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Psicologia Social

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O Surgimento da Clínica Psicológica Da Prática Curativa aos Dispositivos de Promoção da Saúde The Beginning of the Psycological Clinic From the Healing Practice to the Dispositives to Promote Health Artigo 608 Jacqueline de Oliveira Moreira Roberta Carvalho Romagnoli Edwiges de Oliveira Neves Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 Resumo O presente artigo pretende trabalhar com o conceito de clínica psicológica e tenta definir esse campo de atuação do psicólogo através de uma análise histórica do surgimento dessa prática e de uma reflexão sobre os limites do modelo de clínica como prática individual de consultório em contraposição a um modelo de clínica chamada social que sustenta novas atuações no campo da Psicologia no Brasil Assim iremos primeiramente buscar as origens etimológicas históricas e reflexivas do termo clínica Em seguida pretendemos refletir sobre as articulações entre a Psicologia e o individualismo moderno e ainda sobre os limites da clínica entendida como prática liberal privada e individualizante Por fim defenderemos para além da cisão entre clínica e política presente no modelo tradicional uma definição de clínica social como prática ética e política das intervenções comprometida com a promoção da saúde e engajada na realidade social brasileira Palavraschave Psicologia clínica individualismo escuta clínica social Abstract This article intends to work with the clinical psychological concept trying to define the psychologist field across a historical analysis of the beginning of this practice and a reflection about the model limits of clinic as an individual practice at the office in opposite to a model of clinic called social that supports new performances on the Psychology field in Brazil First we will look for the etymological historical and reflexive origins of the term clinic Then we intend to reflect about the articulations between Psychology and the modern individualism and the limits of the clinic understood as a liberal and private practice In the end we will defend beyond the division between clinic and politics in the tradicional model a definition of social clinic as a political and ethical position of interventions engaged with the promotion of health and with the Brazilian social reality Key words clinical Psychology individualism listening social clinic 609 PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 reflexões acerca da influência do saber médico sobre o fazer psi No saber médico que sustenta a prática médica é impossível diagnosticar sem antes descrever os sintomassinais e conhecer os antecedentes da enfermidade Do mesmo modo não é possível fazer um prognóstico sem antes obter um diagnóstico Entretanto nem sempre foi assim Antes de Hipócrates a Medicina estava mais próxima do mágico do que do racional Ele introduziu uma transformação na Medicina na Grécia há 2500 anos na tentativa de compreender a história da doença que provoca no paciente a necessidade de procurar tratamento Hipócrates inaugurou a observação clínica e criou a anamnese definindoa como a primeira etapa do exame médico Aliás o próprio exame médico foi por ele introduzido na clínica objetivando a obtenção de dados para a elaboração do diagnóstico e do prognóstico O exame médico hipocrático consistia em medir a temperatura através da imposição das mãos observar cuidadosamente apalpar o corpo e auscultar os batimentos cardíacos dentre outras ações Com esses instrumentos observação anamnese e exame o pai da Medicina foi capaz de descrever mais de quarenta e cinco enfermidades que prevaleceram até o século XVII Já a Medicina romana pouco contribuiu para a clínica médica embora tenha acrescentado muito aos conhecimentos de anatomia e fisiologia graças a Galeno Na era medieval a Europa estagnou nesse campo de conhecimento As grandes contribuições nesse período foram da Pérsia e dos países árabes Surge na Pérsia um dos maiores nomes da Medicina clínica de todos os tempos Abu al Hussein ibn Abdallah in Sina conhecido por Avicena 9801037 dC Segundo Rezende 2006 o Cânon é a maior obra de Avicena ela é composta por cinco volumes e contém um grande número de histórias clínicas Na O Surgimento da Clínica Psicológica Da Prática Curativa aos Dispositivos de Promoção da Saúde 610 Conselho Federal de Psicologia em recente pesquisa Who 2001 pp 79 apresentou um dado significativo sobre a atuação do psicólogo no Brasil Entre os psicólogos 75 que estavam exercendo a profissão na data da pesquisa a maioria 549 se dedicava à clínica em consultório e 126 atuava com Psicologia da saúde sendo que nesse campo a prática na maioria das vezes também é clínica Mas anterior à discussão sobre a atuação do psicólogo no Brasil uma questão nos parece prioritária o que é Psicologia clínica Dutra 2004 revela que alguns conceitos são pertinentes à prática clínica como escuta clínica sofrimento psíquico subjetividade Na trilha de possíveis respostas para a pergunta o que é clínica iremos primeiramente buscar as origens etimológicas históricas e reflexivas do termo clínica Em seguida pretendemos refletir sobre as articulações entre a Psicologia e o individualismo moderno e ainda sobre os limites da clínica entendida como prática liberal privada e individualizante Por fim para além da cisão entre clínica e política presente no modelo tradicional defenderemos uma definição de clínica social como uma prática ética e política de escuta dos sujeitos comprometida com a promoção da saúde e engajada na realidade social brasileira O surgimento da clínica Primeiramente fazse necessário compreender o significado do termo clínica para posteriormente conhecer sua trajetória histórica Segundo Doron Parot 1998 originariamente a atividade clínica do grego klinê leito é a do médico que à cabeceira do doente examina as manifestações da doença para fazer um diagnóstico um prognóstico e prescrever um tratamento Doron e Parot 1998 pp144145 Para tal o médico faria uso da observação e da entrevista Esses procedimentos inicialmente já nos suscitam PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 originariamente a atividade clínica do grego klinê leito é a do médico que à cabeceira do doente examina as manifestações da doença para fazer um diagnóstico um prognóstico e prescrever um tratamento Doron e Parot obra citada encontramos descrições precisas de doenças como hidrofobia nefrite crônica e outras Depois da magistral obra de Avicena a história da Medicina vive uma fase de pequenos avanços no século XVII e no início do século XVIII O auge da clínica médica se situa entre o final do século XVIII e o início do século XIX Esse último foi sem dúvida um dos séculos mais prósperos para a área devido às muitas descobertas no ramo da Biologia e às invenções que possibilitaram a instrumentalização médica Parecenos pertinente ressaltar que segundo Rezende 2006 Foucault introduz uma confusão histórica ao enunciar a origem da clínica no fim do século XVIII e início do XIX Na verdade a clínica médica surgiu com Hipócrates O que ocorre no período é um avanço dos recursos técnicos usados nos diagnósticos Nas palavras do autor O filósofo francês Michel Foucault em seu livro Nascimento da Clínica considera o fim do século XVIII e o início do XIX como a época em que despontou a clínica médica Creio que seria mais apropriado falar em crescimento em lugar de nascimento pois o método clínico já existia desde Hipócrates O século XIX foi sem dúvida o século em que a clínica médica teve o seu período áureo enriquecendo a Medicina com numerosas descobertas fruto de observações cuidadosas e da instrumen talização do médico Rezende2006 Preocupado nessa fase em desenvolver um projeto arqueológico que tinha por objetivo efetuar uma análise histórica da constituição dos saberes das ciências humanas o referido filósofo enfatiza mais as práticas discursivas que fabricam o objeto de estudo da Medicina do que propriamente sua história Nesse sentido Foucault 1977 articula o discurso médico que inaugura e embasa o campo de atuação e de produção científica da disciplina médica dentro de fatores sociais políticos econômicos tecnológicos e pedagógicos e que evidencia as relações discursivas que fabricam a doença e seu tratamento Dessa maneira o discurso médico recebe uma ordenação estabelecida pelos critérios de cientificidade e fundamenta as práticas que organizam a Medicina moderna O corpo tornase assim motivo de controle disciplinar e tecnológico Já na fase seguinte denominada Genealogia do Poder o filósofo Michel Foucault lança um olhar crítico sobre as relações de poder que emergem associadas ao saber Essa coexistência de saber e poder faz com que discursos tidos como verdadeiros sejam ditos sobre algo produzido como objeto de saber Nesse sentido verdades imutáveis são questionadas e aparecem imbricadas na produção da subjetividade tendo como função última a monitoração e a ordenação do que escapa à norma Aliás nesse raciocínio a subjetividade é constituída através de práticas e as relações de poder são processos que incidem sobre os sujeitos e os corpos o que nos faz pensar sobre os discursos produzidos pela Medicina e suas produções de formas de ser De acordo com Foucault 1999 a modernidade e aí sim mais especificamente o século XIX instaurou o poder sobre o homem como ser vivo e nesse processo a Medicina teve papel preponderante Esse poder recebe o nome de biopoder poder sobre a vida e pode ser definido como um poder que se incumbiu tanto do corpo como da vida ou que se incumbiu se vocês preferirem da vida em geral com o pólo do corpo e o pólo da população Foucault 1999 p 302 Essa forma de poder possui dois eixos que atuam respectivamente sobre o sujeito e sobre a espécie humana o poder disciplinar e a biopolítica O poder disciplinar que incide sobre os indivíduos e os corpos fundamenta se no sistema racional e científico da sociedade moderna A biopolítica por sua vez tem Jacqueline de Oliveira Moreira Roberta Carvalho Romagnoli Edwiges de Oliveira Neves 611 PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 poder que se incumbiu tanto do corpo como da vida ou que se incumbiu se vocês preferirem da vida em geral com o pólo do corpo e o pólo da população Foucault como área de atuação a população e é auxiliada por mecanismos de regulamentação da natalidade da mortalidade das capacidades biológicas e dos efeitos do meio A relação entre esses dois eixos é de coexistência e a influência mútua A biopolítica modifica parcialmente o biopoder e utilizao Entretanto sua tecnologia não suprime a tecnologia disciplinar A partir desses dois eixos que evidenciam a ligação entre saber e poder emergem os sistemas de vigilância da subjetividade Esses sistemas de controle social são praticados pela Medicina e também pela Psicologia Ao estabelecer o estatuto do homem saudável e normal a Medicina paulatinamente vai exercendo um controle disciplinar e cada vez mais tecnológico através de modelos cada vez mais refinados com o intuito de ajustar as distintas materialidades que tem a seu cargo atuando no cotidiano dos sujeitos normalizando a população e regulando as políticas de saúde através de um arsenal técnico cada vez mais especializado Continuando o exame da perspectiva histórica da clínica no século XX a Medicina aliase aos conhecimentos acumulados às novas tecnologias o que por sua vez revoluciona a prática médica O incremento dos dispositivos diagnósticos a abundância de tratamentos sofisticados e o elevado nível de especificidade médica conduzem à seguinte premissa quanto maior a complexidade maior a necessidade de especializarse Aqui portanto a clínica médica se perde entre inúmeras fragmentações e ainda delega ao paciente a decisão sobre qual especialista buscar É como se a clínica estivesse se abstendo do leito do debruçarse sobre uma vez que o paciente a partir de seu sintoma avalia a quem deve recorrer O acamado passa a depender de um outro que o faça já que não é mais o médico quem vai até o paciente mas é este quem vai até o médico Nessa perspectiva cabem as seguintes perguntas teria ocorrido aqui uma inversão de papéis Tamanho nível de especialização não teria conduzido a um afastamento da perspectiva humanista que também fundamenta a Medicina Embora essas reflexões sejam interessantes do ponto de vista da própria clínica elas não terão lugar neste trabalho já que não é nosso objetivo discutir os rumos da clínica médica mas sim da clínica psicológica e a trajetória histórica da Medicina aqui realizada serve apenas para contextualização desse objetivo Na era vitoriana ainda não existia a prática de o cliente buscar auxilio psicológico por si assim Sigmund Freud o pai da psicanálise imprime na História algumas inovações Primordialmente na clínica psicanalítica há um deslocamento do saber Não mais o médico o detém mas o cliente Contudo é um saber inconsciente Nesse processo o analista é um mero facilitador já que na condução do tratamento ele apenas aponta o caminho e o paciente não apenas ouve como se fosse uma prescrição médica mas elabora e encontra sua verdade no próprio inconsciente A cena é ocupada dessa maneira pelo discurso do paciente sem o qual não é possível nem mesmo apontar um caminho Cabe ao analista apenas mobilizar o paciente a prosseguir na busca de sua verdade Portanto quem trabalha verdadeiramente na análise é o analisando É importante fazer uma diferenciação enquanto a clínica médica aprimora seus métodos diagnósticos por via da observação e de complexas tecnologias que sustentam múltiplas possibilidades de intervenção na direção da cura orgânica a clínica freudiana embora também se debruce sobre o cliente na busca diagnóstica enfatiza mais a escuta do sofrimento do que a visão do mesmo e propõe como método de intervenção a psicoterapiaanálise Freud 1905 1904 elabora um texto para explicar o método psicoterápico e logo no 612 O Surgimento da Clínica Psicológica Da Prática Curativa aos Dispositivos de Promoção da Saúde PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 início adverte que muitos médicos consideram a psicoterapia um produto do misticismo moderno se comparada aos recursos terapêuticos físicoquímicos Em sua grande capacidade argumentativa ele irá mostrar que a psicoterapia é um recurso bastante familiar aos médicos tanto porque foi utilizada na Medicina antiga quanto pelo fato de que todos os médicos mesmo os modernos utilizam o recurso da psicoterapia através da sugestão de melhora que se assenta na confiança do cliente no profissional que o trata Segundo o autor uma máxima dos médicos revela que as doenças não são curadas pelo medicamento mas pelo médico ou seja pela personalidade do médico na medida em que através dela ele exerce uma influência psíquica A psicoterapia que Freud propõe difere também da psicoterapia clássica da Medicina a da sugestão que é uma sugestão hipnótica pois o paciente se encontra hipnotizado pelo poder e saber do médico A psicoterapia proposta por Freud difere da sugestão porque não deposita algo na e através da relação pelo contrário pretende retirar os possíveis significados dos sintomas A terapia analítica em contrapartida não pretende acrescentar nem introduzir nada de novo mas antes tirar trazer algo à tona e para esse fim preocupase com a gênese dos sintomas patológicos e com a trama psíquica da idéia patogênica cuja eliminação é a sua meta Freud 1905 1904 p 244 Assim o caminho para atingir a meta não segue a facilidade direta da remoção através da sugestão da introdução ou da adição de um elemento mas da subtração da retirada dos elementos formadores do sintoma Para Freud 1905 1904 a técnica da sugestão não possibilita a sustentação da posição de cura pois oculta o entendimento do jogo de forças psíquicas e não permite identificar a resistência A cura alcançada após o enfrentamento da resistência permanece ao desvendar o jogo das forças psíquicas implicadas no processo de adoecimento Nesse sentido Freud subverte a lógica do tratamento médico pois para ele a resistência é fundamental no processo de cura Muitos são os avanços introduzidos por Freud na clínica psicológica tais como a mudança do paradigma da observação para o da escuta a importância da resistência e em última instância a perspectiva de tratar o cliente como um sujeito de sua história de adoecimento e não como mero objeto No entanto a clínica psicanalítica freudiana introduz a questão do segredo como força motriz do processo terapêutico assim essa clínica se enquadra em moldes individualistas O paradigma da psicoterapia como espaço do segredo fortalece o imaginário de que a clínica mais efetiva para tratar os sofrimentos psíquicos seja a clínica individual Psicoterapia campo privilegiado da clínica psicológica individualismo e prática curativa A clínica psicológica é herdeira do modelo médico no qual como já dissemos cabe ao profissional observar e compreender para posteriormente intervir isto é remediar tratar curar Tratavase portanto de uma prática higienista Dessa maneira a clínica psicológica esteve por um bom tempo distante das questões sociais Freud e a psicanálise segundo Guerra 2002 serão responsáveis pelo deslocamento da prática fundamentada no olhar sobre o fenômeno para a prática fundamentada na escuta do metafenomenal Assim a prática clínica psicológica passa a vincularse a uma demanda do sujeito e não necessariamente a uma patologia como no modelo médico Mas a vinculação da Psicologia ao individualismo não será superada pelo 613 Jacqueline de Oliveira Moreira Roberta Carvalho Romagnoli Edwiges de Oliveira Neves PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 freudismo pois a Psicologia em sua origem inclusive a Psicologia clínica está atrelada a uma perspectiva individualista O início do pensamento moderno é marcado pelo surgimento do sujeito e do individualismo anunciando assim uma nova fonte de problemas que exigem uma nova ciência para pensar sobre eles Na famosa tese de Dumont 1993 saímos de um modelo holista de sociedade para um modelo individualista Explicando essa tese o psicanalista Benilton Bezerra Júnior nos revela a consciência dos sujeitos de sociedades hierárquicas fundada num ideário holista corresponde a uma imagem de si como integrante de uma totalidade sua identidade sendo vivida como a expressão de sua vinculação ao todo social Somente nas sociedades igualitárias baseadas no individualismo como ideologia hegemônica seria possível para os sujeitos aperceberemse e mais do que isto viverem sua natureza como sendo de indivíduos isto é seres singulares livres autônomos dotados de um mundo interno próprio morada de sua verdadeira identidade Bezerra Júnior 1989 p 223 Assim o sujeito moderno se percebe como um ser singular um ser que conquistou o direito de exercer sua individualidade de maneira sigilosa em segredo de forma a resguardarse da exposição pública Não é por acaso que os fenômenos psicológicos na Grécia antiga eram deuses Phobos Mnemosine Eros dentre outros Esse fato indica a que distância se estava da idéia de intimidade de algo que se dá no interior e pertence secretamente ao sujeito A dimensão da interioridade será introduzida no início da Idade Média a partir da divulgação pela Igreja Católica das experiências do indivíduo como ser sexual Dessa forma teremos uma intimidade um segredo que aponta um indivíduo voltado para suas mazelas sexuais O cristianismo introduz a possibilidade de perceber a pessoa em sua interioridade com o intuito de observar e controlar o lado pecaminoso dessa intimidade Todavia somente com o pensamento moderno vamos assistir à valorização da categoria sujeito e da experiência de intimidade de individualidade Surge então a Psicologia também como espaço de acolhida para esse sersujeito individual O sujeito não tem mais as grandes estruturas holistas que organizam e oferecem sentido a sua existência cada um tem que construir por si seus sentidos subjetivos e individuais Assim a clínica do segredo cresce e floresce na modernidade As mudanças introduzidas pela revolução industrial na produção de bens influenciaram profundamente a sociedade e os indivíduos Segundo Laville Dionne 1999 os ritmos impostos pela produção industrial e pela vida urbana destroem ou transformam os modos de vida e levam ao individualismo assim como ao isolamento p 53 Além disso a distância entre a classe detentora dos meios de produção e o proletariado aumentava cada vez mais Aqueles que poderiam tirar proveito dessas mudanças gostariam de propiciar que a nova ordem se estabelecesse sem confrontos Laville Dionne 1999 pp 53 54 Surgem então as ciências humanas com o objetivo de compreender e intervir na ordem social da mesma forma que as ciências naturais tentavam dominar a natureza Laville Dionne 1999 pp 5354 Portanto o surgimento das ciências humanas inclusive o da Psicologia esteve ligado aos interesses da nova detentora dos poderes político econômico e social a burguesia Segundo Guerra 2002 a história da Psicologia nos evidencia uma tradição de trabalho associada ao controle à higienização e à diferenciação que desde os primórdios de seu nascimento associaram às práticas sociais e políticas a manutenção do status quo p 29 A prática clínica era portanto descomprometida com o contexto social ou 614 O Surgimento da Clínica Psicológica Da Prática Curativa aos Dispositivos de Promoção da Saúde PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 os ritmos impostos pela produção industrial e pela vida urbana destroem ou transformam os modos de vida e levam ao individualismo assim como ao isolamento ao contrário comprometida com apenas parte dele Tendo sido o surgimento das ciências humanas vinculado aos interesses da classe dominante e estando a própria Psicologia aliada a práticas higienistas fica evidente que o público de sua intervenção era aquele que não se enquadrava no projeto cartesiano do homem racional e que uma de suas tarefas era sustentar e manter o individualismo Dessa maneira a terapia da alma se inspiraria no modelo da terapia do corpo isto é no modelo médico a fim de ser reconhecida como ciência Assim a psicoterapia se tornou um campo privilegiado da clínica psicológica ela seria até então a terapêutica mais adequada para tratar das mazelas humanas em que outras tentativas haviam falhado Os problemas psicológicos uma vez que são imateriais só se apresentariam através da fala sobre a qual o psicólogo se debruçaria a fim de traçar uma linha de tratamento diagnóstico prescrição e prognóstico Mas a relação entre a Psicologia e o individualismo é marcada por uma ambigüidade se por um lado o individualismo foi condição sine qua non para o surgimento da Psicologia como ciência por outro ele tomará uma forma tal que denunciará a necessidade de que essa mesma Psicologia reflita sobre seus efeitos o que mudará completamente a relação entre ambos Assim seria possível dar conta de todo tipo de mazela nesse modelo No nosso entender não se pode tratar a psique da mesma maneira que se trata do soma e tampouco manter a neutralidade científica diante de um objeto que coincide com o observador A clínica individual é fundamental mas não podemos nos perder no individualismo Não se pode esquecer que a ciência expressa e alimenta ideologias assim a idéia de clínica neoliberal alimenta o modelo individualista por vezes perverso que se esquece do homem para manter a lógica do capital Acreditamos que existam outras intervenções psicológicas de efeitos terapêuticos resultantes de uma escuta clínica Como breve exemplo das limitações da clínica quanto ao segredo individual queremos relatar um episódio referente à prática de uma psicóloga em um hospital público A psicóloga novata interroga a coordenação de psicologia do hospital sobre a possibilidade de se oferecerem mais consultórios dentro do hospital para estagiários atenderem os pacientes A coordenadora pergunta por que não atender as pessoas no leito pois atender só aqueles que têm condições médicas de caminhar até o consultório seria excluir os acamados A psicóloga responde que não pode atender nas enfermarias porque sempre existe um segredo a ser dito No nosso entender manter esse pressuposto é retirar de alguns sujeitos a possibilidade de acolhimento de escuta do sofrimento e até de uma nova posição subjetiva frente ao sofrimento Dessa forma o contexto social passou a adentrar os consultórios de forma a convocar os psicólogos a saírem dele ou seja para responder às novas formas de subjetivação e de adoecimento psíquico o psicólogo deveria compreender a realidade local A Psicologia tradicional é obrigada a se redesenhar tornandose mais crítica e engajada socialmente Segundo Moreira 2004 é fácil compreender a tentação individualista pois o processo de constituição da subjetividade só é possível mediante o encontro intersubjetivo é o outro que possibilita ao eu o ingresso no mundo social No entanto o eu vive primeiramente um momento de nãoeu de uma consciência em si sem autoreflexão para usar a expressão de Lévinas 19831997 uma consciêncianão intencional Em sua nãointencionalidade anterior a todo querer e a qualquer falta a identidade da consciência nãointencional encontrase exposta entregue à exterioridade absolutamente estranha e imprevisível 615 Jacqueline de Oliveira Moreira Roberta Carvalho Romagnoli Edwiges de Oliveira Neves PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 Segundo Lévinas 1983 1997 a consciência antes de significar um saber de si é apagamento ou discrição da presença sem intenção sem nome sem situação sem títulos sem visada e sem a proteção da máscara protetora do eu No entanto quando essa consciência se torna intencional quando alcança o estatuto de uma consciênciadesi pensa que esse é o ponto zero A consciência só reconhece como momento inaugural aquele em que ela possui racionalidade portanto é facilmente capturada pelo engodo de pensar que o eu é anterior ao outro Na modalidade voluntária da consciência intencional sua atividade é mortífera em relação à dimensão do outro No domínio da consciência o outro é visado para completar O eu prefigurado pela consciência intencional conhece e representa e nesse processo conhece a si mesmo refletido na realidade objetiva que ele próprio constitui Assim a falácia individualista é facilmente compreendida o eu em sua arrogância crê que é anterior ao outro De acordo como Moreira 2004 do ponto de vista lógico o eu é anterior ao outro pois só pode haver a distinção de fronteiras quando os dois elementos têm claros racionalmente delimitados seus limites Mas do ponto de vista ontológico o outro é anterior ao eu Todavia a consciêncianãointencional não possui instrumentos racionais para apreender esse momento de dependência do outro Moreira 2004 defende a tese de que esse ponto pode ser um fundamento uma perspectiva para a Psicologia engajada no compromisso social A Psicologia não teria como tarefa fortalecer a arrogância do eu igual a eu nos projetos de busca do verdadeiro eu mas desvelar para o eu sua pertinência necessária e vital no campo do outro revelar sua condição estruturante de ser com O sujeito percorreria o trajeto de uma consciênciaemsi que se desconhece para uma consciênciaparasi que pode se precipitar nas águas do arrogante individualismo O projeto da Psicologia como compromisso social anuncia a dimensão da consciênciaparasi e paraooutro sendo que a condição de ser para outro é anterior à consciência de si A Psicologia ou melhor as psicologias devem encontrar seu compromisso social pois o eu não se constitui sem o outro ou seja não há individualismo que se sustente na ausência do social Se o paradigma moderno é o da consciência que propicia o individualismo o paradigma contemporâneo é o da linguagem que pressupõe o encontro intersubjetivo O paradigma da linguagem apenas demarca o campo das teorias que concebem o sujeito originariamente como ser social serno mundo ser comunicacional sercom enfim mergulhado no universo das interações simbólicas As novas modalidades de clínica para além da psicoterapia clínica social e promoção da saúde Desde o final do século passado e ainda no início deste século presenciamos no País um aumento considerável das áreas de atuação da Psicologia o que evidencia uma ampliação paulatina de seus locais de trabalho o psicólogo tornase presença cada vez mais constante nos sistemas de saúde pública nos centros de reabilitação nos asilos nos hospitais psiquiátricos e gerais no sistema judiciário nas creches nas penitenciárias nas comunidades Dessa maneira surgem para o profissional outras oportunidades de trabalho que escapam a seus espaços usuais de atuação restritos até então aos consultórios às escolas e às empresas Todavia cabe ressaltar que o psicólogo se depara portanto com o desafio de trilhar novos caminhos e de sustentar suas conquistas recentes Esse desafio pressupõe de acordo com Romagnoli 2006no prelo não só a 616 O Surgimento da Clínica Psicológica Da Prática Curativa aos Dispositivos de Promoção da Saúde PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 disseminação da especialidade do psicólogo para um número maior de pessoas e de classes sociais mas também a produção de novos recursos em sua formação e de novas formas de exercício profissional que apostem na construção de práticas éticopolíticas Nesse sentido concordamos com Figueiredo 1996 quando ele afirma que a clínica psicológica se caracteriza não pelo local em que se realiza o consultório mas pela qualidade da escuta e da acolhida que se oferece ao sujeito a escuta e a acolhida do excluído do discurso Portanto ser psicólogo clínico implica determinada postura diante do outro Nesse sentido podemos fazer a seguinte observação Assim não importa em que lugar ou espaço o ato clínico aconteça seja no âmbito privado ou público numa relação diádica grupal ou coletiva Este será sempre um fazer psicológico que se pautará em concepções teóricas e metodológicas que refletirão essa postura diante do sofrimento ou fenômeno psicológico que se coloca diante dele Melhor dizendo o ato clínico se pautará muito mais por uma ética do que por referenciais teóricos fechados Dutra 2004 sp É claro que essa postura implica se haver com as mudanças provocadas pela relação que ali se trava relação essa que refleteremete às outras relações que seus elementos terapeuta e cliente possuem fora do setting terapêutico seja ele qual for No espaço clínico estamos em contato com modos de subjetivação que buscam de alguma maneira criar alternativas de retificação Isso significa que o fazer clínico é também um fazer político uma vez que ele é transformador Segundo Gondar 2006 mesmo quando as questões surgem no seio de uma família numa escola ou numa relação amorosa tratase sempre do quanto e de como o desejo pode produzir e se expressar diante das injunções de assujeitamento sp Nessa perspectiva operar mudanças é sempre um fazer político Embora em nosso entender essa relação seja intrínseca presenciamos ainda na forma dominante da prática clínica o perpetuamento da cisão entre clínica e política Realizando uma reflexão acerca da relação entre o momento contemporâneo o exercício da clínica e a produção da subjetividade Benevides de Barros Passos 2004 insistem na articulação desse tripé com o viés político e com a necessidade de uma análise das formas instituídas da clínica Para tal os autores examinam as formas de poder da atualidade que gerenciam a vida e moldam formas de existência como nos propõem as análises foucaultianas apontadas no início deste texto Em plena era da globalização as subjetividades são geridas por controles parciais e instáveis que se exercem em redes que estão em todos os lugares na ordem do dia e que administram as formas de vida e seu cotidiano Vale lembrar que esse poder é positivo direcionado para o consumo e para a serialização e administra maneiras de ser e de viver Frente a essa captura contemporânea da subjetividade a clínica aflora como possibilidade também de produção e não somente de reprodução uma forma de resistência conforme pontua Romagnoli 2006no prelo Nesse espaço vamos nos deparar com modos de produção de subjetivação e de construção formas de se criar a si mesmo e o mundo que também incidem no espaço social Nesse contexto é necessário que os profissionais que atuam nessa área reflitam acerca dos desdobramentos de suas práticas no campo social Nem que seja através dos sintomas de seus clientes que adentram os consultórios mantidos e sustentados pelo momento contemporâneo o social se faz presente e se faz notar nas mudanças que emergem nesse cenário criando focos enunciativos frente à padronização das subjetividades Mediante essas idéias acreditamos que o estado de potência da vida inerente à 617 Jacqueline de Oliveira Moreira Roberta Carvalho Romagnoli Edwiges de Oliveira Neves PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 mesmo quando as questões surgem no seio de uma família numa escola ou numa relação amorosa tratase sempre do quanto e de como o desejo pode produzir e se expressar diante das injunções de assujeitamento sp subjetividade pode atualizarse na experiência clínica e pode atuar como dispositivo para sustentação de modos de existência que se criam de maneira singular e que emergem como resistência à reprodução à massificação à gerência da vida Na verdade a Psicologia se dedica à subjetividade em suas mais variadas aparições mas devemos pensar não somente no sujeito individual pois este sempre é fruto de um encontro social Para tal é preciso tomar a clínica como plano de produção do coletivo como sustentação da alteridade clínica social Ao examinar o uso da expressão clínica social mediante uma perspectiva histórica Ferreira Neto 2003 afirma que seu uso se inicia em nosso país na década de 80 em associação a uma série de transformações não só nessa área mas na Psicologia como um todo Embora desde a década de 70 já houvesse no Brasil práticas e grupos psi engajados em práticas sociais e com reflexões políticas acerca do que faziam é necessário frisar que essa postura não atingia o campo da clínica que se apresentava de maneira geral apolítica e distante das questões sociais Em 1984 com a abertura política iniciase o questionamento da neutralidade da clínica através da ampliação do conceito de política e da constatação da força dos movimentos sociais Essas alterações confrontam a idéia dominante na prática clínica até então definida como atividade liberal e privada que se desenvolvia junto às classes médias e altas Em pesquisa efetuada nessa mesma época com o intuito de conhecer os campos emergentes de exercício dos psicólogos o Conselho Federal de Psicologia 1988 denuncia a clínica tradicional como prática hegemônica e centrada no indivíduo De acordo com o órgão essa atividade tem objetivos analíticos psicoterapêuticos eou psicodiagnósticos e baseiase em uma concepção da clínica como um saberfazer universalizado associado a uma concepção de sujeito universal e ahistórico metas e fundamentos que sem dúvida circunscrevem a clínica como espaço de reprodução e mantêm a cisão entre clínica e política Ainda analisando essa forma dominante Ferreira Neto 2004 em sua reflexão sobre a formação do psicólogo brasileiro afirma que outras pesquisas também anunciaram que a visão da prática psicológica como clínica dentro do modelo liberal privado predomina entre os estudantes e profissionais da Psicologia Em sua pesquisa o autor pretende investigar o processo de mudança desse privilegiado ideal para a construção de uma clínica social Concordamos com o autor no que se refere ao esgotamento da clínica liberal curativa dentro de um cenário nacional em que os problemas sociais se multiplicam Também estamos de acordo com o deslocamento do paradigma da clínica liberal curativa para uma clínica implicada e aplicada nos processos de promoção da saúde no social A clínica social nasce como prática que se pretende realizar de forma ampla envolvida com a construção de novas formas de atuação A partir da década de 80 como vimos acima os profissionais psi passam a atender a uma clientela oriunda das classes populares em que é inevitável a dimensão social que por sua vez convoca a necessidade de outra escuta e de outra intervenção Todavia cabe ressaltar que esse tipo de atividade por si só não garante uma prática política e de resistência A ênfase no social em seu surgimento também era despolitizada e como se dedicava às camadas baixas da população consistia de maneira geral em práticas assistencialistas Com o intuito de ocupar novos espaços e realizar práticas diversas os psicólogos geralmente utilizavam os mesmos modelos do consultório privado Assim entendemos que naquele momento histórico foi fundamental essa inserção que contudo por si só não garante novas atuações 618 O Surgimento da Clínica Psicológica Da Prática Curativa aos Dispositivos de Promoção da Saúde PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 Atualmente com as práticas emergentes em Psicologia já solidificadas percebemos uma flexibilização e uma politização cada vez mais crescentes que se associam ao desenvolvimento do trabalho clínico Essa conduta emerge como necessária frente à multideterminação de fatores que atravessam o exercício profissional na diversidade de campos em que o psicólogo se insere Entretanto vale lembrar que quanto mais espaços esse profissional ocupa mais necessária se torna a realização de análises críticas acerca do poder de suas intervenções e da gerência ou não da vida em prol da reprodução ou da invenção isso porque um trabalho com o social não é por si só uma prática ética e libertária Na verdade não podemos nos esquecer de que ultrapassando a homogeneidade e a segurança de nossas especializações encontramos um mundo portador de facetas variadas Dinâmico e aberto esse mundo não se esgota nem se finaliza em nenhuma abordagem pelo contrário traduzse em diversidades e multiplicidades Analisando essa proposição Baremblitt 1988 demonstra que o campo de atuação dos trabalhadores na saúde é um espaço de múltiplas determinações que configuram linhas de força e materialidades bastante diferentes entre si que podem e devem ser consideradas Ao centrar sua proposta somente no manejo de classes sociais distintas em diferentes espaços de trabalho o psicólogo corre o risco de nada mais realizar a não ser a adaptação maciça de seus clientes ao mercado globalizado e de distanciarse da inventividade Essa diversificação de usuários de seus serviços e esse aumento da demanda de sua atuação profissional não garantem nenhum avanço apenas respondem a um movimento de psicologização dos problemas da vida e podem aperfeiçoar os mecanismos de exclusão do capitalismo se o ponto de partida for o de sujeição a uma prática clínica descontextualizada inquestionável e entendida como verdade Tendo como sustentáculo as idéias discutidas acima ressaltamos que a clínica social não se refere somente ao atendimento das camadas pobres da população nem diz respeito apenas aos novos espaços de atuação em que os psicólogos estão se inserindo É antes de tudo a clínica de qualquer lugar de qualquer público que insiste em combater a massificação cada vez mais presente e buscar cada vez mais a invenção na singularidade de cada cliente na particularidade de cada inserção profissional Propomos portanto um trabalho de intervenção psicológica seja qual for a vertente teórica escolhida pelo profissional que associe o sujeito psicológico ao sujeito político pois acreditamos que devido ao alto nível de subjetivismo de atomização de narcisismo um trabalho que possa alcançar algum sucesso deve partir das mazelas íntimas desse sujeito para depois lançálo ao campo político transformandoo em um sujeito histórico no sentido de se envolver com sua história com a comunidade com a humanidade As produções dominantes no campo da Psicologia ainda enfatizam a formação especializada e tecnicista e perseguem homogeneizações e seguranças ilusórias perante a multideterminação da realidade Em nosso entendimento essa grande ênfase na formação de especialistas traz como conseqüência imediata a cisão entre conhecimento e engajamento social Acreditamos que a articulação do uso de nossa formação acadêmica e de seus efeitos no campo social mediante o desenvolvimento de um conhecimento crítico de nossas práticas seja indispensável sobretudo nesse momento em que outros espaços de atuação foram conquistados e já se encontram sedimentados No nosso entender somente sustentando essa problemática é possível promover ações que 619 Jacqueline de Oliveira Moreira Roberta Carvalho Romagnoli Edwiges de Oliveira Neves PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 mesmo parciais nos conduzam a outras práticas clínicas e sociais Por fim gostaríamos de revelar que muitos profissionais entendem a clínica psicológica como prática liberal que acontece apenas no consultório particular atrelada ao modelo individualizante De outro lado alguns profissionais que defendem uma politização 620 O Surgimento da Clínica Psicológica Da Prática Curativa aos Dispositivos de Promoção da Saúde da prática psicológica também são prisioneiros dessa forma de conceituação e propõem assim uma polarização entre intervenção clínica e intervenção psicossocial Fazse necessário compreender que a escuta clínica é uma postura ética e política diante do sujeito humano Não é o local que define a clínica e sim a posição do profissional e os objetivos de libertação e potencialização dos sujeitos PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 621 PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO 2007 27 4 608621 Recebido 180706 Reformulado 130207 Aprovado 150207 Jacqueline de Oliveira Moreira Doutora em Psicologia clínica pela PUCSP Mestre em Filosofia pela UFMG professora do Mestrado da PUCMG psicóloga clínica Roberta Carvalho Romagnoli Doutora em Psicologia clínica pela PUCSP Mestre em Psicologia social pela UFMG professora do Mestrado da PUCMG psicóloga clínica Edwiges de Oliveira Neves Discente do Curso de Psicologia da PUCMG Unidade de Betim Rua Congonhas 161 São Pedro Belo Horizonte MG CEP 30330100 Emailjackdrawinyahoocombr Referências Jacqueline de Oliveira Moreira Roberta Carvalho Romagnoli Edwiges de Oliveira Neves BAREMBLITT G Sobre Psicoterapia en las Instituciones y la Institución de la Psicoterapia In Saber Poder Quehacer y Deseo Buenos Aires Ediciones Nueva Visión 1988 pp 1330 BENEVIDES DE BARROS R D PASSOS E Clínica política e as modulações do capitalismo Lugar Comum Rio de Janeiro n 1920 pp 15971 2004 BEZERRA JÚNIOR B Subjetividade Moderna e o Campo da Psicanálise Freud 50 Anos depois Rio de Janeiro Relume Dumará 1989 pp 219239 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA Quem É o Psicólogo Brasileiro São Paulo Edicon 1988 DORON R PAROT F orgs Psicologia Clínica Dicionário de Psicologia Vol I São Paulo Ática 1998 pp 144145 DUMONT L Ensaios sobre o Individualismo uma Perspectiva Antropológica Moderna Rio de Janeiro Rocco 1993 DUTRA E Considerações sobre as significações da Psicologia clínica na contemporaneidade Estudos em Psicologia v 9 n 2 pp 381 387 2004 FERREIRA NETO J L Qual é o social da clínica Uma problematização Pulsional Revista de Psicanálise v 167 n 1 pp 57652003 A Formação do Psicólogo Clínica Social e Mercado São PauloBelo Horizonte EscutaFUMECFCH 2004 FIGUEIREDO L C Revisitando as Psicologias da Epistemologia à Ética das Práticas e Discursos Psicológicos São PauloPetrópolis EDUCVozes 1996 FOUCAULT M Aula de 17 de março de 1976 In Em Defesa da Sociedade Curso no Collège de France 19751976 São Paulo Martins Fontes 1999 pp 285319 O Nascimento da Clínica Rio de Janeiro Forense Universitária 1977 FREUD S Sobre a Psicoterapia 1905 1904 In Freud S Um caso de histeria Três ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol VII Rio de Janeiro Imago 1996 pp 239251 GUERRA A M C O Social na Clínica e a Clínica do Social Sutilezas de uma Prática In Gonçalves B D Guerra A M C Moreira J de O orgs Clínica e Inclusão Social Novos Arranjos Subjetivos e Novas Formas de Intervenção Belo Horizonte Edições do Campo Social 2002 pp 2948 GONDAR J A clínica como prática política Disponível em http w w w e s t a d o s g e r a i s o r g m u n d i a l r j d o w n l o a d 5cGondar147161003portpdfsearchpalavra20clinica Acesso em abr de 2006 LAVILLE C DIONNE J A Construção do Saber Manual de Metodologia de Pesquisa em Ciências Humanas Porto Alegre Artes Médicas Sul 1999 LÉVINAS E A Consciência Nãointencional In Entre Nós Ensaios sobre a Alteridade Petrópolis Vozes 1997 pp 165 177 REZENDE J M Caminhos da Medicina trajetória histórica da clínica médica e suas perspectivas Palestra na Jornada de Clínica Médica para estudantes de Medicina realizada em Goiânia em 19 081998 Disponível em httpusuariosculturacombr jmrezende Acesso em abril de 2006 MOREIRA J de O Material didático aula 1 Psicologia uma ciência do século XXI Betim PUC Minas 2004 Mimeografado ROMAGNOLI R C Algumas reflexões acerca da clínica social Revista do Departamento de Psicologia da UFF Niterói v 18 n 2 juldez 2006 no prelo WHO Relatório final da pesquisa junto aos associados do Conselho Federal de Psicologia Brasília CFP 2001 Mimeografado