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A ordem das palavras no português\nErotilde Goreti Pezatti Sumário\nApresentação\n1. A ordem de palavras na pesquisa linguística\n1.1 O que é ordem de palavras?\n1.2 Ordem de palavras é uma questão estilística\n1.3 Ordem de palavras e teórica linguística\n2. O tratamento da ordem de palavras em português\n3. A organização de constituintes e funcionalismo holandês\n3.1 A armadura funcional\n3.1.1 A organização de constituintes no sintagma\n3.2 Predicados e pré-cumprimento\n3.3 Assinatura de grups de GP\n4. A organização de constituintes na gramática discursivo-funcional\n4.1 A armadura menos-funcional\n4.2 Organização de construções. Agradecimentos\nA Keren Hungwend, pela parte aprender a explicá-los a professores na Universidade de Amsterdam; pela experiência e de fiar com uma enorme inteleção.\nAs Leitura Manteia, minha responsabilidade me ajudou.\nAo Roberto, pelo interesse e tempo.\nA CAPES pela andanha em p - procurar para o encaminhamento. Apresentação\n\nEsta obra tem como objetivo completar uma atividade de pesquisa que venho desenvolvendo desde o início da minha carreira acadêmica, mais precisamente desde a defesa de minha dissertação de mestrado, quando o prof. Francisco Gomes de Mattos, em sua arguição, inquiriu-me sobre o título da dissertação: Por que \"Rotina e criatividade linguística\" e não o inverso, se se supõe que o elemento inicial é mais importante do que o final? Embora intuitivamente não concordasse com essa afirmação, essa pergunta persistiu em minha mente como uma questão a ser respondida e tornou-se, para mim, um desafio desvendar-la, a tal ponto que a defini como tema de investigação para minha tese de doutorado, denominada \"A ordem das palavras em português: aspectos tipológicos e funcionais\". Desde então, minhas atividades de pesquisa vêm-se dirigindo especialmente para a descrição funcional da ordenação de constituintes na sentença, cujo resultado se encontra tanto em publicações de artigos e capítulos de livros quanto em orientações de trabalhos acadêmicos, de iniciação científica, dissertações e teses.\n\nO objetivo principal, no entanto, não é apresentar somente uma descrição da ordenação de constituintes no português, mas sim uma descrição que seja adequadamente tipológica, adequadamente pragmática e adequadamente psicológica. Adequadamente tipológica, por ser formulada em termos de regras e princípios que podem ser aplicados a qualquer tipo de língua natural; adequadamente pragmática, por nos ajudar a entender como as expressões linguísticas são efetivamente usadas na interação comunicativa; e adequadamente psicológica, por ser compatível com o mecanismo psicológico envolvido no processamento de língua natural.\n\nComo aparato teórico, a opção foi pela gramática discursivo-funcional (Hengeveld e Mackenzie, 2008), pois essa abordagem funcional de estudo das línguas naturais se propõe a construir um modelo do usuário de língua natural, observando como esses usuários \"trabalham\", ou seja, como falantes e ouvintes têm sucesso na comunicação com os outros por meio do uso de expressões linguísticas. Essa teoria considera que o impacto de aspectos discursivos sobre a forma linguística é de grande importância na gramática das línguas.\n\nComo a gramática funcional (Di K, 1997a, 1997b), a gramática discursivo-funcional (GDF) procura conciliar o fato patente de que as línguas são complexamente estruturadas com o fato igualmente patente de que elas são adaptadas à função de instrumento de comunicação entre seres humanos. Dessa forma, o falante organiza suas expressões linguísticas de acordo com a avaliação que elabora da informação pragmática do destinatário no momento da enunciação. O objetivo do falante é variar o destinatário a efetuar alguma mudança na informação pragmática da que ele dispõe. Informação pragmática é aqui entendida como o conjunto completo de conhecimento, crenças, suposições, opiniões e sentimentos disponíveis aos interlocutores (falante e destinatário) no momento da interação.\n\nSendo assim, uma descrição adequada de uma língua natural deve partir das intenções do falante para a forma das expressões linguísticas, ou seja, a construção de expressões linguísticas se inicia na formulação da intenção do falante, que é então codificada, e termina na articulação de expressões linguísticas. Além disso, deve ter o máximo de neutralidade tipológica, sendo, então, igualmente aplicável a línguas de todos os tipos. O universo de investigação, como não poderia deixar de ser para um trabalho de cunho funcionalista, se constituiu de ocorrências reais de uso extraídas da amostra do Projeto Português Falado - Variedades Geográficas e Sociais, desenvolvido pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa - CLUL (2009), em parceria com a Universidade de Toulouse-le-Mirail e com a Universidade de Provença-Aix-Marselha. Os materiais estão publicados em cd-rom, com o apoio editorial exclusivo do Instituto Camões, sob o título Português falado - documentos auténticos: gravações áudio com transcrição alinhada e se acham disponíveis no site do projeto Português falado.\n\nEm Portugal, o Corpo de Referência do Português Contemporâneo (CRPC), do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL), coordenado por Maria Fernanda Bacelar do Nascimento, contém, atualmente, mais de 300 milhões de palavras e inclui todas as varietés do português. Trata-se de um corpus monitor, isto é, é um corpus que permite a inclusão paulatina de documentos a que a equipe vai tendo acesso, sem preocupação de equilíbrio interno.\n\nDevido à desigualdade existente entre, por um lado, as variedades europeia e brasileira e, por outro lado, as variedades africanas, o grupo Linguística de Corpúsculos do CLUL decidiu desenvolver um projeto com o objetivo de fornecer recursos linguísticos comparativos que possibilitem descrições objetivas das cinco variedades africanas e estudos contrastivos entre essas variedades ou entre elas e o português europeu e do Brasil (Bacelar, 2006).\n\nO corpus oral é essencialmente constituído por discurso informal (conversas espontâneas), mas incluiu também discursos formais, como entrevistas de rádio e discursos políticos. Contém transcrições de 80 gravações, 45 de homens e 35 de mulheres. Do total desse corpus, 80% dos informantes têm um nível de escolaridade médio ou superior e 20% um nível de escolaridade primário.\n\nPara este livro, foram selecionadas as amostras referentes às variedades que constituem línguas oficiais dos países, ou seja, a brasileira, a portuguesas, as africanas (de São Tomé e Príncipe, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique) e a timorense. Não se assume aqui, entretanto, um tratamento variantes e/ou sociolinguístico; pelo contrário. Capítulo 1\nA ordem de palavras na pesquisa linguística\nEste capítulo tem como objetivo apresentar o tratamento da ordenação de constituintes nos estudos linguísticos, considerando principalmente a ordem sob a perspectiva tradicional e ontológica.\n1.1 O que é a ordem de palavras?\nGarcia (1992: 26) afirma que a coleção de palavras nas frases é elusiva. Essa é uma maneira de dizer que em cada língua existe uma relação precisa entre os grupos de palavras e seus conteúdos sintáticos. As palavras no discurso não são, de modo algum, independentes entre si. Assim, a ordem de palavras se configura como uma representação do discurso em relação ao significado (cf. Saussure, 1971). A importância da ordenação de constituintes em nossa língua tem raízes históricas. Como se sabe, as línguas românicas se formaram com base no latim vulgar, em que já correra a substituição das formas sintéticas (com declinação) pelas formas analíticas (sintagmáticas). A transformação do latim vulgar nas diferentes línguas românicas ocasionou o desaparecimento do gênero neutro, fez surgir em outros determinantes, bem como os pronomes de não pessoa; reduziu-se o número de tempos verbais e criaram-se outros tempos. Uma das maiores e mais importantes mudanças, no entanto, é o desaparecimento da morfologia dos casos, que desencadeou o uso intenso de preposições e acarretou a cristalização dos dons constituintes da sentença. Segundo Bagno (2012: 167-8), esse processo de simplificação é a evidência mais contundente do procedimento de economia linguística, pois destrói a memória de conservar uma grande quantidade de formas flexionadas. Não importando o sentido, trata-se sempre de uma representação do princípio linear do significante (cf. Saussure, 1971). Barbosa (1881) já afirmava que todas as construções se reduzem a duas gerais: a direta e a invertida. Na direta, as palavras e as orações seguem a mesma ordem de sua sintaxe, referindo-se cada uma sucessivamente àquela que a precede imediatamente, permitindo assim que o sentido não fique suspenso e o que o entendimento se efetue da maneira que se vai ouvindo ou lendo. Na invertida, pelo contrário, há mudança na ordem da sintaxe, e as palavras e orações, ou regidas por subordinadas, ocorrem primeiro ou as que regem ou subordinam, ficando assim o sentido suspenso, que só se completa quando chegamos ao final da oração. Para o autor, no entanto, as duas construções são consideradas naturais, porque ambas são necessárias, e usadas em todas as línguas. essenciais, \"mas a própria gramática admite uma série de exceções\", a que denominam de modo geral inverso. Há inversão quando qualquer termo está fora da ordem direta, torna da sua posição normal ou habitual. \"A inversão pode dar à frase mais vigor e mais energia, o que é o mesmo que dizer mais ênfase, realce ou relevo.\" Seja qual for a razão, a verdade é que as gramáticas da segunda metade do século XX passam a considerar uma ordem natural, a que denominam direta, e uma inversa. Em tese, afirma o autor, todos os termos da oração podem ser deslocados para ganhar maior realce (e também por questão de clareza, ritmo e eufonia). \n\nDistinguem-se vários domínios que permitem alteração da ordem direta: colocação dos adjetivos nos grupos nominais, a colocação dos pronomes átonos e a colocação de constituintes na oração ou das orações no período, a que denominam figuras de sintaxe.\n\nBechara (1999: 581), por exemplo, dedica um capítulo à sintaxe de colocação ou de ordem, expandindo as observações efetuadas em Lições de português pela análise sintática, de 1961. Afirma o autor que o \"maior responsável pela ordem favorita numa língua ou grupo de língua perde-se em atenção arcacional\". Os casos de colocação usual ou normal em português se resumem em:\n(i) o adjunto adjetivo depois de seu substantivo (Ex.: homem rico);\n(ii) o adjunto não representado por adjetivo (artigo, pronome, quantificadores) antes do substantivo (Ex.: o homem bom);\n(iii) o verbo depois do sujeito (Ex.: Dudu mudou de colégio), com exceção de passiva com se e interrogação parcial com pronome não sujeito ou advérbio interrogativo;\n(iv) o complemento verbal depois do verbo (Ex.: Compramos maçãs);\n(v) o objeto direto antes do indireto, quando constituídos por substantivo (Ex.: Escreveram cartas ao sócio prejudicado); o objeto indireto antes do direto, quando constituído por pronome (Ex.: Escreveram-lhe cartas). Esses casos são denominados de ordem direta, usual ou habitual, com esquema SVC. A ordem que infringe este esquema denomina-se inversa ou ocasional.\n\n1 Neste estudo não direcionamos nossa atenção para estes aspectos da ordenação de constituídos, uma vez que a ordenação dos oblíquos itens merece um estudo a parte.
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A ordem das palavras no português\nErotilde Goreti Pezatti Sumário\nApresentação\n1. A ordem de palavras na pesquisa linguística\n1.1 O que é ordem de palavras?\n1.2 Ordem de palavras é uma questão estilística\n1.3 Ordem de palavras e teórica linguística\n2. O tratamento da ordem de palavras em português\n3. A organização de constituintes e funcionalismo holandês\n3.1 A armadura funcional\n3.1.1 A organização de constituintes no sintagma\n3.2 Predicados e pré-cumprimento\n3.3 Assinatura de grups de GP\n4. A organização de constituintes na gramática discursivo-funcional\n4.1 A armadura menos-funcional\n4.2 Organização de construções. Agradecimentos\nA Keren Hungwend, pela parte aprender a explicá-los a professores na Universidade de Amsterdam; pela experiência e de fiar com uma enorme inteleção.\nAs Leitura Manteia, minha responsabilidade me ajudou.\nAo Roberto, pelo interesse e tempo.\nA CAPES pela andanha em p - procurar para o encaminhamento. Apresentação\n\nEsta obra tem como objetivo completar uma atividade de pesquisa que venho desenvolvendo desde o início da minha carreira acadêmica, mais precisamente desde a defesa de minha dissertação de mestrado, quando o prof. Francisco Gomes de Mattos, em sua arguição, inquiriu-me sobre o título da dissertação: Por que \"Rotina e criatividade linguística\" e não o inverso, se se supõe que o elemento inicial é mais importante do que o final? Embora intuitivamente não concordasse com essa afirmação, essa pergunta persistiu em minha mente como uma questão a ser respondida e tornou-se, para mim, um desafio desvendar-la, a tal ponto que a defini como tema de investigação para minha tese de doutorado, denominada \"A ordem das palavras em português: aspectos tipológicos e funcionais\". Desde então, minhas atividades de pesquisa vêm-se dirigindo especialmente para a descrição funcional da ordenação de constituintes na sentença, cujo resultado se encontra tanto em publicações de artigos e capítulos de livros quanto em orientações de trabalhos acadêmicos, de iniciação científica, dissertações e teses.\n\nO objetivo principal, no entanto, não é apresentar somente uma descrição da ordenação de constituintes no português, mas sim uma descrição que seja adequadamente tipológica, adequadamente pragmática e adequadamente psicológica. Adequadamente tipológica, por ser formulada em termos de regras e princípios que podem ser aplicados a qualquer tipo de língua natural; adequadamente pragmática, por nos ajudar a entender como as expressões linguísticas são efetivamente usadas na interação comunicativa; e adequadamente psicológica, por ser compatível com o mecanismo psicológico envolvido no processamento de língua natural.\n\nComo aparato teórico, a opção foi pela gramática discursivo-funcional (Hengeveld e Mackenzie, 2008), pois essa abordagem funcional de estudo das línguas naturais se propõe a construir um modelo do usuário de língua natural, observando como esses usuários \"trabalham\", ou seja, como falantes e ouvintes têm sucesso na comunicação com os outros por meio do uso de expressões linguísticas. Essa teoria considera que o impacto de aspectos discursivos sobre a forma linguística é de grande importância na gramática das línguas.\n\nComo a gramática funcional (Di K, 1997a, 1997b), a gramática discursivo-funcional (GDF) procura conciliar o fato patente de que as línguas são complexamente estruturadas com o fato igualmente patente de que elas são adaptadas à função de instrumento de comunicação entre seres humanos. Dessa forma, o falante organiza suas expressões linguísticas de acordo com a avaliação que elabora da informação pragmática do destinatário no momento da enunciação. O objetivo do falante é variar o destinatário a efetuar alguma mudança na informação pragmática da que ele dispõe. Informação pragmática é aqui entendida como o conjunto completo de conhecimento, crenças, suposições, opiniões e sentimentos disponíveis aos interlocutores (falante e destinatário) no momento da interação.\n\nSendo assim, uma descrição adequada de uma língua natural deve partir das intenções do falante para a forma das expressões linguísticas, ou seja, a construção de expressões linguísticas se inicia na formulação da intenção do falante, que é então codificada, e termina na articulação de expressões linguísticas. Além disso, deve ter o máximo de neutralidade tipológica, sendo, então, igualmente aplicável a línguas de todos os tipos. O universo de investigação, como não poderia deixar de ser para um trabalho de cunho funcionalista, se constituiu de ocorrências reais de uso extraídas da amostra do Projeto Português Falado - Variedades Geográficas e Sociais, desenvolvido pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa - CLUL (2009), em parceria com a Universidade de Toulouse-le-Mirail e com a Universidade de Provença-Aix-Marselha. Os materiais estão publicados em cd-rom, com o apoio editorial exclusivo do Instituto Camões, sob o título Português falado - documentos auténticos: gravações áudio com transcrição alinhada e se acham disponíveis no site do projeto Português falado.\n\nEm Portugal, o Corpo de Referência do Português Contemporâneo (CRPC), do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL), coordenado por Maria Fernanda Bacelar do Nascimento, contém, atualmente, mais de 300 milhões de palavras e inclui todas as varietés do português. Trata-se de um corpus monitor, isto é, é um corpus que permite a inclusão paulatina de documentos a que a equipe vai tendo acesso, sem preocupação de equilíbrio interno.\n\nDevido à desigualdade existente entre, por um lado, as variedades europeia e brasileira e, por outro lado, as variedades africanas, o grupo Linguística de Corpúsculos do CLUL decidiu desenvolver um projeto com o objetivo de fornecer recursos linguísticos comparativos que possibilitem descrições objetivas das cinco variedades africanas e estudos contrastivos entre essas variedades ou entre elas e o português europeu e do Brasil (Bacelar, 2006).\n\nO corpus oral é essencialmente constituído por discurso informal (conversas espontâneas), mas incluiu também discursos formais, como entrevistas de rádio e discursos políticos. Contém transcrições de 80 gravações, 45 de homens e 35 de mulheres. Do total desse corpus, 80% dos informantes têm um nível de escolaridade médio ou superior e 20% um nível de escolaridade primário.\n\nPara este livro, foram selecionadas as amostras referentes às variedades que constituem línguas oficiais dos países, ou seja, a brasileira, a portuguesas, as africanas (de São Tomé e Príncipe, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique) e a timorense. Não se assume aqui, entretanto, um tratamento variantes e/ou sociolinguístico; pelo contrário. Capítulo 1\nA ordem de palavras na pesquisa linguística\nEste capítulo tem como objetivo apresentar o tratamento da ordenação de constituintes nos estudos linguísticos, considerando principalmente a ordem sob a perspectiva tradicional e ontológica.\n1.1 O que é a ordem de palavras?\nGarcia (1992: 26) afirma que a coleção de palavras nas frases é elusiva. Essa é uma maneira de dizer que em cada língua existe uma relação precisa entre os grupos de palavras e seus conteúdos sintáticos. As palavras no discurso não são, de modo algum, independentes entre si. Assim, a ordem de palavras se configura como uma representação do discurso em relação ao significado (cf. Saussure, 1971). A importância da ordenação de constituintes em nossa língua tem raízes históricas. Como se sabe, as línguas românicas se formaram com base no latim vulgar, em que já correra a substituição das formas sintéticas (com declinação) pelas formas analíticas (sintagmáticas). A transformação do latim vulgar nas diferentes línguas românicas ocasionou o desaparecimento do gênero neutro, fez surgir em outros determinantes, bem como os pronomes de não pessoa; reduziu-se o número de tempos verbais e criaram-se outros tempos. Uma das maiores e mais importantes mudanças, no entanto, é o desaparecimento da morfologia dos casos, que desencadeou o uso intenso de preposições e acarretou a cristalização dos dons constituintes da sentença. Segundo Bagno (2012: 167-8), esse processo de simplificação é a evidência mais contundente do procedimento de economia linguística, pois destrói a memória de conservar uma grande quantidade de formas flexionadas. Não importando o sentido, trata-se sempre de uma representação do princípio linear do significante (cf. Saussure, 1971). Barbosa (1881) já afirmava que todas as construções se reduzem a duas gerais: a direta e a invertida. Na direta, as palavras e as orações seguem a mesma ordem de sua sintaxe, referindo-se cada uma sucessivamente àquela que a precede imediatamente, permitindo assim que o sentido não fique suspenso e o que o entendimento se efetue da maneira que se vai ouvindo ou lendo. Na invertida, pelo contrário, há mudança na ordem da sintaxe, e as palavras e orações, ou regidas por subordinadas, ocorrem primeiro ou as que regem ou subordinam, ficando assim o sentido suspenso, que só se completa quando chegamos ao final da oração. Para o autor, no entanto, as duas construções são consideradas naturais, porque ambas são necessárias, e usadas em todas as línguas. essenciais, \"mas a própria gramática admite uma série de exceções\", a que denominam de modo geral inverso. Há inversão quando qualquer termo está fora da ordem direta, torna da sua posição normal ou habitual. \"A inversão pode dar à frase mais vigor e mais energia, o que é o mesmo que dizer mais ênfase, realce ou relevo.\" Seja qual for a razão, a verdade é que as gramáticas da segunda metade do século XX passam a considerar uma ordem natural, a que denominam direta, e uma inversa. Em tese, afirma o autor, todos os termos da oração podem ser deslocados para ganhar maior realce (e também por questão de clareza, ritmo e eufonia). \n\nDistinguem-se vários domínios que permitem alteração da ordem direta: colocação dos adjetivos nos grupos nominais, a colocação dos pronomes átonos e a colocação de constituintes na oração ou das orações no período, a que denominam figuras de sintaxe.\n\nBechara (1999: 581), por exemplo, dedica um capítulo à sintaxe de colocação ou de ordem, expandindo as observações efetuadas em Lições de português pela análise sintática, de 1961. Afirma o autor que o \"maior responsável pela ordem favorita numa língua ou grupo de língua perde-se em atenção arcacional\". Os casos de colocação usual ou normal em português se resumem em:\n(i) o adjunto adjetivo depois de seu substantivo (Ex.: homem rico);\n(ii) o adjunto não representado por adjetivo (artigo, pronome, quantificadores) antes do substantivo (Ex.: o homem bom);\n(iii) o verbo depois do sujeito (Ex.: Dudu mudou de colégio), com exceção de passiva com se e interrogação parcial com pronome não sujeito ou advérbio interrogativo;\n(iv) o complemento verbal depois do verbo (Ex.: Compramos maçãs);\n(v) o objeto direto antes do indireto, quando constituídos por substantivo (Ex.: Escreveram cartas ao sócio prejudicado); o objeto indireto antes do direto, quando constituído por pronome (Ex.: Escreveram-lhe cartas). Esses casos são denominados de ordem direta, usual ou habitual, com esquema SVC. A ordem que infringe este esquema denomina-se inversa ou ocasional.\n\n1 Neste estudo não direcionamos nossa atenção para estes aspectos da ordenação de constituídos, uma vez que a ordenação dos oblíquos itens merece um estudo a parte.