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Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161003 DOI 105216rppv19i441015 A CULTURA CORPORAL COMO ÁREA DE CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Lívia Tenorio Brasileiro Universidade de Pernambuco Recife Pernambuco Brasil Eliana Ayoub Universidade Estadual de Campinas Campinas São Paulo Brasil Marcelo Soares Tavares de Melo Universidade de Pernambuco Recife Pernambuco Brasil Ana Rita Lorenzini Universidade de Pernambuco Recife Pernambuco Brasil Andrea Carla de Paiva Universidade Federal Rural de Pernambuco Recife Pernambuco Brasil Marcílio Barbosa Souza Junior Universidade de Pernambuco Recife Pernambuco Brasil Resumo Este texto analisa o conceito de Cultura Corporal apresentado como objeto de estudo da Edu cação Física Tratase de um texto no formato de ensaio que se caracteriza como um estudo de base teórica elaborado a partir de reflexões sobre o termo Cultura Corporal buscando re fletir sobre como este termo se insere na área de Educação Física ao longo das últimas déca das e confere a esta uma identidade para sua área de conhecimento Desta forma nosso obje tivo é analisar a base conceitual que sustenta o termo Cultura Corporal tomando como refe rência sua obra de origem Metodologia do Ensino da Educação Física COLETIVO DE AUTORES 1992 em diálogo com referências que lhe dão sustentação teórica Palavraschave Educação Física Cultura Corporal Area de Conhecimento Objeto de Estudo Introdução Este texto analisa o conceito de Cultura Corporal apresentado como objeto de estudo da Educação Física1 Tratase de um texto no formato de ensaio que se caracteriza como um estudo de base teórica elaborado a partir de reflexões sobre o termo Cultura Corporal bus 1 Tal reflexão foi oriunda de um fragmento da tese Dança e Educação Física intensas relações BRASILEI RO 2009 e ampliado em debate junto aos pesquisadores do Grupo de Estudos Etnográficos em Educação Física e Esportes ETHNÓSESEFUPE Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161004 DOI 105216rppv19i441015 cando refletir sobre como este termo se insere na área de Educação Física ao longo das últi mas décadas e confere a esta uma identidade para sua área de conhecimento Desta forma nosso objetivo é analisar a base conceitual que sustenta o termo Cultura Corporal tomando como referência sua obra de origem Metodologia do Ensino da Educação Física COLETIVO DE AUTORES 1992 em diálogo com referências que lhe dão susten tação teórica Reconhecemos que o termo Cultura Corporal é apresentando na produção acadêmica da Educação Física na década de 1990 tendo a obra mencionada escrita por um Coletivo de Autores2 seu marco conceitual na divulgação nacional Para situar esta obra fazse necessário ressaltar que a década de 1990 deu destaque à produção teórica da Educação Física brasileira que na década anterior recebeu um impulso significativo com os estudos que realizavam a crítica ao modelo de esportivização presente na área com a intenção de superar um modelo de orientação tecnicista e entrar em consonância com as discussões educacionais da época Tal produção analisou o papel social e político que a Educação Física vinha assumindo iniciando estudos numa perspectiva crítica com base na Pedagogia históricocrítica baseada nos estudos de Dermeval Saviani Oriundo do movimento da década de 1980 temse um quadro de referências teóricas que apontavam para a necessidade de pensar em uma Educação Física progressista revolu cionária ou popular3 Essas referências chegaram à década de 1990 assinalando diversas pos sibilidades de entender uma Educação Física progressista o que gerou um intenso debate pois o consenso na avaliação da superação da Educação Física dos anos 1980 passou a ex pressar um conflito nos anos 1990 sobre a identidade da área e qual o seu papel no processo de formação humana A obra do Coletivo de Autores 1992 foi lançada no bojo dessas discussões com a in tenção de apresentar uma proposta pedagógica sistematizada para a área com base em uma perspectiva crítica da educação TENÓRIO et al 2012 O lançamento desse livro teve grande repercussão na área uma vez que a Educação Física carecia de propostas sistematizadas que avançassem no debate sobre a superação do paradigma da aptidão física Sendo até hoje uma das mais importantes referências nas dis cussões sobre Educação Física escolar no Brasil esta obra vem orientando inúmeros trabalhos de pesquisa e políticas públicas a exemplo da pesquisa de Souza Junior et al 2011a 2001b Desta forma neste ensaio iremos recorrer a esta obra revisitandoa na intenção de di alogar com seus principais conceitos e bases teóricas com o intuito de analisar como se sus tenta o termo Cultura Corporal na área de Educação Física Revisitando a obra em diálogo com suas principais bases teóricas A obra do Coletivo de Autores 1992 2012 problematizou duas perspectivas para a Educação Física no espaço escolar uma baseada no desenvolvimento da aptidão física e outra na reflexão sobre a Cultura Corporal Para tal partiu da discussão sobre o projeto político pedagógico que orienta o trabalho escolar e se materializa na escola pelo currículo 2 Esse Coletivo de Autores é formado pelos professores Carmen Lúcia Soares Celi Nelza Zülke Taffarel Eliza beth Varjal Lino Castellani Filho Michele Ortega Escolar e Valter Bracht autores oriundos de diferentes insti tuições brasileiras tendo a maioria formação e atuação em cursos de Educação Física com exceção da Profª Elizabeth Varjal que é pedagoga O livro teve sua primeira edição em 1992 e em 2012 quando completou 20 anos foi publicada uma nova edição com um pósfacio que integra entrevistas com os autores Tal ampliação foi realizada a partir de uma pesquisa intitulada Coletivo de Autores a Cultura Corporal em questão do Grupo desenvolvida pelo Grupo de Estudos Etnográficos em Educação Física e Esporte ETHNÓSESEFUPE 3 Nesse período alguns estudos se destacam frente a essa reflexão dentre eles Medina 1983 Castellani Filho 1988 Ghiraldelli Júnior 1989 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161005 DOI 105216rppv19i441015 Denominase como uma pedagogia emergente sob a qualificação de crítico superadora reconhecendo que houve reflexões importantes na década de 1980 porém estas chegam à década de 1990 sem apresentar uma proposta metodológica de ensino sistematizada que colocasse em discussão a hegemonia do modelo da aptidão física Assim tomando como referência uma articulação entre a teoria geral do conhecimento e a psicologia social a obra indica que a concepção de currículo deve ser ampliada tendo co mo eixos a constatação a interpretação a compreensão e a explicação da realidade social em que vive o aluno Esse currículo materializase na escola através da dinâmica curricular que corresponde ao trato com o conhecimento à organização e à normatização escolar optando por tratar o ensino de forma espiralada através de ciclos de escolarização COLETIVO DE AUTORES 2012 Importante destacar a compreensão sobre a dinâmica curricular apresentada que toma a visão de totalidade como sua principal dimensão na qual Cada matéria ou disciplina deve ser considerada na escola como um compo nente curricular que só tem sentido pedagógico à medida que seu objeto se articula aos diferentes objetos dos outros componentes do currículo Lín guas Geografia Matemática História Educação Física etc Podese afir mar que uma disciplina é legítima ou relevante para essa perspectiva de cur rículo quando a presença do seu objeto de estudo é fundamental para a refle xão pedagógica do aluno e a sua ausência compromete a perspectiva de tota lidade dessa reflexão COLETIVO DE AUTORES 2012 p30 Sua base teórica para a discussão no campo da Educação foi a obra de Dermeval Sa vani intitulada Pedagogia históricocrítica primeiras aproximações SAVIANI 2011 a qual refletindo sobre a natureza e especificidade da Educação anuncia a pedagogia histórico crítica como uma das tendências críticas da educação brasileira apresentando as primeiras aproximações à educação escolar e seus desafios Imbuídos dessa reflexão crítica os autores localizam na Educação Física uma perspec tiva que tem como objeto de estudo o desenvolvimento da aptidão física do ser humano Esta se baseia prioritariamente nos fundamentos biológicos nos quais O conhecimento que se pretende que o aluno apreenda é o exercício de atividades corporais que lhe permitam atingir o máximo rendimento de sua capacidade física COLETIVO DE AUTORES 2012 p37 Sob esta ótica o esporte será o destaque dentre os seus conteúdos o qual permite o ensino através de técnicas e de táticas em um tempo e espaço próprio ao mesmo Para tal a Educação Física tem suas aulas separadas para homens e mulheres considerando os aspectos de ordem fisiológica seu horário diferenciado dos demais componentes curriculares devido a justifica tivas higiênicas e é realizada preferencialmente em um espaço padronizado próprio da orga nização esportiva a quadra Ao anunciar a perspectiva da reflexão sobre a Cultura Corporal expressam que ela Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de re presentação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história exteriorizadas pela expressão corporal jogos danças lutas exercícios ginás ticos esporte malabarismo contorcionismo mímica e outros que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vi vidas pelo homem historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas COLETIVO DE AUTORES 2012 p39 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161006 DOI 105216rppv19i441015 A reflexão sobre a Cultura Corporal apresentada pela obra busca um entendimento his tórico da cultura em que se destacam como especificidade da Educação Física as formas de atividades corporais formas de expressão corporal como linguagem Para a discussão sobre a produção humana e suas formas de expressão os autores to maram como referência as obras de Vigotsky 1987 1988 Sob essa referência os autores enfatizam a importância da noção de historicidade da cultura corporal É preciso que o aluno en tenda que o homem não nasceu pulando saltando arremessando balançan do jogando etc Todas essas atividades corporais foram construídas em de terminadas épocas históricas como respostas a determinados estímulos de safios ou necessidades humanas COLETIVO DE AUTORES 2012 p40 Construção essa que tem a dimensão corporal materializada nas três atividades produ tivas da história da humanidade o trabalho a linguagem e o poder Estas acontecem de forma simultânea e se explicitam na realidade sendo exemplificado que É linguagem um piscar de olhos enquanto expressão de namoro e concor dância um beijo enquanto expressão de afetividade uma dança enquanto expressão de luta de crenças Com as mãos os surdos se comunicam pela linguagem gestual É trabalho quando desenvolve diferentes movimentos sistematizados orde nados articulados e institucionalizados transformados portanto numa pro dução simbólica um jogo uma ginástica um esporte uma dança uma luta Finalmente é poder quando expressa uma disputa ou desenvolve a força fí sica para a dominação por exemplo numa luta corpo a corpo COLETIVO DE AUTORES 2012 p40 É na relação com outros seres humanos que a produção humana vai sendo gerada sendo a linguagem uma das suas mais importantes expressões Deste modo A linguagem é tão antiga quanto a consciência a linguagem é a consciência real prática que existe também para outros homens que existe portanto também primeiro para mim mesmo e exatamente como a consciência a lin guagem só aparece com a carência com a necessidade dos intercâmbios com os outros homens MARX ENGELS 1998 p24 O trabalho por sua vez está presente na relação mantida entre o ser humano e a natu reza sendo o trabalho uma forma de agir sobre a natureza na intenção de modificála de a tender às suas necessidades Nesse sentido o trabalho não opera somente uma mudança de forma nas matérias naturais mas realiza ao mesmo tempo seu próprio objetivo do que ele tem consciência o qual determina como uma lei seu modo de ação e ao qual ele deve subor dinar sua vontade MARX 1987 p136 Baseandose nesses princípios a obra apresenta o conceito de Cultura Corporal que se constitui de conhecimentos produzidos e acumulados historicamente pelo ser humano acerca das atividades corporais que se expressam na dança ginástica jogo esporte luta Assinalando para uma formação humana na perspectiva omnilateral4 as discussões do livro trazem como conhecimento identificador da área da Educação Física o estudo na pers 4 O termo omnilateral ou onilateral é encontrado em A Ideologia Alemã obra de Karl Marx e Friederich Engels 1987 Segundo Manacorda 1991 p79 a omnilateralidade trata da chegada histórica do homem a uma totalidade de capacidades produtivas e ao mesmo tempo a uma totalidade de capacidades de consumo e Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161007 DOI 105216rppv19i441015 pectiva sóciohistórica dos elementos constitutivos da Cultura Corporal o que possibilita a todo cidadão o acesso aos meios e ao conhecimento deste acervo como um direito inalienável A base teórica que ancora esse conceito é apresentada a partir da concepção de traba lho como princípio educativo sendo explicitado que O primeiro pressuposto de toda a história humana é naturalmente a existên cia de indivíduos humanos vivos E para se manter vivo teve o homem que produzir seus meios de vida meios estes que foram sendo modificados no curso da história pelas ações dos próprios homens em contato com a nature za com outros homens e consigo mesmo MARX ENGELS 1998 p27 O ser humano como ser social mantém relação ativa com a natureza relação esta que dá existência à sua história Para Marx e Engels 1998 a natureza já não é original pois foi transformada pelo ser humano Assim a existência dos humanos vivos gera a história huma na Nesse sentido A primeira situação a constatar é portanto a constituição corporal desses in divíduos e as relações que ela gera entre eles e o restante da natureza Não podemos naturalmente fazer aqui um estudo mais profundo da própria constituição física do homem nem das condições naturais que os homens encontram já prontas condições geológicas orográficas hidrográficas cli máticas e outras Toda historiografia deve partir dessas bases naturais e de sua transformação pela ação dos homens no curso da história MARX EN GELS 1998 p10 A partir dessa intervenção na natureza o ser humano produziu bens materiais e imate riais e o campo da Cultura Corporal congrega um acervo de bens imateriais que deverão ser no espaço escolar tratados pedagogicamente junto a crianças jovens e adultos em formação A natureza da Educação como trabalho imaterial conhecimento possui especificidade Esta tem como hipótese histórica que a natureza humana não é dada ao ser humano mas é por ele produzida sobre a base da natureza biofísica Assim o trabalho educativo é o ato de produ zir direta e intencionalmente em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida his tórica e coletivamente pelo conjunto dos homens SAVIANI 2011 p13 Entendese com base nesse referencial que a distinção dos seres humanos dos ani mais ocorre pela produção de seus meios de existência e que esse passo à frente é a pró pria consequência de sua organização corporal MARX ENGELS 1998 p10 Portanto a obra do Coletivo de Autores iniciou uma discussão sobre a Cultura Corpo ral e a possibilidade da Educação Física tomar o acervo de formas exteriorizadas pela expres são corporal produzidas pelos seres humanos como objeto de estudo da área e ao anunciar esse conceito pautaram um campo profícuo de discussão afinal o que é a Cultura Corporal Para Silva 2005 as perspectivas que situam o corpo no campo da cultura apresentam elementos que superam a fragmentação presente nas concepções de corpo e de cultura com as quais a Educação e a Educação Física se orientavam e de certo modo ainda se orientam dependendo das vertentes teóricas adotadas O livro não possibilitou aprofundar essa discussão mas ao longo desses anos as dis cussões da área incorporaram essas reflexões vindo a questionar a ênfase dada à dimensão corporal como se ela estivesse separada de uma suposta dimensão não corporal prazeres em que se deve considerar sobretudo o gozo daqueles bens espirituais além dos materiais e dos quais o trabalhador tem estado excluído em consequência da divisão do trabalho Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161008 DOI 105216rppv19i441015 A partir da explicitação do termo Cultura Corporal é apresentada por Kunz 1994 uma discussão na qual o autor afirma que o Coletivo de Autores 1992 ao utilizar essa de nominação reforça o dualismo corpo e mente criticado pela área até então com toda certeza estes autores sabem que pela concepção dualista de Homem se existe uma cultura humana que é apenas corporal devem existir outras que não o são que devem ser então mentais ou espirituais e certa mente não incluiriam a cultura corporal do jogo esporte ginástica e dança como uma cultura corporal na concepção dualista Embora este conceito de cultura corporal esteja sendo utilizado por muitos teóricos da Educação Física e Esportes pareceme apenas para reforçar uma cultura desenvolvida via movimento humano é de qualquer forma um conceito tautológico uma vez que não pode existir nenhuma atividade culturalmente produzida pelo homem que não seja corporal KUNZ 1994 p19 Taffarel Escobar 2009 dialogando com o autor citado acima reafirmam ser o cam po da Cultura Corporal o objeto de estudo da Educação Física na perspectiva de que todo conhecimento é fruto da práxis humana sendo este expresso em atividades de produção mate rial e não material Entendem que frente à amplitude das atividades de produção não material a Educação Física examina algumas como o jogo a ginástica a dança a mímica o ma labarismo o equilibrismo o trapezismo o atletismo e outras do gênero para procurar seu enquadramento teórico e os direcionamentos práticos para sua inclusão na sua disciplina esco lar Enfatizam ainda que essas atividades são conceitos historicamente formados na sociedade por isso existem objetivamente nas formas de atividade do homem e nos resultados delas quer dizer como objetos racionalmente criados TAFFAREL ESCOBAR 2009 p175 Essas autoras partem do pressuposto de que o ser humano não nasceu executando es sas atividades elas foram construídas em determinados momentos históricos de acordo com diferentes necessidades dos mesmos sendo compreendidas como atividades produtivas com significados sociais próprios que vão se alterando ao longo da história Deste modo basean dose em Karl Marx entendem que o ser humano põe em movimento pelas suas pernas braços cabeça e mãos as forças de que seu corpo é dotado para se apropriar das matérias e darlhes uma forma útil à sua vida TAFFAREL ESCOBAR 2009 p176 E exemplificam Quando o homem esquia em vertiginoso ziguezague numa íngreme ladeira cinde as águas com ágeis braçadas ou em poderosas lanchas voa graciosa mente em asa delta ou livre e ousadamente em trapézios altíssimos coloca uma bola num ângulo imprevisível da quadra de tênis permanece no ar de safiando a gravidade numa arriscada pirueta ginástica ou finta sagazmente seu rival com a bola inexplicavelmente colada no seu pé está materializan do em movimentos um conteúdo cujo modelo interior só se determina e de fine no próprio curso da sua realização O modelo inicial do qual parte essa atividade prática objetiva impregnase da subjetividade de sentidos lúdicos estéticos artísticos agonistas competitivos ou outros que se relacionam com a realidade da própria vida do sujeito que age e com as suas motivações particulares Desse modo ele usufrui a sua produção na própria objetivação ou materialização da experiência prática sendo intrínseca ao valor particular que ele lhe atribui a unidade indissolúvel entre o interior e o exterior entre o subjetivo e objetivo TAFFAREL ESCOBAR 2009 p175176 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161009 DOI 105216rppv19i441015 Assim não se trata de uma visão dualista mas de uma perspectiva de que todo conhe cimento é fruto da práxis humana e esta se desenvolve dinamicamente e em meio às intera ções sociais sendo expressa em atividades de produção material e não material Esta última tem nas manifestações da Cultura Corporal uma incidência que a área de Educação Física vem buscando problematizar Desta forma consideramos que a obra do Coletivo de Autores 1992 2012 ao anun ciar o termo Cultura Corporal lança mão de uma base teórica que explicita a ação humana como expressão da cultural imaterial Este aporte requer uma matriz científica que transcende o imediatismo dos fenômenos tendo como seu elemento fundante o trabalho humano enten dido em sua relação entre seres humanos e natureza permitindo colocar em prática uma pers pectiva científica de construção de uma unidade metodológica que contrapõe a lógica do co nhecimento fragmentado Assim o referencial teóricometodológico na área da Educação Física permitenos reconhecer o sujeito como histórico resultando das relações entre os seres humanos relações estas articuladas pela linguagem A referida obra anuncia a discussão da expressão corporal como linguagem mas não se dedica a esta dimensão sendo reconhecida em sua 2ª edição pósfácio por alguns de seus autores a necessidade de ampliar a discussão sobre linguagem Cultura Corporal e Linguagem contribuição à discussão Essas discussões permitem compreender o campo da cultura na acepção de Arantes 1981 na qual a cultura significa e em todos os atos da vida social há significação Considera que a cultura significação está em toda parte Todas as nossas ações seja na esfera do trabalho das relações conjugais da produção econômica ou ar tística do sexo da religião de formas de dominação e de solidariedade tudo nas sociedades humanas é construído segundo os códigos e as convenções simbólicas a que denominamos cultura ARANTES 1981 p34 Mesmo partindo deste conceito mais geral a área da Educação Física tem importante contribuição no processo de formação de crianças jovens e adultos por possuir um saber cul tural uma produção cultural humana que se estabilizoulegitimou no campo de conhecimento que tem significação no mundo Ainda quanto à cultura para Leontiev 1978 o homem é um ser de natureza so cial que tudo o que tem de humano nele provém da sua vida em sociedade no seio da cultu ra criada pela humanidade grifo nosso LEONTIEV 1978 p261 Nessa direção compreendemos que a cultura é um processo de produção da existência humana e que o ser humano cria artefatos e instrumentos mas também conhecimentos valo res crenças ou seja ideias ao mesmo tempo em que utiliza e elabora a linguagem para o desenvolvimento do pensamento e planejamento da sua práxis As referidas ideias são produ tos que exprimem as relações que o ser humano estabelece com a natureza na qual habita Assim a cultura é concebida como história e compreende portanto a totalidade dos signifi cados sociais gerados nas relações com a culturatrabalholinguagem De acordo com Leontiev 1977 1978 1981 na história da humanidade a aquisição da linguagem proporcionou um salto qualitativo decisivo para a afirmação da natureza social humana e nesta a linguagem como signo consubstancia a ideia a ser expressa sob a forma de conceitos e juízos de valor Neste rumo reconhecemos que a produção da linguagem é neces sária à representação do objeto sob a forma de conceito Subsidiada no referencial supracitado a Educação Física vem sendo consolidada co mo área de conhecimento que tem na Cultura Corporal seu objeto sua base de sustentação Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161010 DOI 105216rppv19i441015 levando em consideração que não existe uma dimensão não corporal mas existem atividades que têm no signo não verbal no gesto significante5 seu suporte privilegiado BAKHTIN 1999 Nesse caminho reflexivo compreendemos que o conceito Cultura Corporal vem sendo produzido pela Educação Física em diálogo com o conceito Linguagem cujas refle xões explicitadas neste estudo apóiamse em Leontiev e Bakhtin A Educação Física é consti tuída por uma singularidade que não se expressa somente pela palavra pela linguagem verbal uma vez que sua materialidade manifestase na linguagem nãoverbal na ação do tipo corpo ral no corpo no gesto do ser humano Para Bakhtin 1999 p38 Todas as manifestações da criação ideológica todos os signos nãoverbais banhamse no discurso e não podem ser nem totalmente isoladas nem totalmente separadas dele Nesse sentido podemos afirmar que um não substitui o outro Gesto e palavra palavra e gesto juntos imbricados verbal e nãoverbal entrelaçados entretecidos AYOUB 2012 p279 Claro está que a escrita e a oralidade também são constitutivas da gestualidade e igualmente a gestualidade também é constitutiva da escrita e da oralidade A escola ao fazer uma opção por uma formação humana ampla terá de trazer para seus processos de formação o conhecimento útil e necessário à existência humana o clássico dessa cultura sistematizada por diferentes componentes do currículo escolar Quando falamos em clássico estamos atribuindo o mesmo sentido que Saviani 2011 p1120 atribui no livro Pedagogia HistóricoCrítica significando o trato com o conhecimento sistematizado sobre o objeto Para Saviani 2011 p17 Clássico na escola é a transmissão assimilação do sa ber sistematizado Este é o fim a atingir Isto também requer entender a escola como proces so e produto da ação dos seres humanos em um determinado grau de desenvolvimento para atender às motivações às necessidades materializando objetivos Na referida instituição a Educação Física tem como objeto de estudo a Cultura Cor poral participando do processo de formação escolarizada socializando expressões que foram e vêm sendo desenvolvidas pelos seres humanos que se expressam na dimensão corporal no que designamos aqui de gesto significante como forma de possibilitar a todos os estudantes o acesso ao conhecimento e aos seus meios de reprodução como um direito inalienável de acesso à produção cultural imaterial Nesta perspectiva a capacidade da expressão corporal como linguagem desenvolvese numa sequência de vivências e de experiências que se iniciam na interpretação espontânea ou livre passando para a interpretação e explicação de conteúdos clássicos em que consciente mente o estudante apropriase e produz a linguagem corporal Para tanto a Educação Física trata diferentes ações humanas o jogo o esporte a dança a ginástica a luta dentre outras orientadas para a realidade concreta às necessidades e motivações humanas com fim forma tivo que promove a apreensão do conhecimento histórico indispensável ao desenvolvimento do pensamento sobre a Cultura Corporal expressando o caráter político do ato educativo Reconhecemos dessa forma a necessidade de repensar a formação em Educação Físi ca na perspectiva de tomar como objeto a Cultura Corporal tendo como eixo articulador do conhecimento a práxis orientada por uma concepção de mundo por um método que permite uma apreensão que vai à raiz da realidade da unidade teoriaprática de novas sínteses do co nhecimento e no plano da realidade histórica A práxis é a balizadora do desenvolvimento do conhecimento na medida em que demanda a mobilização do conhecimento científico para a intervenção na realidade evidenciando o grau de domínio dos conteúdos apropriados de mo do articulado permitindo ajustes mais precisos do conteúdoforma na área em questão 5 Ver MATSUMOTO 2009 BRASILEIRO 2009 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161011 DOI 105216rppv19i441015 CORPORAL CULTURE AS KNOWLEDGE OF THE PHYSICAL EDUCATION AR EA Abstract This paper analyzes the concept of Corporal Culture presented as object of study of Physical Education It is a text in the essay format which is characterized as a study of theoretical ba sis drawn from reflections on the term Corporal Culture seeking to reflect on how this term is included in the area of Physical Education over the past decades and this gives an identity to their area of expertise Thus the objective is analyze the conceptual base that sustains the term Corporal Culture with reference the book Methodology of Teaching Physical Educa tion COLETIVO DE AUTORES 1992 in dialogue with references that give theoretical support Keywords Physical Education Corporal Culture Knowledge Area Study Object CULTURA DEL CUERPO COMO CONOCIMIENTO DE LA EDUCACIÓN FÍSICA Resumen Este artículo analiza el concepto de Cultura del Cuerpo presente como un objeto de estudio de la Educación Física Se trata de un texto en el formato de ensayo que se caracteriza como un estudio de los fundamentos teóricos elaborado a partir de reflexiones sobre el concepto de Cultura del Cuerpo tratando de reflexionar sobre cómo este fue incluido en el ámbito de la Educación Física en las últimas décadas y esto le da una identidad a su área de especializa ción Por lo tanto nuestra meta es analizar la base conceptual que sustenta el concepto Cultu ra del Cuerpo con referencia a su fuente de trabajo Metodología de la Enseñanza de la Edu cación Física COLETIVO DE AUTORES 1992 en el diálogo con las referencias que dan soporte teórico Palabras clave Educación Física Cultura del Cuerpo Área de Conocimiento Objeto de Es tudio Referências ARANTES A A O que é cultura São Paulo Brasiliense 1981 AYOUB E Gestos cartas experiências compartilhadas Leitura Teoria Prática suplemento Associação de Leitura do Brasil Campinas SP n58 p274283 junho de 2012 BAKHTIN M Hacia uma filosofia del acto ético De los boradores y otros escritos Tra ducción del ruso Tatiana Bubnova San Juan Universidad de Puerto Rico Anthropos 1997 BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem 9ed Tradução de Michel Lahud Yara Frateschi Vieira 8ed São Paulo Hucitec 1999 BRASILEIRO L T DançaEducação Física intensas relações 473f Tese Doutorado Programa de Pósgraduação em Educação Faculdade de Educação Universidade Estadual de Campinas Campinas 2009 CASTELLANI FILHO L Educação física no Brasil a história que não se conta Campinas Papirus 1988 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161012 DOI 105216rppv19i441015 COLETIVO DE AUTORES Metodologia do ensino da Educação Física São Paulo Cor tez 1992 COLETIVO DE AUTORES Metodologia do ensino da Educação Física 2ed São Paulo Cortez 2012 GUIRALDELLI JÚNIOR P Educação física progressista a pedagogia críticosocial dos conteúdos e a educação física brasileira São Paulo Loyola 1989 KUNZ E Transformação didáticopedagógica do esporte Ijuí UNIJUÍ 1994 LEONTIEV A O homem e a cultura In ADAM Y et al Desporto e desenvolvimento humano Lisboa Seara Nova 1977 LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo São Paulo Moraes 1978 LEONTIEV A Actividad Conciencia Personalidad Habana Cuba Editorial Pueblo y Educación 1981 MANACORDA M História da educação da antiguidade aos nossos dias São Paulo Cor tez Autores Associados 1991 MARX K O capital Livro 1 V 1 São Paulo Difel 1987 MARX K ENGELS F A ideologia alemã Tradução de Luis Claudio de Castro e Costa São Paulo Martins Fontes 1998 MATSUMOTO M H O ensinoaprendizado do gesto na aula de educação física 211f Dissertação Mestrado Programa de Pósgraduação em Educação Faculdade de Educação Universidade Estadual de Campinas 2009 MEDINA J P S A Educação Física cuida do corpo e mente Campinas Papirus 1983 SAVIANI D Pedagogia históricocrítica primeiras aproximações 11ed São Paulo Cor tezAutores Associados 2011 SILVA A M Corpo conhecimento e educação física escolar In SOUZA JÚNIOR M Org Educação Física escolar teoria e política curricular saberes escolares e proposta pedagógica Recife EDUPE p8595 2005 SOUZA JUNIOR M et al Relatório de Pesquisa Coletivo de Autores a Cultura Corpo ral em questão Recife ETHNÓSESEFUPE 2011a SOUZA JUNIOR M et al Coletivo de Autores a cultura corporal em questão Revista Bra sileira de Ciências do Esporte Florianópolis v 33 n 2 p391411 2011b TAFFAREL C N Z ESCOBAR M O A Cultura corporal In HERMIDA J F Org Educação Física conhecimento e saber escolar João Pessoa Editora Universitária da UFPB p173180 2009 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161013 DOI 105216rppv19i441015 TENÓRIO K et al Propostas curriculares Estaduais para Educação Física uma análise do binômio intencionalidadeavaliação Motriz Rio Claro v18 n3 p542556 2012 VIGOTSKY L S A formação social da mente o desenvolvimento dos processos psicoló gicos superiores Tradução de José Cipolla Neto et al São Paulo Martins Fontes 1988 VIGOTSKY L S Pensamento e linguagem São Paulo Martins Fontes 1987 Recebido em 29042016 Revisado em 22082016 Aprovado em 22082016 Endereço para correspondência livtbhotmailcom Lívia Tenorio Brasileiro Universidade de Pernambuco Av Gov Agamenon Magalhães SN Santo Amaro Recife PE 50100010
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Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161003 DOI 105216rppv19i441015 A CULTURA CORPORAL COMO ÁREA DE CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Lívia Tenorio Brasileiro Universidade de Pernambuco Recife Pernambuco Brasil Eliana Ayoub Universidade Estadual de Campinas Campinas São Paulo Brasil Marcelo Soares Tavares de Melo Universidade de Pernambuco Recife Pernambuco Brasil Ana Rita Lorenzini Universidade de Pernambuco Recife Pernambuco Brasil Andrea Carla de Paiva Universidade Federal Rural de Pernambuco Recife Pernambuco Brasil Marcílio Barbosa Souza Junior Universidade de Pernambuco Recife Pernambuco Brasil Resumo Este texto analisa o conceito de Cultura Corporal apresentado como objeto de estudo da Edu cação Física Tratase de um texto no formato de ensaio que se caracteriza como um estudo de base teórica elaborado a partir de reflexões sobre o termo Cultura Corporal buscando re fletir sobre como este termo se insere na área de Educação Física ao longo das últimas déca das e confere a esta uma identidade para sua área de conhecimento Desta forma nosso obje tivo é analisar a base conceitual que sustenta o termo Cultura Corporal tomando como refe rência sua obra de origem Metodologia do Ensino da Educação Física COLETIVO DE AUTORES 1992 em diálogo com referências que lhe dão sustentação teórica Palavraschave Educação Física Cultura Corporal Area de Conhecimento Objeto de Estudo Introdução Este texto analisa o conceito de Cultura Corporal apresentado como objeto de estudo da Educação Física1 Tratase de um texto no formato de ensaio que se caracteriza como um estudo de base teórica elaborado a partir de reflexões sobre o termo Cultura Corporal bus 1 Tal reflexão foi oriunda de um fragmento da tese Dança e Educação Física intensas relações BRASILEI RO 2009 e ampliado em debate junto aos pesquisadores do Grupo de Estudos Etnográficos em Educação Física e Esportes ETHNÓSESEFUPE Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161004 DOI 105216rppv19i441015 cando refletir sobre como este termo se insere na área de Educação Física ao longo das últi mas décadas e confere a esta uma identidade para sua área de conhecimento Desta forma nosso objetivo é analisar a base conceitual que sustenta o termo Cultura Corporal tomando como referência sua obra de origem Metodologia do Ensino da Educação Física COLETIVO DE AUTORES 1992 em diálogo com referências que lhe dão susten tação teórica Reconhecemos que o termo Cultura Corporal é apresentando na produção acadêmica da Educação Física na década de 1990 tendo a obra mencionada escrita por um Coletivo de Autores2 seu marco conceitual na divulgação nacional Para situar esta obra fazse necessário ressaltar que a década de 1990 deu destaque à produção teórica da Educação Física brasileira que na década anterior recebeu um impulso significativo com os estudos que realizavam a crítica ao modelo de esportivização presente na área com a intenção de superar um modelo de orientação tecnicista e entrar em consonância com as discussões educacionais da época Tal produção analisou o papel social e político que a Educação Física vinha assumindo iniciando estudos numa perspectiva crítica com base na Pedagogia históricocrítica baseada nos estudos de Dermeval Saviani Oriundo do movimento da década de 1980 temse um quadro de referências teóricas que apontavam para a necessidade de pensar em uma Educação Física progressista revolu cionária ou popular3 Essas referências chegaram à década de 1990 assinalando diversas pos sibilidades de entender uma Educação Física progressista o que gerou um intenso debate pois o consenso na avaliação da superação da Educação Física dos anos 1980 passou a ex pressar um conflito nos anos 1990 sobre a identidade da área e qual o seu papel no processo de formação humana A obra do Coletivo de Autores 1992 foi lançada no bojo dessas discussões com a in tenção de apresentar uma proposta pedagógica sistematizada para a área com base em uma perspectiva crítica da educação TENÓRIO et al 2012 O lançamento desse livro teve grande repercussão na área uma vez que a Educação Física carecia de propostas sistematizadas que avançassem no debate sobre a superação do paradigma da aptidão física Sendo até hoje uma das mais importantes referências nas dis cussões sobre Educação Física escolar no Brasil esta obra vem orientando inúmeros trabalhos de pesquisa e políticas públicas a exemplo da pesquisa de Souza Junior et al 2011a 2001b Desta forma neste ensaio iremos recorrer a esta obra revisitandoa na intenção de di alogar com seus principais conceitos e bases teóricas com o intuito de analisar como se sus tenta o termo Cultura Corporal na área de Educação Física Revisitando a obra em diálogo com suas principais bases teóricas A obra do Coletivo de Autores 1992 2012 problematizou duas perspectivas para a Educação Física no espaço escolar uma baseada no desenvolvimento da aptidão física e outra na reflexão sobre a Cultura Corporal Para tal partiu da discussão sobre o projeto político pedagógico que orienta o trabalho escolar e se materializa na escola pelo currículo 2 Esse Coletivo de Autores é formado pelos professores Carmen Lúcia Soares Celi Nelza Zülke Taffarel Eliza beth Varjal Lino Castellani Filho Michele Ortega Escolar e Valter Bracht autores oriundos de diferentes insti tuições brasileiras tendo a maioria formação e atuação em cursos de Educação Física com exceção da Profª Elizabeth Varjal que é pedagoga O livro teve sua primeira edição em 1992 e em 2012 quando completou 20 anos foi publicada uma nova edição com um pósfacio que integra entrevistas com os autores Tal ampliação foi realizada a partir de uma pesquisa intitulada Coletivo de Autores a Cultura Corporal em questão do Grupo desenvolvida pelo Grupo de Estudos Etnográficos em Educação Física e Esporte ETHNÓSESEFUPE 3 Nesse período alguns estudos se destacam frente a essa reflexão dentre eles Medina 1983 Castellani Filho 1988 Ghiraldelli Júnior 1989 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161005 DOI 105216rppv19i441015 Denominase como uma pedagogia emergente sob a qualificação de crítico superadora reconhecendo que houve reflexões importantes na década de 1980 porém estas chegam à década de 1990 sem apresentar uma proposta metodológica de ensino sistematizada que colocasse em discussão a hegemonia do modelo da aptidão física Assim tomando como referência uma articulação entre a teoria geral do conhecimento e a psicologia social a obra indica que a concepção de currículo deve ser ampliada tendo co mo eixos a constatação a interpretação a compreensão e a explicação da realidade social em que vive o aluno Esse currículo materializase na escola através da dinâmica curricular que corresponde ao trato com o conhecimento à organização e à normatização escolar optando por tratar o ensino de forma espiralada através de ciclos de escolarização COLETIVO DE AUTORES 2012 Importante destacar a compreensão sobre a dinâmica curricular apresentada que toma a visão de totalidade como sua principal dimensão na qual Cada matéria ou disciplina deve ser considerada na escola como um compo nente curricular que só tem sentido pedagógico à medida que seu objeto se articula aos diferentes objetos dos outros componentes do currículo Lín guas Geografia Matemática História Educação Física etc Podese afir mar que uma disciplina é legítima ou relevante para essa perspectiva de cur rículo quando a presença do seu objeto de estudo é fundamental para a refle xão pedagógica do aluno e a sua ausência compromete a perspectiva de tota lidade dessa reflexão COLETIVO DE AUTORES 2012 p30 Sua base teórica para a discussão no campo da Educação foi a obra de Dermeval Sa vani intitulada Pedagogia históricocrítica primeiras aproximações SAVIANI 2011 a qual refletindo sobre a natureza e especificidade da Educação anuncia a pedagogia histórico crítica como uma das tendências críticas da educação brasileira apresentando as primeiras aproximações à educação escolar e seus desafios Imbuídos dessa reflexão crítica os autores localizam na Educação Física uma perspec tiva que tem como objeto de estudo o desenvolvimento da aptidão física do ser humano Esta se baseia prioritariamente nos fundamentos biológicos nos quais O conhecimento que se pretende que o aluno apreenda é o exercício de atividades corporais que lhe permitam atingir o máximo rendimento de sua capacidade física COLETIVO DE AUTORES 2012 p37 Sob esta ótica o esporte será o destaque dentre os seus conteúdos o qual permite o ensino através de técnicas e de táticas em um tempo e espaço próprio ao mesmo Para tal a Educação Física tem suas aulas separadas para homens e mulheres considerando os aspectos de ordem fisiológica seu horário diferenciado dos demais componentes curriculares devido a justifica tivas higiênicas e é realizada preferencialmente em um espaço padronizado próprio da orga nização esportiva a quadra Ao anunciar a perspectiva da reflexão sobre a Cultura Corporal expressam que ela Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de re presentação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história exteriorizadas pela expressão corporal jogos danças lutas exercícios ginás ticos esporte malabarismo contorcionismo mímica e outros que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vi vidas pelo homem historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas COLETIVO DE AUTORES 2012 p39 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161006 DOI 105216rppv19i441015 A reflexão sobre a Cultura Corporal apresentada pela obra busca um entendimento his tórico da cultura em que se destacam como especificidade da Educação Física as formas de atividades corporais formas de expressão corporal como linguagem Para a discussão sobre a produção humana e suas formas de expressão os autores to maram como referência as obras de Vigotsky 1987 1988 Sob essa referência os autores enfatizam a importância da noção de historicidade da cultura corporal É preciso que o aluno en tenda que o homem não nasceu pulando saltando arremessando balançan do jogando etc Todas essas atividades corporais foram construídas em de terminadas épocas históricas como respostas a determinados estímulos de safios ou necessidades humanas COLETIVO DE AUTORES 2012 p40 Construção essa que tem a dimensão corporal materializada nas três atividades produ tivas da história da humanidade o trabalho a linguagem e o poder Estas acontecem de forma simultânea e se explicitam na realidade sendo exemplificado que É linguagem um piscar de olhos enquanto expressão de namoro e concor dância um beijo enquanto expressão de afetividade uma dança enquanto expressão de luta de crenças Com as mãos os surdos se comunicam pela linguagem gestual É trabalho quando desenvolve diferentes movimentos sistematizados orde nados articulados e institucionalizados transformados portanto numa pro dução simbólica um jogo uma ginástica um esporte uma dança uma luta Finalmente é poder quando expressa uma disputa ou desenvolve a força fí sica para a dominação por exemplo numa luta corpo a corpo COLETIVO DE AUTORES 2012 p40 É na relação com outros seres humanos que a produção humana vai sendo gerada sendo a linguagem uma das suas mais importantes expressões Deste modo A linguagem é tão antiga quanto a consciência a linguagem é a consciência real prática que existe também para outros homens que existe portanto também primeiro para mim mesmo e exatamente como a consciência a lin guagem só aparece com a carência com a necessidade dos intercâmbios com os outros homens MARX ENGELS 1998 p24 O trabalho por sua vez está presente na relação mantida entre o ser humano e a natu reza sendo o trabalho uma forma de agir sobre a natureza na intenção de modificála de a tender às suas necessidades Nesse sentido o trabalho não opera somente uma mudança de forma nas matérias naturais mas realiza ao mesmo tempo seu próprio objetivo do que ele tem consciência o qual determina como uma lei seu modo de ação e ao qual ele deve subor dinar sua vontade MARX 1987 p136 Baseandose nesses princípios a obra apresenta o conceito de Cultura Corporal que se constitui de conhecimentos produzidos e acumulados historicamente pelo ser humano acerca das atividades corporais que se expressam na dança ginástica jogo esporte luta Assinalando para uma formação humana na perspectiva omnilateral4 as discussões do livro trazem como conhecimento identificador da área da Educação Física o estudo na pers 4 O termo omnilateral ou onilateral é encontrado em A Ideologia Alemã obra de Karl Marx e Friederich Engels 1987 Segundo Manacorda 1991 p79 a omnilateralidade trata da chegada histórica do homem a uma totalidade de capacidades produtivas e ao mesmo tempo a uma totalidade de capacidades de consumo e Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161007 DOI 105216rppv19i441015 pectiva sóciohistórica dos elementos constitutivos da Cultura Corporal o que possibilita a todo cidadão o acesso aos meios e ao conhecimento deste acervo como um direito inalienável A base teórica que ancora esse conceito é apresentada a partir da concepção de traba lho como princípio educativo sendo explicitado que O primeiro pressuposto de toda a história humana é naturalmente a existên cia de indivíduos humanos vivos E para se manter vivo teve o homem que produzir seus meios de vida meios estes que foram sendo modificados no curso da história pelas ações dos próprios homens em contato com a nature za com outros homens e consigo mesmo MARX ENGELS 1998 p27 O ser humano como ser social mantém relação ativa com a natureza relação esta que dá existência à sua história Para Marx e Engels 1998 a natureza já não é original pois foi transformada pelo ser humano Assim a existência dos humanos vivos gera a história huma na Nesse sentido A primeira situação a constatar é portanto a constituição corporal desses in divíduos e as relações que ela gera entre eles e o restante da natureza Não podemos naturalmente fazer aqui um estudo mais profundo da própria constituição física do homem nem das condições naturais que os homens encontram já prontas condições geológicas orográficas hidrográficas cli máticas e outras Toda historiografia deve partir dessas bases naturais e de sua transformação pela ação dos homens no curso da história MARX EN GELS 1998 p10 A partir dessa intervenção na natureza o ser humano produziu bens materiais e imate riais e o campo da Cultura Corporal congrega um acervo de bens imateriais que deverão ser no espaço escolar tratados pedagogicamente junto a crianças jovens e adultos em formação A natureza da Educação como trabalho imaterial conhecimento possui especificidade Esta tem como hipótese histórica que a natureza humana não é dada ao ser humano mas é por ele produzida sobre a base da natureza biofísica Assim o trabalho educativo é o ato de produ zir direta e intencionalmente em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida his tórica e coletivamente pelo conjunto dos homens SAVIANI 2011 p13 Entendese com base nesse referencial que a distinção dos seres humanos dos ani mais ocorre pela produção de seus meios de existência e que esse passo à frente é a pró pria consequência de sua organização corporal MARX ENGELS 1998 p10 Portanto a obra do Coletivo de Autores iniciou uma discussão sobre a Cultura Corpo ral e a possibilidade da Educação Física tomar o acervo de formas exteriorizadas pela expres são corporal produzidas pelos seres humanos como objeto de estudo da área e ao anunciar esse conceito pautaram um campo profícuo de discussão afinal o que é a Cultura Corporal Para Silva 2005 as perspectivas que situam o corpo no campo da cultura apresentam elementos que superam a fragmentação presente nas concepções de corpo e de cultura com as quais a Educação e a Educação Física se orientavam e de certo modo ainda se orientam dependendo das vertentes teóricas adotadas O livro não possibilitou aprofundar essa discussão mas ao longo desses anos as dis cussões da área incorporaram essas reflexões vindo a questionar a ênfase dada à dimensão corporal como se ela estivesse separada de uma suposta dimensão não corporal prazeres em que se deve considerar sobretudo o gozo daqueles bens espirituais além dos materiais e dos quais o trabalhador tem estado excluído em consequência da divisão do trabalho Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161008 DOI 105216rppv19i441015 A partir da explicitação do termo Cultura Corporal é apresentada por Kunz 1994 uma discussão na qual o autor afirma que o Coletivo de Autores 1992 ao utilizar essa de nominação reforça o dualismo corpo e mente criticado pela área até então com toda certeza estes autores sabem que pela concepção dualista de Homem se existe uma cultura humana que é apenas corporal devem existir outras que não o são que devem ser então mentais ou espirituais e certa mente não incluiriam a cultura corporal do jogo esporte ginástica e dança como uma cultura corporal na concepção dualista Embora este conceito de cultura corporal esteja sendo utilizado por muitos teóricos da Educação Física e Esportes pareceme apenas para reforçar uma cultura desenvolvida via movimento humano é de qualquer forma um conceito tautológico uma vez que não pode existir nenhuma atividade culturalmente produzida pelo homem que não seja corporal KUNZ 1994 p19 Taffarel Escobar 2009 dialogando com o autor citado acima reafirmam ser o cam po da Cultura Corporal o objeto de estudo da Educação Física na perspectiva de que todo conhecimento é fruto da práxis humana sendo este expresso em atividades de produção mate rial e não material Entendem que frente à amplitude das atividades de produção não material a Educação Física examina algumas como o jogo a ginástica a dança a mímica o ma labarismo o equilibrismo o trapezismo o atletismo e outras do gênero para procurar seu enquadramento teórico e os direcionamentos práticos para sua inclusão na sua disciplina esco lar Enfatizam ainda que essas atividades são conceitos historicamente formados na sociedade por isso existem objetivamente nas formas de atividade do homem e nos resultados delas quer dizer como objetos racionalmente criados TAFFAREL ESCOBAR 2009 p175 Essas autoras partem do pressuposto de que o ser humano não nasceu executando es sas atividades elas foram construídas em determinados momentos históricos de acordo com diferentes necessidades dos mesmos sendo compreendidas como atividades produtivas com significados sociais próprios que vão se alterando ao longo da história Deste modo basean dose em Karl Marx entendem que o ser humano põe em movimento pelas suas pernas braços cabeça e mãos as forças de que seu corpo é dotado para se apropriar das matérias e darlhes uma forma útil à sua vida TAFFAREL ESCOBAR 2009 p176 E exemplificam Quando o homem esquia em vertiginoso ziguezague numa íngreme ladeira cinde as águas com ágeis braçadas ou em poderosas lanchas voa graciosa mente em asa delta ou livre e ousadamente em trapézios altíssimos coloca uma bola num ângulo imprevisível da quadra de tênis permanece no ar de safiando a gravidade numa arriscada pirueta ginástica ou finta sagazmente seu rival com a bola inexplicavelmente colada no seu pé está materializan do em movimentos um conteúdo cujo modelo interior só se determina e de fine no próprio curso da sua realização O modelo inicial do qual parte essa atividade prática objetiva impregnase da subjetividade de sentidos lúdicos estéticos artísticos agonistas competitivos ou outros que se relacionam com a realidade da própria vida do sujeito que age e com as suas motivações particulares Desse modo ele usufrui a sua produção na própria objetivação ou materialização da experiência prática sendo intrínseca ao valor particular que ele lhe atribui a unidade indissolúvel entre o interior e o exterior entre o subjetivo e objetivo TAFFAREL ESCOBAR 2009 p175176 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161009 DOI 105216rppv19i441015 Assim não se trata de uma visão dualista mas de uma perspectiva de que todo conhe cimento é fruto da práxis humana e esta se desenvolve dinamicamente e em meio às intera ções sociais sendo expressa em atividades de produção material e não material Esta última tem nas manifestações da Cultura Corporal uma incidência que a área de Educação Física vem buscando problematizar Desta forma consideramos que a obra do Coletivo de Autores 1992 2012 ao anun ciar o termo Cultura Corporal lança mão de uma base teórica que explicita a ação humana como expressão da cultural imaterial Este aporte requer uma matriz científica que transcende o imediatismo dos fenômenos tendo como seu elemento fundante o trabalho humano enten dido em sua relação entre seres humanos e natureza permitindo colocar em prática uma pers pectiva científica de construção de uma unidade metodológica que contrapõe a lógica do co nhecimento fragmentado Assim o referencial teóricometodológico na área da Educação Física permitenos reconhecer o sujeito como histórico resultando das relações entre os seres humanos relações estas articuladas pela linguagem A referida obra anuncia a discussão da expressão corporal como linguagem mas não se dedica a esta dimensão sendo reconhecida em sua 2ª edição pósfácio por alguns de seus autores a necessidade de ampliar a discussão sobre linguagem Cultura Corporal e Linguagem contribuição à discussão Essas discussões permitem compreender o campo da cultura na acepção de Arantes 1981 na qual a cultura significa e em todos os atos da vida social há significação Considera que a cultura significação está em toda parte Todas as nossas ações seja na esfera do trabalho das relações conjugais da produção econômica ou ar tística do sexo da religião de formas de dominação e de solidariedade tudo nas sociedades humanas é construído segundo os códigos e as convenções simbólicas a que denominamos cultura ARANTES 1981 p34 Mesmo partindo deste conceito mais geral a área da Educação Física tem importante contribuição no processo de formação de crianças jovens e adultos por possuir um saber cul tural uma produção cultural humana que se estabilizoulegitimou no campo de conhecimento que tem significação no mundo Ainda quanto à cultura para Leontiev 1978 o homem é um ser de natureza so cial que tudo o que tem de humano nele provém da sua vida em sociedade no seio da cultu ra criada pela humanidade grifo nosso LEONTIEV 1978 p261 Nessa direção compreendemos que a cultura é um processo de produção da existência humana e que o ser humano cria artefatos e instrumentos mas também conhecimentos valo res crenças ou seja ideias ao mesmo tempo em que utiliza e elabora a linguagem para o desenvolvimento do pensamento e planejamento da sua práxis As referidas ideias são produ tos que exprimem as relações que o ser humano estabelece com a natureza na qual habita Assim a cultura é concebida como história e compreende portanto a totalidade dos signifi cados sociais gerados nas relações com a culturatrabalholinguagem De acordo com Leontiev 1977 1978 1981 na história da humanidade a aquisição da linguagem proporcionou um salto qualitativo decisivo para a afirmação da natureza social humana e nesta a linguagem como signo consubstancia a ideia a ser expressa sob a forma de conceitos e juízos de valor Neste rumo reconhecemos que a produção da linguagem é neces sária à representação do objeto sob a forma de conceito Subsidiada no referencial supracitado a Educação Física vem sendo consolidada co mo área de conhecimento que tem na Cultura Corporal seu objeto sua base de sustentação Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161010 DOI 105216rppv19i441015 levando em consideração que não existe uma dimensão não corporal mas existem atividades que têm no signo não verbal no gesto significante5 seu suporte privilegiado BAKHTIN 1999 Nesse caminho reflexivo compreendemos que o conceito Cultura Corporal vem sendo produzido pela Educação Física em diálogo com o conceito Linguagem cujas refle xões explicitadas neste estudo apóiamse em Leontiev e Bakhtin A Educação Física é consti tuída por uma singularidade que não se expressa somente pela palavra pela linguagem verbal uma vez que sua materialidade manifestase na linguagem nãoverbal na ação do tipo corpo ral no corpo no gesto do ser humano Para Bakhtin 1999 p38 Todas as manifestações da criação ideológica todos os signos nãoverbais banhamse no discurso e não podem ser nem totalmente isoladas nem totalmente separadas dele Nesse sentido podemos afirmar que um não substitui o outro Gesto e palavra palavra e gesto juntos imbricados verbal e nãoverbal entrelaçados entretecidos AYOUB 2012 p279 Claro está que a escrita e a oralidade também são constitutivas da gestualidade e igualmente a gestualidade também é constitutiva da escrita e da oralidade A escola ao fazer uma opção por uma formação humana ampla terá de trazer para seus processos de formação o conhecimento útil e necessário à existência humana o clássico dessa cultura sistematizada por diferentes componentes do currículo escolar Quando falamos em clássico estamos atribuindo o mesmo sentido que Saviani 2011 p1120 atribui no livro Pedagogia HistóricoCrítica significando o trato com o conhecimento sistematizado sobre o objeto Para Saviani 2011 p17 Clássico na escola é a transmissão assimilação do sa ber sistematizado Este é o fim a atingir Isto também requer entender a escola como proces so e produto da ação dos seres humanos em um determinado grau de desenvolvimento para atender às motivações às necessidades materializando objetivos Na referida instituição a Educação Física tem como objeto de estudo a Cultura Cor poral participando do processo de formação escolarizada socializando expressões que foram e vêm sendo desenvolvidas pelos seres humanos que se expressam na dimensão corporal no que designamos aqui de gesto significante como forma de possibilitar a todos os estudantes o acesso ao conhecimento e aos seus meios de reprodução como um direito inalienável de acesso à produção cultural imaterial Nesta perspectiva a capacidade da expressão corporal como linguagem desenvolvese numa sequência de vivências e de experiências que se iniciam na interpretação espontânea ou livre passando para a interpretação e explicação de conteúdos clássicos em que consciente mente o estudante apropriase e produz a linguagem corporal Para tanto a Educação Física trata diferentes ações humanas o jogo o esporte a dança a ginástica a luta dentre outras orientadas para a realidade concreta às necessidades e motivações humanas com fim forma tivo que promove a apreensão do conhecimento histórico indispensável ao desenvolvimento do pensamento sobre a Cultura Corporal expressando o caráter político do ato educativo Reconhecemos dessa forma a necessidade de repensar a formação em Educação Físi ca na perspectiva de tomar como objeto a Cultura Corporal tendo como eixo articulador do conhecimento a práxis orientada por uma concepção de mundo por um método que permite uma apreensão que vai à raiz da realidade da unidade teoriaprática de novas sínteses do co nhecimento e no plano da realidade histórica A práxis é a balizadora do desenvolvimento do conhecimento na medida em que demanda a mobilização do conhecimento científico para a intervenção na realidade evidenciando o grau de domínio dos conteúdos apropriados de mo do articulado permitindo ajustes mais precisos do conteúdoforma na área em questão 5 Ver MATSUMOTO 2009 BRASILEIRO 2009 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161011 DOI 105216rppv19i441015 CORPORAL CULTURE AS KNOWLEDGE OF THE PHYSICAL EDUCATION AR EA Abstract This paper analyzes the concept of Corporal Culture presented as object of study of Physical Education It is a text in the essay format which is characterized as a study of theoretical ba sis drawn from reflections on the term Corporal Culture seeking to reflect on how this term is included in the area of Physical Education over the past decades and this gives an identity to their area of expertise Thus the objective is analyze the conceptual base that sustains the term Corporal Culture with reference the book Methodology of Teaching Physical Educa tion COLETIVO DE AUTORES 1992 in dialogue with references that give theoretical support Keywords Physical Education Corporal Culture Knowledge Area Study Object CULTURA DEL CUERPO COMO CONOCIMIENTO DE LA EDUCACIÓN FÍSICA Resumen Este artículo analiza el concepto de Cultura del Cuerpo presente como un objeto de estudio de la Educación Física Se trata de un texto en el formato de ensayo que se caracteriza como un estudio de los fundamentos teóricos elaborado a partir de reflexiones sobre el concepto de Cultura del Cuerpo tratando de reflexionar sobre cómo este fue incluido en el ámbito de la Educación Física en las últimas décadas y esto le da una identidad a su área de especializa ción Por lo tanto nuestra meta es analizar la base conceptual que sustenta el concepto Cultu ra del Cuerpo con referencia a su fuente de trabajo Metodología de la Enseñanza de la Edu cación Física COLETIVO DE AUTORES 1992 en el diálogo con las referencias que dan soporte teórico Palabras clave Educación Física Cultura del Cuerpo Área de Conocimiento Objeto de Es tudio Referências ARANTES A A O que é cultura São Paulo Brasiliense 1981 AYOUB E Gestos cartas experiências compartilhadas Leitura Teoria Prática suplemento Associação de Leitura do Brasil Campinas SP n58 p274283 junho de 2012 BAKHTIN M Hacia uma filosofia del acto ético De los boradores y otros escritos Tra ducción del ruso Tatiana Bubnova San Juan Universidad de Puerto Rico Anthropos 1997 BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem 9ed Tradução de Michel Lahud Yara Frateschi Vieira 8ed São Paulo Hucitec 1999 BRASILEIRO L T DançaEducação Física intensas relações 473f Tese Doutorado Programa de Pósgraduação em Educação Faculdade de Educação Universidade Estadual de Campinas Campinas 2009 CASTELLANI FILHO L Educação física no Brasil a história que não se conta Campinas Papirus 1988 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161012 DOI 105216rppv19i441015 COLETIVO DE AUTORES Metodologia do ensino da Educação Física São Paulo Cor tez 1992 COLETIVO DE AUTORES Metodologia do ensino da Educação Física 2ed São Paulo Cortez 2012 GUIRALDELLI JÚNIOR P Educação física progressista a pedagogia críticosocial dos conteúdos e a educação física brasileira São Paulo Loyola 1989 KUNZ E Transformação didáticopedagógica do esporte Ijuí UNIJUÍ 1994 LEONTIEV A O homem e a cultura In ADAM Y et al Desporto e desenvolvimento humano Lisboa Seara Nova 1977 LEONTIEV A O desenvolvimento do psiquismo São Paulo Moraes 1978 LEONTIEV A Actividad Conciencia Personalidad Habana Cuba Editorial Pueblo y Educación 1981 MANACORDA M História da educação da antiguidade aos nossos dias São Paulo Cor tez Autores Associados 1991 MARX K O capital Livro 1 V 1 São Paulo Difel 1987 MARX K ENGELS F A ideologia alemã Tradução de Luis Claudio de Castro e Costa São Paulo Martins Fontes 1998 MATSUMOTO M H O ensinoaprendizado do gesto na aula de educação física 211f Dissertação Mestrado Programa de Pósgraduação em Educação Faculdade de Educação Universidade Estadual de Campinas 2009 MEDINA J P S A Educação Física cuida do corpo e mente Campinas Papirus 1983 SAVIANI D Pedagogia históricocrítica primeiras aproximações 11ed São Paulo Cor tezAutores Associados 2011 SILVA A M Corpo conhecimento e educação física escolar In SOUZA JÚNIOR M Org Educação Física escolar teoria e política curricular saberes escolares e proposta pedagógica Recife EDUPE p8595 2005 SOUZA JUNIOR M et al Relatório de Pesquisa Coletivo de Autores a Cultura Corpo ral em questão Recife ETHNÓSESEFUPE 2011a SOUZA JUNIOR M et al Coletivo de Autores a cultura corporal em questão Revista Bra sileira de Ciências do Esporte Florianópolis v 33 n 2 p391411 2011b TAFFAREL C N Z ESCOBAR M O A Cultura corporal In HERMIDA J F Org Educação Física conhecimento e saber escolar João Pessoa Editora Universitária da UFPB p173180 2009 Pensar a Prática Goiânia v 19 n 4 outdez 20161013 DOI 105216rppv19i441015 TENÓRIO K et al Propostas curriculares Estaduais para Educação Física uma análise do binômio intencionalidadeavaliação Motriz Rio Claro v18 n3 p542556 2012 VIGOTSKY L S A formação social da mente o desenvolvimento dos processos psicoló gicos superiores Tradução de José Cipolla Neto et al São Paulo Martins Fontes 1988 VIGOTSKY L S Pensamento e linguagem São Paulo Martins Fontes 1987 Recebido em 29042016 Revisado em 22082016 Aprovado em 22082016 Endereço para correspondência livtbhotmailcom Lívia Tenorio Brasileiro Universidade de Pernambuco Av Gov Agamenon Magalhães SN Santo Amaro Recife PE 50100010