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Este capítulo inicial apresenta o conceito de ergonomia Ela surgiu logo após a II Guerra Mundial como consequência do trabalho interdisciplinar realizado por diversos profissionais tais como engenheiros fisiologistas e psicólogos durante aquela guerra A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem O trabalho aqui tem uma acepção bastante ampla abrangendo não apenas aqueles executados com máquinas e equipamentos utilizados para transformar os materiais mas também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva Isso envolve não somente o ambiente físico mas também os aspectos organizacionais A ergonomia tem uma visão ampla abrangendo atividades de planejamento e projeto que ocorrem antes do trabalho ser realizado e aqueles de controle e avaliação que ocorrem durante e após esse trabalho Tudo isso é necessário para que o trabalho possa atingir os resultados desejados Existem diversas definições de ergonomia Todas procuram ressaltar o caráter interdisciplinar e o objeto de seu estudo que é a interação entre o homem e o trabalho no sistema homemmáquinaambiente Ou mais precisamente as interfaces desse sistema onde ocorrem trocas de informações e energias entre o homem máquina e ambiente resultando na realização do trabalho Capítulo 1 O que é Ergonomia 12 Nascimento e evolução da Ergonomia Diversos fatores que influem no sistema produtivo Na Europa principalmente na Alemanha França e países escandinavos por volta de 1900 começaram a surgir pesquisas na área de fisiologia do trabalho A ergonomia pósguerra Como subproduto do esforço bélico seguiramse reuniões na Inglaterra já mencionadas e que marcaram o início da ergonomia agora em tempo de paz Dos seus conhecimentos passaram a ser aplicados na vida civil a fim de melhorar as condições de trabalho e a produtividade dos trabalhadores e da população em geral Nos Estados Unidos do pósguerra os profissionais da área relatam que as suas propostas eram recebidas frequentemente com ceticismo e dúvida e eram geralmente ridicularizadas Foram taxados de homens dos botões por terem realizado diversos estudos sobre a forma e funcionalidade dos knobs Esse panorama mudou quando o Departamento de Defesa dos EUA começou a apoiar pesquisas na área em universidades e instituições de pesquisa Daí a conotação militarista adquirida pelo human factors que de certa forma persiste até hoje Contudo esses conhecimentos desenvolvidos para o aperfeiçoamento de aeronaves submarinos e pesquisa espacial foram aplicados também na indústria nãobélica e aos serviços em geral beneficiando a população de maneira mais ampla Ao final da década de 1940 surgiram na Universidade do Estado de Ohio e na Universidade de Illinois os primeiros cursos universitários de human factors A partir disso o ensino e a pesquisa difundiramse em outras instituições dos Estados Unidos A ergonomia pósguerra O taylorismo surgiu dentro das fábricas através da observação empírica do trabalho As suas propostas não se baseavam em conhecimentos científicos Como já vimos os estudos científicos relacionados com a fisiologia do trabalho desenvolveramse paralelamente em laboratórios acumulando conhecimentos sobre a natureza do trabalho humano Esses reconhecimentos contribuíram para transformar gradativamente os conceitos tayloristas O taylorismo atribui a baixa produtividade à tendência de vadiagem dos trabalhadores e os acidentes de trabalho à negligência dos mesmos Hoje já se sabe que as coisas não são tão simples assim Há uma série de fatores ligados ao projeto de máquinas e equipamentos ao ambiente físico iluminação temperatura ruídos vibrações ao relacionamento humano e diversos fatores organizacionais que podem ter uma forte influência sobre o desempenho do trabalho humano Os acidentes não acontecem simplesmente mas são consequências de diversos fatores préexistentes A resistência dos trabalhadores ao taylorismo Pelo lado dos trabalhadores houve desde o início uma certa resistência à aceitação da cronometragem e dos métodos definidos pela gerência Isso provocou uma nítida separação De um lado a gerência da fábrica determinava os métodos e os tempos padrões para execução das tarefas Do outro o trabalhador precisava executálas de forma impositiva De fato o taylorismo provocou a desapropriação do conhecimento do trabalho dominado pelos trabalhadores e isso gerou desinteresse e nãocomprimento com os resultados O trabalho prescrito pela gerência nem sempre considerava as condições reais onde o trabalho era executado e nem as características individuais do trabalhador Os trabalhadores achavam que isso os oprimia Diante disso reagiam descumprindo os regras estabelecidas desregulando máquinas e prejudicando intencionalmente a qualidade Partindo do nível de resistência individual chegavamse aos movimentos coletivos e sindicais que questionavam em menor ou maior grau o poder gerencial dentro das fábricas para determinálos o que deve ser feito nos mínimos detalhes sem darlhes a menor satisfação Dessa forma os trabalhadores sentiamse moralmente desobrigados a seguir esses padrões que eram estabelecidos unilateralmente sem a mínima participação deles e muitas vezes sem considerar as reais condições de trabalho Em muitos casos os tempos padrões estabelecidos eram completamente irreal Outro conceito taylorista cada vez mais questionado é o do homem econômico Segundo ele o homem seria motivado a produzir simplesmente para ganhar dinheiro Então cada trabalhador deveria ser pago de acordo com a sua produção individual Hoje se admite que isso nem sempre é verdadeiro Há de fato certas pessoas que se motivam mais pelo dinheiro Mas estas se incluem entre os trabalhadores de menor renda e aqueles de temperamento individualista que são mal vistos e isolados pelos próprios colegas Outros serão motivados por fatores diversos como a autorealização coleguismo justiça respeito e reconhecimento do trabalho que realizam Um psicólogo norteamericano estudou o comportamento dos trabalhadores convivendo diariamente com eles e chegou à conclusão de que muitos preferem manter a cabeça erguida do que o estômago cheio referindose à questão do dinheiro que nem sempre era considerada a mais importante Portanto essas duas vertentes de um lado a resistência dos próprios trabalhadores e de outro os novos conhecimentos científicos sobre a natureza do trabalho influenciaram a gerência industrial a rever as suas posições ao longo do século XX A escola de relações humanas Na década de 1920 surgiu a escola de relações humanas em consequência de uma famosa experiência realizada por Elton Mayo na empresa Western Electric situado em Hawthorne EUA Mayo pretendia investigar a influência dos níveis de iluminação sobre a produtividade Para isso preparou uma sala onde um grupo de trabalhadores foi colocado sob observação contínua À medida que o nível de iluminação na sala foi aumentando a produtividade do grupo também subiu Numa segunda etapa esse nível foi reduzido Porém surpreendentemente a produtividade continuou a subir Isso foi chamado de efeito Hawthorne Nesse caso o aumento da produtividade não seria explicado apenas pelos fatores físicos Os trabalhadores foram alvo de atenção especial e sabendo que estavam sendo observados sentiamse valorizados e ficaram motivados a produzir cada vez mais As experiências de Mayo lançaram novas luzes para o entendimento do trabalho e deu origem a sociologia industrial Contudo não deixa de ter seu lado perverso As empresas consideraramna como um meio relativamente barato de aumentar a produtividade sem necessidade de pagar os incentivos financeiros precionados pelo taylorismo A visão atual Atualmente há um respeito maior às individualidades necessidades do trabalhador e normas de grupo Na medida do possível procurase envolver os próprios trabalhadores nas decisões sobre seu trabalho Uma das consequências dessa nova postura gerencial foi a gradual eliminação das linhas de montagem onde cada trabalhador realiza tarefas simples e altamente repetitivas definidas pela gerência Essas linhas que estão condenadas a serem substituídas por equipes menores mais flexíveis chamadas de grupos autônomos Figura 12 No sistema produtivo de grupos autônomos cada grupo se encarrega de fazer um produto completo Há um movimento inverso ao taylorismo promovendo a apropriação do conhecimento pelo grupo A distribuição de tarefas a cada trabalhador é decidida pelos próprios elementos da equipe Portanto há mais liberdade para cada um escolher as suas tarefas podendo haver rodízios periódicos dentro da equipe para combater a monotonia e a fadiga O ritmo do trabalho é regulado pelo próprio grupo não sendo mais imposta de cima para baixo ou pela regulagem mecânica da velocidade de uma esteira transportadora Assim comparandose com o taylorismo houve uma transferência de responsabilidades sobre o planejamento e controle do trabalho da gerência para os próprios trabalhadores No taylorismo muitos trabalhadores executavam apenas uma pequena parte das atividades e não viam o fim do seu trabalho para que serve No trabalho em grupo ao contrário os objetivosfim são claramente definidos deixandose os controles intermediários objetivosmeio a cargo dos próprios trabalhadores Evidentemente não se trata de cair no extremo oposto do laissezfaire Os controles continuam existindo Mas em vez de se controlar individualmente cada trabalhador esses controles foram direcionados para os aspectos mais globais da produção e qualidade Essa mudança trouxe mais liberdade e responsabilidade aos trabalhadores dandolhes maiores oportunidades para manifestação dos talentos e individualidades de cada um Assim os resultados globais podem ser melhores do que no caso anterior onde todos os detalhes eram rigorosamente controlados e as individualidades sufocadas A maioria das pessoas costuma trabalhar melhor quando há objetivos claramente estabelecidos em termos de quantidade qualidade e prazos Assim de certa forma sentemse desafiadas para que essas metas sejam alcançadas Naturalmente as condições materiais e organizacionais para a execução do trabalho também devem estar disponíveis 14 Abrangência da Ergonomia A ergonomia pode dar diversas contribuições para melhorar as condições de trabalho Em empresas estas podem variar conforme a etapa em que ocorrerem Em alguns casos são bastante abrangentes envolvendo a participação de diversos escalões administrativos e vários profissionais dessas empresas No Brasil não existem cursos superiores para formação de ergonomistas mas são disponíveis vários cursos de pósgraduação Nas empresas mesmo não existindo departamentos especializados em ergonomia há diversos profissionais ligados à saúde do trabalhador a organização do trabalho e ao projeto de máquinas e equipamentos Eles podem colaborar fornecendo conhecimentos úteis que poderão ser aproveitados na solução de problemas ergonômicos Entre esses profissionais destacamse Médicos do trabalho podem ajudar na identificação dos locais que provocam acidentes ou doenças ocupacionais e realizar acompanhamentos de saúde Engenheiros de projeto podem ajudar sobretudo nos aspectos técnicos modificando as máquinas e ambientes de trabalho Engenheiros de produção contribuem na organização do trabalho estabelecendo um fluxo racional de materiais e postos de trabalho sem sobrecargas Engenheiros de segurança e manutenção identificam áreas e máquinas potencialmente perigosas e que devem ser modificadas Desenhistas industriais ajudam na adaptação de máquinas e equipamentos projetos de postos de trabalho e sistemas de comunicação Analistas do trabalho ajudam sobretudo no estudo de métodos tempos e postos de trabalho Psicólogos geralmente envolvidos na análise dos processos cognitivos relacionamentos humanos seleção e treinamento de pessoal podem ajudar na implantação de novos métodos Enfermeiros e fisioterapeutas podem contribuir na recuperação de trabalhadores com dores ou lesões e podem também atuar preventivamente Programadores de produção podem contribuir para criar um fluxo mais adaptado de trabalho evitando atrasos estresses sobrecargas ou trabalhos noturnos Administradores contribuem no estabelecimento de plano de cargos e salários mais justos que ajudam a reduzir os sentimentos de injustiças entre os trabalhadores e Compradores ajudam na aquisição de máquinas equipamentos e materiais mais seguros confortáveis menos tóxicos e mais limpos Muitos desses profissionais já tiveram oportunidade de frequentar cursos de pósgraduação em ergonomia e se especializaram para atuar profissionalmente na área Essa abordagem interdisciplinar reproduz de certa forma aquela adotada pelos ingleses durante a guerra e que já foi apresentada anteriormente Agora podese conseguir resultados mais rápidos e objetivos sob a coordenação de um especialista em ergonomia Ele sabe quando e porque deve ser convocado cada um desses profissionais para resolver os problemas Para que isso se torne viável é imprescindível o apoio da alta administração da empresa para facilitar encorajar ou até exigir o envolvimento de todos esses profissionais na solução de problemas ergonômicos Contudo ressaltase que cada um deles tem um viés próprio Estão acostumados a ver o problema do seu ponto de vista particular Deverão ser feitos esforços para derrubar as barreiras que separaram as profissões para que eles passem a trabalhar cooperativamente na solução de problemas A melhor forma de fazer isso é com a realização de reuniões periódicas de curta duração com esses profissionais para discutir conceitos apresentar os resultados e mantêlos informados sobre a evolução dos trabalhos Quando surgir algum problema em que seja necessário pedir a colaboração de algum deles esta pode ser obtida mais rapidamente com menor resistência pois já saberão do que se trata A contribuição da ergonomia de acordo com a ocasião em que é feita classificase em concepção correção conscientização Wisner 1987 e participação Ergonomia de concepção A ergonomia de concepção ocorre quando a contribuição ergonômica se faz durante o projeto do produto da máquina ambiente ou sistema Esta é a melhor situação pois as alternativas poderão ser amplamente examinadas mas também se exige maior conhecimento e experiência porque as decisões são tomadas com base em situações hipotéticas ainda sem uma existência real O nível dessas decisões pode ser melhorado buscandose informações em situações semelhantes que já existem ou construindose modelos tridimensionais de postos de trabalho em madeira ou papelão onde as situações de trabalho podem ser simuladas a custos relativamente baixos Modernamente essas situações podem ser simuladas no computador com uso de modelos virtuais Ergonomia de correção A ergonomia de correção é aplicada em situações reais já existentes para resolver problemas que se refletem na segurança fadiga excessiva doenças do trabalhador ou quantidade e qualidade da produção Muitas vezes a solução adotada não é completamente satisfatória pois ela pode exigir custo elevado de implantação Por exemplo a substituição de máquinas ou materiais inadequados pode tornarse muito onerosa Em alguns casos certas melhorias como mudanças de posturas colocação de dispositivos de segurança e aumento da iluminação podem ser feitas com relativa facilidade enquanto em outros casos como a redução da carga mental ou de ruídos tornamse difíceis Ergonomia de conscientização A ergonomia de conscientização procura capacitar os próprios trabalhadores para a identificação e correção dos problemas do diaadia ou aqueles emergenciais Muitas vezes os problemas ergonômicos não são completamente solucionados nem na fase de concepção e nem na fase de correção Além do mais novos problemas poderão surgir a qualquer momento devido à própria dinâmica do processo produtivo Podem ocorrer por exemplo desgastes naturais das máquinas e equipamentos modificações introduzidas pelos serviços de manutenção alteração dos produtos e da programação da produção introdução de novos equipamentos substituição de trabalhadores e assim por diante Os imprevistos podem surgir a qualquer momento e os trabalhadores devem estar preparados para enfrentálos Podese dizer que o sistema produtivo e os postos de trabalho assemelhamse a organismos vivos em constante transformação e adaptação Portanto é importante conscientizar o operador através de cursos de treinamento e frequentes reciclagens ensinandoo a trabalhar de forma segura reconhecendo os fatores de risco que podem surgir a qualquer momento no ambiente de trabalho Nesse caso ele deve saber exatamente qual a providência a ser tomada numa situação de emergência Por exemplo desligar a máquina e chamar a equipe de manutenção Essa conscientização dos trabalhadores nem sempre é feita em termos individuais Ela pode ser feita coletivamente em níveis mais amplos como o envolvimento do sindicato dos trabalhadores quando o problema afetar a todos como no caso de poluições atmosféricas ou radiações nucleares Ergonomia de participação A ergonomia de participação procura envolver o próprio usuário do sistema na solução de problemas ergonômicos Este pode ser o trabalhador no caso de um posto de trabalho ou consumidor no caso de produtos de consumo Esse princípio é baseado na crença de que eles possuem um conhecimento prático cujos detalhes podem passar despercebidos ao analista ou projetista Além disso muitos sistemas ou produtos não são operados na forma correta ou seja como foi idealizada pelos projetistas Enquanto a ergonomia de conscientização procurava apenas manter os trabalhadores informados a de participação envolve aquele de forma mais ativa na busca da solução para o problema fazendo a reestruturação de informações para as fases de conscientização correção e concepção Figura 13 Difusão da ergonomia na sociedade Em alguns países principalmente aqueles europeus existem esforços para difundir certos conhecimentos básicos da ergonomia para uma faixa maior da população Os sindicatos de trabalhadores por exemplo procuram conscientizar seus membros sobre os ambientes nocivos à saúde Oddone et al 1986 para que eles não se sujeitem às condições que podem provocar danos à saúde Para isso preparam cartilhas ilustradas e promovem palestras com os trabalhadores Em muitos países existem também associações de defesa dos consumidores que procuram advertir os mesmos sobre produtos ou serviços inconvenientes de forma mais ampla abrangendo a população em geral Os conhecimentos sobre ergonomia geralmente são gerados através de pesquisas realizadas em universidades e institutos de pesquisa Esses conhecimentos originais são apresentados em congressos científicos ou publicados em periódicos sob forma de artigos Dáse difusão para o ensino universitário e a mídia em geral A Associação Internacional de Ergonomia considera cinco níveis de difusão dos conhecimentos científicos e tecnológicos Concepção Correção Conscientização Participação Capítulo 1 O que é Ergonomia Nível 1 O conhecimento é dominado apenas por um número restrito de pesquisadores e professores Nível 2 O conhecimento é dominado por especialistas da área e por estudantes de pósgraduação Nível 3 O conhecimento é dominado por estudantes universitários em geral Nível 4 O conhecimento é dominado por empresários políticos e outras pessoas da sociedade que tomam decisões de interesse geral Nível 5 O conhecimento é incorporado ao processo produtivo e passa a ser consumido pela população em geral Verificase que até o nível 3 os conhecimentos circulam no âmbito restrito de pesquisadores e estudantes A partir do nível 4 passam ao domínio mais amplo dos nãoespecialistas da área No último nível costumase dizer que o conhecimento chegou às prateleiras dos supermercados ou seja foi incorporado aos produtos e serviços disponíveis no mercado Os tempos que decorrem entre esses níveis podem ser muito variados No século XVIII decorreram cerca de 80 anos entre a invenção e a aplicação do altoforno e baterias elétricas Já o telégrafo e rádio inventados no século XIX encontraram aplicações após 40 anos No século XX para invenções como a televisão e a penicilina esses tempos foram reduzidos para 20 anos Para o nylon e o transistor cerca de 10 anos Atualmente algumas inovações encontram aplicações quase imediatas Contudo para um conjunto de conhecimentos como a ergonomia o tempo necessário para difundirse na sociedade pode ser mais demorado Em alguns países industrializados podese dizer que a ergonomia já atingiu os níveis 4 e 5 pois seus conhecimentos foram incorporados em legislações e normas técnicas No Brasil podese considerar que já foi ultrapassado o nível 1 e se caminha para os níveis 2 a 3 A contribuição ergonômica também pode variar de acordo com a magnitude e abrangência do problema em análise de sistemas e análise dos postos de trabalho Análise dos postos de trabalho A análise dos postos de trabalho é o estudo de uma parte do sistema onde atua um trabalhador A abordagem ergonômica ao nível do posto de trabalho faz a análise da tarefa da postura e dos movimentos do trabalhador e das suas exigências físicas e cognitivas Considerando um posto mais simples onde o homem opera apenas uma máquina a análise deve partir do estudo da interface homemmáquinaambiente ou seja das interações que ocorrem entre o homem a máquina e o ambiente Essa abordagem é diferente daquela tradicionalmente adotada pelos projetistas que se preocupam inicialmente apenas com o projeto da máquina para posteriormente fazer adaptações para que ela possa ser operada pelo trabalhador Figura 14 Muitas vezes devido à dificuldade de modificar a máquina depois de pronta essa adaptação pode tornarse precária sacrificando o trabalhador Características do trabalho moderno Modernamente poucos trabalhadores dependem da força física mas principalmente dos aspectos cognitivos A cognição referese ao processo de aquisição aprendizagem armazenamento memória e uso dos conhecimentos para o trabalho A melhor imagem que se faz do moderno trabalhador é aquele que está sentado diante de um computador ou painel de controle onde se requer pouca força física mas muita atenção concentração mental e tomada de decisões a Desenvolvimento mecânico do posto de trabalho Projeto de máquina sem considerar o homem Posto de trabalho deficiente e desconfortável b Desenvolvimento ergonômico do posto de trabalho Análise das funções e necessidades humanas Posto de trabalho eficiente e confortável Figura 14 Desenvolvimento de um posto de trabalho aplicandose um enfoque mecânico a e ergonômico b Damon Stoudt e McFarland 1971 15 Aplicações da Ergonomia O problema da adaptação do trabalho ao homem nem sempre tem uma solução trivial que possa ser resolvido na primeira tentativa Ao contrário geralmente é um problema complexo com diversas idas e vindas para o qual não existe resposta pronta As pesquisas fornecem um acervo de conhecimentos princípios gerais medidas básicas das capacidades físicas do homem e técnicas para serem aplicadas no projeto e funcionamento das máquinas sistemas e ambientes de trabalho Numa situação ideal a ergonomia deve ser aplicada desde as etapas iniciais do projeto de uma máquina sistema ambiente ou local de trabalho Estas devem sempre incluir o ser humano como um de seus componentes Assim as características desse operador devem ser consideradas conjuntamente com as características ou restrições das partes mecânicas sistêmicas ou ambientais para se ajustarem mutuamente umas às outras Às vezes é necessário adotar certas soluções de compromisso Isso significa fazer aquilo que é possível dentro das restrições existentes mesmo que não seja a alternativa ideal Essas restrições geralmente recaem no domínio econômico prazos exíguos ou simplesmente atitudes conservadoras De qualquer forma o requisito mais importante ao qual não se deve fazer concessões é o da segurança do operador pois não há nada que pague os sofrimentos as mutilações e o sacrifício de vidas humanas Inicialmente as aplicações da ergonomia restringiramse à indústria e ao setor militar e aeroespacial Recentemente expandiramse para a agricultura ao setor de serviços e à vida diária do cidadão comum Isso exigiu novos conhecimentos como as características de trabalho de mulheres pessoas idosas e aqueles portadores de deficiências físicas Ergonomia na indústria A ergonomia contribui para melhorar a eficiência a confiabilidade e a qualidade das operações industriais Isso pode ser feito basicamente por três vias aperfeiçoamento do sistema homemmáquinaambiente organização do trabalho e melhoria das condições de trabalho O aperfeiçoamento do sistema homemmáquinaambiente pode ocorrer tanto na fase de projeto de máquinas equipamentos e postos de trabalho como na introdução de modificações em sistemas já existentes adaptandoos às capacidades e limitações do organismo humano Figura 15 Uma cabine de guindaste que exigia o trabalho em pé com uma postura forçada provocando fadiga do operador foi redesenhada para permitir o trabalho sentado com melhor visão e facilidade de operação dos controles Sell 1977 com os consertos dos vagões A proposta para a mudança da posição dos controles para facilitar a visão do operador sobre a carga em movimento e redesenho da cabina foi estimado em 2 500 dólares ou seja um investimento que seria recuperado em cerca de cinco semanas de operação Uma segunda categoria de atuação da ergonomia está relacionada com os aspectos organizacionais do trabalho procurando reduzir a fadiga e a monotonia principalmente pela eliminação do trabalho altamente repetitivo dos ritmos mecânicos impostos ao trabalhador e a falta de motivação provocada pela pouca participação do mesmo nas decisões sobre o seu próprio trabalho Em terceiro lugar a melhoria é feita pela análise das condições ambientais de trabalho como temperatura ruídos vibrações gases tóxicos e iluminação Por exemplo um iluminamento deficiente sobre uma tarefa que exija precisão pode ser muito fatigante Por outro lado focos de luz brilhantes colocados dentro do campo visual podem provocar reflexos e ofuscamentos extremamente desconfortáveis A aplicação sistemática da ergonomia na indústria é feita identificandose os locais onde ocorrem problemas ergonômicos mais graves Estes podem ser reconhecidos por certos sintomas como alto índice de erros acidentes doenças absenteísmo e rotatividade dos empregados Por trás dessas evidências podem estar ocorrendo uma inadequação das máquinas falhas na organização do trabalho ou deficiências ambientais que provocam dores musculares e tensões psiquicas nos trabalhadores resultando nos sintomas acima mencionados Ergonomia na agricultura mineração e construção civil As aplicações da ergonomia na agricultura mineração e construção civil ainda não ocorrem com a intensidade desejável devido ao caráter relativamente disperso de essas atividades e ao pouco poder de organização e reivindicação dos mineiros garimpeiros trabalhadores rurais e da construção O mesmo pode se dizer do setor pesqueiro que tem uma participação economica pequena em nosso pais Alguns estudos têm sido realizados por empresas industriais que produzem máquinas e implementos agrícolas Entre estes os tratores têm sido objeto de diversas pesquisas devido aos acidentes que têm provocado e às condições adversas de trabalho do tratorista Outros trabalhos relacionamse com as tarefas de colheita transporte e armazenamento de produtos agrícolas Em particular no nosso país diversos estudos foram realizados sobre o corte da canadeaçúcar devido à rápida expansão dessa cultura para fins energéticos Merecem destaque as pesquisas sobre os efeitos danosos dos agrotóxicos sobre a saúde de homens e animais Recentemente problemas semelhantes estão surgindo com a contaminação pelo mercúrio usado indiscriminadamente em garimpos A construção civil absorve grande contingente de mão de obra geralmente de baixa qualificação e baixa remuneração Envolvem muitas tarefas árduas e perigosas As grandes empresas do setor já tem uma organização eficiente e tarefas estruturadas mas não é o caso da maioria das empresas de pequeno porte e das construções informais De qualquer forma na agricultura mineração e construção civil concentramse a maior parte dos trabalhos mais árduos que se conhecem As máquinas e equipamentos utilizados nesses setores ainda são quase sempre rudimentares e poderiam ser consideravelmente aperfeiçoados com a aplicação dos conhecimentos ergonômicos e tecnológicos já disponíveis Capítulo 1 O que é Ergonomia Ergonomia na vida diária A ergonomia tem contribuído para melhorar a vida cotidiana tornando os meios de transporte mais cômodos e seguros a mobilidade doméstica mais confortável e os aparelhos eletrodomésticos mais eficientes e seguros Hoje existe um ramo da ergonomia que se dedica ao teste de produtos de consumo Muitas vezes esses serviços estão ligados a órgãos de defesa dos consumidores que avaliam o desempenho dos produtos e divulgam os resultados de testes para a população Em alguns casos específicos de produtos que oferecem maiores riscos como os componentes aeronáuticos é necessário haver uma homologação prévia que é fornecida ao fabricante por um instituto de pesquisa devidamente credenciado Sem essa homologação o fabricante não está autorizado a produzir e comercializar esses produtos Isso ocorre sobretudo com os produtos relacionados com a saúde e segurança da população Portanto a contribuição da ergonomia não se restringe às indústrias Hoje os estudos ergonômicos são muito amplos podendo contribuir para melhorar as residências a circulação de pedestres em locais públicos ajudar pessoas idosas crianças em idade escolar aquelas portadoras de deficiências físicas e assim por diante 16 Custo e benefício da Ergonomia A ergonomia assim como qualquer outra atividade relacionada com o setor produtivo só será aceita se for capaz de comprovar que é economicamente viável ou seja se apresentar uma relação custobenefício favorável A análise do custobenefício indica de um lado o investimento quantidade de dinheiro necessário para implementar um projeto ou uma recomendação ergonômica representando pelos custos de elaboração do projeto aquisição de máquinas materiais e equipamentos treinamento de pessoal e queda de produtividade durante o período de implantação Do outro lado são computados os benefícios ou seja quanto vai se ganhar com os resultados do projeto Ás vezes esses itens são computados isentos como economias de material mão de obra e energia redução de acidentes absentismos e aumento da qualidade e produtividade Em princípio o projeto só será considerado economicamente viável se a razão custobenefício expresso em termos monetários for menor que 10 ou seja os benefícios forem superiores aos respectivos custos Há diversos relatos de resultados econômicos das aplicações da ergonomia Um simples trabalho de conscientização dos trabalhadores contribuiu para aumentar a produtividade em 10 Em um caso de aplicação da ergonomia verificouse economia em 25 em manutenção e 36 de produtividade em empresas do setor alimentício Bridger 2003 Em geral os custos costumam incidir a curtopraz enquanto os benefícios ou seja o retorno do investimento pode demorar um certo tempo Algumas empresas estabelecem um prazo máximo para esse retorno digamos cinco anos Os projetos que têm um retorno maior ou em menor prazo são considerados aqueles mais interessantes Há duas questões associadas à análise do custobenefício e que nem sempre são quantificáveis o risco do investimento e os fatores intangíveis Risco do investimento Os riscos são associados a incertezas que ocorrem inesperadamente e produzem resultados imprevisíveis É como uma tempestade que tira o navio de sua rota levandoo a um outro destino Assim devido a alguma razão imprevisível é possível que o benefício previsto no projeto não se realize ou se realize parcialmente Na área de ergonomia isso pode ser provocado principalmente pelo avanço tecnológico que promove mudanças substanciais na natureza do trabalho a ponto de extinguir certas tarefas e cargos Por exemplo um banco investiu no redesenho dos postos de trabalho dos caixas executivos na década de 1990 Alguns anos depois muitos banqueiros foram substituídos pelos caixas eletrônicos eliminandose cerca de 80 desses postos de trabalho Como isso aconteceu antes do prazo previsto o retorno dos investimentos realizados no novo posto de trabalho foi aquém do esperado Muitas vezes essa aceleração das mudanças ocorre pelo barateamento das novas tecnologias e pela necessidade de manterse competitivo no mercado Fatores intangíveis Fatores intangíveis são aqueles não quantificáveis em termos monetários Nem por isso devem ser considerados de menos importância É o que ocorre por exemplo com o aumento do moral motivação conforto e melhoria das comunicações entre os membros da equipe Portanto esses riscos do investimento e fatores intangíveis mesmo não se economicamente mensuráveis podem ser tão importantes ou até mesmo mais importantes que aqueles quantificáveis As decisões que envolvem riscos e fatores intangíveis são tomadas em níveis mais altos da administração enquanto aqueles quantificáveis podem ficar a cargo de escalões intermediários Em geral costumase fazer uma análise custobenefício com os fatores quantificáveis e depois complementála com a descrição daqueles fatores qualitativos para efeito de um julgamento subjetivo Muitas vezes esses fatores subjetivos podem prevalecer sobre os demais É o caso da gerência que resolve implementar um projeto baseandose nos benefícios indiretos por considerálos mais importantes que os resultados diretos Por exemplo uma empresa pode implantar um programa para financiar a casa própria para os seus empregados A médio e longo prazos pode obter um bom retorno com a satisfação dos empregados e fidelização dos mesmos à empresa resultando na melhoria da produtividade a longo prazo Capítulo 1 O que é Ergonomia 16 Custo e benefício da Ergonomia