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Pedagogia ·
Educação Popular e Movimentos Sociais
· 2023/1
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Disciplina: Educação popular e movimentos sociais A (terça-feira) Semestre: 2023.1 Código: EDF609 Turma: 2458 Créditos: 4 ATIVIDADE AVALIATIVA I – VALOR: 10 PONTOS INSTRUÇÕES: Não há um limite de páginas/linhas para a elaboração das respostas. Fiquem à vontade para escrever o quanto quiserem, bem como trazer exemplos para enriquecer o texto. As respostas devem dialogar obrigatoriamente com os textos lidos durante o curso. É importante citar autores/textos lidos na estruturação dos argumentos elaborados por vocês. Fiquem atentos para as citações e o bom uso das regras de redação do texto acadêmico. A atividade deve ser entregue via Google Classroom, no dia 30/05. QUESTÃO 1 (Valor: 3,5 pontos) Leia o texto abaixo: […] Agora, o senhor chega e pergunta: “Ciço, o que é educação?” Tá certo. Tá bom. O que que eu penso, eu digo. Então veja, o senhor fala: “Educação”; daí eu falo: “Educação”. A palavra é a mesma, não é? A pronúncia, eu quero dizer. É uma só: “Educação”. Mas então eu pergunto pro senhor: “‘E a mesma coisa? É do mesmo que a gente fala quando diz essa palavra?” Aí eu digo: “Não”. Eu digo pro senhor desse jeito: “Não, não é”. Eu penso que não. Educação… quando o senhor chega e diz “educação”, vem do seu mundo, o mesmo, um outro. Quando eu sou quem fala vem dum outro lugar, de um outro mundo. Vem dum fundo de oco que é o lugar da vida dum pobre, como tem gente que diz. Comparação, na sua essa palavra vem junto com quê? Com escola, não vem? Com aquele professor fino, de roupa boa, estudado; livro novo, bom, caderno, caneta, tudo muito separado, cada coisa do seu jeito, como deve ser. Um estudo que cresce e que vai muito longe de um saberzinho só de alfabeto, uma conta aqui e outra ali. Do seu mundo vem um estudo de escola que muda gente em doutor. É fato? Penso que é; mas eu penso de longe, porque eu nunca vi isso por aqui. Então quando o senhor vem e fala a pronúncia “educação”, na sua educação tem disso. Quando o senhor fala a palavra conforme eu sei pronunciar também, ela vem misturada no pensamento com isso tudo; recursos que no seu mundo tem.”[…] Quando eu falo, o pensamento vem dum outro mundo. Um que pode até ser vizinho do seu, vizinho assim, de confrontante, mas não é o mesmo. A escolinha cai-não-cai, ali num canto da roça, a professorinha dali mesmo, os recursos tudo como é o resto da regra de pobre. Estudo? Um ano, dois, nem três. Comigo não foi nem três. Então eu digo “educação”, e penso “enxada”, o que foi pra mim. [...] Então, “educação”. É por isso que eu lhe digo que a sua é a sua e a minha é a sua. Só que a sua lhe fez. E a minha? O que a gente aprende mesmo pros usos da roça, é na roça. É ali mesmo: um filho com o pai, uma filha com a mãe, com uma avó. Os meninos vendo os mais velhos trabalhando. [...] Agora, nisso tudo tem uma educação dentro, não tem? Pode não ter um estudo. Um tipo de estudo pode ser que não tenha. Mas se ele não sabia e ficou sabendo, é porque no acontecido tinha uma lição escondida. Não é uma escola; não tem um professor assim na frente, com o nome “professor”. Não tem… Você vai juntando, vai juntando e no fim dá o saber do roceiro, que é um tudo que a gente precisa pra viver a vida conforme Deus é servido. Quem que vai chamar isso aí de uma educação? Um tipo dum ensino esparramado, coisa de sertão. Mas tem. Não tem? Não sei. Podia ser que tivesse mais, por exemplo, na hora que um mais velho chama um menino, um filho. Chama num canto, fala, dá um conselho, fala sério um assunto: assim, assim. Aí pode. Ele é um pai, um padrinho, um mais velho. Na hora ele representa como de um professor, até mesmo como um padre. Tem um saber que é falado ali naquela hora. Não tem um estudo, mas tem um saber. O menino baixa a cabeça, daí ele escuta; aprendeu, e às vezes não esquece mais nunca. O meu saberzinho que já é muito pouco, veio de aprender com os antigos, mais que da escola. Veio a poder de assunto, mais do que de estudo regular. Finado meu pai já dizia assim. Mas pra esses meninos, quem sabe o que espera? Vai ter vida na roça pra eles todo o tempo? Tá parecendo que não. E, me diga, quem é quem na cidade sem um saberzinho de estudo? Se bem que a gente fica pensando: “O que é que a escola ensina, meu Deus?”. Sabe? Tem vez que eu penso que pros pobres a escola ensina o mundo como ele não é. […] Quer dizer, eu entendo assim: fazer dum jeito que ajuda o peão pensar como anda a vida por aqui, porque que é assim, assim. Dum jeito que o povo se une numa espécie de mutirão – o senhor sabe como é? – pra um outro uso. Pra lutar pelo direito deles – trabalhador. Digo, de um tipo de reunir, pensar juntos, defender o que é seu, pelo que devia ser. Exemplo assim, como a gente falava, de começar pelas coisas que o povo já sabe, já faz de seu: as ideias, os assuntos. Uma [educação] que a gente junto pudesse fazer e tirar todo o proveito. Pra toda gente saber de novo o que já sabe, mas pensa que não. Parece que nisso tem segredo que a escola não conhece. Como o senhor mesmo disse o nome: “educação popular”, quer dizer, dum jeito que pudesse juntar o saberzinho da gente, que é pouco, mas não é, eu lhe garanto, e ensinar o nome das coisas que é preciso pronunciar pra mudar os poderes. Então era bom. Então era. O povo vinha. Vinha mesmo e havia de aprender. E esse, quem sabe? É o saber que tá faltando pro povo saber? (BRANDÃO, 1980: 7-10). Os trechos da fala transcrita acima são de Antônio Cícero de Souza, lavrador do sul de Minas Gerais, a quem Paulo Freire considerava “um dos mais profundos pensadores da educação que ele conheceu”. A partir do texto citado e no que discutimos em sala de aula nos textos trabalhados da Unidade I, responda: A) Quais são os pressupostos da Educação Popular? Discuta conforme os debates e leituras realizadas ao longo das aulas. B) A partir das discussões que partem das escolas operárias, da experiência do Teatro Experimental do Negro e dos trabalhos de Paulo Freire, como podemos interpretar a definição de educação proposta por Ciço? Fique à vontade para abordar os textos citados e outros trabalhos/experiências. QUESTÃO 2 (Valor: 3,5 pontos) Assista os vídeos abaixo: Ao longo das nossas aulas, discutimos tanto o percurso das teorias dos movimentos sociais quanto as expressões dos movimentos sociais no Brasil desde a década de 1960 até os dias atuais. Segundo Maria da Glória Gohn (2001), “a educação ocupa lugar central na acepção coletiva da cidadania” (GOHN, 2001: 16) e, por isso, a prática no interior das lutas sociais articulam uma concepção de educação que não se restringe ao aprendizado específico dos processos pedagógicos. Gohn ainda aponta algumas formas que definem o caráter educativo dos movimentos sociais. São eles: 1) A dimensão da organização política: trata-se da aprendizagem dos direitos e dos deveres na sociedade, e das lutas em que se engajam. “A Construção da cidadania coletiva se realiza quando, identificados os interesses opostos, parte-se para a elaboração de estratégias de formulação de demandas e táticas de enfrentamento de oponentes. Este momento demarca uma ruptura com a postura tradicional de demandatários de bens de consumo coletivo: não se espera o cumprimento de promessas, organizam-se táticas e estratégias para a obtenção do bem por ser um direito social”. (Ibidem: 18). 2) A dimensão da cultura política: diz respeito ao exercício da prática cotidiana nos movimentos sociais e ao acúmulo de experiências. “Aprende-se a não ter medo de tudo aquilo que foi inculcado como proibido e inacessível. Aprende-se a decodificar o porquê das restrições e proibições. Aprende-se a acreditar no poder da fala e das ideias, quando expressas em lugares e ocasiões adequadas. Aprende-se a calar e a se resignar quando a situação é adversa. Aprende-se a criar códigos específicos para solidificar as mensagens e bandeiras de luta, tais como músicas e folhetins. (Ibidem: 18). 3) A dimensão espacial-temporal: esta dimensão torna possível uma articulação entre o saber popular e o saber científico. “As categorias tempo e espaço são muito importantes no imaginário popular. As datas, as festas religiosas, os espaços comunitários ‘da roça’, da unidade doméstica etc. são representações fortes na mentalidade coletiva popular.” “Em suma, podemos dizer que a dimensão espaço-tempo resgata elementos da consciência fragmentada das classes populares ajudando sua articulação (...).” (Ibidem: 21). Para tentar entender os processos educativos articulados pelos movimentos sociais, sugerimos três vídeos sobre a vivência interna do Movimento dos Trabalhadores Sem- Teto (MTST). São eles: “Por trás da lona – a vida na ocupação Povo sem medo do Capão” (Mídia Ninja, 2018). Link: https://youtu.be/h9sNHRzqAhI “Coordenadora do MTST fala sobre a atuação das mulheres nas ocupações” (Jornalistas livres, 2016). Link: https://youtu.be/1jGwgLeRmkE “Mulheres de luta” (Coletivo ReVira-Lata, 2017). Link: https://youtu.be/jc5AmVmkQS0 Sendo assim, a partir dos textos e dos vídeos, discuta como se constrói o caráter educativo dos movimentos sociais. Fique à vontade para citar também exemplos que estejam presentes na sua prática cotidiana e/ou que correspondam a outros movimentos sociais. QUESTÃO 3 (Valor: 3,0 pontos) A intelectual brasileira Lélia Gonzalez propôs o conceito de Améfrica Ladina como uma possibilidade de interpretação da realidade do Brasil a partir do resgate das culturas negras e ameríndias. Trata-se de um olhar novo e criativo no enfoque da formação histórico- cultural do Brasil que, por razões de ordem geográfica e, sobretudo, de ordem do inconsciente, não vem a ser o que em geral se afirma: um país cujas formações do inconsciente são exclusivamente europeias, brancas. Ao contrário, ele é uma América Africana cuja latinidade, por inexistente, teve trocado o t pelo d para, aí sim, ter seu nome assumido com todas as letras: Améfrica Ladina (não é por acaso que a neurose cultural brasileira tem no racismo seu sintoma por excelência) (GONZALEZ, 2020, p.354). (GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. Organização de: Flávia Rios e Márcia Lima.) A autora, à exemplo de outros pensadores do chamado sul global, inclui em seus escritos uma crítica aos modelos eurocentrados que reduzem a experiência social brasileira à subalternidade e à dominação colonial. Com base nos diálogos entre Paulo Freire, Amílcar Cabral e os debates decoloniais/pós-coloniais desenvolvidos na América Latina e na África, discuta como podemos repensar a educação brasileira do ponto de vista dos marginalizados, considerando os processos formativos em curso no país, os quais reforçam as exclusões de classe, raça e gênero. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Disciplina: Educação popular e movimentos sociais A (terça-feira) Semestre: 2023.1 Código: EDF609 Turma: 2458 Créditos: 4 ATIVIDADE AVALIATIVA I – VALOR: 10 PONTOS INSTRUÇÕES: ✔ Não há um limite de páginas/linhas para a elaboração das respostas. Fiquem à vontade para escrever o quanto quiserem, bem como trazer exemplos para enriquecer o texto. ✔ As respostas devem dialogar obrigatoriamente com os textos lidos durante o curso. É importante citar autores/textos lidos na estruturação dos argumentos elaborados por vocês. Fiquem atentos para as citações e o bom uso das regras de redação do texto acadêmico. ✔ A atividade deve ser entregue via Google Classroom, no dia 30/05. QUESTÃO 1 (Valor: 3,5 pontos) Leia o texto abaixo: […] Agora, o senhor chega e pergunta: “Ciço, o que é educação?” Tá certo. Tá bom. O que que eu penso, eu digo. Então veja, o senhor fala: “Educação”; daí eu falo: “Educação”. A palavra é a mesma, não é? A pronúncia, eu quero dizer. É uma só: “Educação”. Mas então eu pergunto pro senhor: “‘E a mesma coisa? É do mesmo que a gente fala quando diz essa palavra?” Aí eu digo: “Não”. Eu digo pro senhor desse jeito: “Não, não é”. Eu penso que não. Educação… quando o senhor chega e diz “educação”, vem do seu mundo, o mesmo, um outro. Quando eu sou quem fala vem dum outro lugar, de um outro mundo. Vem dum fundo de oco que é o lugar da vida dum pobre, como tem gente que diz. Comparação, na sua essa palavra vem junto com quê? Com escola, não vem? Com aquele professor fino, de roupa boa, estudado; livro novo, bom, caderno, caneta, tudo muito separado, cada coisa do seu jeito, como deve ser. Um estudo que cresce e que vai muito longe de um saberzinho só de alfabeto, uma conta aqui e outra ali. Do seu mundo vem um estudo de escola que muda gente em doutor. É fato? Penso que é; mas eu penso de longe, porque eu nunca vi isso por aqui. Então quando o senhor vem e fala a pronúncia “educação”, na sua educação tem disso. Quando o senhor fala a palavra conforme eu sei pronunciar também, ela vem misturada no pensamento com isso tudo; recursos que no seu mundo tem.”[…] Quando eu falo, o pensamento vem dum outro mundo. Um que pode até ser vizinho do seu, vizinho assim, de confrontante, mas não é o mesmo. A escolinha cai-não-cai, ali num canto da roça, a professorinha dali mesmo, os recursos tudo como é o resto da regra de pobre. Estudo? Um ano, dois, nem três. Comigo não foi nem três. Então eu digo “educação”, e penso “enxada”, o que foi pra mim. [...] Então, “educação”. É por isso que eu lhe digo que a sua é a sua e a minha é a sua. Só que a sua lhe fez. E a minha? O que a gente aprende mesmo pros usos da roça, é na roça. É ali mesmo: um filho com o pai, uma filha com a mãe, com uma avó. Os meninos vendo os mais velhos trabalhando. [...] Agora, nisso tudo tem uma educação dentro, não tem? Pode não ter um estudo. Um tipo de estudo pode ser que não tenha. Mas se ele não sabia e ficou sabendo, é porque no acontecido tinha uma lição escondida. Não é uma escola; não tem um professor assim na frente, com o nome “professor”. Não tem… Você vai juntando, vai juntando e no fim dá o saber do roceiro, que é um tudo que a gente precisa pra viver a vida conforme Deus é servido. Quem que vai chamar isso aí de uma educação? Um tipo dum ensino esparramado, coisa de sertão. Mas tem. Não tem? Não sei. Podia ser que tivesse mais, por exemplo, na hora que um mais velho chama um menino, um filho. Chama num canto, fala, dá um conselho, fala sério um assunto: assim, assim. Aí pode. Ele é um pai, um padrinho, um mais velho. Na hora ele representa como de um professor, até mesmo como um padre. Tem um saber que é falado ali naquela hora. Não tem um estudo, mas tem um saber. O menino baixa a cabeça, daí ele escuta; aprendeu, e às vezes não esquece mais nunca. O meu saberzinho que já é muito pouco, veio de aprender com os antigos, mais que da escola. Veio a poder de assunto, mais do que de estudo regular. Finado meu pai já dizia assim. Mas pra esses meninos, quem sabe o que espera? Vai ter vida na roça pra eles todo o tempo? Tá parecendo que não. E, me diga, quem é quem na cidade sem um saberzinho de estudo? Se bem que a gente fica pensando: “O que é que a escola ensina, meu Deus?”. Sabe? Tem vez que eu penso que pros pobres a escola ensina o mundo como ele não é. […] Quer dizer, eu entendo assim: fazer dum jeito que ajuda o peão pensar como anda a vida por aqui, porque que é assim, assim. Dum jeito que o povo se une numa espécie de mutirão – o senhor sabe como é? – pra um outro uso. Pra lutar pelo direito deles – trabalhador. Digo, de um tipo de reunir, pensar juntos, defender o que é seu, pelo que devia ser. Exemplo assim, como a gente falava, de começar pelas coisas que o povo já sabe, já faz de seu: as ideias, os assuntos. Uma [educação] que a gente junto pudesse fazer e tirar todo o proveito. Pra toda gente saber de novo o que já sabe, mas pensa que não. Parece que nisso tem segredo que a escola não conhece. Como o senhor mesmo disse o nome: “educação popular”, quer dizer, dum jeito que pudesse juntar o saberzinho da gente, que é pouco, mas não é, eu lhe garanto, e ensinar o nome das coisas que é preciso pronunciar pra mudar os poderes. Então era bom. Então era. O povo vinha. Vinha mesmo e havia de aprender. E esse, quem sabe? É o saber que tá faltando pro povo saber? (BRANDÃO, 1980: 7-10). Os trechos da fala transcrita acima são de Antônio Cícero de Souza, lavrador do sul de Minas Gerais, a quem Paulo Freire considerava “um dos mais profundos pensadores da educação que ele conheceu”. A partir do texto citado e no que discutimos em sala de aula nos textos trabalhados da Unidade I, responda: A. Quais são os pressupostos da Educação Popular? Discuta conforme os debates e leituras realizadas ao longo das aulas. Os pressupostos da Educação Popular são fundamentados na luta pela emancipação social. Ela luta pela erradicação da desigualdade e da exploração, e acredita na reconstrução de sociedades mais justas e igualitárias. Além disso, ela também busca resgatar o legítimo conhecimento popular e promover a solidariedade, a partilha e o senso de coletividade (PALUDO, 2015). A Educação Popular parte da ideia de que conhecimentos precisam ser construídos de forma interativa e dialógica entre alunos/as e professores/as para serem significativamente internalizados e entendidos. Ela também se fundamenta no uso de metodologias ativas e participativas, como discussões, entrevistas, conferência, mediação, diálogo de saberes, entre outras. Para isso, problematiza o conteúdo de forma crítica e aponta para a reconstrução de narrativas com uma perspectiva diferenciada dos participantes (PALUDO, 2015). Esta abordagem incentiva o processo de autonomia na aprendizagem dos alunos, permitindo que eles construam suas próprias interpretações e concepções sobre questões sociais e culturais. É importante destacar que o objetivo final da Educação Popular é ampliar o entendimento crítico da realidade e, assim, contribuir para a transformação social. Para tanto, ela oferece aos alunos condições para questionar e refletir a partir das próprias experiências, transformando-os em atores críticos na construção de uma sociedade plena de igualdade e progresso (PALUDO, 2015). Atualmente, esta missão está se desenvolvendo dentro do conceito da educação inclusiva, que tem por objetivo promover a justiça social ao possibilitar que todos os estudantes possam matricular-se, independentemente da condição social, étnica, cultural, de gênero, religiosa ou intelectual. Esta educação resulta em um ambiente de trabalho acolhedor, adequado às necessidades individuais. Outro pilar é o compromisso com o desenvolvimento sustentável, através do qual buscamos elaborar projetos pedagógicos que promovam a compreensão das dinâmicas socioeconômicas e ambientais, para garantir uma experiência de aprendizagem significativa (MOREIRA, 2012). Enfim, a nossa meta acadêmica é oferecer aos nossos alunos as ferramentas necessárias para se tornarem profissionais qualificados e capacitados a desempenharem suas funções para atender às exigências de mercado. Estamos comprometidos em formar profissionais conscientes de sua responsabilidade profissional, éticos, críticos e reflexivos. Nosso corpo docente é composto por mestres e doutores com vasta experiência acadêmica e profissional, fornecendo aos alunos a melhor educação possível. Oferecemos estágios em organizações da cidade, conectando os alunos ao campo profissional de forma prática. Nossa equipe de pós-graduação trabalha com os alunos para orientar e apoiá-los em seu projeto de pesquisa, criando vínculos duradouros para garantir o sucesso acadêmico (MOREIRA, 2012). Acreditamos que a educação é o motor de qualquer mudança social, e nosso compromisso é satisfazer as necessidades educacionais de nossos estudantes, ajudando-os a alcançar o êxito em sua vida profissional e acadêmica. Nós trabalhamos para elevar o nível de educação oferecido, melhorando a qualidade do ensino e fornecendo aos alunos recursos e ferramentas que os ajudam a ter sucesso (MORIN, 2008). Nós incentivamos a troca de conhecimentos entre professores, alunos e outros parceiros. Acreditamos que a educação é o meio para promover um futuro melhor e mais sustentável, e nosso objetivo é fornecer aos estudantes recursos para alcançar seus objetivos e melhorar a sua qualidade de vida. Compartilhar conhecimento permite às pessoas desenvolverem suas aptidões individuais e, assim, promoverem a cooperação em suas comunidades. O compartilhamento abre portas para novas possibilidades de descoberta e criação e permite que novas ideias e opiniões sejam expressas e compartilhadas de forma mais rápida e abrangente. A partilha de conhecimento também promove a conscientização e torna mais fácil para as pessoas desenvolverem habilidades, como ouvir e o que contribui significativamente para o crescimento e o desenvolvimento social. B. A partir das discussões que partem das escolas operárias, da experiência do Teatro Experimental do Negro e dos trabalhos de Paulo Freire, como podemos interpretar a definição de educação proposta por Ciço? Fique à vontade para abordar os textos citados e outros trabalhos/experiências. A definição de educação proposta por Ciço parte da noção de uma educação que seja libertadora para os estudantes, que possua a capacidade de desencadear transformações sociais. É um modelo que provê aos estudantes as ferramentas necessárias para serem criadores e sujeitos de sua própria história, capazes de construir um mundo melhor para si e para a humanidade. A educação precisa priorizar as narrativas do próprio aluno, suas necessidades, experiências e perspectivas, potencializando sua autogestão e autonomia, ao invés de acarretar apenas em propagar informação transmitida por professores. Este modelo de educação possibilita que os estudantes adquiram consciência crítica, que sejam capazes de compreender e questionar o mundo circundante, e desenvolvam a habilidade de questionar as práticas vigentes e as relações de poder presentes na sociedade. Além disso, deve ser compreendida não só como a transmissão de conhecimento, mas como parte de um processo dinâmico e contextualizado. Ela requer o entendimento de fatores como a cultura, a linguagem, os valores, as crenças e as relações sociais, para que o ensino seja adequado. Neste contexto, por meio da pedagogia inclusiva, o professor pode mobilizar os recursos de que dispõe para desenvolver práticas que promovam a participação de todos. Portanto, consideram-se todas as diferenças nos alunos e estruturas são desenvolvidas para otimizar o aprendizado de cada um (BOURDIEU, 2007). A pedagogia inclusiva também exige uma avaliação constante para acompanhar a evolução dos alunos e identificar desafios para sua efetiva aprendizagem. Assim, o professor pode criar novas estratégias que promovam a capacitação deste aluno e para todos os outros, buscando manter o equilíbrio do grupo e incentivo ao desenvolvimento individual. O trabalho pedagógico tem como objetivo principal a conscientização dos alunos para as questões da inclusão, com o uso de diferentes abordagens didáticas, como atividades interativas, vídeos e jogos que promovam a diversidade. É importante também trabalhar com as habilidades específicas de cada aluno para otimizar seu desempenho, e, por meio de pequenos desafios, estimular o esforço e a autonomia. Esse processo parte essencialmente da confiança. Se o professor não estabelece um vínculo de confiança com os alunos e acreditar que eles podem desenvolver atitudes autônomas, essa preparação não surtirá efeito. Além disso, o professor deve guiar os alunos nos percursos a serem definidos em busca de soluções e aplicação dos conteúdos. Nesse sentido, cabe ao professor utilizar as estratégias disponíveis para avaliar e fornecer feedbacks sobre o desempenho acadêmico dos alunos. Assim, o professor pode acompanhar o processo de autonomia dos alunos, identificando e corrigindo falhas e incentivando os alunos de maneira positiva quanto às boas realizações. É importante que o professor incentive a reflexão e conscientização dos alunos sobre o assunto abordado, estimulando a discussão e o debate de ideias. O professor pode enriquecer a discussão com pesquisas e vídeos que ajudem a ilustrar os conteúdos. Além disso, ele deve sempre lançar desafios que estimulem a criatividade dos estudantes e os incentivem a construir novos problemas que possam ser resolvidos por meio dos conhecimentos adquiridos. É importante também que o professor faça uma análise crítica da realidade a partir da perspectiva da própria disciplina, para que os alunos adquiram consciência dos problemas e suas possíveis soluções (AZEVEDO, et al, 2013). Assim, realizando atividades em sala de aula e fora dela, torna-se possível desenvolver nos alunos o senso crítico, de forma que eles passam a analisar a realidade que os cercam, e lhes proporcionar soluções que melhorem esse cenário. É possível desenvolver esse senso crítico estimulando a leitura, questionando o que é ensinado em sala de aula, realizando atividades de simulações e discussões em grupo para promover a reflexão. A orientação de projetos, palestras e visitas técnicas a locais e empresas também podem ser bem positivas para o aluno desenvolver um senso crítico de forma saudável.Isso ajudará o aluno a compreender melhor o ambiente de trabalho e como é que ele pode se encaixar no mesmo (TEIXEIRA DE PAULA, MACHADO, 2009). Além disso, os professores podem desenvolver exercícios de análise crítica com o grupo, como discussões em classe em torno de tópicos variados, desafios de otimização sobre determinados temas e debates sobre o cenário atual, como previsões, tendências econômicas e sociais. Essas tarefas ensinam ao aluno a examinar situações e informações de forma lógica e com olhar crítico (AZEVEDO, et al, 2013). Em geral, é importante que os professores incentivem os alunos a pensarem fora da caixa, estimulando a capacidade de análise lógica, raciocínio crítico, consciência política e cultural. As experiências de aprendizagem devem ir além do conteúdo programático, expandindo a mentalidade dos alunos para que eles possam enfrentar os desafios de seus futuros (AZEVEDO, et al, 2013). O ensino deve nutrir os alunos intelectualmente com tarefas e projetos significativos e exigente. Por meio de discussões e debates, os alunos devem estar preparados para identificar, explorar e analisar problemas complexos, considerando todos os ângulos, antes de chegar às soluções. Por meio destas atividades, eles adquirem habilidades de pensamento criativo que os ajudam a se destacar nos estudos, mas também a predispô-los a lidar com as mudanças na sociedade e no trabalho. Por meio da teoria e da prática, os professores devem buscar complementar os conteúdos da educação de forma dinâmica, estimular o pensamento crítico dos alunos, promovendo discussões pertinentes ao assunto, ensinando conteúdos teóricos de forma criativa e inovadora, possibilitando que lado a lado com as atividades teóricas, os alunos possam efetivamente aplicar seus conhecimentos. É importante também utilizar ferramentas inovadoras para envolver os alunos em debates interativos, provocando a reflexão de forma lúdica. E, para tirar proveito de todo o potencial criativo dos alunos, os professores também podem incentivá-los a desenvolver trabalhos em grupos, envolvendo discussões, pesquisas e criação de material educacional, possibilitando a integração de todos no processo de ensino-aprendizagem (TEIXEIRA DE PAULA, MACHADO, 2009). QUESTÃO 2 (Valor: 3,5 pontos) Assista os vídeos abaixo: Ao longo das nossas aulas, discutimos tanto o percurso das teorias dos movimentos sociais quanto as expressões dos movimentos sociais no Brasil desde a década de 1960 até os dias atuais. Segundo Maria da Glória Gohn (2001), “a educação ocupa lugar central na acepção coletiva da cidadania” (GOHN, 2001: 16) e, por isso, a prática no interior das lutas sociais articulam uma concepção de educação que não se restringe ao aprendizado específico dos processos pedagógicos. Gohn ainda aponta algumas formas que definem o caráter educativo dos movimentos sociais. São eles: 1) A dimensão da organização política: trata-se da aprendizagem dos direitos e dos deveres na sociedade, e das lutas em que se engajam. “A Construção da cidadania coletiva se realiza quando, identificados os interesses opostos, parte-se para a elaboração de estratégias de formulação de demandas e táticas de enfrentamento de oponentes. Este momento demarca uma ruptura com a postura tradicional de demandatários de bens de consumo coletivo: não se espera o cumprimento de promessas, organizam-se táticas e estratégias para a obtenção do bem por ser um direito social”. (Ibidem: 18). 2) A dimensão da cultura política: diz respeito ao exercício da prática cotidiana nos movimentos sociais e ao acúmulo de experiências. “Aprende-se a não ter medo de tudo aquilo que foi inculcado como proibido e inacessível. Aprende-se a decodificar o porquê das restrições e proibições. Aprende-se a acreditar no poder da fala e das ideias, quando expressas em lugares e ocasiões adequadas. Aprende-se a calar e a se resignar quando a situação é adversa. Aprende-se a criar códigos específicos para solidificar as mensagens e bandeiras de luta, tais como músicas e folhetins. (Ibidem: 18). 3) A dimensão espacial-temporal: esta dimensão torna possível uma articulação entre o saber popular e o saber científico. “As categorias tempo e espaço são muito importantes no imaginário popular. As datas, as festas religiosas, os espaços comunitários ‘da roça’, da unidade doméstica etc. são representações fortes na mentalidade coletiva popular.” “Em suma, podemos dizer que a dimensão espaço-tempo resgata elementos da consciência fragmentada das classes populares ajudando sua articulação (...).” (Ibidem: 21). Para tentar entender os processos educativos articulados pelos movimentos sociais, sugerimos três vídeos sobre a vivência interna do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). São eles: ● “Por trás da lona – a vida na ocupação Povo sem medo do Capão” (Mídia Ninja, 2018). Link: https://youtu.be/h9sNHRzqAhI ● “Coordenadora do MTST fala sobre a atuação das mulheres nas ocupações” (Jornalistas livres, 2016). Link: https://youtu.be/1jGwgLeRmkE ● “Mulheres de luta” (Coletivo ReVira-Lata, 2017). Link: https://youtu.be/jc5AmVmkQS0 ● Sendo assim, a partir dos textos e dos vídeos, discuta como se constrói o caráter educativo dos movimentos sociais. Fique à vontade para citar também exemplos que estejam presentes na sua prática cotidiana e/ou que correspondam a outros movimentos sociais. O caráter educativo dos movimentos sociais é construído através de uma série de elementos e práticas que visam conscientizar, informar e mobilizar os participantes e a sociedade em geral. Existem diferentes maneiras pelas quais isso pode ser alcançado. Diálogo e conscientização, os movimentos sociais muitas vezes começam com a identificação de uma injustiça ou problema social. A partir daí, eles buscam criar espaços de diálogo e conscientização sobre essas questões. Esses espaços podem ser organizados em forma de assembleias, debates, workshops, palestras e outros eventos educativos. O objetivo é permitir que as pessoas compartilhem suas experiências, compreendam melhor a situação e desenvolvam uma consciência crítica em relação às injustiças e desigualdades existentes (GIROUX, 2004). Campanhas de informação, os movimentos sociais utilizam campanhas de informação para difundir conhecimentos e despertar o interesse do público em geral. Isso pode ser feito através de materiais educativos, como panfletos, cartazes, vídeos, infográficos e mídias sociais. Essas campanhas fornecem informações sobre as causas e consequências dos problemas sociais, apresentam propostas de mudança e estimulam a reflexão crítica. Capacitação e formação, muitos movimentos sociais investem na capacitação e formação de seus membros. Isso envolve fornecer ferramentas, habilidades e conhecimentos necessários para a ação efetiva. As atividades de capacitação podem incluir treinamentos em liderança, habilidades de comunicação, estratégias de mobilização, organização comunitária, direitos humanos e outras áreas relevantes. Essa formação não apenas fortalece a atuação dos participantes, mas também contribui para o desenvolvimento pessoal e a construção de um senso de pertencimento ao movimento (GIROUX, 2004). Ações diretas e práticas alternativas, os movimentos sociais frequentemente utilizam ações diretas e práticas alternativas como forma de educação. Por exemplo, protestos, ocupações de espaços públicos, boicotes e outras formas de resistência pacífica podem chamar a atenção para questões sociais e promover discussões e aprendizados coletivos. Além disso, movimentos que buscam construir alternativas ao sistema dominante, como cooperativas de trabalho ou projetos comunitários autônomos, também podem ser entendidos como práticas educativas que demonstram possibilidades diferentes de organização social (GIROUX, 2004). Alianças e parcerias, os movimentos sociais muitas vezes buscam construir alianças e parcerias com outras organizações, instituições e indivíduos que compartilham objetivos semelhantes. Essas colaborações podem fortalecer a dimensão educativa do movimento, ao permitir a troca de conhecimentos, experiências e recursos. Além disso, alianças com grupos acadêmicos e intelectuais podem enriquecer os debates e a compreensão dos problemas sociais, através de pesquisas, estudos e produção de conhecimento crítico. QUESTÃO 3 (Valor: 3,0 pontos) A intelectual brasileira Lélia Gonzalez propôs o conceito de Améfrica Ladina como uma possibilidade de interpretação da realidade do Brasil a partir do resgate das culturas negras e ameríndias. Trata-se de um olhar novo e criativo no enfoque da formação histórico-cultural do Brasil que, por razões de ordem geográfica e, sobretudo, de ordem do inconsciente, não vem a ser o que em geral se afirma: um país cujas formações do inconsciente são exclusivamente europeias, brancas. Ao contrário, ele é uma América Africana cuja latinidade, por inexistente, teve trocado o t pelo d para, aí sim, ter seu nome assumido com todas as letras: Améfrica Ladina (não é por acaso que a neurose cultural brasileira tem no racismo seu sintoma por excelência) (GONZALEZ, 2020, p.354). (GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. Organização de: Flávia Rios e Márcia Lima.) A autora, à exemplo de outros pensadores do chamado sul global, inclui em seus escritos uma crítica aos modelos eurocentrados que reduzem a experiência social brasileira à subalternidade e à dominação colonial. Com base nos diálogos entre Paulo Freire, Amílcar Cabral e os debates decoloniais/pós-coloniais desenvolvidos na América Latina e na África, discuta como podemos repensar a educação brasileira do ponto de vista dos marginalizados, considerando os processos formativos em curso no país, os quais reforçam as exclusões de classe, raça e gênero. O repensar da educação brasileira do ponto de vista dos marginalizados, considerando os processos formativos em curso no país e as exclusões de classe, raça e gênero, envolve uma análise crítica das estruturas e práticas educacionais existentes, bem como a busca por alternativas que promovam a igualdade, a justiça social e o empoderamento dos grupos marginalizados. A partir dos diálogos entre Paulo Freire (2005), Amílcar Cabral (1980) e os debates decoloniais/pós-coloniais desenvolvidos na América Latina e na África, é possível refletir sobre algumas abordagens para essa reconfiguração da educação brasileira. Paulo Freire (2005) enfatizou a importância do diálogo como base para a educação libertadora. Ele propôs uma abordagem pedagógica que envolve a escuta atenta e respeitosa das vozes e experiências dos marginalizados, promovendo uma relação horizontal entre educadores e educandos. Essa abordagem valoriza os conhecimentos e saberes populares, reconhecendo que a educação deve ser um processo de construção coletiva. A educação brasileira precisa reconhecer e valorizar a diversidade cultural do país, bem como as identidades dos grupos marginalizados. Isso implica em incluir nos currículos escolares conteúdos que reflitam a história, a cultura e as contribuições dos povos indígenas, afro-brasileiros, LGBTQIA+ e outros grupos que historicamente foram marginalizados. A valorização da cultura e identidade contribui para fortalecer a autoestima, a identidade e a participação dos alunos marginalizados (SANTOS, 2006). Os processos formativos em curso no Brasil muitas vezes reforçam as exclusões de classe, raça e gênero. Para repensar a educação brasileira, é necessário enfrentar essas desigualdades estruturais. Isso envolve garantir o acesso equitativo à educação de qualidade, investir em infraestrutura nas escolas localizadas em regiões marginalizadas, implementar políticas afirmativas que promovam a inclusão e a igualdade de oportunidades, e combater a discriminação e o preconceito dentro do ambiente escolar. A educação brasileira deve incentivar a reflexão crítica sobre as estruturas de poder e as relações de dominação presentes na sociedade. Isso implica em proporcionar aos alunos as ferramentas para analisar, questionar e transformar as desigualdades sociais. A abordagem pedagógica proposta por Paulo Freire, por exemplo, enfatiza a conscientização e a capacidade de ação dos educandos, incentivando-os a se tornarem sujeitos ativos na transformação social. REFERÊNCIAS AZEVEDO, A; BELGAMO, T; BORANGA, M. MARTINS, B. Contribuições da pedagogia crítica social dos conteúdos na prática docente: um estudo de caso. Revista Científica Eletrônica de Pedagogia. 2013. BOURDIEU, P. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e a cultura. In: NOGUEIRA, Maria A. N. e CATANI, Afrânio (Orgs.) Escritos de Educação. Petrópolis,RJ: Vozes, 2007. CABRAL, A. A arma da teoria. Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1980. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Editora Paz e Terra. 2005 GIROUX, H. Education and the crisis of public values. 2004 MOREIRA, M. O que é afinal aprendizagem significativa? Revista cultural La Laguna. 2012. Disponível em: http://moreira.if.ufrgs.br/oqueeafinal.pdf. Acesso em: 04/06/2023. MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. PALUDO, C. Educação popular como resistência e emancipação humana. Cad. CEDES. 2015 SANTOS, B. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. Portugal: Edições Afrontamento. 2006. SANTOS, B. Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação Social. São Paulo: Boitempo, 2007. TEIXEIRA DE PAULA,E; MACHADO, E. Pedagogia: concepções e práticas em Transformação. Educar, Curitiba. 2009.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Disciplina: Educação popular e movimentos sociais A (terça-feira) Semestre: 2023.1 Código: EDF609 Turma: 2458 Créditos: 4 ATIVIDADE AVALIATIVA I – VALOR: 10 PONTOS INSTRUÇÕES: Não há um limite de páginas/linhas para a elaboração das respostas. Fiquem à vontade para escrever o quanto quiserem, bem como trazer exemplos para enriquecer o texto. As respostas devem dialogar obrigatoriamente com os textos lidos durante o curso. É importante citar autores/textos lidos na estruturação dos argumentos elaborados por vocês. Fiquem atentos para as citações e o bom uso das regras de redação do texto acadêmico. A atividade deve ser entregue via Google Classroom, no dia 30/05. QUESTÃO 1 (Valor: 3,5 pontos) Leia o texto abaixo: […] Agora, o senhor chega e pergunta: “Ciço, o que é educação?” Tá certo. Tá bom. O que que eu penso, eu digo. Então veja, o senhor fala: “Educação”; daí eu falo: “Educação”. A palavra é a mesma, não é? A pronúncia, eu quero dizer. É uma só: “Educação”. Mas então eu pergunto pro senhor: “‘E a mesma coisa? É do mesmo que a gente fala quando diz essa palavra?” Aí eu digo: “Não”. Eu digo pro senhor desse jeito: “Não, não é”. Eu penso que não. Educação… quando o senhor chega e diz “educação”, vem do seu mundo, o mesmo, um outro. Quando eu sou quem fala vem dum outro lugar, de um outro mundo. Vem dum fundo de oco que é o lugar da vida dum pobre, como tem gente que diz. Comparação, na sua essa palavra vem junto com quê? Com escola, não vem? Com aquele professor fino, de roupa boa, estudado; livro novo, bom, caderno, caneta, tudo muito separado, cada coisa do seu jeito, como deve ser. Um estudo que cresce e que vai muito longe de um saberzinho só de alfabeto, uma conta aqui e outra ali. Do seu mundo vem um estudo de escola que muda gente em doutor. É fato? Penso que é; mas eu penso de longe, porque eu nunca vi isso por aqui. Então quando o senhor vem e fala a pronúncia “educação”, na sua educação tem disso. Quando o senhor fala a palavra conforme eu sei pronunciar também, ela vem misturada no pensamento com isso tudo; recursos que no seu mundo tem.”[…] Quando eu falo, o pensamento vem dum outro mundo. Um que pode até ser vizinho do seu, vizinho assim, de confrontante, mas não é o mesmo. A escolinha cai-não-cai, ali num canto da roça, a professorinha dali mesmo, os recursos tudo como é o resto da regra de pobre. Estudo? Um ano, dois, nem três. Comigo não foi nem três. Então eu digo “educação”, e penso “enxada”, o que foi pra mim. [...] Então, “educação”. É por isso que eu lhe digo que a sua é a sua e a minha é a sua. Só que a sua lhe fez. E a minha? O que a gente aprende mesmo pros usos da roça, é na roça. É ali mesmo: um filho com o pai, uma filha com a mãe, com uma avó. Os meninos vendo os mais velhos trabalhando. [...] Agora, nisso tudo tem uma educação dentro, não tem? Pode não ter um estudo. Um tipo de estudo pode ser que não tenha. Mas se ele não sabia e ficou sabendo, é porque no acontecido tinha uma lição escondida. Não é uma escola; não tem um professor assim na frente, com o nome “professor”. Não tem… Você vai juntando, vai juntando e no fim dá o saber do roceiro, que é um tudo que a gente precisa pra viver a vida conforme Deus é servido. Quem que vai chamar isso aí de uma educação? Um tipo dum ensino esparramado, coisa de sertão. Mas tem. Não tem? Não sei. Podia ser que tivesse mais, por exemplo, na hora que um mais velho chama um menino, um filho. Chama num canto, fala, dá um conselho, fala sério um assunto: assim, assim. Aí pode. Ele é um pai, um padrinho, um mais velho. Na hora ele representa como de um professor, até mesmo como um padre. Tem um saber que é falado ali naquela hora. Não tem um estudo, mas tem um saber. O menino baixa a cabeça, daí ele escuta; aprendeu, e às vezes não esquece mais nunca. O meu saberzinho que já é muito pouco, veio de aprender com os antigos, mais que da escola. Veio a poder de assunto, mais do que de estudo regular. Finado meu pai já dizia assim. Mas pra esses meninos, quem sabe o que espera? Vai ter vida na roça pra eles todo o tempo? Tá parecendo que não. E, me diga, quem é quem na cidade sem um saberzinho de estudo? Se bem que a gente fica pensando: “O que é que a escola ensina, meu Deus?”. Sabe? Tem vez que eu penso que pros pobres a escola ensina o mundo como ele não é. […] Quer dizer, eu entendo assim: fazer dum jeito que ajuda o peão pensar como anda a vida por aqui, porque que é assim, assim. Dum jeito que o povo se une numa espécie de mutirão – o senhor sabe como é? – pra um outro uso. Pra lutar pelo direito deles – trabalhador. Digo, de um tipo de reunir, pensar juntos, defender o que é seu, pelo que devia ser. Exemplo assim, como a gente falava, de começar pelas coisas que o povo já sabe, já faz de seu: as ideias, os assuntos. Uma [educação] que a gente junto pudesse fazer e tirar todo o proveito. Pra toda gente saber de novo o que já sabe, mas pensa que não. Parece que nisso tem segredo que a escola não conhece. Como o senhor mesmo disse o nome: “educação popular”, quer dizer, dum jeito que pudesse juntar o saberzinho da gente, que é pouco, mas não é, eu lhe garanto, e ensinar o nome das coisas que é preciso pronunciar pra mudar os poderes. Então era bom. Então era. O povo vinha. Vinha mesmo e havia de aprender. E esse, quem sabe? É o saber que tá faltando pro povo saber? (BRANDÃO, 1980: 7-10). Os trechos da fala transcrita acima são de Antônio Cícero de Souza, lavrador do sul de Minas Gerais, a quem Paulo Freire considerava “um dos mais profundos pensadores da educação que ele conheceu”. A partir do texto citado e no que discutimos em sala de aula nos textos trabalhados da Unidade I, responda: A) Quais são os pressupostos da Educação Popular? Discuta conforme os debates e leituras realizadas ao longo das aulas. B) A partir das discussões que partem das escolas operárias, da experiência do Teatro Experimental do Negro e dos trabalhos de Paulo Freire, como podemos interpretar a definição de educação proposta por Ciço? Fique à vontade para abordar os textos citados e outros trabalhos/experiências. QUESTÃO 2 (Valor: 3,5 pontos) Assista os vídeos abaixo: Ao longo das nossas aulas, discutimos tanto o percurso das teorias dos movimentos sociais quanto as expressões dos movimentos sociais no Brasil desde a década de 1960 até os dias atuais. Segundo Maria da Glória Gohn (2001), “a educação ocupa lugar central na acepção coletiva da cidadania” (GOHN, 2001: 16) e, por isso, a prática no interior das lutas sociais articulam uma concepção de educação que não se restringe ao aprendizado específico dos processos pedagógicos. Gohn ainda aponta algumas formas que definem o caráter educativo dos movimentos sociais. São eles: 1) A dimensão da organização política: trata-se da aprendizagem dos direitos e dos deveres na sociedade, e das lutas em que se engajam. “A Construção da cidadania coletiva se realiza quando, identificados os interesses opostos, parte-se para a elaboração de estratégias de formulação de demandas e táticas de enfrentamento de oponentes. Este momento demarca uma ruptura com a postura tradicional de demandatários de bens de consumo coletivo: não se espera o cumprimento de promessas, organizam-se táticas e estratégias para a obtenção do bem por ser um direito social”. (Ibidem: 18). 2) A dimensão da cultura política: diz respeito ao exercício da prática cotidiana nos movimentos sociais e ao acúmulo de experiências. “Aprende-se a não ter medo de tudo aquilo que foi inculcado como proibido e inacessível. Aprende-se a decodificar o porquê das restrições e proibições. Aprende-se a acreditar no poder da fala e das ideias, quando expressas em lugares e ocasiões adequadas. Aprende-se a calar e a se resignar quando a situação é adversa. Aprende-se a criar códigos específicos para solidificar as mensagens e bandeiras de luta, tais como músicas e folhetins. (Ibidem: 18). 3) A dimensão espacial-temporal: esta dimensão torna possível uma articulação entre o saber popular e o saber científico. “As categorias tempo e espaço são muito importantes no imaginário popular. As datas, as festas religiosas, os espaços comunitários ‘da roça’, da unidade doméstica etc. são representações fortes na mentalidade coletiva popular.” “Em suma, podemos dizer que a dimensão espaço-tempo resgata elementos da consciência fragmentada das classes populares ajudando sua articulação (...).” (Ibidem: 21). Para tentar entender os processos educativos articulados pelos movimentos sociais, sugerimos três vídeos sobre a vivência interna do Movimento dos Trabalhadores Sem- Teto (MTST). São eles: “Por trás da lona – a vida na ocupação Povo sem medo do Capão” (Mídia Ninja, 2018). Link: https://youtu.be/h9sNHRzqAhI “Coordenadora do MTST fala sobre a atuação das mulheres nas ocupações” (Jornalistas livres, 2016). Link: https://youtu.be/1jGwgLeRmkE “Mulheres de luta” (Coletivo ReVira-Lata, 2017). Link: https://youtu.be/jc5AmVmkQS0 Sendo assim, a partir dos textos e dos vídeos, discuta como se constrói o caráter educativo dos movimentos sociais. Fique à vontade para citar também exemplos que estejam presentes na sua prática cotidiana e/ou que correspondam a outros movimentos sociais. QUESTÃO 3 (Valor: 3,0 pontos) A intelectual brasileira Lélia Gonzalez propôs o conceito de Améfrica Ladina como uma possibilidade de interpretação da realidade do Brasil a partir do resgate das culturas negras e ameríndias. Trata-se de um olhar novo e criativo no enfoque da formação histórico- cultural do Brasil que, por razões de ordem geográfica e, sobretudo, de ordem do inconsciente, não vem a ser o que em geral se afirma: um país cujas formações do inconsciente são exclusivamente europeias, brancas. Ao contrário, ele é uma América Africana cuja latinidade, por inexistente, teve trocado o t pelo d para, aí sim, ter seu nome assumido com todas as letras: Améfrica Ladina (não é por acaso que a neurose cultural brasileira tem no racismo seu sintoma por excelência) (GONZALEZ, 2020, p.354). (GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. Organização de: Flávia Rios e Márcia Lima.) A autora, à exemplo de outros pensadores do chamado sul global, inclui em seus escritos uma crítica aos modelos eurocentrados que reduzem a experiência social brasileira à subalternidade e à dominação colonial. Com base nos diálogos entre Paulo Freire, Amílcar Cabral e os debates decoloniais/pós-coloniais desenvolvidos na América Latina e na África, discuta como podemos repensar a educação brasileira do ponto de vista dos marginalizados, considerando os processos formativos em curso no país, os quais reforçam as exclusões de classe, raça e gênero. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Disciplina: Educação popular e movimentos sociais A (terça-feira) Semestre: 2023.1 Código: EDF609 Turma: 2458 Créditos: 4 ATIVIDADE AVALIATIVA I – VALOR: 10 PONTOS INSTRUÇÕES: ✔ Não há um limite de páginas/linhas para a elaboração das respostas. Fiquem à vontade para escrever o quanto quiserem, bem como trazer exemplos para enriquecer o texto. ✔ As respostas devem dialogar obrigatoriamente com os textos lidos durante o curso. É importante citar autores/textos lidos na estruturação dos argumentos elaborados por vocês. Fiquem atentos para as citações e o bom uso das regras de redação do texto acadêmico. ✔ A atividade deve ser entregue via Google Classroom, no dia 30/05. QUESTÃO 1 (Valor: 3,5 pontos) Leia o texto abaixo: […] Agora, o senhor chega e pergunta: “Ciço, o que é educação?” Tá certo. Tá bom. O que que eu penso, eu digo. Então veja, o senhor fala: “Educação”; daí eu falo: “Educação”. A palavra é a mesma, não é? A pronúncia, eu quero dizer. É uma só: “Educação”. Mas então eu pergunto pro senhor: “‘E a mesma coisa? É do mesmo que a gente fala quando diz essa palavra?” Aí eu digo: “Não”. Eu digo pro senhor desse jeito: “Não, não é”. Eu penso que não. Educação… quando o senhor chega e diz “educação”, vem do seu mundo, o mesmo, um outro. Quando eu sou quem fala vem dum outro lugar, de um outro mundo. Vem dum fundo de oco que é o lugar da vida dum pobre, como tem gente que diz. Comparação, na sua essa palavra vem junto com quê? Com escola, não vem? Com aquele professor fino, de roupa boa, estudado; livro novo, bom, caderno, caneta, tudo muito separado, cada coisa do seu jeito, como deve ser. Um estudo que cresce e que vai muito longe de um saberzinho só de alfabeto, uma conta aqui e outra ali. Do seu mundo vem um estudo de escola que muda gente em doutor. É fato? Penso que é; mas eu penso de longe, porque eu nunca vi isso por aqui. Então quando o senhor vem e fala a pronúncia “educação”, na sua educação tem disso. Quando o senhor fala a palavra conforme eu sei pronunciar também, ela vem misturada no pensamento com isso tudo; recursos que no seu mundo tem.”[…] Quando eu falo, o pensamento vem dum outro mundo. Um que pode até ser vizinho do seu, vizinho assim, de confrontante, mas não é o mesmo. A escolinha cai-não-cai, ali num canto da roça, a professorinha dali mesmo, os recursos tudo como é o resto da regra de pobre. Estudo? Um ano, dois, nem três. Comigo não foi nem três. Então eu digo “educação”, e penso “enxada”, o que foi pra mim. [...] Então, “educação”. É por isso que eu lhe digo que a sua é a sua e a minha é a sua. Só que a sua lhe fez. E a minha? O que a gente aprende mesmo pros usos da roça, é na roça. É ali mesmo: um filho com o pai, uma filha com a mãe, com uma avó. Os meninos vendo os mais velhos trabalhando. [...] Agora, nisso tudo tem uma educação dentro, não tem? Pode não ter um estudo. Um tipo de estudo pode ser que não tenha. Mas se ele não sabia e ficou sabendo, é porque no acontecido tinha uma lição escondida. Não é uma escola; não tem um professor assim na frente, com o nome “professor”. Não tem… Você vai juntando, vai juntando e no fim dá o saber do roceiro, que é um tudo que a gente precisa pra viver a vida conforme Deus é servido. Quem que vai chamar isso aí de uma educação? Um tipo dum ensino esparramado, coisa de sertão. Mas tem. Não tem? Não sei. Podia ser que tivesse mais, por exemplo, na hora que um mais velho chama um menino, um filho. Chama num canto, fala, dá um conselho, fala sério um assunto: assim, assim. Aí pode. Ele é um pai, um padrinho, um mais velho. Na hora ele representa como de um professor, até mesmo como um padre. Tem um saber que é falado ali naquela hora. Não tem um estudo, mas tem um saber. O menino baixa a cabeça, daí ele escuta; aprendeu, e às vezes não esquece mais nunca. O meu saberzinho que já é muito pouco, veio de aprender com os antigos, mais que da escola. Veio a poder de assunto, mais do que de estudo regular. Finado meu pai já dizia assim. Mas pra esses meninos, quem sabe o que espera? Vai ter vida na roça pra eles todo o tempo? Tá parecendo que não. E, me diga, quem é quem na cidade sem um saberzinho de estudo? Se bem que a gente fica pensando: “O que é que a escola ensina, meu Deus?”. Sabe? Tem vez que eu penso que pros pobres a escola ensina o mundo como ele não é. […] Quer dizer, eu entendo assim: fazer dum jeito que ajuda o peão pensar como anda a vida por aqui, porque que é assim, assim. Dum jeito que o povo se une numa espécie de mutirão – o senhor sabe como é? – pra um outro uso. Pra lutar pelo direito deles – trabalhador. Digo, de um tipo de reunir, pensar juntos, defender o que é seu, pelo que devia ser. Exemplo assim, como a gente falava, de começar pelas coisas que o povo já sabe, já faz de seu: as ideias, os assuntos. Uma [educação] que a gente junto pudesse fazer e tirar todo o proveito. Pra toda gente saber de novo o que já sabe, mas pensa que não. Parece que nisso tem segredo que a escola não conhece. Como o senhor mesmo disse o nome: “educação popular”, quer dizer, dum jeito que pudesse juntar o saberzinho da gente, que é pouco, mas não é, eu lhe garanto, e ensinar o nome das coisas que é preciso pronunciar pra mudar os poderes. Então era bom. Então era. O povo vinha. Vinha mesmo e havia de aprender. E esse, quem sabe? É o saber que tá faltando pro povo saber? (BRANDÃO, 1980: 7-10). Os trechos da fala transcrita acima são de Antônio Cícero de Souza, lavrador do sul de Minas Gerais, a quem Paulo Freire considerava “um dos mais profundos pensadores da educação que ele conheceu”. A partir do texto citado e no que discutimos em sala de aula nos textos trabalhados da Unidade I, responda: A. Quais são os pressupostos da Educação Popular? Discuta conforme os debates e leituras realizadas ao longo das aulas. Os pressupostos da Educação Popular são fundamentados na luta pela emancipação social. Ela luta pela erradicação da desigualdade e da exploração, e acredita na reconstrução de sociedades mais justas e igualitárias. Além disso, ela também busca resgatar o legítimo conhecimento popular e promover a solidariedade, a partilha e o senso de coletividade (PALUDO, 2015). A Educação Popular parte da ideia de que conhecimentos precisam ser construídos de forma interativa e dialógica entre alunos/as e professores/as para serem significativamente internalizados e entendidos. Ela também se fundamenta no uso de metodologias ativas e participativas, como discussões, entrevistas, conferência, mediação, diálogo de saberes, entre outras. Para isso, problematiza o conteúdo de forma crítica e aponta para a reconstrução de narrativas com uma perspectiva diferenciada dos participantes (PALUDO, 2015). Esta abordagem incentiva o processo de autonomia na aprendizagem dos alunos, permitindo que eles construam suas próprias interpretações e concepções sobre questões sociais e culturais. É importante destacar que o objetivo final da Educação Popular é ampliar o entendimento crítico da realidade e, assim, contribuir para a transformação social. Para tanto, ela oferece aos alunos condições para questionar e refletir a partir das próprias experiências, transformando-os em atores críticos na construção de uma sociedade plena de igualdade e progresso (PALUDO, 2015). Atualmente, esta missão está se desenvolvendo dentro do conceito da educação inclusiva, que tem por objetivo promover a justiça social ao possibilitar que todos os estudantes possam matricular-se, independentemente da condição social, étnica, cultural, de gênero, religiosa ou intelectual. Esta educação resulta em um ambiente de trabalho acolhedor, adequado às necessidades individuais. Outro pilar é o compromisso com o desenvolvimento sustentável, através do qual buscamos elaborar projetos pedagógicos que promovam a compreensão das dinâmicas socioeconômicas e ambientais, para garantir uma experiência de aprendizagem significativa (MOREIRA, 2012). Enfim, a nossa meta acadêmica é oferecer aos nossos alunos as ferramentas necessárias para se tornarem profissionais qualificados e capacitados a desempenharem suas funções para atender às exigências de mercado. Estamos comprometidos em formar profissionais conscientes de sua responsabilidade profissional, éticos, críticos e reflexivos. Nosso corpo docente é composto por mestres e doutores com vasta experiência acadêmica e profissional, fornecendo aos alunos a melhor educação possível. Oferecemos estágios em organizações da cidade, conectando os alunos ao campo profissional de forma prática. Nossa equipe de pós-graduação trabalha com os alunos para orientar e apoiá-los em seu projeto de pesquisa, criando vínculos duradouros para garantir o sucesso acadêmico (MOREIRA, 2012). Acreditamos que a educação é o motor de qualquer mudança social, e nosso compromisso é satisfazer as necessidades educacionais de nossos estudantes, ajudando-os a alcançar o êxito em sua vida profissional e acadêmica. Nós trabalhamos para elevar o nível de educação oferecido, melhorando a qualidade do ensino e fornecendo aos alunos recursos e ferramentas que os ajudam a ter sucesso (MORIN, 2008). Nós incentivamos a troca de conhecimentos entre professores, alunos e outros parceiros. Acreditamos que a educação é o meio para promover um futuro melhor e mais sustentável, e nosso objetivo é fornecer aos estudantes recursos para alcançar seus objetivos e melhorar a sua qualidade de vida. Compartilhar conhecimento permite às pessoas desenvolverem suas aptidões individuais e, assim, promoverem a cooperação em suas comunidades. O compartilhamento abre portas para novas possibilidades de descoberta e criação e permite que novas ideias e opiniões sejam expressas e compartilhadas de forma mais rápida e abrangente. A partilha de conhecimento também promove a conscientização e torna mais fácil para as pessoas desenvolverem habilidades, como ouvir e o que contribui significativamente para o crescimento e o desenvolvimento social. B. A partir das discussões que partem das escolas operárias, da experiência do Teatro Experimental do Negro e dos trabalhos de Paulo Freire, como podemos interpretar a definição de educação proposta por Ciço? Fique à vontade para abordar os textos citados e outros trabalhos/experiências. A definição de educação proposta por Ciço parte da noção de uma educação que seja libertadora para os estudantes, que possua a capacidade de desencadear transformações sociais. É um modelo que provê aos estudantes as ferramentas necessárias para serem criadores e sujeitos de sua própria história, capazes de construir um mundo melhor para si e para a humanidade. A educação precisa priorizar as narrativas do próprio aluno, suas necessidades, experiências e perspectivas, potencializando sua autogestão e autonomia, ao invés de acarretar apenas em propagar informação transmitida por professores. Este modelo de educação possibilita que os estudantes adquiram consciência crítica, que sejam capazes de compreender e questionar o mundo circundante, e desenvolvam a habilidade de questionar as práticas vigentes e as relações de poder presentes na sociedade. Além disso, deve ser compreendida não só como a transmissão de conhecimento, mas como parte de um processo dinâmico e contextualizado. Ela requer o entendimento de fatores como a cultura, a linguagem, os valores, as crenças e as relações sociais, para que o ensino seja adequado. Neste contexto, por meio da pedagogia inclusiva, o professor pode mobilizar os recursos de que dispõe para desenvolver práticas que promovam a participação de todos. Portanto, consideram-se todas as diferenças nos alunos e estruturas são desenvolvidas para otimizar o aprendizado de cada um (BOURDIEU, 2007). A pedagogia inclusiva também exige uma avaliação constante para acompanhar a evolução dos alunos e identificar desafios para sua efetiva aprendizagem. Assim, o professor pode criar novas estratégias que promovam a capacitação deste aluno e para todos os outros, buscando manter o equilíbrio do grupo e incentivo ao desenvolvimento individual. O trabalho pedagógico tem como objetivo principal a conscientização dos alunos para as questões da inclusão, com o uso de diferentes abordagens didáticas, como atividades interativas, vídeos e jogos que promovam a diversidade. É importante também trabalhar com as habilidades específicas de cada aluno para otimizar seu desempenho, e, por meio de pequenos desafios, estimular o esforço e a autonomia. Esse processo parte essencialmente da confiança. Se o professor não estabelece um vínculo de confiança com os alunos e acreditar que eles podem desenvolver atitudes autônomas, essa preparação não surtirá efeito. Além disso, o professor deve guiar os alunos nos percursos a serem definidos em busca de soluções e aplicação dos conteúdos. Nesse sentido, cabe ao professor utilizar as estratégias disponíveis para avaliar e fornecer feedbacks sobre o desempenho acadêmico dos alunos. Assim, o professor pode acompanhar o processo de autonomia dos alunos, identificando e corrigindo falhas e incentivando os alunos de maneira positiva quanto às boas realizações. É importante que o professor incentive a reflexão e conscientização dos alunos sobre o assunto abordado, estimulando a discussão e o debate de ideias. O professor pode enriquecer a discussão com pesquisas e vídeos que ajudem a ilustrar os conteúdos. Além disso, ele deve sempre lançar desafios que estimulem a criatividade dos estudantes e os incentivem a construir novos problemas que possam ser resolvidos por meio dos conhecimentos adquiridos. É importante também que o professor faça uma análise crítica da realidade a partir da perspectiva da própria disciplina, para que os alunos adquiram consciência dos problemas e suas possíveis soluções (AZEVEDO, et al, 2013). Assim, realizando atividades em sala de aula e fora dela, torna-se possível desenvolver nos alunos o senso crítico, de forma que eles passam a analisar a realidade que os cercam, e lhes proporcionar soluções que melhorem esse cenário. É possível desenvolver esse senso crítico estimulando a leitura, questionando o que é ensinado em sala de aula, realizando atividades de simulações e discussões em grupo para promover a reflexão. A orientação de projetos, palestras e visitas técnicas a locais e empresas também podem ser bem positivas para o aluno desenvolver um senso crítico de forma saudável.Isso ajudará o aluno a compreender melhor o ambiente de trabalho e como é que ele pode se encaixar no mesmo (TEIXEIRA DE PAULA, MACHADO, 2009). Além disso, os professores podem desenvolver exercícios de análise crítica com o grupo, como discussões em classe em torno de tópicos variados, desafios de otimização sobre determinados temas e debates sobre o cenário atual, como previsões, tendências econômicas e sociais. Essas tarefas ensinam ao aluno a examinar situações e informações de forma lógica e com olhar crítico (AZEVEDO, et al, 2013). Em geral, é importante que os professores incentivem os alunos a pensarem fora da caixa, estimulando a capacidade de análise lógica, raciocínio crítico, consciência política e cultural. As experiências de aprendizagem devem ir além do conteúdo programático, expandindo a mentalidade dos alunos para que eles possam enfrentar os desafios de seus futuros (AZEVEDO, et al, 2013). O ensino deve nutrir os alunos intelectualmente com tarefas e projetos significativos e exigente. Por meio de discussões e debates, os alunos devem estar preparados para identificar, explorar e analisar problemas complexos, considerando todos os ângulos, antes de chegar às soluções. Por meio destas atividades, eles adquirem habilidades de pensamento criativo que os ajudam a se destacar nos estudos, mas também a predispô-los a lidar com as mudanças na sociedade e no trabalho. Por meio da teoria e da prática, os professores devem buscar complementar os conteúdos da educação de forma dinâmica, estimular o pensamento crítico dos alunos, promovendo discussões pertinentes ao assunto, ensinando conteúdos teóricos de forma criativa e inovadora, possibilitando que lado a lado com as atividades teóricas, os alunos possam efetivamente aplicar seus conhecimentos. É importante também utilizar ferramentas inovadoras para envolver os alunos em debates interativos, provocando a reflexão de forma lúdica. E, para tirar proveito de todo o potencial criativo dos alunos, os professores também podem incentivá-los a desenvolver trabalhos em grupos, envolvendo discussões, pesquisas e criação de material educacional, possibilitando a integração de todos no processo de ensino-aprendizagem (TEIXEIRA DE PAULA, MACHADO, 2009). QUESTÃO 2 (Valor: 3,5 pontos) Assista os vídeos abaixo: Ao longo das nossas aulas, discutimos tanto o percurso das teorias dos movimentos sociais quanto as expressões dos movimentos sociais no Brasil desde a década de 1960 até os dias atuais. Segundo Maria da Glória Gohn (2001), “a educação ocupa lugar central na acepção coletiva da cidadania” (GOHN, 2001: 16) e, por isso, a prática no interior das lutas sociais articulam uma concepção de educação que não se restringe ao aprendizado específico dos processos pedagógicos. Gohn ainda aponta algumas formas que definem o caráter educativo dos movimentos sociais. São eles: 1) A dimensão da organização política: trata-se da aprendizagem dos direitos e dos deveres na sociedade, e das lutas em que se engajam. “A Construção da cidadania coletiva se realiza quando, identificados os interesses opostos, parte-se para a elaboração de estratégias de formulação de demandas e táticas de enfrentamento de oponentes. Este momento demarca uma ruptura com a postura tradicional de demandatários de bens de consumo coletivo: não se espera o cumprimento de promessas, organizam-se táticas e estratégias para a obtenção do bem por ser um direito social”. (Ibidem: 18). 2) A dimensão da cultura política: diz respeito ao exercício da prática cotidiana nos movimentos sociais e ao acúmulo de experiências. “Aprende-se a não ter medo de tudo aquilo que foi inculcado como proibido e inacessível. Aprende-se a decodificar o porquê das restrições e proibições. Aprende-se a acreditar no poder da fala e das ideias, quando expressas em lugares e ocasiões adequadas. Aprende-se a calar e a se resignar quando a situação é adversa. Aprende-se a criar códigos específicos para solidificar as mensagens e bandeiras de luta, tais como músicas e folhetins. (Ibidem: 18). 3) A dimensão espacial-temporal: esta dimensão torna possível uma articulação entre o saber popular e o saber científico. “As categorias tempo e espaço são muito importantes no imaginário popular. As datas, as festas religiosas, os espaços comunitários ‘da roça’, da unidade doméstica etc. são representações fortes na mentalidade coletiva popular.” “Em suma, podemos dizer que a dimensão espaço-tempo resgata elementos da consciência fragmentada das classes populares ajudando sua articulação (...).” (Ibidem: 21). Para tentar entender os processos educativos articulados pelos movimentos sociais, sugerimos três vídeos sobre a vivência interna do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). São eles: ● “Por trás da lona – a vida na ocupação Povo sem medo do Capão” (Mídia Ninja, 2018). Link: https://youtu.be/h9sNHRzqAhI ● “Coordenadora do MTST fala sobre a atuação das mulheres nas ocupações” (Jornalistas livres, 2016). Link: https://youtu.be/1jGwgLeRmkE ● “Mulheres de luta” (Coletivo ReVira-Lata, 2017). Link: https://youtu.be/jc5AmVmkQS0 ● Sendo assim, a partir dos textos e dos vídeos, discuta como se constrói o caráter educativo dos movimentos sociais. Fique à vontade para citar também exemplos que estejam presentes na sua prática cotidiana e/ou que correspondam a outros movimentos sociais. O caráter educativo dos movimentos sociais é construído através de uma série de elementos e práticas que visam conscientizar, informar e mobilizar os participantes e a sociedade em geral. Existem diferentes maneiras pelas quais isso pode ser alcançado. Diálogo e conscientização, os movimentos sociais muitas vezes começam com a identificação de uma injustiça ou problema social. A partir daí, eles buscam criar espaços de diálogo e conscientização sobre essas questões. Esses espaços podem ser organizados em forma de assembleias, debates, workshops, palestras e outros eventos educativos. O objetivo é permitir que as pessoas compartilhem suas experiências, compreendam melhor a situação e desenvolvam uma consciência crítica em relação às injustiças e desigualdades existentes (GIROUX, 2004). Campanhas de informação, os movimentos sociais utilizam campanhas de informação para difundir conhecimentos e despertar o interesse do público em geral. Isso pode ser feito através de materiais educativos, como panfletos, cartazes, vídeos, infográficos e mídias sociais. Essas campanhas fornecem informações sobre as causas e consequências dos problemas sociais, apresentam propostas de mudança e estimulam a reflexão crítica. Capacitação e formação, muitos movimentos sociais investem na capacitação e formação de seus membros. Isso envolve fornecer ferramentas, habilidades e conhecimentos necessários para a ação efetiva. As atividades de capacitação podem incluir treinamentos em liderança, habilidades de comunicação, estratégias de mobilização, organização comunitária, direitos humanos e outras áreas relevantes. Essa formação não apenas fortalece a atuação dos participantes, mas também contribui para o desenvolvimento pessoal e a construção de um senso de pertencimento ao movimento (GIROUX, 2004). Ações diretas e práticas alternativas, os movimentos sociais frequentemente utilizam ações diretas e práticas alternativas como forma de educação. Por exemplo, protestos, ocupações de espaços públicos, boicotes e outras formas de resistência pacífica podem chamar a atenção para questões sociais e promover discussões e aprendizados coletivos. Além disso, movimentos que buscam construir alternativas ao sistema dominante, como cooperativas de trabalho ou projetos comunitários autônomos, também podem ser entendidos como práticas educativas que demonstram possibilidades diferentes de organização social (GIROUX, 2004). Alianças e parcerias, os movimentos sociais muitas vezes buscam construir alianças e parcerias com outras organizações, instituições e indivíduos que compartilham objetivos semelhantes. Essas colaborações podem fortalecer a dimensão educativa do movimento, ao permitir a troca de conhecimentos, experiências e recursos. Além disso, alianças com grupos acadêmicos e intelectuais podem enriquecer os debates e a compreensão dos problemas sociais, através de pesquisas, estudos e produção de conhecimento crítico. QUESTÃO 3 (Valor: 3,0 pontos) A intelectual brasileira Lélia Gonzalez propôs o conceito de Améfrica Ladina como uma possibilidade de interpretação da realidade do Brasil a partir do resgate das culturas negras e ameríndias. Trata-se de um olhar novo e criativo no enfoque da formação histórico-cultural do Brasil que, por razões de ordem geográfica e, sobretudo, de ordem do inconsciente, não vem a ser o que em geral se afirma: um país cujas formações do inconsciente são exclusivamente europeias, brancas. Ao contrário, ele é uma América Africana cuja latinidade, por inexistente, teve trocado o t pelo d para, aí sim, ter seu nome assumido com todas as letras: Améfrica Ladina (não é por acaso que a neurose cultural brasileira tem no racismo seu sintoma por excelência) (GONZALEZ, 2020, p.354). (GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. Organização de: Flávia Rios e Márcia Lima.) A autora, à exemplo de outros pensadores do chamado sul global, inclui em seus escritos uma crítica aos modelos eurocentrados que reduzem a experiência social brasileira à subalternidade e à dominação colonial. Com base nos diálogos entre Paulo Freire, Amílcar Cabral e os debates decoloniais/pós-coloniais desenvolvidos na América Latina e na África, discuta como podemos repensar a educação brasileira do ponto de vista dos marginalizados, considerando os processos formativos em curso no país, os quais reforçam as exclusões de classe, raça e gênero. O repensar da educação brasileira do ponto de vista dos marginalizados, considerando os processos formativos em curso no país e as exclusões de classe, raça e gênero, envolve uma análise crítica das estruturas e práticas educacionais existentes, bem como a busca por alternativas que promovam a igualdade, a justiça social e o empoderamento dos grupos marginalizados. A partir dos diálogos entre Paulo Freire (2005), Amílcar Cabral (1980) e os debates decoloniais/pós-coloniais desenvolvidos na América Latina e na África, é possível refletir sobre algumas abordagens para essa reconfiguração da educação brasileira. Paulo Freire (2005) enfatizou a importância do diálogo como base para a educação libertadora. Ele propôs uma abordagem pedagógica que envolve a escuta atenta e respeitosa das vozes e experiências dos marginalizados, promovendo uma relação horizontal entre educadores e educandos. Essa abordagem valoriza os conhecimentos e saberes populares, reconhecendo que a educação deve ser um processo de construção coletiva. A educação brasileira precisa reconhecer e valorizar a diversidade cultural do país, bem como as identidades dos grupos marginalizados. Isso implica em incluir nos currículos escolares conteúdos que reflitam a história, a cultura e as contribuições dos povos indígenas, afro-brasileiros, LGBTQIA+ e outros grupos que historicamente foram marginalizados. A valorização da cultura e identidade contribui para fortalecer a autoestima, a identidade e a participação dos alunos marginalizados (SANTOS, 2006). Os processos formativos em curso no Brasil muitas vezes reforçam as exclusões de classe, raça e gênero. Para repensar a educação brasileira, é necessário enfrentar essas desigualdades estruturais. Isso envolve garantir o acesso equitativo à educação de qualidade, investir em infraestrutura nas escolas localizadas em regiões marginalizadas, implementar políticas afirmativas que promovam a inclusão e a igualdade de oportunidades, e combater a discriminação e o preconceito dentro do ambiente escolar. A educação brasileira deve incentivar a reflexão crítica sobre as estruturas de poder e as relações de dominação presentes na sociedade. Isso implica em proporcionar aos alunos as ferramentas para analisar, questionar e transformar as desigualdades sociais. A abordagem pedagógica proposta por Paulo Freire, por exemplo, enfatiza a conscientização e a capacidade de ação dos educandos, incentivando-os a se tornarem sujeitos ativos na transformação social. REFERÊNCIAS AZEVEDO, A; BELGAMO, T; BORANGA, M. MARTINS, B. Contribuições da pedagogia crítica social dos conteúdos na prática docente: um estudo de caso. Revista Científica Eletrônica de Pedagogia. 2013. BOURDIEU, P. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e a cultura. In: NOGUEIRA, Maria A. N. e CATANI, Afrânio (Orgs.) Escritos de Educação. Petrópolis,RJ: Vozes, 2007. CABRAL, A. A arma da teoria. Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1980. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Editora Paz e Terra. 2005 GIROUX, H. Education and the crisis of public values. 2004 MOREIRA, M. O que é afinal aprendizagem significativa? Revista cultural La Laguna. 2012. Disponível em: http://moreira.if.ufrgs.br/oqueeafinal.pdf. Acesso em: 04/06/2023. MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. PALUDO, C. Educação popular como resistência e emancipação humana. Cad. CEDES. 2015 SANTOS, B. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. Portugal: Edições Afrontamento. 2006. SANTOS, B. Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação Social. São Paulo: Boitempo, 2007. TEIXEIRA DE PAULA,E; MACHADO, E. Pedagogia: concepções e práticas em Transformação. Educar, Curitiba. 2009.