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Agronomia ·
Produção Agrícola
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1 Princípios de Agricultura Sintrópica segundo Ernst Götsch José Fernando dos Santos Rebello 2018 2 Foto Felipe Pasini Foto da capa Castanheira Bertholletia excelsa de 16 anos de idade plantada por Ernst em sua fazenda na Bahia graças ao manejo sintrópico o diâmetro a altura do peito não deve em nada a um eucalipto de mesma idade Uma castanheira pode crescer tanto quanto um eucalipto depois da fase inicial de rápido crescimento deste com a vantagem de produzir uma madeira de excelente qualidade e frutos de alto valor biológico 3 Prefácio Assim eu ouvi Conheci Ernst Götsch em 1994 quando ainda era estudante de agronomia sua palestra na Universidade foi tão impactante para mim que pouco tempo depois eu e mais alguns amigos estávamos na sua fazenda para conhecer de perto a grande transformação que ele vinha realizando naquelas terras Seu conhecimento de como a natureza funciona é tão profundo que até hoje sempre que o encontro tenho a sensação de estar ainda na primeira aula Este livro foi escrito por pessoas apaixonadas pela natureza apaixonadas pelo Planeta Terra e que acreditam que vale a pena buscar fazer o melhor para cuidar dele mesmo que não vejam o resultado Baseiase inteiramente nos ensinamentos de Ernst Götsch A necessidade urgente de divulgar um sistema de produção que ao mesmo tempo produz toneladas de alimentos saudáveis e saborosos recupera áreas degradadas devolve as águas a nascentes perdidas e traz de volta nossas florestas nos empurrou para essa empreitada Está longe de ser um guia definitivo sobre agricultura sintrópica pois o conhecimento sobre essa agricultura é tão dinâmico quanto as agroflorestas construídas por Ernst Götsch Não queremos também que o papel congele os conceitos pois a cada dia seu criador aperfeiçoa os métodos e a interpretação de como a natureza funciona O conhecimento assim como a vida carrega essa impermanência temos que estar com o espírito aberto e desarmados para entender que a vida não é estática ela é dinâmica e impermanente Também não temos qualquer objetivo comercial por isso estamos disponibilizando o livro na rede internacional de computadores internet Assim fica fácil também de corrigirmos os erros pois o ouvir verdadeiro implica uma concentração enorme o que confessamos nem sempre conseguimos Se acertamos não temos dúvidas os louros cabem ao nosso Mestre se erramos na interpretação dos conceitos foi assim que ouvimos Se a humanidade conseguir criar sistemas de produção de alimentos realmente sustentáveis superando os obstáculos criados por ela própria não tenho dúvidas que esse caminho encontrará em algum momento a agricultura sintrópica criada por Ernst Götsch Todas as imagens gráficos e desenhos são cópias dos desenhos originais propostos por Ernst Götsch em muitas aulas assistidas nos últimos 23 anos e que sempre estão mudando em um aprimoramento constante da arte de colher o Sol 4 Agradecimentos A Ernst Götsch por estar presente no tempo de minha existência a Cimara Renate a meu irmão Antonio a minha família Dani Cora Zé Pedro e Bernardo Agenda Gotsch Namastê Henrique Fabiana Peneireiro Ursula Juã Romulo Patricia Vaz Karen Ranzi Rodrigo e Denise Gudrum Craig e Neil Marcio Armando Sofia Augusto Carvalho Thiago alunos do curso de longa duração da Agenda Gotsch e todos agrofloresteiros de todas etnias do planeta minha eterna gratidão Um agradecimento realmente especial e profundo a Pedro Paulo Diniz por seu pioneirismo na agricultura sintrópica em larga escala e Felipe Dayana e Edmara Barbosa que conseguiram com sua incrível habilidade e domínio da magia do cinema divulgar a agricultura sintrópica na novela das nove e aos quatro ventos minha eterna gratidão O tempo de agir chegou 5 ÍNDICE O que é Sintropia PRINCÍPIOS 1 Maximizar a fotossíntese 2 Sucessão natural sistemas de colonização acumulação e abundância 3 solo coberto plantando em alta densidade 4 capina seletiva e poda 5 concentrar energia gerar biomassa de forma eficiente Aglutinar recursos linhas ou ilhas A proposta determina o design 6 Ecofisiologia das plantas e função ecofisiologica das plantas 7 Sincronizar os plantios Cultivos estabelecidos a transição para a agricultura sintrópica As bordas devem ser trabalhadas 8 O que cada ser esta fazendo de bom Apêndice Plantas indicadoras Critérios de sustentabilidade dos Sistemas Agroflorestais 6 O QUE É SINTROPIA A grande contribuição que Ernst Götsch nos dá é ter desvendado e ter realizado uma sistematização dos princípios por meio dos quais a natureza trabalha Ernst nos proporciona uma alfabetização ecológica como diz Fritjof Capra a compreensão dos princípios de organização que os ecossistemas desenvolveram para sustentar a vida o caminho para a sustentabilidade A sintropia ao contrário da entropia vai do simples para o complexo As tabelas 1 e 2 extraídas do livro a Teia da vida de Fritjof Capra nos dão uma idéia precisa da capacidade da vida no planeta de manter a estabilidade desse macroorganismo conhecido como Terra realizando suas funções adequadamente para o equilibrio dele próprio função conhecida na fisiologia animal como homeostase Graças ao surgimento da vida há 35 bilhões de anos e por meio da sintropia a vida foi complexificando a energia vinda do Sol nas mais diferentes formas de vida transformandoa e armazenandoa formando assim uma complexa rede viva Há milhares de anos os seres humanos vem causando distúrbios em muitos lugares do planeta onde não atingimos os limites aceitáveis de perturbação essa rede voltou a estabelecer suas conexões a vida voltou a florescer como a regeneração de um pequeno corte em nossa pele porém onde ultrapassamos essa capacidade de regeneração é como se tivéssemos amputado uma perna um braço a natureza por si não conseguiu nessa escala de tempo voltar à estabilidade anterior assim desapareceram civilizações inteiras e surgiram enormes desertos Dessa forma entendendo que a vida no planeta é regida pelos princípios sintrópicos usandoos podemos devolver a vida a áreas degradadas e transformar desertos em florestas novamente Os princípios propostos por Ernst Götsch são colocados aqui em uma sequência apenas para facilitar a leitura porém eles não estão em uma hierarquia de importância todos são fundamentais e devem ocorrer sempre ao mesmo tempo para o sucesso das agroflorestas A melhor descrição seria a de uma rede todos estão interconectados Quando implantamos uma agrofloresta a ausência de qualquer princípio enfraquece essa rede seria como um buraco por onde pode escapar a energia que complexifica a vida assim a energia que poderia ser armazenada em nosso sistema é perdida e isso refletese na qualidade de nossas agroflorestas o surgimento de ervas de ciclo curto plantas invasoras de sistemas de sucessão anteriores ausência de estratos plantas envelhecidas doenças explosão de insetos baixa produção são apenas os sintomas da não aplicação completa de todos os princípios Por isso muitas vezes para entender um princípio fazemos referência a outro pois estão todos interconectados quase que fundidos em uma amálgama 7 PRINCÍPIOS Princípio 1 Maximizar a fotossíntese Quanto mais fotossíntese mais vigoroso o sistema A fotossíntese acontece não apenas com água que vem do solo as plantas bebem água da atmosfera também A maximização da fotossíntese por meio do plantio em alta densidade e em estratos permite tornar o sistema verde escuro e mais frio Se realmente entendermos a fotossíntese na profundidade que ela requer seremos capazes de construir as mais belas e produtivas agroflorestas Há muito tempo conhecemos a equação da fotossíntese Água CO2 LUZ Glicose O2 A glicose sintetizada durante a fotossíntese é a precursora dos carboidratos característicos das plantas a sacarose o amido e a celulose que não são sintetizados pelos animais sendo a celulose o polissacarídeo mais abundante na Natureza Quantidades enormes de celulose são produzidas anualmente pelo reino vegetal não apenas nas florestas em crescimento mas também pelas plantações destinadas à colheita Estimase que todos os dias os vegetais sintetizem 50 kg de celulose para cada ser humano existente no planeta Lehninger 1989 o que nos cálculos de hoje daria 350 bilhões de kg de celulose produzidos por dia A partir da glicose produzida na fotossíntese as plantas formam inúmeros outros açúcares como maltose sacarose frutose manose ribose arabinose xilose e outros Os carboidratos são o sustento da vida para muitos organismos e representam a maior parte da ingestão calórica do ser humano da maioria dos animais e também direta ou indiretamente da maioria dos microorganismos Os carboidratos também ocupam posição central no metabolismo das plantas verdes e de outros organismos fotossintetizantes As vastas quantidades de amido e outros carboidratos produzidos pela fotossíntese são a fonte última de energia de animais plantas e micróbios Assim compreendemos a importância fundamental da fotossíntese como a fonte primária de alimento para a maior parte dos seres vivos deste planeta e principalmente a base da fertilidade de nossos solos pois alimentando a comunidade de microorganismos do solo com carbono advindo da fotossíntese estaremos criando um círculo virtuoso onde mais fertilidade produz mais biomassa mais folhas mais clorofila mais fotossíntese mais alimento para o solo mas vida no solo maior fertilidade maior equilíbrio da biocenose mais saúde nas plantas Olhando esse circulo virtuoso compreendemos a importância de plantar em estratos aproveitando ao máximo toda energia luminosa do Sol fazendo com que cada estrato sempre tenha o máximo de biomassa jovem E quando conectamos isso com a sucessão natural das plantas acelerada por meio das 8 podas atingimos o ápice desta tecnologia a tecnologia natural criada pelo próprio planeta a maximização da fotossíntese Estamos por exemplo buscando maximizar a fotossíntese em um plantio convencional de milho zea mays como na imagem 1 Imagem 1 Plantio convencional de milho Fonte httpwwwfolhadooestecombrcidades 04112015 Hoje o número de plantas de milho por hectare pode chegar a 90000 plantasha buscamos ocupar cada centímetro quadrado da plantação com folhas verdes para captar a luz do sol refletindo uma maior produção de grãos O pico desta ocupação no entanto só acontece durante pouco tempo no período de um ano e além disso a custos altos com o uso de insumos externos e biologicamente opressivos provocando a exclusão de outras formas de vida que não seja o nosso monocultivo Para termos sucesso na construção de uma agricultura realmente sustentável e que dispensa o uso de agroquímicos todos os princípios tem que estar acontecendo simultaneamente Caso contrário podemos ter uma alta produção de grãos porém altamente dependente de combustíveis fósseis e do uso intensivo de pesticidas fungicidas nematicidas inseticidas herbicidas plantas transgênicas e adubos químicos ou orgânicos com um enorme prejuízo ao solo destruição de nascentes córregos e rios florestas e biodiversidade perda inimaginável de solo fértil esterilização da vida do solo compactação erosão etc os quais hoje não são considerados na contabilidade e preço final do produto esses fatores são considerados pelos economistas apenas como externalidades da atividade Maximizar a fotossíntese está intimamente relacionado com 9 1 Plantar em alta densidade 2 Arranjos estratificados 3 Arranjos girados impulsionados pela dinâmica da sucessão natural Por exemplo nos plantios convencionais de fruticultura ou para recuperação de áreas degradadas plantase uma árvore a cada 2 ou 3m há uma enormidade de nichos espaços vazios que não são ocupados o que por sua vez resulta em uma forte pressão por parte de ervas invasoras e gramíneas o que demanda um enorme trabalho de manutenção nos primeiros dois anos para evitar o sufocamento das mudas de árvores plantadas Na agricultura sintrópica buscase ocupar cada um dos nichos em sua plenitude ou seja ocupar cada nicho com o maior número de indivíduos das espécies mais eficientes para cada uma das tarefas permitindo ocupar todo espaço em cada um dos estratos temporalmente não ocupados pelos nossos cultivos principais utilizandose diversas espécies de plantas de vários estratos e ciclos de vida pois as árvores muitas vezes na sua maioria plantadas de sementes levam tempo para ocupar ou sombrear seu lugar enquanto isso por meio do plantio adensado e posterior poda e raleamento estamos complexificando a energia que vem do sol e transformandoa em mais vida para o sistema mais vida acima do solo maior número de plantas por hectare e mais vida abaixo do solo com maior quantidade de raízes e maior formação de serrapilheira Por exemplo ao invés de matar o capim com herbicidas nas entrelinhas de nossos cultivos de frutas como manga Mangifera indica laranja Citrus sp banana Musa paradisíaca café Coffea arabica etc plantamos capim nas entrelinhas e cortamos com ferramentas bem afiadas ceifadeiras as quais automaticamente deslocam o capim para a faixa de árvores e assim alimentam a vida no solo A gramínea sendo cortada se possível com gilete sofre um corte limpo e rebrota com muito mais vigor essa informação de crescimento vigoroso é transmitida para nossos cultivos e tudo cresce mais rápido estamos no fluxo da vida o capim é a nossa fábrica de NPK Pela imagem abaixo podemos ver o potencial da agricultura sintrópica O café como planta naturalmente do estrato baixo é protegido pela jaqueira Artocarpus heterophyllus e outras árvores temos luz suficiente para a produção abundante veja o principio estratificação 10 Imagem 1 Trabalho de Ernst Götsch realizado no Sítio Semente Brasília DF A agricultura convencional ou orgânica geralmente trabalha em duas dimensões comprimento e largura ou seja apenas atentamos para o espaçamento bidimensional seja para o plantio de soja Glycine max laranja café cana de açúcar Saccharum officinarum capim etc A agricultura sintrópica trabalha com quatro dimensões largura comprimento altura estrato ou andar e tempo Assim buscamos oferecer a cada planta um nicho que potencializa sua fotossíntese e diminui seu estresse olhamos para cada indivíduo e buscamos criar para ele uma bolha de conforto observamos se há cobertura do solo suficiente para ativar os processos biológicos no solo a qualidade dessa cobertura observamos de qual estrato a planta faz parte e se está no consórcio adequado ou seja se a planta é do estrato baixo temos os outros estratos acima dela médio alto e emergente a qualidade desses estratos acima dela são formados por espécies do ciclo atual ou do futuro pois a sucessão caminha para sistemas de abundância Por exemplo quando temos uma mandioca Manihot esculenta crescendo embaixo de um eucalipto Eucaliptus sp novo que foi plantado junto e simultaneamente com ela a partir de 4 a 6 meses o eucalipto ultrapassa a mandioca na sua altura não necessariamente temos que podar toda a saia do eucalipto mas retirar apenas os galhos que sobrepõem aquele estrato ocupado pela mandioca e calibrar a sombra com podas assim galhos que estão na mesma altura da mandioca mas não se sobrepõem a sua copa não precisam necessariamente sair criamos para cada individuo ótimas condições ou melhor uma bolha de vida permitindo que essas bolhas convivam harmonicamente podandose somente o necessário Além de observarmos se não há plantas envelhecidas e doentes próximas pois estas sempre transmitem uma informação de senescência ao sistema como um todo Quando dizemos às pessoas que plantamos eucalipto junto com capim hortaliças bananas frutíferas muitas pessoas se assustam pois logo vem à mente a imagem 3 11 o eucalipto plantado em monocultura O maior incêndio da história do Chile ocorreu em 2017 queimando mais de 600000 hectares de florestas nativas e plantadas campos povoados inteiros Um dos motivos foi a grande quantidade de florestas plantadas em monocultura as quais se tornam pirófilas amigas do fogo sem a dinâmica gerada pelo manejo das agroflorestas sucessionais Figura 2 monocultura de eucalipto susceptível ao fogo em virtude de ser mais seca que uma floresta ou agrofloresta com vários estratos Goiás Brasil As imagem 4 e 5 nos apresentam um plantio de eucalipto com um pouco mais de dinâmica permitindo o cultivo de capim nas entrelinhas mas ainda sem a dinâmica das podas Figura 3 Plantio de eucalipto em filas duplas Goiás Brasil 12 Figura 4 Plantio de eucalipto em filas duplas 20m x 3x2m Goiás Brasil A imagem 6 nos dá uma noção do princípio maximizar a fotossíntese Na linha das árvores temos eucalipto como estrato emergente e abaixo citrus e banana como estrato médio todos plantados muito próximos nas entrelinhas capim mombaça Panicum maximum como estrato baixo Muitos questionamentos se fazem com relação ao eucalipto que este seca a terra produz alelopatia inibe o crescimento de outras plantas todos estes defeitos decorrem das monoculturas de eucalipto No contexto da agricultura sintrópica o eucalipto entra como mais um aliado sendo destopado a uma altura de 5m periodicamente fornecendo grande quantidade de biomassa acelerando o crescimento de todo o sistema com seu rebrote vigoroso e fornecendo excelente madeira após 15 anos O destopamento do eucalipto e trituração mecanizada alimenta fortemente todo o sistema linhas e entrelinhas além de gerar uma madeira mais densa e que não empena A banana também é um excelente produtor de biomassa dizem os agrofloresteiros que é tão boa que produz até banana aqui também é fortemente podada alimentando a linha de árvores As entrelinhas com capim mombaça são roçadas periodicamente onde parte do material é deixado na própria entrelinha para alimentar o solo e o próprio capim e parte é depositado nas linhas alimentando as árvores 13 Figura 5 Agrofloresta idealizada por Ernst Götsch na Fazenda Toca Itirapina São Paulo Figura 6 Crescimento vigoroso do capim mombaça nas entre linhas SAF desenvolvido por Ernst Gotsch Fazenda Toca Itirapina São Paulo O capim é podado várias vezes por ano apresentando um crescimento vigoroso Nunca deixamos o capim amadurecer e produzir sementes isso frearia seu crescimento e consequentemente o crescimento de todo o sistema Imagens 6 e 7 14 A quarta dimensão é o tempo graças a ele podemos plantar em alta densidade pois cada planta tem um tempo de desenvolvimento característico de sua espécie Podemos assim iniciar o plantio de hortaliças no mesmo espaço que plantamos árvores ou capim mombaça por exemplo pois em poucos meses as hortaliças se despedem em seguida se estabelecem plantas da placenta 2 veja os princípios sucessão natural e estratificação que depois de dois anos se despedem e passam a dominar o sistema árvores de crescimento rápido que depois de poucos anos são substituidas por árvores mais longevas e as próprias árvores também plantamos em alta densidade e estas com o tempo vão sendo podadas e raleadas até atingirem o espaçamento final ou serem substituídas por outras placenta I e II secundárias I e II Clímax Princípio 2 Sucessão natural e estratificação O segundo princípio diz respeito à sucessão natural das espécies em nossa agrofloresta Este princípio está intimamente associado com a estratificação da floresta Por mais de 40 anos Ernst Götsch estudou as florestas e sua dinâmica e conseguiu sistematizar um dos mais importantes princípios que é a estratificação Cada indivíduo quando chega a sua fase adulta atinge um tamanho característico de sua espécie por exemplo quando ele está no topo da floresta chamamos de emergente são aquelas árvores que estão acima da floresta que se sobressaem como por exemplo na Amazônia temos a castanheira Bertholletia excelsa a samaúma Ceiba pentandra o piquiá Caryocar villosum o dandá Joannesia princeps na Mata Atlântica temos o jequitibá Cariniana legalis no nordeste o côco da praia Cocos nucifera no sul a araucária Araucaria angustifolia e muitas outras espécies Ernst conseguiu identificar 11 estratos ou andares Figura 9 os quais ocorrem em praticamente todos os biomas do Planeta Terra com exceção das regiões próximas aos polos Porém para ficar mais fácil o entendimento ele resume em cinco estratos essa dinâmica da floresta e cada estrato tem a sua porcentagem de sombra que sua copa deve ocupar no andar correspondente figura 10 FIGURA 9 11 estratos andares Emergente Altoconvexo Altoneutro Altocôncavo Médioalto Médio Médiobaixo 15 Baixomédio Baixo Rasteirobaixo Rasteiro Não necessariamente estão sempre todos presentes Figura 7 Estratificação da floresta e porcentual de sombra de cada estrato Essa porcentagem de sombra de cada estrato permite que a luz chegue até o chão da floresta onde ainda temos o estrato rasteiro Ernst salienta porém que mais importante que a porcentagem de sombra adequada em cada estrato é a dinâmica que damos a essa sombra se a copa das árvores está envelhecida de nada adianta essa porcentagem correta de sombra em cada estrato A estratificação acontece desde o início da agrofloresta quando podemos começar com hortaliças As hortaliças são a placenta do sistema ou seja protegem e criam nosso embrião a floresta do futuro 16 O gráfico abaixo foi elaborado por Ernst Götsch e demonstra a evolução da agrofloresta por meio da sucessão das espécies Cada cor indica uma fitofisionomia ou seja a paisagem de espécies dominantes a pele da agrofloresta no início temos a placenta 1 e 2 ou seja o que se destaca são as hortaliças os tubérculos feijão mandioca abacaxi mamão mas já dentro desse sistema temos as plântulas das árvores do futuro crescendo incluindo sementes e plântulas de árvores de todos os estratos e ciclos de vida Se no momento do plantio não temos sementes de algumas espécies do futuro como cacau Theobroma cação jequitibá se quisermos inserilas no futuro em algum momento teremos que fazer uma poda mais drástica produzindo uma clareira e introduzindo essas espécies de sementes ou mudas 17 O gráfico acima complementa o gráfico da página anterior está dividido em três partes sistema de colonização sistema de acumulação e sistema de abundância Os círculos coloridos da página anterior se repetem dezenas de vezes entre cada linha tracejada cada linha tracejada pode durar 200 300 anos Em cada mudança de fase temos uma espécie mais exigente em fertilidade substituindo espécies menos exigentes Sistema de colonização Característico de locais onde a vida se inicia como próximo a vulcões Com o esfriamento da lava ocorrem as primeiras formas de vida como fungos bactérias algas musgos e liquens Este sistema ocorre também em taludes de estradas voçorocas onde todo o solo foi removido expondo o subsolo 18 Ohia Metrosideros polymorpha Myrtacea colonizando um campo de lava erupção de 1960 ao sul de Kona Hawai Sistema de acumulação Quando destruímos uma floresta primária com fogo e por alguns anos cultivamos esse lugar o solo vai empobrecendo perdemos carbono a terra se torna ácida o fósforo é fixado o alumínio se torna biodisponível e tóxico para as raízes de muitas plantas Neste lugar agora crescem somente plantas do sistema de acumulação são plantas que tem uma relação carbononitrogênio mais alta as folhas são mais coriáceas quase não há frutos para mamíferos de porte grande muitas áreas degradadas apresentam se nesse estágio Se o sistema ainda não perdeu completamente sua resiliência a natureza pode levar muitos anos dependendo do bioma para estabelecer as primeiras plantas do sistema de abundância isso pode acontecer em 10 anos ou em 100 200 anos dependendo de quão profunda foi a destruição Hoje em nosso país temos milhares de hectares onde o ecossistema perdeu completamente sua resiliência como na imagem 10 onde temos feto de gaiola Pteridium aquilinum o local foi destruído por fogo há muitos anos atrás e pode permanecer assim por mais de uma centena de anos apesar do banco de sementes estar ao lado em muitos lugares a natureza não consegue por si mesma recriar a floresta original destruída 19 pelo ser humano Assim para implantar nossas agroflorestas nesses locais necessitamos de espécies corajosas espécies que consigam crescer em solos com pH 43 e 1 ppm de fósforo e micronutrientes não detectáveis nas análise de solo Necessitamos de espécies que fazem a ponte para sistemas de abundância de novo para isso temos vários exemplos como eucalipto margaridão Tithonia rotundifolia braquiárias Brachiaria spp piteira Agave americana sisal Agave sisalana guandu Cajanus cajan estilosantes Stylosanthes spp assa peixe Vernonia polysphaera lobeira Solanum lycorcapum e muitas outras espécies nativas e exóticas fundamentais para essa tarefa Com estas espécies podemos até dispensar o uso de insumos externos Chamamos este sistema de acumulação porque estamos acumulando a energia do Sol complexificandoa em matéria aumentando o teor de matéria orgânica a qual irá melhorar as condições físicas químicas e biológicas do solo alimentando sua biocenose permitindo o estabelecimento de plantas mais exigentes caminhando para sistemas de abundância DICAS Evitar dar passos para traz na sucessão por exemplo plantar uma espécie de acumulação em um sistema de abundância como plantar lobeira Sistema de Acumulação em uma terra que cresce muito bem capim mombaça Sistema de Abundância Retirar do sistema plantas de sistemas anteriores por exemplo capim barba de bode Cyperus spp Sistema de Acumulação no inicio crescendo entre capim mombaça Sistema de acumulação mais avançado o capim barba de bode deve sair do sistema sendo arrancado com raiz pois se for podado apenas seu ciclo é muito mais rápido e produz pouca biomassa do que do mombaça ou seja vai florir antes e transmitir essa informação de envelhecimento para todo sistema freando o desenvolvimento das plantas 20 Figura 10 Feto de Gaiola Parque Nacional Chapada dos Veadeiros Goiás Brasil Sistema de Abundância Independentemente do estágio de destruição que encontramos um lugar seja um deserto uma área degradada uma capoeira abandonada uma cava de mineração uma terra de cultura nosso objetivo é leválo até um sistema de abundância Podemos dizer que é nosso sistema de luxo nele podemos produzir sem auxílio de insumos externos produzir alimentos em abundância para mamíferos de porte grande como nós pois a terra é extremamente fértil e equilibrada Atualmente em sua fazenda na Bahia Ernst se vê obrigado a ralear mamão Carica papaya inhame Colocasia esculenta que nascem abundantemente nas clareiras abertas nas agroflorestas antigas já produziu milho e tomate Solanum lycopersicum com apenas 5 milimetros de chuva e pela sua experiência afirma que agroflorestas acima de 500 hectares são capazes de produzir um aumento das chuvas influenciando toda região do entorno Após 30 anos e 800 hectares transformados em florestas 17 córregos em sua fazenda voltaram a correr água novamente e tornaramse perenes Os gráficos de sucessão das espécies nos dá uma idéia de como essa transição entre as espécies ocorre Junto com a transição das espécies o solo vai melhorando em todos os parâmetros sejam químicos físicos ou biológicos IMPORTANTE Iniciamos a agrofloresta plantando todas as espécies de todos os sistemas acumulação e abundância tendo cada sistema representantes de cada estrato Porém se iniciamos nossa agrofloresta em uma mata primária não necessitamos plantar espécies do sistema de acumulação pois estamos em um nível maior de fertilidade podemos introduzir nesse caso para cada andar estrato espécies de sistema de abundância como exemplo podemos citar estrato baixo cacau café Estrato médio cupuaçu 21 cambucá citrus rambutam mangustão achachahiru abiu pêssego etc Estrato alto maçã abacate jaca cereja do Rio Grande acerola cajá etc Emergente castanha do Brasil nóz pecã pêra pequiá etc Citamos as espécies com relação apenas ao estrato muitas vezes as espécies citadas não ocorrem no mesmo bioma Quando iniciamos em um sistema de acumulação podemos plantar as espécies frutíferas que desejamos cada uma no seu estrato adequado porém necessitamos de um input externo ou seja como o solo e o ambiente como um todo não estão adequados para receber estas espécies temos que auxiliar com uma muleta como adubo orgânico calcário termofosfato pó de rocha etc Diferente da agricultura convencional ou orgânica na agricultura sintrópica esse auxilio externo vai diminuindo com o tempo à medida que nos aproximamos do sistema de abundância pois estamos caminhando no fluxo da natureza onde pequenas mudanças geram grandes transformações Assim as espécies vão se sucedendo no tempo à medida que vamos podando todo o sistema aceleramos essa sucessão Como exemplo iniciamos uma agrofloresta com hortaliças placenta I e II secundárias I secundárias II e climáxicas com representantes em todos os estratos Colhemos rúcula rabanete coentro mostarda logo depois de 30 ou 40 dias depois vem a colheita do alface brócolis berinjela yacon batata baroa mandioca abacaxi mamão a horta se despede e as árvores se estabelecem como primeira emergente desponta a embaúba secundária I vive 10 a 20 anos logo abaixo dela temos o guapuruvu secundária II vive de 30 a 50 anos e lá embaixo crescendo bem mais devagar temos o dandá Joanesia princeps Sistema de Abundância vive mais de 80 anos todas as três são emergentes mas cada uma apresenta um tempo de vida diferente Embaúba e guapuruvu são de sistema de acumulação enquanto o dandá é mais próximo do sistema de abundância Quando podamos a embaúba o guapuruvu se estica mais um pouco sob a influência de vários fatores o rebrote vigoroso da embaúba o que estimula as outras plantas a crescerem também o material da poda da embaúba aduba todos a sua volta a maior entrada de luz aumenta a fotossíntese do guapuruvu se não houvesse o guapuruvu a embaúba ficaria mais tempo esperando por alguém que ocupasse o seu lugar chega o tempo que o guapuruvu começa a ultrapassar a embaúba esta então se despede cumpriu sua função no trajeto até a floresta climáxica agora o guapuruvu ocupa o topo da floresta e embaixo dele vem crescendo o dandá cada poda que ocorre no guapuruvu repetese o ciclo maior entrada de luz indução de crescimento por todo o sistema através das micorrizas e hormônios de crescimento assim o dandá vai crescendo e chega o dia que ultrapassa o guapuruvu este se despede pois como emergente não tolera outras árvores sobre sua copa caso não houvesse o dandá o guapuruvu permaneceria no sistema até envelhecer por completo e ficaríamos estancados num sistema de acumulação Graças a essa dinâmica do manejo aceleramos enormemente a velocidade da mudança da fitofisionomia da cara da nossa floresta Lembrese agricultura sintrópica é distúrbio poda necessária para pulsar a floresta para haver crescimento brotação hormônios de crescimento em profusão sistema 22 rejuvenescido jovem com vitalidade É como se estivéssemos treinando um atleta de alta performance sempre trabalhado com sua potência máxima e com uma vantagem sem doping tudo natural O que explicamos para estas três espécies do estrato emergente vale para as espécies de todos os estratos As plantas econômicas de cada estrato também podem contribuir com as podas por exemplo no cultivo do cacau segundo Ernst sua poda pode chegar a 30 do que é podado no sistema Se lá no começo da nossa agrofloresta conseguimos recolher e plantar sementes de árvores de todos os estratos no momento que o dandá passa a dominar a floresta como emergente e temos os estratos completos podemos imaginar que no estrato alto começa a produção da jaqueira abacate cajá mirim cajá manga manga no estrato médio temos cupuaçu rambutam nêspera citrus etc no estrato baixo temos café cacau jabuticaba e como rasteiras podemos ter inhame gengibre açafrão taioba etc Na escolha do que plantar temos que cuidar para evitar trazer plantas que não se adaptam em nosso lugar seja por causa do frio em excesso do calor ou quantidade de chuva Por exemplo na Amazônia em um estudo realizado pelo professor Paulo Cavalcante do Museu Emílio Goeldii crescem bem mais de 150 espécies de frutas nativas e exóticas As plantas não adaptadas ao clima local podem sofrer estresse e nunca chegar a produzir ou até morrer ou mesmo ser impedidas de formar frutos porque não toleram chuva na época da floração como no caso da manga A manga cresce bem em praticamente todos os biomas do Brasil porém só produz frutos naqueles que o período da seca coincide com sua floração Com a floresta de alimentos e madeiras nobres formada agora onde entra o milho o quiabo os cereais o tomate Bom nesse momento que temos uma floresta pujante não cabe mais eles que necessitam de mais luz mas para produzilos ficou mais fácil derrubamos nossa agrofloresta onde achamos que podemos melhorála onde falta um estrato ou onde queremos introduzir uma frutífera que não temos e nesse momento plantamos nossos cereais nosso tomate nossas hortaliças agora sem necessidade de usar adubo ou qualquer insumo pois desde que começamos o solo melhorou muito agora temos um solo de floresta sem compactação com um pH mais alto o fósforo disponível subiu o alumínio se tornou indisponível e pelo sabor excelente das frutas os micronutrientes voltaram E tem mais vamos produzir hortaliças e grãos conservando o solo usando o mínimo de água graças à grossa cobertura morta ao perfil profundo de solo que criamos com a ajuda de milhões de microorganismos E nesse momento que plantamos nossos cereais e hortaliças plantamos também as frutas que desejamos as madeiras nobres que desejamos junto com eles teremos também a valiosa regeneração natural a qual manejaremos podando e conduzindo juntamente com as espécies que plantamos respeitando a porcentagem de sombra de cada estrato 95 do sucesso de uma agrofloresta é manejo 5 é plantio se atrasamos ou abandonamos o manejo começam a surgir 23 conflitos como sombreamento excessivo árvores envelhecidas etc para os quais a natureza sempre tem solução porém estes conflitos são resolvidos geralmente em uma escala de tempo maior no tempo da natureza Quando manejamos a agrofloresta aceleramos a ciclagem de nutrientes e fixamos mais carbono que florestas primárias naturais Steenbock 2013 Buscamos ajustar os estratos das árvores podando permitindo que cada árvore tenha a necessária quantidade de luz ou sombra cobrindo com material das podas os locais descobertos ou mais fracos colocando os troncos em curva de nível em locais com declives auxiliando a infiltração das chuvas Quando iniciamos a implantação de uma agrofloresta é importante identificar em que ponto da sucessão essa área se encontra podemos fazer isso observando as espécies presentes se temos madeiras nobres e espécies longevas indica uma melhor qualidade do solo se temos apenas madeiras brancas e árvores de ciclo de vida curto e médio sistema de acumulação mas importante também é observar as espécies indicadoras muitas espécies nos dão informação sobre o pH e se há camadas compactadas no solo Essas plantas indicadores ao contrário do que muitos pensam não são pragas mas sim valiosos instrumentos que a natureza tem para curar as feridas abertas na maioria das vezes pelo próprio ser humano Imagine se não tivessem elas quem iria suportar um pH de 45 no solo ou crescer em um solo extremamente seco e adensado Muitas vezes as plantas que acusam a deficiência de um nutriente são hiperacumuladoras do próprio nutriente quando morrerem terão criado um nicho rico daquele nutriente escasso preparando um lugar melhor para as próximas plantas na sucessão como é o caso do mio mio Bacharis coridifolia Saiba mais sobre plantas indicadoras no apêndice I A Importância da Estratificação Recriar florestas produtivas semelhantes na forma e na função aos ecossistemas originais do lugar implica construirmos florestas estratificadas Na natureza cada planta encontrase dentro de um contexto Andando no interior de uma mata primária na Amazônia podemos observar por exemplo que o cupuaçu não está no topo da floresta existem outras árvores por cima dele e existem árvores abaixo dele cupuaçu é uma planta do estrato médio Se fizermos o mesmo na América Central podemos encontrar um pé de acerola quase que no topo de sua floresta apesar de um pé de acerola não passar de 3 metros e ser muito menor do que um cupuaçuzeiro no seu local de origem a aceroleira é do estrato alto as matas são bem mais baixas que na Amazônia assim o que determina o estrato da planta não é sua altura mas a floresta de onde ela se origina seu centro de origem Quem primeiro estudou detalhadamente os centros de origem das plantas cultivadas foi o pesquisador russo Nikolai Ivanovich Vavilov imagem 11 24 Figura 11 Vavilov Na primeira metade do século XX Vavilov viajou durante mais de vinte anos pelos cinco continentes colhendo sementes de plantas agrícolas tais como milho silvestre e cultivado batata grãos forragem frutas e todo tipo de vegetais Ao mesmo tempo recompilava dados sobre os lugares que visitava e sobre os idiomas e culturas de seus habitantes Sua coleção de sementes chegou a ser a maior do mundo com aproximadamente 200 mil espécies que foram armazenadas e semeadas em mais de 100 estações experimentais na então União Soviética Nas suas viagens Vavilov registrou que a biodiversidade agrícola estava repartida de maneira desigual enquanto em alguns lugares sobravam plantas outros pouco ou nada tinham para oferecer Também registrou que os lugares com mais biodiversidade agrícola contam com diferentes topografias tipos de solo e clima Também determinou na sua época que a biodiversidade agrícola vinha na sua maioria de oito núcleos perfeitamente identificáveis China onde se origina a soja Índia Oriente PróximoÁsia Central sudeste da Ásia regiões montanhosas de Etiópia México e América Central berço do milho os Andes centrais de onde vem à batata e o Mediterrâneo Ainda hoje essas áreas geográficas se conhecem como centros Vavilov verdadeiros refúgios de biodiversidade essenciais para a alimentação humana imagem 12 httpsptwikipediaorgwikiNikolaiVavilov 25 Figura 12 Principais Centros de Origem das Plantas Cultivadas no estudo original de Vavilov O Brasil é centro de origem de muitas plantas cultivadas dentre elas o abacaxi Qual o estrato do abacaxi Olhando um plantio convencional de abacaxi poderíamos pensar que ele é do estrato alto ou emergente pois é plantado em monocultura sozinho Mas como ocorre o abacaxi na natureza selvagem No Cerrado Brasileiro temos uma espécie de abacaxi que viceja naturalmente Ananas ananassoides muito semelhante ao abacaxi que cultivamos Ananas comosus Se percorrermos o interior do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros uma área protegida de 240 mil hectares no coração do Brasil interior de Goiás podemos encontrar várias populações de abacaxi vegetando naturalmente Quando nos deparamos com uma dessas populações podemos ver claramente que abacaxi é uma planta do estrato baixo conforme as imagens a seguir Figura 13 população natural de abacaxis frutificando sob a copa das árvores 26 Figura 14 populações naturais de abacaxi no interior do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros Figura 15 Planta de abacaxi nativo a pleno Sol Parque Nacional Chapada dos Veadeiros Figura 16 Abacaxi nativo a pleno Sol Parque Nacional Chapada dos Veadeiros Goiás 27 Qual a diferença entre os abacaxi das imagem 13 e 14 para os abacaxis das imagens 15 e 16 Os abacaxis das imagens 13 e 14 ocorrem a poucos metros das plantas das imagens 15 e 16 Existe uma diferença notória quando estamos no campo os abacaxis das imagens 13 e 14 estão protegidos pela copa das árvores enquanto as plantas das imagens 15 e 16 estão a pleno Sol Nessa população todas as plantas que encontramos a pleno Sol em torno de 5 plantas estavam raquíticas cresceram pouco e com as folhas mais velhas secas enquanto as plantas sob a floresta centenas delas estavam bem maiores e com um verde brilhante nas folhas Imagem 17 Figura 17 Plantas de abacaxi sob o dossel da mata ciliar As imagens de 18 a 20 foram obtidas colocandose a objetiva da máquina fotográfica apontando para o céu a partir do olho dos abacaxis mais vigorosos e com frutos ou seja o que as plantas de abacaxi vêem quando olham para o céu Figura 18 Visão do céu do ponto de vista dos abacaxis 28 Figura 198 Visão do céu do ponto de vista dos abacaxis Figura 20 Visão do céu do ponto de vista dos abacaxis Observando a grande vitalidade das plantas sob a floresta com aquelas a pleno Sol não resta dúvidas de que o abacaxi é uma planta de estrato baixo As populações de abacaxi acompanhavam precisamente a mata ciliar do córrego Quando respeitamos a ecofisiologia das plantas evitamos que as mesmas entrem em estresse O estresse é um dos gatilhos que desencadeia as doenças ataques de insetos influenciando inclusive na qualidade dos frutos muitas vezes compramos um abacaxi no mercado com a casca ainda bem verde mas ao abrilo vemos que sua polpa já esta vitrificada meio transparente o fruto apesar de verde está passado o calor excessivo do Sol o amadureceu forçadamente Assim como uma vaca holandesa nativa do clima frio da Europa entra em estresse quando a temperatura ambiente passa dos 16 C ocasionando mastites frequentes 29 micoses de casco etc um simples fruto de abacaxi também pode se estressar caso não proporcionamos as condições ideais nas quais ele evoluiu por milhares de anos Se criarmos condições adequadas para que nossas plantas cultivadas manifestem todo seu potencial produtivo a partir delas próprias sem necessidade de forçar a produção com adubos químicos hormônios e pesticidas poderemos criar campos de cultivo belíssimos e altamente produtivos como os das imagens 21 e 22 Figura 20 Pomar de citrus sombreado por fruta pão Alto Beni Bolívia 2001 30 Figura 21 Agrofloresta com citrus banana café cacau e dezenas de árvores nativas e exóticas nas entre linhas orientada por Ernst Gotsch Propriedade de Joaquin Milz Alto Beni Bolivía Se as grandes companhias produtoras de frutos entenderem isso se os grandes produtores de grãos fizerem pequenas mudanças em seus campos e as empresas de máquinas oferecerem máquinas adaptadas para o trabalho com as árvores será possível abandonarmos completamente o uso de agrotóxicos Ernst Götsch já vem trabalhando com alguns grandes produtores e os resultados são impressionantes Na fazenda da Toca pomares orgânicos de laranja com infecção de greening que recebiam 57 pulverizações anuais de caldas permitidas na agricultura orgânica com a adoção da agricultura sintrópica não receberam mais qualquer pulverização e houve redução do greening Chegouse a esse resultado retirando os tratores pesados plantandose mombaça nas entre linhas e nas linhas de citrus plantouse mandioca banana eucalipto e árvores nativas Por que a introdução de poucas espécies nesse campo de citrus e a retirada das máquinas pesadas proporcionou toda essa mudança Porque mudamos o paradigma de produção Antes o capim na entrelinha era uma praga a ser eliminada em campos convencionais usase herbicida na agricultura orgânica roçadeira 31 central e até choque elétrico Na agricultura sintrópica tratamos o capim como nossa fábrica de NPK cortamos com ceifadeiras afiadas para ele rebrotar rápido e transmitir essa informação de crescimento vigoroso a todo sistema as árvores podadas eucalipto banana e outras são trituradas e a maravalha espalhada nos campos produzindo húmus mais estável no solo originado de celulose e lignina o rebrote das árvores estimula todos a sua volta a crescerem também No pico do verão o citrus tem a sombra do eucalipto e no inverno o Sol para aquecêlo pequenas mudanças grandes transformações Depois da história do abacaxi fico imaginando como seria bastante útil se uma dessas grandes redes de TV que trabalham com a natureza pudesse produz uma série de filmes mostrando como são os ecossistemas naturais de onde surgiram nossas plantas cultivadas com toda a tecnologia de hoje poderíamos produzir filmes muito educativos Distribuição na ocupação dos diferentes estratos Aqui percebemos os erros que muitos agrofloresteiros cometem em muitos lugares inclusive divulgado muitas vezes como um pacote tecnológico por agências governamentais onde argumentam que agrofloresta é muito boa ecologicamente muito boa resolvem muitos problemas recupera solos melhora solos mas para alimentar a humanidade precisamos lançar mão dos princípios da Revolução Verde pesticidas e adubos químicos De acordo com o que está sendo focado dependendo da cultura econômica principal observase uma ocupação da seguinte forma 1 Forte peso nos estratos alto e emergente em situações de acumulação sistemas de acumulação quando queremos focar em acumulação por exemplo um plantio visando somente madeira Exemplos plantios modernos de eucalipto ou pinus E esses plantios modernos em monocultivo não são inteligentes porque poderíamos produzir de 30 a 50 mais madeira e de melhor qualidade se plantássemos pinus e eucalipto juntos se plantássemos mogno e eucalipto juntos produziríamos muito mais porque temos o eucalipto como emergente que vai produzir um fuste reto e muito mais comprido e o mogno como estrato alto que fica abaixo do eucalipto assim poderíamos caminhar para uma otimização dos cultivos para o ponto ótimo Precisamos entender isso pois quando Ernst fala em estrato emergente ocupando 15 a 25 não é qualquer floresta que tem isso uma floresta quando está no auge de produção de alimentos para animais de porte grande aí sim naquele momento ela tem essa porcentagem 15 a 25 de sombra de emergentes e nós temos a possibilidade de tentar fazer nossas plantações chegarem nessa porcentagem basta observarmos as plantações de Ernst Gotsch em sua fazenda na Bahia lá podemos identificar todos os estratos emergentes alto médiobaixo bem claramente No começo quando começamos a plantar plantamos os estratos em muito maior densidade do que eles aparecem em uma floresta madura clímax Por exemplo Ernst vem desenvolvendo modelos onde planta 2220 eucaliptos por hectare e esse é 32 um dos segredos os emergentes nós não podamos mas raleamos e os estratos alto e médio podamos quando temos o estrato baixo como foco de produção exemplo de baixos cacau e café ou se tivéssemos abacate e lichia alto e médio eles fariam parte do foco de produção mas também fornecem boa parte da matéria orgânica que o campo produz assim os emergentes nós vamos ralear no curso do tempo 2 Natural também para fase médiotardio em quase todas as florestas na sua fase de clímax em climas úmidos e subúmidos mais acentuado nas altitudes fora dos trópicos na contraface Quando a ocupação dos estratos ocorre de forma natural sem intervenção do ser humano a floresta chega num ponto que os estratos médio e baixo desaparecem jabuticaba não produz mais cacau vai embora laranjeiras se despedem jaqueira vai embora mesmo no lugar natural dessas fruteiras ou seja na inspiração no sistema de acumulação a floresta se torna vazia nos estratos inferiores mais médio e baixo ainda temos a castanheira produzindo emergente a floresta ainda sustenta animais de porte grande mas não temos mais uma produção abundante de frutos Só vamos ter uma produção abundante quando tivermos distúrbio abertura de clareiras por exemplo o distúrbio é produtivo é uma précondição e ao mesmo tempo aumenta a fotossíntese o distúrbio não é um prejuízo a passagem de furacões na America Central é uma benção pois aumenta sobre maneira a produção de cacau no ano seguinte Os distúrbios aqui são bastante diferentes dos distúrbios antrópicos tecnomorfos que causamos a todos os biomas do planeta uma verdadeira devastação antinatural pois não considera os princípios do próprio sistema 3 Em locais e situações que devido a suas précondições ecofisiológicas estariam submetidos a distúrbios periódicos mas não acontecem por falta da presença do vetor causador vento tempestades animais de porte grande etc ou no caso de agroecossistemas inadequadamente desenhados e manejados falta de poda Assim esses sistemas se tornam sistemas de acumulação eternos sem vida No outro extremo temos sistemas por sua natureza extremos sistemas de abundância que mostram no seu auge a seguinte distribuição Estrato média 15 25 de área sombreada por emergentes 20 30 40 de área sombreada por altos 35 50 60 de área sombreada por médios 55 80 90 de área sombreada por baixos 85 10 20 de área sombreada por rasteiros e regeneração nova 15 Somando tudo temos 210 33 Para atingir estes 210 as florestas conhecem muitos meios e usam numerosas estratégias Cabe a nós escolhermos os mais indicados e eficientes no manejo dos nossos agroecossistemas Observe também que existem meios para regular a sombra proporcionada pelas plantas que compõem os estratos dos emergentes altos e médios que são naturais das próprias espécies isto é a sua qualidade de ser caducifólia ou não Sendo a espécie caducifólia observar mais ou menos em que período do ano e quanto tempo aquela árvore fica sem folhas pois estar sem folhas oferece pouca sombra para a vegetação abaixo delas Exemplo extremo o cajueiro no semiárido fica quase despido de folhas a partir de um momento as chuvas permitem o crescimento de vegetação debaixo dele no ecossistema dele podemos sombrear assim percentualmente muito mais as áreas que ele habita cuidando para não ultrapassar 30 a 40 de sombracajueiro é estrato alto O mesmo corresponde a espécies como Ceiba pentandra jaracatiá cajá etc que ficam por muito tempo e no momento crítico sem folhas o que gera o estímulo a indução floral para a frutificação das plantas debaixo deles Principio 3 Solo Coberto e Plantios adensados Valor real do solo Por que o solo é mais precioso que petróleo Por que nós podemos e fizemos por milhares de anos viver sem óleo mas não podemos viver sem solos agricultáveis especialmente com o crescimento da população e com os oceanos quase vazios Solo é um material sensível que necessita de cuidado O solo não é uma fábrica um depósito para substâncias tóxicas nem um suporte para nossas culturas o solo não é sujo nem uma grande estrada pavimentada ou um estacionamento para carros Solos agricultáveis são raros Quarenta por cento dos solos da Terra estão degradados então cada colher de chá de solos férteis é preciosa crucial para a vida humana alimento segurança essencial para os serviços ambientais redutor da pobreza criador do desenvolvimento sustentável O solo nos alimenta e somos responsáveis por ele Se ele não está protegido por vegetação é varrido pelos ventos ou lavado pelas chuvas Pesquisadora canadense doutora em solos Celine Caron httpwwwmofgaorgPublicationsMaineOrganicFarmerGardenerSpring2015AgriculturalSoiltabid2937Defaul taspx Um dos princípios fundamentais que Ernst Götsch trabalha é a cobertura do solo somente ela vai devolver a fertilidade ao solo novamente e isso pode ser bem observado em sua fazenda em Piraí do Norte BA Desde a implantação e durante todo o manejo das agroflorestas Ernst sempre observa onde estão os lugares com pouca cobertura morta e deposita nesses lugares grande quantidade de material das podas Ernst vem trabalhando bastante com capim mombaça nas entrelinhas de cultivos perenes O capim mombaça é estrato baixo e do mesmo gênero do colonião sendo exigente em fertilidade do solo Quando iniciamos um campo sempre temos que ter em mente que espécie seria melhor para cobrir rapidamente o solo não temos uma receita devemos observar a fertilidade do solo o clima o estrato da planta escolhida etc por exemplo em locais com baixa fertilidade podemos optar por plantas menos exigentes como braquiária andropogon ou outros capins lembrando que o ciclo da braquiária é mais curto que do mombaça pois cada vez que a gramínea floresce devemos 34 roçar para evitar uma informação de senescência influenciando negativamente e freando o crescimento dos cultivos que estão consorciados com ela As braquiárias decumbens e brisantha por serem decumbentes se esparramando mais para os lados acabam entrando na linhas dos cultivos dificultando o manejo ao contrário do mombaça que tem um crescimento cespitoso Em locais mais pobres podemos trocar o mombaça pelo andropogon que também tem hábito cespitoso Assim para não ficarmos presos em receitas temos que saber a função ecofisiológica de cada planta com isso sempre escolhemos a melhor planta para cada situação pois se trabalhamos com receitas e não com princípios quando nos depararmos com algum lugar onde essa receita não se encaixa por exemplo um local onde mombaça não cresca devido ao solo fraco não saberemos o que fazer Trabalhar com princípios seria como um cozinheiro que entende a função de cada ingrediente na receita na falta de um ingrediente ele pode substituir por outro sabendo a função daquele ingrediente ausente Em locais muito secos como a caatinga buscase espécies que crescem bem em ambientes com pouca chuva como palma forrageira sisal pinhão roxo Quanto mais conhecermos o lugar onde estamos e as plantas adaptadas a esse lugar teremos mais possibilidades de consórcios No assentamento do Contestado no Paraná os assentados estão utilizando ervilhaca como cultivo de inverno sobre o capim mombaça em virtude das geadas as quais o capim não suporta assim ainda conseguem produzir biomassa mesmo no inverno Messerschmidt comunicação pessoal No Sítio Semente em Brasilia DF vemse utilizando com muito sucesso madeira triturada obtida das ruas da cidade As árvores das praças e ruas são podadas e no próprio local trituradas por implemento acoplado ao trator No ano de 2016 Ernst Götsch realizou uma consultoria na Martinica para um produtor que exporta frutas para a Europa Em abril de 2017 esse produtor mandou algumas imagens das mudanças realizadas recomendadas por Ernst É impressionante a vitalidade que os campos transmitem imagens 22 e 23 solo bem coberto com capim mombaça nas entre linhas o qual é roçado e colocado nas linhas de banana e árvores as árvores são podadas anualmente e trituradas alimentando as ruas de capim com esse exemplo podemos ver os vários princípios atuando ao mesmo tempo maximização da fotossíntese estratificação solo coberto plantio adensado etc Figura 22 Martinica plantio orientado por Ernst Gotsch Inicio 2016 imagem abril 2017 35 Figura 23 Martinica plantio orientado por Ernst Gotsch Inicio 2016 imagem abril 2017 Colocamos abaixo os resultados das pesquisas do Professor Gilles Limieux da Universidade de Laval no Canadá apud Agroecologia Hoje n 15 78 2002 o qual avaliou o resultado da aplicação de aparas de madeira no solo Após analisar o subproduto de aparas de ramos de coníferas com relação ao seu teor em nutrientes esse material foi aplicado experimentalmente em solos agrícolas à base de 150 a 200 m3ha Esta adubação deu bons resultados na produtividade de batata fruticultura arbórea e morangos Os resultados no entanto foram melhores ainda quando se utilizou AMRF aparas de madeira rameal fragmentada de madeira de lei madeira dura particularmente do carvalho Quercus rubor Efeitos da aplicação de AMRF Aparas de Madeira Rameal Fragmentada sobre o solo Após a aplicação de AMRF aparas de madeira rameal fragmentada observaramse as seguintes modificações no solo Após 3 meses a maioria das aparas já tinham sido metabolizadas pela biologia do solo A cor do horizonte A tornouse mais escura aproximandose de um marrom bem escuro O teor de matéria orgânica aumentou 3 em apenas 12 meses 36 O pH do solo aumentou à taxa de 05 na maioria dos solos testados Os teores de fósforo disponível e do magnésio intercambiável mostraram um significativo aumento Efeitos da aplicação de AMRF aparas de madeira rameal fragmentada sobre as culturas aEm clima temperado observouse que Tubérculos de batata com aumento no teor de matéria seca em 30 e obtendo teores superiores de fósforo potássio e magnésio Trigo e aveia tiveram um aumento no peso de 1000 grãos e no número de grãos por espiga da ordem de 30 O teor de nutrientes da palhada decresceu com a aplicação de AMRF mostrando claro estímulo aos processos fisiológicos de frutificação Moranguinho 300 de incremento nos frutos colhidos Maior resistência a afídeos Redução em 50 da necessidade por água suplementar irrigação Notável incremento na resistência à geada Sabor mais pronunciado em frutas b Em clima subtropical observouse Em tomate um aumento de produtividade e qualidade que variou entre 900 e 1000 A necessidade por irrigação suplementar caiu em 50 c Em clima tropical observouse Em milho observouse um enorme salto de produtividade que aumentou de 1 para 4 tonha pela aplicação de AMRF aparas de madeira rameal fragmentada de Acacia auriculiformes Tectona grandis Gliricidia sepium Senna siamea Azadirachta indica Por que madeira rameal e não do tronco maravalha e cepilhos de serraria Os ramos e galhos a princípio com diâmetro igual ou inferior a 7 cm formam a madeira jovem com as seguintes qualidades Alta proporção de casca Alto teor de polifenóis solúveis cadeia mais curta 37 Fonte de matéria orgânica fundamental para agregação do solo Precursores de um húmus altamente reativo Concentram 70 dos nutrientes da árvore A relação CN situase na faixa de 301 e 1701 a do tronco está na faixa de 4001 a 7501 Vale destacar que em clima tropical como no Brasil os processos de crescimento e decomposição são bastante acelerados quando comparados com o clima temperado Por exemplo os agricultores do assentamento Mario Lago Ribeirão Preto SP onde um dos alunos de Ernst Namastê Messerchmidt iniciou a implantação de agroflorestas relatam que nas entre linhas dos canteiros de hortaliças onde colocam troncos grossos o solo com o tempo tornase mais escuro do que nos canteiros onde cobrem com capim ou AMRF aparas de madeira fragmentada Por que húmus originário de lignina Vários ecossistemas naturais são poderosos formadores de húmus do solo Diversos solos nascem marcados pela abundância de húmus dentre eles solos com marcada fertilidade natural Importante notar que o húmus formado sob florestas demonstra ser via de regra mais estável e durável que aquele formado por vegetação de gramíneas Também o húmus formado pela adubação orgânica com estercos composto adubos verdes e manejo do mato não atinge o grau de durabilidade daquele de origem arbórea Tamanho das aparas ou fragmentos De modo geral o tamanho das aparas é ditado pelo tempo previsto para a decomposição e transformação da madeira rameal em húmus ativo no solo em um determinado clima Em clima mais frio ou seco eventualmente montanhês temperado ou semiarido aparas menores de 2 a 4cm oferecem maior superfície de contato da madeira com os agentes de transformação Em clima quente e úmido nos trópicos e subtrópicos estes agentes invadem a madeira rapidamente diminuindo a necessidade de se picar a madeira em pequenas aparas Tornase necessário picar a madeira em sistemas agroflorestais mecanizados para evitar o embuchamento das máquinas Em sistemas agroflorestais de menor escala e sem mecanização os fragmentos poderão ter o comprimento de 10 a 40 cm A aplicação de AMRF aparas de madeira rameal fragmentada é antiga nos sistemas agroflorestais Sempre que houver uma poda do sistema haverá um aporte de AMRF ao solo Neste sentido podas mais drásticas não apenas disponibilizam mais luz como também devolvem ao solo a dinâmica biológica perdida com o desmatamento criando 38 os fundamentos para um fertilidade duradoura e capaz de gerar abundantes colheitas A experiência tem mostrado que a adubação com madeira gera abundante frutificação Nos anos de 2000 e 2001 Ernst Götsch realizou uma série de experimentos em sua fazenda na Bahia testando vários adensamentos de árvores por m2 o que impressiona é a vitalidade dos cultivos após um ano do plantio Ernst derrubou capoeiras envelhecidas e plantou juntamente com abacaxi árvores em densidades variadas indo de 1 árvore por m2 até 15 árvores por m2 Os experimentos foram rigorosamente inspecionados os que apresentaram melhores resultados foram aqueles com 15 espécies de árvores por m2 A imagem 24 é de um campo experimental plantado no ano de 2000 e a imagem 25 o mesmo campo no ano seguinte Os abacaxis cresceram muito produzindo frutos de 15 kg um homem adulto agachandose passava por baixo das folhas Figura 24 Capoeira derrubada plantada com linhas de abacaxis e sementes de árvores em várias densidades Fazenda Olhos dágua propriedade de Ernst Götsch Piraí do Norte BA 39 Figura 25 Mesmo local da imagem 23 após um ano do plantio Fazenda Olhos dágua propriedade de Ernst Götsch Piraí do Norte BA Talvez este seja um dos princípios mais difíceis de ser explicado porque quando falamos plantar em alta densidade conseguimos entender quando plantamos milho em monocultura até 90000 plantas por ha ou quando plantamos soja trigo estamos plantando milhares de plantas por hectare estamos no limite no caso do milho ou outros grãos o aumento da densidade de plantas leva em consideração fatores como fertilidade da terra disponibilidade de água etc se aumentarmos acima desse limite as plantas podem até crescer mas teremos uma menor frutificação consequentemente menor rendimento por hectare Mas quando pensamos um sistema que pode ter de 40 a 80 espécies de plantas por ha os parâmetros da ciência agronômica tradicional não nos ajudam muito necessitamos de outros critérios Ernst criou critérios para avaliar a sustentabilidade de um plantio sintrópico Veja o Apêndice II Se queremos ter um plantio de cacau no espaçamento de 5x5m temos que plantar 100 pés de cacau nesse espaço se queremos ter uma jaqueira a cada 10x10m temos que plantar 100 jaqueiras nesse espaço para algumas espécies temos que plantar 10 vezes mais para outras 100 vezes mais ou 200 vezes mais Por que 40 Quando iniciamos por exemplo em um solo decaído maltratado por gerações temos que plantar as espécies que conseguem crescer nesse solo bem próximas como ilustração veja o caso abaixo Estamos realizando plantios sintrópicos em uma fazenda com mais de 100 anos de idade localizada na Chapada dos Veadeiros interior de Goiás Brasil Em muitas áreas dessa terra o solo está exposto nenhuma planta consegue ocupar o lugar por quase uma centena de anos uma excessiva exploração pelo gado exauriu o solo estamos utilizando o mínimo de insumos e espécies que conseguem ocupar o lugar como por exemplo piteira margaridão fruta de lobo assa peixe A piteira plantamos nos lugares mais fracos a cada 20 cm Quem já viu uma piteira adulta em terra de cultura sabe que no mínimo a planta ocupa com suas folhas um circulo com diâmetro de até 3m Plantamos a cada 20cm para que possamos com o crescimento da piteira ir podando suas folhas e cobrindo todo o solo conforme as plantas vão crescendo essa área se torna pequena vamos então raleando as piteiras Esse raleio é fundamental pois é ele que alimenta o solo vira cobertura morta que vira húmus podemos repetir esse processo plantando árvores em alta densidade conforme elas vão crescendo e as tensões começam a surgir podemos selecionar entre as melhores plantas e podar as outras construindo a fertilidade a medida que o sistema avança Por exemplo em um plantio em Casimiro de Abreu RJ Mata Atlântica Ernst plantou como estrato médio cupuaçu nativo da Amazônia mas que cresce muito bem na mata Atlântica e cambucá myrtaceae do estrato médio O cupuaçu começa a produzir com 6 ou 7 anos mas o cambucá de crescimento muito mais lento atinge o estrato médio e começa a produzir com apenas 15 anos Como ambas as árvores são do mesmo estrato e estão próximas começam a surgir tensões entre ambas o espaço se tornou pequeno Com 15 anos o cupuaçu já produziu muitas safras de frutos porém nesse momento estamos diante de um dilema positivo mantenho os cupuaçus e cortamos os cambucás ou dou preferência aos cambucás e corto os cupuaçus Como Diz Ernst temos que escolher entre o Nirvana o Paraíso ou a Terra dos eternamente felizes Lembra das 4 dimensões com que a agricultura sintrópica trabalha A quarta dimensão é o tempo e ele está intimamente associado com o plantio em alta densidade Graças ao plantio em alta densidade e o manejo da agrofloresta com o raleamento e as podas conduzimos as plantas até a fase adulta a um espaçamento que reproduza o sombreamento adequado para cada estrato Princípio 4 capina seletiva e podas retirar sempre plantas da sucessão anterior Sempre que iniciamos a manutenção de uma agrofloresta é recomendado fazermos primeiro a capina seletiva Capina seletiva é um termo criado por Ernst que significa remover do sistema aquelas plantas que são de sistemas anteriores da sucessão por exemplo quando plantamos mombaça e no meio dele nasce capim barba de bode ao realizar o corte do mombaça devemos retirar se possível com a raiz o capim barba de bode pois este é de um sistema de acumulação bem anterior ao mombaça e que 41 também tem um florescimento bem precoce Toda vez que o capim barba de bode floresce está indicando um amadurecimento do sistema e dessa forma freando o desenvolvimento do mombaça vale o mesmo quando o malmequer floresce o picão preto o capim carrapicho o avanço e muitos outros capins e ervas de ciclo curto que são abundantes nos sistemas de acumulação Essas ervas tem o importante papel de cobrir o solo concentrar nutrientes escassos preparar o ambiente para as plantas do futuro etc Quando o sistema avança e o solo melhora plantas mais eficientes produtoras de biomassa e com relação carbononitrogênio mais estreita começam a surgir nosso papel então é acelerar a sucessão natural retirando as plantas de sistemas anteriores e criando melhores oportunidades para o aparecimento das plantas do futuro assim arrancamos o picão preto e o usamos para proteger um pé de guandu ou mombaça Para entender melhor vamos imaginar um campo de sapé Imperata sp Iniciamos este campo sem insumos concentramos o sapé roçado em ilhas nessas ilhas plantamos árvores de sistemas de acumulação mais avançados como lobeira assa peixe tamboril angico caso o local seja no bioma Cerrado nos locais com solo um pouco melhor plantamos mandioca Quando o sapé dessas ilhas se decompõe alimenta o solo pode surgir naturalmente nesses locais moitas de Braquiaria Brisantha em muitos locais o sapé rebrota próximo às ilhas sempre vai haver um gradiente de fertilidade e as plantas que surgem nos mostram esse gradiente são as plantas indicadoras O surgimento por exemplo de plantas de sistemas de acumulação como capim rabo de burro capim rabo de raposa nos indica que ainda o solo está ácido nesses lugares veja o apêndice plantas indicadoras Conforme as árvores crescem e são podadas introduzimos material de melhor qualidade para formação de húmus a acidez diminui surge beldroega Portulaca oleraceae planta indicadora de uma melhor fertilidade do solo com as podas das árvores e melhoria da fertilidade do solo introduzimos plantas como maracujá frutíferas mandioca e todas as outras plantas cultivadas que temos interesse em estabelecer nesse lugar juntamente com as árvores nativas como frutíferas e madeiras nobres A construção da agrofloresta acima foi realizada sem introdução de qualquer insumo externo a não ser sementes e manivas de mandioca Nesse mesmo campo se quisermos partir de um estágio mais avançado da sucessão com plantas mais exigentes teremos que lançar mão de muletas como adubo orgânico esterco composto torta de mamona etc termofosfato pó de rocha calcário Essa aplicação de insumos deve ser cuidadosa e o mais homogênea possível pois iremos criar uma condição artificial de fertilidade introduzindo plantas que demandam uma fertilidade que naturalmente não existia naquele campo Foi assim que destruímos praticamente todo o cerrado brasileiro fizemos um melhoramento das cultivares de soja corrigimos a acidez dos campos com calcário e aumentamos a fertilidade com NPK com estas medidas simplistas destruímos os solos pela erosão e compactação diminuímos as chuvas assoreamos milhares de córregos e rios e destruímos a savana mais biodiversa do planeta 42 Feita essa correção do solo plantamos milho frutíferas hortaliças árvores de madeira nobre banana etc Um bom indicador se estamos caminhando para o sistema de abundância é o surgimento natural de plantas indicadoras Por exemplo o campo forrase de guanxuma Sida sp o que indica que não fizemos uma boa descompactação do solo ou aparece muito amendoim bravo deficiência de molibdênio Plantamos mombaça mas a braquiária surge em muitas manchas Forçar o avanço artificialmente pode ser feito mas requer cuidado e muita observação caso contrário colocamos insumos que não são aproveitados e o campo insiste em ficar em estágios anteriores da sucessão assim observando todo os gargalos como deficiências nutricionais aspectos físicos do solo compactação tipo de solo arenoso argiloso misto e biológicos quem vão ser os produtores mais eficientes de biomassa pois os estercos e compostos adicionados não formam húmus estáveis e logo serão consumidos pela biologia do solo então rapidamente o solo vai estar descoberto e será lavado pelas chuvas retrocedendo na sua fertilidade e sendo ocupado novamente pelo picão preto braquiária capim marmelada feto de gaiola barba de bode etc Avaliados todos esses fatores e escolhemos cuidadosamente as espécies e os insumos avançando a passos largos rumo ao sistema de abundância Quando conseguimos criar uma fertilidade estável e homogênea para o solo conectada com o plantio das espécies corretas não há espaço para o aparecimento de plantas de estágios anteriores da sucessão pois nossas plantas estão com o máximo vigor ocupando correta e rapidamente seus estratos estamos voando baixo Um dos princípios fundamentais para o crescimento e frutificação da nossa agrofloresta são as podas elas são o motor propulsor das agroflorestas como Ernst diz o pulo do gato Quando Ernst iniciou os trabalhos no Brasil recebeu uma terra completamente devastada com o nome Fazenda Fugidos da terra seca Mais tarde descobriuse que o nome original do lugar era Fazenda Olhos dágua Assim plantou em alta densidade milhares de sementes e quando foi raleando podando descobriu o grande input de energia que surgia com as podas como se fosse um rejuvenescimento do sistema ou como disse Renate um reprimaveramento Atualmente vários pesquisadores vem descobrindo a grande rede subterrânea formada por raízes e milhares de microorganismos que mantêm as árvores conectadas assim os nutrientes carbono hormônios se translocam de uma planta a outra fazendo com que todo sistema entre em ressonância por meio de laços de realimentação positivos Existem algumas dicas básicas que Ernst nos dá para nos orientar na arte da poda Sempre que formos podar uma agrofloresta começar preferencialmente de cima para baixo pois assim podemos diminuir os estragos da queda de galhos maiores os quais são amortecidos pelos galhos inferiores os quais poderiam não estar lá se podássemos de baixo para cima Podar primeiro os galhos doentes mal formados tortos e sobrepostos Podemos podar drasticamente árvores que resistem a esse manejo podar no osso como dizem deixando apenas o tronco principal ou podar mantendo a arquitetura da copa tudo depende do contexto da vizinhança do objetivo da poda As 43 porcentagens de sombra em cada estrato não são cláusulas pétreas podemos aumentar o sombreamento em um andar se diminuímos no anterior ou posterior e vice versa Geralmente sistemas que sustentam mamíferos de porte grande como nós tem um grande investimento de árvores nos estratos médio e baixo Já sistemas de acumulação tem um aumento do estrato alto Mas uma coisa é certa só vamos realmente entender estes princípios quando plantamos e manejamos nossas próprias agroflorestas somente praticando vamos adquirir confiança e sabedoria Princípio 5 Concentrar energia gerar biomassa de forma eficiente Concentrar energia significa aglutinar recursos em linhas ou ilhas pois muitas vezes trabalhamos em solos decaídos empobrecidos pela agromineração assim aglutinamos as gramíneas as ervas em linhas ou ilhas e plantamos nesses lugares nossos cultivos que podem receber o luxo de algum insumo como esterco pó de rocha etc para auxiliálos a crescer nesses lugares A braquiária é considera por muitas pessoas uma planta ruim agressiva invasora de difícil controle mas entendendo como a natureza funciona usamos essa grande força da braquiária para trabalhar a nosso favor roçamos linhas de 1m de largura e afofamos em seguida roçamos 5 10 ou 15m de cada lado e acumulamos nessa linha plantando o que desejamos no meio da linha com essa cobertura não crescerá qualquer mato e nosso cultivo estará melhor adubado e protegido do ressecamento Se for no verão 30 ou 40 dias depois teremos novamente a braquiária crescida nas entrelinhas e assim vamos sucessivamente dominando o campo com a força da própria braquiária em linhas ou ilhas imagem 26 Figura 26 Concentrando recursos em linhas capim roçado e acumulado na linha de plantio Atualmente Ernst vem aplicando muito este princípio com a utilização de capim mombaça nas entrelinhas das árvores O capim mombaça por ter a característica de 44 ser do estrato baixo e cespitoso crescendo pra cima não sendo decumbente como a braquiária brisantha facilita o manejo pois não invade tanto as linhas de árvores De preferência construir as linhas no sentido norte sul observando a topografia relevo plantas que gostam de mais sol do sol da tarde do sol da manhã A proposta determina o design Plantas que crescem rápido ver quem sucede quem Tudo é recurso tudo é adubo Recurso no sentido de seguir o fluxo da natureza para potencializar os processos de vida 6 Ecofisiologia das plantas e função ecofisiologica das plantas A Ecofisiologia Vegetal estuda a adaptação da fisiologia dos organismos às condições ambientais por exemplo com relação a plantas nativas da caatinga foram observados três mecanismos quanto à adaptação a seca a resistência das espécies que permanecem enfolhadas no período seco como o juazeiro Zizyphus joazeiro Mart a tolerância das espécies caducifólias que perdem as folhas durante a estação seca como o umbuzeiro Spondias tuberosa ArrCam e o escape das plantas anuais que completam o ciclo fenológico durante a época chuvosa como a Brachiaria plantaginea Hitchc vulgarmente conhecida como milhã Araújo Filho Carvalho 1997 Muitas espécies da caatinga exercem rígido controle da transpiração principalmente pela velocidade de fechamento dos seus estômatos como reação ao aumento do déficit de vapor da atmosfera mesmo sob condições favoráveis de umidade de solo Ecofisiologia de plantas da caatinga José Moacir Pinheiro Lima Filho XXVII Reunião Nordestina de Botânica 2004 Pela definição acima fica claro a importância da escolha certa das espécies que irão compor nosso plantio pois estas necessitam ter os instrumentos necessários para resistirem a diversos fatores do local onde crescem como baixa fertilidade do solo compactação encharcamento prolongado do solo ou seca prolongada baixas temperaturas ou altas temperaturas insolação Daí a importância do trabalho de Vavilov Necessitamos descobrir qual o contexto de origem das plantas que estamos usando para reproduzirmos esse contexto e diminuirmos o estresse das plantas Conhecendo profundamente as plantas com que trabalhamos podemos moldar nossos plantios e assim nos livrarmos das receitas prontas Não basta conhecermos apenas as plantas de nosso bioma pois devido ao acelerado processo de destruição de todos os biomas do Brasil e do mundo o que contribuiu para o aquecimento global e as mudanças climáticas o que estamos presenciando é a alteração profunda do clima em cada bioma Vastas regiões da Amazônia estão savanizando em grandes áreas do cerrado nos últimos 4 anos 2014 a 2017 choveu metade da média histórica lembrando a caatinga Em muitas áreas degradadas da Mata Atlântica crescem plantas do cerrado O que isso nos mostra é que para recuperar essa áreas vamos precisar de plantas do cerrado para recupera a Amazônia de plantas da caatinga para recuperar o cerrado o que é mais difícil pois os solos da caatinga têm no geral uma fertilidade bem maior que os solos do Cerrado Ou seja as 45 condições criadas com a destruição dos biomas em muitos casos não permitem que espécies do próprio local colonizem novamente aquela área o ecossistema perdeu a resiliência necessitando urgentemente de nossa intervenção mas estas espécies podem também não ser suficientes precisamos então de espécies exóticas de outras partes do mundo como o eucalipto Acacia mangium etc Estas espécies não são pragas ou destruidoras de nascentes e solos na verdade utilizadas no contexto da agricultura sintrópica são salvadoras da pátria pois o eucalipto pode criar nossa peroba nosso cedro jabuticaba laranja ou mangaba o que quer que seja desde que utilizado de forma dinâmica como já vimos em princípios anteriores Por exemplo na Australia na região de Melbourne o eucalipto é vegetação nativa protetora de mananciais Primavesi comunicação pessoal Estas espécies são pontes para o estabelecimento de florestas primárias altamente biodiversas e produtivas Ernst Götsch RJ 2016 Conhecendo a ecofisiologia das plantas podemos transformálas em uma ferramenta assim introduzimos plantas com uma função ecofisiológica necessária naquele momento por exemplo introduzimos plantas que resistem a seca com a função de resistirem a seca naquele ambiente degradado e dessa forma criar umidade para as plantas do futuro introduzimos plantas que crescem em solos pobres que disponibilizam fósforo com a função de criar a fertilidade do futuro Princípio 7 Sincronizar os plantios Bordas devem ser podadas Cultivos estabelecidos a transição para a agricultura sintrópica Muitas vezes quando optamos pela agricultura sintrópica já temos na fazenda áreas com cultivos perenes instalados seja de forma orgânica ou convencional com aplicação de adubos químicos ou orgânicos agrotóxicos ou caldas e muitas vezes com máquinas pesadas enfim todo pacote tecnológico da agricultura industrial Quando Ernst iniciou os trabalhos da Fazenda da Toca em São Paulo esta era uma fazenda que produzia frutas orgânicas Ernst recebeu uma das áreas com manejo orgânico e com citrus já plantado com 2 anos de idade Após o manejo sintrópico abandonouse a pulverização de caldas e buscouse utilizar máquinas mais leves para diminuir a compactação do solo e evitar a morte do capim pelo rodado das máquinas Quando optamos por trabalhar com o que já está plantado é necessário avaliar de que maneira podemos aplicar todos os princípios naquele local se é viável manter ou não o cultivo anterior Por exemplo se temos um plantio de seringueira já em produção adulto o primeiro passo é identificar qual o estrato que aquele cultivo pertence após esse passo avaliamos se é possível introduzir os outros estratos No caso desse plantio adulto de seringueira é necessário realizarmos uma poda drástica pois seria inviável para as plantas introduzidas crescer sob uma sombra de plantas adultas envelhecidas e com porcentagem de sombra muito superior ao do estrato alto pois foram plantadas em monocultura A seringueira é boa de poda e rebrota com vigor todo material podado servirá como adubo para os outros estratos que estamos introduzindo como exemplo após a poda da seringueira podemos introduzir como estrato baixo por 46 mudas café cacaujabuticaba estrato médio banana prata cresce bem sob a sombra do estrato alto citros achachairu rambutan etc lembrando que a seringueira foi plantada em monocultura e o estrato alto na agricultura sintrópica ocupa apenas 40 da sombra do seu andar porém como não temos estrato emergente podemos elevar esse sombreamento para uns 50 55 em virtude de não termos estrato emergente 20 de sombra não convém simplesmente somar pois as sombras em andares diferentes permite uma maior entrada de luz do que colocar a soma das sombras de estratos diferentes no mesmo andar assim teremos que manter as seringueiras estrato alto sempre com essa porcentagem de sombra se quisermos produção nos estratos inferiores Nas entrelinhas podemos plantar como estrato baixo capim mombaça para que este alimente as linhas de frutos e seringueiras Com isso teremos um rejuvenescimento das seringueiras além de uma renda maior pela colheita de todos os frutos plantados abaixo dela O que geralmente acontece é que nos cultivos convencionais em monocultura temos um estresse provocado nas plantas por vários fatores plantas como café são do estrato baixo assim é fundamental termos os outros estratos acima dele para evitarmos o estresse das plantas Podese achar que café a pleno sol produza mais mas ele vai muito bem sob a copa dos estratos superiores o problema de plantálo solteiro é que estamos atrelados ao uso excessivo de insumos externos pois o cultivo solteiro não tem quem alimente o café não há poda dos estratos superiores não há formação de serrapilheira que provoca um aumento do húmus no solo trazendo maior fertilildade maior acúmulo de água no solo resistência a doenças Citamos café mas poderia ser plantas cultivadas de qualquer estrato como laranja nóz pecã pêssego maçã manga banana etc Nas entrelinhas dos cultivos muitas vezes dominam gramíneas ou ervas que florescem rápido como braquiária e que se mal manejadas não podadas no tempo certo amadurecem e provocam uma frenagem no crescimento das árvores e na captação de água da atmosfera por parte das micorrizas A partir do momento que entendemos isso buscamos colonizar as entrelinhas com um capim que não seja do mesmo estrato das árvores cultivadas por exemplo em um plantio de laranja estrato médio plantamos mombaça que é estrato baixo e não capim elefante que é estrato alto o qual entraria em conflito com a laranja e daria uma bagunça quando podado pois rebrota facilmente e iria ocupar a linha das árvores dificultando o manejo Muitas vezes só conseguimos realizar uma transição dos cultivos arbóreos em monocultura já instalados para a agricultura sintrópica se as árvores aceitarem podas pois as podas permitirão sincronizar a brotação vigorosa das árvores já instaladas com a brotação das mudas introduzidas As vezes essa poda significa um corte raso Outro exemplo podemos citar o côco emergente Ernst Gotsch realizou um trabalho em 2017 para a empresa Ducoco onde recomendou a substituição das ervas das entrelinhas por um capim cespitoso resistente a seca green panicum recomendando também introduzir nas entrelinhas 9m de largura filas alternadas de caju e neem 47 estrato alto 45m x 1m intercalando com o plantio da mandioca O caju como estrato alto não briga com o côco e ainda vai produzir frutos e castanhas O neem será utilizado para poda adubando as linhas de côco e capim Talvez a regra seja ao nos depararmos com um cultivo perene em monocultura nos perguntar é possível dinamizar esse cultivo que plantas posso introduzir para cobrir melhor o solo e ocupar se possível todos os estratos é possível fazer isso mecanizado Bordas devem ser trabalhadas a altura da árvore deitada define o seu destino se podamos cortamos ou deixamos Muitas vezes ao concluir um plantio em um dos lados do campo temos uma mata ou uma plantação de eucalipto pinus etc Para evitarmos uma influência negativa sobre nossos cultivos temos que obrigatoriamente manejar essas árvores realizando uma poda da borda para dentro da mata retirando a influência negativa de um estrato fora de sincronia com o nosso campo o que causaria uma depressão no crescimento das plantas Essa influência negativa sobre o campo corresponde ao comprimento da árvores deitada Assim podemos fazer uma poda em bisel e transferir todo material podado para nosso campo adubandoo Lembrando que é muito mais prejudicial ao nosso plantio não ser banhado pela luz do Sol nascente do que pela luz do Sol poente Princípio 8 O que cada ser esta fazendo de bom A parte visível da natureza ao ser humano é infinitamente menor que a parte não visível porém na maior parte dos casos os seres humanos não tem a capacidade de olhar além do aspecto material físico Somos incapazes de ver o que acontece no solo quais as relações que se estabelecem entre as plantas entre a microfauna e flora Dificilmente conseguimos observar os animais se não usarmos técnicas de camuflagem esconderijos se isso não bastasse existe ainda um mundo desconhecido ao nível de energia empatia Rupert Shaldrake provou por meio de dezenas de experimentos que os animais são sensíveis a campos de conhecimento inacessíveis à maior parte dos seres humanos É fato comum que os animais detectam um tsunami antes dele acontecer No livro Os cães sabem quando seus donos estão chegando Shaldrake mostra a capacidade dos animais de detectarem o pensamento do dono a milhares de quilômetros de distância os animais tem a capacidade de acessar regiões sutis que o autor chamou de campos morfogenéticos A boa notícia é que podemos desenvolver essa capacidade com as plantas quando trabalhamos mergulhados na natureza vamos nos tornando uno com ela Ernst propõe então que sempre que chegamos a um lugar e encontramos animais trabalhando o que muitos chamam de pragas devemos perguntar seja para formigas cupins insetos etc O que vocês estão fazendo de bom e antes da cada intervenção poda manejo etc perguntar o que posso fazer para otimizar os processos de vida e trazer mais vida a esse lugar Ser um ser querido neste lugar Fazendo essas perguntas nos colocamos receptivos às respostas da natureza 48 Na Natureza tudo está em equilíbrio Atualmente a cultura do Feijoeiro sob manejo convencional não vem suportando toda gama de agrotóxicos para combater as doenças e pragas que surgem O manejo intensivo da cultura do feijoeiro principalmente sob sistema de produção irrigada incrementou a alta demanda pelo pacote tecnológico de produção de preparo de solo seleção de variedades adubação e manejos de controle de pragas e doenças e na colheita do grão O uso de alta carga química em forma de fertilizantes e agrotóxicos num solo de cerrado vulnerável à produção intensiva interferiu negativamente Além disso quebrou o equilíbrio ecológico dos organismos dos ciclos biológicos e da relação harmônica das comunidades criando uma dinâmica populacional restrita de pragas e doenças resultando em problemas que limitam a produção do feijoeiro O número médio de pulverização de inseticidas e acaricidas é de 148 aplicações além de 92 para o controle de doenças em sistemas irrigados No sistema sequeiro são 173 menores os usos de agrotóxicos mas a sua produtividade média é 216 menor que a irrigada Podese observar que números exagerados de aplicações realizadas para o controle não estão tendo a devida eficiência e as perdas começam a se tornar evidentes o que resulta em vulnerabilidade inúmeras doenças de solo como principalmente o mofobranco a podridãoradicularde Rhizoctonia a murchadefusário e a podridãocinzentadocaule Na natureza é comum encontrar uma gama de diversidade microbiológica em fluxo cadeias e redes de desenvolvimento e relacionamento dinâmico das populações Sabese que dentro dessa biodiversidade menos de 006 são organismos fitopatógenos do feijoeiro em relação ao mundo microbiológico httpedcentauruscombragranjaedicao749materia3649 Quando adotamos a agricultura sintrópica restabelecemos a biocenose do solo a comunidade de microorganismos somente ela em equilíbrio pode trazer de volta a saúde de nossos cultivos A pesquisa do Fitopatologista Celso Tomita demonstrada acima prova que é possível abandonar por completo os agrotóxicos reativando a vida no solo Conclusão Para termos sucesso na implantação e manejo de nossas agroflorestas dois pontos são fundamentais 1 Conhecer profundamente todos os princípios da agricultura sintrópica 2 Conhecer as necessidades e características de todas as plantas cultivadas que crescem bem em nossa região juntamente com todas as plantas nativas e exóticas que vão bem no nosso lugar o que significa que devemos saber lugar de origem nome popular e científico resistência a poda estrato que a espécie ocupa na mata presença ou não de folhas caducas arquitetura da copa época de floração e frutificação utilidades para o ser humano tipo de sistema radicular velocidade de crescimento qualidades da semente presença de dormência semente recalcitrante ou ortodoxa etc se a espécie ocorre naturalmente em terra boa ou fraca tipo de solo argiloso arenoso misto tipo de relevo no qual mais ocorre baixada cabeceira de nascente boqueirão topo de morro etc ciclo de vida da espécie placenta secundária I II ou primária Esse conhecimento implica a valorização e resgate do saber local e tradicional o qual é base importante para o sucesso da agrofloresta Com esse olhar 49 sintrópico do mundo não há dúvidas que estaremos aptos a construir agroflorestas semelhantes em sua forma e função às florestas originais do nosso lugar Nosso cérebro assim como a natureza apresentase como uma rede e as pesquisas atuais demonstram que até mesmo nosso DNA não é linear a manifestação dos genes depende mais de uma rede epigenética e metabolismo da célula para se manifestarem do que do próprio DNA portanto com estas informações em nosso sangue facilmente estabeleceremos as conexões entre espécies necessárias quando nos depararmos com a necessidade de construir agroflorestas em qualquer lugar do planeta que já foi floresta um dia APÊNDICE I Espécies indicadoras Na relação que se segue estão algumas plantas mais comuns e as indicações que elas fornecem Nessa relação após o nome vulgar o nome científico e o tipo de solo onde é mais frequente o seu aparecimento Os tipo de solo ficam designados pelas seguintes abreviaturas A terra agrícola AP terra agrícola deixada para formação de pasto P pasto C cerrado Modificado de Guia Rural Abril 1986 Amedoim bravo Euphorbia heterophylla A leiteira invade campos de soja indica solos onde há desequilíbrio do nitrogênio com micronutrientes e em especial com molibdênio e cobre Ariri Cocos vagans P Aparece em solos muito queimados Assa peixe Vernonia spp P Indica solos de cerrado secos e com lajes Bacuri Platonia insignis C Palmeira do Cerrado Indica solso férteis tanto física como quimicamente Barba de bode Aristida pallens C Capim típico de paisagem com fogo Indica pobreza de fósforo de cálcio e potássio Recém brotado o gado aceita Banindose o fogo pode dar lugar a outras forragens Beldroega Portulaca oleracea e outras Recurso de pastagem na seca NE Aparece nos solos melhores protege o solo Berneira ou Maria mole Senecio brasiliensis P Indica solos pastagens com uma camada adensada entre 40 e 120 cm de profundidade 50 Capim amargoso ou capim açu Digitaria insularia ou Trichachne insularis A P Surge em lavouras anabandonadas e em pastagens nas manchas úmidas onde a água estagna após a chuva Nunca indica solos com boa produtividade Capim amoroso ou capim carrapicho Cenchrus echinatus A P Indica campos agrícolas muito decaídos erodidos e adensados Surge também em pastagens onde o pisoteio foi intenso em época adversa Afofado o solo desaparece Capim arroz ou capim capivara Echinochloa crusgalli A Frequente em campos de arroz irrigado Indica a formação de um horizonte de redução rico em substâncias tóxicas logo abaixo da superfície do solo Eliminandose o horizonte de redução por drenagem o capim não mais germina Cabelo de porco Carex sp A P Aparece em solos muito compactados e anaeróbicos com um nível de cálcio irrisório Altamente beneficiado pelas queimadas Capim cabeludo Trachypogon spp Típico de paisagem de fogo sem queimadas regride Capim caninha ou capim colorado Andropogon incanis P Surge em solos temporariamente encharcados e periodicamente queimados RS Indica deficiência aguda de fósforo Adubado com fosfato tornase forrageira boa Em pastejo rotativo tende a desaparecer Capim favorito capim gafanhoto ou capim natal Rhynchlytrum roseum Indicação de solos muito secos decaídos Capim marmelada ou capim papua Brachiaria plantaginea A Surge só em terra arada ou gradeada Boa forrageira Indica solos em decadência Capim rabo de burro Andropogon bicornis e outros A P Indica solos muito ácidos com baixo teor de cálcio e uma camada impermeável entre 60 e 120 cm de profundidade Rompida a laje subterrânea desaparece Capim rabo de raposa Setaria geniculata P A Indica solos pobres Faz pouca massa verde e floresce cedo Durante a seca pode ser um recurso forrageiro Típico de beiras de estradas onde a compactação é maior Caraguatá ou gravatá Eryngium ciliatum Bromeliacea típica de pastos com húmus ácido Carquejas Baccharis spp P Preferem terrenos que na estação das chuvas estagnam águas do subsolo até a superfície mas que na época de estiagem são muito seco Dependem da pobreza do solo em molibdênio 51 Chirca Eupatorium spp P Indica boas condições para o gado e só aparece em solos ricos em molibdênio e nos quais onde haja o manejo rotativo das pastagens Cravo branco ou erva fedorenta Tagetes erecta e T minuta b A Assentamse em grande quantidade nos solos infestados por nematoides Dente de leão Taraxacum officinale P Surge em pastagens S indicando a presença de boro no solo O gado o aprecia como aperitivoAs folhas novas são comestíveis para o ser humano Fazendeiro ou picão branco Galinsoga parviflora A Surge em solos com excesso de nitrogênio mas deficientes em micronutrientes Aparentemente é beneficiado pela deficiência de cobre Feto de gaiola ou samambaia das taperas Pteridium aquilinum Indica solos ácidos e encharcados Grama seda do burro paulista ou bermuda Grass Cynodon dactylon A P Indica solos muito compactados muito pisoteados O solo onde aparece é bem mais rico do que aquele onde cresce o amoroso mas é menos compactado Guaxuma malva ou vassourinha Sida spp Indica onde o subsolo é adensado ou onde o solo superficial foi lavado pela erosão Indicadora de laje mais o menos grossa que restringe o crescimento radicular em geral mas que a guanxuma consegue vencer Aparece por efeito da aração profunda demais de pisoteio de gadoou de movimentação excessiva de máquinas Leguminosas em geral Papilonaceae Cassia Mimosoideae indicam no solo presença de fósforo que elas aumentam Faltando potássio são dominadas por capins Faltando cálcio são atacadas pelas cochonilhas como o guandu e suas sementes são facilmente parasitadas por brocas Mentrasto Ageratum conyzoides A Indica o melhoramento físico do solo Mio mio Bacharis coridifolia P Surge apenas em solos rasos Indica sobretudo deficiência de molibdênio no solo Em campos tomados pelo mio mio quando queimados este desaparece pois suas cinzas contém tanto molibdênio que lhe tiram a capacidade de crescer Nabisco ou nabo bravo Raphanus raphanistrum A Indicadora de carência de boro e de manganês 52 Pinhá ou pinhão manso Jatropha curcas Indica solos adensados pelo uso do fogo e pela exposição ao impacto das chuvas solos que alternam erosão e enchentes com secas samanbaia da taperas Pteridium aquilinum CPA Indica sempre níveis elevados de alumínio Sapé macho mãe de sapé ou erva lanceta Solidago microglossis A Indica solos muito ácidos com pH entre 45 e 52 Sapé Imperata exatalta A P Capim ácido rico em alumínio indica um pH entre 40 e 45 Tiririca ou capim dandá Cyperus rotundus A Indica solos muito ácidos adensados e temporariamente encharcados ou anaeróbicos pela perda de macroporos Viceja em geral também em que há deficiência de magnésio APÊNDICE II ERNST GÖTSCH estabelece os seguintes critérios para medirmos a sustentabilidade de um SISTEMA AGROFLORESTAL DIRIGIDO PELA SUCESSÃO NATURAL Workshop ministrado por Ernst Götsch Alto Beni Bolívia 2001 Solo Porcentagem da superfície do solo coberta por matéria orgânica Composição do material da cobertura quanto maior é a fração lignificada eou coriácea melhor Espessura da cobertura Atividade da microflora e microfauna Vegetação Cobertura vegetal Vigor e saúde da vegetação Estratificação do consórcio dominante Desenvolvimento complexidade e distribuição individual de cada espécie Complexidade saúde vigor e desenvolvimento dos consórcios que chegarão a dominar no sistema do qual o consórcio dominante é faz parte ou no caso em que este último foi dominado por espécies primárias vigor regenerativo do mesmo sistema Capacidade do sistema para aumentar por sua autodinâmica a qualidade e quantidade de vida consolidada tanto no sublugar em que se encontra como no Planeta Terra por inteiro Impacto ecológico Proximidade do agroecossistema ao ecossistema natural e original do lugar quanto ao seu modo de funcionar ecofisiologicamente e quanto a sua dinâmica e seu impacto no macroorganismo Planeta Terra por inteiro Impacto do uso de insumos considerando toda a corrente desde sua produção até os impactos diretos e indiretos provocados pelo seu uso Econômico 53 Custobenefício quanto a requerimentos de mão de obra para sua implementação e manutenção este último a curto médio e longo prazo Uso de insumos Custobenefício considerando por inteiro os impactos causados pelo sistema em relação ao desenvolvimento dos recursos do Planeta solo biodiversidade água potável hidrocarbonetos petróleo etc atmosfera etc Incluindo os custos causados pelos impactos originados pela produção transporte e comércio dos insumos Social Distribuição de requerimento de uso de mão de obra durante o ano Acessibilidade dependência do uso de alta tecnologia e outras inversões para sua implementação Dependência de fatores externos crédito mercado etc Diante de tais complexidades a implantação de Sistemas agroflorestais Dirigidos pela Sucessão Natural dependem em grande parte de Um instrumento didático eficaz para que o agricultor entenda todos os princípios envolvidos na implantação e manutenção de uma agrofloresta sucessional Disponibilidade de mãodeobra Acesso do agricultor ao seu principal meio de produção que é a terra
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1 Princípios de Agricultura Sintrópica segundo Ernst Götsch José Fernando dos Santos Rebello 2018 2 Foto Felipe Pasini Foto da capa Castanheira Bertholletia excelsa de 16 anos de idade plantada por Ernst em sua fazenda na Bahia graças ao manejo sintrópico o diâmetro a altura do peito não deve em nada a um eucalipto de mesma idade Uma castanheira pode crescer tanto quanto um eucalipto depois da fase inicial de rápido crescimento deste com a vantagem de produzir uma madeira de excelente qualidade e frutos de alto valor biológico 3 Prefácio Assim eu ouvi Conheci Ernst Götsch em 1994 quando ainda era estudante de agronomia sua palestra na Universidade foi tão impactante para mim que pouco tempo depois eu e mais alguns amigos estávamos na sua fazenda para conhecer de perto a grande transformação que ele vinha realizando naquelas terras Seu conhecimento de como a natureza funciona é tão profundo que até hoje sempre que o encontro tenho a sensação de estar ainda na primeira aula Este livro foi escrito por pessoas apaixonadas pela natureza apaixonadas pelo Planeta Terra e que acreditam que vale a pena buscar fazer o melhor para cuidar dele mesmo que não vejam o resultado Baseiase inteiramente nos ensinamentos de Ernst Götsch A necessidade urgente de divulgar um sistema de produção que ao mesmo tempo produz toneladas de alimentos saudáveis e saborosos recupera áreas degradadas devolve as águas a nascentes perdidas e traz de volta nossas florestas nos empurrou para essa empreitada Está longe de ser um guia definitivo sobre agricultura sintrópica pois o conhecimento sobre essa agricultura é tão dinâmico quanto as agroflorestas construídas por Ernst Götsch Não queremos também que o papel congele os conceitos pois a cada dia seu criador aperfeiçoa os métodos e a interpretação de como a natureza funciona O conhecimento assim como a vida carrega essa impermanência temos que estar com o espírito aberto e desarmados para entender que a vida não é estática ela é dinâmica e impermanente Também não temos qualquer objetivo comercial por isso estamos disponibilizando o livro na rede internacional de computadores internet Assim fica fácil também de corrigirmos os erros pois o ouvir verdadeiro implica uma concentração enorme o que confessamos nem sempre conseguimos Se acertamos não temos dúvidas os louros cabem ao nosso Mestre se erramos na interpretação dos conceitos foi assim que ouvimos Se a humanidade conseguir criar sistemas de produção de alimentos realmente sustentáveis superando os obstáculos criados por ela própria não tenho dúvidas que esse caminho encontrará em algum momento a agricultura sintrópica criada por Ernst Götsch Todas as imagens gráficos e desenhos são cópias dos desenhos originais propostos por Ernst Götsch em muitas aulas assistidas nos últimos 23 anos e que sempre estão mudando em um aprimoramento constante da arte de colher o Sol 4 Agradecimentos A Ernst Götsch por estar presente no tempo de minha existência a Cimara Renate a meu irmão Antonio a minha família Dani Cora Zé Pedro e Bernardo Agenda Gotsch Namastê Henrique Fabiana Peneireiro Ursula Juã Romulo Patricia Vaz Karen Ranzi Rodrigo e Denise Gudrum Craig e Neil Marcio Armando Sofia Augusto Carvalho Thiago alunos do curso de longa duração da Agenda Gotsch e todos agrofloresteiros de todas etnias do planeta minha eterna gratidão Um agradecimento realmente especial e profundo a Pedro Paulo Diniz por seu pioneirismo na agricultura sintrópica em larga escala e Felipe Dayana e Edmara Barbosa que conseguiram com sua incrível habilidade e domínio da magia do cinema divulgar a agricultura sintrópica na novela das nove e aos quatro ventos minha eterna gratidão O tempo de agir chegou 5 ÍNDICE O que é Sintropia PRINCÍPIOS 1 Maximizar a fotossíntese 2 Sucessão natural sistemas de colonização acumulação e abundância 3 solo coberto plantando em alta densidade 4 capina seletiva e poda 5 concentrar energia gerar biomassa de forma eficiente Aglutinar recursos linhas ou ilhas A proposta determina o design 6 Ecofisiologia das plantas e função ecofisiologica das plantas 7 Sincronizar os plantios Cultivos estabelecidos a transição para a agricultura sintrópica As bordas devem ser trabalhadas 8 O que cada ser esta fazendo de bom Apêndice Plantas indicadoras Critérios de sustentabilidade dos Sistemas Agroflorestais 6 O QUE É SINTROPIA A grande contribuição que Ernst Götsch nos dá é ter desvendado e ter realizado uma sistematização dos princípios por meio dos quais a natureza trabalha Ernst nos proporciona uma alfabetização ecológica como diz Fritjof Capra a compreensão dos princípios de organização que os ecossistemas desenvolveram para sustentar a vida o caminho para a sustentabilidade A sintropia ao contrário da entropia vai do simples para o complexo As tabelas 1 e 2 extraídas do livro a Teia da vida de Fritjof Capra nos dão uma idéia precisa da capacidade da vida no planeta de manter a estabilidade desse macroorganismo conhecido como Terra realizando suas funções adequadamente para o equilibrio dele próprio função conhecida na fisiologia animal como homeostase Graças ao surgimento da vida há 35 bilhões de anos e por meio da sintropia a vida foi complexificando a energia vinda do Sol nas mais diferentes formas de vida transformandoa e armazenandoa formando assim uma complexa rede viva Há milhares de anos os seres humanos vem causando distúrbios em muitos lugares do planeta onde não atingimos os limites aceitáveis de perturbação essa rede voltou a estabelecer suas conexões a vida voltou a florescer como a regeneração de um pequeno corte em nossa pele porém onde ultrapassamos essa capacidade de regeneração é como se tivéssemos amputado uma perna um braço a natureza por si não conseguiu nessa escala de tempo voltar à estabilidade anterior assim desapareceram civilizações inteiras e surgiram enormes desertos Dessa forma entendendo que a vida no planeta é regida pelos princípios sintrópicos usandoos podemos devolver a vida a áreas degradadas e transformar desertos em florestas novamente Os princípios propostos por Ernst Götsch são colocados aqui em uma sequência apenas para facilitar a leitura porém eles não estão em uma hierarquia de importância todos são fundamentais e devem ocorrer sempre ao mesmo tempo para o sucesso das agroflorestas A melhor descrição seria a de uma rede todos estão interconectados Quando implantamos uma agrofloresta a ausência de qualquer princípio enfraquece essa rede seria como um buraco por onde pode escapar a energia que complexifica a vida assim a energia que poderia ser armazenada em nosso sistema é perdida e isso refletese na qualidade de nossas agroflorestas o surgimento de ervas de ciclo curto plantas invasoras de sistemas de sucessão anteriores ausência de estratos plantas envelhecidas doenças explosão de insetos baixa produção são apenas os sintomas da não aplicação completa de todos os princípios Por isso muitas vezes para entender um princípio fazemos referência a outro pois estão todos interconectados quase que fundidos em uma amálgama 7 PRINCÍPIOS Princípio 1 Maximizar a fotossíntese Quanto mais fotossíntese mais vigoroso o sistema A fotossíntese acontece não apenas com água que vem do solo as plantas bebem água da atmosfera também A maximização da fotossíntese por meio do plantio em alta densidade e em estratos permite tornar o sistema verde escuro e mais frio Se realmente entendermos a fotossíntese na profundidade que ela requer seremos capazes de construir as mais belas e produtivas agroflorestas Há muito tempo conhecemos a equação da fotossíntese Água CO2 LUZ Glicose O2 A glicose sintetizada durante a fotossíntese é a precursora dos carboidratos característicos das plantas a sacarose o amido e a celulose que não são sintetizados pelos animais sendo a celulose o polissacarídeo mais abundante na Natureza Quantidades enormes de celulose são produzidas anualmente pelo reino vegetal não apenas nas florestas em crescimento mas também pelas plantações destinadas à colheita Estimase que todos os dias os vegetais sintetizem 50 kg de celulose para cada ser humano existente no planeta Lehninger 1989 o que nos cálculos de hoje daria 350 bilhões de kg de celulose produzidos por dia A partir da glicose produzida na fotossíntese as plantas formam inúmeros outros açúcares como maltose sacarose frutose manose ribose arabinose xilose e outros Os carboidratos são o sustento da vida para muitos organismos e representam a maior parte da ingestão calórica do ser humano da maioria dos animais e também direta ou indiretamente da maioria dos microorganismos Os carboidratos também ocupam posição central no metabolismo das plantas verdes e de outros organismos fotossintetizantes As vastas quantidades de amido e outros carboidratos produzidos pela fotossíntese são a fonte última de energia de animais plantas e micróbios Assim compreendemos a importância fundamental da fotossíntese como a fonte primária de alimento para a maior parte dos seres vivos deste planeta e principalmente a base da fertilidade de nossos solos pois alimentando a comunidade de microorganismos do solo com carbono advindo da fotossíntese estaremos criando um círculo virtuoso onde mais fertilidade produz mais biomassa mais folhas mais clorofila mais fotossíntese mais alimento para o solo mas vida no solo maior fertilidade maior equilíbrio da biocenose mais saúde nas plantas Olhando esse circulo virtuoso compreendemos a importância de plantar em estratos aproveitando ao máximo toda energia luminosa do Sol fazendo com que cada estrato sempre tenha o máximo de biomassa jovem E quando conectamos isso com a sucessão natural das plantas acelerada por meio das 8 podas atingimos o ápice desta tecnologia a tecnologia natural criada pelo próprio planeta a maximização da fotossíntese Estamos por exemplo buscando maximizar a fotossíntese em um plantio convencional de milho zea mays como na imagem 1 Imagem 1 Plantio convencional de milho Fonte httpwwwfolhadooestecombrcidades 04112015 Hoje o número de plantas de milho por hectare pode chegar a 90000 plantasha buscamos ocupar cada centímetro quadrado da plantação com folhas verdes para captar a luz do sol refletindo uma maior produção de grãos O pico desta ocupação no entanto só acontece durante pouco tempo no período de um ano e além disso a custos altos com o uso de insumos externos e biologicamente opressivos provocando a exclusão de outras formas de vida que não seja o nosso monocultivo Para termos sucesso na construção de uma agricultura realmente sustentável e que dispensa o uso de agroquímicos todos os princípios tem que estar acontecendo simultaneamente Caso contrário podemos ter uma alta produção de grãos porém altamente dependente de combustíveis fósseis e do uso intensivo de pesticidas fungicidas nematicidas inseticidas herbicidas plantas transgênicas e adubos químicos ou orgânicos com um enorme prejuízo ao solo destruição de nascentes córregos e rios florestas e biodiversidade perda inimaginável de solo fértil esterilização da vida do solo compactação erosão etc os quais hoje não são considerados na contabilidade e preço final do produto esses fatores são considerados pelos economistas apenas como externalidades da atividade Maximizar a fotossíntese está intimamente relacionado com 9 1 Plantar em alta densidade 2 Arranjos estratificados 3 Arranjos girados impulsionados pela dinâmica da sucessão natural Por exemplo nos plantios convencionais de fruticultura ou para recuperação de áreas degradadas plantase uma árvore a cada 2 ou 3m há uma enormidade de nichos espaços vazios que não são ocupados o que por sua vez resulta em uma forte pressão por parte de ervas invasoras e gramíneas o que demanda um enorme trabalho de manutenção nos primeiros dois anos para evitar o sufocamento das mudas de árvores plantadas Na agricultura sintrópica buscase ocupar cada um dos nichos em sua plenitude ou seja ocupar cada nicho com o maior número de indivíduos das espécies mais eficientes para cada uma das tarefas permitindo ocupar todo espaço em cada um dos estratos temporalmente não ocupados pelos nossos cultivos principais utilizandose diversas espécies de plantas de vários estratos e ciclos de vida pois as árvores muitas vezes na sua maioria plantadas de sementes levam tempo para ocupar ou sombrear seu lugar enquanto isso por meio do plantio adensado e posterior poda e raleamento estamos complexificando a energia que vem do sol e transformandoa em mais vida para o sistema mais vida acima do solo maior número de plantas por hectare e mais vida abaixo do solo com maior quantidade de raízes e maior formação de serrapilheira Por exemplo ao invés de matar o capim com herbicidas nas entrelinhas de nossos cultivos de frutas como manga Mangifera indica laranja Citrus sp banana Musa paradisíaca café Coffea arabica etc plantamos capim nas entrelinhas e cortamos com ferramentas bem afiadas ceifadeiras as quais automaticamente deslocam o capim para a faixa de árvores e assim alimentam a vida no solo A gramínea sendo cortada se possível com gilete sofre um corte limpo e rebrota com muito mais vigor essa informação de crescimento vigoroso é transmitida para nossos cultivos e tudo cresce mais rápido estamos no fluxo da vida o capim é a nossa fábrica de NPK Pela imagem abaixo podemos ver o potencial da agricultura sintrópica O café como planta naturalmente do estrato baixo é protegido pela jaqueira Artocarpus heterophyllus e outras árvores temos luz suficiente para a produção abundante veja o principio estratificação 10 Imagem 1 Trabalho de Ernst Götsch realizado no Sítio Semente Brasília DF A agricultura convencional ou orgânica geralmente trabalha em duas dimensões comprimento e largura ou seja apenas atentamos para o espaçamento bidimensional seja para o plantio de soja Glycine max laranja café cana de açúcar Saccharum officinarum capim etc A agricultura sintrópica trabalha com quatro dimensões largura comprimento altura estrato ou andar e tempo Assim buscamos oferecer a cada planta um nicho que potencializa sua fotossíntese e diminui seu estresse olhamos para cada indivíduo e buscamos criar para ele uma bolha de conforto observamos se há cobertura do solo suficiente para ativar os processos biológicos no solo a qualidade dessa cobertura observamos de qual estrato a planta faz parte e se está no consórcio adequado ou seja se a planta é do estrato baixo temos os outros estratos acima dela médio alto e emergente a qualidade desses estratos acima dela são formados por espécies do ciclo atual ou do futuro pois a sucessão caminha para sistemas de abundância Por exemplo quando temos uma mandioca Manihot esculenta crescendo embaixo de um eucalipto Eucaliptus sp novo que foi plantado junto e simultaneamente com ela a partir de 4 a 6 meses o eucalipto ultrapassa a mandioca na sua altura não necessariamente temos que podar toda a saia do eucalipto mas retirar apenas os galhos que sobrepõem aquele estrato ocupado pela mandioca e calibrar a sombra com podas assim galhos que estão na mesma altura da mandioca mas não se sobrepõem a sua copa não precisam necessariamente sair criamos para cada individuo ótimas condições ou melhor uma bolha de vida permitindo que essas bolhas convivam harmonicamente podandose somente o necessário Além de observarmos se não há plantas envelhecidas e doentes próximas pois estas sempre transmitem uma informação de senescência ao sistema como um todo Quando dizemos às pessoas que plantamos eucalipto junto com capim hortaliças bananas frutíferas muitas pessoas se assustam pois logo vem à mente a imagem 3 11 o eucalipto plantado em monocultura O maior incêndio da história do Chile ocorreu em 2017 queimando mais de 600000 hectares de florestas nativas e plantadas campos povoados inteiros Um dos motivos foi a grande quantidade de florestas plantadas em monocultura as quais se tornam pirófilas amigas do fogo sem a dinâmica gerada pelo manejo das agroflorestas sucessionais Figura 2 monocultura de eucalipto susceptível ao fogo em virtude de ser mais seca que uma floresta ou agrofloresta com vários estratos Goiás Brasil As imagem 4 e 5 nos apresentam um plantio de eucalipto com um pouco mais de dinâmica permitindo o cultivo de capim nas entrelinhas mas ainda sem a dinâmica das podas Figura 3 Plantio de eucalipto em filas duplas Goiás Brasil 12 Figura 4 Plantio de eucalipto em filas duplas 20m x 3x2m Goiás Brasil A imagem 6 nos dá uma noção do princípio maximizar a fotossíntese Na linha das árvores temos eucalipto como estrato emergente e abaixo citrus e banana como estrato médio todos plantados muito próximos nas entrelinhas capim mombaça Panicum maximum como estrato baixo Muitos questionamentos se fazem com relação ao eucalipto que este seca a terra produz alelopatia inibe o crescimento de outras plantas todos estes defeitos decorrem das monoculturas de eucalipto No contexto da agricultura sintrópica o eucalipto entra como mais um aliado sendo destopado a uma altura de 5m periodicamente fornecendo grande quantidade de biomassa acelerando o crescimento de todo o sistema com seu rebrote vigoroso e fornecendo excelente madeira após 15 anos O destopamento do eucalipto e trituração mecanizada alimenta fortemente todo o sistema linhas e entrelinhas além de gerar uma madeira mais densa e que não empena A banana também é um excelente produtor de biomassa dizem os agrofloresteiros que é tão boa que produz até banana aqui também é fortemente podada alimentando a linha de árvores As entrelinhas com capim mombaça são roçadas periodicamente onde parte do material é deixado na própria entrelinha para alimentar o solo e o próprio capim e parte é depositado nas linhas alimentando as árvores 13 Figura 5 Agrofloresta idealizada por Ernst Götsch na Fazenda Toca Itirapina São Paulo Figura 6 Crescimento vigoroso do capim mombaça nas entre linhas SAF desenvolvido por Ernst Gotsch Fazenda Toca Itirapina São Paulo O capim é podado várias vezes por ano apresentando um crescimento vigoroso Nunca deixamos o capim amadurecer e produzir sementes isso frearia seu crescimento e consequentemente o crescimento de todo o sistema Imagens 6 e 7 14 A quarta dimensão é o tempo graças a ele podemos plantar em alta densidade pois cada planta tem um tempo de desenvolvimento característico de sua espécie Podemos assim iniciar o plantio de hortaliças no mesmo espaço que plantamos árvores ou capim mombaça por exemplo pois em poucos meses as hortaliças se despedem em seguida se estabelecem plantas da placenta 2 veja os princípios sucessão natural e estratificação que depois de dois anos se despedem e passam a dominar o sistema árvores de crescimento rápido que depois de poucos anos são substituidas por árvores mais longevas e as próprias árvores também plantamos em alta densidade e estas com o tempo vão sendo podadas e raleadas até atingirem o espaçamento final ou serem substituídas por outras placenta I e II secundárias I e II Clímax Princípio 2 Sucessão natural e estratificação O segundo princípio diz respeito à sucessão natural das espécies em nossa agrofloresta Este princípio está intimamente associado com a estratificação da floresta Por mais de 40 anos Ernst Götsch estudou as florestas e sua dinâmica e conseguiu sistematizar um dos mais importantes princípios que é a estratificação Cada indivíduo quando chega a sua fase adulta atinge um tamanho característico de sua espécie por exemplo quando ele está no topo da floresta chamamos de emergente são aquelas árvores que estão acima da floresta que se sobressaem como por exemplo na Amazônia temos a castanheira Bertholletia excelsa a samaúma Ceiba pentandra o piquiá Caryocar villosum o dandá Joannesia princeps na Mata Atlântica temos o jequitibá Cariniana legalis no nordeste o côco da praia Cocos nucifera no sul a araucária Araucaria angustifolia e muitas outras espécies Ernst conseguiu identificar 11 estratos ou andares Figura 9 os quais ocorrem em praticamente todos os biomas do Planeta Terra com exceção das regiões próximas aos polos Porém para ficar mais fácil o entendimento ele resume em cinco estratos essa dinâmica da floresta e cada estrato tem a sua porcentagem de sombra que sua copa deve ocupar no andar correspondente figura 10 FIGURA 9 11 estratos andares Emergente Altoconvexo Altoneutro Altocôncavo Médioalto Médio Médiobaixo 15 Baixomédio Baixo Rasteirobaixo Rasteiro Não necessariamente estão sempre todos presentes Figura 7 Estratificação da floresta e porcentual de sombra de cada estrato Essa porcentagem de sombra de cada estrato permite que a luz chegue até o chão da floresta onde ainda temos o estrato rasteiro Ernst salienta porém que mais importante que a porcentagem de sombra adequada em cada estrato é a dinâmica que damos a essa sombra se a copa das árvores está envelhecida de nada adianta essa porcentagem correta de sombra em cada estrato A estratificação acontece desde o início da agrofloresta quando podemos começar com hortaliças As hortaliças são a placenta do sistema ou seja protegem e criam nosso embrião a floresta do futuro 16 O gráfico abaixo foi elaborado por Ernst Götsch e demonstra a evolução da agrofloresta por meio da sucessão das espécies Cada cor indica uma fitofisionomia ou seja a paisagem de espécies dominantes a pele da agrofloresta no início temos a placenta 1 e 2 ou seja o que se destaca são as hortaliças os tubérculos feijão mandioca abacaxi mamão mas já dentro desse sistema temos as plântulas das árvores do futuro crescendo incluindo sementes e plântulas de árvores de todos os estratos e ciclos de vida Se no momento do plantio não temos sementes de algumas espécies do futuro como cacau Theobroma cação jequitibá se quisermos inserilas no futuro em algum momento teremos que fazer uma poda mais drástica produzindo uma clareira e introduzindo essas espécies de sementes ou mudas 17 O gráfico acima complementa o gráfico da página anterior está dividido em três partes sistema de colonização sistema de acumulação e sistema de abundância Os círculos coloridos da página anterior se repetem dezenas de vezes entre cada linha tracejada cada linha tracejada pode durar 200 300 anos Em cada mudança de fase temos uma espécie mais exigente em fertilidade substituindo espécies menos exigentes Sistema de colonização Característico de locais onde a vida se inicia como próximo a vulcões Com o esfriamento da lava ocorrem as primeiras formas de vida como fungos bactérias algas musgos e liquens Este sistema ocorre também em taludes de estradas voçorocas onde todo o solo foi removido expondo o subsolo 18 Ohia Metrosideros polymorpha Myrtacea colonizando um campo de lava erupção de 1960 ao sul de Kona Hawai Sistema de acumulação Quando destruímos uma floresta primária com fogo e por alguns anos cultivamos esse lugar o solo vai empobrecendo perdemos carbono a terra se torna ácida o fósforo é fixado o alumínio se torna biodisponível e tóxico para as raízes de muitas plantas Neste lugar agora crescem somente plantas do sistema de acumulação são plantas que tem uma relação carbononitrogênio mais alta as folhas são mais coriáceas quase não há frutos para mamíferos de porte grande muitas áreas degradadas apresentam se nesse estágio Se o sistema ainda não perdeu completamente sua resiliência a natureza pode levar muitos anos dependendo do bioma para estabelecer as primeiras plantas do sistema de abundância isso pode acontecer em 10 anos ou em 100 200 anos dependendo de quão profunda foi a destruição Hoje em nosso país temos milhares de hectares onde o ecossistema perdeu completamente sua resiliência como na imagem 10 onde temos feto de gaiola Pteridium aquilinum o local foi destruído por fogo há muitos anos atrás e pode permanecer assim por mais de uma centena de anos apesar do banco de sementes estar ao lado em muitos lugares a natureza não consegue por si mesma recriar a floresta original destruída 19 pelo ser humano Assim para implantar nossas agroflorestas nesses locais necessitamos de espécies corajosas espécies que consigam crescer em solos com pH 43 e 1 ppm de fósforo e micronutrientes não detectáveis nas análise de solo Necessitamos de espécies que fazem a ponte para sistemas de abundância de novo para isso temos vários exemplos como eucalipto margaridão Tithonia rotundifolia braquiárias Brachiaria spp piteira Agave americana sisal Agave sisalana guandu Cajanus cajan estilosantes Stylosanthes spp assa peixe Vernonia polysphaera lobeira Solanum lycorcapum e muitas outras espécies nativas e exóticas fundamentais para essa tarefa Com estas espécies podemos até dispensar o uso de insumos externos Chamamos este sistema de acumulação porque estamos acumulando a energia do Sol complexificandoa em matéria aumentando o teor de matéria orgânica a qual irá melhorar as condições físicas químicas e biológicas do solo alimentando sua biocenose permitindo o estabelecimento de plantas mais exigentes caminhando para sistemas de abundância DICAS Evitar dar passos para traz na sucessão por exemplo plantar uma espécie de acumulação em um sistema de abundância como plantar lobeira Sistema de Acumulação em uma terra que cresce muito bem capim mombaça Sistema de Abundância Retirar do sistema plantas de sistemas anteriores por exemplo capim barba de bode Cyperus spp Sistema de Acumulação no inicio crescendo entre capim mombaça Sistema de acumulação mais avançado o capim barba de bode deve sair do sistema sendo arrancado com raiz pois se for podado apenas seu ciclo é muito mais rápido e produz pouca biomassa do que do mombaça ou seja vai florir antes e transmitir essa informação de envelhecimento para todo sistema freando o desenvolvimento das plantas 20 Figura 10 Feto de Gaiola Parque Nacional Chapada dos Veadeiros Goiás Brasil Sistema de Abundância Independentemente do estágio de destruição que encontramos um lugar seja um deserto uma área degradada uma capoeira abandonada uma cava de mineração uma terra de cultura nosso objetivo é leválo até um sistema de abundância Podemos dizer que é nosso sistema de luxo nele podemos produzir sem auxílio de insumos externos produzir alimentos em abundância para mamíferos de porte grande como nós pois a terra é extremamente fértil e equilibrada Atualmente em sua fazenda na Bahia Ernst se vê obrigado a ralear mamão Carica papaya inhame Colocasia esculenta que nascem abundantemente nas clareiras abertas nas agroflorestas antigas já produziu milho e tomate Solanum lycopersicum com apenas 5 milimetros de chuva e pela sua experiência afirma que agroflorestas acima de 500 hectares são capazes de produzir um aumento das chuvas influenciando toda região do entorno Após 30 anos e 800 hectares transformados em florestas 17 córregos em sua fazenda voltaram a correr água novamente e tornaramse perenes Os gráficos de sucessão das espécies nos dá uma idéia de como essa transição entre as espécies ocorre Junto com a transição das espécies o solo vai melhorando em todos os parâmetros sejam químicos físicos ou biológicos IMPORTANTE Iniciamos a agrofloresta plantando todas as espécies de todos os sistemas acumulação e abundância tendo cada sistema representantes de cada estrato Porém se iniciamos nossa agrofloresta em uma mata primária não necessitamos plantar espécies do sistema de acumulação pois estamos em um nível maior de fertilidade podemos introduzir nesse caso para cada andar estrato espécies de sistema de abundância como exemplo podemos citar estrato baixo cacau café Estrato médio cupuaçu 21 cambucá citrus rambutam mangustão achachahiru abiu pêssego etc Estrato alto maçã abacate jaca cereja do Rio Grande acerola cajá etc Emergente castanha do Brasil nóz pecã pêra pequiá etc Citamos as espécies com relação apenas ao estrato muitas vezes as espécies citadas não ocorrem no mesmo bioma Quando iniciamos em um sistema de acumulação podemos plantar as espécies frutíferas que desejamos cada uma no seu estrato adequado porém necessitamos de um input externo ou seja como o solo e o ambiente como um todo não estão adequados para receber estas espécies temos que auxiliar com uma muleta como adubo orgânico calcário termofosfato pó de rocha etc Diferente da agricultura convencional ou orgânica na agricultura sintrópica esse auxilio externo vai diminuindo com o tempo à medida que nos aproximamos do sistema de abundância pois estamos caminhando no fluxo da natureza onde pequenas mudanças geram grandes transformações Assim as espécies vão se sucedendo no tempo à medida que vamos podando todo o sistema aceleramos essa sucessão Como exemplo iniciamos uma agrofloresta com hortaliças placenta I e II secundárias I secundárias II e climáxicas com representantes em todos os estratos Colhemos rúcula rabanete coentro mostarda logo depois de 30 ou 40 dias depois vem a colheita do alface brócolis berinjela yacon batata baroa mandioca abacaxi mamão a horta se despede e as árvores se estabelecem como primeira emergente desponta a embaúba secundária I vive 10 a 20 anos logo abaixo dela temos o guapuruvu secundária II vive de 30 a 50 anos e lá embaixo crescendo bem mais devagar temos o dandá Joanesia princeps Sistema de Abundância vive mais de 80 anos todas as três são emergentes mas cada uma apresenta um tempo de vida diferente Embaúba e guapuruvu são de sistema de acumulação enquanto o dandá é mais próximo do sistema de abundância Quando podamos a embaúba o guapuruvu se estica mais um pouco sob a influência de vários fatores o rebrote vigoroso da embaúba o que estimula as outras plantas a crescerem também o material da poda da embaúba aduba todos a sua volta a maior entrada de luz aumenta a fotossíntese do guapuruvu se não houvesse o guapuruvu a embaúba ficaria mais tempo esperando por alguém que ocupasse o seu lugar chega o tempo que o guapuruvu começa a ultrapassar a embaúba esta então se despede cumpriu sua função no trajeto até a floresta climáxica agora o guapuruvu ocupa o topo da floresta e embaixo dele vem crescendo o dandá cada poda que ocorre no guapuruvu repetese o ciclo maior entrada de luz indução de crescimento por todo o sistema através das micorrizas e hormônios de crescimento assim o dandá vai crescendo e chega o dia que ultrapassa o guapuruvu este se despede pois como emergente não tolera outras árvores sobre sua copa caso não houvesse o dandá o guapuruvu permaneceria no sistema até envelhecer por completo e ficaríamos estancados num sistema de acumulação Graças a essa dinâmica do manejo aceleramos enormemente a velocidade da mudança da fitofisionomia da cara da nossa floresta Lembrese agricultura sintrópica é distúrbio poda necessária para pulsar a floresta para haver crescimento brotação hormônios de crescimento em profusão sistema 22 rejuvenescido jovem com vitalidade É como se estivéssemos treinando um atleta de alta performance sempre trabalhado com sua potência máxima e com uma vantagem sem doping tudo natural O que explicamos para estas três espécies do estrato emergente vale para as espécies de todos os estratos As plantas econômicas de cada estrato também podem contribuir com as podas por exemplo no cultivo do cacau segundo Ernst sua poda pode chegar a 30 do que é podado no sistema Se lá no começo da nossa agrofloresta conseguimos recolher e plantar sementes de árvores de todos os estratos no momento que o dandá passa a dominar a floresta como emergente e temos os estratos completos podemos imaginar que no estrato alto começa a produção da jaqueira abacate cajá mirim cajá manga manga no estrato médio temos cupuaçu rambutam nêspera citrus etc no estrato baixo temos café cacau jabuticaba e como rasteiras podemos ter inhame gengibre açafrão taioba etc Na escolha do que plantar temos que cuidar para evitar trazer plantas que não se adaptam em nosso lugar seja por causa do frio em excesso do calor ou quantidade de chuva Por exemplo na Amazônia em um estudo realizado pelo professor Paulo Cavalcante do Museu Emílio Goeldii crescem bem mais de 150 espécies de frutas nativas e exóticas As plantas não adaptadas ao clima local podem sofrer estresse e nunca chegar a produzir ou até morrer ou mesmo ser impedidas de formar frutos porque não toleram chuva na época da floração como no caso da manga A manga cresce bem em praticamente todos os biomas do Brasil porém só produz frutos naqueles que o período da seca coincide com sua floração Com a floresta de alimentos e madeiras nobres formada agora onde entra o milho o quiabo os cereais o tomate Bom nesse momento que temos uma floresta pujante não cabe mais eles que necessitam de mais luz mas para produzilos ficou mais fácil derrubamos nossa agrofloresta onde achamos que podemos melhorála onde falta um estrato ou onde queremos introduzir uma frutífera que não temos e nesse momento plantamos nossos cereais nosso tomate nossas hortaliças agora sem necessidade de usar adubo ou qualquer insumo pois desde que começamos o solo melhorou muito agora temos um solo de floresta sem compactação com um pH mais alto o fósforo disponível subiu o alumínio se tornou indisponível e pelo sabor excelente das frutas os micronutrientes voltaram E tem mais vamos produzir hortaliças e grãos conservando o solo usando o mínimo de água graças à grossa cobertura morta ao perfil profundo de solo que criamos com a ajuda de milhões de microorganismos E nesse momento que plantamos nossos cereais e hortaliças plantamos também as frutas que desejamos as madeiras nobres que desejamos junto com eles teremos também a valiosa regeneração natural a qual manejaremos podando e conduzindo juntamente com as espécies que plantamos respeitando a porcentagem de sombra de cada estrato 95 do sucesso de uma agrofloresta é manejo 5 é plantio se atrasamos ou abandonamos o manejo começam a surgir 23 conflitos como sombreamento excessivo árvores envelhecidas etc para os quais a natureza sempre tem solução porém estes conflitos são resolvidos geralmente em uma escala de tempo maior no tempo da natureza Quando manejamos a agrofloresta aceleramos a ciclagem de nutrientes e fixamos mais carbono que florestas primárias naturais Steenbock 2013 Buscamos ajustar os estratos das árvores podando permitindo que cada árvore tenha a necessária quantidade de luz ou sombra cobrindo com material das podas os locais descobertos ou mais fracos colocando os troncos em curva de nível em locais com declives auxiliando a infiltração das chuvas Quando iniciamos a implantação de uma agrofloresta é importante identificar em que ponto da sucessão essa área se encontra podemos fazer isso observando as espécies presentes se temos madeiras nobres e espécies longevas indica uma melhor qualidade do solo se temos apenas madeiras brancas e árvores de ciclo de vida curto e médio sistema de acumulação mas importante também é observar as espécies indicadoras muitas espécies nos dão informação sobre o pH e se há camadas compactadas no solo Essas plantas indicadores ao contrário do que muitos pensam não são pragas mas sim valiosos instrumentos que a natureza tem para curar as feridas abertas na maioria das vezes pelo próprio ser humano Imagine se não tivessem elas quem iria suportar um pH de 45 no solo ou crescer em um solo extremamente seco e adensado Muitas vezes as plantas que acusam a deficiência de um nutriente são hiperacumuladoras do próprio nutriente quando morrerem terão criado um nicho rico daquele nutriente escasso preparando um lugar melhor para as próximas plantas na sucessão como é o caso do mio mio Bacharis coridifolia Saiba mais sobre plantas indicadoras no apêndice I A Importância da Estratificação Recriar florestas produtivas semelhantes na forma e na função aos ecossistemas originais do lugar implica construirmos florestas estratificadas Na natureza cada planta encontrase dentro de um contexto Andando no interior de uma mata primária na Amazônia podemos observar por exemplo que o cupuaçu não está no topo da floresta existem outras árvores por cima dele e existem árvores abaixo dele cupuaçu é uma planta do estrato médio Se fizermos o mesmo na América Central podemos encontrar um pé de acerola quase que no topo de sua floresta apesar de um pé de acerola não passar de 3 metros e ser muito menor do que um cupuaçuzeiro no seu local de origem a aceroleira é do estrato alto as matas são bem mais baixas que na Amazônia assim o que determina o estrato da planta não é sua altura mas a floresta de onde ela se origina seu centro de origem Quem primeiro estudou detalhadamente os centros de origem das plantas cultivadas foi o pesquisador russo Nikolai Ivanovich Vavilov imagem 11 24 Figura 11 Vavilov Na primeira metade do século XX Vavilov viajou durante mais de vinte anos pelos cinco continentes colhendo sementes de plantas agrícolas tais como milho silvestre e cultivado batata grãos forragem frutas e todo tipo de vegetais Ao mesmo tempo recompilava dados sobre os lugares que visitava e sobre os idiomas e culturas de seus habitantes Sua coleção de sementes chegou a ser a maior do mundo com aproximadamente 200 mil espécies que foram armazenadas e semeadas em mais de 100 estações experimentais na então União Soviética Nas suas viagens Vavilov registrou que a biodiversidade agrícola estava repartida de maneira desigual enquanto em alguns lugares sobravam plantas outros pouco ou nada tinham para oferecer Também registrou que os lugares com mais biodiversidade agrícola contam com diferentes topografias tipos de solo e clima Também determinou na sua época que a biodiversidade agrícola vinha na sua maioria de oito núcleos perfeitamente identificáveis China onde se origina a soja Índia Oriente PróximoÁsia Central sudeste da Ásia regiões montanhosas de Etiópia México e América Central berço do milho os Andes centrais de onde vem à batata e o Mediterrâneo Ainda hoje essas áreas geográficas se conhecem como centros Vavilov verdadeiros refúgios de biodiversidade essenciais para a alimentação humana imagem 12 httpsptwikipediaorgwikiNikolaiVavilov 25 Figura 12 Principais Centros de Origem das Plantas Cultivadas no estudo original de Vavilov O Brasil é centro de origem de muitas plantas cultivadas dentre elas o abacaxi Qual o estrato do abacaxi Olhando um plantio convencional de abacaxi poderíamos pensar que ele é do estrato alto ou emergente pois é plantado em monocultura sozinho Mas como ocorre o abacaxi na natureza selvagem No Cerrado Brasileiro temos uma espécie de abacaxi que viceja naturalmente Ananas ananassoides muito semelhante ao abacaxi que cultivamos Ananas comosus Se percorrermos o interior do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros uma área protegida de 240 mil hectares no coração do Brasil interior de Goiás podemos encontrar várias populações de abacaxi vegetando naturalmente Quando nos deparamos com uma dessas populações podemos ver claramente que abacaxi é uma planta do estrato baixo conforme as imagens a seguir Figura 13 população natural de abacaxis frutificando sob a copa das árvores 26 Figura 14 populações naturais de abacaxi no interior do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros Figura 15 Planta de abacaxi nativo a pleno Sol Parque Nacional Chapada dos Veadeiros Figura 16 Abacaxi nativo a pleno Sol Parque Nacional Chapada dos Veadeiros Goiás 27 Qual a diferença entre os abacaxi das imagem 13 e 14 para os abacaxis das imagens 15 e 16 Os abacaxis das imagens 13 e 14 ocorrem a poucos metros das plantas das imagens 15 e 16 Existe uma diferença notória quando estamos no campo os abacaxis das imagens 13 e 14 estão protegidos pela copa das árvores enquanto as plantas das imagens 15 e 16 estão a pleno Sol Nessa população todas as plantas que encontramos a pleno Sol em torno de 5 plantas estavam raquíticas cresceram pouco e com as folhas mais velhas secas enquanto as plantas sob a floresta centenas delas estavam bem maiores e com um verde brilhante nas folhas Imagem 17 Figura 17 Plantas de abacaxi sob o dossel da mata ciliar As imagens de 18 a 20 foram obtidas colocandose a objetiva da máquina fotográfica apontando para o céu a partir do olho dos abacaxis mais vigorosos e com frutos ou seja o que as plantas de abacaxi vêem quando olham para o céu Figura 18 Visão do céu do ponto de vista dos abacaxis 28 Figura 198 Visão do céu do ponto de vista dos abacaxis Figura 20 Visão do céu do ponto de vista dos abacaxis Observando a grande vitalidade das plantas sob a floresta com aquelas a pleno Sol não resta dúvidas de que o abacaxi é uma planta de estrato baixo As populações de abacaxi acompanhavam precisamente a mata ciliar do córrego Quando respeitamos a ecofisiologia das plantas evitamos que as mesmas entrem em estresse O estresse é um dos gatilhos que desencadeia as doenças ataques de insetos influenciando inclusive na qualidade dos frutos muitas vezes compramos um abacaxi no mercado com a casca ainda bem verde mas ao abrilo vemos que sua polpa já esta vitrificada meio transparente o fruto apesar de verde está passado o calor excessivo do Sol o amadureceu forçadamente Assim como uma vaca holandesa nativa do clima frio da Europa entra em estresse quando a temperatura ambiente passa dos 16 C ocasionando mastites frequentes 29 micoses de casco etc um simples fruto de abacaxi também pode se estressar caso não proporcionamos as condições ideais nas quais ele evoluiu por milhares de anos Se criarmos condições adequadas para que nossas plantas cultivadas manifestem todo seu potencial produtivo a partir delas próprias sem necessidade de forçar a produção com adubos químicos hormônios e pesticidas poderemos criar campos de cultivo belíssimos e altamente produtivos como os das imagens 21 e 22 Figura 20 Pomar de citrus sombreado por fruta pão Alto Beni Bolívia 2001 30 Figura 21 Agrofloresta com citrus banana café cacau e dezenas de árvores nativas e exóticas nas entre linhas orientada por Ernst Gotsch Propriedade de Joaquin Milz Alto Beni Bolivía Se as grandes companhias produtoras de frutos entenderem isso se os grandes produtores de grãos fizerem pequenas mudanças em seus campos e as empresas de máquinas oferecerem máquinas adaptadas para o trabalho com as árvores será possível abandonarmos completamente o uso de agrotóxicos Ernst Götsch já vem trabalhando com alguns grandes produtores e os resultados são impressionantes Na fazenda da Toca pomares orgânicos de laranja com infecção de greening que recebiam 57 pulverizações anuais de caldas permitidas na agricultura orgânica com a adoção da agricultura sintrópica não receberam mais qualquer pulverização e houve redução do greening Chegouse a esse resultado retirando os tratores pesados plantandose mombaça nas entre linhas e nas linhas de citrus plantouse mandioca banana eucalipto e árvores nativas Por que a introdução de poucas espécies nesse campo de citrus e a retirada das máquinas pesadas proporcionou toda essa mudança Porque mudamos o paradigma de produção Antes o capim na entrelinha era uma praga a ser eliminada em campos convencionais usase herbicida na agricultura orgânica roçadeira 31 central e até choque elétrico Na agricultura sintrópica tratamos o capim como nossa fábrica de NPK cortamos com ceifadeiras afiadas para ele rebrotar rápido e transmitir essa informação de crescimento vigoroso a todo sistema as árvores podadas eucalipto banana e outras são trituradas e a maravalha espalhada nos campos produzindo húmus mais estável no solo originado de celulose e lignina o rebrote das árvores estimula todos a sua volta a crescerem também No pico do verão o citrus tem a sombra do eucalipto e no inverno o Sol para aquecêlo pequenas mudanças grandes transformações Depois da história do abacaxi fico imaginando como seria bastante útil se uma dessas grandes redes de TV que trabalham com a natureza pudesse produz uma série de filmes mostrando como são os ecossistemas naturais de onde surgiram nossas plantas cultivadas com toda a tecnologia de hoje poderíamos produzir filmes muito educativos Distribuição na ocupação dos diferentes estratos Aqui percebemos os erros que muitos agrofloresteiros cometem em muitos lugares inclusive divulgado muitas vezes como um pacote tecnológico por agências governamentais onde argumentam que agrofloresta é muito boa ecologicamente muito boa resolvem muitos problemas recupera solos melhora solos mas para alimentar a humanidade precisamos lançar mão dos princípios da Revolução Verde pesticidas e adubos químicos De acordo com o que está sendo focado dependendo da cultura econômica principal observase uma ocupação da seguinte forma 1 Forte peso nos estratos alto e emergente em situações de acumulação sistemas de acumulação quando queremos focar em acumulação por exemplo um plantio visando somente madeira Exemplos plantios modernos de eucalipto ou pinus E esses plantios modernos em monocultivo não são inteligentes porque poderíamos produzir de 30 a 50 mais madeira e de melhor qualidade se plantássemos pinus e eucalipto juntos se plantássemos mogno e eucalipto juntos produziríamos muito mais porque temos o eucalipto como emergente que vai produzir um fuste reto e muito mais comprido e o mogno como estrato alto que fica abaixo do eucalipto assim poderíamos caminhar para uma otimização dos cultivos para o ponto ótimo Precisamos entender isso pois quando Ernst fala em estrato emergente ocupando 15 a 25 não é qualquer floresta que tem isso uma floresta quando está no auge de produção de alimentos para animais de porte grande aí sim naquele momento ela tem essa porcentagem 15 a 25 de sombra de emergentes e nós temos a possibilidade de tentar fazer nossas plantações chegarem nessa porcentagem basta observarmos as plantações de Ernst Gotsch em sua fazenda na Bahia lá podemos identificar todos os estratos emergentes alto médiobaixo bem claramente No começo quando começamos a plantar plantamos os estratos em muito maior densidade do que eles aparecem em uma floresta madura clímax Por exemplo Ernst vem desenvolvendo modelos onde planta 2220 eucaliptos por hectare e esse é 32 um dos segredos os emergentes nós não podamos mas raleamos e os estratos alto e médio podamos quando temos o estrato baixo como foco de produção exemplo de baixos cacau e café ou se tivéssemos abacate e lichia alto e médio eles fariam parte do foco de produção mas também fornecem boa parte da matéria orgânica que o campo produz assim os emergentes nós vamos ralear no curso do tempo 2 Natural também para fase médiotardio em quase todas as florestas na sua fase de clímax em climas úmidos e subúmidos mais acentuado nas altitudes fora dos trópicos na contraface Quando a ocupação dos estratos ocorre de forma natural sem intervenção do ser humano a floresta chega num ponto que os estratos médio e baixo desaparecem jabuticaba não produz mais cacau vai embora laranjeiras se despedem jaqueira vai embora mesmo no lugar natural dessas fruteiras ou seja na inspiração no sistema de acumulação a floresta se torna vazia nos estratos inferiores mais médio e baixo ainda temos a castanheira produzindo emergente a floresta ainda sustenta animais de porte grande mas não temos mais uma produção abundante de frutos Só vamos ter uma produção abundante quando tivermos distúrbio abertura de clareiras por exemplo o distúrbio é produtivo é uma précondição e ao mesmo tempo aumenta a fotossíntese o distúrbio não é um prejuízo a passagem de furacões na America Central é uma benção pois aumenta sobre maneira a produção de cacau no ano seguinte Os distúrbios aqui são bastante diferentes dos distúrbios antrópicos tecnomorfos que causamos a todos os biomas do planeta uma verdadeira devastação antinatural pois não considera os princípios do próprio sistema 3 Em locais e situações que devido a suas précondições ecofisiológicas estariam submetidos a distúrbios periódicos mas não acontecem por falta da presença do vetor causador vento tempestades animais de porte grande etc ou no caso de agroecossistemas inadequadamente desenhados e manejados falta de poda Assim esses sistemas se tornam sistemas de acumulação eternos sem vida No outro extremo temos sistemas por sua natureza extremos sistemas de abundância que mostram no seu auge a seguinte distribuição Estrato média 15 25 de área sombreada por emergentes 20 30 40 de área sombreada por altos 35 50 60 de área sombreada por médios 55 80 90 de área sombreada por baixos 85 10 20 de área sombreada por rasteiros e regeneração nova 15 Somando tudo temos 210 33 Para atingir estes 210 as florestas conhecem muitos meios e usam numerosas estratégias Cabe a nós escolhermos os mais indicados e eficientes no manejo dos nossos agroecossistemas Observe também que existem meios para regular a sombra proporcionada pelas plantas que compõem os estratos dos emergentes altos e médios que são naturais das próprias espécies isto é a sua qualidade de ser caducifólia ou não Sendo a espécie caducifólia observar mais ou menos em que período do ano e quanto tempo aquela árvore fica sem folhas pois estar sem folhas oferece pouca sombra para a vegetação abaixo delas Exemplo extremo o cajueiro no semiárido fica quase despido de folhas a partir de um momento as chuvas permitem o crescimento de vegetação debaixo dele no ecossistema dele podemos sombrear assim percentualmente muito mais as áreas que ele habita cuidando para não ultrapassar 30 a 40 de sombracajueiro é estrato alto O mesmo corresponde a espécies como Ceiba pentandra jaracatiá cajá etc que ficam por muito tempo e no momento crítico sem folhas o que gera o estímulo a indução floral para a frutificação das plantas debaixo deles Principio 3 Solo Coberto e Plantios adensados Valor real do solo Por que o solo é mais precioso que petróleo Por que nós podemos e fizemos por milhares de anos viver sem óleo mas não podemos viver sem solos agricultáveis especialmente com o crescimento da população e com os oceanos quase vazios Solo é um material sensível que necessita de cuidado O solo não é uma fábrica um depósito para substâncias tóxicas nem um suporte para nossas culturas o solo não é sujo nem uma grande estrada pavimentada ou um estacionamento para carros Solos agricultáveis são raros Quarenta por cento dos solos da Terra estão degradados então cada colher de chá de solos férteis é preciosa crucial para a vida humana alimento segurança essencial para os serviços ambientais redutor da pobreza criador do desenvolvimento sustentável O solo nos alimenta e somos responsáveis por ele Se ele não está protegido por vegetação é varrido pelos ventos ou lavado pelas chuvas Pesquisadora canadense doutora em solos Celine Caron httpwwwmofgaorgPublicationsMaineOrganicFarmerGardenerSpring2015AgriculturalSoiltabid2937Defaul taspx Um dos princípios fundamentais que Ernst Götsch trabalha é a cobertura do solo somente ela vai devolver a fertilidade ao solo novamente e isso pode ser bem observado em sua fazenda em Piraí do Norte BA Desde a implantação e durante todo o manejo das agroflorestas Ernst sempre observa onde estão os lugares com pouca cobertura morta e deposita nesses lugares grande quantidade de material das podas Ernst vem trabalhando bastante com capim mombaça nas entrelinhas de cultivos perenes O capim mombaça é estrato baixo e do mesmo gênero do colonião sendo exigente em fertilidade do solo Quando iniciamos um campo sempre temos que ter em mente que espécie seria melhor para cobrir rapidamente o solo não temos uma receita devemos observar a fertilidade do solo o clima o estrato da planta escolhida etc por exemplo em locais com baixa fertilidade podemos optar por plantas menos exigentes como braquiária andropogon ou outros capins lembrando que o ciclo da braquiária é mais curto que do mombaça pois cada vez que a gramínea floresce devemos 34 roçar para evitar uma informação de senescência influenciando negativamente e freando o crescimento dos cultivos que estão consorciados com ela As braquiárias decumbens e brisantha por serem decumbentes se esparramando mais para os lados acabam entrando na linhas dos cultivos dificultando o manejo ao contrário do mombaça que tem um crescimento cespitoso Em locais mais pobres podemos trocar o mombaça pelo andropogon que também tem hábito cespitoso Assim para não ficarmos presos em receitas temos que saber a função ecofisiológica de cada planta com isso sempre escolhemos a melhor planta para cada situação pois se trabalhamos com receitas e não com princípios quando nos depararmos com algum lugar onde essa receita não se encaixa por exemplo um local onde mombaça não cresca devido ao solo fraco não saberemos o que fazer Trabalhar com princípios seria como um cozinheiro que entende a função de cada ingrediente na receita na falta de um ingrediente ele pode substituir por outro sabendo a função daquele ingrediente ausente Em locais muito secos como a caatinga buscase espécies que crescem bem em ambientes com pouca chuva como palma forrageira sisal pinhão roxo Quanto mais conhecermos o lugar onde estamos e as plantas adaptadas a esse lugar teremos mais possibilidades de consórcios No assentamento do Contestado no Paraná os assentados estão utilizando ervilhaca como cultivo de inverno sobre o capim mombaça em virtude das geadas as quais o capim não suporta assim ainda conseguem produzir biomassa mesmo no inverno Messerschmidt comunicação pessoal No Sítio Semente em Brasilia DF vemse utilizando com muito sucesso madeira triturada obtida das ruas da cidade As árvores das praças e ruas são podadas e no próprio local trituradas por implemento acoplado ao trator No ano de 2016 Ernst Götsch realizou uma consultoria na Martinica para um produtor que exporta frutas para a Europa Em abril de 2017 esse produtor mandou algumas imagens das mudanças realizadas recomendadas por Ernst É impressionante a vitalidade que os campos transmitem imagens 22 e 23 solo bem coberto com capim mombaça nas entre linhas o qual é roçado e colocado nas linhas de banana e árvores as árvores são podadas anualmente e trituradas alimentando as ruas de capim com esse exemplo podemos ver os vários princípios atuando ao mesmo tempo maximização da fotossíntese estratificação solo coberto plantio adensado etc Figura 22 Martinica plantio orientado por Ernst Gotsch Inicio 2016 imagem abril 2017 35 Figura 23 Martinica plantio orientado por Ernst Gotsch Inicio 2016 imagem abril 2017 Colocamos abaixo os resultados das pesquisas do Professor Gilles Limieux da Universidade de Laval no Canadá apud Agroecologia Hoje n 15 78 2002 o qual avaliou o resultado da aplicação de aparas de madeira no solo Após analisar o subproduto de aparas de ramos de coníferas com relação ao seu teor em nutrientes esse material foi aplicado experimentalmente em solos agrícolas à base de 150 a 200 m3ha Esta adubação deu bons resultados na produtividade de batata fruticultura arbórea e morangos Os resultados no entanto foram melhores ainda quando se utilizou AMRF aparas de madeira rameal fragmentada de madeira de lei madeira dura particularmente do carvalho Quercus rubor Efeitos da aplicação de AMRF Aparas de Madeira Rameal Fragmentada sobre o solo Após a aplicação de AMRF aparas de madeira rameal fragmentada observaramse as seguintes modificações no solo Após 3 meses a maioria das aparas já tinham sido metabolizadas pela biologia do solo A cor do horizonte A tornouse mais escura aproximandose de um marrom bem escuro O teor de matéria orgânica aumentou 3 em apenas 12 meses 36 O pH do solo aumentou à taxa de 05 na maioria dos solos testados Os teores de fósforo disponível e do magnésio intercambiável mostraram um significativo aumento Efeitos da aplicação de AMRF aparas de madeira rameal fragmentada sobre as culturas aEm clima temperado observouse que Tubérculos de batata com aumento no teor de matéria seca em 30 e obtendo teores superiores de fósforo potássio e magnésio Trigo e aveia tiveram um aumento no peso de 1000 grãos e no número de grãos por espiga da ordem de 30 O teor de nutrientes da palhada decresceu com a aplicação de AMRF mostrando claro estímulo aos processos fisiológicos de frutificação Moranguinho 300 de incremento nos frutos colhidos Maior resistência a afídeos Redução em 50 da necessidade por água suplementar irrigação Notável incremento na resistência à geada Sabor mais pronunciado em frutas b Em clima subtropical observouse Em tomate um aumento de produtividade e qualidade que variou entre 900 e 1000 A necessidade por irrigação suplementar caiu em 50 c Em clima tropical observouse Em milho observouse um enorme salto de produtividade que aumentou de 1 para 4 tonha pela aplicação de AMRF aparas de madeira rameal fragmentada de Acacia auriculiformes Tectona grandis Gliricidia sepium Senna siamea Azadirachta indica Por que madeira rameal e não do tronco maravalha e cepilhos de serraria Os ramos e galhos a princípio com diâmetro igual ou inferior a 7 cm formam a madeira jovem com as seguintes qualidades Alta proporção de casca Alto teor de polifenóis solúveis cadeia mais curta 37 Fonte de matéria orgânica fundamental para agregação do solo Precursores de um húmus altamente reativo Concentram 70 dos nutrientes da árvore A relação CN situase na faixa de 301 e 1701 a do tronco está na faixa de 4001 a 7501 Vale destacar que em clima tropical como no Brasil os processos de crescimento e decomposição são bastante acelerados quando comparados com o clima temperado Por exemplo os agricultores do assentamento Mario Lago Ribeirão Preto SP onde um dos alunos de Ernst Namastê Messerchmidt iniciou a implantação de agroflorestas relatam que nas entre linhas dos canteiros de hortaliças onde colocam troncos grossos o solo com o tempo tornase mais escuro do que nos canteiros onde cobrem com capim ou AMRF aparas de madeira fragmentada Por que húmus originário de lignina Vários ecossistemas naturais são poderosos formadores de húmus do solo Diversos solos nascem marcados pela abundância de húmus dentre eles solos com marcada fertilidade natural Importante notar que o húmus formado sob florestas demonstra ser via de regra mais estável e durável que aquele formado por vegetação de gramíneas Também o húmus formado pela adubação orgânica com estercos composto adubos verdes e manejo do mato não atinge o grau de durabilidade daquele de origem arbórea Tamanho das aparas ou fragmentos De modo geral o tamanho das aparas é ditado pelo tempo previsto para a decomposição e transformação da madeira rameal em húmus ativo no solo em um determinado clima Em clima mais frio ou seco eventualmente montanhês temperado ou semiarido aparas menores de 2 a 4cm oferecem maior superfície de contato da madeira com os agentes de transformação Em clima quente e úmido nos trópicos e subtrópicos estes agentes invadem a madeira rapidamente diminuindo a necessidade de se picar a madeira em pequenas aparas Tornase necessário picar a madeira em sistemas agroflorestais mecanizados para evitar o embuchamento das máquinas Em sistemas agroflorestais de menor escala e sem mecanização os fragmentos poderão ter o comprimento de 10 a 40 cm A aplicação de AMRF aparas de madeira rameal fragmentada é antiga nos sistemas agroflorestais Sempre que houver uma poda do sistema haverá um aporte de AMRF ao solo Neste sentido podas mais drásticas não apenas disponibilizam mais luz como também devolvem ao solo a dinâmica biológica perdida com o desmatamento criando 38 os fundamentos para um fertilidade duradoura e capaz de gerar abundantes colheitas A experiência tem mostrado que a adubação com madeira gera abundante frutificação Nos anos de 2000 e 2001 Ernst Götsch realizou uma série de experimentos em sua fazenda na Bahia testando vários adensamentos de árvores por m2 o que impressiona é a vitalidade dos cultivos após um ano do plantio Ernst derrubou capoeiras envelhecidas e plantou juntamente com abacaxi árvores em densidades variadas indo de 1 árvore por m2 até 15 árvores por m2 Os experimentos foram rigorosamente inspecionados os que apresentaram melhores resultados foram aqueles com 15 espécies de árvores por m2 A imagem 24 é de um campo experimental plantado no ano de 2000 e a imagem 25 o mesmo campo no ano seguinte Os abacaxis cresceram muito produzindo frutos de 15 kg um homem adulto agachandose passava por baixo das folhas Figura 24 Capoeira derrubada plantada com linhas de abacaxis e sementes de árvores em várias densidades Fazenda Olhos dágua propriedade de Ernst Götsch Piraí do Norte BA 39 Figura 25 Mesmo local da imagem 23 após um ano do plantio Fazenda Olhos dágua propriedade de Ernst Götsch Piraí do Norte BA Talvez este seja um dos princípios mais difíceis de ser explicado porque quando falamos plantar em alta densidade conseguimos entender quando plantamos milho em monocultura até 90000 plantas por ha ou quando plantamos soja trigo estamos plantando milhares de plantas por hectare estamos no limite no caso do milho ou outros grãos o aumento da densidade de plantas leva em consideração fatores como fertilidade da terra disponibilidade de água etc se aumentarmos acima desse limite as plantas podem até crescer mas teremos uma menor frutificação consequentemente menor rendimento por hectare Mas quando pensamos um sistema que pode ter de 40 a 80 espécies de plantas por ha os parâmetros da ciência agronômica tradicional não nos ajudam muito necessitamos de outros critérios Ernst criou critérios para avaliar a sustentabilidade de um plantio sintrópico Veja o Apêndice II Se queremos ter um plantio de cacau no espaçamento de 5x5m temos que plantar 100 pés de cacau nesse espaço se queremos ter uma jaqueira a cada 10x10m temos que plantar 100 jaqueiras nesse espaço para algumas espécies temos que plantar 10 vezes mais para outras 100 vezes mais ou 200 vezes mais Por que 40 Quando iniciamos por exemplo em um solo decaído maltratado por gerações temos que plantar as espécies que conseguem crescer nesse solo bem próximas como ilustração veja o caso abaixo Estamos realizando plantios sintrópicos em uma fazenda com mais de 100 anos de idade localizada na Chapada dos Veadeiros interior de Goiás Brasil Em muitas áreas dessa terra o solo está exposto nenhuma planta consegue ocupar o lugar por quase uma centena de anos uma excessiva exploração pelo gado exauriu o solo estamos utilizando o mínimo de insumos e espécies que conseguem ocupar o lugar como por exemplo piteira margaridão fruta de lobo assa peixe A piteira plantamos nos lugares mais fracos a cada 20 cm Quem já viu uma piteira adulta em terra de cultura sabe que no mínimo a planta ocupa com suas folhas um circulo com diâmetro de até 3m Plantamos a cada 20cm para que possamos com o crescimento da piteira ir podando suas folhas e cobrindo todo o solo conforme as plantas vão crescendo essa área se torna pequena vamos então raleando as piteiras Esse raleio é fundamental pois é ele que alimenta o solo vira cobertura morta que vira húmus podemos repetir esse processo plantando árvores em alta densidade conforme elas vão crescendo e as tensões começam a surgir podemos selecionar entre as melhores plantas e podar as outras construindo a fertilidade a medida que o sistema avança Por exemplo em um plantio em Casimiro de Abreu RJ Mata Atlântica Ernst plantou como estrato médio cupuaçu nativo da Amazônia mas que cresce muito bem na mata Atlântica e cambucá myrtaceae do estrato médio O cupuaçu começa a produzir com 6 ou 7 anos mas o cambucá de crescimento muito mais lento atinge o estrato médio e começa a produzir com apenas 15 anos Como ambas as árvores são do mesmo estrato e estão próximas começam a surgir tensões entre ambas o espaço se tornou pequeno Com 15 anos o cupuaçu já produziu muitas safras de frutos porém nesse momento estamos diante de um dilema positivo mantenho os cupuaçus e cortamos os cambucás ou dou preferência aos cambucás e corto os cupuaçus Como Diz Ernst temos que escolher entre o Nirvana o Paraíso ou a Terra dos eternamente felizes Lembra das 4 dimensões com que a agricultura sintrópica trabalha A quarta dimensão é o tempo e ele está intimamente associado com o plantio em alta densidade Graças ao plantio em alta densidade e o manejo da agrofloresta com o raleamento e as podas conduzimos as plantas até a fase adulta a um espaçamento que reproduza o sombreamento adequado para cada estrato Princípio 4 capina seletiva e podas retirar sempre plantas da sucessão anterior Sempre que iniciamos a manutenção de uma agrofloresta é recomendado fazermos primeiro a capina seletiva Capina seletiva é um termo criado por Ernst que significa remover do sistema aquelas plantas que são de sistemas anteriores da sucessão por exemplo quando plantamos mombaça e no meio dele nasce capim barba de bode ao realizar o corte do mombaça devemos retirar se possível com a raiz o capim barba de bode pois este é de um sistema de acumulação bem anterior ao mombaça e que 41 também tem um florescimento bem precoce Toda vez que o capim barba de bode floresce está indicando um amadurecimento do sistema e dessa forma freando o desenvolvimento do mombaça vale o mesmo quando o malmequer floresce o picão preto o capim carrapicho o avanço e muitos outros capins e ervas de ciclo curto que são abundantes nos sistemas de acumulação Essas ervas tem o importante papel de cobrir o solo concentrar nutrientes escassos preparar o ambiente para as plantas do futuro etc Quando o sistema avança e o solo melhora plantas mais eficientes produtoras de biomassa e com relação carbononitrogênio mais estreita começam a surgir nosso papel então é acelerar a sucessão natural retirando as plantas de sistemas anteriores e criando melhores oportunidades para o aparecimento das plantas do futuro assim arrancamos o picão preto e o usamos para proteger um pé de guandu ou mombaça Para entender melhor vamos imaginar um campo de sapé Imperata sp Iniciamos este campo sem insumos concentramos o sapé roçado em ilhas nessas ilhas plantamos árvores de sistemas de acumulação mais avançados como lobeira assa peixe tamboril angico caso o local seja no bioma Cerrado nos locais com solo um pouco melhor plantamos mandioca Quando o sapé dessas ilhas se decompõe alimenta o solo pode surgir naturalmente nesses locais moitas de Braquiaria Brisantha em muitos locais o sapé rebrota próximo às ilhas sempre vai haver um gradiente de fertilidade e as plantas que surgem nos mostram esse gradiente são as plantas indicadoras O surgimento por exemplo de plantas de sistemas de acumulação como capim rabo de burro capim rabo de raposa nos indica que ainda o solo está ácido nesses lugares veja o apêndice plantas indicadoras Conforme as árvores crescem e são podadas introduzimos material de melhor qualidade para formação de húmus a acidez diminui surge beldroega Portulaca oleraceae planta indicadora de uma melhor fertilidade do solo com as podas das árvores e melhoria da fertilidade do solo introduzimos plantas como maracujá frutíferas mandioca e todas as outras plantas cultivadas que temos interesse em estabelecer nesse lugar juntamente com as árvores nativas como frutíferas e madeiras nobres A construção da agrofloresta acima foi realizada sem introdução de qualquer insumo externo a não ser sementes e manivas de mandioca Nesse mesmo campo se quisermos partir de um estágio mais avançado da sucessão com plantas mais exigentes teremos que lançar mão de muletas como adubo orgânico esterco composto torta de mamona etc termofosfato pó de rocha calcário Essa aplicação de insumos deve ser cuidadosa e o mais homogênea possível pois iremos criar uma condição artificial de fertilidade introduzindo plantas que demandam uma fertilidade que naturalmente não existia naquele campo Foi assim que destruímos praticamente todo o cerrado brasileiro fizemos um melhoramento das cultivares de soja corrigimos a acidez dos campos com calcário e aumentamos a fertilidade com NPK com estas medidas simplistas destruímos os solos pela erosão e compactação diminuímos as chuvas assoreamos milhares de córregos e rios e destruímos a savana mais biodiversa do planeta 42 Feita essa correção do solo plantamos milho frutíferas hortaliças árvores de madeira nobre banana etc Um bom indicador se estamos caminhando para o sistema de abundância é o surgimento natural de plantas indicadoras Por exemplo o campo forrase de guanxuma Sida sp o que indica que não fizemos uma boa descompactação do solo ou aparece muito amendoim bravo deficiência de molibdênio Plantamos mombaça mas a braquiária surge em muitas manchas Forçar o avanço artificialmente pode ser feito mas requer cuidado e muita observação caso contrário colocamos insumos que não são aproveitados e o campo insiste em ficar em estágios anteriores da sucessão assim observando todo os gargalos como deficiências nutricionais aspectos físicos do solo compactação tipo de solo arenoso argiloso misto e biológicos quem vão ser os produtores mais eficientes de biomassa pois os estercos e compostos adicionados não formam húmus estáveis e logo serão consumidos pela biologia do solo então rapidamente o solo vai estar descoberto e será lavado pelas chuvas retrocedendo na sua fertilidade e sendo ocupado novamente pelo picão preto braquiária capim marmelada feto de gaiola barba de bode etc Avaliados todos esses fatores e escolhemos cuidadosamente as espécies e os insumos avançando a passos largos rumo ao sistema de abundância Quando conseguimos criar uma fertilidade estável e homogênea para o solo conectada com o plantio das espécies corretas não há espaço para o aparecimento de plantas de estágios anteriores da sucessão pois nossas plantas estão com o máximo vigor ocupando correta e rapidamente seus estratos estamos voando baixo Um dos princípios fundamentais para o crescimento e frutificação da nossa agrofloresta são as podas elas são o motor propulsor das agroflorestas como Ernst diz o pulo do gato Quando Ernst iniciou os trabalhos no Brasil recebeu uma terra completamente devastada com o nome Fazenda Fugidos da terra seca Mais tarde descobriuse que o nome original do lugar era Fazenda Olhos dágua Assim plantou em alta densidade milhares de sementes e quando foi raleando podando descobriu o grande input de energia que surgia com as podas como se fosse um rejuvenescimento do sistema ou como disse Renate um reprimaveramento Atualmente vários pesquisadores vem descobrindo a grande rede subterrânea formada por raízes e milhares de microorganismos que mantêm as árvores conectadas assim os nutrientes carbono hormônios se translocam de uma planta a outra fazendo com que todo sistema entre em ressonância por meio de laços de realimentação positivos Existem algumas dicas básicas que Ernst nos dá para nos orientar na arte da poda Sempre que formos podar uma agrofloresta começar preferencialmente de cima para baixo pois assim podemos diminuir os estragos da queda de galhos maiores os quais são amortecidos pelos galhos inferiores os quais poderiam não estar lá se podássemos de baixo para cima Podar primeiro os galhos doentes mal formados tortos e sobrepostos Podemos podar drasticamente árvores que resistem a esse manejo podar no osso como dizem deixando apenas o tronco principal ou podar mantendo a arquitetura da copa tudo depende do contexto da vizinhança do objetivo da poda As 43 porcentagens de sombra em cada estrato não são cláusulas pétreas podemos aumentar o sombreamento em um andar se diminuímos no anterior ou posterior e vice versa Geralmente sistemas que sustentam mamíferos de porte grande como nós tem um grande investimento de árvores nos estratos médio e baixo Já sistemas de acumulação tem um aumento do estrato alto Mas uma coisa é certa só vamos realmente entender estes princípios quando plantamos e manejamos nossas próprias agroflorestas somente praticando vamos adquirir confiança e sabedoria Princípio 5 Concentrar energia gerar biomassa de forma eficiente Concentrar energia significa aglutinar recursos em linhas ou ilhas pois muitas vezes trabalhamos em solos decaídos empobrecidos pela agromineração assim aglutinamos as gramíneas as ervas em linhas ou ilhas e plantamos nesses lugares nossos cultivos que podem receber o luxo de algum insumo como esterco pó de rocha etc para auxiliálos a crescer nesses lugares A braquiária é considera por muitas pessoas uma planta ruim agressiva invasora de difícil controle mas entendendo como a natureza funciona usamos essa grande força da braquiária para trabalhar a nosso favor roçamos linhas de 1m de largura e afofamos em seguida roçamos 5 10 ou 15m de cada lado e acumulamos nessa linha plantando o que desejamos no meio da linha com essa cobertura não crescerá qualquer mato e nosso cultivo estará melhor adubado e protegido do ressecamento Se for no verão 30 ou 40 dias depois teremos novamente a braquiária crescida nas entrelinhas e assim vamos sucessivamente dominando o campo com a força da própria braquiária em linhas ou ilhas imagem 26 Figura 26 Concentrando recursos em linhas capim roçado e acumulado na linha de plantio Atualmente Ernst vem aplicando muito este princípio com a utilização de capim mombaça nas entrelinhas das árvores O capim mombaça por ter a característica de 44 ser do estrato baixo e cespitoso crescendo pra cima não sendo decumbente como a braquiária brisantha facilita o manejo pois não invade tanto as linhas de árvores De preferência construir as linhas no sentido norte sul observando a topografia relevo plantas que gostam de mais sol do sol da tarde do sol da manhã A proposta determina o design Plantas que crescem rápido ver quem sucede quem Tudo é recurso tudo é adubo Recurso no sentido de seguir o fluxo da natureza para potencializar os processos de vida 6 Ecofisiologia das plantas e função ecofisiologica das plantas A Ecofisiologia Vegetal estuda a adaptação da fisiologia dos organismos às condições ambientais por exemplo com relação a plantas nativas da caatinga foram observados três mecanismos quanto à adaptação a seca a resistência das espécies que permanecem enfolhadas no período seco como o juazeiro Zizyphus joazeiro Mart a tolerância das espécies caducifólias que perdem as folhas durante a estação seca como o umbuzeiro Spondias tuberosa ArrCam e o escape das plantas anuais que completam o ciclo fenológico durante a época chuvosa como a Brachiaria plantaginea Hitchc vulgarmente conhecida como milhã Araújo Filho Carvalho 1997 Muitas espécies da caatinga exercem rígido controle da transpiração principalmente pela velocidade de fechamento dos seus estômatos como reação ao aumento do déficit de vapor da atmosfera mesmo sob condições favoráveis de umidade de solo Ecofisiologia de plantas da caatinga José Moacir Pinheiro Lima Filho XXVII Reunião Nordestina de Botânica 2004 Pela definição acima fica claro a importância da escolha certa das espécies que irão compor nosso plantio pois estas necessitam ter os instrumentos necessários para resistirem a diversos fatores do local onde crescem como baixa fertilidade do solo compactação encharcamento prolongado do solo ou seca prolongada baixas temperaturas ou altas temperaturas insolação Daí a importância do trabalho de Vavilov Necessitamos descobrir qual o contexto de origem das plantas que estamos usando para reproduzirmos esse contexto e diminuirmos o estresse das plantas Conhecendo profundamente as plantas com que trabalhamos podemos moldar nossos plantios e assim nos livrarmos das receitas prontas Não basta conhecermos apenas as plantas de nosso bioma pois devido ao acelerado processo de destruição de todos os biomas do Brasil e do mundo o que contribuiu para o aquecimento global e as mudanças climáticas o que estamos presenciando é a alteração profunda do clima em cada bioma Vastas regiões da Amazônia estão savanizando em grandes áreas do cerrado nos últimos 4 anos 2014 a 2017 choveu metade da média histórica lembrando a caatinga Em muitas áreas degradadas da Mata Atlântica crescem plantas do cerrado O que isso nos mostra é que para recuperar essa áreas vamos precisar de plantas do cerrado para recupera a Amazônia de plantas da caatinga para recuperar o cerrado o que é mais difícil pois os solos da caatinga têm no geral uma fertilidade bem maior que os solos do Cerrado Ou seja as 45 condições criadas com a destruição dos biomas em muitos casos não permitem que espécies do próprio local colonizem novamente aquela área o ecossistema perdeu a resiliência necessitando urgentemente de nossa intervenção mas estas espécies podem também não ser suficientes precisamos então de espécies exóticas de outras partes do mundo como o eucalipto Acacia mangium etc Estas espécies não são pragas ou destruidoras de nascentes e solos na verdade utilizadas no contexto da agricultura sintrópica são salvadoras da pátria pois o eucalipto pode criar nossa peroba nosso cedro jabuticaba laranja ou mangaba o que quer que seja desde que utilizado de forma dinâmica como já vimos em princípios anteriores Por exemplo na Australia na região de Melbourne o eucalipto é vegetação nativa protetora de mananciais Primavesi comunicação pessoal Estas espécies são pontes para o estabelecimento de florestas primárias altamente biodiversas e produtivas Ernst Götsch RJ 2016 Conhecendo a ecofisiologia das plantas podemos transformálas em uma ferramenta assim introduzimos plantas com uma função ecofisiológica necessária naquele momento por exemplo introduzimos plantas que resistem a seca com a função de resistirem a seca naquele ambiente degradado e dessa forma criar umidade para as plantas do futuro introduzimos plantas que crescem em solos pobres que disponibilizam fósforo com a função de criar a fertilidade do futuro Princípio 7 Sincronizar os plantios Bordas devem ser podadas Cultivos estabelecidos a transição para a agricultura sintrópica Muitas vezes quando optamos pela agricultura sintrópica já temos na fazenda áreas com cultivos perenes instalados seja de forma orgânica ou convencional com aplicação de adubos químicos ou orgânicos agrotóxicos ou caldas e muitas vezes com máquinas pesadas enfim todo pacote tecnológico da agricultura industrial Quando Ernst iniciou os trabalhos da Fazenda da Toca em São Paulo esta era uma fazenda que produzia frutas orgânicas Ernst recebeu uma das áreas com manejo orgânico e com citrus já plantado com 2 anos de idade Após o manejo sintrópico abandonouse a pulverização de caldas e buscouse utilizar máquinas mais leves para diminuir a compactação do solo e evitar a morte do capim pelo rodado das máquinas Quando optamos por trabalhar com o que já está plantado é necessário avaliar de que maneira podemos aplicar todos os princípios naquele local se é viável manter ou não o cultivo anterior Por exemplo se temos um plantio de seringueira já em produção adulto o primeiro passo é identificar qual o estrato que aquele cultivo pertence após esse passo avaliamos se é possível introduzir os outros estratos No caso desse plantio adulto de seringueira é necessário realizarmos uma poda drástica pois seria inviável para as plantas introduzidas crescer sob uma sombra de plantas adultas envelhecidas e com porcentagem de sombra muito superior ao do estrato alto pois foram plantadas em monocultura A seringueira é boa de poda e rebrota com vigor todo material podado servirá como adubo para os outros estratos que estamos introduzindo como exemplo após a poda da seringueira podemos introduzir como estrato baixo por 46 mudas café cacaujabuticaba estrato médio banana prata cresce bem sob a sombra do estrato alto citros achachairu rambutan etc lembrando que a seringueira foi plantada em monocultura e o estrato alto na agricultura sintrópica ocupa apenas 40 da sombra do seu andar porém como não temos estrato emergente podemos elevar esse sombreamento para uns 50 55 em virtude de não termos estrato emergente 20 de sombra não convém simplesmente somar pois as sombras em andares diferentes permite uma maior entrada de luz do que colocar a soma das sombras de estratos diferentes no mesmo andar assim teremos que manter as seringueiras estrato alto sempre com essa porcentagem de sombra se quisermos produção nos estratos inferiores Nas entrelinhas podemos plantar como estrato baixo capim mombaça para que este alimente as linhas de frutos e seringueiras Com isso teremos um rejuvenescimento das seringueiras além de uma renda maior pela colheita de todos os frutos plantados abaixo dela O que geralmente acontece é que nos cultivos convencionais em monocultura temos um estresse provocado nas plantas por vários fatores plantas como café são do estrato baixo assim é fundamental termos os outros estratos acima dele para evitarmos o estresse das plantas Podese achar que café a pleno sol produza mais mas ele vai muito bem sob a copa dos estratos superiores o problema de plantálo solteiro é que estamos atrelados ao uso excessivo de insumos externos pois o cultivo solteiro não tem quem alimente o café não há poda dos estratos superiores não há formação de serrapilheira que provoca um aumento do húmus no solo trazendo maior fertilildade maior acúmulo de água no solo resistência a doenças Citamos café mas poderia ser plantas cultivadas de qualquer estrato como laranja nóz pecã pêssego maçã manga banana etc Nas entrelinhas dos cultivos muitas vezes dominam gramíneas ou ervas que florescem rápido como braquiária e que se mal manejadas não podadas no tempo certo amadurecem e provocam uma frenagem no crescimento das árvores e na captação de água da atmosfera por parte das micorrizas A partir do momento que entendemos isso buscamos colonizar as entrelinhas com um capim que não seja do mesmo estrato das árvores cultivadas por exemplo em um plantio de laranja estrato médio plantamos mombaça que é estrato baixo e não capim elefante que é estrato alto o qual entraria em conflito com a laranja e daria uma bagunça quando podado pois rebrota facilmente e iria ocupar a linha das árvores dificultando o manejo Muitas vezes só conseguimos realizar uma transição dos cultivos arbóreos em monocultura já instalados para a agricultura sintrópica se as árvores aceitarem podas pois as podas permitirão sincronizar a brotação vigorosa das árvores já instaladas com a brotação das mudas introduzidas As vezes essa poda significa um corte raso Outro exemplo podemos citar o côco emergente Ernst Gotsch realizou um trabalho em 2017 para a empresa Ducoco onde recomendou a substituição das ervas das entrelinhas por um capim cespitoso resistente a seca green panicum recomendando também introduzir nas entrelinhas 9m de largura filas alternadas de caju e neem 47 estrato alto 45m x 1m intercalando com o plantio da mandioca O caju como estrato alto não briga com o côco e ainda vai produzir frutos e castanhas O neem será utilizado para poda adubando as linhas de côco e capim Talvez a regra seja ao nos depararmos com um cultivo perene em monocultura nos perguntar é possível dinamizar esse cultivo que plantas posso introduzir para cobrir melhor o solo e ocupar se possível todos os estratos é possível fazer isso mecanizado Bordas devem ser trabalhadas a altura da árvore deitada define o seu destino se podamos cortamos ou deixamos Muitas vezes ao concluir um plantio em um dos lados do campo temos uma mata ou uma plantação de eucalipto pinus etc Para evitarmos uma influência negativa sobre nossos cultivos temos que obrigatoriamente manejar essas árvores realizando uma poda da borda para dentro da mata retirando a influência negativa de um estrato fora de sincronia com o nosso campo o que causaria uma depressão no crescimento das plantas Essa influência negativa sobre o campo corresponde ao comprimento da árvores deitada Assim podemos fazer uma poda em bisel e transferir todo material podado para nosso campo adubandoo Lembrando que é muito mais prejudicial ao nosso plantio não ser banhado pela luz do Sol nascente do que pela luz do Sol poente Princípio 8 O que cada ser esta fazendo de bom A parte visível da natureza ao ser humano é infinitamente menor que a parte não visível porém na maior parte dos casos os seres humanos não tem a capacidade de olhar além do aspecto material físico Somos incapazes de ver o que acontece no solo quais as relações que se estabelecem entre as plantas entre a microfauna e flora Dificilmente conseguimos observar os animais se não usarmos técnicas de camuflagem esconderijos se isso não bastasse existe ainda um mundo desconhecido ao nível de energia empatia Rupert Shaldrake provou por meio de dezenas de experimentos que os animais são sensíveis a campos de conhecimento inacessíveis à maior parte dos seres humanos É fato comum que os animais detectam um tsunami antes dele acontecer No livro Os cães sabem quando seus donos estão chegando Shaldrake mostra a capacidade dos animais de detectarem o pensamento do dono a milhares de quilômetros de distância os animais tem a capacidade de acessar regiões sutis que o autor chamou de campos morfogenéticos A boa notícia é que podemos desenvolver essa capacidade com as plantas quando trabalhamos mergulhados na natureza vamos nos tornando uno com ela Ernst propõe então que sempre que chegamos a um lugar e encontramos animais trabalhando o que muitos chamam de pragas devemos perguntar seja para formigas cupins insetos etc O que vocês estão fazendo de bom e antes da cada intervenção poda manejo etc perguntar o que posso fazer para otimizar os processos de vida e trazer mais vida a esse lugar Ser um ser querido neste lugar Fazendo essas perguntas nos colocamos receptivos às respostas da natureza 48 Na Natureza tudo está em equilíbrio Atualmente a cultura do Feijoeiro sob manejo convencional não vem suportando toda gama de agrotóxicos para combater as doenças e pragas que surgem O manejo intensivo da cultura do feijoeiro principalmente sob sistema de produção irrigada incrementou a alta demanda pelo pacote tecnológico de produção de preparo de solo seleção de variedades adubação e manejos de controle de pragas e doenças e na colheita do grão O uso de alta carga química em forma de fertilizantes e agrotóxicos num solo de cerrado vulnerável à produção intensiva interferiu negativamente Além disso quebrou o equilíbrio ecológico dos organismos dos ciclos biológicos e da relação harmônica das comunidades criando uma dinâmica populacional restrita de pragas e doenças resultando em problemas que limitam a produção do feijoeiro O número médio de pulverização de inseticidas e acaricidas é de 148 aplicações além de 92 para o controle de doenças em sistemas irrigados No sistema sequeiro são 173 menores os usos de agrotóxicos mas a sua produtividade média é 216 menor que a irrigada Podese observar que números exagerados de aplicações realizadas para o controle não estão tendo a devida eficiência e as perdas começam a se tornar evidentes o que resulta em vulnerabilidade inúmeras doenças de solo como principalmente o mofobranco a podridãoradicularde Rhizoctonia a murchadefusário e a podridãocinzentadocaule Na natureza é comum encontrar uma gama de diversidade microbiológica em fluxo cadeias e redes de desenvolvimento e relacionamento dinâmico das populações Sabese que dentro dessa biodiversidade menos de 006 são organismos fitopatógenos do feijoeiro em relação ao mundo microbiológico httpedcentauruscombragranjaedicao749materia3649 Quando adotamos a agricultura sintrópica restabelecemos a biocenose do solo a comunidade de microorganismos somente ela em equilíbrio pode trazer de volta a saúde de nossos cultivos A pesquisa do Fitopatologista Celso Tomita demonstrada acima prova que é possível abandonar por completo os agrotóxicos reativando a vida no solo Conclusão Para termos sucesso na implantação e manejo de nossas agroflorestas dois pontos são fundamentais 1 Conhecer profundamente todos os princípios da agricultura sintrópica 2 Conhecer as necessidades e características de todas as plantas cultivadas que crescem bem em nossa região juntamente com todas as plantas nativas e exóticas que vão bem no nosso lugar o que significa que devemos saber lugar de origem nome popular e científico resistência a poda estrato que a espécie ocupa na mata presença ou não de folhas caducas arquitetura da copa época de floração e frutificação utilidades para o ser humano tipo de sistema radicular velocidade de crescimento qualidades da semente presença de dormência semente recalcitrante ou ortodoxa etc se a espécie ocorre naturalmente em terra boa ou fraca tipo de solo argiloso arenoso misto tipo de relevo no qual mais ocorre baixada cabeceira de nascente boqueirão topo de morro etc ciclo de vida da espécie placenta secundária I II ou primária Esse conhecimento implica a valorização e resgate do saber local e tradicional o qual é base importante para o sucesso da agrofloresta Com esse olhar 49 sintrópico do mundo não há dúvidas que estaremos aptos a construir agroflorestas semelhantes em sua forma e função às florestas originais do nosso lugar Nosso cérebro assim como a natureza apresentase como uma rede e as pesquisas atuais demonstram que até mesmo nosso DNA não é linear a manifestação dos genes depende mais de uma rede epigenética e metabolismo da célula para se manifestarem do que do próprio DNA portanto com estas informações em nosso sangue facilmente estabeleceremos as conexões entre espécies necessárias quando nos depararmos com a necessidade de construir agroflorestas em qualquer lugar do planeta que já foi floresta um dia APÊNDICE I Espécies indicadoras Na relação que se segue estão algumas plantas mais comuns e as indicações que elas fornecem Nessa relação após o nome vulgar o nome científico e o tipo de solo onde é mais frequente o seu aparecimento Os tipo de solo ficam designados pelas seguintes abreviaturas A terra agrícola AP terra agrícola deixada para formação de pasto P pasto C cerrado Modificado de Guia Rural Abril 1986 Amedoim bravo Euphorbia heterophylla A leiteira invade campos de soja indica solos onde há desequilíbrio do nitrogênio com micronutrientes e em especial com molibdênio e cobre Ariri Cocos vagans P Aparece em solos muito queimados Assa peixe Vernonia spp P Indica solos de cerrado secos e com lajes Bacuri Platonia insignis C Palmeira do Cerrado Indica solso férteis tanto física como quimicamente Barba de bode Aristida pallens C Capim típico de paisagem com fogo Indica pobreza de fósforo de cálcio e potássio Recém brotado o gado aceita Banindose o fogo pode dar lugar a outras forragens Beldroega Portulaca oleracea e outras Recurso de pastagem na seca NE Aparece nos solos melhores protege o solo Berneira ou Maria mole Senecio brasiliensis P Indica solos pastagens com uma camada adensada entre 40 e 120 cm de profundidade 50 Capim amargoso ou capim açu Digitaria insularia ou Trichachne insularis A P Surge em lavouras anabandonadas e em pastagens nas manchas úmidas onde a água estagna após a chuva Nunca indica solos com boa produtividade Capim amoroso ou capim carrapicho Cenchrus echinatus A P Indica campos agrícolas muito decaídos erodidos e adensados Surge também em pastagens onde o pisoteio foi intenso em época adversa Afofado o solo desaparece Capim arroz ou capim capivara Echinochloa crusgalli A Frequente em campos de arroz irrigado Indica a formação de um horizonte de redução rico em substâncias tóxicas logo abaixo da superfície do solo Eliminandose o horizonte de redução por drenagem o capim não mais germina Cabelo de porco Carex sp A P Aparece em solos muito compactados e anaeróbicos com um nível de cálcio irrisório Altamente beneficiado pelas queimadas Capim cabeludo Trachypogon spp Típico de paisagem de fogo sem queimadas regride Capim caninha ou capim colorado Andropogon incanis P Surge em solos temporariamente encharcados e periodicamente queimados RS Indica deficiência aguda de fósforo Adubado com fosfato tornase forrageira boa Em pastejo rotativo tende a desaparecer Capim favorito capim gafanhoto ou capim natal Rhynchlytrum roseum Indicação de solos muito secos decaídos Capim marmelada ou capim papua Brachiaria plantaginea A Surge só em terra arada ou gradeada Boa forrageira Indica solos em decadência Capim rabo de burro Andropogon bicornis e outros A P Indica solos muito ácidos com baixo teor de cálcio e uma camada impermeável entre 60 e 120 cm de profundidade Rompida a laje subterrânea desaparece Capim rabo de raposa Setaria geniculata P A Indica solos pobres Faz pouca massa verde e floresce cedo Durante a seca pode ser um recurso forrageiro Típico de beiras de estradas onde a compactação é maior Caraguatá ou gravatá Eryngium ciliatum Bromeliacea típica de pastos com húmus ácido Carquejas Baccharis spp P Preferem terrenos que na estação das chuvas estagnam águas do subsolo até a superfície mas que na época de estiagem são muito seco Dependem da pobreza do solo em molibdênio 51 Chirca Eupatorium spp P Indica boas condições para o gado e só aparece em solos ricos em molibdênio e nos quais onde haja o manejo rotativo das pastagens Cravo branco ou erva fedorenta Tagetes erecta e T minuta b A Assentamse em grande quantidade nos solos infestados por nematoides Dente de leão Taraxacum officinale P Surge em pastagens S indicando a presença de boro no solo O gado o aprecia como aperitivoAs folhas novas são comestíveis para o ser humano Fazendeiro ou picão branco Galinsoga parviflora A Surge em solos com excesso de nitrogênio mas deficientes em micronutrientes Aparentemente é beneficiado pela deficiência de cobre Feto de gaiola ou samambaia das taperas Pteridium aquilinum Indica solos ácidos e encharcados Grama seda do burro paulista ou bermuda Grass Cynodon dactylon A P Indica solos muito compactados muito pisoteados O solo onde aparece é bem mais rico do que aquele onde cresce o amoroso mas é menos compactado Guaxuma malva ou vassourinha Sida spp Indica onde o subsolo é adensado ou onde o solo superficial foi lavado pela erosão Indicadora de laje mais o menos grossa que restringe o crescimento radicular em geral mas que a guanxuma consegue vencer Aparece por efeito da aração profunda demais de pisoteio de gadoou de movimentação excessiva de máquinas Leguminosas em geral Papilonaceae Cassia Mimosoideae indicam no solo presença de fósforo que elas aumentam Faltando potássio são dominadas por capins Faltando cálcio são atacadas pelas cochonilhas como o guandu e suas sementes são facilmente parasitadas por brocas Mentrasto Ageratum conyzoides A Indica o melhoramento físico do solo Mio mio Bacharis coridifolia P Surge apenas em solos rasos Indica sobretudo deficiência de molibdênio no solo Em campos tomados pelo mio mio quando queimados este desaparece pois suas cinzas contém tanto molibdênio que lhe tiram a capacidade de crescer Nabisco ou nabo bravo Raphanus raphanistrum A Indicadora de carência de boro e de manganês 52 Pinhá ou pinhão manso Jatropha curcas Indica solos adensados pelo uso do fogo e pela exposição ao impacto das chuvas solos que alternam erosão e enchentes com secas samanbaia da taperas Pteridium aquilinum CPA Indica sempre níveis elevados de alumínio Sapé macho mãe de sapé ou erva lanceta Solidago microglossis A Indica solos muito ácidos com pH entre 45 e 52 Sapé Imperata exatalta A P Capim ácido rico em alumínio indica um pH entre 40 e 45 Tiririca ou capim dandá Cyperus rotundus A Indica solos muito ácidos adensados e temporariamente encharcados ou anaeróbicos pela perda de macroporos Viceja em geral também em que há deficiência de magnésio APÊNDICE II ERNST GÖTSCH estabelece os seguintes critérios para medirmos a sustentabilidade de um SISTEMA AGROFLORESTAL DIRIGIDO PELA SUCESSÃO NATURAL Workshop ministrado por Ernst Götsch Alto Beni Bolívia 2001 Solo Porcentagem da superfície do solo coberta por matéria orgânica Composição do material da cobertura quanto maior é a fração lignificada eou coriácea melhor Espessura da cobertura Atividade da microflora e microfauna Vegetação Cobertura vegetal Vigor e saúde da vegetação Estratificação do consórcio dominante Desenvolvimento complexidade e distribuição individual de cada espécie Complexidade saúde vigor e desenvolvimento dos consórcios que chegarão a dominar no sistema do qual o consórcio dominante é faz parte ou no caso em que este último foi dominado por espécies primárias vigor regenerativo do mesmo sistema Capacidade do sistema para aumentar por sua autodinâmica a qualidade e quantidade de vida consolidada tanto no sublugar em que se encontra como no Planeta Terra por inteiro Impacto ecológico Proximidade do agroecossistema ao ecossistema natural e original do lugar quanto ao seu modo de funcionar ecofisiologicamente e quanto a sua dinâmica e seu impacto no macroorganismo Planeta Terra por inteiro Impacto do uso de insumos considerando toda a corrente desde sua produção até os impactos diretos e indiretos provocados pelo seu uso Econômico 53 Custobenefício quanto a requerimentos de mão de obra para sua implementação e manutenção este último a curto médio e longo prazo Uso de insumos Custobenefício considerando por inteiro os impactos causados pelo sistema em relação ao desenvolvimento dos recursos do Planeta solo biodiversidade água potável hidrocarbonetos petróleo etc atmosfera etc Incluindo os custos causados pelos impactos originados pela produção transporte e comércio dos insumos Social Distribuição de requerimento de uso de mão de obra durante o ano Acessibilidade dependência do uso de alta tecnologia e outras inversões para sua implementação Dependência de fatores externos crédito mercado etc Diante de tais complexidades a implantação de Sistemas agroflorestais Dirigidos pela Sucessão Natural dependem em grande parte de Um instrumento didático eficaz para que o agricultor entenda todos os princípios envolvidos na implantação e manutenção de uma agrofloresta sucessional Disponibilidade de mãodeobra Acesso do agricultor ao seu principal meio de produção que é a terra