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Engenharia Civil ·
Comunicação e Expressão
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UNIVERSIDADE FUMEC FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA Comunicação e Expressão ATIVIDADE SOBRE NORMAS ABNT O texto Identidade e alteridade uma reflexão da obra infantil o lobisomem que quase morreu de medo deverá ser formato dentro das normas da ABNT e seguindo alguns aspectos os nomes dos autores alinhados à margem direita do texto e abaixo do título o resumo Times New Roman 12 espaço simples justificado as palavraschave Palavra 1 Palavra 2 Palavra 3 Palavra 4 o texto deve ser formatado em Times New Roman corpo 12 espaço 15 justificado margens 3cm superior e esquerda 2cm inferior e direita folha A4 Deve ser adotada as seguintes normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas a Artigo de periódico NBR 602203 b Resumo NBR 602803 c Referências NBR 602302 d Citações NBR 1052002 e Numeração progressiva NBR 602412 inserir número de página Ilustrações Tabelas e Quadros Devem ter os números em algarismos arábicos sequenciais inscritos na parte superior precedida da palavra TabelaQuadroFigura Colocar um título por extenso inscrito no topo da tabelaquadrofigura para indicar a natureza e abrangência do seu conteúdo A fonte deve ser colocada imediatamente abaixo da tabelaquadrofigura para indicar a autoridade dos dados eou informações da tabela precedida da palavra Fonte Referências As referências devem estar em Times 12 espaço simples com espaço de uma linha centralizado observando a marcação de negrito específica para os exemplos que seguem Atividade deverá ser realizada individual e deverá ser postada no Google Classroom Valor 10 pontos Qualquer dúvida poderá ser enviada por email no Google Classroom Bom trabalho IDENTIDADE E ALTERIDADE UMA REFLEXÃO DA OBRA INFANTIL O LOBISOMEM QUE QUASE MORREU DE MEDO Sonia de Oliveira Barbosa Mestre em Estudos Culturais Contemporâneos Universidade Fumec Professora da Universidade FUMEC soniaobgmailcom Viviane Bernadeth Gandra Brandão Doutoranda em Educação pela PUC Minas Mestre em Estudos Culturais Contemporâneos Universidade Fumec Professora da Universidade Estadual de Montes Claros Email vivianegandra1hotmailcom RESUMO Este artigo traz uma análise acerca da obra literária infantil do autor mineiro Ronaldo Simões O Lobisomem que quase morreu de medo A temática central é a identidade e a alteridade os quais na obra são representados pelo medo que o lobisomen sente do homem Partese do pressuposto que este enredo problematiza a diversidade cultural a diferença social e pessoal Desse modo permite que o leitor crianças desenvolvam uma criticidade a respeito de si mesmos e do outro propiciando que sejam capazes de refletir sobre os valores culturais presentes na sociedade em que vivem Este estudo fundamentase metodologicamente na leitura intensiva do texto buscando identificar como a narrativa apresenta a diversidade cultural identidade e a alteridade e concretizam sua problematização Subsidiariamente aplicaramse conceitos extraídos da Análise do Discurso Mainguenau 1989 1996 2001 e Charaudeau 2010 Foram constados que a obra transmite elementos importantes para a construção de uma identidade plural visto que a formação do povo brasileiro é diversificada A diversidade cultural é marcada pela relação com o outro sendo a primeira relação consigo mesmo a segunda com o outro e a terceira com o mundo Palavraschave Alteridade Diversidade Cultural Identidade Literatura Infantil ABSTRACT This article presents an analysis of the children s literary work by the mining author Ronaldo Simões The Werewolf who almost died of fear The central theme is identity and alterity which in the work are represented by the fear that the werewolf feels of man It is assumed that this plot problematizes cultural diversity social and personal difference In this way it allows the reader children to develop a criticity about themselves and the other allowing them to be able to reflect on the cultural values present in the society in which they live This study is methodologically based on the intensive reading of the text trying to identify how the narrative presents cultural diversity identity and alterity and concretizes its problematization In the alternative concepts extracted from Discourse Analysis were applied Mainguenau 1989 1996 2001 and Charaudeau 2010 It was recorded that the work transmits important elements for the construction of a plural identity since the formation of the Brazilian people is diversified Cultural diversity is marked by the relation to the other being the first relation with itself the second with the other and the third with the world Keywords Alterity Cultural diversity Identity Childrens literature INTRODUÇÃO O tema da diversidade cultural propõe uma reflexão crítica acerca da cultura e de suas implicações em especial no que se refere à relação contemporânea entre cultura indivíduos e sociedade Para os estudos culturais são importantes as abordagens sobre identidade linguagem e multiculturalismo temas que são fundamentais para a discussão proposta sobre literatura infantil Portanto diversidade cultural é cultural e não natural ou seja resulta de trocas entre sujeitos grupos sociais e instituições a partir de suas diferenças desigualdades tensões e conflitos BARROS 2008 p 18 Em relação ao conceito de diversidade cultural Silva 2000 p 44 afirma que engloba diferentes aspectos sendo utilizado para defender uma política de tolerância e respeito entre as diferentes culturas O relatório mundial da Unesco 2009 Investir na diversidade cultural e no diálogo intercultural é um documento central para se discutir a pertinência do tema da diversidade cultural uma vez que ressalta que esta é uma das questões de maior interesse no séc XXI quando se reconhece que a maioria dos países é constituída de sociedades multiculturais A diversidade pode ser tomada como uma realidade positiva que possibilita o intercâmbio entre as culturas de forma a potencializar a riqueza que existe em cada uma delas Por outro lado as diferenças culturais entre nações ou entre grupos que convivem em um mesmo espaço geográfico podem ser a raiz de numerosos conflitos A Unesco 2009 aponta como desafio da nossa época a capacidade de propormos uma perspectiva da diversidade cultural que não se configure em ameaça mas como um benefício uma vez que toda cultura tem contribuições efetivas a dar à comunidade internacional O sentido do termo diversidade cultural relacionase à existência de uma variedade de culturas interligadas por um processo de globalização Segundo a Unesco 2009 no entanto a diversidade cultural nem sempre resulta no convívio harmônico das culturas Perante essa variedade de códigos e perspectivas os estados nem sempre encontram as respostas apropriadas por vezes urgentes nem logram colocar a diversidade cultural ao serviço do bem comum UNESCO 2009 p 3 Discutir a relação entre literatura infantil criança e infância por meio do discurso da diversidade pressupõe abordar questões culturais e socioculturais de uma sociedade Silva 2000 Chauí 2000 Hall 2003 Santos 2006 a Unesco 2009 e Morgado 2010 todos contribuem para a reflexão sobre a literatura a partir do contexto histórico sociocultural e cultural em que é produzida lida e interpretada a fim de compreendermos as relações de poder existentes e representadas nas obras Ao abordar a literatura infantil pela perspectiva das representações da diversidade cultural enfatizase a força do campo simbólico para construir uma visão contra hegemônica que possa ser uma alternativa à visão das classes dominantes Ou seja a literatura infantil pode questionar as construções sociais e culturais que se fizeram ao longo da estória e que apresentam uma dada normalidade como natural e obrigatória Nessa normalidade aqueles que não se encaixam nesse padrão podem ser alvo de preconceitos por sua condição de gênero etnia linguagem nacionalidade religião etc As obras literárias se constituem e agem como instrumentos de construção identitária da criança sendo essas construções no viés individual ou coletivo que para Nelly Novaes Coelho têm uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em transformação a de servir como agente de formação COELHO 2000b p15 Foi tomando a literatura infantil como agente de formação da criança que se fundamentou a questão central deste trabalho que é analisar como a literatura infantil representa a diversidade cultural O objetivo deste artigo é refletir sobre a obra do autor mineiro Ronaldo Simões Coelho dirigida ao público infantil O Lobisomem que quase morreu de medo Partese do pressuposto de que a obra problematiza a diversidade cultural a diferença social e pessoal e as relações entre identidade e alteridade Com isso o autor permite que as crianças adquiram um olhar crítico sobre si mesmas e sobre o outro propiciando a o processo de construção de identidade tornandose capazes de refletir sobre os valores culturais presentes na sociedade em que vivem Por identidade entendemse os aspectos peculiares de um determinado povo como suas crenças ritos experiências comuns Hall 2003 defende a tese de que as identidades modernas estão sendo desconcentradas deslocadas Argumenta que as velhas identidades estão em declínio novas identidades estão surgindo e fragmentando o sujeito moderno abalado seus quadros de referências Com base nesse pressuposto Bauman 2005 afirmou que não se pensa em identidade quando o pertencimento vem naturalmente quando é algo pelo qual não se precisa lutar ganhar reivindicar e defender quando se pertence seguindo apenas os movimentos que parecem óbvios simplesmente pela ausência de competidores Essa pertença só é possível num mundo localmente confinado somente quando as totalidades a que se pertence forem definidas pela capacidade de massa cinzenta Nesses pequenos mundos estar aqui dentro é diferente de estar lá fora e a passagem do aqui para lá dificilmente ocorre se é que chega a ocorrer Notase que as sociedades contemporâneas são heterogêneas plurais formadas por diferentes grupos e interesses divergentes isto é apresentam identidades culturais em conflitos Neste contexto cabe ressaltar que essas diferenças estão em permanente contato MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo foi fundamentado na obra O Lobisomem que quase morreu de medo através da leitura intensiva buscando identificar como a narrativa apresenta a diversidade cultural identidade e a alteridade e concretizam sua problematização Subsidiariamente aplicaramse conceitos extraídos da Análise do Discurso Mainguenau 1989 1996 2001 e Charaudeau 2010 Na obra escolhida procurouse analisar como o autor trabalha os temas da diversidade cultural envolvendo identidade diferença e alteridade apontando sua centralidade ou transversalidade nas narrativas A análise do discurso buscou verificar de que maneira os autores Sujeitos Comunicantes SC desenvolveram estratégias como narradores Sujeitos Enunciadores SE para construindo a imagem de seus leitores Sujeitos Destinatários poderem atingir os seus leitores reais Sujeitos Interpretantes SI Segundo as teorias da Análise do Discurso AD desenvolvidas por Patrick Charaudeau e Dominique Mainguenau esse processo de comunicação envolvendo os sujeitos SC SE SD E SI organizase em dois pares de um lado o SC e o SE de outro o SD e o SI Reunindo esses dois pares há o produto cultural ou seja o discurso de que o texto é a evidência concreta Assim a análise efetuada preocupouse em levantar as marcas discursivas estratégicas usadas pelo sujeito enunciador de cada situação discursiva RESULTADOS No livro O Lobisomem que quase morreu de medo 1988 com ilustrações de Rubia Roberta contase a estória de um menino lobisomem que não sabia da existência dos humanos por acreditar que os homens eram uma criação de sua avó que contava estórias para assustar as crianças Nesse livro há a inversão de uma situação bem conhecida a criança que tem medo de entidades assustadoras como o lobisomem a mulasemcabeça o saci e outras Nessa narrativa em vez da criança assustada há uma criança lobisomem ainda mais assustada porque viu duas crianças humanas Depois dessa visão aterradora corre para contar aos outros lobisomens que viu humanos tal como eram descritos nas estórias de sua avó Mas ninguém acredita que tais seres humanos existam O tema principal do livro Lobisomem é a questão da identidade e da alteridade Para trabalhálo o autor apresenta o medo que o lobisomem sente do homem O medo é uma emoção que revela um dispositivo de defesa para um perigo aparente ou real Nessa obra o enredo utiliza o medo provocado pela constatação de que o ficcional se transforma em realidade O que era puro referente se transforma num objeto concreto Por meio da visão do narrador heterodiegético que narra em terceira pessoa e não participa dos fatos o leitor mirim tem a possibilidade de perceber que seu próprio medo do desconhecido lobisomens sacis mulas sem cabeça é transferido para uma dessas entidades e que de atemorizado passa a ser atemorizador Essa inversão das posições tradicionais questiona a centralidade do ser humano sua própria integridade e autopercepção apresentandolhe o outro lado e mostrandolhe que a diferença não é apenas dos outros em relação a ele mas dele em relação aos outros Ou seja o ser humano passa a ser o outro relativizando o seu lugar no mundo Ronaldo Simões Coelho dialoga intertextualmente com a lenda do lobisomem cujas origens são gregas e com outros textos literários que também trabalham a questão da alteridade como Frankenstein de Mary Shelley publicado em 1818 e Drácula de Bram Stoker de 1897 Todas essas personagens indicam o outro como um ser perigoso para o ser humano e reforçam a identidade humana e sua atitude de defesa o outro deve ser combatido e destruído Além disso retoma a tradição oral de contar estórias uma atividade tipicamente humana mas que é feita pela avó do lobisomem A própria lobisavó garantia Você está influenciado pelo que conto procê É claro que homens não existem Mas o lobicriança ainda tremendo afirmava que tinha visto gente COELHO 1988 p 6 Quando o menino lobisomem estava aprendendo a andar de bicicleta se deparou com dois meninos humanos iguais aos que sua avó descrevia nas estórias e percebeu que os homens realmente existiam que não eram uma invenção Assim com muito medo ele corre e vai contar aos outros lobisomens que viu dois humanos mas ninguém acreditou nele até que os levou ao local onde viu as crianças e todos puderam comprovar que os seres humanos existiam Ao se depararem com os dois meninos seres humanos todos entraram em pânico e foi uma correria tremenda A estória termina com o relato de que o caso ainda é contado às crianças lobisomens que também continuam achando que tudo é invenção da lobisavó Criticamente o autor desloca para os lobisomens a incapacidade que os homens têm de verem além de si mesmos É por isso que em vez de serem considerados reais os homens continuam a ser ficção para os lobisomens Como ficção são apenas referentes passíveis de serem captados pelo signo linguístico mas não de terem uma existência concreta Mas por serem ficção e viverem nas estórias podem vir a ser reais A narrativa se inicia com a fórmula tradicional das estórias infantis Era um lobisomem que não sabia ainda da existência de gente COELHO 1988 p 2 Em seguida se desenvolve normalmente Até que um dia quando estava aprendendo a andar de bicicleta viu dois meninos tão parecidos com aquilo que sua lobisavó descrevia que não teve dúvidas o tal homem existia mesmo COELHO 1988 p 3 O clímax acontece com o medo coletivo E lobivelho lobiadulto lobijovem lobimenino lobicriança foram todos até o lugar onde os dois meninos estavam E eles estavam lá COELHO 1988 p 8 O final da estória como se disse no parágrafo anterior concede aos lobisomens a mesma atitude humana não reconhecer a alteridade negála e exorcizála por meio da violência o que não é sugerido na estória ou por meio da ficção Mas hoje quando este caso é contado os lobisomens pequenos acham que é tudo invenção da lobisavó E apesar do medo morrem de rir COELHO 1988 p 9 Essa volta à normalidade é descrita por Nelly Coelho 2000a p 70 ao afirmar que a história surge de uma situação problemática que desequilibra a vida normal das personagens Situação que vai se modificando através da narrativa até sua solução final e a volta ao equilíbrio normal Em Lobisomem a situação problemática é o encontro do pequeno lobisomem com crianças que eram gente A personagem se depara com o desconhecido gerando assim o desequilíbrio emocional o medo e ao final tudo volta ao normal e se torna uma lenda passando por gerações os lobisomens pequenos acham que é tudo invenção da lobisavó E apesar do medo morrem de rir Em O Lobisomem que quase morreu de medo há um narrador externo onisciente que conta a estória Não há menção à forma como veio a saber dos fatos narrados Ele simplesmente os conhece e os relata Carlos Reis e Ana Cristina Lopes 1988 p 61 afirmam que a definição conceitual de narrador deve ser compreendida principalmente como autor textual sendo uma entidade fictícia que tem a função de enunciar o discurso como protagonista da comunicação narrativa No entanto vale ressaltar que o narrador é uma criação fictícia do autor para ser o transmissor do discurso Sendo assim não pode haver confusão entre narrador e autor Por outro lado para Compagnon 2001 p 47 o autor é uma entidade real responsável pelo universo do texto narrativo Assim existe uma relação entre texto e autor em que o autor é responsável pelo sentido e significação do texto Mas independentemente da sua intenção textual o que importa é a interpretação que o leitor faz daquilo que está lendo Umberto Eco com sua teoria precursora antecipou os conceitos de Compagnon e de Carlos Reis e Ana Cristina Lopes afirmando que existe um leitormodelo o espectador disposto a se divertir com a estória O leitormodelo é uma espécie de tipo ideal que o texto não só prevê como colaborador mas ainda procura criar ECO 1994 p 15 Em sequência Eco 1994 p 15 afirma que Um texto que começa com Era uma vez envia um sinal que lhe permite de imediato selecionar seu próprio leitormodelo o qual deve ser uma criança ou pelo menos uma pessoa disposta a aceitar algo que extrapola o sensato e o razoável O Lobisomem que quase morreu de medo inicia com Era um corroborando a afirmação de Umberto Eco pois o leitormodelo de que necessita são crianças na faixa etária de 3 a 7 anos que leiam ou ouçam a estória Mas principalmente que aceitem a narrativa tal qual ela é feita Da mesma forma Eco distingue entre o autor empírico e o autormodelo que como os chamamos são o autor e o narrador Com essas duas categorias Eco se antecipa ao que será postulado pela Análise do Discurso que irá problematizar a relação entre autor e leitor Para ela o processo narrativo inclui quatro sujeitos o autor Sujeito Comunicante e o narrador Sujeito Enunciador de um lado e o leitor destinatário Sujeito destinatário e o leitor interpretante Sujeito interpretante de outro Segundo Charaudeau 2010a há dois circuitos o social em que se incluem o autor e o interpretante e o linguístico e textual em que estão o narrador e o leitor destinatário A cada um desses pares Eco chama respectivamente de autormodelo e de leitormodelo Para falar ou escrever o autor usa uma série de estratégias desdobrandose em narrador É este narrador que fala oralmente ou no texto constituindo o conjunto de estratégias do autor O texto que contém essas estratégias é enviado ao leitor destinatário que é a imagem modelar ideal que o autor faz de seu leitor efetivo real o interpretante Nenhum texto transita diretamente do autor para o interpretante sem ser mediatizado pelas estratégias do narrador e pela imagem construída do destinatário Quando o autor emprega a fórmula Era uma vez está usando uma estratégia que pressupõe um leitor modelo isto é um destinatário ideal capaz de aceitar a narrativa e tudo o que ela contém O interpretante leitor efetivo do texto pode aceitála ou não ler o texto ou rejeitálo considerálo seriamente ou tomálo como algo impossível de acontecer CHARAUDEAU 2010a MAINGUENAU 2001 Como o leitormodelo de O Lobisomem que quase morreu de medo isto é o destinatário é a criança o enredo do texto é bastante simples Esse tipo de enredo sem maior complexidade é uma concessão a esse leitor e à sua capacidade de leitura Todos os outros textos analisados terão também esse enredo simplificado O enredo ou estória é o conjunto de fatos que se entrelaçam compondo a narrativa a trama da estória de maneira a se interrelacionar com todo o desfecho narrativo apresentando uma organicidade com início meio e fim A narrativa para Carlos Reis e Ana Cristina Lopes tem um narratário que nada mais é que o destinatário de que cita Charaudeau Assim percebese uma confluência apesar da nomenclatura diferenciada das duas teorias Para Reis e Lopes 1988 p 5 o narratário é uma entidade fictícia um ser de papel com existência puramente textual dependendo diretamente de outro ser de papel o narrador que se dirige de forma expressa ou tácita Para Charaudeau 2010a p 45 o sujeito destinatário é o interlocutor ideal O TUd sujeito destinatário é o interlocutor fabricado pelo EUc sujeito comunicante como destinatário ideal adequado ao seu ato de enunciação O EUc tem sobre ele um total domínio já que o coloca em um lugar onde supõe que sua intenção de fala será totalmente transparente para TUd Portanto há uma semelhança entre os vários conceitos como se observa no quadro abaixo Nomenclatura sobre autoria e leitura UMBERTO ECO REIS E LOPES CHARAUDEAU Autoria Autor empírico Autor EUc Sujeito comunicante Autor modelo Autor EUE Sujeito enunciador Leitura Leitor empírico Leitor TUi Sujeito interpretante Leitor modelo Narratário TUd Sujeito destinatário Fonte As autoras 2017 O Lobisomem é uma narrativa em terceira pessoa cujo narrador é heterodiegético que justamente se caracteriza pelo fato de narrar uma história que conhece pela sua experiência de testemunha direta dessa história LOPES REIS 1988 p 121 Ele simplesmente conhece a estória e vai contála a alguém seu leitormodelo ou destinatário Esse tipo de narrador se distancia com relação às personagens permanecendo anônimo Era um lobisomem que não sabia ainda da existência de gente Achava que os homens eram uma invenção de sua avó que gostava de contar histórias para assustar os lobisomens pequeninos como ele COELHO 1988 p 2 Neste trecho o narrador inverte a relação do homem com o lobisomem é este que não sabia que gente existia pensando que homens eram inventados pela avó que contava estórias De imediato portanto colocase a questão da alteridade A alteridade está relacionada com a interação e a concepção que o sujeito tem para com o outro ou seja a alteridade está presente na interação entre o eu o que cada ser tem no seu particular e no seu interior e o outro o que enxergamos no outro Existe um confronto com o estranho o não familiar que sem percebemos realizamos Isto é o indivíduo existe somente a partir da oposição e ou diferença para com o outro De acordo com Amaral 2007 p 7 O conceito de alteridade foi formulado por Emanuel Lévinas 19061995 Para ele a alteridade baseiase na constante constatação das diferenças que estabeleço entre eu e o outro e consiste em conferir ao outro uma existência como sujeito de modo que ele não se constitua num objeto para mim A partir do momento em que atribuo esse significado ao outro que lhe confiro alteridade será possível conviver com o diferente reconhecendo que ele tem direitos iguais aos meus através da constatação e do respeito às diferenças individuais culturais sociais resultando em uma convivência harmônica e na cooperação para o bemestar comum Por outro lado como ressalta a autora pode ser que a alteridade não seja respeitada Assim alteridade é ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade dos seus direitos e sobretudo da sua diferença Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais mais conflitos ocorrem O conceito de alteridade portanto apresenta aspectos positivos e negativos ao mesmo tempo em que colabora para a constituição da minha identidade a partir da diferença com o outro pode contribuir para a aniquilação desse outro exatamente por causa dessa diferença da sua alteridade em relação a mim A obra do Lobisomem convida a refletir sobre a própria identidade do ser humano a partir da construção de alteridade e do olhar para o outro proporcionando questionamentos sobre o outro e sobre o próprio ser Isso revela que as relações sociais estabelecem os conceitos de identidade e diferença estruturadas no universo cultural ou seja a cultura impõe um padrão e por meio desse modelo se constrói a identidade e alteridade Sendo assim como afirma Silva 2013 p 19 A cultura molda a identidade ao dar sentido à experiência e ao tomar possível optar entre as várias identidades possíveis por um modo específico de subjetividade Mas segundo este mesmo autor a identidade e a diferença não são nunca inocentes SILVA 2000 p 81 Outra abordagem possível no enredo do livro é a questão da monstruosidade que o autor inverte Para o ser humano para quem sua imagem e integridade são normais personagens como Lobisomem são seres que apresentam algo que falta ou algo deformado no corpo distanciandose das regras de normalidade física que a sociedade espera O escritor ao apresentar o ser humano como algo monstruoso do ponto de vista do lobisomem possibilita refletir que os indivíduos são monstros que determinam o que são identidade e sem dar conta da possibilidade de aceitar que são diferentes alteridade Assim são condicionados cultural e socialmente a ser considerados normais sem suspeitar de que pode ser diferente para outros Neste contexto a obra de Ronaldo Simões O Lobisomem que quase morreu de medo apresenta uma estrutura conhecida pelo leitor empírico e capaz de ser aceita pelo leitor modelo o pequeno lobisomem encontra criaturas humanas e se assusta com isso pois o que era ficção passa a ser realidade Essa estrutura narrativa simples e reconhecível é utilizada pelo autor para discutir algo nem tão simples ou reconhecível as relações entre identidade o mesmo e alteridade o outro Por isso não há como aprofundar psicologicamente as personagens a protagonista lobicriança é personagem plana isto é um estereótipo Da mesma forma espaço e tempo não têm importância na narrativa Uma vez capturado ficcionalmente pelo era uma vez o tempo indeterminase Usase o recurso do salto para condensar o tempo em que os fatos narrados se constituem no passado e o tempo também não é utilizado de forma complexa pelo narrador É o que se observa na mudança temporal do passado para o presente ao finalizar o enredo Mas hoje quando este caso é contado COELHO 1988 p 9 Considerandose o leitor modelo do texto ou o seu sujeito interpretante na conceituação de Charaudeau podese dizer que o texto atingiu seu objetivo discutir ficcionalmente a relação entre identidade e alteridade e mostrar que são posições reversíveis Dessa maneira permitese que a criança reflita sobre sua identidade e a construa de forma a reconhecer o outro como condição para que essa identidade seja possível Podese dizer que assim a literatura infantil irá ajudar nesse processo segundo Mariosa e Reis 2011 p 48 A literatura infantil pode influenciar de forma definitiva no processo de construção de identidades das crianças A literatura serve muitas vezes como fonte de significados existenciais que poderão ser aplicados ao mundo real Então conforme Abramovich 1989 para que o indivíduo possa formar a sua própria identidade ele precisa recriar a realidade e imaginála CONSIDERAÇÕES FINAIS A diversidade pode ser tomada como uma realidade positiva que possibilita o intercâmbio entre as culturas de forma a potencializar a riqueza que existe em cada uma delas Por outro lado as diferenças culturais entre nações ou entre grupos que convivem em um mesmo espaço geográfico podem ser a raiz de numerosos conflitos Discutiuse neste estudo a relação entre literatura infantil e o discurso da diversidade com a abordagem de questões culturais e socioculturais de uma sociedade relacionadas a questões de identidade alteridade e diferença e como o autor mineiro trabalha esses temas Dessa maneira a obra O Lobisomem que quase morreu de medo tem um papel fundamental no leitor infantil em proporcionar motivação construção de identidade valores simbólicos e coletivos pois a obra conserva a originalidade reelabora e ressignifica os novos elementos da contemporaneidade proporcinado elementes que contribua para a discussão da diversidade cultural na sociedade prossibilitando as crianças uma reflexão que existem grupos que são diferentes entre si mas os direitos entre si são correlatos O estudo buscou ainda relatar as estratégias adotadas pelo escritor para veicular um discurso literário a favor da valorização da diversidade e da diferença Constatouse que na obra escolhida existem diferentes identidades a partir da vivência e experiências com o outro e que essa obra promove uma reflexão sobre a diversidade humana O autor mesmo que se declare que não houve uma intenção de abordar a diversidade alteridade identidade e diferença e que isso não foi inserido nas obras com a finalidade de proporcionar ao público infantil uma reflexão de como lidar com essas questões e como respeitar as diferenças humanas o fato é que tais temas estão lá Isso demonstra o que a Análise do Discurso e outras teorias antes dela afirmam o autor apesar de sua intencionalidade não tem domínio total sobre seu texto nem o texto contém a totalidade de sua significação Esta será dada pelo leitor que irá jogar sobre o texto toda a sua experiência e capacidade de leitura REFERÊNCIAS MAINGUENAU Dominique Novas tendências em análise do discurso Campinas Pontes 1989 MAINGUENAU Dominique O contexto da obra literária Tradução de Marina Appenzeller 2 ed São Paulo Martins Fontes 2001 BARROS José Márcio Org Diversidade cultural da proteção à promoção Belo Horizonte Autêntica 2008 COMPAGNON Antoine O demônio da teoria literatura e senso comum Belo Horizonte UFMG 2001 BAUMAN Zygmunt Identidade Tradução de Carlos Alberto Medeiros Rio de Janeiro Zahar 2005 CHARAUDEAU Patrick A conquista da opinião pública como o discurso manipula as escolhas políticas Tradução de Ângela M S Corrêa São Paulo Contexto 2016 COELHO Ronaldo Simões O lobisomem que quase morreu de medo Belo Horizonte RHJ 1988 CHARAUDEAU Patrick Linguagem e discurso modos de organização Tradução de Ângela M S Correa e Ida Lúcia Machado 2 ed São Paulo Contexto 2010a AMARAL Vera Lúcia do A formação da identidade alteridade e estigma Natal EDUFRN 2007 SILVA Tomaz Tadeu Identidade e diferença a perspectiva dos estudos culturais Petrópolis Vozes 2013 CHARAUDEAU Patrick O discurso propagandista uma tipologia In MACHADO Ida Lucia MELLO Renato Análises do Discurso Hoje Rio de Janeiro Nova Fronteira 2010b p 5778 v 3 Disponível em httpwwwpatrickcharaudeaucomIMGpdf2010dDiscPropag BeloVol3ARTICLEpdf Acesso em 13 out 2016 CHAUÍ Marilena Convite à filosofia 13 ed São Paulo Ática 2000 COELHO Nelly Novaes A literatura infantil São Paulo Moderna 2000a SANTOS José Luís dos O que é cultura São Paulo Brasiliense 2006 SILVA Tomaz Tadeu da Teoria Cultural e Educação um vocabulário crítico Belo Horizonte autêntica 2000 ECO Umberto Seis passeios pelos bosques da ficção São Paulo Companhia das letras 1994 HALL Stuart Da diáspora identidades e mediações culturais Belo Horizonte UFMG 2003 MAINGUENAU Dominique Pragmática para o discurso literário São Paulo Martins Fontes 1996 MARIOSA Gilmara Santos REIS Maria da Glória dos A influência da literatura infantil afro brasileira na construção das identidades das crianças Estação Literária Londrina Vagão volume 8 parte A p 4253 dez 2011 COELHO Nelly Novaes Literatura infantil teoria análise didática São Paulo Moderna 2000b MORGADO Margarida PIRES Maria da Natividade Educação intercultural e literatura infantil Lisboa Colibri 2010 LOPES Ana Cristina M REIS Carlos Dicionário da teoria narrativa São Paulo Ática 1988 UNESCO relatório mundial da unesco investir na diversidade cultural e no diálogo in tercultural s l 2009 36 p disponível em httpunesdocunescoorgima ges0018001847184755porpdf acesso em 13 mar 2016 9001 or 1240 cutlery cream castor ernest w barnes ltd 12 moorgate street london ec2 telephone city 7171 date stamp
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UNIVERSIDADE FUMEC FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA Comunicação e Expressão ATIVIDADE SOBRE NORMAS ABNT O texto Identidade e alteridade uma reflexão da obra infantil o lobisomem que quase morreu de medo deverá ser formato dentro das normas da ABNT e seguindo alguns aspectos os nomes dos autores alinhados à margem direita do texto e abaixo do título o resumo Times New Roman 12 espaço simples justificado as palavraschave Palavra 1 Palavra 2 Palavra 3 Palavra 4 o texto deve ser formatado em Times New Roman corpo 12 espaço 15 justificado margens 3cm superior e esquerda 2cm inferior e direita folha A4 Deve ser adotada as seguintes normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas a Artigo de periódico NBR 602203 b Resumo NBR 602803 c Referências NBR 602302 d Citações NBR 1052002 e Numeração progressiva NBR 602412 inserir número de página Ilustrações Tabelas e Quadros Devem ter os números em algarismos arábicos sequenciais inscritos na parte superior precedida da palavra TabelaQuadroFigura Colocar um título por extenso inscrito no topo da tabelaquadrofigura para indicar a natureza e abrangência do seu conteúdo A fonte deve ser colocada imediatamente abaixo da tabelaquadrofigura para indicar a autoridade dos dados eou informações da tabela precedida da palavra Fonte Referências As referências devem estar em Times 12 espaço simples com espaço de uma linha centralizado observando a marcação de negrito específica para os exemplos que seguem Atividade deverá ser realizada individual e deverá ser postada no Google Classroom Valor 10 pontos Qualquer dúvida poderá ser enviada por email no Google Classroom Bom trabalho IDENTIDADE E ALTERIDADE UMA REFLEXÃO DA OBRA INFANTIL O LOBISOMEM QUE QUASE MORREU DE MEDO Sonia de Oliveira Barbosa Mestre em Estudos Culturais Contemporâneos Universidade Fumec Professora da Universidade FUMEC soniaobgmailcom Viviane Bernadeth Gandra Brandão Doutoranda em Educação pela PUC Minas Mestre em Estudos Culturais Contemporâneos Universidade Fumec Professora da Universidade Estadual de Montes Claros Email vivianegandra1hotmailcom RESUMO Este artigo traz uma análise acerca da obra literária infantil do autor mineiro Ronaldo Simões O Lobisomem que quase morreu de medo A temática central é a identidade e a alteridade os quais na obra são representados pelo medo que o lobisomen sente do homem Partese do pressuposto que este enredo problematiza a diversidade cultural a diferença social e pessoal Desse modo permite que o leitor crianças desenvolvam uma criticidade a respeito de si mesmos e do outro propiciando que sejam capazes de refletir sobre os valores culturais presentes na sociedade em que vivem Este estudo fundamentase metodologicamente na leitura intensiva do texto buscando identificar como a narrativa apresenta a diversidade cultural identidade e a alteridade e concretizam sua problematização Subsidiariamente aplicaramse conceitos extraídos da Análise do Discurso Mainguenau 1989 1996 2001 e Charaudeau 2010 Foram constados que a obra transmite elementos importantes para a construção de uma identidade plural visto que a formação do povo brasileiro é diversificada A diversidade cultural é marcada pela relação com o outro sendo a primeira relação consigo mesmo a segunda com o outro e a terceira com o mundo Palavraschave Alteridade Diversidade Cultural Identidade Literatura Infantil ABSTRACT This article presents an analysis of the children s literary work by the mining author Ronaldo Simões The Werewolf who almost died of fear The central theme is identity and alterity which in the work are represented by the fear that the werewolf feels of man It is assumed that this plot problematizes cultural diversity social and personal difference In this way it allows the reader children to develop a criticity about themselves and the other allowing them to be able to reflect on the cultural values present in the society in which they live This study is methodologically based on the intensive reading of the text trying to identify how the narrative presents cultural diversity identity and alterity and concretizes its problematization In the alternative concepts extracted from Discourse Analysis were applied Mainguenau 1989 1996 2001 and Charaudeau 2010 It was recorded that the work transmits important elements for the construction of a plural identity since the formation of the Brazilian people is diversified Cultural diversity is marked by the relation to the other being the first relation with itself the second with the other and the third with the world Keywords Alterity Cultural diversity Identity Childrens literature INTRODUÇÃO O tema da diversidade cultural propõe uma reflexão crítica acerca da cultura e de suas implicações em especial no que se refere à relação contemporânea entre cultura indivíduos e sociedade Para os estudos culturais são importantes as abordagens sobre identidade linguagem e multiculturalismo temas que são fundamentais para a discussão proposta sobre literatura infantil Portanto diversidade cultural é cultural e não natural ou seja resulta de trocas entre sujeitos grupos sociais e instituições a partir de suas diferenças desigualdades tensões e conflitos BARROS 2008 p 18 Em relação ao conceito de diversidade cultural Silva 2000 p 44 afirma que engloba diferentes aspectos sendo utilizado para defender uma política de tolerância e respeito entre as diferentes culturas O relatório mundial da Unesco 2009 Investir na diversidade cultural e no diálogo intercultural é um documento central para se discutir a pertinência do tema da diversidade cultural uma vez que ressalta que esta é uma das questões de maior interesse no séc XXI quando se reconhece que a maioria dos países é constituída de sociedades multiculturais A diversidade pode ser tomada como uma realidade positiva que possibilita o intercâmbio entre as culturas de forma a potencializar a riqueza que existe em cada uma delas Por outro lado as diferenças culturais entre nações ou entre grupos que convivem em um mesmo espaço geográfico podem ser a raiz de numerosos conflitos A Unesco 2009 aponta como desafio da nossa época a capacidade de propormos uma perspectiva da diversidade cultural que não se configure em ameaça mas como um benefício uma vez que toda cultura tem contribuições efetivas a dar à comunidade internacional O sentido do termo diversidade cultural relacionase à existência de uma variedade de culturas interligadas por um processo de globalização Segundo a Unesco 2009 no entanto a diversidade cultural nem sempre resulta no convívio harmônico das culturas Perante essa variedade de códigos e perspectivas os estados nem sempre encontram as respostas apropriadas por vezes urgentes nem logram colocar a diversidade cultural ao serviço do bem comum UNESCO 2009 p 3 Discutir a relação entre literatura infantil criança e infância por meio do discurso da diversidade pressupõe abordar questões culturais e socioculturais de uma sociedade Silva 2000 Chauí 2000 Hall 2003 Santos 2006 a Unesco 2009 e Morgado 2010 todos contribuem para a reflexão sobre a literatura a partir do contexto histórico sociocultural e cultural em que é produzida lida e interpretada a fim de compreendermos as relações de poder existentes e representadas nas obras Ao abordar a literatura infantil pela perspectiva das representações da diversidade cultural enfatizase a força do campo simbólico para construir uma visão contra hegemônica que possa ser uma alternativa à visão das classes dominantes Ou seja a literatura infantil pode questionar as construções sociais e culturais que se fizeram ao longo da estória e que apresentam uma dada normalidade como natural e obrigatória Nessa normalidade aqueles que não se encaixam nesse padrão podem ser alvo de preconceitos por sua condição de gênero etnia linguagem nacionalidade religião etc As obras literárias se constituem e agem como instrumentos de construção identitária da criança sendo essas construções no viés individual ou coletivo que para Nelly Novaes Coelho têm uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em transformação a de servir como agente de formação COELHO 2000b p15 Foi tomando a literatura infantil como agente de formação da criança que se fundamentou a questão central deste trabalho que é analisar como a literatura infantil representa a diversidade cultural O objetivo deste artigo é refletir sobre a obra do autor mineiro Ronaldo Simões Coelho dirigida ao público infantil O Lobisomem que quase morreu de medo Partese do pressuposto de que a obra problematiza a diversidade cultural a diferença social e pessoal e as relações entre identidade e alteridade Com isso o autor permite que as crianças adquiram um olhar crítico sobre si mesmas e sobre o outro propiciando a o processo de construção de identidade tornandose capazes de refletir sobre os valores culturais presentes na sociedade em que vivem Por identidade entendemse os aspectos peculiares de um determinado povo como suas crenças ritos experiências comuns Hall 2003 defende a tese de que as identidades modernas estão sendo desconcentradas deslocadas Argumenta que as velhas identidades estão em declínio novas identidades estão surgindo e fragmentando o sujeito moderno abalado seus quadros de referências Com base nesse pressuposto Bauman 2005 afirmou que não se pensa em identidade quando o pertencimento vem naturalmente quando é algo pelo qual não se precisa lutar ganhar reivindicar e defender quando se pertence seguindo apenas os movimentos que parecem óbvios simplesmente pela ausência de competidores Essa pertença só é possível num mundo localmente confinado somente quando as totalidades a que se pertence forem definidas pela capacidade de massa cinzenta Nesses pequenos mundos estar aqui dentro é diferente de estar lá fora e a passagem do aqui para lá dificilmente ocorre se é que chega a ocorrer Notase que as sociedades contemporâneas são heterogêneas plurais formadas por diferentes grupos e interesses divergentes isto é apresentam identidades culturais em conflitos Neste contexto cabe ressaltar que essas diferenças estão em permanente contato MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo foi fundamentado na obra O Lobisomem que quase morreu de medo através da leitura intensiva buscando identificar como a narrativa apresenta a diversidade cultural identidade e a alteridade e concretizam sua problematização Subsidiariamente aplicaramse conceitos extraídos da Análise do Discurso Mainguenau 1989 1996 2001 e Charaudeau 2010 Na obra escolhida procurouse analisar como o autor trabalha os temas da diversidade cultural envolvendo identidade diferença e alteridade apontando sua centralidade ou transversalidade nas narrativas A análise do discurso buscou verificar de que maneira os autores Sujeitos Comunicantes SC desenvolveram estratégias como narradores Sujeitos Enunciadores SE para construindo a imagem de seus leitores Sujeitos Destinatários poderem atingir os seus leitores reais Sujeitos Interpretantes SI Segundo as teorias da Análise do Discurso AD desenvolvidas por Patrick Charaudeau e Dominique Mainguenau esse processo de comunicação envolvendo os sujeitos SC SE SD E SI organizase em dois pares de um lado o SC e o SE de outro o SD e o SI Reunindo esses dois pares há o produto cultural ou seja o discurso de que o texto é a evidência concreta Assim a análise efetuada preocupouse em levantar as marcas discursivas estratégicas usadas pelo sujeito enunciador de cada situação discursiva RESULTADOS No livro O Lobisomem que quase morreu de medo 1988 com ilustrações de Rubia Roberta contase a estória de um menino lobisomem que não sabia da existência dos humanos por acreditar que os homens eram uma criação de sua avó que contava estórias para assustar as crianças Nesse livro há a inversão de uma situação bem conhecida a criança que tem medo de entidades assustadoras como o lobisomem a mulasemcabeça o saci e outras Nessa narrativa em vez da criança assustada há uma criança lobisomem ainda mais assustada porque viu duas crianças humanas Depois dessa visão aterradora corre para contar aos outros lobisomens que viu humanos tal como eram descritos nas estórias de sua avó Mas ninguém acredita que tais seres humanos existam O tema principal do livro Lobisomem é a questão da identidade e da alteridade Para trabalhálo o autor apresenta o medo que o lobisomem sente do homem O medo é uma emoção que revela um dispositivo de defesa para um perigo aparente ou real Nessa obra o enredo utiliza o medo provocado pela constatação de que o ficcional se transforma em realidade O que era puro referente se transforma num objeto concreto Por meio da visão do narrador heterodiegético que narra em terceira pessoa e não participa dos fatos o leitor mirim tem a possibilidade de perceber que seu próprio medo do desconhecido lobisomens sacis mulas sem cabeça é transferido para uma dessas entidades e que de atemorizado passa a ser atemorizador Essa inversão das posições tradicionais questiona a centralidade do ser humano sua própria integridade e autopercepção apresentandolhe o outro lado e mostrandolhe que a diferença não é apenas dos outros em relação a ele mas dele em relação aos outros Ou seja o ser humano passa a ser o outro relativizando o seu lugar no mundo Ronaldo Simões Coelho dialoga intertextualmente com a lenda do lobisomem cujas origens são gregas e com outros textos literários que também trabalham a questão da alteridade como Frankenstein de Mary Shelley publicado em 1818 e Drácula de Bram Stoker de 1897 Todas essas personagens indicam o outro como um ser perigoso para o ser humano e reforçam a identidade humana e sua atitude de defesa o outro deve ser combatido e destruído Além disso retoma a tradição oral de contar estórias uma atividade tipicamente humana mas que é feita pela avó do lobisomem A própria lobisavó garantia Você está influenciado pelo que conto procê É claro que homens não existem Mas o lobicriança ainda tremendo afirmava que tinha visto gente COELHO 1988 p 6 Quando o menino lobisomem estava aprendendo a andar de bicicleta se deparou com dois meninos humanos iguais aos que sua avó descrevia nas estórias e percebeu que os homens realmente existiam que não eram uma invenção Assim com muito medo ele corre e vai contar aos outros lobisomens que viu dois humanos mas ninguém acreditou nele até que os levou ao local onde viu as crianças e todos puderam comprovar que os seres humanos existiam Ao se depararem com os dois meninos seres humanos todos entraram em pânico e foi uma correria tremenda A estória termina com o relato de que o caso ainda é contado às crianças lobisomens que também continuam achando que tudo é invenção da lobisavó Criticamente o autor desloca para os lobisomens a incapacidade que os homens têm de verem além de si mesmos É por isso que em vez de serem considerados reais os homens continuam a ser ficção para os lobisomens Como ficção são apenas referentes passíveis de serem captados pelo signo linguístico mas não de terem uma existência concreta Mas por serem ficção e viverem nas estórias podem vir a ser reais A narrativa se inicia com a fórmula tradicional das estórias infantis Era um lobisomem que não sabia ainda da existência de gente COELHO 1988 p 2 Em seguida se desenvolve normalmente Até que um dia quando estava aprendendo a andar de bicicleta viu dois meninos tão parecidos com aquilo que sua lobisavó descrevia que não teve dúvidas o tal homem existia mesmo COELHO 1988 p 3 O clímax acontece com o medo coletivo E lobivelho lobiadulto lobijovem lobimenino lobicriança foram todos até o lugar onde os dois meninos estavam E eles estavam lá COELHO 1988 p 8 O final da estória como se disse no parágrafo anterior concede aos lobisomens a mesma atitude humana não reconhecer a alteridade negála e exorcizála por meio da violência o que não é sugerido na estória ou por meio da ficção Mas hoje quando este caso é contado os lobisomens pequenos acham que é tudo invenção da lobisavó E apesar do medo morrem de rir COELHO 1988 p 9 Essa volta à normalidade é descrita por Nelly Coelho 2000a p 70 ao afirmar que a história surge de uma situação problemática que desequilibra a vida normal das personagens Situação que vai se modificando através da narrativa até sua solução final e a volta ao equilíbrio normal Em Lobisomem a situação problemática é o encontro do pequeno lobisomem com crianças que eram gente A personagem se depara com o desconhecido gerando assim o desequilíbrio emocional o medo e ao final tudo volta ao normal e se torna uma lenda passando por gerações os lobisomens pequenos acham que é tudo invenção da lobisavó E apesar do medo morrem de rir Em O Lobisomem que quase morreu de medo há um narrador externo onisciente que conta a estória Não há menção à forma como veio a saber dos fatos narrados Ele simplesmente os conhece e os relata Carlos Reis e Ana Cristina Lopes 1988 p 61 afirmam que a definição conceitual de narrador deve ser compreendida principalmente como autor textual sendo uma entidade fictícia que tem a função de enunciar o discurso como protagonista da comunicação narrativa No entanto vale ressaltar que o narrador é uma criação fictícia do autor para ser o transmissor do discurso Sendo assim não pode haver confusão entre narrador e autor Por outro lado para Compagnon 2001 p 47 o autor é uma entidade real responsável pelo universo do texto narrativo Assim existe uma relação entre texto e autor em que o autor é responsável pelo sentido e significação do texto Mas independentemente da sua intenção textual o que importa é a interpretação que o leitor faz daquilo que está lendo Umberto Eco com sua teoria precursora antecipou os conceitos de Compagnon e de Carlos Reis e Ana Cristina Lopes afirmando que existe um leitormodelo o espectador disposto a se divertir com a estória O leitormodelo é uma espécie de tipo ideal que o texto não só prevê como colaborador mas ainda procura criar ECO 1994 p 15 Em sequência Eco 1994 p 15 afirma que Um texto que começa com Era uma vez envia um sinal que lhe permite de imediato selecionar seu próprio leitormodelo o qual deve ser uma criança ou pelo menos uma pessoa disposta a aceitar algo que extrapola o sensato e o razoável O Lobisomem que quase morreu de medo inicia com Era um corroborando a afirmação de Umberto Eco pois o leitormodelo de que necessita são crianças na faixa etária de 3 a 7 anos que leiam ou ouçam a estória Mas principalmente que aceitem a narrativa tal qual ela é feita Da mesma forma Eco distingue entre o autor empírico e o autormodelo que como os chamamos são o autor e o narrador Com essas duas categorias Eco se antecipa ao que será postulado pela Análise do Discurso que irá problematizar a relação entre autor e leitor Para ela o processo narrativo inclui quatro sujeitos o autor Sujeito Comunicante e o narrador Sujeito Enunciador de um lado e o leitor destinatário Sujeito destinatário e o leitor interpretante Sujeito interpretante de outro Segundo Charaudeau 2010a há dois circuitos o social em que se incluem o autor e o interpretante e o linguístico e textual em que estão o narrador e o leitor destinatário A cada um desses pares Eco chama respectivamente de autormodelo e de leitormodelo Para falar ou escrever o autor usa uma série de estratégias desdobrandose em narrador É este narrador que fala oralmente ou no texto constituindo o conjunto de estratégias do autor O texto que contém essas estratégias é enviado ao leitor destinatário que é a imagem modelar ideal que o autor faz de seu leitor efetivo real o interpretante Nenhum texto transita diretamente do autor para o interpretante sem ser mediatizado pelas estratégias do narrador e pela imagem construída do destinatário Quando o autor emprega a fórmula Era uma vez está usando uma estratégia que pressupõe um leitor modelo isto é um destinatário ideal capaz de aceitar a narrativa e tudo o que ela contém O interpretante leitor efetivo do texto pode aceitála ou não ler o texto ou rejeitálo considerálo seriamente ou tomálo como algo impossível de acontecer CHARAUDEAU 2010a MAINGUENAU 2001 Como o leitormodelo de O Lobisomem que quase morreu de medo isto é o destinatário é a criança o enredo do texto é bastante simples Esse tipo de enredo sem maior complexidade é uma concessão a esse leitor e à sua capacidade de leitura Todos os outros textos analisados terão também esse enredo simplificado O enredo ou estória é o conjunto de fatos que se entrelaçam compondo a narrativa a trama da estória de maneira a se interrelacionar com todo o desfecho narrativo apresentando uma organicidade com início meio e fim A narrativa para Carlos Reis e Ana Cristina Lopes tem um narratário que nada mais é que o destinatário de que cita Charaudeau Assim percebese uma confluência apesar da nomenclatura diferenciada das duas teorias Para Reis e Lopes 1988 p 5 o narratário é uma entidade fictícia um ser de papel com existência puramente textual dependendo diretamente de outro ser de papel o narrador que se dirige de forma expressa ou tácita Para Charaudeau 2010a p 45 o sujeito destinatário é o interlocutor ideal O TUd sujeito destinatário é o interlocutor fabricado pelo EUc sujeito comunicante como destinatário ideal adequado ao seu ato de enunciação O EUc tem sobre ele um total domínio já que o coloca em um lugar onde supõe que sua intenção de fala será totalmente transparente para TUd Portanto há uma semelhança entre os vários conceitos como se observa no quadro abaixo Nomenclatura sobre autoria e leitura UMBERTO ECO REIS E LOPES CHARAUDEAU Autoria Autor empírico Autor EUc Sujeito comunicante Autor modelo Autor EUE Sujeito enunciador Leitura Leitor empírico Leitor TUi Sujeito interpretante Leitor modelo Narratário TUd Sujeito destinatário Fonte As autoras 2017 O Lobisomem é uma narrativa em terceira pessoa cujo narrador é heterodiegético que justamente se caracteriza pelo fato de narrar uma história que conhece pela sua experiência de testemunha direta dessa história LOPES REIS 1988 p 121 Ele simplesmente conhece a estória e vai contála a alguém seu leitormodelo ou destinatário Esse tipo de narrador se distancia com relação às personagens permanecendo anônimo Era um lobisomem que não sabia ainda da existência de gente Achava que os homens eram uma invenção de sua avó que gostava de contar histórias para assustar os lobisomens pequeninos como ele COELHO 1988 p 2 Neste trecho o narrador inverte a relação do homem com o lobisomem é este que não sabia que gente existia pensando que homens eram inventados pela avó que contava estórias De imediato portanto colocase a questão da alteridade A alteridade está relacionada com a interação e a concepção que o sujeito tem para com o outro ou seja a alteridade está presente na interação entre o eu o que cada ser tem no seu particular e no seu interior e o outro o que enxergamos no outro Existe um confronto com o estranho o não familiar que sem percebemos realizamos Isto é o indivíduo existe somente a partir da oposição e ou diferença para com o outro De acordo com Amaral 2007 p 7 O conceito de alteridade foi formulado por Emanuel Lévinas 19061995 Para ele a alteridade baseiase na constante constatação das diferenças que estabeleço entre eu e o outro e consiste em conferir ao outro uma existência como sujeito de modo que ele não se constitua num objeto para mim A partir do momento em que atribuo esse significado ao outro que lhe confiro alteridade será possível conviver com o diferente reconhecendo que ele tem direitos iguais aos meus através da constatação e do respeito às diferenças individuais culturais sociais resultando em uma convivência harmônica e na cooperação para o bemestar comum Por outro lado como ressalta a autora pode ser que a alteridade não seja respeitada Assim alteridade é ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade dos seus direitos e sobretudo da sua diferença Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais mais conflitos ocorrem O conceito de alteridade portanto apresenta aspectos positivos e negativos ao mesmo tempo em que colabora para a constituição da minha identidade a partir da diferença com o outro pode contribuir para a aniquilação desse outro exatamente por causa dessa diferença da sua alteridade em relação a mim A obra do Lobisomem convida a refletir sobre a própria identidade do ser humano a partir da construção de alteridade e do olhar para o outro proporcionando questionamentos sobre o outro e sobre o próprio ser Isso revela que as relações sociais estabelecem os conceitos de identidade e diferença estruturadas no universo cultural ou seja a cultura impõe um padrão e por meio desse modelo se constrói a identidade e alteridade Sendo assim como afirma Silva 2013 p 19 A cultura molda a identidade ao dar sentido à experiência e ao tomar possível optar entre as várias identidades possíveis por um modo específico de subjetividade Mas segundo este mesmo autor a identidade e a diferença não são nunca inocentes SILVA 2000 p 81 Outra abordagem possível no enredo do livro é a questão da monstruosidade que o autor inverte Para o ser humano para quem sua imagem e integridade são normais personagens como Lobisomem são seres que apresentam algo que falta ou algo deformado no corpo distanciandose das regras de normalidade física que a sociedade espera O escritor ao apresentar o ser humano como algo monstruoso do ponto de vista do lobisomem possibilita refletir que os indivíduos são monstros que determinam o que são identidade e sem dar conta da possibilidade de aceitar que são diferentes alteridade Assim são condicionados cultural e socialmente a ser considerados normais sem suspeitar de que pode ser diferente para outros Neste contexto a obra de Ronaldo Simões O Lobisomem que quase morreu de medo apresenta uma estrutura conhecida pelo leitor empírico e capaz de ser aceita pelo leitor modelo o pequeno lobisomem encontra criaturas humanas e se assusta com isso pois o que era ficção passa a ser realidade Essa estrutura narrativa simples e reconhecível é utilizada pelo autor para discutir algo nem tão simples ou reconhecível as relações entre identidade o mesmo e alteridade o outro Por isso não há como aprofundar psicologicamente as personagens a protagonista lobicriança é personagem plana isto é um estereótipo Da mesma forma espaço e tempo não têm importância na narrativa Uma vez capturado ficcionalmente pelo era uma vez o tempo indeterminase Usase o recurso do salto para condensar o tempo em que os fatos narrados se constituem no passado e o tempo também não é utilizado de forma complexa pelo narrador É o que se observa na mudança temporal do passado para o presente ao finalizar o enredo Mas hoje quando este caso é contado COELHO 1988 p 9 Considerandose o leitor modelo do texto ou o seu sujeito interpretante na conceituação de Charaudeau podese dizer que o texto atingiu seu objetivo discutir ficcionalmente a relação entre identidade e alteridade e mostrar que são posições reversíveis Dessa maneira permitese que a criança reflita sobre sua identidade e a construa de forma a reconhecer o outro como condição para que essa identidade seja possível Podese dizer que assim a literatura infantil irá ajudar nesse processo segundo Mariosa e Reis 2011 p 48 A literatura infantil pode influenciar de forma definitiva no processo de construção de identidades das crianças A literatura serve muitas vezes como fonte de significados existenciais que poderão ser aplicados ao mundo real Então conforme Abramovich 1989 para que o indivíduo possa formar a sua própria identidade ele precisa recriar a realidade e imaginála CONSIDERAÇÕES FINAIS A diversidade pode ser tomada como uma realidade positiva que possibilita o intercâmbio entre as culturas de forma a potencializar a riqueza que existe em cada uma delas Por outro lado as diferenças culturais entre nações ou entre grupos que convivem em um mesmo espaço geográfico podem ser a raiz de numerosos conflitos Discutiuse neste estudo a relação entre literatura infantil e o discurso da diversidade com a abordagem de questões culturais e socioculturais de uma sociedade relacionadas a questões de identidade alteridade e diferença e como o autor mineiro trabalha esses temas Dessa maneira a obra O Lobisomem que quase morreu de medo tem um papel fundamental no leitor infantil em proporcionar motivação construção de identidade valores simbólicos e coletivos pois a obra conserva a originalidade reelabora e ressignifica os novos elementos da contemporaneidade proporcinado elementes que contribua para a discussão da diversidade cultural na sociedade prossibilitando as crianças uma reflexão que existem grupos que são diferentes entre si mas os direitos entre si são correlatos O estudo buscou ainda relatar as estratégias adotadas pelo escritor para veicular um discurso literário a favor da valorização da diversidade e da diferença Constatouse que na obra escolhida existem diferentes identidades a partir da vivência e experiências com o outro e que essa obra promove uma reflexão sobre a diversidade humana O autor mesmo que se declare que não houve uma intenção de abordar a diversidade alteridade identidade e diferença e que isso não foi inserido nas obras com a finalidade de proporcionar ao público infantil uma reflexão de como lidar com essas questões e como respeitar as diferenças humanas o fato é que tais temas estão lá Isso demonstra o que a Análise do Discurso e outras teorias antes dela afirmam o autor apesar de sua intencionalidade não tem domínio total sobre seu texto nem o texto contém a totalidade de sua significação Esta será dada pelo leitor que irá jogar sobre o texto toda a sua experiência e capacidade de leitura REFERÊNCIAS MAINGUENAU Dominique Novas tendências em análise do discurso Campinas Pontes 1989 MAINGUENAU Dominique O contexto da obra literária Tradução de Marina Appenzeller 2 ed São Paulo Martins Fontes 2001 BARROS José Márcio Org Diversidade cultural da proteção à promoção Belo Horizonte Autêntica 2008 COMPAGNON Antoine O demônio da teoria literatura e senso comum Belo Horizonte UFMG 2001 BAUMAN Zygmunt Identidade Tradução de Carlos Alberto Medeiros Rio de Janeiro Zahar 2005 CHARAUDEAU Patrick A conquista da opinião pública como o discurso manipula as escolhas políticas Tradução de Ângela M S Corrêa São Paulo Contexto 2016 COELHO Ronaldo Simões O lobisomem que quase morreu de medo Belo Horizonte RHJ 1988 CHARAUDEAU Patrick Linguagem e discurso modos de organização Tradução de Ângela M S Correa e Ida Lúcia Machado 2 ed São Paulo Contexto 2010a AMARAL Vera Lúcia do A formação da identidade alteridade e estigma Natal EDUFRN 2007 SILVA Tomaz Tadeu Identidade e diferença a perspectiva dos estudos culturais Petrópolis Vozes 2013 CHARAUDEAU Patrick O discurso propagandista uma tipologia In MACHADO Ida Lucia MELLO Renato Análises do Discurso Hoje Rio de Janeiro Nova Fronteira 2010b p 5778 v 3 Disponível em httpwwwpatrickcharaudeaucomIMGpdf2010dDiscPropag BeloVol3ARTICLEpdf 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