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ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS DO PORTUGUÊS JIZ CARLOS DE ASSIS ROCHA EDITORA UFMG O LÉXICO 3 Vimos com BASÍLIO cf c item 122 que a competência lexical de um falante nativo compreende a o conhecimento de uma lista de entradas lexicais b o conhecimento da estrutura interna dos itens lexicais assim como relações entre os vários itens c o conhecimento subjacente à capacidade de formar entradas lexicais gramaticais novas e naturalmente rejeitar as agramaticais Neste capítulo discutiremos com mais rigor o item a da definição de BASÍLIO O conhecimento de uma lista de entradas lexicais Do quinto capítulo em diante discutiremos os itens b e c Que se entende por lista de entradas lexicais Todo falante nativo faz uso o que quer dizer tem conhecimento de uma lista não só de palavras como também de um grande número de formas linguísticas que não constituem palavras tais como os afixos as desinências etc A esse conjunto de formas linguísticas que o falante tem internalizado dáse o nome de LÉXICO MENTAL KATAMBA 1994223 É preciso deixar claro que estamos considerando a competência lexical do falante Não estamos nos referindo portanto àquilo que conhecemos como um dicionário da língua 31 LISTA DE ITENS MORFEMAS OU LEXEMAS Todo falante conhece ou possui uma lista de itens lexicais que podem variar desde os mais simples como luz lindo chover até os mais complexos como oligopolístico antenaparabólica inconstitucionalissimamente etc Mesmo levandose em conta as palavras difíceis ou complexas da língua seria uma tarefa simples para o lingüista estabelecer a lista de itens lexicais se concordássemos que dessa lista deveriam fazer parte apenas as palavras de uma língua Embora haja muitas discussões em torno do conceito de palavra sabemos que formas lingüísticas como geo antropo hidro sub re ário e mento não são consideradas palavras pelos falantes No entanto esses mesmos falantes usam o que vale dizer conhecem essas formas Além disso os dicionários as registram O problema não é tão simples como poderia parecer à primeira vista Afinal que formas lingüísticas devem fazer parte da lista de itens lexicais de um falante nativo De que é constituído o léxico mental de uma pessoa De morfemas De lexemas De afixos De desinências Desde HALLE 1973 há autores que afirmam que a lista é formada de MORFEMAS Ora é preciso considerar que o falante conhece não apenas o morfema isolado mas também separadamente os produtos das combinações entre os morfemas Assim ele conhece paquerar o morfema dor e o produto paquerador Por outro lado ele conhece apelidar e dor mas não conhece o produto apelidador Surge então a hipótese de que também devem fazer parte da lista os LEXEMAS além dos morfemas Sabemos que lexemas são palavras que apresentam raiz Além disso conforme veremos em 531 novas formações podem ser produzidas com base em palavras complexas da língua Assim mexicanizar tem como base mexicano argentinização tem como base argentinizar e fujimorização tem como base fujimorizar Ora as bases citadas não são morfemas mas palavras complexas da língua que existem no léxico mental dos falantes É preciso considerar no entanto que além dos lexemas o falante conhece as BASES PRESAS hidro bio geo agro logia grafia etc O conceito de base presa será definido com rigor no item 547 Vimos que os afixos são conhecidos dos falantes Além disso é preciso considerar que o falante utiliza outras formas lingüísticas como as formas dêiticas e as dependentes as desinências e as vogais temáticas Estamos concordando com SELKIRK 198259 quando afirma um afixo é um item lexical está submetido a uma categoria e tem uma entrada lexical como qualquer morfema livre ou item morfologicamente complexo seja uma palavra um radical ou o que quer que seja Desse modo estamos não só refutando a idéia de que o léxico mental de um falante nativo é constituído de morfemas como também por outro lado a posição de que as raízes ou semantemas fariam parte do léxico e os demais elementos como os afixos por exemplo fariam parte da regra Ora as regras são processos que são preenchidos por itens lexicais como as bases os afixos as desinências etc Em vista do exposto apresentamos em seguida as formas lingüísticas que constituem a lista de entradas lexicais Ratificamos o ponto de vista de que dessa lista devem constar todas as formas lingüísticas conhecidas do falante sejam elas morfemas ou não ENTRADAS LEXICAIS LIVRES LEXEMAS Puros mar café livro gato calmo varrer participar vinte segundo cede sempre Complexos simples livreiro reler esclarecer compostos guardaroupa secretáriaeletrônica biologia VOCÁBULOS DÊITICOS eu nosso isto alguma aqui lá DEPENDENTES de para embora que o uma PRESAS Bases hipo hidro eco logia latria Afixos prefixos re in des inter sufixos ção agem ice itar ecer Desinências nominais livros alegres risonho bonita verbais caminhamos andavas ouvindo argumentar Vogais temáticas nominais livro horta ponte gato galo verbais parar vencer ouvir Com relação ao esquema exposto observese o seguinte Entradas lexicais livres e entradas lexicais dependentes são consideradas palavras em português Entradas lexicais presas não funcionam como palavras LEXEMAS são palavras que apresentam uma ou mais raízes O conceito de raiz será discutido com profundidade no item 532 Os lexemas puros apresentam apenas um ELEMENTO LEXICAL São elementos lexicais a raiz e os afixos Os lexemas complexos apresentam dois ou mais elementos lexicais Os lexemas complexos simples apresentam uma só raiz e os lexemas complexos compostos duas ou mais VOCÁBULOS DÊITICOS são aqueles que se diferenciam nitidamente dos nomes propriamente ditos pela circunstância de exprimirem um ser não por ele mesmo mas em função de uma SITUAÇÃO LINGUÍSTICA Em outros termos o seu significado é apenas a relação estabelecida com as duas pessoas do discurso ditas PESSOAS GRAMATICAIS o falante e o ouvinte CÂMARA JR 1964b153154 Como se vê as entradas lexicais dêiticas são palavras com significado especial sui generis Não apresentam raiz e não servem de base para a formação de outras palavras São vocábulos dêiticos os pronomes em sua maioria e alguns advérbios Com relação às ENTRADAS LEXICAIS DEPENDENTES ou FORMAS DEPENDENTES observemse estas palavras de CÂMARA JR 1964a forma intermediariamente há a forma dependente que é autônoma embora nunca apareça isolada podendo separarse livremente daquela a que associa na enunciação ou mudar de posição em relação a ela As ENTRADAS LEXICAIS PRESAS ou FORMAS PRESAS não funcionam como palavras Dentre as entradas lexicais presas apenas as bases presas hipo hidro antropo latria etc funcionam como raízes Como o nome indica servem como bases para a formação de novos itens lexicais hidrico hidromassagem ecoxiita etc As vogais temáticas nominais e verbais colocam o nome e o verbo em condições de receber as desinências 32 IDIOSSINCRASIAS Adotando essa posição de que devem fazer parte da lista de itens todas as formas lingüísticas conhecidas do falante estamos também rejeitando a visão de alguns lingüistas segundo a qual a lista deve ser constituída apenas de idiossincrasias Essa parece ter sido a postura adotada pela lingüística estrutural conforme se lê em BLOOMFIELD 1933274 O léxico é realmente um apêndice da gramática uma lista de irregularidades básicas Por sua vez BAUER 1983190 um lingüista nãoestruturalista afirma A informação a respeito de cada lexema que está listado no léxico deve ser idiossincrática isto é não pode ser prevista por uma regra geral É interessante observar a ironia que dessa posição fazem os lingüistas DI SCIULLO WILLIAMS citado por KATAMBA 199383 ao afirmarem que o léxico é concebido como uma prisão que contém apenas os foradalei e que a única coisa que os seus ocupantes têm em comum é a ilegalidade Hoje em dia a maioria dos gerativistas rejeita a idéia de que o léxico é meramente uma lista de irregularidades KATAMBA 199383 Isso está relacionado dentre outros motivos com o fato de que uma RFP aplicada a bases de uma mesma classe pode apresentar produtos reais ou não É o caso das bases laranja limão caju e maracujá Em Belo Horizonte larânjada e limonada são considerados itens familiares ao passo que cajuada maracujada serão rejeitados por serem palavras inexistentes embora a RFP correspondente apresente as condições ideais de produtividade O fato de cajuada e maracujada não serem produtos reais é um problema que vamos tentar resolver no sexto capítulo Por ora é suficiente constatar que os produtos das RFPs podem ter existência real ou não e que da lista de itens do falante devem fazer parte apenas os produtos reais É necessário portanto que se registrem os produtos reais e apenas os produtos reais mesmo que sejam regulares e que não se registrem os produtos hipotéticos mesmo que sejam regulares uma vez que eles não são conhecidos dos sujeitos falantes Caso contrário a lista seria imensa e apresentaria termos repetidos e desnecessários pois não haveria a ação do bloqueio e das restrições Mas esse é um problema que será estudado no sexto capítulo De qualquer forma estamos contrariando a posição de ARONOFF 197643 quando afirma Digamos que apenas aquelas palavras que são excepcionais isto é arbitrárias em pelo menos um de seus vários traços deverão dar entrada no léxico Em resumo podemos dizer com SPENCER 199148 que a lista de itens constitui um LÉXICO PERMANENTE permanent lexicon e não um LÉXICO CONDICIONAL OU POTENCIAL conditional lexicon ou potential lexicon Essa colocação ilustra bem a antiga preocupação de ARONOFF 197617 com relação às classes de PALAVRAS REAIS e PALAVRAS POSSÍVEIS de uma língua 33 RELATIVIDADE DA LISTA DE ITENS CHOMSKY 197583 afirma que o falanteouvinte ideal deve estar situado numa comunidade lingüística completamente homogênea Tal posicionamento nos leva à conclusão de que as listas são em princípio específicas de uma comunidade lingüística É claro que a grande maioria dos itens é comum às várias microcomunidades lingüísticas Mas é preciso supor por uma questão de método que a lista é específica de um grupo restrito com tais e tais características Como afirma KATAMBA 1994113 o fato de que alguns linguistas possam identificar algumas estruturas morfológicas não quer dizer necessariamente que a competência lexical média do falante nativo também possa O que em princípio seria composicional para alguns falantes pode não ser para outros Essa homogeneidade a que se refere Chomsky pode se dar no âmbito espacial ou no âmbito social Teremos assim os dialetos regionais e os dialetos sociais Para o estudo da morfologia gerativa é imprescindível que se fixem os limites desses dialetos ou dessas comunidades lingüísticas a fim de que se evitem interpretações ambíguas Chegamos assim ao conceito de língua funcional Como afirma BECHARA 198555 só numa língua funcional e não numa língua histórica em sua plenitude por ser uma coleção de línguas funcionais é que têm validade as oposições estruturas e funções que se encontram numa tradição idiomática Dissemos no item 122 que as nossas observações neste trabalho baseiamse na competência lexical média dos alunos da Faculdade de Letras da UFMG O reconhecimento dos limites dialetais conduz às vezes a resultados interessantes no campo da morfologia derivacional No que se refere aos dialetos regionais observase que em Belo Horizonte o agentivo que designa o indivíduo que dirige um táxi é taxista ao passo que em Salvador a forma taxeiro também é usada Num âmbito mais amplo verificase a distinção entre bolsista e fichário empregados no Brasil e bolseiro e ficheiro comuns em Portugal Quanto à dialetologia social podese constatar que no âmbito da FALEUFMG os falantes poderão reconhecer a estrutura da palavra antibiótico por exemplo desmembrando os elementos anti idéia contrária bio vida e tico sufixo Isso nos faz lembrar o exemplo de um indivíduo nãoescolarizado que pediu ao farmacêutico um tibióti Neste caso é evidente que não se pode dizer que o falante pode reconhecer a estrutura da palavra em questão Tudo indica que a RAE vai produzir resultados diferentes em um e em outro caso pelo fato de os falantes pertencerem a dialetos sociais diferentes 34 POLISSEMIA E HOMOFONIA A concepção gerativista dos estudos da linguagem prevê que as considerações relacionadas com as questões morfológicas girem em torno do problema da criação de novos itens lexicais Em outras palavras ao estudarmos a produtividade lexical de uma língua estaremos ipso facto estudando o componente morfológico dessa língua É por isso que todas as nossas considerações neste trabalho estão relacionadas direta ou indiretamente com a questão da formação de novos itens lexicais Em vista do exposto é preciso distinguir a questão da formação de palavras da questão dos vocábulos polissêmicos Como afirma o semanticista MICHEL BRÉAL o mesmo termo pode empregarse alternativamente no sentido próprio ou no sentido metafórico no sentido restrito ou sentido amplo no sentido abstrato ou no sentido concreto E conclui o lingüista À medida que uma significação nova é dada à palavra parece multiplicarse e produzir exemplares novos semelhantes na forma mas diferentes no valor A esse fenômeno de multiplicação chamaremos a polissema BRÉAL 1992103 Sabemos que a POLISSEMIA caracterizase pelo fato de que uma palavra pode sofrer adaptações semânticas às diversas circunstâncias em que é usada sem contudo deixar de se ligar a um sentido básico inicial Nesse caso não estamos criando um novo item lexical mas apenas usando uma palavra em sentido figurado Em outros termos estamos fazendo uso da linguagem metafórica ou polissêmica São exemplos de polissemia braço de um rio dente de uma engrenagem boca da noite ponteaérea folha de caderno espinhos da profissão cortina de ferro paraíso de felicidade etc Esses são exemplos de POLISSEMIA INSTITUCIONALIZADA ou seja já consagradas pelo uso É possível também falarse em POLISSEMIA ESPORÁDICA que pode surgir nas conversas espontâneas nas propagandas nos textos técnicocientíficos e na linguagem literária em decorrência do fato de que a polissemia é uma característica de todo e qualquer lexema São exemplos de polissemia esporádica Ela não é uma mulher comum ela é uma gota de orvalho Os nossos pensamentos são pássaros que voam em direção ao céu A vida não é uma planície verdejante mas uma floresta selvagem É preciso não confundir polissemia com HOMOFONIA ou seja a propriedade de duas ou mais formas inteiramente distintas pela significação ou função terem a mesma estrutura fonológica CÂMARA JÚNIOR 1964a homonímia Vocábulos homónfonos são aqueles que têm a mesma forma sob o ponto de vista fonético e sentidos diferentes Manga de camisa e manga fruta não têm qualquer ligação de sentido São exemplos de vocábulos homófonos o que vale dizer de palavras distintas são verbo ser sadio e santo cabo acidente geográfico e posto militar coser costurar e cozer cozinhar espiar olhar e expiar sofrer sessão ato de assistir cessão ato de ceder e seção repartição cela cubículo e sela peça de arreio Estamos preferindo neste caso empregar o termo homofonia ao termo homonímia por uma questão de clareza terminológica Homonímia apesar de ser consagrado apresenta os termos constitutivos que significam homo o mesmo onim nome ia sufixo Em são e cabo por exemplo não temos formas do mesmo nome mas nomes distintos já que os significados são distintos O termo homonímia se aplica aos vocábulos polissêmicos De fato dente de um ser humano e dente de alho são o mesmo nome são homônimos Supõese que na lista de itens lexicais de um falante as distinções polissêmicas façam parte de uma única entrada Assim tronco de árvore e tronco do corpo humano serão a mesma palavra No dicionário um único verbete deve abrigar as possíveis aplicações polissêmicas de um vocábulo Com a homofonia a questão é diferente Por se tratar de palavras distintas os homófonos terão entradas diferentes na competência lexical do falante O mesmo se dá nos dicionários em que as formas homófonas deverão se constituir verbetes distintos Embora tenhamos afirmado que na polissemia estamos diante do mesmo vocábulo e na homofonia estamos diante de vocábulos distintos é preciso reconhecer que o critério para se estabelecer a distinção entre itens lexicais não é tão simples como poderia parecer à primeira vista Para dar mais objetividade aos nossos estudos vamos acrescentar a este trabalho a definição de palavra segundo MEILLET citado por LÁZARO CARRETER 1962 palabra Uma palavra resulta da associação de um sentido dado a um conjunto dado de sons susceptível de um emprego gramatical dado Vêse portanto que uma palavra se caracteriza por possuir uma identidade fonética uma identidade semântica e uma identidade funcional Em a Meus dentes estão escovados b Os dentes desta engrenagem precisam de graxa observase que dentes em a e b é a mesma palavra pois em ambos os casos os aspectos fonético semântico e funcional são os mesmos Há a mesma sequência de sons o mesmo sentido com uma adaptação já que em a o sentido é denotativo e em b é conotativo e a mesma função em ambos os casos dentes é um substantivo ou o núcleo de um sintagma nominal ou ainda em termos gerativistas os dois itens preenchem o mesmo nó vazio Observemse no entanto os seguintes exemplos A a Este menino é muito esperto b Este garoto é muito esperto B a A manga de sua camisa está rasgada b Esta manga está docinha C a Não pude olhar para você b O seu olhar é penetrante Em A menino e garoto são palavras distintas porque há identidade semântica e funcional mas não há identidade fonética Em B manga e manga são palavras distintas Há identidade fonética e funcional mas não há identidade semântica Em C olhar e olhar são duas palavras distintas pois embora haja identidade fonética e semântica não se pode falar em identidade funcional Essa questão pode ser sintetizada no quadro 1 QUADRO 1 Caracterização de palavra Polissemia Sinonímia Homofonia Conversão Aspectos dentes menino manga olhar dentes garoto manga olhar Fonético SIM NÃO SIM SIM Semântico SIM SIM NÃO SIM Funcional SIM SIM SIM NÃO Mesma palavra Palavras diferentes 35 EMPRÉSTIMOS E HIBRIDISMOS Temos visto até aqui que a renovação lexical se faz através dos processos de formação de palavras Essa renovação se faz portanto com os recursos que a própria língua oferece Essa não é no entanto a única fonte de renovação lexical de uma língua Uma nova palavra ou seja um NEOLOGISMO pode surgir em decorrência de um EMPRÉSTIMO de uma língua para outra Devido ao contato entre culturas de línguas diferentes é natural que haja um comércio de palavras entre os diversos países Do mesmo modo como se dá com o poderio sóciocultural e econômico na balança comercial do léxico as nações mais fortes são via de regra as que mais exportam palavras A língua portuguesa está sendo invadida por palavras e expressões oriundas do inglês por causa do poderio sócioeconômico dos Estados Unidos O estudo dos estrangeirismos interessa pouco à morfologia uma vez que o empréstimo chega pronto à língua e não é de nosso interesse estudar nem a sua estrutura nem a sua formação Não podemos contudo deixar de estabelecer a distinção entre empréstimos sob o ponto de vista sincrônico e empréstimos sob o ponto de vista diacrônico Considerase uma forma linguística como sendo um empréstimo sob o ponto de vista sincrônico ou simplesmente empréstimo se essa forma apresentar um fonema ou uma sequência de fonemas estranhos ao sistema fonológico do português São exemplos de empréstimos outdoor bestseller marketing shoppingcenter eggcheeseburger laser compactdisc showroom publicrelations dumping leasing flamboyant entourage pizza etc Às vezes o estrangeirismo é apenas gráfico uma vez que a palavra já é pronunciada de acordo com o sistema fonológico do português show voley boy football boîte chalet blackout whisky shampoo abatjour mezzanino etc Muitas vezes essas palavras aparecem grafadas à portuguesa desaparecendo assim na pronúncia e na grafia o seu efeito de dépaysment de que nos fala CRESSOT 196156 xou vôlei bói futebol boate chalé blecaute uísque etc O critério que estamos adotando neste trabalho para a fixação do conceito de empréstimo é eminentemente técnico e sincrônico estamos nos baseando na existência ou não de fonemas ou combinação de fonemas estranhos à língua receptora É evidente que existem critérios que levam em conta outros aspectos como o cultural o social o histórico o político etc Sendo assim palavras como futebol vôlei boate chalé e clube por exemplo poderiam ser consideradas empréstimos de acordo com outros critérios É preciso não confundir o empréstimo sincrônico como acabamos de definir com o empréstimo diacrônico A gramática histórica portuguesa considera como empréstimo toda contribuição estrangeira que tenha entrado para o português depois que a língua se constituiu como tal Isso se deu por volta do século XII MELO 1975216 É preciso porém mais uma vez não fazer confusão entre os planos sincrônico e diacrônico no estudo da linguagem As palavras da relação abaixo entraram para a língua depois do século XII Sob o ponto de vista histórico são portanto empréstimos Sob o ponto de vista sincrônico porém pelo fato de terem se adaptado integralmente ao sistema fonológico e ortográfico do português não são consideradas como empréstimos pela competência lexical dos falantes do português atual Observese a seguinte relação extraída de COUTINHO 1962230234 em que todas as palavras só devem ser consideradas como empréstimos sob o ponto de vista diacrônico alegre anel jogral rouxinol viagem açúcar jambo pijama chá azul bazar espinafre laranja paraíso charuto chapéu assembléia chefe avenida envelope clube estrangeiro mestre milagre etc Passemos à questão dos HIBRIDISMOS Segundo CUNHA CINTRA 1985113 são palavras híbridas ou hibridismos aquelas que se formam de elementos tirados de línguas diferentes Em homemshow discolaser westerncanguru agroboy e gamemaníaco estamos diante de formações híbridas compostas Em shakespeareano darwinismo macarthismo thatcheriano behaviourismo schwarzeneggeriano neogorbacheviano blecaça supergay e próClinton estamos diante de formações híbridas simples derivação afixal Por outro lado a lingüística diacrônica considera que as palavras da relação abaixo são hibridismos por terem sido formadas por elementos de línguas diferentes bicicleta latim grego automóvel grego latim centímetro latim grego mineralogia latim grego burocracia francês grego zincografia alemão grego goiabeira tupi português É preciso considerar que sob o ponto de vista sincrônico tais formações não são híbridas pois a competência lexical do falante não considera os elementos formadores das palavras como pertencentes a línguas distintas mas sim como bases e afixos da língua portuguesa Negar que bi auto móvel metro logia cracia e goiaba sejam formas do português parecenos uma idéia tão absurda quanto a de negar que as desinências va mos e s os sufixos ense ano e ismo os prefixos pré re e anti e as raízes terra livro e crise sejam do português já que todas essas formas apesar de provirem do latim ou do grego são naturais aos falantes da nossa língua Negar a vernaculidade dessas formas é o mesmo que negar a nossa própria língua Se essas formas não são português então o português não existe 36 O LÉXICO PORTUGUÊS As palavras de uma língua podem ser divididas em dois grandes grupos lexemas e instrumentos gramaticais LEXEMAS como vimos são palavras que apresentam uma ou mais raízes O conceito de raiz será discutido com profundidade no quinto capítulo Por ora basta saber que raiz é um morfema de significação externa comum a várias palavras de um mesmo grupo lexical Assim livr é a raiz de livro livreiro livraria livresco e clar é a raiz de claro clareza esclarecer etc Os lexemas podem ser simples pelo fato de apresentarem uma só raiz como os exemplos citados ou compostos pelo fato de apresentarem mais de uma raiz sofácama agentesecreto acrofobia etc INSTRUMENTOS GRAMATICAIS são palavras que não apresentam raiz Os artigos as preposições as conjunções e os pronomes relativos são exemplos de instrumentos gramaticais Por ora nossa atenção está voltada para os lexemas De fato no estudo da formação de palavras só interessam as palavras de significação externa As palavras que não são lexemas como as preposições e as conjunções têm permanecido as mesmas no decorrer da história da língua Além disso não se formam novas palavras derivadas de preposições e conjunções Dentre os lexemas os substantivos os adjetivos os verbos e alguns advérbios interessam especialmente ao estudo da formação de novos itens lexicais razão por que são chamados de CATEGORIAS LEXICAIS MAIORES segundo ARONOFF 195721 Os lexemas constituem no dizer de MARTINET 196416 uma LISTA ABERTA isto é a todo momento novos lexemas aparecem na língua quer se trate de formações vernáculas quer se trate de estrangeirismos Além disso grande parte dos lexemas está relacionada com a cultura com o momento históricopragmático Palavras como doleiro cutista grafiteiro bipar narcodeputado ecoxiita seqüestrável clonável celulódromo agrobusiness etc surgem na língua em decorrência do momento histórico que vivemos do mesmo modo que palavras como bonde carruagem mataborrão tinteiro fraque litorina sarau estão desaparecendo ou seja são ou tendem a ser consideradas como arcaísmos Os instrumentos gramaticais constituem uma LISTA FECHADA na expressão de MARTINET 196417 Como dissemos a língua não cria novas preposições conjunções ou artigos e a lista vem permanecendo a mesma no decorrer da história da língua Os lexemas como vimos no segundo parágrafo deste item podem ser simples pelo fato de apresentarem uma só raiz livreiro clareza belo antisocial ou compostos pelo fato de apresentarem mais de uma raiz sofácama agentesecreto acrofobia nipofrancobrasileiro etc Sob outro ponto de vista como vimos na seção 31 os lexemas podem ser puros ou complexos Os lexemas puros apresentam apenas um elemento ou morfema lexical raiz ou afixos em sua estrutura livro menino giz simples residir orar etc Os lexemas complexos apresentam mais de um elemento ou morfema lexical em sua estrutura livreiro agrário revisitar girassol filologia Partido dos Trabalhadores etc Os lexemas puros constituem via de regra o chamado VOCABULÁRIO FUNDAMENTAL de uma língua São nomes que designam partes do corpo boca olho cabeça perna etc parentesco pai mãe tio filho avô etc substâncias básicas ouro ferro madeira terra água areia etc São também os adjetivos mais comuns da língua como bonito feio alto baixo grande pequeno etc além dos verbos mais empregados na comunicação diária ser ir vir estar ficar nascer morrer subir descer etc Os lexemas complexos são formados no interior do próprio sistema linguístico Desse modo o léxico de uma língua pode ser constantemente renovado Essa renovação é feita através dos processos de formação de palavras que serão estudados a partir do quinto capítulo deste trabalho São exemplos de lexemas complexos encontrista palestrista grafiteiro pichador bipar superfaturamento descasar implosão deflação agroboy narcodeputado ecoerótico etc 37 ENTRADAS LEXICAIS A lista de entradas lexicais de um falante nativo ou em outras palavras o LÉXICO MENTAL de um indivíduo é formado por toda e qualquer forma linguística que a pessoa conhece ou utiliza Como o falante conhece e utiliza essas formas de maneira intuitiva compete ao linguista com o auxílio de técnicas adequadas explicitar essas formas Fazendo isso estaremos com KATAMBA 1994224 respondendo à seguinte questão O que deve uma pessoa saber a respeito de palavras de tal modo que seja capaz de usálas como falante e como ouvinte É preciso lembrar que aqui não estamos preocupados com a elaboração de dicionários que é uma técnica específica da LEXICOGRAFIA Como dissemos a nossa pesquisa toma como base a lista de itens lexicais de um grupo de falantes nativos alunos da Faculdade de Letras da UFMG de Belo Horizonte Nos itens subsequentes tentaremos demonstrar como pode ser explicitado o léxico mental de um falante nativo de acordo com os modelos apresentados por BAUER 1983190200 e por KATAMBA 1994224228 com algumas adaptações para os exemplos do português Poderão ser apresentadas informações fonológicas sintáticas semânticas e discursivas As informações morfológicas fazem parte do sistema de regras RFPs e RAEs por isso não serão descritas aqui mas a partir do próximo capítulo 75 371 INFORMAÇÕES FONOLÓGICAS As informações fonológicas limitamse tão somente à transcrição fonológica do item lexical Não há necessidade de referências à tonicidade das palavras uma vez que ela vem apontada na transcrição Questões relacionadas com mudanças fonológicas como práticopraticidade por exemplo serão analisadas no sistema de regras 372 INFORMAÇÕE SINTÁTICAS O falante de uma língua natural faz uso intuitivo das classes lexicais Tanto é verdade que em português ele não anexa o sufixo dor a substantivos por exemplo para formar palavras novas mas apenas a verbos luzdor canetador emoçoador mas apelidador conseguidor parafusador etc Logo as classes lexicais devem ser explicitadas na descrição do item lexical A estrutura de argumentos de uma palavra como por exemplo o tipo de sujeito ou de complemento que um item lexical exige é uma questão sintática que também deve fazer parte da descrição da lista de entradas lexicais 373 INFORMAÇÕES SEMÂNTICAS Não existe nada mais arbitrário ou seja idiossincrático do que a relação entre significante e significado Os semanticistas costumam fazer a descrição do significado através de traços marcadores ou componentes metalingüísticos mas como esse é um terreno da lingüística extrêmement perigoso preferimos seguir a posição adotada por BAUER 1983191 para mim parece ser mais satisfatório pelo menos até que uma teoria semântica unificada se torne disponível explicar as significações das palavras com o inglês do diaadia isto é usando lexemas comuns em vez de traços metalingüísticos 374 INFORMAÇÕES DISCURSIVAS Há certas palavras como homem por exemplo que aparecem em qualquer tipo de discurso Por outro lado palavras como bicho e cara adquirem no discurso informal um sentido especial Já termos como exegese e elucubraçâo 76 são características de um discurso formal A descrição dos itens lexicais de uma língua deve levar em consideração esses aspectos 38 RESUMO Neste capítulo tentamos solucionar algumas questões relacionadas com a organização do léxico de uma língua Após estabelecermos que o léxico mental de um falante nativo é constituído de toda e qualquer forma linguística desde as mais simples às mais complexas e não apenas de idiossincrasias como querem alguns autores discorremos sobre a relatividade das listas de itens sobre a distinção entre polissemia e homofonia e sobre a necessidade de se distinguirem tanto os empréstimos quanto os hibridismos sob a perspectiva sincrônica e sob a perspectiva diacrônica Em seguida procuramos demonstrar como podem ser descritas as diversas entradas lexicais do português 77 O SURGIMENTO DE 4 UM NOVO VOCÁBULO Antes de entrarmos na descrição do itinerário de uma palavra desde a sua criação até a sua inclusão no léxico de uma comunidade linguística vamos responder a três perguntas básicas por que se formam novas palavras quando se formam novas palavras como se formam novas palavras Também discutiremos três questões relacionadas com a formação de novos itens lexicais a lexicalização a fossilização e a dicionarização 41 POR QUE SE FORMAM NOVAS PALAVRAS A resposta a essa pergunta está relacionada a três fatores as exigências do sistema linguístico a influência do sujeitofalante e o papel das funções semânticas Podemos portanto falar em três FUNÇÕES na formação de palavras BASÍLIO 1987 função de mudança categorial por exigência do sistema linguístico função expressiva de avaliação por influência do sujeitofalante função de rotulação relacionada com o aspecto semântico 411 FUNÇÃO DE MUDANÇA CATEGORIAL A função categorial decorre como dissemos de exigências do próprio sistema linguístico Muitas vezes precisamos empregaar um item lexical de uma classe em outra Como ficaria muito antieconômico para a língua criar um novo item fazse uma adaptação morfológica com o auxílio de um sufixo por exemplo com a conseqüente mudança da classe lexical Vejamse os seguintes exemplos a A Petrobrás precisa atingir a produção de 1200000 barris de petróleo por dia Somente quando atingir essa cifra o País será autosuficiente Mas esse atingimento só será possível b Todos os religiosos daquela congregação são santos Mas essa santidade só foi atingida porque c Precisamos dolarizar a nossa economia d Grupo teatral Emprego universal Teoria frasal Esforço congressual Atingimento santidade dolarizar teatral universal frasal e congressual são resultado de uma coerção discursiva do sistema que obriga à formação dessas palavras O que se deu foi a necessidade de adaptação da classe lexical tendo havido portanto uma mudança sintática 412 FUNÇÃO EXPRESSIVA DE AVALIAÇÃO Na função expressiva de avaliação o papel do sujeitofalante é preponderante na formação do novo item lexical É o que se dá com os sufixos afetivos enfáticos e intensificadores Em uma frase do tipo Filhinho vai para a caminha tomar o seu leitinho as formações sufixadas surgiram em função da necessidade de o falante expressar a sua subjetividade É claro que uma função poderá ser cumulativa Na criação lexical abaixo colossalidade Guimarães Rosa utilizouse ao mesmo tempo da função de mudança categorial e da função expressiva e ao descobrir no meio da mata um angelim que atira para cima cinqüenta metros de tronco e fronde quem não terá ímpeto de criar um vocativo absurdo e bradálo Ó colossalidade na direção da altura ROSA 1965235236 413 FUNÇÃO DE ROTULAÇÃO A função de rotulação está relacionada com a necessidade que tem o homem de dar nome às coisas às ações aos lugares etc Está ligada à pragmática à cultura à História à tecnologia enfim ao mundo que nos cerca São exemplos de rotulação malufar tancrever carreata bondeata sambódromo celulódromo doleiro sacoleiro superfaturamento megaestrela secretáriaeletrônica antenaparabólica etc 42 QUANDO SE FORMAM NOVAS PALAVRAS Novos itens lexicais são formados a todo momento em língua portuguesa nas suas mais diversas modalidades coloquial culta literária técnica científica de propaganda etc Vimos no primeiro capítulo que isso se dá através do acionamento de RFPs Neste item vamos descrever com mais detalhes o surgimento de um novo item lexical e a maneira pela qual esse item passa a pertencer a uma comunidade linguística Em outras palavras vamos falar de formações esporádicas e de formações institucionalizadas 421 FORMAÇÃO ESPORÁDICA Segundo BAUER 198345 uma FORMAÇÃO ESPORÁDICA nonceformation pode ser definida como uma palavra complexa nova criada pelo falanteescritor sob o impulso do momento para satisfazer alguma necessidade imediata KATAMBA 1994150151 depois de apresentar um contexto em que figuram os neologismos yuppification e deyuppification afirma São NONCE WORDS palavras cunhadas pela primeira vez e aparentemente usadas apenas uma vez que não são institucionalizadas Como vimos anteriormente uma formação esporádica FE é criada de acordo com as RFPs de uma língua Uma FE deixa de ser considerada como tal ou seja passa a ser uma FORMAÇÃO INSTITUCIONALIZADA FI a partir do momento em que o item se torna familiar isto é conhecido de uma comunidade linguística Uma FE pode portanto institucionalizarse ou seja pode passar a ser familiar a uma comunidade linguística Vamos exemplificar o que foi dito voltando a exemplos dados no início do primeiro capítulo Uma criança pisa numa formiga que permanece imóvel alguns segundos Como a formiga volta a andar a criança exclama Pai a formiga desmorreu Observese que a palavra foi criada de acordo com a conhecida RFP do português V des V Os falantes poderão acionar essa regra a qualquer momento fazendo surgir formações esporádicas como desnoivar desconseguir desenfeitar deseleger etc Observese que desmorrer não foi institucionalizada isto é tratase de uma palavra criada sob o impulso do momento O mesmo se pode dizer com relação a atingimento Desmorrer e atingimento são FEs formadas com base em RFPs da língua portuguesa 422 FORMAÇÃO INSTITUCIONALIZADA Examinemos agora o caso de imexível uma FE criada recentemente por um ministro de Estado diante das câmeras de televisão Por causa das circuns tâncias especiais em que esse item foi produzido passou a ser familiar à grande maioria dos falantes tornandose portanto um vocábulo institucionalizado A palavra foi criada de acordo com a seguinte RFP V Adjetivo in vel Tratase de uma formação cuja RFP pode apresentar outros exemplos na língua imperdível um exemplo já institucionalizado mas que parece ser recente na língua insonhável inacolhível indespível inconstrutível indesmentível etc Em suma imexível é o exemplo típico de uma FE que se tornou uma FI recentemente Uma FE pode portanto institucionalizarse isto é pode tornarse familiar a um grupo de indivíduos O âmbito dessa familiaridade pode variar muito Há formações que se restringem ao uso de uma determinada família na residência do autor destas linhas o termo codornil codorna il criatório de codornas cf com canilé institucionalizado embora não seja um termo conhecido dos falantes No campus da UFMG o termo faficheiro de FAFICH é bastante empregado embora não seja conhecido de toda a cidade de Belo Horizonte Taxista é usado normalmente pelos habitantes da capital mineira mas em Salvador o termo consagrado é taxeiro Doleiro uma criação recente da língua parece ser usada em todo território nacional Por que algumas FEs se institucionalizam e outras não 1º Em primeiro lugar é preciso considerar o prestígio do criador da palavra BAUER 198343 cita a palavra triphibian que teria sido usada pela primeira vez por Winston Churchill primeiroministro da Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial Imexível tornouse conhecida no Brasil por ter sido cunhada por um ministro de Estado O mesmo se dá com escritores letristas de música popular economistas jornalistas cronistas humoristas apresentadores de televisão personagens de novelas etc Enfim qualquer personalidade de prestígio poderá transformar uma FE em uma FI 2º Em segundo lugar é preciso considerar o poder da mídia como um elemento influenciador na disseminação do vocábulo Imexível não passaria de uma criação fortuita se tivesse sido empregada pelo Ministro em suas conversas particulares mas a regra lexical foi acionada diante das câmeras de televisão o que contribuiu é claro para a sua disseminação Dentre os vários meios de comunicação a televisão é sem dúvida o mais poderoso Ainda está por ser avaliada a verdadeira influência da linguagem televisiva sobre os usuários de uma língua mas parece não haver dúvida de que algumas falas de novelas e certos tipos de discurso publicitário podem exercer influência sobre o desempenho lingüístico das pessoas especialmente no que se refere ao emprego de certos sufixos da moda cf c o parágrafo seguinte 3º Em terceiro lugar lembremonos de que muitas palavras são criadas e institucionalizadas na língua simplesmente pelo fato de que certos processos são no presente momento mais chamativos do que outros De fato fica muito mais enfático e apelativo com mais possibilidade portanto de institucionalização o uso de fumódromo do que de sala de fumantes O mesmo se pode dizer com relação ao emprego de carreata no lugar de desfile de carros Uma palavra como rampeiro indivíduo que descia a rampa do Palácio do Planalto no Governo Collor era também extremamente enfática e apelativa por causa das diversas conotações que carrega sabor de novidade aspecto pejorativo possível crítica a uma maneira de governar etc A palavra se torna portanto carregada para usar uma expressão de CÂMARA JÚNIOR 195375 Surgem as palavras da moda que conferem certo status ao usuário ou que demonstram estar o falante por dentro das últimas novidades Formações em dromo como dissemos como fumódromo camelódromo beijódromo rockódromo e celulódromo denunciam uma certa contemporaneidade ou engajamento com o mundo moderno por parte de quem as utiliza O mesmo se diga com relação a formações em ata que indicam um tratamento up to date da questão carreata bicicleata bondeata tratorata barqueata etc O sufixo aço também oferece formações modernas assoviaço buzinaço panelaço figuraço etc 4º Em quarto e último lugar não se pode deixar de assinalar que muitas palavras se institucionalizam na língua por necessidade ou seja por exigências históricas culturais pragmáticas etc É o que explica o surgimento de itens como párabrisa orelhão aidético cutista celetista doleiro hipermercado superfaturamento saláriodesemprego avisoprévío etc 43 COMO SE FORMAM NOVAS PALAVRAS Sabemos que o arcabouço teórico da morfologia gerativa se constrói em cima de regras As regras morfológicas podem ser de dois tipos RAEs e RFPs Neste trabalho já ressaltamos por diversas vezes a importância da fixação de RFPs A rigor a ararefa da morfologia gerativa deveria consistir primordialmente na fixação das RFPs da língua Vale a pena ratificar as palavras de BAUER já citadas no item 125 A única maneira realística de se obter uma compreensão adequada de como funciona a formação de palavras é ignorandose as formas lexicalizadas e concentrandose nos processos produtivos Caracterizada uma regra o que se verifica porém é que ela apresenta uma série de restrições quanto à sua aplicação Repetimos aqui as palavras de MATTHEWS citadas no item 223 que prefere falar em semiprodutividade e na existência de um léxico semiorganizado A produtividade automática é uma característica de toda derivação flexiva qualquer forma X dá salvo razões contrárias plural X es Sem dúvida o que se disse não é aplicável às formações lexicais na sua maioria semiprodutivas que admitem novas bases por meio de processos produtivos mas de maneira esporádica Apesar das inúmeras restrições que se pode fazer à produção das RFPs acreditamos na existência de um LÉXICO ORGANIZADO e bem definido ratificando portanto as palavras de BASÍLIO já expostas no item 223 Abandonamos assim a noção de que o léxico consiste meramente de uma lista não ordenada de entradas lexicais Ao contrário em nossa proposição o léxico apresenta uma estruturação subjacente definida sendo organizado de acordo com padrões de diferentes tipos Como resolver a questão se o que se constata de fato é que as RFPs são 100 produtivas Como resolver a questão se deparamos com RFPs que apesar de produtivas por definição deixam de apresentar formações inteiramente previsíveis Por que taxista florista frentista e parecerista são itens lexicais institucionalizados ao passo que escadista apartamentista arvorista e paredista não o são Por que consagramos teatral braçal carnal semanal universal e não camal pernal musculal planelal e tantas outras formações possíveis 431 CONDIÇÕES DE PRODUTIVIDADE E CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO Para entender a questão fazse necessário estabelecer a distinção entre CONDIÇÕES DE PRODUTIVIDADE e CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO de uma RFP BASÍLIO 19903 estabelece assim essa distinção uma vez estabelecida a esfera da competência lexical no conceito de produtividade este conceito deve ser entendido tão somente como medida do potencial que uma regra tem de operar sobre bases especificadas para produzir construções morfologicamente possíveis As condições de produtividade de uma regra devem ser distintas das condições de produção que dependem de fatores de ordem pragmática discursiva e paradigmática 85 Uma regra deve ser especificada em todas as suas características quer quanto à base categorização subcategorização constituição morfológica traços semânticos etc quer quanto ao produto idem como vimos no item 124 É isso o que se entende por condições de produtividade A base dólar reúne as condições ideias de produtividade da RFP S Seiro uma vez que apresenta tais e tais características que serão apresentadas no sexto capítulo Por sua vez o produto doleiro é concreto ou seja é uma palavra real da língua com tais e tais características O mesmo não acontece com a palavra franco moeda francesa Como base ela apresenta as condições ideais de produtividade com tais e tais características similares a dólar O que se constata porém é que franqueiro embora seja um item lexical possível não é um produto concreto ou seja não é uma palavra real da língua Em resumo no caso de franco existem as condições de produtividade com relação à RFP S Seiro mas há restrições relacionadas com as condições de produção Tanto as condições de produtividade quanto as condições de produção de uma RFP serão estudadas com rigor no sexto capítulo deste trabalho 44 LEXICALIZAÇÃO Muitas vezes na aplicação da RAE a uma formação cristalizada do português deparamos com alguma irregularidade ou desvio da regra quanto aos aspectos fonológico morfológico ou semântico A essa irregularidade ou idiossincrasia dáse o nome de LEXICALIZAÇÃO BAUER 19834261 trata desse fenômeno mas a sua abordagem está comprometida com a perspectiva histórica como se constata pelas palavras O estágio final vem quando devido a alguma mudança no sistema linguístico o lexema toma uma determinada forma que não tomaria se tivessem sido aplicadas a esse lexema regras produtivas Na verdade concordamos em parte com o conceito de Bauer Tirando de lado a perspectiva histórica e fazendo uma pequena adaptação podemos dizer que a lexicalização se caracteriza pelo fato de um lexema apresentar uma determinada estrutura diferente daquela prevista pela aplicação de sua respectiva RAE Quanto ao emprego do termo lexicalização e a possibilidade de se encontrarem nomenclaturas diferentes para esse fenômeno como petrificação e idiomatização por exemplo consultese especialmente BAUER 198348 SCALISE 198425 aborda esse problema mas não usa uma terminologia específica para caracterizar esse fenômeno 441 LEXICALIZAÇÃO CATEGORIAL Examinemos primeiramente um caso isolado para entendermos melhor a questão Como sabemos em português existe a RFP V Sdor que explica possíveis formações como apelidador injetador conseguidor exumador etc Por sua vez essa RFP corresponde a uma RAE que pode ser aplicada a formações do tipo pescador descobridor jogado pesquisador paquerador etc Em ambos os casos o sufixo é acrescentado a verbos Tal não é o que acontece com a palavra lenhador em que constatamos que a base é um substantivo No léxico mental dos alunos da FALEUFMG não existe o verbo lenhar na verdade não importa que a palavra seja dicionarizada como de fato o é cf c o item 46 que trata da dicionarização Tratase portanto de uma irregularidade que se verifica também em outras palavras do português como aviador por exemplo cuja base é avião Neste caso podese falar em LEXICALIZAÇÃO CATEGORIAL uma vez que se verifica irregularidade na categoria da base Com a lexicalização categorial de lenhador dáse um fenômeno interessante Embora o verbo lenhar não exista no léxico mental dos alunos da FALEUFMG ele foi mais comum outrora além de continuar existindo em algumas comunidades linguísticas Acrescentese a isso o fato de como dissemos estar registrado nos dicionários A base verbal deixou de existir nas comunidades urbanas e o produto passou a ser ligado ao substantivo lenha Mas esse é um problema histórico que escapa à competência lexical dos alunos da Faculdade de Letras da UFMG Podemos dizer claramente por uma questão metodológica que na nossa pesquisa o vocábulo lenhar não existe 442 LEXICALIZAÇÃO PROSÓDICA Além da lexicalização categorial podese falar também em LEXICALIZAÇÃO PROSÓDICA Tratase de uma irregularidade na prosódia ou seja na pronúncia do produto no que se refere à sua tonicidade cf c BAUER 198350 Observese a formação dos seguintes nomes deverbais estimular estímulo em vez de estimulo retificar retífica em vez de retifica criticar crítica em vez de critica duvidar dúvida em vez de duvida incomodar incômodo em vez de incomodo analisar análise em vez de analise depositar depósito em vez de deposito Nesses casos o acento tônico recua duas sílabas em vez de uma como seria de se esperar nas chamadas derivações regressivas deverbais abandono contorno conversa controle etc Com a lexicalização prosódica observase o seguinte o português herdou do latim milhares de palavras já prontas cristalizadas Acontece que em latim as relações lexicais são diferentes das relações lexicais do português Isso é natural porque se trata de duas línguas distintas Em latim a relação entre o verbo e o nome correspondente está organizada de maneira diferente da do português Sendo assim herdamos do latim bem como de fases posteriores ao latim e de línguas estrangeiras padrões lexicais prontos Se esses padrões fossem fixados hoje eles seguiriam as regras do português atual É o que se deu por exemplo com stimulare paroxítono e stimulus proparoxítono ambas as formas coexistentes em latim análise do grego análysis e analisar provavelmente uma forma tardia e retífica do italiano rettifica e retificar uma forma derivada Observese mais uma vez que não estamos tentando justificar essa irregularidade nas relações lexicais do português com um fato histórico o que é condenável sob o ponto de vista metodológico Não é possível chegar a esses dados através da análise da competência lexical do falante ou seja esses dados não fazem parte da sua gramática subjacente Estamos apenas querendo dizer que a anomalia que se verifica na relação estimularestímulo coincide com um dado histórico mas na verdade não é possível depreender do conhecimento que o falante tem do léxico elementos que justifiquem essa irregularidade 443 LEXICALIZAÇÃO ESTRUTURAL É preciso considerar também os casos de LEXICALIZAÇÃO ESTRUTURAL em que se observa alguma anomalia na estrutura do vocábulo com relação à sua respectiva RAE São exemplos de lexicalização estrutural afligir aflição em vez de afligição adotar adoção em vez de adotação agredir agressão em vez de agredição coagir coação em vez de coagição comover comoção em vez de comoveção compreender compreensão em vez de compreensão comprimir compressão em vez de comprimição conceder concessão em vez de concedeção confessar confissão em vez de confessação confundir confusão em vez de confundição decidir decisão em vez de decidição eleger eleição em vez de elegeção editar editor em vez de editador imprimir impressor em vez de imprimidor ler leitor em vez de ledor escrever escritor em vez de escrevedor agredir agressor em vez de agredidor aspergir aspersor em vez de aspergidor emitir emissor em vez de emitidor milho milharal em vez de milhal cana canavial em vez de canal guloso gulodice em vez de gulosice medo medroso em vez de medoso sangue sangrento em vez de sanguento leviano leviandade em vez de levianidade Em casos como aflição adoção e agressão por exemplo observase que sílabas inteiras são suprimidas Esse fenômeno considerado por alguns estudiosos como regra de truncamento ARONOFF 197688 não pode na verdade ser considerado como regra dado o seu caráter idiossincrático De fato por que o nominal correspondente a adotar é adoção e o correspondente a anotar é anotação Também na lexicalização estrutural recebemos do latim de fases anteriores da língua ou de línguas estrangeiras os pares já prontos Assim herdamos as formações afligir de affligere e aflição de afflictione adotar adoptare e adoção adoptione agredir de aggredire e agressão de aggresione NAASCENTES 1955 e assim por diante Se aplicássemos hoje a milho a RFP teríamos como produto milhal e não milharal O que se deu porém é que provavelmente no português arcaico houve a reduplicação do sufixo al surgindo daí milhalal e posteriormente por dissimilação milharal CUNHA 1982 milho Em canavial deuse a influência de cânave cânhamo vegetal parecido com a cana Em sangrento houve a influência do espanhol sangre e em medroso dáse a continuação de medoroso forma arcaica calcada em medor É preciso deixar claro mais uma vez que tais observações de natureza diacrônica escapam à competência lexical do falante comum como já dissemos anteriormente Para o lingüista comprometido com a explicitação da gramática subjacente do usuário da língua tais explicações são dispensáveis porque não são fornecidas pela competência lingüística do falante À morfologia gerativa cabe apenas constatar essas idiossincrasias e atribuílas a fatores históricos sem contudo tentar explicálas Se fizermos uma rápida incursão à diacronia foi apenas para lembrar a fundamental importância de se distinguir as formas já feitas dos processos de formação BASÍLIO 198725 Foi também para ratificar o nosso ponto de vista que vimos adotando desde o início deste trabalho expresso através destas palavras de BAUER 1983292 já citadas anteriormente cf c item 125 A única maneira realística de se obter uma compreensão adequada de como funciona a formação de palavras é ignorandose as formas lexicalizadas e concentrandose nos processos produtivos Paralelamente à constatação de que uma forma lingüística apresenta lexicalização estrutural dáse também na língua o fenômeno da RECUPERAÇÃO MORFOLÓGICA Tal fenômeno consiste no seguinte consideremos o caso da palavra expulsão que sofre um truncamento silábico ao se aplicar a ela a RAE correspondente Em vez de expulsação temse expulsão como vimos neste parágrafo É possível no entanto na linguagem coloquial depararse com a forma expulsação como no exemplo Esse colégio está virando uma bagunça danada todo dia é essa expulsação de aluno Como se observa dáse a recuperação morfológica da RAE expulsar vção s Sob o ponto de vista semântico o produto além de significar ato de X adquire também uma significação cumulativa de ação repetida Acrescentese a isso o fato de a palavra expulsação ser usada apenas na linguagem coloquial Seguemse outros exemplos de recuperação morfológica O governo precisa parar com essa conced e ção de medalha por concessão O padre não tem sossego Fica essa confessa o o dia inteiro por confissão Houve uma discuss a o danada durante a noite toda por discussão O candidato precisa parar com essa promet e ção senão ele vai se dar mal por promessa Até que enfim o diretor parou com a suspende ção de alunos por suspensão Você precisa parar com essa viaj a ção o mês inteiro por viagem O público ledor tomou de amores pelo novo romance por leitor Ele passou a ser o recebedor das mensagens por receptor Ele é o cantador das melodias do sertão por cantor Fulano de Tal é o concededor de todos os favores nesta região por concessor Como percebedor de tantas falhas ele merece um prêmio por percep tor 444 LEXICALIZAÇÃO RIZOMÓRFICA A LEXICALIZAÇÃO RIZOMÓRFICA se dá quando ao se aplicar uma RAE a uma forma cristalizada da língua observase uma irregularidade com relação à raiz Assim ao se aplicar a palavra capilar a respectiva RAE constatase que o sufixo está anexado à forma capil e não a cabelo Cabe aqui uma pergunta tratase de uma variante de cabelo ou seja um alomorfe ou de uma outra raiz Não há razões muito evidentes que nos levem a optar por uma ou outra solução BAUER 198354 considera as duas formas como sendo raízes diferentes Cremos não ser essa a melhor solução porque em termos estruturalistas o que importa é a função e não o material palpável Tratase portanto de uma única raiz com variantes alomórficas que devem ser registradas no léxico Há alguns autores que usam o termo doublet para se referirem a essas formações Nos doublets de raízes que se seguem o segundo elemento apresenta lexicalização rizomórfica cabelocapilar chuvapluvial dedodigital olhoocular nariznarigudo bocabucal orelhaauricular estrelaestelar nuvemnublado céuceleste árvorearborizar mãomanusear etc 445 LEXICALIZAÇÃO SEMÂNTICA A língua apresenta também inúmeros casos de LEXICALIZAÇÃO SEMÂNTICA Tomemos como exemplo acabamento Sob o ponto de vista estrutural a RAE é transparente acabar acabamento O produto não quer dizer porém ato resultado ou processo de acabar como via de regra significam as nominalizações deverbais Acabamento é o retoque ou toque final que se dá a uma obra ou trabalho Observese a nãoaceitabilidade da palavra no contexto abaixo Vocês precisam acabar esta prova no horário O acabamento está previsto para as nove horas Estudante também é um exemplo de lexicalização semântica uma vez que não significa aquele que estuda como em militante aquele que milita atuante aquele que atua ou participante aquele que participa Estudante é uma formação lexicalizada porque tem o sentido especial de aquele que freqüenta um curso Observese que a frase abaixo é inaceitável O Prof Fulano estuda quatro horas por dia ele é um estudante A lexicalização semântica é portanto uma extensão de sentido ou uma idiossincrasia relacionada com o significado que se observa ao aplicarmos a uma palavra já existente na língua a RAE correspondente Os produtos uma vez institucionalizados são congelados cf c item 92 123 A partir daí passam a ter uma vida independente podendo ser lexicalizados ou não Há várias palavras antigas da língua que não são lexicalizadas e que se fossem formadas hoje seriam previsíveis sob o ponto de vista semântico como descobridor reconhecimento bajulação formigueiro teatral etc Há outras palavras que passam primeiramente por um período de congelamento mas depois libertamse da forma fôrma primitiva adquirindo um sentido figurado ligado ao sentido original Esse novo sentido especial acaba por suplantar o sentido tradicional e previsível caracterizandose assim o fenômeno da lexicalização Além dos exemplos de lexicalização semântica já citados acabamento e estudante observese o caso de tratante que existe hoje na língua apenas com o sentido de indivíduo que não cumpre os seus compromissos tendo sido esquecido o sentido neutro de pessoa que faz um trato Comparemse os itens participante e tratante que apresentam a mesma RAE Luísa vai participar de uma corrida rústica Aliás todos os participantes receberão uma camisa como incentivo Luísa tratou com os colegas de se encontrarem na Savassi Aliás todos os tratantes deverão levar É preciso não confundir portanto os casos de lexicalização semântica em que uma das formas desaparece do léxico mental do falante nativo com os casos de POLISSEMIA DE FORMAS COMPLEXAS em que se dá a convivência das duas formas camisinha camisa pequena camisinha preservativo casinha casa pequena casinha WC vassourinha vassoura pequena vassourinha planta A polissemia de formas complexas apresenta o esquema abaixo Observese que a polissemia opera sobre os produtos não sobre as bases vassoura vassourinha derivação sufixal polissemia vassourinha planta 93 45 FOSSILIZAÇÃO É preciso não confundir a lexicalização com o fe nômeno da FOSSILIZAÇÃO Como foi dito no item ante rior as formas lexicalizadas são irregulares mas podem ser analisadas por regras específicas RAEs Apesar da anomalia podese aplicar a expulsão por exemplo a RAE expulsar v ção Vejase como é diferente o caso de casebre por exemplo O falante pode depreender a estrutura da palavra casa s ebre s mas não se pode dizer que o falante poderá aplicar a ela uma RAE porque por definição uma regra não se aplica a um caso apenas A rigor as estruturas de palavras sui generis não são apreen didas através de RAEs mas de análises isoladas A esse fenômeno se dá o nome de FOSSILIZAÇÃO Citamos em seguida alguns exemplos de fossilização Observese que os sufixóides cf c 548 e os prefixóides cf c 77 que fazem parte das estruturas das palavras são formas linguísticas unívocas isto é tratase de formas isola das que apresentam uma única interpretação tanto sob o ponto de vista morfológico quanto sob o ponto de vista semântico bichitao urinol pedestre serrote andarilho ser tanejo marisco cantilena cantarolar apaziguar supor res guardar descrever manter etc A fossilização pode também estar relacionada com a base Muitas vezes temos condições de isolar o sufixo mas a base é uma forma linguística irrecorrente Esse assunto será estudado com rigor no subitem 5472 De qualquer forma é possível por exemplo reconhecer a existência do sufixo oso em moroso embora a base só exista nessa palavra ou seja só ligada ao sufixo oso A forma mor como veremos é uma BASÓIDE São exemplos de fossili zação da base as basóides vão sublinhadas rústico espo rádico meticuloso jocoso armário calvário meliante pe dante mercenário orador vantagem rancor banal pica deiro outeiro etc Algumas vezes um dos elementos do processo de composição é uma BASÓIDE caracterizando assim a fossi lização semântica Esses elementos também são chamados de MORFES VAZIOS Seguemse exemplos de basóides ou de morfes vazios na composição as basóides vão sublinhadas guardanapo guardavala manipular meno pausa satisfazer manivela carapuça etc 46 DICIONARIZAÇÃO Palavras institucionalizadas podem passar a fazer parte de um dicionário caracterizandose assim a DICIONARI ZAÇÃO de uma nova formação da língua Neste trabalho não estamos preocupados com essa questão mas com a explicitação do léxico mental do falante nativo conforme procuramos demonstrar em páginas anteriores Existem várias diferenças entre o que estamos chamando de léxico mental e os dicionários Os dicionários apresentam inúmeras palavras enterradas mortas que não são mais usadas na língua além de deixarem de registrar inúmeros vocábulos novos mas que são de uso efetivo Na verdade os dicionários tais como se apresentam apesar de se constituírem em um auxiliar indispensável para os usuários da língua principalmente com relação à norma culta não são instrumentos científicos de análise linguística não só por causa dos problemas apon tados como também por causa das dificuldades inerentes à publicação Uma formação recéminstitucionalizada demora a ser dicionarizada Novas edições com revisões emendas e acréscimos deveriam ser constantemente lançadas no mercado e não simplesmente novas impressões ou tiragens como acontece freqüentemente no Brasil Além disso é preciso assinalar que apesar de prática a ordem alfabética em que se apresentam os verbetes é aleatória convencional totalmente desprovida de critério técnico ou científico Reco nhecemos que os dicionários que se estruturam de maneira diferente idéias afins campos lexicais raízes ou famílias de palavras são pouco práticos para o público em geral Apesar de todas as dificuldades é preciso lembrar que a lexicografia técnica de confecção dos dicionários e análise linguística dessa técnica DUBOIS et al 1978 lexicografia é um ramo de estudo respeitável que possui seus próprios instrumentos de trabalho e que vem se aperfeiçoando a cada dia que passa Um produto para se constituir uma entrada em um dicionário precisa ser institucionalizado como dissemos anteriormente Não faz sentido um dicionário registrar formações esporádicas de certos escritores como se vê na edição de 1985 do AULETE citaremos apenas alguns exemplos do primeiro volume e uma colherada de sal para disfarçar o adoço em demasia adoçamento ou doçura Mário Palmério Chapadão do Bugre num carroção de burro lotado da bugigangada delas conjunto de bugigangas Mário Palmério Chapadão do Bugre Tô Wi do Dito não se desfazia cheio de amorosidades qualidades dos que são amorosos Guimarães Rosa Tutaméia De vêla a borralbeirar doíamse estar no borralho não sair de casa Guimarães Rosa Tutaméia De certo que essas também tecem a minha roupa arlequinal relativo a arlequim Mário de Andrade Poesias Completas É evidente que a partir do momento em que um escritor cria uma palavra formação esporádica e ela passa a ser institucionalizada essa palavra deve ser dicionarizada Na verdade porém são muito raros os exemplos desse tipo em escritores modernos razão por que não os citamos aqui Em resumo somente palavras institucionalizadas devem ser dicionarizadas Mas é preciso cuidado com a existência fugaz de alguns produtos institucionalizados Formações familiares aos falantes de hoje poderão desaparecer rapidamente como mauricinho patricinha imexível fumacê farofeiro sacoleiro malufar fumódromo superfaturamento secretária eletrônica etc Parece não haver razão para que formações institucionalizadas desse tipo que não sabemos ainda se vão permanecer na língua por um tempo razoável sejam dicionarizadas simplesmente por uma questão de modismo 47 RESUMO Após apresentarmos as funções da formação de pala vras função de mudança categorial função expressiva de avaliação e função de rotulação procuramos mostrar como se formam novas palavras em uma língua discutindo especialmente a maneira pela qual uma formação esporá dica passa a ser uma formação institucionalizada Em seguida apresentamos as condições de formação dos novos itens lexicais condições de produtividade e condições de pro dução e colocamos alguns problemas relacionados com a lexicalização e os seus vários tipos categorial prosódica estrutural rizomórfica e semântica Discutimos ainda a questão da fossilização e tecemos algumas considerações a respeito da dicionarização ESQUEMA MNEMÓNICO MORFOLOGIA Estuda estruta interna das palavras MOFLEXFORMA ESTRUTURA DA PALAVRA AFIIXÇÃO primes feliiz parta in elementos amos formar wordes acfixes inf Sufixação deslealdade elementos sso rádicionar indicam flexóées indica infiexões apécade radical dessloloum OUTROS PROCESSOS IMREONABSIHINFEM OUTROS PROCESSOS Derivação imprópria chato Der regressiva chato Der regressíva alter de verbo Abreviação reduzio Sigla forma itárias Neologismo recentecnea ONU Der regressiva lutar luta Onomatopeia tiquetaque foto fotograría Nibridismo sociologia Empréstimo mouse FLEXÃO Flexão nominal menino meminos genero Flexão verbal modo indicativo tempo presente número singular voz activo voz ativa F lexão meninos mondo falo falo UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB Componente Morfologia IX semestre Docente Valdete da Macena Pardinho Discente Lorranne Alves da Silva ESQUEMA MNEMÔNICO Lorranne Alves da Silva ROCHA Luiz Carlos de Assis Estruturas Morfológicas do Português Belo Horizonte UFMG 1998 p 6196 Cap 3 Estrutura da Palavra 31 Morfema Monema Unidade mínima de significado ou função 32 Tipos de Morfologia a Morfologia Flexional variação de palavras tempo número gênero pessoa modo b Morfologia Derivacional criação de novas palavras a partir de radicais 33 Componentes Morfológicos a Radical base de significado comum b Tema Radical Vogal Temática c Vogal Temática elemento de ligação no verbo ex amar d Afixos Prefixos antes do radical ex refazer Sufixos depois do radical ex felizmente e Desinências Nominais gênero e número Verbais modo tempo número pessoa Consoantes de Ligação facilita a pronúncia 34 Formação da Palavra a Lexemas unidades de significado pleno palavras b Morfemas unidades menores prefixos sufixos desinências 35 Exemplos a Radical Am de amar amável amador b Tema Amá radical am vogal temática a em amar c Afixo Prefixo re em refazer Sufixo mente em felizmente d Desinência Nominal gêneronúmero a em menina indica feminino Verbal modo tempo pessoa mos em amamos indicando 1ª pessoa do plural tempo passado Cap 4 Processos de Formação das Palavras 41 Derivação a Prefixal Prefixo Radical ex rever b Sufixal Radical Sufixo ex felizmente c Prefixal e Sufixal Prefixo Radical Sufixo sem simultaneidade d Parassintética Prefixo Radical Sufixo simultaneamente ex envelhecer e Regressiva formação por redução da palavra primitiva ex ataque de atacar f Imprópria mudança da classe gramatical sem alteração formal ex jantar verbo para substantivo 42 Composição a Justaposição união sem alteração sonora ex passatempo b Aglutinação união com alteração fonética ex planalto 43 Outros Processos a Hibridismo mistura de elementos de línguas diferentes ex sociologia b Onomatopeia palavras que imitam sons ex tictac c Abreviação encurtamento de palavras ex foto de fotografia d Siglas formação por iniciais ex ONU e Neologismo criação recente de palavras f Empréstimos palavras estrangeiras incorporadas ex futebol de football Observações Lexema unidade central de significado Morfema unidades menores que formam ou alteram o lexema

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ESTRUTURAS MORFOLÓGICAS DO PORTUGUÊS JIZ CARLOS DE ASSIS ROCHA EDITORA UFMG O LÉXICO 3 Vimos com BASÍLIO cf c item 122 que a competência lexical de um falante nativo compreende a o conhecimento de uma lista de entradas lexicais b o conhecimento da estrutura interna dos itens lexicais assim como relações entre os vários itens c o conhecimento subjacente à capacidade de formar entradas lexicais gramaticais novas e naturalmente rejeitar as agramaticais Neste capítulo discutiremos com mais rigor o item a da definição de BASÍLIO O conhecimento de uma lista de entradas lexicais Do quinto capítulo em diante discutiremos os itens b e c Que se entende por lista de entradas lexicais Todo falante nativo faz uso o que quer dizer tem conhecimento de uma lista não só de palavras como também de um grande número de formas linguísticas que não constituem palavras tais como os afixos as desinências etc A esse conjunto de formas linguísticas que o falante tem internalizado dáse o nome de LÉXICO MENTAL KATAMBA 1994223 É preciso deixar claro que estamos considerando a competência lexical do falante Não estamos nos referindo portanto àquilo que conhecemos como um dicionário da língua 31 LISTA DE ITENS MORFEMAS OU LEXEMAS Todo falante conhece ou possui uma lista de itens lexicais que podem variar desde os mais simples como luz lindo chover até os mais complexos como oligopolístico antenaparabólica inconstitucionalissimamente etc Mesmo levandose em conta as palavras difíceis ou complexas da língua seria uma tarefa simples para o lingüista estabelecer a lista de itens lexicais se concordássemos que dessa lista deveriam fazer parte apenas as palavras de uma língua Embora haja muitas discussões em torno do conceito de palavra sabemos que formas lingüísticas como geo antropo hidro sub re ário e mento não são consideradas palavras pelos falantes No entanto esses mesmos falantes usam o que vale dizer conhecem essas formas Além disso os dicionários as registram O problema não é tão simples como poderia parecer à primeira vista Afinal que formas lingüísticas devem fazer parte da lista de itens lexicais de um falante nativo De que é constituído o léxico mental de uma pessoa De morfemas De lexemas De afixos De desinências Desde HALLE 1973 há autores que afirmam que a lista é formada de MORFEMAS Ora é preciso considerar que o falante conhece não apenas o morfema isolado mas também separadamente os produtos das combinações entre os morfemas Assim ele conhece paquerar o morfema dor e o produto paquerador Por outro lado ele conhece apelidar e dor mas não conhece o produto apelidador Surge então a hipótese de que também devem fazer parte da lista os LEXEMAS além dos morfemas Sabemos que lexemas são palavras que apresentam raiz Além disso conforme veremos em 531 novas formações podem ser produzidas com base em palavras complexas da língua Assim mexicanizar tem como base mexicano argentinização tem como base argentinizar e fujimorização tem como base fujimorizar Ora as bases citadas não são morfemas mas palavras complexas da língua que existem no léxico mental dos falantes É preciso considerar no entanto que além dos lexemas o falante conhece as BASES PRESAS hidro bio geo agro logia grafia etc O conceito de base presa será definido com rigor no item 547 Vimos que os afixos são conhecidos dos falantes Além disso é preciso considerar que o falante utiliza outras formas lingüísticas como as formas dêiticas e as dependentes as desinências e as vogais temáticas Estamos concordando com SELKIRK 198259 quando afirma um afixo é um item lexical está submetido a uma categoria e tem uma entrada lexical como qualquer morfema livre ou item morfologicamente complexo seja uma palavra um radical ou o que quer que seja Desse modo estamos não só refutando a idéia de que o léxico mental de um falante nativo é constituído de morfemas como também por outro lado a posição de que as raízes ou semantemas fariam parte do léxico e os demais elementos como os afixos por exemplo fariam parte da regra Ora as regras são processos que são preenchidos por itens lexicais como as bases os afixos as desinências etc Em vista do exposto apresentamos em seguida as formas lingüísticas que constituem a lista de entradas lexicais Ratificamos o ponto de vista de que dessa lista devem constar todas as formas lingüísticas conhecidas do falante sejam elas morfemas ou não ENTRADAS LEXICAIS LIVRES LEXEMAS Puros mar café livro gato calmo varrer participar vinte segundo cede sempre Complexos simples livreiro reler esclarecer compostos guardaroupa secretáriaeletrônica biologia VOCÁBULOS DÊITICOS eu nosso isto alguma aqui lá DEPENDENTES de para embora que o uma PRESAS Bases hipo hidro eco logia latria Afixos prefixos re in des inter sufixos ção agem ice itar ecer Desinências nominais livros alegres risonho bonita verbais caminhamos andavas ouvindo argumentar Vogais temáticas nominais livro horta ponte gato galo verbais parar vencer ouvir Com relação ao esquema exposto observese o seguinte Entradas lexicais livres e entradas lexicais dependentes são consideradas palavras em português Entradas lexicais presas não funcionam como palavras LEXEMAS são palavras que apresentam uma ou mais raízes O conceito de raiz será discutido com profundidade no item 532 Os lexemas puros apresentam apenas um ELEMENTO LEXICAL São elementos lexicais a raiz e os afixos Os lexemas complexos apresentam dois ou mais elementos lexicais Os lexemas complexos simples apresentam uma só raiz e os lexemas complexos compostos duas ou mais VOCÁBULOS DÊITICOS são aqueles que se diferenciam nitidamente dos nomes propriamente ditos pela circunstância de exprimirem um ser não por ele mesmo mas em função de uma SITUAÇÃO LINGUÍSTICA Em outros termos o seu significado é apenas a relação estabelecida com as duas pessoas do discurso ditas PESSOAS GRAMATICAIS o falante e o ouvinte CÂMARA JR 1964b153154 Como se vê as entradas lexicais dêiticas são palavras com significado especial sui generis Não apresentam raiz e não servem de base para a formação de outras palavras São vocábulos dêiticos os pronomes em sua maioria e alguns advérbios Com relação às ENTRADAS LEXICAIS DEPENDENTES ou FORMAS DEPENDENTES observemse estas palavras de CÂMARA JR 1964a forma intermediariamente há a forma dependente que é autônoma embora nunca apareça isolada podendo separarse livremente daquela a que associa na enunciação ou mudar de posição em relação a ela As ENTRADAS LEXICAIS PRESAS ou FORMAS PRESAS não funcionam como palavras Dentre as entradas lexicais presas apenas as bases presas hipo hidro antropo latria etc funcionam como raízes Como o nome indica servem como bases para a formação de novos itens lexicais hidrico hidromassagem ecoxiita etc As vogais temáticas nominais e verbais colocam o nome e o verbo em condições de receber as desinências 32 IDIOSSINCRASIAS Adotando essa posição de que devem fazer parte da lista de itens todas as formas lingüísticas conhecidas do falante estamos também rejeitando a visão de alguns lingüistas segundo a qual a lista deve ser constituída apenas de idiossincrasias Essa parece ter sido a postura adotada pela lingüística estrutural conforme se lê em BLOOMFIELD 1933274 O léxico é realmente um apêndice da gramática uma lista de irregularidades básicas Por sua vez BAUER 1983190 um lingüista nãoestruturalista afirma A informação a respeito de cada lexema que está listado no léxico deve ser idiossincrática isto é não pode ser prevista por uma regra geral É interessante observar a ironia que dessa posição fazem os lingüistas DI SCIULLO WILLIAMS citado por KATAMBA 199383 ao afirmarem que o léxico é concebido como uma prisão que contém apenas os foradalei e que a única coisa que os seus ocupantes têm em comum é a ilegalidade Hoje em dia a maioria dos gerativistas rejeita a idéia de que o léxico é meramente uma lista de irregularidades KATAMBA 199383 Isso está relacionado dentre outros motivos com o fato de que uma RFP aplicada a bases de uma mesma classe pode apresentar produtos reais ou não É o caso das bases laranja limão caju e maracujá Em Belo Horizonte larânjada e limonada são considerados itens familiares ao passo que cajuada maracujada serão rejeitados por serem palavras inexistentes embora a RFP correspondente apresente as condições ideais de produtividade O fato de cajuada e maracujada não serem produtos reais é um problema que vamos tentar resolver no sexto capítulo Por ora é suficiente constatar que os produtos das RFPs podem ter existência real ou não e que da lista de itens do falante devem fazer parte apenas os produtos reais É necessário portanto que se registrem os produtos reais e apenas os produtos reais mesmo que sejam regulares e que não se registrem os produtos hipotéticos mesmo que sejam regulares uma vez que eles não são conhecidos dos sujeitos falantes Caso contrário a lista seria imensa e apresentaria termos repetidos e desnecessários pois não haveria a ação do bloqueio e das restrições Mas esse é um problema que será estudado no sexto capítulo De qualquer forma estamos contrariando a posição de ARONOFF 197643 quando afirma Digamos que apenas aquelas palavras que são excepcionais isto é arbitrárias em pelo menos um de seus vários traços deverão dar entrada no léxico Em resumo podemos dizer com SPENCER 199148 que a lista de itens constitui um LÉXICO PERMANENTE permanent lexicon e não um LÉXICO CONDICIONAL OU POTENCIAL conditional lexicon ou potential lexicon Essa colocação ilustra bem a antiga preocupação de ARONOFF 197617 com relação às classes de PALAVRAS REAIS e PALAVRAS POSSÍVEIS de uma língua 33 RELATIVIDADE DA LISTA DE ITENS CHOMSKY 197583 afirma que o falanteouvinte ideal deve estar situado numa comunidade lingüística completamente homogênea Tal posicionamento nos leva à conclusão de que as listas são em princípio específicas de uma comunidade lingüística É claro que a grande maioria dos itens é comum às várias microcomunidades lingüísticas Mas é preciso supor por uma questão de método que a lista é específica de um grupo restrito com tais e tais características Como afirma KATAMBA 1994113 o fato de que alguns linguistas possam identificar algumas estruturas morfológicas não quer dizer necessariamente que a competência lexical média do falante nativo também possa O que em princípio seria composicional para alguns falantes pode não ser para outros Essa homogeneidade a que se refere Chomsky pode se dar no âmbito espacial ou no âmbito social Teremos assim os dialetos regionais e os dialetos sociais Para o estudo da morfologia gerativa é imprescindível que se fixem os limites desses dialetos ou dessas comunidades lingüísticas a fim de que se evitem interpretações ambíguas Chegamos assim ao conceito de língua funcional Como afirma BECHARA 198555 só numa língua funcional e não numa língua histórica em sua plenitude por ser uma coleção de línguas funcionais é que têm validade as oposições estruturas e funções que se encontram numa tradição idiomática Dissemos no item 122 que as nossas observações neste trabalho baseiamse na competência lexical média dos alunos da Faculdade de Letras da UFMG O reconhecimento dos limites dialetais conduz às vezes a resultados interessantes no campo da morfologia derivacional No que se refere aos dialetos regionais observase que em Belo Horizonte o agentivo que designa o indivíduo que dirige um táxi é taxista ao passo que em Salvador a forma taxeiro também é usada Num âmbito mais amplo verificase a distinção entre bolsista e fichário empregados no Brasil e bolseiro e ficheiro comuns em Portugal Quanto à dialetologia social podese constatar que no âmbito da FALEUFMG os falantes poderão reconhecer a estrutura da palavra antibiótico por exemplo desmembrando os elementos anti idéia contrária bio vida e tico sufixo Isso nos faz lembrar o exemplo de um indivíduo nãoescolarizado que pediu ao farmacêutico um tibióti Neste caso é evidente que não se pode dizer que o falante pode reconhecer a estrutura da palavra em questão Tudo indica que a RAE vai produzir resultados diferentes em um e em outro caso pelo fato de os falantes pertencerem a dialetos sociais diferentes 34 POLISSEMIA E HOMOFONIA A concepção gerativista dos estudos da linguagem prevê que as considerações relacionadas com as questões morfológicas girem em torno do problema da criação de novos itens lexicais Em outras palavras ao estudarmos a produtividade lexical de uma língua estaremos ipso facto estudando o componente morfológico dessa língua É por isso que todas as nossas considerações neste trabalho estão relacionadas direta ou indiretamente com a questão da formação de novos itens lexicais Em vista do exposto é preciso distinguir a questão da formação de palavras da questão dos vocábulos polissêmicos Como afirma o semanticista MICHEL BRÉAL o mesmo termo pode empregarse alternativamente no sentido próprio ou no sentido metafórico no sentido restrito ou sentido amplo no sentido abstrato ou no sentido concreto E conclui o lingüista À medida que uma significação nova é dada à palavra parece multiplicarse e produzir exemplares novos semelhantes na forma mas diferentes no valor A esse fenômeno de multiplicação chamaremos a polissema BRÉAL 1992103 Sabemos que a POLISSEMIA caracterizase pelo fato de que uma palavra pode sofrer adaptações semânticas às diversas circunstâncias em que é usada sem contudo deixar de se ligar a um sentido básico inicial Nesse caso não estamos criando um novo item lexical mas apenas usando uma palavra em sentido figurado Em outros termos estamos fazendo uso da linguagem metafórica ou polissêmica São exemplos de polissemia braço de um rio dente de uma engrenagem boca da noite ponteaérea folha de caderno espinhos da profissão cortina de ferro paraíso de felicidade etc Esses são exemplos de POLISSEMIA INSTITUCIONALIZADA ou seja já consagradas pelo uso É possível também falarse em POLISSEMIA ESPORÁDICA que pode surgir nas conversas espontâneas nas propagandas nos textos técnicocientíficos e na linguagem literária em decorrência do fato de que a polissemia é uma característica de todo e qualquer lexema São exemplos de polissemia esporádica Ela não é uma mulher comum ela é uma gota de orvalho Os nossos pensamentos são pássaros que voam em direção ao céu A vida não é uma planície verdejante mas uma floresta selvagem É preciso não confundir polissemia com HOMOFONIA ou seja a propriedade de duas ou mais formas inteiramente distintas pela significação ou função terem a mesma estrutura fonológica CÂMARA JÚNIOR 1964a homonímia Vocábulos homónfonos são aqueles que têm a mesma forma sob o ponto de vista fonético e sentidos diferentes Manga de camisa e manga fruta não têm qualquer ligação de sentido São exemplos de vocábulos homófonos o que vale dizer de palavras distintas são verbo ser sadio e santo cabo acidente geográfico e posto militar coser costurar e cozer cozinhar espiar olhar e expiar sofrer sessão ato de assistir cessão ato de ceder e seção repartição cela cubículo e sela peça de arreio Estamos preferindo neste caso empregar o termo homofonia ao termo homonímia por uma questão de clareza terminológica Homonímia apesar de ser consagrado apresenta os termos constitutivos que significam homo o mesmo onim nome ia sufixo Em são e cabo por exemplo não temos formas do mesmo nome mas nomes distintos já que os significados são distintos O termo homonímia se aplica aos vocábulos polissêmicos De fato dente de um ser humano e dente de alho são o mesmo nome são homônimos Supõese que na lista de itens lexicais de um falante as distinções polissêmicas façam parte de uma única entrada Assim tronco de árvore e tronco do corpo humano serão a mesma palavra No dicionário um único verbete deve abrigar as possíveis aplicações polissêmicas de um vocábulo Com a homofonia a questão é diferente Por se tratar de palavras distintas os homófonos terão entradas diferentes na competência lexical do falante O mesmo se dá nos dicionários em que as formas homófonas deverão se constituir verbetes distintos Embora tenhamos afirmado que na polissemia estamos diante do mesmo vocábulo e na homofonia estamos diante de vocábulos distintos é preciso reconhecer que o critério para se estabelecer a distinção entre itens lexicais não é tão simples como poderia parecer à primeira vista Para dar mais objetividade aos nossos estudos vamos acrescentar a este trabalho a definição de palavra segundo MEILLET citado por LÁZARO CARRETER 1962 palabra Uma palavra resulta da associação de um sentido dado a um conjunto dado de sons susceptível de um emprego gramatical dado Vêse portanto que uma palavra se caracteriza por possuir uma identidade fonética uma identidade semântica e uma identidade funcional Em a Meus dentes estão escovados b Os dentes desta engrenagem precisam de graxa observase que dentes em a e b é a mesma palavra pois em ambos os casos os aspectos fonético semântico e funcional são os mesmos Há a mesma sequência de sons o mesmo sentido com uma adaptação já que em a o sentido é denotativo e em b é conotativo e a mesma função em ambos os casos dentes é um substantivo ou o núcleo de um sintagma nominal ou ainda em termos gerativistas os dois itens preenchem o mesmo nó vazio Observemse no entanto os seguintes exemplos A a Este menino é muito esperto b Este garoto é muito esperto B a A manga de sua camisa está rasgada b Esta manga está docinha C a Não pude olhar para você b O seu olhar é penetrante Em A menino e garoto são palavras distintas porque há identidade semântica e funcional mas não há identidade fonética Em B manga e manga são palavras distintas Há identidade fonética e funcional mas não há identidade semântica Em C olhar e olhar são duas palavras distintas pois embora haja identidade fonética e semântica não se pode falar em identidade funcional Essa questão pode ser sintetizada no quadro 1 QUADRO 1 Caracterização de palavra Polissemia Sinonímia Homofonia Conversão Aspectos dentes menino manga olhar dentes garoto manga olhar Fonético SIM NÃO SIM SIM Semântico SIM SIM NÃO SIM Funcional SIM SIM SIM NÃO Mesma palavra Palavras diferentes 35 EMPRÉSTIMOS E HIBRIDISMOS Temos visto até aqui que a renovação lexical se faz através dos processos de formação de palavras Essa renovação se faz portanto com os recursos que a própria língua oferece Essa não é no entanto a única fonte de renovação lexical de uma língua Uma nova palavra ou seja um NEOLOGISMO pode surgir em decorrência de um EMPRÉSTIMO de uma língua para outra Devido ao contato entre culturas de línguas diferentes é natural que haja um comércio de palavras entre os diversos países Do mesmo modo como se dá com o poderio sóciocultural e econômico na balança comercial do léxico as nações mais fortes são via de regra as que mais exportam palavras A língua portuguesa está sendo invadida por palavras e expressões oriundas do inglês por causa do poderio sócioeconômico dos Estados Unidos O estudo dos estrangeirismos interessa pouco à morfologia uma vez que o empréstimo chega pronto à língua e não é de nosso interesse estudar nem a sua estrutura nem a sua formação Não podemos contudo deixar de estabelecer a distinção entre empréstimos sob o ponto de vista sincrônico e empréstimos sob o ponto de vista diacrônico Considerase uma forma linguística como sendo um empréstimo sob o ponto de vista sincrônico ou simplesmente empréstimo se essa forma apresentar um fonema ou uma sequência de fonemas estranhos ao sistema fonológico do português São exemplos de empréstimos outdoor bestseller marketing shoppingcenter eggcheeseburger laser compactdisc showroom publicrelations dumping leasing flamboyant entourage pizza etc Às vezes o estrangeirismo é apenas gráfico uma vez que a palavra já é pronunciada de acordo com o sistema fonológico do português show voley boy football boîte chalet blackout whisky shampoo abatjour mezzanino etc Muitas vezes essas palavras aparecem grafadas à portuguesa desaparecendo assim na pronúncia e na grafia o seu efeito de dépaysment de que nos fala CRESSOT 196156 xou vôlei bói futebol boate chalé blecaute uísque etc O critério que estamos adotando neste trabalho para a fixação do conceito de empréstimo é eminentemente técnico e sincrônico estamos nos baseando na existência ou não de fonemas ou combinação de fonemas estranhos à língua receptora É evidente que existem critérios que levam em conta outros aspectos como o cultural o social o histórico o político etc Sendo assim palavras como futebol vôlei boate chalé e clube por exemplo poderiam ser consideradas empréstimos de acordo com outros critérios É preciso não confundir o empréstimo sincrônico como acabamos de definir com o empréstimo diacrônico A gramática histórica portuguesa considera como empréstimo toda contribuição estrangeira que tenha entrado para o português depois que a língua se constituiu como tal Isso se deu por volta do século XII MELO 1975216 É preciso porém mais uma vez não fazer confusão entre os planos sincrônico e diacrônico no estudo da linguagem As palavras da relação abaixo entraram para a língua depois do século XII Sob o ponto de vista histórico são portanto empréstimos Sob o ponto de vista sincrônico porém pelo fato de terem se adaptado integralmente ao sistema fonológico e ortográfico do português não são consideradas como empréstimos pela competência lexical dos falantes do português atual Observese a seguinte relação extraída de COUTINHO 1962230234 em que todas as palavras só devem ser consideradas como empréstimos sob o ponto de vista diacrônico alegre anel jogral rouxinol viagem açúcar jambo pijama chá azul bazar espinafre laranja paraíso charuto chapéu assembléia chefe avenida envelope clube estrangeiro mestre milagre etc Passemos à questão dos HIBRIDISMOS Segundo CUNHA CINTRA 1985113 são palavras híbridas ou hibridismos aquelas que se formam de elementos tirados de línguas diferentes Em homemshow discolaser westerncanguru agroboy e gamemaníaco estamos diante de formações híbridas compostas Em shakespeareano darwinismo macarthismo thatcheriano behaviourismo schwarzeneggeriano neogorbacheviano blecaça supergay e próClinton estamos diante de formações híbridas simples derivação afixal Por outro lado a lingüística diacrônica considera que as palavras da relação abaixo são hibridismos por terem sido formadas por elementos de línguas diferentes bicicleta latim grego automóvel grego latim centímetro latim grego mineralogia latim grego burocracia francês grego zincografia alemão grego goiabeira tupi português É preciso considerar que sob o ponto de vista sincrônico tais formações não são híbridas pois a competência lexical do falante não considera os elementos formadores das palavras como pertencentes a línguas distintas mas sim como bases e afixos da língua portuguesa Negar que bi auto móvel metro logia cracia e goiaba sejam formas do português parecenos uma idéia tão absurda quanto a de negar que as desinências va mos e s os sufixos ense ano e ismo os prefixos pré re e anti e as raízes terra livro e crise sejam do português já que todas essas formas apesar de provirem do latim ou do grego são naturais aos falantes da nossa língua Negar a vernaculidade dessas formas é o mesmo que negar a nossa própria língua Se essas formas não são português então o português não existe 36 O LÉXICO PORTUGUÊS As palavras de uma língua podem ser divididas em dois grandes grupos lexemas e instrumentos gramaticais LEXEMAS como vimos são palavras que apresentam uma ou mais raízes O conceito de raiz será discutido com profundidade no quinto capítulo Por ora basta saber que raiz é um morfema de significação externa comum a várias palavras de um mesmo grupo lexical Assim livr é a raiz de livro livreiro livraria livresco e clar é a raiz de claro clareza esclarecer etc Os lexemas podem ser simples pelo fato de apresentarem uma só raiz como os exemplos citados ou compostos pelo fato de apresentarem mais de uma raiz sofácama agentesecreto acrofobia etc INSTRUMENTOS GRAMATICAIS são palavras que não apresentam raiz Os artigos as preposições as conjunções e os pronomes relativos são exemplos de instrumentos gramaticais Por ora nossa atenção está voltada para os lexemas De fato no estudo da formação de palavras só interessam as palavras de significação externa As palavras que não são lexemas como as preposições e as conjunções têm permanecido as mesmas no decorrer da história da língua Além disso não se formam novas palavras derivadas de preposições e conjunções Dentre os lexemas os substantivos os adjetivos os verbos e alguns advérbios interessam especialmente ao estudo da formação de novos itens lexicais razão por que são chamados de CATEGORIAS LEXICAIS MAIORES segundo ARONOFF 195721 Os lexemas constituem no dizer de MARTINET 196416 uma LISTA ABERTA isto é a todo momento novos lexemas aparecem na língua quer se trate de formações vernáculas quer se trate de estrangeirismos Além disso grande parte dos lexemas está relacionada com a cultura com o momento históricopragmático Palavras como doleiro cutista grafiteiro bipar narcodeputado ecoxiita seqüestrável clonável celulódromo agrobusiness etc surgem na língua em decorrência do momento histórico que vivemos do mesmo modo que palavras como bonde carruagem mataborrão tinteiro fraque litorina sarau estão desaparecendo ou seja são ou tendem a ser consideradas como arcaísmos Os instrumentos gramaticais constituem uma LISTA FECHADA na expressão de MARTINET 196417 Como dissemos a língua não cria novas preposições conjunções ou artigos e a lista vem permanecendo a mesma no decorrer da história da língua Os lexemas como vimos no segundo parágrafo deste item podem ser simples pelo fato de apresentarem uma só raiz livreiro clareza belo antisocial ou compostos pelo fato de apresentarem mais de uma raiz sofácama agentesecreto acrofobia nipofrancobrasileiro etc Sob outro ponto de vista como vimos na seção 31 os lexemas podem ser puros ou complexos Os lexemas puros apresentam apenas um elemento ou morfema lexical raiz ou afixos em sua estrutura livro menino giz simples residir orar etc Os lexemas complexos apresentam mais de um elemento ou morfema lexical em sua estrutura livreiro agrário revisitar girassol filologia Partido dos Trabalhadores etc Os lexemas puros constituem via de regra o chamado VOCABULÁRIO FUNDAMENTAL de uma língua São nomes que designam partes do corpo boca olho cabeça perna etc parentesco pai mãe tio filho avô etc substâncias básicas ouro ferro madeira terra água areia etc São também os adjetivos mais comuns da língua como bonito feio alto baixo grande pequeno etc além dos verbos mais empregados na comunicação diária ser ir vir estar ficar nascer morrer subir descer etc Os lexemas complexos são formados no interior do próprio sistema linguístico Desse modo o léxico de uma língua pode ser constantemente renovado Essa renovação é feita através dos processos de formação de palavras que serão estudados a partir do quinto capítulo deste trabalho São exemplos de lexemas complexos encontrista palestrista grafiteiro pichador bipar superfaturamento descasar implosão deflação agroboy narcodeputado ecoerótico etc 37 ENTRADAS LEXICAIS A lista de entradas lexicais de um falante nativo ou em outras palavras o LÉXICO MENTAL de um indivíduo é formado por toda e qualquer forma linguística que a pessoa conhece ou utiliza Como o falante conhece e utiliza essas formas de maneira intuitiva compete ao linguista com o auxílio de técnicas adequadas explicitar essas formas Fazendo isso estaremos com KATAMBA 1994224 respondendo à seguinte questão O que deve uma pessoa saber a respeito de palavras de tal modo que seja capaz de usálas como falante e como ouvinte É preciso lembrar que aqui não estamos preocupados com a elaboração de dicionários que é uma técnica específica da LEXICOGRAFIA Como dissemos a nossa pesquisa toma como base a lista de itens lexicais de um grupo de falantes nativos alunos da Faculdade de Letras da UFMG de Belo Horizonte Nos itens subsequentes tentaremos demonstrar como pode ser explicitado o léxico mental de um falante nativo de acordo com os modelos apresentados por BAUER 1983190200 e por KATAMBA 1994224228 com algumas adaptações para os exemplos do português Poderão ser apresentadas informações fonológicas sintáticas semânticas e discursivas As informações morfológicas fazem parte do sistema de regras RFPs e RAEs por isso não serão descritas aqui mas a partir do próximo capítulo 75 371 INFORMAÇÕES FONOLÓGICAS As informações fonológicas limitamse tão somente à transcrição fonológica do item lexical Não há necessidade de referências à tonicidade das palavras uma vez que ela vem apontada na transcrição Questões relacionadas com mudanças fonológicas como práticopraticidade por exemplo serão analisadas no sistema de regras 372 INFORMAÇÕE SINTÁTICAS O falante de uma língua natural faz uso intuitivo das classes lexicais Tanto é verdade que em português ele não anexa o sufixo dor a substantivos por exemplo para formar palavras novas mas apenas a verbos luzdor canetador emoçoador mas apelidador conseguidor parafusador etc Logo as classes lexicais devem ser explicitadas na descrição do item lexical A estrutura de argumentos de uma palavra como por exemplo o tipo de sujeito ou de complemento que um item lexical exige é uma questão sintática que também deve fazer parte da descrição da lista de entradas lexicais 373 INFORMAÇÕES SEMÂNTICAS Não existe nada mais arbitrário ou seja idiossincrático do que a relação entre significante e significado Os semanticistas costumam fazer a descrição do significado através de traços marcadores ou componentes metalingüísticos mas como esse é um terreno da lingüística extrêmement perigoso preferimos seguir a posição adotada por BAUER 1983191 para mim parece ser mais satisfatório pelo menos até que uma teoria semântica unificada se torne disponível explicar as significações das palavras com o inglês do diaadia isto é usando lexemas comuns em vez de traços metalingüísticos 374 INFORMAÇÕES DISCURSIVAS Há certas palavras como homem por exemplo que aparecem em qualquer tipo de discurso Por outro lado palavras como bicho e cara adquirem no discurso informal um sentido especial Já termos como exegese e elucubraçâo 76 são características de um discurso formal A descrição dos itens lexicais de uma língua deve levar em consideração esses aspectos 38 RESUMO Neste capítulo tentamos solucionar algumas questões relacionadas com a organização do léxico de uma língua Após estabelecermos que o léxico mental de um falante nativo é constituído de toda e qualquer forma linguística desde as mais simples às mais complexas e não apenas de idiossincrasias como querem alguns autores discorremos sobre a relatividade das listas de itens sobre a distinção entre polissemia e homofonia e sobre a necessidade de se distinguirem tanto os empréstimos quanto os hibridismos sob a perspectiva sincrônica e sob a perspectiva diacrônica Em seguida procuramos demonstrar como podem ser descritas as diversas entradas lexicais do português 77 O SURGIMENTO DE 4 UM NOVO VOCÁBULO Antes de entrarmos na descrição do itinerário de uma palavra desde a sua criação até a sua inclusão no léxico de uma comunidade linguística vamos responder a três perguntas básicas por que se formam novas palavras quando se formam novas palavras como se formam novas palavras Também discutiremos três questões relacionadas com a formação de novos itens lexicais a lexicalização a fossilização e a dicionarização 41 POR QUE SE FORMAM NOVAS PALAVRAS A resposta a essa pergunta está relacionada a três fatores as exigências do sistema linguístico a influência do sujeitofalante e o papel das funções semânticas Podemos portanto falar em três FUNÇÕES na formação de palavras BASÍLIO 1987 função de mudança categorial por exigência do sistema linguístico função expressiva de avaliação por influência do sujeitofalante função de rotulação relacionada com o aspecto semântico 411 FUNÇÃO DE MUDANÇA CATEGORIAL A função categorial decorre como dissemos de exigências do próprio sistema linguístico Muitas vezes precisamos empregaar um item lexical de uma classe em outra Como ficaria muito antieconômico para a língua criar um novo item fazse uma adaptação morfológica com o auxílio de um sufixo por exemplo com a conseqüente mudança da classe lexical Vejamse os seguintes exemplos a A Petrobrás precisa atingir a produção de 1200000 barris de petróleo por dia Somente quando atingir essa cifra o País será autosuficiente Mas esse atingimento só será possível b Todos os religiosos daquela congregação são santos Mas essa santidade só foi atingida porque c Precisamos dolarizar a nossa economia d Grupo teatral Emprego universal Teoria frasal Esforço congressual Atingimento santidade dolarizar teatral universal frasal e congressual são resultado de uma coerção discursiva do sistema que obriga à formação dessas palavras O que se deu foi a necessidade de adaptação da classe lexical tendo havido portanto uma mudança sintática 412 FUNÇÃO EXPRESSIVA DE AVALIAÇÃO Na função expressiva de avaliação o papel do sujeitofalante é preponderante na formação do novo item lexical É o que se dá com os sufixos afetivos enfáticos e intensificadores Em uma frase do tipo Filhinho vai para a caminha tomar o seu leitinho as formações sufixadas surgiram em função da necessidade de o falante expressar a sua subjetividade É claro que uma função poderá ser cumulativa Na criação lexical abaixo colossalidade Guimarães Rosa utilizouse ao mesmo tempo da função de mudança categorial e da função expressiva e ao descobrir no meio da mata um angelim que atira para cima cinqüenta metros de tronco e fronde quem não terá ímpeto de criar um vocativo absurdo e bradálo Ó colossalidade na direção da altura ROSA 1965235236 413 FUNÇÃO DE ROTULAÇÃO A função de rotulação está relacionada com a necessidade que tem o homem de dar nome às coisas às ações aos lugares etc Está ligada à pragmática à cultura à História à tecnologia enfim ao mundo que nos cerca São exemplos de rotulação malufar tancrever carreata bondeata sambódromo celulódromo doleiro sacoleiro superfaturamento megaestrela secretáriaeletrônica antenaparabólica etc 42 QUANDO SE FORMAM NOVAS PALAVRAS Novos itens lexicais são formados a todo momento em língua portuguesa nas suas mais diversas modalidades coloquial culta literária técnica científica de propaganda etc Vimos no primeiro capítulo que isso se dá através do acionamento de RFPs Neste item vamos descrever com mais detalhes o surgimento de um novo item lexical e a maneira pela qual esse item passa a pertencer a uma comunidade linguística Em outras palavras vamos falar de formações esporádicas e de formações institucionalizadas 421 FORMAÇÃO ESPORÁDICA Segundo BAUER 198345 uma FORMAÇÃO ESPORÁDICA nonceformation pode ser definida como uma palavra complexa nova criada pelo falanteescritor sob o impulso do momento para satisfazer alguma necessidade imediata KATAMBA 1994150151 depois de apresentar um contexto em que figuram os neologismos yuppification e deyuppification afirma São NONCE WORDS palavras cunhadas pela primeira vez e aparentemente usadas apenas uma vez que não são institucionalizadas Como vimos anteriormente uma formação esporádica FE é criada de acordo com as RFPs de uma língua Uma FE deixa de ser considerada como tal ou seja passa a ser uma FORMAÇÃO INSTITUCIONALIZADA FI a partir do momento em que o item se torna familiar isto é conhecido de uma comunidade linguística Uma FE pode portanto institucionalizarse ou seja pode passar a ser familiar a uma comunidade linguística Vamos exemplificar o que foi dito voltando a exemplos dados no início do primeiro capítulo Uma criança pisa numa formiga que permanece imóvel alguns segundos Como a formiga volta a andar a criança exclama Pai a formiga desmorreu Observese que a palavra foi criada de acordo com a conhecida RFP do português V des V Os falantes poderão acionar essa regra a qualquer momento fazendo surgir formações esporádicas como desnoivar desconseguir desenfeitar deseleger etc Observese que desmorrer não foi institucionalizada isto é tratase de uma palavra criada sob o impulso do momento O mesmo se pode dizer com relação a atingimento Desmorrer e atingimento são FEs formadas com base em RFPs da língua portuguesa 422 FORMAÇÃO INSTITUCIONALIZADA Examinemos agora o caso de imexível uma FE criada recentemente por um ministro de Estado diante das câmeras de televisão Por causa das circuns tâncias especiais em que esse item foi produzido passou a ser familiar à grande maioria dos falantes tornandose portanto um vocábulo institucionalizado A palavra foi criada de acordo com a seguinte RFP V Adjetivo in vel Tratase de uma formação cuja RFP pode apresentar outros exemplos na língua imperdível um exemplo já institucionalizado mas que parece ser recente na língua insonhável inacolhível indespível inconstrutível indesmentível etc Em suma imexível é o exemplo típico de uma FE que se tornou uma FI recentemente Uma FE pode portanto institucionalizarse isto é pode tornarse familiar a um grupo de indivíduos O âmbito dessa familiaridade pode variar muito Há formações que se restringem ao uso de uma determinada família na residência do autor destas linhas o termo codornil codorna il criatório de codornas cf com canilé institucionalizado embora não seja um termo conhecido dos falantes No campus da UFMG o termo faficheiro de FAFICH é bastante empregado embora não seja conhecido de toda a cidade de Belo Horizonte Taxista é usado normalmente pelos habitantes da capital mineira mas em Salvador o termo consagrado é taxeiro Doleiro uma criação recente da língua parece ser usada em todo território nacional Por que algumas FEs se institucionalizam e outras não 1º Em primeiro lugar é preciso considerar o prestígio do criador da palavra BAUER 198343 cita a palavra triphibian que teria sido usada pela primeira vez por Winston Churchill primeiroministro da Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial Imexível tornouse conhecida no Brasil por ter sido cunhada por um ministro de Estado O mesmo se dá com escritores letristas de música popular economistas jornalistas cronistas humoristas apresentadores de televisão personagens de novelas etc Enfim qualquer personalidade de prestígio poderá transformar uma FE em uma FI 2º Em segundo lugar é preciso considerar o poder da mídia como um elemento influenciador na disseminação do vocábulo Imexível não passaria de uma criação fortuita se tivesse sido empregada pelo Ministro em suas conversas particulares mas a regra lexical foi acionada diante das câmeras de televisão o que contribuiu é claro para a sua disseminação Dentre os vários meios de comunicação a televisão é sem dúvida o mais poderoso Ainda está por ser avaliada a verdadeira influência da linguagem televisiva sobre os usuários de uma língua mas parece não haver dúvida de que algumas falas de novelas e certos tipos de discurso publicitário podem exercer influência sobre o desempenho lingüístico das pessoas especialmente no que se refere ao emprego de certos sufixos da moda cf c o parágrafo seguinte 3º Em terceiro lugar lembremonos de que muitas palavras são criadas e institucionalizadas na língua simplesmente pelo fato de que certos processos são no presente momento mais chamativos do que outros De fato fica muito mais enfático e apelativo com mais possibilidade portanto de institucionalização o uso de fumódromo do que de sala de fumantes O mesmo se pode dizer com relação ao emprego de carreata no lugar de desfile de carros Uma palavra como rampeiro indivíduo que descia a rampa do Palácio do Planalto no Governo Collor era também extremamente enfática e apelativa por causa das diversas conotações que carrega sabor de novidade aspecto pejorativo possível crítica a uma maneira de governar etc A palavra se torna portanto carregada para usar uma expressão de CÂMARA JÚNIOR 195375 Surgem as palavras da moda que conferem certo status ao usuário ou que demonstram estar o falante por dentro das últimas novidades Formações em dromo como dissemos como fumódromo camelódromo beijódromo rockódromo e celulódromo denunciam uma certa contemporaneidade ou engajamento com o mundo moderno por parte de quem as utiliza O mesmo se diga com relação a formações em ata que indicam um tratamento up to date da questão carreata bicicleata bondeata tratorata barqueata etc O sufixo aço também oferece formações modernas assoviaço buzinaço panelaço figuraço etc 4º Em quarto e último lugar não se pode deixar de assinalar que muitas palavras se institucionalizam na língua por necessidade ou seja por exigências históricas culturais pragmáticas etc É o que explica o surgimento de itens como párabrisa orelhão aidético cutista celetista doleiro hipermercado superfaturamento saláriodesemprego avisoprévío etc 43 COMO SE FORMAM NOVAS PALAVRAS Sabemos que o arcabouço teórico da morfologia gerativa se constrói em cima de regras As regras morfológicas podem ser de dois tipos RAEs e RFPs Neste trabalho já ressaltamos por diversas vezes a importância da fixação de RFPs A rigor a ararefa da morfologia gerativa deveria consistir primordialmente na fixação das RFPs da língua Vale a pena ratificar as palavras de BAUER já citadas no item 125 A única maneira realística de se obter uma compreensão adequada de como funciona a formação de palavras é ignorandose as formas lexicalizadas e concentrandose nos processos produtivos Caracterizada uma regra o que se verifica porém é que ela apresenta uma série de restrições quanto à sua aplicação Repetimos aqui as palavras de MATTHEWS citadas no item 223 que prefere falar em semiprodutividade e na existência de um léxico semiorganizado A produtividade automática é uma característica de toda derivação flexiva qualquer forma X dá salvo razões contrárias plural X es Sem dúvida o que se disse não é aplicável às formações lexicais na sua maioria semiprodutivas que admitem novas bases por meio de processos produtivos mas de maneira esporádica Apesar das inúmeras restrições que se pode fazer à produção das RFPs acreditamos na existência de um LÉXICO ORGANIZADO e bem definido ratificando portanto as palavras de BASÍLIO já expostas no item 223 Abandonamos assim a noção de que o léxico consiste meramente de uma lista não ordenada de entradas lexicais Ao contrário em nossa proposição o léxico apresenta uma estruturação subjacente definida sendo organizado de acordo com padrões de diferentes tipos Como resolver a questão se o que se constata de fato é que as RFPs são 100 produtivas Como resolver a questão se deparamos com RFPs que apesar de produtivas por definição deixam de apresentar formações inteiramente previsíveis Por que taxista florista frentista e parecerista são itens lexicais institucionalizados ao passo que escadista apartamentista arvorista e paredista não o são Por que consagramos teatral braçal carnal semanal universal e não camal pernal musculal planelal e tantas outras formações possíveis 431 CONDIÇÕES DE PRODUTIVIDADE E CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO Para entender a questão fazse necessário estabelecer a distinção entre CONDIÇÕES DE PRODUTIVIDADE e CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO de uma RFP BASÍLIO 19903 estabelece assim essa distinção uma vez estabelecida a esfera da competência lexical no conceito de produtividade este conceito deve ser entendido tão somente como medida do potencial que uma regra tem de operar sobre bases especificadas para produzir construções morfologicamente possíveis As condições de produtividade de uma regra devem ser distintas das condições de produção que dependem de fatores de ordem pragmática discursiva e paradigmática 85 Uma regra deve ser especificada em todas as suas características quer quanto à base categorização subcategorização constituição morfológica traços semânticos etc quer quanto ao produto idem como vimos no item 124 É isso o que se entende por condições de produtividade A base dólar reúne as condições ideias de produtividade da RFP S Seiro uma vez que apresenta tais e tais características que serão apresentadas no sexto capítulo Por sua vez o produto doleiro é concreto ou seja é uma palavra real da língua com tais e tais características O mesmo não acontece com a palavra franco moeda francesa Como base ela apresenta as condições ideais de produtividade com tais e tais características similares a dólar O que se constata porém é que franqueiro embora seja um item lexical possível não é um produto concreto ou seja não é uma palavra real da língua Em resumo no caso de franco existem as condições de produtividade com relação à RFP S Seiro mas há restrições relacionadas com as condições de produção Tanto as condições de produtividade quanto as condições de produção de uma RFP serão estudadas com rigor no sexto capítulo deste trabalho 44 LEXICALIZAÇÃO Muitas vezes na aplicação da RAE a uma formação cristalizada do português deparamos com alguma irregularidade ou desvio da regra quanto aos aspectos fonológico morfológico ou semântico A essa irregularidade ou idiossincrasia dáse o nome de LEXICALIZAÇÃO BAUER 19834261 trata desse fenômeno mas a sua abordagem está comprometida com a perspectiva histórica como se constata pelas palavras O estágio final vem quando devido a alguma mudança no sistema linguístico o lexema toma uma determinada forma que não tomaria se tivessem sido aplicadas a esse lexema regras produtivas Na verdade concordamos em parte com o conceito de Bauer Tirando de lado a perspectiva histórica e fazendo uma pequena adaptação podemos dizer que a lexicalização se caracteriza pelo fato de um lexema apresentar uma determinada estrutura diferente daquela prevista pela aplicação de sua respectiva RAE Quanto ao emprego do termo lexicalização e a possibilidade de se encontrarem nomenclaturas diferentes para esse fenômeno como petrificação e idiomatização por exemplo consultese especialmente BAUER 198348 SCALISE 198425 aborda esse problema mas não usa uma terminologia específica para caracterizar esse fenômeno 441 LEXICALIZAÇÃO CATEGORIAL Examinemos primeiramente um caso isolado para entendermos melhor a questão Como sabemos em português existe a RFP V Sdor que explica possíveis formações como apelidador injetador conseguidor exumador etc Por sua vez essa RFP corresponde a uma RAE que pode ser aplicada a formações do tipo pescador descobridor jogado pesquisador paquerador etc Em ambos os casos o sufixo é acrescentado a verbos Tal não é o que acontece com a palavra lenhador em que constatamos que a base é um substantivo No léxico mental dos alunos da FALEUFMG não existe o verbo lenhar na verdade não importa que a palavra seja dicionarizada como de fato o é cf c o item 46 que trata da dicionarização Tratase portanto de uma irregularidade que se verifica também em outras palavras do português como aviador por exemplo cuja base é avião Neste caso podese falar em LEXICALIZAÇÃO CATEGORIAL uma vez que se verifica irregularidade na categoria da base Com a lexicalização categorial de lenhador dáse um fenômeno interessante Embora o verbo lenhar não exista no léxico mental dos alunos da FALEUFMG ele foi mais comum outrora além de continuar existindo em algumas comunidades linguísticas Acrescentese a isso o fato de como dissemos estar registrado nos dicionários A base verbal deixou de existir nas comunidades urbanas e o produto passou a ser ligado ao substantivo lenha Mas esse é um problema histórico que escapa à competência lexical dos alunos da Faculdade de Letras da UFMG Podemos dizer claramente por uma questão metodológica que na nossa pesquisa o vocábulo lenhar não existe 442 LEXICALIZAÇÃO PROSÓDICA Além da lexicalização categorial podese falar também em LEXICALIZAÇÃO PROSÓDICA Tratase de uma irregularidade na prosódia ou seja na pronúncia do produto no que se refere à sua tonicidade cf c BAUER 198350 Observese a formação dos seguintes nomes deverbais estimular estímulo em vez de estimulo retificar retífica em vez de retifica criticar crítica em vez de critica duvidar dúvida em vez de duvida incomodar incômodo em vez de incomodo analisar análise em vez de analise depositar depósito em vez de deposito Nesses casos o acento tônico recua duas sílabas em vez de uma como seria de se esperar nas chamadas derivações regressivas deverbais abandono contorno conversa controle etc Com a lexicalização prosódica observase o seguinte o português herdou do latim milhares de palavras já prontas cristalizadas Acontece que em latim as relações lexicais são diferentes das relações lexicais do português Isso é natural porque se trata de duas línguas distintas Em latim a relação entre o verbo e o nome correspondente está organizada de maneira diferente da do português Sendo assim herdamos do latim bem como de fases posteriores ao latim e de línguas estrangeiras padrões lexicais prontos Se esses padrões fossem fixados hoje eles seguiriam as regras do português atual É o que se deu por exemplo com stimulare paroxítono e stimulus proparoxítono ambas as formas coexistentes em latim análise do grego análysis e analisar provavelmente uma forma tardia e retífica do italiano rettifica e retificar uma forma derivada Observese mais uma vez que não estamos tentando justificar essa irregularidade nas relações lexicais do português com um fato histórico o que é condenável sob o ponto de vista metodológico Não é possível chegar a esses dados através da análise da competência lexical do falante ou seja esses dados não fazem parte da sua gramática subjacente Estamos apenas querendo dizer que a anomalia que se verifica na relação estimularestímulo coincide com um dado histórico mas na verdade não é possível depreender do conhecimento que o falante tem do léxico elementos que justifiquem essa irregularidade 443 LEXICALIZAÇÃO ESTRUTURAL É preciso considerar também os casos de LEXICALIZAÇÃO ESTRUTURAL em que se observa alguma anomalia na estrutura do vocábulo com relação à sua respectiva RAE São exemplos de lexicalização estrutural afligir aflição em vez de afligição adotar adoção em vez de adotação agredir agressão em vez de agredição coagir coação em vez de coagição comover comoção em vez de comoveção compreender compreensão em vez de compreensão comprimir compressão em vez de comprimição conceder concessão em vez de concedeção confessar confissão em vez de confessação confundir confusão em vez de confundição decidir decisão em vez de decidição eleger eleição em vez de elegeção editar editor em vez de editador imprimir impressor em vez de imprimidor ler leitor em vez de ledor escrever escritor em vez de escrevedor agredir agressor em vez de agredidor aspergir aspersor em vez de aspergidor emitir emissor em vez de emitidor milho milharal em vez de milhal cana canavial em vez de canal guloso gulodice em vez de gulosice medo medroso em vez de medoso sangue sangrento em vez de sanguento leviano leviandade em vez de levianidade Em casos como aflição adoção e agressão por exemplo observase que sílabas inteiras são suprimidas Esse fenômeno considerado por alguns estudiosos como regra de truncamento ARONOFF 197688 não pode na verdade ser considerado como regra dado o seu caráter idiossincrático De fato por que o nominal correspondente a adotar é adoção e o correspondente a anotar é anotação Também na lexicalização estrutural recebemos do latim de fases anteriores da língua ou de línguas estrangeiras os pares já prontos Assim herdamos as formações afligir de affligere e aflição de afflictione adotar adoptare e adoção adoptione agredir de aggredire e agressão de aggresione NAASCENTES 1955 e assim por diante Se aplicássemos hoje a milho a RFP teríamos como produto milhal e não milharal O que se deu porém é que provavelmente no português arcaico houve a reduplicação do sufixo al surgindo daí milhalal e posteriormente por dissimilação milharal CUNHA 1982 milho Em canavial deuse a influência de cânave cânhamo vegetal parecido com a cana Em sangrento houve a influência do espanhol sangre e em medroso dáse a continuação de medoroso forma arcaica calcada em medor É preciso deixar claro mais uma vez que tais observações de natureza diacrônica escapam à competência lexical do falante comum como já dissemos anteriormente Para o lingüista comprometido com a explicitação da gramática subjacente do usuário da língua tais explicações são dispensáveis porque não são fornecidas pela competência lingüística do falante À morfologia gerativa cabe apenas constatar essas idiossincrasias e atribuílas a fatores históricos sem contudo tentar explicálas Se fizermos uma rápida incursão à diacronia foi apenas para lembrar a fundamental importância de se distinguir as formas já feitas dos processos de formação BASÍLIO 198725 Foi também para ratificar o nosso ponto de vista que vimos adotando desde o início deste trabalho expresso através destas palavras de BAUER 1983292 já citadas anteriormente cf c item 125 A única maneira realística de se obter uma compreensão adequada de como funciona a formação de palavras é ignorandose as formas lexicalizadas e concentrandose nos processos produtivos Paralelamente à constatação de que uma forma lingüística apresenta lexicalização estrutural dáse também na língua o fenômeno da RECUPERAÇÃO MORFOLÓGICA Tal fenômeno consiste no seguinte consideremos o caso da palavra expulsão que sofre um truncamento silábico ao se aplicar a ela a RAE correspondente Em vez de expulsação temse expulsão como vimos neste parágrafo É possível no entanto na linguagem coloquial depararse com a forma expulsação como no exemplo Esse colégio está virando uma bagunça danada todo dia é essa expulsação de aluno Como se observa dáse a recuperação morfológica da RAE expulsar vção s Sob o ponto de vista semântico o produto além de significar ato de X adquire também uma significação cumulativa de ação repetida Acrescentese a isso o fato de a palavra expulsação ser usada apenas na linguagem coloquial Seguemse outros exemplos de recuperação morfológica O governo precisa parar com essa conced e ção de medalha por concessão O padre não tem sossego Fica essa confessa o o dia inteiro por confissão Houve uma discuss a o danada durante a noite toda por discussão O candidato precisa parar com essa promet e ção senão ele vai se dar mal por promessa Até que enfim o diretor parou com a suspende ção de alunos por suspensão Você precisa parar com essa viaj a ção o mês inteiro por viagem O público ledor tomou de amores pelo novo romance por leitor Ele passou a ser o recebedor das mensagens por receptor Ele é o cantador das melodias do sertão por cantor Fulano de Tal é o concededor de todos os favores nesta região por concessor Como percebedor de tantas falhas ele merece um prêmio por percep tor 444 LEXICALIZAÇÃO RIZOMÓRFICA A LEXICALIZAÇÃO RIZOMÓRFICA se dá quando ao se aplicar uma RAE a uma forma cristalizada da língua observase uma irregularidade com relação à raiz Assim ao se aplicar a palavra capilar a respectiva RAE constatase que o sufixo está anexado à forma capil e não a cabelo Cabe aqui uma pergunta tratase de uma variante de cabelo ou seja um alomorfe ou de uma outra raiz Não há razões muito evidentes que nos levem a optar por uma ou outra solução BAUER 198354 considera as duas formas como sendo raízes diferentes Cremos não ser essa a melhor solução porque em termos estruturalistas o que importa é a função e não o material palpável Tratase portanto de uma única raiz com variantes alomórficas que devem ser registradas no léxico Há alguns autores que usam o termo doublet para se referirem a essas formações Nos doublets de raízes que se seguem o segundo elemento apresenta lexicalização rizomórfica cabelocapilar chuvapluvial dedodigital olhoocular nariznarigudo bocabucal orelhaauricular estrelaestelar nuvemnublado céuceleste árvorearborizar mãomanusear etc 445 LEXICALIZAÇÃO SEMÂNTICA A língua apresenta também inúmeros casos de LEXICALIZAÇÃO SEMÂNTICA Tomemos como exemplo acabamento Sob o ponto de vista estrutural a RAE é transparente acabar acabamento O produto não quer dizer porém ato resultado ou processo de acabar como via de regra significam as nominalizações deverbais Acabamento é o retoque ou toque final que se dá a uma obra ou trabalho Observese a nãoaceitabilidade da palavra no contexto abaixo Vocês precisam acabar esta prova no horário O acabamento está previsto para as nove horas Estudante também é um exemplo de lexicalização semântica uma vez que não significa aquele que estuda como em militante aquele que milita atuante aquele que atua ou participante aquele que participa Estudante é uma formação lexicalizada porque tem o sentido especial de aquele que freqüenta um curso Observese que a frase abaixo é inaceitável O Prof Fulano estuda quatro horas por dia ele é um estudante A lexicalização semântica é portanto uma extensão de sentido ou uma idiossincrasia relacionada com o significado que se observa ao aplicarmos a uma palavra já existente na língua a RAE correspondente Os produtos uma vez institucionalizados são congelados cf c item 92 123 A partir daí passam a ter uma vida independente podendo ser lexicalizados ou não Há várias palavras antigas da língua que não são lexicalizadas e que se fossem formadas hoje seriam previsíveis sob o ponto de vista semântico como descobridor reconhecimento bajulação formigueiro teatral etc Há outras palavras que passam primeiramente por um período de congelamento mas depois libertamse da forma fôrma primitiva adquirindo um sentido figurado ligado ao sentido original Esse novo sentido especial acaba por suplantar o sentido tradicional e previsível caracterizandose assim o fenômeno da lexicalização Além dos exemplos de lexicalização semântica já citados acabamento e estudante observese o caso de tratante que existe hoje na língua apenas com o sentido de indivíduo que não cumpre os seus compromissos tendo sido esquecido o sentido neutro de pessoa que faz um trato Comparemse os itens participante e tratante que apresentam a mesma RAE Luísa vai participar de uma corrida rústica Aliás todos os participantes receberão uma camisa como incentivo Luísa tratou com os colegas de se encontrarem na Savassi Aliás todos os tratantes deverão levar É preciso não confundir portanto os casos de lexicalização semântica em que uma das formas desaparece do léxico mental do falante nativo com os casos de POLISSEMIA DE FORMAS COMPLEXAS em que se dá a convivência das duas formas camisinha camisa pequena camisinha preservativo casinha casa pequena casinha WC vassourinha vassoura pequena vassourinha planta A polissemia de formas complexas apresenta o esquema abaixo Observese que a polissemia opera sobre os produtos não sobre as bases vassoura vassourinha derivação sufixal polissemia vassourinha planta 93 45 FOSSILIZAÇÃO É preciso não confundir a lexicalização com o fe nômeno da FOSSILIZAÇÃO Como foi dito no item ante rior as formas lexicalizadas são irregulares mas podem ser analisadas por regras específicas RAEs Apesar da anomalia podese aplicar a expulsão por exemplo a RAE expulsar v ção Vejase como é diferente o caso de casebre por exemplo O falante pode depreender a estrutura da palavra casa s ebre s mas não se pode dizer que o falante poderá aplicar a ela uma RAE porque por definição uma regra não se aplica a um caso apenas A rigor as estruturas de palavras sui generis não são apreen didas através de RAEs mas de análises isoladas A esse fenômeno se dá o nome de FOSSILIZAÇÃO Citamos em seguida alguns exemplos de fossilização Observese que os sufixóides cf c 548 e os prefixóides cf c 77 que fazem parte das estruturas das palavras são formas linguísticas unívocas isto é tratase de formas isola das que apresentam uma única interpretação tanto sob o ponto de vista morfológico quanto sob o ponto de vista semântico bichitao urinol pedestre serrote andarilho ser tanejo marisco cantilena cantarolar apaziguar supor res guardar descrever manter etc A fossilização pode também estar relacionada com a base Muitas vezes temos condições de isolar o sufixo mas a base é uma forma linguística irrecorrente Esse assunto será estudado com rigor no subitem 5472 De qualquer forma é possível por exemplo reconhecer a existência do sufixo oso em moroso embora a base só exista nessa palavra ou seja só ligada ao sufixo oso A forma mor como veremos é uma BASÓIDE São exemplos de fossili zação da base as basóides vão sublinhadas rústico espo rádico meticuloso jocoso armário calvário meliante pe dante mercenário orador vantagem rancor banal pica deiro outeiro etc Algumas vezes um dos elementos do processo de composição é uma BASÓIDE caracterizando assim a fossi lização semântica Esses elementos também são chamados de MORFES VAZIOS Seguemse exemplos de basóides ou de morfes vazios na composição as basóides vão sublinhadas guardanapo guardavala manipular meno pausa satisfazer manivela carapuça etc 46 DICIONARIZAÇÃO Palavras institucionalizadas podem passar a fazer parte de um dicionário caracterizandose assim a DICIONARI ZAÇÃO de uma nova formação da língua Neste trabalho não estamos preocupados com essa questão mas com a explicitação do léxico mental do falante nativo conforme procuramos demonstrar em páginas anteriores Existem várias diferenças entre o que estamos chamando de léxico mental e os dicionários Os dicionários apresentam inúmeras palavras enterradas mortas que não são mais usadas na língua além de deixarem de registrar inúmeros vocábulos novos mas que são de uso efetivo Na verdade os dicionários tais como se apresentam apesar de se constituírem em um auxiliar indispensável para os usuários da língua principalmente com relação à norma culta não são instrumentos científicos de análise linguística não só por causa dos problemas apon tados como também por causa das dificuldades inerentes à publicação Uma formação recéminstitucionalizada demora a ser dicionarizada Novas edições com revisões emendas e acréscimos deveriam ser constantemente lançadas no mercado e não simplesmente novas impressões ou tiragens como acontece freqüentemente no Brasil Além disso é preciso assinalar que apesar de prática a ordem alfabética em que se apresentam os verbetes é aleatória convencional totalmente desprovida de critério técnico ou científico Reco nhecemos que os dicionários que se estruturam de maneira diferente idéias afins campos lexicais raízes ou famílias de palavras são pouco práticos para o público em geral Apesar de todas as dificuldades é preciso lembrar que a lexicografia técnica de confecção dos dicionários e análise linguística dessa técnica DUBOIS et al 1978 lexicografia é um ramo de estudo respeitável que possui seus próprios instrumentos de trabalho e que vem se aperfeiçoando a cada dia que passa Um produto para se constituir uma entrada em um dicionário precisa ser institucionalizado como dissemos anteriormente Não faz sentido um dicionário registrar formações esporádicas de certos escritores como se vê na edição de 1985 do AULETE citaremos apenas alguns exemplos do primeiro volume e uma colherada de sal para disfarçar o adoço em demasia adoçamento ou doçura Mário Palmério Chapadão do Bugre num carroção de burro lotado da bugigangada delas conjunto de bugigangas Mário Palmério Chapadão do Bugre Tô Wi do Dito não se desfazia cheio de amorosidades qualidades dos que são amorosos Guimarães Rosa Tutaméia De vêla a borralbeirar doíamse estar no borralho não sair de casa Guimarães Rosa Tutaméia De certo que essas também tecem a minha roupa arlequinal relativo a arlequim Mário de Andrade Poesias Completas É evidente que a partir do momento em que um escritor cria uma palavra formação esporádica e ela passa a ser institucionalizada essa palavra deve ser dicionarizada Na verdade porém são muito raros os exemplos desse tipo em escritores modernos razão por que não os citamos aqui Em resumo somente palavras institucionalizadas devem ser dicionarizadas Mas é preciso cuidado com a existência fugaz de alguns produtos institucionalizados Formações familiares aos falantes de hoje poderão desaparecer rapidamente como mauricinho patricinha imexível fumacê farofeiro sacoleiro malufar fumódromo superfaturamento secretária eletrônica etc Parece não haver razão para que formações institucionalizadas desse tipo que não sabemos ainda se vão permanecer na língua por um tempo razoável sejam dicionarizadas simplesmente por uma questão de modismo 47 RESUMO Após apresentarmos as funções da formação de pala vras função de mudança categorial função expressiva de avaliação e função de rotulação procuramos mostrar como se formam novas palavras em uma língua discutindo especialmente a maneira pela qual uma formação esporá dica passa a ser uma formação institucionalizada Em seguida apresentamos as condições de formação dos novos itens lexicais condições de produtividade e condições de pro dução e colocamos alguns problemas relacionados com a lexicalização e os seus vários tipos categorial prosódica estrutural rizomórfica e semântica Discutimos ainda a questão da fossilização e tecemos algumas considerações a respeito da dicionarização ESQUEMA MNEMÓNICO MORFOLOGIA Estuda estruta interna das palavras MOFLEXFORMA ESTRUTURA DA PALAVRA AFIIXÇÃO primes feliiz parta in elementos amos formar wordes acfixes inf Sufixação deslealdade elementos sso rádicionar indicam flexóées indica infiexões apécade radical dessloloum OUTROS PROCESSOS IMREONABSIHINFEM OUTROS PROCESSOS Derivação imprópria chato Der regressiva chato Der regressíva alter de verbo Abreviação reduzio Sigla forma itárias Neologismo recentecnea ONU Der regressiva lutar luta Onomatopeia tiquetaque foto fotograría Nibridismo sociologia Empréstimo mouse FLEXÃO Flexão nominal menino meminos genero Flexão verbal modo indicativo tempo presente número singular voz activo voz ativa F lexão meninos mondo falo falo UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB Componente Morfologia IX semestre Docente Valdete da Macena Pardinho Discente Lorranne Alves da Silva ESQUEMA MNEMÔNICO Lorranne Alves da Silva ROCHA Luiz Carlos de Assis Estruturas Morfológicas do Português Belo Horizonte UFMG 1998 p 6196 Cap 3 Estrutura da Palavra 31 Morfema Monema Unidade mínima de significado ou função 32 Tipos de Morfologia a Morfologia Flexional variação de palavras tempo número gênero pessoa modo b Morfologia Derivacional criação de novas palavras a partir de radicais 33 Componentes Morfológicos a Radical base de significado comum b Tema Radical Vogal Temática c Vogal Temática elemento de ligação no verbo ex amar d Afixos Prefixos antes do radical ex refazer Sufixos depois do radical ex felizmente e Desinências Nominais gênero e número Verbais modo tempo número pessoa Consoantes de Ligação facilita a pronúncia 34 Formação da Palavra a Lexemas unidades de significado pleno palavras b Morfemas unidades menores prefixos sufixos desinências 35 Exemplos a Radical Am de amar amável amador b Tema Amá radical am vogal temática a em amar c Afixo Prefixo re em refazer Sufixo mente em felizmente d Desinência Nominal gêneronúmero a em menina indica feminino Verbal modo tempo pessoa mos em amamos indicando 1ª pessoa do plural tempo passado Cap 4 Processos de Formação das Palavras 41 Derivação a Prefixal Prefixo Radical ex rever b Sufixal Radical Sufixo ex felizmente c Prefixal e Sufixal Prefixo Radical Sufixo sem simultaneidade d Parassintética Prefixo Radical Sufixo simultaneamente ex envelhecer e Regressiva formação por redução da palavra primitiva ex ataque de atacar f Imprópria mudança da classe gramatical sem alteração formal ex jantar verbo para substantivo 42 Composição a Justaposição união sem alteração sonora ex passatempo b Aglutinação união com alteração fonética ex planalto 43 Outros Processos a Hibridismo mistura de elementos de línguas diferentes ex sociologia b Onomatopeia palavras que imitam sons ex tictac c Abreviação encurtamento de palavras ex foto de fotografia d Siglas formação por iniciais ex ONU e Neologismo criação recente de palavras f Empréstimos palavras estrangeiras incorporadas ex futebol de football Observações Lexema unidade central de significado Morfema unidades menores que formam ou alteram o lexema

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