamente, surgiu em sua mente a ideia de que deveriam mostrar certa discrição em ralação à essa parte do corpo. Ainda cabe mencionar que Luís XIII casou com idade de quatorze anos quando, segundo certa pessoa co mentan ironicamente, não tinha mais nada à aprender. Os diferentes mundos da infância Um exemplo clássico dos diferentes mundos da ainfância, que quase todos conhecem, é o contraste que Atenas e Esparta nos oferecem neste ponto. (9) Os atenienses estavam empenhados em que seus povenis, ao crescerem, se transformassem em indivíduos bem formados, habilitados tanto para a poesia e a Filosofia como para a arte da guerra. E a educação de Atenas refletia este ideal. O mundo de criança ateniense (ao menos do sexo masculino) era um mundo de competição intelectual, num fu não terreno físico com menor e estético. Num contrate flagrante a este mundo de competição educação espartana insistia pe desenvolvimento de disciplina, de obediência e de bravura física — ou enter, das virtudes do soldado. Em comparação com os métodos atenienses, a maneira pela qual os espartanos criavam suas criancas era excessivamente rude, talvez mesmo declaradamente brutal. O costume de fazer as crianças passarem fome a fin de levá-las a roubarem sua comida era apenas uma das muitas formas pelas que eles exprimiam essa concepção da infância. Evidentemente seria muito mais agradável ser um menino em Atenas que em Esparta. Mas não é o contraste entre as duas que não sob o domínio sociológico. O que realmente importa é que a socialização espartana produzia indivíduos muito diferentes dos que resultavam da socialização realizada em Atenas. A sociedade espartana estava centralizada em uma situação envolvente que dominava inteiramente a vida de cada indivíduo, e face a esse objeitivo o sistema espartano de educar as crianças era perfeitamente sensato. O tipo de infáncia criado ocidente moderno se vem disseminando rapidamente por todo o mundo. O fenômeno resultou de várias causas. Uma delas é o declínio dramático da mortalidade infantily e das doenças da infância, que constituem uma das consequências verdadeiramente revolucionárias de Medicina moderna. Em virtude desse fator, a infáncia passou a ser uma fase mais segura e feliz do que jamais fó, e esse fato emstitui a propagação das concepções ocidentais sobre essa fase d vida, sequando as quais a mesma é mais precisa e digna de proteção que as outras. Em compar com os períodos anteriores da história do Ocidente e de todas as outras partes do mundo, a socialização de hoje assume qualidades sem precedentes de delicadeza e interesse por todas as necessid das de criança. É bastante provável que a propagação do conceito de socialização e a estruturacão da infância que à acompanha estejam produzindo influência poderosa da sociedade, até mesmo no terreno político. O encontro conosco mesmos: o eu e o me Até aqui enfatizamos a maneira pela qual a socialização introduz a criança num mundo social es pecífico. Um aspecto que assume igual importância é a maneira pela qual a socialização apresenta a 179 Sociociólogo: Como Ser um Membro de Sociedade a criança a si mesma. Da mesma forma que a sociedade constitui um mundo no qual a criança pode ser iniciada, ela também produz vários tipos de individualidade. A criança é socializada não só para um mundo específico, mas anchem para determinar individualidade. Mead exprimiria através dos conceitos do eu e do me os fatos que se desenrolam na consciência da criança no curso desse proces so. (10) Já mencionamos uma consequência interessante do processo de socialização: a criança ad quire a capacidade de falar a si mesma. O eu e o me são precisamente os parceiros desse tipo de con versação. O eu representa a consciência espontânea ininterrupta de individualidade que todos te mos. Já o me representa a parte da individualidade que foi configurada ou moldada pela sociedade. Essas duas facias da individualidade podem conversar uma com a outra. Um menino que estaja sendo criada na sociedade americana, por exemplo, aprende certas coisas — ou seja, se suponhe, ele bem a um menino, como a coragem diante da dor. Suponhamos que o menino machuque o dedo e lute coece a sangrar. O eu regista a dor, e que imaginamos, ocorre um impernato, O me, de outro lado, aprendeu que um bom menino deve ser corajoso. E o me que or menino morrer o lboio e suportar a dor. Ou então, suponhamos que o menino já esteja velha na mente, e uma profesora muito simpática na escola que frequenta. O eu registra a atração sentida pelo niño e não quer outru cosa empenhar a profesora e fazer amor com ela. Ainda mejando-su enseña social seqund o qual simplemente serias me fan oialdas. Não é difícil imaginar uma conversa atan mantenida entre as duas facias da individualidade. Uma delas dirá: “Anápia, agarre”, ceruga o 10 portanto evitará “Pare, iese não é certo! ” ou algo toonçe em linha a torn. Importante ensociali zação configura a individualidade. Não pode se configurá-la em toda a extensão. Sempre restará algo antigo e incontrovertil, que eu o eu restar um trompe de forma imprevisível. E é essa parte es potentânea da individualidade que se colende da mende resulta socializada. Assimilando uma identidade: atribuição ou aquisição A parte socializada da individualidade deve por ser atingida estone a identificação. (11) Ouquie se reforça pelo menos idealmente, somente um mundo no qual surgirem. algumas es dessas identidades elo policía de de la d de De Schnal e é de São atribuídas cons, como o de meninho, menina. Outras vezes a identificneo do indinuyu numa fase posterior da vida, como a do menino que ou menina bontio no contrário, Em de buen ou da menina feia). Outras identidades são guardadas como que para aquisição, foi exemplo sso de indivíduous podem oba-les através de um esforço espontáneo como, por exemplo, o de polilou catésp ideal m, do Papa ale as identidades são atribuídas às diversas indivíduos. Algumas delas já são atribuídas pre naci mento, como a de menino ou menina. Outras vezes a identificanho atribui ao individuao umia fase posterior da vida, como a do menino que ou menino bonito (ou, ao contrário, em menino estúpido ou da menina feia). Outras identidades são guardas como que para aquisição, a fim de que os indi iduols possam obte-las através de um esforço espontáneo como, por exemplo, a do policial ou arece bispo. Mas, quer a identidade seja atribuída ao individuo, quer seja aquirída por ele, ela senpre é assimilada através de um processo de interação com outros. São autores que o identificam de certa maneira. Sé depois que uma identidade é confirmada pelos outros, é que pode tornar-se real para o indivíduo ao downlingsotenguol oseóntero. Em outras palavras, a identidade resulta do inaurnou a identificação com a auto-identinação. Isto aplum-se arhé mesmas as identidades deliberadamente constuídas pelo próprio indivíduo. Por exemplo, em nossa sociedade existem indivíduos identificados como homens que preferiram ser mulheres. Podem fazer váriases que vão até á cirurgia destinada a reconstru-los de acordo com a nova identidade. O objetivo principal a ter atingido, porém, consiste em fazer com que ao menos alguns outros aceitem a nova identidade, ou seja, que os identifiquem nesses termos. É impos sível ao individuo ser alguém ou alguma coisa por muito tempo, exclusivamente por sua conta. (10) Estes conceitos pertencento ao Mead. (11) Não há entra absoluto sobre que ponto sous que primeira ves n o conceito de Identidade no sentido em que aqui o empregamos. A respe. laralade que o meno alianco amo ultima amor a devies em grande parte ao tmanhle do Erk Eruisson osr pode se consideredue um pis-esssss consolado com inflencingo soci auxiliar. Vera a dese mdonlouinha Childhood and Society, Norton, New York, 1950. 180 Conectos Sociológicos Fundamentais Outros têm de dizer quem somos, outros têm de confirmar nossa identidade. É bem verdade que existem casas em que certos indivíduos mantêm uma identidade que ngém no nesse mundo con considera real. Esses indivíduos costumam ser chamados de psicopatas. São personalidades marginais que despertam grande interesse, mas sua análise é estranha ao presente trabalho. Sociedades diferentes, identidades diferentes: a socialização americana e a socialização soviética Uma vez examinandas as relações entre a socialização e a identidade, logo perceberemos porque grupos ou sociedades inteiras podem ser caracterizados de acordo com identidades específicas. Os americanos, por exemplo, podem ser reconhecidos não apenas por determinados padrões de condu ta, mas também com base em certas características que muitos deles têm em comum, — ou seja, se gundo uma identidade especificamente americana. Numerosos estudios revelam que certos valores básicos da sociedade americana, como a independência, as relações inviáveis e a seriedade com que é encarada a carreira do indivíduo são incluídos no processo de socialização desde o início, po calmamente quando se trata du um menino. (12) Até mesmo os jogos das crianças americanas refletem esses valores, o que se depende, por exemplo do ênfase que poem na competição individual. Há sé veros castigos para quem não consegue viver segundo esses valores e identificar o que lhes. Esses castigos vão desde a gozação das outras crianças até o fracasso no mundo ocupacional. Jà a socialização soiviética enfaiça a disciplina, a lealdade a e a cooperação com outros mollosính, pradéis realizações coletivas. São esses os valores enfaticados nos métodos soviéticos de curação çacnaocialista. Evidentemente o objetivo consiste em produzir uma identidade adequada ao ideal soviético da so ciedade socialista. A criança soiviética cresce numa situação em que se substituía a um controle muito mais rígido que a criança americana da mesma idade. (13) Podemos deixar de lado a pergunta sobre se é correta a afirmativa soviética segundo a qual casa sociedade produziu “o novo homem so cialista”. Certo é que, bem ou mal, a sociedade soviética montou processos de socialização condu centes ao tipo específico de identidade que se harmonize com os ideais e as necessidades dessa socie dade. Socialização secundária: o ingresso em novos mundos Ao falarmos sobre a educação, já deixamos implícito que a socialização náo cheaga ao fim no mo mento em que a criança se torna um participante integral da sociedade. Na verdade, poderíamos di ver que a socialização nunca chega ao fim. O que acontece numa biografia normal é apenas que a in tensidade e o alcance de socialização diminuem depois da primeira fase da infância. Os sociologos estabelecem distinção entre a socialização primária e a socialização secundaria. A socialização primária é o proceso por meio do qual a criança se transforma num membro participante da sociedade. A so cialização secundária compreende todos os processos posteriores, por meio dos quais o individuo é introduzido num mundo social específico. Qualquer treinamento profissional, por exemplo, consti (12) Existe um trecho sobre a vida de uma communidade de subúrbio residencial canaubare, com énfise cuidadir sobre a familia e os pro das aplicados as crianças. Tratá-se de obra de J. R. Seeley, R. A. Sims e E. W. Losley, intitulada Commitment Haphes, Basic Books, New York, 1956 lorla ne Sager. (13) David Vem Maner, The Soviet Famly, Dolphim Books, Garden City, New York, 1964, pg. 264 et seqa. tui um processo de socialização secundária. Em certos casos esses processos são relativamente superfi- ciais. Assim, por exemplo, nenhuma modificação profunda na identidade do indivíduo se tornaria necessária para habilitá-lo a exercer a profissão de contador. No entanto, isso não ocorre se o indivídu- lo for treinado para tornar-se um sacerdote ou um revolucionário profissional. Existem exemplos de so- cialização desse tipo que se parecem com a socialização realizada na primeira infância. A socialização secundária também se acha presente em experiências das mais variadas, como a de melhorar a posi- ção social, mudar de residência, adaptar-se a uma doença crônica ou ser aceito num novo círculo de amigos. Relacionamento com os indivíduos e com o universo social Todos os processos de socialização se realizam numa interação face a face com outras pessoas. Em outras palavras, a socialização sempre envolve modificações no micromundo do indivíduo. Ao mes- mo tempo, a maior parte dos processos de socialização, tanto primária como secundária, liga o indi- víduo às estruturas complexas do macromundo. As atitudes que o indivíduo assume e a sua socializa- ção geralmente se relacionam com sistemas amplos de significados e valores que se estendem muito além de sua situação imediata. Os hábitos de comer e limpar, por exemplo, não são apenas ideias excêntricas de determinado par de pais, mas constituem valores muito importantes num cam- po em mudança de média. Da mesma forma, os papéis aprendidos no curso da socialização relacio- nam-se com vastas instituições, que talvez não sejam imediatamente visíveis no micromundo do in- divíduo. A aprendizagem do papel de menino curioso não só acarretará a aprovação dos pais e dos companheiros de folguedo, mas assume certa importância para o indivíduo enquanto este estuda na áulu num mundo bem mais amplo de instituições, que inclui desde o campo de futebol do colégio daté as organizações militares. A socialização liga o micromosmo ao macrocosmo. De início, habilita o indivíduo a ligar-se a determinados outros indivíduos; após isso, torna-o capaz de estabelecer contato com um universo social inteiro. Para o bem ou para o mal, a condição primordial de viver consigo mesmo tipo de relacionamento numa base vitalícia.

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