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Calvin S Hall t Gardner Lindzey John B Campbell Teorias da Personalidade rt p f i ie ee my é Y 1a ff ee 4 RY oH 1 F aa i te hall 3 re Ef 4 A Ee q 4 f hee MD es Edigao er eee ae c ls ye ano Ie ae A i BS artmed eo as a Fe E 4 ot i i TEORIAS DA PERSONALIDADE 1 Teorias da Personalidade 2 HALL LINDZEY CAMPBELL H174h Hall Calvin S Teorias da personalidade recurso eletrônico Calvin S Hall Gardner Lindzey John B Campbell tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese Dados eletrônicos Porto Alegre Artmed 2007 Editado também como livro impresso em 2000 ISBN 9788536307893 1 Psicotipologia I LIndzey Gardner II Campbell John B III Título CDU 159923 Catalogação na publicação Júlia Angst Coelho CRB 101712 TEORIAS DA PERSONALIDADE 3 Versão impressa desta obra 2000 Calvin S Hall University of California Santa Cruz California Gardner Lindzey Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences Stanford California John B Campbell Franklin Marshall College Lancaster Pennsylvania Tradução MARIA ADRIANA VERÍSSIMO VERONESE Psicóloga Consultoria supervisão e revisão técnica desta edição ANTÔNIO CARLOS AMADOR PEREIRA Mestre em Psicologia Clínica pela PUCSP Professor da Faculdade de Psicologia da PUCSP Teorias da Personalidade 4ª Edição 2007 4 HALL LINDZEY CAMPBELL Obra originalmente publicada sob o título Theories of personality John Wiley Sons Inc 1998 ISBN 0471303429 Créditos das fotografias Capítulo 2 Página 51 ArchivPhoto Researchers Página 52 Edmund Engleman Capítulo 3 Página 87 KarshWoodfin Camp Associates Capítulo 4 Página 119 Cortesia de Alfred Adler Consultation Center Página 129 Rene Burri Magnum Photos Inc Página 134 Horney ClinicCorbisBettmann Página 139 Cortesia de William Alanson White Psychiatric Foundation Capítulo 5 Página 166 Jon EriksonCortesia de ClarkeStewart Capítulo 6 Página 192 Cortesia de Harvard University News Office Cambridge MA Capítulo 7 Página 225 Cortesia de Harvard University News Office Cambridge MA Capítulo 9 Página 293 Cortesia de Hans EysenckThe Institute of Psychiatry The Maudsley Hospital Londres Capítulo 10 Página 318 Archives of the History of American Psychology Página 330 Cortesia de Dr Ricardo Morant Department of Psychology Brandeis University Capítulo 11 Página 351 Cortesia de National Library of Medicine Página 355 Archives of the History of American Psychology Página 364 Charles Schneider Photography Capítulo 12 Página 391 Christopher S JohnsonStock Boston Capítulo 13 Página 423 Cortesia de Yale University Página 425 Stella Kupferberg Capítulo 14 Página 461 Cortesia de Albert Bandura Página 479 Cortesia de Walter Mischel Capa JOAQUIM DA FONSECA Preparação do original NARA VIDAL Supervisão editorial LETÍCIA BISPO DE LIMA Editoração eletrônica e filmes GRAFLINE EDITORA GRÁFICA Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à ARTMED EDITORA SA Av Jerônimo de Ornelas 670 Santana 90040340 Porto Alegre RS Fone 51 30277000 Fax 51 30277070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume no todo ou em parte sob quaisquer formas ou por quaisquer meios eletrônico mecânico gravação fotocópia distribuição na Web e outros sem permissão expressa da Editora SÃO PAULO Av Angélica 1091 Higienópolis 01227100 São Paulo SP Fone 11 36651100 Fax 11 36671333 SAC 0800 7033444 TEORIAS DA PERSONALIDADE 5 Para nossos professores e amigos Gordon W Allport Henry A Murray Edward C Tolman TEORIAS DA PERSONALIDADE 7 Prefácio A edição original de Hall e Lindzey 1957 definiu o campo da personalidade levou a dezenas de livros didáticos sobre a teoria da personalidade gerou centenas de cursos em nível de graduação e pósgraduação nas universidades e mantevese como um texto clássico por meio de duas revisões A terceira edição 1978 tem agora 20 anos de idade A maior parte do material dessa edição ainda permanece relevante mas ela ficou desatualizada em dois aspectos Primeiro as teorias enfatiza das excluem várias posições de grande importância contemporânea Segundo o texto obviamente omite qualquer referência ao corpo de pesquisas realizadas nos últimos 20 anos A quarta edição de Hall e Lindzey foi preparada para corrigir as inadequações decorrentes da passagem do tempo É importante enfatizar entretanto que esta quarta edição não altera aqueles atributos responsáveis pelo duradouro valor de Hall e Lindzey Isto é a revisão trata as teorias da personalidade central mente importantes de uma forma abrangente rigorosa e agradável Este texto destinase aos pro fessores e aos alunos que acolhem com satisfação esta abordagem A necessidade de incluir materiais novos combinada com as inevitáveis limitações de espaço obrigounos a tomar difíceis decisões sobre as teorias a serem incluídas Nós retiramos relutante mente os capítulos sobre a abordagem de Sheldon e as abordagens existencial e oriental apesar de seu persistente apelo Além disso omitimos o capítulo sobre os modelos organísmicos mas incor poramos ao capítulo sobre Carl Rogers porções do material sobre Kurt Goldstein e Abraham Mas low Da mesma forma retiramos o capítulo sobre Kurt Lewin mas parte do material foi acrescenta da a um novo capítulo sobre George Kelly Também incluímos novos capítulos sobre Hans Eysenck que foi mencionado no capítulo sobre Raymond Cattell na terceira edição e sobre Albert Bandura previamente incluído no capítulo sobre estímuloresposta Essas mudanças juntamente com as revisões dos capítulos da terceira edição pretendem produzir um texto que apresentará ao leitor as teorias mais diretamente relevantes para o trabalho atual em personalidade e nas áreas relaciona das Esta revisão será familiar para os leitores que conhecem as edições anteriores de Hall e Lindzey Mantivemos a prática de apresentar cada posição teórica da maneira mais positiva possível e o formato de cada capítulo foi amplamente preservado Acrescentamos uma relação de conteúdos ampliada para orientar o leitor e um resumo esquemático no início de cada capítulo Em uma nova tentativa de ajudar o leitor a compreender as diferentes teorias e seus interrelacionamentos divi dimos as teorias em quatro grupos Os teóricos desses grupos são distintos mas compartilham uma ênfase comum que pode estar na psicodinâmica na estrutura da personalidade na realidade per cebida ou na aprendizagem 8 HALL LINDZEY CAMPBELL Queremos alertar o leitor para várias considerações gerais Primeiro continuamos fiéis a uma abordagem de teóricos da personalidade em vez de uma abordagem de pesquisa ou de tópi cos O aspecto distintivo dos modelos de personalidade é o reconhecimento e a preservação da integridade fundamental dos indivíduos conforme salientado no Capítulo 1 Os textos organizados em função de classes de comportamento ou de unidades estruturais ou dinâmicas inevitavelmente prejudicam essa integridade Segundo esta apresentação enfatiza traduções de constructos por meio das teorias Por exemplo Freud e Rogers propuseram um modelo de conflito embora os modelos difiram substancialmente em suas suposições e operações Cattell também discutiu o con flito mas tentou definilo quantitativamente Freud Kelly e Rogers enfatizaram a ansiedade po rém definiram o constructo de maneiras muito diferentes Bandura enfatizou a autoeficácia que por sua vez soa como a busca de superioridade de Adler a motivação para a eficiência de White e o princípio de domínio e a competência de Allport A dinâmica do self apresentada por Karen Horney antecipa claramente a formulação muito influente de Carl Rogers uma geração mais tarde e assim por diante Essas traduções são interessantes em si mesmas Além disso elas demonstram a existência de conexões entre as teorias Por extensão existe substância no constructo da persona lidade Finalmente acreditamos que é importante mostrar conexões entre as teorias da personali dade e as pesquisas atuais Essas teorias têm valor heurístico A nossa agenda nem tão oculta visa a mostrar que esses modelos de personalidade não são dinossauros desajeitados e obsoletos Pelo contrário eles sugerem hipóteses e se relacionam à grande parte dos trabalhos em nossos periódi cos Esperamos que o estudo das teorias apresentado por nós convença o leitor de sua utilidade empírica e prática Gardner Lindzey John B Campbell VIII PREFÁCIO TEORIAS DA PERSONALIDADE 9 Prefácio da Terceira Edição Esta edição de Teorias da personalidade contém vários aspectos novos Os mais proeminentes são os dois novos capítulos um sobre a teoria psicanalítica contemporânea e o outro sobre a psicologia oriental O primeiro descreve algumas das mudanças ocorridas na teoria e na pesquisa psicanalíti cas desde a morte de seu fundador Sigmund Freud Nesse capítulo é dada uma atenção especial às importantes contribuições de Erik H Erikson Devido ao crescente interesse pelo pensamento oriental consideramos adequado e oportuno apresentar um resumo da teoria oriental da personalidade e sua influência sobre a psicologia oci dental Fomos afortunados pois Daniel Goleman uma autoridade sobre a psicologia oriental esbo çou esse capítulo para nós Outra inovação é uma mudança na ordem dos capítulos As teorias clinicamente orientadas estão agrupadas na primeira metade do livro as teorias mais experimentais e quantitativas se encontram agrupadas na segunda metade do livro Os capítulos que apareceram na segunda edição sofreram quantidades variadas de revisão amplificação e condensação Em cada caso tentamos discutir todas as contribuições teóricas e de pesquisa mais importantes publicadas desde a nossa última edição Nossos editores se esforçaram ao máximo para produzir um livro com um design atraente que enfatizasse claramente os títulos e subtítulos e tornasse mais fácil a leitura Pela primeira vez aparecem fotografias no livro Recebemos uma ajuda significativa de várias pessoas Erik Erikson leu a seção do Capítulo 3 dedicada às suas idéias e fez numerosas e úteis contribuições para melhorála Medard Boss nos forneceu novas informações sobre suas atividades desde 1970 e Jason Aronson e Paul J Stern nos ofereceram os manuscritos de traduções inglesas de dois livros recentes de Boss Mais uma vez John Loehlin e Janet T Spence realizaram serviços essenciais na revisão dos capítulos sobre a teoria do fator e sobre a teoria de estímuloresposta respectivamente Jim Mazur realizou um serviço comparável em relação ao capítulo que trata da teoria operante William McGuire da Princeton University Press e Janet Dallett da Clínica C G Jung Los Angeles ajudaram na revisão do capítulo sobre Jung Vernon J Nordby colaborou na preparação do novo capítulo sobre a teoria psicanalítica contemporânea Ruth Wylie nos forneceu material 10 HALL LINDZEY CAMPBELL nãopublicado para usar no capítulo sobre Rogers Rosemary Wellner nos ofereceu excelentes con selhos editoriais e Gen Carter foi muito útil na preparação final de grande parte do manuscrito As contribuições de Gardner Lindzey foram facilitadas pelo Center for Advanced Study in the Behavi oral Sciences Calvin S Hall Gardner Lindzey X PREFÁCIO DA TERCEIRA EDIÇÃO TEORIAS DA PERSONALIDADE 11 Prefácio da Segunda Edição Nos 13 anos decorrentes entre a primeira e a presente edição de Teorias da personalidade ocorre ram várias mudanças na teoria da personalidade A morte diminuiu o rol dos teóricos mais impor tantes Angyal 1960 Jung 1961 Goldstein 1965 e Allport 1967 Algumas das teorias foram substancialmente revisadas e elaboradas por seus criadores Todas as teorias em maior ou menor extensão estimularam atividades empíricas adicionais Mais importante surgiram no cenário no vos pontos de vista que merecem atenção Vamos refletir sobre os novos pontos de vista Foi difícil decidir quais entre as novas teorias que emergiram desde 1957 deveriam ser discutidas aqui Poucos leitores contestarão energica mente as escolhas que fizemos Os amigos e os inimigos igualmente concordarão que o ponto de vista de B F Skinner seria ousadia chamálo de teoria se tornou uma influência importante na psicologia americana e não deve ser omitido Também não podemos ignorar uma importante con tribuição européia para a teoria da personalidade A psicologia existencial conquistou um público significativo nos últimos dez anos não apenas em sua Europa natal mas também nos Estados Unidos Ela é um dos pilares do florescente movimento humanista Embora possa haver pouca discordância sobre essas escolhas nós antecipamos as queixas sobre as omissões especialmente de Piaget e da teoria cognitiva Ambas as teorias foram examinadas cuidadosamente e ambas teriam sido incluídas se o espaço permitisse A decisão final baseouse no critério da sua centralidade para a psicologia da personalidade Skinner e a psicologia existencial nos pareceram satisfazer esse critério mais do que a teoria desenvolvimental de Piaget ou a teoria cognitiva As limitações de espaço também exigiram alguns cortes Cattell emergiu como o principal representante da teoria fatorial de Eysenck que dividira o palco com ele na primeira edição e que se envolveu cada vez mais com a teoria do comportamento e aparece no capítulo sobre a teoria de estímuloresposta Capítulo 11 assim como no capítulo sobre a teoria fatorial Capítulo 10 A teoria biossocial de Murphy foi relutantemente sacrificada por ser uma teoria eclética e como tal seus principais conceitos estão adequadamente representados em outros capítulos Todos os capí tulos restantes foram atualizados Alguns dos capítulos particularmente os que tratam de Allport da teoria fatorial da teoria de ER e de Rogers sofreram ampla revisão Os outros capítulos preci saram de menos alterações O formato dos capítulos não foi modificado Todos os pontos de vista ainda são apresentados sob uma luz positiva Esforçamonos ao máximo para descrever com clareza e exatidão os aspectos essenciais de cada teoria 12 HALL LINDZEY CAMPBELL Fomos extremamente afortunados pois B F Skinner e Medard Boss cujas posições estão re presentadas nos dois capítulos novos Capítulos 12 e 14 leram e comentaram o que tínhamos escrito sobre seus pontos de vista A preparação do novo capítulo sobre a teoria do reforço operan te de Skinner e a revisão dos capítulos sobre a teoria de ER e as teorias fatoriais tornaramse grandemente facilitadas pelas contribuições detalhadas e substanciais de Richard N Wilton Janet T Spence e John C Loehlin Também somos gratos a G William Domhoff Kenneth MacCorquodale e Joseph B Wheelwright que fizeram contribuições críticas à revisão Florence Strong e Allen Stewart foram diligentes leitores de provas e indexadores Calvin S Hall Gardner Lindzey XII PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO TEORIAS DA PERSONALIDADE 13 Prefácio da Primeira Edição Apesar do crescente interesse dos psicólogos pela teoria da personalidade não existe uma fonte única à qual o aluno possa recorrer se está buscando um resumo das teorias existentes O presente volume pretende corrigir essa falha Ele oferece resumos compactos mas abrangentes das princi pais teorias da personalidade contemporâneas em um nível de dificuldade apropriado à instrução universitária A partir deste livro o aluno tem assegurado um panorama detalhado da teoria da personalidade e ao mesmo tempo pode prepararse para ler as fontes originais com maior apreci ação e facilidade Esperamos que este volume tenha uma função na área da personalidade seme lhante à do Theories of learning de Hilgard na área da aprendizagem Que teorias devem ser incluídas em um volume sobre teoria da personalidade Embora não seja fácil especificar exatamente o que é uma teoria da personalidade é ainda mais difícil concor dar sobre quais são as mais importantes dessas teorias Como fica claro no primeiro capítulo estamos dispostos a aceitar qualquer teoria geral do comportamento como uma teoria da persona lidade Ao julgar sua importância recorremos principalmente à nossa avaliação do grau de influên cia que a teoria teve sobre a pesquisa e sobre a formulação psicológica Nesse complexo julgamen to também está envolvida a questão da possibilidade de distinção Quando duas ou mais teorias nos pareciam muito semelhantes ou tratávamonas em um mesmo capítulo ou selecionávamos uma delas e excluíamos as outras Dados esses amplos critérios de importância e possibilidade de distinção provavelmente haverá poucas objeções às teorias específicas que decidimos incluir neste volume Mas pode haver menos unanimidade em relação à nossa decisão de omitir certas teorias Notáveis entre as omissões são a teoria hórmica de McDougall a teoria de papel a teoria da contigüidade de Guthrie o comportamentalismo intencional de Tolman e algumas posições recen temente desenvolvidas como as de David McClelland Julian Rotter e George Kelly Originalmente planejávamos incluir a teoria hórmica de McDougall e a teoria de papel mas as limitações de espaço nos obrigaram a reduzir o número de capítulos e essas foram as teorias que julgamos mais sacrificáveis A teoria hórmica foi omitida porque a sua influência é um pouco mais indireta que a das outras teorias Embora consideremos McDougall um teórico de grande importância seu impacto contemporâneo é grandemente mediado por teóricos mais recentes que tomaram emprestados aspectos de sua teoria A teoria de papel parecenos é desenvolvida de forma menos sistemática que a maioria das outras posições que elegemos incluir É verdade que a teoria contém uma idéia dominante de considerável valor e importância mas essa idéia ainda não foi incorporada a uma rede de conceitos abrangentes sobre o comportamento humano Guthrie e Tolman foram omitidos em favor da teoria do reforço de Hull simplesmente porque tem havido 14 HALL LINDZEY CAMPBELL uma aplicação de pesquisa menos comum dessas teorias fora da área da aprendizagem McCle lland Rotter e Kelly não foram incluídos por serem muito recentes e porque em alguns aspectos suas posições se assemelham a teorias ou combinações de teorias incluídas por nós Depois de decidir quais teorias incluir ainda deparamonos com o problema de como organizar e descrever essas posições Certa consistência no modo de apresentação parecia desejável mas ao mesmo tempo queríamos preservar a integridade de cada teoria Acabamos optando por apresen tar categorias gerais em termos das quais as teorias podiam ser descritas permitindonos bastante liberdade dentro dessas categorias de modo a apresentar cada teoria da maneira que parecia mais natural Também não aderimos muito rigidamente a essas categorias gerais Em alguns casos fo ram necessárias novas categorias para representar adequadamente uma teoria específica e em um ou dois casos pareceu aconselhável combinar categorias Mas de modo geral cada teoria é apre sentada com uma seção de Orientação que relata brevemente a história pessoal do teórico esboça as principais linhas de influência sobre a teoria e oferece um resumo de seus aspectos mais impor tantes A seguir o leitor encontrará uma seção sobre a Estrutura da Personalidade na qual estão incluídos os conceitos desenvolvidos para representar as aquisições ou as porções duradouras da personalidade Depois há uma seção sobre a Dinâmica da Personalidade que apresenta os princípi os e os conceitos motivacionais ou disposicionais defendidos pelo teórico Logo depois vem uma seção sobre Desenvolvimento da Personalidade que trata do crescimento e da mudança conforme representados pela teoria Seguese uma seção sobre Pesquisa Característica e Métodos de Pesqui sa em que são apresentadas investigações representativas e técnicas empíricas Há então uma seção de conclusão intitulada Status Atual e Avaliação que delineia brevemente o atual estado da teoria e resume suas principais contribuições assim como as críticas mais importantes recebidas No final de cada capítulo há uma breve lista das Principais Fontes representando as fontes origi nais mais importantes relativas à teoria Todas as publicações referidas no texto são reunidas em uma seção final no fim de cada capítulo intitulada Referências Tentamos apresentar cada teoria sob uma luz positiva detendonos naqueles aspectos da teo ria que nos pareciam mais úteis e sugestivos Embora tenhamos incluído uma breve crítica a cada teoria a nossa principal intenção não foi avaliar essas teorias Na verdade tentamos apresentálas em termos expositivos que demonstrem para o que elas são boas ou que promessa contêm para o indivíduo que as adotar A extensão de um capítulo não reflete o nosso julgamento sobre a impor tância relativa da teoria Cada teoria foi escrita no que nos pareceu o número mínimo de páginas necessárias para representar de modo acurado e abrangente as suas características essenciais O leitor vai perceber que em alguns capítulos parece haver informações mais detalhadas e pessoais referentes ao teórico e ao desenvolvimento de sua teoria do que em outros Isso se deve unicamen te à disponibilidade de informações Nos casos em que sabíamos bastante sobre o teórico decidi mos incluir todas as informações que nos pareciam vitais mesmo que isso fizesse com que alguns capítulos parecessem mais personalizados do que outros Na preparação deste livro buscamos e recebemos uma ajuda inestimável de vários colegas É com profunda gratidão e apreço que reconhecemos a contribuição pessoal de muitos dos teóricos cujo trabalho é apresentado aqui Eles nos esclareceram sobre vários pontos e fizeram numerosas sugestões sobre a forma e sobre o conteúdo que melhoraram imensamente o manuscrito O mérito que este livro porventura possui deve ser atribuído em grande parte ao meticuloso cuidado com que cada um dos teóricos leu e criticou o capítulo dedicado à sua teoria Gordon W Allport Ray mond B Cattell H J Eysenck Kurt Goldstein Carl Jung Neal E Miller Gardner Murphy Henry A Murray Carl Rogers Robert R Sears e William Sheldon Além de comentários esclarecedores sobre o capítulo referente à sua teoria Gordon Allport fez críticas penetrantes e ofereceu sugestões cria tivas sobre todos os capítulos restantes Ele também usou muitos dos capítulos em seus cursos de XIV PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO TEORIAS DA PERSONALIDADE 15 graduação e pósgraduação e transmitiunos os comentários e as sugestões dos alunos Agradece mos imensamente não apenas a esses alunos de Harvard e de Radcliffe mas também aos alunos da Western Reserve University que leram e comentaram os capítulos Também reconhecemos com satisfação nosso débito para com as seguintes pessoas cada uma das quais leu um ou mais capítu los deste livro e contribuiu com sugestões que os melhoraram John A Atkinson Raymond A Bauer Urie Bronfenbrenner Arthur Combs Anthony Davids Frieda FrommReichmann Eugene L Hartley Ernest Hilgard Robert R Holt Edward E Jones George S Klein Herbert McClosky Geor ge Mandler James G March A H Maslow Theodore M Newcomb Helen S Perry Stewart E Perry M Brewster Smith Donald Snygg S S Stevens Patrick Suppes John Thibaut Edward C Tolman e Otto A Will Jr Também agradecemos a Heinz e Rowena Ansbacher por nos fornecerem a prova de página de seu livro The individual psychology of Alfred Adler antes de sua publicação Ele nos foi muito útil para a redação da seção sobre a teoria da personalidade de Adler Na preparação final do manuscrito recebemos uma ajuda inestimável de Virginia Caldwell Marguerite Dickey e Kenneth Wurtz A conclusão deste livro foi imensamente facilitada por uma licença de meio ano para Calvin S Hall remunerada pela Western Reserve University e por uma bolsa do Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences outorgada a Gardner Lindzey A redação também foi facilitada pela permissão recebida por Lindzey para usar as instalações da Biblioteca do Dartmouth College du rante o verão de 1954 Calvin S Hall Gardner Lindzey PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO XV TEORIAS DA PERSONALIDADE 17 Sumário Capítulo 1 A Natureza da Teoria da Personalidade 27 A Teoria da Personalidade e a História da Psicologia 28 O que É Personalidade 32 O que É uma Teoria 33 Uma Teoria da Personalidade 36 A Teoria da Personalidade e Outras Teorias Psicológicas 38 A Comparação das Teorias da Personalidade 39 Atributos Formais 39 Atributos Substantivos 40 ÊNFASE NA PSICODINÂMICA 45 Capítulo 2 A Teoria Psicanalítica Clássica de Sigmund Freud 49 Introdução e Contexto 50 História Pessoal 50 A Estrutura da Personalidade 53 O Id 53 O Ego 54 O Superego 54 A Dinâmica da Personalidade 55 Instinto 55 A Distribuição e a Utilização da Energia Psíquica 58 Ansiedade 60 O Desenvolvimento da Personalidade 61 Identificação 61 Deslocamento 62 Os Mecanismos de Defesa do Ego 63 Estágios de Desenvolvimento 65 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 68 O Credo Científico de Freud 69 18 HALL LINDZEY CAMPBELL Associação Livre e Análise de Sonhos 70 Estudos de Caso de Freud 72 AutoAnálise de Freud 74 Pesquisa Atual 74 Ativação Psicodinâmica Subliminar 75 Nova Visão 3 77 Status Atual e Avaliação 78 Capítulo 3 A Teoria Analítica de Carl Jung 83 Introdução e Contexto 84 História Pessoal 85 A Estrutura da Personalidade 88 O Ego 88 O Inconsciente Pessoal 88 O Inconsciente Coletivo 88 O Self 92 As Atitudes 92 As Funções 93 Interações entre os Sistemas da Personalidade 94 A Dinâmica da Personalidade 96 Energia Psíquica 96 O Princípio da Equivalência 98 O Princípio da Entropia 98 O Uso da Energia 99 O Desenvolvimento da Personalidade 99 Causalidade Versus Teleologia 100 Sincronicidade 100 Hereditariedade 100 Estágios de Desenvolvimento 101 Progressão e Regressão 102 O Processo de Individuação 103 A Função Transcendente 103 Sublimação e Repressão 103 Simbolização 104 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 105 Estudos Experimentais de Complexos 105 Estudos de Caso 105 Estudos Comparativos de Mitologia Religião e as Ciências Ocultas 106 Sonhos 107 Pesquisa Atual 108 A Tipologia de Jung 108 O Indicador de Tipo MyersBriggs 109 Status Atual e Avaliação 111 TEORIAS DA PERSONALIDADE 19 Capítulo 4 Teorias Psicológicas Sociais Adler Fromm Horney e Sullivan 115 Introdução e Contexto 116 A L F R E D A D L E R 117 Finalismo Ficcional 120 Busca de Superioridade 121 Sentimentos de Inferioridade e Compensação 121 Interesse Social 122 Estilo de Vida 123 O Self Criativo 125 Neurose 125 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 126 Ordem de Nascimento e Personalidade 126 Memórias Iniciais 126 Experiências da Infância 127 Pesquisa Atual 127 Interesse Social 127 E R I C H F R O M M 128 K A R E N H O R N E Y 133 Horney e Freud 133 Ansiedade Básica 135 As Necessidades Neuróticas 136 Três Soluções 137 Alienação 137 H A R R Y S T A C K S U L L I V A N 138 A Estrutura da Personalidade 140 Dinamismos 141 Personificações 142 Processos Cognitivos 143 A Dinâmica da Personalidade 143 Tensão 143 Transformações de Energia 144 O Desenvolvimento da Personalidade 144 Estágios de Desenvolvimento 145 Determinantes do Desenvolvimento 146 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 147 A Entrevista 147 Pesquisa sobre a Esquizofrenia 148 Status Atual e Avaliação 149 20 HALL LINDZEY CAMPBELL Capítulo 5 Erik Erikson e a Teoria Psicanalítica Contemporânea 153 Introdução e Contexto 154 Psicologia do Ego 155 Anna Freud 155 Relações Objetais 157 Heinz Kohut 159 A Fusão da Psicanálise e da Psicologia 160 George Klein 161 Robert White 162 E R I K H E R I K S O N 165 História Pessoal 165 A Teoria Psicossocial do Desenvolvimento 168 I Confiança Básica Versus Desconfiança Básica 169 II Autonomia Versus Vergonha e Dúvida 171 III Iniciativa Versus Culpa 171 IV Diligência Versus Inferioridade 172 V Identidade Versus Confusão de Identidade 173 VI Intimidade Versus Isolamento 174 VII Generatividade Versus Estagnação 174 VIII Integridade Versus Desespero 175 Um Novo Conceito de Ego 175 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 177 Histórias de Caso 177 Situações Lúdicas 177 Estudos Antropológicos 179 PsicoHistória 180 Pesquisa Atual 181 Status da Identidade 182 Outros Estágios 183 Status Intercultural 183 Status Atual e Avaliação 184 ÊNFASE NA ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 187 Capítulo 6 A Personologia de Henry Murray 189 Introdução e Contexto 190 História Pessoal 191 A Estrutura da Personalidade 194 Definição de Personalidade 195 Procedimentos e Séries 195 Programas e Planos Seriados 196 Habilidades e Realizações 196 Elementos Estáveis de Personalidade 196 TEORIAS DA PERSONALIDADE 21 A Dinâmica da Personalidade 198 Necessidade 198 Pressão 202 Redução de Tensão 203 Tema 204 Necessidade Integrada 204 UnidadeTema 205 Processos de Reinância 205 Esquema de VetorValor 205 O Desenvolvimento da Personalidade 206 Complexos Infantis 206 Determinantes GenéticoMaturacionais 209 Aprendizagem 209 Determinantes Socioculturais 210 Singularidade 210 Processos Inconscientes 210 O Processo de Socialização 210 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 211 Estudo Intensivo de Pequenos Números de Sujeitos Normais 211 O Conselho Diagnóstico 212 Instrumentos de Mensuração da Personalidade 212 Estudos Representativos 213 Pesquisa Atual 215 McClelland e os Motivos Sociais 215 Interacionismo 216 Onde Está a Pessoa 217 Psicobiografia 218 Status Atual e Avaliação 219 Capítulo 7 Gordon Allport e o Indivíduo 223 Introdução e Contexto 224 História Pessoal 224 A Estrutura e a Dinâmica da Personalidade 228 Personalidade Caráter e Temperamento 228 Traço 229 Intenções 232 O Proprium 232 Autonomia Funcional 233 A Unidade da Personalidade 236 O Desenvolvimento da Personalidade 236 O Bebê 236 A Transformação do Bebê 237 O Adulto 238 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 239 Idiográfico Versus Nomotético 239 Medidas Diretas e Indiretas da Personalidade 240 22 HALL LINDZEY CAMPBELL Estudos do Comportamento Expressivo 241 Cartas de Jenny 244 Pesquisa Atual 245 O Interacionismo e o Debate PessoaSituação Revisitados 245 Idiográfica e Idiotética 246 Allport Revisitado 248 Status Atual e Avaliação 250 Capítulo 8 A Teoria de Traço FatorialAnalítica de Raymond Cattell 253 Introdução e Contexto 254 Análise Fatorial 254 História Pessoal 256 A Natureza da Personalidade Uma Estrutura de Traços 258 Traços 259 Traços de Capacidade e de Temperamento 260 A Equação de Especificação 263 Traços Dinâmicos 265 Cattell e Freud 269 O Desenvolvimento da Personalidade 270 Análise da HereditariedadeAmbiente 272 Aprendizagem 272 Integração da Maturação e da Aprendizagem 273 O Contexto Social 273 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 274 Um Estudo Fatorial Analítico de um Único Indivíduo 275 O Modelo de Personalidade dos Sistemas VIDAS 276 Pesquisa Atual 277 Os Cinco Grandes Fatores da Personalidade 277 Genética do Comportamento 281 Teoria Evolutiva da Personalidade 283 Status Atual e Avaliação 286 Capítulo 9 A Teoria de Traço Biológico de Hans Eysenck 291 Introdução e Contexto 292 História Pessoal 295 A Descrição do Temperamento 297 Extroversão e Neuroticismo 297 Psicoticismo 300 Modelos Causais 301 Eysenck 1957 301 Eysenck 1967 303 TEORIAS DA PERSONALIDADE 23 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 306 Pesquisa Atual 310 Gray 310 Zuckerman 312 Status Atual e Avaliação 312 ÊNFASE NA REALIDADE PERCEBIDA 315 Capítulo 10 A Teoria do Constructo Pessoal de George Kelly 317 Introdução e Contexto 318 K U R T L E W I N 319 A Estrutura da Personalidade 319 O Espaço de Vida 320 Diferenciação 321 Conexões entre as Regiões 322 O Número de Regiões 323 A Pessoa no Ambiente 324 A Dinâmica da Personalidade 324 Energia 325 Tensão 325 Necessidade 325 Tensão e Ação Motora 326 Valência 326 Força ou Vetor 326 Locomoção 327 O Desenvolvimento da Personalidade 328 G E O R G E K E L L Y 329 História Pessoal 329 Suposições Básicas 331 Alternativismo Construtivo 331 HomemCientista 332 Foco no Constructor 333 Motivação 333 Ser Si Mesmo 334 Constructos Pessoais 334 Escalas 335 O Postulado Fundamental e seus Corolários 336 O Contínuo da Consciência Cognitiva 340 Constructos sobre Mudança 340 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 341 Pesquisa Atual 343 Status Atual e Avaliação 344 24 HALL LINDZEY CAMPBELL Capítulo 11 A Teoria de Carl Rogers Centrada na Pessoa 347 Introdução e Contexto 348 K U R T G O L D S T E I N 349 A Estrutura do Organismo 350 A Dinâmica do Organismo 352 Equalização 352 AutoRealização 352 Chegar a um Acordo com o Ambiente 353 O Desenvolvimento do Organismo 354 A B R A H A M M A S L O W 354 Suposições sobre a Natureza Humana 356 Hierarquia de Necessidades 358 Síndromes 361 AutoRealizadores 362 C A R L R O G E R S 363 História Pessoal 365 A Estrutura da Personalidade 367 O Organismo 367 O Self 368 Organismo e Self Congruência e Incongruência 369 A Dinâmica da Personalidade 369 O Desenvolvimento da Personalidade 371 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 374 Estudos Qualitativos 374 Análise de Conteúdo 375 Escalas de Avaliação 375 Estudos com a TécnicaQ 376 Estudos Experimentais do Autoconceito 380 Outras Abordagens Empíricas 380 Pesquisa Atual 380 Teoria da Dissonância Cognitiva 381 Teoria da Autodiscrepância 382 Autoconceito Dinâmico 383 Status Atual e Avaliação 384 ÊNFASE NA APRENDIZAGEM 387 Capítulo 12 O Condicionamento Operante de B F Skinner 389 Introdução e Contexto 390 História Pessoal 390 TEORIAS DA PERSONALIDADE 25 Algumas Considerações Gerais 394 Legitimidade do Comportamento 394 Análise Funcional 395 A Estrutura da Personalidade 398 A Dinâmica da Personalidade 399 O Desenvolvimento da Personalidade 401 Condicionamento Clássico 401 Condicionamento Operante 402 Esquemas de Reforço 403 Comportamento Supersticioso 404 Reforço Secundário 405 Generalização e Discriminação de Estímulo 406 Comportamento Social 407 Comportamento Anormal 408 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 411 Pesquisa Atual 413 Status Atual e Avaliação 414 Capítulo 13 A Teoria de EstímuloResposta de Dollard e Miller 419 Introdução e Contexto 420 Histórias Pessoais 422 Um Experimento Ilustrativo 425 A Estrutura da Personalidade 430 A Dinâmica da Personalidade 430 O Desenvolvimento da Personalidade 431 Equipamento Inato 431 O Processo de Aprendizagem 431 Drive Secundário e o Processo de Aprendizagem 432 Processos Mentais Superiores 433 O Contexto Social 435 Estágios Críticos de Desenvolvimento 435 Aplicações do Modelo 437 Processos Inconscientes 437 Conflito 439 Como as Neuroses São Aprendidas 441 Psicoterapia 443 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 444 Pesquisa Atual 446 Wolpe 446 Seligman 449 Status Atual e Avaliação 454 26 HALL LINDZEY CAMPBELL Capítulo 14 Albert Bandura e as Teorias da Aprendizagem Social 459 Introdução e Contexto 460 A L B E R T B A N D U R A 460 História Pessoal 460 Reconceitualização do Reforço 463 Princípios da Aprendizagem Observacional 464 Processos de Atenção 464 Processos de Retenção 465 Processos de Produção 465 Processos Motivacionais 465 Determinismo Recíproco 467 O AutoSistema 468 AutoObservação 469 Processo de Julgamento 469 AutoReação 470 Aplicações à Terapia 471 AutoEficácia 472 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 476 W A L T E R M I S C H E L 478 Variáveis Cognitivas Pessoais 480 O Paradoxo de Consistência e os Protótipos Cognitivos 482 Uma Teoria da Personalidade de Sistema CognitivoAfetivo 483 Status Atual e Avaliação 485 PERSPECTIVAS E CONCLUSÕES 489 Capítulo 15 A Teoria da Personalidade em Perspectiva 491 A Comparação das Teorias da Personalidade 492 Algumas Reflexões sobre a Atual Teoria da Personalidade 500 Síntese Teórica versus Multiplicidade Teórica 504 Referências Bibliográficas 507 Índice Onomástico 565 Índice 577 TEORIAS DA PERSONALIDADE 27 CAPÍTULO 1 A Natureza da Teoria da Personalidade A TEORIA DA PERSONALIDADE E A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 28 O QUE É PERSONALIDADE 32 O QUE É UMA TEORIA 33 UMA TEORIA DA PERSONALIDADE 36 A TEORIA DA PERSONALIDADE E OUTRAS TEORIAS PSICOLÓGICAS 38 A COMPARAÇÃO DAS TEORIAS DA PERSONALIDADE 39 Atributos Formais 39 Atributos Substantivos 40 28 HALL LINDZEY CAMPBELL Neste volume apresentaremos um resumo organiza do das principais teorias da personalidade contempo râneas Além de oferecer um sumário de cada teoria discutiremos pesquisas relevantes e faremos uma ava liação geral da teoria Mas antes de prosseguir deve mos falar um pouco sobre o que são as teorias da per sonalidade e como as várias teorias da personalidade podem ser distinguidas umas das outras Também co locaremos essas teorias em um contexto geral relaci onandoas ao que aconteceu historicamente na psico logia e situandoas no cenário contemporâneo Neste capítulo começamos com um esboço bem geral e um pouco informal do papel da teoria da per sonalidade no desenvolvimento da psicologia segui do por uma discussão sobre o que significam os ter mos personalidade e teoria Partindo dessas considera ções é fácil passar para a pergunta o que constitui uma teoria da personalidade Além disso vamos con siderar brevemente a relação entre teoria da persona lidade e outras formas de teoria psicológica e apre sentar algumas dimensões por meio das quais as teorias da personalidade podem ser comparadas en tre si A TEORIA DA PERSONALIDADE E A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA Um exame abrangente do desenvolvimento da teoria da personalidade deve certamente começar com as concepções do homem propostas por grandes estudi osos clássicos como Hipócrates Platão e Aristóteles Um relato adequado também teria de incluir a contri buição de dezenas de pensadores como Aquino Ben tham Comte Hobbes Kierkegaard Locke Nietzsche e Machiavelli que viveram nos séculos intervenientes e cujas idéias ainda são detectadas em formulações contemporâneas A nossa intenção aqui não é a de tentar esse tipo de reconstrução geral O nosso objeti vo é bem mais limitado Nós simplesmente vamos con siderar em termos amplos o papel geral que a teoria da personalidade desempenhou no desenvolvimento da psicologia durante o século passado Para começar examinaremos cinco fontes de in fluência sobre a teoria da personalidade relativamen te recentes Uma tradição de observação clínica co meçando com Charcot e Janet mas incluindo especi almente Freud Jung e McDougall fez mais para de terminar a natureza da teoria da personalidade do que qualquer outro fator isolado Nós logo examinaremos alguns dos efeitos desse movimento Uma segunda li nha de influência vem da tradição Gestáltica e de Wi lliam Stern Esses teóricos estavam muito impressio nados com a unidade de comportamento e conseqüen temente convencidos de que um estudo fragmenta do de pequenos elementos do comportamento jamais poderia ser esclarecedor Como iremos descobrir esse ponto de vista está profundamente inserido na atual teoria da personalidade Também temos o impacto mais recente da psicologia experimental em geral e da teoria da aprendizagem em particular Dessa linha surgiram uma crescente preocupação com a pesquisa empírica cuidadosamente controlada um melhor en tendimento da natureza da construção da teoria e uma apreciação mais detalhada de como o comportamen to é modificado Um quarto determinante é represen tado pela tradição psicométrica com seu foco na men suração e no estudo das diferenças individuais Essa fonte proporcionou uma sofisticação cada vez maior nas dimensões de avaliação ou mensuração do com portamento e na análise quantitativa dos dados Fi nalmente a genética e a fisiologia desempenharam um papel crucial nas tentativas de identificar e de descre ver as características de personalidade Tal influência tem sido particularmente forte em modelos recentes como os propostos por Eysenck ver Capítulo 9 e os Cinco Grandes teóricos ver Capítulo 8 mas também está clara no trabalho inicial de Freud e em declara ções como a de Henry Murray Nenhum cérebro nenhuma personalidade O background específico do qual emergiu cada uma das teorias apresentadas neste livro é discutido bre vemente nas seguintes fontes discussões históricas sobre o desenvolvimento da teoria contemporânea da personalidade são encontradas em Allport 1937 1961 Boring 1950 e Sanford 1963 1985 o sta tus atual da teoria da personalidade e da pesquisa é resumido em uma série de capítulos na Annual Revi ew of Psychology iniciando em 1950 ver p ex Buss 1991 Carson 1989 Digman 1990 Magnusson To restad 1993 Pervin 1985 Revelle 1995 Rorer Widiger 1983 Wiggins Pincus 1992 Existem ou tros tratamentos gerais do campo que valem a pena TEORIAS DA PERSONALIDADE 29 ler incluindo McAdams 1994 Maddi 1996 Mis chel 1993 Monte 1995 Pervin 1993 1996 Pe terson 1992 e Ryckman 1992 Vamos tratar agora das características distintivas da teoria da personalidade Embora esse corpo de te orias faça parte do amplo campo da psicologia ainda existem diferenças apreciáveis entre a teoria e a pes quisa da personalidade e a pesquisa e a teoria em outras áreas da psicologia Essas diferenças são espe cialmente evidentes em relação à teoria da personali dade em seus estágios iniciais de desenvolvimento e elas ainda existem apesar da grande variação entre as próprias teorias da personalidade As notáveis dife renças entre as teorias da personalidade entretanto significam que quase qualquer declaração que se apli que com exatidão detalhada a uma teoria da persona lidade será um pouco inexata quando aplicada a mui tas outras teorias Apesar disso existem qualidades modais ou tendências centrais inerentes na maioria das teorias da personalidade e é nelas que focalizare mos nossa discussão Não discutimos que existam congruências impor tantes nas correntes de influência que determinaram os caminhos iniciais da psicologia geral e da teoria da personalidade mas também existem diferenças signi ficativas É certo afirmar que Darwin foi um fator im portante no desenvolvimento da psicologia geral e da psicologia da personalidade Também é verdade que a fisiologia do século XIX teve sua influência sobre os teóricos da personalidade assim como um efeito acen tuado sobre a psicologia geral No entanto o princi pal teor dos fatores que influenciaram esses dois gru pos durante os últimos três quartos de século foi perceptivelmente diferente Enquanto os teóricos da personalidade estavam tirando suas idéias mais im portantes principalmente da experiência clínica os psi cólogos experimentais estavam prestando atenção aos achados do laboratório experimental Os nomes Char cot Freud Janet McDougall e Stern estão em pri meiro plano no trabalho dos primeiros teóricos da personalidade mas encontramos Helmholtz Pavlov Thorndike Watson e Wundt em um papel compará vel na psicologia experimental Os experimentalistas derivaram suas inspirações e seus valores das ciências naturais enquanto os teóricos da personalidade per maneceram mais próximos dos dados clínicos e de suas próprias reconstruções criativas Um grupo recebeu com satisfação os sentimentos intuitivos e os insights mas desprezou as armadilhas da ciência com sua res trição sobre a imaginação e suas habilidades técnicas rigorosas O outro aplaudiu o rigor e a precisão da investigação delimitada e esquivouse desgostoso do uso desenfreado do julgamento clínico e da interpre tação imaginativa No final ficou claro que a psicolo gia experimental tinha pouco a dizer com referência aos problemas que interessavam ao teórico da perso nalidade e que este manifestava pouca consideração pelos problemas de importância capital para o psicó logo experimental Os estudos recentes sugerem que Wundt pode ter sido uma exceção a essas generalizações Por exem plo Stelmack e Stalikas 1991 descrevem como a classificação de Wundt dos temperamentos baseada em duas dimensões a força das emoções e a variabili dade corresponde às subseqüentes descrições ofere cidas por Hans Eysenck ver Capítulo 9 baseadas nas dimensões subjacentes de neuroticismo e extroversão Apesar dessas conexões as duas disciplinas da psico logia científica Cronbach 1957 1975 permanece ram notavelmente separadas Sabemos bem que a psicologia se desenvolveu no século XIX como fruto da filosofia e da fisiologia ex perimental A origem da teoria da personalidade deve muito mais à profissão médica e às condições da prá tica médica De fato os primeiros gigantes nessa área Freud Jung e McDougall tinham formação em me dicina mas trabalhavam também como psicoterapeu tas Esse vínculo histórico entre a teoria da personali dade e a aplicação prática permaneceu evidente durante todo o desenvolvimento da psicologia e ofe rece uma importante distinção entre esse ramo da te oria e outros tipos de teoria psicológica Duas generalizações referentes à teoria da perso nalidade são consistentes com o que dissemos até ago ra Primeiro está claro que a teoria da personalidade ocupou um papel dissidente no desenvolvimento da psi cologia Os teóricos da personalidade foram rebeldes em sua época rebeldes na medicina e na ciência ex perimental rebeldes contra idéias convencionais e práticas usuais rebeldes contra métodos típicos e téc nicas de pesquisa respeitadas e acima de tudo rebel des contra a teoria aceita e os problemas normativos O fato de que a teoria da personalidade jamais se in seriu profundamente na psicologia acadêmica domi nante tem várias implicações importantes Por um lado isso possibilitou libertar a teoria da personalida 30 HALL LINDZEY CAMPBELL de das garras mortais dos modos convencionais de pensamento e dos preconceitos referentes ao compor tamento humano Ao ficar relativamente fora da ins tituição da psicologia era mais fácil para os teóricos da personalidade questionar ou rejeitar as suposições amplamente aceitas pelos psicólogos Por outro lado essa falta de envolvimento também os eximia de par te da disciplina e da responsabilidade por uma for mulação razoavelmente sistemática e organizada que faz parte da herança do cientista bem integrado soci almente Uma segunda generalização é que as teorias da personalidade são funcionais em sua orientação Elas se preocupam com questões que fazem diferença no ajustamento e na sobrevivência do indivíduo Em uma época na qual o psicólogo experimental estava mer gulhado em questões como a existência do pensamento sem imagens a velocidade dos impulsos nervosos a especificação do conteúdo da mente humana consci ente normal e as controvérsias das localizações cere brais o teórico da personalidade queria saber por que alguns indivíduos desenvolviam sintomas neuróticos incapacitantes na ausência de patologia orgânica qual era o papel do trauma infantil no ajustamento adulto em que condições a saúde mental poderia ser recupe rada e quais eram as maiores motivações subjacentes aos comportamentos humanos Assim foi o teórico da personalidade e apenas o teórico da personalida de que nos tempos iniciais da psicologia lidou com questões que para a pessoa comum pareciam estar no âmago de uma ciência psicológica bemsucedida Certos progressos entusiasmantes no campo continu am a refletir essa orientação funcionalista Um exem plo claro é David Buss 1991 que emprega a metate oria evolutiva para identificar as metas importantes para os seres humanos os mecanismos psicológicos resultantes e as diferenças individuais nas estratégias comportamentais empregadas pelas pessoas para atin gir as metas ou para resolver problemas de adapta ção O leitor não deve interpretar o que acabamos de dizer como uma acusação à psicologia geral e um elo gio à teoria da personalidade Ainda não está claro se o caminho para uma teoria abrangente e útil do com portamento humano resultará mais rapidamente do trabalho daqueles que têm essa teoria como objetivo direto ou dos esforços daqueles que focalizam pro blemas relativamente específicos e limitados A estra tégia de avanço na ciência nunca é fácil de especifi car e o público geral normalmente não é considerado um tribunal adequado para decidir quais problemas devem ser enfocados Em outras palavras embora seja um fato inquestionável que os teóricos da personali dade trataram de questões que pareciam centrais e importantes para o observador típico do comporta mento humano resta ver se tal disposição para tratar dessas questões fará avançar a ciência da psicologia Como dissemos não há nenhum mistério sobre a razão pela qual as teorias da personalidade eram mais amplas em escopo e mais práticas em orientação do que as formulações da maioria dos outros psicólogos As grandes figuras da psicologia acadêmica do século XIX foram homens como Wundt Helmholtz Ebbin ghaus Titchener e Külpe que executaram seu traba lho dentro de ambientes universitários com poucas pressões do mundo exterior Eles eram livres para se guir suas inclinações intelectuais com pouca ou ne nhuma compulsão de tratar daquilo que os outros consideravam importante ou significativo De fato eles decidiam o que era significativo em grande parte por seus próprios interesses e atividades Em contraste os primeiros teóricos da personalidade eram pratican tes além de estudiosos Defrontandose com os pro blemas da vida cotidiana agravados por uma neuro se ou algo pior era natural que se dedicassem a formulações que contribuíssem para esses problemas Um conjunto de categorias para a análise das emo ções que pudesse ser aplicado por sujeitos treinados em um ambiente de laboratório era de pouco inte resse para um terapeuta que diariamente observava a operação de emoções que estavam prejudicando in capacitando ou inclusive matando seres humanos como ele Assim o forte tom funcional das teorias da personalidade e sua preocupação com problemas im portantes para a sobrevivência dos indivíduos pare cem uma decorrência natural do ambiente em que essas teorias se desenvolveram Está claro que os teóricos da personalidade costu mavam atribuir um papel crucial aos processos motiva cionais Em uma época na qual muitos psicólogos ig noravam a motivação ou tentavam minimizar a contribuição desses fatores em seus estudos os teóri cos da personalidade viam nessas mesmas variáveis a chave para o entendimento do comportamento hu mano Freud e McDougall foram os primeiros a consi derar seriamente o processo motivacional A grande TEORIAS DA PERSONALIDADE 31 lacuna entre a arena da vida e a teoria desenvolvida por psicólogos de laboratório é retratada por McDou gall quando ele justifica suas tentativas de desenvol ver uma teoria adequada do comportamento social que era mais uma teoria da personalidade do que uma teoria do comportamento social O ramo da psicologia mais importante para as ciências sociais é aquele que trata das fontes de ação humana dos impulsos e motivos que sus tentam a atividade mental e corporal e regulam a conduta e este de todos os ramos da psicologia é o que permanece no estado mais atrasado em que ainda reinam a maior obscuridade impreci são e confusão McDougall 1908 p 23 Assim variáveis que eram vistas primariamente como um incômodo para o psicólogo experimental passa ram a ser alvo de estudo intensivo e interesse focal para o teórico da personalidade Relacionada a esse interesse no funcional e no motivacional está a convicção do teórico da persona lidade de que um entendimento adequado do compor tamento humano só vai surgir do estudo da pessoa em sua totalidade A maioria dos psicólogos da personali dade insistia que o sujeito deveria ser visto como uma pessoa inteira funcionando em um habitat natural Eles defendiam ardorosamente o estudo do comportamen to no contexto com cada evento comportamental exa minado e interpretado em relação ao resto do com portamento do indivíduo Esse ponto de vista era um derivativo natural da prática clínica em que a pessoa inteira se apresentava para a cura e em que era real mente difícil limitar o exame a uma modalidade sen sorial ou a uma série restrita de experiências Se aceitamos que a intenção da maioria dos teóri cos da personalidade é promover o estudo da pessoa em sua totalidade nãosegmentada é fácil compre ender porque muitos observadores consideram que um dos aspectos mais distintivos da teoria da personali dade é a sua função como uma teoria integrativa En quanto os psicólogos em geral têm demonstrado uma especialização cada vez maior fazendo alguns recla marem que estavam aprendendo cada vez mais sobre cada vez menos o teórico da personalidade aceitou uma responsabilidade pelo menos parcial de reunir e organizar os diversos achados dos especialistas O experimentalista poderia saber muito sobre habilida des motoras audição percepção ou visão mas em geral sabia relativamente pouco sobre como essas fun ções especiais se relacionavam umas com as outras O psicólogo da personalidade estava nesse sentido mais preocupado com reconstrução ou integração do que com análise ou estudo segmental do comportamento A partir dessas considerações surge a concepção um tanto romântica do teórico da personalidade como o indivíduo que vai montar o quebracabeça apresenta do pelos achados distintos de estudos separados den tro das várias especialidades que constituem a psico logia Devemos observar que vários autores lamentaram a falta de atenção por parte dos pesquisadores da personalidade ao foco do teórico da personalidade na pessoa em sua totalidade Rae Carlson escreveu O empobrecimento atual da pesquisa da personali dade é perturbador porque indica que a meta de es tudar pessoas integrais foi abandonada 1971 p 207 ver Kenrick 1986 para uma réplica Preocupações semelhantes foram levantadas por White 1981 e Sanford 1985 Em termos amplos então o que distingue os teóri cos da personalidade dos tradicionais teóricos da psico logia Eles são mais especulativos e menos ligados a operações experimentais ou de mensuração A visão rígida do positivismo afetou muito menos o psicólogo da personalidade do que o psicólogo experimental Eles desenvolvem teorias que são multidimensionais e mais complexas do que as da psicologia geral Em conseqüência suas teorias tendem a ser um pouco mais vagas e menos bemespecificadas do que as teo rias do experimentalista Estão dispostos a aceitar qualquer aspecto do comportamento que possua im portância funcional como um dado legítimo para seu modelo teórico ao passo que os psicólogos mais ex perimentais se contentam em fixar sua atenção em uma série limitada de observações ou registros Eles insistem que um entendimento adequado do compor tamento individual só pode ser atingido quando ele for estudado em um contexto amplo que inclua a pes soa total em funcionamento O teórico da personali dade encara a motivação o porquê ou o ímpeto sub jacente do comportamento como o problema empírico e teórico crucial Em contraste o experimentalista o considera como um entre vários problemas e lida com ele por meio de um pequeno número de conceitos es treitamente ligados aos processos fisiológicos 32 HALL LINDZEY CAMPBELL O QUE É PERSONALIDADE Existem poucas palavras na nossa língua com tanto fascínio para o público em geral como o termo perso nalidade Embora a palavra seja usada em vários sen tidos a maioria desses significados populares se en caixa em um ou dois tópicos O primeiro uso iguala o termo à habilidade ou à perícia social A personalida de de um indivíduo é avaliada por meio da efetivida de com que ele consegue eliciar reações positivas em uma variedade de pessoas em diferentes circunstân cias É nesse sentido que a professora que se refere a um aluno como apresentando um problema de perso nalidade provavelmente está indicando que suas ha bilidades sociais não são adequadas para manter rela ções satisfatórias com os colegas e com a professora O segundo uso considera a personalidade do indiví duo como consistindose na impressão mais destaca da ou saliente que ele cria nos outros Assim pode mos dizer que uma pessoa tem uma personalidade agressiva ou uma personalidade submissa ou uma personalidade temerosa Em cada caso o observa dor seleciona um atributo ou uma qualidade altamente típica do sujeito que presumivelmente é uma parte importante da impressão global criada nos outros e identifica sua personalidade por esse termo Está cla ro que existe um elemento de avaliação em ambos os usos As personalidades conforme descritas comumen te são boas e más Embora a diversidade no uso comum da palavra personalidade possa parecer considerável ela é su perada pela variedade de significados atribuídos ao termo pelos psicólogos Em um exame exaustivo da literatura Allport 1937 extraiu quase cinqüenta de finições diferentes que classificou em algumas cate gorias amplas Nós aqui examinaremos apenas algu mas dessas definições Inicialmente é importante distinguir entre o que Allport chama de definição biossocial e definição bio física A definição biossocial mostra uma estreita cor respondência com o uso popular do termo uma vez que equipara personalidade ao valor da impressão social que o indivíduo provoca É a reação dos ou tros indivíduos ao sujeito o que define a sua persona lidade Podemos inclusive afirmar que o indivíduo não possui nenhuma personalidade a não ser aquela pro porcionada pela resposta dos outros Allport contesta vigorosamente a implicação de que a personalidade reside apenas no outroqueresponde e sugere ser preferível uma definição biofísica que baseie firmemen te a personalidade em características ou qualidades do sujeito De acordo com essa última definição a personalidade tem um lado orgânico assim como um lado aparente e pode ser vinculada a qualidades es pecíficas do indivíduo suscetíveis à descrição e à men suração objetivas Um outro tipo importante de definição é a globa lizante ou do tipo coletânea Essa definição abrange a personalidade por enumeração O termo personalida de é usado aqui para incluir tudo sobre o indivíduo O teórico comumente lista os conceitos considerados de maior importância para descrever o indivíduo e suge re que a personalidade consiste nisso Outras defini ções enfatizam principalmente a função integrativa ou organizadora da personalidade Tais definições sugerem que a personalidade é a organização ou o padrão dado às várias respostas distintas do indiví duo Alternativamente elas sugerem que a organiza ção resulta da personalidade que é uma força ativa dentro do indivíduo A personalidade é aquilo que dá ordem e congruência a todos os comportamentos di ferentes apresentados pelo indivíduo Alguns teóricos enfatizam a função da personalidade na mediação do ajustamento do indivíduo A personalidade consiste nos esforços de ajustamento variados e no entanto típicos realizados pelo indivíduo Em outras defini ções a personalidade é igualada aos aspectos únicos ou individuais do comportamento Nesse caso o ter mo designa aquilo que é distintivo no indivíduo e o diferencia de todas as outras pessoas Finalmente al guns teóricos consideram que a personalidade repre senta a essência da condição humana Essas defini ções sugerem que a personalidade se refere àquela parte do indivíduo que é mais representativa da pes soa não apenas porque a diferencia dos outros mas principalmente porque é aquilo que a pessoa realmente é A sugestão de Allport de que a personalidade é o que um homem realmente é ilustra esse tipo de defi nição A implicação aqui é que a personalidade con siste naquilo que é na análise final mais típico e ca racterístico da pessoa Poderíamos passar muito mais tempo tratando do problema de definir a personalidade mas o leitor en contrará muitas definições detalhadas de personali dade nos capítulos seguintes Além disso estamos convencidos de que nenhuma definição substantiva de TEORIAS DA PERSONALIDADE 33 personalidade pode ser generalizada Com isso quere mos dizer que a maneira pela qual determinadas pes soas definem a personalidade dependerá inteiramen te de sua preferência teórica Assim se a teoria enfatiza a singularidade e as qualidades organizadas e unifi cadas do comportamento é natural que a definição de personalidade inclua a singularidade e a organiza ção como atributos importantes da personalidade Uma vez que o indivíduo tenha criado ou adotado uma dada teoria da personalidade a definição de per sonalidade será claramente indicada pela teoria As sim acreditamos que a personalidade é definida pelos conceitos empíricos específicos que fazem parte da teo ria da personalidade empregada pelo observador A per sonalidade consiste concretamente em uma série de valores ou termos descritivos que descrevem o indiví duo que está sendo estudado em termos das variáveis ou de dimensões que ocupam uma posição central den tro de uma teoria específica Se tais definições parecerem insatisfatórias que o leitor se console com a idéia de que encontrará vári as definições específicas nas páginas seguintes Qual quer uma delas podese tornar a definição do leitor se ele adotar aquela determinada teoria Em outras pa lavras estamos dizendo que é impossível definir a per sonalidade sem concordar com a estrutura de refe rência teórica dentro da qual a personalidade vai ser examinada Se tentássemos agora chegar a uma úni ca definição substantiva estaríamos pondo fim im plicitamente a muitas das questões teóricas que pre tendemos explorar O QUE É UMA TEORIA Assim como a maioria das pessoas sabe em que con siste a personalidade também sabe o que é uma teo ria A convicção mais comum é a de que uma teoria existe em oposição a um fato Nessa visão ela é uma hipótese nãocomprovada ou uma especulação refe rente à realidade que ainda não está definitivamente confirmada Quando uma teoria é confirmada ela se torna um fato Existe certa correspondência entre essa visão e o uso que defendemos aqui pois concorda mos que não sabemos se uma teoria é uma verdade Também existe um elemento de discordância pois a visão do senso comum afirma que ela se tornará ver dadeira ou fatual quando os dados confirmatórios ti verem sido coletados Na nossa visão as teorias nun ca são verdadeiras ou falsas embora suas implicações ou derivações possam ser As passagens a seguir são um resumo relativamen te convencional do pensamento de metodologistas ou lógicos da ciência Certamente não existe concordân cia completa em relação a todas as questões discuti das mas o ponto de vista apresentado pretende ser modal em vez de original O estudante que está co meçando talvez tenha dificuldade para entender in teiramente algumas dessas idéias e seria justo dizer que não é essencial entendêlas para poder ler e apre ciar o restante do livro Por outro lado se o leitor es tiver seriamente interessado no campo e ainda não se aprofundou nessa área de estudo deve consultar a literatura relevante para boas introduções apropria das a psicólogos ver Gholson Barker 1985 a Intro dução em Leahey 1991 Manicas Secord 1983 Rorer Widiger 1983 e Suppe 1977 para trata mentos gerais examine Bechtel 1988 Eagle 1984 Earman 1992 Kuhn 1970 Lakatos Musgrave 1970 Popper 1962 1992 Vamos começar examinando o que é uma teoria e depois tratar da questão mais importante ou seja quais são as funções de uma teoria Em primeiro lu gar uma teoria é um conjunto de convenções criado pelo teórico Compreender uma teoria como um con junto de convenções enfatiza o fato de que as teorias não são dadas ou predeterminadas pela natureza pelos dados ou por qualquer outro processo determi nante Assim como as mesmas experiências ou obser vações podem levar um poeta ou um romancista a criar uma entre as múltiplas formas de arte diferen tes também os dados da investigação podem ser in corporados a um entre os incontáveis esquemas teóri cos diferentes O teórico ao escolher uma determinada opção para representar os eventos em que está inte ressado exerce uma escolha criativa livre que só é diferente da do artista nos tipos de evidência que fo caliza e nos termos em que seu aproveitamento será julgado Nós estamos enfatizando aqui a maneira cri ativa e no entanto arbitrária pela qual as teorias são construídas Não existe nenhuma fórmula para a cons trução de uma teoria proveitosa assim como não existe nenhuma fórmula para fazermos contribuições literá rias duradouras 34 HALL LINDZEY CAMPBELL Já que uma teoria é uma escolha convencional e não algo inevitável ou prescrito por relações empíri cas conhecidas a veracidade ou a falsidade não são qualidades a serem atribuídas a uma teoria Uma teo ria só é útil ou inútil Essas qualidades são definidas como veremos principalmente em termos de quão efi cientemente a teoria pode gerar predições ou propo sições relativas a eventos relevantes que acabarão sen do confirmados verdade Sejamos um pouco mais específicos Uma teoria em sua forma ideal deve conter duas partes uma sé rie de suposições relevantes sistematicamente relaci onadas uma à outra e um conjunto de definições em píricas As suposições devem ser relevantes no sentido de ter relação com os eventos empíricos aos quais a teo ria se refere Se for uma teoria sobre a audição as suposições precisam ter alguma relação com o pro cesso da audição se for uma teoria da percepção as suposições devem referirse ao processo perceptual A natureza dessas suposições geralmente representa a qualidade distintiva da teoria O bom teórico é a pessoa capaz de pôr às claras suposições úteis ou pre ditivas referentes aos eventos empíricos em um domí nio de interesse Dependendo da natureza da teoria essas suposições podem ser muito gerais ou bem es pecíficas Um teórico comportamental por exemplo optaria por supor que todo o comportamento é moti vado que os eventos que ocorrem cedo na vida são os determinantes mais importantes do comportamento adulto ou que o comportamento de diferentes espé cies animais é governado pelos mesmos princípios gerais A forma dessas suposições também pode vari ar da precisão de uma notação matemática à relativa inexatidão da maioria das suposições que acabamos de usar como ilustração Não só as suposições devem ser enunciadas clara mente mas também as suposições e os elementos da teoria precisam estar explicitamente combinados e relacionados uns aos outros Isto é deve haver regras para a interação sistemática entre as suposições e os conceitos nelas inseridos Para dar à teoria consistên cia lógica e permitir o processo de derivação essas relações internas necessitam estar claras Sem essa es pecificação seria difícil ou impossível extrair da teoria conseqüências empíricas Devido à sua semelhança com as regras de gramática essas declarações são às vezes referidas como a sintaxe da teoria Por exem plo um teórico poderia escolher supor que um au mento na ansiedade levaria a um decréscimo no de sempenho motor Além disso ele poderia supor que um aumento na autoestima levaria a uma melhora no desempenho motor Se não soubermos nada além disso a relação entre essas duas suposições seria in determinante Precisamos descobrir algo sobre a rela ção entre ansiedade e autoestima antes de podermos fazer predições sobre o que pode ocorrer nas circuns tâncias em que ambas as variáveis estejam envolvi das Um enunciado adequado das suposições teóricas daria ao usuário da teoria uma clara especificação da relação entre essas duas suposições As definições empíricas definições coordenativas permitem a interação mais ou menos precisa de cer tos termos ou conceitos da teoria com os dados empí ricos Assim por meio dessas definições a teoria en tra em contato definido com a realidade ou com os dados observacionais em certos locais prescritos Elas freqüentemente são chamadas de definições opera cionais porque tentam especificar operações pelas quais as variáveis ou os conceitos relevantes podem ser medidos Seria seguro dizer que para que uma teoria contribua para uma disciplina empírica ela deve poder ser traduzida empiricamente Por outro lado deve estar claro que essas definições existem em um contínuo que varia da especificação completa e exata até uma declaração muito geral e qualitativa Embora quanto mais precisão melhor uma insistência inicial em uma especificação completa pode destruir muitos caminhos proveitosos de investigação Definir a inte ligência simplesmente como o que os testes de inteli gência medem ou igualar a ansiedade unicamente a certas mudanças fisiológicas pode ser exato mas ne nhuma definição isolada provavelmente levará a idéi as ou a investigações muito produtivas A atitude ade quada em relação a definições empíricas é a de que devem ser tão precisas quanto as condições presentes no campo relevante permitem Vimos em termos gerais no que consiste uma teoria A pergunta seguinte é o que ela faz Primeiro e mais importante ela leva à coleção ou à observação de relações empíricas relevantes ainda nãoobservadas A teoria deve conduzir à expansão sistemática do co nhecimento referente aos fenômenos de interesse e essa expansão deve idealmente ser mediada ou esti mulada pela derivação de proposições empíricas es pecíficas a partir da teoria declarações hipóteses pre TEORIAS DA PERSONALIDADE 35 dições sujeitas a testes empíricos Geralmente o âmago de qualquer ciência está na descoberta de re lacionamentos empíricos estáveis entre eventos ou variáveis A função de uma teoria é promover esse processo de uma maneira sistemática A teoria pode ser vista como uma espécie de moinho de proposi ções moendo declarações empíricas relacionadas que podem então ser confirmadas ou rejeitadas à luz de dados empíricos adequadamente controlados Só as proposições ou as idéias derivadas da teoria é que es tão abertas a testes empíricos A teoria ela mesma é suposta e sua aceitação ou rejeição é determinada por sua utilidade não por sua veracidade ou falsida de Nesse caso a utilidade tem dois componentes verificabilidade e abrangência A verificabilidade se refere à capacidade da teoria de gerar predições que são confirmadas quando coletamos os dados empíri cos relevantes A abrangência se refere ao alcance ou completude dessas derivações Podemos ter uma teo ria que gera conseqüências freqüentemente confirma das mas que lida apenas com alguns aspectos dos fe nômenos que nos interessam Idealmente a teoria deve levar a predições acuradas que tratem de forma geral ou inclusiva os eventos empíricos que ela pre tende abranger É importante distinguir entre o que pode ser cha mado de geração sistemática e geração heurística de pesquisa Está claro que no caso ideal a teoria per mite a derivação de proposições específicas testáveis e estas por sua vez levam a estudos empíricos espe cíficos Entretanto também acontece que muitas teo rias como por exemplo as de Freud e Darwin exer cem um grande efeito sobre os caminhos investigativos sem a mediação de proposições explícitas Essa capa cidade de uma teoria gerar pesquisa ao sugerir idéias ou inclusive ao despertar descrença e resistência pode ser referida como a influência heurística da pesquisa Ambos os tipos de influência são muito importantes Uma segunda função da teoria é permitir a incor poração de achados empíricos conhecidos a uma estru tura logicamente consistente e razoavelmente simples Uma teoria é um meio de organizar e integrar tudo o que é conhecido sobre um conjunto de eventos relaci onados Uma teoria adequada do comportamento psi cótico deve ser capaz de organizar tudo o que se sabe sobre a esquizofrenia e sobre as outras psicoses em uma estrutura compreensível e lógica Uma teoria da aprendizagem satisfatória deve abranger de maneira consistente todos os achados confiáveis relativos ao processo de aprendizagem As teorias sempre come çam com algo que foi observado e relatado até o mo mento Isto é as teorias começam em uma fase indu tiva e são orientadas e em certa extensão controladas por aquilo que sabemos Entretanto se as teorias não fizessem nada além de tornar consistente e ordenado o presentemente conhecido elas teriam apenas uma função menor Nessas circunstâncias o investigador persistente estaria justificado em sua convicção de que as teorias são apenas uma penugem verbal flutuando na esteira da experimentação que constitui o verda deiro trabalho da ciência O empiricista que insiste que as teorias são meramente racionalizações depois dofato daquilo que o investigador já relatou deixa de apreciar que a principal função da teoria é apontar relações novas e ainda nãoobservadas A produtivi dade da teoria é testada antesdofato não depois dofato A simplicidade ou parcimônia também é impor tante mas só depois de terem sido resolvidas as ques tões de abrangência e de verificabilidade Ela só se torna uma questão quando duas teorias geram exata mente as mesmas conseqüências À medida que as teorias diferem nas derivações que podem ser feitas referentes aos mesmos eventos empíricos a escolha entre duas teorias deve ser decidida em termos da extensão em que essas predições diferem em verifica ção Assim só quando temos uma tautologia duas teorias chegando às mesmas conclusões a partir de termos diferentes é que a simplicidade se torna uma questão importante Existem alguns exemplos dessa situação na ciência e nenhum pelo que sabemos na psicologia A simplicidade como oposta à complexi dade é uma questão de valor ou preferência pessoal na teorização da personalidade e não um atributo que deve necessariamente ser valorizado ou buscado Uma outra função da teoria é evitar que o observa dor fique ofuscado pela complexidade total dos eventos naturais ou concretos A teoria é um conjunto de ante paros e diz ao usuário que ele não precisa se preocu par com todos os aspectos do evento que está estu dando Para o observador nãotreinado qualquer evento comportamental razoavelmente complexo pa rece oferecer incontáveis meios diferentes de analisar ou de descrever o evento e realmente oferece A teoria permite que o observador abstraia a partir da complexidade natural de uma maneira sistemática e 36 HALL LINDZEY CAMPBELL eficiente As pessoas abstraem e simplificam quer usem ou não uma teoria No entanto se não seguirmos a orientação de uma teoria explícita os princípios que determinam a nossa visão ficarão escondidos em su posições implícitas e em atitudes das quais não esta mos conscientes A teoria especifica para o usuário um número limitado de dimensões variáveis ou pa râmetros mais ou menos definidos e de importância crucial Os outros aspectos da situação podem em certa extensão ser ignorados do ponto de vista desse pro blema Uma teoria útil vai detalhar instruções explíci tas sobre os tipos de dados que devem ser coletados em relação a um determinado problema Conseqüen temente como poderíamos esperar os indivíduos com posições teóricas drasticamente diferentes podem es tudar o mesmo evento empírico e fazer observações bem diferentes Nos últimos anos um crescente número de psicó logos adotou o raciocínio teórico e a terminologia de Thomas Kuhn 1970 Em uma monografia muito in teressante ainda que excessivamente simplificada Kuhn sugere que o avanço científico pode ser descrito com extrema precisão como consistindo em uma sé rie de passos revolucionários cada um acompanhado de seu próprio paradigma característico e dominante Segundo Kuhn cada campo científico emerge de ma neira desajeitada e descoordenada com o desenvol vimento de linhas diversas de investigação e de idéias teóricas que preservam sua posição autônoma e com petitiva até que um determinado conjunto de idéias assuma o status de um paradigma Ele sugere que es ses paradigmas servem para definir os problemas e os métodos legítimos de um campo de pesquisa para as próximas gerações de praticantes Eles permitiam isso porque apre sentavam duas características essenciais Sua re alização foi suficientemente inédita para atrair um grupo duradouro de adeptos afastandoos de modos concorrentes de atividade científica Simul taneamente eles estavam suficientemente abertos para deixar todo tipo de problema para o novo grupo de praticantes resolver Essas são as tradições que o historiador descreve sob rubri cas como astronomia ptolemaica ou copérni ca dinâmica aristotélica ou newtoniana óti ca corpuscular ou ótica de onda e assim por diante p 10 É interessante especular acerca do status paradig mático da teoria e da pesquisa sobre a personalidade Para aqueles que adotam este idioma parece mais fácil ver essa área como em um estado préparadigmático Isto é embora existam muitos conjuntos de idéias sis temáticas ou um pouco sistemáticas nenhum deles adquiriu uma posição de real dominância Não existe nenhuma teoria única que sirva como um paradig ma para ordenar achados conhecidos determinar a relevância ser algo estabelecido contra o qual rebel des possam rebelarse e ditar o melhor caminho para futuras investigações Alguns teóricos da personali dade começaram a tratar do status paradigmático do campo Eysenck em particular afirmou que o mode lo dimensional da personalidade oferece pelo menos o início de um paradigma no campo da personalida de 1983 p 369 ver também 1991 UMA TEORIA DA PERSONALIDADE Nós concordamos que a personalidade é definida pe los conceitos específicos contidos em uma dada teo ria que são considerados adequados para a descrição ou entendimento completos do comportamento hu mano Também concordamos que uma teoria consiste em um conjunto de suposições relacionadas referen tes aos fenômenos empíricos e às definições empíri cas relevantes que permitem que o usuário passe da teoria abstrata para a observação empírica Por sim ples acréscimo temos a implicação de que uma teoria da personalidade deve ser um conjunto de suposições relevantes para o comportamento humano juntamen te com as definições empíricas necessárias Existe tam bém a exigência de que a teoria seja relativamente abrangente Ela deve estar preparada para lidar com uma ampla variedade de comportamentos humanos ou fazer predições sobre eles De fato a teoria deve estar preparada para lidar com qualquer fenômeno comportamental que possua significado para o indiví duo O que foi dito até este ponto possui uma validade formal que todavia não se sustenta em uma análise cuidadosa das teorias existentes sobre a personalida de A nossa discussão é importante para identificar as qualidades às quais todos os teóricos aspiram e tam bém dá uma idéia de como as teorias da personalida TEORIAS DA PERSONALIDADE 37 de devem ser Entretanto está claro que no presente elas não são assim Devemos dizer uma palavra sobre como elas diferem do ideal tanto em estrutura quan to em função Em primeiro lugar como veremos a maioria das teorias carece de clareza Geralmente é bem difícil entender as suas suposições ou a sua base axiomáti ca As teorias da personalidade são freqüentemente embaladas em vistosas imagens lingüísticas que po dem servir muito bem como um meio de persuadir o leitor relutante mas que freqüentemente servem para ocultar e esconder as suposições específicas subjacen tes à teoria Em outras palavras a maioria das teorias não é apresentada de uma maneira direta e ordena da De fato muitas delas parecem mais orientadas para a persuasão do que para a exposição Relacionada a essa falta de definição está uma freqüente confusão sobre aquilo que é dado ou suposto e aquilo que é afirmado empiricamente e aberto a testes Como to dos já concordamos são apenas as derivações ou as predições geradas pela teoria que estão abertas a tes tes empíricos O restante da teoria é suposto ou dado e não deve ser julgado em termos de confirmação ou refutação e sim em termos de quão exitosamente con segue gerar proposições verificadas Em geral então a distinção entre a teoria da personalidade em si e suas implicações ou derivações muitas vezes não é mantida Uma conseqüência inevitável da falta de clareza referente à natureza das suposições subjacentes à te oria é a existência de uma séria confusão no processo de derivar declarações empíricas da teoria Assim existe a possibilidade de diferentes indivíduos usan do a mesma teoria chegarem a derivações conflitan tes Na verdade o processo de derivação na maioria das teorias da personalidade é casual obscuro e ine ficiente Isso é um reflexo não só da falta de clareza dessas teorias mas também do fato de a maioria dos teóricos da personalidade ter sido orientada para a explicação depoisdofato e não para a geração de novas predições referentes ao comportamento Final mente está claro que embora as teorias da personali dade variem em seu cuidado ao especificar definições empíricas nenhuma delas atinge um padrão muito bom em termos absolutos As declarações que acabamos de fazer sobre o sta tus formal das teorias da personalidade podem pare cer suficientemente desanimadoras para justificar o abandono das tentativas de construir uma dessas teo rias neste momento Não seria melhor esquecer no presente as teorias e focalizar os instrumentos empí ricos e os achados empíricos específicos Enfaticamen te não Tal decisão não envolve desistir de uma teo ria inadequada e ficar sem nenhuma teoria mas envolve a substituição de uma teoria implícita por uma explícita Não existe isso de nenhuma teoria conse qüentemente no momento em que tentamos esque cer as teorias por enquanto estamos na verdade em pregando suposições implícitas sobre o comporta mento pessoalmente determinadas e talvez inconsis tentes Essas suposições nãoidentificadas vão deter minar o que será estudado e como A observação de qualquer evento concreto empírico é realizada sob os ditados de alguma teoria isto é prestamos aten ção a certos fatos e ignoramos outros e um dos pro pósitos da teorização é tornar explícitas as regras que determinam esse processo de abstração A possibili dade de melhorar as suposições que estão controlan do a pesquisa é eliminada no momento em que al guém desiste de tentar definir a base teórica a partir da qual opera Por piores que sejam as teorias da personalidade quando comparadas ao ideal elas ainda representam um passo à frente considerável quando comparadas ao pensamento do observador ingênuo que está con vencido de estar abarcando ou examinando a realida de da única maneira razoável Mesmo que as teorias da personalidade não possuam o grau de clareza que poderíamos desejar sua mera existência possibilita buscarmos essa meta de maneira sistemática Dado que as teorias da personalidade geralmente não permitem um processo de derivação tão explícito quanto desejaríamos que função elas têm para o in divíduo que as maneja No mínimo elas representam um agrupamento de atitudes suposições referentes ao comportamento que de uma maneira ampla limi ta os tipos de investigação a serem considerados cru ciais ou importantes Além de estimular certos tipos gerais de pesquisa elas também oferecem parâme tros ou dimensões específicas consideradas importan tes na exploração desses problemas Assim mesmo que a teoria não ofereça uma proposição exata para ser testada ela orienta o teórico para certas áreas de problema e indica que determinadas variáveis são de importância central no estudo desses problemas Além disso temos de considerar o valor heurístico dessas 38 HALL LINDZEY CAMPBELL teorias Tomadas como grupo as teorias da personali dade são altamente provocativas e como iremos des cobrir levaram a muitas pesquisas mesmo que relati vamente poucas tenham sido o resultado de um processo formal de derivação Em outras palavras a capacidade dessas teorias de gerar idéias de estimu lar a curiosidade de despertar dúvidas ou de levar a convicções resultou em um sadio florescimento de in vestigações apesar de sua falta de elegância formal A TEORIA DA PERSONALIDADE E OUTRAS TEORIAS PSICOLÓGICAS A nossa discussão até o momento leva à conclusão de que uma teoria da personalidade deve consistir em um conjunto de suposições referentes ao comporta mento humano juntamente com regras para relacio nar essas suposições e definições para permitir sua interação com eventos empíricos ou observáveis Neste ponto seria razoável perguntar se essa definição de alguma maneira diferencia as teorias da personalida de de outras teorias psicológicas Ao responder a essa pergunta convém começar com uma distinção entre dois tipos de teoria psicológica É evidente que certas teorias psicológicas pare cem estar prontas para lidar com qualquer evento comportamental que possa ser importante no ajusta mento do organismo humano Outras teorias se limi tam especificamente ao comportamento conforme ele ocorre sob certas condições cuidadosamente prescri tas Essas teorias professam interesse apenas em as pectos limitados do comportamento humano Uma teoria que tenta lidar com todos os fenômenos com portamentais de importância demonstrada pode ser referida como uma teoria geral do comportamento e aquelas teorias que restringem seu foco a certas clas ses de eventos comportamentais são chamadas de te orias de domínio único As teorias da personalidade se encaixam claramen te na primeira categoria elas são teorias gerais do comportamento Essa simples observação serve para separar a teoria da personalidade da maioria das ou tras teorias psicológicas As teorias da percepção au dição memória aprendizagem motora discriminação e as muitas outras teorias especiais dentro da psicolo gia são teorias de domínio único e podem ser distin guidas da teoria da personalidade em termos de al cance ou abrangência Elas não têm a pretensão de ser uma teoria geral do comportamento e contentam se em desenvolver conceitos apropriados para a des crição e predição de uma série limitada de eventos comportamentais Mas de modo geral as teorias da personalidade aceitam o desafio de explicar ou incor porar eventos de natureza muito variada desde que eles possuam uma importância funcional demonstra da para o indivíduo O fato de testes de personalidade planejados para medir componentes da personalidade serem freqüen temente usados na psicologia social e em outros ra mos da psicologia não deve obscurecer esse ponto Como Lamiell salientou existe uma distinção entre a psicologia da personalidade que focaliza consistências temporais e transituacionais dentro das pessoas isto é no nível do indivíduo 1981 p 280 e a psicolo gia diferencial que focaliza o desempenho relativo das pessoas em geral em alguma característica de interes se As teorias da personalidade abrangem uma ampla variedade de comportamentos e de processos e consi deram o indivíduo como uma unidade integrada A pesquisa da personalidade baseiase em uma teoria geral do indivíduo como um todo em funcionamento e não emprega medidas ad hoc ou isoladas de tendên cias de resposta Resta a pergunta sobre se existem teorias gerais do comportamento que normalmente não seriam cha madas de teorias da personalidade Uma possibilida de é a teoria da aprendizagem ser em alguns casos suficientemente generalizada para constituir uma te oria geral do comportamento Esse é claramente o caso e como veremos com detalhes mais tarde alguns te óricos tentaram generalizar as teorias da aprendiza gem de modo que fossem comparáveis em abrangên cia a qualquer outra teoria geral do comportamento Nesses casos a teoria de aprendizagem deixa de ser meramente uma teoria da aprendizagem e tornase uma teoria da personalidade ou uma teoria geral do comportamento É verdade que tais modelos genera lizados possuem certas características distintivas que lembram sua origem mas em intenção e proprieda des lógicas elas não são diferentes de qualquer outra teoria da personalidade A reunião de teorias que tiveram suas origens nos laboratórios com animais e nas teorias que se origina ram dos consultórios dos terapeutas pode parecer for TEORIAS DA PERSONALIDADE 39 çada para muitos observadores Entretanto se consi derarmos as teorias do ponto de vista daquilo que pretendem fazer e de sua estrutura geral e não do ponto de vista de onde vêm ou das suposições deta lhadas que fazem sobre o comportamento fica claro que qualquer teoria geral do comportamento é igual a qualquer outra Nesse sentido todas as teorias ge rais do comportamento são teorias da personalidade e viceversa Dentro desse grande grupo de teorias podemos fazer muitas distinções é claro A próxima seção trata de alguns atributos em termos dos quais as teorias da personalidade podem ser diferenciadas ou comparadas A COMPARAÇÃO DAS TEORIAS DA PERSONALIDADE O fato mais notável com o qual o estudante da perso nalidade se depara é a multiplicidade de teorias da personalidade A confusão aumenta quando lhe di zem que é impossível afirmar qual teoria está certa ou é melhor do que as outras Essa incerteza é tipica mente atribuída à qualidade recente do campo e à dificuldade do assunto Neste ponto em vez de per guntar se as teorias estão certas ou erradas o estu dante é aconselhado a adotar uma estratégia compa rativa Uma boa base racional para essa abordagem vem de George Kelly cuja teoria é apresentada no Capítulo 10 Kelly aborda a personalidade da posição filosófica que ele chama de alternativismo construti vo Colocandoa simplesmente Kelly sugere que as pessoas diferem em sua maneira de perceber ou cons truir a realidade As pessoas diferentes constroem ou interpretam o mundo de maneiras diferentes e con seqüentemente agem de maneiras diferentes Nenhu ma dessas construções alternativas está necessaria mente certa ou errada mais propriamente cada uma tem implicações diferentes Essa mesma abordagem sugere que as teorias da personalidade possibilitam construções alternativas da personalidade nenhuma das quais está completamente certa ou errada cada uma das quais tem diferentes forças e fraquezas e cada uma das quais enfatiza diferentes componentes do comportamento Este texto foi organizado para facilitar este pro cesso comparativo Primeiro as teorias estão agrupa das em quatro famílias sendo que as teorias de cada família compartilham certas características As teori as psicodinâmicas enfatizam os motivos inconscientes e o conflito intrapsíquico resultante As teorias estru turais focalizam as diferentes tendências comporta mentais que caracterizam os indivíduos As teorias ex perienciais observam a maneira pela qual a pessoa percebe a realidade e experiencia seu mundo Final mente as teorias da aprendizagem enfatizam a base aprendida das tendências de resposta com uma ênfa se no processo de aprendizagem em vez de nas ten dências resultantes Cada conjunto de teorias será in troduzido com uma descrição mais completa das características da família Segundo alguns aspectos da personalidade são discutidos por diferentes teóricos Por exemplo a an siedade o senso de competência o conflito intrapsí quico e o nível de sociabilidade desempenham papéis centrais em muitas das teorias que o estudante vai encontrar neste livro Por um lado isso é alentador porque a convergência de diferentes teóricos em de terminadas facetas da personalidade sugere que essas características são reais e importantes Por outro lado isso pode ser desorientador uma vez que os diferen tes teóricos necessariamente empregam linguagens específicas das próprias teorias para discutir essas ca racterísticas Para ajudar o estudante a compreender essas convergências nós incluiremos uma discussão explícita das traduções entre as teorias apresentadas Finalmente existem várias qualidades pelas quais as teorias da personalidade podem ser comparadas e distinguidas Nós agora apontamos algumas das mais importantes destas dimensões Os atributos se divi dem naturalmente entre aqueles referentes a ques tões de adequação formal e os referentes à natureza substantiva da teoria Atributos Formais Aqui estamos interessados em quão adequadamente a estrutura da teoria é desenvolvida e apresentada Essas qualidades representam um ideal e quanto mais perto a teoria chega dele mais efetivamente pode ser usada A questão da clareza e explicitação é de imensa importância Essa é uma questão de quão claramente e precisamente as suposições e os conceitos inseridos que constituem a teoria são apresentados Em um dos 40 HALL LINDZEY CAMPBELL extremos a teoria pode ser enunciada em termos de uma notação matemática com uma definição precisa de todos os termos com exceção dos primitivos de modo que a pessoa adequadamente treinada possa empregar a teoria com um mínimo de ambigüidade Nessas circunstâncias diferentes indivíduos empre gando a teoria independentemente chegarão a fun damentos ou derivações extremamente parecidos No outro extremo encontramos teorias apresentadas com tal excesso de descrição vívida e complexa que é ex tremamente difícil para a pessoa que vai empregar a teoria saber ao certo com o que exatamente está li dando Nessas circunstâncias há pouca probabilida de de que indivíduos usando a teoria de forma inde pendente cheguem às mesmas formulações ou derivações Ficará claro à medida que prosseguirmos que não existe uma teoria da personalidade que se aproxime bastante do ideal da notação matemática no entanto dado o livre uso da descrição verbal va mos descobrir que existe uma considerável variação entre as teorias da personalidade na clareza de sua exposição Uma outra pergunta é a questão de quão bem a teoria se relaciona aos fenômenos empíricos Aqui esta mos preocupados com a explicitação e a praticidade das definições propostas para traduzir as concepções teóricas em operações de mensuração Em um dos ex tremos encontramos teorias que prescrevem opera ções relativamente exatas para avaliar ou medir cada um dos seus termos empíricos Em outros casos o te órico parece supor que o nome atribuído ao conceito é uma operação definidora suficiente em si mesma Talvez este seja um lugar apropriado para enfati zar novamente a nossa convicção de que todas as ques tões de adequação formal diminuem de importância diante da pergunta sobre quais pesquisas empíricas foram geradas pela teoria Por mais vaga e maldesen volvida que seja a teoria e por mais inadequadas que sejam sua sintaxe e definições empíricas ela passa no teste crucial se provarmos que tem um efeito genera tivo sobre áreas de pesquisa significativas Assim a questão do resultado que supera e na verdade torna triviais todas as questões de adequação formal é a questão de quanta pesquisa importante a teoria pro duziu Não é fácil concordar sobre o que é pesquisa importante especialmente porque a importância será em grande parte determinada pela posição teórica do juiz Também é verdade que nem sempre é fácil dizer exatamente qual foi o processo que levou à realização de uma investigação específica Assim o papel gene rativo da teoria pode ser difícil de avaliar Apesar dis so existem diferenças claras e perceptíveis entre as teorias da personalidade na extensão em que foram traduzidas em investigações de interesse geral Atributos Substantivos Embora os atributos formais que acabamos de descre ver apresentem um valor normativo ou padrão em termos do qual cada teoria pode ser comparada os seguintes atributos não possuem essa implicação ava liativa Eles são neutros em relação ao bom e ao mau e refletem simplesmente as suposições particulares da teoria sobre o comportamento As diferenças de conteúdo entre as teorias da per sonalidade refletem naturalmente as questões atuais mais importantes nessa área Portanto nas páginas seguintes não só apresentaremos as dimensões que podem ser usadas para a comparação das teorias da personalidade mas também destacaremos as opções mais importantes para um teórico nessa área Seria perfeitamente apropriado dar a esta seção o título questões na teoria da personalidade Mais antiga que a história da psicologia é a per gunta sobre se o comportamento humano deve ser visto como possuindo qualidades intencionais ou teleo lógicas Algumas teorias do comportamento criam um modelo do indivíduo em que a busca de objetivos o propósito e o empenho são vistos como aspectos es senciais e centrais do seu comportamento Outras teorias supõem que os aspectos de empenho e busca no comportamento não são importantes e acreditam que o comportamento pode ser explicado adequada mente sem essa ênfase Estes últimos teóricos consi deram os elementos subjetivos do empenho e da bus ca como um epifenômeno acompanhando o compor tamento mas não desempenhando um papel deter minante em sua instigação As teorias que minimizam a importância do propósito ou da teleologia geralmen te são chamadas de mecanicistas Um outro antigo debate se refere à importância relativa dos determinantes conscientes e inconscientes do comportamento Essa questão também poderia ser enunciada em termos da relativa racionalidade ou irra TEORIAS DA PERSONALIDADE 41 cionalidade do comportamento humano O termo in consciente é usado aqui simplesmente para se referir aos determinantes do comportamento dos quais o in divíduo não está consciente e que é incapaz de trazer para a consciência exceto em condições especiais As teorias da personalidade variam daquelas que rejei tam explicitamente qualquer consideração de deter minantes inconscientes do comportamento ou que se recusam a aceitar a existência desses determinantes às teorias que os consideram os mais importantes ou poderosos determinantes do comportamento Um meio termo é ocupado pelos teóricos que estão dis postos a atribuir um papel central aos determinantes inconscientes no comportamento dos indivíduos per turbados ou anormais mas afirmam que para o indi víduo normal os motivos conscientes são as forças go vernantes Uma distinção fundamental entre as teorias da personalidade tem relação com a extensão em que o processo de aprendizagem ou a modificação do com portamento é uma questão que recebe uma atenção detalhada e explícita Alguns teóricos da personalida de vêem no entendimento do processo da aprendiza gem a chave para todos os fenômenos comportamen tais Para outros teóricos a aprendizagem é um problema importante mas secundário Embora ne nhum teórico da personalidade vá negar a importân cia da aprendizagem veremos que alguns preferem focalizar as aquisições ou os resultados da aprendiza gem ao invés do processo em si Essa questão se tor nou um ponto de discordância entre aqueles que que rem tratar principalmente do processo de mudança e aqueles que se mostram mais interessados nas estru turas ou aquisições estáveis da personalidade em qual quer momento dado Uma questão tão antiga quanto o pensamento humano sobre a humanidade é a pergunta sobre a relativa importância da genética ou dos fatores here ditários na determinação do comportamento Pratica mente ninguém vai negar que os fatores hereditários têm implicações para o comportamento mas existem teóricos da personalidade que diminuem dramatica mente a sua importância insistindo que todos os fe nômenos comportamentais importantes podem ser compreendidos sem recorrermos ao biológico e ao genético Na América o papel dos fatores da heredi tariedade tem sido historicamente subestimado em favor de algum tipo de ambientalismo mas há uma considerável variação entre os teóricos no que se re fere ao manejo e à aceitação dos fatores genéticos Uma dimensão adicional em termos da qual as teorias da personalidade mostram uma considerável variação tem a ver com a relativa importância das ex periências desenvolvimentais iniciais A teoria atribui uma importância estratégica e crítica aos eventos que ocorreram no período de bebê e na infância maior do que a importância atribuída aos eventos ocorridos em estágios posteriores do desenvolvimento Como des cobriremos algumas teorias defendem que a chave para o comportamento adulto é encontrada em even tos que aconteceram nos primeiros anos de desenvol vimento enquanto outras afirmam explicitamente que o comportamento só pode ser compreendido e expli cado em termos dos eventos contemporâneos ou atu ais Relacionada a essa questão está a extensão em que os teóricos consideram a estrutura da personali dade em um determinado ponto do tempo como au tônoma ou funcionalmente distinta das experiências que precederam esse ponto Para certos teóricos o entendimento do comportamento em termos de fato res contemporâneos não só é possível mas é também o único caminho defensável para esse entendimento Para outros uma compreensão razoável do presente sempre depende parcialmente do conhecimento de eventos que ocorreram no passado Naturalmente aqueles que enfatizam o ponto de vista contemporâ neo estão convencidos da independência funcional da estrutura da personalidade em qualquer momento es pecífico no tempo enquanto os que enfatizam a im portância da experiência passada ou inicial estão me nos convencidos da liberdade da estrutura presente em relação à influência dos eventos passados Estreitamente relacionada a essa questão está a questão da continuidade ou descontinuidade do com portamento em diferentes estágios do desenvolvimen to A maioria das teorias que enfatizam o processo de aprendizagem eou a importância das experiências de senvolvimentais iniciais tende a ver o indivíduo como um organismo em constante desenvolvimento A es trutura observada em um dado ponto do tempo está relacionada de maneira determinante à estrutura e às experiências que ocorreram em um ponto anterior Ou tras teorias tendem a considerar o organismo como atravessando estágios de desenvolvimento relativa 42 HALL LINDZEY CAMPBELL mente independentes e funcionalmente separados dos estágios iniciais de desenvolvimento Este último ponto de vista pode levar à construção de teorias drastica mente diferentes para o comportamento do bebê e o comportamento do adulto Uma diferença importante entre as teorias da per sonalidade está na extensão em que elas adotam prin cípios holísticos Isto é elas consideram legítimo abs trair e analisar de modo que em um dado momento ou em um estudo específico seja examinada apenas uma pequena parte do indivíduo Os indivíduos que adotam uma posição holística consideram que o com portamento só pode ser compreendido no contexto de modo que devemos considerar simultaneamente a pessoa total em funcionamento juntamente com as porções significativas de seu ambiente para que te nhamos um bom resultado Outras teorias aceitam o fato de que a própria natureza da ciência necessita de análise Essas posições normalmente não mostram ne nhuma preocupação especial com a violação da inte gridade do organismo total que pode existir nos estu dos segmentais Tal ênfase na totalidade do indivíduo e do ambi ente pode ser analisada de duas formas distintas A primeira normalmente é referida como uma posição organísmica Aqui existe uma ênfase maior no inter relacionamento de tudo o que o indivíduo faz cada ato só pode ser compreendido contra o pano de fun do oferecido pelos outros atos da pessoa Não só exis te uma implicação de que todos os comportamentos são essencialmente interrelacionados e nãosuscetí veis a técnicas de análise mas geralmente também existe um interesse pelas bases orgânicas do compor tamento Conseqüentemente o comportamento deve ser visto em função da perspectiva oferecida pelos outros atos do indivíduo assim como em função da perspectiva oferecida pelos processos fisiológicos e biológicos concomitantes Todos os comportamentos e o funcionamento biológico da pessoa constituem um todo orgânico que não pode ser compreendido se es tudado de modo segmentado A segunda posição holística normalmente é refe rida como uma ênfase no campo Aqui a teoria se pre ocupa principalmente com a unidade indivisível de um determinado ato comportamental e o contexto ambiental em que ele ocorre Tentar compreender uma dada forma de comportamento sem especificar com detalhes o campo em que ele ocorre é tentar com preender sem considerar os fatores significativos Embora o comportamento seja parcialmente um re sultado de determinantes inerentes ao indivíduo exis tem forças externas igualmente convincentes que agem sobre a pessoa É só quando o ambiente significativo do indivíduo está inteiramente representado que es sas forças agindo fora da pessoa podem receber a devida atenção Existe uma forte tendência nos teó ricos que enfatizam a importância do campo de mi nimizar a importância dos fatores hereditários assim como dos eventos que ocorreram no início do desen volvimento Essa não é uma necessidade lógica mas na prática a maioria dos teóricos que se centraram no contexto ambiental do indivíduo enfatiza o presente ao invés do passado e está mais interessada no que está lá fora e não nos aspectos inatos do indivíduo Relacionada à questão do holismo está a questão da singularidade ou individualidade Certas teorias superestimam muito o fato de que cada indivíduo e na verdade cada ato é único e não pode ser duplica do por qualquer outro indivíduo ou ato Elas salien tam que sempre existem qualidades distintivas e im portantes que destacam o comportamento de um indivíduo do comportamento de todas as outras pes soas Em geral o indivíduo que adota fortemente um ponto de vista de campo ou organísmico tende a en fatizar também a singularidade Isso decorre natural mente do fato de que se ampliarmos suficientemente o contexto que deve ser considerado em relação a cada evento comportamental ele passará a ter tantas face tas que certamente apresentará diferenças distintas em comparação com todos os outros eventos Algu mas teorias aceitam o fato de que cada indivíduo é único mas propõem que essa singularidade pode ser explicada em termos de diferenças na configuração das mesmas variáveis subjacentes Outras teorias afir mam que os indivíduos nem sequer podem ser com parados proveitosamente em termos de variáveis co muns ou gerais pois elas distorcem e representam mal a singularidade do indivíduo As teorias da personali dade variam das que não fazem nenhuma menção especial à singularidade àquelas para as quais esta é uma das suposições mais centrais Tais teorias costu mam descrever uma hierarquia variando de compor tamentos específicos a tendências comportamentais mais amplas e a princípios gerais de comportamento p ex Raymond Cattell e Hans Eysenck Isto é es sas teorias sugerem que o grau de individualidade ou TEORIAS DA PERSONALIDADE 43 de generalidade depende do nível de análise que de cidimos adotar Intimamente associada às questões de holismo e singularidade está a amplitude da unidade de com portamento empregada na análise da personalidade Aqueles teóricos que são holistas relativos ou absolu tos escolhem analisar o comportamento só no nível da pessoa completa enquanto outros teóricos da per sonalidade empregam constructos de graus variados de especificidade ou elementalismo Isso já foi referi do como uma escolha entre uma abordagem molar geral e uma abordagem molecular específica ao estudo do comportamento No segmento mais extre mo desse contínuo está o teórico que acredita que o comportamento deve ser analisado em termos de re flexos ou hábitos específicos na outra extremidade está o observador disposto a ver o comportamento em algum nível mais molecular do que a pessoa intei ra funcionando Como veremos pesquisas recentes sobre a utilidade diferencial dos constructos de per sonalidade amplos versus limitados e a importância de se agregar observações isoladas em escalas de sempenharam um papel importante na solução do debate entre aqueles que defendem o comportamen to como determinado pela situação e aqueles que en fatizam o papel determinante das características de personalidade Existe uma distinção relacionada entre as teorias que lidam extensivamente com o conteúdo do com portamento e sua descrição e as que lidam principal mente com princípios gerais leis e análises formais Os teóricos podem concentrarse nos detalhes concre tos da experiência e do comportamento ou preocu parse principalmente com leis ou princípios que po dem ser amplamente generalizados Tipicamente quanto mais abstração tiver a teoria menor a preocu pação com o conteúdo ou com os detalhes concretos do comportamento Certos teóricos da personalidade centraram sua posição teórica na importância do ambiente psicológi co ou da estrutura subjetiva de referência Eles enfati zam que o mundo físico e seus eventos só afetam os indivíduos se eles os perceberem ou experienciarem Assim não é a realidade objetiva que serve como um determinante do comportamento e sim a realidade objetiva conforme é percebida ou significada pelo indivíduo É o ambiente psicológico não o ambiente físico que determina a maneira pela qual o indivíduo vai responder Contrapondose existem posições teó ricas que afirmam ser impossível construir uma teoria sólida do comportamento sobre as areias movediças dos relatos subjetivos ou das complicadas inferências necessárias para inferir significado dos eventos físi cos Tais teorias afirmam que podemos progredir mais deixando de lado as diferenças individuais na manei ra de perceber o mesmo evento objetivo e focalizan do as relações envolvendo eventos externos e obser váveis Uma outra distinção entre os teóricos da persona lidade tem relação com o fato de acharem ou não ne cessário introduzir um autoconceito Para certos teóri cos o atributo humano mais importante é a visão ou a percepção que o indivíduo tem de si mesmo Esse processo de autoexame freqüentemente é visto como a chave para o entendimento da multiplicidade de eventos comportamentais surpreendentes apresenta dos pelas pessoas Em outras teorias não existe esse conceito e a percepção do sujeito de si mesmo é con siderada de pouca importância geral Uma característica do autoconceito que merece especial atenção é o senso de competência do indiví duo Alguns teóricos propuseram que estabelecer e manter um senso de poder controle ou competência pessoal funciona como um motivo predominante Além disso o grau de competência quer em domíni os gerais quer específicos existe como uma caracte rística central da autodefinição e do senso de valor do indivíduo Outros teóricos não reconhecem a existên cia de um motivo autônomo como esse Tal construc to pode ser descrito em vários termos mas serve como um princípio organizador para o autoconceito naque las teorias que o incluem Os teóricos da personalidade variam muito na extensão em que enfatizam explicitamente os deter minantes comportamentais culturais ou a condição de membro de um grupo Em algumas teorias esses fato res recebem um papel principal modelando e contro lando o comportamento em outras a ênfase é quase exclusivamente nos determinantes do comportamen to que operam independentemente da sociedade ou dos grupos culturais aos quais o indivíduo está expos to Em geral os teóricos caracterizados por uma pe sada ênfase organísmica tendem a subestimar o papel dos determinantes comportamentais da condição de membro de um grupo Aqueles que enfatizam o cam po em que o comportamento ocorre vêem com mais 44 HALL LINDZEY CAMPBELL simpatia o papel dos determinantes socioculturais ou da condição de membro de um grupo Os exemplos extremos dessa posição normalmente referidos como exemplos de determinismo cultural são encontrados entre teóricos antropológicos e sociológicos mas os teóricos psicológicos também apresentam considerá vel variação nessa questão Além disso temos a questão mais geral de quão explicitamente os teóricos da personalidade tentam relacionar sua teoria à teorização e aos achados em píricos das disciplinas correlatas Isso poderia ser re ferido como uma questão de ancoramento interdisci plinar Alguns teóricos da personalidade ficam relativamente satisfeitos ao lidar com os fenômenos comportamentais em termos de conceitos e achados psicológicos com pouca ou nenhuma atenção ao que está acontecendo nas disciplinas afins Outros julgam que a teorização psicológica deve basearse nas for mulações e nos achados de outras disciplinas Os psi cólogos da personalidade orientados para outras dis ciplinas podem ser divididos em dois tipos básicos os que buscam orientação nas ciências naturais bio logia fisiologia neurologia genética e os que bus cam orientação nas ciências sociais sociologia antro pologia economia história As teorias da personalidade mostram grande va riação no número de conceitos motivacionais que em pregam Em alguns casos considerase que um ou dois desses conceitos estão na base de todos os comporta mentos para outras teorias existe um número extre mamente grande de motivos hipotetizados e para outras ainda o número é praticamente ilimitado Tam bém existem diferenças consideráveis entre as teorias na atenção dada aos motivos primários ou inatos em oposição aos motivos secundários ou adquiridos Além disso algumas teorias oferecem um quadro relativa mente detalhado do processo pelo qual os motivos adquiridos se desenvolvem enquanto outras pouco se interessam pela derivação ou aquisição de moti vos Um outro aspecto em que as teorias da personali dade variam bastante é a extensão em que lidam com aspectos avaliativos ou ideais do comportamento Al guns teóricos oferecem uma rica descrição dos com ponentes sadios ou ideais da personalidade enquan to outros se limitam a uma descrição objetiva ou fatu al sem nenhum esforço para indicar o positivo e o negativo ou inclusive o normal e o anormal Alguns teóricos estão muito mais preocupados com as carac terísticas da pessoa madura ou ideal enquanto ou tros relutam em considerar uma forma de ajustamen to como necessariamente superior à outra Algumas teorias da personalidade derivamse de e são mais relevantes para a descrição do comporta mento anormal ou patológico Outras teorias e teóri cos centramse no normal ou no melhor que o nor mal As teorias com origens nas clínicas psiquiátricas nos centros de aconselhamento e nos consultórios de terapeutas certamente têm mais a dizer sobre o com portamento desviante ou anormal enquanto as teori as derivadas do estudo das crianças e dos estudantes universitários são mais descritivas e representativas do intervalo relativamente normal de personalidade Nós agora encerramos nossa lista de dimensões para a comparação das teorias da personalidade mas esperamos que os leitores não se esqueçam delas A breve orientação aqui oferecida terá um significado mais rico e uma maior importância se essas questões forem consideradas na leitura dos capítulos que des crevem as diferentes teorias da personalidade Tam bém ficará claro que os aspectos mais distintivos des sas teorias são decorrência de decisões relativas às questões que acabamos de discutir No capítulo final nós vamos reconsiderar essas dimensões à luz das te orias específicas da personalidade Isso nos leva ao final da nossa discussão introdu tória e agora podemos prosseguir para a essência deste volume as próprias teorias da personalidade Se o leitor só pudesse gravar um único pensamento de tudo o que foi dito até este ponto que fosse a simples im pressão de que as teorias da personalidade são tenta tivas de formular ou representar aspectos significati vos do comportamento dos indivíduos e que a produtividade dessas tentativas deve ser julgada prin cipalmente em termos de quão efetivamente elas ser vem como um estímulo para a pesquisa TEORIAS DA PERSONALIDADE 45 ÊNFASE NA PSICODINÂMICA Os teóricos da personalidade descritos nesta seção compartilham uma preocupação central com as forças dinâmicas que determinam o nosso comportamento e com as estruturas defensivas que sem saber erigimos para nos proteger dessas forças A primeira posição considerada evidentemente é a de Sigmund Freud Freud desenvolveu a primeira teoria sistemática da personalidade e em muitos aspectos todos os teóricos subseqüentes apresentaram reações à sua posição O núcleo da teoria de Freud foi sua defesa de um modelo conflitual de motivação Segundo essa posição o comportamento é provocado por impulsos inconscientes com base biológica que exigem gratificação Quando a expressão dessas exigências é bloqueada por constrangimentos morais nós negociamos compromissos comportamentais centrados nas substituições ou nas representações simbólicas do objeto originalmente desejado À medida que amadurecemos ficamos mais capazes de adiar a gratificação até o momento e o lugar apropriados Mas continuamos carregando o resíduo inconsciente de conflitos infantis nãoresolvidos e eles são a base de grande parte do nosso comportamento adulto Uma das suposições centrais de Freud era o determinismo psíquico segundo o qual todos os comportamentos ocorrem por alguma razão Conseqüentemente a nossa tarefa como psicólogos é descobrir os determinantes comportamentais enterrados Essa posição de psicologia profunda levou Freud a fascinantes análises de fenômenos cotidianos como sonhos chistes e atos falhos As outras suposições adotadas por Freud em seus modelos desenvolvimentais separados para homens e mulheres se mostraram difíceis de aceitar Neste ponto o leitor deve ser alertado Freud oferece a primeira ilustração e em muitos aspectos a mais clara da necessidade de se identificar as suposições de um teórico Uma vez que as suposições sejam aceitas a lógica da teoria em si tornase difícil de contestar Duas notas finais sobre Freud Primeiro Freud foi um racionalista não um defensor da expressão desenfreada de impulsos irracionais Ele escreveu Onde era o Id ficará o Ego e A voz do intelecto é uma voz suave mas não descansa até ser ouvida Segundo Freud se considerava um empiricista Isso não surpreende dada sua carreira original em anatomia e no que agora chamaríamos de neurociência mas nos leva a um paradoxo A teoria de Freud muitas vezes é descartada como nãocientífica segundo os critérios apresentados no Capítulo 1 Qualquer teoria baseada na estrutura e nas forças inconscientes revelase difícil se não impossível de testar e a testabilidade das predições é a marca registrada da teoria científica Na 46 HALL LINDZEY CAMPBELL verdade Freud estava mais empenhado na pósenunciação ou explicação após o fato do que na predição Você leitor deve chegar à sua própria conclusão sobre a estatura e a credibilidade científicas da teoria de Freud Os cinco outros teóricos importantes discutidos nesta seção compartilham muito com Freud mas também diferem dele de maneiras substanciais Carl Jung foi endossado por Freud como seu príncipe herdeiro mas eles acabaram tendo uma separação amarga Jung jamais conseguiu aceitar a ênfase de Freud na sexualidade como um motivo e propôs que os determinantes inconscientes do comportamento tinham uma origem ancestral e nãopessoal Alfred Adler nunca foi tão próximo de Freud em um nível pessoal ou teórico como Jung Adler estava muito mais interessado nos determinantes conscientes do comportamento do que Freud estivera e ele também enfatizou o interesse social como a base do funcionamento sadio Karen Horney desafiou as suposições e as conclusões de Freud acerca do desenvolvimento psicossexual Ela também propôs um modelo convincente mas subapreciado de ansiedade básica e conflitos entre os componentes do autoconceito Harry Stack Sullivan enfatizou os estágios desenvolvimentais e grande parte de seu modelo baseiase em constructos de energia e ansiedade Mas a inclusão de Sullivan no presente grupo é assegurada pelo contexto interpessoal em que ele conceitualiza o comportamento do indivíduo Erik Erikson manteve grande parte do modelo de Freud mas reinterpretou os instintos freudianos como fragmentos pulsionais que só recebem significado por meio das forças culturais e das práticas de educação das crianças Erikson transformou os estágios do desenvolvimento psicossexual de Freud em estágios psicossociais e estendeu a análise desenvolvimental a todo o ciclo vital Apesar dessas diferenças os teóricos compartilham uma ênfase geral no conflito intrapsíquico e na importância da ansiedade resultante TABELA 1 Comparação Dimensional das Teorias Psicodinâmicas Parâmetro Comparado Freud Jung Adler Horney Sullivan Erikson Propósito A A A A A A Determinantes inconscientes A A M A M M Processo de aprendizagem M B B M M M Estrutura A A M M M A Hereditariedade A A A B B M Desenvolvimento inicial A B A M M A Continuidade A B A M A A Ênfase organísmica M A M M M M Ênfase no campo B B A M A A Singularidade M M A M M M Ênfase molar M M M M M M Ambiente psicológico A A M M A A Autoconceito A A A A A A Competência M B A M M A Afiliação grupal M B A A A A Ancoragem na biologia A A M B M M Ancoragem nas ciências sociais A B A A A A Motivos múltiplos B M B B M M Personalidade ideal A A A A M A Comportamento anormal A A A A A M Nota A indica alto enfatizado M indica moderado e B indica baixo pouco enfatizado TEORIAS DA PERSONALIDADE 47 Conforme indica a Tabela 1 os teóricos psicodinâmicos geralmente enfatizam o propósito e os determinantes inconscientes do comportamento Eles estão preocupados com a personalidade ideal e com o comportamento patológico e alguma versão do autoconceito desempenha um papelchave em suas posições Observem a variabilidade todavia na importância que atribuem à afiliação grupal e à hereditariedade Essas semelhanças e discrepâncias ficarão claras conforme tratarmos de cada teoria TEORIAS DA PERSONALIDADE 49 CAPÍTULO 2 A Teoria Psicanalítica Clássica de Sigmund Freud INTRODUÇÃO E CONTEXTO 50 HISTÓRIA PESSOAL 50 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 53 O Id 53 O Ego 54 O Superego 54 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 55 Instinto 55 A Distribuição e a Utilização da Energia Psíquica 58 Ansiedade 60 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 61 Identificação 61 Deslocamento 62 Os Mecanismos de Defesa do Ego 63 Estágios de Desenvolvimento 65 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 68 O Credo Científico de Freud 69 Associação Livre e Análise de Sonhos 70 Estudos de Caso de Freud 72 AutoAnálise de Freud 74 PESQUISA ATUAL 74 Ativação Psicodinâmica Subliminar 75 Nova Visão 3 77 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 78 50 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Quando a psicologia emergiu como uma disciplina científica independente na Alemanha em meados do século XIX ela definiu sua tarefa como a análise da consciência no ser humano normal adulto Ela consi derava a consciência como constituída por elementos estruturais estreitamente correlacionados a processos nos órgãos dos sentidos As sensações visuais de cor por exemplo estavam correlacionadas com mudan ças fotoquímicas na retina do olho e os tons com eventos ocorrendo no ouvido interno As experiênci as complexas resultavam da reunião de várias sensa ções imagens e sentimentos elementares A tarefa da psicologia era descobrir os elementos básicos da cons ciência e determinar como eles formavam compostos A psicologia era muitas vezes referida como química mental As objeções a esse tipo de psicologia vieram de muitas direções e por uma variedade de razões Ha via aqueles que se opunham à ênfase exclusiva na es trutura e insistiam com considerável vigor que as ca racterísticas notáveis da mente consciente eram seus processos ativos e não seus conteúdos passivos Sen tir e não as sensações pensar e não as idéias imagi nar e não as imagens esses processos afirmavase deveriam ser o principal assunto da ciência da psico logia Outros protestavam que a experiência consci ente não podia ser dissecada sem destruir a própria essência da experiência a saber sua qualidade de to talidade A consciência direta diziam consiste em padrões ou configurações e não em elementos reuni dos Um outro grupo grande e barulhento afirmava que a mente não era suscetível a investigações pelos métodos da ciência por ser demasiadamente privada e subjetiva Eles queriam que a psicologia fosse defi nida como a ciência do comportamento O ataque de Freud à tradicional psicologia da cons ciência veio de uma direção muito diferente Ele com parou a mente a um iceberg a parte menor que apare cia acima da superfície da água representava a região da consciência enquanto a massa muito maior abai xo da água representava a região do inconsciente Nesse vasto domínio do inconsciente encontramos os impulsos as paixões as idéias e os sentimentos repri midos um grande mundo subterrâneo de forças vi tais invisíveis que exercem um controle imperioso sobre os pensamentos e as ações dos indivíduos Des se ponto de vista uma psicologia que se limita à aná lise da consciência é totalmente inadequada para com preender os motivos subjacentes do comportamento humano Por mais de 40 anos Freud explorou o inconsci ente pelo método da associação livre e desenvolveu o que geralmente é considerado como a primeira teoria abrangente da personalidade Ele traçou os contor nos de sua topografia penetrou nas fontes de sua cor rente de energia e diagramou o curso legítimo de seu desenvolvimento Ao realizar essas façanhas incríveis ele se tornou uma das figuras mais controversas e in fluentes do nosso tempo Para um relato do status do inconsciente antes de Freud ver White 1962 HISTÓRIA PESSOAL Sigmund Freud nasceu na Morávia em 6 de maio de 1856 e morreu em Londres em 23 de setembro de 1939 Por quase 80 anos todavia ele morou em Vie na e só saiu daquela cidade quando os nazistas inva diram a Áustria Quando jovem ele decidiu que que ria ser cientista Com esse objetivo em mente ingressou na escola de medicina da Universidade de Viena em 1873 formandose oito anos mais tarde Freud nunca pretendeu praticar a medicina mas as escassas recompensas do trabalho científico as opor tunidades limitadas de avanço acadêmico para um judeu e as necessidades de uma família crescente o obrigaram a entrar na prática privada Mesmo com o atendimento aos pacientes ele encontrava tempo para pesquisar e escrever e suas realizações como investi gador médico granjearamlhe uma sólida reputação O interesse de Freud pela neurologia fez com que se especializasse no tratamento de transtornos nervo sos um ramo da medicina que ficara para trás na marcha ativa das artes curadoras durante o século XIX Para melhorar suas habilidades técnicas ele estudou um ano com o famoso psiquiatra francês Jean Char cot que estava usando a hipnose no tratamento da histeria Embora tentasse a hipnose com seus pacien tes Freud não ficou muito impressionado com sua eficácia Conseqüentemente quando ouviu falar so bre um novo método desenvolvido por um médico vienense Joseph Breuer um método pelo qual o paci ente era curado dos sintomas ao falar sobre eles Freud TEORIAS DA PERSONALIDADE 51 Sigmund Freud 52 HALL LINDZEY CAMPBELL o experimentou e o achou efetivo Breuer e Freud es creveram em parceria sobre alguns de seus casos de histeria tratados pela técnica da fala 1895 Entretanto os dois logo divergiram sobre a im portância do fator sexual na histeria Freud conside rava que os conflitos sexuais eram a causa da histeria enquanto Breuer adotava uma visão mais conserva dora ver Ellenberger 1970 para uma discussão so bre os antecedentes históricos da posição de Freud A partir de então Freud trabalhou praticamente sozi nho desenvolvendo as idéias que seriam os funda mentos da teoria psicanalítica e que culminaram na publicação de seu primeiro grande trabalho A Inter pretação dos Sonhos 1900 Outros livros e artigos logo chamaram a atenção de médicos e cientistas do mundo inteiro e Freud logo se viu cercado por um grupo de discípulos de vários países entre os quais Ernest Jones da Inglaterra Carl Jung de Zurique A A Brill de Nova York Sandor Ferenczi de Budapes te Karl Abraham de Berlim e Alfred Adler de Viena Jung e Adler posteriormente se afastaram do círculo e desenvolveram pontos de vista rivais No breve espaço que nos é permitido é impossí vel cobrir todos os pontos mais interessantes da vida intelectual e pessoal de Freud os primeiros anos como estudante de medicina e investigador a influência decisiva do grande fisiologista alemão Ernst Brücke um dos líderes da Helmholtz School of Medicine com quem Freud aprendeu a ver o indivíduo como um sis tema dinâmico sujeito às leis da natureza Amacher 1965 seu casamento com Martha Bernays e sua de voção vitalícia a ela e aos seis filhos um dos quais Anna seguiu os passos do pai o estimulante ano com Charcot em Paris sua autoanálise investigativa que começou na década de 1890 e continuou por toda sua vida a tentativa abortada de explicar os fenôme nos psicológicos em termos de anatomia cerebral os anos de isolamento da comunidade médica de Viena o convite de G Stanley Hall o eminente psicólogo americano e presidente da Clark University para fa Consultório de Freud TEORIAS DA PERSONALIDADE 53 lar no encontro em comemoração à fundação da uni versidade a criação da Associação Psicanalítica Inter nacional e a secessão de discípulos importantes como Jung Adler Rank e Stekel a influência da Primeira Guerra Mundial sobre o pensamento de Freud e sua cuidadosa revisão dos princípios básicos da teoria psi canalítica a aplicação dos conceitos psicanalíticos em todos os campos de empreendimento humano as ca racterísticas pessoais de Freud e o longo sofrimento do câncer de mandíbula e finalmente sua fuga melo dramática das garras dos nazistas Felizmente todos os recantos e frestas da longa vida de Freud foram examinados pelo grande psicanalista inglês Ernest Jones e brilhantemente relatados em uma biografia de três volumes 1953 1955 1957 Mais recente mente Peter Gay 1988 escreveu uma biografia abrangente e simpática de Freud O espaço também não nos permite listar os traba lhos publicados de Freud Começando com A Inter pretação dos Sonhos em 1900 e terminando com Es boço da Psicanálise publicado postumamente em 1940 os textos psicológicos de Freud totalizam vinte e qua tro volumes na edição inglesa padrão definitiva 1953 1974 Para o leitor que não está familiarizado com a teoria da personalidade de Freud recomendamos os seguintes livros A Interpretação dos Sonhos 1900 A Psicopatologia da Vida Cotidiana 1901 Conferências Introdutórias Gerais à Psicanálise 1917 Novas Con ferências Introdutórias à Psicanálise 1933 e Esboço da Psicanálise 1940 No seguinte relato das idéias de Freud tratare mos apenas das questões relativas à sua teoria da per sonalidade No processo excluiremos de considera ção a teoria psicanalítica da neurose que de qualquer forma foi tão bem examinada por Otto Fenichel 1945 as técnicas de psicanálise e as vastas aplica ções da psicologia freudiana nas ciências sociais ver Hall Lindzey 1968 artes e humanidades Também deixaremos de lado a evolução do pensamento de Freud a respeito dos conceitos básicos de sua teoria da personalidade será suficiente apresentar sua pa lavra final sobre os conceitos que vamos discutir No Capítulo 5 examinaremos algumas das adições e das modificações na teoria clássica de Freud feitas por seus seguidores As teorias dissidentes de Jung e Adler que começaram como proponentes da psicanálise são apresentadas nos Capítulos 3 e 4 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE A personalidade é constituída por três grandes siste mas o id o ego e o superego Embora cada uma dessas partes da personalidade total tenha suas próprias fun ções propriedades componentes princípios de ope ração dinamismos e mecanismos elas interagem tão estreitamente que é difícil senão impossível desema ranhar seus efeitos e pesar sua relativa contribuição ao comportamento humano O comportamento é qua se sempre o produto de uma interação entre esses três sistemas e raramente um sistema opera com a exclu são dos outros dois O Id O id é o sistema original da personalidade ele é a matriz da qual se originaram o ego e o superego O id consiste em tudo que é psicológico que é herdado e que se acha presente no nascimento incluindo os ins tintos Ele é o reservatório da energia psíquica e for nece toda a energia para a operação dos outros dois sistemas Ele está em estreito contato com os proces sos corporais dos quais deriva sua energia Freud cha mou o id de a verdadeira realidade psíquica porque ele representa o mundo interno da experiência subje tiva e não tem nenhum conhecimento da realidade objetiva Para uma discussão do id ver Schur 1966 O id não tolera aumentos de energia que são ex perienciados como estados de tensão desconfortáveis Conseqüentemente quando o nível de tensão do or ganismo aumenta como resultado ou de estimulação externa ou de excitações internamente produzidas o id funciona de maneira a descarregar a tensão ime diatamente e a fazer o organismo voltar a um nível de energia confortavelmente constante e baixo Esse prin cípio da redução de tensão pelo qual o id opera é cha mado de princípio do prazer Para atingir seu objetivo de evitar dor e obter pra zer o id tem sob seu comando dois processos as ações reflexas e o processo primário As ações reflexas são reações inatas e automáticas como espirrar e piscar e geralmente reduzem a tensão imediatamente O organismo está equipado com vários desses reflexos para lidar com formas relativamente simples de exci tação O processo primário envolve uma reação psi 54 HALL LINDZEY CAMPBELL cológica um pouco mais complicada Ele tenta des carregar a tensão formando a imagem de um objeto que vai remover a tensão Por exemplo o processo primário apresenta à pessoa faminta a imagem men tal de um alimento Essa experiência alucinatória em que o objeto desejado é apresentado na forma de uma imagem de memória é chamada de realização do dese jo O melhor exemplo do processo primário nas pes soas normais é o sonho noturno que Freud acredita va representar sempre a realização ou a tentativa de realização de um desejo As alucinações e as visões dos pacientes psicóticos também são exemplos do pro cesso primário O pensamento autista ou veleitário é altamente colorido pela ação do processo primário Essas imagens mentais de realização do desejo são a única realidade conhecida pelo id Obviamente o processo primário sozinho não é capaz de reduzir a tensão A pessoa faminta não pode comer as imagens mentais de comida Conseqüente mente desenvolvese um processo psicológico novo ou secundário Quando isso ocorre a estrutura do segundo sistema da personalidade o ego começa a tomar forma O Ego O ego passa a existir porque as necessidades do orga nismo requerem transações apropriadas com o mun do objetivo da realidade A pessoa faminta tem de buscar encontrar e comer o alimento para que a ten são da fome seja eliminada Isso significa que a pes soa precisa aprender a diferenciar entre uma imagem mnemônica do alimento e uma percepção real do ali mento conforme ele existe no mundo externo Tendo feito essa diferenciação crucial é necessário conver ter a imagem em uma percepção o que se consegue localizandose o alimento no ambiente Em outras palavras a pessoa compara a imagem mnemônica do alimento com a visão ou com o aroma do alimento conforme lhe chegam pelos sentidos A distinção bá sica entre o id e o ego é que o id só conhece a realida de subjetiva da mente ao passo que o ego distingue as coisas na mente das coisas no mundo externo Dizemos que o ego obedece ao princípio da reali dade e opera por meio do processo secundário O obje tivo do princípio da realidade é evitar a descarga de tensão até ser descoberto um objeto apropriado para a satisfação da necessidade O princípio da realidade suspende temporariamente o princípio do prazer mas o princípio do prazer é eventualmente atendido quan do o objeto necessário é encontrado e quando a ten são é então reduzida O princípio da realidade per gunta se uma experiência é verdadeira ou falsa isto é se tem existência externa ou não enquanto o prin cípio do prazer só quer saber se a experiência é dolo rosa ou prazerosa O processo secundário é o pensamento realista Por meio do processo secundário o ego formula um plano para a satisfação da necessidade e depois testa o normalmente com algum tipo de ação para ver se ele vai funcionar ou não A pessoa faminta pensa so bre onde pode encontrar comida e depois segue para aquele lugar Isso é chamado de teste de realidade Para desempenhar seu papel eficientemente o ego tem controle sobre todas as funções cognitivas e intelec tuais esses processos mentais superiores são coloca dos a serviço do processo secundário Afirmamos que o ego é o executivo da personali dade porque ele controla o acesso à ação seleciona as características do ambiente às quais irá responder e decide que instintos serão satisfeitos e de que manei ra Ao realizar essas funções executivas imensamente importantes o ego precisa tentar integrar as deman das muitas vezes conflitantes do id do superego e do mundo externo Essa não é uma tarefa fácil e em ge ral coloca grande tensão sobre o ego Mas devemos lembrar que o ego é a porção orga nizada do id que passa a existir para atingir os objeti vos do id e não para frustrálos e que todo o seu po der se deriva do id Ele não existe separadamente do id e nunca se torna completamente independente dele Seu principal papel é o de mediador entre as exigências instintuais do organismo e as condições do ambiente circundante seus objetivos supraordena dos são manter a vida do indivíduo e assegurar que a espécie se reproduza Freud certa vez resumiu o qui nhão do ego dizendo que ele tinha três duros senho res o id a realidade externa e o superego O Superego O terceiro e último sistema da personalidade a se de senvolver é o superego Ele é o representante interno dos valores tradicionais e dos ideais da sociedade con forme interpretados para a criança pelos pais e im postos por um sistema de recompensas e de punições TEORIAS DA PERSONALIDADE 55 O superego é a força moral da personalidade Ele re presenta o ideal mais do que o real e busca a perfei ção mais do que o prazer Sua principal preocupação é decidir se alguma atitude é certa ou errada para poder agir de acordo com os padrões morais autori zados pelos agentes da sociedade O superego como árbitro moral internalizado de conduta desenvolvese em resposta às recompensas e punições impostas pelos pais Para obter as recom pensas e evitar os castigos a criança aprende a orien tar seu comportamento de acordo com os pais Tudo o que eles dizem ser impróprio e por isso castigam a criança por fazer tende a ser incorporado à sua cons ciência que é um dos dois subsistemas do superego Tudo o que eles aprovam e por isso recompensam a criança por fazer tende a ser incorporado ao seu ideal do ego o outro subsistema do superego O mecanis mo pelo qual ocorre essa incorporação é chamado de introjeção A criança absorve ou introjeta os padrões morais dos pais A consciência pune a pessoa fazen doa sentirse culpada o ideal do ego recompensa a pessoa fazendoa sentirse orgulhosa Com a forma ção do superego o autocontrole substitui o controle parental Nós faremos comparações com este pro cesso de autoavaliação quando discutirmos o auto sistema de Bandura no Capítulo 14 As principais funções do superego são 1 inibir os impulsos do id especialmente aqueles de natureza sexual ou agressiva uma vez que estes são os impul sos cuja expressão é mais condenada pela sociedade 2 persuadir o ego a substituir objetivos realistas por objetivos moralistas e 3 buscar a perfeição Isto é o superego está inclinado a se opor tanto ao id quan to ao ego e a reformar o mundo segundo sua própria imagem Entretanto ele é como o id ao ser nãoracio nal e como o ego ao tentar exercer controle sobre os instintos Diferentemente do ego o superego não se satisfaz em adiar a gratificação instintiva ele tenta bloqueála permanentemente Uma análise histórica do superego foi feita por Turiell 1967 Nós concluímos essa breve descrição dos três sis temas da personalidade salientando que o id o ego e o superego não devem ser pensados como homúncu los que operam a personalidade Eles são apenas no mes para vários processos psicológicos que obedecem a diferentes princípios de sistemas Em circunstâncias comuns esses diferentes princípios não colidem um com o outro e nem têm propósitos opostos Pelo con trário eles trabalham juntos como uma equipe sob a liderança administrativa do ego A personalidade nor malmente funciona como um todo e não como três segmentos separados De maneira muito geral o id pode ser pensado como o componente biológico da personalidade o ego como o componente psicológico e o superego como o componente social A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Freud foi educado sob a influência da filosofia forte mente determinista e positivista do século XIX Ele considerava o organismo humano como um sistema complexo de energia que era obtida do alimento con sumido e que gastava uma quantidade limitada de energia em propósitos variados como circulação res piração exercício muscular perceber pensar e lem brar Freud não via nenhuma razão para supor que a energia que fornece o poder para respirar ou digerir fosse diferente salvo em forma da energia que for nece o poder para pensar e lembrar Afinal de contas como insistiam firmemente os físicos do século XIX a energia tinha de ser definida em termos do trabalho que realiza Se o trabalho consiste em uma atividade psicológica como pensar é perfeitamente legítimo acreditava Freud chamar essa forma de energia de energia psíquica Segundo a doutrina da conservação da energia ela pode ser transformada de um estado para outro mas nunca se perde no sistema cósmico total Disso decorre que a energia psíquica pode ser transformada em energia fisiológica e viceversa O ponto de contato ou a ponte entre a energia do corpo e a da personalidade é o id e seus instintos Instinto Um instinto é definido como uma representação psi cológica inata de uma fonte somática interna de exci tação A representação psicológica é chamada de de sejo e a excitação corporal da qual se origina é chamada de necessidade Assim o estado de fome pode ser descrito em termos fisiológicos como uma condi ção de déficit nutricional nos tecidos do corpo ao passo que psicologicamente ela é representada como um desejo de alimento O desejo age como um moti vo para o comportamento A pessoa faminta busca 56 HALL LINDZEY CAMPBELL alimento Por isso os instintos são considerados os fatores propulsores da personalidade Eles não só im pulsionam o comportamento mas também determi nam a direção que o comportamento tomará Em ou tras palavras um instinto exerce um controle seletivo sobre a conduta ao aumentar a sensibilidade da pes soa a tipos específicos de estimulação A pessoa fa minta é mais sensível aos estímulos alimentares e a pessoa sexualmente excitada tende mais a responder a estímulos eróticos Parenteticamente observamos que o organismo também pode ser ativado por estímulos do mundo externo Mas Freud achava que essas fontes ambien tais de excitação desempenham um papel menos im portante na dinâmica da personalidade do que os ins tintos inatos Em geral os estímulos externos fazem menos exigências ao indivíduo e requerem formas menos complicadas de ajustamento do que as neces sidades Sempre podemos fugir de um estímulo ex terno mas é impossível fugir de uma necessidade Embora Freud relegasse os estímulos ambientais a um lugar secundário ele não negava a sua importância sob certas condições Por exemplo uma excessiva es timulação durante os primeiros anos de vida quando o ego imaturo não é capaz de reunir grandes quanti dades de energia livre tensão pode ter efeitos drás ticos sobre a personalidade como veremos quando examinarmos a teoria de Freud sobre a ansiedade Um instinto é um quantum de energia psíquica ou como Freud colocou uma medida da exigência feita à mente para trabalhar 1905a p 168 Todos os instintos tomados juntos constituem a soma total de energia psíquica disponível para a personalidade Como salientamos previamente o id é o reservatório dessa energia e é também a sede dos instintos Ele pode ser considerado um dínamo que fornece a ener gia psicológica para as múltiplas operações da perso nalidade Essa energia derivase é claro dos proces sos metabólicos do corpo Um instinto tem quatro aspectos característicos uma fonte uma meta um objeto e um ímpeto A fonte já foi definida como uma condição corporal ou uma necessidade A meta é a remoção da excitação corpo ral A meta do instinto de fome por exemplo é abolir a deficiência nutricional o que conseguimos eviden temente comendo o alimento Todas as atividades que intervêm entre o aparecimento do desejo e sua reali zação são agrupadas sob o nome de objeto Isto é o objeto se refere não só à coisa ou à condição específi ca que vai satisfazer a necessidade mas inclui tam bém todos os comportamentos que acontecem para assegurar a coisa ou a condição necessária Por exem plo quando uma pessoa está com fome ela normal mente tem de realizar algumas ações antes de atingir a meta final de comer O ímpeto de um instinto é a sua força determina da pela intensidade da necessidade subjacente À medida que aumenta a deficiência nutricional até o ponto em que se instala uma fraqueza física a força do instinto aumenta correspondentemente Vamos considerar brevemente algumas das impli cações nessa maneira de conceitualizar um instinto Em primeiro lugar o modelo oferecido por Freud é um modelo de redução de tensão O comportamento de uma pessoa é ativado por irritantes internos e ces sa quando uma ação apropriada remove ou diminui a irritação Isso significa que a meta de um instinto tem um caráter essencialmente regressivo uma vez que faz a pessoa retornar a um estado anterior um estado que existia antes de o instinto aparecer Esse estado anterior ao qual a personalidade retorna é de relativa tranqüilidade Também dizemos que um instinto é conservador porque sua meta é conservar o equilíbrio do organismo abolindo as excitações perturbadoras Assim podemos descrever um instinto como um pro cesso que repete tão freqüentemente quanto apare ce um ciclo de eventos que se inicia com a excitação e termina com o repouso Freud chamou esse aspecto do instinto de compulsão à repetição A personalidade é compelida a repetir interminavelmente o inevitável ciclo da excitação à tranqüilidade O termo compul são à repetição também é empregado para descrever o comportamento perseverante que ocorre quando os meios adotados para satisfazer a necessidade não são completamente apropriados Uma criança pode per severar chupando o dedo quando está com fome Segundo a teoria freudiana dos instintos a fonte e a meta de um instinto permanecem constantes por toda a vida a menos que a fonte seja modificada ou eliminada pelo amadurecimento físico Novos instin tos podem aparecer à medida que se desenvolvem novas necessidades corporais Ao contrário dessa cons tância de fonte e meta o objeto ou os meios pelos quais a pessoa tenta satisfazer a necessidade podem variar e realmente variam consideravelmente duran te o tempo de vida da pessoa Tal variação na escolha TEORIAS DA PERSONALIDADE 57 do objeto tornase possível porque a energia psíquica é deslocável ela pode ser gasta de várias maneiras Conseqüentemente se um objeto não está disponível ou por estar ausente ou pela presença de barreiras dentro da personalidade a energia pode ser investida em outro objeto Se esse objeto também se mostrar inacessível pode ocorrer outro deslocamento e as sim por diante até ser encontrado um objeto disponí vel Em outras palavras os objetos podem ser substi tuídos o que definitivamente não acontece com a fonte ou a meta de um instinto Quando a energia de um instinto é investida de modo mais ou menos permanente em um objeto subs tituto isto é um que não é o objeto original e inata mente determinado o comportamento resultante é chamado de derivado instintual Assim se a primeira escolha de objeto do bebê for a manipulação dos pró prios órgãos sexuais e ele for forçado a desistir desse prazer em favor de formas mais inócuas de estimula ção corporal como chupar o polegar ou brincar com os dedos dos pés as atividades substitutas são deriva dos do instinto sexual A meta do instinto sexual não muda quando ocorre uma substituição a meta busca da ainda é a da gratificação sexual O deslocamento de energia de um objeto para outro é o aspecto mais importante da dinâmica da personalidade Ele explica a aparente plasticidade da natureza humana e a notável versatilidade do com portamento humano Praticamente todos os interes ses preferências gostos hábitos e atitudes adultas representam os deslocamentos de energia das esco lhas de objeto instintuais originais Eles são quase to dos derivados instintuais A teoria de Freud da moti vação baseavase solidamente na suposição de que os instintos são as únicas fontes de energia para o com portamento humano Nós teremos muito mais a dizer sobre o deslocamento em seções subseqüentes deste capítulo Número e Tipos de Instintos Freud não tentou fazer uma lista de instintos porque sentiu que não sabíamos o suficiente sobre os estados corporais dos quais os instintos dependem A identifi cação dessas necessidades orgânicas é uma tarefa para o fisiologista não para o psicólogo Embora Freud não pretendesse saber quantos instintos existem ele real mente supunha que todos podiam ser classificados sob dois títulos gerais os instintos de vida e os instintos de morte Os instintos de vida servem ao propósito da so brevivência individual e da propagação racial A fome a sede e o sexo se enquadram nessa categoria A for ma de energia pela qual os instintos de vida realizam sua tarefa é chamada de libido O instinto de vida ao qual Freud prestou mais aten ção é o do sexo e nos primeiros anos da psicanálise quase tudo o que a pessoa fazia era atribuído a esta pulsão ubíqua Freud 1905a Na verdade o instinto sexual não é um único instinto mas muitos Isto é existem várias necessidades corporais separadas que originam os desejos eróticos Cada um desses desejos tem sua fonte em uma região corporal diferente refe ridas coletivamente como zonas erógenas Uma zona erógena é uma parte da pele ou da membrana muco sa que é extremamente sensível à irritação e que quan do manipulada de certa maneira remove a irritação e produz sentimentos prazerosos Os lábios e a cavida de oral constituem uma dessas zonas erógenas a re gião anal outra e os órgãos sexuais uma terceira Su gar produz prazer oral a eliminação provoca prazer anal e massagear ou esfregar traz prazer genital Na infância os instintos sexuais são relativamente inde pendentes uns dos outros mas quando a pessoa atin ge a puberdade eles tendem a se fundir e a servir conjuntamente à meta da reprodução Os instintos de morte ou como Freud às vezes os chamava os instintos destrutivos realizam seu traba lho muito menos conspicuamente do que os instintos de vida Por essa razão pouco sabemos sobre eles a não ser que inevitavelmente cumprem a sua missão Todas as pessoas seguramente morrem um fato que levou Freud a formular seu famoso ditado a meta de toda vida é a morte 1920a p 38 Freud supu nha especificamente que a pessoa tinha um desejo geralmente inconsciente é claro de morrer Ele não tentou identificar as fontes somáticas dos instintos de morte embora possamos especular se residem nos processos catabólicos ou de decomposição do corpo Ele também não deu nome à energia pela qual os ins tintos de morte executam seu trabalho A suposição de Freud de um desejo de morte ba seiase no princípio de constância conforme formula do por Fechner Esse princípio afirma que todos os processos vivos tendem a retornar à estabilidade do mundo inorgânico Em Além do Princípio do Prazer 58 HALL LINDZEY CAMPBELL 1920a Freud apresentou o seguinte argumento em favor do conceito do desejo de morte A matéria viva se desenvolveu pela ação das forças cósmicas sobre a matéria inorgânica A princípio essas mudanças eram extremamente instáveis e rapidamente reverti am ao seu estado inorgânico anterior Mas gradual mente a duração da vida aumentou devido a mudan ças evolutivas no mundo mas essas formas animadas instáveis eventualmente regressavam à estabilidade da matéria inanimada Com o desenvolvimento dos mecanismos reprodutivos os seres vivos conseguiram reproduzir sua própria espécie e não dependiam mais de serem criados do mundo inorgânico Mas mesmo com esse avanço cada membro da espécie inevitavel mente obedecia ao princípio da constância uma vez que este era o princípio que governava sua existência quando ele fora dotado de vida A vida dizia Freud era apenas um caminho indireto para a morte Arran cada de sua existência estável a matéria orgânica tenta voltar a um estado de tranqüilidade O desejo de morte no ser humano é a representação psicológica do prin cípio da constância Um derivado importante dos instintos de morte é a pulsão agressiva A agressividade é a autodestruição voltada para fora contra objetos substitutos Uma pessoa briga com outras e é destrutiva porque o dese jo de morte está bloqueado pelas forças dos instintos de vida e por outros obstáculos na personalidade que agem contra os instintos de morte Foi necessária a Primeira Guerra Mundial de 19141918 para conven cer Freud de que a agressão era um motivo tão sobe rano quanto o sexo Essa visão de que a Grande Guer ra estimulou o interesse de Freud pela agressão foi contestada por Stepansky 1977 Os instintos de vida e de morte e seus derivados podem se fundir neutralizar um ao outro ou substi tuir um ao outro Comer por exemplo representa uma fusão da fome e da destrutividade que é satisfeita por morder mastigar e engolir o alimento O amor um derivado do instinto sexual pode neutralizar o ódio um derivado do instinto de morte Ou o amor pode substituir o ódio ou o ódio o amor Uma vez que os instintos contêm toda a energia pela qual os três sistemas da personalidade realizam o seu trabalho examinemos agora como o id o ego e o superego controlam e utilizam a energia psíquica A Distribuição e a Utilização da Energia Psíquica A dinâmica da personalidade consiste na maneira pela qual a energia psíquica é distribuída e utilizada pelo id ego e superego Uma vez que a quantidade de ener gia é uma quantidade limitada existe uma competi ção entre os três sistemas pela energia disponível Um sistema obtém controle da energia disponível à custa dos dois outros sistemas À medida que um sistema se torna mais forte os outros dois necessariamente se tornam mais fracos a menos que uma nova energia seja acrescentada ao sistema total Originalmente o id possui toda a energia e a utili za para a ação reflexa e para a realização do desejo por meio do processo primário Ambas as atividades estão a serviço direto do princípio do prazer pelo qual o id opera O investimento de energia em uma ação ou imagem que vai gratificar um instinto é chamado de escolha objetal ou catexia objetal A energia do id está em um estado muito fluido o que significa que ela pode ser facilmente desviada de uma ação ou imagem para outra ação ou imagem A qualidade deslocável dessa energia instintual se deve à incapacidade do id de fazer discriminações sutis entre os objetos Os objetos diferentes são tratados como se fossem o mesmo O bebê faminto por exemplo vai pegar qualquer objeto que puder agarrar e o levará aos lábios Uma vez que o ego não tem nenhuma fonte de energia própria ele precisa tomála emprestada do id O desvio da energia do id para os processos que constituem o ego fazse por meio de um mecanismo conhecido como identificação Esse é um dos concei tos mais importantes na psicologia freudiana e um dos mais difíceis de entender Podemos lembrar de uma discussão prévia que o id não distingue entre imagem subjetiva e realidade objetiva Quando ele investe energia psíquica na imagem de um objeto é o mesmo que investir no próprio objeto Entretanto se uma imagem mental não pode satisfazer uma neces sidade a pessoa é forçada a diferenciar entre o mun do da mente e o mundo externo Ela precisa aprender a diferença entre uma memória ou idéia de um objeto que não está presente e uma impressão ou percepção sensorial de um objeto que está presente Então a fim TEORIAS DA PERSONALIDADE 59 de satisfazer a necessidade a pessoa tem de aprender a comparar o que está em sua mente ao seu equiva lente no mundo externo por meio do processo secun dário Essa comparação de uma representação men tal com a realidade física de algo que está na mente com algo que está no mundo externo é o que quere mos dizer como identificação Já que o id não faz distinção entre os conteúdos da mente sejam eles percepções imagens mnemôni cas idéias ou alucinações pode ser feita uma catexia investimento em uma percepção realista tão facil mente quanto em uma imagem mnemônica de reali zação de desejo Dessa maneira a energia se desvia dos processos psicológicos puramente subjetivos do id para os processos objetivos lógicos ideacionais do ego Em ambos os casos a energia é usada para pro pósitos estritamente psicológicos mas no caso do id não é feita nenhuma distinção entre o símbolo men tal e o referente físico ao passo que no caso do ego essa distinção é feita O ego tenta fazer com que o símbolo represente acuradamente o referente Em outras palavras a identificação permite que o proces so secundário substitua ou suplante o processo pri mário Já que o processo secundário é tão mais satis fatório para reduzir tensões formamse mais e mais catexias de ego Gradualmente o ego mais eficiente obtém um monopólio virtual sobre a reserva de ener gia psíquica Esse monopólio entretanto é apenas relativo porque se o ego deixa de satisfazer os ins tintos o id retoma seu poder Uma vez que o ego armazenou energia suficiente pode usála para outros propósitos além do da gratifi cação dos instintos pelo processo secundário Parte da energia é usada para levar a um nível superior de desenvolvimento vários processos psicológicos tais como perceber lembrar julgar discriminar abstrair generalizar e raciocinar Parte da energia tem de ser usada pelo ego para impedir o id de agir impulsiva e irracionalmente Essas forças restritivas são conheci das como anticatexia em distinção às forças pulsio nais ou catexias À medida que o id se torna muito ameaçador o ego erige defesas contra ele Esses me canismos de defesa que serão discutidos em uma se ção posterior também podem ser usados para lidar com as pressões do superego sobre o ego Para a ma nutenção dessas defesas é necessária energia eviden temente A energia do ego também pode ser deslocada para criar novas catexias objetais de modo que se forma no ego uma verdadeira rede de interesses atitudes e preferências derivadas Essas catexias do ego podem não satisfazer diretamente as necessidades básicas do organismo mas estão conectadas por vínculos associ ativos a objetos que satisfazem A energia da pulsão da fome por exemplo pode desdobrarse para incluir catexias como o interesse por colecionar receitas fre qüentar restaurantes exóticos e vender porcelana Tal desdobramento de catexias em canais que estão ape nas remotamente conectados com o objeto original do instinto é possibilitado pela maior eficiência do ego ao realizar sua função fundamental de gratificar os instintos O ego tem um excedente de energia para usar para outros propósitos Finalmente o ego como o executivo da organi zação da personalidade usa a energia para efetuar uma integração entre os três sistemas O propósito dessa função integrativa do ego é produzir uma har monia interna dentro da personalidade de modo que as transações do ego com o ambiente possam ser fei tas tranqüila e efetivamente O mecanismo de identificação também explica a energização do sistema do superego Essa também é uma questão complexa e ocorre da seguinte manei ra Entre as primeiras catexias objetais do bebê estão as dos pais As catexias se desenvolvem cedo e entrin cheiramse firmemente porque o bebê é completa mente dependente dos pais ou de substitutos dos pais para a satisfação de necessidades Os pais também desempenham o papel de agentes disciplinares eles ensinam à criança o código moral e os ideais e valores tradicionais da sociedade em que a criança é criada Eles fazem isso recompensando a criança quando ela apresenta a atitude certa e punindoa quando está errada Uma recompensa é qualquer fato ou objeto que reduza a tensão ou prometa isso Um pedaço de chocolate um sorriso ou uma palavra gentil podem ser uma recompensa efetiva Uma punição é qualquer elemento que aumente a tensão Pode ser um tapa um olhar desaprovador ou a negação de um prazer Assim a criança aprende a identificar isto é a com parar seu comportamento com as sanções e as proibi ções impostas pelos pais A criança introjeta os impe rativos morais dos pais em virtude das catexias originais que fez neles como agentes que satisfazem 60 HALL LINDZEY CAMPBELL necessidades Ela investe energia em seus ideais e es tes se tornam o seu ideal de ego ela investe energia em suas proibições e estas se tornam a sua consciên cia Assim o superego ganha acesso ao reservatório de energia no id por meio da identificação da criança com os pais O trabalho realizado pelo superego freqüentemen te mas nem sempre é na direção oposta aos impul sos do id Isso acontece porque o código moral repre senta a tentativa da sociedade de controlar e até de inibir a expressão das pulsões primitivas especialmen te as do sexo e da agressão Ser bom geralmente sig nifica ser obediente e não fazer nem dizer coisas fei as Ser mau significa ser desobediente rebelde e lascivo A pessoa virtuosa inibe seus impulsos a pes soa pecadora os satisfaz Mas o superego pode às ve zes ser corrompido pelo id Isso acontece por exem plo quando alguém em um ataque de fervor moralista toma medidas agressivas contra aqueles considerados maus ou pecadores A expressão da agressão nesses casos é coberta pelo manto de honra da indignação Depois que a energia fornecida pelos instintos foi canalizada para o ego e o superego pelos mecanismos de identificação tornase possível uma complicada interação de forças pulsionais e restritivas O id po demos lembrar só possui forças pulsionais ou catexi as ao passo que a energia do ego e do superego é usada tanto para satisfazer quanto para frustrar as metas instintuais O ego tem de supervisionar tanto o id quanto o superego para poder governar sabiamen te a personalidade no entanto ele precisa que lhe reste energia suficiente para realizar a interação ne cessária com o mundo externo Se o id mantém o con trole sobre uma grande parcela da energia o compor tamento da pessoa tende a ter um caráter impulsivo e primitivo Por outro lado se o superego obtém o con trole de uma quantidade indevida de energia o fun cionamento da personalidade será dominado por con siderações moralistas em vez de realistas As anticatexias da consciência podem amarrar o ego com nós moralistas e impedir qualquer tipo de ação en quanto as catexias do ideal de ego podem estabelecer padrões tão elevados para o ego que a pessoa vai se sentir continuamente frustrada e pode eventualmen te desenvolver um sentimento depressivo de fracasso As mudanças de energia súbitas e imprevisíveis de um sistema para outro e de catexias para anticate xias são comuns especialmente durante as duas pri meiras décadas de vida antes que a distribuição de energia tenha se tornado mais ou menos estabilizada Essas mudanças de energia mantêm a personalidade em um estado de fluxo dinâmico Freud era pessimis ta em relação às chances de a psicologia se tornar uma ciência exata porque como ele salientava até uma mudança muito pequena na distribuição da energia poderia fazer a balança pender em favor de uma for ma de comportamento e não da oposta Freud 1920 b Quem pode dizer se a pessoa em pé no parapeito da janela vai pular ou não ou se o atacante do time de futebol vai falhar ou conseguir fazer o gol e obter a vitória Na análise final a dinâmica da personalidade con siste na interação das forças pulsionais catexias e das forças restritivas anticatexias Todos os confli tos da personalidade podem ser reduzidos à oposição entre esses dois conjuntos de forças Toda tensão pro longada se deve à oposição entre uma força pulsional e uma força restritiva Seja uma anticatexia do ego oposta a uma catexia do id ou uma anticatexia do su perego oposta a uma catexia do ego o resultado em termos de tensão é o mesmo Como Freud gostava de dizer a psicanálise é uma concepção dinâmica que investiga a vida mental na interação entre forças que favorecem ou inibem uma à outra 1910b p 213 Ansiedade A dinâmica da personalidade é em grande extensão governada pela necessidade de gratificar as próprias necessidades por meio de transações com objetos no mundo externo O ambiente circundante provê o or ganismo faminto com alimento e o sedento com água Além de seu papel como fonte dos suprimentos o mundo externo desempenha um outro papel impor tante como moldador do destino da personalidade O ambiente contém regiões de perigo e insegurança ele pode ameaçar assim como satisfazer O ambiente tem o poder de produzir dor e aumentar a tensão assim como de trazer prazer e reduzir a tensão Ele pertur ba assim como conforta Sentir medo é a reação costumeira do indivíduo às ameaças externas de dor e destruição com as quais não está preparado para lidar A pessoa ameaçada normalmente é uma pessoa com medo Esmagado pela estimulação excessiva que não consegue controlar o ego é inundado pela ansiedade TEORIAS DA PERSONALIDADE 61 Freud reconheceu três tipos de ansiedade ansie dade de realidade ansiedade neurótica e ansiedade moral ou sentimentos de culpa 1926b O tipo bási co é a ansiedade de realidade ou o medo de perigos reais no mundo externo dele se derivam os outros dois A ansiedade neurótica é o medo de que os ins tintos escapem ao controle e levem a pessoa a tomar alguma atitude pela qual ela será punida A ansieda de neurótica não é tanto o medo dos próprios instin tos quanto o medo da punição que provavelmente se seguirá à gratificação instintual A ansiedade neuróti ca tem uma base na realidade porque o mundo con forme representado pelos pais e outras autoridades realmente pune a criança por ações impulsivas A an siedade moral é o medo da consciência As pessoas com superegos bemdesenvolvidos tendem a sentir culpa quando praticam algum ato ou inclusive quan do pensam em fazer alguma ação contrária ao código moral pelo qual foram criadas Dizemos que são apri sionadas pela consciência A ansiedade moral também tem uma base realista pois a pessoa foi punida no passado por violar o código moral e pode ser punida novamente A função da ansiedade é alertar a pessoa em rela ção a um perigo iminente ela é um sinal para o ego de que a menos que sejam tomadas medidas apropri adas o perigo pode aumentar até o ego ser aniquila do A ansiedade é um estado de tensão é uma pulsão como a fome ou o sexo mas em vez de surgir das condições tissulares internas é produzida originalmen te por causas externas Quando a ansiedade é desper tada ela motiva a pessoa a fazer algo Ela pode fugir da região ameaçadora inibir o impulso perigoso ou obedecer à voz da consciência A ansiedade que não pode ser manejada com medidas efetivas é chamada de traumática Ela reduz a pessoa a um estado de desamparo infantil De fato o protótipo de toda ansiedade posterior é o trauma do nascimento O neonato é bombardeado com estímu los do mundo para os quais não está preparado e aos quais não consegue se adaptar O bebê precisa de um ambiente protegido até o ego ter tido a chance de se desenvolver a ponto de conseguir dominar os fortes estímulos do ambiente Quando o ego não consegue lidar com a ansiedade por métodos racionais ele tem de recorrer a métodos irrealistas Esses métodos são os chamados mecanismos de defesa do ego que serão discutidos na seção seguinte O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Freud foi provavelmente o primeiro teórico da psico logia a enfatizar os aspectos desenvolvimentais da personalidade e em particular o papel decisivo dos primeiros anos do período de bebê e da infância como formadores da estrutura de caráter básica da pessoa Na verdade Freud considerava que a personalidade já estava muito bem formada pelo final do quinto ano de vida e que o desenvolvimento subseqüente era pra ticamente só a elaboração dessa estrutura básica Ele chegou a essa conclusão com base em suas experiên cias com pacientes que se submetiam à psicanálise Inevitavelmente suas explorações mentais os levavam de volta a experiências da infância inicial que pareci am decisivas para o desenvolvimento de uma neurose mais tarde na vida Freud acreditava que a criança é o pai do homem É interessante em vista de sua for te preferência por explicações genéticas do compor tamento adulto que Freud raramente tenha estuda do as crianças pequenas diretamente Ele preferia reconstruir a vida passada da pessoa a partir de evi dências fornecidas por lembranças adultas A personalidade se desenvolve em resposta a qua tro fontes importantes de tensão 1 processos de crescimento fisiológico 2 frustrações 3 conflitos e 4 ameaças Como uma conseqüência direta de aumentos de tensão emanando dessas fontes a pes soa é forçada a aprender novos métodos de reduzir a tensão Tal aprendizagem é o que seria o desenvolvi mento da personalidade Para uma lúcida discussão da teoria de Freud da aprendizagem ver Hilgard Bower 1975 A identificação e o deslocamento são dois métodos pelos quais o indivíduo aprende a resolver as frustra ções os conflitos e as ansiedades Identificação O conceito de identificação foi introduzido em uma seção anterior para ajudar a explicar a formação do ego e do superego No presente contexto a identifi cação pode ser definida como o método pelo qual al guém assume as características de outra pessoa e tor naas uma parte integrante de sua personalidade Ela aprende a reduzir a tensão modelando o próprio com portamento segundo o de outra pessoa Freud prefe 62 HALL LINDZEY CAMPBELL ria o termo identificação ao termo imitação mais fa miliar Ele achava que imitação denota uma espécie de comportamento de copiar superficial e temporá rio e queria uma palavra que transmitisse a idéia de uma aquisição mais ou menos permanente da perso nalidade Nós escolhemos como modelos aqueles indivídu os que nos parecem mais bemsucedidos do que nós na gratificação das próprias necessidades A criança se identifica com os pais porque eles parecem ser oni potentes pelo menos durante os anos da infância ini cial À medida que as crianças crescem encontram outras pessoas com as quais se identificar pessoas cujas realizações estão mais de acordo com seus atuais de sejos Cada período tende a ter suas figuras de identi ficação características Nem é preciso dizer que a maioria dessas identificações ocorre inconscientemen te e não como pode parecer com intenção conscien te Essa ênfase na modelagem inconsciente distingue a identificação de Freud da aprendizagem observa cional de Bandura ver Capítulo 14 Não é necessário que uma pessoa se identifique com outra em todos os aspectos Geralmente selecio namos e incorporamos apenas aquelas características que acreditamos que vão nos ajudar a atingir um ob jetivo desejado Existe muita tentativa e erro no pro cesso de identificação porque geralmente não temos certeza do que existe na outra pessoa que explica o seu sucesso O teste supremo é se a identificação aju da a reduzir a tensão se ajuda aquela qualidade é absorvida se não ajuda ela é descartada Podemos identificarnos com animais personagens imaginári os instituições idéias abstratas e objetos inanimados assim como com outros seres humanos A identificação também é um método pelo qual podemos recuperar um objeto que foi perdido Quan do nos identificamos com uma pessoa amada que morreu ou de quem nos separamos a pessoa perdida é reencarnada como uma característica incorporada da personalidade As crianças que foram rejeitadas pelos pais tendem a formar sólidas identificações com eles na esperança de recuperar seu amor Também po demos nos identificar com alguém por medo A crian ça se identifica com as proibições dos pais a fim de evitar o castigo Esse tipo de identificação é a base para a formação do superego A estrutura final da personalidade representa um acúmulo de numerosas identificações feitas em vários períodos da vida da pessoa embora a mãe e o pai provavelmente sejam as figuras de identificação mais fortes na vida de qualquer pessoa Deslocamento Quando uma escolha de objeto original de um instin to se torna inacessível por barreiras externas ou inter nas anticatexias uma nova catexia se forma a me nos que ocorra uma forte repressão Se essa nova catexia também é bloqueada ocorre um outro deslo camento e assim por diante até ser encontrado um objeto que traga certo alívio para a tensão encurrala da Esse objeto é então catexizado até perder seu po der de reduzir a tensão momento em que é instituída outra busca por um objeto apropriado Durante toda a série de deslocamentos que constitui em grande medida o desenvolvimento da personalidade a fonte e a meta do instinto permanecem constantes É só o objeto que varia Um objeto substituto raramente é tão satisfatório ou redutor de tensão quanto o objeto original e quanto mais diferente for o objeto substituto do original menos a tensão é reduzida Em conseqüência de nu merosos deslocamentos vaise acumulando uma gran de tensão que age como uma permanente força mo tivacional para o comportamento A pessoa está constantemente buscando maneiras novas e melho res de reduzir a tensão Isso explica a variabilidade e a diversidade do comportamento assim como a in quietude humana Por outro lado a personalidade re almente se torna mais ou menos estabilizada com a idade devido aos compromissos feitos entre as forças pulsionais dos instintos e as resistências do ego e do superego Como escrevemos alhures Os interesses os apegos e todas as outras formas de motivos adquiridos persistem porque são até certo grau frustrantes assim como satisfatórios Eles persistem porque não produzem uma satis fação completa Todo compromisso é ao mes mo tempo uma renúncia A pessoa desiste de al guma coisa que realmente quer mas não pode ter e aceita uma segunda ou terceira melhor escolha que pode ter Hall 1954 p 104 TEORIAS DA PERSONALIDADE 63 Freud salientou que o desenvolvimento da civili zação foi possível devido à inibição das escolhas obje tais primitivas e ao desvio da energia instintual para canais socialmente aceitáveis e culturalmente criati vos 1930 Um deslocamento que produz uma reali zação cultural superior é chamado de sublimação Freud observou em relação a isso que o interesse de Leonardo da Vinci por pintar madonas era uma ex pressão sublimada de um desejo de intimidade com a mãe de quem ele fora separado em tenra idade 1910a Uma vez que a sublimação não resulta em uma satisfação completa não mais que o deslocamen to sempre fica certa tensão residual Essa tensão pode descarregarse na forma de nervosismo ou inquietu de condições que Freud apontou como o preço que os seres humanos pagavam por seu status civilizado 1908 A direção tomada por um deslocamento é deter minada por dois fatores 1 a semelhança do objeto substituto com o original e 2 as sanções e as proibi ções impostas pela sociedade O fator de semelhança é na verdade o grau em que os objetos são identifica dos na mente da pessoa Leonardo pintava madonas em vez de camponesas ou aristocratas porque imagi nava sua mãe mais parecida com uma madona do que com qualquer outro tipo de mulher A sociedade agin do por meio dos pais e de outras pessoas disciplina doras autoriza certos deslocamentos e proíbe outros A criança aprende que é permitido chupar um piruli to mas não o polegar A capacidade de formar catexias objetais substi tutas é o mecanismo mais poderoso para o desenvol vimento da personalidade A complexa rede de inte resses preferências valores atitudes e apegos que caracterizam a personalidade do adulto humano é possibilitada pelo deslocamento Se a energia psíqui ca não fosse deslocável e distributiva não haveria nenhum desenvolvimento da personalidade A pessoa seria meramente um robô mecânico levada pelos ins tintos a executar padrões fixos de comportamento Os Mecanismos de Defesa do Ego Sob a pressão de excessiva ansiedade o ego às vezes é forçado a tomar medidas extremas para aliviar a pressão Essas medidas são chamadas de mecanismos de defesa As principais defesas são a repressão a pro jeção a formação reativa a fixação e a regressão Anna Freud 1946 Todos os mecanismos de defesa têm duas características em comum 1 eles negam falsi ficam ou distorcem a realidade e 2 eles operam in conscientemente de modo que a pessoa não tem cons ciência do que está acontecendo Repressão Este é um dos primeiros conceitos da psicanálise An tes de Freud chegar à sua formulação final da teoria da personalidade em termos de id ego e superego ele dividiu a mente em três regiões consciência pré consciência e inconsciência O préconsciente consis tia no material psicológico que poderia se tornar cons ciente quando surgisse a necessidade O material no inconsciente entretanto era visto por Freud como re lativamente inacessível à consciência ele estaria em um estado de repressão Quando Freud revisou sua teoria da personalida de o conceito de repressão foi mantido como um dos mecanismos de defesa do ego Gill 1963 salienta que Freud abandonou uma topografia da mente em termos de consciente préconsciente e inconsciente por uma visão estrutural em termos de id ego e su perego porque a repressão e o que estava reprimido não podiam estar no mesmo sistema A repressão es taria no ego e o que era reprimido no id Ver tam bém Arlow Brenner 1964 Dizemos que ocorre repressão quando uma escolha de objeto que provoca um alarme indevido é empurrada para fora da consci ência por uma anticatexia Por exemplo podemos impedir que uma memória perturbadora se torne cons ciente ou que uma pessoa não enxergue algo que está bem à vista porque a percepção daquilo está reprimi da A repressão pode inclusive interferir no funciona mento normal do corpo Alguém pode ficar sexual mente impotente porque tem medo do impulso sexual ou desenvolver uma artrite em conseqüência de sen timentos de hostilidade reprimidos As repressões podem abrir caminho à força por meio das anticatexias opositoras ou encontrar expres são na forma de um deslocamento Para que o deslo camento consiga impedir o redespertar da ansiedade ele precisa estar disfarçado em alguma forma simbó lica adequada Um filho que reprimiu seus sentimen tos hostis em relação ao pai pode expressar esses sen timentos hostis diante de outros símbolos de autoridade 64 HALL LINDZEY CAMPBELL Uma vez formadas as repressões são difíceis de serem apagadas A pessoa precisa reassegurarse de que o perigo não mais existe mas não pode obter essa segurança até a repressão se erguer e ela poder testar a realidade É um círculo vicioso É por isso que os adultos levam consigo muitos medos infantis Eles nunca têm a chance de descobrir que esses medos não têm nenhuma base na realidade Observem a seme lhança com a posição comportamentalista de que os medos irracionais persistem porque levam o indiví duo a evitar situações em que o medo poderia ser ex tinto ver Capítulo 12 Projeção Normalmente é mais fácil para o ego lidar com a ansi edade de realidade do que com a ansiedade neurótica ou a moral Conseqüentemente se a fonte da ansie dade pode ser atribuída ao mundo externo em vez de aos impulsos primitivos do indivíduo ou às ameaças da consciência a pessoa provavelmente obterá maior alívio para a condição ansiosa Esse mecanismo pelo qual a ansiedade neurótica ou moral é convertida em um medo objetivo é chamado de projeção Tal con versão é feita facilmente porque a fonte original tan to da ansiedade neurótica quanto da moral é o medo de ser castigado por um agente externo Na projeção alguém simplesmente diz Ela me odeia em vez de Eu a odeio ou Ele está me perseguindo em vez de Minha consciência está me perturbando A proje ção geralmente tem um propósito duplo Ela reduz a ansiedade ao substituir um perigo maior por um me nor e permite que a pessoa que está projetando ex presse seus impulsos sob o disfarce de defenderse dos inimigos Formação Reativa Esta medida defensiva envolve substituir na consci ência um impulso ou sentimento ansiogênico pelo seu oposto Por exemplo o ódio é substituído pelo amor O impulso original ainda existe mas é encoberto ou mascarado por outro que não causa ansiedade É comum a pergunta sobre como podemos distin guir uma formação reativa de uma genuína expressão de um impulso ou sentimento Por exemplo como o amor reativo pode ser diferenciado do amor verda deiro Normalmente uma formação reativa é marca da por uma manifestação extravagante a pessoa faz protestos exagerados e pela compulsividade As for mas extremas de qualquer tipo de comportamento ge ralmente denotam uma formação reativa Às vezes a formação reativa consegue satisfazer o impulso origi nal contra o qual a pessoa se defende como quando uma mãe cobre o filho de afeição e atenção Fixação e Regressão No curso do desenvolvimento normal como veremos na próxima seção a personalidade atravessa uma sé rie de estágios bemdefinidos até chegar à maturida de Cada novo passo dado todavia envolve certa frus tração e ansiedade Se elas se tornam muito intensas o crescimento normal pode ficar temporária ou per manentemente interrompido Em outras palavras a pessoa pode ficar fixada nos estágios iniciais do de senvolvimento porque dar o passo seguinte desperta muita ansiedade A criança excessivamente dependen te exemplifica a defesa pela fixação a ansiedade a impede de aprender a ser independente Uma defesa estreitamente relacionada é a da re gressão Nesse caso uma pessoa que encontra experi ências traumáticas recua para um estágio anterior de desenvolvimento Por exemplo uma criança que está assustada com o primeiro dia na escola pode apresen tar um comportamento de bebê como chorar chupar o dedo agarrarse à professora ou esconderse em um canto Uma jovem mulher casada que está com difi culdades com o marido pode voltar para a segurança da casa dos pais ou um homem que perdeu o empre go pode buscar consolo na bebida O caminho da re gressão normalmente é determinado pelas fixações anteriores da pessoa Isto é as pessoas tendem a re gredir a um estágio no qual estiveram previamente fixadas Se eram excessivamente dependentes quan do crianças é provável que se tornem mais uma vez excessivamente dependentes quando sua ansiedade atingir um nível intolerável A fixação e a regressão em geral são condições relativas uma pessoa raramente se fixa ou regride completamente Mais propriamente a personalidade tende a incluir infantilismos isto é formas imaturas de comportamento e predisposição a manifestar con duta infantil quando frustrada As fixações e as re gressões são responsáveis pela irregularidade no de senvolvimento da personalidade TEORIAS DA PERSONALIDADE 65 Estágios de Desenvolvimento A criança atravessa uma série de estágios dinamica mente diferenciados durante os primeiros cinco anos de vida depois dos quais a dinâmica fica mais ou menos estabilizada por uns cinco ou seis anos o pe ríodo de latência Com o advento da adolescência a dinâmica irrompe outra vez e depois gradualmente se acomoda à medida que o adolescente entra na ida de adulta Para Freud os primeiros anos de vida são decisivos para a formação da personalidade Cada estágio de desenvolvimento durante os pri meiros cinco anos é definido em termos dos modos de reação de uma zona específica do corpo Durante o primeiro estágio que dura cerca de um ano a boca é a principal região de atividade dinâmica O estágio oral é seguido pelo desenvolvimento de catexias e de anticatexias em relação às funções eliminativas o cha mado estágio anal Ele acontece no segundo ano de vida e é seguido pelo estágio fálico em que os órgãos sexuais se tornam as zonas erógenas mais importan tes Esses estágios oral anal e fálico são chamados de estágios prégenitais A criança então atravessa um prolongado período de latência os chamados anos de tranqüilidade dinamicamente falando Durante esse período os impulsos tendem a ser mantidos em um estado de repressão O ressurgimento da dinâmica na adolescência reativa os impulsos prégenitais Se eles forem satisfatoriamente deslocados e sublimados pelo ego a pessoa passa para o estágio final da maturida de o estágio genital O modelo desenvolvimental de Freud baseiase na suposição da sexualidade infantil Isto é os estági os representam uma seqüência normativa de diferen tes modos de gratificar os impulsos sexuais e é a maturação física a responsável pela seqüência de zo nas erógenas e de estágios correspondentes Os está gios são chamados de psicossexuais porque são as pulsões sexuais que levam à aquisição das caracterís ticas psicológicas Freud é freqüentemente malenten dido nesse ponto Quando usou o termo sexualida de ele não estava se referindo exclusivamente à sexualidade genital melhor dizendo as forças sexu ais que induzem os estágios desenvolvimentais refle tem tipos diferentes de prazer corporal Os locais de prazer corporal mudam conforme a maturação física que leva a uma seqüência normativa de zonas eróge nas cada uma com um conjunto diferente de ações e objetos característicos Essa relação entre o físico e o psicológico continua pois muitos dos traços de cará ter associados a um estágio específico são transfor mações de atos físicos característicos daquele estágio específico Por exemplo o bebê que literalmente ten ta engolir tudo durante o estágio oral podese tornar o adulto crédulo que aceita ou figurativamente en gole tudo o que as outras pessoas dizem Ou o bebê que morde agressivamente podese tornar o adulto sarcástico com um humor mordaz Esses exemplos podem parecer extremos mas observem que o pro cesso de fixação em si é muito razoável Na verdade a noção de uma continuação ou de um retorno a mo dos estabelecidos de comportamento é a essência das abordagens da teoria da aprendizagem ao comporta mento e à personalidade ver Capítulos 12 13 e 14 Com essa introdução agora passamos a tratar de cada estágio O Estágio Oral A principal fonte de prazer derivado da boca é comer Comer envolve a estimulação tátil dos lábios e da ca vidade oral e do engolir ou se o alimento é desagra dável do cuspir Mais tarde quando surgem os den tes a boca é usada para morder e mastigar Esses dois modos de atividade oral incorporar alimento e mor der são os protótipos de muitos outros traços de cará ter que se desenvolvem O prazer derivado da incor poração oral pode ser deslocado para outros modos de incorporação tais como o prazer da aquisição de conhecimentos ou possessões Uma pessoa crédula por exemplo está fixada no nível incorporativo oral da personalidade essa pessoa vai engolir quase tudo o que lhe disserem A agressão mordaz ou oral pode ser deslocada na forma de sarcasmo e de argumenta tividade Por meio de vários tipos de deslocamentos e sublimações assim como de defesas contra os impul sos orais primitivos esses modos prototípicos de fun cionamento oral constituem a base para o desenvolvi mento de uma vasta rede de interesses atitudes e traços de caráter Além disso já que o estágio oral ocorre em uma época na qual o bebê é completamente dependente da mãe para sobreviver surgem nesse período senti mentos de dependência Tais sentimentos de depen dência tendem a persistir por toda a vida apesar dos posteriores desenvolvimentos do ego e podem aflo 66 HALL LINDZEY CAMPBELL rar sempre que a pessoa se sentir ansiosa e insegura Freud acreditava que o sintoma de dependência mais extremo é o desejo de voltar ao útero O Estágio Anal Depois que o alimento foi digerido os resíduos se acu mulam na extremidade inferior do trato intestinal e são reflexamente eliminados quando a pressão sobre os esfíncteres anais atinge um certo nível A expulsão das fezes remove o desconforto e produz um senti mento de alívio Quando é iniciado o treinamento para deixar as fraldas em geral durante o segundo ano de vida a criança tem sua primeira experiência decisiva com a regulação externa de um impulso instintual Ela precisa aprender a adiar o prazer que vem de ali viar tensões anais Dependendo do método específico de treinamento para deixar as fraldas usado pela mãe e de seus sentimentos em relação à defecação as con seqüências desse treinamento podem ter efeitos im portantes sobre a formação de traços e valores especí ficos Se a mãe for muito rígida e repressiva em seus métodos a criança pode reter as fezes e ter prisão de ventre Se esse modo de reação se generalizar para outras maneiras de se comportar a criança vai desen volver um caráter retentivo Ela se tornará obstinada e avarenta Ou sob a coerção de medidas repressivas a criança pode expressar sua raiva expelindo as fezes nos momentos mais inadequados Esse é o protótipo de todos os tipos de traços expulsivos crueldade destrutividade desenfreada ataques de raiva e desor ganização desleixada para mencionar apenas alguns Por outro lado se a mãe é o tipo de pessoa que apela para que a criança evacue e elogiaa extravagante mente quando ela o faz a criança vai adquirir a no ção de que toda a atividade de produzir fezes é extre mamente importante Essa idéia pode ser a base para a criatividade e a produtividade Inúmeros outros tra ços de caráter têm raízes no estágio anal O Estágio Fálico Durante este estágio de desenvolvimento da persona lidade os sentimentos sexuais e agressivos associa dos ao funcionamento dos órgãos genitais ficam mui to claros Os prazeres da masturbação e a vida de fantasia que acompanham a atividade autoerótica montam o cenário para o aparecimento do complexo de Édipo Freud considerava a identificação do com plexo de Édipo como uma de suas grandes descober tas O complexo de Édipo recebeu o nome do rei de Tebas que matou o pai e casou com a mãe Definindo brevemente o complexo de Édipo con siste em uma catexia sexual no progenitor do sexo oposto e em uma catexia hostil no progenitor do mes mo sexo O menino quer possuir a mãe e afastar o pai a menina quer possuir o pai e afastar a mãe Es ses sentimentos se expressam nas fantasias da criança durante a masturbação e na alteração dos atos de amor e rebelião em relação aos pais O comportamento da criança de três a cinco anos é marcado em grande extensão pela operação do complexo de Édipo e em bora seja modificado e sofra repressão depois dos cin co anos ele permanece sendo uma força vital na per sonalidade por toda a vida As atitudes em relação ao sexo oposto e em relação a pessoas de autoridade por exemplo são grandemente condicionadas pelo complexo de Édipo A história e o destino do complexo de Édipo dife rem para homens e mulheres A princípio ambos os sexos amam a mãe porque ela satisfaz suas necessida des e ressentemse do pai porque o consideram um rival pelas afeições da mãe Esses sentimentos persis tem no menino mas mudam na menina Vamos con siderar primeiro a seqüência de eventos que caracte riza o desenvolvimento do complexo de Édipo masculino O desejo incestuoso do menino pela mãe e seu crescente ressentimento em relação ao pai fazemno entrar em conflito com os pais especialmente com o pai Ele imagina que seu rival dominador vai machu cálo e seus medos podem realmente ser confirma dos pelas ameaças de um pai rancoroso e punitivo Seus medos relativos ao que o pai pode fazer com ele centramse em ataques a seus órgãos genitais pois eles são a fonte de seus sentimentos de desejo Ele tem medo de que o pai ciumento remova os órgãos ofensores O medo da castração ou como Freud cha mou a ansiedade de castração induz à repressão do desejo sexual pela mãe e da hostilidade em relação ao pai A repressão também ajuda o menino a se identifi car com o pai Ao identificarse com o pai o menino também obtém certa satisfação vicária de seus impul sos sexuais dirigidos à mãe Ao mesmo tempo seu sentimento erótico perigoso pela mãe é convertido em uma afeição terna e inofensiva por ela Por último a TEORIAS DA PERSONALIDADE 67 repressão do complexo de Édipo faz com que o su perego sofra seu desenvolvimento final Nas palavras de Freud o superego é o herdeiro do complexo de Édipo masculino Ele é a proteção contra o incesto e a agressão A seqüência de eventos no desenvolvimento e na dissolução do complexo de Édipo feminino é mais complicada Em primeiro lugar a menina troca seu objeto de amor original a mãe por um novo objeto o pai Isso ocorre porque ela fica desapontada ao desco brir que o menino possui um órgão sexual protube rante o pênis enquanto ela tem somente uma cavi dade Dessa descoberta traumática decorrem várias conseqüências importantes Primeiro ela vê a mãe como responsável por sua condição castrada o que enfraquece sua catexia na mãe Segundo ela transfe re seu amor para o pai porque ele tem o órgão valori zado que ela aspira compartilhar com ele Entretanto seu amor pelo pai e por outros homens está também misturado a um sentimento de inveja pois eles pos suem uma coisa que ela não tem A inveja do pênis é o equivalente feminino da ansiedade de castração no menino e as duas ansiedades são chamadas de com plexo de castração Ela imagina que perdeu algo valio so enquanto o menino tem medo de perder Em certa extensão a falta de um pênis é compensada quando a mulher tem um bebê especialmente se o bebê for do sexo masculino Na menina o complexo de castração inicia o com plexo de Édipo ao enfraquecer sua catexia na mãe e instituir uma catexia no pai O complexo de Édipo do menino é reprimido ou de outra forma modificado pela ansiedade de castração Em contraste o comple xo de Édipo da menina tende a persistir embora sofra alguma modificação devido às barreiras realistas que a impedem de gratificar seu desejo sexual pelo pai Mas ele não é fortemente reprimido como no meni no Essas diferenças na natureza dos complexos de Édipo e de castração são as bases para muitas dife renças psicológicas entre os sexos A proposta de Freud da inveja do pênis foi ampla mente atacada e nós examinaremos várias rejeições nos capítulos seguintes Entre as reações contra Freud destacase a afirmação de que ele confundiu expecta tivas culturais com necessidades biológicas Afinal de contas Freud escreveu que a distinção anatômica entre os sexos tem de se expressar em conseqüênci as psíquicas 1933 p 124 Entretanto para fazer justiça a Freud devemos observar que ele considera va as diferenças sexuais como supradeterminadas i e como o produto de várias forças diferentes No mesmo texto em que aparece a citação anterior Freud escreveu o seguinte Mas nós devemos ter o cuidado de não subesti mar a influência dos costumes sociais que igual mente forçam as mulheres a situações passivas Vocês podem tomar como um exemplo de injusti ça masculina se eu afirmar que a inveja e o ciúme desempenham um papel ainda maior na vida mental da mulher do que na do homem Não é que eu pense que essas características estejam au sentes nos homens ou que eu ache que elas não tenham outras raízes nas mulheres além da inve ja do pênis mas eu estou inclinado a atribuir sua maior quantidade nas mulheres a esta última in fluência Nós não pretendemos que essas afir mações tenham mais do que uma validade mé dia também nem sempre é fácil distinguir o que deve ser atribuído à influência da função sexual e o que deve ser atribuído à influência da educação social Os determinantes da escolha objetal da mulher muitas vezes são tornados irreconhecíveis pelas condições sociais Mas não esqueçam que eu só estou descrevendo as mulheres uma vez que sua natureza é determinada por sua função sexu al É verdade que essa influência vai muito longe mas nós não ignoramos o fato de que uma mu lher pode ser um ser humano em outros aspectos também 1933 p 116135 Apesar desses cuidadosos qualificativos está claro que a conclusão de Freud de que a menina tem três possí veis linhas de desenvolvimento a inibição sexual ou a neurose um complexo de masculinidade ou a fe minilidade normal i e narcisismo vaidade vergo nha ou modéstia pouco senso de justiça interesse social mais tênue e menor capacidade de sublimar os instintos não soa como ele próprio colocou muito amigável Freud supunha que cada pessoa é inerentemente bissexual cada sexo é atraído para membros do mes mo sexo assim como para membros do sexo oposto Essa é a base constitucional da homossexualidade embora na maioria das pessoas os impulsos homos sexuais permaneçam latentes Tal condição de bisse xualidade complica o complexo de Édipo ao induzir 68 HALL LINDZEY CAMPBELL catexias sexuais no progenitor do mesmo sexo Con seqüentemente os sentimentos do menino pelo pai e os sentimentos da menina pela mãe teriam um cará ter ambivalente ao invés de univalente A suposição da bissexualidade foi apoiada por investigações das glândulas endócrinas que mostram que hormônios sexuais masculinos e femininos estão presentes em ambos os sexos A emergência e o desenvolvimento dos comple xos de Édipo e de castração são eventos principais do período fálico e deixam um grande número de depó sitos na personalidade O Estágio Genital As catexias dos períodos prégenitais têm um caráter narcísico Isso significa que o indivíduo obtém gratifi cação a partir da estimulação e da manipulação do próprio corpo e que as outras pessoas só são catexi zadas porque proporcionam formas adicionais de pra zer corporal para a criança Durante a adolescência parte desse autoamor ou narcisismo é canalizada para escolhas objetais genuínas O adolescente come ça a amar os outros por motivos altruístas e não sim plesmente devido a razões egoístas ou narcísicas Atra ção sexual socialização atividades grupais planeja mento vocacional e preparação para casar e criar uma família tudo isso começa a se manifestar Pelo final da adolescência essas catexias altruístas socializadas tornamse bem estabilizadas devido aos habituais des locamentos sublimações e identificações A pessoa se transforma de um bebê narcisista que busca o prazer em um adulto socializado e orientado para a realida de Entretanto não devemos pensar que os impulsos prégenitais são deslocados pelos genitais O que acon tece é que as catexias dos estágios oral anal e fálico se fundem com os impulsos genitais A principal fun ção biológica do estágio genital é a reprodução os aspectos psicológicos ajudam na obtenção desse fim ao oferecer certa medida de estabilidade e segurança Apesar do fato de Freud diferenciar quatro está gios no desenvolvimento da personalidade ele não supôs rompimentos bruscos ou transições abruptas na passagem de um estágio para outro A organização final da personalidade representa contribuições dos quatro estágios PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Os dados empíricos sobre os quais Freud baseou suas teorias consistiam principalmente nas verbalizações e no comportamento expressivo de pacientes sob trata mento psicológico Embora Freud conhecesse os mé todos exatos da ciência do século XIX e tivesse estabe lecido uma reputação substancial como investigador médico antes de mudar sua atenção para a psicolo gia ele não empregou técnicas experimentais ou obser vacionais controladas em suas investigações da men te humana Ele não fez parte do movimento da psicologia experimental iniciado por Fechner em 1860 e transformado em uma ciência por Wundt nas duas décadas seguintes Conhecia esse movimento e a filo sofia de Fechner o influenciou mas Freud não foi um psicólogo experimental Ele não realizou experimen tos psicológicos controlados nem coletou dados e ana lisouos quantitativamente como outros psicólogos do século XIX estavam fazendo Procuramos em vão por uma tabela ou gráfico em seus extensos textos Freud também nunca empregou um teste diagnóstico ou qualquer outro tipo de avaliação objetiva da persona lidade Suas teorias germinaram enquanto ele ouvia os fatos e as fantasias verbalizados por personalida des perturbadas Uma anedota do final da vida de Freud ilustra essa posição a respeito da validação experimental de suas proposições Em 1934 Saul Rosenweig enviou a Freud os resultados de alguns experimentos que pa reciam apoiar a teoria psicanalítica da repressão Ro senweig 1933 Freud replicou polidamente mas um tanto sumariamente que embora achasse a investi gação interessante via nela pouco valor porque a ri queza de observações confiáveis sobre as quais se baseia a psicanálise tornaas independentes da verifi cação experimental Entretanto mal ela não faz Gay 1988 p 523 itálicos acrescentados Gay acrescenta que Freud ocasionalmente citava apoios experimen tais para a sua posição mas de modo geral acreditava que suas horas analíticas ofereciam provas suficien tes de suas idéias Gay conclui que esta posição foi no mínimo um erro tático Muitos críticos alegam que tal atitude representa muito mais do que um erro tático na verdade ela é anticientífica e impede que a TEORIAS DA PERSONALIDADE 69 posição de Freud seja aceita no panteão das teorias científicas No entanto seria um sério erro dizer que as ver balizações das pessoas em tratamento foram os úni cos ingredientes usados por Freud para criar suas teo rias Tão importante quanto esses dados brutos certamente foi a atitude rigorosamente crítica com que Freud analisou as associações livres de seus pacien tes Hoje nós diríamos que ele analisou esse material bruto pelo método da consistência interna As infe rências feitas a partir de uma parte do material eram comparadas com evidências que apareciam em ou tras partes de modo que as conclusões finais sobre o caso se baseavam em uma rede entrelaçada de fatos e de inferências Freud procedia em seu trabalho como um detetive reunindo evidências ou um advogado apresentando um caso para o júri Tudo tinha de en caixarse coerentemente antes de Freud achar que ti nha encontrado a interpretação correta Devemos lem brar além disso que o material produzido por um caso atendido cinco horas por semana durante dois ou três anos tinha imensas proporções e que Freud tinha amplas oportunidades de verificar e reverificar suas posições antes de decidir sobre a interpretação final Em contraste o sujeito dos experimentos psico lógicos típicos realizados sob condições controladas é observado ou testado por apenas uma ou duas horas em média Certamente duas das contribuições mais importantes de Freud para a estratégia de pesquisa foram o estudo intensivo do caso único e o uso do método da consistência interna para testar hipóteses Inúmeras vezes Freud foi obrigado a revisar suas teorias porque novas descobertas não podiam ser explicadas adequadamente por suas teorias corren tes Ele ficava relutante em abandonar uma posição sistemática depois de têla formulado mas a história da teoria psicanalítica da personalidade de seu co meço na década de 1890 ao final da década de 1920 demonstra muito conclusivamente que as visões de Freud eram finalmente determinadas pelo peso da evi dência conforme ele a via Embora seus associados pró ximos possam ter tido certa influência em suas idéias parece razoavelmente claro que o teste supremo da validade de suas teorias era sua autocrítica e sua dis posição de ser guiado por novas evidências A onda de ataques indignados à psicanálise que começou assim que Freud enunciou sua teoria da etiologia se xual da histeria e que continuou pelo resto de sua vida não influenciou seu pensamento Poucas vezes em sua vida ele respondeu aos seus críticos Nem a falta de apoio de seus colegas mais próximos fez com que Freud alterasse suas teorias Ele parecia ser dota do de uma imensa autonomia intelectual o que sem dúvida é um dos prérequisitos da grandeza O Credo Científico de Freud As idéias de Freud sobre como o cientista deve traba lhar para desenvolver uma ciência foram apresenta das sucintamente em um de seus raros pronunciamen tos sobre esse tópico Ele escreve Nós ouvimos freqüentemente a afirmação de que as ciências deveriam ser fundamentadas em con ceitos básicos claros e nitidamente definidos Na verdade nenhuma ciência nem mesmo a mais exata começa com tais definições O verdadeiro início da atividade científica consiste mais exata mente em descrever fenômenos e depois prosse guir para agrupálos classificálos e correlacioná los Mesmo no estágio da descrição não é possível evitar aplicar certas idéias abstratas ao material sob exame idéias derivadas de algum lugar mas que certamente não derivam das novas observa ções sozinhas Tais idéias que mais tarde se tor narão os conceitos básicos da ciência são ainda mais indispensáveis à medida que o material vai sendo trabalhado Elas a princípio necessariamen te possuem certo grau de indefinição não pode haver nenhuma clara delimitação de seu conteú do À medida que elas permanecem nessa condi ção chegamos a um entendimento de seu signifi cado fazendo repetidas referências ao material de observação do qual elas parecem ter sido deri vadas mas ao qual de fato elas foram impostas Assim estritamente falando elas têm o caráter de convenções embora tudo dependa de não serem arbitrariamente escolhidas e sim determi nadas por suas relações significativas com o ma terial empírico com as relações que parecemos sentir antes de podermos reconhecer e demons trar claramente É só depois de uma investigação mais completa do campo da observação que sere mos capazes de formular seus conceitos científi cos básicos com crescente precisão e progressi vamente modificálos para que se tornem úteis e 70 HALL LINDZEY CAMPBELL consistentes em uma grande área Então realmen te pode ter chegado o momento de confinálos em definições O avanço do conhecimento entre tanto não tolera qualquer rigidez mesmo em definições A física fornece uma excelente ilustra ção da maneira pela qual até os conceitos bási cos que foram estabelecidos na forma de defini ções têm seu conteúdo constantemente alterado 1915 p 117 Portanto Freud preferia o tipo mais aberto e in formal de construção de teoria indutiva que perma nece razoavelmente próximo dos apoios empíricos sobre os quais se baseia ao invés do tipo de teoria dedutiva mais formal que começa com conceitos niti damente definidos e postulados e corolários cuidado samente enunciados dos quais as hipóteses testáveis são derivadas e subseqüentemente testadas Além disso como mostra essa citação Freud estava inteira mente consciente da importância da mente prepara da do cientista para poder fazer o melhor uso dos dados empíricos Essas idéias abstratas poderiam vir de várias fontes no caso de Freud vinham de amplas leituras dos clássicos e de outras literaturas de seu passatempo de arqueologia de suas observações como pai de seis filhos de experiências cotidianas de todo tipo e acima de tudo talvez de seu hábito vitalício de autoanálise Existe certo debate sobre se Freud defendia o re ducionismo e o determinismo biológicos Sulloway 1979 argumentou que a teoria de Freud foi uma continuação do trabalho revolucionário de Charles Darwin sobre a evolução e seleção naturais Sulloway chamou Freud de um criptobiólogo cujas teorias psicanalíticas estavam enraizadas em suposições e abordagens biológicas Dessa perspectiva o trabalho de Freud baseavase na evolução e o próprio Freud é mais bemcompreendido por meio da expressão que se tornou o título do livro de Sulloway O Biólogo da Mente Na opinião de Sulloway grande parte dessa influência foi exercida pela associação de Freud com Wilhelm Fliess e sua biologia sexual Na verdade Sullo way argumentou que a psicanálise era em grande parte uma transformação das idéias fliessianas Os conhecimentos de Sulloway são impressionantes mas sua reconstrução intelectual de Freud foi convincen temente contestada por Robinson 1993 Parisi 1987 1988 ver também Silverstein 1985 1988 1989 igualmente contesta a concepção de Freud como um reducionista e determinista biológi co Parisi argumentou que Freud fracassou em sua ten tativa mais notavelmente no Projeto para uma psico logia científica de construir uma teoria da mente baseada na ciência natural Mas Freud estava rica mente enganado e seu fracasso nos ajudou a com preender as limitações conceituais da teorização so bre o comportamento humano que ele próprio passou a reconhecer Parisi escreve A neurociência contemporânea tende a supor que as explicações da vida psicológica para que te nham mérito têm de ser consistentes com a neu rofisiologia Freud concluiu exatamente o opos to para que tenhamos uma ciência natural da psicologia ela tem de ser consistente com a expe riência Ele sabia o que a ciência natural deve ser mas também estava agudamente conscien te da natureza dos fenômenos que lhe interessa vam Freud chegou à conclusão de que não é possível reduzir esses fenômenos às suas raízes biológicas os fenômenos psicológicos são irre dutíveis a fenômenos biológicos 1987 p 237 Freud argumentava que as idéias são causais e os sintomas se reduzem a idéias Parisi 1987 p 238 De maneira semelhante segundo Parisi Freud rejei tava a teoria darwiniana conforme a entendia por que não acreditava que a biologia oferecesse o nível primário de explicação na verdade nem a biologia nem a psicologia são primárias Esse é um argumento um tanto desorientador Em essência Parisi concluiu que Freud resistiu à tentação de reduzir sua teoria de mente à neurologia ou à seleção natural porque essa redução distorceria o fenômeno da vida mental Pari si acredita que lucraríamos seguindo a orientação de Freud Vamos examinar agora algumas das técnicas em pregadas por Freud para coletar dados Elas foram usadas evidentemente na situação terapêutica pois era nela que Freud coletava seus dados Associação Livre e Análise de Sonhos Após uma breve tentativa com o método da hipnose 18871889 que estava muito em voga na época TEORIAS DA PERSONALIDADE 71 especialmente na França Freud ficou sabendo de um novo método que fora usado com sucesso por seu amigo e colega Dr Joseph Breuer no tratamento de um caso de histeria Esse método que Breuer chama va de catarse ou cura pela fala consistia em o paci ente relatar os detalhes do aparecimento de cada um dos sintomas depois do que os sintomas desapareci am A partir desse método Freud gradualmente de senvolveu seu método inigualável da associação livre Ernest Jones chamou tal desenvolvimento de uma das duas grandes façanhas da vida científica de Freud a outra sendo a sua autoanálise Em essência o método da associação livre requer que o paciente diga tudo o que lhe vem à consciência por mais ridículo ou inadequado que possa soar Dife rentemente do método catártico o método da associ ação livre não pára na origem dos sintomas Ele per mite na verdade exige que os pacientes falem sobre qualquer coisa que lhes ocorrer sem restrições e sem qualquer tentativa de produzir um discurso lógico organizado e significativo O papel do terapeuta é em grande extensão um papel passivo O terapeuta fica sentado escutando ocasionalmente estimula quando o fluxo verbal do paciente se esgota mas não interrompe quando o paciente está falando A fim de reduzir ao máximo a influência de distrações exter nas o paciente normalmente fica deitado em um divã em uma sala tranqüila Freud observou que quando prevaleciam essas condições o paciente eventualmente começava a fa lar sobre as memórias de suas experiências infantis iniciais Tais memórias proporcionaram a Freud seu primeiro insight real sobre a formação da estrutura da personalidade e seu desenvolvimento subseqüen te Esse método de reconstruir o passado a partir de verbalizações atuais pode ser comparado com o mé todo desenvolvimental de observar o desenvolvimen to da personalidade do período de bebê à idade adulta Talvez o insight mais original de Freud sobre os vôos indisciplinados das verbalizações de seus paci entes tenha sido que cada declaração estava associa da de alguma maneira significativa e dinâmica à de claração precedente de modo que da primeira à última havia uma cadeia contínua de associações Tudo o que o paciente dizia se relacionava sem exceção ao que fora dito previamente Podia haver numerosos circun lóquios e bloqueios verbais mas eventualmente a his tória da mente da pessoa e sua presente organização seriam divulgadas para o ouvinte que seguisse a ca deia de associações por meio do labirinto verbal A análise dos sonhos não é um método separado do método da associação livre ele é uma conseqüên cia natural da instrução dada ao paciente para que fale sobre tudo o que lhe vier à mente Os primeiros pacientes de Freud lembravam os sonhos espontane amente e prosseguiam para associar livremente sobre eles Freud logo percebeu que esses sonhos relatados e as associações livres concomitantes eram fontes de informação especialmente ricas sobre a dinâmica da personalidade humana Em resultado desse insight que testou com os próprios sonhos Freud formulou a famosa teoria de que o sonho é uma expressão do funcionamento e dos conteúdos mais primitivos da mente humana 1900 O processo primitivo que cria o sonho foi chamado por Freud de processo primário Como vimos o processo primário tenta realizar um desejo ou descarregar uma tensão ao induzir uma ima gem do objetivo desejado Uma vez que as defesas não estão tão vigilantes durante o sono é mais fácil negociar uma expressão de compromisso de um dese jo inconsciente Esse compromisso assume a forma de um sonho Os sonhos portanto têm duas funções Primeiro eles servem como os guardiães do sono para o sonhador ao distinguir os desejos cujo conteú do traumático de outra forma o faria acordar Segun do eles oferecem ao analista a via régia para o in consciente A missão do analista é reverter os processos de trabalho onírico e a formação de símbo lo que transformaram o conteúdo latente subjacen te no conteúdo manifesto superficial experienciado pelo sonhador A interpretação dos símbolos é o mais conhecido desses dois instrumentos talvez devido à natureza sexual de muitos dos símbolos comuns Por exemplo Freud escreveu Todos os objetos alongados como bastões tron cos de árvores e guardachuvas podem repre sentar o órgão masculino Caixas estojos baús armários e fornos representam o útero assim como objetos ocos navios e naves de qualquer tipo As salas nos sonhos geralmente são mulhe res Nos sonhos dos homens as gravatas fre qüentemente aparecem como símbolo do pênis Um símbolo muito recente do órgão masculino nos sonhos merece ser mencionado o avião cujo uso neste sentido é justificado por sua conexão 72 HALL LINDZEY CAMPBELL com voar e às vezes por sua forma 1900 p 354357 Freud entretanto deixou clara a relativa importân cia dessas duas técnicas Eu gostaria de emitir uma advertência expressa sobre superestimar a importância dos símbolos na interpretação dos sonhos sobre restringir o tra balho de traduzir os sonhos meramente a tradu zir símbolos e sobre abandonar a técnica de fa zer uso das associações do sonhador As duas técnicas de interpretação dos sonhos devem ser complementares mas tanto na prática quanto na teoria o primeiro lugar continua cabendo aos comentários feitos pelo sonhador 1900 p 359 360 Ao fazer seus pacientes associarem livremente sobre os sonhos Freud conseguiu penetrar nas regi ões mais inacessíveis da mente humana e descobrir os fundamentos da personalidade Estudos de Caso de Freud A vasta quantidade de material bruto a partir da qual Freud criou sua teoria da personalidade nunca será conhecida As poucas histórias de caso que Freud es colheu publicar representam apenas uma fração infi nitesimal dos casos tratados por ele A ética profissio nal impediuo parcialmente de apresentar seus casos ao mundo pois sempre havia o risco de o público cu rioso descobrir a identidade de seus pacientes Além das histórias de caso que aparecem em Es tudos Sobre a Histeria 1895 que escreveu em cola boração com Breuer antes que a teoria psicanalítica assumisse uma forma definida em sua mente Freud publicou apenas seis relatos de caso Um deles o cha mado Caso Schreber 1911 não foi paciente de Freud Freud baseou sua análise em um relato autobi ográfico de um caso de paranóia escrito pelo Juiz Da niel Schreber Um outro estudo de caso referiase a uma fobia em um menino de cinco anos de idade o Pequeno Hans 1909a que foi tratado pelo pai um médico sob a orientação e as instruções de Freud Nos outros quatro casos Freud foi o terapeuta Eles são conhecidos como Dora 1905b o Homem dos Ratos 1909b o Homem dos Lobos 1918 e um caso de homossexualidade feminina 1920b Cada um desses casos foi apresentado para destacar os as pectos importantes de um ou mais dos conceitos teó ricos de Freud Dora foi publicado disse Freud para mostrar como a análise dos sonhos nos permite descobrir as partes escondidas e reprimidas da mente humana e para demonstrar que os sintomas histéricos são moti vados pelo impulso sexual Após um relato bastante longo dos fatores históricos e do quadro clínico atual Freud apresenta uma análise detalhada de dois dos sonhos de Dora Grande parte do material consiste no relato exato das associações livres de Dora e das in terpretações de Freud e apresenta um quadro nota velmente lúcido da maneira exata de interpretar os sonhos Nessa história de caso como nas outras nós vemos como Freud tecia a urdidura desenhada da personalidade a partir dos fios verbais emaranhados de uma pessoa sofredora e percebemos seu talento incomum para enxergar relações entre verbalizações amplamente discrepantes Operando a partir da su posição de que tudo o que a pessoa diz ou faz é signi ficativo e encaixase no quadro total da organização da personalidade Freud era um observador vigilan te a declaração ou o ato mais comum era minuciosa mente esquadrinhado em busca de um significado mais profundo Freud não considerava seu talento para a obser vação como incomum de nenhuma maneira como indica a seguinte citação Quando estabeleci para mim a tarefa de trazer à luz o que os seres humanos mantêm escondido dentro de si mesmos não pelo poder compelidor da hipnose mas ao observar o que eles dizem e o que eles mostram pensei que a tarefa era mais difícil do que realmente é Aquele que tem olhos para ver e ouvidos para escutar pode convencer se de que nenhum mortal é capaz de manter um segredo Se seus lábios estão selados ele conver sa com as pontas dos dedos ele se trai em cada poro E assim a tarefa de tornar consciente os recessos mais escondidos da mente é uma tarefa muito possível de realizar 1905b p 7778 A notável capacidade de Freud de fazer inferências de grande importância a partir do comportamento comum é claramente observada naquele que prova velmente é um de seus textos mais populares A Psico patologia da Vida Cotidiana 1901 Esse livro está repleto de exemplos da importância dinâmica de sim TEORIAS DA PERSONALIDADE 73 ples lapsos da fala erros de memória acidentes e vá rios tipos de equívocos A teoria de Freud da sexualidade infantil foi for mulada com base em memórias adultas O caso do Pequeno Hans deu a Freud a primeira oportunidade de verificar a teoria usando observações sobre uma criança pequena Hans temia que um cavalo o mor desse se ele se aventurasse na rua A partir de anota ções cuidadosas mantidas pelo pai do menino muitas das quais são apresentadas textualmente no relato pu blicado Freud conseguiu mostrar que essa fobia era uma expressão de dois dos mais importantes comple xos da infância inicial o complexo de Édipo e o com plexo de castração O caso do Pequeno Hans exempli fica e corrobora a teoria da sexualidade infantil proposta por Freud em 1905 Ver Brown 1965 para uma reinterpretação persuasiva do caso do Pequeno Hans de um ponto de vista de condicionamento No caso do Homem dos Ratos que sofria da re voltante obsessão de que sua namorada e seu pai seri am castigados tendo uma quantidade significativa de roedores vorazes amarrados às suas nádegas Freud juntou a dinâmica envolvida e as conexões de pensa mento de um neurótico obsessivo Embora a apresen tação seja apenas fragmentária esse caso ilustra cla ramente como Freud resolveu as aparentes contra dições distorções e os absurdos nas divagações des conexas de uma personalidade doente e transformou as em um padrão logicamente coerente Ao relatar esse caso Freud nos diz que ele se baseia em notas feitas na noite do dia do tratamento e não em notas feitas durante a sessão analítica Freud se opunha à tomada de notas por parte do terapeuta durante o período de tratamento porque sentia que a retirada da atenção do terapeuta iria interferir no progresso da terapia Ele acreditava de toda maneira que o te rapeuta se lembraria do material importante e esque ceria os detalhes triviais A análise de Freud do caso Schreber baseiase no relato do próprio Schreber de sua paranóia Freud justificou o uso desse livro autobiográfico dizendo que a paranóia é um tipo de transtorno em que a história de caso escrita é tão satisfatória quanto um conheci mento pessoal do caso O sintoma característico da paranóia é o sistema delirante e tortuoso construído pelo paciente Os delírios de Schreber consistiam em pensar que ele era o Redentor e que estava sendo trans formado em uma mulher Em uma análise intrincada desses dois delírios Freud mostrou que eles estavam relacionados e que a força motriz de ambos assim como dos outros aspectos do caso era a homossexua lidade latente Nesse estudo de caso Freud apresen tou sua famosa hipótese do relacionamento causal entre a homossexualidade e a paranóia O pendor de Freud para derivar uma generalização de imensa im portância a partir de um rol de fatos específicos é ma ravilhosamente retratado no caso de Schreber O Homem dos Lobos é um relato de uma neurose infantil que aflorou durante a análise de um jovem e estava relacionada dinamicamente à presente condi ção do paciente Freud observou que a análise de uma experiência ocorrida há cerca de quinze anos antes tinha vantagens assim como desvantagens quando comparada à análise de um evento logo depois de ele ocorrer A principal desvantagem é a nãoconfiabili dade da memória relativa àquela experiência Por outro lado se tentamos analisar crianças muito jo vens há a desvantagem de elas não saberem se ex pressar verbalmente O Homem dos Lobos é o equiva lente adulto do Pequeno Hans e ambas as abordagens a reconstrutiva e a genética revelaramse fontes vali osas de evidência empírica para as teorias da psicaná lise O principal aspecto dessa história de caso é uma longa análise de um sonho com lobos que o paciente lembrava de sua infância inicial e que foi interpreta do como sendo causado pela reação da criança à cena primária o termo usado por Freud para quando a cri ança observa ou fantasia os pais tendo relações sexu ais Para uma discussão desse caso ver Gardner 1971 O último caso relatado por Freud foi um que ele teve de interromper porque a resistência da paciente a desistir de sua homossexualidade foi tão forte que nenhum progresso pôde ser feito No entanto como mostra a história de caso publicada Freud conseguiu chegar a um completo entendimento da origem e do desenvolvimento da homossexualidade A homosse xualidade em ambos os sexos devese a dois fatores principais uma bissexualidade inerente a todas as coisas vivas e a uma inversão do complexo de Édipo Ao invés de amar o pai e identificarse com a mãe essa mulher identificouse com o pai e catexizou a mãe No caso da homossexualidade masculina have ria uma identificação com a mãe e um amor pelo pai Esse caso também contém algumas das idéias de Freud sobre o suicídio já que a razão para essa mulher pro curar Freud em primeiro lugar foi uma tentativa de autodestruição 74 HALL LINDZEY CAMPBELL É impossível dizer com certeza que essas histórias de caso específicas que Freud decidiu tornar públicas foram as fontes empíricas reais das teorias que elas exemplificam ou se elas foram meramente exemplos convenientes e claros das formulações teóricas que já tinham tomado forma na mente de Freud Realmente não faz muita diferença se o caso Schreber por exem plo foi o caso que revelou a Freud a dinâmica da pa ranóia ou se ele fez a descoberta fundamental com base em casos anteriores e apenas a aplicou a esse caso específico De qualquer forma o tipo de material coletado por Freud as técnicas empregadas por ele e a maneira pela qual ele pensava são revelados nesses seis estudos de caso Qualquer pessoa que deseje co nhecer o material bruto com o qual Freud trabalhava deveria lêlos Não devemos confundir tais histórias de caso com a aplicação da teoria psicanalítica para um melhor entendimento da literatura e das artes ou para pro pósitos de crítica social Freud não aprendeu sobre sublimação a partir de seu estudo sobre a vida de Leo nardo da Vinci e não descobriu o complexo de Édipo lendo Sófocles Shakespeare ou Dostoevsky Nem ele compreendeu a irracionalidade básica do ser humano observando o comportamento humano religioso ou político A interpretação de uma obra literária ou a análise de uma instituição social usandose os insi ghts da teoria psicanalítica podem ter ajudado a con firmar a utilidade dos insights e até a validar sua au tenticidade e universalidade mas as produções literárias e as instituições sociais em si não fizeram parte dos dados empíricos de Freud AutoAnálise de Freud O material dragado de seu próprio inconsciente cons tituiu uma fonte importante de dados empíricos para Freud Conforme relatado por Ernest Jones 1953 Freud começou a autoanálise no verão de 1897 com a análise de um de seus sonhos A partir desse auto escrutínio investigativo Freud confirmou para sua própria satisfação a teoria dos sonhos e a teoria da sexualidade infantil Ele encontrou em sua personali dade aqueles conflitos contradições e irracionalida des que observara em seus pacientes e sua experiên cia talvez mais do que qualquer outra convenceuo da correção essencial de suas idéias De fato Freud relutava em aceitar a validade de qualquer hipótese antes de testála em si próprio Freud continuou sua autoanálise por toda a vida reservando a última meia hora de cada dia para essa atividade PESQUISA ATUAL Não há dúvida nenhuma de que a teoria psicanalítica de Freud tem um enorme valor intelectual e impacto heurístico Mas não está claro se a teoria existe em uma forma que permita a predição e a testagem expe rimental Conflito defesa sexualidade agressão e a psicopatologia da vida cotidiana são temas que pare cem relevantes para a nossa vida Mas será que esse senso de relevância pode ser validado por alguma cor roboração experimental Será que as forças e as con traforças que por definição existem fora da consciên cia estão sujeitas à mensuração e será que os motivos e os relacionamentos que existem em um estado de esquecimento motivado estão sujeitos à regra da des confirmabilidade Em resumo em que extensão a te oria freudiana é testável Grunbaum 1984 1986 1993 argumentou que algumas das hipóteses de Freud são de fato falsificá veis mas que os dados clínicos não são válidos como evidência científica em testes dessas hipóteses Em conseqüência existem poucas evidências apoiando as hipóteses psicanalíticas Westen 1990 entretanto observa que Grunbaum subestima consideravelmen te as evidências experimentais que apóiam as propo sições psicanalíticas ver Robinson 1993 e Sachs 1989 para amplas refutações de Grunbaum Exami nemos agora algumas das evidências experimentais Há muitos anos de fato existem tentativas de submeter hipóteses derivadas da teoria psicanalítica à testagem de laboratório Nós já referimos o traba lho de Rosenzweig por exemplo A pesquisa inicial foi revisada por Sears 1943 1944 Hilgard 1952 e Blum 1953 Essas revisões todavia são principal mente de valor histórico porque grande parte da pes quisa inicial foi realizada com metodologia inadequa da e um entendimento insuficiente da teoria psicanalítica Horwitz 1963 Kline 1972 concluiu que uma parte grande demais do que é distintiva mente freudiano foi confirmada para ser possível a rejeição de toda a teoria psicanalítica p 350 Hans Eysenck um implacável inimigo da psicanálise em TEORIAS DA PERSONALIDADE 75 colaboração com Glenn Wilson reexaminou os dados sobre os quais Kline baseou sua conclusão e afirmou não existe absolutamente nenhuma evidência em favor da teoria psicanalítica 1974 p 385 Fisher e Greenberg 1977 ao contrário acreditam que as evidências geralmente falando favorecem Freud Uma revisão anual intitulada Psychoanalysis and Con temporary Science editada por Holt e Peterfreund tem circulado desde 1972 Em vez de tentar revisar todos os testes experi mentais das proposições psicanalíticas realizados nos últimos anos nós examinaremos o programa de pes quisa que tem recebido a maior atenção Ativação Psicodinâmica Subliminar Lloyd Silverman 1966 1976 1982 1983 Silverman Lachman Milich 1982 Weinberger Silverman 1987 desenvolveu um programa de pesquisa para testar hipóteses derivadas da noção freudiana geral de que o comportamento anormal ou desviante pode ser intensificado ou atenuado quando os conflitos re lativos a desejos inconscientes sexuais e agressivos são atiçados ou diminuídos respectivamente A dificul dade nessa pesquisa evidentemente é desenvolver um método para se ter acesso ao material conflitual em um nível inconsciente Como veremos Silverman desenvolveu um método para esse propósito o qual ele chamou de ativação psicodinâmica subliminar Antes de examinarmos a pesquisa em si certos fun damentos são necessários Silverman 1976 começa chamando a atenção para a distinção entre proposições clínicas e metapsi cológicas dentro da psicanálise As proposições clíni cas referemse a declarações baseadas em dados empíricos tais como o comportamento dos pacientes durante a hora analítica As proposições clínicas po dem ser dinâmicas referindose à motivação subja cente ao comportamento ou genéticas referindose às origens do comportamento em experiências inici ais Como exemplo de uma proposição dinâmica Sil verman ofereceu a proposição psicanalítica de que muitas depressões envolvem um desejo inconsciente conflitual e hostil em relação a alguém que desapon tou a pessoa deprimida quando a depressão resulta em voltar defensivamente a hostilidade contra o self Da mesma forma uma proposição genética é a que as pessoas que experienciaram a perda de um outro sig nificativo tendem a responder com depressão a desa pontamentos subseqüentes Observem que as propo sições clínicas baseiamse exclusivamente na covari ância observada dos comportamentos As proposições metapsicológicas em contraste vão além dos dados empíricos ao relacionar desejos a instintos ou pul sões instintuais e ao tentar especificar em uma lin guagem de energia a maneira pela qual os motivos afetam o comportamento p 622 Silverman argu mentou que as proposições clínicas representam o nú cleo da psicanálise mas que a maioria dos críticos da teoria psicanalítica focaliza as proposições metapsi cológicas O programa de pesquisa de Silverman foi planejado para aplicar aqueles controles investigató rios adequados característicos do método experimen tal às proposições clínicas centrais da teoria psicana lítica O método de estimulação subliminar envolve mostrar a uma pessoa uma figura ou frase escrita tão rapidamente que ela não consegue reconhecer o que é A breve exposição 0004 segundos é feita por um instrumento chamado taquistoscópio Foi claramente demonstrado em várias investigações que embora a pessoa não esteja consciente daquilo que foi apresen tado taquistoscopicamente o material mostrado pode afetar os sentimentos e o comportamento de manei ras demonstráveis Como exemplo da metodologia nós descrevere mos experimentos com pessoas deprimidas Segundo a teoria psicanalítica a depressão é produzida voltan dose os sentimentos agressivos inconscientes em re lação aos outros contra o próprio self Se essa hipóte se estiver correta uma pessoa deprimida deveria se sentir ainda mais deprimida quando os desejos agres sivos inconscientes forem ativados Para estimular es ses desejos é mostrada uma figura agressiva a pesso as deprimidas Por exemplo um homem rosnando e segurando uma adaga e uma mensagem verbal do tipo CANIBAIS COMEM PESSOAS Os estímulos fo ram mostrados aos sujeitos como podemos lembrar por apenas 0004 segundos Antes e depois da apre sentação o indivíduo faz uma autoavaliação de seus sentimentos Os mesmos sujeitos em uma sessão di ferente foram expostos a uma figura neutra por exem plo uma pessoa lendo um jornal e uma mensagem verbal por exemplo AS PESSOAS ESTÃO CAMI NHANDO e foram solicitadas a fazer autoavaliações antes e depois da apresentação Silverman 1976 76 HALL LINDZEY CAMPBELL escreve A apresentação subliminar do conteúdo des tinado a estimular desejos agressivos levou a uma in tensificação de sentimentos depressivos que não esta vam evidentes depois da apresentação subliminar do conteúdo neutro p 627 Para mostrar que o efeito do material foi específi co para o conteúdo agressivo como exige a teoria psicanalítica da depressão e não poderia ter sido pro duzido por um tipo diferente de material emocional o grupo de Silverman realizou o seguinte experimen to Em uma ocasião pacientes deprimidos foram ex postos subliminarmente a uma figura agressiva e em outro momento a uma figura de uma pessoa defe cando Esta última figura estimularia desejos anais con flituais que segundo a teoria freudiana estão ligados à gagueira Os deprimidos ficaram ainda mais depri midos depois da apresentação da figura agressiva mas não depois da apresentação da figura anal O efeito oposto foi mostrado por um grupo de gagos Eles ga guejaram mais depois de ver subliminarmente a figu ra anal mas não a agressiva Silverman também demonstrou que os sintomas anormais podiam ser reduzidos diminuindose os de sejos conflituais Nesses experimentos foram testados pacientes esquizofrênicos Eles foram expostos taquis toscopicamente à mensagem impressa MAMÃE E EU SOMOS UM SÓ Seus sintomas anormais foram redu zidos por essa mensagem subliminar e não por outras mensagens de controle Por que a mensagem MAMÃE teve um efeito benéfico Por três razões diz Silver man Primeiro a unidade com a mãe afasta sentimen tos hostis inconscientes em relação a ela Segundo a fantasia de unidade implica um suprimento ininter rupto de nutrição maternagem da mãe E terceiro a fantasia diminui a ansiedade de separação Ao con trário quando os esquizofrênicos foram expostos a mensagens que continham hostilidade em relação à mãe ou medo de perdêla seus sintomas anormais aumentaram O leitor podese perguntar o que aconteceria se as mensagens destinadas a ativar desejos inconscien tes fossem mostradas em condições normais isto é em que os sujeitos pudessem facilmente reconhecer e compreender a mensagem A resposta é que as men sagens conscientemente percebidas não tiveram ne nhum efeito sobre os sintomas dos pacientes Aparen temente os desejos inconscientes só podem ser atiçados por alguma coisa da qual a pessoa não tem consciência Os efeitos psicodinâmicos subliminares também foram demonstrados em amostras nãopatológicas Geisler 1986 expôs universitárias a estímulos desti nados a intensificar o conflito edípico Amar o papai é errado a reduzir o conflito edípico Amar o pa pai é certo ou a ser neutros As pessoas estão ca minhando Ela descobriu que os estímulos de inten sificação do conflito realmente afetavam a memória para materiais neutros subseqüentemente apresenta dos como opostos aos sexuais Esse efeito só existia para aqueles sujeitos que eram propensos a conflito edípico e à repressão ver Dauber 1984 para um es tudo semelhante com universitárias deprimidas Em um estudo com universitários do sexo masculino Sil verman Ross Adler e Lustig 1978 apresentaram estímulos destinados a intensificar o conflito edípico Bater no papai é errado a reduzir o conflito edí pico Bater no papai é certo ou a ser neutros As pessoas estão caminhando Os escores dos sujeitos em arremesso de dardo foram medidos antes e depois da exposição taquistoscópica aos estímulos Confor me predito os dois estímulos experimentais tiveram efeitos fortes e opostos O estímulo errado levou a uma queda nos escores de arremesso de dardo mas o estímulo certo levou a um aumento nos escores O efeito foi o mesmo quando os escores pósestímulo foram comparados com os escores préestímulo nas mesmas condições ou com escores obtidos após a apre sentação do estímulo neutro Os trabalhos subseqüentes de Silverman e de seus colegas Silverman Weinberger 1985 centraram se na potência do estímulo Mamãe e eu somos um só para produzir melhora terapêutica em vários con textos Na verdade Silverman sugeriu que esse estí mulo simbiótico serve como um agente terapêutico ubíquo Silverman 1978 Silverman incorporou vários controles experimen tais ao seu programa de pesquisa Por exemplo os estudos freqüentemente eram replicados e conduzi dos de modo duplocego i e nem o sujeito nem o experimentador sabiam em que condição estava o su jeito A ordem de apresentação dos estímulos con trole e experimentais era contrabalanceada e era to mado cuidado para confirmar que os sujeitos não conseguiam relatar acuradamente os conteúdos dos TEORIAS DA PERSONALIDADE 77 estímulos aos quais eram expostos Apesar desses con troles Balay e Shevrin 1988 fizeram várias objeções Por exemplo eles revisaram as questões psicofísicas e de mensuração feitas por examinadores anteriores Além disso eles sugeriram que a replicação real dos achados é rara no programa de pesquisa de Silver man porque os pesquisadores empregam medidas ou medidas de resultado diferentes em diferentes estu dos Eles também salientaram que a mudança relata da em muitos dos estudos era um artefato estatístico Isto é a patologia na verdade não era reduzida nos sujeitos expostos a estímulos experimentais como Mamãe e eu somos um só de fato os sujeitos ex postos a estímulos neutros como As pessoas estão ca minhando aumentavam sua patologia Isso produz a ilusão de apoio para o efeito predito do estímulo ex perimental quando de fato o que se observa é um efeito negativo nãopredito e contraintuitivo do estí mulo neutro Observem que esse não foi o caso no experimento de arremesso de dardo de Silverman e colaboradores 1978 em que os efeitos dos estímu los errado e certo foram na direção predita nos três estudos relatados Finalmente Balay e Shevrin questionaram a interpretação dos achados de Silver man O que as mensagens subliminares realmente fa zem Como elas ativam os resíduos inconscientes de conflitos infantis Em resumo Balay e Shevrin esta vam preocupados com a falta de uma base teórica e empírica sólida no programa de pesquisa de Silver man 1988 p 173 ver Weinberger 1989 para uma réplica e Balay e Shevrin 1989 para uma refutação ver também Holender 1986 para uma crítica geral do processamento inconsciente da informação Nesta como na maioria das tentativas de ofere cer apoio experimental para a psicanálise todavia as questões estão longe de estar claras Com base em uma metaanálise de 64 estudos Hardaway 1990 p 190 descobriu um efeito de tratamento moderado e confiável do estímulo MAMÃE E EU SOMOS UM SÓ que se generaliza por meio de laboratórios e de popu lações de sujeitos As críticas afirmando que há ca rência de estudos bemplanejados nessa literatura são claramente o resultado de amostragem incompleta e tendenciosa Apesar dessa controvérsia a metodolo gia de ativação subliminar psicodinâmica de Silver man oferece os apoios experimentais mais convincen tes para a teoria da psicanálise de Freud Nova Visão 3 O estudo experimental da repressão tem uma longa história na psicologia DZurilla 1965 Rosenzweig Mason 1943 Zeller 1950 Esse trabalho continua sendo feito mas nos últimos anos grande parte dele centrouse nos níveis de consciência e nos processos cognitivos em geral em vez de proposições freudia nas sobre a defesa motivada Kihlstrom 1990 Wes ten 1990 A pesquisa cognitiva começou na década de 40 com a Nova Visão na percepção ver Bruner 1973 Dixon 1971 que investigou o impacto dos motivos das defesas e das expectativas nos processos e resul tados perceptuais Esse trabalho permaneceu ampla mente nãointegrado ao restante da psicologia ape sar dos esforços de Erdelyi 1974 e outros até Shevrin e Dickman 1980 argumentarem que o inconsciente é uma suposição necessária para virtualmente qual quer teoria ou pesquisa psicológica O trabalho sub seqüente sobre o inconsciente embora claramente consistente com a tradição freudiana evoluiu dentro do foco da psicologia cognitiva no processamento se letivo da informação e a área de pesquisa passou a ser conhecida como o inconsciente cognitivo Confor me Kihlstrom 1990 p 447 coloca a pesquisa so bre a percepção subliminar o esquecimento motiva do e assim por diante oferece pouco apoio para a concepção freudiana de vida mental nãoconsciente porque as proposições testadas raramente são exclu sivas da teoria freudiana por exemplo que os con teúdos inconscientes são de natureza sexual e agres siva e que os processos inconscientes são primitivos e irracionais Nessa pesquisa cognitiva o inconsciente é descrito em termos de estados emocionais sutis co nhecimento procedural sobre como as ações são rea lizadas comportamento rotineiro que ocorre sem o envolvimento da nossa atenção e a influência mútua dos estados mentais e objetos e nem todos precisam estar completamente representados na consciência para exercer alguma influência Uma série de artigos na edição de junho de 1992 da American Psychologist oferece um bom resumo dessa nova onda de pesquisa sobre o inconsciente ver Lof tus e Klinger 1992 para uma introdução ver tam bém Epstein 1994 e a edição especial de dezembro de 1994 do Journal of Personality dedicada à psico 78 HALL LINDZEY CAMPBELL dinâmica e cognição social O foco desses artigos não é se o inconsciente existe mas quão inteligente i e complexo e flexível ou tolo é o inconsciente Bruner 1992 descreveu como a Nova Visão original impôs uma visão construtivista da percepção Sua mensagem preconizava que a percepção não era neu tra e sim influenciada por outros processos mentais concorrentes O foco não se fixava no inconsciente ou em Freud mas simplesmente em como alguns obje tos se tornam mais fenomenologicamente importan tes do que outros Os adeptos da Nova Visão subse qüentemente se dividiram naqueles interessados na cognição e naqueles interessados nas defesas do ego e nos processos psicodinâmicos Bruner conclui que o inconsciente não é muito inteligente e que o pro cessamento perceptual préconsciente ocorre apenas na extensão em que é necessário Erdelyi foi a força propulsora por trás da Nova Visão 2 que emergiu na década de 70 O objetivo des sa segunda onda era forjar vínculos entre Freud e a emergente psicologia cognitiva Em contraste com esse ímpeto cognitivo Erdelyi 1992 argumentou que os fenômenos inconscientes não são simples e nem to los Apesar de demonstrações de laboratório de que a percepção inconsciente é limitada no alcance semân tico as memórias inconscientes são amplamente complexas e influentes As memórias patogênicas e os hábitos desadaptados com os quais lida a psicaná lise não envolvem lampejos de estímulos ou inputs despercebidos mas estruturas de memória declarati va e procedural altamente complexas que são inaces síveis à consciência do sujeito p 786 Assim a ques tão dos constrangimentos experimentais sobre a complexidade dos processos e dos conteúdos incons cientes que podem ser manipulados continua a limi tar a aceitação da pesquisa de laboratório Greenwald provocou esse intercâmbio com sua sugestão de que está a caminho uma terceira Nova Visão 1992 p 766 Ele concluiu que há pouca dú vida de que as pessoas ocasionalmente percebem fa tos sem ter consciência disso mas que esses proces sos não são muito sofisticados Ao contrário das elaboradas defesas e transformações hipotetizadas por Freud o inconsciente cognitivo de Greenwald não é particularmente inteligente Greenwald resumiu evi dências de cognição sem atenção e de cognição não relatada verbalmente ver artigo influente de Nisbett e Wilson 1977 sobre este último ponto Greenwald insere esses processos em um modelo de cognição de rede neural ou conexionista ou de processamento distribuído em paralelo Kihlstrom Kihlstrom Barnhardt Tataryn 1992 ofereceu um ótimo resumo desse intercâmbio e da distinção entre a pesquisa sobre o inconsciente cogni tivo e a teoria freudiana sobre o inconsciente dinâmi co O inconsciente psicológico documentado pela psicologia científica contemporânea é muito dife rente daquele que Sigmund Freud e seus colegas psicanalíticos tinham em mente na Viena do fim de século Seu inconsciente era quente e úmido ele fervilhava com luxúria e raiva ele era aluci natório primitivo e irracional O inconsciente da psicologia contemporânea é mais bondoso e mais gentil do que aquele e mais ligado à realidade e racional mesmo que não seja inteiramente frio e seco p 789 itálicos acrescentados Assim a hora terapêutica freudiana e o laboratório experimental permanecem separados por seus cons trangimentos conceituais e procedurais distintivos STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Nenhuma outra teoria psicológica foi submetida a tal escrutínio e muitas vezes a críticas tão amargas quan to a psicanálise De todos os lados e por todos os mo tivos concebíveis Freud e sua teoria foram atacados injuriados ridicularizados e caluniados O único caso comparável na ciência moderna em que tanto a teoria quanto o teórico foram tão ardentemente difamados é o de Charles Darwin cuja doutrina evolutiva cho cou a Inglaterra vitoriana As principais ofensas de Freud consistiram em atribuir desejos lascivos e des trutivos aos bebês impulsos incestuosos e perverti dos a todos os seres humanos e em explicar o com portamento humano em termos da motivação sexual As pessoas decentes ficaram enfurecidas com as idéi as de Freud sobre o indivíduo e chamaramno de li bertino e pervertido Freud também foi criticado em termos morais como sendo um covarde intelectual A posição origi nal de Freud durante a década de 1890 era de que a histeria resultava da memória reprimida de abuso se TEORIAS DA PERSONALIDADE 79 xual na infância Em 21 de abril de 1896 ele fez uma conferência sobre isso na Sociedade de Psiquiatria e Neurologia de Viena Em 21 de setembro de 1897 todavia Freud escreveu a seu confidente Wilhelm Fli ess que ele já não acreditava mais na sua teoria da sedução Ele agora defendia que os relatos de sedu ção de seus pacientes eram produto de seus desejos fantasiados de contato sexual Esse foi um momento divisor de águas no desenvolvimento das teorias de Freud porque mudou a base dos sintomas das ações dos adultos no mundo objetivo para os desejos sexu ais intrapsíquicos das crianças A teoria de Freud da sexualidade infantil decorreu diretamente de tal trans formação Em The Assault on Truth Masson 1984 afirmou que a posição original de Freud é que era exata que o próprio Freud sabia disso na época e que a sua re núncia a ela se constituía em um ato covarde origi nado por sua incapacidade de lidar com o desprezo público que ela gerara A dupla conseqüência foi que a teoria de Freud teve uma base falaciosa e que os analistas subseqüentes foram levados a ignorar a rea lidade e as terríveis conseqüências do abuso sexual infantil Além disso é claro Masson está acusando Freud de mentiroso e covarde Essas são acusações provocativas para dizer o mínimo e Freud delas tem sido fielmente defendido p ex Robinson 1993 Mas o que precisamos reconhecer é que os méritos intelec tuais das idéias de Freud são independentes de suas origens e de sua história pessoal A história intelectu al é fascinante mas a questão central continua sendo o poder da teoria Foi justamente isso a integridade intelectual do modelo que Frederick Crews atacou recentemente de forma violenta Crews conclui que não existe literal mente nada a ser dito em termos científicos ou tera pêuticos em favor de todo o sistema freudiano ou de qualquer um de seus dogmas componentes 1996 p 63 O artigo de 1996 oferece uma introdução para o veredito de Crews de que Freud conjurou um ema ranhado de quaseentidades pseudoexplanatórias p 64 de que a investigação das associações livres é um jogo de salão divertido mas dispendioso p 66 e que todo o empreendimento deve ser visto como uma pseudociência ver Begley 1994 para uma perspecti va em relação a uma série anterior de comentários de Crews De uma perspectiva diferente a teoria freudiana foi criticada como excessivamente aliada à visão me canicista e determinista da ciência do século XIX em conseqüência ela não é suficientemente humanista A teoria é considerada por muitos atualmente como uma abordagem que pinta um quadro triste demais da natureza humana As feministas como Beauvoir 1953 Friedan 1963 Greer 1971 e Millett 1970 atacaram vigorosamente as especulações de Freud sobre a psicologia feminina especialmente o conceito da inveja do pênis embora uma figura proeminente no movimento das mulheres Mitchell 1975 tenha vindo em defesa de Freud ver Robinson 1987 para uma avaliação das críticas e defensoras feministas de Freud Não é nossa intenção revisar as críticas dirigidas à psicanálise Grande parte delas não foi nada além do som e fúria de pessoas perturbadas A maioria das críticas já está desatualizada por avanços subse qüentes no pensamento de Freud ver discussão no Capítulo 5 de recentes avanços na psicanálise E agora podemos ver que uma porção considerável das críti cas se baseava em interpretações erradas e em distor ções da psicanálise Além disso revisar as críticas à psicanálise de maneira adequada exigiria um livro pelo menos tão grande quanto este Em vez disso nós dis cutiremos várias críticas freqüentemente dirigidas à psicanálise e ainda amplamente discutidas Uma dessas críticas afirma que existem graves falhas nos procedimentos empíricos por meio dos quais Freud validou suas hipóteses Ele teria feito suas ob servações em condições nãocontroladas Freud reco nheceu que não mantinha um relato textual do que ele e o paciente faziam durante a hora de tratamento mas que trabalhava a partir de anotações feitas várias horas mais tarde É impossível dizer quão fielmente essas notas refletiam os eventos como eles realmente tinham ocorrido Julgando a partir de experimentos sobre a fidedignidade dos testemunhos não é impro vável a existência de várias distorções e omissões nos registros A suposição de Freud de que o material sig nificativo seria lembrado e os incidentes triviais es quecidos nunca foi provada e parece improvável Críticos dos métodos de Freud também fazem objeções ao fato de ele aceitar tudo o que os pacientes diziam sem tentar corroborar aquilo com alguma for ma de evidência externa Eles acham que Freud deve 80 HALL LINDZEY CAMPBELL ria ter obtido evidências com parentes e conhecidos documentos dados de teste e informações médicas Entretanto Freud afirmava que o importante para o entendimento do comportamento humano era um conhecimento completo do inconsciente que só podia ser obtido a partir da associação livre e da análise dos sonhos Dado então o que seguramente era um registro incompleto e mais do que provavelmente imperfeito Freud prosseguia para fazer inferências e chegar a conclusões por uma linha de raciocínio que raramen te foi explicitada Em geral o que encontramos nos textos de Freud é o resultado final de seu pensamento as conclusões sem os dados originais sobre os quais se basearam sem um relato de seus métodos de aná lise e sem uma apresentação sistemática quer quali tativa quer quantitativa de seus achados empíricos O leitor é convidado a acreditar implicitamente na validade de suas operações indutivas e dedutivas Conseqüentemente é praticamente impossível repe tir qualquer uma das investigações de Freud com al guma certeza de estarmos prosseguindo de acordo com o planejamento original Isso pode ajudar a explicar por que outros investigadores chegaram a conclusões bem diferentes e por que existem aparentemente tan tas interpretações do mesmo fenômeno Freud abstevese de quantificar seus dados empí ricos o que torna impossível pesar a fidedignidade e a significação estatística de suas observações Em quan tos casos por exemplo ele encontrou alguma associ ação entre paranóia e homossexualidade entre histe ria e fixação no estágio oral entre um desejo e uma fobia entre a cena primária e a instabilidade adulta Quantos casos de um determinado tipo ele estudou e de que classes e backgrounds vinham esses casos Que medidas e critérios eram usados para designar um caso para uma categoria clínica específica Será que Freud alguma vez comparou suas interpretações com a de um outro psicanalista competente para estabelecer a fidedignidade do seu julgamento Essas e outras nu merosas perguntas de natureza semelhante preocu pam o psicólogo quantitativamente orientado A relutância de Freud em seguir as convenções de um relato inteiramente científico de seus dados deixa a porta aberta para muitas dúvidas relativas ao status científico da psicanálise Hook 1960 Será que Freud encontrava em seus casos aquilo que queria encon trar neles Seriam suas inferências guiadas mais por suas tendenciosidades do que pelo material à mão Será que ele selecionava apenas as evidências que es tavam de acordo com suas hipóteses e desconsidera va os exemplos negativos As associações livres de seus pacientes eram realmente livres ou eles diziam aquilo que Freud queria ouvir Teria Freud criado uma ela borada teoria da personalidade que se afirmava valer para todos baseada em inferências feitas a partir das verbalizações de um número relativamente pequeno de pacientes atípicos Que evidências sólidas Freud realmente tinha para apoiar suas especulações gran diloqüentes Que salvaguardas ele empregava contra a influência insidiosa da tendenciosidade Perguntas desse tipo têm lançado dúvidas sobre a validade da teoria psicanalítica Lawrence Kubie um proeminente psicanalista resumiu da seguinte maneira as limitações da psica nálise como uma ciência básica Em geral elas as limitações podem ser resumi das dizendose que o planejamento básico do pro cesso de análise tem uma validade científica es sencial mas que as dificuldades de se registrar e reproduzir observações primárias a conseqüente dificuldade de derivarse a estrutura conceitual básica as dificuldades de examinarse com igual facilidade o relacionamento circular do inconsci ente para o consciente e do consciente para o in consciente as dificuldades de avaliarse quanti tativamente a multiplicidade de variáveis e finalmente a dificuldade de estimarse as coisas que aumentam e as coisas que diminuem a preci são de suas hipóteses e a validade de suas predi ções estão entre os problemas científicos que ain da precisam ser resolvidos 1953 p 143144 Por outro lado Paul Meehl faz uma declaração elo qüente que conclui quando testes adequados se tor narem disponíveis para nós uma porção considerável da teoria psicanalítica escapará à refutação 1978 p 831 Um outro tipo de crítica ataca a teoria em si e diz que a teoria é ruim porque muitas partes suas não têm e não podemos fazer com que tenham conse qüências empíricas Por exemplo é impossível deri var quaisquer proposições empíricas da postulação de um instinto de morte Assim sendo o instinto de mor te permanece oculto na escuridão metafísica e não tem nenhum significado para a ciência Embora pos TEORIAS DA PERSONALIDADE 81 samos usar o instinto de morte para explicar certos fenômenos como suicídio ou acidentes tais explica ções depoisdofato pouco significam É como apostar em um cavalo depois de ele ter corrido Uma boa teo ria por outro lado permite ao seu usuário predizer antecipadamente o que vai acontecer Algumas pes soas podem preferir juntar e organizar uma grande quantidade de dados aparentemente nãorelaciona dos sob o nome único de instinto de morte mas pre ferências desse tipo indicam apenas os interesses do sistematizador e não a verdade do nome Usado dessa maneira o instinto de morte é pouco mais do que um slogan A teoria freudiana realmente não oferece um con junto de regras relacionais para chegarmos a uma expectativa exata do que vai acontecer se ocorrerem certos eventos Qual é exatamente a natureza do rela cionamento entre experiências traumáticas sentimen tos de culpa repressão formação de símbolos e so nhos O que conecta a formação do superego ao complexo de Édipo Essas e milhares de outras per guntas ainda precisam ser respondidas com referên cia à rede emaranhada de conceitos e suposições con jurados por Freud A teoria fica omissa sobre o intrincado problema de como medir quantitativamente as catexias e anti catexias De fato não existe nenhuma especificação sobre como podemos estimar mesmo nos termos mais aproximados diferenças de quantidade Quão inten sa tem de ser uma experiência para ser traumática Quão frágil tem de ser o ego para ser dominado por um impulso instintual De que maneira as várias quan tidades interagem uma com a outra para produzir um determinado resultado E no entanto tudo depende da análise final justamente dessas especificações Sem elas nenhuma lei pode ser derivada Se aceitarmos que a teoria psicanalítica é culpada de pelo menos duas faltas sérias primeiro que ela é uma teoria ruim e segundo que ela ainda não foi substanciada por procedimentos cientificamente res peitáveis e também atentos ao fato de que muitas outras críticas poderiam ter sido citadas podemos perguntar por que a teoria psicanalítica é levada a sério e por que não foi relegada ao esquecimento há muito tempo Como podemos explicar seu status in fluente no mundo de hoje O fato é que todas as teorias do comportamento são teorias bastantes deficientes e decepcionam em termos de prova científica A psicologia tem um longo caminho pela frente antes de poder ser chamada de ciência exata Conseqüentemente o psicólogo preci sa selecionar a teoria que pretende seguir por outras razões que não a adequação formal e a evidência fa tual O que a teoria psicanalítica tem a oferecer Algu mas pessoas gostam da linguagem pitoresca que Freud usa para projetar suas idéias Elas são atraídas por sua maneira habilidosa de empregar alusões literári as e mitológicas para apresentar noções muito obscu ras e por seu talento para se expressar ou criar uma figura de linguagem para iluminar um ponto difícil para o leitor Seu texto tem uma excitante qualidade literária rara entre os cientistas Seu estilo combina com a excitação de suas idéias Muitas pessoas acham os conceitos de Freud fascinantes e sensacionais O sexo é claro é um tópico atraente e tem um valor de sensação mesmo quando discutido em trabalhos cien tíficos A agressão e a destrutividade são quase tão absorventes quanto o sexo Na verdade as novelas os programas de entrevistas e os filmes na televisão testemunham a presença constante dos temas sexuais e agressivos na nossa sociedade É muito natural en tão que as pessoas se sintam atraídas pelos textos de Freud Mas um belo estilo literário e um assunto excitan te não são as razões principais para a grande estima dedicada a Freud As razões mais exatamente seri am suas idéias são desafiadoras sua concepção do indivíduo é ao mesmo tempo ampla e profunda e sua teoria tem relevância para a nossa época Freud pode não ter sido um cientista rigoroso ou um teórico de primeira linha mas ele foi um observador paciente meticuloso e penetrante e um pensador tenaz disci plinado corajoso e original Acima de todas as outras virtudes de sua teoria está a seguinte ela tenta con siderar indivíduos de carne e osso vivendo parcial mente em um mundo de realidade e parcialmente em um mundo de fazdeconta assolados por conflitos e contradições internas mas capazes de pensamento e ação racionais movidos por forças das quais eles têm pouco conhecimento e por aspirações que estão além de seu alcance alternadamente confusos e lúci dos frustrados e satisfeitos esperançosos e desespe rados egoístas e altruístas em resumo um ser hu mano complexo Para muitas pessoas esse quadro do indivíduo tem uma validade essencial TEORIAS DA PERSONALIDADE 83 CAPÍTULO 3 A Teoria Analítica de Carl Jung INTRODUÇÃO E CONTEXTO 84 HISTÓRIA PESSOAL 85 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 88 O Ego 88 O Inconsciente Pessoal 88 O Inconsciente Coletivo 88 O Self 92 As Atitudes 92 As Funções 93 Interações entre os Sistemas da Personalidade 94 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 96 Energia Psíquica 96 O Princípio da Equivalência 98 O Princípio da Entropia 98 O Uso da Energia 99 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 99 Causalidade Versus Teleologia 100 Sincronicidade 100 Hereditariedade 100 Estágios de Desenvolvimento 101 Progressão e Regressão 102 O Processo de Individuação 103 A Função Transcendente 103 Sublimação e Repressão 103 Simbolização 104 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 105 Estudos Experimentais de Complexos 105 Estudos de Caso 105 Estudos Comparativos de Mitologia Religião e as Ciências Ocultas 106 Sonhos 107 PESQUISA ATUAL 108 A Tipologia de Jung 108 O Indicador de Tipo MyersBriggs 109 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 111 84 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Carl Jung era um jovem psiquiatra em Zurique quan do leu A interpretação dos Sonhos de Freud logo de pois de ter sido publicado em 1900 Imensamente impressionado pelas idéias de Freud que usou e veri ficou em sua própria prática Jung envioulhe cópias de seus textos que em geral apoiavam o ponto de vista freudiano Em 1906 começou uma correspon dência regular entre os dois Quando Jung fez sua primeira visita a Freud em Viena no ano seguinte eles conversaram sem parar por treze horas Freud decidiu que Jung seria seu sucessor seu príncipe her deiro conforme ele escreveu a Jung Quando foi fun dada a Associação Psicanalítica Internacional em 1910 Jung tornouse seu primeiro presidente uma posição que manteve até 1914 Em 1909 Freud e Jung viajaram juntos para a Clark University em Worces ter Massachusetts tendo sido ambos convidados a dar uma série de conferências na celebração do 20º ano de fundação da universidade Três anos mais tarde entretanto o relacionamento pessoal entre Freud e Jung começou a esfriar Finalmente em 1913 eles terminaram sua correspondência pessoal e alguns meses mais tarde sua correspondência profissional Em abril de 1914 Jung renunciou à presidência da associação e em agosto de 1914 ele se retirou como membro O rompimento foi então completo Freud e Jung nunca mais se viram Algumas citações das 359 cartas escritas por Jung e Freud durante os anos de 19061913 revelam a di nâmica do fascinante relacionamento entre os dois homens tão obstinados todas as citações são de Mc Guire 1974 Em 7 de abril de 1907 após seu primei ro encontro Freud escreveu você me inspirou confi ança no futuro pois percebi que sou tão substituível quanto qualquer outra pessoa e não poderia esperar ninguém melhor do que você agora que passei a co nhecêlo para continuar e completar meu trabalho p 27 Mas nessa mesma carta um pouco depois Freud referiuse às diferenças a respeito da sexualida de que contribuiriam substancialmente para sua ci são final Eu aprecio seus motivos para tentar adoçar a maçã azeda mas acho que você não terá sucesso Mesmo se chamarmos o inconsciente de psicóide ele ainda será o inconsciente e mesmo se não chamar mos de libido a força propulsora na concepção am pliada de sexualidade ela ainda será a libido Nós estamos sendo solicitados nem mais nem menos a abjurar da nossa crença na pulsão sexual A única res posta é professála abertamente p 28 Cinco anos mais tarde quando Jung voltou de uma série de palestras em Nova York ele escreveu a Freud Eu descobri que a minha versão da psicanálise con quistou muitas pessoas que até agora tinham sido afas tadas pelo problema da sexualidade na neurose 11 de novembro de 1912 p 515 Freud replicou Eu o saúdo por seu retorno da América não tão afetuosa mente como na última ocasião em Nuremburg você conseguiu me tirar aquele hábito Você diminuiu muito a resistência com as suas modificações mas eu o aconselharia a não colocar isso na coluna dos crédi tos porque como você sabe quanto mais se afastar do que é novo na psicanálise mais certo que será aplaudido e menor a resistência que encontrará p 324 A essa altura o fim estava próximo Em 18 de de zembro de 1912 Jung escreveu Posso dizerlhe algumas palavras sinceramente Sou suficientemente objetivo para enxergar através de seu truquezinho Veja meu querido professor enquanto você disser essas tolices eu não dou a mínima para as minhas ações sintomá ticas elas se reduzem a nada em comparação com as formidáveis falhas de meu irmão Freud Não sou nem um pouco neurótico Você sabe claro quão longe um paciente pode ir com a autoanáli se não por sua neurose exatamente como você Se você chegar a se livrar totalmente de seus com plexos e parar de bancar o pai que aponta conti nuamente os pontos fracos dos filhos e der uma boa olhada nos seus próprios e mudálos eu pro meto modificarme Sem dúvida você ficará furioso com esse sinal peculiar de amizade mas acho que ainda assim vai lhe fazer bem Com meus melhores votos p 534535 Em 3 de janeiro de 1913 Freud replicou nenhum de nós precisa ter vergonha de sua própria parcela de neurose Mas aquele que fica gritando que é normal enquanto se comporta anormalmente nos faz descon fiar que não tem insight nenhum de sua doença Des sa maneira eu proponho que abandonemos inteira mente as nossas relações pessoais Eu não perderei nada com isso pois meu único laço emocional com TEORIAS DA PERSONALIDADE 85 você há bastante tempo já é apenas um frágil fio o efeito remanescente de desapontamentos passados sintase totalmente livre e poupeme de seus preten sos sinais de amizade p 539 Conforme Jung repli cou três dias mais tarde O resto é silêncio Existem muitos relatos sobre o relacionamento entre Freud e Jung incluindo os dos dois participan tes Freud 1914 1925 Jung 1961 do biógrafo de Freud Ernest Jones 1955 e outros Weigert 1942 Dry 1961 Kerr 1993 Os artigos publicados por Jung enquanto ele ainda estava influenciado por Freud e suas subseqüentes críticas à psicanálise freudiana fo ram reunidos no Volume 4 das Obras Completas Dois outros artigos sobre Freud estão incluídos no Volume 15 Embora as causas da ruptura no relacionamento outrora íntimo sejam complexas e supradetermina das envolvendo incompatibilidades pessoais e inte lectuais uma razão importante foi Jung ter rejeitado o pansexualismo de Freud A razão imediata foi que Freud identificou seu método com sua teoria sexu al o que considerei inadmissível comunicação pes soal de Jung 1954 Jung então partiu para criar sua própria teoria da psicanálise e seu próprio método de psicoterapia que se tornou conhecido como psicolo gia analítica As linhas de sua abordagem tinham sido estabelecidas antes de Jung conhecer Freud e ele nela trabalhou consistentemente durante o período em que esteve associado a Freud Jung 1913 HISTÓRIA PESSOAL Antes de discutir as características relevantes e distin tivas do ponto de vista de Jung vamos revisar breve mente alguns aspectos de sua vida Carl Gustav Jung nasceu em Kesswyl uma cidade no Lago Constance no Cantão de Thurgau Suíça em 26 de julho de 1875 e cresceu na Basiléia Seu pai era pastor da Igreja Re formada Suíça Jung ingressou na Universidade da Ba siléia com a intenção de se tornar um filologista clás sico e se possível um arqueólogo mas parece que um sonho despertou seu interesse pelo estudo das ci ências naturais e incidentalmente pela medicina Depois de obter seu diploma médico na Universidade da Basiléia ele se tornou assistente no Burghölzli Mental Hospital em Zurique e na Clínica Psiquiátri ca de Zurique iniciando assim sua carreira na psiqui atria Ele foi assistente e mais tarde colaborador de Eugen Bleuler o eminente psiquiatra que desenvol veu o conceito de esquizofrenia e estudou brevemen te com Pierre Janet o aluno e sucessor de Charcot em Paris Em 1909 ele desistiu de seu trabalho no Bur ghölzli e em 1913 de sua docência em psiquiatria na Universidade de Zurique a fim de dedicarse inteira mente à prática privada à sua formação à pesquisa a viagens e a escritos Por muitos anos ele coordenou um seminário em inglês para alunos de língua inglesa e depois que se aposentou do ensino ativo foi criado em Zurique um instituto de formação com seu nome Em 1944 foi fundada uma cadeira de psicologia mé dica especialmente para Jung na Universidade da Ba siléia mas sua saúde enfraquecida o obrigou a renun ciar à cadeira depois de um ano Ele morreu em 6 de junho de 1961 em Zurique aos 85 anos de idade Ainda não foi publicada nenhuma biografia completa de Jung comparável à biografia de Freud por Ernest Jones Uma autobiografia Memórias Sonhos Refle xões 1961 foi publicada no ano da morte de Jung Uma parte dela foi escrita diretamente por Jung e outra parte foi gravada e editada por sua secretária confi dencial Aniela Jaffé suplementada por materiais de conferências proferidas por Jung Memórias Sonhos Reflexões é principalmente uma biografia interior ou espiritual embora também contenha uma grande quantidade de informações sobre os eventos externos da vida de Jung O tom do livro é estabelecido pela frase de abertura A minha vida é a história da auto realização do inconsciente Material biográfico so bre Jung pode ser encontrado em Frieda Fordham 1953 Bennett 1961 Dry 1961 Jaffé 1971 1979 D S Wehr 1987 G Wehr 1971 von Franz 1975 Hannah 1976 Stern 1976 e van der Post 1976 Mas nenhum desses livros pode ser conside rado uma biografia definitiva Por sessenta anos Carl Jung dedicouse com gran de energia e singularidade de propósito a analisar os processos vastos e profundos da personalidade huma na Seus escritos são volumosos e a extensão de sua influência incalculável Ele é conhecido não apenas por psicólogos e psiquiatras mas também por pesso as instruídas em todas as profissões Ele recebeu mui tas homenagens entre as quais diplomas honorários das Universidades de Harvard e de Oxford Ele fazia freqüentemente conferências nos Estados Unidos e tem 86 HALL LINDZEY CAMPBELL muitos seguidores e admiradores nesse país Pratica mente toda a obra de Jung está hoje disponível em uma edição de 20 volumes em língua inglesa Jung 19531978 Além das cartas de FreudJung previa mente mencionadas foram publicados dois volumes de cartas de Jung Jung 1973b 1975 Também exis te um volume contendo entrevistas e encontros com Jung McGuire 1977 Embora a teoria de Jung da personalidade nor malmente seja identificada como uma teoria psicana lítica devido à ênfase que dá aos processos inconsci entes ela difere em alguns aspectos notáveis da teoria de Freud da personalidade Talvez o aspecto mais pro eminente e distintivo da visão de Jung dos seres hu manos é que ela combina teleologia com causalidade O comportamento humano é condicionado não ape nas pela história individual e racial causalidade mas também pelas metas e aspirações teleologia Tanto o passado como realidade quanto o futuro como po tencialidade orientam o nosso comportamento pre sente A visão de Jung é prospectiva no sentido em que olha para a frente para a linha de desenvolvi mento futuro da pessoa e retrospectiva no sentido em que leva em conta o passado Parafraseando Jung a pessoa vive por metas assim como por causas Essa insistência no papel do destino ou do propósito no desenvolvimento humano separa Jung de Freud muito claramente Para Freud existe apenas a inter minável repetição de temas instintuais até o momen to da morte Para Jung existe um desenvolvimento constante e freqüentemente criativo a busca da tota lidade e completude e o anseio de renascimento A teoria de Jung também se distingue de todas as outras abordagens à personalidade pela forte ênfase colocada nas fundações raciais e filogenéticas da per sonalidade Jung vê a personalidade individual como o produto e o continente de sua história ancestral Os seres humanos modernos foram moldados em sua presente forma pelas experiências cumulativas de ge rações passadas estendendose às origens obscuras e desconhecidas do ser humano As fundações da per sonalidade são arcaicas primitivas inatas inconsci entes e provavelmente universais Freud enfatiza as origens infantis da personalidade ao passo que Jung enfatiza as origens raciais da personalidade Os seres humanos nascem com muitas predisposições legadas por seus ancestrais essas predisposições orientam sua conduta e determinam em parte aquilo de que se tor narão conscientes e à que responderão em seu mun do experiencial Em outras palavras existe uma per sonalidade racialmente préformada e coletiva que funciona seletivamente no mundo da experiência e é modificada e elaborada pelas experiências vividas A personalidade de um indivíduo resulta de forças in ternas agindo sobre e sendo influenciadas por forças externas Esse grande respeito pelo nosso passado racial e a sua influência sobre as pessoas hoje significam que Jung mais do que qualquer outro psicólogo sondou a história humana para descobrir o máximo possível sobre as origens e a evolução racial da personalidade Ele estudou mitologia religião símbolos e rituais an tigos os costumes e as crenças dos povos primitivos assim como os sonhos as visões os sintomas dos neu róticos e as alucinações e os delírios dos psicóticos em sua busca das raízes e dos desenvolvimentos da personalidade humana Sua aprendizagem e erudição tanto em amplitude de conhecimento quanto em pro fundidade de entendimento provavelmente ainda não foram superadas pelos psicólogos atuais Dry 1961 identificou alguns dos importantes desenvolvimentos intelectuais do século XIX que pre sumivelmente influenciaram Jung Primeiro havia os filósofos especialmente Schopenhauer von Hartmann e Nietzsche com suas concepções do inconsciente da polaridade trabalhando para a unidade e da substi tuição do raciocínio pela vontade ou intuição para compreender a realidade Havia na época as recémdesenvolvidas psiquiatrias alemã e fran cesa as descobertas científicas de outros cam pos especialmente da biologia a ampla aceita ção da teoria evolutiva a aplicação das idéias evolutivas ao homem incluindo o estudo de sua organização social e a religião e a controvérsia entre os proponentes da unidade psíquica e da difusão cultural na exploração das semelhanças entre diferentes sociedades os achados fasci nantes da arqueologia e as grandes tradições li terária histórica e teológica da Alemanha com um forte matiz de romantismo p 1920 Dry também acha que a neutralidade e a estabilidade da Suíça favoreciam uma vida de reflexão e solidão Agora apresentaremos as principais característi cas da teoria de Jung da personalidade Embora as formulações teóricas sejam encontradas em toda a sua TEORIAS DA PERSONALIDADE 87 Carl Gustav Jung 88 HALL LINDZEY CAMPBELL volumosa obra os Volumes 7 8 e 9 Parte 1 das Obras Completas contêm as declarações mais sistemáticas de sua posição A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE A personalidade total ou a psique conforme chama da por Jung consiste em vários sistemas diferencia dos mas interatuantes Os principais são o ego o in consciente pessoal e seus complexos e o inconsciente coletivo e seus arquétipos a anima e o animus e a sombra Além desses sistemas interdependentes exis tem as atitudes de introversão e extroversão e as fun ções do pensamento do sentimento da sensação e da intuição Finalmente existe o self que é o centro de toda a personalidade O Ego O ego é a mente consciente Ele é constituído por percepções memórias pensamentos e sentimentos conscientes O ego é responsável pelos nossos senti mentos de identidade e de continuidade e do ponto de vista da pessoa considerase que esteja no centro da consciência O Inconsciente Pessoal O inconsciente pessoal é uma região adjacente ao ego Ele consiste em experiências que outrora foram cons cientes mas que agora estão reprimidas suprimidas esquecidas ou ignoradas e em experiências que fo ram a princípio fracas demais para deixar uma im pressão consciente na pessoa Os conteúdos do incons ciente pessoal como os do material préconsciente de Freud são acessíveis à consciência e existe um gran de trânsito de duas vias entre o inconsciente pessoal e o ego Complexos Um complexo é um grupo organizado ou uma conste lação de sentimentos pensamentos percepções e me mórias que existem no inconsciente pessoal Ele tem um núcleo que age como uma espécie de magneto que atrai ou constela várias experiências Jung 1934 Considerem por exemplo o complexo materno Jung 1954a O núcleo se deriva parcialmente de experiências raciais com mães e parcialmente das ex periências da criança com a mãe As idéias os senti mentos e as memórias relacionadas à mãe são atraí das para o núcleo e formam um complexo Quanto mais forte a força emanando do núcleo mais experi ências ela vai atrair Assim dizemos que uma pessoa cuja personalidade é dominada pela mãe tem um for te complexo materno Seus pensamentos sentimen tos e ações serão orientados pela concepção de mãe o que a mãe diz e faz terá um grande valor para ela e a imagem da mãe será predominante em sua mente Um complexo podese comportar como uma persona lidade autônoma com uma vida mental e um motor próprios Ele pode assumir o controle da personalida de e utilizar a psique para seus próprios fins assim como Tolstoi teria sido dominado pela idéia da sim plificação e Napoleão pela sede de poder O núcleo e muitos dos elementos associados são inconscientes em qualquer momento específico mas qualquer uma das associações podese tornar consci ente e com freqüência realmente se torna O Inconsciente Coletivo O conceito de um inconsciente coletivo ou transpes soal é um dos aspectos mais originais e controversos da teoria de Jung da personalidade Ele é o sistema mais poderoso e influente da psique e em casos pato lógicos domina o ego e o inconsciente pessoal Jung 1936 1943 1945 O inconsciente coletivo é o reservatório de traços de memória latentes herdados do nosso passado an cestral um passado que inclui não apenas a história racial dos seres humanos como uma espécie separa da mas também seus ancestrais préhumanos ou ani mais O inconsciente coletivo é o resíduo psíquico do desenvolvimento evolutivo humano um resíduo que se acumula em conseqüência de repetidas experiênci as ao longo de muitas gerações Ele é quase totalmen te separado de tudo o que é pessoal na vida do indiví duo e aparentemente é universal Todos os seres humanos têm mais ou menos o mesmo inconsciente coletivo Jung atribui a universalidade do inconscien te coletivo à semelhança da estrutura do cérebro em TEORIAS DA PERSONALIDADE 89 todas as raças humanas e essa semelhança por sua vez devese a uma evolução comum As memórias ou as representações raciais não são herdadas como tal nós herdamos a possibilidade de reviver experiências de gerações passadas São pre disposições que nos fazem reagir ao mundo de uma maneira seletiva Tais predisposições são projetadas no mundo Por exemplo uma vez que os seres huma nos sempre tiveram mães todo bebê nasce predispos to a perceber e a reagir a uma mãe O conhecimento da mãe individualmente adquirido é a realização de uma potencialidade herdada que foi inserida no cére bro humano pelas experiências passadas da raça As sim como os humanos nascem com a capacidade de enxergar o mundo em três dimensões e desenvolvem essa capacidade por meio da experiência e do treina mento eles também nascem com muitas predisposi ções para pensar sentir e perceber segundo padrões e conteúdos definidos que se realizam por meio de ex periências individualizadas Os humanos são predis postos a ter medo do escuro ou de cobras porque os seres humanos primitivos encontravam muitos peri gos no escuro e foram vítimas de cobras venenosas Esses medos latentes podem nunca se desenvolver nos humanos modernos a menos que sejam reforçados por experiências específicas mas sem dúvida a ten dência está lá e torna a pessoa mais suscetível a tais experiências Algumas idéias tal como a idéia de um Ser Supremo formamse facilmente porque a predis posição foi firmemente gravada no cérebro e precisa de muito pouco reforço da experiência individual para emergir na consciência e influenciar o comportamen to Essas memórias latentes ou potenciais dependem de estruturas e de caminhos herdados que ficaram gra vados no cérebro em resultado das experiências cu mulativas da humanidade Negar a herança dessas me mórias primordiais afirma Jung é negar a evolução e a herança do cérebro O inconsciente coletivo é a base herdada racial de toda a estrutura da personalidade Sobre ela são erigidos o ego o inconsciente pessoal e todas as ou tras aquisições individuais O que uma pessoa apren de em resultado de experiências é substancialmente influenciado pelo inconsciente coletivo que exerce uma influência orientadora ou seletiva sobre o com portamento da pessoa desde o início da vida A for ma do mundo em que ela nasce já é inata nela como uma imagem virtual Jung 1945 p 188 Essa ima gem virtual se torna uma percepção ou idéia concreta ao identificarse com os objetos do mundo que cor respondem à imagem As nossas experiências no mun do são moldadas em grande extensão pelo inconsci ente coletivo embora não completamente pois de outra forma não existiria variação e nem desenvolvi mento As duas regiões inconscientes da mente a pessoal e a coletiva podem ser imensamente úteis para os humanos Ele o inconsciente contém possibilida des que estão fora do acesso da mente consciente pois tem ao seu dispor todos os conteúdos subliminares todas aquelas vivências que foram esquecidas ou ig noradas assim como a sabedoria e a experiência de incontáveis séculos armazenadas em seus órgãos ar quetípicos Jung 1943 p 114 Por outro lado se a sabedoria do inconsciente for ignorada pelo ego o inconsciente pode perturbar os processos racionais conscientes apoderandose deles e dandolhes formas distorcidas Os sintomas as fobias os delírios e as outras irracionalidades originamse de processos in conscientes negligenciados Arquétipos Os componentes estruturais do inconsciente coletivo recebem vários nomes arquétipos dominantes ima gens primordiais imagos imagens mitológicas e padrões de comportamento Jung 1943 Um arquétipo é uma forma universal de pensamento idéia que contém um grande elemento de emoção Essa forma de pen samento cria imagens ou visões que correspondem na vida normal de vigília a algum aspecto da situação consciente Por exemplo o arquétipo da mãe produz a imagem de uma figura de mãe que é então identifi cada com a mãe real Em outras palavras o bebê her da uma concepção préformada de uma mãe genérica que determina em parte como ele perceberá a sua mãe A percepção do bebê também é influenciada pela na tureza da mãe e por suas experiências com ela As sim a experiência do bebê é o produto conjunto de uma predisposição interna para perceber o mundo de uma certa maneira e da natureza real daquele mun do Os dois determinantes normalmente se ajustam compativelmente porque o próprio arquétipo é um produto de experiências raciais com o mundo e essas experiências são muito semelhantes às de qualquer outro indivíduo em qualquer época e parte do mun 90 HALL LINDZEY CAMPBELL do Isto é a natureza das mães o que elas fazem continua muito parecida desde o início da história da raça de modo que o arquétipo de mãe herdado pelo bebê é congruente com a mãe real com a qual ele interage Como se origina um arquétipo Ele é um depósi to mental permanente de uma experiência que foi re petida constantemente por muitas gerações Por exem plo incontáveis gerações viram o sol fazer sua excursão diária de um horizonte para outro A repeti ção dessa impressiva experiência eventualmente fixou se no inconsciente coletivo como um arquétipo do deussol o corpo celeste poderoso dominante que dá a luz e é deificado e adorado pelos humanos Cer tas concepções e imagens de uma deidade suprema são ramificações do arquétipo do sol De maneira similar os humanos têm sido expos tos em sua existência a inumeráveis exemplos de for ças naturais poderosas terremotos cachoeiras inun dações furacões relâmpagos incêndios na floresta e assim por diante Dessas experiências desenvolveu se um arquétipo de energia uma predisposição para perceber e ser fascinado pelo poder e um desejo de criar e controlar o poder O deleite da criança por bom binhas a preocupação dos jovens com carros velozes e o interesse obsessivo do adulto pela liberação das energias ocultas dos átomos têm suas raízes no ar quétipo de energia Os humanos são impulsionados por esse arquétipo a buscar novas fontes de energia A nossa atual época da energia representa a ascen dência do arquétipo da energia Isto é os arquétipos funcionam como centros de energia autônomos alta mente carregados que tendem a produzir em cada geração a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências Berger 1977 sugeriu que os arquéti pos são os equivalentes humanos de detectores de características que foram descobertos em animais in feriores Os arquétipos não estão necessariamente isolados uns dos outros no inconsciente coletivo Eles se inter penetram e fundemse Assim o arquétipo do herói e o arquétipo do velho sábio podemse fundir para pro duzir a concepção do rei filósofo uma pessoa res peitada por ser simultaneamente um líder herói e um visionário sábio Às vezes como pareceu acontecer com Hitler existe a fusão dos arquétipos do demônio e do herói de modo que obtemos um líder satânico Como já vimos o núcleo de um complexo pode ser um arquétipo que atrai experiências O arquétipo pode então penetrar na consciência por meio dessas experiências associadas Os mitos os sonhos as vi sões os rituais os sintomas neuróticos e psicóticos e os trabalhos de arte contêm uma grande quantidade de material arquetípico e constituem a melhor fonte de conhecimento em relação aos arquétipos Jung e seus adeptos realizaram um trabalho prodigioso so bre representações arquetípicas nas religiões nos mi tos e nos sonhos O conceito junguiano de arquétipos não é estra nho à psicologia Nós mencionamos previamente co nexões com as abordagens genética e evolutiva ao comportamento introduzidas no Capítulo 8 Além dis so considerem o conceito de prontidão Segundo essa posição as associações formadas durante a apren dizagem não são necessariamente arbitrárias mais propriamente os animais estão predispostos a associ ar certas conseqüências a certas classes de estímulos Por exemplo Garcia e Koelling 1966 descobriram que ratos estavam preparados para associar doença a estímulos de sabor mas a associar dor a estímulos de luz e som Essas conexões fazem sentido no ambiente natural dos ratos e portanto proporcionam uma van tagem evolutiva Seligman 1971 ofereceu uma teo ria de prontidão para fobias segundo a qual os huma nos estão predispostos a aprender rapidamente reações de medo a objetosestímulo que eram perigosos para seus ancestrais Essa préprogramação teria um valor de sobrevivência evolutiva e conceitualmente é muito semelhante à explicação dos arquétipos de Jung Supõemse que existam muitos arquétipos no in consciente coletivo Alguns dos que foram identifica dos são os arquétipos de nascimento renascimento morte poder energia mágica unidade o herói a criança Deus o demônio o velho sábio a mãe terra e o animal Embora todos os arquétipos possam ser conside rados como sistemas dinâmicos autônomos que po dem ser relativamente independentes do restante da personalidade alguns arquétipos evoluíram tanto que merecem ser tratados como sistemas separados den TEORIAS DA PERSONALIDADE 91 tro da personalidade Eles são a persona a anima e o animus e a sombra A Persona A persona é uma máscara adotada pela pessoa em res posta às demandas das convenções e das tradições sociais e às suas próprias necessidades arquetípicas internas Jung 1945 É o papel atribuído a alguém pela sociedade o papel que a sociedade espera que a pessoa desempenhe na vida O propósito da máscara é causar uma impressão definida nos outros e muitas vezes embora não necessariamente oculta a verda deira natureza da pessoa A persona é a personalida de pública aqueles aspectos que apresentamos ao mundo ou que a opinião pública impõe ao indivíduo em contraste com a personalidade privada existente por trás da fachada social Se o ego se identifica com a persona como acon tece freqüentemente o indivíduo se torna mais cons ciente do papel que está desempenhando do que de seus sentimentos genuínos inflação da persona Ele se aliena de si mesmo e toda a sua personalidade as sume uma qualidade plana ou bidimensional Ele se torna a mera aparência de um humano um reflexo da sociedade ao invés de um ser humano autônomo O núcleo do qual a persona se desenvolve é um arquétipo Esse arquétipo como todos os arquétipos originase das experiências da raça Nesse caso as experiências consistem em interações sociais em que a assunção de um papel social teve um propósito útil para os humanos ao longo de sua história como ani mais sociais A persona é parecida com o superego de Freud em alguns aspectos A Anima e o Animus É bastante reconhecido e aceito que o ser humano é essencialmente um animal bissexual Em um nível fi siológico o macho secreta tanto hormônios masculi nos quanto femininos assim como a fêmea No nível psicológico as características masculinas e as femini nas são encontradas em ambos os sexos A homosse xualidade é apenas uma das condições mas talvez a mais notável que deu origem à concepção de bisse xualidade humana Jung atribuiu o lado feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher a arquétipos O arquétipo feminino no homem é chamado de anima e o arquétipo masculino na mulher é chamado de animus Jung 1945 1954b Esses arquétipos embora possam ser condicionados pelos cromossomos sexuais e pelas glândulas sexuais são os produtos das experiências raciais do homem com a mulher e da mulher com o homem Em outras palavras ao viver com a mulher ao longo das épocas o homem se feminilizou ao viver com o homem a mulher se masculinizou Tais arquétipos não só fazem com que cada sexo manifeste características do outro sexo mas também agem como imagens coletivas que motivam cada sexo a responder aos membros do outro sexo e a compre endêlos O homem apreende a natureza da mulher por meio de sua anima e a mulher apreende a natu reza do homem por meio de seu animus Mas a anima e o animus também podem levar a desentendimento e à discórdia se a imagem arquetípica for projetada sem consideração pelo caráter real do parceiro Isto é se um homem tentar identificar sua imagem ideali zada de mulher com uma mulher real e não levar em conta as discrepâncias entre o ideal e o real ele pode sofrer um amargo desapontamento quando perceber que as duas não são idênticas Tem de haver um com promisso entre as necessidades do inconsciente cole tivo e as realidades do mundo externo para que a pes soa seja razoavelmente bemajustada A Sombra O arquétipo da sombra consiste nos instintos animais que os humanos herdaram em sua evolução a partir de formas inferiores de vida Jung 1948a Conse qüentemente a sombra representa o lado animal da natureza humana Como um arquétipo a sombra é responsável por nossa concepção do pecado original quando é projetada para fora ela se torna o diabo ou um inimigo O arquétipo da sombra também é responsável pelo aparecimento na consciência de pensamentos sen timentos e ações desagradáveis e socialmente repre ensíveis que podem então ser escondidos da visão pública pela persona ou reprimidos no inconsciente pessoal Assim o lado sombra da personalidade que deve sua origem a um arquétipo permeia os aspectos privados do ego e também uma grande parte dos con teúdos do inconsciente pessoal 92 HALL LINDZEY CAMPBELL A sombra com seus instintos animais vitais e apai xonados dá à personalidade uma qualidade encorpa da ou tridimensional Ela ajuda a completar a pessoa inteira O leitor deve ter notado uma semelhança entre a sombra e o conceito freudiano de id O Self Em seus primeiros textos Jung considerava o self como equivalente à psique ou à personalidade total Entre tanto quando começou a explorar as fundações raci ais da personalidade e descobriu os arquétipos ele encontrou um que representava o anseio humano de unidade Wilhelm Jung 1931 Esse arquétipo ex pressase por meio de diversos símbolos e o principal deles é a mandala ou o círculo mágico Jung 1955a Em seu livro Psicologia e Alquimia 1944 Jung de senvolve uma psicologia da totalidade baseada no sím bolo da mandala O principal conceito dessa psicolo gia da unidade total é o self O self é o ponto central da personalidade em tor no do qual todos os outros sistemas estão constela dos Ele mantém esses sistemas unidos e dá à perso nalidade unidade equilíbrio e estabilidade Se imaginarmos a mente consciente com o ego como seu centro como estando oposto ao incons ciente e acrescentarmos agora ao nosso quadro mental o processo de assimilar o inconsciente podemos pensar nessa assimilação como uma es pécie de aproximação do consciente e do incons ciente em que o centro da personalidade total já não coincide com o ego mas com um ponto mé dio entre o consciente e o inconsciente Esse seria o ponto de um novo equilíbrio um novo centra mento da personalidade total um centro virtual que devido à sua posição focal entre o consciente e o inconsciente garante uma fundação nova e mais sólida para a personalidade Jung 1945 p 219 O self é a meta da vida uma meta que as pessoas buscam incessantemente mas raramente alcançam Como todos os arquétipos ele motiva o comportamen to humano e provoca uma busca de integralidade especialmente pelos caminhos oferecidos pela religião As experiências religiosas verdadeiras são o mais pró ximo da qualidade de ser si mesmo que a maioria dos seres humanos vai atingir e as figuras de Cristo e Buda são as expressões mais altamente diferenciadas do arquétipo de self que podemos encontrar no mundo moderno Não surpreende que Jung tenha descober to o self em seus estudos e observações das religiões do oriente em que a busca de unidade e unicidade com o mundo por meio de várias práticas ritualísti cas como a Yoga está mais avançada do que nas reli giões ocidentais Antes que um self possa emergir é necessário que os vários componentes da personalidade se tornem totalmente desenvolvidos e específicos Por essa ra zão o arquétipo do self não se torna evidente até que a pessoa tenha atingido a meiaidade Nessa época ela começa a fazer um sério esforço para mudar o centro da personalidade do ego consciente para um que esteja a meio caminho entre a consciência e a inconsciência Essa região intermediária é a província do self O conceito de self provavelmente é a descoberta psicológica mais importante de Jung e representa a culminação de seus estudos intensivos dos arquéti pos As Atitudes O que controla o funcionamento do ego A postula ção de Jung das atitudes e das funções permitiulhe explicar a orientação e os processos característicos do ego Ele distinguiu duas importantes atitudes ou ori entações da personalidade a atitude de extroversão e a atitude de introversão A atitude extrovertida orien ta a pessoa para o mundo externo objetivo a atitude introvertida orienta a pessoa para o mundo interior subjetivo 1921 Observe que Jung não está usando esses termos como eles são usados no vernáculo eles se referem a uma orientação para dentro ou para fora e não para níveis baixos ou elevados de sociabilidade Essas duas atitudes opostas estão ambas presen tes na personalidade mas habitualmente uma delas é dominante e consciente enquanto a outra é subordi nada e inconsciente Se o ego é predominantemente extrovertido em sua relação com o mundo o incons ciente pessoal será introvertido Curiosamente foi a tentativa de Jung de enten der as diferentes explicações de Freud e de Adler para os sintomas neuróticos que o levou à distinção entre introversão e extroversão Jung 1917 Freud cen trouse nos relacionamentos neuróticos com pessoas TEORIAS DA PERSONALIDADE 93 e objetos externos Adler como veremos no Capítulo 4 estava preocupado com o senso subjetivo de inferi oridade do indivíduo e suas tentativas subseqüentes de compensálo Jung usou o termo extroversão para se referir à orientação externa característica de Freud e introversão para a orientação interna de Adler O próprio Jung era bastante introvertido uma realida de que indubitavelmente contribuiu para seus pro blemas com Freud As Funções Além das diferenças de perspectiva resumidas pelas atitudes Jung introduziu dois pares de funções para explicar as diferenças nas estratégias empregadas pe las pessoas para adquirir e processar a informação nós atualmente chamaríamos essas tendências de estilos cognitivos Existem quatro funções psicológicas fun damentais pensamento sentimento sensação e intui ção O pensamento é ideacional e intelectual Ao pen sar os seres humanos tentam compreender a natureza do mundo e a si mesmos O sentimento é a função de avaliação é o valor das coisas quer positivo quer ne gativo com referência ao sujeito A função de senti mento dá aos humanos suas experiências subjetivas de prazer e dor de raiva medo tristeza de alegria e amor A sensação é a função perceptual ou de realida de Ela transmite os fatos ou as representações con cretas do mundo A intuição é a percepção por meio de processos inconscientes e de conteúdos sublimina res A pessoa intuitiva vai além de fatos sentimentos e idéias em sua busca da essência da realidade A natureza das quatro funções pode ser esclareci da pelo seguinte exemplo Suponha que uma pessoa está parada na beira do Grand Canyon do rio Colora do Se predominar a função do sentimento ela vai experienciar um senso de admiração de grandeza e de beleza arrebatadoras Se ela estiver controlada pela função da sensação verá o canyon simplesmente como ele é ou como uma fotografia o representaria Se a função do pensamento controlar seu ego ela tentará compreender o canyon em termos de teoria e princí pios geológicos Finalmente se prevalecer a função intuitiva o espectador tenderá a ver o Grand Canyon como um mistério da natureza que possui um signifi cado profundo que é parcialmente revelado ou senti do como uma experiência mística Que existem exatamente quatro funções psicoló gicas nem mais nem menos eu concluí escreveu Jung em bases puramente empíricas Mas como mostra a seguinte consideração essas quatro juntas produzem uma espécie de totali dade A sensação estabelece o que realmente está presente o pensamento nos permite reconhecer seu significado o sentimento nos diz qual é o seu valor e a intuição aponta possibilidades referen tes à sua origem e ao seu destino em uma dada situação Dessa maneira podemos orientarnos em relação ao mundo imediato tão completamente como quando localizamos geograficamente um lugar pela latitude e longitude 1931b p 540 541 O pensamento e o sentimento são chamados de funções racionais porque utilizam a razão o julga mento a abstração e a generalização Elas permitem que os humanos procurem legitimidade no universo A sensação e a intuição são consideradas funções irra cionais porque se baseiam na percepção do concreto do particular e do acidental Embora as pessoas tenham todas as quatro fun ções elas não são igualmente bemdesenvolvidas Habitualmente uma das quatro funções é mais dife renciada do que as outras três e desempenha um pa pel dominante na consciência Esta é chamada de fun ção superior A menos diferenciada das quatro é chamada de função inferior Ela é reprimida e incons ciente e expressase em sonhos e fantasias A função inferior é sempre o outro membro do par que contém a função superior Se o pensamento for superior por exemplo o sentimento deve ser inferior Quanto mais uma dada função domina o funcionamento conscien te mais a função inferior fica submersa no inconsci ente Em essência Jung está designando uma função como superior quando ela é a mais desenvolvida das quatro A base para essa superioridade não estava clara para Jung embora ele tenha sugerido que as pessoas podem ter uma tendência inata para uma determina da atitude ou função mais desenvolvida Sejam quais forem suas origens os pais em especial devem res peitar essas tendências e não tentar transformar os filhos em algo que eles não são O fato de que o funcionamento consciente de cada pessoa tende a ser guiado por uma das duas atitudes 94 HALL LINDZEY CAMPBELL mais uma das quatro funções monta o cenário para uma taxonomia de oito tipos Introversão ou extro versão como uma atitude dominante podese combi nar com pensamento sentimento sensação ou intui ção como uma função superior produzindo assim um tipo pensante introvertido um tipo sensorial extro vertido e assim por diante Jung reconheceu que pode haver graus de superioridade dependendo da exten são em que uma determinada atitude ou função do mina a consciência mas ele acreditava que os tipos puros eram úteis como exemplo Por exemplo ele es clareceu melhor suas diferenças em relação a Freud sugerindo que Freud era um tipo pensante extroverti do enquanto ele mesmo era um tipo intuitivo intro vertido Jung 1921 dedicou grande parte do Tipos Psico lógicos à descrição dos oito tipos possíveis Vamos con siderar dois dos oito como ilustrações ver Hall Nordby 1973 O tipo pensante extrovertido é o cien tista típico preocupado em entender os fenômenos naturais e em explicálos por meio de princípios ge rais leis naturais e fórmulas Essas pessoas reprimem seu lado de sentimento de modo que podem parecer distantes frias desligadas e superiores O tipo senti mental introvertido é mais comumente encontrado entre as mulheres do que entre os homens Essas pes soas escondem seus sentimentos e freqüentemente são descritas como distantes inescrutáveis ou melancóli cas Elas muitas vezes parecem ter poderes misterio sos ou carisma Elas têm sentimentos intensos que podem irromper em explosões emocionais O aforis mo as águas paradas são profundas se aplica a essas pessoas O funcionamento da personalidade se torna ain da mais complexo pelo fato de que um membro do par da função que não contém as funções superior e inferior serve como um auxiliar para a função superi or ver p 405407 em Jung 1921 Por exemplo se o pensamento ou o sentimento é a superior a sensação ou a intuição vai ser a auxiliar Esse arranjo faz senti do dado que as funções irracionais governam a per cepção ou a aquisição de informação enquanto as funções racionais controlam o julgamento ou o pro cessamento da informação O ego precisa de uma es tratégia para perceber e para julgar o mundo de modo que tanto uma função racional quanto uma irracional devem influenciar seu funcionamento consciente A influência decisiva para a orientação da consciência vem da função superior com a auxiliar tendo um pa pel complementar nãoantagonista Tais combinações permitem a Jung oferecer descrições mais específicas como quando ele distingue entre o pensamento prá tico que ocorre quando a sensação é a auxiliar e o pensamento especulativo que surge quando a in tuição é a auxiliar Vamos resumir o amplo poder descritivo da com binação junguiana das atitudes e funções A introver são ou a extroversão tenderá a dominar o ego À me dida que aumenta essa dominação o grau de submersão da outra atitude no inconsciente também aumenta A função superior vai governar a orienta ção da consciência com o outro membro desse par de função enterrado no inconsciente como o inferior Do par de função remanescente uma servirá como auxi liar para a função superior e a outra como auxiliar para a inferior Se por exemplo um homem for do tipo pensante introvertido com a sensação como sua auxiliar então o sentimento deve ser sua função infe rior com a intuição como sua auxiliar Existem duas possibilidades para a atitude dominante quatro pos sibilidades para a função superior e duas possibilida des para a auxiliar da função superior porque a auxi liar deve vir do par de função que não contém a função superior Em conseqüência podem existir dezesseis tipos ou orientações Jung reconheceu que são comuns as gradações mas os tipos puros oferecem uma estru tura potencialmente muito útil para conceitualizar diferenças individuais Se as quatro funções forem colocadas eqüidistan temente na circunferência de um círculo o centro do círculo representa a síntese das quatro funções intei ramente diferenciadas Nessa síntese não existe ne nhuma função superior ou inferior e nenhuma auxili ar Todas elas têm força igual na personalidade Tal síntese só pode ocorrer quando o self se realizar ple namente Uma vez que a realização completa do self é impossível a síntese das quatro funções representa uma meta ideal almejada pela personalidade Interações entre os Sistemas da Personalidade Os vários sistemas e as atitudes e funções que consti tuem a personalidade total interagem de três manei ras diferentes Um sistema pode compensar a fraque za de outro sistema um sistema pode se opor a outro TEORIAS DA PERSONALIDADE 95 sistema ou dois ou mais sistemas podem se unir para formar uma síntese A compensação pode ser ilustrada pela interação das atitudes contrastantes de extroversão e de intro versão Se a extroversão for a atitude dominante ou superior do ego consciente então o inconsciente vai compensar desenvolvendo a atitude reprimida da in troversão Isso significa que se a atitude extrovertida for frustrada de alguma maneira a atitude inferior inconsciente de introversão vai assumir o controle da personalidade e manifestarse Um período de inten so comportamento extrovertido é comumente segui do por um período de comportamento introvertido Os sonhos também são compensatórios de modo que os sonhos de uma pessoa predominantemente extro vertida terão uma qualidade introvertida e inversa mente os sonhos de um introvertido tenderão a ser extrovertidos A compensação também ocorre entre as funções Uma pessoa que enfatiza o pensamento ou o senti mento na mente consciente será um tipo intuitivo ou sensorial inconscientemente Da mesma forma o ego e a anima em um homem e o ego e o animus em uma mulher terão uma relação compensatória O ego do homem normal é masculino enquanto a anima é fe minina e o ego da mulher normal é feminino en quanto o animus é masculino Em geral todos os con teúdos da mente consciente são compensados pelos conteúdos da mente inconsciente O princípio de com pensação proporciona uma espécie de equilíbrio en tre elementos contrastantes que impede a psique de se tornar neuroticamente desequilibrada Virtualmente todos os teóricos da personalidade supõem que a personalidade contém tendências pola res que podem entrar em conflito Jung não é exce ção Ele acreditava que uma teoria psicológica da per sonalidade precisa basearse no princípio da oposição ou do conflito porque as tensões criadas por elemen tos conflitantes são a própria essência da vida Sem tensão não haveria energia e conseqüentemente ne nhuma personalidade A oposição existe entre todos os elementos da per sonalidade entre o ego e a sombra entre o ego e o inconsciente pessoal entre a persona e a anima ou o animus entre a persona e o inconsciente pessoal en tre o inconsciente coletivo e o ego e entre o inconsci ente coletivo e a persona A introversão se opõe à ex troversão o pensamento se opõe ao sentimento e a sensação se opõe à intuição O ego é como uma pete ca atirada de um lado para outro entre as exigências externas da sociedade e as exigências internas do in consciente coletivo Em resultado dessa luta desen volvese uma persona ou máscara A persona então se descobre sob o ataque de outros arquétipos no incons ciente coletivo A mulher no homem isto é a anima invade a natureza masculina do homem e o animus invade a feminilidade da mulher A luta entre as for ças racionais e irracionais da psique nunca cessa O conflito é um fato onipresente da vida Será que a personalidade sempre precisa ser uma casa dividida contra si mesma Jung acreditava que não Os elementos polares não só se opõem uns aos outros mas também se atraem e se buscam A situa ção é análoga à de um marido e uma mulher que bri gam um com o outro mas se mantêm unidos pelas próprias diferenças que provocam os desentendimen tos A união de opostos é realizada pelo que Jung cha mou de função transcendente ver a seguir A operação dessa função resulta na síntese de sistemas contrários para formar uma personalidade equilibrada integra da O centro dessa personalidade integrada é o self Um Exemplo de Interação entre os Sistemas da Personalidade Para ilustrar os tipos de interações que ocorrem den tro da psique vamos considerar as relações entre a anima e os outros sistemas da personalidade Jung disse a natureza integral do homem pressupõe a mulher seu sistema está sintonizado com a mulher desde o início Jung 1945 p 188 O bebê do sexo masculino equipado com seu arquétipo de mulher é instintivamente atraído para a primeira mulher que experiencia usualmente a mãe O estabelecimento de um estreito relacionamento é estimulado por sua vez pela mãe Entretanto à medida que a criança cresce esses vínculos maternos se tornam restritivos e frus trantes senão realmente perigosos para a criança de modo que o complexo materno que se formou no ego é reprimido no inconsciente pessoal Ao mesmo tempo em que esse desenvolvimento está ocorrendo traços e atitudes femininos que fo ram implantados no ego pela anima também são re primidos por serem estranhos ao papel que a socieda de espera que ele desempenhe como homem Em outras palavras sua feminilidade inata é reprimida 96 HALL LINDZEY CAMPBELL por uma contraforça emanando da persona e de ou tros arquétipos Como resultado desses dois atos de repressão os sentimentos da criança pela mãe e sua feminilidade são levados do ego para o inconsciente pessoal As sim a percepção que o homem tem das mulheres e seus sentimentos e comportamentos em relação a elas são dirigidos pelas forças combinadas do inconscien te pessoal e coletivo A tarefa de integração imposta ao ego em conse qüência dessas vicissitudes do arquétipo da mãe e do arquétipo feminino a anima é encontrar uma mu lher que se assemelhe à imago da mãe e que também preencha as necessidades de sua anima Se escolher uma mulher que difira de um ou de ambos desses modelos inconscientes ele está fadado a ter proble mas porque seus sentimentos positivos conscientes por ela serão perturbados por sentimentos negativos inconscientes Eles farão com que se sinta insatisfeito com ela e ele a culpará por várias falhas e dificulda des imaginadas sem perceber as razões reais de seu descontentamento Se a função transcendente estiver operando bem ela unirá todos os seus impulsos con traditórios e o fará escolher uma companheira com quem ele poderá ser feliz Todas as decisões importantes na vida requerem que seja dada uma devida consideração aos fatores inconscientes e também aos conscientes para que tudo dê certo Jung disse que muito desajustamento e infelicidade se devem a um desenvolvimento unilate ral da personalidade que ignora facetas importantes da natureza humana Essas facetas negligenciadas cri am perturbações na personalidade e na conduta irra cional Para Jung a personalidade é uma estrutura ex tremamente complexa Não só existem numerosos componentes o número de possíveis arquétipos e complexos por exemplo é imenso mas também as interações entre esses componentes são intrincadas e complicadas Nenhum outro teórico da personalida de apresentou uma descrição tão rica e complexa da estrutura da personalidade A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Jung imaginou a personalidade ou psique como um sistema de energia parcialmente fechado Dizemos que é incompletamente fechado porque a energia de fon tes exteriores precisa ser acrescentada ao sistema por exemplo pela alimentação A energia também é sub traída do sistema por exemplo pela realização de tra balho muscular Também é possível que estímulos ambientais produzam mudanças na distribuição de energia dentro do sistema Isso acontece por exem plo quando uma mudança súbita no mundo externo reorienta a nossa atenção e percepção O fato de que a dinâmica da personalidade está sujeita a influências e a modificações de fontes externas significa que a personalidade não pode atingir um estado de perfeita estabilização como poderia acontecer se ela fosse um sistema completamente fechado Ela só pode tornar se relativamente estabilizada Energia Psíquica A energia pela qual o trabalho da personalidade é re alizado se chama energia psíquica Jung 1948b A energia psíquica é uma manifestação da energia de vida que é a energia do organismo como um sistema biológico Ela se origina da mesma maneira que toda a energia vital a saber dos processos metabólicos do corpo O termo de Jung para a energia vital é libido mas ele também usa libido paralelamente com ener gia psíquica Jung não assumiu uma posição definida sobre a relação da energia psíquica com a energia físi ca mas ele acreditava que provavelmente existe al gum tipo de ação recíproca entre as duas A energia psíquica é um constructo hipotético ela não é uma substância ou um fenômeno concreto Con seqüentemente não pode ser medida ou sentida A energia psíquica encontra sua expressão concreta na forma de forças reais ou potenciais Desejar querer sentir prestar atenção e buscar são exemplos de for ças reais na personalidade disposições aptidões ten dências inclinações e atitudes são exemplos de forças potenciais TEORIAS DA PERSONALIDADE 97 Valores Psíquicos A quantidade de energia psíquica investida em um elemento da personalidade é chamada de valor desse elemento O valor é uma medida de intensidade Quan do falamos que atribuímos um grande valor a uma determinada idéia ou sentimento queremos dizer que a idéia ou o sentimento exerce uma considerável for ça instigadora e orientadora do comportamento Uma pessoa que valoriza a verdade gastará muita energia na busca da verdade Quem atribui um grande valor ao poder estará altamente motivado a obter poder Inversamente se algo tem um valor trivial terá pou ca energia associada O valor absoluto de uma idéia ou sentimento não pode ser determinado mas seu valor relativo pode Uma maneira simples embora não necessariamente acurada de determinar valores relativos é perguntar a uma pessoa se ela prefere uma coisa à outra A or dem de preferência pode ser tomada como uma me dida aproximada das forças relativas de seus valores Ou pode ser imaginada uma situação experimental para testar se um indivíduo se esforçará mais por um incentivo do que por outro Observar cuidadosamen te uma pessoa por um certo período de tempo para ver o que ela faz transmite um quadro bastante bom de seus valores relativos Se uma pessoa passa mais tempo lendo do que jogando cartas podemos supor que a leitura é mais valorizada do que o jogo de car tas O Poder Constelador de um Complexo Tais observações e testes por mais úteis que possam ser para a determinação de valores conscientes não lançam muita luz sobre os valores inconscientes Eles precisam ser determinados por uma avaliação do po der constelador do elemento nuclear de um comple xo O poder constelador de um complexo consiste no número de grupos de itens que são trazidos para as sociação pelo elemento nuclear do complexo Assim se alguém tem um forte complexo patriótico isso sig nifica que o núcleo amor pelo seu país vai produzir constelações de experiências em torno disso Uma dessas constelações pode consistir em eventos impor tantes na história da nação enquanto outro pode ser um sentimento positivo em relação aos líderes e he róis nacionais Uma pessoa muito patriótica estará predisposta a associar qualquer experiência nova a uma das constelações associadas ao patriotismo Jung discute três métodos para avaliar o poder constelador de um elemento nuclear 1 a observa ção direta mais deduções analíticas 2 os indicado res de complexo e 3 a intensidade da expressão emo cional Por meio de observação e de inferência podemos chegar a uma estimativa do número de associações vinculadas a um elemento nuclear Um homem com um forte complexo materno tenderá a introduzir sua mãe ou algo associado à mãe em suas conversas seja isso apropriado ou não Ele preferirá histórias e fil mes em que as mães desempenham um papel impor tante e valorizará o Dia das Mães e outras ocasiões em que pode homenageála Tenderá a imitar a mãe adotando suas preferências e interesses e sentirseá atraído por suas amigas E terá preferência por mu lheres mais velhas a mulheres de sua idade Um complexo nem sempre se manifesta publica mente Ele pode aparecer em sonhos ou de alguma forma obscura de modo que será necessário empre gar evidências circunstanciais para descobrir o signi ficado subjacente da experiência É isso o que quere mos dizer com dedução analítica Um indicador de complexo é qualquer perturba ção de comportamento indicando a presença de um complexo Pode ser um lapso da fala por exemplo quando um homem diz mãe quando queria dizer esposa Pode ser um bloqueio de memória incomum como acontece quando alguém não consegue lembrar o nome de um amigo porque o nome se parece muito com o de sua mãe ou com algo associado a ela Os indicadores de complexo também aparecem no teste de associação de palavras Jung descobriu a existência dos complexos em 1903 por meio de experimentos com o teste de asso ciação de palavras Jung 1973a Esse teste agora amplamente empregado na avaliação da personalida de consiste em uma listapadrão de palavras que são lidas uma de cada vez para a pessoa que está sendo testada O sujeito é instruído a responder com a pri meira palavra que lhe vier à mente Se a pessoa levar um tempo incomumente longo para responder a uma palavra específica isso indica que ela está associada de alguma maneira a um complexo A repetição da palavraestímulo e a incapacidade de responder a ela também são indicadores de complexos 98 HALL LINDZEY CAMPBELL A intensidade da reação emocional de alguém a uma situação também é uma outra medida da força de um complexo Se o coração bater mais rápido a respiração se tornar mais profunda e o sangue sumir da face essas são ótimas indicações de um forte com plexo envolvido Ao combinar medidas fisiológicas como pulsação respiração e mudanças elétricas na condutividade da pele com o teste de associação de palavras é possível determinar de maneira bastante precisa a força dos complexos de uma pessoa O Princípio da Equivalência Jung baseou sua visão da psicodinâmica em dois prin cípios fundamentais o princípio da equivalência e o da entropia Jung 1948b O princípio da equivalên cia afirma que se for gasta energia para provocar uma determinada condição a quantidade gasta aparecerá em outro lugar do sistema Os alunos de física reco nhecerão esse princípio como a primeira lei da termo dinâmica ou o princípio da conservação da energia Conforme aplicado ao funcionamento psíquico por Jung o princípio afirma que se um valor específico se enfraquecer ou desaparecer a soma de energia re presentada pelo valor não será perdida mas reapare cerá em um novo valor O rebaixamento de um valor inevitavelmente significa a elevação de outro Por exemplo à medida que diminui a valorização que uma criança atribui à família seu interesse por outras pes soas e coisas aumentará Uma pessoa que perde o in teresse por um passatempo normalmente descobre que um outro assumiu o seu lugar Se um valor for repri mido sua energia pode ser usada para criar sonhos ou fantasias É possível evidentemente que a ener gia perdida de um valor seja distribuída entre vários outros valores Em termos do funcionamento da personalidade total o princípio da equivalência afirma que se for removida energia de um sistema por exemplo do ego ela vai aparecer em algum outro sistema talvez na persona Ou se cada vez mais valores se expressarem no lado sombra da personalidade ele se fortalecerá à custa de outras estruturas da personalidade Da mes ma forma a desenergização do ego consciente é acom panhada pela energização do inconsciente A energia está continuamente fluindo de um sistema da perso nalidade para outro Essas redistribuições de energia constituem a dinâmica da personalidade Sem dúvida o princípio da conservação da ener gia não se aplica de uma maneira estrita a um sistema como a psique que é apenas parcialmente fechado A energia é acrescentada ou subtraída da psique e o ritmo em que é acrescentada ou subtraída varia con sideravelmente Em conseqüência a elevação ou que da de um valor pode deverse não apenas a uma trans ferência de energia de uma parte do sistema para outra mas pode depender também da adição de ener gia de fontes externas à psique ou da subtração de energia quando é realizado um trabalho muscular Ficamos física e mentalmente revigorados depois de comer uma refeição ou descansar e ficamos física e mentalmente cansados depois de um período de exer cício ou trabalho São essas trocas de energia entre a psique e o organismo ou o mundo externo assim como a redistribuição de energia dentro da psique que tan to interessavam a Jung e a todos os psicólogos dinâ micos O Princípio da Entropia O princípio da entropia ou a segunda lei da termodi nâmica estabeleceu que quando dois corpos de dife rentes temperaturas são colocados em contato o ca lor vai passar do corpo mais quente para o corpo mais frio Como um outro exemplo a água flui de um nível mais alto para um nível mais baixo quando existe um canal A operação do princípio da entropia resulta em um equilíbrio de forças O objeto mais quente perde energia térmica para o mais frio até os dois objetos atingirem a mesma temperatura Nesse ponto a troca de energia pára e dizemos que os dois objetos estão em equilíbrio térmico O princípio da entropia conforme adaptado por Jung para descrever a dinâmica da personalidade afir ma que a distribuição de energia na psique busca um equilíbrio Assim tomando o exemplo mais simples se dois valores intensidades de energia tiverem for ças desiguais a energia tenderá a passar do valor mais forte para o mais fraco até ser atingido um equilíbrio Entretanto uma vez que a psique não é um sistema fechado pode ser acrescentada ou subtraída energia de qualquer um dos valores opostos o que perturba o equilíbrio Embora um equilíbrio permanente de for ças na personalidade jamais possa ser atingido esse é o estado ideal almejado pela distribuição da energia Tal estado ideal em que a energia total está regular TEORIAS DA PERSONALIDADE 99 mente distribuída em todos os sistemas totalmente desenvolvidos é o self Quando Jung afirmou que a autorealização é a meta do desenvolvimento psíqui co ele quis dizer entre outras coisas que a dinâmica da personalidade busca um perfeito equilíbrio de for ças O fluxo de energia dirigido de um centro de alto potencial para um de baixo potencial é um princípio fundamental que governa a distribuição de energia entre os sistemas da personalidade A operação desse princípio significa que um sistema fraco tenta melho rar seu status à custa de um sistema forte Esse pro cesso cria tensão na personalidade Se o ego consci ente por exemplo é supervalorizado em relação ao inconsciente muita tensão será gerada na personali dade pela tentativa por parte da energia de passar do sistema consciente para o inconsciente Da mesma for ma a energia da atitude superior quer seja extrover são quer seja introversão tende a moverse na dire ção da atitude inferior Um extrovertido superde senvolvido sofre pressão para desenvolver a parte in trovertida de sua natureza É uma regra geral na psi cologia junguiana que qualquer desenvolvimento uni lateral da personalidade cria conflito pressão e tensão e que um desenvolvimento equilibrado de todos os constituintes da personalidade produz harmonia re laxamento e contentamento A produção de energia requer diferenças de po tencial entre os vários componentes de um sistema Em conseqüência nenhuma energia seria produzida em um estado de perfeito equilíbrio Um sistema per de a força e pára quando todas as suas partes estão em perfeito equilíbrio ou perfeita entropia Portanto é impossível que um organismo vivo atinja uma en tropia perfeita Essa situação representa uma ironia fascinante Assim como o instinto de morte de Freud se referia ao desejo da pessoa de retornar a um esta do inorgânico a meta de Jung de movimento rumo à condição de ser si mesmo implica avançar para uma parada final da personalidade O Uso da Energia A energia psíquica total disponível para a personali dade é usada para dois propósitos gerais Parte dela é gasta na realização do trabalho necessário para a manutenção da vida e a propagação da espécie Essas são as funções inatas instintivas conforme exempli ficado pela fome e pelo sexo Elas operam segundo leis biológicas naturais Qualquer energia que excede a necessária para os instintos pode ser empregada em atividades culturais e espirituais De acordo com Jung tais atividades constituem os propósitos mais eleva dos da vida À medida que a pessoa se torna mais eficiente em satisfazer suas necessidades biológicas sobra mais energia para a busca de interesses cultu rais Além disso conforme o corpo que envelhece faz menos demandas de energia mais energia fica dispo nível para atividades psíquicas O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE O aspecto mais relevante da teoria de Jung da personalidade fora o conceito do inconsciente coleti vo com seus arquétipos é a sua ênfase no caráter pro gressista do desenvolvimento da personalidade Jung acreditava que os humanos estão constantemente pro gredindo ou tentando progredir de um estágio de de senvolvimento menos completo para um mais com pleto Ele também acreditava que a humanidade como espécie está constantemente desenvolvendo formas mais diferenciadas de existência Qual é a meta do desenvolvimento Que objetivo os seres humanos e a humanidade buscam A supre ma meta desenvolvimental buscada pelas pessoas é resumida pelo termo autorealização Autorealização significa a diferenciação e a fusão harmoniosa mais plenas e completas de todos os aspectos de uma per sonalidade humana total Isso significa que a psique desenvolveu um novo centro o self que ocupa o espaço do antigo centro o ego Toda a evolução con forme se manifesta no desenvolvimento psíquico des de os primeiros organismos primitivos até o apareci mento dos humanos é uma marcha de progresso O progresso não parou com a criação dos humanos as sim como os humanos representam um avanço em relação a todas as outras espécies de animais os hu manos civilizados também representam uma melhora em relação aos humanos primitivos Até os humanos civilizados ainda têm muito pela frente antes de atin gir o fim da jornada evolutiva Era o futuro dos huma 100 HALL LINDZEY CAMPBELL nos o que Jung achava tão interessante e desafiador e sobre isso ele teve muito a dizer em seus extensivos textos Causalidade Versus Teleologia A idéia de uma meta que orienta e dirige o destino humano é essencialmente uma explicação teleológica ou finalista O ponto de vista teleológico explica o presente em termos do futuro De acordo com esse ponto de vista a personalidade humana é compreen dida em termos de para onde está indo e não de onde esteve Por outro lado o presente pode ser explicado pelo passado Esse é o ponto de vista da causalidade que afirma que os eventos presentes são as conse qüências ou os efeitos de condições ou causas antece dentes Nós examinamos o passado da pessoa para explicar seu comportamento presente Jung afirmava que ambos os pontos de vista são necessários na psicologia se quisermos buscar um en tendimento completo da personalidade O presente é determinado não só pelo passado causalidade mas também pelo futuro teleologia Em sua busca de entendimento os psicólogos precisam ter as duas fa ces do deus Jano Com uma eles podem olhar para o passado da pessoa com a outra eles podem olhar para o seu futuro As duas visões quando combinadas transmitem um quadro completo da pessoa Jung admitia que a causalidade e a teleologia são meramente modos arbitrários de pensamento empre gados pelo cientista para ordenar e compreender fe nômenos naturais A causalidade e a teleologia não são em si mesmas encontradas na natureza Ele sali entou que uma atitude puramente causal tende a pro duzir resignação e desespero nos humanos uma vez que do ponto de vista da causalidade eles são prisio neiros de seu passado Eles não podem desfazer o que já foi feito A atitude finalista por outro lado dá aos humanos um sentimento de esperança e algo pelo que viver cf Frankl 1959 que endossou a frase de Niet zsche Quem tem um porquê pelo qual viver pode suportar quase qualquer como Sincronicidade Tardiamente em sua vida Jung 1952a propôs um princípio que não era nem causalidade e nem teleolo gia Ele o chamou de princípio da sincronicidade Esse princípio se aplica a eventos que ocorrem juntos no tempo mas não são a causa um do outro por exem plo quando um pensamento corresponde a um even to objetivo Quase todo mundo já experienciou essas coincidências Estamos pensando em uma pessoa e a pessoa aparece ou sonhamos com a doença ou a morte de um amigo ou parente e mais tarde ficamos saben do que o evento ocorreu no exato momento do so nho Jung indicou a vasta literatura sobre telepatia mental clarividência e outros tipos de fenômenos paranormais como evidência do princípio da sincro nicidade Ele acreditava que muitas dessas experiên cias não podem ser explicadas como coincidências casuais em vez disso elas sugerem a existência de um outro tipo de ordem no universo além da descrita pela causalidade Os fenômenos sincrônicos são atri buídos à natureza dos arquétipos Um arquétipo tem um caráter psicóide isto é ele é tanto psicológico quan to físico Conseqüentemente um arquétipo pode tra zer à consciência uma imagem mental de um evento físico mesmo que não exista nenhuma percepção di reta dele O arquétipo não causa ambos os eventos ele possui uma qualidade que permite que ocorra a sincronicidade O princípio da sincronicidade parece ser uma evolução em relação à idéia de que um pen samento causa a materialização da coisa pensada Existe um ótimo ensaio sobre sincronicidade em From the life and work of C G Jung 1971 de Aneila Jaffé Ver também Progoff 1973 Hereditariedade A hereditariedade tem um papel importante na psico logia junguiana Em primeiro lugar ela é responsável pelos instintos biológicos que buscam a autopreserva ção e a reprodução Os instintos constituem o lado animal da natureza humana Eles são os vínculos com um passado animal Um instinto é um impulso inter no para agir de uma certa maneira quando surge uma determinada condição tissular A fome por exemplo evoca atividades de busca e ingestão de alimento As idéias de Jung sobre os instintos não são diferentes das defendidas pela biologia moderna Jung 1929 1948c Entretanto Jung desviouse bastante da posição da biologia moderna quando afirmou que existe além de uma herança de instintos biológicos uma herança de experiências ancestrais Essas experiências ou TEORIAS DA PERSONALIDADE 101 falando com maior exatidão a potencialidade de se ter a mesma ordem de experiências de nossos ances trais são herdadas na forma de arquétipos Como vi mos um arquétipo é uma memória racial que se tor nou parte da hereditariedade humana ao se repetir freqüente e universalmente ao longo de muitas gera ções Ao aceitar a noção de herança cultural Jung aliouse à doutrina de Lamarck dos caracteres adqui ridos uma doutrina cuja validade foi questionada pela maioria dos geneticistas contemporâneos Entretan to conforme Hall e Nordby 1973 apontam os ar quétipos não requerem explicação em termos do pro cesso lamarckiano de herdar características adquiridas Por exemplo os primeiros humanos que devido a uma mutação genética possuíam uma predisposição para ter medo de cobras ou do escuro provavelmente tive ram uma vantagem de sobrevivência Isso por sua vez pode ter proporcionado uma vantagem reprodu tiva e levado finalmente a uma característica da espé cie De maneira semelhante outros conteúdos do in consciente coletivo poderiam terse desenvolvido por meio do processo de seleção natural Estágios de Desenvolvimento Jung não especificou detalhadamente como fez Freud os estágios pelos quais a personalidade passa desde o período de bebê até a idade adulta Mas ele descre veu quatro estágios gerais de desenvolvimento Não apresentaremos o último estágio a Velhice porque Jung o considerava um período relativamente pouco importante em que as pessoas idosas gradualmente mergulham no inconsciente Infância A vida da criança é determinada por atividades ins tintuais necessárias à sobrevivência O comportamento durante a infância também é governado pelas exigên cias parentais Os problemas emocionais experiencia dos pelas crianças pequenas geralmente refletem in fluências perturbadoras em casa 1928 p 54 Em um nítido contraste com Freud Jung não enfatizou o poder determinante da infância para o comportamento subseqüente Idade Adulta Jovem A puberdade serve como o nascimento psíquico da personalidade Não só emerge a sexualidade mas tam bém a criança se diferencia dos pais O adolescente precisa aprender a enfrentar o mundo e a prepararse para a vida A extroversão é a atitude primária e a consciência domina a vida mental à medida que o jo vem se dedica às tarefas de encontrar um companhei ro e uma vocação cf discussão no Capítulo 4 das três tarefas de vida de Adler mais a discussão no Capítulo 5 das crises básicas de Erikson de identidade vs con fusão de papéis e intimidade vs isolamento O ado lescente precisa lidar com questões de sexualidade assim como de poder ou insegurança MeiaIdade Pelo final da casa dos 30 a maioria das pessoas já lidou com as questões da idade adulta jovem tendo casado e estabelecidose em uma profissão Nesse pon to surge uma preocupação bem diferente a necessi dade de significado As pessoas precisam encontrar um propósito em sua vida e uma razão para a sua existência Na terminologia de Jung elas passam de uma atitude extrovertida para uma introvertida e começam a buscar a autorealização Esse é o momento da crise da meiaidade Os interesses e as atividades juvenis perdem seu valor e são substituídos por novos interesses mais culturais e menos biológicos A pes soa de meiaidade tornase mais introvertida e menos impulsiva A sabedoria e a sagacidade tomam o lugar do vigor físico e mental Os valores da pessoa são su blimados em símbolos sociais religiosos cívicos e fi losóficos Ela se torna mais espiritual Tal transição é o evento mais decisivo na vida de uma pessoa Também é um dos mais perigosos por que se alguma coisa dá errado durante a transferên cia de energia a personalidade podese tornar per manentemente perturbada Isso acontece por exemplo quando os valores culturais e espirituais da meiaidade não utilizam toda a energia anteriormen te investida em metas instintuais Nesse caso a ener gia em excesso está livre para perturbar o equilíbrio da psique 102 HALL LINDZEY CAMPBELL Jung teve muito sucesso tratando pessoas de meiaidade cujas energias não encontravam saídas sa tisfatórias Jung 1931a Em parte isso talvez se deva ao fato de Jung ter passado por um período ocioso de 1913 a 1917 os anos cercando seu 40º aniversá rio Esse foi o período que se seguiu ao seu afasta mento de Freud Pelo relato do próprio Jung nesses anos ele se afastou do ensino universitário e imergiu em seu inconsciente pessoal e coletivo Alguns estudi osos p ex Jaffé 1971 van der Post 1975 sugeri ram que esse período tempestuoso foi uma viagem autocontrolada de exploração cf autoanálise de Freud Outros p ex Ellenberger 1970 Stern 1976 argumentaram que Jung não tinha controle completo durante esse período estando à beira de um surto psicótico Seja qual for a verdade é certo que Jung emergiu desse período com idéias convincentes sobre a natureza e o funcionamento do inconsciente A necessidade de significado era um conceito im portante para Jung e oferece mais um contraste com Freud Freud 1927 argumentara que a crença em Deus era uma ilusão isto é uma crença estimulada pela realização do desejo com um protótipo infantil e a função defensiva de tornar tolerável a nossa im potência Jung tinha uma posição bem diferente baseada na utilidade e não na prova Jung escreveu Uma vez que não podemos descobrir o trono de Deus no céu com um radiotelescópio as pesso as supõem que essas idéias não são verdade O homem moderno pode afirmar que não precisa delas e reforçar sua opinião insistindo que não existe nenhuma evidência científica de sua ver dade Mas por que deveríamos nos preocupar com evidências Mesmo que não soubéssemos as razões da nossa necessidade de sal na comida nós não obstante nos beneficiaríamos de seu uso Por que então devemos privarnos de idéias que seriam úteis nas crises e dariam significado à nos sa existência O homem positivamente pre cisa de idéias e convicções gerais que dêem senti do à sua vida e que lhe permitam encontrar um lugar para si mesmo no universo 1964 p 87 88 Progressão e Regressão O desenvolvimento pode ter um movimento progres sivo para a frente ou regressivo para trás Por pro gressão Jung queria dizer que o ego consciente está se ajustando satisfatoriamente tanto às exigências do ambiente externo quanto às necessidades do incons ciente Na progressão normal forças opostas se unem em um fluxo coordenado e harmonioso de processos psíquicos Quando o movimento para a frente é interrompi do por alguma circunstância frustrante isso impede a libido de ser investida em valores extrovertidos ou orientados para o ambiente Em conseqüência a libi do faz uma regressão para o inconsciente e investese de valores introvertidos Isto é valores objetivos do ego são transformados em valores subjetivos A re gressão é a antítese da progressão Entretanto Jung acreditava que um deslocamen to regressivo de energia não tem necessariamente um efeito permanentemente mau sobre o ajustamento De fato isso pode ajudar o ego a encontrar um caminho para desviarse do obstáculo e avançar novamente Isso é possível porque o inconsciente tanto o pessoal quanto o coletivo contém o conhecimento e a sabe doria do passado individual e racial que foram repri midos ou ignorados Ao regredir o ego pode desco brir conhecimentos úteis no inconsciente que permitirão à pessoa superar a frustração Os huma nos devem prestar especial atenção aos seus sonhos pois eles são revelações de material inconsciente Na psicologia junguiana o sonho é visto como um poste sinalizador que aponta o caminho para o desenvolvi mento de recursos potenciais A interação da progressão e da regressão no de senvolvimento pode ser exemplificada pelo seguinte exemplo esquemático Um jovem que se desvencilha ra da dependência em relação aos pais encontra uma barreira intransponível Ele procura os pais para con selhos e encorajamento Ele na verdade não vai vol tar para os pais em um sentido físico mas sua libido vai regredir para o inconsciente e reativar as imagos parentais lá localizadas Essas imagos parentais po dem então proporcionarlhe o conhecimento e o en corajamento necessários para superar a frustração TEORIAS DA PERSONALIDADE 103 O Processo de Individuação Que a personalidade tem a tendência a desenvolver se na direção de uma unidade estável é um aspecto central da psicologia de Jung O desenvolvimento é um desdobrarse da totalidade original nãodiferenci ada com que nascem os seres humanos A meta su prema desse desdobrarse é a realização da condição de ser si mesmo Para realizar tal meta é necessário que os vários sistemas da personalidade se tornem completamente diferenciados e inteiramente desenvolvidos Se algu ma parte da personalidade for negligenciada os sis temas negligenciados e menos desenvolvidos agirão como centros de resistência que tentarão capturar energia de sistemas mais desenvolvidos Se houver muitas resistências a pessoa tornarseá neurótica Isso vai acontecer quando os arquétipos não puderem se expressar por meio do ego consciente ou quando o envoltório da persona se tornar tão espesso que aba fará o resto da personalidade Um homem que não oferece uma saída satisfatória para seus impulsos fe mininos ou uma mulher que contém sua inclinações masculinas estão armando problemas porque a ani ma ou o animus nessas condições tenderão a encon trar maneiras indiretas e irracionais de se expressar Para ter uma personalidade sadia e integrada todos os sistemas precisam atingir o grau mais pleno de di ferenciação desenvolvimento e expressão O proces so por meio do qual isso é atingido chamase processo de individuação Jung 1939 1950 A Função Transcendente Quando a diversidade foi atingida por meio da opera ção do processo de individuação os sistemas diferen ciados são integrados pela função transcendente Jung 1916b Essa função tem a capacidade de unir todas as tendências opostas dos vários sistemas e de buscar a meta ideal de integralidade perfeita condição de ser si mesmo A meta da função transcendente é a reve lação da pessoa essencial e a realização de todos os seus aspectos da personalidade originalmente escon dida no idioplasma embrionário a produção e o des dobramento da integralidade original potencial Jung 1943 p 108 Outras forças na personalidade notavelmente a repressão podem se opor à operação da função transcendente No entanto apesar de toda oposição vai ocorrer a propulsão progressiva e unifi cadora do desenvolvimento A expressão inconscien te de um desejo de integralidade é encontrada em sonhos mitos e outras representações simbólicas Um desses símbolos que está sempre aparecendo em mi tos sonhos arquitetura religião e artes é o símbolo da mandala A mandala é uma palavra em sânscrito que significa círculo Jung estudou exaustivamente a mandala porque ela é o emblema perfeito da unidade e da totalidade completas nas religiões orientais e ocidentais Sublimação e Repressão A energia psíquica é deslocável Isso significa que ela pode ser transferida de um processo em um determi nado sistema para outro processo no mesmo sistema ou em um diferente Essa transferência é feita de acor do com os princípios dinâmicos básicos de equivalên cia e de entropia Se o deslocamento é governado pelo processo de individuação e pela função transcenden te é chamado de sublimação A sublimação descreve o deslocamento de energia dos processos mais primi tivos instintivos e menos diferenciados para proces sos superiores culturais espirituais e mais diferencia dos Por exemplo quando a energia é retirada da pulsão sexual e investida em valores religiosos dize mos que a energia foi sublimada Sua forma mudou no sentido de que um novo tipo de trabalho está sen do realizado nesse caso o trabalho religioso substi tui o trabalho sexual Quando a descarga de energia quer pelos canais instintuais ou sublimados é bloqueada dizemos que foi reprimida A energia reprimida não pode simples mente desaparecer ela precisa ir para algum lugar segundo o princípio da conservação da energia Con seqüentemente ela passa a residir no inconsciente Ao acrescentar energia ao material inconsciente o inconsciente pode ficar mais carregado que o ego cons ciente Se isso acontecer a energia do inconsciente tenderá a fluir para o ego segundo o princípio da entropia e perturbar os processos racionais Em ou tras palavras processos inconscientes altamente ener 104 HALL LINDZEY CAMPBELL gizados tentarão romper a repressão Se conseguirem a pessoa vaise comportar de maneira irracional e impulsiva A sublimação e a repressão são exatamente opos tas em caráter A sublimação é progressiva a repres são é regressiva A sublimação faz a psique avançar a repressão a faz retroceder A sublimação é integrati va a repressão é desintegrativa Mas já que a repres são é regressiva ela pode permitir que os indivíduos encontrem as respostas para seus problemas em seus inconscientes e assim possam avançar novamente Simbolização Um símbolo na psicologia junguiana tem duas fun ções importantes Por um lado ele representa uma tentativa de satisfazer um impulso instintual que foi frustrado por outro ele é uma corporificação de ma terial arquetípico O desenvolvimento da dança como uma forma de arte é um exemplo de uma tentativa de satisfazer simbolicamente um impulso frustrado como a pulsão sexual Uma representação simbólica de uma atividade instintual nunca pode ser inteiramente sa tisfatória todavia porque não alcança o objeto real e a descarga de toda a libido A dança não toma com pletamente o lugar de formas mais diretas de expres são sexual conseqüentemente as simbolizações mais adequadas de instintos frustrados estão sempre sen do buscadas Jung acreditava que a descoberta de sím bolos melhores isto é símbolos que descarreguem mais energia e reduzam mais a tensão permite à civi lização avançar para níveis culturais cada vez mais altos Entretanto um símbolo também desempenha o papel de uma resistência a um impulso À medida que a energia está sendo drenada por um símbolo ela não pode ser usada para descarga impulsiva Quando al guém está dançando por exemplo essa pessoa não está envolvida em uma atividade sexual direta Desse ponto de vista um símbolo é o mesmo que uma subli mação Ambos envolvem deslocamentos da libido A capacidade de um símbolo de representar li nhas futuras de desenvolvimento da personalidade especialmente na busca de integralidade desempe nha um papel altamente significativo na psicologia junguiana Essa é uma contribuição distintiva e origi nal à teoria do simbolismo Jung voltava sempre em seus textos a uma discussão do simbolismo e tornou o assunto de alguns de seus livros mais importantes A essência da teoria de Jung do simbolismo é encon trada em sua citação O símbolo não é um sinal que esconde alguma coisa que todo mundo conhece Seu significado não é esse pelo contrário ele representa uma tentativa de elucidar por meio de analogia al guma coisa que ainda pertence inteiramente ao do mínio do desconhecido ou alguma coisa que ainda está por vir a ser Jung 1916a p 287 Os símbolos são representações da psique Eles não só expressam a sabedoria racial e individualmen te adquirida armazenada pela humanidade mas tam bém podem representar níveis de desenvolvimento que estão muito além do presente status da humanidade O destino de uma pessoa e a maior evolução de sua psique são marcados pelos símbolos O conhecimento contido em um símbolo não é diretamente aprendido pelos humanos eles precisam decifrar o símbolo para descobrir sua importante mensagem Os dois aspectos de um símbolo um retrospecti vo e orientado pelos instintos o outro prospectivo e orientado pelas metas supremas da humanidade são dois lados da mesma moeda Um símbolo pode ser analisado de qualquer lado O tipo retrospectivo de análise expõe a base instintual de um símbolo o tipo prospectivo revela os anseios da humanidade por com pletude renascimento harmonia purificação e assim por diante O primeiro é um tipo de análise redutivo causal e o outro teleológico finalístico Ambos são necessários para uma completa elucidação do símbo lo Jung acreditava que o caráter prospectivo de um símbolo era negligenciado em favor da visão de que ele é unicamente um produto de impulsos frustrados A intensidade psíquica de um símbolo é sempre maior que o valor da causa que o produziu Isso quer dizer que existe tanto uma força impulsionadora quan to uma força atrativa por trás da criação de um sím bolo O impulso é dado pela energia instintual a atra ção é exercida por metas transcendentais Nenhuma delas sozinha é suficiente para criar um símbolo Conseqüentemente a intensidade psíquica de um sím bolo é o produto combinado de determinantes cau sais e finalistas e portanto é maior do que o fator causal isolado TEORIAS DA PERSONALIDADE 105 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Jung foi um estudioso e um cientista Ele descobria seus fatos em todo lugar em mitos antigos e em con tos de fada modernos na vida primitiva e na civiliza ção moderna nas religiões dos mundos oriental e oci dental na alquimia astrologia telepatia mental e clarividência nos sonhos e nas visões das pessoas nor mais na antropologia história literatura e nas artes e na pesquisa clínica e experimental Em incontáveis artigos e livros ele apresentou os dados empíricos nos quais suas teorias se baseiam Jung insistiu que esta va mais interessado em descobrir fatos do que em for mular teorias Eu não tenho nenhum sistema falo de fatos comunicação pessoal aos autores 1954 Uma vez que é completamente impossível revisar a vasta quantidade de material empírico reunido por Jung em seus numerosos textos teremos de nos re signar à apresentação de uma minúscula porção da sua pesquisa característica Estudos Experimentais de Complexos Os primeiros estudos de Jung que atraíram a atenção de psicólogos empregavam o teste de associação de palavras em conjunto com medidas fisiológicas da emoção Jung 1973a No teste de associação de pa lavras uma listapadrão de palavras é lida para o su jeito uma de cada vez e a pessoa é instruída a res ponder com a primeira palavra que lhe vier à mente O tempo gasto para responder a cada palavra é medi do por um cronômetro Nos experimentos de Jung as mudanças na respiração eram medidas por um pneu mógrafo preso ao peito do sujeito e as mudanças na condutividade elétrica da pele por um psicogalvanô metro preso à palma da mão Essas duas medidas são evidências adicionais de reações emocionais que po dem acontecer diante de palavras específicas da lista pois sabemos bem que a respiração e a resistência da pele são afetadas pela emoção Jung utilizou tais medidas para descobrir com plexos nos pacientes Uma longa demora para respon der à palavraestímulo mais mudanças respiratórias e na resistência da pele indicam que a palavra tocou em um complexo Por exemplo se a respiração de uma pessoa se torna irregular sua resistência a uma cor rente elétrica diminui devido ao suor nas palmas das mãos e a resposta à palavra mãe demora incomumen te esses fatores sugerem a presença de um complexo materno Se a reação a outras palavras relacionadas à mãe for semelhante isso confirma a existência des se complexo Outras indicações de que uma palavra estímulo fora associada a um complexo incluíam re petir ou entender mal a palavra fazer movimentos corporais dar respostas rimadas gaguejar dar res postas inventadas ou ser incapaz de responder Em muitos aspectos o teste de associação de palavras de Jung foi o primeiro exemplo de um teste clínico for mal Ele incorporava muitas das características dos atuais testes projetivos tais como um conjuntopa drão de materiaisestímulo ao qual o sujeito respon dia conforme achava adequado respostas normativas às palavras para diferentes tipos de sujeitos e um período de questionamento em que o sujeito discutia as palavrasestímulo que tinham produzido respostas incomuns Estudos de Caso Conforme observamos no capítulo precedente Freud publicou seis longos estudos de caso Em cada um deles Freud tentou caracterizar a dinâmica de uma condição patológica específica por exemplo Dora e histeria Schreber e paranóia Com exceção de alguns breves estudos de caso publicados antes de seu rom pimento com Freud Jung não escreveu qualquer es tudo de caso comparável aos de Freud Em Symbols of Transformation 1952b Jung analisou as fantasias de uma jovem mulher americana que conhecia apenas por um artigo do psicólogo suíço Theodore Flournoy Esse não é um estudo de caso assim como também não o é a análise de uma longa série de sonhos em Psychology and Alchemy 1944 ou a análise de uma série de pinturas feitas por um paciente em A Study in the Process of Individuation 1950 Nesses casos Jung usou o método comparativo empregando história mito religião e etimologia para mostrar a base arque típica dos sonhos e das fantasias Após sua ruptura com Freud o método comparativo proporcionou a Jung seus dados básicos e o principal suporte para seus conceitos O leitor talvez não consiga assimilar volumes arcanos de difícil leitura como Psychology and Alchemy 1944 Alchemical studies 19421957 Aion 1951 e Mysterium Conjunctionis 1955b O leitor encontrará todavia um exemplo facilmente digerí 106 HALL LINDZEY CAMPBELL vel da metodologia comparativa de Jung em Flying saucers a modern myth of things seen in the sky 1958 escrito por Jung no final de sua vida Estudos Comparativos de Mitologia Religião e as Ciências Ocultas Já que é difícil encontrar evidências dos arquétipos apenas em fontes contemporâneas Jung dedicou muita atenção às pesquisas em mitologia religião alquimia e astrologia Suas investigações o levaram a áreas que poucos psicólogos exploraram e ele adqui riu um vasto conhecimento de assuntos obscuros e complexos como religião hindu taoísmo yoga con fucionismo a missa cristã astrologia pesquisa psí quica mentalidade primitiva e alquimia Um dos mais impressionantes exemplos da tenta tiva de Jung de documentar a existência de arquéti pos raciais é encontrado em Psychology and Alchemy 1944 Jung acreditava que o rico simbolismo da al quimia expressa muitos se não todos os arquétipos dos humanos Em Psychology and Alchemy ele exami na uma extensa série de sonhos de um paciente de um outro terapeuta em comparação com a intricada tapeçaria do simbolismo alquímico e conclui que em ambos aparecem os mesmos aspectos básicos É um tour de force de análise simbólica que tem de ser lida em sua totalidade para ser apreciada Os poucos exem plos que apresentaremos pretendem apenas dar ao leitor uma idéia do método de Jung O material clínico consiste em mais de mil sonhos e visões de um homem jovem A interpretação de uma seleção desses sonhos e visões ocupa a primeira me tade do livro O resto do livro contém um relato aca dêmico da alquimia e sua relação com o simbolismo religioso Em um dos sonhos algumas pessoas estão cami nhando para a esquerda em torno de um quadrado O sonhador não está no centro mas em um dos lados Elas dizem que um gibão vai ser reconstruído p 119 O quadrado é um símbolo do trabalho do alquimista que consistia em separar a unidade caótica original do material fundamental em quatro elementos e em recombinálos em uma unidade superior e mais per feita A unidade perfeita é representada por um círcu lo ou mandala que aparece nesse sonho como o ca minhar em torno de um quadrado O gibão ou macaco representa a misteriosa substância transformadora da alquimia uma substância que transforma o material base em ouro Esse sonho significa portanto que o paciente precisa deslocar seu ego consciente do cen tro de sua personalidade para permitir que as pulsões primitivas reprimidas sejam transformadas O paci ente só pode alcançar a harmonia interior integrando todos os elementos de sua personalidade assim como o alquimista só podia atingir seu objetivo o que ele jamais fez pela mistura adequada de elementos bási cos Em um outro sonho um copo com uma massa gelatinosa está sobre uma mesa diante do sonhador p 168 O copo corresponde ao aparato de alquimia usado para destilação e os conteúdos à substância amorfa que o alquimista espera transformar no lapis ou pedra filosofal Os símbolos alquímicos nesse so nho indicam que o sonhador está tentando ou espe rando transformarse em algo melhor Quando o sonhador sonha com água ela repre senta o poder regenerativo da aquavitae do alquimis ta quando ele sonha em encontrar uma flor azul a flor representa o local de nascimento da filius philoso phorum a figura hermafrodita da alquimia e quan do ele sonha que está atirando moedas de ouro no chão está expressando seu desprezo pelo ideal do al quimista Quando o paciente desenha uma roda Jung vê uma conexão entre ela e a roda do alquimista que representava o processo de circulação dentro da re torta química pela qual se supunha que ocorria a trans formação do material De maneira semelhante Jung interpreta um diamante que aparece no sonho do pa ciente como o ambicionado lapis e um ovo como a caótica matériaprima com a qual o alquimista come çou a trabalhar Por toda a série de sonhos conforme Jung de monstra existem grandes paralelos entre os símbolos empregados pelo sonhador para representar seus pro blemas e suas metas e os símbolos usados pelos alqui mistas medievais para representar suas diligências O aspecto surpreendente da série de sonhos é que eles retratam de maneira mais ou menos exata os aspec tos materiais da alquimia Jung consegue apontar duplicações exatas de objetos nos sonhos e nas ilus trações encontradas em antigos textos de alquimia Ele conclui a partir disso que a dinâmica da persona lidade do alquimista medieval conforme projetada em suas investigações químicas e a dinâmica do paciente são exatamente as mesmas Essa correspondência exa ta de imagens prova a existência de arquétipos uni TEORIAS DA PERSONALIDADE 107 versais Além disso Jung que executou investigações antropológicas na África e em outras partes do mun do encontrou os mesmos arquétipos expressos nos mitos de raças primitivas Eles também se expressam na religião e na arte tanto modernas quanto primiti vas As formas que a experiência assume em cada indivíduo podem ser infinitas em suas variações mas como os símbolos alquímicos todas são variantes de certos tipos centrais e estes ocorrem universalmen te Jung 1944 p 463 Sonhos Jung como Freud prestou muita atenção aos sonhos Ele os considerava como sendo prospectivos assim como retrospectivos em conteúdo e compensatórios para aspectos da personalidade do sonhador negligen ciados na vida de vigília Por exemplo um homem que negligencia sua anima terá sonhos em que apare cem figuras de anima Jung também diferenciava os sonhos grandes em que existem muitas imagens arquetípicas dos sonhos pequenos cujos conteúdos estão mais estreitamente relacionados às preocupa ções conscientes do sonhador O Método da Amplificação Este método foi desenvolvido por Jung para ex plicar certos elementos dos sonhos considerados como possuindo um rico significado simbólico Ele contras ta com o método da associação livre Ao associar li vremente a pessoa em geral dá uma série de respos tas verbais lineares a um elemento do sonho O elemento do sonho é meramente o ponto de partida para associações subseqüentes e as associações po dem e normalmente se afastam do elemento No mé todo da amplificação o sonhador é solicitado a ficar atento ao elemento e a fazer múltiplas associações a ele As respostas dadas formam uma constelação em torno de um determinado elemento do sonho e cons tituem os significados multifacetados que ele tem para o sonhador Jung supunha que um símbolo verdadei ro é aquele que tem muitas faces e jamais é completa mente cognoscível Os analistas também podem aju dar a amplificar o elemento informando o que sabem sobre ele Eles podem consultar textos antigos mito logia contos de fadas textos religiosos etnologia e dicionários etimológicos para ampliar os significados do elemento simbólico Há muitos exemplos de am plificação na obra de Jung como o peixe 1951 e a árvore 1954c O Método da Série de Sonhos Freud podemos lembrar analisava os sonhos um de cada vez fazendo o paciente associar livremente a cada componente sucessivo do sonho Depois usando o material do sonho e as associações livres ele chegava a uma interpretação do significado do sonho Jung embora respeitando essa abordagem desenvolveu um outro método para interpretar os sonhos Em lugar de um único sonho Jung utilizava uma série de so nhos obtidos de uma pessoa Eles os sonhos formam uma série coerente no curso da qual o significado gradualmente se des dobra mais ou menos espontaneamente A série é o contexto que o próprio sonhador proporciona É como se não apenas um texto mas também vá rios estivessem diante de nós lançando luz de todos os lados sobre os termos desconhecidos de modo que uma leitura de todos os textos é sufici ente para elucidar as passagens difíceis em cada texto individual Sem dúvida a interpretação de cada passagem individual talvez seja apenas uma conjetura mas a série como um todo nos dá todas as pistas de que precisamos para corrigir quaisquer possíveis erros nas passagens preceden tes 1944 p 12 Na psicologia isso é chamado de método de consis tência interna e é amplamente empregado com mate rial qualitativo como sonhos histórias e fantasias O uso que Jung fez disso é apresentado em seu livro Psychology and Alchemy 1944 em que é analisada uma série extremamente longa de sonhos O Método da Imaginação Ativa Neste método o sujeito deve concentrar sua atenção em uma imagem onírica impressionante mas ininte ligível ou em uma imagem visual espontânea e ob servar o que acontece com a imagem As faculdades críticas devem ser suspensas e os acontecimentos ob servados e anotados com absoluta objetividade Quan do essas condições são fielmente observadas a ima gem normalmente sofre uma série de mudanças que 108 HALL LINDZEY CAMPBELL iluminam uma grande quantidade de material incons ciente O seguinte exemplo foi tirado de Essays on a Science of Mythology 1949 de Jung e Kerenyi Eu vi um pássaro branco com as asas abertas Ele pousou na figura de uma mulher vestida de azul que estava sentada como uma estátua antiga O pássaro pousou em sua mão e nela havia um grão de trigo O pássaro tomouo em seu bico e voou novamente para o céu p 229 Jung salientou que o fluxo de imagens pode ser representado por desenho pintura e modelagem Nes se exemplo a pessoa fez uma pintura para acompa nhar a descrição verbal Na pintura a mulher foi re tratada com seios grandes o que sugeriu a Jung que a visão representava uma figura materna Uma série fascinante de 24 desenhos de uma mulher durante sua análise é reproduzida em Jung 1950 As fantasias produzidas pela imaginação ativa normalmente têm uma forma melhor do que os so nhos noturnos porque são recebidas por uma consci ência vigil ao invés de adormecida PESQUISA ATUAL A teoria de Jung não estimulou muitas pesquisas em píricas em grande parte devido à dificuldade de quan tificar muitos de seus constructos Mas em duas áreas acumulouse um corpo de pesquisa digno de nota A Tipologia de Jung A intenção de Jung não era desenvolver uma tipolo gia formal para distinguir os indivíduos Ele estava mais preocupado em descrever os processos cogniti vos ou as potencialidades que todos possuem e preci sam desenvolver No entanto sua discussão das atitu des e das funções proporcionou o ímpeto para pesquisas fascinantes sobre as diferenças individuais notavelmente de Helson e Carlson Helson 1973 dedicouse à dinâmica e à estrutu ra Ela discutiu o relacionamento entre o ego e o in consciente conforme revelado por autoras de ficção caracterizadas por modos de escrever heróicos i e uma ênfase na realização assertividade e agressão in tencional e ternos i e uma ênfase nos relaciona mentos e sentimentos ternos Helson concluiu que as autoras de ficção tendem à introversão à intuição e ao sentimento e inferiu que os modos heróico e terno representam a voz das funções de intuição e de sentimento respectivamente p 510 Helson 1978 avaliou papéis necessidades e preocupações do conteúdo expressos em 79 artigos de críticos de livros infantis Uma análise de agrupamento subse qüente revelou quatro agrupamentos de críticos re presentando elucidação apreciação contestação e ma nutenção de padrões Uma classificação quádrupla dos artigos produzida por valores elevados ou baixos nos primeiros dois desses agrupamentos correspondia às quatro funções de Jung Os artigos com valor alto em elucidação e baixo em apreciação correspondiam ao pensamento junguiano enquanto os artigos com va lor baixoalto refletiam uma orientação para o senti mento Da mesma forma artigos com valor baixobaixo sugeriam sensação e artigos com valor altoalto reve lavam uma abordagem intuitiva à crítica Outros tra balhos de Helson 1982 descrevem quatro estilos de processamento da informação paralelos às quatro funções de Jung Ela apresentou uma descrição geral da influência das diferenças de tipo na crítica literá ria argumentando que os comentários dos críticos são orientados por suas funções dominantes e auxiliares Ela também estava sintonizada com a expansão da consciência que Jung disse ocorrer durante a indivi duação e usou o crítico I A Richards como um exem plo de alguém que se dedicou ao pensamento à sen sação à intuição e depois ao sentimento durante o curso de sua carreira como crítico Helson concluiu sugerindo proveitosas explorações com o roteiro da elegante teoria de Jung p 416 Carlson e Levy 1973 usaram o Indicador de Tipo MyersBriggs MBTI MyersBriggs Type Indicator ver próxima seção para classificar sujeitos segundo os tipos junguianos básicos Eles então confirmaram vá rias predições baseadas nas descrições de Jung das características desses tipos Por exemplo os tipos pen santes introvertidos eram significativamente melho res na memória a curto prazo para dígitos emocional mente neutros mas os tipos sentimentais extrovertidos eram significativamente mais acurados na memória de reconhecimento de nomes e expressões faciais afe tivamente significativas Da mesma forma tipos in TEORIAS DA PERSONALIDADE 109 tuitivos extrovertidos estavam superrepresentados entre voluntários do serviço social comparados a uma amostra equivalente de nãovoluntários Os trabalhos subseqüentes de Carlson 1980 exa minaram diferenças tipológicas na memória para ex periências pessoais significativas novamente usando o MBTI para categorizar sujeitos Em um dos estudos os sujeitos foram solicitados a descrever sua experi ência mais vívida de cada um de sete afetos Quando juízes familiarizados com a teoria tipológica foram solicitados a predizer se feitios de memória vinham de tipos pensantes introvertidos ou de tipos sentimen tais extrovertidos uma designação correta para a ca tegoria tipológica foi feita para 13 dos 15 sujeitos Além disso os extrovertidos tinham significativamente mais memórias sociais e os introvertidos mais me mórias individuais para as emoções de alegria ex citação e vergonha Igualmente os tipos sentimentais tinham significativamente mais lembranças emocio nalmente vívidas do que os tipos pensantes nessas mesmas três emoções Carlson também descobriu que os tipos intuitivos tendiam significativamente mais do que os tipos sensoriais a gerar constructos interpesso ais inferenciais em uma oposição a concretos no teste REP de George Kelly ver Capítulo 10 Da mesma forma os intuitivos faziam comentários mais partici pativos ao iniciar um relacionamento hipotético mas os tipos sensoriais ofereciam autodescrições mais con cretas Carlson concluiu que seus resultados apoia vam duas suposições básicas da teoria tipológica jun guiana o relacionarse social dos extrovertidos e a qualidade emocional do julgamento sentimental p 807 Em geral os resultados apoiaram claramente as hipóteses tiradas da teoria tipológica junguiana p 809 O Indicador de Tipo MyersBriggs Conforme observamos anteriormente Jung descreveu as atitudes e funções não como a base para uma tipo logia mas como potencialidades existentes em todas as pessoas em graus variados Essas potencialidades precisam se desenvolver no processo de avançar para a autorealização Mas o modelo realmente sugere uma tipologia e foram feitas várias tentativas de desen volver testes de lápisepapel para classificar as pes soas de acordo com essa tipologia Kersey Bates 1978 Wheelwright Wheelwright Buehler 1964 O mais influente dos testes derivados da teoria de Jung foi o Indicador de Tipo MyersBriggs MBTI Myers McCaulley 1985 Myers Myers 1980 O MBTI identifica 16 tipos baseados nas distinções de Jung entre extroversão introversão EI pensamen to sentimento TF correspondendo às palavras em inglês thinking e feeling e sensação intuição SN mais a distinção de Isabel Myers entre julgar e perce ber JP A distinção JP avalia se a orientação de um indivíduo em relação ao mundo exterior vem do par de função racional julgar ou do irracional perce ber Os extrovertidos têm uma orientação externa dominante de modo que nos extrovertidos o escore JP indica que o par da função contém a função domi nante Uma pessoa que recebe uma classificação ESTJ no MBTI por exemplo teria o pensamento T como função dominante porque essa pessoa prefere o pen samento do par de função racional e o J indica que o par de função racional ou de julgamento é dominan te Os introvertidos têm uma orientação interna do minante de modo que nos introvertidos o escore JP indica a função auxiliar Uma pessoa que recebe uma classificação ISTJ por exemplo teria a sensação S como função dominante porque essa pessoa prefere a sensação do par de função irracional e o J indica que o par de função racional ou de julgamento con tém a função auxiliar em vez da dominante Além disso a preferência JP indica uma constelação de ati tudes e de comportamentos preferidos exatamente como indicam as preferências IE TF e SN O Manu al do MBTI fornece as seguintes estimativas de fre qüência de preferências específicas nos Estados Uni dos cerca de 75 da população preferem E e S Aproximadamente 5560 preferem J Cerca de 60 dos homens preferem T e aproximadamente 65 das mulheres preferem F A Tabela 31 contém resumos de MBTI de 16 ti pos possíveis Em geral os I são caracterizados por uma profundidade de concentração e uma preferên cia pelo mundo interior das idéias os E são caracteri zados pela amplitude de interesses e sentemse mais à vontade no mundo externo das pessoas e coisas Os S baseiamse nos fatos enquanto os N conseguem entender possibilidades e relações Os T enfatizam a análise lógica e impessoal e os F são calorosos e sim páticos e baseiam seus julgamentos em valores pesso ais Finalmente os J tendem a ser organizados e os P tendem a ser adaptáveis e espontâneos 110 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 31 Os 16 Tipos Tipos Sensoriais Tipos Intuitivos ISTJ Sério quieto obtém sucesso pela concentração e meticulosidade Prático organizado objetivo lógico realista e confiável Cuida para que tudo esteja bem organizado Assume responsabilidades Decide o que deve ser feito e trabalha perseverantemente para isso independentemente de protestos ou distrações ISFJ Quieto cordial responsável e consciencioso Trabalha dedicadamente para cumprir suas obrigações Empresta estabilidade a qualquer projeto ou grupo Meticuloso esmerado acurado Seus interesses normalmente não são técnicos Capaz de ser paciente com detalhes necessários Leal respeitoso perceptivo preocupado com como as outras pessoas se sentem INFJ Obtém sucesso pela perseverança originalidade e por fazer o que for necessário ou desejado Esforçase ao máximo em seu trabalho Tranqüilamente convincente consciencioso preocupado com os outros Respeitado por seus princípios firmes Costuma ser respeitado e seguido por suas claras convicções sobre como servir melhor ao bem comum INTJ Em geral tem uma mente original e muita motivação para realizar as sua idéias e propósitos Em campos que o interessam tem grande capacidade de organizar uma tarefa e executála com ou sem ajuda Cético crítico independente determinado às vezes obstinado Precisa aprender a ceder em pontos menos importantes para ganhar nos mais importantes ISTP Observador imparcial quieto reservado observando e analisando a vida com curiosidade objetiva e inesperados lampejos de bom humor Em geral interessado em causa e efeito em como e por que as coisas mecânicas funcionam e em organizar os fatos usando princípios lógicos ISFP Discreto tranqüilamente cordial sensível bondoso modesto em relação às próprias capacidades Evita desentendimentos não impõe aos outros seus valores e opiniões Geralmente não se interessa em liderar e é um seguidor leal Não se preocupa muito em fazer logo as coisas porque usufrui do momento presente e não quer estragálo por pressa ou por esforços indevidos INFP Cheio de entusiasmos e lealdades mas raramente os menciona a não ser que conheça bem a outra pessoa Preocupase com aprendizagem idéias linguagem e projetos independentes e pessoais Tende a assumir tarefas demasiadamente e de alguma maneira consegue realizálas Amistoso mas geralmente muito absorvido no que está fazendo para ser sociável Pouca preocupação com possessões ou ambiente físico INTP Quieto e reservado Gosta especialmente de atividades teóricas e científicas Gosta de resolver problemas com lógica e análise Em geral interessase principalmente por idéias não gosta muito de festas ou de bater papo Costuma ter interesses claramente definidos Precisa de uma profissão em que exista algum interesse sólido e útil ESTP Bom em resolver problemas na hora em que surgem Não se preocupa usufrui das situações que lhe acontecem Tende a gostar de coisas mecânicas e de esportes junto com amigos Adaptável tolerante geralmente conservador em seus valores Não gosta de longas explicações É melhor no manuseio de objetos reais que podem ser trabalhados manipulados desmontados ou montados ESFP Sociável calmo tolerante amistoso gosta de tudo e torna a vida mais divertida para os outros por seu bom astral Gosta de esportes e de fazer os fatos acontecerem Percebe o que está acontecendo e participa de bom grado Acha mais fácil lembrar fatos do que dominar teorias É melhor em situações em que são necessários o senso comum e a capacidade prática tanto com pessoas quanto com situações ENFP Calorosamente entusiasta bom astral engenhoso imaginativo Capaz de fazer quase tudo que lhe interessa Rápido em solucionar qualquer dificuldade e pronto a ajudar qualquer pessoa com um problema Muitas vezes conta com sua capacidade de improvisar ao invés de com uma preparação antecipada Normalmente é capaz de encontrar razões convincentes para tudo o que deseja ENTP Rápido engenhoso bom em muitas atitudes e situações Uma companhia estimulante atento e sem papas na língua Pode defender qualquer lado de uma questão só para se divertir Capaz de resolver problemas novos e desafiadores mas pode negligenciar nas atividades rotineiras Tende a passar de um novo interesse para outro Hábil em encontrar razões lógicas para aquilo que deseja ESTJ Prático realista objetivo com uma capacidade natural para negócios ou mecânica Não se interessa por fatos e objetos para os quais não vê utilidade mas é capaz de se dedicar quando necessário Gosta de organizar e dirigir atividades Pode dar um bom administrador especialmente se lembrar de considerar os sentimentos e os pontos de vista alheios ESFJ Amistoso conservador popular consciencioso um cooperador nato um membro ativo de comitês Precisa de harmonia e pode ser bom em criála Está sempre fazendo algo de bom para alguém Trabalha melhor com encorajamento e elogios Principal interesse é por fatos que afetam direta e visivelmente a vida das pessoas ENFJ Responsivo e responsável Geralmente sente uma preocupação real por aquilo que os outros pensam ou querem e tenta lidar com as situações com a devida consideração pelos sentimentos alheios Capaz de apresentar uma proposta ou liderar uma discussão grupal com facilidade e tato Sociável popular simpático Responde a elogios e críticas ENTJ Cordial franco decidido líder em atividades Geralmente bom em tudo o que requer raciocínio e conversa inteligente como falar em público Costuma ser bem informado e gosta de aumentar seus conhecimentos Às vezes pode parecer mais positivo e confiante do que justifica sua experiência em uma determinada área Fonte Reimpressa com a permissão de Myers e McCaulley 1985 Introvertidos Introvertidos Extrovertidos Extrovertidos TEORIAS DA PERSONALIDADE 111 A teoria tipológica subjacente ao MBTI segue Jung ao acreditar que as pessoas nascem com uma predis posição para um tipo específico Como conseqüência elas tendem a desenvolver suas funções preferidas e auxiliares e a deixar de lado as funções nãopreferi das durante a primeira parte de suas vidas Na meia idade elas conseguem controlar melhor as duas ou tras funções e esses processos menos desenvolvidos podem eventualmente entrar na consciência a serviço dos processos dominantes A ênfase na pesquisa e na aplicação do MBTI todavia continua no tipo confor me medido O Manual do MBTI e as publicações relacionadas contêm muitas informações referentes à aplicação dos elementos de tipologia aos ambientes de aconselha mento educação e trabalho J G Carlson 1985 Carlyn 1977 Murray 1990 e Thompson e Borre llo 1986 apresentam evidências da fidedignidade e validade do MBTI ver também o intercâmbio entre J G Carlson 1989a 1989b e Healy 1989a 1989b Mas ainda resta a pergunta sobre se o MBTI oferece uma ponte para testes experimentais dos conceitos junguianos Um crescente número de pesquisadores tem de monstrado que as escalas do MBTI realmente são úteis nos ambientes experimentais A pesquisa de Carlson discutida anteriormente certamente se encaixa nessa categoria Hicks 1985 usou escores do MBTI em uma investigação do erro fundamental de atribuição Esse erro se refere a uma tendência cognitiva comum em observadores de concluir que os autores de ensaios literários realmente acreditam naquilo que escrevem mesmo quando os observadores sabem que os auto res foram instruídos a apoiar aquela determinada idéia Hicks predisse que os tipos intuitivos com sua capa cidade de se imaginar em situações hipotéticas e os pensantes que são ótimos em análises impessoais objetivas deveriam ser mais resistentes a esse erro fundamental de atribuição Tal predição foi apoiada pelo achado de que os tipos pensantes intuitivos en tre todos os tipos eram os que menos cometiam o erro de supor que os criadores de testes acreditavam naquilo que escreviam quando havia evidências do contrário Da mesma forma Ward e Loftus 1985 descobriram em uma tarefa de testemunho ocular que os tipos intuitivos introvertidos tinham melhor memória do que os tipos sensoriais extrovertidos quan do as perguntas do teste eram consistentes com aqui lo que os sujeitos realmente tinham testemunhado visualmente Entretanto quando uma pergunta en ganadora se referiu a um sinal de trânsito de parar que não estivera presente os tipos intuitivos intro vertidos cometeram significativamente mais erros de lembrança do que os tipos sensoriais extrovertidos Em geral os tipos introvertidos e intuitivos quer iso ladamente ou em combinação tendiam mais a acei tar tanto informações consistentes quanto enganado ras Isso levava à maior exatidão no primeiro caso e a à menor exatidão no segundo Outras pesquisas indicam que as escalas do MBTI pontuadas como variáveis contínuas em vez de tipo logias ouou têm utilidade preditiva Por exemplo Cann e Donderi 1986 descobriram que os escores de intuição correlacionavamse com a proporção de sonhos categorizados como arquetípicos r 037 e os escores de introversão correlacionavamse com a freqüência dos sonhos comuns r 039 Tomado como um todo então o MBTI é promissor como uma medida das preferências junguianas e como um estí mulo para trabalhos experimentais STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO A psicologia junguiana tem muitos admiradores e pro ponentes no mundo todo Muitos deles são psicana listas praticantes que usam o método de psicoterapia de Jung e aceitam seus postulados fundamentais em relação à personalidade Alguns são teóricos que ela boraram as idéias de Jung Entre estes estão Gerhard Adler 1948 Michael Fordham 1947 Esther Har ding 1947 Erich Neumann 1954 1955 Herbert Read 1945 Jolande Jacobi 1959 e Frances Wi ckes 1950 Jung também recebeu um grande apoio de leigos como por exemplo de Paul Mellon dos Me llons de Pittsburgh que foi presidente da Fundação Bollingen que recebeu esse nome em homenagem à residência de campo de Jung no Lago Zurique A Fundação Bollingen financia a publicação de livros junguianos por meio da Princeton University Press O projeto mais ambicioso da Fundação Bollingen até agora é a tradução e a publicação das obras comple tas de Jung em inglês sob a supervisão editorial de Read Fordham e Adler Finalmente centros de influ ência para a disseminação das idéias de Jung podem 112 HALL LINDZEY CAMPBELL ser encontrados nos Institutos Junguianos estabele cidos em várias cidades A influência de Jung fora dos campos da psiquia tria e da psicologia tem sido considerável O historia dor Arnold Toynbee reconhece que deve a Jung por ele ter aberto uma nova dimensão na esfera da vida O escritor Philip Wylie é um grande admirador de Jung assim como o autor e crítico Lewis Mumford e o antropólogo Paul Radin Hermann Hesse também admirava Jung Serrano 1966 Talvez o maior im pacto de Jung tenha sido sobre o pensamento religio so moderno Progoff 1953 Jung foi convidado a proferir as conferências Terry na Yale University so bre Psicologia e Religião 1938 Jung foi severamente criticado por apoiar o nazismo Feldman 1945 em bora ele e seus seguidores tenham negado vigorosa mente as acusações e afirmado que Jung foi malin terpretado Harms 1946 Saturday Review 1949 Jaffé 1971 Cohen 1975 Jung foi atacado por psicanalistas da escola freu diana começando pelo próprio Freud Ernest Jones 1959 opinou que depois dos grandes estudos de Jung sobre associação e demência precoce ele decaiu para uma pseudofilosofia da qual jamais emergiu p 165 Glover 1950 um psicanalista inglês talvez seja o responsável pelo ataque mais completo à psico logia analítica Ele ridicularizou o conceito de arqué tipo como metafísico e impossível de provar Ele acre ditava que os arquétipos podem ser inteiramente explicados em termos da experiência e que é absurdo postular uma herança racial Glover disse que Jung não tinha conceitos desenvolvimentais para explicar o crescimento da mente A principal crítica de Glover todavia e uma que ele reiterou várias vezes é que a psicologia de Jung seria um retrocesso a uma psicolo gia obsoleta da consciência Ele acusou Jung de des truir o conceito freudiano do inconsciente e de erigir em seu lugar um ego consciente Glover não preten deu ser imparcial e nem objetivo em sua avaliação da psicologia junguiana Para outra comparação das vi sões de Freud Jung ver Gray 1949 também Dry 1961 Selesnick 1963 argumentou que Jung du rante sua associação com Freud influenciou o pensa mento de Freud de várias maneiras significativas Que influência teve a teoria de Jung da personali dade sobre o desenvolvimento da psicologia científi ca Muito pouca pelo que podemos perceber exceto pelo teste de associação de palavras e os conceitos de introversão e extroversão O teste de associação de palavras não começou com Jung Galton normalmen te recebe os créditos pela invenção do teste que foi introduzido na psicologia experimental por Wundt Conseqüentemente quando Jung proferiu conferên cias sobre o método da associação de palavras na Clark University em 1909 ele não soou estranho para os psicólogos da audiência Além disso os estudos de Jung sobre a associação de palavras empregavam uma metodologia quantitativa experimental que estava fadada a ser bem aceita por psicólogos que se orgu lhavam de ser científicos O uso do teste de associa ção de palavras é discutido em vários exames da psi cologia clínica e das técnicas projetivas Bell 1948 Levy 1952 Rotter 1951 Anastasi 1988 Mais difícil é explicar o interesse da psicologia pela tipologia de Jung Foram criados vários testes de in troversão extroversão e existe muita literatura psi cológica sobre o assunto Eysenck ver Capítulo 9 identificou a introversão extroversão como uma das três dimensões primárias da personalidade as outras duas sendo o neuroticismo e o psicoticismo Outros es tudos da tipologia de Jung foram realizados por Gor low Simonson e Krauss 1966 e Ball 1967 Como discutimos previamente os testes que avaliam as qua tro funções psicológicas de pensamento sentimento sensação e intuição juntamente com as atitudes de introversão e extroversão foram construídos por Gray e Wheelwright 1964 e Myers e Briggs 1962 A psicologia analítica não foi alvo da crítica mi nuciosa sofrida pela psicanálise freudiana por parte dos psicólogos Nem ela encontrou um lugar substan cial nas históriaspadrão da psicologia Boring em seu History of Experimental Psychology dedicou seis pági nas a Freud e quatro linhas a Jung Peters em sua revisão e condensação do History of Psychology de Brett após uma discussão bastante completa de Freud dedicou uma página a Adler e uma a Jung Ele consi dera o trabalho final de Jung tão misterioso que é quase impossível discutilo Embora existam algumas exceções Watson Evans 1991 dedicam 20 pági nas a Jung o retrato mais típico continua sendo o de Leahey 1992 que tem um capítulo inteiro sobre Freud mas menciona Jung apenas de passagem TEORIAS DA PERSONALIDADE 113 Por que a psicologia ignorou a psicologia analíti ca de Jung quando o mundo em geral o respeita e homenageia tanto Uma razão importante é que a psicologia de Jung baseiase em achados clínicos e em fontes históricas e míticas em vez de em investiga ções experimentais Ela não atraiu o experimentalista inflexível mais do que o freudianismo De fato Jung tem tido muito menos apelo do que Freud porque em seus textos existem tantas discussões sobre ocul tismo misticismo e religião que os psicólogos apa rentemente se sentem repelidos Essa crítica enfure ceu Jung Ele insistiu que seu interesse pelas ciências ocultas da alquimia e astrologia e pela religião não implica em qualquer sentido uma aceitação dessas crenças Elas são estudadas e aparecem em seus tex tos porque contêm evidências para a sua teoria Não cabe a Jung dizer se Deus existe ou não que a maio ria das pessoas acredita em Deus é tão verdadeiro quanto o fato de que a água corre morro abaixo Deus é um fato psíquico e nãofísico óbvio isto é um fato que pode ser estabelecido psiquicamente mas não fi sicamente 1952c p 464 Além disso ele aceita idéias fora de moda como características adquiridas e teleologia Seu estilo de apresentação de idéias já foi considerado desconcertante obscuro confuso e de sorganizado por muitos psicólogos Sugestões sobre como ler Jung são encontradas em A Primer of Jungi an Psychology de Hall e Nordby 1973 Como conse qüência as teorias de Jung parecem ter estimulado muito pouco interesse entre os psicólogos e ainda menos na pesquisa O fato de Jung ser considerado um psicanalista também contribuiu para que a psico logia negligenciasse seu sistema Quando pensamos na psicanálise geralmente pensamos em Freud e ape nas secundariamente em Jung e Adler A estatura olím pica de Freud na psicanálise desvia a atenção de ou tros astros no campo Embora Jung não tenha tido muita influência di reta sobre a psicologia talvez certos progressos na psicologia devam mais a Jung do que imaginamos As influências indiretas são difíceis de avaliar porque as idéias que passam a circular podem ser devidas à in fluência de uma única pessoa ou podem surgir mais ou menos espontaneamente nas mentes de algumas pessoas aproximadamente no mesmo momento de vido ao clima intelectual predominante Não pode mos negar que muitas das idéias de Jung estão circu lando atualmente quer ele seja responsável ou não Tomemos por exemplo a concepção de autorealiza ção Este ou conceitos semelhantes são encontrados nos textos de Goldstein Rogers Allport e Maslow para nomear apenas aqueles psicólogos cujas idéias são apresentadas neste livro Em lugar nenhum vemos Jung recebendo o crédito por ter desenvolvido o con ceito Isso em si mesmo não significa que Jung não teve nenhuma influência quer direta quer indireta mente sobre esses homens Eles podem ter tomado o conceito emprestado de Jung inconscientemente ou de outros que foram influenciados por Jung Ou con sideremos a idéia de desenvolvimento como progre dir de um estado global para um estado diferenciado e para um estado integrado que encontramos em Jung e em Murphy 1947 Será que Jung influenciou Mur phy o oposto é impossível porque as idéias de Jung foram enunciadas antes das de Murphy ou será que Jung influenciou alguém mais que influenciou Mur phy ou será que não existe nenhuma conexão entre os dois homens além do fato de serem figuras con temporâneas que viveram na civilização ocidental Não existe nenhuma evidência de uma coisa ou de outra Será que o otimismo que caracteriza muitas idéias recentes por exemplo as de Rogers e Allport é um reflexo do otimismo de Jung ou um reflexo da época Será que a ênfase de Jung no comportamento orientado para um objetivo montou o cenário para outras teorias intencionais ou será que o propósito como um conceito teórico está atualmente na moda por ter sido o século XIX tão mecanicista Essas são perguntas difíceis de responder Para se tornar mais aceitável para os psicólogos cientificamente orientados a psicologia junguiana precisa que as hipóteses derivadas da teoria sejam testadas experimentalmente Nós temos em mente não o tipo clínico de estudo Adler 1949 Fordham 1949 Hawkey 1947 Kirsch 1949 ou estudos tipológicos p ex Eysenck Gray Wheelwright e Myers Bri ggs mas uma abordagem mais experimental como a encontrada no trabalho de Bash 1952 Melhado 1964 Meier 1965 e Dallett 1973 Quando tive rem sido feitos mais estudos desse tipo o status das teorias de Jung entre os psicólogos provavelmente vai melhorar porque eles preferem teorias que geram hi 114 HALL LINDZEY CAMPBELL póteses testáveis e que instigam pesquisas É preciso muita engenhosidade para formular proposições em píricas a partir da complexidade da teoria junguiana Considerando tudo a teoria de Jung da persona lidade conforme desenvolvida em seus prolíficos tex tos e conforme aplicada a uma ampla variedade de fenômenos humanos é uma realização notável A ori ginalidade e a audácia do pensamento de Jung têm poucos paralelos na história científica recente e ne nhuma outra pessoa fora Freud abriu mais janelas conceituais para o que Jung chamaria de a alma do homem TEORIAS DA PERSONALIDADE 115 CAPÍTULO 4 Teorias Psicológicas Sociais Adler Fromm Horney e Sullivan INTRODUÇÃO E CONTEXTO 116 A L F R E D A D L E R 117 FINALISMO FICCIONAL 120 BUSCA DE SUPERIORIDADE 121 SENTIMENTOS DE INFERIORIDADE E COMPENSAÇÃO 121 INTERESSE SOCIAL 122 ESTILO DE VIDA 123 O SELF CRIATIVO 125 NEUROSE 125 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 126 Ordem de Nascimento e Personalidade 126 Memórias Iniciais 126 Experiências da Infância 127 PESQUISA ATUAL 127 Interesse Social 127 E R I C H F R O M M 128 K A R E N H O R N E Y 133 HORNEY E FREUD 133 ANSIEDADE BÁSICA 135 AS NECESSIDADES NEURÓTICAS 136 TRÊS SOLUÇÕES 137 ALIENAÇÃO 137 H A R R Y S T A C K S U L L I V A N 138 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 140 Dinamismos 141 Personificações 142 Processos Cognitivos 143 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 143 Tensão 143 Transformações de Energia 144 116 HALL LINDZEY CAMPBELL O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 144 Estágios de Desenvolvimento 145 Determinantes do Desenvolvimento 146 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 147 A Entrevista 147 Pesquisa sobre a Esquizofrenia 148 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 149 INTRODUÇÃO E CONTEXTO As teorias psicanalíticas da personalidade formuladas por Freud e Jung foram nutridas pelo mesmo clima positivista que moldou o curso da física e da biologia do século XIX O indivíduo era visto principalmente como um sistema complexo de energia que se manti nha por meio de transações com o mundo externo Os propósitos finais dessas transações eram a sobrevivên cia individual a propagação da espécie e o contínuo desenvolvimento evolutivo Os vários processos psi cológicos que constituem a personalidade atendem a esses fins Segundo a doutrina evolutiva algumas personalidades estão mais bem preparadas do que outras para realizar essas tarefas Conseqüentemen te o conceito de variação e a distinção entre ajusta mento e desajustamento condicionaram o pensamen to dos primeiros psicanalistas Até a psicologia acadêmica entrou na órbita do darwinismo e preocu pouse com a mensuração das diferenças individuais nas capacidades e com o valor adaptativo ou funcio nal dos processos psicológicos Ao mesmo tempo outras tendências intelectuais que discordavam de uma concepção puramente biofí sica do ser humano estavam começando a tomar for ma Durante os últimos anos do século XIX a sociolo gia e a antropologia começaram a emergir como disciplinas independentes e seu rápido crescimento durante o presente século foi fenomenal Enquanto os sociólogos estudavam os seres humanos vivendo em um estado de civilização avançada e considera ramnos como produtos de classe e casta instituições e cultura popular os antropólogos se aventuraram em áreas remotas do mundo onde encontraram evidên cias de que os seres humanos são quase infinitamente maleáveis De acordo com essas novas ciências soci ais o indivíduo é principalmente um produto da soci edade em que vive A personalidade é moldada mais por circunstâncias sociais do que por fatores biológi cos Gradualmente essas doutrinas sociais e culturais incipientes começaram a penetrar na psicologia e na psicanálise e a erodir as fundações nativistas e fisica listas das ciências Vários seguidores de Freud que estavam insatisfeitos com o que consideravam como a sua miopia em relação aos condicionantes sociais da personalidade abandonaram sua fidelidade à psi canálise clássica e começaram a reformular a teoria psicanalítica de acordo com linhas ditadas pela nova orientação desenvolvida pelas ciências sociais Entre aqueles que deram à teoria psicanalítica um olhar de século XX de psicologia social estão as quatro pesso as cujas idéias formam o conteúdo do presente capí tulo Alfred Adler Karen Horney Erich Fromm e Har ry Stack Sullivan Alfred Adler pode ser considerado como a figura ancestral do novo olhar psicológico social porque já em 1911 ele discordou de Freud em relação à questão da sexualidade A seguir Adler de senvolveu uma teoria em que o interesse social e a busca de superioridade eram os pilares conceituais mais substanciais O próprio Fromm reconheceu que Adler foi o primeiro psicanalista a enfatizar a nature za social fundamental dos seres humanos Mais tar de Horney e Fromm passaram a atacar a forte orien tação instintivista da psicanálise e insistiram na relevância das variáveis psicológicas sociais para a teoria da personalidade Finalmente Harry Stack Sulli van em sua teoria das relações interpessoais consoli dou a posição de uma teoria da personalidade basea da em processos sociais Embora cada uma das teorias tenha suas suposições e seus conceitos distintivos existem numerosos paralelos entre elas salientados por vários autores H L R R Ansbacher 1956 James 1947 Ruth Munroe 1955 Neste capítulo enfatizaremos Adler Horney e Sullivan baseados na clareza de seus constructos e TEORIAS DA PERSONALIDADE 117 em sua subseqüente influência no campo Dos quatro teóricos Sullivan foi o mais independente das doutri nas psicanalíticas predominantes Apesar de inicial mente ter usado a estrutura freudiana em seu traba lho posterior ele desenvolveu um sistema teórico que se desviava claramente do freudiano Sullivan foi pro fundamente influenciado pela antropologia e pela psi cologia social Tanto Horney quanto Fromm por ou tro lado permaneceram bem dentro da província da psicanálise em seu pensamento Adler embora um separatista da escola freudiana continuou mostran do durante toda a vida o impacto de sua associação inicial com Freud Horney e Fromm são habitualmen te referidos como revisionistas ou neofreudianos embora Fromm objetasse esses rótulos Nenhum de les desenvolveu uma nova teoria da personalidade eles se consideravam renovadores e reelaboradores de uma teoria antiga Sullivan foi muito mais um ino vador foi um pensador extremamente original que atraiu um grande grupo de discípulos dedicados e desenvolveu o que é às vezes chamado de uma nova escola de psiquiatria ALFRED ADLER Alfred Adler nasceu em Viena em 1870 em uma fa mília de classe média e morreu em Aberdeen Escócia em 1937 durante uma viagem como conferencista Ele obteve seu diploma de medicina em 1895 na Uni versidade de Viena Inicialmente especializouse em oftalmologia e depois após um período de prática em medicina geral tornouse psiquiatra Foi um dos mem bros fundadores da Sociedade Psicanalítica de Viena e mais tarde seu presidente Entretanto Adler logo começou a ter idéias que discordavam das de Freud e de outros na Sociedade de Viena e quando essas dife renças ficaram muito agudas ele foi convidado a apre sentar suas idéias à sociedade Isso ele fez em 1911 Em conseqüência das veementes críticas e denúncia da posição de Adler por outros membros da socieda de ele renunciou à presidência e alguns meses depois desligouse da psicanálise freudiana H L R R Ansbacher 1956 1964 Colby 1951 Jones 1955 Ele então formou seu próprio grupo que passou a ser conhecido como Psicologia Individual e atraiu seguidores no mundo todo Durante a Primeira Guer ra Mundial Adler serviu como médico no exército austríaco Depois da guerra ele se interessou pela orientação infantil e criou as primeiras clínicas de ori entação relacionadas ao sistema escolar vienense Ele também inspirou a criação de uma escola experimen tal em Viena onde foram aplicadas suas teorias de educação Furtmüller 1964 Em 1935 Adler estabeleceuse nos Estados Uni dos onde continuou sua prática como psiquiatra e trabalhou como Professor de Psicologia Médica no Long Island College of Medicine Adler foi um escri tor prolífico e um palestrante incansável Ele publi cou muitos livros e artigos durante a vida The Practi ce and Theory of Individual Psychology 1927 é provavelmente a melhor introdução à teoria de Adler da personalidade Os sumários mais curtos das idéias de Adler aparecem em Psychologies of 1930 1930 e no International Journal of Individual Psychology 1935 Heinz e Rowena Ansbacher 1956 1964 edi taram e comentaram dois volumes contendo uma ex tensa seleção dos textos de Adler Esses dois volumes são a melhor fonte de informação sobre a Psicologia Individual de Adler O volume de 1964 contém um ensaio biográfico de Carl Furtmüller Heinz Ansbacher 1977 contribui com um capítulo sobre a Psicologia Individual e Henri Ellenberger 1970b contribui com uma extensa discussão da vida e do pensamento de Adler Além disso foram publicadas quatro biografias de Adler Bottome 1939 Hoffman 1994 Orgler 1963 Sperber 1974 A história pessoal de Adler é um claro exemplo da luta para superar a inferioridade que se tornou o tema central em sua teoria Quando criança ele era frágil desajeitado sem atrativos e inicialmente um mau aluno Foi atropelado por carruagens em várias ocasiões e teve raquitismo e pneumonia Esta última doença levou um médico a dizer ao pai de Adler Seu garoto está perdido Foi esse evento segundo Adler o responsável por sua decisão de ser médico Orgler 1963 p 16 Adler reconheceu que sua capacidade de compensar todas essas deficiências serviu como um modelo para a sua teoria da personalidade Isso se reflete na declaração Aqueles que conhecem o tra balho da minha vida podem ver claramente a concor dância entre os fatos da minha infância e as idéias que expressei Bottome 1939 p 9 118 HALL LINDZEY CAMPBELL Em um nítido contraste com a suposição central de Freud de que o comportamento humano é motiva do por instintos inatos e com o principal axioma de Jung de que a conduta humana é governada por ar quétipos inatos Adler supôs que os seres humanos são motivados primariamente por impulsos sociais Os humanos segundo Adler são seres inerentemente sociais Eles se relacionam com outras pessoas envol vemse em atividades sociais cooperativas colocam o bemestar social acima do interesse egoísta e adotam um estilo de vida de orientação predominantemente social Adler não disse que os humanos se tornam so cializados meramente por estarem expostos aos pro cessos sociais O interesse social é inato mas os tipos específicos de relacionamentos com pessoas e insti tuições sociais que se desenvolvem são determinados pela natureza da sociedade em que a pessoa nasce Em um certo sentido então Adler é tão biológico em seu ponto de vista quanto Freud e Jung Os três su põem que a pessoa tem uma natureza inerente que dá forma à sua personalidade Freud enfatizou o sexo Jung enfatizou padrões primordiais de pensamento e Adler enfatizou o interesse social Esta ênfase nos de terminantes sociais do comportamento ignorada ou minimizada por Freud e Jung é provavelmente a maior contribuição de Adler à teoria psicológica Ela chamou a atenção dos psicólogos para a importância das variáveis sociais e ajudou a desenvolver o campo da psicologia social em uma época em que a psicolo gia precisava de encorajamento e apoio especialmente das fileiras da psicanálise Por mais que enfatizássemos a distinção entre Adler e Freud não estaríamos exagerando Adler es creveu que a diferença básica decisiva entre a psica nálise e a Psicologia Individual é que Freud parte da suposição de que por sua natureza o homem só quer satisfazer seus desejos o princípio do prazer e por tanto do ponto de vista da cultura precisa ser consi derado totalmente mau Ao contrário acreditava Adler o destino indestrutível da espécie humana é o interesse social Ansbacher Ansbacher 1964 p 210211 Por sua parte Freud reconheceu e rejeitou esse movimento rumo aos determinantes culturais da personalidade Em uma passagem característica diri gida a Adler e Jung Freud 1914 p 62 escreveu A verdade é que essas pessoas selecionaram alguns tons culturais da sinfonia da vida e mais uma vez deixa ram de ouvir a melodia poderosa e primordial dos instintos A segunda maior contribuição de Adler à teoria da personalidade é o seu conceito do self criativo Di ferentemente do ego de Freud que consiste em um grupo de processos psicológicos servindo aos fins dos instintos inatos o self de Adler é um sistema subjetivo altamente personalizado que interpreta e torna sig nificativas as experiências do organismo Além disso ele busca experiências que ajudarão a realizar o estilo de vida único da pessoa se essas experiências não são encontradas no mundo o self tenta criálas Esse conceito de um self criativo era novo na teoria psica nalítica Ele ajudou a compensar o extremo objeti vismo da psicanálise clássica que dependia quase inteiramente das necessidades biológicas e dos estí mulos externos para explicar a dinâmica da persona lidade Como veremos em outros capítulos o concei to de self desempenhou um papel importante em recentes formulações relativas à personalidade A con tribuição de Adler para essa nova tendência a reco nhecer o self como uma causa importante do compor tamento é muito significativa O terceiro aspecto da psicologia de Adler que a separa da psicanálise clássica é a sua ênfase na singu laridade da personalidade Adler via cada pessoa como uma configuração única de motivos traços interes ses e valores cada ato realizado pela pessoa tem a marca característica de seu estilo de vida distintivo A esse respeito Adler pertence à tradição de William James e William Stern A teoria de Adler da pessoa minimizava o instinto sexual que na teorização inicial de Freud desempe nhara um papel quase exclusivo na dinâmica do com portamento A esse monólogo freudiano sobre sexo Adler acrescentou outras vozes significativas Os hu manos são primariamente criaturas sociais não sexu ais Eles são motivados pelo interesse social não pelo interesse sexual Suas inferioridades não se limitam ao domínio sexual mas podem estenderse a todas as facetas da existência tanto físicas quanto psicológi cas Eles se esforçam para desenvolver um estilo de vida único em que a pulsão sexual desempenha um papel menor De fato a maneira pela qual a pessoa satisfaz as necessidades sexuais é determinada pelo seu estilo de vida e não viceversa O fato de Adler destronar o sexo foi para muitas pessoas um alívio TEORIAS DA PERSONALIDADE 119 Alfred Adler 120 HALL LINDZEY CAMPBELL bemvindo depois do monótono pansexualismo de Freud Finalmente Adler considerava a consciência como o centro da personalidade Isso o transforma em um pioneiro no desenvolvimento de uma psicologia ori entada para o ego Os humanos são seres conscientes eles geralmente estão cientes das razões de seu com portamento Eles têm consciência de suas inferiorida des e das metas que buscam Mais do que isso os hu manos são indivíduos autoconscientes capazes de planejar e orientar suas ações com total consciência de seu significado para a sua autorealização Essa é a completa antítese da teoria de Freud que virtualmente reduziu a consciência ao status de nãoser uma mera espuma flutuando no grande mar do inconsciente Alfred Adler como outros teóricos da personali dade cuja principal formação foi em medicina e que praticavam a psiquiatria começou sua teorização no campo da psicologia anormal Ele formulou uma teo ria da neurose antes de ampliar seu alcance teórico para incluir a personalidade normal um passo dado na década de 20 HL R R Ansbacher 1956 A teoria de Adler da personalidade é uma teoria extre mamente econômica no sentido de que alguns con ceitos básicos sustentam toda a estrutura teórica Por essa razão o ponto de vista de Adler pode ser rapida mente esboçado sob algumas afirmações gerais São elas 1 finalismo ficcional 2 busca de superiori dade 3 sentimentos de inferioridade e compensa ção 4 interesse social 5 estilo de vida e 6 o self criativo FINALISMO FICCIONAL Logo depois de Adler terse desligado do círculo que cercava Freud ele caiu sob a influência filosófica de Hans Vaihinger Em seu livro de 1911 The Philosophy of As If tradução inglesa 1925 Vaihinger propôs a curiosa e intrigante noção de que os humanos vivem de acordo com idéias puramente ficcionais sem ne nhum equivalente na realidade Essas ficções por exemplo todos os homens são criados iguais a honestidade é a melhor política e os fins justificam os meios permitem que os humanos lidem com a realidade de forma mais efetiva São constructos ou suposições e não hipóteses que podem ser testadas e confirmadas Elas podem ser dispensadas quando dei xam de ser úteis Adler tomou essa doutrina filosófica de positivis mo idealista e deulhe a forma de suas próprias idéi as Freud podemos lembrar enfatizava as experiên cias e os fatores constitucionais durante a infância inicial como determinantes da personalidade Adler descobriu em Vaihinger a refutação para esse rígido determinismo histórico isto é os humanos são mais motivados por suas expectativas em relação ao futuro do que pelas experiências do passado Tais metas não existem no futuro como parte de algum desígnio tele ológico nem Vaihinger e nem Adler acreditavam em predestinação ou fatalidade em vez disso elas exis tem subjetivamente ou mentalmente aqui e agora como metas ou ideais que afetam o presente compor tamento Se uma pessoa acredita por exemplo que existe um céu para as pessoas virtuosas e um inferno para as pecadoras essa crença exercerá uma conside rável influência em sua conduta Essas metas ficcio nais eram para Adler as causadoras subjetivas dos eventos psicológicos Conforme ele colocou A per gunta mais importante sobre a mente sadia e a enfer ma não é de onde mas para onde Ansbacher Ansbacher 1956 p 91 Como Jung Adler identificava a teoria de Freud com o princípio da causalidade e a sua própria teoria com o princípio do finalismo A Psicologia Individual insiste absolutamente na indispensabilidade do finalismo para o entendi mento de todos os fenômenos psicológicos As causas as energias os instintos os impulsos e assim por diante não servem como princípios ex planatórios A meta final sozinha explica o com portamento do homem As experiências os trau mas e os mecanismos de desenvolvimento sexual não podem nos dar uma explicação mas a pers pectiva em que são considerados a maneira indi vidual de vêlos que subordina toda a vida à meta final podem 1930 p 400 Essa meta final pode ser uma ficção isto é um ideal impossível de realizar mas continua sendo um estí mulo muito real para a busca humana e para a expli cação final da conduta Mas Adler acreditava que a pessoa normal pode libertarse da influência dessas ficções e enfrentar a realidade quando necessário ati tude que a pessoa neurótica é incapaz de tomar TEORIAS DA PERSONALIDADE 121 BUSCA DE SUPERIORIDADE Qual é a meta final almejada por todos os seres hu manos e que dá consistência e unidade à personalida de Por volta de 1908 Adler já tinha chegado à con clusão de que a agressão era mais importante do que a sexualidade Um pouco mais tarde o impulso agres sivo foi substituído pelo desejo de poder Adler iden tificava o poder com a masculinidade e a fraqueza com a feminilidade Nesse estágio de seu pensamento cerca de 1910 apresentou a idéia do protesto mas culino uma forma de supercompensação emprega da tanto por homens quanto por mulheres quando se sentem inadequados e inferiores Mais tarde Adler abandonou o desejo de poder em favor da busca de superioridade à qual permaneceu fiel desde en tão Assim houve três estágios em seu pensamento com relação à meta final dos seres humanos ser agres sivo ser poderoso e ser superior Adler deixou bem claro que por superioridade ele não queria dizer distinção social liderança ou uma posição preeminente na sociedade Por superiorida de Adler queria dizer algo muito parecido com o con ceito de self de Jung ou o princípio da autorealização de Goldstein É a busca de uma completude perfeita É a grande pulsão ascendente Eu comecei a ver claramente em cada fenômeno psicológico a busca de superioridade Ela acom panha o crescimento físico e é uma necessidade intrínseca da própria vida Está na raiz de todas as soluções dos problemas da vida e manifestase na maneira como enfrentamos esses problemas Todas as nossas funções seguem sua direção Elas buscam a conquista a segurança o crescimento quer na direção certa quer na errada O ímpeto de menos para mais jamais cessa Sejam quais fo rem as premissas com as quais sonham todos os nossos filósofos e psicólogos autopreservação princípio do prazer compensação todas elas são apenas vagas representações tentativas de ex pressar a grande pulsão ascendente 1930 p 398 De onde vem a busca de superioridade ou perfei ção Adler disse que ela é inata Não só é parte da vida mas também é a própria vida Do nascimento até a morte a busca de superioridade leva a pessoa de um estágio de desenvolvimento para o próximo É um princípio dinâmico predominante Não existem pulsões separadas pois cada pulsão recebe sua ener gia da busca de completude Adler reconheceu que a busca de superioridade pode manifestarse de inúme ras maneiras diferentes e que cada pessoa tem seu modo concreto de atingir ou tentar atingir a perfei ção A pessoa neurótica por exemplo busca autoes tima poder e autoengrandecimento em outras pa lavras metas egoístas ao passo que a pessoa normal busca metas de caráter primariamente social Como precisamente surgem no indivíduo as for mas específicas de busca de superioridade Para res ponder essa pergunta é necessário discutir o concei to de Adler de sentimentos de inferioridade SENTIMENTOS DE INFERIORIDADE E COMPENSAÇÃO Muito cedo em sua carreira enquanto ainda estava interessado em medicina geral Adler propôs a idéia da inferioridade e da supercompensação de órgão tra dução inglesa 1917 Na época ele estava interessa do em encontrar a resposta para a perene pergunta de por que as pessoas quando ficam doentes ou sen tem alguma dor ficam doentes ou sentem dor em uma região específica do corpo Uma pessoa desenvolve um problema cardíaco outra um problema pulmo nar e uma terceira artrite Adler sugeriu que a razão do lugar de uma determinada doença era uma inferi oridade básica naquela região uma inferioridade exis tente em virtude de hereditariedade ou de alguma anormalidade desenvolvimental Ele então observou que uma pessoa com um órgão defeituoso geralmen te tenta compensar essa fraqueza fortalecendoo por meio de um treinamento intensivo O exemplo mais famoso de compensação da inferioridade de órgão é Demóstenes que gaguejava quando criança e tornou se um dos maiores oradores do mundo Um outro exemplo mais recente é o de Theodore Roosevelt que foi doentio em sua infância e transformouse por meio de exercícios sistemáticos em um homem fisicamen te robusto Logo depois de ter publicado sua monografia so bre a inferioridade de órgão Adler ampliou o concei to para incluir quaisquer sentimentos de inferiorida de desde os decorrentes de incapacidades psicológicas 122 HALL LINDZEY CAMPBELL ou sociais subjetivamente sentidas aos originados de fraquezas ou deficiências corporais reais Nessa épo ca Adler equiparou a inferioridade à falta de virilida de ou feminilidade cuja compensação era chamada de o protesto masculino Entretanto ele mais tarde subordinou essa idéia à visão mais geral de que os sentimentos de inferioridade surgem de um senso de incompletude ou imperfeição em qualquer esfera da vida Por exemplo a criança é motivada por seus sen timentos de inferioridade a buscar um nível superior de desenvolvimento Quando ela atinge esse nível começa a sentirse inferior novamente e inicia mais uma vez o movimento ascendente Adler afirmou que os sentimentos de inferioridade não são um sinal de anormalidade eles são a causa de toda melhora na condição humana Evidentemente os sentimentos de inferioridade podem ser agravados por condições es peciais como no caso da criança mimada ou rejeita da Nesse contexto podem ocorrer certas manifesta ções anormais como o desenvolvimento de um complexo de inferioridade ou de um complexo de su perioridade compensatório Mas em circunstâncias normais o sentimento de inferioridade ou um senso de incompletude é a grande força propulsora da hu manidade Em outras palavras o ser humano é im pulsionado pela necessidade de superar sua inferiori dade e pressionado pelo desejo de ser superior Adler não foi um proponente do hedonismo Em bora acreditasse que os sentimentos de inferioridade eram dolorosos ele não pensava que o alívio desses sentimentos era necessariamente prazeroso A perfei ção não o prazer era para ele a meta da vida INTERESSE SOCIAL Durante os anos iniciais de sua teorização quando estava proclamando a natureza agressiva e ávida de poder dos seres humanos e a idéia do protesto mascu lino como uma supercompensação da fragilidade fe minina Adler foi severamente criticado por enfatizar pulsões egoístas e ignorar motivos sociais A busca da superioridade soava como o grito de guerra do super homem nietzscheano um bom acompanhamento para o slogan darwiniano da sobrevivência dos mais adap tados Adler um defensor da justiça social e da demo cracia social ampliou sua concepção dos humanos para incluir o fator do interesse social 1939 Embo ra o interesse social inclua questões como coopera ção relações interpessoais e sociais identificação com o grupo empatia e assim por diante ele é muito mais amplo do que tudo isso Em seu sentido essencial o interesse social consiste em o indivíduo ajudar a soci edade a alcançar a meta de uma sociedade perfeita O interesse social é a verdadeira e inevitável com pensação de todas as fraquezas naturais dos seres humanos Adler 1929b p 31 A pessoa está inserida em um contexto social des de o primeiro dia de vida A cooperação se manifesta no relacionamento entre o bebê e a mãe e a partir daí a pessoa está continuamente envolvida em uma rede de relações interpessoais que moldam a personalida de e oferecem saídas concretas para a busca de supe rioridade A busca de superioridade se torna sociali zada o ideal de uma sociedade perfeita toma o lugar da ambição puramente pessoal e do ganho egoísta Ao trabalhar pelo bem comum os humanos compen sam suas fraquezas individuais Adler acreditava que o interesse social é inato os humanos são criaturas sociais por natureza não por hábito Entretanto como qualquer outra aptidão na tural essa predisposição inata não aparece esponta neamente mas precisa ser orientada e treinada para se realizar Uma vez que acreditava nos benefícios da educação Adler dedicou grande parte de seu tempo a estabelecer clínicas de orientação infantil a melhorar as escolas e a educar o público com relação aos méto dos adequados de criação dos filhos É interessante traçar nos textos de Adler a mu dança decisiva embora gradual em sua concepção do ser humano desde os primeiros anos de sua vida profissional quando estava associado a Freud até seus últimos anos quando tinha granjeado uma reputação internacional Para o jovem Adler os humanos eram impulsionados por uma insaciável ânsia de poder e dominação para compensar um sentimento de inferi oridade arraigado e oculto Para o Adler mais velho os humanos eram motivados por um interesse social TEORIAS DA PERSONALIDADE 123 inato que os fazia subordinar o ganho pessoal ao bem estar público A imagem da pessoa perfeita vivendo em uma sociedade perfeita eclipsou o quadro da pes soa forte e agressiva dominando e explorando a soci edade O interesse social substituiu o interesse egoísta ESTILO DE VIDA Estilo de vida é o slogan da teoria de Adler da perso nalidade o tema recorrente em todos os seus textos posteriores p ex 1929a 1931 e a característica mais distintiva de sua psicologia O estilo de vida é o prin cípio do sistema segundo o qual funciona a persona lidade individual é o todo que comanda as partes O estilo de vida é o princípio idiográfico mais importan te de Adler é o princípio que explica a singularidade da pessoa Todos têm um estilo de vida mas não exis tem duas pessoas com o mesmo estilo Exatamente o que significa o conceito Essa é uma pergunta difícil de responder porque Adler tinha muito a dizer a respeito e apresentou postulações diferentes e às vezes conflitantes sobre isso em seus inúmeros textos E além disso é difícil diferenciálo de outro conceito adleriano o de self criativo Todas as pessoas têm a mesma meta a da superi oridade mas existem inumeráveis maneiras de bus cála Uma pessoa tenta tornarse superior desenvol vendo o intelecto enquanto outra dedica todos os seus esforços à busca da perfeição muscular O intelectual tem um estilo de vida a atleta outro O intelectual lê estuda pensa ele leva uma vida mais sedentária e mais solitária do que a pessoa ativa O intelectual or ganiza detalhes da existência hábitos domésticos re creações rotina diária relações com a família ami gos e conhecidos e atividades sociais de acordo com a meta da superioridade intelectual Tudo o que ele faz é feito com um olho em sua meta suprema Todo o comportamento da pessoa se origina de seu estilo de vida A pessoa percebe aprende e retém aquilo que se ajusta ao seu estilo de vida e ignora o restante O estilo de vida determina como a pessoa enfren ta os três problemas de vida da idade adulta rela ções sociais ocupação e amor e casamento As ver sões preliminares desses problemas durante a infância centramse nas amizades na escola e no sexo oposto Quando as tentativas do indivíduo de lidar com essas tarefas são orientadas pelo interesse social ele está no lado útil da vida Se a superioridade pessoal subs titui o interesse social como meta a pessoa se distan cia das tarefas da vida e fica no lado inútil da vida ver Figura 41 p 124 Ansbacher e Ansbacher 1964 estabelecem uma analogia entre a concepção de Adler da vida humana como movimento e a análise que o físico faz do movi mento em termos de direção e velocidade O com portamento humano ocorre no espaço social e sua direção depende do grau de interesse social Da mes ma forma o componente de velocidade ou de energia da vida humana pode ser descrito em termos do grau de atividade do indivíduo Adler acreditava que um ser humano não pode ser tipificado ou classificado cada indivíduo deve ser estudado à luz de seu desen volvimento peculiar Ansbacher Ansbacher 1964 p 68 No entanto somente para propósitos de ensi no Adler descreveu quatro estilos de vida diferen tes cada um conceitualizado em termos do grau de interesse social e atividade O tipo dominante tem muita atividade mas pouco interesse social Tais pes soas tentam lidar com os problemas da vida domi nandoos O tipo obtentor que certamente é o mais freqüente espera que lhe dêem tudo de que precisa O tipo evitante tenta não ser derrotado pelos pro blemas da vida evitando os próprios problemas Tan to o segundo quanto o terceiro tipos têm pouco inte resse social e atividade O quarto tipo de Adler o socialmente útil é ativo a serviço dos outros Essas pessoas enfrentam as tarefas da vida e tentam resol vêlas de uma maneira consistente de acordo com as necessidades dos outros indivíduos Arthur Ashe po deria servir como exemplo desse estilo de vida positi vo É interessante observar a correspondência entre esses tipos e os tipos gerais propostos por outros teó ricos Por exemplo os tipos dominante obtentor e evitante são mais ou menos análogos às estratégias de ir contra aproximarse e afastarse dos outros conforme descritas por Karen Horney O estilo de vida se forma muito cedo na infância por volta dos quatro ou cinco anos e a partir daí as experiências são assimiladas e utilizadas segundo esse estilo de vida único As atitudes os sentimentos e as 124 HALL LINDZEY CAMPBELL percepções tornamse fixos e mecanizados em uma idade bem inicial e é praticamente impossível que o estilo de vida mude depois disso A pessoa pode ado tar novas maneiras de expressar seu estilo de vida único mas elas são apenas exemplos concretos e par ticulares do mesmo estilo básico encontrado desde a tenra idade O que determina o estilo de vida do indivíduo Em seus textos iniciais Adler disse que ele é ampla mente determinado pelas inferioridades específicas da pessoa quer fantasiadas ou reais O estilo de vida é uma compensação de uma inferioridade particular Se FIGURA 41 Os lados útil e inútil da vida Reimpressa com a permissão de Ansbacher 1977 p 61 a criança é fisicamente frágil seu estilo de vida assu mirá a forma de fazer aquelas atividades que produ zirão força física O estilo de vida conquistador de Napoleão foi determinado por sua estatura física in significante e a ânsia predatória de Hitler de domi nar o mundo por sua impotência sexual Essa expli cação simples da conduta humana que agradou a tantos leitores de Adler e foi amplamente aplicada à análise de caráter nas décadas de 20 e 30 não satis fez o próprio Adler Era simples demais e também mecanicista Ele procurou um princípio mais dinâmi co e encontrou o self criativo TEORIAS DA PERSONALIDADE 125 O SELF CRIATIVO O conceito de self criativo é a realização suprema de Adler como teórico da personalidade Quando ele descobriu o poder criativo do self todos os seus ou tros conceitos ficaram subordinados a ele Aqui final mente estava a fonte de energia a pedra filosofal o elixir da vida a causa primeira de tudo o que era hu mano perseguida por Adler O self unitário consisten te e criativo é soberano na estrutura da personalida de Como todas as primeiras causas o poder criativo do self é difícil de descrever Podemos ver seus efeitos mas não podemos vêlo É algo que intervém entre os estímulos que agem sobre a pessoa e as respostas da das pela pessoa a esses estímulos Em essência a dou trina de um self criativo afirma que os humanos fa zem sua própria personalidade Eles a constroem a partir do material bruto da hereditariedade e da ex periência A hereditariedade apenas dota o homem com certas capacidades O ambiente apenas lhe trans mite certas impressões Essas capacidades e im pressões e a maneira como ele as experiencia isto é a interpretação que faz dessas experiências são os blocos construtores ou em outras pala vras sua atitude perante a vida que determinam seu relacionamento com o mundo externo Ad ler 1935 p 5 O self criativo é o fermento que age sobre os fatos do mundo e transforma esses fatos em uma personalida de subjetiva dinâmica unificada pessoal e unicamen te estilizada O self criativo dá significado à vida ele cria a meta assim como os meios para a meta O self criativo é o princípio ativo da vida humana e não é muito diferente do conceito mais antigo de alma Em resumo podemos dizer que Adler criou uma teoria humanista da personalidade que era a antítese da concepção de Freud do indivíduo Ao dotar os hu manos de altruísmo humanitarismo cooperação cria tividade singularidade e consciência Adler devolveu aos seres humanos um senso de dignidade e valor que a psicanálise tinha em grande parte destruído Em lugar do triste quadro materialista que horrorizou e repeliu tantos leitores de Freud Adler ofereceu um retrato do ser humano mais satisfatório mais espe rançoso e muito mais lisonjeiro A concepção de Ad ler da natureza da personalidade coincidiu com a idéia popular de que os indivíduos podem ser os senhores não as vítimas de seu destino NEUROSE Utilizando esses princípios Adler ofereceu um relato intrigante da neurose Apesar de suas diferenças com Freud Adler concordava que os sintomas neuróticos são interpretáveis e fundamentalmente defensivos Ao contrário do indivíduo sadio o neurótico supercom pensa rigidamente as inferioridades percebidas Suas metas grandiosas centramse no autoengrandecimen to e no interesse pessoal ao invés do interesse social Adler estabeleceu uma analogia entre o neurótico e o criminoso que constrói um álibi A neurose é inteiramente uma manobra encobri dora Por trás da doença está a tentativa patoló gica e ambiciosa do paciente de ver a si mesmo como algo extraordinário Os sintomas são um grande monte de lixo no qual o paciente se escon de A superioridade fictícia do paciente data da época em que ele foi mimado Enquanto ve mos claramente o que ele faz ele sem perceber está ocupado em erigir seus obstáculos como um criminoso empedernido ele está tentando asse gurar um álibi Sempre termina em o que eu não teria realizado se não tivesse sido impedido pelos sintomas A nossa tarefa é tornar conceitu al o que nele estava nãoconceitualizado Ans bacher Ansbacher 1964 p 198199 Observem a similaridade entre essa passagem e o fa moso sumário de Freud sobre a terapia psicanalítica Onde era o Id ficará o Ego O neurótico desenvolve os sintomas como uma proteção contra o esmagador senso de inferioridade que está tentando evitar tão desesperadamente Essa tentativa incessante de proteger o self da inferiorida de se transforma em um círculo vicioso pois a falta de interesse social que levou ao problema também impede sua solução Como veremos mais adiante neste capítulo tal dilema é muito semelhante ao cír culo vicioso da insegurança e da alienação descrito tão eloqüentemente por Karen Horney A incapaci dade do neurótico de lidar com os problemas da vida 126 HALL LINDZEY CAMPBELL o leva a criar salvaguardas Essas salvaguardas são análogas aos mecanismos de defesa freudianos mas servem para proteger o neurótico da baixa autoesti ma gerada pela inferioridade e pelo fracasso nas tare fas de vida não da ansiedade gerada por um conflito entre pulsões instintuais e proibições morais Adler descreveu três categorias gerais de salvaguardas As desculpas se referem a qualquer tentativa de evitar a culpa pelos fracassos na vida A agressão envolve cul par os outros pelos fracassos O distanciamento inclui protelações alegações de impotência ou tentativas de evitar problemas Essas salvaguardas têm um sabor bem cognitivo e contemporâneo Além disso obser vem sua semelhança com os mecanismos de defesa específicos descritos por Anna Freud ver Capítulo 5 e com as descrições de Karen Horney de aproximar se ir contra ou afastarse das outras pessoas ver mais adiante neste capítulo PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA As observações empíricas de Adler foram feitas am plamente no setting terapêutico e consistem princi palmente em reconstruções do passado conforme lem brado pelo paciente e em avaliações do comporta mento presente com base em relatos verbais Em gran de extensão essas observações centravamse no que Adler chamou de os três portões de entrada para a vida mental ordem de nascimento memórias inici ais e sonhos Só há espaço para mencionar alguns exemplos das atividades investigativas de Adler Ordem de Nascimento e Personalidade De acordo com seu interesse pelos determinantes so ciais da personalidade Adler observou que as perso nalidades do primogênito do filho do meio e do ca çula em uma família tendiam a ser bem diferentes 1931 p 144154 Ele atribuiu tais diferenças às ex periências distintivas que cada criança tem como mem bro de um grupo social O filho primogênito ou mais velho recebe muita atenção até o nascimento do segundo filho ele é en tão subitamente destronado de sua posição privilegi ada e precisa dividir a afeição dos pais com o novo bebê Essa experiência pode condicionar o filho mais velho de várias maneiras tais como odiar pessoas protegerse de súbitos reveses do destino e sentirse inseguro Os primogênitos também tendem a interes sarse pelo passado quando eram o centro das aten ções Os neuróticos os criminosos os bêbados e os perversos observa Adler geralmente são primogêni tos Se os pais manejam sabiamente a situação prepa rando a criança para o aparecimento de um rival o primogênito tem maior probabilidade de transformar se em uma pessoa responsável protetora O segundo filho ou o filho do meio caracteriza se por ser ambicioso Ele está constantemente tentan do superar o mais velho Ele também tende a ser re belde e invejoso mas de um modo geral é mais bemajustado do que o primogênito ou o caçula O caçula é o filho mimado Depois do primogêni to é mais provável que se torne uma criançaproble ma e um adulto neurótico desajustado Embora os primeiros testes da teoria de Adler da ordem de nascimento não tenham sido muito confir matórios Jones 1931 o trabalho mais sofisticado de Schachter 1959 apoiou a tese adleriana e foi o início de uma grande quantidade de pesquisas sobre o assunto Muitas pesquisas sobre a ordem de nasci mento foram realizadas nas décadas de 60 e 70 para bibliografias ver Forer 1977 Vockell Felker Miley 1973 embora uma revisão de Schooler tenha relata do uma ausência geral de achados consistentes 1972 p 174 ver também Forer 1976 Mais recen temente a ordem de nascimento foi incluída como um componente do ambiente nãocompartilhado que desempenha um papel extremamente importante nos modelos genéticos de comportamento da personali dade ver Capítulo 8 Hoffman 1991 Plomin Dani els 1987 Memórias Iniciais Adler sentia que as lembranças mais antigas que uma pessoa podia relatar eram uma chave importante para entender o seu estilo de vida básico 1931 Por exem plo uma jovem começou o relato de suas primeiras lembranças dizendo Quando eu tinha três anos de idade meu pai Isso indica que ela está mais inte ressada no pai do que na mãe Ela depois prossegue dizendo que o pai trouxe para casa um casal de pô TEORIAS DA PERSONALIDADE 127 neis para sua irmã mais velha e para ela e que a irmã mais velha levou seu pônei pela rua puxandoo pelo cabresto enquanto ela era arrastada para a lama pelo próprio pônei Esse é o destino da criança mais jovem vir em segundo lugar na rivalidade com a irmã mais velha e isso a motiva a tentar superála Seu estilo de vida é de uma ambição impulsionadora de uma ânsia de ser a primeira de um profundo sentimento de insegurança e desapontamento e de um forte pres sentimento de fracasso Um jovem que estava sendo tratado por graves ataques de ansiedade lembrou esta cena inicial Quan do eu tinha uns quatro anos de idade estava sentado à janela olhando alguns pedreiros que construíam uma casa no lado oposto da rua enquanto minha mãe tri cotava meias Essa lembrança indica que o jovem foi mimado quando criança porque sua lembrança in clui a solícita mãe O fato de ele estar olhando para outras pessoas que estão trabalhando sugere que seu estilo de vida é de um espectador mais do que de um participante Isso é corroborado pelo fato de ele ficar ansioso sempre que tenta escolher uma profissão Adler sugeriu que ele pensasse em uma profissão na qual pudesse utilizar sua preferência por olhar e ob servar O paciente seguiu o conselho de Adler e tor nouse um bemsucedido negociante de objetos de arte Adler também usou esse método com grupos além de usálo com indivíduos e descobriu que era uma maneira fácil e econômica de estudar a personalida de As primeiras lembranças são usadas como uma técnica projetiva Bruhn 1984 1985 Mayman 1968 Mosak 1958 Além disso foram desenvolvidos vári os instrumentos de pesquisa para avaliar as memórias iniciais Altman Rule 1980 Kihlstrom Haracki ewicz 1982 Talvez o uso contemporâneo mais inte ressante das memórias iniciais seja sua incorporação à nova onda de pesquisa cognitiva p ex Bruhn 1990 Kihlstrom Harackiewicz 1982 Strauman 1990 Em particular o conceito de Cantor e Kihls trom 1985 1987 1989 de inteligência social inclui as categorias de conhecimento declarativosemânti co conhecimento declarativoepisódico e de conheci mento procedural A memória autobiográfica que tem uma clara relação com a ênfase de Adler nas memóri as iniciais é um dos componentes dos episódios que constituem o nosso conhecimento declarativoepisó dico Experiências da Infância Adler estava particularmente interessado nos tipos de influências iniciais que predispõem a criança a um estilo de vida defeituoso Ele descobriu três fatores importantes 1 crianças com inferioridades 2 cri anças mimadas e 3 crianças negligenciadas As cri anças com enfermidades físicas ou mentais carregam um carga muito pesada e tendem a sentirse inade quadas para enfrentar as tarefas de vida Elas se con sideram um fracasso e muitas vezes são Entretanto se tiverem pais compreensivos e encorajadores po dem compensar suas inferioridades e transformar sua fraqueza em força Muitas pessoas proeminentes co meçaram a vida com alguma fragilidade orgânica que conseguiram compensar Adler alertava continuamen te e com veemência contra os perigos de se mimar uma criança pois considerava isso a pior maldição que uma criança pode sofrer As crianças mimadas não desenvolvem um sentimento social elas se tornam déspotas que esperam que a sociedade se conforme aos seus desejos autocentrados Adler as considerava a classe potencialmente mais perigosa da sociedade A negligência também tem conseqüências infelizes A criança maltratada na infância se torna quando adul ta um inimigo da sociedade Seu estilo de vida é do minado pela necessidade de vingança Essas três con dições enfermidade orgânica mimos e rejeição produzem concepções errôneas do mundo e resultam em um estilo de vida patológico PESQUISA ATUAL Nós já mencionamos a pesquisa contemporânea sobre a ordem de nascimento e as lembranças mais antigas Além disso estão sendo realizadas pesquisas sobre a mensuração e os correlatos do interesse so cial Interesse Social Foram desenvolvidos dois instrumentos para a men suração do interesse social Social Interest Scale SIS Crandall 1975 e Social Interest Index SII Greever Tseng Friedland 1973 O SIS fornece um índice global do interesse social e o SII inclui subescalas se 128 HALL LINDZEY CAMPBELL paradas para amizade amor trabalho e autosignifi cado Crandall p ex 1980 1981 1984 apresenta uma variedade de dados de valorização para o SIS Por exemplo os escores no SIS correlacionamse com medidas de autorelato de ajustamento e bemestar Crandall 1980 e os indivíduos com escores eleva dos são mais cooperativos e menos hostis do que aque les com escores baixos Crandall 1981 Os estudos demonstrando que os indivíduos com maior interesse social têm mais amigos íntimos Watkins Hector 1990 e que os escores predizem correlações com outras características de personalidade Mozdzierz Semyck 1980 oferecem um apoio semelhante para o SII Existem dois problemas nessa pesquisa Primeiro os escores nas duas medidas apresentam apenas uma frágil relação Leak Miller Perry e Williams 1985 sugerem que o SIS e o SII compartilham apenas cerca de 10 de variância comum Isso pode acontecer por que o interesse social é um constructo muitíssimo heterogêneo ou pode refletir problemas fundamen tais de mensuração Segundo as relações obtidas com comportamentos de critério tendem a ser frágeis As medidas de interesse social não têm um poder predi tivo consistente com o papel central atribuído ao in teresse social na teoria de Adler ERICH FROMM Erich Fromm nasceu em Frankfurt Alemanha em 1900 e estudou psicologia e sociologia nas Universi dades de Heidelberg Frankfurt e Munique Depois de receber seu PhD em Heidelberg em 1922 fez forma ção psicanalítica em Munique e no famoso Instituto Psicanalítico de Berlim Ele foi para os Estados Uni dos em 1933 como palestrante do Instituto Psicanalí tico de Chicago e depois iniciou sua prática privada na cidade de Nova York Ensinou em várias universi dades e institutos nos Estados Unidos e no México Em 1976 Fromm mudouse para a Suíça onde mor reu em 1980 Ver Evans 1966 e Hausdorff 1972 para detalhes sobre o desenvolvimento pessoal e inte lectual de Fromm Seus livros receberam uma consi derável atenção não só de especialistas nos campos da psicologia sociologia filosofia e religião mas tam bém do público em geral Fromm foi profundamente influenciado pela obra de Karl Marx especialmente por um trabalho inicial The Economic and Philosophical Manuscripts de 1844 Esse trabalho em uma tradução inglesa de T B Bot tomore está incluído no Marxs Concept of Man de Fromm 1961 Em Beyond the Chains of Illusion 1962 Fromm comparou as idéias de Freud e de Marx observando suas contradições e tentando uma síntese Fromm considerava Marx um pensador mais profundo do que Freud e usou a psicanálise princi palmente para preencher as lacunas em Marx Fromm 1959 escreveu uma análise altamente crítica inclu sive polêmica da personalidade e da influência de Freud e ao contrário um elogio incondicional a Marx 1961 Embora Fromm pudesse ser acuradamente chamado de um teórico marxista da personalidade ele preferia o rótulo de humanista dialético A obra de Fromm foi inspirada por seus profundos conhecimen tos de história sociologia literatura e filosofia Pode mos dizer que seus muitos livros p ex 1950 1951 1956 1970 1973 1976 influenciaram os leitores leigos mais do que os psicólogos acadêmicos O tema essencial de toda a obra de Fromm é que a pessoa se sente solitária e isolada porque se separou da natureza e das outras pessoas Essa condição de isolamento não é encontrada em outras espécies ani mais ela é distintiva da situação humana A criança por exemplo libertase dos laços primários com os pais e em resultado sentese isolada e desamparada O servo conquista finalmente a sua liberdade apenas para se descobrir à deriva em um mundo predomi nantemente alienígena Como servo ele pertencia a alguém e sentiase relacionado com o mundo e com as outras pessoas mesmo que não fosse livre Em seu livro Escape from Freedom 1941 Fromm desenvol veu a tese de que conforme os humanos conquista ram mais liberdade através dos tempos eles passa ram a se sentir mais sozinhos A liberdade se torna então uma condição negativa da qual eles tentam es capar Qual é a resposta para esse dilema A estratégia sadia é a pessoa unirse a outras no espírito do amor e do trabalho compartilhado A opção nãosadia é a pessoa tentar escapar da liberdade É possível esca par por três meios A primeira fuga é pelo autoritaris mo por uma submissão masoquista a pessoas mais poderosas ou por uma tentativa sádica de tornarse a autoridade poderosa Uma segunda fuga é pela des TEORIAS DA PERSONALIDADE 129 Erich Fromm 130 HALL LINDZEY CAMPBELL trutividade pela tentativa de escapar da impotência destruindo os agentes e as instituições sociais que pro duzem um senso de desamparo e isolamento Quanto mais o impulso de crescimento da pessoa for frustra do mais destrutiva ela se tornará Essa análise cor responde perfeitamente ao crescente predomínio da violência gratuita entre os membros das classes des favorecidas na nossa sociedade O terceiro modo de escapar é pela conformidade de autômato em que a pessoa renuncia ao seu estado de ser ela mesma ado tando um pseudo self com base nas expectativas alheias Observem como essa dinâmica é semelhante aos processos descritos por Karen Horney e Carl Ro gers ver Capítulo 11 e à inflação da persona de Carl Jung ver Capítulo 3 No caso sadio o ser hu mano usa sua liberdade para desenvolver uma socie dade melhor Nos casos nãosadios ele passa a viver uma nova servidão Escape from Freedom foi escrito sob a sombra da ditadura nazista e mostra que essa forma de totalita rismo atraía as pessoas porque lhes oferecia uma nova segurança Mas como Fromm salientou em livros sub seqüentes 1947 1955 1964 qualquer forma de sociedade criada pelo ser humano seja o feudalismo capitalismo fascismo socialismo ou seja o comunis mo representa uma tentativa de resolver a contradi ção básica dos humanos Essa contradição consiste em a pessoa ser tanto uma parte da natureza quanto se parada dela em ser simultaneamente um animal e um ser humano Como animais temos certas necessi dades fisiológicas que precisam ser satisfeitas Como seres humanos possuímos autoconsciência razão e imaginação As experiências exclusivamente humanas são os sentimentos de ternura amor e compaixão atitudes de interesse responsabilidade identidade integridade vulnerabilidade transcendência e liber dade e valores e normas 1968 Os dois aspectos da pessoa animal e ser humano constituem as condi ções básicas da existência humana A compreensão da psique do homem deve basearse na análise das ne cessidades humanas decorrentes das condições de sua existência 1955 p 25 Cinco necessidades específicas têm origem nas condições da existência humana a necessidade de relacionarse a necessidade de transcendência a ne cessidade de enraizamento a necessidade de identi dade e a necessidade de uma estrutura de orientação A necessidade de relacionarse decorre do fato de que os humanos ao se tornarem humanos foram arran cados da união primária do animal com a natureza O animal está equipado pela natureza para lidar com todas aquelas condições que vai encontrar 1955 p 23 mas o ser humano com seu poder de raciocinar e imaginar perdeu essa interdependência íntima com a natureza Em lugar daqueles laços instintivos com a natureza que os animais possuem os seres humanos precisam criar seus próprios relacionamentos dos quais os mais satisfatórios são os baseados no amor produtivo O amor produtivo sempre implica cuida do responsabilidade respeito e entendimento mútu os A necessidade de transcendência se refere à ne cessidade do ser humano de erguerse acima de sua natureza animal de tornarse uma pessoa criativa em vez de permanecer uma criatura Se os impulsos cria tivos forem frustrados a pessoa se torna destruidora Fromm salientou que o amor e o ódio não são impul sos antitéticos ambos são respostas à necessidade da pessoa de transcender sua natureza animal Os ani mais não amam e nem odeiam mas os humanos sim O ser humano quer ter raízes naturais ele quer ser uma parte integral do mundo sentir que pertence a Quando criança ele está enraizado na mãe mas se esse relacionamento persiste depois da infância pas sa a ser considerado uma fixação perniciosa As pes soas encontram as raízes mais satisfatórias e saudá veis em um sentimento de afinidade com outros homens e mulheres Mas também queremos ter um senso de identidade pessoal ser indivíduos únicos Se não conseguimos alcançar essa meta por meio do es forço criativo individual podemos obter certa marca de distinção identificandonos com outra pessoa ou grupo O escravo se identifica com o senhor o cida dão com o país o trabalhador com a companhia Nesse caso o senso de identidade decorre de perten cer a alguém e não de ser alguém Os humanos também precisam ter uma estrutura de referência uma maneira estável e consistente de perceber e compreender o mundo A estrutura de re ferência desenvolvida pode ser primariamente racio nal primariamente irracional ou ter elementos de ambas Finalmente Fromm 1973 introduziu uma sexta necessidade básica a necessidade de excitação e esti mulação Ao descrever essa necessidade ele fez uma distinção entre estímulos simples e ativadores Os es TEORIAS DA PERSONALIDADE 131 tímulos simples produzem uma resposta automática quase reflexa e é melhor considerálos em termos de pulsões por exemplo quando estamos com fome comemos Nós freqüentemente ficamos entediados com os estímulos simples Os estímulos ativadores ao contrário impõem a busca de objetivos Os estímulos ativadores de Fromm soam como a busca do proprium de Allport ver Capítulo 7 e como as metanecessida des de Maslow ver Capítulo 11 Para Fromm essas necessidades são puramente humanas e puramente objetivas Elas não são encon tradas nos animais e não se derivam da observação daquilo que os humanos dizem querer Também não são criadas pela sociedade melhor dizendo elas fo ram sendo inseridas na natureza humana pela evolu ção Qual é então a relação da sociedade com a exis tência do ser humano Fromm acreditava que as manifestações específicas dessas necessidades as maneiras reais pelas quais a pessoa realiza potenciali dades internas são determinadas pelos arranjos so ciais de acordo com os quais ela vive 1955 p 14 A personalidade se desenvolve em concordância com as oportunidades que uma determinada sociedade ofe rece à pessoa Em uma sociedade capitalista por exem plo uma pessoa pode obter um senso de identidade pessoal tornandose rica ou desenvolver um senso de enraizamento tornandose um empregado respon sável e digno de confiança em uma grande compa nhia Em outras palavras o ajustamento de uma pes soa à sociedade normalmente representa um compromisso entre necessidades internas e exigênci as externas Ela desenvolve um caráter social ao res ponder aos requerimentos da sociedade Fromm identificou e descreveu cinco tipos de ca ráter social encontrados na sociedade atual recepti vo explorador açambarcador comerciante e produ tivo Esses tipos representam as diferentes maneiras como os indivíduos se relacionam com o mundo e com os outros Só o último deles foi considerado por ele como sadio e como expressando o que Marx chamou de atividade consciente livre Todo indivíduo é uma mistura desses cinco tipos de orientação em relação ao mundo embora uma ou duas das orientações pos sam estar mais evidentes do que as outras Assim é possível que uma pessoa seja um tipo produtivoaçam barcador ou um tipo improdutivoaçambarcador Um tipo produtivoaçambarcador poderia ser uma pessoa que adquire terras ou dinheiro para ser mais produti va um tipo improdutivoaçambarcador seria uma pessoa que acumula bens apenas pelo prazer de acu mular sem qualquer benefício para a sociedade Fromm 1964 também descreveu um sexto par de tipos de caráter o necrófilo que é atraído pela morte versus o biófilo que é apaixonado pela vida Fromm observou que aquilo que poderia ser conside rado um paralelo entre essa formulação e os instintos de vida e morte de Freud na verdade não o é Para Freud tanto o instinto de vida quanto o de morte são inerentes à biologia do ser humano ao passo que para Fromm a vida é a única potencialidade primária A morte é meramente secundária e só entra em cena quando as forças de vida são frustradas Em seu livro final Fromm 1976 acrescentou uma distinção entre as orientações de ter e de ser em relação à vida Uma orientação de ter reflete a preo cupação competitiva da pessoa com possuir e consu mir recursos Essa orientação é favorecida pelas soci edades tecnológicas O modo de ser ao contrário focaliza aquilo que a pessoa é não o que ela tem e o compartilhar em vez do competir Essa orientação só vai se desenvolver se a sociedade a encorajar Do ponto de vista do funcionamento adequado de uma determinada sociedade é absolutamente es sencial que o caráter da criança seja moldado para se adaptar às necessidades da sociedade A tarefa dos pais e da educação é fazer com que a criança queira agir como tem de agir para que um dado sistema eco nômico político e social seja mantido Assim em um sistema capitalista o desejo de economizar deve ser implantado nas pessoas de modo que exista capital para expandir a economia Uma sociedade que de senvolveu um sistema de crédito precisa dar um jeito para que as pessoas sintam uma compulsão interna a pagar suas contas prontamente Fromm deu inúme ros exemplos dos tipos de caráter que se desenvolvem em uma sociedade democrática e capitalista 1947 Ao fazer exigências contrárias à sua natureza a sociedade deforma e frustra os seres humanos Ela os aliena de sua situação humana e negalhes o cum primento das condições básicas da existência Tanto o capitalismo quanto o comunismo por exemplo ten tam transformar o indivíduo em um robô em um es cravo do salário em uma nulidade e geralmente con seguem levar a pessoa à insanidade à conduta antisocial ou a atos autodestrutivos Fromm não he sitou em estigmatizar a sociedade como estando do 132 HALL LINDZEY CAMPBELL ente quando deixa de satisfazer as necessidades bási cas dos seres humanos 1955 Fromm também salientou que quando uma so ciedade muda em algum aspecto importante como ocorreu quando o feudalismo se transformou em ca pitalismo ou quando o sistema de fábricas substituiu o artesão individual tal mudança tende a produzir deslocamentos no caráter social das pessoas A antiga estrutura de caráter não se ajusta à nova sociedade o que aumenta o senso de alienação e desespero das pessoas Os laços tradicionais são cortados e até que a pessoa consiga desenvolver novas raízes e relações ela se sente perdida Durante esses períodos transi cionais a pessoa tornase presa fácil de todos os tipos de panacéias que oferecem um refúgio contra a soli dão Conforme descrito no próximo capítulo Erik Erikson tratou de maneira análoga as conseqüências negativas que ocorrem quando a pessoa precisa ten tar funcionar em uma sociedade que enfatiza valores inconsistentes com a orientação segundo a qual ela foi socializada O problema das relações de uma pessoa com a sociedade preocupava muito Fromm e ele retornou a isso inúmeras vezes Ele estava inteiramente conven cido da validade das seguintes proposições 1 os seres humanos têm uma natureza essencial inata 2 a sociedade é criada pelos humanos para realizar essa natureza essencial 3 nenhuma sociedade de todas que foram criadas até hoje atende às necessidades básicas da existência humana e 4 é possível criar tal sociedade Que tipo de sociedade Fromm defendia Uma em que os homens se relacionem amoro samente com raízes em laços de fraternidade e solidariedade uma sociedade que dê ao homem a possibilidade de transcender a natureza crian do ao invés de destruir em que todos obtenham um senso de self ao experienciarse como o sujei to de seus poderes como contraponto à confor midade em que exista um sistema de orientação e devoção sem que o homem precise distorcer a realidade e adorar ídolos 1955 p 362 Fromm sugeriu inclusive um nome para essa socieda de perfeita Socialismo Comunitário Humanista Nes sa sociedade todos teriam oportunidades iguais de se tornarem plenamente humanos Não haveria solidão nenhum sentimento de isolamento nenhum desespe ro As pessoas encontrariam um novo lar adequado à situação humana Tal sociedade atingiria o objetivo de Marx de transformar a alienação de uma pessoa sob um sistema de propriedade privada em uma opor tunidade de autorealização como um ser humano so cial produtivamente ativo sob o socialismo Fromm ampliou o projeto da sociedade ideal definindo como a nossa presente sociedade tecnológica pode ser hu manizada 1968 As idéias de Fromm foram aguda mente criticadas por Schaar 1961 Embora as idéias de Fromm se originassem de suas observações de pessoas em tratamento e de suas am plas leituras em história economia sociologia filoso fia e literatura ele realizou uma investigação empíri ca em grande escala Em 1957 Fromm iniciou um estudo em psicologia social em um vilarejo mexicano para testar sua teoria do caráter social Ele treinou entrevistadores mexicanos para administrar um ques tionário profundo que podia ser interpretado e pon tuado para importantes variáveis motivacionais e ca racterológicas Esse questionário foi suplementado pelo Método das Manchas de Tinta de Rorschach que revela atitudes sentimentos e motivos mais profun damente reprimidos Por volta de 1963 a coleta de dados foi concluída e em 1970 os achados foram pu blicados Fromm Maccoby 1970 Foram identificados três tipos principais de cará ter social o produtivoaçambarcador o produtivoex plorador e o improdutivoreceptivo Os indivíduos que pertenciam ao tipo produtivoaçambarcador eram os proprietários de terra ao produtivoexplorador os co merciantes e ao improdutivoreceptivo os trabalha dores pobres Uma vez que pessoas com estruturas de caráter semelhantes tendem a casar entre si os três tipos constituíam uma estrutura de classe bastante rígida no vilarejo Antes que a influência da tecnologia e da indus trialização atingisse o vilarejo havia apenas duas clas ses principais os proprietários de terra e os campone ses O tipo produtivoexplorador só existia como um tipo desviante Mas foi esse tipo que tomou a iniciati va de tornar os frutos da tecnologia disponíveis para os habitantes do vilarejo tornandose assim símbolos de progresso e líderes da comunidade As pessoas que pertenciam a esse tipo forneciam entretenimento ba rato na forma de filmes rádio televisão e produtos TEORIAS DA PERSONALIDADE 133 manufaturados Em conseqüência os pobres campo neses foram arrancados de seus tradicionais valores culturais sem ganhar muitas das vantagens materiais de uma sociedade tecnológica O que eles ganharam na verdade era falso se comparado ao que tinham anteriormente os filmes substituíram os festivais o rádio substituiu as bandas locais as roupas prontas substituíram as roupas feitas à mão e os utensílios e móveis produzidos em massa substituíram os artesa nais O principal foco do estudo entretanto era ilus trar a tese de Fromm de que o caráter personalida de afeta e é afetado pela estrutura social e pela mudança social KAREN HORNEY Karen Horney nasceu em Hamburgo Alemanha em 16 de setembro de 1885 e morreu na cidade de Nova York em 4 de dezembro de 1952 Ela fez sua forma ção médica na Universidade de Berlim e trabalhou no Instituto Psicanalítico de Berlim de 1918 a 1932 Ela foi analisada por Karl Abraham e Hans Sachs dois dos mais preeminentes analistas didatas europeus na época Convidada por Franz Alexander ela foi para os Estados Unidos e trabalhou como diretoraassocia da do Instituto Psicanalítico de Chicago por dois anos Em 1934 mudouse para Nova York onde praticou a psicanálise e ensinou no Instituto Psicanalítico de Nova York Insatisfeita com a psicanálise ortodoxa ela e outros com convicções similares fundaram a Associa ção para o Avanço da Psicanálise e o Instituto Ameri cano de Psicanálise Ela foi decana desse instituto até a sua morte A história profissional de Horney foi detalhada em várias publicações recentes Quinn 1987 Rubins 1978 Sayers 1991 e alguns de seus diários foram publicados Horney 1980 Essas publicações também esclarecem eventos centrais na rica vida pessoal de Horney incluindo seu relacionamento com o pai e a mãe o irmão o marido Oskar os filhos e Erich Fromm assim como seus problemas emocionais e sua luta com a ortodoxia psicanalítica em que os homens domina vam HORNEY E FREUD Durante os anos que antecederam e que se seguiram a 1930 Horney publicou uma série de artigos criti cando Freud e propondo sua própria psicologia femi nina Essa era uma continuação daqueles desafios à ortodoxia que fizeram com que ela fosse rebaixada e subseqüentemente se retirasse do Instituto Psicanalí tico de Nova York Mas Horney achava que suas idéi as se enquadravam na estrutura da psicologia freu diana e não constituíam uma abordagem inteiramente nova ao entendimento da personalidade Ela escre veu Nada de importância no campo da psicologia e da psicoterapia foi feito sem basearse nos achados fundamentais de Freud 1939 p 18 Ela aspirava a eliminar as falácias no pensamento de Freud falácias que tinham raízes acreditava ela em sua orientação biológicomecanicista para que a psicanálise pudesse realizar suas plenas potencialida des como uma ciência dos seres humanos A minha convicção resumidamente é que a psicanálise deve superar as limitações decorrentes de ser uma psicolo gia instintivista e genética 1939 p 8 Seguindo Adler Horney também acreditava que a pouca ênfase de Freud nos interrelacionamentos entre as pessoas o levara a uma ênfase excessiva e errônea na motivação sexual e no conflito Ela trans formou o foco instintual de Freud em um foco cultu ral As pessoas internalizam estereótipos culturais ne gativos na forma de ansiedade básica e de conflitos internos de tal maneira que o indivíduo com um pro blema emocional é um enteado da nossa cultura Para Horney as preocupações com segurança e alie nação intrapsíquica e interpessoal constituem as for ças motivacionais primárias da personalidade Essas preocupações podem levarnos a erigir uma estrutura protetora em uma tentativa de obter o que está fada do a ser um falso senso de segurança Em conseqüên cia no centro das perturbações psíquicas estão ten tativas inconscientes de lidar com a vida apesar dos medos do desamparo e do isolamento Eu as chamei de tendências neuróticas 1942 p 40 Horney objetava vigorosamente o conceito de Freud de inveja do pênis como o fator determinante na psicologia feminina Freud podemos lembrar ob 134 HALL LINDZEY CAMPBELL Karen Horney TEORIAS DA PERSONALIDADE 135 servou que as atitudes e os sentimentos distintivos das mulheres e seu conflito mais profundo originavamse de seu sentimento de inferioridade genital e de seu ciúme do homem Ela acreditava que a psicologia fe minina baseiase na falta de confiança e em uma ên fase exagerada no relacionamento amoroso e tem pouco a ver com a anatomia de seus órgãos sexuais As idéias de Horney sobre a psicologia feminina fo ram reunidas e publicadas depois de sua morte 1967 Segundo Horney o complexo de Édipo não é um conflito sexualagressivo entre a criança e o progeni tor mas uma ansiedade decorrente de perturbações básicas como por exemplo rejeição superproteção e punição no relacionamento da criança com a mãe e com o pai A agressão não é inata como Freud afir mou e sim um meio pelo qual os seres humanos ten tam proteger sua segurança O narcisismo não é real mente autoamor mas autoinflação e supervalori zação devidas a sentimentos de insegurança Horney também discordou dos seguintes conceitos freudia nos compulsão à repetição id ego e superego ansi edade e masoquismo 1939 No lado positivo Hor ney endossou as doutrinas de Freud de determinismo psíquico motivação inconsciente e de motivos emocio nais nãoracionais ANSIEDADE BÁSICA Segundo Horney as crianças experienciam natural mente ansiedade desamparo e vulnerabilidade Ad ler de maneira muito semelhante descreveu a inferi oridade como uma experiência infantil Sem uma orientação amorosa para ajudar as crianças a lidar com as ameaças impostas pela natureza e pela sociedade elas podem desenvolver a ansiedade básica que é o principal conceito teórico de Horney A ansiedade bá sica se refere ao sentimento da criança de estar isolada e desam parada em um mundo potencialmente hostil Uma ampla variedade de fatores adversos no ambiente pode produzir essa insegurança em uma criança dominação direta ou indireta indiferença com portamento errante falta de respeito pelas neces sidades individuais da criança falta de orienta ção real atitudes depreciativas admiração demais ou ausência de admiração inexistência de um carinho consistente ter de tomar partido nas dis córdias parentais responsabilidade exagerada ou insuficiente superproteção isolamento em rela ção a outras crianças injustiça discriminação promessas não cumpridas atmosfera hostil e as sim por diante 1945 p 41 O termo de Horney para todos esses fatores adversos é mal básico O estudante pode observar como esse conceito é semelhante às condições que Erik Erikson descreve como contribuindo para um senso de des confiança básica ver Capítulo 5 Em geral Horney sugeriu que tudo o que perturba a segurança da cri ança em relação aos pais produz ansiedade básica O mal básico experienciado pela criança natural mente provoca ressentimento ou hostilidade básica Isso por sua vez produz um dilema ou conflito para a criança porque expressar a hostilidade poderia fa zer com que ela fosse punida e poria em risco o amor recebido dos pais Esse conflito entre o ressentimento e a necessidade de amor substitui o conflito freudia no entre impulso instintual e proibição internalizada Esse dilema e o resultante senso de alienação são muito semelhantes à dinâmica subseqüentemente descrita por Carl Rogers ver Capítulo 11 As crianças lidam com sua hostilidade reprimindoa Horney 1973 p 86 sugeriu que a repressão pode ser estimulada por três estratégias diferentes Eu tenho de reprimir minha hostilidade porque preciso de você Eu tenho de reprimir minha hostilidade porque tenho medo de você Eu tenho de reprimir minha hostilidade porque tenho medo de perder você Independentemente de sua causa a repressão exacerba o conflito levando a um círculo vicioso A ansiedade produz uma necessidade excessiva de afei ção Quando tais necessidades não são satisfeitas a criança se sente rejeitada e a ansiedade e a hostilida de se intensificam Uma vez que essa nova hostilida de também precisa ser reprimida a fim de proteger o senso de segurança da criança seja ele qual for a an siedade aumenta e a necessidade de repressão leva à mais hostilidade Então o círculo vicioso se perpetua A criança e mais tarde o adulto perturbado fica apri 136 HALL LINDZEY CAMPBELL sionada num círculo de angústia cada vez mais inten sa e de comportamento improdutivo A criança insegura ansiosa desenvolve várias es tratégias para lidar com seus sentimentos de isola mento e desamparo 1937 Ela pode ficar hostil e tentar se vingar daqueles que a rejeitaram ou maltra taram Ou pode tornarse excessivamente submissa a fim de recuperar o amor que sente ter perdido Ela pode desenvolver um quadro irrealista e idealizado de si mesma para compensar seus sentimentos de inferioridade 1950 A criança pode tentar comprar o amor dos outros ou usar ameaças para obrigar as pessoas a gostarem dela Ela pode mergulhar na au topiedade para obter a simpatia dos outros Se a criança não puder conseguir amor pode ten tar obter poder sobre os outros Dessa maneira ela compensa seu sentimento de desamparo encontra uma saída para a hostilidade e consegue explorar as pessoas Ou a criança se torna altamente competitiva considerando a vitória mais importante que a realiza ção Ela também pode voltar a agressão contra si mes ma e passar a se desprezar AS NECESSIDADES NEURÓTICAS Qualquer uma dessas estratégias podese tornar um aspecto mais ou menos permanente da personalida de Em outras palavras uma determinada estratégia pode assumir o caráter de uma pulsão ou necessidade na dinâmica da personalidade Horney apresentou uma lista de dez necessidades que surgem quando tentamos encontrar soluções para o problema dos re lacionamentos humanos perturbados 1942 Ela cha mou tais necessidades de neuróticas porque são so luções irracionais para o problema 1 A necessidade neurótica de afeição e aprova ção Essa necessidade caracterizase por um desejo indiscriminado de agradar os outros e cumprir suas expectativas O mais impor tante para a pessoa é que os outros tenham uma boa opinião a seu respeito e ela é ex tremamente sensível a qualquer sinal de re jeição ou frieza 2 A necessidade neurótica de um parceiro que assuma a vida da pessoa A pessoa com essa necessidade é uma parasita Ela supervalori za o amor e tem um medo extremo de ser abandonada e deixada sozinha 3 A necessidade neurótica de restringir sua vida a limites estreitos Tal pessoa não é exigente contentase com pouco prefere permanecer na obscuridade e valoriza a modéstia acima de tudo 4 A necessidade neurótica de poder Essa neces sidade se expressa na busca do poder pelo amor ao poder em um desrespeito essencial pelos outros em uma glorificação indiscri minada da força e em um desprezo pela fra queza As pessoas que temem exercer o po der abertamente podem tentar controlar os outros pela exploração e pela superioridade intelectual Outra variedade da pulsão de poder é a necessidade de acreditar na onipo tência da vontade Essas pessoas acham que podem realizar qualquer ação simplesmen te exercendo o poder de sua vontade 5 A necessidade neurótica de explorar os outros 6 A necessidade neurótica de prestígio A auto valorização da pessoa é determinada pela quantidade de reconhecimento público rece bido 7 A necessidade neurótica de admiração pessoal As pessoas com essa necessidade têm um quadro inflado de si mesmas e querem ser admiradas nesta base e não por aquilo que realmente são 8 A ambição neurótica de realização pessoal Tais pessoas querem ser as melhores e obrigam se a realizações cada vez maiores como re sultado de sua insegurança básica 9 As necessidades neuróticas de autosuficiência e independência Tendose desapontado nas tentativas de encontrar relacionamentos ca rinhosos e satisfatórios com os outros a pes soa se afasta e não quer vincularse a nada e a ninguém Tais indivíduos se tornam soli tários 10 A necessidade neurótica de perfeição e nãovul nerabilidade Temerosas de cometer erros e ser criticadas as pessoas com essa necessi dade tentam tornarse inexpugnáveis e infa líveis Estão constantemente buscando falhas em si mesmas para poder corrigilas antes que se tornem óbvias para os outros TEORIAS DA PERSONALIDADE 137 Essas dez necessidades são as origens dos confli tos internos A necessidade de amor do neurótico por exemplo é insaciável quanto mais recebe mais quer Conseqüentemente os neuróticos nunca estão satis feitos Da mesma forma sua necessidade de indepen dência nunca pode ser inteiramente satisfeita porque outra parte de sua personalidade quer ser amada e admirada A busca de perfeição é uma causa perdida desde o início Todas as necessidades recémcitadas são irrealistas TRÊS SOLUÇÕES Em uma publicação posterior 1945 Horney classifi cou essas dez necessidades em três grupos 1 apro ximarse das pessoas por exemplo necessidade de amor 2 afastarse das pessoas por exemplo neces sidade de independência e 3 ir contra as pessoas por exemplo necessidade de poder Aproximarse das pessoas às vezes chamado de aquiescência ou solução de autoanulação representa a tentativa de lidar com a insegurança por meio do raciocínio Se você me ama não vai me magoar Afastarse das pessoas cha mado de retraimento ou solução de renúncia repre senta a tentativa da criança de resolver seu conflito de insegurança dizendo Se eu me retraio nada pode me magoar Ir contra as pessoas chamado de agres são ou solução expansiva é a criança dizendo Se eu tenho poder ninguém pode me magoar Horney 1937 p 9699 Cada uma dessas tendências neuró ticas superenfatiza um dos elementos envolvidos na ansiedade básica o desamparo no aproximarse das pessoas o isolamento no afastarse das pessoas e a hostilidade no ir contra as pessoas Cada uma das anotações representa uma orientação básica em rela ção aos outros e a si mesmo Horney encontra nessas diferentes orientações a base do conflito interno A diferença essencial entre um conflito normal e um conflito neurótico é o grau A disparidade entre as questões conflitantes é bem menor para a pessoa nor mal do que para o neurótico 1945 p 31 Em ou tras palavras todo mundo tem esses conflitos mas algumas pessoas principalmente devido a experiên cias iniciais com rejeição negligência superproteção e outros tipos de tratamento parental infeliz têmnos em uma forma agravada Enquanto a pessoa normal consegue resolver os conflitos integrando as três orientações uma vez que elas não são mutuamente exclusivas a pessoa neuró tica devido à maior ansiedade básica precisa utilizar soluções irracionais e artificiais Ela conscientemente reconhece apenas uma das tendências e nega ou re prime as outras duas Horney concordava com Adler que o neurótico não é flexível ALIENAÇÃO Em seus últimos livros Horney 1945 1950 enfati zou uma estratégia alternativa de manejo por parte do neurótico ele pode defensivamente afastarse do self real e buscar alguma alternativa idealizada No processo Horney enfatiza a alienação como a conse qüência da tentativa da criança de lidar com a ansie dade básica A ansiedade e a hostilidade levam a cri ança a considerar o seu self real como inadequado sem valor e indigno de amor Dada essa autoimagem negativa emerge um self desprezado A criança res ponde defensivamente a essa autodescrição desprezí vel criando e lutando para manter uma imagem ide alizada da pessoa que deveria ser Esse self idealizado existe em conjunção com uma série de autoexpecta tivas rígidas criando o que Horney chamou de a ti rania do deveria e a busca da glória O neurótico busca a autoestima que não possui tentando chegar a uma versão irrealista da pessoa que deveria ser Novamente são notáveis os paralelos com os rígidos finalismos ficcionais do neurótico conforme previa mente descrito por Adler e com a adesão da pessoa desajustada a condições de valor conforme subseqüen temente descrito por Carl Rogers Além dessas estratégias centrais Horney 1945 Capítulo 8 descreveu uma série de abordagens auxi liares ao conflito neurótico Assim os neuróticos po dem desenvolver defensivamente pontos cegos ou compartimentos uma vez que escolhem não enxer gar discrepâncias entre seu comportamento e seu self idealizado Ou podem empenharse em racionaliza ção cinismo ou autocontrole excessivo Todos esses artifícios inconscientes servem como pseudo soluções para o conflito básico do neurótico Como uma estratégia final o neurótico pode tentar lidar com conflitos internos externalizandoos Isto é os neu 138 HALL LINDZEY CAMPBELL róticos podem recorrer à tendência a experienciar processos internos como se ocorressem fora deles e como regra considerar esses fatores externos como responsáveis por suas dificuldades 1945 p 116 A pessoa diz com efeito Eu não quero explorar os ou tros eles é que querem me explorar Essa solução cria conflitos entre a pessoa e o mundo externo Todos esses conflitos são evitáveis ou solucioná veis se a criança for criada em um lar em que existe segurança confiança amor respeito tolerância e ca rinho Isto é Horney diferentemente de Freud e Jung não achava que o conflito estivesse inserido na natu reza do ser humano sendo portanto inevitável O con flito decorre das condições sociais A pessoa que ten de a se tornar neurótica é aquela que experiencia de forma acentuada as dificuldades culturalmente deter minadas principalmente por meio das experiências da infância 1937 p 290 HARRY STACK SULLIVAN Harry Stack Sullivan foi o criador de um novo ponto de vista conhecido como a teoria interpessoal da psi quiatria Seu princípio central no que diz respeito a uma teoria da personalidade é que a personalidade é o padrão relativamente duradouro de situações in terpessoais recorrentes que caracteriza uma vida hu mana 1953 p 111 A personalidade é uma entida de hipotética que não pode ser isolada de situações interpessoais e o comportamento interpessoal é tudo o que podemos observar como personalidade Portan to é inútil acreditava Sullivan falar do indivíduo como o objeto de estudo porque o indivíduo não existe e não pode existir à parte de suas relações com outras pessoas Desde o primeiro dia de vida o bebê é parte de uma situação interpessoal e pelo resto de sua vida ele continua sendo membro de um campo social Mes mo os eremitas que renunciaram à sociedade levam consigo para a solidão as memórias de antigos relaci onamentos pessoais que continuam influenciando seu pensamento e seus atos Embora Sullivan não negasse a importância da hereditariedade e da maturação para formar e mol dar o organismo ele sentia que tudo que é distinta mente humano é produto de interações sociais Além disso as experiências interpessoais de uma pessoa podem alterar e realmente alteram seu funcionamen to puramente fisiológico de modo que mesmo o or ganismo perde seu status como entidade biológica e tornase um organismo social com suas maneiras so cializadas próprias de respiração digestão elimina ção circulação e assim por diante Para Sullivan a ciência da psiquiatria está aliada à psicologia social e sua teoria da personalidade traz a marca de sua forte preferência pelos conceitos e variáveis desse ramo da psicologia Ele escreveu A ciência geral da psiquiatria pareceme cobrir praticamente o mesmo campo estudado pela psi cologia social porque a psiquiatria científica tem de ser definida como o estudo das relações inter pessoais e isso acaba exigindo o uso da estrutura conceitual que agora chamamos de teoria de cam po Dessa perspectiva a personalidade é vista como hipotética O que pode ser estudado é o padrão de processos que caracteriza a interação de personalidades em determinadas situações ou campos recorrentes que incluem o observador 1950 p 92 Harry Stack Sullivan nasceu em uma fazenda perto de Norwich Nova York em 21 de fevereiro de 1892 e morreu em 14 de janeiro de 1949 em Paris França a caminho de casa depois de um encontro do conse lho executivo da Federação Mundial de Saúde Mental em Amsterdam Ele recebeu seu diploma de médico do Chicago College of Medicine and Surgery em 1917 e serviu nas forças armadas durante a Primeira Guer ra Mundial Depois da guerra trabalhou como oficial médico do Conselho Federal de Educação Vocacional e a seguir no Serviço de Saúde Pública Em 1922 Sullivan foi para o Hospital Saint Elizabeth em Wa shington D C onde sofreu a influência de William Alanson White um dos líderes da neuropsiquiatria americana De 1923 até o início da década de 30 ele trabalhou na escola de medicina da Universidade de Maryland e no Hospital Sheppard e Enoch Pratt em Towson Foi durante esse período de sua vida que Sullivan conduziu investigações sobre a esquizofre nia que estabeleceram sua reputação como clínico Ele deixou Maryland para abrir um consultório na Park Avenue em Nova York com o propósito expresso de estudar o processo obsessivo em pacientes de consul tório Na época ele começou sua formação analítica TEORIAS DA PERSONALIDADE 139 Harry Stack Sullivan 140 HALL LINDZEY CAMPBELL formal com Clara Thompson uma aluna de Sandor Ferenczi Esse não foi o primeiro contato de Sullivan com a psicanálise Ele tivera cerca de 75 horas de aná lise enquanto ainda era estudante de medicina Em 1933 ele se tornou presidente da Fundação William Alanson White e aí trabalhou até 1943 Em 1936 ele ajudou a fundar e tornouse diretor da Washington School of Psychiatry o instituto de formação da fun dação O jornal Psychiatry começou a ser publicado em 1938 para promover a teoria das relações inter pessoais de Sullivan Ele foi coeditor e depois editor até a sua morte Sullivan trabalhou como consultor para o Selective Service Systems em 19401941 par ticipou em 1948 do Tensions Project da UNESCO estabelecido pelas Nações Unidas para estudar as ten sões que afetam o entendimento internacional e foi indicado como membro da comissão preparatória in ternacional do Congresso Internacional de Saúde Mental no mesmo ano Sullivan foi um estadista cien tífico assim como um proeminente portavoz da psi quiatria o líder de uma escola importante de forma ção de psiquiatras um terapeuta notável um teórico intrépido e um cientista médico produtivo Por sua vívida personalidade e pensamento original ele atraiu muitas pessoas que se tornaram seus discípulos alu nos colegas e amigos Além de William Alanson White as principais in fluências no desenvolvimento intelectual de Sullivan foram Freud Adolph Meyer e a Escola de Sociologia de Chicago que consistia em George Herbert Mead W I Thomas Edward Sapir Robert E Park E W Burgess Charles E Merriam William Healy e Harold Lasswell Sullivan se sentia especialmente ligado a Edward Sapir um dos pioneiros na defesa de um rela cionamento de trabalho mais estreito entre a antro pologia a sociologia e a psicanálise Sullivan come çou a formular sua teoria das relações interpessoais em 1929 e em meados da década de 30 já tinha con solidado seu pensamento Durante sua vida Sullivan publicou apenas um livro apresentando a sua teoria 1947 Entretanto ele manteve cadernos detalhados e muitas de suas aulas para os alunos da Washington School of Psychi atry foram gravadas Esses cadernos e gravações as sim como outros materiais não publicados foram en tregues à Fundação Psiquiátrica William Alanson White Cinco livros baseados no material de Sullivan foram publicados os primeiros três com introduções e comentários de Helen Swick Perry e Mary Gravell e os dois últimos apenas da Sra Perry The Interperso nal Theory of Psychiatry 1953 consiste principalmente em uma série de palestras proferidas por Sullivan no inverno de 19461947 e representa seu relato mais completo de sua teoria das relações interpessoais The Psychiatric Interview 1954 baseiase em duas séries de palestras proferidas por Sullivan em 1944 e 1945 e Clinical Studies in Psychiatry 1956 em palestras proferidas em 1943 Os artigos de Sullivan sobre es quizofrenia a maioria dos quais remonta à época em que trabalhava no Hospital Sheppard e Enoch Pratt foram reunidos e publicados sob o título Schizophre nia as a Human Process 1962 O último volume foi The Fusion of Psychiatry and Social Science 1964 O primeiro e o último volumes dessa série são os mais pertinentes para entendermos a teoria psicológica social de Sullivan da personalidade Patrick Mullahy um filósofo e discípulo de Sulli van editou vários livros sobre a teoria das relações interpessoais Um deles A Study of Interpersonal Rela tions 1949 contém um grupo de artigos de pessoas associadas à Washington School e ao Instituto Willi am Alanson White na cidade de Nova York Todos os artigos foram originalmente impressos no Psychiatry incluindo três de Sullivan Outro livro intitulado The Contributions of Harry Stack Sullivan 1952 consiste em um grupo de artigos apresentados em um simpó sio memorial por representantes de várias disciplinas incluindo psiquiatria psicologia e sociologia Esse li vro contém um relato sucinto de Mullahy da teoria interpessoal e uma bibliografia completa dos textos de Sullivan até 1951 Os resumos das idéias de Sulli van também aparecem em três outros livros de Mullahy 1948 1970 1973 A teoria interpessoal de Sullivan foi examinada detalhadamente por Dorothy Blitsten 1953 e sua vida e obra por Chapman 1976 e Perry 1982 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE Sullivan insistia repetidamente que a personalidade é uma entidade puramente hipotética uma ilusão que não pode ser observada ou estudada à parte de situa ções interpessoais A unidade de estudo é a situação TEORIAS DA PERSONALIDADE 141 interpessoal e não a pessoa A organização da perso nalidade consiste em eventos interpessoais ao invés de intrapsíquicos A personalidade só se manifesta quando a pessoa está se comportando em relação a um ou mais indivíduos Essas pessoas não precisam estar presentes elas podem ser inclusive figuras ilu sórias ou inexistentes Uma pessoa pode ter um rela cionamento com um herói popular como Paul Bunyan ou com um personagem ficcional como Anna Kareni na ou com ancestrais ou descendentes ainda não nas cidos A psiquiatria é o estudo de fenômenos que ocor rem em situações interpessoais em configurações formadas por duas ou mais pessoas das quais todas com exceção de uma podem ser completamente ilu sórias 1964 p 33 Perceber lembrar pensar ima ginar e todos os outros processos psicológicos têm um caráter interpessoal Mesmo os sonhos noturnos são interpessoais uma vez que normalmente refle tem os relacionamentos do sonhador com outras pes soas Embora Sullivan desse à personalidade um status apenas hipotético ele afirmava que ela é o centro di nâmico de vários processos que ocorrem em uma sé rie de campos interpessoais Além disso ele atribuiu um status substantivo a alguns desses processos iden tificandoos e nomeandoos e conceitualizando algu mas de suas propriedades Os principais são os dina mismos as personificações e os processos cognitivos Dinamismos Um dinamismo é a menor unidade que pode ser em pregada no estudo do indivíduo É definido como o padrão relativamente duradouro de transformações de energia que recorrentemente caracteriza o orga nismo em sua duração como um organismo vivo Sullivan 1953 p 103 Uma transformação de ener gia é qualquer forma de comportamento Ele pode ser manifesto e público como falar ou oculto e privado como pensar e fantasiar Uma vez que um dinamismo é um padrão de comportamento persistente e recor rente ele é mais ou menos como um hábito A defini ção de Sullivan de padrão é original um invólucro contendo diferenças particulares insignificantes 1953 p 104 Isso significa que uma nova caracte rística pode ser acrescentada a um padrão sem mudar esse padrão desde que não seja significativamente diferente dos outros conteúdos do invólucro Se for significativamente diferente vai transformar o padrão em um novo padrão Por exemplo duas maçãs po dem ser bem diferentes e ainda assim serem identifi cadas como maçãs porque as diferenças não são sig nificativas Entretanto uma maçã e uma banana são diferentes em aspectos significativos e portanto for mam dois padrões diferentes Os dinamismos com um caráter distintivamente humano são aqueles que caracterizam as relações in terpessoais Por exemplo alguém podese comportar de uma maneira habitualmente hostil em relação a uma certa pessoa ou grupo de pessoas o que expres sa um dinamismo de ódio Um homem que tende a buscar relacionamentos lascivos com mulheres mani festa um dinamismo de luxúria Uma criança que tem medo de estranhos tem um dinamismo de medo Qual quer reação habitual em relação a uma ou mais pes soas seja na forma de um sentimento uma atitude ou seja uma ação manifesta constitui um dinamismo Todas as pessoas têm os mesmos dinamismos básicos mas o modo de expressão de um dinamismo varia de acordo com a situação e a experiência de vida do in divíduo Um dinamismo normalmente emprega uma de terminada zona do corpo como a boca as mãos o ânus e os genitais para interagir com o ambiente Uma zona consiste em um aparelho receptor para receber estímulos um aparelho efetuador para realizar uma ação e um aparelho conector chamado edutor no sis tema nervoso central que conecta o mecanismo re ceptor com o mecanismo efetuador Assim quando o mamilo é colocado na boca do bebê ele estimula a mucosa sensível dos lábios que emitem impulsos ao longo dos caminhos nervosos até os órgãos motores da boca que produzem movimentos de sugar A maioria dos dinamismos tem o propósito de sa tisfazer as necessidades básicas do organismo Entre tanto existe um dinamismo importante que se desen volve em resultado da ansiedade É o dinamismo do self ou do autosistema O AutoSistema A ansiedade é um produto das relações interpessoais sendo transmitida originalmente da mãe para o bebê e posteriormente por ameaças à segurança da pessoa Para evitar ou minimizar a ansiedade real ou potenci al as pessoas adotam vários tipos de medidas prote 142 HALL LINDZEY CAMPBELL toras e controles para supervisionar seu comportamen to A pessoa aprende por exemplo que pode evitar punições conformandose aos desejos dos pais Essas medidas de segurança formam o autosistema ou sis tema de self que sanciona certos modos de comporta mento o self eubom proíbe outros o self eumau e exclui da consciência outros modos que são estra nhos e desagradáveis demais para serem sequer con siderados o self nãoeu Por meio desses processos o autosistema age como um filtro da consciência Sullivan empregou o termo atenção seletiva para a re cusa do inconsciente a prestar atenção a eventos e sentimentos geradores de ansiedade Esse processo tem uma semelhança óbvia com os mecanismos de defesa descritos por Freud ver Capítulo 2 e com o modelo de autodefesa apresentado por Carl Rogers ver Capítulo 11 O autosistema como guardião da segurança ten de a isolarse do resto da personalidade ele exclui informações que são incongruentes com sua presente organização e deixa portanto de beneficiarse da experiência Uma vez que o self protege a pessoa da ansiedade ele é muito valorizado e protegido de crí ticas Conforme o autosistema cresce em complexi dade e independência ele impede que a pessoa faça julgamentos objetivos de seu próprio comportamento e atenua contradições óbvias entre o que a pessoa re almente é e o que o autosistema diz que ela é Obser vem como esta dinâmica é semelhante à descrita por Horney anteriormente neste capítulo Em geral quanto mais experiências de ansiedade a pessoa tem mais inflado fica o autosistema e mais ele se dissocia do restante da personalidade Embora o autosistema sir va ao útil propósito de reduzir a ansiedade ele inter fere na capacidade da pessoa de viver construtivamen te com os outros Sullivan acreditava que o autosistema é um pro duto dos aspectos irracionais da sociedade Com isso ele queria dizer que fazemos com que a criança pe quena fique ansiosa por motivos que não existiriam em uma sociedade mais racional ela é forçada a ado tar maneiras nãonaturais e irrealistas de lidar com sua ansiedade Embora Sullivan reconhecesse que o desenvolvimento de um autosistema é absolutamen te necessário para evitar a ansiedade na sociedade mo derna e talvez em qualquer tipo de sociedade que o ser humano seja capaz de construir ele também reco nheceu que o autosistema como o conhecemos hoje é o principal obstáculo a mudanças favoráveis na personalidade 1953 p 169 Talvez com ironia ele escreveu O self é o conteúdo da consciência sempre que a pessoa está plenamente satisfeita consigo mes ma com o prestígio que goza entre seus pares e com o respeito e a deferência que deles recebe 1964 p 217 Personificações Uma personificação é a imagem que o indivíduo tem de si mesmo ou de outra pessoa É um complexo de sentimentos atitudes e concepções que decorrem de experiências de satisfação de necessidades e de ansie dade Por exemplo o bebê desenvolve uma personifi cação de uma boa mãe ao ser amamentado e cuidado por ela Qualquer relacionamento interpessoal que envolva satisfação tende a criar uma imagem favorá vel do agente que satisfaz Por outro lado a personifi cação do bebê de uma mãe má resulta de experiênci as com ela envolvendo ansiedade A mãe ansiosa é personificada como a mãe má Finalmente essas duas personificações da mãe juntamente com quaisquer outras existentes tais como a mãe sedutora ou a mãe superprotetora fundemse para formar uma personi ficação complexa As imagens que levamos em nossa mente rara mente são descrições acuradas das pessoas às quais se referem Elas se formam em primeiro lugar para lidar com as pessoas em situações interpessoais bas tante isoladas mas uma vez formadas normalmente persistem e influenciam as nossas atitudes em relação a outras pessoas Assim uma pessoa que personifica seu pai como um homem mesquinho e ditatorial pode projetar essa mesma personificação em outros homens mais velhos como professores policiais e emprega dores Conseqüentemente algo que tem como função reduzir a ansiedade no início da vida pode interferir posteriormente nas relações interpessoais Essas ima gens carregadas de ansiedade distorcem nossas con cepções de pessoas presentemente significativas As personificações do self como o eubom e o eumau seguem os mesmos princípios das personificações dos outros A personificação eubom resulta de experiên cias interpessoais recompensadoras e a personifica ção eumau de situações ansiogênicas E como as personificações de outras pessoas as autopersonifi cações tendem a atrapalhar a autoavaliação objetiva TEORIAS DA PERSONALIDADE 143 As personificações compartilhadas por várias pes soas chamamse estereótipos São concepções consen sualmente validadas isto é idéias com ampla aceita ção entre os membros de uma sociedade transmitidas de uma geração para outra Exemplos de estereótipos comuns na nossa cultura são o professor distraído o artista inconvencional e o executivo de negócios astu to e insensível Processos Cognitivos A contribuição notável de Sullivan relativa ao lugar da cognição nas questões da personalidade é sua clas sificação tripla da experiência A experiência disse ele ocorre em três modos prototáxico paratáxico e sintáxico A experiência prototáxica pode ser consi derada como a série descontínua de estados momen tâneos do organismo sensível 1953 p 29 Esse tipo de experiência é semelhante ao que James chamou de fluxo de consciência as sensações as imagens e os sentimentos brutos que fluem através da mente de um ser sensível Eles não têm nenhuma conexão ne cessária entre si e não possuem nenhum significado para a pessoa que experiencia O modo prototáxico de experiência é encontrado em sua forma mais pura nos primeiros meses de vida e é a précondição neces sária para o aparecimento dos outros dois modos O modo paratáxico de pensamento consiste em ver as relações causais entre os eventos que ocorrem aproximadamente no mesmo momento mas que não estão logicamente relacionados O eminente escritor tcheco Franz Kafka retratou um caso interessante de pensamento paratáxico em um de seus contos Um cachorro que vivia em um canil cercado por uma cer ca alta estava urinando certo dia quando um osso foi atirado por cima da cerca O cachorro pensou Meu ato de urinar fez esse osso aparecer A partir daí sempre que ele queria algo para comer erguia a per na Sullivan acreditava que grande parte do nosso pen samento não avança além do nível da parataxe nós vemos conexões causais entre experiências que nada têm a ver uma com a outra Todas as superstições por exemplo são exemplos de pensamento paratáxico O pensamento paratáxico tem muito em comum com o processo chamado por Skinner de comportamento su persticioso ver Capítulo 12 O terceiro e mais elevado modo de pensamento é o sintáxico que consiste na atividade simbólica con sensualmente validada especialmente de natureza verbal Um símbolo consensualmente validado é aque le que possui um significadopadrão para um grupo de pessoas As palavras e os números são os melhores exemplos de tais símbolos O modo sintáxico produz ordem lógica entre as experiências e permite que as pessoas se comuniquem umas com as outras Além dessa formulação dos modos de experiên cia Sullivan enfatizou a importância da previsão no funcionamento cognitivo O homem a pessoa vive com seu passado seu presente e seu futuro próximo sendo claramente relevantes para explicar seu pensa mento e ação 1950 p 84 A previsão depende da nossa memória do passado e da interpretação do pre sente Embora os dinamismos as personificações e os processos cognitivos não completem a lista dos cons tituintes da personalidade eles são os principais as pectos estruturais distintivos do sistema de Sullivan A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Sullivan em comum com muitos outros teóricos da personalidade concebia a personalidade como um sistema de energia cujo principal trabalho consiste em atividades que reduzirão a tensão Ele disse que não há necessidade de acrescentar o termo mental à energia ou tensão pois ele os utiliza exatamente com o mesmo sentido que têm na física Tensão Sullivan começou com a concepção familiar do orga nismo como um sistema de tensão que teoricamente pode variar entre os limites do relaxamento absoluto ou euforia como Sullivan preferia chamar e a tensão absoluta exemplificada no terror extremo Existem duas fontes principais de tensão 1 as tensões que surgem das necessidades do organismo e 2 as ten sões que resultam de uma ansiedade As necessidades estão relacionadas às exigências fisicoquímicas da vida são aquelas condições como falta de alimento água ou oxigênio que produzem um desequilíbrio na eco nomia do organismo As necessidades podem ter um caráter geral como a fome ou estar mais especifica mente relacionadas à alguma zona do corpo como a 144 HALL LINDZEY CAMPBELL necessidade de sugar do bebê As necessidades se or ganizam segundo uma ordem hierárquica as inferio res precisam ser satisfeitas antes que as superiores pos sam ser acomodadas Um resultado da redução da necessidade é uma experiência de satisfação As ten sões podem ser vistas como necessidades de transfor mações específicas de energia que dissiparão a ten são freqüentemente com uma mudança concomitante de estado mental uma mudança de consciência à qual podemos aplicar genericamente o termo satisfa ção 1950 p 85 A conseqüência típica do fracasso prolongado em satisfazer as necessidades é um senti mento de apatia que produz uma redução geral das tensões A ansiedade é a experiência de tensão resultante de ameaças reais ou imaginárias à própria segurança Muita ansiedade reduz a eficiência do indivíduo em satisfazer suas necessidades perturba as relações in terpessoais e produz confusão no pensamento A an siedade varia em intensidade dependendo da gravi dade da ameaça e da efetividade das operações de segurança empregadas pelas pessoas Uma ansiedade grave é como uma pancada na cabeça não transmite nenhuma informação à pessoa e traz confusão total e inclusive amnésia As formas menos graves de ansie dade podem ser informativas De fato Sullivan acre ditava que a ansiedade é a primeira grande influência educativa na vida A ansiedade é transmitida ao bebê por aquela que faz a maternagem que expressa an siedade em seu jeito tom de voz e comportamento geral Sullivan admitiu não saber como ocorria essa transmissão embora provavelmente se realize por al gum tipo de processo empático de natureza obscura Em conseqüência da ansiedade transmitida pela mãe outros objetos no ambiente circundante ficam carre gados de ansiedade pela operação do modo paratáxi co de associar experiências contíguas O mamilo da mãe por exemplo transformase em um mamilo mau que produz reações de rejeição no bebê O bebê apren de a afastarse de atividades e objetos que aumentam a ansiedade Quando o bebê não pode escapar da an siedade ele tende a adormecer Esse dinamismo do desligamento sonolento como Sullivan o chama é o equivalente da apatia que é o dinamismo despertado por necessidades insatisfeitas De fato esses dois di namismos não podem ser objetivamente diferencia dos Sullivan disse que uma das grandes tarefas da psicologia é descobrir as vulnerabilidades básicas à ansiedade nas relações interpessoais em vez de ten tar lidar com os sintomas resultantes da ansiedade Transformações de Energia A energia é transformada pelo trabalho O trabalho pode ser uma ação manifesta envolvendo os múscu los estriados do corpo ou pode ser mental tal como perceber lembrar e pensar Essas atividades manifes tas ou ocultas têm como meta o alívio de tensão Elas em grande medida são condicionadas pela sociedade em que a pessoa é criada O que qualquer um pode descobrir ao investigar seu passado é que padrões de tensões e de transformações de energia que constitu em sua vida são em uma extensão verdadeiramente assombrosa reflexos de sua educação para viver em uma determinada sociedade Sullivan 1950 p 83 Sullivan não acreditava que os instintos fossem fontes importantes de motivação humana e não acei tava a teoria de Freud da libido O indivíduo tende a se comportar de determinada maneira como resulta do de interações com as pessoas e não porque possui imperativos inatos para certos tipos de ação O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Sullivan detalhou bem a seqüência de situações interpessoais às quais a pessoa é exposta do período de bebê à idade adulta e as maneiras como essas si tuações contribuem para a formação da personalida de Mais do que qualquer outro teórico da personali dade com as possíveis exceções de Freud e Erikson Sullivan considerava a personalidade de uma pers pectiva de estágios definidos de desenvolvimento Ao passo que Freud mantinha a posição de que o desen volvimento é amplamente um desdobramento do ins tinto sexual Sullivan defendia persuasivamente uma visão mais psicológica social do desenvolvimento da personalidade que reconhecesse devidamente as con tribuições notáveis dos relacionamentos humanos Embora Sullivan não rejeitasse os fatores biológicos como condicionantes do desenvolvimento da perso nalidade ele os subordinava aos determinantes soci ais do desenvolvimento psicológico Além disso ele era da opinião de que às vezes essas influências soci TEORIAS DA PERSONALIDADE 145 ais se opõem às necessidades biológicas da pessoa e têm efeitos prejudiciais sobre a personalidade Sulli van jamais deixou de reconhecer as influências dele térias da sociedade De fato como qualquer outro te órico psicológico social Sullivan foi um crítico agudo e incisivo da sociedade contemporânea Estágios de Desenvolvimento Sullivan delineou seis estágios no desenvolvimento da personalidade antes do estágio final da maturidade Esses seis estágios são típicos das culturas européias ocidentais e podem ser diferentes em outras socieda des São eles 1 infância 2 meninice 3 idade juvenil 4 préadolescência 5 adolescência inicial e 6 adolescência final A infância se estende do nascimento ao apareci mento da fala articulada Nesse período a zona oral é a zona primária de interação entre o bebê e seu ambi ente A amamentação oferece ao bebê sua primeira experiência interpessoal A característica do ambien te que se destaca durante o período de bebê é o obje to que alimenta o bebê faminto ou o mamilo do seio da mãe ou o bico da mamadeira O bebê desenvolve várias concepções do mamilo ou bico do seio depen dendo das experiências que tem com ele São elas 1 o mamilo bom que sinaliza a amamentação e é um sinal de que a satisfação está chegando 2 o mamilo bom mas insatisfatório porque o bebê não está com fome 3 o mamilo errado porque não dá leite e é um sinal para a rejeição e a subseqüente busca de ou tro mamilo e 4 o mamilo mau da mãe ansiosa que é um sinal para a esquiva Os outros aspectos característicos da infância são 1 o aparecimento dos dinamismos de apatia e desli gamento sonolento 2 a transição de um modo de cognição prototáxico para um paratáxico 3 a orga nização de personificações como a mãe má ansiosa que rejeita e frustra e a mãe boa tranqüila que acei ta e satisfaz 4 a organização da experiência por meio da aprendizagem e a emergência dos rudimentos do autosistema 5 a diferenciação do corpo do bebê de modo que ele aprende a satisfazer suas tensões independentemente da pessoa que faz a maternagem sugando o polegar por exemplo e 6 a aprendiza gem de movimentos coordenados envolvendo mão e olho mão e boca e ouvido e voz A transição da infância para a meninice é possibi litada pela aprendizagem da linguagem e pela orga nização da experiência no modo sintáxico A menini ce se estende da emergência da fala articulada ao aparecimento da necessidade de companheiros para brincar O desenvolvimento da linguagem permite entre outras aquisições a fusão de diferentes personi ficações por exemplo a mãe boa e a má e a integra ção do autosistema em uma estrutura mais coerente O autosistema começa a desenvolver a concepção de gênero o menino se identifica com o papel masculino prescrito pela sociedade e a menina com o papel fe minino O desenvolvimento da capacidade simbólica permite que a criança brinque de ser adulta Sullivan chamou de dramatizações esses desempenhos como se Isso também permite que a criança se dedique a várias atividades manifestas e ocultas que têm o pro pósito de evitar a punição e a ansiedade Sullivan as chama de preocupações Um evento dramático da meninice é a transfor mação malevolente o sentimento de que vivemos en tre inimigos Esse sentimento caso se torne suficien temente forte impossibilita a criança de responder positivamente aos gestos afetuosos das outras pesso as A transformação malevolente distorce as relações interpessoais da criança levandoa ao isolamento Ela diz de fato Era uma vez tudo era adorável mas isso foi antes de eu ter de lidar com pessoas A trans formação malevolente é causada por experiências dolorosas e ansiosas com pessoas e pode levar à re gressão ao estágio menos ameaçador do período de bebê A sublimação que Sullivan definiu como a subs tituição involuntária de um padrão de comportamen to que encontra ansiedade ou colide com o autosiste ma de um padrão de atividade socialmente mais aceitável que satisfaz partes do sistema motivacional que causaram problemas 1953 p 193 aparece durante a meninice O excesso de tensão que não é descarregado pela sublimação é gasto em desempe nhos simbólicos por exemplo em sonhos noturnos O estágio juvenil se estende pela maioria dos anos iniciais do ensino fundamental É um período para socializarse adquirir experiências de subordinação social a figuras de autoridade fora da família tornar se competitivo e cooperativo aprender o significado de ostracismo desprezo e sentimento grupal A crian 146 HALL LINDZEY CAMPBELL ça aprende a não prestar atenção às circunstâncias externas que não a interessam a supervisionar seu comportamento por meio de controles internos a for mar estereótipos em atitudes a desenvolver modos novos e mais efetivos de sublimação e a distinguir mais claramente entre a fantasia e a realidade Um grande evento desse período é a emergência da concepção de orientação na vida A pessoa está orientada na vida na extensão em que formulou ou pode facilmente ser levada a formular ou tem insight disso os seguintes ti pos de dados as tendências integradoras neces sidades que costumeiramente caracterizam suas relações interpessoais as circunstâncias apropri adas à sua satisfação e descarga relativamente li vres de ansiedade e as metas mais ou menos re motas pela aproximação das quais a pessoa vai privarse de oportunidades intercorrentes de sa tisfação ou de aumento do próprio prestígio 1953 p 243 O período relativamente breve da préadolescên cia é marcado pela necessidade de um relacionamen to íntimo com um igual do mesmo sexo um amigo em quem possamos confiar e que enfrente conosco as tarefas e os problemas da vida Esse é um período extremamente importante porque assinala o início de relacionamentos humanos genuínos com outras pes soas Em períodos anteriores a situação interpessoal se caracteriza pela dependência da criança em rela ção a uma pessoa mais velha Durante a préadoles cência a criança começa a formar relacionamentos de amizade nos quais existem igualdade mutualida de e reciprocidade entre os membros Sem uma com panhia íntima o préadolescente tornase vítima de uma solidão desesperada O principal problema do período da adolescência inicial é o desenvolvimento de um padrão de ativida de heterossexual As mudanças psicológicas da puber dade são experienciadas pelo jovem como sentimen tos de desejo sensual O dinamismo do desejo sensual emerge desses sentimentos e começa a afirmarse na personalidade O dinamismo do desejo sensual envol ve primariamente a zona genital mas outras zonas de interação como a boca e as mãos também partici pam do comportamento sexual Existe uma separa ção entre a necessidade erótica e a necessidade de intimidade a necessidade erótica toma como seu ob jeto um membro do sexo oposto enquanto a necessi dade de intimidade permanece fixada em um mem bro do mesmo sexo Se essas duas necessidades não se divorciarem o jovem vai apresentar uma orienta ção homossexual em vez de heterossexual Sullivan salientou que muitos dos conflitos da adolescência de correm das necessidades opostas de gratificação se xual de segurança e de intimidade A adolescência inicial persiste até que a pessoa encontre algum pa drão estável de desempenho que satisfaça suas pul sões genitais Sullivan escreveu A adolescência final se esten de da criação do padrão de atividade genital preferi da por meio de inumeráveis passos educativos e edu tivos até o estabelecimento de um repertório plenamente humano ou maduro de relações interpes soais conforme permitem as oportunidades pessoais e culturais 1953 p 297 Em outras palavras o pe ríodo da adolescência final constitui uma iniciação bastante prolongada em privilégios deveres satisfa ções e responsabilidades da vida social e da cidada nia Gradualmente ocorre o aperfeiçoamento das re lações interpessoais e o desenvolvimento da experiência no modo sintáxico permite a ampliação dos horizontes simbólicos O autosistema se estabili za são aprendidas sublimações de tensões mais efeti vas e instituídas medidas de segurança mais enérgi cas contra a ansiedade Quando o indivíduo deu todos esses passos e atin giu o estágio final da idade adulta ele foi transforma do principalmente pelas relações interpessoais de um organismo animal em uma pessoa humana Nós não somos animais cobertos por uma camada de civiliza ção e humanidade mas animais que foram tão drasti camente alterados que já não somos animais mas se res humanos ou se preferirem animais humanos Determinantes do Desenvolvimento Embora Sullivan rejeitasse firmemente qualquer dou trina instintivista inflexível ele reconhecia a impor tância da hereditariedade na provisão de certas capa cidades entre as quais se destacam as capacidades de receber e elaborar experiências Ele também aceitava o princípio de que o treinamento não pode ser efetivo antes que a maturação tenha constituído a base estru tural Assim a criança não pode aprender a caminhar antes que os músculos e a estrutura óssea tenham atin TEORIAS DA PERSONALIDADE 147 gido um nível de crescimento que suporte uma postu ra ereta A hereditariedade e a maturação proporcio nam o substrato biológico para o desenvolvimento da personalidade isto é as capacidades as predisposi ções e as inclinações A cultura opera por meio de um sistema de relações interpessoais para tornar mani festas as capacidades e os desempenhos reais trans formações de energia pelos quais a pessoa atinge a meta da redução de tensão e a satisfação de necessi dades A primeira influência educativa é a da ansiedade que obriga o jovem organismo a discriminar entre ten são crescente e decrescente e a orientar sua atividade na direção desta última A segunda grande força edu cacional é a da tentativa e sucesso O sucesso como muitos psicólogos salientaram tende a fixar a ativi dade que levou à gratificação O sucesso pode ser com parado ao recebimento de recompensas tais como o sorriso da mãe ou o elogio do pai Da mesma forma o fracasso pode ser comparado a uma punição como o olhar severo da mãe ou as palavras de desaprovação do pai Também podemos aprender por meio da imi tação e da inferência Sullivan não acreditava que a personalidade já estivesse estabelecida em tenra idade Ela pode mu dar em qualquer momento à medida que surgirem novas situações interpessoais porque o organismo é extremamente plástico e maleável Embora predomi ne o ímpeto evolutivo da aprendizagem e do desen volvimento podem ocorrer regressões quando o so frimento a ansiedade e o fracasso se tornam intoleráveis PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Harry Stack Sullivan em comum com outros psiquia tras adquiriu seu conhecimento empírico da perso nalidade trabalhando com pacientes que sofriam de diferentes transtornos de personalidade mas princi palmente com esquizofrênicos e obsessivos Quando ainda era um jovem psiquiatra Sullivan descobriu que o método da associação livre não funcionava satisfa toriamente com esquizofrênicos porque despertava uma ansiedade excessiva Foram tentados outros mé todos mas esses também provocavam uma ansiedade que interferia no processo de comunicação entre pa ciente e terapeuta Conseqüentemente Sullivan pas sou a estudar as forças que impediam e facilitavam a comunicação entre duas pessoas Ao fazer isso ele descobriu que o psiquiatra era muito mais do que um observador ele era também um participante ativo de uma situação interpessoal O psiquiatra tinha suas próprias apreensões para manejar tais como compe tência profissional e problemas pessoais Como resul tado dessa descoberta Sullivan desenvolveu sua con cepção do terapeuta como um observador participante A teoria das relações interpessoais enfatiza mui to o método da observação participante e dá uma importância secundária aos dados obtidos por outros métodos Isso por sua vez implica que a habilidade na entrevista psiquiátrica face a face ou pessoa a pessoa é de importância fundamen tal 1950 p 122 A Entrevista A entrevista psiquiátrica é o termo de Sullivan para o tipo de situação interpessoal face a face que ocorre entre o paciente e o terapeuta Pode haver apenas uma entrevista ou uma seqüência de entrevistas com um paciente estendendose por um longo período de tem po Sullivan definiu a entrevista como um sistema ou uma série de sistemas de processos interpessoais surgindo da observação participante em que o entre vistador deriva certas conclusões sobre o entrevista do 1954 p 128 Como a entrevista é conduzida e como o entrevistador chega a conclusões a respeito do paciente constituem o assunto do livro de Sulli van The Psychiatric Interview 1954 Sullivan dividiu a entrevista em quatro estágios 1 início formal 2 reconhecimento 3 investiga ção detalhada e 4 término A entrevista é primariamente uma comunicação verbal entre duas pessoas Não só o que a pessoa diz mas também a sua maneira de dizer aquilo entona ções ritmo da fala e outros comportamentos expres sivos são as principais fontes de informação para o entrevistador O entrevistador deve estar atento a mudanças sutis nas vocalizações do paciente p ex mudanças no volume porque essas pistas muitas ve zes são evidências vitais referentes a problemas focais e a mudanças de atitude em relação ao terapeuta No 148 HALL LINDZEY CAMPBELL início o entrevistador deve evitar fazer muitas per guntas e deve manter uma atitude de observação tran qüila O entrevistador deve tentar determinar as ra zões da vinda do paciente e alguma ocorrência sobre a natureza de seus problemas O período de reconhecimento visa a descobrir quem é o paciente O entrevistador faz isso por meio de um interrogatório intensivo sobre o passado o pre sente e o futuro do paciente Esses fatos sobre a vida do paciente são os dados pessoais ou as informações biográficas Sullivan não defende um tipo de questio namento rígido estruturado que adote uma listapa drão de perguntas Por outro lado ele insiste que o entrevistador não deve deixar o paciente falar sobre questões irrelevantes e triviais O paciente deve ficar sabendo que a entrevista é um procedimento sério e que ele não deve perder tempo O entrevistador tam bém não deve tomar notas durante as entrevistas em nenhum momento do curso do tratamento porque tomar notas provoca distração demais e tende a inibir o processo de comunicação Pelo final dos primeiros dois estágios do processo de entrevista o psiquiatra deve ter formado algumas hipóteses prévias relativas aos problemas do paciente e suas origens Durante o período de questionamento detalhado o psiquiatra tenta definir qual das várias hipóteses é a correta Ele faz isso ouvindo e fazendo perguntas Sullivan sugeriu algumas áreas a serem investigadas questões de treinamento esfincteriano atitudes em relação ao corpo hábitos de alimenta ção ambição e atividades sexuais mas novamente não insistiu sobre uma lista formal de perguntas a ser seguida rigidamente À medida que tudo correr tranqüilamente o en trevistador provavelmente não aprenderá nada sobre as vicissitudes de uma entrevista entre as quais se destaca o impacto das atitudes do entrevistador sobre a capacidade de comunicação do paciente Mas quan do o processo de comunicação se deteriorar o entre vistador será forçado a se perguntar O que eu disse ou fiz que deixou o paciente ansioso Sempre existe muita reciprocidade entre as duas partes o termo de Sullivan para isso é emoção recíproca e cada uma está continuamente refletindo os sentimentos da ou tra Cabe ao terapeuta reconhecer e controlar as pró prias atitudes no interesse de uma comunicação má xima Em outras palavras ele jamais deve esquecer seu papel como um perito observador participante Uma série de entrevistas chega ao término quando o entrevistador faz uma declaração final sobre o que descobriu prescreve um curso de ação para o pacien te e avalia para ele os prováveis efeitos da prescrição sobre sua vida Pesquisa sobre a Esquizofrenia A principal contribuição de pesquisa de Sullivan na psicopatologia consiste em uma série de artigos sobre a etiologia a dinâmica e o tratamento da esquizofre nia A maior parte destes estudos foi realizada duran te seu período de trabalho no Hospital Sheppard e Enoch Pratt em Maryland e eles foram publicados em jornais psiquiátricos nos anos de 19241931 Eles revelam o grande talento de Sullivan para fazer con tato com a mente do psicótico e compreendêla A em patia era um traço extremamente desenvolvido na per sonalidade de Sullivan e ele a empregou de forma excelente ao estudar e tratar as vítimas da esquizofre nia Para Sullivan essas vítimas não eram casos sem esperança a serem trancafiados nas últimas alas das instituições para doentes mentais eles podem ser tra tados com sucesso se o psiquiatra estiver disposto a ser paciente compreensivo e observador Enquanto Sullivan estava no Hospital Sheppard e Enoch Pratt ele criou uma ala especial para pacien tes Ela consistia em uma suíte de dois quartos e uma sala de estar para seis esquizofrênicos do sexo mascu lino Essa ala estava isolada do resto do hospital e tinha uma equipe de seis atendentes do sexo masculi no escolhidos a dedo e treinados por Sullivan Ele sempre atendia cada paciente com um atendente pre sente na sala pois descobriu que isso era seguro para o paciente Nenhuma enfermeira do sexo feminino de fato nenhuma mulher podia entrar na ala Sulli van acreditava na efetividade de uma enfermaria ho mogênea com pacientes do mesmo sexo do mesmo grupo de idade e com o mesmo problema psiquiátri co O papel de Sullivan como um psiquiatra político também estava evidente em algumas de suas ativida des de pesquisa Ele acreditava que a pessoa tinha de servir para poder estudar Ele fez pesquisa sobre os negros do sul com Charles S Johnson e sobre os ne gros de Washington com E Franklin Frazier Sulli TEORIAS DA PERSONALIDADE 149 van 1964 Seu trabalho durante a guerra consistiu em criar procedimentos para fazer triagem de recru tas aumentar o moral e desenvolver uma liderança efetiva E já mencionamos seu grande interesse em trabalhar por um mundo livre de tensões e conflitos STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO As quatro teorias apresentadas neste capítulo fazem parte de um mesmo grupo porque todas enfatizam a influência das variáveis sociais no desenvolvimento da personalidade Todas elas de uma maneira ou ou tra constituem uma reação contra a posição instinti vista da psicanálise freudiana embora todos os teóri cos reconheçam seu débito para com o pensamento seminal de Freud Todos subiram nos ombros de Freud e acrescentaram seus próprios braços à sua eminente altura Eles investiram a personalidade de dimensões sociais de importância igual se não superior às di mensões biológicas propostas por Freud e Jung Além disso essas teorias ajudaram a colocar a psicologia na esfera das ciências sociais Apesar da área comum que partilham cada teo ria enfatiza agrupamentos um pouco diferentes de variáveis sociais Erich Fromm dedica a maior parte de sua atenção a descrever como a estrutura e a dinâ mica de uma determinada sociedade moldam seus membros para que seu caráter social se adapte aos valores e necessidades comuns daquela sociedade Karen Horney embora reconhecendo a influência do contexto social em que a pessoa vive se detém nos fatores íntimos dentro do ambiente familiar que moldam a personalidade A esse respeito a teoria in terpessoal de Sullivan se assemelha às idéias de Hor ney mais do que às de Fromm Para Sullivan os rela cionamentos humanos da infância da meninice e da adolescência são de importância suprema e ele é muito eloqüente e persuasivo quando descreve o nexo entre aquela que faz a maternagem e o bebê Adler por outro lado percorre toda a sociedade procurando fatores que sejam relevantes para a personalidade e encontraos em todo lugar Embora as quatro teorias se oponham vigorosa mente à doutrina freudiana dos instintos e à fixidez da natureza humana nenhuma das quatro adota a posição ambientalista radical de que a personalidade de um indivíduo é criada unicamente pelas condições da sociedade em que ele nasce Cada teoria à sua própria maneira concorda que existe isso que cha mamos de natureza humana que o bebê traz consigo amplamente na forma de predisposições ou potencia lidades bastante gerais ao invés de necessidades e traços específicos Essas potencialidades generaliza das exemplificadas pelo interesse social de Adler e pela necessidade de transcendência de Fromm são realizadas de maneiras concretas por agências educa tivas formais e informais da sociedade Em condições ideais essas teorias concordam o indivíduo e a socie dade são interdependentes a pessoa trabalha para promover as metas da sociedade e a sociedade por sua vez ajuda a pessoa a atingir suas próprias metas Em resumo a postura adotada por esses quatro teóri cos não é nem exclusivamente social ou sociocêntri ca nem exclusivamente psicológica ou psicocêntrica ela tem um caráter genuinamente psicológico social Além disso cada teoria afirma não apenas que a natureza humana é plástica e maleável mas também que a sociedade é igualmente plástica e maleável Se uma determinada sociedade não atende às necessida des da natureza humana ela pode ser mudada pelos humanos Em outras palavras os humanos criam o tipo de sociedade que em sua opinião vai beneficiá los mais Obviamente são cometidos erros no desen volvimento das sociedades e quando esses erros se cristalizam na forma de instituições e costumes soci ais pode ser difícil modificálos Mas todos os teóri cos foram otimistas em relação à possibilidade de mudança e cada um à sua maneira tentou fazer mudanças fundamentais na estrutura da sociedade Adler defendeu a democracia social lutou por melho res escolas montou centros de orientação infantil insistiu em reformas no tratamento dos criminosos e proferiu muitas palestras sobre os problemas sociais e suas curas Fromm e Horney por meio de seus textos e palestras apontaram o caminho para uma socieda de melhor Fromm em especial detalhou algumas das reformas básicas que precisavam ser feitas para se ter uma sociedade mais sadia Sullivan quando morreu estava ativamente envolvido em promover melhoras sociais por meio da cooperação internacional Todos os quatro como psicoterapeutas tiveram ampla ex periência com as vítimas de uma ordem social imper 150 HALL LINDZEY CAMPBELL feita conseqüentemente eles falavam com conheci mento pessoal e experiência prática em seus papéis como críticos e reformadores Outra suposição que cada teoria faz é que a ansi edade é socialmente produzida O ser humano não é por natureza o animal ansioso Ele fica ansioso pe las condições em que vive pelo espectro do desem prego pela intolerância e injustiça pela ameaça da guerra por pais hostis Removam essas condições dizem os nossos teóricos e secarão as fontes das quais brota a ansiedade O ser humano também não é des trutivo por natureza como Freud acreditava Ele se torna destrutivo quando suas necessidades básicas são frustradas mas mesmo em condições de frustração podem ser tomados outros caminhos como submis são ou retraimento Todas as teorias com exceção da de Sullivan su blinharam os conceitos do indivíduo único e do self criativo Apesar de tentativas da sociedade de arregi mentar as pessoas cada pessoa consegue manter cer to grau de individualidade criativa Na verdade é devido aos poderes criativos inerentes da pessoa que ela consegue efetuar as mudanças na sociedade As pessoas criam diferentes tipos de sociedade em dife rentes partes do globo e em diferentes momentos da história em parte porque elas são diferentes Os hu manos não são apenas criativos eles são também au toconscientes Eles sabem o que querem e lutam cons cientemente para atingir suas metas A idéia da motivação inconsciente não recebe muito peso por parte desses teóricos psicológicos sociais Em geral as teorias desenvolvidas por Adler Fromm Horney e Sullivan ampliaram o alcance da psicologia freudiana ao criar espaço para os determi nantes sociais da personalidade Vários críticos toda via desprezaram a originalidade dessas teorias psico lógicas sociais Eles dizem que tais teorias apenas desenvolvem um pouco mais um aspecto da psicaná lise clássica o ego e suas defesas Freud viu clara mente que os traços de personalidade muitas vezes representavam as defesas ou as estratégias habituais da pessoa contra as ameaças internas e externas ao ego As necessidades as tendências os estilos as ori entações as personificações os dinamismos e assim por diante nas teorias tratadas neste capítulo aco modamse na teoria freudiana sob o nome de defesas do ego Portanto concluem esses críticos nada de novo foi acrescentado a Freud e muita coisa foi subtraída Ao reduzir a personalidade ao sistema único do ego o teórico psicológico social isolou a personalidade das fontes vitais do comportamento humano fontes que têm sua origem na evolução dos seres humanos como espécie Ao ampliar o caráter social da personalidade humana eles alienaram os humanos de sua grande herança biológica Uma crítica feita às vezes à concepção do ser hu mano desenvolvida por Adler Fromm e Horney a crítica não se aplica a Sullivan é o fato de ela ser muito adocicada e idealista Em um mundo que foi dilacerado por duas grandes guerras para não men cionar as muitas outras formas de violência e irracio nalidade manifestadas pelas pessoas a imagem de um indivíduo racional autoconsciente e socializado sur preende como singularmente inadequada e inválida Podemos é claro culpar a sociedade e não os huma nos por esse deplorável estado de coisas e é isso que tais teóricos fazem Mas foram os seres humanos raci onais que criaram os tipos de arranjos sociais respon sáveis pela irracionalidade e infelicidade humanas Esse é o grande paradoxo dessas teorias Se as pesso as são tão autoconscientes tão racionais e tão sociais por que criaram tantos sistemas sociais imperfeitos Foi salientado por um filósofo Isaac Franck 1966 que a concepção da pessoa apresentada por Fromm e por outros psicólogos sociais e humanistas é menos um produto de pesquisa e mais o resultado de suas preconcepções normativas Eles são moralistas e não cientistas Franck insiste que as tendências e os traços humanos são eticamente neutros e assim não podemos deduzir prescrições éticas de declarações fatuais sobre os seres humanos Mas é difícil encon trar um teórico da personalidade de Freud a Fromm que não faça julgamentos moralistas e éticos aberta ou encobertamente sobre os efeitos prejudiciais do ambiente social sobre os humanos E muitos deles chegam a prescrever remédios É difícil para um ob servador participante permanecer neutro por mais científico que seja Outra crítica menos devastadora mas que tem mais peso para os psicólogos conforme diferenciados dos psicanalistas é o fracasso dessas teorias psicoló gicas sociais em especificar os meios exatos pelos quais uma sociedade molda seus membros Como uma pes soa adquire caráter social Como aprendemos a ser membros da sociedade Essa evidente negligência do processo de aprendizagem em teorias que dependem TEORIAS DA PERSONALIDADE 151 tanto do conceito de aprendizagem para explicar como se forma a personalidade é vista como uma omissão importante Seria suficiente apenas estar exposto a uma condição da sociedade para que tal condição afe tasse a personalidade Existiria uma fixação mecâni ca de um comportamento socialmente aprovado e uma eliminação igualmente mecânica de um comportamen to socialmente desaprovado Ou será que a pessoa reage ao meio social com insight e percepção selecio nando as características que em sua opinião produzi rão uma melhor organização da personalidade e re jeitando outras características que sente serem inconsistentes com sua autoorganização De modo geral essas teorias não falam sobre a natureza do pro cesso de aprendizagem Embora tais teorias psicológicas sociais não te nham estimulado muitas pesquisas em comparação com outras teorias elas serviram para estimular um clima intelectual em que poderia florescer a pesquisa psicológica social o que realmente aconteceu Adler Fromm Karen Horney e Sullivan não só são os res ponsáveis pela ascensão da psicologia social mas tam bém sua influência tem sido considerável Eles contri buíram imensamente para o quadro dos seres humanos como seres sociais Esse é seu grande valor no cenário contemporâneo TEORIAS DA PERSONALIDADE 153 CAPÍTULO 5 Erik Erikson e a Teoria Psicanalítica Contemporânea INTRODUÇÃO E CONTEXTO 154 PSICOLOGIA DO EGO 155 Anna Freud 155 RELAÇÕES OBJETAIS 157 Heinz Kohut 159 A FUSÃO DA PSICANÁLISE E DA PSICOLOGIA 160 George Klein 161 Robert White 162 E R I K H E R I K S O N 165 HISTÓRIA PESSOAL 165 A TEORIA PSICOSSOCIAL DO DESENVOLVIMENTO 168 I Confiança Básica Versus Desconfiança Básica 169 II Autonomia Versus Vergonha e Dúvida 171 III Iniciativa Versus Culpa 171 IV Diligência Versus Inferioridade 172 V Identidade Versus Confusão de Identidade 173 VI Intimidade Versus Isolamento 174 VII Generatividade Versus Estagnação 174 VIII Integridade Versus Desespero 175 UM NOVO CONCEITO DE EGO 175 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 177 Histórias de Caso 177 Situações Lúdicas 177 Estudos Antropológicos 179 PsicoHistória 180 PESQUISA ATUAL 181 Status da Identidade 182 Outros Estágios 183 Status Intercultural 183 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 184 154 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO O que aconteceu com a teoria da personalidade de Freud depois de sua morte em 1939 Essa é a pergun ta da qual trataremos no presente capítulo Antes de começar a discussão devemos observar que muitas ocorrências aconteceram com a teoria psicanalítica enquanto Freud ainda estava vivo Para confirmar isso só temos de comparar as Conferências Introdutórias publicadas em 1917 com as Novas Conferências Intro dutórias publicadas em 1933 Em 1917 não havia nem id nem ego ou superego Também não havia o instin to de morte e seus derivados a agressão e a autodes truição Em 1917 a ansiedade era o resultado da re pressão em 1933 ela era a causa da repressão Por volta de 1933 Freud tinha desenvolvido uma nova teoria do complexo de Édipo feminino Entretanto seria errado concluir a partir dessas comparações que a teoria psicanalítica esteve em contínuo fluxo e mu dança durante a vida de Freud Muitos dos conceitos originais permaneceram os mesmos A elaboração e a ampliação regular das idéias básicas em vez de revi sões radicais marcaram o curso do trabalho de Freud Há aqueles que acham que Freud se tornou mais especulativo à medida que envelhecia e que suas es peculações sobre as origens as estruturas e as dinâ micas da mente o que Freud chamava de metapsi cologia estavam muito distantes de suas formulações teóricas estreitamente ligadas a dados obtidos da observação clínica direta de pacientes Outros toda via salientam que as sementes de sua metapsicologia já tinham sido plantadas no Projeto para uma Psicolo gia Científica 1895 e no Capítulo 7 de A Interpreta ção dos Sonhos 1900 e que Freud sempre teve inte resse em chegar a uma teoria geral da mente ou da personalidade e não apenas em criar uma teoria da neurose Embora Freud estivesse cercado por vários homens e mulheres criativos ele foi o mestre construtor da teoria psicanalítica enquanto viveu Ele estabeleceu as fundações orientou seu curso de desenvolvimento e assumiu total responsabilidade por suas revisões importantes Freud era receptivo a idéias propostas por seus associados no movimento psicanalítico e muitas vezes davalhes o crédito por novos insights mas fazia questão absoluta de preservar os pilares conceituais sobre os quais a teoria estava baseada Quem quer que tentasse solapar esses pilares ou subs tituílos era excluído do movimento psicanalítico Ine vitavelmente vários psicanalistas separaramse do movimento e desenvolveram suas próprias teorias Entre eles destacamse Adler Jung Rank e Reich Mas seria incorreto dizer como alguns disseram que Freud era ditatorial ou pessoalmente vingativo em relação aos dissidentes No caso de Jung por exemplo a cor respondência entre ele e Freud McGuire 1974 re vela que Freud fez um grande esforço e um esforço cordial para convencer Jung da incorreção de suas de Jung idéias Entre parênteses poderíamos ob servar que foi uma sorte Freud não ter conseguido convencêlo Uma teoria afinal de contas é fruto da imaginação de uma única pessoa ela não pode ser concebida por um comitê Após a morte de Freud em 1939 seus seguidores se defrontaram com a difícil tarefa de decidir o que fazer com relação ao futuro desenvolvimento da teo ria psicanalítica O curso escolhido foi amplificar as pectos do sistema de Freud tornar mais explícitos al guns de seus postulados esclarecer as definições de alguns dos conceitos básicos ampliar a variedade de fenômenos explicados pela psicanálise e empregar métodos observacionais diferentes da entrevista psi canalítica para validar proposições derivadas da teo ria freudiana Também foram instituídas mudanças na terapia psicanalítica mas esse aspecto da psicanálise está fora do escopo do presente volume Em grande parte da literatura psicanalítica tanto passada quanto presente os parágrafos de abertura de um artigo ou capítulo são dedicados a uma apre sentação do que Freud disse sobre o tópico em consi deração O autor a seguir amplia o assunto e apre senta novas evidências ou argumentos Os textos de Freud são a maior autoridade e as suas citações estão presentes por todo o artigo ou livro para justificar os pontos defendidos pelo autor Apesar dessa grande lealdade às idéias de Freud por parte de seus seguido res e de sua compreensível tendência a tratar o for midável corpo de sua obra como textos sagrados podemos detectar algumas tendências novas na lite ratura psicanalítica desde a morte de Freud Nós dis cutiremos algumas delas Também devemos observar a crescente aproxima ção entre a psicologia e a psicanálise Não é nenhum segredo que a maioria dos psicólogos era hostil às idéi TEORIAS DA PERSONALIDADE 155 as de Freud antes da Segunda Guerra Mundial mas por motivos que discutiremos neste capítulo essa hos tilidade diminuiu As idéias de Freud não só permei am a psicologia mas também os psicólogos têm feito contribuições teóricas e empíricas à psicanálise O principal foco deste capítulo serão os textos de Erik Erikson Ele provavelmente mais do que qual quer outra figura contemporânea exemplifica como a psicanálise clássica foi elaborada ampliada e apli cada Seus extensos textos também oferecem uma ponte entre a psicologia e a psicanálise PSICOLOGIA DO EGO O desenvolvimento mais notável na teoria psicanalíti ca desde a morte de Freud certamente é a emergên cia de uma nova teoria do ego às vezes referida como psicologia do ego Embora Freud considerasse o ego o executivo da personalidade total pelo menos no caso da pessoa sadia ele nunca lhe outorgou uma posição autônoma o ego sempre permaneceu subserviente aos desejos do id Naquele que foi seu pronunciamento final sobre a teoria psicanalítica Freud 1940 reite rou o que já dissera tantas vezes Esta porção mais antiga o id do aparelho mental permanece a mais importante durante toda a vida p 14 O id e seus instintos expressam o verdadeiro propósito da vida do organismo Não existe dúvida sobre o que Freud pensava sobre o relacionamento entre o ego e o id o id é o membro dominante da parceria Anna Freud Ao contrário da posição de Freud alguns teóricos psi canalíticos propuseram uma ênfase maior no papel do ego na personalidade total O primeiro desses teó ricos foi a filha de Freud Anna A vida e o status espe cial de Anna Freud dentro da psicanálise foram exa minados por vários autores p ex Coles 1992 Dyer 1983 Roazen 1968 1969 1971 Sayers 1991 Young Bruehl 1988 e suas publicações foram compiladas em oito volumes editados pela International Univer sities Press A história de Anna Freud está inevitavelmente entrelaçada com a do pai Por exemplo Anna nasceu em 1895 o ano da publicação final do livro em cola boração com Breuer Estudos Sobre a Histeria e o ano em que Freud escreveu seu Projeto para uma Psicolo gia Científica Mais tarde Anna iniciou sua prática como analista em 1923 o ano em que seu pai publi cou O Ego e o Id Mas esse também foi o ano da pri meira cirurgia de Freud por causa de seu câncer oral Anna dedicouse cada vez mais a ele sendo sua en fermeira secretária e companhia durante seus 16 anos de vida restantes A posição de Anna Freud dentro da psicanálise gerou várias ironias fascinantes Por exemplo é notá vel que a busca de Sigmund Freud de um herdeiro intelectual amargamente malsucedida com colegas como Carl Jung tenha tido sucesso com a própria fi lha Sigmund Freud conduziu a análise didática de Anna e ela acabou se tornando a guardiã intelectual do pai mas seu próprio trabalho demonstrou como o modelo de seu pai podia ser proveitosamente expan dido Além disso foi Anna quem realmente estudou as crianças e os períodos da infância sobre os quais Freud tinha erigido interpretações tão elaboradas baseado em lembranças clínicas de pacientes adultos Esse trabalho convenceu Anna Freud de que as técni cas analíticas propostas por seu pai precisavam ser modificadas para a análise de crianças A associação livre era quase inútil com crianças por exemplo e a transferência passou a ser um fenômeno bem mais complicado Mas a modificação mais importante de Anna Freud talvez tenha sido conceitual além de téc nica Seu trabalho na Inglaterra com crianças devas tadas pelos eventos traumáticos da Segunda Guerra Mundial convenceua de que um foco exclusivo no conflito intrapsíquico é inadequado com crianças as realidades externas passada e presente de uma crian ça influenciam imensamente seu comportamento e sua patologia Anna e seus colegas criaram centros tera pêuticos residenciais para essas crianças p ex Hampstead Nurseries e Bulldogs Bank Algumas de suas interpretações do comportamento dessas crian ças contrastam nitidamente com as interpretações ofe recidas por seu pai Por exemplo um grupo de crian ças evacuadas de um campo de concentração nazista demonstrava medo de grandes caminhões e Anna interpretou essa fobia em termos da semelhança en tre esses veículos e os caminhões vistos previamente no campo de concentração Tal inferência direta é uma 156 HALL LINDZEY CAMPBELL alternativa notável à interpretação edípica de seu pai da fobia de cavalos do Pequeno Hans Anna Freud é mais conhecida pelo trabalho sobre o ego e seus mecanismos de defesa descritos no clás sico livro O Ego e os Mecanismos de Defesa que ela publicou em 1936 Ao contrário dos psicólogos do ego que vieram depois ela conceitualizou o ego de uma maneira consistente com a visão analítica ortodoxa dos interrelacionamentos entre id ego e superego Isto é o papel do ego é negociar a gratificação dos impulsos instintuais e ao mesmo tempo acomodar limitações morais internalizadas mas com mais auto nomia do que Sigmund Freud propusera Anna Freud apresentou uma discussão sistemática das estratégias defensivas às quais o ego pode recorrer ampliando para dez os mecanismos defensivos propostos por seu pai regressão repressão formação reativa isolamen to anulação projeção introjeção volta contra si mes mo transformação no contrário e sublimação A segunda maior contribuição teórica de Anna Freud foi a extensão do desenvolvimento infantil para incluir seqüências maturacionais além da expressão dos impulsos sexuais e agressivos e das defesas con tra eles Essas seqüências que ela chamou de linhas desenvolvimentais envolvem uma progressão da de pendência irracional de limites externos para um do mínio mais racional de pessoas de situações e de im pulsos Assim as linhas desenvolvimentais refletem a gradual aquisição da criança do domínio do ego e proporcionam uma base para a teoria de estágios de Erik Erikson descrita mais adiante neste capítulo Como exemplo considerem a linha desenvolvimental do egocentrismo para o companheirismo Segundo a análise de Anna Freud a criança inicialmente tem uma orientação egoísta em que as outras crianças são vis tas somente como rivais Subseqüentemente as ou tras crianças são vistas como brinquedos sem vida Gradualmente elas passam a ser vistas como potenci ais auxiliares e parceiros cuja ajuda pode ser útil em determinadas tarefas Eventualmente a criança se torna capaz de conceitualizar outras crianças como indivíduos com seus próprios direitos e como alvos legítimos de uma variedade de emoções e interações Outras linhas desenvolvimentais importantes descre vem a progressão da dependência para a autoconfi ança emocional do aleitamento para a alimentação racional das fraldas para o controle da bexiga e do intestino da irresponsabilidade para a responsabili dade no manejo corporal do corpo para o brinquedo e do brincar para o trabalhar A Freud 1965 Mais tarde em sua carreira ela propôs outras linhas indo de caminhos físicos de descarga para caminhos men tais de objetos animados para inanimados e da irres ponsabilidade para a culpa A Freud 1973 A im portância central atribuída às linhas desenvolvimentais por Anna Freud é revelada na seguinte passagem Com completo equilíbrio temporal e harmonia entre as várias linhas o resultado não poderia deixar de ser uma personalidade completamente harmoniosa bemequilibrada De fato o pro gresso em qualquer linha está sujeito à influência de três lados a variação em dados inatos que proporciona o material bruto do qual se diferen ciam o id e o ego as condições e as influências ambientais que com freqüência diferem ampla mente do que é apropriado e favorável ao cresci mento normal as interações entre forças internas e externas que constituem a experiência indivi dual de cada criança é essa variedade de pro gresso nas linhas isto é os fracassos e os sucessos desenvolvimentais que podemos considerar res ponsável pelas inumeráveis variações nos carac teres e nas personalidades humanas A Freud 1973 p 69 Apesar das modificações Anna Freud via suas for mulações como consistentes com a ênfase de Sigmund Freud nos impulsos instintuais Ao contrário a nova teoria de ego proposta por Heinz Hartmann 1958 1964 não só abrange tópicos como o desenvolvimento do princípio da realidade na infância as funções inte grativas ou sintetizadoras do ego os processos auxili ares do ego de perceber lembrar pensar e agir e as defesas do ego mas também de modo mais impor tante apresenta o conceito da autonomia do ego As discussões das funções autônomas do ego normalmen te começam citando um dos últimos artigos de Freud em que ele escreveu Mas não devemos ignorar o fato de que o id e o ego são originalmente um só e isso não implica uma supervalorização mística da he reditariedade se acreditarmos que mesmo antes de o ego existir suas subseqüentes linhas de desenvolvi mento tendências e reações já estão determinadas Freud 1937 p 343344 Partindo dessa citação Hartmann postula a existência de uma fase indiferen ciada no início da vida durante a qual se formam o id TEORIAS DA PERSONALIDADE 157 e o ego O ego não emerge de um id inato mas cada sistema tem suas origens em predisposições ineren tes e cada um tem seu próprio curso de desenvolvi mento Além disso afirmase que os processos do ego são operados por energias sexuais e agressivas neu tralizadas As metas desses processos do ego podem ser independentes de objetivos puramente instintu ais Portanto o ego e os instintos se desenvolvem e funcionam de maneira independente e complemen tar Assim como os instintos têm bases biológicas tam bém existem aparatos de ego inatos que permitem que o indivíduo se adapte ao ambiente A adaptação é um processo recíproco que envolve mudança no self mudança autoplástica e mudança no mundo mu dança aloplástica O leitor deve observar a seme lhança entre esse modelo e a distinção de Piaget en tre acomodação e assimilação e também entre o conceito de Bandura do determinismo recíproco ver Capítulo 14 Como salienta Westen 1990 Hartmann foi em grande extensão um psicólogo cognitivo As defesas do ego não precisam ter um caráter patológico ou negativo elas podem ter propósitos sadios na formação da personalidade Hartmann acre dita que uma defesa pode tornarse independente de sua origem ao combater os instintos e ter uma função de ajustamento e organização Os teóricos do ego tam bém atribuem ao ego uma esfera livre de conflitos Isso significa que alguns processos do ego não estão em conflito com o id o superego ou o mundo exter no Esses processos do ego é claro podem ser incom patíveis um com o outro de modo que a pessoa tem de decidir qual é a melhor entre várias maneiras de resolver um problema ou de fazer uma adaptação Paralelo à emergência dessa nova concepção de um ego autônomo está um crescente interesse pelas funções adaptativas do ego isto é as maneiras não defensivas do ego de lidar com a realidade ou o que Freud chamou de teste de realidade Para fazer adap tações efetivas ao mundo o ego tem à sua disposição os processos cognitivos de perceber lembrar e pensar Uma conseqüência dessa nova ênfase nos processos cognitivos do ego foi aproximar a psicanálise da psi cologia uma tendência discutida mais adiante neste capítulo Entre os líderes dessa perspectiva adaptati va estão Rapaport 1960 Gill 1959 e Klein 1970 Ver Blanck e Blanck 1974 1979 para discussões gerais da psicologia do ego Tal tendência de tratar o ego como um sistema autônomo cuja origem é paralela ao id e é dotado de funções e de fontes de energia autônomas foi questio nada por outros psicanalistas Nacht 1952 por exem plo deplora essa nova psicologia do ego que consi dera estéril e regressiva O psicólogo Robert R Holt 1965 fez uma avaliação crítica do conceito de auto nomia do ego conforme apresentado em textos de Hartmann e Rapaport e concluiu que ele nunca che garia a ocupar um lugar importante no pensamento psicanalítico Holt escreve Em vez disso deveríamos estar preocupados em descrever os papéis relativos da pulsão dos estímulos e das pressões externas e de várias estruturas internas na determinação do com portamento e as complexas interações entre eles p 157 Poderíamos salientar que foi exatamente isso o que Freud disse e fez durante toda a sua vida Essa nova teoria do ego atraiu muitos psicólogos pois centrase nos temas tradicionais da psicologia percepção memória aprendizagem e pensamento Ela também atrai porque enfatiza os processos e os com portamentos característicos da pessoa normal em contraposição aos processos e comportamentos des viantes de uma população de pacientes Além disso a teoria do ego tende a enfatizar os aspectos racionais conscientes e construtivos da personalidade humana em contraste com a ênfase colocada pela psicanálise clássica no inconsciente e no irracional Finalmente a teoria do ego é considerada mais humanista do que a teoria psicanalítica ortodoxa RELAÇÕES OBJETAIS Um outro grupo de teóricos que apresentou revisões ainda mais radicais da psicanálise ortodoxa enfatiza o papel das relações objetais na formação e no funciona mento da personalidade Segundo Westen 1990 p 26 a emergência desse ponto de vista representa in dubitavelmente o maior desenvolvimento da psicaná lise desde Freud Esse foco nas relações objetais e no conceito do self levou Eagle 1984 p 3 a escrever Algumas das proposições outrora consideradas as mais fundamentais da psicanálise foram nitidamente refor muladas ver também Cashdan 1988 158 HALL LINDZEY CAMPBELL Freud propôs que a escolha objetal ocorre quan do as pessoas catexizam ou investem energia instin tual em objetos que podem ser usados para gratificar impulsos instintuais Eagle 1984 p 10 descreve da seguinte maneira a teoria instintual de Freud Os objetos e as relações objetais são importantes primariamente como meios e veículos de descar ga de pulsões libidinais e agressivas A esse res peito os primeiros na verdade têm um status se cundário e derivado nós não desenvolveríamos nenhum interesse por objetos ou relações obje tais e nenhuma das funções de ego de teste de realidade se os objetos não fossem necessários para a gratificação das pulsões e se a gratificação ime diata fosse possível somos forçados a nos rela cionar com objetos Mas o nosso interesse pelos objetos e o nosso relacionamento com eles continuam direta ou indiretamente ligados ao seu uso e à relevância na gratificação pulsio nal Para os teóricos das relações objetais ao contrário os objetos são representações internalizadas de pessoas reais não meras saídas para a descarga de um ins tinto As relações objetais são primárias não deriva das de descarga instintual e elas funcionam para dar estrutura ao self McAdams 1994 p 96 Como con seqüência os teóricos das relações objetais enfatizam a aquisição e a importância das representações do self e dos outros No processo o foco muda da primazia freudiana da descarga instintual para a primazia dos relacionamentos interpessoais W R D Fairbairn por exemplo conceitualizou os seres humanos como primariamente preocupados com a busca de objetos em vez de com a busca do prazer Ele escreveu Podemos dizer que a psicologia se reduz a um estudo dos relacionamentos do indiví duo com seus objetos ao mesmo tempo em que de modo semelhante podemos dizer que a psicopatolo gia se reduz mais especificamente a um estudo dos relacionamentos do ego com seus objetos internaliza dos 1952 p 60 Fairbairn reinterpretou muitos dos postulados de Freud em termos das atividades do ego de busca de objeto Eagle 1984 Por exemplo a re pressão age sobre estruturas cindidas do ego e sobre objetos internalizados que são intoleráveis não sobre impulsos instintuais Os estágios psicossexuais refle tem técnicas adotadas pelo ego para regular os relaci onamentos com objetos não para permitir a descarga de uma família de impulsos libidinais A agressão é uma resposta à privação e à frustração não um ins tinto ativado O ego tem suas próprias metas dinâmi cas e o conflito reflete cisões no ego não incompati bilidades entre id e ego Além disso o ego está presente no nascimento tem sua própria estrutura dinâmica e é a fonte de sua própria energia De fato só existe o ego não existe id As principais funções do ego são buscar e estabelecer relações com os objetos no mun do externo Em resumo Fairbairn propôs que o de senvolvimento e o comportamento do indivíduo re fletem o relacionamento do ego com objetos externos e internalizados A questão central no desenvolvimento da personalidade não é a canalização e a recanaliza ção dos impulsos instintuais mas a progressão da dependência infantil e a identificação primária com objetos para um estado de diferenciação do self em relação ao objeto A primeira relação do bebê é com a mãe e subse qüentemente com o pai com iguais e com parceiros Assim as teorias das relações objetais estão essencial mente preocupadas com relacionamentos interpesso ais As frustrações e as perdas que invariavelmente ocorrem nas relações com esses vários objetos deixam um resíduo de representações internalizadas dos ob jetos perdidos Essas imagens internalizadas sobrevi vem no inconsciente Elas se aglutinam para formar o self do indivíduo elas entram em conflito umas com as outras e proporcionam uma base para os relacio namentos interpessoais subseqüentes O próprio Freud introduziu esse modelo de relações objetais em suas discussões sobre luto melancolia e complexo de Édi po mas os teóricos das relações objetais propõem que a internalização de objetos perdidos é um fenômeno bem mais disseminado As inconsistências entre esses objetos internalizados podem levar a cisões dentro do ego e os objetos internos fantasiados podem interfe rir na formação de relacionamentos interpessoais maduros Outros profissionais fizeram contribuições impor tantes ao desenvolvimento das abordagens de rela ção objetal p ex Bowlby 1969 1973 Guntrip 1971 Kernberg 1976 Particularmente notável entre eles é Margaret Mahler p ex 1968 Mahler Pine Berg man 1975 Mahler descreveu seis estágios pelos quais as crianças passam no processo de avançar de um es tado de indiferenciação entre o eu e o nãoeu para TEORIAS DA PERSONALIDADE 159 um estado de separação e individuação em que reco nhecem sua identidade corporal e psicológica Outros pesquisadores conduziram investigações empíricas fascinantes das relações objetais p ex Blatt Ler ner 1983 ver Westen 1990 para uma introdução Heinz Kohut O mais influente dos teóricos das relações objetais é Heinz Kohut 1966 1971 1977 1984 e também foi ele quem ofereceu o modelo mais claro do self e de seu papel na patologia Em essência Kohut substituiu o conflito pelo self como o fator central na personali dade e na psicopatologia Nesse processo ele tam bém ofereceu as conexões mais claras com os teóricos tradicionais da personalidade Como veremos mais adiante neste capítulo Ko hut seguiu Erik Erikson em sua crença de que a famí lia e a sociedade com as quais as pessoas se deparam hoje em dia diferem substancialmente daquelas expe rienciadas pelos pacientes de Freud As famílias na época de Freud eram ameaçadoras por serem exces sivamente próximas e íntimas Hoje em dia ao con trário as famílias são ameaçadoras por serem exces sivamente distantes e nãoenvolvidas Os pais estão muito distantes emocionalmente e preocupados de mais com as próprias necessidades narcísicas Em con seqüência eles são modelos menos do que satisfató rios de uma condição sadia de ser si mesmo e de relacionamentos interpessoais gratificantes A recep ção de reações empáticas de pessoas significativas é tão importante para a saúde do self como é a presença de oxigênio para a saúde do corpo Na análise de Ko hut os nossos medos mais profundos refletem não a ansiedade de castração ou os impulsos conflituais do id mas o potencial de perda dos objetos de amor O modelo de Kohut da personalidade originouse de suas tentativas de compreender as pessoas narci sicamente perturbadas Tais pessoas são deficientes em autocontrole e autoestima e Kohut traçou sua patologia até um senso de self traumaticamente dani ficado O modelo de self de Kohut é bipolar e os dois pólos têm ambição de poder e sucesso e metas e valo res idealizados Esses dois pólos estão ligados por um arco de tensão constituído pelos talentos e habilida des básicas do indivíduo Esse self bipolar se desenvol ve à medida que a criança interage com objetos do self ou com pessoas que são tão importantes que ela as incorpora como parte de si mesma Tal assimilação no self ocorre por um processo de internalização trans mutante em que a criança adota aqueles que são per cebidos como os aspectos desejáveis dos objetos do self O principal objeto do self durante os dois primei ros anos de vida tende a ser a mãe A mãe serve como um objeto espelhante do self quando confirma e admi ra empaticamente a força a saúde a grandeza e a condição da criança de ser especial Essa afirmação do agir e poder da criança contribui para a formação do pólo de ambição do self bipolar Mais tarde a mãe eou o pai servem como objetos do self idealizáveis ou idealizados que modelam perfeição poder força cal ma e cuidado Esses apegos ajudam a estabelecer o pólo de metas e os valores idealizados do self Observem que a questãochave durante esse pro cesso não é a satisfação pulsional mas a presença ou a ausência de relacionamentos empáticos e amoro sos Um espelhamento e uma idealização sadios pro duzem o tipo ideal de personalidade a pessoa com um self autônomo Essas pessoas se caracterizam por níveis sadios de autoestima e por relacionamentos interpessoais mutuamente gratificantes A exposição a objetos do self deficientes produz crianças com um self nãocoeso vazio ou danificado Kohut Kohut Wolf 1978 descreveu quatro instâncias prototípicas desses fracassos o self subestimulado caracteriza uma pessoa entorpecida e vazia que pode buscar sensa ções e abusar de substâncias Essa síndrome se desen volve quando os objetos do self habitualmente dei xam de oferecer espelhamento e idealização O self fragmentado é inseguro frágil e com autoestima bai xa Esse tipo de self se desenvolve quando os objetos do self infligem humilhações e feridas narcísicas à cri ança O self superestimulado desenvolve fantasias ir realistas de grandeza em conseqüência de objetos do self que foram excessivamente indulgentes em seu espelhamento Essas pessoas evitam situações em que poderiam ser o centro das atenções Finalmente as pessoas com um self sobrecarregado percebem o mun do como um lugar hostil e perigoso Essa atitude re flete objetos do self que fracassaram em seu papel ide alizável de modelar força e calma Para Kohut a principal meta desenvolvimental e terapêutica era substituir o self fragmentado por um self coeso em contraste com a meta de Freud de subs tituir o id pelo ego Além disso são as ambições os ideais e a autoestima que funcionam como as forças 160 HALL LINDZEY CAMPBELL motivacionais primárias em nossa vida Tal posição está consideravelmente distante da psicanálise clássi ca de Sigmund Freud Conforme descreveu Westen 1990 existem áreas importantes de controvérsia entre os teóricos da psicanálise clássica e os teóricos das relações objetais do self Primeiro os teóricos das relações objetais dispensaram amplamente o mo delo da pulsão instintual Os seres humanos são vis tos como buscando objetos não prazer Segundo a correspondência entre o self e o modelo estrutural freu diano de id ego e superego não está nem um pouco clara Terceiro a coesão do self é inconsistente com as noções psicanalíticas fundamentais de conflito e com promisso as dificuldades nas relações objetais não se reduzem facilmente a conflitos entre desejos sexuais ou agressivos e proibições do superego A FUSÃO DA PSICANÁLISE E DA PSICOLOGIA A psicanálise e a psicologia tiveram um background comum na ciência do século XIX mas permaneceram independentes por muitos anos em virtude de seus interesses diferentes Em seus primeiros anos a psi cologia estava preocupada em investigar os elemen tos e os processos da consciência A sensação a per cepção a memória e o pensamento eram os tópicos que mais a interessavam A psicanálise por outro lado era uma psicologia do inconsciente seus interesses estavam nas áreas de motivação emoção conflito sintomas neuróticos sonhos e traços de caráter Além disso a ciência da psicologia cresceu em um ambien te acadêmico e de laboratório enquanto a psicanálise cresceu em um ambiente clínico Portanto os repre sentantes das duas disciplinas tiveram pouco contato uns com os outros Gradualmente a lacuna entre as duas disciplinas começou a diminuir e após a Segunda Guerra Mun dial a interpenetração da psicologia e da psicanálise cresceu em um ritmo acelerado Shakow e Rapaport 1964 e Hall e Lindzey 1968 discutiram as razões da aproximação entre elas Por um lado a psicanáli se que Freud sempre considerou um ramo da psico logia passou a interessarse mais pelo comportamen to normal culminando na criação de uma psicologia do ego A extensão em que progrediu a psicologiza ção da psicanálise é indicada pelo título do livro de ensaios em homenagem ao pai da psicologia do ego Heinz Hartmann Psychoanalysis a general psycholo gy Psicanálise uma psicologia geral Loewenstein e colaboradores 1966 Rotular a psicanálise de uma psicologia geral vai além da afirmação de Freud de que ela era uma parte mas não o todo da psicologia A psicologia por sua vez começou a interessar se pela motivação e pela personalidade e o campo da psicologia clínica floresceu durante e após a Segunda Guerra Mundial Os psicólogos encontraram na psi canálise muitos ensinamentos que eram relevantes para seus novos interesses Mesmo antes da guerra alguns psicólogos como Kurt Lewin e Henry Murray realizaram pesquisas empíricas relacionadas à psica nálise e em parte inspiradas por ela Durante a déca da de 30 os esforços feitos por psicólogos como Neal Miller Hobart Mowrer e Robert Sears para aproximar a teoria do reforço de Hull e alguns aspectos da psica nálise colocaram mais experimentalistas em contato com as concepções freudianas da personalidade Do lado teórico David Rapaport 1959 1960 criou um modelo conceitual da psicanálise estreita mente entrelaçado com vários conceitos psicológicos tradicionais De fato Rapaport foi uma das figuras chave na crescente interpenetração entre a psicanáli se e a psicologia Klein Erikson e outros reconhece ram a grande influência de Rapaport sobre seu pensamento Os simpósios incluindo psicólogos e psi canalistas interessados em examinar as relações mú tuas entre os dois campos também foram úteis para reduzir a lacuna de comunicação Bellak 1959 FrenkelBrunswik e colaboradores 1954 Pumpian Mindlin 1952 Um dos fatores mais importantes nessa aproxi mação certamente foi a oportunidade oferecida aos psicólogos de obter uma formação competente em psi canálise com psicanalistas qualificados Nos anos se guintes à Segunda Guerra Mundial os institutos psi canalíticos e locais como a Clínica Menninger em Topeka Kansas e o Centro Austen Riggs em Stock bridge Massachusetts abriram suas portas a um sele to grupo de psicólogos pósgraduados Antes disso a formação psicanalítica só era possível para pessoas com diploma em medicina Pelo menos esse era o caso nos Estados Unidos A monopolização da psica nálise pela profissão médica é uma ironia em vista do fato de que o próprio Freud se opunha energicamente TEORIAS DA PERSONALIDADE 161 à psicanálise se tornar exclusivamente uma especiali dade médica e defendia vigorosamente uma política de portas abertas na formação de psicanalistas 1926a Muitos dos primeiros psicanalistas não eram médicos Os psicólogos que fizeram formação psicanalítica voltaram às universidades podendo oferecer aos alu nos um entendimento melhor e mais favorável da psi canálise Eles também iniciaram programas de pes quisa com uma orientação psicanalítica Também não devemos ignorar o papel do Instituto Nacional de Saú de Mental do Departamento de Saúde Educação e Previdência Social Esse instituto doou grandes somas de dinheiro para o treinamento e a pesquisa na psico logia de orientação psicanalítica Sem esse apoio fi nanceiro talvez não tivesse ocorrido um progresso tão grande na união desses dois campos George Klein George Klein pode ser tomado como um exemplo dos psicólogos que nos anos pósguerra combinaram uma formação tradicional em psicologia com um treina mento em psicanálise Esses indivíduos trouxeram para a psicanálise os valores da experimentação e da quan tificação em laboratório e um respeito pela constru ção das teorias assim como uma sólida base nos pro cessos cognitivos Eles receberam da psicanálise a orientação teórica e os insights sobre a pessoa que es tavam faltando em seu background educacional A psicanálise já não é mais considerada estranha à psi cologia acadêmica em grande parte devido aos esfor ços pioneiros desses psicólogos Klein graduouse em psicologia na Universidade de Colúmbia onde fez investigações experimentais sobre o comportamento animal e a percepção huma na áreas altamente respeitáveis da psicologia Depois de ser dispensado da Força Aérea em 1946 ele foi para a Clínica Menninger um dos poucos lugares nos Estados Unidos onde os psicólogos podiam obter um treinamento psicanaliticamente orientado em psico logia clínica Como muitos outros psicólogos daquele período Klein submeteuse a uma psicanálise pessoal e mais tarde formouse no Instituto Psicanalítico de Nova York Mas a sua principal identificação conti nuou sendo com a psicologia Como professor de psi cologia e um dos fundadores do Centro de Pesquisa em Saúde Mental da Universidade de Nova York Klein em colaboração com outros psicólogos e alunos de graduação conduziu um programa de pesquisa sobre tópicos profundamente influenciados pelo pensamento psicanalítico Em 1959 Klein começou a publicação de uma série de artigos Psychological Issues que ofe recia um fórum para a apresentação de achados de pesquisa e de questões teóricas relevantes para a psi canálise Foram quatro as principais contribuições de Klein à fusão da psicologia com a psicanálise Primeiro ele e seus colaboradores demonstraram que hipóteses cli nicamente derivadas podiam ser investigadas em la boratório sob condições rigorosamente controladas Segundo ele e seus colaboradores ofereceram aos candidatos a doutorado em psicologia interessados na psicanálise a oportunidade de realizarem seus estu dos em um ambiente orientado para a pesquisa Ter ceiro por ele ser um membro reconhecido e aceito da psicologia tradicional os textos de Klein ajudaram a diminuir a hostilidade que muitos psicólogos sentiam em relação ao que consideravam uma psicanálise não científica Finalmente Klein fez contribuições impor tantes à teoria psicanalítica contribuições que tam bém ajudaram a tornar a teoria mais aceitável para os psicólogos Como dissemos anteriormente Klein foi apenas um entre muitos psicólogos que se tornaram impor tantes para derrubar as barreiras entre a psicologia e a psicanálise Como mencionamos em outro capítulo Henry Murray e seus muitos alunos brilhantes em Harvard foram uma grande força talvez a maior na introdução da psicanálise dentro da psicologia acadê mica Mas Murray tinha formação médica e psicanalí tica e não era um psicólogo com formação tradicio nal Além disso ele criou uma teoria da personalidade que embora fortemente influenciada pela psicanáli se era uma teoria exclusivamente sua Por outro lado Klein e muitos como ele eram e continuaram sendo psicólogos apesar de seu treinamento em psicanáli se Eles não só se esforçaram para tornar a psicanálise mais científica mas também contribuíram para a ela boração e modificação da psicanálise clássica Eles não estavam preocupados em formular uma nova teoria Embora as atividades de pesquisa de Klein abran gessem várias áreas ele é mais conhecido por seus estudos sobre as diferentes maneiras como percebe mos uma situação lembramos um evento passado ou resolvemos um problema O nosso foco é o sujeito 162 HALL LINDZEY CAMPBELL que percebe e a maneira como ele organiza a experi ência Klein 1970 p 142 Em uma série de estudos perceptuais descobriu se que algumas pessoas empregavam a estratégia de nivelar suas percepções ao passo que outras em pregavam a estratégia de aguçar suas percepções Os niveladores comparados aos aguçadores por exemplo faziam piores estimativas dos tamanhos de quadrados que gradualmente aumentavam em tama nho Os niveladores tendiam a fazer a mesma estima tiva de tamanho para quadrados grandes e pequenos Eles não percebiam a diferença Os aguçadores varia vam em suas estimativas de modo que eram muito mais acurados Klein chamou essas estratégias de con troles ou atitudes cognitivas Em experimentos subse qüentes descobriuse que as pessoas se comportavam consistentemente em diferentes tipos de tarefa As pes soas niveladoras ao estimar o tamanho eram menos capazes de descobrir rostos escondidos em uma figu ra porque estavam menos conscientes do que as agu çadoras das diferenças na figura Essa consistência pessoal no uso de uma determinada estratégia é cha mada de estilo cognitivo Foram identificadas várias outras estratégias cognitivas Gardner e colaborado res 1959 Para Klein as necessidades os motivos as pul sões e as emoções não são os únicos processos que dirigem e controlam o comportamento Na verdade eles talvez nem sejam os mais importantes A manei ra como a estrutura cognitiva de uma pessoa é orga nizada o fato de ela ser uma niveladora ou uma agu çadora também dirige e controla o comportamento e assim ajuda a determinar sua efetividade na adapta ção ao mundo Embora Klein reconhecesse que sua pesquisa so bre os processos cognitivos era motivada pela teoria do ego de Hartmann e outros podemos salientar que esses estudos seguem mais a tradição da psicologia acadêmica do que a tradição da psicanálise Eles po deriam ter sido planejados e executados sem recorrer à teoria psicanalítica do ego Os psicólogos com formação psicanalítica não só fizeram investigações em laboratório das hipóteses freudianas mas também se empenharam em dissecar e reformular a teoria psicanalítica George Klein por exemplo dedicou os últimos anos de sua vida a sepa rar o que ele chamava de a teoria clínica da psicanáli se de sua metapsicologia Klein 1976 ver também Gill Holzman 1976 A metapsicologia se refere a especulações sobre a estrutura a dinâmica as origens e o desenvolvimento da personalidade A metapsico logia de Freud afirma Klein baseiase na concepção do ser humano da ciência natural Ela trata o indiví duo como um sistema biológico isto é um organis mo consistindo em estruturas id ego e superego carregadas de energias instintuais As energias nas diferentes estruturas entram em conflito umas com as outras catexia versus anticatexia resultando no acúmulo de tensões A meta do organismo é descarre gar as tensões e voltar a um estado de repouso Ao tentar atingir essa meta as energias instintuais so frem o que Freud chamou de vicissitudes de vários tipos incluindo repressão deslocamento projeção e formação reativa A metapsicologia na visão de Klein é impessoal e mecanicista A teoria clínica de Freud conforme descrita por Klein é uma teoria da pessoa ao invés de uma teoria do organismo Ela é pessoal e humanista Tenta com preender os problemas do indivíduo e interpretar sua experiência e seu comportamento em termos de suas metas intenções direções e propósitos Ela procura razões em vez de causas Klein acha que as duas teo rias a clínica e a metapsicológica devem ser clara mente diferenciadas o que em sua opinião Freud não fez porque apresentam visões bem diferentes do indivíduo A primeira é psicológica e humana mas a última é biológica e física De fato Klein descartaria totalmente a metapsicologia porque ela não tem ne nhum propósito útil para o psicólogo e pode ser in clusive um obstáculo ao entendimento adequado do indivíduo Uma vez que Freud foi repetidamente cri ticado por psicólogos por seu modelo despersonaliza do a rejeição de Klein da metapsicologia eliminou da teoria psicanalítica esse importante impedimento à sua aceitação pelos psicólogos Gill 1976 juntouse a Klein nesse empreendimento afirmando desafiado ramente que a metapsicologia não é psicologia Os outros psicólogos que contribuíram para a re formulação da teoria psicanalítica são Schafer 1976 e Holt 1976 Um dos mais influentes desse grupo foi Robert White Robert White White 1963a reuniuse aos psicólogos do ego ao propor não só que o ego tem sua própria energia in TEORIAS DA PERSONALIDADE 163 trínseca mas também que há satisfações intrínsecas do ego que são independentes do id ou de gratifica ções instintuais Notável entre essas satisfações autô nomas do ego está o senso de competência da pessoa ao realizar tarefas adaptativas Em um artigo imensamente influente White de finiu a competência como uma capacidade do orga nismo de interagir efetivamente com seu ambiente 1959 p 297 Ele prossegue argumentando que a motivação para obter competência não pode ser ex plicada pelas tradicionais teorias do drive Clark Hull ou do instinto Sigmund Freud Os modelos clássi cos de redução da pulsão funcionam bem para moti vos de sobrevivência como fome e sexo mas não são adequados para explicar a tendência de uma ampla variedade de organismos observada na década de 50 de se empenharem em comportamentos exploratóri os Diferentemente de outras pulsões o comportamen to exploratório não se relaciona a uma necessidade ou déficit orgânico não leva a uma resposta consu matória e parece trazer crescente excitação em vez de redução da excitação De maneira semelhante argu mentou White o impulso para a competência não se encaixa em modelos pulsionais ortodoxos A motivação para a competência também não se encaixa no modelo psicanalítico clássico de motiva ção instintual As abordagens psicológicas do ego como o instinto de dominar de Hendrick e as fun ções autônomas de Hartmann existindo em uma es fera livre de conflitos inicialmente parecem compa tíveis com a motivação para a competência mas as tentativas de explicação em termos de energias ins tintuais neutralizadas não são mais bemsucedidas do que as tentativas comportamentalistas ortodoxas de incluir a exploração como uma pulsão primária Mais uma vez as suposições necessárias de uma fonte so mática e de uma redução de tensão não correspon dem à realidade do fenômeno Em vez disso White propõe uma motivação distinta para se tornar compe tente baseada na necessidade intrínseca do organis mo de lidar com o ambiente 1959 p 318 e ele chama essa motivação de eficiência A motivação para a eficiência é deixada de lado quando as pulsões cuja satisfação é necessária para a sobrevivência exigem a atenção do organismo mas a motivação para a efici ência é persistente no sentido de que ocupa regular mente o tempo livre de vigília entre os episódios de crise homeostática 1959 p 321 Essa motivação é facilmente vista em crianças brin cando O brincar de uma criança pode ser compreen dido como a agradável tarefa de desenvolver uma familiaridade efetiva com seu ambiente Isso envolve descobrir os efeitos que ela pode ter sobre o ambiente e os efeitos que o ambiente pode ter sobre ela Na extensão em que esses resultados são preservados pela aprendizagem vão criando uma crescente competên cia no manejo do ambiente O brincar da criança pode portanto ser visto como um ato muito sério 1959 p 321 A aplicação mais compelidora do modelo de efici ência de White é sua tentativa de reconceitualizar os estágios freudianos psicossexuais de desenvolvimen to White 1960 ergue duas objeções ao modelo de estágio freudiano Primeiro o modelo de libido de Freud é inadequado para explicar o desenvolvimento emocional das crianças Observem que White não está rejeitando o modelo de Freud mais propriamente ele está argumentando que a libido aumenta devido ao desenvolvimento do senso de competência da crian ça Isto é os aspectoschave do desenvolvimento só podem ser compreendidos da perspectiva das mudan ças na competência real da criança e em seu senso subjetivo de competência Esse senso subjetivo de com petência é conceitualizado como o produto cumula tivo da nossa história de eficácias e ineficácias 1960 p 103104 cf a história de reforço de Skinner discu tida no Capítulo 12 Segundo os protótipos desen volvimentais freudianos i e o bebê no seio a crian ça no banheiro a criança fálica preocupada com impulsos genitais em relação aos pais e o adulto ma duro preocupado com relacionamentos heterossexu ais mesmo quando traduzidos em termos interpes soais mais contemporâneos oferecem modelos inadequados de desenvolvimento Considerem o estágio oral freudiano White con corda que se alguém está determinado a usar um único modelo para tudo o que acontece durante o primeiro ano o modelo da criança que se alimenta é claramente a escolha adequada 1960 p 112 Mas esse modelo único não pode explicar outros compor tamentos como o brincar e o crescente interesse da criança por alimentarse a si mesma Na verdade a maioria dos pais vaise divertir com a descrição de Gesell da perigosa jornada da colher quando a cri ança tenta levála do prato à boca Se a gratificação oral fosse a única questão as crianças não tentariam 164 HALL LINDZEY CAMPBELL interferir ou assumir o controle quando os adultos querem alimentálas Mas as crianças realmente ten tam assumir o controle dessa função e aparentemen te adoram fazer isso O brincar e a crescente auto confiança são inexplicáveis de um ponto de vista libidinal mas são inteiramente consistentes com um modelo de competência que enfatiza o que a criança ganha de suas interações cada vez mais efetivas com o ambiente Em resumo a versão psicossexual do es tágio oral representa uma lamentável supergenerali zação de uma essência muito boa 1960 p 113 e White propõe que empreguemos modelos complemen tares oral e de competência Da mesma forma White sugere que o negativis mo da criança nos terríveis dois anos deve ser com preendido como uma crise intrínseca no desenvolvi mento da competência social não como um deslocamento de problemas no treinamento esfincte riano Os adultos muitas vezes se impressionam com as tentativas das crianças de dois ou três anos de fa zer as atividades sozinhas chegando a ficar zangadas quando um adulto demonstra a maneira certa de fazêlas ou com as crianças que se negam a atender aos pedidos dos pais de compartilhar Para White es sas tentativas de estabelecer autonomia são mais bem compreendidas como manifestações da motivação para estabelecer competência do que como derivados do treinamento esfincteriano Observem como essa orientação é consistente com o foco de Adler nas cres centes tentativas da criança de compensar sentimen tos de inferioridade ver Capítulo 4 White reconhece prontamente a qualidade cla ramente sexual de algumas das atividades e interes ses da criança durante aquele que Freud chamou de estágio fálico mas ele não vê a sexualidade como a única questão nesse estágio Muitas das questões são fundamentalmente assexuais A linguagem a ação a imaginação e a iniciativa são de importância intrínse ca para a criança nesse estágio e essas preocupações devem ser compreendidas em termos da busca da cri ança de um senso maior de competência Na verdade White está mais preocupado com a competência e suas vicissitudes do que com os instintos de Freud e suas vicissitudes Além disso o protótipo freudiano repre senta uma situação sem esperança para a criança pois os pais inevitavelmente prevalecem no conflito edípi co assim como inevitavelmente triunfam no embate sobre o treinamento esfincteriano White rejeitava a suposição de Freud de que o período de latência é um momento de tranqüilidade sexual Dessa vez quase podemos dizer que Freud subestimou a importância do sexo 1960 p 127 Além disso o fato de Freud agrupar de seis a oito anos da vida da criança em um período relativamente sem importância obscurece numerosos eventos signi ficativos Muitos desses eventos tais como as exigên cias de produtividade e os relacionamentos interpes soais que acompanham o ingresso na escolarização formal refletem e influenciam o emergente senso de competência da criança Os resíduos dos estágios pré genitais podem ser consolidados ou alterados por even tos durante esse período e a força de ego do adulto é grandemente afetada pelos eventos dessa época importante Em uma clássica declaração abrandada White conclui O tratamento dado por Freud ao pe ríodo de latência não foi uma de suas aventuras mais felizes 1960 p 127 A esta altura o leitor provavelmente está anteci pando a avaliação que White faz do estágio genital Para Freud as ações e as escolhas objetais durante a idade adulta são amplamente reexpressões de confli tos e de impulsos infantis Ao contrário White consi derava reais os problemas da adolescência e da idade adulta Em parte White atribuiu essa perspectiva às suas preferências ocupacionais Minha vida profissional se passa entre adoles centes cujos problemas sexuais e relações sociais em geral não são esmagadores Nós conversamos sobre seus planos de estudo suas capacidades e limitações suas lutas com assuntos que precisam ser aprendidos e com habilidades que precisam ser conquistadas suas tendências profissionais planos de carreira e preocupações com a socie dade moderna como o cenário de seus futuros empreendimentos Nós falamos em outras pala vras principalmente sobre sua competência e eu não acredito que o entendimento seria maior in terpretandose essas preocupações como desloca mentos de pulsões instintuais mecanismos de defesa ou relações interpessoais Elas são reais 1960 p 134 Além disso White levava a sério a máxima de Freud de que o indivíduo maduro é capaz de amar e traba lhar mas não conseguia entender o último em ter mos do primeiro Infelizmente o turbilhão do orgas TEORIAS DA PERSONALIDADE 165 mo que envolve o clímax é um modelo completa mente errado para o trabalho 1960 p 135 Em resumo White argumenta persuasivamente que o modelo libidinal de Freud deve ser suplementa do por um modelo de competência Nós devemos tentar ser tão perspicazes ao detectar as vicissitudes do senso de competência como Freud foi com a sexu alidade a agressão e a defesa 1960 p 137 Além de seu apelo intuitivo nós percebemos vínculos entre o modelo de competência de White e outras posições teóricas Encontraremos novamente a noção de com petência quando discutirmos o princípio de domínio e competência de Gordon Allport ver Capítulo 7 e especialmente quando apresentarmos o constructo de autoeficácia mais situacionalmente específico de Albert Bandura ver Capítulo 14 ERIK H ERIKSON HISTÓRIA PESSOAL A escolha de Erik H Erikson como a figura central neste capítulo sobre a teoria psicanalítica contempo rânea é uma escolha óbvia Nenhuma outra pessoa depois da morte de Sigmund Freud trabalhou tão conscienciosamente para elaborar e ampliar a estru tura da psicanálise estabelecida por ele e para refor mular seus princípios para um entendimento do mun do moderno O mundo muda e a menos que as teorias acompanhem essas mudanças elas eventualmente se tornam estagnadas e irrelevantes Só precisamos ler Freud cronologicamente para ver como suas idéias acompanharam a evolução dos tempos Após a morte de Freud Erikson mais do que qualquer outra pessoa discutida neste capítulo cumpriu essa função Ele in suflou uma nova vida na teoria psicanalítica Duas citações de Childhood and Society 1950 1963 indicam como a versão de Erikson da psicaná lise avançou além da de Freud A primeira revela como Erikson reconceitualizou o instinto freudiano Os ins tintos inatos do homem são fragmentos pulsionais que precisam ser reunidos receber significado e ser orga nizados durante uma infância prolongada por meio de métodos de treinamento e de escolarização da cri ança que variam de cultura para cultura e são deter minados pela tradição 1963 p 95 Isto é os seres humanos chegam com um equipamento instintivo mínimo e esses instintos são extremamente variá veis e extraordinariamente plásticos 1963 p 95 96 A segunda citação revela quanto Erikson consi derou as mudanças no mundo durante os 50 anos decorridos entre a publicação de A Interpretação dos Sonhos 1900 e Childhood and Society 1950 Eu enfoquei o problema da identidade de ego e seu ancoramento em uma identidade cultural por sentir que ela é aquela parte do ego que no final da adolescência integra os estados infantis de ego e neutraliza a autocracia do superego infantil o paciente de hoje sofre muito com o problema que consiste em que deveria acreditar e quem ele deveria ou na verdade poderia ser ou tornar se enquanto o paciente da psicanálise inicial so fria muito com as inibições que o impediam de ser quem ele achava que sabia que era O estu do da identidade então tornase tão estratégico na nossa época como o estudo da sexualidade foi na época de Freud Os achados de Freud refe rentes à etiologia sexual da parte neurótica de uma perturbação mental são tão verdadeiros para os nossos pacientes como eram para os dele assim como a carga da perda de identidade que se des taca em nossas considerações provavelmente pe sava sobre os pacientes de Freud tanto quanto pesa sobre os nossos como mostrariam as reinterpre tações Portanto os períodos diferentes nos per mitem ver em um exagero temporário diferen tes aspectos de partes da personalidade essen cialmente inseparáveis p 279283 Alguns críticos podem dizer que as elaborações de Erikson se desviam tão nitidamente da forma e do espírito da psicanálise que não se incluem na tradição freudiana Mas nós pretendemos fazer uma compara ção exaustiva das idéias de Erikson com as de Freud para determinar se ele é ou não um verdadeiro freu diano Essa questão de qualquer maneira é uma ques tão trivial O leitor pode encontrar se desejar uma versão das diferenças entre Erikson e Freud em Roa zen 1976 Independentemente do que os outros possam dizer Erikson se considerava um psicanalista freudiano Treinado em psicanálise em sua própria raiz Viena analisado por Anna Freud psicanalista com 166 HALL LINDZEY CAMPBELL longos anos de prática membro das organizações ofi ciais da psicanálise e psicanalista didata por 35 anos Erikson sentia que suas idéias estavam consoantes com a doutrina básica da psicanálise estabelecida por Freud Se Erikson tivesse de ser identificado por al gum nome ele provavelmente preferiria ser chamado de pósfreudiano As contribuições mais significativas de Erikson se incluem sob dois aspectos 1 uma teoria psicosso cial do desenvolvimento da qual emerge uma con cepção ampliada do ego e 2 estudos psicohistóri cos que exemplificam sua teoria psicossocial nas vidas de indivíduos famosos É importante que o leitor tenha em mente o que quer dizer psicossocial quando usado junto com de senvolvimento Significa especificamente que os está gios de vida de uma pessoa do nascimento até a mor te são formados por influências sociais interagindo com um organismo que está amadurecendo física e psicologicamente Nas palavras de Erikson existe um mútuo ajuste entre o indivíduo e o ambiente isto é entre a capacidade do indivíduo de se relacionar com um espaço de vida de pessoas e de instituições em constante expansão por um lado e por outro a pron tidão dessas pessoas e instituições em tornálo parte de uma preocupação cultural contínua 1975 p 102 Erik H Erikson TEORIAS DA PERSONALIDADE 167 Erikson não pretendia que sua teoria psicossocial substituísse a teoria psicossexual de Freud nem a teo ria de desenvolvimento cognitivo de Piaget Erikson reconheceu que eles estavam preocupados com ou tros aspectos do desenvolvimento O leitor deve ob servar que embora as teorias de Freud e de Piaget parem antes da idade adulta como a teoria interpes soal de Sullivan do desenvolvimento ver Capítulo 4 a de Erikson vai até a velhice Devemos observar que o esquema de Erikson como os de Freud Piaget e Sullivan é uma teoria de estágios Isso significa que existem idades mais ou menos definidas em que apa recem novas formas de comportamento em resposta a novas influências sociais e maturacionais Nem to das as teorias de desenvolvimento são necessariamente teorias de estágios A teoria do condicionamento ope rante de Skinner por exemplo supõe que o desenvol vimento é contínuo ao invés de ocorrer em etapas Erikson acreditava que sua história pessoal de vida tinha muita relação com o desenvolvimento de sua perspectiva teórica Ele aparentemente experienciou muitos dos conflitos confusões e crises sobre os quais escreveu mais tarde Sua vida e obra foram tema de dois livros O primeiro deles é de Robert Coles 1970 um antigo colega e grande admirador de Erikson O outro é de Paul Roazen 1976 mais crítico em sua análise Erikson referese à sua história de vida em alguns de seus textos Nascido em Frankfurt Alemanha em 15 de ju nho de 1902 de pais dinamarqueses a família de sua mãe era judia Erikson nunca conheceu seu pai verdadeiro pois seus pais se separaram antes de ele nascer Sua mãe casouse com um pediatra Dr Hom burger que adotou Erikson e cujo nome Erikson pas sou a usar Foi só bem mais tarde em 1939 quando se tornou um cidadão americano que Erikson adotou o nome pelo qual é conhecido Erik Homburger Eri kson Ao concluir seu curso secundário Erikson estava em dúvida sobre o que queria fazer Como muitos outros jovens alemães da época ele passou um ano viajando pela Europa em busca de inspiração ou de orientação sobre o que deveria fazer profissionalmen te Ele finalmente optou por arte para a qual tinha talento e inclinação Nesse ponto de sua vida estava então com 25 anos aconteceu um fato que iria mo dificála drasticamente Ele foi convidado para ensi nar em uma pequena escola particular de Viena Essa escola tinha sido criada para crianças que estavam em psicanálise ou para filhos de pais que estavam sen do psicanalisados Era uma escola progressista e os professores e os alunos tinham completa liberdade para desenvolver o currículo Erikson ficou tão inte ressado na educação das crianças que se matriculou e formouse em uma escola que treinava professores no método Montessori O método Montessori enfatiza o desenvolvimento da iniciativa da criança por meio do brincar e do trabalho Essa experiência teve uma in fluência definitiva sobre Erikson Uma influência ainda mais profunda foi sua ine vitável exposição à psicanálise Ele passou a relacio narse com o círculo de Freud submeteuse a uma análise didática com Anna Freud e estudou psicanáli se no Instituto Psicanalítico de Viena no qual se for mou em 1933 Ele agora encontrara sua identidade profissional Enquanto estudava psicanálise e ensinava na es cola Erikson casouse com Joan Serson uma dança rina canadense e sua colega na escola Eles decidiram mudarse para a Dinamarca Quando isso não funcio nou satisfatoriamente eles foram para os Estados Unidos estabelecendose em Boston em 1933 Erik son tornouse o primeiro psicanalista infantil daquela cidade Ele também recebeu um cargo na Escola de Medicina de Harvard e trabalhou como consultor para várias agências Enquanto estava em Boston Erikson fez pesquisas com Henry A Murray na Clínica Psico lógica de Harvard Depois de três anos em Boston Erikson aceitou um cargo no Instituto de Relações Humanas da Universidade de Yale e passou a dar au las na Escola de Medicina Em 1938 um convite para observar crianças índias na reserva Sioux em Dakota do Sul mostrouse irresistível Em 1939 Erikson foi para a Califórnia onde ingressou no Institute of Child Welfare da Universidade da Califórnia em Berkeley que estava realizando um estudo longitudinal em gran de escala do desenvolvimento da criança Ele também retomou seu trabalho como psicanalista reservando um tempo para observar os índios Yurok da Califór nia do Norte Durante esses anos na Califórnia Erikson escre veu seu primeiro livro Childhood and Society 1950 edição revisada 1963 Esse livro teve um impacto imediato e importante Apesar de Erikson ter publica do outros nove livros desde então Childhood and So ciety geralmente é considerado o mais significativo 168 HALL LINDZEY CAMPBELL porque apresenta os temas que preocupariam Erikson pelo resto da vida Após demitirse de seu cargo de professor na Uni versidade da Califórnia como protesto contra um ju ramento especial de lealdade exigido dos membros da faculdade esse juramento foi mais tarde declara do inconstitucional Erikson ingressou no Centro Aus ten Riggs em Stockbridge Massachusetts um centro importante de residência em psiquiatria Em 1960 Erikson foi nomeado professor em Harvard onde seu curso sobre o ciclo vital era muito popular entre os alunos Erikson aposentouse em 1970 e mudouse para um subúrbio de San Francisco Os Erikson volta ram para Massachusetts em 1987 depois da funda ção em Cambridge do Centro Erik Erikson Erikson morreu em 12 de maio de 1994 em Harwich Massa chusetts ver Hopkins 1995 Passemos agora a uma discussão das formulações teóricas de Erikson A TEORIA PSICOSSOCIAL DO DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento como salientamos avança em estágios oito ao todo segundo o esquema de Erik son Os primeiros quatro estágios ocorrem durante o período de bebê e da infância e os três últimos du rante os anos adultos e a velhice Nos textos de Erik son é dada uma ênfase especial ao período da ado lescência pois é nele que se faz a transição da infância para a idade adulta O que acontece durante esse es tágio é da maior importância para a personalidade adulta Identidade crises de identidade e confusão de identidade são indubitavelmente os conceitos mais conhecidos de Erikson Esses estágios consecutivos devemos observar não seguem um esquema cronológico rígido Erikson acha va que cada criança tinha seu próprio ritmo cronoló gico e que seria enganador especificar uma duração exata para cada estágio Além disso um estágio não é atravessado e então deixado para trás Em vez disso cada estágio contribui para a formação da personali dade total Nas palavras de Erikson tudo que cresce tem um plano básico e desse plano básico surgem as partes cada parte tendo seu momento de ascen dência especial até que todas elas tenham surgido para formar o todo que funciona 1968 p 92 Isso é conhecido como o princípio epigenético um termo tomado emprestado da embriologia Ao descrever os oito estágios do desenvolvimento psicossocial nós reunimos e parafraseamos materiais de quatro fontes Em Childhood and Society 1950 1963 e mais tarde em Identity Youth and Crisis 1968 Erikson apresentou os estágios em termos da qualidade básica de ego que emerge durante cada es tágio Em Insight and Responsibility 1964 ele discu tiu as virtudes ou forças do ego que aparecem em es tágios sucessivos Em Toys and Reasons 1976 ele descreveu a ritualização peculiar a cada estágio Por ritualização Erikson se referia a uma maneira lúdica e culturalmente padronizada de fazer ou experienci ar alguma vivência na interação cotidiana dos indiví duos O propósito básico dessas ritualizações é trans formar o indivíduo que está amadurecendo em um membro efetivo e conhecido de uma comunidade Infelizmente as ritualizações podem tornarse rígidas e pervertidas e transformarse em ritualismos A mais recente síntese de Erikson sobre os estági os foi apresentada em O Ciclo de Vida Completo 1985 Dois gráficos dessa publicação servem como um bom resumo dos estágios O primeiro ver Figura 51 adi ante descreve as características e as conseqüências mais importantes de cada estágio O estudante deve consultálo ao ler as seguintes descrições O núcleo de cada estágio é uma crise básica representando o desafio que o contato com uma nova faceta da socie dade traz para o ego em desenvolvimento Por exem plo o ingresso da criança na escola durante o quarto estágio garante que ela vai enfrentar a questão da di ligência versus inferioridade bem como um novo com plexo de agentes sociais Portanto os estágios descri tos por Erikson são psicossociais em contraste com os estágios psicossexuais descritos por Freud O segundo gráfico ver Figura 52 p 170 pre tende mostrar a questão importante mas freqüente mente ignorada de que a crise básica que constitui o núcleo de cada estágio não existe só durante aquele estágio Cada crise é mais relevante durante um está N de T Joan Erikson esposa e colaboradora mais íntima de Erik son revisou seu livro O Ciclo de Vida Completo Erik Erikson Artes Médicas 1998 acrescentando um nono estágio o da velhice avan çada que passa a ter uma importância crescente à medida que a longevidade humana aumenta TEORIAS DA PERSONALIDADE 169 A fe ee Patologia Principios Estagios e central relacionados modos Crises Raio de relacdes Forcas antipatias de ordem Ritualizagoes Estagios psicossexuais psicossociais significativas basicas basicas social de uniao Ritualismo Periodo de Oralrespiratorio Confianga Pessoa maternal Esperanga Retraimento Ordem Numinosas Idolismo bebé corporalcinesté basica vs cosmica sico desconfianga modos basica incorporativos Il Infancia Analuretral Autonomia vs Pessoais Vontade Compulsao Lei e Judiciosas Legalismo inicial muscular vergonha parentais ordem retentivo duvida eliminativo Ill Idade do Infantilgenital Iniciativa Familia basica Propésito Inibigao Prototipos Dramaticas Moralismo brincar locomotor vs ideais intrusivo culpa inclusivo IV Idade Laténcia Diligéncia vs Vizinhanga Competéncia Inércia Ordem Formais Formalismo escolar inferioridade escola tecnoldgica Técnicas V Puberdade Identidade vs Grupo de iguais Fidelidade Reptdio Visdo de Ideolégicas Totalismo Adolescéncia confusao de e outros grupos mundo identidade modelos de ideoldgica lideranga VI Idade Genitalidade Intimidade vs Parceiros de Amor Exclusividade Padroes de Associativas Elitismo adulta jovem isolamento amizade sexo cooperacao competicao e cooperacao competicao VII Idade Procriatividade Generatividade Trabalho dividido Cuidado Rejeicao Correntes Geracionais Autoritarismo adulta vs estagnacgao e familia e lar de educagao compartilhados e tradicdo VIII Velhice Generalizacao Integridade vs Género humano Sabedoria Desdém Sabedoria Filosdficas Dogmatismo de modos desespero Meu género sensuais FIGURA 51 Resumo dos ocito estagios Reimpressa com a permissdo de Erikson 1985 p 3233 gio especifico mas tem raizes em estagios prévios e mentarse confortavelmente e de excretar de forma conseqtiéncias em estagios subseqtientes Por exem relaxada A cada dia a medida que suas horas de vigi plo a identidade versus a confusdo de identidade éa lia aumentam o bebé vaise familiarizando com ex crise definidora da adolescéncia mas a formacdo da periéncias sensuais e essa familiaridade coincide com identidade comeca nos primeiros quatro estagiose 0 um senso de bemestar As situacdes de conforto e as senso de identidade negociado durante a adolescén pessoas responsaveis por tais confortos tornamse fa cia evolui durante e influencia os trés estagios finais miliares e identificdveis para o bebé Devido a confi Em conseqiiéncia os espacos vazios na Figura 52 anca do bebé e a familiaridade com a pessoa mater na verdade nao estao vazios e consideralos vazios é nal ele atinge um estado de aceitacéo em que essa compreender mal a natureza dos estagios de Erikson pessoa pode ausentarse por um momento Essa reali Vamos agora examinar cada estagio individualmente zacdo social inicial por parte do bebé é possivel por que ele esta desenvolvendo uma certeza e uma confi anca internas de que a pessoa maternal retornara As rotinas diarias a consisténcia e a continuidade no Il CONFIANGA BASICA VERSUS ambiente do bebé proporcionam a primeira base para DESCONFIANCA BASICA um senso de identidade psicossocial Pela continuida de de experiéncias com adultos 0 bebé aprende a A confianca basica mais inicial se estabelece durante depender deles e a neles confiar mas talvez ainda o estagio oralsensorial e é demonstrada pelo bebé mais importante ele aprende a confiar em si mesmo em sua capacidade de dormir pacificamente de ali Essa seguranca vai contrabalancar a parte negativa 170 HALL LINDZEY CAMPBELL Integridade Velhice de vill esespero desgosto gosto SABEDORIA Idade adulta Generatividade VII vs estagnacgao CUIDADO Idade adulta intimidade jovem VI isolamento AMOR Identidade Adolescéncia Vso Vv confusdo de identidade FIDELIDADE Diligéncia vs Wdade escolar inferioridade COMPETENCIA Idade do brincar Iniciativa vs m culpa PROPOSITO Autonomia Infancia inicial WS I vergonha duvida VONTADE Confianga Periodo de bebe DAsica vs esconfianga basica ESPERANCA 1 2 3 4 5 6 7 8 FIGURA 52 Seqiléncia dos oito estagios Reimpressa com a permissdo de Erikson 1985 p 5657 da confianca basica a saber a desconfianca basica cao para novas esperancas Simultaneamente ele de que em principio é essencial para o desenvolvimen senvolve a capacidade de abandonar as esperancas to humano frustradas e antever expectativas em futuras metas e A razao adequada de confianca e de desconfianca perspectivas Ele aprende quais esperancas estao den resulta na ascendéncia da esperanca A esperancaé a tro da esfera do possivel e dirige suas expectativas de virtude inerente ao estado de estar vivo mais primiti acordo com isso Conforme amadurece ele descobre va e a mais indispensavel Erikson 1964 p 115 que as esperancas que outrora eram altas prioridades Os fundamentos da esperanga estado nas relacdes ini foram superadas por um nivel mais elevado de espe ciais do bebé com os progenitores maternais dignos de rancas mais avancadas Erikson afirmou A esperan confianca que dao respostas as suas necessidades e ca 6a crenca duradoura na possibilidade de se atingir proporcionam experiéncias satisfatorias como tranqiti desejos fervorosos apesar dos sombrios impulsos e lidade nutricao e carinho Todas as confirmacées de das furias que assinalam o inicio da existéncia 1964 esperanca originamse no mundo maecrianca Por p 118 meio de um crescente numero de experiéncias em que O primeiro estagio da vida 0 periodo de bebé é 0 a esperanca do bebé é confirmada ele recebe inspira estagio da ritualizacao de uma divindade O que Erik TEORIAS DA PERSONALIDADE 171 son queria dizer com isso é o senso do bebê da pre sença abençoada da mãe que o olha segurao tocao sorri para ele alimentao diz seu nome e de outra forma reconheceo Essas repetidas interações são altamente pessoais e ainda culturalmente ritualiza das O reconhecimento do bebê pela mãe afirma e certifica o bebê e sua mutualidade com a mãe A falta de reconhecimento pode causar alienação na perso nalidade do bebê um senso de separação e abandono Cada um dos estágios iniciais estabelece uma ri tualização que continua na infância e aí contribui para os rituais da sociedade A forma pervertida do ritual da divindade materna se expressa na vida adulta pela idolatria de um herói ou idolismo II AUTONOMIA VERSUS VERGONHA E DÚVIDA Durante o segundo estágio da vida o estágio anal muscular no esquema psicossexual a criança apren de o que se espera dela quais são seus privilégios e obrigações e quais são as limitações que precisa acei tar O desejo da criança de experiências novas e mais orientadas para atividades dá lugar a uma necessida de dupla uma necessidade de autocontrole e uma necessidade da aceitação do controle de outras pes soas no ambiente Para subjugar a teimosia da crian ça os adultos utilizarão a propensão humana à ver gonha universal e necessária embora encorajem a criança a desenvolver um senso de autonomia e a even tualmente afirmar sua independência Os adultos que exercem controle também precisam ser firmemente reasseguradores A criança deve ser encorajada a ex perienciar situações que exigem a livre escolha autô noma A vergonha excessiva só vai induzir a criança ao descaramento ou obrigála a tentar escapar impu nemente sendo fechada dissimulada e furtiva Esse é o estágio que promove a liberdade da autoexpressão e a amorosidade Um senso de autocontrole produz na criança um duradouro sentimento de boa vontade e orgulho um senso de perda do autocontrole por outro lado pode causar um sentimento permanente de vergonha e dúvida A virtude da vontade emerge durante o segundo estágio da vida A vontade própria treinada e o exem plo de vontade superior apresentado pelos outros são as duas origens da virtude da vontade A criança apren de consigo mesma e com os outros o que é esperado e esperável A vontade é responsável pela gradual acei tação da criança daquilo que é lícito e necessário Os elementos da vontade são gradualmente aumentados pelas de experiências que envolvem consciência e aten ção manipulação verbalização e locomoção A von tade é a força crescente de fazer escolhas livres de decidir de exercer a autocontenção e concentrarse Erikson chamou a ritualização desse estágio de judiciosa porque a criança começa a julgar a si mes ma e os outros e a diferenciar o certo e o errado Ela percebe que certos atos e palavras são certos ou erra dos o que a prepara para a experiência no próximo estágio de sentir culpa A criança também aprende a distinguir entre o nosso tipo e outros considerados diferentes assim os outros que não são como nós podem ser imediatamente avaliados como errados ou maus Essa é a base ontogenética da alienação mun dial conhecida como espécie dividida Em outros tex tos Erikson chamou isso de pseudoespécie a origem do preconceito intrahumano Esse período de ritualização judiciosa na infância é a origem no ciclo de vida do ritual judicial Na ida de adulta esse ritual é exemplificado pelo julgamen to no tribunal e pelos procedimentos por meio dos quais se estabelece a culpa ou a inocência O ritualismo perverso desse estágio é o legalismo a vitória da lei rigidamente aplicada a punição ven ce a compaixão O legalista sente satisfação ao ver os condenados punidos e humilhados independentemen te de ser essa a intenção da lei III INICIATIVA VERSUS CULPA O terceiro estágio psicossocial da vida corresponden te ao estágio psicossexual genitallocomotor é o da iniciativa uma época de crescente maestria e respon sabilidade A criança nesse estágio apresentase como claramente mais avançada e mais organizada tanto física quanto mentalmente A iniciativa se combina com a autonomia para fazer com que ela seja ativa determinada e capaz de planejar sua tarefas e metas O perigo desse estágio é o sentimento de culpa que pode obcecar a criança por uma busca muito entusi asmada de metas incluindo fantasias genitais e o uso 172 HALL LINDZEY CAMPBELL de meios agressivos e manipulativos para chegar a essas metas A criança está ansiosa para aprender e aprende bem nessa idade ela desenvolve seu senso de obrigação e de desempenho O propósito é a virtude que surge nesse estágio desenvolvimental A principal atividade da criança nessa idade é o brincar e o propósito é o resultado de seu brincar de suas explorações tentativas e fracas sos e das experimentações com seus brinquedos Além de jogos físicos ela faz jogos mentais assumindo os papéis dos pais e de outros adultos em um mundo de fazdeconta Ao imitar as imagens desses adultos ela percebe até certo ponto como é ser como eles O brin car proporciona à criança uma realidade intermediá ria ela aprende qual é o propósito dos fatos a cone xão entre um mundo interno e um externo e como as memórias do passado se aplicam a metas do futuro Portanto o brincar imaginativo e desinibido é vital mente importante para o desenvolvimento da crian ça O propósito então é a coragem de imaginar e buscar metas valorizadas nãoinibidas pela derrota das fantasias infantis pela culpa e pelo medo cortante da punição Erikson 1964 p 122 Essa idade do brincar é caracterizada pela rituali zação dramática A criança participa ativamente de dramatizações usando figurinos imitando personali dades adultas e fingindo ser qualquer coisa de um cachorro a um astronauta O estágio inicial da rituali zação contribui para o elemento dramático que será encontrado nos rituais tal como o teatro como um ritual próprio pelo resto da vida da pessoa A aliena ção interior que pode resultar desse estágio da infân cia é um senso de culpa A contraparte negativa da ritualização dramática é o ritualismo da personificação por toda a vida O adulto desempenha papéis ou atua a fim de apresen tar uma imagem que não representa sua verdadeira personalidade IV DILIGÊNCIA VERSUS INFERIORIDADE Durante o quarto estágio do processo epigenético no esquema de Freud o período de latência a criança precisa controlar sua imaginação exuberante e dedi carse à educação formal Ela desenvolve um senso de aplicação e aprende as recompensas da perseve rança e da diligência O interesse por brinquedos e pelo brincar é gradualmente superado por um inte resse por situações produtivas e pelos implementos e instrumentos usados para trabalhar O perigo desse estágio é a criança desenvolver um senso de inferiori dade se for ou fizerem com que se sinta incapaz de dominar as tarefas que inicia ou que lhe são dadas pelos professores e pelos pais Durante o estágio da diligência emerge a virtude da competência As virtudes dos estágios prévios es perança vontade e propósito proporcionaram à cri ança uma visão de futuras tarefas embora uma visão ainda não muito específica A criança agora precisa ter uma instrução específica em métodos fundamen tais para familiarizarse com um modo de vida técni co Ela está pronta e disposta a conhecer e a usar os instrumentos as máquinas e os métodos preparatóri os para o trabalho adulto Assim que tiver desenvolvi do suficiente inteligência e capacidade para o traba lho é importante que se dedique a esse trabalho para evitar sentimentos de inferioridade e regressão do ego O trabalho nesse sentido inclui muitas e variadas for mas como ir à escola fazer tarefas domésticas assu mir responsabilidades estudar música aprender ha bilidades manuais assim como participar de jogos e esportes O importante é a criança aplicar sua inteli gência e sua abundante energia em algum empreen dimento e direção Um senso de competência é obtido quando nos dedicamos ao trabalho e concluímos tarefas o que acaba nos trazendo habilidade Os fundamentos da competência preparam a criança para um futuro sen so de habilidade sem isso a criança sentirseia infe rior Durante essa época ela está ansiosa para apren der as técnicas da produtividade A competência então é o livre exercício da destreza e da inteligência na conclusão de tarefas nãoprejudicado pela inferi oridade infantil Erikson 1964 p 124 A idade escolar é o estágio da ritualização formal quando a criança aprende a ter um desempenho me tódico Observar e aprender métodos de desempenho proporcionam à criança um senso global de qualida de que envolve habilidade e perfeição Tudo o que a criança fizer seja um trabalho na escola ou sejam tarefas em casa ela faz do jeito certo TEORIAS DA PERSONALIDADE 173 O ritualismo distorcido na idade adulta é o for malismo que consiste na repetição de formalidades sem significado e em rituais vazios V IDENTIDADE VERSUS CONFUSÃO DE IDENTIDADE Durante a adolescência o indivíduo passa a experien ciar um sentido da própria identidade um sentimen to de que é um ser humano único que está preparado para se encaixar em algum papel significativo na soci edade A pessoa se torna consciente das característi cas individuais inerentes de situações pessoas e ob jetos dos quais gosta ou não gosta de metas futuras antecipadas e da força e do propósito de controlar o próprio destino Essa é uma época na vida em que queremos definir o que somos no presente e o que desejamos ser no futuro É o momento de fazer pla nos vocacionais O agente interno ativador na formação da identi dade é o ego em seus aspectos conscientes e incons cientes O ego nesse estágio tem a capacidade de selecionar e integrar talentos aptidões e habilidades na identificação com pessoas semelhantes a nós e na adaptação ao ambiente social Ele também é capaz de manter suas defesas contra ameaças e ansiedades à medida que aprende a decidir quais impulsos neces sidades e papéis são mais apropriados e efetivos To das essas características selecionadas pelo ego são reu nidas e integradas por ele para formar a própria identidade psicossocial Devido à difícil transição da infância à idade adul ta por um lado e à sensibilidade à mudança social e histórica por outro o adolescente durante o estágio da formação da identidade tende a sofrer mais pro fundamente do que nunca em virtude da confusão de papéis ou da confusão de identidade Esse estado pode fazer com que ele se sinta isolado vazio ansioso e indeciso O adolescente sente que precisa tomar deci sões importantes mas é incapaz de fazer isso Ele pode sentir que a sociedade o pressiona para tomar deci sões assim ele fica ainda mais resistente Ele se pre ocupa imensamente com como os outros o vêem e tende a ser muito inibido e envergonhado Durante a confusão de identidade o adolescente pode sentir que está regredindo ao invés de progre dir e de fato um periódico recuo à infantilidade pa rece ser uma alternativa agradável ao complexo en volvimento necessário em uma sociedade adulta O comportamento do adolescente é inconsistente e im previzível durante esse estado caótico Em um mo mento ele reluta em comprometerse com os outros por medo de ser rejeitado desapontado ou engana do No momento seguinte o adolescente quer ser um seguidor um amante ou um discípulo sejam quais forem as conseqüências de tal comprometimento O termo crise de identidade referese à necessida de de resolver o fracasso transitório em formar uma identidade estável ou a uma confusão de papéis Cada estado sucessivo de fato é uma crise potencial devi da a uma mudança radical em perspectiva Erikson 1968 p 96 Mas a crise de identidade pode parecer especialmente perigosa porque todo o futuro do indi víduo assim como a próxima geração parece depen der dela Também é especialmente perturbador o desenvol vimento de uma identidade negativa isto é o senso de possuir um conjunto de características más ou poten cialmente indignas A maneira mais comum de lidar com a identidade negativa é projetar as característi cas más em outras pessoas Elas são más não eu Tal projeção pode resultar em diversas patologias so ciais incluindo preconceito crime e discriminação contra vários grupos de pessoas mas também é uma parte importante da prontidão do adolescente para o envolvimento ideológico Nessa época adolescente desenvolvese a virtude da fidelidade Apesar de serem agora sexualmente maduros e de muitas maneiras responsáveis os ado lescentes não estão ainda adequadamente preparados para serem pais O equilíbrio de ego se depara com uma situação precária por um lado é esperado que a pessoa tenha um padrão adulto de vida mas por ou tro ela não tem a liberdade sexual do adulto O com portamento oscila entre atos impulsivos irrefletidos e esporádicos e uma restrição compulsiva Durante essa época difícil todavia o jovem busca um conheci mento interno e um entendimento de si mesmo e tenta formular um conjunto de valores O conjunto particu lar de valores que emerge é o que Erikson denomina fidelidade A fidelidade é a capacidade de manter lealdades livremente empenhadas apesar das inevi táveis contradições dos sistemas de valor 1964 p 125 174 HALL LINDZEY CAMPBELL A fidelidade é a base sobre a qual se forma um senso de identidade contínuo A substância da fideli dade é adquirida pela confirmação de ideologias e verdades e também pela afirmação de companheiros A evolução da identidade baseiase na necessidade inerente ao ser humano de sentir que pertence a um gênero particular ou especial de pessoas Por exem plo precisamos saber que pertencemos a um grupo étnico ou religioso especial em que podemos partici par dos costumes dos rituais e das ideologias ou na verdade que preferimos participar de movimentos destinados a mudar ou renovar a estrutura social A identidade do jovem dá definição ao seu ambiente A ritualização do estágio adolescente é a ideolo gia A ideologia é a solidariedade de convicção que incorpora ritualizações de estágios de vida prévios em um conjunto coerente de idéias e ideais A alienação resultante da ausência de uma ideologia integrada é a confusão de identidade A perversão da ritualização de ideologia que pode ocorrer é o totalismo O totalismo é a preocupação fanática e exclusiva com o que parece ser inquestio navelmente certo ou ideal VI INTIMIDADE VERSUS ISOLAMENTO Neste estágio os jovens adultos estão preparados e dispostos a unir sua identidade a outras pessoas Eles buscam relacionamentos de intimidade parceria e associação e estão preparados para desenvolver as forças necessárias para cumprir esses comprometimen tos ainda que para isso tenham de fazer sacrifícios Agora pela primeira vez na vida o jovem pode viver uma genitalidade sexual verdadeira em mutualidade com a pessoa amada A vida sexual nos estágios an teriores restringiase a uma busca de identidade se xual e a um anseio por intimidades transitórias Para que a genitalidade tenha uma importância social du radoura é preciso que o indivíduo tenha alguém para amar e relacionarse sexualmente alguém com quem possa compartilhar um relacionamento confiável O perigo do estágio da intimidade é o isolamento a evi tação dos relacionamentos quando a pessoa não está disposta a comprometerse com a intimidade Um sen so temporário de isolamento também é uma condição necessária para fazer escolhas mas é claro que isso também pode resultar em graves problemas de perso nalidade A virtude do amor passa a existir durante o está gio de desenvolvimento da intimidade O amor é a virtude dominante do universo Ele aparece de mui tas formas nos estágios anteriores começando com o amor do bebê pela mãe depois as paixões do adoles cente e finalmente o amor que o adulto manifesta importandose com os outros Embora o amor esteja aparente nos estágios anteriores o desenvolvimento da verdadeira intimidade só acontece depois da ado lescência Os jovens adultos agora são capazes de com prometerse com um relacionamento em que seu modo de vida é mutuamente compartilhado com um par ceiro íntimo Erikson escreveu O amor então é a mutualidade de dedicação subjugando para sempre os antagonismos inerentes à função dividida 1964 p 129 Embora a identidade do indivíduo se mante nha em um relacionamento íntimo sua força de ego depende do parceiro com quem está preparado para compartilhar a criação dos filhos a produtividade e a ideologia de seu relacionamento A ritualização correspondente desse estágio é a associativa isto é um compartilhar conjunto de tra balho amizade e amor O ritualismo correspondente o elitismo expressase pela formação de grupos ex clusivos que são uma forma de narcisismo comunal VII GENERATIVIDADE VERSUS ESTAGNAÇÃO O estágio da generatividade caracterizase pela preo cupação com o que é gerado progênie produtos idéias e assim por diante e com o estabelecimento de orientações para as gerações que estão por vir Essa transmissão dos valores sociais é uma necessidade para o enriquecimento dos aspectos psicossexuais e psicos sociais da personalidade Quando a generatividade é fraca ou não recebe expressão a personalidade regri de e sentese empobrecida e estagnada A virtude do cuidado se desenvolve durante esse estágio O cuidado se expressa pela preocupação com os outros por querer cuidar das pessoas que preci sam e compartilhar com elas o próprio conhecimento e experiência Isso é feito por meio da criação dos TEORIAS DA PERSONALIDADE 175 filhos e do ensino da demonstração e da supervisão Os seres humanos como espécie têm uma necessida de inerente de ensinar uma necessidade comum às pessoas em todas as profissões O ser humano se sen te satisfeito e realizado ao ensinar crianças adultos empregados e até animais Os fatos a lógica e as ver dades são preservados através de gerações por essa paixão por ensinar O cuidado e o ensino são respon sáveis pela sobrevivência das culturas pela reitera ção de seus costumes rituais e lendas O avanço de cada cultura deve sua progressão àqueles que se im portam o suficiente para instruir e viver uma vida exemplar O ensino também instila no ser humano um senso vital de ser necessário aos outros um senso de importância que o impede de absorverse excessiva mente em si mesmo Durante a vida o indivíduo acu mula múltiplas experiências e conhecimentos tais como educação amor vocação filosofia e estilo de vida Todos esses aspectos da vida precisam ser pre servados e protegidos pois são experiências precio sas Preservamse essas experiências transcendendo as ou passandoas aos outros O cuidado é a crescente preocupação com aquilo que foi gerado por amor necessidade ou acidente ele supera a ambivalência presente na obrigação irreversível 1964 p 131 A ritualização desse estágio é a geracional que é a ritualização de paternidadematernidade produção ensino cura e assim por diante papéis em que o adulto age como transmissor de valores ideais para os jovens As distorções da ritualização geracional se expres sam pelo ritualismo do autoritarismo O autoritaris mo é o confisco ou a usurpação da autoridade incom patível com o cuidado VIII INTEGRIDADE VERSUS DESESPERO O último estágio do processo epigenético do desen volvimento é denominado integridade A melhor ma neira de descrevêlo é como um estado que a pessoa atinge depois de ter cuidado de coisas e pessoas pro dutos e idéias e de terse adaptado aos sucessos e fracassos da existência Por meio dessas realizações os indivíduos podem colher os benefícios dos primei ros sete estágios da vida e perceber que sua vida teve certa ordem e significado dentro de uma ordem maior Embora aquele que atinge um estado de integridade esteja consciente dos vários estilos de vida dos ou tros ele preserva com dignidade um estilo de vida pessoal e defendeo de potenciais ameaças Esse esti lo de vida e a integridade da cultura tornamse assim o patrimônio da alma A contraparte essencial da integridade é um certo desespero em relação às vicissitudes do ciclo de vida individual e a condições sociais e históricas para não falar do vazio da existência diante da morte Isso pode agravar o sentimento de que a vida não tem sentido de que o fim está próximo de um medo e até de um desejo da morte O tempo agora é curto demais para voltar atrás e tentar estilos de vida alternativos A sabedoria é a virtude resultante do encontro da integridade com o desespero nesse último estágio da vida A atividade física e mental das funções diárias está diminuindo a essa altura do ciclo de vida A sim ples sabedoria afirma e transmite a integridade das experiências acumuladas nos anos anteriores A sa bedoria então é a preocupação desprendida com a vida em si diante da morte em si Erikson 1964 p 133 O fato de a pessoa envelhecida ser menos adaptá vel a mudanças não impede uma certa recreatividade e curiosidade que permitem um fechamento da expe riência acumulada em anos de conhecimento e de jul gamento Os que estão no estágio da sabedoria po dem representar para as gerações mais jovens um estilo de vida caracterizado por um sentimento de inteireza e completude Esse sentimento de inteireza pode con trabalançar o sentimento de desespero e desgosto e o sentimento de estar acabado conforme as situações presentes da vida vão passando O senso de inteireza também alivia o sentimento de desamparo e depen dência que pode marcar o fim da vida A ritualização da velhice pode ser chamada de integral isso se reflete na sabedoria das idades Bus cando um ritualismo correspondente Erikson sugere o sapientismo a tola pretensão de ser sábio UM NOVO CONCEITO DE EGO Freud podemos lembrar concebia o ego como o exe cutivo da personalidade um executivo cujos deveres eram satisfazer os impulsos do id lidar com as exi 176 HALL LINDZEY CAMPBELL gências sociais e físicas do mundo externo e tentar corresponder aos padrões perfeccionistas do superego Assediado por três lados o ego recorre a várias defe sas para não ser esmagado Esse conceito de um ego defensivo criado por Freud e elaborado por Anna Freud 1946 foi modificado por Hartmann e outros ver p 156157 para incluir as funções adaptativas e integrativas Como demonstra a discussão precedente dos es tágios de vida de Erikson ele dotou o ego de várias qualidades que vão muito além de qualquer concep ção psicanalítica prévia do ego Essas qualidades são confiança e esperança autonomia e vontade diligên cia e competência identidade e fidelidade intimida de e amor generatividade e cuidado e integridade Tais qualidades reconhecidamente humanas geral mente não são discutidas na literatura psicanalítica Quando são a discussão normalmente consiste em rastrear essas qualidades até suas origens infantis Erikson zombava da ênfase exclusiva na originologia como a chamava ou no reducionismo como outros chamaram Erikson afirmava estar consciente das conotações idealistas de palavras como confiança esperança fidelidade integridade e assim por diante Ele as es colheu porque elas conotam em várias línguas valo res humanos universais que em culturas primitivas e antigas assim como na vida moderna reúnem três esferas mutuamente essenciais o ciclo de vida indivi dual a seqüência de gerações e a estrutura social bá sica O tipo de ego descrito por Erikson pode ser cha mado de ego criativo embora ele não usasse essa pa lavra O ego pode encontrar e realmente encontra soluções criativas para os novos problemas que o as sediam em cada estágio da vida Ele sabe em cada estágio usar uma combinação de prontidão interna e oportunidade externa e o faz com vigor e mesmo com um senso de alegria Quando ameaçado o ego reage com renovado esforço em vez de desistir O ego pare ce ser imensamente robusto e plástico Os poderes de recuperação observou Erikson são inerentes ao ego jovem O ego de fato lucra com o conflito e com a crise Ele pode ser e normalmente é o mestre e não o escravo do id do mundo externo e do superego Na verdade Erikson falou muito pouco sobre o id e o superego ou sobre motivação inconsciente e estraté gias irracionais Como psicanalista praticante Erikson evidente mente estava consciente da vulnerabilidade do ego das defesas irracionais que ele erige das conseqüên cias devastadoras do trauma da ansiedade e da cul pa Mas ele também via o ego do paciente como habi tualmente capaz de lidar de forma efetiva com seus problemas com certa ajuda do psicoterapeuta Essa concentração na força potencial do ego caracteriza todos os textos de Erikson A concepção de ego de Erikson era bastante soci alizada e histórica Além dos fatores genéticos fisio lógicos e anatômicos que ajudam a determinar a na tureza do ego do indivíduo também existem importantes influências culturais e históricas Uma das contribuições mais criativas de Erikson à teoria do ego foi colocálo em um contexto cultural e histórico em uma estrutura de espaço e tempo Erikson também especulou sobre as dimensões que uma nova identidade de ego poderia assumir 1974 Uma identidade segundo ele precisava estar ancora da em três aspectos da realidade O primeiro é a fatu alidade um universo de fatos dados e técnicas que podem ser verificados com os métodos observacionais e com as técnicas de trabalho da época 1974 p 33 Depois existe um senso de realidade que também pode ser chamado de universalidade porque combina o prá tico e o concreto em uma imagem de mundo visioná ria Gandhi por um lado tinha esse senso de realida de A terceira dimensão é a realidade uma nova maneira de relacionarse de ativarse e incentivarse mutuamente a serviço de metas comuns 1974 p 33 Mas então talvez com ironia Erikson acrescen tou uma quarta dimensão a sorte ou o acaso Essa nova identidade de ego ao mesmo tempo criaria uma nova imagem de mundo em que um senso mais am plo de identidade comum gradualmente supera a pseu doespécie que ajudou a causar preconceito discrimi nação ódio crime guerra pobreza e escravidão Só o tempo dirá se essa imagem de mundo é alcançável mas sem a visão diria Erikson nenhuma nova reali dade pode passar a existir TEORIAS DA PERSONALIDADE 177 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA As observações de pacientes em tratamento constitu em a principal fonte de dados dos teóricos psicanalíti cos Embora geralmente Erikson derivasse suas for mulações dessas observações ele também observou crianças e adolescentes normais em situações lúdicas fez várias incursões em território índio e estudou a vida de figuras históricas Ele provavelmente é mais conhecido por seus estudos psicohistóricos e seus li vros sobre Lutero 1958 e Gandhi 1969 são muito lidos Histórias de Caso Embora Erikson não publicasse muitos estudos de caso de seus pacientes os poucos que apareceram 1963 demonstram um raro insight da dinâmica da persona lidade e uma compaixão pelas pessoas perturbadas especialmente pelas crianças com problemas Seu ta lento notável para estabelecer rapport com os pacien tes está claramente evidente e seu estilo refinado transforma esses estudos de caso em eventos literári os assim como em trabalhos científicos Situações Lúdicas Ao fazer psicoterapia com crianças Erikson como outros descobriu que as crianças geralmente revela vam melhor suas preocupações quando brincavam com brinquedos do que por meio de palavras Isso o levou a desenvolver uma situação lúdica padroniza da utilizando brinquedos e blocos que empregou em um estudo nãoclínico de 150 meninos e 150 meninas entre dez e doze anos de idade Eu preparei uma mesa para brincar e uma seleção aleatória de brin quedos e convidei os meninos e as meninas do estu do um de cada vez a entrar e a imaginar que a mesa era um estúdio de cinema e os brinquedos atores e cenários Eu então lhes pedi que criassem sobre a mesa uma cena emocionante de um filme imaginário 1963 p 98 Depois a criança era solicitada a con tar uma história sobre a cena que tinha construído Ao estudar uma variedade de conexões entre con figurações lúdicas e a história de vida dessas crianças Erikson ficou pasmo com as nítidas diferenças no uso do espaço para brincar nas cenas criadas pelos meni nos e pelas meninas Os meninos em geral construí am estruturas altas com os blocos as meninas tendi am a usar a mesa como o interior de uma casa em que colocavam a mobília e as pessoas Elas raramente usa vam os blocos para construir paredes ou estruturas As cenas dos meninos incluíam muita ação implícita tráfego movendose pelas ruas policiais que bloquea vam o tráfego animais e índios As cenas das meni nas eram mais pacíficas embora muitas vezes a tran qüilidade fosse quebrada por um intruso que era sempre um animal menino ou homem nunca uma menina ou uma mulher As meninas não tentavam bloquear essas intrusões erigindo paredes ou fechan do portas Erikson comentou que a maioria dessas intrusões tem um elemento de humor ou excitação prazerosa 1963 p 105 Ele observou que as meni nas preferiam utilizar o espaço interno ao passo que os meninos utilizavam preferencialmente o espaço externo O leitor deve ser informado de que várias tentativas de replicar as observações de Erikson sobre as diferenças sexuais na criação lúdica de forma geral não tiveram sucesso Caplan 1979 Cramer Hogan 1975 Ao interpretar as diferenças entre os sexos Erik son enfatizou o que chamava de o plano básico do corpo significando que pelo menos nas crianças prépúberes a configuração anatômica dos órgãos sexuais em amadurecimento influenciava fortemente o uso lúdico do espaço na elaboração de configura ções exteriores e interiores Estas evidentemente contêm temas profundamente influenciados pelos papéis sexuais tradicionais Essas interpretações pa recem concordar com a máxima de Freud de que ana tomia é destino com a implicação de que as diferen ças sexuais são inatas e resistentes à mudança As diferenças sexuais surgem em parte como um produto dos fenômenos desenvolvimentais que Erik son chama de zonas psicossexuais modos dos órgãos e modalidades sociais Embora esse segmento de sua te oria não seja muito conhecido é importante porque proporciona o vínculo primário entre os estágios psicossexuais enfatizados por Freud e os estágios psi cossociais pelos quais Erikson é conhecido As zonas correspondem às zonas erógenas identificadas por Freud Cada uma dessas zonas libidinais é dominada durante seu estágio de maior sensibilidade por um modo principal de funcionamento Assim a boca pri mariamente incorpora o ânus e a uretra tanto retêm 178 HALL LINDZEY CAMPBELL quanto eliminam o falo se introduz e a vagina con tém Cada um desses modos físicos dá origem a uma correspondente modalidade de interação social Du rante o estágio oralsensório por exemplo existem dois modos incorporativos O primeiro em que o bebê consegue segurar objetos na boca produz a modali dade de pegar O segundo em que o bebê pode usar seus novos dentes para morder objetos produz a mo dalidade de agarrar Da mesma forma os modos de retenção e eliminação do estágio analuretralmuscu lar transformamse na capacidade e no desejo de agar rarse a e deixar ir Essas modalidades se referem a apegos e comprometimentos assim como os modos se referem à interação com objetos Até este ponto a progressão desenvolvimental é semelhante para meninos e meninas Entretanto con forme mostra a Figura 53 ver adiante os caminhos desenvolvimentais através do estágio infantilgenital divergem para meninos e meninas como uma função de suas diferentes zonas de órgãos e modos físicos Quando reforçada pela cultura a intrusão do menino o predispõe a fazer no sentido da iniciativa e da con quista e a intrusão da menina a predispõe a agarrar por meio da atração e do apelo Em sua apresentação de 1975 todavia Erikson fez questão de enfatizar que ambos os sexos têm as duas modalidades a seu dis por esse estágio é dominado em ambos os sexos por combinações de modos e modalidades intrusivas e inclusivas Erikson não renunciou totalmente aos conceitos de inveja do pênis nas meninas e de ansie dade de castração nos meninos nesse estágio mas ele mudou a ênfase no desenvolvimento feminino do senso exclusivo de perda de um órgão externo para um senso incipiente de potencial interno vital o es paço interno então que de jeito nenhum se opõe a uma plena expressão de vigorosa intrusividade na lo comoção e em padrões gerais de iniciativa 1975 p 38 Os modos genitais que emergem depois da pu berdade são necessariamente intrusivos para os ho mens e inclusivos para as mulheres Sob a força de pressões culturais as diferentes modalidades podem contribuir para a exploração da mulher como aquela que espera e de quem se espera continuar depen dente e cuidando das crianças O correspondente con junto de forças pode levar o menino a papéis de com petição ou de exploração Erikson enfatizou que esses resultados não precisam ocorrer A Figura 53 apresenta o esquema original de Eri kson para ilustrar esse processo Os círculos peque nos dentro dos círculos grandes representam as três zonas de órgãos a boca em cima o ânus embaixo e os genitais do lado Da mesma forma os números arábi cos se referem aos modos 1 e 2 para os dois modos incorporativos 3 para retenção e 4 para eliminação 5 para intrusão e 1 novamente para a inclusão Final mente os números romanos se referem a estágios I e II para o estágio oralsensório III para o estágio anal uretralmuscular IV para o estágio infantilgenitallo comotor e V para um estágio genital rudimentar A seqüência desenvolvimental normativa para os meni nos segue a diagonal de I1 para IV5 A seqüência normativa para as meninas é de I1 para III3 e III4 depois IV1 e IV2 Erikson 1975 subseqüentemente discutiu ob jeções erguidas por críticas feministas a essas inter pretações Ele salienta que nunca disse que semelhan ças ou diferenças psicológicas entre os sexos eram determinadas unicamente por fatos biológicos A bio logia embora demarcando potenciais vitais interage com variáveis culturais e psicológicas para produzir um determinado efeito comportamental Conseqüen temente o que os homens fazem e o que as mulheres fazem com seus potenciais masculino e feminino não é rigidamente controlado por suas respectivas anato mias e fisiologias mas está sujeito a diferenças de personalidade a papéis sociais e a aspirações Expandindo a máxima de Freud Erikson 1975 escreveu que anatomia a história e a personalidade são o nosso destino combinado Mas ele reconheceu preocupações típicas distintivas de mulheres e de ho mens Ecoando sua discussão de zonas modos e mo dalidades ele sugeriu que assim como o controle da natalidade atinge o núcleo da condição feminina as implicações do controle de armas atingem o núcleo da identidade masculina conforme ela emergiu ao longo da evolução e da história 1975 p 245 As sim como o controle da natalidade permitiria à mu lher escolher papéis além da maternidade o controle de armas permitiria que o homem escolhesse papéis além daqueles definidos pela imagem da tecnologia e da conquista Erikson não se desculpou por sua pos tulação de modalidades separadas para homens e mulheres Soando quase junguiano em sua sugestão de que os seres humanos como espécie precisam de TEORIAS DA PERSONALIDADE 179 ambas as potencialidades ele descreveu sua visão de uma ordem mundial que só podese desenvolver por meio de um envolvimento igual das mulheres e de seus modos especiais de experiência no planejamento e no governo em geral até agora monopolizados por homens 1975 p 247 As situações lúdicas na análise infantil têm um papel semelhante ao do sonho na análise do adulto Embora Erikson não enfatizasse os sonhos em seus textos ele escreveu um artigo teórico muito impor tante sobre os sonhos 1954 usando um sonho de Freud para ilustrar suas idéias Estudos Antropológicos Erikson foi um dos poucos psicanalistas que estuda ram a relação dos traços de caráter adultos com a maneira pela qual a criança foi educada em grupos FIGURA 53 Zonas modos e modalidades como fatores no desenvolvimento de a meninos e b meninas Reimpressa com a permissão de Erikson 1963 p 89 180 HALL LINDZEY CAMPBELL primitivos Em 1937 Erikson acompanhou a Dakota do Sul um representante de campo do Commissioner of Indian Affairs para tentar descobrir por que as cri anças Sioux demonstravam uma apatia tão acentua da Ele descobriu que a criança Sioux estava aprisio nada no dilema de tentar conciliar os valores tribais tradicionais nela inculcados durante sua educação inicial com os valores do homem branco ensinados nas escolas dirigidas pelo Indian Service Incapazes de conciliálos muitas crianças simplesmente evitavam a questão retraindose para um estado de apatia Mais tarde Erikson foi a Klamath River na Cali fórnia do Norte onde vivem os índios Yurok Ele esta va especialmente interessado em fazer correlações entre as práticas de treinamento infantil e os traços de personalidade dos pescadores que viviam à beira de um rio em uma comparação com os caçadores das planícies Por exemplo a aquisição e a retenção de posses era uma contínua preocupação dos Yurok O reforço desse comportamento começava muito cedo na vida da criança que era ensinada a ser abstêmia a subordinar seus impulsos a considerações econômi cas e a engajarse em fantasias sobre pescar salmões e ganhar dinheiro PsicoHistória Erikson definiu a psicohistória como o estudo da vida individual e coletiva com os métodos combinados da psicanálise e da história 1974 p 13 Seu livro so bre Lutero 1958 tinha o subtítulo de A study in Psychoanalysis and History O interesse de Erikson por psicanalisar os indi víduos famosos começou com seus capítulos sobre a infância de Hitler e a juventude de Maxim Gorky em Childhood and Society 1950 1963 Esses ensaios ini ciais foram seguidos por dois outros livros Young Man Luther 1958 e Gandhis Truth 1969 Ele também escreveu sobre George Bernard Shaw 1968 Tho mas Jefferson 1974 William James 1968 e em muitos de seus textos sobre Freud O próprio Freud sondou a vida de pessoas famosas incluindo Leonar do da Vinci 1910a Daniel Schreber um jurista ale mão 1911 Dostoevsky 1928 Moisés 1939 e Woodrow Wilson em colaboração com William Bullit 1967 Há um debate considerável sobre o papel que Freud desempenhou na colaboração sobre Wilson História de Caso e História de Vida Erikson deu um passo metodológico gigante no estu do de figuras históricas quando imaginou que seria possível aplicar os mesmos métodos usados para re construir o passado de um paciente na psicanálise à reconstrução do passado de uma pessoa histórica A história de caso se torna história Mas ele também percebeu ao fazer a transição da história de caso para a história de vida que o psicanalista precisa levar em consideração o que os pacientes fazem no mundo fora da clínica como é o seu mundo que limitações seu mundo lhes impõe e também que oportunidades lhes oferece Ele perguntou a si mesmo o que os pacientes podem fazer sendo o mundo como é Em conseqüên cia de seu pensamento sobre a vida de figuras históri cas ele percebeu que as técnicas da psicanálise pre cisavam suplementar seus achados clínicos com o estudo do funcionamento psicossocial 1975 p 105 Mas os grandes homens e mulheres diferem dos pacientes uma vez que mudam o mundo formulando uma nova visão de mundo que captura a imaginação das pessoas e incitaas à ação Uma grande diferença entre a história de vida de uma pessoa famosa e a história de caso de um paciente é a seguinte em uma história de caso tentamos explicar por que uma pes soa se desmontou em uma história de vida tentamos explicar como uma pessoa conseguiu permanecer in teira apesar dos conflitos dos complexos e das crises Essa evidentemente é uma questão imensamente im portante Deve haver muitos Hitlers vagando pelas ruas ou confinados a instituições mentais ou penais mas só houve um ou possivelmente alguns Hitlers bem sucedidos pelo menos por um período nos tempos modernos Por que o mesmo conflito ou crise destrói uma pessoa e fortalece outra Ao estudar figuras históricas como Lutero e Gan dhi Erikson não estava interessado em seus traumas infantis como tal nem considerava seu comportamen to adulto apenas uma fixação em ou uma regressão a complexos infantis Em vez disso ele tentou mostrar como os traumas da vida inicial eram reencenados em uma versão transformada nos atos da vida adul ta É suficientemente simples estabelecer que Gandhi ou Lutero ou qualquer outro homem por falar no assunto experienciavam conflitos e culpa por senti mentos sensuais em relação à mãe e sentimentos hos TEORIAS DA PERSONALIDADE 181 tis em relação ao pai Para Erikson o complexo ou a crise de Édipo é apenas a forma infantil de um confli to geracional O importante é como esse conflito é representado de várias formas durante a vida Os grandes homens parecem ser capazes de representá lo de tal maneira que inspiram e motivam muitos ou tros a tornaremse seus seguidores Gandhi foi uma inspiração para milhões de hindus que queriam ficar livres do domínio britânico assim como Lutero 400 anos antes foi para milhões de europeus que queri am ficar livres da autoridade de Roma Em estudos psicohistóricos de grandes indivíduos tentase mos trar como as vicissitudes de sua história desenvolvi mental pessoal mudaram o curso da história O que o grande homem faz é personificar e ofere cer às pessoas uma visão de mundo integradora e li bertadora que ao mesmo tempo é necessária para sua identidade grandiosamente conflituada e propor cionalhe um senso de uma identidade coletiva nova e mais ampla Uma visão de mundo comum une as pessoas para dentro de uma força efetiva de mudan ça A personalidade e a visão de mundo de Lutero levaram à Reforma as de Gandhi à libertação da Ín dia as de Jefferson à democracia americana as de Lenin ao comunismo russo e as de Mao ao comunis mo chinês Metodologia PsicoHistórica Erikson estabeleceu regras bastante rigorosas sobre como realizar um estudo psicohistórico 1975 Pri meiro é essencial ter em mente que a interpretação de qualquer declaração que uma pessoa faz sobre sua vida deve considerar várias questões Em que ponto de sua vida a pessoa fez a declaração Como a decla ração feita em um determinado momento se encaixa na história de vida total O que estava acontecendo em seu mundo na época em que a informação foi re gistrada Como esses eventos mundiais contemporâ neos se articulam com o processo histórico global Por exemplo Erikson teve de enfrentar essas pergun tas quando analisou e interpretou a autobiografia de Gandhi escrita quando este tinha quase 60 anos Além disso a interpretação de um evento em uma história de vida precisa ser compatível com o estágio desenvolvimental em que se acredita ter ocorrido 1975 p 128 e também ser plausível com relação à continuidade de vida da pessoa A probabilidade de um evento ter realmente ocorrido na vida de uma pessoa é reforçada se pudermos mostrar que ele ocor re comumente na cultura contemporânea da comuni dade e na história dessa cultura 1975 p 132133 Assim é tão importante para o biógrafo conhecer a sociedade passada e presente em que a pessoa vive como é estar informado sobre os eventos da vida da pessoa A pessoa é feita pela história tanto quanto a faz As interpretações psicohistóricas são inevitavel mente influenciadas pelo nosso humor no momento em que fazemos as interpretações e pela tradição in telectual em que fomos treinados Isso significa que se alguém com uma orientação intelectual diferente digamos um junguiano ou um existencialista escre vesse sobre a vida de Lutero ou Gandhi suas inter pretações seriam diferentes das de Erikson A mes ma diversidade evidentemente também é encontrada nas interpretações do comportamento dos pacientes por pessoas de diferentes linhas teóricas Mesmo dois freudianos não concordam em suas interpretações como mostram os contrastantes relatos sobre Lutero escritos por Norman O Brown 1959 e Erikson 1958 Ver Domhoff 1970 para uma interessante comparação desses dois Luteros Erikson também salientou que qualquer psico historiador projeta nos homens e nos tempos que estuda algumas porções nãovividas e muitas vezes os selves nãorealizados de sua própria vida 1975 p 148 Esta observação sugere que o psicohistoriador assim como o psicoterapeuta deve ser psicanalisado para ter consciência de seus conflitos e complexos pessoais antes de escrever ou avaliar biografias Em conseqüência dos estudos psicohistóricos se minais de Erikson a psicohistória tornouse uma dis ciplina independente com numerosos praticantes Ver p ex McAdams 1994 e uma discussão no Capítulo 7 deste livro Erikson sentiase um pouco ambivalen te em relação a essa nova indústria da qual ele foi o empreendedor PESQUISA ATUAL O modelo de Erikson dos estágios psicossexuais ge rou uma variedade de estratégias de avaliação e ricas investigações empíricas Nós começaremos com a 182 HALL LINDZEY CAMPBELL medida mais conhecida de status da identidade de senvolvida por James Marcia Depois examinaremos pesquisas sobre dois outros estágios psicossexuais e concluiremos comentando o recente trabalho sobre o status intercultural do modelo de estágios de Erikson Status de Identidade James Marcia 1966 desenvolveu uma medida de status da identidade amplamente utilizada com ado lescentes e jovens adultos Marcia começou identifi cando quatro pontos de concentração ao longo de um contínuo de realização da identidade de ego iden tidade realizada moratória execução e difusão de identidade Ele definiu esses status em termos da ex tensão em que o indivíduo experienciou uma crise de identidade ou empenhouse na escolha entre alter nativas significativas 1966 p 551 e desenvolveu um compromisso de identidade ou investimento em determinadas metas e comportamentos Marcia empregou uma entrevista semiestrutura da para estabelecer o grau de crise e de compromisso apresentado pelo indivíduo nas áreas da escolha ocu pacional e de ideologia política e religiosa Ele mais tarde acrescentou o domínio da sexualidade Ver p ex Slugoski Marcia Koopman 1984 A pessoa que está com a identidade realizada experienciou um período de crise durante o qual explorou alternativas entre várias possibilidades e subseqüentemente com prometeuse nos domínios de ocupação na ideologia e na sexualidade O indivíduo em moratória está atu almente em um período de crise Seus compromissos são ainda muito vagos mas ele parece estar lutando para formar tais compromissos Essa pessoa ainda está envolvida em questões adolescentes e nos desejos pa rentais Está tentando negociar um compromisso en tre os desejos parentais as exigências sociais e as ca pacidades pessoais Uma pessoa em execução fez compromissos apesar de não ter experienciado uma crise As atitudes e as metas dessa pessoa refletem rigidamente as dos pais Finalmente o indivíduo em difusão de identidade pode ou não ter experienciado uma crise A marca característica dessa pessoa é a fal ta de compromisso e a ausência de preocupação em relação à ocupação ideologia e sexualidade Marcia 1966 p 553 apresenta os seguintes exemplos de respostas a uma pergunta sobre quão dispostos esta riam os universitários do sexo masculino a desistir de uma carreira planejada se surgisse alguma situação melhor Identidade realizada Bem eu poderia desistir mas duvido Não sei se haveria para mim al guma coisa melhor Moratória Acho que se tivesse certeza poderia responder melhor a essa pergunta Teria de ser alguma coisa na área geral alguma coisa relacionada Execução Não muito disposto Isso é o que eu sempre quis fazer Meus pais estão felizes assim como eu Difusão de identidade Oh claro Se surgisse al guma coisa melhor eu mudaria na hora Os pesquisadores identificaram vários correlatos de diferenças no status da identidade Slugoski e co laboradores 1984 descobriram que tanto os sujeitos realizados quanto os sujeitos em moratória revelavam uma maior complexidade cognitiva do que os sujeitos em execução e difusão Os sujeitos neste último sta tus o mais inferior tendiam a ser mais rígidos con cretos e impulsivos Da mesma forma os sujeitos no status mais elevado da identidade eram mais abertos mais cooperativos e ficavam mais à vontade com te mas polêmicos Os sujeitos em execução ao contrá rio tendiam a ser antagonistas ou aquiescentes em suas interações presumivelmente como um meio de protegerse de pontos de vista contrários Outras pes quisas apresentam um quadro semelhante das carac terísticas de estilo cognitivo dos indivíduos em execu ção p ex Blustein Phillips 1990 Cella DeWolfe Fitzgibbon 1987 Marcia 1967 Read Adams Dobson 1984 Schenkel Marcia 1972 Consisten temente com Slugoski e colaboradores 1984 Wa terman 1982 ver também 1985 relatou que os su jeitos em execução apresentam um relacionamento mais estreito com os pais e os indivíduos em difusão de identidade apresentam uma maior distância em relação aos pais Finalmente as pesquisas empregando o instru mento de Marcia e várias outras medidas foram ge ralmente consistentes com as sugestões de Marcia re ferentes ao curso desenvolvimental da formação da identidade de ego p ex Adams Fitch 1982 Con stantinople 1969 Waterman Geary Waterman TEORIAS DA PERSONALIDADE 183 1974 No entanto as anomalias na seqüência e as preocupações com bases conceituais levaram Cote e Levine 1988 a criticar o modelo de Marcia tanto como um modelo eriksoniano quanto como um mo delo geral do desenvolvimento da identidade ver Waterman 1988 para uma réplica Outros Estágios Orlofsky p ex 1976 1978 Orlofsky Marcia Les ser 1973 propôs uma análise dos status de intimida de com base em uma entrevista semelhante à de Mar cia para a identidade As entrevistas de Orlofsky buscam definir a presença e a profundidade dos rela cionamentos com amigos do mesmo sexo e do sexo oposto Com essas informações os indivíduos são de signados como íntimos préíntimos estereotipados pseudoíntimos um subtipo de estereotipado ou iso lados Como exemplos desses status considerem as duas definições seguintes O indivíduo íntimo tenta desenvolver relacionamentos pessoais mútuos e tem vários amigos próximos com os quais discute seus pro blemas pessoais e os deles Ele tem um relacionamen to íntimo com uma ou mais amigas do sexo femini no O sujeito isolado caracterizase por uma acentuada limitação do espaço de vida com a ausên cia de qualquer relacionamento pessoal duradouro Orlofsky e colaboradores 1973 p 213 Essas dis tinções de intimidade revelaramse úteis em vários estudos p ex Kahn Zimmerman Csikszentmihalyi Getzels 1985 LevitzJones Orlofsky 1985 McAdams p ex McAdams 1993 McAdams de St Aubin 1992 McAdams de St Aubin Logan 1993 Van der Water McAdams 1989 desenvolveu um modelo de generatividade definido como a meta pessoal e societal de prover para a próxima geração McAdams 1994 p 679 Ele sugere que a exigência cultural e o desejo interno promovem uma preocupa ção com a próxima geração durante a idade adulta Essa preocupação associada à crença de que a bon dade e o valor humanos farão progredir as futuras gerações leva a um compromisso generativo O com promisso pode manifestarse em vários tipos de ação criativa McAdams e seus alunos apresentam evidên cias de que a preocupação o compromisso e a ação generativos estão positivamente associados confor me prediz o modelo Talvez ainda mais interessante mente McAdams sugere que os adultos narram um roteiro generativo para si mesmos Isto é eles tecem uma história relatando como suas tentativas de ser generativos se encaixam na sociedade da qual fazem parte Observem como esse modelo é consistente com a opinião de Erikson de que o indivíduo ajustase perfeitamente à sua sociedade e também com a per gunta persistente de Allport Como deve ser escrita uma história de vida psicológica ver Capítulo 7 Status Intercultural As teorias de estágio como as propostas por Freud e Erikson geralmente são criticadas como inseparáveis da cultura Embora a crítica só possa ser aplicada a Erikson com certo senso de ironia dadas suas investi gações antropologicamente sofisticadas das tribos de índios americanos Sioux e Yukon assim como da iden tidade americana 1950 1963 vários estudos rela taram variação nos constructos eriksonianos por meio de grupos culturais p ex McClain 1975 Ochse Plug 1986 Ochse e Plug criaram um questionário de auto relato para medir os componentes da personalidade que segundo Erikson aparecem durante os sete pri meiros estágios Esse questionário foi aplicado a uma amostra diversa de homens e de mulheres brancos e negros na Universidade da África do Sul As mulheres brancas resolveram mais cedo sua crise de identidade e manifestavam um grau de intimidade maior do que os homens brancos As indicações de uma resolução negativa da crise de identidade entre as mulheres negras no grupo de idade de 2539 anos foram atri buídas à sua falta de oportunidade de desenvolver intimidade Um desenvolvimento psicossocial sadio estava relacionado a um sentimento de bemestar nos sujeitos brancos mas a relação entre bemestar e os componentes da personalidade era mais frágil nas pessoas negras Ochse e Plug concluíram que exis tem indicações de que nos homens negros o senso de identidade só se desenvolve bem tarde na idade adul ta Também é sugerido que as mulheres negras expe rienciam sentimentos fortemente relacionados de falta de autodefinição falta de intimidade e ausência de bemestar na idade adultamédia e que pode ocor rer nessa época uma resolução relativamente nega tiva da crise de identidade 1986 p 1249 Mas 184 HALL LINDZEY CAMPBELL eles alertam que seus resultados para os sujeitos ne gros são enfraquecidos por tamanhos pequenos de amostra e de considerações psicométricas Os achados de Ochse e Plug geralmente são con sistentes com um recente estudo longitudinal de Whi tbourne Zuschlag Elliot e Waterman 1992 Esses autores observaram mudanças nos escores de estágio que refletiam envelhecimento e também os efeitos de realidades históricas sociais e culturais específi cas Como conseqüência escrevem eles todas as questões psicossociais podem alcançar ascendência em qualquer momento da vida do indivíduo dependen do de fatores únicos específicos da trajetória biológi ca psicológica ou social daquele indivíduo p 270 Isto é o caminho normativo diagonal por meio do gráfico epigenético de Erikson ver Figura 52 neste capítulo não se aplica a todos os indivíduos Essa conclusão é consistente com trabalhos recentes enfa tizando o impacto do ambiente nãocompartilhado ver Capítulo 8 Isso representa uma modificação do modelo de Erikson é claro mas também reitera a afir mação de Erikson de que a anatomia a história e a personalidade são o nosso destino combinado STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO O status atual de Erikson como pensador estudioso professor e escritor é de muito prestígio não só nos círculos acadêmicos e profissionais aos quais ele está associado mas também no mundo em geral O nome de Erikson é tão conhecido como os de Piaget e Skin ner Diferentemente de seu mentor Freud e diferen temente de um outro professor de Harvard B F Skin ner Erikson não foi uma figura controversa Seus textos são singularmente isentos de críticas adversas a outros pontos de vista de fato eles têm um forte tom ecumênico e suas idéias também não têm sofri do críticas muito adversas Existe algo de muito caris mático nesse homem e em seus textos que afeta mui tas pessoas A reputação de Erikson entre os psicólogos deri vase quase exclusivamente de sua explicação do de senvolvimento psicossocial durante todo o período de vida do nascimento à senilidade em particular de seus conceitos de identidade e de crise de identidade Os psicólogos de modo geral preferem os estágios de Erikson aos estágios psicossexuais de Freud Mas a reputação de Erikson não depende somente de suas formulações teóricas Ele também é grandemente ad mirado por suas observações agudas e suas interpre tações sensatas pelos méritos literários de seus tex tos e por sua profunda compaixão por tudo o que é humano Erikson tem sido criticado por sua visão excessi vamente otimista do ser humano exatamente como Freud é criticado por sua visão pessimista Embora os termos otimismo e pessimismo não tenham lugar na avaliação de um ponto de vista científico pois aquilo que acontece ocorre independentemente dos nossos sentimentos Erikson respondeu a essa crítica salien tando que para cada passo psicossocial eu postulo uma crise e um conflito específicos denotando uma ansiedade vitalícia 1975 p 259 E a seguir ele conclui que sem ansiedade conflito e crise não have ria nenhuma força humana Erikson foi censurado por diluir a teoria freudia na ao concentrarse nas forças do ego no racional e no consciente à custa do id do irracional e do incons ciente Mesmo que essa censura se justificasse ela realmente não seria pertinente O mero fato de que Erikson pode divergir significativamente de Freud um fato que o próprio Erikson negaria não justifica um repúdio das idéias de Erikson As teorias de Freud não são a medida máxima da verdade nem ele jamais afir mou que eram As formulações de Erikson relativas ao desenvolvimento psicossocial precisam ser avalia das em termos das evidências a favor e contra e não em termos de quanto discordam de ou concordam com qualquer outra teoria Uma alegação mais sutil acusa Erikson de apoiar o status quo quando ele diz que o indivíduo precisa aprender a conformarse ou ajustarse à sociedade em que vive Na verdade Erikson disse que as pessoas precisam encontrar sua identidade dentro dos poten ciais de estabilidade ou mudança de sua sociedade enquanto seu desenvolvimento deve engrenar com os requerimentos da sociedade ou sofrer as conseqüên cias A possibilidade de Erikson ser ou não um conser vador e um tradicionalista não tem relação alguma com a validade de suas idéias Mas é interessante ele ter escolhido exemplificar seu esquema desenvolvi mental psicossocial por meio de um cuidadoso exame da vida de dois homens Lutero e Gandhi que dificil TEORIAS DA PERSONALIDADE 185 mente poderiam ser chamados de conformistas pois mudaram radicalmente as sociedades em que viviam Além disso em sua vida pessoal Erikson assumiu uma postura enérgica contra a injustiça social notavelmen te na controvérsia sobre o juramento de lealdade na Universidade da Califórnia O leitor talvez tenha inte resse em ler as conversas entre Erikson e o líder radi cal dos Panteras Negras Huey Newton K T Erikson 1973 Uma crítica com mais mérito que as anteriores se centra na qualidade dos fundamentos empíricos nos quais a teoria se baseia Ninguém pode questionar a numerosa variedade de dados observacionais reuni dos por Erikson Ele trabalhou durante muitos anos como psicanalista em consultório particular e como membro de equipe de muitos hospitais e clínicas Ele observou as brincadeiras das crianças normais em condições padronizadas Ele fez observações em pri meira mão de duas culturas indígenas E explorou detalhadamente a vida de duas figuras históricas Como artista e como cientista Erikson tinha um olho treinado No entanto apesar dessas qualidades as descri ções baseadas em observações pessoais embora con sistindo nos dados brutos de qualquer empreendimen to científico não são suficientes Sabese bem na verdade o próprio Erikson reconheceu que a obser vação pode ser muito subjetiva Uma pessoa pode ver aquilo que quer ver Nem a concordância entre vários observadores conhecida tecnicamente como valida ção consensual constitui prova A história da ciência oferece muitos exemplos das armadilhas da validação consensual A observação e a descrição devem levar à mensu ração e à experimentação controladas mas não foi isso o que Erikson fez O trabalho de Marcia foi um começo Erikson evidentemente não está sozinho nisso As poucas teorias da personalidade são apoia das por uma sólida base de dados quantitativos e ex perimentais Grande parte do que Erikson escreveu parece ter validade aparente isto é parece soar ver dadeiro para o leitor comum Quem pode negar a realidade da crise de identidade e da confusão duran te a adolescência por exemplo Além disso as for mulações de Erikson oferecem uma rica fonte de hi póteses que podem ser e estão sendo quantificadas e testadas experimentalmente Este em si mesmo é um feito notável TEORIAS DA PERSONALIDADE 187 ÊNFASE NA ESTRUTURA DA PERSONALIDADE Os teóricos da personalidade descritos nesta seção do livro compartilham uma preocupação central com a estrutura da personalidade A dinâmica e o desenvolvimento também recebem atenção mas a característica definidora dos membros dessa família de teorias é a busca de uma taxonomia um conjunto sistemático de características que possa ser usado para resumir a personalidade de um indivíduo Raymond Cattell condizentemente com seu background em química foi explícito em sua tentativa de desenvolver uma tabela periódica de elementos de personalidade Henry Murray também empregou um análogo químico buscando uma estrutura conceitual para as características pessoais e forças situacionais que permitisse aos psicólogos formular compostos comportamentais Hans Eysenck desenvolveu um modelo mais generalizado da personalidade mas seu foco continua claramente nas tendências comportamentais conceitualizadoras que nos permitem predizer reações a vários eventos estímulo Gordon Allport foi único em sua tentativa de capturar a personalidade e a história de vida psicológica do indivíduo Apesar de seu foco nas idiossincrasias com a conseqüente impossibilidade de qualquer taxonomia geral sua abordagem está baseada na identificação da estrutura de personalidade do indivíduo Aqui cabe um alerta O foco na estrutura da personalidade adotado por essas teorias levou alguns observadores a concluir que elas ignoram a situação como um determinante do comportamento Esse não é o caso Todos esses teóricos cada um à sua maneira adotam uma abordagem interacionista o comportamento é visto como uma função conjunta das características da pessoa e dos aspectos situacionais Dada sua ênfase na estrutura da personalidade não surpreende que esses quatro teóricos se preocupem muito com a mensuração da personalidade Cada um foi influente na sua maneira pessoal de desenvolver os testes de personalidade assim como foi influenciado pelos outros Um atributo final compartilhado por esses teóricos é um ancoramento biológico no estudo da personalidade Eysenck foi o mais explícito a tal respeito mas os outros três teóricos também reconhecem o papel determinante da fisiologia e distinguem entre motivos biológicos e adquiridos A Tabela 2 ver p 188 apresenta uma comparação dimensional desses teóricos 188 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 2 Comparação Dimensional de Teorias Estruturais Parâmetro Comparado Murray Allport Cattell Eysenck Propósito A A M B Determinantes inconscientes A B M M Processo de aprendizagem M M A A Estrutura A A A A Hereditariedade M M A A Desenvolvimento inicial A B M M Continuidade A B M M Ênfase organísmica A A M M Ênfase no campo A M M M Singularidade A A M M Ênfase molar M M M M Ambiente psicológico A M B B Autoconceito M A A B Competência M A M B Afiliação grupal M B M M Ancoramento na biologia A A M A Ancoramento nas ciências sociais A B B B Motivos múltiplos A A A B Personalidade ideal M A B B Comportamento anormal M B M M Nota A indica alto enfatizado M indica moderado e B indica baixo pouco enfatizado TEORIAS DA PERSONALIDADE 189 CAPÍTULO 6 A Personologia de Henry Murray INTRODUÇÃO E CONTEXTO 190 HISTÓRIA PESSOAL 191 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 194 Definição de Personalidade 195 Procedimentos e Séries 195 Programas e Planos Seriados 196 Habilidades e Realizações 196 Elementos Estáveis de Personalidade 196 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 198 Necessidade 198 Pressão 202 Redução de Tensão 203 Tema 204 Necessidade Integrada 204 UnidadeTema 205 Processos de Reinância 205 Esquema de ValorVetor 205 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 206 Complexos Infantis 206 Determinantes GenéticoMaturacionais 209 Aprendizagem 209 Determinantes Socioculturais 210 Singularidade 210 Processos Inconscientes 210 O Processo de Socialização 210 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 211 Estudo Intensivo de Pequenos Números de Sujeitos Normais 211 O Conselho Diagnóstico 212 Instrumentos de Mensuração da Personalidade 212 Estudos Representativos 213 PESQUISA ATUAL 215 McClelland e os Motivos Sociais 215 Interacionismo 216 Onde Está a Pessoa 217 Psicobiografia 218 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 219 190 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Entre os teóricos da personalidade Henry A Murray destacase por sua sofisticação na ciência biológica na prática clínica e na psicologia acadêmica Como uma rica força integrativa para esses diversos talen tos Murray possuía um brilhante estilo de redação decorrente de um profundo e permanente interesse pela literatura e pelas humanidades A teoria que se desenvolveu dessas fontes mostra um respeito consi derável pela importância determinante dos fatores bi ológicos uma plena apreciação da complexidade in dividual do organismo humano e um interesse por representar o comportamento de maneira que a in vestigação controlada seja uma conseqüência natural dessas formulações Em quatro aspectos no mínimo Murray representa um ponto de mudança no estudo da personalidade Ele levou a psicologia profunda da clínica para a universidade No processo ele determi nou claramente que forma deveria ter a pesquisa so bre a personalidade Reconheceu a importância de se desenvolver uma taxonomia da motivação E ele en fatizou a necessidade de se conceitualizar o compor tamento como uma interação de forças individuais e ambientais Em parte devido a essas ênfases Murray foi uma anomalia entre os psicólogos acadêmicos e sua carreira está cercada de controvérsias Triplet 1992 p 299 O foco de sua teoria está nos indivíduos em toda a sua complexidade Esse ponto de vista é salientado pelo termo personologia que Murray e colaborado res 1938 introduziram como um nome para seus esforços e para os esforços daqueles que estavam pri mariamente preocupados com uma compreensão com pleta do caso individual Ele enfatizou consistentemen te a qualidade orgânica do comportamento indicando que um segmento do comportamento não pode ser compreendido isoladamente do restante da pessoa em funcionamento Ao contrário de muitos outros teóri cos que compartilhavam dessa crença Murray estava plenamente disposto a realizar as abstrações necessá rias para permitir vários tipos de estudo especializa do sempre enfatizando que a tarefa da reconstrução deve ocorrer depois de a análise estar completa Um outro contraste com alguns teóricos holistas é a sua orientação de campo Murray insistia que o contex to ambiental do comportamento precisa ser totalmente compreendido e analisado antes de ser possível uma explicação adequada do comportamento individual Murray dava uma ênfase geral à importância dos de terminantes ambientais e desenvolveu uma elabora da série de conceitos destinados a representar essas forças ambientais O passado ou a história do indivíduo é tão im portante na visão de Murray quanto o presente e seu ambiente Sua teoria compartilha com a psicanálise a suposição de que os eventos que ocorreram no perío do de bebê e na infância são determinantes cruciais do comportamento adulto Outra semelhança entre essa posição e a psicanálise está na considerável im portância atribuída à motivação inconsciente e no profundo interesse pelo relato verbal subjetivo ou li vre do indivíduo incluindo suas produções imagina tivas De muitas maneiras o aspecto mais distintivo dessa teoria é seu tratamento altamente diferenciado e cuidadosamente especificado da motivação O es quema de Murray de conceitos motivacionais tem sido influente e amplamente utilizado Outro aspecto in comum da teoria é a ênfase consistente nos processos fisiológicos coexistentes e funcionalmente vinculados que acompanham todos os processos psicológicos Seu conceito de reinância que discutiremos mais adi ante serve para manter o teórico continuamente ori entado para o cérebro como o lugar da personalidade e de todas as suas partes componentes Murray sem pre enfatizou a importância da descrição detalhada como um prelúdio necessário para investigações e for mulações teóricas complicadas Consistente com esse ponto de vista está seu profundo interesse pela taxo nomia e as exaustivas classificações que estabeleceu para muitos aspectos do comportamento Murray fez sérios esforços para chegar a um com promisso entre as exigências freqüentemente confli tantes da complexidade clínica e a economia investi gativa Ele criou meios para representar pelo menos em parte a grande diversidade do comportamento humano Ao mesmo tempo ele se centrou na tarefa de construir operações para avaliar variáveis que ocu pam um papel central em seu esquema teórico Essa ênfase dupla levou naturalmente a uma aproximação entre a prática clínica e o laboratório de psicologia TEORIAS DA PERSONALIDADE 191 HISTÓRIA PESSOAL Fizemos um rápido esboço da personologia de Mur ray mas o que podemos dizer do homem que criou essa teoria Henry Murray nasceu na cidade de Nova York em 13 de maio de 1893 e foi educado na Groton School e no Harvard College recebendo em 1915 seu grau de bacharel em história Murray foi até esta épo ca um aluno indiferente e costumava brincar que em Harvard ele tinha se especializado nos três Rs rum rixas e romantismo Robinson 1992 p 27 Seu in teresse inicial pela psicologia foi diminuído pela pri meira palestra da classe introdutória de Hugo Muns terberg Na faculdade um início de interesse pela psicologia foi cortado pela frieza da abordagem do professor Munsterberg Na metade de sua segunda palestra eu comecei a procurar a saída mais próxi ma Murray 1940 p 152 Depois da graduação em Harvard ele se matriculou no Columbia College of Physicians and Surgeons onde se formou como o pri meiro de sua classe em 1919 Em 1920 recebeu o grau de mestre em biologia no Columbia e trabalhou brevemente como professor de fisiologia na Universi dade de Harvard Depois disso fez uma residência de dois anos em cirurgia no Hospital Presbiteriano de Nova York Então ingressou na equipe do Rockfeller Institute for Medical Research na cidade de Nova York onde trabalhou como pesquisadorassistente em em briologia por dois anos Seguiuse um período de es tudo na Universidade de Cambridge onde realizou pesquisas bioquímicas que lhe deram um PhD em bioquímica em 1927 Quando recebeu seu grau de doutor Murray já tinha publicado 21 artigos em im portantes jornais médicos ou bioquímicos Anderson 1988 Assim em um notável paralelo com a carreira inicial de Freud Murray estava a caminho de uma bemsucedida carreira como pesquisador em ciência biológica Em vez de seguir essa carreira Murray vol touse para a psicologia mas não pelas razões práti cas que impulsionaram Freud O ímpeto para essa conversão foi o livro de Carl Jung Psychological Types que Murray encontrou ca sualmente em uma livraria em 1923 no dia em que ele foi posto à venda nos Estados Unidos Murray imer giu no livro e em outras obras de Jung e Freud Dois outros eventos importantes ocorreram logo depois Murray conheceu Christiana Morgan com quem ini ciou um relacionamento intenso que duraria toda a vida ver Robinson 1992 ver também Douglas 1993 para uma perspectiva diferente de Christiana Morgan e leu Moby Dick de Melville Murray ficou tão envol vido pela psicologia profunda que escreveu a Jung em 1924 pedindo para visitálo Em 1925 ele passou três semanas em Zurique com Jung durante suas fé rias de Páscoa de Cambridge O interesse de Murray pela psicologia foi confirmado por esse encontro com Jung a primeira inteligência pura global que en contrei Nós conversamos durante horas velejando pelo lago e fumando diante da lareira de seu refúgio faustiano As grandes comportas do mundo das maravilhas se abriram e eu vi coisas com as quais a minha filosofia jamais sonhara Dentro de um mês uma série de problemas complicados estava resolvida e eu fui embora tendo escolhido a psi cologia profunda Eu tinha experienciado o incons ciente algo que não se pode tirar dos livros Murray 1940 p 153 Assim profundamente interessado pela psicolo gia Murray voltou ao seu país e ao Instituto Rockfel ler onde permaneceu por um ano como associado Em 1927 ele aceitou um convite para lecionar psico logia na Universidade de Harvard Essa escolha não convencional de um homem incomum sem formação em psicologia acadêmica por parte de um departa mento acadêmico foi obra de Morton Prince que aca bara de fundar a Clínica Psicológica de Harvard A clínica estava explicitamente comprometida a dedi carse ao estudo e ao ensino da psicologia anormal e dinâmica Prince buscando um jovem e promissor estudioso para orientar o futuro da clínica escolheu Murray Em 1928 Murray passou a professorassis tente e diretor da Clínica Psicológica e em 1937 a professorassociado Essa foi uma decisão difícil pois professores influentes como Edwin Boring e Karl Lash ley objetavam fortemente o fato de Murray endossar a psicanálise e adotar uma metodologia divergente Conforme observa Triplet 1992 p 305 A posição de Murray era complicada pelo fato de ele permane cer à margem de uma disciplina que estava ela pró pria à margem da aceitação Murray foi um dos membros fundadores da Sociedade Psicanalítica de Boston e por volta de 1935 concluiu sua formação 192 HALL LINDZEY CAMPBELL Henry Murray TEORIAS DA PERSONALIDADE 193 em psicanálise com Franz Alexander e Hans Sachs Um relato fascinante de sua análise didática e de suas atitudes em relação à psicanálise foi apresentado em um simpósio sobre psicólogos e psicanálise Murray 1940 Durante os quase 15 anos transcorridos antes que a guerra começasse a Clínica Psicológica de Harvard sob a liderança intelectual e espiritual de Henry Mur ray foi o cenário de um empreendimento teórico e empírico intensamente criativo Murray reuniu em torno dele um grupo de jovens alunos capazes cujos esforços conjuntos para formular e investigar a perso nalidade humana foram extremamente proveitosos O livro Explorations in Personality 1938 contém um registro parcial da criatividade dessa época mas os resultados mais importantes ocorreram na forma de valores concepções e intenções de indivíduos como Donald W MacKinnon Saul Rosenzweig R Nevitt Sanford Silvan S Tomkins e Robert W White Na Clí nica pela primeira vez a teoria psicanalítica recebeu uma atenção acadêmica séria e foi feito um grande esforço para traduzir os brilhantes insights clínicos de Freud em operações experimentais que permitissem certo grau de confirmação ou rejeição empírica Mur ray não só criou um senso de entusiasmo e iminente descoberta entre seus alunos mas também a Clínica abriu suas portas para estudiosos maduros de uma variedade de campos Erik Homburger Erikson Cora DuBois Walter Dyk H Scudder McKeel de modo que o empreendimento tinha uma aura nitidamente interdisciplinar Em 1943 essa era teve fim quando Murray dei xou Harvard para juntarse ao Corpo Médico do Exér cito Como major e subseqüentemente tenenteco ronel ele estabeleceu e dirigiu um serviço de avaliação para o Office of Strategic Services Sua organização recebeu a difícil tarefa de avaliar os candidatos para missões complexas secretas e perigosas As ativida des desse grupo foram resumidas em Assessment of Men Office of Strategic Services Equipe de Avalia ção 1948 Por seu trabalho no Exército ele recebeu a Legião de Mérito em 1946 Em 1947 ele voltou à Harvard em tempo parcial para fazer palestras sobre psicologia clínica no recémformado Departamento de Relações Sociais Em 1950 foi nomeado professor de psicologia clínica Em 1949 ele criou a Clínica Psico lógica Anexa na Universidade de Harvard onde ele e alguns colegas e alunos realizaram estudos sobre a personalidade reunindo 88 detalhados históricos de caso Murray tornouse professor emérito em 1962 Ele recebeu da Associação Psicológica Americana o Distinguished Scientific Contribution Award e o Gold Medal Award da Fundação Psicológica Americana por uma vida de contribuição ao campo Henry Murray morreu de pneumonia em 23 de junho de 1988 aos 95 anos de idade ver Smith Anderson 1989 Além de revisar e expandir suas idéias teóricas Murray esteve atento a alguns dos maiores problemas da vida contemporânea incluindo a abolição da guerra e a criação de um estado mundial Murray 1960a 1961 1962b Murray era um ardente defensor do poder da imaginação criativa temperada pela razão para resolver qualquer problema do ser humano Ele sempre criticou severamente a psicologia por proje tar uma imagem negativa dos seres humanos e por seu narcisismo maligno Murray defendia firmemen te uma psicologia humanista e otimista A formação e a pesquisa médica e biológica de Murray contribuíram para o profundo respeito que ele sempre demonstrou pela importância dos fatores físicos e biológicos no comportamento Sua experiên cia em diagnóstico médico resultou obviamente na crença de que a personalidade deve ser avaliada por uma equipe de especialistas e que nessa avaliação devemos ouvir seriamente aquilo que o sujeito diz sobre si mesmo Seu interesse pela taxonomia ou clas sificação do comportamento assim como sua convic ção de que o cuidadoso estudo de casos individuais é essencial para o futuro progresso psicológico também são altamente congruentes com seu background mé dico Seu detalhado conhecimento da mitologia 1960b e das grandes criações literárias da nossa época e de épocas passadas e especialmente seu co nhecimento perito de Melville e sua obra proporcio naramlhe uma fonte inesgotável de idéias sobre o ser humano e sua potencialidade para o bem e para o mal A mente apurada de Alfred North Whitehead foi um modelo de lógica e de pensamento sintético en quanto o truculento mas brilhante Lawrence J Hen derson serviu como um modelo de rigor e de orienta ção crítica Seu débito para com esses homens e numerosos outros incluindo várias gerações de alu nos é amplamente reconhecido em quatro documen tos muito pessoais 1940 1959 1967 1968a e em um volume de ensaios escrito em homenagem a Mur ray White 1963b Com uma herança tão complexa 194 HALL LINDZEY CAMPBELL não surpreende que sua teoria seja uma estrutura ela borada e múltipla Está claro para todos que o conheceram que o talento e a dedicação de Henry Murray ao estudo da personalidade humana se revelam apenas parcialmen te em seus trabalhos publicados Seus comentários casuais e suas livres especulações sobre uma varieda de interminável de tópicos que eram uma parte tão integral dos almoços na Clínica Psicológica inspira ram pesquisas muito proveitosas em inúmeros cole gas e alunos Infelizmente nem todas essas mensa gens caíram em solo fértil e só podemos lamentar que a palavra falada não tenha sido preservada para enriquecer a palavra escrita A tendência de Murray a revelar apenas frutos ocasionais de seu intelecto está claramente demonstrada nas publicações originadas de seus vinte e cinco anos de intensivo estudo de Her man Melville Esses anos de estudo dedicado deram lhe uma reputação sem paralelo entre os que estuda ram Melville no entanto ele só publicou alguns artigos sobre esse escritor tão cativante Um deles é uma bri lhante análise do significado psicológico de Moby Dick Murray 1951c outro uma introdução a e uma pe netrante análise de Pierre Murray 1949a um dos romances mais intrigantes e desorientadores de Mel ville Dada a inadequação dos registros escritos acha mos que a teorização e a pesquisa de Murray estão melhor representadas em Explorations of Personality 1938 Esse livro resume o pensamento e a pesquisa da equipe da Clínica Psicológica no final de sua pri meira década de existência Um registro parcial de parte da pesquisa subseqüente está em A Clinical Stu dy of Sentiments 1945 escrito com sua colaborado ra de longa data Christiana Morgan e em Studies of Stressful Interpersonal Disputations 1963 As maio res mudanças sofridas por suas convicções teóricas nos anos subseqüentes estão muito bem apresentadas em um capítulo escrito conjuntamente com Clyde Klu ckhohn 1953 em um capítulo publicado em Toward a General Theory of Action 1951a em um artigo pu blicado em Dialectica 1951b em uma palestra que ele proferiu na Universidade de Siracusa 1958 em um capítulo escrito para Psychology a study of a scien ce 1959 e em um artigo escrito para a International Encyclopedia of The Social Sciences 1968b O Manual do Teste de Apercepção Temática 1943 é a melhor in trodução a este instrumento de personalidade plane jado conjuntamente com Christiana Morgan Morgan Murray 1935 que se tornou um dos instrumentos empíricos mais importantes e mais amplamente utili zados do clínico e do investigador da personalidade A grande sensibilidade e engenhosidade demonstra das por Murray na criação de meios de avaliar e ana lisar as capacidades e as tendências direcionais hu manas são claramente reveladas em Assessment of Men Equipe de Avaliação do Office of Strategic Services 1948 A melhor introdução ao trabalho de Murray é uma coleção de seus textos editada por Shneidman Murray 1981 As publicações recentes de Anderson 1988 1990 e Triplet 1992 lançam luz sobre a car reira de Murray bem como as de Lindzey 1979 e Murray 1967 Uma biografia de Robinson 1992 centrase no relacionamento de Murray com Christia na Morgan O legado de Murray é capturado em uma série de volumes editados sobre as Conferências de Henry A Murray sobre Personalidade na Michigan State University Aronoff Rabin Zucker 1987 Ra bin Aronoff Barclay Zucker 1981 Rabin Zucker Emmons Frank 1990 Zucker Aronoff Rabin 1984 Zucker Rabin Aronoff Frank 1992 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE A natureza da personalidade e suas aquisições e con quistas ocuparam uma porção considerável da aten ção teórica de Murray Suas idéias sobre a estrutura da personalidade foram muito influenciadas pela teo ria psicanalítica mas em muitos aspectos elas são sur preendentemente diferentes de uma visão freudiana ortodoxa Murray temia um pouco a palavra estrutu ra por suas conotações de permanência regularida de e legitimidade Ele reconhecia que a personalida de normalmente está em um estado de fluxo Agora examinaremos a definição de Murray da personalida de e os conceitos que ele elaborou na tentativa de representar a natureza da personalidade TEORIAS DA PERSONALIDADE 195 Definição de Personalidade Embora Murray propusesse muitas definições de per sonalidade em diferentes momentos os principais componentes dessas definições podem ser resumidos da seguinte maneira 1 A personalidade de um indivíduo é uma abs tração formulada pelos teóricos e não sim plesmente uma descrição do comportamen to do indivíduo 2 A personalidade de um indivíduo referese a uma série de eventos que idealmente abran gem toda a sua vida A história da persona lidade é a personalidade 3 Uma definição de personalidade deve refle tir os elementos duradouros e recorrentes do comportamento bem como os elementos novos e únicos 4 A personalidade é o agente organizador ou governador do indivíduo Suas funções são integrar os conflitos e as limitações aos quais o indivíduo está exposto satisfazer suas ne cessidades e fazer planos para a conquista de metas futuras 5 A personalidade está localizada no cérebro Nenhum cérebro nenhuma personalidade Assim as tentativas de Murray de definir a perso nalidade deixam claro que ele estava fortemente ori entado para uma visão que desse um peso adequado à história do organismo à função organizadora da personalidade aos aspectos recorrentes e novos do comportamento do indivíduo à natureza abstrata ou conceitual da personalidade e aos processos fisiológi cos subjacentes aos psicológicos Procedimentos e Séries Os dados básicos do psicólogo são os procedimentos que são interações sujeitoobjeto ou interações sujei tosujeito com duração suficiente para incluir os ele mentos significativos de uma dada seqüência compor tamental Nas palavras de Murray procedimentos são as coisas que observa mos tentamos representar com modelos e expli car as coisas que tentamos predizer os fatos em comparação com os quais testamos a adequação das nossas formulações Murray 1951b p 269 270 Embora em certos ambientes seja possível definir exatamente um procedimento por exemplo uma res posta verbal e sua réplica normalmente podemos dar apenas uma definição bem geral Nessa linha Murray sugeriu que idealmente a duração de um procedi mento é determinada 1 pela iniciação e 2 pelo término de um padrão de comportamento dinamica mente significativo Murray 1951b p 269 Essa concepção de que a unidade básica do psicó logo consiste em procedimentos reflete a convicção de Murray de que o comportamento está inextricavel mente preso a uma dimensão temporal Assim o pro cedimento é um compromisso entre as limitações prá ticas impostas pelo intelecto e pelas técnicas do investigador e o dado empírico de que o comporta mento existe em uma dimensão temporal Murray su geriu que os procedimentos fossem classificados como internos devanear resolver problemas planejar soli tariamente ou externos interagir com pessoas ou objetos no ambiente Os procedimentos externos têm dois aspectos um aspecto subjetivo experiencial e um aspecto objetivo comportamental Para muitos propósitos a representação do com portamento em termos de procedimentos é perfeita mente adequada Entretanto em certas circunstânci as é necessário incluir em uma unidade ou formulação única um comportamento que ocorre ao longo de um período de tempo mais longo Essa unidade funcional mais longa de comportamento é conhecida como sé rie ou serial Uma sucessão intermitente direcionalmente or ganizada de procedimentos pode ser chamada de série Assim uma série tal como uma amizade um casamento uma carreira nos negócios é uma unidade funcional relativamente longa que só pode ser formulada em termos aproximados Pre cisamos obter registros de procedimentos críticos ao longo de seu curso e observar índices de de senvolvimento como as mudanças de disposição o aumento de conhecimento o aumento da capa cidade a melhoria na qualidade do trabalho rea lizado e assim por diante Nenhum procedimen 196 HALL LINDZEY CAMPBELL to de série pode ser entendido sem referência àqueles que conduziram a ele e sem referência às metas e às expectativas do ator ao seu planeja mento do futuro Murray 1951b p 272 Portanto a representação do comportamento em termos de séries tornase necessária quando certos procedimentos estão tão intimamente relacionados que é impossível estudálos separadamente sem des truir seu significado total Programas e Planos Seriados Os programas seriados cumprem uma função muito importante para o indivíduo São os arranjos ordena dos de submetas que se estendem para o futuro talvez meses ou anos e que se tudo correr bem levarão fi nalmente a algum estado final desejado Assim o in divíduo tem o objetivo de tornarse médico mas en tre a situação presente e essa meta estão anos de estudo e de treinamento especial Se ele desenvolver uma série de submetas cada uma visando a aproxi málo do diploma de medicina isso seria referido como um programa seriado Com a mesma importância temos os planos que são meios para reduzir o conflito entre as necessida des e as metas concorrentes organizando a expressão dessas tendências em momentos diferentes Por meio dos planos o indivíduo pode dar o máximo de ex pressão às suas várias metas Se a pessoa é eficiente na construção de planos pode diminuir muito a quan tidade e a intensidade de seus conflitos Murray colocou os programas e os planos seria dos sob o termo ordenação que inclui o processo de planejar e também o resultado do processo um pro grama ou um plano estabelecido A ordenação é um processo mental superior no mesmo nível da cogni ção A meta da cognição é um entendimento concei tual completo do ambiente mas depois que a situa ção externa foi suficientemente entendida o processo de ordenação se afirma para organizar a política e o planejamento de estratégias e táticas Essa discussão demonstra uma notável antecipação do trabalho con temporâneo sobre personalidade e cognição Nancy Cantor 1990 por exemplo descreveu como os indi víduos interpretam tarefas de vida em termos de es quemas acessíveis que os levam a desenvolver estraté gias cognitivas para resolver os problemas que a vida apresenta Habilidades e Realizações Ao contrário de muitos psicólogos da personalidade Murray demonstrava um consistente interesse pela habilidade e pela realização e considerava essas qua lidades uma parte importante da personalidade Es ses componentes do indivíduo têm a função central de mediadores entre as disposições para a ação e os resultados finais para os quais tais disposições estão orientadas Em praticamente toda a sua pesquisa da personalidade os sujeitos foram avaliados em várias áreas diferentes de habilidade e de realização física mecânica liderança social econômica erótica e in telectual Elementos Estáveis de Personalidade Mesmo se aceitarmos a personalidade como um fenô meno em constante mudança ainda existem certas estabilidades ou estruturas que aparecem ao longo do tempo e são cruciais para entendermos o comporta mento Ao representar essas estruturas mentais Mur ray tomou emprestados da psicanálise os termos ego id e superego mas introduziu certos elementos dis tintivos ao desenvolver esses conceitos Murray concordava com Freud na concepção do id como o repositório de impulsos primitivos e inacei táveis Aqui está a origem da energia a fonte de to dos os motivos inatos o self cego e nãosocializado Mas Murray insistia que o id também inclui impulsos que são aceitáveis para o self e para a sociedade O id não só contém impulsos tanto para o bem quanto para o mal mas também a força dessas tendências varia entre os indivíduos Assim a tarefa de controlar ou dirigir as tendências de seu id varia em dificuldade para diferentes indivíduos Alguns egos estão senta dos na sela de um dócil pônei Shetland outros estão escarranchados em um potro selvagem das planícies Murray Kluckhohn 1953 p 26 A reconceitualização de Murray do id altera subs tancialmente o modelo de Freud da dinâmica idego Segundo Murray parece melhor pensar no id como consistindo em todas as energias emoções e necessi dades valoresvetor básicas da personalidade algu TEORIAS DA PERSONALIDADE 197 mas das quais são plenamente aceitáveis enquanto outras são totalmente inaceitáveis Mas a maioria de las é aceitável quando expressa em uma forma cultu ralmente aprovada em direção a um objeto cultural mente aprovado em um lugar culturalmente aprovado e em um momento culturalmente aprovado Assim a função do ego não é tanto a de suprimir as necessida des instintuais quanto a de adequálas moderando sua intensidade e determinando os modos e os mo mentos de sua realização Murray Kluckhohn 1953 p 24 O paralelo com a transformação erikso niana das pulsões freudianas em fragmentos pulsio nais é notável Em conseqüência o ego não é unica mente um inibidor e repressor O ego deve não só conter ou reprimir certos impulsos e motivos mas tam bém mais significativamente ele deve arranjar orga nizar e controlar o aparecimento dos impulsos O ego consistentemente com a teoria psicanalítica é visto como o organizador e integrador central do compor tamento Parte dessa organização todavia tem por objetivo facilitar ou promover a expressão de certos impulsos do id A força e a efetividade do ego são determinantes importantes do ajustamento do indiví duo O superego na teoria de Murray assim como na de Freud é considerado um implante cultural Ele é um subsistema internalizado que age no indivíduo para regular o comportamento de uma maneira muito se melhante à dos agentes que cercavam a pessoa no passado Esses agentes tipicamente os pais mas tam bém os seus substitutos os professores as personali dades públicas e os personagens de ficção agem como representantes da cultura de modo que a internaliza ção de suas prescrições representa um movimento na direção de internalizar prescrições culturais Em con traposição a Freud o superego para Murray se desen volve em camadas variando de representações infan tis grosseiras a um ordenamento racional de princípios éticos Portanto o conflito pode existir dentro do pró prio superego Intimamente relacionado ao superego está o ide al de ego que consiste em uma imagem idealizada do self um self desejado ou um conjunto de ambições pessoais buscado pelo indivíduo O ideal de ego pode estar inteiramente divorciado do superego como no caso do indivíduo que deseja ser um mestre do crime ou pode estar estreitamente relacionado de modo que a pessoa busca suas ambições pessoais de uma manei ra que se conforma exatamente às sanções da socie dade Se o superego é dominante e o ideal de ego é suprimido a pessoa pode tentar atender à vontade de Deus ou ao bemestar da sociedade desistindo de suas ambições pessoais É importante observar que a concepção de Mur ray do superego e do ideal de ego permite maior li berdade para alterações e para desenvolvimento nos anos seguintes à infância do que a visão psicanalítica ortodoxa No desenvolvimento normal a relação en tre essas três instituições se modifica de modo que onde antes o id governava supremo o superego e even tualmente o ego passam a ter papéis determinantes No mais feliz dos casos um superego benigno e um ego forte e engenhoso se combinam para permitir a expressão adequada dos impulsos do id em circuns tâncias culturalmente aprovadas A redefinição de Murray do triunvirato estrutural freudiano do id ego e superego nos permite escapar do cenário pessimista de Freud do conflito eterno Mas Murray continuou firmemente comprometido com a defesa freudiana da psicologia profunda da sexuali dade da fantasia dos mecanismos de defesa e da ne cessidade de considerar as bases nãoracionais de com portamento Ele também abraçou a noção do determinismo da infância Freud escreveu ele obe deceu ao meu primeiro mandamento ele começou do começo Murray 1959 p 13 Sua própria dinâ mica familiar levou Murray a rejeitar a caracterização do pai como um rival aterrorizante e onipotente pela afeição de uma mãe querida Além disso a lista de necessidades de Murray é uma clara indicação de que ele considerava limitado demais o sistema motivacio nal de Freud Ele escreveu que a divisão de Freud dos instintos em Eros e Thanatos era irracional sentimen tal e inadequadamente diferenciada Murray 1967 p 304 Ademais sua elaboração do ideal de ego tem muito em comum com o modelo de Erik Erikson com o constructo de proprium de Gordon Allport e com abordagens cognitivas contemporâneas Finalmente é importante notar que Murray acreditava que Freud valorizava muito pouco a pesquisa sistemática os fa tores sociais e as diferenças culturais Murray 1940 Em resumo então Murray concordava com Freud que devemos prestar atenção às forças inconscientes e aos eventos da infância como determinantes do compor 198 HALL LINDZEY CAMPBELL tamento Essa aceitação formou a base sobre a qual ele erigiu seu próprio método para um sistema da personalidade Em uma revisão posterior de sua teoria Murray 1959 enfatizou os elementos estáveis mais positi vos da personalidade Ele acreditava que existem pro cessos formativos e construtivos que não só são úteis para a sobrevivência ou como defesas contra a ansie dade mas também possuem suas próprias energias objetivos e realizações Uma pessoa necessita ser cria tiva e imaginativa precisa compor e construir para continuar psicologicamente sadia A imaginação cria tiva de fato pode ser a característica mais forte da personalidade e aquela que geralmente tem menos oportunidades de se expressar A DINÂMICA DA PERSONALIDADE É na representação dos anseios da busca do desejo das aspirações e da vontade que as contribuições de Murray à teoria psicológica foram mais distintivas Seria justo dizer que sua posição é primariamente uma psicologia motivacional Esse foco no processo moti vacional é perfeitamente congruente com a convic ção de Murray de que no estudo das tendências dire cionais da pessoa está a chave para a compreensão do comportamento humano a coisa mais importan te que temos de descobrir sobre uma pessoa é a di recionalidade ou as direcionalidades supraordena da de suas atividades sejam elas mentais verbais ou físicas Murray 1951 p 276 O interesse de Mur ray pela direcionalidade levou a um sistema de cons tructos motivacionais complexo e cuidadosamente delineado Seus interesses taxonômicos ficam claros na paciente e atenta classificação dos elementos do comportamento humano em termos de seus determi nantes ou motivos subjacentes Murray certamente não foi o primeiro a enfatizar a importância da análise motivacional Entretanto suas formulações apresentam vários elementos distin tivos Enquanto a tendência predominante na psico logia ia na direção da simplicidade e de um pequeno número de conceitos ele insistia que uma compreen são adequada da motivação humana deveria basear se em um sistema que empregasse um número de va riáveis suficientemente grande para refletir pelo me nos parcialmente a imensa complexidade dos moti vos humanos em estado natural Ele também se esfor çou para definir empiricamente suas variáveis que apesar de imperfeitas superam de longe a efetivida de operacional da maioria dos esquemas precedentes no campo da motivação humana O resultado desses esforços é um conjunto de conceitos que tenta ousa damente transpor a lacuna entre a descrição clínica e as demandas da pesquisa empírica Ao examinar a teoria de Murray da motivação começaremos com uma discussão do conceito de ne cessidade que desde o início foi o foco de seus esfor ços conceituais Discutiremos a seguir conceitos rela cionados como pressão redução de tensão tema necessidade integrada unidadetema e reinância Final mente trataremos de seus conceitos de valor e vetor que representam uma virada mais recente em sua te orização Necessidade Embora o conceito de necessidade tenha sido ampla mente utilizado na psicologia nenhum outro teórico o analisou com tanto cuidado ou propôs uma taxono mia tão completa de necessidades quanto Murray O detalhe da análise de Murray desse conceito é sugeri do por sua definição Uma necessidade é um constructo uma ficção conveniente ou um conceito hipotético que re presenta uma força na região do cérebro uma força que organiza a percepção a apercepção a intelecção a conação e a ação de maneira a trans formar em certa direção uma situação insatisfa tória existente Uma necessidade às vezes é pro vocada diretamente por um certo tipo de processo interno mas com maior freqüência quando em um estado de prontidão pela ocorrência de uma de algumas pressões comumente efetivas forças ambientais Assim ela se manifesta por levar o organismo a buscar ou a evitar encon trar ou quando encontrar a prestar atenção e a responder a certos tipos de pressão Cada ne cessidade é caracteristicamente acompanhada por um determinado sentimento ou emoção e tende a usar certos modos para incrementar sua ten TEORIAS DA PERSONALIDADE 199 dência Ela pode ser fraca ou intensa momentâ nea ou duradoura Mas geralmente persiste e dá origem a um certo curso de ação manifesta ou fantasia que modifica a circunstância inicia dora de maneira a provocar uma situação final que acalma aplaca ou satisfaz o organismo Murray 1938 p 123124 A partir dessa definição vemos que o conceito de ne cessidade e o mesmo vale para o conceito de perso nalidade recebe um status abstrato ou hipotético es tando entretanto vinculado a processos fisiológicos subjacentes no cérebro Também imaginamos que as necessidades podem tanto ser despertadas interna mente quanto acionadas por uma estimulação exter na Em qualquer caso a necessidade produz ativida de por parte do organismo e mantém tal atividade até a situação organismoambiente ser alterada de modo a reduzir a necessidade Algumas necessidades são acompanhadas por determinadas emoções ou senti mentos e são freqüentemente associadas a atos ins trumentais específicos que são efetivos para produzir o estado final desejado Murray afirmou que a existência de uma necessi dade pode ser inferida com base 1 no efeito ou no resultado final do comportamento 2 no padrão ou no modo específico do comportamento envolvido 3 na atenção seletiva e na resposta a uma determinada classe de objetosestímulo 4 na expressão de uma determinada emoção ou no afeto e 5 na expressão de satisfação quando é atingido um determinado efei to ou de desapontamento quando o efeito não é atin gido 1938 p 124 Os relatos subjetivos sobre senti mentos intenções e metas são critérios adicionais Dada a definição geral e os critérios acima para infe rir ou classificar necessidades Murray estudou inten sivamente um pequeno número de sujeitos para che gar a uma lista experimental de 20 necessidades Embora essa lista tenha sofrido considerável modifi cação e elaboração as 20 necessidades originais con tinuam altamente representativas Essas variáveis fo ram apresentadas no Explorations in Personality 1938 com um esboço dos fatos pertinentes a cada necessidade incluindo itens de questionário para medir a necessidade as emoções concomitantes e ilus trações da necessidade As 20 necessidades estão bre vemente listadas e definidas na Tabela 61 ver p 200 Tipos de Necessidade Até o momento vimos como Murray define necessi dade examinamos os critérios propostos por ele para a sua identificação e apresentamos uma lista típica de necessidades Além disso é importante considerar as bases para distinguir entre diferentes tipos de neces sidade Em primeiro lugar existe a distinção entre necessidades primárias e secundárias As necessidades primárias ou viscerogênicas estão ligadas a eventos orgânicos característicos e referemse tipicamente a satisfações físicas necessidades de ar água alimen to sexo lactação micção e defecação As necessida des secundárias ou psicogênicas derivamse presumi velmente das primárias e caracterizamse pela ausência de uma conexão focal com qualquer processo orgâni co ou satisfação física específicos necessidades de aquisição construção realização reconhecimento exibição dominação autonomia e deferência Em segundo lugar temos a distinção entre as ne cessidades aparentes e as necessidades ocultas isto é as necessidades manifestas e as necessidades laten tes Aqui Murray estava diferenciando as necessida des que podem ser expressas de forma mais ou menos direta e imediata e aquelas que geralmente são conti das inibidas ou reprimidas Poderíamos dizer que as necessidades manifestas costumam expressarse no comportamento motor enquanto as necessidades ocul tas normalmente pertencem ao mundo da fantasia ou dos sonhos A existência de necessidades ocultas é em grande parte o resultado do desenvolvimento de es truturas internalizadas superego que definem a con duta adequada ou aceitável Certas necessidades não podem ser expressas livremente sem violar as con venções ou os padrões que foram tomados da socie dade por meio dos pais e essas necessidades geral mente operam em um nível oculto Em terceiro lugar temos as necessidades focais e as necessidades difusas Algumas necessidades estão es treitamente ligadas a classes limitadas de objetos ambientais ao passo que outras são tão generaliza das que se aplicam à qualquer situação ambiental Murray salientou que a menos que exista certa fixa ção incomum uma necessidade está sempre sujeita à mudança nos objetos para os quais é dirigida e na maneira como eles são abordados Isto é a esfera de eventos ambientais para os quais a necessidade é re 200 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 61 Lista Ilustrativa das Necessidades de Murray Necessidade Breve Definição Afiliação Aproximarse de um outro aliado um outro que se parece com o sujeito ou que gosta do sujeito e ter prazer em cooperar e retribuir Agradar e granjear a afeição de um objeto catexizado Aproximarse de um amigo e permanecer fiel a ele Agressão Superar pela força a oposição Lutar Vingarse de uma injúria Atacar ferir ou matar alguém Punir ou oporse a alguém pela força Altruísmo Ser compassivo e gratificar as necessidades de um objeto desamparado um bebê ou qualquer pessoa frágil incapacitada cansada inexperiente vacilante derrotada humilhada solitária abatida doente mentalmente confusa Ajudar quem está em perigo Alimentar ajudar apoiar consolar proteger confortar cuidar curar Autodefesa física Evitar dor ferimento físico doença e morte Escapar de situações perigosas Tomar medidas preventivas Autodefesa psíquica Evitar humilhação Livrarse de situações embaraçosas ou evitar condições que possam levar a menosprezo escárnio zombarias ou indiferença por parte dos outros Deixar de agir por medo do fracasso Autonomia Libertarse livrarse de restrições sair do confinamento Resistir à coerção e à restrição Evitar ou desistir de atividades prescritas por autoridades dominadoras Ser independente e livre para agir segundo os próprios impulsos Não ter vínculos nem responsabilidades Desafiar as convenções Contrareação Dominar ou compensar um fracasso por meio de um empenho renovado Anular uma humilhação pela ação retomada Superar fraquezas reprimir o medo Apagar uma desonra pela ação Buscar obstáculos e dificuldades a superar Manter o autorespeito e o orgulho em um nível elevado Deferência Admirar e apoiar um superior Elogiar honrar e louvar Submeterse de bom grado à influência de alguém admirado Emular e seguir exemplos Conformarse aos costumes Defesa Defenderse de ataques críticas e acusações Esconder ou justificar uma má ação um fracasso ou uma humilhação Vingar o ego Divertimento Agir por pura diversão sem outros propósitos Gostar de rir e de fazer piadas Tentar relaxar e livrarse do estresse de formas agradáveis Participar de jogos esportes danças festas e carteados Dominação Controlar o seu ambiente humano Influenciar ou dirigir o comportamento de outros por meio de sugestão sedução persuasão ou ordens Dissuadir reprimir ou proibir Entendimento Fazer ou responder perguntas gerais Interessarse por teorias Especular formular analisar e generalizar Exibição Causar uma impressão Ser visto e ouvido Excitar surpreender fascinar entreter chocar intrigar divertir ou encantar os outros Humilhação Submeterse passivamente a uma força externa Aceitar injúria culpa críticas punição Render se Resignarse ao destino Admitir inferioridade erros transgressões ou derrotas Confessar e reparar Culpar menosprezar ou mutilar o self Buscar e sentir prazer com dor punição doença e desgraça Ordem Colocar os objetos em ordem Buscar limpeza arrumação organização equilíbrio asseio ordem e precisão Realização Realizar alguma atividade difícil Dominar manipular ou organizar objetos físicos seres humanos ou idéias Fazer isso tão rapidamente e tão independentemente quanto possível Superar obstáculos e atingir um padrão elevado Superar a si mesmo Competir e ultrapassar os outros Aumentar a autoconsideração pelo exercício bemsucedido do talento continua TEORIAS DA PERSONALIDADE 201 levante pode ser ampliada ou reduzida e os atos ins trumentais vinculados à necessidade podem aumen tar ou diminuir Se a necessidade está firmemente li gada a um objeto inadequado isso se chama fixação e é costumeiramente considerado patológico Entretan to como Murray indicou uma necessidade que não demonstra nenhuma preferência objetal duradoura pulando de objeto para objeto pode ser tão patológi ca quanto uma fixação Em quarto lugar temos as necessidades próativas e as necessidades reativas A necessidade próativa é amplamente determinada a partir do interior é uma necessidade que se torna espontaneamente cinética em resultado de algo que existe dentro da pessoa e não de algo que está no ambiente As necessidades reativas por outro lado são ativadas em resultado de ou em resposta a algum evento ambiental A distin ção aqui é principalmente entre uma resposta provo cada por uma estimulação apropriada e uma resposta produzida na ausência de qualquer variação impor tante de estímulo Murray também usou esses concei tos para descrever a interação entre duas ou mais pes soas quando uma delas pode ser identificada como o próator inicia a interação faz as perguntas em ge ral proporciona os estímulos aos quais a outra deve responder e a outra pode ser identificada como o re ator reage aos estímulos oferecidos pelo próator Em quinto lugar existe a distinção entre atividade de processo necessidades modais e necessidades de efei to Os psicólogos americanos com sua ênfase conven cional na função e na utilidade têm enfatizado con sistentemente as necessidades de efeito necessidades que levam a algum estado ou a um resultado final desejado Mas Murray insistia na importância igual da atividade de processo e das necessidades modais tendências a realizar certos atos no interesse do de sempenho em si A operação aleatória nãocoorde nada nãofuncional de vários processos visão audi ção pensamento fala e assim por diante que ocorre a partir do nascimento chamase atividade de proces so É o puro prazer da função fazer por fazer As necessidades modais por outro lado envolvem prati car alguma ação com um certo grau de excelência ou qualidade Ainda é a atividade o que se busca e apre cia mas ela agora só é recompensadora quando reali zada com um certo grau de perfeição InterRelação de Necessidades É evidente que as necessidades não operam em com pleto isolamento uma da outra e a natureza dessa interação ou influência mútuas é de crucial importân cia teórica Murray aceitava o fato de que existe uma hierarquia de necessidades com certas tendências tendo precedência sobre outras O conceito de predo minância é usado para referirse a necessidades que se tornam dominantes rapidamente se não são satis feitas Murray 1951a p 452 Assim nas situações em que duas ou mais necessidades são simultanea mente despertadas e motivam respostas incompatí veis é a necessidade predominante como dor fome sede que comumente será traduzida em ação pois as necessidades predominantes não podem ser adia das Uma satisfação mínima dessa necessidade é ne TABELA 61 Continuaçãoa Necessidade Breve Definição Rejeição Separarse de um objeto negativamente catexizado Excluir abandonar expelir ou permanecer indiferente a um objeto inferior Esnobar ou romper com alguém Segurança Ter as próprias necessidades satisfeitas pela ajuda carinhosa de um objeto aliado Ser cuidado apoiado sustentado cercado protegido amado aconselhado orientado mimado perdoado consolado Permanecer próximo de um protetor dedicado Ter sempre alguém que apóia Sensualização Buscar e sentir prazer com impressões sensuais Sexo Buscar e desenvolver um relacionamento erótico Ter relações sexuais aAdaptada de Murray 1938 p 152226 202 HALL LINDZEY CAMPBELL cessária antes que as outras necessidades possam ope rar Em sua investigação da personalidade Murray habitualmente empregava uma série de conceitos para representar conflitos envolvendo necessidades impor tantes Assim em sua pesquisa é costume obter para cada sujeito estimativas da intensidade do conflito em certas áreaschave como por exemplo autonomia versus aquiescência realização versus prazer Em certas circunstâncias as necessidades múlti plas podem ser gratificadas por um único curso de ação Nos casos em que o resultado de diferentes ne cessidades é o mesmo em termos comportamentais Murray falava da fusão de necessidades Outra rela ção importante entre as necessidades é referida pelo conceito de subsidiação Uma necessidade subsidiária é aquela que opera a serviço de outra por exemplo o indivíduo pode mostrar necessidades agressivas mas elas podem ter como objetivo apenas facilitar as ne cessidades aquisitivas No caso em que a operação de uma necessidade é meramente instrumental para a gratificação de outra nós falamos da primeira neces sidade como subsidiária à segunda Traçar cadeias de subsidiação pode ser muito valioso para revelar os motivos dominantes ou essenciais do indivíduo Níveis de Análise É importante reconhecer que as necessidades de Mur ray representam um constructo generalizado Ele es tabeleceu uma distinção entre necessidade e meta a meta representa o objetivo específico adotado pela pessoa como uma expressão da necessidade Murray 1951b usou o exemplo de uma necessidade geral de dominação e uma meta específica de ser eleito pre feito da cidade Murray 1938 p 127 escrevera pre viamente Quando se afirma que um indivíduo tem uma forte necessidade de Agressão digamos isso sig nifica apenas que sinais dessa necessidade recorreram com relativa freqüência no passado Essa é uma afir mação abstrata que requer maiores explicações por que não indica como ou em relação a quais objetos a necessidade se expressará Ela também omite como logo veremos o papel crítico da pressão ambiental Murray também empregou o conceito de Freud de catexia para referirse ao poder de um objeto de evocar uma necessidade positiva ou negativa em uma pessoa Ele afirmou que uma personalidade é ampla mente revelada nos objetos que catexiza Dessa ma neira podemos compor um retrato razoavelmente adequado da personalidade social 1938 p 106 Isso permitiu que Murray resolvesse um dilema que con fundia muitos estudiosos e teóricos da personalidade o foco deve estar em características individuais espe cíficas ou em constructos gerais Murray escreveu O problema é generalizar para propósitos cientí ficos a natureza dos objetos catexizados pois pa rece que não podemos lidar com entidades con cretas em sua plena particularidade Não tem nenhum significado científico dizer que um S su jeito gosta de Bill Snooks ou dos trabalhos de Fred Fudge ou entrou para o clube Gamma ou pertence aos Adventistas da Décima Segunda Hora embora para os cavalheiros envolvidos com o S nessas associações isso possa ser importante Na nossa opinião o importante é saber que existe algum objeto catexizado mas o objeto como tal não tem nenhum status científico até ser analisa do e formulado como um composto de atributos psicologicamente relevantes A teoria da pressão esperamos é um passo nessa direção 1938 p 107108 Nós examinamos como Murray escolheu represen tar a motivação do indivíduo Mas tais motivações pessoais estão intimamente ligadas a eventos que ocor rem fora do indivíduo e precisamos portanto verifi car como Murray representa esses importantes acon tecimentos ambientais Pressão Assim como o conceito de necessidade representa os determinantes significativos do comportamento dentro da pessoa o conceito de pressão representa os determinantes efetivos ou significativos do com portamento no ambiente Em termos simples uma pressão é uma propriedade ou atributo de um objeto ou pessoa do ambiente que facilita ou impede os es forços do indivíduo para atingir uma determinada meta As pressões estão ligadas a pessoas ou objetos que têm implicações diretas nos esforços do indiví duo para satisfazer as necessidades A pressão de um objeto é aquilo que o objeto pode fazer para o sujeito ou pelo sujeito o poder que tem de afetar o bem estar do sujeito de uma maneira ou outra A catexia de um objeto por outro lado é aquilo que o objeto TEORIAS DA PERSONALIDADE 203 pode fazer o sujeito fazer 1938 p 121 Ao repre sentar o ambiente em termos de pressão o investiga dor espera extrair e classificar as porções significati vas do mundo em que o indivíduo vive Nós certamente saberemos muito mais sobre o que um indivíduo pro vavelmente vai fazer quando compreendermos não apenas seus motivos ou tendências direcionais mas também sua maneira de ver ou interpretar seu ambi ente É esta última função que os conceitos de pres são pretendem cumprir Murray desenvolveu várias listas de pressões para propósitos específicos Na Tabela 62 temos uma des sas classificações apresentando eventos ou influênci as significativos da infância Na prática tais pressões não só são identificadas como operando na experiên cia de um dado indivíduo mas também recebem uma avaliação quantitativa para indicar sua força ou im portância na vida da pessoa É importante distinguir entre a significação dos objetos ambientais conforme são percebidos ou inter pretados pelo indivíduo pressão beta e as proprieda des desses objetos ambientais conforme existem na realidade ou são revelados pela investigação objetiva pressão alfa O comportamento do indivíduo está mais estreitamente relacionado à pressão beta mas é importante descobrir aquelas situações em que há uma grande discrepância entre a pressão beta à qual o in divíduo está reagindo e a pressão alfa que realmente existe Redução de Tensão Já vimos que Murray concebia o indivíduo como acio nado por um complexo conjunto de motivos Além disso ele afirmava que quando uma necessidade é despertada o indivíduo fica em um estado de tensão TABELA 62 Lista Abreviada de Pressõesa 1 Falta de apoio familiar 4 Retenção objetos que retêm Discórdia cultural 5 Rejeição indiferença e escárnio Discórdia familiar 6 Contemporâneo rival competidor Disciplina volúvel 7 Nascimento de um irmão Separação parental 8 Agressão Ausência de um progenitor pai mãe Maus tratos por homem ou mulher mais velhos Doença de um progenitor pai mãe Maus tratos por parte de contemporâneos Morte dos pais pai mãe Contemporâneos brigões Inferioridade paternal pai mãe 9 Dominação coerção e proibição Dissemelhança parental pai mãe Disciplina Pobreza Treinamento religioso Lar instável 10 Carinho indulgência 2 Perigo ou infortúnio 11 Socorro necessidades de ternura Falta de apoio físico altura 12 Deferência elogios reconhecimento Água 13 Afiliação amizades Solidão escuridão 14 Sexo Intempéries relâmpagos Exposição Fogo Sedução homossexual heterossexual Acidente Intercurso parental Animal 15 Engano ou traição 3 Ausência ou perda 16 Inferioridade De nutrição Física De possessões Social De companheirismo Intelectual De variedade aAdaptada de Murray 1938 p 291292 204 HALL LINDZEY CAMPBELL e a satisfação da necessidade envolve redução da ten são Finalmente o organismo vai aprender a prestar atenção a objetos e a realizar atos que no passado estavam associados à redução de tensão Apesar de Murray concordar com essa formula ção convencional ele afirmava que esse é um quadro incompleto O indivíduo não só aprende a responder de maneira a reduzir a tensão e experienciar satisfa ção mas também aprende a responder de maneira a criar tensão que mais tarde precisará ser reduzida o que aumentará o prazer Um exemplo de aumentar a tensão de modo a derivar uma satisfação maior da atividade são as preliminares que antecedem a consu mação sexual Um outro bom exemplo é a busca de sensação de Zuckerman um motivo que examinare mos no Capítulo 9 Devemos notar que essa formulação se aplica ape nas às necessidades de efeito Na atividade de proces so e nas necessidades modais a satisfação é intrínse ca à atividade e pode ser tão intensa no início e no meio como no final Murray aceitava a proposição de que as pessoas agem pretendendo aumentar a satisfação e diminuir a tensão Entretanto essa é apenas uma intenção ou crença por parte do ator Nem sempre o ato que a pessoa acredita reduzir a tensão e levar à satisfação vai atingir tal meta Além disso o ser humano não é motivado para aumentar a satisfação em geral é sem pre uma tensão específica relevante para uma neces sidade particular que ele tenta reduzir Portanto a satisfação é em grande parte uma conseqüência ou resultado de estados de necessidade e suas conse qüências comportamentais Tema Um tema é simplesmente uma unidade comportamen tal molar e interativa Ele inclui a situação instigado ra pressão e a necessidade que está operando As sim ele lida com a interação entre as necessidades e as pressões e permite uma visão do comportamento mais global e menos segmental Por meio desse con ceito o teórico pode representar as situações que ins tigam ou levam à operação de determinadas necessi dades assim como a conseqüência ou os resultantes da operação dessas necessidades Os temas variam de formulações simples de uma única interação sujeitoobjeto a formulações mais ge rais e aproximadas de transações mais longas Eles também incluem formulações que representam a com binação de um número de temas simples temas se riais O tema como uma unidade analítica é uma conseqüência natural da convicção de Murray de que as relações interpessoais devem ser formuladas como uma unidade que apresenta dois elementos Isto é o teórico não só precisa representar o sujeito que é o foco do interesse mas também precisa representar inteiramente a natureza da pessoa com quem o sujei to está interagindo O teórico deve ter a mesma preo cupação com os detalhes do sujeito e do objeto para predizer interações sociais concretas entre ambos É importante reconhecer que Murray usou os te mas tanto para definir episódios comportamentais sim ples que ele via como as unidades molares básicas da psicologia como para caracterizar indivíduos Vamos considerar dois exemplos de episódios citados por Murray Primeiro um indivíduo que é esnobado por outro poderia responder da mesma forma Isso seria codificado como pressão de rejeição desencadeando a necessidade de rejeição no indivíduo Segundo uma pessoa poderia esforçarse muito para ter sucesso de pois de um fracasso Isso seria conceitualizado como uma necessidade de realização seguindose à pres são do fracasso Qualquer um dos episódios poderia ser momentâneo ou poderia recorrer como uma res posta característica da pessoa a uma determinada pres são Murray acreditava que a biografia de um ho mem pode ser retratada abstratamente como uma rota histórica de temas Com efeito um indivíduo apre senta a tendência a reagir de maneira semelhante a situações semelhantes e isso se intensifica à medida que ele envelhece Assim existe a mesmice consis tência bem como a mudança Murray 1938 p 43 Observem que a descrição de Murray do indivíduo é uma descrição interacionista o que importa é a sua reação característica a uma determinada pressão e não uma tendência comportamental livremente flu tuante Necessidade Integrada Embora as necessidades não estejam necessariamen te vinculadas a objetos específicos no ambiente é fre qüente que com a experiência o indivíduo passe a associar determinados objetos a certas necessidades Igualmente determinados modos de resposta ou TEORIAS DA PERSONALIDADE 205 meios de abordar ou evitar esses objetos podem ser adquiridos e associados à necessidade Quando ocor re essa integração da necessidade e da imagem ou pensamento do objeto ambiental bem como de atos instrumentais Murray fala de uma necessidade inte grada Uma necessidade integrada é uma disposição temática bemestabelecida a necessidade de um certo tipo de interação com um certo tipo de pessoa ou objeto Quando existe uma necessidade integrada o despertar da necessidade geralmente levará a pes soa a buscar de maneira apropriada o objeto ambien tal correspondente à imagem que faz parte do inte grado de necessidades Nas palavras de Murray 1938 p 110 É uma constelação interna que estabelece um canal pelo qual uma necessidade é realizada Com parado a ele o conceito de necessidade é altamente abstrato UnidadeTema A unidadetema é essencialmente o padrão único de necessidades e de pressões relacionadas derivado da experiência infantil que dá significado e coerência à porção maior do comportamento do indivíduo Ela opera amplamente como uma força inconsciente Nem sempre é possível descobrir uma unidadetema em bora normalmente possamos chegar a uma formula ção desenvolvimental que lança luz sobre todo o com portamento do indivíduo ou sobre a maior parte dele e sem o que não seria possível trazer muita ordem ao comportamento Murray referiuse à unidadetema de uma pessoa como a chave para a sua natureza úni ca e sugeriu Uma unidadetema é um composto de necessida des dominantes interrelacionadas colaborati vas ou conflitantes que estão ligadas à pressão à qual o indivíduo foi exposto em uma ou mais oca siões específicas gratificantes ou traumáticas na infância inicial O tema pode representar uma experiência infantil primária ou uma subseqüen te formação reativa àquela experiência Mas in dependentemente de sua natureza e gênese ele se repete de muitas formas durante a vida 1938 p 604605 Processos de Reinância Um processo de reinância é o acompanhamento fisio lógico de um processo psicológico dominante Nós já vimos na definição de Murray de personalidade bem como na nossa discussão do conceito de necessidade que ele enfatizava a importância dos processos fisio lógicos ou neurológicos subjacentes aos fenômenos que interessam o psicólogo Essa clara intenção de localizar ou encaminhar todos os processos psicológi cos à função cerebral levou ao desenvolvimento de um conceito específico a reinância destinado a man ter em primeiro plano na atenção do teórico esta iden tidade de cérebropersonalidade Ao definir esse con ceito Murray escreveu Talvez seja conveniente referirse aos processos mutuamente dependentes que constituem as con figurações dominantes no cérebro como proces sos de reinância e também designar a totalidade desses processos que ocorrem durante um momen to único um segmento temporal unitário de pro cessos cerebrais como uma reinância Em cer ta extensão a necessidade reinante domina o organismo 1938 p 45 Murray também deixou claro que todos os pro cessos conscientes são reinantes mas que nem todos os processos reinantes são conscientes Assim a cons ciência é apenas uma propriedade de um processo psicológico dominante e pode ou não estar presente em um determinado caso Esquema de ValorVetor Uma das deficiências dos conceitos de necessidade e pressão conforme elaborados anteriormente é que eles não demonstram respeito suficiente pela inser ção do comportamento pela extensão em que deter minadas necessidades estão ligadas a pressões espe cíficas e a outras necessidades Murray tentou representar mais adequadamente essa interação en tre os determinantes do comportamento Ele argumen tou que as necessidades sempre operam a serviço de algum valor ou com a intenção de provocar algum estado final e que o valor portanto deve fazer parte da análise dos motivos 206 HALL LINDZEY CAMPBELL Uma vez que a observação e a experiência con firmam o fato de que a agressão bem como qual quer outro tipo de ação tem um efeito função que pode ser melhor definido como uma entida de valorizada sua construção conservação ex pressão ou reprodução nomear a entidade valo rizada em conjunção com a atividade nomeada deve contribuir muito para o nosso entendimento da dinâmica do comportamento 1951b p 288 Nesse esquema Murray propôs que as tendências comportamentais fossem representadas em termos de vetores que representam amplas direções físicas ou psicológicas de atividade Os valores aos quais os vetores servem são representados por uma série de conceitos de valor Embora o esquema não estivesse completamente concebido Murray fez listas experi mentais de valores e vetores Os vetores consistem em rejeição recepção aquisição construção conser vação expressão transmissão expulsão destruição defesa e evitação Os valores consistem no corpo bem estar físico propriedade objetos úteis riqueza au toridade poder de tomar decisões associação afei ção interpessoal conhecimento fatos e teorias ciência história forma estética beleza arte e ide ologia sistema de valores filosofia religião Na prá tica a intenção é enquadrar esses vetores e valores em uma matriz de linhas e colunas que se intersecio nam de modo que cada célula na matriz representa um comportamento que corresponde a um vetor es pecífico a serviço de um valor específico ver Figura 61 adiante O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Nós examinamos o elaborado conjunto de conceitos desenvolvido por Murray para representar as disposi ções ou os anseios do indivíduo e também os concei tos propostos por ele para representar eventos am bientais significativos Assim podemos agora repre sentar o indivíduo em qualquer ponto do tempo como um integrado complexo de necessidades e pressões ou vetores e valores estruturas de personalidade ha bilidades realizações e sentimentos Entretanto tam bém vimos que a história do organismo é o organis mo e isso indica claramente que representar o indi víduo em um determinado ponto do tempo não é suficiente O estudo longitudinal do indivíduo é ex tremamente importante e Murray tinha muito a di zer sobre o caminho do desenvolvimento psicológico As variáveis que já examinamos podem ser apli cadas é claro em qualquer ponto do desenvolvimen to Mas além desses conceitos Murray elaborou e refinou a concepção psicanalítica de complexo para representar um conjunto particularmente importante de experiências da infância inicial Embora o trata mento dado por Murray ao desenvolvimento tenha um forte cunho de teorização psicanalítica ele intro duziu novas dimensões no uso dessas concepções Ele também foi especialmente inventivo ao criar meios para medir algumas das variáveis importantes Ao discutir o desenvolvimento começaremos con siderando os complexos infantis e logo após apresen taremos um breve sumário da posição de Murray com relação a várias questões teóricas incluindo determi nantes genéticomaturacionais aprendizagem deter minantes socioculturais singularidade do indivíduo papel dos fatores inconscientes e processo de sociali zação Complexos Infantis Murray 1938 descreveu detalhadamente as pressões da infância e as necessidades e as catexias resultan tes Ele também observou que a nossa lembrança des ses eventos depende de possuirmos a linguagem só lembramos aquilo que foi verbalizado discutiremos uma suposição semelhante de George Kelly no Capí tulo 9 Embora os eventos do período préverbal não sejam lembráveis Murray os considera em muitos casos tão determinantes como os eventos posteriores se não mais 1938 p 361 O status préverbal des ses eventos apresenta um dilema empírico porque os métodos usuais de avaliação ou mensuração são ina dequados O investigador depende da observação ex terna da criança e de vagas reconstruções que o indi víduo pode fazer depois de desenvolver a linguagem A utilização destas duas fontes de dados levou ao iso lamento de certas áreas de experiência como possu TEORIAS DA PERSONALIDADE 207 Vetores tendéncias de acao Valores Rejeicdo Recepcdo Aquisicgdéo Construcgdo Conservacao Expressao Transmissao Expulsdo Destruigaéo Defesa Evitacao metas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 A Corpo Esquia joga bemestar ténis fisico B Mantém uma Propriedades casa objetos uteis confortavel riquezas C Autoridade E chefe do poder de departamento tomar de fisica decisdes D Associagao Gosta de afeigado atividades interpessoal com a esposa e os filhos E Rejeita Absorve Pesquisa Desenvolve Armazena Escreve um Discute o Apagaas Atacaas Defende Evita criticas Conhecimento material informagdes novas uma nova novas artigo sobre artigo com idéias idéias os ocultando fatos e irrelevante que atraem idéias no teoria informagdes uma nova colegas incorretas erradas de proprios certos teorias para o a atencao laboratorio na memoria teoria outras conceitos procedimentos ciéncia assunto ena pessoas historia do artigo biblioteca F Forma Freqiienta estética concertos beleza arte pinta paisagens G Ideologia Estuda sistema de religides valores comparadas filosofia religiao FIGURA 61 Uma interpretacdo do sistema de valorvetor de Murray A coluna 6 indica as formas que pode tomar a tendéncia de aao ou o vetor da expressdao A linha E sugere como a pessoa poderia buscar a meta valor do conhecimento usando todas as suas tendéncias de acao De Murray 1951 conforme adaptada por Hall Lindzey Loehlin Manosevitz 1985 p 323 indo uma importancia especial para o desenvolvimento prazerosas que acompanham a defecacaéo restrin da crianca e mais tarde do adulto Murray sugeriu gido pelo treinamento esfincteriano 4 as agra que estas sao daveis impress6es dos sentidos que acompanham es wow a a miccdo e 5 a emocionante excitacdo decor cinco condicdes ou atividades extremamente nL ro a rente da friccao genital proibida por ameacas de agradaveis cada uma das quais é terminada frus Sw a punicao 1938 p 361362 trada ou limitada em algum ponto do desenvol vimento por forcas externas 1 a existéncia se Todas essas areas foram indicadas pelos psicanalistas gura passiva e dependente dentro do utero como trazendo problemas especiais para a crianca em rudemente interrompida pela dolorosa experién crescimento Aqui as contribuicdes de Murray repre cia do nascimento 2 0 prazer sensual de sugar sentam uma elaboracao e clarificacao das idéias freu um bom alimento do seio da mae ou da mama dianas ortodoxas deira enquanto aconchegado segura e dependen Nos casos em que os efeitos dessas experiéncias temente em seus bracos interrompido pelo des infantis sobre o comportamento posterior sao claros e mame 3 o livre usufruir das sensacdes extensos estamos falando de um complexo Na verda 208 HALL LINDZEY CAMPBELL de presumimos que todas as pessoas têm comple xos de variável gravidade e que só nos casos extre mos isso implica uma anormalidade Nos termos de Murray um complexo é um conjunto de necessida des integradas duradouras derivado de uma das con dições prazerosas antes mencionadas que determina inconscientemente o curso do desenvolvimento pos terior 1938 p 363 Murray definiu e sugeriu maneiras de mensurar cinco complexos claustral oral anal uretral e de castração Cada um deles representa o resultado de acontecimentos envolvendo uma das cinco áreas de experiência prazerosa recémcitadas Os complexos claustrais representam resíduos da experiência uterina ou prénatal do indivíduo Essa área de experiência foi tratada por analistas incluin do Freud e Rank Murray reuniu e sistematizou essas idéias elaborouas e rotulouas adequadamente Ele sugeriu que sob esse título geral existem três tipos específicos de complexo 1 um complexo constelado no desejo de reins talar condições semelhantes às existentes antes do nascimento 2 um complexo centrado na an siedade da ausência de apoio e do desamparo e 3 um complexo ansiosamente dirigido contra a sufocação e o confinamento 1938 p 363 Depois de apresentar uma especificação geral dos complexos Murray detalhou sintomas ou critérios em termos dos quais cada um dos três tipos de complexo poderia ser identificado O complexo claustral simples reinstalação das condições uterinas é caracterizado pela catexia do claustro um recinto parecido com o útero de objetos nutridores ou maternais da morte do passado e pela resistência à mudança por neces sidades de passividade evitação de danos isolamen to e socorro Assim o quadro global é de uma pessoa passiva dependente orientada para o passado e ge ralmente resistente à novidade ou à mudança O com plexo do medo da falta de apoio se manifesta nos me dos de espaços abertos de cair de afogarse de terremoto de fogo e da falta de apoio familiar O com plexo de egressão tem relação com escapar ou partir e manifestase na catexia de espaços abertos e ar fres co na necessidade de mudarse e viajar na catexia de mudanças na claustrofobia e em uma grande neces sidade de autonomia Portanto o indivíduo que apre senta esse complexo é em muitos aspectos o oposto da pessoa que apresenta o complexo claustral sim ples Os complexos orais representam derivativos de experiências anteriores de alimentação Novamente Murray propõe três subcomplexos específicos todos envolvendo a boca mas cada um implicando um tipo diferente de atividade O complexo de socorro oral en volve atividade oral em combinação com tendências passivas e dependentes A existência desse complexo pode ser inferida a partir de automatismos orais como sugar catexia de objetos orais como o mamilo o seio ou o polegar comer e beber compulsivos necessida de de passividade e socorro catexia de palavras e objetos nutridores e necessidades agressivas inibidas O complexo de agressão oral combina a atividade oral com a agressão e manifestase em automatismos orais como morder catexia de objetos orais sólidos carne ossos fortes necessidades agressivas ambivalência em relação a figuras de autoridade projeção da agres são oral ver o ambiente como cheio de objetos agres sivos mordedores necessidade de evitação de danos fobia de objetos que mordem e gagueira O complexo de rejeição oral envolve cuspir e ter nojo de atividades e objetos orais Mais especificamente ele se revela em uma catexia negativa de certos alimentos pouca necessidade de comida medo de infecção ou ferimento orais necessidade de isolamento e autonomia e desa grado em relação a objetos nutridores Os complexos anais derivamse de eventos associ ados ao ato de defecar e ao treinamento esfincteria no Murray sugeriu seguindo Freud e Abraham que aqui existem dois complexos específicos um relacio nado primariamente à tendência a expelir e o outro à tendência a reter O complexo de rejeição anal inclui diarréia e catexia de fezes envolve a necessidade de agressão principalmente por meio da desordem da sujeira ou do lambuzo e está associado à teoria anal do nascimento à necessidade de autonomia e à sexu alidade anal O complexo de retenção anal envolve uma catexia subjacente de fezes mas isso está escondido por trás de um aparente nojo pudicícia e reação ne gativa à defecação Esse complexo também está asso ciado à teoria anal do nascimento e à sexualidade anal bem como à necessidade de autonomia embora nes te caso a necessidade de autonomia se manifeste pela resistência à sugestão em vez de pela busca de inde pendência ou liberdade Existe uma grande necessi dade de ordem e limpeza e também uma necessida TEORIAS DA PERSONALIDADE 209 de de reter possessões Esse complexo evidentemen te reafirma a famosa trilogia freudiana de parcimô nia limpeza e obstinação sugerida como típica do caráter anal Originalmente Murray 1938 considerava me nos importante o complexo uretral Ele indicou inicial mente que o complexo envolvia molhar a cama su jarse pela uretra e erotismo uretral A pesquisa pósguerra convenceuo da importância central dessa área de experiência para muitos indivíduos e ele sub seqüentemente apresentou uma nova descrição do complexo e uma série de meios empíricos para ava liálo Ele também sugeriu que a síndrome fosse cha mada de complexo de Ícaro em função da figura mito lógica que voou perto demais do sol desobedecendo os conselhos do pai em resultado do que suas asas artificiais derreteram e ele mergulhou para a morte Murray 1955 publicou uma detalhada história de caso de um Ícaro americano Em suas formulações fi nais ele indicou que o indivíduo icariano costuma apresentar catexia de fogo uma história de enurese um anseio de imortalidade forte narcisismo e uma grandiosa ambição que se dissolve diante do fracasso O complexo de castração também recebeu menos atenção nos textos iniciais de Murray do que os pri meiros três complexos Ele sugeriu que o complexo deveria receber um significado ou importância mais limitados do que comumente lhe é atribuído por psi canalistas Parecenos melhor confinar o termo castração ao seu significado literal a ansiedade evocada pela fantasia de que o pênis poderia ser cortado fora Esse complexo ocorre com bastante freqüência mas não parece possível que seja a raiz de toda a ansiedade neurótica Ele geralmente é o resulta do das fantasias associadas à masturbação infan til 1938 p 385 Qualquer um desses complexos pode persistir por toda a vida da pessoa na forma de traços de caráter isto é as maneiras características de se comportar Determinantes Genético Maturacionais Em uma formulação posterior de suas idéias Murray 1968b atribuiu um papel importante aos fatores genéticos e maturacionais no desenvolvimento da personalidade Ele falou em processos genéticoma turacionais como sendo responsáveis por programar uma sucessão de épocas na vida do indivíduo Duran te as primeiras épocas infância adolescência e ida de adulta jovem novas composições estruturais emer gem e multiplicamse Os anos intermediários são marcados por recomposições conservadoras das es truturas e das funções já existentes Na idade final senescência a capacidade de formar novas composi ções e recomposições diminui e a atrofia das formas e das funções existentes aumenta Dentro de cada perí odo existem numerosos programas menores de even tos comportamentais e experienciais que operam sob a orientação de processos maturacionais geneticamen te controlados Murray atribuía tais desenvolvimentos a proces sos metabólicos Na primeira idade o anabolismo su pera o catabolismo na segunda os dois são aproxi madamente iguais e na terceira o catabolismo é maior que o anabolismo Murray preferia um modelo metabólico porque ele se ajusta a uma concepção da realidade que não é expressa em termos de estruturas espaciais da matéria como tal mas em termos das propriedades operantes interdependentes da matéria isto é em termos de processo tempo e energia 1968b p 9 Além disso esse é um modelo que ex plica progressão criatividade e autorealização o que não acontece em uma formulação puramente psica nalítica Aprendizagem Não podemos ignorar os fatores genéticos ao discutir a aprendizagem pois Murray acreditava que eles são responsáveis pela presença de centros de prazer he dônicos e de desprazer anedônicos no cérebro A aprendizagem consiste em descobrir o que gera pra zer e o que gera sofrimento para o indivíduo Os ge radores hedônicos e anedônicos podem ser classifi cados de várias maneiras Eles podem ser retrospectivos memórias de experiências passadas que foram mara vilhosas ou angustiantes espectivos experiências atu ais ou prospectivos antecipação de futuros prazeres ou sofrimentos Os geradores atuais podem ser clas sificados em termos de estarem localizados predomi nantemente na pessoa no ambiente ou em uma tran sação interpessoal Esses geradores podem ser subdivididos Por exemplo os geradores na pessoa 210 HALL LINDZEY CAMPBELL podem estar localizados no corpo em algum centro emocional do cérebro em algum tipo de processo psi cológico ou nos julgamentos da consciência Murray rejeitou especificamente o conceito de hábito como tendo importância primária no desen volvimento da personalidade Ao invés de ser uma criatura de hábitos o indivíduo está continuamente procurando novas maneiras de expressarse ávido por novas formas de estimulação novas aventuras e no vas realizações e pode ser transformado por insights espirituais Murray 1968 p 12 Determinantes Socioculturais Murray em um acentuado contraste com a maioria dos teóricos que tendia fortemente para a teoria psi canalítica deliberadamente atribuiu aos fatores am bientais um papel importante no desenvolvimento Nós já vimos que diferentemente da maioria dos es tudiosos da motivação ele desenvolveu um conjunto elaborado de conceitos pressões destinado a repre sentar o ambiente do indivíduo Ele o fez parcialmen te com base na teoria de Darwin de que o grupo mais que o indivíduo é a unidade evolutiva A sobrevivên cia dos mais aptos se aplica a grupos rivais Corres pondentemente Murray escreveu Esta teoria da evo lução grupal nos ajuda a compreender por que o homem é uma criatura social e por que como cria tura social ele é tanto humano como brutal 1959 p 46 Além disso ele fez freqüentes referências ao fato de que o caminho do desenvolvimento não pode ser adequadamente entendido sem um quadro com pleto do ambiente social em que o processo se desen rola Consistentemente seus conceitos de procedi mento e tema implicam uma crença interacionista uma convicção de que o pleno entendimento do com portamento só acontecerá quando tanto o sujeito quan to o objeto estiverem adequadamente representados Todas essas considerações deixam claro que Murray aceitava e acentuava a importância de uma visão de campo do comportamento Singularidade Apesar da atenção que dedicou às categorias gerais de análise Murray sempre afirmou a singularidade essencial de cada pessoa e inclusive de cada evento comportamental como um fato autoevidente Seu respeito pela observação naturalista e seus talentos literários criativos e intuitivos permitiamlhe enten der e expressar compelidoramente a individualidade e a alusiva complexidade de cada sujeito ou evento Em suas palavras Cada procedimento deixa atrás de si algum tra ço de sua ocorrência um novo fato o germe de uma idéia uma reavaliação de alguma coisa um apego mais afetuoso a alguém uma leve melhora em uma habilidade uma renovação de esperan ça uma outra razão para o desânimo Assim len tamente em gradações praticamente imperceptí veis às vezes por meio de um súbito pulo para a frente ou de um escorregão para trás a pessoa muda dia a dia Uma vez que seus amigos e fami liares também mudam podemos dizer que sem pre que ela se encontra com um deles ambos es tão diferentes Em resumo cada procedimento é em alguns aspectos único Murray Kluckho hn 1953 p 10 Processos Inconscientes Entre os psicólogos acadêmicos Murray foi um dos primeiros a aceitar o papel insidioso e difuso dos de terminantes inconscientes do comportamento Mur ray 1936 Como observamos em sua primeira afir mação teórica importante 1938 ele deixou claro que nem todos os processos de reinância têm correlatos conscientes Naturalmente aqueles que não os têm determinam o comportamento sem que o indivíduo tenha consciência disso Além de não ter consciência de certas tendências que influenciam o comportamen to o indivíduo ativamente se defende ou tira da cons ciência algumas dessas tendências Portanto Murray não só aceitava o papel dos determinantes inconsci entes do comportamento mas também reconhecia a operação dos mecanismos freudianos de repressão e de resistência O Processo de Socialização Murray sugeriu que a personalidade humana é um compromisso entre os impulsos do indivíduo e as exi gências e os interesses de outras pessoas Essas exi TEORIAS DA PERSONALIDADE 211 gências de outras pessoas são representadas coletiva mente pelas instituições e pelos padrões culturais aos quais o indivíduo está exposto e o processo pelo qual seus impulsos entram em um acordo com essas forças é referido como o processo de socialização Os confli tos entre o indivíduo e os padrões aprovados do meio social são costumeiramente resolvidos por meio de alguma adaptação do indivíduo aos padrões do gru po Só ocasionalmente e no caso de indivíduos inco muns é que a pessoa consegue modificar os padrões culturais de modo a aliviar o conflito com seus impul sos Em geral é a personalidade que é mais maleável e portanto o conflito normalmente é reduzido alte randose a pessoa Um elemento essencial para se atingir as metas da socialização é o desenvolvimento de um superego adequado Como vimos ao internalizar aspectos de figuras de autoridade às quais esteve exposta a pes soa desenvolve uma estrutura interna que serve para recompensála e punila quando ela se comporta apro priadamente ou inadequadamente em termos do pa drão cultural conforme interpretado pelas figuras de autoridade Isso implica que os pais como as figuras de autoridade mais importantes sejam os principais agentes do processo de socialização A efetividade dos pais ao recompensar padrões de comportamento apro priados e ao punir padrões desaprovados determina rá amplamente o sucesso desse processo desenvolvi mental Um importante componente do papel dos pais como socializadores é a efetividade com que eles de senvolvem um relacionamento mutuamente afetuoso com a criança de modo que a mera aprovação ou desaprovação seja uma condição significativamente motivadora para controlar o comportamento da cri ança A socialização não deixa de ter suas qualidades negativas Um indivíduo pode ser exageradamente socializado e toda uma sociedade pode estar exposta a processos de socialização que são debilitantes em vez de preparatórios para uma vida produtiva Con forme Murray sugeriu o ser humano é fundamental mente um animal e na extensão em que a socializa ção nega essa natureza fundamental biológica ela pode destruir a espontaneidade criativa e o vigor es sencial para os avanços humanos mais importantes PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Salientamos que a pesquisa de Murray distinguiuse principalmente por sua originalidade Isso torna sin gularmente difícil caracterizar de modo representati vo as investigações que ele inspirou e conduziu An tes de iniciar a difícil tarefa de selecionar investigações representativas para um sumário vamos examinar brevemente várias qualidades distintivas da aborda gem geral de Murray à personalidade O leitor inte ressado encontrará diversos artigos em que Murray apresenta sua concepção de como a pesquisa da per sonalidade deveria ser conduzida Murray 1947 1949b 1963 Estudo Intensivo de Pequenos Números de Sujeitos Normais O estudo em grande escala do comportamento huma no em que os achados consistem em tendências gru pais ou em relações globais que caracterizam insufici entemente qualquer indivíduo desse grupo representa um caminho muito limitado para o entendimento do comportamento humano Murray estava convencido com a sabedoria do naturalista e do clínico que um estudo completo e detalhado de sujeitos individuais traria um entendimento adequado do comportamen to Assim como o estudo de caso tem sido uma assis tência indispensável ao crescimento e desenvolvimento da ciência médica o futuro da psicologia depende da disposição dos investigadores de dedicar tempo e es forços ao entendimento completo de casos individu ais As relações grupais só são importantes quando acompanhadas por uma cuidadosa investigação dos desvios dentro do grupo e das condições que causam ou acompanham os desvios Relatar um achado que caracteriza 80 de um grupo especificado não tem muito valor a menos que possamos dar alguma expli cação de por que os outros 20 não se ajustam a esse padrão A consistente ênfase de Murray nesse ponto foi uma das suas principais contribuições aos méto dos de pesquisa Se estamos interessados no sujeito individual e também preocupados com as razões pelas quais al 212 HALL LINDZEY CAMPBELL guns dos sujeitos representam exceções a relaciona mentos gerais está claro que precisamos reunir uma grande quantidade de informações sobre cada sujei to Portanto foi inevitável que a posição de Murray o levasse ao estudo intenso de seus sujeitos Isso evi dentemente teve o resultado natural de reduzir o número de sujeitos que podem ser estudados em um dado período e o número total de estudos que podem ser realizados por um investigador em um determina do número de anos Uma outra qualidade distintiva de sua pesquisa foi a ênfase no estudo de indivíduos normais em ambi entes naturais Em geral o estudo intensivo de casos individuais é reservado para o ambiente clínico onde a patologia dos pacientes os torna assunto de especial interesse ou onde as exigências diagnósticas e tera pêuticas requerem informações extensivas Portanto a escolha de Murray do sujeito normal como o foco de sua pesquisa foi um complemento natural para as histórias de caso dos ambientes psiquiátricos Murray 1958 acreditava que a preocupação su prema do personologista deve ser explicar e predizer as atividades do indivíduo na vida cotidiana Por essa razão ele não deve contentarse em limitar as predi ções à subcultura do laboratório ou tentar compreen der o indivíduo simplesmente validando um teste em comparação com outro Ele também foi um dos pioneiros da cooperação interdisciplinar na pesquisa da personalidade A equi pe da Clínica Psicológica de Harvard habitualmente incluía representantes de psiquiatria psicologia an tropologia e outras disciplinas quando isso ainda era muito raro O Conselho Diagnóstico Murray colocava grande ênfase na importância do observador ou psicólogo como um instrumento na pesquisa psicológica Embora possamos usar escalas de avaliação conjuntos de categorias ou testes psico lógicos para avaliar a personalidade na base de todos esses instrumentos ainda está a observação sensível do investigador ou clínico Devido ao status funda mental do observador Murray estava convencido de que é necessário prestar mais atenção às suas fraque zas e tentar seriamente melhorar seus poderes de ob servação Tais considerações o levaram a referirse ao psicólogo como o instrumento de precisão mais im portante na pesquisa psicológica Um meio evidente de conferir e melhorar a quali dade da observação é ter múltiplos observadores to dos examinando os mesmos dados sob uma perspec tiva diferente Portanto usar vários investigadores para estudar o mesmo indivíduo ou indivíduos é singu larmente recompensador pois elimina as limitações colocadas pela tendenciosidade de determinados ob servadores ou as limitações trazidas por conjuntos especializados de dados O resultado final de tal ob servação em grupo não só é presumivelmente superi or ao da observação individual mas também os mem bros do grupo terão seus poderes de observação aguçados e melhorados devido à função corretiva da observação dos outros Essas considerações levaram Murray a criar o con selho diagnóstico que envolve muitos observadores todos estudando os mesmos sujeitos de diferentes pontos de vista com a oportunidade de uma discus são e síntese finais das informações obtidas dos dife rentes pontos de vista Após um período de observa ção individual durante o qual cada investigador estuda os sujeitos por meio de suas técnicas especializadas é feita uma conferência para cada sujeito Nesse mo mento cada investigador apresenta seus dados e sua interpretação e os outros observadores têm plena oportunidade de apresentar as próprias observações e interpretações e apoiar ou sugerir modificações no relato Cada observador é responsável por reunir e apresentar a síntese de um caso mas todos os mem bros do conselho têm uma oportunidade ilimitada de contribuir para o produto final Instrumentos de Mensuração da Personalidade Ninguém fez mais contribuições significativas para a avaliação da personalidade do que Murray Ele criou várias formas engenhosas de mensurar a personalida de e apenas um pequeno número delas foi sistema ticamente explorado Os volumes Explorations in Per sonality e Assessment of Men ilustram bem a engenhosidade e a diversidade dos instrumentos que ele planejou ou ajudou a desenvolver Um deles o Teste de Apercepção Temática tornouse juntamente com o Teste de Rorschach a técnica projetiva mais amplamen TEORIAS DA PERSONALIDADE 213 te utilizada nos dias de hoje Lindzey 1961 Murs tein 1963 Zubin Eron Schumer 1965 ver Kaplan Saccuzzo 1993 para uma revisão recente Além disso o sistema de necessidades de Murray foi a base para muitos outros inventários de personalidade am plamente utilizados Entre eles destacamse o Edwar ds Personal Preference Schedule Edwards 1954 1959 o Personality Research Form Jackson 1967 e o Jack son Personality Inventory Jackson 1976ab Quase todos os instrumentos de Murray são con gruentes com sua convicção fundamental de que um conhecimento fundamental do comportamento huma no não virá do estudo de organismos inferiores ou do estudo de humanos em condições altamente limita das e sim do complexo estudo do comportamento individual Isto é Murray defendia a coleta de dados ricos e multiformes capazes de refletir uma ampla variedade de tendências comportamentais e capaci dades Ele estava convencido de que uma das vanta gens naturais do psicólogo é o fato de ele lidar com um organismo falante e que isso deve ser plenamen te aproveitado Ao contrário do biólogo do zoólogo ou do físico o psicólogo lida com um sujeito capaz de relatar muitos feitos sobre processos internos que ope ram sobre eventos externos que atraem a atenção e sobre os determinantes mais importantes do compor tamento É verdade que esses relatos devem ser cui dadosamente avaliados e nem sempre podem ser to mados literalmente mas sem dúvida representam um início crucial na tentativa de desvendar os segre dos do comportamento humano Dado esse interesse pela subjetividade é muito natural que Murray fosse pioneiro na criação de ins trumentos de personalidade que exploram todo o con teúdo mental do sujeito Seus instrumentos tipicamen te não limitam as alternativas de resposta do sujeito por meio de categorias predeterminadas mas permi tem e encorajam uma exposição completa e subjetiva por parte do sujeito Essas técnicas liberam totalmen te a imaginação e a fantasia Elas proporcionam ao investigador uma totalidade de dados que é ao mes mo tempo ricamente promissora e complexamente desencorajadora Estudos Representativos Murray e seus colaboradores da Clínica Psicológica realizaram extensas pesquisas Murray iniciou Explo rations in Personality com o compromisso de adotar a história de um único homem como uma unidade de investigação 1938 p 3 Um dos mais claros le gados de Murray foi a decisão de muitos de seus alu nos de estudar a personalidade longitudinalmente examinando em profundidade a vida do indivíduo p ex White 1963b 1975 1981 Sua agenda de pes quisa foi levada adiante por antigos alunos como Donald MacKinnon do Institute for Personality As sessment and Research IPAR em Berkeley Além dis so como observamos anteriormente neste capítulo a tradição de pesquisa de Murray é reconhecida nas Henry A Murray Lectures in Personality na Michigan State University e na série de volumes gerados por essas conferências Três exemplos da pesquisa de Murray merecem ser mencionados Primeiro o Capítulo 6 de Explorati ons in Personality contém mais de 200 páginas de re latos de pesquisa de Murray e seus colaboradores As pesquisas relatadas incluem entrevistas sobre a infân cia e o seu desenvolvimento sexual questionários para medir necessidades e habilidades especiais correla ções entre as necessidades de Murray e a possibilida de de hipnotização níveis de aspiração os estudos experimentais de Rosenzweig sobre repressão e rea ção à frustração emocionalidade e resposta galvâni ca de pele e os estudos de Erikson de universitários do sexo masculino em situações de dramatização Esse trabalho mereceria um estudo mais profundo tanto por seu interesse inerente e seu significado histórico quanto porque ilustra a amplitude e a criatividade da abordagem de Murray à personalidade Em seu segundo livro importante The Assessment of Men Office of Strategic Services Assessment Staff 1948 Murray descreveu procedimentos de avaliação que ele e sua equipe empregaram no United States Office of Strategic Services durante a Segunda Guerra Mundial A maioria desses procedimentos represen tava uma tentativa de compreender a personalidade dos candidatos que estavam sendo selecionados para missões secretas no exterior Tal trabalho foi notável por sua orientação pragmática multidimensional As avaliações envolviam testes de autorelato entrevis tas observações e testes situacionais Por exemplo as habilidades de liderança dos candidatos eram os tensivamente medidas por quão efetivamente eles chefiavam vários auxiliares em uma tarefa de cons trução Os auxiliares todavia tinham sido orienta 214 HALL LINDZEY CAMPBELL dos para obstruir o projeto de várias maneiras e todo o exercício na verdade fora planejado para medir rea ções à frustração Como o trabalho experimental an terior em Harvard essas práticas de avaliação pre nunciaram muitas pesquisas e estratégias de avaliação contemporâneas Finalmente o projeto de pesquisa mais interes sante de Murray não se qualificaria como pesquisa para muitos psicólogos mas permite um insight pe netrante da sua conceitualização da personalidade É o artigo In Nomine Diaboli 1951c em que ele apre senta uma interpretação psicológica de Moby Dick de Melville A maior parte do artigo é dedicada a desenvolver e a documentar várias hipóteses referentes ao signifi cado dos personagens na história A primeira hipóte se afirma em termos bem simples que o Capitão Ahab representa Satã ou o Diabo e suas forças do mal Em termos psicológicos Ahab representa as forças primi tivas e amplamente malignas do id Essa hipótese é apoiada com seus característicos cuidado e atenção aos detalhes em uma série de passagens como a se guinte Que a intenção de Melville era criar Ahab à ima gem de Satã dificilmente pode ser questionada Ele disse a Hawthorne que seu livro fora exposto ao fogo do inferno e secretamente batizado não em nome de Deus mas em nome do Diabo O nome de seu trágico herói é uma homenagem a um governante do Antigo Testamento que fez mais para provocar a ira do Senhor Deus de Israel do que todos os reis de Israel que estavam diante dele O acusador do rei Ahab o profeta Elias tam bém é ressuscitado para desempenhar seu papel original embora muito brevemente no testamen to de Melville Somos informados de que o Capi tão Ahab é um homem ímpio semelhante a um deus que espiritualmente está fora da cristanda de Ele é um poço de blasfêmia e desafio de es cárnio e desprezo pelos deuses aos seus olhos jogadores de críquete e pugilistas Correm boa tos de que ele certa vez cuspiu no cálice sagrado no altar da igreja católica de Santa Eu jamais o vi ajoelharse disse Stubb Ele é um velho que parece uma anaconda Seu sadismo autoasserti vo é a antítese da submissão masoquista preconi zada pelo frei Mapple Murray 1951c p 441 442 A segunda hipótese é que Moby Dick é a antítese das forças desenfreadas do mal o superego Como tal a baleia representa não só as forças morais dentro do indivíduo mas também as instituições convencio nais da sociedade de Melville Em termos de conceitos psicológicos Ahab é o capitão das disposições culturalmente reprimidas da natureza humana aquela parte da personali dade que os psicanalistas chamam de Id Se isso é verdade seu oponente a Baleia Branca só pode ser a instituição interna responsável por essas re pressões o superego freudiano Esta então é a minha segunda hipótese Moby Dick é uma baleia genuína que esguicha salta para fora da água mergulha uma baleia que devido à sua brancu ra seu porte e beleza e por causa de um ato ins tintivo que acabou despedaçando seu atacante recebeu a projeção da consciência presbiteriana do Capitão Ahab e estaria portanto corporifi cando a concepção calvinista do Antigo Testamen to de uma divindade amedrontadora e seus rígi dos mandamentos a ética puritana derivada da América do século XIX e a sociedade que defen dia essa ética Igualmente e mais especificamen te ela simboliza os pais zelosos cujos sermões e corretivos justificados fizeram penetrar tanto as proibições que um jovem sério dificilmente po deria ultrapassar a barreira a não ser talvez bem longe entre polinésios tolerantes e indulgentes A ênfase deve estar naquela parede de inibição inconsciente e portanto inescrutável que apri sionou as paixões arrebatadoras do puritano Como o prisioneiro pode sair exclama Ahab a não ser varando a parede Para mim a Baleia Branca é essa parede empurrada para o meu lado Eu vejo nela uma força ultrajante com uma inescrutável malícia sustentandoa Como símbolo de uma consciência da Nova Inglaterra pura som bria e inconquistável íntegra e infratora o que poderia ser melhor do que um cachalote branco e TEORIAS DA PERSONALIDADE 215 negro inconquistável que mergulha e salta para fora dágua p 443444 Essas são então as maiores revelações da análise de Murray Para transmitir uma impressão adequada da força e da beleza das suas interpretações precisa mos nos reportar ao artigo original Novamente alguns podem questionar se isso de fato é uma pesquisa psicológica Certamente não existe nenhum grupo de controle nenhuma distribuição de números nenhum índice de fidedignidade nenhuma análise estatística No entanto apesar dessas viola ções rituais Murray formulou uma pergunta psicoló gica interessante e reuniu evidências relativas a essa pergunta Além disso no processo de apresentar a pergunta e seus achados ele empregou suposições referentes ao comportamento humano que são uma parte integral da teoria que acabamos de expor O mais importante de tudo é o fato de que essas passagens contêm especulações e generalizações sobre o com portamento humano que certamente terão um efeito generativo sobre o leitor Poucos experimentalistas na psicologia não se beneficiariam do contato com tais idéias apresentadas neste artigo de forma tão vívida e provocativa PESQUISA ATUAL A abordagem de Murray à personalidade inspirou muitas pesquisas A esse respeito o valor heurístico de sua teoria foi substancial Nesta seção examinare mos os programas de pesquisa derivados do modelo de Murray McClelland e os Motivos Sociais O programa de pesquisa mais diretamente associado a Murray é o estudo de David McClelland da necessi dade de realização A conexão com Murray na verda de existe em três níveis Primeiro o motivo de reali zação foi uma das necessidades originais identificadas por Murray que o definiu como o impulso de superar obstáculos e atingir padrões elevados Em segundo lugar McClelland acredita que nós não estamos dire tamente conscientes dos nossos motivos básicos Em conseqüência ele abraçou a proposta de Murray de que medimos as necessidades conforme elas existem nas fantasias da pessoa não em nosso comportamen to ou autorelatos Em terceiro lugar de acordo com este último ponto McClelland empregou uma versão modificada do Teste de Apercepção Temática TAT de Murray para medir a motivação para a realização O TAT foi desenvolvido Morgan Murray 1935 a partir da crença de Murray de que existem muitos motivos humanos básicos fora da percepção consci ente Isso certamente apresenta um importante pro blema de mensuração Como podemos esperar que uma pessoa nos diga quanto de uma tendência ela possui se ela não está consciente da existência daque le motivo Esse é o clássico dilema da psicologia pro funda A solução de Murray foi desenvolver o TAT de acordo com o que passou a ser conhecido como a hi pótese projetiva Se apresentarmos a alguém uma fi gura ambígua e se lhe perguntarmos o que está na figura a resposta será um reflexo do que é importan te para a pessoa ou dos temas que ela usa para orga nizar o mundo Murray chegou ao ponto de descrever o TAT como uma imagem de raio X do eu interior O TAT contém um conjunto de figuras ambíguas às quais a pessoa responde como um exercício de imaginação É mostrada uma figura ao testando e ele é solicitado a contar uma história descrevendo os personagens que estão na figura o que eles estão fazendo e pensando o que os conduziu àquela cena e qual será o resulta do A suposição básica de avaliação de Murray era que o herói ou personagem central da história repre senta a pessoa que está contando a história e que as necessidades as pressões e o tema do herói de fato caracterizam a pessoa que cria o relato ver Lindzey 1952 1959 1961 para avaliações do TAT McClelland modificou o TAT para medir a neces sidade de realização NAch need for achievement Ele e seus colegas McClelland Atkinson Clark Lowell 1953 criaram um procedimento confiável de pontu ação para quantificar as imagens de NAch nas históri as narradas sobre figuras como as do TAT A NAch é definida pelo desejo de sairse melhor do que os ou tros e a categoria central de pontuação era se algum personagem na história contada pela pessoa queria ter um desempenho superior ao dos outros atingir N de T Na comparação da consciência com a baleia Murray faz um fascinante jogo com as palavras infelizmente intraduzível para o português 216 HALL LINDZEY CAMPBELL algum padrão interno de excelência fazer alguma coisa única ou envolverse em algum projeto a longo prazo Os correlatos de NAch elevada identificados por McClelland foram tão inovadores como seu procedi mento de mensuração Indo muito além da pesquisa usual de laboratório dos psicólogos McClelland 1961 argumentou que sociedades inteiras podem diferir nos níveis de NAch Em um procedimento engenhoso ele aplicou seu esquema de avaliação do TAT para codifi car as imagens de NAch em livros didáticos da escola elementar em vários países Os níveis resultantes de imagens apresentaram correlação com um índice de crescimento econômico Os colaboradores de McCle lland também encontraram relações entre as imagens de realização na literatura inglesa e as importações de carvão através de Londres entre 1550 e 1800 bem como entre os níveis de NAch dos livros de leitura infantis e as flutuações no número de patentes nos Estados Unidos emitidas entre 1810 e 1950 McClelland também buscou conexões no nível do indivíduo Isto é ele argumentou que os indivíduos com NAch elevada assumem riscos moderados têm altas aspirações e assumem responsabilidade pessoal por seu desempenho Essas características devem pre dispor as pessoas ao sucesso nos negócios McClelland 1985 e há evidências de que uma NAch elevada está associada à produtividade nos negócios Por exemplo Wainer e Rubin 1969 descobriram que os líderes das companhias de pesquisa e desenvolvimento mais bem sucedidas tinham níveis mais elevados de NAch do que os líderes de companhias similares menos bem sucedidas McClelland e Boyatzis 1982 relataram que os níveis de NAch medidos na época em que futuros gerentes foram contratados pela American Telephone and Telegraph ATT estavam associados à promo ção até o nível 3 na companhia depois de 16 anos A promoção além desse ponto todavia não estava as sociada aos níveis de NAch McClelland sugeriu que em uma grande companhia hierárquica como a ATT a NAch só contribuía até certo ponto para a promo ção Nos níveis mais elevados um motivo diferente o motivo de poder poderia ser mais importante Se a motivação para a realização indica o desejo de uma pessoa de sairse melhor então a motivação de poder indica o desejo da pessoa de ter um impacto sobre os outros e sentirse forte Winter 1973 de senvolveu um sistema de codificação para as imagens de poder nas histórias do TAT Usando esse sistema Winter 1987 analisou a motivação de poder nos dis cursos inaugurais dos presidentes norteamericanos Os dois presidentes com a motivação de poder mais elevada foram Harry Truman e John Kennedy Curio samente Winter encontrou correlações positivas sig nificativas entre os escores de motivação de poder e as avaliações de grandeza presidencial número de decisões tomadas historicamente significativas e pro babilidade de levar os Estados Unidos à guerra Em uma arena mais mundana McAdams Rothman e Li chter 1982 relataram uma tendência a escores mais elevados em motivos de poder entre as pessoas que tipicamente adotam papéis de liderança eou atingem posições de grande influência Também existem relações fascinantes entre a motivação para o poder e duas facetas da nossa vida pessoal os relacionamentos românticos e a saúde fí sica No primeiro domínio existem notáveis diferen ças entre os sexos Stewart e Rubin 1976 relataram uma acentuada instabilidade nos relacionamentos românticos entre os homens com grande necessidade de poder McAdams 1984 também encontrou uma associação entre uma grande motivação para o poder nos homens e maior insatisfação no casamento e no namoro menor estabilidade nos namoros e níveis mais elevados de divórcio No caso das mulheres todavia a motivação para o poder estava positivamente asso ciada à satisfação conjugal Veroff 1982 A relação com a saúde é complicada McClelland 1979 e pou cos estudos foram relatados McClelland e Jemmot 1980 descobriram que os alunos com grande moti vação para o poder grande autocontrole e muito es tresse relacionado ao poderrealização relatavam mais doenças físicas e doenças mais graves do que os ou tros alunos Agora trataremos de três tendências recentes na pesquisa da personalidade Embora nenhuma delas tenha sido iniciada diretamente por Henry Murray todas estão ligadas ao seu modelo e são inteiramente consistentes com ele Interacionismo Como veremos no próximo capítulo sobre Gordon Allport um dos eventos seminais das últimas três dé cadas de pesquisa sobre a personalidade ocorreu em 1968 quando Walter Mischel publicou Personality and TEORIAS DA PERSONALIDADE 217 Assessment Mischel argumentou que existiam escas sas evidências da utilidade de traços gerais de perso nalidade como preditores de comportamento Uma razão aparente para isso concluiu Mischel era a rea lidade de que o comportamento tende a ser situacio nalmente específico isto é o nosso comportamento está amplamente sob o controle das características especí ficas da situação em que nos encontramos e não de qualquer traço geral de personalidade que possuímos Em conseqüência agimos de uma maneira consisten te p ex agressivamente ou solicitamente em mui tas situações diferentes porque percebemos essas si tuações como equivalentes não porque possuímos uma característica geral de personalidade como agres são ou solicitude O grande valor da posição de Mischel foi o fato de constituir um desafio empírico Ele não estava inte ressado em argumentos teóricos sobre os méritos das diferentes abordagens ele só era persuadido por da dos que indicassem uma consistência situacional cru zada do comportamento ou a utilidade preditiva dos traços de personalidade Como veremos no próximo capítulo Mischel recebeu várias respostas Uma das respostas mais importantes defendia uma abordagem interacionista o comportamento deveria ser concei tualizado e investigado como uma função conjunta das características da situação e dos atributos da pes soa ver p ex Endler e Magnusson 1976ab Mag nusson Endler 1977a Ozer 1986 Interacionismo significava coisas diferentes para muitas pessoas Endler 1981 fez uma distinção en tre interacionismo mecanicista e interacionismo recí proco O interacionismo mecanicista tem uma defini ção estatística Ele ocorre quando o efeito de uma variável de personalidade depende do nível de uma variável situacional ou quando o efeito de uma vari ável situacional depende do nível de uma variável de personalidade Por exemplo Leonard 1975 inves tigou se a semelhança entre duas pessoas está associ ada a quanto elas gostam uma da outra Ele desco briu que as pessoas com autoestima elevada gostavam mais do seu parceiro quando ele era semelhante mas que as pessoas com baixa autoestima gostavam mais do parceiro quando ele era dessemelhante Em outras palavras a autoestima um atributo de personalida de interage com a semelhança uma característica situacional para determinar a atração ver Blass 1984 para outros bons exemplos Alternativamente podemos dizer que a autoestima serve como uma variável moderadora para o relacionamento entre se melhança e atração Bowers 1973 revisou uma sé rie de estudos sobre a importância relativa de pesso as situações e interações na determinação do comportamento Em 14 de 18 comparações ele des cobriu que a interação pessoasituação determina mais a variância comportamental do que a variável da pes soa ou da situação isoladamente O interacionismo recíproco ao contrário sugere que a pessoa a situação e o comportamento têm uma influência mútua recíproca isso antecipa claramente uma posição que Albert Bandura chama de determi nismo recíproco ver Capítulo 14 De acordo com essa abordagem é impossível considerar pessoas e situa ções como causas separadas do comportamento por que elas são interdependentes O pontochave que o aluno deve reconhecer nesse contexto é que o intera cionismo recíproco não é novo Ele é uma clara ex pressão da abordagem que Henry Murray estava de fendendo quando propôs que o comportamento fosse analisado em termos de combinações de necessidade pressão ou temas Isso não pretende sugerir que há algo de errado com o interacionismo recíproco Mas o fato de Murray ter identificado dimensões coinciden tes de necessidade e de pressão proporciona um veí culo para o interacionismo recíproco que não foi sufi cientemente apreciado Onde Está a Pessoa Em um influente artigo publicado em 1971 Rae Carl son lamentou que as práticas metodológicas corren tes sejam incapazes de abordar questões de real im portância na personalidade p 203 Além disso ela escreveu que o presente empobrecimento da pesqui sa da personalidade é perturbador porque sugere que a meta de estudar as pessoas como uma totalidade foi abandonada p 207 Essa foi uma crítica pessoal de Carlson mas ela também estava claramente ecoando a posição de Murray de 33 anos antes Carlson estava seguindo a orientação de Murray também em outro aspecto Ela citou a afirmação de Kluckhohn e Murray 1949 p 35 de que cada ho mem é como todos os outros homens como alguns outros homens e como nenhum outro homem Carl son concordou com Murray que essas três abordagens devem ser vistas como complementares e utilizouas 218 HALL LINDZEY CAMPBELL para examinar todos os artigos publicados no Journal of Personality e no Journal of Personality and Social Psychology durante 1968 Dos 226 artigos revisados 57 desconsideravam as variáveis do sujeito e trata vam os sujeitos como todos os outros homens en quanto 43 consideravam as diferenças grupais p ex ansiedade elevada versus baixa ou homem versus mulher em uma abordagem como alguns outros ho mens Para consternação de Carlson nenhum estu do publicado tentou sequer uma investigação mínima da organização de variáveis de personalidade dentro do indivíduo 1971 p 209 Ela concluiu que a adesão a estratégias convencionais de pesquisa levou ao abandono do campo da personalidade normal como um empreendimento científico primário p 210 Ela resumiu seu exame citando a observação de Murray de que a razão básica pela qual a pesquisa da perso nalidade tem sido enganadora ou trivial é que os pes quisadores falharam em coletar informações pertinen tes suficientes sobre os sujeitos Carlson 1984 replicou seu exame com 113 es tudos publicados em 1982 no Journal of Personality and Social Psychology Suas conclusões foram igual mente pessimistas pois apenas 7 dos estudos satis faziam o que ela considerava como os três critérios mais importantes para um estudo da personalidade foco no indivíduo tentativa de estudar o sujeito por pelo menos dois meses e uso de materiais biográficos ou documentos pessoais Segundo Carlson os pesqui sadores mantêm uma percepção errada da tarefa A personalidade não é equivalente a variáveis de per sonalidade ou a diferenças individuais Até os mais cuidadosos estudos de processos componentes não conseguem produzir conhecimentos sobre o desenvol vimento e a organização dinâmica da personalidade como sabemos pelo menos desde Explorations in Per sonality 1984 p 1308 mas ver Kenrick 1986 para uma réplica mordaz O legado de Murray persiste Psicobiografia Os progressos recentes na subdisciplina da psicobio grafia representam a mais clara resposta ao apelo de Carlson para redescobrirmos a pessoa na pesquisa sobre a personalidade A psicobiografia original foi o estudo de Sigmund Freud sobre Leonardo da Vinci 1910a ver Elms 1988 para uma análise mas muitos fatos novos acontece ram desde então O livro seminal de Runyan 1982 Life Histories and Psychobiography proporcionou gran de parte do ímpeto para o atual trabalho nesse cam po Runyan também fez revisões recentes da história da psicobiografia 1988 1990 e a introdução de McAdams 1988 à edição especial do Journal of Personality sobre Psicobiografia e Narrativas de Vida é uma boa introdução ao campo Embora algumas psicobiografias tenham empregado explicitamente o conceito de Murray de tema p ex Alexander 1988 outros trabalhos empregaram motivos sociais Win ter Carlson 1988 a teoria de Erik Erikson do de senvolvimento da personalidade Stewart Franz Layton 1988 e a teoria do roteiro de Tompkins 1979 1987 p ex Alexander 1990 Carlson 1988 Também houve um progresso substancial na me todologia da psicobiografia Runyan 1988 divide o processo de compreender a vida de um indivíduo em oito passos variando do exame das evidências como diários e cartas até o exame de fatores sociais polí ticos psicológicos e históricos Ele argumenta que o ímpeto para uma nova psicobiografia pode vir do de senvolvimento em qualquer um desses oito passos e ilustra essa seqüência com um estudo do rei George III Alexander 1988 p 266 descreve uma série de orientações para o estudo das importantes seqüênci as de meiosfins que caracterizam as fantasias de cada pessoa Como sugere essa citação Alexander vincula seu trabalho ao de Murray e ao uso que Allport faz de documentos pessoais ver Capítulo 7 Ele sugere que tanto podemos deixar que os dados se revelem como fazer uma pergunta aos dados A primeira aborda gem requer a identificação dos materiais mais impor tantes Seguindo o método psicanalítico de Freud Alexander sugere que os psicobiógrafos prestem aten ção ao material digno de nota por sua primazia fre qüência singularidade negação ênfase omissão erro isolamento ou incompletude A segunda abordagem de Alexander centrase em algum aspecto especial do sujeito tal como seu nível de introversão ou sua ati tude em relação ao sucesso Observar todos os inci dentes relativos a esse aspecto no material existente sobre o sujeito depois codificar e contar os tipos de seqüências resultados e afetos nos dão uma indica ção das circunstâncias na vida do sujeito em que a introversão ou o sucesso ocorrem ou não TEORIAS DA PERSONALIDADE 219 Independentemente da abordagem específica ado tada a psicobiografia oferece um veículo para devol ver a pessoa à pesquisa da personalidade e para im plementar a preocupação de Murray com as histórias individuais de vida McAdams 1990 por exemplo oferece uma introdução às teorias de personalidade que adota a pessoa como a unidade de estudo Alhu res McAdams 1988 p 1 resume muito bem este ponto Mais uma vez está certo estudar a pessoa inteira Melhor os personologistas contemporâneos insistem como fizeram pioneiros como Gordon All port e Henry Murray que tal empreendimento é a rai son detre do personologista STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Já vimos que as concepções teóricas de Murray sofre ram um constante processo de reexame e modifica ção No entanto mesmo diante desse constante flu xo certos elementos continuaram firmes Em nenhum momento seu profundo interesse pelo processo moti vacional esmoreceu nem ele demonstrou qualquer inclinação a abandonar suas atividades descritivas e taxonômicas Igualmente sua teoria sempre enfati zou a importância das fontes inconscientes de moti vação e a relação entre os processos psicológicos com os processos cerebrais As formulações de Murray foram consideradas úteis não só por seus alunos mas também por muitos outros investigadores e clínicos interessados no estu do da personalidade Seus conceitos de necessidade e pressão têm sido amplamente utilizados especialmen te por clínicos e investigadores que empregam o Teste de Apercepção Temática Poucas pessoas interessadas nos detalhes de classificar o comportamento humano deixaram de ganhar algum ensinamento com as vári as classificações importantes propostas por Murray Tanto no desenvolvimento de instrumentos específi cos como na apresentação de um ponto de vista seu trabalho tem tido muita relação com desenvolvimen tos contemporâneos nessa área Tão importante como essas contribuições substantivas tem sido a capacida de de Murray de intrigar entusiasmar e inspirar seus alunos e colegas O entusiasmo e a convicção que trans mitia aos seus alunos sem dúvida são responsáveis em uma extensão considerável pelo fato de eles te rem desempenhado um papel tão importante no de senvolvimento da pesquisa da personalidade Que aspectos de sua posição teórica tiveram mais influência Talvez o componente mais distintivo da posição de Murray conforme sugerido anteriormen te seja o seu tratamento cuidadoso e sensível do pro cesso motivacional Tem havido uma forte tendência por parte de recentes teóricos da personalidade de lidar com a motivação seguindo por um de dois cami nhos bem simples O primeiro caminho atribui um número notavelmente pequeno de motivos essenciais a todos os comportamentos de modo que tudo pode ser visto como originandose dos motivos principais O segundo caminho supõe que o número de motivos é grande e que cada indivíduo é impulsionado por motivos tão complexos e tão singularmente diferen tes dos motivos de outros indivíduos que não é possí vel especificarmos motivos que possam ser utilmente aplicados a mais de uma pessoa Essa alternativa nega a utilidade de qualquer tentativa de uma classificação geral de motivos A posição de Murray está claramen te entre esses extremos fáceis Ele reconhecia a com plexidade da motivação humana e afirmava firmemen te que o processo não pode ser adequadamente representado em termos de dois três quatro ou cin co motivos gerais Entretanto ele insistia que existem motivos com suficiente generalidade para serem usa dos proveitosamente para representar o comportamen to de todos ou da maioria dos indivíduos dentro de grupos especificados Assim ele enfrentou realistica mente a tarefa de desenvolver uma série de construc tos que fariam justiça à complexidade do comporta mento humano mas ao mesmo tempo seriam cuidadosamente especificados de modo a poderem ser usados repetidamente por diferentes investigado res O resultado como vimos é uma classificação de motivos provavelmente muito mais útil do que qual quer outra classificação comparável A teoria de Murray e sua pesquisa desempenha ram um papel crucial para promover um interesse mais sério pela teoria psicanalítica por parte dos psicólo gos acadêmicos Quando Murray ingressou na Clínica Psicológica de Harvard a psicanálise era realmente uma estranha e uma invasora no domínio da psicolo gia Os anos subseqüentes viram Freud firmemente N de T Razão de ser 220 HALL LINDZEY CAMPBELL centrado como um dos gigantes intelectuais do nosso tempo e essa mudança é em grande parte atribuída à importância do exemplo de Murray Como vimos sua teoria possuía a característica singular de uma simultânea ênfase na importância do passado do organismo e do contexto presente em que ocorre o comportamento Em um mundo psicológico em que a maioria dos teóricos desenvolveu conscien temente uma preocupação com o tempo contemporâ neo ou voltouse para o passado do organismo como a única chave para se entender o comportamento é decididamente saudável termos uma posição em que essas duas classes de determinantes são devidamente valorizadas Seu interesse pelo tempo ou ambiente em que o comportamento ocorre levou ao sistema distin tivo de conceitos de pressão que permite que o inves tigador represente o ambiente percebido assim como o ambiente objetivo Uma tarefa é falar de modo ge ral sobre a importância do ambiente e outra bem di ferente é enfrentar a labuta penosa e difícil de especi ficar categorias em termos das quais os aspectos significativos do ambiente podem ser representados Murray é um dos pouquíssimos teóricos que realiza ram essa tarefa Os aspectos negativos da teoria de Murray são em vários sentidos a imagem espelhada dos positivos A uma extensão considerável as principais críticas à teoria relacionamse estreitamente à originalidade incorporatividade e complexidade da teoria Nós já concordamos que a acusação mais séria que pode ser feita a uma teoria é que ela não conduz à pesquisa Os críticos podem dizer que no sistema de Murray existe claramente um conjunto de conceitos e um conjunto relacionado de definições empíricas mas que não exis te um conjunto de suposições psicológicas claramen te enunciadas ligadas a esses conceitos de maneira a produzir conseqüências testáveis Em defesa da teoria devemos admitir que suas suposições e conceitos realmente oferecem um ponto de vista geral referente ao comportamento que clara mente tem muita relação com a maneira específica de abordar determinados problemas de pesquisa Além disso as variáveis definidas são aplicáveis à maioria ou a muitos desses problemas Podemos afirmar com considerável justiça que essas funções são mais ou menos tudo o que a maioria das teorias de personali dade apresenta neste momento Alguns críticos acham que a teoria é tão ampla mente incorporativa que perde o poder ou o vigor que estariam presentes em um ponto de vista mais limita do ou especializado Assim as próprias qualidades que tornam a teoria complexa e ao mesmo tempo prote gemna de muitas das críticas usuais às teorias de per sonalidade poderiam combinarse para reduzir a efe tividade da teoria como um ponto de vista compelidor É como se a teoria dissesse tanto que nenhuma coisa isolada é dita com uma relevância e convicção sufici entes para destacála do restante da teoria ou para fazer com que a teoria se destaque de outras Apesar da amplitude e da diversidade das formu lações teóricas de Murray está claro que ele dedicou mais atenção ao processo motivacional que ao pro cesso de aprendizagem Isso levou alguns críticos a acreditar que a teoria de Murray é incapaz de expli car como os motivos se transformam e desenvolvem se Embora sua classificação de motivos seja singular mente útil e seus métodos de medir a motivação de importância central ele disse relativamente pouco sobre o processo exato pelo qual esses motivos se de senvolvem A paciência e a habilidade de Murray como taxo nomista o levaram a criar tantas distinções finas e clas sificações detalhadas que alguns observadores acham que ele foi desnecessariamente complexo em sua abor dagem ao estudo do comportamento Certamente é verdade que o número de categorias diferentes de senvolvidas por ele associado à sua tendência a mo dificálas freqüentemente e a introduzir novos termos para descrever esses conceitos deixa o leitor casual consideravelmente confuso Embora possamos afirmar que a tarefa de um taxonomista é representar a reali dade acuradamente e não necessariamente tornar os leitores felizes devemos admitir que muitas das vari áveis de Murray não tiveram uma aplicação extensiva e prolongada a dados empíricos Em geral os textos de Murray e sua pesquisa não fizeram furor no mundo psicológico existente Ele era poeta demais e positivista de menos Estava à vonta de com sua imaginação disposto a falar livremente sobre questões que não ofereciam nenhuma possibili dade imediata de tradução empírica e disposto a tor nar públicas suas especulações desenfreadas Nenhu ma dessas qualidades leva à aceitação imediata por parte dos profissionais que ainda são muito sensíveis TEORIAS DA PERSONALIDADE 221 em relação à sua posição suspensa entre as ciências naturais e as humanas Existe uma forte tendência no experimentalista de descartar como mera subjetivi dade os problemas e as questões formulados por con temporâneos que não querem ficar amarrados por métodos e técnicas manipuláveis Assim compreensi velmente muitos investigadores têm considerado os textos de Murray pouco respeitosos em relação à téc nica experimental e perturbadores nas considerações complexas que introduzem como necessárias a um entendimento adequado do comportamento humano Henry Murray foi um psicólogo A resposta de Triplet 1992 p 305 Pelos padrões de hoje a resposta a essa pergunta provavelmente é não pode represen tar uma visão de consenso Mas nós discordamos vi gorosamente Independentemente de empregarmos medidas objetivas p ex indicações acadêmicas pu blicações em jornais de psicologia prêmios e home nagens por contribuições à psicologia e citações em publicações significativas ou índices mais problemá ticos e importantes como o número e a qualidade de alunos e associados Murray não só foi um psicólo go mas também foi um dos psicólogos mais influen tes de seu século Em qualquer avaliação final das contribuições de Murray precisamos combinar a teoria o homem e sua pesquisa Não há dúvida de que essa combinação in troduziu uma nota de vívida originalidade em uma área de pesquisa que precisava imensamente dessa qualidade No final das contas um dos maiores inimi gos do progresso empírico e teórico é a fixação em eventos estáveis mas triviais e não houve um crítico mais implacável da investigação e da formulação tri viais na pesquisa da personalidade do que Henry Murray Sua mensagem foi clara A superficialidade é o grande pecado da personologia americana Mur ray 1981 p 311 TEORIAS DA PERSONALIDADE 223 CAPÍTULO 7 Gordon Allport e o Indivíduo INTRODUÇÃO E CONTEXTO 224 HISTÓRIA PESSOAL 224 A ESTRUTURA E A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 228 Personalidade Caráter e Temperamento 228 Traço 229 Intenções 232 O Proprium 232 Autonomia Funcional 233 A Unidade da Personalidade 236 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 236 O Bebê 236 A Transformação do Bebê 237 O Adulto 238 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 239 Idiográfico Versus Nomotético 239 Medidas Diretas e Indiretas da Personalidade 240 Estudos do Comportamento Expressivo 241 Cartas de Jenny 244 PESQUISA ATUAL 245 O Interacionismo e o Debate PessoaSituação Revisitados 245 Idiográfica e Idiotética 246 Allport Revisitado 248 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 250 224 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Há cinco décadas as melhores mentes da psicologia estavam buscando inflexivelmente um maior rigor e quantificação ou então tentavam ansiosamente tra çar os motivos inconscientes até seu esconderijo ocul to Em meio a essas tendências Gordon Allport se guia serenamente seu próprio caminho defendendo a importância do estudo qualitativo do caso individu al e enfatizando a motivação consciente Essa relu tância em seguir as correntes de pensamento contem porâneas fazia com que as formulações de Allport parecessem às vezes arcaicas ou antiquadas mas em outras ocasiões ele parecia ser o campeão de idéias inovadoras e singularmente radicais Apesar de seu iconoclasmo ele representa talvez melhor que qual quer outro teórico contemporâneo a síntese do pen samento psicológico tradicional e da teoria da perso nalidade Sua posição sistemática representa uma destila ção e elaboração de idéias derivadas em parte de fon tes altamente respeitadas como a psicologia da Ges talt William Stern William James e William McDougall Da teoria da Gestalt e de Stern vieram uma desconfiança das costumeiras técnicas analíticas da ciência natural e um profundo interesse pela sin gularidade do indivíduo e pela congruência de seu comportamento James está refletido não só no bri lhante estilo de redação de Allport na sua orientação ampla e relativamente humanista em relação ao com portamento humano e no interesse pelo self mas tam bém em certas dúvidas sobre o poder supremo dos métodos psicológicos de representar adequadamente e de compreender completamente o enigma do com portamento humano Semelhante à posição de McDou gall temos a grande ênfase de Allport na importância das variáveis motivacionais sua pronta aceitação do importante papel desempenhado pelos fatores gené ticos ou constitucionais e seu proeminente uso dos conceitos de ego Além dessas influências focais fica claro a partir dos textos de Allport que ele respeita va profundamente a mensagem do passado e conhe cia bem os problemas clássicos enfrentados no século passado pelos psicólogos de laboratório HISTÓRIA PESSOAL Allport um dos quatro filhos de um médico nasceu em Indiana em 1897 mas cresceu em Cleveland onde foi educado em escolas públicas Ele estudou na Uni versidade de Harvard na mesma época em que seu irmão mais velho Floyd estudava psicologia nessa universidade Depois de formarse em economia e fi losofia em 1919 Allport passou um ano no Robert College em Istambul ensinando sociologia e inglês Ele então voltou a Harvard e conseguiu seu PhD em psicologia em 1922 Durante os dois anos seguintes ele estudou em Berlim Hamburgo e Cambridge na Inglaterra Essa vasta experiência em ambientes aca dêmicos estrangeiros deve ter contribuído para o sóli do interesse de Allport por questões internacionais sempre tão evidentes nas atividades de sua longa car reira Isso também levou Allport a servir por mais de uma década como um dos principais intérpretes da psicologia alemã na América Ao retornar da Europa ele aceitou um cargo de professor no Departamento de Ética Social da Universidade de Harvard Também parece haver uma continuidade entre esse primeiro cargo docente de Allport na América e sua persistente preocupação com problemas sociais e éticos Decorri dos dois anos ele aceitou o cargo de professorassis tente de psicologia no Dartmouth College mas foi convidado a voltar a Harvard em 1930 onde perma neceu até a sua morte em 9 de outubro de 1967 um mês antes de seu 70º aniversário No ano anterior à sua morte ele foi nomeado o primeiro Richard Cabot Professor of Social Ethics Allport foi uma das figuras centrais no movimento interdisciplinar que levou à formação do Departamento de Relações Sociais na Universidade de Harvard em uma tentativa de efetu ar uma integração parcial da psicologia da sociologia e da antropologia Para uma breve autobiografia ver Allport 1967 Por ter ensinado tantos anos na universidade não surpreende que em grande parte de seus textos All port manifeste uma deliberada intenção didática Ao contrário da maioria dos escritores técnicos cujo prin cipal objetivo parece ser a construção de declarações irrepreensíveis que desafiam os esforços do crítico para TEORIAS DA PERSONALIDADE 225 Gordon W Allport 226 HALL LINDZEY CAMPBELL encontrar um ponto onde atingilos Allport parecia muito mais interessado em apresentar questões de uma maneira saliente provocativa Isso às vezes levava a exageros ou ao foco em uma questão específica com a relativa exclusão de outros pontos pertinentes As sim poderíamos dizer que Allport é um dos teóricos psicológicos mais ardentemente criticados mas tam bém devemos dizer que as questões erguidas por ele habitualmente passavam a interessar os psicólogos Durante sua carreira Allport recebeu praticamente todas as homenagens profissionais que os psicólogos têm a oferecer Ele foi eleito presidente da Associação Psicológica Americana presidente da Eastern Psycho logical Association e presidente da Society for the Psychological Study of Social Issues Em 1963 ele rece beu a medalha de ouro da Fundação Psicológica Ame ricana e em 1964 o prêmio da Associação Psicológi ca Americana por contribuições científicas impor tantes A amplitude e a diversidade de seu trabalho acadêmico estão claramente evidentes em seus inú meros livros e inumeráveis monografias artigos pre fácios e revisões muitas vezes em colaboração com outros psicólogos Ele também foi coautor de dois testes amplamente utilizados The AS Reaction Study e A Study of Values Muitas dessas publicações estão listadas na bibliografia A lista completa de sua obra pode ser encontrada em The Person in Psychology 1968 Como podemos caracterizar as convicções teóri cas de Allport Para começar seus textos revelam uma incansável tentativa de fazer justiça à complexidade e à singularidade do comportamento humano individu al Apesar da estonteante complexidade do indivíduo as principais tendências da natureza da pessoa mos tram uma congruência ou unidade subjacente Além disso pelo menos no caso do indivíduo normal os determinantes conscientes do comportamento são de uma importância esmagadora A congruência do com portamento e a importância dos motivos conscientes levaram Allport a enfatizar naturalmente aqueles fe nômenos em geral indicados pelos termos self e ego Consistentemente com a ênfase nos fatores racionais temos a convicção de Allport de que o indivíduo é uma criatura mais do presente que do passado Seu conceito de autonomia funcional a ser discutido posteriormente representa uma tentativa deliberada de libertar o teórico ou o investigador de uma preo cupação desnecessária com a história do organismo Em termos amplos a sua visão do ser humano é uma visão em que são enfatizados os elementos positivos e conscientes da motivação e o comportamento é visto como internamente consistente e determinado por fatores contemporâneos Para Allport existe uma descontinuidade entre o normal e o anormal a criança e o adulto o animal e o humano Algumas teorias como a psicanálise podem ser muito efetivas como representações do comporta mento perturbado ou anormal todavia elas têm pouca utilidade para explicar o comportamento normal Em uma linha semelhante as teorias que fornecem uma conceitualização perfeitamente adequada do bebê ou da criança pequena não são adequadas como repre sentações do comportamento adulto Allport sempre se opôs a tomar muito conhecimento emprestado das ciências naturais Ele acreditava que métodos de es tudo e modelos teóricos que se mostraram úteis nas ciências físicas só podem ser enganadores no estudo do complexo comportamento humano Essa convic ção está claramente revelada em uma discussão All port 1947 sobre os vários tipos de modelos atual mente populares na teorização psicológica Ele examinou o modelo mecânico o modelo animal e o modelo da criança e concluiu que nenhum deles ofe rece uma base adequada para a construção de uma teoria útil do comportamento humano Consistente mente com tal desconfiança temos sua crença de que a ênfase prematura na importância do operacionis mo uma preocupação detalhada em especificar as operações de mensuração implicadas por qualquer conceito empírico pode impedir o progresso na psi cologia Ele achava simplesmente absurdo o positi vismo que leva à concepção de um organismo vazio Ele também desprezava o empiricismo imoderado e por essa razão criticava severamente os estudos fatoriais analíticos da personalidade A ênfase de Allport na racionalidade na unidade da personalidade e nas descontinuidades bem como seu repúdio a qualquer abordagem mecanicista da ci ência natural mostram bem como ele se afastou de Freud Em muitos aspectos o seu modelo é o primei ro modelo nãofreudiano da personalidade O contras te ficará ainda mais claro quando examinarmos sua rejeição do determinismo da infância em favor de metas futuras e preocupações presentes bem como seu foco no indivíduo psicologicamente maduro Para Allport era mais uma questão de sermos maduros até TEORIAS DA PERSONALIDADE 227 certo ponto em vez de sermos neuróticos até certo ponto Allport contava uma história sobre si mesmo para ilustrar como a psicologia freudiana profunda era es tranha para ele Em 1920 Allport estava voltando aos Estados Unidos e parou em Viena para visitar seu ir mão Fayette Ele conta Com uma imatura presunção característica dos 22 anos de idade eu escrevi a Freud anunciando que estava em Viena e sugeri que ele certamente ficaria satisfeito em me conhecer Recebi uma res posta manuscrita muito gentil convidandome para ir ao seu consultório em um determinado horário Logo depois de entrar na famosa sala ver melha com quadros de sonhos nas paredes fui convidado ao seu consultório interno Ele não me disse nada sentouse em silêncio expectante es perando que eu explicasse por que o procurara Eu não estava preparado para o silêncio e tive de pensar rápido e encontrar um assunto adequado para conversar Conteilhe um episódio que acon tecera no bonde a caminho de seu consultório Um garotinho com cerca de quatro anos de idade manifestara uma clara fobia de sujeira Ele ficava repetindo para a mãe Eu não quero sentar lá não deixe que aquele homem sujo se sente ao meu lado Para ele tudo era schmutzig imundo Sua mãe era uma hausfrau donadecasa rígida com uma aparência tão dominante e decidida que para mim a causa e o efeito estavam claros Quando acabei minha história Freud fixou seus bondosos olhos terapêuticos em mim e dis se E esse garotinho era você Estupefato e sen tindome um pouco culpado dei um jeito de mu dar de assunto Embora me divertisse o fato de Freud ter entendido erroneamente a minha moti vação isso também desencadeou um profundo encadeamento de idéias Eu percebi que ele esta va acostumado a defesas neuróticas e que a mi nha motivação manifesta uma espécie de rude curiosidade e ambição juvenil tinhalhe escapa do Essa experiência me ensinou que a psicolo gia profunda apesar de todos os seus méritos pode ir fundo demais e que os psicólogos fariam bem em reconhecer plenamente os motivos ma nifestos antes de sondar o inconsciente 1967 p 78 Curiosamente muitos autores sugeriram que Allport um homem meticuloso era como aquele garotinho A aplicação do método e dos achados psicológi cos em um ambiente de ação onde se tenta melho rar condições sociais indesejáveis sempre interessou Allport profundamente Durante muitos anos ele lu tou para não deixar a psicologia encapsulada dentro das paredes do laboratório e seu trabalho nos cam pos do preconceito e das relações internacionais es tão entre os exemplos mais proveitosos da aplicação da psicologia às questões sociais É interessante ob servar que como em muitos outros teóricos que enfa tizaram vigorosamente a singularidade e a individua lidade do comportamento humano existe um pessimismo subjacente por parte de Allport referente ao poder supremo do método e da teoria psicológicos de desvendar o mistério do comportamento humano O enigma colocado pelo indivíduo complexo é gran de demais para ser completamente entendido por meio das concepções e dos métodos práticos dos psicólo gos Portanto embora Allport aceitasse a importância e a inevitabilidade de uma abordagem experimental aos problemas psicológicos ele tinha reservas em re lação ao sucesso final desse esforço Como indicamos os textos de Allport revelam uma consistência básica de ponto de vista Entretanto ele próprio nunca afirmou ser um sistematizador Ele di zia que seu trabalho sempre estava orientado para problemas empíricos em vez de buscar uma unidade teórica ou metodológica Ele defendia uma teoria aber ta da personalidade não uma teoria fechada ou par cialmente fechada Allport consideravase um plura lista sistemático trabalhando na direção de um ecletismo sistemático Um pluralista na psicologia é um pensador que não excluirá qualquer atributo da natureza humana que pareça importante por ele mes mo 1964 p 75 Em 1966 Allport propôs uma po sição epistemológica para a pesquisa da personalida de a qual chamou de realismo heurístico Essa posição aceita a suposição de senso comum de que as pessoas são seres reais que cada uma tem uma organização neuropsíquica real e que o nosso traba lho é compreender tal organização tanto quanto pos sível 1966 p 8 Para ele a personalidade era um enigma a ser solucionado da maneira mais adequada possível com os instrumentos disponíveis na metade do século XX Ele adotou a mesma abordagem com os outros problemas a que se propôs rumor rádio pre 228 HALL LINDZEY CAMPBELL conceito a psicologia da religião a natureza das ati tudes e outros tópicos de interesse humano A todas essas áreas de problemas ele aplicava conceitos de maneira eclética e pluralista buscando aquela que lhe parecia a explicação mais adequada possível em nos so presente estado de conhecimento Assim as ques tões de adequação formal de sua teoria não tinham grande importância para ele A ESTRUTURA E A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Nos capítulos precedentes nós em geral apresenta mos separadamente a estrutura da personalidade e a dinâmica da personalidade Mas no caso da teoria de Allport essa distinção parece em grande parte inapli cável A estrutura da personalidade é primariamente representada em termos de traços e ao mesmo tem po o comportamento é motivado ou impulsionado pelos traços Assim estrutura e dinâmica são de modo geral a mesma coisa Allport publicou duas formulações importantes de seu ponto de vista a primeira em Personality A Psychological Interpretation 1937 a segunda em Pat tern and Growth in Personality 1961 Entre 1937 e 1961 Allport fez várias mudanças conceituais e ter minológicas em sua teoria O presente relato baseia se em seu volume de 1961 sempre que ele diferir do livro de 1937 e em artigos que ele publicou depois de 1961 que modificaram a teoria O ecletismo de Gordon Allport em lugar nenhum se reflete melhor do que na rica variedade de concei tos que para ele desempenhavam um papel útil na descrição do comportamento humano Ele considera va conceitos tão segmentais como reflexos específicos e tão amplos como traços cardinais ou o proprium self como importantes para se entender o comportamen to e via os processos referidos por esses conceitos como operando dentro do organismo de uma manei ra hierárquica de modo que os mais gerais normal mente têm precedência sobre os mais específicos Nas declarações mais detalhadas de sua teoria Allport 1937 1961 sugeriu que cada um dos seguintes con ceitos possui alguma utilidade reflexo condicionado hábito traço self e personalidade Embora todos esses conceitos sejam reconhecidos e recebam certa importância a maior ênfase da teo ria está nos traços com as atitudes e as intenções re cebendo um status quase equivalente Na verdade a teoria de Allport muitas vezes é referida como uma psicologia do traço Nessa teoria os traços ocupam a posição do constructo motivacional mais importante O traço era para Allport o que a necessidade era para Murray e o instinto era para Freud Antes de prosse guirmos para um exame mais detalhado do conceito de traço examinemos a definição de Allport de per sonalidade Personalidade Caráter e Temperamento Para Allport as definições não eram questões a serem tratadas levianamente Antes de chegar à sua própria definição de personalidade ele listou e discutiu meia centena de propostas de várias autoridades do campo 1937 Ele as classificou conforme se referiam à 1 etimologia ou história inicial do termo 2 significa dos teológicos 3 significados filosóficos 4 signi ficados jurídicos 5 significados sociológicos 6 aparência externa e 7 significados psicológicos Após esse detalhado sumário e crítica Allport tentou com binar os melhores elementos das definições anterio res enquanto evitava suas deficiências maiores Pri meiro ele sugeriu que uma pessoa poderia definir brevemente a personalidade como o que um homem realmente é Entretanto ele mesmo concordou que isso é abreviado demais para ter utilidade e prosse guiu para uma definição mais conhecida A persona lidade é a organização dinâmica dentro do indivíduo daqueles sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos únicos ao ambiente 1937 p 48 Certos aspectos dessa definição merecem uma ênfase especial O termo organização dinâmica en fatiza o fato de que a personalidade está constante mente se desenvolvendo e mudando embora ao mes mo tempo exista uma organização ou sistema que une e relaciona os vários componentes da personali dade O termo psicofísico lembra o leitor de que a personalidade não é nem exclusivamente mental nem exclusivamente neural A organização envolve a ope ração do corpo e da mente inextricavelmente fundi dos em uma unidade pessoal 1937 p 48 A pala TEORIAS DA PERSONALIDADE 229 vra determinam deixa claro que a personalidade é constituída por tendências determinantes que desem penham um papel ativo no comportamento do indiví duo A personalidade é alguma coisa e faz alguma coisa Ela é o que está por trás de atos específicos e dentro do indivíduo 1937 p 48 O que foi dito até agora deixa claro que para All port a personalidade não é apenas um constructo do observador ou algo que só existe quando há uma ou tra pessoa para reagir a ela Longe disso a personali dade tem uma existência real envolvendo concomi tantes neurais ou fisiológicos O cuidado e o detalhe com que Allport desenvolveu sua definição de perso nalidade estão refletidos na freqüência com que ou tros teóricos e investigadores a tomaram emprestada Embora os termos personalidade e caráter tenham sido muitas vezes usados intercambiavelmente All port demonstrou que tradicionalmente a palavra ca ráter tinha relação com um código de comportamen to em termos do qual os indivíduos ou seus atos são avaliados Assim ao descrever o caráter de um indiví duo muitas vezes se emprega a palavra bom ou mau Allport sugeriu que caráter é um conceito éti co e afirmou nós preferimos definir o caráter como a personalidade avaliada e a personalidade como o caráter sem valorização 1961 p 32 Temperamento e personalidade também são fre qüentemente confundidos Mas aqui temos novamente uma clara base para distinguilos em termos do uso comum Temperamento comumente se refere àquelas disposições estreitamente ligadas a determinantes bi ológicos ou fisiológicos que portanto mudam relati vamente pouco com o desenvolvimento O papel da hereditariedade naturalmente é um pouco maior aqui do que no caso de outros aspectos da personalidade O temperamento é a matériaprima juntamente com a inteligência e o físico da qual é criada a personali dade Dadas essas importantes distinções agora pode mos examinar os conceitos mais típicos da teoria de Allport Traço Em suas declarações de 1937 Allport diferenciou os traços individuais dos comuns mas incluiu ambos sob uma única definição Isso resultou em certa confusão e ambigüidade de modo que em 1961 ele fez algu mas alterações terminológicas e definiu separadamen te o que antes chamara de traços individuais e co muns O termo traço foi reservado para os traços comuns e um novo termo disposição pessoal foi in troduzido para substituir o traço individual Allport também se referiu às disposições pessoais como tra ços morfogênicos O traço é definido como uma estrutura neuro psíquica capaz de tornar muitos estímulos funcional mente equivalentes e de iniciar e orientar formas equi valentes significativamente consistentes de compor tamento adaptativo e expressivo 1961 p 347 Uma disposição pessoal ou traço morfogênico é definido como uma estrutura neuropsíquica generalizada pe culiar ao indivíduo capaz de tornar muitos estímulos funcionalmente equivalentes e de iniciar e orientar formas consistentes equivalentes de comportamen to adaptativo e estilístico 1961 p 373 Podemos observar que a única diferença real en tre essas duas definições é que os traços diferente mente das disposições pessoais não são designados como peculiares ao indivíduo Isso significa que um traço pode ser compartilhado por vários indivíduos No entanto um traço está tão dentro do indivíduo quanto uma disposição Ambos são estruturas neu ropsíquicas ambos têm a capacidade de tornar mui tos estímulos funcionalmente equivalentes e ambos orientam formas consistentes de comportamento Podemos perguntar então por que são necessári as duas definições A resposta está nas implicações para a pesquisa empírica Com o conceito de traços comuns podemos fazer o que Allport chama de estu dos comparativos do mesmo traço conforme ele se expressa em diferentes indivíduos ou grupos de indi víduos Com o conceito de disposições pessoais o investigador pode estudar uma pessoa e determinar o que Allport chama de a individualidade padronizada única da pessoa Uma das abordagens segue a tradi ção da psicologia diferencial de orientação psicomé trica e a outra a tradição da psicologia clínica Na pesquisa de Allport e na pesquisa de seus alunos fo ram empregadas ambas as abordagens Embora os traços e as disposições existam real mente na pessoa eles não podem ser observados di retamente precisando ser inferidos a partir do com portamento Allport escreve 230 HALL LINDZEY CAMPBELL Um ato específico é sempre o produto de muitos determinantes não apenas de tendências dura douras mas também de pressões momentâneas na pessoa e na situação É somente a ocorrência repetida de atos com a mesma significação equi valência de resposta seguindose a uma varie dade definível de estímulos com a mesma signifi cação pessoal equivalência de estímulos que torna necessária a inferência de traços e de dispo sições pessoais Essas tendências não estão sem pre ativas mas são persistentes mesmo quando latentes e têm limiares de ativação relativamente baixos 1961 p 374 Essa citação sugere dois pontos importantes no modelo de traços de Allport Primeiro os traços são tendências livres e sua expressão é levemente dife rente porque ocorre em face de condições determi nantes diferentes Segundo os traços são inferidos a partir do comportamento não diretamente observa dos Nós fazemos essas inferências baseados na fre qüência com que a pessoa exibe um determinado tipo de comportamento na variedade de situações em que aquele comportamento é exibido e na intensidade do comportamento quando exibido Por exemplo pode mos inferir que uma pessoa é sarcástica se ela fre qüentemente faz comentários sarcásticos ou faz tais comentários em discussões na sala de aula encontros sociais e discussões políticas eou se um ou mais co mentários feitos pela pessoa são extremamente sar cásticos Allport 1961 citou o exemplo de um superpa triota chamado McCarley que tinha uma fobia de comunistas como um de seus traços mais marcantes A Figura 71 ilustra a concepção de Allport desse tra ço Observem como o traço é um rótulo genérico para a ligação entre uma série de estímulos equivalentes e uma série de respostas equivalentes A fobia de co munistas de McCarley não é livremente flutuante e difusa ela só emerge em face de certos estímulos e só expressase por meio de uma série limitada de res postas Tal formulação está estreitamente ligada ao intervalo de conveniência de George Kelly Capítu lo 10 as tendências de personalidade só são rele vantes para certos eventos A Figura 71 também é semelhante ao que Skinner Capítulo 12 chamará de generalização de estímulo e generalização de respos ta isto é um comportamento reforçado em uma situ ação se espalha para situações semelhantes e para res postas semelhantes A diferença evidentemente é que Allport considerava importante a conexão em si e explicava os agrupamentos em termos da equivalên cia de significado 1961 p 323 dos elementos All port explicou que os efeitos de transferência ou a consistência situacional cruzada como tem sido chamada mais recentemente em que um dado com portamento ocorre em vários ambientes ocorre não devido a elementos objetivamente idênticos nos dois ambientes e sim devido à equivalência percebida de significado É necessário não somente indicar à que o traço e a disposição se referem mas também distinguilos de conceitos relacionados Os hábitos também são ten dências determinantes mas os traços ou as disposi ções são mais gerais tanto nas situações apropriadas a eles como nas respostas às quais conduzem O tra ço em uma considerável extensão na verdade repre senta o resultado da combinação ou da integração de FIGURA 71 Generalidade de um traço A extensão do traço é determinada pela equivalência de estímulos que o ativam e pela equivalência de respostas que ele provoca Reimpressa com a permissão de Allport 1961 p 322 TEORIAS DA PERSONALIDADE 231 dois ou mais hábitos Um pouco mais difícil é a distin ção entre traço ou disposição e atitude Uma atitude também é uma predisposição ela também pode ser única ela pode iniciar ou orientar o comportamento e ela é o produto de fatores genéticos e de aprendiza gem No entanto restam certas distinções entre os conceitos Primeiro a atitude está ligada a um deter minado objeto ou à classe de objetos enquanto o tra ço ou a disposição não Assim a generalidade do tra ço é quase sempre maior que a da atitude De fato à medida que aumenta o número de objetos em relação aos quais a atitude se refere ela passa a se asseme lhar cada vez mais a um traço ou disposição A atitu de pode variar em generalidade de altamente especí fica à relativamente geral enquanto o traço ou a disposição sempre são gerais Segundo a atitude nor malmente envolve avaliação aceitação ou rejeição do objeto em relação ao qual se dirige enquanto o traço não Ao resumir isso Allport sugeriu Tanto atitude como traço são conceitos indispen sáveis na psicologia Entre eles ambos cobrem os principais tipos de disposição com os quais lida a psicologia da personalidade De passagem toda via devemos salientar que uma vez que a atitude tem a ver com as orientações das pessoas quando definem as facetas do ambiente incluindo pesso as cultura e sociedade ela é o conceito preferi do na psicologia social Mas no campo da persona lidade nós estamos interessados na estrutura da pessoa e portanto o traço passa a ser o conceito preferido 1961 p 348 Finalmente Allport distinguiu entre traços ou disposições pessoais e tipos em termos da extensão em que eles se ajustam ao indivíduo Podemos dizer que uma pessoa possui um traço mas não um tipo Os tipos são construções idealizadas do observador e o indivíduo pode ajustarse a eles mas somente à custa de sua identidade pessoal A disposição pessoal pode representar a singularidade da pessoa ao passo que o tipo vai escondêla Assim para Allport os tipos re presentam distinções artificiais que não têm muita semelhança com a realidade e os traços são um refle xo verdadeiro do que realmente existe Mas Allport reconheceu que a postulação dos tipos pode estimu lar a pesquisa embora o objetivo dessa pesquisa seja a especificação de traços complexos Disposições Cardeais Centrais e Secundárias Conforme indicamos as disposições pessoais repre sentam predisposições generalizadas de comporta mento Mas precisamos saber se todas as disposições possuem aproximadamente o mesmo grau de genera lidade e senão como distinguir os vários graus All port sugeriu uma distinção entre disposições pessoais cardeais centrais e secundárias Uma disposição car deal é tão geral que parece que podemos relacionar à sua influência quase todos os atos de uma pessoa que a possui Essa variedade de disposição é relativamen te incomum e observada em poucas pessoas Mais tí picas são as disposições centrais que representam ten dências altamente características do indivíduo entram em ação com freqüência e são muito fáceis de inferir Allport sugeriu que o número de disposições centrais pelos quais uma personalidade pode ser conhecida com bastante exatidão é surpreendentemente peque no talvez de cinco a dez A disposição secundária é de ocorrência mais limitada é menos crucial para a descrição da personalidade e mais focalizada nas res postas que provoca bem como nos estímulos aos quais é apropriada Allport discutiu outras questões cruciais referen tes aos traços e às disposições Será que eles servem apenas para orientar ou dirigir o comportamento ou também têm um papel na iniciação ou instigação do comportamento Não há uma resposta simples para essa pergunta Alguns traços são claramente mais im pelidores têm um papel motivacional mais crucial do que outros Portanto existe uma considerável varia ção entre os traços na extensão em que exercem in fluências impulsionadoras sobre o indivíduo Além disso podemos raciocinar que em certo sentido sem pre existe uma estimulação prévia relacionada à ati vação do traço por exemplo um estímulo externo ou algum tipo de estado interno sempre precede a ope ração do traço Entretanto está claro que a maioria dos traços não é um pálido reflexo de estímulos exter nos De fato o indivíduo busca ativamente estímulos que tornem apropriada a operação do traço A pessoa com uma acentuada disposição para a sociabilidade não espera uma situação adequada para expressar esse traço em vez disso ela cria situações para interagir com outras pessoas 232 HALL LINDZEY CAMPBELL Precisamos examinar também a independência dos traços disposições Em que extensão eles existem como sistemas de comportamento que operam sem levar em consideração outros sistemas A operação de um determinado traço é sempre condicionada por outros traços e por seu estado e relativa a eles All port argumentava que o traço é identificável não por sua rígida independência mas por sua qualidade fo cal Portanto ele tende a ter um centro em torno do qual opera a sua influência mas o comportamento ao qual ele leva é claramente influenciado simultanea mente por outros traços Não existe nenhuma frontei ra nítida delimitando os traços Esse entrelaçamento de vários traços também explica em parte o fato de não ser possível planejar métodos plenamente satis fatórios de classificálos Está claro que as inferências presentes na identi ficação de um traço envolvem consistência Portanto por definição uma disposição só é conhecida por meio de certas regularidades ou consistências na maneira de o indivíduo se comportar Allport foi rápido em salientar que sua teoria dos traços não precisa ter uma consistência completa O simples fato de existirem tra ços múltiplos sobrepostos e simultaneamente ativos sugere que podemos esperar com certa freqüência inconsistências aparentes no comportamento do or ganismo Além disso o fato de que as disposições pes soais são singular e individualmente organizadas im plica que podem incluir elementos que pareceriam inconsistentes quando vistos de uma perspectiva nor mativa ou externa Assim podemos observar no com portamento uma aparente inconsistência que na ver dade reflete uma consistência interna singularmente organizada A teoria de Allport envolve menos a ob servação de uma correspondência ou consistência exa tas no comportamento do que a existência de um con gruência sutil que une freqüentemente de um modo difícil de detectar as várias manifestações comporta mentais do indivíduo Não sugerimos que todas ou algumas personalidades são perfeitamente integra das A dissociação e a repressão podem existir na vida de qualquer um Mas ordinariamente existe mais con sistência do que os costumeiros métodos de investi gação psicológica estão equipados para descobrir Uma conseqüência interessante e útil do interes se de Allport pelos traços é a sua meticulosa categori zação de quase 18000 termos tirados de um dicioná rio Em colaboração com Odbert 1936 esses termos foram classificados primariamente conforme represen tavam traços autênticos de personalidade atividades presentes estados temporários ou termos avaliati vos Obviamente 18000 termos são impossíveis de manejar como uma taxonomia da personalidade Além disso Allport não estava interessado em estabelecer um conjunto de traços comuns a ser aplicado aos in divíduos Curiosamente esses termos mais a suposi ção subjacente de que as maneiras pelas quais os indi víduos diferem serão indexadas na linguagem da cultura proporcionaram as bases para Raymond Cat tell e outros criarem taxonomias formais ver Capítu lo 8 Intenções Mais importante do que a busca do passado ou da história do indivíduo é a simples pergunta sobre o que o indivíduo pretende ou busca em seu futuro As es peranças os desejos as ambições as aspirações e os planos da pessoa estão todos representados sob o ter mo geral intenção e aqui se manifesta uma das di ferenças características entre Allport e a maioria dos outros teóricos contemporâneos da personalidade Essa teoria afirma que aquilo que o indivíduo está ten tando fazer e aceitamos que a pessoa é capaz de nos dizer o que está tentando fazer é a chave mais im portante para como a pessoa vaise comportar no pre sente Enquanto outros teóricos voltaramse para o passado buscando a chave que desvendaria o enigma do comportamento presente Allport voltouse para o futuro pretendido A esse respeito suas idéias se pa recem com as de Alfred Adler e Carl Jung embora não haja nenhuma razão para acreditarmos que ele tenha sofrido uma influência direta dessas fontes O Proprium Embora Allport tenha sido chamado de um psicólogo do ego ou mesmo do self essa caracterização não é inteiramente exata Em 1943 The Ego in Contempo rary Psychology e novamente em 1955 Becoming Basic Considerations for a Psychology of Personality ele revisou os principais significados do ego e do self em textos psicológicos Em seu texto básico anterior 1937 ele tinha em grande parte evitado problemas erguidos por estes conceitos mas acabou fazendo di retamente a pergunta crucial Será que o conceito TEORIAS DA PERSONALIDADE 233 de self é necessário Sua resposta foi cautelosa Ansi oso para evitar a confusão e as conotações especiais desses termos ele propôs que todas as funções do self ou do ego que foram descritas fossem chamadas de funções próprias da personalidade Tais funções in cluindo senso corporal autoidentidade autoestima autoextensão senso de ser quem se é pensamento racional autoimagem anseios próprios estilo cogni tivo e função de conhecer são todas porções verda deiras e vitais da personalidade Elas têm em comum uma vivacidade fenomenal e um senso de importân cia Juntas podemos dizer que constituem o pro prium É nessa região da personalidade que encon tramos a raiz da consistência que marca as atitudes as intenções e as avaliações O proprium não é inato mas se desenvolve ao longo do tempo Allport identificou sete aspectos no desenvolvi mento do proprium ou condição de ser si mesmo 1961 Capítulo 6 Durante os primeiros três anos aparecem três desses aspectos um senso de self cor poral um senso de autoidentidade contínua e auto estima ou orgulho Entre os quatro e seis anos de ida de aparecem dois outros aspectos a extensão do self e a autoimagem Em algum momento entre os seis e 12 anos a criança percebe que é capaz de lidar com os problemas por meio da razão e do pensamento Durante a adolescência surgem as intenções os pro pósitos a longo prazo e as metas distantes Esses são chamados de anseios próprios e constituem o proprium Ao abordar o enigma dessa maneira Allport es perava evitar a posição de muitos teóricos que acei tam como verdade o que precisa ser provado para os quais o self ou ego é como um homúnculo um ho mem dentro do peito que organiza influencia e ad ministra o sistema da personalidade Ele admitiu a importância de todas as funções psicológicas atribuí das ao self e ao ego mas queria a todo custo evitar a teoria factótum ou de agente Para ele self e ego podem ser usados como adjetivos para indicar as fun ções próprias dentro da esfera total da personalidade muitas funções não são próprias mas meramente oportunistas porém ele acreditava que nenhum dos termos precisa ser usado como substantivo Não exis te um ego ou self que age como uma entidade distinta do restante da personalidade O senso de self está pre sente sempre que os estados pessoais são vistos como peculiarmente meus 1961 p 137 Uma indicação final da importância do proprium é o papel que All port lhe atribui na organização da consciência genéri ca madura A consciência do eu tenho de da infância é vista em termos muito freudianos como a internali zação das regras parentais e culturais Gradualmente conforme emerge a autoimagem e os anseios própri os se desenvolvem tal consciência do dever evolui para uma consciência genérica do eu deveria gover nada não por proibições externas ou medo do casti go mas pela estrutura positiva dos anseios próprios Como em vários outros modelos p ex Carl Rogers e Albert Bandura a maturidade para Allport implica uma crescente confiança em padrões pessoais ou in ternos de comportamento Autonomia Funcional Ao abordar o problema complexo e controverso da motivação humana Allport especificou o que consi derava necessário para uma teoria adequada Primei ro a teoria reconhece a contemporaneidade dos mo tivos humanos O que quer que nos impulsiona a pensar ou agir impulsionanos agora Segundo ela é uma teoria pluralista aceitando vários tipos de moti vos Allport definitivamente não era um reducionista buscando reduzir todos os motivos a umas poucas pulsões orgânicas Terceiro ela investe com força di nâmica processos cognitivos como planejamento e intenção E finalmente a teoria reconhece a singula ridade concreta dos motivos de um indivíduo 1961 Capítulo 10 Tal teoria acreditava Allport está contida no con ceito de autonomia funcional Esse é facilmente o mais controverso dos conceitos introduzidos por Allport Em muitos aspectos tem uma posição central no seu sistema pois vários dos pontos distintivos de sua teo ria derivamse naturalmente dessa posição O princí pio afirma simplesmente que uma dada atividade ou forma de comportamento podese tornar um fim ou uma meta em si mesma apesar de ter sido iniciada por alguma outra razão Qualquer comportamento complexo ou simples embora possa terse derivado originalmente de tensões orgânicas ou segmentais pode ser capaz de sustentarse indefinidamente na ausência de qualquer reforço biológico O enunciado formal do conceito é o seguinte A autonomia funci onal vê os motivos adultos como variados e como sis 234 HALL LINDZEY CAMPBELL temas contemporâneos autosustentadores originados de sistemas antecedentes mas funcionalmente inde pendentes deles 1961 p 227 O leitor deve distinguir cuidadosamente o princí pio da autonomia funcional da noção comum de que um dado comportamento pode ser continuado por um motivo diferente daquele que originalmente o provo cou por exemplo o caçador inicialmente caça para comer mas quando existe comida em abundância ele caça para expressar uma agressão inata Essa for mulação atribui ao comportamento um motivo mais primitivo ou preexistente justamente o que Allport queria evitar A autonomia funcional implica que o caçador continuará a caçar mesmo na ausência de um significado instrumental isto é mesmo se não hou ver nenhuma agressão ou outras necessidades mais básicas atendidas por esse ato Um caçador pode sim plesmente gostar de caçar Ao apresentar essa idéia Allport 1937 1961 comentou que ela ecoa formulações anteriores por exemplo a bemconhecida máxima de Woodworth 1918 de que os mecanismos podem ser transforma dos em pulsões a afirmação de Stern 1935 de que os fenomotivos podem tornarse genomotivos e a su gestão de Tolman 1935 de que os objetosmeios podem estabelecerse por si mesmos Poderíamos sugerir que formulações como a pulsão de manipu lação de Harlow e colaboradores 1950 e a irrever sibilidade parcial proposta por Solomon e Wynne 1954 pretendem explicar fenômenos bem parecidos com aqueles que desempenharam um papel impor tante na formulação do conceito de autonomia funci onal Ao justificar o conceito Allport indicou observa ções de várias áreas todas sugerindo uma tendência por parte do organismo de persistir em uma determi nada resposta mesmo que a razão original para inici ar a resposta já não esteja mais presente Ele salien tou a circularidade do comportamento infantil e do comportamento neurótico entre os adultos os elemen tos repetitivos no efeito de Zeigarnik a observação de que tarefas incompletas tendem a ser mais lembra das do que tarefas concluídas as regularidades ou os ritmos temporais freqüentemente observados no com portamento de animais e de seres humanos o poder motivador de interesses e valores adquiridos que não parecem ter nenhum ancoramento em motivos fun damentais Também existem evidências tiradas da psicologia comparativa Um estudo de Olson 1929 revelou que quando foi colocado um irritante nas orelhas de ratos eles coçavam constantemente ten tando retirar a substância estranha Muito depois de o irritante ter sido removido quando não havia mais qualquer evidência de irritação na pele eles continu avam a se coçar e sem nenhuma redução aparente no ritmo Assim a coceira começou como uma tentativa funcional de lidar com um estado físico mas com repetição suficiente ela parece terse tornado parte integral do comportamento do organismo apesar de não ter mais uma função biológica Uma das impor tantes pesquisas realizadas por Selye 1952 e cola boradores sugere igualmente que as respostas adap tativas podem estabelecerse por si mesmas até em detrimento do organismo Semelhantes a esse são os estudos de Anderson 1941ad sobre o que ele cha mou de externalização da pulsão Nesses estudos os ratos foram ensinados a andar por uma rampa em alta velocidade sob uma forte pulsão de fome e re compensados com comida no final da rampa Após um grande número de tentativas reforçadas os ratos não pareciam mostrar a extinção habitual da resposta quando colocados na mesma situação sob baixa pul são ou em estado de saciedade isto é mesmo não estando mais famintos eles continuavam andando pela rampa no mesmo ritmo rápido Assim temos nova mente o espetáculo de um organismo realizando um ato por claras razões biológicas no entanto quando essas razões são removidas o comportamento conti nua sem aparente interrupção Anderson diria que tais fenômenos resultam do fato de que aspectos da situa çãoestímulo foram condicionados para proporcionar uma recompensa secundária Allport diria segundo o princípio da autonomia funcional que o comporta mento continua simplesmente porque foi repetido tan tas vezes que se tornou um fim ou um motivo em si mesmo uma parte do estilo de vida do rato Depois de ter enunciado esse princípio 1937 Allport foi vigorosamente atacado por Bertocci 1940 que fez várias perguntas importantes Em primeiro lugar será verdade que qualquer forma de comporta mento se repetida com freqüência suficiente torna se autônoma Há limites ou condições para essa ge neralização Segundo se qualquer forma de comportamento é potencialmente capaz de se tornar um motivo duradouro o que impede que o indivíduo desenvolva uma espécie de anarquia psicológica em TEORIAS DA PERSONALIDADE 235 que os motivos conflitantes e antitéticos passam a fa zer parte do organismo podendo dilacerálo Tais perguntas levaram Allport a esclarecer e a expandir sua posição Ele reconheceu dois níveis de autonomia funcional uma ele chamou de perseverati va a outra de própria A autonomia funcional perse verativa inclui adições mecanismos circulares atos repetitivos e rotinas Sua perseveração é explicada em termos de extinção retardada circuitos automante nedores no sistema nervoso reforço parcial e coexis tência de múltiplos determinantes A autonomia fun cional própria referese a interesses valores sentimentos intenções motivosmestres disposições pessoais autoimagem e estilo de vida adquiridos Allport admitiu que não é fácil explicar como esse tipo de autonomia funcional se estabelece Ele ofereceu três princípios para explicar as ori gens da autonomia funcional própria Primeiro exis te o princípio de organizar o nível de energia Allport sugeriu que as pessoas sadias precisam de atividades para absorver a energia que resta depois que suas necessidades oportunistas foram gratificadas É pre ciso haver motivos para consumir as energias dispo níveis e se os motivos existentes não forem suficien tes novos motivos serão criados 1961 p 250 Segundo Allport citou Robert White ver Capítulo 5 e Abraham Maslow ver Capítulo 11 em apoio aos princípios de domínio e competência Esses princípios sugerem que os motivos que levam a sentimentos de competência tendem a se tornar autosustentadores Finalmente o princípio da padronização própria suge re que os motivos mais consistentes com o self ou que melhor o expressam se tornam autônomos Em ou tras palavras a autoestrutura o exige Por exem plo Um jovem pretende ser um médico um homem do mundo um político ou um eremita Nenhu ma dessas ambições é inata Todas elas são inte resses adquiridos Nós afirmamos que elas não existem agora devido a reforços remotos Elas existem porque uma autoimagem gradualmen te formada exige esse foco motivacional específi co 1961 p 252 Allport rejeitava as posições de que o self expli ca a autonomia funcional própria porque isso impli ca que algum homenzinho dentro do peito molda os motivos da pessoa Allport opunhase energicamen te a explicações em termos de um self separado por que isso se refere demais à idéia de uma alma que orienta o destino da pessoa O que então é responsável pelos motivos própri os e por sua organização em um padrão coerente e consistente A resposta de Allport era que faz parte da natureza essencial dos seres humanos o fato de os motivos mudarem e desenvolveremse no curso da vida tornandose unificados O leitor pode achar que essa resposta ecoa o arquétipo da unidade de Jung O fato de o proprium ser um fenômeno desenvol vimental derivado de estados primitivos e da experi ência passada realmente parece implicar uma liga ção direta com o passado apesar da autonomia funcional Uma vez que as formas de comportamento que se tornarão autônomas são determinadas por uma organização que deve muito ao passado do organis mo parece que o passado retém um papel central Mas no final a questão mais importante aqui parece ser se as motivações adultas maduras mantêm um laço funcional com suas origens na infância ou na biolo gia Ainda que exista ambigüidade em relação ao sta tus exato do conceito de autonomia funcional está claro que Allport argumentava vigorosamente que a maioria dos motivos adultos não tem mais qualquer relação funcional com as raízes históricas do motivo Uma outra pergunta freqüentemente formulada sobre esse princípio é se todos os motivos adultos são funcionalmente autônomos Allport dizia que não Existem pulsões como a fome a respiração e a elimi nação as ações reflexas os equipamentos constituci onais como força corporal e os hábitos que não são motivacionais são simplesmente atos instrumentais infantilismos e fixações algumas neuroses e psicoses e sublimações Além disso muitas atividades adultas precisam de um constante reforço primário para a sua perseveração Entretanto a extensão em que as moti vações de um indivíduo são autônomas é uma medi da da maturidade do indivíduo A pergunta mais importante que pode ser feita sobre qualquer conceito certamente é o que ele fará pela pessoa que o utilizar As conseqüências da auto nomia funcional estão claras e é em termos delas que os psicólogos deveriam decidir se querem abraçar ou não o conceito Muito importante é o fato de ele per mitir uma separação relativa do passado do organismo 236 HALL LINDZEY CAMPBELL Se os motivos atuais não dependem completamente de motivos mais básicos ou primários para a sua con tinuidade então o investigador pode legitimamente afastarse do passado do indivíduo e centrarse no presente e no futuro A história do indivíduo tornase uma questão de relativa indiferença se ele no presen te está impulsionado por desejos e intenções indepen dentes daqueles que o motivaram em períodos ante riores Uma outra conseqüência significativa desse princípio é que ele torna mais ou menos inevitável a grande surpreendente e única individualidade tão enfatizada na teoria de Allport Se qualquer forma de comportamento instrumental podese tornar poten cialmente um fim em si mesmo sabemos que existe suficiente heterogeneidade de comportamentos e exi gências ambientais para levar a uma incrível comple xidade e singularidade de motivos À medida que a estrutura motivacional adulta do indivíduo se livra da comunalidade que pode ter existido no nascimento podemos esperar que os motivos de diferentes indiví duos mostrem pouca semelhança A Unidade da Personalidade Tendo decomposto os seres humanos psicológicos em uma série de traços e disposições de atitudes e hábi tos de valores de intenções e motivos nos depara mos com a tarefa de montar novamente Humpty Dumpty Allport embora reconhecendo que essa é uma tarefa muito difícil buscou uma solução com sua habitual persistência e perspicácia Existem de fato vários conceitos unificadores No período de bebê exis te um alto grau de unidade dinâmica que gradual mente cede espaço para a diferenciação A diferenci ação é então compensada pelo processo aprendido de integração Allport chamou isso de a dialética de di vidir e unir Os mecanismos homeostáticos com os quais o organismo está equipado preservam uma uni dade ou pelo menos um equilíbrio fundamental embora estático não de crescimento A mobilização de energias para seguir um curso integrado de con duta o princípio da convergência é uma forma de unificação embora geralmente transitória e focaliza da As disposições cardeais por definição conferem unidade à personalidade assim como o reconhecimen to de que os traços e as disposições são interdepen dentes Eles se entrelaçam como uma tapeçaria Embora reconhecendo a contribuição de cada um des ses princípios para a unificação da personalidade All port atribuiu o principal papel unificador às funções do proprium O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Até o momento vimos o que compõe a personalidade e examinamos em termos amplos as disposições que acionam o comportamento Nesta seção veremos como essas estruturas emergem e como o indivíduo é representado diferentemente nos diversos estágios de senvolvimentais Já está claro a partir da nossa dis cussão sobre a autonomia funcional que essa teoria propõe mudanças importantes entre o período de bebê e a idade adulta O Bebê Comecemos com o indivíduo no nascimento Enquanto Allport era radical quando falava sobre o comporta mento adulto ele era superconservador ao discutir o comportamento do bebê De fato as formulações de Allport sobre os dois ou três primeiros anos de vida da criança praticamente não surpreendem É somen te no desenvolvimento da autoidentidade que as idéi as começam a assumir uma aparência nova e inespe rada Mas estamos nos adiantando em nossa história voltemos ao neonato conforme visto por essa teoria Allport considerava o recémnascido uma criatu ra quase inteiramente constituída por hereditarieda de pulsão primitiva e existência reflexa Ele ainda não desenvolveu aqueles atributos distintivos que apare cem mais tarde como resultado de transações com o ambiente Significativamente Allport não considera va o neonato como possuindo uma personalidade No nascimento o bebê está inatamente dotado de certas potencialidades físicas e temperamentais embora sua realização precise esperar o crescimento e a matura ção Além disso ele é capaz de responder com alguns reflexos altamente específicos como sugar e engolir N de T Humpty Dumpty é o personagem de uma história infantil com a forma de um ovo que cai de um muro e se espatifa irremedi avelmente TEORIAS DA PERSONALIDADE 237 a estímulos claramente delimitados Finalmente ele apresenta uma ação maciça ou respostas grossei ras indiferenciadas nas quais quase todo ou todo o aparelho muscular do indivíduo parece estar envolvi do Dado esse equipamento como a criança é aciona da ou motivada para a ação Inicialmente Allport supunha que existia um fluxo geral de atividade que era a fonte original do comportamento motivado Nesse ponto do desenvolvimento a criança é ampla mente uma criatura de tensões segmentais e com sen timentos de prazerdor Um modelo biológico do com portamento ou uma teoria baseada na importância da recompensa na lei do efeito ou no princípio do prazer é perfeitamente aceitável como uma orienta ção para os primeiros anos de vida Assim motivada pela necessidade de minimizar a dor e maximizar o prazer e com essas condições determinadas em gran de parte pela redução de tensões viscerais segmen tais a criança prossegue em seu desenvolvimento Apesar de o indivíduo não possuir no nascimento as qualidades distintivas que mais tarde constituirão sua personalidade esse estado é alterado muito cedo e de maneira gradual Allport achava que já no pri meiro ano de vida o bebê começa a mostrar qualida des distintivas por exemplo diferenças na motilida de e na expressão emocional que tendem a persistir e a fundirse em modos mais maduros de ajustamento aprendidos mais tarde Portanto parte do comporta mento do bebê é reconhecível como precursora de pa drões subseqüentes da personalidade Allport concluiu que o bebê por volta da segunda metade do primeiro ano de vida está definitivamente começando a mos trar qualidades distintivas que presumivelmente re presentam atributos de personalidade permanentes No entanto ele afirmava que em certo sentido o pri meiro ano de vida é o menos importante para a per sonalidade desde que não ocorram danos sérios para a saúde 1961 p 78 A Transformação do Bebê O processo de desenvolvimento acontece ao longo de múltiplas linhas Uma grande variedade de mecanis mos ou princípios é considerada apropriada por All port para descrever as mudanças que ocorrem entre o período de bebê e a idade adulta Ele discutiu especi ficamente diferenciação integração maturação imi tação aprendizagem autonomia funcional e exten são do self Ele aceitava inclusive o papel explanatório dos mecanismos psicanalíticos e do trauma embora tais processos não tenham um papel teórico central no que ele chamou de personalidade normal A respeito da teoria da aprendizagem Allport era completamente eclético Ele afirmava que as inume ráveis observações feitas pelos investigadores as con clusões a que chegaram e as teorias resultantes de aprendizagem todas elas provavelmente são verda deiras em certo sentido e até certo grau Assim o con dicionamento a teoria do reforço e a hierarquia dos hábitos são princípios válidos especialmente quando aplicados à aprendizagem animal do bebê e oportu nista Eles são inadequados para explicar a aprendi zagem do proprium que requer princípios como iden tificação fechamento insight cognitivo autoimagem e subsidiação aos sistemas ativos do ego O próprio Allport não fez nenhuma contribuição sistemática à teoria da aprendizagem Mas ele propôs a autonomia funcional como um fato básico na motivação huma na que deve ser explicado em termos de princípios de aprendizagem que ainda não foram adequadamente coordenados em um esquema teórico amplo Talvez essa importante contribuição ao assunto seja a sua crítica mais aguda às teorias da aprendizagem p ex Allport 1946 que reivindicam uma validade mais universal do que ele lhes concederia Portanto temos um organismo que no nascimen to é uma criatura da biologia transformado em um indivíduo que opera em termos de um ego crescente uma estrutura de traços cada vez mais ampla e um cerne de futuras metas e aspirações Nessa transfor mação é crucial evidentemente o papel desempe nhado pela autonomia funcional Tal princípio deixa claro que aquilo que é inicialmente apenas um meio para uma meta biológica podese transformar em um motivo autônomo que dirige o comportamento com toda a força de uma pulsão inatamente presente Em grande parte devido a essa descontinuidade entre a estrutura motivacional inicial e posterior do indiví duo nós temos essencialmente duas teorias da perso nalidade A primeira um modelo biológico ou da re dução de tensão é adequada no nascimento e vaise tornando cada vez menos adequada até que com a crescente consciência do self o indivíduo desenvolve motivos que não têm nenhuma relação estreita com aqueles que previamente motivavam o comportamen 238 HALL LINDZEY CAMPBELL to Nesse ponto é necessária uma reorientação para podermos representar o indivíduo adequadamente O Adulto Temos agora no indivíduo maduro uma pessoa cujos maiores determinantes do comportamento são um conjunto de traços organizados e congruentes Eles surgem de várias maneiras do escasso equipamento motivacional que caracteriza o bebê recémnascido O caminho exato do desenvolvimento dessas tendên cias não nos interessa muito pois elas segundo o prin cípio da autonomia funcional já não estão derivando sua força motivacional de fontes primitivas quaisquer que fossem elas Segundo Allport o que impulsiona o comportamento impulsiona agora e não precisa mos saber a história da pulsão para compreender sua operação Em uma extensão considerável o funcio namento desses traços é consciente e racional Os in divíduos normais sabem como regra o que estão fa zendo e por quê Seu comportamento se ajusta a um padrão congruente e no âmago desse padrão estão as funções que Allport chamou de próprias Um en tendimento completo do adulto não é possível sem o conhecimento de suas metas e aspirações Seus moti vos mais importantes não são ecos do passado e sim acenos do futuro Na maioria dos casos saberemos mais sobre aquilo que uma pessoa vai fazer se conhe cermos seus planos conscientes do que suas memóri as reprimidas Allport garantiu que o quadro que acabamos de delinear é um pouco idealizado Nem todos os adul tos atingem a plena maturidade Existem indivíduos crescidos cujas motivações ainda cheiram a berçário Nem todos os adultos parecem orientar seu compor tamento em termos de princípios claros e racionais Entretanto a extensão em que eles evitam motiva ções inconscientes e o grau em que seus traços são independentes das origens infantis representam me didas de sua normalidade e maturidade É só no indi víduo seriamente perturbado que encontramos um adulto agindo sem saber porque está agindo um adul to cujo comportamento está mais estreitamente liga do a eventos que ocorreram na infância do que a even tos ocorrendo aqui e agora ou no futuro Ao contrário da maioria dos teóricos da persona lidade cujo interesse se centra no lado negativo do livrocaixa do ajustamento Allport examinou deta lhadamente as qualidades que permitem um ajusta mento mais do que adequado ou normal 1961 Capítulo 12 A personalidade madura precisa possuir antes de tudo uma extensão do self Isto é sua vida não deve estar limitada a um conjunto de atividades estreitamente ligadas às suas necessidades e a seus deveres imediatos A pessoa deve ser capaz de parti cipar de uma ampla variedade de atividades diferen tes e apreciálas As satisfações e as frustrações de vem ser muitas e diversas em vez de poucas e estereotipadas Uma parte importante dessa extensão do self envolve uma projeção no futuro planejar es perar Para a maturidade o indivíduo também preci sa ser capaz de relacionarse calorosamente com outros em contatos tanto íntimos como nãoíntimos e pos suir uma segurança emocional fundamental e uma acei tação do self Ele deve ser realisticamente orientado tan to em relação a si mesmo autoobjetivação como em relação à realidade externa Os dois componentes principais da autoobjetivação são o humor e o insi ght Está claro que o que queremos dizer com insight é a capacidade do indivíduo de compreenderse em bora não esteja claro como podemos assegurar um padrão adequado com o qual comparar as crenças do indivíduo Um senso de humor implica não só a capa cidade de divertirse e rir nos lugares costumeiros mas também a capacidade de manter relações positivas consigo mesmo e com os objetos amados sem deixar de ver as incongruências e os absurdos a eles relacio nados Finalmente o indivíduo maduro possui uma filosofia de vida unificadora Embora os indivíduos devam poder ser objetivos e divertirse com os even tos comuns da vida também deve haver uma grande seriedade subjacente que dá propósito e significado a tudo o que eles fazem A religião representa uma das fontes mais importantes de filosofia unificadora em bora certamente não seja a única fonte de tais temas integradores O comprometimento de Allport com es ses critérios está bem representado na seguinte cita ção Nós afirmamos que algum tipo de contínuo cres cimento e desenvolvimento até o estágio da maturi dade é o que dá forma à busca dos seres humanos Sugerimos que as metas da psicoterapia sejam estru turadas nesses termos e que os seis critérios de matu ridade que descrevemos sejam especificamente acei tos como os objetivos de todos os conselheiros pais e TEORIAS DA PERSONALIDADE 239 terapeutas que ajudam os outros na estrada da vida 1961 p 305 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Ao examinar a pesquisa de Allport é importante dis tinguir entre a que tem certa relação direta com suas convicções teóricas e a que se originou de outras ori entações tal como a sua preocupação com a pesquisa de ação por exemplo o preconceito Allport 1954 1968 e a religião Allport 1950b 1968 Igualmen te seu uso e desenvolvimento de métodos para medir a personalidade conforme exemplificados no AS Re action Study e no A Study of Values foram ditados ape nas em parte por suas convicções teóricas Apesar de defender métodos e estudos idiográficos grande parte de seu trabalho foi nomotética Nesta seção começaremos examinando a distinção entre idiográ fico e nomotético depois apresentaremos métodos diretos e indiretos de medir a personalidade e final mente discutiremos estudos do comportamento ex pressivo e um estudo de um caso individual como os melhores exemplos de investigações que espelham aspectos centrais de sua posição teórica Idiográfico Versus Nomotético Allport enfatizou que o investigador pode escolher estudar o comportamento em termos de princípios gerais variáveis universais e um grande número de sujeitos ou pode centrarse no caso individual usan do métodos e variáveis adequados à singularidade de cada pessoa Ao nomear essas duas abordagens ao estudo do comportamento Allport tomou empresta dos do filósofo alemão Windelband os termos idiográ fico individual e nomotético universal Mais tarde contudo Allport 1962 sugeriu novos termos mor fogênico para substituir idiográfico e dimensional para substituir nomotético Ele argumentou que existe um lugar na psicologia para ambas as abordagens mas a ênfase especialmente na psicologia americana foi de forma tão esmagadora nos métodos nomotéticos que é necessária uma reorientação drástica Tal reorienta ção é particularmente urgente pois a abordagem morfogênica leva a uma melhor predição e entendi mento De fato só conhecendo a pessoa como pessoa é que poderemos predizer o que ela fará em qualquer situação dada Essa ênfase na abordagem morfogênica é uma conseqüência lógica de vários aspectos da posição te órica de Allport Em primeiro lugar sua ênfase na sin gularidade de cada pessoa obriga os investigadores a selecionar métodos de estudo que não escondam nem embacem sua individualidade Em segundo lugar e estreitamente relacionada está a ênfase na importân cia das disposições pessoais traços individuais como os determinantes primários do comportamento Se essas disposições são as unidades reais da persona lidade e se são características apenas de uma única pessoa então certamente a abordagem mais efetiva ao estudo do comportamento será um método que estude o indivíduo Allport reconheceu a importância de desenvolver métodos válidos para estudar o caso individual mas devemos observar que ele e outros fizeram apenas um início no desenvolvimento de tais métodos Como ob servamos antes Allport em seu trabalho usou mais freqüentemente métodos dimensionais do que méto dos morfogênicos As técnicas de comparação empregadas por All port e Vernon 1933 em seus estudos do comporta mento expressivo são um método que preserva a indi vidualidade padronizada de cada sujeito Dois outros métodos análise estrutural e análise de conteúdo foram usados por Allport 1965 e seus alunos na in vestigação dos traços de uma mulher a partir de car tas escritas por ela Allport 1962 chamou a atenção para as abordagens morfogênicas desenvolvidas por outros investigadores a metodologia Q Stephenson 1953 os questionários individualizados Shapiro 1961 as escalas de autoancoramento Kilpatrick Cantril 1960 o teste de repertório de constructo de papel Kelly 1955 e a análise fatorial inversa O inte resse de Allport em documentos pessoais 1942 com certeza está intimamente relacionado a essa ênfase na abordagem morfogênica ao comportamento Em uma enérgica réplica Holt 1962 contestou vários pontos essenciais de Allport Examinaremos três deles aqui Primeiro Holt rejeitou a afirmação de All port de que a personologia deveria ser uma arte de dicada a retratos em palavras que busquem evocar no 240 HALL LINDZEY CAMPBELL leitor a emoção do reconhecimento o sentimento gra tificante ainda que ilusório de compreender indiví duos únicos em favor da posição de que ela deveria ser uma ciência que nos permite estudar as mesmas pessoas em toda a sua singularidade e derivar desse estudo proposições gerais sobre a estrutura o desen volvimento e outros aspectos significativos da perso nalidade 1962 p 389 Em segundo lugar Holt sa lientou a impossibilidade lógica de descrever traços individuais Criar um mundo único para cada traço levaria a uma completa Torre de Babel em que a comunicação e a ciência seriam impossíveis A alter nativa usar um conjunto único de palavras existen tes na verdade é uma versão encoberta da aborda gem nomotética É impossível capturar toda a riqueza da realidade Os conceitos científicos envolvem abs tração e jamais se ajustam perfeitamente à realida de Finalmente Holt adotou o determinismo como uma suposição necessária para o trabalho científico O estudo científico do individual seja ele o furacão a estrela ou a pessoa individual é possível e existem leis no caso individual Só é difícil saber a partir do estudo de um único caso por mais completo que ele seja quais são as leis 1962 p 396 Resumindo podemos dizer que Allport consisten temente com sua posição teórica exortou os psicólo gos a dedicar mais tempo e energia do que costuma vam ao estudo do caso individual Allport enfatizou que a maior obrigação de um pesquisador psicológico é levar seus insights independentemente de como fo ram derivados de volta ao individual Essa ênfase foi tão bem aceita pelos psicólogos contemporâneos que aquela que fora outrora uma posição desviante é hoje amplamente aceita Medidas Diretas e Indiretas da Personalidade A partir da década de 30 a psicologia testemunhou uma expansão e um desenvolvimento sem preceden tes dos métodos de avaliação da personalidade O prin cipal impacto da teoria psicanalítica foi sentido na psicologia acadêmica durante esse período e natu ralmente levou a um maior interesse por instrumen tos que pareciam sensíveis a motivos e a conflitos in conscientes Diante dessa tendência as técnicas projetivas tornaramse imensamente populares en quanto as técnicas de autorelato incluindo entrevis tas e questionários tiveram diminuída a sua popula ridade Allport não via essa tendência com uma sim patia irrestrita Ele escreveu Em nenhum momento estes métodos projeti vos perguntam ao sujeito quais são seus interes ses o que ele quer fazer ou o que ele está tentan do fazer Os métodos também não perguntam diretamente sobre a relação do sujeito com seus pais ou figuras de autoridade Eles inferem esse relacionamento inteiramente por meio de uma suposta identificação Essa abordagem indireta e subreptícia à motivação é tão popular que mui tos clínicos e centros universitários gastam muito mais tempo nesse tipo de método diagnóstico do que em qualquer outro provavelmente é ver dade que a maioria dos psicólogos prefere avaliar as necessidades e os conflitos de uma pessoa indo pelo caminho mais comprido O argumento evi dentemente é que todo mundo mesmo um neu rótico podese acomodar bastante bem às exigên cias da realidade Somente em uma situação projetiva nãoestruturada é que ele vai revelar suas ansiedades e necessidades mais secretas essa afirmação intransigente parece assinalar a cul minação de um século de irracionalismo e por tanto de desconfiança Será que o sujeito não tem o direito de ser acreditado Essa atmosfera predominante da teoria criou uma espécie de des prezo pela superfície psíquica da vida O relato consciente do indivíduo é rejeitado como não me recendo confiança e o ímpeto contemporâneo de seus motivos é desconsiderado em favor de uma busca de sua conduta no passado em estágios for mativos anteriores O indivíduo perde seu direito de ser acreditado E embora esteja ativamente le vando sua vida no presente e voltado para o futu ro a maioria dos psicólogos fica ativamente pro curando o passado Não é o indivíduo bemintegrado consciente de suas motivações que se revela na testagem projetiva É a persona lidade neurótica cuja fachada não corresponde aos medos e às hostilidades reprimidas Tal sujei to é apanhado de surpresa pelos instrumentos projetivos mas o sujeito bemajustado não dá uma resposta significativamente diferente 1953 p 108110 TEORIAS DA PERSONALIDADE 241 A posição de Allport em relação a tal questão é inteiramente consistente com a importância que ele atribuía aos determinantes conscientes e racionais do comportamento Sua convicção de que o indivíduo normal se comporta em termos de motivos conheci dos e razoáveis o levou a afirmar que as técnicas pro jetivas só contribuem de forma significativa no caso do indivíduo neurótico ou perturbado para os quais a importância dos motivos inconscientes pode real mente ser considerável Segundo Allport os métodos diretos e indiretos proporcionarão um quadro consis tente no caso do indivíduo normal ao passo que pode haver uma considerável discrepância entre os méto dos diretos e indiretos no caso da pessoa seriamente desajustada Ele ponderou que um indivíduo normal bemajustado que busca firmemente suas metas nos testes projetivos fará uma destas duas escolhas 1 revelará um materi al idêntico ao do relato consciente e nesse caso o método projetivo não é necessário ou 2 não dará nenhuma evidência de seus motivos domi nantes 1953 p 111 Allport concluiu que os métodos indiretos podem revelar determinantes inconscientes importantes do comportamento mas apenas se comparados com o resultado dos métodos diretos Disso decorre que os métodos indiretos não deveriam ser usados exceto em conjunção com métodos diretos Para a pessoa normal os métodos diretos permitem uma compre ensão muito mais completa e útil da estrutura moti vacional do sujeito do que o método indireto A efici ência e a simplicidade imensamente maiores dos métodos diretos não devem ser ignoradas em uma comparação desses métodos Allport criou e usou métodos de questionário con sistentes com o ponto de vista que acabamos de apre sentar Por outro lado sua ênfase no uso de documen tos pessoais como uma abordagem à personalidade e seus estudos do comportamento expressivo são con tribuições à avaliação indireta da personalidade Estudos do Comportamento Expressivo No início da década de 30 Allport e seus colaborado res realizaram uma série de investigações visando demonstrar a importância e a consistência do com portamento expressivo Ao definir essa área de estu do Allport distinguiu dois componentes presentes em toda resposta humana Primeiro existe o componen te adaptativo ou de manejo primariamente ligado ao valor funcional do ato ao efeito que ele produz ou ao objetivo a que ele leva Segundo existe o componen te expressivo que se refere à maneira ou ao estilo de realização do ato Milhões de pessoas realizam os mesmos atos adaptativos mas não encontramos duas pessoas que realizem tais atos exatamente do mesmo modo ou com o mesmo estilo Considerando a ênfase da teoria de Allport nos elementos individuais e úni cos do comportamento não surpreende que ele esti vesse profundamente interessado no comportamento expressivo o componente pessoal ou idiossincrático que aparece até nas respostas mais estereotipadas A teoria de Allport não só parece levar natural mente a um interesse pelo comportamento expressi vo mas também promete que o estudo desse aspecto do comportamento será de grande importância Se todo o comportamento do indivíduo é congruente e interrelacionado então até os atos mais triviais esta rão relacionados a aspectos centrais da constituição do indivíduo Conseqüentemente podemos estudar os atos expressivos mais insignificantes do indivíduo para obter informações sobre os aspectos mais cen trais do comportamento Ao comparar componentes expressivos e adaptativos Allport afirmou A porção expressiva da conduta resulta então de determinantes muito profundos funcionando como regra inconscientemente e sem esforço A porção adaptativa por outro lado é um sistema mais limitado circunscrito pelo propósito do mo mento extremamente dependente do estímulo e do esforço voluntário ou de hábitos e habilida des A razão para um presente ato de conduta deve ser buscada nos presentes desejos e intenções do indivíduo embora estes também possam originar se de traços e interesses pessoais profundos mas o estilo de execução é sempre guiado diretamen te e sem interferência por disposições pessoais profundas e duradouras 1937 p 466 Assim em consonância com sua teoria Allport estudou os aspectos expressivos do comportamento como um meio de assegurar um pronto acesso a fon tes importantes de motivação e de conflito no indiví duo 242 HALL LINDZEY CAMPBELL O estilo do comportamento não é determinado unicamente por fatores de personalidade Allport acei tava o papel de determinantes socioculturais estados ou humores temporários condições orgânicas e ou tras variáveis As contribuições desses múltiplos fato res não diminuem a importância do comportamento expressivo como uma fonte de evidência referente à personalidade eles servem apenas para tornar um pouco mais complexa a tarefa empírica do investiga dor ou diagnosticador O comportamento expressivo pode ser classificado em termos do tipo de ato envol vido por exemplo expressão facial modo de andar voz e caligrafia Allport argumentou que nunca deve ríamos prestar atenção exclusivamente a um tipo de comportamento expressivo pois todos são significati vos e aumentam o nosso conhecimento sobre o indi víduo A investigação mais extensiva de Allport nessa área foi realizada em colaboração com Philip E Vernon Allport Vernon 1933 e visava especialmente ao problema da consistência do comportamento expres sivo Em uma parte dessa investigação um grupo de 25 sujeitos bastante heterogêneos foi estudado em três sessões diferentes cada sessão separada por um perí odo de aproximadamente quatro semanas Durante cada sessão o sujeito respondia a um grande número de testes diferentes que mediam a velocidade com que ele lia e contava a velocidade de caminhada e pas seio a extensão da passada a estimativa de tama nhos e distâncias conhecidos a estimativa de pesos a força do aperto de mão a velocidade e a pressão dos dedos das mãos e da perna ao tamborilar o desenho de quadrados círculos e outras figuras várias medi das de caligrafia tensão muscular e assim por diante Além disso os observadores avaliavam a intensidade da voz a fluência da fala a quantidade de movimen to durante a fala natural e o cuidado com a aparên cia É óbvio que os investigadores tinham um número extremamente grande de medidas derivadas que em pregavam em sua análise Allport e Vernon começaram por examinar a fide dignidade de repetição consistência de uma medida em duas ocasiões diferentes das várias medidas ex pressivas Em geral essas fidedignidades pareciam ser razoavelmente elevadas as intercorrelações sendo mais ou menos equivalentes às fidedignidades de re petição para os instrumentos de mensuração psicoló gicos convencionais Em face dessa consistência os autores concluíram Hábitos gestuais simples con forme os medimos são características estáveis dos indivíduos em nosso grupo experimental 1933 p 98 A seguir eles examinaram a relação entre os es cores nas mesmas tarefas realizadas por diferentes grupos musculares lado esquerdo e direito do corpo braços e pernas e assim por diante e descobriram uma consistência praticamente igual O achado é de considerável importância pois tende a sugerir um fa tor integrador geral ou central que produz um estilo consistente independentemente da manifestação pe riférica escolhida As variáveis mais importantes de todas as tarefas foram então intercorrelacionadas A primeira impres são obtida a partir da matriz de correlações foi que as intercorrelações eram positivas com maior freqüên cia do que poderíamos esperar pelo acaso Assim as evidências iniciais sugerem a existência de certa ge neralidade subjacente aos escores do indivíduo Os dados não permitiram a aplicação da análise fatorial convencional de modo que os investigadores realiza ram uma espécie de análise de agrupamento em que identificaram grupos de correlações ou fatores con sistindo naquelas variáveis que apresentavam inter correlações significativas Eles estavam interessados não só na significância estatística mas também no sig nificado psicológico do agrupamento em questão No final três fatores grupais explicavam a maio ria das intercorrelações observadas O primeiro deles foi chamado de fator grupal areal e incluía variá veis como a área da escrita total a área das figuras do quadronegro a área dos quadrados com os pés a superestimação de ângulos e a extensão das marcas sinais escritos de resposta de autoavaliação Isso parece ser uma espécie de expansividade motora O segundo agrupamento foi chamado de fator grupal centrífugo e inclui variáveis como superestimação da distância em relação ao corpo com as pernas exten são de cubos velocidade verbal subestimação de pe sos e subestimação de distâncias em relação ao corpo com as mãos Allport e Vernon ficaram menos conten tes com esse fator do que com o anterior mas conclu íram O fator grupal baseiase principalmente em medidas centrífugocentrípetas Assim o fator gru pal pode ser interpretado como uma tendência ex pansiva geral liberdade e extroversão do movimen to expressivo o oposto da motilidade introvertida contida e pedante 1933 p 112 O terceiro agrupa TEORIAS DA PERSONALIDADE 243 mento foi chamado de fator grupal de ênfase e in cluía medidas como a intensidade da voz o movimento durante a fala a pressão da caligrafia a pressão do tamborilar a superestimação de ângulos a pressão da mão em repouso Os investigadores concluíram que esse é um fator relativamente heterogêneo mas que um fator comum de ênfase parece estar por trás da maioria das medidas Eles sugeriram A simples pres são ou tensão física parece ser significativa apenas como parte de uma tendência mais ampla e mais psi cológica de fazer movimentos enfáticos 1933 p 112 Allport e Vernon não completamente satisfeitos com suas comparações grupais seguiram essa análise com quatro histórias de caso em que os movimentos expressivos dos sujeitos eram examinados no contex to de suas personalidades conhecidas Eles disseram Somos forçados à surpreendente conclusão de que virtualmente nenhuma medida contradiz a impressão subjetiva das personalidades As medidas registram fielmente o que o senso comum indica Até as medi das que não correspondem estatisticamente se ajus tam ao quadro de tal maneira que são facilmente in teligíveis e psicologicamente congruentes 1933 p 180 Além disso eles descobriram que os juízes eram capazes de combinar encontrar o correspondente com mais acertos do que o acaso permite amostras de caligrafia e curvas quimógrafas indicando a pres são exercida ao escrever com esboços de personali dade Allport e Vernon fazem uma declaração final interessante Existem graus de unidade no movimen to assim como existem graus de unidade na vida mental e na personalidade Certamente não é insen sato supor que uma vez que a personalidade está or ganizada o movimento expressivo é harmonioso e autoconsistente e quando a personalidade está de sintegrada o movimento expressivo é autocontradi tório 1933 p 182 Após um exame final dos achados positivos de suas investigações Allport e Vernon concluíram A partir dos nossos resultados parece que os ges tos e a caligrafia de um homem refletem um esti lo individual essencialmente estável e constante Suas atividades expressivas não parecem estar dissociadas e mutuamente nãorelacionadas e sim organizadas e bempadronizadas Além disso as evidências indicam que existe uma congruência entre o movimento expressivo e as atitudes os traços os valores e outras disposições da perso nalidade interna Embora a questão da organi zação da personalidade como um todo esteja além do escopo deste volume está claro que os fundamentos de uma solução adequada desse importante problema não podem ser oferecidos pela doutrina anárquica da especificidade mas apenas pelas teorias positivas e construtivas da consistência 1933 p 248 Uma série de estudos de Allport e Cantril 1934 tentou avaliar a extensão em que os juízes consegui am avaliar a personalidade com exatidão baseados apenas na voz Mais de 600 juízes foram empregados no julgamento de 16 oradores Foram usadas três téc nicas diferentes de julgamento esboços de personali dade encontrar o orador correspondente à descrição da personalidade e avaliar os oradores em atributos medidos independentemente Os atributos julgados incluíam características físicas e expressivas como idade altura compleição aparência em fotografias e caligrafia assim como interesses e traços por exem plo vocação preferência política extroversão e as cendência Os resultados dos estudos foram consistentes ao indicar que os juízes conseguiam relacionar a voz a características de personalidade e a certas caracterís ticas físicas com uma exatidão maior que o acaso Uma comparação de julgamentos baseados na voz natural com julgamentos baseados na voz no rádio revelou que nas duas condições os juízes conseguiram um su cesso maior que o casual mas que a voz natural leva va a avaliações um pouco mais exatas do que a voz no rádio Um exame das diferentes características pesso ais avaliadas revelou que os juízes foram mais consis tentes e mais acurados em suas estimativas dos inte resses e dos traços do que das características físicas e da caligrafia Os autores concluíram Os traços e as disposições mais organizados não apenas são avalia dos mais consistentemente do que características ex ternas como o físico e a aparência mas também são avaliados mais corretamente Allport Cantril 1934 p 51 Allport generalizando a partir dos resultados das suas investigações e das de outros afirmou Os aspectos expressivos do corpo não são ativa dos independentemente Qualquer um deles é afe 244 HALL LINDZEY CAMPBELL tado da mesma maneira que qualquer outro Por tanto até certo ponto Lavater tem razão ao dizer que o mesmo espírito se manifesta em todos Mas a consistência jamais é perfeita Um ca nal de expressão não é uma réplica exata de to dos os outros Se fosse assim os métodos monos sintomáticos de psicodiagnóstico estariam plenamente justificados A personalidade comple ta trairseia igualmente bem em qualquer aspec to A caligrafia contaria toda a história assim como os olhos as mãos ou os membros A concordância comprovada não justifica uma interpretação tão simples do caso A unidade de expressão como seria de espe rar acaba sendo inteiramente uma questão de grau exatamente como a unidade da personali dade é uma questão de grau Não devemos espe rar que os aspectos expressivos do corpo reflitam mais consistência do que a própria personalidade possui nem devemos esperar que reflitam me nos A expressão é padronizada de maneiras com plexas exatamente como a própria personalida de é padronizada Existem consistências mais importantes e consistências secundárias muita congruência e algum conflito e contradição Os psicodiagnósticos precisam então prosseguir como prossegue qualquer outro ramo da psicologia da personalidade para o estudo de fenômenos com plexos em um nível complexo 1937 p 480481 Cartas de Jenny Na década de 40 chegaram às mãos de Allport 301 cartas escritas para um jovem casal por uma mulher de meiaidade Jenny Masterson um pseudônimo ao longo de um período de 12 anos Allport reconhe ceu a importância psicológica das cartas e usouas por muitos anos em suas aulas sobre personalidade em Harvard para estimular discussões na turma Elas fo ram publicadas de forma resumida no Journal of Ab normal and Social Psychology Anônimo 1946 Allport e seus alunos fizeram vários tipos de aná lise dessas cartas para determinar os traços mais no táveis de Jenny Baldwin 1942 foi o primeiro a usar as cartas Ele criou um método que chamou de análi se da estrutura pessoal O primeiro passo consistia em ler as cartas a fim de identificar os tópicos e temas proeminentes sobre os quais Jenny escrevia Baldwin descobriu que ela freqüentemente escrevia sobre seu filho Ross sobre dinheiro natureza e arte e é claro sobre seus próprios sentimentos O passo seguinte foi encontrar relações entre esses tópicos observando a freqüência com que ocorriam juntos Quando Jenny escrevia sobre Ross por exemplo quão freqüentemen te ele era mencionado junto com dinheiro arte mu lheres e assim por diante Vários agrupamentos ou constelações estatisticamente significativos emergiram da análise Dois desses agrupamentos giravam em tor no de ver Ross sob uma luz favorável e sob uma luz desfavorável Quando ele era mencionado favoravel mente em uma carta os temas de natureza e arte e das lembranças de Jenny de seu passado também ten diam a ocorrer mais freqüentemente na mesma carta do que ocorreria ao acaso Quando Ross era mencio nado desfavoravelmente outros tópicos eram o ego ísmo de Ross os autosacrifícios de Jenny e outras mulheres mencionadas sob uma luz desfavorável Allport comentou que o estudo de Baldwin mostrava que a quantificação da estrutura de uma única per sonalidade é possível por meio de apoios estatísticos aplicados à análise de conteúdo 1965 p 199 mas ele também se perguntou se esse modo tão trabalho so de classificar agrupamentos de idéias acrescenta algo de novo às interpretações feitas pela leitura cri teriosa do material p 198199 O próprio Allport usou uma abordagem mais de senso comum para a análise dos traços de Jenny con forme revelados em suas cartas Ele pediu a 36 pesso as que lessem as cartas de Jenny e caracterizassemna em termos de seus traços Elas usaram um total de 198 nomes de traços Uma vez que muitos desses no mes eram sinônimos ou altamente relacionados All port pôde agrupálos sob oito itens e um grupo resi dual de 13 termos As oito categorias são 1 Briguentodesconfiado 2 Autocentrado 3 Independenteautônomo 4 Dramáticointenso 5 Estéticoartístico 6 Agressivo 7 Cínicomórbido 8 Sentimental Houve uma considerável concordância entre os juízes quase todos eles percebendo como muito pro eminentes na personalidade de Jenny os traços de desconfiança egocentrismo e autonomia TEORIAS DA PERSONALIDADE 245 Allport reconhecia que uma lista de traços não é uma estrutura A personalidade de Jenny certamen te não é uma soma de oito ou nove traços separados 1965 p 195 Correspondentemente ele perguntou aos juízes se percebiam algum outro tema unificador marcando quase todo o seu comportamento verbal e recebeu uma diversidade tão grande de respostas que foi impossível decidir sobre algum traço cardeal All port também admitiu que os psicanalistas criticariam sua análise dos traços pois ela não chegava à dinâmi ca subjacente motivações do comportamento de Jenny Entretanto ele defendeu sua posição salien tando a consistência do comportamento de Jenny o que nos permite predizer sua futura conduta a partir do que ela fez no passado As avaliações de Allport desses estudos da análise de conteúdo estão resumidas na seguinte declaração A análise de conteúdo quer escrito à mão quer à máquina não oferece nenhuma chave de ouro para o enigma de Jenny Entretanto ela realmen te objetiva quantifica e em certa extensão puri fica impressões do senso comum Ao nos manter perto dos dados as palavras de Jenny ela nos alerta para não deixar que algum insight favorito abafe as evidências E ela chama a nossa atenção para ocasionais revelações novas que estão além do senso comum sem ajuda Em resumo ao foca lizar o mundo fenomenológico de Jenny ela nos permite fazer inferências de primeira ordem mais seguras sobre a estrutura de personalidade subja cente à sua experiência existencial 1965 p 204 PESQUISA ATUAL O Interacionismo e o Debate PessoaSituação Revisitados A publicação de Walter Mischel 1968 Personality and Assessment foi um dos eventos mais importantes na recente literatura sobre a personalidade É impor tante observar dois pontos antes de examinarmos bre vemente o debate em si Primeiro como pretende in dicar a palavra revisitados no título desta seção a controvérsia de forma nenhuma era nova p ex Eps tein OBrien 1985 Pervin 1978 1985 Allport li dou com a questão em toda a sua carreira e um exem plo disso é a sua rejeição do conceito de elementos idênticos como a base da consistência situacional cru zada 1961 p 319324 e a sua discussão dos estu dos de Hartshorne e May 1928 sobre a honestida de Segundo muitos pesquisadores p ex Eysenck 1981b enfatizaram que o debate é artificial porque tanto os fatores da personalidade quanto as forças si tuacionais são necessários para um entendimento do comportamento e que sua importância relativa depen de das circunstâncias específicas em consideração cf Anastasi 1958 sobre hereditariedade e ambiente Embora o debate tenha ocupado o campo por duas décadas ele agora evoluiu para questões diferentes de pesquisa ver p ex Kenrick Funder 1988 Per vin 1985 Entretanto o debate merece ser mencio nado aqui porque uma das questões mais importan tes foi debatida em termos allportianos Mischel 1968 apresentou basicamente um de safio empírico Ele propôs que a utilidade preditiva dos traços globais da personalidade não tinha sido demonstrada Além disso há poucas evidências de que o comportamento tenha uma consistência situacional cruzada como parece implicar a noção de uma per sonalidade permanente e transituacional Na ausên cia de qualquer demonstração do contrário sugere Mischel a conclusão mais razoável é que o comporta mento é situacionalmente específico não consistente em situações cruzadas O desafio de Mischel provocou muitas respostas Alguns pesquisadores salientaram que a conclusão alternativa implícita de que as situações explicam a maior parte da variância no comportamento uma vez que os traços de personalidade aparentemente não explicam estava errada Assim Funder e Ozer 1983 afirmaram que mesmo com forças situacionais tão ostensivamente poderosas como as subjacentes às mudanças de atitude sob uma aquiescência forçada e a intervenção de espectadores e obediência a por centagem da variância comportamental explicada não excedia a reconhecida por Mischel para os traços de personalidade Igualmente Bowers 1973 resumiu os estudos que aplicaram análises da variância à vari ância comportamental dividida Ele relatou que a in teração dos fatores da personalidade com as forças situacionais tinha o maior impacto sobre o comporta mento Outros investigadores sugeriram importantes reconceitualizações da controvérsia Epstein p ex 1979 propôs que o comportamento é muito mais con 246 HALL LINDZEY CAMPBELL sistente quando comportamentos simples são agrega dos em unidades maiores ver Mischel 1984 Mischel Peake 1982 1983 para réplicas Da mesma for ma Moskowitz 1982 demonstrou que constructos de traços amplos e limitados eram caracterizados por padrões de consistência diferentes Mas a resposta a Mischel que gerou mais atenção veio de Daryl Bem e Andrea Allen 1974 Eles nota ram um aparente paradoxo entre as nossas intuições que sugeriam que as pessoas realmente apresentam consistência situacional cruzada e a literatura empí rica que indica o oposto Bem e Allen acreditavam que as intuições em vez da pesquisa estavam mais de acordo com a realidade O problema argumenta ram eles é que a literatura é vítima da falácia nomo tética salientada primeiro por Gordon Allport Isto é os pesquisadores supõem implicitamente que qualquer dimensão de traço é universalmente aplicável a to das as pessoas Em conseqüência acabam investigan do conceitos que fazem sentido para eles mas que não existem na fenomenologia ou no comportamento de seus sujeitos Em outras palavras uma amostra de comportamentos e de situações que para um experi mentador vêm juntos pode não pertencer a uma clas se de equivalência para os sujeitos Na extensão em que isso é verdade a pesquisa resultante não conse guirá encontrar consistência situacional cruzada não porque ela não existe mas porque está sendo procu rada no lugar errado Conforme Bem e Allen colocam O veredito tradicional de inconsistência de forma nenhuma é uma inferência sobre os indivíduos ele é uma declaração da discordância entre um investiga dor e um grupo de indivíduos eou da discordância entre os indivíduos do grupo p 510 Ao contrário da estratégia de pesquisa as nossas intuições operam de maneira idiográfica Nós não começamos impon do rótulos a uma pessoa em vez disso nós primeiro organizamos seu comportamento em tendências raci onais e depois tentamos compreender isso Em conseqüência dessa análise Bem e Allen só esperavam encontrar consistência para parte das pes soas dentro de parte do tempo Eles coletaram dados sobre a consistência situacional cruzada do caráter amistoso e consciencioso em uma tentativa de apoiar essa afirmação Primeiro dividiram sua amostra em sujeitos que relatavam ser consistentes nos traços e sujeitos que relatavam não ser Eles então coletaram exemplos de comportamento amistoso e de compor tamento consciencioso Relataram uma concordância substancial entre os diferentes indicadores de caráter amistoso para os sujeitos que tinham relatado ser con sistentemente amistosos mas uma concordância mí nima para os sujeitos que tinham indicado não ser consistentes nesse traço Resultados semelhantes fo ram obtidos para o caráter consciencioso Em conse qüência de sua análise Bem e Allen concluíram que os pesquisadores realmente devem prestar mais aten ção às situações conforme afirmara Mischel Mas os pesquisadores também devem prestar uma imensa atenção às pessoas E vale a pena prestar atenção a Gordon Allport Ver Chaplin Goldberg 1984 que não conseguiram replicar Bem e Allen Ver também Zuckerman Bernieri Koestner Rosenthal 1989 para uma sofisticada réplica de Bem e Allen Idiográfica e Idiotética O legado mais duradouro de Allport talvez tenha sido sua defesa de uma abordagem idiográfica à perso nalidade Isto é Allport acreditava que o estudo da personalidade não fazia sentido a menos que seu ob jetivo fosse compreender a singularidade padroniza da de cada indivíduo Ele fundamentalmente se opu nha ao desmembramento da personalidade garantido por qualquer comparação de fragmentos de comportamento entre pessoas Em conseqüência All port aceitava a proposição de que a psicologia busca leis gerais mas ele chamou atenção especial para aquelas leis e princípios que mostram como ocorre a singularidade 1961 p 572 Em outras palavras ele propôs partir do comportamento dos indivíduos como uma fonte de palpites depois buscar generali zações sobre tal comportamento e finalmente vol tar ao indivíduo 1962 p 407 É este último passo confrontar as nossas vacilantes leis da personalida de com a pessoa concreta 1962 p 407 que cap tura a essência da prescrição de Allport para a perso nalidade Apesar de ocasionais apoios a Allport p ex Ty ler 1978 é claro que têm havido várias segundas opiniões sobre essa prescrição A objeção central é a de que uma abordagem idiográfica é incompatível com uma abordagem científica Eysenck 1954 Holt 1962 Skaggs 1945 Entretanto nos últimos anos vários psicólogos da personalidade adotaram a posição idio gráfica de Allport Três deles serão examinados aqui TEORIAS DA PERSONALIDADE 247 brevemente ver também a discussão no Capítulo 6 sobre a pesquisa da história de vida Saul Rosenzweig p ex 1986 acreditava que a meta da teoria da personalidade e da psicologia clí nica é compreender os indivíduos como distintos dos outros mas também relacionados aos outros Ele pro pôs que isso fosse feito por meio de normas nomotéti cas ou universais demográficas ou grupais e idio dinâmicas ou individuais Ao contrário do foco de Allport nos traços do indivíduo único Rosenzweig focalizou a organização dinâmica única de eventos através do tempo 1986 p 242 que distingue cada pessoa Ele usou essa análise para localizar a psicolo gia em relação a outras ciências físicas e sociais Talvez a mais influente das propostas idiográficas seja a de James Lamiell Em um artigo amplamente citado Lamiell 1981 propôs uma estratégia empíri ca para combinar a busca de Allport de princípios no motéticos com a descrição idiográfica da personalida de de um indivíduo Lamiell argumentou que o tradicional paradigma de pesquisa das diferenças in dividuais atribui escores a um atributo da pessoa com binando valores em uma série de respostas ou obser vações cada um deles recebendo um peso por sua relevância para o atributo de interesse Por exemplo o nível de extroversão de uma pessoa poderia ser de finido como a soma de seu escore em cada uma das 24 perguntas do autorelato cada pergunta receben do um peso 1 de relevância implícita No próximo passo crucial o escore seria interpretado pela compa ração com o escore médio de um conjunto represen tativo de respondentes Na prática isso é equivalente a obter escores de traços somandose as respostas aos itens de um teste de personalidade e depois compa randose esse escore total com as normas do teste Lamiell argumentou persuasivamente que esses esco res entre pessoas nada dizem sobre a personalidade do indivíduo Além disso ele afirmou que é impossí vel chegarmos a uma conclusão significativa sobre a consistência do comportamento de um indivíduo a partir dessas medidas agregadas ver Rorer Widi ger 1983 para um argumento semelhante Como conseqüência o método empregado por pesquisado res da personalidade é fundamentalmente incompatí vel com sua apregoada meta de compreender os indi víduos Lamiell sugeriu substituirmos esse método por outro que ele chamou de estratégia de mensuração idiotética Tal estratégia diverge de duas maneiras importantes da estratégia das diferenças individuais recémdescrita Primeiro o conjunto de itens pelo qual combinamos as respostas deve ser específico para o indivíduo que está sendo avaliado Em princípio isso pode valer também para a estratégia das diferenças individuais mas na prática quase sempre é usado um conjunto comum de itens Segundo e extrema mente importante o significado do escore total de um indivíduo dependeria não de uma comparação com o escore médio de um conjunto de respondentes mas de onde o escore total se situa dentro do intervalo total de escores possível para aquele indivíduo Isto é uma medida idiograficamente definida da rebeldia de Mary em determinada ocasião dependeria de quão rebelde foi o seu comportamento se comparado à sua rebeldia máxima e mínima O que Lamiell quer dizer é que os pesquisadores podem e realmente devem conceitualizar e medir cada indivíduo por ele mesmo não por meio de comparações com outros indivíduos Isso por sua vez permitiria aos pesquisadores inves tigar a consistência dos indivíduos ao longo do tem po em vez de focalizar medidas agregadas para con juntos de indivíduos No processo seria possível cumprir o requerimento de Allport Bem e Allen 1974 de evitarmos qualquer suposição de que um dado atri buto é relevante para todos ou mesmo para outros indivíduos Recentemente Lamiell 1981 p 287 propôs que o tipo de pessoa que somos está diretamente refleti do no tipo de pessoa que não somos mas poderíamos ser e está apenas incidentalmente se é que está re fletido no tipo de pessoa que alguém mais é ver La miell 1987 para uma discussão mais completa La miell concluiu que o tipo de pesquisa sistemática que ele propõe é idiográfica no sentido de que faz justiça aos indivíduos mas também é nomotética no sentido de que tenta confirmar a aplicabilidade de princípios gerais aos indivíduos Isto é tal pesquisa seria idioté tica Lamiell estava claramente respondendo à exor tação de Allport de que a nossa pesquisa deveria aca bar voltando ao indivíduo Pelham 1933 oferece uma ilustração final de uma pesquisa idiográfica Ele incluiu como idiográfi ca qualquer abordagem que adote um método den trodosujeito em vez de entresujeitos Tal abor dagem argumentou ele revelase muito mais útil do que os críticos p ex Paunonen Jackson 1985 248 HALL LINDZEY CAMPBELL têm afirmado Em especial escreveu Pelham as téc nicas idiográficas trazem vantagens práticas Além disso já que a vida mental é primariamente uma experiência dentrodosujeito em vez de entresu jeitos as técnicas idiográficas capturam a integri dade da realidade fenomenológica de maneira que as técnicas nomotéticas tipicamente não capturam Pe lham 1993 p 666 Pelham apresentou dados con sistentes com sua análise sobre a relação entre a auto percepção e as avaliações dos iguais Allport Revisitado Em uma de suas últimas publicações Allport 1966 revisitou seu conceito de traços Cerca de 20 anos depois vários outros autores também voltaram ao mo delo de traços de Allport usandoo como um trampo lim teórico para discussões estimulantes Examinemos três desses esforços Zuroff 1986 lançou a irônica pergunta Gor don Allport foi um teórico do traço Seu artigo ten tava reabilitar Allport demonstrando que ele não foi um teórico do traço pelo menos no sentido em que o termo é atualmente entendido pela maioria dos psi cólogos p 993 A confusão não é de Allport pelo contrário ela está no entendimento contemporâneo errado da definição de traços de Allport Conforme Zuroff salienta e como vimos antes a definição de Allport de traços não implica uma consistência geral situacional cruzada do comportamento Pelo menos no caso das disposições pessoais Allport predisse que as pessoas manifestarão uma autoconsistência de com portamento ao longo do tempo e em situações rele vantes e não consistência em todas as situações ou em conjuntos de situações compilados por um pes quisador Bem e Allen 1974 estavam ecoando esse ponto quando introduziram o conceito de classes de equivalência Allport propôs que precisamos dos tra ços para nos referir à conexão entre um conjunto de respostas equivalentes e um conjunto de situações provocantes funcionalmente equivalentes Os vín culos intra e entre conjuntos derivamse de seu signi ficado compartilhado A essa luz conforme salientou Zuroff 1986 a teoria de Allport claramente se qua lifica como uma teoria interacionista para usar um termo atual dos psicólogos Isto é o comportamento é determinado tanto pela pessoa quanto pela situa ção e os próprios traços são definidos em termos in teracionistas Nesse ponto Zuroff referiuse à distinção de Mag nusson e Endler 1977 entre a interação pessoasitu ação em um sentido mecanicista e em um sentido di nâmico A primeira se refere à necessidade de incluir tanto as pessoas quanto as situações em explicações ou predições do comportamento mas a segunda se refere a um processo pelo qual as situações afetam o comportamento de um indivíduo Zuroff 1986 ar gumentou que o traço de Allport é interacionista em um sentido mecanicista mas não em um sentido di nâmico Mas também poderíamos argumentar que a referência de Allport ao significado subjacente pro porciona exatamente o mecanismo dinâmico que Zu roff via como ausente O restante do artigo de Zuroff apresenta uma pro veitosa discussão da utilidade dos constructos de tra ço ver também Buss 1989 Zuroff 1986 p 999 acrescentou adequada e ironicamente que Walter Mischel no seu livro de 1968 que levou muitos a re jeitarem o modelo de traços ostensivamente ingênuo de Allport em favor de uma abordagem interacionista ao comportamento supostamente sofisticada e mais acurada introduzira o que pode ser considerado uma reformulação contemporânea do conceito de traço de Allport Mischel 1984 p 362 propôs um foco em consistências específicas ou locais Em vez de buscar altos níveis de consistência de situação para situação para muitos comportamentos em uma ampla varieda de de contextos ou de procurar médias amplas po deríamos tentar identificar agrupamentos ou con juntos únicos de comportamentos prototípicos temporariamente estáveis que caracterizam a pes soa mesmo no decorrer de períodos mais longos de tempo mas não necessariamente na maioria das situ ações ou em todas as situações possivelmente rele vantes Um recente artigo integrativo de Nancy Cantor 1990 poderia ser visto como uma tentativa de pro porcionar o processo que Zuroff via como faltando na teoria de Allport Na verdade o trabalho de Can tor é fascinante precisamente porque ela demonstra conexões entre a psicologia allportiana do traço e o trabalho contemporâneo sobre motivação social Can tor propôs que uma abordagem cognitiva ou de fa zer à expressão manutenção e desenvolvimento da personalidade complementa uma abordagem de tra ço ou de ter à estrutura da personalidade As uni dades cognitivas descritas por Cantor representam unidades de análise contextualizadas de nível mé TEORIAS DA PERSONALIDADE 249 dio no sentido de que proporcionam a expressão de disposições de personalidade mais generalizadas ver Briggs 1989 e Wakefield 1989 Cantor introduziu esquemas tarefas e estratégias para explicar a estru tura intencional da personalidadeemcontexto 1990 p 737 ver também Little 1989 Um esquema é uma estrutura de conhecimento referente a um comportamento passado em algum domínio Uma pessoa com um esquema de selfcomo tímido por exemplo tem certas memórias que a pre dispõem a perceber situações em certos termos e a responder de certas maneiras Ela considerava os es quemas como os portadores cognitivos das disposi ções um registro da expressão particular do indiví duo de por exemplo timidez 1990 p 737738 Essa descrição lembra a necessidade integrada de Henry Murray Além disso a elaboração de um esque ma de timidez por parte de Cantor soa muito pareci da com a definição de Allport do traço como o víncu lo entre um conjunto de estímulos funcionalmente equivalentes e um conjunto de respostas equivalen tes o esquema de timidez de um indivíduo registra os tipos específicos de pessoas e de interações que o deixam nervoso os atos específicos de timidez mais característicos de sua timidez e o subconjunto de si tuações ou contextos de vida aos quais ele está mais predisposto a responder com timidez p 738 Os indivíduos diferem não só em seus esquemas mas também nas tarefas de vida às quais esses esque mas dão origem Cantor sugeriu que as tarefas de vida podem ser universais refletindo um significado evo lutivo desenvolvimental ou sociocultural Além dis so as pessoas têm tarefas de vida individualizadas autoarticuladas Observem aqui o aparente paralelo com os traços comuns e as disposições pessoais de Allport Ela descreveu as tarefas de vida específicas como prontamente vinculadas ao componente moti vacional de disposições características p 740 su gerindo assim um paralelo com a distinção de Murray entre necessidades gerais e metas específicas Cantor apresenta uma análise persuasiva das tarefas de vida e sua fluidez desenvolvimental Nessa detalhada aná lise das tarefas ela estava complementando as suges tões de teóricos como Allport e Murray Cantor ficou ainda mais específica ao discutir as estratégias que os indivíduos empregam para traba lhar nas tarefas da vida Ela acreditava que mesmo quando os indivíduos compartilham tarefas eles usam caminhos comportamentais únicos para realizálas A existência dessas metas e a sua busca por parte do indivíduo sugerem claramente os anseios próprios de Allport A descrição de Cantor de como o traba lho estratégico envolve uma fusão e uma interação recíprocas da cognição e da emoção para atingir uma meta importante do self p 743 como no caso do pessimismo defensivo é uma extensão muito útil do conceito de Allport O aspecto mais atraente da abordagem de Cantor é sua explícita discussão dos diferentes níveis de aná lise que caracterizam as variáveis cognitivas Assim ela descreveu um ordenamento natural de generali dade de esquemas de nível relativamente superior que se aplicam a muitos domínios e períodos da vida o selfcomorealizador a tarefas mais delimitadas para períodos específicos da vida tornarse sócio de uma firma de advocacia a estratégias muito especí ficas condicionalmente ligadas a determinados con textos ou interações manejar a ansiedade antes de um julgamento importante com pessimismo defensi vo p 746 Tal hierarquia permite a Cantor resol ver a coexistência aparentemente paradoxal da esta bilidade da personalidade e da mudança da persona lidade Isto é ela aceitava a evidência longitudinal de uma considerável estabilidade no nível das disposi ções amplas da personalidade mas também acredita va que ocorrem mudanças críticas durante a vida na microestrutura de conteúdo de esquemas nas priori dades de tarefas de vida e nas regras de estratégia p 747 Um exemplo final de uma abordagem neoall portiana à personalidade é dada por David Funder 1991 Funder observou que uma conseqüência do debate pessoasituação foi uma imagem de traços glo bais como idéias antiquadas bastante originais mas nãorelevantes para a moderna pesquisa sobre a per sonalidade p 31 Ao contrário das modernas re conceitualizações da personalidade a teoria neo allportiana de traços globais de Funder sugere que os psicólogos da personalidade ficariam mais bem servidos com a idéia de disposições globais e estrutu radas em linguagem cotidiana Por exemplo uma das 17 afirmações de Funder propõe que os traços globais têm um poder explanatório real precisamente porque não são redundantes com comportamentos específi cos Segundo Funder a explicação tem relação com o movimento do específico comportamento para o geral traço p 36 Isso não significa que os traços são explicações suficientes do comportamento eles 250 HALL LINDZEY CAMPBELL têm uma história desenvolvimental e estão inseridos em uma hierarquia de generalidade Mas os traços permanecem pontos de parada importantes na regres são explanatória p 36 Além disso Funder con cluiu que os traços globais intuitivamente acessíveis permanecem o nível apropriado de análise em que a investigação deve começar e que investigações mais específicas sempre devem lembrar de informar p 37 Funder ecoou Allport em sua crença de que os traços globais proporcionam a nossa melhor oportu nidade de compreender os indivíduos em sua totali dade e em funcionamento STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Segundo Allport 1968 p 377 a maior parte de seu trabalho profissional pode ser compreendida como uma tentativa de responder a uma pergunta Como deve ser escrita a história da vida psicológica Sua tentativa de responder a essa indagação foi orientada pela crença de que a singularidade padronizada dos atributos de um indivíduo é a realidade psicológica central Conforme ele escreveu embora Bill possa ser comparado proveitosamente em muitas dimensões com o ser humano médio ou com seu grupo natural ele ainda tece todos esses atributos em um sistema idiomático único O que quer que seja a individuali dade ela não é a mixórdia residual deixada após as dimensões gerais terem sido exauridas A organiza ção da vida de Bill é antes de tudo supremamente e o tempo todo o fato primário da sua natureza huma na 1962 p 410 Em contraposição a muitos teóricos Allport ja mais desenvolveu uma escola de seguidores embora os traços de sua influência possam ser encontrados no trabalho de antigos alunos como A L Baldwin J S Bruner H Cantril G Lindzey D G McGranahan T Pettigrew e M B Smith A maioria dos desenvolvi mentos em sua teoria está ligada às contribuições do próprio Allport que foram contínuas por quase meio século Começando com sua busca de uma unidade apropriada para a descrição da personalidade que levou à sua concepção do traço e com um interesse simultâneo pela transformação desenvolvimental so frida pelos motivos que culminou no conceito de au tonomia funcional ele modificou progressivamente a teoria passando a enfatizar cada vez mais a intencio nalidade e as funções próprias do ego Um dos mais surpreendentes fenômenos dos últi mos 60 anos na psicologia foi a morte e o subseqüen te renascimento dos conceitos de self e de ego Talvez nenhum outro psicólogo tenha tido um papel tão in fluente na restauração e na purificação do conceito de ego como Allport Ele não só colocou o conceito em um contexto histórico mas também tentou mos trar persistentemente a necessidade funcional de empregar algum conceito desse tipo de uma maneira discriminante em qualquer tentativa de representar o complexo comportamento humano normal Um ou tro aspecto novo da posição de Allport foi sua ênfase na importância dos determinantes conscientes do com portamento e como um corolário disso sua defesa dos métodos diretos de avaliação da motivação hu mana Além disso Allport defendeu ardorosamente o estudo detalhado do caso individual Embora outros tenham compartilhado dessa convicção Allport com sua monografia sobre o uso de documentos pessoais na psicologia 1942 sua ênfase nos métodos idio gráficos suas Letters from Jenny e sua publicação de histórias de caso como editor do Journal of Abnormal and Social Psychology é claramente uma das figuras mais importantes em um movimento que levou à atu al aceitação do caso individual como um objeto legíti mo de investigação psicológica Finalmente a posição de Allport é notável por sua ênfase no futuro e no presente com a relativa exclu são do passado É fácil para um investigador ou tera peuta esquecer a importância dos determinantes situ acionais e presentes do comportamento em favor da determinação histórica Conseqüentemente tem sido muito bom ter os textos de Allport como um constan te lembrete de que o passado não é o todo do indiví duo em funcionamento Já examinamos suficientemente o lado positivo desse livrocaixa Vamos agora dar uma olhada no negativo Em muitos aspectos essa teoria é singular mente vulnerável a críticas e nunca houve escassez de críticos ativos tais como Bertocci 1940 Coutu 1949 Seward 1948 e Skaggs 1945 Como suge rimos anteriormente Allport geralmente estava mais preocupado em apresentar seu ponto de vista de for ma vívida e efetiva do que em se proteger de críticas A inadequação formal da teoria provocou muitos co mentários negativos Qual é exatamente a base axio TEORIAS DA PERSONALIDADE 251 mática de sua posição O que constitui suposição e o que está aberto a testes empíricos De que maneira se interrelacionam as suposições feitas pela teoria e onde estão as cuidadosas definições empíricas que permitem ao investigador traduzir conceitos em ter mos de observação Intimamente relacionada a essas perguntas mas muitíssimo mais importante está a questão da variedade e da quantidade de investiga ção gerada pela teoria Devemos admitir que com a possível exceção do campo do comportamento expres sivo essa teoria não foi uma geradora eficiente de proposições para testes empíricos Como a maioria das outras teorias da personalidade ela está mais à von tade quando tenta explicar relações conhecidas do que quando tenta fazer predições sobre eventos nãoob servados Assim embora os próprios textos e investi gações de Allport tenham levado a uma grande quan tidade de pesquisas relacionadas como por exemplo sobre preconceito atitudes sociais e religiosas e ru mor sua teoria falha tristemente como um gerador formal de pesquisa Muitos psicólogos acham que uma das razões pe las quais a teoria tem dificuldade em fazer predições é que o conceito de autonomia funcional não pode ser demonstrado empiricamente e muito menos pre dizer eventos nãoobservados Nós já nos referimos a um certo embaraço criado para esse conceito quando a noção de propriateness foi introduzida como um critério para determinar o que se torna autônomo A base da autonomia funcional é um fracasso em obser var a extinção ou o abandono esperado de uma dada resposta e independentemente de quanto tempo observemos uma dada resposta que falhou em extin guirse sempre existe a possibilidade de críticas O detrator pode dizer que nós deveríamos ter observa do por mais tempo para verificar a extinção ou pode explicar a aparente autonomia da resposta em termos de alguma motivação subjacente que não foi adequa damente entendida pelo investigador Sempre é pos sível explicar qualquer exemplo concreto de autono mia funcional em termos de outras formulações teóricas mas da mesma forma os exemplos de ou tros princípios teóricos podem ser explicados em ter mos de princípios alternativos Talvez a crítica mais séria a esse princípio é que Allport não ofereceu ne nhuma explicação adequada do processo ou do meca nismo subjacente à autonomia funcional Ele nos diz que o fenômeno ocorre mas não explica satisfatoria mente como ou por quê Um outro aspecto da teoria que sofreu um pesado tiroteio de críticas é a suposição de Allport de uma descontinuidade parcial entre o normal e o anormal entre o bebê e o adulto e entre o animal e o humano A maioria dos psicólogos está tão firmemente conven cida de que aprendemos tanto sobre o comportamen to normal estudando sujeitos anormais que qualquer tentativa de sugerir que o anormal é descontínuo em relação ao normal parece quase uma heresia De fato a extensão em que os psicólogos tomaram empresta dos conceitos desenvolvidos por meio da observação de animais inferiores torna a suposição de desconti nuidades dentro da espécie humana ainda mais difícil de aceitar Consistente com sua visão do comporta mento humano adulto normal como distinto do com portamento animal inferior infantil ou anormal é a preferência de Allport por um modelo de ser humano que enfatiza aspectos positivos ou normativamente valorizados do comportamento A influência da psi canálise e da psicologia comparativa tem sido tão for te que uma teoria que insiste em enfatizar motivos socialmente aceitáveis em vez de necessidades primi tivas como sexo e agressão soa atualmente um tanto vitoriana O próprio Allport diria que ele não nega a importância dos motivos biológicos ou dos motivos inconscientes mas que deseja dar o devido lugar ao papel dos motivos socializados e dos processos racio nais que ele acredita ter sido negligenciado por uma era transitória de irracionalismo Ainda que possa ser assim muitos críticos da teoria afirmam que a posi ção de Allport representa os humanos em termos ex cessivamente parecidos com os usados pelo indivíduo comum para explicar seu próprio comportamento Nenhum psicólogo contemporâneo pode demo rarse muito na singularidade sem incorrer na fúria de muitos colegas preocupados em abstrair e medir o comportamento O que Coutu 1949 chamou de a falácia da personalidade única representa um impor tante desacordo entre as crenças de Allport e as da maioria dos cientistas sociais contemporâneos Eles estão convencidos de que a individualidade pode ser explicada em termos de princípios gerais ou comuns adequados e de que focalizar o individual e o único no presente estado de desenvolvimento da psicologia só pode levar a especulações estéreis 252 HALL LINDZEY CAMPBELL Sanford 1963 também criticou severamente o conceito de singularidade Ele insistiu que a ciência não pode explicar eventos únicos singulares mas que ela procura uniformidades e regularidades estatísti cas e tenta generalizar Ele observou que os clínicos e outras pessoas intimamente envolvidas no estudo de personalidades individuais não seguiram a recomen dação de Allport de tentar compreender a organiza ção singularmente padronizada de cada pessoa Ao invés disso eles tentam descobrir princípios gerais na análise do caso individual A resposta de Allport a essa crítica foi a de que podemos descobrir uniformidades na vida de uma pessoa e que podemos fazer genera lizações para aquela pessoa Mas permanece o fato de que fora Jenny Allport não seguiu seu próprio conse lho Mesmo no caso de Jenny não foi feita uma ten tativa real de estabelecer sua singularidade como ser humano Sua pesquisa foi do tipo nomotética Uma outra objeção à teoria intimamente relacio nada ao seu fracasso em generalizar proposições em píricas é a sua incapacidade de especificar um con junto de dimensões para usar no estudo da persona lidade Os traços individuais por definição não po dem ser afirmados de uma forma geral e o investiga dor se usa a abordagem idiográfica precisa começar novamente a tarefa de planejar variáveis para cada sujeito estudado Obviamente esse estado de coisas é desencorajador para a pessoa interessada em pesqui sa Finalmente os psicólogos contemporâneos im pressionados com a contribuição dos determinantes socioculturais ao comportamento não conseguem re presentar adequadamente esses fatores na teoria de Allport Eles afirmam que a teoria dá total atenção à interrelação de todos os comportamentos mas não reconhece a interrelação entre o comportamento e a situação ambiental em que ele opera Allport atribuiu crédito excessivo ao que se passa dentro do organis mo e crédito insuficiente ao impacto sedutor e cons trangedor das forças externas Allport do seu jeito compreensivo característico ouviu as críticas e respondeu a elas Ele reconheceu em seu importante artigo Traits Revisited 1966 que minhas idéias anteriores parecem ter negligenciado a variabilidade induzida pelos fatores ecológicos so ciais e situacionais p 9 Esse descuido prosse guiu ele precisa ser reparado por meio de uma teo ria adequada que relacione mais acuradamente os sistemas interior e exterior Mas Allport não tentou oferecer essa teoria e de fato pareceu sugerir que tal teoria não invalidaria nem substituiria seu ponto de vista Ele não acreditava que os traços podem ser ex plicados em termos de efeitos de interação As situa ções ambientais e as variáveis socioculturais podem ser forças causais distais mas o fator interveniente da personalidade é sempre a causa proximal da con duta humana Allport afirmava que é o dever da psi cologia estudar a pessoasistema porque é a pessoa quem aceita rejeita ou permanece nãoinfluenciada pelo sistema social O tolerante ecletismo de Allport é visto nessa solução para a controvérsia pessoasocie dade O teórico da personalidade deveria ser tão bem treinado na ciência social que pudesse ver o com portamento de um indivíduo como ajustandose a qualquer sistema de interação isto é ele deve ria ser capaz de considerar adequadamente tal comportamento na cultura em que ocorre em seu contexto situacional e em termos da teoria de papel e da teoria de campo Ao mesmo tempo ele não deveria perder de vista o fato de que existe uma padronização interna e subjetiva de todos esses atos contextuais 1960a p 307 Talvez o atributo mais notável dos textos de All port seja que apesar de seu pluralismo e ecletismo eles conseguiram criar um senso de novidade e exer cer uma grande influência Seu trabalho se destaca como um monumento a um estudioso sábio e sensí vel que estava determinado a representar os aspec tos positivos do comportamento humano em termos que respeitassem a singularidade de cada organismo vivo TEORIAS DA PERSONALIDADE 253 CAPÍTULO 8 A Teoria de Traço FatorialAnalítica de Raymond Cattell INTRODUÇÃO E CONTEXTO 254 Análise Fatorial 254 HISTÓRIA PESSOAL 256 A NATUREZA DA PERSONALIDADE UMA ESTRUTURA DE TRAÇOS 258 Traços 259 Traços de Capacidade e de Temperamento 260 A Equação de Especificação 263 Traços Dinâmicos 265 Cattell e Freud 269 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 270 Análise da HereditariedadeAmbiente 272 Aprendizagem 272 Integração da Maturação e da Aprendizagem 273 O Contexto Social 273 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 274 Um Estudo Fatorial Analítico de um Único Indivíduo 275 O Modelo de Personalidade dos Sistemas VIDAS 276 PESQUISA ATUAL 277 Os Cinco Grandes Fatores da Personalidade 277 Genética do Comportamento 281 Teoria Evolutiva da Personalidade 283 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 286 254 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO No presente capítulo trataremos de um método empí rico específico a técnica da análise fatorial e de uma posição teórica cujo desenvolvimento dependeu mui to do uso deste método a teoria da personalidade de Raymond B Cattell Hans Eysenck ver Capítulo 10 também dependia muito deste instrumento estatísti co e a análise fatorial com certeza é amplamente uti lizada como um instrumento empírico comum por in vestigadores contemporâneos de várias orientações teóricas Entretanto a teoria de Cattell é de longe a teoria da personalidade mais elaborada baseada na análise fatorial Antes de podermos compreendêla precisamos nos familiarizar brevemente com o méto do da análise fatorial em si Análise Fatorial As idéias essenciais da análise fatorial foram introdu zidas por Spearman 1904 um famoso psicólogo in glês mais conhecido por seu trabalho com as capaci dades mentais Spearman 1927 Ele sugeriu que se examinássemos dois testes relacionados de capacida de poderíamos esperar encontrar dois tipos de fator contribuindo para o desempenho nesses testes Pri meiro existe um fator geral p ex fluência verbal inteligência geral nível educacional que é importan te para ambos os testes Segundo existe um fator es pecífico p ex memória visual percepção espacial informação específica que é único para cada teste O método de análise fatorial foi desenvolvido como um meio de determinar a existência de fatores gerais e ajudar a identificálos A técnica de Spearman para isolar fatores simples foi revisada com a introdução de Thurstone 1931 de uma análise de múltiplos fa tores Isso abriu caminho para o estudo de problemas muito mais complexos e tem sido desde então o prin cipal método de análise fatorial Não é necessário um entendimento detalhado da análise fatorial para os propósitos da exposição deste capítulo entretanto é essencial que o leitor aprecie a lógica geral existente por trás da técnica Tipicamen te o teórico fatorial começa a estudar o comporta mento com um grande número de escores para cada um de um grande número de sujeitos Dados estes índices superficiais o investigador então aplica a téc nica de análise fatorial para descobrir quais são os fatores subjacentes que determinam ou controlam a variação nas variáveis superficiais Assim ele espera identificar um pequeno número de fatores básicos cuja operação explica a maior parte da variação no grande número de medidas que o investigador tinha ao co meçar O resultado da análise fatorial não só isola os fa tores fundamentais como também oferece para cada medida ou conjunto de escores uma estimativa da extensão em que cada um dos fatores contribui para esta medida Esta estimativa é comumente conhecida como a carga fatorial ou saturação da medida e é sim plesmente uma indicação de quanto da variação nes sa medida específica deve ser atribuída a cada um dos fatores O significado psicológico de um fator e a na tureza ou rótulo a ele ligados são amplamente deter minados pela natureza das medidas específicas que têm as cargas mais altas neste fator Tendo identifica do estes fatores básicos é possível para o teórico fato rial desenvolver um meio de mensurar esses fatores mais eficientemente do que seria possível por meio das medidas originais Assim o teórico fatorial começa com uma grande variedade de medidas comportamentais identifica os fatores subjacentes a essas medidas e então tenta cri ar um meio mais eficiente de avaliar esses fatores Os fatores do analista fatorial são em concepção muito pouco diferentes dos componentes ou das variáveis subjacentes dos outros teóricos da personalidade Eles são simplesmente tentativas de formular variáveis que expliquem a grande complexidade do comportamen to exterior É na técnica empregada para derivar essas variáveis que está a novidade da abordagem O leitor deve lembrar que embora os fatores gru pais ou comuns sejam de especial interesse para o analista fatorial não são os únicos tipos de fator Burt 1941 apresentou uma descrição amplamente aceita dos tipos de fator que podem ser derivados da aplica ção da análise fatorial Ele sugeriu que existem fato res gerais ou universais que contribuem para o desem penho em todas as medidas e que também existem fatores grupais que desempenham um papel em mais de uma mas não em todas as medidas Além disso existem fatores específicos ou singulares que contribu em para apenas uma das medidas e finalmente exis tem fatores de erro ou acidentais que aparecem em TEORIAS DA PERSONALIDADE 255 Raymond Bernard Cattell 256 HALL LINDZEY CAMPBELL uma administração isolada de uma medida isolada e devem ser atribuídos a uma mensuração falha ou à falta de controle experimental Devemos mencionar aqui uma outra questão que se mostrou um tanto controversa entre os analistas fatoriais a distinção entre sistemas de fatores orto gonais e oblíquos e a noção relacionada de fatores de segunda ordem Podemos especificar na análise fato rial que os fatores extraídos não terão correlação en tre si em um sentido geométrico em ângulos retos um em relação ao outro ou ortogonais ou pode mos permitir que emerjam fatores correlacionados ou oblíquos O primeiro procedimento tem sido pre ferido por alguns analistas fatoriais na esfera da per sonalidade devido à sua simplicidade e eficiência Mas outros incluindo Cattell defendem os fatores oblí quos afirmando que as verdadeiras influências cau sais na esfera da personalidade podem apresentar in tercorrelação e que somente o uso de um sistema de fator oblíquo permitirá a emergência de um quadro sem distorções O uso de fatores oblíquos tem uma implicação adicional Se obtivermos fatores intercorrelacionados poderemos reaplicar os mesmos métodos fatoriais analíticos às correlações entre os fatores produzindo os chamados fatores de segunda ordem Por exemplo o fatoramento de testes de capacidade freqüentemente leva a fatores de primeira ordem como fluência ver bal capacidade numérica visualização espacial e assim por diante que tendem a ser interrelaciona dos Podemos então prosseguir para o fatoramento das correlações entre estes fatores de primeira ordem talvez encontrando um único fator de segunda ordem de inteligência geral ou talvez fatores verbais e nãoverbais amplos ou algo parecido Como em qualquer outro procedimento pode haver abuso da análise fatorial e os melhores investi gadores nesta área enfatizam o fato de que não existe nenhum substituto para as boas idéias ou o conheci mento detalhado dos fenômenos que estão sendo in vestigados Assim Thurstone 1948 ao discutir o tra balho de seu laboratório psicométrico afirma Nós passamos mais tempo planejando os testes experimentais para o estudo de um fator do que em todo o trabalho computacional incluindo as correlações o fatoramento e a análise da estrutu ra Se temos várias hipóteses sobre fatores postu lados planejamos e inventamos novos testes que podem ser crucialmente diferenciadores para as várias hipóteses Esta é uma tarefa inteiramente psicológica sem cálculos Ela exige tanto insight psicológico quanto podemos reunir entre alunos e professores Freqüentemente achamos que nos sos palpites foram errados mas ocasionalmente os resultados são surpreendentemente encoraja dores Eu menciono este aspecto do trabalho fa torial na esperança de neutralizar a impressão geral de que a análise fatorial só se preocupa com álgebra e estatística Ambas devem ser nossas ser vas na investigação das idéias psicológicas Se não temos nenhuma idéia psicológica provavelmen te não descobriremos nada de interessante por que mesmo que os resultados fatoriais estejam claros e nítidos a interpretação deve ser tão sub jetiva quanto em qualquer outro trabalho cientí fico p 402 Para uma discussão completa da análise fatorial o leitor deve procurar Carroll 1993 Comrey 1973 Harman 1967 e Nesselroade e Cattell 1988 Para informações sobre métodos fatoriais analíticos confir matórios mais recentes o leitor pode consultar McAr dle 1996 e Nesselroade e Baltes 1984 Basta da lógica da análise fatorial Para uma ilus tração importante das diversas maneiras pelas quais este método pode ser aplicado à análise teórica e empírica da personalidade vamos examinar a teoria da personalidade de Raymond B Cattell HISTÓRIA PESSOAL Em Raymond Cattell encontramos um investigador cujo profundo interesse pelos métodos quantitativos não limitou o espectro de seu interesse pelas informa ções e pelos problemas psicológicos Para ele a análi se fatorial é um instrumento para esclarecer uma va riedade de problemas todos os quais foram ordenados dentro de uma estrutura sistemática Sua teoria re presenta uma importante tentativa de reunir e orga nizar os achados de estudos fatoriais analíticos da personalidade Ele presta certa atenção aos achados dos investigadores que usam outros métodos de estu do embora a essência de sua posição esteja baseada TEORIAS DA PERSONALIDADE 257 nos resultados da análise fatorial pois é aqui que ele deriva as variáveis que considera mais importantes para explicar o comportamento humano Ele é seme lhante a Gordon Allport no sentido de que a sua posi ção pode corretamente ser chamada de uma teoria do traço e a Kurt Lewin em sua capacidade de tra duzir idéias psicológicas em formas matemáticas ex plícitas Todavia entre os teóricos discutidos neste volume talvez o que mais se assemelhe a Cattell seja Henry Murray Ambos têm uma visão ampla da perso nalidade e desenvolveram sistemas teóricos grandes e inclusivos que incorporam muitas classes diferen tes de variáveis Ambos buscam um mapeamento empírico de amplas extensões do domínio da perso nalidade e isto em ambos os casos resultou em um grande número de constructos que têm vínculos ope racionais com dados e muitas vezes nomes estranhos Além disso ambos os teóricos colocam grande ênfase nos constructos motivacionais necessidades para Murray e traços dinâmicos para Cattell Ambos empregam substancialmente formulações psicanalíti cas e ambos dão um status teórico sistemático ao ambiente bem como à pessoa Uma diferença notá vel entre eles é claro é o profundo comprometimen to de Cattell com uma metodologia estatística especí fica a análise fatorial Raymond Bernard Cattell nasceu em Staffordshi re Inglaterra em 1905 e sua formação foi toda na Inglaterra Ele recebeu seu BSc em química da Uni versidade de Londres em 1924 e seu PhD em psico logia sob a orientação de Spearman desta mesma instituição em 1929 Foi palestrante no University College of the South West Exeter Inglaterra de 1928 a 1931 e diretor da City Psychological Clinic em Lei cester Inglaterra de 1932 a 1937 Esta combinação incomum de um posto acadêmico seguido imediata mente por uma extensiva experiência em um ambien te clínico sem dúvida explica parcialmente a subse qüente amplitude de interesse de Cattell Em 1937 ele recebeu um DSc da Universidade de Londres por suas contribuições para a pesquisa da personalidade Ele trabalhou como pesquisadorassociado com E L Thorndike no Teachers College Universidade de Co lúmbia durante o período de 19371938 e depois foi o professor de psicologia G Stanley Hall na Universi dade de Clark até ir para a Universidade de Harvard como palestrante em 1941 Em 1944 ele aceitou uma posição na Universidade de Illinois onde permane ceu até a sua aposentadoria em 1973 como professor de pesquisa em psicologia e diretor do Laboratory of Personality and Group Behavior Research Em 1973 tornouse professorvisitante na Universidade do Ha vaí Atualmente ele é professor de psicologia no Fo rest Institute of Professional Psychology em Honolu lu Havaí Em 1953 Cattell recebeu o prêmio WennerGren da Academia de Ciência de Nova York por seu trabalho sobre a psicologia do pesquisador Ele foi um dos fundadores da Society for Multivariate Experimental Psychology em 1960 e seu primeiro presidente Como todos os outros teóricos que enfatizam o método da análise fatorial Cattell deve muito ao tra balho pioneiro de Spearman e aos amplos progressos de Thurstone Suas formulações teóricas estão estrei tamente relacionadas às de McDougall cujo interesse em deslindar as dimensões subjacentes do comporta mento e ênfase no sentimento em relação ao self são vistos em roupagem moderna nos textos de Cattell Os detalhes de muitas das idéias teóricas de Cattell especialmente as relacionadas ao desenvolvimento estão intimamente ligados às formulações de Freud e às de autores psicanalíticos que vieram depois Durante um período de quarenta anos Cattell publicou um número surpreendente de livros e arti gos que não apenas cobrem o campo da pesquisa da personalidade e mensuração mental como tratam tam bém de tópicos dos campos tradicionais da psicologia experimental psicologia social e genética humana A simples estatística desta produção é assombrosa Cat tell publicou mais de 400 artigos de pesquisa cerca de 40 livros e mais de uma dúzia de testes diferentes para medir a personalidade a inteligência e a psico patologia Desta riqueza de publicações nós podemos seleci onar algumas que constituem marcos importantes no tratamento sistemático dado por Cattell à personali dade O primeiro destes volumes intitulase Descripti on and measurement of personality 1946 e tenta apre sentar de um ponto de vista secional cruzado fundamentos descritivos para uma teoria adequada da personalidade O segundo se chama Personality A systematic theoretical and factual study 1950 e ten ta desenvolver os fundamentos estabelecidos no livro anterior apresentando uma visão sintética do impor tante fenômeno da personalidade incluindo as pers pectivas desenvolvimental e secional cruzada O ter 258 HALL LINDZEY CAMPBELL ceiro é Personality and motivation structure and mea surement 1957 Um relato semipopular de sua teo ria e pesquisa na área da personalidade está incluído em The scientific analysis of personality 1966a que foi atualizado com Paul Kline e publicado em 1977 como The scientific analysis of personality and motiva tion Este livro juntamente com Human motivation and the dynamic calculus Cattell 1985 e o recente capítulo de Cattell no Handbook of personality Catte ll 1990 de Pervin oferece o melhor sumário atual da posição de Cattell Mas devemos alertar o leitor de que estes últimos volumes contêm materiais difíceis As imensas contribuições de Cattell à teoria multiva riada à mensuração e à pesquisa estão resumidas em The handbook of multivariate experimental psychology Nesselroade Cattell 1988 Cattell resumiu sua abordagem à teoria da aprendizagem em Personality and learning theory que apareceu em dois volumes The structure of personality in its environment 1979 e A systems theory of maturation and structured lear ning 1980 Outros volumes notáveis incluem Perso nality and mood by questionnaire Cattell 1973a Motivation and dynamic structure Cattell Child 1975 The inheritance of personality and ability Cat tell 1982 e Structured personalitylearning theory Cattell 1983 A produtividade de Cattell como es tudioso foi extraordinária Em anos recentes Cattell 1972 1987 propôs uma nova moralidade baseada no conhecimento e na investigação científica Esta abordagem chamada de Beyondism é uma combina ção de ética religião e organização social Os testes psicológicos de Cattell incluem The Cul ture Free Test of Intelligence 1944 The OA Personali ty Test Battery 1954 The Clinical Analysis Question naire Cattell 1973a The Motivation Analysis Test Cattell Horn Sweney 1970 e o Sixteen Personali ty Factor Questionnaire Cattell Saunders Stice 1950 ver também Cattell Eber Tatsuoka 1970 A NATUREZA DA PERSONALIDADE UMA ESTRUTURA DE TRAÇOS O sistema de constructos proposto por Cattell está entre os mais complexos de todas as teorias que exa minaremos Embora estes conceitos derivem seu tom característico e em muitos casos sua definição empí rica de estudos que empregam a análise fatorial al guns deles representam derivações de achados expe rimentais ou simples estudos observacionais do comportamento Mas esta situação é considerada por Cattell como apenas um expediente como revela a seguinte citação O nosso conhecimento da psicologia dinâmica decorre amplamente de métodos clínicos e natu ralistas e secundariamente de experimentos con trolados Achados dos primeiros e até dos últi mos estão no processo de ser colocados sobre uma base mais sólida pela aplicação de métodos esta tísticos mais refinados Em particular os experi mentos e as conclusões clínicas precisam ser re fundamentados em concepções reais daqueles traços notavelmente pulsões que são realmente unitários e isso requer fundamentos da pesquisa fatorial analítica 1950 p 175 Cattell acha que a tarefa detalhada de definir a personalidade deve esperar uma especificação com pleta dos conceitos que o teórico planeja empregar em seu estudo do comportamento Assim ele delibe radamente apresenta apenas uma definição bem ge ral A personalidade é aquilo que permite uma predi ção do que uma pessoa fará em uma dada situa ção A meta da pesquisa psicológica da personali dade é portanto estabelecer leis sobre o que diferentes pessoas farão em todos os tipos de si tuações ambientais sociais e gerais A persona lidade está relacionada a todos os comporta mentos do indivíduo tanto os manifestos quanto os que acontecem sob a pele 1950 p 23 Está claro que esta ênfase no estudo da personalidade incluindo todos os comportamentos não é um ata que à abstração ou segmentação necessárias que ocor rem no estudo empírico habitual É simplesmente um lembrete de que o significado de pequenos segmen tos de comportamento só pode ser inteiramente en tendido quando visto dentro da estrutura mais ampla do organismo inteiro em funcionamento Cattell vê a personalidade como uma estrutura complexa e diferenciada de traços com sua motiva ção grandemente dependente de um subconjunto des tes os chamados traços dinâmicos Quando tivermos TEORIAS DA PERSONALIDADE 259 examinado os variados conceitos de traço e certas noções relacionadas como a equação de especificação e a treliça dinâmica teremos em entendimento bem amplo de sua concepção da personalidade Uma dis cussão de seu tratamento do desenvolvimento da per sonalidade uma consideração de suas idéias sobre o contexto social da personalidade e uma breve olhada em alguns de seus métodos de pesquisa característi cos completarão o quadro Na conclusão desta discus são o leitor apreciará o significado da máxima de Cattell A ciência requer mensuração Traços O traço é de longe o conceito mais importante de Cat tell De fato os conceitos adicionais que examinare mos são em grande parte vistos como casos especiais deste termo geral Exceto talvez por Gordon Allport Cattell examinou este conceito e sua relação com ou tras variáveis psicológicas mais detalhadamente do que qualquer outro teórico Para ele um traço é uma es trutura mental uma inferência feita a partir do com portamento observado para explicar a regularidade ou a consistência neste comportamento Central no ponto de vista de Cattell é a distinção entre traços de superfície que representam agrupamen tos de variáveis manifestas que parecem ocorrer jun tas e traços de origem que representam variáveis sub jacentes que entram na determinação de múltiplas manifestações de superfície Assim se encontramos alguns eventos comportamentais que parecem ocor rer juntos podemos preferir considerálos como uma única variável Em um ambiente médico isso seria referido como uma síndrome mas aqui chamamos de traço de superfície Os traços de origem por outro lado só são identificados por meio da análise fatorial que permite ao investigador estimar as variáveis ou os fatores que são a base deste comportamento exte rior ou de superfície É evidente que Cattell considera os traços de ori gem mais importantes do que os traços de superfície Isso não só porque os traços de origem prometem maior economia de descrição já que presumivelmen te existem menos deles como especialmente porque os traços de origem prometem ser as influências estruturais reais por trás da personalidade neces sários para lidarmos com problemas desenvolvi mentais psicossomáticos e problemas de integra ção dinâmica como a pesquisa está mostrando atualmente esses traços de origem correspondem às influências unitárias reais fatores fisiológicos temperamentais graus de integração dinâmica exposição a instituições sociais sobre os quais muito mais pode ser descoberto depois que forem definidos 1950 p 27 Os traços de superfície são produzidos pela inte ração dos traços de origem e geralmente podemos esperar que sejam menos estáveis que os fatores Cat tell admite que os traços de superfície tendem a pare cer mais válidos e significativos para o observador comum do que os traços de origem porque corres pondem aos tipos de generalização que podem ser feitos com base na simples observação Entretanto no final das contas são os traços de origem que se mostram mais úteis para explicar o comportamento Qualquer traço sozinho certamente pode repre sentar o resultado da operação de fatores ambientais de fatores de hereditariedade ou de alguma mistura dos dois Cattell sugere que embora os traços de su perfície representem o resultado de uma mistura des tes fatores no mínimo é possível que os traços de ori gem possam ser divididos entre aqueles que refletem fatores de hereditariedade ou mais amplamente fa tores constitucionais e aqueles derivados de fatores ambientais Os traços resultantes da operação de con dições ambientais são chamados de traços de molde ambiental os que refletem fatores de hereditariedade são chamados de traços constitucionais Se os traços de origem encontrados pela fatora ção são influências puras independentes como sugerem as evidências presentes um traço de ori gem não poderia deverse tanto à hereditarieda de quanto ao ambiente mas decorreria de um ou de outro Assim os padrões decorrentes de condições ou influências internas podem ser cha mados de traços de origem constitucionais O ter mo inato é evitado porque tudo o que sabemos é que a origem é fisiológica e está dentro do orga nismo o que significará inato apenas em certa fra ção dos casos Por outro lado um padrão poderia ser fixado na personalidade por alguma coisa ex terna a ela Tais traços de origem aparecendo como fatores podem ser chamados de traços de molde ambiental porque decorrem do efeito mo 260 HALL LINDZEY CAMPBELL delador das instituições sociais e das realidades físicas que constituem o padrão cultural 1950 p 3334 Os traços também podem ser divididos em ter mos da modalidade por meio da qual se expressam Se eles têm relação com acionar o indivíduo rumo a alguma meta são traços dinâmicos Se têm relação com a efetividade com a qual o indivíduo atinge a meta são traços de capacidade Ou podem ter relação am plamente com aspectos constitucionais da resposta como velocidade energia ou reatividade emocional e neste caso são referidos como traços de temperamen to Em seus textos mais recentes além destas modali dades importantes dos traços Cattell tem enfatizado muito estruturas mais transitórias ou flutuantes den tro da personalidade incluindo estados e papéis Ao discutir as idéias de Cattell sobre a estrutura da per sonalidade achamos que convém discutir primeiro os traços de capacidade e temperamento relativamente estáveis e duradouros e depois os traços dinâmicos que tendem a ser intermediários em termos de estabi lidade e finalmente os papéis e estados que mudam mais Traços de Capacidade e de Temperamento Na visão de Cattell existem três fontes mais impor tantes de dados sobre a personalidade os registros de vida ou dadosL L de life vida o questionário de autoavaliação ou dadosQ e o teste objetivo ou dadosT Os primeiros os dadosL podem em princí pio envolver registros reais do comportamento da pessoa na sociedade tais como registros escolares e registros de tribunais embora na prática Cattell habi tualmente os substituísse por avaliações de outras pessoas que conheciam o indivíduo em ambientes da vida real A autoavaliação dadosQ em contraste envolve as declarações da própria pessoa sobre seu comportamento e assim pode oferecer um interior mental para os registros externos dos dadosL O tes te objetivo dadosT baseiase em uma terceira pos sibilidade a criação de situações especiais em que o comportamento da pessoa pode ser objetivamente pontuado Essas situações podem ser tarefas de lápis e papel ou podem envolver vários tipos de aparelhos Cattell e seus associados foram extremamente férteis ao planejar e adaptar esses testes um compêndio Cat tell Warburton 1967 lista mais de 400 deles Cattell tentou localizar traços gerais de persona lidade realizando estudos fatoriais analíticos separa dos e usando as três fontes de dados recémcitados partindo da suposição de que se os mesmos traços de origem emergissem de todos os três isso constituiria uma forte evidência presuntiva de que os traços de origem são unidades funcionais verdadeiras e não meros artifícios do método O resultado de umas vin te ou trinta análises fatoriais realizadas por Cattell e seus associados levou à conclusão de que uma estru tura de fator semelhante emerge dos dados de avalia ção do comportamento e dos dados de questionário mas fatores muito diferentes tendem a emergir dos dados do teste objetivo As populações amostradas nestes estudos incluíram vários grupos de idade adul tos adolescentes e crianças e vários países Estados Unidos GrãBretanha Austrália Nova Zelândia Fran ça Itália Alemanha México Brasil Argentina Índia e Japão de modo que presumivelmente os fatores têm certa generalidade Conforme discutimos mais de talhadamente adiante outros investigadores usando procedimentos um pouco diferentes encontraram con juntos diferentes de fatores replicáveis no domínio da personalidade Comrey Jamison 1966 Guilford Zimmerman 1956 Norman 1963 mas mesmo que os fatores de Cattell constituam apenas alguns con juntos de dimensões ao longo das quais a personali dade pode ser descrita eles são pelo menos um con junto em torno do qual foram reunidas informações empíricas consideráveis Um determinante crítico do resultado de uma análise fatorial é o ponto de partida as variáveis de superfície com as quais começamos e Cattell enfati zou consideravelmente a importância de amostrar adequadamente toda a esfera da personalidade no iní cio da pesquisa exploratória Cattell começou seu es tudo da avaliação do comportamento com a lista de Allport e Odbert 1936 com cerca de 4500 nomes de traços de um dicionário completo Estes foram con densados em 171 agrupandose sinônimos e elimi nandose termos raros e metafóricos Os nomes res tantes dos traços foram intercorrelacionados e TEORIAS DA PERSONALIDADE 261 novamente reduzidos por meio de procedimentos de agrupamento empírico produzindo trinta e cinco tra ços de superfície Cattell subseqüentemente acrescen tou outros traços de superfície com base em sua lei tura da literatura experimental e do anormal em um total de 46 Cattell Kline 1977 Cattell referiuse a estes 46 traços de superfície como a esferapadrão reduzida da personalidade ver Cattell 1957 p 813 817 para uma lista As avaliações dos iguais nesses traços forneceram a base para a sua análise fatorial inicial dos dadosL Por meio desta análise Cattell iden tificou 15 fatores que interpretou como os traços de origem dos dadosL da personalidade Usando esses fatores como modelos Cattell escreveu e selecionou milhares de perguntas destinadas a avaliar a persona lidade Por meio de uma série de análises fatoriais de autorelatos dos sujeitos nestes itens ele os reduziu a 16 fatores que interpretou como os traços de origem dos dadosQ da personalidade Cattell determinou que 12 dos 16 correspondiam a 12 dos 15 traços de ori gem dos dadosL Cattell considerou esta como uma razoável correspondência entre a estrutura de fator e portanto a estrutura da personalidade nos domínios de dados L e Q A metade superior da Tabela 81 ver p 262 re sume estes 16 traços que são medidos pelo teste de personalidade mais popular de Cattell o Sixteen Per sonality Factor Test 16 PF Os traços rotulados Q1 Q4 são os únicos exclusivos dos dadosQ e os primei ros 12 são comuns a L e Q Em trabalhos posteriores Cattell identificou 7 traços de origem adicionais e estes estão listados na metade inferior da Tabela 81 Qua tro destes novos fatores são comuns aos dados L e Q e são designados como D J K e P para preencher os pontos alfabéticos ausentes na lista original dos 16 Os três restantes Q5 Q6 e Q7 surgem apenas com da dosQ Muitos dos títulos de fator podemos notar ilustram a predileção característica de Cattell por inventar novos termos Alguns dos títulos de fator são essencialmente descritivos outros refletem as hipóteses de Cattell refe rentes à origem ou à natureza subjacente do fator Par mia por exemplo significa imunidade parassimpáti ca Premsia é uma contração de sensibilidade emocional protegida protected emotional sensitivity autia sugere uma qualidade autista ou autoabsorvi da em pessoas em que se destaca este fator e assim por diante Tabela 81 Em qualquer caso Cattell vê os nomes dos fatores como aproximados e experimen tais e na prática costuma referirse aos fatores por meio de letras ou números de identificação Além des tes vinte e três fatores Cattell propõe doze fatores do domínio da psicopatologia Cattell 1973a Esses fatores de avaliação e questionário enqua dramse principalmente na classe dos traços de tem peramento embora B inteligência seja classificado como um fator de capacidade Os fatores derivados de testes objetivos difundemse mais amplamente atra vés dos domínios de capacidade temperamento e di nâmico Os vinte e um traços de origem dos dadosT identificados pela análise de fator dos escores em muitos testes objetivos de personalidade aparecem na Tabela 82 ver p 264 Um exemplo de fator de teste objetivo na esfera do temperamento é apresentado na Tabela 83 ver p 264 Como é característico dos fatores de dadosT de Cattell surge junto uma curio sa série de medidas embora certa coerência esteja evidente Os temas de emocionalidade e conformida de parecem atravessar muitas das medidas na Tabela 83 Cattell relatou que o fator apresenta boa correla ção com as avaliações psiquiátricas de ansiedade e com a Taylor Manifest Anxiety Scale Cattell Scheier 1961 Este fator específico é interessante também por outra razão Podemos lembrar que os fatores encon trados por Cattell nos dados L e Q tendiam a ser ge ralmente semelhantes mas que os fatores dos dados T de um modo geral não combinavam com eles Mas acontece que alguns dos fatores dos dadosT pareci am corresponder a fatores de segunda ordem em da dos de questionário e de avaliação O fator de dados T recémdescrito parece alinharse muito bem com um fator de temperamento de segunda ordem também chamado de ansiedade que carrega os fatores de pri meira ordem C baixa força de ego O propensão à culpa H timidez e L desconfiança Outro caso des tes de correspondência envolve um fator de dados de teste que carrega medidas de fluência confiança e inexatidão e que mostra grande concordância com um fator de segunda ordem de questionário e avalia ção extroversãointroversão ou como Cattell prefe re exviainvia Esse fator de segunda ordem carrega 262 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 81 Resumo dos Principais Traços de Origem de Cattell Índice de Traços de Origem Descrição de Escores Baixos Descrição de Escores Altos A Sizia Reservado imparcial crítico distante rígido Affectia expansivo caloroso tranqüilo participante B Pouca inteligência obtuso Grande inteligência brilhante C Menor força de ego à mercê dos sentimentos Maior força de ego emocionalmente estável emocionalmente menos estável perturbase maduro enfrenta a realidade calmo facilmente instável E Submissão humilde brando facilmente levado Dominação assertivo agressivo competitivo dócil amoldável obstinado F Desurgency sóbrio taciturno sério Surgency despreocupado alegre entusiástico G Menor força de superego oportunista Maior força de superego consciencioso desconsidera regras persistente moralista sério H Threctia tímido acanhado sensível a ameaças Parmia aventureiro desinibido socialmente ousado I Harria obstinado autoconfiante realista Premsia terno sensível apegado superprotegido L Alaxia confiante aceita condições Protension desconfiado difícil de enganar M Praxernia prático preocupações sensatas Autia imaginativo boêmio desligado N Simplicidade direto despretencioso genuíno Esperteza astuto polido socialmente consciente mas socialmente desajeitado O Adequação tranqüila autoconfiante plácido Propensão à culpa apreensivo autoreprovador seguro complacente sereno inseguro preocupado perturbado Q1 Temperamento conservador conservador Radicalismo experimentador liberal respeita idéias tradicionais livrepensador Q2 Aderência ao grupo dependente do grupo Autosuficiência autosuficiente engenhoso um membro e seguidor fiel prefere as próprias decisões Q3 Pouca integração de autosentimento Grande força de autosentimento controlado autoconflito indisciplinado indulgente exerce sua vontade socialmente exato compulsivo segue os próprios impulsos desligado das segue a autoimagem regras sociais Q4 Baixa tensão érgica relaxado tranqüilo Alta tensão érgica tenso frustrado pressionado letárgico nãofrustrado sossegado esgotado D Excitabilidade insegura Eu fico com a cabeça transbordando de idéias de coisas que quero fazer a seguir a Sempre b Freqüentemente c Praticamente nunca As pessoas que eu quero nunca parecem muito interessadas em mim a Verdadeiro b Variável c Falso J Coasthenia vs Zeppia Eu gosto de reunir um grupo e liderálo em alguma atividade a Verdadeiro b Variável c Falso As pessoas dizem que eu a Costumo ser uma matraca b Intermediário c Sou quieto e difícil de compreender K Socialização madura vs rusticidade Eu prefiro peças de teatro que sejam a Emocionantes b Intermediário c Sobre temas socialmente importantes Quando eu começo uma nova atividade gosto de a Aprender à medida que avanço b Intermediário c Ler um livro sobre o assunto escrito por um especialista continua TEORIAS DA PERSONALIDADE 263 TABELA 81 Continuação P Despreocupação alegre Eu raramente deixo minha mente vagar por fantasias e fazdeconta a Verdadeiro b Variável c Falso Eu adoro falar com meus amigos sobre a Eventos locais b Intermediário c Grandes artistas e quadros Q5 Dedicação grupal com inadequação percebida Eu gosto de projetos em que possa empregar todas as minhas energias a Sim b Talvez c Não Em uma situação em que sou subitamente exigido eu me sinto a Mal b Intermediário c Confiante na minha capacidade de manejála Q6 Bravata social Sou bom em inventar uma boa justificativa quando pareço ter agido mal a Sim b Talvez c Não Nunca fui considerado uma pessoa impetuosa e ousada a Verdadeiro b Variável c Falso Q7 Autoexpressão explícita Não fico perturbado ao expressar minhas idéias em encontros públicos a Verdadeiro b Variável c Falso Em muitas atividades que realizo parece que não sei bem o que quero fazer a seguir a Sim b Talvez c Não Fonte Reimpressa com a permissão de Cattell Kline 1977 p 342344 F despreocupado A expansivo e H aventureiro Cattell identificou oito fatores de segunda ordem usan do os dezesseis traços originais e um total de doze usando o conjunto expandido de vinte e três traços de origem Assim Cattell sugere que parte da falta de corres pondência entre as fontes de dados pode significar apenas que as diferentes abordagens de mensuração estão amostrando dados em níveis bem diferentes de generalidade de modo que não encontramos nenhu ma correspondência umaum de fatores e sim um grau bastante modesto de alinhamento entre os ní veis De qualquer forma está claro que a esperança inicial de Cattell de encontrar estruturas idênticas de fator em todas as três fontes de dados foi realizada apenas parcialmente A Equação de Especificação Uma vez que podemos descrever a personalidade em termos de capacidade temperamento e outros tipos de traço como podemos reunir estas informações em um caso específico para predizer a resposta de um indivíduo em uma determinada situação Cattell su gere que podemos fazer isso por meio de uma equa ção de especificação na forma R S1 T1 S2 T2 S3 T3 Sn Tn Isso significa simplesmente que a resposta especí fica pode ser predita a partir das características da pessoa específica os traços T1 a Tn cada uma pon derada por sua relevância na presente situação os índices situacionais S1 a Sn Se um determinado traço é altamente relevante para uma determinada respos ta o S correspondente será grande se o traço é total mente irrelevante o S será zero se o traço diminui ou inibe a resposta o sinal de S será negativo A forma da equação implica que cada traço tem um efeito inde pendente e aditivo sobre a resposta O modelo é ex tremamente simples Cattell não nega que talvez se jam necessários modelos mais elaborados ele apenas sugere que os modelos lineares simples geralmente fornecem aproximações muito boas em relação aos mais complexos e proporcionam um lugar lógico por onde começar Às vezes se diz que o analista fatorial reduz as interações da personalidade a interações aditivas 264 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 82 Principais Fatores de Teste de Personalidade Objetivo Títulos Breves Combinados para Uso em Sumário UI 16 Ego narcisista vs nãoassertividade disciplinada segura UI 17 Inibiçãotimidez vs confiança UI 18 Esperteza maníaca vs passividade UI 19 Independência vs submissão UI 20 Comention conformidade gregária vs objetividade UI 21 Exuberância vs refreamento UI 22 Cortetia prontidão cortical vs pathemia UI 23 Mobilização de energia vs regressão UI 24 Ansiedade vs ajustamento UI 25 Realismo vs tensinflexia tendência psicótica UI 26 Autosentimento narcisista vs despretensão UI 27 Apatia cética vs envolvimento UI 28 Astenia de superego vs segurança bruta UI 29 Responsividade sincera vs falta de vontade UI 30 Impassibilidade vs dissofrustance UI 31 Prudência vs variabilidade impulsiva UI 32 Exvia extroversão vs invia introversão UI 33 Desânimo pessimismo vs atitude alegre UI 34 Onconautia caráter nãoprático vs caráter prático UI 35 Stolparsonia sonolência vs excitação UI 36 Autosentimento vs autosentimento frágil Fonte Reimpressa com a permissão de Cattell Kline p 347 UI Universal Index Índice Universal TABELA 83 Um Típico Fator de DadosT UI 24 Ansiedade Medidas Carregadas Disposição a admitir fraquezas comuns Tendência a concordar Irritabilidade Modéstia em desempenho não experimentado Grande severidade crítica Poucas preferências de leitura questionáveis Grande emocionalidade nos comentários Muitos sintomas de tensão de ansiedade verificados Fonte Baseada em Hundleby Pawlik e Cattell 1965 UI Universal Index quando de fato elas podem ser multiplicativas ou catalisadoras em certo sentido Não podemos du vidar que provavelmente existem casos em que um fator não apenas se soma a outro como facili ta imensamente o segundo fator Relacionada a isso está a suposição geral de linearidade ao passo que novamente é provável que em alguns casos a relação do fator com o desempenho seja curvilinear Devidamente consideradas estas li mitações são estímulos para novas investigações e não críticas ao método fatorial analítico como tal Precisamos aprender a caminhar antes de cor rer O fato é que o modelo fatorial analítico em sua presente forma simples certamente parece pro porcionar melhores predições e maior constância de análise do que qualquer outro método experi TEORIAS DA PERSONALIDADE 265 mentado À medida que progredir ele sem dúvi da será modificado para atender às necessidades especiais das possibilidades recémindicadas Cattell 1956 p 104 A equação de especificação implica tanto uma re presentação multidimensional da pessoa quanto da situação psicológica A pessoa é descrita por seus es cores em um conjunto de traços um perfil de traços A situação psicológica é descrita por um conjunto de índices de situação como um outro perfil Colocados juntos eles fazem a predição Cattell salienta que a equação de especificação pode ser considerada como uma versão multidimensional da formulação de Kurt Lewin do comportamento como uma função da pes soa e do ambiente C f P ME Na equação de espe cificação a pessoa P é diferenciada em uma série de Ts e o ambiente psicológico ME em uma série de ss A formulação da equação de especificação pres tase bem ao uso aplicado Assim em uma situação de emprego podemos manter um arquivo de funções profissionais descritas como perfis de ss Um candi dato à função poderia então ser testado e descrito como um perfil de Ts que pode por sua vez ser com binado com os vários conjuntos de ss para encontrar mos a colocação profissional em que este indivíduo provavelmente terá o melhor desempenho Ou em um ambiente acadêmico poderia ser desenvolvida uma equação de especificação para predizer a reali zação acadêmica a partir de variáveis de capacidade e personalidade compare com Cattell Butcher 1968 Traços Dinâmicos São de três tipos os traços dinâmicos importantes no sistema de Cattell atitudes ergs e sentimentos Os ergs correspondem aproximadamente a pulsões com base biológica Os sentimentos focalizam um objeto social como a nossa escola nossa mãe ou nosso país Eles são adquiridos por meio de aprendizagem e ser vem como submetas a caminho da meta érgica final Cattell 1985 p 14 As atitudes são traços dinâmi cos de superfície eles são as manifestações ou combi nações específicas de motivos subjacentes Nós agora examinaremos esses três tipos de traços dinâmicos seu interrelacionamento na treliça dinâmica e seu papel no conflito e no ajustamento Atitudes Uma atitude para Cattell é a variável dinâmica ma nifesta a expressão observável de uma estrutura di nâmica subjacente a partir da qual inferimos os ergs os sentimentos e seus interrelacionamentos Uma ati tude de um determinado indivíduo em determinada situação é um interesse de certa intensidade em al gum curso de ação em relação a algum objeto Assim a atitude de um jovem Eu quero muito casar com uma mulher indica uma intensidade de interesse quero muito em um curso de ação casar em relação a um objeto uma mulher A atitude não precisa ser declarada verbalmente na verdade Cat tell preferiria medir a força do interesse do jovem por meio de vários instrumentos diretos e indiretos Es tes poderiam incluir o aumento de sua pressão arteri al diante da foto de uma noiva sua capacidade de lembrar itens de uma lista de boas e más conseqüên cias do casamento suas informações inadequadas so bre as perspectivas matrimoniais do homem na nossa sociedade e assim por diante De fato Cattell e seus colaboradores intercorrelacionaram cerca de sessen ta ou setenta instrumentos diferentes para medir a força de uma atitude em uma série de estudos que buscavam desenvolver uma bateria de testes eficiente para medir componentes de atitudes conscientes e in conscientes ver p ex Cattell Radcliffe Sweney 1963 Cinco fatores de componentes de atitudes de signados como Alfa até Epsilon foram descritos e es peculativamente relacionados a conceitos psicanalíti cos id força de ego superego componente fisiológico e conflito em seu trabalho posterior Cat tell 1985 identificou dois componentes adicionais que não descreveremos aqui Na prática normalmen te são medidos dois componentes de segunda ordem da força da atitude um relacionado aos aspectos re lativamente conscientes e integrados de uma atitude refletindo componentes de ego e superego e um re lacionado aos aspectos inconscientes e nãointegrados refletindo os outros componentes Os aspectos inte grados representam aquelas partes de um interesse que foram articuladas e realizadas mas os aspectos nãointegrados jamais entraram em acordo com a re alidade e se manifestam na fantasia e na fisiologia Os aspectos integrados e nãointegrados de uma atitude podem não ter correlação entre si A discrepância en tre os componentes integrados e nãointegrados é uma 266 HALL LINDZEY CAMPBELL medida do desajustamento ou conflito em um indiví duo As atitudes é claro são tão numerosas quando nos propusermos a especificar Em sua pesquisa Cat tell trabalhou principalmente com uma amostra de cerca de cinqüenta atitudes e interesses variados Uma possível limitação à generalidade de sua pesquisa nesta área está no fato de grande parte dela basearse nessa amostra de atitudes selecionada um tanto arbitraria mente Ergs Nos termos mais simples um erg é um traço de ori gem dinâmico constitucional É este conceito que permite a Cattell representar adequadamente a im portância dos impulsores do comportamento inata mente determinados mas modificáveis Sua grande ênfase na motivação érgica reflete sua convicção de que os determinantes hereditários do comportamen to foram subestimados pelos psicólogos americanos contemporâneos Ele define um erg como uma disposição psicofísica inata que permite ao seu possuidor reagir atenção reconhecimento a certas classes de objetos mais facilmente que a outras a experienciar uma emoção específica em relação a elas e a iniciar um curso de ação que cessa mais completamente em uma atividade es pecífica para uma meta do que em qualquer ou tra O padrão também inclui caminhos preferidos de subsidiação do comportamento até a meta pre ferida 1950 p 199 Como Cattell indica esta definição tem quatro partes importantes que se referem à resposta percep tual à resposta emocional a atos instrumentais que levam à meta e à satisfação da meta em si Cattell considera que dez ergs foram razoavelmen te bemestabelecidos por seus pesquisadores fatoriais analíticos Cattell Child 1975 Estes ergs são fome sexo gregariedade protecionismo parental curiosi dade fuga medo pugnacidade belicosidade aqui sitividade autoasserção e sexo narcisista Este últi mo deriva seu nome de uma noção psicanalítica o conteúdo do fator tem a ver com autoindulgência geral fumar beber entregarse à preguiça e assim por diante Sentimentos Um sentimento é um traço de origem dinâmico mol dado pelo ambiente Assim ele é paralelo ao erg ex ceto por ser o resultado de fatores experienciais ou socioculturais não de determinantes constitucionais Nas palavras de Cattell os sentimentos são impor tantes estruturas adquiridas de traços dinâmicos que fazem com que seu possuidor preste atenção a certos objetos ou classes de objetos e sinta e reaja de certa maneira em relação a eles 1950 p 161 Os sentimentos na visão de Cattell tendem a or ganizarse em torno de objetos culturais importantes como instituições sociais ou pessoas em relação às quais surgem elaboradas constelações de atitudes durante a experiência de vida do indivíduo Entre os sentimentos encontrados nas pesquisas de Cattell e seus associados com populações adultas jovens es pecialmente do sexo masculino estão a carreira ou profissão os esportes e os jogos os interesses mecâ nicos a religião os pais o cônjuge ou o namorado e o self ver Cattell Kline 1977 p 181 para uma lista de vinte e sete sentimentos hipotetizados O úl timo deles o autosentimento ou sentimento do self é um dos mais estáveis e mais consistentemente relata dos em diferentes estudos e como veremos desem penha um papel particularmente importante na teo rização de Cattell A Treliça Dinâmica Os vários traços dinâmicos estão interrelacionados em um padrão de subsidiação Cattell tomou empres tado de Murray este termo Isso significa que certos elementos são subsidiários a outros ou servem como meios para seus fins Em geral as atitudes são subsi diárias aos sentimentos e os sentimentos são subsidi ários aos ergs que são as forças impulsionadoras bá sicas na personalidade Estes vários relacionamentos podem ser expressos na treliça dinâmica representa da pictoricamente na Figura 81 Esta treliça repre senta uma porção da estrutura motivacional de um homem americano hipotético À direita do diagrama estão os impulsos biológicos básicos os ergs No meio do diagrama estão as estruturas de sentimento cada uma subsidiária a vários ergs Assim o sentimento em relação à esposa baseiase na expressão dos ergs de TEORIAS DA PERSONALIDADE 267 sexo gregariedade proteção e autoasserção o senti mento em relação a Deus expressa os ergs de auto submissão e apelo e assim por diante À esquerda do diagrama estão as atitudes em relação a cursos espe cíficos de ação relacionados aos objetos designados ver um determinado filme por exemplo ou viajar para Nova York Observem que cada atitude é subsidiária a e portanto expressa um ou mais sentimentos e atra vés deles vários ergs às vezes as atitudes também expressam ergs diretamente Assim o desejo de ver o filme está ligado a sentimentos em relação ao hobby do homem fotografia e em relação ao seu país tal vez o filme tenha um tema patriótico Também pare ce haver um vínculo cruzado com sua esposa e o esti lo de cabelo dela talvez ele pareça mais bonito no escuro Também há uma expressão direta do erg de curiosidade além do indireto via fotografia Obser vem que por meio dos sentimentos em relação ao ho bby à esposa e ao país o desejo de ver esse filme pode expressar em maior ou menor grau os ergs de curiosidade sexo gregariedade proteção autoasser ção segurança e desagrado em alguns casos ao lon go de múltiplos caminhos Observem também que os sentimentos às vezes podem ser subsidiários a outros sentimentos como a conta no banco para a esposa ou o partido político para o país Estes caminhos múltiplos e sobrepostos entre os ergs os sentimentos e as atitudes expressas são a base para inferirmos ergs a partir dos sentimentos Se ob servamos que um certo subconjunto de atitudes ten de a variar em força entre diferentes indivíduos ou em um indivíduo ao longo do tempo inferimos um erg ou uma estrutura de sentimento subjacente De fato é isso o que Cattell faz medidas de algumas ati tudes são obtidas pelos métodos descritos anterior mente e fatoradas e os fatores interpretados como representando ergs ou sentimentos O Self O self é um dos sentimentos mas um sentimento es pecialmente importante pois quase todas as atitudes FIGURA 81 Porção de uma treliça dinâmica ilustrando a subsidiação Cattell 1950 p 158 268 HALL LINDZEY CAMPBELL tendem a refletir o sentimento de self em maior ou menor grau Ele por sua vez está ligado à expressão da maioria ou de todos os ergs ou outros sentimentos Em alguns estudos ver p ex Cattell Horn 1963 também emergiram sentimentos distintos de superego e de self ideal De qualquer forma Cattell considera que o sentimento ou sistema de sentimentos centrado no self desempenha um papel crucial na integração da personalidade ao interrelacionar a expressão dos vários ergs e sentimentos Em primeiro lugar a preservação do self como uma empresa em funcionamento fisicamente sa dia e intacta é obviamente um prérequisito para a satisfação de qualquer sentimento ou erg que o indivíduo possui O mesmo vale para a preserva ção do self social e ético que a comunidade res peita Dinamicamente o sentimento em rela ção a manter o self correto de acordo com certos padrões de conduta satisfatório para a comuni dade e o superego é portanto uma instrumentali dade necessária para a satisfação da maioria dos nossos outros interesses de vida A conclusão a que isso nos leva é que o autosen timento deve aparecer na treliça dinâmica bem à esquerda e portanto entre os últimos sentimen tos a atingir um desenvolvimento completo Ele contribui para todos os sentimentos e satisfações érgicas e isso também explica sua força dinâmica no controle como o sentimento mestre de to das as outras estruturas Cattell 1966a p 272 Conflito e Ajustamento Cattell sugeriu que uma maneira útil de expressar o grau de conflito que um determinado curso de ação apresenta para uma pessoa é por meio de uma equa ção de especificação que expressa o envolvimento dos traços de origem dinâmicos da pessoa ergs e senti mentos na ação Assim tomando o nosso exemplo anterior vamos supor que o interesse de um determi nado jovem em casar tenha a seguinte equação de especificação em que os Es representam os ergs e os Ms os sentimentos Icasar 02Ecuriosidade 06Esexo 04Egregariedade 03Emedo 03Mpais 04Mcarreira 05Mself Casar para este homem promete recompensas po tenciais para seus ergs de sexo gregariedade e curio sidade ele acha que seus pais aprovariam e que seria bom para a sua autoestima Mas o jovem está um tanto temeroso com a perspectiva deste casamento e ele representa uma ameaça potencial para seus inte resses profissionais A força exata desta atitude em qualquer momento dado evidentemente dependerá das forças atuais dos vários fatores motivacionais mas podemos fazer algumas observações gerais baseados em seus índices situacionais Por exemplo se os ter mos da equação de especificação para uma atitude forem predominantemente positivos a atitude tende rá a se fixar como um aspecto estável da estrutura motivacional do indivíduo se eles forem predominan temente negativos ela tenderá a ser abandonada Uma atitude fixa representará uma fonte de conflito na extensão em que contém termos negativos em sua equação de especificação De fato Cattell 1985 su gere que um índice possível do grau de conflito ine rente a uma determinada atitude é a razão da soma dos pesos situacionais negativos para os traços de ori gem dinâmicos envolvidos No exemplo recémcita do esta razão seria 03 04 02 06 04 03 05 03 04 0727 026 O conflito máximo ocorreria quando os pesos negativos totais e os pesos positivos totais fossem iguais produzindo um valor de 05 Por exemplo se os pais do homem desa provassem mudando o peso do sentimento em rela ção aos pais de 03 para 03 a razão do conflito aumentaria para 1027 037 O grau de conflito inerente a uma personalidade total seria representa do por este tipo de razão calculada em relação a to das as atitudes estáveis da pessoa na prática estima da a partir de uma amostra delas O grau de ajustamento ou o nível de integração de uma perso nalidade poderia então ser definido como o inverso do índice de conflito calculado Cattell 1985 p 32 38 chama esta abordagem à mensuração do conflito de conflito endurecido ou o conflito que permane ce depois que uma decisão foi tomada Também exis te o conflito ativo ou o conflito envolvido na esco TEORIAS DA PERSONALIDADE 269 lha da ação que será realizada Por exemplo um ho mem decidindo com qual de duas mulheres vai casar enfrentará mais conflito quanto mais semelhantes fo rem as duas atitudes ou tendências Além disso exis te uma discrepância entre os componentes integra dos e nãointegrados de uma dada atitude Finalmente Cattell analisou fatorialmente uma variedade de me didas de conflito para encontrar componentes do con flito Cattell Sweney 1964 de uma maneira es sencialmente paralela ao seu trabalho com os componentes de atitudes discutidos anteriormente Estados Papéis e Tendências Os conceitos a serem discutidos nesta seção constitu em um desenvolvimento recente na teorização de Cattell e conseqüentemente algumas de suas formu lações ainda não estão firmemente cristalizadas Certos padrões dentro da personalidade vêm e vão em uma extensão muito maior do que outros os esta dos de ânimo mudam a pessoa adota um determina do papel ou o abandona e tendências mentais mo mentâneas são adotadas em relação a uma série de aspectos do ambiente Todos estes fatores influenci am o comportamento portanto eles precisam ser in cluídos na equação de especificação que termina como uma série de termos de capacidade mais termos de temperamento mais termos de ergs e sentimentos mais termos de papel mais termos de tendências A personalidade ainda é um perfil mas um perfil envol vendo todos os tipos de fatores que podem afetar a resposta em um determinado momento do tempo Embora os papéis e as tendências não tenham sido muito explorados empiricamente por Cattell e seus associados muito trabalho foi feito em relação aos estados especialmente o estado de ansiedade Cat tell Scheier 1961 Podemos lembrar que a ansie dade também foi estudada por Cattell como um tra ço Estas duas abordagens de forma nenhuma são incompatíveis o nível de ansiedade de uma pessoa pode ser característico como um traço e apesar disso flutuar consideravelmente de acordo com as influên cias situacionais e organísmicas como um estado Os estados são investigados pela análise fatorial de maneira semelhante aos traços a diferença estan do no fato de que os traços habitualmente são estuda dos por meio de correlações entre escores de teste e os estados por meio de correlações entre as mudan ças nos escores de teste ao longo do tempo ou em resposta a determinadas situações Assim se as mes mas pessoas tendem a ter um alto escore digamos em irritabilidade e falta de confiança isso ajudará a definir um fator de traço mas se ambas as medidas tendem a aumentar ou diminuir juntas isso ajudará a definir um fator de estado Vários outros fatores de estado além da ansieda de foram investigados por Cattell e seus colegas Es tes incluem exvia depressão excitação fadiga estres se regressão e culpa ver Cattell 1977 Capítulo 11 Cattell e Freud A essa altura já percebemos que Cattell emprega vári as dimensões de traço para responder a perguntas sobre a estrutura e a dinâmica da personalidade Cat tell pretende que sua abordagem substitua os mode los anteriores précientíficos e especulativos intro duzidos por Freud Jung e outros Ele reconhece os intelectos notáveis desses teóricos anteriores assim como o fato de o trabalho deles basearse em obser vação e dados clínicos Cattell todavia está com prometido com a posição de que o método científico assegura a exatidão daquilo que é descoberto Catte ll Kline 1977 p 3 em contraste com a incerteza das conclusões anteriores É possível que homens imensamente perspicazes possam encontrar a verda de Cattell Kline 1977 p 3 mas não podemos confiar na fidedignidade ou validade de suas afirma ções por causa de seus processos imperfeitos de regis tro de dados amostragem e inferência Cattell espera que os modernos procedimentos científicos possam desenvolver seus próprios conjuntos de resultados os quais separarão da confusa massa de especulações o joio do trigo Cattell Kline 1977 p 7 Sob essa luz é interessante observar certas convergências en tre a abordagem fatorial analítica de Cattell e a abor dagem psicanalítica de Freud Por exemplo os pri meiros três componentes das atitudes têm uma semelhança notável com o triunvirato freudiano de id ego e superego O alfa ou id consciente refere se à parte de uma atitude que reflete um componente de eu desejo que é apenas parcialmente consciente pode ser um tanto irracional e não foi testado diante da realidade A porção beta ou ego de uma atitude reflete a força do interesse desenvolvido consciente e deliberadamente O componente gama ou superego 270 HALL LINDZEY CAMPBELL tem uma qualidade de eu tenho de estar interessa do Embora eles certamente não sejam equivalentes às estruturas freudianas correspondentes Cattell Cat tell Kline 1977 p 331 conclui que eles realmen te confirmam a abordagem psicanalítica clássica que vê todos os comportamentos como uma função do equilíbrio entre ego id e superego A distinção de Cattell entre os componentes inte grados e nãointegrados das atitudes também reflete claramente a conclusão de que nem sempre nós esta mos inteiramente conscientes das razões para os nos sos atos e interesses Conforme Freud descobriu não basta simplesmente perguntar às pessoas por que elas fazem isso ou aquilo Cattell 1985 p 17 Em vez de empregar a associação livre como a regra funda mental para descobrir os motivos subjacentes não reconhecidos Cattell baseiase na análise fatorial Como vimos Cattell também utiliza o constructo do conflito embora ele tente quantificálo em seu pró prio sistema Além disso Cattell está seguindo Freud em sua crença de que as metas conscientes e os com portamentos específicos subsidiam ou estão a servi ço de metas érgicas inatas subjacentes Isso fica claro na treliça dinâmica conforme descrito anteriormente neste capítulo Cattell propõe que as linhas na treliça dinâmica refletem caminhos de gratificação ou expres são de motivos subjacentes Além disso ele emprega uma versão do modelo hidráulico de Freud de redu ção de tensão Isto é Cattell propõe que a obstrução do caminho em que o indivíduo é impedido de se guir caminhos estabelecidos dentro da treliça leva à energização de modos de expressão alternativos de ergs e sentimentos subjacentes Por exemplo se a pes soa representada na nossa Figura 81 for impedida de viajar para Nova York o bloqueio da oportunidade de expressar seus ergs de autoasserção e gregariedade estimulará saídas alternativas para estas pulsões bási cas Finalmente Cattell sugere que os sentimentos nos permitem esgotar a energia impulsiva érgica de ma neiras socialmente sancionadas Isso é claro lembra a sublimação freudiana Além disso Cattell propõe que os indivíduos controlam o comportamento anti social provocado por ergs e sentimentos por meio do superego do autosentimento e do ego o leitor deve notar a semelhança entre estas estratégias de contro le e as estratégias de Bandura de engajamento e de sengajamento seletivos de autojulgamento conforme descrito no Capítulo 14 O superego se refere a uma série de atitudes dirigidas ao comportamento moral Cattell 1985 p 39 conforme Freud sugeriu isso é medido no Motivation Analysis Test MAT e também como o fator G no 16 PF O autosentimento não foi descrito por Freud Ele visa manter a aceitabilidade social do self e na verdade até a sua existência física As atitudes carregadas são controlar o impulso man ter a reputação social ser são ser normal no sexo e conhecer melhor a própria natureza Cattell 1985 p 39 Em muitos aspectos esta unidade é análoga ao proprium de Allport ver Capítulo 7 O autosenti mento é medido no MAT e como o fator Q3 no 16 PF O terceiro fator de controle o ego tem essencial mente as características descritas por Freud Cattell 1985 p 40 Ele permite o controle dos impulsos e a persistência e sua meta é a maior satisfação global do indivíduo O ego é medido pelo fator C no 16 PF Os paralelos entre os dois constructos de ego estão mais aparentes na especificação de Cattell das habili dades que o ego precisa desenvolver avaliar a força de e a competição entre vários ergs e sentimentos compare com a resolução do conflito idsuperego no modelo de Freud avaliar as probabilidades nas situ ações externas compare com o teste de realidade chegar a uma decisão compare com o processo se cundário e implementar uma decisão compare com a força e adaptação do ego É esperado que o autosentimento o superego e o ego ocupem posições proeminentes nas equações de especificação para muitas atitudes Eles mais os constructos recémdescritos deixam claro que a abor dagem fatorial analítica de Cattell valida de forma no tável a abordagem psicanalítica de Freud O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE É possível estudar o desenvolvimento da personalida de em um nível puramente descritivo mapeando a mudança nas estruturas de personalidade ao longo da vida Alternativamente podemos estudar o desen volvimento em um nível teórico em termos das influ ências genéticas e ambientais envolvidas e as leis da maturação e da aprendizagem que descrevem como TEORIAS DA PERSONALIDADE 271 elas interagem para moldar o indivíduo em desenvol vimento Cattell fez as duas coisas Em suas investigações dos traços dinâmicos e de temperamento Cattell e seus associados realizaram estudos fatoriais analíticos nos níveis adulto e infan til em um esforço para desenvolver instrumentos ca pazes de medir os mesmos fatores de personalidade em diferentes idades De modo geral ele encontrou fatores semelhantes em idades que variavam dos qua tro anos à idade adulta A Tabela 84 ilustra quais dos vinte e três traços de origem foram encontrados utili zandose o Preschool Personality Quiz PSPQ para crianças de 4 a 6 anos o Early School Personality Quiz ESPQ de 6 a 8 anos o Childs Personality Question naire CPQ de 8 a 12 anos o High School Personality Questionnaire HSPQ de 12 a 15 anos e o 16 PF adul to Como todos os psicólogos sabem é difícil saber com certeza se as medidas pretendidas do mesmo traço realmente medem a mesma coisa em diferentes idades uma dificuldade produzida pelo fato de espe rarmos que um determinado aspecto da personalida de seja expresso por meio de comportamentos um pou co diferentes em idades diferentes Cattell sugeriu que uma maneira de lidar com essa dificuldade é realizar estudos com grupos de idade intermediários assim ele comparou separadamente versões fatoradas de seu questionário de personalidade para adultos e para cri anças de onze anos aplicando ambos a um grupo in termediário de dezesseis anos Cattell Beloff 1953 Os resultados destes estudos foram um tanto equívo cos geralmente existem combinações muito boas mas também há outras menos convincentes Cattell 1973 Capítulo 3 Novos trabalhos nesta linha talvez pro duzissem instrumentos de mensuração da personali dade para diferentes idades genuinamente compará veis e portanto a possibilidade de um verdadeiro mapeamento das tendências desenvolvimentais nos traços de personalidade TABELA 84 Fatores de Vários Grupos de Idade Fator PSPQ ESPQ CPQ HSPQ 16 PF A B C D E F G H I J K L M N O P Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Fonte Reimpressa com a permissão de Cattell Kline 1977 p 52 272 HALL LINDZEY CAMPBELL Análise da Hereditariedade Ambiente Cattell por muitos anos interessouse ativamente em avaliar o peso relativo das influências genéticas e ambientais sobre os traços de personalidade Ele de senvolveu um método para este propósito que cha mou de Multiple Abstract Variance Analysis ou MAVA 1960 1982 O MAVA envolve reunir dados sobre as semelhanças entre gêmeos e irmãos criados juntos em suas próprias famílias ou adotados por famílias dife rentes e depois analisar os dados para estimar as pro porções de variação individual em cada traço associa das a diferenças genéticas a diferenças ambientais e a pelo menos algumas das correlações e interações entre hereditariedade e ambiente Uma versão preli minar do MAVA foi experimentada por Cattell e seus colegas em escala limitada Cattell Blewett Beloff 1955 Cattell Stice Kristy 1957 Uma tendência observada nos estudos iniciais é teoricamente inte ressante as correlações hereditariedadeambiente pareciam ser predominantemente negativas Cattell interpreta isso como evidência de uma lei de coerção para a média biossocial isto é uma tendência das in fluências ambientais de se oporem sistematicamente à expressão da variação genética como quando os pais ou outros agentes sociais tentam fazer com que cri anças diferentes sigam a mesma norma de comporta mento encorajando as tímidas e refreando as mais desregradas Aprendizagem Em um agudo contraste com a maioria dos teóricos da personalidade que tratam da aprendizagem im plicitamente ou de passagem Cattell 1979 1980 1985 1990 desenvolveu uma elaborada teoria da aprendizagem estruturada contendo cinco princípi os ou tipos de aprendizagem Os primeiros dois são os conhecidos condicionamento clássico e instrumen tal operante do psicólogo experimental O tratamen to que Cattell dá a eles é bastante convencional o condicionamento clássico tem importância ao vincu lar respostas emocionais a deixas ambientais e o con dicionamento instrumental ao estabelecer meios para a satisfação de metas érgicas O condicionamento ins trumental desempenha um papel substancial no de senvolvimento da treliça dinâmica que consiste em relações as atitudes e os sentimentos servem como o meio de atingir metas érgicas de subsidiação i e meiosfim Uma forma de condicionamento instru mental de especial interesse na aprendizagem da per sonalidade é o que Cattell chama de aprendizagem de confluência em que um comportamento ou uma ati tude satisfaz simultaneamente mais de uma meta Assim uma atitude passa a ser vinculada a vários sen timentos e um sentimento a vários ergs dando à tre liça dinâmica sua estrutura característica O terceiro tipo de aprendizagem chamase apren dizagem de integração Esta parece ser essencialmente uma forma mais elaborada de aprendizagem instru mental Na aprendizagem de integração o indivíduo aprende a maximizar a satisfação a longo prazo ex pressando alguns ergs em um dado momento e supri mindo reprimindo ou sublimando outros A aprendi zagem de integração é um aspectochave da formação dos sentimentos do self e do superego Observem como esse tipo de aprendizagem é semelhante à dinâmica freudiana do ego e ao cronograma de Murray O quarto tipo de aprendizagem chamase modifi cação de meta érgica Isto ocorre quando a meta érgi ca e o caminho para a meta são modificados e é aná logo ao processo que Freud chamou de sublimação O quinto tipo de aprendizagem a economia de energia referese ao processo de abandonar passos desneces sários nos comportamentos aprendidos Segundo Cattell a aprendizagem da personalida de é mais bemdescrita como uma mudança multidi mensional em resposta à experiência em uma situa ção multidimensional Uma maneira de estudar empiricamente a aprendizagem da personalidade é por meio de um procedimento chamado análise da aprendizagem de caminho Começamos com duas coi sas primeiro com informações sobre mudanças de traços ocorrendo em algumas pessoas possivelmente em resposta a um período de ajustamentos comuns de vida e segundo com uma análise teórica de vários possíveis caminhos de ajustamento como regressão sublimação fantasia sintomas neuróticos que as pes soas podem tomar em resposta a situações de vida conflituais Se pudermos estimar a freqüência com que cada um desses indivíduos tomou cada caminho de ajustamento poderemos resolver uma equação de matriz para descobrir qual é o efeito médio de cada caminho sobre cada um dos traços Isso é teoricamen te interessante em si mesmo e tem um valor prático TEORIAS DA PERSONALIDADE 273 ao resolver a equação na direção oposta no caso de indivíduos novos mas comparáveis e de informações sobre suas mudanças de traços podemos estimar a freqüência com que eles tomaram cada um dos vários caminhos de ajustamento Conforme indicado anteriormente a suposição orientadora na análise da aprendizagem de caminho é que toda aprendizagem é uma mudança multidi mensional em uma situação multidimensional Cat tell 1985 p 43 uma perspectiva multivariada que não caracteriza as abordagens reflexológicas do con dicionamento clássico e da aprendizagem operante A abordagem de matriz de Cattell ainda não foi im plementada com dados reais Integração da Maturação e da Aprendizagem Cattell tentou reunir as mudanças de personalidade devidas às influências ambientais e à maturação ge nética em um único esquema teórico Cattell 1973b Ele cunhou o termo tréptico para designar mudanças devidas à influência ambiental incluindo a aprendi zagem e outras mudanças induzidas por agentes ex ternos como estimulação geral dieta drogas e assim por diante Ele propõe como uma meta a divisão das curvas de mudança desenvolvimental de vários tra ços em componentes genéticos e trépticos e em vários subcomponentes destes Sua estratégia geral para che gar a isso é o uso comparativo do método MAVA men cionado anteriormente As comparações podem en volver várias idades ou vários grupos culturais ou subculturais Assim se a variação tréptica de um tra ço na população é grande durante os anos préescola res diminui durante os anos em que as crianças estão na escola pública recebendo uma educação relativa mente padrão e aumenta novamente na idade adul ta poderíamos tirar conclusões sobre as forças que agem sobre o traço diferentes das que tiraríamos no caso em que os componentes genéticos e trépticos são constantes durante este intervalo de idade Da mes ma forma se os componentes genéticos e trépticos variam ou não variam substancialmente entre dife rentes grupos religiosos ou tradições éticas novamente podemos saber alguma coisa sobre as forças que agem sobre o desenvolvimento do traço em questão Esta análise é muito complexa pois as fontes de influência genética e tréptica sobre um traço podem correlacionarse de várias maneiras e podem intera gir ao longo do tempo Assim a influência genética pode levar a certos comportamentos que podem pro vocar determinados tipos de influências trépticas que podem por sua vez aumentar ou inibir o desenvolvi mento ulterior do traço De modo geral Cattell trata destas questões em um nível esquemático e teórico mas sugeriu várias abordagens estatísticas para resol vêlas empiricamente Cattell 1973b O Contexto Social Até o momento focalizamos os indivíduos e seu de senvolvimento em uma interação com o ambiente ime diato Aqui suspenderemos essa restrição e examina remos os esforços de Cattell para enfatizar adequada mente os determinantes socioculturais do comporta mento Cattell sugere o uso de dimensões objetivas para descrever grupos assim como são usados traços para descrever os indivíduos Essas dimensões representam a sintalidade do grupo Cattell 1948 que é equiva lente à personalidade do indivíduo Assim uma tare fa importante para o indivíduo que estuda a persona lidade em relação à matriz sociocultural é a descrição da sintalidade dos vários grupos que influenciam a personalidade do indivíduo É só por meio de uma representação adequada da personalidade do indiví duo e da sintalidade do grupo que podemos conhecer detalhadamente a interação entre essas duas estrutu ras Existem muitas instituições sociais que exercem uma influência moldadora ou modificadora sobre a personalidade mas a mais importante delas sem dú vida é a família Além dessa fonte de influência pri mária existem outras instituições cujo papel merece consideração como a ocupação a escola o grupo de amigos a religião o partido político e a nação Essas instituições podem produzir efeitos sobre a personali dade de três maneiras Primeiro pode haver uma in tenção deliberada de produzir um determinado tipo de caráter ou personalidade Isto é a definição do com portamento socialmente desejável pode incluir espe cificação de traços de personalidade e a instituição pode envolver uma tentativa autoconsciente de pro duzir tais características Segundo os fatores situaci onais ou os ecológicos podem produzir efeitos que não são pretendidos pela sociedade ou pelas instituições 274 HALL LINDZEY CAMPBELL Terceiro em resultado de padrões de comportamento estabelecidos durante o primeiro ou o segundo pro cessos o indivíduo pode considerar necessárias ou tras modificações da personalidade a fim de expres sar ou gratificar os motivos importantes Portanto um entendimento adequado do desen volvimento da personalidade precisa incluir uma es pecificação da contribuição de várias instituições so ciais variando da família à nação ou ao grupo cultural Além disso esse passo só pode ser dado quando fo rem isoladas as dimensões apropriadas para descre ver e diferenciar esses grupos e instituições Nós con sideramos que a análise fatorial desempenha um papel tão crucial na descrição da sintalidade quanto na des crição da personalidade individual O trabalho inicial no estudo da sintalidade de pequenos grupos Cattell Wispe 1948 Cattell Saunders Stice 1953 le vou à descrição de vários fatores habilidade de fala extrovertida versus retraimento relaxamento realis ta informado versus agressividade rígida diligente intencionalidade inquestionada e vigorosa versus ina daptação autoconsciente desconfiança na comunica ção interna e assim por diante Dadas as variáveis de sintalidade grupal como essas e os meios de medilas objetivamente tornase possível examinar relaciona mentos entre grupos variando nessas dimensões e nas personalidades individuais descritas pelos traços de origem que já consideramos Cattell 1949 também ofereceu um conjunto de dimensões para descrever a sintalidade das nações Nesse caso dez fatores foram derivados do estudo de 70 nações por meio de 72 medidas diversas Desses dez fatores apenas oito pareciam possuir uma impor tância clara tamanho pressão cultural afluência es clarecida diligência previdente ordem vigorosa e obstinada filistinismo burguês budismomongolismo e integração e moral culturais Muitas dessas dimen sões de sintalidade nacional embora não todas rea pareceram em fatoramentos subseqüentes de variá veis econômicas e culturais dentro das nações e entre elas Cattell 1953 Cattell Adelson 1951 Cattell Gorsuch 1965 Cattell reuniu suas idéias sobre o relacionamento entre a personalidade individual e a sintalidade gru pal em uma série de 28 proposições apresentadas em um importante artigo teórico 1961 e em um capítu lo 1966b Ele conclui que o relacionamento entre as personalidades individuais dos membros do grupo e a sintalidade do grupo é mediado por variáveis de es trutura de grupo das quais a mais completamente dis cutida é o papel que representam Um subconjunto de dimensões de sintalidade são as dimensões de siner gia que representam para o grupo o que os traços dinâmicos são para o indivíduo Além disso podemos escrever uma equação de especificação para a siner gia grupal em termos dos interesses dos membros in dividuais do grupo Cattell 1979 1985 destaca ainda mais o influ ente papel do ambiente em seu recente modelo econé tico Cattell propõe que qualquer evento psicológico tem cinco assinaturas da pessoa do estímulo do ato da situação ambiental e do observador Ele repre senta essas cinco influências em uma Matriz de Rela ção de Dados Básicos com cinco dimensões Essa abor dagem exige que o pesquisador considere separada mente o estímulo focal ao qual a pessoa presta aten ção e a situação ambiental em que ocorre a respos ta refutando efetivamente a freqüente crítica de que os teóricos da personalidade ignoram o papel da situ ação na geração do comportamento A econética o estudo da ecologia ambiental requer a construção de uma matriz de sintalidade cultural representando a sintalidade de uma cultura em dimensões comuns mais uma matriz de relevância pessoal que indica quanto os indivíduos consideram cada uma das di mensões de sintalidade cultural O produto dessas duas matrizes produz uma matriz de impacto que indica quanto cada pessoa tem a ver com cada elemento cul tural As matrizes adicionais indicam a relevância dos traços dinâmicos para as dimensões culturais e a for ça dos traços dinâmicos em cada indivíduo O produ to de todas as matrizes resume a interação dos indiví duos com a cultura Tal modelo praticamente ainda não foi testado mas revela a direção do atual pensa mento de Cattell PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Nesta seção nós mencionaremos brevemente certos aspectos distintivos das idéias de Cattell sobre a pes quisa da personalidade Além disso resumiremos uma investigação que ilustra a flexibilidade com que Cat tell aplica seu instrumento preferido de análise fato TEORIAS DA PERSONALIDADE 275 rial neste caso ao estudo dos traços dinâmicos de um único indivíduo O leitor vai lembrar que já temos uma considerável familiaridade com a pesquisa de Cattell como resultado de freqüentes referências ao seu trabalho empírico na discussão de seus conceitos teóricos Anteriormente mencionamos a convicção de Cat tell de que no futuro a pesquisa em grande escala pro duzirá os avanços mais significativos nesta área As sociada a isso está a sua crença de que a maioria dos psicólogos evita insensatamente a necessidade de uma descrição cuidadosa da personalidade em favor de uma generalização impressiva e do estudo dos fenômenos desenvolvimentais Grande parte de seu trabalho es pecialmente referente à identificação dos traços de origem e de superfície pode ser considerada simples mente uma tentativa de realizar essa tarefa de descri ção e oferecer uma base sólida para futuras investiga ções e generalizações Um dos mais novos aspectos dos textos de Cattell tem sido sua constante ênfase nos diferentes tipos de estudos de correlação que o investigador pode reali zar Primeiro salienta ele existem os estudos com a técnicaR que representam a abordagem costumeira do psicólogo Aqui um grande número de indivíduos é comparado em termos de seu desempenho em dois ou mais testes A pergunta fundamental é se os indi víduos com escores elevados em um dos testes ten dem a ter escores elevados no outro e se o coeficien te resultante representa a extensão em que os escores nos testes covariam ou condizem Segundo existe a técnicaP em que os escores do mesmo indivíduo em várias medidas são comparados em diferentes ocasi ões ou momentos Aqui estamos querendo saber quão consistente é o comportamento do indivíduo e a es tatística resultante é um índice de quão estreitamente os diferentes aspectos do comportamento do mesmo indivíduo covariam ou condizem Terceiro existe a técnicaQ em que dois indivíduos são correlaciona dos em um grande número de medidas diferentes Nes se caso o coeficiente resultante representa uma me dida de semelhança ou covariância entre os dois indivíduos se essas correlações forem feitas para muitas pessoas o investigador pode chegar a uma ti pologia ou a um agrupamento de pessoas semelhan tes nessas medidas A técnicaQ a propósito não tem nenhuma relação com os dadosQ o uso da mesma letra é apenas uma coincidência Uma quarta técni ca na verdade uma variante da primeira é chamada de técnicaR diferencial e é como a técnicaR comum exceto que as mensurações são repetidas duas vezes e as mudanças entre elas são correlacionadas e fatora das Conforme observamos esse método é especial mente útil no estudo dos estados psicológicos Além das técnicas citadas Cattell descreveu e dis cutiu muitos outros designs teoricamente possíveis o leitor interessado deve consultar o tratamento da cai xa de dados em Cattell 1966b Entretanto os qua tro designs que mencionamos são os que têm sido mais amplamente empregados na prática Um Estudo Fatorial Analítico de Um Único Indivíduo Na seção precedente fizemos uma distinção entre a técnicaR e a técnicaP Na primeira o procedimento fatorial analítico usual são calculadas correlações para muitas pessoas e os fatores obtidos são traços comuns Mas na técnicaP são calculadas correlações para mui tas medidas repetidas da mesma pessoa e os fatores representam traços únicos daquele indivíduo Confor me Cattell coloca Assim uma descoberta da técnicaR do padrão do traço de origem de dominância poderia mos trar que para a maioria das pessoas ele se ex pressa com maior carga digamos na reação aos insultos e na interferência com subordinados ao passo que para um determinado indivíduo anali sado pela técnicaP ele também revelaria ter uma alta carga digamos no tocar piano porque esse indivíduo aprendeu a expressar a dominância tocando piano Cattell Cross 1952 p 250 Para ilustrar a possibilidade de uma abordagem fatorial analítica ao indivíduo único descreveremos um estudo executado por Cattell e Cross 1952 em que 20 atitudes de um estudante universitário de tea tro de 24 anos foram medidas duas vezes por dia durante um período de 40 dias e depois intercorrela cionadas em oito ocasiões e analisadas fatorialmente Os fatores resultantes representam os traços de ori gem dinâmicos dessa pessoa e podemos observar como eles são parecidos com ou diferentes daqueles que as pessoas em geral obtiveram em estudos da téc 276 HALL LINDZEY CAMPBELL nicaR e como suas flutuações do diaadia refletem os eventos da vida da pessoa durante o período estu dado Esse tipo de estudo apresenta problemas especi ais de método O sujeito precisa ser cooperativo e con fiável precisamos ter medidas que possam ser aplica das repetidas vezes ao mesmo indivíduo sem mostrar grandes efeitos da própria testagem repetida e preci samos trabalhar com traços que mostrem uma apreci ável flutuação no diaadia As 20 atitudes foram selecionadas da amostra de atitudes usada nos estudos da técnicaR de Cattell e medidas por três técnicas uma medida de preferên cia em que o sujeito faz escolhas entre pares de de clarações cada um descrevendo um curso de ação relevante para alguma atitude uma medida de fluên cia em que o sujeito tem 30 segundos para listar o máximo possível de satisfações que poderiam ser de rivadas de um curso de ação relevante para uma ati tude e uma medida de inibição retroativa executada em conjunção com a tarefa de fluência em que seis números de três dígitos foram apresentados ao sujei to antes da mensuração da fluência e observouse a quantidade de interferência na atitude Obtevese um escore combinado para cada atitude em cada ocasião e as atitudes foram intercorrelacionadas nas diferen tes ocasiões e fatoradas Sete dos oito fatores inter pretáveis foram considerados como correspondendo a seis ergs e a um sentimento encontrados em estudos anteriores com a técnicaR medo sexo autoasser ção protecionismo parental apelo e narcisismo além do autosentimento O fator extra foi identificado como fadiga que desde então apareceu como um fator de estado em vários estudos do laboratório de Cattell Assim a estrutura de fator comum de uma popu lação serve razoavelmente bem para descrever essa pessoa específica de qualquer forma a partir dessa análise não surgiu nenhum fator único maciço Pode mos especular como os autores fazem sobre o pos sível significado de alguns dos desvios das cargas des se indivíduo em relação ao padrão da população mas não está claro se esses desvios excedem aqueles que esperaríamos encontrar entre um estudo com a técni caR e um outro com um tamanho de amostra de 80 Tendo identificado os fatores é possível estimar escores nesses fatores para cada sessão e um gráfico deles ao longo do período do experimento mostrado na Figura 82 ver adiante apresenta algumas refle xões interessantes dos eventos da vida do sujeito con forme registrado em um diário que ele manteve du rante o experimento Alguns dos incidentes mais im portantes estão indicados na linha base da Figura 82 ensaios para uma peça na qual ele faria um papel principal um resfriado forte as noites da própria peça um acidente bastante sério sofrido por seu pai uma carta em que uma tia o censura por não desistir dos próprios interesses para ajudar a família e sua preo cupação com a aparente hostilidade de um conselhei ro da faculdade Podemos notar especialmente os ní tidos picos de fadiga durante os ensaios e a peça em si a queda na ansiedade depois da peça quando ele estava começando a mergulhar nos estudos e a ter algum tempo livre para namorar observem o aumento do erg de sexo o aumento nos sentimentos paren tais na época do acidente do pai e a interessante queda posterior quando a tia o censura e finalmen te as oscilações dos traços de origem relacionados ao self autoasserção narcisismo autosentimento no período crítico dos desempenhos na peça O Modelo de Personalidade dos Sistemas VIDAS Uma outra iniciativa de Cattell merece menção por ilustrar a direção tomada por seu pensamento nos úl timos anos Agora 1985 1990 ele descreve seu modelo de personalidade geral como uma teoria de sistemas de descrição de vetorid VIDAS Cattell adota essa designação porque analisa a estrutura da personalidade em ids i e os traços fatoriais por trás do comportamento agindo em vetores i e combi nações ponderadas como em uma equação de espe cificação dentro de um sistema fechado O compli cado diagrama apresentado na Figura 83 ver p 278 resume a concepção VIDAS da personalidade Cattell está tentando mostrar como o fluxo do comporta mento é definido pela mútua interação dos estímulos dos sentimentos dos ergs e da estrutura de ego Dei xemos que Cattell 1985 p 93 descreva como seu sistema funciona Como mostra a Figura 83 os traços do mode lo VIDAS estão reunidos em 11 órgãos importan tes Primeiro temos E a fonte de energia de todos os ergs que tem um compartimento secundário para os ergs que estão em estado de excitação TEORIAS DA PERSONALIDADE 277 como resultado da estimulação pelo aparelho per ceptual P e a memória M A fonte de memória de engramas armazenados principalmente sen timentos também tem suas partes derivadas M os sentimentos presentemente ativados e LM um mecanismo de aprendizagem que gera novos sentimentos em resultado da interação de M E e P Em relação a isso nós temos uma extensão do órgão perceptual P em PD que tem a tarefa de avaliar a extensão da recompensa dinâmica de várias ações realizadas Finalmente supervisi onando as interações de E M e P está o ego con trolador D com a ajuda do reservatório de esta do geral GS que exerce uma orientação geral na solução dos conflitos dinâmicos Agindo juntamen te com o ego estão todos os traços nãodinâmi cos Ts que apresentam poderes limitantes que o ego precisa levar em conta Quando a decisão sobre um ato externo é tomada por D em resultado dos processos inter nos que iniciam com o codificador perceptual P o caráter do ato é parcialmente determinado pe los traços nãodinâmicos T que participam da moldagem do ato por meio de A o determinante da produção Essa abordagem ainda não foi implementada e atualmente representa teoria em vez de pesquisa empírica mas oferece um novo pacote significativo e provocativo de unidades de personalidade PESQUISA ATUAL Os Cinco Grandes Fatores da Personalidade Um dos progressos mais importantes na personalida de nos últimos anos é a emergência dos Cinco Gran FIGURA 82 Mudanças na força dos traços de origem dinâmicos em um indivíduo ao longo de 80 sessões de teste Cattell 1966a p 229 N de T Um engrama é um traço hipotético deixado no sistema nervoso em resultado da aprendizagem O conceito de engrama é empregado para explicar a retenção 278 HALL LINDZEY CAMPBELL FIGURA 83 O modelo completo de personalidade dos sistemas VIDAS Reimpressa com a permissão de Cattell 1985 p 95 des como um modelo geral para descrever a estrutura da personalidade Esse modelo originado do traba lho de Cattell serve como uma base conceitual para grande parte do trabalho contemporâneo na mensu ração da personalidade Como veremos existem di versas versões dos Cinco Grandes e o modelo não foi adotado universalmente mas complementa a abor dagem biológicagenética como uma das duas orien tações dominantes no trabalho contemporâneo sobre a personalidade Existem várias discussões excelentes sobre os Cinco Grandes e nós examinaremos aqui principalmente John 1990 e Goldberg 1993 bem como Digman 1990 Goldberg 1990 e McCrae e John 1992 O desenvolvimento dos Cinco Grandes na verda de começa com Allport e Odbert 1936 que tenta ram identificar possíveis diferenças individuais extra indo todos os termos relevantes do Websters Unabridged Dictionary dicionário completo Allport trabalhou com base em uma hipótese léxica primeiramente articulada por Sir Francis Galton de que as diferen ças individuais mais importantes estarão codificadas na linguagem Allport e Odbert extraíram cerca de 18000 termos dos quais 4500 se referiam a traços TEORIAS DA PERSONALIDADE 279 generalizados e estáveis Aproximadamente na mes ma época Thurstone 1934 analisou fatorialmente avaliações de iguais usando 60 adjetivos comuns Thurstone identificou cinco fatores antecipando as sim o modelo contemporâneo dos Cinco Grandes Raymond Cattell 1943 usou os termos descriti vos de Allport e Odbert como um ponto de partida para suas análises da estrutura da personalidade como vimos anteriormente Mas quando outros pesquisa dores repetiram as análises de Cattell apenas cinco fatores foram obtidos confiavelmente p ex Digman TakemotoChock 1981 Norman 1963 Tupes Christal 1961 Conforme comenta Goldberg 1993 p 27 Cattell pode ser o pai intelectual dos Cinco Grandes mas ele negou consistentemente essa pa ternidade e ainda não adotou o modelo Foi Donald Fiske 1949 que primeiro extraiu cinco fatores replicados usando variáveis de avaliação tira das do trabalho de Cattell Tupes e Christal 1958 1961 reanalisaram os dados de avaliação de oito amostras e identificaram cinco fatores relativamente fortes e recorrentes Eles rotularam esses fatores como I surgency ou loquacidade assertiva II cordiali dade III confiabilidade IV estabilidade emocio nal e V cultura Esse foi o primeiro conjunto de fa tores de personalidade a ser chamado de Cinco Grandes Goldberg 1981 Warren Norman 1963 também confirmou um modelo de cinco fatores usando um conjunto selecio nado de variáveis de Cattell Ele empregou essencial mente os mesmos rótulos de Tupes e Christal para esses fatores renomeando o fator III como conscienciosi dade Norman desconfiava que a amostragem e os problemas estatísticos no trabalho de Cattell limita vam os achados e acreditava que a análise de um con junto mais representativo de termos descrevendo tra ços produziria dimensões adicionais mas Goldberg 1990 subseqüentemente não conseguiu confirmar essa conjetura Norman 1967 extraiu 18125 ter mos de personalidade da edição de 1961 do Websters Third New International Dictionary Ele eliminou apro ximadamente metade deles como inadequados e de pois separou os 8081 termos restantes em três clas ses traços estáveis estados e atividades temporárias e papéis relacionamentos e efeitos sociais Observem a semelhança com as categorias empregadas por Cat tell bem como com sua suposição de que a personali dade pode ser considerada em diferentes níveis Nor man examinou os 2800 termos de traço que depois reduziu para aproximadamente 1600 Ele dividiu es ses termos em dez classes amplas uma para cada pólo alternativo nas Cinco Grandes dimensões A seguir dividiu os termos de cada uma das dez classes em um total de 75 categorias semânticas mais estreitas Como um passo final ele combinou termos semelhantes em um total de 571 conjuntos de sinônimos Em essência então Norman usou os Cinco Grandes para construir uma hierarquia de termos descritivos da personalida de Seguindo o trabalho de Norman Goldberg 1981 1990 1993 realizou uma série de estudos investi gando a estrutura subjacente dos termos adjetivos que descrevem traços Apesar de seu ceticismo inici al ele também identificou cinco fatores amplos que representou usando um conjunto de 100 agrupamen tos de sinônimos Os programas de pesquisa recémdescritos con vergem para uma estrutura de Cinco Grandes ao uti lizar hipóteses léxicas para estudar termos descritivos de traços Um programa de pesquisa separado de Mc Crae e Costa p ex 1987 1989a 1990 Costa McCrae 1988ab 1992a 1995a também identificou uma estrutura de Cinco Grandes ao investigar as ques tões de personalidade em vez de termos descritivos Eles usaram os seguintes rótulos para os cinco fato res neuroticismo extroversão cordialidade consci enciosidade e franqueza John 1990 p 96 salienta que OCEAN serve como um artifício mnemônico útil para lembrar esses cinco nomes as iniciais das pala vras inglesas McCrae e Costa desenvolveram o NEO PI para medir essa estrutura Assim na verdade exis tem dois modelos paralelos de cinco fatores um do trabalho léxico e outro do trabalho com questionários de personalidade Uma das marcas registradas da abor dagem de McCrae e Costa é a especificação de seis facetas específicas para cada um dos Cinco Grandes fatores p ex Costa McCrae Dye 1991 As seis facetas subjacentes à extroversão por exemplo são cordialidade gregariedade assertividade atividade busca de excitação e emoções positivas As seis face tas da conscienciosidade incluem competência ordem respeito busca de realização autodisciplina e delibe ração O NEOPI Revisado NEOPIR Costa Mc N de T Surgency é um traço de personalidade caracterizado por bom humor sociabilidade confiabilidade e responsividade social 280 HALL LINDZEY CAMPBELL Crae 1992b fornece medidas da personalidade em ambos os níveis Em conseqüência deste refinamento Costa e McCrae oferecem uma abordagem hierárqui ca articulada à estrutura da personalidade É essa es trutura que serve como base para grande parte da pesquisa contemporânea Antes de apresentar as amostras de pesquisas que empregam a orientação dos Cinco Grandes devemos observar que existem dissidentes Cattell por exem plo nunca se convenceu de que cinco fatores é um número suficiente Cinco de seus fatores de segunda ordem correspondem bem aos Cinco Grandes ver John 1990 p 88 e ele claramente prefere trabalhar em um nível de maior especificidade Hans Eysenck 1991 1992b cuja teoria consideramos no Capítulo 9 propõe três dimensões básicas de personalidade extroversão neuroticismo e psicoticismo Ele argumen ta que a extroversão e o neuroticismo correspondem aos Cinco Grandes fatores do mesmo nome mas que a cordialidade e a conscienciosidade dos Cinco Gran des devem ser reunidas em seu fator de psicoticismo ver Costa McCrae 1992a 1995a para uma répli ca Da mesma forma Zuckerman 1992 Zuckerman Kuhlman Joireman Teta Kraft 1993 Zuckerman Kuhlman Thornquist Kiers 1991 cujo trabalho também consideramos no Capítulo 9 propõe seu pró prio sistema de cinco fatores Alguns psicólogos também objetaram os Cinco Grandes por motivos conceituais Carlson 1992 p 644 teme que os Cinco Grandes estejam induzindo os pesquisadores da personalidade a valorizar a pu reza psicométrica acima do poder conceitual e que isso não é adequado para aqueles que supõem que a personalidade inclui sentimentos motivos e contex tos interpessoais e sociais bem como a integração desses traços no curso do desenvolvimento individu al Em resumo argumenta ela os defensores do Cin co Grandes limitariam a pessoalidade ao estreito re dil procrustiano de sua própria metodologia ver também Loevinger 1994 McAdams 1992 destaca seis limitações do modelo de cinco fatores a não trata de constructos essenciais do funcionamento da personalidade b é limitado para predizer compor tamentos específicos e descrever a vida do indivíduo c não apresenta explicações causais d não consi dera o contexto e não considera a organização e a integração da personalidade e f adota uma aborda gem comparativa para descrever os indivíduos Vári as dessas objeções como a d e e f representam dis cordâncias filosóficas sobre como a pesquisa da per sonalidade deveria prosseguir A introdução de face tas acomoda bastante a segunda objeção e podería mos argumentar que o trabalho atual especialmente nas áreas da genética do comportamento está come çando a tratar do terceiro ponto A crítica mais elaborada vem de Jack Block 1995a ver réplicas de Costa McCrae 1995b e Goldberg Saucier 1995 e a resposta de Block 1995b Block levanta uma série de argumentos me todológicos estatísticos e conceituais relativos ao de senvolvimento e ao uso dos Cinco Grandes Block 1995a p 204 pergunta Será que os cinco amplos domínios ou dimensões globais adotados e focaliza dos são singularmente abrangentes e suficientemente incisivos para oferecer uma estrutura satisfatória para a pesquisa e avaliação da personalidade A resposta de Block é não Como no caso dos outros críticos a objeção básica de Block é que os pesquisadores deve riam prestar atenção à estrutura e ao funcionamento intraindividuais no processo de adotar um conjunto mais amplo de orientações conceituais e metodológi cas do que permite a abordagem dos Cinco Grandes Em vez de tentar uma revisão sistemática da cres cente literatura sobre os Cinco Grandes nós os ilus traremos mencionando vários estudos representati vos Uma das metas de McCrae e Costa tem sido demonstrar que nos Cinco Grandes estão incluídas outras abordagens de mensuração Por exemplo eles McCrae Costa 1989b demonstram que existe uma correspondência substancial entre os Cinco Grandes fatores e os quatro índices do MyersBriggs Type Indi cator MBTI Especificamente a extroversão apresen ta uma alta correlação com a introversãoextroversão do MBTI e a franqueza com a sensaçãointuição do MBTI em menor extensão a cordialidade se correla ciona com o pensamentosentimento do MBTI e a conscienciosidade se correlaciona com o julgamento percepção do MBTI Não existe um equivalente do neuroticismo no MBTI Da mesma forma McCrae e Costa 1989c apresentam correlações que demons tram que os dois eixos subjacentes ao circumplexo interpessoal podem ser definidos em termos de extro versão e cordialidade Eles concluem que a extrover são e a cordialidade podem portanto ser usadas para definir o plano de comportamento interpessoal p 592 De maneira semelhante eles argumentam que o domínio afetivo pode ser estruturado em termos de extroversão e neuroticismo e que as atitudes podem TEORIAS DA PERSONALIDADE 281 ser compreendidas em termos de cordialidade e fran queza Eles concluem p 593 que o modelo de cinco fatores oferece uma estrutura mais ampla na qual orientar e interpretar o circumplexo e que o círculo interpessoal permite uma proveitosa elaboração de dois dos cinco fatores Em essência McCrae e Costa estão defendendo o uso dos Cinco Grandes para es truturar o nosso entendimento da contribuição das características da pessoa em vários domínios compor tamentais Alguns outros exemplos servem para ilustrar a variedade de pesquisas provocada pelo modelo dos Cinco Grandes Costa McCrae e Dye 1991 demons traram que as medidas do NEOPI de extroversão cor relacionamse positivamente e o neuroticismo nega tivamente com a autoestima Da mesma forma as pessoas que estão felizes e satisfeitas com a vida ten dem a ter escores altos em extroversão e baixos em neuroticismo McCrae Costa 1991a Costa 1991 propôs que a abordagem dos Cinco Grandes pode aju dar as pessoas a selecionar formas apropriadas de te rapia ver também McCrae Costa 1991b E final mente Costa e Widiger 1994 Widiger Costa 1994 sugeriram que o modelo dos cinco fatores pode ser usado para compreendermos as distinções entre vári os transtornos de personalidade Sejam quais forem suas limitações o modelo dos Cinco Grandes foi imen samente bemsucedido em promover as pesquisas e provocar discussões sobre estratégias na investigação dos fenômenos da personalidade Genética do Comportamento Um dos avanços recentes mais entusiasmantes na pes quisa da personalidade envolve o estudo das bases genéticas das características da personalidade p ex Plomin 1986 Como vimos antes Cattell há muito tempo se preocupa em identificar as contribuições ge néticas aos traços de origem Nós veremos uma ênfa se ainda maior na fisiologia e na genética no modelo de Hans Eysenck da personalidade discutido no pró ximo capítulo Uma vez que grande parte da pesquisa genética não está ligada a qualquer teoria ou atributo específico e dada a ênfase inicial de Cattell nas bases biológicas da personalidade no presente capítulo nós introduzimos as abordagens genéticas do comporta mento à personalidade A genética do comportamento baseiase na supo sição de que as diferenças entre um conjunto de indi víduos em alguma característica tal como a extrover são devemse a diferenças no material genético eou nas experiências dos indivíduos Quanto maiores as diferenças ou a variabilidade entre os indivíduos nos genes que contribuem para as diferenças em uma ca racterística maior a herdabilidade dessa característi ca Em outras palavras a herdabilidade de uma ca racterística como a extroversão pode ser definida como a razão da variabilidade genética de um grupo de pessoas comparada à variabilidade total da extro versão nessas pessoas Como tal um índice de herda bilidade para a extroversão estima a porcentagem da variabilidade nos escores de extroversão devida à va riabilidade genética Quanto mais próxima de 10 a herdabilidade maior a contribuição das diferenças genéticas para as diferenças observadas As herdabili dades são instrumentos extremamente úteis Mas antes de começarmos devemos conhecer três limita ções de qualquer coeficiente de herdabilidade ele é apenas uma estimativa é específico para a amostra de pessoas sendo estudada e aplicase à amostra como um todo e não a cada indivíduo A avaliação da herdabilidade talvez seja mais fá cil de compreender se pensarmos em gêmeos idênti cos e em fraternos Os gêmeos idênticos ou monozi góticos vêm de um único óvulo fertilizado mas os gêmeos fraternos ou dizogóticos vêm de óvulos di ferentes Disso decorre que os pares de gêmeos idên ticos têm um material genético idêntico mas os pares de gêmeos fraternos em média compartilham ape nas metade de seus genes As diferenças de escore entre gêmeos idênticos em uma característica como a extroversão por exemplo devemse a diferenças em suas experiências porque seu material genético é idên tico As semelhanças em extroversão nesses gêmeos todavia baseiamse em alguma combinação de genes idênticos e experiências semelhantes As diferenças de extroversão entre gêmeos fraternos devemse a diferenças na genética e na experiência e a semelhan ça nesses pares também reflete alguma combinação de genes compartilhados e de experiências comparti lhadas Uma das maneiras mais comuns de estimar a her dabilidade de uma característica é usar modelos esta tísticos que comparam a semelhança de pares de gê meos idênticos com a semelhança de pares de gêmeos fraternos em alguma característica Os estudos recen tes conseguiram incluir quatro amostras separadas pares de gêmeos idênticos e fraternos criados juntos e 282 HALL LINDZEY CAMPBELL pares de gêmeos idênticos e fraternos criados separa dos Presumivelmente os gêmeos criados juntos ex perienciam um ambiente mais semelhante do que os gêmeos criados separados Apesar desse avanço de terminar o grau de semelhança dos ambientes experi enciados pelos pares de gêmeos permanece uma gran de dificuldades nessas análises Uma complicação final lida com conceitualizações do ambiente Assim como o material genético pode ser compartilhado ou não por gêmeos fraternos tam bém o ambiente experienciado pelos gêmeos pode ser compartilhado ou nãocompartilhado Os fatores am bientais compartilhados tornam os gêmeos semelhan tes e os fatores ambientais nãocompartilhados tor nam os gêmeos dessemelhantes O status socioeconô mico as crenças religiosas e as filosofias dos pais na criação dos filhos operam como fatores compartilha dos A ordem de nascimento os acidentes a saúde o tratamento parental diferenciado e os amigos ou pro fessores diferentes operam como fatores nãocompar tilhados O ambiente compartilhado torna os gêmeos ou os irmãos em geral semelhantes e o ambiente nãocompartilhado os torna dessemelhantes Como veremos um achado surpreendente de estudos recen tes da genética do comportamento da personalidade é que o ambiente nãocompartilhado é muito mais influente do que o ambiente compartilhado Nós agora traremos dados reais para ilustrar ma neiras diferentes de estimar a herdabilidade o ambi ente compartilhado e o ambiente nãocompartilhado Primeiro vamos comparar a semelhança dos pares de gêmeos idênticos criados juntos com a semelhança de pares de gêmeos idênticos criados separados Uma vez que todos os pares de gêmeos idênticos compartilham os mesmos genes a extensão em que os gêmeos idên ticos criados juntos são mais semelhantes que os cria dos separados é uma estimativa da extensão em que o ambiente age para produzir semelhança na persona lidade Bouchard 1981 entretanto relatou que a correlação média entre 11 escores de personalidade para membros de pares de gêmeos idênticos criados juntos foi de 054 mas que a média para pares de gêmeos idênticos criados separados foi de 056 O fato de estas correlações não serem de 100 indica que a genética não é o único determinante da personalida de Os fatores ambientais certamente desempenham um papel importante mas observem que o ambiente está agindo para tornar os pares de gêmeos desseme lhantes não semelhantes Essa conclusão é corrobo rada pelo fato de que a correlação média é levemente menor para os gêmeos criados juntos Esses dados sugerem que ser criado junto i e compartilhar um ambiente não leva à maior semelhança de personali dade Assim esse estudo propõe que existe uma her dabilidade substancial para os traços de personalida de mas que o ambiente compartilhado não é um determinante maior da semelhança de personalida de Em segundo lugar vamos comparar a semelhan ça das características de personalidade para os mem bros de pares de gêmeos idênticos e fraternos Loeh lin e Nichols 1976 relataram correlações entre pares de gêmeos idênticos e pares de gêmeos fraternos em duas dimensões importantes da personalidade segun do Hans Eysenck a extroversão e o neuroticismo As correlações para a extroversão foram de 060 para os gêmeos idênticos e de 025 para os fraternos e as cor relações para o neuroticismo foram de 052 para os gêmeos idênticos e de 024 para os fraternos Uma estimativa simples da herdabilidade de um traço é obtida multiplicandose por dois a diferença entre as correlações de gêmeos idênticos e fraternos Com os dados de Loehlin e Nichols as estimativas de herda bilidade são 2060 025 070 para a extroversão e 2052 024 056 para o neuroticismo Em ou tras palavras mais de dois terços da variabilidade observada nos escores de extroversão e mais da meta de da variabilidade do neuroticismo são atribuídos a diferenças genéticas Um menos a estimativa de herdabilidade propor ciona uma estimativa da contribuição ambiental e a correlação dos gêmeos idênticos menos dois vezes a diferença entre as correlações dos gêmeos idênticos e fraternos proporciona uma estimativa da importância do ambiente familiar compartilhado No exemplo de Loehlin e Nichols as contribuições ambientais são con sideráveis 030 para a extroversão e 044 para o neu roticismo mas não há nenhuma evidência da contri buição de uma família compartilhada para qualquer característica As estimativas para o ambiente com partilhado são na verdade levemente negativas 060 2060 025 010 para a extroversão e 052 2052 024 004 para o neuroticismo Os dados mais recentes relatados por Bouchard e McGue 1990 sobre gêmeos idênticos e fraternos cri ados separados levaram a conclusões semelhantes TEORIAS DA PERSONALIDADE 283 Usando escalas do California Psychological Inventory Bouchard e McGue encontraram uma correlação mé dia de 045 para os gêmeos idênticos e de 018 para os fraternos Usando a fórmula apresentada antes eles relataram uma herdabilidade média um pouco acima de 050 Seus achados os levaram a uma conclusão realmente extraordinária o grau de semelhança en tre os gêmeos idênticos nas características de per sonalidade autorelatadas não parece depender de os gêmeos terem sido criados juntos ou separados Apro ximadamente 50 da variância nas características de personalidade autorelatadas estão associadas a fato res genéticos o que significa que os fatores ambien tais são responsáveis por um parte igual da variância Todavia os fatores do ambiente familiar comum não têm uma influência substancial sobre a personalidade adulta 1990 p 286 Esses achados levaram Plomin e Daniels a con cluir que o ambiente familiar compartilhado é res ponsável por uma porção desprezível da variância ambiental relevante para o desenvolvimento da per sonalidade 1987 p 5 O ambiente proporciona um componente maior da variabilidade na personalida de mas é muito importante observar que influências ambientais psicologicamente relevantes tornam as crianças de uma família diferentes e não iguais en tre si Plomin Daniels 1987 p 1 Plomin e Dani els sugerem que os pesquisadores e os teóricos enfo quem as experiências específicas para cada criança p 9 e que a criança e não a família deve ser con siderada a unidade de socialização p 15 Como um exemplo final de estudos sobre gême os considerem Tellegen e colaboradores 1988 O aspecto notável desse estudo é que ele inclui escores em um inventário de personalidade com 11 escalas para quatro amostras separadas gêmeos idênticos e fraternos criados juntos e gêmeos idênticos e frater nos criados separados Esse planejamento abrangen te permitiu a Tellegen e colaboradores obter estimati vas sofisticadas das influências da herdabilidade do ambiente nãocompartilhado e do ambiente compar tilhado que estamos examinando Suas conclusões foram muito consistentes com o que estamos vendo As correlações médias para os gêmeos idênticos cria dos juntos e separados foram muito semelhantes 052 e 049 respectivamente Isso sugere que o efeito do ambiente compartilhado é muito pequeno uma vez que a ausência de um ambiente compartilhado é tudo o que distingue o último grupo do primeiro Existem algumas diferenças entre as escalas mas Tellegen e seus colaboradores estimaram a contribuição global do ambiente compartilhado em cerca de 005 Além disso as correlações médias sugeriram uma herdabi lidade de aproximadamente 050 consistente com a que tínhamos calculado previamente E dez das 11 escalas diversas tinham herdabilidades entre 040 e 055 sugerindo uma notável consistência do efeito Em resumo os achados surpreendentes mas consis tentes em todos esses estudos de gêmeos são que a os fatores genéticos são responsáveis por cerca de metade da variabilidade nas características de perso nalidade e b o ambiente comum geralmente de sempenha um papel muito modesto na determinação de muitos traços de personalidade Tellegen e cola boradores 1988 p 1037 Tais achados corroboram modelos de personalidade que enfatizam os determi nantes únicos de cada personalidade p ex Gordon Allport ver Capítulo 7 e contestam modelos que en fatizam as experiências familiares compartilhadas Os estudos de gêmeos indicam claramente que existe uma grande contribuição genética para as dife renças individuais em várias características de perso nalidade Existem outras metodologias para investi gar o papel da genética principalmente os estudos de adoção Tais estudos levam a conclusões semelhantes sobre o grande papel das contribuições genéticas e o pequeno papel do ambiente compartilhado embora geralmente produzam estimativas mais baixas de her dabilidade ver Plomin Chipuer Loehlin 1990 Além disso não examinaremos trabalhos que investi gam os mecanismos pelos quais os genes influenciam a personalidade Dadas as sólidas evidências da her dabilidade dos traços entretanto é importante per guntar por que essa influência funciona Nós agora examinaremos brevemente as pressões evolutivas que talvez tenham levado à variação nas características de personalidade Teoria Evolutiva da Personalidade Vários pesquisadores investigaram a base evolutiva das diferenças individuais p ex Arnold Buss 1988 Da vid Buss 1991 Loehlin 1992 Tooby Cosmides 1990 Mas nesta seção nós enfocaremos o trabalho de David Buss Buss 1984 identificou três preocu pações básicas da psicologia da personalidade Que 284 HALL LINDZEY CAMPBELL características são típicas dos humanos Quais são as características mais importantes nas quais os huma nos diferem Qual é o relacionamento entre a nature za humana i e as características típicas da espécie e as diferenças individuais Ele sugeriu que a biologia evolutiva oferece uma estrutura para investigarmos esses temas Em particular ele via um paralelo com a distinção na biologia evolutiva entre pensamento ti pológico e pensamento da população A primeira abordagem conforme enfatizado pela sociobiologia enfatiza as características típicas da espécie e sua im portância adaptativa Isso é análogo à preocupação na personalidade com as tendências nucleares com partilhadas pelas pessoas Esta última abordagem conforme ilustrado pela genética do comportamento estuda as bases genéticas e adaptativas da variação observada entre os membros de uma espécie Isso é análogo à preocupação na personalidade em concei tualizar e medir aquelas dimensões comportamentais ao longo das quais as pessoas diferem Buss 1984 identificou três critérios da biologia evolutiva para determinar se uma característica faz parte da natureza humana Primeiro ela deve ser universal Segundo ela deve ser inata incondicio nada e relativamente difícil de modificar p 1139 Terceiro ela deve ter uma função adaptativa isto é deve capacitar o indivíduo a funcionar bem em seu nicho ecológico Da mesma forma Buss sugeriu qua tro critérios da biologia evolutiva para determinar quais diferenças individuais são importantes O pri meiro desses critérios é a herdabilidade Ele argumen tou que as diferenças entre os indivíduos que podem ser atribuídas a diferenças genéticas são importantes porque proporcionam a variação necessária para a evolução p 1140 Segundo um traço tem impor tância intrínseca se contribui para o ajustamento in clusivo ou para a perpetuação genética por meio da prole Terceiro a seleção sexual sugere que os traços consensualmente valorizados proporcionarão uma base para a escolha do parceiro e portanto são im portantes Finalmente os traços são importantes se proporcionam uma base para o acasalamento combi nativo para a escolha de um parceiro com base em sua semelhança com aquele que escolhe Buss con cluiu que prestar atenção aos dois conjuntos de crité rios pode ajudar os psicólogos da personalidade a tra tar de sua tarefa descritiva relativamente negligencia da e simultaneamente ajudálos a superar a tendên cia a estudar traços isolados sem fundamentos ló gicos explícitos p 1144 Em um artigo subseqüente Buss endossou expli citamente a teoria evolutiva como a base para estu dar a personalidade A teoria evolutiva promete evi tar o excesso de teorias da personalidade aparente mente arbitrárias ao ancorar uma teoria da natureza humana em processos que sabemos que governam toda vida As teorias da personalidade inconsisten tes com a teoria evolutiva têm pouca chance de esta rem certas 1991 p 461 Ele raciocinou que a so brevivência e a reprodução individuais são os dois problemas adaptativos básicos que os humanos têm encontrado em sua história evolutiva Compreender as adaptações que desenvolvemos para lidar com es ses problemas deve indicar aos psicólogos da perso nalidade a direção de dimensões importantes da na tureza humana e das diferenças individuais Dessa maneira o pensamento evolutivo limita asserções um tanto soltas sobre motivação 1991 p 468 Como exemplo Buss discutiu as Cinco Grandes dimensões da personalidade De sua perspectiva evo lutiva identificou três explicações para a proeminên cia dessas dimensões comportamentais Elas podem refletir diferenças fundamentais nas estratégias usa das pelos humanos para atingir metas típicas da espé cie podem representar variações evolutivas pouco importantes que são neutras com relação à seleção natural ou podem capturar as dimensões mais im portantes da paisagem social à qual os seres humanos têm tido de adaptarse 1991 p 471 Como exem plo dessa terceira possibilidade Buss raciocinou que os nossos ancestrais teriam de ter sido sensíveis à cor dialidade e à conscienciosidade dos outros ao formar ligações sociais Como exemplo da primeira possibili dade ele descreve as diferenças individuais herdáveis em extroversão e agressão o oposto da cordialidade que nossos ancestrais poderiam ter desenvolvido para abordar parceiros e outros recursos Buss propôs que a teoria da personalidade deveria seguir a teoria evo lutiva ao especificar as principais metas perseguidas pelos humanos para aumentar o sucesso reprodutivo os mecanismos psicológicos que evoluíram no decor rer da solução desses problemas e as estratégias com portamentais individuais e típicas da espécie desen volvidas pelos humanos para atingir essas metas adaptativas Ele concluiu em termos bem claros que a metateoria evolutiva adequadamente concebida TEORIAS DA PERSONALIDADE 285 oferece à psicologia da personalidade a grande estru tura que ela busca 1991 p 486 Buss também considerou as abordagens evoluti vas que a psicologia poderia usar para investigar as origens das diferenças individuais dentro do período de vida do indivíduo DeKay e Buss 1992 sugerem três possibilidades Primeiro as diferenças individu ais podem resultar de experiências diferenciais durante o desenvolvimento tais como a presença ou a ausên cia do pai Segundo as diferenças no ambiente atual obviamente podem levar a diferenças comportamen tais como o ciúme ser mais provável em uma pessoa com um cônjuge relativamente desejável O aluno deve comparar essas duas possibilidades com a des crição de Skinner da história do reforço e das contin gências da recompensa ver Capítulo 12 Observe tam bém que o terceiro dos mecanismos ambientais propostos por Skinner as contingências da sobrevi vência referese explicitamente às pressões evoluti vas responsáveis pela natureza humana conforme discutido por Buss Tooby e Cosmides e outros estudi osos da teoria evolutiva da personalidade Terceiro as diferenças individuais reativas surgem quando um indivíduo seleciona uma estratégia para atingir uma meta típica da espécie com base em suas característi cas anatômicas Citando Tooby e Cosmides 1990 DeKay e Buss 1992 oferecem o seguinte exemplo os indivíduos mesomórficos são mais capazes de exe cutar uma estratégia agressiva ao passo que os ecto mórficos vão forçosamente cultivar habilidades diplo máticas p 187 Finalmente vamos considerar o trabalho de Buss sobre a teoria das estratégias sexuais Buss 1994 Buss Schmitt 1993 Buss 1994 propôs que os homens e as mulheres desenvolveram mecanismos diferentes subjacentes às suas estratégias de acasalamento a curto e a longo prazo Essas diferenças surgiram porque os homens e as mulheres encontraram problemas adap tativos diferentes no acasalamento Segundo Buss e Schmitt 1993 os homens historicamente eram li mitados em seu sucesso reprodutivo primariamente pelo número de mulheres férteis que conseguiam in seminar ao passo que as mulheres historicamen te eram limitadas em seu sucesso reprodutivo não pelo número de homens aos quais podiam ter acesso sexual mas primariamente pela quantidade e quali dade dos recursos externos que conseguiam assegu rar para elas mesmas e seus filhos e talvez secunda riamente pela qualidade dos genes do homem 1993 p 206 Como conseqüência homens e mulheres de senvolveram conjuntos distintos de problemas subja centes às suas estratégias de acasalamento a curto prazo e a longo prazo ver Tabela 85 p 286 A re sultante teoria das estratégias sexuais afirma que as diferenças homemmulher no comportamento de aca salamento existem porque são evolutivamente vanta josas à luz de diferentes problemas de acasalamento encontrados durante a evolução humana não por se rem culturalmente especificadas A teoria das estratégias sexuais dá origem a vári as hipóteses todas citadas em Buss 1994 Por exem plo o acasalamento a curto prazo é mais importante para os homens que para as mulheres e os homens que buscam um acasalamento a curto prazo minimi zam compromisso e investimento Os homens que buscam um acasalamento a curto prazo resolverão o problema de identificar mulheres férteis ao passo que os homens que buscam um acasalamento a longo pra zo resolverão o problema de identificar mulheres re produtivamente valiosas Uma vez que a beleza a juventude e a saúde estão vinculadas à fertilidade e ao valor reprodutivo esses aspectos são atraentes para os homens Buss relata dados de levantamentos em grande escala de diferentes culturas consistentes com essas hipóteses Além disso os homens que buscam um acasalamento a longo prazo resolverão o proble ma da certeza da paternidade Essa hipótese levou a estudos interessantes sobre fidelidade e ciúme Por exemplo descobriuse que os homens valorizam mais que as mulheres a castidade e a fidelidade masculina Da mesma forma Buss Larsen Westen e Semmelroth 1992 descobriram que os homens ficariam mais cha teados que as mulheres se a parceira tivesse relações sexuais com outro homem do que se ela estabelecesse um vínculo emocional com outro homem O padrão inverso valia para as mulheres que indicaram que fi cariam mais chateadas se o parceiro estabelecesse um vínculo emocional com outras mulheres Ambos os padrões também foram confirmados por medidas de perturbação fisiológica As mulheres têm enfrentado problemas diferen tes dos enfrentados pelos homens na história evoluti va da nossa espécie Como conseqüência Buss 1994 hipotetizou que aquelas que buscam um parceiro a curto prazo serão mais seletivas do que os homens e preferirão homens dispostos a partilhar recursos ime 286 HALL LINDZEY CAMPBELL diatos Em apoio a essas predições Buss relatou que elas não gostam de potenciais parceiros a curto prazo que já estejam em um relacionamento ou que sejam promíscuos e gostam da força física em um potencial parceiro a curto prazo Da mesma forma uma amos tra de mulheres relatou um desagrado especial por homens que são sovinas desde o início de um relacio namento Finalmente ele propôs que as mulheres que buscam um parceiro a longo prazo preferirão ho mens capazes de prover recursos à sua prole Em apoio a isso ele relatou que uma amostra de mulhe res enfatizou mais a probabilidade de sucesso profis sional e financeiro em um parceiro a longo prazo do que em um parceiro a curto prazo e também mais do que os homens Além disso em 36 das 37 culturas amostradas por ele Buss descobriu que as mulheres valorizavam mais do que os homens as perspectivas financeiras de um parceiro em potencial Podemos certamente contestar muitos dos acha dos com base na tendenciosidade de amostragem no tamanho pequeno de amostra ou nas características de demanda Entretanto as hipóteses e os dados em si não são especialmente surpreendentes O que sur preende é que Buss os fundamenta em processos evo lutivos e não em processos contemporâneos ou cul turais STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Está bem claro que ao longo dos anos Cattell desen volveu uma teoria da personalidade ampla diversifi cada e complexa Como uma realização intelectual puramente ela deve ser considerada juntamente com as outras teorias descritas neste livro Está igualmen te claro que Cattell e seus colaboradores produziram um volume de dados empíricos relacionados à sua teoria que excede o inspirado pela maioria das teorias da personalidade discutidas por nós E no entanto as revisões do trabalho de Cattell invariavelmente pare cem revelar uma mistura de admiração e desconfor to Uma perceptiva avaliação de Goldberg 1968 su gere que essa ambivalência pode envolver uma confusão entre Cattell o estrategista e Cattell o táti co TABELA 85 Problemas de Seleção de Parceiroa Enfrentados por Homens e Mulheres em Contextos de Acasalamento a Curto e a Longo Prazos Tipo de Problemas Enfrentados Problemas Enfrentados Acasalamento pelos Homens pelas Mulheres Curto prazo 1 Número de parceiras 1 Extração imediata de recursos 2 Identificar quais mulheres estão 2 Avaliar parceiros a curto prazo como possíveis sexualmente acessíveis parceiros a longo prazo 3 Minimizar custos riscos e compromissos 3 Qualidade dos genes 4 Fertilidade 4 Troca de parceiro expulsão de parceiro ou parceiro extra Longo prazo 1 Confiança na paternidade 1 Identificar homens que sejam capazes de investir 2 Valor reprodutivo da mulher 2 Identificar homens que estejam dispostos a investir 3 Compromisso 3 Proteção física 4 Boas habilidades parentais 4 Compromisso 5 Qualidade dos genes 5 Boas habilidades parentais 6 Qualidade dos genes Fonte Reimpressa com a permissão de Buss Schmitt 1993 TEORIAS DA PERSONALIDADE 287 Virtualmente todas as críticas prévias a Cattell centraramse em Cattell o tático e deixaram de lado Cattell o estrategista uma falha semelhan te a ignorar Freud pelo fato de considerar que a associação livre é uma técnica de mensuração ina dequada Cattell tem sido claramente criticado porque seus esforços para mapear todo o domí nio da estrutura da personalidade o impediram de centrar sua atenção em qualquer porção deli mitada da tarefa total p 618 E isso parece correto A própria amplitude dos interesses teóricos de Cattell tendia a enviálo para um novo projeto antes que o anterior estivesse solida mente concluído As grandes porções da estrutura te órica de Cattell repousam sobre fundamentos empíri cos vacilantes Becker 1960 Mas as grandes porções de qualquer teoria abrangente da personalidade pre cisam repousar sobre fundamentos vacilantes pelo menos durante a vida do teórico se é ele que faz gran de parte do trabalho Uma boa pesquisa da personali dade é lenta e cara Cattell merece grande parte do crédito por uma porção tão grande de sua teoria ter os fundamentos empíricos que tem A teoria de Cattell não é popular como são as te orias de Freud Roger ou Sullivan ou inclusive as de Allport ou Murray já que atraiu um grupo pequeno mas ativo de seguidores Isso se deve parcialmente ao mecanismo técnico um tanto proibitivo da análise fa torial incluindo os debates sobre suas controvérsias que tende a afastar o leitor casual Conforme Cattell 1990 p 101 afirmou Desde o início os psicólo gos recuaram diante das complexidades da análise fa torial como as hostes de bárbaros recuaram diante da Grande Muralha da China A história dos avanços da teoria experimental multivariada da personalida de é portanto uma história extraordinária de isola mento em relação às especulações dominantes sobre a personalidade Parcialmente a falta de populari dade ocorre porque as afirmações empíricas às vezes exageradas e a ocasional rejeição de abordagens al ternativas não são bemcalculadas para conquistar o leitor sofisticado Isso é uma grande pena porque é exatamente este último que teria mais o que apreciar na riqueza das idéias teóricas de Cattell e no brilhan te tesouro de fatos brutos que seu laboratório acumu lou ao longo dos anos Ao contrário do que acontece com outras teorias da personalidade a teoria de Cat tell não tende a se desenvolver como uma abstração teórica enquanto a avaliação empírica vem muito atrás De fato quase não existe uma separação clara entre a teoria e o experimento Em uma área da psicologia caracterizada por sen sibilidade e subjetividade os teóricos fatoriais intro duziram uma aura bemvinda de praticalidade e ên fase no concreto Enquanto muitos teóricos da personalidade contentamse em elaborar conceitos e suposições até um ponto em que o investigador fica aprisionado em um emaranhado de implicações con flitantes e vagas os teóricos fatoriais tendem a apre sentar suas convicções em termos de um conjunto sim ples e lúcido de dimensões ou fatores Assim a simplicidade e a clareza são virtudes cardeais desse ramo da teoria O teórico fatorial não só é econômico e explícito em suas formulações mas é também operacional Mais do que qualquer outro ramo da teoria psicológica essa posição preocupase detalhadamente em chegar a de finições empíricas claras e nãoambíguas O teórico fatorial tomou muito emprestado da habilidade tradi cional do psicometrista ao planejar meios adequados de mensuração e tende a fazer perguntas embaraço sas mas importantes sobre unidimensionalidade con sistência interna e repetibilidade que certamente têm um efeito benéfico sobre os colegas menos preocupa dos com os detalhes da mensuração Enquanto a maioria dos teóricos da personalida de chegou à sua concepção das variáveis cruciais da personalidade por meio de um processo em grande parte intuitivo e inespecificado estes teóricos ofere cem um procedimento objetivo e replicável para a determinação de variáveis subjacentes Embora pos samos questionar a afirmação de que as variáveis são determinadas pela análise fatorial e não pelos testes que são inseridos na análise fatorial não é possível contestar a afirmação de que a análise fatorial no mí nimo oferece um teste para sabermos se a variável que já foi concebida e estava representada na medi da inicial realmente existe Em outras palavras mes mo que a análise fatorial dependa de idéias anterio 288 HALL LINDZEY CAMPBELL res ela oferece um meio de avaliar a utilidade dessas idéias Em contraposição muitos teóricos da perso nalidade originaram hostes de variáveis de personali dade sem sequer submetêlas à prova empírica A maioria das teorias da personalidade deve mais ao ambiente clínico do que à sala de computação Conseqüentemente não surpreende que muitos psi cólogos tenham tratado a teoria fatorial de Cattell como uma intrusa no cenário da personalidade Uma das críticas mais freqüentes e vigorosas alega que os teóricos do fator criam sistemas de artefatos que não têm nenhuma relação verdadeira com qualquer indi víduo e portanto distorcem e representam mal a re alidade Esse ponto de vista foi enunciado efetivamente por Allport 1937 Uma população inteira quanto maior melhor é colocada no moinho e a mistura é tão bem feita que o que sai é uma cadeia de fatores em que cada indivíduo perdeu sua identidade Suas dis posições estão misturadas às disposições de todas as outras pessoas Os fatores assim obtidos repre sentam apenas tendências médias Não fica de monstrado se algum fator é realmente uma dis posição orgânica em algum indivíduo Tudo o que podemos dizer com certeza é que um fator é um componente empiricamente derivado da persona lidade média e que a personalidade média é uma completa abstração Essa objeção ganha força quando refletimos que os fatores derivados dessa maneira raramente se assemelham às disposições e aos traços identificados por métodos clínicos quando o indivíduo é estudado intensivamente p 244 Como vimos a análise fatorial pode lidar com o indivíduo único mas este último ponto ainda vale A essência dessa objeção é que os fatores derivados não são psicologicamente significativos e conseqüente mente que eles não se ajustam às observações de outros estudiosos do comportamento humano Assim a maioria dos psicólogos simplesmente não considera úteis os fatores do analista fatorial para descrever o comportamento individual Outra crítica popular é que aquilo que sai da aná lise fatorial não é nada mais nada menos do que aqui lo que foi colocado Os analistas fatoriais objetam a subjetividade e eliminamna no lugar onde ela nor malmente é encontrada mas eles na verdade estão simplesmente levando a subjetividade ou a intuição de volta ao ponto em que decidimos quais testes ou medidas serão introduzidos na matriz de correlações A crítica parece claramente válida quando o teórico afirma que o método da análise fatorial aplicado à qualquer coleção de variáveis é suficiente para pro duzir as dimensões fundamentais da personalidade Entretanto o conceito de Cattell de amostrar uma esfera definida da personalidade proporciona uma base racional para uma abordagem mais amplamente explanatória Outros críticos salientam a inevitável subjetivida de envolvida em nomear os fatores que resultam da análise fatorial Particularmente se os elementos que compõem o fator são muito diversos como freqüen temente é o caso o investigador pode ter de recorrer a muita imaginação e engenhosidade para chegar a um título global para a variável um título que o clíni co normalmente empregaria para descrever um caso único extensivamente estudado Os dois últimos pon tos podem ser generalizados como uma afirmação de que a preocupação pelo rigor e controle empíricos professada pelo analista fatorial não está uniforme mente disseminada pelo processo de pesquisa Assim esses críticos asseveram que embora a análise fato rial possa ser executada com grande cuidado e aten ção aos detalhes nem sempre é dada a mesma aten ção aos passos que levam aos escores a partir dos quais os fatores são derivados ou ao processo pelo qual o eventual fator é interpretado Muitos psicólogos acham que as teorias fatoriais não são teorias Alguns dos sistemas simplesmente es pecificam variáveis ou fatores importantes mas sem nenhuma indicação do processo desenvolvimental ou oferecimento das detalhadas suposições sobre o com portamento que seriam necessárias para permitir pre dições referentes a dados nãoobservados Como vi mos essa crítica não se aplica à posição de Cattell Um problema mais substancial referese às infor mações extremamente complexas requeridas pela teo ria e pelas equações de Cattell O modelo é detalhado e conceitualmente atraente A ironia está no fato de ser exatamente a sua complexidade que o torna em grande parte impraticável A quantidade de informa TEORIAS DA PERSONALIDADE 289 ções sobre os traços duradouros e os estados tempo rários do indivíduo que o pesquisador ou psicólogo aplicado deve possuir mais os pesos de relevância necessários para predizer qualquer comportamento específico virtualmente impedem a implementação do modelo completo Sejam quais forem as dificuldades da teoria fato rial de Cattell está claro que sua ênfase na clareza e em padrões adequados de mensuração representa uma influência muito saudável Poderíamos discutir se o conteúdo da teoria contribuirá proveitosamente ou não para as futuras teorias da personalidade mas o estilo ou modo de abordagem de Cattell certamente terá um impacto sobre o desenvolvimento de futuras teo rias TEORIAS DA PERSONALIDADE 291 CAPÍTULO 9 A Teoria de Traço Biológico de Hans Eysenck INTRODUÇÃO E CONTEXTO 292 HISTÓRIA PESSOAL 295 A DESCRIÇÃO DO TEMPERAMENTO 297 Extroversão e Neuroticismo 297 Psicoticismo 300 MODELOS CAUSAIS 301 Eysenck 1957 301 Eysenck 1967 303 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 306 PESQUISA ATUAL 310 Gray 310 Zuckerman 312 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 312 292 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO O modelo de Eysenck da personalidade é distintivo em vários aspectos Ele propõe que o estudo da per sonalidade tem dois aspectos interligados 1990 p 244 O primeiro aspecto é descritivo ou taxonômico e enfoca o estabelecimento de unidades a serem usa das para resumir as maneiras pelas quais os indivídu os diferem O segundo referese aos elementos cau sais e é aqui que Eysenck faz uma de suas contribui ções distintivas Ele reconhece o papel crítico desem penhado pela aprendizagem e pelas forças ambien tais mas afirma que nós também precisamos explicar o fato de que o efeito de uma dada situação varia para diferentes indivíduos Além disso precisamos reco nhecer o papel determinante causal desempenhado pelos fatores biológicos A abordagem de Eysenck à personalidade é virtualmente única no sentido de que especifica uma cadeia causal em que um substrato biológico é responsável pelas diferenças individuais em dimensões fundamentais da personalidade O com portamento resulta da posição da pessoa nessas di mensões combinada com as circunstâncias às quais ela está exposta Isto é o comportamento reflete tipi camente uma interação das tendências da pessoa e das forças ambientais Assim Eysenck focaliza as di mensões biológicas da personalidade e sua aborda gem é biossocial no sentido de que o funcionamen to característico do sistema nervoso central predispõe os indivíduos a responder de certas maneiras ao am biente Eysenck pode estar errado acerca das dimen sões básicas da estrutura da personalidade e pode estar errado sobre as diferenças fisiológicas responsá veis por essas dimensões mas ele está certo ao afir mar que um modelo adequado da personalidade pre cisa incluir uma taxonomia descritiva e especificar mecanismos biológicos que contribuem para as dife renças observadas nessas dimensões descritivas Nesse sentido a posição de Eysenck distinguese por ser uma boa teoria em um sentido formal Isto é ele explica o comportamento em um determinado ní vel em termos de processos que operam em um nível mais fundamental Por exemplo os hábitos de traba lho dos introvertidos e dos extrovertidos são uma fun ção das diferenças de sensibilidade à estimulação que por sua vez são uma função de diferenças fisiológicas subjacentes Nós seguiremos a orientação de Eysenck 1990 H J Eysenck Eysenck 1985 mantendo a distinção entre os componentes descritivos e causais de sua teoria Segundo ao desenvolver seu modelo para a des crição da organização da personalidade Eysenck dis tingue entre os conceitos de traço e tipo Um traço se refere a um conjunto de comportamentos relaciona dos que covariam ou ocorrem juntos repetidamente Uma pessoa com um traço de sociabilidade vai a fes tas conversa com amigos gosta de passar tempo com pessoas e assim por diante Um tipo é um constructo de ordem superior ou supraordenado compreenden do um conjunto de traços correlacionados Um extro vertido por exemplo é sociável assertivo e aventu reiro Ambos os conceitos se referem a dimensões contínuas em contraposição à tendência a pensar em um tipo como categorias distônicas A distinção é que um tipo é mais geral e inclusivo O modelo de Eysen ck da personalidade inclui três dimensões tipológicas básicas introversão versus extroversão neuroticismo versus estabilidade e psicoticismo versus controle dos impulsos Como Cattell Eysenck conclui que seus três fatores emergem consistentemente de estudos fatori ais analíticos de questionários de personalidade Por exemplo tanto Eysenck quanto os defensores do mo delo dos Cinco Grandes ver Capítulo 8 incluem a extroversão e o neuroticismo como dimensões bási cas Eysenck H J Eysenck Eysenck 1985 Eysen ck 1992a b ver réplica de Costa McCrae 1992c explica a discrepância entre o seu modelo e o dos Cin co Grandes argumentando que as Cinco Grandes di mensões de cordialidade e conscienciosidade são tra ços do terceiro nível que se combinam como parte do seu de Eysenck tipo de psicoticismo Da mesma for ma ele considera a quinta das Cinco Grandes dimen sões variadamente rotulada como abertura à experi ência e cultura como uma dimensão cognitiva que não se ajusta às suas próprias dimensões temperamen tais A pessoa pode situarse em qualquer localização entre os dois extremos em cada tipo e Eysenck consi dera as três dimensões como distribuídas de uma for ma essencialmente normal dentro da população A Fi gura 91 ver p 294 ilustra os relacionamentos entre os três tipos e seus traços definidores A Figura 91 também demonstra a crença de Ey senck 1947 1990 de que um modelo de personali dade deve ser hierárquico Ele propõe uma hierarquia contendo quatro níveis No nível inferior estão as res postas específicas tais como falar diante da classe em TEORIAS DA PERSONALIDADE 293 Hans J Eysenck 294 HALL LINDZEY CAMPBELL FIGURA 91 Traços que constituem o conceito de tipo de a neuroticismo b extroversão e c psicoticismo Reimpressa com a permissão de H J Eysenck 1985 p 1415 uma ocasião isolada No segundo nível estão as res postas habituais que incluem comportamentos fre qüentes ou recorrentes como falar diante da classe com regularidade O terceiro nível é o dos traços que são definidos em termos de conjuntos intercorrelaci onados de respostas habituais Uma pessoa sociável por exemplo fala diante da classe gosta de conversar com outras pessoas gosta de ir a festas e assim por diante No nível superior de generalidade estão os tipos que por sua vez são definidos como conjuntos intercorrelacionados de traços Na Figura 91 por exemplo o tipo de psicoticismo inclui os traços agres sivo impulsivo e antisocial Eysenck identifica os três tipos usando a análise fatorial ver Capítulo 8 Em termos de análise fatorial um traço é um fator primá rio e um tipo um fator de segunda ordem Assim o traço de Eysenck corresponde ao traço de origem de Cattell e o tipo de Eysenck ao fator de segunda or dem de Cattell Eysenck propõe que o psicoticismo a extroversão e o neuroticismo estruturam as diferen ças individuais de temperamento ou o domínio não cognitivo da personalidade Ele reconhece a inteligên cia como uma característica separada que estrutura diferenças individuais dentro do domínio cognitivo É importantíssimo compreender que Eysenck não está afirmando que esses três superfatores descrevem exaustivamente a personalidade ou são uma base su ficiente para predizer comportamentos específicos Para pintar o quadro descritivo do temperamento de uma pessoa sempre serão necessários alguns traços TEORIAS DA PERSONALIDADE 295 primários além dos superfatores ou dimensões impor tantes da personalidade H J Eysenck Eysenck 1985 p 185 A Figura 91 ilustra esse ponto O lei tor deve notar o paralelo entre a confiança de Eysen ck nos traços para detalhar a estrutura descritiva ge ral estabelecida pelos tipos e a expansão da descrição da personalidade proporcionada pelos Cinco Grandes traços de personalidade por meio da adição de seis facetas incluindo as cinco características supraorde nadas ver Capítulo 8 Eysenck 1990 ver também 1991 para uma dis cussão dos critérios para dimensões e sistemas di mensionais aceitáveis da personalidade apresenta três argumentos ao defender o papel crítico que os fatores biológicos desempenham na determinação das dife renças individuais nos três tipos Primeiro esses mes mos fatores emergiram consistentemente em investi gações da estrutura da personalidade em culturas amplamente divergentes Barratt Eysenck 1984 tal unanimidade cultural cruzada é difícil de explicar a não ser em termos biológicos Segundo os indiví duos tendem a manter suas posições nessas dimen sões ao longo do tempo Conley 1984ab 1985 Ter ceiro há evidências de um componente herdável substancial nas diferenças individuais nas três dimen sões Eaves Eysenck Martin 1989 Loehlin 1989 Os dois últimos achados sugerem claramente para Eysenck que as forças biológicas contribuem para as diferenças individuais nas tipologias Além disso existe um grande corpo de trabalho que apóia diretamente as bases biológicas da extroversão e do neuroticismo Bullock Gilliland 1993 Eysenck 1967 H J Ey senck Eysenck 1985 Gale Eysenck 1989 Mat thews Amelang 1993 Smith 1983 Smith Rockwe llTischer Davidson 1986 Stelmack 1981 1990 Stelmack Geen 1992 Stelmack Houlihan Mc GarryRoberts 1993 Sternberg 1992 Strelau Ey senck 1987 Finalmente Eysenck estipula que uma teoria da personalidade deve ser testável e contrariamente à prática atual que ela deve ser rigorosamente avalia da em termos do equilíbrio de evidências que a apói am e contradizemna Já que não conseguimos fazer isso a ausência de um paradigma na psicologia é particularmente óbvia e instrutiva no campo da per sonalidade Seguindo o exemplo de Hall e Lindzey 1970 a maioria dos livros didáticos atualmente apre senta uma série de capítulos organizados em torno de um autor específico explicando suas teorias citando alguns exemplos de trabalhos mais ou menos relevan tes para elas mas evitando a tarefa cientificamente importante e na verdade essencial de julgar a ade quação da teoria em termos do trabalho empírico a ela dedicado e de comparar a adequação de uma te oria nessa linha com a das outras Assim o que te mos não é a evolução de um paradigma mas um lei lão de idéias estranho ao espírito da ciência que conduz a uma escolha arbitrária em termos de pre conceitos preexistentes por parte do estudante Ey senck 1983 p 369 Acostumado à controvérsia e às afirmações ousadas Eysenck segue argumentando que seu modelo tridimensional oferece pelo menos o iní cio de um paradigma no campo da personalidade e propõe que os testes de personalidade sejam avalia dos correlacionandose os resultados com suas de Eysenck medidas de psicoticismo P extroversão E e neuroticismo N Essa estratégia traria o duplo be nefício de determinar a extensão da contribuição úni ca à mensuração da personalidade para qualquer tes te e também ofereceria uma métrica comum para compararmos escores em testes de personalidade Eysenck afirma que P E e N são mais fundamentais do que outras dimensões propostas e que portanto abrem caminho para a unificação do campo ao pro porcionar uma métrica comum e uma base unificada para gerar predições sobre o relacionamento entre a personalidade e variáveis experimentais ou sociais Eysenck é claramente um defensor sincero da sua pró pria posição mas provavelmente não mais sincero do que alguém como B F Skinner Sua defesa agressiva não deve obscurecer a sensatez fundamental de seu argumento de que uma teoria da personalidade ade quada deve gerar hipóteses testáveis p ex 1991 1992a A esse respeito o modelo de Eysenck teve um sucesso exemplar HISTÓRIA PESSOAL Eysenck publicou dois artigos autobiográficos 1980 1982a e Gibson 1981 escreveu uma biografia No que se segue nos baseamos principalmente em Ey senck 1982a Hans Jurgen Eysenck nasceu em Ber lim Alemanha em 4 de março de 1916 em plena Primeira Guerra Mundial e foi criado durante o tu 296 HALL LINDZEY CAMPBELL multo econômico e social que se seguiu à derrota da Alemanha Ele odiava o regime assassino de Hitler com o qual se chocava repetidamente Eysenck foi criado como protestante mas relata que muito cedo toda a minha simpatia foi para os judeus perseguidos e todo o meu ódio para os seus perseguidores 1982a p 287 Essas simpatias fizeram com que passasse a ser chamado de judeu branco e Eysenck conta que só o seu tamanho e a sua capacidade atlética ele se destacou nacionalmente em tênis e em vários outros esportes o protegiam Os pais de Eysenck eram artis tas do teatro de variedades que se divorciaram quan do ele estava com dois anos de idade e ele foi criado pela avó Essa pessoa muito amada foi assassinada em um campo de concentração no início da década de 40 Eysenck escreve que seu ódio pelo hitlerismo o levou a desenvolver simpatias políticas pela esquer da mais tarde atenuadas pelo reconhecimento de que ambos os extremos políticos tinham problemas Seu interesse pela política durou toda a vida Em 1934 quando fez 18 anos Eysenck recusou se a ingressar no exército alemão e emigrou para Lon dres Ele pretendia estudar física subatômica na Uni versidade de Londres mas escolheu a psicologia quando lhe disseram que carecia dos prérequisitos para a física Ele conta que se sentiu arremessado aos lobos Eu acabei resignado com o meu destino mas a princípio meus sentimentos em relação à psico logia como ciência eram tudo menos lisonjeiros 1982a p 290 O interesse inicial de Eysenck pela ciência natural e pela física continuou caracterizando sua abordagem à psicologia assim como o interesse de Cattell pela química influenciou profundamente sua carreira na psicologia Eysenck estudou com o emi nente psicólogo Sir Cyril Burt mas conta que Burt tinha um comportamento bastante anormal em re lação a ele tanto pessoalmente quanto profissional mente Burt foi provavelmente o psicólogo mais ta lentoso de sua geração mas tinha sérios transtornos psiquiátricos 1982a p 290 Eysenck recebeu seu PhD em 1940 mas seu sta tus como um estrangeiro inimigo prejudicou suas perspectivas de emprego Por meio de uma série for tuita de eventos ele começou a trabalhar como psicó logopesquisador no Mill Hill Emergency Hospital uma instalação psiquiátrica da Segunda Guerra Mundial Eysenck começou lá suas pesquisas defendendo a análise dimensional em vez da análise categórica em grupos diagnósticos separados Ele identificou as duas dimensões mais importantes nos pacientes neuróti cos extroversãointroversão e neuroticismoestabili dade que subseqüentemente aplicou também às pes soas normais Além disso Eysenck manteve seu interesse pela terapia comportamental embora a opo sição do seu diretorpsiquiatra o impedisse de traba lhar abertamente nessa área Depois da guerra Ey senck tornouse diretor do Departamento de Psicologia no novo Instituto de Psiquiatria criado no Maudsley Hospital bem como professor de psicologia na Uni versidade de Londres Foi então que começou a todo vapor a pesquisa de Eysenck em terapia do comporta mento Eysenck 1957a 1960 a pesquisa que o le vou à grande batalha com o Sistema Psiquiátrico Britânico Sob a coordenação de Eysenck o departa mento tornouse um centro de formação clínica e pes quisa em mensuração da personalidade e genética do comportamento Em 1994 Eysenck recebeu o Willi am James Fellow Award da Sociedade Psicológica Americana A citação destacava Eysenck pelo alcan ce de seu intelecto visionário pela qualidade de suas realizações acadêmicas pela fidelidade aos fatos e acima de tudo por sua coragem inabalável Eysenck foi incrivelmente produtivo A lista de suas publicações passava de 650 em 1981 Eysenck 1982a e seu ritmo de publicação não diminuiu nos últimos anos Estão incluídos livros populares p ex 1953a 1957b 1964a 1965 1972 H J Eysenck Eysenck 1983 Eysenck Gudjonsson 1989 decla rações teóricas 1947 1952 1953b 1967 1981b 1983 1990 H J Eysenck Eysenck 1985 H J Ey senck S B G Eysenck 1969 1976 e declarações sobre sua posição em relação à inteligência 1971b 1979 H J Eysenck Kamin 1981 psicanálise 1963 H J Eysenck Wilson 1974 fumo e doença 1985 H J Eysenck OConnor 1979 e terapia do comportamento 1957a 1960 1976a b H J Eysen ck Rachman 1965 TEORIAS DA PERSONALIDADE 297 A DESCRIÇÃO DO TEMPERAMENTO Extroversão e Neuroticismo Examinemos agora a evolução da abordagem tipoló gica de Eysenck aos componentes temperamentais da estrutura da personalidade Eysenck coloca seu mo delo em uma perspectiva histórica ao descrever como dois dos tipos mais importantes de personalidade extroversão e neuroticismo podem ser traçados por meio da história até os sistemas de temperamento descritos em termos de quatro humores pelos autores gregos Hipócrates e Galeno H J Eysenck Eysenck 1985 ver também Stelmack Stalikas 1991 A clás sica teoria dos humores foi descrita inicialmente por Hipócrates 460 aC Baseandose em trabalhos an teriores de Empédocles e dos pitagóricos Hipócrates descreveu quatro humores sangue fleuma bile ne gra e bile amarela Esses humores por sua vez eram reflexos de quatro elementos cósmicos terra água ar e fogo cada um com uma qualidade específica frio para o ar calor para o fogo úmido para a água e seco para a terra A idéia de que toda matéria é com posta por esses quatro elementos parece bem menos absurda quando traduzimos terra água ar e fogo em três formas contemporâneas de matéria sólida lí quida e gasosa mais energia Hipócrates propôs que a maneira pela qual esses elementos se combinavam determinava a saúde e o caráter de um indivíduo O sangue por exemplo estava associado a molhado e quente e a bile negra estava associada a frio e seco Galeno 170 aC ampliou tal modelo argumentan do que o excesso de qualquer humor era responsável pelas qualidades emocionais distintivas do indivíduo A pessoa sangüínea sempre cheia de entusiasmo devia seu temperamento à força do sangue a tristeza do melancólico se devia ao funcionamento excessivo da bile negra a irritabilidade do colérico era atribuí da à predominância da bile amarela no corpo e a aparente lentidão e apatia da pessoa fleumática se devia à influência da fleuma H J Eysenck Eysen ck 1985 p 42 Eysenck argumenta que sob sua aparente absur didade tais idéias corporificam as três principais noções que caracterizam o trabalho atual sobre a per sonalidade H J Eysenck Eysenck 1985 p 42 Primeiro a melhor maneira de descrever o comporta mento é em termos de traços que caracterizam as pes soas em graus variados Segundo esses traços se com binam para definir tipos mais fundamentais Terceiro as diferenças individuais nesses tipos baseiamse em fatores constitucionais i e genéticos neurológicos e bioquímicos Em uma grande extensão essas três no ções servem como o credo de Eysenck O capítulo seguinte dessa resenha histórica foi escrito em 1798 quando Immanuel Kant publicou Anthropologie que Eysenck descreve como essenci almente um manual de psicologia Kant elaborou a descrição dos quatro tipos temperamentais e organi zouos em termos de dois contrastes fundamentais o melancólico tem sentimentos fracos e o sangüíneo tem sentimentos fortes da mesma forma a pessoa fleu mática apresenta pouca atividade e a pessoa colérica apresenta atividade intensa ver Figura 92 Mas Kant ainda via os quatro tipos como independentes e foi Wilhelm Wundt 1874 que introduziu um sistema descritivo dimensional em vez de categórico em seu Elements of Physiological Psychology Wundt afirmou que os quatro tipos refletiam um status característico alto ou baixo nas duas dimensões de mutabilidade e força das emoções ver Figura 92 p 298 Assim o colérico e o melancólico têm emoções fortes e o san güíneo e o colérico estão inclinados a mudanças rápi das Na visão de Wundt então os indivíduos são de finidos em termos de sua posição em um espaço bidimensional em que os quatro temperamentos re presentam posições extremas nos quatro quadrantes Esse sistema prediz com excepcional exatidão o modelo original bidimensional de Eysenck as emo ções fortes versus fracas de Wundt correspondem à dimensão neurótica versus estável de Eysenck e o eixo mutável versus imutável corresponde à dimensão de extroversão versus introversão de Eysenck Conforme salientam Stelmack e Stalikas 1991 a distinção en tre Kant e Wundt também antecipa o desacordo entre Eysenck e Gray sobre a localização dos eixos que defi nem os tipos fundamentais de personalidade ver dis cussão mais adiante neste capítulo A contribuição final na evolução da taxonomia descritiva de Eysenck vem de Carl Jung Em 1921 Jung propôs que a introversãoextroversão é um par de atitudes básicas em que o introvertido está orien tado para o mundo interno e o extrovertido está ori entado para o mundo externo Além disso o extro vertido é sociável mutável e despreocupado todas 298 HALL LINDZEY CAMPBELL essas características são consistentes com a articula ção de Wundt do extremo mutável Igualmente Jung afirmou que a introversão e a extroversão provavel mente levavam a formas diferentes de doença mental diante do estresse Os introvertidos são suscetíveis à psicastenia uma síndrome associada a nervosismo ansiedade flutuante e aquilo que atualmente chama mos de fobia ou neurose obsessivocompulsiva Os extrovertidos ao contrário tendem a desenvolver transtornos histéricos sintomas físicos sem nenhu ma base orgânica O modelo de Jung também incluía um contraste implícito entre neuroticismo e normali dade de modo que o seu modelo completo inclui duas dimensões independentes de introversão versus extro versão e neuroticismo versus normalidade Esse mo delo corresponde ao espaço de personalidade bidimen sional de Eysenck em que os eixos definidores são introversãoextroversão e neuroticismoestabilidade O modelo bidimensional de Eysenck conforme apre sentado na Figura 93 serve para integrar os modelos FIGURA 92 Esquemas dos quatro temperamentos por a Immanuel Kant e b Wilhelm Wundt Reimpressa com a permissão de Stelmack Stalikas 1991 p 262 FIGURA 93 Relação entre os quatro temperamentos e o moderno sistema dimensional de neuroticismoextroversão Reimpressa com a permissão de H J Eysenck Eysenck 1985 p 50 TEORIAS DA PERSONALIDADE 299 descritivos anteriores oferecidos por Hipócrates Ga leno Kant Wundt e Jung Para testar o modelo de Jung Eysenck 1947 examinou os arquivos clínicos de 700 pacientes neu róticos do Mill Hill Emergency Hospital Ele subme teu 39 itens relevantes da história e do comportamento dos clientes a uma análise fatorial que revelou dois fatores bipolares Ele interpretou um dos fatores como neuroticismo geral e o outro fator distinguia pacien tes cujos sintomas neuróticos estavam associados à ansiedade ou a sintomas histéricos Eysenck introdu ziu o termo distimia para referirse aos transtornos de ansiedade que Jung chamara de psicastenia e mante ve a designação de histeria para a outra classe de trans tornos Mais importante ele encontrou apoio no pa drão de traços que caracterizava os dois grupos neuróticos para a afirmação de Jung de que a intro versão é característica dos distímicos e a extroversão caracteriza os histéricos Eysenck generalizou esses resultados ver Eysenck 1953b para um sumário de pesquisas adicionais para argumentar que as dimen sões de extroversão E e neuroticismo N proporci onam uma estrutura básica para descrever as diferen ças individuais de temperamento Embora não querendo negar a existência e a importância de fato res adicionais a E e N nós acreditamos que os dois fatores contribuem mais para uma descrição da per sonalidade do que qualquer conjunto de dois fatores fora do campo cognitivo H J Eysenck Eysenck 1975 p 34 Eysenck desenvolveu uma série de questionários de autorelato no formato lápisepapel para medir diferenças individuais nessas duas dimensões O pri meiro dos questionários foi o Maudsley Personality In ventory Eysenck 1959b Ele foi substituído pelo Ey senck Personality Inventory EPI H J Eysenck Eysenck 1965 e mais tarde pelo Eysenck Personality Questionnaire EPQ H J Eysenck Eysenck 1975 Eysenck afirma que a informação descritiva trazida por esses testes é consistente e escreve no manual do EPQ O que quer que tenha sido descoberto sobre correlatos de E e N com o uso das escalas mais antigas aplicase com igual força às novas escalas H J Ey senck Eysenck 1975 p 3 No entanto as ques tões medindo o traço de impulsividade que carrega va na escala de extroversão do EPI foram mudadas para a escala de psicoticismo no EPQ contestando assim a afirmação de igual força de Eysenck ver Rocklin Revelle 1981 Campbell Reynolds 1982 No manual do EPQ Eysenck apresenta a seguinte descrição do extrovertido e do introvertido típicos O extrovertido típico é sociável gosta de festas tem muitos amigos precisa ter pessoas com as quais conversar e não gosta de ler ou de estudar sozinho Ele precisa de excitação assume riscos geralmente confia nas pessoas age no impulso do momento e de modo geral é um indivíduo im pulsivo Ele gosta de piadas sempre tem uma res posta pronta e geralmente gosta de mudanças ele é descuidado despreocupado otimista e gos ta de rir e divertirse Ele prefere ficar em movi mento e fazer tarefas tende a ser agressivo e a perder a calma facilmente seus sentimentos não são mantidos sob grande controle e ele nem sem pre é uma pessoa confiável O introvertido típico é uma pessoa quieta retra ída introspectiva que gosta mais de livros do que de pessoas ele é reservado e distante exceto com amigos íntimos Ele tende a planejar antecipada mente olha bem antes de saltar e desconfia do impulso do momento Ele não gosta de excitação lida com os problemas do cotidiano com serieda de adequada e gosta de um modo de vida bem organizado Ele guarda seus sentimentos sob gran de controle raramente se comporta de maneira agressiva e não perde a calma facilmente Ele é confiável um tanto pessimista e valoriza muito padrões éticos H J Eysenck Eysenck 1975 p 5 Se o leitor voltar à Figura 91 verá que tal descri ção inclui muitos dos traços que o tipo geral de extro versão incorpora De maneira semelhante Eysenck descreve o N elevado típico é um indivíduo ansioso preo cupado rabugento e freqüentemente deprimido Ele tende a dormir mal e a sofrer de vários trans tornos psicossomáticos Ele é extremamente emo tivo reagindo exageradamente a todos os tipos de estímulo e tem dificuldade para acalmarse depois de uma experiência emocionalmente in tensa Suas fortes reações emocionais atrapalham um ajustamento adequado fazendoo reagir de 300 HALL LINDZEY CAMPBELL maneira irracional e às vezes rígida Se o indi víduo com N elevado tivesse de ser descrito com uma única palavra poderíamos dizer que ele é preocupado sua principal característica é uma constante preocupação com ações e fatos que po deriam dar errado e uma forte reação emocional de ansiedade diante desses pensamentos O indi víduo estável por outro lado tende a responder emocionalmente de forma lenta e geralmente fra ca a retornar rapidamente ao estado anterior depois da excitação emocional ele normalmente é calmo tranqüilo controlado e despreocupado H J Eysenck Eysenck 1975 p 5 Eysenck enfatiza que essas descrições se referem ao aspecto fenotípico ou expresso da personalidade O comportamento observado é uma função da intera ção entre características constitucionais e o ambiente experienciado Nesse aspecto importante Eysenck oferece um modelo biossocial da personalidade Psicoticismo Em anos mais recentes Eysenck H J Eysenck Ey senck 1976 ampliou seu modelo descritivo bidimen sional original acrescentando uma terceira dimensão descritiva de psicoticismo A dimensão de psicoticis mo compreende o contínuo do comportamento nor mal passando pelo comportamento criminoso e psi copático e chegando ao estado esquizofrênico e outros estados psicóticos em que é perdido o contato com a realidade e em que existem sérios transtornos de cog nição afeto e comportamento Essa orientação é con sistente com a abordagem dimensional geral de Ey senck à conceitualização e à mensuração da psicopa tologia Além disso o psicoticismo é poligênico H J Eysenck Eysenck 1976 p 29 no sentido de que o status de uma pessoa nos traços constituintes reflete a presença ou a ausência de vários genes de efeito pequeno Tais genes funcionam de uma maneira adi tiva de modo que o número total herdado pelo indi víduo determina seu grau de psicoticismo Eysenck também postula a existência de outros genes que exer cem um efeito grande Quando o número de genes de valor pequeno é menor do que o requerido para que se desenvolva uma psicose característica ou quan do o estresse externo não foi suficiente para proporci onar uma interação que produza esse estado tere mos indivíduos demonstrando graus variados de es tado esquizóide ou esquizotipos psicopatas socio patas criminosos drogaditos etc Quando os genes de efeito grande estão presentes normalmente ape nas um temos os quadros clássicos discutidos nos manuais de psiquiatria H J Eysenck Eysenck 1976 p 29 A interação de características predispo nentes que se manifestam na psicose quando desen cadeadas por estressores ambientais colocam o mo delo de psicose de Eysenck na categoria geral dos modelos psicopatológicos de diáteseestresse A abordagem dimensional de Eysenck combina da com seu modelo hierárquico de traços constituin tes subjacentes a um tipo mais geral de psicoticismo justifica sua afirmação de que o psicoticismo oferece uma dimensão útil para a descrição de comportamen tos nãosocializados incomuns e malcontrolados em indivíduos nãoclínicos O EPQ contém uma escala planejada para medir diferenças individuais nessa di mensão Mas devemos observar que existe uma consi derável controvérsia em relação à interpretação ade quada dos escores elevados na dimensão de psicoticis mo Por exemplo Claridge 1967 1972 1981 1983 1986 sugeriu que é melhor interpretar os escores em psicoticismo em termos de psicopatia ou comporta mento antisocial ver também Thornquist Zucker man 1995 para uma recente revisão comparativa de modelos de psicopatia Eysenck propõe que a pessoa com um escore ele vado em psicoticismo P deve ser compreendida como tendo herdado uma vulnerabilidade para desenvol ver transtornos psicóticos diante dos estresses desen volvimentais e são os traços associados a essa vulne rabilidade que servem para definir a pessoa que obtém altos escores na escala de psicoticismo Aqui está a descrição de Eysenck do padrão característico das pessoas que obtêm altos escores P Um indivíduo com um escore elevado então pode ser descrito como sendo solitário não se importando com as pessoas ele geralmente traz problemas não se adaptando a lugar nenhum Ele pode ser cruel e desumano sem sentimento e empatia e totalmente insensível Ele é hostil com os outros mesmo com parentes e amigos e agres sivo até com as pessoas amadas Ele gosta de coi sas estranhas e incomuns e não se importa com o perigo ele gosta de fazer os outros de bobos e de TEORIAS DA PERSONALIDADE 301 irritálos Essa é uma descrição de um adulto com escores P elevados no que se refere às crianças nós obtivemos um quadro bastante congruente de uma criança estranha isolada e perturbadora gla cial e carecendo de sentimentos humanos por seus semelhantes e pelos animais agressiva e hostil mesmo com as pessoas mais próximas e queridas Essas crianças tentam compensar a falta de senti mento buscando sensações em excessos excitan tes sem pensar nos perigos envolvidos A sociali zação é um conceito relativamente desconhecido tanto para os adultos como para as crianças em patia sentimentos de culpa sensibilidade a ou tras pessoas são noções estranhas e pouco famili ares para eles H J Eysenck Eysenck 1975 p 56 Os indivíduos situados no intervalo moderado apre sentariam esses comportamentos em um grau menor Eysenck também toma o cuidado de salientar que a escala P indica comportamentos normais nós nos preocupamos com variáveis de personalidade subja centes aos comportamentos que só se tornam patoló gicos em casos extremos H J Eysenck Eysenck 1975 p 6 A descrição de Eysenck do neuroticismo perma neceu relativamente estável ao longo do tempo mas ele modificou sua descrição da extroversão A extro versão originalmente era conceitualizada em termos da combinação dos traços de sociabilidade e impulsi vidade S B G Eysenck Eysenck 1963 Mas com a introdução no EPQ de uma escala para o psicoticis mo o traço da impulsividade foi modificado para con tribuir para o psicoticismo Alguns dos itens do ques tionário de impulsividade que tinham contribuído para a extroversão no EPI foram usados como marcadores de psicoticismo no EPQ No processo de fazer tal mu dança foi articulado um outro componente da impul sividade chamado de aventureirismo S B G Eysen ck Pearson Easting Allsopp ver S B G Eysenck Eysenck 1977 1978 para uma perspectiva adicio nal e este se tornou um traço componente da extro versão ver Brody 1988 O aventureirismo reflete um interesse por atividades perigosas e excitantes e como tal tem muito em comum com o traço de busca de sensação que também contribui para a extroversão Eysenck H J Eysenck Eysenck 1985 argumenta que a impulsividade no sentido amplo assim como características como a busca de sensação ocupa um nível intermediário entre os níveis de tipo e traço em sua hierarquia A pesquisa e a mensuração nesse nível intermediário são ambíguas e Eysenck prefere claramente prosseguir ou no nível de tipo ou no nível de traço Nem todos os pesquisadores concordam com esse conselho p ex Revelle Humphreys Simon Gilliland 1980 ver também uma réplica de M W Eysenck Folkard 1980 MODELOS CAUSAIS A taxonomia tridimensional de Eysenck oferece um sistema para a descrição de diferentes tipos de indiví duos em termos de seus padrões de comportamento característicos O que ainda precisa ser respondido todavia é a pergunta causal de por que um determi nado indivíduo fica predisposto a apresentar um de terminado conjunto de comportamentos Tomando emprestada a linguagem da genética o psicoticismo a extroversão e o neuroticismo se referem aos compo nentes observados ou aos fenotípicos da personalida de A tentativa de Eysenck de especificar os fatores subjacentes ou genotípicos responsáveis pelas varia ções observadas no comportamento depende da iden tificação de diferenças fisiológicas que covariam com o status alto ou baixo nas dimensões tipológicas Ey senck propôs dois modelos explanatórios O primeiro modelo Eysenck 1957a explicava as diferenças en tre introvertidos e extrovertidos em termos de dife renças no sistema nervoso central em níveis de pro cessos neurais inibitórios e excitatórios O segundo modelo Eysenck 1967 explicava as diferenças en tre a introvertidos e extrovertidos em termos de ní veis de excitação cortical e b neuróticos e estáveis em termos de níveis de ativação cerebral visceral Eysenck 1957 Esse modelo começa com o psicólogo russo Ivan Pav lov Pavlov investigou o processo que passou a ser cha mado de condicionamento pavloviano ou clássico apresentando a um cachorro um estímulo neutro como uma campainha imediatamente antes de colocar pó de comida em sua boca O pó de comida provocaria 302 HALL LINDZEY CAMPBELL uma resposta salivar reflexa e após um número sufi ciente de emparelhamentos de campainha e pó de comida a campainha eliciava uma resposta salivar quando apresentada sozinha Conforme descrito por Monte 1995 os cães de Pavlov diferiam em sua ca pacidade de adquirir a resposta salivar à campainha Além disso o temperamento dos cães parecia estar relacionado à sua capacidade de condicionamento Os cachorros sociáveis e ativos eram os piores sujeitos porque ficavam letárgicos quando amarrados pelas correias experimentais Pavlov propôs que as diferen ças existiam porque os cães diferiam em seus índices relativos de processos corticais excitatórios e inibitó rios os maus sujeitos eram caracterizados por mais processos excitatórios mas esses processos se esgota vam rapidamente durante a monótona tarefa de con dicionamento produzindo sonolência e um mau de sempenho de aprendizagem Os bons sujeitos eram caracterizados por mais processos inibitórios e esses processos facilitavam a aquisição de respostas inibitó rias i e aprender a não responder ao membro de um par de estímulos que não fosse reforçado pelo pó de comida Eysenck 1957 rejeitou grande parte do sistema explanatório de Pavlov Ele manteve a distinção entre processos neurais excitatórios e inibitórios como a base da diferença entre os introvertidos e os extrovertidos mas aplicoua de maneira diferente Especificamente ele propôs que os introvertidos são caracterizados por mais processos neurais excitatórios e os introvertidos são caracterizados por mais processos inibitórios Ey senck 1957a p 114 resumiu essa posição em seu postulado tipológico Os indivíduos nos quais o potencial excitatório é gerado lentamente e nos quais os potenciais exci tatórios assim gerados são relativamente fracos estão predispostos a desenvolver padrões extro vertidos de comportamento e a desenvolver trans tornos histéricopsicopáticos em casos de colapso neurótico os indivíduos nos quais o potencial excitatório é gerado rapidamente e nos quais os potenciais assim gerados são fortes estão predis postos a desenvolver padrões introvertidos de comportamento e a desenvolver transtornos dis tímicos em caso de colapso neurótico Da mesma forma os indivíduos nos quais a inibição reativa se desenvolve rapidamente nos quais são gera das inibições reativas fortes e nos quais a inibição reativa se dissipa lentamente estão predispostos a desenvolver padrões extrovertidos de compor tamento e a desenvolver transtornos histéricopsi copáticos em caso de colapso neurótico inversa mente os indivíduos nos quais a inibição reativa se desenvolve lentamente nos quais são geradas inibições reativas fracas e nos quais a inibição rea tiva se dissipa rapidamente estão predispostos a desenvolver padrões introvertidos de comporta mento e a desenvolver transtornos distímicos em caso de colapso neurótico Assim a distinção causal fundamental entre introver tidos e extrovertidos é que os introvertidos têm uma razão baixa de processos inibitórios para excitatórios e os extrovertidos têm uma razão elevada de proces sos neurais inibitórios para excitatórios Alguns resul tados experimentais diretos são consistentes com essa proposta Por exemplo Spielmann 1963 descobriu que os extrovertidos apresentavam pausas involuntá rias de descanso mais freqüentes do que os introverti dos durante uma tarefa de datilografia Esse resulta do é consistente com a predição de que os extroverti dos experienciam um aumento da inibição cortical durante uma tarefa contínua Da mesma forma Cla ridge 1967 ver também Bakan Belton Toth 1963 descobriu que os distímicos tinham um desempenho melhor do que os histéricos em uma tarefa monótona de vigilância auditiva envolvendo a detecção de três dígitos ímpares sucessivos presumivelmente porque a acumulação de pausas involuntárias de descanso nos histéricos extrovertidos os fazia perder mais dos even tos distintivos Além disso se os processos neurais excitatórios podem ser compreendidos como facilitando a aquisi ção de respostas condicionadas então uma predição básica a partir do modelo de 1957 de Eysenck é que todas as outras coisas sendo iguais os introvertidos têm um sistema nervoso que lhes permite condicio narse mais facilmente do que os extrovertidos Tal predição decorre de uma combinação do modelo de Eysenck com o modelo de aprendizagem de Clark Hull De forma extremamente simplificada Hull sugere que a aprendizagem é facilitada por uma grande motiva ção drive e pela prática reforçada força de hábi to mas é prejudicada pela acumulação de proces sos inibitórios durante a prática Se os introvertidos TEORIAS DA PERSONALIDADE 303 têm uma razão baixa de processos inibitórios para ex citatórios e os extrovertidos têm uma razão elevada então os introvertidos têm uma dupla vantagem no modelo de Hull os introvertidos têm drive alto que facilita a aprendizagem e têm poucos processos ini bitórios que interferem na aprendizagem Franks 1956 testou essa predição comparando a aquisição de uma resposta de piscar o olho classica mente condicionada em sujeitos distímicos histéri cos e normais Um sopro de ar estímulo incondicio nado EI no canto do olho induzia os sujeitos a piscar resposta incondicionada RI e um tom musical es tímulo condicionado EC soava imediatamente antes do sopro O tom e o sopro eram emparelhados 30 ve zes entremeados com 18 apresentações do tom sozi nho Os distímicos introvertidos deram mais piscadas condicionadas resposta condicionada RC do que os extrovertidoshistéricos ou os normais consistente mente com a predição de Eysenck Um estudo subse qüente de Franks 1957 confirmou esse efeito Infe lizmente Franks 1963 e outros não conseguiram replicar tais achados lançando dúvidas sobre a vali dade da predição Eysenck 1966 1967 respondeu que o efeito dependia de três parâmetros experimen tais Primeiro ele argumentou que a apresentação de 1957 de seu modelo tinha especificado que a inibição só se desenvolveria durante aquelas tentativas não reforçadas em que o tom era apresentado sem o so pro de ar O procedimento de reforço parcial de Franks de entremear tentativas reforçadas com tentativas de teste deu aos extrovertidos a oportunidade de desen volver fortes efeitos inibitórios os introvertidos têm uma vantagem sob o reforço parcial porque são mais capazes do que os extrovertidos de livrarse da inibi ção que desenvolvem Segundo um sopro fraco de ar EI deve levar à mais inibição favorecendo os intro vertidos mas um EI forte deve levar à mais excitação favorecendo os extrovertidos Finalmente um inter valo curto entre o tom EC e o sopro de ar EI favo rece os introvertidos porque leva a maiores efeitos ini bitórios nos extrovertidos Eysenck 1966 relata um estudo de Levey que manipulou esses três parâme tros Levey descobriu uma tendência nos introverti dos de condicionarse mais prontamente do que os extrovertidos com o reforço parcial mas a diferença não era estatisticamente significativa Os introverti dos realmente se condicionavam mais rapidamente do que os extrovertidos com um intervalo curto de ECEI e com um EI fraco i e um sopro de ar de 3 libras por polegada quadrada 3PSIpounds per squa re inch versus 6 libras por polegada quadrada 6PSI apoiando a predição revisada de Eysenck As explica ções condicionais de Eysenck complicam sua predi ção inicial de que os introvertidos condicionamse mais prontamente do que os extrovertidos Além disso vá rios autores argumentaram que as revisões de Eysen ck especialmente com relação à intensidade do EI não poderiam ser facilmente derivadas de sua decla ração original de 1957 sobre a teoria p ex Brody 1972 O efeito interativo da intensidade do EI toda via é consistente com o modelo de Eysenck de 1967 do qual trataremos agora Eysenck 1967 O segundo modelo causal de Eysenck difere do pri meiro em três aspectos importantes Primeiro ele re laciona diferenças entre introvertidos e extrovertidos a diferenças em níveis de excitação em vez de excita çãoinibição e ele localiza as estruturas do sistema nervoso central nas quais ocorrem essas diferenças Segundo ele oferece uma explicação neurológica para as diferenças de neuroticismoestabilidade observa das Terceiro ele descreve um relacionamento curvi linear entre a intensidade da estimulação externa e o grau de excitação cortical com curvas diferentes para introvertidos e extrovertidos Em sua declaração de 1967 sobre a teoria Eysen ck relaciona diferenças em introversãoextroversão a níveis de atividade no sistema ativador reticular as cendente ascending reticular activating system ARAS Em termos muito gerais a atividade no ARAS serve para estimular o córtex cerebral levando à mai or excitação cortical ver Figura 94 para o diagrama original de Eysenck Devido à maior atividade do ARAS os introvertidos caracterizamse por níveis mais altos de excitação cortical e essas diferenças neuroló gicas servem como uma base causal para diferenças observadas na tipologia de introversãoextroversão Isto é os introvertidos têm limiares mais baixos de excitação do ARAS em relação aos extrovertidos Além disso as diferenças individuais em emocionalidade ou neuroticismo dependem de níveis de atividade no sis tema nervoso autônomo SNA que consistem no hi pocampo na amígdala no cíngulo no septo e no hi potálamo ver Figura 94 p 304 Essas estruturas 304 HALL LINDZEY CAMPBELL freqüentemente referidas como sistema límbico fo ram relacionadas a estados emocionais por meio da operação do sistema nervoso autonômico Os indiví duos neuróticos caracterizamse por níveis mais ele vados de ativação e por limiares mais baixos no SNA A independência desses dois sistemas causais e das resultantes dimensões de extroversão e neuroticismo é complicada por um vínculo unilateral entre o ARAS e o SNA Quando uma pessoa é corticalmente estimu lada necessariamente não ocorre uma ativação emo cional i e do SNA A ativação emocional todavia garante que vai ocorrer a excitação cortical O terceiro aspecto novo do modelo de Eysenck de 1967 especifica um relacionamento curvilinear entre a estimulação e a excitação cortical com os introver tidos atingindo seu ponto de excitação máxima em um nível mais baixo de estimulação do que os extro vertidos No modelo mais novo de Eysenck os intro vertidos são postulados como mais excitados e mais excitáveis do que os extrovertidos Ao desenvolver esse conceito Eysenck novamente se vale do trabalho de Pavlov dessa vez adotando o conceito de Pavlov de força do sistema nervoso Gray 1964 Teplov 1964 Conforme descrito por Teplov um sistema nervoso for te consegue tolerar uma estimulação intensa e é me nos sensível à estimulação do que um sistema nervo so fraco Um sistema nervoso fraco está cronicamente em um alto nível de excitação e tem uma capacidade limitada de tolerar estimulação adicional Ao descre ver sistemas nervosos fortes e fracos Teplov emprega o conceito de Pavlov de inibição transmarginal Esse conceito sugere que a resposta ao estímulo aumenta à medida que aumenta a intensidade do estímulo mas só até certo ponto Além desse ponto que é o ponto de inibição transmarginal a magnitude da resposta diminui na proporção em que aumenta a intensidade do estímulo Esse decréscimo ocorre para proteger o sistema nervoso de uma superexcitação Um indiví duo com um sistema nervoso fraco atinge tal limiar protetor em um nível mais baixo de intensidade de estímulo do que um indivíduo com um sistema nervo so forte Na adaptação de Eysenck os introvertidos se comportam como indivíduos com sistemas nervosos fracos e os extrovertidos se comportam como indiví duos com sistemas nervosos fortes Isto é a excitação cortical aumenta à medida que aumenta a intensida de do estímulo em ambos os tipos mas o ritmo de aumento é mais rápido nos introvertidos devido ao seu ARAS mais sensível Em conseqüência os intro vertidos atingem o ponto de inibição transmarginal em um nível de excitação mais baixo do que os extro vertidos ver Figura 95 adiante Os introvertidos são mais sensíveis à estimulação externa do que os extro vertidos e ficam superestimulados mais facilmente do que os extrovertidos Devido à tendência resultante dos introvertidos de evitar a estimulação excessiva e FIGURA 94 Localizações anatômicas do ARAS e do SNA SNA sistema nervosos autônomo AAP ascending afferent pathways vias aferentes ascendentes ARAS ascending reticular activating system sistema ativador reticular ascendente Reimpressa com a permissão de Eysenck 1967 p 231 TEORIAS DA PERSONALIDADE 305 dos extrovertidos de buscar estimulação Eysenck diz que os introvertidos são arredios diante de estímu los e que os extrovertidos são famintos por estímu los Essa sensibilidade à estimulação é uma caracte rísticachave dos introvertidos porque os faz afastarse de qualquer fonte de estimulação intensa As outras pessoas podem ser uma fonte de estimulação intensa de modo que os introvertidos tendem a evitálas A baixa sociabilidade que os leigos consideram um atri buto fundamental da introversão é portanto um de rivado da extrema sensibilidade do introvertido à es timulação no modelo de Eysenck Em comparação com a população média o tom hedônico é maximizado para os introvertidos em baixos níveis de estimulação e para os extrovertidos em altos níveis de estimulação ver Figura 96 As curvas de inibição transmarginal de Eysenck levaram a predições de comportamento diferencial para introvertidos e extrovertidos em qualquer situa ção que possa ser escalada em termos de grau de esti mulação Por exemplo a explicação de Eysenck 1966 de que os introvertidos se condicionam mais pronta FIGURA 95 Relacionamento entre a intensidade do estímulo e os processos excitatórios em introvertidos e extrovertidos Reimpressa com a permissão de Brody 1972 p 57 FIGURA 96 Relacionamento entre nível de estimulação sensorial e tom hedônico mostrando a mudança esperada de nível ótimo NO para os sujeitos introvertidos à esquerda e para os sujeitos extrovertidos à direita De Eysenck 1971a p 69 306 HALL LINDZEY CAMPBELL mente do que os extrovertidos com um EI fraco mas que os extrovertidos se condicionam mais rapidamente com um EI mais intenso ajustase à estrutura da ini bição transmarginal se o EI de 3PSI estiver na por ção inferior do eixo de intensidade do estímulo onde a curva do introvertido está acima da curva do extro vertido e o EI de 6PSI estiver na extremidade supe rior do eixo de intensidade do estímulo onde a curva de excitação do extrovertido está mais alta do que a curva do introvertido e se a aprendizagem depende da excitação então o achado de Levey é consistente com o modelo Da mesma forma o achado de Camp bell e Hawley 1982 de que os introvertidos prefe rem estudar nas áreas da biblioteca menos estimula doras e os extrovertidos em locais mais estimulado res ajustase ao modelo de inibição transmarginal Eysenck se refere à sua teoria como hipotéticodedu tiva isto é ele acredita que ela está enunciada de uma maneira que permite aos pesquisadores gerar hipóteses testáveis Nós agora examinaremos outros exemplos de pesquisas geradas pela teoria PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Como acabamos de discutir Eysenck 1967 propôs que os introvertidos extremos possuem altos níveis de excitação cortical e que os extrovertidos extremos possuem níveis relativamente baixos de excitação cor tical Igualmente os neuróticos extremos possuem altos níveis de ativação do sistema nervoso autônomo portanto autonômica enquanto os estáveis extre mos possuem baixos níveis de ativação do sistema nervoso autônomo A combinação dos dois extremos gera uma classificação quádrupla em que os introver tidos neuróticos possuem a excitação global mais ele vada i e elevada em ativação límbica e elevada em excitação cortical os extrovertidos estáveis possuem a excitação global mais baixa i e baixa em ativação límbica e baixa em excitação cortical e os introverti dos estáveis baixa elevada bem como os extroverti dos neuróticos elevada baixa situamse no interva lo intermediário McLaughlin e Eysenck 1967 testam essa hierarquia de excitação combinada integrando a com a lei de YerkesDodson 1908 Broadhurst 1959 A lei de YerkesDodson sugere que existe uma re lação curvilinear entre motivação e desempenho isto é o desempenho em uma variedade de tarefas é pre judicado quando a motivação é baixa demais ou alta demais e o desempenho é maximizado em algum ní vel intermediário de motivação ótima ver Figura 97 Imagine que você vai fazer um exame final em um curso sob duas circunstâncias bem diferentes Se você está no curso apenas para passar e o seu desem penho até o momento é suficientemente bom para ter certeza de que vai passar no exame independentemen te do seu desempenho no final sua motivação para estudar e sairse bem será menor do que seria se as situações fossem diferentes e sua nota final provavel mente será mais baixa do que seria se você estivesse mais motivado Mas ao contrário se você precisa ti rar A no exame para ser admitido à faculdade seu nível de motivação será tão alto que poderá atrapa FIGURA 97 Lei de YerkesDodson relacionando motivação e desempenho Baseada em Monte 1995 p 810 TEORIAS DA PERSONALIDADE 307 lhar seu desempenho levando novamente a uma nota mais baixa do que se não sentisse tanta pressão Ra tear ou perturbarse em uma competição atlética são outros exemplos de desempenho prejudicado em fun ção da motivação excessiva Para complicar ainda mais a lei de YerkesDodson referese a uma família de cur vas relacionando a motivação ao desempenho O ní vel ótimo de motivação é mais baixo em uma tarefa mais difícil do que em uma tarefa mais simples pre sumivelmente porque o desempenho em tarefas mais complexas se perturba mais facilmente McLaughlin e Eysenck combinaram a lei de Yerkes Dodson com a hierarquia da excitação combinada pro posta por Eysenck equiparando a excitação de Ey senck à motivação de Yerkes e Dodson Isto é se a lei de YerkesDodson é verdadeira se a hierarquia da excitação proposta por Eysenck está correta e se faz sentido equiparar a excitação à motivação então os introvertidos neuróticos seriam os piores entre os qua tro tipos em uma tarefa bem difícil porque seu alto nível de excitação os deixaria excessivamente moti vados Inversamente os extrovertidos neuróticos se riam os melhores dos quatro tipos na tarefa difícil devido ao seu baixo nível de excitaçãomotivação O desempenho dos outros dois tipos estaria em algum ponto intermediário Entretanto em uma tarefa um pouco mais fácil os extrovertidos neuróticos ou os introvertidos estáveis teriam o melhor desempenho dados seus níveis intermediários de excitaçãomoti vação Os participantes do experimento foram primei ro classificados em um dos quatro tipos de personali dade Depois eles foram solicitados a realizar uma tarefa de aprendizagem difícil ou fácil de pares asso ciados Nessa tarefa eram apresentados aos sujeitos pares de sílabas sem sentido de estímuloresposta e eles precisavam aprender a dar a resposta correta quando cada estímulo era apresentado Em ambas as tarefas os membrosestímulo dos pares eram trigra mas como JET COW FUR BUS e VOL Na tarefa mais fácil os membrosresposta incluíam trigramas signifi cativos mais distinguíveis como SAH GED e TAQ A tarefa mais difícil entretanto continha trigramas de resposta que eram difíceis de distinguir como WOD ZOW e WOT Os resultados confirmaram a predição Conforme ilustrado na Figura 98 ver p 308 os extrovertidos estáveis e os introvertidos neuróticos se saíram mal na tarefa fácil presumivelmente porque os primeiros estavam muito pouco excitados e os últimos estavam excitados demais O desempenho na tarefa fácil foi melhor no caso dos extrovertidos neuróticos Mas na tarefa difícil o desempenho foi melhor no caso dos extrovertidos estáveis o grupo com a menor excita ção O desempenho nesta tarefa deveria ter sido pior no caso dos introvertidos neuróticos altamente exci tados De fato o desempenho dos introvertidos está veis foi um pouco pior do que o dos introvertidos neu róticos Mas essa diferença não foi estatisticamente significativa e os resultados como um todo confir mam solidamente a teoria da excitação de Eysenck O artigo de McLaughlin e Eysenck é um dos mui tos estudos p ex Campbell Hawley 1982 na lite ratura de Eysenck que não tenta medir níveis de exci tação em vez disso ele parte de suposições sobre diferenças de excitação para fazer predições sobre o comportamento que por sua vez são testados Uma estratégia diferente é empregada por Geen 1984 que mede excitação e desempenho em introvertidos e extrovertidos bem como níveis preferidos de estimu lação por barulho O modelo de Eysenck 1967 pre diz que os extrovertidos devido aos seus níveis mais baixos de excitação cortical preferem e saemse me lhor com níveis de estimulação mais altos Mas o que acontece com os níveis de excitação quando introver tidos e extrovertidos estão em seus níveis preferidos de estimulação E o que acontece com o desempenho quando introvertidos e extrovertidos estão em abai xo e acima de seus níveis preferidos de estimulação Geen usou sujeitos do sexo masculino classificados como introvertidos ou extrovertidos com base em es cores extremos no EPI Os sujeitos foram solicitados a realizar uma tarefa de aprendizagem de pares associ ados enquanto ouviam barulhos ocasionais pelos fo nes de ouvido Os sujeitos na condição de escolha fo ram solicitados a escolher o nível de barulho que iriam ouvir Os introvertidos na condição igual ouviam o mesmo volume de barulho que o sujeito introvertido prévio tinha selecionado e os extrovertidos nessa con dição ouviam o volume que o extrovertido prévio ti nha escolhido Os introvertidos na condição diferente ouviam o mesmo volume de ruído que o sujeito extro vertido prévio tinha selecionado e os extrovertidos nessa condição ouviam o volume que o introvertido prévio tinha escolhido Estas condições iguais e dife rentes tinham por objetivo controlar qualquer efeito da escolha do sujeito O ritmo de pulsação e a condu 308 HALL LINDZEY CAMPBELL FIGURA 98 Relacionamento do número de erros com o critério e o nível hipotetizado de excitação para as listas fácil e difícil Reimpressa com a permissão de McLaughlin Eysenck 1967 p 131 tância da pele serviam como medidas dos níveis de excitação dos sujeitos O relacionamento entre as várias medidas confir maram solidamente o modelo de Eysenck Conforme predito os extrovertidos escolheram níveis de baru lho significativamente mais altos dos que os introver tidos Os introvertidos que selecionaram seus própri os níveis de barulho tinham os mesmos níveis de excitação dos introvertidos que receberam o nível de barulho selecionado pelo introvertido prévio igual mente os extrovertidos nas condições de escolha e de mesmo nível projetado não diferiam em excitação Portanto fazer uma escolha não afetou a excitação Os introvertidos que receberam o nível de ruído dos introvertidos ficaram mais excitados do que os extro vertidos que receberam o nível de ruído dos introver tidos e os introvertidos que receberam o nível de ba rulho dos extrovertidos ficaram mais excitados do que os extrovertidos que receberam o nível de ruído dos extrovertidos Isto é conforme Eysenck prediria a excitação era maior nos introvertidos do que nos ex trovertidos Na tarefa de aprendizagem os introverti dos que receberam o nível mais elevado de ruído dos extrovertidos levaram um tempo significativamente mais longo para aprender a tarefa do que os introver tidos que escolheram seu próprio nível ou do que os introvertidos que receberam um nível de ruído dos introvertidos Também existia a tendência nos extro vertidos que receberam o nível de ruído mais baixo dos introvertidos de apresentar um desempenho pior do que os extrovertidos que escolheram ou recebe ram um nível de ruído dos extrovertidos mas a dife rença não era estatisticamente significativa Tais resultados são altamente consistentes com o modelo de Eysenck mas existe certa ambigüidade porque não há maneira de dizer com esse planeja TEORIAS DA PERSONALIDADE 309 mento o que teria acontecido se os introvertidos ti vessem sido expostos a um nível de ruído mais baixo do que o preferido por eles ou se os extrovertidos tivessem sido expostos a um nível de ruído mais alto do que o preferido Geen eliminou a ambigüidade em seu segundo experimento Um quarto dos introverti dos e um quarto dos extrovertidos foram solicitados a selecionar seu nível de ruído preferido Além disso cada um dos introvertidos foi solicitado a indicar o nível de ruído mais baixo considerado aceitável e cada extrovertido foi solicitado a selecionar o nível de ruí do mais alto considerado aceitável Esse procedimen to estabeleceu quatro níveis de intensidade de ruído alto o nível mais alto aceitável pelos extrovertidos moderadamente alto o nível ótimo ou preferido pe los extrovertidos moderadamente baixo o nível pre ferido ou ótimo dos introvertidos e baixo o nível mais baixo aceitável pelos introvertidos As seis con dições restantes do experimento 2 de Geen consisti am em introvertidos designados para os três níveis de ruído diferentes daquele escolhido pelos introverti dos i e alto moderadamente alto e baixo e em extrovertidos designados para os três níveis de ruído não preferidos pelos extrovertidos i e alto mode radamente baixo e baixo Como no experimento 1 o nível de ruído preferi do pelos introvertidos era significativamente mais baixo do que o nível de ruído preferido pelos extro vertidos A Figura 99 apresenta os dados sobre a ex citação com base nos ritmos de pulsação Como no experimento 1 os níveis de excitação são mais altos para os introvertidos do que para os extrovertidos nos dois níveis de ruído intermediários mas a excitação é virtualmente idêntica para introvertidos e extroverti dos quando eles estão em seu nível preferido de esti mulação Além disso não existe nenhuma diferença de excitação entre introvertidos e extrovertidos nos níveis de ruído mais alto e mais baixo Em muitos as pectos essas duas curvas empíricas correspondem às curvas teóricas para introvertidos e extrovertidos no gráfico de inibição transmarginal de Eysenck A Tabe la 91 ver p 310 apresenta as tentativas médias em comparação com o critério para oito grupos na tarefa de aprendizagem de pares associados O desempenho foi melhor i e as tentativas médias em comparação com o critério de aprendizagem foram as mais bai xas quando introvertidos e extrovertidos estavam em seu nível de estimulação preferido Quando introver tidos e extrovertidos estão superestimulados ou su bestimulados seu desempenho se deteriora A única FIGURA 99 Ritmos médios de pulsação de introvertidos e extrovertidos experimento 2 Reimpressa com a permissão de Geen 1984 p 1309 310 HALL LINDZEY CAMPBELL exceção são os introvertidos na condição baixa quan do o desempenho foi pior do que no nível ótimo mas a diferença não atingiu significância Tomados como um todo os resultados de Geen apóiam solidamente as predições de Eysenck em relação às diferenças de excitação desempenho e preferência de estimulação entre introvertidos e extrovertidos PESQUISA ATUAL O modelo de Eysenck da personalidade proporcionou o ímpeto para vários outros programas de pesquisa impressivos Nós agora discutiremos dois deles os propostos por Gray e Zuckerman Gray Gray 1967 1972 1981 1982 1987 concorda com Eysenck que um espaço bidimensional captura gran de parte da variância na personalidade mas ele não aceita a extroversão e o neuroticismo como os eixos definidores desse espaço Em vez disso ele Gray 1981 propõe uma rotação de 45 graus nos eixos de Eysenck ver Figura 910 Os dois novos eixos resul tantes são a ansiedade que vai do quadrante extro vertido estável de Eysenck baixa ansiedade para o TABELA 91 Tentativas Médias em Comparação com o Critério Experimento 2 Condição de Ruído Extrovertidos Introvertidos Baixo 80ab 71bc Moderadobaixo 80ab 50c Moderadoalto 53c 89ab Alto 82ab 99a Nota Os elementos com subscritos comuns não são significativamente diferentes no nível de 005 por um teste de intervalo múltiplo de Duncan Fonte Reimpressa com a permissão de Geen 1984 p 1309 FIGURA 910 A modificação feita por Gray nos eixos de extroversãoneuroticismo de Eysenck Reimpressa com a permissão de Eysenck 1983 p 373 TEORIAS DA PERSONALIDADE 311 seu quadrante introvertido neurótico alta ansieda de e a impulsividade que vai do quadrante introver tido estável baixa impulsividade para o quadrante extrovertido neurótico alta impulsividade Os dois eixos de Gray também têm fundamentos neurológi cos e conseqüências comportamentais Os indivíduos ansiosos são altamente sensíveis a sinais de punição nãorecompensa e novidade O sistema fisiológico subjacente à ansiedade é o sistema de inibição com portamental BIS behavioral inhibition system O BIS consiste em um conjunto interatuante de estru turas compreendendo o sistema septohipocampal SHS septohippocampal system seus aferentes monoaminérgicos do tronco cerebral e sua projeção neocortical no lobo frontal Gray 1981 p 261 Em contraste os níveis crescentes de impulsividade refle tem uma crescente sensibilidade a sinais de recom pensa e de nãopunição O sistema neurológico subja cente à impulsividade é um sistema de ativação comportamental BAS behavioral activation system menos bemdefinido Da perspectiva de Gray a extro versão e o neuroticismo são conseqüências secundá rias das interações entre a ansiedade e a impulsivi dade Isto é os indivíduos nos quais o BIS é mais poderoso do que o BAS são introvertidos e os indiví duos nos quais o BAS é relativamente mais poderoso do que o BIS são extrovertidos Assim a EI reflete a força relativa dos dois sistemas O N no entanto re flete sua força conjunta um aumento na sensibilida de de qualquer sistema traz um aumento para o N 1981 p 261 Matematicamente as posições de Ey senck e Gray são equivalentes mas Gray argumenta que seu modelo é mais consistente com dados neuro lógicos e comportamentais Eysenck 1983 p 375 discorda concluindo que o apoio em favor do siste ma rotacional de Gray é decididamente frágil Ele aceitaria uma rotação de talvez 10 ou no máximo 15 graus mas não de 45 graus Interessantemente Gray 1981 afirma que o valor de 45 graus para a rotação pretendia ser apenas esquemático e há indicações de que uma rotação menor seria mais apropriada Zuckerman Kraft Joireman e Kuhlman 1996 p 3 relatam uma comunicação pessoal com Gray em que ele agora afirma que nunca pretendeu que a coloca ção dos eixos significasse uma relação de 45 graus com E e N mas reconheceu que a ansiedade está mais próxima do eixo N do que do eixo E extremidade baixa cerca de 30 graus e que a impulsividade está mais próxima do eixo E extremidade alta do que do eixo N Na verdade conforme revela a Figura 103 o modelo original de Eysenck relacionando E e N a ca racterísticas dos quatro temperamentos coloca ansi oso e impulsivo exatamente nessas localizações Há poucas razões para escolhermos entre os modelos de Eysenck e de Gray pelo menos em um nível descriti vo embora as descrições de Eysenck de agrupamen tos de traços associados aos tipos sejam um aspecto muito útil de seu modelo Os dois modelos realmente fazem predições diferentes Por exemplo Eysenck pre diz que os introvertidos apresentarão um condicio namento superior com um EI atraente ou recompen sador mas Gray prediz o oposto ver Brody 1988 para uma revisão comparativa Em vários pontos o aspecto mais interessante da alternativa de Gray é sua discussão da suscetibilidade às pistas de recompensa e punição como a caracterís tica comportamental subjacente nos indivíduos impul sivos e ansiosos Eysenck 1983 p 377 admite que esses estudos apóiam levemente uma visão vinculan do extroversão e suscetibilidade à recompensa e in troversão e suscetibilidade à punição A possibilida de de haver diferenças individuais confiáveis na sensibilidade a pistas de recompensa e punição gerou um corpo de pesquisa substancial nos últimos anos Por exemplo Bachorowski e Newman 1990 investi garam a interação entre ansiedade impulsividade e o tempo gasto em traçar círculos em condições de meta comportamental e ausência de meta Eles emprega ram uma versão modificada da teoria de Gray mas usaram os escores de extroversão e neuroticismo do EPQ para definir impulsividade e ansiedade Bacho rowski e Newman predisseram que quando os sujei tos fossem instruídos a traçar um círculo tão lenta mente quanto possível os impulsivos E N traçariam mais rapidamente do que os nãoimpulsi vos E N quando a tarefa incluísse uma meta com portamental concreta de uma linha sigapare Inver samente eles predisseram que os sujeitos ansiosos E N manifestariam uma inibição motora pior do que os sujeitos nãoansiosos E N em uma condição de ausência de meta que presumivelmente promove ria alguma incerteza Os resultados apoiaram as suas N de T EP em Psicofisiologia poderia ser incluído na relação inicial de siglas usadas na Figura efferent pathways vias eferentes ou VE 312 HALL LINDZEY CAMPBELL predições ver também Bachorowski Newman 1985 Wallace Newman Bachorowski 1991 Picke ring Diaz Gray 1995 Finalmente nós observa mos que Zinbarg e Revelle 1989 testaram hipóteses derivadas dos modelos de personalidade e condicio namento de Spence Eysenck Gray e Newman Os re sultados indicaram que a impulsividade e a ansieda de estão mais consistentemente e mais fortemente associadas a diferenças individuais de desempenho do que a extroversão e o neuroticismo Além disso o pa drão de resultados foi inconsistente com as teorias de Eysenck e Gray mas não com a de Newman Zuckerman Zuckerman 1978 1979 1983 1984 1989 1991 desenvolveu o modelo de um traço que chamou de busca de sensação A busca de sensação correlaciona se com as medidas de Eysenck de extroversão e psico ticismo mas Zuckerman afirma que esse traço não pode ser incluído na tipologia de Eysenck A busca de sensação tem quatro componentes de emoção e aven tura buscar sensações excitantes em atividades de ris co de experiências buscar excitamento por meio da mente dos sentidos e de um estilo de vida nãocon formista de desinibição buscar sensações pela esti mulação social e por meio de comportamentos desi nibitórios como beber e de suscetibilidade à monotonia evitar situações e atividades monótonas e tediosas Os escores na escala total da busca de sensação ou em suas subescalas apresentam relacionamentos signifi cativos com uma variedade de comportamentos como uso de drogas atividade sexual participar de espor tes perigosos e uma preferência por comidas estimu lantes Com base em achados como correlações ne gativas da busca de sensação com monoamino oxidase dopaminabetahidroxilase e noradrenalina Zucker man 1983 desenvolveu uma teoria biológica para explicar diferenças individuais na busca de sensação Em sua versão de 1984 do modelo a elevada busca de sensação está associada a baixos níveis de ativida de de noradrenalina ou excitabilidade Essas pessoas buscam estimulação para compensar seus níveis de noradrenalina mais baixos do que os níveis ótimos Nos últimos anos Zuckerman 1991 1995 Zu ckerman e colaboradores 1996 propôs um modelo psicobiológico geral ver Figura 911 adiante para explicar os traços na concepção de personalidade dos cinco fatores alternativos desenvolvida por ele Zu ckerman Kuhlman Joireman Teta Kraft 1993 O modelo propõe que traços biologicamente baseados de afeto positivo e de expectativa de recompensa ge neralizada são uma base para os componentes de so ciabilidade e de atividade do traço de extroversão e que os traços disfóricos particularmente a ansiedade e a expectativa de punição generalizada são subja centes ao neuroticismo emocionalidade geral A hostilidade está associada à agressão e juntas elas constituem um fator importante da personalidade no nosso modelo de cinco fatores Mas a hostilidade também está associada ao fator disfórico geral ou de emocionalidade negativa subjacente ao neuroticismo Segundo o meu modelo o principal mecanismo sub jacente ao traço de busca de sensação nãosocializada impulsiva ImpUSS é a desinibição vs inibição Esse traço descreve a tendência a responder com um com portamento de abordagem impulsiva na presença de sinais tanto de recompensa quanto de punição ou uma relativa insensibilidade a sinais de punição nessa situ ação Zuckerman e colaboradores 1996 p 12 Esse é um dos poucos modelos que promete rivalizar com o desenvolvido por Eysenck em termos de amplitude descritiva e de poder explanatório STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO O modelo de Hans Eysenck da personalidade tem três características definidoras Primeiro ele se baseia em uma descrição hierárquica do componente tempera mental da personalidade em termos de traços especí ficos mais as três dimensões tipológicas gerais de psi coticismo extroversão e neuroticismo Assim ele especifica um sistema descritivo tridimensional para a personalidade Além disso oferece testes escritos para medir as diferenças individuais nessas dimen sões Segundo Eysenck dá uma explicação causal para diferenças observadas nas três tipologias e seus tra ços componentes em termos de características neu rológicas subjacentes No domínio da introversãoex troversão por exemplo a característica fundamental ou genotípica é a quantidade de excitação cortical Isso gera um nível característico de sensibilidade à estimulação ambiental Dentro dos limites impostos pela inibição transmarginal a sensibilidade à estimu TEORIAS DA PERSONALIDADE 313 lação afeta o condicionamento a vigilância e várias outras tarefas No nível fenotípico ou observável os indivíduos podem ser escalados nos traços e tipos Segundo esse modelo biossocial o comportamento observado é uma função da interação entre os fatores biológicos e o ambiente ao qual o indivíduo está ex posto Terceiro o modelo de Eysenck é estruturado de uma maneira que permite testes experimentais de hipóteses derivadas e o próprio Eysenck estava com prometido com o processo científico de avaliar as teo rias em termos de seu grau de confirmação experi mental Os experimentos provocados pelo modelo de Eysenck não confirmaram uniformemente suas pro posições mas apoiaram claramente seu argumento de que uma teoria adequada da personalidade precisa incorporar todas as três características Independen temente do destino do seu modelo e isso representa uma realização e tanto Apesar dos aspectos positivos de sua teoria pre cisamos apontar vários problemas Primeiro as hipó teses derivadas da teoria nem sempre foram confir madas Além disso alguns pesquisadores trabalhando na tradição eysenckiana concluíram que certos efei tos preditos pela teoria dependem de variáveis adici onais como a hora do dia p ex Anderson Revelle 1994 Revelle e colaboradores 1980 Segundo Ey senck ocasionalmente faz suposições ad hoc para pre servar o modelo Terceiro a tentativa de especificar uma explicação biológica para as características feno típicas não foi inteiramente satisfatória e as explica ções estão se tornando obsoletas Por exemplo a ex citação não pode ser considerada uma variável fisiológica unitária Quarto a tentativa de explicar a socialização em termos da maior condicionabilidade dos introvertidos fica comprometida por modificações no modelo de 1967 que limita a vantagem de condi cionamento dos introvertidos a certas condições Além disso a primazia da estrutura tridimensional de Ey senck não foi demonstrada convincentemente Dada essa revisão dois sumários de Nathan Bro dy parecem adequados como conclusão Primeiro Parece para este autor que nenhum outro teórico da personalidade chegou mais perto de entender a forma que deve ter uma teoria da personalidade ge FIGURA 911 Modelo psicobiológico de Zuckerman da personalidade Noradre noradrenalina Adre adrenalina GABA ácido gamaaminobutírico MAO monoaminoxidase SSIMP busca de sensação impulsiva Reimpressa com a permissão de Zuckerman 1991 p 407 314 HALL LINDZEY CAMPBELL ralmente satisfatória 1972 p 70 Segundo Nos últimos 15 anos as inadequações empíricas da teoria biológica de Eysenck tornaramse mais manifestas mas ainda é verdade que praticamente não existe nenhu ma outra teoria rival de escopo comparável 1988 p 158 TEORIAS DA PERSONALIDADE 315 ÊNFASE NA REALIDADE PERCEBIDA Esta seção do livro trata de dois teóricos George Kelly e Carl Rogers Ambos foram descritos em momentos diversos como teóricos fenomenológicos cognitivos humanistas existenciais e inclusive como teóricos da aprendizagem embora eles próprios tenham repudiado esses rótulos O título da nossa seção derivase do fato de a questão central em ambas as teorias ser a maneira como o indivíduo usa sua experiência para construir ou interpretar a realidade à qual ele vai responder Essa ênfase está refletida na elevada pontuação que ambas as teorias recebem na Tabela 3 no item ambiente psicológico Na Tabela 3 também estão aparentes outras semelhanças TABELA 3 Comparação Dimensional de Teorias da Realidade Percebida Parâmetro Comparado Kelly Rogers Propósito A A Determinantes inconscientes M B Processo de aprendizagem M M Estrutura B B Hereditariedade B B Desenvolvimento inicial B B Continuidade B B Ênfase organísmica M A Ênfase no campo A A Singularidade M M Ênfase molar M A Ambiente psicológico A A Autoconceito B A Competência A B Afiliação grupal M M Ancoramento na biologia B B Ancoramento na ciência social M M Motivos múltiplos B B Personalidade ideal B A Comportamento anormal M M Nota A indica alto enfatizado M indica moderado e B indica baixo pouco enfatizado 316 HALL LINDZEY CAMPBELL entre Kelly e Rogers tais como a forte ênfase no propósito e no campo dentro do qual ocorre o comportamento mais uma relativa falta de ênfase em estrutura hereditariedade desenvolvimento inicial continuidade e biologia Além disso ambos os modelos incorporam uma crítica explícita às tradicionais abordagens à motivação Os motivos específicos são descartados como rótulos desnecessários sem nenhuma utilidade explanatória embora Rogers construa seu modelo em torno de uma força unitária que ele chama de tendência realizadora e o modelo de Kelly se baseie no motivo implícito de antecipar resultados com exatidão Em geral nós não examinamos estratégias terapêuticas neste texto mas vale a pena observar que Rogers e Kelly adotam posturas clínicas distintas Rogers é bemconhecido por sua abordagem centrada no cliente em que o terapeuta cria um ambiente nãoameaçador no qual o cliente se sente livre para explorar problemas e encontrar suas próprias respostas A abordagem de Kelly não é tão conhecida mas é igualmente distintiva Ele vê os neuróticos como maus cientistas presos a teorias sobre o mundo que levam a predições incorretas sobre as conseqüências de seu comportamento Ao contrário de Freud que enfatiza a fixação em um estágio desenvolvimental específico Kelly propõe que ficamos pendurados em modos de interpretar o mundo que simplesmente não funcionam Na verdade como logo veremos Kelly provavelmente é o teórico mais nãofreudiano deste livro Tanto Rogers quanto Kelly são otimistas na crença de que as pessoas não são vítimas de suas biografias e estão livres para escolher mudar Kelly chega ao ponto de sugerir que a personalidade é como uma muda de roupas se não serve direito troque por uma nova Sua terapia de papel fixo sugere alternativas enquanto oferece a segurança que permite às pessoas experimentarem novas roupas psicológicas Essas orientações terapêuticas levam a duas diferenças importantes entre Kelly e Rogers Primeiro o modelo de Rogers baseiase muito no autoconceito Ele descreve um projeto genético que nos predispõe a certas características e enfatiza o processo pelo qual o condicionamento social nos aliena do nosso verdadeiro self Kelly em claro contraste vê o self como um fenômeno muito mais fluido Segundo Rogers identifica determinadas características das personalidades sadias mas para Kelly ser sadio se reduz simplesmente a ser capaz de antecipar as conseqüências do comportamento Os dois capítulos que vêm a seguir examinam as duas teorias Nós também salientamos as numerosas semelhanças diferenças e redefinições de conceitos familiares que Kelly e Rogers oferecem No processo apresentamos as posições relacionadas de Kurt Lewin Kurt Goldstein e Abraham Maslow TEORIAS DA PERSONALIDADE 317 CAPÍTULO 10 A Teoria do Constructo Pessoal de George Kelly INTRODUÇÃO E CONTEXTO 318 K U R T L E W I N 319 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 319 O Espaço de Vida 320 Diferenciação 321 Conexões entre as Regiões 322 O Número de Regiões 323 A Pessoa no Ambiente 324 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 324 Energia 325 Tensão 325 Necessidade 325 Tensão e Ação Motora 326 Valência 326 Força ou Vetor 326 Locomoção 327 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 328 G E O R G E K E L L Y 329 HISTÓRIA PESSOAL 329 SUPOSIÇÕES BÁSICAS 331 Alternativismo Construtivo 331 HomemCientista 332 Foco no Constructor 333 Motivação 333 Ser Si Mesmo 334 CONSTRUCTOS PESSOAIS 334 Escalas 335 O POSTULADO FUNDAMENTAL E SEUS COROLÁRIOS 336 O CONTÍNUO DA CONSCIÊNCIA COGNITIVA 340 CONSTRUCTOS SOBRE MUDANÇA 340 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 341 PESQUISA ATUAL 343 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 344 318 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO As ciências mais antigas da física e da química com freqüência influenciaram o curso de ciências mais novas como a psicologia fornecendolhes maneiras de conceber e pensar sobre os fenômenos naturais À medida que novos pontos de vista se desenvolvem na física e na química é quase inevitável considerando a unidade básica de todas as ciências que eles sejam absorvidos pelas ciências menos maduras e aplicados em suas áreas especiais Não surpreende portanto que o conceito de campo da física iniciado pelo tra balho de Faraday Maxwell e Hertz sobre campos eletromagnéticos no século XIX e culminando na po derosa teoria de Einstein da relatividade no século XX tenha tido um impacto sobre o pensamento psi cológico moderno A primeira manifestação importante da influên cia da teoria física de campo sobre a psicologia apare ceu no movimento conhecido como psicologia da Ges talt iniciado por três psicólogos alemães Max Wertheimer Wolfgang Köhler e Kurt Koffka nos anos imediatamente precedentes à Primeira Guerra Mun dial O princípio mais importante da psicologia da Gestalt é que o comportamento é determinado pelo campo psicofísico que consiste em um sistema orga nizado de pressões ou tensões forças análogas a um campo gravitacional ou eletromagnético A nossa maneira de perceber um objeto por exemplo é de terminada pelo campo total em que o objeto está in serido Embora a psicologia da Gestalt seja uma teoria psicológica geral ela se ocupa primariamente da per cepção da aprendizagem e do pensamento e não da personalidade Mas Kurt Lewin criou uma teoria de campo da personalidade 1935 1936 1951 Apesar de profundamente influenciado pela psicologia da Ges talt e também pela psicanálise sua teoria é uma for mulação inteiramente original Nós começaremos con siderando brevemente a teoria de Lewin da persona lidade e depois trataremos de George Kelly cuja teo ria é o foco do capítulo Kurt Lewin TEORIAS DA PERSONALIDADE 319 KURT LEWIN Kurt Lewin nasceu em 9 de setembro de 1890 em uma pequena vila na província prussiana de Posen O segundo de quatro filhos seu pai possuía e adminis trava um loja que vendia todo tipo de mercadorias A família mudouse para Berlim em 1905 onde Lewin completou o ensino secundário Ele então ingressou na Universidade de Freiburg pretendendo estudar me dicina mas logo desistiu da idéia e depois de um se mestre na Universidade de Munique voltou a Berlim em 1910 para estudar psicologia na universidade de lá Ele foi aluno de Carl Stumpf um psicólogo experi mental extremamente respeitado Depois de obter seu doutorado em 1914 Lewin serviu no exército alemão por quatro anos na infantaria passando de soldado raso a tenente No final da guerra ele voltou à Uni versidade de Berlim como instrutor e assistente de pesquisa no Instituto Psicológico Max Wertheimer e Wolfgang Köhler dois dos três fundadores da psicolo gia da Gestalt também estavam na Universidade de Berlim na época Em 1926 Lewin foi promovido a professor Durante sua permanência na Universidade de Berlim Lewin e seus alunos publicaram uma série de brilhantes artigos experimentais e teóricos De Ri vera 1976 Quando Hitler subiu ao poder Lewin trabalhava como professorvisitante na Universidade de Stanford Ele voltou à Alemanha para encerrar seus negócios e depois retornou aos Estados Unidos onde residiu pelo restante de sua vida Ele lecionou psicologia da crian ça na Universidade de Cornell por dois anos 1933 1935 antes de ser chamado pela Universidade Esta dual de Iowa como professor de psicologia na Child Welfare Station Em 1945 Lewin aceitou o cargo de professor e diretor do Research Center for Group Dy namics no Instituto de Tecnologia de Massachusetts Na mesma época ele se tornou diretor da Commissi on of Community Interrelations of the American Jewish Congresss engajandose na pesquisa de problemas da comunidade Ele morreu de ataque cardíaco subita mente em Newtonville Massachusetts em 12 de fe vereiro de 1947 aos 56 anos de idade As principais características da teoria de campo de Lewin podem ser resumidas conforme segue 1 o comportamento é uma função do campo que existe no momento em que ocorre o comportamento 2 a análise começa com a situação como um todo a par tir do qual as partes componentes são diferenciadas e 3 a pessoa concreta em uma situação concreta pode ser representada matematicamente Lewin também enfatizou forças subjacentes necessidades como de terminantes do comportamento e expressou uma pre ferência por descrições psicológicas não físicas ou fi siológicas do campo Um campo é definido como a totalidade de fatos coexistentes que são concebidos como mutuamente interdependentes Lewin 1951 p 240 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE O primeiro passo para definir a pessoa como um con ceito estrutural é representála como uma entidade separada de tudo o mais no mundo Essa separação pode ser feita em palavras como em uma definição de dicionário ou por uma representação espacial da pessoa Já que as representações espaciais podem ser tratadas matematicamente e as definições verbais não Lewin preferiu definir espacialmente os seus concei tos estruturais Dessa maneira ele tentou matemati zar seus conceitos desde o início A separação da pessoa do resto do universo é rea lizada desenhandose uma figura fechada As frontei ras da figura definem os limites da entidade conheci da como a pessoa Tudo o que está dentro das fronteiras é P a pessoa tudo o que está fora das fronteiras é nãoP O passo seguinte na representação da realidade psicológica é desenhar uma outra figura fechada mai or que circunda a pessoa A forma e o tamanho dessa figura circundante não são importantes uma vez que ela preenche as duas condições ser maior do que a pessoa e circundála Para essa representação Lewin preferia uma figura de forma levemente elíptica Tam bém é necessária uma outra qualificação A nova fi gura não pode compartilhar qualquer parte da fron teira do círculo que representa a pessoa Deve haver um espaço entre a fronteira da pessoa e a fronteira da figura maior Com exceção dessa restrição o círculo pode ser colocado em qualquer lugar dentro da elip se Os tamanhos relativos das duas formas não são importantes 320 HALL LINDZEY CAMPBELL Nós agora temos o desenho de um círculo circun dado por uma elipse que não chega a tocar nele Fi gura 101 A região entre os dois perímetros é o am biente psicológico A A área total dentro da elipse incluindo o círculo é o espaço de vida V O espaço dentro da elipse representa os aspectos nãopsicoló gicos do universo Por uma questão de conveniência chamaremos essa região de mundo físico embora ela não se restrinja apenas a fatos físicos No mundo não psicológico por exemplo também existem fatos soci ais O Espaço de Vida Embora nós tenhamos começado com a pessoa e de pois tenhamos a cercado com um ambiente psicológi co estaria mais de acordo com a regra de Lewin de ir do geral para o particular se tivéssemos começado com o espaço de vida e diferenciadoo da pessoa e do am biente Com efeito o espaço de vida é o universo do psicólogo é o todo da realidade psicológica Ele con tém a totalidade de fatos possíveis capazes de deter minar o comportamento de um indivíduo Ele inclui tudo o que precisa ser conhecido para se compreen der o comportamento concreto de um determinado ser humano em um ambiente psicológico específico em dado momento O comportamento é uma função do espaço de vida C fV A tarefa da psicologia dinâmica é derivar inequivocamente o comportamento de um determinado indivíduo da totalidade dos fatos psicológicos que existem no espaço de vida em um dado momento Lewin 1936 O fato de o espaço de vida ser cercado pelo mun do físico não significa que ele seja uma parte do mun do físico O espaço de vida e o espaço além dele são regiões diferenciadas e separadas de uma totalidade maior A possibilidade dessa totalidade maior o uni verso ser finita ou infinita caos ou cosmos não pre ocupa a psicologia exceto em um aspecto muito im portante Os fatos que existem na região externa e adjacente à fronteira do espaço de vida uma região que Lewin chama de o invólucro exterior do espaço de vida podem influenciar materialmente o ambien te psicológico Isto é os fatos nãopsicológicos podem alterar e realmente alteram os fatos psicológicos Lewin sugeriu chamar o estudo dos fatos no invólucro exte rior de ecologia psicológica 1951 Capítulo VIII O primeiro passo em uma investigação psicológica é es tabelecer a natureza dos fatos que existem na frontei ra do espaço de vida uma vez que eles ajudam a de terminar o que é e o que não é possível o que pode ou não acontecer no espaço de vida Os fatos no ambiente psicológico também podem produzir mudanças no mundo físico Existe uma co municação bidirecional entre as duas esferas Conse qüentemente dizemos que a fronteira entre o espaço de vida e o mundo externo tem a propriedade de per meabilidade As implicações de uma fronteira perme ável entre o espaço de vida e o mundo físico são de extrema importância Uma vez que um fato no mun do nãopsicológico pode mudar radicalmente todo o curso de eventos no espaço de vida a predição ape nas a partir de leis psicológicas geralmente é ineficaz Nunca podemos ter certeza antecipadamente de que um fato do invólucro exterior não vai penetrar na fron teira do espaço de vida e virar tudo de pernas para o ar no ambiente psicológico Um encontro casual um telefonema inesperado ou um acidente de automóvel podem mudar o curso de vida de uma pessoa Portan to como Lewin enfatiza é melhor o psicólogo tentar compreender a situação psicológica momentânea concreta descrevendoa e explicandoa em termos teóricos de campo do que tentando predizer como uma pessoa vaise comportar em um momento futuro Uma outra propriedade do espaço de vida deve ser destacada Embora a pessoa esteja cercada pelo FIGURA 101 TEORIAS DA PERSONALIDADE 321 ambiente psicológico ela não é uma parte dele nem está incluída nele O ambiente psicológico termina no perímetro do círculo exatamente como o mundo não psicológico termina no perímetro da elipse Entretan to a fronteira entre a pessoa e o ambiente também é uma fronteira permeável Isso significa que os fatos ambientais podem influenciar a pessoa P f A e que os fatos pessoais podem influenciar o ambiente A fP Antes de examinar a natureza dessa influên cia precisamos fazer uma outra diferenciação dentro da estrutura da pessoa e do ambiente Diferenciação Até este ponto a pessoa foi representada como um círculo vazio A representação seria apropriada se a pessoa fosse uma unidade perfeita o que ela não é Lewin afirmava que a estrutura da pessoa é heterogê nea não homogênea que ela está subdividida em partes separadas mas intercomunicantes Para repre sentar essa situação a área dentro do círculo é dividi da em zonas O procedimento é o seguinte Primeiro dividir a pessoa em duas partes desenhando um círculo con cêntrico dentro do círculo maior A parte externa re presenta a região perceptualmotora PM a parte central representa a região intrapessoal A região in trapessoal está completamente cercada pela área per ceptualmotora de modo que ela não tem nenhum contato direto com a fronteira que separa a pessoa do ambiente O segundo passo é dividir a região intra pessoal em células Figura 102 As células adjacen tes à região perceptualmotora são chamadas de célu las periféricas p as que estão no centro do círculo são chamadas de células centrais c Em essência a pessoa é definida como uma re gião diferenciada no espaço de vida Agora vamos examinar o ambiente psicológico Um ambiente ho mogêneo ou indiferenciado é aquele em que todos os fatos são igualmente influentes sobre a pessoa Nesse ambiente a pessoa teria perfeita liberdade de movi mento uma vez que não haveria nenhuma barreira para impedila Essa completa liberdade de movimento obviamente não representa o verdadeiro estado de coisas Portanto é necessário subdividir o ambiente em regiões parciais ver Figura 103 p 322 Existe uma diferença entre a diferenciação do ambiente e a diferenciação da pessoa Não é necessá rio distinguir tipos diferentes de regiões ambientais O ambiente não contém nada comparável a uma ca mada perceptualmotora ou a uma esfera intrapesso al Todas as regiões do ambiente são semelhantes Mas devemos salientar que na representação concreta de uma pessoa específica em uma situação psicológica concreta e em um determinado momento devem ser conhecidos o número exato e as posições relativas das subregiões ambientais bem como o número exato e as posições relativas da esfera intrapessoal se quiser mos compreender o comportamento Uma análise es trutural completa e acurada revela a totalidade dos fatos psicológicos possíveis na situação momentânea Uma análise dinâmica o tópico da próxima seção deste capítulo nos diz quais dos fatos possíveis vão real mente determinar o comportamento FIGURA 102 322 HALL LINDZEY CAMPBELL FIGURA 103 Conexões entre as Regiões O espaço de vida está agora representado por uma pessoa diferenciada cercada por um ambiente dife renciado Tal diferenciação foi feita desenhandose li nhas que servem como fronteiras entre as regiões Mas não pretendemos que essas fronteiras representem barreiras impenetráveis que dividem a pessoa e o ambiente em regiões independentes e desconectadas A permeabilidade como já salientamos é uma das propriedades de uma fronteira Sendo assim o espa ço de vida consiste em uma rede de sistemas interco nectados O que queremos dizer com regiões conectadas Para responder a esta pergunta vamos supor que cada uma das subregiões do ambiente contém um fato psicológico e que o mesmo fato não aparece em mais de uma região ao mesmo tempo O uso que Lewin faz da palavra fato neste contexto pode soar estranho para alguns ouvidos Um fato para Lewin não é ape nas alguma coisa observável como uma cadeira ou um jogo de futebol é também alguma coisa que tal vez não seja diretamente observável mas que pode ser inferida a partir de algo observável Em outras palavras existem fatos empíricos e fenomenais e fa tos hipotéticos ou dinâmicos Qualquer coisa quer sentida quer inferida é um fato aos olhos de Lewin Um evento por outro lado é o resultado da interação de vários fatos Uma cadeira e uma pessoa são fatos mas uma pessoa sentandose em uma cadeira é um evento Dizemos que duas regiões estão conectadas quando um fato em uma região está em comunicação com um fato em outra região Por exemplo dizemos que uma pessoa está conectada com o ambiente por que um fato contido nele pode alterar modificar des locar intensificar ou minimizar os fatos dentro da pes soa Em linguagem comum o ambiente pode mudar a pessoa e viceversa Lewin também diz que duas regiões estão conectadas quando os fatos de uma re gião são acessíveis aos fatos de outra região A acessi bilidade é o equivalente espacial da influência O nosso problema imediato então é como repre sentar a extensão da influência ou a acessibilidade entre as regiões Há várias maneiras de fazer isso Uma delas é colocar as regiões próximas quando a influên cia de uma sobre a outra é grande e colocálas sepa radas quando a influência é fraca A influência dimi nui à medida que o número de regiões intervenientes diminui Esse tipo de representação pode ser chama do de dimensão proximidadedistância Duas regiões podem estar muito próximas inclu sive compartilhar uma fronteira comum e no entan to não influenciar ou ser acessível uma à outra O grau de conexão ou interdependência não é apenas uma questão do número de fronteiras que precisa ser cruzado mas também depende da força da resistên cia oferecida pela fronteira A resistência de uma fron teira ou sua permeabilidade é representada pela lar gura da linha da fronteira Uma linha muito fina representa uma fronteira frágil uma linha grossa re presenta uma fronteira impermeável Esse tipo de re presentação pode ser chamado de dimensão firmeza fragilidade Uma terceira maneira de representar as interco nexões entre as regiões é levar em conta a natureza do meio de uma região O meio de uma região é a qualidade de sua superfície Lewin distinguiu várias propriedades do meio a mais importante das quais é a dimensão de fluidezrigidez Um meio fluido é aque le que responde rapidamente a qualquer influência agindo sobre ele É flexível e maleável Um meio rígi do resiste à mudança É duro e inelástico Duas regi TEORIAS DA PERSONALIDADE 323 ões que estão separadas uma da outra por uma região cuja qualidade de superfície é extremamente rígida não poderão comunicarse É semelhante a uma pes soa tentando cruzar um pântano ou atravessar uma mata cerrada Utilizando os conceitos de proximidadedistância firmezafragilidade e fluidezrigidez podemos repre sentar a maioria das conexões possíveis no espaço de vida Esses mesmos conceitos se aplicam também à pes soa Por exemplo uma pessoa inacessível está firme mente separada do ambiente por uma parede grossa A Figura 104 ver acima retrata uma pessoa com plexamente estruturada As células p1 e p2 estão es treitamente conectadas enquanto p2 e p3 estão sepa radas uma da outra por uma fronteira impermeável A região c tem pouca ou nenhuma acessibilidade a qualquer outra região É como se essa área estivesse dissociada do restante da pessoa A célula quadricula da é impenetrável à influência devido à qualidade túr gida de sua superfície enquanto a área cinzenta é fa cilmente influenciada A região p4 está remotamente conectada com p1 p2 e p3 A Figura 105 retrata um ambiente psicológico complexamente estruturado Devemos lembrar que esses desenhos represen tam situações momentâneas Não existe nada de fixo ou estático neles que mudam constantemente em re sultado de forças dinâmicas Não podemos caracteri zar a pessoa como sendo de uma determinada manei ra por um longo período de tempo Uma fronteira firme pode dissolverse subitamente uma fronteira frágil pode enrijecerse As regiões distantes podem aproximarse Um meio rígido se suaviza enquanto um meio flexível endurece Mesmo o número de regi ões pode aumentar ou diminuir de momento a mo mento Conseqüentemente as representações espaci ais estão continuamente tornandose obsoletas porque a realidade psicológica está sempre mudando Lewin não se interessava muito por traços fixos hábitos rígi dos ou outras constantes da personalidade Os con ceitos desse tipo são característicos do pensamento aristotélico que Lewin deplorava 1935 Capítulo 1 O Número de Regiões O número de regiões no espaço de vida é determina do pelo número de fatos psicológicos separados que existem em um dado momento do tempo Quando há FIGURA 104 FIGURA 105 324 HALL LINDZEY CAMPBELL apenas dois fatos a pessoa e o ambiente existem ape nas duas regiões no espaço de vida Se o ambiente contém dois fatos por exemplo o fato do jogar e o fato do trabalhar então o ambiente tem de ser dividi do em uma área de jogar e em uma área de trabalhar Se existem vários tipos diferentes de fatos de jogar por exemplo o fato de jogar futebol o fato de jogar xadrez e o fato de jogar dardos então a área de jogar deve ser dividida em tantas subregiões quantos são os fatos de jogar Da mesma forma pode haver dife rentes tipos de fatos de trabalho cada um dos quais deve ter sua região separada O número de regiões na pessoa também é determinado pelo número de fatos pessoais existentes Se só existe o fato de sentir fome a esfera intrapessoal consistirá apenas em uma região Mas se além do fato da fome também existir a ne cessidade de terminar um determinado trabalho a região intrapessoal tem de ser dividida em duas regi ões Como veremos mais adiante os principais fatos da região intrapessoal são chamados de necessidades enquanto os fatos do ambiente psicológico são cha mados de valências Cada necessidade ocupa uma cé lula separada na região intrapessoal e cada valência ocupa uma região separada no ambiente psicológico A Pessoa no Ambiente Anteriormente quando discutimos a colocação da pessoa no ambiente dissemos que não fazia diferen ça onde o círculo era colocado dentro da elipse desde que suas duas fronteiras não se tocassem Isso vale apenas para um ambiente indiferenciado homogêneo onde todos os fatos estão na mesma região isto é onde todos os fatos são idênticos Assim que o ambi ente se diferencia em regiões separadas por frontei ras o lugar onde colocamos o círculo faz uma consi derável diferença Em qualquer região que o coloquemos os fatos dessa região estão mais próxi mos da pessoa e têm maior influência sobre ela do que os fatos de qualquer outra região O entendimen to de uma situação psicológica concreta requer por tanto que saibamos onde a pessoa está em seu ambi ente psicológico Fisicamente a pessoa pode estar sentada em uma sala de aula mas psicologicamente estar jogando beisebol no playground Alguns fatos que existem na sala de aula como aquilo que a professora está falando podem não causar nenhum efeito sobre um garoto ao passo que um bilhete da menina da mesa ao lado pode facilmente desviar seu pensamen to do jogo de beisebol A maneira como as regiões que constituem o es paço de vida estão interconectadas representa o grau de influência ou acessibilidade entre as regiões Exa tamente como se expressa essa influência ou acessibi lidade No exemplo anterior do garoto que é acessí vel ao bilhete da menina mas é inacessível ao que a professora está dizendo acessibilidade significa que o menino pode passar mais facilmente para a região da menina do que para a região da professora Quan do a menina realiza a ação de passar um bilhete para o menino ele pode sair da região do beisebol e entrar na região dela Ele fez o que Lewin chama de locomo ção As duas regiões estão estreitamente conectadas acessíveis uma à outra e mutuamente influentes se locomoções podem ser feitas facilmente entre elas Uma locomoção no ambiente psicológico não sig nifica que a pessoa tenha de fazer um movimento físi co através do espaço de fato a maioria das locomo ções que interessam à psicologia envolve muito pouco movimento físico Existem locomoções sociais como juntarse a um clube locomoções profissionais como ser promovido locomoções intelectuais como resol ver um problema e muitos outros tipos Nós vemos agora que uma propriedade importante do ambiente psicológico é ele ser uma região em que a locomoção é possível Podemos tratar todas as coi sas como um ambiente no qual rumo ao qual ou para longe do qual a pessoa como um todo pode realizar locomoções Lewin 1936 p 167 Ao realizar uma locomoção a pessoa segue por um caminho através do ambiente A direção do caminho e as regiões atra vés das quais ele passa são determinadas em parte pela força das fronteiras e pela fluidez das regiões e em parte por fatores dinâmicos que serão discutidos mais adiante Vamos examinar agora alguns conceitos dinâmi cos de Lewin que tomados juntos constituem o que ele chama de psicologia de vetor A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Uma representação estrutural do espaço de vida é como um mapa de estrada Um bom mapa de estrada contém todas as informações necessárias para plane jarmos qualquer tipo de viagem exatamente como uma boa representação estrutural de pessoas e de seu TEORIAS DA PERSONALIDADE 325 ambiente contém todos os fatos necessários para ex plicarmos qualquer tipo possível de comportamento Mas assim como um mapa de estrada não pode nos dizer que viagem a pessoa vai querer fazer um qua dro detalhado do espaço de vida também não nos dirá como a pessoa vaise comportar Os conceitos estru turais ou tipológicos sozinhos não conseguem expli car o comportamento concreto em uma situação psi cológica real Para esse tipo de entendimento precisamos de conceitos dinâmicos Os principais con ceitos dinâmicos de Lewin são energia tensão neces sidade valência e força ou vetor Energia Lewin como a maioria dos teóricos da personalida de supõe que a pessoa é um sistema complexo de energia O tipo de energia que realiza o trabalho psi cológico é chamado de energia psíquica Uma vez que a teoria de Lewin tem um caráter exclusivamente psi cológico não é necessário que ele trate da questão da relação da energia psíquica com outros tipos de ener gia A energia psíquica é liberada quando o sistema psíquico a pessoa tenta voltar ao equilíbrio depois de ter sido arremessado a um estado de desequilíbrio O desequilíbrio é produzido por um aumento da ten são em uma parte do sistema relativo ao restante do sistema como resultado de estimulação externa ou de mudança interna Quando a tensão em todo o sis tema fica novamente equilibrada a saída de energia é interrompida e o sistema total entra em repouso Tensão A tensão é um estado da pessoa ou falando mais pre cisamente é um estado de uma região intrapessoal relativo a outras regiões intrapessoais Quando Lewin se referiu às propriedades dinâmicas de uma região ou célula da esfera intrapessoal ele chamou a região de sistema A tensão em um determinado sistema tende a igua larse à quantidade de tensão em sistemas circundan tes cf o princípio de entropia de Carl Jung Os mei os psicológicos pelos quais a tensão se equaliza são chamados de processos Um processo pode ser pensar lembrar sentir perceber agir ou algo parecido Por exemplo uma pessoa que se depara com a tarefa de resolver um problema fica tensa em um de seus siste mas Para resolver o problema e assim reduzir a ten são ela se empenha no processo de pensar O proces so de pensar continua até ser encontrada uma solução satisfatória momento em que a pessoa retorna a um estado de equilíbrio Quando a intenção pode ser lem brar um nome o processo de memória entra em ação lembra o nome e faz com que a tensão desapareça Necessidade O aumento de tensão ou a liberação de energia em uma região intrapessoal é causado pelo surgimento de uma necessidade Uma necessidade pode ser uma condição fisiológica como fome sede ou sexo pode ser um desejo de alguma coisa como um emprego ou um cônjuge ou pode ser uma intenção de fazer algu ma coisa como concluir uma tarefa ou cumprir um compromisso Uma necessidade é portanto um con ceito motivacional e equivale a termos como motivo desejo pulsão e impulso Lewin evitou sistematicamente discutir a nature za a fonte o número e os tipos de necessidades por que ele não estava nem um pouco satisfeito com o conceito Ele achava que o termo necessidade acabaria sendo trocado na psicologia por um conceito mais adequado mais observável e mensurável Ele também não achava importante fazer uma lista de necessida des como tantos psicólogos fazem Em primeiro lu gar a lista seria quase infinitamente longa e em se gundo lugar o único elemento que realmente importa na descrição da realidade psicológica é representar aquelas necessidades que realmente existem na situa ção momentânea Elas são as únicas necessidades que estão produzindo efeitos Em um nível abstrato po demos dizer que todo mundo pode sentir fome mas só quando a pulsão de fome está realmente pertur bando o equilíbrio da pessoa é que ela precisa ser le vada em conta Lewin também distinguiu as necessidades das quasenecessidades Uma necessidade se deve a um estado interno como a fome enquanto uma quase necessidade é equivalente a uma intenção específica como satisfazer a fome comendo em um determina do restaurante Lewin achava que as necessidades de uma pessoa são determinadas em grande extensão pelos fatores sociais 1951 p 289 326 HALL LINDZEY CAMPBELL Tensão e Ação Motora Até o momento nos preocupamos principalmente com a dinâmica interna dos sistemas de tensão isto é com a interdependência e a comunicação dinâmica entre sistemas Qual é a relação da tensão com a ação Po deríamos conjecturar que a energia fluindo de uma região intrapessoal para a motora resultaria direta mente em uma locomoção psicológica Mas Lewin re jeitou essa idéia A tensão pressionando sobre a fron teira exterior da pessoa não pode causar uma loco moção Portanto em vez de ligar a necessidade ou a tensão diretamente à ação por meio da ação motora ele ligou a necessidade a certas propriedades do am biente que então determinam o tipo de locomoção que vai ocorrer Essa é uma maneira muito engenhosa de conectar a motivação ao comportamento Dois conceitos adicionais são necessários para tal propósito valência e força Valência A valência é a propriedade conceitual de uma região do ambiente psicológico É o valor daquela região para a pessoa Existem dois tipos de valor positivo e nega tivo Uma região de valor positivo é aquela que con tém um objetometa que reduzirá a tensão quando a pessoa entrar na região Por exemplo uma região que contenha comida terá uma valência positiva para uma pessoa que está com fome Uma região de valor nega tivo é aquela que vai aumentar a tensão Para uma pessoa que tem medo de cachorros qualquer região que contenha um cachorro terá uma valência negati va As valências positivas atraem as valências negati vas repelem Uma valência está coordenada com uma necessi dade Isso significa que o fato de uma determinada região do ambiente ter um valor positivo ou negativo depende diretamente de um sistema em um estado de tensão As necessidades conferem valores ao am biente Elas organizam o ambiente em uma rede de regiões convidativas e repelentes Mas a rede de va lências também depende de fatores exteriores que fo gem do escopo das leis psicológicas A presença ou a ausência dos objetos dos quais precisamos obviamen te desempenha um papel importante na estruturação do ambiente psicológico O fato de a comida estar pre sente e ser reconhecível que tipo de comida ela é e em que quantidade sua disponibilidade e sua proxi midade em relação a objetos que possuem valência negativa todos esses são fatores nãopsicológicos que influenciam a valência de uma região para uma pes soa que está com fome Uma valência é uma quantidade variável ela pode ser fraca média ou forte A força de uma valência depende da força da necessidade mais todos os fato res nãopsicológicos mencionados antes Uma valência não é uma força Ela dirige a pes soa através de seu ambiente psicológico mas não pro porciona a força motivadora para a locomoção Como já vimos um sistema em um estado de tensão tam bém não produz uma locomoção Precisamos de um outro conceito que é o conceito de força ou vetor Força ou Vetor Ocorre uma locomoção sempre que uma força de po tência suficiente age sobre a pessoa Uma força está coordenada com uma necessidade mas não é uma tensão A força existe no ambiente psicológico en quanto a tensão é uma propriedade de um sistema intrapessoal As propriedades conceituais da força são direção potência e ponto de aplicação Essas três proprieda des são representadas matematicamente por um ve tor A direção para a qual esse vetor aponta represen ta a direção da força o comprimento do vetor representa a potência da força e o lugar onde a ponta da flecha se insere na fronteira externa da pessoa re presenta o ponto de aplicação Um vetor é sempre desenhado no lado de fora da pessoa e nunca dentro porque as forças psicológicas são propriedades do ambiente e não da pessoa Se existe apenas um vetor força agindo sobre uma pessoa haverá uma locomoção ou uma tendên cia a moverse na direção do vetor Se dois ou mais vetores estão empurrando a pessoa em várias dire ções diferentes a locomoção conseqüente será o re sultante de todas as forças Agora podemos ver a relação da valência com o vetor Uma região que possui uma valência positiva é uma região em que as forças que agem sobre a pessoa estão dirigidas para essa região Uma região de valên cia negativa é aquela em que os vetores estão apon tando na direção oposta Em outras palavras a dire ção de um vetor é diretamente determinada pela TEORIAS DA PERSONALIDADE 327 localização de uma região com valência positiva ou negativa A potência de um vetor está relacionada à potência de uma valência à distância psicológica en tre a pessoa e a valência e à potência relativa de ou tras valências Podemos observar entre parênteses que o con ceito de necessidade é o único conceito com o qual todos os outros constructos dinâmicos estão coorde nados Uma necessidade libera energia aumenta a tensão confere valor e cria força É o conceito central ou nuclear de Lewin em torno do qual se agrupam todos os outros conceitos Locomoção Agora estamos em posição de representar o caminho específico que uma pessoa fará ao moverse através de seu ambiente psicológico Por exemplo uma cri ança passa diante de uma confeitaria olha a vitrine e fica com vontade de comer um doce A visão do doce desperta uma necessidade e essa necessidade dá iní cio a três estados Ela libera energia e então desper ta tensão em uma região intrapessoal o sistema que quer doce Ela confere uma valência positiva à re gião em que o doce está localizado Ela cria uma força que empurra a criança na direção do doce Digamos que a criança tem de entrar na confeita ria e comprar o doce Essa situação está representada na Figura 106 ver acima Mas suponhamos que a criança não tem dinheiro então a fronteira entre ela e o doce será uma barreira intransponível Ela vaise aproximar o máximo possível do doce talvez encos tando o nariz no vidro sem conseguir alcançálo Fi gura 107 Ela pode dizer a si mesma Se eu tivesse dinhei ro poderia comprar um doce Talvez a mamãe me dê algum dinheiro Em outras palavras é criada uma nova necessidade ou quasenecessidade a intenção de conseguir algum dinheiro com a mãe Essa inten ção por sua vez desperta uma tensão um vetor e uma valência que estão representados na Figura 108 ver p 328 Foi desenhada uma estreita fronteira en tre a criança e a mãe a partir da suposição de que ela precisa ir para casa encontrar a mãe e pedirlhe di nheiro Uma outra fronteira foi desenhada entre a mãe e o doce para representar o esforço necessário para voltar à confeitaria e fazer a compra A criança vai ao doce por intermédio da mãe FIGURA 106 FIGURA 107 328 HALL LINDZEY CAMPBELL Se a mãe se recusar a dar dinheiro à criança ela pode pensar em pedir emprestado a uma amiga Nes se caso a região que contém a mãe fica cercada por uma barreira impenetrável e é feito um novo cami nho ligando a região que contém a amiga e a região em que se encontra o doce Figura 109 Essa representação topológica poderia ser com plicada interminavelmente pela introdução de novas regiões ambientais de fronteiras com graus variados de firmeza e de necessidades adicionais com seus sis temas de tensão valências e vetores coordenados O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Embora Lewin não rejeitasse a idéia de que a heredi tariedade e a maturação desempenham um papel no desenvolvimento em nenhum momento ele discutiu com detalhes sua possível influência e também não lhes atribuiu um lugar em suas representações con ceituais Isso está de acordo com a preferência de Lewin por uma teoria puramente psicológica Uma vez que a hereditariedade e a maturação situamse no domínio dos fatos biológicos e portanto existem fora do espaço de vida juntamente com os fenômenos físi cos e sociais Lewin as ignorou O desenvolvimento para ele é um processo contínuo em que é difícil re conhecer estágios separados Lewin também acredi tava que uma escala de idade para descrever o desen volvimento não é realmente adequada para se compreender o crescimento psicológico A escala de idade terá eventualmente de ser abandonada em fa vor de graus de diferenciação organização integra ção e assim por diante Além disso a psicologia preci sa dedicarse à tarefa de descobrir os fatos coexistentes e dinamicamente relacionados que representam as condições para a mudança no momento em que ela ocorre Não basta dizer que a criança de seis anos de idade pratica ações que a de três não Precisamos ex plicar a mudança usando os conceitos da teoria de campo FIGURA 108 FIGURA 109 TEORIAS DA PERSONALIDADE 329 GEORGE KELLY A essência da abordagem da Gestalt incluindo a abor dagem gestáltica de Lewin à personalidade é a supo sição de que o comportamento é uma função do cam po no qual ocorre o comportamento O espaço de vida ou a realidade psicológica do indivíduo é o que de termina seu comportamento De maneira muito se melhante a abordagem de George Kelly à personali dade baseiase na suposição de que os indivíduos constroem a realidade à qual respondem e a resposta está baseada no uso que o indivíduo faz de sua expe riência em contextos prévios similares para antecipar as conseqüências do comportamento Apesar da se melhança óbvia entre as abordagens de Lewin e de Kelly logo se tornam aparentes as diferenças básicas Por exemplo Kelly fez uma suposição crítica crucial de que os seres humanos tentam antecipar acurada mente as conseqüências de suas ações na verdade essa busca tornase a marca registrada do funciona mento sadio Além disso o comportamento é quase uma reflexão posterior para Kelly ao passo que Lewin descreve detalhadamente as forças e os vetores Da mesma forma Kelly não achava importante discutir as necessidades específicas ou os outros motivos A construção da realidade ou interpretação nos ter mos de Kelly baseiase no sistema de constructos pes soais bipolares desenvolvido pelo indivíduo A perso nalidade por sua vez deve ser compreendida em termos dos sistemas de constructos distintivos dos in divíduos isto é a personalidade reflete diferenças individuais nas tendências de interpretação e não nas tendências de comportamento Essa abordagem sin gular requer uma redefinição de vários conceitos psi cológicos familiares A linguagem de Kelly pode ser difícil de compreender mas o valor heurístico de seu modelo merece o esforço do aluno HISTÓRIA PESSOAL Maher 1969 oferece uma breve biografia da vida de Kelly e o leitor também pode procurar Sechrest 1977 e o obituário escrito por Thompson 1968 O que se segue está baseado nessas três fontes George Kelly nasceu em 28 de abril de 1905 em uma fazenda pró xima de Perth Kansas Seu pai fora educado para ser ministro mas mudouse para essa fazenda logo de pois de seu casamento A escolarização inicial de Ke lly foi irregular mas seus pais supriam a educação dos filhos em casa Eles finalmente decidiram mandálo para Wichita para cursar o ensino médio e ele morou longe de casa a maior parte do tempo depois dos 13 anos Kelly passou três anos na Friends University uma escola Quaker e formouse com um B A em física e em matemática no Park College em 1926 Ele preten dia estudar engenharia mecânica mas seu crescente interesse pelos problemas sociais estimulado por sua participação em debates entre escolas levouo a estu dar sociologia educacional na Universidade de Kan sas Recebeu seu MA em 1928 com uma tese de mestrado sobre a distribuição das atividades no tem po de lazer entre os trabalhadores de Kansas City Após um período de tempo em que ensinou matérias varia das e experimentou ser um engenheiro aeronáutico Kelly recebeu uma bolsa de estudo de intercâmbio em 1929 Ele viajou para a Universidade de Edinbur go onde recebeu o grau de bacharel em educação em 1930 Kelly então voltou aos Estados Unidos onde se matriculou em um programa de graduação em psico logia na Universidade Estadual de Iowa Ele recebeu seu PhD depois de apenas um ano e casouse com Gladys Thompson dois dias depois da formatura No outono de 1931 Kelly foi para o Fort Hays Kansas State College onde ficou por treze anos Foi durante esse período que ele se voltou para a psicolo gia clínica e conseguiu apoio legislativo para estabe lecer um programa de clínicas itinerantes que lhe permitiu atender estudantes perturbados nas escolas de todo o estado e desenvolver novas abordagens de problemas clínicos Kelly publicou uma série de seis artigos sobre questões clínicas práticas entre 1935 e 1940 Em The Autobiography of a Theory Kelly 1963 descreveu como chegou a uma psicologia do próprio homem com um foco na escolha e na iniciação pes soal de ações No processo ele voltou a uma perspec tiva freudiana que tinha ridicularizado durante o curso de graduação Mas gradualmente ele passou a sen tirse desconfortável com seus insights freudianos decidindo em vez disso que seus clientes precisavam de uma nova abordagem à vida e às futuras contin gências Ele também se desencantou com a importân cia do self acreditando que a questão central era ajudar os clientes a imaginar novas hipóteses sobre outras maneiras de viver 1963 p 55 330 HALL LINDZEY CAMPBELL George Kelly TEORIAS DA PERSONALIDADE 331 A ênfase em novos comprometimentos e redefini ções de si mesmo em tornarse diferente do que se é atualmente montou o cenário para a teoria de Kelly da personalidade Também foi durante esse período que Kelly chegou à conclusão de que as queixas que os professores e os pais faziam sobre seus alunos e filhos tinham pouco valor descritivo para se entender o mundo da pessoa que estava sendo diagnosticada Kelly também começou a oferecer aos clientes esbo ços de pessoas diferentes e pedirlhes que experimen tassem fingindo ser essa outra pessoa Isso tornouse a base da terapia de papel fixo de Kelly e também levouo a estabelecer sua analogia do homemcientis ta Em resumo esta foi uma época fértil durante a qual Kelly desenvolveu os fundamentos dos insights clínicos e de personalidade que publicou posterior mente Durante a Segunda Guerra Mundial Kelly rece beu um posto no Aviation Psychology Branch do Bu reau of Medicine and Surgery da Marinha Depois da guerra ele trabalhou como professorassociado na Universidade de Maryland Em 1946 tornouse pro fessor e diretor de psicologia clínica na Universidade Estadual de Ohio Juntamente com Julian Rotter Ke lly levou o programa de psicologia clínica dessa uni versidade a uma posição de proeminência nacional Foi aí em 1955 que Kelly publicou sua obra mais importante The Psychology of Personal Constructs Ele deixou essa universidade em 1965 para assumir a Ri klis Chair of Behavioral Science na Universidade de Brandels onde morreu prematuramente em 1967 Durante sua carreira Kelly foi presidente das Divi sões Clínica e Consultiva da Associação Psicológica Americana e do American Board of Examiners in Pro fessional Psychology Ele também proferiu palestras por todos os Estados Unidos e pelo mundo afora SUPOSIÇÕES BÁSICAS Kelly fundamentou sua teoria em uma série de supo sições e elas constituem um bom ponto de partida para a nossa discussão da teoria Alternativismo Construtivo Esse é o título do primeiro capítulo da apresentação mais importante de Kelly 1955 de sua teoria Kelly supôs que nós poderíamos compreender de várias maneiras o mundo que nos cerca isto é sempre exis tem perspectivas alternativas que podemos escolher quando lidamos com o mundo Conforme Kelly colo ca Nós supomos que todas as nossas presentes inter pretações do universo estão sujeitas à revisão ou à reco locação sempre existem algumas construções alternativas entre as quais podemos escolher ao lidar com o mundo Ninguém precisa pintar a si mesmo como em uma situação sem saída ninguém precisa ser completamente encurralado pelas circunstâncias ninguém precisa ser a vítima da sua biografia Nós chamamos essa posição filosófica de alternativismo construtivo 1955 p 15 Observem como tal posi ção é otimista e como é extraordinariamente dife rente da posição freudiana de determinismo da infân cia ou da posição de Skinner da história de reforço e controle de estímulos Em muitos aspectos a suposi ção de Kelly lembra a posição de Alfred Adler de que as falhas do homem se devem a uma concepção er rônea da vida Ele não precisa ser oprimido por elas Ele pode mudar O passado está morto Ele está livre para ser feliz Na verdade Kelly 1964 citou apro vadoramente a filosofia do como se de Hans Vaihin ger e observou no mesmo artigo o paralelo com Ad ler Kelly estava propondo que as pessoas são livres para escolher como querem ver o mundo e seu com portamento decorre dessas escolhas Existem muitas implicações importantes nessa posição Por exemplo ela representa uma combina ção do que geralmente é chamado de livre arbítrio e determinismo em qualquer momento dado do tem po o nosso comportamento é determinado pela nos sa construção da realidade mas somos livres para mudar tal construção ao longo do tempo Kelly não estava sugerindo que as construções ou as interpreta ções alternativas estão certas ou erradas e sim que elas têm implicações diferentes para o comportamen to As pessoas diferem e diferem também através do tempo porque são guiadas por construções ou inter 332 HALL LINDZEY CAMPBELL pretações alternativas do mundo O aluno pode notar como essa suposição é semelhante à descrição de Hen ry Murray ver Capítulo 6 da pressão beta Observe também como passa a ser crítico que o clínico com preenda a construção que o cliente faz da realidade HomemCientista Os teóricos freqüentemente adotam metáforas em sua tentativa de compreender o comportamento Por exemplo Freud empregou a metáfora da vida mental como um campo de batalha entre impulsos e proibi ções Kelly adotou a metáfora do homemcientista Ele achava que devemos pensar nas pessoas vivendo suas vidas de uma maneira análoga a cientistas formulan do e testando teorias Isto é assim como os cientistas os indivíduos desenvolvem hipóteses sobre as conse qüências de seu comportamento e avaliam a validade dessas hipóteses em termos da exatidão de suas pre dições o que eu esperava que acontecesse quando agi daquela maneira de fato aconteceu Exatamente como um cientista o indivíduo está tentando predi zer e controlar as conseqüências do comportamento saber o que vai acontecer Os cientistas tentam cons truir teorias que levem a predições cada vez melho res e os indivíduos tentam construir sistemas anteci patórios que lhes permitam compreender cada vez melhor o que vai acontecer se eles agirem de certa maneira O bom cientista muda as hipóteses que são refutadas pelos dados e a pessoa sadia muda cons tructos pessoais que se originam de predições refuta das pela experiência A pessoa nãosadia pelo con trário é um mau cientista ela tem uma teoria sobre conseqüências principalmente conseqüências inter pessoais que não funciona mas não consegue mudá la Conforme Kelly colocou A pessoa vive sua vida tentando alcançar o que vem a seguir e os únicos ca nais que ela tem para conseguir aquilo são as suas construções pessoais daquilo que pode realmente es tar acontecendo 1955 p 228 Kelly 1963 p 6061 descreveu como ele che gou a essa conclusão na seguinte passagem Uma das minhas tarefas na década de 30 era ori entar alunos que estavam fazendo mestrado Uma tarde típica poderia me encontrar conversando com um aluno às 13 horas fazendo todas aquelas coisas que os orientadores têm de fazer estimu lar o aluno a identificar as questões a observar a familiarizarse com o problema a criar hipóteses indutivamente ou dedutivamente a fazer alguns testes preliminares a relacionar os dados às suas predições a controlar seus experimentos de modo a saber o que levou a que a generalizar cautelo samente e a revisar seu pensamento à luz da ex periência Às 14 horas eu poderia ter uma sessão com um cliente Nessa entrevista eu não estaria assumin do o papel do cientista mas ajudando a pessoa perturbada a encontrar algumas soluções para seus problemas de vida Então o que eu faria Bem eu tentaria fazer com que ele identificasse as ques tões observasse se familiarizasse com o proble ma criasse hipóteses fizesse alguns testes rela cionasse resultados a antecipações controlasse suas aventuras de modo a saber o que levou a que generalizasse cautelosamente e revisasse seus dogmas à luz da experiência Às 15 horas eu atenderia um outro aluno Prova velmente ele estaria desinteressado e relutante esperando planejar um experimento que sacudi ria o mundo antes sequer de olhar para seu pri meiro sujeito para ver em primeira mão com o que estava lidando atirandose a uma expedição irrefletida e grandiosa de busca de dados Então eu tentaria novamente fazer com que ele identifi casse as questões observasse objetivamente se familiarizasse com o problema criasse hipóteses tudo o que eu tivera de fazer às 13 horas Às 16 horas outro cliente Adivinhem Ele esta ria desinteressado e relutante esperando proje tar uma personalidade completamente nova an tes de se aventurar em sua primeira mudança de comportamento atirandose a uma atuação irre fletida para escapar ao problema etc etc Mas essa é claro não era a minha hora de ciência era a minha hora de psicoterapia E o que eu fizera com aquele aluno da hora anterior obviamente não fora psicoterapia fora ciência Devo dizer que esse tipo de coisa aconteceu por um longo tempo antes de me ocorrer que na ver dade eu fazia a mesma coisa a tarde inteira TEORIAS DA PERSONALIDADE 333 A chave para se compreender o comportamento humano é reconhecer que as pessoas estão tentando antecipar as conseqüências de suas ações e a chave para a personalidade é identificar os constructos pes soais que as pessoas usam para gerar suas predições Foco no Constructor Como vimos a ênfase de Kelly foi em como o indiví duo constrói interpreta ou compreende o mundo No processo de chegar a esse entendimento todavia ele precisa cuidar para não confundir a nossa maneira de interpretar a realidade com como a realidade real mente é ou deveria ser vista Quando uma pessoa faz alguma declaração sobre o mundo nós devemos com preender essa declaração como revelando mais sobre a pessoa que a emitiu do que sobre a realidade Kelly argumentou que as declarações sobre as pessoas ou outros aspectos do mundo devem ser considerados como proposições ou hipóteses mas tanto os psicólo gos como as pessoas leigas cometem o erro de tratá las como afirmações factuais a serem endossadas ou rejeitadas Kelly estava argumentando que nós acaba mos prisioneiros da nossa linguagem e explica isso na seguinte passagem Ocasionalmente posso dizer sobre mim mesmo Eu sou introvertido Eu o sujeito sou intro vertido o predicado A forma de linguagem da declaração coloca claramente o ônus de ser um introvertido sobre o sujeito eu O que eu real mente sou dizem as palavras é introvertido Mas a interpretação adequada da minha declara ção é que eu me vejo ou interpreto como intro vertido ou se estou apenas sendo recatado ou desonesto estou levando meu interlocutor a ver me ou interpretar em termos de introversão O ponto que se perde nessa confusão de palavras é o fato psicológico de que me identifiquei em ter mos de um constructo pessoal introversão Se meu interlocutor é suficientemente sem crítica para ser enganado por essa sutileza de palavras ele pode perder muito tempo acreditando que precisa me ver como introvertido ou discordando disso Mas além disso se eu digo a meu res peito que sou introvertido posso ficar preso na minha própria armadilha sujeitopredicado Até o self interior eu mesmo fica sobrecarregado pelo ônus de realmente ser um introvertido ou de encontrar alguma maneira de livrarse da intro versão que pesa sobre minhas costas Eu me deparo com o dilema de ter de continuar a decla rar que sou introvertido ou que não sou ou um ou outro Mas será que isso necessariamente é assim a introversão não poderia se revelar um constructo totalmente irrelevante Quando eu digo que o sapato do pé esquer do do professor Lindzey é introvertido todo mundo olha para o seu sapato como se ele fosse responsável por essa afirmação Ou se eu digo que a cabeça do professor Cattell é discursiva todo mundo olha para ele como se a proposição tives se saído da cabeça dele e não da minha Não olhem para a cabeça dele Não olhem para aque le sapato Olhem para mim eu sou o responsável pela declaração Depois de entender o que eu que ro dizer vocês podem olhar para ver se compre endem sapatos e cabeças interpretandoos como eu faço Não será fácil fazer isso pois significa abandonar uma das maneiras mais antigas de pen sar e de falar consigo mesmo 1958 p 7072 Motivação Os componentes motivacionais das teorias da perso nalidade destinamse a explicar as forças que compe lem as pessoas a agir de certas maneiras Entretanto de modo parecido com Carl Rogers ver Capítulo 11 e B F Skinner ver Capítulo 12 Kelly propôs que motivação é um constructo desnecessário e redun dante Ele tinha duas objeções fundamentais Primei ro os modelos motivacionais são usados para expli car por que uma pessoa é ativa ao invés de inerte Mas segundo Kelly as pessoas são ativas por defini ção de modo que não precisamos explicar o porquê delas serem ativas elas são ativas porque estão vivas A motivação também é usada para explicar por que as pessoas agem de uma maneira e não de outra Kelly argumentou que as pessoas agem como agem não devido a forças que atuam sobre elas ou dentro delas mas devido às alternativas que percebem em função de sua interpretação do mundo Em conseqüência devemos dirigir a nossa atenção para o entendimento de como a interpretação individual da realidade ca 334 HALL LINDZEY CAMPBELL naliza o comportamento e não para as forças motiva doras que compelem esse comportamento Segundo coerente com a ênfase no constructor Kelly rejeitava os motivos como rótulos que impomos aos outros Esses rótulos têm mais utilidade para compreender mos a visão de mundo da pessoa que os oferece do que o comportamento da pessoa que está sendo rotu lada Kelly 1958 p 81 resumiu sua posição acerca da motivação conforme segue As teorias motivacionais podem ser divididas em dois tipos teorias do empur rão e teorias do puxão Nas teorias do empurrão nós encontramos termos como pulsão motivo ou até estímulos As teorias do puxão usam constructos como propósito valor ou necessidade Em termos de uma metáfora bemconhecida essas são as teorias do for cado por um lado e as teorias da cenoura por outro Mas a nossa teoria não é nenhuma delas Já que pre ferimos examinar a natureza do próprio animal pro vavelmente é melhor chamar a nossa teoria de teoria do jumento Ser Si Mesmo De uma forma ou outra o autoconceito do indivíduo ocupa um papel central na maioria das teorias da per sonalidade Não existe nenhum agente interno na teoria de Kelly análogo ao ego nas abordagens de Freud ou de Murray mas ele falou sobre os construc tos de papel nuclear que usamos para compreender nosso comportamento Além disso Kelly ergueu duas objeções a formulações sobre o self Primeiro elas geralmente funcionam como máscaras atrás das quais nos escondemos de nós mesmos e dos outros Pensar em si mesmo como introvertido é impor um rótulo de self que cria expectativas de comportamento Em muitos aspectos isso é semelhante à idéia de Jung da inflação da persona Segundo Kelly via a autoima gem como fluida não como uma realidade predeter minada ou uma verdade que de alguma forma deve mos revelar Se a interpretação da pessoa de quem ela é se mostrar problemática ou ineficaz a pessoa deve mudála Mais uma vez deixemos que Kelly 1964 p 157158 fale por si mesmo Muito se fala atualmente sobre ser si mesmo Imaginamos que é saudável ser si mesmo Embo ra seja um pouco difícil para mim entender como alguém poderia ser qualquer outra coisa supo nho que o que se quer dizer é que a pessoa não deveria tentar ser aquilo que ela não é Isso me parece uma maneira muito sem graça de viver de fato eu estaria inclinado a argumentar que todos nós estaríamos bem melhor se tentássemos ser aquilo que não somos O que estou dizendo é que o que conta não é tanto o que o homem é e sim o que se aventura a tornarse Para dar o salto ele precisa fazer mais do que se revelar ele precisa arriscarse à certa confusão Então assim que consegue vislumbrar uma maneira diferente de vida ele precisa en contrar uma maneira de superar o momento pa ralisante de ameaça pois é nesse instante que ele se pergunta qual é a realidade se ele é o que era um pouco antes ou o que está prestes a ser CONSTRUCTOS PESSOAIS Vimos que a teoria de Kelly depende da compreensão de como os indivíduos interpretam seu mundo A uni dade fundamental empregada por Kelly para esse pro pósito é o constructo pessoal Um constructo é a ma neira pela qual algumas coisas são interpretadas como sendo parecidas e no entanto diferentes de outras Kelly 1955 p 105 Como veremos adiante neste capítulo os constructos são definidos por identificar uma distinção em que dois objetos são semelhantes e diferentes de um terceiro objeto Por exemplo uma pessoa poderia pensar em seu pai e em sua mãe como inteligentes mas em seu melhor amigo como nãoin teligente Dizer que uma pessoa é inteligente implica que pelo menos uma outra pessoa também é inteli gente e no mínimo outra não é inteligente Esse exemplo ilustra o aspecto distintivo dos cons tructos eles são bipolares Assim o constructo do úl timo parágrafo é inteligente versus nãointeligente A nossa interpretação básica do mundo é em termos dicotômicos alternativas ouou não em termos de escalas ou contínuos o nosso julgamento fundamen tal é se um objeto é bom ou mau não quão bom ele é Além disso cada constructo tem um intervalo muito limitado de aplicação ou intervalo de conveniência O TEORIAS DA PERSONALIDADE 335 constructo inteligente versus nãointeligente por exem plo é útil para fazer predições sobre pessoas sobre cães e gatos e sobre ratos de laboratório mas não so bre árvores as árvores estão fora do intervalo de con veniência deste constructo Da mesma forma o foco de conveniência de um constructo se refere à classe de objetos para a qual ele é mais relevante as pessoas presumivelmente no nosso exemplo de inteligente vs nãointeligente Os constructos diferem em permea bilidade ou na facilidade com que podem ser estendi dos a novos objetos ou eventos Os constructos tam bém podem ser preemptivos constelatórios ou proposicionais No caso de um constructo preemptivo nada mais sobre o objeto importa Em época de guer ra por exemplo a distinção essencial que um solda do precisa fazer é inimigo vs amigo Se alguém é in terpretado como inimigo não importa se essa pessoa é homem ou mulher simpática ou antipática O uso de um constructo constelatório desencadeia outros constructos sem informações adicionais Uma pessoa que chamamos de sexista por exemplo poderia além de interpretar uma pessoa como mulher e não como homem vêla como passiva em vez de ativa como emotiva em vez de nãoemotiva e como caprichosa em vez de lógica As outras poderiam usar homem versus mulher como um constructo proposicional nesse caso designar uma pessoa como mulher não levaria a nenhum outro julgamento Uma distinção final é en tre constructo nuclear e periférico Os constructos nu cleares são centrais para o senso da pessoa de quem ela é e como tal são relativamente resistentes à mu dança Os constructos periféricos são menos funda mentais e como tal são mais suscetíveis à mudança O sistema de constructos pessoais do indivíduo é usado para compreender o mundo Apesar de Kelly referirse aos constructos como moldes ou como aná logos a grandes óculos que distorcem e estruturam o mundo de certas maneiras o leitor não deve supor que eles são apenas mecanismos perceptivos Pelo contrário eles mal começam a capturar as nuanças envolvidas na percepção do mundo físico O sistema de constructos estrutura a realidade para que possa mos antecipar eventos Criar constructos pode ser visto como amarrar conjuntos de eventos em feixes convenientes de fácil manejo para a pessoa que tem de carregálos Os eventos quando assim amarrados tendem a tornarse predizíveis manejáveis e contro lados 1955 p 126 Kelly está sugerindo que um constructo oferece um caminho de movimento no sentido de uma escolha dicotômica entre percepções alternativas ou ações alternativas Os constructos li mitam as nossas possibilidades e oferecemnos cami nhos de liberdade de movimento Escalas A natureza dicotômica dos constructos parece contrá ria à experiência porque todos nós achamos que in terpretamos o mundo em termos de gradações não de alternativas exclusivas Os nossos conhecidos vari am em inteligência cordialidade dominação etc um conjunto de diferenças nas quais se baseiam os mode los de traço da personalidade e parece artificial ig norar essas distinções Uma analogia com o computa dor pode ajudar Um computador baseiase em distinções exclusivas um bit tem uma carga positiva ou negativa e não há gradações envolvidas No en tanto combinandose bits podemos construir progra mas de computador de incrível complexidade Da mesma forma Kelly 1955 p 142145 descreveu como os constructos dicotômicos podem ser usados para se construir escalas supraordenadas contínuas Suponha que empregamos o constructo inteligente versus nãointeligente para observar três pessoas em dez ocasiões diferentes A primeira pessoa pode ter mostrado um comportamento inteligente em oito das ocasiões a segunda em cinco das ocasiões e a tercei ra em duas das ocasiões a combinação das ocasiões nos permite escalar essas três pessoas em termos de seu grau de comportamento inteligente criando o que Kelly chama de escala de acumulação Imagine também um tipo mais complicado de es cala Suponha que uma pessoa tem um constructo supraordenado de bom versus mau que inclui cons tructos subordinados de jovem versus velho republi cano versus democrata homem versus mulher e psi cólogo versus nãopsicólogo em que a primeira alternativa sempre é bom Se atribuirmos a cada pessoa um ponto em uma escala de bondade para cada característica boa então um jovem psicólogo re publicano tem um escore total de 4 uma jovem psi cóloga democrata recebe um escore de 2 e uma ve lha nãopsicóloga democrata recebe um escore de 0 Dessa maneira a pessoa converteu um conjunto de constructos bipolares no que Kelly chama de uma es cala aditiva Kelly ofereceu numerosos exemplos de 336 HALL LINDZEY CAMPBELL escalas mas essa extensão importante e razoável de seu modelo básico é freqüentemente ignorada O POSTULADO FUNDAMENTAL E SEUS COROLÁRIOS Kelly 1955 p 46104 enunciou sua teoria na forma de um postulado fundamental e 11 corolários ver Tabela 101 Nós anteriormente consideramos temas relativos aos corolários de dicotomia intervalo e mo dulação e trataremos agora das nove declarações res tantes Postulado Fundamental Os processos de uma pessoa são psicologicamente canalizados pelas maneiras por meio das quais ela antecipa eventos Esse postulado é o núcleo da posição de Kelly Nele Kelly propõe que o entendimento que a pessoa tem do mundo e seu comportamento neste mundo pro cessos são dirigidos canalizados por uma rede existente de expectativas em relação ao que vai acon tecer se ela agir de determinada maneira antecipa eventos Os vários outros aspectos desse postulado são dignos de nota Primeiro Kelly não estava suge rindo que é assim que as pessoas verdadeiramente são ele estava dizendo vamos supor que é assim que as pessoas funcionam e ver quão bem podemos explicar tal comportamento Segundo ele levou a sério o foco na pessoa o postulado focaliza o indivíduo não al guma parte da pessoa ou algum grupo de pessoas ou algum processo específico manifestado no comporta mento da pessoa 1955 p 47 Nessa atitude Kelly é consistente com outros teóricos da personalidade Finalmente Kelly referiuse à antecipação porque acre dita que os indivíduos como os protótipos de cientis ta que são buscam a predição A antecipação é tanto TABELA 101 O Postulado Fundamental de Kelly e os 11 Corolários Postulado fundamental os processos de uma pessoa são psicologicamente canalizados pelas maneiras por meio das quais ela antecipa eventos Corolário de construção uma pessoa antecipa eventos ao interpretar suas reproduções Corolário de individualidade as pessoas diferem umas das outras na sua interpretação dos eventos Corolário de organização cada pessoa desenvolve caracteristicamente um sistema de interpretação que abrange relacionamentos ordinais entre constructos para ajudar na antecipação de eventos Corolário de dicotomia o sistema de interpretação de uma pessoa é composto por um número finito de constructos dicotômicos Corolário de escolha uma pessoa escolhe aquela alternativa em um constructo dicotomizado pela qual ela antecipa a maior possibilidade de extensão e definição de seu sistema Corolário de intervalo um constructo é conveniente apenas para a antecipação de um intervalo finito de eventos Corolário de experiência o sistema de interpretação de uma pessoa varia conforme ela interpreta sucessivamente as reproduções de eventos Corolário de modulação a variação no sistema de interpretação de uma pessoa é limitada pela permeabilidade dos constructos dentro daquele intervalo de conveniência onde estão as variantes Corolário de fragmentação uma pessoa pode empregar sucessivamente uma variedade de subsistemas de interpretação inferencialmente incompatíveis entre si Corolário de comunalidade na extensão em que uma pessoa emprega uma interpretação da experiência que é semelhante à empregada por outra pessoa seus processos psicológicos são semelhantes aos da outra pessoa Corolário de sociabilidade na extensão em que uma pessoa interpreta os processos de construção de outra ela pode desempenhar um papel em um processo social envolvendo a outra pessoa Fonte Adaptada de Kelly 1955 p 103104 TEORIAS DA PERSONALIDADE 337 o empurrão quanto o puxão da psicologia dos cons tructos pessoais 1955 p 49 Corolário de Construção Uma pessoa antecipa eventos ao interpretar suas re produções Kelly esclareceu sua posição básica nesse corolá rio Os dois termoschave aqui são interpretar e re produções Por interpretar Kelly quer dizer usar o sistema de constructos pessoais para dar uma inter pretação a um evento e tal interpretação dá signifi cado ao evento Por reprodução Kelly quer dizer usar a experiência para identificar temas recorrentes nos significados de eventos Nós então usamos o nosso entendimento desse evento para fazer predições so bre o que provavelmente acontecerá com base no que aconteceu em eventos similares no passado Construir expectativas com base na experiência não a simples categorização de eventos está no âmago do modelo de Kelly Poderíamos pensar nisso como uma versão cognitiva da história de reforço de Skinner Uma analogia ainda melhor é com as antecipações e as ex pectativas introduzidas pelos teóricos da aprendiza gem social ver Capítulo 14 Corolário de Organização Cada pessoa desenvolve caracteristicamente um sis tema de interpretação que abrange relacionamentos ordinais entre constructos para ajudar na antecipa ção de eventos Cada indivíduo organiza seus constructos em um sistema hierárquico que caracteriza sua personalida de Esse sistema muda ou evolui continuamente de acordo com a experiência O termochave nesse coro lário é relacionamentos ordinais pelo qual Kelly quer dizer que um constructo pode incluir outro como um de seus elementos Ele usou um constructo de bom versus mau para ilustrar duas maneiras pelas quais isso pode ocorrer ver Figura 1010 Primeiro bom versus mau pode incluir o constructo de inteligente versus burro ao ampliar sua clivagem Nesse exem plo bom incluiria todas as coisas inteligentes bem como outras características como moral e bravo Mau incluiria todas as coisas burras bem como imo rais e covardes Na terminologia de Kelly bom versus mau é um constructo superordinal e inteligente ver sus burro é um constructo subordinal Alternativamen te um constructo superordinal de avaliativo versus descritivo pode abstrair por meio da linha de cliva gem do constructo subordinal de inteligente versus burro Nesse caso todo o constructo de inteligente versus burro está incluído como um tipo avaliativo de constructo Ao contrário um outro constructo de claro versus escuro poderia ser considerado apenas descritivo Kelly estava sugerindo que as pessoas sistemati zam seus constructos organizandoos em hierarqui as Essa organização é fluida e os relacionamentos FIGURA 1010 Dois tipos de relacionamentos ordinais entre constructos a estendendo a linha de clivagem b abstraindo por meio da linha de clivagem 338 HALL LINDZEY CAMPBELL ordinais podem inclusive inverterse com o passar do tempo A questão para Kelly não era a autoconsistên cia das estruturas psicológicas mas o desenvolvimen to de um sistema que levasse em conta a antecipação acurada de eventos ao identificar temas que se repe tem Corolário de Fragmentação Uma pessoa pode empregar sucessivamente uma va riedade de subsistemas de interpretação inferencial mente incompatíveis entre si O sistema de interpretação está continuamente em fluxo e a evolução do sistema de interpretação é tal que os constructos específicos de uma pessoa e os comportamentos específicos resultantes podem não ser completamente consistentes ao longo do tempo Uma vez que a pessoa busca continuamente um siste ma de interpretação que produza melhor antecipa ção o comportamento em certo momento pode pare cer incompatível com o comportamento imediata mente precedente porque os constructos governan tes mudaram Kelly via isso como um corolário im portante porque ele deixa claro que a única maneira de se compreender o comportamento é em termos do sistema de interpretação corrente ou reinante não do comportamento imediatamente antecedente O comportamento nem sempre será consistente ao lon go do tempo ou das situações mas ele sempre será consistente com o atual sistema de interpretação ou constructos Corolário de Experiência O sistema de interpretação de uma pessoa varia con forme ela interpreta sucessivamente as reproduções de eventos As interpretações que damos aos eventos repre sentam hipóteses sobre as conseqüências dos compor tamentos e nós usamos os resultados reais para vali dar o sistema de constructos exatamente como o cientista usa os dados para validar uma teoria Nós revisamos continuamente as nossas antecipações di ante dos resultados e nesse processo o sistema de constructos sofre uma evolução progressiva Kelly usou experiência para referirse à sucessiva interpretação de eventos não à seqüência de eventos em si Não é o que acontece ao redor dele que torna um homem experiente é a sucessiva interpretação e reinterpre tação daquilo que acontece à medida que acontece que enriquece a experiência de sua vida 1955 p 73 A reprodução de eventos da qual depende o com portamento envolve a experiência de abstrair temas recorrentes de uma seqüência de eventos únicos Os resultados inesperados e a violação das expectativas nos obrigam a modificar os nossos sistemas de cons tructos Por fim o leitor deve notar que a discussão de Kelly da experiência incluiu o tópico usual da apren dizagem Como a motivação a aprendizagem faz parte do processo geral de antecipação e de reinterpreta ção no sistema de Kelly Corolário de Escolha Uma pessoa escolhe aquela alternativa em um cons tructo dicotomizado pela qual ela antecipa a maior possibilidade de extensão e definição de seu sistema Esse é o mais difícil dos corolários de Kelly O pos tulado fundamental descreve como o comportamen to é canalizado pelos constructos e o corolário de es colha revela que o comportamento se reduz a uma escolha entre definir melhor o sistema de constructos existente e agir de uma maneira que amplie o inter valo de conveniência do sistema de constructos Ima ginem uma aluna que precisa escolher entre dois cur sos Um deles é o seu campo mais importante de estudo de modo que ela tem uma boa idéia do que esperar Selecionar esse curso seria a escolha segu ra porque definiria melhor sua capacidade existente de antecipar os resultados O outro curso é em um campo no qual ela não tem nenhum conhecimento Selecionar esse curso seria arriscado ou temerário porque a faria imergir em uma situação na qual ela tem pouca base para antecipar os resultados Depois de designar os eventos para os pólos dos constructos nós nos deparamos com a escolha elaborativa a ser orientada pelo pólocomportamento seguro ou arris cado Segundo Kelly 1955 p 65 o indivíduo colo ca valores relativos nas extremidades de suas dicoto mias e então precisa escolher uma das alternativas A vida não é apenas interpretação é escolha baseada nessa interpretação e a escolha será feita em favor da alternativa que parece no momento oferecer a me lhor base para melhorar a subseqüente antecipação de eventos Tal corolário separa Kelly claramente dos outros teóricos ele afirmava que a busca de uma an TEORIAS DA PERSONALIDADE 339 tecipação cada vez melhor dos eventos não o prazer o reforço a autodefesa ou a autoconsistência é a essência da vida humana em si 1955 p 68 Obser vem também como a terminologia de Kelly de exten são e definição é semelhante à discussão de Carl Ro gers ver Capítulo 11 da maneira como a tendência de realização serve para manter e realçar o organis mo Os meios usados pelos indivíduos para fazer a es colha elaborativa não estão claros mas Kelly descre veu um ciclo CPC circunspecçãopreempçãocontro le que as pessoas tipicamente atravessam ao decidir como agir Retornemos à aluna que está tentando de cidir em qual curso vai se matricular Seu primeiro passo é o da circunspecção ou identificar todos os constructos disponíveis possíveis Por exemplo o cur so é no nível introdutório ou superior difícil ou fácil conhecido ou desconhecido e assim por diante O segundo passo é a preempção ou identificar uma di mensão como a dimensão crítica A nossa aluna por exemplo poderia decidir que a questão mais impor tante é se o curso é conhecido ou desconhecido O passo final é o do controle em que é feita uma esco lha entre os pólos opostos do constructo selecionado A aluna pode decidir que quer ampliar sua perspecti va e portanto fazer o curso que é desconhecido Kelly também descreveu um ciclo de criatividade para gerar novos constructos Essa seqüência começa quando a pessoa afrouxa sua atual construção do mundo a fim de experimentar novas e flexíveis inter pretações dele Na terapia o processo de exploração pode ser facilitado pelo uso de sonhos fantasias ou associação livre De alguma forma a pessoa explora por ensaio e erro uma nova abordagem O truque escreveu Kelly é deixar nascer essas interpretações sem perder de vista o que elas são e sem assustarse com suas monstruosas implicações 1965 p 128 Na outra extremidade do ciclo a pessoa começa a apertar o constructo testando sua consistência em comparação com constructos existentes e validando as resultantes antecipações comportamentais Kelly sugeriu que tal processo cíclico está profundamen te envolvido no empreendimento da pesquisa psico lógica Corolário de Individualidade As pessoas diferem umas das outras na sua interpre tação dos eventos As diferenças fundamentais entre os indivíduos residem na sua interpretação alternativa dos eventos e na antecipação das conseqüências conforme con troladas por seus sistemas de constructos distintos Em outras palavras as pessoas diferem não apenas porque foram expostas a eventos diferentes mas tam bém porque desenvolveram abordagens diferentes na antecipação dos mesmos eventos Corolário de Comunalidade Na extensão em que uma pessoa emprega uma inter pretação da experiência que é semelhante à emprega da por outra pessoa seus processos psicológicos são semelhantes aos da outra pessoa Assim como as interpretações diferentes de even tos levam a diferenças individuais uma interpretação similar dos eventos leva as pessoas a se comportarem de maneira semelhante Observe que Kelly está pro pondo que as ações semelhantes decorrem não da exposição a eventos idênticos mas de interpretações semelhantes de eventos Usando essa abordagem Kelly explicou semelhanças dentro da cultura em termos de expectativas semelhantes tanto expectativas em relação ao que os outros farão como expectativas em relação ao que os outros esperam que nós façamos Corolário de Sociabilidade Na extensão em que uma pessoa interpreta os proces sos de construção de outra ela pode desempenhar um papel em um processo social envolvendo a outra pessoa A apresentação mais importante de Kelly 1955 de sua posição enfatizou em uma grande extensão os relacionamentos interpessoais e terapêuticos e o corolário de sociabilidade é crítico para o entendimen to desses relacionamentos Ao contrário do corolário da comunalidade esse corolário discute o entendimen to e não a semelhança real Kelly acreditava que as 340 HALL LINDZEY CAMPBELL pessoas só podem se envolver em relacionamentos sig nificativos se compreendem os processos de interpre tação umas das outras A ausência do entendimento impede a comunicação e a interação efetivas O cha mado conflito de gerações entre pais e adolescentes pode ser maravilhosamente explicado nesses termos Kelly 1955 p 97 definiu um papel como um processo psicológico baseado na interpretação que o ator faz de aspectos dos sistemas de interpretação das pessoas às quais ele tenta reunirse em um empreen dimento social Em outras palavras um papel é um padrão de comportamento que reflete o entendimen to da pessoa de como os outros do grupo pensam Uma elaboração do conceito de Kelly de papel está além do escopo deste texto mas ele proporciona a base de sua terapia de papel fixo e do Role Construct Repertory Test discutido mais adiante neste capítulo O CONTÍNUO DA CONSCIÊNCIA COGNITIVA Kelly deixou claro que nem todos os constructos exis tem em uma forma verbal e eles podem não estar facilmente acessíveis à consciência Entretanto em vez de reverter a uma noção do inconsciente ele introdu ziu o que chamou de contínuo da consciência cogni tiva Os constructos préverbais os constructos sub mersos e os elementos suspensos caracterizamse por uma baixa consciência cognitiva e poderiam sob ou tros aspectos ser descritos como inconscientes Os constructos são tipicamente representados e modificados como palavras Mas assim como Henry Murray descreveu complexos préverbais Kelly indi cou que é possível que constructos pessoais se estabe leçam antes que a pessoa tenha a capacidade de re presentálos Já que os constructos préverbais não estão codificados em uma forma lingüística eles não podem ser articulados mas continuam exercendo in fluência sobre o comportamento Dado o período de tempo em que foram estabelecidos esses constructos tendem a centrarse em dependência confiança e outras preocupações infantis Cada constructo é definido em termos de dois pólos mas ocasionalmente as pessoas agem como se um pólo do constructo não estivesse disponível Por exemplo uma pessoa pode interpretar o mundo em termos de infelicidade sem o aparente reconhecimen to de que logicamente deve existir também um pólo de felicidade Quando um pólo está consideravelmente menos disponível do que o outro Kelly disse que ele foi submerso Uma vez que esse pólo está indisponí vel podemos considerálo inconsciente Um pólo de um constructo fica submerso por al guma razão e isso lembra muito o conceito freudiano de repressão como esquecimento motivado mas Ke lly preferiu conceitualizar a repressão em termos de elementos suspensos No sistema de Kelly as idéias e as memórias só estarão disponíveis se existirem cons tructos para representálas À medida que o sistema de constructos se modifica alguns elementos podem ficar indisponíveis para a consciência porque a pes soa não tem como recuperálos e representálos O elemento continuará existindo em uma forma suspensa e poderá ser recuperado se mudanças posteriores no sistema de constructos proporcionarem acesso a ele Por exemplo um homem pode empregar um cons tructo de bom versus mau para interpretar a memória de seu pai gritando com ele Se esse constructo mu dar a memória pode ficar indisponível mas pode re emergir quando o homem mais tarde desenvolver um constructo de abusivo versus apoiador Mais uma vez todavia não é o afeto que orienta o processo de sus pensão como acontece no modelo freudiano A nos sa teoria não coloca a ênfase no lembrar o que é agra dável ou esquecer o que é desagradável ela enfatiza que nós lembramos o que está estruturado e esquece mos o que não está estruturado Em contraposição com algumas noções de repressão a suspensão impli ca que a idéia ou o elemento da experiência é esque cido simplesmente porque a pessoa não consegue no momento tolerar nenhuma estrutura em que a idéia tenha significado 1955 p 473 Em resumo Kelly propôs que os constructos diferem no nível de consci ência cognitiva variando dos claramente articulados com dois pólos salientes àqueles cuja estrutura os torna relativamente inacessíveis CONSTRUCTOS SOBRE MUDANÇA Kelly também propôs redefinições de várias palavras conhecidas referentes ao afeto em termos da inade quação do sistema de constructos existente e da mu TEORIAS DA PERSONALIDADE 341 dança subseqüente Por exemplo ele definiu ansieda de como o reconhecimento de que os eventos com os quais nos deparamos estão fora do intervalo de con veniência do nosso sistema de constructos Kelly 1955 p 495 A ansiedade resulta de depararmonos não com um evento aversivo mas com um evento in cognoscível Além disso a ansiedade pode proporcio nar o ímpeto para a reorganização e o desenvolvimento sadio do sistema de constructos ou pode levar a pes soa a manobras defensivas que resultam em pólos sub mersos ou elementos suspensos conforme discutido na seção anterior A apreensão que os universitários freqüentemente sentem quando se deparam com a nova realidade da vida universitária se ajusta bem à concepção de ansiedade de Kelly Um exemplo menos óbvio de ansiedade seria quando um aluno acostuma do a receber notas medíocres recebe um A em um exame isso certamente não é um evento ruim mas é suficientemente inesperado para produzir um estado de ansiedade Da mesma forma a hostilidade reflete não assertividade em um sentido violento mas asser tividade em um sentido cognitivo o continuado es forço de extorquir evidência validacional em favor de um tipo de predição social que já provou ser um fra casso 1955 p 510 A ameaça se refere à consci ência de uma mudança iminente de grande alcance nas nossas estruturas nucleares 1955 p 489 Tal vez o mais interessante em tudo isso é que Kelly defi niu culpa como a percepção do aparente desaloja mento da pessoa de sua estrutura de papel nuclear 1955 p 502 As estruturas de papel nuclear se re ferem a como a pessoa compreende seu relacionamen to com as outras pessoas significativas portanto existe culpa quando a pessoa percebe que violou uma ex pectativa ou um relacionamento de papel importan te Uma mãe recente que percebe que não tratou o filho de maneira aceitável ou o filho que percebe que abandonou os pais idosos sentirão a culpa que Kelly descreve O leitor deve notar como a dinâmica da cul pa é semelhante aos processos que Freud descreve em termos do superego ver Capítulo 2 que Rogers des creve em termos de ansiedade ver Capítulo 11 e que Bandura descreve em termos de autosistema ver Capítulo 14 Essas são redefinições provocativas e ilustram convincentemente o valor heurístico da abor dagem de Kelly PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Kelly produziu poucos trabalhos empíricos mas des creveu um instrumento de avaliação notável para iden tificar constructos pessoais Este instrumento o Role Construct Repertory Test ou Rep Test a Figura 1011 ilustra a forma em grade do teste provocou uma quantidade substancial de pesquisas O Rep Test foi planejado para revelar os construc tos de papel que a pessoa emprega para estruturar suas expectativas de interação social Em outras pala vras que constructos empregamos para interpretar outros sociais significativos O primeiro passo para realizar o Rep Test é o sujeito identificar outras pesso as que assumem vários papéis Os papéis que poderi am ser empregados no teste em número de 20 estão listados na Figura 1011 A primeira tarefa do sujeito é identificar uma pessoa separada que assuma cada papel Segundo a pessoa que está administrando o teste seleciona três das pessoas e pede aos sujeitos que pensem de que maneiras importantes duas das pessoas são semelhantes e diferentes da terceira As colunas na Figura 1011 ilustram alguns desses tri plos O triplo na coluna adjacente aos papéis pede ao sujeito que compare self pai e mãe Por exemplo um respondente poderia dizer que seu pai e sua mãe são ambos assertivos o pólo emergente mas que ele é passivo Nesse caso assertivo versus passivo é escrito na base da coluna como o primeiro constructo de pa pel do respondente A segunda comparação é entre o self uma pessoa atraente e uma pessoa bemsucedi da O respondente poderia identificar ele mesmo e a pessoa bemsucedida como ponderados e a pessoa atraente como avoada produzindo assim um segun do constructo Tal processo continua até que a pessoa que está administrando o teste acredite ter provoca do um número suficiente de constructos A esta altu ra o testando já identificou um conjunto relevante de constructos de papel Ele é então solicitado a conside rar todos os ocupantes de papel em cada constructo colocando um X na célula da pessoa a quem se aplica o pólo emergente do constructo Assim todas as pes soas consideradas assertivas receberiam um X na pri meira coluna 342 HALL LINDZEY CAMPBELL O Rep Test proporciona muitas informações Os constructos revelam os mecanismos de interpretação que o respondente utiliza para compreender as ou tras pessoas e as colunas da grade indicam como cada constructo é aplicado a um conjunto representativo de indivíduosalvo As linhas por sua vez demons tram como o testando conceitualiza esses indivíduos alvo O leitor talvez queira experienciar o Rep Test completando a grade em branco na Figura 1011 Existem diversas versões alternativas e sistemas de pontuação mais complicados do Rep Test p ex Bannister Mair 1968 Landfield Epting 1987 Por exemplo uma pessoa pode identificar dois cons tructos distintos mas empregálos de maneira redun FIGURA 1011 O Role Construct Repertory Test de Kelly TEORIAS DA PERSONALIDADE 343 dante Se o nosso respondente do exemplo indicasse que praticamente todas as pessoasalvo que eram as sertivas eram também ponderadas e que todas as pessoas passivas eram também avoadas então os dois constructos seriam funcionalmente redundantes Quanto mais constructos únicos a pessoa empregar maior a sua complexidade cognitiva p ex Bieri 1955 PESQUISA ATUAL No 20º aniversário da morte de Kelly Jankowicz 1987 ver também Davisson 1978 publicou um ar tigo intitulado Whatever became of George Kelly A resposta de Jankowicz p 483 é que as idéias de Kelly sobrevivem como um tema organizador central para um pequeno grupo de entusiastas Esse grupo está centrado principalmente na Inglaterra onde a figura mais importante é um dos antigos alunos de Kelly Donald Bannister p ex Bannister 1977 1985 Bannister Fransella 1966 1971 Bannister Mair 1968 Fransella Bannister 1977 ver também Fran sella Dalton 1990 Fransella Thomas 1988 Win ter 1992 Nos Estados Unidos a figura central é A W Landfield Landfield 1982 1988 Landfield Ep ting 1987 Landfield Leitner 1980 ver também Epting 1984 Existem vários outros programas de pesquisa sistemática para a aplicação de uma aborda gem de constructo pessoal em domínios terapêuticos tal como o trabalho de Viney Viney 1993 Viney Crooks Walker 1995 Viney Walker Robertson Li lley Ewan 1994 ver também Neimeyer Neimeyer 1990 Os pesquisadores recémmencionados adotaram em grande parte um foco aplicado Entretanto nos últimos anos alguns pesquisadores adotaram uma abordagem de constructo pessoal à pesquisa de labo ratório Por exemplo Leitner e Cado 1982 descobri ram que os indivíduos com as atitudes mais negativas em relação aos homossexuais eram aqueles que viam a homossexualidade como invalidando constructos pessoais importantes Esses são os indivíduos que da perspectiva de Kelly se sentem mais ameaçados ou estressados pela homossexualidade Leitner e Cado mediram o estresse homossexual ou a mudança na interpretação do self quando há homossexualidade envolvida A mudança seria a diferença entre o self interpretado como eu sou agora e como eu seria se fosse homossexual Da mesma forma Tobacyk e Do wns 1986 encontraram e replicaram um relaciona mento significativo entre os escores kellyanos de ame aça e subseqüentes aumentos no estado de ansiedade no caso de uma apresentação musical importante Nessa pesquisa a ameaça foi medida como a discre pância entre a colocação do self e o self se você acabou de ter um mau desempenho diante do seu júri musical mais importante em 40 constructos centrais bipolares Como um aparte o leitor deve notar a se melhança entre essa metodologia e os escores de dis crepância de selfself ideal empregados em algumas pesquisas rogerianas ver Capítulo 11 Isso também é em muitos aspectos a imagem espelhada da abor dagem de Bandura à mensuração da autoeficácia ver Capítulo 14 Finalmente Baldwin Critelli Stevens e Russell 1986 empregaram uma versão do Rep Test planeja da para provocar constructos de papel sexual Os su jeitos fizeram uma versão do Rep Test em que os alvos de papel incluíam três pessoas que você considera muito femininas e três pessoas que você considera muito masculinas Eles foram solicitados a descrever um jeito feminino em que duas das pessoas desig nadas como femininas eram parecidas e diferentes de uma terceira pessoa Foram feitas seis dessas compa rações para formar seis constructos femininos De modo semelhante foram construídos seis constructos masculinos Cada um dos 12 alvos de papel recebeu uma avaliação em cada constructo e os sujeitos indi caram quão desejável cada constructo era para eles As autoavaliações somadas nos constructos de femi nilidade e de masculinidade geraram escores de femi nilidade e de masculinidade para os sujeitos Os esco res de RepSexo são distintos dos escores de masculinidade e feminilidade no Bem Sex Role Inven tory no sentido de que refletem a extensão da iden tificação do indivíduo com sua concepção singular de masculinidade e feminilidade p 1086 em vez de padrões tradicionais ou culturais Os autores também conseguiram demonstrar alguma validade nesses es cores como no achado de que os escores de feminili dade no RepSexo se correlacionavam significativa mente com o ajustamento autorelatado por mães recentes Tomados como um conjunto esses estudos demonstram a potencial utilidade das estratégias con ceitual e de mensuração de Kelly 344 HALL LINDZEY CAMPBELL STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Há muito a recomendar na teoria de Lewin Existe antes de tudo a imensa atividade investigativa esti mulada pelas idéias de Lewin Ele abriu muitas portas novas para o psicólogo portas que levaram a regiões da personalidade e do comportamento social previa mente fechadas para o experimentador O trabalho sobre substituição nível de aspiração efeitos da in terrupção sobre a memória regressão conflito e di nâmica de grupo foi iniciado por Lewin A importân cia de muitos desses fenômenos psicológicos foi estabelecida pelas observações dos psicanalistas mas foi Lewin quem criou uma atmosfera teórica adequa da e planejou métodos para investigálos Lewin possuía o valioso talento de ser capaz de tornar explícitas e concretas algumas das mais implí citas e elusivas suposições sobre a personalidade Ele viu por exemplo a necessidade de explicar detalha damente as suposições básicas dos teóricos psicanalí ticos sobre a substituição de uma atividade por outra Quando isso foi feito em termos de uma organização de sistemas de tensão separados cujas fronteiras pos suíam a propriedade de permeabilidade foi aberto o caminho para o ataque experimental A sua capacida de de pensar de forma rigorosa e esclarecedora sobre conceitos era um dos pontos fortes de Lewin e ele iluminou muitos problemas que jaziam à sombra de conceitualizações incompletas e de teorizações con fusas Ele estava convencido de que a ciência da psi cologia para ser útil aos seres humanos teria de pe netrar na dimensão significativa da conduta humana e explorála experimentalmente Embora Lewin pu desse ser incompreensível em sua teorização ele ra ramente deixava de lado os casos concretos e as pres crições práticas para a pesquisa Além disso ele reconheceu claramente que uma teoria que abrange os aspectos vitais do comporta mento humano tem de ter um alcance multidimen sional Em outras palavras tem de ser uma teoria de campo que abarque uma rede de variáveis interliga das em vez de pares de variáveis Essa ênfase no cam po era necessária nas décadas de 20 e 30 para con trabalançar a influência e o prestígio de uma psicologia supersimplificada e ingênua de estímuloresposta Enquanto a psicologia da Gestalt estava atacando e esmagando os baluartes da psicologia estrutural que defendiam a análise mental em elementos a psicolo gia topológica e vetorial de Lewin competia com uma forma de comportamentalismo bastante estéril que reduzia a conduta humana a simples conexões de es tímuloresposta A teoria de Lewin ajudou a criar uma estrutura de referência subjetiva cientificamente res peitável em um momento no qual o objetivismo era a voz dominante na psicologia Os assim chamados de terminantes internos da conduta como aspirações va lores e intenções tinham sido sumariamente descar tados por uma psicologia objetiva em favor de reflexos condicionados da aprendizagem por repeti ção e do provocar e eliminar automáticos dos víncu los de estímuloresposta O comportamentalismo ti nha quase conseguido reduzir o ser humano a um autômato um marionete mecânico que dançava de acordo com a melodia dos estímulos externos ou pu lava ao ser aguilhoado pelos impulsos fisiológicos in ternos um robô destituído de espontaneidade e de criatividade uma pessoa vazia A teoria de Lewin foi uma das que ajudaram a reviver a concepção do indivíduo como um campo de energia complexo motivado por forças psicológicas e comportandose seletiva e criativamente O homem vazio foi reabastecido com necessidades psicológicas intenções esperanças e aspirações O robô foi trans formado em um ser humano vivo O crasso e árido materialismo do comportamentalismo foi substituído por um quadro mais humanístico das pessoas Enquan to a psicologia objetiva talhava muitas de suas pro posições empíricas para serem testadas em cães ga tos e ratos a teoria de Lewin levou à pesquisa sobre o comportamento humano conforme expresso em am bientes mais ou menos naturais As crianças brincan do os adolescentes em atividades grupais os traba lhadores em fábricas as pessoas planejando refeições essas foram algumas das situações naturais de vida em que hipóteses derivadas da teoria de campo de Lewin foram testadas empiricamente Com essa pes quisa vital sendo feita sob a égide persuasiva da teo ria de campo não surpreende que o ponto de vista de Lewin se tenha tornado tão popular O poder heurísti co da teoria independentemente de sua adequação formal ou de suas pretensões de ser um modelo mate mático justifica a grande estima que a teoria de cam po de Lewin tem recebido Um tanto paradoxalmente Lewin tem sido am plamente ignorado pela atual geração de psicólogos em parte provavelmente porque sua abordagem to pológica parece tão estranha Apesar disso suas idéi as e seus insights permanecem vigorosos e apropria TEORIAS DA PERSONALIDADE 345 dos As evidências dessa fertilidade foram oferecidas pelos três simpósios que constituíram a Préconferên cia realizada pela Society of Personality and Social Psychology na convenção anual de 1996 pela Socieda de Psicológica Americana A Préconferência intitu louse Up to the roots The role of Lewian thought in contemporary personality and social psychology Con forme ilustrado nesses artigos p ex Funder 1996 McAdams 1996 Steele 1996 a abordagem de Lewin permanece relevante A abordagem de constructo pessoal de George Kelly à personalidade teve uma espécie de renasci mento nos últimos anos Em parte isso pode ser atri buído ao Zeitgeist cognitivo que domina a psicologia atualmente Além do fato de nós agora termos uma orientação com a qual recuperar essa teoria previa mente suspensa existe muito que atrai na aborda gem de Kelly Sua premissa básica de que os indivídu os diferem fundamentalmente na sua maneira de interpretar a realidade e nos resultados que anteci pam como conseqüência soa verdadeira Parece ine gável que nós realmente impomos as nossas expecta tivas ao mundo e que essas expectativas servem para canalizar o nosso comportamento Kelly nos prestou um serviço ao dirigir a nossa atenção para a maneira como criamos o mundo ao qual respondemos Entre tanto existem vários pontos que podemos objetar em sua teoria Primeiro a maior força de Kelly é sua ajuda para compreendermos como os indivíduos interpretam ou constroem a realidade Ele disse muito pouco sobre como os indivíduos adquirem seus constructos e como esses constructos originam o comportamento O co rolário de experiência fala sobre a aquisição de cons tructos mas de uma maneira muito geral Ficamos sabendo que as pessoas desenvolvem constructos que lhes permitem antecipar resultados mas não temos como saber que direção seguirá esse processo de aqui sição Os que apóiam a teoria de Kelly podem argu mentar que isso é análogo a queixarse de que a teo ria da aprendizagem não especifica o que é aprendido mas o fato é que Kelly nos diz muito pouco sobre o que governa a natureza dos constructos que forma mos a maneira como designamos objetos e eventos para pólos ou a probabilidade de a pessoa responder a predições inexatas e à ansiedade com mudança cons trutiva em oposição à suspensão submersão ou hos tilidade É como se nos dissessem que os bons cientis tas nascem prontos não se fazem Igualmente fica mos sabendo que baseamos o nosso comportamento em conseqüências antecipadas seguindo o corolário de escolha e o ciclo CPC mas não nos dizem o que governa essas escolhas ou o movimento através do ciclo Isso nos lembra a objeção de que os modelos cognitivos da aprendizagem deixam o rato perdido em pensamentos Segundo existe uma pobreza emocional no mo delo de Kelly da personalidade Talvez em função dos clientes com os quais trabalhava Kelly enfatizou a lógica e a racionalidade No processo de articular essa faceta do comportamento humano ele ignorou as paixões que também desempenham um papel cen tral na vida humana Grande parte do apelo persis tente da teoria freudiana é o destaque que ela dá à paixão humana e não existe nada disso em Kelly Essa falta de atenção à emocionalidade e aos mecanismos de excitação deixa uma imagem fraca e desbotada do comportamento humano Da mesma forma Kelly su geriu que as pessoas sadias sempre agem em seus melhores interesses mas grande parte da intriga no comportamento humano originase de casos em que tal suposição parece não se sustentar Finalmente a plasticidade que Kelly atribuiu à personalidade é problemática Os constructos de pa pel nuclear existem para dar estrutura à personalida de mas não podemos contar com muito mais que per maneça Não existem metas valores unidades estruturais ou tendências comportamentais Em resu mo não existe nenhum alicerce para a personalida de Quer enfatizem as predisposições fisiológicas ou o condicionamento social outros teóricos pintam um quadro bem mais claro de uma pessoa sólida e per manente o retrato de Kelly é vago A fluidez que Ke lly atribui às pessoas é um aspecto provocativo e oti mista de sua teoria mas isso também nos deixa sem saber bem onde estamos Mas todas as teorias têm limitações e Kelly arti culou uma perspectiva provocante e característica da personalidade Ninguém nos fez compreender melhor o processo pelo qual os indivíduos constroem o mun do ao qual respondem A teoria pode ter um intervalo de conveniência limitado mas esse intervalo é consi deravelmente útil os indivíduos são distintivos por que sua maneira particular de compreender a reali dade social e física os leva a expectativas distintivas em relação às conseqüências de suas ações TEORIAS DA PERSONALIDADE 347 CAPÍTULO 11 A Teoria de Carl Rogers Centrada na Pessoa INTRODUÇÃO E CONTEXTO 348 K U R T G O L D S T E I N 349 A ESTRUTURA DO ORGANISMO 350 A DINÂMICA DO ORGANISMO 352 Equalização 352 AutoRealização 352 Chegar a um Acordo com o Ambiente 353 O DESENVOLVIMENTO DO ORGANISMO 354 A B R A H A M M A S L O W 354 SUPOSIÇÕES SOBRE A NATUREZA HUMANA 356 HIERARQUIA DE NECESSIDADES 358 SÍNDROMES 361 AUTOREALIZADORES 362 C A R L R O G E R S 363 HISTÓRIA PESSOAL 365 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 367 O Organismo 367 O Self 368 Organismo e self Congruência e Incongruência 369 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 369 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 371 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 374 Estudos Qualitativos 374 Análise de Conteúdo 375 Escalas de Avaliação 375 Estudos com a TécnicaQ 376 Estudos Experimentais do Autoconceito 380 Outras Abordagens Empíricas 380 PESQUISA ATUAL 380 Teoria da Dissonância Cognitiva 381 Teoria da Autodiscrepância 382 Autoconceito Dinâmico 383 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 384 348 HALL LINDZEY CAMPBELL Nós começamos este capítulo com um breve relato da teoria organísmica conforme desenvolvida por Kurt Goldstein Depois examinamos duas outras formula ções de teoria organísmica a de Abraham Maslow e a de Carl Rogers A figura de destaque deste capítulo será Rogers INTRODUÇÃO E CONTEXTO No século XVII Descartes dividiu o indivíduo em duas entidades separadas mas interatuantes corpo e men te No século XIX Wundt aderindo à tradição do as sociacionismo britânico atomizou a mente reduzin doa a partículas elementares de sensações sentimen tos e imagens Posteriormente houve repetidas ten tativas de voltar a unir a mente e o corpo e tratar o organismo como um todo unificado organizado Uma tentativa notável que atraiu muitos seguidores nos últimos anos é conhecida como o ponto de vista orga nísmico ou holístico Esse ponto de vista encontrou expressão na psicobiologia de Adolf Meyer Meyer 1948 Rennie 1943 na orientação médica denomi nada psicossomática Dunbar 1954 e no trabalho fundamental de Coghill sobre o desenvolvimento do sistema nervoso em relação ao comportamento 1929 Os precursores médicos mais importantes do conceito organísmico são Hughlings Jackson o proe minente neurologista inglês 1931 e Claude Bernard o famoso fisiologista francês 1957 Jan Smuts o estadista e soldado sulafricano foi o proponente fi losófico mais importante da teoria organísmica e seu livro notável Holism and Evolution 1926 tem sido muito influente O general Smuts cunhou a palavra holismo a partir da raiz grega holos que significa com pleto integral inteiro Na psicologia a teoria orga nísmica foi exposta por J R Kantor 1924 1933 1947 R H Wheeler 1940 Heinz Werner 1948 e Gardner Murphy 1947 A teoria organísmica nutriu se do artigo de John Dewey que marcou época The reflex arc concept in psychology 1896 Aristóteles Goethe Spinoza e William James foram menciona dos como providenciando a sementeira na qual ger minou a teoria organísmica Embora nem todos esses autores tenham apresentado teorias organísmicas com pletas seus conceitos apontam nessa direção Estreitamente relacionado ao ponto de vista or ganísmico está o movimento da Gestalt iniciado por Wertheimer Koffka e Köhler que nos anos imediata mente anteriores à Primeira Guerra Mundial lidera ram uma revolta contra o tipo de análise mental rea lizado na época por Wundt e seus seguidores O movimento representou um novo tipo de análise da experiência consciente Partindo do campo perceptual como um todo eles então o diferenciam em figura e fundo e depois estudam as propriedades de cada um deles e suas mútuas influências Na área da aprendi zagem eles substituíram a doutrina da associação pelo conceito de insight Uma pessoa aprende uma tarefa como um todo significativo e não de maneira frag mentada Embora a psicologia da Gestalt tenha tido uma imensa influência sobre o pensamento moderno e certamente seja compatível com a teoria organísmi ca ela não pode ser considerada estritamente falan do uma psicologia organísmica A razão disso é que a psicologia da Gestalt conforme desenvolvida por Wertheimer Koffka e Köhler tende a restringir sua atenção aos fenômenos da percepção consciente e diz muito pouco sobre o organismo ou a personalidade como um todo A teoria organísmica tomou empres tados muitos de seus conceitos da psicologia da Ges talt e os dois pontos de vista estão nos termos mais amigáveis A psicologia organísmica pode ser consi derada a extensão dos princípios gestálticos ao orga nismo como um todo Kurt Goldstein o eminente neuropsiquiatra apre senta uma introdução útil às teorias organísmicas Influenciado largamente por suas observações e in vestigações de soldados com lesão cerebral durante a Primeira Guerra Mundial e por seus estudos anterio res de perturbações da fala Goldstein chegou à con clusão de que nenhum sintoma específico apresenta do por um paciente podia ser compreendido unicamente como o produto de uma determinada le são ou doença orgânica mas tinha de ser considera do como uma manifestação do organismo total O or ganismo sempre se comporta como um todo unificado e não como uma série de partes diferenciadas A mente e o corpo não são entidades separadas a mente não consiste em faculdades ou elementos independentes e o corpo em órgãos e processos independentes O organismo é uma unidade singular O que acontece em uma parte afeta o todo O psicólogo estuda o or TEORIAS DA PERSONALIDADE 349 ganismo de uma perspectiva o fisiologista de outra Mas ambas as disciplinas precisam operar dentro da estrutura da teoria organísmica porque qualquer even to quer psicológico quer fisiológico sempre ocorre no contexto do organismo total a menos que ele se tenha isolado artificialmente desse contexto As leis do todo governam o funcionamento das partes dife renciadas do todo Conseqüentemente é necessário descobrir as leis segundo as quais o organismo todo funciona para podermos entender o funcionamento de qualquer um dos componentes Esse é o princípio básico da teoria organísmica Os principais aspectos da teoria organísmica no que se refere à psicologia da pessoa podem ser resu midos da seguinte maneira 1 A teoria organísmica enfatiza a unidade a integração a consistência e a coerência da personalidade normal A organização é o es tado natural do organismo a desorganiza ção é patológica e normalmente provocada pelo impacto de um ambiente opressivo ou ameaçador ou por anomalias intraorgânicas 2 A teoria organísmica começa com o organis mo como um sistema organizado e analisao diferenciando o todo em seus membros cons tituintes Um membro nunca é abstraído do todo ao qual pertence e estudado como uma entidade isolada ele é sempre considerado como tendo uma qualidade de associação dentro do organismo total Os teóricos orga nísmicos acreditam que é impossível compre ender o todo estudando diretamente partes e segmentos isolados porque o todo funcio na segundo leis que não podem ser encon tradas nas partes 3 A teoria organísmica supõe que o indivíduo é motivado por uma pulsão soberana e não por uma pluralidade de pulsões O termo de Goldstein para esse motivo soberano é auto atualização ou autorealização que significa que os humanos estão sempre tentando rea lizar suas potencialidades inerentes por to dos os caminhos abertos para eles Tal singu laridade de propósito dá direção e unidade à nossa vida 4 Embora a teoria organísmica não considere o indivíduo como um sistema fechado ela tende a minimizar a influência primária e diretiva do ambiente externo sobre o desen volvimento normal e a enfatizar as potencia lidades inerentes de crescimento do organis mo O organismo seleciona os aspectos do ambiente aos quais ele vai reagir e exceto em circunstâncias raras e anormais o am biente não pode forçar o indivíduo a se com portar de maneira inapropriada à sua natu reza Se o organismo não conseguir controlar o ambiente ele tentará se adaptar a ele Em geral a teoria organísmica considera que as potencialidades do organismo se puderem se desdobrar de maneira ordenada por te rem um ambiente apropriado produzirão uma personalidade sadia e integrada embo ra as forças ambientais malignas possam a qualquer momento destruir ou incapacitar a pessoa Não existe nada de inerentemente mau no organismo um ambiente inadequa do o torna mau 5 A teoria organísmica pensa que temos mais a aprender a partir do estudo compreensivo de uma pessoa do que pela investigação ex tensiva de uma função psicológica isolada ob servada em muitos indivíduos Por essa ra zão a teoria organísmica tende a ser mais popular entre os psicólogos clínicos que se preocupam com a pessoa total do que entre psicólogos experimentais primariamente in teressados em processos ou em funções se paradas como a percepção e a aprendiza gem Agora apresentaremos a teoria organísmica de senvolvida por Kurt Goldstein KURT GOLDSTEIN Kurt Goldstein fez sua formação em neurologia e psi quiatria na Alemanha e atingiu uma posição de emi nência como cientistamédico e professor antes de migrar para os Estados Unidos em 1935 depois que os nazistas subiram ao poder Ele nasceu na Alta Sile sia na época uma parte da Alemanha mas atualmen te uma parte da Polônia em 6 de novembro de 1878 350 HALL LINDZEY CAMPBELL e formouse em medicina na Universidade de Bres lau Baixa Silesia em 1903 Ele estagiou com vários cientistasmédicos famosos durante alguns anos an tes de aceitar uma posição de ensino e pesquisa no Hospital Psiquiátrico de Koenigsberg Durante seus oito anos nesse cargo Goldstein pesquisou muito e escre veu numerosos artigos que estabeleceram sua reputa ção e levaramno aos 36 anos de idade ao posto de professor de neurologia e psiquiatria e diretor do Ins tituto Neurológico da Universidade de Frankfurt Du rante a Primeira Guerra Mundial ele se tornou dire tor do Military Hospital for Brain Injured Soldiers e foi então possível estabelecer um instituto de pesquisa sobre os efeitos secundários das lesões cerebrais Foi nesse instituto que Goldstein fez os estudos funda mentais que estabeleceram a base para o seu ponto de vista organísmico Gelb Goldstein 1920 Em 1930 ele foi para a Universidade de Berlim como pro fessor de neurologia e psiquiatria e também foi dire tor do Departamento de Neurologia e Psiquiatria no Hospital Moabit Quando Hitler dominou a Alemanha Goldstein foi preso e depois libertado com a condição de deixar o país Ele foi para Amsterdam onde con cluiu seu livro mais importante Der Aufbau des Orga nismus traduzido para o inglês com o título The Or ganism 1939 Indo para os Estados Unidos em 1935 ele trabalhou por um ano no Instituto Psiquiátrico de Nova York depois tornouse chefe do Laboratório de Neurofisiologia no Hospital Montefiore na cidade de Nova York e professor clínico de neurologia no Colle ge of Physicians and Surgeons da Universidade de Co lúmbia Durante esse período ele realizou palestras sobre psicopatologia no Departamento de Psicologia da Universidade de Colúmbia e foi convidado para proferir as palestras William James na Universidade de Harvard que foram publicadas com o título Hu man Nature in the Light of Psychopathology 1940 Durante os anos da guerra ele trabalhou como pro fessor clínico de neurologia na Tufts Medical School em Boston e publicou um livro sobre os efeitos secun dários das lesões cerebrais na guerra 1942 Em 1945 ele voltou à cidade de Nova York e abriu seu consultó rio como neuropsiquiatra e psicoterapeuta Associou se à Universidade de Colúmbia e à New School for So cial Research e foi professorconvidado na Universi dade de Brandeis viajando semanalmente para Wal tham Aí ele se associou a dois outros teóricos holísti cos Andras Angyal e Abraham Maslow Seu último livro foi sobre linguagem e perturbações da lingua gem 1948 uma área que ele pesquisara durante toda sua vida profissional Nos seus últimos anos Golds tein identificouse mais com a fenomenologia e a psi cologia existencial Ele morreu na cidade de Nova York em 19 de setembro de 1965 aos 86 anos de idade Sua autobiografia 1967 apareceu postumamente Um volume memorial Simmel 1968 contém uma bibliografia completa dos textos de Goldstein A ESTRUTURA DO ORGANISMO O organismo consiste em membros diferenciados e articulados os membros não se separam e nem se iso lam uns dos outros a não ser em condições anormais ou artificiais como por exemplo uma forte ansieda de A organização primária do funcionamento orga nísmico é a da figura e do fundo Uma figura é qual quer processo que emerge e destacase de um fundo Em termos de percepção é aquilo que ocupa o centro da consciência que está atenta Quando por exem plo uma pessoa está olhando para um objeto em uma sala a percepção do objeto se torna uma figura con tra o fundo do resto da sala Em termos de ação a figura é a principal atividade que o organismo está realizando Quando estamos lendo um livro a leitura é a figura que se destaca de outras atividades como mexer no cabelo mascar a ponta do lápis ouvir as vozes da sala ao lado e respirar Uma figura tem uma fronteira ou contorno definido que a encerra e separa do que a cerca O fundo é contínuo ele não só cerca a figura como se estende por trás dela O que faz uma figura emergir do fundo do orga nismo total Ela é determinada pela tarefa exigida no momento pela natureza do organismo Assim quan do um organismo faminto se depara com a tarefa de conseguir comida qualquer processo que ajude na realização da tarefa será uma figura Pode ser a lem brança de onde a comida foi encontrada no passado uma percepção de objetos alimentícios no ambiente ou uma atividade que produza alimento Mas se o organismo mudar por exemplo se a pessoa faminta ficar assustada emergirá um novo processo como fi gura apropriada à tarefa de lidar com o medo Novas figuras emergem como tarefas da mudança do orga nismo TEORIAS DA PERSONALIDADE 351 Kurt Goldstein 352 HALL LINDZEY CAMPBELL Embora Goldstein não tenha dito muito sobre a estrutura do organismo além da diferenciação entre figura e fundo ele realmente salientou que existem três tipos diferentes de comportamento os desempe nhos que são atividades voluntárias experienciadas conscientemente as atitudes que são sentimentos estados de ânimo e outras experiências internas e os processos que são funções corporais que só podem ser experienciadas indiretamente 1929 p 307 ff Goldstein também utilizou muito a distinção es trutural entre comportamento concreto e abstrato O comportamento concreto consiste em reagir a estímu los de maneira bastante automática ou direta enquan to o comportamento abstrato consiste em agir em fun ção do estímulo Por exemplo no comportamento concreto percebemos a configuração do estímulo e reagimos a ela conforme nos parece no momento ao passo que no comportamento abstrato a pessoa pensa sobre o padrão de estímulos no que ele significa na sua relação com outras configurações em como ele pode ser usado e quais são suas propriedades concei tuais A diferença entre comportamento concreto e abstrato é a diferença entre reagir diretamente a um estímulo e reagir a ele depois de pensar sobre o estí mulo Esses dois tipos de comportamento dependem de atitudes contrastantes em relação ao mundo A DINÂMICA DO ORGANISMO Os principais conceitos dinâmicos apresentados por Goldstein são 1 o processo de equalização ou a cen tração do organismo 2 a autorealização e 3 o chegar a um acordo com o ambiente Equalização Goldstein postulou um suprimento de energia dispo nível muito constante que tende a ser distribuído igualmente por todo o organismo Essa energia cons tante igualmente distribuída representa o estado médio de tensão no organismo e é ao estado médio que o organismo sempre retorna ou tenta retornar após um estímulo que muda a tensão O retorno ao estado médio é o processo de equalização Por exemplo ouvi mos um som vindo da direita e voltamos a cabeça nessa direção O virar da cabeça equaliza a distribui ção de energia no sistema que foi desequilibrado pelo som Comer quando se tem fome descansar quando se está cansado e espreguiçarse depois de ficar to lhido em um espaço exíguo são outros exemplos co nhecidos do processo de equalização A meta de uma pessoa normal sadia não é sim plesmente descarregar a tensão mas equalizála O nível em que a tensão se torna equilibrada representa a centração do organismo Esse centro é o que permi te ao organismo desempenhar mais efetivamente o seu trabalho de lidar com o ambiente e de realizarse em outras atividades de acordo com a sua natureza A centração plena ou o equilíbrio completo é um estado holístico ideal e é provavelmente alcançada raras ve zes O princípio da equalização explica a consistência a coerência e a ordenação do comportamento apesar de estímulos perturbadores Goldstein não acreditava que as fontes de perturbação fossem primariamente intraorgânicas exceto em circunstâncias anormais e catastróficas que produzem isolamento e conflito in terno Em um ambiente adequado o organismo sem pre permanecerá mais ou menos em equilíbrio As re distribuições de energia e o desequilíbrio do sistema resultam de interferências ambientais e às vezes de conflito interno Como resultado da maturação e da experiência a pessoa desenvolve modos preferenci ais de comportarse que mantêm em um mínimo as interferências e os conflitos e preservam o equilíbrio do organismo A vida de um indivíduo se torna mais centrada e menos sujeita às mudanças fortuitas do mundo interno e externo à medida que ele fica mais velho AutoRealização Este é o motivomestre de Goldstein na verdade é o único motivo que o organismo possui O que parece ser motivos diferentes como fome sexo poder con quistas e curiosidade é meramente a manifestação do propósito soberano da vida realizarse Quando as pessoas estão com fome elas se realizam comen do quando desejam poder elas se realizam obtendo poder A satisfação de qualquer necessidade específi ca está em primeiro plano quando é um prérequisito para a autorealização do organismo total A autore TEORIAS DA PERSONALIDADE 353 alização é a tendência criativa da natureza humana É o princípio orgânico pelo qual o organismo se torna mais desenvolvido e mais completo A pessoa igno rante que deseja conhecimento sente um vazio interi or ela se sente incompleta Ao ler e estudar o desejo de conhecimento é satisfeito e o vazio desaparece Dessa forma foi criada uma nova pessoa uma pessoa em quem a aprendizagem tomou o lugar da ignorân cia O desejo se tornou uma realidade Qualquer ne cessidade é um estado de déficit que motiva a pessoa a suprilo É como um buraco que precisa ser preen chido O preenchimento ou a realização de uma ne cessidade é o que queremos dizer com autoatualiza ção ou autorealização Embora a autorealização seja um fenômeno de natureza universal os fins específicos buscados pelos seres humanos variam de pessoa para pessoa Isso acontece porque elas têm potencialidades inatas dife rentes que dão forma aos seus fins e dirigem as linhas de seu desenvolvimento e crescimento individuais bem como ambientes e culturas diferentes aos quais precisam ajustarse e nos quais precisam garantir os suprimentos necessários para o crescimento Como podemos determinar as potencialidades do indivíduo Goldstein disse que a melhor maneira de fazer isso é descobrir o que a pessoa prefere e o que ela faz melhor Suas preferências correspondem às suas potencialidades Isso significa que para saber o que as pessoas estão tentando realizar precisamos saber do que elas gostam e quais são seus talentos O joga dor de beisebol está realizando aquelas potencialida des que são desenvolvidas quando ele joga beisebol o advogado aquelas potencialidades que são realiza das pela prática do direito Em geral Goldstein enfatizou a motivação cons ciente mais que a inconsciente O inconsciente aos seus olhos é o fundo para o qual o material conscien te recua quando deixa de ser útil para a autorealiza ção em uma situação definida e do qual emerge quan do novamente se torna adequado e apropriado para a autorealização Todas as peculiaridades que Freud enumera como características do inconsciente corres pondem plenamente às mudanças que o comporta mento normal sofre pelo isolamento provocado pela doença 1939 p 323 Chegar a um Acordo com o Ambiente Embora Goldstein como teórico organísmico tenha enfatizado os determinantes internos do comporta mento e o princípio de que o organismo encontra o ambiente mais apropriado para a autorealização ele não adotou a posição extrema de que o organismo está imune aos eventos do mundo externo Ele reco nheceu a importância do mundo objetivo como uma fonte de perturbação com a qual o organismo precisa lidar e como uma fonte de suprimentos pela qual o organismo realiza seu destino Isto é o ambiente se impõe ao organismo estimulandoo ou superestimu landoo de forma a perturbar o equilíbrio orgânico mas por outro lado o organismo perturbado busca no ambiente aquilo de que precisa para equalizar a tensão interna Em outras palavras existe uma inte ração entre o organismo e o ambiente A pessoa tem de chegar a um acordo com o ambi ente tanto porque ele lhe proporciona os meios pelos quais a autorealização pode ser obtida quanto por que ele contém obstruções na forma de ameaças e de pressões que impedem a autorealização Às vezes a ameaça vinda do ambiente pode ser tão grande que o comportamento do indivíduo fica congelado pela an siedade e ele não consegue fazer qualquer progresso na busca de sua meta Outras vezes a autorealização pode ser impedida porque o ambiente não possui aque les objetos ou condições necessários para a realiza ção Goldstein nos diz que o organismo normal sadio é aquele em que a tendência para a autorealização vem de dentro e supera a perturbação decorrente do choque com o mundo não por ansiedade e sim pelo prazer da conquista 1939 p 305 Essa declaração tocante sugere que chegar a um acordo com o ambi ente consiste primariamente em dominálo Se isso não puder ser feito a pessoa terá de aceitar as dificul dades e ajustarse às realidades do mundo externo da melhor maneira possível Se a discrepância entre as metas do organismo e as realidades do ambiente for grande demais o organismo entra em colapso ou desiste de algumas de suas metas e tenta realizarse em um nível inferior de existência 354 HALL LINDZEY CAMPBELL O DESENVOLVIMENTO DO ORGANISMO Embora o conceito de autorealização sugira que exis tem padrões ou estágios de desenvolvimento por meio dos quais a pessoa progride Goldstein não disse mui to sobre o curso do crescimento exceto por algumas generalidades sobre o comportamento se tornar cada vez mais ordenado e mais ajustado ao ambiente con forme a pessoa fica mais velha Goldstein sugeriu que existem tarefas peculiares a certos níveis de idade mas não especificou quais são ou se são as mesmas para todos os indivíduos A importância da heredita riedade também é sugerida mas sua relativa contri buição não é explicitada Goldstein também não apre sentou uma teoria da aprendizagem Ele falou sobre a reorganização de antigos padrões em padrões no vos e mais efetivos a repressão de atitudes e de im pulsos que estão em oposição ao desenvolvimento da personalidade global a aquisição de maneiras prefe ridas de comportamento a emergência da figura em relação ao fundo a fixação de padrões de comporta mento por estímulos traumáticos ou pela prática re petitiva com estímulos isolados as mudanças de ajus te e as formações substitutas mas essas noções não foram reunidas dentro de uma teoria sistemática de aprendizagem Elas são extremamente compatíveis com uma teoria gestáltica de aprendizagem Goldstein disse que se uma criança é exposta a situações com as quais é capaz de lidar ela vai desen volverse normalmente por meio da maturação e do treinamento À medida que surgirem novos proble mas ela formará novos padrões para lidar com eles As reações que já não forem úteis para a meta da auto realização serão abandonadas Entretanto se as con dições do ambiente forem árduas demais para as ca pacidades da criança ela desenvolverá reações inconsistentes com o princípio da autorealização Nesse caso o processo tende a ficar isolado do pa drão de vida da pessoa O isolamento de um processo é a condição primária para o desenvolvimento de es tados patológicos Por exemplo os seres humanos não são agressivos e nem submissos por natureza mas para cumprir sua natureza eles às vezes precisam ser agressivos e outras vezes submissos dependendo das circunstâncias Entretanto se a pessoa desenvolver um hábito sólido e fixo de agressão ou submissão isso tenderá a ter uma influência destrutiva sobre a perso nalidade ao afirmarse em momentos inadequados e de maneiras contrárias aos interesses da pessoa total Não podemos fazer justiça aqui à riqueza dos da dos empíricos de Goldstein nem podemos transmitir ao leitor a exata medida de seus insights sobre as ra zões da conduta humana Mas podemos orientar o investigador que desejar pesquisar de maneira orga nísmica com um conjunto de direções 1 estudar a pessoa total 2 fazer estudos intensivos de casos in dividuais usando testes entrevistas e observações em condições naturais não depender apenas de um tipo de evidência 3 tentar compreender o comportamen to da pessoa em termos de princípios sistêmicos como autorealização chegando a um acordo com o ambi ente e de atitudes abstratas versus concretas em vez de respostas específicas a estímulos específicos 4 utilizar tanto métodos qualitativos como quantitati vos na coleta e na análise de dados 5 não empregar controles experimentais e condições padronizadas que destruam a integridade do organismo e tornemno nãonatural e artificial 6 jamais esquecer que o or ganismo é uma estrutura complexa e que o seu com portamento resulta de uma vasta rede de determinan tes ABRAHAM MASLOW Abraham Maslow ver especialmente Motivation and Personality 1954 edição revisada 1970 Toward a Psychology of Being 1968a e The Farther Reaches of Human Nature 1971 adotou um ponto de vista ho lísticodinâmico que tem muito em comum com o de Goldstein que foi seu colega na Universidade de Bran deis Maslow considerava que sua posição caía dentro da ampla província da psicologia humanista que ca racterizava como a terceira força na psicologia ame ricana as outras duas sendo o comportamentalismo e a psicanálise Maslow nasceu em Brooklyn Nova York em 1 de abril de 1908 Todos os seus diplomas foram conse guidos na Universidade de Winscosin onde fez pes quisas sobre o comportamento dos primatas Por 14 anos 19371951 ele trabalhou na faculdade do Brooklyn College Em 1951 Maslow foi para a Uni versidade de Brandeis onde permaneceu até 1969 quando tornouse resident fellow da Fundação Laugh TEORIAS DA PERSONALIDADE 355 Abraham Maslow 356 HALL LINDZEY CAMPBELL lin em Menlo Park Califórnia Maslow sofreu um ata que cardíaco fatal em 8 de junho de 1970 Depois de sua morte surgiram vários livros sobre sua vida e obra Entre eles estão um elogioso volume memorial algumas notas nãopublicadas por Maslow uma bibliografia completa de seus textos BG Mas low 1972 e um retrato intelectual por um colega próximo Lowry 1973a Lowry 1973b também reu niu em um volume os artigos embrionários de Mas low Outros livros sobre Maslow foram escritos por Goble 1970 e Wilson 1972 e Lowry publicou os diários de Maslow Maslow 1982 Em vez de analisar a teoria de Maslow em termos de estrutura dinâmica e desenvolvimento nós discu tiremos quatro aspectos distintivos de suas idéias acer ca da personalidade suas suposições sobre a nature za humana sua hierarquia de necessidades sua descrição de síndromes e seu estudo da autorealiza ção É importante não esquecer que Maslow diferen temente de Goldstein valeuse de investigações de pessoas sadias e criativas para chegar a certas formu lações sobre a personalidade SUPOSIÇÕES SOBRE A NATUREZA HUMANA Maslow censurava a psicologia por sua concepção pessimista negativa e limitada do ser humano Se gundo ele a psicologia detiverase mais nas fragilida des do que nas forças humanas explorara mais minu ciosamente os pecados enquanto negligenciara as virtudes A psicologia vira a vida em termos de um indivíduo tentando desesperadamente evitar a dor em vez de agir ativamente para obter prazer e felicidade Onde está a psicologia perguntava Maslow que leva em conta a alegria a exuberância o amor e o bem estar na mesma extensão em que trata da miséria do conflito da vergonha e da hostilidade A psicologia restringiuse voluntariamente apenas à metade de sua legítima jurisdição e à pior metade à metade mais sombria Maslow tentou suprir a outra metade do quadro a metade melhor e mais favorável e oferecer um retrato da pessoa completa Ele escreveu Permitamme tentar apresentar brevemente e a princípio dogmaticamente a essência desta nova concepção do homem psiquiatricamente sadio Em primeiro lugar e o mais importante de tudo está a sólida crença de que o homem tem uma nature za essencial própria o esqueleto de uma estrutu ra psicológica que pode ser tratada e discutida analogamente com sua estrutura física de que ele tem necessidades capacidades e tendências ge neticamente baseadas algumas das quais são ca racterísticas de toda a espécie humana atraves sando todas as linhas culturais e algumas das quais são exclusivas do indivíduo Essas necessi dades são aparentemente boas ou neutras em vez de más Segundo está envolvida a concepção de que o desenvolvimento plenamente sadio normal e desejável consiste em realizar a sua natureza em cumprir todas essas potencialidades e em de senvolverse até a maturidade ao longo das linhas ditadas por sua natureza essencial oculta enco berta e vagamente vislumbrada desenvolvendo se a partir do interior ao invés de ser moldado pelo exterior Terceiro agora vemos claramente que a psicopatologia em geral resulta da nega ção da frustração ou da distorção da natureza essencial do homem Por essa concepção o que é bom Tudo o que conduz a esse desenvolvimento desejável na direção da realização da natureza interior do homem O que é mau ou anormal Tudo o que frustra bloqueia ou nega a natureza essencial do homem O que é psicopatológico Tudo o que perturba frustra ou distorce o curso da autorealização O que é psicoterapia ou por falar no assunto qualquer tipo de terapia Qual quer meio que ajude a pessoa a voltar ao caminho da autorealização e do desenvolvimento ao lon go das linhas ditadas por sua natureza interior 1954 p 340341 Em uma outra apresentação de suas suposições básicas Maslow acrescentou esta importante decla ração Esta natureza interior não é forte irresistível e inconfundível como os instintos dos animais É frágil delicada sutil e facilmente dominada por hábitos pressão cultural e atitudes erradas em TEORIAS DA PERSONALIDADE 357 relação a ela Apesar de frágil ela raramente de saparece na pessoa normal talvez nem mesmo na pessoa doente Mesmo negada ela continua às escondidas pressionando eternamente para realizarse 1968a p 4 Maslow também escreveu Todas as evidências que temos principalmente evidências clínicas mas também outros tipos de evidência de pesquisa indi cam que é razoável supor que praticamente em todos os seres humanos e certamente em quase todo bebê recémnascido existe um desejo ativo de saúde um impulso para o crescimento ou para a realização das potencialidades humanas 1967b Nessas passagens eloqüentes e representativas Maslow fez algumas suposições surpreendentes em relação à natureza humana entre as quais a de que as pessoas têm uma natureza inata que é essencialmen te boa ou pelo menos neutra Ela não é inerentemen te má Não é verdade que os instintos são maus ou antisociais e precisam ser domados pelo treinamento e pela socialização À medida que a personalidade se desdobra pela maturação em um ambiente benigno e pelos esforços ativos por parte da pessoa para realizar a sua nature za os poderes criativos do ser humano se manifestam cada vez mais claramente Quando os humanos são miseráveis ou neuróticos é porque o ambiente os tor nou assim por meio da ignorância e da patologia soci al ou porque eles distorceram seu pensamento Mas low acreditava que muitas pessoas temem e resistem a tornarse seres humanos completos autorealiza dos A destrutividade e a violência por exemplo não são inatas nos seres humanos Eles se tornam destru tivos quando sua natureza interior é distorcida nega da ou frustrada Maslow 1968b distinguia entre a violência patológica e a agressão sadia que luta con tra a injustiça o preconceito e outros males sociais Maslow sugeriu que interpretássemos a neurose como um fracasso do crescimento pessoal Isto é a neurose significa que a pessoa não conseguiu ser o que poderia ter sido e diríamos inclusive o que de veria ter sido biologicamente falando isto é se ela tivesse crescido e se desenvolvido sem nenhum impe dimento Maslow 1971 p 33 Maslow fez a si mesmo a pergunta óbvia que os teóricos do crescimento precisam enfrentar Se todos nós temos o impulso de realizar o nosso potencial o que interfere nisso Por que não estamos todos nos autorealizando Nós já vimos que a exposição a um ambiente nãosadio oferece uma resposta a essa per gunta mais adiante neste capítulo veremos que Carl Rogers respondeu a essa pergunta de maneira seme lhante mas que ele tentou identificar o processo no ambiente que o torna nãosadio Tal posição levou Maslow a examinar honestamente o relacionamento entre os seres humanos e a sociedade Ele escreveu 1 Uma vez que chamamos de doente o homem que está basicamente frustrado ou impedido e 2 uma vez que essa frustração básica só é possível por forças fora do indivíduo 3 a doença no indivíduo só pode vir de uma doença na sociedade A sociedade boa ou sadia seria então definida como aquela que permite a emergência dos propósitos superiores do homem ao satisfazer todas as suas necessidades básicas 1970 p 58 Em parte como veremos tudo isso ocorre por que a motivação para o crescimento é frágil i e menos prepotente se comparada à motivação para satisfazer necessidades básicas Duas defesas internas também nos impedem de estar em contato conosco Primeiro o complexo de Jonas se refere à nossa tendência a temer e a tentar fugir do nosso destino e das possibilidades constitu cionalmente sugeridas Tememos as possibilidades divinas em nós mesmos e não nos permitimos ser grandes A resposta de Maslow quando os alunos se sentiam embaraçados por essa atitude era perguntar Se não for você então quem 1971 p 36 A gran deza nos outros e o potencial de grandeza em nós mesmos geralmente são esmagadores e produzem o que os gregos chamavam de medo de hubris ou peca do do orgulho Nós fugimos ao nosso crescimento e em conseqüência estabelecemos baixos níveis de as piração Segundo ocorre uma dessacralização quan do aprendemos a negar as qualidades impressionan tes simbólicas e poéticas de pessoas ou atividades Disso decorrem a falta de confiança e a falta de res peito De uma maneira que lembra a discussão de Jung sobre a intuição Maslow sugeriu que os indivíduos sadios ou autorealizadores precisam aprender a res sacralizar seu mundo 358 HALL LINDZEY CAMPBELL HIERARQUIA DE NECESSIDADES Maslow 1967a 1970 propôs uma teoria da motiva ção humana com base em uma hierarquia de necessi dades ver Figura 111 Quanto mais baixo o nível de uma necessidade na hierarquia mais preponderante ou dominante é essa necessidade Em outras palavras quando várias necessidades estão ativas a necessida de mais inferior será a mais compelidora À medida que as necessidades são satisfeitas emergem necessi dades novas e superiores Além disso as necessidades dos níveis inferiores da hierarquia trazem uma moti vação de deficiência porque são acionadas por um déficit ou falta na pessoa enquanto as necessidades nos níveis superiores trazem uma motivação de cresci mento porque fazem a pessoa buscar metas e cresci mento pessoais Essa progressão é análoga em mui tos aspectos à progressão do funcionamento oportunista ao funcionamento próprio descrita por Gordon Allport Maslow considerava as necessidades de sua hierarquia como instintóides ou instintos fra cos Isto é nós herdamos os impulsos mas aprende mos suas metas ou seus modos de expressão A grati ficação sadia das necessidades não ocorre por meio de associações arbitrárias mas de tudo o que satisfaz de forma intrinsecamente adequada Em muitos as pectos as necessidades instintóides de Maslow são semelhantes aos fragmentos de pulsão descritos por Erikson O nível mais baixo na hierarquia de Maslow é o das necessidades fisiológicas Elas incluem fome sexo sede e outras pulsões com base somática Na exten são em que as necessidades fisiológicas estejam insa tisfeitas elas passam a dominar a pessoa Tais neces sidades são preemptivas no sentido de que empurram todas as outras necessidades para segundo plano A ausência ou o desaparecimento de todas as outras necessidades em uma pessoa que está dominada pela fome por exemplo alguém que é vítima de guerra ou de um desastre natural não é paradoxal é conse qüência da preponderância das necessidades fisioló gicas Observe que essas necessidades correspondem em muitos aspectos aos instintos descritos por Freud À medida que as necessidades fisiológicas são gratifi cadas emergem novas necessidades Conforme Mas low colocou um desejo satisfeito não é mais um de sejo O organismo é dominado e o seu comportamento é organizado apenas por necessidades insatisfeitas Se a fome é saciada ela deixa de ter importância na di nâmica atual do indivíduo 1970 p 38 O próximo conjunto de necessidades a emergir é o das necessidades de segurança Elas incluem segu rança estabilidade dependência proteção ausência de medo necessidade de estrutura etc Tais necessi dades estão mais óbvias nos bebês e nas crianças como no medo que a criança pequena tem de estranhos As necessidades de segurança estão grandemente satis feitas para a maioria dos adultos que vivem em uma sociedade hospitaleira Tais necessidades só são vis tas durante desastres naturais ou sociais ou no com portamento neurótico como no transtorno obsessi vocompulsivo FIGURA 111 Hierarquia de necessidades de Maslow TEORIAS DA PERSONALIDADE 359 O terceiro conjunto de necessidades a emergir é o das necessidades de pertencimento e amor Elas repre sentam a necessidade de amigos família e de rela ções afetuosas com as pessoas em geral Maslow atri buiu essas necessidades à nossa tendência profunda mente animal de agruparse congregarse reunirse pertencer a 1970 p 44 A crescente urbanização e a despersonalização das gerações recentes podem es tar contribuindo para a frustração dessas necessida des De uma maneira que lembra a discussão de Erik Erikson do conflito básico de Intimidade versus Isola mento Maslow sugeriu que a frustração dessas ne cessidades é o núcleo mais comumente encontrado nos casos de desajustamento e de patologia mais gra ves 1970 p 44 O quarto nível da hierarquia inclui dois conjuntos de necessidades de estima representando as nossas necessidades de autoestima e de estima dos outros O primeiro conjunto inclui desejo de força conquis tas domínio e competência confiança e independên cia O segundo conjunto inclui as necessidades de res peito e estima dos outros incorporando os desejos de fama status dominação atenção e dignidade Essas necessidades conforme Maslow salientou são seme lhantes aos constructos encontrados nas teorias de Adler Horney Allport e Rogers As dinâmicas tam bém são similares como na sugestão de Maslow se melhante à de Adler de que a frustração das necessi dades de autoestima produz sentimentos de inferioridade o que por sua vez dá origem a tendên cias compensatórias ou neuróticas Da mesma forma ele seguiu Carl Rogers ao salientar os perigos de ba searse a autoestima nas opiniões de outros em vez de na verdadeira capacidade competência e adequa ção na tarefa 1970 p 46 O nível mais alto de necessidades é o de auto realização Maslow afirmou que quando todas as qua tro necessidades básicas de deficiência foram satis feitas logo se desenvolve um novo descontentamento e inquietude a menos que o indivíduo esteja fazendo aquilo que ele individualmente é talhado para fazer O que um homem pode ser ele deve ser 1970 p 46 Maslow tomou esse termo emprestado de Golds tein e ele reconhecia seu relacionamento com outros constructos como o arquétipo de self de Jung e a ten dência realizadora de Rogers No uso específico que Maslow faz do termo autorealização se refere ao desejo de tornarmonos cada vez mais aquilo que somos idiossincraticamente de tornarmonos tudo aquilo que somos capazes de tornarnos 1970 p 46 É importante reconhecer que a autorealização não envolve uma deficiência ou a falta de algum ele mento externo ela representa um crescimento in trínseco daquilo que já está no organismo o desen volvimento então vem de dentro e não de fora e paradoxalmente o maior motivo é atingir um estado de nãomotivação e de ausência de esforço 1970 p 134135 As pessoas autorealizadoras não são motivadas primariamente por necessidades básicas elas são metamotivadas por metanecessidades ou Valoresdo ser Maslow estava sugerindo que os autorealizado res que ele chamou de mais inteiramente humanos são orientados por valores intrínsecos não pela busca de objetos desejados Observe como isso lembra a descrição da busca de superioridade de Adler O es tudo de Maslow da autorealização começou com sua devoção de alto QI a dois de seus professores Ruth Benedict e Max Wertheimer É só nessas pessoas emi nentes que vemos a expressão da faceta mais profun da e mais autêntica da natureza humana os Valores doser As metanecessidades são instintóides ou biologicamente necessárias assim como as quatro necessidades básicas Isto é as metanecessidades são necessárias para evitar doenças ou metapatologia e para atingir a plena humanidade A Tabela 111 ver p 360 apresenta a lista de Maslow dos Valoresdo ser e das patologias correspondentes Interessantemen te Maslow descreveu a Tabela 111 como uma espé cie de tabela periódica útil para identificar patologias ainda não descobertas Como um ponto final Maslow notou que embora as necessidades básicas sejam pre ponderantes em relação às metanecessidades as me tanecessidades são igualmente potentes elas não exis tem em uma hierarquia generalizada de predomi nância Mas os indivíduos realmente parecem desen volver suas próprias hierarquias de metanecessidades com base em outros componentes de sua personali dade Maslow ofereceu várias qualificações para a hie rarquia de necessidades recémdescrita Por exemplo além das necessidades conativas contidas na hierar quia nós também possuímos necessidades cognitivas especialmente os desejos de saber e compreender bem como uma necessidade estética verdadeiramente bá sica Não está completamente claro como essas ne 360 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 111 ValoresdoSer e Metapatologias Específicas ValoresdoSer Privação Patogênica Metapatologias Específicas 1 Verdade Desonestidade Descrença desconfiança cinismo ceticismo suspeita 2 Bondade Maldade Total egoísmo ódio repulsa nojo só confia e pensa em si mesmo nihilismo cinismo 3 Beleza Feiúra Vulgaridade infelicidade específica inquietude perda do gosto tensão fadiga filistinismo desolação 4 Unidade Caos Atomismo perda de conexão Desintegração o mundo está se desintegrando inteireza arbitrariedade 4A Dicotomia Dicotomias pretoebranco perda de Pensamento pretonobranco pensamento ouou ver transcendência gradações de graus polarização tudo como um duelo ou uma guerra ou como um forçada escolhas forçadas conflito baixa sinergia visão simplista da vida 5 Vivacidade Amortecimento mecanização da vida Amortecimento robotização sentirse totalmente processo determinado perda da emoção tédio perda do gosto pela vida vazio experiencial 6 Singularidade Mesmice uniformidade Perda do sentimento de self e de individualidade intercambialidade sentirse intercambiável anônimo não realmente necessário 7 Perfeição Imperfeição desleixo mau acabamento Desânimo desesperança nada pelo que trabalhar má qualidade 7A Necessidade Acidente ocasionalismo inconsistência Caos impredizibilidade perda da segurança vigilância 8 Completude Incompletude Sentimentos de incompletude com perseveração finalidade desesperança a pessoa deixa de lutar e enfrentar não vale a pena tentar 9 Justiça Injustiça Insegurança raiva cinismo desconfiança ilegalidade visão do mundo como uma selva total egoísmo 9A Ordem Ilegalidade caos colapso da autoridade Insegurança cautela perda de segurança de predizibilidade necessidade de vigilância prontidão tensão estar em guarda 10 Simplicidade Complexidade confusa caráter Supercomplexidade confusão desorientação conflito desconexo desintegração perda de orientação 11 Riqueza Pobreza coarctação Depressão inquietude perda do interesse pelo mundo totalidade abrangência 12 Ausência de Muito esforço Fadiga tensão esforço falta de jeito inabilidade falta esforço de graça rigidez 13 Divertimento Ausência de humor Severidade depressão ausência paranóide de humor perda do gosto pela vida falta de alegria perda da capacidade de divertirse 14 Autosuficiência Contingência acidente ocasionalismo Dependência do percebedor ele se torna sua responsabilidade 15 Significado Falta de significado Falta de significado desespero a vida não tem sentido Fonte Reimpressa com a permissão de Maslow 1971 p 318319 TEORIAS DA PERSONALIDADE 361 cessidades subordinadas se encaixam na hierarquia mas sua semelhança com as metanecessidades sugere que elas servem como um componente ou como uma précondição para a autorealização Além disso pode haver exceções para a ordem das necessidades bási cas A inversão mais comum ocorre quando a auto estima é mais importante para uma pessoa do que o amor Às vezes também encontramos pessoas com uma criatividade aparentemente inata nas quais a pulsão para a criatividade emerge não como parte da autorealização mas apesar da falta de gratificação das necessidades básicas Alternativamente as neces sidades menos predominantes podem simplesmente se perder nas pessoas que experienciaram a vida em um nível muito baixo As pessoas podem escolher ar riscarse à privação de uma necessidade inferior a ser viço de uma superior como no caso da pessoa que desiste de um emprego para preservar seu autores peito Mas a necessidade mais preponderante eventu almente se reafirma Finalmente Maslow introduziu o que chamou de maior tolerância à frustração por meio da gratificação inicial As pessoas que tiveram satisfeitas as suas necessidades básicas durante a vida especialmente em seus anos iniciais parecem desen volver um poder excepcional de suportar a frustração presente ou futura dessas necessidades 1970 p 53 Maslow também qualificou sua declaração de que uma necessidade superior emerge quando uma ne cessidade inferior é satisfeita De fato uma necessi dade não precisa estar completamente satisfeita an tes que emerja a próxima e Maslow propôs porcenta gens decrescentes de satisfação à medida que subi mos na hierarquia de preponderância Por exemplo é como se a pessoa média satisfizesse cerca de 85 das necessidades fisiológicas 70 das necessidades de segurança 50 das necessidades de amor 40 das necessidades de autoestima e 10 das necessi dades de autorealização Finalmente Maslow apresentou algumas compli cações razoáveis de seu modelo Primeiro ele não colocou as necessidades como completamente cons cientes ou inconscientes Embora tipicamente não es tejamos conscientes das nossas necessidades básicas podemos tomar consciência delas com certo esforço Ecoando Cattell Maslow sugeriu que os nossos dese jos conscientes do diaadia são indicadores de super fície de necessidades mais básicas 1970 p 56 Se gundo Maslow reconheceu a realidade da diversidade cultural e não afirmou que sua hierarquia fosse uni versal Mas ele realmente sugeriu que a hierarquia é mais universal e mais básica do que os desejos consci entes superficiais e os comportamentos aos quais nor malmente prestamos atenção Terceiro Maslow con cordou com Freud que a maioria dos comportamentos é superdeterminada ou multimotivada por todas as necessidades básicas Valendose de sua pesquisa ini cial com animais ele ofereceu como ilustrações a ali mentação e o comportamento sexual Finalmente al guns comportamentos não são motivados mas determinados pelo campo externo ou são um reflexo do estilo da pessoa SÍNDROMES Maslow acreditava que poderíamos compreender melhor a organização da personalidade por meio do conceito de síndrome da personalidade um termo que ele tomou emprestado da medicina Ele descreveu uma síndrome como um complexo estruturado e organi zado de especificidades aparentemente diversas com portamentos pensamentos impulsos de ação percep ções etc que quando estudadas cuidadosamente e validamente mostram ter uma unidade comum que pode ser chamada variadamente de significado dinâ mico expressão qualidade função ou propósito se melhante 1970 p 303 Tomando emprestado um termo de Allport uma síndrome leva a um grupo de sentimentos e comportamentos funcionalmente equi valentes e relativamente resistentes à mudança Mas low indicou que cada síndrome consiste em muitos níveis de generalidade Ele sugeriu que pensássemos em uma grande caixa contendo caixas menores que por sua vez contêm caixas ainda menores e assim su cessivamente Por exemplo ele descreveu uma sín drome de segurança Ela pode conter 14 subsíndro mes uma das quais poderia ser podersubmissão Uma pessoa insegura poderia expressar a necessidade de poder de muitas maneiras uma delas o preconceito A tendência ao preconceito seria então uma subsín drome da necessidade de poder A análise poderia continuar identificando subsíndromes subjacentes ao preconceito e assim por diante Infelizmente o con ceito de Maslow de síndromes de personalidade é pouco discutido no restante de sua obra e um pouco 362 HALL LINDZEY CAMPBELL ambíguo Por exemplo como as síndromes se desen volvem e quais são os possíveis tipos de síndrome Os exemplos de Maslow de síndromes de autoestima e segurança sugerem que as necessidades de sua hie rarquia oferecem os núcleos das síndromes Essa es tratégia permitiria ao aluno traçar paralelos entre as síndromes e os tipos de caráter freudianos ou os com plexos junguianos A análise de Maslow das síndromes também se gue muitas das outras teorias neste livro ao reconhe cer a artificialidade da exigência de que analisemos ou características gerais ou características específicas de personalidade As características específicas se en caixam nas características mais gerais e podemos tra balhar proveitosamente em qualquer nível particular sem distorcer a estrutura da pessoa total Segundo Maslow essa estratégia nos permite ser sofisticados tanto acerca do particular quanto do todo sem cair em um particularismo sem sentido ou em uma gene ralidade vaga e inútil ela nos permite estudar si multânea e efetivamente o caráter único e o caráter comum 1970 p 317318 AUTOREALIZADORES Maslow talvez seja mais conhecido por seus estudos de indivíduos autorealizadores Ele acreditava que se os psicólogos estudarem exclusivamente pessoas incapacitadas neuróticas que sofreram paradas em seu desenvolvimento eles provavelmente produzirão uma psicologia incompleta A fim de desenvolver uma ciência mais completa e abrangente da pessoa huma na os psicólogos também precisam estudar pessoas que realizaram suas potencialidades integralmente Maslow fez exatamente isso ele estudou intensiva e profundamente um grupo de pessoas autorealizado ras Elas são aves raras conforme Maslow descobriu quando estava formando seu grupo Alguns de seus sujeitos eram personagens históricos como Lincoln Jefferson Walt Whitman Thoureau e Beethoven Outros estavam vivos na época em que foram estuda dos como Eleanor Roosevelt Einstein e amigos e co nhecidos do investigador Essas pessoas foram inves tigadas clinicamente para se descobrir que caracterís ticas as distinguiam das pessoas comuns Essas carac terísticas distintivas são as seguintes 1 Elas são re alisticamente orientadas 2 Elas aceitam a si mes mas as outras pessoas e o mundo natural como são 3 Elas são muito espontâneas 4 Elas se centram em problemas e não em si mesmas 5 Elas têm um ar de destacamento e uma necessidade de privacida de 6 Elas são autônomas e independentes 7 Sua apreciação das pessoas e das coisas é nova em vez de estereotipada 8 A maioria teve experiências místi cas ou espirituais profundas embora não necessaria mente de caráter religioso 9 Elas se identificam com a humanidade 10 Seus relacionamentos íntimos com algumas pessoas especialmente amadas tendem a ser profundos e intensamente emocionais em vez de superficiais 11 Seus valores e atitudes são de mocráticos 12 Elas não confundem os meios com os fins 13 Seu senso de humor é filosófico em vez de hostil 14 Elas têm um grande fundo de criativi dade 15 Elas resistem a conformarse à cultura 16 Elas transcendem o ambiente em vez de simplesmen te lidar com ele Maslow também investigou a natureza do que ele chama de experiências de pico Foram obtidos rela tos sobre a experiência mais maravilhosa da vida da pessoa Descobriuse que as pessoas que estão pas sando por experiências de pico se sentem mais inte gradas mais em união com o mundo mais donas de si mais espontâneas menos conscientes do espaço e tempo mais perceptivas e assim por diante Mas low 1968a Capítulos 6 e 7 Em resumo observe que Maslow 1966 criticava a ciência Ele achava que a ciência mecanicista clássi ca representada pelo comportamentalismo não é adequada para estudar a pessoa inteira Ele defendia uma ciência humanista não como uma alternativa à ciência mecanicista e sim como um complemento dela Essa ciência humanista lidaria com questões de valor individualidade consciência propósito ética e as maiores capacidades da natureza humana Parece que a contribuição notável de Maslow ao ponto de vista organísmico está na sua preocupação com as pessoas sadias ao invés de doentes e em seu sentimento de que os estudos destes dois grupos ge ram tipos diferentes de teoria Goldstein como espe cialista médico e psicoterapeuta entrou em contato com pessoas deficientes e desorganizadas mas ape sar dessa amostra tendenciosa ele criou uma teoria que abarca todo o organismo e que se aplica tanto aos doentes quanto aos sadios Maslow escolheu o curso TEORIAS DA PERSONALIDADE 363 mais direto de estudar as pessoas sadias cuja inteire za e unidade de personalidade estão claramente apa rentes Como autorealizadoras as pessoas observa das por Maslow são a corporificação da teoria organísmica CARL ROGERS Nas edições anteriores nós chamamos o ponto de vis ta de Rogers de teoria do self mas isso não parece mais caracterizar com exatidão a sua posição Está claro agora que a ênfase deve estar no organismo não no self Na verdade o self ou o autoconceito como veremos pode ser um quadro distorcido da autêntica natureza da pessoa Rogers também se identificou com a orientação humanista da psicologia contemporânea A psicolo gia humanista se opõe ao que considera como o triste pessimismo e desespero inerentes à visão psicanalíti ca do ser humano por um lado e à concepção de robô do ser humano retratada no comportamentalis mo por outro A psicologia humanista é mais espe rançosa e otimista em relação ao ser humano Ela acre dita que a pessoa qualquer pessoa contém dentro de si o potencial para um desenvolvimento sadio e criati vo O fracasso em realizar esse potencial se deve às influências coercitivas e distorcedoras do treinamen to parental da educação e de outras pressões sociais Mas os efeitos prejudiciais podem ser superados se o indivíduo estiver disposto a aceitar a responsabilida de por sua própria vida A teoria de Rogers também tem algo em comum com a psicologia existencial Ela é basicamente feno menológica no sentido de que Rogers enfatizou as experiências das pessoas seus sentimentos e valores e tudo o que está contido na expressão vida interior A teoria de Rogers da personalidade como as de Freud Jung Adler Sullivan e Horney originouse de suas experiências no relacionamento terapêutico com pacientes O maior estímulo para seu pensamento psi cológico ele reconhecia era a continuada experiên cia clínica com indivíduos que se percebem ou são percebidos por outros como precisando de ajuda pes soal Desde 1928 por um período agora de aproxi madamente 30 anos eu passei provavelmente uma média de 15 a 20 horas por semana exceto nos perí odos de férias tentando entender e ajudar terapeuti camente estes indivíduos Dessas horas e do meu relacionamento com essas pessoas eu obtive todo o conhecimento que possuo sobre o significado da tera pia a dinâmica dos relacionamentos interpessoais e a estrutura e o funcionamento da personalidade 1959 p 188 Aos olhos do mundo psicológico Carl Rogers é identificado com o método de psicoterapia que ele criou e desenvolveu Essa terapia é chamada de não diretiva ou centrada no cliente Nas palavras de seu criador a terapia bemsucedida centrada no cliente realizada em condições ótimas significa que o terapeuta foi capaz de esta belecer um relacionamento intensamente pessoal e subjetivo com o cliente relacionandose não como um cientista com um objeto de estudo não como um médico esperando diagnosticar e curar mas como uma pessoa com outra pessoa Signi fica que o terapeuta acha que o cliente é uma pes soa de autovalor incondicional de valor indepen dentemente de sua condição comportamento ou sentimentos Significa que o terapeuta é autênti co não se escondendo atrás de uma fachada de fensiva mas encontrando o cliente com os senti mentos que ele o terapeuta está experienciando Significa que o terapeuta é capaz de soltarse ao entender o cliente que nenhuma barreira interna o impede de sentir como é ser este cliente em cada momento do relacionamento e que ele consegue transmitir parte de seu entendimento empático ao cliente Significa que o terapeuta fica à vonta de ao entrar inteiramente nesse relacionamento sem saber cognitivamente onde ele vai levar sa tisfeito por criar um clima que permitirá ao clien te a maior liberdade possível para ser ele mesmo Para o cliente essa terapia ótima significa uma exploração de sentimentos cada vez mais estra nhos desconhecidos e perigosos nele mesmo a exploração só sendo possível porque ele está gra dualmente percebendo que é aceito incondicio nalmente Assim ele entra em contato com os ele mentos de sua experiência que no passado foram negados à consciência como excessivamente ame açadores e perigosos para a estrutura do self Ele se percebe experienciando esses sentimentos in teiramente completamente no relacionamento 364 HALL LINDZEY CAMPBELL Carl Rogers TEORIAS DA PERSONALIDADE 365 de modo que naquele momento ele é o seu medo ou sua raiva ou sua ternura ou sua força E à medida que vive esses variados sentimentos em todos os seus graus de intensidade ele descobre que os experienciou ele mesmo que ele é todos esses sentimentos Ele percebe que seu compor tamento está mudando de modo construtivo de acordo com seu self recentemente experienciado Ele se dá conta de que já não precisa temer aquilo que a experiência pode conter mas pode recebê la livremente como parte de seu self que está mu dando e desenvolvendose 1961 p 185 A partir dessas experiências Rogers inicialmente desenvolveu uma teoria de terapia e de mudança da personalidade O principal aspecto dessa conceituali zação do processo terapêutico é que quando os clien tes percebem que o terapeuta tem uma consideração positiva incondicional por eles e um entendimento empático de sua estrutura interna de referência ini ciase um processo de mudança Durante tal proces so os clientes ficam cada vez mais conscientes de seus verdadeiros sentimentos e experiências e seu auto conceito se torna mais congruente com as experiênci as totais do organismo 1959 p 212221 Se fosse atingida uma congruência completa o cliente tornarseia uma pessoa com um funcionamen to pleno Ser tal pessoa inclui características como abertura à experiência ausência de defensividade consciência acurada autoconsideração incondicional e relações harmoniosas com os outros 1959 1961 Rogers via o processo terapêutico como um exem plo de relação e comunicação interpessoais Isso o le vou a formular uma teoria geral do relacionamento interpessoal 1959 1961 O principal postulado de sua teoria foi apresentado por Rogers conforme se gue Supondose a uma disposição mínima por par te de duas pessoas para estar em contato b uma capacidade e disposição mínimas por parte de cada uma para receber comunicações da outra e c supondose que o contato continue por um perío do de tempo então hipotetizamos que o seguinte relacionamento é verdade Quanto maior a congruência da experiência a consciência e a comunicação por parte de um in divíduo mais o relacionamento resultante envol verá uma tendência à comunicação recíproca com uma qualidade de crescente congruência uma tendência a um entendimento mutuamente mais acurado das comunicações melhor ajustamento psicológico e funcionamento em ambas as partes satisfação mútua no relacionamento 1961 p 344 Podemos notar que apenas uma das pessoas no relacionamento precisa sentir congruência para que ocorram mudanças na outra pessoa As teorias precedentes foram aplicadas por Ro gers à vida familiar 1972 à educação e aprendiza gem 1969 a grupos de encontro 1970 e à tensão e conflito grupais 1977 A terapia nãodiretiva goza de considerável po pularidade entre os conselheiros psicológicos parci almente porque está historicamente ligada à psicolo gia e não à medicina É fácil de aprender e requer pouco ou nenhum conhecimento de diagnóstico e di nâmica da personalidade para ser usada Além disso o curso do tratamento é relativamente breve se com parado por exemplo à psicanálise e alguns clientes já se beneficiam após poucas sessões Entretanto a psicoterapia não é a nossa preocu pação neste livro e nós a mencionamos apenas por que a teoria da personalidade de Rogers evolui de suas experiências como terapeuta centrado no cliente Suas observações terapêuticas lhe proporcionaram um precioso filão de material observacional de raro valor para o estudo da personalidade 1947 p 358 A formulação de uma teoria da personalidade ajudou a iluminar e a elucidar as práticas terapêuticas de Ro gers HISTÓRIA PESSOAL Carl Rogers nasceu em Oak Park Illinois em 8 de ja neiro de 1902 o filho do meio de uma família gran de e unida em que o trabalho duro e um cristianismo protestante extremamente conservador beirando o fundamentalismo eram quase igualmente reverenci ados 1959 p 186 Quando Carl estava com 12 anos sua família mudouse para uma fazenda e ele passou a interessarse pela agricultura científica Esse inte resse pela ciência acompanhouo até a faculdade nos 366 HALL LINDZEY CAMPBELL primeiros anos ele gostava das ciências físicas e bio lógicas Depois de formarse na Universidade de Wis consin em 1924 ele freqüentou o Union Theological Seminary na cidade de Nova York onde foi exposto a um ponto de vista liberal e filosófico referente à reli gião Transferindose para o Teachers College da Uni versidade de Colúmbia ele foi influenciado filosofi camente por John Dewey e apresentado à psicologia clínica por Leta Hollingworth Obteve seu grau de mestre em 1928 e o doutorado em 1931 pela Colúm bia Sua primeira experiência prática na psicologia clínica e na psicoterapia foi como interno no Institute for Child Guidance que tinha uma orientação forte mente freudiana Rogers observou que a clara incom patibilidade do pensamento freudiano altamente es peculativo do Instituto com as idéias extremamente estatísticas e thorndikeanas do Teachers College foi agudamente sentida 1959 p 186 Depois de receber seu grau de doutor em psicolo gia Rogers reuniuse à equipe do Rochester Guidance Center e mais tarde tornouse seu diretor A equipe era eclética de backgrounds diversos e a nossa discussão freqüente e contínua dos méto dos de tratamento baseavase na nossa experiên cia prática cotidiana com crianças adolescentes e adultos que eram nossos clientes Foi o início de um esforço que tem tido significado para mim desde então para descobrir a ordem existente na nossa experiência de trabalho com pessoas O volume sobre o Clinical Treatment of the Problem Child 1939 foi um resultado desse esforço Ro gers 1959 p 186187 Durante esse período Rogers foi influenciado por Otto Rank um psicanalista que rompera com os ensina mentos ortodoxos de Freud Em 1940 Rogers aceitou um convite para ser pro fessor de psicologia na Universidade Estadual de Ohio Essa mudança de um ambiente clínico para um ambi ente acadêmico foi estimulante para Rogers Sob o estímulo oferecido por alunos intelectualmente curi osos e críticos Rogers sentiuse impelido a explicitar suas idéias sobre psicoterapia o que fez no livro Coun seling and Psychotherapy 1942 Em 1945 Rogers foi para a Universidade de Chicago como professor de psicologia e secretárioexecutivo do Counseling Cen ter Aí ele elaborou seu método de psicoterapia cen trada no cliente formulou uma teoria da personali dade e realizou pesquisas sobre psicoterapia Rogers 1951 Rogers Dymond 1954 De 1957 a 1963 Rogers foi professor de psicologia e psiquiatria na Universidade de Wisconsin Durante esses anos ele liderou um grupo de pesquisa que estudou de forma intensiva e controlada a psicoterapia com pacientes esquizofrênicos em um hospital para doentes mentais Rogers 1967a Começando em 1964 ele associou se ao Center for Studies of the Person em La Jolla Cali fórnia Rogers morreu em 4 de fevereiro de 1987 de ataque cardíaco após uma operação de fratura de bacia Rogers recebeu numerosas honras incluindo a presidência da Associação Psicológica Americana seu Distinguished Scientific Contribution Award e seu Dis tinguished Professional Award Ambos os prêmios fo ram recebidos no primeiro ano em que a Associação passou a oferecêlos Apesar do notável reconhecimen to profissional a descrição de Rogers de si mesmo como um mosca parece extremamente apropriada A autobiografia de Rogers aparece no volume 5 da History of Psychology in Autobiography 1967b Nós examinaremos agora a teoria de Rogers da personalidade Essa teoria foi originalmente apresen tada em Clientcentered therapy 1951 elaborada e formalizada em um capítulo escrito para Psychology a study of a science 1959 e descrita mais informal mente em On Becoming a Person 1961 Carl Rogers on Personal Power 1977 Freedom to Learn 1983 e A Way of Being 1980 Este último volume é uma vi são geral muito útil das atividades e das observações de Rogers em seus últimos anos Segundo Rogers a teorização deveria ocorrer assim Eu cheguei à conclusão à que outros chegaram antes de que em um novo campo talvez precise mos primeiro mergulhar nos eventos abordar os fenômenos com o mínimo possível de preconcep ções usar a abordagem observacional e descriti va do naturalista a esses eventos e fazer aquelas inferências de baixo nível que parecem as mais inerentes ao próprio material 1961 p 128 A seguinte citação revela que Rogers também via sua teoria assim como teorias propostas por outros como tentativas No momento de sua formulação toda teoria con tém uma quantidade desconhecida e talvez na quele momento incognoscível de erro e de infe TEORIAS DA PERSONALIDADE 367 rências equivocadas Fico perturbado ao ver como mentes de pequeno calibre aceitam imedia tamente uma teoria quase qualquer teoria como um dogma de verdade Se a teoria pudesse ser vista como realmente é uma tentativa falí vel alterável de construir uma rede de fios finos como teia de aranha que conterá os fatos sólidos então a teoria serviria como deve como um estímulo para continuarmos pensando criativa mente Para Freud parece bem claro que suas teorias altamente criativas nunca foram mais do que isso Ele continuava mudando alterando re visando dando novo significado a antigos termos sempre com mais respeito pelos fatos que ob servava do que pelas teorias que construíra Mas nas mãos de discípulos inseguros assim me pare ce os fios finos como teia de aranha se transfor mam em correntes de ferro de dogma 1959 p 190191 itálicos acrescentados Como um ponto introdutório final é importante notar o paradoxo de que embora as dinâmicas des critas por Rogers sejam surpreendentemente seme lhantes às observadas em outras teorias suas suposi ções sobre a natureza humana só são similares às de Abraham Maslow Por exemplo a fenomenologia de Rogers e sua posição radical sobre a motivação são muito parecidas com a orientação adotada por Geor ge Kelly mas sua suposição de que o desafio essencial para os seres humanos é ser aquele self que verda deiramente se é é diametralmente oposta à fluida abordagem de Kelly à teoria e à terapia Ainda mais intrigantes são os paralelos entre Rogers e Freud e entre Rogers e Skinner três teóricos que seriam tipi camente considerados como companheiros bem es tranhos Como veremos Rogers e Freud empregaram ambos um modelo de psicopatologia em que o confli to desencadeia ansiedade que por sua vez leva à de fesa Mas os modelos funcionam de modo muito dife rente devido às diferentes suposições dos teóricos sobre a natureza humana Rogers 1961 p 194195 em uma passagem que claramente se refere a Freud escreveu que a natureza básica do ser humano quan do funcionando livremente é construtiva e confiável Para mim essa é uma conclusão inescapável resultan te de um quarto de século de experiência em psicote rapia Eu tenho pouca simpatia pelo conceito bas tante predominante de que o homem é basicamente irracional e de que seus impulsos se não controlados levarão à destruição dos outros e do self O comporta mento do homem é requintadamente racional avan çando com sutil e ordenada complexidade para as metas que seu organismo está tentando atingir A tra gédia para a maioria de nós é que nossas defesas nos impedem de ter consciência dessa racionalidade de modo que conscientemente estamos avançando em uma direção enquanto organismicamente estamos avançando em outra Da mesma forma a busca de Rogers de relacionamentos funcionais é análoga à análise funcional de Skinner e as condições de va lor de Rogers são claramente poderosos reforços so ciais Mas Rogers supunha que os indivíduos têm ca racterísticas e potenciais que os reforços podem obrigálos a negar Além disso Rogers escreveu que é impossível para mim negar a realidade e a importân cia da escolha humana Para mim não é uma ilusão que o homem é em certo grau o arquiteto de si mes mo 1980 p 57 Ele prosseguiu enfatizando que a mudança social baseiase no desejo e na potenciali dade humanos de mudança não de condicionamen to e reconhecendo a liberdade e a dignidade essen ciais da pessoa humana e sua capacidade de autodeterminação 1980 p 5759 Em conseqüên cia dessas diferentes suposições Rogers é menos pes simista do que Freud e menos mecanicista do que Skinner A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE Embora Rogers não parecesse enfatizar os construc tos estruturais preferindo dedicar sua atenção à mu dança e ao desenvolvimento da personalidade dois desses constructos são de importância fundamental para a sua teoria e podem inclusive ser considerados como a base sobre a qual repousa toda a teoria o organismo e o self O Organismo O organismo psicologicamente concebido é o foco de toda a experiência A experiência inclui tudo o que está acontecendo dentro do organismo em qualquer momento dado e que está potencialmente disponível 368 HALL LINDZEY CAMPBELL para a consciência Essa totalidade de experiência constitui o campo fenomenal O campo fenomenal é a estrutura de referência do indivíduo que só pode ser conhecida pelo próprio indivíduo Ele não pode ser conhecido por outra pessoa exceto pela inferência empática e jamais pode ser perfeitamente conhecido Rogers 1959 p 210 Como o indivíduo se compor ta depende do campo fenomenal realidade subjeti va e não de condições estimuladoras realidade ex terna O campo fenomenal devemos observar não é idêntico ao campo da consciência A consciência é a simbolização de algumas das nossas experiências Rogers 1959 p 198 Assim o campo fenomenal em qualquer momento dado é constituído por expe riências conscientes simbolizadas e inconscientes nãosimbolizadas Mas o organismo pode discrimi nar e reagir a uma experiência nãosimbolizada Se guindo McCleary e Lazarus 1949 Rogers chamou isso de subcepção A experiência pode não ser simbolizada correta mente e nesse caso a pessoa vaise comportar de modo inadequado Mas a pessoa tende a comparar suas experiências simbolizadas com o mundo confor me ele é Tal testagem da realidade proporciona um conhecimento confiável do mundo de modo que ela consegue se comportar realisticamente Entretanto algumas percepções continuam nãotestadas ou são inadequadamente testadas e isso pode fazer com que a pessoa se comporte de forma irrealista e inclusive prejudicial para si mesma Embora Rogers não lidasse com a questão de uma realidade verdadeira está claro que as pessoas precisam ter alguma concepção de um padrão de realidade externo ou impessoal pois de outra forma elas não poderiam testar uma ima gem interna da realidade comparandoa a uma ima gem objetiva Surge então a questão de como as pessoas podem diferenciar uma imagem subjetiva que não é uma representação correta da realidade de uma que é O que permite às pessoas separar o fato da ficção em seu mundo subjetivo Esse é o grande para doxo da fenomenologia Rogers resolveu o paradoxo afastandose da es trutura conceitual da fenomenologia pura Aquilo que uma pessoa experiencia ou pensa na verdade não é realidade para a pessoa é meramente uma hipótese provisória sobre a realidade uma hipótese que pode ou não ser verdade A pessoa suspende o julgamento até testar a hipótese Qual é esse teste Ele consiste em verificar a exatidão da informação recebida sobre a qual a hipótese da pessoa se baseia comparandoa com outras fontes de informação Por exemplo uma pessoa que deseja salgar sua comida deparase com dois frascos idênticos um dos quais contém sal e o outro pimenta A pessoa acredita que o frasco com os furinhos maiores contém sal mas não tendo certeza absoluta ela vira um pouquinho do conteúdo nas cos tas da mão Se as partículas são brancas em vez de pretas a pessoa fica razoavelmente certa de que é sal Uma pessoa muito cautelosa pode até provar pois pode tratarse de pimenta branca em vez de sal O que te mos aqui é uma testagem das idéias da pessoa em comparação com uma variedade de dados sensoriais O teste consiste em verificar informações menos cer tas com conhecimentos mais diretos No caso do sal o teste final é o sabor um tipo específico de sensação define aquilo como sal É claro o exemplo anterior descreve uma condi ção ideal Em muitos casos a pessoa aceita suas expe riências como representações fiéis da realidade e não as trata como hipóteses sobre a realidade Em conse qüência a pessoa com freqüência termina com uma série de concepções erradas sobre si mesma e sobre o mundo externo A pessoa total escreveu Rogers é aquela que está completamente aberta aos dados da experiência interna e aos dados da experiência do mundo externo 1977 p 250 O Self Uma porção do campo fenomenal gradualmente se diferencia É o self O self ou autoconceito denota a gestalt conceitual organizada e consistente com posta por percepções das características do eu e pelas percepções dos relacionamentos do eu com os outros e com vários aspectos da vida junta mente com os valores associados a essas percep ções É uma gestalt que está disponível à consci ência mas não necessariamente consciente É uma gestalt fluida e mutante um processo mas em qualquer momento dado é uma entidade especí fica Rogers 1959 p 200 O self evidentemente é um dos constructos cen trais na teoria de Rogers e ele explicou de forma inte ressante como isso aconteceu TEORIAS DA PERSONALIDADE 369 Pessoalmente falando eu comecei meu trabalho com a noção estabelecida de que o self era um termo vago ambíguo e cientificamente sem sig nificado que fora excluído do vocabulário do psi cólogo com a partida dos introspeccionistas Con seqüentemente eu custei a reconhecer que quando os clientes têm a oportunidade de expres sar seus problemas e suas atitudes em seus pró prios termos sem qualquer orientação ou inter pretação eles tendiam a falar em termos do self Parecia claro que o self era um elemento importante na experiência do cliente e que em um sentido curioso sua meta era se tornar esse self real 1959 p 200201 Além do self como ele é a estrutura do self exis te um self ideal que é aquilo que a pessoa gostaria de ser Organismo e Self Congruência e Incongruência A importância básica dos conceitos estruturais para a teoria de Rogers organismo e self fica clara em sua discussão da congruência e da incongruência entre o self conforme percebido e a experiência real do or ganismo 1959 p 203 205206 Quando as experi ências simbolizadas que constituem o self espelham fielmente as experiências do organismo dizemos que a pessoa é ajustada madura e funciona de modo com pleto Essa pessoa aceita toda a variedade de experi ências organísmicas sem ameaça ou ansiedade Ela é capaz de pensar realisticamente A incongruência en tre o self e o organismo faz com que os indivíduos se sintam ameaçados e ansiosos Eles se comportam de fensivamente e seu pensamento se torna limitado e rígido Na teoria de Rogers estão implícitas duas outras manifestações de congruênciaincongruência Uma delas é a congruência ou a falta dela entre a realidade subjetiva o campo fenomenal e a realidade externa o mundo conforme ele é A outra é o grau de corres pondência entre o self e o self ideal Se a discrepância entre o self e o self ideal for grande a pessoa fica insa tisfeita e desajustada Como se desenvolve a incongruência e como o self e o organismo podem ficar mais congruentes eram as maiores preocupações de Rogers e foi ao esclareci mento dessas questões vitais que ele dedicou grande parte de sua vida profissional Como ele lidou com tais questões será discutido na seção sobre o desen volvimento da personalidade A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Segundo Rogers o organismo tem uma tendência e uma busca básica realizar manter e melhorar o or ganismo que experiencia 1951 p 487 A tendên cia realizadora é seletiva prestando atenção apenas àqueles aspectos do ambiente que prometem levar a pessoa construtivamente na direção da realização e da completude Por um lado existe uma única força motivadora o impulso autorealizador por outro existe uma única meta de vida autorealizarse ou ser uma pessoa completa O modelo de Rogers baseiase na suposição de que os organismos têm um motivo fundamental para me lhorar Valendose de suas raízes agrícolas Rogers ofe receu a seguinte analogia A tendência realizadora pode é claro ser frus trada ou deformada mas ela não pode ser destru ída sem destruir o organismo Eu lembro que na minha infância o depósito onde guardávamos o nosso suprimento de batatas para o inverno fica va no porão mais de dois metros abaixo de uma pequena janela As condições eram desfavoráveis mas as batatas começavam a brotar brotos de um branco opaco completamente diferentes dos brotos verdes e fortes que surgiam quando as ba tatas eram plantadas no solo na primavera Mas esses brotos tristes esguios cresciam 60 ou 90 centímetros buscando a luz distante da janela Os brotos em seu crescimento bizarro e inútil eram uma espécie de expressão desesperada da tendên cia direcional que estou descrevendo Eles jamais se tornariam plantas nunca amadureceriam nun ca realizariam seu verdadeiro potencial Mas nas circunstâncias mais adversas eles lutavam para existir Ao tratar clientes cujas vidas foram terrivelmente deformadas eu penso freqüen temente nesses brotos de batata As condições em que essas pessoas se desenvolveram foram tão desfavoráveis que suas vidas muitas vezes pare 370 HALL LINDZEY CAMPBELL cem anormais deformadas quase inumanas En tretanto podemos confiar que nelas existe a ten dência direcional 1980 p 118119 O organismo se realiza segundo as linhas deter minadas pela hereditariedade Ele se torna mais dife renciado mais expandido mais autônomo e mais so cializado à medida que amadurece Esta tendência básica de crescimento realizarse e expandirse é vista com mais clareza quando o indivíduo é observa do durante um longo período de tempo Existe um movimento para a frente na vida de todas as pessoas essa tendência a prosseguir é a única força na qual o terapeuta pode realmente confiar para conseguir me lhoras no cliente Ao endossar a tendência realizadora Rogers foi levado à interessante posição de rejeitar constructos motivacionais específicos Ele escreveu A ciência não progrediu postulando forças atra ções repulsões causas e assim por diante para explicar por que as coisas acontecem a ciência progrediu e encontrou caminhos mais proveito sos quando se limitou à questão de como as coi sas acontecem Quando foi proposta a teoria de que a natureza abomina um vácuo e que isso ex plica por que o ar se apressa em preencher qual quer vácuo ou vácuo parcial isso provocou pou cas pesquisas efetivas Mas quando a ciência começou a descrever em termos empíricos os relacionamentos funcionais entre um vácuo par cial e a pressão atmosférica fora do recipiente os resultados foram significativos Eu duvido de que os psicólogos façam progressos em sua ciên cia enquanto sua teoria básica centrarse na for mulação de que o homem busca comida porque tem uma pulsão ou motivo de fome Eu acredi to que quando desenvolvermos e testarmos hi póteses sobre as condições que são antecedentes necessários e suficientes para certos comporta mentos quando compreendermos as variáveis complexas que estão por trás de várias expres sões da tendência realizadora do organismo o conceito de motivos específicos desaparecerá 1963 p 78 Fiel a essa posição Rogers identificou o relaciona mento funcional entre certas condições e a melhora terapêutica ou qualquer crescimento psicológico O terapeuta precisa ser genuíno ou congruente precisa aceitar o cliente importarse com ele e valorizálo proporcionar o que mais adiante chamaremos de consideração positiva incondicional e precisa en tender empaticamente o cliente Tais condições criam um clima de mudança em que o cliente se sente li vre para reconhecer e agir de acordo com a sua ten dência realizadora Rogers acrescentou um novo aspecto ao conceito de crescimento quando observou que a tendência a avançar só pode operar quando as escolhas são clara mente percebidas e adequadamente simbolizadas Uma pessoa não pode realizarse a menos que consiga dis criminar entre os comportamentos progressivos e os regressivos Não existe uma voz interior que nos diga qual é o caminho do progresso nenhuma necessida de organísmica que nos faça avançar As pessoas pre cisam conhecer antes de poder escolher mas quando conhecem elas sempre escolhem crescer em vez de regredir Rogers escreveu que o comportamento é basica mente a tentativa intencional do organismo de satis fazer suas necessidades conforme experienciadas no campo conforme percebido 1951 p 491 Essa pro posição referindose como se refere a necessida des no plural não contradiz a noção de um motivo único Embora existam muitas necessidades todas elas são subservientes à tendência básica do organismo de manterse e de melhorar Rogers permaneceu fiel a tal posição fenomeno lógica empregando os termos qualificativos confor me experienciadas e conforme percebido Entre tanto ao discutir essa proposição ele admitiu que as necessidades podem evocar comportamentos apropri ados mesmo que não sejam experienciadas conscien temente adequadamente simbolizadas De fato Ro gers 1977 menosprezou o papel da consciência ou autoconsciência no funcionamento do indivíduo sa dio Ele escreveu Na pessoa que está funcionando bem a consciência tende a ser uma coisa reflexiva em vez de um claro holofote de atenção focalizada Talvez seja mais exato dizer que em tal pessoa a cons ciência é simplesmente um reflexo de parte do fluxo do organismo naquele momento É só quando o fun cionamento é perturbado que surge uma consciência agudamente autoconsciente p 244245 TEORIAS DA PERSONALIDADE 371 Em 1959 Rogers introduziu uma distinção entre a tendência realizadora do organismo e uma tendên cia autorealizadora Seguindo o desenvolvimento da autoestrutura esta tendência geral para a realização também se expressa na realização daquela porção da experi ência do organismo que é simbolizada no self Se o self e a experiência total do organismo são rela tivamente congruentes a tendência realizadora permanece relativamente unificada Se o self e a experiência são incongruentes a tendência geral a realizar o organismo pode funcionar em contra dição com o subsistema daquele motivo a ten dência a realizar o self 1959 p 196197 Apesar do caráter monístico da teoria motivacio nal de Rogers ele destacou duas necessidades que merecem atenção especial a necessidade de conside ração positiva e a necessidade de autoconsideração Ambas são necessidades aprendidas A primeira se desenvolve no período de bebê em conseqüência de o bebê ser amado e cuidado a última se estabelece em virtude de o bebê receber consideração positiva dos outros 1959 p 223224 As duas necessidades como veremos na próxima seção também podem funcionar em contradição com a tendência realizadora distor cendo as experiências do organismo O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE O organismo e o self embora possuam a tendência inerente a realizarse estão sujeitos a fortes influên cias do ambiente e especialmente do ambiente soci al Rogers diferentemente de outros teóricos com ori entação clínica como Freud Sullivan e Erikson não ofereceu um cronograma de estágios significativos pelos quais a pessoa passa em sua jornada do período de bebê à maturidade Em vez disso ele investigou como as avaliações de um indivíduo pelos outros par ticularmente durante a infância tendem a favorecer o distanciamento entre as experiências do organismo e as experiências do self Se essas avaliações sempre tivessem um sinal po sitivo o que Rogers chamou de consideração positiva incondicional não ocorreria nenhum distanciamen to ou incongruência entre o organismo e o self Ro gers disse Se um indivíduo experienciasse apenas consideração positiva incondicional não se desenvol veria nenhuma condição de valor a autoestima seria incondicional as necessidades de consideração positi va e autoestima jamais discordariam da avaliação or ganísmica e o indivíduo funcionaria de modo com pleto 1959 p 224 Mas já que as avaliações que os pais e outras pes soas fazem do comportamento da criança às vezes são positivas e às vezes são negativas a criança aprende a diferenciar entre ações e sentimentos que são valio sos aprovados e ações e sentimentos indignos de saprovados As experiências indignas tendem a ser excluídas do autoconceito mesmo que sejam organis micamente válidas Isso resulta em um autoconceito em desacordo com a experiência organísmica A cri ança tenta ser aquilo que os outros querem que ela seja em vez de tentar ser aquilo que realmente é Ela valoriza uma experiência positiva ou negativamente só devido às condições de valor que absorveu dos ou tros não porque a experiência melhora ou não é ca paz de melhorar seu organismo 1959 p 209 Isso é o que acontece no seguinte caso um meni no tem uma autoimagem de ser um bom menino e de ser amado pelos pais mas também gosta de ator mentar sua irmãzinha pelo que é punido Como re sultado dessa punição ele é levado a revisar sua auto imagem e seus valores de uma das seguintes maneiras a Eu sou um menino mau b Meus pais não gostam de mim ou c Eu não gosto de implicar com a minha irmã Cada uma dessas autoatitudes pode conter uma distorção da verdade Vamos supor que ele adote a atitude de Eu não gosto de implicar com a minha irmã negando assim seus reais sentimen tos A negação não significa que os sentimentos dei xaram de existir eles ainda influenciarão seu com portamento de várias maneiras mesmo que não sejam conscientes Então existirá um conflito entre os valo res conscientes introjetados e espúrios e os inconsci entes genuínos Se cada vez mais dos valores verda deiros da pessoa forem substituídos por valores tirados ou tomados emprestados de outros ainda que sejam percebidos como sendo da própria pessoa o self tornarseá uma casa dividida contra si mesmo Essa pessoa vai sentirse tensa desconfortável e es 372 HALL LINDZEY CAMPBELL quisita Ela vai sentir como se não soubesse realmen te quem é e o que quer Então durante a infância o autoconceito se tor na cada vez mais distorcido devido às avaliações dos outros Conseqüentemente uma experiência organís mica que está em desacordo com esse autoconceito distorcido é sentida como uma ameaça e evoca ansie dade Para proteger a integridade do autoconceito essas experiências ameaçadoras têm negada a simbo lização ou recebem uma simbolização distorcida Negar uma experiência não é o mesmo que igno rála Negar significa falsificar a realidade dizendo que ela não existe ou percebendoa de maneira dis torcida As pessoas podem negar seus sentimentos agressivos porque eles são inconsistentes com a ima gem que têm de si mesmas como pacíficas e amigá veis Nesse caso os sentimentos negados podem se expressar por meio de uma simbolização distorcida por exemplo sendo projetados em outras pessoas Rogers salientou que as pessoas muitas vezes man têm e destacam firmemente uma autoimagem que discorda totalmente da realidade A pessoa que sente que não vale nada vai excluir da consciência as evi dências que contradizem essa imagem ou vai reinter pretar as evidências para tornálas congruentes com seu senso de inutilidade Por exemplo alguém que recebe uma promoção no trabalho dirá que o patrão ficou com pena de mim ou eu não mereço isso Algumas pessoas podem inclusive sairse mal nessa nova posição para provar a si mesmas e ao mundo que elas não prestam Como podemos negar uma ameaça à autoima gem sem primeiro termos consciência da ameaça Rogers propôs que existem níveis de discriminação abaixo do nível de reconhecimento consciente e que o objeto ameaçador pode ser percebido inconsciente mente ou subceptado antes de ser percebido Por exemplo o objeto ou a situação ameaçadora pode produzir reações viscerais como um coração dispara do que serão conscientemente experienciadas como sensações de ansiedade sem que a pessoa seja capaz de identificar a causa da perturbação Os sentimentos de ansiedade evocam o mecanismo da negação que impede que a experiência ameaçadora se torne cons ciente A brecha entre o self e o organismo não só resulta em defensividade e distorção mas também afeta as relações da pessoa com os outros As pessoas defensi vas tendem a sentirse hostis em relação àquelas cujo comportamento aos seus olhos representa seus pró prios sentimentos negados Como podemos corrigir essa brecha entre o self e o organismo e entre o self e os outros Rogers apre sentou as três seguintes proposições Primeiro sob certas condições envolvendo pri mariamente a completa ausência de qualquer ameaça à autoestrutura podem ser percebidas e examinadas as experiências que são inconsistentes com ela e a estrutura do self pode ser revisada para assimilar e incluir tais experiências Rogers 1951 p 517 Na terapia centrada no cliente a pessoa se en contra em uma situação nãoameaçadora porque o te rapeuta aceita completamente tudo o que ela fala Essa atitude calorosa de aceitação por parte do terapeuta encoraja o cliente a explorar seus sentimentos incons cientes e trazêlos à consciência Lenta e hesitante mente ele explora os sentimentos nãosimbolizados que ameaçam sua segurança Na segurança do relaci onamento terapêutico os sentimentos até então ame açadores podem agora ser assimilados à autoestru tura A assimilação pode exigir uma drástica reorganização do autoconceito do cliente para que fique de acordo com a realidade da experiência orga nísmica Ele será de modo mais unificado aquilo que ele organismicamente é e essa parece ser a essência da terapia 1955 p 269 Rogers admitiu que algu mas pessoas são capazes de realizar esse processo sem se submeter à terapia Um benefício social importante obtido pela acei tação e assimilação de experiências que tiveram ne gada a simbolização é que a pessoa passa a compre ender e a aceitar melhor os outros Tal idéia é apresentada na seguinte proposição Quando o indi víduo percebe e aceita em um sistema consistente e integrado todas as suas experiências sensoriais e vis cerais ele necessariamente compreende melhor os outros e aceitaos melhor como indivíduos diferen tes 1951 p 520 Quando uma pessoa se sente ameaçada por impulsos sexuais ela pode tender a cri ticar aqueles que percebe como se comportando de modo sexual Por outro lado quando aceita os própri os sentimentos sexuais e hostis a pessoa será mais tolerante quando os outros os expressarem Conse qüentemente os relacionamentos sociais vão melho rar e a incidência de conflito social vai diminuir Ro gers acreditava que as implicações sociais dessa TEORIAS DA PERSONALIDADE 373 proposição são tantas que estimulam a imaginação p 522 Esta pode ser inclusive a chave para uma eventual abolição da discórdia internacional Nesta última proposição Rogers salientou como é importante para um ajustamento sadio manter um contínuo exame dos próprios valores À medida que o indivíduo percebe e aceita mais as experiências or gânicas em sua autoestrutura ele descobre que está substituindo seu atual sistema de valores baseado tão amplamente em introjeções distorcidamente sim bolizadas por um processo de valoração contínuo 1951 p 522 A ênfase recai sobre as duas palavras sistema e processo Em um sistema existe a conotação de alguma coisa fixa e estática enquanto um proces so significa que algo está ocorrendo Para um ajusta mento sadio e integrado nós precisamos estar cons tantemente avaliando experiências para ver se elas requerem uma mudança na estrutura de valor Qual quer conjunto fixo de valores tenderá a impedir a pes soa de reagir efetivamente a novas experiências Pre cisamos ser flexíveis para nos ajustar apropriadamente às condições mutantes da vida Em relação a isso Rogers perguntou se um pro cesso contínuo de avaliar as próprias experiências em termos puramente pessoais não levaria a uma anar quia social Ele acreditava que não Todas as pessoas têm basicamente as mesmas necessidades incluindo a necessidade de ser aceito pelos outros p 524 Conseqüentemente seus valores possuem um alto grau de comunalidade p 524 A seguinte passagem de Rogers 1959 p 226227 é um bom resumo de seu modelo desenvolvimental É portanto devido às percepções distorcidas decorrentes das condições de valor que o indiví duo se afasta da integração que caracteriza seu estado de bebê Essa em nossa opinião é a alienação básica do homem Ele não foi fiel a si mesmo à sua valoração da experiência organís mica natural mas para preservar a consideração positiva dos outros ele passou a falsificar alguns dos valores que experiencia e a percebêlos ape nas em termos baseados no seu valor para os ou tros Entretanto essa não foi uma escolha consci ente mas um desenvolvimento natural e trágico no período de bebê O caminho do desenvolvi mento para a maturidade psicológica o caminho da terapia é desfazer tal alienação no funciona mento do homem dissolver as condições de va lor conseguir um self congruente com a experiên cia e restaurar um processo de valoração organís mico unificado como o regulador do comporta mento Segundo o modelo de Rogers a psicopatologia ou a perturbação emocional acontece em indivíduos que foram expostos a uma consideração positiva condici onal As condições de valor associadas levaram à in congruência selfexperiência Essa incongruência que é análoga ao conflito idsuperego no modelo de Freud gera ansiedade conforme se aproxima da consciên cia O indivíduo responde com negação e distorção porque a consciência da incongruência poria em risco a consideração positiva recebida do self e dos outros A meta da defesa assim é manter o autoconceito ar tificial ou inexato Tal modelo se ajusta muito bem a vários comportamentos aparentemente paradoxais Considerem a mulher espancada que continua em um relacionamento claramente patológico Por que ela não termina o casamento Por que ela racionaliza o com portamento do marido De acordo com essa análise ela continua porque reconhecer a depravação do re lacionamento poria em risco sua única via existente de receber consideração positiva Ironicamente ela pode negar seus sentimentos e distorcer o comporta mento e os motivos do marido a fim de preservar seu único canal para receber atenção Ao contrário os indivíduos que experienciam a consideração positiva incondicional mantêm ou reins talam a congruência selfexperiência Devido à ausên cia de conflito ou incongruência tais indivíduos não precisam depender de defesas Rogers caracterizou essas pessoas sadias como funcionando plenamente Como acontece na definição de Maslow da pessoa autorealizadora a pessoa que funciona plenamente exibe um processo ou modo de vida em vez de uma meta ou estado final Os indivíduos que estão viven do essa boa vida parecem ter três características Rogers 1961 p 184192 Primeiro já que não há necessidade de defenderse de nenhuma experiência a pessoa desenvolve uma crescente abertura à experi ência Isto é não existe defensividade e ela consegue reconhecer e expressar todos os seus sentimentos Segundo tal pessoa tem uma vida cada vez mais exis tencial Não existe rigidez e nenhum preconceito so bre o que ela deveria fazer ou ser e por isso vive 374 HALL LINDZEY CAMPBELL intensamente cada momento Finalmente a pessoa que funciona plenamente tem uma crescente confian ça no organismo Ela toma suas próprias decisões e confia nelas Ela desenvolverá um senso de que fazer o que é sentido como certo prova ser um guia com petente e confiável para comportamentos verdadei ramente satisfatórios À medida que se torna mais aberta a todas as suas experiências ela é capaz de fazer aquilo que sente vontade de fazer não de uma maneira hostil ou arrogante mas de maneira confi ante Em essência tal pessoa está aberta aos seus sen timentos e livre de defesas Ela é livre para agir de acordo com suas inclinações porque pode aceitar as conseqüências e pode corrigilas se não forem satisfa tórias Ao concluir esse relato dos principais aspectos da teoria de Rogers o leitor poderia perguntarse por que ela se chama centrada na pessoa e não centrada no organismo A resposta é bastante simples Em um in divíduo com funcionamento pleno a pessoa é o orga nismo Em outras palavras não faz diferença como ela é chamada Preferese pessoa porque envolve uma conotação mais psicológica A pessoa é o orga nismo que experiencia Pessoa e self também coinci dem quando o self é completamente congruente com o organismo Tudo se reduz a isso o organismo um sistema vivo holístico que se desenvolve é a realida de psicológica básica Qualquer desvio dessa realida de ameaça a integridade da pessoa PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Rogers foi um investigador pioneiro na área de acon selhamento e psicoterapia e merece muito crédito por estimular e realizar pesquisas sobre a natureza dos processos que ocorrem durante o tratamento clínico Os estudos bemcontrolados de psicoterapia são ex tremamente difíceis de planejar e executar devido à natureza sutil e privada do ambiente psicoterapêuti co Os terapeutas têm relutado em subordinar o bem estar do paciente às necessidades da pesquisa permi tindo a invasão da privacidade do consultório Mas Rogers demonstrou que gravar as sessões de terapia com a permissão do paciente não é prejudicial ao curso do tratamento De fato o paciente e o terapeu ta logo ignoram a presença do microfone e compor tamse com muita naturalidade A acumulação de uma série de transcrições exatas das sessões de terapia por Rogers e seus associados possibilitou estudar o curso do tratamento de forma objetiva e quantitativa Em grande parte devido aos esforços de Rogers os psicó logos aprenderam muito sobre os processos da psico terapia Ver p ex Rogers 1967a Rogers Dymond 1954 Seeman Raskin 1953 Cartwright Lerner 1963 e para uma revisão crítica Wylie 1978 Embora os estudos empíricos realizados por Ro gers e seus associados visassem primariamente a com preender e elucidar a natureza da psicoterapia e ava liar seus resultados muitos de seus achados se relacionam diretamente à teoria da personalidade desenvolvida por Raimy 1943 e Rogers De fato a formulação sistemática de Rogers da sua teoria foi ditada pelos achados de pesquisa não era um ponto de vista preconcebido que determinava a natureza e a direção quer da terapia quer da pesquisa Sobre esse ponto Rogers disse O self é há muitos anos um con ceito impopular na psicologia e os que trabalham te rapeuticamente segundo uma orientação centrada no cliente certamente não tinham nenhuma inclinação inicial a usar o self como um conceito explanatório 1951 p 136 Estudos Qualitativos Muitas das idéias de Rogers sobre a personalidade foram explicadas por um procedimento qualitativo e indicativo que consiste em demonstrar por extratos de gravações das verbalizações do cliente qual é a sua autoimagem e que mudanças ocorrem nela durante a terapia A literatura sobre terapia nãodiretiva ou centrada no cliente está cheia de exemplos desse tipo Rogers 1942 1949 1951 1961 p 73106 1976a p 401418 Rogers Dymond 1954 Rogers Wal len 1946 Muench Rogers 1946 Snyder e colabo radores 1947 O próprio Rogers parecia preferir esse modo de apresentar suas idéias embora é claro ele não considerasse os excertos das gravações como prova da validade de sua teoria da personalidade Eles eram mais usados para familiarizar o leitor com fenômenos típicos que ocorrem durante as sessões de terapia e para indicar os tipos de experiência que precisam ser explorados TEORIAS DA PERSONALIDADE 375 Análise de Conteúdo Esse método de pesquisa consiste em formular um conjunto de categorias por meio das quais as verbali zações de um cliente podem ser classificadas e conta das Em um estudo pioneiro Porter 1943 estabele ceu as bases para grande parte do trabalho posterior sobre a categorização do conteúdo gravado de entre vistas de aconselhamento mostrando que o método de análise produz resultados confiáveis Em um outro estudo inicial de um aluno de Rogers Raimy 1948 foram analisadas as mudanças características na auto referência durante a terapia Para esse propósito Ra imy usou as seguintes categorias autoreferência po sitiva ou aprovadora autoreferência negativa ou desaprovadora autoreferência ambivalente autore ferência ambígua referências a objetos externos e pessoas e perguntas Os registros transcritos de 14 casos que tinham tido de duas a vinte e quatro entre vistas foram relacionados e classificados nas seis clas ses recémcitadas e foi contado o número em cada categoria nos sucessivos estágios de aconselhamento Descobriuse que no início da terapia os clientes da vam uma preponderância de autoreferências desa provadoras ou ambivalentes e que à medida que o aconselhamento prosseguia ocorriam flutuações na autoaprovação com crescente ambivalência Na con clusão do aconselhamento os clientes avaliados como tendo melhorado estavam fazendo um número pre ponderante de declarações de autoaprovação en quanto os que não tinham melhorado ainda estavam ambivalentes e desaprovadores em relação a si mes mos Em um outro grupo de estudos empregando aná lise de conteúdo foi feita uma tentativa de testar a proposição de que conforme as pessoas passam a se aceitar mais elas também aceitam mais os outros Foram formuladas as categorias de sentimentos posi tivos negativos e ambivalentes em relação ao self e aos outros e essas categorias foram aplicadas a casos em terapia Em um estudo Seeman 1949 o núme ro de autoreferências positivas aumentou e o núme ro de autoreferências negativas diminuiu durante a terapia sem qualquer mudança concomitante nos sen timentos em relação aos outros Um outro investiga dor Stock 1949 usando um método semelhante de análise de conteúdo não encontrou nenhuma evidên cia de que as mudanças no autosentimento ocorrem antes e produzem mudanças nos sentimentos em re lação aos outros Em uma terceira investigação She erer 1949 foi obtido certo apoio positivo para a pro posição embora as mudanças nas atitudes em relação aos outros não fossem nem tão acentuadas nem tão regulares como os aumentos na aceitação do self Uma investigação de Gordon e Cartwright 1954 da pro posição em que foram empregados vários testes e es calas em lugar da análise de conteúdo não apoiou a hipótese de que uma crescente aceitação do self leva a uma crescente aceitação dos outros Mas é interessante a existência de uma correla ção bastante significativa 051 no estudo de Sheerer e 066 no estudo de Stock entre as concepções do self e as concepções dos outros Isso significa que um in divíduo que pensa bem de si mesmo tende a pensar bem dos outros e que aquele que desaprova si mes mo tende a desaprovar os outros Correlações de mag nitude semelhante foram encontradas por Phillips 1951 em uma investigação de autosentimentos e sentimentos em relação aos outros em vários grupos de pessoas que não estavam em terapia Medinnus e Curtis 1963 observaram que a mai oria dos estudos sobre autoaceitação e aceitação dos outros foi realizada com estudantes universitários ou com pessoas em terapia Para aumentar a generaliza ção eles investigaram mães normais As mães que se aceitavam tendiam mais a aceitar os filhos do que as mães que não se aceitavam Depois de examinar mui tos estudos Wylie 1961 1978 concluiu que as evi dências disponíveis de forma geral apóiam a hipótese de que a autoaceitação está associada à aceitação dos outros embora ela ache que a maioria dos estudos tem sérias falhas que tornam equívocos os achados Escalas de Avaliação Uma das principais contribuições de Rogers e seus colaboradores à investigação da psicoterapia é a men suração do processo e da mudança durante a terapia pelo uso de escalas de avaliação Apesar de não ex cluir a importância de avaliarse o resultado da tera pia Rogers pensava que se pode aprender mais sobre a efetividade terapêutica estudando as atitudes e o comportamento do terapeuta em relação às mudan ças no cliente Para esse propósito foram desenvolvi dos dois tipos de escalas de avaliação as que avaliam as atitudes do terapeuta e as que medem a mudança 376 HALL LINDZEY CAMPBELL no cliente Um exemplo das primeiras é a seguinte escala de congruência desenvolvida por Kiesler Ro gers 1967a p 581584 Estágio 1 Existem claras evidências de uma dis crepância entre o que o terapeuta experien cia do cliente e a comunicação corrente Estágio 2 O terapeuta comunica informações ao cliente em resposta ao questionamento do cliente mas a resposta tem uma qualidade falsa enganadora ou de meiaverdade Estágio 3 O terapeuta não nega seus sentimen tos em relação ao cliente mas também não comunica seus exatos sentimentos em rela ção a ele Estágio 4 O terapeuta comunica informações ao cliente quer espontaneamente quer em resposta ao seu questionamento ao invés de retêlas por motivos pessoais ou profissionais Estágio 5 O terapeuta comunica aberta e livre mente seus sentimentos tanto positivos quan to negativos em relação ao cliente em um determinado momento sem traços de de fensividade ou refúgio no profissionalismo Um exemplo de uma escala para medir o proces so terapêutico é a desenvolvida por Gendlin Rogers 1967a p 603611 para avaliar a qualidade do rela cionamento Estágio 1 Recusa de um relacionamento Estágio 2 Aceitação física de um relacionamen to sem aceitação manifesta Estágio 3 Qualidade de aceitação parcial do relacionamento ou qualidade paralela inter mitente do relacionamento Estágio 4 Paralelo e simultâneo o relaciona mento como um contexto da terapia Estágio 5 O relacionamento como terapia es pecífica e não apenas como um contexto geral para a terapia Estágio 6 O relacionamento está pronto para ser uma realidade permanente e portanto pode estar se aproximando do término O uso mais ambicioso dessas escalas ocorreu em um estudo de psicoterapia com esquizofrênicos Ro gers 1967a Embora Rogers e seus associados esti vessem interessados em descobrir se a terapia centra da no cliente funcionaria com pacientes do hospital estadual esse foi primariamente um estudo dos rela cionamentos terapêuticos e não da esquizofrenia As escalas de avaliação foram preenchidas por terapeu tas pacientes e juízes que não tinham nenhuma in formação sobre os casos a não ser excertos das trans crições de sessões de terapia Os achados são muitos extensos para serem resumidos aqui Mas podemos comentar os mais importantes As escalas de avaliação mostraram ter uma fide dignidade satisfatória exceto aquela que media a con sideração positiva incondicional Os juízes indepen dentes conseguiram fazer avaliações confiáveis depois de ler uma série bastante curta de excertos da trans crição de toda a terapia Houve uma correlação nega tiva entre a avaliação do terapeuta do relacionamen to terapêutico e a avaliação do paciente ou do avalia dor imparcial Rogers comentou esse resultado ines perado É um achado moderador esse de que os nossos terapeutas competentes e conscienciosos como são têm percepções excessivamente otimistas e em alguns casos seriamente inválidas dos relaci onamentos em que estão envolvidos O paciente com toda a sua psicose ou o brilhante e jovem universitário sem nenhum conhecimento de tera pia acabaram tendo percepções mais úteis e pro vavelmente mais exatas do relacionamento 1967a p 92 De modo geral houve pouco movimento de processo melhora durante a terapia nesse grupo de oito es quizofrênicos crônicos e oito agudos Estudos com a TécnicaQ O aparecimento do psicólogo inglês William Stephen son na Universidade de Chicago foi extremamente vantajoso para Rogers e seus associados Os métodos de pesquisa que ele desenvolveu foram adaptados para a investigação do autoconceito pelo método do caso único Esses métodos são referidos por Stephenson como técnicaQ Existe uma diferença entre a técnicaQ de Stephen son e a base lógica sobre a qual ela repousa que Ste phenson chama de metodologiaQ As hipóteses lógi cas são derivadas da teoria pela metodologiaQ e tais hipóteses podem então ser testadas pela técnicaQ Entretanto o investigador pode empregar a técnica TEORIAS DA PERSONALIDADE 377 Q sem usar a metodologiaQ É isso o que Rogers e seus associados fizeram A diferença entre o tipo de pesquisa estimulado por Stephenson e aquela realiza da sob a influência de Rogers aparece claramente quando comparamos os estudos de Nunnally 1955 um aluno de Stephenson com os de Butler e Haigh 1954 alunos de Rogers Eles investigaram as mu danças nas autoconcepções antes e depois da terapia Ao planejar seu experimento Nunnally usou a meto dologiaQ e todo o complemento de técnicasQ in cluindo análise fatorial ao passo que Butler e Haigh usaram apenas a classificaçãoQ e as correlações in terpessoais Além disso Nunnally empregou um caso único como Stephenson recomenda e Butler e Haigh empregaram vários casos O que é a técnicaQ Essencialmente é um méto do para estudar sistematicamente as noções de uma pessoa sobre si mesma embora possa ser usado tam bém para outros propósitos A pessoa recebe uma pi lha de declarações e é solicitada a classificálas em uma distribuição préorganizada ao longo de um con tínuo desde aquelas mais características da pessoa que está classificando até as menos características A distribuição se aproxima de uma distribuição normal e é exatamente a mesma para todos os sujeitos em um dado experimento Esse aspecto constante facilita o manejo estatístico dos resultados uma vez que to das as classificações são forçadas a uma distribuição cuja média e desviopadrão são os mesmos Podem ser feitas classificações não apenas de como as pessoas se vêem no momento mas também de como elas gostariam de ser a chamada classificação ideal de como elas eram aos 15 anos de idade de como suas mães as vêem e assim por diante Pode haver tantas classificações ou variáveis diferentes como são chamadas quantas o investigador resolver usar Bo wdlear 1955 por exemplo usou 25 classificações em seu estudo de um paciente epiléptico em terapia Os resultados desse planejamento multivariado po dem ser analisados por métodos correlacionais da aná lise fatorial e da análise da variância Os itens para uma classificaçãoQ podem ser reu nidos de várias maneiras Eles podem ser formulados de modo a conformarse a uma teoria específica da personalidade e Stephenson apresenta muitos exem plos em seu livro 1953 ou podem ser selecionados de uma população de itens obtidos de protocolos te rapêuticos de autodescrições de inventários de per sonalidade e assim por diante Para ilustrar como Rogers e seus associados usa ram a técnicaQ vamos examinar o estudo realizado por Butler e Haigh 1954 Esses investigadores que riam testar a suposição de que as pessoas que buscam aconselhamento estão insatisfeitas consigo mesmas e que após um aconselhamento bemsucedido sua in satisfação será menor Os itens da classificaçãoQ para esse estudo foram escolhidos aleatoriamente de vári os protocolos terapêuticos Eles consistiam em itens como Eu sou uma pessoa submissa Eu sou muito trabalhador Eu sou simpático e Eu sou uma pes soa impulsiva Antes de começar o aconselhamento cada cliente era solicitado a classificar as afirmações de duas maneiras de acordo com as seguintes instru ções Autoclassificação Classifique estes cartões para descrever a si mesmo como você se vê hoje começando por aqueles que são menos pare cidos com você e chegando aos que são mais parecidos Classificação ideal Agora classifique estes cartões para descrever sua pessoa ideal a pessoa que você realmente gostaria de ser As distribuições das duas classificações foram en tão correlacionadas para cada pessoa A correlação média entre a autoclassificação e a classificação ideal no grupo de sujeitos foi zero o que mostra que não existe nenhuma congruência entre como as pessoas se vêem e como elas gostariam de ser Um grupo de controle com sujeitos semelhantes aos do grupo de clientes mas não interessados em fazer aconselhamen to fez as mesmas classificações A correlação média entre a autoclassificação e a classificação ideal nesse grupo foi de 058 o que prova que um grupo que não está em tratamento está muito mais satisfeito consigo mesmo do que aquele que busca terapia Depois de concluir o aconselhamento uma média de 31 sessões por pessoa os clientes foram novamente solicitados a fazer as classificações A correlação média entre as duas classificações foi de 034 um aumento significa tivo em relação à média anterior ao aconselhamento embora ainda inferior à correlação do grupo de con trole O grupo de controle também foi retestado após um intervalo de tempo equivalente ao do grupo de 378 HALL LINDZEY CAMPBELL clientes e sua correlação média de ideal de self não mudou Um outro grupo que buscara terapia mas fora solicitado a esperar 60 dias antes de começar o trata mento não mostrou nenhuma mudança em suas cor relações de ideal de self durante o período de espera Para verificar a permanência da mudança que ocorrera na autoestima dos clientes durante a tera pia foi realizado um estudo de seguimento com os clientes de seis meses a um ano após o término da terapia A correlação média entre a autoclassificação e a classificação ideal foi aproximadamente a mesma do encerramento da terapia 031 versus 034 Os in vestigadores concluíram que a autoestima que eles definem como a congruência entre a autoclassifica ção e a classificação ideal aumenta como um resulta do direto do aconselhamento centrado no cliente Pode ocorrer ao leitor que o aumento na correlação média de zero para 034 poderia ter sido o resultado de uma mudança do autoconceito na direção do ideal ou de uma mudança do ideal na direção do autoconceito ou de mudanças em ambas as direções Em um outro estudo Rudikoff 1954 descobriuse que o ideal di minuía um pouco na direção da autoimagem duran te a terapia o que sugere que ambos os tipos de mu dança realmente ocorrem É interessante observar algumas das mudanças nas correlações individuais ocorridas entre préaconselha mento pósaconselhamento e seguimento Algumas das correlações começam muito baixas aumentam nitidamente durante a terapia e permanecem assim durante o período de seguimento A seguinte pessoa identificada como Oak exemplifica esse padrão Préaconselhamento Pósaconselhamento Seguimento Oak 021 069 071 Outras permanecem baixas o tempo todo como as de Baac Préaconselhamento Pósaconselhamento Seguimento Baac 031 004 019 Outras ainda começam baixas aumentam após o aconselhamento e depois regridem durante o período de seguimento Préaconselhamento Pósaconselhamento Seguimento Beel 028 052 004 Para um outro tipo de pessoa a correlação começa baixa aumenta durante a terapia e continua a aumentar após seu término Préaconselhamento Pósaconselhamento Seguimento Bett 037 039 061 Poderíamos pensar que esses diferentes padrões de mudança estão relacionados à melhora evidencia da durante a terapia Esse não é o caso Quando os sujeitos foram divididos em um grupo melhorado e um grupo nãomelhorado conforme a avaliação de conselheiros e protocolos de testes projetivos os dois grupos não diferiam em suas correlações de ideal de self no término do aconselhamento embora na época da administração das classificaçõesQ no seguimento o grupo melhorado tendesse a apresentar correlações um pouco mais altas Butler e Haigh explicaram o fracasso em encon trar uma relação entre correlações de ideal de self e melhora em termos do que eles chamam de classifi cações defensivas Uma classificação defensiva é aque la em que as pessoas dão uma imagem distorcida de si mesmas para parecer que são mais bemajustadas do que realmente são Por exemplo em um outro es tudo a maior correlação de ideal de self encontrada um 090 extremamente elevado foi obtida por uma pessoa que era claramente patológica A questão da defensividade recebeu uma consi derável atenção de Rogers e seus associados porque levanta sérios problemas relativos à validade dos auto relatos É verdade por exemplo que quando alguém diz que está satisfeito consigo mesmo realmente está TEORIAS DA PERSONALIDADE 379 A estrutura de referência interna nos dá uma imagem acurada da personalidade Haigh 1949 estudou o comportamento defensivo e descobriu que ele pode assumir muitas formas incluindo negação retraimen to justificação racionalização projeção e hostilida de Durante a terapia centrada no cliente algumas pessoas mostraram uma redução na defensividade ao passo que outras mostraram um aumento Mas Haigh tendia a minimizar a importância dos comportamen tos defensivos Ele supunha que a maioria deles con sistia em um engano intencional por parte do cliente para salvar as aparências Essa visão contrasta nitida mente com a teoria psicanalítica dos mecanismos de defesa que supõe que eles operam inconscientemen te Um estudo realizado por Friedman 1955 escla receu melhor o problema da defensividade Três gru pos de homens brancos classificados como normal psiconeurótico e esquizofrênicoparanóide fizeram classificaçõesQ do self e do ideal de self A correla ção média para os 16 sujeitos normais foi 063 para os 16 sujeitos neuróticos 003 e para os 16 sujeitos psicóticos 043 Em outras palavras os pacientes psi cóticos manifestavam consideravelmente mais auto estima do que os neuróticos e não muito menos do que os sujeitos normais Friedman concluiu que em pregar uma alta correlação entre as concepções do self e do ideal de self como o único critério de ajusta mento contudo levaria à categorização de muitas pessoas desajustadas especialmente esquizofrênicos paranóides como ajustadas p 73 O achado de Friedman de que os esquizofrênicos paranóides mostram quase tanta congruência em suas classificações do ideal de self quanto os sujeitos nor mais foi confirmado por Havener e Izard 1962 Em um estudo de adolescentes do sexo feminino com pro blemas de comportamento Cole Oetting e Hinkle 1967 descobriram que alguns dos sujeitos classifi caram o self como superior ao ideal de self Isso parece ser uma outra indicação de classificação defensiva Um outro estudo em que uma medida de defensi vidade estava correlacionada a autoatitudes e à ava liação da personalidade por observadores externos foi realizado por Chodorkoff 1954 Chodorkoff obteve autorelatos de 30 estudantes universitários fazen doos classificar 125 itens em 13 pilhas dos mais ca racterísticos aos menos característicos Quatro juízes que tinham acesso a informações biográficas a proto colos de Rorschach e um resumo dos escores no Rors chach a dados de teste de associação de palavras e protocolos do Teste de Apercepção Temática TAT fi zeram uma classificaçãoQ para cada sujeito usando os mesmos 125 itens Uma medida da defesa percep tual foi obtida expondose palavras ameaçadoras e neutras começando com uma exposição subliminar e aumentandoa gradualmente até o sujeito ser capaz de reconhecer todas as palavras As medidas da defe sa perceptual foram calculadas encontrandose a di ferença entre os limiares de reconhecimento para as palavras neutras e os limiares para as palavras amea çadoras Chodorkoff estava interessado em testar as seguin tes hipóteses 1 quanto maior a concordância entre a autodescrição da pessoa e a descrição da pessoa pelos outros menos defesa perceptual ela manifestará 2 quanto maior a concordância entre a autodescrição da pessoa e uma avaliação feita por juízes mais ade quado será o ajustamento pessoal do indivíduo e 3 quanto mais adequado o ajustamento pessoal menos defesa perceptual a pessoa vai demonstrar Foram empregadas duas medidas de ajustamento 1 a lista de verificação Munroe Inspection Rorschach e 2 as avaliações feitas por juízes em 11 escalas de ajusta mento Os resultados confirmaram todas as hipóteses Quanto maior a concordância entre as autodescrições e as descrições dos outros menos defesa perceptual havia e melhor era o ajustamento pessoal Os sujeitos mais bemajustados também apresentavam menos defesa perceptual Esses estudos indicam que a defensividade é uma variável importante nos autojulgamentos da pessoa e que os autorelatos não transmitem a mesma ima gem da personalidade que é obtida de juízes exter nos Uma outra variável que afeta as autoavaliações é a desejabilidade social Milgram Helper 1961 Um traço considerado desejável recebe uma autoavalia ção melhor do que um considerado indesejável O fa tor de desejabilidade social influencia a discrepância entre as autoavaliações e as avaliações do ideal de self Por exemplo em um estudo de molestadores de crianças Frisbie Vanasek e Dingman 1967 desco briram que termos de traços com um caráter avaliati vo não mostravam discrepância entre as avaliações do self e as ideais enquanto termos nãoavaliativos 380 HALL LINDZEY CAMPBELL puramente descritivos produziam grandes discrepân cias Um exame crítico e abrangente dos estudos de classificaçãoQ do ideal de self foi realizado por Wylie 1974 p 128149 Estudos Experimentais do Autoconceito O interesse atual pelo autoconceito transcendeu seu locus original na situação de terapia e tornouse as sunto de investigação em condições de laboratório Ademais as hipóteses testáveis relativas ao autocon ceito foram derivadas de outras teorias além da de Rogers Por exemplo Pilisuk 1962 predisse com base na teoria de Heider do equilíbrio cognitivo que os sujeitos adversamente criticados por seu desempenho em uma tarefa não mudariam suas autoavaliações Essa predição foi confirmada Os sujeitos usaram vá rias racionalizações para manter uma autoimagem favorável diante das críticas Que o autoconceito pode ser modificado sob cer tas condições é revelado por outros estudos Partindo da teoria da dissonância de Festinger Bergin 1962 realizou o seguinte experimento Os sujeitos primeiro fizeram autoavaliações da masculinidade Depois eles foram informados de que sua masculinidade era vista por outros de uma maneira discrepante da autoava liação Quando a comunicação discrepante era bas tante digna de crédito os sujeitos mudavam suas auto avaliações para tornálas mais consoantes com a opinião dos outros Quando a opinião comunicada podia ser desacreditada suas autoavaliações não mudavam substancialmente Outras Abordagens Empíricas Embora as descrições qualitativas a análise de con teúdo de protocolos terapêuticos e o uso da técnicaQ constituam as principais abordagens empíricas de Rogers e seus associados ao estudo da personalidade eles também empregaram vários outros métodos Es ses métodos consistem em abordar a pessoa a partir de uma estrutura de referência externa Testespadrão como o Rorschach Carr 1949 Haimowitz 1950 Haimowitz Haimowitz 1952 Mosak 1950 Muen ch 1947 Rogers 1976a o TAT Dymond 1954 Grummon John 1954 Rogers 1967a o Minneso ta Multiphasic Mosak 1950 Rogers 1967a o Bell Adjustment Inventory Muench 1947 Mosak 1950 e o KentRosanoff Word Association Muench 1947 foram usados com clientes em terapia Um dos alunos de Rogers também usou índices fisiológicos para me dir tensão e emoção Thetford 1949 1952 PESQUISA ATUAL Como vimos Rogers gerou ou estimulou uma quanti dade substancial de pesquisas Esse fluxo ficou mais lento nos últimos anos mas não parou Uma série de estudos de Cramer 1990 por exemplo examinou a relação entre o ajustamento psicológico operaciona lizado como autoestima e os níveis de apoio social facilitador operacionalizados como nível e incondi cionalidade de aceitação empatia e congruência da outra pessoa em estudantes universitários que man tinham relacionamento íntimos no presente Consis tentemente com a análise de Rogers das condições que geram crescimento psicológico Cramer relatou que a facilitação inicial especialmente a incondicio nalidade da aceitação do parceiro estava associada à autoestima subseqüente Ainda mais impressionante é uma análise longi tudinal de Harrington Block e Block 1987 da teoria da criatividade de Rogers Segundo Rogers a criativi dade construtiva é mais provável na presença de três condições abertura à experiência locus interno de avaliação e capacidade de brincar com elementos e conceitos As condições internas são por sua vez fa vorecidas por duas condições externas segurança psi cológica e liberdade psicológica Harrington e cola boradores 1987 investigaram a extensão em que medidas de práticas de educação infantil de pais de crianças de 4 anos e meio em 106 famílias correlacio navamse com os diferentes índices posteriores de potencial criativo das crianças Os três índices de prá ticas de educação dos filhos correlacionavamse sig nificativamente com o potencial criativo préescolar e com o potencial criativo adolescente as correlações variavam de 038 a 049 em um padrão consistente com a teoria de Rogers Além disso o relacionamento com o potencial criativo adolescente permaneceu igual depois de terem sido removidas as influências de sexo potencial criativo préescolar e inteligência préesco TEORIAS DA PERSONALIDADE 381 lar Os autores concluem que esses resultados são obviamente consistentes com a teoria de Rogers dos ambientes criativos 1987 p 855 Além destes testes diretos do modelo de Rogers sua suposição implícita de que as pessoas buscam a autoconsistência está ligada a uma série de progra mas de pesquisa atuais Tais programas situamse em uma área cinza entre a psicologia da personalidade e a psicologia social pois lidam com o self mas não fo calizam a pessoa inteira apesar de estar clara a sua contribuição à tentativa de compreender a personali dade e refinar as teorias da personalidade Existem muitas pesquisas contemporâneas sobre o self mas nós limitaremos a nossa discussão neste capítulo a dois programas que enfatizam a consistência a teoria de Festinger da dissonância cognitiva e a análise de Hig gins das autodiscrepâncias Nós também introduzimos um trabalho psicológico social recente sobre a exis tência e a função de um autoconceito dinâmico Teoria da Dissonância Cognitiva Leon Festinger 1957 propôs que as pessoas que pos suem duas crenças inconsistentes ou o que ele cha mou de cognições dissonantes experienciam um de sagradável estado de tensão que ficam motivadas a reduzir Por exemplo um homem pode dizer a si mes mo e aos outros que acredita em direitos iguais para as mulheres mas também pode nunca votar em uma candidata do sexo feminino Essas duas cognições são dissonantes e a teoria prediz que elas vão se combi nar para fazer seu portador sentirse inquieto moti vado a resolver tal inconsistência Ele pode fazer isso mudando seu comportamento de votar mudando sua crença ou tentando justificar a discrepância Tal justi ficativa poderia ocorrer se o homem decidisse que te ria votado em uma mulher se houvesse uma candida ta qualificada ou se ele afirmasse que a integridade da unidade familiar tradicional requer que não nos apressemos a distribuir cargos para as mulheres Es sas declarações poderiam ser verdade mas o ponto é que o homem as faz de maneira motivada defensiva Como aconteceu com Rogers e Freud nós encon tramos uma situação em que um observador externo não pode saber facilmente se o comportamento é de fensivo ou legítimo Como um exemplo alternativo considerem a aluna que acredita que colar é errado mas que cola em uma prova se tem a oportunidade Sua atitude e sua ação são dissonantes Ela não pode mudar o comportamento ela já colou mas precisa reduzir a discrepância a fim de remover o desagradá vel estado de tensão Ela pode tentar justificar o com portamento dizendo que o exame não era importan te ou que aquilo só aconteceu porque dessa vez ela não estava preparada ou que não foi nada de impor tante pois aquela matéria não fazia parte de sua área de estudo Mas interessantemente ela também pode reduzir a dissonância mudando seu comportamento concluindo que colar nem sempre é tão ruim Festinger acredita que é melhor descrever as pes soas como seres que racionalizam e não como seres racionais As cognições inconsistentes são análogas ao self e à experiência no modelo de Rogers o estado de tensão é análogo à ansiedade no modelo de conflito de Rogers e a justificativa é análoga às defesas de Rogers da distorção ou negação Tal analogia está lon ge de ser perfeita é claro porque as cognições disso nantes podem ser algo muito diferente do que Rogers quer dizer com self e experiência Mas a confiança básica na autoconsistência conforme provocada por um estado de excitação é muito semelhante O paralelo fica ainda mais interessante à luz dos achados de que um estado de excitação negativa é um prérequisito para que ocorra a dissonância Por exemplo Zanna e Cooper 1974 deram uma pílula de placebo a grupos de sujeitos antes da indução de dissonância dizendo a diferentes grupos que a pílula os deixaria tensos relaxados ou não teria efeito ne nhum Os sujeitos foram então induzidos a escrever uma redação oposta às suas atitudes Os sujeitos mu daram sua atitude na direção da redação escrita con forme prediz a teoria da dissonância quando infor mados de que a pílula não teria nenhum efeito Nenhum efeito de dissonância ocorreu nos sujeitos informados de que a pílula os estimularia presumi velmente porque eles atribuíram erradamente à pí lula a sua excitação por escrever a redação Finalmen te os sujeitos informados de que a pílula os relaxaria mostraram uma mudança de atitude ainda maior do que os membros do primeiro grupo presumivelmen te porque esperavam estar relaxados e portanto fi caram ainda mais perturbados pela excitação sentida Cooper Zanna e Taves 1978 replicaram esse experi mento dizendo aos sujeitos que eles estavam rece bendo um placebo quando de fato alguns estavam recebendo um tranqüilizante alguns um estimulan 382 HALL LINDZEY CAMPBELL te e alguns um placebo Os efeitos de dissonância ocorreram quando os sujeitos receberam o placebo não ocorreram quando eles receberam um tranqüili zante e foram intensificados quando eles receberam o estimulante Aparentemente um estado de excita ção é necessário para que ocorra a dissonância exa tamente como a ansiedade é um gatilho necessário para a defesa no modelo de Rogers Um outro vínculo com Rogers é sugerido por duas modificações da teoria da dissonância Aronson 1969 propôs que o componente mais excitante de uma cog nição dissonante é sua inconsistência com o autocon ceito Em conseqüência a motivação para restaurar a consistência por meio da autojustificativa deverá ser mais intensa quando a inconsistência puser em risco alguma faceta central da autodefinição Alternativa mente a autojustificativa provocada pela dissonância deverá ser mais predominante entre os indivíduos com autoestima elevada Essa visão da consistência afir ma que o nosso nível geral de autoestima opera como um padrão em comparação com o qual a consistência avaliativa de um ato é avaliada Quanto mais incon sistente é o ato de acordo com aquele padrão mais pressão haverá para justificálo como um meio de res taurar a consistência autoavaliativa Steele Spen cer Lynch 1993 p 886 Ao contrário dessa abor dagem de autoconsistência à dissonância Steele Steele Liu 1983 Steele Spencer Lynch 1993 ofereceu uma abordagem de autoafirmação A teoria da auto afirmação postula um motivo para manter a percep ção de integridade global do autosistema Como con seqüência a autojustificativa descrita pela teoria da dissonância representa uma tentativa não de restau rar a consistência mas de restaurar a integridade da autoimagem Já que as pessoas com autoestima ele vada possuem mais recursos com os quais afirmar sua autoimagem ameaçada elas são mais resisten tes à ameaça à autoimagem produzida pela disso nância pósdecisão e portanto é menos provável que se empenhem em autojustificativa Steele e colabora dores 1993 p 886 Assim existem diferenças indi viduais na resistência à ameaça Consistentemente com esse modelo Steele e colaboradores 1993 descobri ram que os indivíduos com autoestima elevada quan do lembrados de seus recursos exibiam menos auto justificativa depois de uma decisão ameaçadora para a autoestima Steele conclui que a dissonância não é fundamentalmente a aflição da inconsistência psi cológica ou mais particularmente a aflição da auto inconsistência mas a angústia de um senso de auto integridade ameaçada Steele e colaboradores 1993 p 893 Teoria da Autodiscrepância A essência do modelo de Rogers é a existência de duas versões de congruênciaincongruência entre o self e a experiência em que o primeiro representa a auto definição do indivíduo e o segundo representa a rea lidade mental do indivíduo e entre o self e o self ide al em que o último denota o autoconceito que o indivíduo mais gostaria de possuir o que ele mais va loriza Rogers 1959 p 200 A teoria da autodis crepância de E T Higgins 1987 1989 está constru ída em torno das discrepâncias existentes entre três domínios alternativos do self a o self real que é a nossa representação dos atributos que alguém nós mesmos ou outra pessoa acredita que nós realmente possuímos b o self ideal que é a nossa representa ção dos atributos que alguém nós mesmos ou outra pessoa gostaria que nós idealmente possuíssemos i e a representação das esperanças das aspirações ou dos desejos de alguém para nós e c o self obri gatório que é a nossa representação dos atributos que alguém nós mesmos ou outra pessoa acredita que devemos ou temos de possuir i e uma representa ção do senso de dever das obrigações ou responsabi lidades de alguém 1987 p 320321 O exemplo de Higgins da distinção entre o self ideal e o self obri gatório é o conflito que algumas mulheres experienci am entre seu próprio desejo de ser uma profissional bemsucedida e a crença de outra pessoa de que elas deveriam ser donasdecasa e mães Observem que Higgins propõe duas origens para cada domínio do self o nosso próprio ponto de vista e o ponto de vista de alguma outra pessoa significativa a distinção de Rogers entre a necessidade de consideração positiva e a necessidade de autoconsideração se refere essen cialmente a esses dois pontos de vista Combinar os três domínios com os dois pontos de vista gera a pos sibilidade de seis tipos básicos de representações de estado de self realpróprio realde outro idealpró prio idealde outro obrigatóriopróprio e obrigató riode outro Observe que a condição de valor de Rogers e a tirania do deveria de Horney represen tam a internalização ou a transformação do obriga TEORIAS DA PERSONALIDADE 383 tóriode outro de Higgins no obrigatóriopróprio Voltando ao exemplo de Higgins o desejo de uma mulher de ser uma profissional bemsucedida seria uma representação do idealpróprio e a insistência de seus pais em que ela fique em casa como esposa e mãe seria uma representação do obrigatóriode ou tro As duas primeiras representações compreendem o que Higgins chama de autoconceito e as quatro res tantes compreendem o que ele chama de autoguias A teoria da autodiscrepância afirma que nós estamos motivados a atingir uma condição em que o nosso autoconceito combine com os nossos autoguias pes soalmente relevantes Higgins 1987 p 321 A teoria da autodiscrepância segue Rogers e a te oria da dissonância ao sugerir que as discrepâncias têm conseqüências emocionais e motivacionais Se a excitação se tornar forte demais a pessoa pode tentar reduzila mudando o seu comportamento ou recon ceitualizando eventos correntes ou passados Mas a teoria é distintiva ao propor que as discrepâncias crô nicas entre determinados pares de representação es tão associadas a predisposições motivacionais especí ficas Por exemplo as discrepâncias realpróprio versus idealpróprio e realpróprio versus idealde outro tor nam a pessoa vulnerável a emoções de abatimento e tristeza Mais especificamente uma discrepância real próprio versus idealpróprio provavelmente levará a desapontamento e insatisfação porque a pessoa acre dita que suas esperanças e seus desejos não se reali zaram Por outro lado uma discrepância realpróprio versus idealde outro produz vulnerabilidade à ver gonha e embaraço porque a pessoa fracassou em aten der às esperanças e desejos de um outro significativo Um exemplo da primeira discrepância ocorreria se uma pessoa que estivesse esperando ir para a faculdade fosse reprovada no vestibular enquanto a última po deria ocorrer se uma pessoa não conseguisse ingres sar na única faculdade que seus pais consideravam digna dela Ao contrário as discrepâncias entre re presentações realpróprio e obrigatóriopróprio tor nam a pessoa vulnerável a emoções de agitação Uma discrepância realpróprio versus obrigatóriopróprio produziria vulnerabilidade à culpa eou autodespre zo porque a pessoa violou um padrão moral pessoal mente aceito mas uma discrepância realpróprio ver sus obrigatóriode outro deixa a pessoa sentindose temerosa ameaçada ou ressentida devido a sanções ou punições antecipadas Um exemplo de uma discre pância realpróprio versus obrigatóriopróprio seria um aluno não tirar as notas que se sente capaz de tirar e não tirar as notas que seus pais esperavam ilustraria uma discrepância realpróprio versus obri gatóriode outro A teoria da autodiscrepância de Higgins é compli cada especialmente quando ele introduz parâmetros governando a disponibilidade e a acessibilidade das discrepâncias Mas ele publicou vários achados con firmatórios e sua teoria da autodiscrepância é uma extensão contemporânea provocativa do modelo ori ginal de Rogers Autoconceito Dinâmico As limitações de espaço impedem uma discussão ex tensa de outros trabalhos recentes que desafiam a su posição de um autoconceito unitário Markus e Wurf 1987 oferecem a melhor introdução para este tra balho sobre o que chamam de autoconceito dinâmico Markus e Wurf observam a conexão entre a pesquisa contemporânea e a teoria da personalidade de Rogers e entre as teorias propostas por Erikson Horney Mas low Murray e Sullivan Por exemplo Markus e Nu rius 1986 p 954 sugeriram que os selves possíveis representam as idéias dos indivíduos sobre o que eles poderiam tornarse o que eles gostariam de tornarse e o que eles temem tornarse Nessa abordagem o autoconceito funcional se refere ao conjunto de auto concepções presentemente ativas no pensamento e na memória p 957 Como um outro exemplo Markus e Kitayama 1991 distinguem entre construções in dependentes e interdependentes do self A visão inde pendente predominante nas culturas ocidentais ba seiase na suposição de que cada indivíduo tem atributos únicos que deve descobrir e expressar A construção interdependente baseiase não na suposi ção da autonomia do indivíduo mas no papel da pes soa na unidade social mais ampla Nesta última visão o que é único no indivíduo não é o seu self interior mas sua configuração de relacionamentos Segundo Markus e Kitayama existem conseqüências cogniti vas emocionais e motivacionais importantes dessas construções alternativas do self Apesar de Markus e Wurf se referirem a esse corpo de trabalho como ofe recendo uma perspectiva psicológica social ele cer tamente não deve ser ignorado por aqueles que estu dam a teoria da personalidade 384 HALL LINDZEY CAMPBELL STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO A teoria organísmica como uma reação ao dualismo mentecorpo à psicologia das faculdades e ao com portamentalismo estímuloresposta foi imensamente bemsucedida Existe alguém na psicologia atualmen te que não seja um proponente dos princípios mais importantes da teoria organísmica de que o todo é mais do que a soma de suas partes de que aquilo que acontece para uma parte acontece para o todo e de que não existem compartimentos separados dentro do organismo Que psicólogo acredita que existe uma mente separada do corpo uma mente que obedece a leis diferentes das que regem o corpo Quem acredita que existem eventos isolados processos insulados fun ções sem conexão Muito poucos psicólogos se é que algum têm atualmente um ponto de vista atomista Todos nós somos psicólogos organísmicos indepen dentemente do que somos além disso Nesse sentido a teoria organísmica é mais uma atitude orientação ou estrutura de referência do que uma teoria sistemática do comportamento Ela diz com efeito que uma vez que tudo se relaciona ao todo o verdadeiro entendimento resulta da colocação cor reta de um fenômeno dentro do contexto do sistema total Ela faz com que o investigador leve em conta uma rede de variáveis em vez de pares de variáveis considere o evento que está estudando como um com ponente de um sistema em vez de como um aconte cimento isolado Compreender as leis pelas quais o organismo opera é de fato a suprema preocupação dos cientistas é o ideal que todos buscam O ponto de vista organísmico conforme aplicado na área da psi cologia humana afirma que a pessoa total é a unida de natural de estudo Uma vez que o ser humano nor mal sadio ou qualquer outro organismo por falar no assunto sempre funciona como um todo organizado a pessoa deve ser estudada como um todo organiza do Uma teoria organísmica da personalidade é defi nida pela atitude do teórico não pelos conteúdos do modelo de personalidade construídos Se a teoria fo caliza o organismo todo como um sistema unificado em vez de traços pulsões ou hábitos então a teoria pode ser chamada de organísmica Goldstein Mas low Allport Murray Rogers Freud Jung e pratica mente todos os outros teóricos contemporâneos ado tam uma orientação organísmica embora existam diferenças radicais entre essas teorias O que Golds tein encontra no organismo não é precisamente o que Allport ou Freud encontram aí embora os três pos sam ser classificados adequadamente como organís micos em sua orientação geral Poucas falhas podem ser encontradas na aborda gem organísmica já que ela é tão universalmente acei ta Mas podemos avaliar uma teoria organísmica es pecífica como a de Goldstein Algumas críticas mais ou menos específicas foram feitas à teoria de Goldstein Ele foi criticado por não distinguir suficientemente entre o que é inerente ao organismo e o que foi colocado nele pela cultura Kat tsoff 1942 por exemplo levantou essa questão O conceito de Goldstein de autorealização foi conside rado como tendo um caráter geral demais para ser útil para predições específicas Skinner 1940 consi derou a autorealização um conceito metafísico por que ele não pode ser testado experimentalmente Al guns psicólogos reclamam que Goldstein aparente mente não considera a análise estatística preferindo uma abordagem qualitativa como investigador Esses psicólogos acham que a análise qualitativa é extrema mente subjetiva e que é difícil repetir uma investiga ção quando ela está expressa em termos puramente qualitativos Outros psicólogos não concordam com as críticas de Goldstein ao uso de testes psicológicos Eles acham que os testes devem ser aplicados e pon tuados de uma maneira padronizada e que eles não devem ser modificados para atender às necessidades de casos individuais Goldstein foi criticado por enfa tizar demais a maturação e dar muito pouca atenção à aprendizagem e por exagerar a importância da ati tude abstrata no funcionamento psicológico Finalmen te foi contestada a tentativa de compreender a per sonalidade normal estudandose pacientes com lesão cerebral A versão de Maslow da teoria organísmica pode acabar sendo mais influente do que todas as outras Maslow foi um escritor e um palestrante incansável e articulado Além disso ele se tornou um dos líderes da psicologia humanista que atrai tantos psicólogos Ao ler Maslow às vezes é difícil desenhar a linha entre o inspiracional e o científico Alguns críticos acredi tam que a psicologia humanista é mais uma substitui ção secular da religião do que uma psicologia científi ca Outros acham que as contribuições dos humanistas aos fundamentos empíricos da psicologia não foram TEORIAS DA PERSONALIDADE 385 proporcionais aos seus textos especulativos Alguns psicólogos acusam os humanistas de aceitar como verdade o que ainda é hipotético de confundir teoria com ideologia e de substituir a pesquisa pela retórica Apesar dessas críticas ao tipo de psicologia que Mas low representa existem muitos psicólogos que foram atraídos por esse ponto de vista porque ele tenta lidar com preocupações humanas vitais e contemporâneas Não houve nenhuma grande mudança no ponto de vista teórico de Rogers depois de 1959 embora ele se tornasse mais firme ao apresentar suas idéias mais seguro de sua validade essencial mais consciente de sua aplicabilidade para ajudar a resolver os proble mas do mundo moderno e mais convencido de que há esperança para o futuro da humanidade Rogers 1977 1980 A terapia centrada no cliente é um mé todo de tratamento estabelecido e amplamente utili zado A teoria centrada na pessoa conforme formula da por Rogers serve como um estímulo formidável para as atividades investigativas Nem todos os acha dos empíricos são favoráveis à teoria de Rogers e nem toda a pesquisa sobre o self pode ser atribuída direta mente a Rogers No entanto ninguém foi mais influ ente na criação de uma tradição intelectual em que a pesquisa sobre o self poderia florescer Seu ditado de que o melhor ponto de vista para se compreender o comportamento é o da estrutura interna de referên cia do próprio indivíduo tem sido um ponto de reu nião para muitos psicólogos Sua consideração apai xonada pelos valores humanistas na pesquisa psicológica conforme apresentada em tantos textos seus e em seu famoso debate com B F Skinner Ro gers 1956 ajudou a polarizar o pensamento dos psi cólogos Seu otimismo sua fé implícita na bondade inerente do ser humano e sua firme crença de que as pessoas perturbadas podem ser ajudadas são atitudes que atraíram muitas pessoas que consideram o com portamentalismo frio demais e a psicanálise pessimis ta demais A existência de uma terceira força na psicologia tão viável quanto o comportamentalismo e a psicanálise devese em grande parte a Carl Ro gers Já observamos que as visões teóricas de Rogers como as de Freud Jung Adler Horney e Sullivan originaramse de sua experiência profissional com pessoas emocionalmente perturbadas Mas existe uma diferença muito significativa entre Rogers e esses ou tros teóricos com uma base clínica A partir de 1940 quando Rogers aceitou um cargo como professor de psicologia na Universidade Estadual de Ohio sua iden tificação primária foi com a psicologia acadêmica Não é nenhum segredo que os avanços no ambiente uni versitário e o prestígio profissional são grandemente determinados pela produtividade da pesquisa da pes soa e pelas atividades de pesquisa dos seus alunos Além disso o psicólogo acadêmico tem de enfrentar o escrutínio crítico de seus colegas Que Rogers passou nesses testes com grande sucesso é atestado pela quan tidade e qualidade de suas publicações pelo número de alunos que teve e pelas honras recebidas de seus colegas psicólogos Ele foi um dos primeiros três psi cólogos escolhidos para receber um Distinguished Sci entific Contribution Award da Associação Psicológica Americana em 1956 Por outro lado apesar de sua associação com o processo acadêmico por muitos anos Rogers criticava agudamente a estrutura universitá ria tradicional Ele achava que conseguira seguir seu caminho sem ser influenciado tanto quanto possível pelas pressões e políticas dos departamentos acadê micos Em certa extensão tal isolamento se reflete no cinismo de Rogers a respeito da nossa instituição edu cacional e sua forçada segregação de sentimentos e de intelecto Usando uma expressão que poderia ser o resumo de sua teoria Rogers deplorou os gritos si lenciosos dos sentimentos negados ecoando em todas as salas de aula e corredores universitários Rogers 1980 p 251 itálicos acrescentados A principal crítica que muitos psicólogos fazem à teoria de Rogers é que ela se baseia em um tipo ingê nuo de fenomenologia Existem abundantes evidênci as mostrando que fatores nãodisponíveis para a cons ciência motivam o comportamento e que aquilo que uma pessoa diz de si mesma está distorcido por defe sas e enganos de vários tipos Os autorelatos care cem notoriamente de confiabilidade não só porque as pessoas talvez pretendam enganar seus ouvintes mas também porque elas não conhecem toda a verda de sobre si mesmas Rogers foi criticado por ignorar o inconsciente cuja potência para controlar a conduta humana foi comprovada por investigações psicanalí ticas durante um período de oito décadas Rogers acre dita que não há necessidade de sondar de interpretar de realizar análises extensas e intricadas dos sonhos ou de escavar camada após camada da psique por que a pessoa se revela naquilo que diz sobre si mes ma 386 HALL LINDZEY CAMPBELL Mas a crítica de ingenuidade não pode ser feita com tanta veemência contra Rogers Na teoria de Ro gers está explicitamente reconhecido o conceito de um organismo que tem muitas experiências das quais não está consciente Algumas dessas experiências não simbolizadas não têm acesso à consciência por serem inconsistentes com a autoimagem Se isso não é re pressão no sentido psicanalítico a distinção entre isso e repressão é tão pequena que pode ser ignorada A principal diferença entre Rogers e a psicanálise está na convicção de Rogers de que a repressão pode ser evitada em primeiro lugar por pais que dão à criança uma consideração positiva incondicional Ou se o dano já foi feito pode ser corrigido mais tarde pela intervenção terapêutica em que o terapeuta valoriza o cliente Quando recebe uma consideração positiva incondicional o cliente eventualmente descobre seu verdadeiro self Esse verdadeiro self é aquele comple tamente congruente com o organismo que experien cia Os psicanalistas objetariam que a consideração positiva incondicional mesmo que pudesse ser man tida consistentemente pelo terapeuta não seria sufi ciente para superar a repressão no paciente A análise e a interpretação do que o paciente está pensando e sentindo dos sonhos e da transferência são necessári as para penetrar nas defesas e tornar consciente o que está inconsciente Mesmo nas condições terapêuticas mais favoráveis uma porção das nossas experiências continua inconsciente Rogers 1977 modificou sua visão do inconsci ente sugerindo que os processos organísmicos incons cientes realmente orientam e devem orientar grande parte do nosso comportamento Tais processos não são antisociais e impulsivos no sentido freudiano eles são guias confiáveis para obtermos realização pessoal e desenvolvermos relações interpessoais calorosas Rogers parece estar dizendo Confie no seu inconsci ente Uma outra crítica focaliza o fracasso de Rogers em descrever a natureza do organismo Se o organis mo é a realidade psicológica básica quais são as ca racterísticas dessa realidade Quais precisamente são as potencialidades do organismo que podem ser rea lizadas Outros teóricos postularam elementos como instintos de vida e de morte Freud arquétipos Jung necessidades Murray Fromm e Maslow dri ves Miller e Dollard e traços Allport e Cattell mas Rogers não postulou nada além da tendência realiza dora muito geral Rogers poderia ter respondido a esse tipo de críti ca dizendo que como fenomenólogo ele está interes sado apenas nas experiências que fluem do organis mo e na abertura da pessoa a essas experiências e não no próprio organismo Evidentemente é prerro gativa do teórico colocar uma teoria dentro de uma estrutura e ignorar o que está fora dessa estrutura por considerálo pouco importante ou irrelevante Todos os teóricos exercem tal direito Seja qual for o futuro da teoria de Rogers ela ser viu muito bem ao propósito de tornar o self um objeto de investigação empírica Muitos psicólogos deram status teórico ao self mas é de Rogers o crédito por suas formulações sobre o self fenomenal terem levado diretamente a predições e atividades investigativas Heuristicamente sua teoria tem sido uma força ex tremamente potente e disseminada TEORIAS DA PERSONALIDADE 387 ÊNFASE NA APRENDIZAGEM Os três teóricos discutidos nesta seção final do texto distinguemse por uma ênfase no papel central desempenhado pela aprendizagem na aquisição daquelas tendências características de comportamento que constituem os componentes estruturais e dinâmicos em outras teorias da personalidade Eles diferem claramente em sua articulação dos princípios que governam a aprendizagem Skinner estabelece uma vigorosa descrição do condicionamento instrumental segundo o qual o comportamento é selecionado e mantido por suas conseqüências A essência do modelo de Skinner é sua especificação dos parâmetros que governam a operação de reforço Dollard e Miller explicam a aprendizagem por meio de estímuloresposta No processo eles reconceitualizam vários aspectos importantes do modelo psicodinâmico de Freud Finalmente Bandura articula um modelo de aprendizagem cognitivo social em que a aprendizagem observacional é o principal meio pelo qual as pessoas desenvolvem seus repertórios comportamentais Grande parte do relato de Bandura baseiase na suposição de que o comportamento humano é guiado pelas conseqüências antecipadas pelo indivíduo Outras diferenças acompanham as posições características desses teóricos a respeito dos princípios de aprendizagem Por exemplo Skinner jamais teria descrito a si mesmo como um teórico da personalidade em vez disso ele tentou oferecer uma estrutura alternativa para explicar os processos que outros teóricos descreviam como partes distintivas da personalidade de um indivíduo Bandura trabalha na fronteira entre a personalidade e a psicologia social Dos três seria mais provável que Dollard e Miller se referissem ao seu trabalho como uma teoria da personalidade Além disso Bandura enfatiza os processos cognitivos em sua exposição Dollard e Miller também tentaram explicar os processos cognitivos mas Skinner recusouse firmemente a explicar o comportamento em termos de processos cognitivos nãoobservados Os três teóricos têm metas extremamente práticas mas a orientação prática levou Skinner a uma posição claramente radical em que só os eventos ambientais observáveis e manipuláveis desempenham um papel causal A Tabela 4 ver p 388 apresenta um resumo comparativo de Skinner Dollard e Miller e Bandura As três posições são classificadas como altas no processo de aprendizagem Todos os teóricos também enfatizam a continuidade e dão pouca atenção à singularidade mas estão aparentes várias diferenças Por exemplo Skinner está sozinho em sua ênfase no papel desempenhado pela hereditariedade Bandura se destaca por sua ênfase no autoconceito e no papel desempenhado pela competência na orientação do comportamento 388 HALL LINDZEY CAMPBELL Cada uma dessas posições foi criticada por apresentar teorias da personalidade incompletas como veremos Entretanto nenhum dos três teóricos adotou isso como uma meta explícita e em grande extensão estamos forçando Skinner e Bandura a papéis que eles não buscaram Apesar disso as três teorias têm muito a oferecer aos que estudam a personalidade Sugerimos ao leitor que examine cada posição e comparea com declarações teóricas apresentadas anteriormente neste livro TABELA 4 Comparação Dimensional das Teorias de Aprendizagem Parâmetro Comparado Skinner Dollard e Miller Bandura Propósito B B M Determinantes inconscientes B M B Processo de aprendizagem A A A Estrutura B B M Hereditariedade A B B Desenvolvimento inicial M A M Continuidade A A A Ênfase organísmica B B M Ênfase no campo B B M Singularidade B B B Ênfase molar B B M Ambiente psicológico B B M Autoconceito B B A Competência B B A Afiliação grupal B M M Ancoramento na biologia M M B Ancoramento na ciência social B A M Motivos múltiplos B M B Personalidade ideal B B B Comportamento anormal M M M Nota A indica alto enfatizado M indica moderado B indica baixo pouco enfatizado TEORIAS DA PERSONALIDADE 389 CAPÍTULO 12 O Condicionamento Operante de B F Skinner INTRODUÇÃO E CONTEXTO 390 HISTÓRIA PESSOAL 390 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS 394 Legitimidade do Comportamento 394 Análise Funcional 395 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 398 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 399 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 401 Condicionamento Clássico 401 Condicionamento Operante 402 Esquemas de Reforço 403 Comportamento Supersticioso 404 Reforço Secundário 405 Generalização e Discriminação de Estímulo 406 Comportamento Social 407 Comportamento Anormal 408 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 411 PESQUISA ATUAL 413 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 414 390 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Na primeira parte deste século a voz estridente mas poderosa de John B Watson teve um imenso impac to sobre a psicologia acadêmica e sobre o público em geral Em anos mais recentes B F Skinner exerceu uma influência comparável e defendeu algumas das mesmas reformas Skinner foi um comportamentalis ta ardente convencido da importância do método objetivo do rigor experimental da capacidade da ex perimentação cuidadosa e da ciência indutiva para resolver os problemas comportamentais mais comple xos Ele aplicou seus conceitos e métodos às princi pais preocupações da nossa época tanto práticas quan to teóricas A posição de Skinner foi muitas vezes descrita como uma teoria de estímuloresposta mas ele repu diava esse rótulo por duas razões Primeiro sua abor dagem depende da conexão entre uma resposta e um evento reforçador subseqüente não entre um estímu lo e uma resposta subseqüente Na verdade Skinner concluiu que não existe nenhum estímulo controla dor ou provocador para a maioria dos comportamen tos a marca registrada do condicionamento operante de Skinner é que o controle reside nas conseqüências do comportamento É mais correto descrever sua abor dagem como selecionista ao invés de associacio nista Skinner freqüentemente enfatizava os parale los entre a seleção operante de determinados comportamentos por suas conseqüências durante a vida de um indivíduo e a seleção de membros de uma população pela seleção natural darwiniana durante o tempo evolutivo Os reflexos e os outros padrões inatos de comportamento se desenvolvem porque au mentam as chances de sobrevivência da espécie Os operantes se fortalecem porque são seguidos por con seqüências importantes na vida do indivíduo Skin ner 1953 p 90 citado em Catania 1993 ver tam bém Catania 1992 Segundo Skinner se distingue por um desagrado pela teoria formal conforme ilus trado por sua rejeição da abordagem de postulado teorema de Clark Hull à teorização Em vez de definir a ciência em termos da busca de princípios explana tórios a meta da ciência de Skinner é o controle a predição e a interpretação do comportamento uma meta considerada atingível uma vez que o comporta mento é supostamente regido por leis Quando a descrição do relacionamento funcional controlador estiver completa obteremos o controle e atingiremos a meta da ciência Holland 1992 p 665 HISTÓRIA PESSOAL Filho de um advogado de cidade pequena Skinner nasceu em 1904 e foi criado em Susquehanna Pensil vânia em um ambiente familiar carinhoso e estável É interessante notar o que o subseqüente inventor da caixa de Skinner da caixa do bebê e de várias máquinas de ensino observa em relação à sua infân cia Eu estava sempre construindo coisas Eu cons truí patinetes carrinhos com direção trenós e balsas que podiam ser impelidas por remos em lagos rasos Eu fiz gangorras carrosséis e pistas para trenós Eu fiz estilingues arcos e flechas armas de pressão e pistolas dágua com bambus e com um aquecedor de água velho construí um canhão a vapor com o qual eu podia atirar balas feitas com batata e cenoura nas casas dos nossos vizinhos Eu fiz brinquedos diabolôs aeroplanos em miniatura impulsionados por elásticos torci dos papagaios retangulares e hélices de lata que podiam subir muito alto presas por um carretel de linha Tentei muitas vezes fazer um planador em que eu pudesse voar Eu inventei coisas algu mas delas no espírito das engenhocas absurdas dos cartuns que Rube Goldber publicava no Phi ladelphia Inquirer o qual como bom republica no meu pai assinava Por exemplo um amigo e eu costumávamos colher bagas de sabugueiro e vendêlas de porta em porta e eu construí um sistema de seleção que separava as bagas madu ras das verdes Trabalhei durante anos no projeto de uma máquina de movimento perpétuo Ela não funcionou Skinner 1967 p 388 Ele ingressou em uma pequena faculdade de hu manidades Hamilton College onde se formou em inglês e decidiu tornarse escritor Encorajado de vá rias maneiras inclusive por uma carta de Robert Frost elogiando três de seus contos ele resolveu passar um ano ou dois escrevendo em tempo integral ainda mo rando com a família Esse período se revelou relativa mente improdutivo e após um breve intervalo em TEORIAS DA PERSONALIDADE 391 B F Skinner 392 HALL LINDZEY CAMPBELL Greenwich Village e na Europa ele desistiu de escre ver e decidiu ingressar em Harvard e estudar psicolo gia Embora Skinner abandonasse uma carreira em redação criativa ele nunca abandonou seu interesse pela literatura como testemunham vários de seus ar tigos subseqüentes Skinner 1961 Nessa época Harvard era um ambiente informal mas estimulante para um jovem psicólogo Skinner não parece ter seguido o caminho de qualquer outro membro da faculdade mas teve um contato significa tivo com muitos deles incluindo E G Boring Carroll Pratt e Henry Murray Tão significativas quanto essas interações foram as influências de seu colega Fred Keller e do eminente biólogo experimental W J Cro zier Skinner recebeu seu PhD em 1931 e passou cin co anos de pósdoutorado trabalhando no laboratório de Crozier os três últimos como Junior Fellow a posi ção de maior prestígio em Harvard para um jovem acadêmico Crozier foi um dos vários biólogos rigoro sos que influenciaram o pensamento de Skinner Ou tros incluem Jacques Loeb C S Sherrington e Ivan Pavlov Na sua linhagem intelectual destacamse psi cólogos como John B Watson e E L Thorndike Skin ner identificou alguns filósofos da ciência cujos textos contribuíram para a sua posição comportamentalista entre os quais Bertrand Russell Ernst Mach Henri Poincaré e Percy Bridgman Sua primeira posição acadêmica foi na Universi dade de Minnesota para onde ele se mudou em 1936 Os nove anos seguintes em Minnesota foram extraor dinariamente produtivos e estabeleceram Skinner como um dos maiores psicólogos experimentais de sua época Durante tal período de intensa atividade cien tífica ele encontrou tempo para começar um roman ce Walden Two 1948 que descrevia a evolução de uma sociedade experimental baseada em princípios psicológicos Após uma breve estada na Universidade de Indiana ele voltou à Harvard pelo restante de sua carreira Durante esses anos Skinner recebeu muitas honras incluindo o Distinguished Scientific Award da Associação Psicológica Americana a condição de mem bro da Academia Nacional de Ciências o Gold Medal Award da Fundação Psicológica Americana proferiu as palestras William James em Harvard e recebeu a Presidents Medal of Science B F Skinner morreu de leucemia em 18 de agosto de 1990 apenas oito dias depois de receber o único prêmio por Outstanding Li fetime Contribution to Psychology dado pela Associa ção Psicológica Americana Nenhum prêmio certa mente foi mais apropriado Holland 1992 p 665 resumiu a contribuição de Skinner como a demons tração de que o comportamento podia ser estudado como um assunto autosuficiente em vez de um re flexo de eventos mentais internos A publicação mais importante de Skinner foi seu primeiro volume The Behavior of Organisms 1938 que continua sendo uma fonte importante de influên cia intelectual muitos anos após a sua publicação O volume intitulado Science and Human Behavior 1953 apresenta uma introdução à sua posição e ilustra sua aplicação a uma ampla variedade de problemas práti cos Uma análise detalhada da linguagem em termos de seus conceitos aparece em Verbal behavior 1957 que o próprio Skinner considerava seu livro mais im portante e um exemplo inicial da aprendizagem pro gramada foi oferecido por Holland e Skinner 1961 Seus artigos mais importantes antes de 1961 estão reunidos em uma coleção intitulada Cumulative Re cord 1961 The Technology of Teaching 1968 deta lha sua abordagem à aprendizagem no ambiente es colar Contingencies of Reinforcement 1969 reafirmou a posição científica de Skinner incluindo sua relevân cia para amplos problemas sociais Em Beyond Free dom and Dignity 1971 provavelmente seu livro mais controverso Skinner argumenta que os conceitos de liberdade e dignidade são obstáculos à melhora da so ciedade moderna About Behaviorism 1974 resume as idéias de Skinner sobre o ramo da psicologia que é praticamente sinônimo de seu nome Skinner publi cou uma autobiografia de três volumes 1976 1979 e 1983b além de um relato anterior Muitos de seus artigos posteriores aparecem em duas coleções Skin ner 1978 1987 e um livro final Skinner Vau ghan 1983 descreve estratégias usadas por Skinner para lidar com alguns dos problemas associados ao envelhecimento Várias biografias de Skinner apare ceram recentemente incluindo Nye 1992 Richelle 1993 e uma biografia intelectual e cultural de Bjork 1993 que Francher chama de a primeira biografia séria do mais famoso psicólogo da América desde sua morte 1995 p 730 ver também Morris 1995 O que podemos dizer em termos gerais sobre a posição de Skinner e seus aspectos distintivos Em primeiro lugar seria difícil encontrar um teórico que se empolgasse menos do que Skinner com o fato de ser lançado ao papel de teórico Apesar de sua imensa TEORIAS DA PERSONALIDADE 393 influência teórica ele questionava a contribuição da teoria ao desenvolvimento científico Até quase o fim de sua carreira Skinner viu seu próprio trabalho como ilustrando um empiricismo informado e sistemático que operava sem derivação teórica Ele se opunha consistentemente a qualquer tentativa de preencher as lacunas entre os eventos observados com variáveis inferidas ou hipotetizadas Sua intenção era reunir leis comportamentais sem nenhuma ficção explanatória Esse ponto de vista foi particularmente bemilustrado em dois artigos intitulados Are theories of learning necessary 1950 e A case history in scientific me thod 1956 Também podemos observar que sua teoria deve tanto ao laboratório quanto qualquer outra teoria dis cutida neste volume Os princípios de Skinner foram derivados de experimentações precisas e ele demons trava mais respeito por dados bemcontrolados do que qualquer teórico comparável É fácil afirmar que as recompensas têm alguma relação com a aprendiza gem e não é muito difícil demonstrar repetidamente em condições cuidadosamente controladas que isso é verdade em vários ambientes diferentes É uma ou tra questão entretanto identificar com precisão rela ções altamente regulares entre padrões específicos de reforço e medidas de resposta cuidadosamente espe cificadas Em seus estudos de esquemas de reforço Skin ner fez exatamente isso e apresentou achados que têm uma regularidade e especificidade que rivalizam com os de qualquer cientista físico Ele demonstrou que padrões específicos esquemas de reforço geram mudanças características e altamente replicáveis no ritmo de resposta tanto na resposta mantida quanto na extinção Skinner diferia claramente do psicólogo experi mental comum em sua preocupação pelo sujeito indivi dual Seus resultados eram tipicamente relatados em termos de registros individuais Não bastava que seus estudos produzissem resultados médios que coincidi am com as expectativas e com a observação futura A lei ou a equação comportamental precisa aplicarse a cada sujeito observado em condições apropriadas A atenção à aplicabilidade individual de todos os acha dos ou leis é especialmente valiosa em uma disciplina na qual o investigador muitas vezes não analisa além dos dados de grupo para ver se existem muitos sujei tos se é que existe algum cujo comportamento se conforma às generalizações grupais O foco de Skinner no estudo dos sujeitos indivi duais ao invés de nas tendências grupais generaliza das refletia sua crença de que o controle da lei pode ser visto no comportamento individual É uma das maiores ironias da psicologia que os psicólogos da personalidade tenham tentado compreender os indi víduos estudando grupos enquanto Skinner procurou desenvolver leis gerais estudando indivíduos A esse respeito Skinner ecoa a busca de Gordon Allport por princípios gerais que expliquem o desenvolvimento e o comportamento dos indivíduos ver Capítulo 7 Embora muitos psicólogos tenham focalizado res postas que parecem estar grandemente sob o contro le de estímulos p ex os reflexos Skinner escolheu dirigir sua atenção para as respostas emitidas em vez de provocadas Essa ênfase nos operantes e não nos respondentes para usar a terminologia de Skinner constitui um outro aspecto distintivo de sua aborda gem ao estudo do comportamento Ele também acre ditava que a psicologia deveria centrarse em eventos comportamentais simples antes de tentar entender e predizer os eventos complexos Embora ele enfatizasse o estudo de organismos individuais e das respostas simples Skinner supunha que os achados desse tipo de pesquisa têm uma gran de generalidade Em suas palavras Eu sugiro que as propriedades dinâmicas do comportamento operante podem ser estudadas com um único reflexo ou pelo menos com o mínimo necessário para atestar a apli cabilidade geral dos resultados Skinner 1928 p 4546 Ele acreditava que os mesmos princípios ge rais do comportamento serão descobertos indepen dentemente de que organismo estímulo resposta e reforço o experimentador resolver estudar Assim o pombo e o laboratório proporcionam um paradigma que pode ser extrapolado e estendido à mais ampla variedade possível de outros organismos e situações Consistente com essa última observação é o fato de que a abordagem de Skinner ao estudo do com portamento suas leis e tecnologia foram usadas em uma ampla variedade de contextos aplicados Skinner e seus alunos lidaram significativamente com proble mas práticos como controle de mísseis Skinner 1960 tecnologia espacial Rohles 1966 teste com portamental de drogas psicoativas Boren 1966 tec nologia educacional Skinner 1968 1984 desenvol vimento de culturas ou sociedades experimentais Skinner 1961 tratamento de psicóticos crianças 394 HALL LINDZEY CAMPBELL autistas e pessoas mentalmente retardadas Krasner Ullmann 1965 uso de vales ou fichas Ayllon Azrin 1965 1968 Krasner 1970 Kazdin 1989 en velhecimento Skinner 1983a Skinner Vaughan 1983 qualidade de vida na cultura ocidental Skin ner 1986b e desenvolvimento da criança Bijou Baer 1966 Conseqüentemente embora em certo aspecto Skinner seja o mais puro de todos os teóri cos em consideração ele também é um teórico cujo trabalho tem tido uma grande aplicação em diversos domínios comportamentais para não mencionar ape nas a própria psicologia ver p ex Morris 1992 Acabamos de ver um pouco das origens e das qua lidades gerais das austeras formulações de Skinner e agora examinaremos um pouco mais detalhadamente as concepções e suas aplicações ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS Comecemos com um exame de algumas das suposi ções e atitudes básicas subjacentes ao trabalho de Skinner Legitimidade do Comportamento Embora a suposição de que o comportamento é re gido por leis esteja implícita em toda pesquisa psicoló gica ela muitas vezes não é explicitada e muitas de suas implicações deixam de ser reconhecidas Skin ner como Freud merece reconhecimento por sua cons tante ênfase no ordenamento do comportamento e talvez mais significativamente pelo fato de comuni car sua crença nessa legitimidade a um grande seg mento da sociedade Por meio de seus textos e experi mentos refinados Skinner convenceu muitos de que o princípio do determinismo se aplica aos seres hu manos e levanta sérias questões referentes à nossa concepção do homem como um agente livre com cer tas metas na vida Por exemplo Skinner salientava continuamente que se aceitarmos esse princípio cul par ou responsabilizar alguém por determinadas ações têm pouco significado Um indivíduo comete crimes sérios outro faz maravilhas a serviço da humanida de Ambas as classes de comportamento resultam da interação de variáveis identificáveis que determinam completamente o comportamento O comportamento de um indivíduo é inteiramente um produto do mun do objetivo e só pode ser compreendido em termos desse mundo Em princípio Skinner acreditava que também na prática as ações de um indivíduo podem ser consideradas regidas por leis da mesma forma que o movimento de uma bola de bilhar quando recebe o impacto de uma outra bola Quando levada até a sua conclusão lógica essa suposição revelouse profun damente perturbadora para muitos leitores de Skin ner Por exemplo assim como não culpamos e nem elogiamos uma bola de bilhar pelas conseqüências de seu movimento também não faz sentido da perspec tiva de Skinner elogiar um indivíduo por ganhar um prêmio Nobel ou culpar outro por se tornar um assas sino serial O comportamento é o produto de forças que agem sobre o indivíduo não de uma escolha pes soal Talvez nenhum outro teórico salvo Freud te nha introduzido uma suposição tão diferente da nos sa maneira habitual de ver a nós mesmos Aceitar ou rejeitar a suposição de Skinner de que o comporta mento é regido por leis tem profundas conseqüências para regras de decisão legal e políticas governamen tais relativas a cidadãos desfavorecidos entre outros domínios para não mencionar os julgamentos pesso ais sobre o nosso próprio comportamento e o com portamento dos outros A esse respeito como em tan tos outros Skinner é profundamente provocativo É claro que todos os teóricos da personalidade supõem veladamente que o comportamento é regido por leis Mas Skinner explicou as implicações dessa suposição de um modo que a pessoa comum pudesse entender A seguinte citação ilustra claramente as idéi as de Skinner A ciência é mais do que a mera descrição de even tos conforme eles ocorrem É uma tentativa de descobrir ordem de mostrar que certos eventos mantêm relações legítimas com outros eventos Nenhuma tecnologia prática pode basearse na ciência até que essas relações tenham sido desco bertas Mas a ordem não é o único produto final possível é uma suposição funcional que deve ser adotada desde o início Não podemos aplicar os métodos da ciência a um assunto que supomos moverse caprichosamente A ciência não apenas descreve ela prediz Ela lida não só com o passa do mas também com o futuro Nem a predição é TEORIAS DA PERSONALIDADE 395 a última palavra na extensão em que as condi ções relevantes podem ser alteradas ou de outra forma controladas o futuro pode ser controlado Para usar os métodos da ciência no campo das questões humanas devemos supor que o compor tamento é regido por leis e determinado Deve mos esperar descobrir que aquilo que um homem faz é o resultado de condições especificáveis e que depois de descobrir tais condições podemos an tecipar e em certa extensão determinar suas ações Essa possibilidade é ofensiva para muitas pesso as Ela se opõe a uma tradição já antiga que vê o homem como um agente livre cujo comportamen to é o produto não de uma condição antecedente especificável mas de mudanças internas espon tâneas de curso As filosofias predominantes da natureza humana reconhecem uma vontade in terna que tem o poder de interferir em relaciona mentos causais e torna impossíveis a predição e o controle do comportamento Sugerir que abando nemos essa visão é ameaçar muitas crenças aca lentadas solapar o que parece ser uma concep ção estimulante e produtiva da natureza humana O ponto de vista alternativo insiste em que reco nheçamos as forças coercitivas na conduta huma na que preferiríamos ignorar Isso desafia as nos sas aspirações quer materiais quer imateriais Independentemente de quanto possamos ganhar por supor que o comportamento humano é o as sunto adequado da ciência ninguém que seja um produto da civilização ocidental consegue fazer isso sem relutar Nós simplesmente não queremos uma ciência assim Skinner 1953 p 67 Em Beyond Freedom and Dignity 1971 Skinner sugeriu que ao analisar o comportamento o leigo geralmente atribui ao ambiente um papel causal em certos comportamentos mas não em outros Se um supervisor está na fábrica é fácil atribuir o bom de sempenho de um operário à presença do supervisor Nós damos mais crédito a um operário que é igual mente diligente na ausência do supervisor porque nesse caso as causas do comportamento são menos óbvias Assim o crédito que damos a uma pessoa ten de a estar inversamente relacionado à visibilidade das causas de seu comportamento Skinner argumentou que o comportamento do operário é regido por leis independentemente de suas causas serem óbvias para o observador casual e que dar crédito ao indivíduo por determinadas ações só impede a busca dos fato res que controlam seu comportamento A suposição de que todos os comportamentos são regidos por leis implica claramente a possibilidade do controle do comportamento Só precisamos manipu lar as condições que influenciam ou resultam em uma mudança de comportamento Pode haver certa dis cordância sobre se controle necessariamente impli ca entendimento ou explicação mas em um nível pu ramente prático Skinner preferia usar o termo controle porque seu significado está claro Skinner não se interessava muito por aqueles aspectos do compor tamento que são fortemente resistentes à mudança governados primariamente pela dotação hereditária por exemplo Os tipos de comportamento que ele es tudou são os que parecem mais plásticos e que ima ginamos que podem mudar pela manipulação das va riáveis ambientais que normalmente interagem com a pessoa O interesse de Skinner pelo comportamento originase não só de uma curiosidade sobre como fun ciona o comportamento mas também de um intenso desejo de manipulálo A palavra controle é usada em parte porque reflete corretamente essa convicção Skinner argumentava freqüentemente que a capaci dade de manipular o comportamento se apropriada mente manejada pode ser usada para a melhora de todos Análise Funcional Surge então a pergunta qual é a maneira mais prová vel de obter esse controle Skinner acreditava que uma análise funcional é a mais adequada Por análise fun cional Skinner queria dizer uma análise do comporta mento em termos de relações de causa e efeito em que as próprias causas são controláveis isto é os estímu los as privações e assim por diante Os psicólogos freqüentemente usam os termos variável independente e variável dependente nesse contexto Uma variável independente é aquela que o experimentador mani pula e uma variável dependente é aquela que pode mudar em resultado dessa manipulação Skinner com parou a análise funcional do comportamento a uma análise que só busca estabelecer correlações entre variáveis dependentes em vez de relacionamentos causais No estabelecimento de correlações como na classificação dos traços poderíamos descobrir por 396 HALL LINDZEY CAMPBELL exemplo que as pessoas agressivas também tendem a ser muito inteligentes Mas não estaríamos querendo mostrar como a disposição agressiva ou a inteligência podem ser encorajadas ou desencorajadas Estamos apenas conectando efeito com efeito e não estamos descobrindo variáveis antecedentes que dão origem a alguma das características Assim embora possamos ser capazes de predizer o comportamento até certo grau porque podemos medir a inteligência e predizer a agressividade não temos nenhuma indicação de quais variáveis manipular a fim de aumentar ou redu zir a agressividade Skinner sempre afirmou que a melhor maneira de estudar o comportamento é examinar como ele se relaciona a eventos antecedentes Esse é um argumen to aceito por muitos psicólogos Skinner também ar gumentava que em uma análise funcional do compor tamento não há nenhuma necessidade de falar sobre mecanismos que operam dentro do organismo O com portamento pode ser explicado e controlado puramen te pela manipulação do ambiente que contém o orga nismo que se comporta e não há nenhuma necessidade de desmontar o organismo ou fazer inferências sobre os eventos que estão ocorrendo dentro dele Confor me Skinner 1974 p 182 afirmou Em sua busca pela explicação interna apoiada pelo falso senso de causa associada a sentimentos e observações intros pectivas o mentalismo obscureceu os antecedentes ambientais que teriam levado a uma análise muito mais efetiva A objeção ao funcionamento interno da mente não é ele não estar aberto à inspeção mas estar atrapalhando a inspeção de coisas mais impor tantes Tal argumento foi muito malcompreendido e ele é central na posição de Skinner Skinner não está propondo que os estados internos não existem e sim que eles não podem servir como as causas em uma análise científica do comportamento Inteligência ex pectativa e outros estados mentais são eles próprios o produto de contingências prévias de reforço e não têm nenhum status causal Quando dizemos que um homem come porque está com fome fuma muito por que tem o hábito do cigarro briga por causa do instin to de belicosidade comportase brilhantemente por causa de sua inteligência ou toca piano muito bem por causa de sua capacidade musical parece que esta mos nos referindo a causas Mas essas afirmações ao serem analisadas revelamse apenas descrições redun dantes Skinner 1953 p 31 Isso não pretende ne gar que os sentimentos existem entretanto eles e outros estados corporais são produtos colaterais das nossas histórias genéticas e ambientais Eles não têm força explanatória Skinner 1975 p 43 ver tam bém Skinner 1985 Da mesma forma Skinner rejei tou tentativas de explicar a variabilidade no compor tamento por referência a estados motivacionais Nada se ganha ao falar sobre um estado de fome sejam quais forem as evidências introspectivas ou fisiológi cas porque ainda precisamos explicar o estado Skin ner 1977b p 1010 Apesar de serem inadmissíveis como causas os estados internos são úteis como preditores Skinner escreveu o seguinte em About Behaviorism O que uma pessoa sente é um produto das contingências das quais seu futuro comportamento também será uma função e portanto existe uma conexão útil entre sen timentos e comportamento Seria tolice excluir o co nhecimento que uma pessoa tem da sua presente con dição todavia podemos predizer o comportamento mais acuradamente se tivermos um conhecimento di reto da história à qual os sentimentos serão atribuí dos 1974 p 230 Mais uma vez é crítico reconhe cer que a meta de Skinner era desenvolver uma tecnologia que nos permitisse alterar o comportamen to não apenas predizêlo O problema é que os esta dos internos são eles próprios o produto de ações ambientais prévias e não estão sujeitos à manipula ção Como conseqüência eles são inúteis em uma ten tativa de controlar o comportamento Para entender sua posição convém examinar o que Skinner diz sobre algumas das explicações cau sais do comportamento comumente usadas que de pendem de eventos internos como o antecedente em uma relação de causaefeito Suponha que um homem entre em um restaurante chame rapidamente o gar çom e peça um hambúrguer Quando o hambúrguer chega ele o devora sem parar para responder às per guntas que lhe fazem Nós perguntamos por que o homem está comendo Uma explicação comum de seu comportamento é que ele está com fome Mas como sabemos que o homem está com fome Só sabemos que o homem realiza várias atividades que tendem a estar associadas e a ocorrer seguindose a determina das condições ambientais Mas ao usar essa descri ção nós não estamos reconhecendo um evento de estar com fome que é antecedente a comer em vez disso o ato de comer rapidamente é parte do que queremos TEORIAS DA PERSONALIDADE 397 dizer com estar com fome O termo estar com fome pode simplesmente descrever a coleção de atividades associadas a uma variável independente identificada consumo de alimento assim como o termo jogar beisebol é um termo usado para abarcar as ativida des de arremessar rebater interceptar a bola e assim por diante Cada uma dessas atividades poderia ser explicada indicandose a seqüência de eventos anteri or ao jogo de beisebol Mas as atividades não são ex plicadas simplesmente pelo fato de serem descritas como parte de jogar beisebol Nós não dizemos que um indivíduo está arremessando simplesmente por que ele está jogando beisebol Jogar beisebol não é um evento antecedente a arremessar mais exatamen te arremessar é uma parte de jogar beisebol Objetando essa linha de raciocínio nós podería mos dizer que o termo estar com fome é usado para rotular um evento antecedente a comer número de horas desde a última refeição e que estar com fome é a causa de comer Nesse sentido estar com fome pode ser usado como um vínculo causal entre a privação de alimento e o comportamento que ocorre no restau rante Então teremos o problema de como identificar a relação causal e as propriedades que lhe serão atri buídas Duas soluções para esse problema são comuns Uma delas é dar ao evento de estar com fome um lugar no universo mental atribuirlhe um status não físico Isso é feito freqüentemente e dá origem à con cepção da pessoa externa e da pessoa interna A pes soa externa ou a pessoa comportamental como poderíamos chamar é impulsionada e controlada pela pessoa metafísica interna A concepção é ilustrada em declarações cotidianas do tipo Ele não conseguiu ter um bom desempenho por causa da fadiga mental ou Ela fracassou porque não estava prestando aten ção à tarefa Ou ainda mais claramente Ele só con seguiu fazer isso por uma tremenda força de vonta de Tais declarações dão a impressão de explicar o comportamento porque parecem referirse a eventos que são antecedentes ao comportamento em conside ração Nós imaginamos é claro que os eventos ocor rem em um mundo nãofísico não é explicado como eles conseguem influenciar eventos físicos A objeção mais séria a esse tipo de explicação é que quando os eventos são examinados mais cuidadosamente des cobrimos que eles não têm nenhuma propriedade que os identifique a não ser a sua capacidade de produzir o comportamento a ser explicado O mesmo tipo de explicação é dado por povos primitivos quando expli cam o movimento do sol por meio de alguma força controladora humana quando a única evidência que eles têm da existência dessa força controladora é o movimento do próprio sol Uma força controladora pode ser criada para explicar a ocorrência de qual quer evento imaginável Vemos como esse tipo de ex plicação é vazio quando nos perguntamos quão mais confiantemente um efeito pode ser predito agora que a sua causa foi isolada Então descobrimos que não existe nenhum isolamento que a causa não é separá vel do efeito pois não existe nenhuma outra proprie dade da causa além de sua produção do efeito Quando não se conhecem os eventos físicos im portantes na produção do comportamento normal mente sua explicação é apresentada em termos de um evento mental Skinner acreditava que esse é um tipo muito prejudicial de explicação simplesmente porque ele parece enganadoramente ser satisfatório e por tanto tende a retardar a investigação das variáveis objetivas que poderiam produzir um controle com portamental genuíno Um outro status que poderíamos atribuir a estar com fome é fisiológico Poderíamos investigar as con trações do estômago a concentração de açúcar no sangue a ativação de centros cerebrais e assim por diante Em uma explicação fisiológica poderiam ser isolados os antecedentes causais do comportamento e não diríamos que os eventos mentais influenciam eventos físicos Skinner não assumiu uma posição tão firme contra as explicações fisiológicas ele acredita va que o comportamento poderia basicamente ser pre dito investigandose os efeitos de uma variável am biental através de toda a seqüência de eventos fisiológicos que se seguem a ela Mas Skinner enfati zou que uma ciência do comportamento não requer necessariamente um conhecimento de processos fisi ológicos para ser viável mesmo quando conhecemos os processos o controle prático do comportamento será exercido pela manipulação de variáveis indepen dentes tradicionais que estão fora do organismo Assim Skinner não via nenhuma razão para não tra tarmos o organismo humano como uma caixa fecha da mas não vazia com vários inputs e outputs e acreditava que tal tratamento produziria o controle mais eficiente desses outputs Como podemos ver quan do examinamos o trabalho experimental de Skinner 398 HALL LINDZEY CAMPBELL suas idéias são solidamente apoiadas pelo sucesso de sua abordagem Como observamos Skinner apresentou um pro grama para uma ciência descritiva pois ligar variá veis dependentes a variáveis independentes sem ne nhuma etapa interveniente leva apenas a leis ou a hipóteses universais e não a teorias A distinção en tre elas nem sempre é muito clara mas em uma dis cussão sobre se as teorias são necessárias na ciência Skinner tentou explicar o que constitui uma teoria A seguinte citação mostra que ele usava o termo para descrever um sistema que relaciona um conjunto de observações a um outro conjunto de observações por meio de um conjunto de eventos ou constructos infe ridos que são descritos em termos diferentes dos que descrevem as observações e que não são eles própri os presentemente observados Certas suposições básicas essenciais para qual quer atividade científica são às vezes chamadas de teorias Que a natureza é ordenada em vez de caprichosa é um exemplo Certas declarações tam bém são teorias simplesmente na extensão em que ainda não são fatos Um cientista pode adivinhar o resultado de um experimento antes que o expe rimento seja executado A predição e o enuncia do posterior dos resultados podem ser compostos pelos mesmos termos no mesmo arranjo sintáti co a diferença sendo o grau de confiança Nesse sentido nenhuma declaração empírica é totalmen te nãoteórica pois as evidências nunca são com pletas e provavelmente também nunca se faz uma predição inteiramente sem evidências O termo teoria não vai se referir aqui a esse tipo de decla ração e sim a qualquer explicação de um fato observado que apele para eventos ocorrendo em algum outro lugar em algum outro nível de ob servação descrito em termos diferentes e medi do se medido em dimensões diferentes 1953 p 26 A abordagem de Skinner baseavase na suposição de que o comportamento é ordenado e o nosso pro pósito primário é controlálo E a melhor maneira de obter o controle é relacionar legitimamente variáveis ou inputs independentes que entram no organismo a variáveis ou outputs dependentes do organismo e então controlar o comportamento subseqüente do or ganismo pela manipulação desses mesmos inputs eventos ambientais de modo a obter um determina do output resposta A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE De todos os teóricos da personalidade examinados neste volume Skinner era o que mostrava maior indi ferença pelas variáveis estruturais Isto não surpreen de em vista do que já dissemos sobre sua abordagem geral ao estudo do comportamento Skinner tratou principalmente do comportamen to modificável Conseqüentemente ele não se inte ressava muito por características comportamentais que parecem ser relativamente permanentes Essa atitude decorre principalmente de sua ênfase no controle do comportamento A predição e a explicação podem ser atingidas conhecendose os aspectos permanentes e os modificáveis da personalidade Mas o controle só pode ser atingido pela modificação o controle impli ca que o ambiente possa ser variado a fim de produzir padrões diferentes de comportamento Mas Skinner nunca afirmou que todos os fatores que determinam o comportamento estão no ambiente Em primeiro lugar ele argumentou que a sensibilidade de um or ganismo ao próprio reforço tem uma base genética tendo evoluído devido às vantagens de sobrevivência de ser capaz de conhecer eventos importantes no ambiente Segundo Skinner afirmou que em qual quer espécie ou indivíduo alguns comportamentos podem ser mais facilmente condicionados do que ou tros Ele também reconheceu que alguns comporta mentos podem ter uma base inteiramente genética de modo que a experiência não tem nenhum efeito sobre eles Skinner via um paralelo entre as bases he reditárias e as bases ambientais do comportamento Ele sugeriu que o processo de evolução molda os com portamentos inatos de uma espécie exatamente como os comportamentos aprendidos do organismo são moldados pelo ambiente No entanto as explicações genéticas do comportamento devem ser vistas com cautela tanto porque os fatores evolutivos que deter minaram a forma de um comportamento inato não são observáveis como porque muitos comportamen tos considerados inatos poderiam na verdade ter sido moldados pela experiência Skinner 1969 Deve fi TEORIAS DA PERSONALIDADE 399 car claro que Skinner não afirmou que o comporta mento de um indivíduo é produto unicamente do ambiente Ele simplesmente não enfatizou a impor tância prática da variabilidade biológica porque em uma ciência puramente comportamental essa varia bilidade não pode facilmente ser colocada sob con trole comportamental Entretanto em contraste com o que Skinner chamou de mentalismo a fisiologia é promissora O fisiologista do futuro nos dirá tudo o que podemos saber sobre aquilo que acontece dentro do organismo que se comporta Sua explicação será um avanço importante em relação a uma análise com portamental porque esta última é necessariamente histórica isto é está confinada a relações funcio nais que apresentam lacunas temporais Alguma coi sa é feita hoje que afeta o comportamento de um or ganismo amanhã Por mais claramente que esse fato possa ser estabelecido uma etapa está faltando e pre cisamos esperar pelo fisiologista para suprila Ele será capaz de mostrar como um organismo é modificado quando exposto a contingências de reforço e porque o organismo modificado então se comporta de uma maneira diferente possivelmente em uma data muito posterior O que ele descobre não invalida as leis de uma ciência do comportamento mas torna mais com pleto o quadro da ação humana Skinner 1974 p 236237 Conforme observado acima Skinner é igualmen te inclusivo com respeito ao papel da evolução e da genética Ele escreveu que o organismo faz o que é induzido a fazer por sua dotação genética ou pelas condições predominantes 1977b p 1007 Ele con cluiu esse mesmo artigo afirmando O comportamen to dos organismos é um campo único em que tanto a filogenia quanto a ontogenia devem ser levadas em conta Como todas as ciências precisa ter seus especi alistas p 1012 Conforme sugerido antes Skin ner escolheu especializarse na análise experimen tal do comportamento Ao selecionar as variáveis de resposta ele estava interessado principalmente em sua simplicidade e as sociação legítima ou regular com a variação ambien tal A classificação mais importante do comportamento sugerida por Skinner é a distinção entre operante e respondente Essa distinção envolve primariamente a diferença entre as respostas provocadas e as respos tas emitidas Como vimos o foco do interesse de Skin ner estava no operante que é emitido na ausência de qualquer estímulo motivador Um respondente por outro lado é provocado por um estímulo conhecido e é mais bem ilustrado por uma resposta como o refle xo pupilar ou o reflexo patelar em que existe uma resposta conhecida e relativamente invariável associ ada a um estímulo específico Nós teremos mais a di zer sobre essa distinção subseqüentemente A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Embora Skinner evitasse conceitos estruturais ele mostrava apenas um leve desagrado pelos conceitos dinâmicos ou motivacionais Ele reconhecia que a pessoa nem sempre exibe o mesmo comportamento no mesmo grau quando em uma situação constante e acreditava que o reconhecimento geral disso é a prin cipal razão para o desenvolvimento do nosso concei to de motivação Uma vez que o comportamento ten de a ser altamente variável em algumas situações supomos que uma força interna explique essa variabi lidade Vemos por exemplo que uma criança nem sempre come o alimento que lhe é apresentado e portanto dizemos que seu comer depende não só da presença do alimento mas também de variações no grau de fome Por outro lado descobrimos que o re flexo patelar é provocado com aproximadamente o mesmo vigor sempre que o joelho recebe uma panca dinha Assim não sentimos nenhuma necessidade de postular uma pulsão patelar variável porque não exis te nenhuma variabilidade inexplicada no vigor ou na freqüência do reflexo Como já sugerimos Skinner acreditava que mes mo quando o comportamento mostra esse tipo de va riabilidade ainda é desnecessário e muitas vezes en ganador postular uma força energizadora interna pois ainda resta a questão de como a intensidade da força é governada Por exemplo queremos saber a causa da fome da criança É necessária uma resposta para a pergunta pois só então poderemos estimar a intensi dade da força e fazer uma predição sobre o vigor do comportamento associado Skinner postulou que uma resposta satisfatória precisa envolver em algum está gio a descoberta de uma variável ambiental à qual a força interna esteja ligada exatamente como a fome está ligada à privação de alimento Por que se preocu par em explicar a variabilidade comportamental em 400 HALL LINDZEY CAMPBELL termos de um estado interno cuja intensidade preci sa ser calculada com base no conhecimento da varia ção no ambiente Por que não nos preocupamos sim plesmente com a variável ambiental e explicamos o comportamento diretamente Seguindo esse argumen to Skinner tratou a variabilidade no vigor do com portamento exatamente como tratou qualquer outro aspecto do comportamento como uma conseqüência causal direta da variação em uma variável indepen dente O argumento recémapresentado poderia nos le var a acreditar que as variáveis que governam os esta dos pulsionais ou motivacionais de outros teóricos não têm nenhuma posição especial no sistema de Skinner Mas isso é incorreto pois elas têm uma propriedade especial porém não a propriedade de ser a causa in terna do comportamento Descobrimos que certas va riáveis afetam a probabilidade de ocorrência de gru pos inteiros de padrões de comportamento Por exemplo considerem o caso da sede A sede pode ser aumentada por várias operações diferentes e por sua vez pode influenciar várias respostas diferentes A temperatura da sala onde um animal está encerrado pode ser aumentada fazendo assim com que ele per ca água por suar mais profusamente ou o tempo de corrido desde que o animal recebeu água pode au mentar ou o animal pode ser induzido a comer alimentos muito salgados Cada uma dessas opera ções aumentará a sede do animal Isso significa que aumenta a probabilidade de o animal engajarse em um ou mais de um grupo de atividades todas as quais são afetadas por alguma desse mesmo grupo de ope rações Assim o animal vai realizar com maior vigor uma resposta aprendida se ela produzir água uma resposta tal como pressionar uma alavanca ou correr por um labirinto por exemplo e ele beberá mais vi gorosamente escolherá água em vez de comida ou escolherá qualquer outra resposta que foi seguida por água no passado Tais exemplos mostram que ao di zer que certas operações aumentam a sede nós esta mos apenas dizendo que essas operações tendem a aumentar a ocorrência de respostas específicas Em resumo Skinner usou um termo como sede simples mente como um artifício verbal conveniente que ad quire significado por sua capacidade de abranger a relação entre um grupo de variáveis independentes e um grupo de variáveis dependentes e o termo não adquire nenhum outro significado além desse Skin ner não atribui um status causal à sede o status cau sal é atribuído às operações que resultam no compor tamento de beber É importante notar que diferente mente de muitos outros teóricos do reforço Skinner não considerava os impulsos uma classe de estímulos Existem outros termos que podem ser tratados como impulsos porque são utilizados para ligar um grupo de variáveis independentes a um grupo de va riáveis dependentes Esses termos pertencem à área da emoção Skinner não fez nenhuma distinção real entre impulsos e emoções e usava os dois termos e justificava seu uso da mesma maneira Considerem o exemplo de uma pessoa zangada Não sabemos que uma pessoa está zangada por termos tido acesso à sua mente ou porque observamos que certas glându las estão secretando certas substâncias Em vez disso notamos que essa pessoa apresenta determinadas ca racterísticas comportamentais Ela adota uma expres são sombria fala laconicamente tende a um compor tamento agressivo e assim por diante Da mesma forma sabemos que uma pessoa está com medo por que gagueja assustase facilmente está tensa e apre senta várias respostas aversivas Esse comportamento pode ser observado quando vemos um aluno esperan do do lado de fora do gabinete de um professor após um mau desempenho em uma prova Nós notamos os aspectos do comportamento do aluno e depois por causa da nossa observação de algum outro comporta mento associado ou porque sabemos a nota que o alu no tirou na prova julgamos que ele está com medo O fato de o aluno gaguejar não significa necessariamen te que ele está com medo Ele pode estar gaguejando devido a um defeito inerente em seu aparelho vocal Mas julgamos que ele está com medo por causa das variáveis independentes condições ambientais e dependentes respostas específicas às quais a gagueira está associada Exibir essa associação específica é es tar com medo Assim Skinner empregou uma série de conceitos que poderiam ser chamados de dinâmicos ou motiva cionais Tais conceitos semelhantes aos conceitos motivacionais em outras teorias foram empregados para explicar a variabilidade do comportamento em situações de outra forma constantes Entretanto no sistema de Skinner eles ocupam uma categoria dis tinta porque relacionam grupos de respostas a grupos TEORIAS DA PERSONALIDADE 401 de operações e não por serem igualados a estados de energia propósito ou qualquer outra condição que implique que eles são antecedentes causais do com portamento O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Skinner tratou principalmente da mudança compor tamental da aprendizagem e da modificação do com portamento conseqüentemente podemos dizer que sua teoria é muito relevante para o desenvolvimento da personalidade Como muitos outros teóricos ele acreditava que o entendimento da personalidade vi ria de um exame do desenvolvimento comportamen tal do organismo humano em contínua interação com o ambiente Consistentemente essa interação tem sido o foco de um grande número de estudos experimen tais cuidadosamente realizados Um conceitochave no sistema de Skinner é o princípio do reforço na verdade a posição de Skinner muitas vezes é rotula da como teoria do reforço operante Condicionamento Clássico Reforçar um comportamento é simplesmente execu tar uma manipulação que muda a probabilidade de ocorrência daquele comportamento no futuro O acha do de que certas operações mudam a probabilidade de ocorrência de respostas de uma maneira legítima é creditado principalmente a dois líderes pioneiros no estudo da modificação comportamental I P Pavlov e E L Thorndike Pavlov descobriu o princípio do re forço conforme se aplica ao condicionamento clássi co Ele pode ser ilustrado com um exemplo famoso Suponha que em várias ocasiões soa uma campainha na presença de um cão faminto e suponha também que em cada uma dessas ocasiões o som da campai nha é imediatamente seguido pela apresentação de carne ao cão O que observamos Em cada apresenta ção da combinação campainhacarne o cão saliva Mas a princípio o cão só saliva quando a carne é apresen tada e não antes Entretanto a salivação mais tarde começa a ocorrer assim que a campainha soa antes da apresentação da carne Nesse estágio a resposta salivar está condicionada ao som da campainha e descobrimos que a apresentação da carne imediata mente após o som da campainha é a operação crítica responsável pelo condicionamento Assim a apresen tação da carne é uma operação reforçadora Ela au menta a probabilidade de a resposta salivar ocorrer quando soar uma campainha em uma ocasião poste rior Além disso uma vez que sua apresentação au menta as chances de salivação ela é classificada como um reforço positivo Seguindo o desenvolvimento de uma sólida res posta condicionada um experimentador poderia que rer saber o que acontece quando o estímulo condicio nado é consistentemente apresentado sem ser seguido pelo estímulo reforçador No exemplo anterior a cam painha soaria mas não seria acompanhada por ne nhuma carne O que acontece então é que a resposta condicionada se extingue isto é sua freqüência de ocorrência e sua magnitude declinam com o sucessi vo soar da campainha até nenhuma salivação ser pro vocada pela campainha A resposta condicionada se extingue então completamente Extinção é a diminui ção de resposta que ocorre quando o reforço que se se gue à mesma deixa de ocorrer Uma característica do condicionamento clássico é o fato de podermos localizar facilmente um estímu lo identificável que estimula a resposta mesmo antes de o condicionamento começar Por exemplo no caso recémcitado o estímulo oferecido pela carne elicia a salivação Conforme observamos Skinner chamou essa resposta de respondente para enfatizar o grande papel eliciador desempenhado pelo estímulo precedente Uma outra característica dessa situação é que o refor ço é manipulado em associação temporal com o estí mulo ao qual a resposta está sendo condicionada en quanto a resposta se houver vem mais tarde O condicionamento é mais efetivo quando o reforço se segue ao estímulo condicionado independentemente de a resposta ter ocorrido ou não Skinner aceitava a existência do condicionamen to clássico e sua dependência do princípio do reforço mas ele estava menos preocupado com isso do que com um outro tipo de aprendizagem que também depende do princípio do reforço O outro tipo de aprendizagem que foi investigado sistematicamente primeiro por Thorndike chamase condicionamento instrumental ou operante 402 HALL LINDZEY CAMPBELL Condicionamento Operante Muitos investigadores acreditavam que toda a apren dizagem envolvia o processo do condicionamento clás sico Mas Skinner notou que muitas respostas não se ajustavam a esse paradigma Existem algumas respos tas que diferentemente dos respondentes não pare cem estar ligadas a um estímulo eliciador facilmente identificável tal como pintar um quadro ou atraves sar uma rua por exemplo Essas respostas parecem ser espontâneas e voluntárias Uma outra proprieda de desse tipo de comportamento que mais uma vez o diferencia do comportamento respondente é que sua freqüência de ocorrência muda de acordo com o even to que vem a seguir Mais especificamente a força de uma das respostas aumenta quando a resposta ocorre e é seguida por reforço A peculiaridade dessa classe de respostas origina o termo operante de Skinner Um operante é uma resposta que opera no ambiente e modificao A mudança no ambiente afeta a ocorrên cia subseqüente da resposta Portanto no condicio namento operante o reforço não está associado a um estímulo eliciador como está quando os respondentes são condicionados Em vez disso ele está associado à resposta Quando uma resposta salivar está condicio nada ao som de uma campainha a apresentação da carne não depende da ocorrência anterior da respos ta Por outro lado quando uma resposta operante é condicionada é essencial que o reforço seja apresen tado depois da ocorrência da resposta Só dessa ma neira a freqüência da resposta vai aumentar Skinner modificou a posição de Thorndike de duas maneiras importantes Primeiro Thorndike 1898 resumira sua posição em termos da lei de efeito Essa lei estabelece que as respostas que produzem um efeito satisfatório têm mais probabilidade de ocorrer nova mente naquela situação específica e que as respostas que produzem um efeito insatisfatório têm menos pro babilidade de ocorrer novamente naquela situação A meta de Skinner era construir uma psicologia basea da em fenômenos observáveis evitando referência a eventos internos dentro do organismo Em conse qüência ele rejeitava qualquer referência aos efeitos satisfatórios e insatisfatórios referidos por Thorndike preferindo referirse simplesmente ao efeito observá vel de um estímulo sobre o comportamento Skinner propôs a lei empírica de efeito Isto é um estímulo re forçador é um evento que aumenta a freqüência do comportamento com o qual é emparelhado sem ne nhuma referência à satisfação ou a qualquer outro evento interno Segundo Skinner observou que o modelo descrito por Thorndike requeria que o orga nismo produzisse o comportamento completo antes que o ambiente pudesse agir sobre ele Mas no mun do real muitos comportamentos são tão complexos que é extremamente improvável que o organismo os produza em primeiro lugar A lei de efeito não pode explicar o reforço de um comportamento que é com plicado demais para ocorrer sozinho Um adulto po deria estar preparado para reforçar uma criança a andar de bicicleta ou a ler um livro ou reforçar um cachorro a rolar sobre si mesmo mas é extremamen te improvável que esses comportamentos ocorram sozinhos Skinner propôs que os organismos podem aprender esses comportamentos complicados por meio da modelagem usando o princípio das aproximações sucessivas Nós começamos reforçando um compor tamento que é um primeiro passo rumo ao comporta mento final e então reforçamos gradualmente apro ximações cada vez maiores do comportamento final Por meio desse processo os organismos podem ad quirir comportamentos extremamente complicados conforme ilustrado mais adiante neste capítulo Vamos tomar um exemplo bem simples de condi cionamento operante Podemos ensinar uma criança a pedir balas freqüentemente dandolhe balas sem pre que ela pedir Nós reforçamos positivamente a resposta de pedir balas Também podemos extinguir a resposta de pedir balas simplesmente não dando as balas quando a criança pedir Descobrimos então que a freqüência da ocorrência de pedir balas diminui Existe uma outra maneira pela qual podemos reduzir a ocorrência da resposta Quando a criança pedir ba las nós podemos punila dandolhe um tapa Quando realizamos uma operação como esta de acrescentar alguma coisa à situação que reduz a probabilidade da resposta dizemos que punimos a resposta Um estí mulo punitivo é um estímulo que provoca aversão e que quando ocorre depois de uma resposta operante diminui a futura probabilidade daquela resposta É importante observar que uma punição não é o mesmo que um reforço negativo Um reforço aumenta a pro babilidade de ocorrência de um comportamento com o qual é emparelhado e uma punição diminui a pro babilidade de um comportamento Mas um compor tamento pode ser reforçado pela remoção de um estí TEORIAS DA PERSONALIDADE 403 mulo aversivo e nesse caso nos referimos a um re forço negativo Por exemplo uma mãe poderia refor çar uma criança por receber boas notas liberandoa de lavar a louça Da mesma forma uma pessoa com um medo fóbico de cobras reforça a resposta de evita ção afastandose sempre que encontra uma cobra eli minando assim o medo aversivo despertado pela co bra Esses dois são exemplos de reforço negativo Os princípios gerais que Skinner empregou para explicar a modificação do comportamento foram agora apresentados Esses princípios derivamse de uma quantidade maciça de pesquisas cuidadosamente con troladas e descobriuse que eles têm ampla aplicabi lidade Pode parecer que são excessivamente simples e não têm relação alguma com o desenvolvimento da personalidade Entretanto Skinner argumentou per suasivamente que a personalidade não é nada além de uma coleção de padrões de comportamento e que quando nos perguntamos sobre o desenvolvimento da personalidade estamos apenas perguntando sobre o desenvolvimento desses padrões de comportamento Skinner acreditava que podemos predizer controlar e explicar os desenvolvimentos examinando como o princípio do reforço funciona para explicar o compor tamento atual de um indivíduo como um resultado do reforço de respostas prévias Uma vez que o princípio do reforço é tão impor tante é necessário considerar detalhadamente o de senvolvimento de uma resposta específica e mostrar como ela pode ser manipulada com o uso das técnicas operantes Suponha que colocamos um pombo faminto em uma pequena câmara bemiluminada isolada do ambiente externo por paredes opacas e à prova de som Esse tipo de câmara é freqüentemente chamado de caixa de Skinner embora não por Skinner e cons titui uma importante realização de engenharia Ela protege o sujeito de muita variação ambiental des controlada e também permite o controle mecânico ou automatizado de eventosestímulo e o registro das respostas Em uma das paredes da câmara a cerca de 25 cm do chão existe um disco translúcido que pode ser ilu minado por trás com uma luz vermelha O disco está conectado por um interruptor elétrico ao aparelho externo que registra e controla os eventos que estão ocorrendo na caixa O aparelho está eletricamente preparado de modo que sempre que alguma pressão for aplicada ao disco é registrada uma resposta e um alimento é dado ao pombo por um depósito alimenta dor fixado na parede da câmara logo abaixo do dis co O pombo pode aplicar uma pressão adequada ao disco bicandoo e essa é a resposta que queremos de senvolver e controlar Para que o pombo bique o disco pela primeira vez nós modelamos o seu comportamento A probabilida de de o pombo bicar o disco aleatoriamente é na verdade muito pequena e está claro que não pode mos aumentar a probabilidade pela ação do reforço alimentar até que essa resposta tenha ocorrido A res posta de bicar é modelada reforçandose sucessivas aproximações da resposta de bicar Primeiro nós trei namos o pássaro para comer de um depósito alimen tador quando ele é aberto Esse comportamento é fa cilmente condicionado e a visão do depósito alimentador aberto tornase um estímulo para comer Então nós apresentamos o alimento apenas quando o pássaro ergue a cabeça quando está perto do disco depois quando seu bico está em uma posição de bi car em relação ao disco e assim por diante Eventual mente por meio dessas sucessivas aproximações o pássaro vai bicar o interruptor pela primeira vez O alimento é claro é dado imediatamente Logo depois disso o pássaro provavelmente vai bicar o disco de novo e o alimento é dado mais uma vez Se o reforço for apresentado em todas as ocasiões em que o pássa ro bicar o bicar logo vai estar ocorrendo rapidamen te Esse esquema é chamado de reforço contínuo En tretanto se o depósito alimentador deixar de ser operado quando o pássaro bicar o ritmo de bicar di minui e em um período bem curto estará reduzido a um ritmo semelhante ao observado quando o pássaro foi colocado na câmara pela primeira vez O bicar pra ticamente deixa de ocorrer já que a resposta previa mente reforçada foi extinta Esquemas de Reforço Suponha que em vez de nunca operar o depósito ali mentador nós o operemos em algumas ocasiões Por exemplo o aparelho pode ser programado para que o alimento seja dado se o pombo bicar seguindo um período de tempo tal como cinco minutos Se o refor ço for contingente a um intervalo de tempo ele é re ferido como reforço de intervalo se esse intervalo for imutável p ex a cada cinco ou dez minutos temos um esquema de reforço de intervalo fixo Em vez de 404 HALL LINDZEY CAMPBELL dar o reforço seguindo um intervalo constante de tem po o investigador pode querer reforçar de acordo com um esquema de intervalo variável ou intermitente Aqui embora o reforço possa estar disponível em média nos intervalos de cinco minutos o intervalo real vai variar aleatoriamente em torno dessa média Assim a cada momento existe uma probabilidade bai xa e constante de ser dado o alimento Em tais condi ções o pombo responde com um ritmo regular de bi cadas A maioria das bicadas não é reforçada mas aquelas que são servem para manter o ritmo global de resposta Se o depósito alimentador for desconec tado e o bicar deixar de ser reforçado a resposta de bicar novamente se extingue Dessa vez isso aconte ce em um ritmo bem mais lento do que quando o re forço era contínuo e muitas bicadas a mais são emiti das antes de a extinção se completar Também pode ser estabelecido um esquema de reforço em que os fatores temporais não são impor tantes e em que o número de recompensas obtidas pelo pássaro depende apenas de seu próprio compor tamento respostas Esse esquema é chamado de re forço de razão Aqui o reforço é determinado apenas pelo número de bicadas emitidas desde o último re forço No primeiro exemplo cada bicada era reforça da É fácil mudar isso para que apenas cada 10ª ou 20ª bicada seja reforçada ou qualquer outro núme ro Esse seria o reforço de razão fixa Ou talvez o número pudesse variar aleatoriamente assim como os intervalos de tempo variavam no exemplo prévio de modo que o reforço poderia em média ser dado depois de cada quinta bicada mas na realidade es tar aleatoriamente distribuído em torno dessa média Em algumas tentativas a recompensa seria dada após a segunda ou terceira bicada e em outras após a sé tima ou oitava Esse seria um esquema de razão vari ável Os esquemas de razão são análogos à situação de uma pessoa que trabalha por tarefa ou comissão em que o pagamento depende apenas da eficiência e do esforço do trabalhador Em todos os sistemas e máquinas de jogos de azar está presente um esquema de razão variável Vale a pena notar que o processo de extinção é muito mais lento com esquemas de razão do que com esquemas de intervalo Além disso o re forço intermitente ou variável tende a tornar uma res posta aprendida mais resistente à extinção A importância dos vários esquemas é por um lado que eles apresentam correspondência com muitas si tuações de aprendizagem que interessam ao investi gador ou teórico da personalidade Por outro lado eles se relacionam a determinados padrões de aquisi ção e extinção das respostas que estão sendo aprendi das Skinner e seus associados trabalharam muito e sistematicamente para descrever os efeitos de uma grande variedade de esquemas Nós já comentamos algumas das diferenças entre os vários esquemas e há muitas outras generalizações às quais o leitor inte ressado pode ter acesso Ferster Skinner 1957 Skin ner 1969 Comportamento Supersticioso Para que uma resposta seja reforçada não é necessá rio que ela produza fisicamente o reforço Comumen te por propósitos experimentais é preparado um apa relho em que a resposta produz um reforço pelo seu efeito sobre o aparelho Isso garante que aquela res posta específica em que estamos interessados é a que será reforçada Mas nós poderíamos simplesmente dar o reforço de modo livre independentemente do comportamento do sujeito Suponha que operamos o depósito alimentador a cada dez ou quinze segundos Quando o depósito alimentador funcionar pela pri meira vez o pássaro estará envolvido em alguma se qüência específica de movimento talvez andando em círculos no centro da câmara O fato de o depósito alimentador surgir imediatamente após uma série de movimentos como esse garante que os movimentos serão repetidos logo depois embora aquele compor tamento não tenha produzido o reforço ele foi imedi atamente seguido pelo reforço Podemos ver facilmen te que essa diferença não seria relevante para as leis que relacionam as respostas ao reforço porque do ponto de vista do pombo não existe como determinar se uma resposta simplesmente foi seguida pela opera ção do depósito alimentador acidentalmente por as sim dizer ou se uma resposta causou a operação do depósito Suponha que a probabilidade de andar em círculos na gaiola aumente Isso significa que esse comportamento provavelmente estará ocorrendo quando o depósito for operado da próxima vez e as sim a seqüência será novamente reforçada Dessa maneira o comportamento de andar em círculos pode adquirir uma força considerável É improvável que o andar em círculos seja seguido pela operação do de pósito alimentador em todas as ocasiões em que ocor TEORIAS DA PERSONALIDADE 405 rer mas como vimos previamente o reforço intermi tente das respostas realmente contribui para a produ ção e manutenção de comportamentos extremamen te estáveis Esse tipo de condicionamento em que não existe nenhuma relação causal entre a resposta e o reforço às vezes é referido como comportamento superstici oso Skinner sugeriu que ele explica muitas das su perstições mantidas pelos humanos Os membros de uma tribo primitiva podem dançar alguma dança ri tualizada para fazer chover Em algumas ocasiões re almente acontece de chover após a dança Assim a dança da chuva é reforçada e tende a ser repetida Os nativos acreditam que existe uma conexão causal en tre a dança e a produção da chuva Na verdade a dança foi condicionada acidentalmente a chuva oca sionalmente seguese à dança O mesmo tipo de com portamento pode ser visto em pessoas supersticiosas que carregam amuletos da sorte pés de coelho e ou tros talismãs Pode inclusive acontecer no caso da pessoa supersticiosa que se distingue das menos su persticiosas o fato de ela ter tido em sua história de vida muitas situações de condicionamento acidental por simples acaso Um outro exemplo que pode ser visto sob essa mesma luz é o suposto poder da oração Ocasionalmente as preces são atendidas O condi cionamento acidental pode explicar uma maior fre qüência de orações sem que se suponha que as pre ces realmente produzem efeito O fato de um reforço casual seguindose a uma resposta ser suficiente para garantir o fortalecimento dessa resposta geralmente não é reconhecido e disso às vezes decorrem sérias conseqüências Por exemplo uma enfermeira trabalha em uma enfermaria de hos pital para crianças mentalmente perturbadas Uma de terminada criança parece ser relativamente normal e tranqüila a maior parte do tempo de modo que a en fermeira dirige sua atenção para outros pacientes e deveres Mas quando ela faz isso a criança talvez comece a gritar e a bater violentamente a cabeça con tra a parede A enfermeira provavelmente vai correr para junto da criança beijála e abraçála dizer pala vras tranqüilizadoras enfim ela responderá de uma maneira carinhosa enquanto diz à criança para não fazer aquilo Nessas condições não devemos nos sur preender se a freqüência dessa forma anormal de com portamento da criança aumentar em vez de diminuir durante sua estada na enfermaria Está muito claro que a resposta de gritar e bater a cabeça contra a pa rede é reforçada pela afeição por palavras carinhosas e contato físico ações que já há algum tempo foram estabelecidas como reforços positivos A enfermeira interpreta mal o efeito de seu próprio comportamen to Os pais agem igualmente quando só dão atenção a uma criança normal quando ela busca atenção cho rando ou de alguma maneira irritante ou antisocial Reforço Secundário Voltemos mais uma vez aos casos mais simples de con dicionamento operante em que as bicadas de um pom bo em um disco vermelho são reforçadas pela apre sentação de comida em um depósito alimentador Suponha que quando a resposta de bicar está firme mente estabelecida e o depósito alimentador cheio de comida foi apresentado várias vezes passemos a uti lizar uma nova resposta talvez a compressão de um pequeno pedal O pedal é inserido na câmara e o apa relho é programado para que uma compressão faça com que seja apresentado o depósito alimentador va zio Ao mesmo tempo o disco vermelho é coberto de modo que o pombo não pode vêlo e nem bicálo O que se descobriu é que o pombo então pressiona o pedal um grande número de vezes O que aconteceu é que a apresentação do depósito alimentador adqui riu propriedades reforçadoras na primeira parte do experimento quando foi consistentemente experien ciado como parte do complexo de estímulos associa do ao alimento Devido a essa associação o depósito alimentador se torna um reforço condicionado ou se cundário O depósito alimentador é um reforço por que sua apresentação aumenta a freqüência de emis são de uma resposta nesse caso a compressão de um pedal e é um reforço condicionado porque seu poder de fazer isso depende de sua associação com outro reforço A manutenção das propriedades reforçado ras do depósito alimentador também depende de uma continuada associação com outro reforço se a comi da é permanentemente omitida do depósito alimen tador suas propriedades reforçadoras condicionadas se extinguem e a freqüência da compressão do pedal diminui Entretanto essas propriedades podem facil mente ser restauradas emparelhandose novamente o depósito alimentador com a comida Skinner acreditava que os reforços condicionados ou secundários são muito importantes no controle do 406 HALL LINDZEY CAMPBELL comportamento humano É óbvio pelo menos nas sociedades ocidentais afluentes que nem toda ação é mantida pela apresentação de reforços incondiciona dos ou primários como comida água e sexo Com base na experimentação animal que demonstrou que os estímulos podem adquirir propriedades reforçadoras é possível concluir que grande parte do comportamen to humano depende de reforços condicionados O exemplo mais comum de um reforço condicionado é o dinheiro O dinheiro é um bom exemplo não só por que ele claramente não possui nenhum valor intrínse co mas também porque ele é um reforço condiciona do generalizado Ele foi emparelhado com vários reforços incondicionados ou primários diferentes e portanto é reforçador em uma grande variedade de impulsos O efeito reforçador extremamente genera lizado do dinheiro baseiase no fato de ele estar asso ciado a um número imenso de outros reforços A no ção de reforço condicionado é importante no sistema de Skinner e como veremos mais adiante ele a usou efetivamente para explicar a manutenção de muitas respostas que ocorrem como parte de nosso compor tamento social Generalização e Discriminação de Estímulo A noção de generalização de estímulo também é im portante no sistema de Skinner como em todas as teorias da personalidade que se derivam da teoria da aprendizagem Nos experimentos com pombos que descrevemos o pombo bicava um disco vermelho Um outro experimento que pode ser realizado depois que a resposta ao disco vermelho se estabilizou é a mani pulação da cor do disco por meio de um espectro de comprimento de onda Se isso for feito ocorre uma mudança bemordenada no ritmo de bicadas À me dida que a cor projetada no disco se afastar da cor que o pássaro foi treinado para bicar o ritmo de res posta diminui Com cores que estão bem próximas ao vermelho no espectro o ritmo de bicar do pássaro é quase tão alto como o ritmo de bicadas no vermelho Poderiam ser mudados outros aspectos da situa ção além da cor do disco e na maioria dos casos ob teríamos o mesmo efeito Talvez o brilho das luzes que iluminam a câmara ou a forma do estímulo pu dessem mudar Novamente ocorreria um declínio sis temático no ritmo de resposta à medida que o estí mulo se afastasse cada vez mais de seu estado origi nal Esse fenômeno é importante por várias razões Primeiro ele mostra que uma resposta pode ser emi tida em uma situação que é levemente diferente da quela em que foi originalmente reforçada Segundo ele demonstra que a magnitude daquela resposta so fre certo decréscimo em uma situação assim modifi cada e se a situação é suficientemente diferente da situação de treinamento a resposta não vai ocorrer Nenhuma pessoa vive duas vezes exatamente a mes ma situação Entretanto uma situação no mundo real pode ser levemente diferente de uma outra situação e ainda produzir o mesmo reforço para a mesma res posta Assim é adaptativo que a situação de estímulo original seja generalizada para a nova situação Se os animais não mostrassem generalização de estímulo nunca se manifestaria a aprendizagem Por outro lado é claramente nãoadaptativo que um animal generali ze completamente de uma situação para todas as ou tras As situações muito diferentes de fato exigem res postas comportamentais bem diferentes Se ocorresse uma generalização de estímulos total e o animal trans ferisse uma resposta para todas as situações indepen dentemente de sua semelhança com a situação origi nal ocorreriam constantemente respostas inadequa das Na verdade não haveria nenhuma aprendizagem e nenhuma razão para supormos que ocorreria uma determinada resposta em vez de outra Assim é im portante que a pessoa apresente discriminação de estí mulo Observe que Skinner não definiu generalização de estímulo e nem discriminação de estímulo em ter mos de processos perceptuais ou outros processos in ternos Ele definiu cada uma em termos de medidas de resposta em uma situação experimental bemcon trolada Na extensão em que a resposta é mantida em uma nova situação existe certo grau de generaliza ção de estímulo Na extensão em que a resposta é re duzida ou enfraquecida existe discriminação de estí mulo O animal discrimina deixa de responder na presença dos novos estímulos na extensão em que ele deixa de generalizar responde de fato aos novos estímulos A discriminação de estímulo pode normalmente ser aumentada apresentandose ao animal um deter minado estímulo como por exemplo o disco verme lho na presença do qual a resposta continua sendo reforçada e depois apresentandose ao animal um TEORIAS DA PERSONALIDADE 407 outro estímulo como por exemplo um disco verde na presença do qual a resposta não é reforçada Res ponder na presença do disco vermelho é mantido pela ação do reforço enquanto responder na presença do disco verde embora talvez começando em um ritmo elevado generalizado é extinto O procedimento sim plesmente mostra que o controle de estímulo do bicar pode ser consideravelmente aumentado pelo treina mento apropriado Comportamento Social A maioria dos aspectos da personalidade é demons trada em um contexto social e o comportamento so cial é uma característica muito importante do com portamento humano em geral Nós agora examinare mos o comportamento social nos humanos para com preender como Skinner usou os achados de seu refi nado trabalho experimental com animais inferiores para chegar a certas conclusões sobre o desenvolvi mento da personalidade nos seres humanos Primei ro devemos notar que Skinner não atribuiu nenhuma importância especial ao comportamento social como distinto de outros comportamentos O comportamen to social se caracteriza apenas pelo fato de envolver uma interação entre duas ou mais pessoas À parte disso ele não é considerado distinto de outros com portamentos porque Skinner acreditava que os prin cípios que determinam o desenvolvimento do com portamento em um ambiente cercado por objetos inanimados ou mecânicos também determinam o com portamento em um ambiente cercado por objetos ani mados Em cada caso o organismo em desenvolvimen to interage com o ambiente e como parte dessa interação recebe um feedback que reforça positiva ou negativamente ou pune aquele comportamento Tal vez as respostas sociais e os reforços apropriados a elas sejam um pouco mais sutis ou difíceis de identifi car do que o comportamento que ocorre em situações nãosociais mas isso em si mesmo não indica nenhu ma diferença importante entre os dois tipos de res posta Um ponto interessante acerca do comportamento social contudo é que os reforços que uma pessoa re cebe em geral dependem inteiramente do seu output comportamental Ao discutir o condicionamento no pombo nós observamos que foram construídos esque mas de razão de modo que o ritmo de reforço do pom bo pudesse aumentar indefinidamente com um output cada vez maior de respostas O comportamen to social é mais freqüentemente reforçado segundo o princípio de razão Uma criança é recompensada por permanecer quieta com balas ou com um reforço con dicionado como afeição ou um sorriso e quanto mais a criança permanecer quieta mais ela será reforçada Na sociedade adulta normalmente somos reforçados por sermos educados Um aperto de mão ou uma sau dação amigável tendem a produzir o reforço social de um gesto amistoso por parte do outro e em alguns casos pode levar a um emprego melhor ou a uma elevação no status social Quando falamos sobre certos aspectos da perso nalidade de uma pessoa no contexto do comporta mento social comumente nos referimos a esquemas gerais de comportamento ao invés de respostas espe cíficas Mas até o momento ao examinar o sistema de Skinner temos considerado apenas o desenvolvimen to de respostas específicas como pressionar uma ala vanca ou falar uma determinada palavra ou frase Como isso está envolvido no entendimento de uma personalidade submissa ou de uma ansiosa ou ainda de uma agressiva Skinner argumentaria que os ter mos normalmente utilizados para descrever os traços de personalidade só têm significado porque são basi camente redutíveis à descrição de um intervalo de respostas específicas que tendem a ser associadas em um certo tipo de situação Assim para determinar se uma pessoa é socialmente dominante observamos como ela conversa em um grupo como interage com vários indivíduos como responde a diversos itens es pecíficos descrevendo situações relevantes e assim por diante e chegamos a uma avaliação ou julgamen to globais Cada uma das respostas específicas nos diz algo sobre a dominância da pessoa O fato de respos tas específicas tenderem a estar associadas em certas situações provavelmente depende de seu reforço se letivo como grupo Uma pessoa adquire o traço geral de dominação porque algum grupo talvez a família valorizou muito uma classe de respostas ao dar refor ço As respostas também tendem a estar associadas por serem funcionalmente intercambiáveis Uma pes soa que encontramos pela primeira vez se comporta de maneira amistosa e tende a ser reforçada da mes ma maneira seja qual for a resposta emitida Em mo mentos anteriores cada resposta nesse tipo de situa 408 HALL LINDZEY CAMPBELL ção pode facilmente ter sido reforçada com igual fre qüência Por causa disso todas as respostas tenderão a ocorrer na presente ocasião e a diferença em seus estímulos controladores que provocam a emissão de uma certa resposta e não de outra pode ser tão sutil que na prática não podemos predizer a ocorrência de uma determinada resposta Nesses casos nos limi taríamos a predizer as características gerais do com portamento que esperamos que aconteça É interessante observar que a mesma situação não produz necessariamente o mesmo comportamento em diferentes indivíduos Um exemplo disso ocorre com os empregados que querem pedir um aumento ao che fe Uma pessoa pode apresentarse de maneira agres siva e outra de forma muito amistosa até obsequiosa Se examinarmos o background da pessoa que reage agressivamente no escritório do seu superior vamos descobrir que o comportamento agressivo foi reforça do com muita freqüência na história desse indivíduo e provavelmente reforçado em uma grande varieda de de situações No caso do outro indivíduo o com portamento agressivo pode ter sido punido por con seqüências aversivas e o comportamento obsequioso pode ter sido reforçado positivamente Na extensão em que as situações prévias que geraram esses com portamentos são semelhantes à situação em que os empregados pedem aumento esperamos que as duas categorias de comportamento diferentes e opostas estejam em evidência Evidentemente nessa situação só uma das abordagens pode funcionar talvez só a pessoa obsequiosa consiga o aumento O comporta mento dessa pessoa vai então ser reforçado enquan to o da pessoa agressiva não será reforçado Entretan to o jeito agressivo do indivíduo nãoreforçado pode sofrer uma pequena mudança A maior parte do com portamento fora do laboratório só é reforçada inter mitentemente e como vimos no caso do pombo o reforço intermitente gera um comportamento muito estável e persistente É quase certo que a história de reforço no indivíduo agressivo foi intermitente e pro vavelmente será menor a amplitude da extinção do comportamento agressivo que ocorre em resultado do nãoreforço Igualmente se os dois indivíduos pedis sem aumento em outras circunstâncias talvez para um outro empregador a abordagem agressiva pode ria ser a bemsucedida revertendo assim as contin gências do reforço Isso ergue um outro fator compli cador Um indivíduo pode mostrar uma capacidade muito maior de discriminação entre os dois tipos de empregador e ajustar o seu comportamento para que seja mais apropriado a diferentes situações Podería mos dizer que essa pessoa tem a capacidade de avali ar os outros e ajustar seu comportamento de acordo com tal avaliação No sistema de Skinner os proces sos envolvidos nisso seriam os de reforço diferencial e discriminação Comportamento Anormal Não surpreendentemente muitos psicólogos clínicos adotaram a abordagem e as atitudes básicas caracte rísticas de Skinner Eles descobriram que essa estru tura pode ser usada para se compreender o compor tamento normal e também pode ser aplicada ao estudo e controle do comportamento patológico Quando pla nejamos um programa para o tratamento do compor tamento anormal nós supomos que o comportamen to anormal segue os mesmos princípios de desenvolvi mento do comportamento normal Skinner afirmou muitas vezes que a meta é simplesmente substituir o comportamento anormal pelo normal e isso pode ser feito pela manipulação direta do comportamento Ao lidar com o comportamento anormal Skinner não apelava para as ações ou desejos reprimidos crise de identidade conflitos entre o ego e o superego ou ou tros constructos pois os considerava uma ficção ex planatória Em vez disso ele tentava modificar o com portamento indesejável pela manipulação do ambiente de uma maneira determinada pelas técnicas de con dicionamento operante e respondente Suponha que um soldado de início medianamen te corajoso é baleado em uma batalha Ele é hospita lizado e depois de se recuperar é enviado mais uma vez para a linha de frente Quando isso acontece o soldado fica com um braço paralisado ou cego Um exame físico não revela nenhuma deficiência signifi cante nos nervos e nos músculos do braço ou no equi pamento sensorial Entretanto essa incapacidade fí sica aparentemente sem causa tem o efeito de liberar o soldado de sua obrigação de ir para a linha de fren te pois cegueira ou paralisia garantem que ele seja enviado para um hospital ou fique em um cargo rela tivamente inativo Skinner analisaria tal situação de modo muito sim ples O ferimento sofrido pelo soldado é adverso e portanto tem propriedades negativamente reforçado TEORIAS DA PERSONALIDADE 409 ras Isto é é um estímulo cuja retirada aumenta a magnitude da resposta que se segue imediatamente É bastante óbvio que o ferimento é esse tipo de estí mulo pois é razoável esperar por exemplo que quan do o soldado está no hospital ele se comporte de ma neira a curar o ferimento o mais rápido possível Ao cumprir as ordens do médico o soldado realmente escapa do ferimento Também podemos esperar dado o princípio do condicionamento clássico ou respon dente que os estímulos associados ao início do feri mento tenham passado a possuir algumas de suas pro priedades negativas Um estímulo associado ao início de um reforço negativo se torna um reforço negativo condicionado Podemos voltar a um experimento simples com animais para uma analogia Suponha que um rato está preso em uma gaiola com um piso de grade que pode ser eletrificado O rato recebe um choque por meio do piso de vez em quando e o choque só cessa quan do o rato pula sobre um pequeno obstáculo que divi de a gaiola Nós logo descobrimos que a resposta de pular sobre o obstáculo seguese rapidamente ao iní cio do choque elétrico Isso acontece porque cada pulo sobre o obstáculo que a princípio só acontece depois de muita ação aleatória é reforçado pelo término de um reforço negativo e tendo sido assim reforçado ocorre mais facilmente em ocasiões subseqüentes Um reforço negativo condicionado pode ser estabelecido muito facilmente Uma campainha é introduzida na situação de modo que seu início precede cada cho que por alguns segundos Isso será suficiente para as segurar que a campainha adquira propriedades refor çadoras condicionadas Mas para tornar mais completa a analogia com o caso do soldado o progra ma experimental é mudado de modo que um pulo sobre o obstáculo seguindose ao início da campai nha silencia a campainha e faz com que não aconte ça o choque que ocorreria subseqüentemente Nessa situação é provável que o rato termine pulando so bre o obstáculo em quase todas as ocasiões em que a campainha soar Isso leva à evitação do choque En tretanto podemos analisar o comportamento do rato sem referência à evitação supondo que a campainha se tornou um reforço negativo condicionado pelo pro cesso de condicionamento clássico e que pular sobre o obstáculo é a resposta reforçada pelo término do reforço negativo Assim como podemos descrever o rato como escapando do choque na situação original também podemos descrevêlo como escapando da campainha na situação modificada Uma vez que o caso do soldado é análogo a esse podemos ver que os estímulos associados ao evento de ter sido baleado na batalha adquiriram proprieda des reforçadoras negativas Assim o soldado prova velmente comportarseia de modo a fazer cessar tais estímulos Um tipo de comportamento assim reforça do seria a resposta de simplesmente recusarse a vol tar para a área de batalha Isso poderia ser interpreta do como uma fuga dos estímulos associados à batalha mas em linguagem comum provavelmente seria des crito como evitação de possíveis ferimentos futuros É muito provável que o comportamento de fuga leve à rejeição social eou à corte marcial com conse qüências aversivas que em si mesmas constituiriam uma punição como uma longa sentença de prisão ou talvez inclusive a pena de morte Assim quando o soldado começa a tomar o caminho óbvio da fuga a desobedecer ordens seu comportamento embora le vando à fuga dos estímulos aversivos associados ao seu ferimento iria em si mesmo produzir outros estí mulos aversivos baseados nas conseqüências da corte marcial ou da rejeição social O comportamento se guido por um aumento da estimulação aversiva tende a diminuir em freqüência nós dizemos que esse com portamento diminui em freqüência porque é punido O caminho que envolve a desobediência de ordens portanto provavelmente não será seguido O que vai acontecer é que vai surgir algum comportamento que fará cessar os dois conjuntos de reforços negativos e tal comportamento será reforçado e mantido Uma paralisia do braço ou uma cegueira satisfazem essas condições porque na maioria dos exércitos o solda do não é considerado responsável por esses padrões de comportamento e seu surgimento não é punido Escolher essa rota é uma decorrência direta de um exame dos princípios formulados por Skinner Observe que na análise acima não há nenhuma referência ao que o soldado está pensando sentindo ou tentando fazer Também não existe nenhuma men ção a processos conscientes ou inconscientes ou a pro cessos fisiológicos A análise utiliza as leis do condici onamento respondente clássico e operante e depende apenas de operações e comportamentos ob servados Ela não recorre a variáveis operando em um nível diferente do comportamental ou a qualquer tipo de constructo teórico hipotético 410 HALL LINDZEY CAMPBELL Surge então a pergunta de como o soldado pode ser curado Há várias maneiras gerais de eliminar muitas variedades de comportamento anormal Vol temos ao experimento do rato Suponha que o apare lho seja agora programado para que a campainha con tinue a soar regularmente mas não seja mais seguida por um choque elétrico independentemente do com portamento do animal Quando é introduzida essa mudança e a campainha soa pela primeira vez o rato pula o obstáculo e o som da campainha cessa Mas após algumas repetições não ocorre o pulo e não ocorre nenhum choque A situação pode ser analisa da desta maneira quando a campainha soa regular mente e não é seguida por um choque como ocorre quando o rato faz terminar o som da campainha e evita o choque ou quando o choque é descontinuado as propriedades aversivas condicionadas da campai nha se reduzem Lembre que ao discutir o condicio namento clássico foi salientado que a resposta sali var condicionada se extinguia se o som da campainha não fosse seguido pela apresentação da carne Igual mente na presente situação as propriedades reforça doras negativas classicamente condicionadas do som da campainha extinguirseão se ela não for seguida pelo choque Então uma vez que as propriedades re forçadoras condicionadas do som da campainha es tão sendo reduzidas é menos provável que ocorra a resposta operante de terminála porque essa respos ta só está sendo reforçada pelo término de um refor ço negativo cuja força está diminuindo gradualmen te O problema com esse tipo de método é que a extinção da resposta de esquiva em geral é extrema mente lenta O animal pode pular o obstáculo por cen tenas ou milhares de tentativas depois que o choque foi interrompido Solomon Kamin Wynne 1953 Da mesma forma se o soldado fosse exposto aos estí mulos associados à batalha sem um reforço negativo incondicionado subseqüente esses estímulos perderi am suas propriedades negativamente reforçadoras e a paralisia ou a cegueira extinguirseiam Entretan to é muito improvável que o soldado se disponha voluntariamente a voltar ao campo de batalha Uma abordagem alternativa a esse problema é impedir que ocorra a resposta de esquiva um proce dimento às vezes chamado de inundação Baum 1970 Se for construída uma barreira de modo que o rato não possa pular o obstáculo a campainha vai soar sem o choque e as propriedades aversivas condicio nadas da campainha extinguirseão rapidamente Da mesma maneira exigir que o soldado volte para o campo de batalha apesar de sua paralisia ou cegueira deve fazer com que as propriedades aversivas dos es tímulos do campo de batalha se extingam caso não ocorra nenhum outro evento aversivo incondiciona do Uma outra maneira de curar o soldado é modelar alguma outra resposta que não seja considerada anor mal e termine com o reforço negativo condicionado Por exemplo o soldado poderia ser autorizado a des ligarse do exército sem medo de uma penalidade Seguindose a isso a paralisia de seu braço presumi velmente desapareceria Ou poderia ser dito ao sol dado que ele vai ser colocado em um cargo inativo independentemente da condição de seu braço Isso seria funcionalmente equivalente a um desligamento Em qualquer caso o soldado escapa do reforço nega tivo condicionado sem ter de dar as respostas que re sultam em paralisia Uma cura que provavelmente não teria sucesso seria punir o soldado Suponha que o soldado fosse punido sempre que a paralisa mostrasse sinais de pio ra Nesse caso a paralisa poderia desaparecer mas apenas para ser substituída por alguma outra respos ta igualmente anormal A razão para a ocorrência de uma nova resposta seria igual àquela que explica a ocorrência da paralisia Seria uma resposta como ce gueira ou mudez cuja força estaria aumentada por que sua ocorrência seria seguida pelo término do re forço negativo ser mandado de volta ao campo de batalha A punição provavelmente não funcionaria porque não resultaria na substituição de uma respos ta anormal por uma normal nem extinguira as pro priedades reforçadoras condicionadas dos estímulos associados à batalha Tem sido muito freqüente a crítica a Skinner de que o tipo de análise da anormalidade e sua cura pela psicoterapia é a análise e a cura dos sintomas ao in vés das causas As causas internas mentais ou fisioló gicas são negligenciadas e só o sintoma é tratado Tal terapia parece desconsiderar as forças subjacentes que então exercem sua influência por meio de alguma outra saída comportamental Entretanto observe que essas curas podem se revelar inadequadas porque o psicoterapeuta não conseguiu compreender bem os princípios da modificação de comportamento ou não examinou apropriadamente a história do paciente para TEORIAS DA PERSONALIDADE 411 determinar os antecedentes do comportamento inde sejável Na verdade as evidências em relação à subs tituição de sintomas nessas condições indicam que esse resultado não é muito provável Krasner Ullmann 1965 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Nós já examinamos vários aspectos nos quais o traba lho de Skinner e seus seguidores se desvia da norma contemporânea Entre essas características estão o estudo intensivo de sujeitos individuais o controle automatizado das condições experimentais e o regis tro das respostas dos sujeitos e um foco em eventos comportamentais simples que podem ser modificados com manipulação ambiental apropriada Aqui nós ampliaremos certos aspectos dessa abordagem e apre sentaremos algumas ilustrações de programas de pes quisa executados por Skinner e seus alunos Existem vários livros excelentes para quem quiser examinar a pesquisa de Skinner e seus seguidores com mais deta lhes incluindo volumes editados por Honig 1966 e Honig e Staddon 1977 assim como os de Skinner Cumulative Record 1966 e Notebooks 1980 Já foi observada a ênfase de Skinner na experi mentação com o sujeito individual Associada a isso está a eliminação de influências indeterminadas que poderiam afetar o comportamento do sujeito Outros experimentadores que trabalham com animais e cujo interesse maior está no processo de aprendizagem usam tipicamente grupos grandes de animais em seus experimentos Isso permite que não se preocupem muito com variáveis nãocontroladas desde que este jam distribuídas aleatoriamente Skinner argumenta va que se existem variáveis nãocontroladas que afe tam o comportamento elas não devem ser negligencia das pois merecem ser estudadas como qualquer ou tra variável Além disso Skinner acreditava que a nossa meta deveria ser o controle de comportamento do sujeito individual Se grandes grupos de animais têm de ser usados no experimento isso é para Skinner uma admissão de fracasso Se os efeitos de uma manipula ção intencional de uma variável independente obvia mente estão sendo mascarados por uma grande quan tidade de ruído ou variabilidade aleatória isso mostra claramente que não está havendo um contro le adequado Nessas condições Skinner deixaria de lado a idéia de manipular a variável independente original pelo menos no momento e tentaria em vez disso descobrir as variáveis ocultas que estão causan do a variabilidade Tal investigação pode nos fazer compreender melhor as variáveis controladoras por si mesmas e se bemsucedida pode nos dar uma idéia de como reduzir a variabilidade que se impôs Então poderemos dedicar novamente a nossa atenção aos efeitos da variável original e a experimentação pode prosseguir em condições mais organizadas Uma vez obtida a estabilidade de uma resposta um teórico do reforço operante típico determinaria uma linha de base em comparação com a qual avaliar as mudanças de resposta que poderiam ocorrer em resultado da manipulação de uma variável indepen dente Usualmente a linha de base consiste em um registro da freqüência de emissão de uma resposta simples como bicar um disco ou no caso do rato pres sionar uma alavanca Por exemplo um experimenta dor poderia treinar um pombo para bicar um disco e depois manter a resposta com um esquema de reforço intermitente Descobriuse que isso produz freqüên cias de resposta de linha de base estáveis duráveis e também bastante sensíveis aos efeitos de variáveis introduzidas Uma variável que pode ser introduzida por exemplo é um breve período de ruído intenso concomitante ao bicar Os efeitos disso seriam medi dos como uma mudança na freqüência de bicadas Provavelmente a freqüência de bicadas diminuiria durante a primeira apresentação do ruído mas com sucessivas apresentações ele diminuiria cada vez menos e depois finalmente não seria mais afetado O experimento seria relatado como mostrando os efei tos da variável independente de ruído sobre a variá vel dependente da resposta de bicar Esse exemplo sim ples ilustra o método geral de experimentação tipicamente empregado Na prática talvez fosse impossível gerar padrões estáveis de resposta em sujeitos individuais Mas Skin ner foi extremamente bemsucedido em atingir esse objetivo Devido à sua ênfase na experimentação com sujeitos individuais ele conseguiu reduzir substanci almente fontes nãocontroladas de influência sobre sujeitos experimentais Isso se deve parcialmente ao uso da caixa de Skinner à prova de som e com luz controlada para abrigar sujeitos durante o experimen 412 HALL LINDZEY CAMPBELL to Esse invento simples isola o organismo de modo muito efetivo de influências que não são diretamente controladas pelo experimentador Uma área em que a influência de Skinner tornou se pronunciada é a da psicofarmacologia ou o estudo de drogas e do comportamento A caixa de Skinner revelouse um instrumento admirável para todos os tipos de trabalho preciso envolvendo a observação do comportamento após a administração de agentes farmacológicos Suponha que os efeitos comportamen tais de uma determinada droga estejam sendo inves tigados Um rato é treinado primeiro para pressionar uma alavanca na caixa de Skinner sendo reforçado ao pressionar a alavanca segundo um esquema de re forço intermitente Após algumas sessões desse trei namento a freqüência de pressões na alavanca se tor na estável Ele não varia muito entre as sessões ou na mesma sessão A droga é então administrada ao rato antes do início de uma nova sessão e durante o curso daquela sessão são determinados o tempo que a dro ga leva para fazer efeito seu efeito sobre o comporta mento e a duração desse efeito E tudo isso pode ser feito com um único sujeito experimental embora co mumente sejam feitas replicações Em estudos psico farmacológicos foram estudados os efeitos de drogas sobre o comportamento regulador percepção medo esquiva e resposta apetitiva entre outros A caixa de Skinner permite que o experimentador investigue isso independentemente em condições básicas muito se melhantes Até o presente momento nenhum méto do de experimentação animal chegou perto do usado pelos skinnerianos para isolar determinados aspectos do comportamento e estudar os efeitos das drogas sobre eles Um exemplo significativo da aplicação de técni cas de condicionamento operante em um hospital para doentes mentais é oferecido por uma série de estudos de Ayllon e Azrin 1965 1968 Esses investigadores trabalhando com um grupo de psicóticos crônicos con siderados nãoresponsivos aos métodos convencionais de terapia e sem possibilidade de alta conseguiram estabelecer uma economia de vales efetiva para manipular o comportamento dos pacientes de uma maneira socialmente desejável O procedimento ge ral envolvia identificar alguma forma de resposta tal como alimentarse satisfatoriamente ou executar al guma tarefa e depois associar a resposta desejada com algum reforço O termo economia de vales se refere ao fato de terem sido introduzidos vales como refor ços condicionados diminuindo o tempo entre a res posta desejada emitida e a apresentação do reforço incondicionado cigarros cosméticos roupas ir a um cinema interação social privacidade etc Ayllon e Azrin conseguiram mostrar que quando um determi nado tipo de resposta tal como concluir uma tarefa designada era associado a um reforço condicionado o pagamento do vale tal resposta podia ser manti da em uma freqüência elevada mas que quando o reforço era removido a freqüência de respostas caía imediatamente embora pudesse ser reinstalado res taurandose a contingência de reforço Eles dizem Os resultados dos seis experimentos demonstram que o procedimento de reforço foi efetivo para manter o desempenho desejado Em cada experi mento o desempenho caiu a um nível próximo de zero quando a relação estabelecida entre a res posta e o reforço foi descontinuada Por outro lado a reintrodução do procedimento de reforço man teve efetivamente o desempenho tanto dentro quanto fora da enfermaria experimental 1968 p 268 Economias de vales ou fichas também têm sido usadas extensivamente em ambientes de sala de aula com populações variadas crianças normais delinqüen tes e crianças gravemente retardadas Os vales podem premiar comportamentos adequados em sala de aula como permanecer sentado prestar atenção e concluir tarefas Os vales mais tarde são trocados por balas cinema períodos de brincadeiras livres ou qualquer reforço que uma determinada criança valorize Ka zdin Bootzin 1972 Os resultados desses e de mui tos outros estudos deixam claro que o uso sistemático e hábil de reforços pode produzir mudanças compor tamentais dramáticas e benéficas mesmo nas pessoas seriamente perturbadas Além disso tais mudanças são altamente legítimas e adaptamse exatamente ao que os princípios do condicionamento operante nos levam a esperar Muitos desses princípios foram empregados por Lovaas e seus colegas em suas tentativas de ensinar a linguagem a crianças autistas Lovaas Berberich Per loff Schaefer 1966 As crianças autistas normal mente não se empenham em nenhuma forma de co municação e apresentam comportamentos bizarros e muitas vezes autodestrutivos Lovaas e colaboradores TEORIAS DA PERSONALIDADE 413 usaram a punição para eliminar comportamentos de automutilação e procedimentos de extinção para eli minar outros comportamentos indesejáveis mas me nos perigosos O programa de treinamento da lingua gem baseiase nos conceitos de modelagem reforço generalização e discriminação Por exemplo uma cri ança pode inicialmente ser recompensada com um pedaço de doce por uma vocalização Essas vocaliza ções são então moldadas em uma palavra boneca por exemplo Depois que várias palavras foram apren didas dessa maneira é feito um treinamento da dis criminação para ensinar a criança a produzir cada pa lavra boneca caminhão etc na presença do objeto estímulo apropriado A criança é ensinada por vários instrutores diferentes em um esforço para promover a generalização dos hábitos de linguagem para outros indivíduos Os procedimentos são lentos e tediosos mas habilidades de linguagem cada vez mais comple xas podem ser ensinadas dessa maneira Esses pro gramas de treinamento apresentam alguns problemas e os relatos de seguimentos são mistos Em geral as crianças que viviam com as famílias continuaram a melhorar ao passo que aquelas colocadas em institui ções às vezes voltaram aos seus comportamentos au tistas Apesar dessas dificuldades todas as crianças mostraram alguma melhora em seu comportamento como resultado do treinamento Lovaas Koegel Sim mons Long 1973 Uma das aplicações mais incomuns da abordagem operante foi feita pelo próprio Skinner 1960 em uma tentativa de desenvolver um meio de controlar a trajetória de um míssil Durante a Segunda Guerra Mundial e por dez anos mais foi executada uma vari edade de estudos financiados pelo governo para de monstrar se seria possível usar pombos como um meio de orientar um míssil até um alvo predeterminado Essa fantasia de ficção científica não envolvia nada além do uso de técnicas operantes para treinar um ou mais pombos Os sujeitos eram ensinados a respon der bicando um estímulo padronizado que represen tava o alvo do míssil um navio um setor de uma cidade ou um perfil de terra Quando o míssil estava no alvo o pombo bicaria o centro da área em exibi ção onde a imagem era apresentada e isso faria o míssil continuar em seu presente curso Quando o míssil se desviava as bicadas do pombo seguindo a imagem do alvo iriam para outra parte da área em exibição e isso ativaria um sistema de controle que ajustaria o curso do míssil Assim digamos quando o alvo se movesse para a esquerda e o pombo bicasse uma área à esquerda do centro o míssil viraria para a esquerda Os investigadores descobriram que seguin do esquemas apropriados de reforço os pombos bica vam acuradamente rapidamente e por períodos sur preendentemente longos de tempo A fim de minimizar a possibilidade de erro eles planejaram inclusive sis temas de orientação múltiplos que envolviam três ou sete pombos Embora os pombos nunca orientassem mísseis reais até alvos reais seu desempenho simula do foi tal que Skinner afirmou O uso de organismos vivos para orientar mísseis parece justo dizer não é mais uma idéia maluca Os pombos são mecanismos extraordinariamente sutis e complexos capazes de desempenhos que no momento podem ser igualados a equipamen tos eletrônicos só que de peso e tamanho bem maiores e podem ser usados confiavelmente de acordo com os princípios que emergiram da aná lise experimental de seu comportamento 1960 p 36 PESQUISA ATUAL Nós já mencionamos vários exemplos da grande vari edade de pesquisas geradas e provocadas por Skin ner Em vez de tentar catalogar essa pesquisa ou a evolução do comportamentalismo nos últimos anos sugerimos que o leitor procure outros livros de Domjan 1996 e Schwartz e Robbins 1995 para discussões atuais da teoria da aprendizagem Rachlin 1991 1994 e Donahoe e Palmer 1994 para discussões de abordagens contemporâneas nãocognitivas selecio nistas ao comportamento e Pearce 1987 e Schwartz e Lacey 1982 para relatos sobre a cognição animal derivados da posição de Skinner Além disso o leitor interessado pode consultar o Journal of the Experimen tal Analysys of Behavior e o Journal of Applied Behavi or Analysys Um dos componentes do trabalho de Skinner merece ser discutido aqui porque revela muito sobre sua posição seu ataque à irrefutabilidade da ciência cognitiva e ao movimento cognitivo dentro da psico logia Em um artigo concluído na noite anterior à sua 414 HALL LINDZEY CAMPBELL morte Skinner descreveu a distinção entre a fisiolo gia que nos diz como o corpo funciona e as ciências da variação e seleção que nos dizem por que aquele corpo funciona daquela maneira 1990 p 1208 As ciências da variação e seleção incluem a etologia que trata da seleção natural do comportamento das espé cies a análise do comportamento que trata do condi cionamento operante do comportamento de um indi víduo e a antropologia que trata da evolução do ambiente social Em uma análise científica do com portamento as histórias de variação e seleção de sempenham o papel do iniciador Não há lugar em uma análise científica do comportamento em uma mente ou self Skinner 1990 p 1209 São as con tingências de reforço as responsáveis pelo comporta mento e aqueles que adotam uma abordagem cogni tiva atribuem erroneamente a responsabilidade a agências internas A analogia que Skinner empregou é a ciência de criação que segundo ele interfere com o ensino adequado da biologia De acordo com Skin ner a ciência cognitiva é a ciência de criação da psi cologia à medida que luta para manter a posição de uma mente ou self 1990 p 1209 Os psicólogos adotaram uma referência ao con trole pessoal a partir de uma definição própria de sua área obscurecendo nesse processo as contingências de reforço que de fato controlam o comportamento O comportamento não resulta de pensamentos senti mentos intenções decisões ou escolhas como na psi cologia cognitiva os comportamentalistas examinam os eventos antecedentes no ambiente e as histórias ambientais da espécie e do indivíduo O ambiente seleciona o comportamento Skinner 1985 p 291 As pessoas não armazenam representações e não pro cessam informações Skinner preferia a analogia de uma bateria de armazenamento ou acumulador Nós mudamos uma bateria quando a carregamos mas não colocamos eletricidade nela Da mesma forma os or ganismos não possuem e não recuperam comporta mentos eles se comportam de várias maneiras em função das experiências que os alteraram O conheci mento e as expectativas aos quais os cientistas cogni tivos se referem assim como aqueles supostos esta dos como desejos necessidades e sentimentos são substitutos atuais da história do reforço Skinner 1985 p 296 ver também Skinner 1977a 1989 Skinner jogou muito bem o jogo da ciência na ausên cia de qualquer demonstração da utilidade dos esta dos e processos sua parcimoniosa referência ao con trole ambiental do comportamento representa uma poderosa hipótese rival para modelos baseados na existência dessas causas internas STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Está claro que Skinner concordaria com os teóricos da personalidade mais idiográficos em sua ênfase na importância de estudar os indivíduos detalhadamente e propor leis que se apliquem inteiramente ao sujeito isolado e não apenas a dados de grupo Relacionado a essa ênfase no indivíduo está o fato de que os acha dos relatados por Skinner e seus alunos apresentam um grau de legitimidade ou regularidade exata virtu almente sem paralelo entre os psicólogos A combina ção de ótima técnica de laboratório e controle experi mental exato com o estudo de sujeitos individuais representa uma extraordinária realização Aqueles que enfatizam o estudo do indivíduo geralmente carecem de rigor e de achados experimentais Uma realização notável desse grupo é seu estudo sistemático dos esquemas de reforço Seus volumosos achados nessa área constituem a base empírica para se predizer a aquisição e a extinção de respostas apren didas com uma exatidão muito maior do que era pos sível previamente Além disso suas classificações de diferentes tipos de esquemas possibilitaram generali zações para uma ampla variedade de situações e su jeitos As pesquisas subseqüentes nessa tradição têm buscado uma exatidão ainda maior por meio de aná lises matemáticas das freqüências de comportamento em diferentes esquemas de reforço Herrnstein 1970 Devemos observar que os resultados da pesquisa so bre esquemas de reforço são de crucial importância para todos os teóricos e investigadores da aprendiza gem independentemente de adotarem a abordagem de Skinner O vigor a clareza e o caráter explícito da posição de Skinner tornam relativamente fácil identificar os aspectos elogiáveis da teoria e aqueles que seriam objetáveis Ninguém jamais poderia acusar Skinner de tentar evitar controvérsias ou amenizar diferenças com seus contemporâneos Se existem diferenças sig TEORIAS DA PERSONALIDADE 415 nificativas entre Skinner e os outros teóricos impor tantes podemos ter certeza de que elas foram salien tadas e a sua posição vigorosamente defendida Talvez a crítica mais comum a Skinner e seus alu nos seja a de que sua teoria não era nenhuma teoria e além disso que ele tinha pouco respeito pela nature za e pelo papel da teoria na construção de uma ciên cia Como vimos Skinner em geral concordava intei ramente com essa caracterização de sua posição Ele achava que ela não era uma teoria e não acreditava que a ciência especialmente no estágio ocupado pela psicologia pudesse ser ajudada dedicandose tempo à construção de teorias Assim para aqueles que acre ditam que não existe isso de nenhuma teoria que só podemos escolher entre teorias boas ou más ou implícitas e explícitas existia uma lacuna irredutível entre sua concepção do processo científico e a adota da por Skinner Essa lacuna foi substancialmente re duzida com a publicação de Contingencies of reinfor cement 1969 em que ele aceitou explicitamente seu papel como teórico sistemático Em um artigo publicado em 1950 eu perguntei Os teóricos da aprendizagem são necessários e sugeri que a resposta era Não Eu logo me desco bri representando uma posição que tem sido des crita como uma Grande AntiTeoria Felizmente eu defini meus termos A palavra teoria signifi cava qualquer explicação de um fato observado que apela para eventos ocorrendo em algum ou tro lugar em algum outro nível de observação descritos em termos diferentes e medidos se me didos em diferentes dimensões eventos por exemplo no sistema nervoso real no sistema con ceitual ou na mente Eu argumentei que esse tipo de teoria não tem estimulado boas pesquisas so bre a aprendizagem que representa mal os fatos a serem explicados transmite uma falsa seguran ça sobre o estado do nosso conhecimento e leva ao uso continuado de métodos que deveriam ser abandonados Quase no final do artigo eu me refiro à possibi lidade de teoria em um outro sentido como uma crítica aos métodos dados e conceitos de uma ci ência do comportamento Partes de The Behavior of Organisms eram teóricas nesse sentido assim como seis artigos publicados no último dos quais eu insisti que quer alguns psicólogos experimen tais gostem quer não a psicologia experimental está adequada e inevitavelmente comprometida com a construção de uma teoria do comportamen to Uma teoria é essencial para o entendimento científico do comportamento como um assunto de estudo Subseqüentemente eu discuti tal teoria em três outros artigos e em partes substanciais de Science and Human Behavior e Verbal Behavior Skinner 1969 p viiviii Em seu sistema Skinner rejeitou consistentemen te como um meio explanatório qualquer uma das formas de maquinaria mental fantasmagórica que muitos de nós deliberada ou inadvertidamente usam para explicar o comportamento humano Ao fazer isso ele prestou um grande serviço Mas como vimos Skin ner também rejeitou a idéia de introduzir qualquer tipo de mecanismo inferido em seu sistema mesmo aqueles que podem ser adequadamente testados por explicações nãocontraditórias e predições explícitas A partir disso podemos antecipar que Skinner teria dificuldade para predizer o comportamento que ocor reria em uma situação consistindo em combinações de novos estímulos ou novas configurações de estí mulos conhecidos porque ele só podia basear suas expectativas de futuro comportamento sobre as leis de comportamento que já foram formuladas Em ou tras palavras as leis do comportamento só podem ser extrapoladas para exemplos do mesmo tipo de com portamento que elas abrangem no caso geral porque o sistema não contém nenhuma afirmação teórica que implique mais asserções empíricas do que aquelas so bre as quais elas foram construídas Essa dificuldade em predizer novos comportamentos é uma base para as críticas da teoria da aprendizagem social de Albert Bandura a Skinner ver Capítulo 14 O sistema de Skinner evita perguntar o que se passa dentro do organismo e portanto Skinner não pode fazer predições em situações que não estejam diretamente cobertas pelas leis do sistema Mas Skin ner reconhecia esse fato e defendia a atitude que o origina Em seu clássico artigo As teorias da aprendi zagem são realmente necessárias Skinner 1950 salientou que embora a teorização possa nos levar a novas expectativas isso em si mesmo não é nenhuma virtude a menos que as expectativas sejam confirma das E embora seja provável que alguém eventual 416 HALL LINDZEY CAMPBELL mente surja com uma teoria viável que ofereça as ex pectativas corretas isso talvez só aconteça depois de muitos anos de pesquisas improdutivas envolvendo a testagem de teorias inférteis de várias maneiras trivi ais De qualquer maneira as novas situações acaba rão sendo investigadas de modo que certamente não há nenhuma necessidade de teorização O comporta mento em uma situação dessas acabará sendo trazi do para o sistema mesmo na ausência de uma teoria Como vimos Skinner acreditava no valor de uma abordagem molecular ao estudo do comportamento Ele buscava elementos simples do comportamento para estudar e estava certo de que o todo não é mais do que a soma de suas partes Conseqüentemente não surpreende descobrir que os variados tipos de psicó logos holísticos estão convencidos de que a aborda gem de Skinner ao estudo do comportamento é sim plista e elementar demais para representar a complexidade total do comportamento humano Es ses críticos argumentam que o comportamento hu mano apresenta características que necessariamente fazem com que as suas áreas significativas sejam ex cluídas da análise de Skinner Essencialmente isso acontece porque o comportamento é muito mais com plexo do que a análise de Skinner nos leva a supor Skinner tentou explicar comportamentos complexos supondo que muitos elementos de resposta estão in seridos em unidades maiores e ele também supôs que a complexidade decorre da operação simultânea de muitas variáveis Mas é exatamente o método de Skin ner de integrar elementos comportamentais o que é questionado No mínimo muitos observadores acham que o sistema de Skinner não consegue explicar a ri queza e a complexidade tão características do ser humano A linguagem humana é um exemplo do tipo de comportamento que muitos acham não ser suscetível à análise pelos conceitos de Skinner Segundo Skin ner 1957 1986a a linguagem também é um exem plo do poder do condicionamento Isto é a fala é um comportamento verbal adquirido pelo reforço do em parelhamento de palavras corretas com um deter minado objeto ou evento e a gramática também é adquirida à medida que os pais respondem às cons truções verbais de uma criança O pensamento por extensão é o comportamento nãoobservável que ocor re quando as pessoas falam consigo mesmas Podero sos argumentos e dados foram propostos para mos trar que o sistema nervoso caso se desenvolva nor malmente é especialmente receptivo à aquisição de uma série de regras que geram teoremas que chama mos de sentenças Isso implica que uma linguagem não é adquirida por longos encadeamentos de termos de estímuloresposta cada um sendo aprendido por repetição e reforço e sim gerada a partir de uma série de axiomas e regras que podem produzir uma senten ça apropriada mesmo quando essa sentença não foi emitida previamente Como na geometria as regras da linguagem podem gerar teoremas ou sentenças sem nenhuma relação histórica com outras sentenças que ocorreram no passado Lingüistas como Chomsky 1959 enfatizaram especialmente esse ponto Tais argumentos que estão intimamente ligados à idéia de que certos padrões de resposta não podem ser ana lisados em seqüências elementares foram propostos especialmente em conexão com a linguagem mas al guns psicólogos acreditam que eles são igualmente relevantes para a análise de muitos outros tipos de comportamento Está claro a partir do que foi dito que Skinner geralmente realizava experimentos com organismos relativamente simples com histórias relativamente simples e em condições ambientais relativamente sim ples Raramente o sujeito era exposto a variações em mais de uma variável por vez Os críticos às vezes dizem que esse é um tipo artificial de experimentação que essas situações simples nunca ocorrem fora do laboratório e que por causa disso o comportamento necessariamente é bem mais complexo do que a caixa de Skinner nos levaria a acreditar Em resposta Skin ner argumentou muito efetivamente que a ciência caracteristicamente avança de maneira gradativa Ela quase sempre examina primeiro os fenômenos sim ples e constrói os fenômenos complexos de uma ma neira gradual passo a passo pela manipulação e in tegração apropriadas das leis que foram derivadas dos casos mais simples ou claros em que operam A se guinte citação de Skinner é instrutiva Seremos culpados de uma indevida simplifica ção de condições a fim de obter este nível de ri gor Teremos realmente provado que existe uma ordem comparável fora do laboratório É difícil ter certeza das respostas para essas perguntas Suponham que estamos observando o ritmo em que um homem bebe sua xícara de café da ma TEORIAS DA PERSONALIDADE 417 nhã Temos um interruptor escondido na mão que opera um registrador cumulativo em uma outra sala Cada vez que o nosso sujeito bebe nós aper tamos o interruptor É improvável que o registro mostre uma curva regular A princípio o café está quente demais e o beber é seguido por conseqü ências aversivas À medida que ele esfria emer gem reforços positivos mas a saciedade se esta belece Outros eventos à mesa do café também intervêm O beber finalmente cessa não porque a xícara está vazia mas porque as últimas gotas estão frias Mas embora a nossa curva comportamental não seja bonita também não o é a curva de esfria mento do café na xícara Ao extrapolar os nossos resultados para o mundo em geral não podemos fazer mais do que as ciências físicas e biológicas em geral Devido aos experimentos realizados em condições de laboratório ninguém duvida que o esfriamento do café na xícara seja um processo ordenado mesmo que a curva real seja muito di fícil de explicar Da mesma forma quando inves tigamos o comportamento nas condições vantajo sas do laboratório podemos aceitar sua ordenação básica no mundo em geral mesmo que aí não possamos demonstrar as leis inteiramente Skin ner 1957 p 371 Nessa declaração Skinner está concordando que no laboratório comportamental são estudados pro cessos muito simples e que eles nunca ocorrem dessa forma simples fora do laboratório Mas ele também está sugerindo que esta é a maneira pela qual todas as outras ciências são praticadas e elas não parecem sofrer nenhuma desvantagem Uma outra crítica freqüente referese à grande proporção do trabalho inicial de Skinner executada com pombos ou ratos e a rapidez com que os princípios e as leis derivadas foram generalizadas para os seres humanos com pouca ou nenhuma preocupação com diferenças e semelhanças entre as espécies É um fato que Skinner e seus discípulos freqüentemente se com portavam como se qualquer animal de qualquer espé cie incluindo a espécie humana pudesse por meio do controle apropriado ser induzido a produzir qual quer padrão de comportamento Eles não reconheci am suficientemente o fato de que o organismo típico não é uma tábula rasa cujo estado final é determina do apenas pelo padrão de reforço que é a essência do sistema de Skinner Os críticos afirmam que existem pelo menos alguns processos comportamentais que não se ajustam a esse paradigma O trabalho de Har low e Harlow 1962 com o desenvolvimento social de macacos rhesus e parte do trabalho de alguns eto logistas europeus com o comportamento instintivo são típicos das ilustrações usadas nesses argumentos como é o trabalho lingüístico que já discutimos Alguns psi cólogos enfatizaram o papel dos fatores biológicos na aprendizagem questionando se as leis gerais de aprendizagem são realmente possíveis Isso não sig nifica é claro que a aplicação do trabalho de Skinner ao comportamento humano seja inadequada Existe uma imensa riqueza de evidências apoiando o argu mento de Skinner de que os conceitos usados por ele têm uma extensiva aplicação ao comportamento dos seres humanos A pergunta é quanto e onde não se Incrivelmente simples elegantemente exatas e eminentemente práticas não surpreende que as for mulações de Skinner tenham atraído mais do que sua parcela proporcional de adeptos O que é especial mente relevante para nós sem dúvida é a maneira como Skinner desafiou a abordagem tradicional à per sonalidade em termos de estruturas intrapsíquicas e dinâmica Para Skinner como vimos os desejos os conflitos e as defesas que estão no âmago de uma ex plicação freudiana são substitutos mentalistas da his tória de reforço e não têm nenhum status causal O conflito por exemplo é um evento ambiental em vez de intrapsíquico É um rótulo para a existência de contingências incompatíveis de reforço não o anta gonismo entre o impulso e a proibição internalizada Da mesma forma os compromissos defensivos que segundo Freud são a manifestação de um conflito inflamado são mais claramente compreendidos como exemplos de reforço negativo isto é nós evitamos alguma declaração ou ação porque aprendemos que fazer isso evita ou minimiza conseqüências desagra dáveis E o método ABC de descobrir os Anteceden tes de um comportamento problemático oferecer uma definição precisa do Comportamento Behavior em si e alterar as Conseqüências que mantêm o comporta mento substitui os instrumentos terapêuticos freudia nos da associação livre e transferência Observem que o desacordo entre Freud e Skinner não é sobre o papel da aprendizagem Os fenômenos freudianos tão centrais como a seqüência de esco 418 HALL LINDZEY CAMPBELL lhas objetais que ocorre durante o desenvolvimento são claramente compreendidos em termos dos princí pios de aprendizagem descritos por Skinner A dife rença é muito mais fundamental Freud propôs que o comportamento era determinado por uma complexa dinâmica interna de afetos impulsos desejos confli tos e transformações Mas para Skinner as origens do comportamento são ambientais A diferença é en tre um foco nas vicissitudes dos instintos em oposição às vicissitudes dos reforços Além disso o modelo freu diano foi criado para oferecer uma estrutura para a explicitação posterior das origens do comportamen to enquanto a meta do modelo skinneriano é o con trole e a modificação do comportamento futuro Skinner também contrasta claramente com os outros teóricos discutidos neste livro e seria um exer cício útil para o leitor tentar traduzir constructos críticos de outras teorias em termos skinnerianos A dinâmica da inferioridade descrita por Alfred Adler por exemplo pode ser facilmente compreendida como um outro exemplo de reforço negativo e a pressão beta de Henry Murray pode ser vista como um outro nome para pistas discriminativas As condições de valor em que Carl Rogers se centra não são nada além de contingências de reforço e o controle pessoal do qual Rogers depende é uma ilusão mentalista Igual mente a descrição de Gordon Allport de uma disposi ção pessoal como o vínculo entre um conjunto de es tímulos funcionalmente equivalentes e um conjunto de respostas equivalentes pode ser reduzida em ter mos skinnerianos à existência da generalização de estímulo e generalização de resposta O significado percebido que Allport emprega para explicar a cone xão seria supérfluo para Skinner Na verdade Skinner propôs que o constructo de traço é fundamentalmente circular no sentido de que inferimos o traço de um certo comportamento e de pois usamos o traço para explicar aquele comporta mento Assim se observamos um aluno que está bri gando inferimos que ele é agressivo e depois explicamos a briga em termos da agressão acabamos assim entrando em um círculo vicioso sem significa do Nesse exemplo os constructos de traço são em pregados de uma maneira redundante mas eles não precisam ser assim Muitos teóricos p ex Raymond Cattell e Hans Eysenck sugerem meios a priori para medir os traços e depois utilizam os traços para pre dizer os comportamentos subseqüentes E embora eles possam depender muito dos mecanismos de aprendi zagem para explicar as origens das diferenças indivi duais nesses traços eles usam livremente o resíduo dessa aprendizagem para explicar o comportamento subseqüente Esses é claro são os pontos que Skin ner objetava energicamente a meta suprema é con trolar o comportamento não meramente predizêlo e as tendências ou estruturas são inúteis no manejo do comportamento Ironicamente é precisamente nesse aspecto prá tico que Skinner é mais vulnerável Ele propôs que podemos alterar o comportamento modificando as contingências que o mantêm e levando em conta a história de reforço do indivíduo mais as contingênci as de sobrevivência que moldaram todos os membros da espécie No laboratório onde conhecemos as his tórias dos nossos animais e controlamos as contingên cias às quais os expomos esse modelo é viável e efici ente No mundo real todavia a situação não é tão simples Nós podemos alterar contingências mas ge ralmente não conhecemos as histórias dos indivíduos com os quais estamos em contato Se um aluno pro cura um professor queixandose de ansiedade de tes te por exemplo o professor provavelmente não terá nenhuma informação sobre a história de reforço do aluno Como então o professor pode ajudar o aluno Pareceria razoável ele tentar saber alguma coisa so bre a atual dinâmica e tendências do aluno reconhe cendo que essas tendências são o produto de experi ências passadas mas tentando acessar o resíduo da história pois à história em si não temos acesso Skin ner afirmava que o melhor nessas circunstâncias é saber tudo o que pudermos sobre a história mas ava liar o estado atual do indivíduo parece uma alternati va razoável Embora a personalidade possa ser uma substituta de experiências passadas também seria útil demonstrar que os indivíduos que diferem em di mensões a priori subseqüentemente podem apresen tar reações diferentes a circunstâncias específicas A tecnologia de Skinner é extremamente eficiente e pessoas sensatas podem não concordar sobre o status causal de causas proximais e distantes mas não está nem um pouco claro se as características de persona lidade são irrelevantes na predição e no controle do comportamento TEORIAS DA PERSONALIDADE 419 CAPÍTULO 13 A Teoria de EstímuloResposta de Dollard e Miller INTRODUÇÃO E CONTEXTO 420 HISTÓRIAS PESSOAIS 422 UM EXPERIMENTO ILUSTRATIVO 425 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 430 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 430 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 431 Equipamento Inato 431 O Processo de Aprendizagem 431 Drive Secundário e o Processo de Aprendizagem 432 Processos Mentais Superiores 433 O Contexto Social 435 Estágios Críticos de Desenvolvimento 435 APLICAÇÕES DO MODELO 437 Processos Inconscientes 437 Conflito 439 Como as Neuroses São Aprendidas 441 Psicoterapia 443 PESQUISAS CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 444 PESQUISA ATUAL 446 Wolpe 446 Seligman 449 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 454 420 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Apresentamos aqui a teoria da personalidade que é a mais simples e clara a mais econômica e mais ligada aos seus antepassados da ciência natural A teoria de estímuloresposta ER pelo menos em suas origens pode corretamente ser chamada de uma teoria de la boratório ao contrário de outras teorias que exami namos em que o papel da observação clínica ou na turalista é muito mais importante Consistentes com essas origens estão a clareza a economia de formula ção e os sérios esforços da posição para dar um fun damento empírico adequado aos principais termos da teoria Na verdade não existe uma única teoria de ER e sim um agrupamento de teorias mais ou menos pare cidas embora cada uma possua certas qualidades dis tintivas Esses sistemas começaram como tentativas de explicar a aquisição e a retenção de novas formas de comportamento que aparecem com a experiência Assim não surpreende que o processo de aprendiza gem receba uma ênfase predominante Apesar de os fatores inatos não serem ignorados o teórico do ER trata primariamente do processo pelo qual o indiví duo se comporta entre uma série de respostas e a gran de variedade de estimulação interna e externa à qual ele está exposto Embora não seja necessário discutir detalhada mente as complexas origens da teoria de ER não se ria apropriado introduzila sem mencionar as contri buições de Ivan Pavlov John B Watson e Edward L Thorndike O famoso fisiologista russo Ivan Pavlov 1906 1927 descobriu um tipo de aprendizagem que se tornou conhecido como condicionamento clássico Pavlov conseguiu demonstrar que pela apresentação simultânea de um estímulo incondicionado pasta de carne e de um estímulo condicionado o som de um diapasão o estímulo condicionado eventualmente provocaria uma resposta salivação que originalmente só podia ser iniciada pelo estímulo incondicionado O ato de salivar ao som do diapasão era referido como uma resposta condicionada Nas mãos de muitos psicólogos americanos esse processo de condicionamento clássico tornouse um meio de construir uma psicologia objetiva que lidava apenas com observáveis John B Watson 1916 1925 foi o líder do movimento Ele rejeitou a então domi nante concepção da psicologia como um tipo de ciên cia único que tinha como meta descobrir a estrutura da consciência por meio da introspecção A psicolo gia propôs ele deveria estudar o comportamento usando as mesmas técnicas objetivas das outras ciên cias naturais Ele aproveitou o princípio de condicio namento de Pavlov e combinandoo com idéias que já tinha apresentou ao mundo uma posição que cha mou de comportamentalismo Esse ponto de vista objetivo e ambientalista logo passou a representar a psicologia americana e mesmo hoje está estreitamente ligado aos aspectos mais distintivos da psicologia na quele país Ao mesmo tempo em que ocorriam esses desenvolvimentos Edward Thorndike 1911 1932 estava demonstrando a importância da recompensa e da punição no processo de aprendizagem e sua lei de efeito tornouse um dos pilares da moderna teo ria da aprendizagem Apesar da natureza crucial das contribuições de Pavlov a teoria da aprendizagem com sua pesada ênfase na objetividade sua ênfase na experimentação cuidadosa e seu forte tom funcional existe como uma das teorias mais singularmente ame ricanas de todas as posições que estamos examinan do Na terceira década deste século como resultado das idéias e investigações de Edward L Thorndike John B Watson Edward C Tolman Edwin R Guthrie Clark L Hull Kenneth W Spence e outros o interesse teórico dominante dos psicólogos americanos trans feriuse para o processo da aprendizagem Nas duas décadas seguintes a maioria das questões teóricas importantes na psicologia foi debatida dentro da es trutura da teoria da aprendizagem Teóricos como Thorndike Hull Spence e Guthrie descreveram o pro cesso de aprendizagem como envolvendo o vínculo associativo entre processos sensoriais e motores Gran de parte da controvérsia centravase sobre essa con cepção teórica do processo da aprendizagem Edward Tolman um dos maiores teóricos desse período tam bém pensava que a tarefa empírica do teórico da apren dizagem é identificar as forças ambientais que deter minam o comportamento mas concebia a aprendiza gem como o desenvolvimento de cognições organiza das sobre conjuntos de eventos sensoriais ou estímu los Kurt Lewin também estava no rumo de desenvol ver uma teoria de tipo cognitivo embora não se preocupasse profunda e continuamente com o pro cesso de aprendizagem Grande parte do trabalho experimental estimulado por esses debates teóricos TEORIAS DA PERSONALIDADE 421 envolvia a investigação de formas relativamente sim ples de aprendizagem especialmente conforme elas ocorriam nos animais Nos últimos 30 anos os psicó logos experimentais têm mostrado um crescente inte resse pelo estudo da linguagem da memória e dos processos de pensamento complexos nos seres huma nos bem como dos processos cognitivos em outras espécies Refletindo essa mudança de ênfase desen volveramse sofisticadas teorias cognitivas e do pro cessamento da informação que têm pouca semelhan ça com as teorias da associação simples Conforme implica o título deste capítulo estamos preocupados aqui com formulações baseadas na teo ria da associação de ER ou cuja linhagem intelectual embora mostrando a influência do pensamento recente sobre os processos cognitivos deve muito à tradição comportamentalista de ER Mais especificamente prestaremos uma atenção especial às tentativas de generalizar ou aplicar a posição teórica de Clark Hull 1943 1951 1952 aos fenômenos que interessam aos psicólogos da personalidade Quais são as razões para concentrar o nosso interesse nas formulações influenciadas por Hull e seus textos Em primeiro lu gar sua posição teórica é uma das mais claras e bem desenvolvidas de todas as teorias abrangentes O ponto de vista foi apresentado mais explicitamente e forma lizado mais adequadamente do que em qualquer ou tra teoria comparável tendo estimulado uma riqueza maior de investigações empíricas Em segundo lugar e muito importante são principalmente os descenden tes intelectuais de Hull e Spence que fizeram as tenta tivas mais sérias e sistemáticas de aplicar suas teorias desenvolvidas em laboratório ao entendimento da personalidade Um aspecto que torna a teoria hullia na particularmente atraente é a atenção dedicada ao papel da motivação na determinação do comporta mento e aos processos pelos quais os motivos apren didos são adquiridos B F Skinner uma figura importante no campo da aprendizagem também causou um impacto acentua do em muitas áreas da psicologia incluindo o funcio namento da personalidade Suas contribuições foram examinadas no capítulo anterior Ao contrário das teorias que já discutimos os ru dimentos da posição de ER foram desenvolvidos em conexão com dados que possuem pouca semelhança aparente com os dados de maior interesse para o psi cólogo da personalidade Talvez seja um exagero di zer que o rato branco teve mais relação com a criação dessa teoria do que os sujeitos humanos mas certa mente é verdade que membros de espécies inferiores tiveram infinitamente mais relação com o desenvolvi mento da teoria do que no caso das outras teorias que consideramos Entretanto não devemos enfatizar exa geradamente a importância do ponto de origem des sa teoria Uma teoria deve ser avaliada em termos da quilo que faz e não de onde ela vem Hull o pai intelectual dessa posição deixou clara sua intenção de desenvolver uma teoria geral do comportamento humano desde o início de sua busca teórica Foi ape nas por uma questão de estratégia que ele escolheu desenvolver suas idéias iniciais contra o fundo relati vamente estável proporcionado pelo comportamento animal em situações experimentais cuidadosamente controladas Assim a essência de sua teoria não se desenvolveu a partir do estudo de organismos inferi ores devido a uma convicção de que todos os proble mas comportamentais poderiam ser resolvidos dessa maneira Pelo contrário esperavase que a simplici dade dos organismos inferiores permitisse o estabele cimento de certos fundamentos que quando elabora dos pelo estudo do comportamento humano complexo poderiam revelarse o núcleo de uma teoria satisfató ria do comportamento Tal prontidão a mudar e am pliar a parte periférica de sua teoria mantendo ao mesmo tempo certas suposições e conceitos centrais está claramente demonstrada no trabalho de muitos dos alunos de Hull De acordo com esse ponto de vis ta não faremos aqui nenhum esforço para detalhar a teoria de Hull centrandonos em vez disso nas tenta tivas feitas para modificar ou elaborar a teoria de modo a lidar com comportamentos de crucial interesse para o psicólogo da personalidade O exemplo notável de tal teoria derivada é o trabalho de Dollard e Miller e o nosso capítulo dará uma atenção predominante a essa posição O trabalho de muitos outros merecem menção mas as limitações de espaço nos permitirão resumir brevemente as idéias de apenas dois outros indivíduos Wolpe e Seligman Antes de examinar os detalhes dessas teorias de vemos mencionar o Instituto de Relações Humanas da Universidade de Yale Essa instituição foi fundada em 1933 sob a direção de Mark May em uma tentati va de provocar maior colaboração e integração entre psicologia psiquiatria sociologia e antropologia O Instituto abrangia todos os departamentos tradicio 422 HALL LINDZEY CAMPBELL nalmente separados A primeira década de sua exis tência representa um dos períodos mais proveitosos de colaboração nas ciências comportamentais que já ocorreu em qualquer universidade americana Embo ra Clark Hull fornecesse as bases teóricas para o gru po suas atividades não se centravam primariamente na psicologia experimental Na verdade a antropolo gia social o estudo dos aspectos sociais dos humanos em sociedades nãoalfabetizadas contribuiu com ele mentos importantes para a estrutura intelectual do grupo e havia um profundo interesse pela teoria psi canalítica que contribuiu para muitas das idéias teóri cas e de pesquisa dos membros do grupo Durante o período de dez anos um grupo excepcional de jovens recebeu treinamento como alunos de graduação ou membros da equipe e essa experiência parece ter exer cido uma influência profunda e duradoura Entre os membros notáveis do grupo estavam Judson Brown John Dollard Ernest Hilgard Carl Hovland Donald Marquis Neal Miller O H Mowrer Robert Sears Kenneth Spence e John Whiting Foi o Instituto de Relações Humanas dirigido por Mark May infundido com as idéias de Clark Hull e vitalizado pelo trabalho produtivo dos indivíduos recémmencionados que resultou nos desenvolvimentos que examinamos nes te capítulo HISTÓRIAS PESSOAIS Essa teoria representa os esforços de dois indivíduos sofisticados na investigação clínica e de laboratório para modificar e simplificar a teoria de reforço de Hull e fazer com que ela pudesse ser usada fácil e efetiva mente para lidar com eventos do interesse do psicólo go social e clínico Os detalhes da teoria originaram se não só das formulações de Hull mas também da teoria psicanalítica e dos achados e das generaliza ções da antropologia social Como veremos o concei to de hábito que representa uma conexão ER está vel é crucial para essa posição De fato a maior parte da teoria busca especificar as condições em que os hábitos se formam e dissolvemse O número relativa mente pequeno de conceitos empregados para esse propósito tem sido usado com grande engenhosidade pelos autores para explicar fenômenos de interesse central para o clínico como repressão deslocamento e conflito Em muitos casos os autores tentaram deri var dos textos psicanalíticos e da observação clínica um conhecimento maior do comportamento que por sua vez incorporaram aos seus conceitos de ER As sim uma boa parte da aplicação da teoria consiste na tradução da observação geral ou em formulações te óricas vagas nos termos mais assépticos da teoria de ER Embora a tradução não seja em si mesma uma meta particularmente importante esse esforço fre qüentemente possibilitou novos insights e predições referentes a eventos empíricos nãoobservados e es sas funções representam a ordem mais elevada de contribuição teórica Em alguns aspectos John Dollard e Neal Miller apresentam contrastes surpreendentes em outros seus backgrounds mostram grande semelhança Eles são diferentes no sentido de que Miller adiantou idéi as e achados importantes principalmente no domínio da psicologia experimental e Dollard fez contribui ções antropológicas e sociológicas significativas En tretanto ambos foram profundamente influenciados por suas experiências no Instituto de Relações Huma nas e devem muito a Hull e Freud Talvez a fertilida de de sua colaboração derivese desse núcleo comum de convicções sobre o qual ambos erigiram bases empíricas e teóricas únicas John Dollard nasceu em Menasha Wisconsin em 29 de agosto de 1900 Ele recebeu um A B da Uni versidade de Wisconsin em 1922 e depois um MA 1930 e um PhD 1931 em sociologia da Universi dade de Chicago De 1926 a 1929 ele trabalhou como assistente do presidente da Universidade de Chicago Em 1932 aceitou um cargo de professorassistente de antropologia na Universidade de Yale e no ano seguinte tornouse professorassistente de sociologia no recémformado Instituto de Relações Humanas Em 1935 assumiu o cargo de pesquisadorassociado no Instituto e em 1948 pesquisadorassociado e profes sor de psicologia Tornouse professor emérito em 1969 John Dollard morreu em 8 de outubro de 1980 Miller 1982 Ele fez formação psicanalítica no Ber lin Institute e foi membro da Western New England Psychoanalytic Society A convicção e a dedicação pes soais de Dollard à unificação das ciências sociais se reflete não apenas em suas publicações mas também no fato notável de ele ter cargos acadêmicos em an tropologia sociologia e psicologia na mesma univer sidade Devemos observar que sua atividade interdis TEORIAS DA PERSONALIDADE 423 John Dollard 424 HALL LINDZEY CAMPBELL ciplinar ocorreu em uma época na qual as disciplinas individuais eram muito menos receptivas à integra ção do que hoje Dollard escreveu numerosos artigos técnicos nas ciências sociais variando da etnologia à psicoterapia É autor de vários livros que refletem esse mesmo interesse amplo Caste and Class in a Southern Town 1937 é um excelente estudo de campo sobre o papel dos americanos negros em uma comunidade su lista Ele representa um dos primeiros exemplos de análise da cultura e da personalidade Esse estudo foi seguido por um volume relacionado Children of Bon dage 1940 em coautoria com Allison Davis Ele publicou dois volumes sobre a análise psicológica do medo Victory over Fear 1942 e Fear in Battle 1943 e uma significativa monografia sobre o uso de materi al da história de vida Criteria for the life history 1936 Também publicou com Frank Auld e Alice White Steps in Psychotherapy 1953 apresentando um método de psicoterapia e incluindo a descrição detalhada de um tratamento individual e com Frank Auld Scoring Human Motives 1959 Neal E Miller nasceu em Milwaukee Wisconsin em 3 de agosto de 1909 e recebeu seu B S da Univer sidade de Washington em 1931 seu MA da Univer sidade de Stanford em 1932 e seu PhD em psicolo gia da Universidade de Yale em 1935 De 1932 a 1935 Miller trabalhou como assistente em psicologia no Instituto de Relações Humanas e em 19351936 via jou para o Social Science Research Council e aprovei tou para fazer formação em psicanálise no Instituto de Psicanálise de Viena De 1936 a 1940 ele foi ins trutor e mais tarde professorassistente no Instituto de Relações Humanas Tornouse pesquisadorassoci ado e professorassociado em 1941 De 1942 a 1946 dirigiu um projeto de pesquisa psicológica para a For ça Aérea do Exército Em 1946 ele voltou à Universi dade de Yale assumindo o cargo de professor de psi cologia James Rowland Angell em 1952 Ele continuou em Yale até 1966 quando se tornou professor de psi cologia e chefe do Laboratório de Psicologia Fisiológi ca da Universidade de Rockfeller Além de sua colabo ração com John Dollard Miller é muito conhecido na psicologia por seu cuidadoso trabalho experimental e teórico sobre a aquisição de impulsos a natureza do reforço e o estudo do conflito Sua pesquisa inicial foi puramente comportamentalista mas em meados da década de 50 Miller passou a interessarse pelos me canismos fisiológicos subjacentes aos impulsos e ao reforço e outros fenômenos relacionados Esse traba lho foi detalhadamente apresentado em periódicos e grande parte do trabalho inicial é resumido em três capítulos excelentes de manuais Miller 1944 1951a 1959 O trabalho recente de Miller centrouse na medicina comportamental Miller 1983 e na neuro ciência Miller 1995 O respeito despertado por suas contribuições se reflete nas homenagens que ele tem recebido membro da famosa National Academy of Sci ence presidente da Associação Psicológica Americana 1959 a medalha Warren da Society of Experimental Psychologists 1957 e a Presidents Medal of Science 1965 Em 1939 vários membros da equipe do Instituto de Relações Humanas incluindo Dollard e Miller pu blicaram uma monografia intitulada Frustration and Agression Dollard Doob Miller Mowrer Sears 1939 Esse foi um exemplo inicial e interessante do tipo de aplicação com o qual estamos preocupados neste capítulo Os autores tentaram analisar a frus tração e suas conseqüências em termos dos conceitos de ER Em sua monografia eles apresentam uma for mulação sistemática dessa posição juntamente com uma quantidade considerável de novas investigações e predições referentes a eventos a serem observados Esse trabalho não só ilustra a integração de conceitos de ER formulações psicanalíticas e evidências antro pológicas mas também fornece evidências das vanta gens dessa união e levou a uma série de outros estu dos empíricos relacionados Miller e Dollard escreveram juntos dois volumes representando a ten tativa de aplicar uma versão simplificada da teoria de Hull aos problemas do psicólogo social Social Lear ning and Imitation 1941 e aos problemas do psicólo go clínico ou da personalidade Personality and Psycho therapy 1950 É principalmente o conteúdo dos volumes especialmente do último que constitui a base da seguinte exposição O núcleo da posição de ambos é uma descrição do processo de aprendizagem Na seguinte passagem Miller e Dollard expressam claramente sua idéia ge ral desse processo e seus elementos constituintes O que então é a teoria da aprendizagem Em sua forma mais simples é o estudo das circuns tâncias em que uma resposta e um estímulopista tornamse conectados Depois que a aprendiza gem se completou a resposta e a pista ficam uni TEORIAS DA PERSONALIDADE 425 das de tal maneira que o aparecimento da pista evoca a resposta A aprendizagem ocorre de acordo com princípios psicológicos definidos A prática nem sempre faz a perfeição A conexão entre uma pista e uma resposta só pode ser refor çada em certas condições O aprendiz precisa ser levado a dar a resposta e recompensado por ter respondido na presença da pista Isso pode ser expresso de uma maneira simples dizendose que para aprender a pessoa precisa querer alguma coisa notar alguma coisa e conseguir alguma coi sa Colocando de forma mais exata esses fatores são impulso pista resposta e recompensa Tais elementos do processo de aprendizagem foram cuidadosamente explorados e descobriramse novas complexidades A teoria da aprendizagem tornouse um corpo de princípios firmemente unidos úteis para descrever o comportamento humano 1941 p 12 Os princípios de aprendizagem que Dollard e Mi ller aplicaram à vida cotidiana foram descobertos em investigações controladas de laboratório em geral envolvendo animais como sujeitos O conhecimento desses princípios de laboratório bem como de certas noções teóricas relacionadas é portanto importante para um entendimento de sua teoria da personalida de Uma descrição de um experimento hipotético padronizado de acordo com os estudos pioneiros de Miller e seus colegas Miller 1948 Brown Jacobs 1949 e uma análise teórica de seu resultado servi rão como um meio de introduzir o background neces sário UM EXPERIMENTO ILUSTRATIVO Nesse experimento hipotético cada sujeito o sempre presente rato de laboratório é colocado em uma cai xa retangular com um piso de grade A caixa é dividi da em dois compartimentos quadrados por um muro ou obstáculo sobre o qual o rato pode pular facilmen te Soa uma campainha e simultaneamente uma des Neal E Miller 426 HALL LINDZEY CAMPBELL carga elétrica é enviada através do piso de grade O choque elétrico é omitido com sujeitos de controle Podemos esperar que o animal mostre uma variedade de respostas vigorosas ao choque e eventualmente escale o obstáculo passando para o outro comparti mento O aparelho é preparado de tal maneira que assim que o sujeito passa por cima do obstáculo que divide o compartimento a campainha e o choque são suspensos Nos 60 minutos seguintes esse procedi mento é repetido a intervalos irregulares e observa se que o tempo entre o início da campainha e do cho que e a resposta do sujeito de pular o obstáculo tornase progressivamente mais curto No dia seguin te cada sujeito é novamente colocado na caixa por uma hora Durante a sessão a campainha é periodi camente acionada e continua tocando até que o ani mal passe para o outro compartimento mas nunca é acompanhada pelo choque Apesar da ausência do choque o sujeito continua pulando sobre o obstáculo sempre que a campainha soa e pode inclusive conti nuar melhorando seu desempenho Após várias sessões similares é introduzido um novo aspecto no aparelho Pular o obstáculo já não é mais seguido pela cessação da campainha Mas se o rato pressiona uma alavanca acoplada à base do obs táculo a campainha é desligada Novamente obser vase que os animais apresentam uma atividade vigo rosa grandemente limitada a pular de um lado para outro do obstáculo Ao moverse assim o rato talvez pressione a alavanca Gradualmente pular o obstácu lo começa a desaparecer e o tempo entre o início da campainha e a pressão na alavanca também vai dimi nuindo cada vez mais Finalmente a pressão ocorre prontamente assim que soa a campainha O compor tamento desses sujeitos contrasta acentuadamente com os animaiscontrole que não levaram choques e não manifestaram nenhuma mudança sistemática se melhante em seu comportamento em qualquer uma das sessões experimentais Obviamente como resul tado dos emparelhamentos campainhachoque os su jeitos experimentais aprenderam ou adquiriram no vas respostas ao passo que os sujeitoscontrole não Na verdade ocorreram vários tipos de aprendiza gem O primeiro é o condicionamento clássico a forma de aprendizagem originalmente descoberta por Pavlov O condicionamento clássico envolve um procedimen to em que um estímulo inicialmente neutro estímulo condicionado ou EC é emparelhado com um estímulo incondicionado EI que provoca regularmente um padrão característico de comportamento a resposta incondicionada RI Após repetidos emparelhamen tos de ECEI o EC apresentado sozinho ou em ante cipação ao EI estimula uma reação característica co nhecida como a resposta condicionada RC Tipica mente a RC é semelhante à RI embora raramente idêntica Um esboço do condicionamento clássico que ocor reu em nosso experimento ilustrativo segundo a teo ria de Miller é apresentado na Figura 131 ver adi ante Entretanto considere primeiro as conseqüências do choque em si Entre o EI observável choque e o comportamento manifesto remoc que ele produz ocorre um encadeamento de eventos internos O cho que provoca várias respostas internas associadas à dor simbolizadas aqui como remoc Essas remoc originam por sua vez um padrão interno de estímulos Além de ter a mesma capacidade das fontes externas de esti mulação de acionar ou ser uma pista para novas res postas os estímulos internos conseqüentes à remoc te riam propriedades de drive B e portanto são identificados como estímulos drive ou ED O drive é um conceito motivacional no sistema hulliano e impele ou ativa o comportamento mas não determina sua direção Neste exemplo o drive é um impulso nato ou primário baseado na dor Existem é claro vários drives primários além da dor tais como fome sede e sexo Os últimos exemplos ao contrário da dor são estados de privação provocados pela re tenção de algum tipo de estímulo como o alimento e reduzidos pelo oferecimento do estímulo apropriado ao organismo em vez de pela remoção de uma esti mulação desagradável Na verdade Miller postula que qualquer estímulo interno ou externo se suficiente mente intenso evoca um drive e impele à ação Como implica essa declaração os drives diferem em força e quanto mais forte o drive mais vigoroso ou persisten te o comportamento que ele energiza Em nosso ex perimento por exemplo o vigor do comportamento abertamente observável que ocorre nos sujeitos em resposta ao EI e mais tarde da resposta aprendida de pular o obstáculo é influenciado pelo nível de choque dado Inicialmente a campainha não provoca nenhum dos comportamentos emocionais associados ao cho que Mas após repetidas apresentações da campai nha com o choque ela obtém a capacidade de eliciar TEORIAS DA PERSONALIDADE 427 remoc internas semelhantes àquelas originalmente evo cadas pelo EI doloroso uma resposta condicionada RC foi adquirida No sistema hulliano utilizado por Dollard e Miller a aprendizagem que ocorreu é des crita como uma conexão associativa entre o estímulo condicionado campainha e a resposta remoc e é representada pelo conceito teórico de hábito Como discutiremos adiante com mais detalhes Hull postu lou que para que um hábito seja estabelecido o estí mulo e a resposta não só precisam ocorrer próximos temporal e espacialmente mas a resposta também deve ser acompanhada por um reforço ou recompen sa Supondose que a última condição seja satisfeita a força do hábito ER aumenta com o número de oca siões em que o estímulo e a resposta ocorreram juntos As repetidas apresentações da campainha e do choque na primeira sessão do nosso experimento em que a fuga do sujeito do choque age como o reforço são suficientes para estabelecer um hábito relativa mente forte Uma vez que a remoc classicamente con dicionada foi estabelecida a apresentação da campa inha sozinha não só provoca a remoc mas também aciona o resto da cadeia de eventos originalmente associados à administração do choque Assim o pa drão distintivo de estimulação interna ED será desper tado e em combinação com a campainha vai agir como uma pista para provocar comportamentos ma nifestos semelhantes aos previamente evocados pelo choque Ademais essas respostas observáveis são ener gizadas ou ativadas pelas propriedades de drive do ED Uma vez que o drive é provocado por uma respos ta aprendida a um estímulo previamente neutro ele é identificado como um drive adquirido ou secundário ao contrário do drive primário evocado por respostas à estimulação dolorosa Para distinguir entre a seqüência remoc ED elici ada pelo choque e a seqüência classicamente condici onada eliciada pela campainha a última é chamada de ansiedade ou medo Assim o medo é tanto uma resposta aprendida a forma condicionada da respos ta de dor para usar a expressão de Mowrer quanto um drive aprendido ou secundário Mas como dissemos os sujeitos experimentais aprenderam mais do que essas reações de medo Du rante a primeira sessão eles aprenderam rapidamen te a pular sobre o obstáculo assim que a campainha e o choque eram apresentados mesmo que inicialmen te a estimulação provocasse uma variedade de res postas vigorosas das quais pular o obstáculo não era a mais proeminente A chave para sabermos por que essa resposta dominou as outras está nas suas conse qüências só pular o obstáculo era seguido pelo térmi no do choque e pela cadeia de eventos internos que ele provocava Embora haja exceções os eventos que reduzem ou eliminam os estímulos drive tipicamente reforçam ou aumentam a probabilidade de apareci mento de qualquer resposta que eles regularmente acompanham e são chamados de reforços Inversa mente as respostas nãoacompanhadas por eventos que reduzem os estímulos drive não tendem a se re petir Uma vez que apenas pular o obstáculo era se guido pelo reforço término do choque essa respos ta foi reforçada em vez das outras O desenvolvimento da capacidade da combina ção campainhachoque de eliciar o pular o obstáculo é um exemplo de um tipo de aprendizagem em que ao contrário do condicionamento clássico a ocorrên cia do reforço é contingente à resposta ter sido dada a resposta é instrumental para produzir o evento re forçador O tipo de aprendizagem que ocorre nessas FIGURA 131 Análise teórica dos processos envolvidos no condicionamento clássico de uma resposta emocional com base na dor 428 HALL LINDZEY CAMPBELL condições é chamado de instrumental ou nas pala vras de Skinner condicionamento operante Durante a primeira sessão do nosso experimento dois tipos de resposta foram aprendidos a resposta de medo clas sicamente condicionada e a resposta instrumental de pular o obstáculo que fazia cessar o EI reforçando assim pela redução do drive ambas as respostas Após a primeira sessão o choque foi descontinu ado e apenas a campainha foi usada Uma vez que não foi dado nenhum choque a cessação do choque não ocorreu mais O procedimento em que os refor ços usados para estabelecer uma resposta são retira dos é conhecido como extinção experimental e pro duz tipicamente uma rápida redução na força da resposta aprendida Por exemplo os ratos famintos que aprenderam a realizar um ato instrumental espe cífico para obter comida deixam rapidamente de dar a resposta depois que a comida é descontinuada Mas a cessação do choque no nosso experimento não le vou ao desaparecimento da resposta de pular o obstá culo ou teoricamente da remoc para muitos sujei tos a resposta inclusive continuou aumentando em força conforme indicado por um decréscimo no tem po de resposta com sucessivas apresentações da cam painha Miller sugere que tal procedimento de extin ção leva a pouco ou nenhum enfraquecimento das respostas aprendidas porque na verdade elas conti nuam a ser reforçadas O EC não provoca a dor e sim a seqüência de medo aprendida e é isso que ativa o hábito instrumental subjacente ao pular o obstáculo A ocorrência da resposta instrumental desliga a cam painha e os estímulos drive associados ao medo são portanto reduzidos em intensidade Assim tanto a reação de medo classicamente condicionada quanto o pular instrumental do obstáculo continuam a ser reforçados Mas a extinção experimental da resposta de pular o obstáculo realmente ocorreu quando ela se tornou ineficaz para terminar a campainha e o medo que esta eliciava Aprisionados por esse medo os animais aprenderam então a nova resposta efetiva de pressio nar a alavanca Assim os sujeitos só continuaram dan do a resposta que lhes permitira no passado escapar ao estímulo doloroso enquanto ela continuou permi tindo que eles reduzissem o medo Quando as condi ções mudaram eles aprenderam uma nova resposta instrumental motivada pelo drive de medo aprendi do e reforçada pela redução do medo Os experimentos com planejamento semelhante indicaram que as respostas instrumentais que permi tem a um sujeito evitar ou escapar de um EC ansiogê nico podem enfraquecer lentamente com sucessivas apresentações deste último Mas se tivesse havido um número substancial de apresentações de ECEI durante o período inicial de treinamento ou se o EI desagra dável tivesse sido intenso a resposta instrumental poderia continuar com pouca ou nenhuma redução visível em sua força por centenas de apresentações do EC Miller 1948 Dollard e Miller indicaram uma forte analogia entre o animal experimental que continua se assustando com eventos inofensivos como o som de uma campainha e os medos e as ansiedades neuróti cas irracionais que podem ser observados nos sujeitos humanos Se o observador tiver visto o processo de aprendizagem inicial não existe nada de misterioso no medo que o animal tem da campainha e em seus esforços para escapar se o observador tiver visto o processo de aprendizagem que precedeu o sintoma neurótico não existe nada de surpreendente ou ab surdo na forma de comportamento do sujeito huma no É só quando o observador entra em cena depois que o medo foi aprendido que o comportamento do sujeito parece estranho ou irracional Um outro princípio de aprendizagem muito utili zado por Dollard e Miller em sua teoria da personali dade pode ser ilustrado por uma variação no procedi mento do nosso experimento hipotético Após uma primeira sessão em que ocorrem os emparelhamen tos campainhachoque é realizada uma segunda ses são em que apenas a campainha é apresentada Mas agora os sinais da campainha variam em intensidade às vezes sendo iguais ao das primeira sessão e outras vezes mais altos ou mais baixos do que durante o trei namento No início do sinal da campainha os sujeitos pulam o obstáculo quando o som tem a mesma inten sidade que originalmente fora emparelhada com o choque Mas eles também tendem a responder aos outros sons com a força da tendência de resposta es tando inversamente relacionada à semelhança da in tensidade da campainha com a utilizada na primeira sessão Esses comportamentos ilustram um gradiente de generalização de estímulo quando um estímulo se tornou capaz de provocar uma resposta por ser em parelhado com um estímulo incondicionado outros estímulos terão automaticamente adquirido essa ca pacidade em certo grau dependendo de sua seme TEORIAS DA PERSONALIDADE 429 lhança com o estímulo original Um fenômeno relaci onado mais difícil de demonstrar concretamente é a generalização de resposta um estímulo adquire a ca pacidade de eliciar não apenas a resposta que tipica mente se seguiu a ele mas também algumas respos tas semelhantes Foi dito que sem a capacidade de generalização de estímulo e resposta os organismos apresentariam pouca ou nenhuma aprendizagem Embora por con veniência muitas vezes falemos no mesmo estímu lo ocorrendo novamente e eliciando a mesma res posta raramente se é que alguma vez os indivíduos se deparam com exatamente a mesma situaçãoestí mulo em duas ou mais ocasiões e as respostas nunca são completamente idênticas Mesmo em experimen tos meticulosamente controlados é mais exato dizer que é apresentada uma classe de estímulos que pro voca a capacidade de evocar uma classe de respostas Foi demonstrado todavia que os gradientes de generalização se estendem além dos limites da varia ção de estímulo e resposta da situação de treinamen to a força da tendência de generalização estando re lacionada não só ao grau de semelhança com a situação original de aprendizagem mas também com fatores como a quantidade de aprendizagem original e a in tensidade do drive que está por trás da resposta En tretanto o gradiente de generalização pode ser limi tado pelo reforço diferencial Continuando com o nosso experimento ilustrativo dar um choque no ani mal sempre que a campainha com a intensidade ori ginal for apresentada e omitir o choque sempre que a intensidade for diferente levará gradualmente à ex tinção do pular o obstáculo com todos os estímulos com exceção do de treinamento O procedimento le vou à diferenciação de estímulo Como esse relato deixa claro o destino da cone xão estímuloresposta é profundamente influenciado pelo resultado das respostas os eventosestímulo que se seguem imediatamente Certos eventos resultantes reforçam a conexão isto é aumentam a probabilida de de que a resposta ocorra mais vigorosamente ou rapidamente na próxima ocasião em que o estímulo for apresentado Esses eventos são classificados como reforços positivos ou recompensas Nós também vi mos que a cessação de outros tipos de eventos geral mente desagradáveis também pode reforçar respos tas Dollard e Miller procuravam princípios gerais que lhes permitissem determinar se um dado estímulo deveria ser considerado um reforço Seguindo Hull 1943 eles sugeriram uma hipótese de redução de drive que afirma que um evento que resulta em uma súbita redução dos estímulos drive recompensa ou reforça qualquer resposta concomitante No que Mil ler 1959 descreve como sua forma mais forte a hi pótese de redução de drive afirma também que a re dução dos estímulos drive não é apenas uma condição suficiente para que ocorra o reforço é também uma condição necessária A versão forte da hipótese de redução de drive adotada por Dollard e Miller implica que a aprendiza gem de uma associação de ER ou hábito só vai ocor rer se a resposta for reforçada A hipótese de que o reforço é necessário para que ocorra a aprendizagem gerou considerável controvérsia Alguns teóricos como Guthrie 1959 insistiram que a mera contigüidade de um estímulo e resposta é suficiente outros formu laram teorias de dois fatores em que é proposto que alguns tipos de aprendizagem requerem reforço além de contigüidade enquanto outros não ver p ex Mowrer 1947 Spence 1956 Tolman 1949 A suposição de que a redução dos estímulos drive tem um efeito de reforço também foi criticada O pró prio Miller indicou em várias ocasiões ver Miller 1959 que embora ele considerasse a hipótese de redução de drive mais atraente do que qualquer uma das hipóteses rivais existentes ele não confiava mui to que ela estivesse correta Ele apresentou em várias tentativas o que considerava uma alternativa plausí vel à hipótese de redução de drive Miller 1963 Pode haver no cérebro sugere ele um ou mais mecanis mos ativadores ou de siga que são acionados por eventos que resultam na redução do estímulo drive Esses mecanismos ativadores intensificam ou energi zam respostas eliciadas pelas pistasestímulo e essas respostas vigorosas são aprendidas com base na pura contigüidade A ativação de um mecanismo de siga é em si mesma uma resposta e como outras respos tas também pode ser condicionada pela contigüida de Assim um estímulo previamente neutro pode ad quirir a capacidade de acionar um mecanismo de siga em virtude de ter ocorrido previamente em conjunção com a ativação do mecanismo Dollard e Miller sugeriram que os principais ar gumentos em sua análise de ER da personalidade não são afetados por suas hipóteses específicas sobre re forço de modo que é possível aceitar os aspectos es 430 HALL LINDZEY CAMPBELL senciais da sua teoria sem aceitar tais especulações Tudo o que é necessário afirmam eles é supor que os eventos que resultam em uma súbita redução dos es tímulos drive reforçam as respostas com as quais eles são contíguos no sentido de tornar esses atos mais prepotentes Uma vez que as evidências experimen tais demonstram que os estímulos redutores do drive realmente têm efeitos reforçadores com poucas ex ceções possíveis essa suposição deveria ser facilmen te aceita A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE Dollard e Miller têm demonstrado bem menos inte resse pelos elementos estruturais ou relativamente imutáveis da personalidade do que pelo processo de aprendizagem e desenvolvimento da personalidade Uma vez que os aspectos estruturais não são enfatiza dos que conceitos eles empregam para representar as características estáveis e duradouras da pessoa O hábito é o conceitochave na teoria da aprendizagem adotada por Dollard e Miller Um hábito como vimos é uma ligação ou associ ação entre um estímulo pista e uma resposta Os hábitos ou as associações aprendidas podem se for mar não só entre estímulos externos e respostas ma nifestas mas também entre estímulos internos e res postas internas A maior parte da teoria busca especificar as condições em que os hábitos são adqui ridos extintos ou substituídos com pouca ou nenhu ma especificação de classes de hábitos ou listas das principais variedades de hábitos das pessoas Embora a personalidade consista primariamente em hábitos sua estrutura específica dependerá dos eventos únicos aos quais o indivíduo esteve exposto Além disso essa é uma estrutura apenas temporária os hábitos de hoje podem se alterar como resultado da experiência de amanhã Dollard e Miller conten tamse em especificar os princípios que governam a formação dos hábitos e deixam para os clínicos ou investigadores a tarefa de especificar os hábitos que caracterizam cada pessoa Mas eles se preocupam ao máximo em enfatizar que uma classe importante de hábitos dos seres humanos é provocada por estímulos verbais sejam eles produzidos pelas próprias pessoas ou por outros e que as respostas também são freqüen temente de natureza verbal Também devemos salientar que alguns hábitos podem envolver respostas internas que por sua vez eliciam estímulos internos com características de dri ve Já examinamos o medo como um exemplo de um drive aprendido produzido por uma resposta Estes drives secundários também devem ser considerados porções duradouras da personalidade Os drives se cundários e as conexões ER inatas também contribu em para a estrutura da personalidade Mas tipicamen te eles não somente são menos importantes no comportamento humano do que os drives secundári os e outros tipos de hábitos mas também definem o que os indivíduos têm em comum como membros da mesma espécie em vez de sua singularidade A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Dollard e Miller são explícitos em definir a natureza da motivação e eles especificam em consideráveis detalhes o desenvolvimento e a elaboração dos moti vos mas novamente não se interessam pela taxono mia ou classificação Em vez disso eles se centram em certos motivos importantes como a ansiedade Nessa análise eles tentam ilustrar o processo geral que operaria para todos os motivos O efeito dos drives sobre o sujeito humano é com plicado pelo grande número de drives derivados ou adquiridos que eventualmente aparecem No proces so de crescimento o indivíduo típico desenvolve um grande número de drives secundários que servem para instigar o comportamento Estes drives aprendidos são adquiridos com base nos drives primários repre sentam elaborações deles e servem como uma facha da por trás da qual se escondem as funções dos drives inatos subjacentes Dollard Miller 1950 p 3132 Na sociedade moderna típica a estimulação dos drives secundários substitui em grande parte a função original da estimulação dos drives primários Os dri ves adquiridos como ansiedade vergonha e o desejo de agradar impelem a maioria das nossas ações Sen do assim a importância dos drives primários na mai oria dos casos não fica clara em uma observação ca sual do adulto socializado É só no processo de desenvolvimento ou em períodos de crise o fracasso TEORIAS DA PERSONALIDADE 431 dos modos de adaptação culturalmente prescritos que podemos observar claramente a operação dos drives primários Também deve estar óbvio que muitos dos refor ços na vida cotidiana dos sujeitos humanos não são primariamente recompensas mas eventos original mente neutros que adquiriram valor de recompensa por terem sido consistentemente experienciados em conjunto com o reforço primário O sorriso de uma mãe por exemplo tornase uma poderosa recompen sa secundária ou adquirida para o bebê por sua repe tida associação com alimentação troca de fraldas e outras atividades de cuidados que trazem prazer ou removem o desconforto físico As recompensas secun dárias muitas vezes servem sozinhas para reforçar o comportamento Mas a sua capacidade de reforçar não se mantém indefinidamente a menos que elas conti nuem ocorrendo em ocasional conjunto com o refor ço primário Como essas mudanças ocorrem nos leva à questão geral do desenvolvimento da personalida de O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE A transformação do simples bebê no complexo adulto é uma questão de pouco interesse para alguns teóri cos mas esse processo é elaborado por Dollard e Mi ller Nós apresentaremos o tratamento que eles dão ao problema começando com uma breve considera ção do equipamento inato do bebê e depois discutin do a aquisição de motivos e o desenvolvimento dos processos mentais superiores Além disso considera remos brevemente a importância do contexto social do comportamento e dos estágios desenvolvimentais Equipamento Inato No nascimento e logo depois o bebê possui um equi pamento comportamental muito limitado Primeiro ele possui um pequeno número de reflexos específicos que são em geral respostas segmentais a um estímu lo ou classe de estímulos altamente específicos Se gundo ele possui algumas hierarquias inatas de res posta que são tendências de aparecimento de certas respostas em vez de outras em situaçõesestímulo específicas por exemplo pode estar inatamente de terminado que quando exposta a certos estímulos desagradáveis a criança primeiro tentará escapar dos estímulos antes de chorar Essa suposição implica que o assim chamado comportamento aleatório não é ale atório e sim determinado por preferências de respos ta que no início do desenvolvimento do organismo resultam principalmente de fatores inatos e que com o desenvolvimento são influenciadas por uma com plexa mistura da experiência com as hierarquias ina tas Terceiro o indivíduo processa uma série de drives primários que como já vimos são normalmente estí mulos internos de grande força e persistência e habi tualmente ligados a processos fisiológicos conhecidos Assim inicialmente temos um indivíduo capaz de poucas respostas relativamente segmentais ou dife renciadas a estímulos específicos Esse indivíduo tam bém possui um grupo de drives primários que em certas condições orgânicas o impelem a agir ou a com portarse mas não dirigem essa atividade A única orientação inicial de respostas originase de uma hie rarquia inata de tendências de resposta que impõem um controle grosseiro ou geral sobre a ordem em que determinadas respostas aparecerão em situações es pecificadas Dado esse estado inicial a nossa teoria precisa explicar 1 a extensão das presentes respos tas a novos estímulos ou situaçõesestímulo 2 o desenvolvimento de novas respostas 3 o desenvol vimento de motivos novos ou derivados e 4 a extin ção ou a eliminação de associações existentes entre estímulos e respostas Dollard e Miller acreditam que tudo isso pode ser compreendido recorrendose aos princípios de aprendizagem O Processo de Aprendizagem Nós observamos que Dollard e Miller sugeriram que existem quatro elementos conceituais importantes no processo de aprendizagem drive pista resposta e re forço Vamos agora expandir alguns dos nossos co mentários anteriores sobre esses conceitos Uma pista é um estímulo que orienta a resposta do organismo ao dirigir ou determinar a natureza exata da resposta Elas determinam quando ele vai respon der onde ele vai responder e qual resposta ele vai dar Dollard e Miller 1950 p 32 E podem variar em tipo ou intensidade Assim existem pistas visuais e auditivas mas existem também tênues lampejos de 432 HALL LINDZEY CAMPBELL luz e lampejos cegantes de luz Existem pistas auditi vas associadas ao som de uma campainha e pistas auditivas associadas às cordas vocais humanas mas também existem sons de campainha suaves quase imperceptíveis bem como sons de campainha estron dosos e estridentes A função de pistas dos estímulos pode estar associada à variação da sua intensidade ou tipo embora na maioria dos casos sua variação de tipo atenda a essa função Qualquer qualidade que torne o estímulo distintivo serve de base para as pis tas e normalmente a capacidade de distinção baseia se mais facilmente na variação de tipo e não de inten sidade Os estímulos podem operar como pistas não só isoladamente mas também em combinação Isto é a distintividade talvez dependa não da diferença nos estímulos individuais e sim do padrão ou da combi nação de vários estímulos diferentes por exemplo as mesmas letras individuais podem ser usadas em dife rentes combinações para escrever duas ou mais pala vras que terão efeitos completamente diferentes so bre o leitor Nós já sugerimos que qualquer estímulo também pode se tornar um drive se for suficientemente intenso Assim o mesmo estímulo pode ter valor de drive e de pista ele pode ao mesmo tempo provocar e dirigir o comportamento Um papel extremamente importante no processo de aprendizagem deve ser atribuído aos fatores de res posta Conforme Dollard e Miller salientam antes que uma dada resposta possa ser vinculada a uma deter minada pista ela precisa ocorrer Portanto um está gio crucial na aprendizagem do organismo é a produ ção da resposta apropriada Em qualquer situação dada certas respostas serão mais prováveis do que outras Essa ordem de preferência ou probabilidade de resposta quando a situação se apresenta pela pri meira vez é referida como a hierarquia inicial de res postas Se a hierarquia inicial parece ter ocorrido na ausência de qualquer aprendizagem ela pode ser cha mada de hierarquia inata de respostas que já mencio namos como parte do equipamento primitivo do indi víduo Depois que a experiência e a aprendizagem influenciaram o comportamento do indivíduo nessa situação a ordem derivada de respostas é chamada de hierarquia resultante Esses conceitos simplesmen te nos lembram de que em qualquer ambiente as res postas potenciais que um indivíduo pode apresentar têm uma probabilidade diferente de ocorrer e podem ser classificadas em termos dessa probabilidade Com o desenvolvimento a hierarquia de resposta tornase intimamente associada à linguagem porque respostas específicas ficam vinculadas a palavras e dessa forma a fala pode mediar ou determinar a hie rarquia específica que vai operar Assim a mesma si tuação referida como perigosa ou divertida evo cará hierarquias de resposta bem diferentes A hierarquia específica apresentada também é profun damente influenciada pela cultura em que o indiví duo foi socializado pois cada cultura tem respostas preferidas ou mais prováveis em situações de impor tância social Uma vez que a resposta tenha sido dada seu des tino subseqüente é determinado pelos eventos que se seguem à sua ocorrência As respostas que consegui rem provocar reforço primário ou secundário terão uma probabilidade maior de ocorrer novamente da próxima vez em que a situação for encontrada Mui tas vezes surge uma situação em que nenhuma das respostas do indivíduo será reforçadora Essas ocor rências não só levam ao abandono ou extinção do comportamento ineficiente mas também desempe nham um papel crucial no desenvolvimento de novas respostas e uma variedade maior de comportamentos adaptativos Esses dilemas de aprendizagem confor me chamados por Dollard e Miller precisam de novas respostas ou invocam outras que estão mais distantes na sua hierarquia e esse é o dilema de aprender no vas respostas Se as respostas antigas do indivíduo são perfeitamente adequadas para reduzir todas as suas tensões de drives não há razão para produzir novas respostas e seu comportamento não se modifica Drive Secundário e o Processo de Aprendizagem Já vimos que o bebê nasce com uma variedade limita da de drives primários que com o crescimento e a experiência se transformam em um sistema comple xo de drives secundários Os processos de aprendiza gem subjacentes à aquisição dos drives secundários são de modo geral os mesmos e já foram ilustrados em nossa apresentação anterior de um experimento em que foi adquirido o drive aprendido de medo ou ansiedade Vamos voltar brevemente a uma conside ração dos processos pelos quais se desenvolvem esses drives TEORIAS DA PERSONALIDADE 433 Os estímulos fortes como um choque podem pro vocar respostas internas intensas que por sua vez também produzem estímulos internos Os estímulos internos agem como pistas para orientar ou controlar as respostas subseqüentes e servem como um drive que ativa o organismo e mantém a pessoa ativa até que ocorra um reforço ou algum outro processo como a fadiga intervenha As respostas manifestas que re sultam no reforço são aquelas que serão aprendidas Uma pista previamente neutra que ocorreu regular mente em conjunção com um estímulo produtor de drive podese tornar capaz de provocar parte das res postas internas inicialmente só eliciadas pelo drive As respostas internas aprendidas passam a acionar automaticamente estímulos drives Foi estabelecido um drive secundário que vai motivar o organismo a uma nova aprendizagem que leva ao reforço exatamente como os drives primários Dollard e Miller afirmam que a força das respos tas internas aprendidas que acionam estímulos dri ves e portanto o próprio drive adquirido é uma fun ção dos mesmos fatores que determinam a força da conexão ER ou hábito Assim a intensidade do drive primário envolvido no reforço que leva à resposta in terna produtora de drive e o número e o padrão de tentativas reforçadas são determinantes importantes da sua intensidade Se no nosso experimento ilustra tivo são empregados um choque leve e poucas tenta tivas o rato vai desenvolver um medo bem menor da campainha do que se empregarmos um choque forte e uma longa série de tentativas O gradiente de gene ralização de estímulo também se aplica A resposta de medo vaise generalizar para pistas que se asseme lham à pista aprendida com as pistas mais parecidas sendo as mais temidas Em geral as situações em que a resposta produtora de drive não é seguida por refor ço levarão gradualmente à extinção da resposta Ela também pode ser eliminada por um processo conhe cido como contracondicionamento em que uma res posta incompatível é condicionada à mesma pista Se por exemplo um estímulo produtor de medo é empa relhado com um evento agradável como comer ele pode perder sua capacidade de agir como um estímu lo condicionado para a reação de medo pelo menos se o medo for relativamente leve e tornarse em vez disso uma pista para a resposta de comer Os estímulos associados aos drives adquiridos po dem servir como pistas como qualquer outro estímu lo O indivíduo pode aprender a responder com a pa lavra medo em situações que evocam medo isto é a rotular o drive secundário e esta pista produzida pela resposta vai então mediar para a presente situa ção a transferência de respostas aprendidas na situa ção original que produziu medo Essa transferência envolvendo uma resposta que serve como pista cha mase generalização secundária Os indivíduos podem aprender a discriminar diferentes intensidades de es timulação drive exatamente como no caso de um es tímulo diferente de modo que o valor de pista do dri ve adquirido pode depender da intensidade do drive Resumindo as respostas internas que produzem estímulos drive podem associarse a pistas novas e originalmente neutras segundo os mesmos princípi os de aprendizagem que governam a formação e a dissolução de outros hábitos Os estímulos drive que essas respostas internas condicionadas acionam fun cionam como qualquer outra pista e podem provocar por exemplo respostas que foram aprendidas em ou tras situações em que os mesmos estímulos drive fo ram provocados Finalmente esses estímulos produ zidos por respostas servem como um drive secundário no sentido de que vão instigar ou impelir o organismo a responder e sua redução vai reforçar ou fortalecer as respostas associadas à redução Em outras pala vras os drives secundários operam exatamente como os drives primários Processos Mentais Superiores As interações do indivíduo com o ambiente são de dois tipos as dirigidas e orientadas por uma única pista ou situaçãopista e as mediadas por processos internos É esta última classe de respostas que nos interessa aqui as mediadas pelas respostas produtoras de pistas Seguindo Hull Dollard e Miller distingui ram entre as respostas instrumentais que possuem algum efeito imediato sobre o ambiente e as produ toras de pistas cuja principal função é mediar ou mostrar o caminho para uma outra resposta Obvia mente a linguagem está envolvida na maioria das respostas produtoras de pistas embora não necessa riamente a linguagem falada Uma das mais importantes respostas produtoras de pistas é rotular ou nomear eventos e experiências O indivíduo pode imediatamente aumentar a genera lização ou a transferência entre duas ou mais situa 434 HALL LINDZEY CAMPBELL çõespista ao identificálas como tendo o mesmo ró tulo Por exemplo ao identificar duas situações com pletamente diferentes como ameaçadoras o indiví duo pode aumentar imensamente a probabilidade de se comportar da mesma maneira em ambas as situa ções Ou o indivíduo pode discriminar aguçadamente duas situações semelhantes dandolhes nomes dife rentes por exemplo duas pessoas que são objetiva mente muito parecidas podem ser rotuladas respecti vamente como amiga e inimiga e o indivíduo responderá a elas de maneiras bem diferentes Den tro de qualquer cultura encontramos generalizações e discriminações críticas que são enfatizadas e assim facilitadas pela estrutura da linguagem Esse princí pio é ilustrado pelos exemplos freqüentemente repe tidos de tribos em que um determinado produto como gado ou cocos é muito importante e em que a língua contém um número imenso de rótulos diferenciados para tais objetos As palavras não servem apenas para facilitar ou inibir a generalização mas elas também têm a impor tante função de despertar os drives Ademais as pala vras podem ser usadas para recompensar ou reforçar E mais importante de tudo elas servem como meca nismos de união temporal permitindo que o indiví duo instigue ou reforce os comportamentos presentes em termos de conseqüências que estão localizadas no futuro mas que são suscetíveis à representação ver bal no presente É claramente a intervenção verbal na seqüência drivepistarespostareforço que torna o comportamento humano tão complexo e difícil de compreender e ao mesmo tempo explica grande parte da diferença entre os seres humanos e as espécies in feriores O raciocínio é essencialmente o processo de subs tituir atos manifestos por respostas internas produ toras de pistas Como tal ele é imensamente mais efi ciente do que a tentativa e erro manifestos Ele não só tem a função de testar simbolicamente as várias alter nativas mas também possibilita respostas antecipa tórias que podem ser mais efetivas do que qualquer uma das alternativas de resposta manifesta original mente disponíveis Por meio das respostas produtoras de pistas pensamentos é possível partir da situa çãometa e trabalhar retrospectivamente até identifi car a resposta instrumental correta um feito que nor malmente não seria possível na aprendizagem moto ra O planejamento é uma variedade especial de raci ocínio em que a ênfase está na ação futura Para que ocorram o raciocínio ou o planejamen to o indivíduo precisa primeiro ser capaz de inibir ou atrasar a resposta instrumental direta à pista e ao es tímulo drive É essa inibição que oferece às respostas produtoras de pista uma oportunidade de operar e essa resposta de não responder deve ser aprendida exatamente como qualquer outra resposta nova Tam bém é necessário que as respostas produtoras de pista sejam eficientes realistas e finalmente que levem a atos instrumentais ou manifestos apropriados A capacidade de usar a linguagem e outras pistas produzidas por respostas é grandemente influencia da pelo contexto social em que o indivíduo se desen volve Nas palavras de Dollard e Miller As soluções de problemas penosamente alcança das durante séculos de tentativa e erro e pela ordem superior de raciocínio criativo por gênios raros são preservadas e acumulamse como par te da cultura As pessoas recebem uma imensa quantidade de treinamento social ao juntar pala vras e sentenças de maneiras que conduzam à solução adaptativa de problemas 1950 p 116 É um ato raro e criativo criar o teorema de Pitágoras mas não é uma façanha tão grande assim aprendêlo no momento e no lugar apropriados quando ele já é conhecido Assim a linguagem é o meio pelo qual a sabedoria do passado é transmitida para o presente Em vista da imensa importância da linguagem é muito apropriado que a criança seja treinada para prestar atenção e responder às pistas verbais e even tualmente produzilas O uso de símbolos verbais para a comunicação com outras pessoas presumivelmente precede seu uso no pensamento e grande parte das interações da criança com seu ambiente tem relação com como produzir essas pistas em circunstâncias apropriadas e como entender as que são produzidas pelos outros A linguagem é um produto social Se atribuímos significado ao processo de linguagem parece razoá vel que o meio social no qual o indivíduo funciona tenha importância Vamos examinar agora esse fator TEORIAS DA PERSONALIDADE 435 O Contexto Social É muito provável que qualquer teoria ou teórico in fluenciado pela antropologia social saliente o papel dos determinantes socioculturais do comportamento e a presente teoria não é nenhuma exceção a essa re gra Dollard e Miller enfatizam consistentemente o fato de que o comportamento humano só pode ser compreendido com uma completa apreciação do con texto cultural em que ocorre A psicologia da apren dizagem nos proporciona um entendimento dos prin cípios de aprendizagem mas o antropólogo social ou seu equivalente nos proporciona as condições de apren dizagem E ambas as especificações são igualmente importantes para um pleno entendimento do desen volvimento humano Nenhum psicólogo se arriscaria a predizer o com portamento de um rato sem saber em que braço do labirinto em forma de T a comida ou o choque estão situados É igualmente difícil predizer o com portamento de um ser humano sem conhecer as condições de seu labirinto isto é a estrutura de seu ambiente social A cultura conforme conce bida pelos cientistas sociais é um relato do pla nejamento do labirinto humano do tipo de re compensa envolvida e das respostas que são recompensadas Nesse sentido ela é uma receita para a aprendizagem Essa afirmação é facilmen te aceita quando comparamos sociedades muito variadas Mas inclusive dentro da mesma socie dade os labirintos percorridos por dois indivídu os podem parecer iguais e ser na verdade bem diferentes Nenhuma análise de personalidade de duas pessoas diferentes pode ser acurada se não levar em conta as diferenças culturais isto é diferenças nos tipos de resposta em que foram recompensados Miller Dollard 1941 p 56 Conforme essa passagem implica o teórico da aprendizagem enriquece os dados do antropólogo so cial oferecendo princípios que ajudam a explicar sis tematicamente a importância dos eventos culturais enquanto o antropólogo oferece ao teórico da apren dizagem as informações necessárias para ele ajustar seus princípios à experiência real dos sujeitos huma nos Em certo sentido esse ponto de vista argumenta que a definição empírica das variáveis psicológicas é impossível sem o conhecimento e os dados do antro pólogo Assim a posição de Dollard e Miller concede uma espécie de generalidade transcultural aos princípios da aprendizagem ou pelo menos a alguns deles mas ao mesmo tempo garante e até enfatiza que a forma exata do comportamento apresentado por um dado indivíduo será imensamente influenciada pela socie dade da qual ele é membro Estágios Críticos de Desenvolvimento Dollard e Miller supõem que o conflito inconsciente aprendido na maior parte durante o período de bebê e da infância é a base da maioria dos problemas emo cionais graves posteriores Eles concordam com os teóricos psicanalíticos que as experiências dos primei ros seis anos de vida são determinantes cruciais do comportamento adulto É importante perceber que o conflito neurótico não só é aprendido pela criança mas também é apren dido primariamente como resultado das condições cri adas pelos pais A infeliz capacidade dos pais de pre judicar o desenvolvimento da criança originase em parte do fato de que as prescrições culturais referen tes à criança são contraditórias ou descontínuas e em parte do fato de que a criança durante o período de bebê não está bem equipada para lidar com as exi gências de aprendizagem complexas mesmo que se jam consistentes Assim a sociedade exige que a cri ança seja agressiva em certas situações e submissa em outras situações bem parecidas uma discriminação difícil no melhor dos casos Pior de tudo essa exi gência pode ser feita em um momento em que a cri ança ainda não domina todas as funções simbólicas da linguagem de modo que as discriminações podem simplesmente superar sua capacidade de aprendiza gem com resultante frustração e perturbação emoci onal Um conjunto semelhante de condições esmaga doras pode ocorrer na idade adulta em circunstâncias excepcionais como a guerra Como poderia ser espe rado tais condições freqüentemente levam à neurose Um aspecto crucial da experiência infantil é o ex tremo desamparo da criança É principalmente no período de bebê que ela é mais ou menos incapaz de manipular seu ambiente e assim é vulnerável às de vastações de estímulos drive impelidores e às frustra 436 HALL LINDZEY CAMPBELL ções esmagadoras No processo comum de desenvol vimento a pessoa desenvolve mecanismos para evi tar situações extremamente frustrantes No período de bebê a criança não tem escolha a não ser experi enciálas Não surpreende então que ocorram agudos con flitos emocionais na infância O bebê não apren deu a esperar não conhece as rotinas inescapá veis do mundo a ter esperança e assim assegurar a si mesmo que os momentos bons voltarão e os ruins passarão a raciocinar e a planejar e assim escapar da confusão presente construindo o fu turo de uma maneira controlada Em vez disso a criança é impelida de forma urgente desespera da e sem planejamento vivendo momentos de sofrimento eterno e depois descobrindose subi tamente mergulhada em interminável bemaven turança A criança pequena é necessariamente desorientada confusa tem delírios e alucinações em resumo tem exatamente aqueles sintomas que reconhecemos como psicose no adulto O pe ríodo de bebê na verdade pode ser visto como um período de psicose temporária Os drives sel vagens dentro do bebê o impelem à ação Esses drives não são modificados pela esperança ou pelo conceito de tempo Os processos mentais superi ores o Ego não podem fazer seu trabalho benig no de confortar orientar o esforço e organizar o mundo em uma seqüência planejada O que se foi pode nunca retornar O sofrimento presente pode jamais acabar Essas são as circunstâncias tumul tuadas em que podem ser criados graves conflitos mentais inconscientes Somente quando a crian ça foi ensinada a falar e a pensar em um nível bem elevado é que o impacto do caráter bruto e drástico dessas circunstâncias pode ser reduzido Dollard Miller 1950 p 130131 Consistente com essa visão é a prescrição de que durante os primeiros estágios da vida o principal pa pel dos pais é manter os estímulos drive em um nível baixo Os pais devem ser permissivos gratificadores e devem fazer poucas exigências de aprendizagem até a criança desenvolver habilidades de linguagem Todas as culturas fazem exigências aos indivídu os que vivem dentro delas mas algumas dessas exi gências tendem particularmente a produzir conflitos e perturbação emocional Dollard e Miller identificam quatro situações em que a prescrição cultural confor me interpretada pelos pais tende especialmente a ter conseqüências desastrosas para o desenvolvimento normal a situação de ser alimentado no período de bebê o treinamento esfincteriano ou o abandono das fraldas o treinamento sexual inicial e o treinamento para o controle da raiva e da agressão Dollard e Miller sugerem que sua análise dessas situações conflitantes é uma reafirmação das formu lações de Freud em termos de seu deles esquema conceitual Por essa razão não tentaremos reprodu zir aqui tudo o que eles têm a dizer sobre tais estágios críticos só examinaremos brevemente sua análise da situação de alimentação para ilustrar como eles utili zam conceitos de aprendizagem nesse ambiente O importante é que o leitor compreenda que essa teoria acredita que os eventos iniciais do desenvolvimento são de central importância em seus efeitos sobre o comportamento e além disso que a operação desses eventos é vista como perfeitamente consistente com o processo de aprendizagem que já delineamos Os estímulos drive associados à fome estão entre os primeiros fortes impulsores à atividade aos quais o indivíduo é exposto Conseqüentemente as técnicas que o indivíduo desenvolve para reduzir ou controlar esses estímulos têm um papel importante como um modelo para os artifícios usados posteriormente na vida para reduzir outros estímulos fortes Nesse senti do a teoria propõe que a situação de alimentação serve como um modelo em pequena escala que em parte determina os ajustamentos em grande escala do adul to Assim Dollard e Miller sugerem que a criança que chora quando está com fome e descobre que isso leva à alimentação pode estar dando os passos iniciais que resultarão em uma orientação ativa e manipulativa para a redução do drive Por outro lado a criança que é deixada chorando até cansar pode estar estabele cendo a base para uma reação passiva e apática dian te de fortes estímulos drive Além disso se permiti mos que os estímulos de fome aumentem sem restrição a criança pode passar a associar um leve estímulo de fome aos estímulos intensamente doloro sos e esmagadores que experienciou subseqüentemen te em tantas ocasiões e dessa maneira pode reagir exageradamente a estímulos drive relativamente le ves os estímulos drive leves adquiriram uma força de drive secundário equivalente aos estímulos drive mui to intensos Uma outra conseqüência perigosa de se TEORIAS DA PERSONALIDADE 437 permitir que a criança seja exposta a intensos estímu los drive de fome é que isso pode resultar no medo de ficar sozinha Se quando uma criança está sozinha ela é exposta a estímulos de fome muito dolorosos e se os estímulos só diminuem quando a mãe finalmen te aparece pode acontecer que esse reforço forte re dução do estímulo de fome habitue a resposta que precede imediatamente o aparecimento da mãe uma resposta de medo Assim no futuro quando a criança ou o adulto estiver só vai responder com essa respos ta de medo previamente reforçada e logo apresentará um padrão típico de medo do escuro ou de ficar sozi nho Talvez o aspecto mais importante da situação de alimentação seja que seu relativo sucesso pode ter muita relação com as futuras relações interpessoais Isso decorre do fato de que a experiência de alimen tação é associada com a primeira relação interpessoal íntima a relação entre a mãe e a criança Se a ali mentação é bemsucedida e caracterizada pela redu ção e gratificação pulsional a criança passa a associar esse estado agradável à presença da mãe e tal rela ção por um processo de generalização de estímulo passa a ser vinculada a outras pessoas de modo que sua presença se torna uma meta ou uma recompensa secundária Se a alimentação não é bemsucedida e é acompanhada por sofrimento e raiva podemos espe rar o contrário O desmame e as perturbações digesti vas tendem especialmente a ter conseqüências dano sas para a criança à medida que introduzem sofrimento e desconforto na situação e complicam uma situação de aprendizagem que já exige a capacidade total do bebê Um adendo interessante a essa análise da situa ção de alimentação é oferecido pelos resultados de alguns experimentos muito engenhosos realizados com macacos por Harry Harlow e seus colegas ver Har low 1958 Harlow Zimmerman 1959 depois do aparecimento do volume de Dollard e Miller Harlow duvidou de suas suposições sobre a importância da alimentação no relacionamento desenvolvente mãe bebê e sugeriu que o contato corporal era muito mais importante As evidências apoiaram as idéias de Har low em experimentos em que bebês macacos foram criados em completo isolamento exceto pela presen ça de duas mães inanimadas Uma das mães era fei ta de arame e segurava a mamadeira da qual os bebês obtinham toda a sua nutrição e a outra era acolchoa da com um tecido felpudo e oferecia uma superfície aquecida e confortável à qual os jovens macacos po diam se agarrar Os jovens animais passavam grande parte do tempo em contato físico com sua mãe substi tuta de tecido felpudo ou brincando perto dela Quan do assustados eles buscavam sua proteção e compor tavamse em relação à estrutura de pano macio de maneira semelhante à dos macacos bebês em relação às suas mães reais A mãe de arame em claro con traste era quase completamente ignorada quando os macacos não estavam se alimentando O que deve ser observado nesses achados é que eles não contestam a forma essencial do relato de Dollard e Miller sobre o desenvolvimento de apegos afetuosos Eles realmente sugerem que ao especificar as condições de aprendizagem Dollard e Miller po dem ter exagerado a importância da redução da fome e da sede e subestimado a significação dos atos da mãe de embalar acariciar e abraçar seu bebê enquan to ela está amamentando ou cuidando dele de algu ma outra maneira APLICAÇÕES DO MODELO A abordagem de Dollard e Miller revelouse provoca tiva e útil em vários domínios De particular interes se contudo é a sua aplicação a processos dinâmicos previamente explicados pela psicanálise Nesta seção examinaremos a aplicação dos princípios de aprendi zagem de ER a quatro desses processos processos inconscientes conflito aquisição de neuroses e psico terapia Um quinto processo o deslocamento é dis cutido subseqüentemente como uma ilustração das pesquisas características de Dollard e Miller Processos Inconscientes Nós observamos que Dollard e Miller apresentam a linguagem como desempenhando um papel crucial no desenvolvimento humano Em vista disso é muito natural que aqueles determinantes do comportamen to que eludem a linguagem ou são inconscientes desempenhem um papel central nas perturbações com portamentais A teoria é muito consistente com for mulações psicanalíticas ao aceitar fatores inconscien tes como determinantes importantes do comporta 438 HALL LINDZEY CAMPBELL mento entretanto o relato oferecido por Dollard e Miller da origem desses processos inconscientes mos tra pouca semelhança com a versão freudiana Os determinantes inconscientes podem ser divi didos nos que nunca foram conscientes e nos que fo ram mas não são mais Na primeira categoria estão incluídos todos aqueles drives respostas e pistas apren didos antes do advento da fala e que conseqüente mente não foram rotulados Também fazem parte desse grupo certas áreas de experiência para as quais a nossa sociedade dá nomes insuficientes ou inade quados As pistas e as respostas cinestésicas e moto ras geralmente são ignoradas pelos rótulos convenci onais e por essa razão não são facilmente discutidas e podem ser consideradas amplamente inconscientes Em uma linha semelhante certas áreas de experiênci as sexuais e outros tipos de experiênciastabu geral mente não são acompanhadas por designações apro priadas e acabam sendo muito mal representadas na consciência Na segunda categoria estão todas aque las pistas e respostas que anteriormente eram consci entes mas que pela repressão se tornaram inacessí veis à consciência O processo envolvido na primeira categoria está suficientemente claro e é ao fenômeno da repressão que dedicaremos a nossa atenção A repressão é o processo de evitar certos pensa mentos e essa esquiva é aprendida e motivada exata mente da mesma maneira que qualquer outra respos ta aprendida Nesse caso a resposta de não pensar em certas coisas leva à redução do drive e ao reforço tor nandose uma partepadrão do repertório do indiví duo Existem certos pensamentos ou memórias que adquiriram a capacidade de despertar medo estímu los drive secundários e a resposta de não pensar ou deixar de pensar neles leva a uma redução nos estí mulos de medo portanto a resposta de não pensar é reforçada Enquanto na aprendizagem inicial o indi víduo primeiro pensa no ato ou evento temido e de pois experiencia o medo e abandona o pensamento com o conseqüente reforço após a experiência a res posta de não pensar tornase antecipatória e ocorre antes de o indivíduo chegar a reconstruir o evento ou o desejo Não pensar como uma resposta antecipató ria não só mantém fora da consciência os pensamen tos que despertam medo mas também interfere com o processo de extinção normal Isto é se a resposta não chega a ocorrer ela dificilmente pode ser extinta mesmo que a fonte original de reforço já tenha desa parecido Dollard e Miller acreditam que a repressão existe em um contínuo variando de uma leve tendência a não pensar sobre certas coisas à mais forte esquiva do material ameaçador Eles também consideram que as origens dessa tendência podem ser encontradas no treinamento infantil que freqüentemente tende a pro duzir medo de certos pensamentos Depois que se desenvolve o medo do pensamento o processo de re pressão é facilmente compreensível em termos da re dução dos estímulos drive por não pensar As crianças são freqüentemente punidas pelo uso de certas pala vrastabu assim apenas o símbolo verbal falado é suficiente para provocar a punição sem o ato Ou a criança pode anunciar sua intenção de fazer algo er rado e ser punida antes de cometer qualquer ato Em outros casos a criança pode pensar certas coisas que nem sequer expressa verbalmente mas que os pais inferem corretamente a partir do comportamento ex pressivo ou de outras pistas e pelas quais punem a criança A criança muitas vezes é punida por atos exe cutados no passado de modo que a punição acompa nha o pensamento sobre o ato e não o ato em si To das essas e outras experiências tendem a criar uma generalização do ato ou do comportamento manifes to que leva à punição ao mero pensamento ou repre sentação simbólica do ato O indivíduo não só pode generalizar do ato manifesto para o pensamento mas também discriminar entre os dois No indivíduo bem ajustado esse é um processo extremamente impor tante e eficiente ele percebe que certos pensamentos jamais devem ser expressos em determinados contex tos mas sentese relativamente livre para ter esses pensamentos privadamente A extensão e a gravidade da repressão dependem de muitos fatores entre os quais as possíveis varia ções na força inata da resposta de medo o grau de dependência em relação aos pais e portanto a in tensidade da ameaça de perda do amor à qual a cri ança pode ser exposta e a gravidade dos traumas ou situações amedrontadoras experienciados pela crian ça A importância crucial da consciência relacionase com o significado dos rótulos verbais no processo de aprendizagem especialmente em relação à operação dos processos mentais superiores Nós já indicamos TEORIAS DA PERSONALIDADE 439 que os processos de generalização e discriminação podem ser tornados mais eficientes por meio dos sím bolos verbais e se a nomeação é eliminada o indiví duo claramente passa a operar em um nível intelectu al mais primitivo Assim a pessoa se torna mais concreta e presa ao estímulo e seu comportamento fica parecido com o da criança ou do organismo infe rior em que o papel mediador da linguagem não é muito desenvolvido Conflito Nenhum ser humano opera tão efetivamente que to das as suas tendências sejam congruentes e beminte gradas Portanto todas as teorias da personalidade precisam lidar direta ou indiretamente com os pro blemas trazidos para o organismo por motivos ou ten dências conflitantes O comportamento de conflito é representado por Miller e Dollard em termos de cinco suposições básicas que são extensões dos princípios que já discutimos Eles supõem primeiro que a tendência a aproxi marse de uma meta fica mais forte à medida que o indivíduo se aproxima dela Isso é conhecido como o gradiente de aproximação Segundo eles supõem que a tendência a evitar um estímulo negativo tornase mais forte à medida que o indivíduo se aproxima do estímulo Isso é referido como o gradiente de esquiva Essas suposições podem ser derivadas primariamente do princípio de generalização de estímulo que já des crevemos A terceira suposição é que o gradiente de esquiva tem um grau de inclinação maior do que o gradiente de aproximação Isso implica que o ritmo em que as tendências de esquiva aumentam com a aproximação da meta é mais rápido do que o ritmo em que as tendências de aproximação aumentam nas mesmas condições Quarto supõese que um aumen to no drive associado à aproximação ou à esquiva vai aumentar o nível geral do gradiente Assim ainda haverá um aumento na força da aproximação ou da esquiva conforme a meta se aproximar mas essas ten dências agora terão uma força maior em cada estágio da abordagem Quinto supõese que quando existem duas respostas concorrentes vai ocorrer a mais forte Dadas essas suposições além dos conceitos que já dis cutimos Miller e Dollard são capazes de derivar pre dições sobre como vai responder um indivíduo que se depara com os vários tipos de conflito Um dos mais importantes tipos de conflito relacio nase com a oposição entre as tendências de aproxi mação e esquiva despertadas simultaneamente pelo mesmo objeto ou situação Digamos que um jovem se sente fortemente atraído por uma mulher e no en tanto fica embaraçado e pouco à vontade com medo na sua presença Como as três primeiras suposições nos dizem a resposta de esquiva afastarse da mu lher diminui mais bruscamente do que a resposta de aproximação à medida que o sujeito se afasta da meta mulher Isso está representado graficamente na Fi gura 132 ver p 440 em que as linhas tracejadas representando as respostas de esquiva estão em um ângulo mais agudo do que as linhas sólidas que repre sentam as respostas de aproximação Portanto a ten dência de esquiva pode ser maior ou mais intensa do que a resposta de aproximação perto da meta mu lher Quando o sujeito se afastou uma certa distân cia no diagrama até um ponto além da interseção dos gradientes a resposta de aproximação será mais forte do que a resposta de esquiva tendose afastado da mulher ele pode telefonar ou escrever para mar car um outro encontro É no ponto em que os dois gradientes se intersecionam digamos quando o ho mem entra na sala em que está a mulher que o indi víduo deve mostrar o máximo de hesitação e conflito pois é aqui que as duas respostas concorrentes estão aproximadamente equilibradas Quando a resposta de aproximação é mais forte do que a resposta de esqui va o indivíduo vaise aproximar sem conflito e vice versa quando a resposta de esquiva é mais forte É somente quando as duas têm uma força igual que o indivíduo terá dificuldade para dar uma resposta apro priada Se a resposta de aproximação ou de esquiva tiver sua força aumentada isso terá o efeito de elevar todo o nível daquele gradiente conforme mostra o diagra ma nos gradientes superiores de aproximação e es quiva Isso naturalmente levará a um ponto diferente de interseção entre os dois gradientes Assim se a ten dência de aproximação fica mais forte os dois gradi entes terão seu ponto de interseção mais perto da meta o que implica que o indivíduo chegará mais perto da meta antes de hesitar em conflito Quanto mais perto ele chegar da meta mais forte será a resposta de esquiva e mais intenso será seu conflito Isto é quanto mais perto ele chegar da mulher mais atraído e ao mesmo tempo mais pouco à vontade e embara 440 HALL LINDZEY CAMPBELL çado ele se sente Inversamente se a tendência de aproximação se enfraquecer se ele passar a gostar menos da mulher ele não chegará tão perto da meta antes que os gradientes se intersecionem ele não vai ao encontro marcado com a mulher e seu conflito ou perturbação serão menores porque a intensidade das respostas de esquiva e de aproximação será me nor nesse ponto Se a tendência de esquiva aumentar se seu desconforto aumentar isso resultará nos dois gradientes intersecionandose em um ponto mais dis tante da meta ele pode pensar a respeito mas não vai marcar um novo encontro e na redução da inten sidade do conflito Em geral quanto mais perto da meta está o ponto de interseção dos dois gradientes mais fortes são as duas tendências concorrentes e maior o conflito Devemos observar que se a força da resposta de aproximação puder ser aumentada a pon to de ser mais forte do que a da resposta de esquiva na meta na Figura 132 isso é representado pelos gradientes de forte aproximação e fraca esquiva o indivíduo irá diretamente à meta e o conflito será su perado Assim se o homem estiver tão atraído pela mulher que conseguir ficar perto dela mesmo pouco à vontade o conflito eventualmente se resolverá A generalização de resposta também pode deter minar o que um indivíduo faz quando se depara com um conflito de aproximaçãoesquiva Dollard e Miller sugeriram várias vezes que as mesmas suposições fei tas sobre a generalização de estímulo também podem valer para a generalização de resposta que o gradi ente de aproximação de respostas com graus variados de semelhança com aquela provocada pelos estímu los instigadores diminui mais rapidamente do que o gradiente de esquiva Assim uma criança pode ficar extremamente furiosa com os pais por eles terem proi bido alguma atividade favorita mas sentir muito medo ou culpa para expressar diretamente a agressão di zendo palavrões ou atacandoos fisicamente Entre tanto as tendências de esquiva da criança podem di minuir o suficiente para permitir que ela mostre seu desagrado indiretamente indo para o seu quarto pi sando com força e batendo a porta Um segundo tipo de conflito é encontrado quan do um indivíduo se depara com duas respostas con correntes de esquiva Por exemplo um garotinho pode estar com medo de subir em alguma coisa e ao mes mo tempo não quer que os companheiros o chamem de covarde Assim quanto mais perto ele chegar da meta quanto mais alto ele subir mais forte será a resposta de esquiva e mais provável que ele recue Entretanto quanto mais ele recua mais se aproxima da outra meta ser chamado de covarde e a segunda resposta de esquiva aumenta enquanto a primeira di minui Assim a criança vai demonstrar vacilação indo de uma meta para outra isto é subindo até uma cer ta altura e depois descendo Se a força de uma das respostas de esquiva aumentar isso mudará o ponto de interseção de modo que o lugar de onde a criança FIGURA 132 Representação gráfica de situações de conflito Adaptada de Miller 1951b TEORIAS DA PERSONALIDADE 441 vai recuar da sua meta ficará mais distante Isso tam bém vai aumentar a intensidade do conflito pois os dois gradientes estarão mais fortes no ponto de inter seção Novamente se uma das respostas for mais for te do que a outra na meta a criança simplesmente continuará a recuar da situação mais temida até ter minar a situação concorrente e o conflito ser supera do ou ela sobe até a altura necessária ou aceita o fato de que vai ser chamada de covarde Miller e Dollard não acham que a competição en tre duas respostas de aproximação represente um di lema realista Eles salientam que quando o indivíduo começa a aproximarse de uma das metas positivas a força dessa reposta vai aumentar de acordo com a primeira suposição e a força da resposta concorrente vai diminuir Portanto o indivíduo irá diretamente para esta meta Mesmo que a pessoa comece exata mente dividida entre as duas metas as variações na situaçãoestímulo ou dentro do organismo vão alte rar levemente esse equilíbrio e quando isso aconte cer ela continuará aproximandose da meta mais pró xima Quando a pessoa parece estar em conflito entre duas alternativas positivas sempre existem respostas de esquiva ocultas ou latentes Para uma descrição mais detalhada da teoria do conflito o leitor deve consultar Miller 1944 1951b 1959 onde estão resumidos vários estudos experi mentais que testaram derivações dessa posição Em geral os resultados desses estudos oferecem sólidas evidências da utilidade da teoria em questão Como as Neuroses São Aprendidas Dollard e Miller compartilham com os teóricos psica nalíticos uma permanente preocupação com o indiví duo neurótico Conseqüentemente eles dedicam uma porção substancial da sua teoria às condições que le vam ao desenvolvimento das neuroses e aos procedi mentos psicoterapêuticos que podem ser usados para superálas No âmago de todas as neuroses está um forte conflito inconsciente cujas origens quase sempre po dem ser encontradas na infância do indivíduo Os conflitos neuróticos afirmam Dollard e Miller são ensinados pelos pais e aprendidos pelos filhos 1950 p 127 Nós já descrevemos as quatro situações críti cas de treinamento que se emprestam tão facilmente a um manejo errado por parte dos pais e estabelecem as bases de futuros problemas a situação de alimen tação o treinamento esfincteriano ou o abandono das fraldas o treinamento sexual e o treinamento do con trole da agressão Com muita freqüência a criança desenvolve uma profunda ansiedade ou culpa pela expressão de suas necessidades básicas nessas áreas e estabelecese um conflito que tende a continuar de alguma forma na vida adulta Exatamente como o animal experimental do nos so estudo de laboratório aprende uma resposta ins trumental dentro da sua capacidade que lhe permite escapar de estímulos que provocam ansiedade o ser humano em um conflito de vida real tenta escapar ou evitar sentimentos de ansiedade e culpa por meio de algum tipo de resposta instrumental Um modo de reação bastante disponível e portanto freqüentemen te usado é não pensar O indivíduo reprime as me mórias e os pensamentos capazes de deixálo ansioso ou culpado e recusase a tentar compreender seu con flito e as circunstâncias que o provocaram Ele sabe que alguma coisa está errada e freqüentemente sen tese miserável mas não entende porque não quer por quê Uma vez que os conflitos neuróticos são inconsci entes o indivíduo não pode usar suas capacidades solucionadoras de problema para resolvêlos ou para reconhecer que as condições que o levaram ao confli to talvez nem existam mais Por exemplo o adulto constantemente ameaçado pelos pais em seus primei ros anos com a perda do amor e da aprovação ao menor sinal de raiva em relação a eles pode inibir tão completamente qualquer expressão de agressão que jamais descobrirá que os outros não compartilham dessas atitudes parentais À medida que os conflitos permanecem inconscientes é provável que continu em existindo e levem ao desenvolvimento de outras reações ou sintomas Esses sintomas podem ser as con seqüências bem diretas do tumulto emocional causa do pelo conflito mas freqüentemente são comporta mentos que permitem aos indivíduos um escape temporário de seus medos e ansiedades Conforme Dollard e Miller descrevem Embora de certo modo superficiais os sintomas do neurótico são os aspectos mais óbvios de seus problemas O paciente os conhece bem e sente que deveria livrarse deles As fobias as inibições as esquivas as compulsões as racionalizações e 442 HALL LINDZEY CAMPBELL os sintomas psicossomáticos do neurótico são ex perienciados como um inconveniente por ele e por todos que têm de lidar com ele Ele acre dita que os sintomas são o seu transtorno É deles que ele quer se ver livre e não sabendo que por trás deles existe um sério conflito gostaria de li mitar qualquer discussão terapêutica a se ver livre dos sintomas Os sintomas não resolvem o conflito básico em que a pessoa neurótica está mergulhada mas o mitigam Eles são respostas que tendem a reduzir o conflito e em parte são bemsucedidos Quan do um sintoma é bemsucedido ele é reforçado porque reduz o sofrimento neurótico O sintoma é então aprendido como um hábito 1950 p 15 Como uma ilustração das relações entre conflito repressão sintomas e reforço Dollard e Miller apre sentaram com bastante detalhes O Caso da Sra A Seguese uma versão extremamente condensada do caso A Sra A era uma jovem que buscou ajuda psiqui átrica em virtude de alguns medos que tinham acaba do com a paciência do marido e levadoo a ameaçála com divórcio Seu medo mais intenso era que se ela não contasse os batimentos cardíacos seu coração pararia Além disso ela ficava ansiosa e perturbada em muitos lugares públicos e tinha cada vez mais medo de sair sozinha do apartamento No decorrer das ses sões terapêuticas a natureza dos problemas da Sra A foise esclarecendo gradualmente Seu maior con flito era em relação a sexo Embora tivesse fortes ape tites sexuais seu treinamento na infância a fizera sen tirse tão culpada e ansiosa em relação a eles que negava qualquer sentimento sexual e só expressava nojo Embora tentasse conscientemente ser uma boa esposa ela expressava suas necessidades sexuais in diretamente em comportamentos irresponsáveis como sair para beber em bares com outras mulheres mos trandose quase sedutora Ela não sabia porque tinha esse comportamento e ficava constantemente surpre sa com suas conseqüências Uma análise de suas reações fóbicas em locais públicos revelou que quando saía sozinha ela incons cientemente ficava temerosa e culpada pela possibili dade de ser sexualmente abordada e não resistir Seu medo e culpa acerca da tentação sexual diminuíam por voltar para casa ou eram parcialmente evitados por sair acompanhada A contagem compulsiva dos batimentos cardíacos também servia para manter suas ansiedades sexuais a um mínimo Qualquer estímulo com conotações sexuais incluindo os próprios pensa mentos despertavam a ansiedade Mas esses pensa mentos podiam ser banidos ou evitados se ela dedi casse sua atenção aos batimentos cardíacos Assim que começava a contar ela já sentiase melhor de modo que o hábito era reforçado pela redução da ansieda de Os tipos de sintomas apresentados pela Sra A são exemplos de reações aprendidas a estados afetiva mente desagradáveis Dollard e Miller sugeriram que além desse tipo de comportamento aprendido exis tem sintomas de natureza psicossomática que são ina tos As respostas fisiológicas mediadas primariamen te pelo chamado sistema nervoso autônomo são provocadas automaticamente por vários estados de drives intensos sem ter de ser aprendidas Essas res postas autônomas inatas são freqüentemente desper tadas por drives primários mas também podem ser produzidas por drives secundários ou aprendidos As palmas das mãos úmidas o estômago embrulhado e o coração disparado do aluno ansioso que vai fazer uma prova importante são exemplos muitos conhecidos Há muito tempo acreditase que ao contrário das respostas corporais tais como os movimentos dos bra ços e das pernas as reações fisiológicas provocadas pelo sistema nervoso autônomo não estão sob o con trole voluntário do indivíduo As evidências disponí veis para Dollard e Miller também sugeriram que embora as respostas viscerais e glandulares controla das pelo sistema nervoso autônomo possam ser classi camente condicionadas elas não podem ser instrumen talmente condicionadas O condicionamento instru mental ou operante conforme observamos anterior mente é uma forma de aprendizagem em que a ocor rência do reforço é contingente ao aparecimento de uma resposta especificada e se uma recompensa não se segue à resposta ela acaba sendo extinta As res postas autônomas segundo a visão tradicional aceita por Dollard e Miller não eram influenciadas por suas conseqüências não sendo nem reforçadas pela ocor rência de reforços e nem enfraquecidas por sua au sência TEORIAS DA PERSONALIDADE 443 Miller subseqüentemente realizou uma série de estudos em animais cuidadosamente controlados cu jos resultados aparentemente desafiavam essa visão Um experimento de Miller e Banuazizi 1968 envol vendo respostas viscerais em ratos é representativo dessas investigações Dois tipos de respostas internas foram monitorados ritmo cardíaco e contrações in testinais Em um grupo de animais foram escolhidas as contrações intestinais para serem condicionadas Para metade dos sujeitos foi dada uma recompensa cada vez que ocorriam contrações espontâneas acima de certa amplitude Para a outra metade foi dada uma recompensa para as contrações abaixo de uma certa magnitude As contrações aumentaram sistematica mente no decorrer do treinamento nos sujeitos recom pensados por respostas de grande amplitude e dimi nuíram naqueles recompensados por respostas pequenas Nenhuma mudança sistemática no ritmo cardíaco foi encontrada nos dois grupos Em um ou tro grupo de animais houve uma ocorrência espontâ nea de um ritmo cardíaco rápido ou lento na direção apropriada mas nenhuma nas contrações intestinais A limitação do efeito do condicionamento ao tipo es pecífico de resposta que foi seguida pelo reforço foi considerada uma evidência impressionante de que as respostas autônomas podem ser instrumentalmente condicionadas da mesma maneira que as respostas corporais Esses achados revolucionários sugerindo que a resposta autônoma pode ser instrumentalmente con dicionada ergueram várias possibilidades interessan tes Conforme Miller 1969 salientou os sintomas psicossomáticos no ser humano poderiam ser apren didos exatamente como outros sintomas Uma possi bilidade ainda mais fascinante é que as técnicas de condicionamento instrumental poderiam ser usadas terapeuticamente para aliviar a intensidade dos sin tomas somáticos p ex hipertensão arterial quer induzidos por fatores orgânicos quer por fatores psi cológicos Um relato interessante dos experimentos de Miller e algumas aplicações terapêuticas baseadas em seus achados escrito para um público leigo po dem ser encontrados no livro de Jonas de 1973 Visce ral Learning Entretanto Miller Miller Dworkin 1974 relatou subseqüentemente o achado desorien tador de que outros experimentos não tiveram tanto sucesso em demonstrar o condicionamento instrumen tal sugerindo que a existência do fenômeno talvez não tenha sido definitivamente estabelecida Psicoterapia Dollard e Miller preocupamse não apenas com o de senvolvimento das neuroses mas também com o seu tratamento A essência da sua abordagem à psicote rapia é simples Se o comportamento neurótico é aprendido deve ser possível desaprendêlo por meio de alguma combinação dos princípios pelos quais ele foi en sinado Nós acreditamos que esse é o caso A psi coterapia estabelece uma série de condições pe las quais podem ser desaprendidos hábitos neuróticos e aprendidos hábitos nãoneuróticos o terapeuta agindo como uma espécie de professor e o paciente como aprendiz Dollard Miller 1950 p 78 Os procedimentos terapêuticos defendidos por Dollard e Miller são bastante tradicionais O terapeu ta deve ser um ouvinte simpático e permissivo que encoraja o paciente a expressar todos os seus senti mentos e a associar livremente Sejam quais forem os pensamentos do paciente o terapeuta permanece não punitivo e tenta ajudálo a compreender esses pensa mentos e como eles se desenvolveram A contribuição mais inovadora de Dollard e Mil ler consiste em analisar segundo a teoria da aprendi zagem aquilo que ocorre na psicoterapia bemsuce dida Os medos e as culpas irrealistas não se extinguiram porque a pessoa conseguiu desenvolver técnicas para evitar pensamentos e situações que des pertam essas emoções desagradáveis Na situação te rapêutica tentamse criar as condições que resulta rão na extinção O indivíduo é encorajado a expressar as emoções e os pensamentos proibidos e a sentir o medo e a culpa despertados por eles Uma vez que nenhuma conseqüência desagradável se segue a essas expressões podemos esperar que ocorra a extinção do medo neurótico Nos estágios iniciais da terapia é provável que os pacientes discutam problemas ape nas moderadamente perturbadores dos quais eles se permitiram ter consciência Mas à medida que o medo e a culpa irrealistas associados a esses problemas co meçam a desaparecer o efeito de extinção se genera 444 HALL LINDZEY CAMPBELL liza para problemas semelhantes mas mais perturba dores e assim enfraquece a motivação para reprimi los ou evitálos de outras maneiras Gradualmente os pacientes se tornam mais capazes de enfrentar seus conflitos nucleares e o significado de seu comporta mento sintomático O terapeuta apóia constantemen te os pacientes nesse processo encorajandoos a usar rótulos verbais que os ajudam a discriminar entre pen samento e ação seus medos internos e a realidade externa e entre as condições de sua infância em que eles aprenderam seus medos e conflitos e as condi ções de seu mundo adulto Conforme as repressões se desfazem e as discri minações se desenvolvem os pacientes se tornam mais capazes de usar seus processos mentais superiores para encontrar soluções construtivas para os seus proble mas À medida que eles descobrem maneiras melho res de se comportar seus medos se extinguem ainda mais e seus sintomas desaparecem Suas novas ma neiras de responder são fortemente reforçadas por recompensas mais positivas e tomam o lugar dos anti gos sintomas autoderrotistas Todo o processo de de saprender e reaprender que ocorre na terapia tende a ser lento e doloroso mas a aprendizagem que inicial mente levou o paciente ao terapeuta o foi ainda mais O relato teórico do processo terapêutico desen volvido por Dollard e Miller tem várias implicações testáveis algumas das quais foram confirmadas em estudos que analisaram os protocolos de terapia de casos reais Um desses estudos envolvendo o desloca mento um tipo complexo de conflito é descrito na seção seguinte PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Miller e Dollard relataram uma quantidade conside rável de investigações que ilustram ou testam deriva ções de sua posição teórica Em seu volume Social Le arning and Imitation 1941 são resumidos os estudos sobre sujeitos humanos e animais que representam tentativas de confirmar predições derivadas de sua teoria Miller como já mencionamos realizou vários estudos experimentais relevantes para muitos aspec tos da teoria e resumiu diversos deles 1944 1951a 1959 Aqui nós discutiremos uma série de estudos que lidam com o conceito de deslocamento Essas in vestigações não só tentam diminuir a lacuna entre a teoria psicanalítica e os conceitos de ER mas tam bém oferecem evidências experimentais da operação de vários dos conceitos que já discutimos O conceito de deslocamento ocupa uma posição central na teoria psicanalítica sendo comumente usa do para se referir à capacidade do organismo de redi recionar as respostas ou os impulsos para um novo objeto quando eles têm sua expressão negada em re lação ao objeto original Em termos da teoria de Do llard e Miller tal fenômeno pode ser explicado facil mente pelo conceito da generalização de estímulo Miller em uma série de experimentos tentou demons trar o fenômeno empírico mostrar a continuidade da generalização de estímulo e do deslocamento e ofe recer um relato teórico que permitisse novas predi ções acerca desses eventos Um estudo inicial de Miller e Bugelski 1948 ten tou demonstrar o deslocamento nos sujeitos huma nos Esses investigadores aplicaram a um grupo de meninos em um acampamento de verão uma série de questionários que avaliavam as atitudes em rela ção a mexicanos e japoneses Enquanto estavam pre enchendo os questionários os meninos deixavam de participar de um evento social muito valorizado Foi feita uma comparação das atitudes expressas em rela ção aos grupos de minoria antes e depois dessa frus tração Os resultados mostraram que houve um au mento significativo nas atitudes negativas expressas em relação aos dois grupos de minoria seguindose à frustração O aumento na hostilidade foi interpretado como um deslocamento da hostilidade despertada pelos experimentadores quando impediram que os meninos participassem do evento social Em termos psicanalíticos os sujeitos estavam deslocando a hos tilidade sentida em relação aos experimentadores para os membros dos grupos de minoria em termos de E R eles estavam generalizando uma resposta de um objetoestímulo para um objetoestímulo semelhan te De qualquer maneira o estudo mostrou que o fe nômeno em questão realmente ocorre entre os sujei tos humanos e pode ser produzido experimentalmente Miller raciocinou que tanto a teoria psicanalítica quanto a teoria de ER supõem que uma dada respos ta pode ser generalizada não apenas de um estímulo para outro mas também de uma pulsão para outra Freud desde cedo postulou uma considerável inter TEORIAS DA PERSONALIDADE 445 cambialidade ou possibilidade de substituição entre pulsões ou instintos e para o teórico do ER as pul sões são apenas um tipo de estímulo Portanto é per feitamente natural que haja generalização de pulsão bem como de estímulo Para testar essa predição um grupo de ratos foi treinado para correr por um labi rinto sob a motivação da sede e com a recompensa de beber água Esses mesmos animais foram então divi didos em dois grupos Os dois grupos estavam sacia dos de água mas um deles fora privado de comida enquanto o outro fora alimentado até a saciedade A predição era que a resposta de correr pelo labirinto que fora aprendida com a sede seria generalizada ou deslocada para o drive de fome Conseqüentemen te os ratos privados de alimento correriam pelo labi rinto mais rápido que os ratos sem fome Os resulta dos do estudo confirmaram claramente tal predição Também foi possível demonstrar experimentalmente que a resposta de correr pelo labirinto originalmente reforçada pela redução dos estímulos do drive de sede se extinguia quando os animais continuavam corren do pelo labirinto sem nenhuma redução dos estímu los drives Também consistente com a teoria de ER foi a observação de que quando a resposta fora parci almente extinta um intervalo sem nenhuma tentati va produzia uma recuperação espontânea ou um re torno em um nível mais alto de probabilidade de resposta O investigador também demonstrou a gene ralização de resposta do drive de fome para os drives relativamente remotos de dor e medo A maior desse melhança entre o medo e a fome faz com que esse pareça um teste mais convincente da predição da ge neralização de drives do que o estudo anterior Miller incorporou esses achados experimentais como derivações de uma série de cinco suposições muito parecidas com as discutidas em relação à análi se do conflito A principal diferença entre os dois con juntos de suposições é que as referentes ao conflito dizem respeito à distância entre o sujeito e a meta ao passo que as presentes suposições focalizam a seme lhança entre o objetoestímulo original e certos mo delos substitutos Esse modelo aceita o fato de que sempre que ocor re o deslocamento existe uma resposta competindo com a resposta direta e que é mais forte do que a resposta direta Assim a resposta agressiva da crian ça em relação ao pai não é suficientemente forte para superar a resposta de medo provocada pelo mesmo objeto Por essa razão a criança não pode expressar diretamente sua agressão em relação ao pai Além disso o modelo supõe que a resposta direta ao estí mulo original se generaliza para os estímulos seme lhantes e que a resposta concorrente mostra a mesma generalização de estímulo Quanto mais semelhante ao novo estímulo for o estímulo original maior será o grau de generalização Entretanto o gradiente de ge neralização da resposta concorrente inibidora cai ou diminui mais rapidamente do que o gradiente de ge neralização da resposta direta Assim enquanto a res posta concorrente pode ser muito mais forte do que a resposta direta diante do estímulo original no mo mento em que as duas respostas tiverem sido genera lizadas para estímulos com um certo grau de diferen ça a ordem de força pode se inverter isto é a criança pode demonstrar medo em vez de raiva em relação ao pai mas mostrar raiva em vez de medo diante de um bonecopai Tais suposições não apenas permitem a derivação dos fenômenos empíricos que já resumimos desloca mento ou generalização de estímulo e pulsão mas também levam a várias predições adicionais algumas sobre as relações que ainda precisam ser testadas em condições empíricas controladas Miller relatou vári os estudos que apresentam outras evidências empíri cas relevantes para essa teoria a maioria das quais é confirmatória Miller Kraeling 1952 Miller Mur ray 1952 Murray Miller 1952 Os estudos empíricos recémcitados e o raciocí nio teórico que os acompanha demonstram muito cla ramente como as formulações e as investigações des ses teóricos são mais metódicas do que as da maioria dos investigadores da personalidade Percebemos também sua preferência por estudos paradigmáticos envolvendo sujeitos animais mas com estudos relaci onados realizados em sujeitos humanos Está eviden te que esses investigadores não só contribuíram para o entendimento do deslocamento ou da generaliza ção de estímulo mas levaram também a um grande número de afirmações testáveis que quando os pas sos empíricos apropriados forem dados poderão con firmar ou contestar a efetividade dessa teoria 446 HALL LINDZEY CAMPBELL PESQUISA ATUAL As teorias pioneiras de Dollard e Miller juntamente com as de indivíduos como O Hobart Mowrer 1950 1953 e Robert R Sears 1944 1951 têm influenci ado imensamente outros esforços para estender os princípios de aprendizagem à esfera do desenvolvi mento da personalidade e da psicoterapia É impossí vel fazer justiça aos muitos investigadores e teóricos que contribuíram para esse empreendimento Mas o trabalho de dois deles Joseph Wolpe e Martin Selig man servirá para ilustrar as direções em que se de senvolveram as abordagens da teoria da aprendiza gem à personalidade Wolpe É muito interessante comparar as idéias de Wolpe com as de Dollard e Miller Dollard e Miller como vimos foram profundamente influenciados pelo pensamen to psicanalítico e aceitaram como válidos muitos dos insights oferecidos pelos freudianos Eles tentaram combinar as duas tradições juntando à rica literatura da teoria psicanalítica o poder e a precisão dos con ceitos da teoria da aprendizagem Wolpe rejeitou esse tipo de abordagem e sugeriu que um simples conjun to de princípios de aprendizagem estabelecido no la boratório é suficiente para explicar a aquisição de muitos fenômenos da personalidade Ele acha que os métodos tradicionais de psicoterapia deixam igual mente a desejar em termos teóricos e práticos Em lugar desses métodos seriam usadas técnicas radical mente diferentes que passaram a ser chamadas de terapias comportamentais Eysenck 1959a Skinner Lindsley 1954 Tais terapias comportamentais muitas delas desenvolvidas por Wolpe baseiamse na aplicação direta de princípios desenvolvidos no labo ratório de aprendizagem a problemas neuróticos Wolpe um psiquiatra cuja formação médica foi feita na Universidade de Witwatersrand na África do Sul MB 1939 MD 1948 teve muitos anos de experiência prática em psicoterapia Exceto por algu mas interrupções serviço militar ou treinamento avan çado ele trabalhou em consultório particular no seu país de origem de 1940 a 1959 Na última década desse período ele também deu aulas de psiquiatria na Universidade de Witwatersrand onde realizou es tudos de laboratório sobre neuroses experimentais em animais e desenvolveu algumas técnicas de terapia comportamental Esses estudos resultaram em vários artigos publicados em jornais de psiquiatria e psicolo gia Ele passou o ano acadêmico de 19561957 como fellow no Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califórnia Nesse período tra balhou em um livro Psychotherapy by Reciprocal Inhi bition publicado em 1958 no qual resumiu e ampliou suas idéias sobre o desenvolvimento e tratamento das neuroses Em 1960 Wolpe se mudou para os Estados Unidos como professor de psiquiatria primeiro na Escola de Medicina da Universidade de Virgínia e de pois em 1965 na Escola de Medicina da Universida de de Temple Seu continuado trabalho em terapia comportamental culminou em várias publicações in cluindo os livros The Conditioning Therapies 1966 em colaboração com A Salter e L Reyna Behavior Therapy Techniques 1966 com AA Lazarus The Practice of Behavior Therapy 1973 e Theme and Va riations A Behavior Therapy Casebook 1976 Wolpe foi presidente da Association for Advancement of Beha vior Therapy em seu segundo ano 19671968 Ele continua trabalhando como Distinguished Professor of Psychology na Universidade de Pepperdine e conti nua como coeditor do Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry Como poderia ser esperado a partir de seu ba ckground em psiquiatria Wolpe limitou seu interesse pela personalidade às psiconeuroses e inicialmente buscou uma interpretação psicanalítica de sua etiolo gia Ele descreveu os eventos que o levaram a rejeitar essa posição inicial em favor de uma abordagem de teoria da aprendizagem no prefácio de seu trabalho mais importante Psychotherapy by Reciprocal Inhibiti on A teoria das neuroses e os métodos de psicotera pia descritos neste livro originamse diretamente da moderna teoria da aprendizagem A cadeia de eventos que conduziu a esse relato data do ano de 1944 quando como oficial militar médico eu tinha muito tempo para ler Na época um fiel se guidor de Freud fiquei certo dia surpreso por encontrar em Sex and Repression in Savage Socie ty de Malinowski persuasivas evidências contra a suposição de que a teoria de Édipo tinha uma aplicação universal A agitação que isso provocou em mim logo desapareceu pois a questão não TEORIAS DA PERSONALIDADE 447 parecia vital mas aproximadamente um mês de pois eu casualmente li em Psychology of Early Childhood de C W Valentine um relato de ob servações de crianças pequenas que lançava dú vidas sobre a validade da teoria edípica mesmo na sociedade ocidental Dessa vez a minha fé na fortaleza inabalável do freudianismo foi seria mente abalada e um parágrafo em um jornal so bre os russos não aceitarem a psicanálise foi sufi ciente para me motivar a descobrir o que eles aceitavam a resposta foi Pavlov Essa resposta não me trouxe diretamente muitos esclarecimen tos mas Pavlov levou a Hull e Hull aos estudos da neurose experimental que sugeriram os novos métodos de psicoterapia p vii Wolpe concorda com Hans Eysenck ver Capítulo 9 que embora os indivíduos possam diferir no grau em que são constitucionalmente predispostos a de senvolver uma ansiedade neurótica todo comporta mento neurótico é aprendido Sua concepção desse comportamento se afasta muito da clássica teoria psi canalítica como eles fazem questão de salientar As diferenças são descritas sucintamente na seguinte passagem Quando nós observamos as pessoas se compor tando de uma maneira aparentemente anormal autodestrutiva ou desajustada temos duas manei ras muito óbvias e bemestabelecidas de interpre tar seu comportamento A primeira é o modelo médico de acordo com ele essas pessoas são do entes Elas sofrem de alguma forma de doença e o comportamento observado é simplesmente um sintoma ou conjunto de sintomas da doença O tratamento consistiria em curar a doença subja cente isso faria os sintomas desaparecerem auto maticamente A aceitação dos ensinamentos de Freud deve muito ao seu uso inteligente da analogia médica as queixas do paciente são ape nas sintomas a doença subjacente é o complexo que precisa ser erradicado pela psicoterapia in terpretativa a fim de que os sintomas possam desaparecer para sempre O tratamento sintomá tico por essa razão é inútil recaídas e substitui ção de sintomas mostrarão a força do complexo sobrevivente Em claro contraste com o modelo médico nós temos o modelo comportamental que constitui a base da terapia comportamental Eysenck e Ra chman 1965 Esse modelo postula muito sim plesmente que todo comportamento é aprendido e que o comportamento anormal é aprendido de acordo com as mesmas leis do comportamento normal Os princípios de aprendizagem e condi cionamento se aplicam igualmente a ambos per mitindonos entender a gênese tanto do compor tamento normal quanto do anormal Assim os sintomas dos quais o paciente se queixa são sim plesmente itens do comportamento que o pacien te aprendeu não existe nenhuma causa ou com plexo subjacente produzindo e sustentando os sintomas e fazendoos reaparecer se forem eli minados por um tratamento puramente sintomá tico Dessa maneira de ver o problema também decorre que os comportamentos uma vez apren didos também podem ser desaprendidos ou ex tintos como diria o pavloviano Eysenck 1976b p 331333 A teoria psicanalítica postula que um conflito in consciente entre forças instintuais e processos defen sivos do ego está no âmago da neurose Aqui tam bém Wolpe discorda vigorosamente O fenômeno nuclear é simplesmente uma reação de medo condici onado Uma revisão de certos experimentos realiza dos com animais levou Wolpe a sugerir que embora expor um indivíduo a uma situação que simultanea mente provoca fortes respostas concorrentes possa resultar em medo ou ansiedade neurótica o conflito não é o ingrediente necessário na gênese das neuro ses nem o mais freqüente Mais comumente insiste Wolpe o fenômeno nuclear é simplesmente uma rea ção de medo condicionado provocada pela conjun ção em uma ou mais ocasiões de um estímulo inici almente neutro com um evento fisicamente ou psicologicamente doloroso Se o trauma é suficiente mente intenso e a pessoa especialmente vulnerável talvez uma única experiência dessas seja suficiente para estabelecer uma reação de ansiedade muito for te e persistente Uma vez aprendidas as ansiedades condiciona das são originadas não só pelo estímulo condicionado original mas também devido à generalização de es 448 HALL LINDZEY CAMPBELL tímulo por outros estímulos As reações de ansiedade evocadas por esses vários estímulos levam o indiví duo a dar novas respostas que não raramente levam à rápida redução da ansiedade Nessas ocasiões outros estímulos que casualmente estavam presentes no momento em que ocorreu a redução do drive vão ad quirir a capacidade de provocar a ansiedade Dessa maneira as reações de medo podem se espalhar para estímulos que têm pouca ou nenhuma semelhança com aqueles envolvidos no condicionamento original As teorias de Wolpe sobre as neuroses humanas foram profundamente influenciadas pelos resultados de uma série de experimentos que ele realizou com gatos durante a década de 40 experimentos esses estimulados por investigações anteriores do psiquia tra Jules Masserman 1943 Em um dos estudos Mas serman demonstrara que os animais que haviam sido treinados para receber comida em uma dada localiza ção e que depois receberam choques nesse mesmo lugar desenvolveram intensas reações de ansiedade ou neuroses experimentais O experimento fora pla nejado para demonstrar que o conflito conforme afir ma a teoria psicanalítica é um componente impor tante na produção das neuroses e seus resultados são freqüentemente citados em apoio a essa afirmação Wolpe repetiu as condições do experimento de Mas serman mas acrescentou um outro grupo de animais O segundo grupo recebeu choques no aparelho expe rimental mas sem ter tido antes o treinamento com a comida recebido pelo grupo do conflito O comporta mento emocional provocado pelas pistas do ambiente experimental foi semelhante em ambos os grupos um achado que levou Wolpe a acreditar que a ansiedade é tipicamente o elemento essencial na formação das neuroses e que o conflito não precisa necessariamen te estar presente Wolpe também tentou curar as neuroses de seus animais experimentais por meio de vários métodos Uma técnica extremamente bemsucedida demons trada em um estudo era alimentar os animais em uma sala de laboratório apenas levemente parecida com aquela onde os choques tinham sido aplicados de pois em uma sala um pouco mais parecida e assim por diante Os animais eventualmente conseguiam comer e executar outras atividades no ambiente de treinamento sem qualquer sinal visível de perturba ção emocional Wolpe padronizou esse método segundo um pro cedimento relatado muitos anos antes em um estudo de Mary Cover Jones 1924 dos medos infantis Jo nes usou com sucesso uma técnica que em seus ele mentos básicos passou mais tarde a ser chamada de contracondicionamento em que as crianças recebiam uma comida atraente enquanto um objeto temido es tava a certa distância delas O objeto era progressiva mente trazido para mais perto da criança até final mente se tornar um sinal de comida em vez de um estímulo que originava medo Tais achados levaram Wolpe a formular o seguin te princípio Se podemos fazer com que uma respos ta antagonista à ansiedade ocorra na presença de es tímulos ansiogênicos de modo que seja acompanhada por uma supressão completa ou parcial das respostas de ansiedade o vínculo entre esses estímulos e as res postas de ansiedade será enfraquecido Wolpe 1958 p 71 Wolpe via esse princípio como um exemplo específico do princípio ainda mais geral da inibição recíproca Conforme Wolpe usa o termo a inibição recíproca se refere à situação em que a eliciação de uma resposta parece provocar um decréscimo na for ça de evocação de uma resposta simultânea Wolpe 1958 p 29 Wolpe acreditava que as neuroses humanas de senvolvidas no decorrer da vida cotidiana obedeciam essencialmente às mesmas leis das neuroses experi mentais de seus animais de laboratório Assim as te rapias baseadas no princípio da inibição recíproca deveriam ter sucesso com casos clínicos humanos Comer não parecia ser uma resposta apropriada a opor contra reações de ansiedade no caso de adultos de modo que Wolpe tinha de encontrar uma alternativa Ele sugeriu o uso de várias respostas antagonistas à ansiedade e planejou ou adotou técnicas terapêuticas baseadas nessas respostas As mais amplamente utili zadas são o treinamento da assertividade e a dessen sibilização sistemática O treinamento da assertivida de originalmente sugerido por Salter 1949 é um método para descondicionar a ansiedade em indiví duos que são inibidos e temerosos demais em situa ções interpessoais para responder adequadamente O terapeuta tenta persuadir o indivíduo de que agir as sertivamente o que Wolpe define como a expressão adequada de qualquer outra emoção além da ansie dade em relação a uma outra pessoa 1973 p 81 TEORIAS DA PERSONALIDADE 449 será vantajoso para ele e tenta ensinarlhe um com portamento apropriado por meio de técnicas como desempenho de papel em situações imaginárias que são perturbadoras na vida real e a prática de respos tas assertivas A dessensibilização sistemática empre ga o relaxamento muscular profundo em oposição à ansiedade Uma vez que a dessensibilização é a mais desenvolvida das técnicas de Wolpe e está mais liga da ao seu nome ela será a única terapia comporta mental discutida detalhadamente A dessensibilização sistemática é modelada segun do os procedimentos de contracondicionamento que Wolpe usava para tratar as neuroses induzidas por choques em seus animais experimentais Os pacientes recebem inicialmente um treinamento que lhes per mite relaxar voluntariamente todos os seus grandes grupos musculares A segunda tarefa que precisa ser realizada antes de a terapia começar é identificar as áreas de problema do indivíduo e as situações que despertam desconforto emocional Essa informação é obtida em entrevistas iniciais e terapeuta e paciente juntos estabelecem uma ou mais hierarquias de ansi edade em que uma série de situações relacionadas são classificadas de acordo com a quantidade de ansi edade que provocam A terapia consiste em fazer com que os indivídu os relaxem e depois imaginem tão vividamente quan to possível cada cena de sua hierarquia de ansiedade enquanto mantêm o relaxamento Os pacientes come çam imaginando o item menos ansiogênico de sua hierarquia e são instruídos para parar imediatamente se começarem a se sentir ansiosos Eles então repe tem essa cena até poderem imaginála por alguns se gundos e continuar completamente relaxados Quan do a reação de ansiedade à cena se extingue eles passam para o item seguinte A extinção de reações leves de ansiedade à primeira cena se generaliza para esse próximo item tornando mais fácil a extinção a essa cena e assim sucessivamente por toda a lista de situações ansiogênicas Em seu volume de 1958 Wolpe relatou que de aproximadamente 200 indivíduos que ele e seus cole gas tinham tratado com a dessensibilização e outras técnicas de inibição recíproca cerca de 90 ficaram curados ou mostraram grande melhora um núme ro muito mais alto do que o relatado para terapias mais convencionais Além disso eram necessárias con sideravelmente menos sessões para chegar a esses re sultados do que na psicoterapia comum Wolpe tam bém relatou que embora entrevistar o indivíduo que está buscando ajuda para determinar os estímulos eli ciadores de ansiedade e as hierarquias apropriadas exija uma perspicácia clínica considerável as pessoas relativamente nãotreinadas e inexperientes podem supervisionar com sucesso as sessões de dessensibili zação Os dados de Wolpe encorajaram outros terapeu tas a usar a dessensibilização para tratar uma varie dade de ansiedades neuróticas e começaram a apare cer na literatura muitos estudos de caso relatando bons resultados Wolpe reconheceu que por mais anima dores que fossem esses relatos o rigor científico exi gia que as conclusões sobre a relativa eficácia da des sensibilização sistemática em comparação com outras técnicas terapêuticas se baseassem nos resultados de estudos experimentais cuidadosamente controlados Os resultados desses estudos não só confirmaram que a dessensibilização pode ser usada com efeitos bené ficos para tratar muitos tipos de problemas às vezes em conjunto com outras técnicas comportamentais mas também que o procedimento talvez seja superior ao de técnicas terapêuticas mais tradicionais O sucesso da dessensibilização estimulou vários investigadores a realizar testes experimentais sérios com as proposições teóricas de Wolpe e a propor teo rias alternativas para explicar a efetividade da des sensibilização e as extensões ou modificações da téc nica Um resultado importante foi o desenvolvimento dos procedimentos de orientação comportamental visando à reestruturação cognitiva ou modificação dos pensamentos destrutivos que acompanham as reações de ansiedade p ex Meichenbaum 1976 Uma con seqüência desses desenvolvimentos é que a área atu almente se caracteriza por um saudável debate teóri co e que os terapeutas comportamentais têm ao seu dispor várias técnicas incluindo a dessensibilização sistemática cada uma das quais isoladamente ou em combinação pode ser especialmente útil com diferen tes indivíduos ou tipos de queixas Seligman Em sua influente pesquisa e obra Martin Seligman focaliza um conjunto mais limitado de fenômenos mas mostra a mesma disposição de Wolpe de aplicar prin cípios originalmente descobertos com animais no la 450 HALL LINDZEY CAMPBELL boratório aos problemas emocionais do ser humano Seligman observa que no mundo natural podem ocor rer eventos desagradáveis e traumáticos sobre os quais a pessoa ou o animal tem muito pouco controle Quan do o organismo descobre que nada pode fazer para evitar ou escapar de eventos aversivos que reforço e comportamento não são contingentes pode reagir com o que Seligman chama de desamparo aprendido Uma das conseqüências da impotência ou desamparo é a disrupção emocional muito mais intensa do que a das pessoas que experienciam os mesmos eventos de sagradáveis mas que têm certo controle sobre eles O desamparo também leva a um decréscimo na motiva ção o organismo comportase passivamente e parece desistir pouco fazendo para tentar escapar ao estí mulo nocivo Ainda mais sério o desamparo pode le var a um déficit cognitivo que interfere na capacidade do organismo de perceber a reação entre resposta e reforço em outras situações em que o controle é pos sível Seligman observou a semelhança entre o desam paro aprendido que ele e outros demonstraram ex perimentalmente em laboratório com várias espécies animais incluindo o ser humano e o fenômeno psi copatológico da depressão Os comportamentos apre sentados pelo indivíduo deprimido são surpreenden temente semelhantes aos associados ao desamparo aprendido e propõe ele têm origens semelhantes Os métodos que são efetivos para reduzir o desamparo experimentalmente induzido também podem ser be néficos para tratar reações depressivas Portanto os estudos experimentais do desamparo aprendido po dem servir como um modelo de laboratório da de pressão conforme ela ocorre no mundo natural Seligman cursou psicologia experimental na Uni versidade da Pensilvânia recebendo seu diploma em 1967 Ele começou sua carreira acadêmica como pro fessorassistente na Universidade de Cornell voltan do à Universidade da Pensilvânia em 1970 onde é atualmente professor de psicologia Seligman dirigiu o programa de formação em psi cologia clínica da Universidade da Pensilvânia por 14 anos Sua atividade recente mais notável foi traba lhar como consultor em uma pesquisa sobre a experi ência das pessoas com a psicoterapia dirigida pelo Consumer Reports ver Seligman 1995a 1996 mais o comentário seguinte ao último artigo Seligman foi presidente da Divisão 12 da Associação Psicológica Americana Psicologia Clínica e foi eleito presidente da Associação Psicológica Americana em 1998 Além disso recebeu dois prêmios de Distinguished Scientific Contribution da Associação Psicológica Americana o William James Fellow Award da Sociedade Psicológica Americana por ciência básica e o James McKeen Cat tell Fellow Award pela aplicação do conhecimento psi cológico o Laurel Award da Associação Americana por Psicologia Aplicada e Prevenção mais o MERIT Award do Instituto Nacional de Saúde Mental Martin 1996 Seligman escreveu 13 livros mais notavelmente Hel plessness 1975 Learned Optimism 1991 e The Op timistic Child 1995b O trabalho de Seligman sobre o desamparo apren dido teve duas fases separadas pela transição para um modelo atributivo que explicava o desamparo no ser humano Abramson Seligman Teasdale 1978 Como uma introdução para a primeira fase conside re o seguinte experimento Overmier Seligman 1967 Um animal experimental um cão é coloca do em uma caixa dividida por uma barreira de pouca altura Periodicamente ouvese um som e logo de pois o cão experiencia um choque doloroso mas fisi camente inofensivo No início do choque o cão gane e sai correndo e em certo momento pula sobre a bar reira enquanto o choque ainda está sendo adminis trado Quando o cão cruza a barreira tanto o choque quanto o som cessamCom sucessivas tentativas o cão pula sobre a barreira para escapar do choque cada vez mais rapidamente Finalmente o animal espera calmamente em frente à barreira pulando agilmente sobre ela assim que o som inicia conseguindo dessa forma evitar o choque Um outro cão é colocado em uma rede de conten ção e recebe vários choques breves sem poder fazer nada para evitálos ou deles fugir Quando colocado na caixa com a barreira no dia seguinte o animal inicialmente age de maneira muito parecida à do cão que não tivera a experiência inicial com o choque in controlável mas logo ficam claras algumas diferen ças Mesmo que o animal acidentalmente pule a bar reira ele não aprende em tentativas subseqüentes a cruzar a barreira para evitar ou escapar do choque Em vez disso o cão deixa de ser ativo ficando senta do ou deitado choramingando até o som e o choque terminarem Quase todos os cães sem experiência anterior com o choque aprendem a resposta de pular a barreira para escapar da estimulação aversiva ou para evitála Ao TEORIAS DA PERSONALIDADE 451 contrário a maioria dos animais que receberam inici almente o choque incontrolável responde apaticamen te ao choque na caixa com a barreira e mostra pouca ou nenhuma aprendizagem da resposta de pular a barreira Esse efeito de desamparo aprendido não é exclusivo dos cães tendo sido demonstrado também em gatos Thomas Dewald 1977 peixes Padilla Padilla Ketterer Giacolone 1970 ratos Seligman Beagley 1975 e no homem Hiroto 1974 Hiroto Seligman 1975 Klein FencilMorse Seligman 1976 Em um experimento particularmente esclarece dor Hiroto e Seligman 1975 não só demonstraram o desamparo aprendido no sujeito humano mas tam bém mostraram que os eventos incontroláveis e desa gradáveis que induziam o desamparo não precisavam ser fisicamente desagradáveis Três grupos de univer sitários foram colocados em uma situação na qual po diam evitar ou escapar de um ruído alto movendo a mão de um lado de uma caixa para o outro Antes dessa tarefa um dos grupos recebera problemas de aprendizagem de discriminação que podiam ser re solvidos outro grupo recebera problemas que igno rava serem insolúveis e o terceiro grupo não recebe ra nenhum problema Os indivíduos que tinham recebido problemas solúveis ou nenhum problema aprenderam rapidamente a evitar ou a escapar do ruído enquanto aqueles que tinham recebido os pro blemas insolúveis e portanto submetidos a um fra casso inevitável não aprenderam Segundo Seligman 1976 esses resultados revelam principalmente um déficit motivacional nas pessoas expostas a eventos incontroláveis isto é elas demonstram a incapacida de de iniciar respostas que poderiam afastar os even tos indesejáveis Os experimentos complementares lançaram luz sobre o déficit cognitivo que é um dos sintomas do desamparo aprendido Miller e Seligman 1975 primeiro deram a dois grupos de alunos a ta refa de aprender a escapar de um ruído desagradável que ocorria periodicamente Os alunos de um dos gru pos conseguiram descobrir uma resposta que fazia o ruído cessar O outro grupo recebeu exatamente o mesmo ruído mas foi levado a acreditar que o térmi no era automático e não tinha relação com suas res postas que o reforço e seu comportamento não ti nham relação ou não eram contingentes Um terceiro grupo não recebeu nenhum prétratamento Todos os alunos receberam então uma série de anagramas para resolver O grupo que previamente experienciara um ruído inescapável conseguiu resolver menos proble mas do que os outros dois Além de revelar déficits motivacionais e cogniti vos os organismos submetidos a eventos aversivos incontroláveis apresentam freqüentemente uma acen tuada perturbação emocional Os sujeitos humanos que puderam fazer cessar uma estimulação desagradável realizando algum ato instrumental relataram menos estresse emocional e perturbação física do que os su jeitos manietados que receberam a mesma estimula ção mas foram forçados a suportála passivamente Glass Singer 1972 Em experimentos com ani mais os sujeitos manietados tendiam mais a desen volver úlceras e a apresentar perda de peso perda de apetite e outros sintomas de grave estresse emocional do que os sujeitos cujas respostas controlavam a du ração dos eventos desagradáveis Weiss 1971 Se os sujeitos são expostos apenas brevemente a um estresse inescapável o desamparo aprendido é apenas um fenômeno temporário que desaparece ra pidamente e nos experimentos humanos é apresen tado apenas no ambiente de laboratório Mas as in vestigações com animais demonstram que a repetida exposição pode levar não apenas a graves reações emocionais como as recémdescritas mas também a prolongados déficits motivacionais e cognitivos Os ani mais sem nenhuma experiência anterior em lidar com traumas parecem especialmente suscetíveis ao desam paro aprendido Os animais criados em ambientes de laboratório benignos por exemplo são muito mais propensos a exibir o desamparo aprendido após a ex posição a um estresse inescapável do que os animais que experienciaram as dificuldades do mundo natu ral Seligman Groves 1970 Seligman Maier 1967 Os humanos testados no laboratório também di ferem em sua suscetibilidade à síndrome de desam paro Não sabemos quais são as experiências de vida que tornam algumas pessoas particularmente propen sas ao desamparo mas foi demonstrado que existem diferenças relacionadas às respostas das pessoas em um teste de personalidade Rotter 1966 que media a crença no controle interno versus externo do refor ço Dweck Reppucci 1973 Hiroto 1974 Os indi víduos externos aqueles que percebem que aquilo que lhes acontece na vida é uma questão de sorte e além de seu controle tendem mais ao desamparo de 452 HALL LINDZEY CAMPBELL pois de serem expostos a eventos desagradáveis e ines capáveis do que os indivíduos internos aqueles que vêem o seu destino como dependendo em grande parte deles mesmos Uma cura bastante simples foi encontrada para o desamparo transitório induzido em sujeitos huma nos no laboratório dar aos sujeitos a experiência de conseguir dominar alguma tarefa logo depois de te rem sido expostos aos estímulos aversivos inescapá veis Klein Seligman 1976 Para os indivíduos que apresentam desamparo em situações de vida real po dem ser necessários métodos terapêuticos mais com plicados Dweck 1975 por exemplo planejou pro cedimentos terapêuticos para crianças desamparadas aquelas que segundo os professores e diretores das escolas tendiam a sairse mal em seu trabalho esco lar quando ameaçadas de fracasso Essas crianças tam bém tendiam mais do que seus iguais nãodesampa rados a atribuir seus sucessos e fracassos intelectuais a forças externas a elas ou a atribuir seu fracasso à falta de capacidade ambas causas incontroláveis e não à sua falta de esforço uma causa controlável As crianças passaram por um programa prolongado de várias sessões em que recebiam problemas para re solver Em um grupo as crianças foram ensinadas a assumir a responsabilidade por seus fracassos e a atri builos ao esforço insuficiente Em um segundo gru po as crianças só tiveram experiências de sucesso Em um teste de póstratamento as crianças recebe ram problemas difíceis e inevitavelmente não conse guiram resolver alguns Após o fracasso o desempe nho daquelas que só tinham tido sucessos deterio rouse como no ambiente escolar mas o desempenho das crianças treinadas para assumir responsabilidade pessoal mantevese igual ou melhorou Seligman observou paralelos notáveis entre o de samparo aprendido induzido no laboratório e o fe nômeno da depressão reativa assim chamado porque o estado é presumivelmente provocado por algum evento emocionalmente perturbador como perda do emprego morte de uma pessoa amada ou fracasso em alguma atividade valorizada A maioria das pes soas sofre de leves ataques de depressão de tempos em tempos mas para muitas o estado pode ser gra ve e duradouro trazendo inclusive a possibilidade de suicídio As pessoas deprimidas são tipicamente len tas em sua fala e nos movimentos corporais elas se sentem incapazes de agir ou tomar decisões parecem ter desistido e sofrer do mal que um autor Beck 1967 descreve como uma paralisia da vontade Quan do solicitadas a realizar alguma tarefa as pessoas de primidas tendem a insistir que não adianta tentar por que elas não vão conseguir descrevendo seu desempenho como muito pior do que na realidade é Todos esses sintomas se parecem com o desamparo aprendido Subjacente à depressão propõe Seligman 1975 existe não um pessimismo generalizado mas um pessimismo específico quanto à capacidade das pró prias ações p 122 Essa crença de que o reforço não é contingente às próprias ações é naturalmente o núcleo do desamparo aprendido Assim de acordo com a teoria de Seligman a depressão representa um tipo de desamparo aprendido e é desencadeada pelas mesmas causas experienciar eventos traumáticos que os melhores esforços da pessoa não conseguiram evi tar ou fazer cessar e que ela se sente incapaz de con trolar Em um teste experimental do modelo de depres são do desamparo aprendido Miller e Seligman 1976 fizeram com que grupos de alunos levemente deprimidos e de nãodeprimidos realizassem duas sé ries de tarefas uma envolvendo habilidade e a outra sorte e antes de cada tarefa o aluno deveria dizer qual era a sua expectativa de sucesso Na tarefa de habilidade os alunos nãodeprimidos ajustaram suas expectativas para cima e para baixo dependendo de sucesso ou fracasso no problema anterior mas na ta refa de sorte eles não mostraram quase nenhuma mudança em suas expectativas Os alunos deprimidos mostraram pouca mudança depois do sucesso e do fracasso na tarefa de sorte ou na tarefa envolvendo habilidade Os alunos nãodeprimidos que tinham sido prétratados com estímulos desagradáveis inescapá veis mostraram o mesmo padrão O desamparo indu zido no laboratório e a depressão que ocorria natural mente tiveram portanto o mesmo efeito reduzir a expectativa de que o esforço pessoal influencie o re sultado O desamparo exibido no laboratório por universi tários levemente deprimidos pode ser amenizado se lhes proporcionarmos uma série de experiências de sucesso Klein Seligman 1976 Os procedimentos de tratamento para pessoas mais gravemente depri midas baseados no modelo do desamparo aprendi do estão começando a ser desenvolvidos As várias técnicas relacionadas às planejadas por Wolpe foram TEORIAS DA PERSONALIDADE 453 consideradas promissoras como treinar a pessoa de primida para ser mais assertiva Taulbee Wright 1971 ou realizar uma série de tarefas graduadas que requerem cada vez mais esforço Burgess 1968 O segredo da terapia bemsucedida com depressivos sugere Seligman é restaurar seu senso de eficácia fazêlos perceber que eles podem controlar resulta dos pelo próprio comportamento Segundo o modelo original de Seligman a carac terística de déficits presente no desamparo aprendido ocorre quando o organismo adquire i e aprende uma expectativa de futura independência entre a res posta e o resultado O problema com esse modelo quando aplicado ao desamparo humano no laborató rio e à depressão humana foi seu fracasso em expli car as condições limítrofes Peterson Seligman 1984 Isto é que fatores controlam a cronicidade e a generalidade do desamparo e da depressão e por que a depressão está associada a uma perda de autoesti ma A revisão de Abramson e colaboradores 1978 da teoria do desamparo incorporou a explicação cau sal da pessoa sobre o evento incontrolável Especifi camente ela postula que quando as pessoas encon tram eventos ruins incontroláveis elas perguntam por quê Três dimensões explanatórias capturam a natu reza de suas possíveis respostas Primeiro a causa pode relacionarse com a pessoa ou com a situação i e uma atribuição ou explicação interna versus externa Segundo a causa pode persistir ao longo do tempo ou ser temporária uma explicação estável versus ins tável Finalmente a causa pode afetar uma varieda de de situações ou limitarse a um único resultado uma explicação global versus específica A Tabela 131 apresenta exemplos de tipos possíveis de expli cações causais Segundo a reformulação uma atribui ção interna para um evento ruim tende a produzir uma perda de autoestima Uma explicação estável para um evento ruim significa que uma reação de pressiva tenderá a persistir E se for invocada uma explicação global para um evento ruim os déficits de desamparo ou a depressão tenderão a generalizarse para muitas situações Os indivíduos podem ser distinguidos por estilos explanatórios característicos As diferenças individu ais nas tendências explanatórias são necessárias para explicar por que pessoas diferentes têm reações dife rentes aos mesmos eventos Os estilos característicos dos indivíduos para explicar os eventos podem ser inferidos a partir do Attributional Style Questionnaire no qual os respondentes avaliam a internalidade a estabilidade e a globalidade das suas explicações cau sais para uma série de eventos tais como Você vai fazer uma entrevista de emprego e ela corre mal Alternativamente o estilo explanatório pode ser infe TABELA 131 Exemplos de Explicações Causais para o Evento Minha Conta no Banco Entrou no Negativo Explicação Estilo Interna Externa Estável Global Sou incapaz de fazer qualquer coisa Todas as instituições cometem erros direito cronicamente Específico Sempre tenho problemas em calcular Este banco sempre usou técnicas antiquadas meu saldo Instável Global Tive gripe por algumas semanas e As compras de férias fazem com que a gente deixei tudo descambar vá fundo Específico A única vez em que não dei nenhum Estou surpreso meu banco nunca tinha cheque é a única vez que a conta cometido um erro antes entra no negativo Reimpressa de Peterson e Seligman 1984 p 349 com permissão 454 HALL LINDZEY CAMPBELL rido por meio da análise de conteúdo e da avaliação das explicações que as pessoas oferecem em cartas diários entrevistas ou outros documentos pessoais Segundo essa revisão um estilo explanatório depres sivo é aquele em que o indivíduo tende a dar explica ções internas estáveis e globais para eventos ruins Esse estilo é um fator de risco para déficits de desam paro e depressão Curiosamente Peterson e Seligman 1984 consideram o estilo explanatório um traço de personalidade Eles dão três razões para essa conclu são o estilo é inferido a partir da consistência da ex plicação em diferentes situações as pessoas diferem em quão consistentemente elas dão certas explicações ao longo das situações e as medidas de estilo expla natório apresentam uma estabilidade razoavelmente alta ao longo do tempo A reformulação de Seligman é um exemplo do que freqüentemente é chamado de modelo de diátesees tresse Isto é a depressão resulta da combinação de uma diátese ou predisposição neste caso o estilo explanatório depressivo e um estressor situacional nesse modelo um evento ruim incontrolável Am bos os fatores devem estar presentes para que ocorra o resultado Os resultados de numerosos estudos revelaram se consistentes com o modelo Por exemplo Peterson e Seligman 1984 descreveram resultados confirma tórios de estudos empregando várias estratégias de pesquisa NolenHoeksema Girgus e Seligman 1986 1992 relataram conexões entre o estilo explanatório e a depressão em um estudo longitudinal de crianças Peterson Seligman e Vaillant 1988 descobriram que o estilo explanatório pessimista aos 25 anos de idade era um fator de risco para a doença física na meia idade ver Peterson e Seligman 1987 para uma dis cussão de possíveis mecanismos mediadores Selig man e Schulman 1986 descobriram que o estilo explanatório de agentes de seguro principiantes pre dizia tanto a persistência na carreira quanto o valor em dólar das apólices vendidas por aqueles que conti nuavam como agentes Da mesma forma Peterson e Barrett 1987 relataram que um estilo explanatório pessimista predizia uma média baixa nas notas no fi nal do primeiro ano da faculdade mesmo depois de controlados os escores no SAT Duas outras revisões da reformulação foram pro postas recentemente Primeiro Abramson Metalsky e Alloy 1989 oferecem uma teoria da depressão do desamparo em que as atribuições causais são desen fatizadas e o desamparo é uma causa proximal sufici ente dos sintomas de depressão do desamparo O desamparo por sua vez se refere à expectativa de que resultados extremamente desejados não ocorram ou ocorram resultados extremamente aversivos asso ciada a uma expectativa de que nenhuma resposta do repertório do sujeito mude a probabilidade de ocor rência desses resultados p 359 Metalsky e Joiner 1992 e Metalsky Joiner Hardin e Abramson 1993 apresentam uma confirmação parcial desse novo mo delo Segundo Seligman recentemente transferiu sua atenção do desamparo aprendido para o otimismo aprendido Ele continua vendo a depressão como uma conseqüência de uma maneira pessimista de pensar sobre o fracasso O otimismo aprendido é visto como um antídoto Aprender a pensar de modo mais oti mista quando fracassamos nos deixa permanente mente capazes de evitar a depressão Isso também nos ajuda a conseguir uma saúde cada vez melhor Se ligman 1991 p 290 ver também 1995b Seligman descreve as estratégias para se aprender o comporta mento otimista e defende um otimismo flexível como uma abordagem à vida Essa é uma posição fascinan te até o momento não testada STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO A nossa discussão da teoria e da pesquisa de Dollard e Miller deixou claras muitas virtudes Os principais conceitos dessa teoria são claramente expostos e ge ralmente vinculados a certas classes de eventos empí ricos São raras as alusões vagas ou o apelo à intuição no trabalho desses teóricos O leitor prático e positi vista terá muito a admirar em sua obra Além disso a evidente objetividade não impede muitos teóricos da aprendizagem de ER de estarem prontos e ansiosos para abarcar uma ampla variedade de fenômenos empíricos com seus instrumentos conceituais Embo ra suas formulações comecem no laboratório eles não hesitam em avançar com elas até os fenômenos com portamentais mais complexos Uma contribuição extremamente significativa da teoria do ER ao cenário da personalidade é o cuida doso detalhe com que essa posição apresenta o pro cesso de aprendizagem Obviamente a transforma TEORIAS DA PERSONALIDADE 455 ção do comportamento como resultado da experiên cia é uma consideração crucial para qualquer teoria adequada da personalidade mas muitas teorias igno ram grandemente tal questão ou passam por ela com umas poucas frases estereotipadas Nesse sentido a teoria do ER é um modelo a ser seguido por outras posições teóricas A facilidade com que Dollard e Miller extraem sabedoria da antropologia social e da psicanálise clí nica representa para muitos um outro aspecto atra ente da sua posição Eles utilizam variáveis sociocul turais mais explicitamente do que quase todos os outros teóricos discutidos e vemos que sua teoria deve muito ao impacto da psicanálise A facilidade e a so fisticação com que as variáveis socioculturais são in troduzidas na teoria podem estar relacionadas ao fato de que essa teoria tem sido aplicada por antropólogos culturais mais amplamente do que qualquer outra te oria da personalidade exceto a psicanálise A disposição a incorporar as hipóteses e as espe culações de outros tipos de teoria como a psicanáli se embora tentadora para muitos de dentro e de fora do grupo da aprendizagem não foi universalmente aceita por aqueles que defendem a aplicação de prin cípios de aprendizagem aos fenômenos da personali dade Psicólogos como Bandura ver Capítulo 14 Wolpe e Eysenck ver Capítulo 9 sem falar naqueles que adotam a abordagem skinneriana ver Capítulo 12 não só vêem pouca necessidade de ir além dos princípios estabelecidos no laboratório de aprendiza gem mas também discordam ativamente das idéias de teóricos da personalidade mais tradicionais parti cularmente os de orientação psicanalítica Embora divididos em relação a essa questão os teóricos do ER têm caracteristicamente enfatizado a função das teorias como guias para a investigação e a necessidade de submeter diferenças teóricas a teste experimental Nesse aspecto os membros desse gru po são definitivamente superiores à maioria dos teó ricos da personalidade Em geral esses teóricos têm um melhor senso da natureza e da função da teoria em uma disciplina empírica do que qualquer outro grupo de teóricos da personalidade Em seus textos se comparados aos textos de outros teóricos há me nos reificação menos discussões estéreis em relação a palavras e mais disposição a perceber as teorias como conjuntos de regras que só são usados quando são demonstravelmente mais úteis do que outros conjun tos de regras Essa sofisticação metodológica sem dúvida é responsável pela relativa clareza e adequa ção formal de suas teorias De muitas maneiras a teoria do ER tipifica uma abordagem experimental e objetiva ao comportamento humano Como tal tem sido um alvo predileto dos muitos psicólogos convencidos de que uma compre ensão adequada do comportamento humano deve envolver mais do que uma obediente aplicação dos métodos experimentais da ciência física Esses críti cos consideram que embora suas posições teóricas pessoais possam ser vulneráveis por basearse em ob servações empíricas não adequadamente controladas as observações pelo menos são relevantes para os eventos com os quais se propõem a lidar No caso da teoria do ER a maior parte das cuidadosas investiga ções não só se preocupa com comportamentos sim ples em vez de complexos mas também e mais im portante foi realizada com uma espécie animal filogeneticamente bem distante e claramente diferen te do organismo humano em muitos aspectos cruciais De que adiantam rigor e especificações cuidadosas na situação experimental se o investigador subseqüente mente é obrigado a uma tênue suposição de continui dade filogenética a fim de aplicar os achados a even tos importantes Nós já vimos que os teóricos do ER consideram que os princípios de aprendizagem esta belecidos em estudos de laboratório com animais pre cisam ser justificados com estudos experimentais em pregando sujeitos humanos Assim existe aqui uma concordância essencial quanto à importância de pes quisas coordenadas a questão passa a ser a de quanta confiança podemos ter na teoria até ter sido realizada uma quantidade considerável desses estudos Uma crítica relacionada às abordagens da teoria da aprendizagem afirma que a maioria dos aspectos positivos dessa posição incluindo suas cuidadosas definições clareza e riqueza de pesquisa só existem quando a teoria é aplicada ao comportamento animal ou a domínios muito restritos do comportamento hu mano Tão logo a teoria é aplicada ao complexo com portamento humano ela fica na mesma situação das outras teorias da personalidade com definições ad hoc e raciocínio por analogia representando a regra em vez da exceção Essa crítica sugere que o rigor e a relativa adequação formal das teorias de ER são ilu sórios porque só existem quando seus princípios são aplicados dentro de um escopo muito limitado Quan 456 HALL LINDZEY CAMPBELL do a teoria da aprendizagem é generalizada os con ceitos que estavam claros tornamse ambíguos e as definições firmes tornamse fracas Talvez a objeção crítica mais importante às abor dagens de ER seja a afirmação de que elas não ofere cem uma especificação anterior adequada de estímu lo e resposta Tradicionalmente os teóricos da aprendizagem se preocupavam quase exclusivamen te com o processo de aprendizagem sem tentar iden tificar os estímulos do ambiente natural dos organis mos estudados ou desenvolver uma taxonomia adequada para esses eventosestímulo Ademais seus processos de aprendizagem têm sido investigados em ambientes restritos controlados onde é relativamen te simples especificar os estímulos que eliciam o com portamento observável O desafio para o teórico da personalidade é compreender o organismo humano operando no ambiente do mundo real e pode ser con vincentemente argumentado que se os psicólogos não conseguem definir completamente o estímulo para o comportamento a sua tarefa mal começou Aproxi madamente os mesmos argumentos podem ser teci dos em relação à resposta Devemos admitir com jus tiça que teóricos como Miller e Dollard estão bem conscientes desse problema Miller jocosamente su geriu que a teoria de ER talvez devesse ser chamada de teoria do hífen pois ela tem mais a dizer sobre a conexão entre o estímulo e a resposta do que sobre o estímulo ou a resposta em si Miller e Dollard tenta ram superar essa deficiência especificando pelo me nos algumas das condições sociais em que a aprendi zagem ocorre além dos princípios abstratos que a governam ver também a teoria de Bandura no Capí tulo 14 Relacionado a essa crítica está o fato de que a te oria de ER tem surpreendentemente pouco a dizer sobre as estruturas ou as aquisições da personalida de e é sem dúvida por isso que muitos teóricos acham a teoria psicanalítica mais útil para pensar e investi gar Tal objeção também afirma que com sua preocu pação com o processo da aprendizagem a teoria de ER é apenas uma teoria parcial e que os componen tes relativamente estáveis da personalidade são um elemento essencial em qualquer tentativa de se com preender o comportamento humano As críticas mais freqüentes à teoria do ER certa mente apontam para a simplicidade e molecularida de da posição Os holistas acham que essa teoria é a própria essência de uma abordagem segmental frag mentada e atomista ao comportamento Eles afirmam que esses teóricos observam tão pouco do contexto do comportamento que não podem esperar entender ou predizer adequadamente o comportamento huma no Não existe nenhuma apreciação da importância do todo e a configuração das partes é ignorada em favor de seu exame microscópico Por exemplo Mon te 1995 p 753 argumenta que as pessoas reais não pensam as idéias em porções separadas desco nectadas Portanto é quase impossível como salien tou Freud que a repressão possa funcionar eliminan do fragmentos de pensamento descontínuos ansio sos Os sentimentos de desamparo que Freud des creveu tão cuidadosamente como o fator desencade ante crucial para a fuga do ego por meio da repressão não recebem nenhum peso na formulação de ER de Dollard e Miller O tipo de sofrimento sobre o qual Freud escreveu tão eloqüentemente não é capturado Nessas objeções é difícil separar os componentes polêmicos e afetivos de seu legítimo acompanhamen to intelectual Em defesa da teoria da aprendizagem certamente está claro que não há nada na posição de ER dizendo que as variáveis precisam operar sozi nhas ou isoladamente A interação de variáveis é per feitamente aceitável de modo que pelo menos esse grau de holismo é congruente com a teoria de ER Outros psicólogos acusam os teóricos de ER de ter negligenciado a linguagem e os processos de pen samento e afirmam que seus conceitos são inadequa dos para explicar a aquisição e o desenvolvimento dessas complexas funções cognitivas Qualquer teoria aceitável da aprendizagem humana afirmam eles precisa incorporar os fenômenos cognitivos Mas foi só nos últimos anos que se desenvolveram teorias ade quadas da linguagem e da cognição a maioria das quais reconhecidamente fora da tradição de apren dizagem animal de ER Não existe nenhuma barrei ra em princípio impedindo que as descobertas das teorias cognitivas sejam incorporadas aos relatos de desenvolvimento da personalidade da teoria da apren dizagem Como veremos no Capítulo 14 a teoria da TEORIAS DA PERSONALIDADE 457 aprendizagem social de Bandura é um grande passo nessa direção Em resumo a teoria do ER é uma posição teórica e em muitos aspectos singularmente americana Ela é objetiva funcional coloca grande ênfase na pesqui sa empírica e está apenas minimamente preocupada com o lado subjetivo e intuitivo do comportamento humano Como tal ela contrasta surpreendentemen te com muitas das teorias discutidas que devem mui to à psicologia européia TEORIAS DA PERSONALIDADE 459 CAPÍTULO 14 Albert Bandura e as Teorias da Aprendizagem Social INTRODUÇÃO E CONTEXTO 460 A L B E R T B A N D U R A 460 HISTÓRIA PESSOAL 460 RECONCEITUALIZAÇÃO DO REFORÇO 463 PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM OBSERVACIONAL 464 Processos de Atenção 464 Processos de Retenção 465 Processos de Produção 465 Processos Motivacionais 465 DETERMINISMO RECÍPROCO 467 O AUTOSISTEMA 468 AutoObservação 469 Processo de Julgamento 469 AutoReação 470 APLICAÇÕES À TERAPIA 471 AUTOEFICÁCIA 472 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 476 W A L T E R M I S C H E L 478 VARIÁVEIS COGNITIVAS PESSOAIS 480 O PARADOXO DE CONSISTÊNCIA E OS PROTÓTIPOS COGNITIVOS 482 UMA TEORIA DA PERSONALIDADE DE SISTEMA COGNITIVOAFETIVO 483 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 485 460 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Na metade do século atual o comportamentalismo era claramente a perspectiva dominante dentro da psi cologia nos Estados Unidos o comportamento é ex plicável em termos da manipulação das forças am bientais e é por elas controlado Nas mãos de teóricos como Skinner as tendências e as representações in ternas eram descartadas como epifenômenos sem ne nhum status causal Entretanto logo depois da meta de do século um grupo de teóricos que passaram a ser conhecidos como teóricos da aprendizagem soci al propôs que os estímulos ambientais eram uma base inadequada para explicar o comportamento humano Esses teóricos argumentavam que o comportamento humano só podia ser compreendido em termos de uma interação recíproca entre estímulos externos e cogni ções internas Além disso as representações simbóli cas de eventos passados e da situação atual orientam o comportamento e os processos autoreguladores permitem que as pessoas exerçam controle sobre o próprio comportamento No processo o constructo central de reforço é substancialmente alterado em vez de gravar um comportamento associado o re forço funciona proporcionando informações Um re forço é efetivo à medida que a pessoa está consciente dele e antecipa que ele vai ocorrer com seu comporta mento subseqüente Os teóricos da aprendizagem so cial mantêm a convicção dos comportamentalistas de que dentro dos limites impostos pela biologia a apren dizagem explica a aquisição e a manutenção do com portamento humano Mas essa aprendizagem só pode ser compreendida em um contexto social e baseiase na crença da importância causal da cognição Neste capítulo nós examinamos Albert Bandura como o mais proeminente dos teóricos da aprendizagem social e também consideramos as contribuições cada vez mais influentes de Walter Mischel ALBERT BANDURA Albert Bandura acredita que os princípios de aprendi zagem são suficientes para explicar e predizer o com portamento e a mudança comportamental Entretan to ele discorda das abordagens de aprendizagem à personalidade que extraem seus princípios exclusiva mente de estudos de organismos simples em um am biente impessoal ou que retratam o comportamento humano como sendo passivamente controlado por influências ambientais Ele nos lembra de que o ser humano é capaz de pensamento e de autoregulação que lhe permitem controlar seu ambiente tanto quan to ser moldado por ele Além disso muitos aspectos do funcionamento da personalidade envolvem a inte ração do indivíduo com outros de modo que uma te oria adequada da personalidade precisa levar em conta o contexto social em que o comportamento é origi nalmente adquirido e continua sendo mantido A in tenção de Bandura é ampliar e modificar a teoria tra dicional da aprendizagem desenvolvendo princípios de aprendizagem social Conforme Bandura descreve A teoria da aprendizagem social explica o com portamento humano em termos de uma intera ção recíproca contínua entre determinantes cog nitivos comportamentais e ambientais No processo de determinismo recíproco está a opor tunidade de as pessoas influenciarem seu destino e os limites da autodireção Essa concepção do funcionamento humano então não lança as pes soas ao papel de objetos impotentes controlados por forças ambientais nem ao papel de agentes livres que podemse tornar o que quiserem A pes soa e o seu ambiente são determinantes recípro cos um do outro Bandura 1977b p vii HISTÓRIA PESSOAL Bandura estudou psicologia clínica na Universidade de Iowa e lá recebeu seu PhD em 1952 Em Iowa a tradição hulliana era sólida sua faculdade consistia em indivíduos como Kenneth Spence Judson Brown e Robert Sears todos que tinham feito doutorado em Yale e contribuições pessoais notáveis à teoria de Hull Após um ano de pósdoutorado em clínica Bandura aceitou em 1953 um cargo na Universidade de Stan ford onde atualmente é David Starr Jordan Professor of Social Science Bandura foi chefe do Departamento de Psicologia de Stanford e em 1974 foi eleito presi dente da Associação Psicológica Americana Ele rece beu o Distinguished Scientist Award da Divisão de Psi cologia Clínica da Associação Psicológica Americana TEORIAS DA PERSONALIDADE 461 Albert Bandura 462 HALL LINDZEY CAMPBELL o Distinguished Scientific Contribution Award da Asso ciação Psicológica Americana e o Distinguished Con tribution Award da International Society for Research on Agression Bandura apresentou sua teoria em uma série de livros Com Richard Walters como autor júnior Ban dura 1959 escreveu Adolescent Agression um relato detalhado de um estudo de campo em que foram usa dos princípios de aprendizagem social para analisar o desenvolvimento da personalidade de um grupo de meninos delinqüentes de classe média seguido por Social Learning and Personality Development 1963 um volume em que ele e Walters apresentaram os prin cípios de aprendizagem social que tinham desenvol vido e as evidências sobre as quais basearam a teoria Em 1969 Bandura publicou Principles of Behavior Modification em que relata a aplicação de técnicas comportamentais baseadas em princípios de aprendi zagem à modificação do comportamento e em 1973 ele publicou Agression A Social Learning Analysis So cial Learning Theory 1977b em que Bandura tenta apresentar uma estrutura teórica unificada para ana lisar o pensamento e o comportamento humanos p vi continua sendo seu relato teórico mais claro até o momento embora seu Social Foundations of Thought and Action 1986 ofereça um tratamento mais deta lhado da teoria Além desses relatos teóricos Bandu ra e seus alunos contribuíram com uma longa série de artigos empíricos Em comum com a maioria das abordagens da te oria da aprendizagem à personalidade a teoria da aprendizagem social baseiase na premissa de que o comportamento humano é amplamente adquirido e que os princípios de aprendizagem são suficientes para explicar o desenvolvimento e a manutenção desse comportamento Entretanto as teorias anteriores da aprendizagem prestaram uma atenção insuficiente não só ao contexto social em que surge esse comporta mento mas também ao fato de que muitas aprendi zagens importantes ocorrem indiretamente Isto é ao observar o comportamento dos outros os indivíduos aprendem a imitar aquele comportamento ou de al guma maneira modelamse de acordo com os outros Em seu livro de 1941 Social Learning and Imitation Miller e Dollard reconheceram o papel significativo desempenhado pelos processos imitativos no desen volvimento da personalidade e tentaram explicar cer tos tipos de comportamento imitativo Mas poucas das pessoas interessadas na personalidade tentaram in corporar o fenômeno da aprendizagem observacional às suas teorias da aprendizagem e até Miller e Do llard raramente se referem à imitação em suas publi cações posteriores Bandura tentou não somente re parar essa negligência mas também estender a análise da aprendizagem observacional além dos limitados tipos de situação considerados por Miller e Dollard O artigo de 1974 de Bandura Behavior Theories and the Models of Man apresenta um sumário relati vamente sucinto de seu ponto de vista Contrariamente à crença popular o famoso con dicionamento reflexo nos humanos é em grande parte um mito Condicionamento é simplesmente um termo descritivo para a aprendizagem por meio de experiências emparelhadas não uma ex plicação de como acontecem as mudanças Origi nalmente supunhase que o condicionamento ocorria automaticamente Em um exame mais cui dadoso percebeuse que ele era cognitivamente mediado As pessoas não aprendem apesar de experiências emparelhadas repetitivas a menos que reconheçam que os eventos são correlaciona dos As chamadas reações de condicionamento são em grande parte autoativadas com base em expectativas aprendidas ao invés de automatica mente evocadas O fator crítico portanto não é os eventos ocorrerem juntos no tempo e sim as pessoas aprenderem a predizêlos e a convocar reações antecipatórias apropriadas p 859 As nossas teorias foram incrivelmente lentas em reconhecer que o homem pode aprender também pela observação além de pela experiência direta A forma rudimentar de aprendizagem basea da na experiência direta foi exaustivamente estu dada ao passo que o modo de aprendizagem pela observação mais disseminado e eficiente é gran demente ignorado É necessária uma mudança de ênfase p 863 A carreira de Bandura foi dedicada a encorajar essa mudança TEORIAS DA PERSONALIDADE 463 RECONCEITUALIZAÇÃO DO REFORÇO Bandura ampliou muito a definição de reforço Em vez de funcionar de maneira mecanicista as conse qüências comportamentais alteram o comportamen to subseqüente fornecendo informações Quando as pessoas observam os resultados de seu comportamento e do comportamento dos outros elas desenvolvem hipóteses sobre as prováveis conseqüências de produ zir aquele comportamento no futuro Essa informa ção serve de guia para o comportamento subseqüen te As hipóteses exatas produzem bons desempenhos e as hipóteses inexatas levam a um comportamento ineficaz Observem a semelhança com a explicação de George Kelly sobre construir replicações ver Capítulo 10 Em outras palavras os reforços forne cem informações sobre o que uma pessoa precisa fa zer para assegurar os resultados desejados e evitar os resultados punitivos Em conseqüência o reforço só pode ocorrer quando a pessoa está ciente das contin gências e antecipa que elas se aplicarão a futuros com portamentos A capacidade humana de antecipar re sultados também explica o valor de incentivo dos reforços Ao representar simbolicamente resultados previsíveis as pessoas podem converter futuras con seqüências em motivadores atuais do comportamen to Assim a maioria das ações está amplamente sob controle antecipatório Bandura 1977b p 18 Para Bandura então um reforço funciona principalmente como uma operação informativa e motivacional mais do que um reforçador mecânico de resposta 1977b p 21 Como conseqüência ele considera o termo re gulação mais apropriado do que reforço Bandura também rejeita o entendimento skinne riano de como o reforço funciona Na aprendizagem observacional o reforço serve como uma influência antecedente ao invés de conseqüente Isto é o reforço antecipado é um dos vários fatores que po dem influenciar uma pessoa a prestar atenção a um modelo e também encorajála a ensaiar o comporta mento que foi observado Conforme ilustrado na Fi gura 141 a teoria skinneriana da aprendizagem su gere que o reforço age retrospectivamente para fortalecer uma resposta imitativa e sua conexão com os estímulos circundantes Do ponto de vista de Ban dura entretanto o reforço facilita a aprendizagem de maneira antecipatória ao encorajar o observador a prestar atenção e a ensaiar o comportamento obser vado Bandura propõe inclusive que o reforço direto não é necessário para que ocorra aprendizagem Além dessas modificações na mecânica da moti vação Bandura acrescenta dois outros tipos de refor ço ao clássico conceito de reforço direto como um estímulo cuja presença aumenta a freqüência da ocor rência do comportamento com o qual é emparelhado Primeiro o autoreforço ocorre quando o indivíduo compara seu comportamento com padrões internos Se o comportamento está à altura desses padrões a pessoa pode sentir satisfação ou orgulho mas se o comportamento viola ou não está à altura desses pa drões a pessoa responde com culpa vergonha ou in satisfação Como veremos durante a nossa discussão do autosistema os indivíduos servem como podero FIGURA 141 Representação esquemática de como o reforço influencia a aprendizagem observacional de acordo com a teoria do condicionamento instrumental e a teoria da aprendizagem social Reimpressa com a permissão de Bandura 1977b p 38 464 HALL LINDZEY CAMPBELL sos reforçadores para o próprio comportamento A função de autoreforço dá às pessoas a capacidade de autodireção Elas fazem coisas que originam auto satisfação e autovalor e evitam comportarse de ma neiras que provocam autopunição Bandura 1974 p 861 Bandura está sugerindo que todo comporta mento produz dois conjuntos de conseqüências auto avaliações e resultados externos As conseqüências externas têm o maior efeito sobre o comportamento quando são compatíveis com as conseqüências auto geradas O comportamento é mantido por suas con seqüências mas essas conseqüências não existem ape nas externamente O leitor vai notar semelhanças entre o autoreforço de Bandura e o conceito de Gordon Allport de uma consciência genérica funcionando com base em um senso pessoal em vez de externo daqui lo que devemos fazer O autoreforço também é aná logo ao conceito freudiano de superego mas Bandu ra 1978 argumenta que essas entidades incorpo radas não são capazes de explicar a operação variá vel e a ocasional desconsideração de controles morais internos Nós voltaremos ao autoreforço quando dis cutirmos o autosistema de Bandura Como um segundo tipo novo de reforço Bandura sugere que ocorre um reforço indireto ou vicário quando o indivíduo testemunha alguém experienciar conseqüências reforçadoras ou punitivas por um com portamento e passa a antecipar conseqüências seme lhantes no caso de produzir o mesmo comportamen to Assim o indivíduo pode ser reforçado sem produzir um comportamento ou experienciar uma conseqüên cia As conseqüências observadas podem mudar o com portamento da mesma maneira que as conseqüências diretamente experienciadas Assim como Skinner su geriu que a aprendizagem de tentativa e erro de Thorn dike era uma maneira ineficiente e improvável de adquirir comportamentos complexos Bandura tam bém sugere que o condicionamento operante de Skin ner é um meio pouco prático e perigoso de os huma nos adquirirem muitos comportamentos Ao contrário a maior parte do comportamento humano é aprendi da observacionalmente por meio da modelagem nós observamos o comportamento dos outros e usamos essa informação como um guia para o nosso compor tamento subseqüente Veremos agora como Bandura descreve a modelagem PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM OBSERVACIONAL Bandura 1962 1977b 1986 propõe que uma ma neira fundamental de os humanos adquirirem habili dades e comportamentos é observar o comportamen to dos outros A aprendizagem observacional ou modelagem é governada por quatro processos cons tituintes atenção retenção produção e motivação ver Figura 142 adiante Processos de Atenção As pessoas não vão aprender nada a menos que pres tem atenção a aspectos significativos do comporta mento a ser modelado e que os percebam acurada mente É mais provável que prestemos atenção a comportamentos relevantes simples e que prometam ter algum valor funcional Em conseqüência um mo delo vívido atraente competente e visto repetidamen te tende a chamar mais a nossa atenção Além disso o que uma pessoa nota é influenciado por sua base de conhecimento e orientação atual As características dos observadores também determinam quanto comporta mento imitativo vai ocorrer em uma dada situação As crianças extremamente dependentes por exemplo são mais influenciadas pelo comportamento de um modelo do que as menos dependentes Jakubczak Walters 1959 As características do modelo e do observador em geral determinam juntas o que vai ocorrer Um estu do especialmente informativo mostrando a interação entre modelo e observador foi realizado por Hethe rington e Frankie 1967 com crianças pequenas e seus pais Observando os pais os investigadores primeiro determinaram o grau de carinho e cuidado que cada um expressava em relação à criança e qual progenitor era dominante em termos dos cuidados à criança Subseqüentemente a criança observava cada proge nitor brincar com brinquedos e jogos fornecidos pelos investigadores e logo depois permitiase que ela brin casse com os mesmos materiais Era então registrada a quantidade de comportamento imitativo da crian ça As crianças de ambos os sexos tendiam muito mais a imitar um progenitor carinhoso e cuidadoso do que um frio ou punitivo mas o maior efeito foi encontra TEORIAS DA PERSONALIDADE 465 do nas meninas cujas mães eram carinhosas O proge nitor dominante também provocava mais comporta mentos imitativos mas quando o pai era dominante as meninas imitavam mais a mãe do que o pai Processos de Retenção Um comportamento não pode ser reproduzido a me nos que o lembremos por meio de uma codificação simbólica A retenção do comportamento observado depende principalmente das imagens mentais e das representações verbais A memória pode ser aumen tada pela organização do material e pelo ensaio O material retido geralmente é transformado para cor responder a algum conhecimento ou expectativa exis tente por parte do aprendiz Processos de Produção O aprendiz precisa ser capaz de reproduzir o compor tamento que foi observado Um comportamento ob servado independentemente de quão bem é lembra do não pode ser encenado sem as necessárias habilidades e capacidades Às vezes os problemas de produção decorrem de uma falta das habilidade cog nitivas ou motoras necessárias mas muitas vezes re fletem a falta de feedback da pessoa a respeito daquilo que realmente está fazendo Isso é verdade na apren dizagem de muitas habilidades atléticas mas também é um problema freqüente nos comportamentos soci ais Pode ser extremamente informativo e perturba dor ver ou ouvir fitas gravadas do nosso comporta mento Tentativa e erro prática e feedback todos contribuem para aquilo que geralmente é um proces so gradual de traduzir conhecimento em ação Processos Motivacionais A teoria da aprendizagem social de Bandura enfatiza a distinção entre aquisição e desempenho porque as pessoas não encenam tudo o que aprendem O de sempenho de um comportamento observado é influ enciado por três tipos de incentivo direto vicário in direto e autoadministrado Um comportamento aprendido será encenado se levar diretamente ao re sultado desejado se observamos que foi efetivo para o modelo ou se for autosatisfatório Em outras pala vras é provável que tenhamos um certo comporta mento se acreditarmos que será benéfico agirmos as sim Podemos perceber bem o papel crítico que Ban dura atribui à imitação no desenvolvimento da perso nalidade quando ele analisa sua contribuição para a aquisição de novas respostas Em uma série de expe rimentos realizados com crianças Bandura e seus co legas demonstraram que os sujeitos que tinham tido a chance de observar uma série de respostas incomuns de um indivíduo o modelo tendiam a exibir as mes mas respostas quando colocados em um ambiente se melhante Em um estudo representativo Bandura Ross Ross 1961 crianças de escola maternal tes tadas uma de cada vez observaram um modelo adul to realizar uma série de atos agressivos físicos e ver bais em relação a uma boneca grande Outras crianças viram um adulto nãoagressivo que ficava sentado tranqüilamente na sala experimental e não prestava Figura 142 Subprocessos que governam a aprendizagem observacional Reimpressa com a permissão de Bandura 1986 p 52 466 HALL LINDZEY CAMPBELL nenhuma atenção à boneca Mais tarde as crianças foram submetidas a uma leve frustração e depois co locadas sozinhas na sala com a boneca O comporta mento dos grupos tendia a ser congruente com o mo delo do adulto As crianças que tinham visto um adulto agressivo realizaram mais atos agressivos do que um grupo de controle que não tivera nenhuma experiên cia com o modelo e deram mais respostas exatamen te iguais às do modelo do que as criançascontrole Além disso as crianças que tinham observado o adul to nãoagressivo deram ainda menos respostas agres sivas do que os sujeitoscontrole Como esse experimento ilustra as crianças podem aprender respostas novas simplesmente observando os outros Igualmente importante ele mostra que a aprendizagem pode ocorrer sem que as crianças te nham tido a oportunidade de dar a resposta elas mes mas e sem que o modelo ou elas próprias tenham sido recompensados ou reforçados pelo comportamen to A capacidade de dar respostas novas observadas algum tempo antes mas nunca realmente praticadas é possível devido às habilidades cognitivas humanas Os estímulos oferecidos pelo modelo são transforma dos em imagens daquilo que o modelo fez ou disse ou parecia e ainda mais importante são transformados em símbolos verbais que mais tarde podem ser lem brados Essas habilidades cognitivas simbólicas tam bém permitem aos indivíduos transformar aquilo que aprenderam ou combinar o que observaram em dife rentes modelos em novos padrões de comportamen to Assim ao observar os outros podemos desenvol ver soluções novas e não simplesmente imitações obedientes Nas culturas humanas o novo comportamento é freqüentemente adquirido observandose o compor tamento dos outros Muitas vezes a instrução é bem direta uma criança por exemplo aprende aquilo que vê os outros fazerem Mas os indivíduos também po dem ser influenciados por modelos apresentados em formas mais simbólicas As representações pictóricas como as do cinema e da televisão são fontes de mo delos extremamente influentes Bandura Ross e Ross 1963a por exemplo descobriram que as crianças que assistiam ao comportamento agressivo de um modelo adulto vivo não apresentavam uma tendência maior a imitálo do que as crianças que assistiam a um filme ou mesmo a um desenho animado do mes mo comportamento Bandura sugere que a exposição a modelos além de levar à aquisição de novos comportamentos tem outros dois tipos de efeito Primeiro o comportamen to de um modelo pode simplesmente servir para pro vocar o desempenho de respostas semelhantes já exis tentes no repertório do observador Esse efeito facilitador é especialmente provável quando o com portamento é de natureza socialmente aceitável A segunda maneira como um modelo pode influenciar um observador ocorre quando o modelo está apre sentando um comportamento socialmente proscrito ou desviante As inibições do observador com relação a ter aquele comportamento podem ser reforçadas ou enfraquecidas ao observar o modelo dependendo de o comportamento do modelo ter sido punido ou re compensado Rosekrans e Hartup 1967 por exem plo demonstraram que as crianças que tinham visto o comportamento agressivo de um modelo ser consis tentemente recompensado apresentaram um alto grau de agressão imitativa enquanto aquelas que viam o mesmo comportamento ser consistentemente punido praticamente não apresentaram nenhum comporta mento imitativo As crianças expostas a um modelo às vezes recompensado e às vezes punido apresenta ram uma quantidade intermediária de agressão Os tipos de aprendizagem indireta que estamos discutindo envolvem ações situadas na categoria ge ral de respostas instrumentais ou operantes Bandura 1969 indicou um outro tipo de aprendizagem ba seado na observação de um modelo que é crucial na teoria da aprendizagem social a aquisição indireta de respostas emocionais classicamente condicionadas Observadores expostos às reações emocionais de um modelo não só experienciam reações semelhantes mas também começam a responder emocionalmente a es tímulos que produziam essas reações no modelo Em um experimento ilustrativo de Bandura e Rosenthal 1966 os sujeitos observavam enquanto um mode lo apresentado como um sujeito real se deparava com uma série de toques de campainha Depois de cada toque de campainha o modelo simulava uma varie dade de reações de dor e era falsamente dito aos su jeitos que as reações eram provocadas por um forte choque aplicado imediatamente após a campainha Conforme indicado por uma medida fisiológica de TEORIAS DA PERSONALIDADE 467 responsividade emocional os sujeitos passaram a exi bir uma resposta emocional condicionada à campai nha mesmo em tentativas de testes em que o modelo estava ausente e apesar do fato de eles nunca terem experienciado diretamente o estímulo incondiciona do doloroso supostamente administrado ao modelo DETERMINISMO RECÍPROCO Bandura 1978 sugere que o comportamento huma no costuma ser explicado em termos de um conjunto limitado de determinantes agindo de maneira unidi recional Os teóricos da aprendizagem por exemplo sugerem que o comportamento é controlado por for ças situacionais É verdade que Skinner comenta a capacidade de contracontrole dos organismos mas mesmo essa noção apresenta o ambiente como a for ça instigadora que o indivíduo tenta anular O ambi ente de Skinner serve como uma força autônoma que automaticamente molda orquestra e controla o com portamento 1978 p 344 Os teóricos da persona lidade explicam o comportamento em termos de dis posições e motivos internos Mesmo nas formulações interacionistas p ex Murray e Allport a pessoa e o ambiente operam em grande parte de maneira autô noma ou unidirecional Ao contrário a teoria da aprendizagem social con ceitualiza o comportamento em termos de um deter minismo recíproco as influências pessoais as forças ambientais e o próprio comportamento funcionam como determinantes interdependentes ao invés de autônomos O efeito de cada um dos três componen tes é condicional aos outros Por exemplo o ambiente é uma potencialidade cujos efeitos dependem do en tendimento que o organismo tem dele e do seu com portamento nele Da mesma forma a pessoa desem penha diferentes papéis e tem diferentes expectativas em diferentes situações ela busca e cria o ambiente ao qual responde e o próprio comportamento contri bui para definir o ambiente e o entendimento da pes soa de quem ela é Bandura está sugerindo em parte que as pessoas não simplesmente reagem ao ambien te externo na verdade os fatores externos só influen ciam o comportamento pela mediação dos processos cognitivos da pessoa Ao alterar seu ambiente ou cri ar autoinduções condicionais as pessoas influenci am os estímulos aos quais respondem Ao longo dos anos muitos autores reconheceram que as disposições individuais e as forças situacionais interagem para produzir comportamentos mas os processos de interação foram conceitualizados de três maneiras muito diferentes ver Figura 143 Na inte ração unidirecional as pessoas e as situações são con sideradas entidades independentes que se combinam para gerar os comportamentos Segundo Bandura esse ponto de vista é simplista porque os fatores pessoais e ambientais de fato se influenciam mutuamente Na concepção bidirecional de interação as pessoas e as situações são vistas como causas interdependentes mas o comportamento é visto apenas como uma con seqüência que não aparece no processo causal Na vi são da aprendizagem social do determinismo recípro co o comportamento as forças ambientais e as características pessoais funcionam todos como de terminantes interligados uns dos outros Bandura 1978 oferece três exemplos de como podem variar as contribuições relativas desses três componentes Primeiro se pessoas forem largadas em águas profundas a situação vai ditar que todas come cem a nadar Alternativamente o comportamento pode ser o aspecto central no sistema Por exemplo quan do uma pessoa toca músicas conhecidas de piano para FIGURA 143 Representação esquemática de três concepções alternativas de interação C significa comportamento P eventos cognitivos e outros eventos internos que podem afetar as percepções e ações e E o ambiente externo Reimpressa com a permissão de Bandura 1978 p 345 468 HALL LINDZEY CAMPBELL seu prazer pessoal os processos cognitivos e o ambi ente contextual pouco contribuem Finalmente po dem predominar os fatores cognitivos como quando falsas crenças desencadeiam respostas de esquiva que tornam a pessoa desatenta ao ambiente real e não são alteradas pelo feedback sobre sua qualidade ineficaz e distorcida Bandura está dizendo que devemos ser flexíveis ao considerar as interações entre pessoa comporta mento e ambiente Por exemplo suponha que obser vamos um aluno que está falando diante da classe Como podemos entender seu comportamento Uma abordagem de personalidade poderia destacar que a pessoa é muito loquaz uma abordagem de aprendi zagem procuraria reforços ambientais para o compor tamento de falar e uma abordagem interacionista examinaria as contribuições da pessoa e da situação ao comportamento Mas Bandura diz que temos de perceber o relacionamento determinante recíproco entre a pessoa o comportamento e o ambiente Isto é a pessoa tem uma tendência a falar e o ambiente reforça sua loquacidade mas também acontece que falar é um feedback que torna mais provável que a pessoa fale no futuro e o comportamento de falar tam bém contribui para tornar uma sala de aula o tipo de ambiente em que a fala ocorre Ademais precisamos perceber que a pessoa contribui para a natureza do ambiente exatamente como o ambiente influencia quem a pessoa é Pessoa situação e comportamento estão inextricavelmente entrelaçados Além disso o determinismo recíproco exige que descartemos a ficção de que um evento só pode ser compreendido como um estímulo uma resposta ou um reforço Por exemplo suponha que uma garoti nha pegue um biscoito da lata de biscoitos um pouco antes do jantar O pai diz para pôlo de volta o que ela faz e ele responde dizendo Que boa menina você é Como podemos conceitualizar esta seqüência com portamental O pai dizer à filha para devolver o bis coito é um estímulo ela devolver é uma resposta e o elogio dele é um reforço Isso parece bastante sim ples mas Bandura salienta que o comportamento con tinua O próximo evento na seqüência pode ser a filha abraçar o pai Agora ela devolver o biscoito serve como um estímulo o elogio dele é uma resposta e o abraço dela o reforça pelo elogio Se ele por sua vez abraçá la o elogio dele é um estímulo o abraço dela uma resposta e ele reforça o abraço dela com o abraço dele E assim por diante A nossa interpretação de uma ação depende de onde a localizamos no fluxo de compor tamento e no determinismo recíproco O determinismo recíproco também faz Bandura explicar a liberdade e o determinismo de uma manei ra que soa muito parecida com a de George Kelly Isto é as pessoas são livres na extensão em que conse guem influenciar as futuras condições às quais res ponderão mas seu comportamento também é limita do pelo relacionamento recíproco entre cognição pessoal comportamento e ambiente Conforme Ban dura 1978 p 356357 afirma Uma vez que as con cepções das pessoas seu comportamento e seus am bientes são determinantes recíprocos um do outro os indivíduos não são objetos impotentes controlados por forças ambientais nem agentes inteiramente livres que podem fazer o que quiserem Uma análise completa do comportamento da pers pectiva do determinismo recíproco exige que consi deremos como os três conjuntos de fatores cogniti vos comportamentais e ambientais se influenciam mutuamente Essa análise deixa claro que a teoria da aprendizagem social de modo algum ignora os deter minantes internos pessoais do comportamento Mas em vez de conceitualizar esses determinantes como dimensões estáticas de traços Bandura os trata como fatores cognitivos dinâmicos que regulam e são re gulados pelo comportamento e pelo ambiente Ban dura discute os determinantes pessoais do comporta mento em termos do autosistema e da autoeficácia do indivíduo Trataremos agora dessas variáveis da pessoa O AUTOSISTEMA Bandura não aceita a tentativa comportamentalista radical de eliminar os determinantes internos cogni tivos do comportamento pelo desvio conceitual de reduzilos à conseqüência de eventos ambientais an teriores As cognições têm claramente origens exter nas mas seu papel na regulação do comportamento não pode ser reduzido à experiência anterior Não podemos atribuir a experiências passadas uma capa cidade generalizável esquecendo as influências atu ais decorrentes do exercício dessa capacidade não mais do que atribuiríamos as obrasprimas literárias TEORIAS DA PERSONALIDADE 469 de Shakespeare à sua instrução anterior da mecânica da escrita Bandura 1978 p 350 Mas Bandura tam bém não endossa a perspectiva das teorias do self em que uma autoimagem global explica o comporta mento em uma grande variedade de situações Na teoria da aprendizagem social um autosistema não é um agente psíquico que controla o comportamento Ele se refere a estruturas cognitivas que fornecem mecanismos de preferência e a uma série de subfun ções da percepção da avaliação e da regulação do comportamento 1978 p 348 Também é necessá rio um entendimento das influências autogeradas in cluídas no autosistema para a explicação e predição do comportamento humano A Figura 144 resume os três processos componentes envolvidos na autoregu lação do comportamento pela ativação de contingên cias autoprescritas Tomados como um conjunto es ses processos definem o autosistema e constituem as bases do autoreforço do comportamento Nós vamos examinar um componente de cada vez AutoObservação Nós observamos continuamente o nosso próprio com portamento notando fatores como qualidade quan tidade e originalidade daquilo que fazemos Quanto mais complexo o comportamento que estamos obser vando e mais intricado o ambiente em que ele é ob servado mais provável que a autoobservação inclua certa inexatidão Os estados temporários de humor e a motivação para a mudança também podem influen ciar como o nosso desempenho é monitorado e pro cessado Processo de Julgamento O comportamento gera uma autoreação por meio de julgamentos sobre a correspondência entre aquele comportamento e nossos padrões pessoais Podemos definir a adequação por referência a comportamen tos passados e conhecimento de normas ou por pro cessos de comparação social A escolha dos alvos para a comparação obviamente influencia os julgamentos que serão feitos os autojulgamentos são intensifica dos quando as pessoas menos capazes são escolhidas para a comparação Os julgamentos também variam dependendo da importância da atividade que está sendo julgada e das atribuições individuais quanto aos determinantes do comportamento Criticamos mais os comportamentos que são importantes e pelos quais nos consideramos responsáveis FIGURA 144 Subprocessos envolvidos na autoregulação do comportamento por meio de padrões internos e auto incentivos Reimpressa com a permissão de Bandura 1986 p 337 470 HALL LINDZEY CAMPBELL AutoReação As autoavaliações produzidas por meio da operação dos dois primeiros componentes criam o cenário para o indivíduo fazer uma avaliação do comportamento As avaliações favoráveis geram autoreações recom pensadoras e os julgamentos desfavoráveis ativam autorespostas punitivas Os comportamentos vistos como não tendo nenhuma importância pessoal não geram nenhuma reação As autoreações produzidas nesse estágio alteram o comportamento subseqüente principalmente ao motivar a pessoa a se esforçar para obter algum resultado desejado Bandura 1991b A influência recíproca que Bandura descreve como existindo entre a pessoa e o ambiente é ilustrada em sua afirmação de que os sistemas de autoreforçado res são adquiridos pelos mesmos princípios de apren dizagem responsáveis pela aquisição de outros tipos de comportamento Assim aquilo que os indivíduos recompensam e punem em si mesmos pode refletir as reações que seu comportamento provocou nos outros Pais parentes e outros agentes socializadores estabe lecem padrões comportamentais recompensando o indivíduo por viver à altura deles e expressando seu desagrado quando a pessoa falha Essas normas ex ternamente impostas podem ser assumidas pelo in divíduo e constituir a base de sistemas posteriores de autoreforço Podemos esperar comenta Bandura que os indivíduos que quando crianças foram elogiados e admirados por níveis bastante baixos de realização sejam mais generosos em suas autorecompensas do que aqueles que tinham de estar à altura de altos pa drões de excelência e na verdade há evidências de que isso acontece Kanfer Marston 1963 Extensivas evidências indicam que os padrões autoavaliativos também podem ser adquiridos indi retamente observandose os outros Em um experi mento representativo de Bandura e Kupers 1964 as crianças observavam um modelo que estabelecia um padrão alto ou baixo de realização para autore compensa A observação posterior das crianças reali zando a mesma tarefa mostrou que aquelas expostas ao modelo com um baixo padrão eram mais indul gentes em suas autorecompensas do que aquelas que observaram o modelo mais rígido Como no caso de outros comportamentos as ca racterísticas do modelo influenciam se um observa dor vai ou não prestar atenção e tentar emular os pa drões de autoreforço do modelo Em certas condi ções as crianças por exemplo são mais propensas a imitar os iguais do que os adultos Bandura Grusec Menlove 1967b ou modelos cujos padrões de reali zação estejam ao seu alcance e não fora de sua capa cidade Bandura Whalen 1966 Os componentes do autosistema não funcionam como reguladores autônomos do comportamento mas desempenham um papel na determinação recíproca do comportamento Os fatores externos afetam os pro cessos autoreguladores de pelo menos três maneiras primeiro como vimos os padrões internos em com paração com os quais o comportamento é julgado são extraídos das nossas experiências Segundo as influ ências ambientais podem alterar a maneira como jul gamos o nosso comportamento Por exemplo as pes soas freqüentemente experienciam sanções negativas dos outros por uma autorecompensa não merecida Além disso manter altos padrões é socialmente pro movido por um vasto sistema de recompensas inclu indo elogios reconhecimento social e honras Ban dura 1978 p 354 Finalmente existem fatores externos que promovem a ativação e o desligamento seletivos de influências autoreativas Essa influên cia merece uma discussão mais detalhada Bandura está bem consciente de que o ser huma no é capaz de comportamentos desumanos Ele argu menta que entidades incorporadas como o superego de Freud não conseguem explicar a operação variá vel de controles internos Do ponto de vista da apren dizagem social pessoas ponderadas realizam atos condenáveis devido à dinâmica recíproca entre deter minantes pessoais e situacionais e não devido a de feitos em suas estruturas morais O desenvolvimento de capacidades autoreguladoras não cria um meca nismo de controle invariante dentro da pessoa 1978 p 354 ver também Bandura 1977b 1986 1990 Quando as pessoas apresentam um comportamento repreensível que deveria dar origem à autocondena ção elas conseguem desligarse de uma maneira que as protege da autocrítica A Figura 145 ilustra como e em que ponto isso pode ocorrer No nível do com portamento em si o comportamento repreensível pode tornarse aceitável quando a pessoa o percebe mal como ocorrendo a serviço de uma causa moral A jus tificação moral e a rotulação eufemística são freqüen temente usadas para evitar a autoreprovação e a re provação social e os atos que deveriam ser deplorados TEORIAS DA PERSONALIDADE 471 podem tornarse aceitáveis quando comparados com flagrantes desumanidades Um outro conjunto de medidas defensivas opera distorcendo o relacionamen to entre uma ação e seus efeitos Assim o desloca mento da responsabilidade para as autoridades supe riores e a difusão da responsabilidade para um grupo maior podem ser usados pela pessoa para se dissociar da culpabilidade criando a ilusão de que ela não é pessoalmente responsável Um terceiro conjunto de mecanismos para desli garse das funções de autocondenação é distorcer as conseqüências do ato Assim podemos minimizar ig norar distorcer ou de alguma maneira isolarnos dos efeitos prejudiciais aparentes da nossa ação Finalmen te podemos nos livrar de respostas autopunitivas es peradas desvalorizando desumanizando ou culpan do a vítima de um ato injusto desculpando assim o ato em si A existência de estereótipos sociais facilita essas distorções defensivas Bandura 1978 sugere que os julgamentos pes soais operam em todos os estágios da autoregula ção impedindo assim a automaticidade do proces so Como conseqüência existe uma considerável amplitude para os fatores de julgamento pessoal ati varem ou não as influências autoreguladoras em qual quer atividade dada 1978 p 355 Mas o que ele não explica é a origem a operação e o acionamento desses julgamentos pessoais Isto é por que e quando escolhemos nos desligar de certos comportamentos e não de outros É uma questão de nível de excitação ou de extremidade do comportamento Se é o que determina o limiar de ativação Finalmente o leitor deve notar o paralelo entre esses mecanismos de des ligamento seletivo e os mecanismos de defesa descri tos por Freud e Rogers bem como as estratégias de salvaguarda articuladas por Alfred Adler APLICAÇÕES À TERAPIA Como poderíamos antecipar a partir dessa descrição dos princípios mais importantes da teoria da aprendi zagem social Bandura acredita que técnicas basea das na teoria da aprendizagem podem ser extrema mente efetivas para modificar os comportamentos indesejáveis De fato o primeiro livro de Bandura Prin ciples of Behavior Modification 1969 é quase exclu sivamente dedicado a uma discussão dessas técnicas incluindo vários métodos novos desenvolvidos por ele e seus associados para eliminar as reações infundadas de medo Bandura 1968 Bandura Grusec Menlo ve 1967a Bandura Menlove 1968 Essas últimas técnicas originadas de trabalhos experimentais sobre modelagem e aprendizagem observacional supõem não apenas que as respostas emocionais podem ser adquiridas por experiências diretas e indiretas com eventos traumáticos mas tam bém que nas circunstâncias apropriadas elas podem ser extintas direta ou indiretamente Assim as pesso FIGURA 145 Mecanismos pelos quais o comportamento é desligado das conseqüências autoavaliativas em diferentes pontos do processo comportamental Reimpressa com a permissão de Bandura 1978 p 355 472 HALL LINDZEY CAMPBELL as com medos infundados ou exagerados devem ser capazes de reduzir suas reações defensivas e emocio nais ao observar um modelo interagir destemidamen te com o objeto ou com o evento ansiogênico e de reduzilas ainda mais ao praticar o comportamento do modelo em uma situação nãoameaçadora sob a orientação desses trabalhos experimentais Numero sos experimentos usando várias técnicas de modela gem com crianças e adultos produziram resultados muito animadores Um estudo de Bandura Blanchard e Ritter 1969 é de especial interesse uma vez que incorpora vários aspectos das técnicas de dessensibi lização de Wolpe às condições de modelagem e tam bém inclui para propósitos de comparação uma con dição de dessensibilização convencional Adolescentes e adultos sofrendo de grave fobia de cobras foram divididos em três grupos de tratamentos diferentes Aos membros do grupo de dessensibilização foi apre sentada uma série graduada de cenas imaginárias en volvendo cobras enquanto eles estavam em profun do relaxamento No segundo grupo foi usada uma condição de modelagem simbólica em que os sujeitos assistiam a um filme mostrando modelos em intera ções progressivamente mais próximas com uma gran de cobra também enquanto mantinham um relaxa mento profundo O terceiro grupo observou um modelo vivo dar respostas semelhantes diante de uma cobra real Depois de cada uma dessas interações es tes últimos sujeitos foram solicitados a realizar o mes mo comportamento que o modelo inicialmente com a ajuda do modelo e mais tarde sozinhos Todos os sujeitos foram solicitados a realizar uma série graduada de tarefas envolvendo cobras antes e depois do tratamento Enquanto os sujeitoscontrole que fizeram apenas essas duas séries de testes e ne nhum tratamento interveniente não mostraram pra ticamente nenhuma mudança em seu comportamen to um acentuado aumento no comportamento de aproximação foi observado nos grupos de dessensibi lização e modelagem simbólica após o tratamento Mas a técnica mais bemsucedida foi a modelagem partici pante isto é aquela em que os sujeitos foram expos tos a um modelo real e foram orientados na interação com o objeto fóbico AUTOEFICÁCIA Antes dos teóricos da aprendizagem social as inter venções terapêuticas baseadas nos princípios da apren dizagem eram conceitualizadas em termos dos efei tos automáticos de reforços administrados imediata mente Ao contrário Bandura propôs que os proces sos cognitivos desempenham um papel importante na aquisição e na persistência dos comportamentos pa tológicos exatamente como acontece no comporta mento normal Essa foi uma proposta radical Ban dura p ex 1977a rejeitou a crença dominante de que a angústia emocional é o elementochave causa dor da incapacidade de lidar efetivamente com um objeto ou evento temido e rejeitou a suposição para lela de que a mudança terapêutica é produzida pela eliminação da angústia emocional Segundo Bandu ra o que cria um problema para o indivíduo que está sofrendo de medo ou de um comportamento de es quiva é a crença de que ele é incapaz de lidar bem com uma situação A mudança terapêutica seja qual for sua forma específica resulta do desenvolvimento de um senso de autoeficácia da expectativa de que podemos por esforço pessoal dominar uma situação e provocar um resultado desejado Em outras pala vras a meta da terapia é criar e reforçar as expectati vas de eficácia pessoal Bandura distingue entre dois componentes de autoeficácia uma expectativa de eficácia e uma ex pectativa de resultado Conforme indicado na Figura 146 ver adiante uma expectativa de resultado se refere à crença da pessoa de que um dado comporta mento levará a um resultado específico Uma expec tativa de eficácia é a convicção de que a própria pes soa é capaz do comportamento necessário para gerar o resultado Essa distinção é importante porque um indivíduo pode acreditar que uma ação levará a um resultado mas duvidar de sua capacidade de realizar a ação Bandura supõe que a autoeficácia afeta o iní cio e a persistência do comportamento de manejo As pessoas temem e evitam as situações que percebem como excedendo suas habilidades de manejo mas entram confiantemente em situações que acreditam poder dominar Além disso as expectativas de eficá TEORIAS DA PERSONALIDADE 473 cia determinam quanto as pessoas vão se esforçar e persistir em um comportamento A autoeficácia per cebida não garante o sucesso Entretanto dadas as habilidades apropriadas e os incentivos adequados as expectativas de eficácia são um determinante mai or da atividade que a pessoa vai escolher de quanto esforço vai dispender e de quanto tempo vai manter o esforço de lidar com situações estressantes Bandu ra 1977a p 194 Segundo a perspectiva de aprendizagem social de Bandura as expectativas de eficácia pessoal baseiam se em quatro fontes importantes de informação rea lizações de desempenho experiência indireta persu asão verbal e excitação emocional A Figura 147 lista essas fontes e os procedimentos terapêuticos associa dos usados para criar as expectativas de domínio ou maestria As realizações de desempenho são o método mais efetivo de induzir o domínio porque se baseiam em experiências reais de domínio Ao permitir que o indivíduo experiencie repetidos sucessos é provável que se desenvolvam fortes expectativas de eficácia especialmente se ele puder atribuir o sucesso aos pró prios esforços e não à intervenção de alguma agência externa Bandura sugere que a modelagem participan te é uma técnica especialmente útil uma vez que per mite ao indivíduo não só realizar as tarefas com re sultados positivos que levam às metas desejadas mas também permite a introdução de outros artifícios para induzir o indivíduo a persistir até ser obtido um senso de domínio ou maestria Tais artifícios seriam a ob FIGURA 146 Representação diagramática da diferença entre expectativas de eficácia e expectativas de resultado Reimpressa com a permissão de Bandura 1977a p 193 FIGURA 147 Fontes mais importantes de informação sobre eficácia e as principais fontes pelas quais diferentes modos de tratamento operam Reimpressa com a permissão de Bandura 1977a p 195 474 HALL LINDZEY CAMPBELL servação inicial de um modelo o desempenho em uma série graduada de tarefas com a ajuda do modelo em intervalos cuidadosamente espaçados e o gradual abandono da ajuda fazendo com que o indivíduo passe a depender cada vez mais dos próprios esforços Ban dura Jeffery Wright 1974 As evidências impressivas apoiando a hipótese de que os procedimentos que provocam mudança com portamental o fazem ao aumentar a força da auto eficácia foram apresentadas por Bandura Adams e Beyer 1977 em um estudo de adultos com fobia grave de cobras Como em muitos experimentos ante riores os sujeitos tratados pela técnica de modela gem participante que lhes proporcionou experiênci as bemsucedidas de domínio com o objeto fóbico foram capazes em um teste de póstratamento de interagir mais estreitamente com uma cobra desco nhecida do que aqueles que tinham tido apenas a ex periência indireta de observar um modelo Importan tíssimo na teoria de Bandura é o relacionamento entre o resultado da terapia e as expectativas de eficácia dos participantes Quando questionados na conclu são do tratamento sobre quanta certeza tinham de que seriam capazes de realizar as tarefas da série de testes os indivíduos no grupo de modelagem partici pante indicaram expectativas maiores e mais tarde seu desempenho no teste foi melhor do que os que tinham tido apenas uma experiência indireta Além disso a força das expectativas de eficácia de cada in divíduo predizia com exatidão os comportamentos posteriores independentemente do grupo de trata mento em que a pessoa estava A experiência indireta também pode aumentar a autoeficácia embora não tão prontamente quanto o desempenho direto Observar alguém fazendo uma atividade ameaçadora sem conseqüências negativas pode contribuir para uma expectativa no observador de que ele vai melhorar se for persistente A modela gem que leva a resultados bemsucedidos é extrema mente efetiva Da mesma forma múltiplos modelos são mais efetivos do que um único modelo Bandura Menlove 1968 A persuasão verbal ou encorajar a pessoa a acre ditar que ela é capaz de lidar efetivamente é bastante popular mas geralmente se mostra menos efetiva do que as outras estratégias Finalmente as situações estressantes freqüentemente provocam excitação emo cional e essa excitação pode servir como uma pista para desencadear uma percepção de baixa eficácia Por exemplo um aluno com ansiedade de teste pode experienciar sua freqüência cardíaca acelerada quan do a prova é colocada diante dele como um sinal de que está se deparando com uma situação em que não terá sucesso Como conseqüência ensinar às pessoas técnicas para reduzir a excitação aversiva pode elimi nar algumas das pistas que desencadeiam a percep ção de baixa autoeficácia Dessa perspectiva a exci tação fisiológica é compreendida como uma fonte de informação e não como um estado impulsivo energi zante Seja qual for a estratégia empregada Bandura enfatiza que o efeito sobre as expectativas de eficácia depende de como a informação é cognitivamente ava liada As experiências de sucesso tendem a aumentar a autoeficácia se forem percebidas como resultando de capacidades aumentadas em vez de serem atribu ídas à sorte ou a circunstâncias especiais Bandura argumenta que a importância da auto eficácia não se limita a ambientes clínicos Mas ele enfatiza que a autoeficácia não é um motivo geral e sim específico para uma determinada área Uma pessoa que tem um forte senso de autoeficácia como aluno não vai necessariamente sentirse eficaz em si tuações sociais ou atléticas A abordagem de apren dizagem social baseiase então em uma microanálise de capacidades de manejo percebidas e não em tra ços de personalidade ou motivos de eficiência globais Dessa perspectiva é tão informativo falar sobre a auto eficácia em termos gerais quanto falar sobre um com portamento de abordagem inespecífica Bandura 1977a p 203 Bandura estendeu essa estratégia de pesquisa microanalítica a trabalhos subseqüentes p ex Ban dura 1982 1983 Bandura e colaboradores 1977 Bandura Cervone 1983 Bandura Reese Adams 1982 Tipicamente os participantes dessas pesqui sas recebem escalas de autoeficácia representando uma série de tarefas em algumas áreas que variam em dificuldade ou tensão Eles indicam as tarefas que acreditam serem capazes de fazer e seu grau de certe za do julgamento Os julgamentos são então relacio nados ao desempenho real O achado típico em uma grande variedade de comportamentos é que o desem penho na tarefa está positivamente correlacionado aos julgamentos de eficácia Alguns desses trabalhos p ex Bandura Adams Hardy Howells 1980 indi cam que os níveis de excitação de medo diminuem e TEORIAS DA PERSONALIDADE 475 as autopercepções de eficácia aumentam após a ex posição a uma variedade de intervenções terapêuti cas Todo esse trabalho sobre a autoeficácia percebi da sugere a Bandura 1982 uma maneira alternativa de conceitualizar a ansiedade humana As teorias psi canalíticas explicam a ansiedade em termos de confli tos intrapsíquicos em relação à expressão de impul sos proibidos e a teoria do condicionamento propõe que os eventos anteriormente neutros adquirem pro priedades ansiogênicas por associação a experiências dolorosas Ao contrário dessas duas posições a ori gem primária da ansiedade na teoria de aprendiza gem social de Bandura é a ineficácia percebida na capacidade de lidar com eventos potencialmente aver sivos Bandura 1982 elabora melhor a conexão entre autoeficácia e as reações afetivas retornando à dis tinção entre expectativas de eficácia e de resultado As pessoas podem desistir de tentar porque duvidam da sua capacidade de fazer o que é requerido ou por que imaginam que seus esforços serão inúteis devido à falta de resposta do ambiente Isto é um senso de futilidade pode basearse tanto na eficácia quanto no resultado Em qualquer exemplo dado a melhor maneira de predizer o comportamento seria conside rar tanto as crenças de autoeficácia quanto de resul tado 1982 p 140 Considere as quatro combina ções possíveis de julgamentos bons e maus sobre autoeficácia e resultados conforme ilustrado na Fi gura 148 Um alto senso de autoeficácia combinado com um ambiente responsivo em que o desempenho efetivo é recompensado leva ao comportamento se guro ativo A baixa responsividade ambiental estimula o ativismo social o protesto e o ressentimento em in divíduos com elevada autoeficácia A mesma falta de responsividade leva à apatia à resignação e à ansie dade em indivíduos com baixa autoeficácia Final mente é a combinação de baixa autoeficácia e um ambiente potencialmente responsivo que cria a de pressão Isto é as pessoas desanimam quando não conseguem apresentar aqueles comportamentos que estão sendo recompensados em outras pessoas Essa é uma análise fascinante O trabalho de Bandura sobre a autoeficácia em conjunção com suas noções de determinismo recípro co e autosistema também oferecelhe um poderoso instrumento para explicar a ação humana Segundo esse modelo e em contraste com uma análise skinne riana o ser humano possui a capacidade de exercer controle sobre os eventos em sua vida Nós não con trolamos os resultados de maneira autônoma ou me cânica Pelo contrário as capacidades humanas dis tintivas de criar as representações de metas e de antecipar os resultados prováveis conforme incorpo radas na autoeficácia e no autosistema levam a um modelo de agência interativa emergente Bandura 1986 As pessoas não são agentes autônomos nem simplesmente transmissores mecânicos de influênci as ambientais animadoras Elas fazem contribuições causais à sua motivação e ação dentro de um sistema de causação triádica recíproca Nesse modelo de cau sação recíproca os fatores pessoais cognitivos afeti vos de ação e outros e os eventos ambientais todos operam como determinantes interatuantes Bandu ra 1989 p 1175 Como veremos mais adiante neste FIGURA 148 Efeitos interativos de autopercepções de eficácia e expectativas de resultado da resposta sobre o comportamento e as reações afetivas Reimpressa com a permissão de Bandura 1982 p 140 476 HALL LINDZEY CAMPBELL capítulo Walter Mischel adota uma perspectiva mui to semelhante PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Um dos aspectos mais admiráveis do modelo de Ban dura é a extensão em que sua teoria se baseia na pes quisa empírica Como uma conseqüência desse estrei to vínculo já apresentamos alguns achados de pesquisa e nesta seção discutiremos estudos adicio nais Não incluímos uma seção de Pesquisa Atual nes te capítulo por duas razões Primeiro devido ao es treito relacionamento recíproco entre a teoria e a pesquisa de Bandura e Mischel é impossível articular suas posturas teóricas sem uma freqüente referência à literatura empírica que ambos produziram e provo caram Segundo as teorias de Bandura e Mischel são atuais na verdade elas continuam em desenvolvi mento Em uma série de estudos extremamente influente à qual aludimos antes neste capítulo Bandura 1965 1973 Bandura Ross Ross 1961 1963ab demons trou como as crianças aprendem comportamentos agressivos pela observação Em um estudo crianças de três a cinco anos de idade assistiram ao filme de um adulto apresentando comportamentos agressivos como dar socos em um grande boneco joãobobo de inflar e batendo nele com uma marreta O ator tam bém fazia comentários p ex Pum bem no nariz e Belo soco para garantir que os comportamentos sendo modelados eram novos Algumas crianças ob servaram o adulto sendo punido pela agressão ou tras o viram sendo recompensado e em uma terceira condição o modelo não sofreu nenhuma conseqüên cia As crianças foram então observadas quando tive ram a oportunidade de interagir com o joãobobo As que tinham visto o adulto ser recompensado por com portamentos agressivos apresentaram os comporta mentos mais agressivos e as que tinham visto o adul to ser punido foram as menos agressivas Tanto os meninos quanto as meninas mostraram esse efeito mas as meninas em geral foram menos agressivas Essa pesquisa demonstra que o comportamento agressivo pode ser adquirido por meio de modelagem Ela tam bém sugere que as conseqüências observadas para o modelo desempenham um papel importante da de terminação da probabilidade de os observadores tam bém se comportarem agressivamente mas a situação na verdade é mais complexa Em um estudo subse qüente Bandura ofereceu às crianças incentivos se elas conseguissem reproduzir o comportamento agressivo que tinham testemunhado As crianças das três con dições conseguiram reproduzir a agressão indepen dentemente de terem observado recompensa puni ção ou nenhuma conseqüência para o modelo Assim é criticamente importante manter uma distinção en tre aprendizagem e desempenho As crianças aprende ram novos comportamentos agressivos em todas as condições as conseqüências negativas para o modelo levaram à supressão do que fora aprendido por meio de observação mas uma mudança nos incentivos pro porcionou a ocasião para o comportamento emergir Bandura usa esses achados para rejeitar vigorosamente o argumento de que o comportamento violento tão dominante na televisão não será reproduzido pelos espectadores à medida que os personagens da televi são forem punidos por suas ações O comportamento pode ser aprendido pela observação indepen dentemente das conseqüências para o modelo a ques tãochave é se o observador vai antecipar as conseqü ências positivas pela reprodução do comportamento Da mesma forma outras pesquisas dessa série demons traram que as crianças modelavam o comportamento agressivo quando os atores estavam vestidos com rou pas de desenho animado Esses resultados contradi zem o argumento de que a violência dos desenhos animados não será reproduzida porque os persona gens não são reais O modelo de autoeficácia de Bandura também gerou muitas pesquisas Esse modelo originalmente foi apoiado por pesquisas sobre o tratamento da ansi edade e do comportamento fóbico Por exemplo Ban dura e colaboradores 1977 comparam tratamentos baseados em realizações de desempenho ou experi ência indireta sem nenhum tratamento para um gru po de fóbicos de cobras Eles descobriram que o trata mento baseado em realizações de desempenho ou maestria produzia expectativas mais elevadas mais sólidas e mais generalizadas de autoeficácia do que o tratamento baseado unicamente em experiências in diretas A autoeficácia também estava ligada ao de sempenho subseqüente com cobras TEORIAS DA PERSONALIDADE 477 A autoeficácia gerou um grande volume de pes quisas também em outras áreas Por exemplo Wein berg Hughes Crittelli England e Jackson 1984 tra balharam com sujeitos que queriam perder peso Os sujeitos foram classificados como tendo uma autoefi cácia preexistente elevada ou baixa com base em auto relatos de quantos quilos queriam perder nos dois meses seguintes e em avaliações de quão certos eles estavam de que conseguiriam perder esse peso Os sujeitos que indicaram estar pelo menos 60 certos de que perderiam o peso desejado foram designados como tendo uma elevada autoeficácia preexistente e os sujeitos que relataram estar menos de 50 cer tos foram classificados como tendo uma baixa auto eficácia preexistente Os sujeitos que foram designa dos para uma condição de autoeficácia manipulada elevada foram informados de que haviam sido especi almente selecionados para o estudo porque os testes revelaram que eles eram o tipo de pessoa que costu ma ter sucesso durante o programa seu comporta mento era freqüentemente atribuído a uma capaci dade de autocontrole previamente nãoreconhecida Os participantes designados para a condição de auto eficácia manipulada baixa não receberam nenhum fe edback especial desse tipo Os resultados revelaram que os sujeitos nas condições de autoeficácia pree xistente elevada e manipulada elevada perderam mais peso do que os sujeitos dos grupos baixos corres pondentes ver também Weinberg Gould Yukelson Jackson 1981 Hawkins 1992 reconhece que a teoria de Ban dura da autoeficácia teve um considerável impacto e que existem evidências abundantes indicando uma relação entre autoeficácia e comportamento p 252 Embora a autoeficácia possa ser útil para predizer o comportamento ele argumenta que ela não é uma causa do comportamento A melhor maneira de con ceitualizar a autoeficácia é como uma conseqüência do comportamento e não como uma causa do com portamento ver outras críticas de Eastman Marzi llier 1984 Marzillier Eastman 1984 e Kirsch 1980 ver também réplicas de Bandura 1980 1984a 1991a Litt 1988 investigou se a autoeficácia serve como um determinante causal da mudança comportamen tal ou se é melhor compreendêla como um correlato da mudança que já ocorreu Litt manipulou a auto eficácia em um grupo de universitárias e mediu sua tolerância à dor em uma condição de vasoconstrição por frio Ele descobriu que as expectativas de auto eficácia afetavam o desempenho além do que seria esperado a partir apenas dos desempenhos passados As mudanças nas expectativas de autoeficácia predi ziam mudanças na tolerância à vasoconstrição por frio Esses achados sugerem que as expectativas de auto eficácia podem ser determinantes causais do compor tamento em uma situação aversiva Litt 1988 p 149 Outros estudos nessa volumosa literatura inves tigaram a autoeficácia e as diferenças sexuais Poole Evans 1989 a autoeficácia e o envelhecimento Seeman Rodin Albert 1993 e correlatos fisioló gicos da autoeficácia Bandura Cioffi Taylor Brou illard 1988 Bandura e colaboradores 1982 Bandu ra Taylor Williams Mefford Barchas 1985 Wiedenfeld e colaboradores 1990 Um outro estudo sobre a autoeficácia merece ser mencionado tanto por ser um ótimo exemplo da abordagem quanto porque a autora articula a cone xão entre autoeficácia e algumas variáveis tradicio nais da personalidade Cozzarelli 1993 usou a auto eficácia para predizer o ajustamento psicológico entre as mulheres que fizeram um aborto Ela também ob teve medidas préaborto das dimensões de personali dade de otimismo controle autoestima e depressão Ela incluiu essas variáveis disposicionais ou de perso nalidade porque acredita que tais variáveis disposici onais influenciam a capacidade do indivíduo de lidar com o estresse por meio de sua influência sobre os sentimentos de autoeficácia Há muitas razões para acreditar que a autoeficácia pode ser considerada um predi tor mais proximal do ajustamento pósestresse do que a personalidade Primeiro os sentimentos de autoeficácia representam uma avaliação cogniti va específica da capacidade da pessoa de conse guir um resultado desejado em uma determinada situação Como avaliações mais generalizadas das habilidades e capacidades pessoais seria espera do que as variáveis disposicionais fossem contri buidores importantes para as crenças de eficácia em uma grande variedade de circunstâncias Entretanto embora os fatores disposicionais pos sam aplicarse em uma grande variedade de cir cunstâncias não é provável que produzam res postas tão adequadas às exigências de uma determinada situação como os sentimentos de 478 HALL LINDZEY CAMPBELL autoeficácia específicos para os eventos Os indivíduos com muita autoestima otimismo ou sentimentos crônicos de controle tendem a lem brar suas realizações passadas sob uma luz exces sivamente positiva e a ter uma história passa da de experiências de manejo mais bemsucedidas Finalmente sentimentos de controle otimis mo e autoestima elevada foram relacionados a uma maior capacidade de cultivar ou utilizar apoi os sociais Cozzarelli 1993 p 1225 A amostra de Cozzarelli incluía 291 mulheres que re alizaram um aborto no primeiro trimestre de gravi dez Essas mulheres completaram medidas de auto estima otimismo controle e depressão uma hora antes de fazer o aborto Elas também completaram uma medida de autoeficácia que perguntava quanta cer teza elas tinham de que nos próximos dois meses con seguiriam apresentar cinco comportamentos de ma nejo pósaborto pensar tranqüilamente sobre bebês passar de carro pela frente da clínica de abortos pas sar tempo com crianças sentindose à vontade conti nuar tendo boas relações sexuais e assistir a progra mas de televisão ou ler histórias sobre abortos Antes de ter alta da clínica as mulheres completaram medi das de ajustamento Três semanas mais tarde elas foram solicitadas a completar medidas de ajustamen to pósaborto Cozzarelli analisou separadamente o ajustamen to imediato e o ajustamento três semanas mais tarde e os resultados foram consistentes com suas hipóte ses Os sentimentos de autoeficácia apresentavam uma forte correlação positiva com o ajustamento ime diato Autoestima elevada otimismo e controle per cebido apresentavam correlações positivas levemente menores com autoeficácia mas as análises de traje tória revelaram que seus efeitos diretos sobre o ajus tamento eram pequenos Em outras palavras os fato res de personalidade exerciam sua influência sobre o ajustamento primariamente pela mediação da auto eficácia Resultados semelhantes foram obtidos no ajustamento depois de três semanas Cozzarelli con clui que as variáveis de personalidade ajudam as pes soas a enfrentar os eventos estressantes de vida ao aumentar os sentimentos de autoeficácia que por sua vez levam aos esforços de manejo O fato de a autoeficácia ser um preditor mais proximal de ajus tamento pósaborto do que as variáveis de personali dade pode refletir o fato de que como uma cognição específica de um evento os sentimentos de autoefi cácia tendem mais a gerar as metas especificamente talhadas para atender aos requerimentos de uma si tuação específica p 1232 Reciprocamente dada sua natureza global as variáveis de personalidade podem contribuir para as crenças de autoeficácia em uma grande variedade de situações Esse foco nas va riáveis cognitivas que influenciam o comportamento em um ambiente específico em vez de em disposi ções globais que se aplicam com menos força em uma grande variedade de ambientes é uma marca regis trada da abordagem de aprendizagem social articula da por Bandura e por Walter Mischel WALTER MISCHEL Conforme discutimos no final do Capítulo 7 Persona lity and Assessment de Walter Mischel 1968 con tinha uma crítica extremamente influente às teorias tradicionais da personalidade Sua conclusão ampla mente citada foi de que com a possível exceção da inteligência não foram demonstradas consistências comportamentais altamente generalizadas e o con ceito de traços de personalidade como predisposições amplas é portanto insustentável Mischel 1968 p 140 Observe os dois termoschave dessa conclusão altamente generalizadas e predisposições amplas Mischel não repudiou a idéia de que os indivíduos têm personalidades distintivas que influenciam seu comportamento Mas ele de fato propôs que a idéia de tendências globais que operam autonomamente em uma grande variedade de situações não tem nenhum apoio empírico convincente O próprio Mischel 1965 tentou usar características amplas de personalidade para predizer o sucesso de professores do Corpo de Paz Essa tentativa fracassou e seu levantamento da literatura sobre a validade preditiva de medidas da personalidade amplas de autorelato indicou que as correlações entre os escores nessas medidas e o com portamento real raramente excediam o nível de 030 Mischel cunhou o termo coeficiente de personalida de para referirse a esse baixo nível de utilidade pre ditiva e sua crítica foi enunciada como um desafio empírico ou apresentem dados demonstrando que variáveis amplas de personalidade realmente são con TEORIAS DA PERSONALIDADE 479 Walter Mischel 480 HALL LINDZEY CAMPBELL sistentes em diferentes situações ou passem para ou tras abordagens teóricas para explicar o papel dos in divíduos na criação dos comportamentos O desafio de Mischel provocou um debate sobre pessoasituação que dominou a literatura por quase duas décadas Vários pesquisadores da personalidade aceitaram o desafio e tentaram apresentar os dados necessários p ex Bem Allen 1974 ver Capítulo 7 enquanto muitos outros voltaram às formulações interacionistas previamente defendidas por teóricos como Henry Murray ver Capítulo 6 embora freqüen temente revelando uma aparente ignorância desses ancestrais intelectuais O próprio Mischel tentou res ponder ao seu desafio tanto gerando dados como apresentando uma reconceitualização da personali dade em termos da aprendizagem social cognitiva 1973 ver também 1977 1979 1984 1990 1993 Kenrick e Funder 1988 concluíram que o campo lu crou com essa controvérsia Um dos ganhos eviden tes veio na forma do novo modelo de Mischel da per sonalidade Antes de tratarmos da reconceitualização de Mis chel é importante reconhecer três aspectos centrais dessa abordagem que o vinculam estreitamente a Al bert Bandura Primeiro o modelo de Mischel está inex tricavelmente ligado e enraizado em resultados em píricos Segundo Mischel enfatiza a construção pelo indivíduo do ambiente no qual ele se comporta A esse respeito a ligação de Mischel com George Kelly com quem ele estudou em Ohio está clara Finalmente Mischel conceitualiza a contribuição da pessoa ao com portamento em termos de um conjunto de variáveis pessoais cognitivas que por sua vez definem a per sonalidade Essas não são tendências globais transi tuacionais como as autoeficácias específicas de Ban dura elas estão ligadas a um ambiente eou domínio comportamental específico Aqui existe uma ironia notável Mischel acredita que as diferenças individu ais no comportamento ocorrem porque os indivíduos têm estratégias se então distintivas que os le vam a comportarse de maneiras características em uma determinada situação mas levam à variabilida de comportamental nas diferentes situações Como conseqüência devido à sua estratégia implícita de agregar comportamentos devido a situações constru indo disposições amplas os teóricos e os pesquisado res tradicionais da personalidade na verdade destro em a individualidade distintiva que parecem estudar Os psicólogos da personalidade criticaram os experi mentalistas por impedir a descoberta dos efeitos da personalidade ao agregar por meio dos sujeitos mas eles cometem um erro parecido ao agregar por meio das situações O objetivo de Mischel é desenvolver uma maneira de conceitualizar a personalidade que reco nheça e preserve a tendência característica do indiví duo de comportarse de uma maneira específica em uma situação específica Como Bandura Mischel adota uma abordagem micro ao comportamento e é essa orientação que distingue seu modelo dos modelos dos teóricos tradicionais da personalidade Walter Mischel nasceu em Viena em 1930 mas sua família fugiu dos nazistas em 1938 e emigrou para a cidade de Nova York Seu interesse inicial era a arte mas em 1951 ele começou a estudar psicologia clíni ca no City College of New York Ele trabalhou como assistente social depois concluiu sua formação na Universidade Estadual de Ohio na década de 50 onde foi influenciado por Kelly por Julian Rotter e pela pri meira geração de teóricos americanos da aprendiza gem social Mischel ensinou em várias universidades antes de mudarse para Stanford em 1962 onde ele e Bandura fundamentaram a abordagem da aprendiza gem social à personalidade Ele se mudou para Co lúmbia em 1983 onde continua sua influente carrei ra Mischel recebeu Distinguished Scientific Contribution Awards da Divisão de Psicologia Clínica da Associa ção Psicológica Americana em 1978 e da Associação Psicológica Americana em 1982 VARIÁVEIS COGNITIVAS PESSOAIS Em sua reconceitualização original da personalidade em termos da aprendizagem social cognitiva Mischel 1973 deixou claro que não estava querendo dizer que as pessoas não mostram nenhuma consistência no comportamento que as diferenças individuais não são importantes ou que as situações são os maiores determinantes do comportamento O que ele realmen te afirmou é que as pessoas têm uma capacidade im pressionante de discriminar entre situações e que os nossos modelos da personalidade precisam explicar tanto a divergência quanto a consistência de compor tamento por meio das situações As nossas histórias idiossincráticas de aprendizagem social produzem TEORIAS DA PERSONALIDADE 481 significados idiossincráticos de estímulos O trabalho de Mischel sobre a capacidade infantil de adiar a gra tificação p ex Mischel Ebbesen Zeiss 1972 o convenceu do poder das transformações cognitivas dos estímulos As crianças que são ensinadas a trans formar cognitivamente recompensas como palitinhos salgados ou marshmallows em pequenos troncos mar rons ou bolinhas de algodão respectivamente aumen tam imensamente sua capacidade de esperar pela re compensa O reconhecimento da organização idiossincrática do comportamento em cada pessoa sugere que as avaliações individualmente orientadas terão um sucesso muito limitado se tentarem rotular uma pessoa com termos de traços generalizados clas sificála em categorias diagnósticas ou tipológicas ou estimar sua posição média em dimensões de média ou moda Mischel 1973 p 260 O que realmente tem utilidade são os autorelatos ou as informações diretas sobre o comportamento passado da pessoa em situações semelhantes Assim enquanto o paradig ma tradicional percebe os traços como as causas in trapsíquicas da consistência comportamental a pre sente posição os tem como os termos sumários rótulos códigos constructos organizadores aplicados ao com portamento observado 1973 p 264 Soando pare cido com George Kelly Mischel conclui que o estudo dos traços globais pode nos dizer mais sobre a ativi dade cognitiva do teórico do traço do que sobre as causas do comportamento da pessoa que nos interes sa Em lugar de dimensões amplas de traços Mischel propõe que conceitualizemos as diferenças individu ais no comportamento em termos de cinco variáveis pessoais de aprendizagem social cognitiva que expli cam as diferenças individuais em como as pessoas medeiam o impacto dos estímulos e geram padrões característicos de comportamento Ele descreve os fundamentos lógicos e a natureza dessas variáveis na seguinte passagem Parece razoável na busca de variáveis pessoais examinar mais especificamente aquilo que a pes soa constrói em condições específicas em vez de tentar inferir que traços amplos ela tem de modo geral e incorporar às descrições daquilo que ela faz às condições psicológicas específicas em que se espera que o comportamento ocorra e não ocorra A abordagem da aprendizagem social cognitiva à personalidade muda a unidade de estudo dos traços globais inferidos a partir de sinais compor tamentais para as atividades cognitivas e padrões de comportamento do indivíduo estudados em relação às condições específicas que os evocam mantêm e modificam e que eles por sua vez mudam Mischel 1968 O foco muda de tentar comparar e generalizar como são diferentes in divíduos para uma avaliação daquilo que eles fa zem em termos comportamentais e cognitivos em relação às condições psicológicas em que o fazem As variáveis pessoais da aprendizagem social cog nitiva lidam primeiro com as competências do indivíduo para construir gerar comportamentos diversos em condições apropriadas A seguir pre cisamos considerar a codificação e a categoriza ção que o sujeito faz dos eventos Além disso uma análise abrangente dos comportamentos que uma pessoa apresenta em situações específicas requer o exame de suas expectativas em relação aos re sultados dos valores subjetivos desses resultados e de seus sistemas e planos autoreguladores Mischel 1973 p 256 Em um trabalho subseqüente Wright e Mischel 1987 elaboraram essa posição Adotando uma posi ção previamente articulada por Henry Murray e Gor don Allport eles demonstram que um dado traço só vai afetar o comportamento em determinadas condi ções Por exemplo uma determinada pessoa vai apre sentar um comportamento agressivo somente em uma série limitada de circunstâncias talvez quando for verbalmente abusada ou desafiada conseqüentemen te um rótulo genérico de agressiva será inadequa do e enganador quando aplicado a essa pessoa Ade mais Wright e Mischel 1988 mostram que a pessoa leiga geralmente evita comprometerse quando des creve o comportamento de outrem incorporando um modificador condicional para indicar quando um de terminado comportamento vai ocorrer É mais prová vel que as pessoas digam Fred é agressivo quando alguém desafia a sua autoridade do que Fred é agres sivo 482 HALL LINDZEY CAMPBELL O PARADOXO DE CONSISTÊNCIA E OS PROTÓTIPOS COGNITIVOS Em sua tentativa de gerar dados para comprovar que existe uma consistência intersituacional do compor tamento Bem e Allen 1974 salientaram a existên cia de um paradoxo por um lado as pessoas sentem um apoio intuitivo compelidor para a existência de disposições amplas que levam à consistência intersi tuacional de comportamentos relevantes mas por outro os dados de pesquisa não apóiam a existência dessa consistência Mischel e Peake 1982 respon dem a esse paradoxo de duas maneiras eles o substi tuem por um novo paradoxo e tentam explicar o novo paradoxo em termos de uma abordagem de protóti po cognitivo Para começar Mischel e Peake replica ram o estudo de Bem e Allen usando dados coletados no Carleton College sobre a consistência intersituacio nal de vários referentes para a conscienciosidade Como no estudo de Bem e Allen eles descobriram que diferentes conjuntos de avaliadores concordavam em suas avaliações da conscienciosidade de membros da amostra que relatavam pouca variabilidade em quão conscienciosos eles eram mas havia pouca con cordância nas avaliações de conscienciosidade dos sujeitos que relatavam grande variabilidade em quão conscienciosos eram Entretanto quando foi realiza da uma análise semelhante do comportamento consci encioso real e não das avaliações de iguais houve poucas evidências de consistência intersituacional em ambos os grupos de sujeitos Mischel e Peake salien tam que a concordância entre avaliadores sobre a cons cienciosidade dos sujeitos foi substancial em ambos os estudos para a baixa variabilidade mas essa con cordância não se refletia em uma consistência intersi tuacional substancialmente mais alta do comporta mento para os sujeitos presumivelmente consistentes Mischel e Peake enfrentaram assim um novo parado xo replicado os sujeitos classificados como apresen tando baixa variabilidade e portanto presumivelmen te consistentes foram realmente avaliados como consistentes mas na verdade eles não apresentavam níveis mais elevados de consistência intersituacional de comportamento Como no paradoxo de Bem e Al len as intuições sobre a consistência do comporta mento não concordaram com os dados A tentativa de Mischel e Peake de explicar esse paradoxo replicável foi orientada pela reconceitua lização da personalidade em termos da aprendizagem social cognitiva e por uma visão de protótipo cogni tivo da categorização da pessoa previamente articu lada por Cantor e Mischel p ex 1979 Eles parti ram da conclusão de que embora os dados ofereçam poucas evidências de consistência intersituacional do comportamento eles realmente demonstram estabi lidade temporal Isso faz sentido quando considerado da perspectiva da reconceitualização de Mischel po demos esperar que as contingências de uma determi nada situação sejam estáveis através do tempo e as competências as codificações as expectativas os va lores e os planos de uma pessoa persistem ao longo do tempo Ao contrário os níveis muito diferentes das variáveis da pessoa podem ser desencadeados por di ferentes situações Esses efeitos podem explicar a con sistência temporal mas o que explica a percepção ilu sória da consistência intersituacional A abordagem de protótipo cognitivo sugere que as categorias natu rais têm definições vagas e que os membros dessas categorias variam em quão prototípicos são Por exemplo é difícil especificar clara e definitivamente a qualidade de membro da categoria pássaro mas a maioria das pessoas concordará que o pardal é um bom exemplo prototípico de um pássaro e que o avestruz não é A abordagem de protótipo cognitivo à consistência sugere que a impressão de consistência se baseia substancialmente na observação da estabili dade temporal daqueles comportamentos que são al tamente relevantes centrais para o protótipo mas é independente da estabilidade temporal de comporta mentos que não são altamente relevantes para o pro tótipo Inversamente a percepção de variabilidade surge da observação da instabilidade temporal de as pectos altamente relevantes Mischel Peake 1982 p 750 Aplicada aos dados de Carleton sobre a cons cienciosidade essa análise leva à hipótese de que as pessoas que dizem ser consistentes por meio das situ ações exibirão maior estabilidade temporal mas não maior consistência intersituacional que aquelas que dizem não ser consistentes entretanto a diferença em estabilidade temporal só ocorrerá em comporta mentos que são exemplos prototípicos de conscienci osidade Para testar essa hipótese os comportamen tos de conscienciosidade foram separados daqueles que eram mais ou menos prototípicos O padrão de resultados apoiou a hipótese não houve nenhuma evidência de consistência intersituacional em nenhum TEORIAS DA PERSONALIDADE 483 dos grupos de sujeitos em nenhum dos conjuntos de comportamento Ao contrário os sujeitos que se per cebiam como altamente consistentes na consciencio sidade demonstraram uma estabilidade temporal sig nificativamente maior nos comportamentos prototípi cos que os sujeitos que se percebiam como altamente variáveis mas não houve diferença entre os dois gru pos na estabilidade temporal média nos comportamen tos menos prototípicos A inferência de Mischel e Pe ake é que um julgamento da estabilidade temporal de comportamentos prototípicos leva as pessoas à con clusão errônea de que elas são consistentes inde pendentemente dos níveis reais de consistência inter situacional do comportamento Em outras palavras nós cometemos um erro cognitivo ao confundir a es tabilidade temporal de comportamentoschave com a consistência intersituacional do comportamento Essa tendência cognitiva explica o paradoxo replicável ob servado por Mischel e Peake 1982 ver também Mis chel Peake 1983 Peake Mischel 1984 e Mis chel 1984 Bem e Allen concluíram que o paradoxo de consistência surgiu porque os pesquisadores pro curavam a consistência no lugar errado e que só po demos esperar consistência intersituacional para al gumas das pessoas em parte do tempo De modo paralelo Mischel e Peake concluem que podemos es perar evidências de consistência temporal mas não de consistência intersituacional O paradoxo de consistência pode ser paradoxal apenas porque temos procurado consistência no lugar errado Se as nossas percepções de atribu tos consistentes da personalidade estão realmen te enraizadas na observação de aspectos compor tamentais temporalmente estáveis que são prototípicos do atributo específico o paradoxo provavelmente está a caminho da resolução Em vez de buscar altos níveis de consistência intersi tuacional em vez de procurar médias amplas talvez precisemos identificar agrupamentos ou conjuntos únicos de comportamentos prototípi cos temporalmente estáveis aspectoschave que caracterizam a pessoa mesmo durante períodos mais longos de tempo mas não necessariamente por meio de muitas ou de todas as situações pos sivelmente relevantes 1982 p 753754 UMA TEORIA DA PERSONALIDADE DE SISTEMA COGNITIVOAFETIVO Em seu trabalho mais recente Mischel colaborou com Yuichi Shoda Mischel Shoda 1995 ver também Shoda Mischel Wright 1989 1993ab 1994 em busca de uma teoria da personalidade de sistema cog nitivoafetivo que conciliasse a presumida invariân cia dos atributos de personalidade através do tempo e das situações com a aparente variabilidade do com portamento nas situações Shoda e Mischel começa ram distinguindo entre duas abordagens diferentes à personalidade A abordagem clássica conceitualiza a personalidade em termos de disposições comportamen tais Em geral essa abordagem tenta obter o escore verdadeiro da pessoa em uma dada característica fazendo a média de seu comportamento ou agregan doo naquelas dimensões em várias situações Por exemplo uma estimativa da cordialidade de uma pes soa poderia ser obtida somandose ou fazendose a média da quantidade de cordialidade exibida pela pessoa em uma variedade de situações A suposição implícita aqui é que variações no comportamento nas diferentes situações refletem erro A segunda aborda gem conceitualiza a personalidade em termos de pro cessos mediadores característicos Esses processos in teragem com situações específicas para produzir comportamentos que diferem em outras situações de maneira confiável A reconceitualização de Mischel da personalidade em termos da aprendizagem social cognitiva é um exemplo dessa abordagem O foco nessa abordagem está no padrão do comportamento do indivíduo e não na quantidade média do compor tamento A Figura 149 ver p 484 ilustra a quantidade do comportamento X exibida pela pessoa A e pela pessoa B em uma variedade de situações Na aborda gem de disposição comportamental a variabilidade na quantidade ou a probabilidade do comportamento nas situações reflete erro e a média das situações é uma medida do verdadeiro nível da característica Na abordagem de processo todavia a questão é de terminar se os diferentes padrões de comportamento apresentados por A e B são estáveis e significativos Em outras palavras o foco não está no nível global de comportamento do indivíduo e sim em seu padrão 484 HALL LINDZEY CAMPBELL de situaçãocomportamento se então distintivo e estável O objetivo de Shoda e Mischel é desenvolver uma teoria de processo que explique as diferenças individuais nas respostas cognitivas e emocionais às situações Tal teoria também explicaria as diferenças individuais no nível médio global do comportamento e em perfis se então estáveis de variabilidade de comportamento nas situações como uma expressão do mesmo sistema de personalidade subjacente A Tabela 141 lista as unidades mediadoras no sis tema de personalidade cognitivoafetivo de Shoda e Mischel Essas unidades cognitivoafetivas são basi camente as mesmas variáveis cognitivas pessoais que Mischel propôs em sua reconceitualização de 1973 com duas mudanças Primeiro as competências po dem ser combinadas com estratégias e planos Uma mudança muito mais significativa é a adição dos afe tos e das emoções como influências sobre o processa mento da informação social Essas unidades intera gem enquanto a pessoa seleciona interpreta gera e responde às situações Na verdade Shoda e Mischel propõem uma visão unificadora de um sistema de personalidade em que os indivíduos são caracteriza dos tanto em termos a das cognições e dos afetos existentes e acessíveis Tabela 141 neste texto quanto b da organização distintiva das interrelações entre eles e os aspectos psicológicos das situações 1995 p 254 A Figura 1410 ver adiante é uma ilustra ção esquemática de tal sistema de personalidade O leitor deve observar o paralelo funcional entre estes mapas de domínio cognitivoafetivo e a rede dinâ mica descrita por Raymond Cattell ver Capítulo 8 Ao longo do tempo o sistema de personalidade vai gerar perfis de situaçãocomportamento se então distintivos com elevação e forma características 1995 p 255 A organização de relações entre as unidades permanece relativamente estável nas mais variadas situações mas diferentes unidades são ati FIGURA 149 Diferenças individuais típicas na probabilidade condicional de um tipo de comportamento em diferentes situações Reimpressa com a permissão de Mischel Shoda 1995 p 247 TABELA 141 Tipos de Unidades CognitivoAfetivas no Sistema Mediador da Personalidade 1 Codificações categorias constructos para self pessoas eventos e situações externas e internas 2 Expectativas e crenças sobre o mundo social sobre os resultados dos comportamentos em situações específicas e sobre a autoeficácia 3 Afetos sentimentos emoções e respostas afetivas incluindo reações fisiológicas 4 Metas e valores resultados desejáveis e estados afetivos resultados aversivos e estados afetivos metas valores e projetos de vida 5 Competências e planos autoreguladores comportamentos potenciais e roteiros que podemos criar e planos e estratégias para organizar a ação e influenciar os resultados e nosso próprio comportamento e estados internos Nota Baseada parcialmente em Mischel 1973 Fonte Reimpressa com a permissão de Mischel e Shoda 1995 p 253 TEORIAS DA PERSONALIDADE 485 vadas por diferentes situações A variabilidade com portamental em termos dos perfis de situaçãocom portamento se então é uma função característica e estável do sistema de personalidade cognitivoafeti vo subjacente SPCA Resumindo por meio das in terações da estrutura do sistema de personalidade com os aspectos das situações que ativam dinâmicas de processamento características os indivíduos podem selecionar buscar interpretar responder a e gerar situações e experiências sociais estáveis nos padrões que são típicos deles 1995 p 259260 No proces so a teoria do SPCA explica de modo integrado tanto a variabilidade nas expressões comportamentais da personalidade quanto a estabilidade no sistema de per sonalidade subjacente que gera essas expressões A Figura 1411 ver p 486 ilustra as implicações com portamentais do SPCA e as influências desenvolvimen tais sobre ele O modelo de SPCA é recente demais para ter sido testado mas constitui uma iniciativa te órica provocativa Com a introdução desse modelo Mischel está con tinuando sua carreira como um pensador provocativo na interface da psicologia social e da personalidade O novo modelo é eminentemente razoável A questão agora é se a sua formulação como as concepções cat tellianas às quais nós a comparamos é complicada demais para ter conseqüências práticas ou empíricas STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO A teoria da aprendizagem social de Albert Bandura está construída em torno de alguns componentescha ve Primeiro ele modificou substancialmente o cons tructo de reforço explicando sua ação em termos a FIGURA 1410 Ilustração simplificada de tipos de processos mediadores cognitivoafetivos que geram os padrões de comportamento distintivos do indivíduo Os aspectos situacionais são codificados por uma determinada unidade mediadora que ativa subconjuntos específicos de outras unidades mediadoras gerando cognições afetos e comportamentos distintivos em resposta a diferentes situações As unidades mediadoras são ativadas em relação a alguns aspectos da situação são desativadas inibidas em relação a outros e não são afetadas pelo restante As unidades mediadoras ativadas afetam outras unidades mediadoras por meio de uma rede estável de relações que caracteriza o indivíduo A relação pode ser positiva linha sólida o que aumenta a ativação ou negativa linha tracejada o que diminui a ativação Reimpressa com a permissão de Mischel Shoda 1995 p 254 486 HALL LINDZEY CAMPBELL FIGURA 1411 O sistema de personalidade cognitivoafetivo em relação a interações e influências desenvolvimentais concorrentes Reimpressa com a permissão de Mischel Shoda 1995 p 262 de informação e não de associacionismo mecanicista e b de atenção e antecipação de conseqüências e não de um reforço retroativo do comportamento Ele também passa de um foco no reforço direto para uma ênfase no reforço indireto vicário e no autoreforço Como parte dessas modificações ele reintroduz a cog nição na cadeia causal de comportamentos Segundo ele enfatiza a aprendizagem observacional como um mecanismo pelo qual os humanos adquirem e modifi cam comportamentos A modelagem inclui os subpro cessos de atenção retenção reprodução e motivação Terceiro ele propõe que o ser humano desempenha um papel ativo na construção e na interpretação do ambiente em que se comporta Como parte desse pro cesso ativo as pessoas observam o próprio comporta mento e avaliamno em termos de padrões internos por meio da operação de um autosistema Finalmen te Bandura descreve a autoeficácia como o julgamen to que a pessoa faz da própria capacidade de produ zir um comportamento que leve a efeitos desejados e ele usa esse constructo para explicar a persistência e o grau de esforço em um determinado domínio O modelo de Bandura tem sido extremamente influente na psicologia contemporânea A compatibi lidade entre esse modelo e a orientação cognitiva tão dominante na psicologia hoje certamente contribui para isso mas tal influência pode ser atribuída em grande parte à sua clareza conceitual poder explana tório e aplicabilidade prática Além disso Bandura oferece uma ponte muito freqüentada entre os mode los clássicos da personalidade que confrontam a com plexidade do comportamento humano e as formula ções da aprendizagem que articulam mecanismos poderosos para a aquisição de comportamentos mas são relativamente destituídas de conteúdo Bandura vem de uma tradição de aprendizagem skinneriana que não valorizava muito as noções de personalida de mas ao modificar profundamente a noção skinne riana de reforço e introduzir a confiança em um auto sistema e na autoeficácia Bandura chega a um modelo que tem muito em comum com modelos tradicionais da personalidade Nesse sentido ele é o teórico mais adequado para concluirmos esta consideração das te orias da personalidade Sua discussão do autosiste ma e das estratégias associadas de ativação seletiva e desligamento do autocontrole é de fato análoga aos mecanismos de autocontrole descritos por Murray Allport e outros teóricos psicanalíticos Mas a aborda gem de microanálise de Bandura e sua atenção aos fatores cognitivos que medeiam os comportamentos distintivos em situações específicas realmente o dis tinguem dos teóricos que defendem as disposições transituacionais globais O mesmo também pode ser dito com ênfase ainda maior sobre Walter Mischel TEORIAS DA PERSONALIDADE 487 Bandura descreve a autoeficácia como uma variável específica diferentemente de constructos anteriores de autoestima e competência mas a semelhança de conteúdo entre os teóricos é notável A autoeficácia também permite a Bandura explicar a dinâmica da ansiedade O modelo também é atraente por estar tão estreitamente ligado à pesquisa empírica na verda de o modelo é exemplar por sua fundamentação na experimentação e pela experimentação que gerou Finalmente Bandura emprega a modelagem e a auto eficácia para explicar convincentemente as origens da psicopatologia com base na ansiedade Essa explica ção leva a estratégias específicas de intervenção cuja efetividade está comprovada Apesar das características muito positivas pode mos objetar vários pontos na teoria de Bandura Em especial Bandura não discute a fundamentação fisio lógica das características de personalidade fora certa atenção a correlatos fisiológicos associados a mudan ças na autoeficácia Igualmente existe apenas um foco muito limitado no conflito na excitação no afeto e na motivação Ficamos com um quadro muito claro dos mecanismos envolvidos na aprendizagem obser vacional na autoeficácia e no autosistema mas não há aquele colorido que torna tão reais as formulações psicanalíticas Também não há detalhes sobre as uni dades estruturais que possuem poder explanatório e preditivo nas teorias clássicas da personalidade Ten do dito isso é importante reconhecer que existem compensações e as estruturas teóricas de Bandura recebem notas altas em acessibilidade e testabilida de Além disso a recente inclusão do afeto por parte de Mischel como uma das unidades em sua teoria de SPCA é um passo rumo à inclusão das contribuições afetivas ausentes nas explicações do comportamento fornecidas pela aprendizagem social Este último comentário leva a uma observação fi nal Em muitos aspectos as posições de Mischel e Bandura se complementam Bandura descreve a me cânica dos processos de aprendizagem pelos quais as pessoas adquirem tendências comportamentais e des creve um autosistema pelo qual elas monitoram e avaliam seu comportamento O que ele não oferece é um modelo estrutural ou dinâmico da personalidade conforme observamos antes Mischel por outro lado descreve variáveis gerais da pessoa e articula uma co nexão entre essas estruturas gerais e os comportamen tos característicos mais específicos do indivíduo Mis chel entretanto não foi específico sobre o modo de aquisição dessas unidades estruturais e dinâmicas Como um par então os modelos de aprendizagem social de Bandura e Mischel têm muito a oferecer Os futuros modelos da personalidade certamente benefi ciarseão de seus aspectos notáveis TEORIAS DA PERSONALIDADE 489 PERSPECTIVAS E CONCLUSÕES Nós encerramos aqui o nosso exame das teorias da personalidade Cada teoria como o leitor percebeu adota uma perspectiva específica em sua tentativa de descrever e explicar o comportamento característico dos indivíduos Talvez a realidade central à qual todas as teorias da personalidade respondem seja um reconhecimento de que a pessoa que nos tornamos em função da nossa história distintiva de vida parece nos constranger a continuar agindo de maneiras características Isso não pretende sugerir que o nosso comportamento é imutável ou que o nosso curso de vida é inteiramente mapeado em tenra idade A personalidade se desdobra gradualmente como salienta Erikson e certamente há mudanças com o passar do tempo e a experiência Além disso a compreensão da nossa natureza bem pode ser incompleta ou ilusória como propõem Freud Skinner e praticamente todos os outros teóricos exceto Allport Mas a mensagem da teoria da personalidade é que a nossa avaliação do mundo em que nos movemos e a nossa resposta a ele é constrangida pela pessoa que nos tornamos A meta das teorias da personalidade é oferecer uma estrutura para conceitualizar a natureza característica e integrada do indivíduo e para relacionar essa natureza com o seu comportamento Neste capítulo final nós reconsideramos as teorias diversas que apresentamos bem como o estudo da personalidade em si Nós primeiro comparamos as teorias em termos das questões apresentadas no Capítulo 1 e concluímos com uma tentativa de oferecer alguma perspectiva em relação ao campo TEORIAS DA PERSONALIDADE 491 CAPÍTULO 15 A Teoria da Personalidade em Perspectiva A COMPARAÇÃO DAS TEORIAS DA PERSONALIDADE 492 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A ATUAL TEORIA DA PERSONALIDADE 500 SÍNTESE TEÓRICA VERSUS MULTIPLICIDADE TEÓRICA 504 492 HALL LINDZEY CAMPBELL Chegamos agora ao final da nossa jornada passando pelas 13 teorias da personalidade mais importantes O leitor que concluiu fielmente a jornada deve estar impressionado com a diversidade e a complexidade desses pontos de vista Cada teoria apresenta certos aspectos distintivos e em cada caso descobrimos algo a aprovar ou admirar Parece apropriado neste pon to fazer uma pausa e tentar identificar as tendências gerais que existem apesar das grandes diferenças en tre as teorias da personalidade É importante que os estudantes percebam a individualidade e distintivida de de cada ponto de vista mas é igualmente impor tante que estejam conscientes das qualidades comuns existentes em meio à confusão de afirmações confli tantes e expressões individuais Neste último capítulo fazemos uma retrospecti va final nas teorias da personalidade que estão sendo examinadas em busca do objetivo da generalidade A nossa discussão está organizada em torno das dimen sões propostas no capítulo inicial como apropriadas para comparar teorias da personalidade Nós também apresentamos um pequeno número de questões que nos parecem importantes para determinar futuros de senvolvimentos nessa área Como uma nota de con clusão nós consideramos se seria indicado tentar uma síntese das teorias da personalidade a fim de chegar a uma teoria geral maximamente aceitável para to das as pessoas que trabalham nessa área e ao mesmo tempo mais útil do que qualquer teoria existente A COMPARAÇÃO DAS TEORIAS DA PERSONALIDADE Ao comparar as teorias examinaremos as diferenças de conteúdo em vez das diferenças de forma Nossa principal razão para ignorar as diferenças formais derivase da nossa convicção de que neste estágio de desenvolvimento não temos muita base de escolha entre essas teorias nesses termos Todas precisam ser consideravelmente melhoradas antes de poderem ser consideradas minimamente adequadas em termos de critérios formais como clareza de enunciado e ade quação de definição Embora existam diferenças en tre as teorias nesses critérios as diferenças são menos interessantes e importantes do que as diferenças exis tentes em substância ou conteúdo Mas alguma pala vra deve ser dita sobre a relativa utilidade dos vários pontos de vista como geradores de pesquisa Voltare mos a essa questão quando tivermos concluído nossa discussão sobre as diferenças substanciais entre as teorias A nossa discussão da teoria contemporânea da personalidade revela que a importância de conceber o organismo humano como uma criatura que anseia busca e tem intenção é menos central atualmente do que foi no passado Durante a primeira terça parte deste século essa foi uma questão que provocou uma clivagem dramática entre vários teóricos da psicolo gia McDougall Watson Tolman e outras figuras im portantes dedicaram muita atenção à questão de se o ser humano necessariamente é intencional Embora seja verdade que alguns teóricos contemporâneos como Allport Murray Kelly Rogers e Adler ainda co loquem grande ênfase na natureza intencional do com portamento há pouca resistência a esse ponto de vis ta Até teóricos como Miller Dollard e Skinner que não parecem ver a intenção como uma consideração crucial para entender o comportamento não fizeram nenhuma tentativa de tornála central entre a sua posição e outras teorias Podemos desconfiar que a pergunta relativamente central referente à natureza intencional humana foi substituída por uma série de perguntas mais específicas sobre questões como o papel da recompensa a importância do self e a cen tralidade da motivação inconsciente Em geral então a maioria dos teóricos da personalidade parece con ceber o ser humano como uma criatura intencional Mesmo quando isso não é tomado como certo real mente não parece constituir pomo de discórdia infla mada A importância relativa dos determinantes incons cientes do comportamento como oposta à importân cia dos determinantes conscientes persiste como um fatorchave na distinção entre as várias teorias da per sonalidade Embora isso permaneça uma questão cen tral os termos exatos de desacordo entre os teóricos parecem ter mudado consideravelmente nos últimos anos Originalmente o debate centravase na realida de ou existência da motivação inconsciente mas atu almente a dúvida parece ser menos a existência de tais fatores e mais em que condições e quão intensa mente eles operam A teoria de Freud certamente en fatiza mais os fatores inconscientes e várias teorias influenciadas pela posição psicanalítica ortodoxa TEORIAS DA PERSONALIDADE 493 como as de Murray e de Jung também colocam gran de peso nesses fatores No outro extremo encontra mos teorias como as de Allport Skinner Rogers e Ban dura em que os motivos inconscientes são pouco enfatizados ou só recebem um papel importante no indivíduo anormal É verdade que os teóricos da per sonalidade têm apresentado uma tendência rumo a uma crescente aceitação do papel dos motivos incons cientes mas ainda existe muita variedade na exten são em que esse papel é enfatizado A considerável variação entre as teorias em sua preocupação com o processo de aprendizagem está an corada em uma extremidade na exposição detalha da oferecida por Skinner Bandura Miller e Dollard e na outra extremidade na ausência de qualquer trata mento específico da aprendizagem nas teorias de Jung e Adler Eysenck e Cattell dedicam uma considerável atenção a esse processo mas em geral suas idéias re presentam tentativas de reunir princípios desenvolvi dos por outros teóricos A maioria dos teóricos da per sonalidade contentase em aceitar o desenvolvimento em termos de princípios globais como maturação individuação identificação autorealização ou algo assim em vez de tentar apresentar um quadro deta lhado do processo de aprendizagem Apesar da au sência de discussão detalhada observe que os proces sos de aprendizagem desempenham um papel importante embora implícito em várias das teorias que estão sendo consideradas Assim a discussão de Freud da aquisição infantil de escolhas objetais certa mente precisa ser compreendida no contexto de prin cípios de aprendizagem Da mesma forma a atenção de Murray ao papel da pressão infantil no desenvolvi mento de necessidades catexias e complexos repre senta um claro reconhecimento da centralidade da aprendizagem para não mencionar sua declaração de que a história da personalidade é a personalidade Embora o processo de aprendizagem seja um pou co negligenciado há muito interesse pelos produtos da aprendizagem ou estruturas da personalidade Um dos aspectos mais distintivos das teorias da personali dade são seus numerosos e diferentes esquemas para representar a estrutura da personalidade Entre os que examinaram mais detalhadamente as aquisições da personalidade estão Allport Cattell Freud Jung Murray e Eysenck Historicamente percebemos a se guinte tendência os teóricos mais preocupados com o processo de aprendizagem eram os menos preocu pados com as aquisições da aprendizagem e vicever sa No presente todavia os teóricos que mais igno ram a aprendizagem ou a estrutura tendem a com pensar essa deficiência tomando emprestada uma série de formulações de outra teoria cujo foco concei tual inclui a área negligenciada A melhor ilustração dessa tendência são os esforços de Miller e Dollard para incorporar à sua teoria da aprendizagem os con ceitos estruturais da psicanálise Nós já salientamos o fato de que como grupo os psicólogos americanos minimizaram o papel dos fato res hereditários como determinantes do comportamen to Mas muitos dos teóricos que consideramos enfati zam clara e explicitamente a importância desses fatores Cattell estava convencido da centralidade dos determinantes genéticos e ele esperava que a sua abordagem ao estudo do comportamento esclareces se os detalhes da relação entre eventos genéticos e comportamentais Cattell manifestava interesse teó rico e empírico pelo papel da hereditariedade no com portamento Suas investigações na verdade tendiam a apoiar solidamente suas convicções teóricas sobre o assunto Hans Eysenck foi um veemente defensor da importância dos fatores genéticos Na verdade Ey senck 1991 argumenta que a consideração das cau sas genéticas é um dos critérios para uma teoria ade quada da personalidade Igualmente o modelo desenvolvido em resposta a Eysenck por Gray assim como o trabalho de Zuckerman sobre a busca de sen sação e os Cinco Grandes alternativos coloca gran de ênfase nos mecanismos genéticos A teoria de Jung estava profundamente comprometida com a genéti ca e Freud considerava crucialmente importantes os fatores hereditários Murray Allport e Erikson tam bém aceitavam a importância da hereditariedade embora enfatizassem essa questão um pouco menos do que os teóricos previamente mencionados B F Skinner é muitas vezes malentendido como ignoran do a genética mas ele descrevia repetidamente a im portância da dotação genética do indivíduo bem como os grandes efeitos da história evolutiva as contin gências de sobrevivência sobre o desenvolvimento das características da espécie Além disso como indi camos no final do Capítulo 8 duas das novas e exci tantes linhas da pesquisa contemporânea sobre a per sonalidade referemse à genética do comportamento e à teoria evolutiva da personalidade Dos teóricos da personalidade considerados parece que Horney Ke 494 HALL LINDZEY CAMPBELL lly Bandura e Sullivan são os que menos enfatizam tais fatores Achamos então que a maioria dos teóri cos da personalidade aceita ou enfatiza a importância dos fatores hereditários e vários associaram essa ên fase teórica a pesquisas empíricas relevantes O contraste entre as posições teóricas de Freud e Kelly ilustra bem a variação entre os teóricos da per sonalidade em sua ênfase na importância dos fatores contemporâneos como oposta à importância dos even tos que ocorreram no início do desenvolvimento A abor dagem de Erikson a teoria de Miller e Dollard de es tímuloresposta a personologia de Murray e a teoria interpessoal de Sullivan assemelhamse à teoria de Freud em sua ênfase na experiência inicial e as teori as de Allport e Rogers assemelhamse à posição de Kelly na ênfase no contemporâneo As diferenças teó ricas reais e importantes aqui existentes são às vezes encobertas pela implicação de que os teóricos que enfatizam a experiência inicial o fazem unicamente por um fascínio pela história ou pelo passado e não devido ao poder preditivo ou à importância atual des ses eventos Os defensores da importância do presen te afirmam que o passado só é importante agora devi do à operação dos fatores no presente Assim se compreendemos inteiramente o presente não há ne nhuma necessidade de lidar com o passado Não exis te na verdade nenhum desacordo real sobre o fato de que o passado só influencia o presente por meio da operação de fatores forças ou atributos presentes idéias arquétipos memórias disposições Mas aque les que enfatizam a importância dos eventos passados afirmam que o passado é indispensável para compre endermos o desenvolvimento e também para obter mos informações sobre as forças que estão operando no presente O principal desacordo entre esses dois campos teóricos centrase na questão de se os fatores que influenciam o comportamento presente podem ser adequadamente avaliados a partir do mesmo ou se o conhecimento referente aos eventos passados não traria informações especiais de natureza crucial So bre tal questão os teóricos da personalidade parecem uniformemente divididos A ênfase maior sobre a continuidade do desenvol vimento aparece nas teorias de Erikson Freud Mur ray Miller e Dollard Bandura e Skinner embora o mesmo tema esteja presente em um grau menor nas teorias de Adler e Sullivan Essas teorias deixam claro que os eventos que ocorrem no presente estão siste maticamente ligados a eventos que ocorreram no pas sado e que o desenvolvimento é um processo ordena do e consistente explicável em termos de um conjun to único de princípios Ao contrário Allport Kelly e em certa extensão Rogers enfatizaram explicitamen te a falta de continuidade no desenvolvimento e a re lativa independência do funcionamento adulto em relação aos eventos da infância ou do período de bebê Jung também enfatizou a disjuntividade do desenvol vimento embora percebesse a maior descontinuida de como ocorrendo na meiaidade quando os moti vos biológicos são amplamente substituídos por necessidades culturais e espirituais Todos esses teóri cos sugerem que talvez sejam necessários princípios um pouco diferentes para explicar aquilo que aconte ce nos diferentes estágios do desenvolvimento Nem todas as teorias da personalidade se interessam mui to pelo processo de desenvolvimento mas a maioria das que o fazem concebe o desenvolvimento como um processo contínuo a ser representado em termos de um conjunto único de princípios teóricos Nós já concordamos que um dos aspectos que dis tinguia a teoria da personalidade historicamente de outros tipos de teoria psicológica era uma ênfase no holismo Consistente com essa observação é o fato de que a maioria dos teóricos contemporâneos da perso nalidade pode ser adequadamente classificada como organísmico Como grupo eles enfatizam a importân cia de considerarmos os indivíduos como uma unida de total e em funcionamento Assim Allport Golds tein Jung Murray e Rogers enfatizaram o fato de que não podemos compreender um elemento do compor tamento quando estudado isoladamente do restante do funcionamento da pessoa incluindo sua constitui ção biológica Apenas Skinner e Miller e Dollard pa reciam dispostos a resistir ao consenso geral e questi onaram a importância de estudar o indivíduo total A importância do campo foi enfatizada por Adler Eri kson Kelly Lewin Murray Rogers e Sullivan Somen te Lewin e Murray entretanto tentaram apresentar um conjunto detalhado de variáveis em termos dos quais o campo pudesse ser analisado embora Rogers e Kelly enfatizassem muito a perspectiva fenomeno lógica do indivíduo A relativa falta de interesse pelos detalhes da análise é uma conseqüência lógica das convicções holísticas dos teóricos do campo que os levam a desconfiar de conjuntos específicos de variá veis Quase ninguém nega que a percepção que o in TEORIAS DA PERSONALIDADE 495 divíduo tem da situação em que ocorre o comporta mento é importante ainda que Freud Jung Miller e Dollard e Skinner tenham dado a essa questão me nos atenção explícita do que os outros teóricos É evi dente que a teoria da personalidade contemporânea enfatiza a importância de se estudar o comportamen to organicamente sem tentar isolar pequenos seg mentos do comportamento para estudo microscópi co Ao mesmo tempo existe uma crescente tendência entre os teóricos da personalidade de representar de forma completa a situação ou o contexto em que ocorre o comportamento O indivíduo que adota uma posição holística pode estar recomendando uma de duas abordagens à re presentação do comportamento Ele pode estar sim plesmente sugerindo que uma teoria adequada preci sa ser complexa multivariada e incluir referência à situação em que ocorre o evento comportamental bem como a outros eventos comportamentais do indivíduo Por outro lado ele pode estar sugerindo que todos os comportamentos do indivíduo estão tão estreitamen te unidos e mais que estão tão estreitamente ligados a seu contexto ambiental que qualquer tentativa de abstrair elementos ou variáveis para estudo está con denada ao fracasso O primeiro ponto de vista aceita a complexidade do comportamento e sugere que um modelo razoavelmente complexo do mesmo é neces sário para predizer o comportamento de modo mais eficiente O segundo ponto de vista enfatiza a com plexidade do comportamento e insiste que todos os aspectos do indivíduo e da sua situação devem ser devidamente considerados antes que qualquer progres so possa ser feito É facilmente compreensível que as teorias que representam esta última posição enfati zem costumeiramente a distintividade ou a singulari dade do indivíduo Uma vez que a teoria insiste que o observador considere muitas facetas diferentes do in divíduo o comportamento da pessoa o contexto des se comportamento a distintividade de cada indivíduo e de cada ato precisam ficar óbvios e ser questão de interesse A teoria de Allport é de longe a que mais enfatiza a importância de examinar completamente a individualidade De fato como vimos essa ênfase le vou Allport a propor que fosse dada uma maior aten ção ao método idiográfico de estudo do comporta mento Esse mesmo ponto de vista geral recebe uma ênfase central nas teorias de Adler e Murray Os teóri cos da aprendizagem são extremamente explícitos em negar a importância crucial da singularidade do com portamento Embora existam alguns teóricos da per sonalidade que destaquem a singularidade do com portamento essa ênfase parece menos típica da moderna teoria da personalidade do que a ênfase or ganísmica É comumente reconhecido que Dollard Miller e Skinner examinaram unidades de comportamento bas tante pequenas ao passo que os teóricos organísmi cos estavam mais preocupados com unidades abar cando toda a pessoa Cattell preferia unidades menores e Allport e Rogers preferiam unidades grandes ao des crever o comportamento Os teóricos restantes vari am mais amplamente ao longo do espectro molecu larmolar Freud por exemplo conseguia analisar o comportamento em unidades muito pequenas quan do havia necessidade mas ele também tinha facilida de em lidar com a pessoa inteira como um todo O mesmo pode ser dito sobre Erikson A importância do ambiente psicológico ou do mun do da experiência em oposição ao mundo da realida de física é aceita pela maioria dos teóricos da perso nalidade e é uma questão de ênfase focal para muitos Kelly e Rogers são os mais explícitos e cuidadosos em seu desenvolvimento desse ponto de vista De fato eles foram acusados de ignorar grandemente o mun do da realidade em resultado de sua preocupação com o mundo da experiência Tal ponto de vista também recebe uma considerável atenção em muitas das teo rias psicanalíticas e na teoria de Murray Embora nin guém questione que a maneira como o indivíduo per cebe um dado evento tem certa influência sobre como ele vai responder a esse evento nós achamos que isso recebe pouca atenção nas teorias de Cattell Miller e Dollard Eysenck e Skinner Considerando tudo pro vavelmente seria correto dizer que os teóricos da per sonalidade estão mais impressionados com a impor tância do ambiente psicológico do que com a importância do ambiente físico Nós vimos que existem vários sentidos em que o conceito de self é empregado pelos teóricos da perso nalidade Ou o self é visto como um grupo de proces sos que servem como determinantes do comportamen to ou é concebido como um agrupamento de atitudes e sentimentos que o indivíduo tem a respeito de si mesmo De uma forma ou outra o self ocupa um pa pel proeminente na maioria das atuais formulações da personalidade Não só existem teorias específicas 496 HALL LINDZEY CAMPBELL identificadas como teorias do self mas também um grande número de outras teorias emprega esse con ceito como um elemento teórico focal Entre os teóri cos que de alguma maneira usam proeminentemente o conceito de ego ou self estão Adler Allport Cattell Freud Horney Erikson Jung e Rogers Só Eysenck Skinner Miller Dollard e Kelly parecem não dar um papel importante ao self em sua maneira de conceber o comportamento É verdade que muitas das atuais formulações do self evitam ou diminuem a subjetivi dade existente em concepções anteriores Tem havi do uma tendência definida no sentido de descobrir operações pelas quais o self ou seus aspectos possam ser medidos Poderíamos dizer que nos primeiros dias da teorização psicológica o self tendia a ter implica ções místicas ou vitalistas ao passo que o self contem porâneo parece ter perdido essas qualidades à medi da que ganhou pelo menos uma quantificação pessoal Hoje os teóricos da personalidade caracterizamse claramente por um maior interesse pelo self e por pro cessos concomitantes Um componente do self que recebe uma atenção especial em várias teorias é o senso de competência do indivíduo O motivo de desenvolver áreas de excelên cia nas interações com o ambiente foi introduzido for malmente por White 1959 e subseqüentemente usado para modificar os estágios de desenvolvimento psicossexuais de Freud White 1960 Esse motivo aparece nas teorias da personalidade das seguintes maneiras na ênfase de Adler na superação da inferio ridade e na busca de superioridade como uma das crises básicas propostas por Erikson na proposta de Allport de que o domínio e a competência explicam a autonomia funcional de certos motivos no foco de Kelly em uma antecipação acurada das conseqüênci as e na especificação de Bandura da autoeficácia Não existe um motivo correspondente nas teorias de senvolvidas por Jung Eysenck Rogers Skinner ou Do llard e Miller A importância dos determinantes da afiliação gru pal para o comportamento é enfatizada principalmente naquelas teorias muito influenciadas pela sociologia e antropologia As posições de Adler Erikson Horney e Sullivan ilustram isso É muito natural que os teóri cos que enfatizam o campo dentro do qual ocorre o comportamento também se interessem pelos grupos sociais aos quais o indivíduo pertence Consistente com isso é o fato de que todos os teóricos antes menciona dos podem ser considerados teóricos do campo Ne nhum dos teóricos que examinamos acredita que os fatores da afiliação grupal não sejam importantes embora Allport Jung e Skinner tenham escolhido não focalizar tais fatores Em geral parece que existe uma crescente tendência entre os teóricos da personalida de a dar uma atenção explícita ao contexto sociocul tural em que ocorre o comportamento Nós observamos que os teóricos da personalidade costumam tentar alguma forma de ancoramento in terdisciplinar de suas teorias A maioria desses esfor ços centrase na possibilidade de interpenetrar os conceitos psicológicos com os achados e conceitos das ciências biológicas Essa tendência é ilustrada pelas teorias de Allport Freud Jung Murray e Eysenck Nenhum dos teóricos discutidos com as possíveis ex ceções de Freud e Jung busca vincular suas formula ções às disciplinas da antropologia e sociologia En tretanto Dollard Miller Freud e Murray demonstram um interesse equilibrado em estabelecer vínculos teó ricos com a biologia e as ciências sociais e Erikson mostra um interesse especial em relacionar sua teoria ao campo da história A partir disso fica claro que os teóricos da personalidade como grupo estão mais orientados para as ciências biológicas do que para as ciências sociais Mas existem algumas evidências de um maior interesse pelos achados e pelas teorias da sociologia e da antropologia A diversidade e a multiplicidade de motivação no ser humano são totalmente reconhecidas nas teorias de Allport Cattell Maslow e Murray Em cada uma dessas teorias existe uma firme ênfase no fato de que o comportamento só pode ser compreendido com a identificação e o estudo de um grande número de va riáveis motivacionais As teorias de Cattell e Murray são as únicas tentativas detalhadas de traduzir tal multiplicidade em uma série de variáveis específicas Adler Erikson Freud Eysenck Bandura Horney Ro gers e Skinner parecem dispostos a estudar o com portamento humano com um conjunto muito mais abreviado de conceitos motivacionais Assim embora os teóricos da personalidade compartilhem uma de talhada preocupação com o processo motivacional eles estão divididos entre os que representam a moti vação em termos de um número relativamente pe queno de variáveis e os que consideram necessário um número muito grande delas TEORIAS DA PERSONALIDADE 497 Muitos teóricos da personalidade demonstram um interesse detalhado e contínuo pela personalidade re alizada madura ou ideal Esse é um aspecto central nas teorias de Rogers Allport e Jung Também é pro eminente nos textos de Freud Adler Horney e Erik son Os teóricos que têm demonstrado menos interes se por especificar ou explicar a maturidade e a autorealização incluem Cattell Miller Dollard Skin ner Bandura Eysenck e Kelly Temos observado uma considerável variação en tre as teorias da personalidade na relevância que dão ao comportamento anormal Não só algumas teorias se baseiam em grande parte no estudo de indivíduos neuróticos e outros indivíduos perturbados mas tam bém muitas teorias têm muito a oferecer em termos de métodos adequados para alterar ou tratar as várias formas de psicopatologia As origens da psicanálise na observação de pacientes que se submetiam à psi coterapia são bem conhecidas assim como o profun do impacto que a teoria tem tido sobre o entendimen to e tratamento de todas as variedades de desvio comportamental Uma associação muito semelhante pode ser vista entre os transtornos comportamentais e as teorias de Jung Adler Horney e Sullivan O teó rico que demonstrou menos interesse pelo mundo da psicopatologia foi Allport A nossa discussão até este momento foi bastante geral e praticamente não tentamos avaliar cada teo ria em relação a cada questão Estivemos mais preo cupados com o status global da teoria da personalida de do que com uma comparação detalhada das teorias específicas A Tabela 151 apresenta uma correção parcial dessa generalidade indicando como cada teo ria se comporta em relação às questões individuais enfatiza ocupa um lugar moderado ou não enfatiza a questão Esses julgamentos obviamente são amplos e aproximados Sua falta de precisão devese às cate gorias extremamente gerais usadas na avaliação e à complexidade das teorias que em certos casos torna impossível saber com certeza como um determinado teórico se posiciona diante de uma dada questão De qualquer forma a justificativa para as avaliações foi apresentada nos capítulos precedentes juntamente com referências apropriadas às fontes originais Con seqüentemente o leitor não precisa aceitar nosso jul gamento sem crítica e pode fazer sua própria avalia ção usando as mesmas fontes de dados que empregamos Na Tabela 151 ver p 498 o símbolo A indica que a teoria enfatiza a importância da questão ou do conjunto de determinantes M indica que a teoria ocu pa um lugar intermediário e B sugere que a questão ou posição é pouco enfatizada nessa teoria Podemos observar sem discussão adicional que pelo que sabemos foram realizadas cinco análises multivariadas dos dados apresentados nas edições prévias de Teorias da Personalidade O primeiro dos estudos foi executado por Desmond Cartwright 1957 e apareceu logo depois que a primeira edição foi pu blicada Usando a análise fatorial ele extraiu quatro fatores O Fator A inclui os atributos de propósito e determinantes de afiliação grupal As teorias altamen te saturadas desse fator são as de Adler Fromm Hor ney Rogers e Sullivan O Fator B inclui os atributos de estrutura hereditariedade e biologia Tal fator é eleva do nas teorias de Angyal Eysenck Freud Jung Mur ray e Sheldon Propósito ênfase organísmica e auto conceito são os principais atributos compreendendo o Fator C As teorias carregadas com esse fator são as de Allport Angyal Goldstein e Rogers O quarto fator consiste em estrutura e hereditariedade e é importan te apenas com respeito às teorias de fator Alguns anos mais tarde Taft 1960 relatou os resultados de uma análise de agrupamento dos dados na Tabela 1 primeira edição Emergiram cinco agru pamentos principais O Agrupamento I inclui Adler Fromm Horney Murray e Sullivan e o nome sugeri do para o agrupamento é teorias de campo sociais fun cionalistas O segundo agrupamento chamado de abor dagem desenvolvimental a complexos inconscientes e estruturas de personalidade inclui apenas os três teó ricos psicanalíticos originais Freud Adler e Jung Angyal Goldstein Jung e Rogers foram um agrupa mento rotulado como autorealização organísmica ina ta O Agrupamento IV é identificado como desenvolvi mento contínuo em interação com o ambiente social As teorias pesadamente carregadas com esse fator são as de Adler Freud Murray e Sullivan O último agrupa mento inclui Allport Cattell Eysenck Freud Jung e Sheldon e é denominado de estruturas constitucionais da personalidade Schuh 1966 realizou uma análise de agrupamen to dos atributos e dos teóricos Relataremos apenas seus resultados envolvendo os teóricos Eles se inclu em em quatro agrupamentos O primeiro deles con siste em Adler Fromm e Horney e é chamado de ên 498 HALL LINDZEY CAMPBELL fase social O segundo agrupamento composto por Allport Angyal Goldstein Miller Dollard e Rogers é chamado de ênfase no self O terceiro inclui Eysenck Freud Lewin Murray e Sheldon e o quarto Cattell Jung e Sullivan Os dois últimos agrupamentos não receberam nomes pois não foi encontrado nenhum aspecto comum pelo qual caracterizar os diversos pon tos de vista O estudo de Evans e Smith 1972 envolveu a análise fatorial dos atributos e dos teóricos e uma comparação com os resultados de Schuh Apesar da adição de novas dimensões e teóricos na versão revi sada deste livro e do uso de um método diferente de análise Evans e Smith encontraram uma notável se melhança entre seus achados e os relatados anterior mente Seu primeiro fator de teórico compreendia Binswanger e Boss Miller e Dollard Cattell Rogers Goldstein Angyal e Allport e corresponde ao segun do fator de Schuh a ênfase no self Seu segundo fator incluía Fromm Horney Adler e Freud e corresponde ao primeiro agrupamento de Schuh referido como ênfase social no estudo anterior e como ênfase psica nalítica no relato mais recente O terceiro fator con sistia em Sheldon Murray Lewin e Freud e corres ponde ao terceiro agrupamento de Schuh Evans e Smith o chamam de ênfase biológica Um quarto fator chamado de ênfase na aprendizagem é composto de Binswanger e Boss Skinner Miller e Dollard Murray e Allport Os autores relatam congruências compará veis em seus achados e os de Schuh na comparação das análises dos atributos Um estudo final Campbell 1980 analisou a ta bela correspondente de teorias na terceira edição deste texto usando análise de agrupamento e análise fato rial Os resultados diferiram dos obtidos em estudos prévios tanto por causa de diferenças introduzidas na terceira edição quanto porque as análises trataram os dados de avaliação como ordinais em vez de como dados de intervalo Nós apresentamos os seis agrupa mentos obtidos no procedimento de agrupamento Freud e Erikson o agrupamento mais firme compar tilham uma ênfase no desenvolvimento inicial Mur ray Rogers e Goldstein apresentam uma ênfase orga nísmica além de uma ênfase na singularidade e não TABELA 151 Comparação Dimensional das Teorias da Personalidade Parâmetro Comparado Freud Jung Adler Horney Sullivan Erikson Murray Allport Propósito A A A A A A A A Determinantes inconscientes A A M A M M A B Processo de aprendizagem M B B M M M M M Estrutura A A M M M A A A Hereditariedade A A A B B M M M Desenvolvimento inicial A B A M M A A B Continuidade A B A M A A A B Ênfase organísmica M A M M M M A A Ênfase no campo B B A M A A A M Singularidade M M A M M M A A Ênfase molar M M M M M M M M Ambiente psicológico A A M M A A A M Autoconceito A A A A A A M A Competência M B A M M A M A Afiliação grupal M B A A A A M B Ancoramento na biologia A A M B M M A A Ancoramento nas ciências sociais A B A A A A A B Motivos múltiplos B M B B M M A A Personalidade ideal A A A A M A M A Comportamento anormal A A A A A M M B Nota A indica alto enfatizado M indica moderado e B indica baixo pouco enfatizado TEORIAS DA PERSONALIDADE 499 enfatizam os processos de aprendizagem Skinner e Cattell não consideram o ambiente psicológico Mil ler e Dollard e Binswanger e Boss formam o quarto agrupamento aparentemente por sua ausência de in teresse pela estrutura da personalidade Horney e Angyal enfatizam o autoconceito e a personalidade ideal e oferecem um número limitado de constructos motivacionais O agrupamento final contendo Allport os psicólogos do Leste e Sheldon compartilha uma ênfase organísmica e uma ênfase na singularidade além de uma relativa falta de interesse pela recom pensa pelo desenvolvimento inicial pela afiliação gru pal e por processos inconscientes Uma nota de alerta neste artigo salienta que as análises ponderam igual mente todas as dimensões em cada teórico e entre eles Isso é razoável como uma suposição geral mas realmente obscurece certos aspectos das teorias Por exemplo Allport tem um alto índice em singularida de autoconceito e mecanismos biológicos Essas ava liações são acuradas mas deixam de capturar a im portância da singularidade e do autoconceito na teoria de Allport Uma vez que as análises tomam as avalia ções ao pé da letra quando de fato a gradação flutua nas teorias e entre elas precisamos considerar os gru pos resultantes como aproximações Isso nos leva à questão de quão bem as várias te orias têm funcionado como geradoras de pesquisa Nós já concordamos que essa é a comparação avaliativa mais importante que pode ser feita entre as teorias infelizmente ela também é a comparação mais difícil de fazermos com segurança Nós discutimos algumas das pesquisas geradas pelas teorias nos capítulos in dividuais sobre elas Todas as teorias têm alguma fun ção como geradoras de investigação mas a natureza variada dos estudos resultantes assim como a com plexidade da relação entre a teoria e a pesquisa perti nente torna impossível algo além de um julgamento aproximado Dadas a subjetividade e a natureza provisória do nosso veredito propomos que as teorias sejam dividi das em três agrupamentos em termos de quão úteis elas têm sido como estímulo para a pesquisa O pri meiro grupo inclui teorias que levaram a muitas in vestigações realizadas em várias áreas por um grupo Cattell Eysenck Kelly Rogers Skinner Dollard e Miller Bandura M B A A B B M M M M B B M B A A M M A A A A A B B B B M A A B B A B B M M B B M A M M M B B A A A M M M A B B M M M A A B B M M M M M B B B M M M A B B M B B A A B B M A B B A B B A M B A B B B A M M M M B M M M A B B M M B B B M M B A M A B B B B M B B B B A B B B M M M M M M M 500 HALL LINDZEY CAMPBELL diverso de investigadores Aqui colocamos a teoria de Eysenck a posição de Skinner e a teoria de Bandura Em cada caso a mensagem da teoria transcendeu os limites de um pequeno grupo trabalhando em estrei ta colaboração de modo que as questões relaciona das à teoria foram exploradas em uma variedade de ambientes diferentes e por indivíduos com backgrounds bem heterogêneos O segundo agrupamento inclui as teorias que fo ram acompanhadas por um grande número de estu dos com alcance bastante limitado ou executados por pessoas intimamente envolvidas com a teoria e seu desenvolvimento Nesse grupo colocaríamos as teo rias de Allport Cattell Erikson Jung Murray Sulli van Dollard e Miller e Rogers Como os capítulos in dividuais deixam claro cada uma das teorias é acompanhada por um grande número de pesquisas relevantes ou delas se originou Mas na maioria dos casos a pesquisa lida com uma variedade limitada de problemas ou com a aplicação de um pequeno núme ro de técnicas Além disso essas pesquisas foram ha bitualmente realizadas por um pequeno grupo de in vestigadores intimamente relacionados Nós também incluiríamos Freud nessa categoria apesar da grande riqueza de trabalhos gerados por sua teoria dentro e fora da psicologia devido à dificuldade inerente de testar proposições sobre características pessoais que são por definição inacessíveis ao indivíduo O terceiro grupo consiste nas teorias em que há pouca investiga ção relacionada Aqui colocamos Adler Kelly e Hor ney É tranqüilizador que apesar das limitações das teorias da personalidade como geradoras de pesqui sa a sua grande maioria tem sido acompanhada por uma quantidade considerável de pesquisas Sejam quais forem as limitações de procedimento inerentes a essas investigações resta o fato de que elas docu mentam o interesse dos teóricos em examinar a efeti vidade de suas teorias diante de dados empíricos ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A ATUAL TEORIA DA PERSONALIDADE Qual será o futuro desenvolvimento da teoria da per sonalidade Estariam faltando no atual cenário teóri co qualidades que deveriam ser acrescentadas Exis tem deficiências especificáveis na abordagem teórica da maioria dos psicólogos Há questões hoje em dia assumindo maior importância e apontando o cami nho para futuros progressos prováveis Parecenos que sim embora precisemos admitir que nem todos os psicólogos concordariam conosco quanto à sua exata identidade Nós acreditamos que o campo da personalidade se beneficiaria imensamente com uma maior sofisti cação por parte dos psicólogos referente à natureza e à função das formulações teóricas Embora existam muitos aspectos nessa sofisticação talvez o mais im portante seja compreender a importância central das teorias como um meio de gerar ou estimular pesqui sa Os psicólogos precisam desistir da idéia de que cumpriram sua obrigação se apresentaram uma for mulação teórica que leva em conta ou dá consistência ao que já é conhecido em uma determinada área em pírica Se a teoria não faz nada além de organizar fatos conhecidos bem poderíamos permanecer no nível descritivo e esquecer a teorização Pedimos sim plesmente que as teorias sejam avaliadas em termos de sua capacidade de gerar novas pesquisas Os psi cólogos também precisam estar mais dispostos a acei tar o fato de que as suposições referentes ao compor tamento que não permitem predições ou especificação dos dados a serem coletados são inúteis e uma perda de tempo esforço e papel Que os teóricos focalizem sua atenção em formulações que tenham alguma re lação significativa com o assunto tratado estudar o comportamento A teoria e a pesquisa da personalidade precisam tornarse ao mesmo tempo mais radicais e mais con servadoras Poderíamos expressar isso alternativamen te como um aumento na imaginação criativa e na ava liação crítica O teórico bemsucedido precisa estar disposto a ser radicalmente violento com suposições comuns referentes ao comportamento Depois de ma nifestar a capacidade de inovar ou criar uma teoria que não esteja firmemente ligada a concepções com portamentais existentes o teórico precisa manifestar um rígido conservadorismo ao estender formalizar aplicar e testar as conseqüências desse ponto de vista Em outras palavras os teóricos devem desafiar as con venções mas depois de estabelecer um novo conjun to de convenções eles devem explorar exaustivamen te as implicações dessas convenções É impossível TEORIAS DA PERSONALIDADE 501 testar as conseqüências de uma teoria a menos que o teórico esteja disposto a permanecer em uma posição o tempo suficiente para instituir e completar procedi mentos de verificação Isso não significa que a pessoa deva agarrarse teimosamente às suas formulações diante de uma refutação empírica Isso significa que dado um corpo de pesquisa estável a mudança deve ser introduzida como resultado de evidências empíri cas controladas e não por capricho ou observações superficiais É de crucial importância que o teórico da personalidade e seus seguidores se dediquem à inves tigação empírica ao invés da discussão verbal ou po lêmica Não importa qual teórico da personalidade é o protagonista mais efetivo de um debate o que im porta crucialmente é qual teoria da personalidade é mais útil para gerar conseqüências empíricas impor tantes e verificáveis É mais do que hora de o teórico da personalidade libertarse da obrigação de justificar as formulações te óricas que se afastam das idéias normativas ou costu meiras sobre o comportamento É muito comum que uma determinada teoria seja criticada pelo fato de enfatizar excessivamente os aspectos negativos do comportamento ou superenfatizar a importância dos motivos sexuais É verdade que uma visão sensata do comportamento humano considera os seres humanos como possuindo tanto atributos bons quanto maus e não só motivos sexuais como também outros moti vos Mas isso é um completo non sequitur no que se refere ao desenvolvimento de uma teoria do compor tamento O teórico tem completa liberdade como acabamos de enfatizar de se afastar de preconcep ções costumeiras sobre o comportamento e só preci sa fazer declarações sobre o comportamento que se jam empiricamente úteis A questão sobre se essas declarações agradam ou ofendem o indivíduo comum não é importante É muito possível que as teorias do comportamento mais proveitosas acabem se revelan do altamente ofensivas para um membro comum da nossa sociedade A alternativa oposta é claro tam bém é perfeitamente possível O que estamos queren do dizer aqui não é que os teóricos devem negar as visões costumeiras do comportamento nem que eles devem aceitar essas visões Eles têm total liberdade de tomar uma atitude ou outra Sua posição é neutra em relação a essas idéias e eles podem concordar ou discordar conforme desejarem baseando sua avalia ção em critérios totalmente distantes da aceitabilida de ou desviância normativas de sua teoria Freqüen temente encontramos outras críticas a formulações teóricas com um status igualmente dúbio Assim a sugestão de que uma dada teoria é excessivamente molecular racional ou mecanicista simplesmente re flete preconcepções do crítico sobre o comportamen to Tais comentários servem mais para revelar a posi ção do crítico do que para avaliar a teoria Na análise final a única crítica eficaz a uma teoria existente é uma teoria alternativa que funcione melhor Se dizemos que uma dada teoria é excessivamente molecular é preci so que alguém demonstre que uma teoria alternativa empregando unidades maiores de análise consegue fazer tudo o que a primeira teoria faz e mais ainda Podemos argumentar que na psicologia atualmen te é dado muito pouco valor à pesquisa empírica dire tamente relacionada a teorias existentes e valor demais à contribuição de novas formulações ou especulações teóricas apresentadas depois de ter sido observado um determinado conjunto de achados Muitos psicólogos valorizam mais a criação de uma teoria nova mas tri vial que possui pouca superioridade comprovada so bre teorias existentes do que a realização de pesqui sas diretamente relacionadas a uma teoria importante já existente Os psicólogos em sua admiração pelas teorias e em sua incapacidade de discriminar entre a explicação depoisdofato e a predição antesdofato criaram uma série de condições em que existe um máximo de interesse pelo desenvolvimento de novas teorias e um mínimo de interesse pelo exame das con seqüências das teorias existentes Uma característica importuna e possivelmente maligna apresentada por alguns teóricos contempo râneos da personalidade é a tendência ao que poderia ser chamado de imperialismo teórico Nos referimos aqui à tentativa depois de ter sido desenvolvida uma determinada posição teórica de tentar persuadir o leitor de que essa é a única maneira possível de for mular uma teoria do comportamento Assim muitos psicólogos afirmam que o único modo teórico defen sável é aquele que envolve uma contínua interação com os processos fisiológicos outros sugerem que apenas as formulações molares são úteis e outros ainda que o contexto social deve ser o centro da aten ção do teórico Não estamos dizendo que esses teóri cos necessariamente estão errados em suas crenças e sim que a formulação teórica é um empreendimento livre se é que isso existe Nenhum teórico tem o di 502 HALL LINDZEY CAMPBELL reito de dizer aos outros teóricos o que fazer Ele tem todo o direito de apresentar suas convicções e vincu lálas ao máximo possível de provas empíricas de sua utilidade Ele pode inclusive associar a teoria e as evi dências a argumentos racionais que considere con vincentes sobre o porquê essa abordagem vai acabar se revelando útil Mas afirmar que essa é a maneira como o progresso teórico deve ser feito é bobagem e só serve para confundir o estudante do campo Que o teórico apresente sua teoria da maneira mais convin cente possível mas que ele respeite o fato de que ela não existe como certeza teórica Todas as teorias da personalidade fazem pelo menos tênues suposições sobre a existência de algu ma forma de estrutura de personalidade Assim em bora alguns teóricos estejam mais preocupados do que outros com a relativa importância de fatores externos ou situacionais todos concordam que existe certo grau de constância na personalidade que se generaliza para diferentes períodos de tempo e situações As diferen ças teóricas entre os teóricos do traço como Allport ou Cattell e os deterministas situacionais como Hartshor ne e May 1928 1929 levaram a um debate ativo e a programas de pesquisa nas duas décadas anteriores à Segunda Guerra Mundial Conforme discutimos no Capítulo 7 a questão reemergiu nas décadas de 70 e 80 como um tópico importante de discussão teórica e pesquisa p ex Bem Allen 1974 Endler Mag nusson 1976a b Epstein OBrien 1985 Kenrick Funder 1988 Magnusson Endler 1977b Mischel 1968 1984 Zuroff 1986 Como vimos muito clara mente no caso de Cattell os teóricos do traço acredi tam que os indivíduos podem ser comparados em ter mos dos vários traços ou disposições duradouras e que conhecendose a posição ou o escore relativo de um indivíduo em um determinado traço é possível predizer muitas ocorrências sobre o comportamento da pessoa em vários ambientes diferentes Os que acre ditam no determinismo situacional estão convencidos de que a maioria dos comportamentos é uma conse qüência do ambiente ou da situação em que o indiví duo está se comportando Assim o comportamento é provocado por estímulos em vez de ser emitido devi do a um traço ou a uma disposição duradoura Uma posição intermediária afirma que as disposições ou os traços do indivíduo influenciam as situações em que a pessoa se encontra e os estímulos ambientais aos quais ela presta atenção Essa posição interacionista atribui um papel significativo tanto às variáveis situa cionais quanto aos traços e às disposições A perspec tiva interacionista é inerente a várias das teorias que examinamos Dessa maneira Henry Murray concei tualizou o comportamento em termos de temas a com binação das necessidades da pessoa e da pressão situ acional Na verdade sua variável pessoal básica é o tema serial uma combinação recorrente e caracterís tica de necessidadepressão Da mesma forma Allport propôs que um traço torna muitos estímulos funcio nalmente equivalentes em virtude do significado com partilhado de modo que qualquer uma das situações dá origem a qualquer uma de uma série de comporta mentos vinculados Kelly também argumentou que é a interpretação que o indivíduo faz das situações o que origina o comportamento e não as tendências comportamentais autônomas A abordagem cogniti voafetiva se então de Mischel e Shoda 1995 ao estudo do comportamento é o exemplo mais re cente de uma perspectiva interacionista na psicologia da personalidade Uma questão relacionada se refere aos múltiplos níveis de análise de um comportamento Uma das prin cipais contribuições dos teóricos da personalidade foi o seu reconhecimento de que é importante conceitua lizar e investigar o comportamento em diferentes ní veis de generalidade Essa posição em lugar nenhum foi mais claramente articulada do que na declaração de Murray e Kluckhohn Todo homem é em certos aspectos como todos os outros homens como alguns outros homens e como nenhum outro homem Em vez de cair no reducionismo tal abordagem afirma que todos os níveis de análise são legítimos e infor mativos por si mesmos e que os investigadores estão livres para trabalhar no nível que melhor se adequar aos seus propósitos Nós podemos identificar duas versões diferentes da abordagem de múltiplos níveis Primeiro muitos teóricos descrevem hierarquias de constructos Assim Cattell descreve os traços de su perfície e de origem as atitudes específicas de uma pessoa traços de superfície podem ser compreendi das em termos de ergs gerais e sentimentos traços de origem Eysenck descreve uma progressão de respos tas específicas para respostas habituais para traços e para tipos Murray descreve necessidades gerais bem como metas e necessidades integradas mais específi cas Ele afirma que uma pessoa pode ser descrita em termos de seu conjunto específico de objetos catexi TEORIAS DA PERSONALIDADE 503 zados que por sua vez devem ser compreendidos em termos de constructos mais gerais Freud descre veu instintos gerais e mecanismos comuns mas tam bém enfatizou escolhas de objeto e derivados de ins tintos mais específicos A metapsicologia de Freud foi uma tentativa de formular os princípios gerais que pareciam inerentes em suas observações do compor tamento concreto de indivíduos específicos Essa mes ma mistura é encontrada nas teorias de Adler Erik son Rogers e Skinner É como se esses teóricos detestassem perder o comportamento específico de um indivíduo enquanto estão formulando leis sobre as pessoas em geral Mischel fornece um exemplo con temporâneo com sua descrição de cinco unidades mediadoras cognitivoafetivas estáveis que interagem com a situação percebida para gerar perfis específicos de situaçãocomportamento se então Até All port o defensor de uma abordagem idiográfica à per sonalidade reconheceu a importância de se estabele cer princípios gerais que expliquem as origens das características individuais Na verdade qualquer ten tativa de rotular um determinado teórico da persona lidade como idiográfico ou nomotético está em gran de parte condenada ao fracasso Em segundo lugar especialmente em anos mais recentes os teóricos da personalidade descreveram sistemas integrados rela cionando o comportamento observado a processos subjacentes Eysenck por exemplo constrói um mo delo em que as características neurológicas subjacen tes como a excitação cortical dão origem a diferen ças na sensibilidade à estimulação que por sua vez afetam as características psicológicas como condicio namento sociabilidade e impulsividade as quais se manifestam nos tipos de personalidade de introver sãoextroversão Da mesma forma Zuckerman 1994 1995 apresenta um modelo psicofarmacológico vin culando mecanismos neuroquímicos neurotransmis sores enzimas e hormônios a mecanismos compor tamentais aproximação inibição e excitação que são por sua vez vinculados a traços básicos de perso nalidade sociabilidade busca de sensação nãosocia lizada impulsiva e ansiedade Nós encorajamos es sas abordagens de múltiplos níveis como estímulos para novos progressos na teorização da personalida de ver também Briggs 1989 Dahlstrom 1995 Re velle 1995 Wakefield 1989 Os últimos anos testemunharam uma crescente preferência entre os teóricos de avançar com passos mais modestos do que os sugeridos por uma única teoria geral que abarque todo ou quase todo o com portamento humano adaptativo Essas teorias mais limitadas ou miniteorias às vezes se referem apenas a um domínio ou área de comportamento específico tal como a tomada de decisão ou as habilidades mo toras ou podem referirse a um complexo específico de comportamentos como a esquizofrenia ou o de senvolvimento sexual Alguns teóricos dirigem sua atenção para modelos matemáticos de cognição ou aprendizagem Outros se interessam mais pelo subs trato neurofisiológico do comportamento mas em todos os casos os teóricos centraramse em uma de terminada dimensão ou modo de representação do comportamento com a relativa exclusão de muitos outros aspectos do comportamento Tais abordagens modestas ou circunscritas precisam ser consideradas por teorias inclusivas ou gerais da personalidade e para elas contribuem Como já observamos nos últimos anos tem havi do progressos grandes e significativos na área ampla da psicobiologia A investigação sistemática dos deter minantes genéticos do comportamento foi promovi da tanto pelo desenvolvimento de novos métodos e achados como por algumas evidências de uma dimi nuição do tradicional foco americano no ambiente e a relativa exclusão da biologia O mesmo pode ser dito em relação aos hormônios e ao comportamento às associações do comportamento cerebral e à psicofisi ologia p ex Zuckerman 1995 Considerando tudo tem havido uma ampliação e um aprofundamento do nosso conhecimento sobre como os fatores biológicos influenciam e são influenciados pelo comportamen to e essa informação somente agora está começando a entrar significativamente na tentativa de explicar o complexo comportamento do ser humano A imensa vitalidade das neurociências e a conhecida preocupa ção de estender a teoria evolutiva para áreas de com portamento humano complexo como agressão altru ísmo cooperação competição e padrões de acasala mento Barash 1977 D Buss 1990 1991 1994 Wilson 1975 apontam para a crescente probabilida de de a biologia ter muito mais a dizer sobre o futuro das teorias da personalidade do que tem a ver com as teorias passadas O leitor deve tomar cuidado para não interpretar o que foi dito como indicando um sentimento de de sânimo em relação ao presente estado da teoria da 504 HALL LINDZEY CAMPBELL personalidade É verdade que muita coisa pode ser criticada nas teorias atuais especialmente quando comparadas a padrões absolutos ou ideais Mas é mais significativo o fato de que os sinais de progresso são indiscutíveis Foi nos últimos 50 anos que a maior parte das pesquisas empíricas relevantes foi realizada e tam bém foi nesse período que a contribuição das discipli nas vizinhas se tornou mais sofisticada Ao mesmo tempo as teorias tenderam a tornarse mais explíci tas em suas declarações e a dar muito mais atenção ao problema de oferecer definições empíricas adequa das Além disso a variedade de idéias ou concepções relativas ao comportamento aumentou imensamen te Em geral nós acreditamos que sejam quais forem as deficiências formais dessas teorias as idéias nelas contidas têm tido uma influência notavelmente am pla e criativa sobre a psicologia E não parece haver nenhuma razão para esperar que tal influência dimi nua no futuro SÍNTESE TEÓRICA VERSUS MULTIPLICIDADE TEÓRICA Nós vimos que embora existam semelhanças e con vergências entre as teorias da personalidade as di versidades e os desacordos ainda são notáveis Ape sar do agrupamento em torno de certas posições teóricas modais ainda há pouco progresso na direção de desenvolver uma posição teórica única e ampla mente aceita Podemos inclusive nos surpreender com a engenhosidade aparentemente interminável dos psicólogos em desenvolver novas maneiras de consi derar ou ordenar os fenômenos do comportamento Em um levantamento inicial da literatura sobre a per sonalidade Sears foi estimulado por essa situação a comentar Uma teoria só é válida na extensão em que se mostra útil para predizer ou controlar o compor tamento não existe certo ou errado na questão apenas conveniência Uma vez que nenhuma teo ria já se revelou brilhantemente eficaz para orde nar os dados do comportamento para esses pro pósitos talvez não surpreenda que tantos psicólogos se sintam estimulados a novas tentati vas de construir um conjunto sistemático de vari áveis de personalidade 1950 p 116 Dada a existência da multiplicidade teórica e dado também que os fatores que conduzem a esse estado são evidentes não seria indesejável ter tantos pontos de vista conflitantes em uma única área empírica Não seria melhor um único ponto de vista que incorporas se tudo o que existe de bom e efetivo em cada uma das teorias de modo que pudéssemos abraçar uma única teoria aceita por todos os investigadores da área Muitas das teorias que discutimos certamente contêm forças que não estão presentes em outras teorias Não poderíamos combinar essas forças individuais para criar uma teoria singularmente eficiente que nos faça compreender melhor o comportamento humano e gere predições sobre o comportamento mais abrangentes e verificáveis do que as geradas por uma única teoria da personalidade Embora essa linha de raciocínio seja fascinante e encontre muito apoio entre os psicólogos contempo râneos há sérias objeções a ela Em primeiro lugar tal ponto de vista supõe que as teorias da personali dade existentes possuem um grau suficiente de clare za formal para estabelecer sua exata natureza e para que o sintetizador possa identificar facilmente os ele mentos comuns e os elementos discrepantes Como vimos esse não é o caso Muitas das teorias são enun ciadas tão imprecisamente que seria extremamente difícil fazer qualquer comparação direta de seus ele mentos com os elementos de alguma outra teoria Isso sugere que a síntese necessária seria um processo um tanto aleatório uma vez que os elementos envolvidos na síntese estão apenas vagamente delineados Em segundo lugar o argumento supõe que não existem conflitos insolúveis entre o conteúdo das várias posi ções teóricas ou se existem que podem ser facilmen te resolvidos por meio de um exame dos fatos da questão É evidente que existem muitos pontos em que as teorias discordam totalmente Além disso es ses pontos de discordância estão freqüentemente re lacionados a fenômenos empíricos que ainda preci sam ser muito mais estudados De fato muitas das diferenças teóricas relacionamse a questões empíri cas bastante elusivas de modo que os fatos da ques tão não estão nem um pouco claros Em terceiro lu gar essa idéia sugere que todas ou a maioria das teorias TEORIAS DA PERSONALIDADE 505 têm uma contribuição única e positiva a fazer para uma teoria eficiente do comportamento A verdade é que algumas dessas teorias estão muito longe de pos suir uma utilidade empírica comprovada A quantida de de testagem empírica das conseqüências derivá veis de uma teoria psicológica é pequena se comparada à variedade de problemas com os quais a teoria se propõe a lidar Quarto esse ponto de vista assume que um estado de harmonia e concordância teóricas é mais saudável atualmente Em um estágio no qual ne nhuma posição teórica parece ter uma superioridade convincente em relação às outras podemos argumen tar razoavelmente que ao invés de investir todo o nosso tempo e talento em uma única teoria seria mais inteligente explorar ativamente a área pelo uso simul tâneo de uma variedade de posições teóricas Quan do sabemos tão pouco com certeza por que colocar todas as esperanças do futuro em uma única cesta te órica Não é melhor deixar que o desenvolvimento teórico siga um curso natural e desacorrentado com a expectativa razoável de que à medida que os acha dos empíricos se multiplicarem e as teorias individu ais se tornarem mais formalizadas chegaremos natu ralmente a uma integração com uma firme base empírica e não a um processo artificialmente monta do no qual o gosto e as crenças pessoais são os prin cipais determinantes do processo Em quinto lugar precisamos reconhecer que várias das teorias que dis cutimos são altamente ecléticas Por exemplo a posi ção final de Gordon Allport incorpora muito de várias teorias que discutimos Da mesma forma a teoria da aprendizagem social de Bandura gradualmente pas sou a ter muito em comum com as abordagens cogni tivas ao entendimento do comportamento outrora consideradas a própria antítese da tradição de ER da qual sua teoria emergiu Assim ao longo do tempo tem ocorrido uma fusão e mistura naturais de formu lações teóricas mesmo que isso não tenha resultado em uma única posição de consenso E o que podemos dizer sobre o valor didático de apresentarmos ao aluno uma única visão organizada da personalidade ao invés da confusão de idéias con traditórias que apresentamos neste volume Presumi velmente é uma boa higiene mental dar ao aluno uma única posição teórica claramente delineada mas isso certamente não é uma boa preparação para um tra balho sério no campo Se os alunos acreditam que existe apenas uma teoria útil é fácil sentirem que dominam firmemente a realidade esquecendo assim a importância do estudo empírico e a possibilidade de mudanças teóricas impostas pelo resultado de tal estudo Por que deveriam os alunos receber um falso senso de harmonia Que eles vejam o campo como ele realmente é teóricos diferentes fazendo suposi ções diferentes sobre o comportamento centrandose em problemas empíricos diferentes usando técnicas diferentes de pesquisa Que eles também compreen dam que esses indivíduos estão unidos em seu inte resse comum pelo comportamento humano e em sua disposição a deixar que os dados empíricos tomem a decisão final sobre o que está certo ou errado em ter mos teóricos Relacionado ao argumento recémcitado está a compelidora consideração de que as teorias são úteis principalmente para a pessoa que as abraça e tenta extrair suas conseqüências de maneira simpática e sen sível A noção de uma síntese ou integração geral nor malmente comunica ao aluno a necessidade de ter cau tela de considerar todos os pontos de vista e de evitar envolverse emocionalmente em uma determinada posição unilateral Antes de abraçar qualquer teoria específica vamos comparála com outras ver se é tão boa quanto as outras em todos os aspectos e ler o que os críticos têm a dizer sobre ela Contrariamente a essa concepção nós recomendamos decididamente que os alunos depois de examinar as teorias existen tes sobre a personalidade adotem sem reservas uma posição teórica específica de modo vigoroso e afeti vo Que o indivíduo possa ficar entusiasmado e imbu ído da teoria antes de começar a examinála critica mente Uma teoria da personalidade não vai dizer ou fazer muito pelo indivíduo que dela se aproximar com indiferença sem críticas ou reservas Ela vai ditar pro blemas para o devoto e estimulálo a pesquisar mas não fará o mesmo pelo observador frio e imparcial Que os alunos reservem sua capacidade crítica e seus instrumentos acadêmicos detalhados para assegurar que a pesquisa executada seja tão bem feita que os achados situemse onde devem Se o indivíduo ex trair conseqüências da teoria e fizer pesquisas rele vantes ele terá amplas oportunidades de desânimo e desespero referentes à adequação da teoria e poderá 506 HALL LINDZEY CAMPBELL acabar convencido de sua falta de utilidade Mas pelo menos ele terá tido a oportunidade de descobrir exa tamente o que a teoria pode fazer Continuamos vigorosamente convencidos de que este não é o momento nem a circunstância apropria da para tentar uma síntese ou integração das teorias da personalidade Nos termos mais simples nós sen timos que não convém tentar uma síntese de teorias cuja utilidade empírica ainda precisa em grande par te ser demonstrada Por que fazer arranjos conceituais em termos de reação estética e consistência interna quando a questão importante é como esses elementos se comportam diante de dados empíricos Nós acre ditamos que muito mais proveitoso do que a tentativa de uma teoria dominante é o cuidadoso desenvolvi mento e especificação de cada teoria existente com atenção simultânea a dados empíricos relevantes A resposta final para qualquer questão teórica está em dados empíricos bemcontrolados e a natureza des ses dados só será adequadamente definida à medida que as próprias teorias estiverem mais desenvolvidas Uma posição é mudar uma teoria à luz de dados em píricos que obrigam o teórico a alguma mudança es sencial outra bem diferente é mudar uma teoria devido à alguma questão avaliativa ou racional con flitante Acreditamos que quase qualquer teoria se sistematicamente ampliada e associada a pesquisas empíricas extensivas oferece maiores esperanças de avanço do que uma amalgamação de teorias existen tes algumas das quais estão malformuladas e preca riamente relacionadas a dados empíricos TEORIAS DA PERSONALIDADE 507 Referências Bibliográficas Abramson L Y Metalsky G I Alloy L B 1989 Hopelessness depression A theorybased sub type of depression Psychological Review 96 358372 Abramson L Y Seligman M E P Teasdale J D 1978 Learned helplessness in humans Criti que and reformulation Journal of Abnormal Psychology 87 4974 Adams G R Fitch S A 1982 Ego stage and identity status development A crosssequential analysis Journal of Personality and Social Psychology 43 574583 Adler A 1917 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941 Zuroff D C 1986 Was Gordon Allport a trait theorist Journal of Personality and Social Psychology 51 9931000 TEORIAS DA PERSONALIDADE 565 Índice Onomástico A Abraham K 50 133 Abramson L Y 450 453 453 Adams G R 183 Adams N E 473 475 Adelson M 273 Adler A 46 47 50 52 53 9293 101 113 117128 133 150 150 154 232 331 360 471 492 Adler G 111 113114 Adler J M 7576 Albert M 477 Alexander F 133 191 Alexander I E 218 Allen A 245 246 248 478 482 483 502 Alloy L B 453 Allport F 224 227 Allport G 28 3233 113 165 183 198 216 218 223 252 256 261 270 278 283 286 288 360 393 418 464 486 492 493 493 502 Allsopp J F 301 Altman K E 126 Amacher P 50 Ameland M 294 Anastasi A 112 245 Anderson E E 234 Anderson J W 191 193 194195 Anderson K J 312 Ansbacher H L 117 118 119120 121 123124 125 Ansbacher R R 117 118 119120 121 123124 125 Aquino São Thomás de 28 Aristóteles 28 348 Arlow J B 63 Aronoff J 194195 Aronson E 382 Auld F 424 Ayllon T 394 412 Azrin N 394 412 B Bachorowski J A 312 Baer D M 394 Bakan P 302 Balay J 76 Baldwin A C 344 Baldwin A L 244245 250 Ball E D 112 Baltes P B 256 Bandura A 55 62 156 165 216 233 270 341 344 387 388 415 456 460478 479 485486 493 505 Bannister D 343 Banuazizi A 443 Barash D 503 Barchas J D 478 Barclay A M 194195 Barker B 3334 Barnhardt T M 7778 Barratt P 294 Barrett L C 453 Bash K W 113114 Bates M 109 Baum M 410 Beagley G 451 Beauvoir S de 7879 Bechtel W 3334 Beck A T 452 Becker W C 286 Bell J E 112 Bellak L 161 566 HALL LINDZEY CAMPBELL Beloff J R 272 Belton J A 302 Bem D 245 246 248 478 482 483 502 Bennet E A 86 Bentham J 28 Berberich J P 413 Bergin A E 380 Bergman A 159 Bernard C 348 Bernieri F 246 Bertocci P A 235 250 Beyer J 473 Bieri J 343 Bijou S 394 Bjork D W 393 Blanchard E B 472 Blanck G 157 Blanck R 157 Blass J 216 Blatt S J 159 Blewett D B 272 Blitsten D 140141 Block J 280 381 Block J H 381 Blum G S 7475 Blustein D L 183 Bootzin R R 412 Boren J J 394 Boring E G 28 112 191 392 Borrello G M 109 Bottome P 118 Bottomore T B 128 Bouchard T J Jr 282 Bowdlear C 377 Bower G 61 Bowers K S 216 245 Bowlby J 159 Boyatzis R E 215 Brenner C 63 Brett 113 Breuer J 50 70 Bridgeman P 392 Briggs S R 112 248 503 Brill A A 50 Brody N 301 303 310311 314 Brouillard M E 478 Brown J S 422 425426 460462 Brown N O 181 Brown R 7273 Brücke E 50 Bruhn A R 126 127 Bruner J S 7778 250 Buehler H A 109 Bugelski R 444 Bullit W 179180 Bullock W A 294 Burgess E W 139140 452 Burt C L 256 296 Buss A H 248 283 Buss D M 2829 30 283 284 285 286 503 Butcher H J 265 Butler J M 376 378 C Cado S 343 Campbell J B 299 307 498 Cann D R 111 Cantor N 127 196 248 249 250 482 Cantril H 239 243 250 Caplan P J 177 Carlson J G 109 Carlson L A 218 Carlson R 32 108 217218 280 Carlyn M 109 Carr A C 380 Carroll J B 256 Carson R C 2829 Cartwright D S 375376 496 Cartwright R D 374 Cashdan S 158 Catania A C 390 Cattell R B 42 187 232 253289 292 294 296 361 418 493 Cella D F 183 Cervone D 475 Chaplin W 246 Chapman A H 140141 Charcot J 2829 50 86 Child D 257 266 Chipuer H M 283 Chodorkoff B 379 Chomsky N 416 Christal R E 278 Ciacolone D 450451 Cioffi D 478 Claridge G S 300 302 Coghill G E 348 Cohen E D 111 Colby K M 118 Cole C W 379 Coles R 155 166 Comrey A L 256 Comte A 28 Conley J J 294 TEORIAS DA PERSONALIDADE 567 Constantinople A 183 Cooper J 381 Cosmides L 283 285 Costa P T Jr 279 280 281 292 Cote J E 183 Coutu W 250 251 Cozzarelli C 478 Cramer D 380 Cramer P 177 Crandall J E 127 Crews F 78 7879 Critelli J W 344 477 Cronbach L J 29 Crooks L 343 Cross K P 276 Crozier W J 392 Csikszentmihalyi M 183 Curtis F J 375376 D Dahlstrom W G 503 Dallett J O 113114 Dalton P 343 Daniels D 126 282 Darwin C 2829 3435 6970 78 Davidson R 294 Davis A 424 Davisson A 343 DeKay W T 284 DeRivera J 319 Descartes R 348 de St Aubin E 183 Dewald L 450 Dewey J 348 365 DeWolfe A S 183 Diaz A 312 Dickman S 77 Digman J M 2829 278 Dingman H F 379 Dixon N F 77 Dobson W R 183 Dollard J 387 388 422457 463 492 493 Domhoff G W 181 Domjan N 413 Donahoe J W 413 Donderi D C 111 Doob L W 425 Dostoevsky F 74 179180 Douglas C 191 Downs A 343 Dry AM 86 8788 112 DuBois C 193 Dunbar H F 348 Dweck C S 452 Dworkin B R 443 Dye D A 279 281 Dyer R 155 Dyk W 193 Dymond R F 366 374375 380 DZurilla T 77 E Eagle M N 3334 157 158 Earman J 3334 Easting G 301 Eastman C 477 Eaves L 294 Ebbesen E B 480481 Ebbinghaus H 30 Eber H W 257 Edwards A L 213 Einstein A 318 Ellenberger H 50 101 118 Elliot L B 183 Elms A C 217218 Emmons R A 194195 Empédocles 297 Endler N S 216 248 502 England R 477 Epstein S 77 245 502 Epting F R 343 Erdelyi M H 7778 Erikson E H 46 47 101 135 156 159 165185 193 196 198 218 359 493 Erikson K T 185 Eron L D 213 Evans G T 477 Evans J D 497 Evans R B 113 Evans R I 128 Ewan C 343 Eysenck H J 28 36 42 7475 112 113114 245 247 254 279 281 282 291316 418 446 447 454 493 Eysenck M W 301 Eysenck S B G 292 294 297 298 299 300 301 F Fairbairn W R D 158 Fancher R E 393 568 HALL LINDZEY CAMPBELL Faraday M 318 Fechner G T 5758 68 Feldman S S 111 Felker D W 126 FencilMorse E 451 Fenichel O 53 Ferenczi S 50 139 Ferster C B 404 Festinger L 380 381 Fisher S 7475 Fiske D 278 Fitch S A 183 Fitzgibbon M 183 Fliess W 6970 78 Flournoy T 105106 Folkard S 301 Fordham F 86 Fordham M S M 111 113114 Forer L K 126 Frank I 151 Frank S 194195 Frankie G 464465 Frankl I 100 Franks C M 302 303 Fransella F 343 Franz C 218 Frazier E F 149 FrenkelBrunswik E 161 Freud A 50 63 126 155156 165 167 175 Freud M B 50 Freud S 2829 29 31 3435 4547 5081 84 85 86 8788 9293 9394 98 101 105106 107 112 113 119120 121 125126 128 133 135 139140 142 144 149 150 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 175 178 179180 191 193 196 197 198 202 217218 228 269270 332 353 366 367 387 418 422 436 456457 470 471 493 Friedan B 7879 Friedman I 378 379 Frisbie L V 379 Fromm E 117 128133 150 Frost R 392 Funder D C 245 250 345 479 502 Furtmüller C 118 G Gale A 294 Galen 297 Galliland K 301 Galton F 112 278 Gandhi M 177 179181 Gardner M 73 Gardner R W 162 Gavell M 139140 Gay P 52 6869 Geary P S 183 Geen R G 294 307 308 309310 Geisler C 7576 Gelb A 350 Gendlin 376 Getzels J W 183 Gholson B 3334 Gibson H B 295 Gill M M 63 157 162 162 Gilliland K 294 Girgus J S 453 Glass D C 451 Glover E 112 Goble F G 354 Goethe J W von 348 Goldberg L R 246 278 279 280 286 Goldstein G 113 Goldstein K 316 348354 360 384385 Gordon T 375376 Gorky M 179180 Gorlow L 112 Gorsuch R L 273 Gould D 477 Gray H 112 113114 Gray J A 304 310312 493 Greenberg R P 7475 Greenwald A G 7778 Greer G 7879 Groves D 452 Grummon D L 380 Grunbaum A 7475 Grusec J E 470 472 Gudjonsson H G 297 Guntrip H 159 Guthrie E R 421 429 H Haigh G V 376 378 Haimowitz M L 380 Haimowitz N R 380 Hall C S 53 62 9394 100101 113 160 207 295 Hall G S 50 Hannah B 86 Harackiewicz J M 126 127 Hardaway R A 77 TEORIAS DA PERSONALIDADE 569 Hardin T S 453 Harding M E 111 Hardy A B 475 Harlow H F 234 417 436 Harlow M K 417 Harman H H 256 Harms E 111 Harrington D M 381 Hartmann E von 8788 Hartmann H 156 162 175 Hartshorne H 245 502 Hartup W W 466 Hausdorff D 128 Havener P H 379 Hawkey M L 113114 Hawkins R M 477 Hawley C W 307 Healy C C 109 Healy W 139140 Hector M 128 Heider 380 Helmholtz H L F von 2829 30 Helper M M 379 Helson R 108 Henderson L J 194 Hendrick 162 Herrnstein R J 414 Hertz H 318 Hesse H 111 Hetherington E M 464465 Hicks L E 109 Higgins E T 382 383384 Hilgard E R 61 7475 422 Hinkle J E 379 Hipócrates 28 297 Hiroto D S 451 452 Hitler A 91 125 179180 295 319 Hobbes T 28 Hoffman E 118 Hoffman L W 126 Hogan K 177 Holender D 76 Holland J G 390 393 Hollingworth L 365 Holt R R 7475 157 162 239 247 Holtzman P S 162 Honig W K 411 Hook S 79 Hopkins J R 167 Horn J 257 267 Horney K 46 47 117 125 126 130 133138 149 150 360 382 493 Horwitz L 7475 Houlihan M 294 Hovland C 422 Howells G N 475 Hughes H H 477 Hull C L 160 162 302 390 421 422 425 429 Humphreys M S 301 Hundleby J D 264 I Izard C E 379 J Jackson A 477 Jackson D N 213 248 Jackson H 348 Jacobi J 111 Jacobs A 425426 Jaffé A 86 100101 111 Jakubczak L F 464465 James W 120 179180 224 348 James W T 117 Janet P 28 2829 Jankowicz A D 343 Jefferson T 179181 Jeffery R W 473 Jemmot J B 106 216 John E S 380 John O P 278 279 Johnson C S 149 Joiner T E Jr 453 Joireman J 280 310311 313 Jones E 50 52 70 74 85 86 111112 118 Jones H E 126 Jung C G 28 29 46 47 50 52 53 83114 121 130 149 154 155 191 232 235 298 325 493 K Kafka F 143 Kahn S 183 Kamin L J 297 410 Kanfer F H 469470 Kant I 298 Kantor J R 348 Kaplan R M 213 Kattsoff L O 384 Kazdin A E 394 412 Keirsey D 109 570 HALL LINDZEY CAMPBELL Keller F 392 Kelly G A 39 109 206207 229 239 315316 331 345 479 480481 492 Kelly W 463 Kennedy J F 216 Kenrick D T 32 217218 245 479 502 Kerenyi C 107108 Kernberg O 159 Kerr J 85 Ketterer T 450451 Kierkegaard S 28 Kiers H 280 Kiesler 375376 Kihlstrom J F 7778 126 127 Kilpatrick F P 239 Kirsch I 477 Kirsch J 113114 Kitayama S 383384 Klein G S 157 161162 451 452 Kline P 7475 257 261 263 264 266 269 Klinger M R 77 Kluckhohn C 194 196 210 217218 Koegel R 413 Koestner R 246 Koffka K 318 348349 Köhler W 318 319 348349 Kohut H 159160 Koopman R F 182 Kraeling D 446 Kraft M 280 310311 313 Krasner L 394 411 Krauss H 112 Kristy N F 272 Kubie L 7980 Kuhlman D M 280 310311 313 Kuhn T 3334 35 36 Külpe O 30 Kupers C J 470 L Lacey H 413 Lachman F M 7475 Lakatos I 3334 Lamiell J 3839 247 248 Landfield A W 343 Larsen R 286 Lashley K 191 Lasswell H 139140 Layton L 218 Lazarus R S 367 Leahey T H 3334 113 Leak G K 128 Leitner L M 343 Lenin V I 180181 Leonard R L Jr 216 Lerner B 374 Lerner H 159 Lesser I 183 Levey 303 Levine C 183 LevitzJones E M 183 Levy N 108 Levy S 112 Lewin K 160 256 263264 316 319329 345 421 Lichter S R 216 Lilley B 343 Lindsley O R 446 Lindzey G 53 160 194195 207 213 250 295 333 Litt M D 477 Little B R 249 Liu T J 382 Locke J 28 Loeb J 392 Loehlin J C 207 282 283 294 Loevinger J 280 Loewenstein R 160 Loftus E F 77 109 Logan R L 183 Long J S 413 Lovaas O L 413 Lowry R J 354 Lustig D A 7576 Luther M 177 179180 180181 Lynch M 382 M Maccoby M 133 Mach E 392 Machiavelli N 28 MacKinnon D W 193 213 Maddi S R 2829 Magnusson D 2829 216 248 502 Mahler B 329 Mahler M S 159 Maier S F 452 Mair J M M 343 Manicus P T 3334 Manosevitz M 207 Mao tsetung 180181 Marcia J E 182 183 Markus H 383384 Marquis D 422 TEORIAS DA PERSONALIDADE 571 Marston A R 469470 Martin N 294 Martin S 450 Marx K 128 131 132 Marzillier J S 477 Maslow A 113 130131 235 316 354363 366 385 Maslow B G 354 Masserman J 448 Masson J 77 78 Matthews G 294 Maxwell J C 318 May M A 245 422 502 Mayman M 126 McAdams D P 2829 158 181 183 216 218 280 345 McArdle J J 256 McCaulley M H 109 110 McClain E W 183 McCleary R A 367 McClelland D C 215 215 216 McCrae R R 278 279 280 281 292 McDougall W 2829 29 31 224 492 McGarryRoberts P 294 McGranahan D G 250 McGue M 282 McGuire W 84 86 154 McKeel H S 193 McLaughlin R J 306 307 308 Mead G H 139140 Medinnus G R 375376 Meehl P 80 Mefford I N 478 Meichenbaum D 449 Meier C A 113114 Melhado J J 113114 Mellon P 111 Melville H 191 194 213214 Menlove F L 470 472 474 Merriam C E 139140 Metalsky G I 453 Meyer A 139140 348 Miley C H 126 Milgram N A 379 Milich R 7475 Miller N E 160 387 388 422457 463 492 493 Miller R J 128 Miller W R 451 452 Millet K 7879 Mischel W 2829 216 245 248 476 478487 502 Mitchell J 7879 Monte C F 2829 301 456 Morgan C D 191 194195 215 Morris E K 393 394 Mosak H H 126 380 Moisés profeta 179180 Moskowitz D 245 Mowrer O H 161 422 425 429 446 Mozdzierz G J 128 Muench G A 374375 380 Mullahy P 140141 Mumford L 111 Munroe R 117 Munsterberg H 191 Murphy G 113114 Murray E J 446 Murray H A 28 160 167 189221 228 249 257 272 286 332 392 479 486 492 493 Murray J B 109 Murstein B I 213 Musgrave A 3334 Myers I B 109 110 112 Myers P B 109 N Nacht S 157 Napoleão Bonaparte e of France 88 125 Neimeyer G J 343 Neimeyer R A 343 Nesselroade J R 256 257 Neumann E 111 Newman J P 312 Newton H 185 Nichols R C 282 Nietzsche F 28 8788 100 Nisbett R 7778 NolenHoeksema S 453 Nordby V J 9394 100101 113 Norman W T 278 279 Nunnally J C 376 Nurius 383384 Nye R D 393 O OBrien E J 245 502 Ochse R 183 OConnor K 297 Odbert 232 261 278 Oetting E R 379 Olson W C 234 Orgler H 118 Orlofsky J L 183 Overmier J B 450 Ozer D J 216 245 572 HALL LINDZEY CAMPBELL P Padilla A M 450451 Padilla C 450451 Palmer D C 413 Parisi T 6970 Park R E 139140 Paunonen S V 248 Pavlov I P 2829 301 304 305 392 401 420 425426 Pawlik K 264 Peake P 245 482 483 Pearce J M 413 Pearson P R 301 Pelham B W 248 Perloff B F 413 Perry H S 139141 Perry N W 128 Pervin L A 2829 245 Peterfreund 7475 Peters 113 Peterson C 2829 453 Pettigrew T 250 Phillips E L 375376 Phillips S D 183 Piaget J 156 166 Pickering A 312 Pilisuk M 380 Pincus A L 2829 Pine F 159 Platão 28 Plomin R 126 281 282 283 Plug C 183 Poincaré H 392 Poole M E 477 Popper K 3334 Porter E H Jr 374375 Pratt C 392 Prince M 191 Progoff I 111 PumpianMindlin E 161 Q Quinn S 133 R Rabin A I 194195 Rachlin H 413 Rachman S 297 447 Radcliffe J A 265 Radin P 111 Raimy V C 374 374375 Rank O 52 154 366 Rapaport D 157 160 161 Raskin N J 374 Read D 183 Read H E 111 Reese L 475 Reich W 154 Rennie T A C 348 Reppucci N D 452 Revelle W 2829 299 301 312 503 Reyna L 446 Reynolds J H 299 Richards I A 108 Richelle M 393 Ritter B 472 Roazen P 155 165 166 Robbins S J 413 Robertson T 343 Robinson F G 191 194195 Robinson P 6970 7475 7879 Rocklin T 299 RockwellTischer S 294 Rodin J 477 Rogers C 113 130 136 142 233 315316 333 347 386 357 360 363386 418 471 492 493 Rohles F H 394 Roosevelt T 122 Rorer L G 2829 3334 Rosekrans M A 466 Rosenthal R 246 Rosenthal T L 467 Rosenzweig S 6869 7475 77 193 213 247 Ross D L 7576 465 466 476 Ross S A 465 466 476 Rothman S 216 Rotter J B 112 452 479 Rubin I M 215 Rubin Z 216 Rubins J L 133 Rudikoff E C 378 Rule W R 126 Runyan W M 218 Russell B 392 Russell S 344 Ryckman R M 2829 S Saccuzzo D P 213 Sachs D 7475 TEORIAS DA PERSONALIDADE 573 Sachs H 133 191 Salter A 446 448 Sanford R N 28 32 193 251 Sapir E 139140 Saucier G 280 Saunders D R 257 273 Sayers J 133 155 Schaefer B 413 Schafer R A 162 Scheier I H 261 269 Schenkel S 183 Schmitt D P 285 286 Schooler C 126 Schopenhauer A 8788 Schreber D 179180 Schuh A J 497 Schulman P 453 Schumer F 213 Schur M 53 Schwartz B 413 Sears R R 7475 161 422 425 446 460462 504 Secord P F 3334 Seeman J 374 374375 Seeman T E 477 Selesnick S T 112 Seligman M E P 422 449454 Selye H 234 Semmelroth J 286 Semyck R W 352 Serrano M 111 Seward J P 250 Shakespeare W 74 468469 Shakow D 160 Shaw G B 179180 Sheerer E T 375376 Sheldon W 493 Sherrington C S 392 Shevrin H 76 77 Shneidman 194195 Shoda Y 483 484 502 Silverman L H 7476 Silverstein B 6970 Simmel M L 350 Simmons J Q 413 Simon L 301 Simonson N R 112 Singer J E 451 Skaggs E B 247 250 Skinner B F 143 163 295 333 366 367 384 385 387 388 389418 421 446 464 467 492 493 Slugoski B R 182 183 Smith B D 294 Smith H W 497 Smith M B 193 250 Smuts J 348 Sófocles 74 Solomon R L 234 410 Spearman C 254 257 Spence K W 421 422 429 460462 Spencer S J 382 Sperber M 118 Spinoza 348 Staddon J E R 411 Stalikas A 29 297 298 Steele C M 345 382 Stekel 52 Stelmack R M 29 294 297 298 Stenberg G 294 Stepansky P 5758 Stephenson W 239 376 377 Stern P J 86 101 Stern W 2829 120 224 234 Stevens L C 344 Stewart A J 216 218 Stice G F 257 272 273 Stock D 375376 Strauman T J 127 Strelau J 294 Sullivan H S 46 47 117 138149 150 166 493 Sulloway F 6970 Suppe F 3334 Sweney A B 257 265 269 T Taft R 497 TakemotoChock N K 278 Tataryn D J 7778 Tatsuoka M M 257 Taulbee E S 452 Taves P A 381 Taylor C B 478 Teasdale J D 450 Tellegen A 282 Teplov B M 304 305 Teta P 280 313 Thetford W N 380 Thomas E 450 Thomas L 343 Thomas W I 139140 Thompson B 109 Thompson C 139 Thompson G G 329 Thorndike E L 2829 257 392 401 420 421 464 574 HALL LINDZEY CAMPBELL Thornquist M H 280 300 Thurstone L L 254 256 278 Titchener E B 30 Tobacyk J J 343 Tolman E C 234 421 429 492 Tolstoy L 88 Tomkins S S 193 218 Tooby J 283 285 Torestad B 2829 Toth J C 302 Triplet R G 190 191 194195 220 Truman H S 216 Tupes E C 278 Turiell E 55 Tyler L 246 U Ullmann L P 394 411 V Vaihinger H 120 121 331 Vaillant G E 453 Valentine C W 447 Vanasek F J 379 van der Post L 86 101 Van de Water D 183 Vaughan M E 394 Vernon P E 239 242 243 Veroff J 216 Vinci L da 62 74 179180 217218 Viney L L 343 Vockell E L 126 von Franz ML 86 W Wainer H A 215 Wakefield J C 248 503 Walker B M 343 Wallace J F 312 Wallen J L 374375 Walters R H 460462 464465 Warburton F W 261 Ward R A 109 Waterman A S 183 183 Waterman C K 183 Watkins C E Jr 128 Watson J B 2829 389390 392 421 492 Watson R I Sr 113 Wehr D S 86 Wehr G 86 Weigert E V 85 Weinberg R S 477 Weinberger J 7475 76 Weiss J M 451 Werner H 348 Wertheimer M 318 319 348349 Westen D 7475 77 156 157 159 160 286 Whalen C K 470 Wheeler R H 348 Wheelwright J B 109 112 113114 Wheelwright J H 109 Whitbourne S K 183 White A 424 White R W 32 162165 193 194 213 235 495 Whitehead A N 194 Whiting J 422 Whyte L L 50 Wickes F 111 Widiger T A 2829 3334 281 Wiedenfeld S A 478 Wiggins J S 2829 Wilhelm R 92 Williams D E 128 Williams S L 478 Wilson C 354 Wilson E O 503 Wilson G 7475 Wilson T 7778 Wilson W 179180 Windelband W 239 Winter D A 343 Winter D G 216 218 Wispe L G 273 Wolpe J 422 446449 454 Woodworth R S 234 Wright C L 473 Wright H W 452 Wright J C 482 483 484 Wundt W 2829 30 112 298 348 Wurf E 383384 Wylie P 111 Wylie R C 374 375376 380 Wynne L G 234 410 Y YoungBruehl E 155 Yukelson D 477 TEORIAS DA PERSONALIDADE 575 Z Zanna M P 381 Zeiss A R 480481 Zeller 77 Zimmerman G 183 Zimmerman R R 436 Zinbarg R 312 Zubin J 213 Zucker R A 194195 Zuckerman M 246 280 300 310311 312 493 503 Zuroff D C 248 502 Zuschlag M K 183 TEORIAS DA PERSONALIDADE 577 Índice A Abordagem molar teoria da personalidade 4243 Abordagem molecular teoria da personalidade 4243 Aborto 478 Abrangência teoria da personalidade 3435 Abstração teoria da personalidade 4243 Ação motora teoria do constructo pessoal 326 Adaptação psicologia do ego 157 Adler A biografia de 117120 Adolescência Ver também Fatores desenvolvimentais teoria analítica jungiana 101 teoria eriksoniana 168 173174 teoria sullivaniana 145146 Afiliação grupal teoria da personalidade 43 496 Agressão Allport G 234 personologia oral 208209 teoria da aprendizagem social 465467 476 482 teoria das relações objetais 158 teoria psicanalítica 5758 Agressão oral personologia 208209 Ajustamento Allport G 238 teoria da personalidade 32 43 teoria fatorial analítica do traço 268269 Alienação Fromm E 132133 Horney K 137138 Allport G biografia de 224228 desenvolvimento da personalidade 236239 idade adulta 238239 período de bebê 236238 estrutura e dinâmica da personalidade 228236 autonomia funcional 233236 caráter e temperamento 228229 de modo geral 228228 intenções 232 proprium 232233 traço 229232 unidade 236 métodos de pesquisa 239250 análise de cartas 244245 contemporâneos 245250 de modo geral 239 estudos sobre o comportamento expressivo 241 243 idiográfico versus nomotético 239240 medidas diretas e indiretas 240241 resumo 223224 status atual 250252 Alternativismo construtivo teoria do constructo pessoal 331332 Ambiente teoria da aprendizagem social 467 teoria da personalidade 4243 teoria de traço fatorialanalítica 272 teoria do constructo pessoal 320321 Ver também Teoria do constructo pessoal teoria organísmica 353354 teorias da personalidade comparadas 494 Ambiente psicológico Ver ambiente Ameaça teoria do constructo social 340 Amor teoria eriksoniana 174 teoria psicanalítica 5758 Análise de cartas Allport G 244245 578 HALL LINDZEY CAMPBELL Análise de conteúdo teoria centrada na pessoa 374376 Análise funcional condicionamento operante 395398 Ancoramento interdisciplinar teoria da personalidade 44 496 Anima e animus teoria analítica junguiana 91 96 Ansiedade básica Horney K 135136 projeção 64 segunda teoria de Freud sobre a 154 teoria do constructo pessoal 340 teoria do estímuloresposta 448449 teoria psicanalítica 6061 teoria sullivaniana 144 Ansiedade básica Horney K 135136 Ansiedade de realidade projeção 64 teoria psicanalítica 6061 Ansiedade moral projeção 64 teoria psicanalítica 6061 Ansiedade neurótica projeção 64 teoria psicanalítica 6061 Anticatexias teoria psicanalítica 5860 Antropologia teoria eriksoniana 179180 183184 Aprendizagem de neuroses teoria do estímuloresposta 441443 drive secundário e fatores desenvolvimentais teoria do estímuloresposta 432433 personologia 209210 teoria da personalidade 4041 teoria de traço biológico 302 teoria de traço fatorialanalítica 272273 teoria de estímuloresposta 421 429 430 431432 Ver também Teoria de estímuloresposta teorias da personalidade comparadas 493 Arquétipos teoria analítica junguiana 8991 Associação livre teoria psicanalítica 7072 Associação Psicanalítica Internacional 52 84 Atenção seletiva teoria sullivaniana 142 Atitudes teoria analítica junguiana 9293 94 teoria de traço fatorialanalítica 265266 Autoanálise teoria psicanalítica 74 Autoconceito experimental teoria centrada na pessoa 380 teoria da personalidade 4243 teoria do constructo pessoal 334334 teorias da personalidade comparadas 494 Autoconceito dinâmico 383384 Autoeficácia teoria da aprendizagem social 472477 Autonomia funcional Allport G 233236 Autonomia funcional Allport G 233236 vergonha e dúvida versus teoria eriksoniana 171 Autoobservação teoria da aprendizagem social 469470 Autoreação teoria da aprendizagem social 469471 Autorealização características da 362363 hierarquia de necessidades 360 personologia 209210 teoria organísmica 352353 Autorealização teoria analítica junguiana 99100 Autoreforço teoria da aprendizagem social 464 Autoritarismo Fromm E 130 Autosistema teoria da aprendizagem social 468471 Ver também Teoria da aprendizagem social teoria sullivaniana 141142 B Bandura A biografia de 460463 Ver também teoria da aprendizagem social Biografia personologia 217218 psicohistória teoria eriksoniana 179181 Biologia Allport G 237238 personologia 210211 teoria adleriana 119120 teoria analítica junguiana 9697 100101 teoria da personalidade 4142 teoria de traço fatorialanalítica 272 teoria do estímuloresposta 443 teoria eriksoniana 178179 teoria psicanalítica 6970 teoria sullivaniana 139 Bissexualidade teoria analítica junguiana 91 teoria psicanalítica 67 7374 Busca de superioridade teoria adleriana 121 C Capitalismo Fromm E 131133 Caráter concreto teoria da personalidade 4243 Caráter Allport G 228229 Caso do Homem dos Lobos Freud 72 73 Caso do Homem dos Ratos Freud 72 73 Caso do Pequeno Hans Freud 72 73 156 Caso Dora Freud 72 TEORIAS DA PERSONALIDADE 579 Catexias personologia 202 206209 teoria psicanalítica 5860 68 Cattell R B biografia de 256257 Ver também Teoria de traço fatorialanalítica Causalidade teleologia versus teoria analítica junguiana 99100 teoria adleriana 121 teoria do traço biológico 301305 Cena primária teoria psicanalítica 73 Cérebro personalidade e 195 Ciências ocultas teoria analítica junguiana 105107 Cinco Grandes Fatores Eysenck e 292 teoria de traço fatorialanalítica 278281 Cognição fatores desenvolvimentais teoria de estímuloresposta 433435 teoria da aprendizagem social 473 Compensação teoria adleriana 121122 teoria analítica junguiana 9495 Competência teoria da personalidade 4243 teorias da personalidade comparadas 494495 White R 162163 Complexo de castração personologia 209 teoria psicanalítica 6667 Complexo de Édipo teoria psicanalítica 6668 Complexo de Ícaro personologia 209 Complexo materno teoria analítica junguiana 88 Complexos infantis personologia 206209 teoria analítica junguiana 88 9698 105 Complexos anais personologia 209 Complexos claustrais personologia 208 Complexos infantis personologia 206209 Complexos orais personologia 208 Comportamentalismo teoria de estímuloresposta 420 Ver também teoria de estímuloresposta Comportamento anormal condicionamento operante 408411 teorias da personalidade comparadas 496 Comportamento ideal teoria da personalidade 43 Comportamento lúdico teoria eriksoniana 172 177179 White 163164 Comportamento social condicionamento operante 407 408 Comportamento supersticioso condicionamento operante 404405 Comportamento legitimidade do condicionamento operante 394395 Compulsão à repetição teoria psicanalítica 56 Conceito de necessidade integrada personologia 204205 Conceito de pressão personologia 202204 Conceito de tema personologia 203205 Conceito de unidadetema personologia 204205 Condicionamento clássico condicionamento operante 401402 teoria do estímuloresposta 420 425427 Ver também Teoria de estímuloresposta Condicionamento operante 389418 desenvolvimento da personalidade 401411 comportamento anormal 408411 comportamento social 407408 comportamento supersticioso 404405 condicionamento clássico 401402 condicionamento operante 402403 discriminação e generalização de estímulo 406 407 esquemas de reforço 403404 reforço secundário 405406 dinâmica da personalidade 399401 estrutura da personalidade 398399 material biográfico Skinner BF 390394 métodos de pesquisa 411414 contemporâneos 413414 descritos 411413 status atual 414418 sumário 389390 suposições 394398 análise funcional 395398 legitimidade do comportamento 394395 Confiança básica versus desconfiança básica teoria eriksoniana 169171 Confiança confiança básica versus desconfiança básica teoria eriksoniana 169171 Conflito personologia 197 teoria de traço fatorialanalítica 268269 teoria de estímuloresposta 439441 teoria psicodinâmica 45 Conformidade de autômato Fromm E 130 Conformidade Fromm E 130 Consciência teoria psicanalítica 5455 Consciência Ver também Inconsciente teoria da personalidade 4041 teoria do constructo pessoal 340 teoria de estímuloresposta 439 teoria organísmica 353 Conselho diagnóstico personologia métodos de pesquisa 212 Conservação teoria psicanalítica 56 580 HALL LINDZEY CAMPBELL Constructos de mudança teoria do constructo pessoal 340341 Contexto social teoria de traço fatorialanalítica 273274 teoria do estímuloresposta 435435 Continuidade teoria da personalidade 41 Contínuo de consciência cognitiva teoria do constructo pessoal 340 Contracondicionamento teoria do estímuloresposta 432 Corolário da comunalidade teoria do constructo pessoal 339 Corolário de construção teoria do constructo pessoal 337 Corolário de escolha teoria do constructo pessoal 338 339 Corolário de experiência teoria do constructo pessoal 337338 Corolário de fragmentação teoria do constructo pessoal 337338 Corolário de individualidade teoria do constructo pessoal 339 Corolário de organização teoria do constructo pessoal 337338 Corolário de socialidade teoria do constructo pessoal 339340 Corolários teoria do constructo pessoal 336340 Criatividade personologia 198 teoria centrada na pessoa 381 Culpa iniciativa versus teoria eriksoniana 171172 teoria da aprendizagem pessoal 464 teoria do constructo pessoal 340341 teoria psicanalítica 6061 Cultura estudos interculturais teoria eriksoniana 183184 personologia 196 198 209210 teoria da personalidade 43 teoria de estímuloresposta 436 D Debate pessoasituação Allport G 245246 Déficit cognitivo teoria de estímuloresposta 449 Definição biofísica da personalidade 32 Definição biossocial da personalidade 32 Definição da personalidade do tipo coletânea 3233 Depressão teoria do desamparo 453454 teoria do estímuloresposta 449 450453 Desamparo aprendido teoria do estímuloresposta 450 453 Desconfiança confiança básica versus desconfiança básica teoria eriksoniana 169171 Descontinuidade teoria da personalidade 41 Desejo teoria psicanalítica 55 Desespero integridade versus teoria eriksoniana 175175 Deslocamento teoria do estímuloresposta 444 teoria psicanalítica 5657 6263 Destrutividade Fromm E 130 Determinismo recíproco teoria da aprendizagem social 467467 Diferenças individuais Allport G 223252 Ver também Allport G personologia 210 217218 teoria da personalidade 42 teoria de traço fatorialanalítica 275277 283286 Diferenças sexuais Horney K 135 poder personologia 216 teoria adleriana 122 teoria analítica junguiana 91 96 teoria da dissonância cognitiva 381381 teoria do constructo pessoal 335 344 teoria eriksoniana 178179 teoria psicanalítica 6668 7879 Diferenças Ver Diferenças individuais Diferenciação teoria do constructo pessoal 321322 Diligência inferioridade versus teoria eriksoniana 172 173 Discriminação e generalização de estímulo condicionamento operante 406407 Disposição cardeal Allport G 231232 Disposição central Allport G 231232 Disposição secundária Allport G 231232 Disposição Allport G 231232 Dollard J biografia de 422426 Ver também Teoria do estímuloresposta Dominantes teoria analítica junguiana 8990 Domínio ou maestria teoria da personalidade 4243 Drive secundário 432433 Drives teoria do estímuloresposta 427 429 431 432 433 436 Ver também Teoria do estímulo resposta Dúvida e vergonha autonomia versus teoria eriksoniana 171171 E Edutores teoria sullivaniana 141 Efeito Zeigarnik 234 Efeitos subliminares teoria psicanalítica 7477 TEORIAS DA PERSONALIDADE 581 Ego Allport G 232233 distribuição da energia psíquica 5860 personologia 196197 teoria analítica junguiana 88 teoria das relações objetais 158 teoria eriksoniana 175176 teoria psicanalítica 54 Empiricismo teoria centrada na pessoa 375380 teoria da personalidade 3435 3940 teoria psicodinâmica 46 Energia psíquica personologia 196 teoria analítica junguiana 90 96100 103104 teoria do constructo pessoal 325 teoria psicanalítica e 5555 5860 teoria sullivaniana 144145 Energia Ver Energia psíquica Ênfase no campo teoria da personalidade 42 Entrevista teoria sullivaniana 147148 Envelhecimento teoria eriksoniana 175175 Equação de especificação teoria de traço fatorialanalítica 263265 Equalização teoria organísmica 352352 Ergs teoria de traço fatorialanalítica 266 Erikson E H biografia 166167 Escalas escalas de avaliação teoria centrada na pessoa 375 376 teoria do constructo pessoal 335336 Escalas de avaliação teoria centrada na pessoa 375376 Escolha objetal teoria psicanalítica 58 Espaço de vida teoria do constructo pessoal 320321 Esquema de vetorvalor personologia 205206 Esquemas de reforço condicionamento operante 403404 Esquemas e programas seriados personologia 195196 Esquemas personologia 196196 Esquizofrenia teoria sullivaniana 148149 Estados teoria de traço fatorialanalítica 269269 Estágio anal teoria psicanalítica 66 Estágio fálico teoria psicanalítica 6668 Estágio genital teoria psicanalítica 68 Estágio oral teoria psicanalítica 65 Estagnação generatividade versus teoria eriksoniana 174 175 Estatística conceito de análise fatorial 254 256 Estereótipos teoria sullivaniana 143 Estilo cognitivo Klein G 162 Estilo de vida teoria adleriana 123125 Estilo explanatório teoria do estímuloresposta 453 Estimulação Fromm E 130131 Estímulo condicionado teoria do estímuloresposta 425 430 Ver também Teoria do estímuloresposta Estímulo incondicionado teoria do estímuloresposta 425430 Ver também Teoria do estímulo resposta Estratégia cognitiva personologia 196 Estrutura de orientação Fromm E 130131 Estudos com animais teoria de estímuloresposta 422 443 448 450451 Estudos de caso teoria analítica junguiana 105106 teoria eriksoniana 177 179181 teoria psicanalítica 7274 Estudos de gêmeos teoria de traço fatorialanalítica 281 283 Estudos do comportamento expressivo Allport G 241 243 Estudos experimentais do autoconceito teoria centrada na pessoa 380 Estudos interculturais teoria eriksoniana 183184 Estudos quantitativos teoria centrada na pessoa 374375 Excitação Fromm E 130131 Excitação teoria de traço biológico 307310 Ver também Teoria de traço biológico Execução teoria eriksoniana 181183 Extinção experimental teoria do estímuloresposta 428 Extinção teoria de estímuloresposta 428 449 Extroversão e introversão teoria analítica junguiana 9294 101 108111 112 teoria de traço biológico 292 294 297300 Ver também Teoria de traço biológico teoria do constructo pessoal 333 Eysenck H J biografia de 295297 Ver também Teoria de traço biológico F Farmacologia Skinner B F e 412 Fatores desenvolvimentais Allport G 236239 idade adulta 238239 período de bebê 236238 condicionamento operante 401411 402403 comportamento anormal 408411 comportamento social 407408 comportamento supersticioso 404405 condicionamento clássico 401402 esquemas de reforço 403404 generalização e discriminação de estímulo 406 407 reforço secundário 405406 582 HALL LINDZEY CAMPBELL personologia 206211 aprendizagem 209210 complexos infantis 206209 de modo geral 206207 fatores socioculturais 209210 genética 209210 inconsciente 210211 processo de socialização 210211 singularidade 210 teoria analítica junguiana 99104 causalidade versus teleologia 99100 de modo geral 99100 estágios 100102 função transcendente 103104 genética 100101 individuação 103 progressão e regressão 102103 simbolização 103104 sincronicidade 100101 sublimação e repressão 103104 teoria centrada na pessoa 371374 teoria da personalidade 4041 teoria das relação objetais 158159 teoria de traço fatorialanalítica 270274 análise de hereditariedadeambiente 272 aprendizagem 272273 contexto social 273274 de modo geral 270272 maturação 273 teoria do constructo pessoal 328329 teoria de estímuloresposta 430437 contexto social 435 estágios 435437 processo de aprendizagem e drive secundário 432 433 processo de aprendizagem 431432 processos mentais superiores 433435 qualidades inatas 431 teoria eriksoniana 165185 Ver também Teoria eriksoniana teoria organísmica 354354 teoria psicanalítica 6168 de modo geral 61 deslocamento 6263 estágios 6568 identificação 6162 mecanismos de defesa 6365 teoria sullivaniana 144146 teorias da personalidade comparadas 494 White R 163164 Fatores econômicos Fromm E 131133 teoria psicológicateoria psicanalítica 161 Fatores socioculturais personologia 209210 Feminismo teoria psicanalítica 7879 Finalismo ficcional teoria adleriana 120121 Fisiologia teoria da personalidade 28 Fixação teoria psicanalítica 6465 Fobias teoria da aprendizagem social 473474 Foco no constructor teoria do constructo pessoal 333 Força Ver Vetor Formação reativa 64 Freud S Ver também Teoria psicanalítica Adler e 119120 biografia de 5053 Horney K e 133 135 psicanálise e 5381 Fromm E biografia 128130 contribuições de 130133 149151 Função integrativa da personalidade 32 Função transcendente teoria analítica junguiana 95 103104 Fundação Bollingen 111 G Generalização teoria do estímuloresposta 429 433 Generatividade estagnação versus teoria eriksoniana 174175 Genética Allport G 237238 personologia 209210 teoria adleriana 125 teoria analítica junguiana 91 100101 teoria da personalidade 28 4041 teoria de traço biológico 300 teoria de traço fatorialanalítica 272 281283 teoria de estímuloresposta 431 teoria sullivaniana 139 146 teorias da personalidade comparadas 493 Genética do comportamento teoria de traço fatorial analítica 281283 Genética lamarkiana teoria analítica junguiana 100101 Genitalidade teoria eriksoniana 174 178179 Goldstein K biografia de 349350 Ver também Teoria organísmica H Habilidades personologia 196 Hereditariedade Ver Genética Heurística teoria da personalidade 3435 Hierarquia de necessidades Maslow A 358361 TEORIAS DA PERSONALIDADE 583 Histeria teoria psicanalítica 50 Holismo teoria da personalidade 4142 teoria organísmica 348 teorias da personalidade comparadas 494 Homossexualidade teoria analítica junguiana 91 teoria do constructo pessoal 343 teoria psicanalítica 7374 teoria sullivaniana 145146 Horney K alienação 137138 ansiedade básica 135136 biografia 133 Freud S e 133135 necessidades neuróticas 136137 soluções para necessidades neuróticas 137 Hostilidade teoria do constructo pessoal 340 Humanismo dialético Fromm E 128 I Id distribuição de energia psíquica 5860 personologia 196 psicologia do ego 155 156 teoria psicanalítica 5454 Idade adulta Ver também Fatores desenvolvimentais Allport G 238239 teoria de traço fatorial analítica 273 teoria eriksoniana 174175 Ideal de ego personologia 197 Identidade confusão de identidade versus teoria eriksoniana 173 174 Fromm E 130131 teoria eriksoniana 168 182183 Identificação teoria psicanalítica 5859 6162 Idiográfica e idiotética Allport G 239240 246248 Imagens primordiais teoria analítica junguiana 8990 Imagos teoria analítica junguiana 8990 Imitação teoria psicanalítica 62 Inconsciente coletivo teoria analítica junguiana 8892 100101 Inconsciente pessoal teoria analítica junguiana 88 Inconsciente transpessoal Ver Inconsciente coletivo Inconsciente Ver também Consciente coletivo teoria analítica junguiana 8892 100101 personologia 210211 pessoal teoria analítica junguiana 88 teoria da personalidade 4041 teoria de traço fatorialanalítica 265266 teoria do constructo pessoal 340340 teoria de estímuloresposta 437439 teoria organísmica 353 teoria psicanalítica 50 teoria psicodinâmica 45 46 47 teorias da personalidade comparadas 492493 Indicador de Tipo MyersBriggs MBTI MyersBriggs Type Indicator teoria analítica junguiana 108 109111 teoria de traço fatorialanalítica 280281 Individuação teoria analítica junguiana 103 Infância Allport G 233 comportamento lúdico White R 163164 Horney K 135136 teoria adleriana 122 127 teoria analítica junguiana 100101 teoria centrada na pessoa 373373 teoria da aprendizagem social 464465 476 480481 teoria da personalidade 4041 teoria das relações objetais 159 teoria de estímuloresposta 435437 teoria eriksoniana 171173 teoria psicanalítica 6568 teoria sullivaniana 144148 Inferioridade diligência versus teoria eriksoniana 172 173 Inibição transmarginal teoria do traço biológico 305305 Iniciativa culpa versus teoria eriksoniana 171172 Instinto definido 55 psicologia do ego 156 teoria das relações objetais 158 160 teoria psicanalítica 5558 White R 162163 Instinto de morte teoria psicanalítica 5758 Instinto de vida teoria psicanalítica 57 5758 Instituto de Relações Humanas Universidade de Yale 422422 424 Instrumentos de mensuração Allport G 239 240241 personologia métodos de pesquisa 212213 Integridade desespero versus teoria eriksoniana 175175 Intenções Allport G 232232 Interacionismo Allport G 245246 personologia 216216 Interações objetosujeito personologia 195196 Interações sujeitoobjeto personologia 195196 Interações sujeitosujeito personologia 195196 Interesse social teoria adleriana 122123 Intimidade isolamento versus teoria eriksoniana 174 Introjeção teoria psicanalítica 55 584 HALL LINDZEY CAMPBELL Introversão Ver Extroversão e introversão Intuição teoria analítica junguiana 93 Inveja do pênis Horney K 135 teoria psicanalítica 6667 7879 Irmãos ordem de nascimento teoria adleriana 126126 Isolamento intimidade versus 174 J Jung C G biografia de 8588 Freud e 8485 K Kelly G biografia de 328331 Ver também Teoria do constructo pessoal L Legitimidade do comportamento condicionamento operante 394395 Lei de YerkesDodson teoria de traço biológico 306307 Lewin K biografia de 319320 Ver também Teoria do constructo pessoal Libido teoria psicanalítica 57 White R 165 Linguagem condicionamento operante 416 fatores desenvolvimentais teoria de estímuloresposta 433435 teoria do constructo pessoal 333 340 teoria de estímuloresposta 421 Linguagem corporal estudos do comportamento expressivo 241243 Locomoção teoria do constructo pessoal 327328 M Mandala teoria analítica junguiana 92 103104 Maslow A Ver também Teoria organísmica teoria centrada na pessoa autorealizadores 362363 biografia de 354 hierarquia de necessidades 358361 natureza humana 356358 síndromes 361362 Maturação personologia 209210 teoria de traço fatorialanalítica 285286 Mecanismos de defesa psicologia do ego 156157 teoria psicanalítica 61 6365 Medicação Skinner B F e 412 Meiaidade teoria analítica junguiana 101102 Memória inconsciente coletivo 8892 100101 teoria adleriana 126127 Memória inicial teoria adleriana 126127 Ver também Memória Memória racial inconsciente coletivo 8889 Metáfora do homemcientista teoria do constructo pessoal 332333 Metapsicologia teoria psicanalítica 75 154 162 Método científico Skinner B F sobre 393 teoria do estímuloresposta 419420 Ver também Teoria do estímulo resposta teoria psicanalítica 5555 6970 79 teoria sullivaniana 139 Método comparativo teoria analítica junguiana 105107 Método do duplocego teoria psicanalítica 76 Miller N biografia de 422 425426 Ver também Teoria do estímuloresposta Mischel W biografia de 478481 Ver também Teoria da aprendizagem social Mitologia teoria analítica junguiana 90 105107 Modelo de diáteseestresse teoria do estímuloresposta 453 Modelo dos sistemas VIDAS teoria de traço fatorial analítica 277278 Motivação Allport G 233236 hierarquia de necessidades Maslow A 358361 lei de YerkesDodson 307 personologia 190191 197198 198 215216 teoria adleriana 118 119120 teoria da personalidade 3031 43 teoria do constructo pessoal 325326 333334 teoria de estímuloresposta 427 449 teoria psicodinâmica 45 teorias da personalidade comparadas 496 White R 162163 Multiplicidade síntese versus teoria da personalidade 504506 Murray H biografia de 191195 Ver também Personologia TEORIAS DA PERSONALIDADE 585 N Natureza humana Maslow sobre 356358 Rogers sobre 367 Nazismo Fromm E 130 Jung C G 111 Necessidades Fromm E 130131 hierarquia de necessidades Maslow A 358361 neuróticas Horney K 136137 personologia 196 198202 teoria do constructo pessoal 325326 teoria psicanalítica 55 Neuroses aprendizagem das teoria de estímuloresposta 441 443 Horney K 136137 teoria adleriana 125126 Neuroticismo teoria de traço biológico 297300 Normas teoria da personalidade 4344 O Objeto teoria psicanalítica 56 Observação clínica teoria da personalidade 28 Observação Ver Observação clínica Ódio teoria psicanalítica 5758 Oposição teoria analítica junguiana 95 Ordem de nascimento teoria adleriana 126 P Padrões de comportamento teoria analítica junguiana 90 Palestras da Clark University Freud Jung 84 Papéis teoria de traço fatorialanalítica 269 Paradigma teoria da personalidade 36 Paradoxo de consistência protótipos cognitivos e teoria da aprendizagem social 482483 Paradoxo paradoxo de consistência protótipos cognitivos e teoria da aprendizagem social 482483 Parcimônia teoria da personalidade 35 Pensamento teoria analítica junguiana 9293 Percepção Klein G 161162 realidade e 315316 teoria da personalidade 39 4243 teoria do constructo pessoal 321322 Ver também Teoria do constructo pessoal Período de bebê Ver também Fatores desenvolvimentais Allport G 236238 personologia 206209 teoria centrada na pessoa 373 teoria das relações objetais 159 teoria eriksoniana 168171 Persona teoria analítica junguiana 9191 Personalidade definida 3233 194195 228 Personificações teoria sullivaniana 142143 Personologia 189176 desenvolvimento da personalidade 206211 aprendizagem 209210 complexos infantis 206209 de modo geral 206207 fatores socioculturais 209210 genética 209210 inconsciente 210211 processo de socialização 210211 singularidade 210 dinâmica da personalidade 198206 conceito de necessidades integradas 204205 conceito de pressão 202204 conceito de tema 203205 conceito de unidadetema 204205 de modo geral 198198 esquema de vetorvalor 205206 necessidade 198202 processos reinantes 205 redução de tensão 203204 estrutura da personalidade 194198 capacidades e realizações 196 definição de personalidade 194195 estabilidades e estruturas 196198 planos e programas seriados 196 procedimentos e séries 195196 material biográfico 191195 métodos de pesquisa 210218 conselho diagnóstico 212 contemporâneos 215218 de modo geral 210211 escala e amostra 211212 estudos representativos 213215 instrumentos de mensuração 212285 status atual 219221 sumário 190 191 Pesquisa dimensional Ver Pesquisa nomotética Pesquisa morfogênica Ver Idiográfica Pesquisa nomotética versus idiográfica Allport G 239 240 Pista teoria do estímuloresposta 431432 Ver também Teoria do estímuloresposta Poder personologia 215216 586 HALL LINDZEY CAMPBELL Política Eysenck H J 296 teoria eriksoniana 185 Posição organísmica teoria centrada na pessoa 367369 teoria da personalidade 4142 teorias da personalidade comparadas 494 Postulado e corolários teoria do constructo pessoal 336 340 Predição teoria da personalidade 3334 Princípio da entropia teoria analítica junguiana 98100 103104 teoria do constructo pessoal 325 Princípio da equivalência teoria analítica junguiana 98 Princípio da realidade teoria psicanalítica 54 Princípio do prazer teoria psicanalítica 54 Princípio epigenético teoria eriksoniana 168 Princípios da aprendizagem observacional teoria da aprendizagem social 464467 Ver também Teoria da aprendizagem social Procedimentos personologia 195196 Processo de julgamento teoria da aprendizagem social 469470 Processo de socialização 210211 Processo primário teoria psicanalítica 54 Processo secundário teoria psicanalítica 54 Processos cognitivos teoria sullivaniana 143 Processos de atenção teoria da aprendizagem social 464 465 Processos de produção teoria da aprendizagem social 465 Processos de retenção teoria da aprendizagem social 465 Processos mentais fatores desenvolvimentais teoria do estímuloresposta 433435 Processos motivacionais teoria da aprendizagem social 465467 Processos motores teoria do estímuloresposta 421 Processos reinantes personologia 205 Processos sensoriais teoria do estímuloresposta 421 Profissão médica teoria da personalidade 29 46 Progressão teoria analítica junguiana 102104 Projeção teoria psicanalítica 64 Proprium Allport G 232233 Protótipos cognitivos paradoxo de consistência e teoria da aprendizagem social 482483 Protótipos cognitivos paradoxo de consistência e teoria da aprendizagem social 482483 Psicobiografia personologia 217218 Psicofarmacologia Skinner B F e 412 Psicohistória teoria eriksoniana 179181 Psicologia da gestalt Ver também Teoria do constructo pessoal Allport G 224 descrita 318319 teoria da personalidade 28 teoria organísmica 348349 Psicologia do ego teoria psicanalítica 155157 Psicologia do self Allport G 232 Kohut H 159160 Psicologia do vetor teoria do constructo pessoal 324 Ver também Teoria do constructo pessoal Psicologia experimental teoria da personalidade 2829 31 Psicométrica tradição teoria da personalidade 28 Psicoterapia teoria de estímuloresposta 443444 Ver também Terapia Psicoticismo teoria do traço biológico 300301 Q Qualidade intencional teoria de traço fatorialanalítica 275 teoria psicodinâmica 46 47 Qualidades inatas Ver Genética R Realidade percebida 315316 teoria centrada na pessoa 347386 Ver também Teoria centrada na pessoa teoria do constructo pessoal 317345 Ver também Teoria do constructo pessoal Realidade percepção e 315316 Ver também Percepção Realização do desejo 54 Realizações de desempenho teoria da aprendizagem social 473 Realizações personologia 196 Rede dinâmica teoria de traço fatorialanalítica 266267 Reflexos teoria de estímuloresposta 431 teoria psicanalítica 54 Reforço esquemas de condicionamento operante 403404 secundário condicionamento operante 405406 teoria da aprendizagem social 463464 Reforço indireto ou vicário teoria da aprendizagem social 464 466467 474 Reforço secundário condicionamento operante 405406 Regressão teoria analítica junguiana 102104 teoria psicanalítica 56 6465 Reinância personologia 198 Relacionarse Fromm E 130131 132 TEORIAS DA PERSONALIDADE 587 Religião teoria analítica junguiana 9293 103104 105 107 111 113 Repressão segunda teoria de Freud da ansiedade 154 teoria analítica junguiana 96 103104 teoria do estímuloresposta 438439 443 teoria psicanalítica 6364 Ritualismo teoria eriksoniana 168 Rogers C biografia de 363367 Ver também Teoria centrada na pessoa Role Construct Repertory Test 341343 S Sadomasoquismo Fromm E 130 Horney K 135 Schreber o caso Freud 72 73 Seleção do parceiro teoria de traço fatorialanalítica 285 286 Self Allport G 232233 personologia 196 teoria analítica junguiana 9293 teoria centrada na pessoa 368369 teoria de traço fatorialanalítica 267268 Self criativo teoria adleriana 125125 Seligman M biografia de 449450 Ver também Teoria de estímuloresposta Sensação teoria analítica junguiana 93 Sentimento teoria analítica junguiana 93 Sentimentos de inferioridade teoria adleriana 121122 Sentimentos teoria de traço fatorialanalítica 266 Sexualidade teoria adleriana 120 teoria analítica junguiana 84 85 101 teoria de traço fatorialanalítica 285286 teoria eriksoniana 174 teoria psicanalítica 50 57 65 71 7273 teoria sullivaniana 145146 White R 164165 Sexualidade infantil teoria psicanalítica 7273 78 Simbolização teoria analítica junguiana 103104 Sincronicidade teoria analítica junguiana 100101 Síndromes Maslow A 361362 Singularidade Ver Diferenças individuais Síntese multiplicidade versus teoria da personalidade 504506 Sistema ativador reticular ascendente SARA ou ARAS ascending reticular activating system teoria de traço biológico 303305 Sistema cognitivoafetivo teoria da aprendizagem social 483486 Sistema de ativação comportamental SAC ou BAS behavioral activaction system teoria de traço biológico 310 Sistema de inibição comportamental SIC ou BIS behavioral inhibition system teoria de traço biológico 310 Sistema nervoso central teoria do traço biológico 301 305 Skinner BF biografia de 390394 Ver também Condicionamento operante Sombra teoria analítica junguiana 9192 Sonhos teoria analítica junguiana 107108 teoria psicanalítica 54 7072 Subcepção teoria centrada na pessoa 367 Subjetividade teoria da personalidade 4243 Sublimação teoria analítica junguiana 103104 teoria psicanalítica 62 teoria sullivaniana 145146 Subsidiação teoria de traço fatorialanalítica 266 Suicídio teoria psicanalítica 74 Sullivan H S biografia de 138141 Superego distribuição da energia psíquica 5860 personologia 197 teoria da aprendizagem social 470 teoria psicanalítica 5455 Superioridade busca de teoria adleriana 121 Suposições teoria da personalidade 3334 T Tamanho da amostra personologia métodos de pesquisa 211212 Tarefas de vida personologia 196 TécnicaP teoria de traço fatorialanalítica 275 TécnicaQ teoria centrada na pessoa 376380 teoria de traço fatorialanalítica 275 TécnicaR teoria de traço fatorialanalítica 275277 Teleologia causalidade versus teoria analítica junguiana desenvolvimento da personalidade 99100 teoria da personalidade 40 Temperamento Allport G 228229 teoria de traço biológico 297301 Ver também Teoria do traço biológico 588 HALL LINDZEY CAMPBELL teoria de traço fatorialanalítica 260263 Tendências teoria de traço fatorialanalítica 269 Tensão personologia 203204 teoria do constructo pessoal 325 326 teoria sullivaniana 143144 Teoria adleriana 117128 Ver também Teoria psicológica social busca de superioridade 121 estilo de vida 123125 finalismo ficcional 120121 interesse social 122123 material biográfico 117120 métodos de pesquisa 125128 contemporânea 127128 experiência infantil 127 memória inicial 126127 neurose 125126 ordem de nascimento 126 self criativo 125125 sentimentos de inferioridade e compensação 121122 status atual 149151 Teoria analítica junguiana 83114 desenvolvimento da personalidade 99104 causalidade versus teleologia 99100 de modo geral 99100 estágios 100102 função transcendente 103104 genética 100101 individuação 103 progressão e regressão 102103 simbolização 103104 sincronicidade 100101 sublimação e repressão 103104 dinâmica da personalidade 96100 de modo geral 9697 energia psíquica 9698 princípio da entropia 98100 princípio da equivalência 98 uso da energia 99100 estrutura da personalidade 8896 atitudes 9293 de modo geral 88 ego 88 funções 9294 inconsciente coletivo 8892 inconsciente pessoal 88 interações na 9496 self 9293 métodos de pesquisa 105111 contemporâneos 107111 de modo geral 105 estudos de caso 105106 estudos experimentais de complexos 105 método comparativo 105107 sonhos 107108 perspectiva histórica 8488 status atual 111114 Teoria centrada na pessoa 347386 363367 Ver também Maslow A Teoria organísmica desenvolvimento da personalidade 371374 dinâmica da personalidade 369371 estrutura da personalidade 367369 material biográfico Rogers C 363367 métodos de pesquisa 374384 abordagens empíricas 380 análise de conteúdo 374376 contemporâneos 380384 de modo geral 374374 escalas de avaliação 375376 estudos da técnicaQ 376380 estudos experimentais do autoconceito 380 estudos quantitativos 374375 status atual 383386 teoria organísmica e 348354 Teoria cognitiva teoria do estímuloresposta 421 Teoria da aprendizagem Allport G 237238 condicionamento operante 389418 Ver também Condicionamento operante sumário 387388 teoria da aprendizagem social 459487 Ver também Teoria da aprendizagem social teoria da personalidade 28 3939 teoria do estímuloresposta 419457 Ver também Teoria do estímuloresposta Teoria da aprendizagem social 459487 Ver também Teoria da aprendizagem aplicações terapêuticas 471472 autoeficácia 472476 autosistema 468471 dados biográficos Bandura A 460463 Mischel W 478481 determinismo recíproco 467 métodos de pesquisa 475478 paradoxo de consistência e protótipos cognitivos 482 483 princípios da aprendizagem observacional 464467 processos de atenção 464465 processos de produção 465 processos de retenção 465 processos motivacionais 465467 reforço 463464 sistema cognitivoafetivo 483486 status atual 485487 TEORIAS DA PERSONALIDADE 589 variáveis cognitivas pessoais 480482 Teoria da autodiscrepância descrita 382384 Teoria da dissonância cognitiva descrita 381382 Teoria da personalidade 2747 491506 Ver também Teoria eriksoniana Teoria analítica junguiana Teoria Psicanalítica Teoria psicológica social Allport G 223252 Ver também Allport G agrupamentos familiares 3939 análise de agrupamento 497499 atributos formais 3940 atributos substantivos 4044 comparações de 3944 492500 pesquisa e 499500 definição da personalidade 3233 194195 228 258 definição de teoria 3336 descrita 3638 estrutura da personalidade ênfase na 187188 orientação funcional da 2930 papel dissidente da 29 percepção 39 4243 Ver também Realidade percebida personologia 189221 Ver também Personologia perspectiva histórica 2832 reflexões sobre 500504 sínteses versus multiplicidade 504506 sumário 2728 teoria estrutural 39 187188 Ver também Teoria estrutural teoria psicodinâmica 4547 teoria psicológica e 32 3839 teoria psicológica social 115151 teorias da aprendizagem 387388 Ver também Teoria da aprendizagem Teoria da pulsão Ver Instinto Teoria das relações objetais 157160 descrita 157159 Kohut H 159160 teoria psicanalítica 157160 Teoria de estágio Ver Fatores desenvolvimentais Teoria de traço biológico 291314 Ver também Teoria de traço fatorialanalítica material biográfico 295297 métodos de pesquisa 306312 contemporâneos 310312 descritos 306310 modelos causais 301305 status atual 312314 sumário 291292 292295 temperamento 297301 extroversão e neuroticismo 297300 psicoticismo 300301 Teoria de traço fatorialanalítica 253289 Ver também Teoria de traço biológico conceito de análise fatorial 254 256256 desenvolvimento da personalidade 270274 análise hereditariedadeambiente 272 aprendizagem 272273 contexto social 273274 de modo geral 270272 maturação 273 estrutura da personalidade 258271 de modo geral 258 equação de especificação 263265 Freud e 269270 traços de temperamento e capacidade 260263 traços dinâmicos 265269 traços 259260 material biográfico Cattell 256257 métodos de pesquisa 274286 contemporâneos 278286 de modo geral 274275 indivíduo único 275277 modelo de sistemas VIDAS 277278 status atual 286289 sumário 253254 Teoria do constructo pessoal 317345 constructos de mudança 340341 constructos 334336 contínuo de consciência cognitiva 340 desenvolvimento da personalidade 328329 dinâmica da personalidade 324328 de modo geral 324 energia 325 força ou vetor 326327 locomoção 327328 necessidades 325326 tensão e ação motora 326 tensão 325 valência 326326 estrutura da personalidade 319324 conexões regionais 321324 de modo geral 319320 diferenciação 321322 espaço de vida 320321 números de regiões 323324 relacionamento pessoaambiente 323324 material biográfico Kelly G 328331 Lewin K 319320 métodos de pesquisa 341344 contemporâneos 343344 descritos 341343 postulado e corolários 336340 status atual 344345 sumário 318319 suposições 331334 alternativismo construtivo 331334 590 HALL LINDZEY CAMPBELL autoconceito 334 foco no constructor 333 metáfora do homemcientista 332333 motivação 333334 Teoria do desamparo teoria de estímuloresposta 453 454 Teoria de estímuloresposta 419457 505 aplicações 437444 desenvolvimento da personalidade 430437 contexto social 435 estágios 435437 processo de aprendizagem 431433 estrutura da personalidade 430 experimentação 425430 materiais biográficos Dollard e Miller 422426 métodos de pesquisa 444454 Skinner e 390 status atual 454457 sumário 419422 Teoria eriksoniana 165185 ego na 175176 estágios desenvolvimentais 168175 autonomia versus vergonha e dúvida 171 confiança básica versus desconfiança básica 169 171 de modo geral 168169 diligência versus inferioridade 172173 generatividade versus estagnação 174175 identidade versus confusão de identidade 173174 iniciativa versus culpa 171172 integridade versus desespero 175 intimidade versus isolamento 174 tabelasresumo 169 170 métodos de pesquisa 177184 antropologia 179180 contemporâneos 181184 histórias de caso 177 psicohistória 179181 situações lúdicas 177179 status atual 184185 sumário 165167 Teoria estrutural 39 187188 Allport G 223252 Ver também Allport G personologia 189221 Ver também Personologia teoria de traço biológico 291314 Ver também Teoria de traço biológico teoria de traço fatorialanalítica 253289 Ver também Teoria de traço fatorialanalítica Teoria evolutiva teoria de traço fatorialanalítica 283286 Teoria experiencial teoria da personalidade 39 Teoria mecanicista teoria da personalidade 40 Teoria organísmica Ver também Maslow A Teoria centrada na pessoa desenvolvimento 35459 dinâmica 352354 ambiente 353354 autorealização 352353 equalização 352 estrutura 350352 material biográfico Goldstein K 349354 sumário 348349 Teoria psicanalítica clássica Ver Teoria psicanalítica Teoria psicanalítica 4981 Ver também Teoria da personalidade autoanálise de Freud 74 desenvolvimento da personalidade 6168 deslocamento 6263 estágios no 6568 identificação 6162 mecanismos de defesa 6365 dinâmica da personalidade 5561 ansiedade 6061 energia psíquica 5860 instinto 5558 estrutura da personalidade 5355 ego 54 id 5354 superego 5455 evolução da 154155 método científico 6970 métodos de pesquisa 6878 associação livre e análise de sonhos 7072 contemporâneos 7478 estudos de caso 7274 perspectiva histórica 4950 psicologia do ego 155157 status atual 7881 teoria das relações objetais 157160 teoria eriksoniana 165185 Ver também Teoria eriksoniana teoria psicológica e 160165 Teoria psicodinâmica teoria da personalidade 39 4547 Ver também Teoria eriksoniana teoria analítica junguiana teoria psicanalítica Teoria psicológica social Teoria psicológica teoria da personalidade e 32 3839 teoria psicanalítica e 160165 Teoria psicológica social 115151 Ver também Teoria adleriana Fromm E Horney K teoria sullivaniana adleriana 117128 Fromm E 128133 Horney K 133138 perspectiva histórica 116117 status atual 143151 TEORIAS DA PERSONALIDADE 591 sullivaniana 138149 Teoria sullivaniana 138149 Ver também Teoria psicológica social desenvolvimento da personalidade 144146 dinâmica da personalidade 143145 estrutura da personalidade 140143 material biográfico 138141 métodos de pesquisa 147149 status atual 149151 Teoria definida 3336 Terapia depressão teoria do estímuloresposta 452453 teoria da aprendizagem social 471472 teoria da personalidade e 29 teoria do estímuloresposta 443444 teoria psicanalítica 7075 Terapia centrada no cliente Ver Teoria centrada na pessoa Testagem psicológica Allport G 239 240241 Eysenck 299 personologia métodos de pesquisa 212213 teoria analítica junguiana 9798 105 112 teoria centrada na pessoa 375380 385 teoria de traço fatorial analítica 260263 Ver também Teoria de traço fatorial analítica teoria do constructo pessoal 343344 teoria psicológica e 3839 Teste de Apercepção Temática TAT 213 215216 379 Teste de realidade teoria psicanalítica 54 Teste Rep 341343 Testes de associação de palavras teoria analítica junguiana 9798 112 Testes de personalidade Ver Testagem psicológica Testes Ver Testagem psicológica Traço Ver também Allport G Teoria do traço biológico Teoria de traço fatorialanalítica Allport G 229232 tipo contrastado 292 Traços de capacidade teoria fatorial analítica do traço 260263 Traços de origem teoria de traço fatorialanalítica 259 260 Traços de superfície teoria de traço fatorial analítica 259 260 Traços dinâmicos teoria de traço fatorialanalítica 265 269 Trauma do nascimento teoria psicanalítica 61 Trauma teoria psicanalítica 61 Treinamento esfincteriano psicologia e psicanálise 164 teoria psicanalítica 66 U Unidade de personalidade Allport G 236 Utilidade teoria da personalidade 3335 V Valência teoria do constructo pessoal 326 Variáveis cognitivas pessoais teoria da aprendizagem social 480482 Vergonha dúvida e autonomia versus teoria eriksoniana 171 171 teoria da aprendizagem social 464 Verificação teoria da personalidade 3435 Vetor teoria do constructo pessoal 326327 Vínculo associativo teoria do estímuloresposta 421 W Wolpe J biografia de 446 Ver também Teoria de estímuloresposta Z Zonas erógenas teoria eriksoniana 178179 teoria psicanalítica 57
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Calvin S Hall t Gardner Lindzey John B Campbell Teorias da Personalidade rt p f i ie ee my é Y 1a ff ee 4 RY oH 1 F aa i te hall 3 re Ef 4 A Ee q 4 f hee MD es Edigao er eee ae c ls ye ano Ie ae A i BS artmed eo as a Fe E 4 ot i i TEORIAS DA PERSONALIDADE 1 Teorias da Personalidade 2 HALL LINDZEY CAMPBELL H174h Hall Calvin S Teorias da personalidade recurso eletrônico Calvin S Hall Gardner Lindzey John B Campbell tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese Dados eletrônicos Porto Alegre Artmed 2007 Editado também como livro impresso em 2000 ISBN 9788536307893 1 Psicotipologia I LIndzey Gardner II Campbell John B III Título CDU 159923 Catalogação na publicação Júlia Angst Coelho CRB 101712 TEORIAS DA PERSONALIDADE 3 Versão impressa desta obra 2000 Calvin S Hall University of California Santa Cruz California Gardner Lindzey Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences Stanford California John B Campbell Franklin Marshall College Lancaster Pennsylvania Tradução MARIA ADRIANA VERÍSSIMO VERONESE Psicóloga Consultoria supervisão e revisão técnica desta edição ANTÔNIO CARLOS AMADOR PEREIRA Mestre em Psicologia Clínica pela PUCSP Professor da Faculdade de Psicologia da PUCSP Teorias da Personalidade 4ª Edição 2007 4 HALL LINDZEY CAMPBELL Obra originalmente publicada sob o título Theories of personality John Wiley Sons Inc 1998 ISBN 0471303429 Créditos das fotografias Capítulo 2 Página 51 ArchivPhoto Researchers Página 52 Edmund Engleman Capítulo 3 Página 87 KarshWoodfin Camp Associates Capítulo 4 Página 119 Cortesia de Alfred Adler Consultation Center Página 129 Rene Burri Magnum Photos Inc Página 134 Horney ClinicCorbisBettmann Página 139 Cortesia de William Alanson White Psychiatric Foundation Capítulo 5 Página 166 Jon EriksonCortesia de ClarkeStewart Capítulo 6 Página 192 Cortesia de Harvard University News Office Cambridge MA Capítulo 7 Página 225 Cortesia de Harvard University News Office Cambridge MA Capítulo 9 Página 293 Cortesia de Hans EysenckThe Institute of Psychiatry The Maudsley Hospital Londres Capítulo 10 Página 318 Archives of the History of American Psychology Página 330 Cortesia de Dr Ricardo Morant Department of Psychology Brandeis University Capítulo 11 Página 351 Cortesia de National Library of Medicine Página 355 Archives of the History of American Psychology Página 364 Charles Schneider Photography Capítulo 12 Página 391 Christopher S JohnsonStock Boston Capítulo 13 Página 423 Cortesia de Yale University Página 425 Stella Kupferberg Capítulo 14 Página 461 Cortesia de Albert Bandura Página 479 Cortesia de Walter Mischel Capa JOAQUIM DA FONSECA Preparação do original NARA VIDAL Supervisão editorial LETÍCIA BISPO DE LIMA Editoração eletrônica e filmes GRAFLINE EDITORA GRÁFICA Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à ARTMED EDITORA SA Av Jerônimo de Ornelas 670 Santana 90040340 Porto Alegre RS Fone 51 30277000 Fax 51 30277070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume no todo ou em parte sob quaisquer formas ou por quaisquer meios eletrônico mecânico gravação fotocópia distribuição na Web e outros sem permissão expressa da Editora SÃO PAULO Av Angélica 1091 Higienópolis 01227100 São Paulo SP Fone 11 36651100 Fax 11 36671333 SAC 0800 7033444 TEORIAS DA PERSONALIDADE 5 Para nossos professores e amigos Gordon W Allport Henry A Murray Edward C Tolman TEORIAS DA PERSONALIDADE 7 Prefácio A edição original de Hall e Lindzey 1957 definiu o campo da personalidade levou a dezenas de livros didáticos sobre a teoria da personalidade gerou centenas de cursos em nível de graduação e pósgraduação nas universidades e mantevese como um texto clássico por meio de duas revisões A terceira edição 1978 tem agora 20 anos de idade A maior parte do material dessa edição ainda permanece relevante mas ela ficou desatualizada em dois aspectos Primeiro as teorias enfatiza das excluem várias posições de grande importância contemporânea Segundo o texto obviamente omite qualquer referência ao corpo de pesquisas realizadas nos últimos 20 anos A quarta edição de Hall e Lindzey foi preparada para corrigir as inadequações decorrentes da passagem do tempo É importante enfatizar entretanto que esta quarta edição não altera aqueles atributos responsáveis pelo duradouro valor de Hall e Lindzey Isto é a revisão trata as teorias da personalidade central mente importantes de uma forma abrangente rigorosa e agradável Este texto destinase aos pro fessores e aos alunos que acolhem com satisfação esta abordagem A necessidade de incluir materiais novos combinada com as inevitáveis limitações de espaço obrigounos a tomar difíceis decisões sobre as teorias a serem incluídas Nós retiramos relutante mente os capítulos sobre a abordagem de Sheldon e as abordagens existencial e oriental apesar de seu persistente apelo Além disso omitimos o capítulo sobre os modelos organísmicos mas incor poramos ao capítulo sobre Carl Rogers porções do material sobre Kurt Goldstein e Abraham Mas low Da mesma forma retiramos o capítulo sobre Kurt Lewin mas parte do material foi acrescenta da a um novo capítulo sobre George Kelly Também incluímos novos capítulos sobre Hans Eysenck que foi mencionado no capítulo sobre Raymond Cattell na terceira edição e sobre Albert Bandura previamente incluído no capítulo sobre estímuloresposta Essas mudanças juntamente com as revisões dos capítulos da terceira edição pretendem produzir um texto que apresentará ao leitor as teorias mais diretamente relevantes para o trabalho atual em personalidade e nas áreas relaciona das Esta revisão será familiar para os leitores que conhecem as edições anteriores de Hall e Lindzey Mantivemos a prática de apresentar cada posição teórica da maneira mais positiva possível e o formato de cada capítulo foi amplamente preservado Acrescentamos uma relação de conteúdos ampliada para orientar o leitor e um resumo esquemático no início de cada capítulo Em uma nova tentativa de ajudar o leitor a compreender as diferentes teorias e seus interrelacionamentos divi dimos as teorias em quatro grupos Os teóricos desses grupos são distintos mas compartilham uma ênfase comum que pode estar na psicodinâmica na estrutura da personalidade na realidade per cebida ou na aprendizagem 8 HALL LINDZEY CAMPBELL Queremos alertar o leitor para várias considerações gerais Primeiro continuamos fiéis a uma abordagem de teóricos da personalidade em vez de uma abordagem de pesquisa ou de tópi cos O aspecto distintivo dos modelos de personalidade é o reconhecimento e a preservação da integridade fundamental dos indivíduos conforme salientado no Capítulo 1 Os textos organizados em função de classes de comportamento ou de unidades estruturais ou dinâmicas inevitavelmente prejudicam essa integridade Segundo esta apresentação enfatiza traduções de constructos por meio das teorias Por exemplo Freud e Rogers propuseram um modelo de conflito embora os modelos difiram substancialmente em suas suposições e operações Cattell também discutiu o con flito mas tentou definilo quantitativamente Freud Kelly e Rogers enfatizaram a ansiedade po rém definiram o constructo de maneiras muito diferentes Bandura enfatizou a autoeficácia que por sua vez soa como a busca de superioridade de Adler a motivação para a eficiência de White e o princípio de domínio e a competência de Allport A dinâmica do self apresentada por Karen Horney antecipa claramente a formulação muito influente de Carl Rogers uma geração mais tarde e assim por diante Essas traduções são interessantes em si mesmas Além disso elas demonstram a existência de conexões entre as teorias Por extensão existe substância no constructo da persona lidade Finalmente acreditamos que é importante mostrar conexões entre as teorias da personali dade e as pesquisas atuais Essas teorias têm valor heurístico A nossa agenda nem tão oculta visa a mostrar que esses modelos de personalidade não são dinossauros desajeitados e obsoletos Pelo contrário eles sugerem hipóteses e se relacionam à grande parte dos trabalhos em nossos periódi cos Esperamos que o estudo das teorias apresentado por nós convença o leitor de sua utilidade empírica e prática Gardner Lindzey John B Campbell VIII PREFÁCIO TEORIAS DA PERSONALIDADE 9 Prefácio da Terceira Edição Esta edição de Teorias da personalidade contém vários aspectos novos Os mais proeminentes são os dois novos capítulos um sobre a teoria psicanalítica contemporânea e o outro sobre a psicologia oriental O primeiro descreve algumas das mudanças ocorridas na teoria e na pesquisa psicanalíti cas desde a morte de seu fundador Sigmund Freud Nesse capítulo é dada uma atenção especial às importantes contribuições de Erik H Erikson Devido ao crescente interesse pelo pensamento oriental consideramos adequado e oportuno apresentar um resumo da teoria oriental da personalidade e sua influência sobre a psicologia oci dental Fomos afortunados pois Daniel Goleman uma autoridade sobre a psicologia oriental esbo çou esse capítulo para nós Outra inovação é uma mudança na ordem dos capítulos As teorias clinicamente orientadas estão agrupadas na primeira metade do livro as teorias mais experimentais e quantitativas se encontram agrupadas na segunda metade do livro Os capítulos que apareceram na segunda edição sofreram quantidades variadas de revisão amplificação e condensação Em cada caso tentamos discutir todas as contribuições teóricas e de pesquisa mais importantes publicadas desde a nossa última edição Nossos editores se esforçaram ao máximo para produzir um livro com um design atraente que enfatizasse claramente os títulos e subtítulos e tornasse mais fácil a leitura Pela primeira vez aparecem fotografias no livro Recebemos uma ajuda significativa de várias pessoas Erik Erikson leu a seção do Capítulo 3 dedicada às suas idéias e fez numerosas e úteis contribuições para melhorála Medard Boss nos forneceu novas informações sobre suas atividades desde 1970 e Jason Aronson e Paul J Stern nos ofereceram os manuscritos de traduções inglesas de dois livros recentes de Boss Mais uma vez John Loehlin e Janet T Spence realizaram serviços essenciais na revisão dos capítulos sobre a teoria do fator e sobre a teoria de estímuloresposta respectivamente Jim Mazur realizou um serviço comparável em relação ao capítulo que trata da teoria operante William McGuire da Princeton University Press e Janet Dallett da Clínica C G Jung Los Angeles ajudaram na revisão do capítulo sobre Jung Vernon J Nordby colaborou na preparação do novo capítulo sobre a teoria psicanalítica contemporânea Ruth Wylie nos forneceu material 10 HALL LINDZEY CAMPBELL nãopublicado para usar no capítulo sobre Rogers Rosemary Wellner nos ofereceu excelentes con selhos editoriais e Gen Carter foi muito útil na preparação final de grande parte do manuscrito As contribuições de Gardner Lindzey foram facilitadas pelo Center for Advanced Study in the Behavi oral Sciences Calvin S Hall Gardner Lindzey X PREFÁCIO DA TERCEIRA EDIÇÃO TEORIAS DA PERSONALIDADE 11 Prefácio da Segunda Edição Nos 13 anos decorrentes entre a primeira e a presente edição de Teorias da personalidade ocorre ram várias mudanças na teoria da personalidade A morte diminuiu o rol dos teóricos mais impor tantes Angyal 1960 Jung 1961 Goldstein 1965 e Allport 1967 Algumas das teorias foram substancialmente revisadas e elaboradas por seus criadores Todas as teorias em maior ou menor extensão estimularam atividades empíricas adicionais Mais importante surgiram no cenário no vos pontos de vista que merecem atenção Vamos refletir sobre os novos pontos de vista Foi difícil decidir quais entre as novas teorias que emergiram desde 1957 deveriam ser discutidas aqui Poucos leitores contestarão energica mente as escolhas que fizemos Os amigos e os inimigos igualmente concordarão que o ponto de vista de B F Skinner seria ousadia chamálo de teoria se tornou uma influência importante na psicologia americana e não deve ser omitido Também não podemos ignorar uma importante con tribuição européia para a teoria da personalidade A psicologia existencial conquistou um público significativo nos últimos dez anos não apenas em sua Europa natal mas também nos Estados Unidos Ela é um dos pilares do florescente movimento humanista Embora possa haver pouca discordância sobre essas escolhas nós antecipamos as queixas sobre as omissões especialmente de Piaget e da teoria cognitiva Ambas as teorias foram examinadas cuidadosamente e ambas teriam sido incluídas se o espaço permitisse A decisão final baseouse no critério da sua centralidade para a psicologia da personalidade Skinner e a psicologia existencial nos pareceram satisfazer esse critério mais do que a teoria desenvolvimental de Piaget ou a teoria cognitiva As limitações de espaço também exigiram alguns cortes Cattell emergiu como o principal representante da teoria fatorial de Eysenck que dividira o palco com ele na primeira edição e que se envolveu cada vez mais com a teoria do comportamento e aparece no capítulo sobre a teoria de estímuloresposta Capítulo 11 assim como no capítulo sobre a teoria fatorial Capítulo 10 A teoria biossocial de Murphy foi relutantemente sacrificada por ser uma teoria eclética e como tal seus principais conceitos estão adequadamente representados em outros capítulos Todos os capí tulos restantes foram atualizados Alguns dos capítulos particularmente os que tratam de Allport da teoria fatorial da teoria de ER e de Rogers sofreram ampla revisão Os outros capítulos preci saram de menos alterações O formato dos capítulos não foi modificado Todos os pontos de vista ainda são apresentados sob uma luz positiva Esforçamonos ao máximo para descrever com clareza e exatidão os aspectos essenciais de cada teoria 12 HALL LINDZEY CAMPBELL Fomos extremamente afortunados pois B F Skinner e Medard Boss cujas posições estão re presentadas nos dois capítulos novos Capítulos 12 e 14 leram e comentaram o que tínhamos escrito sobre seus pontos de vista A preparação do novo capítulo sobre a teoria do reforço operan te de Skinner e a revisão dos capítulos sobre a teoria de ER e as teorias fatoriais tornaramse grandemente facilitadas pelas contribuições detalhadas e substanciais de Richard N Wilton Janet T Spence e John C Loehlin Também somos gratos a G William Domhoff Kenneth MacCorquodale e Joseph B Wheelwright que fizeram contribuições críticas à revisão Florence Strong e Allen Stewart foram diligentes leitores de provas e indexadores Calvin S Hall Gardner Lindzey XII PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO TEORIAS DA PERSONALIDADE 13 Prefácio da Primeira Edição Apesar do crescente interesse dos psicólogos pela teoria da personalidade não existe uma fonte única à qual o aluno possa recorrer se está buscando um resumo das teorias existentes O presente volume pretende corrigir essa falha Ele oferece resumos compactos mas abrangentes das princi pais teorias da personalidade contemporâneas em um nível de dificuldade apropriado à instrução universitária A partir deste livro o aluno tem assegurado um panorama detalhado da teoria da personalidade e ao mesmo tempo pode prepararse para ler as fontes originais com maior apreci ação e facilidade Esperamos que este volume tenha uma função na área da personalidade seme lhante à do Theories of learning de Hilgard na área da aprendizagem Que teorias devem ser incluídas em um volume sobre teoria da personalidade Embora não seja fácil especificar exatamente o que é uma teoria da personalidade é ainda mais difícil concor dar sobre quais são as mais importantes dessas teorias Como fica claro no primeiro capítulo estamos dispostos a aceitar qualquer teoria geral do comportamento como uma teoria da persona lidade Ao julgar sua importância recorremos principalmente à nossa avaliação do grau de influên cia que a teoria teve sobre a pesquisa e sobre a formulação psicológica Nesse complexo julgamen to também está envolvida a questão da possibilidade de distinção Quando duas ou mais teorias nos pareciam muito semelhantes ou tratávamonas em um mesmo capítulo ou selecionávamos uma delas e excluíamos as outras Dados esses amplos critérios de importância e possibilidade de distinção provavelmente haverá poucas objeções às teorias específicas que decidimos incluir neste volume Mas pode haver menos unanimidade em relação à nossa decisão de omitir certas teorias Notáveis entre as omissões são a teoria hórmica de McDougall a teoria de papel a teoria da contigüidade de Guthrie o comportamentalismo intencional de Tolman e algumas posições recen temente desenvolvidas como as de David McClelland Julian Rotter e George Kelly Originalmente planejávamos incluir a teoria hórmica de McDougall e a teoria de papel mas as limitações de espaço nos obrigaram a reduzir o número de capítulos e essas foram as teorias que julgamos mais sacrificáveis A teoria hórmica foi omitida porque a sua influência é um pouco mais indireta que a das outras teorias Embora consideremos McDougall um teórico de grande importância seu impacto contemporâneo é grandemente mediado por teóricos mais recentes que tomaram emprestados aspectos de sua teoria A teoria de papel parecenos é desenvolvida de forma menos sistemática que a maioria das outras posições que elegemos incluir É verdade que a teoria contém uma idéia dominante de considerável valor e importância mas essa idéia ainda não foi incorporada a uma rede de conceitos abrangentes sobre o comportamento humano Guthrie e Tolman foram omitidos em favor da teoria do reforço de Hull simplesmente porque tem havido 14 HALL LINDZEY CAMPBELL uma aplicação de pesquisa menos comum dessas teorias fora da área da aprendizagem McCle lland Rotter e Kelly não foram incluídos por serem muito recentes e porque em alguns aspectos suas posições se assemelham a teorias ou combinações de teorias incluídas por nós Depois de decidir quais teorias incluir ainda deparamonos com o problema de como organizar e descrever essas posições Certa consistência no modo de apresentação parecia desejável mas ao mesmo tempo queríamos preservar a integridade de cada teoria Acabamos optando por apresen tar categorias gerais em termos das quais as teorias podiam ser descritas permitindonos bastante liberdade dentro dessas categorias de modo a apresentar cada teoria da maneira que parecia mais natural Também não aderimos muito rigidamente a essas categorias gerais Em alguns casos fo ram necessárias novas categorias para representar adequadamente uma teoria específica e em um ou dois casos pareceu aconselhável combinar categorias Mas de modo geral cada teoria é apre sentada com uma seção de Orientação que relata brevemente a história pessoal do teórico esboça as principais linhas de influência sobre a teoria e oferece um resumo de seus aspectos mais impor tantes A seguir o leitor encontrará uma seção sobre a Estrutura da Personalidade na qual estão incluídos os conceitos desenvolvidos para representar as aquisições ou as porções duradouras da personalidade Depois há uma seção sobre a Dinâmica da Personalidade que apresenta os princípi os e os conceitos motivacionais ou disposicionais defendidos pelo teórico Logo depois vem uma seção sobre Desenvolvimento da Personalidade que trata do crescimento e da mudança conforme representados pela teoria Seguese uma seção sobre Pesquisa Característica e Métodos de Pesqui sa em que são apresentadas investigações representativas e técnicas empíricas Há então uma seção de conclusão intitulada Status Atual e Avaliação que delineia brevemente o atual estado da teoria e resume suas principais contribuições assim como as críticas mais importantes recebidas No final de cada capítulo há uma breve lista das Principais Fontes representando as fontes origi nais mais importantes relativas à teoria Todas as publicações referidas no texto são reunidas em uma seção final no fim de cada capítulo intitulada Referências Tentamos apresentar cada teoria sob uma luz positiva detendonos naqueles aspectos da teo ria que nos pareciam mais úteis e sugestivos Embora tenhamos incluído uma breve crítica a cada teoria a nossa principal intenção não foi avaliar essas teorias Na verdade tentamos apresentálas em termos expositivos que demonstrem para o que elas são boas ou que promessa contêm para o indivíduo que as adotar A extensão de um capítulo não reflete o nosso julgamento sobre a impor tância relativa da teoria Cada teoria foi escrita no que nos pareceu o número mínimo de páginas necessárias para representar de modo acurado e abrangente as suas características essenciais O leitor vai perceber que em alguns capítulos parece haver informações mais detalhadas e pessoais referentes ao teórico e ao desenvolvimento de sua teoria do que em outros Isso se deve unicamen te à disponibilidade de informações Nos casos em que sabíamos bastante sobre o teórico decidi mos incluir todas as informações que nos pareciam vitais mesmo que isso fizesse com que alguns capítulos parecessem mais personalizados do que outros Na preparação deste livro buscamos e recebemos uma ajuda inestimável de vários colegas É com profunda gratidão e apreço que reconhecemos a contribuição pessoal de muitos dos teóricos cujo trabalho é apresentado aqui Eles nos esclareceram sobre vários pontos e fizeram numerosas sugestões sobre a forma e sobre o conteúdo que melhoraram imensamente o manuscrito O mérito que este livro porventura possui deve ser atribuído em grande parte ao meticuloso cuidado com que cada um dos teóricos leu e criticou o capítulo dedicado à sua teoria Gordon W Allport Ray mond B Cattell H J Eysenck Kurt Goldstein Carl Jung Neal E Miller Gardner Murphy Henry A Murray Carl Rogers Robert R Sears e William Sheldon Além de comentários esclarecedores sobre o capítulo referente à sua teoria Gordon Allport fez críticas penetrantes e ofereceu sugestões cria tivas sobre todos os capítulos restantes Ele também usou muitos dos capítulos em seus cursos de XIV PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO TEORIAS DA PERSONALIDADE 15 graduação e pósgraduação e transmitiunos os comentários e as sugestões dos alunos Agradece mos imensamente não apenas a esses alunos de Harvard e de Radcliffe mas também aos alunos da Western Reserve University que leram e comentaram os capítulos Também reconhecemos com satisfação nosso débito para com as seguintes pessoas cada uma das quais leu um ou mais capítu los deste livro e contribuiu com sugestões que os melhoraram John A Atkinson Raymond A Bauer Urie Bronfenbrenner Arthur Combs Anthony Davids Frieda FrommReichmann Eugene L Hartley Ernest Hilgard Robert R Holt Edward E Jones George S Klein Herbert McClosky Geor ge Mandler James G March A H Maslow Theodore M Newcomb Helen S Perry Stewart E Perry M Brewster Smith Donald Snygg S S Stevens Patrick Suppes John Thibaut Edward C Tolman e Otto A Will Jr Também agradecemos a Heinz e Rowena Ansbacher por nos fornecerem a prova de página de seu livro The individual psychology of Alfred Adler antes de sua publicação Ele nos foi muito útil para a redação da seção sobre a teoria da personalidade de Adler Na preparação final do manuscrito recebemos uma ajuda inestimável de Virginia Caldwell Marguerite Dickey e Kenneth Wurtz A conclusão deste livro foi imensamente facilitada por uma licença de meio ano para Calvin S Hall remunerada pela Western Reserve University e por uma bolsa do Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences outorgada a Gardner Lindzey A redação também foi facilitada pela permissão recebida por Lindzey para usar as instalações da Biblioteca do Dartmouth College du rante o verão de 1954 Calvin S Hall Gardner Lindzey PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO XV TEORIAS DA PERSONALIDADE 17 Sumário Capítulo 1 A Natureza da Teoria da Personalidade 27 A Teoria da Personalidade e a História da Psicologia 28 O que É Personalidade 32 O que É uma Teoria 33 Uma Teoria da Personalidade 36 A Teoria da Personalidade e Outras Teorias Psicológicas 38 A Comparação das Teorias da Personalidade 39 Atributos Formais 39 Atributos Substantivos 40 ÊNFASE NA PSICODINÂMICA 45 Capítulo 2 A Teoria Psicanalítica Clássica de Sigmund Freud 49 Introdução e Contexto 50 História Pessoal 50 A Estrutura da Personalidade 53 O Id 53 O Ego 54 O Superego 54 A Dinâmica da Personalidade 55 Instinto 55 A Distribuição e a Utilização da Energia Psíquica 58 Ansiedade 60 O Desenvolvimento da Personalidade 61 Identificação 61 Deslocamento 62 Os Mecanismos de Defesa do Ego 63 Estágios de Desenvolvimento 65 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 68 O Credo Científico de Freud 69 18 HALL LINDZEY CAMPBELL Associação Livre e Análise de Sonhos 70 Estudos de Caso de Freud 72 AutoAnálise de Freud 74 Pesquisa Atual 74 Ativação Psicodinâmica Subliminar 75 Nova Visão 3 77 Status Atual e Avaliação 78 Capítulo 3 A Teoria Analítica de Carl Jung 83 Introdução e Contexto 84 História Pessoal 85 A Estrutura da Personalidade 88 O Ego 88 O Inconsciente Pessoal 88 O Inconsciente Coletivo 88 O Self 92 As Atitudes 92 As Funções 93 Interações entre os Sistemas da Personalidade 94 A Dinâmica da Personalidade 96 Energia Psíquica 96 O Princípio da Equivalência 98 O Princípio da Entropia 98 O Uso da Energia 99 O Desenvolvimento da Personalidade 99 Causalidade Versus Teleologia 100 Sincronicidade 100 Hereditariedade 100 Estágios de Desenvolvimento 101 Progressão e Regressão 102 O Processo de Individuação 103 A Função Transcendente 103 Sublimação e Repressão 103 Simbolização 104 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 105 Estudos Experimentais de Complexos 105 Estudos de Caso 105 Estudos Comparativos de Mitologia Religião e as Ciências Ocultas 106 Sonhos 107 Pesquisa Atual 108 A Tipologia de Jung 108 O Indicador de Tipo MyersBriggs 109 Status Atual e Avaliação 111 TEORIAS DA PERSONALIDADE 19 Capítulo 4 Teorias Psicológicas Sociais Adler Fromm Horney e Sullivan 115 Introdução e Contexto 116 A L F R E D A D L E R 117 Finalismo Ficcional 120 Busca de Superioridade 121 Sentimentos de Inferioridade e Compensação 121 Interesse Social 122 Estilo de Vida 123 O Self Criativo 125 Neurose 125 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 126 Ordem de Nascimento e Personalidade 126 Memórias Iniciais 126 Experiências da Infância 127 Pesquisa Atual 127 Interesse Social 127 E R I C H F R O M M 128 K A R E N H O R N E Y 133 Horney e Freud 133 Ansiedade Básica 135 As Necessidades Neuróticas 136 Três Soluções 137 Alienação 137 H A R R Y S T A C K S U L L I V A N 138 A Estrutura da Personalidade 140 Dinamismos 141 Personificações 142 Processos Cognitivos 143 A Dinâmica da Personalidade 143 Tensão 143 Transformações de Energia 144 O Desenvolvimento da Personalidade 144 Estágios de Desenvolvimento 145 Determinantes do Desenvolvimento 146 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 147 A Entrevista 147 Pesquisa sobre a Esquizofrenia 148 Status Atual e Avaliação 149 20 HALL LINDZEY CAMPBELL Capítulo 5 Erik Erikson e a Teoria Psicanalítica Contemporânea 153 Introdução e Contexto 154 Psicologia do Ego 155 Anna Freud 155 Relações Objetais 157 Heinz Kohut 159 A Fusão da Psicanálise e da Psicologia 160 George Klein 161 Robert White 162 E R I K H E R I K S O N 165 História Pessoal 165 A Teoria Psicossocial do Desenvolvimento 168 I Confiança Básica Versus Desconfiança Básica 169 II Autonomia Versus Vergonha e Dúvida 171 III Iniciativa Versus Culpa 171 IV Diligência Versus Inferioridade 172 V Identidade Versus Confusão de Identidade 173 VI Intimidade Versus Isolamento 174 VII Generatividade Versus Estagnação 174 VIII Integridade Versus Desespero 175 Um Novo Conceito de Ego 175 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 177 Histórias de Caso 177 Situações Lúdicas 177 Estudos Antropológicos 179 PsicoHistória 180 Pesquisa Atual 181 Status da Identidade 182 Outros Estágios 183 Status Intercultural 183 Status Atual e Avaliação 184 ÊNFASE NA ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 187 Capítulo 6 A Personologia de Henry Murray 189 Introdução e Contexto 190 História Pessoal 191 A Estrutura da Personalidade 194 Definição de Personalidade 195 Procedimentos e Séries 195 Programas e Planos Seriados 196 Habilidades e Realizações 196 Elementos Estáveis de Personalidade 196 TEORIAS DA PERSONALIDADE 21 A Dinâmica da Personalidade 198 Necessidade 198 Pressão 202 Redução de Tensão 203 Tema 204 Necessidade Integrada 204 UnidadeTema 205 Processos de Reinância 205 Esquema de VetorValor 205 O Desenvolvimento da Personalidade 206 Complexos Infantis 206 Determinantes GenéticoMaturacionais 209 Aprendizagem 209 Determinantes Socioculturais 210 Singularidade 210 Processos Inconscientes 210 O Processo de Socialização 210 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 211 Estudo Intensivo de Pequenos Números de Sujeitos Normais 211 O Conselho Diagnóstico 212 Instrumentos de Mensuração da Personalidade 212 Estudos Representativos 213 Pesquisa Atual 215 McClelland e os Motivos Sociais 215 Interacionismo 216 Onde Está a Pessoa 217 Psicobiografia 218 Status Atual e Avaliação 219 Capítulo 7 Gordon Allport e o Indivíduo 223 Introdução e Contexto 224 História Pessoal 224 A Estrutura e a Dinâmica da Personalidade 228 Personalidade Caráter e Temperamento 228 Traço 229 Intenções 232 O Proprium 232 Autonomia Funcional 233 A Unidade da Personalidade 236 O Desenvolvimento da Personalidade 236 O Bebê 236 A Transformação do Bebê 237 O Adulto 238 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 239 Idiográfico Versus Nomotético 239 Medidas Diretas e Indiretas da Personalidade 240 22 HALL LINDZEY CAMPBELL Estudos do Comportamento Expressivo 241 Cartas de Jenny 244 Pesquisa Atual 245 O Interacionismo e o Debate PessoaSituação Revisitados 245 Idiográfica e Idiotética 246 Allport Revisitado 248 Status Atual e Avaliação 250 Capítulo 8 A Teoria de Traço FatorialAnalítica de Raymond Cattell 253 Introdução e Contexto 254 Análise Fatorial 254 História Pessoal 256 A Natureza da Personalidade Uma Estrutura de Traços 258 Traços 259 Traços de Capacidade e de Temperamento 260 A Equação de Especificação 263 Traços Dinâmicos 265 Cattell e Freud 269 O Desenvolvimento da Personalidade 270 Análise da HereditariedadeAmbiente 272 Aprendizagem 272 Integração da Maturação e da Aprendizagem 273 O Contexto Social 273 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 274 Um Estudo Fatorial Analítico de um Único Indivíduo 275 O Modelo de Personalidade dos Sistemas VIDAS 276 Pesquisa Atual 277 Os Cinco Grandes Fatores da Personalidade 277 Genética do Comportamento 281 Teoria Evolutiva da Personalidade 283 Status Atual e Avaliação 286 Capítulo 9 A Teoria de Traço Biológico de Hans Eysenck 291 Introdução e Contexto 292 História Pessoal 295 A Descrição do Temperamento 297 Extroversão e Neuroticismo 297 Psicoticismo 300 Modelos Causais 301 Eysenck 1957 301 Eysenck 1967 303 TEORIAS DA PERSONALIDADE 23 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 306 Pesquisa Atual 310 Gray 310 Zuckerman 312 Status Atual e Avaliação 312 ÊNFASE NA REALIDADE PERCEBIDA 315 Capítulo 10 A Teoria do Constructo Pessoal de George Kelly 317 Introdução e Contexto 318 K U R T L E W I N 319 A Estrutura da Personalidade 319 O Espaço de Vida 320 Diferenciação 321 Conexões entre as Regiões 322 O Número de Regiões 323 A Pessoa no Ambiente 324 A Dinâmica da Personalidade 324 Energia 325 Tensão 325 Necessidade 325 Tensão e Ação Motora 326 Valência 326 Força ou Vetor 326 Locomoção 327 O Desenvolvimento da Personalidade 328 G E O R G E K E L L Y 329 História Pessoal 329 Suposições Básicas 331 Alternativismo Construtivo 331 HomemCientista 332 Foco no Constructor 333 Motivação 333 Ser Si Mesmo 334 Constructos Pessoais 334 Escalas 335 O Postulado Fundamental e seus Corolários 336 O Contínuo da Consciência Cognitiva 340 Constructos sobre Mudança 340 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 341 Pesquisa Atual 343 Status Atual e Avaliação 344 24 HALL LINDZEY CAMPBELL Capítulo 11 A Teoria de Carl Rogers Centrada na Pessoa 347 Introdução e Contexto 348 K U R T G O L D S T E I N 349 A Estrutura do Organismo 350 A Dinâmica do Organismo 352 Equalização 352 AutoRealização 352 Chegar a um Acordo com o Ambiente 353 O Desenvolvimento do Organismo 354 A B R A H A M M A S L O W 354 Suposições sobre a Natureza Humana 356 Hierarquia de Necessidades 358 Síndromes 361 AutoRealizadores 362 C A R L R O G E R S 363 História Pessoal 365 A Estrutura da Personalidade 367 O Organismo 367 O Self 368 Organismo e Self Congruência e Incongruência 369 A Dinâmica da Personalidade 369 O Desenvolvimento da Personalidade 371 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 374 Estudos Qualitativos 374 Análise de Conteúdo 375 Escalas de Avaliação 375 Estudos com a TécnicaQ 376 Estudos Experimentais do Autoconceito 380 Outras Abordagens Empíricas 380 Pesquisa Atual 380 Teoria da Dissonância Cognitiva 381 Teoria da Autodiscrepância 382 Autoconceito Dinâmico 383 Status Atual e Avaliação 384 ÊNFASE NA APRENDIZAGEM 387 Capítulo 12 O Condicionamento Operante de B F Skinner 389 Introdução e Contexto 390 História Pessoal 390 TEORIAS DA PERSONALIDADE 25 Algumas Considerações Gerais 394 Legitimidade do Comportamento 394 Análise Funcional 395 A Estrutura da Personalidade 398 A Dinâmica da Personalidade 399 O Desenvolvimento da Personalidade 401 Condicionamento Clássico 401 Condicionamento Operante 402 Esquemas de Reforço 403 Comportamento Supersticioso 404 Reforço Secundário 405 Generalização e Discriminação de Estímulo 406 Comportamento Social 407 Comportamento Anormal 408 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 411 Pesquisa Atual 413 Status Atual e Avaliação 414 Capítulo 13 A Teoria de EstímuloResposta de Dollard e Miller 419 Introdução e Contexto 420 Histórias Pessoais 422 Um Experimento Ilustrativo 425 A Estrutura da Personalidade 430 A Dinâmica da Personalidade 430 O Desenvolvimento da Personalidade 431 Equipamento Inato 431 O Processo de Aprendizagem 431 Drive Secundário e o Processo de Aprendizagem 432 Processos Mentais Superiores 433 O Contexto Social 435 Estágios Críticos de Desenvolvimento 435 Aplicações do Modelo 437 Processos Inconscientes 437 Conflito 439 Como as Neuroses São Aprendidas 441 Psicoterapia 443 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 444 Pesquisa Atual 446 Wolpe 446 Seligman 449 Status Atual e Avaliação 454 26 HALL LINDZEY CAMPBELL Capítulo 14 Albert Bandura e as Teorias da Aprendizagem Social 459 Introdução e Contexto 460 A L B E R T B A N D U R A 460 História Pessoal 460 Reconceitualização do Reforço 463 Princípios da Aprendizagem Observacional 464 Processos de Atenção 464 Processos de Retenção 465 Processos de Produção 465 Processos Motivacionais 465 Determinismo Recíproco 467 O AutoSistema 468 AutoObservação 469 Processo de Julgamento 469 AutoReação 470 Aplicações à Terapia 471 AutoEficácia 472 Pesquisa Característica e Métodos de Pesquisa 476 W A L T E R M I S C H E L 478 Variáveis Cognitivas Pessoais 480 O Paradoxo de Consistência e os Protótipos Cognitivos 482 Uma Teoria da Personalidade de Sistema CognitivoAfetivo 483 Status Atual e Avaliação 485 PERSPECTIVAS E CONCLUSÕES 489 Capítulo 15 A Teoria da Personalidade em Perspectiva 491 A Comparação das Teorias da Personalidade 492 Algumas Reflexões sobre a Atual Teoria da Personalidade 500 Síntese Teórica versus Multiplicidade Teórica 504 Referências Bibliográficas 507 Índice Onomástico 565 Índice 577 TEORIAS DA PERSONALIDADE 27 CAPÍTULO 1 A Natureza da Teoria da Personalidade A TEORIA DA PERSONALIDADE E A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 28 O QUE É PERSONALIDADE 32 O QUE É UMA TEORIA 33 UMA TEORIA DA PERSONALIDADE 36 A TEORIA DA PERSONALIDADE E OUTRAS TEORIAS PSICOLÓGICAS 38 A COMPARAÇÃO DAS TEORIAS DA PERSONALIDADE 39 Atributos Formais 39 Atributos Substantivos 40 28 HALL LINDZEY CAMPBELL Neste volume apresentaremos um resumo organiza do das principais teorias da personalidade contempo râneas Além de oferecer um sumário de cada teoria discutiremos pesquisas relevantes e faremos uma ava liação geral da teoria Mas antes de prosseguir deve mos falar um pouco sobre o que são as teorias da per sonalidade e como as várias teorias da personalidade podem ser distinguidas umas das outras Também co locaremos essas teorias em um contexto geral relaci onandoas ao que aconteceu historicamente na psico logia e situandoas no cenário contemporâneo Neste capítulo começamos com um esboço bem geral e um pouco informal do papel da teoria da per sonalidade no desenvolvimento da psicologia segui do por uma discussão sobre o que significam os ter mos personalidade e teoria Partindo dessas considera ções é fácil passar para a pergunta o que constitui uma teoria da personalidade Além disso vamos con siderar brevemente a relação entre teoria da persona lidade e outras formas de teoria psicológica e apre sentar algumas dimensões por meio das quais as teorias da personalidade podem ser comparadas en tre si A TEORIA DA PERSONALIDADE E A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA Um exame abrangente do desenvolvimento da teoria da personalidade deve certamente começar com as concepções do homem propostas por grandes estudi osos clássicos como Hipócrates Platão e Aristóteles Um relato adequado também teria de incluir a contri buição de dezenas de pensadores como Aquino Ben tham Comte Hobbes Kierkegaard Locke Nietzsche e Machiavelli que viveram nos séculos intervenientes e cujas idéias ainda são detectadas em formulações contemporâneas A nossa intenção aqui não é a de tentar esse tipo de reconstrução geral O nosso objeti vo é bem mais limitado Nós simplesmente vamos con siderar em termos amplos o papel geral que a teoria da personalidade desempenhou no desenvolvimento da psicologia durante o século passado Para começar examinaremos cinco fontes de in fluência sobre a teoria da personalidade relativamen te recentes Uma tradição de observação clínica co meçando com Charcot e Janet mas incluindo especi almente Freud Jung e McDougall fez mais para de terminar a natureza da teoria da personalidade do que qualquer outro fator isolado Nós logo examinaremos alguns dos efeitos desse movimento Uma segunda li nha de influência vem da tradição Gestáltica e de Wi lliam Stern Esses teóricos estavam muito impressio nados com a unidade de comportamento e conseqüen temente convencidos de que um estudo fragmenta do de pequenos elementos do comportamento jamais poderia ser esclarecedor Como iremos descobrir esse ponto de vista está profundamente inserido na atual teoria da personalidade Também temos o impacto mais recente da psicologia experimental em geral e da teoria da aprendizagem em particular Dessa linha surgiram uma crescente preocupação com a pesquisa empírica cuidadosamente controlada um melhor en tendimento da natureza da construção da teoria e uma apreciação mais detalhada de como o comportamen to é modificado Um quarto determinante é represen tado pela tradição psicométrica com seu foco na men suração e no estudo das diferenças individuais Essa fonte proporcionou uma sofisticação cada vez maior nas dimensões de avaliação ou mensuração do com portamento e na análise quantitativa dos dados Fi nalmente a genética e a fisiologia desempenharam um papel crucial nas tentativas de identificar e de descre ver as características de personalidade Tal influência tem sido particularmente forte em modelos recentes como os propostos por Eysenck ver Capítulo 9 e os Cinco Grandes teóricos ver Capítulo 8 mas também está clara no trabalho inicial de Freud e em declara ções como a de Henry Murray Nenhum cérebro nenhuma personalidade O background específico do qual emergiu cada uma das teorias apresentadas neste livro é discutido bre vemente nas seguintes fontes discussões históricas sobre o desenvolvimento da teoria contemporânea da personalidade são encontradas em Allport 1937 1961 Boring 1950 e Sanford 1963 1985 o sta tus atual da teoria da personalidade e da pesquisa é resumido em uma série de capítulos na Annual Revi ew of Psychology iniciando em 1950 ver p ex Buss 1991 Carson 1989 Digman 1990 Magnusson To restad 1993 Pervin 1985 Revelle 1995 Rorer Widiger 1983 Wiggins Pincus 1992 Existem ou tros tratamentos gerais do campo que valem a pena TEORIAS DA PERSONALIDADE 29 ler incluindo McAdams 1994 Maddi 1996 Mis chel 1993 Monte 1995 Pervin 1993 1996 Pe terson 1992 e Ryckman 1992 Vamos tratar agora das características distintivas da teoria da personalidade Embora esse corpo de te orias faça parte do amplo campo da psicologia ainda existem diferenças apreciáveis entre a teoria e a pes quisa da personalidade e a pesquisa e a teoria em outras áreas da psicologia Essas diferenças são espe cialmente evidentes em relação à teoria da personali dade em seus estágios iniciais de desenvolvimento e elas ainda existem apesar da grande variação entre as próprias teorias da personalidade As notáveis dife renças entre as teorias da personalidade entretanto significam que quase qualquer declaração que se apli que com exatidão detalhada a uma teoria da persona lidade será um pouco inexata quando aplicada a mui tas outras teorias Apesar disso existem qualidades modais ou tendências centrais inerentes na maioria das teorias da personalidade e é nelas que focalizare mos nossa discussão Não discutimos que existam congruências impor tantes nas correntes de influência que determinaram os caminhos iniciais da psicologia geral e da teoria da personalidade mas também existem diferenças signi ficativas É certo afirmar que Darwin foi um fator im portante no desenvolvimento da psicologia geral e da psicologia da personalidade Também é verdade que a fisiologia do século XIX teve sua influência sobre os teóricos da personalidade assim como um efeito acen tuado sobre a psicologia geral No entanto o princi pal teor dos fatores que influenciaram esses dois gru pos durante os últimos três quartos de século foi perceptivelmente diferente Enquanto os teóricos da personalidade estavam tirando suas idéias mais im portantes principalmente da experiência clínica os psi cólogos experimentais estavam prestando atenção aos achados do laboratório experimental Os nomes Char cot Freud Janet McDougall e Stern estão em pri meiro plano no trabalho dos primeiros teóricos da personalidade mas encontramos Helmholtz Pavlov Thorndike Watson e Wundt em um papel compará vel na psicologia experimental Os experimentalistas derivaram suas inspirações e seus valores das ciências naturais enquanto os teóricos da personalidade per maneceram mais próximos dos dados clínicos e de suas próprias reconstruções criativas Um grupo recebeu com satisfação os sentimentos intuitivos e os insights mas desprezou as armadilhas da ciência com sua res trição sobre a imaginação e suas habilidades técnicas rigorosas O outro aplaudiu o rigor e a precisão da investigação delimitada e esquivouse desgostoso do uso desenfreado do julgamento clínico e da interpre tação imaginativa No final ficou claro que a psicolo gia experimental tinha pouco a dizer com referência aos problemas que interessavam ao teórico da perso nalidade e que este manifestava pouca consideração pelos problemas de importância capital para o psicó logo experimental Os estudos recentes sugerem que Wundt pode ter sido uma exceção a essas generalizações Por exem plo Stelmack e Stalikas 1991 descrevem como a classificação de Wundt dos temperamentos baseada em duas dimensões a força das emoções e a variabili dade corresponde às subseqüentes descrições ofere cidas por Hans Eysenck ver Capítulo 9 baseadas nas dimensões subjacentes de neuroticismo e extroversão Apesar dessas conexões as duas disciplinas da psico logia científica Cronbach 1957 1975 permanece ram notavelmente separadas Sabemos bem que a psicologia se desenvolveu no século XIX como fruto da filosofia e da fisiologia ex perimental A origem da teoria da personalidade deve muito mais à profissão médica e às condições da prá tica médica De fato os primeiros gigantes nessa área Freud Jung e McDougall tinham formação em me dicina mas trabalhavam também como psicoterapeu tas Esse vínculo histórico entre a teoria da personali dade e a aplicação prática permaneceu evidente durante todo o desenvolvimento da psicologia e ofe rece uma importante distinção entre esse ramo da te oria e outros tipos de teoria psicológica Duas generalizações referentes à teoria da perso nalidade são consistentes com o que dissemos até ago ra Primeiro está claro que a teoria da personalidade ocupou um papel dissidente no desenvolvimento da psi cologia Os teóricos da personalidade foram rebeldes em sua época rebeldes na medicina e na ciência ex perimental rebeldes contra idéias convencionais e práticas usuais rebeldes contra métodos típicos e téc nicas de pesquisa respeitadas e acima de tudo rebel des contra a teoria aceita e os problemas normativos O fato de que a teoria da personalidade jamais se in seriu profundamente na psicologia acadêmica domi nante tem várias implicações importantes Por um lado isso possibilitou libertar a teoria da personalida 30 HALL LINDZEY CAMPBELL de das garras mortais dos modos convencionais de pensamento e dos preconceitos referentes ao compor tamento humano Ao ficar relativamente fora da ins tituição da psicologia era mais fácil para os teóricos da personalidade questionar ou rejeitar as suposições amplamente aceitas pelos psicólogos Por outro lado essa falta de envolvimento também os eximia de par te da disciplina e da responsabilidade por uma for mulação razoavelmente sistemática e organizada que faz parte da herança do cientista bem integrado soci almente Uma segunda generalização é que as teorias da personalidade são funcionais em sua orientação Elas se preocupam com questões que fazem diferença no ajustamento e na sobrevivência do indivíduo Em uma época na qual o psicólogo experimental estava mer gulhado em questões como a existência do pensamento sem imagens a velocidade dos impulsos nervosos a especificação do conteúdo da mente humana consci ente normal e as controvérsias das localizações cere brais o teórico da personalidade queria saber por que alguns indivíduos desenvolviam sintomas neuróticos incapacitantes na ausência de patologia orgânica qual era o papel do trauma infantil no ajustamento adulto em que condições a saúde mental poderia ser recupe rada e quais eram as maiores motivações subjacentes aos comportamentos humanos Assim foi o teórico da personalidade e apenas o teórico da personalida de que nos tempos iniciais da psicologia lidou com questões que para a pessoa comum pareciam estar no âmago de uma ciência psicológica bemsucedida Certos progressos entusiasmantes no campo continu am a refletir essa orientação funcionalista Um exem plo claro é David Buss 1991 que emprega a metate oria evolutiva para identificar as metas importantes para os seres humanos os mecanismos psicológicos resultantes e as diferenças individuais nas estratégias comportamentais empregadas pelas pessoas para atin gir as metas ou para resolver problemas de adapta ção O leitor não deve interpretar o que acabamos de dizer como uma acusação à psicologia geral e um elo gio à teoria da personalidade Ainda não está claro se o caminho para uma teoria abrangente e útil do com portamento humano resultará mais rapidamente do trabalho daqueles que têm essa teoria como objetivo direto ou dos esforços daqueles que focalizam pro blemas relativamente específicos e limitados A estra tégia de avanço na ciência nunca é fácil de especifi car e o público geral normalmente não é considerado um tribunal adequado para decidir quais problemas devem ser enfocados Em outras palavras embora seja um fato inquestionável que os teóricos da personali dade trataram de questões que pareciam centrais e importantes para o observador típico do comporta mento humano resta ver se tal disposição para tratar dessas questões fará avançar a ciência da psicologia Como dissemos não há nenhum mistério sobre a razão pela qual as teorias da personalidade eram mais amplas em escopo e mais práticas em orientação do que as formulações da maioria dos outros psicólogos As grandes figuras da psicologia acadêmica do século XIX foram homens como Wundt Helmholtz Ebbin ghaus Titchener e Külpe que executaram seu traba lho dentro de ambientes universitários com poucas pressões do mundo exterior Eles eram livres para se guir suas inclinações intelectuais com pouca ou ne nhuma compulsão de tratar daquilo que os outros consideravam importante ou significativo De fato eles decidiam o que era significativo em grande parte por seus próprios interesses e atividades Em contraste os primeiros teóricos da personalidade eram pratican tes além de estudiosos Defrontandose com os pro blemas da vida cotidiana agravados por uma neuro se ou algo pior era natural que se dedicassem a formulações que contribuíssem para esses problemas Um conjunto de categorias para a análise das emo ções que pudesse ser aplicado por sujeitos treinados em um ambiente de laboratório era de pouco inte resse para um terapeuta que diariamente observava a operação de emoções que estavam prejudicando in capacitando ou inclusive matando seres humanos como ele Assim o forte tom funcional das teorias da personalidade e sua preocupação com problemas im portantes para a sobrevivência dos indivíduos pare cem uma decorrência natural do ambiente em que essas teorias se desenvolveram Está claro que os teóricos da personalidade costu mavam atribuir um papel crucial aos processos motiva cionais Em uma época na qual muitos psicólogos ig noravam a motivação ou tentavam minimizar a contribuição desses fatores em seus estudos os teóri cos da personalidade viam nessas mesmas variáveis a chave para o entendimento do comportamento hu mano Freud e McDougall foram os primeiros a consi derar seriamente o processo motivacional A grande TEORIAS DA PERSONALIDADE 31 lacuna entre a arena da vida e a teoria desenvolvida por psicólogos de laboratório é retratada por McDou gall quando ele justifica suas tentativas de desenvol ver uma teoria adequada do comportamento social que era mais uma teoria da personalidade do que uma teoria do comportamento social O ramo da psicologia mais importante para as ciências sociais é aquele que trata das fontes de ação humana dos impulsos e motivos que sus tentam a atividade mental e corporal e regulam a conduta e este de todos os ramos da psicologia é o que permanece no estado mais atrasado em que ainda reinam a maior obscuridade impreci são e confusão McDougall 1908 p 23 Assim variáveis que eram vistas primariamente como um incômodo para o psicólogo experimental passa ram a ser alvo de estudo intensivo e interesse focal para o teórico da personalidade Relacionada a esse interesse no funcional e no motivacional está a convicção do teórico da persona lidade de que um entendimento adequado do compor tamento humano só vai surgir do estudo da pessoa em sua totalidade A maioria dos psicólogos da personali dade insistia que o sujeito deveria ser visto como uma pessoa inteira funcionando em um habitat natural Eles defendiam ardorosamente o estudo do comportamen to no contexto com cada evento comportamental exa minado e interpretado em relação ao resto do com portamento do indivíduo Esse ponto de vista era um derivativo natural da prática clínica em que a pessoa inteira se apresentava para a cura e em que era real mente difícil limitar o exame a uma modalidade sen sorial ou a uma série restrita de experiências Se aceitamos que a intenção da maioria dos teóri cos da personalidade é promover o estudo da pessoa em sua totalidade nãosegmentada é fácil compre ender porque muitos observadores consideram que um dos aspectos mais distintivos da teoria da personali dade é a sua função como uma teoria integrativa En quanto os psicólogos em geral têm demonstrado uma especialização cada vez maior fazendo alguns recla marem que estavam aprendendo cada vez mais sobre cada vez menos o teórico da personalidade aceitou uma responsabilidade pelo menos parcial de reunir e organizar os diversos achados dos especialistas O experimentalista poderia saber muito sobre habilida des motoras audição percepção ou visão mas em geral sabia relativamente pouco sobre como essas fun ções especiais se relacionavam umas com as outras O psicólogo da personalidade estava nesse sentido mais preocupado com reconstrução ou integração do que com análise ou estudo segmental do comportamento A partir dessas considerações surge a concepção um tanto romântica do teórico da personalidade como o indivíduo que vai montar o quebracabeça apresenta do pelos achados distintos de estudos separados den tro das várias especialidades que constituem a psico logia Devemos observar que vários autores lamentaram a falta de atenção por parte dos pesquisadores da personalidade ao foco do teórico da personalidade na pessoa em sua totalidade Rae Carlson escreveu O empobrecimento atual da pesquisa da personali dade é perturbador porque indica que a meta de es tudar pessoas integrais foi abandonada 1971 p 207 ver Kenrick 1986 para uma réplica Preocupações semelhantes foram levantadas por White 1981 e Sanford 1985 Em termos amplos então o que distingue os teóri cos da personalidade dos tradicionais teóricos da psico logia Eles são mais especulativos e menos ligados a operações experimentais ou de mensuração A visão rígida do positivismo afetou muito menos o psicólogo da personalidade do que o psicólogo experimental Eles desenvolvem teorias que são multidimensionais e mais complexas do que as da psicologia geral Em conseqüência suas teorias tendem a ser um pouco mais vagas e menos bemespecificadas do que as teo rias do experimentalista Estão dispostos a aceitar qualquer aspecto do comportamento que possua im portância funcional como um dado legítimo para seu modelo teórico ao passo que os psicólogos mais ex perimentais se contentam em fixar sua atenção em uma série limitada de observações ou registros Eles insistem que um entendimento adequado do compor tamento individual só pode ser atingido quando ele for estudado em um contexto amplo que inclua a pes soa total em funcionamento O teórico da personali dade encara a motivação o porquê ou o ímpeto sub jacente do comportamento como o problema empírico e teórico crucial Em contraste o experimentalista o considera como um entre vários problemas e lida com ele por meio de um pequeno número de conceitos es treitamente ligados aos processos fisiológicos 32 HALL LINDZEY CAMPBELL O QUE É PERSONALIDADE Existem poucas palavras na nossa língua com tanto fascínio para o público em geral como o termo perso nalidade Embora a palavra seja usada em vários sen tidos a maioria desses significados populares se en caixa em um ou dois tópicos O primeiro uso iguala o termo à habilidade ou à perícia social A personalida de de um indivíduo é avaliada por meio da efetivida de com que ele consegue eliciar reações positivas em uma variedade de pessoas em diferentes circunstân cias É nesse sentido que a professora que se refere a um aluno como apresentando um problema de perso nalidade provavelmente está indicando que suas ha bilidades sociais não são adequadas para manter rela ções satisfatórias com os colegas e com a professora O segundo uso considera a personalidade do indiví duo como consistindose na impressão mais destaca da ou saliente que ele cria nos outros Assim pode mos dizer que uma pessoa tem uma personalidade agressiva ou uma personalidade submissa ou uma personalidade temerosa Em cada caso o observa dor seleciona um atributo ou uma qualidade altamente típica do sujeito que presumivelmente é uma parte importante da impressão global criada nos outros e identifica sua personalidade por esse termo Está cla ro que existe um elemento de avaliação em ambos os usos As personalidades conforme descritas comumen te são boas e más Embora a diversidade no uso comum da palavra personalidade possa parecer considerável ela é su perada pela variedade de significados atribuídos ao termo pelos psicólogos Em um exame exaustivo da literatura Allport 1937 extraiu quase cinqüenta de finições diferentes que classificou em algumas cate gorias amplas Nós aqui examinaremos apenas algu mas dessas definições Inicialmente é importante distinguir entre o que Allport chama de definição biossocial e definição bio física A definição biossocial mostra uma estreita cor respondência com o uso popular do termo uma vez que equipara personalidade ao valor da impressão social que o indivíduo provoca É a reação dos ou tros indivíduos ao sujeito o que define a sua persona lidade Podemos inclusive afirmar que o indivíduo não possui nenhuma personalidade a não ser aquela pro porcionada pela resposta dos outros Allport contesta vigorosamente a implicação de que a personalidade reside apenas no outroqueresponde e sugere ser preferível uma definição biofísica que baseie firmemen te a personalidade em características ou qualidades do sujeito De acordo com essa última definição a personalidade tem um lado orgânico assim como um lado aparente e pode ser vinculada a qualidades es pecíficas do indivíduo suscetíveis à descrição e à men suração objetivas Um outro tipo importante de definição é a globa lizante ou do tipo coletânea Essa definição abrange a personalidade por enumeração O termo personalida de é usado aqui para incluir tudo sobre o indivíduo O teórico comumente lista os conceitos considerados de maior importância para descrever o indivíduo e suge re que a personalidade consiste nisso Outras defini ções enfatizam principalmente a função integrativa ou organizadora da personalidade Tais definições sugerem que a personalidade é a organização ou o padrão dado às várias respostas distintas do indiví duo Alternativamente elas sugerem que a organiza ção resulta da personalidade que é uma força ativa dentro do indivíduo A personalidade é aquilo que dá ordem e congruência a todos os comportamentos di ferentes apresentados pelo indivíduo Alguns teóricos enfatizam a função da personalidade na mediação do ajustamento do indivíduo A personalidade consiste nos esforços de ajustamento variados e no entanto típicos realizados pelo indivíduo Em outras defini ções a personalidade é igualada aos aspectos únicos ou individuais do comportamento Nesse caso o ter mo designa aquilo que é distintivo no indivíduo e o diferencia de todas as outras pessoas Finalmente al guns teóricos consideram que a personalidade repre senta a essência da condição humana Essas defini ções sugerem que a personalidade se refere àquela parte do indivíduo que é mais representativa da pes soa não apenas porque a diferencia dos outros mas principalmente porque é aquilo que a pessoa realmente é A sugestão de Allport de que a personalidade é o que um homem realmente é ilustra esse tipo de defi nição A implicação aqui é que a personalidade con siste naquilo que é na análise final mais típico e ca racterístico da pessoa Poderíamos passar muito mais tempo tratando do problema de definir a personalidade mas o leitor en contrará muitas definições detalhadas de personali dade nos capítulos seguintes Além disso estamos convencidos de que nenhuma definição substantiva de TEORIAS DA PERSONALIDADE 33 personalidade pode ser generalizada Com isso quere mos dizer que a maneira pela qual determinadas pes soas definem a personalidade dependerá inteiramen te de sua preferência teórica Assim se a teoria enfatiza a singularidade e as qualidades organizadas e unifi cadas do comportamento é natural que a definição de personalidade inclua a singularidade e a organiza ção como atributos importantes da personalidade Uma vez que o indivíduo tenha criado ou adotado uma dada teoria da personalidade a definição de per sonalidade será claramente indicada pela teoria As sim acreditamos que a personalidade é definida pelos conceitos empíricos específicos que fazem parte da teo ria da personalidade empregada pelo observador A per sonalidade consiste concretamente em uma série de valores ou termos descritivos que descrevem o indiví duo que está sendo estudado em termos das variáveis ou de dimensões que ocupam uma posição central den tro de uma teoria específica Se tais definições parecerem insatisfatórias que o leitor se console com a idéia de que encontrará vári as definições específicas nas páginas seguintes Qual quer uma delas podese tornar a definição do leitor se ele adotar aquela determinada teoria Em outras pa lavras estamos dizendo que é impossível definir a per sonalidade sem concordar com a estrutura de refe rência teórica dentro da qual a personalidade vai ser examinada Se tentássemos agora chegar a uma úni ca definição substantiva estaríamos pondo fim im plicitamente a muitas das questões teóricas que pre tendemos explorar O QUE É UMA TEORIA Assim como a maioria das pessoas sabe em que con siste a personalidade também sabe o que é uma teo ria A convicção mais comum é a de que uma teoria existe em oposição a um fato Nessa visão ela é uma hipótese nãocomprovada ou uma especulação refe rente à realidade que ainda não está definitivamente confirmada Quando uma teoria é confirmada ela se torna um fato Existe certa correspondência entre essa visão e o uso que defendemos aqui pois concorda mos que não sabemos se uma teoria é uma verdade Também existe um elemento de discordância pois a visão do senso comum afirma que ela se tornará ver dadeira ou fatual quando os dados confirmatórios ti verem sido coletados Na nossa visão as teorias nun ca são verdadeiras ou falsas embora suas implicações ou derivações possam ser As passagens a seguir são um resumo relativamen te convencional do pensamento de metodologistas ou lógicos da ciência Certamente não existe concordân cia completa em relação a todas as questões discuti das mas o ponto de vista apresentado pretende ser modal em vez de original O estudante que está co meçando talvez tenha dificuldade para entender in teiramente algumas dessas idéias e seria justo dizer que não é essencial entendêlas para poder ler e apre ciar o restante do livro Por outro lado se o leitor es tiver seriamente interessado no campo e ainda não se aprofundou nessa área de estudo deve consultar a literatura relevante para boas introduções apropria das a psicólogos ver Gholson Barker 1985 a Intro dução em Leahey 1991 Manicas Secord 1983 Rorer Widiger 1983 e Suppe 1977 para trata mentos gerais examine Bechtel 1988 Eagle 1984 Earman 1992 Kuhn 1970 Lakatos Musgrave 1970 Popper 1962 1992 Vamos começar examinando o que é uma teoria e depois tratar da questão mais importante ou seja quais são as funções de uma teoria Em primeiro lu gar uma teoria é um conjunto de convenções criado pelo teórico Compreender uma teoria como um con junto de convenções enfatiza o fato de que as teorias não são dadas ou predeterminadas pela natureza pelos dados ou por qualquer outro processo determi nante Assim como as mesmas experiências ou obser vações podem levar um poeta ou um romancista a criar uma entre as múltiplas formas de arte diferen tes também os dados da investigação podem ser in corporados a um entre os incontáveis esquemas teóri cos diferentes O teórico ao escolher uma determinada opção para representar os eventos em que está inte ressado exerce uma escolha criativa livre que só é diferente da do artista nos tipos de evidência que fo caliza e nos termos em que seu aproveitamento será julgado Nós estamos enfatizando aqui a maneira cri ativa e no entanto arbitrária pela qual as teorias são construídas Não existe nenhuma fórmula para a cons trução de uma teoria proveitosa assim como não existe nenhuma fórmula para fazermos contribuições literá rias duradouras 34 HALL LINDZEY CAMPBELL Já que uma teoria é uma escolha convencional e não algo inevitável ou prescrito por relações empíri cas conhecidas a veracidade ou a falsidade não são qualidades a serem atribuídas a uma teoria Uma teo ria só é útil ou inútil Essas qualidades são definidas como veremos principalmente em termos de quão efi cientemente a teoria pode gerar predições ou propo sições relativas a eventos relevantes que acabarão sen do confirmados verdade Sejamos um pouco mais específicos Uma teoria em sua forma ideal deve conter duas partes uma sé rie de suposições relevantes sistematicamente relaci onadas uma à outra e um conjunto de definições em píricas As suposições devem ser relevantes no sentido de ter relação com os eventos empíricos aos quais a teo ria se refere Se for uma teoria sobre a audição as suposições precisam ter alguma relação com o pro cesso da audição se for uma teoria da percepção as suposições devem referirse ao processo perceptual A natureza dessas suposições geralmente representa a qualidade distintiva da teoria O bom teórico é a pessoa capaz de pôr às claras suposições úteis ou pre ditivas referentes aos eventos empíricos em um domí nio de interesse Dependendo da natureza da teoria essas suposições podem ser muito gerais ou bem es pecíficas Um teórico comportamental por exemplo optaria por supor que todo o comportamento é moti vado que os eventos que ocorrem cedo na vida são os determinantes mais importantes do comportamento adulto ou que o comportamento de diferentes espé cies animais é governado pelos mesmos princípios gerais A forma dessas suposições também pode vari ar da precisão de uma notação matemática à relativa inexatidão da maioria das suposições que acabamos de usar como ilustração Não só as suposições devem ser enunciadas clara mente mas também as suposições e os elementos da teoria precisam estar explicitamente combinados e relacionados uns aos outros Isto é deve haver regras para a interação sistemática entre as suposições e os conceitos nelas inseridos Para dar à teoria consistên cia lógica e permitir o processo de derivação essas relações internas necessitam estar claras Sem essa es pecificação seria difícil ou impossível extrair da teoria conseqüências empíricas Devido à sua semelhança com as regras de gramática essas declarações são às vezes referidas como a sintaxe da teoria Por exem plo um teórico poderia escolher supor que um au mento na ansiedade levaria a um decréscimo no de sempenho motor Além disso ele poderia supor que um aumento na autoestima levaria a uma melhora no desempenho motor Se não soubermos nada além disso a relação entre essas duas suposições seria in determinante Precisamos descobrir algo sobre a rela ção entre ansiedade e autoestima antes de podermos fazer predições sobre o que pode ocorrer nas circuns tâncias em que ambas as variáveis estejam envolvi das Um enunciado adequado das suposições teóricas daria ao usuário da teoria uma clara especificação da relação entre essas duas suposições As definições empíricas definições coordenativas permitem a interação mais ou menos precisa de cer tos termos ou conceitos da teoria com os dados empí ricos Assim por meio dessas definições a teoria en tra em contato definido com a realidade ou com os dados observacionais em certos locais prescritos Elas freqüentemente são chamadas de definições opera cionais porque tentam especificar operações pelas quais as variáveis ou os conceitos relevantes podem ser medidos Seria seguro dizer que para que uma teoria contribua para uma disciplina empírica ela deve poder ser traduzida empiricamente Por outro lado deve estar claro que essas definições existem em um contínuo que varia da especificação completa e exata até uma declaração muito geral e qualitativa Embora quanto mais precisão melhor uma insistência inicial em uma especificação completa pode destruir muitos caminhos proveitosos de investigação Definir a inte ligência simplesmente como o que os testes de inteli gência medem ou igualar a ansiedade unicamente a certas mudanças fisiológicas pode ser exato mas ne nhuma definição isolada provavelmente levará a idéi as ou a investigações muito produtivas A atitude ade quada em relação a definições empíricas é a de que devem ser tão precisas quanto as condições presentes no campo relevante permitem Vimos em termos gerais no que consiste uma teoria A pergunta seguinte é o que ela faz Primeiro e mais importante ela leva à coleção ou à observação de relações empíricas relevantes ainda nãoobservadas A teoria deve conduzir à expansão sistemática do co nhecimento referente aos fenômenos de interesse e essa expansão deve idealmente ser mediada ou esti mulada pela derivação de proposições empíricas es pecíficas a partir da teoria declarações hipóteses pre TEORIAS DA PERSONALIDADE 35 dições sujeitas a testes empíricos Geralmente o âmago de qualquer ciência está na descoberta de re lacionamentos empíricos estáveis entre eventos ou variáveis A função de uma teoria é promover esse processo de uma maneira sistemática A teoria pode ser vista como uma espécie de moinho de proposi ções moendo declarações empíricas relacionadas que podem então ser confirmadas ou rejeitadas à luz de dados empíricos adequadamente controlados Só as proposições ou as idéias derivadas da teoria é que es tão abertas a testes empíricos A teoria ela mesma é suposta e sua aceitação ou rejeição é determinada por sua utilidade não por sua veracidade ou falsida de Nesse caso a utilidade tem dois componentes verificabilidade e abrangência A verificabilidade se refere à capacidade da teoria de gerar predições que são confirmadas quando coletamos os dados empíri cos relevantes A abrangência se refere ao alcance ou completude dessas derivações Podemos ter uma teo ria que gera conseqüências freqüentemente confirma das mas que lida apenas com alguns aspectos dos fe nômenos que nos interessam Idealmente a teoria deve levar a predições acuradas que tratem de forma geral ou inclusiva os eventos empíricos que ela pre tende abranger É importante distinguir entre o que pode ser cha mado de geração sistemática e geração heurística de pesquisa Está claro que no caso ideal a teoria per mite a derivação de proposições específicas testáveis e estas por sua vez levam a estudos empíricos espe cíficos Entretanto também acontece que muitas teo rias como por exemplo as de Freud e Darwin exer cem um grande efeito sobre os caminhos investigativos sem a mediação de proposições explícitas Essa capa cidade de uma teoria gerar pesquisa ao sugerir idéias ou inclusive ao despertar descrença e resistência pode ser referida como a influência heurística da pesquisa Ambos os tipos de influência são muito importantes Uma segunda função da teoria é permitir a incor poração de achados empíricos conhecidos a uma estru tura logicamente consistente e razoavelmente simples Uma teoria é um meio de organizar e integrar tudo o que é conhecido sobre um conjunto de eventos relaci onados Uma teoria adequada do comportamento psi cótico deve ser capaz de organizar tudo o que se sabe sobre a esquizofrenia e sobre as outras psicoses em uma estrutura compreensível e lógica Uma teoria da aprendizagem satisfatória deve abranger de maneira consistente todos os achados confiáveis relativos ao processo de aprendizagem As teorias sempre come çam com algo que foi observado e relatado até o mo mento Isto é as teorias começam em uma fase indu tiva e são orientadas e em certa extensão controladas por aquilo que sabemos Entretanto se as teorias não fizessem nada além de tornar consistente e ordenado o presentemente conhecido elas teriam apenas uma função menor Nessas circunstâncias o investigador persistente estaria justificado em sua convicção de que as teorias são apenas uma penugem verbal flutuando na esteira da experimentação que constitui o verda deiro trabalho da ciência O empiricista que insiste que as teorias são meramente racionalizações depois dofato daquilo que o investigador já relatou deixa de apreciar que a principal função da teoria é apontar relações novas e ainda nãoobservadas A produtivi dade da teoria é testada antesdofato não depois dofato A simplicidade ou parcimônia também é impor tante mas só depois de terem sido resolvidas as ques tões de abrangência e de verificabilidade Ela só se torna uma questão quando duas teorias geram exata mente as mesmas conseqüências À medida que as teorias diferem nas derivações que podem ser feitas referentes aos mesmos eventos empíricos a escolha entre duas teorias deve ser decidida em termos da extensão em que essas predições diferem em verifica ção Assim só quando temos uma tautologia duas teorias chegando às mesmas conclusões a partir de termos diferentes é que a simplicidade se torna uma questão importante Existem alguns exemplos dessa situação na ciência e nenhum pelo que sabemos na psicologia A simplicidade como oposta à complexi dade é uma questão de valor ou preferência pessoal na teorização da personalidade e não um atributo que deve necessariamente ser valorizado ou buscado Uma outra função da teoria é evitar que o observa dor fique ofuscado pela complexidade total dos eventos naturais ou concretos A teoria é um conjunto de ante paros e diz ao usuário que ele não precisa se preocu par com todos os aspectos do evento que está estu dando Para o observador nãotreinado qualquer evento comportamental razoavelmente complexo pa rece oferecer incontáveis meios diferentes de analisar ou de descrever o evento e realmente oferece A teoria permite que o observador abstraia a partir da complexidade natural de uma maneira sistemática e 36 HALL LINDZEY CAMPBELL eficiente As pessoas abstraem e simplificam quer usem ou não uma teoria No entanto se não seguirmos a orientação de uma teoria explícita os princípios que determinam a nossa visão ficarão escondidos em su posições implícitas e em atitudes das quais não esta mos conscientes A teoria especifica para o usuário um número limitado de dimensões variáveis ou pa râmetros mais ou menos definidos e de importância crucial Os outros aspectos da situação podem em certa extensão ser ignorados do ponto de vista desse pro blema Uma teoria útil vai detalhar instruções explíci tas sobre os tipos de dados que devem ser coletados em relação a um determinado problema Conseqüen temente como poderíamos esperar os indivíduos com posições teóricas drasticamente diferentes podem es tudar o mesmo evento empírico e fazer observações bem diferentes Nos últimos anos um crescente número de psicó logos adotou o raciocínio teórico e a terminologia de Thomas Kuhn 1970 Em uma monografia muito in teressante ainda que excessivamente simplificada Kuhn sugere que o avanço científico pode ser descrito com extrema precisão como consistindo em uma sé rie de passos revolucionários cada um acompanhado de seu próprio paradigma característico e dominante Segundo Kuhn cada campo científico emerge de ma neira desajeitada e descoordenada com o desenvol vimento de linhas diversas de investigação e de idéias teóricas que preservam sua posição autônoma e com petitiva até que um determinado conjunto de idéias assuma o status de um paradigma Ele sugere que es ses paradigmas servem para definir os problemas e os métodos legítimos de um campo de pesquisa para as próximas gerações de praticantes Eles permitiam isso porque apre sentavam duas características essenciais Sua re alização foi suficientemente inédita para atrair um grupo duradouro de adeptos afastandoos de modos concorrentes de atividade científica Simul taneamente eles estavam suficientemente abertos para deixar todo tipo de problema para o novo grupo de praticantes resolver Essas são as tradições que o historiador descreve sob rubri cas como astronomia ptolemaica ou copérni ca dinâmica aristotélica ou newtoniana óti ca corpuscular ou ótica de onda e assim por diante p 10 É interessante especular acerca do status paradig mático da teoria e da pesquisa sobre a personalidade Para aqueles que adotam este idioma parece mais fácil ver essa área como em um estado préparadigmático Isto é embora existam muitos conjuntos de idéias sis temáticas ou um pouco sistemáticas nenhum deles adquiriu uma posição de real dominância Não existe nenhuma teoria única que sirva como um paradig ma para ordenar achados conhecidos determinar a relevância ser algo estabelecido contra o qual rebel des possam rebelarse e ditar o melhor caminho para futuras investigações Alguns teóricos da personali dade começaram a tratar do status paradigmático do campo Eysenck em particular afirmou que o mode lo dimensional da personalidade oferece pelo menos o início de um paradigma no campo da personalida de 1983 p 369 ver também 1991 UMA TEORIA DA PERSONALIDADE Nós concordamos que a personalidade é definida pe los conceitos específicos contidos em uma dada teo ria que são considerados adequados para a descrição ou entendimento completos do comportamento hu mano Também concordamos que uma teoria consiste em um conjunto de suposições relacionadas referen tes aos fenômenos empíricos e às definições empíri cas relevantes que permitem que o usuário passe da teoria abstrata para a observação empírica Por sim ples acréscimo temos a implicação de que uma teoria da personalidade deve ser um conjunto de suposições relevantes para o comportamento humano juntamen te com as definições empíricas necessárias Existe tam bém a exigência de que a teoria seja relativamente abrangente Ela deve estar preparada para lidar com uma ampla variedade de comportamentos humanos ou fazer predições sobre eles De fato a teoria deve estar preparada para lidar com qualquer fenômeno comportamental que possua significado para o indiví duo O que foi dito até este ponto possui uma validade formal que todavia não se sustenta em uma análise cuidadosa das teorias existentes sobre a personalida de A nossa discussão é importante para identificar as qualidades às quais todos os teóricos aspiram e tam bém dá uma idéia de como as teorias da personalida TEORIAS DA PERSONALIDADE 37 de devem ser Entretanto está claro que no presente elas não são assim Devemos dizer uma palavra sobre como elas diferem do ideal tanto em estrutura quan to em função Em primeiro lugar como veremos a maioria das teorias carece de clareza Geralmente é bem difícil entender as suas suposições ou a sua base axiomáti ca As teorias da personalidade são freqüentemente embaladas em vistosas imagens lingüísticas que po dem servir muito bem como um meio de persuadir o leitor relutante mas que freqüentemente servem para ocultar e esconder as suposições específicas subjacen tes à teoria Em outras palavras a maioria das teorias não é apresentada de uma maneira direta e ordena da De fato muitas delas parecem mais orientadas para a persuasão do que para a exposição Relacionada a essa falta de definição está uma freqüente confusão sobre aquilo que é dado ou suposto e aquilo que é afirmado empiricamente e aberto a testes Como to dos já concordamos são apenas as derivações ou as predições geradas pela teoria que estão abertas a tes tes empíricos O restante da teoria é suposto ou dado e não deve ser julgado em termos de confirmação ou refutação e sim em termos de quão exitosamente con segue gerar proposições verificadas Em geral então a distinção entre a teoria da personalidade em si e suas implicações ou derivações muitas vezes não é mantida Uma conseqüência inevitável da falta de clareza referente à natureza das suposições subjacentes à te oria é a existência de uma séria confusão no processo de derivar declarações empíricas da teoria Assim existe a possibilidade de diferentes indivíduos usan do a mesma teoria chegarem a derivações conflitan tes Na verdade o processo de derivação na maioria das teorias da personalidade é casual obscuro e ine ficiente Isso é um reflexo não só da falta de clareza dessas teorias mas também do fato de a maioria dos teóricos da personalidade ter sido orientada para a explicação depoisdofato e não para a geração de novas predições referentes ao comportamento Final mente está claro que embora as teorias da personali dade variem em seu cuidado ao especificar definições empíricas nenhuma delas atinge um padrão muito bom em termos absolutos As declarações que acabamos de fazer sobre o sta tus formal das teorias da personalidade podem pare cer suficientemente desanimadoras para justificar o abandono das tentativas de construir uma dessas teo rias neste momento Não seria melhor esquecer no presente as teorias e focalizar os instrumentos empí ricos e os achados empíricos específicos Enfaticamen te não Tal decisão não envolve desistir de uma teo ria inadequada e ficar sem nenhuma teoria mas envolve a substituição de uma teoria implícita por uma explícita Não existe isso de nenhuma teoria conse qüentemente no momento em que tentamos esque cer as teorias por enquanto estamos na verdade em pregando suposições implícitas sobre o comporta mento pessoalmente determinadas e talvez inconsis tentes Essas suposições nãoidentificadas vão deter minar o que será estudado e como A observação de qualquer evento concreto empírico é realizada sob os ditados de alguma teoria isto é prestamos aten ção a certos fatos e ignoramos outros e um dos pro pósitos da teorização é tornar explícitas as regras que determinam esse processo de abstração A possibili dade de melhorar as suposições que estão controlan do a pesquisa é eliminada no momento em que al guém desiste de tentar definir a base teórica a partir da qual opera Por piores que sejam as teorias da personalidade quando comparadas ao ideal elas ainda representam um passo à frente considerável quando comparadas ao pensamento do observador ingênuo que está con vencido de estar abarcando ou examinando a realida de da única maneira razoável Mesmo que as teorias da personalidade não possuam o grau de clareza que poderíamos desejar sua mera existência possibilita buscarmos essa meta de maneira sistemática Dado que as teorias da personalidade geralmente não permitem um processo de derivação tão explícito quanto desejaríamos que função elas têm para o in divíduo que as maneja No mínimo elas representam um agrupamento de atitudes suposições referentes ao comportamento que de uma maneira ampla limi ta os tipos de investigação a serem considerados cru ciais ou importantes Além de estimular certos tipos gerais de pesquisa elas também oferecem parâme tros ou dimensões específicas consideradas importan tes na exploração desses problemas Assim mesmo que a teoria não ofereça uma proposição exata para ser testada ela orienta o teórico para certas áreas de problema e indica que determinadas variáveis são de importância central no estudo desses problemas Além disso temos de considerar o valor heurístico dessas 38 HALL LINDZEY CAMPBELL teorias Tomadas como grupo as teorias da personali dade são altamente provocativas e como iremos des cobrir levaram a muitas pesquisas mesmo que relati vamente poucas tenham sido o resultado de um processo formal de derivação Em outras palavras a capacidade dessas teorias de gerar idéias de estimu lar a curiosidade de despertar dúvidas ou de levar a convicções resultou em um sadio florescimento de in vestigações apesar de sua falta de elegância formal A TEORIA DA PERSONALIDADE E OUTRAS TEORIAS PSICOLÓGICAS A nossa discussão até o momento leva à conclusão de que uma teoria da personalidade deve consistir em um conjunto de suposições referentes ao comporta mento humano juntamente com regras para relacio nar essas suposições e definições para permitir sua interação com eventos empíricos ou observáveis Neste ponto seria razoável perguntar se essa definição de alguma maneira diferencia as teorias da personalida de de outras teorias psicológicas Ao responder a essa pergunta convém começar com uma distinção entre dois tipos de teoria psicológica É evidente que certas teorias psicológicas pare cem estar prontas para lidar com qualquer evento comportamental que possa ser importante no ajusta mento do organismo humano Outras teorias se limi tam especificamente ao comportamento conforme ele ocorre sob certas condições cuidadosamente prescri tas Essas teorias professam interesse apenas em as pectos limitados do comportamento humano Uma teoria que tenta lidar com todos os fenômenos com portamentais de importância demonstrada pode ser referida como uma teoria geral do comportamento e aquelas teorias que restringem seu foco a certas clas ses de eventos comportamentais são chamadas de te orias de domínio único As teorias da personalidade se encaixam claramen te na primeira categoria elas são teorias gerais do comportamento Essa simples observação serve para separar a teoria da personalidade da maioria das ou tras teorias psicológicas As teorias da percepção au dição memória aprendizagem motora discriminação e as muitas outras teorias especiais dentro da psicolo gia são teorias de domínio único e podem ser distin guidas da teoria da personalidade em termos de al cance ou abrangência Elas não têm a pretensão de ser uma teoria geral do comportamento e contentam se em desenvolver conceitos apropriados para a des crição e predição de uma série limitada de eventos comportamentais Mas de modo geral as teorias da personalidade aceitam o desafio de explicar ou incor porar eventos de natureza muito variada desde que eles possuam uma importância funcional demonstra da para o indivíduo O fato de testes de personalidade planejados para medir componentes da personalidade serem freqüen temente usados na psicologia social e em outros ra mos da psicologia não deve obscurecer esse ponto Como Lamiell salientou existe uma distinção entre a psicologia da personalidade que focaliza consistências temporais e transituacionais dentro das pessoas isto é no nível do indivíduo 1981 p 280 e a psicolo gia diferencial que focaliza o desempenho relativo das pessoas em geral em alguma característica de interes se As teorias da personalidade abrangem uma ampla variedade de comportamentos e de processos e consi deram o indivíduo como uma unidade integrada A pesquisa da personalidade baseiase em uma teoria geral do indivíduo como um todo em funcionamento e não emprega medidas ad hoc ou isoladas de tendên cias de resposta Resta a pergunta sobre se existem teorias gerais do comportamento que normalmente não seriam cha madas de teorias da personalidade Uma possibilida de é a teoria da aprendizagem ser em alguns casos suficientemente generalizada para constituir uma te oria geral do comportamento Esse é claramente o caso e como veremos com detalhes mais tarde alguns te óricos tentaram generalizar as teorias da aprendiza gem de modo que fossem comparáveis em abrangên cia a qualquer outra teoria geral do comportamento Nesses casos a teoria de aprendizagem deixa de ser meramente uma teoria da aprendizagem e tornase uma teoria da personalidade ou uma teoria geral do comportamento É verdade que tais modelos genera lizados possuem certas características distintivas que lembram sua origem mas em intenção e proprieda des lógicas elas não são diferentes de qualquer outra teoria da personalidade A reunião de teorias que tiveram suas origens nos laboratórios com animais e nas teorias que se origina ram dos consultórios dos terapeutas pode parecer for TEORIAS DA PERSONALIDADE 39 çada para muitos observadores Entretanto se consi derarmos as teorias do ponto de vista daquilo que pretendem fazer e de sua estrutura geral e não do ponto de vista de onde vêm ou das suposições deta lhadas que fazem sobre o comportamento fica claro que qualquer teoria geral do comportamento é igual a qualquer outra Nesse sentido todas as teorias ge rais do comportamento são teorias da personalidade e viceversa Dentro desse grande grupo de teorias podemos fazer muitas distinções é claro A próxima seção trata de alguns atributos em termos dos quais as teorias da personalidade podem ser diferenciadas ou comparadas A COMPARAÇÃO DAS TEORIAS DA PERSONALIDADE O fato mais notável com o qual o estudante da perso nalidade se depara é a multiplicidade de teorias da personalidade A confusão aumenta quando lhe di zem que é impossível afirmar qual teoria está certa ou é melhor do que as outras Essa incerteza é tipica mente atribuída à qualidade recente do campo e à dificuldade do assunto Neste ponto em vez de per guntar se as teorias estão certas ou erradas o estu dante é aconselhado a adotar uma estratégia compa rativa Uma boa base racional para essa abordagem vem de George Kelly cuja teoria é apresentada no Capítulo 10 Kelly aborda a personalidade da posição filosófica que ele chama de alternativismo construti vo Colocandoa simplesmente Kelly sugere que as pessoas diferem em sua maneira de perceber ou cons truir a realidade As pessoas diferentes constroem ou interpretam o mundo de maneiras diferentes e con seqüentemente agem de maneiras diferentes Nenhu ma dessas construções alternativas está necessaria mente certa ou errada mais propriamente cada uma tem implicações diferentes Essa mesma abordagem sugere que as teorias da personalidade possibilitam construções alternativas da personalidade nenhuma das quais está completamente certa ou errada cada uma das quais tem diferentes forças e fraquezas e cada uma das quais enfatiza diferentes componentes do comportamento Este texto foi organizado para facilitar este pro cesso comparativo Primeiro as teorias estão agrupa das em quatro famílias sendo que as teorias de cada família compartilham certas características As teori as psicodinâmicas enfatizam os motivos inconscientes e o conflito intrapsíquico resultante As teorias estru turais focalizam as diferentes tendências comporta mentais que caracterizam os indivíduos As teorias ex perienciais observam a maneira pela qual a pessoa percebe a realidade e experiencia seu mundo Final mente as teorias da aprendizagem enfatizam a base aprendida das tendências de resposta com uma ênfa se no processo de aprendizagem em vez de nas ten dências resultantes Cada conjunto de teorias será in troduzido com uma descrição mais completa das características da família Segundo alguns aspectos da personalidade são discutidos por diferentes teóricos Por exemplo a an siedade o senso de competência o conflito intrapsí quico e o nível de sociabilidade desempenham papéis centrais em muitas das teorias que o estudante vai encontrar neste livro Por um lado isso é alentador porque a convergência de diferentes teóricos em de terminadas facetas da personalidade sugere que essas características são reais e importantes Por outro lado isso pode ser desorientador uma vez que os diferen tes teóricos necessariamente empregam linguagens específicas das próprias teorias para discutir essas ca racterísticas Para ajudar o estudante a compreender essas convergências nós incluiremos uma discussão explícita das traduções entre as teorias apresentadas Finalmente existem várias qualidades pelas quais as teorias da personalidade podem ser comparadas e distinguidas Nós agora apontamos algumas das mais importantes destas dimensões Os atributos se divi dem naturalmente entre aqueles referentes a ques tões de adequação formal e os referentes à natureza substantiva da teoria Atributos Formais Aqui estamos interessados em quão adequadamente a estrutura da teoria é desenvolvida e apresentada Essas qualidades representam um ideal e quanto mais perto a teoria chega dele mais efetivamente pode ser usada A questão da clareza e explicitação é de imensa importância Essa é uma questão de quão claramente e precisamente as suposições e os conceitos inseridos que constituem a teoria são apresentados Em um dos 40 HALL LINDZEY CAMPBELL extremos a teoria pode ser enunciada em termos de uma notação matemática com uma definição precisa de todos os termos com exceção dos primitivos de modo que a pessoa adequadamente treinada possa empregar a teoria com um mínimo de ambigüidade Nessas circunstâncias diferentes indivíduos empre gando a teoria independentemente chegarão a fun damentos ou derivações extremamente parecidos No outro extremo encontramos teorias apresentadas com tal excesso de descrição vívida e complexa que é ex tremamente difícil para a pessoa que vai empregar a teoria saber ao certo com o que exatamente está li dando Nessas circunstâncias há pouca probabilida de de que indivíduos usando a teoria de forma inde pendente cheguem às mesmas formulações ou derivações Ficará claro à medida que prosseguirmos que não existe uma teoria da personalidade que se aproxime bastante do ideal da notação matemática no entanto dado o livre uso da descrição verbal va mos descobrir que existe uma considerável variação entre as teorias da personalidade na clareza de sua exposição Uma outra pergunta é a questão de quão bem a teoria se relaciona aos fenômenos empíricos Aqui esta mos preocupados com a explicitação e a praticidade das definições propostas para traduzir as concepções teóricas em operações de mensuração Em um dos ex tremos encontramos teorias que prescrevem opera ções relativamente exatas para avaliar ou medir cada um dos seus termos empíricos Em outros casos o te órico parece supor que o nome atribuído ao conceito é uma operação definidora suficiente em si mesma Talvez este seja um lugar apropriado para enfati zar novamente a nossa convicção de que todas as ques tões de adequação formal diminuem de importância diante da pergunta sobre quais pesquisas empíricas foram geradas pela teoria Por mais vaga e maldesen volvida que seja a teoria e por mais inadequadas que sejam sua sintaxe e definições empíricas ela passa no teste crucial se provarmos que tem um efeito genera tivo sobre áreas de pesquisa significativas Assim a questão do resultado que supera e na verdade torna triviais todas as questões de adequação formal é a questão de quanta pesquisa importante a teoria pro duziu Não é fácil concordar sobre o que é pesquisa importante especialmente porque a importância será em grande parte determinada pela posição teórica do juiz Também é verdade que nem sempre é fácil dizer exatamente qual foi o processo que levou à realização de uma investigação específica Assim o papel gene rativo da teoria pode ser difícil de avaliar Apesar dis so existem diferenças claras e perceptíveis entre as teorias da personalidade na extensão em que foram traduzidas em investigações de interesse geral Atributos Substantivos Embora os atributos formais que acabamos de descre ver apresentem um valor normativo ou padrão em termos do qual cada teoria pode ser comparada os seguintes atributos não possuem essa implicação ava liativa Eles são neutros em relação ao bom e ao mau e refletem simplesmente as suposições particulares da teoria sobre o comportamento As diferenças de conteúdo entre as teorias da per sonalidade refletem naturalmente as questões atuais mais importantes nessa área Portanto nas páginas seguintes não só apresentaremos as dimensões que podem ser usadas para a comparação das teorias da personalidade mas também destacaremos as opções mais importantes para um teórico nessa área Seria perfeitamente apropriado dar a esta seção o título questões na teoria da personalidade Mais antiga que a história da psicologia é a per gunta sobre se o comportamento humano deve ser visto como possuindo qualidades intencionais ou teleo lógicas Algumas teorias do comportamento criam um modelo do indivíduo em que a busca de objetivos o propósito e o empenho são vistos como aspectos es senciais e centrais do seu comportamento Outras teorias supõem que os aspectos de empenho e busca no comportamento não são importantes e acreditam que o comportamento pode ser explicado adequada mente sem essa ênfase Estes últimos teóricos consi deram os elementos subjetivos do empenho e da bus ca como um epifenômeno acompanhando o compor tamento mas não desempenhando um papel deter minante em sua instigação As teorias que minimizam a importância do propósito ou da teleologia geralmen te são chamadas de mecanicistas Um outro antigo debate se refere à importância relativa dos determinantes conscientes e inconscientes do comportamento Essa questão também poderia ser enunciada em termos da relativa racionalidade ou irra TEORIAS DA PERSONALIDADE 41 cionalidade do comportamento humano O termo in consciente é usado aqui simplesmente para se referir aos determinantes do comportamento dos quais o in divíduo não está consciente e que é incapaz de trazer para a consciência exceto em condições especiais As teorias da personalidade variam daquelas que rejei tam explicitamente qualquer consideração de deter minantes inconscientes do comportamento ou que se recusam a aceitar a existência desses determinantes às teorias que os consideram os mais importantes ou poderosos determinantes do comportamento Um meio termo é ocupado pelos teóricos que estão dis postos a atribuir um papel central aos determinantes inconscientes no comportamento dos indivíduos per turbados ou anormais mas afirmam que para o indi víduo normal os motivos conscientes são as forças go vernantes Uma distinção fundamental entre as teorias da personalidade tem relação com a extensão em que o processo de aprendizagem ou a modificação do com portamento é uma questão que recebe uma atenção detalhada e explícita Alguns teóricos da personalida de vêem no entendimento do processo da aprendiza gem a chave para todos os fenômenos comportamen tais Para outros teóricos a aprendizagem é um problema importante mas secundário Embora ne nhum teórico da personalidade vá negar a importân cia da aprendizagem veremos que alguns preferem focalizar as aquisições ou os resultados da aprendiza gem ao invés do processo em si Essa questão se tor nou um ponto de discordância entre aqueles que que rem tratar principalmente do processo de mudança e aqueles que se mostram mais interessados nas estru turas ou aquisições estáveis da personalidade em qual quer momento dado Uma questão tão antiga quanto o pensamento humano sobre a humanidade é a pergunta sobre a relativa importância da genética ou dos fatores here ditários na determinação do comportamento Pratica mente ninguém vai negar que os fatores hereditários têm implicações para o comportamento mas existem teóricos da personalidade que diminuem dramatica mente a sua importância insistindo que todos os fe nômenos comportamentais importantes podem ser compreendidos sem recorrermos ao biológico e ao genético Na América o papel dos fatores da heredi tariedade tem sido historicamente subestimado em favor de algum tipo de ambientalismo mas há uma considerável variação entre os teóricos no que se re fere ao manejo e à aceitação dos fatores genéticos Uma dimensão adicional em termos da qual as teorias da personalidade mostram uma considerável variação tem a ver com a relativa importância das ex periências desenvolvimentais iniciais A teoria atribui uma importância estratégica e crítica aos eventos que ocorreram no período de bebê e na infância maior do que a importância atribuída aos eventos ocorridos em estágios posteriores do desenvolvimento Como des cobriremos algumas teorias defendem que a chave para o comportamento adulto é encontrada em even tos que aconteceram nos primeiros anos de desenvol vimento enquanto outras afirmam explicitamente que o comportamento só pode ser compreendido e expli cado em termos dos eventos contemporâneos ou atu ais Relacionada a essa questão está a extensão em que os teóricos consideram a estrutura da personali dade em um determinado ponto do tempo como au tônoma ou funcionalmente distinta das experiências que precederam esse ponto Para certos teóricos o entendimento do comportamento em termos de fato res contemporâneos não só é possível mas é também o único caminho defensável para esse entendimento Para outros uma compreensão razoável do presente sempre depende parcialmente do conhecimento de eventos que ocorreram no passado Naturalmente aqueles que enfatizam o ponto de vista contemporâ neo estão convencidos da independência funcional da estrutura da personalidade em qualquer momento es pecífico no tempo enquanto os que enfatizam a im portância da experiência passada ou inicial estão me nos convencidos da liberdade da estrutura presente em relação à influência dos eventos passados Estreitamente relacionada a essa questão está a questão da continuidade ou descontinuidade do com portamento em diferentes estágios do desenvolvimen to A maioria das teorias que enfatizam o processo de aprendizagem eou a importância das experiências de senvolvimentais iniciais tende a ver o indivíduo como um organismo em constante desenvolvimento A es trutura observada em um dado ponto do tempo está relacionada de maneira determinante à estrutura e às experiências que ocorreram em um ponto anterior Ou tras teorias tendem a considerar o organismo como atravessando estágios de desenvolvimento relativa 42 HALL LINDZEY CAMPBELL mente independentes e funcionalmente separados dos estágios iniciais de desenvolvimento Este último ponto de vista pode levar à construção de teorias drastica mente diferentes para o comportamento do bebê e o comportamento do adulto Uma diferença importante entre as teorias da per sonalidade está na extensão em que elas adotam prin cípios holísticos Isto é elas consideram legítimo abs trair e analisar de modo que em um dado momento ou em um estudo específico seja examinada apenas uma pequena parte do indivíduo Os indivíduos que adotam uma posição holística consideram que o com portamento só pode ser compreendido no contexto de modo que devemos considerar simultaneamente a pessoa total em funcionamento juntamente com as porções significativas de seu ambiente para que te nhamos um bom resultado Outras teorias aceitam o fato de que a própria natureza da ciência necessita de análise Essas posições normalmente não mostram ne nhuma preocupação especial com a violação da inte gridade do organismo total que pode existir nos estu dos segmentais Tal ênfase na totalidade do indivíduo e do ambi ente pode ser analisada de duas formas distintas A primeira normalmente é referida como uma posição organísmica Aqui existe uma ênfase maior no inter relacionamento de tudo o que o indivíduo faz cada ato só pode ser compreendido contra o pano de fun do oferecido pelos outros atos da pessoa Não só exis te uma implicação de que todos os comportamentos são essencialmente interrelacionados e nãosuscetí veis a técnicas de análise mas geralmente também existe um interesse pelas bases orgânicas do compor tamento Conseqüentemente o comportamento deve ser visto em função da perspectiva oferecida pelos outros atos do indivíduo assim como em função da perspectiva oferecida pelos processos fisiológicos e biológicos concomitantes Todos os comportamentos e o funcionamento biológico da pessoa constituem um todo orgânico que não pode ser compreendido se es tudado de modo segmentado A segunda posição holística normalmente é refe rida como uma ênfase no campo Aqui a teoria se pre ocupa principalmente com a unidade indivisível de um determinado ato comportamental e o contexto ambiental em que ele ocorre Tentar compreender uma dada forma de comportamento sem especificar com detalhes o campo em que ele ocorre é tentar com preender sem considerar os fatores significativos Embora o comportamento seja parcialmente um re sultado de determinantes inerentes ao indivíduo exis tem forças externas igualmente convincentes que agem sobre a pessoa É só quando o ambiente significativo do indivíduo está inteiramente representado que es sas forças agindo fora da pessoa podem receber a devida atenção Existe uma forte tendência nos teó ricos que enfatizam a importância do campo de mi nimizar a importância dos fatores hereditários assim como dos eventos que ocorreram no início do desen volvimento Essa não é uma necessidade lógica mas na prática a maioria dos teóricos que se centraram no contexto ambiental do indivíduo enfatiza o presente ao invés do passado e está mais interessada no que está lá fora e não nos aspectos inatos do indivíduo Relacionada à questão do holismo está a questão da singularidade ou individualidade Certas teorias superestimam muito o fato de que cada indivíduo e na verdade cada ato é único e não pode ser duplica do por qualquer outro indivíduo ou ato Elas salien tam que sempre existem qualidades distintivas e im portantes que destacam o comportamento de um indivíduo do comportamento de todas as outras pes soas Em geral o indivíduo que adota fortemente um ponto de vista de campo ou organísmico tende a en fatizar também a singularidade Isso decorre natural mente do fato de que se ampliarmos suficientemente o contexto que deve ser considerado em relação a cada evento comportamental ele passará a ter tantas face tas que certamente apresentará diferenças distintas em comparação com todos os outros eventos Algu mas teorias aceitam o fato de que cada indivíduo é único mas propõem que essa singularidade pode ser explicada em termos de diferenças na configuração das mesmas variáveis subjacentes Outras teorias afir mam que os indivíduos nem sequer podem ser com parados proveitosamente em termos de variáveis co muns ou gerais pois elas distorcem e representam mal a singularidade do indivíduo As teorias da personali dade variam das que não fazem nenhuma menção especial à singularidade àquelas para as quais esta é uma das suposições mais centrais Tais teorias costu mam descrever uma hierarquia variando de compor tamentos específicos a tendências comportamentais mais amplas e a princípios gerais de comportamento p ex Raymond Cattell e Hans Eysenck Isto é es sas teorias sugerem que o grau de individualidade ou TEORIAS DA PERSONALIDADE 43 de generalidade depende do nível de análise que de cidimos adotar Intimamente associada às questões de holismo e singularidade está a amplitude da unidade de com portamento empregada na análise da personalidade Aqueles teóricos que são holistas relativos ou absolu tos escolhem analisar o comportamento só no nível da pessoa completa enquanto outros teóricos da per sonalidade empregam constructos de graus variados de especificidade ou elementalismo Isso já foi referi do como uma escolha entre uma abordagem molar geral e uma abordagem molecular específica ao estudo do comportamento No segmento mais extre mo desse contínuo está o teórico que acredita que o comportamento deve ser analisado em termos de re flexos ou hábitos específicos na outra extremidade está o observador disposto a ver o comportamento em algum nível mais molecular do que a pessoa intei ra funcionando Como veremos pesquisas recentes sobre a utilidade diferencial dos constructos de per sonalidade amplos versus limitados e a importância de se agregar observações isoladas em escalas de sempenharam um papel importante na solução do debate entre aqueles que defendem o comportamen to como determinado pela situação e aqueles que en fatizam o papel determinante das características de personalidade Existe uma distinção relacionada entre as teorias que lidam extensivamente com o conteúdo do com portamento e sua descrição e as que lidam principal mente com princípios gerais leis e análises formais Os teóricos podem concentrarse nos detalhes concre tos da experiência e do comportamento ou preocu parse principalmente com leis ou princípios que po dem ser amplamente generalizados Tipicamente quanto mais abstração tiver a teoria menor a preocu pação com o conteúdo ou com os detalhes concretos do comportamento Certos teóricos da personalidade centraram sua posição teórica na importância do ambiente psicológi co ou da estrutura subjetiva de referência Eles enfati zam que o mundo físico e seus eventos só afetam os indivíduos se eles os perceberem ou experienciarem Assim não é a realidade objetiva que serve como um determinante do comportamento e sim a realidade objetiva conforme é percebida ou significada pelo indivíduo É o ambiente psicológico não o ambiente físico que determina a maneira pela qual o indivíduo vai responder Contrapondose existem posições teó ricas que afirmam ser impossível construir uma teoria sólida do comportamento sobre as areias movediças dos relatos subjetivos ou das complicadas inferências necessárias para inferir significado dos eventos físi cos Tais teorias afirmam que podemos progredir mais deixando de lado as diferenças individuais na manei ra de perceber o mesmo evento objetivo e focalizan do as relações envolvendo eventos externos e obser váveis Uma outra distinção entre os teóricos da persona lidade tem relação com o fato de acharem ou não ne cessário introduzir um autoconceito Para certos teóri cos o atributo humano mais importante é a visão ou a percepção que o indivíduo tem de si mesmo Esse processo de autoexame freqüentemente é visto como a chave para o entendimento da multiplicidade de eventos comportamentais surpreendentes apresenta dos pelas pessoas Em outras teorias não existe esse conceito e a percepção do sujeito de si mesmo é con siderada de pouca importância geral Uma característica do autoconceito que merece especial atenção é o senso de competência do indiví duo Alguns teóricos propuseram que estabelecer e manter um senso de poder controle ou competência pessoal funciona como um motivo predominante Além disso o grau de competência quer em domíni os gerais quer específicos existe como uma caracte rística central da autodefinição e do senso de valor do indivíduo Outros teóricos não reconhecem a existên cia de um motivo autônomo como esse Tal construc to pode ser descrito em vários termos mas serve como um princípio organizador para o autoconceito naque las teorias que o incluem Os teóricos da personalidade variam muito na extensão em que enfatizam explicitamente os deter minantes comportamentais culturais ou a condição de membro de um grupo Em algumas teorias esses fato res recebem um papel principal modelando e contro lando o comportamento em outras a ênfase é quase exclusivamente nos determinantes do comportamen to que operam independentemente da sociedade ou dos grupos culturais aos quais o indivíduo está expos to Em geral os teóricos caracterizados por uma pe sada ênfase organísmica tendem a subestimar o papel dos determinantes comportamentais da condição de membro de um grupo Aqueles que enfatizam o cam po em que o comportamento ocorre vêem com mais 44 HALL LINDZEY CAMPBELL simpatia o papel dos determinantes socioculturais ou da condição de membro de um grupo Os exemplos extremos dessa posição normalmente referidos como exemplos de determinismo cultural são encontrados entre teóricos antropológicos e sociológicos mas os teóricos psicológicos também apresentam considerá vel variação nessa questão Além disso temos a questão mais geral de quão explicitamente os teóricos da personalidade tentam relacionar sua teoria à teorização e aos achados em píricos das disciplinas correlatas Isso poderia ser re ferido como uma questão de ancoramento interdisci plinar Alguns teóricos da personalidade ficam relativamente satisfeitos ao lidar com os fenômenos comportamentais em termos de conceitos e achados psicológicos com pouca ou nenhuma atenção ao que está acontecendo nas disciplinas afins Outros julgam que a teorização psicológica deve basearse nas for mulações e nos achados de outras disciplinas Os psi cólogos da personalidade orientados para outras dis ciplinas podem ser divididos em dois tipos básicos os que buscam orientação nas ciências naturais bio logia fisiologia neurologia genética e os que bus cam orientação nas ciências sociais sociologia antro pologia economia história As teorias da personalidade mostram grande va riação no número de conceitos motivacionais que em pregam Em alguns casos considerase que um ou dois desses conceitos estão na base de todos os comporta mentos para outras teorias existe um número extre mamente grande de motivos hipotetizados e para outras ainda o número é praticamente ilimitado Tam bém existem diferenças consideráveis entre as teorias na atenção dada aos motivos primários ou inatos em oposição aos motivos secundários ou adquiridos Além disso algumas teorias oferecem um quadro relativa mente detalhado do processo pelo qual os motivos adquiridos se desenvolvem enquanto outras pouco se interessam pela derivação ou aquisição de moti vos Um outro aspecto em que as teorias da personali dade variam bastante é a extensão em que lidam com aspectos avaliativos ou ideais do comportamento Al guns teóricos oferecem uma rica descrição dos com ponentes sadios ou ideais da personalidade enquan to outros se limitam a uma descrição objetiva ou fatu al sem nenhum esforço para indicar o positivo e o negativo ou inclusive o normal e o anormal Alguns teóricos estão muito mais preocupados com as carac terísticas da pessoa madura ou ideal enquanto ou tros relutam em considerar uma forma de ajustamen to como necessariamente superior à outra Algumas teorias da personalidade derivamse de e são mais relevantes para a descrição do comporta mento anormal ou patológico Outras teorias e teóri cos centramse no normal ou no melhor que o nor mal As teorias com origens nas clínicas psiquiátricas nos centros de aconselhamento e nos consultórios de terapeutas certamente têm mais a dizer sobre o com portamento desviante ou anormal enquanto as teori as derivadas do estudo das crianças e dos estudantes universitários são mais descritivas e representativas do intervalo relativamente normal de personalidade Nós agora encerramos nossa lista de dimensões para a comparação das teorias da personalidade mas esperamos que os leitores não se esqueçam delas A breve orientação aqui oferecida terá um significado mais rico e uma maior importância se essas questões forem consideradas na leitura dos capítulos que des crevem as diferentes teorias da personalidade Tam bém ficará claro que os aspectos mais distintivos des sas teorias são decorrência de decisões relativas às questões que acabamos de discutir No capítulo final nós vamos reconsiderar essas dimensões à luz das te orias específicas da personalidade Isso nos leva ao final da nossa discussão introdu tória e agora podemos prosseguir para a essência deste volume as próprias teorias da personalidade Se o leitor só pudesse gravar um único pensamento de tudo o que foi dito até este ponto que fosse a simples im pressão de que as teorias da personalidade são tenta tivas de formular ou representar aspectos significati vos do comportamento dos indivíduos e que a produtividade dessas tentativas deve ser julgada prin cipalmente em termos de quão efetivamente elas ser vem como um estímulo para a pesquisa TEORIAS DA PERSONALIDADE 45 ÊNFASE NA PSICODINÂMICA Os teóricos da personalidade descritos nesta seção compartilham uma preocupação central com as forças dinâmicas que determinam o nosso comportamento e com as estruturas defensivas que sem saber erigimos para nos proteger dessas forças A primeira posição considerada evidentemente é a de Sigmund Freud Freud desenvolveu a primeira teoria sistemática da personalidade e em muitos aspectos todos os teóricos subseqüentes apresentaram reações à sua posição O núcleo da teoria de Freud foi sua defesa de um modelo conflitual de motivação Segundo essa posição o comportamento é provocado por impulsos inconscientes com base biológica que exigem gratificação Quando a expressão dessas exigências é bloqueada por constrangimentos morais nós negociamos compromissos comportamentais centrados nas substituições ou nas representações simbólicas do objeto originalmente desejado À medida que amadurecemos ficamos mais capazes de adiar a gratificação até o momento e o lugar apropriados Mas continuamos carregando o resíduo inconsciente de conflitos infantis nãoresolvidos e eles são a base de grande parte do nosso comportamento adulto Uma das suposições centrais de Freud era o determinismo psíquico segundo o qual todos os comportamentos ocorrem por alguma razão Conseqüentemente a nossa tarefa como psicólogos é descobrir os determinantes comportamentais enterrados Essa posição de psicologia profunda levou Freud a fascinantes análises de fenômenos cotidianos como sonhos chistes e atos falhos As outras suposições adotadas por Freud em seus modelos desenvolvimentais separados para homens e mulheres se mostraram difíceis de aceitar Neste ponto o leitor deve ser alertado Freud oferece a primeira ilustração e em muitos aspectos a mais clara da necessidade de se identificar as suposições de um teórico Uma vez que as suposições sejam aceitas a lógica da teoria em si tornase difícil de contestar Duas notas finais sobre Freud Primeiro Freud foi um racionalista não um defensor da expressão desenfreada de impulsos irracionais Ele escreveu Onde era o Id ficará o Ego e A voz do intelecto é uma voz suave mas não descansa até ser ouvida Segundo Freud se considerava um empiricista Isso não surpreende dada sua carreira original em anatomia e no que agora chamaríamos de neurociência mas nos leva a um paradoxo A teoria de Freud muitas vezes é descartada como nãocientífica segundo os critérios apresentados no Capítulo 1 Qualquer teoria baseada na estrutura e nas forças inconscientes revelase difícil se não impossível de testar e a testabilidade das predições é a marca registrada da teoria científica Na 46 HALL LINDZEY CAMPBELL verdade Freud estava mais empenhado na pósenunciação ou explicação após o fato do que na predição Você leitor deve chegar à sua própria conclusão sobre a estatura e a credibilidade científicas da teoria de Freud Os cinco outros teóricos importantes discutidos nesta seção compartilham muito com Freud mas também diferem dele de maneiras substanciais Carl Jung foi endossado por Freud como seu príncipe herdeiro mas eles acabaram tendo uma separação amarga Jung jamais conseguiu aceitar a ênfase de Freud na sexualidade como um motivo e propôs que os determinantes inconscientes do comportamento tinham uma origem ancestral e nãopessoal Alfred Adler nunca foi tão próximo de Freud em um nível pessoal ou teórico como Jung Adler estava muito mais interessado nos determinantes conscientes do comportamento do que Freud estivera e ele também enfatizou o interesse social como a base do funcionamento sadio Karen Horney desafiou as suposições e as conclusões de Freud acerca do desenvolvimento psicossexual Ela também propôs um modelo convincente mas subapreciado de ansiedade básica e conflitos entre os componentes do autoconceito Harry Stack Sullivan enfatizou os estágios desenvolvimentais e grande parte de seu modelo baseiase em constructos de energia e ansiedade Mas a inclusão de Sullivan no presente grupo é assegurada pelo contexto interpessoal em que ele conceitualiza o comportamento do indivíduo Erik Erikson manteve grande parte do modelo de Freud mas reinterpretou os instintos freudianos como fragmentos pulsionais que só recebem significado por meio das forças culturais e das práticas de educação das crianças Erikson transformou os estágios do desenvolvimento psicossexual de Freud em estágios psicossociais e estendeu a análise desenvolvimental a todo o ciclo vital Apesar dessas diferenças os teóricos compartilham uma ênfase geral no conflito intrapsíquico e na importância da ansiedade resultante TABELA 1 Comparação Dimensional das Teorias Psicodinâmicas Parâmetro Comparado Freud Jung Adler Horney Sullivan Erikson Propósito A A A A A A Determinantes inconscientes A A M A M M Processo de aprendizagem M B B M M M Estrutura A A M M M A Hereditariedade A A A B B M Desenvolvimento inicial A B A M M A Continuidade A B A M A A Ênfase organísmica M A M M M M Ênfase no campo B B A M A A Singularidade M M A M M M Ênfase molar M M M M M M Ambiente psicológico A A M M A A Autoconceito A A A A A A Competência M B A M M A Afiliação grupal M B A A A A Ancoragem na biologia A A M B M M Ancoragem nas ciências sociais A B A A A A Motivos múltiplos B M B B M M Personalidade ideal A A A A M A Comportamento anormal A A A A A M Nota A indica alto enfatizado M indica moderado e B indica baixo pouco enfatizado TEORIAS DA PERSONALIDADE 47 Conforme indica a Tabela 1 os teóricos psicodinâmicos geralmente enfatizam o propósito e os determinantes inconscientes do comportamento Eles estão preocupados com a personalidade ideal e com o comportamento patológico e alguma versão do autoconceito desempenha um papelchave em suas posições Observem a variabilidade todavia na importância que atribuem à afiliação grupal e à hereditariedade Essas semelhanças e discrepâncias ficarão claras conforme tratarmos de cada teoria TEORIAS DA PERSONALIDADE 49 CAPÍTULO 2 A Teoria Psicanalítica Clássica de Sigmund Freud INTRODUÇÃO E CONTEXTO 50 HISTÓRIA PESSOAL 50 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 53 O Id 53 O Ego 54 O Superego 54 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 55 Instinto 55 A Distribuição e a Utilização da Energia Psíquica 58 Ansiedade 60 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 61 Identificação 61 Deslocamento 62 Os Mecanismos de Defesa do Ego 63 Estágios de Desenvolvimento 65 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 68 O Credo Científico de Freud 69 Associação Livre e Análise de Sonhos 70 Estudos de Caso de Freud 72 AutoAnálise de Freud 74 PESQUISA ATUAL 74 Ativação Psicodinâmica Subliminar 75 Nova Visão 3 77 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 78 50 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Quando a psicologia emergiu como uma disciplina científica independente na Alemanha em meados do século XIX ela definiu sua tarefa como a análise da consciência no ser humano normal adulto Ela consi derava a consciência como constituída por elementos estruturais estreitamente correlacionados a processos nos órgãos dos sentidos As sensações visuais de cor por exemplo estavam correlacionadas com mudan ças fotoquímicas na retina do olho e os tons com eventos ocorrendo no ouvido interno As experiênci as complexas resultavam da reunião de várias sensa ções imagens e sentimentos elementares A tarefa da psicologia era descobrir os elementos básicos da cons ciência e determinar como eles formavam compostos A psicologia era muitas vezes referida como química mental As objeções a esse tipo de psicologia vieram de muitas direções e por uma variedade de razões Ha via aqueles que se opunham à ênfase exclusiva na es trutura e insistiam com considerável vigor que as ca racterísticas notáveis da mente consciente eram seus processos ativos e não seus conteúdos passivos Sen tir e não as sensações pensar e não as idéias imagi nar e não as imagens esses processos afirmavase deveriam ser o principal assunto da ciência da psico logia Outros protestavam que a experiência consci ente não podia ser dissecada sem destruir a própria essência da experiência a saber sua qualidade de to talidade A consciência direta diziam consiste em padrões ou configurações e não em elementos reuni dos Um outro grupo grande e barulhento afirmava que a mente não era suscetível a investigações pelos métodos da ciência por ser demasiadamente privada e subjetiva Eles queriam que a psicologia fosse defi nida como a ciência do comportamento O ataque de Freud à tradicional psicologia da cons ciência veio de uma direção muito diferente Ele com parou a mente a um iceberg a parte menor que apare cia acima da superfície da água representava a região da consciência enquanto a massa muito maior abai xo da água representava a região do inconsciente Nesse vasto domínio do inconsciente encontramos os impulsos as paixões as idéias e os sentimentos repri midos um grande mundo subterrâneo de forças vi tais invisíveis que exercem um controle imperioso sobre os pensamentos e as ações dos indivíduos Des se ponto de vista uma psicologia que se limita à aná lise da consciência é totalmente inadequada para com preender os motivos subjacentes do comportamento humano Por mais de 40 anos Freud explorou o inconsci ente pelo método da associação livre e desenvolveu o que geralmente é considerado como a primeira teoria abrangente da personalidade Ele traçou os contor nos de sua topografia penetrou nas fontes de sua cor rente de energia e diagramou o curso legítimo de seu desenvolvimento Ao realizar essas façanhas incríveis ele se tornou uma das figuras mais controversas e in fluentes do nosso tempo Para um relato do status do inconsciente antes de Freud ver White 1962 HISTÓRIA PESSOAL Sigmund Freud nasceu na Morávia em 6 de maio de 1856 e morreu em Londres em 23 de setembro de 1939 Por quase 80 anos todavia ele morou em Vie na e só saiu daquela cidade quando os nazistas inva diram a Áustria Quando jovem ele decidiu que que ria ser cientista Com esse objetivo em mente ingressou na escola de medicina da Universidade de Viena em 1873 formandose oito anos mais tarde Freud nunca pretendeu praticar a medicina mas as escassas recompensas do trabalho científico as opor tunidades limitadas de avanço acadêmico para um judeu e as necessidades de uma família crescente o obrigaram a entrar na prática privada Mesmo com o atendimento aos pacientes ele encontrava tempo para pesquisar e escrever e suas realizações como investi gador médico granjearamlhe uma sólida reputação O interesse de Freud pela neurologia fez com que se especializasse no tratamento de transtornos nervo sos um ramo da medicina que ficara para trás na marcha ativa das artes curadoras durante o século XIX Para melhorar suas habilidades técnicas ele estudou um ano com o famoso psiquiatra francês Jean Char cot que estava usando a hipnose no tratamento da histeria Embora tentasse a hipnose com seus pacien tes Freud não ficou muito impressionado com sua eficácia Conseqüentemente quando ouviu falar so bre um novo método desenvolvido por um médico vienense Joseph Breuer um método pelo qual o paci ente era curado dos sintomas ao falar sobre eles Freud TEORIAS DA PERSONALIDADE 51 Sigmund Freud 52 HALL LINDZEY CAMPBELL o experimentou e o achou efetivo Breuer e Freud es creveram em parceria sobre alguns de seus casos de histeria tratados pela técnica da fala 1895 Entretanto os dois logo divergiram sobre a im portância do fator sexual na histeria Freud conside rava que os conflitos sexuais eram a causa da histeria enquanto Breuer adotava uma visão mais conserva dora ver Ellenberger 1970 para uma discussão so bre os antecedentes históricos da posição de Freud A partir de então Freud trabalhou praticamente sozi nho desenvolvendo as idéias que seriam os funda mentos da teoria psicanalítica e que culminaram na publicação de seu primeiro grande trabalho A Inter pretação dos Sonhos 1900 Outros livros e artigos logo chamaram a atenção de médicos e cientistas do mundo inteiro e Freud logo se viu cercado por um grupo de discípulos de vários países entre os quais Ernest Jones da Inglaterra Carl Jung de Zurique A A Brill de Nova York Sandor Ferenczi de Budapes te Karl Abraham de Berlim e Alfred Adler de Viena Jung e Adler posteriormente se afastaram do círculo e desenvolveram pontos de vista rivais No breve espaço que nos é permitido é impossí vel cobrir todos os pontos mais interessantes da vida intelectual e pessoal de Freud os primeiros anos como estudante de medicina e investigador a influência decisiva do grande fisiologista alemão Ernst Brücke um dos líderes da Helmholtz School of Medicine com quem Freud aprendeu a ver o indivíduo como um sis tema dinâmico sujeito às leis da natureza Amacher 1965 seu casamento com Martha Bernays e sua de voção vitalícia a ela e aos seis filhos um dos quais Anna seguiu os passos do pai o estimulante ano com Charcot em Paris sua autoanálise investigativa que começou na década de 1890 e continuou por toda sua vida a tentativa abortada de explicar os fenôme nos psicológicos em termos de anatomia cerebral os anos de isolamento da comunidade médica de Viena o convite de G Stanley Hall o eminente psicólogo americano e presidente da Clark University para fa Consultório de Freud TEORIAS DA PERSONALIDADE 53 lar no encontro em comemoração à fundação da uni versidade a criação da Associação Psicanalítica Inter nacional e a secessão de discípulos importantes como Jung Adler Rank e Stekel a influência da Primeira Guerra Mundial sobre o pensamento de Freud e sua cuidadosa revisão dos princípios básicos da teoria psi canalítica a aplicação dos conceitos psicanalíticos em todos os campos de empreendimento humano as ca racterísticas pessoais de Freud e o longo sofrimento do câncer de mandíbula e finalmente sua fuga melo dramática das garras dos nazistas Felizmente todos os recantos e frestas da longa vida de Freud foram examinados pelo grande psicanalista inglês Ernest Jones e brilhantemente relatados em uma biografia de três volumes 1953 1955 1957 Mais recente mente Peter Gay 1988 escreveu uma biografia abrangente e simpática de Freud O espaço também não nos permite listar os traba lhos publicados de Freud Começando com A Inter pretação dos Sonhos em 1900 e terminando com Es boço da Psicanálise publicado postumamente em 1940 os textos psicológicos de Freud totalizam vinte e qua tro volumes na edição inglesa padrão definitiva 1953 1974 Para o leitor que não está familiarizado com a teoria da personalidade de Freud recomendamos os seguintes livros A Interpretação dos Sonhos 1900 A Psicopatologia da Vida Cotidiana 1901 Conferências Introdutórias Gerais à Psicanálise 1917 Novas Con ferências Introdutórias à Psicanálise 1933 e Esboço da Psicanálise 1940 No seguinte relato das idéias de Freud tratare mos apenas das questões relativas à sua teoria da per sonalidade No processo excluiremos de considera ção a teoria psicanalítica da neurose que de qualquer forma foi tão bem examinada por Otto Fenichel 1945 as técnicas de psicanálise e as vastas aplica ções da psicologia freudiana nas ciências sociais ver Hall Lindzey 1968 artes e humanidades Também deixaremos de lado a evolução do pensamento de Freud a respeito dos conceitos básicos de sua teoria da personalidade será suficiente apresentar sua pa lavra final sobre os conceitos que vamos discutir No Capítulo 5 examinaremos algumas das adições e das modificações na teoria clássica de Freud feitas por seus seguidores As teorias dissidentes de Jung e Adler que começaram como proponentes da psicanálise são apresentadas nos Capítulos 3 e 4 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE A personalidade é constituída por três grandes siste mas o id o ego e o superego Embora cada uma dessas partes da personalidade total tenha suas próprias fun ções propriedades componentes princípios de ope ração dinamismos e mecanismos elas interagem tão estreitamente que é difícil senão impossível desema ranhar seus efeitos e pesar sua relativa contribuição ao comportamento humano O comportamento é qua se sempre o produto de uma interação entre esses três sistemas e raramente um sistema opera com a exclu são dos outros dois O Id O id é o sistema original da personalidade ele é a matriz da qual se originaram o ego e o superego O id consiste em tudo que é psicológico que é herdado e que se acha presente no nascimento incluindo os ins tintos Ele é o reservatório da energia psíquica e for nece toda a energia para a operação dos outros dois sistemas Ele está em estreito contato com os proces sos corporais dos quais deriva sua energia Freud cha mou o id de a verdadeira realidade psíquica porque ele representa o mundo interno da experiência subje tiva e não tem nenhum conhecimento da realidade objetiva Para uma discussão do id ver Schur 1966 O id não tolera aumentos de energia que são ex perienciados como estados de tensão desconfortáveis Conseqüentemente quando o nível de tensão do or ganismo aumenta como resultado ou de estimulação externa ou de excitações internamente produzidas o id funciona de maneira a descarregar a tensão ime diatamente e a fazer o organismo voltar a um nível de energia confortavelmente constante e baixo Esse prin cípio da redução de tensão pelo qual o id opera é cha mado de princípio do prazer Para atingir seu objetivo de evitar dor e obter pra zer o id tem sob seu comando dois processos as ações reflexas e o processo primário As ações reflexas são reações inatas e automáticas como espirrar e piscar e geralmente reduzem a tensão imediatamente O organismo está equipado com vários desses reflexos para lidar com formas relativamente simples de exci tação O processo primário envolve uma reação psi 54 HALL LINDZEY CAMPBELL cológica um pouco mais complicada Ele tenta des carregar a tensão formando a imagem de um objeto que vai remover a tensão Por exemplo o processo primário apresenta à pessoa faminta a imagem men tal de um alimento Essa experiência alucinatória em que o objeto desejado é apresentado na forma de uma imagem de memória é chamada de realização do dese jo O melhor exemplo do processo primário nas pes soas normais é o sonho noturno que Freud acredita va representar sempre a realização ou a tentativa de realização de um desejo As alucinações e as visões dos pacientes psicóticos também são exemplos do pro cesso primário O pensamento autista ou veleitário é altamente colorido pela ação do processo primário Essas imagens mentais de realização do desejo são a única realidade conhecida pelo id Obviamente o processo primário sozinho não é capaz de reduzir a tensão A pessoa faminta não pode comer as imagens mentais de comida Conseqüente mente desenvolvese um processo psicológico novo ou secundário Quando isso ocorre a estrutura do segundo sistema da personalidade o ego começa a tomar forma O Ego O ego passa a existir porque as necessidades do orga nismo requerem transações apropriadas com o mun do objetivo da realidade A pessoa faminta tem de buscar encontrar e comer o alimento para que a ten são da fome seja eliminada Isso significa que a pes soa precisa aprender a diferenciar entre uma imagem mnemônica do alimento e uma percepção real do ali mento conforme ele existe no mundo externo Tendo feito essa diferenciação crucial é necessário conver ter a imagem em uma percepção o que se consegue localizandose o alimento no ambiente Em outras palavras a pessoa compara a imagem mnemônica do alimento com a visão ou com o aroma do alimento conforme lhe chegam pelos sentidos A distinção bá sica entre o id e o ego é que o id só conhece a realida de subjetiva da mente ao passo que o ego distingue as coisas na mente das coisas no mundo externo Dizemos que o ego obedece ao princípio da reali dade e opera por meio do processo secundário O obje tivo do princípio da realidade é evitar a descarga de tensão até ser descoberto um objeto apropriado para a satisfação da necessidade O princípio da realidade suspende temporariamente o princípio do prazer mas o princípio do prazer é eventualmente atendido quan do o objeto necessário é encontrado e quando a ten são é então reduzida O princípio da realidade per gunta se uma experiência é verdadeira ou falsa isto é se tem existência externa ou não enquanto o prin cípio do prazer só quer saber se a experiência é dolo rosa ou prazerosa O processo secundário é o pensamento realista Por meio do processo secundário o ego formula um plano para a satisfação da necessidade e depois testa o normalmente com algum tipo de ação para ver se ele vai funcionar ou não A pessoa faminta pensa so bre onde pode encontrar comida e depois segue para aquele lugar Isso é chamado de teste de realidade Para desempenhar seu papel eficientemente o ego tem controle sobre todas as funções cognitivas e intelec tuais esses processos mentais superiores são coloca dos a serviço do processo secundário Afirmamos que o ego é o executivo da personali dade porque ele controla o acesso à ação seleciona as características do ambiente às quais irá responder e decide que instintos serão satisfeitos e de que manei ra Ao realizar essas funções executivas imensamente importantes o ego precisa tentar integrar as deman das muitas vezes conflitantes do id do superego e do mundo externo Essa não é uma tarefa fácil e em ge ral coloca grande tensão sobre o ego Mas devemos lembrar que o ego é a porção orga nizada do id que passa a existir para atingir os objeti vos do id e não para frustrálos e que todo o seu po der se deriva do id Ele não existe separadamente do id e nunca se torna completamente independente dele Seu principal papel é o de mediador entre as exigências instintuais do organismo e as condições do ambiente circundante seus objetivos supraordena dos são manter a vida do indivíduo e assegurar que a espécie se reproduza Freud certa vez resumiu o qui nhão do ego dizendo que ele tinha três duros senho res o id a realidade externa e o superego O Superego O terceiro e último sistema da personalidade a se de senvolver é o superego Ele é o representante interno dos valores tradicionais e dos ideais da sociedade con forme interpretados para a criança pelos pais e im postos por um sistema de recompensas e de punições TEORIAS DA PERSONALIDADE 55 O superego é a força moral da personalidade Ele re presenta o ideal mais do que o real e busca a perfei ção mais do que o prazer Sua principal preocupação é decidir se alguma atitude é certa ou errada para poder agir de acordo com os padrões morais autori zados pelos agentes da sociedade O superego como árbitro moral internalizado de conduta desenvolvese em resposta às recompensas e punições impostas pelos pais Para obter as recom pensas e evitar os castigos a criança aprende a orien tar seu comportamento de acordo com os pais Tudo o que eles dizem ser impróprio e por isso castigam a criança por fazer tende a ser incorporado à sua cons ciência que é um dos dois subsistemas do superego Tudo o que eles aprovam e por isso recompensam a criança por fazer tende a ser incorporado ao seu ideal do ego o outro subsistema do superego O mecanis mo pelo qual ocorre essa incorporação é chamado de introjeção A criança absorve ou introjeta os padrões morais dos pais A consciência pune a pessoa fazen doa sentirse culpada o ideal do ego recompensa a pessoa fazendoa sentirse orgulhosa Com a forma ção do superego o autocontrole substitui o controle parental Nós faremos comparações com este pro cesso de autoavaliação quando discutirmos o auto sistema de Bandura no Capítulo 14 As principais funções do superego são 1 inibir os impulsos do id especialmente aqueles de natureza sexual ou agressiva uma vez que estes são os impul sos cuja expressão é mais condenada pela sociedade 2 persuadir o ego a substituir objetivos realistas por objetivos moralistas e 3 buscar a perfeição Isto é o superego está inclinado a se opor tanto ao id quan to ao ego e a reformar o mundo segundo sua própria imagem Entretanto ele é como o id ao ser nãoracio nal e como o ego ao tentar exercer controle sobre os instintos Diferentemente do ego o superego não se satisfaz em adiar a gratificação instintiva ele tenta bloqueála permanentemente Uma análise histórica do superego foi feita por Turiell 1967 Nós concluímos essa breve descrição dos três sis temas da personalidade salientando que o id o ego e o superego não devem ser pensados como homúncu los que operam a personalidade Eles são apenas no mes para vários processos psicológicos que obedecem a diferentes princípios de sistemas Em circunstâncias comuns esses diferentes princípios não colidem um com o outro e nem têm propósitos opostos Pelo con trário eles trabalham juntos como uma equipe sob a liderança administrativa do ego A personalidade nor malmente funciona como um todo e não como três segmentos separados De maneira muito geral o id pode ser pensado como o componente biológico da personalidade o ego como o componente psicológico e o superego como o componente social A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Freud foi educado sob a influência da filosofia forte mente determinista e positivista do século XIX Ele considerava o organismo humano como um sistema complexo de energia que era obtida do alimento con sumido e que gastava uma quantidade limitada de energia em propósitos variados como circulação res piração exercício muscular perceber pensar e lem brar Freud não via nenhuma razão para supor que a energia que fornece o poder para respirar ou digerir fosse diferente salvo em forma da energia que for nece o poder para pensar e lembrar Afinal de contas como insistiam firmemente os físicos do século XIX a energia tinha de ser definida em termos do trabalho que realiza Se o trabalho consiste em uma atividade psicológica como pensar é perfeitamente legítimo acreditava Freud chamar essa forma de energia de energia psíquica Segundo a doutrina da conservação da energia ela pode ser transformada de um estado para outro mas nunca se perde no sistema cósmico total Disso decorre que a energia psíquica pode ser transformada em energia fisiológica e viceversa O ponto de contato ou a ponte entre a energia do corpo e a da personalidade é o id e seus instintos Instinto Um instinto é definido como uma representação psi cológica inata de uma fonte somática interna de exci tação A representação psicológica é chamada de de sejo e a excitação corporal da qual se origina é chamada de necessidade Assim o estado de fome pode ser descrito em termos fisiológicos como uma condi ção de déficit nutricional nos tecidos do corpo ao passo que psicologicamente ela é representada como um desejo de alimento O desejo age como um moti vo para o comportamento A pessoa faminta busca 56 HALL LINDZEY CAMPBELL alimento Por isso os instintos são considerados os fatores propulsores da personalidade Eles não só im pulsionam o comportamento mas também determi nam a direção que o comportamento tomará Em ou tras palavras um instinto exerce um controle seletivo sobre a conduta ao aumentar a sensibilidade da pes soa a tipos específicos de estimulação A pessoa fa minta é mais sensível aos estímulos alimentares e a pessoa sexualmente excitada tende mais a responder a estímulos eróticos Parenteticamente observamos que o organismo também pode ser ativado por estímulos do mundo externo Mas Freud achava que essas fontes ambien tais de excitação desempenham um papel menos im portante na dinâmica da personalidade do que os ins tintos inatos Em geral os estímulos externos fazem menos exigências ao indivíduo e requerem formas menos complicadas de ajustamento do que as neces sidades Sempre podemos fugir de um estímulo ex terno mas é impossível fugir de uma necessidade Embora Freud relegasse os estímulos ambientais a um lugar secundário ele não negava a sua importância sob certas condições Por exemplo uma excessiva es timulação durante os primeiros anos de vida quando o ego imaturo não é capaz de reunir grandes quanti dades de energia livre tensão pode ter efeitos drás ticos sobre a personalidade como veremos quando examinarmos a teoria de Freud sobre a ansiedade Um instinto é um quantum de energia psíquica ou como Freud colocou uma medida da exigência feita à mente para trabalhar 1905a p 168 Todos os instintos tomados juntos constituem a soma total de energia psíquica disponível para a personalidade Como salientamos previamente o id é o reservatório dessa energia e é também a sede dos instintos Ele pode ser considerado um dínamo que fornece a ener gia psicológica para as múltiplas operações da perso nalidade Essa energia derivase é claro dos proces sos metabólicos do corpo Um instinto tem quatro aspectos característicos uma fonte uma meta um objeto e um ímpeto A fonte já foi definida como uma condição corporal ou uma necessidade A meta é a remoção da excitação corpo ral A meta do instinto de fome por exemplo é abolir a deficiência nutricional o que conseguimos eviden temente comendo o alimento Todas as atividades que intervêm entre o aparecimento do desejo e sua reali zação são agrupadas sob o nome de objeto Isto é o objeto se refere não só à coisa ou à condição específi ca que vai satisfazer a necessidade mas inclui tam bém todos os comportamentos que acontecem para assegurar a coisa ou a condição necessária Por exem plo quando uma pessoa está com fome ela normal mente tem de realizar algumas ações antes de atingir a meta final de comer O ímpeto de um instinto é a sua força determina da pela intensidade da necessidade subjacente À medida que aumenta a deficiência nutricional até o ponto em que se instala uma fraqueza física a força do instinto aumenta correspondentemente Vamos considerar brevemente algumas das impli cações nessa maneira de conceitualizar um instinto Em primeiro lugar o modelo oferecido por Freud é um modelo de redução de tensão O comportamento de uma pessoa é ativado por irritantes internos e ces sa quando uma ação apropriada remove ou diminui a irritação Isso significa que a meta de um instinto tem um caráter essencialmente regressivo uma vez que faz a pessoa retornar a um estado anterior um estado que existia antes de o instinto aparecer Esse estado anterior ao qual a personalidade retorna é de relativa tranqüilidade Também dizemos que um instinto é conservador porque sua meta é conservar o equilíbrio do organismo abolindo as excitações perturbadoras Assim podemos descrever um instinto como um pro cesso que repete tão freqüentemente quanto apare ce um ciclo de eventos que se inicia com a excitação e termina com o repouso Freud chamou esse aspecto do instinto de compulsão à repetição A personalidade é compelida a repetir interminavelmente o inevitável ciclo da excitação à tranqüilidade O termo compul são à repetição também é empregado para descrever o comportamento perseverante que ocorre quando os meios adotados para satisfazer a necessidade não são completamente apropriados Uma criança pode per severar chupando o dedo quando está com fome Segundo a teoria freudiana dos instintos a fonte e a meta de um instinto permanecem constantes por toda a vida a menos que a fonte seja modificada ou eliminada pelo amadurecimento físico Novos instin tos podem aparecer à medida que se desenvolvem novas necessidades corporais Ao contrário dessa cons tância de fonte e meta o objeto ou os meios pelos quais a pessoa tenta satisfazer a necessidade podem variar e realmente variam consideravelmente duran te o tempo de vida da pessoa Tal variação na escolha TEORIAS DA PERSONALIDADE 57 do objeto tornase possível porque a energia psíquica é deslocável ela pode ser gasta de várias maneiras Conseqüentemente se um objeto não está disponível ou por estar ausente ou pela presença de barreiras dentro da personalidade a energia pode ser investida em outro objeto Se esse objeto também se mostrar inacessível pode ocorrer outro deslocamento e as sim por diante até ser encontrado um objeto disponí vel Em outras palavras os objetos podem ser substi tuídos o que definitivamente não acontece com a fonte ou a meta de um instinto Quando a energia de um instinto é investida de modo mais ou menos permanente em um objeto subs tituto isto é um que não é o objeto original e inata mente determinado o comportamento resultante é chamado de derivado instintual Assim se a primeira escolha de objeto do bebê for a manipulação dos pró prios órgãos sexuais e ele for forçado a desistir desse prazer em favor de formas mais inócuas de estimula ção corporal como chupar o polegar ou brincar com os dedos dos pés as atividades substitutas são deriva dos do instinto sexual A meta do instinto sexual não muda quando ocorre uma substituição a meta busca da ainda é a da gratificação sexual O deslocamento de energia de um objeto para outro é o aspecto mais importante da dinâmica da personalidade Ele explica a aparente plasticidade da natureza humana e a notável versatilidade do com portamento humano Praticamente todos os interes ses preferências gostos hábitos e atitudes adultas representam os deslocamentos de energia das esco lhas de objeto instintuais originais Eles são quase to dos derivados instintuais A teoria de Freud da moti vação baseavase solidamente na suposição de que os instintos são as únicas fontes de energia para o com portamento humano Nós teremos muito mais a dizer sobre o deslocamento em seções subseqüentes deste capítulo Número e Tipos de Instintos Freud não tentou fazer uma lista de instintos porque sentiu que não sabíamos o suficiente sobre os estados corporais dos quais os instintos dependem A identifi cação dessas necessidades orgânicas é uma tarefa para o fisiologista não para o psicólogo Embora Freud não pretendesse saber quantos instintos existem ele real mente supunha que todos podiam ser classificados sob dois títulos gerais os instintos de vida e os instintos de morte Os instintos de vida servem ao propósito da so brevivência individual e da propagação racial A fome a sede e o sexo se enquadram nessa categoria A for ma de energia pela qual os instintos de vida realizam sua tarefa é chamada de libido O instinto de vida ao qual Freud prestou mais aten ção é o do sexo e nos primeiros anos da psicanálise quase tudo o que a pessoa fazia era atribuído a esta pulsão ubíqua Freud 1905a Na verdade o instinto sexual não é um único instinto mas muitos Isto é existem várias necessidades corporais separadas que originam os desejos eróticos Cada um desses desejos tem sua fonte em uma região corporal diferente refe ridas coletivamente como zonas erógenas Uma zona erógena é uma parte da pele ou da membrana muco sa que é extremamente sensível à irritação e que quan do manipulada de certa maneira remove a irritação e produz sentimentos prazerosos Os lábios e a cavida de oral constituem uma dessas zonas erógenas a re gião anal outra e os órgãos sexuais uma terceira Su gar produz prazer oral a eliminação provoca prazer anal e massagear ou esfregar traz prazer genital Na infância os instintos sexuais são relativamente inde pendentes uns dos outros mas quando a pessoa atin ge a puberdade eles tendem a se fundir e a servir conjuntamente à meta da reprodução Os instintos de morte ou como Freud às vezes os chamava os instintos destrutivos realizam seu traba lho muito menos conspicuamente do que os instintos de vida Por essa razão pouco sabemos sobre eles a não ser que inevitavelmente cumprem a sua missão Todas as pessoas seguramente morrem um fato que levou Freud a formular seu famoso ditado a meta de toda vida é a morte 1920a p 38 Freud supu nha especificamente que a pessoa tinha um desejo geralmente inconsciente é claro de morrer Ele não tentou identificar as fontes somáticas dos instintos de morte embora possamos especular se residem nos processos catabólicos ou de decomposição do corpo Ele também não deu nome à energia pela qual os ins tintos de morte executam seu trabalho A suposição de Freud de um desejo de morte ba seiase no princípio de constância conforme formula do por Fechner Esse princípio afirma que todos os processos vivos tendem a retornar à estabilidade do mundo inorgânico Em Além do Princípio do Prazer 58 HALL LINDZEY CAMPBELL 1920a Freud apresentou o seguinte argumento em favor do conceito do desejo de morte A matéria viva se desenvolveu pela ação das forças cósmicas sobre a matéria inorgânica A princípio essas mudanças eram extremamente instáveis e rapidamente reverti am ao seu estado inorgânico anterior Mas gradual mente a duração da vida aumentou devido a mudan ças evolutivas no mundo mas essas formas animadas instáveis eventualmente regressavam à estabilidade da matéria inanimada Com o desenvolvimento dos mecanismos reprodutivos os seres vivos conseguiram reproduzir sua própria espécie e não dependiam mais de serem criados do mundo inorgânico Mas mesmo com esse avanço cada membro da espécie inevitavel mente obedecia ao princípio da constância uma vez que este era o princípio que governava sua existência quando ele fora dotado de vida A vida dizia Freud era apenas um caminho indireto para a morte Arran cada de sua existência estável a matéria orgânica tenta voltar a um estado de tranqüilidade O desejo de morte no ser humano é a representação psicológica do prin cípio da constância Um derivado importante dos instintos de morte é a pulsão agressiva A agressividade é a autodestruição voltada para fora contra objetos substitutos Uma pessoa briga com outras e é destrutiva porque o dese jo de morte está bloqueado pelas forças dos instintos de vida e por outros obstáculos na personalidade que agem contra os instintos de morte Foi necessária a Primeira Guerra Mundial de 19141918 para conven cer Freud de que a agressão era um motivo tão sobe rano quanto o sexo Essa visão de que a Grande Guer ra estimulou o interesse de Freud pela agressão foi contestada por Stepansky 1977 Os instintos de vida e de morte e seus derivados podem se fundir neutralizar um ao outro ou substi tuir um ao outro Comer por exemplo representa uma fusão da fome e da destrutividade que é satisfeita por morder mastigar e engolir o alimento O amor um derivado do instinto sexual pode neutralizar o ódio um derivado do instinto de morte Ou o amor pode substituir o ódio ou o ódio o amor Uma vez que os instintos contêm toda a energia pela qual os três sistemas da personalidade realizam o seu trabalho examinemos agora como o id o ego e o superego controlam e utilizam a energia psíquica A Distribuição e a Utilização da Energia Psíquica A dinâmica da personalidade consiste na maneira pela qual a energia psíquica é distribuída e utilizada pelo id ego e superego Uma vez que a quantidade de ener gia é uma quantidade limitada existe uma competi ção entre os três sistemas pela energia disponível Um sistema obtém controle da energia disponível à custa dos dois outros sistemas À medida que um sistema se torna mais forte os outros dois necessariamente se tornam mais fracos a menos que uma nova energia seja acrescentada ao sistema total Originalmente o id possui toda a energia e a utili za para a ação reflexa e para a realização do desejo por meio do processo primário Ambas as atividades estão a serviço direto do princípio do prazer pelo qual o id opera O investimento de energia em uma ação ou imagem que vai gratificar um instinto é chamado de escolha objetal ou catexia objetal A energia do id está em um estado muito fluido o que significa que ela pode ser facilmente desviada de uma ação ou imagem para outra ação ou imagem A qualidade deslocável dessa energia instintual se deve à incapacidade do id de fazer discriminações sutis entre os objetos Os objetos diferentes são tratados como se fossem o mesmo O bebê faminto por exemplo vai pegar qualquer objeto que puder agarrar e o levará aos lábios Uma vez que o ego não tem nenhuma fonte de energia própria ele precisa tomála emprestada do id O desvio da energia do id para os processos que constituem o ego fazse por meio de um mecanismo conhecido como identificação Esse é um dos concei tos mais importantes na psicologia freudiana e um dos mais difíceis de entender Podemos lembrar de uma discussão prévia que o id não distingue entre imagem subjetiva e realidade objetiva Quando ele investe energia psíquica na imagem de um objeto é o mesmo que investir no próprio objeto Entretanto se uma imagem mental não pode satisfazer uma neces sidade a pessoa é forçada a diferenciar entre o mun do da mente e o mundo externo Ela precisa aprender a diferença entre uma memória ou idéia de um objeto que não está presente e uma impressão ou percepção sensorial de um objeto que está presente Então a fim TEORIAS DA PERSONALIDADE 59 de satisfazer a necessidade a pessoa tem de aprender a comparar o que está em sua mente ao seu equiva lente no mundo externo por meio do processo secun dário Essa comparação de uma representação men tal com a realidade física de algo que está na mente com algo que está no mundo externo é o que quere mos dizer como identificação Já que o id não faz distinção entre os conteúdos da mente sejam eles percepções imagens mnemôni cas idéias ou alucinações pode ser feita uma catexia investimento em uma percepção realista tão facil mente quanto em uma imagem mnemônica de reali zação de desejo Dessa maneira a energia se desvia dos processos psicológicos puramente subjetivos do id para os processos objetivos lógicos ideacionais do ego Em ambos os casos a energia é usada para pro pósitos estritamente psicológicos mas no caso do id não é feita nenhuma distinção entre o símbolo men tal e o referente físico ao passo que no caso do ego essa distinção é feita O ego tenta fazer com que o símbolo represente acuradamente o referente Em outras palavras a identificação permite que o proces so secundário substitua ou suplante o processo pri mário Já que o processo secundário é tão mais satis fatório para reduzir tensões formamse mais e mais catexias de ego Gradualmente o ego mais eficiente obtém um monopólio virtual sobre a reserva de ener gia psíquica Esse monopólio entretanto é apenas relativo porque se o ego deixa de satisfazer os ins tintos o id retoma seu poder Uma vez que o ego armazenou energia suficiente pode usála para outros propósitos além do da gratifi cação dos instintos pelo processo secundário Parte da energia é usada para levar a um nível superior de desenvolvimento vários processos psicológicos tais como perceber lembrar julgar discriminar abstrair generalizar e raciocinar Parte da energia tem de ser usada pelo ego para impedir o id de agir impulsiva e irracionalmente Essas forças restritivas são conheci das como anticatexia em distinção às forças pulsio nais ou catexias À medida que o id se torna muito ameaçador o ego erige defesas contra ele Esses me canismos de defesa que serão discutidos em uma se ção posterior também podem ser usados para lidar com as pressões do superego sobre o ego Para a ma nutenção dessas defesas é necessária energia eviden temente A energia do ego também pode ser deslocada para criar novas catexias objetais de modo que se forma no ego uma verdadeira rede de interesses atitudes e preferências derivadas Essas catexias do ego podem não satisfazer diretamente as necessidades básicas do organismo mas estão conectadas por vínculos associ ativos a objetos que satisfazem A energia da pulsão da fome por exemplo pode desdobrarse para incluir catexias como o interesse por colecionar receitas fre qüentar restaurantes exóticos e vender porcelana Tal desdobramento de catexias em canais que estão ape nas remotamente conectados com o objeto original do instinto é possibilitado pela maior eficiência do ego ao realizar sua função fundamental de gratificar os instintos O ego tem um excedente de energia para usar para outros propósitos Finalmente o ego como o executivo da organi zação da personalidade usa a energia para efetuar uma integração entre os três sistemas O propósito dessa função integrativa do ego é produzir uma har monia interna dentro da personalidade de modo que as transações do ego com o ambiente possam ser fei tas tranqüila e efetivamente O mecanismo de identificação também explica a energização do sistema do superego Essa também é uma questão complexa e ocorre da seguinte manei ra Entre as primeiras catexias objetais do bebê estão as dos pais As catexias se desenvolvem cedo e entrin cheiramse firmemente porque o bebê é completa mente dependente dos pais ou de substitutos dos pais para a satisfação de necessidades Os pais também desempenham o papel de agentes disciplinares eles ensinam à criança o código moral e os ideais e valores tradicionais da sociedade em que a criança é criada Eles fazem isso recompensando a criança quando ela apresenta a atitude certa e punindoa quando está errada Uma recompensa é qualquer fato ou objeto que reduza a tensão ou prometa isso Um pedaço de chocolate um sorriso ou uma palavra gentil podem ser uma recompensa efetiva Uma punição é qualquer elemento que aumente a tensão Pode ser um tapa um olhar desaprovador ou a negação de um prazer Assim a criança aprende a identificar isto é a com parar seu comportamento com as sanções e as proibi ções impostas pelos pais A criança introjeta os impe rativos morais dos pais em virtude das catexias originais que fez neles como agentes que satisfazem 60 HALL LINDZEY CAMPBELL necessidades Ela investe energia em seus ideais e es tes se tornam o seu ideal de ego ela investe energia em suas proibições e estas se tornam a sua consciên cia Assim o superego ganha acesso ao reservatório de energia no id por meio da identificação da criança com os pais O trabalho realizado pelo superego freqüentemen te mas nem sempre é na direção oposta aos impul sos do id Isso acontece porque o código moral repre senta a tentativa da sociedade de controlar e até de inibir a expressão das pulsões primitivas especialmen te as do sexo e da agressão Ser bom geralmente sig nifica ser obediente e não fazer nem dizer coisas fei as Ser mau significa ser desobediente rebelde e lascivo A pessoa virtuosa inibe seus impulsos a pes soa pecadora os satisfaz Mas o superego pode às ve zes ser corrompido pelo id Isso acontece por exem plo quando alguém em um ataque de fervor moralista toma medidas agressivas contra aqueles considerados maus ou pecadores A expressão da agressão nesses casos é coberta pelo manto de honra da indignação Depois que a energia fornecida pelos instintos foi canalizada para o ego e o superego pelos mecanismos de identificação tornase possível uma complicada interação de forças pulsionais e restritivas O id po demos lembrar só possui forças pulsionais ou catexi as ao passo que a energia do ego e do superego é usada tanto para satisfazer quanto para frustrar as metas instintuais O ego tem de supervisionar tanto o id quanto o superego para poder governar sabiamen te a personalidade no entanto ele precisa que lhe reste energia suficiente para realizar a interação ne cessária com o mundo externo Se o id mantém o con trole sobre uma grande parcela da energia o compor tamento da pessoa tende a ter um caráter impulsivo e primitivo Por outro lado se o superego obtém o con trole de uma quantidade indevida de energia o fun cionamento da personalidade será dominado por con siderações moralistas em vez de realistas As anticatexias da consciência podem amarrar o ego com nós moralistas e impedir qualquer tipo de ação en quanto as catexias do ideal de ego podem estabelecer padrões tão elevados para o ego que a pessoa vai se sentir continuamente frustrada e pode eventualmen te desenvolver um sentimento depressivo de fracasso As mudanças de energia súbitas e imprevisíveis de um sistema para outro e de catexias para anticate xias são comuns especialmente durante as duas pri meiras décadas de vida antes que a distribuição de energia tenha se tornado mais ou menos estabilizada Essas mudanças de energia mantêm a personalidade em um estado de fluxo dinâmico Freud era pessimis ta em relação às chances de a psicologia se tornar uma ciência exata porque como ele salientava até uma mudança muito pequena na distribuição da energia poderia fazer a balança pender em favor de uma for ma de comportamento e não da oposta Freud 1920 b Quem pode dizer se a pessoa em pé no parapeito da janela vai pular ou não ou se o atacante do time de futebol vai falhar ou conseguir fazer o gol e obter a vitória Na análise final a dinâmica da personalidade con siste na interação das forças pulsionais catexias e das forças restritivas anticatexias Todos os confli tos da personalidade podem ser reduzidos à oposição entre esses dois conjuntos de forças Toda tensão pro longada se deve à oposição entre uma força pulsional e uma força restritiva Seja uma anticatexia do ego oposta a uma catexia do id ou uma anticatexia do su perego oposta a uma catexia do ego o resultado em termos de tensão é o mesmo Como Freud gostava de dizer a psicanálise é uma concepção dinâmica que investiga a vida mental na interação entre forças que favorecem ou inibem uma à outra 1910b p 213 Ansiedade A dinâmica da personalidade é em grande extensão governada pela necessidade de gratificar as próprias necessidades por meio de transações com objetos no mundo externo O ambiente circundante provê o or ganismo faminto com alimento e o sedento com água Além de seu papel como fonte dos suprimentos o mundo externo desempenha um outro papel impor tante como moldador do destino da personalidade O ambiente contém regiões de perigo e insegurança ele pode ameaçar assim como satisfazer O ambiente tem o poder de produzir dor e aumentar a tensão assim como de trazer prazer e reduzir a tensão Ele pertur ba assim como conforta Sentir medo é a reação costumeira do indivíduo às ameaças externas de dor e destruição com as quais não está preparado para lidar A pessoa ameaçada normalmente é uma pessoa com medo Esmagado pela estimulação excessiva que não consegue controlar o ego é inundado pela ansiedade TEORIAS DA PERSONALIDADE 61 Freud reconheceu três tipos de ansiedade ansie dade de realidade ansiedade neurótica e ansiedade moral ou sentimentos de culpa 1926b O tipo bási co é a ansiedade de realidade ou o medo de perigos reais no mundo externo dele se derivam os outros dois A ansiedade neurótica é o medo de que os ins tintos escapem ao controle e levem a pessoa a tomar alguma atitude pela qual ela será punida A ansieda de neurótica não é tanto o medo dos próprios instin tos quanto o medo da punição que provavelmente se seguirá à gratificação instintual A ansiedade neuróti ca tem uma base na realidade porque o mundo con forme representado pelos pais e outras autoridades realmente pune a criança por ações impulsivas A an siedade moral é o medo da consciência As pessoas com superegos bemdesenvolvidos tendem a sentir culpa quando praticam algum ato ou inclusive quan do pensam em fazer alguma ação contrária ao código moral pelo qual foram criadas Dizemos que são apri sionadas pela consciência A ansiedade moral também tem uma base realista pois a pessoa foi punida no passado por violar o código moral e pode ser punida novamente A função da ansiedade é alertar a pessoa em rela ção a um perigo iminente ela é um sinal para o ego de que a menos que sejam tomadas medidas apropri adas o perigo pode aumentar até o ego ser aniquila do A ansiedade é um estado de tensão é uma pulsão como a fome ou o sexo mas em vez de surgir das condições tissulares internas é produzida originalmen te por causas externas Quando a ansiedade é desper tada ela motiva a pessoa a fazer algo Ela pode fugir da região ameaçadora inibir o impulso perigoso ou obedecer à voz da consciência A ansiedade que não pode ser manejada com medidas efetivas é chamada de traumática Ela reduz a pessoa a um estado de desamparo infantil De fato o protótipo de toda ansiedade posterior é o trauma do nascimento O neonato é bombardeado com estímu los do mundo para os quais não está preparado e aos quais não consegue se adaptar O bebê precisa de um ambiente protegido até o ego ter tido a chance de se desenvolver a ponto de conseguir dominar os fortes estímulos do ambiente Quando o ego não consegue lidar com a ansiedade por métodos racionais ele tem de recorrer a métodos irrealistas Esses métodos são os chamados mecanismos de defesa do ego que serão discutidos na seção seguinte O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Freud foi provavelmente o primeiro teórico da psico logia a enfatizar os aspectos desenvolvimentais da personalidade e em particular o papel decisivo dos primeiros anos do período de bebê e da infância como formadores da estrutura de caráter básica da pessoa Na verdade Freud considerava que a personalidade já estava muito bem formada pelo final do quinto ano de vida e que o desenvolvimento subseqüente era pra ticamente só a elaboração dessa estrutura básica Ele chegou a essa conclusão com base em suas experiên cias com pacientes que se submetiam à psicanálise Inevitavelmente suas explorações mentais os levavam de volta a experiências da infância inicial que pareci am decisivas para o desenvolvimento de uma neurose mais tarde na vida Freud acreditava que a criança é o pai do homem É interessante em vista de sua for te preferência por explicações genéticas do compor tamento adulto que Freud raramente tenha estuda do as crianças pequenas diretamente Ele preferia reconstruir a vida passada da pessoa a partir de evi dências fornecidas por lembranças adultas A personalidade se desenvolve em resposta a qua tro fontes importantes de tensão 1 processos de crescimento fisiológico 2 frustrações 3 conflitos e 4 ameaças Como uma conseqüência direta de aumentos de tensão emanando dessas fontes a pes soa é forçada a aprender novos métodos de reduzir a tensão Tal aprendizagem é o que seria o desenvolvi mento da personalidade Para uma lúcida discussão da teoria de Freud da aprendizagem ver Hilgard Bower 1975 A identificação e o deslocamento são dois métodos pelos quais o indivíduo aprende a resolver as frustra ções os conflitos e as ansiedades Identificação O conceito de identificação foi introduzido em uma seção anterior para ajudar a explicar a formação do ego e do superego No presente contexto a identifi cação pode ser definida como o método pelo qual al guém assume as características de outra pessoa e tor naas uma parte integrante de sua personalidade Ela aprende a reduzir a tensão modelando o próprio com portamento segundo o de outra pessoa Freud prefe 62 HALL LINDZEY CAMPBELL ria o termo identificação ao termo imitação mais fa miliar Ele achava que imitação denota uma espécie de comportamento de copiar superficial e temporá rio e queria uma palavra que transmitisse a idéia de uma aquisição mais ou menos permanente da perso nalidade Nós escolhemos como modelos aqueles indivídu os que nos parecem mais bemsucedidos do que nós na gratificação das próprias necessidades A criança se identifica com os pais porque eles parecem ser oni potentes pelo menos durante os anos da infância ini cial À medida que as crianças crescem encontram outras pessoas com as quais se identificar pessoas cujas realizações estão mais de acordo com seus atuais de sejos Cada período tende a ter suas figuras de identi ficação características Nem é preciso dizer que a maioria dessas identificações ocorre inconscientemen te e não como pode parecer com intenção conscien te Essa ênfase na modelagem inconsciente distingue a identificação de Freud da aprendizagem observa cional de Bandura ver Capítulo 14 Não é necessário que uma pessoa se identifique com outra em todos os aspectos Geralmente selecio namos e incorporamos apenas aquelas características que acreditamos que vão nos ajudar a atingir um ob jetivo desejado Existe muita tentativa e erro no pro cesso de identificação porque geralmente não temos certeza do que existe na outra pessoa que explica o seu sucesso O teste supremo é se a identificação aju da a reduzir a tensão se ajuda aquela qualidade é absorvida se não ajuda ela é descartada Podemos identificarnos com animais personagens imaginári os instituições idéias abstratas e objetos inanimados assim como com outros seres humanos A identificação também é um método pelo qual podemos recuperar um objeto que foi perdido Quan do nos identificamos com uma pessoa amada que morreu ou de quem nos separamos a pessoa perdida é reencarnada como uma característica incorporada da personalidade As crianças que foram rejeitadas pelos pais tendem a formar sólidas identificações com eles na esperança de recuperar seu amor Também po demos nos identificar com alguém por medo A crian ça se identifica com as proibições dos pais a fim de evitar o castigo Esse tipo de identificação é a base para a formação do superego A estrutura final da personalidade representa um acúmulo de numerosas identificações feitas em vários períodos da vida da pessoa embora a mãe e o pai provavelmente sejam as figuras de identificação mais fortes na vida de qualquer pessoa Deslocamento Quando uma escolha de objeto original de um instin to se torna inacessível por barreiras externas ou inter nas anticatexias uma nova catexia se forma a me nos que ocorra uma forte repressão Se essa nova catexia também é bloqueada ocorre um outro deslo camento e assim por diante até ser encontrado um objeto que traga certo alívio para a tensão encurrala da Esse objeto é então catexizado até perder seu po der de reduzir a tensão momento em que é instituída outra busca por um objeto apropriado Durante toda a série de deslocamentos que constitui em grande medida o desenvolvimento da personalidade a fonte e a meta do instinto permanecem constantes É só o objeto que varia Um objeto substituto raramente é tão satisfatório ou redutor de tensão quanto o objeto original e quanto mais diferente for o objeto substituto do original menos a tensão é reduzida Em conseqüência de nu merosos deslocamentos vaise acumulando uma gran de tensão que age como uma permanente força mo tivacional para o comportamento A pessoa está constantemente buscando maneiras novas e melho res de reduzir a tensão Isso explica a variabilidade e a diversidade do comportamento assim como a in quietude humana Por outro lado a personalidade re almente se torna mais ou menos estabilizada com a idade devido aos compromissos feitos entre as forças pulsionais dos instintos e as resistências do ego e do superego Como escrevemos alhures Os interesses os apegos e todas as outras formas de motivos adquiridos persistem porque são até certo grau frustrantes assim como satisfatórios Eles persistem porque não produzem uma satis fação completa Todo compromisso é ao mes mo tempo uma renúncia A pessoa desiste de al guma coisa que realmente quer mas não pode ter e aceita uma segunda ou terceira melhor escolha que pode ter Hall 1954 p 104 TEORIAS DA PERSONALIDADE 63 Freud salientou que o desenvolvimento da civili zação foi possível devido à inibição das escolhas obje tais primitivas e ao desvio da energia instintual para canais socialmente aceitáveis e culturalmente criati vos 1930 Um deslocamento que produz uma reali zação cultural superior é chamado de sublimação Freud observou em relação a isso que o interesse de Leonardo da Vinci por pintar madonas era uma ex pressão sublimada de um desejo de intimidade com a mãe de quem ele fora separado em tenra idade 1910a Uma vez que a sublimação não resulta em uma satisfação completa não mais que o deslocamen to sempre fica certa tensão residual Essa tensão pode descarregarse na forma de nervosismo ou inquietu de condições que Freud apontou como o preço que os seres humanos pagavam por seu status civilizado 1908 A direção tomada por um deslocamento é deter minada por dois fatores 1 a semelhança do objeto substituto com o original e 2 as sanções e as proibi ções impostas pela sociedade O fator de semelhança é na verdade o grau em que os objetos são identifica dos na mente da pessoa Leonardo pintava madonas em vez de camponesas ou aristocratas porque imagi nava sua mãe mais parecida com uma madona do que com qualquer outro tipo de mulher A sociedade agin do por meio dos pais e de outras pessoas disciplina doras autoriza certos deslocamentos e proíbe outros A criança aprende que é permitido chupar um piruli to mas não o polegar A capacidade de formar catexias objetais substi tutas é o mecanismo mais poderoso para o desenvol vimento da personalidade A complexa rede de inte resses preferências valores atitudes e apegos que caracterizam a personalidade do adulto humano é possibilitada pelo deslocamento Se a energia psíqui ca não fosse deslocável e distributiva não haveria nenhum desenvolvimento da personalidade A pessoa seria meramente um robô mecânico levada pelos ins tintos a executar padrões fixos de comportamento Os Mecanismos de Defesa do Ego Sob a pressão de excessiva ansiedade o ego às vezes é forçado a tomar medidas extremas para aliviar a pressão Essas medidas são chamadas de mecanismos de defesa As principais defesas são a repressão a pro jeção a formação reativa a fixação e a regressão Anna Freud 1946 Todos os mecanismos de defesa têm duas características em comum 1 eles negam falsi ficam ou distorcem a realidade e 2 eles operam in conscientemente de modo que a pessoa não tem cons ciência do que está acontecendo Repressão Este é um dos primeiros conceitos da psicanálise An tes de Freud chegar à sua formulação final da teoria da personalidade em termos de id ego e superego ele dividiu a mente em três regiões consciência pré consciência e inconsciência O préconsciente consis tia no material psicológico que poderia se tornar cons ciente quando surgisse a necessidade O material no inconsciente entretanto era visto por Freud como re lativamente inacessível à consciência ele estaria em um estado de repressão Quando Freud revisou sua teoria da personalida de o conceito de repressão foi mantido como um dos mecanismos de defesa do ego Gill 1963 salienta que Freud abandonou uma topografia da mente em termos de consciente préconsciente e inconsciente por uma visão estrutural em termos de id ego e su perego porque a repressão e o que estava reprimido não podiam estar no mesmo sistema A repressão es taria no ego e o que era reprimido no id Ver tam bém Arlow Brenner 1964 Dizemos que ocorre repressão quando uma escolha de objeto que provoca um alarme indevido é empurrada para fora da consci ência por uma anticatexia Por exemplo podemos impedir que uma memória perturbadora se torne cons ciente ou que uma pessoa não enxergue algo que está bem à vista porque a percepção daquilo está reprimi da A repressão pode inclusive interferir no funciona mento normal do corpo Alguém pode ficar sexual mente impotente porque tem medo do impulso sexual ou desenvolver uma artrite em conseqüência de sen timentos de hostilidade reprimidos As repressões podem abrir caminho à força por meio das anticatexias opositoras ou encontrar expres são na forma de um deslocamento Para que o deslo camento consiga impedir o redespertar da ansiedade ele precisa estar disfarçado em alguma forma simbó lica adequada Um filho que reprimiu seus sentimen tos hostis em relação ao pai pode expressar esses sen timentos hostis diante de outros símbolos de autoridade 64 HALL LINDZEY CAMPBELL Uma vez formadas as repressões são difíceis de serem apagadas A pessoa precisa reassegurarse de que o perigo não mais existe mas não pode obter essa segurança até a repressão se erguer e ela poder testar a realidade É um círculo vicioso É por isso que os adultos levam consigo muitos medos infantis Eles nunca têm a chance de descobrir que esses medos não têm nenhuma base na realidade Observem a seme lhança com a posição comportamentalista de que os medos irracionais persistem porque levam o indiví duo a evitar situações em que o medo poderia ser ex tinto ver Capítulo 12 Projeção Normalmente é mais fácil para o ego lidar com a ansi edade de realidade do que com a ansiedade neurótica ou a moral Conseqüentemente se a fonte da ansie dade pode ser atribuída ao mundo externo em vez de aos impulsos primitivos do indivíduo ou às ameaças da consciência a pessoa provavelmente obterá maior alívio para a condição ansiosa Esse mecanismo pelo qual a ansiedade neurótica ou moral é convertida em um medo objetivo é chamado de projeção Tal con versão é feita facilmente porque a fonte original tan to da ansiedade neurótica quanto da moral é o medo de ser castigado por um agente externo Na projeção alguém simplesmente diz Ela me odeia em vez de Eu a odeio ou Ele está me perseguindo em vez de Minha consciência está me perturbando A proje ção geralmente tem um propósito duplo Ela reduz a ansiedade ao substituir um perigo maior por um me nor e permite que a pessoa que está projetando ex presse seus impulsos sob o disfarce de defenderse dos inimigos Formação Reativa Esta medida defensiva envolve substituir na consci ência um impulso ou sentimento ansiogênico pelo seu oposto Por exemplo o ódio é substituído pelo amor O impulso original ainda existe mas é encoberto ou mascarado por outro que não causa ansiedade É comum a pergunta sobre como podemos distin guir uma formação reativa de uma genuína expressão de um impulso ou sentimento Por exemplo como o amor reativo pode ser diferenciado do amor verda deiro Normalmente uma formação reativa é marca da por uma manifestação extravagante a pessoa faz protestos exagerados e pela compulsividade As for mas extremas de qualquer tipo de comportamento ge ralmente denotam uma formação reativa Às vezes a formação reativa consegue satisfazer o impulso origi nal contra o qual a pessoa se defende como quando uma mãe cobre o filho de afeição e atenção Fixação e Regressão No curso do desenvolvimento normal como veremos na próxima seção a personalidade atravessa uma sé rie de estágios bemdefinidos até chegar à maturida de Cada novo passo dado todavia envolve certa frus tração e ansiedade Se elas se tornam muito intensas o crescimento normal pode ficar temporária ou per manentemente interrompido Em outras palavras a pessoa pode ficar fixada nos estágios iniciais do de senvolvimento porque dar o passo seguinte desperta muita ansiedade A criança excessivamente dependen te exemplifica a defesa pela fixação a ansiedade a impede de aprender a ser independente Uma defesa estreitamente relacionada é a da re gressão Nesse caso uma pessoa que encontra experi ências traumáticas recua para um estágio anterior de desenvolvimento Por exemplo uma criança que está assustada com o primeiro dia na escola pode apresen tar um comportamento de bebê como chorar chupar o dedo agarrarse à professora ou esconderse em um canto Uma jovem mulher casada que está com difi culdades com o marido pode voltar para a segurança da casa dos pais ou um homem que perdeu o empre go pode buscar consolo na bebida O caminho da re gressão normalmente é determinado pelas fixações anteriores da pessoa Isto é as pessoas tendem a re gredir a um estágio no qual estiveram previamente fixadas Se eram excessivamente dependentes quan do crianças é provável que se tornem mais uma vez excessivamente dependentes quando sua ansiedade atingir um nível intolerável A fixação e a regressão em geral são condições relativas uma pessoa raramente se fixa ou regride completamente Mais propriamente a personalidade tende a incluir infantilismos isto é formas imaturas de comportamento e predisposição a manifestar con duta infantil quando frustrada As fixações e as re gressões são responsáveis pela irregularidade no de senvolvimento da personalidade TEORIAS DA PERSONALIDADE 65 Estágios de Desenvolvimento A criança atravessa uma série de estágios dinamica mente diferenciados durante os primeiros cinco anos de vida depois dos quais a dinâmica fica mais ou menos estabilizada por uns cinco ou seis anos o pe ríodo de latência Com o advento da adolescência a dinâmica irrompe outra vez e depois gradualmente se acomoda à medida que o adolescente entra na ida de adulta Para Freud os primeiros anos de vida são decisivos para a formação da personalidade Cada estágio de desenvolvimento durante os pri meiros cinco anos é definido em termos dos modos de reação de uma zona específica do corpo Durante o primeiro estágio que dura cerca de um ano a boca é a principal região de atividade dinâmica O estágio oral é seguido pelo desenvolvimento de catexias e de anticatexias em relação às funções eliminativas o cha mado estágio anal Ele acontece no segundo ano de vida e é seguido pelo estágio fálico em que os órgãos sexuais se tornam as zonas erógenas mais importan tes Esses estágios oral anal e fálico são chamados de estágios prégenitais A criança então atravessa um prolongado período de latência os chamados anos de tranqüilidade dinamicamente falando Durante esse período os impulsos tendem a ser mantidos em um estado de repressão O ressurgimento da dinâmica na adolescência reativa os impulsos prégenitais Se eles forem satisfatoriamente deslocados e sublimados pelo ego a pessoa passa para o estágio final da maturida de o estágio genital O modelo desenvolvimental de Freud baseiase na suposição da sexualidade infantil Isto é os estági os representam uma seqüência normativa de diferen tes modos de gratificar os impulsos sexuais e é a maturação física a responsável pela seqüência de zo nas erógenas e de estágios correspondentes Os está gios são chamados de psicossexuais porque são as pulsões sexuais que levam à aquisição das caracterís ticas psicológicas Freud é freqüentemente malenten dido nesse ponto Quando usou o termo sexualida de ele não estava se referindo exclusivamente à sexualidade genital melhor dizendo as forças sexu ais que induzem os estágios desenvolvimentais refle tem tipos diferentes de prazer corporal Os locais de prazer corporal mudam conforme a maturação física que leva a uma seqüência normativa de zonas eróge nas cada uma com um conjunto diferente de ações e objetos característicos Essa relação entre o físico e o psicológico continua pois muitos dos traços de cará ter associados a um estágio específico são transfor mações de atos físicos característicos daquele estágio específico Por exemplo o bebê que literalmente ten ta engolir tudo durante o estágio oral podese tornar o adulto crédulo que aceita ou figurativamente en gole tudo o que as outras pessoas dizem Ou o bebê que morde agressivamente podese tornar o adulto sarcástico com um humor mordaz Esses exemplos podem parecer extremos mas observem que o pro cesso de fixação em si é muito razoável Na verdade a noção de uma continuação ou de um retorno a mo dos estabelecidos de comportamento é a essência das abordagens da teoria da aprendizagem ao comporta mento e à personalidade ver Capítulos 12 13 e 14 Com essa introdução agora passamos a tratar de cada estágio O Estágio Oral A principal fonte de prazer derivado da boca é comer Comer envolve a estimulação tátil dos lábios e da ca vidade oral e do engolir ou se o alimento é desagra dável do cuspir Mais tarde quando surgem os den tes a boca é usada para morder e mastigar Esses dois modos de atividade oral incorporar alimento e mor der são os protótipos de muitos outros traços de cará ter que se desenvolvem O prazer derivado da incor poração oral pode ser deslocado para outros modos de incorporação tais como o prazer da aquisição de conhecimentos ou possessões Uma pessoa crédula por exemplo está fixada no nível incorporativo oral da personalidade essa pessoa vai engolir quase tudo o que lhe disserem A agressão mordaz ou oral pode ser deslocada na forma de sarcasmo e de argumenta tividade Por meio de vários tipos de deslocamentos e sublimações assim como de defesas contra os impul sos orais primitivos esses modos prototípicos de fun cionamento oral constituem a base para o desenvolvi mento de uma vasta rede de interesses atitudes e traços de caráter Além disso já que o estágio oral ocorre em uma época na qual o bebê é completamente dependente da mãe para sobreviver surgem nesse período senti mentos de dependência Tais sentimentos de depen dência tendem a persistir por toda a vida apesar dos posteriores desenvolvimentos do ego e podem aflo 66 HALL LINDZEY CAMPBELL rar sempre que a pessoa se sentir ansiosa e insegura Freud acreditava que o sintoma de dependência mais extremo é o desejo de voltar ao útero O Estágio Anal Depois que o alimento foi digerido os resíduos se acu mulam na extremidade inferior do trato intestinal e são reflexamente eliminados quando a pressão sobre os esfíncteres anais atinge um certo nível A expulsão das fezes remove o desconforto e produz um senti mento de alívio Quando é iniciado o treinamento para deixar as fraldas em geral durante o segundo ano de vida a criança tem sua primeira experiência decisiva com a regulação externa de um impulso instintual Ela precisa aprender a adiar o prazer que vem de ali viar tensões anais Dependendo do método específico de treinamento para deixar as fraldas usado pela mãe e de seus sentimentos em relação à defecação as con seqüências desse treinamento podem ter efeitos im portantes sobre a formação de traços e valores especí ficos Se a mãe for muito rígida e repressiva em seus métodos a criança pode reter as fezes e ter prisão de ventre Se esse modo de reação se generalizar para outras maneiras de se comportar a criança vai desen volver um caráter retentivo Ela se tornará obstinada e avarenta Ou sob a coerção de medidas repressivas a criança pode expressar sua raiva expelindo as fezes nos momentos mais inadequados Esse é o protótipo de todos os tipos de traços expulsivos crueldade destrutividade desenfreada ataques de raiva e desor ganização desleixada para mencionar apenas alguns Por outro lado se a mãe é o tipo de pessoa que apela para que a criança evacue e elogiaa extravagante mente quando ela o faz a criança vai adquirir a no ção de que toda a atividade de produzir fezes é extre mamente importante Essa idéia pode ser a base para a criatividade e a produtividade Inúmeros outros tra ços de caráter têm raízes no estágio anal O Estágio Fálico Durante este estágio de desenvolvimento da persona lidade os sentimentos sexuais e agressivos associa dos ao funcionamento dos órgãos genitais ficam mui to claros Os prazeres da masturbação e a vida de fantasia que acompanham a atividade autoerótica montam o cenário para o aparecimento do complexo de Édipo Freud considerava a identificação do com plexo de Édipo como uma de suas grandes descober tas O complexo de Édipo recebeu o nome do rei de Tebas que matou o pai e casou com a mãe Definindo brevemente o complexo de Édipo con siste em uma catexia sexual no progenitor do sexo oposto e em uma catexia hostil no progenitor do mes mo sexo O menino quer possuir a mãe e afastar o pai a menina quer possuir o pai e afastar a mãe Es ses sentimentos se expressam nas fantasias da criança durante a masturbação e na alteração dos atos de amor e rebelião em relação aos pais O comportamento da criança de três a cinco anos é marcado em grande extensão pela operação do complexo de Édipo e em bora seja modificado e sofra repressão depois dos cin co anos ele permanece sendo uma força vital na per sonalidade por toda a vida As atitudes em relação ao sexo oposto e em relação a pessoas de autoridade por exemplo são grandemente condicionadas pelo complexo de Édipo A história e o destino do complexo de Édipo dife rem para homens e mulheres A princípio ambos os sexos amam a mãe porque ela satisfaz suas necessida des e ressentemse do pai porque o consideram um rival pelas afeições da mãe Esses sentimentos persis tem no menino mas mudam na menina Vamos con siderar primeiro a seqüência de eventos que caracte riza o desenvolvimento do complexo de Édipo masculino O desejo incestuoso do menino pela mãe e seu crescente ressentimento em relação ao pai fazemno entrar em conflito com os pais especialmente com o pai Ele imagina que seu rival dominador vai machu cálo e seus medos podem realmente ser confirma dos pelas ameaças de um pai rancoroso e punitivo Seus medos relativos ao que o pai pode fazer com ele centramse em ataques a seus órgãos genitais pois eles são a fonte de seus sentimentos de desejo Ele tem medo de que o pai ciumento remova os órgãos ofensores O medo da castração ou como Freud cha mou a ansiedade de castração induz à repressão do desejo sexual pela mãe e da hostilidade em relação ao pai A repressão também ajuda o menino a se identifi car com o pai Ao identificarse com o pai o menino também obtém certa satisfação vicária de seus impul sos sexuais dirigidos à mãe Ao mesmo tempo seu sentimento erótico perigoso pela mãe é convertido em uma afeição terna e inofensiva por ela Por último a TEORIAS DA PERSONALIDADE 67 repressão do complexo de Édipo faz com que o su perego sofra seu desenvolvimento final Nas palavras de Freud o superego é o herdeiro do complexo de Édipo masculino Ele é a proteção contra o incesto e a agressão A seqüência de eventos no desenvolvimento e na dissolução do complexo de Édipo feminino é mais complicada Em primeiro lugar a menina troca seu objeto de amor original a mãe por um novo objeto o pai Isso ocorre porque ela fica desapontada ao desco brir que o menino possui um órgão sexual protube rante o pênis enquanto ela tem somente uma cavi dade Dessa descoberta traumática decorrem várias conseqüências importantes Primeiro ela vê a mãe como responsável por sua condição castrada o que enfraquece sua catexia na mãe Segundo ela transfe re seu amor para o pai porque ele tem o órgão valori zado que ela aspira compartilhar com ele Entretanto seu amor pelo pai e por outros homens está também misturado a um sentimento de inveja pois eles pos suem uma coisa que ela não tem A inveja do pênis é o equivalente feminino da ansiedade de castração no menino e as duas ansiedades são chamadas de com plexo de castração Ela imagina que perdeu algo valio so enquanto o menino tem medo de perder Em certa extensão a falta de um pênis é compensada quando a mulher tem um bebê especialmente se o bebê for do sexo masculino Na menina o complexo de castração inicia o com plexo de Édipo ao enfraquecer sua catexia na mãe e instituir uma catexia no pai O complexo de Édipo do menino é reprimido ou de outra forma modificado pela ansiedade de castração Em contraste o comple xo de Édipo da menina tende a persistir embora sofra alguma modificação devido às barreiras realistas que a impedem de gratificar seu desejo sexual pelo pai Mas ele não é fortemente reprimido como no meni no Essas diferenças na natureza dos complexos de Édipo e de castração são as bases para muitas dife renças psicológicas entre os sexos A proposta de Freud da inveja do pênis foi ampla mente atacada e nós examinaremos várias rejeições nos capítulos seguintes Entre as reações contra Freud destacase a afirmação de que ele confundiu expecta tivas culturais com necessidades biológicas Afinal de contas Freud escreveu que a distinção anatômica entre os sexos tem de se expressar em conseqüênci as psíquicas 1933 p 124 Entretanto para fazer justiça a Freud devemos observar que ele considera va as diferenças sexuais como supradeterminadas i e como o produto de várias forças diferentes No mesmo texto em que aparece a citação anterior Freud escreveu o seguinte Mas nós devemos ter o cuidado de não subesti mar a influência dos costumes sociais que igual mente forçam as mulheres a situações passivas Vocês podem tomar como um exemplo de injusti ça masculina se eu afirmar que a inveja e o ciúme desempenham um papel ainda maior na vida mental da mulher do que na do homem Não é que eu pense que essas características estejam au sentes nos homens ou que eu ache que elas não tenham outras raízes nas mulheres além da inve ja do pênis mas eu estou inclinado a atribuir sua maior quantidade nas mulheres a esta última in fluência Nós não pretendemos que essas afir mações tenham mais do que uma validade mé dia também nem sempre é fácil distinguir o que deve ser atribuído à influência da função sexual e o que deve ser atribuído à influência da educação social Os determinantes da escolha objetal da mulher muitas vezes são tornados irreconhecíveis pelas condições sociais Mas não esqueçam que eu só estou descrevendo as mulheres uma vez que sua natureza é determinada por sua função sexu al É verdade que essa influência vai muito longe mas nós não ignoramos o fato de que uma mu lher pode ser um ser humano em outros aspectos também 1933 p 116135 Apesar desses cuidadosos qualificativos está claro que a conclusão de Freud de que a menina tem três possí veis linhas de desenvolvimento a inibição sexual ou a neurose um complexo de masculinidade ou a fe minilidade normal i e narcisismo vaidade vergo nha ou modéstia pouco senso de justiça interesse social mais tênue e menor capacidade de sublimar os instintos não soa como ele próprio colocou muito amigável Freud supunha que cada pessoa é inerentemente bissexual cada sexo é atraído para membros do mes mo sexo assim como para membros do sexo oposto Essa é a base constitucional da homossexualidade embora na maioria das pessoas os impulsos homos sexuais permaneçam latentes Tal condição de bisse xualidade complica o complexo de Édipo ao induzir 68 HALL LINDZEY CAMPBELL catexias sexuais no progenitor do mesmo sexo Con seqüentemente os sentimentos do menino pelo pai e os sentimentos da menina pela mãe teriam um cará ter ambivalente ao invés de univalente A suposição da bissexualidade foi apoiada por investigações das glândulas endócrinas que mostram que hormônios sexuais masculinos e femininos estão presentes em ambos os sexos A emergência e o desenvolvimento dos comple xos de Édipo e de castração são eventos principais do período fálico e deixam um grande número de depó sitos na personalidade O Estágio Genital As catexias dos períodos prégenitais têm um caráter narcísico Isso significa que o indivíduo obtém gratifi cação a partir da estimulação e da manipulação do próprio corpo e que as outras pessoas só são catexi zadas porque proporcionam formas adicionais de pra zer corporal para a criança Durante a adolescência parte desse autoamor ou narcisismo é canalizada para escolhas objetais genuínas O adolescente come ça a amar os outros por motivos altruístas e não sim plesmente devido a razões egoístas ou narcísicas Atra ção sexual socialização atividades grupais planeja mento vocacional e preparação para casar e criar uma família tudo isso começa a se manifestar Pelo final da adolescência essas catexias altruístas socializadas tornamse bem estabilizadas devido aos habituais des locamentos sublimações e identificações A pessoa se transforma de um bebê narcisista que busca o prazer em um adulto socializado e orientado para a realida de Entretanto não devemos pensar que os impulsos prégenitais são deslocados pelos genitais O que acon tece é que as catexias dos estágios oral anal e fálico se fundem com os impulsos genitais A principal fun ção biológica do estágio genital é a reprodução os aspectos psicológicos ajudam na obtenção desse fim ao oferecer certa medida de estabilidade e segurança Apesar do fato de Freud diferenciar quatro está gios no desenvolvimento da personalidade ele não supôs rompimentos bruscos ou transições abruptas na passagem de um estágio para outro A organização final da personalidade representa contribuições dos quatro estágios PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Os dados empíricos sobre os quais Freud baseou suas teorias consistiam principalmente nas verbalizações e no comportamento expressivo de pacientes sob trata mento psicológico Embora Freud conhecesse os mé todos exatos da ciência do século XIX e tivesse estabe lecido uma reputação substancial como investigador médico antes de mudar sua atenção para a psicolo gia ele não empregou técnicas experimentais ou obser vacionais controladas em suas investigações da men te humana Ele não fez parte do movimento da psicologia experimental iniciado por Fechner em 1860 e transformado em uma ciência por Wundt nas duas décadas seguintes Conhecia esse movimento e a filo sofia de Fechner o influenciou mas Freud não foi um psicólogo experimental Ele não realizou experimen tos psicológicos controlados nem coletou dados e ana lisouos quantitativamente como outros psicólogos do século XIX estavam fazendo Procuramos em vão por uma tabela ou gráfico em seus extensos textos Freud também nunca empregou um teste diagnóstico ou qualquer outro tipo de avaliação objetiva da persona lidade Suas teorias germinaram enquanto ele ouvia os fatos e as fantasias verbalizados por personalida des perturbadas Uma anedota do final da vida de Freud ilustra essa posição a respeito da validação experimental de suas proposições Em 1934 Saul Rosenweig enviou a Freud os resultados de alguns experimentos que pa reciam apoiar a teoria psicanalítica da repressão Ro senweig 1933 Freud replicou polidamente mas um tanto sumariamente que embora achasse a investi gação interessante via nela pouco valor porque a ri queza de observações confiáveis sobre as quais se baseia a psicanálise tornaas independentes da verifi cação experimental Entretanto mal ela não faz Gay 1988 p 523 itálicos acrescentados Gay acrescenta que Freud ocasionalmente citava apoios experimen tais para a sua posição mas de modo geral acreditava que suas horas analíticas ofereciam provas suficien tes de suas idéias Gay conclui que esta posição foi no mínimo um erro tático Muitos críticos alegam que tal atitude representa muito mais do que um erro tático na verdade ela é anticientífica e impede que a TEORIAS DA PERSONALIDADE 69 posição de Freud seja aceita no panteão das teorias científicas No entanto seria um sério erro dizer que as ver balizações das pessoas em tratamento foram os úni cos ingredientes usados por Freud para criar suas teo rias Tão importante quanto esses dados brutos certamente foi a atitude rigorosamente crítica com que Freud analisou as associações livres de seus pacien tes Hoje nós diríamos que ele analisou esse material bruto pelo método da consistência interna As infe rências feitas a partir de uma parte do material eram comparadas com evidências que apareciam em ou tras partes de modo que as conclusões finais sobre o caso se baseavam em uma rede entrelaçada de fatos e de inferências Freud procedia em seu trabalho como um detetive reunindo evidências ou um advogado apresentando um caso para o júri Tudo tinha de en caixarse coerentemente antes de Freud achar que ti nha encontrado a interpretação correta Devemos lem brar além disso que o material produzido por um caso atendido cinco horas por semana durante dois ou três anos tinha imensas proporções e que Freud tinha amplas oportunidades de verificar e reverificar suas posições antes de decidir sobre a interpretação final Em contraste o sujeito dos experimentos psico lógicos típicos realizados sob condições controladas é observado ou testado por apenas uma ou duas horas em média Certamente duas das contribuições mais importantes de Freud para a estratégia de pesquisa foram o estudo intensivo do caso único e o uso do método da consistência interna para testar hipóteses Inúmeras vezes Freud foi obrigado a revisar suas teorias porque novas descobertas não podiam ser explicadas adequadamente por suas teorias corren tes Ele ficava relutante em abandonar uma posição sistemática depois de têla formulado mas a história da teoria psicanalítica da personalidade de seu co meço na década de 1890 ao final da década de 1920 demonstra muito conclusivamente que as visões de Freud eram finalmente determinadas pelo peso da evi dência conforme ele a via Embora seus associados pró ximos possam ter tido certa influência em suas idéias parece razoavelmente claro que o teste supremo da validade de suas teorias era sua autocrítica e sua dis posição de ser guiado por novas evidências A onda de ataques indignados à psicanálise que começou assim que Freud enunciou sua teoria da etiologia se xual da histeria e que continuou pelo resto de sua vida não influenciou seu pensamento Poucas vezes em sua vida ele respondeu aos seus críticos Nem a falta de apoio de seus colegas mais próximos fez com que Freud alterasse suas teorias Ele parecia ser dota do de uma imensa autonomia intelectual o que sem dúvida é um dos prérequisitos da grandeza O Credo Científico de Freud As idéias de Freud sobre como o cientista deve traba lhar para desenvolver uma ciência foram apresenta das sucintamente em um de seus raros pronunciamen tos sobre esse tópico Ele escreve Nós ouvimos freqüentemente a afirmação de que as ciências deveriam ser fundamentadas em con ceitos básicos claros e nitidamente definidos Na verdade nenhuma ciência nem mesmo a mais exata começa com tais definições O verdadeiro início da atividade científica consiste mais exata mente em descrever fenômenos e depois prosse guir para agrupálos classificálos e correlacioná los Mesmo no estágio da descrição não é possível evitar aplicar certas idéias abstratas ao material sob exame idéias derivadas de algum lugar mas que certamente não derivam das novas observa ções sozinhas Tais idéias que mais tarde se tor narão os conceitos básicos da ciência são ainda mais indispensáveis à medida que o material vai sendo trabalhado Elas a princípio necessariamen te possuem certo grau de indefinição não pode haver nenhuma clara delimitação de seu conteú do À medida que elas permanecem nessa condi ção chegamos a um entendimento de seu signifi cado fazendo repetidas referências ao material de observação do qual elas parecem ter sido deri vadas mas ao qual de fato elas foram impostas Assim estritamente falando elas têm o caráter de convenções embora tudo dependa de não serem arbitrariamente escolhidas e sim determi nadas por suas relações significativas com o ma terial empírico com as relações que parecemos sentir antes de podermos reconhecer e demons trar claramente É só depois de uma investigação mais completa do campo da observação que sere mos capazes de formular seus conceitos científi cos básicos com crescente precisão e progressi vamente modificálos para que se tornem úteis e 70 HALL LINDZEY CAMPBELL consistentes em uma grande área Então realmen te pode ter chegado o momento de confinálos em definições O avanço do conhecimento entre tanto não tolera qualquer rigidez mesmo em definições A física fornece uma excelente ilustra ção da maneira pela qual até os conceitos bási cos que foram estabelecidos na forma de defini ções têm seu conteúdo constantemente alterado 1915 p 117 Portanto Freud preferia o tipo mais aberto e in formal de construção de teoria indutiva que perma nece razoavelmente próximo dos apoios empíricos sobre os quais se baseia ao invés do tipo de teoria dedutiva mais formal que começa com conceitos niti damente definidos e postulados e corolários cuidado samente enunciados dos quais as hipóteses testáveis são derivadas e subseqüentemente testadas Além disso como mostra essa citação Freud estava inteira mente consciente da importância da mente prepara da do cientista para poder fazer o melhor uso dos dados empíricos Essas idéias abstratas poderiam vir de várias fontes no caso de Freud vinham de amplas leituras dos clássicos e de outras literaturas de seu passatempo de arqueologia de suas observações como pai de seis filhos de experiências cotidianas de todo tipo e acima de tudo talvez de seu hábito vitalício de autoanálise Existe certo debate sobre se Freud defendia o re ducionismo e o determinismo biológicos Sulloway 1979 argumentou que a teoria de Freud foi uma continuação do trabalho revolucionário de Charles Darwin sobre a evolução e seleção naturais Sulloway chamou Freud de um criptobiólogo cujas teorias psicanalíticas estavam enraizadas em suposições e abordagens biológicas Dessa perspectiva o trabalho de Freud baseavase na evolução e o próprio Freud é mais bemcompreendido por meio da expressão que se tornou o título do livro de Sulloway O Biólogo da Mente Na opinião de Sulloway grande parte dessa influência foi exercida pela associação de Freud com Wilhelm Fliess e sua biologia sexual Na verdade Sullo way argumentou que a psicanálise era em grande parte uma transformação das idéias fliessianas Os conhecimentos de Sulloway são impressionantes mas sua reconstrução intelectual de Freud foi convincen temente contestada por Robinson 1993 Parisi 1987 1988 ver também Silverstein 1985 1988 1989 igualmente contesta a concepção de Freud como um reducionista e determinista biológi co Parisi argumentou que Freud fracassou em sua ten tativa mais notavelmente no Projeto para uma psico logia científica de construir uma teoria da mente baseada na ciência natural Mas Freud estava rica mente enganado e seu fracasso nos ajudou a com preender as limitações conceituais da teorização so bre o comportamento humano que ele próprio passou a reconhecer Parisi escreve A neurociência contemporânea tende a supor que as explicações da vida psicológica para que te nham mérito têm de ser consistentes com a neu rofisiologia Freud concluiu exatamente o opos to para que tenhamos uma ciência natural da psicologia ela tem de ser consistente com a expe riência Ele sabia o que a ciência natural deve ser mas também estava agudamente conscien te da natureza dos fenômenos que lhe interessa vam Freud chegou à conclusão de que não é possível reduzir esses fenômenos às suas raízes biológicas os fenômenos psicológicos são irre dutíveis a fenômenos biológicos 1987 p 237 Freud argumentava que as idéias são causais e os sintomas se reduzem a idéias Parisi 1987 p 238 De maneira semelhante segundo Parisi Freud rejei tava a teoria darwiniana conforme a entendia por que não acreditava que a biologia oferecesse o nível primário de explicação na verdade nem a biologia nem a psicologia são primárias Esse é um argumento um tanto desorientador Em essência Parisi concluiu que Freud resistiu à tentação de reduzir sua teoria de mente à neurologia ou à seleção natural porque essa redução distorceria o fenômeno da vida mental Pari si acredita que lucraríamos seguindo a orientação de Freud Vamos examinar agora algumas das técnicas em pregadas por Freud para coletar dados Elas foram usadas evidentemente na situação terapêutica pois era nela que Freud coletava seus dados Associação Livre e Análise de Sonhos Após uma breve tentativa com o método da hipnose 18871889 que estava muito em voga na época TEORIAS DA PERSONALIDADE 71 especialmente na França Freud ficou sabendo de um novo método que fora usado com sucesso por seu amigo e colega Dr Joseph Breuer no tratamento de um caso de histeria Esse método que Breuer chama va de catarse ou cura pela fala consistia em o paci ente relatar os detalhes do aparecimento de cada um dos sintomas depois do que os sintomas desapareci am A partir desse método Freud gradualmente de senvolveu seu método inigualável da associação livre Ernest Jones chamou tal desenvolvimento de uma das duas grandes façanhas da vida científica de Freud a outra sendo a sua autoanálise Em essência o método da associação livre requer que o paciente diga tudo o que lhe vem à consciência por mais ridículo ou inadequado que possa soar Dife rentemente do método catártico o método da associ ação livre não pára na origem dos sintomas Ele per mite na verdade exige que os pacientes falem sobre qualquer coisa que lhes ocorrer sem restrições e sem qualquer tentativa de produzir um discurso lógico organizado e significativo O papel do terapeuta é em grande extensão um papel passivo O terapeuta fica sentado escutando ocasionalmente estimula quando o fluxo verbal do paciente se esgota mas não interrompe quando o paciente está falando A fim de reduzir ao máximo a influência de distrações exter nas o paciente normalmente fica deitado em um divã em uma sala tranqüila Freud observou que quando prevaleciam essas condições o paciente eventualmente começava a fa lar sobre as memórias de suas experiências infantis iniciais Tais memórias proporcionaram a Freud seu primeiro insight real sobre a formação da estrutura da personalidade e seu desenvolvimento subseqüen te Esse método de reconstruir o passado a partir de verbalizações atuais pode ser comparado com o mé todo desenvolvimental de observar o desenvolvimen to da personalidade do período de bebê à idade adulta Talvez o insight mais original de Freud sobre os vôos indisciplinados das verbalizações de seus paci entes tenha sido que cada declaração estava associa da de alguma maneira significativa e dinâmica à de claração precedente de modo que da primeira à última havia uma cadeia contínua de associações Tudo o que o paciente dizia se relacionava sem exceção ao que fora dito previamente Podia haver numerosos circun lóquios e bloqueios verbais mas eventualmente a his tória da mente da pessoa e sua presente organização seriam divulgadas para o ouvinte que seguisse a ca deia de associações por meio do labirinto verbal A análise dos sonhos não é um método separado do método da associação livre ele é uma conseqüên cia natural da instrução dada ao paciente para que fale sobre tudo o que lhe vier à mente Os primeiros pacientes de Freud lembravam os sonhos espontane amente e prosseguiam para associar livremente sobre eles Freud logo percebeu que esses sonhos relatados e as associações livres concomitantes eram fontes de informação especialmente ricas sobre a dinâmica da personalidade humana Em resultado desse insight que testou com os próprios sonhos Freud formulou a famosa teoria de que o sonho é uma expressão do funcionamento e dos conteúdos mais primitivos da mente humana 1900 O processo primitivo que cria o sonho foi chamado por Freud de processo primário Como vimos o processo primário tenta realizar um desejo ou descarregar uma tensão ao induzir uma ima gem do objetivo desejado Uma vez que as defesas não estão tão vigilantes durante o sono é mais fácil negociar uma expressão de compromisso de um dese jo inconsciente Esse compromisso assume a forma de um sonho Os sonhos portanto têm duas funções Primeiro eles servem como os guardiães do sono para o sonhador ao distinguir os desejos cujo conteú do traumático de outra forma o faria acordar Segun do eles oferecem ao analista a via régia para o in consciente A missão do analista é reverter os processos de trabalho onírico e a formação de símbo lo que transformaram o conteúdo latente subjacen te no conteúdo manifesto superficial experienciado pelo sonhador A interpretação dos símbolos é o mais conhecido desses dois instrumentos talvez devido à natureza sexual de muitos dos símbolos comuns Por exemplo Freud escreveu Todos os objetos alongados como bastões tron cos de árvores e guardachuvas podem repre sentar o órgão masculino Caixas estojos baús armários e fornos representam o útero assim como objetos ocos navios e naves de qualquer tipo As salas nos sonhos geralmente são mulhe res Nos sonhos dos homens as gravatas fre qüentemente aparecem como símbolo do pênis Um símbolo muito recente do órgão masculino nos sonhos merece ser mencionado o avião cujo uso neste sentido é justificado por sua conexão 72 HALL LINDZEY CAMPBELL com voar e às vezes por sua forma 1900 p 354357 Freud entretanto deixou clara a relativa importân cia dessas duas técnicas Eu gostaria de emitir uma advertência expressa sobre superestimar a importância dos símbolos na interpretação dos sonhos sobre restringir o tra balho de traduzir os sonhos meramente a tradu zir símbolos e sobre abandonar a técnica de fa zer uso das associações do sonhador As duas técnicas de interpretação dos sonhos devem ser complementares mas tanto na prática quanto na teoria o primeiro lugar continua cabendo aos comentários feitos pelo sonhador 1900 p 359 360 Ao fazer seus pacientes associarem livremente sobre os sonhos Freud conseguiu penetrar nas regi ões mais inacessíveis da mente humana e descobrir os fundamentos da personalidade Estudos de Caso de Freud A vasta quantidade de material bruto a partir da qual Freud criou sua teoria da personalidade nunca será conhecida As poucas histórias de caso que Freud es colheu publicar representam apenas uma fração infi nitesimal dos casos tratados por ele A ética profissio nal impediuo parcialmente de apresentar seus casos ao mundo pois sempre havia o risco de o público cu rioso descobrir a identidade de seus pacientes Além das histórias de caso que aparecem em Es tudos Sobre a Histeria 1895 que escreveu em cola boração com Breuer antes que a teoria psicanalítica assumisse uma forma definida em sua mente Freud publicou apenas seis relatos de caso Um deles o cha mado Caso Schreber 1911 não foi paciente de Freud Freud baseou sua análise em um relato autobi ográfico de um caso de paranóia escrito pelo Juiz Da niel Schreber Um outro estudo de caso referiase a uma fobia em um menino de cinco anos de idade o Pequeno Hans 1909a que foi tratado pelo pai um médico sob a orientação e as instruções de Freud Nos outros quatro casos Freud foi o terapeuta Eles são conhecidos como Dora 1905b o Homem dos Ratos 1909b o Homem dos Lobos 1918 e um caso de homossexualidade feminina 1920b Cada um desses casos foi apresentado para destacar os as pectos importantes de um ou mais dos conceitos teó ricos de Freud Dora foi publicado disse Freud para mostrar como a análise dos sonhos nos permite descobrir as partes escondidas e reprimidas da mente humana e para demonstrar que os sintomas histéricos são moti vados pelo impulso sexual Após um relato bastante longo dos fatores históricos e do quadro clínico atual Freud apresenta uma análise detalhada de dois dos sonhos de Dora Grande parte do material consiste no relato exato das associações livres de Dora e das in terpretações de Freud e apresenta um quadro nota velmente lúcido da maneira exata de interpretar os sonhos Nessa história de caso como nas outras nós vemos como Freud tecia a urdidura desenhada da personalidade a partir dos fios verbais emaranhados de uma pessoa sofredora e percebemos seu talento incomum para enxergar relações entre verbalizações amplamente discrepantes Operando a partir da su posição de que tudo o que a pessoa diz ou faz é signi ficativo e encaixase no quadro total da organização da personalidade Freud era um observador vigilan te a declaração ou o ato mais comum era minuciosa mente esquadrinhado em busca de um significado mais profundo Freud não considerava seu talento para a obser vação como incomum de nenhuma maneira como indica a seguinte citação Quando estabeleci para mim a tarefa de trazer à luz o que os seres humanos mantêm escondido dentro de si mesmos não pelo poder compelidor da hipnose mas ao observar o que eles dizem e o que eles mostram pensei que a tarefa era mais difícil do que realmente é Aquele que tem olhos para ver e ouvidos para escutar pode convencer se de que nenhum mortal é capaz de manter um segredo Se seus lábios estão selados ele conver sa com as pontas dos dedos ele se trai em cada poro E assim a tarefa de tornar consciente os recessos mais escondidos da mente é uma tarefa muito possível de realizar 1905b p 7778 A notável capacidade de Freud de fazer inferências de grande importância a partir do comportamento comum é claramente observada naquele que prova velmente é um de seus textos mais populares A Psico patologia da Vida Cotidiana 1901 Esse livro está repleto de exemplos da importância dinâmica de sim TEORIAS DA PERSONALIDADE 73 ples lapsos da fala erros de memória acidentes e vá rios tipos de equívocos A teoria de Freud da sexualidade infantil foi for mulada com base em memórias adultas O caso do Pequeno Hans deu a Freud a primeira oportunidade de verificar a teoria usando observações sobre uma criança pequena Hans temia que um cavalo o mor desse se ele se aventurasse na rua A partir de anota ções cuidadosas mantidas pelo pai do menino muitas das quais são apresentadas textualmente no relato pu blicado Freud conseguiu mostrar que essa fobia era uma expressão de dois dos mais importantes comple xos da infância inicial o complexo de Édipo e o com plexo de castração O caso do Pequeno Hans exempli fica e corrobora a teoria da sexualidade infantil proposta por Freud em 1905 Ver Brown 1965 para uma reinterpretação persuasiva do caso do Pequeno Hans de um ponto de vista de condicionamento No caso do Homem dos Ratos que sofria da re voltante obsessão de que sua namorada e seu pai seri am castigados tendo uma quantidade significativa de roedores vorazes amarrados às suas nádegas Freud juntou a dinâmica envolvida e as conexões de pensa mento de um neurótico obsessivo Embora a apresen tação seja apenas fragmentária esse caso ilustra cla ramente como Freud resolveu as aparentes contra dições distorções e os absurdos nas divagações des conexas de uma personalidade doente e transformou as em um padrão logicamente coerente Ao relatar esse caso Freud nos diz que ele se baseia em notas feitas na noite do dia do tratamento e não em notas feitas durante a sessão analítica Freud se opunha à tomada de notas por parte do terapeuta durante o período de tratamento porque sentia que a retirada da atenção do terapeuta iria interferir no progresso da terapia Ele acreditava de toda maneira que o te rapeuta se lembraria do material importante e esque ceria os detalhes triviais A análise de Freud do caso Schreber baseiase no relato do próprio Schreber de sua paranóia Freud justificou o uso desse livro autobiográfico dizendo que a paranóia é um tipo de transtorno em que a história de caso escrita é tão satisfatória quanto um conheci mento pessoal do caso O sintoma característico da paranóia é o sistema delirante e tortuoso construído pelo paciente Os delírios de Schreber consistiam em pensar que ele era o Redentor e que estava sendo trans formado em uma mulher Em uma análise intrincada desses dois delírios Freud mostrou que eles estavam relacionados e que a força motriz de ambos assim como dos outros aspectos do caso era a homossexua lidade latente Nesse estudo de caso Freud apresen tou sua famosa hipótese do relacionamento causal entre a homossexualidade e a paranóia O pendor de Freud para derivar uma generalização de imensa im portância a partir de um rol de fatos específicos é ma ravilhosamente retratado no caso de Schreber O Homem dos Lobos é um relato de uma neurose infantil que aflorou durante a análise de um jovem e estava relacionada dinamicamente à presente condi ção do paciente Freud observou que a análise de uma experiência ocorrida há cerca de quinze anos antes tinha vantagens assim como desvantagens quando comparada à análise de um evento logo depois de ele ocorrer A principal desvantagem é a nãoconfiabili dade da memória relativa àquela experiência Por outro lado se tentamos analisar crianças muito jo vens há a desvantagem de elas não saberem se ex pressar verbalmente O Homem dos Lobos é o equiva lente adulto do Pequeno Hans e ambas as abordagens a reconstrutiva e a genética revelaramse fontes vali osas de evidência empírica para as teorias da psicaná lise O principal aspecto dessa história de caso é uma longa análise de um sonho com lobos que o paciente lembrava de sua infância inicial e que foi interpreta do como sendo causado pela reação da criança à cena primária o termo usado por Freud para quando a cri ança observa ou fantasia os pais tendo relações sexu ais Para uma discussão desse caso ver Gardner 1971 O último caso relatado por Freud foi um que ele teve de interromper porque a resistência da paciente a desistir de sua homossexualidade foi tão forte que nenhum progresso pôde ser feito No entanto como mostra a história de caso publicada Freud conseguiu chegar a um completo entendimento da origem e do desenvolvimento da homossexualidade A homosse xualidade em ambos os sexos devese a dois fatores principais uma bissexualidade inerente a todas as coisas vivas e a uma inversão do complexo de Édipo Ao invés de amar o pai e identificarse com a mãe essa mulher identificouse com o pai e catexizou a mãe No caso da homossexualidade masculina have ria uma identificação com a mãe e um amor pelo pai Esse caso também contém algumas das idéias de Freud sobre o suicídio já que a razão para essa mulher pro curar Freud em primeiro lugar foi uma tentativa de autodestruição 74 HALL LINDZEY CAMPBELL É impossível dizer com certeza que essas histórias de caso específicas que Freud decidiu tornar públicas foram as fontes empíricas reais das teorias que elas exemplificam ou se elas foram meramente exemplos convenientes e claros das formulações teóricas que já tinham tomado forma na mente de Freud Realmente não faz muita diferença se o caso Schreber por exem plo foi o caso que revelou a Freud a dinâmica da pa ranóia ou se ele fez a descoberta fundamental com base em casos anteriores e apenas a aplicou a esse caso específico De qualquer forma o tipo de material coletado por Freud as técnicas empregadas por ele e a maneira pela qual ele pensava são revelados nesses seis estudos de caso Qualquer pessoa que deseje co nhecer o material bruto com o qual Freud trabalhava deveria lêlos Não devemos confundir tais histórias de caso com a aplicação da teoria psicanalítica para um melhor entendimento da literatura e das artes ou para pro pósitos de crítica social Freud não aprendeu sobre sublimação a partir de seu estudo sobre a vida de Leo nardo da Vinci e não descobriu o complexo de Édipo lendo Sófocles Shakespeare ou Dostoevsky Nem ele compreendeu a irracionalidade básica do ser humano observando o comportamento humano religioso ou político A interpretação de uma obra literária ou a análise de uma instituição social usandose os insi ghts da teoria psicanalítica podem ter ajudado a con firmar a utilidade dos insights e até a validar sua au tenticidade e universalidade mas as produções literárias e as instituições sociais em si não fizeram parte dos dados empíricos de Freud AutoAnálise de Freud O material dragado de seu próprio inconsciente cons tituiu uma fonte importante de dados empíricos para Freud Conforme relatado por Ernest Jones 1953 Freud começou a autoanálise no verão de 1897 com a análise de um de seus sonhos A partir desse auto escrutínio investigativo Freud confirmou para sua própria satisfação a teoria dos sonhos e a teoria da sexualidade infantil Ele encontrou em sua personali dade aqueles conflitos contradições e irracionalida des que observara em seus pacientes e sua experiên cia talvez mais do que qualquer outra convenceuo da correção essencial de suas idéias De fato Freud relutava em aceitar a validade de qualquer hipótese antes de testála em si próprio Freud continuou sua autoanálise por toda a vida reservando a última meia hora de cada dia para essa atividade PESQUISA ATUAL Não há dúvida nenhuma de que a teoria psicanalítica de Freud tem um enorme valor intelectual e impacto heurístico Mas não está claro se a teoria existe em uma forma que permita a predição e a testagem expe rimental Conflito defesa sexualidade agressão e a psicopatologia da vida cotidiana são temas que pare cem relevantes para a nossa vida Mas será que esse senso de relevância pode ser validado por alguma cor roboração experimental Será que as forças e as con traforças que por definição existem fora da consciên cia estão sujeitas à mensuração e será que os motivos e os relacionamentos que existem em um estado de esquecimento motivado estão sujeitos à regra da des confirmabilidade Em resumo em que extensão a te oria freudiana é testável Grunbaum 1984 1986 1993 argumentou que algumas das hipóteses de Freud são de fato falsificá veis mas que os dados clínicos não são válidos como evidência científica em testes dessas hipóteses Em conseqüência existem poucas evidências apoiando as hipóteses psicanalíticas Westen 1990 entretanto observa que Grunbaum subestima consideravelmen te as evidências experimentais que apóiam as propo sições psicanalíticas ver Robinson 1993 e Sachs 1989 para amplas refutações de Grunbaum Exami nemos agora algumas das evidências experimentais Há muitos anos de fato existem tentativas de submeter hipóteses derivadas da teoria psicanalítica à testagem de laboratório Nós já referimos o traba lho de Rosenzweig por exemplo A pesquisa inicial foi revisada por Sears 1943 1944 Hilgard 1952 e Blum 1953 Essas revisões todavia são principal mente de valor histórico porque grande parte da pes quisa inicial foi realizada com metodologia inadequa da e um entendimento insuficiente da teoria psicanalítica Horwitz 1963 Kline 1972 concluiu que uma parte grande demais do que é distintiva mente freudiano foi confirmada para ser possível a rejeição de toda a teoria psicanalítica p 350 Hans Eysenck um implacável inimigo da psicanálise em TEORIAS DA PERSONALIDADE 75 colaboração com Glenn Wilson reexaminou os dados sobre os quais Kline baseou sua conclusão e afirmou não existe absolutamente nenhuma evidência em favor da teoria psicanalítica 1974 p 385 Fisher e Greenberg 1977 ao contrário acreditam que as evidências geralmente falando favorecem Freud Uma revisão anual intitulada Psychoanalysis and Con temporary Science editada por Holt e Peterfreund tem circulado desde 1972 Em vez de tentar revisar todos os testes experi mentais das proposições psicanalíticas realizados nos últimos anos nós examinaremos o programa de pes quisa que tem recebido a maior atenção Ativação Psicodinâmica Subliminar Lloyd Silverman 1966 1976 1982 1983 Silverman Lachman Milich 1982 Weinberger Silverman 1987 desenvolveu um programa de pesquisa para testar hipóteses derivadas da noção freudiana geral de que o comportamento anormal ou desviante pode ser intensificado ou atenuado quando os conflitos re lativos a desejos inconscientes sexuais e agressivos são atiçados ou diminuídos respectivamente A dificul dade nessa pesquisa evidentemente é desenvolver um método para se ter acesso ao material conflitual em um nível inconsciente Como veremos Silverman desenvolveu um método para esse propósito o qual ele chamou de ativação psicodinâmica subliminar Antes de examinarmos a pesquisa em si certos fun damentos são necessários Silverman 1976 começa chamando a atenção para a distinção entre proposições clínicas e metapsi cológicas dentro da psicanálise As proposições clíni cas referemse a declarações baseadas em dados empíricos tais como o comportamento dos pacientes durante a hora analítica As proposições clínicas po dem ser dinâmicas referindose à motivação subja cente ao comportamento ou genéticas referindose às origens do comportamento em experiências inici ais Como exemplo de uma proposição dinâmica Sil verman ofereceu a proposição psicanalítica de que muitas depressões envolvem um desejo inconsciente conflitual e hostil em relação a alguém que desapon tou a pessoa deprimida quando a depressão resulta em voltar defensivamente a hostilidade contra o self Da mesma forma uma proposição genética é a que as pessoas que experienciaram a perda de um outro sig nificativo tendem a responder com depressão a desa pontamentos subseqüentes Observem que as propo sições clínicas baseiamse exclusivamente na covari ância observada dos comportamentos As proposições metapsicológicas em contraste vão além dos dados empíricos ao relacionar desejos a instintos ou pul sões instintuais e ao tentar especificar em uma lin guagem de energia a maneira pela qual os motivos afetam o comportamento p 622 Silverman argu mentou que as proposições clínicas representam o nú cleo da psicanálise mas que a maioria dos críticos da teoria psicanalítica focaliza as proposições metapsi cológicas O programa de pesquisa de Silverman foi planejado para aplicar aqueles controles investigató rios adequados característicos do método experimen tal às proposições clínicas centrais da teoria psicana lítica O método de estimulação subliminar envolve mostrar a uma pessoa uma figura ou frase escrita tão rapidamente que ela não consegue reconhecer o que é A breve exposição 0004 segundos é feita por um instrumento chamado taquistoscópio Foi claramente demonstrado em várias investigações que embora a pessoa não esteja consciente daquilo que foi apresen tado taquistoscopicamente o material mostrado pode afetar os sentimentos e o comportamento de manei ras demonstráveis Como exemplo da metodologia nós descrevere mos experimentos com pessoas deprimidas Segundo a teoria psicanalítica a depressão é produzida voltan dose os sentimentos agressivos inconscientes em re lação aos outros contra o próprio self Se essa hipóte se estiver correta uma pessoa deprimida deveria se sentir ainda mais deprimida quando os desejos agres sivos inconscientes forem ativados Para estimular es ses desejos é mostrada uma figura agressiva a pesso as deprimidas Por exemplo um homem rosnando e segurando uma adaga e uma mensagem verbal do tipo CANIBAIS COMEM PESSOAS Os estímulos fo ram mostrados aos sujeitos como podemos lembrar por apenas 0004 segundos Antes e depois da apre sentação o indivíduo faz uma autoavaliação de seus sentimentos Os mesmos sujeitos em uma sessão di ferente foram expostos a uma figura neutra por exem plo uma pessoa lendo um jornal e uma mensagem verbal por exemplo AS PESSOAS ESTÃO CAMI NHANDO e foram solicitadas a fazer autoavaliações antes e depois da apresentação Silverman 1976 76 HALL LINDZEY CAMPBELL escreve A apresentação subliminar do conteúdo des tinado a estimular desejos agressivos levou a uma in tensificação de sentimentos depressivos que não esta vam evidentes depois da apresentação subliminar do conteúdo neutro p 627 Para mostrar que o efeito do material foi específi co para o conteúdo agressivo como exige a teoria psicanalítica da depressão e não poderia ter sido pro duzido por um tipo diferente de material emocional o grupo de Silverman realizou o seguinte experimen to Em uma ocasião pacientes deprimidos foram ex postos subliminarmente a uma figura agressiva e em outro momento a uma figura de uma pessoa defe cando Esta última figura estimularia desejos anais con flituais que segundo a teoria freudiana estão ligados à gagueira Os deprimidos ficaram ainda mais depri midos depois da apresentação da figura agressiva mas não depois da apresentação da figura anal O efeito oposto foi mostrado por um grupo de gagos Eles ga guejaram mais depois de ver subliminarmente a figu ra anal mas não a agressiva Silverman também demonstrou que os sintomas anormais podiam ser reduzidos diminuindose os de sejos conflituais Nesses experimentos foram testados pacientes esquizofrênicos Eles foram expostos taquis toscopicamente à mensagem impressa MAMÃE E EU SOMOS UM SÓ Seus sintomas anormais foram redu zidos por essa mensagem subliminar e não por outras mensagens de controle Por que a mensagem MAMÃE teve um efeito benéfico Por três razões diz Silver man Primeiro a unidade com a mãe afasta sentimen tos hostis inconscientes em relação a ela Segundo a fantasia de unidade implica um suprimento ininter rupto de nutrição maternagem da mãe E terceiro a fantasia diminui a ansiedade de separação Ao con trário quando os esquizofrênicos foram expostos a mensagens que continham hostilidade em relação à mãe ou medo de perdêla seus sintomas anormais aumentaram O leitor podese perguntar o que aconteceria se as mensagens destinadas a ativar desejos inconscien tes fossem mostradas em condições normais isto é em que os sujeitos pudessem facilmente reconhecer e compreender a mensagem A resposta é que as men sagens conscientemente percebidas não tiveram ne nhum efeito sobre os sintomas dos pacientes Aparen temente os desejos inconscientes só podem ser atiçados por alguma coisa da qual a pessoa não tem consciência Os efeitos psicodinâmicos subliminares também foram demonstrados em amostras nãopatológicas Geisler 1986 expôs universitárias a estímulos desti nados a intensificar o conflito edípico Amar o papai é errado a reduzir o conflito edípico Amar o pa pai é certo ou a ser neutros As pessoas estão ca minhando Ela descobriu que os estímulos de inten sificação do conflito realmente afetavam a memória para materiais neutros subseqüentemente apresenta dos como opostos aos sexuais Esse efeito só existia para aqueles sujeitos que eram propensos a conflito edípico e à repressão ver Dauber 1984 para um es tudo semelhante com universitárias deprimidas Em um estudo com universitários do sexo masculino Sil verman Ross Adler e Lustig 1978 apresentaram estímulos destinados a intensificar o conflito edípico Bater no papai é errado a reduzir o conflito edí pico Bater no papai é certo ou a ser neutros As pessoas estão caminhando Os escores dos sujeitos em arremesso de dardo foram medidos antes e depois da exposição taquistoscópica aos estímulos Confor me predito os dois estímulos experimentais tiveram efeitos fortes e opostos O estímulo errado levou a uma queda nos escores de arremesso de dardo mas o estímulo certo levou a um aumento nos escores O efeito foi o mesmo quando os escores pósestímulo foram comparados com os escores préestímulo nas mesmas condições ou com escores obtidos após a apre sentação do estímulo neutro Os trabalhos subseqüentes de Silverman e de seus colegas Silverman Weinberger 1985 centraram se na potência do estímulo Mamãe e eu somos um só para produzir melhora terapêutica em vários con textos Na verdade Silverman sugeriu que esse estí mulo simbiótico serve como um agente terapêutico ubíquo Silverman 1978 Silverman incorporou vários controles experimen tais ao seu programa de pesquisa Por exemplo os estudos freqüentemente eram replicados e conduzi dos de modo duplocego i e nem o sujeito nem o experimentador sabiam em que condição estava o su jeito A ordem de apresentação dos estímulos con trole e experimentais era contrabalanceada e era to mado cuidado para confirmar que os sujeitos não conseguiam relatar acuradamente os conteúdos dos TEORIAS DA PERSONALIDADE 77 estímulos aos quais eram expostos Apesar desses con troles Balay e Shevrin 1988 fizeram várias objeções Por exemplo eles revisaram as questões psicofísicas e de mensuração feitas por examinadores anteriores Além disso eles sugeriram que a replicação real dos achados é rara no programa de pesquisa de Silver man porque os pesquisadores empregam medidas ou medidas de resultado diferentes em diferentes estu dos Eles também salientaram que a mudança relata da em muitos dos estudos era um artefato estatístico Isto é a patologia na verdade não era reduzida nos sujeitos expostos a estímulos experimentais como Mamãe e eu somos um só de fato os sujeitos ex postos a estímulos neutros como As pessoas estão ca minhando aumentavam sua patologia Isso produz a ilusão de apoio para o efeito predito do estímulo ex perimental quando de fato o que se observa é um efeito negativo nãopredito e contraintuitivo do estí mulo neutro Observem que esse não foi o caso no experimento de arremesso de dardo de Silverman e colaboradores 1978 em que os efeitos dos estímu los errado e certo foram na direção predita nos três estudos relatados Finalmente Balay e Shevrin questionaram a interpretação dos achados de Silver man O que as mensagens subliminares realmente fa zem Como elas ativam os resíduos inconscientes de conflitos infantis Em resumo Balay e Shevrin esta vam preocupados com a falta de uma base teórica e empírica sólida no programa de pesquisa de Silver man 1988 p 173 ver Weinberger 1989 para uma réplica e Balay e Shevrin 1989 para uma refutação ver também Holender 1986 para uma crítica geral do processamento inconsciente da informação Nesta como na maioria das tentativas de ofere cer apoio experimental para a psicanálise todavia as questões estão longe de estar claras Com base em uma metaanálise de 64 estudos Hardaway 1990 p 190 descobriu um efeito de tratamento moderado e confiável do estímulo MAMÃE E EU SOMOS UM SÓ que se generaliza por meio de laboratórios e de popu lações de sujeitos As críticas afirmando que há ca rência de estudos bemplanejados nessa literatura são claramente o resultado de amostragem incompleta e tendenciosa Apesar dessa controvérsia a metodolo gia de ativação subliminar psicodinâmica de Silver man oferece os apoios experimentais mais convincen tes para a teoria da psicanálise de Freud Nova Visão 3 O estudo experimental da repressão tem uma longa história na psicologia DZurilla 1965 Rosenzweig Mason 1943 Zeller 1950 Esse trabalho continua sendo feito mas nos últimos anos grande parte dele centrouse nos níveis de consciência e nos processos cognitivos em geral em vez de proposições freudia nas sobre a defesa motivada Kihlstrom 1990 Wes ten 1990 A pesquisa cognitiva começou na década de 40 com a Nova Visão na percepção ver Bruner 1973 Dixon 1971 que investigou o impacto dos motivos das defesas e das expectativas nos processos e resul tados perceptuais Esse trabalho permaneceu ampla mente nãointegrado ao restante da psicologia ape sar dos esforços de Erdelyi 1974 e outros até Shevrin e Dickman 1980 argumentarem que o inconsciente é uma suposição necessária para virtualmente qual quer teoria ou pesquisa psicológica O trabalho sub seqüente sobre o inconsciente embora claramente consistente com a tradição freudiana evoluiu dentro do foco da psicologia cognitiva no processamento se letivo da informação e a área de pesquisa passou a ser conhecida como o inconsciente cognitivo Confor me Kihlstrom 1990 p 447 coloca a pesquisa so bre a percepção subliminar o esquecimento motiva do e assim por diante oferece pouco apoio para a concepção freudiana de vida mental nãoconsciente porque as proposições testadas raramente são exclu sivas da teoria freudiana por exemplo que os con teúdos inconscientes são de natureza sexual e agres siva e que os processos inconscientes são primitivos e irracionais Nessa pesquisa cognitiva o inconsciente é descrito em termos de estados emocionais sutis co nhecimento procedural sobre como as ações são rea lizadas comportamento rotineiro que ocorre sem o envolvimento da nossa atenção e a influência mútua dos estados mentais e objetos e nem todos precisam estar completamente representados na consciência para exercer alguma influência Uma série de artigos na edição de junho de 1992 da American Psychologist oferece um bom resumo dessa nova onda de pesquisa sobre o inconsciente ver Lof tus e Klinger 1992 para uma introdução ver tam bém Epstein 1994 e a edição especial de dezembro de 1994 do Journal of Personality dedicada à psico 78 HALL LINDZEY CAMPBELL dinâmica e cognição social O foco desses artigos não é se o inconsciente existe mas quão inteligente i e complexo e flexível ou tolo é o inconsciente Bruner 1992 descreveu como a Nova Visão original impôs uma visão construtivista da percepção Sua mensagem preconizava que a percepção não era neu tra e sim influenciada por outros processos mentais concorrentes O foco não se fixava no inconsciente ou em Freud mas simplesmente em como alguns obje tos se tornam mais fenomenologicamente importan tes do que outros Os adeptos da Nova Visão subse qüentemente se dividiram naqueles interessados na cognição e naqueles interessados nas defesas do ego e nos processos psicodinâmicos Bruner conclui que o inconsciente não é muito inteligente e que o pro cessamento perceptual préconsciente ocorre apenas na extensão em que é necessário Erdelyi foi a força propulsora por trás da Nova Visão 2 que emergiu na década de 70 O objetivo des sa segunda onda era forjar vínculos entre Freud e a emergente psicologia cognitiva Em contraste com esse ímpeto cognitivo Erdelyi 1992 argumentou que os fenômenos inconscientes não são simples e nem to los Apesar de demonstrações de laboratório de que a percepção inconsciente é limitada no alcance semân tico as memórias inconscientes são amplamente complexas e influentes As memórias patogênicas e os hábitos desadaptados com os quais lida a psicaná lise não envolvem lampejos de estímulos ou inputs despercebidos mas estruturas de memória declarati va e procedural altamente complexas que são inaces síveis à consciência do sujeito p 786 Assim a ques tão dos constrangimentos experimentais sobre a complexidade dos processos e dos conteúdos incons cientes que podem ser manipulados continua a limi tar a aceitação da pesquisa de laboratório Greenwald provocou esse intercâmbio com sua sugestão de que está a caminho uma terceira Nova Visão 1992 p 766 Ele concluiu que há pouca dú vida de que as pessoas ocasionalmente percebem fa tos sem ter consciência disso mas que esses proces sos não são muito sofisticados Ao contrário das elaboradas defesas e transformações hipotetizadas por Freud o inconsciente cognitivo de Greenwald não é particularmente inteligente Greenwald resumiu evi dências de cognição sem atenção e de cognição não relatada verbalmente ver artigo influente de Nisbett e Wilson 1977 sobre este último ponto Greenwald insere esses processos em um modelo de cognição de rede neural ou conexionista ou de processamento distribuído em paralelo Kihlstrom Kihlstrom Barnhardt Tataryn 1992 ofereceu um ótimo resumo desse intercâmbio e da distinção entre a pesquisa sobre o inconsciente cogni tivo e a teoria freudiana sobre o inconsciente dinâmi co O inconsciente psicológico documentado pela psicologia científica contemporânea é muito dife rente daquele que Sigmund Freud e seus colegas psicanalíticos tinham em mente na Viena do fim de século Seu inconsciente era quente e úmido ele fervilhava com luxúria e raiva ele era aluci natório primitivo e irracional O inconsciente da psicologia contemporânea é mais bondoso e mais gentil do que aquele e mais ligado à realidade e racional mesmo que não seja inteiramente frio e seco p 789 itálicos acrescentados Assim a hora terapêutica freudiana e o laboratório experimental permanecem separados por seus cons trangimentos conceituais e procedurais distintivos STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Nenhuma outra teoria psicológica foi submetida a tal escrutínio e muitas vezes a críticas tão amargas quan to a psicanálise De todos os lados e por todos os mo tivos concebíveis Freud e sua teoria foram atacados injuriados ridicularizados e caluniados O único caso comparável na ciência moderna em que tanto a teoria quanto o teórico foram tão ardentemente difamados é o de Charles Darwin cuja doutrina evolutiva cho cou a Inglaterra vitoriana As principais ofensas de Freud consistiram em atribuir desejos lascivos e des trutivos aos bebês impulsos incestuosos e perverti dos a todos os seres humanos e em explicar o com portamento humano em termos da motivação sexual As pessoas decentes ficaram enfurecidas com as idéi as de Freud sobre o indivíduo e chamaramno de li bertino e pervertido Freud também foi criticado em termos morais como sendo um covarde intelectual A posição origi nal de Freud durante a década de 1890 era de que a histeria resultava da memória reprimida de abuso se TEORIAS DA PERSONALIDADE 79 xual na infância Em 21 de abril de 1896 ele fez uma conferência sobre isso na Sociedade de Psiquiatria e Neurologia de Viena Em 21 de setembro de 1897 todavia Freud escreveu a seu confidente Wilhelm Fli ess que ele já não acreditava mais na sua teoria da sedução Ele agora defendia que os relatos de sedu ção de seus pacientes eram produto de seus desejos fantasiados de contato sexual Esse foi um momento divisor de águas no desenvolvimento das teorias de Freud porque mudou a base dos sintomas das ações dos adultos no mundo objetivo para os desejos sexu ais intrapsíquicos das crianças A teoria de Freud da sexualidade infantil decorreu diretamente de tal trans formação Em The Assault on Truth Masson 1984 afirmou que a posição original de Freud é que era exata que o próprio Freud sabia disso na época e que a sua re núncia a ela se constituía em um ato covarde origi nado por sua incapacidade de lidar com o desprezo público que ela gerara A dupla conseqüência foi que a teoria de Freud teve uma base falaciosa e que os analistas subseqüentes foram levados a ignorar a rea lidade e as terríveis conseqüências do abuso sexual infantil Além disso é claro Masson está acusando Freud de mentiroso e covarde Essas são acusações provocativas para dizer o mínimo e Freud delas tem sido fielmente defendido p ex Robinson 1993 Mas o que precisamos reconhecer é que os méritos intelec tuais das idéias de Freud são independentes de suas origens e de sua história pessoal A história intelectu al é fascinante mas a questão central continua sendo o poder da teoria Foi justamente isso a integridade intelectual do modelo que Frederick Crews atacou recentemente de forma violenta Crews conclui que não existe literal mente nada a ser dito em termos científicos ou tera pêuticos em favor de todo o sistema freudiano ou de qualquer um de seus dogmas componentes 1996 p 63 O artigo de 1996 oferece uma introdução para o veredito de Crews de que Freud conjurou um ema ranhado de quaseentidades pseudoexplanatórias p 64 de que a investigação das associações livres é um jogo de salão divertido mas dispendioso p 66 e que todo o empreendimento deve ser visto como uma pseudociência ver Begley 1994 para uma perspecti va em relação a uma série anterior de comentários de Crews De uma perspectiva diferente a teoria freudiana foi criticada como excessivamente aliada à visão me canicista e determinista da ciência do século XIX em conseqüência ela não é suficientemente humanista A teoria é considerada por muitos atualmente como uma abordagem que pinta um quadro triste demais da natureza humana As feministas como Beauvoir 1953 Friedan 1963 Greer 1971 e Millett 1970 atacaram vigorosamente as especulações de Freud sobre a psicologia feminina especialmente o conceito da inveja do pênis embora uma figura proeminente no movimento das mulheres Mitchell 1975 tenha vindo em defesa de Freud ver Robinson 1987 para uma avaliação das críticas e defensoras feministas de Freud Não é nossa intenção revisar as críticas dirigidas à psicanálise Grande parte delas não foi nada além do som e fúria de pessoas perturbadas A maioria das críticas já está desatualizada por avanços subse qüentes no pensamento de Freud ver discussão no Capítulo 5 de recentes avanços na psicanálise E agora podemos ver que uma porção considerável das críti cas se baseava em interpretações erradas e em distor ções da psicanálise Além disso revisar as críticas à psicanálise de maneira adequada exigiria um livro pelo menos tão grande quanto este Em vez disso nós dis cutiremos várias críticas freqüentemente dirigidas à psicanálise e ainda amplamente discutidas Uma dessas críticas afirma que existem graves falhas nos procedimentos empíricos por meio dos quais Freud validou suas hipóteses Ele teria feito suas ob servações em condições nãocontroladas Freud reco nheceu que não mantinha um relato textual do que ele e o paciente faziam durante a hora de tratamento mas que trabalhava a partir de anotações feitas várias horas mais tarde É impossível dizer quão fielmente essas notas refletiam os eventos como eles realmente tinham ocorrido Julgando a partir de experimentos sobre a fidedignidade dos testemunhos não é impro vável a existência de várias distorções e omissões nos registros A suposição de Freud de que o material sig nificativo seria lembrado e os incidentes triviais es quecidos nunca foi provada e parece improvável Críticos dos métodos de Freud também fazem objeções ao fato de ele aceitar tudo o que os pacientes diziam sem tentar corroborar aquilo com alguma for ma de evidência externa Eles acham que Freud deve 80 HALL LINDZEY CAMPBELL ria ter obtido evidências com parentes e conhecidos documentos dados de teste e informações médicas Entretanto Freud afirmava que o importante para o entendimento do comportamento humano era um conhecimento completo do inconsciente que só podia ser obtido a partir da associação livre e da análise dos sonhos Dado então o que seguramente era um registro incompleto e mais do que provavelmente imperfeito Freud prosseguia para fazer inferências e chegar a conclusões por uma linha de raciocínio que raramen te foi explicitada Em geral o que encontramos nos textos de Freud é o resultado final de seu pensamento as conclusões sem os dados originais sobre os quais se basearam sem um relato de seus métodos de aná lise e sem uma apresentação sistemática quer quali tativa quer quantitativa de seus achados empíricos O leitor é convidado a acreditar implicitamente na validade de suas operações indutivas e dedutivas Conseqüentemente é praticamente impossível repe tir qualquer uma das investigações de Freud com al guma certeza de estarmos prosseguindo de acordo com o planejamento original Isso pode ajudar a explicar por que outros investigadores chegaram a conclusões bem diferentes e por que existem aparentemente tan tas interpretações do mesmo fenômeno Freud abstevese de quantificar seus dados empí ricos o que torna impossível pesar a fidedignidade e a significação estatística de suas observações Em quan tos casos por exemplo ele encontrou alguma associ ação entre paranóia e homossexualidade entre histe ria e fixação no estágio oral entre um desejo e uma fobia entre a cena primária e a instabilidade adulta Quantos casos de um determinado tipo ele estudou e de que classes e backgrounds vinham esses casos Que medidas e critérios eram usados para designar um caso para uma categoria clínica específica Será que Freud alguma vez comparou suas interpretações com a de um outro psicanalista competente para estabelecer a fidedignidade do seu julgamento Essas e outras nu merosas perguntas de natureza semelhante preocu pam o psicólogo quantitativamente orientado A relutância de Freud em seguir as convenções de um relato inteiramente científico de seus dados deixa a porta aberta para muitas dúvidas relativas ao status científico da psicanálise Hook 1960 Será que Freud encontrava em seus casos aquilo que queria encon trar neles Seriam suas inferências guiadas mais por suas tendenciosidades do que pelo material à mão Será que ele selecionava apenas as evidências que es tavam de acordo com suas hipóteses e desconsidera va os exemplos negativos As associações livres de seus pacientes eram realmente livres ou eles diziam aquilo que Freud queria ouvir Teria Freud criado uma ela borada teoria da personalidade que se afirmava valer para todos baseada em inferências feitas a partir das verbalizações de um número relativamente pequeno de pacientes atípicos Que evidências sólidas Freud realmente tinha para apoiar suas especulações gran diloqüentes Que salvaguardas ele empregava contra a influência insidiosa da tendenciosidade Perguntas desse tipo têm lançado dúvidas sobre a validade da teoria psicanalítica Lawrence Kubie um proeminente psicanalista resumiu da seguinte maneira as limitações da psica nálise como uma ciência básica Em geral elas as limitações podem ser resumi das dizendose que o planejamento básico do pro cesso de análise tem uma validade científica es sencial mas que as dificuldades de se registrar e reproduzir observações primárias a conseqüente dificuldade de derivarse a estrutura conceitual básica as dificuldades de examinarse com igual facilidade o relacionamento circular do inconsci ente para o consciente e do consciente para o in consciente as dificuldades de avaliarse quanti tativamente a multiplicidade de variáveis e finalmente a dificuldade de estimarse as coisas que aumentam e as coisas que diminuem a preci são de suas hipóteses e a validade de suas predi ções estão entre os problemas científicos que ain da precisam ser resolvidos 1953 p 143144 Por outro lado Paul Meehl faz uma declaração elo qüente que conclui quando testes adequados se tor narem disponíveis para nós uma porção considerável da teoria psicanalítica escapará à refutação 1978 p 831 Um outro tipo de crítica ataca a teoria em si e diz que a teoria é ruim porque muitas partes suas não têm e não podemos fazer com que tenham conse qüências empíricas Por exemplo é impossível deri var quaisquer proposições empíricas da postulação de um instinto de morte Assim sendo o instinto de mor te permanece oculto na escuridão metafísica e não tem nenhum significado para a ciência Embora pos TEORIAS DA PERSONALIDADE 81 samos usar o instinto de morte para explicar certos fenômenos como suicídio ou acidentes tais explica ções depoisdofato pouco significam É como apostar em um cavalo depois de ele ter corrido Uma boa teo ria por outro lado permite ao seu usuário predizer antecipadamente o que vai acontecer Algumas pes soas podem preferir juntar e organizar uma grande quantidade de dados aparentemente nãorelaciona dos sob o nome único de instinto de morte mas pre ferências desse tipo indicam apenas os interesses do sistematizador e não a verdade do nome Usado dessa maneira o instinto de morte é pouco mais do que um slogan A teoria freudiana realmente não oferece um con junto de regras relacionais para chegarmos a uma expectativa exata do que vai acontecer se ocorrerem certos eventos Qual é exatamente a natureza do rela cionamento entre experiências traumáticas sentimen tos de culpa repressão formação de símbolos e so nhos O que conecta a formação do superego ao complexo de Édipo Essas e milhares de outras per guntas ainda precisam ser respondidas com referên cia à rede emaranhada de conceitos e suposições con jurados por Freud A teoria fica omissa sobre o intrincado problema de como medir quantitativamente as catexias e anti catexias De fato não existe nenhuma especificação sobre como podemos estimar mesmo nos termos mais aproximados diferenças de quantidade Quão inten sa tem de ser uma experiência para ser traumática Quão frágil tem de ser o ego para ser dominado por um impulso instintual De que maneira as várias quan tidades interagem uma com a outra para produzir um determinado resultado E no entanto tudo depende da análise final justamente dessas especificações Sem elas nenhuma lei pode ser derivada Se aceitarmos que a teoria psicanalítica é culpada de pelo menos duas faltas sérias primeiro que ela é uma teoria ruim e segundo que ela ainda não foi substanciada por procedimentos cientificamente res peitáveis e também atentos ao fato de que muitas outras críticas poderiam ter sido citadas podemos perguntar por que a teoria psicanalítica é levada a sério e por que não foi relegada ao esquecimento há muito tempo Como podemos explicar seu status in fluente no mundo de hoje O fato é que todas as teorias do comportamento são teorias bastantes deficientes e decepcionam em termos de prova científica A psicologia tem um longo caminho pela frente antes de poder ser chamada de ciência exata Conseqüentemente o psicólogo preci sa selecionar a teoria que pretende seguir por outras razões que não a adequação formal e a evidência fa tual O que a teoria psicanalítica tem a oferecer Algu mas pessoas gostam da linguagem pitoresca que Freud usa para projetar suas idéias Elas são atraídas por sua maneira habilidosa de empregar alusões literári as e mitológicas para apresentar noções muito obscu ras e por seu talento para se expressar ou criar uma figura de linguagem para iluminar um ponto difícil para o leitor Seu texto tem uma excitante qualidade literária rara entre os cientistas Seu estilo combina com a excitação de suas idéias Muitas pessoas acham os conceitos de Freud fascinantes e sensacionais O sexo é claro é um tópico atraente e tem um valor de sensação mesmo quando discutido em trabalhos cien tíficos A agressão e a destrutividade são quase tão absorventes quanto o sexo Na verdade as novelas os programas de entrevistas e os filmes na televisão testemunham a presença constante dos temas sexuais e agressivos na nossa sociedade É muito natural en tão que as pessoas se sintam atraídas pelos textos de Freud Mas um belo estilo literário e um assunto excitan te não são as razões principais para a grande estima dedicada a Freud As razões mais exatamente seri am suas idéias são desafiadoras sua concepção do indivíduo é ao mesmo tempo ampla e profunda e sua teoria tem relevância para a nossa época Freud pode não ter sido um cientista rigoroso ou um teórico de primeira linha mas ele foi um observador paciente meticuloso e penetrante e um pensador tenaz disci plinado corajoso e original Acima de todas as outras virtudes de sua teoria está a seguinte ela tenta con siderar indivíduos de carne e osso vivendo parcial mente em um mundo de realidade e parcialmente em um mundo de fazdeconta assolados por conflitos e contradições internas mas capazes de pensamento e ação racionais movidos por forças das quais eles têm pouco conhecimento e por aspirações que estão além de seu alcance alternadamente confusos e lúci dos frustrados e satisfeitos esperançosos e desespe rados egoístas e altruístas em resumo um ser hu mano complexo Para muitas pessoas esse quadro do indivíduo tem uma validade essencial TEORIAS DA PERSONALIDADE 83 CAPÍTULO 3 A Teoria Analítica de Carl Jung INTRODUÇÃO E CONTEXTO 84 HISTÓRIA PESSOAL 85 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 88 O Ego 88 O Inconsciente Pessoal 88 O Inconsciente Coletivo 88 O Self 92 As Atitudes 92 As Funções 93 Interações entre os Sistemas da Personalidade 94 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 96 Energia Psíquica 96 O Princípio da Equivalência 98 O Princípio da Entropia 98 O Uso da Energia 99 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 99 Causalidade Versus Teleologia 100 Sincronicidade 100 Hereditariedade 100 Estágios de Desenvolvimento 101 Progressão e Regressão 102 O Processo de Individuação 103 A Função Transcendente 103 Sublimação e Repressão 103 Simbolização 104 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 105 Estudos Experimentais de Complexos 105 Estudos de Caso 105 Estudos Comparativos de Mitologia Religião e as Ciências Ocultas 106 Sonhos 107 PESQUISA ATUAL 108 A Tipologia de Jung 108 O Indicador de Tipo MyersBriggs 109 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 111 84 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Carl Jung era um jovem psiquiatra em Zurique quan do leu A interpretação dos Sonhos de Freud logo de pois de ter sido publicado em 1900 Imensamente impressionado pelas idéias de Freud que usou e veri ficou em sua própria prática Jung envioulhe cópias de seus textos que em geral apoiavam o ponto de vista freudiano Em 1906 começou uma correspon dência regular entre os dois Quando Jung fez sua primeira visita a Freud em Viena no ano seguinte eles conversaram sem parar por treze horas Freud decidiu que Jung seria seu sucessor seu príncipe her deiro conforme ele escreveu a Jung Quando foi fun dada a Associação Psicanalítica Internacional em 1910 Jung tornouse seu primeiro presidente uma posição que manteve até 1914 Em 1909 Freud e Jung viajaram juntos para a Clark University em Worces ter Massachusetts tendo sido ambos convidados a dar uma série de conferências na celebração do 20º ano de fundação da universidade Três anos mais tarde entretanto o relacionamento pessoal entre Freud e Jung começou a esfriar Finalmente em 1913 eles terminaram sua correspondência pessoal e alguns meses mais tarde sua correspondência profissional Em abril de 1914 Jung renunciou à presidência da associação e em agosto de 1914 ele se retirou como membro O rompimento foi então completo Freud e Jung nunca mais se viram Algumas citações das 359 cartas escritas por Jung e Freud durante os anos de 19061913 revelam a di nâmica do fascinante relacionamento entre os dois homens tão obstinados todas as citações são de Mc Guire 1974 Em 7 de abril de 1907 após seu primei ro encontro Freud escreveu você me inspirou confi ança no futuro pois percebi que sou tão substituível quanto qualquer outra pessoa e não poderia esperar ninguém melhor do que você agora que passei a co nhecêlo para continuar e completar meu trabalho p 27 Mas nessa mesma carta um pouco depois Freud referiuse às diferenças a respeito da sexualida de que contribuiriam substancialmente para sua ci são final Eu aprecio seus motivos para tentar adoçar a maçã azeda mas acho que você não terá sucesso Mesmo se chamarmos o inconsciente de psicóide ele ainda será o inconsciente e mesmo se não chamar mos de libido a força propulsora na concepção am pliada de sexualidade ela ainda será a libido Nós estamos sendo solicitados nem mais nem menos a abjurar da nossa crença na pulsão sexual A única res posta é professála abertamente p 28 Cinco anos mais tarde quando Jung voltou de uma série de palestras em Nova York ele escreveu a Freud Eu descobri que a minha versão da psicanálise con quistou muitas pessoas que até agora tinham sido afas tadas pelo problema da sexualidade na neurose 11 de novembro de 1912 p 515 Freud replicou Eu o saúdo por seu retorno da América não tão afetuosa mente como na última ocasião em Nuremburg você conseguiu me tirar aquele hábito Você diminuiu muito a resistência com as suas modificações mas eu o aconselharia a não colocar isso na coluna dos crédi tos porque como você sabe quanto mais se afastar do que é novo na psicanálise mais certo que será aplaudido e menor a resistência que encontrará p 324 A essa altura o fim estava próximo Em 18 de de zembro de 1912 Jung escreveu Posso dizerlhe algumas palavras sinceramente Sou suficientemente objetivo para enxergar através de seu truquezinho Veja meu querido professor enquanto você disser essas tolices eu não dou a mínima para as minhas ações sintomá ticas elas se reduzem a nada em comparação com as formidáveis falhas de meu irmão Freud Não sou nem um pouco neurótico Você sabe claro quão longe um paciente pode ir com a autoanáli se não por sua neurose exatamente como você Se você chegar a se livrar totalmente de seus com plexos e parar de bancar o pai que aponta conti nuamente os pontos fracos dos filhos e der uma boa olhada nos seus próprios e mudálos eu pro meto modificarme Sem dúvida você ficará furioso com esse sinal peculiar de amizade mas acho que ainda assim vai lhe fazer bem Com meus melhores votos p 534535 Em 3 de janeiro de 1913 Freud replicou nenhum de nós precisa ter vergonha de sua própria parcela de neurose Mas aquele que fica gritando que é normal enquanto se comporta anormalmente nos faz descon fiar que não tem insight nenhum de sua doença Des sa maneira eu proponho que abandonemos inteira mente as nossas relações pessoais Eu não perderei nada com isso pois meu único laço emocional com TEORIAS DA PERSONALIDADE 85 você há bastante tempo já é apenas um frágil fio o efeito remanescente de desapontamentos passados sintase totalmente livre e poupeme de seus preten sos sinais de amizade p 539 Conforme Jung repli cou três dias mais tarde O resto é silêncio Existem muitos relatos sobre o relacionamento entre Freud e Jung incluindo os dos dois participan tes Freud 1914 1925 Jung 1961 do biógrafo de Freud Ernest Jones 1955 e outros Weigert 1942 Dry 1961 Kerr 1993 Os artigos publicados por Jung enquanto ele ainda estava influenciado por Freud e suas subseqüentes críticas à psicanálise freudiana fo ram reunidos no Volume 4 das Obras Completas Dois outros artigos sobre Freud estão incluídos no Volume 15 Embora as causas da ruptura no relacionamento outrora íntimo sejam complexas e supradetermina das envolvendo incompatibilidades pessoais e inte lectuais uma razão importante foi Jung ter rejeitado o pansexualismo de Freud A razão imediata foi que Freud identificou seu método com sua teoria sexu al o que considerei inadmissível comunicação pes soal de Jung 1954 Jung então partiu para criar sua própria teoria da psicanálise e seu próprio método de psicoterapia que se tornou conhecido como psicolo gia analítica As linhas de sua abordagem tinham sido estabelecidas antes de Jung conhecer Freud e ele nela trabalhou consistentemente durante o período em que esteve associado a Freud Jung 1913 HISTÓRIA PESSOAL Antes de discutir as características relevantes e distin tivas do ponto de vista de Jung vamos revisar breve mente alguns aspectos de sua vida Carl Gustav Jung nasceu em Kesswyl uma cidade no Lago Constance no Cantão de Thurgau Suíça em 26 de julho de 1875 e cresceu na Basiléia Seu pai era pastor da Igreja Re formada Suíça Jung ingressou na Universidade da Ba siléia com a intenção de se tornar um filologista clás sico e se possível um arqueólogo mas parece que um sonho despertou seu interesse pelo estudo das ci ências naturais e incidentalmente pela medicina Depois de obter seu diploma médico na Universidade da Basiléia ele se tornou assistente no Burghölzli Mental Hospital em Zurique e na Clínica Psiquiátri ca de Zurique iniciando assim sua carreira na psiqui atria Ele foi assistente e mais tarde colaborador de Eugen Bleuler o eminente psiquiatra que desenvol veu o conceito de esquizofrenia e estudou brevemen te com Pierre Janet o aluno e sucessor de Charcot em Paris Em 1909 ele desistiu de seu trabalho no Bur ghölzli e em 1913 de sua docência em psiquiatria na Universidade de Zurique a fim de dedicarse inteira mente à prática privada à sua formação à pesquisa a viagens e a escritos Por muitos anos ele coordenou um seminário em inglês para alunos de língua inglesa e depois que se aposentou do ensino ativo foi criado em Zurique um instituto de formação com seu nome Em 1944 foi fundada uma cadeira de psicologia mé dica especialmente para Jung na Universidade da Ba siléia mas sua saúde enfraquecida o obrigou a renun ciar à cadeira depois de um ano Ele morreu em 6 de junho de 1961 em Zurique aos 85 anos de idade Ainda não foi publicada nenhuma biografia completa de Jung comparável à biografia de Freud por Ernest Jones Uma autobiografia Memórias Sonhos Refle xões 1961 foi publicada no ano da morte de Jung Uma parte dela foi escrita diretamente por Jung e outra parte foi gravada e editada por sua secretária confi dencial Aniela Jaffé suplementada por materiais de conferências proferidas por Jung Memórias Sonhos Reflexões é principalmente uma biografia interior ou espiritual embora também contenha uma grande quantidade de informações sobre os eventos externos da vida de Jung O tom do livro é estabelecido pela frase de abertura A minha vida é a história da auto realização do inconsciente Material biográfico so bre Jung pode ser encontrado em Frieda Fordham 1953 Bennett 1961 Dry 1961 Jaffé 1971 1979 D S Wehr 1987 G Wehr 1971 von Franz 1975 Hannah 1976 Stern 1976 e van der Post 1976 Mas nenhum desses livros pode ser conside rado uma biografia definitiva Por sessenta anos Carl Jung dedicouse com gran de energia e singularidade de propósito a analisar os processos vastos e profundos da personalidade huma na Seus escritos são volumosos e a extensão de sua influência incalculável Ele é conhecido não apenas por psicólogos e psiquiatras mas também por pesso as instruídas em todas as profissões Ele recebeu mui tas homenagens entre as quais diplomas honorários das Universidades de Harvard e de Oxford Ele fazia freqüentemente conferências nos Estados Unidos e tem 86 HALL LINDZEY CAMPBELL muitos seguidores e admiradores nesse país Pratica mente toda a obra de Jung está hoje disponível em uma edição de 20 volumes em língua inglesa Jung 19531978 Além das cartas de FreudJung previa mente mencionadas foram publicados dois volumes de cartas de Jung Jung 1973b 1975 Também exis te um volume contendo entrevistas e encontros com Jung McGuire 1977 Embora a teoria de Jung da personalidade nor malmente seja identificada como uma teoria psicana lítica devido à ênfase que dá aos processos inconsci entes ela difere em alguns aspectos notáveis da teoria de Freud da personalidade Talvez o aspecto mais pro eminente e distintivo da visão de Jung dos seres hu manos é que ela combina teleologia com causalidade O comportamento humano é condicionado não ape nas pela história individual e racial causalidade mas também pelas metas e aspirações teleologia Tanto o passado como realidade quanto o futuro como po tencialidade orientam o nosso comportamento pre sente A visão de Jung é prospectiva no sentido em que olha para a frente para a linha de desenvolvi mento futuro da pessoa e retrospectiva no sentido em que leva em conta o passado Parafraseando Jung a pessoa vive por metas assim como por causas Essa insistência no papel do destino ou do propósito no desenvolvimento humano separa Jung de Freud muito claramente Para Freud existe apenas a inter minável repetição de temas instintuais até o momen to da morte Para Jung existe um desenvolvimento constante e freqüentemente criativo a busca da tota lidade e completude e o anseio de renascimento A teoria de Jung também se distingue de todas as outras abordagens à personalidade pela forte ênfase colocada nas fundações raciais e filogenéticas da per sonalidade Jung vê a personalidade individual como o produto e o continente de sua história ancestral Os seres humanos modernos foram moldados em sua presente forma pelas experiências cumulativas de ge rações passadas estendendose às origens obscuras e desconhecidas do ser humano As fundações da per sonalidade são arcaicas primitivas inatas inconsci entes e provavelmente universais Freud enfatiza as origens infantis da personalidade ao passo que Jung enfatiza as origens raciais da personalidade Os seres humanos nascem com muitas predisposições legadas por seus ancestrais essas predisposições orientam sua conduta e determinam em parte aquilo de que se tor narão conscientes e à que responderão em seu mun do experiencial Em outras palavras existe uma per sonalidade racialmente préformada e coletiva que funciona seletivamente no mundo da experiência e é modificada e elaborada pelas experiências vividas A personalidade de um indivíduo resulta de forças in ternas agindo sobre e sendo influenciadas por forças externas Esse grande respeito pelo nosso passado racial e a sua influência sobre as pessoas hoje significam que Jung mais do que qualquer outro psicólogo sondou a história humana para descobrir o máximo possível sobre as origens e a evolução racial da personalidade Ele estudou mitologia religião símbolos e rituais an tigos os costumes e as crenças dos povos primitivos assim como os sonhos as visões os sintomas dos neu róticos e as alucinações e os delírios dos psicóticos em sua busca das raízes e dos desenvolvimentos da personalidade humana Sua aprendizagem e erudição tanto em amplitude de conhecimento quanto em pro fundidade de entendimento provavelmente ainda não foram superadas pelos psicólogos atuais Dry 1961 identificou alguns dos importantes desenvolvimentos intelectuais do século XIX que pre sumivelmente influenciaram Jung Primeiro havia os filósofos especialmente Schopenhauer von Hartmann e Nietzsche com suas concepções do inconsciente da polaridade trabalhando para a unidade e da substi tuição do raciocínio pela vontade ou intuição para compreender a realidade Havia na época as recémdesenvolvidas psiquiatrias alemã e fran cesa as descobertas científicas de outros cam pos especialmente da biologia a ampla aceita ção da teoria evolutiva a aplicação das idéias evolutivas ao homem incluindo o estudo de sua organização social e a religião e a controvérsia entre os proponentes da unidade psíquica e da difusão cultural na exploração das semelhanças entre diferentes sociedades os achados fasci nantes da arqueologia e as grandes tradições li terária histórica e teológica da Alemanha com um forte matiz de romantismo p 1920 Dry também acha que a neutralidade e a estabilidade da Suíça favoreciam uma vida de reflexão e solidão Agora apresentaremos as principais característi cas da teoria de Jung da personalidade Embora as formulações teóricas sejam encontradas em toda a sua TEORIAS DA PERSONALIDADE 87 Carl Gustav Jung 88 HALL LINDZEY CAMPBELL volumosa obra os Volumes 7 8 e 9 Parte 1 das Obras Completas contêm as declarações mais sistemáticas de sua posição A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE A personalidade total ou a psique conforme chama da por Jung consiste em vários sistemas diferencia dos mas interatuantes Os principais são o ego o in consciente pessoal e seus complexos e o inconsciente coletivo e seus arquétipos a anima e o animus e a sombra Além desses sistemas interdependentes exis tem as atitudes de introversão e extroversão e as fun ções do pensamento do sentimento da sensação e da intuição Finalmente existe o self que é o centro de toda a personalidade O Ego O ego é a mente consciente Ele é constituído por percepções memórias pensamentos e sentimentos conscientes O ego é responsável pelos nossos senti mentos de identidade e de continuidade e do ponto de vista da pessoa considerase que esteja no centro da consciência O Inconsciente Pessoal O inconsciente pessoal é uma região adjacente ao ego Ele consiste em experiências que outrora foram cons cientes mas que agora estão reprimidas suprimidas esquecidas ou ignoradas e em experiências que fo ram a princípio fracas demais para deixar uma im pressão consciente na pessoa Os conteúdos do incons ciente pessoal como os do material préconsciente de Freud são acessíveis à consciência e existe um gran de trânsito de duas vias entre o inconsciente pessoal e o ego Complexos Um complexo é um grupo organizado ou uma conste lação de sentimentos pensamentos percepções e me mórias que existem no inconsciente pessoal Ele tem um núcleo que age como uma espécie de magneto que atrai ou constela várias experiências Jung 1934 Considerem por exemplo o complexo materno Jung 1954a O núcleo se deriva parcialmente de experiências raciais com mães e parcialmente das ex periências da criança com a mãe As idéias os senti mentos e as memórias relacionadas à mãe são atraí das para o núcleo e formam um complexo Quanto mais forte a força emanando do núcleo mais experi ências ela vai atrair Assim dizemos que uma pessoa cuja personalidade é dominada pela mãe tem um for te complexo materno Seus pensamentos sentimen tos e ações serão orientados pela concepção de mãe o que a mãe diz e faz terá um grande valor para ela e a imagem da mãe será predominante em sua mente Um complexo podese comportar como uma persona lidade autônoma com uma vida mental e um motor próprios Ele pode assumir o controle da personalida de e utilizar a psique para seus próprios fins assim como Tolstoi teria sido dominado pela idéia da sim plificação e Napoleão pela sede de poder O núcleo e muitos dos elementos associados são inconscientes em qualquer momento específico mas qualquer uma das associações podese tornar consci ente e com freqüência realmente se torna O Inconsciente Coletivo O conceito de um inconsciente coletivo ou transpes soal é um dos aspectos mais originais e controversos da teoria de Jung da personalidade Ele é o sistema mais poderoso e influente da psique e em casos pato lógicos domina o ego e o inconsciente pessoal Jung 1936 1943 1945 O inconsciente coletivo é o reservatório de traços de memória latentes herdados do nosso passado an cestral um passado que inclui não apenas a história racial dos seres humanos como uma espécie separa da mas também seus ancestrais préhumanos ou ani mais O inconsciente coletivo é o resíduo psíquico do desenvolvimento evolutivo humano um resíduo que se acumula em conseqüência de repetidas experiênci as ao longo de muitas gerações Ele é quase totalmen te separado de tudo o que é pessoal na vida do indiví duo e aparentemente é universal Todos os seres humanos têm mais ou menos o mesmo inconsciente coletivo Jung atribui a universalidade do inconscien te coletivo à semelhança da estrutura do cérebro em TEORIAS DA PERSONALIDADE 89 todas as raças humanas e essa semelhança por sua vez devese a uma evolução comum As memórias ou as representações raciais não são herdadas como tal nós herdamos a possibilidade de reviver experiências de gerações passadas São pre disposições que nos fazem reagir ao mundo de uma maneira seletiva Tais predisposições são projetadas no mundo Por exemplo uma vez que os seres huma nos sempre tiveram mães todo bebê nasce predispos to a perceber e a reagir a uma mãe O conhecimento da mãe individualmente adquirido é a realização de uma potencialidade herdada que foi inserida no cére bro humano pelas experiências passadas da raça As sim como os humanos nascem com a capacidade de enxergar o mundo em três dimensões e desenvolvem essa capacidade por meio da experiência e do treina mento eles também nascem com muitas predisposi ções para pensar sentir e perceber segundo padrões e conteúdos definidos que se realizam por meio de ex periências individualizadas Os humanos são predis postos a ter medo do escuro ou de cobras porque os seres humanos primitivos encontravam muitos peri gos no escuro e foram vítimas de cobras venenosas Esses medos latentes podem nunca se desenvolver nos humanos modernos a menos que sejam reforçados por experiências específicas mas sem dúvida a ten dência está lá e torna a pessoa mais suscetível a tais experiências Algumas idéias tal como a idéia de um Ser Supremo formamse facilmente porque a predis posição foi firmemente gravada no cérebro e precisa de muito pouco reforço da experiência individual para emergir na consciência e influenciar o comportamen to Essas memórias latentes ou potenciais dependem de estruturas e de caminhos herdados que ficaram gra vados no cérebro em resultado das experiências cu mulativas da humanidade Negar a herança dessas me mórias primordiais afirma Jung é negar a evolução e a herança do cérebro O inconsciente coletivo é a base herdada racial de toda a estrutura da personalidade Sobre ela são erigidos o ego o inconsciente pessoal e todas as ou tras aquisições individuais O que uma pessoa apren de em resultado de experiências é substancialmente influenciado pelo inconsciente coletivo que exerce uma influência orientadora ou seletiva sobre o com portamento da pessoa desde o início da vida A for ma do mundo em que ela nasce já é inata nela como uma imagem virtual Jung 1945 p 188 Essa ima gem virtual se torna uma percepção ou idéia concreta ao identificarse com os objetos do mundo que cor respondem à imagem As nossas experiências no mun do são moldadas em grande extensão pelo inconsci ente coletivo embora não completamente pois de outra forma não existiria variação e nem desenvolvi mento As duas regiões inconscientes da mente a pessoal e a coletiva podem ser imensamente úteis para os humanos Ele o inconsciente contém possibilida des que estão fora do acesso da mente consciente pois tem ao seu dispor todos os conteúdos subliminares todas aquelas vivências que foram esquecidas ou ig noradas assim como a sabedoria e a experiência de incontáveis séculos armazenadas em seus órgãos ar quetípicos Jung 1943 p 114 Por outro lado se a sabedoria do inconsciente for ignorada pelo ego o inconsciente pode perturbar os processos racionais conscientes apoderandose deles e dandolhes formas distorcidas Os sintomas as fobias os delírios e as outras irracionalidades originamse de processos in conscientes negligenciados Arquétipos Os componentes estruturais do inconsciente coletivo recebem vários nomes arquétipos dominantes ima gens primordiais imagos imagens mitológicas e padrões de comportamento Jung 1943 Um arquétipo é uma forma universal de pensamento idéia que contém um grande elemento de emoção Essa forma de pen samento cria imagens ou visões que correspondem na vida normal de vigília a algum aspecto da situação consciente Por exemplo o arquétipo da mãe produz a imagem de uma figura de mãe que é então identifi cada com a mãe real Em outras palavras o bebê her da uma concepção préformada de uma mãe genérica que determina em parte como ele perceberá a sua mãe A percepção do bebê também é influenciada pela na tureza da mãe e por suas experiências com ela As sim a experiência do bebê é o produto conjunto de uma predisposição interna para perceber o mundo de uma certa maneira e da natureza real daquele mun do Os dois determinantes normalmente se ajustam compativelmente porque o próprio arquétipo é um produto de experiências raciais com o mundo e essas experiências são muito semelhantes às de qualquer outro indivíduo em qualquer época e parte do mun 90 HALL LINDZEY CAMPBELL do Isto é a natureza das mães o que elas fazem continua muito parecida desde o início da história da raça de modo que o arquétipo de mãe herdado pelo bebê é congruente com a mãe real com a qual ele interage Como se origina um arquétipo Ele é um depósi to mental permanente de uma experiência que foi re petida constantemente por muitas gerações Por exem plo incontáveis gerações viram o sol fazer sua excursão diária de um horizonte para outro A repeti ção dessa impressiva experiência eventualmente fixou se no inconsciente coletivo como um arquétipo do deussol o corpo celeste poderoso dominante que dá a luz e é deificado e adorado pelos humanos Cer tas concepções e imagens de uma deidade suprema são ramificações do arquétipo do sol De maneira similar os humanos têm sido expos tos em sua existência a inumeráveis exemplos de for ças naturais poderosas terremotos cachoeiras inun dações furacões relâmpagos incêndios na floresta e assim por diante Dessas experiências desenvolveu se um arquétipo de energia uma predisposição para perceber e ser fascinado pelo poder e um desejo de criar e controlar o poder O deleite da criança por bom binhas a preocupação dos jovens com carros velozes e o interesse obsessivo do adulto pela liberação das energias ocultas dos átomos têm suas raízes no ar quétipo de energia Os humanos são impulsionados por esse arquétipo a buscar novas fontes de energia A nossa atual época da energia representa a ascen dência do arquétipo da energia Isto é os arquétipos funcionam como centros de energia autônomos alta mente carregados que tendem a produzir em cada geração a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências Berger 1977 sugeriu que os arquéti pos são os equivalentes humanos de detectores de características que foram descobertos em animais in feriores Os arquétipos não estão necessariamente isolados uns dos outros no inconsciente coletivo Eles se inter penetram e fundemse Assim o arquétipo do herói e o arquétipo do velho sábio podemse fundir para pro duzir a concepção do rei filósofo uma pessoa res peitada por ser simultaneamente um líder herói e um visionário sábio Às vezes como pareceu acontecer com Hitler existe a fusão dos arquétipos do demônio e do herói de modo que obtemos um líder satânico Como já vimos o núcleo de um complexo pode ser um arquétipo que atrai experiências O arquétipo pode então penetrar na consciência por meio dessas experiências associadas Os mitos os sonhos as vi sões os rituais os sintomas neuróticos e psicóticos e os trabalhos de arte contêm uma grande quantidade de material arquetípico e constituem a melhor fonte de conhecimento em relação aos arquétipos Jung e seus adeptos realizaram um trabalho prodigioso so bre representações arquetípicas nas religiões nos mi tos e nos sonhos O conceito junguiano de arquétipos não é estra nho à psicologia Nós mencionamos previamente co nexões com as abordagens genética e evolutiva ao comportamento introduzidas no Capítulo 8 Além dis so considerem o conceito de prontidão Segundo essa posição as associações formadas durante a apren dizagem não são necessariamente arbitrárias mais propriamente os animais estão predispostos a associ ar certas conseqüências a certas classes de estímulos Por exemplo Garcia e Koelling 1966 descobriram que ratos estavam preparados para associar doença a estímulos de sabor mas a associar dor a estímulos de luz e som Essas conexões fazem sentido no ambiente natural dos ratos e portanto proporcionam uma van tagem evolutiva Seligman 1971 ofereceu uma teo ria de prontidão para fobias segundo a qual os huma nos estão predispostos a aprender rapidamente reações de medo a objetosestímulo que eram perigosos para seus ancestrais Essa préprogramação teria um valor de sobrevivência evolutiva e conceitualmente é muito semelhante à explicação dos arquétipos de Jung Supõemse que existam muitos arquétipos no in consciente coletivo Alguns dos que foram identifica dos são os arquétipos de nascimento renascimento morte poder energia mágica unidade o herói a criança Deus o demônio o velho sábio a mãe terra e o animal Embora todos os arquétipos possam ser conside rados como sistemas dinâmicos autônomos que po dem ser relativamente independentes do restante da personalidade alguns arquétipos evoluíram tanto que merecem ser tratados como sistemas separados den TEORIAS DA PERSONALIDADE 91 tro da personalidade Eles são a persona a anima e o animus e a sombra A Persona A persona é uma máscara adotada pela pessoa em res posta às demandas das convenções e das tradições sociais e às suas próprias necessidades arquetípicas internas Jung 1945 É o papel atribuído a alguém pela sociedade o papel que a sociedade espera que a pessoa desempenhe na vida O propósito da máscara é causar uma impressão definida nos outros e muitas vezes embora não necessariamente oculta a verda deira natureza da pessoa A persona é a personalida de pública aqueles aspectos que apresentamos ao mundo ou que a opinião pública impõe ao indivíduo em contraste com a personalidade privada existente por trás da fachada social Se o ego se identifica com a persona como acon tece freqüentemente o indivíduo se torna mais cons ciente do papel que está desempenhando do que de seus sentimentos genuínos inflação da persona Ele se aliena de si mesmo e toda a sua personalidade as sume uma qualidade plana ou bidimensional Ele se torna a mera aparência de um humano um reflexo da sociedade ao invés de um ser humano autônomo O núcleo do qual a persona se desenvolve é um arquétipo Esse arquétipo como todos os arquétipos originase das experiências da raça Nesse caso as experiências consistem em interações sociais em que a assunção de um papel social teve um propósito útil para os humanos ao longo de sua história como ani mais sociais A persona é parecida com o superego de Freud em alguns aspectos A Anima e o Animus É bastante reconhecido e aceito que o ser humano é essencialmente um animal bissexual Em um nível fi siológico o macho secreta tanto hormônios masculi nos quanto femininos assim como a fêmea No nível psicológico as características masculinas e as femini nas são encontradas em ambos os sexos A homosse xualidade é apenas uma das condições mas talvez a mais notável que deu origem à concepção de bisse xualidade humana Jung atribuiu o lado feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher a arquétipos O arquétipo feminino no homem é chamado de anima e o arquétipo masculino na mulher é chamado de animus Jung 1945 1954b Esses arquétipos embora possam ser condicionados pelos cromossomos sexuais e pelas glândulas sexuais são os produtos das experiências raciais do homem com a mulher e da mulher com o homem Em outras palavras ao viver com a mulher ao longo das épocas o homem se feminilizou ao viver com o homem a mulher se masculinizou Tais arquétipos não só fazem com que cada sexo manifeste características do outro sexo mas também agem como imagens coletivas que motivam cada sexo a responder aos membros do outro sexo e a compre endêlos O homem apreende a natureza da mulher por meio de sua anima e a mulher apreende a natu reza do homem por meio de seu animus Mas a anima e o animus também podem levar a desentendimento e à discórdia se a imagem arquetípica for projetada sem consideração pelo caráter real do parceiro Isto é se um homem tentar identificar sua imagem ideali zada de mulher com uma mulher real e não levar em conta as discrepâncias entre o ideal e o real ele pode sofrer um amargo desapontamento quando perceber que as duas não são idênticas Tem de haver um com promisso entre as necessidades do inconsciente cole tivo e as realidades do mundo externo para que a pes soa seja razoavelmente bemajustada A Sombra O arquétipo da sombra consiste nos instintos animais que os humanos herdaram em sua evolução a partir de formas inferiores de vida Jung 1948a Conse qüentemente a sombra representa o lado animal da natureza humana Como um arquétipo a sombra é responsável por nossa concepção do pecado original quando é projetada para fora ela se torna o diabo ou um inimigo O arquétipo da sombra também é responsável pelo aparecimento na consciência de pensamentos sen timentos e ações desagradáveis e socialmente repre ensíveis que podem então ser escondidos da visão pública pela persona ou reprimidos no inconsciente pessoal Assim o lado sombra da personalidade que deve sua origem a um arquétipo permeia os aspectos privados do ego e também uma grande parte dos con teúdos do inconsciente pessoal 92 HALL LINDZEY CAMPBELL A sombra com seus instintos animais vitais e apai xonados dá à personalidade uma qualidade encorpa da ou tridimensional Ela ajuda a completar a pessoa inteira O leitor deve ter notado uma semelhança entre a sombra e o conceito freudiano de id O Self Em seus primeiros textos Jung considerava o self como equivalente à psique ou à personalidade total Entre tanto quando começou a explorar as fundações raci ais da personalidade e descobriu os arquétipos ele encontrou um que representava o anseio humano de unidade Wilhelm Jung 1931 Esse arquétipo ex pressase por meio de diversos símbolos e o principal deles é a mandala ou o círculo mágico Jung 1955a Em seu livro Psicologia e Alquimia 1944 Jung de senvolve uma psicologia da totalidade baseada no sím bolo da mandala O principal conceito dessa psicolo gia da unidade total é o self O self é o ponto central da personalidade em tor no do qual todos os outros sistemas estão constela dos Ele mantém esses sistemas unidos e dá à perso nalidade unidade equilíbrio e estabilidade Se imaginarmos a mente consciente com o ego como seu centro como estando oposto ao incons ciente e acrescentarmos agora ao nosso quadro mental o processo de assimilar o inconsciente podemos pensar nessa assimilação como uma es pécie de aproximação do consciente e do incons ciente em que o centro da personalidade total já não coincide com o ego mas com um ponto mé dio entre o consciente e o inconsciente Esse seria o ponto de um novo equilíbrio um novo centra mento da personalidade total um centro virtual que devido à sua posição focal entre o consciente e o inconsciente garante uma fundação nova e mais sólida para a personalidade Jung 1945 p 219 O self é a meta da vida uma meta que as pessoas buscam incessantemente mas raramente alcançam Como todos os arquétipos ele motiva o comportamen to humano e provoca uma busca de integralidade especialmente pelos caminhos oferecidos pela religião As experiências religiosas verdadeiras são o mais pró ximo da qualidade de ser si mesmo que a maioria dos seres humanos vai atingir e as figuras de Cristo e Buda são as expressões mais altamente diferenciadas do arquétipo de self que podemos encontrar no mundo moderno Não surpreende que Jung tenha descober to o self em seus estudos e observações das religiões do oriente em que a busca de unidade e unicidade com o mundo por meio de várias práticas ritualísti cas como a Yoga está mais avançada do que nas reli giões ocidentais Antes que um self possa emergir é necessário que os vários componentes da personalidade se tornem totalmente desenvolvidos e específicos Por essa ra zão o arquétipo do self não se torna evidente até que a pessoa tenha atingido a meiaidade Nessa época ela começa a fazer um sério esforço para mudar o centro da personalidade do ego consciente para um que esteja a meio caminho entre a consciência e a inconsciência Essa região intermediária é a província do self O conceito de self provavelmente é a descoberta psicológica mais importante de Jung e representa a culminação de seus estudos intensivos dos arquéti pos As Atitudes O que controla o funcionamento do ego A postula ção de Jung das atitudes e das funções permitiulhe explicar a orientação e os processos característicos do ego Ele distinguiu duas importantes atitudes ou ori entações da personalidade a atitude de extroversão e a atitude de introversão A atitude extrovertida orien ta a pessoa para o mundo externo objetivo a atitude introvertida orienta a pessoa para o mundo interior subjetivo 1921 Observe que Jung não está usando esses termos como eles são usados no vernáculo eles se referem a uma orientação para dentro ou para fora e não para níveis baixos ou elevados de sociabilidade Essas duas atitudes opostas estão ambas presen tes na personalidade mas habitualmente uma delas é dominante e consciente enquanto a outra é subordi nada e inconsciente Se o ego é predominantemente extrovertido em sua relação com o mundo o incons ciente pessoal será introvertido Curiosamente foi a tentativa de Jung de enten der as diferentes explicações de Freud e de Adler para os sintomas neuróticos que o levou à distinção entre introversão e extroversão Jung 1917 Freud cen trouse nos relacionamentos neuróticos com pessoas TEORIAS DA PERSONALIDADE 93 e objetos externos Adler como veremos no Capítulo 4 estava preocupado com o senso subjetivo de inferi oridade do indivíduo e suas tentativas subseqüentes de compensálo Jung usou o termo extroversão para se referir à orientação externa característica de Freud e introversão para a orientação interna de Adler O próprio Jung era bastante introvertido uma realida de que indubitavelmente contribuiu para seus pro blemas com Freud As Funções Além das diferenças de perspectiva resumidas pelas atitudes Jung introduziu dois pares de funções para explicar as diferenças nas estratégias empregadas pe las pessoas para adquirir e processar a informação nós atualmente chamaríamos essas tendências de estilos cognitivos Existem quatro funções psicológicas fun damentais pensamento sentimento sensação e intui ção O pensamento é ideacional e intelectual Ao pen sar os seres humanos tentam compreender a natureza do mundo e a si mesmos O sentimento é a função de avaliação é o valor das coisas quer positivo quer ne gativo com referência ao sujeito A função de senti mento dá aos humanos suas experiências subjetivas de prazer e dor de raiva medo tristeza de alegria e amor A sensação é a função perceptual ou de realida de Ela transmite os fatos ou as representações con cretas do mundo A intuição é a percepção por meio de processos inconscientes e de conteúdos sublimina res A pessoa intuitiva vai além de fatos sentimentos e idéias em sua busca da essência da realidade A natureza das quatro funções pode ser esclareci da pelo seguinte exemplo Suponha que uma pessoa está parada na beira do Grand Canyon do rio Colora do Se predominar a função do sentimento ela vai experienciar um senso de admiração de grandeza e de beleza arrebatadoras Se ela estiver controlada pela função da sensação verá o canyon simplesmente como ele é ou como uma fotografia o representaria Se a função do pensamento controlar seu ego ela tentará compreender o canyon em termos de teoria e princí pios geológicos Finalmente se prevalecer a função intuitiva o espectador tenderá a ver o Grand Canyon como um mistério da natureza que possui um signifi cado profundo que é parcialmente revelado ou senti do como uma experiência mística Que existem exatamente quatro funções psicoló gicas nem mais nem menos eu concluí escreveu Jung em bases puramente empíricas Mas como mostra a seguinte consideração essas quatro juntas produzem uma espécie de totali dade A sensação estabelece o que realmente está presente o pensamento nos permite reconhecer seu significado o sentimento nos diz qual é o seu valor e a intuição aponta possibilidades referen tes à sua origem e ao seu destino em uma dada situação Dessa maneira podemos orientarnos em relação ao mundo imediato tão completamente como quando localizamos geograficamente um lugar pela latitude e longitude 1931b p 540 541 O pensamento e o sentimento são chamados de funções racionais porque utilizam a razão o julga mento a abstração e a generalização Elas permitem que os humanos procurem legitimidade no universo A sensação e a intuição são consideradas funções irra cionais porque se baseiam na percepção do concreto do particular e do acidental Embora as pessoas tenham todas as quatro fun ções elas não são igualmente bemdesenvolvidas Habitualmente uma das quatro funções é mais dife renciada do que as outras três e desempenha um pa pel dominante na consciência Esta é chamada de fun ção superior A menos diferenciada das quatro é chamada de função inferior Ela é reprimida e incons ciente e expressase em sonhos e fantasias A função inferior é sempre o outro membro do par que contém a função superior Se o pensamento for superior por exemplo o sentimento deve ser inferior Quanto mais uma dada função domina o funcionamento conscien te mais a função inferior fica submersa no inconsci ente Em essência Jung está designando uma função como superior quando ela é a mais desenvolvida das quatro A base para essa superioridade não estava clara para Jung embora ele tenha sugerido que as pessoas podem ter uma tendência inata para uma determina da atitude ou função mais desenvolvida Sejam quais forem suas origens os pais em especial devem res peitar essas tendências e não tentar transformar os filhos em algo que eles não são O fato de que o funcionamento consciente de cada pessoa tende a ser guiado por uma das duas atitudes 94 HALL LINDZEY CAMPBELL mais uma das quatro funções monta o cenário para uma taxonomia de oito tipos Introversão ou extro versão como uma atitude dominante podese combi nar com pensamento sentimento sensação ou intui ção como uma função superior produzindo assim um tipo pensante introvertido um tipo sensorial extro vertido e assim por diante Jung reconheceu que pode haver graus de superioridade dependendo da exten são em que uma determinada atitude ou função do mina a consciência mas ele acreditava que os tipos puros eram úteis como exemplo Por exemplo ele es clareceu melhor suas diferenças em relação a Freud sugerindo que Freud era um tipo pensante extroverti do enquanto ele mesmo era um tipo intuitivo intro vertido Jung 1921 dedicou grande parte do Tipos Psico lógicos à descrição dos oito tipos possíveis Vamos con siderar dois dos oito como ilustrações ver Hall Nordby 1973 O tipo pensante extrovertido é o cien tista típico preocupado em entender os fenômenos naturais e em explicálos por meio de princípios ge rais leis naturais e fórmulas Essas pessoas reprimem seu lado de sentimento de modo que podem parecer distantes frias desligadas e superiores O tipo senti mental introvertido é mais comumente encontrado entre as mulheres do que entre os homens Essas pes soas escondem seus sentimentos e freqüentemente são descritas como distantes inescrutáveis ou melancóli cas Elas muitas vezes parecem ter poderes misterio sos ou carisma Elas têm sentimentos intensos que podem irromper em explosões emocionais O aforis mo as águas paradas são profundas se aplica a essas pessoas O funcionamento da personalidade se torna ain da mais complexo pelo fato de que um membro do par da função que não contém as funções superior e inferior serve como um auxiliar para a função superi or ver p 405407 em Jung 1921 Por exemplo se o pensamento ou o sentimento é a superior a sensação ou a intuição vai ser a auxiliar Esse arranjo faz senti do dado que as funções irracionais governam a per cepção ou a aquisição de informação enquanto as funções racionais controlam o julgamento ou o pro cessamento da informação O ego precisa de uma es tratégia para perceber e para julgar o mundo de modo que tanto uma função racional quanto uma irracional devem influenciar seu funcionamento consciente A influência decisiva para a orientação da consciência vem da função superior com a auxiliar tendo um pa pel complementar nãoantagonista Tais combinações permitem a Jung oferecer descrições mais específicas como quando ele distingue entre o pensamento prá tico que ocorre quando a sensação é a auxiliar e o pensamento especulativo que surge quando a in tuição é a auxiliar Vamos resumir o amplo poder descritivo da com binação junguiana das atitudes e funções A introver são ou a extroversão tenderá a dominar o ego À me dida que aumenta essa dominação o grau de submersão da outra atitude no inconsciente também aumenta A função superior vai governar a orienta ção da consciência com o outro membro desse par de função enterrado no inconsciente como o inferior Do par de função remanescente uma servirá como auxi liar para a função superior e a outra como auxiliar para a inferior Se por exemplo um homem for do tipo pensante introvertido com a sensação como sua auxiliar então o sentimento deve ser sua função infe rior com a intuição como sua auxiliar Existem duas possibilidades para a atitude dominante quatro pos sibilidades para a função superior e duas possibilida des para a auxiliar da função superior porque a auxi liar deve vir do par de função que não contém a função superior Em conseqüência podem existir dezesseis tipos ou orientações Jung reconheceu que são comuns as gradações mas os tipos puros oferecem uma estru tura potencialmente muito útil para conceitualizar diferenças individuais Se as quatro funções forem colocadas eqüidistan temente na circunferência de um círculo o centro do círculo representa a síntese das quatro funções intei ramente diferenciadas Nessa síntese não existe ne nhuma função superior ou inferior e nenhuma auxili ar Todas elas têm força igual na personalidade Tal síntese só pode ocorrer quando o self se realizar ple namente Uma vez que a realização completa do self é impossível a síntese das quatro funções representa uma meta ideal almejada pela personalidade Interações entre os Sistemas da Personalidade Os vários sistemas e as atitudes e funções que consti tuem a personalidade total interagem de três manei ras diferentes Um sistema pode compensar a fraque za de outro sistema um sistema pode se opor a outro TEORIAS DA PERSONALIDADE 95 sistema ou dois ou mais sistemas podem se unir para formar uma síntese A compensação pode ser ilustrada pela interação das atitudes contrastantes de extroversão e de intro versão Se a extroversão for a atitude dominante ou superior do ego consciente então o inconsciente vai compensar desenvolvendo a atitude reprimida da in troversão Isso significa que se a atitude extrovertida for frustrada de alguma maneira a atitude inferior inconsciente de introversão vai assumir o controle da personalidade e manifestarse Um período de inten so comportamento extrovertido é comumente segui do por um período de comportamento introvertido Os sonhos também são compensatórios de modo que os sonhos de uma pessoa predominantemente extro vertida terão uma qualidade introvertida e inversa mente os sonhos de um introvertido tenderão a ser extrovertidos A compensação também ocorre entre as funções Uma pessoa que enfatiza o pensamento ou o senti mento na mente consciente será um tipo intuitivo ou sensorial inconscientemente Da mesma forma o ego e a anima em um homem e o ego e o animus em uma mulher terão uma relação compensatória O ego do homem normal é masculino enquanto a anima é fe minina e o ego da mulher normal é feminino en quanto o animus é masculino Em geral todos os con teúdos da mente consciente são compensados pelos conteúdos da mente inconsciente O princípio de com pensação proporciona uma espécie de equilíbrio en tre elementos contrastantes que impede a psique de se tornar neuroticamente desequilibrada Virtualmente todos os teóricos da personalidade supõem que a personalidade contém tendências pola res que podem entrar em conflito Jung não é exce ção Ele acreditava que uma teoria psicológica da per sonalidade precisa basearse no princípio da oposição ou do conflito porque as tensões criadas por elemen tos conflitantes são a própria essência da vida Sem tensão não haveria energia e conseqüentemente ne nhuma personalidade A oposição existe entre todos os elementos da per sonalidade entre o ego e a sombra entre o ego e o inconsciente pessoal entre a persona e a anima ou o animus entre a persona e o inconsciente pessoal en tre o inconsciente coletivo e o ego e entre o inconsci ente coletivo e a persona A introversão se opõe à ex troversão o pensamento se opõe ao sentimento e a sensação se opõe à intuição O ego é como uma pete ca atirada de um lado para outro entre as exigências externas da sociedade e as exigências internas do in consciente coletivo Em resultado dessa luta desen volvese uma persona ou máscara A persona então se descobre sob o ataque de outros arquétipos no incons ciente coletivo A mulher no homem isto é a anima invade a natureza masculina do homem e o animus invade a feminilidade da mulher A luta entre as for ças racionais e irracionais da psique nunca cessa O conflito é um fato onipresente da vida Será que a personalidade sempre precisa ser uma casa dividida contra si mesma Jung acreditava que não Os elementos polares não só se opõem uns aos outros mas também se atraem e se buscam A situa ção é análoga à de um marido e uma mulher que bri gam um com o outro mas se mantêm unidos pelas próprias diferenças que provocam os desentendimen tos A união de opostos é realizada pelo que Jung cha mou de função transcendente ver a seguir A operação dessa função resulta na síntese de sistemas contrários para formar uma personalidade equilibrada integra da O centro dessa personalidade integrada é o self Um Exemplo de Interação entre os Sistemas da Personalidade Para ilustrar os tipos de interações que ocorrem den tro da psique vamos considerar as relações entre a anima e os outros sistemas da personalidade Jung disse a natureza integral do homem pressupõe a mulher seu sistema está sintonizado com a mulher desde o início Jung 1945 p 188 O bebê do sexo masculino equipado com seu arquétipo de mulher é instintivamente atraído para a primeira mulher que experiencia usualmente a mãe O estabelecimento de um estreito relacionamento é estimulado por sua vez pela mãe Entretanto à medida que a criança cresce esses vínculos maternos se tornam restritivos e frus trantes senão realmente perigosos para a criança de modo que o complexo materno que se formou no ego é reprimido no inconsciente pessoal Ao mesmo tempo em que esse desenvolvimento está ocorrendo traços e atitudes femininos que fo ram implantados no ego pela anima também são re primidos por serem estranhos ao papel que a socieda de espera que ele desempenhe como homem Em outras palavras sua feminilidade inata é reprimida 96 HALL LINDZEY CAMPBELL por uma contraforça emanando da persona e de ou tros arquétipos Como resultado desses dois atos de repressão os sentimentos da criança pela mãe e sua feminilidade são levados do ego para o inconsciente pessoal As sim a percepção que o homem tem das mulheres e seus sentimentos e comportamentos em relação a elas são dirigidos pelas forças combinadas do inconscien te pessoal e coletivo A tarefa de integração imposta ao ego em conse qüência dessas vicissitudes do arquétipo da mãe e do arquétipo feminino a anima é encontrar uma mu lher que se assemelhe à imago da mãe e que também preencha as necessidades de sua anima Se escolher uma mulher que difira de um ou de ambos desses modelos inconscientes ele está fadado a ter proble mas porque seus sentimentos positivos conscientes por ela serão perturbados por sentimentos negativos inconscientes Eles farão com que se sinta insatisfeito com ela e ele a culpará por várias falhas e dificulda des imaginadas sem perceber as razões reais de seu descontentamento Se a função transcendente estiver operando bem ela unirá todos os seus impulsos con traditórios e o fará escolher uma companheira com quem ele poderá ser feliz Todas as decisões importantes na vida requerem que seja dada uma devida consideração aos fatores inconscientes e também aos conscientes para que tudo dê certo Jung disse que muito desajustamento e infelicidade se devem a um desenvolvimento unilate ral da personalidade que ignora facetas importantes da natureza humana Essas facetas negligenciadas cri am perturbações na personalidade e na conduta irra cional Para Jung a personalidade é uma estrutura ex tremamente complexa Não só existem numerosos componentes o número de possíveis arquétipos e complexos por exemplo é imenso mas também as interações entre esses componentes são intrincadas e complicadas Nenhum outro teórico da personalida de apresentou uma descrição tão rica e complexa da estrutura da personalidade A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Jung imaginou a personalidade ou psique como um sistema de energia parcialmente fechado Dizemos que é incompletamente fechado porque a energia de fon tes exteriores precisa ser acrescentada ao sistema por exemplo pela alimentação A energia também é sub traída do sistema por exemplo pela realização de tra balho muscular Também é possível que estímulos ambientais produzam mudanças na distribuição de energia dentro do sistema Isso acontece por exem plo quando uma mudança súbita no mundo externo reorienta a nossa atenção e percepção O fato de que a dinâmica da personalidade está sujeita a influências e a modificações de fontes externas significa que a personalidade não pode atingir um estado de perfeita estabilização como poderia acontecer se ela fosse um sistema completamente fechado Ela só pode tornar se relativamente estabilizada Energia Psíquica A energia pela qual o trabalho da personalidade é re alizado se chama energia psíquica Jung 1948b A energia psíquica é uma manifestação da energia de vida que é a energia do organismo como um sistema biológico Ela se origina da mesma maneira que toda a energia vital a saber dos processos metabólicos do corpo O termo de Jung para a energia vital é libido mas ele também usa libido paralelamente com ener gia psíquica Jung não assumiu uma posição definida sobre a relação da energia psíquica com a energia físi ca mas ele acreditava que provavelmente existe al gum tipo de ação recíproca entre as duas A energia psíquica é um constructo hipotético ela não é uma substância ou um fenômeno concreto Con seqüentemente não pode ser medida ou sentida A energia psíquica encontra sua expressão concreta na forma de forças reais ou potenciais Desejar querer sentir prestar atenção e buscar são exemplos de for ças reais na personalidade disposições aptidões ten dências inclinações e atitudes são exemplos de forças potenciais TEORIAS DA PERSONALIDADE 97 Valores Psíquicos A quantidade de energia psíquica investida em um elemento da personalidade é chamada de valor desse elemento O valor é uma medida de intensidade Quan do falamos que atribuímos um grande valor a uma determinada idéia ou sentimento queremos dizer que a idéia ou o sentimento exerce uma considerável for ça instigadora e orientadora do comportamento Uma pessoa que valoriza a verdade gastará muita energia na busca da verdade Quem atribui um grande valor ao poder estará altamente motivado a obter poder Inversamente se algo tem um valor trivial terá pou ca energia associada O valor absoluto de uma idéia ou sentimento não pode ser determinado mas seu valor relativo pode Uma maneira simples embora não necessariamente acurada de determinar valores relativos é perguntar a uma pessoa se ela prefere uma coisa à outra A or dem de preferência pode ser tomada como uma me dida aproximada das forças relativas de seus valores Ou pode ser imaginada uma situação experimental para testar se um indivíduo se esforçará mais por um incentivo do que por outro Observar cuidadosamen te uma pessoa por um certo período de tempo para ver o que ela faz transmite um quadro bastante bom de seus valores relativos Se uma pessoa passa mais tempo lendo do que jogando cartas podemos supor que a leitura é mais valorizada do que o jogo de car tas O Poder Constelador de um Complexo Tais observações e testes por mais úteis que possam ser para a determinação de valores conscientes não lançam muita luz sobre os valores inconscientes Eles precisam ser determinados por uma avaliação do po der constelador do elemento nuclear de um comple xo O poder constelador de um complexo consiste no número de grupos de itens que são trazidos para as sociação pelo elemento nuclear do complexo Assim se alguém tem um forte complexo patriótico isso sig nifica que o núcleo amor pelo seu país vai produzir constelações de experiências em torno disso Uma dessas constelações pode consistir em eventos impor tantes na história da nação enquanto outro pode ser um sentimento positivo em relação aos líderes e he róis nacionais Uma pessoa muito patriótica estará predisposta a associar qualquer experiência nova a uma das constelações associadas ao patriotismo Jung discute três métodos para avaliar o poder constelador de um elemento nuclear 1 a observa ção direta mais deduções analíticas 2 os indicado res de complexo e 3 a intensidade da expressão emo cional Por meio de observação e de inferência podemos chegar a uma estimativa do número de associações vinculadas a um elemento nuclear Um homem com um forte complexo materno tenderá a introduzir sua mãe ou algo associado à mãe em suas conversas seja isso apropriado ou não Ele preferirá histórias e fil mes em que as mães desempenham um papel impor tante e valorizará o Dia das Mães e outras ocasiões em que pode homenageála Tenderá a imitar a mãe adotando suas preferências e interesses e sentirseá atraído por suas amigas E terá preferência por mu lheres mais velhas a mulheres de sua idade Um complexo nem sempre se manifesta publica mente Ele pode aparecer em sonhos ou de alguma forma obscura de modo que será necessário empre gar evidências circunstanciais para descobrir o signi ficado subjacente da experiência É isso o que quere mos dizer com dedução analítica Um indicador de complexo é qualquer perturba ção de comportamento indicando a presença de um complexo Pode ser um lapso da fala por exemplo quando um homem diz mãe quando queria dizer esposa Pode ser um bloqueio de memória incomum como acontece quando alguém não consegue lembrar o nome de um amigo porque o nome se parece muito com o de sua mãe ou com algo associado a ela Os indicadores de complexo também aparecem no teste de associação de palavras Jung descobriu a existência dos complexos em 1903 por meio de experimentos com o teste de asso ciação de palavras Jung 1973a Esse teste agora amplamente empregado na avaliação da personalida de consiste em uma listapadrão de palavras que são lidas uma de cada vez para a pessoa que está sendo testada O sujeito é instruído a responder com a pri meira palavra que lhe vier à mente Se a pessoa levar um tempo incomumente longo para responder a uma palavra específica isso indica que ela está associada de alguma maneira a um complexo A repetição da palavraestímulo e a incapacidade de responder a ela também são indicadores de complexos 98 HALL LINDZEY CAMPBELL A intensidade da reação emocional de alguém a uma situação também é uma outra medida da força de um complexo Se o coração bater mais rápido a respiração se tornar mais profunda e o sangue sumir da face essas são ótimas indicações de um forte com plexo envolvido Ao combinar medidas fisiológicas como pulsação respiração e mudanças elétricas na condutividade da pele com o teste de associação de palavras é possível determinar de maneira bastante precisa a força dos complexos de uma pessoa O Princípio da Equivalência Jung baseou sua visão da psicodinâmica em dois prin cípios fundamentais o princípio da equivalência e o da entropia Jung 1948b O princípio da equivalên cia afirma que se for gasta energia para provocar uma determinada condição a quantidade gasta aparecerá em outro lugar do sistema Os alunos de física reco nhecerão esse princípio como a primeira lei da termo dinâmica ou o princípio da conservação da energia Conforme aplicado ao funcionamento psíquico por Jung o princípio afirma que se um valor específico se enfraquecer ou desaparecer a soma de energia re presentada pelo valor não será perdida mas reapare cerá em um novo valor O rebaixamento de um valor inevitavelmente significa a elevação de outro Por exemplo à medida que diminui a valorização que uma criança atribui à família seu interesse por outras pes soas e coisas aumentará Uma pessoa que perde o in teresse por um passatempo normalmente descobre que um outro assumiu o seu lugar Se um valor for repri mido sua energia pode ser usada para criar sonhos ou fantasias É possível evidentemente que a ener gia perdida de um valor seja distribuída entre vários outros valores Em termos do funcionamento da personalidade total o princípio da equivalência afirma que se for removida energia de um sistema por exemplo do ego ela vai aparecer em algum outro sistema talvez na persona Ou se cada vez mais valores se expressarem no lado sombra da personalidade ele se fortalecerá à custa de outras estruturas da personalidade Da mes ma forma a desenergização do ego consciente é acom panhada pela energização do inconsciente A energia está continuamente fluindo de um sistema da perso nalidade para outro Essas redistribuições de energia constituem a dinâmica da personalidade Sem dúvida o princípio da conservação da ener gia não se aplica de uma maneira estrita a um sistema como a psique que é apenas parcialmente fechado A energia é acrescentada ou subtraída da psique e o ritmo em que é acrescentada ou subtraída varia con sideravelmente Em conseqüência a elevação ou que da de um valor pode deverse não apenas a uma trans ferência de energia de uma parte do sistema para outra mas pode depender também da adição de ener gia de fontes externas à psique ou da subtração de energia quando é realizado um trabalho muscular Ficamos física e mentalmente revigorados depois de comer uma refeição ou descansar e ficamos física e mentalmente cansados depois de um período de exer cício ou trabalho São essas trocas de energia entre a psique e o organismo ou o mundo externo assim como a redistribuição de energia dentro da psique que tan to interessavam a Jung e a todos os psicólogos dinâ micos O Princípio da Entropia O princípio da entropia ou a segunda lei da termodi nâmica estabeleceu que quando dois corpos de dife rentes temperaturas são colocados em contato o ca lor vai passar do corpo mais quente para o corpo mais frio Como um outro exemplo a água flui de um nível mais alto para um nível mais baixo quando existe um canal A operação do princípio da entropia resulta em um equilíbrio de forças O objeto mais quente perde energia térmica para o mais frio até os dois objetos atingirem a mesma temperatura Nesse ponto a troca de energia pára e dizemos que os dois objetos estão em equilíbrio térmico O princípio da entropia conforme adaptado por Jung para descrever a dinâmica da personalidade afir ma que a distribuição de energia na psique busca um equilíbrio Assim tomando o exemplo mais simples se dois valores intensidades de energia tiverem for ças desiguais a energia tenderá a passar do valor mais forte para o mais fraco até ser atingido um equilíbrio Entretanto uma vez que a psique não é um sistema fechado pode ser acrescentada ou subtraída energia de qualquer um dos valores opostos o que perturba o equilíbrio Embora um equilíbrio permanente de for ças na personalidade jamais possa ser atingido esse é o estado ideal almejado pela distribuição da energia Tal estado ideal em que a energia total está regular TEORIAS DA PERSONALIDADE 99 mente distribuída em todos os sistemas totalmente desenvolvidos é o self Quando Jung afirmou que a autorealização é a meta do desenvolvimento psíqui co ele quis dizer entre outras coisas que a dinâmica da personalidade busca um perfeito equilíbrio de for ças O fluxo de energia dirigido de um centro de alto potencial para um de baixo potencial é um princípio fundamental que governa a distribuição de energia entre os sistemas da personalidade A operação desse princípio significa que um sistema fraco tenta melho rar seu status à custa de um sistema forte Esse pro cesso cria tensão na personalidade Se o ego consci ente por exemplo é supervalorizado em relação ao inconsciente muita tensão será gerada na personali dade pela tentativa por parte da energia de passar do sistema consciente para o inconsciente Da mesma for ma a energia da atitude superior quer seja extrover são quer seja introversão tende a moverse na dire ção da atitude inferior Um extrovertido superde senvolvido sofre pressão para desenvolver a parte in trovertida de sua natureza É uma regra geral na psi cologia junguiana que qualquer desenvolvimento uni lateral da personalidade cria conflito pressão e tensão e que um desenvolvimento equilibrado de todos os constituintes da personalidade produz harmonia re laxamento e contentamento A produção de energia requer diferenças de po tencial entre os vários componentes de um sistema Em conseqüência nenhuma energia seria produzida em um estado de perfeito equilíbrio Um sistema per de a força e pára quando todas as suas partes estão em perfeito equilíbrio ou perfeita entropia Portanto é impossível que um organismo vivo atinja uma en tropia perfeita Essa situação representa uma ironia fascinante Assim como o instinto de morte de Freud se referia ao desejo da pessoa de retornar a um esta do inorgânico a meta de Jung de movimento rumo à condição de ser si mesmo implica avançar para uma parada final da personalidade O Uso da Energia A energia psíquica total disponível para a personali dade é usada para dois propósitos gerais Parte dela é gasta na realização do trabalho necessário para a manutenção da vida e a propagação da espécie Essas são as funções inatas instintivas conforme exempli ficado pela fome e pelo sexo Elas operam segundo leis biológicas naturais Qualquer energia que excede a necessária para os instintos pode ser empregada em atividades culturais e espirituais De acordo com Jung tais atividades constituem os propósitos mais eleva dos da vida À medida que a pessoa se torna mais eficiente em satisfazer suas necessidades biológicas sobra mais energia para a busca de interesses cultu rais Além disso conforme o corpo que envelhece faz menos demandas de energia mais energia fica dispo nível para atividades psíquicas O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE O aspecto mais relevante da teoria de Jung da personalidade fora o conceito do inconsciente coleti vo com seus arquétipos é a sua ênfase no caráter pro gressista do desenvolvimento da personalidade Jung acreditava que os humanos estão constantemente pro gredindo ou tentando progredir de um estágio de de senvolvimento menos completo para um mais com pleto Ele também acreditava que a humanidade como espécie está constantemente desenvolvendo formas mais diferenciadas de existência Qual é a meta do desenvolvimento Que objetivo os seres humanos e a humanidade buscam A supre ma meta desenvolvimental buscada pelas pessoas é resumida pelo termo autorealização Autorealização significa a diferenciação e a fusão harmoniosa mais plenas e completas de todos os aspectos de uma per sonalidade humana total Isso significa que a psique desenvolveu um novo centro o self que ocupa o espaço do antigo centro o ego Toda a evolução con forme se manifesta no desenvolvimento psíquico des de os primeiros organismos primitivos até o apareci mento dos humanos é uma marcha de progresso O progresso não parou com a criação dos humanos as sim como os humanos representam um avanço em relação a todas as outras espécies de animais os hu manos civilizados também representam uma melhora em relação aos humanos primitivos Até os humanos civilizados ainda têm muito pela frente antes de atin gir o fim da jornada evolutiva Era o futuro dos huma 100 HALL LINDZEY CAMPBELL nos o que Jung achava tão interessante e desafiador e sobre isso ele teve muito a dizer em seus extensivos textos Causalidade Versus Teleologia A idéia de uma meta que orienta e dirige o destino humano é essencialmente uma explicação teleológica ou finalista O ponto de vista teleológico explica o presente em termos do futuro De acordo com esse ponto de vista a personalidade humana é compreen dida em termos de para onde está indo e não de onde esteve Por outro lado o presente pode ser explicado pelo passado Esse é o ponto de vista da causalidade que afirma que os eventos presentes são as conse qüências ou os efeitos de condições ou causas antece dentes Nós examinamos o passado da pessoa para explicar seu comportamento presente Jung afirmava que ambos os pontos de vista são necessários na psicologia se quisermos buscar um en tendimento completo da personalidade O presente é determinado não só pelo passado causalidade mas também pelo futuro teleologia Em sua busca de entendimento os psicólogos precisam ter as duas fa ces do deus Jano Com uma eles podem olhar para o passado da pessoa com a outra eles podem olhar para o seu futuro As duas visões quando combinadas transmitem um quadro completo da pessoa Jung admitia que a causalidade e a teleologia são meramente modos arbitrários de pensamento empre gados pelo cientista para ordenar e compreender fe nômenos naturais A causalidade e a teleologia não são em si mesmas encontradas na natureza Ele sali entou que uma atitude puramente causal tende a pro duzir resignação e desespero nos humanos uma vez que do ponto de vista da causalidade eles são prisio neiros de seu passado Eles não podem desfazer o que já foi feito A atitude finalista por outro lado dá aos humanos um sentimento de esperança e algo pelo que viver cf Frankl 1959 que endossou a frase de Niet zsche Quem tem um porquê pelo qual viver pode suportar quase qualquer como Sincronicidade Tardiamente em sua vida Jung 1952a propôs um princípio que não era nem causalidade e nem teleolo gia Ele o chamou de princípio da sincronicidade Esse princípio se aplica a eventos que ocorrem juntos no tempo mas não são a causa um do outro por exem plo quando um pensamento corresponde a um even to objetivo Quase todo mundo já experienciou essas coincidências Estamos pensando em uma pessoa e a pessoa aparece ou sonhamos com a doença ou a morte de um amigo ou parente e mais tarde ficamos saben do que o evento ocorreu no exato momento do so nho Jung indicou a vasta literatura sobre telepatia mental clarividência e outros tipos de fenômenos paranormais como evidência do princípio da sincro nicidade Ele acreditava que muitas dessas experiên cias não podem ser explicadas como coincidências casuais em vez disso elas sugerem a existência de um outro tipo de ordem no universo além da descrita pela causalidade Os fenômenos sincrônicos são atri buídos à natureza dos arquétipos Um arquétipo tem um caráter psicóide isto é ele é tanto psicológico quan to físico Conseqüentemente um arquétipo pode tra zer à consciência uma imagem mental de um evento físico mesmo que não exista nenhuma percepção di reta dele O arquétipo não causa ambos os eventos ele possui uma qualidade que permite que ocorra a sincronicidade O princípio da sincronicidade parece ser uma evolução em relação à idéia de que um pen samento causa a materialização da coisa pensada Existe um ótimo ensaio sobre sincronicidade em From the life and work of C G Jung 1971 de Aneila Jaffé Ver também Progoff 1973 Hereditariedade A hereditariedade tem um papel importante na psico logia junguiana Em primeiro lugar ela é responsável pelos instintos biológicos que buscam a autopreserva ção e a reprodução Os instintos constituem o lado animal da natureza humana Eles são os vínculos com um passado animal Um instinto é um impulso inter no para agir de uma certa maneira quando surge uma determinada condição tissular A fome por exemplo evoca atividades de busca e ingestão de alimento As idéias de Jung sobre os instintos não são diferentes das defendidas pela biologia moderna Jung 1929 1948c Entretanto Jung desviouse bastante da posição da biologia moderna quando afirmou que existe além de uma herança de instintos biológicos uma herança de experiências ancestrais Essas experiências ou TEORIAS DA PERSONALIDADE 101 falando com maior exatidão a potencialidade de se ter a mesma ordem de experiências de nossos ances trais são herdadas na forma de arquétipos Como vi mos um arquétipo é uma memória racial que se tor nou parte da hereditariedade humana ao se repetir freqüente e universalmente ao longo de muitas gera ções Ao aceitar a noção de herança cultural Jung aliouse à doutrina de Lamarck dos caracteres adqui ridos uma doutrina cuja validade foi questionada pela maioria dos geneticistas contemporâneos Entretan to conforme Hall e Nordby 1973 apontam os ar quétipos não requerem explicação em termos do pro cesso lamarckiano de herdar características adquiridas Por exemplo os primeiros humanos que devido a uma mutação genética possuíam uma predisposição para ter medo de cobras ou do escuro provavelmente tive ram uma vantagem de sobrevivência Isso por sua vez pode ter proporcionado uma vantagem reprodu tiva e levado finalmente a uma característica da espé cie De maneira semelhante outros conteúdos do in consciente coletivo poderiam terse desenvolvido por meio do processo de seleção natural Estágios de Desenvolvimento Jung não especificou detalhadamente como fez Freud os estágios pelos quais a personalidade passa desde o período de bebê até a idade adulta Mas ele descre veu quatro estágios gerais de desenvolvimento Não apresentaremos o último estágio a Velhice porque Jung o considerava um período relativamente pouco importante em que as pessoas idosas gradualmente mergulham no inconsciente Infância A vida da criança é determinada por atividades ins tintuais necessárias à sobrevivência O comportamento durante a infância também é governado pelas exigên cias parentais Os problemas emocionais experiencia dos pelas crianças pequenas geralmente refletem in fluências perturbadoras em casa 1928 p 54 Em um nítido contraste com Freud Jung não enfatizou o poder determinante da infância para o comportamento subseqüente Idade Adulta Jovem A puberdade serve como o nascimento psíquico da personalidade Não só emerge a sexualidade mas tam bém a criança se diferencia dos pais O adolescente precisa aprender a enfrentar o mundo e a prepararse para a vida A extroversão é a atitude primária e a consciência domina a vida mental à medida que o jo vem se dedica às tarefas de encontrar um companhei ro e uma vocação cf discussão no Capítulo 4 das três tarefas de vida de Adler mais a discussão no Capítulo 5 das crises básicas de Erikson de identidade vs con fusão de papéis e intimidade vs isolamento O ado lescente precisa lidar com questões de sexualidade assim como de poder ou insegurança MeiaIdade Pelo final da casa dos 30 a maioria das pessoas já lidou com as questões da idade adulta jovem tendo casado e estabelecidose em uma profissão Nesse pon to surge uma preocupação bem diferente a necessi dade de significado As pessoas precisam encontrar um propósito em sua vida e uma razão para a sua existência Na terminologia de Jung elas passam de uma atitude extrovertida para uma introvertida e começam a buscar a autorealização Esse é o momento da crise da meiaidade Os interesses e as atividades juvenis perdem seu valor e são substituídos por novos interesses mais culturais e menos biológicos A pes soa de meiaidade tornase mais introvertida e menos impulsiva A sabedoria e a sagacidade tomam o lugar do vigor físico e mental Os valores da pessoa são su blimados em símbolos sociais religiosos cívicos e fi losóficos Ela se torna mais espiritual Tal transição é o evento mais decisivo na vida de uma pessoa Também é um dos mais perigosos por que se alguma coisa dá errado durante a transferên cia de energia a personalidade podese tornar per manentemente perturbada Isso acontece por exemplo quando os valores culturais e espirituais da meiaidade não utilizam toda a energia anteriormen te investida em metas instintuais Nesse caso a ener gia em excesso está livre para perturbar o equilíbrio da psique 102 HALL LINDZEY CAMPBELL Jung teve muito sucesso tratando pessoas de meiaidade cujas energias não encontravam saídas sa tisfatórias Jung 1931a Em parte isso talvez se deva ao fato de Jung ter passado por um período ocioso de 1913 a 1917 os anos cercando seu 40º aniversá rio Esse foi o período que se seguiu ao seu afasta mento de Freud Pelo relato do próprio Jung nesses anos ele se afastou do ensino universitário e imergiu em seu inconsciente pessoal e coletivo Alguns estudi osos p ex Jaffé 1971 van der Post 1975 sugeri ram que esse período tempestuoso foi uma viagem autocontrolada de exploração cf autoanálise de Freud Outros p ex Ellenberger 1970 Stern 1976 argumentaram que Jung não tinha controle completo durante esse período estando à beira de um surto psicótico Seja qual for a verdade é certo que Jung emergiu desse período com idéias convincentes sobre a natureza e o funcionamento do inconsciente A necessidade de significado era um conceito im portante para Jung e oferece mais um contraste com Freud Freud 1927 argumentara que a crença em Deus era uma ilusão isto é uma crença estimulada pela realização do desejo com um protótipo infantil e a função defensiva de tornar tolerável a nossa im potência Jung tinha uma posição bem diferente baseada na utilidade e não na prova Jung escreveu Uma vez que não podemos descobrir o trono de Deus no céu com um radiotelescópio as pesso as supõem que essas idéias não são verdade O homem moderno pode afirmar que não precisa delas e reforçar sua opinião insistindo que não existe nenhuma evidência científica de sua ver dade Mas por que deveríamos nos preocupar com evidências Mesmo que não soubéssemos as razões da nossa necessidade de sal na comida nós não obstante nos beneficiaríamos de seu uso Por que então devemos privarnos de idéias que seriam úteis nas crises e dariam significado à nos sa existência O homem positivamente pre cisa de idéias e convicções gerais que dêem senti do à sua vida e que lhe permitam encontrar um lugar para si mesmo no universo 1964 p 87 88 Progressão e Regressão O desenvolvimento pode ter um movimento progres sivo para a frente ou regressivo para trás Por pro gressão Jung queria dizer que o ego consciente está se ajustando satisfatoriamente tanto às exigências do ambiente externo quanto às necessidades do incons ciente Na progressão normal forças opostas se unem em um fluxo coordenado e harmonioso de processos psíquicos Quando o movimento para a frente é interrompi do por alguma circunstância frustrante isso impede a libido de ser investida em valores extrovertidos ou orientados para o ambiente Em conseqüência a libi do faz uma regressão para o inconsciente e investese de valores introvertidos Isto é valores objetivos do ego são transformados em valores subjetivos A re gressão é a antítese da progressão Entretanto Jung acreditava que um deslocamen to regressivo de energia não tem necessariamente um efeito permanentemente mau sobre o ajustamento De fato isso pode ajudar o ego a encontrar um caminho para desviarse do obstáculo e avançar novamente Isso é possível porque o inconsciente tanto o pessoal quanto o coletivo contém o conhecimento e a sabe doria do passado individual e racial que foram repri midos ou ignorados Ao regredir o ego pode desco brir conhecimentos úteis no inconsciente que permitirão à pessoa superar a frustração Os huma nos devem prestar especial atenção aos seus sonhos pois eles são revelações de material inconsciente Na psicologia junguiana o sonho é visto como um poste sinalizador que aponta o caminho para o desenvolvi mento de recursos potenciais A interação da progressão e da regressão no de senvolvimento pode ser exemplificada pelo seguinte exemplo esquemático Um jovem que se desvencilha ra da dependência em relação aos pais encontra uma barreira intransponível Ele procura os pais para con selhos e encorajamento Ele na verdade não vai vol tar para os pais em um sentido físico mas sua libido vai regredir para o inconsciente e reativar as imagos parentais lá localizadas Essas imagos parentais po dem então proporcionarlhe o conhecimento e o en corajamento necessários para superar a frustração TEORIAS DA PERSONALIDADE 103 O Processo de Individuação Que a personalidade tem a tendência a desenvolver se na direção de uma unidade estável é um aspecto central da psicologia de Jung O desenvolvimento é um desdobrarse da totalidade original nãodiferenci ada com que nascem os seres humanos A meta su prema desse desdobrarse é a realização da condição de ser si mesmo Para realizar tal meta é necessário que os vários sistemas da personalidade se tornem completamente diferenciados e inteiramente desenvolvidos Se algu ma parte da personalidade for negligenciada os sis temas negligenciados e menos desenvolvidos agirão como centros de resistência que tentarão capturar energia de sistemas mais desenvolvidos Se houver muitas resistências a pessoa tornarseá neurótica Isso vai acontecer quando os arquétipos não puderem se expressar por meio do ego consciente ou quando o envoltório da persona se tornar tão espesso que aba fará o resto da personalidade Um homem que não oferece uma saída satisfatória para seus impulsos fe mininos ou uma mulher que contém sua inclinações masculinas estão armando problemas porque a ani ma ou o animus nessas condições tenderão a encon trar maneiras indiretas e irracionais de se expressar Para ter uma personalidade sadia e integrada todos os sistemas precisam atingir o grau mais pleno de di ferenciação desenvolvimento e expressão O proces so por meio do qual isso é atingido chamase processo de individuação Jung 1939 1950 A Função Transcendente Quando a diversidade foi atingida por meio da opera ção do processo de individuação os sistemas diferen ciados são integrados pela função transcendente Jung 1916b Essa função tem a capacidade de unir todas as tendências opostas dos vários sistemas e de buscar a meta ideal de integralidade perfeita condição de ser si mesmo A meta da função transcendente é a reve lação da pessoa essencial e a realização de todos os seus aspectos da personalidade originalmente escon dida no idioplasma embrionário a produção e o des dobramento da integralidade original potencial Jung 1943 p 108 Outras forças na personalidade notavelmente a repressão podem se opor à operação da função transcendente No entanto apesar de toda oposição vai ocorrer a propulsão progressiva e unifi cadora do desenvolvimento A expressão inconscien te de um desejo de integralidade é encontrada em sonhos mitos e outras representações simbólicas Um desses símbolos que está sempre aparecendo em mi tos sonhos arquitetura religião e artes é o símbolo da mandala A mandala é uma palavra em sânscrito que significa círculo Jung estudou exaustivamente a mandala porque ela é o emblema perfeito da unidade e da totalidade completas nas religiões orientais e ocidentais Sublimação e Repressão A energia psíquica é deslocável Isso significa que ela pode ser transferida de um processo em um determi nado sistema para outro processo no mesmo sistema ou em um diferente Essa transferência é feita de acor do com os princípios dinâmicos básicos de equivalên cia e de entropia Se o deslocamento é governado pelo processo de individuação e pela função transcenden te é chamado de sublimação A sublimação descreve o deslocamento de energia dos processos mais primi tivos instintivos e menos diferenciados para proces sos superiores culturais espirituais e mais diferencia dos Por exemplo quando a energia é retirada da pulsão sexual e investida em valores religiosos dize mos que a energia foi sublimada Sua forma mudou no sentido de que um novo tipo de trabalho está sen do realizado nesse caso o trabalho religioso substi tui o trabalho sexual Quando a descarga de energia quer pelos canais instintuais ou sublimados é bloqueada dizemos que foi reprimida A energia reprimida não pode simples mente desaparecer ela precisa ir para algum lugar segundo o princípio da conservação da energia Con seqüentemente ela passa a residir no inconsciente Ao acrescentar energia ao material inconsciente o inconsciente pode ficar mais carregado que o ego cons ciente Se isso acontecer a energia do inconsciente tenderá a fluir para o ego segundo o princípio da entropia e perturbar os processos racionais Em ou tras palavras processos inconscientes altamente ener 104 HALL LINDZEY CAMPBELL gizados tentarão romper a repressão Se conseguirem a pessoa vaise comportar de maneira irracional e impulsiva A sublimação e a repressão são exatamente opos tas em caráter A sublimação é progressiva a repres são é regressiva A sublimação faz a psique avançar a repressão a faz retroceder A sublimação é integrati va a repressão é desintegrativa Mas já que a repres são é regressiva ela pode permitir que os indivíduos encontrem as respostas para seus problemas em seus inconscientes e assim possam avançar novamente Simbolização Um símbolo na psicologia junguiana tem duas fun ções importantes Por um lado ele representa uma tentativa de satisfazer um impulso instintual que foi frustrado por outro ele é uma corporificação de ma terial arquetípico O desenvolvimento da dança como uma forma de arte é um exemplo de uma tentativa de satisfazer simbolicamente um impulso frustrado como a pulsão sexual Uma representação simbólica de uma atividade instintual nunca pode ser inteiramente sa tisfatória todavia porque não alcança o objeto real e a descarga de toda a libido A dança não toma com pletamente o lugar de formas mais diretas de expres são sexual conseqüentemente as simbolizações mais adequadas de instintos frustrados estão sempre sen do buscadas Jung acreditava que a descoberta de sím bolos melhores isto é símbolos que descarreguem mais energia e reduzam mais a tensão permite à civi lização avançar para níveis culturais cada vez mais altos Entretanto um símbolo também desempenha o papel de uma resistência a um impulso À medida que a energia está sendo drenada por um símbolo ela não pode ser usada para descarga impulsiva Quando al guém está dançando por exemplo essa pessoa não está envolvida em uma atividade sexual direta Desse ponto de vista um símbolo é o mesmo que uma subli mação Ambos envolvem deslocamentos da libido A capacidade de um símbolo de representar li nhas futuras de desenvolvimento da personalidade especialmente na busca de integralidade desempe nha um papel altamente significativo na psicologia junguiana Essa é uma contribuição distintiva e origi nal à teoria do simbolismo Jung voltava sempre em seus textos a uma discussão do simbolismo e tornou o assunto de alguns de seus livros mais importantes A essência da teoria de Jung do simbolismo é encon trada em sua citação O símbolo não é um sinal que esconde alguma coisa que todo mundo conhece Seu significado não é esse pelo contrário ele representa uma tentativa de elucidar por meio de analogia al guma coisa que ainda pertence inteiramente ao do mínio do desconhecido ou alguma coisa que ainda está por vir a ser Jung 1916a p 287 Os símbolos são representações da psique Eles não só expressam a sabedoria racial e individualmen te adquirida armazenada pela humanidade mas tam bém podem representar níveis de desenvolvimento que estão muito além do presente status da humanidade O destino de uma pessoa e a maior evolução de sua psique são marcados pelos símbolos O conhecimento contido em um símbolo não é diretamente aprendido pelos humanos eles precisam decifrar o símbolo para descobrir sua importante mensagem Os dois aspectos de um símbolo um retrospecti vo e orientado pelos instintos o outro prospectivo e orientado pelas metas supremas da humanidade são dois lados da mesma moeda Um símbolo pode ser analisado de qualquer lado O tipo retrospectivo de análise expõe a base instintual de um símbolo o tipo prospectivo revela os anseios da humanidade por com pletude renascimento harmonia purificação e assim por diante O primeiro é um tipo de análise redutivo causal e o outro teleológico finalístico Ambos são necessários para uma completa elucidação do símbo lo Jung acreditava que o caráter prospectivo de um símbolo era negligenciado em favor da visão de que ele é unicamente um produto de impulsos frustrados A intensidade psíquica de um símbolo é sempre maior que o valor da causa que o produziu Isso quer dizer que existe tanto uma força impulsionadora quan to uma força atrativa por trás da criação de um sím bolo O impulso é dado pela energia instintual a atra ção é exercida por metas transcendentais Nenhuma delas sozinha é suficiente para criar um símbolo Conseqüentemente a intensidade psíquica de um sím bolo é o produto combinado de determinantes cau sais e finalistas e portanto é maior do que o fator causal isolado TEORIAS DA PERSONALIDADE 105 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Jung foi um estudioso e um cientista Ele descobria seus fatos em todo lugar em mitos antigos e em con tos de fada modernos na vida primitiva e na civiliza ção moderna nas religiões dos mundos oriental e oci dental na alquimia astrologia telepatia mental e clarividência nos sonhos e nas visões das pessoas nor mais na antropologia história literatura e nas artes e na pesquisa clínica e experimental Em incontáveis artigos e livros ele apresentou os dados empíricos nos quais suas teorias se baseiam Jung insistiu que esta va mais interessado em descobrir fatos do que em for mular teorias Eu não tenho nenhum sistema falo de fatos comunicação pessoal aos autores 1954 Uma vez que é completamente impossível revisar a vasta quantidade de material empírico reunido por Jung em seus numerosos textos teremos de nos re signar à apresentação de uma minúscula porção da sua pesquisa característica Estudos Experimentais de Complexos Os primeiros estudos de Jung que atraíram a atenção de psicólogos empregavam o teste de associação de palavras em conjunto com medidas fisiológicas da emoção Jung 1973a No teste de associação de pa lavras uma listapadrão de palavras é lida para o su jeito uma de cada vez e a pessoa é instruída a res ponder com a primeira palavra que lhe vier à mente O tempo gasto para responder a cada palavra é medi do por um cronômetro Nos experimentos de Jung as mudanças na respiração eram medidas por um pneu mógrafo preso ao peito do sujeito e as mudanças na condutividade elétrica da pele por um psicogalvanô metro preso à palma da mão Essas duas medidas são evidências adicionais de reações emocionais que po dem acontecer diante de palavras específicas da lista pois sabemos bem que a respiração e a resistência da pele são afetadas pela emoção Jung utilizou tais medidas para descobrir com plexos nos pacientes Uma longa demora para respon der à palavraestímulo mais mudanças respiratórias e na resistência da pele indicam que a palavra tocou em um complexo Por exemplo se a respiração de uma pessoa se torna irregular sua resistência a uma cor rente elétrica diminui devido ao suor nas palmas das mãos e a resposta à palavra mãe demora incomumen te esses fatores sugerem a presença de um complexo materno Se a reação a outras palavras relacionadas à mãe for semelhante isso confirma a existência des se complexo Outras indicações de que uma palavra estímulo fora associada a um complexo incluíam re petir ou entender mal a palavra fazer movimentos corporais dar respostas rimadas gaguejar dar res postas inventadas ou ser incapaz de responder Em muitos aspectos o teste de associação de palavras de Jung foi o primeiro exemplo de um teste clínico for mal Ele incorporava muitas das características dos atuais testes projetivos tais como um conjuntopa drão de materiaisestímulo ao qual o sujeito respon dia conforme achava adequado respostas normativas às palavras para diferentes tipos de sujeitos e um período de questionamento em que o sujeito discutia as palavrasestímulo que tinham produzido respostas incomuns Estudos de Caso Conforme observamos no capítulo precedente Freud publicou seis longos estudos de caso Em cada um deles Freud tentou caracterizar a dinâmica de uma condição patológica específica por exemplo Dora e histeria Schreber e paranóia Com exceção de alguns breves estudos de caso publicados antes de seu rom pimento com Freud Jung não escreveu qualquer es tudo de caso comparável aos de Freud Em Symbols of Transformation 1952b Jung analisou as fantasias de uma jovem mulher americana que conhecia apenas por um artigo do psicólogo suíço Theodore Flournoy Esse não é um estudo de caso assim como também não o é a análise de uma longa série de sonhos em Psychology and Alchemy 1944 ou a análise de uma série de pinturas feitas por um paciente em A Study in the Process of Individuation 1950 Nesses casos Jung usou o método comparativo empregando história mito religião e etimologia para mostrar a base arque típica dos sonhos e das fantasias Após sua ruptura com Freud o método comparativo proporcionou a Jung seus dados básicos e o principal suporte para seus conceitos O leitor talvez não consiga assimilar volumes arcanos de difícil leitura como Psychology and Alchemy 1944 Alchemical studies 19421957 Aion 1951 e Mysterium Conjunctionis 1955b O leitor encontrará todavia um exemplo facilmente digerí 106 HALL LINDZEY CAMPBELL vel da metodologia comparativa de Jung em Flying saucers a modern myth of things seen in the sky 1958 escrito por Jung no final de sua vida Estudos Comparativos de Mitologia Religião e as Ciências Ocultas Já que é difícil encontrar evidências dos arquétipos apenas em fontes contemporâneas Jung dedicou muita atenção às pesquisas em mitologia religião alquimia e astrologia Suas investigações o levaram a áreas que poucos psicólogos exploraram e ele adqui riu um vasto conhecimento de assuntos obscuros e complexos como religião hindu taoísmo yoga con fucionismo a missa cristã astrologia pesquisa psí quica mentalidade primitiva e alquimia Um dos mais impressionantes exemplos da tenta tiva de Jung de documentar a existência de arquéti pos raciais é encontrado em Psychology and Alchemy 1944 Jung acreditava que o rico simbolismo da al quimia expressa muitos se não todos os arquétipos dos humanos Em Psychology and Alchemy ele exami na uma extensa série de sonhos de um paciente de um outro terapeuta em comparação com a intricada tapeçaria do simbolismo alquímico e conclui que em ambos aparecem os mesmos aspectos básicos É um tour de force de análise simbólica que tem de ser lida em sua totalidade para ser apreciada Os poucos exem plos que apresentaremos pretendem apenas dar ao leitor uma idéia do método de Jung O material clínico consiste em mais de mil sonhos e visões de um homem jovem A interpretação de uma seleção desses sonhos e visões ocupa a primeira me tade do livro O resto do livro contém um relato aca dêmico da alquimia e sua relação com o simbolismo religioso Em um dos sonhos algumas pessoas estão cami nhando para a esquerda em torno de um quadrado O sonhador não está no centro mas em um dos lados Elas dizem que um gibão vai ser reconstruído p 119 O quadrado é um símbolo do trabalho do alquimista que consistia em separar a unidade caótica original do material fundamental em quatro elementos e em recombinálos em uma unidade superior e mais per feita A unidade perfeita é representada por um círcu lo ou mandala que aparece nesse sonho como o ca minhar em torno de um quadrado O gibão ou macaco representa a misteriosa substância transformadora da alquimia uma substância que transforma o material base em ouro Esse sonho significa portanto que o paciente precisa deslocar seu ego consciente do cen tro de sua personalidade para permitir que as pulsões primitivas reprimidas sejam transformadas O paci ente só pode alcançar a harmonia interior integrando todos os elementos de sua personalidade assim como o alquimista só podia atingir seu objetivo o que ele jamais fez pela mistura adequada de elementos bási cos Em um outro sonho um copo com uma massa gelatinosa está sobre uma mesa diante do sonhador p 168 O copo corresponde ao aparato de alquimia usado para destilação e os conteúdos à substância amorfa que o alquimista espera transformar no lapis ou pedra filosofal Os símbolos alquímicos nesse so nho indicam que o sonhador está tentando ou espe rando transformarse em algo melhor Quando o sonhador sonha com água ela repre senta o poder regenerativo da aquavitae do alquimis ta quando ele sonha em encontrar uma flor azul a flor representa o local de nascimento da filius philoso phorum a figura hermafrodita da alquimia e quan do ele sonha que está atirando moedas de ouro no chão está expressando seu desprezo pelo ideal do al quimista Quando o paciente desenha uma roda Jung vê uma conexão entre ela e a roda do alquimista que representava o processo de circulação dentro da re torta química pela qual se supunha que ocorria a trans formação do material De maneira semelhante Jung interpreta um diamante que aparece no sonho do pa ciente como o ambicionado lapis e um ovo como a caótica matériaprima com a qual o alquimista come çou a trabalhar Por toda a série de sonhos conforme Jung de monstra existem grandes paralelos entre os símbolos empregados pelo sonhador para representar seus pro blemas e suas metas e os símbolos usados pelos alqui mistas medievais para representar suas diligências O aspecto surpreendente da série de sonhos é que eles retratam de maneira mais ou menos exata os aspec tos materiais da alquimia Jung consegue apontar duplicações exatas de objetos nos sonhos e nas ilus trações encontradas em antigos textos de alquimia Ele conclui a partir disso que a dinâmica da persona lidade do alquimista medieval conforme projetada em suas investigações químicas e a dinâmica do paciente são exatamente as mesmas Essa correspondência exa ta de imagens prova a existência de arquétipos uni TEORIAS DA PERSONALIDADE 107 versais Além disso Jung que executou investigações antropológicas na África e em outras partes do mun do encontrou os mesmos arquétipos expressos nos mitos de raças primitivas Eles também se expressam na religião e na arte tanto modernas quanto primiti vas As formas que a experiência assume em cada indivíduo podem ser infinitas em suas variações mas como os símbolos alquímicos todas são variantes de certos tipos centrais e estes ocorrem universalmen te Jung 1944 p 463 Sonhos Jung como Freud prestou muita atenção aos sonhos Ele os considerava como sendo prospectivos assim como retrospectivos em conteúdo e compensatórios para aspectos da personalidade do sonhador negligen ciados na vida de vigília Por exemplo um homem que negligencia sua anima terá sonhos em que apare cem figuras de anima Jung também diferenciava os sonhos grandes em que existem muitas imagens arquetípicas dos sonhos pequenos cujos conteúdos estão mais estreitamente relacionados às preocupa ções conscientes do sonhador O Método da Amplificação Este método foi desenvolvido por Jung para ex plicar certos elementos dos sonhos considerados como possuindo um rico significado simbólico Ele contras ta com o método da associação livre Ao associar li vremente a pessoa em geral dá uma série de respos tas verbais lineares a um elemento do sonho O elemento do sonho é meramente o ponto de partida para associações subseqüentes e as associações po dem e normalmente se afastam do elemento No mé todo da amplificação o sonhador é solicitado a ficar atento ao elemento e a fazer múltiplas associações a ele As respostas dadas formam uma constelação em torno de um determinado elemento do sonho e cons tituem os significados multifacetados que ele tem para o sonhador Jung supunha que um símbolo verdadei ro é aquele que tem muitas faces e jamais é completa mente cognoscível Os analistas também podem aju dar a amplificar o elemento informando o que sabem sobre ele Eles podem consultar textos antigos mito logia contos de fadas textos religiosos etnologia e dicionários etimológicos para ampliar os significados do elemento simbólico Há muitos exemplos de am plificação na obra de Jung como o peixe 1951 e a árvore 1954c O Método da Série de Sonhos Freud podemos lembrar analisava os sonhos um de cada vez fazendo o paciente associar livremente a cada componente sucessivo do sonho Depois usando o material do sonho e as associações livres ele chegava a uma interpretação do significado do sonho Jung embora respeitando essa abordagem desenvolveu um outro método para interpretar os sonhos Em lugar de um único sonho Jung utilizava uma série de so nhos obtidos de uma pessoa Eles os sonhos formam uma série coerente no curso da qual o significado gradualmente se des dobra mais ou menos espontaneamente A série é o contexto que o próprio sonhador proporciona É como se não apenas um texto mas também vá rios estivessem diante de nós lançando luz de todos os lados sobre os termos desconhecidos de modo que uma leitura de todos os textos é sufici ente para elucidar as passagens difíceis em cada texto individual Sem dúvida a interpretação de cada passagem individual talvez seja apenas uma conjetura mas a série como um todo nos dá todas as pistas de que precisamos para corrigir quaisquer possíveis erros nas passagens preceden tes 1944 p 12 Na psicologia isso é chamado de método de consis tência interna e é amplamente empregado com mate rial qualitativo como sonhos histórias e fantasias O uso que Jung fez disso é apresentado em seu livro Psychology and Alchemy 1944 em que é analisada uma série extremamente longa de sonhos O Método da Imaginação Ativa Neste método o sujeito deve concentrar sua atenção em uma imagem onírica impressionante mas ininte ligível ou em uma imagem visual espontânea e ob servar o que acontece com a imagem As faculdades críticas devem ser suspensas e os acontecimentos ob servados e anotados com absoluta objetividade Quan do essas condições são fielmente observadas a ima gem normalmente sofre uma série de mudanças que 108 HALL LINDZEY CAMPBELL iluminam uma grande quantidade de material incons ciente O seguinte exemplo foi tirado de Essays on a Science of Mythology 1949 de Jung e Kerenyi Eu vi um pássaro branco com as asas abertas Ele pousou na figura de uma mulher vestida de azul que estava sentada como uma estátua antiga O pássaro pousou em sua mão e nela havia um grão de trigo O pássaro tomouo em seu bico e voou novamente para o céu p 229 Jung salientou que o fluxo de imagens pode ser representado por desenho pintura e modelagem Nes se exemplo a pessoa fez uma pintura para acompa nhar a descrição verbal Na pintura a mulher foi re tratada com seios grandes o que sugeriu a Jung que a visão representava uma figura materna Uma série fascinante de 24 desenhos de uma mulher durante sua análise é reproduzida em Jung 1950 As fantasias produzidas pela imaginação ativa normalmente têm uma forma melhor do que os so nhos noturnos porque são recebidas por uma consci ência vigil ao invés de adormecida PESQUISA ATUAL A teoria de Jung não estimulou muitas pesquisas em píricas em grande parte devido à dificuldade de quan tificar muitos de seus constructos Mas em duas áreas acumulouse um corpo de pesquisa digno de nota A Tipologia de Jung A intenção de Jung não era desenvolver uma tipolo gia formal para distinguir os indivíduos Ele estava mais preocupado em descrever os processos cogniti vos ou as potencialidades que todos possuem e preci sam desenvolver No entanto sua discussão das atitu des e das funções proporcionou o ímpeto para pesquisas fascinantes sobre as diferenças individuais notavelmente de Helson e Carlson Helson 1973 dedicouse à dinâmica e à estrutu ra Ela discutiu o relacionamento entre o ego e o in consciente conforme revelado por autoras de ficção caracterizadas por modos de escrever heróicos i e uma ênfase na realização assertividade e agressão in tencional e ternos i e uma ênfase nos relaciona mentos e sentimentos ternos Helson concluiu que as autoras de ficção tendem à introversão à intuição e ao sentimento e inferiu que os modos heróico e terno representam a voz das funções de intuição e de sentimento respectivamente p 510 Helson 1978 avaliou papéis necessidades e preocupações do conteúdo expressos em 79 artigos de críticos de livros infantis Uma análise de agrupamento subse qüente revelou quatro agrupamentos de críticos re presentando elucidação apreciação contestação e ma nutenção de padrões Uma classificação quádrupla dos artigos produzida por valores elevados ou baixos nos primeiros dois desses agrupamentos correspondia às quatro funções de Jung Os artigos com valor alto em elucidação e baixo em apreciação correspondiam ao pensamento junguiano enquanto os artigos com va lor baixoalto refletiam uma orientação para o senti mento Da mesma forma artigos com valor baixobaixo sugeriam sensação e artigos com valor altoalto reve lavam uma abordagem intuitiva à crítica Outros tra balhos de Helson 1982 descrevem quatro estilos de processamento da informação paralelos às quatro funções de Jung Ela apresentou uma descrição geral da influência das diferenças de tipo na crítica literá ria argumentando que os comentários dos críticos são orientados por suas funções dominantes e auxiliares Ela também estava sintonizada com a expansão da consciência que Jung disse ocorrer durante a indivi duação e usou o crítico I A Richards como um exem plo de alguém que se dedicou ao pensamento à sen sação à intuição e depois ao sentimento durante o curso de sua carreira como crítico Helson concluiu sugerindo proveitosas explorações com o roteiro da elegante teoria de Jung p 416 Carlson e Levy 1973 usaram o Indicador de Tipo MyersBriggs MBTI MyersBriggs Type Indicator ver próxima seção para classificar sujeitos segundo os tipos junguianos básicos Eles então confirmaram vá rias predições baseadas nas descrições de Jung das características desses tipos Por exemplo os tipos pen santes introvertidos eram significativamente melho res na memória a curto prazo para dígitos emocional mente neutros mas os tipos sentimentais extrovertidos eram significativamente mais acurados na memória de reconhecimento de nomes e expressões faciais afe tivamente significativas Da mesma forma tipos in TEORIAS DA PERSONALIDADE 109 tuitivos extrovertidos estavam superrepresentados entre voluntários do serviço social comparados a uma amostra equivalente de nãovoluntários Os trabalhos subseqüentes de Carlson 1980 exa minaram diferenças tipológicas na memória para ex periências pessoais significativas novamente usando o MBTI para categorizar sujeitos Em um dos estudos os sujeitos foram solicitados a descrever sua experi ência mais vívida de cada um de sete afetos Quando juízes familiarizados com a teoria tipológica foram solicitados a predizer se feitios de memória vinham de tipos pensantes introvertidos ou de tipos sentimen tais extrovertidos uma designação correta para a ca tegoria tipológica foi feita para 13 dos 15 sujeitos Além disso os extrovertidos tinham significativamente mais memórias sociais e os introvertidos mais me mórias individuais para as emoções de alegria ex citação e vergonha Igualmente os tipos sentimentais tinham significativamente mais lembranças emocio nalmente vívidas do que os tipos pensantes nessas mesmas três emoções Carlson também descobriu que os tipos intuitivos tendiam significativamente mais do que os tipos sensoriais a gerar constructos interpesso ais inferenciais em uma oposição a concretos no teste REP de George Kelly ver Capítulo 10 Da mesma forma os intuitivos faziam comentários mais partici pativos ao iniciar um relacionamento hipotético mas os tipos sensoriais ofereciam autodescrições mais con cretas Carlson concluiu que seus resultados apoia vam duas suposições básicas da teoria tipológica jun guiana o relacionarse social dos extrovertidos e a qualidade emocional do julgamento sentimental p 807 Em geral os resultados apoiaram claramente as hipóteses tiradas da teoria tipológica junguiana p 809 O Indicador de Tipo MyersBriggs Conforme observamos anteriormente Jung descreveu as atitudes e funções não como a base para uma tipo logia mas como potencialidades existentes em todas as pessoas em graus variados Essas potencialidades precisam se desenvolver no processo de avançar para a autorealização Mas o modelo realmente sugere uma tipologia e foram feitas várias tentativas de desen volver testes de lápisepapel para classificar as pes soas de acordo com essa tipologia Kersey Bates 1978 Wheelwright Wheelwright Buehler 1964 O mais influente dos testes derivados da teoria de Jung foi o Indicador de Tipo MyersBriggs MBTI Myers McCaulley 1985 Myers Myers 1980 O MBTI identifica 16 tipos baseados nas distinções de Jung entre extroversão introversão EI pensamen to sentimento TF correspondendo às palavras em inglês thinking e feeling e sensação intuição SN mais a distinção de Isabel Myers entre julgar e perce ber JP A distinção JP avalia se a orientação de um indivíduo em relação ao mundo exterior vem do par de função racional julgar ou do irracional perce ber Os extrovertidos têm uma orientação externa dominante de modo que nos extrovertidos o escore JP indica que o par da função contém a função domi nante Uma pessoa que recebe uma classificação ESTJ no MBTI por exemplo teria o pensamento T como função dominante porque essa pessoa prefere o pen samento do par de função racional e o J indica que o par de função racional ou de julgamento é dominan te Os introvertidos têm uma orientação interna do minante de modo que nos introvertidos o escore JP indica a função auxiliar Uma pessoa que recebe uma classificação ISTJ por exemplo teria a sensação S como função dominante porque essa pessoa prefere a sensação do par de função irracional e o J indica que o par de função racional ou de julgamento con tém a função auxiliar em vez da dominante Além disso a preferência JP indica uma constelação de ati tudes e de comportamentos preferidos exatamente como indicam as preferências IE TF e SN O Manu al do MBTI fornece as seguintes estimativas de fre qüência de preferências específicas nos Estados Uni dos cerca de 75 da população preferem E e S Aproximadamente 5560 preferem J Cerca de 60 dos homens preferem T e aproximadamente 65 das mulheres preferem F A Tabela 31 contém resumos de MBTI de 16 ti pos possíveis Em geral os I são caracterizados por uma profundidade de concentração e uma preferên cia pelo mundo interior das idéias os E são caracteri zados pela amplitude de interesses e sentemse mais à vontade no mundo externo das pessoas e coisas Os S baseiamse nos fatos enquanto os N conseguem entender possibilidades e relações Os T enfatizam a análise lógica e impessoal e os F são calorosos e sim páticos e baseiam seus julgamentos em valores pesso ais Finalmente os J tendem a ser organizados e os P tendem a ser adaptáveis e espontâneos 110 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 31 Os 16 Tipos Tipos Sensoriais Tipos Intuitivos ISTJ Sério quieto obtém sucesso pela concentração e meticulosidade Prático organizado objetivo lógico realista e confiável Cuida para que tudo esteja bem organizado Assume responsabilidades Decide o que deve ser feito e trabalha perseverantemente para isso independentemente de protestos ou distrações ISFJ Quieto cordial responsável e consciencioso Trabalha dedicadamente para cumprir suas obrigações Empresta estabilidade a qualquer projeto ou grupo Meticuloso esmerado acurado Seus interesses normalmente não são técnicos Capaz de ser paciente com detalhes necessários Leal respeitoso perceptivo preocupado com como as outras pessoas se sentem INFJ Obtém sucesso pela perseverança originalidade e por fazer o que for necessário ou desejado Esforçase ao máximo em seu trabalho Tranqüilamente convincente consciencioso preocupado com os outros Respeitado por seus princípios firmes Costuma ser respeitado e seguido por suas claras convicções sobre como servir melhor ao bem comum INTJ Em geral tem uma mente original e muita motivação para realizar as sua idéias e propósitos Em campos que o interessam tem grande capacidade de organizar uma tarefa e executála com ou sem ajuda Cético crítico independente determinado às vezes obstinado Precisa aprender a ceder em pontos menos importantes para ganhar nos mais importantes ISTP Observador imparcial quieto reservado observando e analisando a vida com curiosidade objetiva e inesperados lampejos de bom humor Em geral interessado em causa e efeito em como e por que as coisas mecânicas funcionam e em organizar os fatos usando princípios lógicos ISFP Discreto tranqüilamente cordial sensível bondoso modesto em relação às próprias capacidades Evita desentendimentos não impõe aos outros seus valores e opiniões Geralmente não se interessa em liderar e é um seguidor leal Não se preocupa muito em fazer logo as coisas porque usufrui do momento presente e não quer estragálo por pressa ou por esforços indevidos INFP Cheio de entusiasmos e lealdades mas raramente os menciona a não ser que conheça bem a outra pessoa Preocupase com aprendizagem idéias linguagem e projetos independentes e pessoais Tende a assumir tarefas demasiadamente e de alguma maneira consegue realizálas Amistoso mas geralmente muito absorvido no que está fazendo para ser sociável Pouca preocupação com possessões ou ambiente físico INTP Quieto e reservado Gosta especialmente de atividades teóricas e científicas Gosta de resolver problemas com lógica e análise Em geral interessase principalmente por idéias não gosta muito de festas ou de bater papo Costuma ter interesses claramente definidos Precisa de uma profissão em que exista algum interesse sólido e útil ESTP Bom em resolver problemas na hora em que surgem Não se preocupa usufrui das situações que lhe acontecem Tende a gostar de coisas mecânicas e de esportes junto com amigos Adaptável tolerante geralmente conservador em seus valores Não gosta de longas explicações É melhor no manuseio de objetos reais que podem ser trabalhados manipulados desmontados ou montados ESFP Sociável calmo tolerante amistoso gosta de tudo e torna a vida mais divertida para os outros por seu bom astral Gosta de esportes e de fazer os fatos acontecerem Percebe o que está acontecendo e participa de bom grado Acha mais fácil lembrar fatos do que dominar teorias É melhor em situações em que são necessários o senso comum e a capacidade prática tanto com pessoas quanto com situações ENFP Calorosamente entusiasta bom astral engenhoso imaginativo Capaz de fazer quase tudo que lhe interessa Rápido em solucionar qualquer dificuldade e pronto a ajudar qualquer pessoa com um problema Muitas vezes conta com sua capacidade de improvisar ao invés de com uma preparação antecipada Normalmente é capaz de encontrar razões convincentes para tudo o que deseja ENTP Rápido engenhoso bom em muitas atitudes e situações Uma companhia estimulante atento e sem papas na língua Pode defender qualquer lado de uma questão só para se divertir Capaz de resolver problemas novos e desafiadores mas pode negligenciar nas atividades rotineiras Tende a passar de um novo interesse para outro Hábil em encontrar razões lógicas para aquilo que deseja ESTJ Prático realista objetivo com uma capacidade natural para negócios ou mecânica Não se interessa por fatos e objetos para os quais não vê utilidade mas é capaz de se dedicar quando necessário Gosta de organizar e dirigir atividades Pode dar um bom administrador especialmente se lembrar de considerar os sentimentos e os pontos de vista alheios ESFJ Amistoso conservador popular consciencioso um cooperador nato um membro ativo de comitês Precisa de harmonia e pode ser bom em criála Está sempre fazendo algo de bom para alguém Trabalha melhor com encorajamento e elogios Principal interesse é por fatos que afetam direta e visivelmente a vida das pessoas ENFJ Responsivo e responsável Geralmente sente uma preocupação real por aquilo que os outros pensam ou querem e tenta lidar com as situações com a devida consideração pelos sentimentos alheios Capaz de apresentar uma proposta ou liderar uma discussão grupal com facilidade e tato Sociável popular simpático Responde a elogios e críticas ENTJ Cordial franco decidido líder em atividades Geralmente bom em tudo o que requer raciocínio e conversa inteligente como falar em público Costuma ser bem informado e gosta de aumentar seus conhecimentos Às vezes pode parecer mais positivo e confiante do que justifica sua experiência em uma determinada área Fonte Reimpressa com a permissão de Myers e McCaulley 1985 Introvertidos Introvertidos Extrovertidos Extrovertidos TEORIAS DA PERSONALIDADE 111 A teoria tipológica subjacente ao MBTI segue Jung ao acreditar que as pessoas nascem com uma predis posição para um tipo específico Como conseqüência elas tendem a desenvolver suas funções preferidas e auxiliares e a deixar de lado as funções nãopreferi das durante a primeira parte de suas vidas Na meia idade elas conseguem controlar melhor as duas ou tras funções e esses processos menos desenvolvidos podem eventualmente entrar na consciência a serviço dos processos dominantes A ênfase na pesquisa e na aplicação do MBTI todavia continua no tipo confor me medido O Manual do MBTI e as publicações relacionadas contêm muitas informações referentes à aplicação dos elementos de tipologia aos ambientes de aconselha mento educação e trabalho J G Carlson 1985 Carlyn 1977 Murray 1990 e Thompson e Borre llo 1986 apresentam evidências da fidedignidade e validade do MBTI ver também o intercâmbio entre J G Carlson 1989a 1989b e Healy 1989a 1989b Mas ainda resta a pergunta sobre se o MBTI oferece uma ponte para testes experimentais dos conceitos junguianos Um crescente número de pesquisadores tem de monstrado que as escalas do MBTI realmente são úteis nos ambientes experimentais A pesquisa de Carlson discutida anteriormente certamente se encaixa nessa categoria Hicks 1985 usou escores do MBTI em uma investigação do erro fundamental de atribuição Esse erro se refere a uma tendência cognitiva comum em observadores de concluir que os autores de ensaios literários realmente acreditam naquilo que escrevem mesmo quando os observadores sabem que os auto res foram instruídos a apoiar aquela determinada idéia Hicks predisse que os tipos intuitivos com sua capa cidade de se imaginar em situações hipotéticas e os pensantes que são ótimos em análises impessoais objetivas deveriam ser mais resistentes a esse erro fundamental de atribuição Tal predição foi apoiada pelo achado de que os tipos pensantes intuitivos en tre todos os tipos eram os que menos cometiam o erro de supor que os criadores de testes acreditavam naquilo que escreviam quando havia evidências do contrário Da mesma forma Ward e Loftus 1985 descobriram em uma tarefa de testemunho ocular que os tipos intuitivos introvertidos tinham melhor memória do que os tipos sensoriais extrovertidos quan do as perguntas do teste eram consistentes com aqui lo que os sujeitos realmente tinham testemunhado visualmente Entretanto quando uma pergunta en ganadora se referiu a um sinal de trânsito de parar que não estivera presente os tipos intuitivos intro vertidos cometeram significativamente mais erros de lembrança do que os tipos sensoriais extrovertidos Em geral os tipos introvertidos e intuitivos quer iso ladamente ou em combinação tendiam mais a acei tar tanto informações consistentes quanto enganado ras Isso levava à maior exatidão no primeiro caso e a à menor exatidão no segundo Outras pesquisas indicam que as escalas do MBTI pontuadas como variáveis contínuas em vez de tipo logias ouou têm utilidade preditiva Por exemplo Cann e Donderi 1986 descobriram que os escores de intuição correlacionavamse com a proporção de sonhos categorizados como arquetípicos r 037 e os escores de introversão correlacionavamse com a freqüência dos sonhos comuns r 039 Tomado como um todo então o MBTI é promissor como uma medida das preferências junguianas e como um estí mulo para trabalhos experimentais STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO A psicologia junguiana tem muitos admiradores e pro ponentes no mundo todo Muitos deles são psicana listas praticantes que usam o método de psicoterapia de Jung e aceitam seus postulados fundamentais em relação à personalidade Alguns são teóricos que ela boraram as idéias de Jung Entre estes estão Gerhard Adler 1948 Michael Fordham 1947 Esther Har ding 1947 Erich Neumann 1954 1955 Herbert Read 1945 Jolande Jacobi 1959 e Frances Wi ckes 1950 Jung também recebeu um grande apoio de leigos como por exemplo de Paul Mellon dos Me llons de Pittsburgh que foi presidente da Fundação Bollingen que recebeu esse nome em homenagem à residência de campo de Jung no Lago Zurique A Fundação Bollingen financia a publicação de livros junguianos por meio da Princeton University Press O projeto mais ambicioso da Fundação Bollingen até agora é a tradução e a publicação das obras comple tas de Jung em inglês sob a supervisão editorial de Read Fordham e Adler Finalmente centros de influ ência para a disseminação das idéias de Jung podem 112 HALL LINDZEY CAMPBELL ser encontrados nos Institutos Junguianos estabele cidos em várias cidades A influência de Jung fora dos campos da psiquia tria e da psicologia tem sido considerável O historia dor Arnold Toynbee reconhece que deve a Jung por ele ter aberto uma nova dimensão na esfera da vida O escritor Philip Wylie é um grande admirador de Jung assim como o autor e crítico Lewis Mumford e o antropólogo Paul Radin Hermann Hesse também admirava Jung Serrano 1966 Talvez o maior im pacto de Jung tenha sido sobre o pensamento religio so moderno Progoff 1953 Jung foi convidado a proferir as conferências Terry na Yale University so bre Psicologia e Religião 1938 Jung foi severamente criticado por apoiar o nazismo Feldman 1945 em bora ele e seus seguidores tenham negado vigorosa mente as acusações e afirmado que Jung foi malin terpretado Harms 1946 Saturday Review 1949 Jaffé 1971 Cohen 1975 Jung foi atacado por psicanalistas da escola freu diana começando pelo próprio Freud Ernest Jones 1959 opinou que depois dos grandes estudos de Jung sobre associação e demência precoce ele decaiu para uma pseudofilosofia da qual jamais emergiu p 165 Glover 1950 um psicanalista inglês talvez seja o responsável pelo ataque mais completo à psico logia analítica Ele ridicularizou o conceito de arqué tipo como metafísico e impossível de provar Ele acre ditava que os arquétipos podem ser inteiramente explicados em termos da experiência e que é absurdo postular uma herança racial Glover disse que Jung não tinha conceitos desenvolvimentais para explicar o crescimento da mente A principal crítica de Glover todavia e uma que ele reiterou várias vezes é que a psicologia de Jung seria um retrocesso a uma psicolo gia obsoleta da consciência Ele acusou Jung de des truir o conceito freudiano do inconsciente e de erigir em seu lugar um ego consciente Glover não preten deu ser imparcial e nem objetivo em sua avaliação da psicologia junguiana Para outra comparação das vi sões de Freud Jung ver Gray 1949 também Dry 1961 Selesnick 1963 argumentou que Jung du rante sua associação com Freud influenciou o pensa mento de Freud de várias maneiras significativas Que influência teve a teoria de Jung da personali dade sobre o desenvolvimento da psicologia científi ca Muito pouca pelo que podemos perceber exceto pelo teste de associação de palavras e os conceitos de introversão e extroversão O teste de associação de palavras não começou com Jung Galton normalmen te recebe os créditos pela invenção do teste que foi introduzido na psicologia experimental por Wundt Conseqüentemente quando Jung proferiu conferên cias sobre o método da associação de palavras na Clark University em 1909 ele não soou estranho para os psicólogos da audiência Além disso os estudos de Jung sobre a associação de palavras empregavam uma metodologia quantitativa experimental que estava fadada a ser bem aceita por psicólogos que se orgu lhavam de ser científicos O uso do teste de associa ção de palavras é discutido em vários exames da psi cologia clínica e das técnicas projetivas Bell 1948 Levy 1952 Rotter 1951 Anastasi 1988 Mais difícil é explicar o interesse da psicologia pela tipologia de Jung Foram criados vários testes de in troversão extroversão e existe muita literatura psi cológica sobre o assunto Eysenck ver Capítulo 9 identificou a introversão extroversão como uma das três dimensões primárias da personalidade as outras duas sendo o neuroticismo e o psicoticismo Outros es tudos da tipologia de Jung foram realizados por Gor low Simonson e Krauss 1966 e Ball 1967 Como discutimos previamente os testes que avaliam as qua tro funções psicológicas de pensamento sentimento sensação e intuição juntamente com as atitudes de introversão e extroversão foram construídos por Gray e Wheelwright 1964 e Myers e Briggs 1962 A psicologia analítica não foi alvo da crítica mi nuciosa sofrida pela psicanálise freudiana por parte dos psicólogos Nem ela encontrou um lugar substan cial nas históriaspadrão da psicologia Boring em seu History of Experimental Psychology dedicou seis pági nas a Freud e quatro linhas a Jung Peters em sua revisão e condensação do History of Psychology de Brett após uma discussão bastante completa de Freud dedicou uma página a Adler e uma a Jung Ele consi dera o trabalho final de Jung tão misterioso que é quase impossível discutilo Embora existam algumas exceções Watson Evans 1991 dedicam 20 pági nas a Jung o retrato mais típico continua sendo o de Leahey 1992 que tem um capítulo inteiro sobre Freud mas menciona Jung apenas de passagem TEORIAS DA PERSONALIDADE 113 Por que a psicologia ignorou a psicologia analíti ca de Jung quando o mundo em geral o respeita e homenageia tanto Uma razão importante é que a psicologia de Jung baseiase em achados clínicos e em fontes históricas e míticas em vez de em investiga ções experimentais Ela não atraiu o experimentalista inflexível mais do que o freudianismo De fato Jung tem tido muito menos apelo do que Freud porque em seus textos existem tantas discussões sobre ocul tismo misticismo e religião que os psicólogos apa rentemente se sentem repelidos Essa crítica enfure ceu Jung Ele insistiu que seu interesse pelas ciências ocultas da alquimia e astrologia e pela religião não implica em qualquer sentido uma aceitação dessas crenças Elas são estudadas e aparecem em seus tex tos porque contêm evidências para a sua teoria Não cabe a Jung dizer se Deus existe ou não que a maio ria das pessoas acredita em Deus é tão verdadeiro quanto o fato de que a água corre morro abaixo Deus é um fato psíquico e nãofísico óbvio isto é um fato que pode ser estabelecido psiquicamente mas não fi sicamente 1952c p 464 Além disso ele aceita idéias fora de moda como características adquiridas e teleologia Seu estilo de apresentação de idéias já foi considerado desconcertante obscuro confuso e de sorganizado por muitos psicólogos Sugestões sobre como ler Jung são encontradas em A Primer of Jungi an Psychology de Hall e Nordby 1973 Como conse qüência as teorias de Jung parecem ter estimulado muito pouco interesse entre os psicólogos e ainda menos na pesquisa O fato de Jung ser considerado um psicanalista também contribuiu para que a psico logia negligenciasse seu sistema Quando pensamos na psicanálise geralmente pensamos em Freud e ape nas secundariamente em Jung e Adler A estatura olím pica de Freud na psicanálise desvia a atenção de ou tros astros no campo Embora Jung não tenha tido muita influência di reta sobre a psicologia talvez certos progressos na psicologia devam mais a Jung do que imaginamos As influências indiretas são difíceis de avaliar porque as idéias que passam a circular podem ser devidas à in fluência de uma única pessoa ou podem surgir mais ou menos espontaneamente nas mentes de algumas pessoas aproximadamente no mesmo momento de vido ao clima intelectual predominante Não pode mos negar que muitas das idéias de Jung estão circu lando atualmente quer ele seja responsável ou não Tomemos por exemplo a concepção de autorealiza ção Este ou conceitos semelhantes são encontrados nos textos de Goldstein Rogers Allport e Maslow para nomear apenas aqueles psicólogos cujas idéias são apresentadas neste livro Em lugar nenhum vemos Jung recebendo o crédito por ter desenvolvido o con ceito Isso em si mesmo não significa que Jung não teve nenhuma influência quer direta quer indireta mente sobre esses homens Eles podem ter tomado o conceito emprestado de Jung inconscientemente ou de outros que foram influenciados por Jung Ou con sideremos a idéia de desenvolvimento como progre dir de um estado global para um estado diferenciado e para um estado integrado que encontramos em Jung e em Murphy 1947 Será que Jung influenciou Mur phy o oposto é impossível porque as idéias de Jung foram enunciadas antes das de Murphy ou será que Jung influenciou alguém mais que influenciou Mur phy ou será que não existe nenhuma conexão entre os dois homens além do fato de serem figuras con temporâneas que viveram na civilização ocidental Não existe nenhuma evidência de uma coisa ou de outra Será que o otimismo que caracteriza muitas idéias recentes por exemplo as de Rogers e Allport é um reflexo do otimismo de Jung ou um reflexo da época Será que a ênfase de Jung no comportamento orientado para um objetivo montou o cenário para outras teorias intencionais ou será que o propósito como um conceito teórico está atualmente na moda por ter sido o século XIX tão mecanicista Essas são perguntas difíceis de responder Para se tornar mais aceitável para os psicólogos cientificamente orientados a psicologia junguiana precisa que as hipóteses derivadas da teoria sejam testadas experimentalmente Nós temos em mente não o tipo clínico de estudo Adler 1949 Fordham 1949 Hawkey 1947 Kirsch 1949 ou estudos tipológicos p ex Eysenck Gray Wheelwright e Myers Bri ggs mas uma abordagem mais experimental como a encontrada no trabalho de Bash 1952 Melhado 1964 Meier 1965 e Dallett 1973 Quando tive rem sido feitos mais estudos desse tipo o status das teorias de Jung entre os psicólogos provavelmente vai melhorar porque eles preferem teorias que geram hi 114 HALL LINDZEY CAMPBELL póteses testáveis e que instigam pesquisas É preciso muita engenhosidade para formular proposições em píricas a partir da complexidade da teoria junguiana Considerando tudo a teoria de Jung da persona lidade conforme desenvolvida em seus prolíficos tex tos e conforme aplicada a uma ampla variedade de fenômenos humanos é uma realização notável A ori ginalidade e a audácia do pensamento de Jung têm poucos paralelos na história científica recente e ne nhuma outra pessoa fora Freud abriu mais janelas conceituais para o que Jung chamaria de a alma do homem TEORIAS DA PERSONALIDADE 115 CAPÍTULO 4 Teorias Psicológicas Sociais Adler Fromm Horney e Sullivan INTRODUÇÃO E CONTEXTO 116 A L F R E D A D L E R 117 FINALISMO FICCIONAL 120 BUSCA DE SUPERIORIDADE 121 SENTIMENTOS DE INFERIORIDADE E COMPENSAÇÃO 121 INTERESSE SOCIAL 122 ESTILO DE VIDA 123 O SELF CRIATIVO 125 NEUROSE 125 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 126 Ordem de Nascimento e Personalidade 126 Memórias Iniciais 126 Experiências da Infância 127 PESQUISA ATUAL 127 Interesse Social 127 E R I C H F R O M M 128 K A R E N H O R N E Y 133 HORNEY E FREUD 133 ANSIEDADE BÁSICA 135 AS NECESSIDADES NEURÓTICAS 136 TRÊS SOLUÇÕES 137 ALIENAÇÃO 137 H A R R Y S T A C K S U L L I V A N 138 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 140 Dinamismos 141 Personificações 142 Processos Cognitivos 143 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 143 Tensão 143 Transformações de Energia 144 116 HALL LINDZEY CAMPBELL O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 144 Estágios de Desenvolvimento 145 Determinantes do Desenvolvimento 146 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 147 A Entrevista 147 Pesquisa sobre a Esquizofrenia 148 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 149 INTRODUÇÃO E CONTEXTO As teorias psicanalíticas da personalidade formuladas por Freud e Jung foram nutridas pelo mesmo clima positivista que moldou o curso da física e da biologia do século XIX O indivíduo era visto principalmente como um sistema complexo de energia que se manti nha por meio de transações com o mundo externo Os propósitos finais dessas transações eram a sobrevivên cia individual a propagação da espécie e o contínuo desenvolvimento evolutivo Os vários processos psi cológicos que constituem a personalidade atendem a esses fins Segundo a doutrina evolutiva algumas personalidades estão mais bem preparadas do que outras para realizar essas tarefas Conseqüentemen te o conceito de variação e a distinção entre ajusta mento e desajustamento condicionaram o pensamen to dos primeiros psicanalistas Até a psicologia acadêmica entrou na órbita do darwinismo e preocu pouse com a mensuração das diferenças individuais nas capacidades e com o valor adaptativo ou funcio nal dos processos psicológicos Ao mesmo tempo outras tendências intelectuais que discordavam de uma concepção puramente biofí sica do ser humano estavam começando a tomar for ma Durante os últimos anos do século XIX a sociolo gia e a antropologia começaram a emergir como disciplinas independentes e seu rápido crescimento durante o presente século foi fenomenal Enquanto os sociólogos estudavam os seres humanos vivendo em um estado de civilização avançada e considera ramnos como produtos de classe e casta instituições e cultura popular os antropólogos se aventuraram em áreas remotas do mundo onde encontraram evidên cias de que os seres humanos são quase infinitamente maleáveis De acordo com essas novas ciências soci ais o indivíduo é principalmente um produto da soci edade em que vive A personalidade é moldada mais por circunstâncias sociais do que por fatores biológi cos Gradualmente essas doutrinas sociais e culturais incipientes começaram a penetrar na psicologia e na psicanálise e a erodir as fundações nativistas e fisica listas das ciências Vários seguidores de Freud que estavam insatisfeitos com o que consideravam como a sua miopia em relação aos condicionantes sociais da personalidade abandonaram sua fidelidade à psi canálise clássica e começaram a reformular a teoria psicanalítica de acordo com linhas ditadas pela nova orientação desenvolvida pelas ciências sociais Entre aqueles que deram à teoria psicanalítica um olhar de século XX de psicologia social estão as quatro pesso as cujas idéias formam o conteúdo do presente capí tulo Alfred Adler Karen Horney Erich Fromm e Har ry Stack Sullivan Alfred Adler pode ser considerado como a figura ancestral do novo olhar psicológico social porque já em 1911 ele discordou de Freud em relação à questão da sexualidade A seguir Adler de senvolveu uma teoria em que o interesse social e a busca de superioridade eram os pilares conceituais mais substanciais O próprio Fromm reconheceu que Adler foi o primeiro psicanalista a enfatizar a nature za social fundamental dos seres humanos Mais tar de Horney e Fromm passaram a atacar a forte orien tação instintivista da psicanálise e insistiram na relevância das variáveis psicológicas sociais para a teoria da personalidade Finalmente Harry Stack Sulli van em sua teoria das relações interpessoais consoli dou a posição de uma teoria da personalidade basea da em processos sociais Embora cada uma das teorias tenha suas suposições e seus conceitos distintivos existem numerosos paralelos entre elas salientados por vários autores H L R R Ansbacher 1956 James 1947 Ruth Munroe 1955 Neste capítulo enfatizaremos Adler Horney e Sullivan baseados na clareza de seus constructos e TEORIAS DA PERSONALIDADE 117 em sua subseqüente influência no campo Dos quatro teóricos Sullivan foi o mais independente das doutri nas psicanalíticas predominantes Apesar de inicial mente ter usado a estrutura freudiana em seu traba lho posterior ele desenvolveu um sistema teórico que se desviava claramente do freudiano Sullivan foi pro fundamente influenciado pela antropologia e pela psi cologia social Tanto Horney quanto Fromm por ou tro lado permaneceram bem dentro da província da psicanálise em seu pensamento Adler embora um separatista da escola freudiana continuou mostran do durante toda a vida o impacto de sua associação inicial com Freud Horney e Fromm são habitualmen te referidos como revisionistas ou neofreudianos embora Fromm objetasse esses rótulos Nenhum de les desenvolveu uma nova teoria da personalidade eles se consideravam renovadores e reelaboradores de uma teoria antiga Sullivan foi muito mais um ino vador foi um pensador extremamente original que atraiu um grande grupo de discípulos dedicados e desenvolveu o que é às vezes chamado de uma nova escola de psiquiatria ALFRED ADLER Alfred Adler nasceu em Viena em 1870 em uma fa mília de classe média e morreu em Aberdeen Escócia em 1937 durante uma viagem como conferencista Ele obteve seu diploma de medicina em 1895 na Uni versidade de Viena Inicialmente especializouse em oftalmologia e depois após um período de prática em medicina geral tornouse psiquiatra Foi um dos mem bros fundadores da Sociedade Psicanalítica de Viena e mais tarde seu presidente Entretanto Adler logo começou a ter idéias que discordavam das de Freud e de outros na Sociedade de Viena e quando essas dife renças ficaram muito agudas ele foi convidado a apre sentar suas idéias à sociedade Isso ele fez em 1911 Em conseqüência das veementes críticas e denúncia da posição de Adler por outros membros da socieda de ele renunciou à presidência e alguns meses depois desligouse da psicanálise freudiana H L R R Ansbacher 1956 1964 Colby 1951 Jones 1955 Ele então formou seu próprio grupo que passou a ser conhecido como Psicologia Individual e atraiu seguidores no mundo todo Durante a Primeira Guer ra Mundial Adler serviu como médico no exército austríaco Depois da guerra ele se interessou pela orientação infantil e criou as primeiras clínicas de ori entação relacionadas ao sistema escolar vienense Ele também inspirou a criação de uma escola experimen tal em Viena onde foram aplicadas suas teorias de educação Furtmüller 1964 Em 1935 Adler estabeleceuse nos Estados Uni dos onde continuou sua prática como psiquiatra e trabalhou como Professor de Psicologia Médica no Long Island College of Medicine Adler foi um escri tor prolífico e um palestrante incansável Ele publi cou muitos livros e artigos durante a vida The Practi ce and Theory of Individual Psychology 1927 é provavelmente a melhor introdução à teoria de Adler da personalidade Os sumários mais curtos das idéias de Adler aparecem em Psychologies of 1930 1930 e no International Journal of Individual Psychology 1935 Heinz e Rowena Ansbacher 1956 1964 edi taram e comentaram dois volumes contendo uma ex tensa seleção dos textos de Adler Esses dois volumes são a melhor fonte de informação sobre a Psicologia Individual de Adler O volume de 1964 contém um ensaio biográfico de Carl Furtmüller Heinz Ansbacher 1977 contribui com um capítulo sobre a Psicologia Individual e Henri Ellenberger 1970b contribui com uma extensa discussão da vida e do pensamento de Adler Além disso foram publicadas quatro biografias de Adler Bottome 1939 Hoffman 1994 Orgler 1963 Sperber 1974 A história pessoal de Adler é um claro exemplo da luta para superar a inferioridade que se tornou o tema central em sua teoria Quando criança ele era frágil desajeitado sem atrativos e inicialmente um mau aluno Foi atropelado por carruagens em várias ocasiões e teve raquitismo e pneumonia Esta última doença levou um médico a dizer ao pai de Adler Seu garoto está perdido Foi esse evento segundo Adler o responsável por sua decisão de ser médico Orgler 1963 p 16 Adler reconheceu que sua capacidade de compensar todas essas deficiências serviu como um modelo para a sua teoria da personalidade Isso se reflete na declaração Aqueles que conhecem o tra balho da minha vida podem ver claramente a concor dância entre os fatos da minha infância e as idéias que expressei Bottome 1939 p 9 118 HALL LINDZEY CAMPBELL Em um nítido contraste com a suposição central de Freud de que o comportamento humano é motiva do por instintos inatos e com o principal axioma de Jung de que a conduta humana é governada por ar quétipos inatos Adler supôs que os seres humanos são motivados primariamente por impulsos sociais Os humanos segundo Adler são seres inerentemente sociais Eles se relacionam com outras pessoas envol vemse em atividades sociais cooperativas colocam o bemestar social acima do interesse egoísta e adotam um estilo de vida de orientação predominantemente social Adler não disse que os humanos se tornam so cializados meramente por estarem expostos aos pro cessos sociais O interesse social é inato mas os tipos específicos de relacionamentos com pessoas e insti tuições sociais que se desenvolvem são determinados pela natureza da sociedade em que a pessoa nasce Em um certo sentido então Adler é tão biológico em seu ponto de vista quanto Freud e Jung Os três su põem que a pessoa tem uma natureza inerente que dá forma à sua personalidade Freud enfatizou o sexo Jung enfatizou padrões primordiais de pensamento e Adler enfatizou o interesse social Esta ênfase nos de terminantes sociais do comportamento ignorada ou minimizada por Freud e Jung é provavelmente a maior contribuição de Adler à teoria psicológica Ela chamou a atenção dos psicólogos para a importância das variáveis sociais e ajudou a desenvolver o campo da psicologia social em uma época em que a psicolo gia precisava de encorajamento e apoio especialmente das fileiras da psicanálise Por mais que enfatizássemos a distinção entre Adler e Freud não estaríamos exagerando Adler es creveu que a diferença básica decisiva entre a psica nálise e a Psicologia Individual é que Freud parte da suposição de que por sua natureza o homem só quer satisfazer seus desejos o princípio do prazer e por tanto do ponto de vista da cultura precisa ser consi derado totalmente mau Ao contrário acreditava Adler o destino indestrutível da espécie humana é o interesse social Ansbacher Ansbacher 1964 p 210211 Por sua parte Freud reconheceu e rejeitou esse movimento rumo aos determinantes culturais da personalidade Em uma passagem característica diri gida a Adler e Jung Freud 1914 p 62 escreveu A verdade é que essas pessoas selecionaram alguns tons culturais da sinfonia da vida e mais uma vez deixa ram de ouvir a melodia poderosa e primordial dos instintos A segunda maior contribuição de Adler à teoria da personalidade é o seu conceito do self criativo Di ferentemente do ego de Freud que consiste em um grupo de processos psicológicos servindo aos fins dos instintos inatos o self de Adler é um sistema subjetivo altamente personalizado que interpreta e torna sig nificativas as experiências do organismo Além disso ele busca experiências que ajudarão a realizar o estilo de vida único da pessoa se essas experiências não são encontradas no mundo o self tenta criálas Esse conceito de um self criativo era novo na teoria psica nalítica Ele ajudou a compensar o extremo objeti vismo da psicanálise clássica que dependia quase inteiramente das necessidades biológicas e dos estí mulos externos para explicar a dinâmica da persona lidade Como veremos em outros capítulos o concei to de self desempenhou um papel importante em recentes formulações relativas à personalidade A con tribuição de Adler para essa nova tendência a reco nhecer o self como uma causa importante do compor tamento é muito significativa O terceiro aspecto da psicologia de Adler que a separa da psicanálise clássica é a sua ênfase na singu laridade da personalidade Adler via cada pessoa como uma configuração única de motivos traços interes ses e valores cada ato realizado pela pessoa tem a marca característica de seu estilo de vida distintivo A esse respeito Adler pertence à tradição de William James e William Stern A teoria de Adler da pessoa minimizava o instinto sexual que na teorização inicial de Freud desempe nhara um papel quase exclusivo na dinâmica do com portamento A esse monólogo freudiano sobre sexo Adler acrescentou outras vozes significativas Os hu manos são primariamente criaturas sociais não sexu ais Eles são motivados pelo interesse social não pelo interesse sexual Suas inferioridades não se limitam ao domínio sexual mas podem estenderse a todas as facetas da existência tanto físicas quanto psicológi cas Eles se esforçam para desenvolver um estilo de vida único em que a pulsão sexual desempenha um papel menor De fato a maneira pela qual a pessoa satisfaz as necessidades sexuais é determinada pelo seu estilo de vida e não viceversa O fato de Adler destronar o sexo foi para muitas pessoas um alívio TEORIAS DA PERSONALIDADE 119 Alfred Adler 120 HALL LINDZEY CAMPBELL bemvindo depois do monótono pansexualismo de Freud Finalmente Adler considerava a consciência como o centro da personalidade Isso o transforma em um pioneiro no desenvolvimento de uma psicologia ori entada para o ego Os humanos são seres conscientes eles geralmente estão cientes das razões de seu com portamento Eles têm consciência de suas inferiorida des e das metas que buscam Mais do que isso os hu manos são indivíduos autoconscientes capazes de planejar e orientar suas ações com total consciência de seu significado para a sua autorealização Essa é a completa antítese da teoria de Freud que virtualmente reduziu a consciência ao status de nãoser uma mera espuma flutuando no grande mar do inconsciente Alfred Adler como outros teóricos da personali dade cuja principal formação foi em medicina e que praticavam a psiquiatria começou sua teorização no campo da psicologia anormal Ele formulou uma teo ria da neurose antes de ampliar seu alcance teórico para incluir a personalidade normal um passo dado na década de 20 HL R R Ansbacher 1956 A teoria de Adler da personalidade é uma teoria extre mamente econômica no sentido de que alguns con ceitos básicos sustentam toda a estrutura teórica Por essa razão o ponto de vista de Adler pode ser rapida mente esboçado sob algumas afirmações gerais São elas 1 finalismo ficcional 2 busca de superiori dade 3 sentimentos de inferioridade e compensa ção 4 interesse social 5 estilo de vida e 6 o self criativo FINALISMO FICCIONAL Logo depois de Adler terse desligado do círculo que cercava Freud ele caiu sob a influência filosófica de Hans Vaihinger Em seu livro de 1911 The Philosophy of As If tradução inglesa 1925 Vaihinger propôs a curiosa e intrigante noção de que os humanos vivem de acordo com idéias puramente ficcionais sem ne nhum equivalente na realidade Essas ficções por exemplo todos os homens são criados iguais a honestidade é a melhor política e os fins justificam os meios permitem que os humanos lidem com a realidade de forma mais efetiva São constructos ou suposições e não hipóteses que podem ser testadas e confirmadas Elas podem ser dispensadas quando dei xam de ser úteis Adler tomou essa doutrina filosófica de positivis mo idealista e deulhe a forma de suas próprias idéi as Freud podemos lembrar enfatizava as experiên cias e os fatores constitucionais durante a infância inicial como determinantes da personalidade Adler descobriu em Vaihinger a refutação para esse rígido determinismo histórico isto é os humanos são mais motivados por suas expectativas em relação ao futuro do que pelas experiências do passado Tais metas não existem no futuro como parte de algum desígnio tele ológico nem Vaihinger e nem Adler acreditavam em predestinação ou fatalidade em vez disso elas exis tem subjetivamente ou mentalmente aqui e agora como metas ou ideais que afetam o presente compor tamento Se uma pessoa acredita por exemplo que existe um céu para as pessoas virtuosas e um inferno para as pecadoras essa crença exercerá uma conside rável influência em sua conduta Essas metas ficcio nais eram para Adler as causadoras subjetivas dos eventos psicológicos Conforme ele colocou A per gunta mais importante sobre a mente sadia e a enfer ma não é de onde mas para onde Ansbacher Ansbacher 1956 p 91 Como Jung Adler identificava a teoria de Freud com o princípio da causalidade e a sua própria teoria com o princípio do finalismo A Psicologia Individual insiste absolutamente na indispensabilidade do finalismo para o entendi mento de todos os fenômenos psicológicos As causas as energias os instintos os impulsos e assim por diante não servem como princípios ex planatórios A meta final sozinha explica o com portamento do homem As experiências os trau mas e os mecanismos de desenvolvimento sexual não podem nos dar uma explicação mas a pers pectiva em que são considerados a maneira indi vidual de vêlos que subordina toda a vida à meta final podem 1930 p 400 Essa meta final pode ser uma ficção isto é um ideal impossível de realizar mas continua sendo um estí mulo muito real para a busca humana e para a expli cação final da conduta Mas Adler acreditava que a pessoa normal pode libertarse da influência dessas ficções e enfrentar a realidade quando necessário ati tude que a pessoa neurótica é incapaz de tomar TEORIAS DA PERSONALIDADE 121 BUSCA DE SUPERIORIDADE Qual é a meta final almejada por todos os seres hu manos e que dá consistência e unidade à personalida de Por volta de 1908 Adler já tinha chegado à con clusão de que a agressão era mais importante do que a sexualidade Um pouco mais tarde o impulso agres sivo foi substituído pelo desejo de poder Adler iden tificava o poder com a masculinidade e a fraqueza com a feminilidade Nesse estágio de seu pensamento cerca de 1910 apresentou a idéia do protesto mas culino uma forma de supercompensação emprega da tanto por homens quanto por mulheres quando se sentem inadequados e inferiores Mais tarde Adler abandonou o desejo de poder em favor da busca de superioridade à qual permaneceu fiel desde en tão Assim houve três estágios em seu pensamento com relação à meta final dos seres humanos ser agres sivo ser poderoso e ser superior Adler deixou bem claro que por superioridade ele não queria dizer distinção social liderança ou uma posição preeminente na sociedade Por superiorida de Adler queria dizer algo muito parecido com o con ceito de self de Jung ou o princípio da autorealização de Goldstein É a busca de uma completude perfeita É a grande pulsão ascendente Eu comecei a ver claramente em cada fenômeno psicológico a busca de superioridade Ela acom panha o crescimento físico e é uma necessidade intrínseca da própria vida Está na raiz de todas as soluções dos problemas da vida e manifestase na maneira como enfrentamos esses problemas Todas as nossas funções seguem sua direção Elas buscam a conquista a segurança o crescimento quer na direção certa quer na errada O ímpeto de menos para mais jamais cessa Sejam quais fo rem as premissas com as quais sonham todos os nossos filósofos e psicólogos autopreservação princípio do prazer compensação todas elas são apenas vagas representações tentativas de ex pressar a grande pulsão ascendente 1930 p 398 De onde vem a busca de superioridade ou perfei ção Adler disse que ela é inata Não só é parte da vida mas também é a própria vida Do nascimento até a morte a busca de superioridade leva a pessoa de um estágio de desenvolvimento para o próximo É um princípio dinâmico predominante Não existem pulsões separadas pois cada pulsão recebe sua ener gia da busca de completude Adler reconheceu que a busca de superioridade pode manifestarse de inúme ras maneiras diferentes e que cada pessoa tem seu modo concreto de atingir ou tentar atingir a perfei ção A pessoa neurótica por exemplo busca autoes tima poder e autoengrandecimento em outras pa lavras metas egoístas ao passo que a pessoa normal busca metas de caráter primariamente social Como precisamente surgem no indivíduo as for mas específicas de busca de superioridade Para res ponder essa pergunta é necessário discutir o concei to de Adler de sentimentos de inferioridade SENTIMENTOS DE INFERIORIDADE E COMPENSAÇÃO Muito cedo em sua carreira enquanto ainda estava interessado em medicina geral Adler propôs a idéia da inferioridade e da supercompensação de órgão tra dução inglesa 1917 Na época ele estava interessa do em encontrar a resposta para a perene pergunta de por que as pessoas quando ficam doentes ou sen tem alguma dor ficam doentes ou sentem dor em uma região específica do corpo Uma pessoa desenvolve um problema cardíaco outra um problema pulmo nar e uma terceira artrite Adler sugeriu que a razão do lugar de uma determinada doença era uma inferi oridade básica naquela região uma inferioridade exis tente em virtude de hereditariedade ou de alguma anormalidade desenvolvimental Ele então observou que uma pessoa com um órgão defeituoso geralmen te tenta compensar essa fraqueza fortalecendoo por meio de um treinamento intensivo O exemplo mais famoso de compensação da inferioridade de órgão é Demóstenes que gaguejava quando criança e tornou se um dos maiores oradores do mundo Um outro exemplo mais recente é o de Theodore Roosevelt que foi doentio em sua infância e transformouse por meio de exercícios sistemáticos em um homem fisicamen te robusto Logo depois de ter publicado sua monografia so bre a inferioridade de órgão Adler ampliou o concei to para incluir quaisquer sentimentos de inferiorida de desde os decorrentes de incapacidades psicológicas 122 HALL LINDZEY CAMPBELL ou sociais subjetivamente sentidas aos originados de fraquezas ou deficiências corporais reais Nessa épo ca Adler equiparou a inferioridade à falta de virilida de ou feminilidade cuja compensação era chamada de o protesto masculino Entretanto ele mais tarde subordinou essa idéia à visão mais geral de que os sentimentos de inferioridade surgem de um senso de incompletude ou imperfeição em qualquer esfera da vida Por exemplo a criança é motivada por seus sen timentos de inferioridade a buscar um nível superior de desenvolvimento Quando ela atinge esse nível começa a sentirse inferior novamente e inicia mais uma vez o movimento ascendente Adler afirmou que os sentimentos de inferioridade não são um sinal de anormalidade eles são a causa de toda melhora na condição humana Evidentemente os sentimentos de inferioridade podem ser agravados por condições es peciais como no caso da criança mimada ou rejeita da Nesse contexto podem ocorrer certas manifesta ções anormais como o desenvolvimento de um complexo de inferioridade ou de um complexo de su perioridade compensatório Mas em circunstâncias normais o sentimento de inferioridade ou um senso de incompletude é a grande força propulsora da hu manidade Em outras palavras o ser humano é im pulsionado pela necessidade de superar sua inferiori dade e pressionado pelo desejo de ser superior Adler não foi um proponente do hedonismo Em bora acreditasse que os sentimentos de inferioridade eram dolorosos ele não pensava que o alívio desses sentimentos era necessariamente prazeroso A perfei ção não o prazer era para ele a meta da vida INTERESSE SOCIAL Durante os anos iniciais de sua teorização quando estava proclamando a natureza agressiva e ávida de poder dos seres humanos e a idéia do protesto mascu lino como uma supercompensação da fragilidade fe minina Adler foi severamente criticado por enfatizar pulsões egoístas e ignorar motivos sociais A busca da superioridade soava como o grito de guerra do super homem nietzscheano um bom acompanhamento para o slogan darwiniano da sobrevivência dos mais adap tados Adler um defensor da justiça social e da demo cracia social ampliou sua concepção dos humanos para incluir o fator do interesse social 1939 Embo ra o interesse social inclua questões como coopera ção relações interpessoais e sociais identificação com o grupo empatia e assim por diante ele é muito mais amplo do que tudo isso Em seu sentido essencial o interesse social consiste em o indivíduo ajudar a soci edade a alcançar a meta de uma sociedade perfeita O interesse social é a verdadeira e inevitável com pensação de todas as fraquezas naturais dos seres humanos Adler 1929b p 31 A pessoa está inserida em um contexto social des de o primeiro dia de vida A cooperação se manifesta no relacionamento entre o bebê e a mãe e a partir daí a pessoa está continuamente envolvida em uma rede de relações interpessoais que moldam a personalida de e oferecem saídas concretas para a busca de supe rioridade A busca de superioridade se torna sociali zada o ideal de uma sociedade perfeita toma o lugar da ambição puramente pessoal e do ganho egoísta Ao trabalhar pelo bem comum os humanos compen sam suas fraquezas individuais Adler acreditava que o interesse social é inato os humanos são criaturas sociais por natureza não por hábito Entretanto como qualquer outra aptidão na tural essa predisposição inata não aparece esponta neamente mas precisa ser orientada e treinada para se realizar Uma vez que acreditava nos benefícios da educação Adler dedicou grande parte de seu tempo a estabelecer clínicas de orientação infantil a melhorar as escolas e a educar o público com relação aos méto dos adequados de criação dos filhos É interessante traçar nos textos de Adler a mu dança decisiva embora gradual em sua concepção do ser humano desde os primeiros anos de sua vida profissional quando estava associado a Freud até seus últimos anos quando tinha granjeado uma reputação internacional Para o jovem Adler os humanos eram impulsionados por uma insaciável ânsia de poder e dominação para compensar um sentimento de inferi oridade arraigado e oculto Para o Adler mais velho os humanos eram motivados por um interesse social TEORIAS DA PERSONALIDADE 123 inato que os fazia subordinar o ganho pessoal ao bem estar público A imagem da pessoa perfeita vivendo em uma sociedade perfeita eclipsou o quadro da pes soa forte e agressiva dominando e explorando a soci edade O interesse social substituiu o interesse egoísta ESTILO DE VIDA Estilo de vida é o slogan da teoria de Adler da perso nalidade o tema recorrente em todos os seus textos posteriores p ex 1929a 1931 e a característica mais distintiva de sua psicologia O estilo de vida é o prin cípio do sistema segundo o qual funciona a persona lidade individual é o todo que comanda as partes O estilo de vida é o princípio idiográfico mais importan te de Adler é o princípio que explica a singularidade da pessoa Todos têm um estilo de vida mas não exis tem duas pessoas com o mesmo estilo Exatamente o que significa o conceito Essa é uma pergunta difícil de responder porque Adler tinha muito a dizer a respeito e apresentou postulações diferentes e às vezes conflitantes sobre isso em seus inúmeros textos E além disso é difícil diferenciálo de outro conceito adleriano o de self criativo Todas as pessoas têm a mesma meta a da superi oridade mas existem inumeráveis maneiras de bus cála Uma pessoa tenta tornarse superior desenvol vendo o intelecto enquanto outra dedica todos os seus esforços à busca da perfeição muscular O intelectual tem um estilo de vida a atleta outro O intelectual lê estuda pensa ele leva uma vida mais sedentária e mais solitária do que a pessoa ativa O intelectual or ganiza detalhes da existência hábitos domésticos re creações rotina diária relações com a família ami gos e conhecidos e atividades sociais de acordo com a meta da superioridade intelectual Tudo o que ele faz é feito com um olho em sua meta suprema Todo o comportamento da pessoa se origina de seu estilo de vida A pessoa percebe aprende e retém aquilo que se ajusta ao seu estilo de vida e ignora o restante O estilo de vida determina como a pessoa enfren ta os três problemas de vida da idade adulta rela ções sociais ocupação e amor e casamento As ver sões preliminares desses problemas durante a infância centramse nas amizades na escola e no sexo oposto Quando as tentativas do indivíduo de lidar com essas tarefas são orientadas pelo interesse social ele está no lado útil da vida Se a superioridade pessoal subs titui o interesse social como meta a pessoa se distan cia das tarefas da vida e fica no lado inútil da vida ver Figura 41 p 124 Ansbacher e Ansbacher 1964 estabelecem uma analogia entre a concepção de Adler da vida humana como movimento e a análise que o físico faz do movi mento em termos de direção e velocidade O com portamento humano ocorre no espaço social e sua direção depende do grau de interesse social Da mes ma forma o componente de velocidade ou de energia da vida humana pode ser descrito em termos do grau de atividade do indivíduo Adler acreditava que um ser humano não pode ser tipificado ou classificado cada indivíduo deve ser estudado à luz de seu desen volvimento peculiar Ansbacher Ansbacher 1964 p 68 No entanto somente para propósitos de ensi no Adler descreveu quatro estilos de vida diferen tes cada um conceitualizado em termos do grau de interesse social e atividade O tipo dominante tem muita atividade mas pouco interesse social Tais pes soas tentam lidar com os problemas da vida domi nandoos O tipo obtentor que certamente é o mais freqüente espera que lhe dêem tudo de que precisa O tipo evitante tenta não ser derrotado pelos pro blemas da vida evitando os próprios problemas Tan to o segundo quanto o terceiro tipos têm pouco inte resse social e atividade O quarto tipo de Adler o socialmente útil é ativo a serviço dos outros Essas pessoas enfrentam as tarefas da vida e tentam resol vêlas de uma maneira consistente de acordo com as necessidades dos outros indivíduos Arthur Ashe po deria servir como exemplo desse estilo de vida positi vo É interessante observar a correspondência entre esses tipos e os tipos gerais propostos por outros teó ricos Por exemplo os tipos dominante obtentor e evitante são mais ou menos análogos às estratégias de ir contra aproximarse e afastarse dos outros conforme descritas por Karen Horney O estilo de vida se forma muito cedo na infância por volta dos quatro ou cinco anos e a partir daí as experiências são assimiladas e utilizadas segundo esse estilo de vida único As atitudes os sentimentos e as 124 HALL LINDZEY CAMPBELL percepções tornamse fixos e mecanizados em uma idade bem inicial e é praticamente impossível que o estilo de vida mude depois disso A pessoa pode ado tar novas maneiras de expressar seu estilo de vida único mas elas são apenas exemplos concretos e par ticulares do mesmo estilo básico encontrado desde a tenra idade O que determina o estilo de vida do indivíduo Em seus textos iniciais Adler disse que ele é ampla mente determinado pelas inferioridades específicas da pessoa quer fantasiadas ou reais O estilo de vida é uma compensação de uma inferioridade particular Se FIGURA 41 Os lados útil e inútil da vida Reimpressa com a permissão de Ansbacher 1977 p 61 a criança é fisicamente frágil seu estilo de vida assu mirá a forma de fazer aquelas atividades que produ zirão força física O estilo de vida conquistador de Napoleão foi determinado por sua estatura física in significante e a ânsia predatória de Hitler de domi nar o mundo por sua impotência sexual Essa expli cação simples da conduta humana que agradou a tantos leitores de Adler e foi amplamente aplicada à análise de caráter nas décadas de 20 e 30 não satis fez o próprio Adler Era simples demais e também mecanicista Ele procurou um princípio mais dinâmi co e encontrou o self criativo TEORIAS DA PERSONALIDADE 125 O SELF CRIATIVO O conceito de self criativo é a realização suprema de Adler como teórico da personalidade Quando ele descobriu o poder criativo do self todos os seus ou tros conceitos ficaram subordinados a ele Aqui final mente estava a fonte de energia a pedra filosofal o elixir da vida a causa primeira de tudo o que era hu mano perseguida por Adler O self unitário consisten te e criativo é soberano na estrutura da personalida de Como todas as primeiras causas o poder criativo do self é difícil de descrever Podemos ver seus efeitos mas não podemos vêlo É algo que intervém entre os estímulos que agem sobre a pessoa e as respostas da das pela pessoa a esses estímulos Em essência a dou trina de um self criativo afirma que os humanos fa zem sua própria personalidade Eles a constroem a partir do material bruto da hereditariedade e da ex periência A hereditariedade apenas dota o homem com certas capacidades O ambiente apenas lhe trans mite certas impressões Essas capacidades e im pressões e a maneira como ele as experiencia isto é a interpretação que faz dessas experiências são os blocos construtores ou em outras pala vras sua atitude perante a vida que determinam seu relacionamento com o mundo externo Ad ler 1935 p 5 O self criativo é o fermento que age sobre os fatos do mundo e transforma esses fatos em uma personalida de subjetiva dinâmica unificada pessoal e unicamen te estilizada O self criativo dá significado à vida ele cria a meta assim como os meios para a meta O self criativo é o princípio ativo da vida humana e não é muito diferente do conceito mais antigo de alma Em resumo podemos dizer que Adler criou uma teoria humanista da personalidade que era a antítese da concepção de Freud do indivíduo Ao dotar os hu manos de altruísmo humanitarismo cooperação cria tividade singularidade e consciência Adler devolveu aos seres humanos um senso de dignidade e valor que a psicanálise tinha em grande parte destruído Em lugar do triste quadro materialista que horrorizou e repeliu tantos leitores de Freud Adler ofereceu um retrato do ser humano mais satisfatório mais espe rançoso e muito mais lisonjeiro A concepção de Ad ler da natureza da personalidade coincidiu com a idéia popular de que os indivíduos podem ser os senhores não as vítimas de seu destino NEUROSE Utilizando esses princípios Adler ofereceu um relato intrigante da neurose Apesar de suas diferenças com Freud Adler concordava que os sintomas neuróticos são interpretáveis e fundamentalmente defensivos Ao contrário do indivíduo sadio o neurótico supercom pensa rigidamente as inferioridades percebidas Suas metas grandiosas centramse no autoengrandecimen to e no interesse pessoal ao invés do interesse social Adler estabeleceu uma analogia entre o neurótico e o criminoso que constrói um álibi A neurose é inteiramente uma manobra encobri dora Por trás da doença está a tentativa patoló gica e ambiciosa do paciente de ver a si mesmo como algo extraordinário Os sintomas são um grande monte de lixo no qual o paciente se escon de A superioridade fictícia do paciente data da época em que ele foi mimado Enquanto ve mos claramente o que ele faz ele sem perceber está ocupado em erigir seus obstáculos como um criminoso empedernido ele está tentando asse gurar um álibi Sempre termina em o que eu não teria realizado se não tivesse sido impedido pelos sintomas A nossa tarefa é tornar conceitu al o que nele estava nãoconceitualizado Ans bacher Ansbacher 1964 p 198199 Observem a similaridade entre essa passagem e o fa moso sumário de Freud sobre a terapia psicanalítica Onde era o Id ficará o Ego O neurótico desenvolve os sintomas como uma proteção contra o esmagador senso de inferioridade que está tentando evitar tão desesperadamente Essa tentativa incessante de proteger o self da inferiorida de se transforma em um círculo vicioso pois a falta de interesse social que levou ao problema também impede sua solução Como veremos mais adiante neste capítulo tal dilema é muito semelhante ao cír culo vicioso da insegurança e da alienação descrito tão eloqüentemente por Karen Horney A incapaci dade do neurótico de lidar com os problemas da vida 126 HALL LINDZEY CAMPBELL o leva a criar salvaguardas Essas salvaguardas são análogas aos mecanismos de defesa freudianos mas servem para proteger o neurótico da baixa autoesti ma gerada pela inferioridade e pelo fracasso nas tare fas de vida não da ansiedade gerada por um conflito entre pulsões instintuais e proibições morais Adler descreveu três categorias gerais de salvaguardas As desculpas se referem a qualquer tentativa de evitar a culpa pelos fracassos na vida A agressão envolve cul par os outros pelos fracassos O distanciamento inclui protelações alegações de impotência ou tentativas de evitar problemas Essas salvaguardas têm um sabor bem cognitivo e contemporâneo Além disso obser vem sua semelhança com os mecanismos de defesa específicos descritos por Anna Freud ver Capítulo 5 e com as descrições de Karen Horney de aproximar se ir contra ou afastarse das outras pessoas ver mais adiante neste capítulo PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA As observações empíricas de Adler foram feitas am plamente no setting terapêutico e consistem princi palmente em reconstruções do passado conforme lem brado pelo paciente e em avaliações do comporta mento presente com base em relatos verbais Em gran de extensão essas observações centravamse no que Adler chamou de os três portões de entrada para a vida mental ordem de nascimento memórias inici ais e sonhos Só há espaço para mencionar alguns exemplos das atividades investigativas de Adler Ordem de Nascimento e Personalidade De acordo com seu interesse pelos determinantes so ciais da personalidade Adler observou que as perso nalidades do primogênito do filho do meio e do ca çula em uma família tendiam a ser bem diferentes 1931 p 144154 Ele atribuiu tais diferenças às ex periências distintivas que cada criança tem como mem bro de um grupo social O filho primogênito ou mais velho recebe muita atenção até o nascimento do segundo filho ele é en tão subitamente destronado de sua posição privilegi ada e precisa dividir a afeição dos pais com o novo bebê Essa experiência pode condicionar o filho mais velho de várias maneiras tais como odiar pessoas protegerse de súbitos reveses do destino e sentirse inseguro Os primogênitos também tendem a interes sarse pelo passado quando eram o centro das aten ções Os neuróticos os criminosos os bêbados e os perversos observa Adler geralmente são primogêni tos Se os pais manejam sabiamente a situação prepa rando a criança para o aparecimento de um rival o primogênito tem maior probabilidade de transformar se em uma pessoa responsável protetora O segundo filho ou o filho do meio caracteriza se por ser ambicioso Ele está constantemente tentan do superar o mais velho Ele também tende a ser re belde e invejoso mas de um modo geral é mais bemajustado do que o primogênito ou o caçula O caçula é o filho mimado Depois do primogêni to é mais provável que se torne uma criançaproble ma e um adulto neurótico desajustado Embora os primeiros testes da teoria de Adler da ordem de nascimento não tenham sido muito confir matórios Jones 1931 o trabalho mais sofisticado de Schachter 1959 apoiou a tese adleriana e foi o início de uma grande quantidade de pesquisas sobre o assunto Muitas pesquisas sobre a ordem de nasci mento foram realizadas nas décadas de 60 e 70 para bibliografias ver Forer 1977 Vockell Felker Miley 1973 embora uma revisão de Schooler tenha relata do uma ausência geral de achados consistentes 1972 p 174 ver também Forer 1976 Mais recen temente a ordem de nascimento foi incluída como um componente do ambiente nãocompartilhado que desempenha um papel extremamente importante nos modelos genéticos de comportamento da personali dade ver Capítulo 8 Hoffman 1991 Plomin Dani els 1987 Memórias Iniciais Adler sentia que as lembranças mais antigas que uma pessoa podia relatar eram uma chave importante para entender o seu estilo de vida básico 1931 Por exem plo uma jovem começou o relato de suas primeiras lembranças dizendo Quando eu tinha três anos de idade meu pai Isso indica que ela está mais inte ressada no pai do que na mãe Ela depois prossegue dizendo que o pai trouxe para casa um casal de pô TEORIAS DA PERSONALIDADE 127 neis para sua irmã mais velha e para ela e que a irmã mais velha levou seu pônei pela rua puxandoo pelo cabresto enquanto ela era arrastada para a lama pelo próprio pônei Esse é o destino da criança mais jovem vir em segundo lugar na rivalidade com a irmã mais velha e isso a motiva a tentar superála Seu estilo de vida é de uma ambição impulsionadora de uma ânsia de ser a primeira de um profundo sentimento de insegurança e desapontamento e de um forte pres sentimento de fracasso Um jovem que estava sendo tratado por graves ataques de ansiedade lembrou esta cena inicial Quan do eu tinha uns quatro anos de idade estava sentado à janela olhando alguns pedreiros que construíam uma casa no lado oposto da rua enquanto minha mãe tri cotava meias Essa lembrança indica que o jovem foi mimado quando criança porque sua lembrança in clui a solícita mãe O fato de ele estar olhando para outras pessoas que estão trabalhando sugere que seu estilo de vida é de um espectador mais do que de um participante Isso é corroborado pelo fato de ele ficar ansioso sempre que tenta escolher uma profissão Adler sugeriu que ele pensasse em uma profissão na qual pudesse utilizar sua preferência por olhar e ob servar O paciente seguiu o conselho de Adler e tor nouse um bemsucedido negociante de objetos de arte Adler também usou esse método com grupos além de usálo com indivíduos e descobriu que era uma maneira fácil e econômica de estudar a personalida de As primeiras lembranças são usadas como uma técnica projetiva Bruhn 1984 1985 Mayman 1968 Mosak 1958 Além disso foram desenvolvidos vári os instrumentos de pesquisa para avaliar as memórias iniciais Altman Rule 1980 Kihlstrom Haracki ewicz 1982 Talvez o uso contemporâneo mais inte ressante das memórias iniciais seja sua incorporação à nova onda de pesquisa cognitiva p ex Bruhn 1990 Kihlstrom Harackiewicz 1982 Strauman 1990 Em particular o conceito de Cantor e Kihls trom 1985 1987 1989 de inteligência social inclui as categorias de conhecimento declarativosemânti co conhecimento declarativoepisódico e de conheci mento procedural A memória autobiográfica que tem uma clara relação com a ênfase de Adler nas memóri as iniciais é um dos componentes dos episódios que constituem o nosso conhecimento declarativoepisó dico Experiências da Infância Adler estava particularmente interessado nos tipos de influências iniciais que predispõem a criança a um estilo de vida defeituoso Ele descobriu três fatores importantes 1 crianças com inferioridades 2 cri anças mimadas e 3 crianças negligenciadas As cri anças com enfermidades físicas ou mentais carregam um carga muito pesada e tendem a sentirse inade quadas para enfrentar as tarefas de vida Elas se con sideram um fracasso e muitas vezes são Entretanto se tiverem pais compreensivos e encorajadores po dem compensar suas inferioridades e transformar sua fraqueza em força Muitas pessoas proeminentes co meçaram a vida com alguma fragilidade orgânica que conseguiram compensar Adler alertava continuamen te e com veemência contra os perigos de se mimar uma criança pois considerava isso a pior maldição que uma criança pode sofrer As crianças mimadas não desenvolvem um sentimento social elas se tornam déspotas que esperam que a sociedade se conforme aos seus desejos autocentrados Adler as considerava a classe potencialmente mais perigosa da sociedade A negligência também tem conseqüências infelizes A criança maltratada na infância se torna quando adul ta um inimigo da sociedade Seu estilo de vida é do minado pela necessidade de vingança Essas três con dições enfermidade orgânica mimos e rejeição produzem concepções errôneas do mundo e resultam em um estilo de vida patológico PESQUISA ATUAL Nós já mencionamos a pesquisa contemporânea sobre a ordem de nascimento e as lembranças mais antigas Além disso estão sendo realizadas pesquisas sobre a mensuração e os correlatos do interesse so cial Interesse Social Foram desenvolvidos dois instrumentos para a men suração do interesse social Social Interest Scale SIS Crandall 1975 e Social Interest Index SII Greever Tseng Friedland 1973 O SIS fornece um índice global do interesse social e o SII inclui subescalas se 128 HALL LINDZEY CAMPBELL paradas para amizade amor trabalho e autosignifi cado Crandall p ex 1980 1981 1984 apresenta uma variedade de dados de valorização para o SIS Por exemplo os escores no SIS correlacionamse com medidas de autorelato de ajustamento e bemestar Crandall 1980 e os indivíduos com escores eleva dos são mais cooperativos e menos hostis do que aque les com escores baixos Crandall 1981 Os estudos demonstrando que os indivíduos com maior interesse social têm mais amigos íntimos Watkins Hector 1990 e que os escores predizem correlações com outras características de personalidade Mozdzierz Semyck 1980 oferecem um apoio semelhante para o SII Existem dois problemas nessa pesquisa Primeiro os escores nas duas medidas apresentam apenas uma frágil relação Leak Miller Perry e Williams 1985 sugerem que o SIS e o SII compartilham apenas cerca de 10 de variância comum Isso pode acontecer por que o interesse social é um constructo muitíssimo heterogêneo ou pode refletir problemas fundamen tais de mensuração Segundo as relações obtidas com comportamentos de critério tendem a ser frágeis As medidas de interesse social não têm um poder predi tivo consistente com o papel central atribuído ao in teresse social na teoria de Adler ERICH FROMM Erich Fromm nasceu em Frankfurt Alemanha em 1900 e estudou psicologia e sociologia nas Universi dades de Heidelberg Frankfurt e Munique Depois de receber seu PhD em Heidelberg em 1922 fez forma ção psicanalítica em Munique e no famoso Instituto Psicanalítico de Berlim Ele foi para os Estados Uni dos em 1933 como palestrante do Instituto Psicanalí tico de Chicago e depois iniciou sua prática privada na cidade de Nova York Ensinou em várias universi dades e institutos nos Estados Unidos e no México Em 1976 Fromm mudouse para a Suíça onde mor reu em 1980 Ver Evans 1966 e Hausdorff 1972 para detalhes sobre o desenvolvimento pessoal e inte lectual de Fromm Seus livros receberam uma consi derável atenção não só de especialistas nos campos da psicologia sociologia filosofia e religião mas tam bém do público em geral Fromm foi profundamente influenciado pela obra de Karl Marx especialmente por um trabalho inicial The Economic and Philosophical Manuscripts de 1844 Esse trabalho em uma tradução inglesa de T B Bot tomore está incluído no Marxs Concept of Man de Fromm 1961 Em Beyond the Chains of Illusion 1962 Fromm comparou as idéias de Freud e de Marx observando suas contradições e tentando uma síntese Fromm considerava Marx um pensador mais profundo do que Freud e usou a psicanálise princi palmente para preencher as lacunas em Marx Fromm 1959 escreveu uma análise altamente crítica inclu sive polêmica da personalidade e da influência de Freud e ao contrário um elogio incondicional a Marx 1961 Embora Fromm pudesse ser acuradamente chamado de um teórico marxista da personalidade ele preferia o rótulo de humanista dialético A obra de Fromm foi inspirada por seus profundos conhecimen tos de história sociologia literatura e filosofia Pode mos dizer que seus muitos livros p ex 1950 1951 1956 1970 1973 1976 influenciaram os leitores leigos mais do que os psicólogos acadêmicos O tema essencial de toda a obra de Fromm é que a pessoa se sente solitária e isolada porque se separou da natureza e das outras pessoas Essa condição de isolamento não é encontrada em outras espécies ani mais ela é distintiva da situação humana A criança por exemplo libertase dos laços primários com os pais e em resultado sentese isolada e desamparada O servo conquista finalmente a sua liberdade apenas para se descobrir à deriva em um mundo predomi nantemente alienígena Como servo ele pertencia a alguém e sentiase relacionado com o mundo e com as outras pessoas mesmo que não fosse livre Em seu livro Escape from Freedom 1941 Fromm desenvol veu a tese de que conforme os humanos conquista ram mais liberdade através dos tempos eles passa ram a se sentir mais sozinhos A liberdade se torna então uma condição negativa da qual eles tentam es capar Qual é a resposta para esse dilema A estratégia sadia é a pessoa unirse a outras no espírito do amor e do trabalho compartilhado A opção nãosadia é a pessoa tentar escapar da liberdade É possível esca par por três meios A primeira fuga é pelo autoritaris mo por uma submissão masoquista a pessoas mais poderosas ou por uma tentativa sádica de tornarse a autoridade poderosa Uma segunda fuga é pela des TEORIAS DA PERSONALIDADE 129 Erich Fromm 130 HALL LINDZEY CAMPBELL trutividade pela tentativa de escapar da impotência destruindo os agentes e as instituições sociais que pro duzem um senso de desamparo e isolamento Quanto mais o impulso de crescimento da pessoa for frustra do mais destrutiva ela se tornará Essa análise cor responde perfeitamente ao crescente predomínio da violência gratuita entre os membros das classes des favorecidas na nossa sociedade O terceiro modo de escapar é pela conformidade de autômato em que a pessoa renuncia ao seu estado de ser ela mesma ado tando um pseudo self com base nas expectativas alheias Observem como essa dinâmica é semelhante aos processos descritos por Karen Horney e Carl Ro gers ver Capítulo 11 e à inflação da persona de Carl Jung ver Capítulo 3 No caso sadio o ser hu mano usa sua liberdade para desenvolver uma socie dade melhor Nos casos nãosadios ele passa a viver uma nova servidão Escape from Freedom foi escrito sob a sombra da ditadura nazista e mostra que essa forma de totalita rismo atraía as pessoas porque lhes oferecia uma nova segurança Mas como Fromm salientou em livros sub seqüentes 1947 1955 1964 qualquer forma de sociedade criada pelo ser humano seja o feudalismo capitalismo fascismo socialismo ou seja o comunis mo representa uma tentativa de resolver a contradi ção básica dos humanos Essa contradição consiste em a pessoa ser tanto uma parte da natureza quanto se parada dela em ser simultaneamente um animal e um ser humano Como animais temos certas necessi dades fisiológicas que precisam ser satisfeitas Como seres humanos possuímos autoconsciência razão e imaginação As experiências exclusivamente humanas são os sentimentos de ternura amor e compaixão atitudes de interesse responsabilidade identidade integridade vulnerabilidade transcendência e liber dade e valores e normas 1968 Os dois aspectos da pessoa animal e ser humano constituem as condi ções básicas da existência humana A compreensão da psique do homem deve basearse na análise das ne cessidades humanas decorrentes das condições de sua existência 1955 p 25 Cinco necessidades específicas têm origem nas condições da existência humana a necessidade de relacionarse a necessidade de transcendência a ne cessidade de enraizamento a necessidade de identi dade e a necessidade de uma estrutura de orientação A necessidade de relacionarse decorre do fato de que os humanos ao se tornarem humanos foram arran cados da união primária do animal com a natureza O animal está equipado pela natureza para lidar com todas aquelas condições que vai encontrar 1955 p 23 mas o ser humano com seu poder de raciocinar e imaginar perdeu essa interdependência íntima com a natureza Em lugar daqueles laços instintivos com a natureza que os animais possuem os seres humanos precisam criar seus próprios relacionamentos dos quais os mais satisfatórios são os baseados no amor produtivo O amor produtivo sempre implica cuida do responsabilidade respeito e entendimento mútu os A necessidade de transcendência se refere à ne cessidade do ser humano de erguerse acima de sua natureza animal de tornarse uma pessoa criativa em vez de permanecer uma criatura Se os impulsos cria tivos forem frustrados a pessoa se torna destruidora Fromm salientou que o amor e o ódio não são impul sos antitéticos ambos são respostas à necessidade da pessoa de transcender sua natureza animal Os ani mais não amam e nem odeiam mas os humanos sim O ser humano quer ter raízes naturais ele quer ser uma parte integral do mundo sentir que pertence a Quando criança ele está enraizado na mãe mas se esse relacionamento persiste depois da infância pas sa a ser considerado uma fixação perniciosa As pes soas encontram as raízes mais satisfatórias e saudá veis em um sentimento de afinidade com outros homens e mulheres Mas também queremos ter um senso de identidade pessoal ser indivíduos únicos Se não conseguimos alcançar essa meta por meio do es forço criativo individual podemos obter certa marca de distinção identificandonos com outra pessoa ou grupo O escravo se identifica com o senhor o cida dão com o país o trabalhador com a companhia Nesse caso o senso de identidade decorre de perten cer a alguém e não de ser alguém Os humanos também precisam ter uma estrutura de referência uma maneira estável e consistente de perceber e compreender o mundo A estrutura de re ferência desenvolvida pode ser primariamente racio nal primariamente irracional ou ter elementos de ambas Finalmente Fromm 1973 introduziu uma sexta necessidade básica a necessidade de excitação e esti mulação Ao descrever essa necessidade ele fez uma distinção entre estímulos simples e ativadores Os es TEORIAS DA PERSONALIDADE 131 tímulos simples produzem uma resposta automática quase reflexa e é melhor considerálos em termos de pulsões por exemplo quando estamos com fome comemos Nós freqüentemente ficamos entediados com os estímulos simples Os estímulos ativadores ao contrário impõem a busca de objetivos Os estímulos ativadores de Fromm soam como a busca do proprium de Allport ver Capítulo 7 e como as metanecessida des de Maslow ver Capítulo 11 Para Fromm essas necessidades são puramente humanas e puramente objetivas Elas não são encon tradas nos animais e não se derivam da observação daquilo que os humanos dizem querer Também não são criadas pela sociedade melhor dizendo elas fo ram sendo inseridas na natureza humana pela evolu ção Qual é então a relação da sociedade com a exis tência do ser humano Fromm acreditava que as manifestações específicas dessas necessidades as maneiras reais pelas quais a pessoa realiza potenciali dades internas são determinadas pelos arranjos so ciais de acordo com os quais ela vive 1955 p 14 A personalidade se desenvolve em concordância com as oportunidades que uma determinada sociedade ofe rece à pessoa Em uma sociedade capitalista por exem plo uma pessoa pode obter um senso de identidade pessoal tornandose rica ou desenvolver um senso de enraizamento tornandose um empregado respon sável e digno de confiança em uma grande compa nhia Em outras palavras o ajustamento de uma pes soa à sociedade normalmente representa um compromisso entre necessidades internas e exigênci as externas Ela desenvolve um caráter social ao res ponder aos requerimentos da sociedade Fromm identificou e descreveu cinco tipos de ca ráter social encontrados na sociedade atual recepti vo explorador açambarcador comerciante e produ tivo Esses tipos representam as diferentes maneiras como os indivíduos se relacionam com o mundo e com os outros Só o último deles foi considerado por ele como sadio e como expressando o que Marx chamou de atividade consciente livre Todo indivíduo é uma mistura desses cinco tipos de orientação em relação ao mundo embora uma ou duas das orientações pos sam estar mais evidentes do que as outras Assim é possível que uma pessoa seja um tipo produtivoaçam barcador ou um tipo improdutivoaçambarcador Um tipo produtivoaçambarcador poderia ser uma pessoa que adquire terras ou dinheiro para ser mais produti va um tipo improdutivoaçambarcador seria uma pessoa que acumula bens apenas pelo prazer de acu mular sem qualquer benefício para a sociedade Fromm 1964 também descreveu um sexto par de tipos de caráter o necrófilo que é atraído pela morte versus o biófilo que é apaixonado pela vida Fromm observou que aquilo que poderia ser conside rado um paralelo entre essa formulação e os instintos de vida e morte de Freud na verdade não o é Para Freud tanto o instinto de vida quanto o de morte são inerentes à biologia do ser humano ao passo que para Fromm a vida é a única potencialidade primária A morte é meramente secundária e só entra em cena quando as forças de vida são frustradas Em seu livro final Fromm 1976 acrescentou uma distinção entre as orientações de ter e de ser em relação à vida Uma orientação de ter reflete a preo cupação competitiva da pessoa com possuir e consu mir recursos Essa orientação é favorecida pelas soci edades tecnológicas O modo de ser ao contrário focaliza aquilo que a pessoa é não o que ela tem e o compartilhar em vez do competir Essa orientação só vai se desenvolver se a sociedade a encorajar Do ponto de vista do funcionamento adequado de uma determinada sociedade é absolutamente es sencial que o caráter da criança seja moldado para se adaptar às necessidades da sociedade A tarefa dos pais e da educação é fazer com que a criança queira agir como tem de agir para que um dado sistema eco nômico político e social seja mantido Assim em um sistema capitalista o desejo de economizar deve ser implantado nas pessoas de modo que exista capital para expandir a economia Uma sociedade que de senvolveu um sistema de crédito precisa dar um jeito para que as pessoas sintam uma compulsão interna a pagar suas contas prontamente Fromm deu inúme ros exemplos dos tipos de caráter que se desenvolvem em uma sociedade democrática e capitalista 1947 Ao fazer exigências contrárias à sua natureza a sociedade deforma e frustra os seres humanos Ela os aliena de sua situação humana e negalhes o cum primento das condições básicas da existência Tanto o capitalismo quanto o comunismo por exemplo ten tam transformar o indivíduo em um robô em um es cravo do salário em uma nulidade e geralmente con seguem levar a pessoa à insanidade à conduta antisocial ou a atos autodestrutivos Fromm não he sitou em estigmatizar a sociedade como estando do 132 HALL LINDZEY CAMPBELL ente quando deixa de satisfazer as necessidades bási cas dos seres humanos 1955 Fromm também salientou que quando uma so ciedade muda em algum aspecto importante como ocorreu quando o feudalismo se transformou em ca pitalismo ou quando o sistema de fábricas substituiu o artesão individual tal mudança tende a produzir deslocamentos no caráter social das pessoas A antiga estrutura de caráter não se ajusta à nova sociedade o que aumenta o senso de alienação e desespero das pessoas Os laços tradicionais são cortados e até que a pessoa consiga desenvolver novas raízes e relações ela se sente perdida Durante esses períodos transi cionais a pessoa tornase presa fácil de todos os tipos de panacéias que oferecem um refúgio contra a soli dão Conforme descrito no próximo capítulo Erik Erikson tratou de maneira análoga as conseqüências negativas que ocorrem quando a pessoa precisa ten tar funcionar em uma sociedade que enfatiza valores inconsistentes com a orientação segundo a qual ela foi socializada O problema das relações de uma pessoa com a sociedade preocupava muito Fromm e ele retornou a isso inúmeras vezes Ele estava inteiramente conven cido da validade das seguintes proposições 1 os seres humanos têm uma natureza essencial inata 2 a sociedade é criada pelos humanos para realizar essa natureza essencial 3 nenhuma sociedade de todas que foram criadas até hoje atende às necessidades básicas da existência humana e 4 é possível criar tal sociedade Que tipo de sociedade Fromm defendia Uma em que os homens se relacionem amoro samente com raízes em laços de fraternidade e solidariedade uma sociedade que dê ao homem a possibilidade de transcender a natureza crian do ao invés de destruir em que todos obtenham um senso de self ao experienciarse como o sujei to de seus poderes como contraponto à confor midade em que exista um sistema de orientação e devoção sem que o homem precise distorcer a realidade e adorar ídolos 1955 p 362 Fromm sugeriu inclusive um nome para essa socieda de perfeita Socialismo Comunitário Humanista Nes sa sociedade todos teriam oportunidades iguais de se tornarem plenamente humanos Não haveria solidão nenhum sentimento de isolamento nenhum desespe ro As pessoas encontrariam um novo lar adequado à situação humana Tal sociedade atingiria o objetivo de Marx de transformar a alienação de uma pessoa sob um sistema de propriedade privada em uma opor tunidade de autorealização como um ser humano so cial produtivamente ativo sob o socialismo Fromm ampliou o projeto da sociedade ideal definindo como a nossa presente sociedade tecnológica pode ser hu manizada 1968 As idéias de Fromm foram aguda mente criticadas por Schaar 1961 Embora as idéias de Fromm se originassem de suas observações de pessoas em tratamento e de suas am plas leituras em história economia sociologia filoso fia e literatura ele realizou uma investigação empíri ca em grande escala Em 1957 Fromm iniciou um estudo em psicologia social em um vilarejo mexicano para testar sua teoria do caráter social Ele treinou entrevistadores mexicanos para administrar um ques tionário profundo que podia ser interpretado e pon tuado para importantes variáveis motivacionais e ca racterológicas Esse questionário foi suplementado pelo Método das Manchas de Tinta de Rorschach que revela atitudes sentimentos e motivos mais profun damente reprimidos Por volta de 1963 a coleta de dados foi concluída e em 1970 os achados foram pu blicados Fromm Maccoby 1970 Foram identificados três tipos principais de cará ter social o produtivoaçambarcador o produtivoex plorador e o improdutivoreceptivo Os indivíduos que pertenciam ao tipo produtivoaçambarcador eram os proprietários de terra ao produtivoexplorador os co merciantes e ao improdutivoreceptivo os trabalha dores pobres Uma vez que pessoas com estruturas de caráter semelhantes tendem a casar entre si os três tipos constituíam uma estrutura de classe bastante rígida no vilarejo Antes que a influência da tecnologia e da indus trialização atingisse o vilarejo havia apenas duas clas ses principais os proprietários de terra e os campone ses O tipo produtivoexplorador só existia como um tipo desviante Mas foi esse tipo que tomou a iniciati va de tornar os frutos da tecnologia disponíveis para os habitantes do vilarejo tornandose assim símbolos de progresso e líderes da comunidade As pessoas que pertenciam a esse tipo forneciam entretenimento ba rato na forma de filmes rádio televisão e produtos TEORIAS DA PERSONALIDADE 133 manufaturados Em conseqüência os pobres campo neses foram arrancados de seus tradicionais valores culturais sem ganhar muitas das vantagens materiais de uma sociedade tecnológica O que eles ganharam na verdade era falso se comparado ao que tinham anteriormente os filmes substituíram os festivais o rádio substituiu as bandas locais as roupas prontas substituíram as roupas feitas à mão e os utensílios e móveis produzidos em massa substituíram os artesa nais O principal foco do estudo entretanto era ilus trar a tese de Fromm de que o caráter personalida de afeta e é afetado pela estrutura social e pela mudança social KAREN HORNEY Karen Horney nasceu em Hamburgo Alemanha em 16 de setembro de 1885 e morreu na cidade de Nova York em 4 de dezembro de 1952 Ela fez sua forma ção médica na Universidade de Berlim e trabalhou no Instituto Psicanalítico de Berlim de 1918 a 1932 Ela foi analisada por Karl Abraham e Hans Sachs dois dos mais preeminentes analistas didatas europeus na época Convidada por Franz Alexander ela foi para os Estados Unidos e trabalhou como diretoraassocia da do Instituto Psicanalítico de Chicago por dois anos Em 1934 mudouse para Nova York onde praticou a psicanálise e ensinou no Instituto Psicanalítico de Nova York Insatisfeita com a psicanálise ortodoxa ela e outros com convicções similares fundaram a Associa ção para o Avanço da Psicanálise e o Instituto Ameri cano de Psicanálise Ela foi decana desse instituto até a sua morte A história profissional de Horney foi detalhada em várias publicações recentes Quinn 1987 Rubins 1978 Sayers 1991 e alguns de seus diários foram publicados Horney 1980 Essas publicações também esclarecem eventos centrais na rica vida pessoal de Horney incluindo seu relacionamento com o pai e a mãe o irmão o marido Oskar os filhos e Erich Fromm assim como seus problemas emocionais e sua luta com a ortodoxia psicanalítica em que os homens domina vam HORNEY E FREUD Durante os anos que antecederam e que se seguiram a 1930 Horney publicou uma série de artigos criti cando Freud e propondo sua própria psicologia femi nina Essa era uma continuação daqueles desafios à ortodoxia que fizeram com que ela fosse rebaixada e subseqüentemente se retirasse do Instituto Psicanalí tico de Nova York Mas Horney achava que suas idéi as se enquadravam na estrutura da psicologia freu diana e não constituíam uma abordagem inteiramente nova ao entendimento da personalidade Ela escre veu Nada de importância no campo da psicologia e da psicoterapia foi feito sem basearse nos achados fundamentais de Freud 1939 p 18 Ela aspirava a eliminar as falácias no pensamento de Freud falácias que tinham raízes acreditava ela em sua orientação biológicomecanicista para que a psicanálise pudesse realizar suas plenas potencialida des como uma ciência dos seres humanos A minha convicção resumidamente é que a psicanálise deve superar as limitações decorrentes de ser uma psicolo gia instintivista e genética 1939 p 8 Seguindo Adler Horney também acreditava que a pouca ênfase de Freud nos interrelacionamentos entre as pessoas o levara a uma ênfase excessiva e errônea na motivação sexual e no conflito Ela trans formou o foco instintual de Freud em um foco cultu ral As pessoas internalizam estereótipos culturais ne gativos na forma de ansiedade básica e de conflitos internos de tal maneira que o indivíduo com um pro blema emocional é um enteado da nossa cultura Para Horney as preocupações com segurança e alie nação intrapsíquica e interpessoal constituem as for ças motivacionais primárias da personalidade Essas preocupações podem levarnos a erigir uma estrutura protetora em uma tentativa de obter o que está fada do a ser um falso senso de segurança Em conseqüên cia no centro das perturbações psíquicas estão ten tativas inconscientes de lidar com a vida apesar dos medos do desamparo e do isolamento Eu as chamei de tendências neuróticas 1942 p 40 Horney objetava vigorosamente o conceito de Freud de inveja do pênis como o fator determinante na psicologia feminina Freud podemos lembrar ob 134 HALL LINDZEY CAMPBELL Karen Horney TEORIAS DA PERSONALIDADE 135 servou que as atitudes e os sentimentos distintivos das mulheres e seu conflito mais profundo originavamse de seu sentimento de inferioridade genital e de seu ciúme do homem Ela acreditava que a psicologia fe minina baseiase na falta de confiança e em uma ên fase exagerada no relacionamento amoroso e tem pouco a ver com a anatomia de seus órgãos sexuais As idéias de Horney sobre a psicologia feminina fo ram reunidas e publicadas depois de sua morte 1967 Segundo Horney o complexo de Édipo não é um conflito sexualagressivo entre a criança e o progeni tor mas uma ansiedade decorrente de perturbações básicas como por exemplo rejeição superproteção e punição no relacionamento da criança com a mãe e com o pai A agressão não é inata como Freud afir mou e sim um meio pelo qual os seres humanos ten tam proteger sua segurança O narcisismo não é real mente autoamor mas autoinflação e supervalori zação devidas a sentimentos de insegurança Horney também discordou dos seguintes conceitos freudia nos compulsão à repetição id ego e superego ansi edade e masoquismo 1939 No lado positivo Hor ney endossou as doutrinas de Freud de determinismo psíquico motivação inconsciente e de motivos emocio nais nãoracionais ANSIEDADE BÁSICA Segundo Horney as crianças experienciam natural mente ansiedade desamparo e vulnerabilidade Ad ler de maneira muito semelhante descreveu a inferi oridade como uma experiência infantil Sem uma orientação amorosa para ajudar as crianças a lidar com as ameaças impostas pela natureza e pela sociedade elas podem desenvolver a ansiedade básica que é o principal conceito teórico de Horney A ansiedade bá sica se refere ao sentimento da criança de estar isolada e desam parada em um mundo potencialmente hostil Uma ampla variedade de fatores adversos no ambiente pode produzir essa insegurança em uma criança dominação direta ou indireta indiferença com portamento errante falta de respeito pelas neces sidades individuais da criança falta de orienta ção real atitudes depreciativas admiração demais ou ausência de admiração inexistência de um carinho consistente ter de tomar partido nas dis córdias parentais responsabilidade exagerada ou insuficiente superproteção isolamento em rela ção a outras crianças injustiça discriminação promessas não cumpridas atmosfera hostil e as sim por diante 1945 p 41 O termo de Horney para todos esses fatores adversos é mal básico O estudante pode observar como esse conceito é semelhante às condições que Erik Erikson descreve como contribuindo para um senso de des confiança básica ver Capítulo 5 Em geral Horney sugeriu que tudo o que perturba a segurança da cri ança em relação aos pais produz ansiedade básica O mal básico experienciado pela criança natural mente provoca ressentimento ou hostilidade básica Isso por sua vez produz um dilema ou conflito para a criança porque expressar a hostilidade poderia fa zer com que ela fosse punida e poria em risco o amor recebido dos pais Esse conflito entre o ressentimento e a necessidade de amor substitui o conflito freudia no entre impulso instintual e proibição internalizada Esse dilema e o resultante senso de alienação são muito semelhantes à dinâmica subseqüentemente descrita por Carl Rogers ver Capítulo 11 As crianças lidam com sua hostilidade reprimindoa Horney 1973 p 86 sugeriu que a repressão pode ser estimulada por três estratégias diferentes Eu tenho de reprimir minha hostilidade porque preciso de você Eu tenho de reprimir minha hostilidade porque tenho medo de você Eu tenho de reprimir minha hostilidade porque tenho medo de perder você Independentemente de sua causa a repressão exacerba o conflito levando a um círculo vicioso A ansiedade produz uma necessidade excessiva de afei ção Quando tais necessidades não são satisfeitas a criança se sente rejeitada e a ansiedade e a hostilida de se intensificam Uma vez que essa nova hostilida de também precisa ser reprimida a fim de proteger o senso de segurança da criança seja ele qual for a an siedade aumenta e a necessidade de repressão leva à mais hostilidade Então o círculo vicioso se perpetua A criança e mais tarde o adulto perturbado fica apri 136 HALL LINDZEY CAMPBELL sionada num círculo de angústia cada vez mais inten sa e de comportamento improdutivo A criança insegura ansiosa desenvolve várias es tratégias para lidar com seus sentimentos de isola mento e desamparo 1937 Ela pode ficar hostil e tentar se vingar daqueles que a rejeitaram ou maltra taram Ou pode tornarse excessivamente submissa a fim de recuperar o amor que sente ter perdido Ela pode desenvolver um quadro irrealista e idealizado de si mesma para compensar seus sentimentos de inferioridade 1950 A criança pode tentar comprar o amor dos outros ou usar ameaças para obrigar as pessoas a gostarem dela Ela pode mergulhar na au topiedade para obter a simpatia dos outros Se a criança não puder conseguir amor pode ten tar obter poder sobre os outros Dessa maneira ela compensa seu sentimento de desamparo encontra uma saída para a hostilidade e consegue explorar as pessoas Ou a criança se torna altamente competitiva considerando a vitória mais importante que a realiza ção Ela também pode voltar a agressão contra si mes ma e passar a se desprezar AS NECESSIDADES NEURÓTICAS Qualquer uma dessas estratégias podese tornar um aspecto mais ou menos permanente da personalida de Em outras palavras uma determinada estratégia pode assumir o caráter de uma pulsão ou necessidade na dinâmica da personalidade Horney apresentou uma lista de dez necessidades que surgem quando tentamos encontrar soluções para o problema dos re lacionamentos humanos perturbados 1942 Ela cha mou tais necessidades de neuróticas porque são so luções irracionais para o problema 1 A necessidade neurótica de afeição e aprova ção Essa necessidade caracterizase por um desejo indiscriminado de agradar os outros e cumprir suas expectativas O mais impor tante para a pessoa é que os outros tenham uma boa opinião a seu respeito e ela é ex tremamente sensível a qualquer sinal de re jeição ou frieza 2 A necessidade neurótica de um parceiro que assuma a vida da pessoa A pessoa com essa necessidade é uma parasita Ela supervalori za o amor e tem um medo extremo de ser abandonada e deixada sozinha 3 A necessidade neurótica de restringir sua vida a limites estreitos Tal pessoa não é exigente contentase com pouco prefere permanecer na obscuridade e valoriza a modéstia acima de tudo 4 A necessidade neurótica de poder Essa neces sidade se expressa na busca do poder pelo amor ao poder em um desrespeito essencial pelos outros em uma glorificação indiscri minada da força e em um desprezo pela fra queza As pessoas que temem exercer o po der abertamente podem tentar controlar os outros pela exploração e pela superioridade intelectual Outra variedade da pulsão de poder é a necessidade de acreditar na onipo tência da vontade Essas pessoas acham que podem realizar qualquer ação simplesmen te exercendo o poder de sua vontade 5 A necessidade neurótica de explorar os outros 6 A necessidade neurótica de prestígio A auto valorização da pessoa é determinada pela quantidade de reconhecimento público rece bido 7 A necessidade neurótica de admiração pessoal As pessoas com essa necessidade têm um quadro inflado de si mesmas e querem ser admiradas nesta base e não por aquilo que realmente são 8 A ambição neurótica de realização pessoal Tais pessoas querem ser as melhores e obrigam se a realizações cada vez maiores como re sultado de sua insegurança básica 9 As necessidades neuróticas de autosuficiência e independência Tendose desapontado nas tentativas de encontrar relacionamentos ca rinhosos e satisfatórios com os outros a pes soa se afasta e não quer vincularse a nada e a ninguém Tais indivíduos se tornam soli tários 10 A necessidade neurótica de perfeição e nãovul nerabilidade Temerosas de cometer erros e ser criticadas as pessoas com essa necessi dade tentam tornarse inexpugnáveis e infa líveis Estão constantemente buscando falhas em si mesmas para poder corrigilas antes que se tornem óbvias para os outros TEORIAS DA PERSONALIDADE 137 Essas dez necessidades são as origens dos confli tos internos A necessidade de amor do neurótico por exemplo é insaciável quanto mais recebe mais quer Conseqüentemente os neuróticos nunca estão satis feitos Da mesma forma sua necessidade de indepen dência nunca pode ser inteiramente satisfeita porque outra parte de sua personalidade quer ser amada e admirada A busca de perfeição é uma causa perdida desde o início Todas as necessidades recémcitadas são irrealistas TRÊS SOLUÇÕES Em uma publicação posterior 1945 Horney classifi cou essas dez necessidades em três grupos 1 apro ximarse das pessoas por exemplo necessidade de amor 2 afastarse das pessoas por exemplo neces sidade de independência e 3 ir contra as pessoas por exemplo necessidade de poder Aproximarse das pessoas às vezes chamado de aquiescência ou solução de autoanulação representa a tentativa de lidar com a insegurança por meio do raciocínio Se você me ama não vai me magoar Afastarse das pessoas cha mado de retraimento ou solução de renúncia repre senta a tentativa da criança de resolver seu conflito de insegurança dizendo Se eu me retraio nada pode me magoar Ir contra as pessoas chamado de agres são ou solução expansiva é a criança dizendo Se eu tenho poder ninguém pode me magoar Horney 1937 p 9699 Cada uma dessas tendências neuró ticas superenfatiza um dos elementos envolvidos na ansiedade básica o desamparo no aproximarse das pessoas o isolamento no afastarse das pessoas e a hostilidade no ir contra as pessoas Cada uma das anotações representa uma orientação básica em rela ção aos outros e a si mesmo Horney encontra nessas diferentes orientações a base do conflito interno A diferença essencial entre um conflito normal e um conflito neurótico é o grau A disparidade entre as questões conflitantes é bem menor para a pessoa nor mal do que para o neurótico 1945 p 31 Em ou tras palavras todo mundo tem esses conflitos mas algumas pessoas principalmente devido a experiên cias iniciais com rejeição negligência superproteção e outros tipos de tratamento parental infeliz têmnos em uma forma agravada Enquanto a pessoa normal consegue resolver os conflitos integrando as três orientações uma vez que elas não são mutuamente exclusivas a pessoa neuró tica devido à maior ansiedade básica precisa utilizar soluções irracionais e artificiais Ela conscientemente reconhece apenas uma das tendências e nega ou re prime as outras duas Horney concordava com Adler que o neurótico não é flexível ALIENAÇÃO Em seus últimos livros Horney 1945 1950 enfati zou uma estratégia alternativa de manejo por parte do neurótico ele pode defensivamente afastarse do self real e buscar alguma alternativa idealizada No processo Horney enfatiza a alienação como a conse qüência da tentativa da criança de lidar com a ansie dade básica A ansiedade e a hostilidade levam a cri ança a considerar o seu self real como inadequado sem valor e indigno de amor Dada essa autoimagem negativa emerge um self desprezado A criança res ponde defensivamente a essa autodescrição desprezí vel criando e lutando para manter uma imagem ide alizada da pessoa que deveria ser Esse self idealizado existe em conjunção com uma série de autoexpecta tivas rígidas criando o que Horney chamou de a ti rania do deveria e a busca da glória O neurótico busca a autoestima que não possui tentando chegar a uma versão irrealista da pessoa que deveria ser Novamente são notáveis os paralelos com os rígidos finalismos ficcionais do neurótico conforme previa mente descrito por Adler e com a adesão da pessoa desajustada a condições de valor conforme subseqüen temente descrito por Carl Rogers Além dessas estratégias centrais Horney 1945 Capítulo 8 descreveu uma série de abordagens auxi liares ao conflito neurótico Assim os neuróticos po dem desenvolver defensivamente pontos cegos ou compartimentos uma vez que escolhem não enxer gar discrepâncias entre seu comportamento e seu self idealizado Ou podem empenharse em racionaliza ção cinismo ou autocontrole excessivo Todos esses artifícios inconscientes servem como pseudo soluções para o conflito básico do neurótico Como uma estratégia final o neurótico pode tentar lidar com conflitos internos externalizandoos Isto é os neu 138 HALL LINDZEY CAMPBELL róticos podem recorrer à tendência a experienciar processos internos como se ocorressem fora deles e como regra considerar esses fatores externos como responsáveis por suas dificuldades 1945 p 116 A pessoa diz com efeito Eu não quero explorar os ou tros eles é que querem me explorar Essa solução cria conflitos entre a pessoa e o mundo externo Todos esses conflitos são evitáveis ou solucioná veis se a criança for criada em um lar em que existe segurança confiança amor respeito tolerância e ca rinho Isto é Horney diferentemente de Freud e Jung não achava que o conflito estivesse inserido na natu reza do ser humano sendo portanto inevitável O con flito decorre das condições sociais A pessoa que ten de a se tornar neurótica é aquela que experiencia de forma acentuada as dificuldades culturalmente deter minadas principalmente por meio das experiências da infância 1937 p 290 HARRY STACK SULLIVAN Harry Stack Sullivan foi o criador de um novo ponto de vista conhecido como a teoria interpessoal da psi quiatria Seu princípio central no que diz respeito a uma teoria da personalidade é que a personalidade é o padrão relativamente duradouro de situações in terpessoais recorrentes que caracteriza uma vida hu mana 1953 p 111 A personalidade é uma entida de hipotética que não pode ser isolada de situações interpessoais e o comportamento interpessoal é tudo o que podemos observar como personalidade Portan to é inútil acreditava Sullivan falar do indivíduo como o objeto de estudo porque o indivíduo não existe e não pode existir à parte de suas relações com outras pessoas Desde o primeiro dia de vida o bebê é parte de uma situação interpessoal e pelo resto de sua vida ele continua sendo membro de um campo social Mes mo os eremitas que renunciaram à sociedade levam consigo para a solidão as memórias de antigos relaci onamentos pessoais que continuam influenciando seu pensamento e seus atos Embora Sullivan não negasse a importância da hereditariedade e da maturação para formar e mol dar o organismo ele sentia que tudo que é distinta mente humano é produto de interações sociais Além disso as experiências interpessoais de uma pessoa podem alterar e realmente alteram seu funcionamen to puramente fisiológico de modo que mesmo o or ganismo perde seu status como entidade biológica e tornase um organismo social com suas maneiras so cializadas próprias de respiração digestão elimina ção circulação e assim por diante Para Sullivan a ciência da psiquiatria está aliada à psicologia social e sua teoria da personalidade traz a marca de sua forte preferência pelos conceitos e variáveis desse ramo da psicologia Ele escreveu A ciência geral da psiquiatria pareceme cobrir praticamente o mesmo campo estudado pela psi cologia social porque a psiquiatria científica tem de ser definida como o estudo das relações inter pessoais e isso acaba exigindo o uso da estrutura conceitual que agora chamamos de teoria de cam po Dessa perspectiva a personalidade é vista como hipotética O que pode ser estudado é o padrão de processos que caracteriza a interação de personalidades em determinadas situações ou campos recorrentes que incluem o observador 1950 p 92 Harry Stack Sullivan nasceu em uma fazenda perto de Norwich Nova York em 21 de fevereiro de 1892 e morreu em 14 de janeiro de 1949 em Paris França a caminho de casa depois de um encontro do conse lho executivo da Federação Mundial de Saúde Mental em Amsterdam Ele recebeu seu diploma de médico do Chicago College of Medicine and Surgery em 1917 e serviu nas forças armadas durante a Primeira Guer ra Mundial Depois da guerra trabalhou como oficial médico do Conselho Federal de Educação Vocacional e a seguir no Serviço de Saúde Pública Em 1922 Sullivan foi para o Hospital Saint Elizabeth em Wa shington D C onde sofreu a influência de William Alanson White um dos líderes da neuropsiquiatria americana De 1923 até o início da década de 30 ele trabalhou na escola de medicina da Universidade de Maryland e no Hospital Sheppard e Enoch Pratt em Towson Foi durante esse período de sua vida que Sullivan conduziu investigações sobre a esquizofre nia que estabeleceram sua reputação como clínico Ele deixou Maryland para abrir um consultório na Park Avenue em Nova York com o propósito expresso de estudar o processo obsessivo em pacientes de consul tório Na época ele começou sua formação analítica TEORIAS DA PERSONALIDADE 139 Harry Stack Sullivan 140 HALL LINDZEY CAMPBELL formal com Clara Thompson uma aluna de Sandor Ferenczi Esse não foi o primeiro contato de Sullivan com a psicanálise Ele tivera cerca de 75 horas de aná lise enquanto ainda era estudante de medicina Em 1933 ele se tornou presidente da Fundação William Alanson White e aí trabalhou até 1943 Em 1936 ele ajudou a fundar e tornouse diretor da Washington School of Psychiatry o instituto de formação da fun dação O jornal Psychiatry começou a ser publicado em 1938 para promover a teoria das relações inter pessoais de Sullivan Ele foi coeditor e depois editor até a sua morte Sullivan trabalhou como consultor para o Selective Service Systems em 19401941 par ticipou em 1948 do Tensions Project da UNESCO estabelecido pelas Nações Unidas para estudar as ten sões que afetam o entendimento internacional e foi indicado como membro da comissão preparatória in ternacional do Congresso Internacional de Saúde Mental no mesmo ano Sullivan foi um estadista cien tífico assim como um proeminente portavoz da psi quiatria o líder de uma escola importante de forma ção de psiquiatras um terapeuta notável um teórico intrépido e um cientista médico produtivo Por sua vívida personalidade e pensamento original ele atraiu muitas pessoas que se tornaram seus discípulos alu nos colegas e amigos Além de William Alanson White as principais in fluências no desenvolvimento intelectual de Sullivan foram Freud Adolph Meyer e a Escola de Sociologia de Chicago que consistia em George Herbert Mead W I Thomas Edward Sapir Robert E Park E W Burgess Charles E Merriam William Healy e Harold Lasswell Sullivan se sentia especialmente ligado a Edward Sapir um dos pioneiros na defesa de um rela cionamento de trabalho mais estreito entre a antro pologia a sociologia e a psicanálise Sullivan come çou a formular sua teoria das relações interpessoais em 1929 e em meados da década de 30 já tinha con solidado seu pensamento Durante sua vida Sullivan publicou apenas um livro apresentando a sua teoria 1947 Entretanto ele manteve cadernos detalhados e muitas de suas aulas para os alunos da Washington School of Psychi atry foram gravadas Esses cadernos e gravações as sim como outros materiais não publicados foram en tregues à Fundação Psiquiátrica William Alanson White Cinco livros baseados no material de Sullivan foram publicados os primeiros três com introduções e comentários de Helen Swick Perry e Mary Gravell e os dois últimos apenas da Sra Perry The Interperso nal Theory of Psychiatry 1953 consiste principalmente em uma série de palestras proferidas por Sullivan no inverno de 19461947 e representa seu relato mais completo de sua teoria das relações interpessoais The Psychiatric Interview 1954 baseiase em duas séries de palestras proferidas por Sullivan em 1944 e 1945 e Clinical Studies in Psychiatry 1956 em palestras proferidas em 1943 Os artigos de Sullivan sobre es quizofrenia a maioria dos quais remonta à época em que trabalhava no Hospital Sheppard e Enoch Pratt foram reunidos e publicados sob o título Schizophre nia as a Human Process 1962 O último volume foi The Fusion of Psychiatry and Social Science 1964 O primeiro e o último volumes dessa série são os mais pertinentes para entendermos a teoria psicológica social de Sullivan da personalidade Patrick Mullahy um filósofo e discípulo de Sulli van editou vários livros sobre a teoria das relações interpessoais Um deles A Study of Interpersonal Rela tions 1949 contém um grupo de artigos de pessoas associadas à Washington School e ao Instituto Willi am Alanson White na cidade de Nova York Todos os artigos foram originalmente impressos no Psychiatry incluindo três de Sullivan Outro livro intitulado The Contributions of Harry Stack Sullivan 1952 consiste em um grupo de artigos apresentados em um simpó sio memorial por representantes de várias disciplinas incluindo psiquiatria psicologia e sociologia Esse li vro contém um relato sucinto de Mullahy da teoria interpessoal e uma bibliografia completa dos textos de Sullivan até 1951 Os resumos das idéias de Sulli van também aparecem em três outros livros de Mullahy 1948 1970 1973 A teoria interpessoal de Sullivan foi examinada detalhadamente por Dorothy Blitsten 1953 e sua vida e obra por Chapman 1976 e Perry 1982 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE Sullivan insistia repetidamente que a personalidade é uma entidade puramente hipotética uma ilusão que não pode ser observada ou estudada à parte de situa ções interpessoais A unidade de estudo é a situação TEORIAS DA PERSONALIDADE 141 interpessoal e não a pessoa A organização da perso nalidade consiste em eventos interpessoais ao invés de intrapsíquicos A personalidade só se manifesta quando a pessoa está se comportando em relação a um ou mais indivíduos Essas pessoas não precisam estar presentes elas podem ser inclusive figuras ilu sórias ou inexistentes Uma pessoa pode ter um rela cionamento com um herói popular como Paul Bunyan ou com um personagem ficcional como Anna Kareni na ou com ancestrais ou descendentes ainda não nas cidos A psiquiatria é o estudo de fenômenos que ocor rem em situações interpessoais em configurações formadas por duas ou mais pessoas das quais todas com exceção de uma podem ser completamente ilu sórias 1964 p 33 Perceber lembrar pensar ima ginar e todos os outros processos psicológicos têm um caráter interpessoal Mesmo os sonhos noturnos são interpessoais uma vez que normalmente refle tem os relacionamentos do sonhador com outras pes soas Embora Sullivan desse à personalidade um status apenas hipotético ele afirmava que ela é o centro di nâmico de vários processos que ocorrem em uma sé rie de campos interpessoais Além disso ele atribuiu um status substantivo a alguns desses processos iden tificandoos e nomeandoos e conceitualizando algu mas de suas propriedades Os principais são os dina mismos as personificações e os processos cognitivos Dinamismos Um dinamismo é a menor unidade que pode ser em pregada no estudo do indivíduo É definido como o padrão relativamente duradouro de transformações de energia que recorrentemente caracteriza o orga nismo em sua duração como um organismo vivo Sullivan 1953 p 103 Uma transformação de ener gia é qualquer forma de comportamento Ele pode ser manifesto e público como falar ou oculto e privado como pensar e fantasiar Uma vez que um dinamismo é um padrão de comportamento persistente e recor rente ele é mais ou menos como um hábito A defini ção de Sullivan de padrão é original um invólucro contendo diferenças particulares insignificantes 1953 p 104 Isso significa que uma nova caracte rística pode ser acrescentada a um padrão sem mudar esse padrão desde que não seja significativamente diferente dos outros conteúdos do invólucro Se for significativamente diferente vai transformar o padrão em um novo padrão Por exemplo duas maçãs po dem ser bem diferentes e ainda assim serem identifi cadas como maçãs porque as diferenças não são sig nificativas Entretanto uma maçã e uma banana são diferentes em aspectos significativos e portanto for mam dois padrões diferentes Os dinamismos com um caráter distintivamente humano são aqueles que caracterizam as relações in terpessoais Por exemplo alguém podese comportar de uma maneira habitualmente hostil em relação a uma certa pessoa ou grupo de pessoas o que expres sa um dinamismo de ódio Um homem que tende a buscar relacionamentos lascivos com mulheres mani festa um dinamismo de luxúria Uma criança que tem medo de estranhos tem um dinamismo de medo Qual quer reação habitual em relação a uma ou mais pes soas seja na forma de um sentimento uma atitude ou seja uma ação manifesta constitui um dinamismo Todas as pessoas têm os mesmos dinamismos básicos mas o modo de expressão de um dinamismo varia de acordo com a situação e a experiência de vida do in divíduo Um dinamismo normalmente emprega uma de terminada zona do corpo como a boca as mãos o ânus e os genitais para interagir com o ambiente Uma zona consiste em um aparelho receptor para receber estímulos um aparelho efetuador para realizar uma ação e um aparelho conector chamado edutor no sis tema nervoso central que conecta o mecanismo re ceptor com o mecanismo efetuador Assim quando o mamilo é colocado na boca do bebê ele estimula a mucosa sensível dos lábios que emitem impulsos ao longo dos caminhos nervosos até os órgãos motores da boca que produzem movimentos de sugar A maioria dos dinamismos tem o propósito de sa tisfazer as necessidades básicas do organismo Entre tanto existe um dinamismo importante que se desen volve em resultado da ansiedade É o dinamismo do self ou do autosistema O AutoSistema A ansiedade é um produto das relações interpessoais sendo transmitida originalmente da mãe para o bebê e posteriormente por ameaças à segurança da pessoa Para evitar ou minimizar a ansiedade real ou potenci al as pessoas adotam vários tipos de medidas prote 142 HALL LINDZEY CAMPBELL toras e controles para supervisionar seu comportamen to A pessoa aprende por exemplo que pode evitar punições conformandose aos desejos dos pais Essas medidas de segurança formam o autosistema ou sis tema de self que sanciona certos modos de comporta mento o self eubom proíbe outros o self eumau e exclui da consciência outros modos que são estra nhos e desagradáveis demais para serem sequer con siderados o self nãoeu Por meio desses processos o autosistema age como um filtro da consciência Sullivan empregou o termo atenção seletiva para a re cusa do inconsciente a prestar atenção a eventos e sentimentos geradores de ansiedade Esse processo tem uma semelhança óbvia com os mecanismos de defesa descritos por Freud ver Capítulo 2 e com o modelo de autodefesa apresentado por Carl Rogers ver Capítulo 11 O autosistema como guardião da segurança ten de a isolarse do resto da personalidade ele exclui informações que são incongruentes com sua presente organização e deixa portanto de beneficiarse da experiência Uma vez que o self protege a pessoa da ansiedade ele é muito valorizado e protegido de crí ticas Conforme o autosistema cresce em complexi dade e independência ele impede que a pessoa faça julgamentos objetivos de seu próprio comportamento e atenua contradições óbvias entre o que a pessoa re almente é e o que o autosistema diz que ela é Obser vem como esta dinâmica é semelhante à descrita por Horney anteriormente neste capítulo Em geral quanto mais experiências de ansiedade a pessoa tem mais inflado fica o autosistema e mais ele se dissocia do restante da personalidade Embora o autosistema sir va ao útil propósito de reduzir a ansiedade ele inter fere na capacidade da pessoa de viver construtivamen te com os outros Sullivan acreditava que o autosistema é um pro duto dos aspectos irracionais da sociedade Com isso ele queria dizer que fazemos com que a criança pe quena fique ansiosa por motivos que não existiriam em uma sociedade mais racional ela é forçada a ado tar maneiras nãonaturais e irrealistas de lidar com sua ansiedade Embora Sullivan reconhecesse que o desenvolvimento de um autosistema é absolutamen te necessário para evitar a ansiedade na sociedade mo derna e talvez em qualquer tipo de sociedade que o ser humano seja capaz de construir ele também reco nheceu que o autosistema como o conhecemos hoje é o principal obstáculo a mudanças favoráveis na personalidade 1953 p 169 Talvez com ironia ele escreveu O self é o conteúdo da consciência sempre que a pessoa está plenamente satisfeita consigo mes ma com o prestígio que goza entre seus pares e com o respeito e a deferência que deles recebe 1964 p 217 Personificações Uma personificação é a imagem que o indivíduo tem de si mesmo ou de outra pessoa É um complexo de sentimentos atitudes e concepções que decorrem de experiências de satisfação de necessidades e de ansie dade Por exemplo o bebê desenvolve uma personifi cação de uma boa mãe ao ser amamentado e cuidado por ela Qualquer relacionamento interpessoal que envolva satisfação tende a criar uma imagem favorá vel do agente que satisfaz Por outro lado a personifi cação do bebê de uma mãe má resulta de experiênci as com ela envolvendo ansiedade A mãe ansiosa é personificada como a mãe má Finalmente essas duas personificações da mãe juntamente com quaisquer outras existentes tais como a mãe sedutora ou a mãe superprotetora fundemse para formar uma personi ficação complexa As imagens que levamos em nossa mente rara mente são descrições acuradas das pessoas às quais se referem Elas se formam em primeiro lugar para lidar com as pessoas em situações interpessoais bas tante isoladas mas uma vez formadas normalmente persistem e influenciam as nossas atitudes em relação a outras pessoas Assim uma pessoa que personifica seu pai como um homem mesquinho e ditatorial pode projetar essa mesma personificação em outros homens mais velhos como professores policiais e emprega dores Conseqüentemente algo que tem como função reduzir a ansiedade no início da vida pode interferir posteriormente nas relações interpessoais Essas ima gens carregadas de ansiedade distorcem nossas con cepções de pessoas presentemente significativas As personificações do self como o eubom e o eumau seguem os mesmos princípios das personificações dos outros A personificação eubom resulta de experiên cias interpessoais recompensadoras e a personifica ção eumau de situações ansiogênicas E como as personificações de outras pessoas as autopersonifi cações tendem a atrapalhar a autoavaliação objetiva TEORIAS DA PERSONALIDADE 143 As personificações compartilhadas por várias pes soas chamamse estereótipos São concepções consen sualmente validadas isto é idéias com ampla aceita ção entre os membros de uma sociedade transmitidas de uma geração para outra Exemplos de estereótipos comuns na nossa cultura são o professor distraído o artista inconvencional e o executivo de negócios astu to e insensível Processos Cognitivos A contribuição notável de Sullivan relativa ao lugar da cognição nas questões da personalidade é sua clas sificação tripla da experiência A experiência disse ele ocorre em três modos prototáxico paratáxico e sintáxico A experiência prototáxica pode ser consi derada como a série descontínua de estados momen tâneos do organismo sensível 1953 p 29 Esse tipo de experiência é semelhante ao que James chamou de fluxo de consciência as sensações as imagens e os sentimentos brutos que fluem através da mente de um ser sensível Eles não têm nenhuma conexão ne cessária entre si e não possuem nenhum significado para a pessoa que experiencia O modo prototáxico de experiência é encontrado em sua forma mais pura nos primeiros meses de vida e é a précondição neces sária para o aparecimento dos outros dois modos O modo paratáxico de pensamento consiste em ver as relações causais entre os eventos que ocorrem aproximadamente no mesmo momento mas que não estão logicamente relacionados O eminente escritor tcheco Franz Kafka retratou um caso interessante de pensamento paratáxico em um de seus contos Um cachorro que vivia em um canil cercado por uma cer ca alta estava urinando certo dia quando um osso foi atirado por cima da cerca O cachorro pensou Meu ato de urinar fez esse osso aparecer A partir daí sempre que ele queria algo para comer erguia a per na Sullivan acreditava que grande parte do nosso pen samento não avança além do nível da parataxe nós vemos conexões causais entre experiências que nada têm a ver uma com a outra Todas as superstições por exemplo são exemplos de pensamento paratáxico O pensamento paratáxico tem muito em comum com o processo chamado por Skinner de comportamento su persticioso ver Capítulo 12 O terceiro e mais elevado modo de pensamento é o sintáxico que consiste na atividade simbólica con sensualmente validada especialmente de natureza verbal Um símbolo consensualmente validado é aque le que possui um significadopadrão para um grupo de pessoas As palavras e os números são os melhores exemplos de tais símbolos O modo sintáxico produz ordem lógica entre as experiências e permite que as pessoas se comuniquem umas com as outras Além dessa formulação dos modos de experiên cia Sullivan enfatizou a importância da previsão no funcionamento cognitivo O homem a pessoa vive com seu passado seu presente e seu futuro próximo sendo claramente relevantes para explicar seu pensa mento e ação 1950 p 84 A previsão depende da nossa memória do passado e da interpretação do pre sente Embora os dinamismos as personificações e os processos cognitivos não completem a lista dos cons tituintes da personalidade eles são os principais as pectos estruturais distintivos do sistema de Sullivan A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Sullivan em comum com muitos outros teóricos da personalidade concebia a personalidade como um sistema de energia cujo principal trabalho consiste em atividades que reduzirão a tensão Ele disse que não há necessidade de acrescentar o termo mental à energia ou tensão pois ele os utiliza exatamente com o mesmo sentido que têm na física Tensão Sullivan começou com a concepção familiar do orga nismo como um sistema de tensão que teoricamente pode variar entre os limites do relaxamento absoluto ou euforia como Sullivan preferia chamar e a tensão absoluta exemplificada no terror extremo Existem duas fontes principais de tensão 1 as tensões que surgem das necessidades do organismo e 2 as ten sões que resultam de uma ansiedade As necessidades estão relacionadas às exigências fisicoquímicas da vida são aquelas condições como falta de alimento água ou oxigênio que produzem um desequilíbrio na eco nomia do organismo As necessidades podem ter um caráter geral como a fome ou estar mais especifica mente relacionadas à alguma zona do corpo como a 144 HALL LINDZEY CAMPBELL necessidade de sugar do bebê As necessidades se or ganizam segundo uma ordem hierárquica as inferio res precisam ser satisfeitas antes que as superiores pos sam ser acomodadas Um resultado da redução da necessidade é uma experiência de satisfação As ten sões podem ser vistas como necessidades de transfor mações específicas de energia que dissiparão a ten são freqüentemente com uma mudança concomitante de estado mental uma mudança de consciência à qual podemos aplicar genericamente o termo satisfa ção 1950 p 85 A conseqüência típica do fracasso prolongado em satisfazer as necessidades é um senti mento de apatia que produz uma redução geral das tensões A ansiedade é a experiência de tensão resultante de ameaças reais ou imaginárias à própria segurança Muita ansiedade reduz a eficiência do indivíduo em satisfazer suas necessidades perturba as relações in terpessoais e produz confusão no pensamento A an siedade varia em intensidade dependendo da gravi dade da ameaça e da efetividade das operações de segurança empregadas pelas pessoas Uma ansiedade grave é como uma pancada na cabeça não transmite nenhuma informação à pessoa e traz confusão total e inclusive amnésia As formas menos graves de ansie dade podem ser informativas De fato Sullivan acre ditava que a ansiedade é a primeira grande influência educativa na vida A ansiedade é transmitida ao bebê por aquela que faz a maternagem que expressa an siedade em seu jeito tom de voz e comportamento geral Sullivan admitiu não saber como ocorria essa transmissão embora provavelmente se realize por al gum tipo de processo empático de natureza obscura Em conseqüência da ansiedade transmitida pela mãe outros objetos no ambiente circundante ficam carre gados de ansiedade pela operação do modo paratáxi co de associar experiências contíguas O mamilo da mãe por exemplo transformase em um mamilo mau que produz reações de rejeição no bebê O bebê apren de a afastarse de atividades e objetos que aumentam a ansiedade Quando o bebê não pode escapar da an siedade ele tende a adormecer Esse dinamismo do desligamento sonolento como Sullivan o chama é o equivalente da apatia que é o dinamismo despertado por necessidades insatisfeitas De fato esses dois di namismos não podem ser objetivamente diferencia dos Sullivan disse que uma das grandes tarefas da psicologia é descobrir as vulnerabilidades básicas à ansiedade nas relações interpessoais em vez de ten tar lidar com os sintomas resultantes da ansiedade Transformações de Energia A energia é transformada pelo trabalho O trabalho pode ser uma ação manifesta envolvendo os múscu los estriados do corpo ou pode ser mental tal como perceber lembrar e pensar Essas atividades manifes tas ou ocultas têm como meta o alívio de tensão Elas em grande medida são condicionadas pela sociedade em que a pessoa é criada O que qualquer um pode descobrir ao investigar seu passado é que padrões de tensões e de transformações de energia que constitu em sua vida são em uma extensão verdadeiramente assombrosa reflexos de sua educação para viver em uma determinada sociedade Sullivan 1950 p 83 Sullivan não acreditava que os instintos fossem fontes importantes de motivação humana e não acei tava a teoria de Freud da libido O indivíduo tende a se comportar de determinada maneira como resulta do de interações com as pessoas e não porque possui imperativos inatos para certos tipos de ação O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Sullivan detalhou bem a seqüência de situações interpessoais às quais a pessoa é exposta do período de bebê à idade adulta e as maneiras como essas si tuações contribuem para a formação da personalida de Mais do que qualquer outro teórico da personali dade com as possíveis exceções de Freud e Erikson Sullivan considerava a personalidade de uma pers pectiva de estágios definidos de desenvolvimento Ao passo que Freud mantinha a posição de que o desen volvimento é amplamente um desdobramento do ins tinto sexual Sullivan defendia persuasivamente uma visão mais psicológica social do desenvolvimento da personalidade que reconhecesse devidamente as con tribuições notáveis dos relacionamentos humanos Embora Sullivan não rejeitasse os fatores biológicos como condicionantes do desenvolvimento da perso nalidade ele os subordinava aos determinantes soci ais do desenvolvimento psicológico Além disso ele era da opinião de que às vezes essas influências soci TEORIAS DA PERSONALIDADE 145 ais se opõem às necessidades biológicas da pessoa e têm efeitos prejudiciais sobre a personalidade Sulli van jamais deixou de reconhecer as influências dele térias da sociedade De fato como qualquer outro te órico psicológico social Sullivan foi um crítico agudo e incisivo da sociedade contemporânea Estágios de Desenvolvimento Sullivan delineou seis estágios no desenvolvimento da personalidade antes do estágio final da maturidade Esses seis estágios são típicos das culturas européias ocidentais e podem ser diferentes em outras socieda des São eles 1 infância 2 meninice 3 idade juvenil 4 préadolescência 5 adolescência inicial e 6 adolescência final A infância se estende do nascimento ao apareci mento da fala articulada Nesse período a zona oral é a zona primária de interação entre o bebê e seu ambi ente A amamentação oferece ao bebê sua primeira experiência interpessoal A característica do ambien te que se destaca durante o período de bebê é o obje to que alimenta o bebê faminto ou o mamilo do seio da mãe ou o bico da mamadeira O bebê desenvolve várias concepções do mamilo ou bico do seio depen dendo das experiências que tem com ele São elas 1 o mamilo bom que sinaliza a amamentação e é um sinal de que a satisfação está chegando 2 o mamilo bom mas insatisfatório porque o bebê não está com fome 3 o mamilo errado porque não dá leite e é um sinal para a rejeição e a subseqüente busca de ou tro mamilo e 4 o mamilo mau da mãe ansiosa que é um sinal para a esquiva Os outros aspectos característicos da infância são 1 o aparecimento dos dinamismos de apatia e desli gamento sonolento 2 a transição de um modo de cognição prototáxico para um paratáxico 3 a orga nização de personificações como a mãe má ansiosa que rejeita e frustra e a mãe boa tranqüila que acei ta e satisfaz 4 a organização da experiência por meio da aprendizagem e a emergência dos rudimentos do autosistema 5 a diferenciação do corpo do bebê de modo que ele aprende a satisfazer suas tensões independentemente da pessoa que faz a maternagem sugando o polegar por exemplo e 6 a aprendiza gem de movimentos coordenados envolvendo mão e olho mão e boca e ouvido e voz A transição da infância para a meninice é possibi litada pela aprendizagem da linguagem e pela orga nização da experiência no modo sintáxico A menini ce se estende da emergência da fala articulada ao aparecimento da necessidade de companheiros para brincar O desenvolvimento da linguagem permite entre outras aquisições a fusão de diferentes personi ficações por exemplo a mãe boa e a má e a integra ção do autosistema em uma estrutura mais coerente O autosistema começa a desenvolver a concepção de gênero o menino se identifica com o papel masculino prescrito pela sociedade e a menina com o papel fe minino O desenvolvimento da capacidade simbólica permite que a criança brinque de ser adulta Sullivan chamou de dramatizações esses desempenhos como se Isso também permite que a criança se dedique a várias atividades manifestas e ocultas que têm o pro pósito de evitar a punição e a ansiedade Sullivan as chama de preocupações Um evento dramático da meninice é a transfor mação malevolente o sentimento de que vivemos en tre inimigos Esse sentimento caso se torne suficien temente forte impossibilita a criança de responder positivamente aos gestos afetuosos das outras pesso as A transformação malevolente distorce as relações interpessoais da criança levandoa ao isolamento Ela diz de fato Era uma vez tudo era adorável mas isso foi antes de eu ter de lidar com pessoas A trans formação malevolente é causada por experiências dolorosas e ansiosas com pessoas e pode levar à re gressão ao estágio menos ameaçador do período de bebê A sublimação que Sullivan definiu como a subs tituição involuntária de um padrão de comportamen to que encontra ansiedade ou colide com o autosiste ma de um padrão de atividade socialmente mais aceitável que satisfaz partes do sistema motivacional que causaram problemas 1953 p 193 aparece durante a meninice O excesso de tensão que não é descarregado pela sublimação é gasto em desempe nhos simbólicos por exemplo em sonhos noturnos O estágio juvenil se estende pela maioria dos anos iniciais do ensino fundamental É um período para socializarse adquirir experiências de subordinação social a figuras de autoridade fora da família tornar se competitivo e cooperativo aprender o significado de ostracismo desprezo e sentimento grupal A crian 146 HALL LINDZEY CAMPBELL ça aprende a não prestar atenção às circunstâncias externas que não a interessam a supervisionar seu comportamento por meio de controles internos a for mar estereótipos em atitudes a desenvolver modos novos e mais efetivos de sublimação e a distinguir mais claramente entre a fantasia e a realidade Um grande evento desse período é a emergência da concepção de orientação na vida A pessoa está orientada na vida na extensão em que formulou ou pode facilmente ser levada a formular ou tem insight disso os seguintes ti pos de dados as tendências integradoras neces sidades que costumeiramente caracterizam suas relações interpessoais as circunstâncias apropri adas à sua satisfação e descarga relativamente li vres de ansiedade e as metas mais ou menos re motas pela aproximação das quais a pessoa vai privarse de oportunidades intercorrentes de sa tisfação ou de aumento do próprio prestígio 1953 p 243 O período relativamente breve da préadolescên cia é marcado pela necessidade de um relacionamen to íntimo com um igual do mesmo sexo um amigo em quem possamos confiar e que enfrente conosco as tarefas e os problemas da vida Esse é um período extremamente importante porque assinala o início de relacionamentos humanos genuínos com outras pes soas Em períodos anteriores a situação interpessoal se caracteriza pela dependência da criança em rela ção a uma pessoa mais velha Durante a préadoles cência a criança começa a formar relacionamentos de amizade nos quais existem igualdade mutualida de e reciprocidade entre os membros Sem uma com panhia íntima o préadolescente tornase vítima de uma solidão desesperada O principal problema do período da adolescência inicial é o desenvolvimento de um padrão de ativida de heterossexual As mudanças psicológicas da puber dade são experienciadas pelo jovem como sentimen tos de desejo sensual O dinamismo do desejo sensual emerge desses sentimentos e começa a afirmarse na personalidade O dinamismo do desejo sensual envol ve primariamente a zona genital mas outras zonas de interação como a boca e as mãos também partici pam do comportamento sexual Existe uma separa ção entre a necessidade erótica e a necessidade de intimidade a necessidade erótica toma como seu ob jeto um membro do sexo oposto enquanto a necessi dade de intimidade permanece fixada em um mem bro do mesmo sexo Se essas duas necessidades não se divorciarem o jovem vai apresentar uma orienta ção homossexual em vez de heterossexual Sullivan salientou que muitos dos conflitos da adolescência de correm das necessidades opostas de gratificação se xual de segurança e de intimidade A adolescência inicial persiste até que a pessoa encontre algum pa drão estável de desempenho que satisfaça suas pul sões genitais Sullivan escreveu A adolescência final se esten de da criação do padrão de atividade genital preferi da por meio de inumeráveis passos educativos e edu tivos até o estabelecimento de um repertório plenamente humano ou maduro de relações interpes soais conforme permitem as oportunidades pessoais e culturais 1953 p 297 Em outras palavras o pe ríodo da adolescência final constitui uma iniciação bastante prolongada em privilégios deveres satisfa ções e responsabilidades da vida social e da cidada nia Gradualmente ocorre o aperfeiçoamento das re lações interpessoais e o desenvolvimento da experiência no modo sintáxico permite a ampliação dos horizontes simbólicos O autosistema se estabili za são aprendidas sublimações de tensões mais efeti vas e instituídas medidas de segurança mais enérgi cas contra a ansiedade Quando o indivíduo deu todos esses passos e atin giu o estágio final da idade adulta ele foi transforma do principalmente pelas relações interpessoais de um organismo animal em uma pessoa humana Nós não somos animais cobertos por uma camada de civiliza ção e humanidade mas animais que foram tão drasti camente alterados que já não somos animais mas se res humanos ou se preferirem animais humanos Determinantes do Desenvolvimento Embora Sullivan rejeitasse firmemente qualquer dou trina instintivista inflexível ele reconhecia a impor tância da hereditariedade na provisão de certas capa cidades entre as quais se destacam as capacidades de receber e elaborar experiências Ele também aceitava o princípio de que o treinamento não pode ser efetivo antes que a maturação tenha constituído a base estru tural Assim a criança não pode aprender a caminhar antes que os músculos e a estrutura óssea tenham atin TEORIAS DA PERSONALIDADE 147 gido um nível de crescimento que suporte uma postu ra ereta A hereditariedade e a maturação proporcio nam o substrato biológico para o desenvolvimento da personalidade isto é as capacidades as predisposi ções e as inclinações A cultura opera por meio de um sistema de relações interpessoais para tornar mani festas as capacidades e os desempenhos reais trans formações de energia pelos quais a pessoa atinge a meta da redução de tensão e a satisfação de necessi dades A primeira influência educativa é a da ansiedade que obriga o jovem organismo a discriminar entre ten são crescente e decrescente e a orientar sua atividade na direção desta última A segunda grande força edu cacional é a da tentativa e sucesso O sucesso como muitos psicólogos salientaram tende a fixar a ativi dade que levou à gratificação O sucesso pode ser com parado ao recebimento de recompensas tais como o sorriso da mãe ou o elogio do pai Da mesma forma o fracasso pode ser comparado a uma punição como o olhar severo da mãe ou as palavras de desaprovação do pai Também podemos aprender por meio da imi tação e da inferência Sullivan não acreditava que a personalidade já estivesse estabelecida em tenra idade Ela pode mu dar em qualquer momento à medida que surgirem novas situações interpessoais porque o organismo é extremamente plástico e maleável Embora predomi ne o ímpeto evolutivo da aprendizagem e do desen volvimento podem ocorrer regressões quando o so frimento a ansiedade e o fracasso se tornam intoleráveis PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Harry Stack Sullivan em comum com outros psiquia tras adquiriu seu conhecimento empírico da perso nalidade trabalhando com pacientes que sofriam de diferentes transtornos de personalidade mas princi palmente com esquizofrênicos e obsessivos Quando ainda era um jovem psiquiatra Sullivan descobriu que o método da associação livre não funcionava satisfa toriamente com esquizofrênicos porque despertava uma ansiedade excessiva Foram tentados outros mé todos mas esses também provocavam uma ansiedade que interferia no processo de comunicação entre pa ciente e terapeuta Conseqüentemente Sullivan pas sou a estudar as forças que impediam e facilitavam a comunicação entre duas pessoas Ao fazer isso ele descobriu que o psiquiatra era muito mais do que um observador ele era também um participante ativo de uma situação interpessoal O psiquiatra tinha suas próprias apreensões para manejar tais como compe tência profissional e problemas pessoais Como resul tado dessa descoberta Sullivan desenvolveu sua con cepção do terapeuta como um observador participante A teoria das relações interpessoais enfatiza mui to o método da observação participante e dá uma importância secundária aos dados obtidos por outros métodos Isso por sua vez implica que a habilidade na entrevista psiquiátrica face a face ou pessoa a pessoa é de importância fundamen tal 1950 p 122 A Entrevista A entrevista psiquiátrica é o termo de Sullivan para o tipo de situação interpessoal face a face que ocorre entre o paciente e o terapeuta Pode haver apenas uma entrevista ou uma seqüência de entrevistas com um paciente estendendose por um longo período de tem po Sullivan definiu a entrevista como um sistema ou uma série de sistemas de processos interpessoais surgindo da observação participante em que o entre vistador deriva certas conclusões sobre o entrevista do 1954 p 128 Como a entrevista é conduzida e como o entrevistador chega a conclusões a respeito do paciente constituem o assunto do livro de Sulli van The Psychiatric Interview 1954 Sullivan dividiu a entrevista em quatro estágios 1 início formal 2 reconhecimento 3 investiga ção detalhada e 4 término A entrevista é primariamente uma comunicação verbal entre duas pessoas Não só o que a pessoa diz mas também a sua maneira de dizer aquilo entona ções ritmo da fala e outros comportamentos expres sivos são as principais fontes de informação para o entrevistador O entrevistador deve estar atento a mudanças sutis nas vocalizações do paciente p ex mudanças no volume porque essas pistas muitas ve zes são evidências vitais referentes a problemas focais e a mudanças de atitude em relação ao terapeuta No 148 HALL LINDZEY CAMPBELL início o entrevistador deve evitar fazer muitas per guntas e deve manter uma atitude de observação tran qüila O entrevistador deve tentar determinar as ra zões da vinda do paciente e alguma ocorrência sobre a natureza de seus problemas O período de reconhecimento visa a descobrir quem é o paciente O entrevistador faz isso por meio de um interrogatório intensivo sobre o passado o pre sente e o futuro do paciente Esses fatos sobre a vida do paciente são os dados pessoais ou as informações biográficas Sullivan não defende um tipo de questio namento rígido estruturado que adote uma listapa drão de perguntas Por outro lado ele insiste que o entrevistador não deve deixar o paciente falar sobre questões irrelevantes e triviais O paciente deve ficar sabendo que a entrevista é um procedimento sério e que ele não deve perder tempo O entrevistador tam bém não deve tomar notas durante as entrevistas em nenhum momento do curso do tratamento porque tomar notas provoca distração demais e tende a inibir o processo de comunicação Pelo final dos primeiros dois estágios do processo de entrevista o psiquiatra deve ter formado algumas hipóteses prévias relativas aos problemas do paciente e suas origens Durante o período de questionamento detalhado o psiquiatra tenta definir qual das várias hipóteses é a correta Ele faz isso ouvindo e fazendo perguntas Sullivan sugeriu algumas áreas a serem investigadas questões de treinamento esfincteriano atitudes em relação ao corpo hábitos de alimenta ção ambição e atividades sexuais mas novamente não insistiu sobre uma lista formal de perguntas a ser seguida rigidamente À medida que tudo correr tranqüilamente o en trevistador provavelmente não aprenderá nada sobre as vicissitudes de uma entrevista entre as quais se destaca o impacto das atitudes do entrevistador sobre a capacidade de comunicação do paciente Mas quan do o processo de comunicação se deteriorar o entre vistador será forçado a se perguntar O que eu disse ou fiz que deixou o paciente ansioso Sempre existe muita reciprocidade entre as duas partes o termo de Sullivan para isso é emoção recíproca e cada uma está continuamente refletindo os sentimentos da ou tra Cabe ao terapeuta reconhecer e controlar as pró prias atitudes no interesse de uma comunicação má xima Em outras palavras ele jamais deve esquecer seu papel como um perito observador participante Uma série de entrevistas chega ao término quando o entrevistador faz uma declaração final sobre o que descobriu prescreve um curso de ação para o pacien te e avalia para ele os prováveis efeitos da prescrição sobre sua vida Pesquisa sobre a Esquizofrenia A principal contribuição de pesquisa de Sullivan na psicopatologia consiste em uma série de artigos sobre a etiologia a dinâmica e o tratamento da esquizofre nia A maior parte destes estudos foi realizada duran te seu período de trabalho no Hospital Sheppard e Enoch Pratt em Maryland e eles foram publicados em jornais psiquiátricos nos anos de 19241931 Eles revelam o grande talento de Sullivan para fazer con tato com a mente do psicótico e compreendêla A em patia era um traço extremamente desenvolvido na per sonalidade de Sullivan e ele a empregou de forma excelente ao estudar e tratar as vítimas da esquizofre nia Para Sullivan essas vítimas não eram casos sem esperança a serem trancafiados nas últimas alas das instituições para doentes mentais eles podem ser tra tados com sucesso se o psiquiatra estiver disposto a ser paciente compreensivo e observador Enquanto Sullivan estava no Hospital Sheppard e Enoch Pratt ele criou uma ala especial para pacien tes Ela consistia em uma suíte de dois quartos e uma sala de estar para seis esquizofrênicos do sexo mascu lino Essa ala estava isolada do resto do hospital e tinha uma equipe de seis atendentes do sexo masculi no escolhidos a dedo e treinados por Sullivan Ele sempre atendia cada paciente com um atendente pre sente na sala pois descobriu que isso era seguro para o paciente Nenhuma enfermeira do sexo feminino de fato nenhuma mulher podia entrar na ala Sulli van acreditava na efetividade de uma enfermaria ho mogênea com pacientes do mesmo sexo do mesmo grupo de idade e com o mesmo problema psiquiátri co O papel de Sullivan como um psiquiatra político também estava evidente em algumas de suas ativida des de pesquisa Ele acreditava que a pessoa tinha de servir para poder estudar Ele fez pesquisa sobre os negros do sul com Charles S Johnson e sobre os ne gros de Washington com E Franklin Frazier Sulli TEORIAS DA PERSONALIDADE 149 van 1964 Seu trabalho durante a guerra consistiu em criar procedimentos para fazer triagem de recru tas aumentar o moral e desenvolver uma liderança efetiva E já mencionamos seu grande interesse em trabalhar por um mundo livre de tensões e conflitos STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO As quatro teorias apresentadas neste capítulo fazem parte de um mesmo grupo porque todas enfatizam a influência das variáveis sociais no desenvolvimento da personalidade Todas elas de uma maneira ou ou tra constituem uma reação contra a posição instinti vista da psicanálise freudiana embora todos os teóri cos reconheçam seu débito para com o pensamento seminal de Freud Todos subiram nos ombros de Freud e acrescentaram seus próprios braços à sua eminente altura Eles investiram a personalidade de dimensões sociais de importância igual se não superior às di mensões biológicas propostas por Freud e Jung Além disso essas teorias ajudaram a colocar a psicologia na esfera das ciências sociais Apesar da área comum que partilham cada teo ria enfatiza agrupamentos um pouco diferentes de variáveis sociais Erich Fromm dedica a maior parte de sua atenção a descrever como a estrutura e a dinâ mica de uma determinada sociedade moldam seus membros para que seu caráter social se adapte aos valores e necessidades comuns daquela sociedade Karen Horney embora reconhecendo a influência do contexto social em que a pessoa vive se detém nos fatores íntimos dentro do ambiente familiar que moldam a personalidade A esse respeito a teoria in terpessoal de Sullivan se assemelha às idéias de Hor ney mais do que às de Fromm Para Sullivan os rela cionamentos humanos da infância da meninice e da adolescência são de importância suprema e ele é muito eloqüente e persuasivo quando descreve o nexo entre aquela que faz a maternagem e o bebê Adler por outro lado percorre toda a sociedade procurando fatores que sejam relevantes para a personalidade e encontraos em todo lugar Embora as quatro teorias se oponham vigorosa mente à doutrina freudiana dos instintos e à fixidez da natureza humana nenhuma das quatro adota a posição ambientalista radical de que a personalidade de um indivíduo é criada unicamente pelas condições da sociedade em que ele nasce Cada teoria à sua própria maneira concorda que existe isso que cha mamos de natureza humana que o bebê traz consigo amplamente na forma de predisposições ou potencia lidades bastante gerais ao invés de necessidades e traços específicos Essas potencialidades generaliza das exemplificadas pelo interesse social de Adler e pela necessidade de transcendência de Fromm são realizadas de maneiras concretas por agências educa tivas formais e informais da sociedade Em condições ideais essas teorias concordam o indivíduo e a socie dade são interdependentes a pessoa trabalha para promover as metas da sociedade e a sociedade por sua vez ajuda a pessoa a atingir suas próprias metas Em resumo a postura adotada por esses quatro teóri cos não é nem exclusivamente social ou sociocêntri ca nem exclusivamente psicológica ou psicocêntrica ela tem um caráter genuinamente psicológico social Além disso cada teoria afirma não apenas que a natureza humana é plástica e maleável mas também que a sociedade é igualmente plástica e maleável Se uma determinada sociedade não atende às necessida des da natureza humana ela pode ser mudada pelos humanos Em outras palavras os humanos criam o tipo de sociedade que em sua opinião vai beneficiá los mais Obviamente são cometidos erros no desen volvimento das sociedades e quando esses erros se cristalizam na forma de instituições e costumes soci ais pode ser difícil modificálos Mas todos os teóri cos foram otimistas em relação à possibilidade de mudança e cada um à sua maneira tentou fazer mudanças fundamentais na estrutura da sociedade Adler defendeu a democracia social lutou por melho res escolas montou centros de orientação infantil insistiu em reformas no tratamento dos criminosos e proferiu muitas palestras sobre os problemas sociais e suas curas Fromm e Horney por meio de seus textos e palestras apontaram o caminho para uma socieda de melhor Fromm em especial detalhou algumas das reformas básicas que precisavam ser feitas para se ter uma sociedade mais sadia Sullivan quando morreu estava ativamente envolvido em promover melhoras sociais por meio da cooperação internacional Todos os quatro como psicoterapeutas tiveram ampla ex periência com as vítimas de uma ordem social imper 150 HALL LINDZEY CAMPBELL feita conseqüentemente eles falavam com conheci mento pessoal e experiência prática em seus papéis como críticos e reformadores Outra suposição que cada teoria faz é que a ansi edade é socialmente produzida O ser humano não é por natureza o animal ansioso Ele fica ansioso pe las condições em que vive pelo espectro do desem prego pela intolerância e injustiça pela ameaça da guerra por pais hostis Removam essas condições dizem os nossos teóricos e secarão as fontes das quais brota a ansiedade O ser humano também não é des trutivo por natureza como Freud acreditava Ele se torna destrutivo quando suas necessidades básicas são frustradas mas mesmo em condições de frustração podem ser tomados outros caminhos como submis são ou retraimento Todas as teorias com exceção da de Sullivan su blinharam os conceitos do indivíduo único e do self criativo Apesar de tentativas da sociedade de arregi mentar as pessoas cada pessoa consegue manter cer to grau de individualidade criativa Na verdade é devido aos poderes criativos inerentes da pessoa que ela consegue efetuar as mudanças na sociedade As pessoas criam diferentes tipos de sociedade em dife rentes partes do globo e em diferentes momentos da história em parte porque elas são diferentes Os hu manos não são apenas criativos eles são também au toconscientes Eles sabem o que querem e lutam cons cientemente para atingir suas metas A idéia da motivação inconsciente não recebe muito peso por parte desses teóricos psicológicos sociais Em geral as teorias desenvolvidas por Adler Fromm Horney e Sullivan ampliaram o alcance da psicologia freudiana ao criar espaço para os determi nantes sociais da personalidade Vários críticos toda via desprezaram a originalidade dessas teorias psico lógicas sociais Eles dizem que tais teorias apenas desenvolvem um pouco mais um aspecto da psicaná lise clássica o ego e suas defesas Freud viu clara mente que os traços de personalidade muitas vezes representavam as defesas ou as estratégias habituais da pessoa contra as ameaças internas e externas ao ego As necessidades as tendências os estilos as ori entações as personificações os dinamismos e assim por diante nas teorias tratadas neste capítulo aco modamse na teoria freudiana sob o nome de defesas do ego Portanto concluem esses críticos nada de novo foi acrescentado a Freud e muita coisa foi subtraída Ao reduzir a personalidade ao sistema único do ego o teórico psicológico social isolou a personalidade das fontes vitais do comportamento humano fontes que têm sua origem na evolução dos seres humanos como espécie Ao ampliar o caráter social da personalidade humana eles alienaram os humanos de sua grande herança biológica Uma crítica feita às vezes à concepção do ser hu mano desenvolvida por Adler Fromm e Horney a crítica não se aplica a Sullivan é o fato de ela ser muito adocicada e idealista Em um mundo que foi dilacerado por duas grandes guerras para não men cionar as muitas outras formas de violência e irracio nalidade manifestadas pelas pessoas a imagem de um indivíduo racional autoconsciente e socializado sur preende como singularmente inadequada e inválida Podemos é claro culpar a sociedade e não os huma nos por esse deplorável estado de coisas e é isso que tais teóricos fazem Mas foram os seres humanos raci onais que criaram os tipos de arranjos sociais respon sáveis pela irracionalidade e infelicidade humanas Esse é o grande paradoxo dessas teorias Se as pesso as são tão autoconscientes tão racionais e tão sociais por que criaram tantos sistemas sociais imperfeitos Foi salientado por um filósofo Isaac Franck 1966 que a concepção da pessoa apresentada por Fromm e por outros psicólogos sociais e humanistas é menos um produto de pesquisa e mais o resultado de suas preconcepções normativas Eles são moralistas e não cientistas Franck insiste que as tendências e os traços humanos são eticamente neutros e assim não podemos deduzir prescrições éticas de declarações fatuais sobre os seres humanos Mas é difícil encon trar um teórico da personalidade de Freud a Fromm que não faça julgamentos moralistas e éticos aberta ou encobertamente sobre os efeitos prejudiciais do ambiente social sobre os humanos E muitos deles chegam a prescrever remédios É difícil para um ob servador participante permanecer neutro por mais científico que seja Outra crítica menos devastadora mas que tem mais peso para os psicólogos conforme diferenciados dos psicanalistas é o fracasso dessas teorias psicoló gicas sociais em especificar os meios exatos pelos quais uma sociedade molda seus membros Como uma pes soa adquire caráter social Como aprendemos a ser membros da sociedade Essa evidente negligência do processo de aprendizagem em teorias que dependem TEORIAS DA PERSONALIDADE 151 tanto do conceito de aprendizagem para explicar como se forma a personalidade é vista como uma omissão importante Seria suficiente apenas estar exposto a uma condição da sociedade para que tal condição afe tasse a personalidade Existiria uma fixação mecâni ca de um comportamento socialmente aprovado e uma eliminação igualmente mecânica de um comportamen to socialmente desaprovado Ou será que a pessoa reage ao meio social com insight e percepção selecio nando as características que em sua opinião produzi rão uma melhor organização da personalidade e re jeitando outras características que sente serem inconsistentes com sua autoorganização De modo geral essas teorias não falam sobre a natureza do pro cesso de aprendizagem Embora tais teorias psicológicas sociais não te nham estimulado muitas pesquisas em comparação com outras teorias elas serviram para estimular um clima intelectual em que poderia florescer a pesquisa psicológica social o que realmente aconteceu Adler Fromm Karen Horney e Sullivan não só são os res ponsáveis pela ascensão da psicologia social mas tam bém sua influência tem sido considerável Eles contri buíram imensamente para o quadro dos seres humanos como seres sociais Esse é seu grande valor no cenário contemporâneo TEORIAS DA PERSONALIDADE 153 CAPÍTULO 5 Erik Erikson e a Teoria Psicanalítica Contemporânea INTRODUÇÃO E CONTEXTO 154 PSICOLOGIA DO EGO 155 Anna Freud 155 RELAÇÕES OBJETAIS 157 Heinz Kohut 159 A FUSÃO DA PSICANÁLISE E DA PSICOLOGIA 160 George Klein 161 Robert White 162 E R I K H E R I K S O N 165 HISTÓRIA PESSOAL 165 A TEORIA PSICOSSOCIAL DO DESENVOLVIMENTO 168 I Confiança Básica Versus Desconfiança Básica 169 II Autonomia Versus Vergonha e Dúvida 171 III Iniciativa Versus Culpa 171 IV Diligência Versus Inferioridade 172 V Identidade Versus Confusão de Identidade 173 VI Intimidade Versus Isolamento 174 VII Generatividade Versus Estagnação 174 VIII Integridade Versus Desespero 175 UM NOVO CONCEITO DE EGO 175 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 177 Histórias de Caso 177 Situações Lúdicas 177 Estudos Antropológicos 179 PsicoHistória 180 PESQUISA ATUAL 181 Status da Identidade 182 Outros Estágios 183 Status Intercultural 183 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 184 154 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO O que aconteceu com a teoria da personalidade de Freud depois de sua morte em 1939 Essa é a pergun ta da qual trataremos no presente capítulo Antes de começar a discussão devemos observar que muitas ocorrências aconteceram com a teoria psicanalítica enquanto Freud ainda estava vivo Para confirmar isso só temos de comparar as Conferências Introdutórias publicadas em 1917 com as Novas Conferências Intro dutórias publicadas em 1933 Em 1917 não havia nem id nem ego ou superego Também não havia o instin to de morte e seus derivados a agressão e a autodes truição Em 1917 a ansiedade era o resultado da re pressão em 1933 ela era a causa da repressão Por volta de 1933 Freud tinha desenvolvido uma nova teoria do complexo de Édipo feminino Entretanto seria errado concluir a partir dessas comparações que a teoria psicanalítica esteve em contínuo fluxo e mu dança durante a vida de Freud Muitos dos conceitos originais permaneceram os mesmos A elaboração e a ampliação regular das idéias básicas em vez de revi sões radicais marcaram o curso do trabalho de Freud Há aqueles que acham que Freud se tornou mais especulativo à medida que envelhecia e que suas es peculações sobre as origens as estruturas e as dinâ micas da mente o que Freud chamava de metapsi cologia estavam muito distantes de suas formulações teóricas estreitamente ligadas a dados obtidos da observação clínica direta de pacientes Outros toda via salientam que as sementes de sua metapsicologia já tinham sido plantadas no Projeto para uma Psicolo gia Científica 1895 e no Capítulo 7 de A Interpreta ção dos Sonhos 1900 e que Freud sempre teve inte resse em chegar a uma teoria geral da mente ou da personalidade e não apenas em criar uma teoria da neurose Embora Freud estivesse cercado por vários homens e mulheres criativos ele foi o mestre construtor da teoria psicanalítica enquanto viveu Ele estabeleceu as fundações orientou seu curso de desenvolvimento e assumiu total responsabilidade por suas revisões importantes Freud era receptivo a idéias propostas por seus associados no movimento psicanalítico e muitas vezes davalhes o crédito por novos insights mas fazia questão absoluta de preservar os pilares conceituais sobre os quais a teoria estava baseada Quem quer que tentasse solapar esses pilares ou subs tituílos era excluído do movimento psicanalítico Ine vitavelmente vários psicanalistas separaramse do movimento e desenvolveram suas próprias teorias Entre eles destacamse Adler Jung Rank e Reich Mas seria incorreto dizer como alguns disseram que Freud era ditatorial ou pessoalmente vingativo em relação aos dissidentes No caso de Jung por exemplo a cor respondência entre ele e Freud McGuire 1974 re vela que Freud fez um grande esforço e um esforço cordial para convencer Jung da incorreção de suas de Jung idéias Entre parênteses poderíamos ob servar que foi uma sorte Freud não ter conseguido convencêlo Uma teoria afinal de contas é fruto da imaginação de uma única pessoa ela não pode ser concebida por um comitê Após a morte de Freud em 1939 seus seguidores se defrontaram com a difícil tarefa de decidir o que fazer com relação ao futuro desenvolvimento da teo ria psicanalítica O curso escolhido foi amplificar as pectos do sistema de Freud tornar mais explícitos al guns de seus postulados esclarecer as definições de alguns dos conceitos básicos ampliar a variedade de fenômenos explicados pela psicanálise e empregar métodos observacionais diferentes da entrevista psi canalítica para validar proposições derivadas da teo ria freudiana Também foram instituídas mudanças na terapia psicanalítica mas esse aspecto da psicanálise está fora do escopo do presente volume Em grande parte da literatura psicanalítica tanto passada quanto presente os parágrafos de abertura de um artigo ou capítulo são dedicados a uma apre sentação do que Freud disse sobre o tópico em consi deração O autor a seguir amplia o assunto e apre senta novas evidências ou argumentos Os textos de Freud são a maior autoridade e as suas citações estão presentes por todo o artigo ou livro para justificar os pontos defendidos pelo autor Apesar dessa grande lealdade às idéias de Freud por parte de seus seguido res e de sua compreensível tendência a tratar o for midável corpo de sua obra como textos sagrados podemos detectar algumas tendências novas na lite ratura psicanalítica desde a morte de Freud Nós dis cutiremos algumas delas Também devemos observar a crescente aproxima ção entre a psicologia e a psicanálise Não é nenhum segredo que a maioria dos psicólogos era hostil às idéi TEORIAS DA PERSONALIDADE 155 as de Freud antes da Segunda Guerra Mundial mas por motivos que discutiremos neste capítulo essa hos tilidade diminuiu As idéias de Freud não só permei am a psicologia mas também os psicólogos têm feito contribuições teóricas e empíricas à psicanálise O principal foco deste capítulo serão os textos de Erik Erikson Ele provavelmente mais do que qual quer outra figura contemporânea exemplifica como a psicanálise clássica foi elaborada ampliada e apli cada Seus extensos textos também oferecem uma ponte entre a psicologia e a psicanálise PSICOLOGIA DO EGO O desenvolvimento mais notável na teoria psicanalíti ca desde a morte de Freud certamente é a emergên cia de uma nova teoria do ego às vezes referida como psicologia do ego Embora Freud considerasse o ego o executivo da personalidade total pelo menos no caso da pessoa sadia ele nunca lhe outorgou uma posição autônoma o ego sempre permaneceu subserviente aos desejos do id Naquele que foi seu pronunciamento final sobre a teoria psicanalítica Freud 1940 reite rou o que já dissera tantas vezes Esta porção mais antiga o id do aparelho mental permanece a mais importante durante toda a vida p 14 O id e seus instintos expressam o verdadeiro propósito da vida do organismo Não existe dúvida sobre o que Freud pensava sobre o relacionamento entre o ego e o id o id é o membro dominante da parceria Anna Freud Ao contrário da posição de Freud alguns teóricos psi canalíticos propuseram uma ênfase maior no papel do ego na personalidade total O primeiro desses teó ricos foi a filha de Freud Anna A vida e o status espe cial de Anna Freud dentro da psicanálise foram exa minados por vários autores p ex Coles 1992 Dyer 1983 Roazen 1968 1969 1971 Sayers 1991 Young Bruehl 1988 e suas publicações foram compiladas em oito volumes editados pela International Univer sities Press A história de Anna Freud está inevitavelmente entrelaçada com a do pai Por exemplo Anna nasceu em 1895 o ano da publicação final do livro em cola boração com Breuer Estudos Sobre a Histeria e o ano em que Freud escreveu seu Projeto para uma Psicolo gia Científica Mais tarde Anna iniciou sua prática como analista em 1923 o ano em que seu pai publi cou O Ego e o Id Mas esse também foi o ano da pri meira cirurgia de Freud por causa de seu câncer oral Anna dedicouse cada vez mais a ele sendo sua en fermeira secretária e companhia durante seus 16 anos de vida restantes A posição de Anna Freud dentro da psicanálise gerou várias ironias fascinantes Por exemplo é notá vel que a busca de Sigmund Freud de um herdeiro intelectual amargamente malsucedida com colegas como Carl Jung tenha tido sucesso com a própria fi lha Sigmund Freud conduziu a análise didática de Anna e ela acabou se tornando a guardiã intelectual do pai mas seu próprio trabalho demonstrou como o modelo de seu pai podia ser proveitosamente expan dido Além disso foi Anna quem realmente estudou as crianças e os períodos da infância sobre os quais Freud tinha erigido interpretações tão elaboradas baseado em lembranças clínicas de pacientes adultos Esse trabalho convenceu Anna Freud de que as técni cas analíticas propostas por seu pai precisavam ser modificadas para a análise de crianças A associação livre era quase inútil com crianças por exemplo e a transferência passou a ser um fenômeno bem mais complicado Mas a modificação mais importante de Anna Freud talvez tenha sido conceitual além de téc nica Seu trabalho na Inglaterra com crianças devas tadas pelos eventos traumáticos da Segunda Guerra Mundial convenceua de que um foco exclusivo no conflito intrapsíquico é inadequado com crianças as realidades externas passada e presente de uma crian ça influenciam imensamente seu comportamento e sua patologia Anna e seus colegas criaram centros tera pêuticos residenciais para essas crianças p ex Hampstead Nurseries e Bulldogs Bank Algumas de suas interpretações do comportamento dessas crian ças contrastam nitidamente com as interpretações ofe recidas por seu pai Por exemplo um grupo de crian ças evacuadas de um campo de concentração nazista demonstrava medo de grandes caminhões e Anna interpretou essa fobia em termos da semelhança en tre esses veículos e os caminhões vistos previamente no campo de concentração Tal inferência direta é uma 156 HALL LINDZEY CAMPBELL alternativa notável à interpretação edípica de seu pai da fobia de cavalos do Pequeno Hans Anna Freud é mais conhecida pelo trabalho sobre o ego e seus mecanismos de defesa descritos no clás sico livro O Ego e os Mecanismos de Defesa que ela publicou em 1936 Ao contrário dos psicólogos do ego que vieram depois ela conceitualizou o ego de uma maneira consistente com a visão analítica ortodoxa dos interrelacionamentos entre id ego e superego Isto é o papel do ego é negociar a gratificação dos impulsos instintuais e ao mesmo tempo acomodar limitações morais internalizadas mas com mais auto nomia do que Sigmund Freud propusera Anna Freud apresentou uma discussão sistemática das estratégias defensivas às quais o ego pode recorrer ampliando para dez os mecanismos defensivos propostos por seu pai regressão repressão formação reativa isolamen to anulação projeção introjeção volta contra si mes mo transformação no contrário e sublimação A segunda maior contribuição teórica de Anna Freud foi a extensão do desenvolvimento infantil para incluir seqüências maturacionais além da expressão dos impulsos sexuais e agressivos e das defesas con tra eles Essas seqüências que ela chamou de linhas desenvolvimentais envolvem uma progressão da de pendência irracional de limites externos para um do mínio mais racional de pessoas de situações e de im pulsos Assim as linhas desenvolvimentais refletem a gradual aquisição da criança do domínio do ego e proporcionam uma base para a teoria de estágios de Erik Erikson descrita mais adiante neste capítulo Como exemplo considerem a linha desenvolvimental do egocentrismo para o companheirismo Segundo a análise de Anna Freud a criança inicialmente tem uma orientação egoísta em que as outras crianças são vis tas somente como rivais Subseqüentemente as ou tras crianças são vistas como brinquedos sem vida Gradualmente elas passam a ser vistas como potenci ais auxiliares e parceiros cuja ajuda pode ser útil em determinadas tarefas Eventualmente a criança se torna capaz de conceitualizar outras crianças como indivíduos com seus próprios direitos e como alvos legítimos de uma variedade de emoções e interações Outras linhas desenvolvimentais importantes descre vem a progressão da dependência para a autoconfi ança emocional do aleitamento para a alimentação racional das fraldas para o controle da bexiga e do intestino da irresponsabilidade para a responsabili dade no manejo corporal do corpo para o brinquedo e do brincar para o trabalhar A Freud 1965 Mais tarde em sua carreira ela propôs outras linhas indo de caminhos físicos de descarga para caminhos men tais de objetos animados para inanimados e da irres ponsabilidade para a culpa A Freud 1973 A im portância central atribuída às linhas desenvolvimentais por Anna Freud é revelada na seguinte passagem Com completo equilíbrio temporal e harmonia entre as várias linhas o resultado não poderia deixar de ser uma personalidade completamente harmoniosa bemequilibrada De fato o pro gresso em qualquer linha está sujeito à influência de três lados a variação em dados inatos que proporciona o material bruto do qual se diferen ciam o id e o ego as condições e as influências ambientais que com freqüência diferem ampla mente do que é apropriado e favorável ao cresci mento normal as interações entre forças internas e externas que constituem a experiência indivi dual de cada criança é essa variedade de pro gresso nas linhas isto é os fracassos e os sucessos desenvolvimentais que podemos considerar res ponsável pelas inumeráveis variações nos carac teres e nas personalidades humanas A Freud 1973 p 69 Apesar das modificações Anna Freud via suas for mulações como consistentes com a ênfase de Sigmund Freud nos impulsos instintuais Ao contrário a nova teoria de ego proposta por Heinz Hartmann 1958 1964 não só abrange tópicos como o desenvolvimento do princípio da realidade na infância as funções inte grativas ou sintetizadoras do ego os processos auxili ares do ego de perceber lembrar pensar e agir e as defesas do ego mas também de modo mais impor tante apresenta o conceito da autonomia do ego As discussões das funções autônomas do ego normalmen te começam citando um dos últimos artigos de Freud em que ele escreveu Mas não devemos ignorar o fato de que o id e o ego são originalmente um só e isso não implica uma supervalorização mística da he reditariedade se acreditarmos que mesmo antes de o ego existir suas subseqüentes linhas de desenvolvi mento tendências e reações já estão determinadas Freud 1937 p 343344 Partindo dessa citação Hartmann postula a existência de uma fase indiferen ciada no início da vida durante a qual se formam o id TEORIAS DA PERSONALIDADE 157 e o ego O ego não emerge de um id inato mas cada sistema tem suas origens em predisposições ineren tes e cada um tem seu próprio curso de desenvolvi mento Além disso afirmase que os processos do ego são operados por energias sexuais e agressivas neu tralizadas As metas desses processos do ego podem ser independentes de objetivos puramente instintu ais Portanto o ego e os instintos se desenvolvem e funcionam de maneira independente e complemen tar Assim como os instintos têm bases biológicas tam bém existem aparatos de ego inatos que permitem que o indivíduo se adapte ao ambiente A adaptação é um processo recíproco que envolve mudança no self mudança autoplástica e mudança no mundo mu dança aloplástica O leitor deve observar a seme lhança entre esse modelo e a distinção de Piaget en tre acomodação e assimilação e também entre o conceito de Bandura do determinismo recíproco ver Capítulo 14 Como salienta Westen 1990 Hartmann foi em grande extensão um psicólogo cognitivo As defesas do ego não precisam ter um caráter patológico ou negativo elas podem ter propósitos sadios na formação da personalidade Hartmann acre dita que uma defesa pode tornarse independente de sua origem ao combater os instintos e ter uma função de ajustamento e organização Os teóricos do ego tam bém atribuem ao ego uma esfera livre de conflitos Isso significa que alguns processos do ego não estão em conflito com o id o superego ou o mundo exter no Esses processos do ego é claro podem ser incom patíveis um com o outro de modo que a pessoa tem de decidir qual é a melhor entre várias maneiras de resolver um problema ou de fazer uma adaptação Paralelo à emergência dessa nova concepção de um ego autônomo está um crescente interesse pelas funções adaptativas do ego isto é as maneiras não defensivas do ego de lidar com a realidade ou o que Freud chamou de teste de realidade Para fazer adap tações efetivas ao mundo o ego tem à sua disposição os processos cognitivos de perceber lembrar e pensar Uma conseqüência dessa nova ênfase nos processos cognitivos do ego foi aproximar a psicanálise da psi cologia uma tendência discutida mais adiante neste capítulo Entre os líderes dessa perspectiva adaptati va estão Rapaport 1960 Gill 1959 e Klein 1970 Ver Blanck e Blanck 1974 1979 para discussões gerais da psicologia do ego Tal tendência de tratar o ego como um sistema autônomo cuja origem é paralela ao id e é dotado de funções e de fontes de energia autônomas foi questio nada por outros psicanalistas Nacht 1952 por exem plo deplora essa nova psicologia do ego que consi dera estéril e regressiva O psicólogo Robert R Holt 1965 fez uma avaliação crítica do conceito de auto nomia do ego conforme apresentado em textos de Hartmann e Rapaport e concluiu que ele nunca che garia a ocupar um lugar importante no pensamento psicanalítico Holt escreve Em vez disso deveríamos estar preocupados em descrever os papéis relativos da pulsão dos estímulos e das pressões externas e de várias estruturas internas na determinação do com portamento e as complexas interações entre eles p 157 Poderíamos salientar que foi exatamente isso o que Freud disse e fez durante toda a sua vida Essa nova teoria do ego atraiu muitos psicólogos pois centrase nos temas tradicionais da psicologia percepção memória aprendizagem e pensamento Ela também atrai porque enfatiza os processos e os com portamentos característicos da pessoa normal em contraposição aos processos e comportamentos des viantes de uma população de pacientes Além disso a teoria do ego tende a enfatizar os aspectos racionais conscientes e construtivos da personalidade humana em contraste com a ênfase colocada pela psicanálise clássica no inconsciente e no irracional Finalmente a teoria do ego é considerada mais humanista do que a teoria psicanalítica ortodoxa RELAÇÕES OBJETAIS Um outro grupo de teóricos que apresentou revisões ainda mais radicais da psicanálise ortodoxa enfatiza o papel das relações objetais na formação e no funciona mento da personalidade Segundo Westen 1990 p 26 a emergência desse ponto de vista representa in dubitavelmente o maior desenvolvimento da psicaná lise desde Freud Esse foco nas relações objetais e no conceito do self levou Eagle 1984 p 3 a escrever Algumas das proposições outrora consideradas as mais fundamentais da psicanálise foram nitidamente refor muladas ver também Cashdan 1988 158 HALL LINDZEY CAMPBELL Freud propôs que a escolha objetal ocorre quan do as pessoas catexizam ou investem energia instin tual em objetos que podem ser usados para gratificar impulsos instintuais Eagle 1984 p 10 descreve da seguinte maneira a teoria instintual de Freud Os objetos e as relações objetais são importantes primariamente como meios e veículos de descar ga de pulsões libidinais e agressivas A esse res peito os primeiros na verdade têm um status se cundário e derivado nós não desenvolveríamos nenhum interesse por objetos ou relações obje tais e nenhuma das funções de ego de teste de realidade se os objetos não fossem necessários para a gratificação das pulsões e se a gratificação ime diata fosse possível somos forçados a nos rela cionar com objetos Mas o nosso interesse pelos objetos e o nosso relacionamento com eles continuam direta ou indiretamente ligados ao seu uso e à relevância na gratificação pulsio nal Para os teóricos das relações objetais ao contrário os objetos são representações internalizadas de pessoas reais não meras saídas para a descarga de um ins tinto As relações objetais são primárias não deriva das de descarga instintual e elas funcionam para dar estrutura ao self McAdams 1994 p 96 Como con seqüência os teóricos das relações objetais enfatizam a aquisição e a importância das representações do self e dos outros No processo o foco muda da primazia freudiana da descarga instintual para a primazia dos relacionamentos interpessoais W R D Fairbairn por exemplo conceitualizou os seres humanos como primariamente preocupados com a busca de objetos em vez de com a busca do prazer Ele escreveu Podemos dizer que a psicologia se reduz a um estudo dos relacionamentos do indiví duo com seus objetos ao mesmo tempo em que de modo semelhante podemos dizer que a psicopatolo gia se reduz mais especificamente a um estudo dos relacionamentos do ego com seus objetos internaliza dos 1952 p 60 Fairbairn reinterpretou muitos dos postulados de Freud em termos das atividades do ego de busca de objeto Eagle 1984 Por exemplo a re pressão age sobre estruturas cindidas do ego e sobre objetos internalizados que são intoleráveis não sobre impulsos instintuais Os estágios psicossexuais refle tem técnicas adotadas pelo ego para regular os relaci onamentos com objetos não para permitir a descarga de uma família de impulsos libidinais A agressão é uma resposta à privação e à frustração não um ins tinto ativado O ego tem suas próprias metas dinâmi cas e o conflito reflete cisões no ego não incompati bilidades entre id e ego Além disso o ego está presente no nascimento tem sua própria estrutura dinâmica e é a fonte de sua própria energia De fato só existe o ego não existe id As principais funções do ego são buscar e estabelecer relações com os objetos no mun do externo Em resumo Fairbairn propôs que o de senvolvimento e o comportamento do indivíduo re fletem o relacionamento do ego com objetos externos e internalizados A questão central no desenvolvimento da personalidade não é a canalização e a recanaliza ção dos impulsos instintuais mas a progressão da dependência infantil e a identificação primária com objetos para um estado de diferenciação do self em relação ao objeto A primeira relação do bebê é com a mãe e subse qüentemente com o pai com iguais e com parceiros Assim as teorias das relações objetais estão essencial mente preocupadas com relacionamentos interpesso ais As frustrações e as perdas que invariavelmente ocorrem nas relações com esses vários objetos deixam um resíduo de representações internalizadas dos ob jetos perdidos Essas imagens internalizadas sobrevi vem no inconsciente Elas se aglutinam para formar o self do indivíduo elas entram em conflito umas com as outras e proporcionam uma base para os relacio namentos interpessoais subseqüentes O próprio Freud introduziu esse modelo de relações objetais em suas discussões sobre luto melancolia e complexo de Édi po mas os teóricos das relações objetais propõem que a internalização de objetos perdidos é um fenômeno bem mais disseminado As inconsistências entre esses objetos internalizados podem levar a cisões dentro do ego e os objetos internos fantasiados podem interfe rir na formação de relacionamentos interpessoais maduros Outros profissionais fizeram contribuições impor tantes ao desenvolvimento das abordagens de rela ção objetal p ex Bowlby 1969 1973 Guntrip 1971 Kernberg 1976 Particularmente notável entre eles é Margaret Mahler p ex 1968 Mahler Pine Berg man 1975 Mahler descreveu seis estágios pelos quais as crianças passam no processo de avançar de um es tado de indiferenciação entre o eu e o nãoeu para TEORIAS DA PERSONALIDADE 159 um estado de separação e individuação em que reco nhecem sua identidade corporal e psicológica Outros pesquisadores conduziram investigações empíricas fascinantes das relações objetais p ex Blatt Ler ner 1983 ver Westen 1990 para uma introdução Heinz Kohut O mais influente dos teóricos das relações objetais é Heinz Kohut 1966 1971 1977 1984 e também foi ele quem ofereceu o modelo mais claro do self e de seu papel na patologia Em essência Kohut substituiu o conflito pelo self como o fator central na personali dade e na psicopatologia Nesse processo ele tam bém ofereceu as conexões mais claras com os teóricos tradicionais da personalidade Como veremos mais adiante neste capítulo Ko hut seguiu Erik Erikson em sua crença de que a famí lia e a sociedade com as quais as pessoas se deparam hoje em dia diferem substancialmente daquelas expe rienciadas pelos pacientes de Freud As famílias na época de Freud eram ameaçadoras por serem exces sivamente próximas e íntimas Hoje em dia ao con trário as famílias são ameaçadoras por serem exces sivamente distantes e nãoenvolvidas Os pais estão muito distantes emocionalmente e preocupados de mais com as próprias necessidades narcísicas Em con seqüência eles são modelos menos do que satisfató rios de uma condição sadia de ser si mesmo e de relacionamentos interpessoais gratificantes A recep ção de reações empáticas de pessoas significativas é tão importante para a saúde do self como é a presença de oxigênio para a saúde do corpo Na análise de Ko hut os nossos medos mais profundos refletem não a ansiedade de castração ou os impulsos conflituais do id mas o potencial de perda dos objetos de amor O modelo de Kohut da personalidade originouse de suas tentativas de compreender as pessoas narci sicamente perturbadas Tais pessoas são deficientes em autocontrole e autoestima e Kohut traçou sua patologia até um senso de self traumaticamente dani ficado O modelo de self de Kohut é bipolar e os dois pólos têm ambição de poder e sucesso e metas e valo res idealizados Esses dois pólos estão ligados por um arco de tensão constituído pelos talentos e habilida des básicas do indivíduo Esse self bipolar se desenvol ve à medida que a criança interage com objetos do self ou com pessoas que são tão importantes que ela as incorpora como parte de si mesma Tal assimilação no self ocorre por um processo de internalização trans mutante em que a criança adota aqueles que são per cebidos como os aspectos desejáveis dos objetos do self O principal objeto do self durante os dois primei ros anos de vida tende a ser a mãe A mãe serve como um objeto espelhante do self quando confirma e admi ra empaticamente a força a saúde a grandeza e a condição da criança de ser especial Essa afirmação do agir e poder da criança contribui para a formação do pólo de ambição do self bipolar Mais tarde a mãe eou o pai servem como objetos do self idealizáveis ou idealizados que modelam perfeição poder força cal ma e cuidado Esses apegos ajudam a estabelecer o pólo de metas e os valores idealizados do self Observem que a questãochave durante esse pro cesso não é a satisfação pulsional mas a presença ou a ausência de relacionamentos empáticos e amoro sos Um espelhamento e uma idealização sadios pro duzem o tipo ideal de personalidade a pessoa com um self autônomo Essas pessoas se caracterizam por níveis sadios de autoestima e por relacionamentos interpessoais mutuamente gratificantes A exposição a objetos do self deficientes produz crianças com um self nãocoeso vazio ou danificado Kohut Kohut Wolf 1978 descreveu quatro instâncias prototípicas desses fracassos o self subestimulado caracteriza uma pessoa entorpecida e vazia que pode buscar sensa ções e abusar de substâncias Essa síndrome se desen volve quando os objetos do self habitualmente dei xam de oferecer espelhamento e idealização O self fragmentado é inseguro frágil e com autoestima bai xa Esse tipo de self se desenvolve quando os objetos do self infligem humilhações e feridas narcísicas à cri ança O self superestimulado desenvolve fantasias ir realistas de grandeza em conseqüência de objetos do self que foram excessivamente indulgentes em seu espelhamento Essas pessoas evitam situações em que poderiam ser o centro das atenções Finalmente as pessoas com um self sobrecarregado percebem o mun do como um lugar hostil e perigoso Essa atitude re flete objetos do self que fracassaram em seu papel ide alizável de modelar força e calma Para Kohut a principal meta desenvolvimental e terapêutica era substituir o self fragmentado por um self coeso em contraste com a meta de Freud de subs tituir o id pelo ego Além disso são as ambições os ideais e a autoestima que funcionam como as forças 160 HALL LINDZEY CAMPBELL motivacionais primárias em nossa vida Tal posição está consideravelmente distante da psicanálise clássi ca de Sigmund Freud Conforme descreveu Westen 1990 existem áreas importantes de controvérsia entre os teóricos da psicanálise clássica e os teóricos das relações objetais do self Primeiro os teóricos das relações objetais dispensaram amplamente o mo delo da pulsão instintual Os seres humanos são vis tos como buscando objetos não prazer Segundo a correspondência entre o self e o modelo estrutural freu diano de id ego e superego não está nem um pouco clara Terceiro a coesão do self é inconsistente com as noções psicanalíticas fundamentais de conflito e com promisso as dificuldades nas relações objetais não se reduzem facilmente a conflitos entre desejos sexuais ou agressivos e proibições do superego A FUSÃO DA PSICANÁLISE E DA PSICOLOGIA A psicanálise e a psicologia tiveram um background comum na ciência do século XIX mas permaneceram independentes por muitos anos em virtude de seus interesses diferentes Em seus primeiros anos a psi cologia estava preocupada em investigar os elemen tos e os processos da consciência A sensação a per cepção a memória e o pensamento eram os tópicos que mais a interessavam A psicanálise por outro lado era uma psicologia do inconsciente seus interesses estavam nas áreas de motivação emoção conflito sintomas neuróticos sonhos e traços de caráter Além disso a ciência da psicologia cresceu em um ambien te acadêmico e de laboratório enquanto a psicanálise cresceu em um ambiente clínico Portanto os repre sentantes das duas disciplinas tiveram pouco contato uns com os outros Gradualmente a lacuna entre as duas disciplinas começou a diminuir e após a Segunda Guerra Mun dial a interpenetração da psicologia e da psicanálise cresceu em um ritmo acelerado Shakow e Rapaport 1964 e Hall e Lindzey 1968 discutiram as razões da aproximação entre elas Por um lado a psicanáli se que Freud sempre considerou um ramo da psico logia passou a interessarse mais pelo comportamen to normal culminando na criação de uma psicologia do ego A extensão em que progrediu a psicologiza ção da psicanálise é indicada pelo título do livro de ensaios em homenagem ao pai da psicologia do ego Heinz Hartmann Psychoanalysis a general psycholo gy Psicanálise uma psicologia geral Loewenstein e colaboradores 1966 Rotular a psicanálise de uma psicologia geral vai além da afirmação de Freud de que ela era uma parte mas não o todo da psicologia A psicologia por sua vez começou a interessar se pela motivação e pela personalidade e o campo da psicologia clínica floresceu durante e após a Segunda Guerra Mundial Os psicólogos encontraram na psi canálise muitos ensinamentos que eram relevantes para seus novos interesses Mesmo antes da guerra alguns psicólogos como Kurt Lewin e Henry Murray realizaram pesquisas empíricas relacionadas à psica nálise e em parte inspiradas por ela Durante a déca da de 30 os esforços feitos por psicólogos como Neal Miller Hobart Mowrer e Robert Sears para aproximar a teoria do reforço de Hull e alguns aspectos da psica nálise colocaram mais experimentalistas em contato com as concepções freudianas da personalidade Do lado teórico David Rapaport 1959 1960 criou um modelo conceitual da psicanálise estreita mente entrelaçado com vários conceitos psicológicos tradicionais De fato Rapaport foi uma das figuras chave na crescente interpenetração entre a psicanáli se e a psicologia Klein Erikson e outros reconhece ram a grande influência de Rapaport sobre seu pensamento Os simpósios incluindo psicólogos e psi canalistas interessados em examinar as relações mú tuas entre os dois campos também foram úteis para reduzir a lacuna de comunicação Bellak 1959 FrenkelBrunswik e colaboradores 1954 Pumpian Mindlin 1952 Um dos fatores mais importantes nessa aproxi mação certamente foi a oportunidade oferecida aos psicólogos de obter uma formação competente em psi canálise com psicanalistas qualificados Nos anos se guintes à Segunda Guerra Mundial os institutos psi canalíticos e locais como a Clínica Menninger em Topeka Kansas e o Centro Austen Riggs em Stock bridge Massachusetts abriram suas portas a um sele to grupo de psicólogos pósgraduados Antes disso a formação psicanalítica só era possível para pessoas com diploma em medicina Pelo menos esse era o caso nos Estados Unidos A monopolização da psica nálise pela profissão médica é uma ironia em vista do fato de que o próprio Freud se opunha energicamente TEORIAS DA PERSONALIDADE 161 à psicanálise se tornar exclusivamente uma especiali dade médica e defendia vigorosamente uma política de portas abertas na formação de psicanalistas 1926a Muitos dos primeiros psicanalistas não eram médicos Os psicólogos que fizeram formação psicanalítica voltaram às universidades podendo oferecer aos alu nos um entendimento melhor e mais favorável da psi canálise Eles também iniciaram programas de pes quisa com uma orientação psicanalítica Também não devemos ignorar o papel do Instituto Nacional de Saú de Mental do Departamento de Saúde Educação e Previdência Social Esse instituto doou grandes somas de dinheiro para o treinamento e a pesquisa na psico logia de orientação psicanalítica Sem esse apoio fi nanceiro talvez não tivesse ocorrido um progresso tão grande na união desses dois campos George Klein George Klein pode ser tomado como um exemplo dos psicólogos que nos anos pósguerra combinaram uma formação tradicional em psicologia com um treina mento em psicanálise Esses indivíduos trouxeram para a psicanálise os valores da experimentação e da quan tificação em laboratório e um respeito pela constru ção das teorias assim como uma sólida base nos pro cessos cognitivos Eles receberam da psicanálise a orientação teórica e os insights sobre a pessoa que es tavam faltando em seu background educacional A psicanálise já não é mais considerada estranha à psi cologia acadêmica em grande parte devido aos esfor ços pioneiros desses psicólogos Klein graduouse em psicologia na Universidade de Colúmbia onde fez investigações experimentais sobre o comportamento animal e a percepção huma na áreas altamente respeitáveis da psicologia Depois de ser dispensado da Força Aérea em 1946 ele foi para a Clínica Menninger um dos poucos lugares nos Estados Unidos onde os psicólogos podiam obter um treinamento psicanaliticamente orientado em psico logia clínica Como muitos outros psicólogos daquele período Klein submeteuse a uma psicanálise pessoal e mais tarde formouse no Instituto Psicanalítico de Nova York Mas a sua principal identificação conti nuou sendo com a psicologia Como professor de psi cologia e um dos fundadores do Centro de Pesquisa em Saúde Mental da Universidade de Nova York Klein em colaboração com outros psicólogos e alunos de graduação conduziu um programa de pesquisa sobre tópicos profundamente influenciados pelo pensamento psicanalítico Em 1959 Klein começou a publicação de uma série de artigos Psychological Issues que ofe recia um fórum para a apresentação de achados de pesquisa e de questões teóricas relevantes para a psi canálise Foram quatro as principais contribuições de Klein à fusão da psicologia com a psicanálise Primeiro ele e seus colaboradores demonstraram que hipóteses cli nicamente derivadas podiam ser investigadas em la boratório sob condições rigorosamente controladas Segundo ele e seus colaboradores ofereceram aos candidatos a doutorado em psicologia interessados na psicanálise a oportunidade de realizarem seus estu dos em um ambiente orientado para a pesquisa Ter ceiro por ele ser um membro reconhecido e aceito da psicologia tradicional os textos de Klein ajudaram a diminuir a hostilidade que muitos psicólogos sentiam em relação ao que consideravam uma psicanálise não científica Finalmente Klein fez contribuições impor tantes à teoria psicanalítica contribuições que tam bém ajudaram a tornar a teoria mais aceitável para os psicólogos Como dissemos anteriormente Klein foi apenas um entre muitos psicólogos que se tornaram impor tantes para derrubar as barreiras entre a psicologia e a psicanálise Como mencionamos em outro capítulo Henry Murray e seus muitos alunos brilhantes em Harvard foram uma grande força talvez a maior na introdução da psicanálise dentro da psicologia acadê mica Mas Murray tinha formação médica e psicanalí tica e não era um psicólogo com formação tradicio nal Além disso ele criou uma teoria da personalidade que embora fortemente influenciada pela psicanáli se era uma teoria exclusivamente sua Por outro lado Klein e muitos como ele eram e continuaram sendo psicólogos apesar de seu treinamento em psicanáli se Eles não só se esforçaram para tornar a psicanálise mais científica mas também contribuíram para a ela boração e modificação da psicanálise clássica Eles não estavam preocupados em formular uma nova teoria Embora as atividades de pesquisa de Klein abran gessem várias áreas ele é mais conhecido por seus estudos sobre as diferentes maneiras como percebe mos uma situação lembramos um evento passado ou resolvemos um problema O nosso foco é o sujeito 162 HALL LINDZEY CAMPBELL que percebe e a maneira como ele organiza a experi ência Klein 1970 p 142 Em uma série de estudos perceptuais descobriu se que algumas pessoas empregavam a estratégia de nivelar suas percepções ao passo que outras em pregavam a estratégia de aguçar suas percepções Os niveladores comparados aos aguçadores por exemplo faziam piores estimativas dos tamanhos de quadrados que gradualmente aumentavam em tama nho Os niveladores tendiam a fazer a mesma estima tiva de tamanho para quadrados grandes e pequenos Eles não percebiam a diferença Os aguçadores varia vam em suas estimativas de modo que eram muito mais acurados Klein chamou essas estratégias de con troles ou atitudes cognitivas Em experimentos subse qüentes descobriuse que as pessoas se comportavam consistentemente em diferentes tipos de tarefa As pes soas niveladoras ao estimar o tamanho eram menos capazes de descobrir rostos escondidos em uma figu ra porque estavam menos conscientes do que as agu çadoras das diferenças na figura Essa consistência pessoal no uso de uma determinada estratégia é cha mada de estilo cognitivo Foram identificadas várias outras estratégias cognitivas Gardner e colaborado res 1959 Para Klein as necessidades os motivos as pul sões e as emoções não são os únicos processos que dirigem e controlam o comportamento Na verdade eles talvez nem sejam os mais importantes A manei ra como a estrutura cognitiva de uma pessoa é orga nizada o fato de ela ser uma niveladora ou uma agu çadora também dirige e controla o comportamento e assim ajuda a determinar sua efetividade na adapta ção ao mundo Embora Klein reconhecesse que sua pesquisa so bre os processos cognitivos era motivada pela teoria do ego de Hartmann e outros podemos salientar que esses estudos seguem mais a tradição da psicologia acadêmica do que a tradição da psicanálise Eles po deriam ter sido planejados e executados sem recorrer à teoria psicanalítica do ego Os psicólogos com formação psicanalítica não só fizeram investigações em laboratório das hipóteses freudianas mas também se empenharam em dissecar e reformular a teoria psicanalítica George Klein por exemplo dedicou os últimos anos de sua vida a sepa rar o que ele chamava de a teoria clínica da psicanáli se de sua metapsicologia Klein 1976 ver também Gill Holzman 1976 A metapsicologia se refere a especulações sobre a estrutura a dinâmica as origens e o desenvolvimento da personalidade A metapsico logia de Freud afirma Klein baseiase na concepção do ser humano da ciência natural Ela trata o indiví duo como um sistema biológico isto é um organis mo consistindo em estruturas id ego e superego carregadas de energias instintuais As energias nas diferentes estruturas entram em conflito umas com as outras catexia versus anticatexia resultando no acúmulo de tensões A meta do organismo é descarre gar as tensões e voltar a um estado de repouso Ao tentar atingir essa meta as energias instintuais so frem o que Freud chamou de vicissitudes de vários tipos incluindo repressão deslocamento projeção e formação reativa A metapsicologia na visão de Klein é impessoal e mecanicista A teoria clínica de Freud conforme descrita por Klein é uma teoria da pessoa ao invés de uma teoria do organismo Ela é pessoal e humanista Tenta com preender os problemas do indivíduo e interpretar sua experiência e seu comportamento em termos de suas metas intenções direções e propósitos Ela procura razões em vez de causas Klein acha que as duas teo rias a clínica e a metapsicológica devem ser clara mente diferenciadas o que em sua opinião Freud não fez porque apresentam visões bem diferentes do indivíduo A primeira é psicológica e humana mas a última é biológica e física De fato Klein descartaria totalmente a metapsicologia porque ela não tem ne nhum propósito útil para o psicólogo e pode ser in clusive um obstáculo ao entendimento adequado do indivíduo Uma vez que Freud foi repetidamente cri ticado por psicólogos por seu modelo despersonaliza do a rejeição de Klein da metapsicologia eliminou da teoria psicanalítica esse importante impedimento à sua aceitação pelos psicólogos Gill 1976 juntouse a Klein nesse empreendimento afirmando desafiado ramente que a metapsicologia não é psicologia Os outros psicólogos que contribuíram para a re formulação da teoria psicanalítica são Schafer 1976 e Holt 1976 Um dos mais influentes desse grupo foi Robert White Robert White White 1963a reuniuse aos psicólogos do ego ao propor não só que o ego tem sua própria energia in TEORIAS DA PERSONALIDADE 163 trínseca mas também que há satisfações intrínsecas do ego que são independentes do id ou de gratifica ções instintuais Notável entre essas satisfações autô nomas do ego está o senso de competência da pessoa ao realizar tarefas adaptativas Em um artigo imensamente influente White de finiu a competência como uma capacidade do orga nismo de interagir efetivamente com seu ambiente 1959 p 297 Ele prossegue argumentando que a motivação para obter competência não pode ser ex plicada pelas tradicionais teorias do drive Clark Hull ou do instinto Sigmund Freud Os modelos clássi cos de redução da pulsão funcionam bem para moti vos de sobrevivência como fome e sexo mas não são adequados para explicar a tendência de uma ampla variedade de organismos observada na década de 50 de se empenharem em comportamentos exploratóri os Diferentemente de outras pulsões o comportamen to exploratório não se relaciona a uma necessidade ou déficit orgânico não leva a uma resposta consu matória e parece trazer crescente excitação em vez de redução da excitação De maneira semelhante argu mentou White o impulso para a competência não se encaixa em modelos pulsionais ortodoxos A motivação para a competência também não se encaixa no modelo psicanalítico clássico de motiva ção instintual As abordagens psicológicas do ego como o instinto de dominar de Hendrick e as fun ções autônomas de Hartmann existindo em uma es fera livre de conflitos inicialmente parecem compa tíveis com a motivação para a competência mas as tentativas de explicação em termos de energias ins tintuais neutralizadas não são mais bemsucedidas do que as tentativas comportamentalistas ortodoxas de incluir a exploração como uma pulsão primária Mais uma vez as suposições necessárias de uma fonte so mática e de uma redução de tensão não correspon dem à realidade do fenômeno Em vez disso White propõe uma motivação distinta para se tornar compe tente baseada na necessidade intrínseca do organis mo de lidar com o ambiente 1959 p 318 e ele chama essa motivação de eficiência A motivação para a eficiência é deixada de lado quando as pulsões cuja satisfação é necessária para a sobrevivência exigem a atenção do organismo mas a motivação para a efici ência é persistente no sentido de que ocupa regular mente o tempo livre de vigília entre os episódios de crise homeostática 1959 p 321 Essa motivação é facilmente vista em crianças brin cando O brincar de uma criança pode ser compreen dido como a agradável tarefa de desenvolver uma familiaridade efetiva com seu ambiente Isso envolve descobrir os efeitos que ela pode ter sobre o ambiente e os efeitos que o ambiente pode ter sobre ela Na extensão em que esses resultados são preservados pela aprendizagem vão criando uma crescente competên cia no manejo do ambiente O brincar da criança pode portanto ser visto como um ato muito sério 1959 p 321 A aplicação mais compelidora do modelo de efici ência de White é sua tentativa de reconceitualizar os estágios freudianos psicossexuais de desenvolvimen to White 1960 ergue duas objeções ao modelo de estágio freudiano Primeiro o modelo de libido de Freud é inadequado para explicar o desenvolvimento emocional das crianças Observem que White não está rejeitando o modelo de Freud mais propriamente ele está argumentando que a libido aumenta devido ao desenvolvimento do senso de competência da crian ça Isto é os aspectoschave do desenvolvimento só podem ser compreendidos da perspectiva das mudan ças na competência real da criança e em seu senso subjetivo de competência Esse senso subjetivo de com petência é conceitualizado como o produto cumula tivo da nossa história de eficácias e ineficácias 1960 p 103104 cf a história de reforço de Skinner discu tida no Capítulo 12 Segundo os protótipos desen volvimentais freudianos i e o bebê no seio a crian ça no banheiro a criança fálica preocupada com impulsos genitais em relação aos pais e o adulto ma duro preocupado com relacionamentos heterossexu ais mesmo quando traduzidos em termos interpes soais mais contemporâneos oferecem modelos inadequados de desenvolvimento Considerem o estágio oral freudiano White con corda que se alguém está determinado a usar um único modelo para tudo o que acontece durante o primeiro ano o modelo da criança que se alimenta é claramente a escolha adequada 1960 p 112 Mas esse modelo único não pode explicar outros compor tamentos como o brincar e o crescente interesse da criança por alimentarse a si mesma Na verdade a maioria dos pais vaise divertir com a descrição de Gesell da perigosa jornada da colher quando a cri ança tenta levála do prato à boca Se a gratificação oral fosse a única questão as crianças não tentariam 164 HALL LINDZEY CAMPBELL interferir ou assumir o controle quando os adultos querem alimentálas Mas as crianças realmente ten tam assumir o controle dessa função e aparentemen te adoram fazer isso O brincar e a crescente auto confiança são inexplicáveis de um ponto de vista libidinal mas são inteiramente consistentes com um modelo de competência que enfatiza o que a criança ganha de suas interações cada vez mais efetivas com o ambiente Em resumo a versão psicossexual do es tágio oral representa uma lamentável supergenerali zação de uma essência muito boa 1960 p 113 e White propõe que empreguemos modelos complemen tares oral e de competência Da mesma forma White sugere que o negativis mo da criança nos terríveis dois anos deve ser com preendido como uma crise intrínseca no desenvolvi mento da competência social não como um deslocamento de problemas no treinamento esfincte riano Os adultos muitas vezes se impressionam com as tentativas das crianças de dois ou três anos de fa zer as atividades sozinhas chegando a ficar zangadas quando um adulto demonstra a maneira certa de fazêlas ou com as crianças que se negam a atender aos pedidos dos pais de compartilhar Para White es sas tentativas de estabelecer autonomia são mais bem compreendidas como manifestações da motivação para estabelecer competência do que como derivados do treinamento esfincteriano Observem como essa orientação é consistente com o foco de Adler nas cres centes tentativas da criança de compensar sentimen tos de inferioridade ver Capítulo 4 White reconhece prontamente a qualidade cla ramente sexual de algumas das atividades e interes ses da criança durante aquele que Freud chamou de estágio fálico mas ele não vê a sexualidade como a única questão nesse estágio Muitas das questões são fundamentalmente assexuais A linguagem a ação a imaginação e a iniciativa são de importância intrínse ca para a criança nesse estágio e essas preocupações devem ser compreendidas em termos da busca da cri ança de um senso maior de competência Na verdade White está mais preocupado com a competência e suas vicissitudes do que com os instintos de Freud e suas vicissitudes Além disso o protótipo freudiano repre senta uma situação sem esperança para a criança pois os pais inevitavelmente prevalecem no conflito edípi co assim como inevitavelmente triunfam no embate sobre o treinamento esfincteriano White rejeitava a suposição de Freud de que o período de latência é um momento de tranqüilidade sexual Dessa vez quase podemos dizer que Freud subestimou a importância do sexo 1960 p 127 Além disso o fato de Freud agrupar de seis a oito anos da vida da criança em um período relativamente sem importância obscurece numerosos eventos signi ficativos Muitos desses eventos tais como as exigên cias de produtividade e os relacionamentos interpes soais que acompanham o ingresso na escolarização formal refletem e influenciam o emergente senso de competência da criança Os resíduos dos estágios pré genitais podem ser consolidados ou alterados por even tos durante esse período e a força de ego do adulto é grandemente afetada pelos eventos dessa época importante Em uma clássica declaração abrandada White conclui O tratamento dado por Freud ao pe ríodo de latência não foi uma de suas aventuras mais felizes 1960 p 127 A esta altura o leitor provavelmente está anteci pando a avaliação que White faz do estágio genital Para Freud as ações e as escolhas objetais durante a idade adulta são amplamente reexpressões de confli tos e de impulsos infantis Ao contrário White consi derava reais os problemas da adolescência e da idade adulta Em parte White atribuiu essa perspectiva às suas preferências ocupacionais Minha vida profissional se passa entre adoles centes cujos problemas sexuais e relações sociais em geral não são esmagadores Nós conversamos sobre seus planos de estudo suas capacidades e limitações suas lutas com assuntos que precisam ser aprendidos e com habilidades que precisam ser conquistadas suas tendências profissionais planos de carreira e preocupações com a socie dade moderna como o cenário de seus futuros empreendimentos Nós falamos em outras pala vras principalmente sobre sua competência e eu não acredito que o entendimento seria maior in terpretandose essas preocupações como desloca mentos de pulsões instintuais mecanismos de defesa ou relações interpessoais Elas são reais 1960 p 134 Além disso White levava a sério a máxima de Freud de que o indivíduo maduro é capaz de amar e traba lhar mas não conseguia entender o último em ter mos do primeiro Infelizmente o turbilhão do orgas TEORIAS DA PERSONALIDADE 165 mo que envolve o clímax é um modelo completa mente errado para o trabalho 1960 p 135 Em resumo White argumenta persuasivamente que o modelo libidinal de Freud deve ser suplementa do por um modelo de competência Nós devemos tentar ser tão perspicazes ao detectar as vicissitudes do senso de competência como Freud foi com a sexu alidade a agressão e a defesa 1960 p 137 Além de seu apelo intuitivo nós percebemos vínculos entre o modelo de competência de White e outras posições teóricas Encontraremos novamente a noção de com petência quando discutirmos o princípio de domínio e competência de Gordon Allport ver Capítulo 7 e especialmente quando apresentarmos o constructo de autoeficácia mais situacionalmente específico de Albert Bandura ver Capítulo 14 ERIK H ERIKSON HISTÓRIA PESSOAL A escolha de Erik H Erikson como a figura central neste capítulo sobre a teoria psicanalítica contempo rânea é uma escolha óbvia Nenhuma outra pessoa depois da morte de Sigmund Freud trabalhou tão conscienciosamente para elaborar e ampliar a estru tura da psicanálise estabelecida por ele e para refor mular seus princípios para um entendimento do mun do moderno O mundo muda e a menos que as teorias acompanhem essas mudanças elas eventualmente se tornam estagnadas e irrelevantes Só precisamos ler Freud cronologicamente para ver como suas idéias acompanharam a evolução dos tempos Após a morte de Freud Erikson mais do que qualquer outra pessoa discutida neste capítulo cumpriu essa função Ele in suflou uma nova vida na teoria psicanalítica Duas citações de Childhood and Society 1950 1963 indicam como a versão de Erikson da psicaná lise avançou além da de Freud A primeira revela como Erikson reconceitualizou o instinto freudiano Os ins tintos inatos do homem são fragmentos pulsionais que precisam ser reunidos receber significado e ser orga nizados durante uma infância prolongada por meio de métodos de treinamento e de escolarização da cri ança que variam de cultura para cultura e são deter minados pela tradição 1963 p 95 Isto é os seres humanos chegam com um equipamento instintivo mínimo e esses instintos são extremamente variá veis e extraordinariamente plásticos 1963 p 95 96 A segunda citação revela quanto Erikson consi derou as mudanças no mundo durante os 50 anos decorridos entre a publicação de A Interpretação dos Sonhos 1900 e Childhood and Society 1950 Eu enfoquei o problema da identidade de ego e seu ancoramento em uma identidade cultural por sentir que ela é aquela parte do ego que no final da adolescência integra os estados infantis de ego e neutraliza a autocracia do superego infantil o paciente de hoje sofre muito com o problema que consiste em que deveria acreditar e quem ele deveria ou na verdade poderia ser ou tornar se enquanto o paciente da psicanálise inicial so fria muito com as inibições que o impediam de ser quem ele achava que sabia que era O estu do da identidade então tornase tão estratégico na nossa época como o estudo da sexualidade foi na época de Freud Os achados de Freud refe rentes à etiologia sexual da parte neurótica de uma perturbação mental são tão verdadeiros para os nossos pacientes como eram para os dele assim como a carga da perda de identidade que se des taca em nossas considerações provavelmente pe sava sobre os pacientes de Freud tanto quanto pesa sobre os nossos como mostrariam as reinterpre tações Portanto os períodos diferentes nos per mitem ver em um exagero temporário diferen tes aspectos de partes da personalidade essen cialmente inseparáveis p 279283 Alguns críticos podem dizer que as elaborações de Erikson se desviam tão nitidamente da forma e do espírito da psicanálise que não se incluem na tradição freudiana Mas nós pretendemos fazer uma compara ção exaustiva das idéias de Erikson com as de Freud para determinar se ele é ou não um verdadeiro freu diano Essa questão de qualquer maneira é uma ques tão trivial O leitor pode encontrar se desejar uma versão das diferenças entre Erikson e Freud em Roa zen 1976 Independentemente do que os outros possam dizer Erikson se considerava um psicanalista freudiano Treinado em psicanálise em sua própria raiz Viena analisado por Anna Freud psicanalista com 166 HALL LINDZEY CAMPBELL longos anos de prática membro das organizações ofi ciais da psicanálise e psicanalista didata por 35 anos Erikson sentia que suas idéias estavam consoantes com a doutrina básica da psicanálise estabelecida por Freud Se Erikson tivesse de ser identificado por al gum nome ele provavelmente preferiria ser chamado de pósfreudiano As contribuições mais significativas de Erikson se incluem sob dois aspectos 1 uma teoria psicosso cial do desenvolvimento da qual emerge uma con cepção ampliada do ego e 2 estudos psicohistóri cos que exemplificam sua teoria psicossocial nas vidas de indivíduos famosos É importante que o leitor tenha em mente o que quer dizer psicossocial quando usado junto com de senvolvimento Significa especificamente que os está gios de vida de uma pessoa do nascimento até a mor te são formados por influências sociais interagindo com um organismo que está amadurecendo física e psicologicamente Nas palavras de Erikson existe um mútuo ajuste entre o indivíduo e o ambiente isto é entre a capacidade do indivíduo de se relacionar com um espaço de vida de pessoas e de instituições em constante expansão por um lado e por outro a pron tidão dessas pessoas e instituições em tornálo parte de uma preocupação cultural contínua 1975 p 102 Erik H Erikson TEORIAS DA PERSONALIDADE 167 Erikson não pretendia que sua teoria psicossocial substituísse a teoria psicossexual de Freud nem a teo ria de desenvolvimento cognitivo de Piaget Erikson reconheceu que eles estavam preocupados com ou tros aspectos do desenvolvimento O leitor deve ob servar que embora as teorias de Freud e de Piaget parem antes da idade adulta como a teoria interpes soal de Sullivan do desenvolvimento ver Capítulo 4 a de Erikson vai até a velhice Devemos observar que o esquema de Erikson como os de Freud Piaget e Sullivan é uma teoria de estágios Isso significa que existem idades mais ou menos definidas em que apa recem novas formas de comportamento em resposta a novas influências sociais e maturacionais Nem to das as teorias de desenvolvimento são necessariamente teorias de estágios A teoria do condicionamento ope rante de Skinner por exemplo supõe que o desenvol vimento é contínuo ao invés de ocorrer em etapas Erikson acreditava que sua história pessoal de vida tinha muita relação com o desenvolvimento de sua perspectiva teórica Ele aparentemente experienciou muitos dos conflitos confusões e crises sobre os quais escreveu mais tarde Sua vida e obra foram tema de dois livros O primeiro deles é de Robert Coles 1970 um antigo colega e grande admirador de Erikson O outro é de Paul Roazen 1976 mais crítico em sua análise Erikson referese à sua história de vida em alguns de seus textos Nascido em Frankfurt Alemanha em 15 de ju nho de 1902 de pais dinamarqueses a família de sua mãe era judia Erikson nunca conheceu seu pai verdadeiro pois seus pais se separaram antes de ele nascer Sua mãe casouse com um pediatra Dr Hom burger que adotou Erikson e cujo nome Erikson pas sou a usar Foi só bem mais tarde em 1939 quando se tornou um cidadão americano que Erikson adotou o nome pelo qual é conhecido Erik Homburger Eri kson Ao concluir seu curso secundário Erikson estava em dúvida sobre o que queria fazer Como muitos outros jovens alemães da época ele passou um ano viajando pela Europa em busca de inspiração ou de orientação sobre o que deveria fazer profissionalmen te Ele finalmente optou por arte para a qual tinha talento e inclinação Nesse ponto de sua vida estava então com 25 anos aconteceu um fato que iria mo dificála drasticamente Ele foi convidado para ensi nar em uma pequena escola particular de Viena Essa escola tinha sido criada para crianças que estavam em psicanálise ou para filhos de pais que estavam sen do psicanalisados Era uma escola progressista e os professores e os alunos tinham completa liberdade para desenvolver o currículo Erikson ficou tão inte ressado na educação das crianças que se matriculou e formouse em uma escola que treinava professores no método Montessori O método Montessori enfatiza o desenvolvimento da iniciativa da criança por meio do brincar e do trabalho Essa experiência teve uma in fluência definitiva sobre Erikson Uma influência ainda mais profunda foi sua ine vitável exposição à psicanálise Ele passou a relacio narse com o círculo de Freud submeteuse a uma análise didática com Anna Freud e estudou psicanáli se no Instituto Psicanalítico de Viena no qual se for mou em 1933 Ele agora encontrara sua identidade profissional Enquanto estudava psicanálise e ensinava na es cola Erikson casouse com Joan Serson uma dança rina canadense e sua colega na escola Eles decidiram mudarse para a Dinamarca Quando isso não funcio nou satisfatoriamente eles foram para os Estados Unidos estabelecendose em Boston em 1933 Erik son tornouse o primeiro psicanalista infantil daquela cidade Ele também recebeu um cargo na Escola de Medicina de Harvard e trabalhou como consultor para várias agências Enquanto estava em Boston Erikson fez pesquisas com Henry A Murray na Clínica Psico lógica de Harvard Depois de três anos em Boston Erikson aceitou um cargo no Instituto de Relações Humanas da Universidade de Yale e passou a dar au las na Escola de Medicina Em 1938 um convite para observar crianças índias na reserva Sioux em Dakota do Sul mostrouse irresistível Em 1939 Erikson foi para a Califórnia onde ingressou no Institute of Child Welfare da Universidade da Califórnia em Berkeley que estava realizando um estudo longitudinal em gran de escala do desenvolvimento da criança Ele também retomou seu trabalho como psicanalista reservando um tempo para observar os índios Yurok da Califór nia do Norte Durante esses anos na Califórnia Erikson escre veu seu primeiro livro Childhood and Society 1950 edição revisada 1963 Esse livro teve um impacto imediato e importante Apesar de Erikson ter publica do outros nove livros desde então Childhood and So ciety geralmente é considerado o mais significativo 168 HALL LINDZEY CAMPBELL porque apresenta os temas que preocupariam Erikson pelo resto da vida Após demitirse de seu cargo de professor na Uni versidade da Califórnia como protesto contra um ju ramento especial de lealdade exigido dos membros da faculdade esse juramento foi mais tarde declara do inconstitucional Erikson ingressou no Centro Aus ten Riggs em Stockbridge Massachusetts um centro importante de residência em psiquiatria Em 1960 Erikson foi nomeado professor em Harvard onde seu curso sobre o ciclo vital era muito popular entre os alunos Erikson aposentouse em 1970 e mudouse para um subúrbio de San Francisco Os Erikson volta ram para Massachusetts em 1987 depois da funda ção em Cambridge do Centro Erik Erikson Erikson morreu em 12 de maio de 1994 em Harwich Massa chusetts ver Hopkins 1995 Passemos agora a uma discussão das formulações teóricas de Erikson A TEORIA PSICOSSOCIAL DO DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento como salientamos avança em estágios oito ao todo segundo o esquema de Erik son Os primeiros quatro estágios ocorrem durante o período de bebê e da infância e os três últimos du rante os anos adultos e a velhice Nos textos de Erik son é dada uma ênfase especial ao período da ado lescência pois é nele que se faz a transição da infância para a idade adulta O que acontece durante esse es tágio é da maior importância para a personalidade adulta Identidade crises de identidade e confusão de identidade são indubitavelmente os conceitos mais conhecidos de Erikson Esses estágios consecutivos devemos observar não seguem um esquema cronológico rígido Erikson acha va que cada criança tinha seu próprio ritmo cronoló gico e que seria enganador especificar uma duração exata para cada estágio Além disso um estágio não é atravessado e então deixado para trás Em vez disso cada estágio contribui para a formação da personali dade total Nas palavras de Erikson tudo que cresce tem um plano básico e desse plano básico surgem as partes cada parte tendo seu momento de ascen dência especial até que todas elas tenham surgido para formar o todo que funciona 1968 p 92 Isso é conhecido como o princípio epigenético um termo tomado emprestado da embriologia Ao descrever os oito estágios do desenvolvimento psicossocial nós reunimos e parafraseamos materiais de quatro fontes Em Childhood and Society 1950 1963 e mais tarde em Identity Youth and Crisis 1968 Erikson apresentou os estágios em termos da qualidade básica de ego que emerge durante cada es tágio Em Insight and Responsibility 1964 ele discu tiu as virtudes ou forças do ego que aparecem em es tágios sucessivos Em Toys and Reasons 1976 ele descreveu a ritualização peculiar a cada estágio Por ritualização Erikson se referia a uma maneira lúdica e culturalmente padronizada de fazer ou experienci ar alguma vivência na interação cotidiana dos indiví duos O propósito básico dessas ritualizações é trans formar o indivíduo que está amadurecendo em um membro efetivo e conhecido de uma comunidade Infelizmente as ritualizações podem tornarse rígidas e pervertidas e transformarse em ritualismos A mais recente síntese de Erikson sobre os estági os foi apresentada em O Ciclo de Vida Completo 1985 Dois gráficos dessa publicação servem como um bom resumo dos estágios O primeiro ver Figura 51 adi ante descreve as características e as conseqüências mais importantes de cada estágio O estudante deve consultálo ao ler as seguintes descrições O núcleo de cada estágio é uma crise básica representando o desafio que o contato com uma nova faceta da socie dade traz para o ego em desenvolvimento Por exem plo o ingresso da criança na escola durante o quarto estágio garante que ela vai enfrentar a questão da di ligência versus inferioridade bem como um novo com plexo de agentes sociais Portanto os estágios descri tos por Erikson são psicossociais em contraste com os estágios psicossexuais descritos por Freud O segundo gráfico ver Figura 52 p 170 pre tende mostrar a questão importante mas freqüente mente ignorada de que a crise básica que constitui o núcleo de cada estágio não existe só durante aquele estágio Cada crise é mais relevante durante um está N de T Joan Erikson esposa e colaboradora mais íntima de Erik son revisou seu livro O Ciclo de Vida Completo Erik Erikson Artes Médicas 1998 acrescentando um nono estágio o da velhice avan çada que passa a ter uma importância crescente à medida que a longevidade humana aumenta TEORIAS DA PERSONALIDADE 169 A fe ee Patologia Principios Estagios e central relacionados modos Crises Raio de relacdes Forcas antipatias de ordem Ritualizagoes Estagios psicossexuais psicossociais significativas basicas basicas social de uniao Ritualismo Periodo de Oralrespiratorio Confianga Pessoa maternal Esperanga Retraimento Ordem Numinosas Idolismo bebé corporalcinesté basica vs cosmica sico desconfianga modos basica incorporativos Il Infancia Analuretral Autonomia vs Pessoais Vontade Compulsao Lei e Judiciosas Legalismo inicial muscular vergonha parentais ordem retentivo duvida eliminativo Ill Idade do Infantilgenital Iniciativa Familia basica Propésito Inibigao Prototipos Dramaticas Moralismo brincar locomotor vs ideais intrusivo culpa inclusivo IV Idade Laténcia Diligéncia vs Vizinhanga Competéncia Inércia Ordem Formais Formalismo escolar inferioridade escola tecnoldgica Técnicas V Puberdade Identidade vs Grupo de iguais Fidelidade Reptdio Visdo de Ideolégicas Totalismo Adolescéncia confusao de e outros grupos mundo identidade modelos de ideoldgica lideranga VI Idade Genitalidade Intimidade vs Parceiros de Amor Exclusividade Padroes de Associativas Elitismo adulta jovem isolamento amizade sexo cooperacao competicao e cooperacao competicao VII Idade Procriatividade Generatividade Trabalho dividido Cuidado Rejeicao Correntes Geracionais Autoritarismo adulta vs estagnacgao e familia e lar de educagao compartilhados e tradicdo VIII Velhice Generalizacao Integridade vs Género humano Sabedoria Desdém Sabedoria Filosdficas Dogmatismo de modos desespero Meu género sensuais FIGURA 51 Resumo dos ocito estagios Reimpressa com a permissdo de Erikson 1985 p 3233 gio especifico mas tem raizes em estagios prévios e mentarse confortavelmente e de excretar de forma conseqtiéncias em estagios subseqtientes Por exem relaxada A cada dia a medida que suas horas de vigi plo a identidade versus a confusdo de identidade éa lia aumentam o bebé vaise familiarizando com ex crise definidora da adolescéncia mas a formacdo da periéncias sensuais e essa familiaridade coincide com identidade comeca nos primeiros quatro estagiose 0 um senso de bemestar As situacdes de conforto e as senso de identidade negociado durante a adolescén pessoas responsaveis por tais confortos tornamse fa cia evolui durante e influencia os trés estagios finais miliares e identificdveis para o bebé Devido a confi Em conseqiiéncia os espacos vazios na Figura 52 anca do bebé e a familiaridade com a pessoa mater na verdade nao estao vazios e consideralos vazios é nal ele atinge um estado de aceitacéo em que essa compreender mal a natureza dos estagios de Erikson pessoa pode ausentarse por um momento Essa reali Vamos agora examinar cada estagio individualmente zacdo social inicial por parte do bebé é possivel por que ele esta desenvolvendo uma certeza e uma confi anca internas de que a pessoa maternal retornara As rotinas diarias a consisténcia e a continuidade no Il CONFIANGA BASICA VERSUS ambiente do bebé proporcionam a primeira base para DESCONFIANCA BASICA um senso de identidade psicossocial Pela continuida de de experiéncias com adultos 0 bebé aprende a A confianca basica mais inicial se estabelece durante depender deles e a neles confiar mas talvez ainda o estagio oralsensorial e é demonstrada pelo bebé mais importante ele aprende a confiar em si mesmo em sua capacidade de dormir pacificamente de ali Essa seguranca vai contrabalancar a parte negativa 170 HALL LINDZEY CAMPBELL Integridade Velhice de vill esespero desgosto gosto SABEDORIA Idade adulta Generatividade VII vs estagnacgao CUIDADO Idade adulta intimidade jovem VI isolamento AMOR Identidade Adolescéncia Vso Vv confusdo de identidade FIDELIDADE Diligéncia vs Wdade escolar inferioridade COMPETENCIA Idade do brincar Iniciativa vs m culpa PROPOSITO Autonomia Infancia inicial WS I vergonha duvida VONTADE Confianga Periodo de bebe DAsica vs esconfianga basica ESPERANCA 1 2 3 4 5 6 7 8 FIGURA 52 Seqiléncia dos oito estagios Reimpressa com a permissdo de Erikson 1985 p 5657 da confianca basica a saber a desconfianca basica cao para novas esperancas Simultaneamente ele de que em principio é essencial para o desenvolvimen senvolve a capacidade de abandonar as esperancas to humano frustradas e antever expectativas em futuras metas e A razao adequada de confianca e de desconfianca perspectivas Ele aprende quais esperancas estao den resulta na ascendéncia da esperanca A esperancaé a tro da esfera do possivel e dirige suas expectativas de virtude inerente ao estado de estar vivo mais primiti acordo com isso Conforme amadurece ele descobre va e a mais indispensavel Erikson 1964 p 115 que as esperancas que outrora eram altas prioridades Os fundamentos da esperanga estado nas relacdes ini foram superadas por um nivel mais elevado de espe ciais do bebé com os progenitores maternais dignos de rancas mais avancadas Erikson afirmou A esperan confianca que dao respostas as suas necessidades e ca 6a crenca duradoura na possibilidade de se atingir proporcionam experiéncias satisfatorias como tranqiti desejos fervorosos apesar dos sombrios impulsos e lidade nutricao e carinho Todas as confirmacées de das furias que assinalam o inicio da existéncia 1964 esperanca originamse no mundo maecrianca Por p 118 meio de um crescente numero de experiéncias em que O primeiro estagio da vida 0 periodo de bebé é 0 a esperanca do bebé é confirmada ele recebe inspira estagio da ritualizacao de uma divindade O que Erik TEORIAS DA PERSONALIDADE 171 son queria dizer com isso é o senso do bebê da pre sença abençoada da mãe que o olha segurao tocao sorri para ele alimentao diz seu nome e de outra forma reconheceo Essas repetidas interações são altamente pessoais e ainda culturalmente ritualiza das O reconhecimento do bebê pela mãe afirma e certifica o bebê e sua mutualidade com a mãe A falta de reconhecimento pode causar alienação na perso nalidade do bebê um senso de separação e abandono Cada um dos estágios iniciais estabelece uma ri tualização que continua na infância e aí contribui para os rituais da sociedade A forma pervertida do ritual da divindade materna se expressa na vida adulta pela idolatria de um herói ou idolismo II AUTONOMIA VERSUS VERGONHA E DÚVIDA Durante o segundo estágio da vida o estágio anal muscular no esquema psicossexual a criança apren de o que se espera dela quais são seus privilégios e obrigações e quais são as limitações que precisa acei tar O desejo da criança de experiências novas e mais orientadas para atividades dá lugar a uma necessida de dupla uma necessidade de autocontrole e uma necessidade da aceitação do controle de outras pes soas no ambiente Para subjugar a teimosia da crian ça os adultos utilizarão a propensão humana à ver gonha universal e necessária embora encorajem a criança a desenvolver um senso de autonomia e a even tualmente afirmar sua independência Os adultos que exercem controle também precisam ser firmemente reasseguradores A criança deve ser encorajada a ex perienciar situações que exigem a livre escolha autô noma A vergonha excessiva só vai induzir a criança ao descaramento ou obrigála a tentar escapar impu nemente sendo fechada dissimulada e furtiva Esse é o estágio que promove a liberdade da autoexpressão e a amorosidade Um senso de autocontrole produz na criança um duradouro sentimento de boa vontade e orgulho um senso de perda do autocontrole por outro lado pode causar um sentimento permanente de vergonha e dúvida A virtude da vontade emerge durante o segundo estágio da vida A vontade própria treinada e o exem plo de vontade superior apresentado pelos outros são as duas origens da virtude da vontade A criança apren de consigo mesma e com os outros o que é esperado e esperável A vontade é responsável pela gradual acei tação da criança daquilo que é lícito e necessário Os elementos da vontade são gradualmente aumentados pelas de experiências que envolvem consciência e aten ção manipulação verbalização e locomoção A von tade é a força crescente de fazer escolhas livres de decidir de exercer a autocontenção e concentrarse Erikson chamou a ritualização desse estágio de judiciosa porque a criança começa a julgar a si mes ma e os outros e a diferenciar o certo e o errado Ela percebe que certos atos e palavras são certos ou erra dos o que a prepara para a experiência no próximo estágio de sentir culpa A criança também aprende a distinguir entre o nosso tipo e outros considerados diferentes assim os outros que não são como nós podem ser imediatamente avaliados como errados ou maus Essa é a base ontogenética da alienação mun dial conhecida como espécie dividida Em outros tex tos Erikson chamou isso de pseudoespécie a origem do preconceito intrahumano Esse período de ritualização judiciosa na infância é a origem no ciclo de vida do ritual judicial Na ida de adulta esse ritual é exemplificado pelo julgamen to no tribunal e pelos procedimentos por meio dos quais se estabelece a culpa ou a inocência O ritualismo perverso desse estágio é o legalismo a vitória da lei rigidamente aplicada a punição ven ce a compaixão O legalista sente satisfação ao ver os condenados punidos e humilhados independentemen te de ser essa a intenção da lei III INICIATIVA VERSUS CULPA O terceiro estágio psicossocial da vida corresponden te ao estágio psicossexual genitallocomotor é o da iniciativa uma época de crescente maestria e respon sabilidade A criança nesse estágio apresentase como claramente mais avançada e mais organizada tanto física quanto mentalmente A iniciativa se combina com a autonomia para fazer com que ela seja ativa determinada e capaz de planejar sua tarefas e metas O perigo desse estágio é o sentimento de culpa que pode obcecar a criança por uma busca muito entusi asmada de metas incluindo fantasias genitais e o uso 172 HALL LINDZEY CAMPBELL de meios agressivos e manipulativos para chegar a essas metas A criança está ansiosa para aprender e aprende bem nessa idade ela desenvolve seu senso de obrigação e de desempenho O propósito é a virtude que surge nesse estágio desenvolvimental A principal atividade da criança nessa idade é o brincar e o propósito é o resultado de seu brincar de suas explorações tentativas e fracas sos e das experimentações com seus brinquedos Além de jogos físicos ela faz jogos mentais assumindo os papéis dos pais e de outros adultos em um mundo de fazdeconta Ao imitar as imagens desses adultos ela percebe até certo ponto como é ser como eles O brin car proporciona à criança uma realidade intermediá ria ela aprende qual é o propósito dos fatos a cone xão entre um mundo interno e um externo e como as memórias do passado se aplicam a metas do futuro Portanto o brincar imaginativo e desinibido é vital mente importante para o desenvolvimento da crian ça O propósito então é a coragem de imaginar e buscar metas valorizadas nãoinibidas pela derrota das fantasias infantis pela culpa e pelo medo cortante da punição Erikson 1964 p 122 Essa idade do brincar é caracterizada pela rituali zação dramática A criança participa ativamente de dramatizações usando figurinos imitando personali dades adultas e fingindo ser qualquer coisa de um cachorro a um astronauta O estágio inicial da rituali zação contribui para o elemento dramático que será encontrado nos rituais tal como o teatro como um ritual próprio pelo resto da vida da pessoa A aliena ção interior que pode resultar desse estágio da infân cia é um senso de culpa A contraparte negativa da ritualização dramática é o ritualismo da personificação por toda a vida O adulto desempenha papéis ou atua a fim de apresen tar uma imagem que não representa sua verdadeira personalidade IV DILIGÊNCIA VERSUS INFERIORIDADE Durante o quarto estágio do processo epigenético no esquema de Freud o período de latência a criança precisa controlar sua imaginação exuberante e dedi carse à educação formal Ela desenvolve um senso de aplicação e aprende as recompensas da perseve rança e da diligência O interesse por brinquedos e pelo brincar é gradualmente superado por um inte resse por situações produtivas e pelos implementos e instrumentos usados para trabalhar O perigo desse estágio é a criança desenvolver um senso de inferiori dade se for ou fizerem com que se sinta incapaz de dominar as tarefas que inicia ou que lhe são dadas pelos professores e pelos pais Durante o estágio da diligência emerge a virtude da competência As virtudes dos estágios prévios es perança vontade e propósito proporcionaram à cri ança uma visão de futuras tarefas embora uma visão ainda não muito específica A criança agora precisa ter uma instrução específica em métodos fundamen tais para familiarizarse com um modo de vida técni co Ela está pronta e disposta a conhecer e a usar os instrumentos as máquinas e os métodos preparatóri os para o trabalho adulto Assim que tiver desenvolvi do suficiente inteligência e capacidade para o traba lho é importante que se dedique a esse trabalho para evitar sentimentos de inferioridade e regressão do ego O trabalho nesse sentido inclui muitas e variadas for mas como ir à escola fazer tarefas domésticas assu mir responsabilidades estudar música aprender ha bilidades manuais assim como participar de jogos e esportes O importante é a criança aplicar sua inteli gência e sua abundante energia em algum empreen dimento e direção Um senso de competência é obtido quando nos dedicamos ao trabalho e concluímos tarefas o que acaba nos trazendo habilidade Os fundamentos da competência preparam a criança para um futuro sen so de habilidade sem isso a criança sentirseia infe rior Durante essa época ela está ansiosa para apren der as técnicas da produtividade A competência então é o livre exercício da destreza e da inteligência na conclusão de tarefas nãoprejudicado pela inferi oridade infantil Erikson 1964 p 124 A idade escolar é o estágio da ritualização formal quando a criança aprende a ter um desempenho me tódico Observar e aprender métodos de desempenho proporcionam à criança um senso global de qualida de que envolve habilidade e perfeição Tudo o que a criança fizer seja um trabalho na escola ou sejam tarefas em casa ela faz do jeito certo TEORIAS DA PERSONALIDADE 173 O ritualismo distorcido na idade adulta é o for malismo que consiste na repetição de formalidades sem significado e em rituais vazios V IDENTIDADE VERSUS CONFUSÃO DE IDENTIDADE Durante a adolescência o indivíduo passa a experien ciar um sentido da própria identidade um sentimen to de que é um ser humano único que está preparado para se encaixar em algum papel significativo na soci edade A pessoa se torna consciente das característi cas individuais inerentes de situações pessoas e ob jetos dos quais gosta ou não gosta de metas futuras antecipadas e da força e do propósito de controlar o próprio destino Essa é uma época na vida em que queremos definir o que somos no presente e o que desejamos ser no futuro É o momento de fazer pla nos vocacionais O agente interno ativador na formação da identi dade é o ego em seus aspectos conscientes e incons cientes O ego nesse estágio tem a capacidade de selecionar e integrar talentos aptidões e habilidades na identificação com pessoas semelhantes a nós e na adaptação ao ambiente social Ele também é capaz de manter suas defesas contra ameaças e ansiedades à medida que aprende a decidir quais impulsos neces sidades e papéis são mais apropriados e efetivos To das essas características selecionadas pelo ego são reu nidas e integradas por ele para formar a própria identidade psicossocial Devido à difícil transição da infância à idade adul ta por um lado e à sensibilidade à mudança social e histórica por outro o adolescente durante o estágio da formação da identidade tende a sofrer mais pro fundamente do que nunca em virtude da confusão de papéis ou da confusão de identidade Esse estado pode fazer com que ele se sinta isolado vazio ansioso e indeciso O adolescente sente que precisa tomar deci sões importantes mas é incapaz de fazer isso Ele pode sentir que a sociedade o pressiona para tomar deci sões assim ele fica ainda mais resistente Ele se pre ocupa imensamente com como os outros o vêem e tende a ser muito inibido e envergonhado Durante a confusão de identidade o adolescente pode sentir que está regredindo ao invés de progre dir e de fato um periódico recuo à infantilidade pa rece ser uma alternativa agradável ao complexo en volvimento necessário em uma sociedade adulta O comportamento do adolescente é inconsistente e im previzível durante esse estado caótico Em um mo mento ele reluta em comprometerse com os outros por medo de ser rejeitado desapontado ou engana do No momento seguinte o adolescente quer ser um seguidor um amante ou um discípulo sejam quais forem as conseqüências de tal comprometimento O termo crise de identidade referese à necessida de de resolver o fracasso transitório em formar uma identidade estável ou a uma confusão de papéis Cada estado sucessivo de fato é uma crise potencial devi da a uma mudança radical em perspectiva Erikson 1968 p 96 Mas a crise de identidade pode parecer especialmente perigosa porque todo o futuro do indi víduo assim como a próxima geração parece depen der dela Também é especialmente perturbador o desenvol vimento de uma identidade negativa isto é o senso de possuir um conjunto de características más ou poten cialmente indignas A maneira mais comum de lidar com a identidade negativa é projetar as característi cas más em outras pessoas Elas são más não eu Tal projeção pode resultar em diversas patologias so ciais incluindo preconceito crime e discriminação contra vários grupos de pessoas mas também é uma parte importante da prontidão do adolescente para o envolvimento ideológico Nessa época adolescente desenvolvese a virtude da fidelidade Apesar de serem agora sexualmente maduros e de muitas maneiras responsáveis os ado lescentes não estão ainda adequadamente preparados para serem pais O equilíbrio de ego se depara com uma situação precária por um lado é esperado que a pessoa tenha um padrão adulto de vida mas por ou tro ela não tem a liberdade sexual do adulto O com portamento oscila entre atos impulsivos irrefletidos e esporádicos e uma restrição compulsiva Durante essa época difícil todavia o jovem busca um conheci mento interno e um entendimento de si mesmo e tenta formular um conjunto de valores O conjunto particu lar de valores que emerge é o que Erikson denomina fidelidade A fidelidade é a capacidade de manter lealdades livremente empenhadas apesar das inevi táveis contradições dos sistemas de valor 1964 p 125 174 HALL LINDZEY CAMPBELL A fidelidade é a base sobre a qual se forma um senso de identidade contínuo A substância da fideli dade é adquirida pela confirmação de ideologias e verdades e também pela afirmação de companheiros A evolução da identidade baseiase na necessidade inerente ao ser humano de sentir que pertence a um gênero particular ou especial de pessoas Por exem plo precisamos saber que pertencemos a um grupo étnico ou religioso especial em que podemos partici par dos costumes dos rituais e das ideologias ou na verdade que preferimos participar de movimentos destinados a mudar ou renovar a estrutura social A identidade do jovem dá definição ao seu ambiente A ritualização do estágio adolescente é a ideolo gia A ideologia é a solidariedade de convicção que incorpora ritualizações de estágios de vida prévios em um conjunto coerente de idéias e ideais A alienação resultante da ausência de uma ideologia integrada é a confusão de identidade A perversão da ritualização de ideologia que pode ocorrer é o totalismo O totalismo é a preocupação fanática e exclusiva com o que parece ser inquestio navelmente certo ou ideal VI INTIMIDADE VERSUS ISOLAMENTO Neste estágio os jovens adultos estão preparados e dispostos a unir sua identidade a outras pessoas Eles buscam relacionamentos de intimidade parceria e associação e estão preparados para desenvolver as forças necessárias para cumprir esses comprometimen tos ainda que para isso tenham de fazer sacrifícios Agora pela primeira vez na vida o jovem pode viver uma genitalidade sexual verdadeira em mutualidade com a pessoa amada A vida sexual nos estágios an teriores restringiase a uma busca de identidade se xual e a um anseio por intimidades transitórias Para que a genitalidade tenha uma importância social du radoura é preciso que o indivíduo tenha alguém para amar e relacionarse sexualmente alguém com quem possa compartilhar um relacionamento confiável O perigo do estágio da intimidade é o isolamento a evi tação dos relacionamentos quando a pessoa não está disposta a comprometerse com a intimidade Um sen so temporário de isolamento também é uma condição necessária para fazer escolhas mas é claro que isso também pode resultar em graves problemas de perso nalidade A virtude do amor passa a existir durante o está gio de desenvolvimento da intimidade O amor é a virtude dominante do universo Ele aparece de mui tas formas nos estágios anteriores começando com o amor do bebê pela mãe depois as paixões do adoles cente e finalmente o amor que o adulto manifesta importandose com os outros Embora o amor esteja aparente nos estágios anteriores o desenvolvimento da verdadeira intimidade só acontece depois da ado lescência Os jovens adultos agora são capazes de com prometerse com um relacionamento em que seu modo de vida é mutuamente compartilhado com um par ceiro íntimo Erikson escreveu O amor então é a mutualidade de dedicação subjugando para sempre os antagonismos inerentes à função dividida 1964 p 129 Embora a identidade do indivíduo se mante nha em um relacionamento íntimo sua força de ego depende do parceiro com quem está preparado para compartilhar a criação dos filhos a produtividade e a ideologia de seu relacionamento A ritualização correspondente desse estágio é a associativa isto é um compartilhar conjunto de tra balho amizade e amor O ritualismo correspondente o elitismo expressase pela formação de grupos ex clusivos que são uma forma de narcisismo comunal VII GENERATIVIDADE VERSUS ESTAGNAÇÃO O estágio da generatividade caracterizase pela preo cupação com o que é gerado progênie produtos idéias e assim por diante e com o estabelecimento de orientações para as gerações que estão por vir Essa transmissão dos valores sociais é uma necessidade para o enriquecimento dos aspectos psicossexuais e psicos sociais da personalidade Quando a generatividade é fraca ou não recebe expressão a personalidade regri de e sentese empobrecida e estagnada A virtude do cuidado se desenvolve durante esse estágio O cuidado se expressa pela preocupação com os outros por querer cuidar das pessoas que preci sam e compartilhar com elas o próprio conhecimento e experiência Isso é feito por meio da criação dos TEORIAS DA PERSONALIDADE 175 filhos e do ensino da demonstração e da supervisão Os seres humanos como espécie têm uma necessida de inerente de ensinar uma necessidade comum às pessoas em todas as profissões O ser humano se sen te satisfeito e realizado ao ensinar crianças adultos empregados e até animais Os fatos a lógica e as ver dades são preservados através de gerações por essa paixão por ensinar O cuidado e o ensino são respon sáveis pela sobrevivência das culturas pela reitera ção de seus costumes rituais e lendas O avanço de cada cultura deve sua progressão àqueles que se im portam o suficiente para instruir e viver uma vida exemplar O ensino também instila no ser humano um senso vital de ser necessário aos outros um senso de importância que o impede de absorverse excessiva mente em si mesmo Durante a vida o indivíduo acu mula múltiplas experiências e conhecimentos tais como educação amor vocação filosofia e estilo de vida Todos esses aspectos da vida precisam ser pre servados e protegidos pois são experiências precio sas Preservamse essas experiências transcendendo as ou passandoas aos outros O cuidado é a crescente preocupação com aquilo que foi gerado por amor necessidade ou acidente ele supera a ambivalência presente na obrigação irreversível 1964 p 131 A ritualização desse estágio é a geracional que é a ritualização de paternidadematernidade produção ensino cura e assim por diante papéis em que o adulto age como transmissor de valores ideais para os jovens As distorções da ritualização geracional se expres sam pelo ritualismo do autoritarismo O autoritaris mo é o confisco ou a usurpação da autoridade incom patível com o cuidado VIII INTEGRIDADE VERSUS DESESPERO O último estágio do processo epigenético do desen volvimento é denominado integridade A melhor ma neira de descrevêlo é como um estado que a pessoa atinge depois de ter cuidado de coisas e pessoas pro dutos e idéias e de terse adaptado aos sucessos e fracassos da existência Por meio dessas realizações os indivíduos podem colher os benefícios dos primei ros sete estágios da vida e perceber que sua vida teve certa ordem e significado dentro de uma ordem maior Embora aquele que atinge um estado de integridade esteja consciente dos vários estilos de vida dos ou tros ele preserva com dignidade um estilo de vida pessoal e defendeo de potenciais ameaças Esse esti lo de vida e a integridade da cultura tornamse assim o patrimônio da alma A contraparte essencial da integridade é um certo desespero em relação às vicissitudes do ciclo de vida individual e a condições sociais e históricas para não falar do vazio da existência diante da morte Isso pode agravar o sentimento de que a vida não tem sentido de que o fim está próximo de um medo e até de um desejo da morte O tempo agora é curto demais para voltar atrás e tentar estilos de vida alternativos A sabedoria é a virtude resultante do encontro da integridade com o desespero nesse último estágio da vida A atividade física e mental das funções diárias está diminuindo a essa altura do ciclo de vida A sim ples sabedoria afirma e transmite a integridade das experiências acumuladas nos anos anteriores A sa bedoria então é a preocupação desprendida com a vida em si diante da morte em si Erikson 1964 p 133 O fato de a pessoa envelhecida ser menos adaptá vel a mudanças não impede uma certa recreatividade e curiosidade que permitem um fechamento da expe riência acumulada em anos de conhecimento e de jul gamento Os que estão no estágio da sabedoria po dem representar para as gerações mais jovens um estilo de vida caracterizado por um sentimento de inteireza e completude Esse sentimento de inteireza pode con trabalançar o sentimento de desespero e desgosto e o sentimento de estar acabado conforme as situações presentes da vida vão passando O senso de inteireza também alivia o sentimento de desamparo e depen dência que pode marcar o fim da vida A ritualização da velhice pode ser chamada de integral isso se reflete na sabedoria das idades Bus cando um ritualismo correspondente Erikson sugere o sapientismo a tola pretensão de ser sábio UM NOVO CONCEITO DE EGO Freud podemos lembrar concebia o ego como o exe cutivo da personalidade um executivo cujos deveres eram satisfazer os impulsos do id lidar com as exi 176 HALL LINDZEY CAMPBELL gências sociais e físicas do mundo externo e tentar corresponder aos padrões perfeccionistas do superego Assediado por três lados o ego recorre a várias defe sas para não ser esmagado Esse conceito de um ego defensivo criado por Freud e elaborado por Anna Freud 1946 foi modificado por Hartmann e outros ver p 156157 para incluir as funções adaptativas e integrativas Como demonstra a discussão precedente dos es tágios de vida de Erikson ele dotou o ego de várias qualidades que vão muito além de qualquer concep ção psicanalítica prévia do ego Essas qualidades são confiança e esperança autonomia e vontade diligên cia e competência identidade e fidelidade intimida de e amor generatividade e cuidado e integridade Tais qualidades reconhecidamente humanas geral mente não são discutidas na literatura psicanalítica Quando são a discussão normalmente consiste em rastrear essas qualidades até suas origens infantis Erikson zombava da ênfase exclusiva na originologia como a chamava ou no reducionismo como outros chamaram Erikson afirmava estar consciente das conotações idealistas de palavras como confiança esperança fidelidade integridade e assim por diante Ele as es colheu porque elas conotam em várias línguas valo res humanos universais que em culturas primitivas e antigas assim como na vida moderna reúnem três esferas mutuamente essenciais o ciclo de vida indivi dual a seqüência de gerações e a estrutura social bá sica O tipo de ego descrito por Erikson pode ser cha mado de ego criativo embora ele não usasse essa pa lavra O ego pode encontrar e realmente encontra soluções criativas para os novos problemas que o as sediam em cada estágio da vida Ele sabe em cada estágio usar uma combinação de prontidão interna e oportunidade externa e o faz com vigor e mesmo com um senso de alegria Quando ameaçado o ego reage com renovado esforço em vez de desistir O ego pare ce ser imensamente robusto e plástico Os poderes de recuperação observou Erikson são inerentes ao ego jovem O ego de fato lucra com o conflito e com a crise Ele pode ser e normalmente é o mestre e não o escravo do id do mundo externo e do superego Na verdade Erikson falou muito pouco sobre o id e o superego ou sobre motivação inconsciente e estraté gias irracionais Como psicanalista praticante Erikson evidente mente estava consciente da vulnerabilidade do ego das defesas irracionais que ele erige das conseqüên cias devastadoras do trauma da ansiedade e da cul pa Mas ele também via o ego do paciente como habi tualmente capaz de lidar de forma efetiva com seus problemas com certa ajuda do psicoterapeuta Essa concentração na força potencial do ego caracteriza todos os textos de Erikson A concepção de ego de Erikson era bastante soci alizada e histórica Além dos fatores genéticos fisio lógicos e anatômicos que ajudam a determinar a na tureza do ego do indivíduo também existem importantes influências culturais e históricas Uma das contribuições mais criativas de Erikson à teoria do ego foi colocálo em um contexto cultural e histórico em uma estrutura de espaço e tempo Erikson também especulou sobre as dimensões que uma nova identidade de ego poderia assumir 1974 Uma identidade segundo ele precisava estar ancora da em três aspectos da realidade O primeiro é a fatu alidade um universo de fatos dados e técnicas que podem ser verificados com os métodos observacionais e com as técnicas de trabalho da época 1974 p 33 Depois existe um senso de realidade que também pode ser chamado de universalidade porque combina o prá tico e o concreto em uma imagem de mundo visioná ria Gandhi por um lado tinha esse senso de realida de A terceira dimensão é a realidade uma nova maneira de relacionarse de ativarse e incentivarse mutuamente a serviço de metas comuns 1974 p 33 Mas então talvez com ironia Erikson acrescen tou uma quarta dimensão a sorte ou o acaso Essa nova identidade de ego ao mesmo tempo criaria uma nova imagem de mundo em que um senso mais am plo de identidade comum gradualmente supera a pseu doespécie que ajudou a causar preconceito discrimi nação ódio crime guerra pobreza e escravidão Só o tempo dirá se essa imagem de mundo é alcançável mas sem a visão diria Erikson nenhuma nova reali dade pode passar a existir TEORIAS DA PERSONALIDADE 177 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA As observações de pacientes em tratamento constitu em a principal fonte de dados dos teóricos psicanalíti cos Embora geralmente Erikson derivasse suas for mulações dessas observações ele também observou crianças e adolescentes normais em situações lúdicas fez várias incursões em território índio e estudou a vida de figuras históricas Ele provavelmente é mais conhecido por seus estudos psicohistóricos e seus li vros sobre Lutero 1958 e Gandhi 1969 são muito lidos Histórias de Caso Embora Erikson não publicasse muitos estudos de caso de seus pacientes os poucos que apareceram 1963 demonstram um raro insight da dinâmica da persona lidade e uma compaixão pelas pessoas perturbadas especialmente pelas crianças com problemas Seu ta lento notável para estabelecer rapport com os pacien tes está claramente evidente e seu estilo refinado transforma esses estudos de caso em eventos literári os assim como em trabalhos científicos Situações Lúdicas Ao fazer psicoterapia com crianças Erikson como outros descobriu que as crianças geralmente revela vam melhor suas preocupações quando brincavam com brinquedos do que por meio de palavras Isso o levou a desenvolver uma situação lúdica padroniza da utilizando brinquedos e blocos que empregou em um estudo nãoclínico de 150 meninos e 150 meninas entre dez e doze anos de idade Eu preparei uma mesa para brincar e uma seleção aleatória de brin quedos e convidei os meninos e as meninas do estu do um de cada vez a entrar e a imaginar que a mesa era um estúdio de cinema e os brinquedos atores e cenários Eu então lhes pedi que criassem sobre a mesa uma cena emocionante de um filme imaginário 1963 p 98 Depois a criança era solicitada a con tar uma história sobre a cena que tinha construído Ao estudar uma variedade de conexões entre con figurações lúdicas e a história de vida dessas crianças Erikson ficou pasmo com as nítidas diferenças no uso do espaço para brincar nas cenas criadas pelos meni nos e pelas meninas Os meninos em geral construí am estruturas altas com os blocos as meninas tendi am a usar a mesa como o interior de uma casa em que colocavam a mobília e as pessoas Elas raramente usa vam os blocos para construir paredes ou estruturas As cenas dos meninos incluíam muita ação implícita tráfego movendose pelas ruas policiais que bloquea vam o tráfego animais e índios As cenas das meni nas eram mais pacíficas embora muitas vezes a tran qüilidade fosse quebrada por um intruso que era sempre um animal menino ou homem nunca uma menina ou uma mulher As meninas não tentavam bloquear essas intrusões erigindo paredes ou fechan do portas Erikson comentou que a maioria dessas intrusões tem um elemento de humor ou excitação prazerosa 1963 p 105 Ele observou que as meni nas preferiam utilizar o espaço interno ao passo que os meninos utilizavam preferencialmente o espaço externo O leitor deve ser informado de que várias tentativas de replicar as observações de Erikson sobre as diferenças sexuais na criação lúdica de forma geral não tiveram sucesso Caplan 1979 Cramer Hogan 1975 Ao interpretar as diferenças entre os sexos Erik son enfatizou o que chamava de o plano básico do corpo significando que pelo menos nas crianças prépúberes a configuração anatômica dos órgãos sexuais em amadurecimento influenciava fortemente o uso lúdico do espaço na elaboração de configura ções exteriores e interiores Estas evidentemente contêm temas profundamente influenciados pelos papéis sexuais tradicionais Essas interpretações pa recem concordar com a máxima de Freud de que ana tomia é destino com a implicação de que as diferen ças sexuais são inatas e resistentes à mudança As diferenças sexuais surgem em parte como um produto dos fenômenos desenvolvimentais que Erik son chama de zonas psicossexuais modos dos órgãos e modalidades sociais Embora esse segmento de sua te oria não seja muito conhecido é importante porque proporciona o vínculo primário entre os estágios psicossexuais enfatizados por Freud e os estágios psi cossociais pelos quais Erikson é conhecido As zonas correspondem às zonas erógenas identificadas por Freud Cada uma dessas zonas libidinais é dominada durante seu estágio de maior sensibilidade por um modo principal de funcionamento Assim a boca pri mariamente incorpora o ânus e a uretra tanto retêm 178 HALL LINDZEY CAMPBELL quanto eliminam o falo se introduz e a vagina con tém Cada um desses modos físicos dá origem a uma correspondente modalidade de interação social Du rante o estágio oralsensório por exemplo existem dois modos incorporativos O primeiro em que o bebê consegue segurar objetos na boca produz a modali dade de pegar O segundo em que o bebê pode usar seus novos dentes para morder objetos produz a mo dalidade de agarrar Da mesma forma os modos de retenção e eliminação do estágio analuretralmuscu lar transformamse na capacidade e no desejo de agar rarse a e deixar ir Essas modalidades se referem a apegos e comprometimentos assim como os modos se referem à interação com objetos Até este ponto a progressão desenvolvimental é semelhante para meninos e meninas Entretanto con forme mostra a Figura 53 ver adiante os caminhos desenvolvimentais através do estágio infantilgenital divergem para meninos e meninas como uma função de suas diferentes zonas de órgãos e modos físicos Quando reforçada pela cultura a intrusão do menino o predispõe a fazer no sentido da iniciativa e da con quista e a intrusão da menina a predispõe a agarrar por meio da atração e do apelo Em sua apresentação de 1975 todavia Erikson fez questão de enfatizar que ambos os sexos têm as duas modalidades a seu dis por esse estágio é dominado em ambos os sexos por combinações de modos e modalidades intrusivas e inclusivas Erikson não renunciou totalmente aos conceitos de inveja do pênis nas meninas e de ansie dade de castração nos meninos nesse estágio mas ele mudou a ênfase no desenvolvimento feminino do senso exclusivo de perda de um órgão externo para um senso incipiente de potencial interno vital o es paço interno então que de jeito nenhum se opõe a uma plena expressão de vigorosa intrusividade na lo comoção e em padrões gerais de iniciativa 1975 p 38 Os modos genitais que emergem depois da pu berdade são necessariamente intrusivos para os ho mens e inclusivos para as mulheres Sob a força de pressões culturais as diferentes modalidades podem contribuir para a exploração da mulher como aquela que espera e de quem se espera continuar depen dente e cuidando das crianças O correspondente con junto de forças pode levar o menino a papéis de com petição ou de exploração Erikson enfatizou que esses resultados não precisam ocorrer A Figura 53 apresenta o esquema original de Eri kson para ilustrar esse processo Os círculos peque nos dentro dos círculos grandes representam as três zonas de órgãos a boca em cima o ânus embaixo e os genitais do lado Da mesma forma os números arábi cos se referem aos modos 1 e 2 para os dois modos incorporativos 3 para retenção e 4 para eliminação 5 para intrusão e 1 novamente para a inclusão Final mente os números romanos se referem a estágios I e II para o estágio oralsensório III para o estágio anal uretralmuscular IV para o estágio infantilgenitallo comotor e V para um estágio genital rudimentar A seqüência desenvolvimental normativa para os meni nos segue a diagonal de I1 para IV5 A seqüência normativa para as meninas é de I1 para III3 e III4 depois IV1 e IV2 Erikson 1975 subseqüentemente discutiu ob jeções erguidas por críticas feministas a essas inter pretações Ele salienta que nunca disse que semelhan ças ou diferenças psicológicas entre os sexos eram determinadas unicamente por fatos biológicos A bio logia embora demarcando potenciais vitais interage com variáveis culturais e psicológicas para produzir um determinado efeito comportamental Conseqüen temente o que os homens fazem e o que as mulheres fazem com seus potenciais masculino e feminino não é rigidamente controlado por suas respectivas anato mias e fisiologias mas está sujeito a diferenças de personalidade a papéis sociais e a aspirações Expandindo a máxima de Freud Erikson 1975 escreveu que anatomia a história e a personalidade são o nosso destino combinado Mas ele reconheceu preocupações típicas distintivas de mulheres e de ho mens Ecoando sua discussão de zonas modos e mo dalidades ele sugeriu que assim como o controle da natalidade atinge o núcleo da condição feminina as implicações do controle de armas atingem o núcleo da identidade masculina conforme ela emergiu ao longo da evolução e da história 1975 p 245 As sim como o controle da natalidade permitiria à mu lher escolher papéis além da maternidade o controle de armas permitiria que o homem escolhesse papéis além daqueles definidos pela imagem da tecnologia e da conquista Erikson não se desculpou por sua pos tulação de modalidades separadas para homens e mulheres Soando quase junguiano em sua sugestão de que os seres humanos como espécie precisam de TEORIAS DA PERSONALIDADE 179 ambas as potencialidades ele descreveu sua visão de uma ordem mundial que só podese desenvolver por meio de um envolvimento igual das mulheres e de seus modos especiais de experiência no planejamento e no governo em geral até agora monopolizados por homens 1975 p 247 As situações lúdicas na análise infantil têm um papel semelhante ao do sonho na análise do adulto Embora Erikson não enfatizasse os sonhos em seus textos ele escreveu um artigo teórico muito impor tante sobre os sonhos 1954 usando um sonho de Freud para ilustrar suas idéias Estudos Antropológicos Erikson foi um dos poucos psicanalistas que estuda ram a relação dos traços de caráter adultos com a maneira pela qual a criança foi educada em grupos FIGURA 53 Zonas modos e modalidades como fatores no desenvolvimento de a meninos e b meninas Reimpressa com a permissão de Erikson 1963 p 89 180 HALL LINDZEY CAMPBELL primitivos Em 1937 Erikson acompanhou a Dakota do Sul um representante de campo do Commissioner of Indian Affairs para tentar descobrir por que as cri anças Sioux demonstravam uma apatia tão acentua da Ele descobriu que a criança Sioux estava aprisio nada no dilema de tentar conciliar os valores tribais tradicionais nela inculcados durante sua educação inicial com os valores do homem branco ensinados nas escolas dirigidas pelo Indian Service Incapazes de conciliálos muitas crianças simplesmente evitavam a questão retraindose para um estado de apatia Mais tarde Erikson foi a Klamath River na Cali fórnia do Norte onde vivem os índios Yurok Ele esta va especialmente interessado em fazer correlações entre as práticas de treinamento infantil e os traços de personalidade dos pescadores que viviam à beira de um rio em uma comparação com os caçadores das planícies Por exemplo a aquisição e a retenção de posses era uma contínua preocupação dos Yurok O reforço desse comportamento começava muito cedo na vida da criança que era ensinada a ser abstêmia a subordinar seus impulsos a considerações econômi cas e a engajarse em fantasias sobre pescar salmões e ganhar dinheiro PsicoHistória Erikson definiu a psicohistória como o estudo da vida individual e coletiva com os métodos combinados da psicanálise e da história 1974 p 13 Seu livro so bre Lutero 1958 tinha o subtítulo de A study in Psychoanalysis and History O interesse de Erikson por psicanalisar os indi víduos famosos começou com seus capítulos sobre a infância de Hitler e a juventude de Maxim Gorky em Childhood and Society 1950 1963 Esses ensaios ini ciais foram seguidos por dois outros livros Young Man Luther 1958 e Gandhis Truth 1969 Ele também escreveu sobre George Bernard Shaw 1968 Tho mas Jefferson 1974 William James 1968 e em muitos de seus textos sobre Freud O próprio Freud sondou a vida de pessoas famosas incluindo Leonar do da Vinci 1910a Daniel Schreber um jurista ale mão 1911 Dostoevsky 1928 Moisés 1939 e Woodrow Wilson em colaboração com William Bullit 1967 Há um debate considerável sobre o papel que Freud desempenhou na colaboração sobre Wilson História de Caso e História de Vida Erikson deu um passo metodológico gigante no estu do de figuras históricas quando imaginou que seria possível aplicar os mesmos métodos usados para re construir o passado de um paciente na psicanálise à reconstrução do passado de uma pessoa histórica A história de caso se torna história Mas ele também percebeu ao fazer a transição da história de caso para a história de vida que o psicanalista precisa levar em consideração o que os pacientes fazem no mundo fora da clínica como é o seu mundo que limitações seu mundo lhes impõe e também que oportunidades lhes oferece Ele perguntou a si mesmo o que os pacientes podem fazer sendo o mundo como é Em conseqüên cia de seu pensamento sobre a vida de figuras históri cas ele percebeu que as técnicas da psicanálise pre cisavam suplementar seus achados clínicos com o estudo do funcionamento psicossocial 1975 p 105 Mas os grandes homens e mulheres diferem dos pacientes uma vez que mudam o mundo formulando uma nova visão de mundo que captura a imaginação das pessoas e incitaas à ação Uma grande diferença entre a história de vida de uma pessoa famosa e a história de caso de um paciente é a seguinte em uma história de caso tentamos explicar por que uma pes soa se desmontou em uma história de vida tentamos explicar como uma pessoa conseguiu permanecer in teira apesar dos conflitos dos complexos e das crises Essa evidentemente é uma questão imensamente im portante Deve haver muitos Hitlers vagando pelas ruas ou confinados a instituições mentais ou penais mas só houve um ou possivelmente alguns Hitlers bem sucedidos pelo menos por um período nos tempos modernos Por que o mesmo conflito ou crise destrói uma pessoa e fortalece outra Ao estudar figuras históricas como Lutero e Gan dhi Erikson não estava interessado em seus traumas infantis como tal nem considerava seu comportamen to adulto apenas uma fixação em ou uma regressão a complexos infantis Em vez disso ele tentou mostrar como os traumas da vida inicial eram reencenados em uma versão transformada nos atos da vida adul ta É suficientemente simples estabelecer que Gandhi ou Lutero ou qualquer outro homem por falar no assunto experienciavam conflitos e culpa por senti mentos sensuais em relação à mãe e sentimentos hos TEORIAS DA PERSONALIDADE 181 tis em relação ao pai Para Erikson o complexo ou a crise de Édipo é apenas a forma infantil de um confli to geracional O importante é como esse conflito é representado de várias formas durante a vida Os grandes homens parecem ser capazes de representá lo de tal maneira que inspiram e motivam muitos ou tros a tornaremse seus seguidores Gandhi foi uma inspiração para milhões de hindus que queriam ficar livres do domínio britânico assim como Lutero 400 anos antes foi para milhões de europeus que queri am ficar livres da autoridade de Roma Em estudos psicohistóricos de grandes indivíduos tentase mos trar como as vicissitudes de sua história desenvolvi mental pessoal mudaram o curso da história O que o grande homem faz é personificar e ofere cer às pessoas uma visão de mundo integradora e li bertadora que ao mesmo tempo é necessária para sua identidade grandiosamente conflituada e propor cionalhe um senso de uma identidade coletiva nova e mais ampla Uma visão de mundo comum une as pessoas para dentro de uma força efetiva de mudan ça A personalidade e a visão de mundo de Lutero levaram à Reforma as de Gandhi à libertação da Ín dia as de Jefferson à democracia americana as de Lenin ao comunismo russo e as de Mao ao comunis mo chinês Metodologia PsicoHistórica Erikson estabeleceu regras bastante rigorosas sobre como realizar um estudo psicohistórico 1975 Pri meiro é essencial ter em mente que a interpretação de qualquer declaração que uma pessoa faz sobre sua vida deve considerar várias questões Em que ponto de sua vida a pessoa fez a declaração Como a decla ração feita em um determinado momento se encaixa na história de vida total O que estava acontecendo em seu mundo na época em que a informação foi re gistrada Como esses eventos mundiais contemporâ neos se articulam com o processo histórico global Por exemplo Erikson teve de enfrentar essas pergun tas quando analisou e interpretou a autobiografia de Gandhi escrita quando este tinha quase 60 anos Além disso a interpretação de um evento em uma história de vida precisa ser compatível com o estágio desenvolvimental em que se acredita ter ocorrido 1975 p 128 e também ser plausível com relação à continuidade de vida da pessoa A probabilidade de um evento ter realmente ocorrido na vida de uma pessoa é reforçada se pudermos mostrar que ele ocor re comumente na cultura contemporânea da comuni dade e na história dessa cultura 1975 p 132133 Assim é tão importante para o biógrafo conhecer a sociedade passada e presente em que a pessoa vive como é estar informado sobre os eventos da vida da pessoa A pessoa é feita pela história tanto quanto a faz As interpretações psicohistóricas são inevitavel mente influenciadas pelo nosso humor no momento em que fazemos as interpretações e pela tradição in telectual em que fomos treinados Isso significa que se alguém com uma orientação intelectual diferente digamos um junguiano ou um existencialista escre vesse sobre a vida de Lutero ou Gandhi suas inter pretações seriam diferentes das de Erikson A mes ma diversidade evidentemente também é encontrada nas interpretações do comportamento dos pacientes por pessoas de diferentes linhas teóricas Mesmo dois freudianos não concordam em suas interpretações como mostram os contrastantes relatos sobre Lutero escritos por Norman O Brown 1959 e Erikson 1958 Ver Domhoff 1970 para uma interessante comparação desses dois Luteros Erikson também salientou que qualquer psico historiador projeta nos homens e nos tempos que estuda algumas porções nãovividas e muitas vezes os selves nãorealizados de sua própria vida 1975 p 148 Esta observação sugere que o psicohistoriador assim como o psicoterapeuta deve ser psicanalisado para ter consciência de seus conflitos e complexos pessoais antes de escrever ou avaliar biografias Em conseqüência dos estudos psicohistóricos se minais de Erikson a psicohistória tornouse uma dis ciplina independente com numerosos praticantes Ver p ex McAdams 1994 e uma discussão no Capítulo 7 deste livro Erikson sentiase um pouco ambivalen te em relação a essa nova indústria da qual ele foi o empreendedor PESQUISA ATUAL O modelo de Erikson dos estágios psicossexuais ge rou uma variedade de estratégias de avaliação e ricas investigações empíricas Nós começaremos com a 182 HALL LINDZEY CAMPBELL medida mais conhecida de status da identidade de senvolvida por James Marcia Depois examinaremos pesquisas sobre dois outros estágios psicossexuais e concluiremos comentando o recente trabalho sobre o status intercultural do modelo de estágios de Erikson Status de Identidade James Marcia 1966 desenvolveu uma medida de status da identidade amplamente utilizada com ado lescentes e jovens adultos Marcia começou identifi cando quatro pontos de concentração ao longo de um contínuo de realização da identidade de ego iden tidade realizada moratória execução e difusão de identidade Ele definiu esses status em termos da ex tensão em que o indivíduo experienciou uma crise de identidade ou empenhouse na escolha entre alter nativas significativas 1966 p 551 e desenvolveu um compromisso de identidade ou investimento em determinadas metas e comportamentos Marcia empregou uma entrevista semiestrutura da para estabelecer o grau de crise e de compromisso apresentado pelo indivíduo nas áreas da escolha ocu pacional e de ideologia política e religiosa Ele mais tarde acrescentou o domínio da sexualidade Ver p ex Slugoski Marcia Koopman 1984 A pessoa que está com a identidade realizada experienciou um período de crise durante o qual explorou alternativas entre várias possibilidades e subseqüentemente com prometeuse nos domínios de ocupação na ideologia e na sexualidade O indivíduo em moratória está atu almente em um período de crise Seus compromissos são ainda muito vagos mas ele parece estar lutando para formar tais compromissos Essa pessoa ainda está envolvida em questões adolescentes e nos desejos pa rentais Está tentando negociar um compromisso en tre os desejos parentais as exigências sociais e as ca pacidades pessoais Uma pessoa em execução fez compromissos apesar de não ter experienciado uma crise As atitudes e as metas dessa pessoa refletem rigidamente as dos pais Finalmente o indivíduo em difusão de identidade pode ou não ter experienciado uma crise A marca característica dessa pessoa é a fal ta de compromisso e a ausência de preocupação em relação à ocupação ideologia e sexualidade Marcia 1966 p 553 apresenta os seguintes exemplos de respostas a uma pergunta sobre quão dispostos esta riam os universitários do sexo masculino a desistir de uma carreira planejada se surgisse alguma situação melhor Identidade realizada Bem eu poderia desistir mas duvido Não sei se haveria para mim al guma coisa melhor Moratória Acho que se tivesse certeza poderia responder melhor a essa pergunta Teria de ser alguma coisa na área geral alguma coisa relacionada Execução Não muito disposto Isso é o que eu sempre quis fazer Meus pais estão felizes assim como eu Difusão de identidade Oh claro Se surgisse al guma coisa melhor eu mudaria na hora Os pesquisadores identificaram vários correlatos de diferenças no status da identidade Slugoski e co laboradores 1984 descobriram que tanto os sujeitos realizados quanto os sujeitos em moratória revelavam uma maior complexidade cognitiva do que os sujeitos em execução e difusão Os sujeitos neste último sta tus o mais inferior tendiam a ser mais rígidos con cretos e impulsivos Da mesma forma os sujeitos no status mais elevado da identidade eram mais abertos mais cooperativos e ficavam mais à vontade com te mas polêmicos Os sujeitos em execução ao contrá rio tendiam a ser antagonistas ou aquiescentes em suas interações presumivelmente como um meio de protegerse de pontos de vista contrários Outras pes quisas apresentam um quadro semelhante das carac terísticas de estilo cognitivo dos indivíduos em execu ção p ex Blustein Phillips 1990 Cella DeWolfe Fitzgibbon 1987 Marcia 1967 Read Adams Dobson 1984 Schenkel Marcia 1972 Consisten temente com Slugoski e colaboradores 1984 Wa terman 1982 ver também 1985 relatou que os su jeitos em execução apresentam um relacionamento mais estreito com os pais e os indivíduos em difusão de identidade apresentam uma maior distância em relação aos pais Finalmente as pesquisas empregando o instru mento de Marcia e várias outras medidas foram ge ralmente consistentes com as sugestões de Marcia re ferentes ao curso desenvolvimental da formação da identidade de ego p ex Adams Fitch 1982 Con stantinople 1969 Waterman Geary Waterman TEORIAS DA PERSONALIDADE 183 1974 No entanto as anomalias na seqüência e as preocupações com bases conceituais levaram Cote e Levine 1988 a criticar o modelo de Marcia tanto como um modelo eriksoniano quanto como um mo delo geral do desenvolvimento da identidade ver Waterman 1988 para uma réplica Outros Estágios Orlofsky p ex 1976 1978 Orlofsky Marcia Les ser 1973 propôs uma análise dos status de intimida de com base em uma entrevista semelhante à de Mar cia para a identidade As entrevistas de Orlofsky buscam definir a presença e a profundidade dos rela cionamentos com amigos do mesmo sexo e do sexo oposto Com essas informações os indivíduos são de signados como íntimos préíntimos estereotipados pseudoíntimos um subtipo de estereotipado ou iso lados Como exemplos desses status considerem as duas definições seguintes O indivíduo íntimo tenta desenvolver relacionamentos pessoais mútuos e tem vários amigos próximos com os quais discute seus pro blemas pessoais e os deles Ele tem um relacionamen to íntimo com uma ou mais amigas do sexo femini no O sujeito isolado caracterizase por uma acentuada limitação do espaço de vida com a ausên cia de qualquer relacionamento pessoal duradouro Orlofsky e colaboradores 1973 p 213 Essas dis tinções de intimidade revelaramse úteis em vários estudos p ex Kahn Zimmerman Csikszentmihalyi Getzels 1985 LevitzJones Orlofsky 1985 McAdams p ex McAdams 1993 McAdams de St Aubin 1992 McAdams de St Aubin Logan 1993 Van der Water McAdams 1989 desenvolveu um modelo de generatividade definido como a meta pessoal e societal de prover para a próxima geração McAdams 1994 p 679 Ele sugere que a exigência cultural e o desejo interno promovem uma preocupa ção com a próxima geração durante a idade adulta Essa preocupação associada à crença de que a bon dade e o valor humanos farão progredir as futuras gerações leva a um compromisso generativo O com promisso pode manifestarse em vários tipos de ação criativa McAdams e seus alunos apresentam evidên cias de que a preocupação o compromisso e a ação generativos estão positivamente associados confor me prediz o modelo Talvez ainda mais interessante mente McAdams sugere que os adultos narram um roteiro generativo para si mesmos Isto é eles tecem uma história relatando como suas tentativas de ser generativos se encaixam na sociedade da qual fazem parte Observem como esse modelo é consistente com a opinião de Erikson de que o indivíduo ajustase perfeitamente à sua sociedade e também com a per gunta persistente de Allport Como deve ser escrita uma história de vida psicológica ver Capítulo 7 Status Intercultural As teorias de estágio como as propostas por Freud e Erikson geralmente são criticadas como inseparáveis da cultura Embora a crítica só possa ser aplicada a Erikson com certo senso de ironia dadas suas investi gações antropologicamente sofisticadas das tribos de índios americanos Sioux e Yukon assim como da iden tidade americana 1950 1963 vários estudos rela taram variação nos constructos eriksonianos por meio de grupos culturais p ex McClain 1975 Ochse Plug 1986 Ochse e Plug criaram um questionário de auto relato para medir os componentes da personalidade que segundo Erikson aparecem durante os sete pri meiros estágios Esse questionário foi aplicado a uma amostra diversa de homens e de mulheres brancos e negros na Universidade da África do Sul As mulheres brancas resolveram mais cedo sua crise de identidade e manifestavam um grau de intimidade maior do que os homens brancos As indicações de uma resolução negativa da crise de identidade entre as mulheres negras no grupo de idade de 2539 anos foram atri buídas à sua falta de oportunidade de desenvolver intimidade Um desenvolvimento psicossocial sadio estava relacionado a um sentimento de bemestar nos sujeitos brancos mas a relação entre bemestar e os componentes da personalidade era mais frágil nas pessoas negras Ochse e Plug concluíram que exis tem indicações de que nos homens negros o senso de identidade só se desenvolve bem tarde na idade adul ta Também é sugerido que as mulheres negras expe rienciam sentimentos fortemente relacionados de falta de autodefinição falta de intimidade e ausência de bemestar na idade adultamédia e que pode ocor rer nessa época uma resolução relativamente nega tiva da crise de identidade 1986 p 1249 Mas 184 HALL LINDZEY CAMPBELL eles alertam que seus resultados para os sujeitos ne gros são enfraquecidos por tamanhos pequenos de amostra e de considerações psicométricas Os achados de Ochse e Plug geralmente são con sistentes com um recente estudo longitudinal de Whi tbourne Zuschlag Elliot e Waterman 1992 Esses autores observaram mudanças nos escores de estágio que refletiam envelhecimento e também os efeitos de realidades históricas sociais e culturais específi cas Como conseqüência escrevem eles todas as questões psicossociais podem alcançar ascendência em qualquer momento da vida do indivíduo dependen do de fatores únicos específicos da trajetória biológi ca psicológica ou social daquele indivíduo p 270 Isto é o caminho normativo diagonal por meio do gráfico epigenético de Erikson ver Figura 52 neste capítulo não se aplica a todos os indivíduos Essa conclusão é consistente com trabalhos recentes enfa tizando o impacto do ambiente nãocompartilhado ver Capítulo 8 Isso representa uma modificação do modelo de Erikson é claro mas também reitera a afir mação de Erikson de que a anatomia a história e a personalidade são o nosso destino combinado STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO O status atual de Erikson como pensador estudioso professor e escritor é de muito prestígio não só nos círculos acadêmicos e profissionais aos quais ele está associado mas também no mundo em geral O nome de Erikson é tão conhecido como os de Piaget e Skin ner Diferentemente de seu mentor Freud e diferen temente de um outro professor de Harvard B F Skin ner Erikson não foi uma figura controversa Seus textos são singularmente isentos de críticas adversas a outros pontos de vista de fato eles têm um forte tom ecumênico e suas idéias também não têm sofri do críticas muito adversas Existe algo de muito caris mático nesse homem e em seus textos que afeta mui tas pessoas A reputação de Erikson entre os psicólogos deri vase quase exclusivamente de sua explicação do de senvolvimento psicossocial durante todo o período de vida do nascimento à senilidade em particular de seus conceitos de identidade e de crise de identidade Os psicólogos de modo geral preferem os estágios de Erikson aos estágios psicossexuais de Freud Mas a reputação de Erikson não depende somente de suas formulações teóricas Ele também é grandemente ad mirado por suas observações agudas e suas interpre tações sensatas pelos méritos literários de seus tex tos e por sua profunda compaixão por tudo o que é humano Erikson tem sido criticado por sua visão excessi vamente otimista do ser humano exatamente como Freud é criticado por sua visão pessimista Embora os termos otimismo e pessimismo não tenham lugar na avaliação de um ponto de vista científico pois aquilo que acontece ocorre independentemente dos nossos sentimentos Erikson respondeu a essa crítica salien tando que para cada passo psicossocial eu postulo uma crise e um conflito específicos denotando uma ansiedade vitalícia 1975 p 259 E a seguir ele conclui que sem ansiedade conflito e crise não have ria nenhuma força humana Erikson foi censurado por diluir a teoria freudia na ao concentrarse nas forças do ego no racional e no consciente à custa do id do irracional e do incons ciente Mesmo que essa censura se justificasse ela realmente não seria pertinente O mero fato de que Erikson pode divergir significativamente de Freud um fato que o próprio Erikson negaria não justifica um repúdio das idéias de Erikson As teorias de Freud não são a medida máxima da verdade nem ele jamais afir mou que eram As formulações de Erikson relativas ao desenvolvimento psicossocial precisam ser avalia das em termos das evidências a favor e contra e não em termos de quanto discordam de ou concordam com qualquer outra teoria Uma alegação mais sutil acusa Erikson de apoiar o status quo quando ele diz que o indivíduo precisa aprender a conformarse ou ajustarse à sociedade em que vive Na verdade Erikson disse que as pessoas precisam encontrar sua identidade dentro dos poten ciais de estabilidade ou mudança de sua sociedade enquanto seu desenvolvimento deve engrenar com os requerimentos da sociedade ou sofrer as conseqüên cias A possibilidade de Erikson ser ou não um conser vador e um tradicionalista não tem relação alguma com a validade de suas idéias Mas é interessante ele ter escolhido exemplificar seu esquema desenvolvi mental psicossocial por meio de um cuidadoso exame da vida de dois homens Lutero e Gandhi que dificil TEORIAS DA PERSONALIDADE 185 mente poderiam ser chamados de conformistas pois mudaram radicalmente as sociedades em que viviam Além disso em sua vida pessoal Erikson assumiu uma postura enérgica contra a injustiça social notavelmen te na controvérsia sobre o juramento de lealdade na Universidade da Califórnia O leitor talvez tenha inte resse em ler as conversas entre Erikson e o líder radi cal dos Panteras Negras Huey Newton K T Erikson 1973 Uma crítica com mais mérito que as anteriores se centra na qualidade dos fundamentos empíricos nos quais a teoria se baseia Ninguém pode questionar a numerosa variedade de dados observacionais reuni dos por Erikson Ele trabalhou durante muitos anos como psicanalista em consultório particular e como membro de equipe de muitos hospitais e clínicas Ele observou as brincadeiras das crianças normais em condições padronizadas Ele fez observações em pri meira mão de duas culturas indígenas E explorou detalhadamente a vida de duas figuras históricas Como artista e como cientista Erikson tinha um olho treinado No entanto apesar dessas qualidades as descri ções baseadas em observações pessoais embora con sistindo nos dados brutos de qualquer empreendimen to científico não são suficientes Sabese bem na verdade o próprio Erikson reconheceu que a obser vação pode ser muito subjetiva Uma pessoa pode ver aquilo que quer ver Nem a concordância entre vários observadores conhecida tecnicamente como valida ção consensual constitui prova A história da ciência oferece muitos exemplos das armadilhas da validação consensual A observação e a descrição devem levar à mensu ração e à experimentação controladas mas não foi isso o que Erikson fez O trabalho de Marcia foi um começo Erikson evidentemente não está sozinho nisso As poucas teorias da personalidade são apoia das por uma sólida base de dados quantitativos e ex perimentais Grande parte do que Erikson escreveu parece ter validade aparente isto é parece soar ver dadeiro para o leitor comum Quem pode negar a realidade da crise de identidade e da confusão duran te a adolescência por exemplo Além disso as for mulações de Erikson oferecem uma rica fonte de hi póteses que podem ser e estão sendo quantificadas e testadas experimentalmente Este em si mesmo é um feito notável TEORIAS DA PERSONALIDADE 187 ÊNFASE NA ESTRUTURA DA PERSONALIDADE Os teóricos da personalidade descritos nesta seção do livro compartilham uma preocupação central com a estrutura da personalidade A dinâmica e o desenvolvimento também recebem atenção mas a característica definidora dos membros dessa família de teorias é a busca de uma taxonomia um conjunto sistemático de características que possa ser usado para resumir a personalidade de um indivíduo Raymond Cattell condizentemente com seu background em química foi explícito em sua tentativa de desenvolver uma tabela periódica de elementos de personalidade Henry Murray também empregou um análogo químico buscando uma estrutura conceitual para as características pessoais e forças situacionais que permitisse aos psicólogos formular compostos comportamentais Hans Eysenck desenvolveu um modelo mais generalizado da personalidade mas seu foco continua claramente nas tendências comportamentais conceitualizadoras que nos permitem predizer reações a vários eventos estímulo Gordon Allport foi único em sua tentativa de capturar a personalidade e a história de vida psicológica do indivíduo Apesar de seu foco nas idiossincrasias com a conseqüente impossibilidade de qualquer taxonomia geral sua abordagem está baseada na identificação da estrutura de personalidade do indivíduo Aqui cabe um alerta O foco na estrutura da personalidade adotado por essas teorias levou alguns observadores a concluir que elas ignoram a situação como um determinante do comportamento Esse não é o caso Todos esses teóricos cada um à sua maneira adotam uma abordagem interacionista o comportamento é visto como uma função conjunta das características da pessoa e dos aspectos situacionais Dada sua ênfase na estrutura da personalidade não surpreende que esses quatro teóricos se preocupem muito com a mensuração da personalidade Cada um foi influente na sua maneira pessoal de desenvolver os testes de personalidade assim como foi influenciado pelos outros Um atributo final compartilhado por esses teóricos é um ancoramento biológico no estudo da personalidade Eysenck foi o mais explícito a tal respeito mas os outros três teóricos também reconhecem o papel determinante da fisiologia e distinguem entre motivos biológicos e adquiridos A Tabela 2 ver p 188 apresenta uma comparação dimensional desses teóricos 188 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 2 Comparação Dimensional de Teorias Estruturais Parâmetro Comparado Murray Allport Cattell Eysenck Propósito A A M B Determinantes inconscientes A B M M Processo de aprendizagem M M A A Estrutura A A A A Hereditariedade M M A A Desenvolvimento inicial A B M M Continuidade A B M M Ênfase organísmica A A M M Ênfase no campo A M M M Singularidade A A M M Ênfase molar M M M M Ambiente psicológico A M B B Autoconceito M A A B Competência M A M B Afiliação grupal M B M M Ancoramento na biologia A A M A Ancoramento nas ciências sociais A B B B Motivos múltiplos A A A B Personalidade ideal M A B B Comportamento anormal M B M M Nota A indica alto enfatizado M indica moderado e B indica baixo pouco enfatizado TEORIAS DA PERSONALIDADE 189 CAPÍTULO 6 A Personologia de Henry Murray INTRODUÇÃO E CONTEXTO 190 HISTÓRIA PESSOAL 191 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 194 Definição de Personalidade 195 Procedimentos e Séries 195 Programas e Planos Seriados 196 Habilidades e Realizações 196 Elementos Estáveis de Personalidade 196 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 198 Necessidade 198 Pressão 202 Redução de Tensão 203 Tema 204 Necessidade Integrada 204 UnidadeTema 205 Processos de Reinância 205 Esquema de ValorVetor 205 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 206 Complexos Infantis 206 Determinantes GenéticoMaturacionais 209 Aprendizagem 209 Determinantes Socioculturais 210 Singularidade 210 Processos Inconscientes 210 O Processo de Socialização 210 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 211 Estudo Intensivo de Pequenos Números de Sujeitos Normais 211 O Conselho Diagnóstico 212 Instrumentos de Mensuração da Personalidade 212 Estudos Representativos 213 PESQUISA ATUAL 215 McClelland e os Motivos Sociais 215 Interacionismo 216 Onde Está a Pessoa 217 Psicobiografia 218 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 219 190 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Entre os teóricos da personalidade Henry A Murray destacase por sua sofisticação na ciência biológica na prática clínica e na psicologia acadêmica Como uma rica força integrativa para esses diversos talen tos Murray possuía um brilhante estilo de redação decorrente de um profundo e permanente interesse pela literatura e pelas humanidades A teoria que se desenvolveu dessas fontes mostra um respeito consi derável pela importância determinante dos fatores bi ológicos uma plena apreciação da complexidade in dividual do organismo humano e um interesse por representar o comportamento de maneira que a in vestigação controlada seja uma conseqüência natural dessas formulações Em quatro aspectos no mínimo Murray representa um ponto de mudança no estudo da personalidade Ele levou a psicologia profunda da clínica para a universidade No processo ele determi nou claramente que forma deveria ter a pesquisa so bre a personalidade Reconheceu a importância de se desenvolver uma taxonomia da motivação E ele en fatizou a necessidade de se conceitualizar o compor tamento como uma interação de forças individuais e ambientais Em parte devido a essas ênfases Murray foi uma anomalia entre os psicólogos acadêmicos e sua carreira está cercada de controvérsias Triplet 1992 p 299 O foco de sua teoria está nos indivíduos em toda a sua complexidade Esse ponto de vista é salientado pelo termo personologia que Murray e colaborado res 1938 introduziram como um nome para seus esforços e para os esforços daqueles que estavam pri mariamente preocupados com uma compreensão com pleta do caso individual Ele enfatizou consistentemen te a qualidade orgânica do comportamento indicando que um segmento do comportamento não pode ser compreendido isoladamente do restante da pessoa em funcionamento Ao contrário de muitos outros teóri cos que compartilhavam dessa crença Murray estava plenamente disposto a realizar as abstrações necessá rias para permitir vários tipos de estudo especializa do sempre enfatizando que a tarefa da reconstrução deve ocorrer depois de a análise estar completa Um outro contraste com alguns teóricos holistas é a sua orientação de campo Murray insistia que o contex to ambiental do comportamento precisa ser totalmente compreendido e analisado antes de ser possível uma explicação adequada do comportamento individual Murray dava uma ênfase geral à importância dos de terminantes ambientais e desenvolveu uma elabora da série de conceitos destinados a representar essas forças ambientais O passado ou a história do indivíduo é tão im portante na visão de Murray quanto o presente e seu ambiente Sua teoria compartilha com a psicanálise a suposição de que os eventos que ocorreram no perío do de bebê e na infância são determinantes cruciais do comportamento adulto Outra semelhança entre essa posição e a psicanálise está na considerável im portância atribuída à motivação inconsciente e no profundo interesse pelo relato verbal subjetivo ou li vre do indivíduo incluindo suas produções imagina tivas De muitas maneiras o aspecto mais distintivo dessa teoria é seu tratamento altamente diferenciado e cuidadosamente especificado da motivação O es quema de Murray de conceitos motivacionais tem sido influente e amplamente utilizado Outro aspecto in comum da teoria é a ênfase consistente nos processos fisiológicos coexistentes e funcionalmente vinculados que acompanham todos os processos psicológicos Seu conceito de reinância que discutiremos mais adi ante serve para manter o teórico continuamente ori entado para o cérebro como o lugar da personalidade e de todas as suas partes componentes Murray sem pre enfatizou a importância da descrição detalhada como um prelúdio necessário para investigações e for mulações teóricas complicadas Consistente com esse ponto de vista está seu profundo interesse pela taxo nomia e as exaustivas classificações que estabeleceu para muitos aspectos do comportamento Murray fez sérios esforços para chegar a um com promisso entre as exigências freqüentemente confli tantes da complexidade clínica e a economia investi gativa Ele criou meios para representar pelo menos em parte a grande diversidade do comportamento humano Ao mesmo tempo ele se centrou na tarefa de construir operações para avaliar variáveis que ocu pam um papel central em seu esquema teórico Essa ênfase dupla levou naturalmente a uma aproximação entre a prática clínica e o laboratório de psicologia TEORIAS DA PERSONALIDADE 191 HISTÓRIA PESSOAL Fizemos um rápido esboço da personologia de Mur ray mas o que podemos dizer do homem que criou essa teoria Henry Murray nasceu na cidade de Nova York em 13 de maio de 1893 e foi educado na Groton School e no Harvard College recebendo em 1915 seu grau de bacharel em história Murray foi até esta épo ca um aluno indiferente e costumava brincar que em Harvard ele tinha se especializado nos três Rs rum rixas e romantismo Robinson 1992 p 27 Seu in teresse inicial pela psicologia foi diminuído pela pri meira palestra da classe introdutória de Hugo Muns terberg Na faculdade um início de interesse pela psicologia foi cortado pela frieza da abordagem do professor Munsterberg Na metade de sua segunda palestra eu comecei a procurar a saída mais próxi ma Murray 1940 p 152 Depois da graduação em Harvard ele se matriculou no Columbia College of Physicians and Surgeons onde se formou como o pri meiro de sua classe em 1919 Em 1920 recebeu o grau de mestre em biologia no Columbia e trabalhou brevemente como professor de fisiologia na Universi dade de Harvard Depois disso fez uma residência de dois anos em cirurgia no Hospital Presbiteriano de Nova York Então ingressou na equipe do Rockfeller Institute for Medical Research na cidade de Nova York onde trabalhou como pesquisadorassistente em em briologia por dois anos Seguiuse um período de es tudo na Universidade de Cambridge onde realizou pesquisas bioquímicas que lhe deram um PhD em bioquímica em 1927 Quando recebeu seu grau de doutor Murray já tinha publicado 21 artigos em im portantes jornais médicos ou bioquímicos Anderson 1988 Assim em um notável paralelo com a carreira inicial de Freud Murray estava a caminho de uma bemsucedida carreira como pesquisador em ciência biológica Em vez de seguir essa carreira Murray vol touse para a psicologia mas não pelas razões práti cas que impulsionaram Freud O ímpeto para essa conversão foi o livro de Carl Jung Psychological Types que Murray encontrou ca sualmente em uma livraria em 1923 no dia em que ele foi posto à venda nos Estados Unidos Murray imer giu no livro e em outras obras de Jung e Freud Dois outros eventos importantes ocorreram logo depois Murray conheceu Christiana Morgan com quem ini ciou um relacionamento intenso que duraria toda a vida ver Robinson 1992 ver também Douglas 1993 para uma perspectiva diferente de Christiana Morgan e leu Moby Dick de Melville Murray ficou tão envol vido pela psicologia profunda que escreveu a Jung em 1924 pedindo para visitálo Em 1925 ele passou três semanas em Zurique com Jung durante suas fé rias de Páscoa de Cambridge O interesse de Murray pela psicologia foi confirmado por esse encontro com Jung a primeira inteligência pura global que en contrei Nós conversamos durante horas velejando pelo lago e fumando diante da lareira de seu refúgio faustiano As grandes comportas do mundo das maravilhas se abriram e eu vi coisas com as quais a minha filosofia jamais sonhara Dentro de um mês uma série de problemas complicados estava resolvida e eu fui embora tendo escolhido a psi cologia profunda Eu tinha experienciado o incons ciente algo que não se pode tirar dos livros Murray 1940 p 153 Assim profundamente interessado pela psicolo gia Murray voltou ao seu país e ao Instituto Rockfel ler onde permaneceu por um ano como associado Em 1927 ele aceitou um convite para lecionar psico logia na Universidade de Harvard Essa escolha não convencional de um homem incomum sem formação em psicologia acadêmica por parte de um departa mento acadêmico foi obra de Morton Prince que aca bara de fundar a Clínica Psicológica de Harvard A clínica estava explicitamente comprometida a dedi carse ao estudo e ao ensino da psicologia anormal e dinâmica Prince buscando um jovem e promissor estudioso para orientar o futuro da clínica escolheu Murray Em 1928 Murray passou a professorassis tente e diretor da Clínica Psicológica e em 1937 a professorassociado Essa foi uma decisão difícil pois professores influentes como Edwin Boring e Karl Lash ley objetavam fortemente o fato de Murray endossar a psicanálise e adotar uma metodologia divergente Conforme observa Triplet 1992 p 305 A posição de Murray era complicada pelo fato de ele permane cer à margem de uma disciplina que estava ela pró pria à margem da aceitação Murray foi um dos membros fundadores da Sociedade Psicanalítica de Boston e por volta de 1935 concluiu sua formação 192 HALL LINDZEY CAMPBELL Henry Murray TEORIAS DA PERSONALIDADE 193 em psicanálise com Franz Alexander e Hans Sachs Um relato fascinante de sua análise didática e de suas atitudes em relação à psicanálise foi apresentado em um simpósio sobre psicólogos e psicanálise Murray 1940 Durante os quase 15 anos transcorridos antes que a guerra começasse a Clínica Psicológica de Harvard sob a liderança intelectual e espiritual de Henry Mur ray foi o cenário de um empreendimento teórico e empírico intensamente criativo Murray reuniu em torno dele um grupo de jovens alunos capazes cujos esforços conjuntos para formular e investigar a perso nalidade humana foram extremamente proveitosos O livro Explorations in Personality 1938 contém um registro parcial da criatividade dessa época mas os resultados mais importantes ocorreram na forma de valores concepções e intenções de indivíduos como Donald W MacKinnon Saul Rosenzweig R Nevitt Sanford Silvan S Tomkins e Robert W White Na Clí nica pela primeira vez a teoria psicanalítica recebeu uma atenção acadêmica séria e foi feito um grande esforço para traduzir os brilhantes insights clínicos de Freud em operações experimentais que permitissem certo grau de confirmação ou rejeição empírica Mur ray não só criou um senso de entusiasmo e iminente descoberta entre seus alunos mas também a Clínica abriu suas portas para estudiosos maduros de uma variedade de campos Erik Homburger Erikson Cora DuBois Walter Dyk H Scudder McKeel de modo que o empreendimento tinha uma aura nitidamente interdisciplinar Em 1943 essa era teve fim quando Murray dei xou Harvard para juntarse ao Corpo Médico do Exér cito Como major e subseqüentemente tenenteco ronel ele estabeleceu e dirigiu um serviço de avaliação para o Office of Strategic Services Sua organização recebeu a difícil tarefa de avaliar os candidatos para missões complexas secretas e perigosas As ativida des desse grupo foram resumidas em Assessment of Men Office of Strategic Services Equipe de Avalia ção 1948 Por seu trabalho no Exército ele recebeu a Legião de Mérito em 1946 Em 1947 ele voltou à Harvard em tempo parcial para fazer palestras sobre psicologia clínica no recémformado Departamento de Relações Sociais Em 1950 foi nomeado professor de psicologia clínica Em 1949 ele criou a Clínica Psico lógica Anexa na Universidade de Harvard onde ele e alguns colegas e alunos realizaram estudos sobre a personalidade reunindo 88 detalhados históricos de caso Murray tornouse professor emérito em 1962 Ele recebeu da Associação Psicológica Americana o Distinguished Scientific Contribution Award e o Gold Medal Award da Fundação Psicológica Americana por uma vida de contribuição ao campo Henry Murray morreu de pneumonia em 23 de junho de 1988 aos 95 anos de idade ver Smith Anderson 1989 Além de revisar e expandir suas idéias teóricas Murray esteve atento a alguns dos maiores problemas da vida contemporânea incluindo a abolição da guerra e a criação de um estado mundial Murray 1960a 1961 1962b Murray era um ardente defensor do poder da imaginação criativa temperada pela razão para resolver qualquer problema do ser humano Ele sempre criticou severamente a psicologia por proje tar uma imagem negativa dos seres humanos e por seu narcisismo maligno Murray defendia firmemen te uma psicologia humanista e otimista A formação e a pesquisa médica e biológica de Murray contribuíram para o profundo respeito que ele sempre demonstrou pela importância dos fatores físicos e biológicos no comportamento Sua experiên cia em diagnóstico médico resultou obviamente na crença de que a personalidade deve ser avaliada por uma equipe de especialistas e que nessa avaliação devemos ouvir seriamente aquilo que o sujeito diz sobre si mesmo Seu interesse pela taxonomia ou clas sificação do comportamento assim como sua convic ção de que o cuidadoso estudo de casos individuais é essencial para o futuro progresso psicológico também são altamente congruentes com seu background mé dico Seu detalhado conhecimento da mitologia 1960b e das grandes criações literárias da nossa época e de épocas passadas e especialmente seu co nhecimento perito de Melville e sua obra proporcio naramlhe uma fonte inesgotável de idéias sobre o ser humano e sua potencialidade para o bem e para o mal A mente apurada de Alfred North Whitehead foi um modelo de lógica e de pensamento sintético en quanto o truculento mas brilhante Lawrence J Hen derson serviu como um modelo de rigor e de orienta ção crítica Seu débito para com esses homens e numerosos outros incluindo várias gerações de alu nos é amplamente reconhecido em quatro documen tos muito pessoais 1940 1959 1967 1968a e em um volume de ensaios escrito em homenagem a Mur ray White 1963b Com uma herança tão complexa 194 HALL LINDZEY CAMPBELL não surpreende que sua teoria seja uma estrutura ela borada e múltipla Está claro para todos que o conheceram que o talento e a dedicação de Henry Murray ao estudo da personalidade humana se revelam apenas parcialmen te em seus trabalhos publicados Seus comentários casuais e suas livres especulações sobre uma varieda de interminável de tópicos que eram uma parte tão integral dos almoços na Clínica Psicológica inspira ram pesquisas muito proveitosas em inúmeros cole gas e alunos Infelizmente nem todas essas mensa gens caíram em solo fértil e só podemos lamentar que a palavra falada não tenha sido preservada para enriquecer a palavra escrita A tendência de Murray a revelar apenas frutos ocasionais de seu intelecto está claramente demonstrada nas publicações originadas de seus vinte e cinco anos de intensivo estudo de Her man Melville Esses anos de estudo dedicado deram lhe uma reputação sem paralelo entre os que estuda ram Melville no entanto ele só publicou alguns artigos sobre esse escritor tão cativante Um deles é uma bri lhante análise do significado psicológico de Moby Dick Murray 1951c outro uma introdução a e uma pe netrante análise de Pierre Murray 1949a um dos romances mais intrigantes e desorientadores de Mel ville Dada a inadequação dos registros escritos acha mos que a teorização e a pesquisa de Murray estão melhor representadas em Explorations of Personality 1938 Esse livro resume o pensamento e a pesquisa da equipe da Clínica Psicológica no final de sua pri meira década de existência Um registro parcial de parte da pesquisa subseqüente está em A Clinical Stu dy of Sentiments 1945 escrito com sua colaborado ra de longa data Christiana Morgan e em Studies of Stressful Interpersonal Disputations 1963 As maio res mudanças sofridas por suas convicções teóricas nos anos subseqüentes estão muito bem apresentadas em um capítulo escrito conjuntamente com Clyde Klu ckhohn 1953 em um capítulo publicado em Toward a General Theory of Action 1951a em um artigo pu blicado em Dialectica 1951b em uma palestra que ele proferiu na Universidade de Siracusa 1958 em um capítulo escrito para Psychology a study of a scien ce 1959 e em um artigo escrito para a International Encyclopedia of The Social Sciences 1968b O Manual do Teste de Apercepção Temática 1943 é a melhor in trodução a este instrumento de personalidade plane jado conjuntamente com Christiana Morgan Morgan Murray 1935 que se tornou um dos instrumentos empíricos mais importantes e mais amplamente utili zados do clínico e do investigador da personalidade A grande sensibilidade e engenhosidade demonstra das por Murray na criação de meios de avaliar e ana lisar as capacidades e as tendências direcionais hu manas são claramente reveladas em Assessment of Men Equipe de Avaliação do Office of Strategic Services 1948 A melhor introdução ao trabalho de Murray é uma coleção de seus textos editada por Shneidman Murray 1981 As publicações recentes de Anderson 1988 1990 e Triplet 1992 lançam luz sobre a car reira de Murray bem como as de Lindzey 1979 e Murray 1967 Uma biografia de Robinson 1992 centrase no relacionamento de Murray com Christia na Morgan O legado de Murray é capturado em uma série de volumes editados sobre as Conferências de Henry A Murray sobre Personalidade na Michigan State University Aronoff Rabin Zucker 1987 Ra bin Aronoff Barclay Zucker 1981 Rabin Zucker Emmons Frank 1990 Zucker Aronoff Rabin 1984 Zucker Rabin Aronoff Frank 1992 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE A natureza da personalidade e suas aquisições e con quistas ocuparam uma porção considerável da aten ção teórica de Murray Suas idéias sobre a estrutura da personalidade foram muito influenciadas pela teo ria psicanalítica mas em muitos aspectos elas são sur preendentemente diferentes de uma visão freudiana ortodoxa Murray temia um pouco a palavra estrutu ra por suas conotações de permanência regularida de e legitimidade Ele reconhecia que a personalida de normalmente está em um estado de fluxo Agora examinaremos a definição de Murray da personalida de e os conceitos que ele elaborou na tentativa de representar a natureza da personalidade TEORIAS DA PERSONALIDADE 195 Definição de Personalidade Embora Murray propusesse muitas definições de per sonalidade em diferentes momentos os principais componentes dessas definições podem ser resumidos da seguinte maneira 1 A personalidade de um indivíduo é uma abs tração formulada pelos teóricos e não sim plesmente uma descrição do comportamen to do indivíduo 2 A personalidade de um indivíduo referese a uma série de eventos que idealmente abran gem toda a sua vida A história da persona lidade é a personalidade 3 Uma definição de personalidade deve refle tir os elementos duradouros e recorrentes do comportamento bem como os elementos novos e únicos 4 A personalidade é o agente organizador ou governador do indivíduo Suas funções são integrar os conflitos e as limitações aos quais o indivíduo está exposto satisfazer suas ne cessidades e fazer planos para a conquista de metas futuras 5 A personalidade está localizada no cérebro Nenhum cérebro nenhuma personalidade Assim as tentativas de Murray de definir a perso nalidade deixam claro que ele estava fortemente ori entado para uma visão que desse um peso adequado à história do organismo à função organizadora da personalidade aos aspectos recorrentes e novos do comportamento do indivíduo à natureza abstrata ou conceitual da personalidade e aos processos fisiológi cos subjacentes aos psicológicos Procedimentos e Séries Os dados básicos do psicólogo são os procedimentos que são interações sujeitoobjeto ou interações sujei tosujeito com duração suficiente para incluir os ele mentos significativos de uma dada seqüência compor tamental Nas palavras de Murray procedimentos são as coisas que observa mos tentamos representar com modelos e expli car as coisas que tentamos predizer os fatos em comparação com os quais testamos a adequação das nossas formulações Murray 1951b p 269 270 Embora em certos ambientes seja possível definir exatamente um procedimento por exemplo uma res posta verbal e sua réplica normalmente podemos dar apenas uma definição bem geral Nessa linha Murray sugeriu que idealmente a duração de um procedi mento é determinada 1 pela iniciação e 2 pelo término de um padrão de comportamento dinamica mente significativo Murray 1951b p 269 Essa concepção de que a unidade básica do psicó logo consiste em procedimentos reflete a convicção de Murray de que o comportamento está inextricavel mente preso a uma dimensão temporal Assim o pro cedimento é um compromisso entre as limitações prá ticas impostas pelo intelecto e pelas técnicas do investigador e o dado empírico de que o comporta mento existe em uma dimensão temporal Murray su geriu que os procedimentos fossem classificados como internos devanear resolver problemas planejar soli tariamente ou externos interagir com pessoas ou objetos no ambiente Os procedimentos externos têm dois aspectos um aspecto subjetivo experiencial e um aspecto objetivo comportamental Para muitos propósitos a representação do com portamento em termos de procedimentos é perfeita mente adequada Entretanto em certas circunstânci as é necessário incluir em uma unidade ou formulação única um comportamento que ocorre ao longo de um período de tempo mais longo Essa unidade funcional mais longa de comportamento é conhecida como sé rie ou serial Uma sucessão intermitente direcionalmente or ganizada de procedimentos pode ser chamada de série Assim uma série tal como uma amizade um casamento uma carreira nos negócios é uma unidade funcional relativamente longa que só pode ser formulada em termos aproximados Pre cisamos obter registros de procedimentos críticos ao longo de seu curso e observar índices de de senvolvimento como as mudanças de disposição o aumento de conhecimento o aumento da capa cidade a melhoria na qualidade do trabalho rea lizado e assim por diante Nenhum procedimen 196 HALL LINDZEY CAMPBELL to de série pode ser entendido sem referência àqueles que conduziram a ele e sem referência às metas e às expectativas do ator ao seu planeja mento do futuro Murray 1951b p 272 Portanto a representação do comportamento em termos de séries tornase necessária quando certos procedimentos estão tão intimamente relacionados que é impossível estudálos separadamente sem des truir seu significado total Programas e Planos Seriados Os programas seriados cumprem uma função muito importante para o indivíduo São os arranjos ordena dos de submetas que se estendem para o futuro talvez meses ou anos e que se tudo correr bem levarão fi nalmente a algum estado final desejado Assim o in divíduo tem o objetivo de tornarse médico mas en tre a situação presente e essa meta estão anos de estudo e de treinamento especial Se ele desenvolver uma série de submetas cada uma visando a aproxi málo do diploma de medicina isso seria referido como um programa seriado Com a mesma importância temos os planos que são meios para reduzir o conflito entre as necessida des e as metas concorrentes organizando a expressão dessas tendências em momentos diferentes Por meio dos planos o indivíduo pode dar o máximo de ex pressão às suas várias metas Se a pessoa é eficiente na construção de planos pode diminuir muito a quan tidade e a intensidade de seus conflitos Murray colocou os programas e os planos seria dos sob o termo ordenação que inclui o processo de planejar e também o resultado do processo um pro grama ou um plano estabelecido A ordenação é um processo mental superior no mesmo nível da cogni ção A meta da cognição é um entendimento concei tual completo do ambiente mas depois que a situa ção externa foi suficientemente entendida o processo de ordenação se afirma para organizar a política e o planejamento de estratégias e táticas Essa discussão demonstra uma notável antecipação do trabalho con temporâneo sobre personalidade e cognição Nancy Cantor 1990 por exemplo descreveu como os indi víduos interpretam tarefas de vida em termos de es quemas acessíveis que os levam a desenvolver estraté gias cognitivas para resolver os problemas que a vida apresenta Habilidades e Realizações Ao contrário de muitos psicólogos da personalidade Murray demonstrava um consistente interesse pela habilidade e pela realização e considerava essas qua lidades uma parte importante da personalidade Es ses componentes do indivíduo têm a função central de mediadores entre as disposições para a ação e os resultados finais para os quais tais disposições estão orientadas Em praticamente toda a sua pesquisa da personalidade os sujeitos foram avaliados em várias áreas diferentes de habilidade e de realização física mecânica liderança social econômica erótica e in telectual Elementos Estáveis de Personalidade Mesmo se aceitarmos a personalidade como um fenô meno em constante mudança ainda existem certas estabilidades ou estruturas que aparecem ao longo do tempo e são cruciais para entendermos o comporta mento Ao representar essas estruturas mentais Mur ray tomou emprestados da psicanálise os termos ego id e superego mas introduziu certos elementos dis tintivos ao desenvolver esses conceitos Murray concordava com Freud na concepção do id como o repositório de impulsos primitivos e inacei táveis Aqui está a origem da energia a fonte de to dos os motivos inatos o self cego e nãosocializado Mas Murray insistia que o id também inclui impulsos que são aceitáveis para o self e para a sociedade O id não só contém impulsos tanto para o bem quanto para o mal mas também a força dessas tendências varia entre os indivíduos Assim a tarefa de controlar ou dirigir as tendências de seu id varia em dificuldade para diferentes indivíduos Alguns egos estão senta dos na sela de um dócil pônei Shetland outros estão escarranchados em um potro selvagem das planícies Murray Kluckhohn 1953 p 26 A reconceitualização de Murray do id altera subs tancialmente o modelo de Freud da dinâmica idego Segundo Murray parece melhor pensar no id como consistindo em todas as energias emoções e necessi dades valoresvetor básicas da personalidade algu TEORIAS DA PERSONALIDADE 197 mas das quais são plenamente aceitáveis enquanto outras são totalmente inaceitáveis Mas a maioria de las é aceitável quando expressa em uma forma cultu ralmente aprovada em direção a um objeto cultural mente aprovado em um lugar culturalmente aprovado e em um momento culturalmente aprovado Assim a função do ego não é tanto a de suprimir as necessida des instintuais quanto a de adequálas moderando sua intensidade e determinando os modos e os mo mentos de sua realização Murray Kluckhohn 1953 p 24 O paralelo com a transformação erikso niana das pulsões freudianas em fragmentos pulsio nais é notável Em conseqüência o ego não é unica mente um inibidor e repressor O ego deve não só conter ou reprimir certos impulsos e motivos mas tam bém mais significativamente ele deve arranjar orga nizar e controlar o aparecimento dos impulsos O ego consistentemente com a teoria psicanalítica é visto como o organizador e integrador central do compor tamento Parte dessa organização todavia tem por objetivo facilitar ou promover a expressão de certos impulsos do id A força e a efetividade do ego são determinantes importantes do ajustamento do indiví duo O superego na teoria de Murray assim como na de Freud é considerado um implante cultural Ele é um subsistema internalizado que age no indivíduo para regular o comportamento de uma maneira muito se melhante à dos agentes que cercavam a pessoa no passado Esses agentes tipicamente os pais mas tam bém os seus substitutos os professores as personali dades públicas e os personagens de ficção agem como representantes da cultura de modo que a internaliza ção de suas prescrições representa um movimento na direção de internalizar prescrições culturais Em con traposição a Freud o superego para Murray se desen volve em camadas variando de representações infan tis grosseiras a um ordenamento racional de princípios éticos Portanto o conflito pode existir dentro do pró prio superego Intimamente relacionado ao superego está o ide al de ego que consiste em uma imagem idealizada do self um self desejado ou um conjunto de ambições pessoais buscado pelo indivíduo O ideal de ego pode estar inteiramente divorciado do superego como no caso do indivíduo que deseja ser um mestre do crime ou pode estar estreitamente relacionado de modo que a pessoa busca suas ambições pessoais de uma manei ra que se conforma exatamente às sanções da socie dade Se o superego é dominante e o ideal de ego é suprimido a pessoa pode tentar atender à vontade de Deus ou ao bemestar da sociedade desistindo de suas ambições pessoais É importante observar que a concepção de Mur ray do superego e do ideal de ego permite maior li berdade para alterações e para desenvolvimento nos anos seguintes à infância do que a visão psicanalítica ortodoxa No desenvolvimento normal a relação en tre essas três instituições se modifica de modo que onde antes o id governava supremo o superego e even tualmente o ego passam a ter papéis determinantes No mais feliz dos casos um superego benigno e um ego forte e engenhoso se combinam para permitir a expressão adequada dos impulsos do id em circuns tâncias culturalmente aprovadas A redefinição de Murray do triunvirato estrutural freudiano do id ego e superego nos permite escapar do cenário pessimista de Freud do conflito eterno Mas Murray continuou firmemente comprometido com a defesa freudiana da psicologia profunda da sexuali dade da fantasia dos mecanismos de defesa e da ne cessidade de considerar as bases nãoracionais de com portamento Ele também abraçou a noção do determinismo da infância Freud escreveu ele obe deceu ao meu primeiro mandamento ele começou do começo Murray 1959 p 13 Sua própria dinâ mica familiar levou Murray a rejeitar a caracterização do pai como um rival aterrorizante e onipotente pela afeição de uma mãe querida Além disso a lista de necessidades de Murray é uma clara indicação de que ele considerava limitado demais o sistema motivacio nal de Freud Ele escreveu que a divisão de Freud dos instintos em Eros e Thanatos era irracional sentimen tal e inadequadamente diferenciada Murray 1967 p 304 Ademais sua elaboração do ideal de ego tem muito em comum com o modelo de Erik Erikson com o constructo de proprium de Gordon Allport e com abordagens cognitivas contemporâneas Finalmente é importante notar que Murray acreditava que Freud valorizava muito pouco a pesquisa sistemática os fa tores sociais e as diferenças culturais Murray 1940 Em resumo então Murray concordava com Freud que devemos prestar atenção às forças inconscientes e aos eventos da infância como determinantes do compor 198 HALL LINDZEY CAMPBELL tamento Essa aceitação formou a base sobre a qual ele erigiu seu próprio método para um sistema da personalidade Em uma revisão posterior de sua teoria Murray 1959 enfatizou os elementos estáveis mais positi vos da personalidade Ele acreditava que existem pro cessos formativos e construtivos que não só são úteis para a sobrevivência ou como defesas contra a ansie dade mas também possuem suas próprias energias objetivos e realizações Uma pessoa necessita ser cria tiva e imaginativa precisa compor e construir para continuar psicologicamente sadia A imaginação cria tiva de fato pode ser a característica mais forte da personalidade e aquela que geralmente tem menos oportunidades de se expressar A DINÂMICA DA PERSONALIDADE É na representação dos anseios da busca do desejo das aspirações e da vontade que as contribuições de Murray à teoria psicológica foram mais distintivas Seria justo dizer que sua posição é primariamente uma psicologia motivacional Esse foco no processo moti vacional é perfeitamente congruente com a convic ção de Murray de que no estudo das tendências dire cionais da pessoa está a chave para a compreensão do comportamento humano a coisa mais importan te que temos de descobrir sobre uma pessoa é a di recionalidade ou as direcionalidades supraordena da de suas atividades sejam elas mentais verbais ou físicas Murray 1951 p 276 O interesse de Mur ray pela direcionalidade levou a um sistema de cons tructos motivacionais complexo e cuidadosamente delineado Seus interesses taxonômicos ficam claros na paciente e atenta classificação dos elementos do comportamento humano em termos de seus determi nantes ou motivos subjacentes Murray certamente não foi o primeiro a enfatizar a importância da análise motivacional Entretanto suas formulações apresentam vários elementos distin tivos Enquanto a tendência predominante na psico logia ia na direção da simplicidade e de um pequeno número de conceitos ele insistia que uma compreen são adequada da motivação humana deveria basear se em um sistema que empregasse um número de va riáveis suficientemente grande para refletir pelo me nos parcialmente a imensa complexidade dos moti vos humanos em estado natural Ele também se esfor çou para definir empiricamente suas variáveis que apesar de imperfeitas superam de longe a efetivida de operacional da maioria dos esquemas precedentes no campo da motivação humana O resultado desses esforços é um conjunto de conceitos que tenta ousa damente transpor a lacuna entre a descrição clínica e as demandas da pesquisa empírica Ao examinar a teoria de Murray da motivação começaremos com uma discussão do conceito de ne cessidade que desde o início foi o foco de seus esfor ços conceituais Discutiremos a seguir conceitos rela cionados como pressão redução de tensão tema necessidade integrada unidadetema e reinância Final mente trataremos de seus conceitos de valor e vetor que representam uma virada mais recente em sua te orização Necessidade Embora o conceito de necessidade tenha sido ampla mente utilizado na psicologia nenhum outro teórico o analisou com tanto cuidado ou propôs uma taxono mia tão completa de necessidades quanto Murray O detalhe da análise de Murray desse conceito é sugeri do por sua definição Uma necessidade é um constructo uma ficção conveniente ou um conceito hipotético que re presenta uma força na região do cérebro uma força que organiza a percepção a apercepção a intelecção a conação e a ação de maneira a trans formar em certa direção uma situação insatisfa tória existente Uma necessidade às vezes é pro vocada diretamente por um certo tipo de processo interno mas com maior freqüência quando em um estado de prontidão pela ocorrência de uma de algumas pressões comumente efetivas forças ambientais Assim ela se manifesta por levar o organismo a buscar ou a evitar encon trar ou quando encontrar a prestar atenção e a responder a certos tipos de pressão Cada ne cessidade é caracteristicamente acompanhada por um determinado sentimento ou emoção e tende a usar certos modos para incrementar sua ten TEORIAS DA PERSONALIDADE 199 dência Ela pode ser fraca ou intensa momentâ nea ou duradoura Mas geralmente persiste e dá origem a um certo curso de ação manifesta ou fantasia que modifica a circunstância inicia dora de maneira a provocar uma situação final que acalma aplaca ou satisfaz o organismo Murray 1938 p 123124 A partir dessa definição vemos que o conceito de ne cessidade e o mesmo vale para o conceito de perso nalidade recebe um status abstrato ou hipotético es tando entretanto vinculado a processos fisiológicos subjacentes no cérebro Também imaginamos que as necessidades podem tanto ser despertadas interna mente quanto acionadas por uma estimulação exter na Em qualquer caso a necessidade produz ativida de por parte do organismo e mantém tal atividade até a situação organismoambiente ser alterada de modo a reduzir a necessidade Algumas necessidades são acompanhadas por determinadas emoções ou senti mentos e são freqüentemente associadas a atos ins trumentais específicos que são efetivos para produzir o estado final desejado Murray afirmou que a existência de uma necessi dade pode ser inferida com base 1 no efeito ou no resultado final do comportamento 2 no padrão ou no modo específico do comportamento envolvido 3 na atenção seletiva e na resposta a uma determinada classe de objetosestímulo 4 na expressão de uma determinada emoção ou no afeto e 5 na expressão de satisfação quando é atingido um determinado efei to ou de desapontamento quando o efeito não é atin gido 1938 p 124 Os relatos subjetivos sobre senti mentos intenções e metas são critérios adicionais Dada a definição geral e os critérios acima para infe rir ou classificar necessidades Murray estudou inten sivamente um pequeno número de sujeitos para che gar a uma lista experimental de 20 necessidades Embora essa lista tenha sofrido considerável modifi cação e elaboração as 20 necessidades originais con tinuam altamente representativas Essas variáveis fo ram apresentadas no Explorations in Personality 1938 com um esboço dos fatos pertinentes a cada necessidade incluindo itens de questionário para medir a necessidade as emoções concomitantes e ilus trações da necessidade As 20 necessidades estão bre vemente listadas e definidas na Tabela 61 ver p 200 Tipos de Necessidade Até o momento vimos como Murray define necessi dade examinamos os critérios propostos por ele para a sua identificação e apresentamos uma lista típica de necessidades Além disso é importante considerar as bases para distinguir entre diferentes tipos de neces sidade Em primeiro lugar existe a distinção entre necessidades primárias e secundárias As necessidades primárias ou viscerogênicas estão ligadas a eventos orgânicos característicos e referemse tipicamente a satisfações físicas necessidades de ar água alimen to sexo lactação micção e defecação As necessida des secundárias ou psicogênicas derivamse presumi velmente das primárias e caracterizamse pela ausência de uma conexão focal com qualquer processo orgâni co ou satisfação física específicos necessidades de aquisição construção realização reconhecimento exibição dominação autonomia e deferência Em segundo lugar temos a distinção entre as ne cessidades aparentes e as necessidades ocultas isto é as necessidades manifestas e as necessidades laten tes Aqui Murray estava diferenciando as necessida des que podem ser expressas de forma mais ou menos direta e imediata e aquelas que geralmente são conti das inibidas ou reprimidas Poderíamos dizer que as necessidades manifestas costumam expressarse no comportamento motor enquanto as necessidades ocul tas normalmente pertencem ao mundo da fantasia ou dos sonhos A existência de necessidades ocultas é em grande parte o resultado do desenvolvimento de es truturas internalizadas superego que definem a con duta adequada ou aceitável Certas necessidades não podem ser expressas livremente sem violar as con venções ou os padrões que foram tomados da socie dade por meio dos pais e essas necessidades geral mente operam em um nível oculto Em terceiro lugar temos as necessidades focais e as necessidades difusas Algumas necessidades estão es treitamente ligadas a classes limitadas de objetos ambientais ao passo que outras são tão generaliza das que se aplicam à qualquer situação ambiental Murray salientou que a menos que exista certa fixa ção incomum uma necessidade está sempre sujeita à mudança nos objetos para os quais é dirigida e na maneira como eles são abordados Isto é a esfera de eventos ambientais para os quais a necessidade é re 200 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 61 Lista Ilustrativa das Necessidades de Murray Necessidade Breve Definição Afiliação Aproximarse de um outro aliado um outro que se parece com o sujeito ou que gosta do sujeito e ter prazer em cooperar e retribuir Agradar e granjear a afeição de um objeto catexizado Aproximarse de um amigo e permanecer fiel a ele Agressão Superar pela força a oposição Lutar Vingarse de uma injúria Atacar ferir ou matar alguém Punir ou oporse a alguém pela força Altruísmo Ser compassivo e gratificar as necessidades de um objeto desamparado um bebê ou qualquer pessoa frágil incapacitada cansada inexperiente vacilante derrotada humilhada solitária abatida doente mentalmente confusa Ajudar quem está em perigo Alimentar ajudar apoiar consolar proteger confortar cuidar curar Autodefesa física Evitar dor ferimento físico doença e morte Escapar de situações perigosas Tomar medidas preventivas Autodefesa psíquica Evitar humilhação Livrarse de situações embaraçosas ou evitar condições que possam levar a menosprezo escárnio zombarias ou indiferença por parte dos outros Deixar de agir por medo do fracasso Autonomia Libertarse livrarse de restrições sair do confinamento Resistir à coerção e à restrição Evitar ou desistir de atividades prescritas por autoridades dominadoras Ser independente e livre para agir segundo os próprios impulsos Não ter vínculos nem responsabilidades Desafiar as convenções Contrareação Dominar ou compensar um fracasso por meio de um empenho renovado Anular uma humilhação pela ação retomada Superar fraquezas reprimir o medo Apagar uma desonra pela ação Buscar obstáculos e dificuldades a superar Manter o autorespeito e o orgulho em um nível elevado Deferência Admirar e apoiar um superior Elogiar honrar e louvar Submeterse de bom grado à influência de alguém admirado Emular e seguir exemplos Conformarse aos costumes Defesa Defenderse de ataques críticas e acusações Esconder ou justificar uma má ação um fracasso ou uma humilhação Vingar o ego Divertimento Agir por pura diversão sem outros propósitos Gostar de rir e de fazer piadas Tentar relaxar e livrarse do estresse de formas agradáveis Participar de jogos esportes danças festas e carteados Dominação Controlar o seu ambiente humano Influenciar ou dirigir o comportamento de outros por meio de sugestão sedução persuasão ou ordens Dissuadir reprimir ou proibir Entendimento Fazer ou responder perguntas gerais Interessarse por teorias Especular formular analisar e generalizar Exibição Causar uma impressão Ser visto e ouvido Excitar surpreender fascinar entreter chocar intrigar divertir ou encantar os outros Humilhação Submeterse passivamente a uma força externa Aceitar injúria culpa críticas punição Render se Resignarse ao destino Admitir inferioridade erros transgressões ou derrotas Confessar e reparar Culpar menosprezar ou mutilar o self Buscar e sentir prazer com dor punição doença e desgraça Ordem Colocar os objetos em ordem Buscar limpeza arrumação organização equilíbrio asseio ordem e precisão Realização Realizar alguma atividade difícil Dominar manipular ou organizar objetos físicos seres humanos ou idéias Fazer isso tão rapidamente e tão independentemente quanto possível Superar obstáculos e atingir um padrão elevado Superar a si mesmo Competir e ultrapassar os outros Aumentar a autoconsideração pelo exercício bemsucedido do talento continua TEORIAS DA PERSONALIDADE 201 levante pode ser ampliada ou reduzida e os atos ins trumentais vinculados à necessidade podem aumen tar ou diminuir Se a necessidade está firmemente li gada a um objeto inadequado isso se chama fixação e é costumeiramente considerado patológico Entretan to como Murray indicou uma necessidade que não demonstra nenhuma preferência objetal duradoura pulando de objeto para objeto pode ser tão patológi ca quanto uma fixação Em quarto lugar temos as necessidades próativas e as necessidades reativas A necessidade próativa é amplamente determinada a partir do interior é uma necessidade que se torna espontaneamente cinética em resultado de algo que existe dentro da pessoa e não de algo que está no ambiente As necessidades reativas por outro lado são ativadas em resultado de ou em resposta a algum evento ambiental A distin ção aqui é principalmente entre uma resposta provo cada por uma estimulação apropriada e uma resposta produzida na ausência de qualquer variação impor tante de estímulo Murray também usou esses concei tos para descrever a interação entre duas ou mais pes soas quando uma delas pode ser identificada como o próator inicia a interação faz as perguntas em ge ral proporciona os estímulos aos quais a outra deve responder e a outra pode ser identificada como o re ator reage aos estímulos oferecidos pelo próator Em quinto lugar existe a distinção entre atividade de processo necessidades modais e necessidades de efei to Os psicólogos americanos com sua ênfase conven cional na função e na utilidade têm enfatizado con sistentemente as necessidades de efeito necessidades que levam a algum estado ou a um resultado final desejado Mas Murray insistia na importância igual da atividade de processo e das necessidades modais tendências a realizar certos atos no interesse do de sempenho em si A operação aleatória nãocoorde nada nãofuncional de vários processos visão audi ção pensamento fala e assim por diante que ocorre a partir do nascimento chamase atividade de proces so É o puro prazer da função fazer por fazer As necessidades modais por outro lado envolvem prati car alguma ação com um certo grau de excelência ou qualidade Ainda é a atividade o que se busca e apre cia mas ela agora só é recompensadora quando reali zada com um certo grau de perfeição InterRelação de Necessidades É evidente que as necessidades não operam em com pleto isolamento uma da outra e a natureza dessa interação ou influência mútuas é de crucial importân cia teórica Murray aceitava o fato de que existe uma hierarquia de necessidades com certas tendências tendo precedência sobre outras O conceito de predo minância é usado para referirse a necessidades que se tornam dominantes rapidamente se não são satis feitas Murray 1951a p 452 Assim nas situações em que duas ou mais necessidades são simultanea mente despertadas e motivam respostas incompatí veis é a necessidade predominante como dor fome sede que comumente será traduzida em ação pois as necessidades predominantes não podem ser adia das Uma satisfação mínima dessa necessidade é ne TABELA 61 Continuaçãoa Necessidade Breve Definição Rejeição Separarse de um objeto negativamente catexizado Excluir abandonar expelir ou permanecer indiferente a um objeto inferior Esnobar ou romper com alguém Segurança Ter as próprias necessidades satisfeitas pela ajuda carinhosa de um objeto aliado Ser cuidado apoiado sustentado cercado protegido amado aconselhado orientado mimado perdoado consolado Permanecer próximo de um protetor dedicado Ter sempre alguém que apóia Sensualização Buscar e sentir prazer com impressões sensuais Sexo Buscar e desenvolver um relacionamento erótico Ter relações sexuais aAdaptada de Murray 1938 p 152226 202 HALL LINDZEY CAMPBELL cessária antes que as outras necessidades possam ope rar Em sua investigação da personalidade Murray habitualmente empregava uma série de conceitos para representar conflitos envolvendo necessidades impor tantes Assim em sua pesquisa é costume obter para cada sujeito estimativas da intensidade do conflito em certas áreaschave como por exemplo autonomia versus aquiescência realização versus prazer Em certas circunstâncias as necessidades múlti plas podem ser gratificadas por um único curso de ação Nos casos em que o resultado de diferentes ne cessidades é o mesmo em termos comportamentais Murray falava da fusão de necessidades Outra rela ção importante entre as necessidades é referida pelo conceito de subsidiação Uma necessidade subsidiária é aquela que opera a serviço de outra por exemplo o indivíduo pode mostrar necessidades agressivas mas elas podem ter como objetivo apenas facilitar as ne cessidades aquisitivas No caso em que a operação de uma necessidade é meramente instrumental para a gratificação de outra nós falamos da primeira neces sidade como subsidiária à segunda Traçar cadeias de subsidiação pode ser muito valioso para revelar os motivos dominantes ou essenciais do indivíduo Níveis de Análise É importante reconhecer que as necessidades de Mur ray representam um constructo generalizado Ele es tabeleceu uma distinção entre necessidade e meta a meta representa o objetivo específico adotado pela pessoa como uma expressão da necessidade Murray 1951b usou o exemplo de uma necessidade geral de dominação e uma meta específica de ser eleito pre feito da cidade Murray 1938 p 127 escrevera pre viamente Quando se afirma que um indivíduo tem uma forte necessidade de Agressão digamos isso sig nifica apenas que sinais dessa necessidade recorreram com relativa freqüência no passado Essa é uma afir mação abstrata que requer maiores explicações por que não indica como ou em relação a quais objetos a necessidade se expressará Ela também omite como logo veremos o papel crítico da pressão ambiental Murray também empregou o conceito de Freud de catexia para referirse ao poder de um objeto de evocar uma necessidade positiva ou negativa em uma pessoa Ele afirmou que uma personalidade é ampla mente revelada nos objetos que catexiza Dessa ma neira podemos compor um retrato razoavelmente adequado da personalidade social 1938 p 106 Isso permitiu que Murray resolvesse um dilema que con fundia muitos estudiosos e teóricos da personalidade o foco deve estar em características individuais espe cíficas ou em constructos gerais Murray escreveu O problema é generalizar para propósitos cientí ficos a natureza dos objetos catexizados pois pa rece que não podemos lidar com entidades con cretas em sua plena particularidade Não tem nenhum significado científico dizer que um S su jeito gosta de Bill Snooks ou dos trabalhos de Fred Fudge ou entrou para o clube Gamma ou pertence aos Adventistas da Décima Segunda Hora embora para os cavalheiros envolvidos com o S nessas associações isso possa ser importante Na nossa opinião o importante é saber que existe algum objeto catexizado mas o objeto como tal não tem nenhum status científico até ser analisa do e formulado como um composto de atributos psicologicamente relevantes A teoria da pressão esperamos é um passo nessa direção 1938 p 107108 Nós examinamos como Murray escolheu represen tar a motivação do indivíduo Mas tais motivações pessoais estão intimamente ligadas a eventos que ocor rem fora do indivíduo e precisamos portanto verifi car como Murray representa esses importantes acon tecimentos ambientais Pressão Assim como o conceito de necessidade representa os determinantes significativos do comportamento dentro da pessoa o conceito de pressão representa os determinantes efetivos ou significativos do com portamento no ambiente Em termos simples uma pressão é uma propriedade ou atributo de um objeto ou pessoa do ambiente que facilita ou impede os es forços do indivíduo para atingir uma determinada meta As pressões estão ligadas a pessoas ou objetos que têm implicações diretas nos esforços do indiví duo para satisfazer as necessidades A pressão de um objeto é aquilo que o objeto pode fazer para o sujeito ou pelo sujeito o poder que tem de afetar o bem estar do sujeito de uma maneira ou outra A catexia de um objeto por outro lado é aquilo que o objeto TEORIAS DA PERSONALIDADE 203 pode fazer o sujeito fazer 1938 p 121 Ao repre sentar o ambiente em termos de pressão o investiga dor espera extrair e classificar as porções significati vas do mundo em que o indivíduo vive Nós certamente saberemos muito mais sobre o que um indivíduo pro vavelmente vai fazer quando compreendermos não apenas seus motivos ou tendências direcionais mas também sua maneira de ver ou interpretar seu ambi ente É esta última função que os conceitos de pres são pretendem cumprir Murray desenvolveu várias listas de pressões para propósitos específicos Na Tabela 62 temos uma des sas classificações apresentando eventos ou influênci as significativos da infância Na prática tais pressões não só são identificadas como operando na experiên cia de um dado indivíduo mas também recebem uma avaliação quantitativa para indicar sua força ou im portância na vida da pessoa É importante distinguir entre a significação dos objetos ambientais conforme são percebidos ou inter pretados pelo indivíduo pressão beta e as proprieda des desses objetos ambientais conforme existem na realidade ou são revelados pela investigação objetiva pressão alfa O comportamento do indivíduo está mais estreitamente relacionado à pressão beta mas é importante descobrir aquelas situações em que há uma grande discrepância entre a pressão beta à qual o in divíduo está reagindo e a pressão alfa que realmente existe Redução de Tensão Já vimos que Murray concebia o indivíduo como acio nado por um complexo conjunto de motivos Além disso ele afirmava que quando uma necessidade é despertada o indivíduo fica em um estado de tensão TABELA 62 Lista Abreviada de Pressõesa 1 Falta de apoio familiar 4 Retenção objetos que retêm Discórdia cultural 5 Rejeição indiferença e escárnio Discórdia familiar 6 Contemporâneo rival competidor Disciplina volúvel 7 Nascimento de um irmão Separação parental 8 Agressão Ausência de um progenitor pai mãe Maus tratos por homem ou mulher mais velhos Doença de um progenitor pai mãe Maus tratos por parte de contemporâneos Morte dos pais pai mãe Contemporâneos brigões Inferioridade paternal pai mãe 9 Dominação coerção e proibição Dissemelhança parental pai mãe Disciplina Pobreza Treinamento religioso Lar instável 10 Carinho indulgência 2 Perigo ou infortúnio 11 Socorro necessidades de ternura Falta de apoio físico altura 12 Deferência elogios reconhecimento Água 13 Afiliação amizades Solidão escuridão 14 Sexo Intempéries relâmpagos Exposição Fogo Sedução homossexual heterossexual Acidente Intercurso parental Animal 15 Engano ou traição 3 Ausência ou perda 16 Inferioridade De nutrição Física De possessões Social De companheirismo Intelectual De variedade aAdaptada de Murray 1938 p 291292 204 HALL LINDZEY CAMPBELL e a satisfação da necessidade envolve redução da ten são Finalmente o organismo vai aprender a prestar atenção a objetos e a realizar atos que no passado estavam associados à redução de tensão Apesar de Murray concordar com essa formula ção convencional ele afirmava que esse é um quadro incompleto O indivíduo não só aprende a responder de maneira a reduzir a tensão e experienciar satisfa ção mas também aprende a responder de maneira a criar tensão que mais tarde precisará ser reduzida o que aumentará o prazer Um exemplo de aumentar a tensão de modo a derivar uma satisfação maior da atividade são as preliminares que antecedem a consu mação sexual Um outro bom exemplo é a busca de sensação de Zuckerman um motivo que examinare mos no Capítulo 9 Devemos notar que essa formulação se aplica ape nas às necessidades de efeito Na atividade de proces so e nas necessidades modais a satisfação é intrínse ca à atividade e pode ser tão intensa no início e no meio como no final Murray aceitava a proposição de que as pessoas agem pretendendo aumentar a satisfação e diminuir a tensão Entretanto essa é apenas uma intenção ou crença por parte do ator Nem sempre o ato que a pessoa acredita reduzir a tensão e levar à satisfação vai atingir tal meta Além disso o ser humano não é motivado para aumentar a satisfação em geral é sem pre uma tensão específica relevante para uma neces sidade particular que ele tenta reduzir Portanto a satisfação é em grande parte uma conseqüência ou resultado de estados de necessidade e suas conse qüências comportamentais Tema Um tema é simplesmente uma unidade comportamen tal molar e interativa Ele inclui a situação instigado ra pressão e a necessidade que está operando As sim ele lida com a interação entre as necessidades e as pressões e permite uma visão do comportamento mais global e menos segmental Por meio desse con ceito o teórico pode representar as situações que ins tigam ou levam à operação de determinadas necessi dades assim como a conseqüência ou os resultantes da operação dessas necessidades Os temas variam de formulações simples de uma única interação sujeitoobjeto a formulações mais ge rais e aproximadas de transações mais longas Eles também incluem formulações que representam a com binação de um número de temas simples temas se riais O tema como uma unidade analítica é uma conseqüência natural da convicção de Murray de que as relações interpessoais devem ser formuladas como uma unidade que apresenta dois elementos Isto é o teórico não só precisa representar o sujeito que é o foco do interesse mas também precisa representar inteiramente a natureza da pessoa com quem o sujei to está interagindo O teórico deve ter a mesma preo cupação com os detalhes do sujeito e do objeto para predizer interações sociais concretas entre ambos É importante reconhecer que Murray usou os te mas tanto para definir episódios comportamentais sim ples que ele via como as unidades molares básicas da psicologia como para caracterizar indivíduos Vamos considerar dois exemplos de episódios citados por Murray Primeiro um indivíduo que é esnobado por outro poderia responder da mesma forma Isso seria codificado como pressão de rejeição desencadeando a necessidade de rejeição no indivíduo Segundo uma pessoa poderia esforçarse muito para ter sucesso de pois de um fracasso Isso seria conceitualizado como uma necessidade de realização seguindose à pres são do fracasso Qualquer um dos episódios poderia ser momentâneo ou poderia recorrer como uma res posta característica da pessoa a uma determinada pres são Murray acreditava que a biografia de um ho mem pode ser retratada abstratamente como uma rota histórica de temas Com efeito um indivíduo apre senta a tendência a reagir de maneira semelhante a situações semelhantes e isso se intensifica à medida que ele envelhece Assim existe a mesmice consis tência bem como a mudança Murray 1938 p 43 Observem que a descrição de Murray do indivíduo é uma descrição interacionista o que importa é a sua reação característica a uma determinada pressão e não uma tendência comportamental livremente flu tuante Necessidade Integrada Embora as necessidades não estejam necessariamen te vinculadas a objetos específicos no ambiente é fre qüente que com a experiência o indivíduo passe a associar determinados objetos a certas necessidades Igualmente determinados modos de resposta ou TEORIAS DA PERSONALIDADE 205 meios de abordar ou evitar esses objetos podem ser adquiridos e associados à necessidade Quando ocor re essa integração da necessidade e da imagem ou pensamento do objeto ambiental bem como de atos instrumentais Murray fala de uma necessidade inte grada Uma necessidade integrada é uma disposição temática bemestabelecida a necessidade de um certo tipo de interação com um certo tipo de pessoa ou objeto Quando existe uma necessidade integrada o despertar da necessidade geralmente levará a pes soa a buscar de maneira apropriada o objeto ambien tal correspondente à imagem que faz parte do inte grado de necessidades Nas palavras de Murray 1938 p 110 É uma constelação interna que estabelece um canal pelo qual uma necessidade é realizada Com parado a ele o conceito de necessidade é altamente abstrato UnidadeTema A unidadetema é essencialmente o padrão único de necessidades e de pressões relacionadas derivado da experiência infantil que dá significado e coerência à porção maior do comportamento do indivíduo Ela opera amplamente como uma força inconsciente Nem sempre é possível descobrir uma unidadetema em bora normalmente possamos chegar a uma formula ção desenvolvimental que lança luz sobre todo o com portamento do indivíduo ou sobre a maior parte dele e sem o que não seria possível trazer muita ordem ao comportamento Murray referiuse à unidadetema de uma pessoa como a chave para a sua natureza úni ca e sugeriu Uma unidadetema é um composto de necessida des dominantes interrelacionadas colaborati vas ou conflitantes que estão ligadas à pressão à qual o indivíduo foi exposto em uma ou mais oca siões específicas gratificantes ou traumáticas na infância inicial O tema pode representar uma experiência infantil primária ou uma subseqüen te formação reativa àquela experiência Mas in dependentemente de sua natureza e gênese ele se repete de muitas formas durante a vida 1938 p 604605 Processos de Reinância Um processo de reinância é o acompanhamento fisio lógico de um processo psicológico dominante Nós já vimos na definição de Murray de personalidade bem como na nossa discussão do conceito de necessidade que ele enfatizava a importância dos processos fisio lógicos ou neurológicos subjacentes aos fenômenos que interessam o psicólogo Essa clara intenção de localizar ou encaminhar todos os processos psicológi cos à função cerebral levou ao desenvolvimento de um conceito específico a reinância destinado a man ter em primeiro plano na atenção do teórico esta iden tidade de cérebropersonalidade Ao definir esse con ceito Murray escreveu Talvez seja conveniente referirse aos processos mutuamente dependentes que constituem as con figurações dominantes no cérebro como proces sos de reinância e também designar a totalidade desses processos que ocorrem durante um momen to único um segmento temporal unitário de pro cessos cerebrais como uma reinância Em cer ta extensão a necessidade reinante domina o organismo 1938 p 45 Murray também deixou claro que todos os pro cessos conscientes são reinantes mas que nem todos os processos reinantes são conscientes Assim a cons ciência é apenas uma propriedade de um processo psicológico dominante e pode ou não estar presente em um determinado caso Esquema de ValorVetor Uma das deficiências dos conceitos de necessidade e pressão conforme elaborados anteriormente é que eles não demonstram respeito suficiente pela inser ção do comportamento pela extensão em que deter minadas necessidades estão ligadas a pressões espe cíficas e a outras necessidades Murray tentou representar mais adequadamente essa interação en tre os determinantes do comportamento Ele argumen tou que as necessidades sempre operam a serviço de algum valor ou com a intenção de provocar algum estado final e que o valor portanto deve fazer parte da análise dos motivos 206 HALL LINDZEY CAMPBELL Uma vez que a observação e a experiência con firmam o fato de que a agressão bem como qual quer outro tipo de ação tem um efeito função que pode ser melhor definido como uma entida de valorizada sua construção conservação ex pressão ou reprodução nomear a entidade valo rizada em conjunção com a atividade nomeada deve contribuir muito para o nosso entendimento da dinâmica do comportamento 1951b p 288 Nesse esquema Murray propôs que as tendências comportamentais fossem representadas em termos de vetores que representam amplas direções físicas ou psicológicas de atividade Os valores aos quais os vetores servem são representados por uma série de conceitos de valor Embora o esquema não estivesse completamente concebido Murray fez listas experi mentais de valores e vetores Os vetores consistem em rejeição recepção aquisição construção conser vação expressão transmissão expulsão destruição defesa e evitação Os valores consistem no corpo bem estar físico propriedade objetos úteis riqueza au toridade poder de tomar decisões associação afei ção interpessoal conhecimento fatos e teorias ciência história forma estética beleza arte e ide ologia sistema de valores filosofia religião Na prá tica a intenção é enquadrar esses vetores e valores em uma matriz de linhas e colunas que se intersecio nam de modo que cada célula na matriz representa um comportamento que corresponde a um vetor es pecífico a serviço de um valor específico ver Figura 61 adiante O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Nós examinamos o elaborado conjunto de conceitos desenvolvido por Murray para representar as disposi ções ou os anseios do indivíduo e também os concei tos propostos por ele para representar eventos am bientais significativos Assim podemos agora repre sentar o indivíduo em qualquer ponto do tempo como um integrado complexo de necessidades e pressões ou vetores e valores estruturas de personalidade ha bilidades realizações e sentimentos Entretanto tam bém vimos que a história do organismo é o organis mo e isso indica claramente que representar o indi víduo em um determinado ponto do tempo não é suficiente O estudo longitudinal do indivíduo é ex tremamente importante e Murray tinha muito a di zer sobre o caminho do desenvolvimento psicológico As variáveis que já examinamos podem ser apli cadas é claro em qualquer ponto do desenvolvimen to Mas além desses conceitos Murray elaborou e refinou a concepção psicanalítica de complexo para representar um conjunto particularmente importante de experiências da infância inicial Embora o trata mento dado por Murray ao desenvolvimento tenha um forte cunho de teorização psicanalítica ele intro duziu novas dimensões no uso dessas concepções Ele também foi especialmente inventivo ao criar meios para medir algumas das variáveis importantes Ao discutir o desenvolvimento começaremos con siderando os complexos infantis e logo após apresen taremos um breve sumário da posição de Murray com relação a várias questões teóricas incluindo determi nantes genéticomaturacionais aprendizagem deter minantes socioculturais singularidade do indivíduo papel dos fatores inconscientes e processo de sociali zação Complexos Infantis Murray 1938 descreveu detalhadamente as pressões da infância e as necessidades e as catexias resultan tes Ele também observou que a nossa lembrança des ses eventos depende de possuirmos a linguagem só lembramos aquilo que foi verbalizado discutiremos uma suposição semelhante de George Kelly no Capí tulo 9 Embora os eventos do período préverbal não sejam lembráveis Murray os considera em muitos casos tão determinantes como os eventos posteriores se não mais 1938 p 361 O status préverbal des ses eventos apresenta um dilema empírico porque os métodos usuais de avaliação ou mensuração são ina dequados O investigador depende da observação ex terna da criança e de vagas reconstruções que o indi víduo pode fazer depois de desenvolver a linguagem A utilização destas duas fontes de dados levou ao iso lamento de certas áreas de experiência como possu TEORIAS DA PERSONALIDADE 207 Vetores tendéncias de acao Valores Rejeicdo Recepcdo Aquisicgdéo Construcgdo Conservacao Expressao Transmissao Expulsdo Destruigaéo Defesa Evitacao metas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 A Corpo Esquia joga bemestar ténis fisico B Mantém uma Propriedades casa objetos uteis confortavel riquezas C Autoridade E chefe do poder de departamento tomar de fisica decisdes D Associagao Gosta de afeigado atividades interpessoal com a esposa e os filhos E Rejeita Absorve Pesquisa Desenvolve Armazena Escreve um Discute o Apagaas Atacaas Defende Evita criticas Conhecimento material informagdes novas uma nova novas artigo sobre artigo com idéias idéias os ocultando fatos e irrelevante que atraem idéias no teoria informagdes uma nova colegas incorretas erradas de proprios certos teorias para o a atencao laboratorio na memoria teoria outras conceitos procedimentos ciéncia assunto ena pessoas historia do artigo biblioteca F Forma Freqiienta estética concertos beleza arte pinta paisagens G Ideologia Estuda sistema de religides valores comparadas filosofia religiao FIGURA 61 Uma interpretacdo do sistema de valorvetor de Murray A coluna 6 indica as formas que pode tomar a tendéncia de aao ou o vetor da expressdao A linha E sugere como a pessoa poderia buscar a meta valor do conhecimento usando todas as suas tendéncias de acao De Murray 1951 conforme adaptada por Hall Lindzey Loehlin Manosevitz 1985 p 323 indo uma importancia especial para o desenvolvimento prazerosas que acompanham a defecacaéo restrin da crianca e mais tarde do adulto Murray sugeriu gido pelo treinamento esfincteriano 4 as agra que estas sao daveis impress6es dos sentidos que acompanham es wow a a miccdo e 5 a emocionante excitacdo decor cinco condicdes ou atividades extremamente nL ro a rente da friccao genital proibida por ameacas de agradaveis cada uma das quais é terminada frus Sw a punicao 1938 p 361362 trada ou limitada em algum ponto do desenvol vimento por forcas externas 1 a existéncia se Todas essas areas foram indicadas pelos psicanalistas gura passiva e dependente dentro do utero como trazendo problemas especiais para a crianca em rudemente interrompida pela dolorosa experién crescimento Aqui as contribuicdes de Murray repre cia do nascimento 2 0 prazer sensual de sugar sentam uma elaboracao e clarificacao das idéias freu um bom alimento do seio da mae ou da mama dianas ortodoxas deira enquanto aconchegado segura e dependen Nos casos em que os efeitos dessas experiéncias temente em seus bracos interrompido pelo des infantis sobre o comportamento posterior sao claros e mame 3 o livre usufruir das sensacdes extensos estamos falando de um complexo Na verda 208 HALL LINDZEY CAMPBELL de presumimos que todas as pessoas têm comple xos de variável gravidade e que só nos casos extre mos isso implica uma anormalidade Nos termos de Murray um complexo é um conjunto de necessida des integradas duradouras derivado de uma das con dições prazerosas antes mencionadas que determina inconscientemente o curso do desenvolvimento pos terior 1938 p 363 Murray definiu e sugeriu maneiras de mensurar cinco complexos claustral oral anal uretral e de castração Cada um deles representa o resultado de acontecimentos envolvendo uma das cinco áreas de experiência prazerosa recémcitadas Os complexos claustrais representam resíduos da experiência uterina ou prénatal do indivíduo Essa área de experiência foi tratada por analistas incluin do Freud e Rank Murray reuniu e sistematizou essas idéias elaborouas e rotulouas adequadamente Ele sugeriu que sob esse título geral existem três tipos específicos de complexo 1 um complexo constelado no desejo de reins talar condições semelhantes às existentes antes do nascimento 2 um complexo centrado na an siedade da ausência de apoio e do desamparo e 3 um complexo ansiosamente dirigido contra a sufocação e o confinamento 1938 p 363 Depois de apresentar uma especificação geral dos complexos Murray detalhou sintomas ou critérios em termos dos quais cada um dos três tipos de complexo poderia ser identificado O complexo claustral simples reinstalação das condições uterinas é caracterizado pela catexia do claustro um recinto parecido com o útero de objetos nutridores ou maternais da morte do passado e pela resistência à mudança por neces sidades de passividade evitação de danos isolamen to e socorro Assim o quadro global é de uma pessoa passiva dependente orientada para o passado e ge ralmente resistente à novidade ou à mudança O com plexo do medo da falta de apoio se manifesta nos me dos de espaços abertos de cair de afogarse de terremoto de fogo e da falta de apoio familiar O com plexo de egressão tem relação com escapar ou partir e manifestase na catexia de espaços abertos e ar fres co na necessidade de mudarse e viajar na catexia de mudanças na claustrofobia e em uma grande neces sidade de autonomia Portanto o indivíduo que apre senta esse complexo é em muitos aspectos o oposto da pessoa que apresenta o complexo claustral sim ples Os complexos orais representam derivativos de experiências anteriores de alimentação Novamente Murray propõe três subcomplexos específicos todos envolvendo a boca mas cada um implicando um tipo diferente de atividade O complexo de socorro oral en volve atividade oral em combinação com tendências passivas e dependentes A existência desse complexo pode ser inferida a partir de automatismos orais como sugar catexia de objetos orais como o mamilo o seio ou o polegar comer e beber compulsivos necessida de de passividade e socorro catexia de palavras e objetos nutridores e necessidades agressivas inibidas O complexo de agressão oral combina a atividade oral com a agressão e manifestase em automatismos orais como morder catexia de objetos orais sólidos carne ossos fortes necessidades agressivas ambivalência em relação a figuras de autoridade projeção da agres são oral ver o ambiente como cheio de objetos agres sivos mordedores necessidade de evitação de danos fobia de objetos que mordem e gagueira O complexo de rejeição oral envolve cuspir e ter nojo de atividades e objetos orais Mais especificamente ele se revela em uma catexia negativa de certos alimentos pouca necessidade de comida medo de infecção ou ferimento orais necessidade de isolamento e autonomia e desa grado em relação a objetos nutridores Os complexos anais derivamse de eventos associ ados ao ato de defecar e ao treinamento esfincteria no Murray sugeriu seguindo Freud e Abraham que aqui existem dois complexos específicos um relacio nado primariamente à tendência a expelir e o outro à tendência a reter O complexo de rejeição anal inclui diarréia e catexia de fezes envolve a necessidade de agressão principalmente por meio da desordem da sujeira ou do lambuzo e está associado à teoria anal do nascimento à necessidade de autonomia e à sexu alidade anal O complexo de retenção anal envolve uma catexia subjacente de fezes mas isso está escondido por trás de um aparente nojo pudicícia e reação ne gativa à defecação Esse complexo também está asso ciado à teoria anal do nascimento e à sexualidade anal bem como à necessidade de autonomia embora nes te caso a necessidade de autonomia se manifeste pela resistência à sugestão em vez de pela busca de inde pendência ou liberdade Existe uma grande necessi dade de ordem e limpeza e também uma necessida TEORIAS DA PERSONALIDADE 209 de de reter possessões Esse complexo evidentemen te reafirma a famosa trilogia freudiana de parcimô nia limpeza e obstinação sugerida como típica do caráter anal Originalmente Murray 1938 considerava me nos importante o complexo uretral Ele indicou inicial mente que o complexo envolvia molhar a cama su jarse pela uretra e erotismo uretral A pesquisa pósguerra convenceuo da importância central dessa área de experiência para muitos indivíduos e ele sub seqüentemente apresentou uma nova descrição do complexo e uma série de meios empíricos para ava liálo Ele também sugeriu que a síndrome fosse cha mada de complexo de Ícaro em função da figura mito lógica que voou perto demais do sol desobedecendo os conselhos do pai em resultado do que suas asas artificiais derreteram e ele mergulhou para a morte Murray 1955 publicou uma detalhada história de caso de um Ícaro americano Em suas formulações fi nais ele indicou que o indivíduo icariano costuma apresentar catexia de fogo uma história de enurese um anseio de imortalidade forte narcisismo e uma grandiosa ambição que se dissolve diante do fracasso O complexo de castração também recebeu menos atenção nos textos iniciais de Murray do que os pri meiros três complexos Ele sugeriu que o complexo deveria receber um significado ou importância mais limitados do que comumente lhe é atribuído por psi canalistas Parecenos melhor confinar o termo castração ao seu significado literal a ansiedade evocada pela fantasia de que o pênis poderia ser cortado fora Esse complexo ocorre com bastante freqüência mas não parece possível que seja a raiz de toda a ansiedade neurótica Ele geralmente é o resulta do das fantasias associadas à masturbação infan til 1938 p 385 Qualquer um desses complexos pode persistir por toda a vida da pessoa na forma de traços de caráter isto é as maneiras características de se comportar Determinantes Genético Maturacionais Em uma formulação posterior de suas idéias Murray 1968b atribuiu um papel importante aos fatores genéticos e maturacionais no desenvolvimento da personalidade Ele falou em processos genéticoma turacionais como sendo responsáveis por programar uma sucessão de épocas na vida do indivíduo Duran te as primeiras épocas infância adolescência e ida de adulta jovem novas composições estruturais emer gem e multiplicamse Os anos intermediários são marcados por recomposições conservadoras das es truturas e das funções já existentes Na idade final senescência a capacidade de formar novas composi ções e recomposições diminui e a atrofia das formas e das funções existentes aumenta Dentro de cada perí odo existem numerosos programas menores de even tos comportamentais e experienciais que operam sob a orientação de processos maturacionais geneticamen te controlados Murray atribuía tais desenvolvimentos a proces sos metabólicos Na primeira idade o anabolismo su pera o catabolismo na segunda os dois são aproxi madamente iguais e na terceira o catabolismo é maior que o anabolismo Murray preferia um modelo metabólico porque ele se ajusta a uma concepção da realidade que não é expressa em termos de estruturas espaciais da matéria como tal mas em termos das propriedades operantes interdependentes da matéria isto é em termos de processo tempo e energia 1968b p 9 Além disso esse é um modelo que ex plica progressão criatividade e autorealização o que não acontece em uma formulação puramente psica nalítica Aprendizagem Não podemos ignorar os fatores genéticos ao discutir a aprendizagem pois Murray acreditava que eles são responsáveis pela presença de centros de prazer he dônicos e de desprazer anedônicos no cérebro A aprendizagem consiste em descobrir o que gera pra zer e o que gera sofrimento para o indivíduo Os ge radores hedônicos e anedônicos podem ser classifi cados de várias maneiras Eles podem ser retrospectivos memórias de experiências passadas que foram mara vilhosas ou angustiantes espectivos experiências atu ais ou prospectivos antecipação de futuros prazeres ou sofrimentos Os geradores atuais podem ser clas sificados em termos de estarem localizados predomi nantemente na pessoa no ambiente ou em uma tran sação interpessoal Esses geradores podem ser subdivididos Por exemplo os geradores na pessoa 210 HALL LINDZEY CAMPBELL podem estar localizados no corpo em algum centro emocional do cérebro em algum tipo de processo psi cológico ou nos julgamentos da consciência Murray rejeitou especificamente o conceito de hábito como tendo importância primária no desen volvimento da personalidade Ao invés de ser uma criatura de hábitos o indivíduo está continuamente procurando novas maneiras de expressarse ávido por novas formas de estimulação novas aventuras e no vas realizações e pode ser transformado por insights espirituais Murray 1968 p 12 Determinantes Socioculturais Murray em um acentuado contraste com a maioria dos teóricos que tendia fortemente para a teoria psi canalítica deliberadamente atribuiu aos fatores am bientais um papel importante no desenvolvimento Nós já vimos que diferentemente da maioria dos es tudiosos da motivação ele desenvolveu um conjunto elaborado de conceitos pressões destinado a repre sentar o ambiente do indivíduo Ele o fez parcialmen te com base na teoria de Darwin de que o grupo mais que o indivíduo é a unidade evolutiva A sobrevivên cia dos mais aptos se aplica a grupos rivais Corres pondentemente Murray escreveu Esta teoria da evo lução grupal nos ajuda a compreender por que o homem é uma criatura social e por que como cria tura social ele é tanto humano como brutal 1959 p 46 Além disso ele fez freqüentes referências ao fato de que o caminho do desenvolvimento não pode ser adequadamente entendido sem um quadro com pleto do ambiente social em que o processo se desen rola Consistentemente seus conceitos de procedi mento e tema implicam uma crença interacionista uma convicção de que o pleno entendimento do com portamento só acontecerá quando tanto o sujeito quan to o objeto estiverem adequadamente representados Todas essas considerações deixam claro que Murray aceitava e acentuava a importância de uma visão de campo do comportamento Singularidade Apesar da atenção que dedicou às categorias gerais de análise Murray sempre afirmou a singularidade essencial de cada pessoa e inclusive de cada evento comportamental como um fato autoevidente Seu respeito pela observação naturalista e seus talentos literários criativos e intuitivos permitiamlhe enten der e expressar compelidoramente a individualidade e a alusiva complexidade de cada sujeito ou evento Em suas palavras Cada procedimento deixa atrás de si algum tra ço de sua ocorrência um novo fato o germe de uma idéia uma reavaliação de alguma coisa um apego mais afetuoso a alguém uma leve melhora em uma habilidade uma renovação de esperan ça uma outra razão para o desânimo Assim len tamente em gradações praticamente imperceptí veis às vezes por meio de um súbito pulo para a frente ou de um escorregão para trás a pessoa muda dia a dia Uma vez que seus amigos e fami liares também mudam podemos dizer que sem pre que ela se encontra com um deles ambos es tão diferentes Em resumo cada procedimento é em alguns aspectos único Murray Kluckho hn 1953 p 10 Processos Inconscientes Entre os psicólogos acadêmicos Murray foi um dos primeiros a aceitar o papel insidioso e difuso dos de terminantes inconscientes do comportamento Mur ray 1936 Como observamos em sua primeira afir mação teórica importante 1938 ele deixou claro que nem todos os processos de reinância têm correlatos conscientes Naturalmente aqueles que não os têm determinam o comportamento sem que o indivíduo tenha consciência disso Além de não ter consciência de certas tendências que influenciam o comportamen to o indivíduo ativamente se defende ou tira da cons ciência algumas dessas tendências Portanto Murray não só aceitava o papel dos determinantes inconsci entes do comportamento mas também reconhecia a operação dos mecanismos freudianos de repressão e de resistência O Processo de Socialização Murray sugeriu que a personalidade humana é um compromisso entre os impulsos do indivíduo e as exi gências e os interesses de outras pessoas Essas exi TEORIAS DA PERSONALIDADE 211 gências de outras pessoas são representadas coletiva mente pelas instituições e pelos padrões culturais aos quais o indivíduo está exposto e o processo pelo qual seus impulsos entram em um acordo com essas forças é referido como o processo de socialização Os confli tos entre o indivíduo e os padrões aprovados do meio social são costumeiramente resolvidos por meio de alguma adaptação do indivíduo aos padrões do gru po Só ocasionalmente e no caso de indivíduos inco muns é que a pessoa consegue modificar os padrões culturais de modo a aliviar o conflito com seus impul sos Em geral é a personalidade que é mais maleável e portanto o conflito normalmente é reduzido alte randose a pessoa Um elemento essencial para se atingir as metas da socialização é o desenvolvimento de um superego adequado Como vimos ao internalizar aspectos de figuras de autoridade às quais esteve exposta a pes soa desenvolve uma estrutura interna que serve para recompensála e punila quando ela se comporta apro priadamente ou inadequadamente em termos do pa drão cultural conforme interpretado pelas figuras de autoridade Isso implica que os pais como as figuras de autoridade mais importantes sejam os principais agentes do processo de socialização A efetividade dos pais ao recompensar padrões de comportamento apro priados e ao punir padrões desaprovados determina rá amplamente o sucesso desse processo desenvolvi mental Um importante componente do papel dos pais como socializadores é a efetividade com que eles de senvolvem um relacionamento mutuamente afetuoso com a criança de modo que a mera aprovação ou desaprovação seja uma condição significativamente motivadora para controlar o comportamento da cri ança A socialização não deixa de ter suas qualidades negativas Um indivíduo pode ser exageradamente socializado e toda uma sociedade pode estar exposta a processos de socialização que são debilitantes em vez de preparatórios para uma vida produtiva Con forme Murray sugeriu o ser humano é fundamental mente um animal e na extensão em que a socializa ção nega essa natureza fundamental biológica ela pode destruir a espontaneidade criativa e o vigor es sencial para os avanços humanos mais importantes PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Salientamos que a pesquisa de Murray distinguiuse principalmente por sua originalidade Isso torna sin gularmente difícil caracterizar de modo representati vo as investigações que ele inspirou e conduziu An tes de iniciar a difícil tarefa de selecionar investigações representativas para um sumário vamos examinar brevemente várias qualidades distintivas da aborda gem geral de Murray à personalidade O leitor inte ressado encontrará diversos artigos em que Murray apresenta sua concepção de como a pesquisa da per sonalidade deveria ser conduzida Murray 1947 1949b 1963 Estudo Intensivo de Pequenos Números de Sujeitos Normais O estudo em grande escala do comportamento huma no em que os achados consistem em tendências gru pais ou em relações globais que caracterizam insufici entemente qualquer indivíduo desse grupo representa um caminho muito limitado para o entendimento do comportamento humano Murray estava convencido com a sabedoria do naturalista e do clínico que um estudo completo e detalhado de sujeitos individuais traria um entendimento adequado do comportamen to Assim como o estudo de caso tem sido uma assis tência indispensável ao crescimento e desenvolvimento da ciência médica o futuro da psicologia depende da disposição dos investigadores de dedicar tempo e es forços ao entendimento completo de casos individu ais As relações grupais só são importantes quando acompanhadas por uma cuidadosa investigação dos desvios dentro do grupo e das condições que causam ou acompanham os desvios Relatar um achado que caracteriza 80 de um grupo especificado não tem muito valor a menos que possamos dar alguma expli cação de por que os outros 20 não se ajustam a esse padrão A consistente ênfase de Murray nesse ponto foi uma das suas principais contribuições aos méto dos de pesquisa Se estamos interessados no sujeito individual e também preocupados com as razões pelas quais al 212 HALL LINDZEY CAMPBELL guns dos sujeitos representam exceções a relaciona mentos gerais está claro que precisamos reunir uma grande quantidade de informações sobre cada sujei to Portanto foi inevitável que a posição de Murray o levasse ao estudo intenso de seus sujeitos Isso evi dentemente teve o resultado natural de reduzir o número de sujeitos que podem ser estudados em um dado período e o número total de estudos que podem ser realizados por um investigador em um determina do número de anos Uma outra qualidade distintiva de sua pesquisa foi a ênfase no estudo de indivíduos normais em ambi entes naturais Em geral o estudo intensivo de casos individuais é reservado para o ambiente clínico onde a patologia dos pacientes os torna assunto de especial interesse ou onde as exigências diagnósticas e tera pêuticas requerem informações extensivas Portanto a escolha de Murray do sujeito normal como o foco de sua pesquisa foi um complemento natural para as histórias de caso dos ambientes psiquiátricos Murray 1958 acreditava que a preocupação su prema do personologista deve ser explicar e predizer as atividades do indivíduo na vida cotidiana Por essa razão ele não deve contentarse em limitar as predi ções à subcultura do laboratório ou tentar compreen der o indivíduo simplesmente validando um teste em comparação com outro Ele também foi um dos pioneiros da cooperação interdisciplinar na pesquisa da personalidade A equi pe da Clínica Psicológica de Harvard habitualmente incluía representantes de psiquiatria psicologia an tropologia e outras disciplinas quando isso ainda era muito raro O Conselho Diagnóstico Murray colocava grande ênfase na importância do observador ou psicólogo como um instrumento na pesquisa psicológica Embora possamos usar escalas de avaliação conjuntos de categorias ou testes psico lógicos para avaliar a personalidade na base de todos esses instrumentos ainda está a observação sensível do investigador ou clínico Devido ao status funda mental do observador Murray estava convencido de que é necessário prestar mais atenção às suas fraque zas e tentar seriamente melhorar seus poderes de ob servação Tais considerações o levaram a referirse ao psicólogo como o instrumento de precisão mais im portante na pesquisa psicológica Um meio evidente de conferir e melhorar a quali dade da observação é ter múltiplos observadores to dos examinando os mesmos dados sob uma perspec tiva diferente Portanto usar vários investigadores para estudar o mesmo indivíduo ou indivíduos é singu larmente recompensador pois elimina as limitações colocadas pela tendenciosidade de determinados ob servadores ou as limitações trazidas por conjuntos especializados de dados O resultado final de tal ob servação em grupo não só é presumivelmente superi or ao da observação individual mas também os mem bros do grupo terão seus poderes de observação aguçados e melhorados devido à função corretiva da observação dos outros Essas considerações levaram Murray a criar o con selho diagnóstico que envolve muitos observadores todos estudando os mesmos sujeitos de diferentes pontos de vista com a oportunidade de uma discus são e síntese finais das informações obtidas dos dife rentes pontos de vista Após um período de observa ção individual durante o qual cada investigador estuda os sujeitos por meio de suas técnicas especializadas é feita uma conferência para cada sujeito Nesse mo mento cada investigador apresenta seus dados e sua interpretação e os outros observadores têm plena oportunidade de apresentar as próprias observações e interpretações e apoiar ou sugerir modificações no relato Cada observador é responsável por reunir e apresentar a síntese de um caso mas todos os mem bros do conselho têm uma oportunidade ilimitada de contribuir para o produto final Instrumentos de Mensuração da Personalidade Ninguém fez mais contribuições significativas para a avaliação da personalidade do que Murray Ele criou várias formas engenhosas de mensurar a personalida de e apenas um pequeno número delas foi sistema ticamente explorado Os volumes Explorations in Per sonality e Assessment of Men ilustram bem a engenhosidade e a diversidade dos instrumentos que ele planejou ou ajudou a desenvolver Um deles o Teste de Apercepção Temática tornouse juntamente com o Teste de Rorschach a técnica projetiva mais amplamen TEORIAS DA PERSONALIDADE 213 te utilizada nos dias de hoje Lindzey 1961 Murs tein 1963 Zubin Eron Schumer 1965 ver Kaplan Saccuzzo 1993 para uma revisão recente Além disso o sistema de necessidades de Murray foi a base para muitos outros inventários de personalidade am plamente utilizados Entre eles destacamse o Edwar ds Personal Preference Schedule Edwards 1954 1959 o Personality Research Form Jackson 1967 e o Jack son Personality Inventory Jackson 1976ab Quase todos os instrumentos de Murray são con gruentes com sua convicção fundamental de que um conhecimento fundamental do comportamento huma no não virá do estudo de organismos inferiores ou do estudo de humanos em condições altamente limita das e sim do complexo estudo do comportamento individual Isto é Murray defendia a coleta de dados ricos e multiformes capazes de refletir uma ampla variedade de tendências comportamentais e capaci dades Ele estava convencido de que uma das vanta gens naturais do psicólogo é o fato de ele lidar com um organismo falante e que isso deve ser plenamen te aproveitado Ao contrário do biólogo do zoólogo ou do físico o psicólogo lida com um sujeito capaz de relatar muitos feitos sobre processos internos que ope ram sobre eventos externos que atraem a atenção e sobre os determinantes mais importantes do compor tamento É verdade que esses relatos devem ser cui dadosamente avaliados e nem sempre podem ser to mados literalmente mas sem dúvida representam um início crucial na tentativa de desvendar os segre dos do comportamento humano Dado esse interesse pela subjetividade é muito natural que Murray fosse pioneiro na criação de ins trumentos de personalidade que exploram todo o con teúdo mental do sujeito Seus instrumentos tipicamen te não limitam as alternativas de resposta do sujeito por meio de categorias predeterminadas mas permi tem e encorajam uma exposição completa e subjetiva por parte do sujeito Essas técnicas liberam totalmen te a imaginação e a fantasia Elas proporcionam ao investigador uma totalidade de dados que é ao mes mo tempo ricamente promissora e complexamente desencorajadora Estudos Representativos Murray e seus colaboradores da Clínica Psicológica realizaram extensas pesquisas Murray iniciou Explo rations in Personality com o compromisso de adotar a história de um único homem como uma unidade de investigação 1938 p 3 Um dos mais claros le gados de Murray foi a decisão de muitos de seus alu nos de estudar a personalidade longitudinalmente examinando em profundidade a vida do indivíduo p ex White 1963b 1975 1981 Sua agenda de pes quisa foi levada adiante por antigos alunos como Donald MacKinnon do Institute for Personality As sessment and Research IPAR em Berkeley Além dis so como observamos anteriormente neste capítulo a tradição de pesquisa de Murray é reconhecida nas Henry A Murray Lectures in Personality na Michigan State University e na série de volumes gerados por essas conferências Três exemplos da pesquisa de Murray merecem ser mencionados Primeiro o Capítulo 6 de Explorati ons in Personality contém mais de 200 páginas de re latos de pesquisa de Murray e seus colaboradores As pesquisas relatadas incluem entrevistas sobre a infân cia e o seu desenvolvimento sexual questionários para medir necessidades e habilidades especiais correla ções entre as necessidades de Murray e a possibilida de de hipnotização níveis de aspiração os estudos experimentais de Rosenzweig sobre repressão e rea ção à frustração emocionalidade e resposta galvâni ca de pele e os estudos de Erikson de universitários do sexo masculino em situações de dramatização Esse trabalho mereceria um estudo mais profundo tanto por seu interesse inerente e seu significado histórico quanto porque ilustra a amplitude e a criatividade da abordagem de Murray à personalidade Em seu segundo livro importante The Assessment of Men Office of Strategic Services Assessment Staff 1948 Murray descreveu procedimentos de avaliação que ele e sua equipe empregaram no United States Office of Strategic Services durante a Segunda Guerra Mundial A maioria desses procedimentos represen tava uma tentativa de compreender a personalidade dos candidatos que estavam sendo selecionados para missões secretas no exterior Tal trabalho foi notável por sua orientação pragmática multidimensional As avaliações envolviam testes de autorelato entrevis tas observações e testes situacionais Por exemplo as habilidades de liderança dos candidatos eram os tensivamente medidas por quão efetivamente eles chefiavam vários auxiliares em uma tarefa de cons trução Os auxiliares todavia tinham sido orienta 214 HALL LINDZEY CAMPBELL dos para obstruir o projeto de várias maneiras e todo o exercício na verdade fora planejado para medir rea ções à frustração Como o trabalho experimental an terior em Harvard essas práticas de avaliação pre nunciaram muitas pesquisas e estratégias de avaliação contemporâneas Finalmente o projeto de pesquisa mais interes sante de Murray não se qualificaria como pesquisa para muitos psicólogos mas permite um insight pe netrante da sua conceitualização da personalidade É o artigo In Nomine Diaboli 1951c em que ele apre senta uma interpretação psicológica de Moby Dick de Melville A maior parte do artigo é dedicada a desenvolver e a documentar várias hipóteses referentes ao signifi cado dos personagens na história A primeira hipóte se afirma em termos bem simples que o Capitão Ahab representa Satã ou o Diabo e suas forças do mal Em termos psicológicos Ahab representa as forças primi tivas e amplamente malignas do id Essa hipótese é apoiada com seus característicos cuidado e atenção aos detalhes em uma série de passagens como a se guinte Que a intenção de Melville era criar Ahab à ima gem de Satã dificilmente pode ser questionada Ele disse a Hawthorne que seu livro fora exposto ao fogo do inferno e secretamente batizado não em nome de Deus mas em nome do Diabo O nome de seu trágico herói é uma homenagem a um governante do Antigo Testamento que fez mais para provocar a ira do Senhor Deus de Israel do que todos os reis de Israel que estavam diante dele O acusador do rei Ahab o profeta Elias tam bém é ressuscitado para desempenhar seu papel original embora muito brevemente no testamen to de Melville Somos informados de que o Capi tão Ahab é um homem ímpio semelhante a um deus que espiritualmente está fora da cristanda de Ele é um poço de blasfêmia e desafio de es cárnio e desprezo pelos deuses aos seus olhos jogadores de críquete e pugilistas Correm boa tos de que ele certa vez cuspiu no cálice sagrado no altar da igreja católica de Santa Eu jamais o vi ajoelharse disse Stubb Ele é um velho que parece uma anaconda Seu sadismo autoasserti vo é a antítese da submissão masoquista preconi zada pelo frei Mapple Murray 1951c p 441 442 A segunda hipótese é que Moby Dick é a antítese das forças desenfreadas do mal o superego Como tal a baleia representa não só as forças morais dentro do indivíduo mas também as instituições convencio nais da sociedade de Melville Em termos de conceitos psicológicos Ahab é o capitão das disposições culturalmente reprimidas da natureza humana aquela parte da personali dade que os psicanalistas chamam de Id Se isso é verdade seu oponente a Baleia Branca só pode ser a instituição interna responsável por essas re pressões o superego freudiano Esta então é a minha segunda hipótese Moby Dick é uma baleia genuína que esguicha salta para fora da água mergulha uma baleia que devido à sua brancu ra seu porte e beleza e por causa de um ato ins tintivo que acabou despedaçando seu atacante recebeu a projeção da consciência presbiteriana do Capitão Ahab e estaria portanto corporifi cando a concepção calvinista do Antigo Testamen to de uma divindade amedrontadora e seus rígi dos mandamentos a ética puritana derivada da América do século XIX e a sociedade que defen dia essa ética Igualmente e mais especificamen te ela simboliza os pais zelosos cujos sermões e corretivos justificados fizeram penetrar tanto as proibições que um jovem sério dificilmente po deria ultrapassar a barreira a não ser talvez bem longe entre polinésios tolerantes e indulgentes A ênfase deve estar naquela parede de inibição inconsciente e portanto inescrutável que apri sionou as paixões arrebatadoras do puritano Como o prisioneiro pode sair exclama Ahab a não ser varando a parede Para mim a Baleia Branca é essa parede empurrada para o meu lado Eu vejo nela uma força ultrajante com uma inescrutável malícia sustentandoa Como símbolo de uma consciência da Nova Inglaterra pura som bria e inconquistável íntegra e infratora o que poderia ser melhor do que um cachalote branco e TEORIAS DA PERSONALIDADE 215 negro inconquistável que mergulha e salta para fora dágua p 443444 Essas são então as maiores revelações da análise de Murray Para transmitir uma impressão adequada da força e da beleza das suas interpretações precisa mos nos reportar ao artigo original Novamente alguns podem questionar se isso de fato é uma pesquisa psicológica Certamente não existe nenhum grupo de controle nenhuma distribuição de números nenhum índice de fidedignidade nenhuma análise estatística No entanto apesar dessas viola ções rituais Murray formulou uma pergunta psicoló gica interessante e reuniu evidências relativas a essa pergunta Além disso no processo de apresentar a pergunta e seus achados ele empregou suposições referentes ao comportamento humano que são uma parte integral da teoria que acabamos de expor O mais importante de tudo é o fato de que essas passagens contêm especulações e generalizações sobre o com portamento humano que certamente terão um efeito generativo sobre o leitor Poucos experimentalistas na psicologia não se beneficiariam do contato com tais idéias apresentadas neste artigo de forma tão vívida e provocativa PESQUISA ATUAL A abordagem de Murray à personalidade inspirou muitas pesquisas A esse respeito o valor heurístico de sua teoria foi substancial Nesta seção examinare mos os programas de pesquisa derivados do modelo de Murray McClelland e os Motivos Sociais O programa de pesquisa mais diretamente associado a Murray é o estudo de David McClelland da necessi dade de realização A conexão com Murray na verda de existe em três níveis Primeiro o motivo de reali zação foi uma das necessidades originais identificadas por Murray que o definiu como o impulso de superar obstáculos e atingir padrões elevados Em segundo lugar McClelland acredita que nós não estamos dire tamente conscientes dos nossos motivos básicos Em conseqüência ele abraçou a proposta de Murray de que medimos as necessidades conforme elas existem nas fantasias da pessoa não em nosso comportamen to ou autorelatos Em terceiro lugar de acordo com este último ponto McClelland empregou uma versão modificada do Teste de Apercepção Temática TAT de Murray para medir a motivação para a realização O TAT foi desenvolvido Morgan Murray 1935 a partir da crença de Murray de que existem muitos motivos humanos básicos fora da percepção consci ente Isso certamente apresenta um importante pro blema de mensuração Como podemos esperar que uma pessoa nos diga quanto de uma tendência ela possui se ela não está consciente da existência daque le motivo Esse é o clássico dilema da psicologia pro funda A solução de Murray foi desenvolver o TAT de acordo com o que passou a ser conhecido como a hi pótese projetiva Se apresentarmos a alguém uma fi gura ambígua e se lhe perguntarmos o que está na figura a resposta será um reflexo do que é importan te para a pessoa ou dos temas que ela usa para orga nizar o mundo Murray chegou ao ponto de descrever o TAT como uma imagem de raio X do eu interior O TAT contém um conjunto de figuras ambíguas às quais a pessoa responde como um exercício de imaginação É mostrada uma figura ao testando e ele é solicitado a contar uma história descrevendo os personagens que estão na figura o que eles estão fazendo e pensando o que os conduziu àquela cena e qual será o resulta do A suposição básica de avaliação de Murray era que o herói ou personagem central da história repre senta a pessoa que está contando a história e que as necessidades as pressões e o tema do herói de fato caracterizam a pessoa que cria o relato ver Lindzey 1952 1959 1961 para avaliações do TAT McClelland modificou o TAT para medir a neces sidade de realização NAch need for achievement Ele e seus colegas McClelland Atkinson Clark Lowell 1953 criaram um procedimento confiável de pontu ação para quantificar as imagens de NAch nas históri as narradas sobre figuras como as do TAT A NAch é definida pelo desejo de sairse melhor do que os ou tros e a categoria central de pontuação era se algum personagem na história contada pela pessoa queria ter um desempenho superior ao dos outros atingir N de T Na comparação da consciência com a baleia Murray faz um fascinante jogo com as palavras infelizmente intraduzível para o português 216 HALL LINDZEY CAMPBELL algum padrão interno de excelência fazer alguma coisa única ou envolverse em algum projeto a longo prazo Os correlatos de NAch elevada identificados por McClelland foram tão inovadores como seu procedi mento de mensuração Indo muito além da pesquisa usual de laboratório dos psicólogos McClelland 1961 argumentou que sociedades inteiras podem diferir nos níveis de NAch Em um procedimento engenhoso ele aplicou seu esquema de avaliação do TAT para codifi car as imagens de NAch em livros didáticos da escola elementar em vários países Os níveis resultantes de imagens apresentaram correlação com um índice de crescimento econômico Os colaboradores de McCle lland também encontraram relações entre as imagens de realização na literatura inglesa e as importações de carvão através de Londres entre 1550 e 1800 bem como entre os níveis de NAch dos livros de leitura infantis e as flutuações no número de patentes nos Estados Unidos emitidas entre 1810 e 1950 McClelland também buscou conexões no nível do indivíduo Isto é ele argumentou que os indivíduos com NAch elevada assumem riscos moderados têm altas aspirações e assumem responsabilidade pessoal por seu desempenho Essas características devem pre dispor as pessoas ao sucesso nos negócios McClelland 1985 e há evidências de que uma NAch elevada está associada à produtividade nos negócios Por exemplo Wainer e Rubin 1969 descobriram que os líderes das companhias de pesquisa e desenvolvimento mais bem sucedidas tinham níveis mais elevados de NAch do que os líderes de companhias similares menos bem sucedidas McClelland e Boyatzis 1982 relataram que os níveis de NAch medidos na época em que futuros gerentes foram contratados pela American Telephone and Telegraph ATT estavam associados à promo ção até o nível 3 na companhia depois de 16 anos A promoção além desse ponto todavia não estava as sociada aos níveis de NAch McClelland sugeriu que em uma grande companhia hierárquica como a ATT a NAch só contribuía até certo ponto para a promo ção Nos níveis mais elevados um motivo diferente o motivo de poder poderia ser mais importante Se a motivação para a realização indica o desejo de uma pessoa de sairse melhor então a motivação de poder indica o desejo da pessoa de ter um impacto sobre os outros e sentirse forte Winter 1973 de senvolveu um sistema de codificação para as imagens de poder nas histórias do TAT Usando esse sistema Winter 1987 analisou a motivação de poder nos dis cursos inaugurais dos presidentes norteamericanos Os dois presidentes com a motivação de poder mais elevada foram Harry Truman e John Kennedy Curio samente Winter encontrou correlações positivas sig nificativas entre os escores de motivação de poder e as avaliações de grandeza presidencial número de decisões tomadas historicamente significativas e pro babilidade de levar os Estados Unidos à guerra Em uma arena mais mundana McAdams Rothman e Li chter 1982 relataram uma tendência a escores mais elevados em motivos de poder entre as pessoas que tipicamente adotam papéis de liderança eou atingem posições de grande influência Também existem relações fascinantes entre a motivação para o poder e duas facetas da nossa vida pessoal os relacionamentos românticos e a saúde fí sica No primeiro domínio existem notáveis diferen ças entre os sexos Stewart e Rubin 1976 relataram uma acentuada instabilidade nos relacionamentos românticos entre os homens com grande necessidade de poder McAdams 1984 também encontrou uma associação entre uma grande motivação para o poder nos homens e maior insatisfação no casamento e no namoro menor estabilidade nos namoros e níveis mais elevados de divórcio No caso das mulheres todavia a motivação para o poder estava positivamente asso ciada à satisfação conjugal Veroff 1982 A relação com a saúde é complicada McClelland 1979 e pou cos estudos foram relatados McClelland e Jemmot 1980 descobriram que os alunos com grande moti vação para o poder grande autocontrole e muito es tresse relacionado ao poderrealização relatavam mais doenças físicas e doenças mais graves do que os ou tros alunos Agora trataremos de três tendências recentes na pesquisa da personalidade Embora nenhuma delas tenha sido iniciada diretamente por Henry Murray todas estão ligadas ao seu modelo e são inteiramente consistentes com ele Interacionismo Como veremos no próximo capítulo sobre Gordon Allport um dos eventos seminais das últimas três dé cadas de pesquisa sobre a personalidade ocorreu em 1968 quando Walter Mischel publicou Personality and TEORIAS DA PERSONALIDADE 217 Assessment Mischel argumentou que existiam escas sas evidências da utilidade de traços gerais de perso nalidade como preditores de comportamento Uma razão aparente para isso concluiu Mischel era a rea lidade de que o comportamento tende a ser situacio nalmente específico isto é o nosso comportamento está amplamente sob o controle das características especí ficas da situação em que nos encontramos e não de qualquer traço geral de personalidade que possuímos Em conseqüência agimos de uma maneira consisten te p ex agressivamente ou solicitamente em mui tas situações diferentes porque percebemos essas si tuações como equivalentes não porque possuímos uma característica geral de personalidade como agres são ou solicitude O grande valor da posição de Mischel foi o fato de constituir um desafio empírico Ele não estava inte ressado em argumentos teóricos sobre os méritos das diferentes abordagens ele só era persuadido por da dos que indicassem uma consistência situacional cru zada do comportamento ou a utilidade preditiva dos traços de personalidade Como veremos no próximo capítulo Mischel recebeu várias respostas Uma das respostas mais importantes defendia uma abordagem interacionista o comportamento deveria ser concei tualizado e investigado como uma função conjunta das características da situação e dos atributos da pes soa ver p ex Endler e Magnusson 1976ab Mag nusson Endler 1977a Ozer 1986 Interacionismo significava coisas diferentes para muitas pessoas Endler 1981 fez uma distinção en tre interacionismo mecanicista e interacionismo recí proco O interacionismo mecanicista tem uma defini ção estatística Ele ocorre quando o efeito de uma variável de personalidade depende do nível de uma variável situacional ou quando o efeito de uma vari ável situacional depende do nível de uma variável de personalidade Por exemplo Leonard 1975 inves tigou se a semelhança entre duas pessoas está associ ada a quanto elas gostam uma da outra Ele desco briu que as pessoas com autoestima elevada gostavam mais do seu parceiro quando ele era semelhante mas que as pessoas com baixa autoestima gostavam mais do parceiro quando ele era dessemelhante Em outras palavras a autoestima um atributo de personalida de interage com a semelhança uma característica situacional para determinar a atração ver Blass 1984 para outros bons exemplos Alternativamente podemos dizer que a autoestima serve como uma variável moderadora para o relacionamento entre se melhança e atração Bowers 1973 revisou uma sé rie de estudos sobre a importância relativa de pesso as situações e interações na determinação do comportamento Em 14 de 18 comparações ele des cobriu que a interação pessoasituação determina mais a variância comportamental do que a variável da pes soa ou da situação isoladamente O interacionismo recíproco ao contrário sugere que a pessoa a situação e o comportamento têm uma influência mútua recíproca isso antecipa claramente uma posição que Albert Bandura chama de determi nismo recíproco ver Capítulo 14 De acordo com essa abordagem é impossível considerar pessoas e situa ções como causas separadas do comportamento por que elas são interdependentes O pontochave que o aluno deve reconhecer nesse contexto é que o intera cionismo recíproco não é novo Ele é uma clara ex pressão da abordagem que Henry Murray estava de fendendo quando propôs que o comportamento fosse analisado em termos de combinações de necessidade pressão ou temas Isso não pretende sugerir que há algo de errado com o interacionismo recíproco Mas o fato de Murray ter identificado dimensões coinciden tes de necessidade e de pressão proporciona um veí culo para o interacionismo recíproco que não foi sufi cientemente apreciado Onde Está a Pessoa Em um influente artigo publicado em 1971 Rae Carl son lamentou que as práticas metodológicas corren tes sejam incapazes de abordar questões de real im portância na personalidade p 203 Além disso ela escreveu que o presente empobrecimento da pesqui sa da personalidade é perturbador porque sugere que a meta de estudar as pessoas como uma totalidade foi abandonada p 207 Essa foi uma crítica pessoal de Carlson mas ela também estava claramente ecoando a posição de Murray de 33 anos antes Carlson estava seguindo a orientação de Murray também em outro aspecto Ela citou a afirmação de Kluckhohn e Murray 1949 p 35 de que cada ho mem é como todos os outros homens como alguns outros homens e como nenhum outro homem Carl son concordou com Murray que essas três abordagens devem ser vistas como complementares e utilizouas 218 HALL LINDZEY CAMPBELL para examinar todos os artigos publicados no Journal of Personality e no Journal of Personality and Social Psychology durante 1968 Dos 226 artigos revisados 57 desconsideravam as variáveis do sujeito e trata vam os sujeitos como todos os outros homens en quanto 43 consideravam as diferenças grupais p ex ansiedade elevada versus baixa ou homem versus mulher em uma abordagem como alguns outros ho mens Para consternação de Carlson nenhum estu do publicado tentou sequer uma investigação mínima da organização de variáveis de personalidade dentro do indivíduo 1971 p 209 Ela concluiu que a adesão a estratégias convencionais de pesquisa levou ao abandono do campo da personalidade normal como um empreendimento científico primário p 210 Ela resumiu seu exame citando a observação de Murray de que a razão básica pela qual a pesquisa da perso nalidade tem sido enganadora ou trivial é que os pes quisadores falharam em coletar informações pertinen tes suficientes sobre os sujeitos Carlson 1984 replicou seu exame com 113 es tudos publicados em 1982 no Journal of Personality and Social Psychology Suas conclusões foram igual mente pessimistas pois apenas 7 dos estudos satis faziam o que ela considerava como os três critérios mais importantes para um estudo da personalidade foco no indivíduo tentativa de estudar o sujeito por pelo menos dois meses e uso de materiais biográficos ou documentos pessoais Segundo Carlson os pesqui sadores mantêm uma percepção errada da tarefa A personalidade não é equivalente a variáveis de per sonalidade ou a diferenças individuais Até os mais cuidadosos estudos de processos componentes não conseguem produzir conhecimentos sobre o desenvol vimento e a organização dinâmica da personalidade como sabemos pelo menos desde Explorations in Per sonality 1984 p 1308 mas ver Kenrick 1986 para uma réplica mordaz O legado de Murray persiste Psicobiografia Os progressos recentes na subdisciplina da psicobio grafia representam a mais clara resposta ao apelo de Carlson para redescobrirmos a pessoa na pesquisa sobre a personalidade A psicobiografia original foi o estudo de Sigmund Freud sobre Leonardo da Vinci 1910a ver Elms 1988 para uma análise mas muitos fatos novos acontece ram desde então O livro seminal de Runyan 1982 Life Histories and Psychobiography proporcionou gran de parte do ímpeto para o atual trabalho nesse cam po Runyan também fez revisões recentes da história da psicobiografia 1988 1990 e a introdução de McAdams 1988 à edição especial do Journal of Personality sobre Psicobiografia e Narrativas de Vida é uma boa introdução ao campo Embora algumas psicobiografias tenham empregado explicitamente o conceito de Murray de tema p ex Alexander 1988 outros trabalhos empregaram motivos sociais Win ter Carlson 1988 a teoria de Erik Erikson do de senvolvimento da personalidade Stewart Franz Layton 1988 e a teoria do roteiro de Tompkins 1979 1987 p ex Alexander 1990 Carlson 1988 Também houve um progresso substancial na me todologia da psicobiografia Runyan 1988 divide o processo de compreender a vida de um indivíduo em oito passos variando do exame das evidências como diários e cartas até o exame de fatores sociais polí ticos psicológicos e históricos Ele argumenta que o ímpeto para uma nova psicobiografia pode vir do de senvolvimento em qualquer um desses oito passos e ilustra essa seqüência com um estudo do rei George III Alexander 1988 p 266 descreve uma série de orientações para o estudo das importantes seqüênci as de meiosfins que caracterizam as fantasias de cada pessoa Como sugere essa citação Alexander vincula seu trabalho ao de Murray e ao uso que Allport faz de documentos pessoais ver Capítulo 7 Ele sugere que tanto podemos deixar que os dados se revelem como fazer uma pergunta aos dados A primeira aborda gem requer a identificação dos materiais mais impor tantes Seguindo o método psicanalítico de Freud Alexander sugere que os psicobiógrafos prestem aten ção ao material digno de nota por sua primazia fre qüência singularidade negação ênfase omissão erro isolamento ou incompletude A segunda abordagem de Alexander centrase em algum aspecto especial do sujeito tal como seu nível de introversão ou sua ati tude em relação ao sucesso Observar todos os inci dentes relativos a esse aspecto no material existente sobre o sujeito depois codificar e contar os tipos de seqüências resultados e afetos nos dão uma indica ção das circunstâncias na vida do sujeito em que a introversão ou o sucesso ocorrem ou não TEORIAS DA PERSONALIDADE 219 Independentemente da abordagem específica ado tada a psicobiografia oferece um veículo para devol ver a pessoa à pesquisa da personalidade e para im plementar a preocupação de Murray com as histórias individuais de vida McAdams 1990 por exemplo oferece uma introdução às teorias de personalidade que adota a pessoa como a unidade de estudo Alhu res McAdams 1988 p 1 resume muito bem este ponto Mais uma vez está certo estudar a pessoa inteira Melhor os personologistas contemporâneos insistem como fizeram pioneiros como Gordon All port e Henry Murray que tal empreendimento é a rai son detre do personologista STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Já vimos que as concepções teóricas de Murray sofre ram um constante processo de reexame e modifica ção No entanto mesmo diante desse constante flu xo certos elementos continuaram firmes Em nenhum momento seu profundo interesse pelo processo moti vacional esmoreceu nem ele demonstrou qualquer inclinação a abandonar suas atividades descritivas e taxonômicas Igualmente sua teoria sempre enfati zou a importância das fontes inconscientes de moti vação e a relação entre os processos psicológicos com os processos cerebrais As formulações de Murray foram consideradas úteis não só por seus alunos mas também por muitos outros investigadores e clínicos interessados no estu do da personalidade Seus conceitos de necessidade e pressão têm sido amplamente utilizados especialmen te por clínicos e investigadores que empregam o Teste de Apercepção Temática Poucas pessoas interessadas nos detalhes de classificar o comportamento humano deixaram de ganhar algum ensinamento com as vári as classificações importantes propostas por Murray Tanto no desenvolvimento de instrumentos específi cos como na apresentação de um ponto de vista seu trabalho tem tido muita relação com desenvolvimen tos contemporâneos nessa área Tão importante como essas contribuições substantivas tem sido a capacida de de Murray de intrigar entusiasmar e inspirar seus alunos e colegas O entusiasmo e a convicção que trans mitia aos seus alunos sem dúvida são responsáveis em uma extensão considerável pelo fato de eles te rem desempenhado um papel tão importante no de senvolvimento da pesquisa da personalidade Que aspectos de sua posição teórica tiveram mais influência Talvez o componente mais distintivo da posição de Murray conforme sugerido anteriormen te seja o seu tratamento cuidadoso e sensível do pro cesso motivacional Tem havido uma forte tendência por parte de recentes teóricos da personalidade de lidar com a motivação seguindo por um de dois cami nhos bem simples O primeiro caminho atribui um número notavelmente pequeno de motivos essenciais a todos os comportamentos de modo que tudo pode ser visto como originandose dos motivos principais O segundo caminho supõe que o número de motivos é grande e que cada indivíduo é impulsionado por motivos tão complexos e tão singularmente diferen tes dos motivos de outros indivíduos que não é possí vel especificarmos motivos que possam ser utilmente aplicados a mais de uma pessoa Essa alternativa nega a utilidade de qualquer tentativa de uma classificação geral de motivos A posição de Murray está claramen te entre esses extremos fáceis Ele reconhecia a com plexidade da motivação humana e afirmava firmemen te que o processo não pode ser adequadamente representado em termos de dois três quatro ou cin co motivos gerais Entretanto ele insistia que existem motivos com suficiente generalidade para serem usa dos proveitosamente para representar o comportamen to de todos ou da maioria dos indivíduos dentro de grupos especificados Assim ele enfrentou realistica mente a tarefa de desenvolver uma série de construc tos que fariam justiça à complexidade do comporta mento humano mas ao mesmo tempo seriam cuidadosamente especificados de modo a poderem ser usados repetidamente por diferentes investigado res O resultado como vimos é uma classificação de motivos provavelmente muito mais útil do que qual quer outra classificação comparável A teoria de Murray e sua pesquisa desempenha ram um papel crucial para promover um interesse mais sério pela teoria psicanalítica por parte dos psicólo gos acadêmicos Quando Murray ingressou na Clínica Psicológica de Harvard a psicanálise era realmente uma estranha e uma invasora no domínio da psicolo gia Os anos subseqüentes viram Freud firmemente N de T Razão de ser 220 HALL LINDZEY CAMPBELL centrado como um dos gigantes intelectuais do nosso tempo e essa mudança é em grande parte atribuída à importância do exemplo de Murray Como vimos sua teoria possuía a característica singular de uma simultânea ênfase na importância do passado do organismo e do contexto presente em que ocorre o comportamento Em um mundo psicológico em que a maioria dos teóricos desenvolveu conscien temente uma preocupação com o tempo contemporâ neo ou voltouse para o passado do organismo como a única chave para se entender o comportamento é decididamente saudável termos uma posição em que essas duas classes de determinantes são devidamente valorizadas Seu interesse pelo tempo ou ambiente em que o comportamento ocorre levou ao sistema distin tivo de conceitos de pressão que permite que o inves tigador represente o ambiente percebido assim como o ambiente objetivo Uma tarefa é falar de modo ge ral sobre a importância do ambiente e outra bem di ferente é enfrentar a labuta penosa e difícil de especi ficar categorias em termos das quais os aspectos significativos do ambiente podem ser representados Murray é um dos pouquíssimos teóricos que realiza ram essa tarefa Os aspectos negativos da teoria de Murray são em vários sentidos a imagem espelhada dos positivos A uma extensão considerável as principais críticas à teoria relacionamse estreitamente à originalidade incorporatividade e complexidade da teoria Nós já concordamos que a acusação mais séria que pode ser feita a uma teoria é que ela não conduz à pesquisa Os críticos podem dizer que no sistema de Murray existe claramente um conjunto de conceitos e um conjunto relacionado de definições empíricas mas que não exis te um conjunto de suposições psicológicas claramen te enunciadas ligadas a esses conceitos de maneira a produzir conseqüências testáveis Em defesa da teoria devemos admitir que suas suposições e conceitos realmente oferecem um ponto de vista geral referente ao comportamento que clara mente tem muita relação com a maneira específica de abordar determinados problemas de pesquisa Além disso as variáveis definidas são aplicáveis à maioria ou a muitos desses problemas Podemos afirmar com considerável justiça que essas funções são mais ou menos tudo o que a maioria das teorias de personali dade apresenta neste momento Alguns críticos acham que a teoria é tão ampla mente incorporativa que perde o poder ou o vigor que estariam presentes em um ponto de vista mais limita do ou especializado Assim as próprias qualidades que tornam a teoria complexa e ao mesmo tempo prote gemna de muitas das críticas usuais às teorias de per sonalidade poderiam combinarse para reduzir a efe tividade da teoria como um ponto de vista compelidor É como se a teoria dissesse tanto que nenhuma coisa isolada é dita com uma relevância e convicção sufici entes para destacála do restante da teoria ou para fazer com que a teoria se destaque de outras Apesar da amplitude e da diversidade das formu lações teóricas de Murray está claro que ele dedicou mais atenção ao processo motivacional que ao pro cesso de aprendizagem Isso levou alguns críticos a acreditar que a teoria de Murray é incapaz de expli car como os motivos se transformam e desenvolvem se Embora sua classificação de motivos seja singular mente útil e seus métodos de medir a motivação de importância central ele disse relativamente pouco sobre o processo exato pelo qual esses motivos se de senvolvem A paciência e a habilidade de Murray como taxo nomista o levaram a criar tantas distinções finas e clas sificações detalhadas que alguns observadores acham que ele foi desnecessariamente complexo em sua abor dagem ao estudo do comportamento Certamente é verdade que o número de categorias diferentes de senvolvidas por ele associado à sua tendência a mo dificálas freqüentemente e a introduzir novos termos para descrever esses conceitos deixa o leitor casual consideravelmente confuso Embora possamos afirmar que a tarefa de um taxonomista é representar a reali dade acuradamente e não necessariamente tornar os leitores felizes devemos admitir que muitas das vari áveis de Murray não tiveram uma aplicação extensiva e prolongada a dados empíricos Em geral os textos de Murray e sua pesquisa não fizeram furor no mundo psicológico existente Ele era poeta demais e positivista de menos Estava à vonta de com sua imaginação disposto a falar livremente sobre questões que não ofereciam nenhuma possibili dade imediata de tradução empírica e disposto a tor nar públicas suas especulações desenfreadas Nenhu ma dessas qualidades leva à aceitação imediata por parte dos profissionais que ainda são muito sensíveis TEORIAS DA PERSONALIDADE 221 em relação à sua posição suspensa entre as ciências naturais e as humanas Existe uma forte tendência no experimentalista de descartar como mera subjetivi dade os problemas e as questões formulados por con temporâneos que não querem ficar amarrados por métodos e técnicas manipuláveis Assim compreensi velmente muitos investigadores têm considerado os textos de Murray pouco respeitosos em relação à téc nica experimental e perturbadores nas considerações complexas que introduzem como necessárias a um entendimento adequado do comportamento humano Henry Murray foi um psicólogo A resposta de Triplet 1992 p 305 Pelos padrões de hoje a resposta a essa pergunta provavelmente é não pode represen tar uma visão de consenso Mas nós discordamos vi gorosamente Independentemente de empregarmos medidas objetivas p ex indicações acadêmicas pu blicações em jornais de psicologia prêmios e home nagens por contribuições à psicologia e citações em publicações significativas ou índices mais problemá ticos e importantes como o número e a qualidade de alunos e associados Murray não só foi um psicólo go mas também foi um dos psicólogos mais influen tes de seu século Em qualquer avaliação final das contribuições de Murray precisamos combinar a teoria o homem e sua pesquisa Não há dúvida de que essa combinação in troduziu uma nota de vívida originalidade em uma área de pesquisa que precisava imensamente dessa qualidade No final das contas um dos maiores inimi gos do progresso empírico e teórico é a fixação em eventos estáveis mas triviais e não houve um crítico mais implacável da investigação e da formulação tri viais na pesquisa da personalidade do que Henry Murray Sua mensagem foi clara A superficialidade é o grande pecado da personologia americana Mur ray 1981 p 311 TEORIAS DA PERSONALIDADE 223 CAPÍTULO 7 Gordon Allport e o Indivíduo INTRODUÇÃO E CONTEXTO 224 HISTÓRIA PESSOAL 224 A ESTRUTURA E A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 228 Personalidade Caráter e Temperamento 228 Traço 229 Intenções 232 O Proprium 232 Autonomia Funcional 233 A Unidade da Personalidade 236 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 236 O Bebê 236 A Transformação do Bebê 237 O Adulto 238 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 239 Idiográfico Versus Nomotético 239 Medidas Diretas e Indiretas da Personalidade 240 Estudos do Comportamento Expressivo 241 Cartas de Jenny 244 PESQUISA ATUAL 245 O Interacionismo e o Debate PessoaSituação Revisitados 245 Idiográfica e Idiotética 246 Allport Revisitado 248 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 250 224 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Há cinco décadas as melhores mentes da psicologia estavam buscando inflexivelmente um maior rigor e quantificação ou então tentavam ansiosamente tra çar os motivos inconscientes até seu esconderijo ocul to Em meio a essas tendências Gordon Allport se guia serenamente seu próprio caminho defendendo a importância do estudo qualitativo do caso individu al e enfatizando a motivação consciente Essa relu tância em seguir as correntes de pensamento contem porâneas fazia com que as formulações de Allport parecessem às vezes arcaicas ou antiquadas mas em outras ocasiões ele parecia ser o campeão de idéias inovadoras e singularmente radicais Apesar de seu iconoclasmo ele representa talvez melhor que qual quer outro teórico contemporâneo a síntese do pen samento psicológico tradicional e da teoria da perso nalidade Sua posição sistemática representa uma destila ção e elaboração de idéias derivadas em parte de fon tes altamente respeitadas como a psicologia da Ges talt William Stern William James e William McDougall Da teoria da Gestalt e de Stern vieram uma desconfiança das costumeiras técnicas analíticas da ciência natural e um profundo interesse pela sin gularidade do indivíduo e pela congruência de seu comportamento James está refletido não só no bri lhante estilo de redação de Allport na sua orientação ampla e relativamente humanista em relação ao com portamento humano e no interesse pelo self mas tam bém em certas dúvidas sobre o poder supremo dos métodos psicológicos de representar adequadamente e de compreender completamente o enigma do com portamento humano Semelhante à posição de McDou gall temos a grande ênfase de Allport na importância das variáveis motivacionais sua pronta aceitação do importante papel desempenhado pelos fatores gené ticos ou constitucionais e seu proeminente uso dos conceitos de ego Além dessas influências focais fica claro a partir dos textos de Allport que ele respeita va profundamente a mensagem do passado e conhe cia bem os problemas clássicos enfrentados no século passado pelos psicólogos de laboratório HISTÓRIA PESSOAL Allport um dos quatro filhos de um médico nasceu em Indiana em 1897 mas cresceu em Cleveland onde foi educado em escolas públicas Ele estudou na Uni versidade de Harvard na mesma época em que seu irmão mais velho Floyd estudava psicologia nessa universidade Depois de formarse em economia e fi losofia em 1919 Allport passou um ano no Robert College em Istambul ensinando sociologia e inglês Ele então voltou a Harvard e conseguiu seu PhD em psicologia em 1922 Durante os dois anos seguintes ele estudou em Berlim Hamburgo e Cambridge na Inglaterra Essa vasta experiência em ambientes aca dêmicos estrangeiros deve ter contribuído para o sóli do interesse de Allport por questões internacionais sempre tão evidentes nas atividades de sua longa car reira Isso também levou Allport a servir por mais de uma década como um dos principais intérpretes da psicologia alemã na América Ao retornar da Europa ele aceitou um cargo de professor no Departamento de Ética Social da Universidade de Harvard Também parece haver uma continuidade entre esse primeiro cargo docente de Allport na América e sua persistente preocupação com problemas sociais e éticos Decorri dos dois anos ele aceitou o cargo de professorassis tente de psicologia no Dartmouth College mas foi convidado a voltar a Harvard em 1930 onde perma neceu até a sua morte em 9 de outubro de 1967 um mês antes de seu 70º aniversário No ano anterior à sua morte ele foi nomeado o primeiro Richard Cabot Professor of Social Ethics Allport foi uma das figuras centrais no movimento interdisciplinar que levou à formação do Departamento de Relações Sociais na Universidade de Harvard em uma tentativa de efetu ar uma integração parcial da psicologia da sociologia e da antropologia Para uma breve autobiografia ver Allport 1967 Por ter ensinado tantos anos na universidade não surpreende que em grande parte de seus textos All port manifeste uma deliberada intenção didática Ao contrário da maioria dos escritores técnicos cujo prin cipal objetivo parece ser a construção de declarações irrepreensíveis que desafiam os esforços do crítico para TEORIAS DA PERSONALIDADE 225 Gordon W Allport 226 HALL LINDZEY CAMPBELL encontrar um ponto onde atingilos Allport parecia muito mais interessado em apresentar questões de uma maneira saliente provocativa Isso às vezes levava a exageros ou ao foco em uma questão específica com a relativa exclusão de outros pontos pertinentes As sim poderíamos dizer que Allport é um dos teóricos psicológicos mais ardentemente criticados mas tam bém devemos dizer que as questões erguidas por ele habitualmente passavam a interessar os psicólogos Durante sua carreira Allport recebeu praticamente todas as homenagens profissionais que os psicólogos têm a oferecer Ele foi eleito presidente da Associação Psicológica Americana presidente da Eastern Psycho logical Association e presidente da Society for the Psychological Study of Social Issues Em 1963 ele rece beu a medalha de ouro da Fundação Psicológica Ame ricana e em 1964 o prêmio da Associação Psicológi ca Americana por contribuições científicas impor tantes A amplitude e a diversidade de seu trabalho acadêmico estão claramente evidentes em seus inú meros livros e inumeráveis monografias artigos pre fácios e revisões muitas vezes em colaboração com outros psicólogos Ele também foi coautor de dois testes amplamente utilizados The AS Reaction Study e A Study of Values Muitas dessas publicações estão listadas na bibliografia A lista completa de sua obra pode ser encontrada em The Person in Psychology 1968 Como podemos caracterizar as convicções teóri cas de Allport Para começar seus textos revelam uma incansável tentativa de fazer justiça à complexidade e à singularidade do comportamento humano individu al Apesar da estonteante complexidade do indivíduo as principais tendências da natureza da pessoa mos tram uma congruência ou unidade subjacente Além disso pelo menos no caso do indivíduo normal os determinantes conscientes do comportamento são de uma importância esmagadora A congruência do com portamento e a importância dos motivos conscientes levaram Allport a enfatizar naturalmente aqueles fe nômenos em geral indicados pelos termos self e ego Consistentemente com a ênfase nos fatores racionais temos a convicção de Allport de que o indivíduo é uma criatura mais do presente que do passado Seu conceito de autonomia funcional a ser discutido posteriormente representa uma tentativa deliberada de libertar o teórico ou o investigador de uma preo cupação desnecessária com a história do organismo Em termos amplos a sua visão do ser humano é uma visão em que são enfatizados os elementos positivos e conscientes da motivação e o comportamento é visto como internamente consistente e determinado por fatores contemporâneos Para Allport existe uma descontinuidade entre o normal e o anormal a criança e o adulto o animal e o humano Algumas teorias como a psicanálise podem ser muito efetivas como representações do comporta mento perturbado ou anormal todavia elas têm pouca utilidade para explicar o comportamento normal Em uma linha semelhante as teorias que fornecem uma conceitualização perfeitamente adequada do bebê ou da criança pequena não são adequadas como repre sentações do comportamento adulto Allport sempre se opôs a tomar muito conhecimento emprestado das ciências naturais Ele acreditava que métodos de es tudo e modelos teóricos que se mostraram úteis nas ciências físicas só podem ser enganadores no estudo do complexo comportamento humano Essa convic ção está claramente revelada em uma discussão All port 1947 sobre os vários tipos de modelos atual mente populares na teorização psicológica Ele examinou o modelo mecânico o modelo animal e o modelo da criança e concluiu que nenhum deles ofe rece uma base adequada para a construção de uma teoria útil do comportamento humano Consistente mente com tal desconfiança temos sua crença de que a ênfase prematura na importância do operacionis mo uma preocupação detalhada em especificar as operações de mensuração implicadas por qualquer conceito empírico pode impedir o progresso na psi cologia Ele achava simplesmente absurdo o positi vismo que leva à concepção de um organismo vazio Ele também desprezava o empiricismo imoderado e por essa razão criticava severamente os estudos fatoriais analíticos da personalidade A ênfase de Allport na racionalidade na unidade da personalidade e nas descontinuidades bem como seu repúdio a qualquer abordagem mecanicista da ci ência natural mostram bem como ele se afastou de Freud Em muitos aspectos o seu modelo é o primei ro modelo nãofreudiano da personalidade O contras te ficará ainda mais claro quando examinarmos sua rejeição do determinismo da infância em favor de metas futuras e preocupações presentes bem como seu foco no indivíduo psicologicamente maduro Para Allport era mais uma questão de sermos maduros até TEORIAS DA PERSONALIDADE 227 certo ponto em vez de sermos neuróticos até certo ponto Allport contava uma história sobre si mesmo para ilustrar como a psicologia freudiana profunda era es tranha para ele Em 1920 Allport estava voltando aos Estados Unidos e parou em Viena para visitar seu ir mão Fayette Ele conta Com uma imatura presunção característica dos 22 anos de idade eu escrevi a Freud anunciando que estava em Viena e sugeri que ele certamente ficaria satisfeito em me conhecer Recebi uma res posta manuscrita muito gentil convidandome para ir ao seu consultório em um determinado horário Logo depois de entrar na famosa sala ver melha com quadros de sonhos nas paredes fui convidado ao seu consultório interno Ele não me disse nada sentouse em silêncio expectante es perando que eu explicasse por que o procurara Eu não estava preparado para o silêncio e tive de pensar rápido e encontrar um assunto adequado para conversar Conteilhe um episódio que acon tecera no bonde a caminho de seu consultório Um garotinho com cerca de quatro anos de idade manifestara uma clara fobia de sujeira Ele ficava repetindo para a mãe Eu não quero sentar lá não deixe que aquele homem sujo se sente ao meu lado Para ele tudo era schmutzig imundo Sua mãe era uma hausfrau donadecasa rígida com uma aparência tão dominante e decidida que para mim a causa e o efeito estavam claros Quando acabei minha história Freud fixou seus bondosos olhos terapêuticos em mim e dis se E esse garotinho era você Estupefato e sen tindome um pouco culpado dei um jeito de mu dar de assunto Embora me divertisse o fato de Freud ter entendido erroneamente a minha moti vação isso também desencadeou um profundo encadeamento de idéias Eu percebi que ele esta va acostumado a defesas neuróticas e que a mi nha motivação manifesta uma espécie de rude curiosidade e ambição juvenil tinhalhe escapa do Essa experiência me ensinou que a psicolo gia profunda apesar de todos os seus méritos pode ir fundo demais e que os psicólogos fariam bem em reconhecer plenamente os motivos ma nifestos antes de sondar o inconsciente 1967 p 78 Curiosamente muitos autores sugeriram que Allport um homem meticuloso era como aquele garotinho A aplicação do método e dos achados psicológi cos em um ambiente de ação onde se tenta melho rar condições sociais indesejáveis sempre interessou Allport profundamente Durante muitos anos ele lu tou para não deixar a psicologia encapsulada dentro das paredes do laboratório e seu trabalho nos cam pos do preconceito e das relações internacionais es tão entre os exemplos mais proveitosos da aplicação da psicologia às questões sociais É interessante ob servar que como em muitos outros teóricos que enfa tizaram vigorosamente a singularidade e a individua lidade do comportamento humano existe um pessimismo subjacente por parte de Allport referente ao poder supremo do método e da teoria psicológicos de desvendar o mistério do comportamento humano O enigma colocado pelo indivíduo complexo é gran de demais para ser completamente entendido por meio das concepções e dos métodos práticos dos psicólo gos Portanto embora Allport aceitasse a importância e a inevitabilidade de uma abordagem experimental aos problemas psicológicos ele tinha reservas em re lação ao sucesso final desse esforço Como indicamos os textos de Allport revelam uma consistência básica de ponto de vista Entretanto ele próprio nunca afirmou ser um sistematizador Ele di zia que seu trabalho sempre estava orientado para problemas empíricos em vez de buscar uma unidade teórica ou metodológica Ele defendia uma teoria aber ta da personalidade não uma teoria fechada ou par cialmente fechada Allport consideravase um plura lista sistemático trabalhando na direção de um ecletismo sistemático Um pluralista na psicologia é um pensador que não excluirá qualquer atributo da natureza humana que pareça importante por ele mes mo 1964 p 75 Em 1966 Allport propôs uma po sição epistemológica para a pesquisa da personalida de a qual chamou de realismo heurístico Essa posição aceita a suposição de senso comum de que as pessoas são seres reais que cada uma tem uma organização neuropsíquica real e que o nosso traba lho é compreender tal organização tanto quanto pos sível 1966 p 8 Para ele a personalidade era um enigma a ser solucionado da maneira mais adequada possível com os instrumentos disponíveis na metade do século XX Ele adotou a mesma abordagem com os outros problemas a que se propôs rumor rádio pre 228 HALL LINDZEY CAMPBELL conceito a psicologia da religião a natureza das ati tudes e outros tópicos de interesse humano A todas essas áreas de problemas ele aplicava conceitos de maneira eclética e pluralista buscando aquela que lhe parecia a explicação mais adequada possível em nos so presente estado de conhecimento Assim as ques tões de adequação formal de sua teoria não tinham grande importância para ele A ESTRUTURA E A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Nos capítulos precedentes nós em geral apresenta mos separadamente a estrutura da personalidade e a dinâmica da personalidade Mas no caso da teoria de Allport essa distinção parece em grande parte inapli cável A estrutura da personalidade é primariamente representada em termos de traços e ao mesmo tem po o comportamento é motivado ou impulsionado pelos traços Assim estrutura e dinâmica são de modo geral a mesma coisa Allport publicou duas formulações importantes de seu ponto de vista a primeira em Personality A Psychological Interpretation 1937 a segunda em Pat tern and Growth in Personality 1961 Entre 1937 e 1961 Allport fez várias mudanças conceituais e ter minológicas em sua teoria O presente relato baseia se em seu volume de 1961 sempre que ele diferir do livro de 1937 e em artigos que ele publicou depois de 1961 que modificaram a teoria O ecletismo de Gordon Allport em lugar nenhum se reflete melhor do que na rica variedade de concei tos que para ele desempenhavam um papel útil na descrição do comportamento humano Ele considera va conceitos tão segmentais como reflexos específicos e tão amplos como traços cardinais ou o proprium self como importantes para se entender o comportamen to e via os processos referidos por esses conceitos como operando dentro do organismo de uma manei ra hierárquica de modo que os mais gerais normal mente têm precedência sobre os mais específicos Nas declarações mais detalhadas de sua teoria Allport 1937 1961 sugeriu que cada um dos seguintes con ceitos possui alguma utilidade reflexo condicionado hábito traço self e personalidade Embora todos esses conceitos sejam reconhecidos e recebam certa importância a maior ênfase da teo ria está nos traços com as atitudes e as intenções re cebendo um status quase equivalente Na verdade a teoria de Allport muitas vezes é referida como uma psicologia do traço Nessa teoria os traços ocupam a posição do constructo motivacional mais importante O traço era para Allport o que a necessidade era para Murray e o instinto era para Freud Antes de prosse guirmos para um exame mais detalhado do conceito de traço examinemos a definição de Allport de per sonalidade Personalidade Caráter e Temperamento Para Allport as definições não eram questões a serem tratadas levianamente Antes de chegar à sua própria definição de personalidade ele listou e discutiu meia centena de propostas de várias autoridades do campo 1937 Ele as classificou conforme se referiam à 1 etimologia ou história inicial do termo 2 significa dos teológicos 3 significados filosóficos 4 signi ficados jurídicos 5 significados sociológicos 6 aparência externa e 7 significados psicológicos Após esse detalhado sumário e crítica Allport tentou com binar os melhores elementos das definições anterio res enquanto evitava suas deficiências maiores Pri meiro ele sugeriu que uma pessoa poderia definir brevemente a personalidade como o que um homem realmente é Entretanto ele mesmo concordou que isso é abreviado demais para ter utilidade e prosse guiu para uma definição mais conhecida A persona lidade é a organização dinâmica dentro do indivíduo daqueles sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos únicos ao ambiente 1937 p 48 Certos aspectos dessa definição merecem uma ênfase especial O termo organização dinâmica en fatiza o fato de que a personalidade está constante mente se desenvolvendo e mudando embora ao mes mo tempo exista uma organização ou sistema que une e relaciona os vários componentes da personali dade O termo psicofísico lembra o leitor de que a personalidade não é nem exclusivamente mental nem exclusivamente neural A organização envolve a ope ração do corpo e da mente inextricavelmente fundi dos em uma unidade pessoal 1937 p 48 A pala TEORIAS DA PERSONALIDADE 229 vra determinam deixa claro que a personalidade é constituída por tendências determinantes que desem penham um papel ativo no comportamento do indiví duo A personalidade é alguma coisa e faz alguma coisa Ela é o que está por trás de atos específicos e dentro do indivíduo 1937 p 48 O que foi dito até agora deixa claro que para All port a personalidade não é apenas um constructo do observador ou algo que só existe quando há uma ou tra pessoa para reagir a ela Longe disso a personali dade tem uma existência real envolvendo concomi tantes neurais ou fisiológicos O cuidado e o detalhe com que Allport desenvolveu sua definição de perso nalidade estão refletidos na freqüência com que ou tros teóricos e investigadores a tomaram emprestada Embora os termos personalidade e caráter tenham sido muitas vezes usados intercambiavelmente All port demonstrou que tradicionalmente a palavra ca ráter tinha relação com um código de comportamen to em termos do qual os indivíduos ou seus atos são avaliados Assim ao descrever o caráter de um indiví duo muitas vezes se emprega a palavra bom ou mau Allport sugeriu que caráter é um conceito éti co e afirmou nós preferimos definir o caráter como a personalidade avaliada e a personalidade como o caráter sem valorização 1961 p 32 Temperamento e personalidade também são fre qüentemente confundidos Mas aqui temos novamente uma clara base para distinguilos em termos do uso comum Temperamento comumente se refere àquelas disposições estreitamente ligadas a determinantes bi ológicos ou fisiológicos que portanto mudam relati vamente pouco com o desenvolvimento O papel da hereditariedade naturalmente é um pouco maior aqui do que no caso de outros aspectos da personalidade O temperamento é a matériaprima juntamente com a inteligência e o físico da qual é criada a personali dade Dadas essas importantes distinções agora pode mos examinar os conceitos mais típicos da teoria de Allport Traço Em suas declarações de 1937 Allport diferenciou os traços individuais dos comuns mas incluiu ambos sob uma única definição Isso resultou em certa confusão e ambigüidade de modo que em 1961 ele fez algu mas alterações terminológicas e definiu separadamen te o que antes chamara de traços individuais e co muns O termo traço foi reservado para os traços comuns e um novo termo disposição pessoal foi in troduzido para substituir o traço individual Allport também se referiu às disposições pessoais como tra ços morfogênicos O traço é definido como uma estrutura neuro psíquica capaz de tornar muitos estímulos funcional mente equivalentes e de iniciar e orientar formas equi valentes significativamente consistentes de compor tamento adaptativo e expressivo 1961 p 347 Uma disposição pessoal ou traço morfogênico é definido como uma estrutura neuropsíquica generalizada pe culiar ao indivíduo capaz de tornar muitos estímulos funcionalmente equivalentes e de iniciar e orientar formas consistentes equivalentes de comportamen to adaptativo e estilístico 1961 p 373 Podemos observar que a única diferença real en tre essas duas definições é que os traços diferente mente das disposições pessoais não são designados como peculiares ao indivíduo Isso significa que um traço pode ser compartilhado por vários indivíduos No entanto um traço está tão dentro do indivíduo quanto uma disposição Ambos são estruturas neu ropsíquicas ambos têm a capacidade de tornar mui tos estímulos funcionalmente equivalentes e ambos orientam formas consistentes de comportamento Podemos perguntar então por que são necessári as duas definições A resposta está nas implicações para a pesquisa empírica Com o conceito de traços comuns podemos fazer o que Allport chama de estu dos comparativos do mesmo traço conforme ele se expressa em diferentes indivíduos ou grupos de indi víduos Com o conceito de disposições pessoais o investigador pode estudar uma pessoa e determinar o que Allport chama de a individualidade padronizada única da pessoa Uma das abordagens segue a tradi ção da psicologia diferencial de orientação psicomé trica e a outra a tradição da psicologia clínica Na pesquisa de Allport e na pesquisa de seus alunos fo ram empregadas ambas as abordagens Embora os traços e as disposições existam real mente na pessoa eles não podem ser observados di retamente precisando ser inferidos a partir do com portamento Allport escreve 230 HALL LINDZEY CAMPBELL Um ato específico é sempre o produto de muitos determinantes não apenas de tendências dura douras mas também de pressões momentâneas na pessoa e na situação É somente a ocorrência repetida de atos com a mesma significação equi valência de resposta seguindose a uma varie dade definível de estímulos com a mesma signifi cação pessoal equivalência de estímulos que torna necessária a inferência de traços e de dispo sições pessoais Essas tendências não estão sem pre ativas mas são persistentes mesmo quando latentes e têm limiares de ativação relativamente baixos 1961 p 374 Essa citação sugere dois pontos importantes no modelo de traços de Allport Primeiro os traços são tendências livres e sua expressão é levemente dife rente porque ocorre em face de condições determi nantes diferentes Segundo os traços são inferidos a partir do comportamento não diretamente observa dos Nós fazemos essas inferências baseados na fre qüência com que a pessoa exibe um determinado tipo de comportamento na variedade de situações em que aquele comportamento é exibido e na intensidade do comportamento quando exibido Por exemplo pode mos inferir que uma pessoa é sarcástica se ela fre qüentemente faz comentários sarcásticos ou faz tais comentários em discussões na sala de aula encontros sociais e discussões políticas eou se um ou mais co mentários feitos pela pessoa são extremamente sar cásticos Allport 1961 citou o exemplo de um superpa triota chamado McCarley que tinha uma fobia de comunistas como um de seus traços mais marcantes A Figura 71 ilustra a concepção de Allport desse tra ço Observem como o traço é um rótulo genérico para a ligação entre uma série de estímulos equivalentes e uma série de respostas equivalentes A fobia de co munistas de McCarley não é livremente flutuante e difusa ela só emerge em face de certos estímulos e só expressase por meio de uma série limitada de res postas Tal formulação está estreitamente ligada ao intervalo de conveniência de George Kelly Capítu lo 10 as tendências de personalidade só são rele vantes para certos eventos A Figura 71 também é semelhante ao que Skinner Capítulo 12 chamará de generalização de estímulo e generalização de respos ta isto é um comportamento reforçado em uma situ ação se espalha para situações semelhantes e para res postas semelhantes A diferença evidentemente é que Allport considerava importante a conexão em si e explicava os agrupamentos em termos da equivalên cia de significado 1961 p 323 dos elementos All port explicou que os efeitos de transferência ou a consistência situacional cruzada como tem sido chamada mais recentemente em que um dado com portamento ocorre em vários ambientes ocorre não devido a elementos objetivamente idênticos nos dois ambientes e sim devido à equivalência percebida de significado É necessário não somente indicar à que o traço e a disposição se referem mas também distinguilos de conceitos relacionados Os hábitos também são ten dências determinantes mas os traços ou as disposi ções são mais gerais tanto nas situações apropriadas a eles como nas respostas às quais conduzem O tra ço em uma considerável extensão na verdade repre senta o resultado da combinação ou da integração de FIGURA 71 Generalidade de um traço A extensão do traço é determinada pela equivalência de estímulos que o ativam e pela equivalência de respostas que ele provoca Reimpressa com a permissão de Allport 1961 p 322 TEORIAS DA PERSONALIDADE 231 dois ou mais hábitos Um pouco mais difícil é a distin ção entre traço ou disposição e atitude Uma atitude também é uma predisposição ela também pode ser única ela pode iniciar ou orientar o comportamento e ela é o produto de fatores genéticos e de aprendiza gem No entanto restam certas distinções entre os conceitos Primeiro a atitude está ligada a um deter minado objeto ou à classe de objetos enquanto o tra ço ou a disposição não Assim a generalidade do tra ço é quase sempre maior que a da atitude De fato à medida que aumenta o número de objetos em relação aos quais a atitude se refere ela passa a se asseme lhar cada vez mais a um traço ou disposição A atitu de pode variar em generalidade de altamente especí fica à relativamente geral enquanto o traço ou a disposição sempre são gerais Segundo a atitude nor malmente envolve avaliação aceitação ou rejeição do objeto em relação ao qual se dirige enquanto o traço não Ao resumir isso Allport sugeriu Tanto atitude como traço são conceitos indispen sáveis na psicologia Entre eles ambos cobrem os principais tipos de disposição com os quais lida a psicologia da personalidade De passagem toda via devemos salientar que uma vez que a atitude tem a ver com as orientações das pessoas quando definem as facetas do ambiente incluindo pesso as cultura e sociedade ela é o conceito preferi do na psicologia social Mas no campo da persona lidade nós estamos interessados na estrutura da pessoa e portanto o traço passa a ser o conceito preferido 1961 p 348 Finalmente Allport distinguiu entre traços ou disposições pessoais e tipos em termos da extensão em que eles se ajustam ao indivíduo Podemos dizer que uma pessoa possui um traço mas não um tipo Os tipos são construções idealizadas do observador e o indivíduo pode ajustarse a eles mas somente à custa de sua identidade pessoal A disposição pessoal pode representar a singularidade da pessoa ao passo que o tipo vai escondêla Assim para Allport os tipos re presentam distinções artificiais que não têm muita semelhança com a realidade e os traços são um refle xo verdadeiro do que realmente existe Mas Allport reconheceu que a postulação dos tipos pode estimu lar a pesquisa embora o objetivo dessa pesquisa seja a especificação de traços complexos Disposições Cardeais Centrais e Secundárias Conforme indicamos as disposições pessoais repre sentam predisposições generalizadas de comporta mento Mas precisamos saber se todas as disposições possuem aproximadamente o mesmo grau de genera lidade e senão como distinguir os vários graus All port sugeriu uma distinção entre disposições pessoais cardeais centrais e secundárias Uma disposição car deal é tão geral que parece que podemos relacionar à sua influência quase todos os atos de uma pessoa que a possui Essa variedade de disposição é relativamen te incomum e observada em poucas pessoas Mais tí picas são as disposições centrais que representam ten dências altamente características do indivíduo entram em ação com freqüência e são muito fáceis de inferir Allport sugeriu que o número de disposições centrais pelos quais uma personalidade pode ser conhecida com bastante exatidão é surpreendentemente peque no talvez de cinco a dez A disposição secundária é de ocorrência mais limitada é menos crucial para a descrição da personalidade e mais focalizada nas res postas que provoca bem como nos estímulos aos quais é apropriada Allport discutiu outras questões cruciais referen tes aos traços e às disposições Será que eles servem apenas para orientar ou dirigir o comportamento ou também têm um papel na iniciação ou instigação do comportamento Não há uma resposta simples para essa pergunta Alguns traços são claramente mais im pelidores têm um papel motivacional mais crucial do que outros Portanto existe uma considerável varia ção entre os traços na extensão em que exercem in fluências impulsionadoras sobre o indivíduo Além disso podemos raciocinar que em certo sentido sem pre existe uma estimulação prévia relacionada à ati vação do traço por exemplo um estímulo externo ou algum tipo de estado interno sempre precede a ope ração do traço Entretanto está claro que a maioria dos traços não é um pálido reflexo de estímulos exter nos De fato o indivíduo busca ativamente estímulos que tornem apropriada a operação do traço A pessoa com uma acentuada disposição para a sociabilidade não espera uma situação adequada para expressar esse traço em vez disso ela cria situações para interagir com outras pessoas 232 HALL LINDZEY CAMPBELL Precisamos examinar também a independência dos traços disposições Em que extensão eles existem como sistemas de comportamento que operam sem levar em consideração outros sistemas A operação de um determinado traço é sempre condicionada por outros traços e por seu estado e relativa a eles All port argumentava que o traço é identificável não por sua rígida independência mas por sua qualidade fo cal Portanto ele tende a ter um centro em torno do qual opera a sua influência mas o comportamento ao qual ele leva é claramente influenciado simultanea mente por outros traços Não existe nenhuma frontei ra nítida delimitando os traços Esse entrelaçamento de vários traços também explica em parte o fato de não ser possível planejar métodos plenamente satis fatórios de classificálos Está claro que as inferências presentes na identi ficação de um traço envolvem consistência Portanto por definição uma disposição só é conhecida por meio de certas regularidades ou consistências na maneira de o indivíduo se comportar Allport foi rápido em salientar que sua teoria dos traços não precisa ter uma consistência completa O simples fato de existirem tra ços múltiplos sobrepostos e simultaneamente ativos sugere que podemos esperar com certa freqüência inconsistências aparentes no comportamento do or ganismo Além disso o fato de que as disposições pes soais são singular e individualmente organizadas im plica que podem incluir elementos que pareceriam inconsistentes quando vistos de uma perspectiva nor mativa ou externa Assim podemos observar no com portamento uma aparente inconsistência que na ver dade reflete uma consistência interna singularmente organizada A teoria de Allport envolve menos a ob servação de uma correspondência ou consistência exa tas no comportamento do que a existência de um con gruência sutil que une freqüentemente de um modo difícil de detectar as várias manifestações comporta mentais do indivíduo Não sugerimos que todas ou algumas personalidades são perfeitamente integra das A dissociação e a repressão podem existir na vida de qualquer um Mas ordinariamente existe mais con sistência do que os costumeiros métodos de investi gação psicológica estão equipados para descobrir Uma conseqüência interessante e útil do interes se de Allport pelos traços é a sua meticulosa categori zação de quase 18000 termos tirados de um dicioná rio Em colaboração com Odbert 1936 esses termos foram classificados primariamente conforme represen tavam traços autênticos de personalidade atividades presentes estados temporários ou termos avaliati vos Obviamente 18000 termos são impossíveis de manejar como uma taxonomia da personalidade Além disso Allport não estava interessado em estabelecer um conjunto de traços comuns a ser aplicado aos in divíduos Curiosamente esses termos mais a suposi ção subjacente de que as maneiras pelas quais os indi víduos diferem serão indexadas na linguagem da cultura proporcionaram as bases para Raymond Cat tell e outros criarem taxonomias formais ver Capítu lo 8 Intenções Mais importante do que a busca do passado ou da história do indivíduo é a simples pergunta sobre o que o indivíduo pretende ou busca em seu futuro As es peranças os desejos as ambições as aspirações e os planos da pessoa estão todos representados sob o ter mo geral intenção e aqui se manifesta uma das di ferenças características entre Allport e a maioria dos outros teóricos contemporâneos da personalidade Essa teoria afirma que aquilo que o indivíduo está ten tando fazer e aceitamos que a pessoa é capaz de nos dizer o que está tentando fazer é a chave mais im portante para como a pessoa vaise comportar no pre sente Enquanto outros teóricos voltaramse para o passado buscando a chave que desvendaria o enigma do comportamento presente Allport voltouse para o futuro pretendido A esse respeito suas idéias se pa recem com as de Alfred Adler e Carl Jung embora não haja nenhuma razão para acreditarmos que ele tenha sofrido uma influência direta dessas fontes O Proprium Embora Allport tenha sido chamado de um psicólogo do ego ou mesmo do self essa caracterização não é inteiramente exata Em 1943 The Ego in Contempo rary Psychology e novamente em 1955 Becoming Basic Considerations for a Psychology of Personality ele revisou os principais significados do ego e do self em textos psicológicos Em seu texto básico anterior 1937 ele tinha em grande parte evitado problemas erguidos por estes conceitos mas acabou fazendo di retamente a pergunta crucial Será que o conceito TEORIAS DA PERSONALIDADE 233 de self é necessário Sua resposta foi cautelosa Ansi oso para evitar a confusão e as conotações especiais desses termos ele propôs que todas as funções do self ou do ego que foram descritas fossem chamadas de funções próprias da personalidade Tais funções in cluindo senso corporal autoidentidade autoestima autoextensão senso de ser quem se é pensamento racional autoimagem anseios próprios estilo cogni tivo e função de conhecer são todas porções verda deiras e vitais da personalidade Elas têm em comum uma vivacidade fenomenal e um senso de importân cia Juntas podemos dizer que constituem o pro prium É nessa região da personalidade que encon tramos a raiz da consistência que marca as atitudes as intenções e as avaliações O proprium não é inato mas se desenvolve ao longo do tempo Allport identificou sete aspectos no desenvolvi mento do proprium ou condição de ser si mesmo 1961 Capítulo 6 Durante os primeiros três anos aparecem três desses aspectos um senso de self cor poral um senso de autoidentidade contínua e auto estima ou orgulho Entre os quatro e seis anos de ida de aparecem dois outros aspectos a extensão do self e a autoimagem Em algum momento entre os seis e 12 anos a criança percebe que é capaz de lidar com os problemas por meio da razão e do pensamento Durante a adolescência surgem as intenções os pro pósitos a longo prazo e as metas distantes Esses são chamados de anseios próprios e constituem o proprium Ao abordar o enigma dessa maneira Allport es perava evitar a posição de muitos teóricos que acei tam como verdade o que precisa ser provado para os quais o self ou ego é como um homúnculo um ho mem dentro do peito que organiza influencia e ad ministra o sistema da personalidade Ele admitiu a importância de todas as funções psicológicas atribuí das ao self e ao ego mas queria a todo custo evitar a teoria factótum ou de agente Para ele self e ego podem ser usados como adjetivos para indicar as fun ções próprias dentro da esfera total da personalidade muitas funções não são próprias mas meramente oportunistas porém ele acreditava que nenhum dos termos precisa ser usado como substantivo Não exis te um ego ou self que age como uma entidade distinta do restante da personalidade O senso de self está pre sente sempre que os estados pessoais são vistos como peculiarmente meus 1961 p 137 Uma indicação final da importância do proprium é o papel que All port lhe atribui na organização da consciência genéri ca madura A consciência do eu tenho de da infância é vista em termos muito freudianos como a internali zação das regras parentais e culturais Gradualmente conforme emerge a autoimagem e os anseios própri os se desenvolvem tal consciência do dever evolui para uma consciência genérica do eu deveria gover nada não por proibições externas ou medo do casti go mas pela estrutura positiva dos anseios próprios Como em vários outros modelos p ex Carl Rogers e Albert Bandura a maturidade para Allport implica uma crescente confiança em padrões pessoais ou in ternos de comportamento Autonomia Funcional Ao abordar o problema complexo e controverso da motivação humana Allport especificou o que consi derava necessário para uma teoria adequada Primei ro a teoria reconhece a contemporaneidade dos mo tivos humanos O que quer que nos impulsiona a pensar ou agir impulsionanos agora Segundo ela é uma teoria pluralista aceitando vários tipos de moti vos Allport definitivamente não era um reducionista buscando reduzir todos os motivos a umas poucas pulsões orgânicas Terceiro ela investe com força di nâmica processos cognitivos como planejamento e intenção E finalmente a teoria reconhece a singula ridade concreta dos motivos de um indivíduo 1961 Capítulo 10 Tal teoria acreditava Allport está contida no con ceito de autonomia funcional Esse é facilmente o mais controverso dos conceitos introduzidos por Allport Em muitos aspectos tem uma posição central no seu sistema pois vários dos pontos distintivos de sua teo ria derivamse naturalmente dessa posição O princí pio afirma simplesmente que uma dada atividade ou forma de comportamento podese tornar um fim ou uma meta em si mesma apesar de ter sido iniciada por alguma outra razão Qualquer comportamento complexo ou simples embora possa terse derivado originalmente de tensões orgânicas ou segmentais pode ser capaz de sustentarse indefinidamente na ausência de qualquer reforço biológico O enunciado formal do conceito é o seguinte A autonomia funci onal vê os motivos adultos como variados e como sis 234 HALL LINDZEY CAMPBELL temas contemporâneos autosustentadores originados de sistemas antecedentes mas funcionalmente inde pendentes deles 1961 p 227 O leitor deve distinguir cuidadosamente o princí pio da autonomia funcional da noção comum de que um dado comportamento pode ser continuado por um motivo diferente daquele que originalmente o provo cou por exemplo o caçador inicialmente caça para comer mas quando existe comida em abundância ele caça para expressar uma agressão inata Essa for mulação atribui ao comportamento um motivo mais primitivo ou preexistente justamente o que Allport queria evitar A autonomia funcional implica que o caçador continuará a caçar mesmo na ausência de um significado instrumental isto é mesmo se não hou ver nenhuma agressão ou outras necessidades mais básicas atendidas por esse ato Um caçador pode sim plesmente gostar de caçar Ao apresentar essa idéia Allport 1937 1961 comentou que ela ecoa formulações anteriores por exemplo a bemconhecida máxima de Woodworth 1918 de que os mecanismos podem ser transforma dos em pulsões a afirmação de Stern 1935 de que os fenomotivos podem tornarse genomotivos e a su gestão de Tolman 1935 de que os objetosmeios podem estabelecerse por si mesmos Poderíamos sugerir que formulações como a pulsão de manipu lação de Harlow e colaboradores 1950 e a irrever sibilidade parcial proposta por Solomon e Wynne 1954 pretendem explicar fenômenos bem parecidos com aqueles que desempenharam um papel impor tante na formulação do conceito de autonomia funci onal Ao justificar o conceito Allport indicou observa ções de várias áreas todas sugerindo uma tendência por parte do organismo de persistir em uma determi nada resposta mesmo que a razão original para inici ar a resposta já não esteja mais presente Ele salien tou a circularidade do comportamento infantil e do comportamento neurótico entre os adultos os elemen tos repetitivos no efeito de Zeigarnik a observação de que tarefas incompletas tendem a ser mais lembra das do que tarefas concluídas as regularidades ou os ritmos temporais freqüentemente observados no com portamento de animais e de seres humanos o poder motivador de interesses e valores adquiridos que não parecem ter nenhum ancoramento em motivos fun damentais Também existem evidências tiradas da psicologia comparativa Um estudo de Olson 1929 revelou que quando foi colocado um irritante nas orelhas de ratos eles coçavam constantemente ten tando retirar a substância estranha Muito depois de o irritante ter sido removido quando não havia mais qualquer evidência de irritação na pele eles continu avam a se coçar e sem nenhuma redução aparente no ritmo Assim a coceira começou como uma tentativa funcional de lidar com um estado físico mas com repetição suficiente ela parece terse tornado parte integral do comportamento do organismo apesar de não ter mais uma função biológica Uma das impor tantes pesquisas realizadas por Selye 1952 e cola boradores sugere igualmente que as respostas adap tativas podem estabelecerse por si mesmas até em detrimento do organismo Semelhantes a esse são os estudos de Anderson 1941ad sobre o que ele cha mou de externalização da pulsão Nesses estudos os ratos foram ensinados a andar por uma rampa em alta velocidade sob uma forte pulsão de fome e re compensados com comida no final da rampa Após um grande número de tentativas reforçadas os ratos não pareciam mostrar a extinção habitual da resposta quando colocados na mesma situação sob baixa pul são ou em estado de saciedade isto é mesmo não estando mais famintos eles continuavam andando pela rampa no mesmo ritmo rápido Assim temos nova mente o espetáculo de um organismo realizando um ato por claras razões biológicas no entanto quando essas razões são removidas o comportamento conti nua sem aparente interrupção Anderson diria que tais fenômenos resultam do fato de que aspectos da situa çãoestímulo foram condicionados para proporcionar uma recompensa secundária Allport diria segundo o princípio da autonomia funcional que o comporta mento continua simplesmente porque foi repetido tan tas vezes que se tornou um fim ou um motivo em si mesmo uma parte do estilo de vida do rato Depois de ter enunciado esse princípio 1937 Allport foi vigorosamente atacado por Bertocci 1940 que fez várias perguntas importantes Em primeiro lugar será verdade que qualquer forma de comporta mento se repetida com freqüência suficiente torna se autônoma Há limites ou condições para essa ge neralização Segundo se qualquer forma de comportamento é potencialmente capaz de se tornar um motivo duradouro o que impede que o indivíduo desenvolva uma espécie de anarquia psicológica em TEORIAS DA PERSONALIDADE 235 que os motivos conflitantes e antitéticos passam a fa zer parte do organismo podendo dilacerálo Tais perguntas levaram Allport a esclarecer e a expandir sua posição Ele reconheceu dois níveis de autonomia funcional uma ele chamou de perseverati va a outra de própria A autonomia funcional perse verativa inclui adições mecanismos circulares atos repetitivos e rotinas Sua perseveração é explicada em termos de extinção retardada circuitos automante nedores no sistema nervoso reforço parcial e coexis tência de múltiplos determinantes A autonomia fun cional própria referese a interesses valores sentimentos intenções motivosmestres disposições pessoais autoimagem e estilo de vida adquiridos Allport admitiu que não é fácil explicar como esse tipo de autonomia funcional se estabelece Ele ofereceu três princípios para explicar as ori gens da autonomia funcional própria Primeiro exis te o princípio de organizar o nível de energia Allport sugeriu que as pessoas sadias precisam de atividades para absorver a energia que resta depois que suas necessidades oportunistas foram gratificadas É pre ciso haver motivos para consumir as energias dispo níveis e se os motivos existentes não forem suficien tes novos motivos serão criados 1961 p 250 Segundo Allport citou Robert White ver Capítulo 5 e Abraham Maslow ver Capítulo 11 em apoio aos princípios de domínio e competência Esses princípios sugerem que os motivos que levam a sentimentos de competência tendem a se tornar autosustentadores Finalmente o princípio da padronização própria suge re que os motivos mais consistentes com o self ou que melhor o expressam se tornam autônomos Em ou tras palavras a autoestrutura o exige Por exem plo Um jovem pretende ser um médico um homem do mundo um político ou um eremita Nenhu ma dessas ambições é inata Todas elas são inte resses adquiridos Nós afirmamos que elas não existem agora devido a reforços remotos Elas existem porque uma autoimagem gradualmen te formada exige esse foco motivacional específi co 1961 p 252 Allport rejeitava as posições de que o self expli ca a autonomia funcional própria porque isso impli ca que algum homenzinho dentro do peito molda os motivos da pessoa Allport opunhase energicamen te a explicações em termos de um self separado por que isso se refere demais à idéia de uma alma que orienta o destino da pessoa O que então é responsável pelos motivos própri os e por sua organização em um padrão coerente e consistente A resposta de Allport era que faz parte da natureza essencial dos seres humanos o fato de os motivos mudarem e desenvolveremse no curso da vida tornandose unificados O leitor pode achar que essa resposta ecoa o arquétipo da unidade de Jung O fato de o proprium ser um fenômeno desenvol vimental derivado de estados primitivos e da experi ência passada realmente parece implicar uma liga ção direta com o passado apesar da autonomia funcional Uma vez que as formas de comportamento que se tornarão autônomas são determinadas por uma organização que deve muito ao passado do organis mo parece que o passado retém um papel central Mas no final a questão mais importante aqui parece ser se as motivações adultas maduras mantêm um laço funcional com suas origens na infância ou na biolo gia Ainda que exista ambigüidade em relação ao sta tus exato do conceito de autonomia funcional está claro que Allport argumentava vigorosamente que a maioria dos motivos adultos não tem mais qualquer relação funcional com as raízes históricas do motivo Uma outra pergunta freqüentemente formulada sobre esse princípio é se todos os motivos adultos são funcionalmente autônomos Allport dizia que não Existem pulsões como a fome a respiração e a elimi nação as ações reflexas os equipamentos constituci onais como força corporal e os hábitos que não são motivacionais são simplesmente atos instrumentais infantilismos e fixações algumas neuroses e psicoses e sublimações Além disso muitas atividades adultas precisam de um constante reforço primário para a sua perseveração Entretanto a extensão em que as moti vações de um indivíduo são autônomas é uma medi da da maturidade do indivíduo A pergunta mais importante que pode ser feita sobre qualquer conceito certamente é o que ele fará pela pessoa que o utilizar As conseqüências da auto nomia funcional estão claras e é em termos delas que os psicólogos deveriam decidir se querem abraçar ou não o conceito Muito importante é o fato de ele per mitir uma separação relativa do passado do organismo 236 HALL LINDZEY CAMPBELL Se os motivos atuais não dependem completamente de motivos mais básicos ou primários para a sua con tinuidade então o investigador pode legitimamente afastarse do passado do indivíduo e centrarse no presente e no futuro A história do indivíduo tornase uma questão de relativa indiferença se ele no presen te está impulsionado por desejos e intenções indepen dentes daqueles que o motivaram em períodos ante riores Uma outra conseqüência significativa desse princípio é que ele torna mais ou menos inevitável a grande surpreendente e única individualidade tão enfatizada na teoria de Allport Se qualquer forma de comportamento instrumental podese tornar poten cialmente um fim em si mesmo sabemos que existe suficiente heterogeneidade de comportamentos e exi gências ambientais para levar a uma incrível comple xidade e singularidade de motivos À medida que a estrutura motivacional adulta do indivíduo se livra da comunalidade que pode ter existido no nascimento podemos esperar que os motivos de diferentes indiví duos mostrem pouca semelhança A Unidade da Personalidade Tendo decomposto os seres humanos psicológicos em uma série de traços e disposições de atitudes e hábi tos de valores de intenções e motivos nos depara mos com a tarefa de montar novamente Humpty Dumpty Allport embora reconhecendo que essa é uma tarefa muito difícil buscou uma solução com sua habitual persistência e perspicácia Existem de fato vários conceitos unificadores No período de bebê exis te um alto grau de unidade dinâmica que gradual mente cede espaço para a diferenciação A diferenci ação é então compensada pelo processo aprendido de integração Allport chamou isso de a dialética de di vidir e unir Os mecanismos homeostáticos com os quais o organismo está equipado preservam uma uni dade ou pelo menos um equilíbrio fundamental embora estático não de crescimento A mobilização de energias para seguir um curso integrado de con duta o princípio da convergência é uma forma de unificação embora geralmente transitória e focaliza da As disposições cardeais por definição conferem unidade à personalidade assim como o reconhecimen to de que os traços e as disposições são interdepen dentes Eles se entrelaçam como uma tapeçaria Embora reconhecendo a contribuição de cada um des ses princípios para a unificação da personalidade All port atribuiu o principal papel unificador às funções do proprium O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Até o momento vimos o que compõe a personalidade e examinamos em termos amplos as disposições que acionam o comportamento Nesta seção veremos como essas estruturas emergem e como o indivíduo é representado diferentemente nos diversos estágios de senvolvimentais Já está claro a partir da nossa dis cussão sobre a autonomia funcional que essa teoria propõe mudanças importantes entre o período de bebê e a idade adulta O Bebê Comecemos com o indivíduo no nascimento Enquanto Allport era radical quando falava sobre o comporta mento adulto ele era superconservador ao discutir o comportamento do bebê De fato as formulações de Allport sobre os dois ou três primeiros anos de vida da criança praticamente não surpreendem É somen te no desenvolvimento da autoidentidade que as idéi as começam a assumir uma aparência nova e inespe rada Mas estamos nos adiantando em nossa história voltemos ao neonato conforme visto por essa teoria Allport considerava o recémnascido uma criatu ra quase inteiramente constituída por hereditarieda de pulsão primitiva e existência reflexa Ele ainda não desenvolveu aqueles atributos distintivos que apare cem mais tarde como resultado de transações com o ambiente Significativamente Allport não considera va o neonato como possuindo uma personalidade No nascimento o bebê está inatamente dotado de certas potencialidades físicas e temperamentais embora sua realização precise esperar o crescimento e a matura ção Além disso ele é capaz de responder com alguns reflexos altamente específicos como sugar e engolir N de T Humpty Dumpty é o personagem de uma história infantil com a forma de um ovo que cai de um muro e se espatifa irremedi avelmente TEORIAS DA PERSONALIDADE 237 a estímulos claramente delimitados Finalmente ele apresenta uma ação maciça ou respostas grossei ras indiferenciadas nas quais quase todo ou todo o aparelho muscular do indivíduo parece estar envolvi do Dado esse equipamento como a criança é aciona da ou motivada para a ação Inicialmente Allport supunha que existia um fluxo geral de atividade que era a fonte original do comportamento motivado Nesse ponto do desenvolvimento a criança é ampla mente uma criatura de tensões segmentais e com sen timentos de prazerdor Um modelo biológico do com portamento ou uma teoria baseada na importância da recompensa na lei do efeito ou no princípio do prazer é perfeitamente aceitável como uma orienta ção para os primeiros anos de vida Assim motivada pela necessidade de minimizar a dor e maximizar o prazer e com essas condições determinadas em gran de parte pela redução de tensões viscerais segmen tais a criança prossegue em seu desenvolvimento Apesar de o indivíduo não possuir no nascimento as qualidades distintivas que mais tarde constituirão sua personalidade esse estado é alterado muito cedo e de maneira gradual Allport achava que já no pri meiro ano de vida o bebê começa a mostrar qualida des distintivas por exemplo diferenças na motilida de e na expressão emocional que tendem a persistir e a fundirse em modos mais maduros de ajustamento aprendidos mais tarde Portanto parte do comporta mento do bebê é reconhecível como precursora de pa drões subseqüentes da personalidade Allport concluiu que o bebê por volta da segunda metade do primeiro ano de vida está definitivamente começando a mos trar qualidades distintivas que presumivelmente re presentam atributos de personalidade permanentes No entanto ele afirmava que em certo sentido o pri meiro ano de vida é o menos importante para a per sonalidade desde que não ocorram danos sérios para a saúde 1961 p 78 A Transformação do Bebê O processo de desenvolvimento acontece ao longo de múltiplas linhas Uma grande variedade de mecanis mos ou princípios é considerada apropriada por All port para descrever as mudanças que ocorrem entre o período de bebê e a idade adulta Ele discutiu especi ficamente diferenciação integração maturação imi tação aprendizagem autonomia funcional e exten são do self Ele aceitava inclusive o papel explanatório dos mecanismos psicanalíticos e do trauma embora tais processos não tenham um papel teórico central no que ele chamou de personalidade normal A respeito da teoria da aprendizagem Allport era completamente eclético Ele afirmava que as inume ráveis observações feitas pelos investigadores as con clusões a que chegaram e as teorias resultantes de aprendizagem todas elas provavelmente são verda deiras em certo sentido e até certo grau Assim o con dicionamento a teoria do reforço e a hierarquia dos hábitos são princípios válidos especialmente quando aplicados à aprendizagem animal do bebê e oportu nista Eles são inadequados para explicar a aprendi zagem do proprium que requer princípios como iden tificação fechamento insight cognitivo autoimagem e subsidiação aos sistemas ativos do ego O próprio Allport não fez nenhuma contribuição sistemática à teoria da aprendizagem Mas ele propôs a autonomia funcional como um fato básico na motivação huma na que deve ser explicado em termos de princípios de aprendizagem que ainda não foram adequadamente coordenados em um esquema teórico amplo Talvez essa importante contribuição ao assunto seja a sua crítica mais aguda às teorias da aprendizagem p ex Allport 1946 que reivindicam uma validade mais universal do que ele lhes concederia Portanto temos um organismo que no nascimen to é uma criatura da biologia transformado em um indivíduo que opera em termos de um ego crescente uma estrutura de traços cada vez mais ampla e um cerne de futuras metas e aspirações Nessa transfor mação é crucial evidentemente o papel desempe nhado pela autonomia funcional Tal princípio deixa claro que aquilo que é inicialmente apenas um meio para uma meta biológica podese transformar em um motivo autônomo que dirige o comportamento com toda a força de uma pulsão inatamente presente Em grande parte devido a essa descontinuidade entre a estrutura motivacional inicial e posterior do indiví duo nós temos essencialmente duas teorias da perso nalidade A primeira um modelo biológico ou da re dução de tensão é adequada no nascimento e vaise tornando cada vez menos adequada até que com a crescente consciência do self o indivíduo desenvolve motivos que não têm nenhuma relação estreita com aqueles que previamente motivavam o comportamen 238 HALL LINDZEY CAMPBELL to Nesse ponto é necessária uma reorientação para podermos representar o indivíduo adequadamente O Adulto Temos agora no indivíduo maduro uma pessoa cujos maiores determinantes do comportamento são um conjunto de traços organizados e congruentes Eles surgem de várias maneiras do escasso equipamento motivacional que caracteriza o bebê recémnascido O caminho exato do desenvolvimento dessas tendên cias não nos interessa muito pois elas segundo o prin cípio da autonomia funcional já não estão derivando sua força motivacional de fontes primitivas quaisquer que fossem elas Segundo Allport o que impulsiona o comportamento impulsiona agora e não precisa mos saber a história da pulsão para compreender sua operação Em uma extensão considerável o funcio namento desses traços é consciente e racional Os in divíduos normais sabem como regra o que estão fa zendo e por quê Seu comportamento se ajusta a um padrão congruente e no âmago desse padrão estão as funções que Allport chamou de próprias Um en tendimento completo do adulto não é possível sem o conhecimento de suas metas e aspirações Seus moti vos mais importantes não são ecos do passado e sim acenos do futuro Na maioria dos casos saberemos mais sobre aquilo que uma pessoa vai fazer se conhe cermos seus planos conscientes do que suas memóri as reprimidas Allport garantiu que o quadro que acabamos de delinear é um pouco idealizado Nem todos os adul tos atingem a plena maturidade Existem indivíduos crescidos cujas motivações ainda cheiram a berçário Nem todos os adultos parecem orientar seu compor tamento em termos de princípios claros e racionais Entretanto a extensão em que eles evitam motiva ções inconscientes e o grau em que seus traços são independentes das origens infantis representam me didas de sua normalidade e maturidade É só no indi víduo seriamente perturbado que encontramos um adulto agindo sem saber porque está agindo um adul to cujo comportamento está mais estreitamente liga do a eventos que ocorreram na infância do que a even tos ocorrendo aqui e agora ou no futuro Ao contrário da maioria dos teóricos da persona lidade cujo interesse se centra no lado negativo do livrocaixa do ajustamento Allport examinou deta lhadamente as qualidades que permitem um ajusta mento mais do que adequado ou normal 1961 Capítulo 12 A personalidade madura precisa possuir antes de tudo uma extensão do self Isto é sua vida não deve estar limitada a um conjunto de atividades estreitamente ligadas às suas necessidades e a seus deveres imediatos A pessoa deve ser capaz de parti cipar de uma ampla variedade de atividades diferen tes e apreciálas As satisfações e as frustrações de vem ser muitas e diversas em vez de poucas e estereotipadas Uma parte importante dessa extensão do self envolve uma projeção no futuro planejar es perar Para a maturidade o indivíduo também preci sa ser capaz de relacionarse calorosamente com outros em contatos tanto íntimos como nãoíntimos e pos suir uma segurança emocional fundamental e uma acei tação do self Ele deve ser realisticamente orientado tan to em relação a si mesmo autoobjetivação como em relação à realidade externa Os dois componentes principais da autoobjetivação são o humor e o insi ght Está claro que o que queremos dizer com insight é a capacidade do indivíduo de compreenderse em bora não esteja claro como podemos assegurar um padrão adequado com o qual comparar as crenças do indivíduo Um senso de humor implica não só a capa cidade de divertirse e rir nos lugares costumeiros mas também a capacidade de manter relações positivas consigo mesmo e com os objetos amados sem deixar de ver as incongruências e os absurdos a eles relacio nados Finalmente o indivíduo maduro possui uma filosofia de vida unificadora Embora os indivíduos devam poder ser objetivos e divertirse com os even tos comuns da vida também deve haver uma grande seriedade subjacente que dá propósito e significado a tudo o que eles fazem A religião representa uma das fontes mais importantes de filosofia unificadora em bora certamente não seja a única fonte de tais temas integradores O comprometimento de Allport com es ses critérios está bem representado na seguinte cita ção Nós afirmamos que algum tipo de contínuo cres cimento e desenvolvimento até o estágio da maturi dade é o que dá forma à busca dos seres humanos Sugerimos que as metas da psicoterapia sejam estru turadas nesses termos e que os seis critérios de matu ridade que descrevemos sejam especificamente acei tos como os objetivos de todos os conselheiros pais e TEORIAS DA PERSONALIDADE 239 terapeutas que ajudam os outros na estrada da vida 1961 p 305 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Ao examinar a pesquisa de Allport é importante dis tinguir entre a que tem certa relação direta com suas convicções teóricas e a que se originou de outras ori entações tal como a sua preocupação com a pesquisa de ação por exemplo o preconceito Allport 1954 1968 e a religião Allport 1950b 1968 Igualmen te seu uso e desenvolvimento de métodos para medir a personalidade conforme exemplificados no AS Re action Study e no A Study of Values foram ditados ape nas em parte por suas convicções teóricas Apesar de defender métodos e estudos idiográficos grande parte de seu trabalho foi nomotética Nesta seção começaremos examinando a distinção entre idiográ fico e nomotético depois apresentaremos métodos diretos e indiretos de medir a personalidade e final mente discutiremos estudos do comportamento ex pressivo e um estudo de um caso individual como os melhores exemplos de investigações que espelham aspectos centrais de sua posição teórica Idiográfico Versus Nomotético Allport enfatizou que o investigador pode escolher estudar o comportamento em termos de princípios gerais variáveis universais e um grande número de sujeitos ou pode centrarse no caso individual usan do métodos e variáveis adequados à singularidade de cada pessoa Ao nomear essas duas abordagens ao estudo do comportamento Allport tomou empresta dos do filósofo alemão Windelband os termos idiográ fico individual e nomotético universal Mais tarde contudo Allport 1962 sugeriu novos termos mor fogênico para substituir idiográfico e dimensional para substituir nomotético Ele argumentou que existe um lugar na psicologia para ambas as abordagens mas a ênfase especialmente na psicologia americana foi de forma tão esmagadora nos métodos nomotéticos que é necessária uma reorientação drástica Tal reorienta ção é particularmente urgente pois a abordagem morfogênica leva a uma melhor predição e entendi mento De fato só conhecendo a pessoa como pessoa é que poderemos predizer o que ela fará em qualquer situação dada Essa ênfase na abordagem morfogênica é uma conseqüência lógica de vários aspectos da posição te órica de Allport Em primeiro lugar sua ênfase na sin gularidade de cada pessoa obriga os investigadores a selecionar métodos de estudo que não escondam nem embacem sua individualidade Em segundo lugar e estreitamente relacionada está a ênfase na importân cia das disposições pessoais traços individuais como os determinantes primários do comportamento Se essas disposições são as unidades reais da persona lidade e se são características apenas de uma única pessoa então certamente a abordagem mais efetiva ao estudo do comportamento será um método que estude o indivíduo Allport reconheceu a importância de desenvolver métodos válidos para estudar o caso individual mas devemos observar que ele e outros fizeram apenas um início no desenvolvimento de tais métodos Como ob servamos antes Allport em seu trabalho usou mais freqüentemente métodos dimensionais do que méto dos morfogênicos As técnicas de comparação empregadas por All port e Vernon 1933 em seus estudos do comporta mento expressivo são um método que preserva a indi vidualidade padronizada de cada sujeito Dois outros métodos análise estrutural e análise de conteúdo foram usados por Allport 1965 e seus alunos na in vestigação dos traços de uma mulher a partir de car tas escritas por ela Allport 1962 chamou a atenção para as abordagens morfogênicas desenvolvidas por outros investigadores a metodologia Q Stephenson 1953 os questionários individualizados Shapiro 1961 as escalas de autoancoramento Kilpatrick Cantril 1960 o teste de repertório de constructo de papel Kelly 1955 e a análise fatorial inversa O inte resse de Allport em documentos pessoais 1942 com certeza está intimamente relacionado a essa ênfase na abordagem morfogênica ao comportamento Em uma enérgica réplica Holt 1962 contestou vários pontos essenciais de Allport Examinaremos três deles aqui Primeiro Holt rejeitou a afirmação de All port de que a personologia deveria ser uma arte de dicada a retratos em palavras que busquem evocar no 240 HALL LINDZEY CAMPBELL leitor a emoção do reconhecimento o sentimento gra tificante ainda que ilusório de compreender indiví duos únicos em favor da posição de que ela deveria ser uma ciência que nos permite estudar as mesmas pessoas em toda a sua singularidade e derivar desse estudo proposições gerais sobre a estrutura o desen volvimento e outros aspectos significativos da perso nalidade 1962 p 389 Em segundo lugar Holt sa lientou a impossibilidade lógica de descrever traços individuais Criar um mundo único para cada traço levaria a uma completa Torre de Babel em que a comunicação e a ciência seriam impossíveis A alter nativa usar um conjunto único de palavras existen tes na verdade é uma versão encoberta da aborda gem nomotética É impossível capturar toda a riqueza da realidade Os conceitos científicos envolvem abs tração e jamais se ajustam perfeitamente à realida de Finalmente Holt adotou o determinismo como uma suposição necessária para o trabalho científico O estudo científico do individual seja ele o furacão a estrela ou a pessoa individual é possível e existem leis no caso individual Só é difícil saber a partir do estudo de um único caso por mais completo que ele seja quais são as leis 1962 p 396 Resumindo podemos dizer que Allport consisten temente com sua posição teórica exortou os psicólo gos a dedicar mais tempo e energia do que costuma vam ao estudo do caso individual Allport enfatizou que a maior obrigação de um pesquisador psicológico é levar seus insights independentemente de como fo ram derivados de volta ao individual Essa ênfase foi tão bem aceita pelos psicólogos contemporâneos que aquela que fora outrora uma posição desviante é hoje amplamente aceita Medidas Diretas e Indiretas da Personalidade A partir da década de 30 a psicologia testemunhou uma expansão e um desenvolvimento sem preceden tes dos métodos de avaliação da personalidade O prin cipal impacto da teoria psicanalítica foi sentido na psicologia acadêmica durante esse período e natu ralmente levou a um maior interesse por instrumen tos que pareciam sensíveis a motivos e a conflitos in conscientes Diante dessa tendência as técnicas projetivas tornaramse imensamente populares en quanto as técnicas de autorelato incluindo entrevis tas e questionários tiveram diminuída a sua popula ridade Allport não via essa tendência com uma sim patia irrestrita Ele escreveu Em nenhum momento estes métodos projeti vos perguntam ao sujeito quais são seus interes ses o que ele quer fazer ou o que ele está tentan do fazer Os métodos também não perguntam diretamente sobre a relação do sujeito com seus pais ou figuras de autoridade Eles inferem esse relacionamento inteiramente por meio de uma suposta identificação Essa abordagem indireta e subreptícia à motivação é tão popular que mui tos clínicos e centros universitários gastam muito mais tempo nesse tipo de método diagnóstico do que em qualquer outro provavelmente é ver dade que a maioria dos psicólogos prefere avaliar as necessidades e os conflitos de uma pessoa indo pelo caminho mais comprido O argumento evi dentemente é que todo mundo mesmo um neu rótico podese acomodar bastante bem às exigên cias da realidade Somente em uma situação projetiva nãoestruturada é que ele vai revelar suas ansiedades e necessidades mais secretas essa afirmação intransigente parece assinalar a cul minação de um século de irracionalismo e por tanto de desconfiança Será que o sujeito não tem o direito de ser acreditado Essa atmosfera predominante da teoria criou uma espécie de des prezo pela superfície psíquica da vida O relato consciente do indivíduo é rejeitado como não me recendo confiança e o ímpeto contemporâneo de seus motivos é desconsiderado em favor de uma busca de sua conduta no passado em estágios for mativos anteriores O indivíduo perde seu direito de ser acreditado E embora esteja ativamente le vando sua vida no presente e voltado para o futu ro a maioria dos psicólogos fica ativamente pro curando o passado Não é o indivíduo bemintegrado consciente de suas motivações que se revela na testagem projetiva É a persona lidade neurótica cuja fachada não corresponde aos medos e às hostilidades reprimidas Tal sujei to é apanhado de surpresa pelos instrumentos projetivos mas o sujeito bemajustado não dá uma resposta significativamente diferente 1953 p 108110 TEORIAS DA PERSONALIDADE 241 A posição de Allport em relação a tal questão é inteiramente consistente com a importância que ele atribuía aos determinantes conscientes e racionais do comportamento Sua convicção de que o indivíduo normal se comporta em termos de motivos conheci dos e razoáveis o levou a afirmar que as técnicas pro jetivas só contribuem de forma significativa no caso do indivíduo neurótico ou perturbado para os quais a importância dos motivos inconscientes pode real mente ser considerável Segundo Allport os métodos diretos e indiretos proporcionarão um quadro consis tente no caso do indivíduo normal ao passo que pode haver uma considerável discrepância entre os méto dos diretos e indiretos no caso da pessoa seriamente desajustada Ele ponderou que um indivíduo normal bemajustado que busca firmemente suas metas nos testes projetivos fará uma destas duas escolhas 1 revelará um materi al idêntico ao do relato consciente e nesse caso o método projetivo não é necessário ou 2 não dará nenhuma evidência de seus motivos domi nantes 1953 p 111 Allport concluiu que os métodos indiretos podem revelar determinantes inconscientes importantes do comportamento mas apenas se comparados com o resultado dos métodos diretos Disso decorre que os métodos indiretos não deveriam ser usados exceto em conjunção com métodos diretos Para a pessoa normal os métodos diretos permitem uma compre ensão muito mais completa e útil da estrutura moti vacional do sujeito do que o método indireto A efici ência e a simplicidade imensamente maiores dos métodos diretos não devem ser ignoradas em uma comparação desses métodos Allport criou e usou métodos de questionário con sistentes com o ponto de vista que acabamos de apre sentar Por outro lado sua ênfase no uso de documen tos pessoais como uma abordagem à personalidade e seus estudos do comportamento expressivo são con tribuições à avaliação indireta da personalidade Estudos do Comportamento Expressivo No início da década de 30 Allport e seus colaborado res realizaram uma série de investigações visando demonstrar a importância e a consistência do com portamento expressivo Ao definir essa área de estu do Allport distinguiu dois componentes presentes em toda resposta humana Primeiro existe o componen te adaptativo ou de manejo primariamente ligado ao valor funcional do ato ao efeito que ele produz ou ao objetivo a que ele leva Segundo existe o componen te expressivo que se refere à maneira ou ao estilo de realização do ato Milhões de pessoas realizam os mesmos atos adaptativos mas não encontramos duas pessoas que realizem tais atos exatamente do mesmo modo ou com o mesmo estilo Considerando a ênfase da teoria de Allport nos elementos individuais e úni cos do comportamento não surpreende que ele esti vesse profundamente interessado no comportamento expressivo o componente pessoal ou idiossincrático que aparece até nas respostas mais estereotipadas A teoria de Allport não só parece levar natural mente a um interesse pelo comportamento expressi vo mas também promete que o estudo desse aspecto do comportamento será de grande importância Se todo o comportamento do indivíduo é congruente e interrelacionado então até os atos mais triviais esta rão relacionados a aspectos centrais da constituição do indivíduo Conseqüentemente podemos estudar os atos expressivos mais insignificantes do indivíduo para obter informações sobre os aspectos mais cen trais do comportamento Ao comparar componentes expressivos e adaptativos Allport afirmou A porção expressiva da conduta resulta então de determinantes muito profundos funcionando como regra inconscientemente e sem esforço A porção adaptativa por outro lado é um sistema mais limitado circunscrito pelo propósito do mo mento extremamente dependente do estímulo e do esforço voluntário ou de hábitos e habilida des A razão para um presente ato de conduta deve ser buscada nos presentes desejos e intenções do indivíduo embora estes também possam originar se de traços e interesses pessoais profundos mas o estilo de execução é sempre guiado diretamen te e sem interferência por disposições pessoais profundas e duradouras 1937 p 466 Assim em consonância com sua teoria Allport estudou os aspectos expressivos do comportamento como um meio de assegurar um pronto acesso a fon tes importantes de motivação e de conflito no indiví duo 242 HALL LINDZEY CAMPBELL O estilo do comportamento não é determinado unicamente por fatores de personalidade Allport acei tava o papel de determinantes socioculturais estados ou humores temporários condições orgânicas e ou tras variáveis As contribuições desses múltiplos fato res não diminuem a importância do comportamento expressivo como uma fonte de evidência referente à personalidade eles servem apenas para tornar um pouco mais complexa a tarefa empírica do investiga dor ou diagnosticador O comportamento expressivo pode ser classificado em termos do tipo de ato envol vido por exemplo expressão facial modo de andar voz e caligrafia Allport argumentou que nunca deve ríamos prestar atenção exclusivamente a um tipo de comportamento expressivo pois todos são significati vos e aumentam o nosso conhecimento sobre o indi víduo A investigação mais extensiva de Allport nessa área foi realizada em colaboração com Philip E Vernon Allport Vernon 1933 e visava especialmente ao problema da consistência do comportamento expres sivo Em uma parte dessa investigação um grupo de 25 sujeitos bastante heterogêneos foi estudado em três sessões diferentes cada sessão separada por um perí odo de aproximadamente quatro semanas Durante cada sessão o sujeito respondia a um grande número de testes diferentes que mediam a velocidade com que ele lia e contava a velocidade de caminhada e pas seio a extensão da passada a estimativa de tama nhos e distâncias conhecidos a estimativa de pesos a força do aperto de mão a velocidade e a pressão dos dedos das mãos e da perna ao tamborilar o desenho de quadrados círculos e outras figuras várias medi das de caligrafia tensão muscular e assim por diante Além disso os observadores avaliavam a intensidade da voz a fluência da fala a quantidade de movimen to durante a fala natural e o cuidado com a aparên cia É óbvio que os investigadores tinham um número extremamente grande de medidas derivadas que em pregavam em sua análise Allport e Vernon começaram por examinar a fide dignidade de repetição consistência de uma medida em duas ocasiões diferentes das várias medidas ex pressivas Em geral essas fidedignidades pareciam ser razoavelmente elevadas as intercorrelações sendo mais ou menos equivalentes às fidedignidades de re petição para os instrumentos de mensuração psicoló gicos convencionais Em face dessa consistência os autores concluíram Hábitos gestuais simples con forme os medimos são características estáveis dos indivíduos em nosso grupo experimental 1933 p 98 A seguir eles examinaram a relação entre os es cores nas mesmas tarefas realizadas por diferentes grupos musculares lado esquerdo e direito do corpo braços e pernas e assim por diante e descobriram uma consistência praticamente igual O achado é de considerável importância pois tende a sugerir um fa tor integrador geral ou central que produz um estilo consistente independentemente da manifestação pe riférica escolhida As variáveis mais importantes de todas as tarefas foram então intercorrelacionadas A primeira impres são obtida a partir da matriz de correlações foi que as intercorrelações eram positivas com maior freqüên cia do que poderíamos esperar pelo acaso Assim as evidências iniciais sugerem a existência de certa ge neralidade subjacente aos escores do indivíduo Os dados não permitiram a aplicação da análise fatorial convencional de modo que os investigadores realiza ram uma espécie de análise de agrupamento em que identificaram grupos de correlações ou fatores con sistindo naquelas variáveis que apresentavam inter correlações significativas Eles estavam interessados não só na significância estatística mas também no sig nificado psicológico do agrupamento em questão No final três fatores grupais explicavam a maio ria das intercorrelações observadas O primeiro deles foi chamado de fator grupal areal e incluía variá veis como a área da escrita total a área das figuras do quadronegro a área dos quadrados com os pés a superestimação de ângulos e a extensão das marcas sinais escritos de resposta de autoavaliação Isso parece ser uma espécie de expansividade motora O segundo agrupamento foi chamado de fator grupal centrífugo e inclui variáveis como superestimação da distância em relação ao corpo com as pernas exten são de cubos velocidade verbal subestimação de pe sos e subestimação de distâncias em relação ao corpo com as mãos Allport e Vernon ficaram menos conten tes com esse fator do que com o anterior mas conclu íram O fator grupal baseiase principalmente em medidas centrífugocentrípetas Assim o fator gru pal pode ser interpretado como uma tendência ex pansiva geral liberdade e extroversão do movimen to expressivo o oposto da motilidade introvertida contida e pedante 1933 p 112 O terceiro agrupa TEORIAS DA PERSONALIDADE 243 mento foi chamado de fator grupal de ênfase e in cluía medidas como a intensidade da voz o movimento durante a fala a pressão da caligrafia a pressão do tamborilar a superestimação de ângulos a pressão da mão em repouso Os investigadores concluíram que esse é um fator relativamente heterogêneo mas que um fator comum de ênfase parece estar por trás da maioria das medidas Eles sugeriram A simples pres são ou tensão física parece ser significativa apenas como parte de uma tendência mais ampla e mais psi cológica de fazer movimentos enfáticos 1933 p 112 Allport e Vernon não completamente satisfeitos com suas comparações grupais seguiram essa análise com quatro histórias de caso em que os movimentos expressivos dos sujeitos eram examinados no contex to de suas personalidades conhecidas Eles disseram Somos forçados à surpreendente conclusão de que virtualmente nenhuma medida contradiz a impressão subjetiva das personalidades As medidas registram fielmente o que o senso comum indica Até as medi das que não correspondem estatisticamente se ajus tam ao quadro de tal maneira que são facilmente in teligíveis e psicologicamente congruentes 1933 p 180 Além disso eles descobriram que os juízes eram capazes de combinar encontrar o correspondente com mais acertos do que o acaso permite amostras de caligrafia e curvas quimógrafas indicando a pres são exercida ao escrever com esboços de personali dade Allport e Vernon fazem uma declaração final interessante Existem graus de unidade no movimen to assim como existem graus de unidade na vida mental e na personalidade Certamente não é insen sato supor que uma vez que a personalidade está or ganizada o movimento expressivo é harmonioso e autoconsistente e quando a personalidade está de sintegrada o movimento expressivo é autocontradi tório 1933 p 182 Após um exame final dos achados positivos de suas investigações Allport e Vernon concluíram A partir dos nossos resultados parece que os ges tos e a caligrafia de um homem refletem um esti lo individual essencialmente estável e constante Suas atividades expressivas não parecem estar dissociadas e mutuamente nãorelacionadas e sim organizadas e bempadronizadas Além disso as evidências indicam que existe uma congruência entre o movimento expressivo e as atitudes os traços os valores e outras disposições da perso nalidade interna Embora a questão da organi zação da personalidade como um todo esteja além do escopo deste volume está claro que os fundamentos de uma solução adequada desse importante problema não podem ser oferecidos pela doutrina anárquica da especificidade mas apenas pelas teorias positivas e construtivas da consistência 1933 p 248 Uma série de estudos de Allport e Cantril 1934 tentou avaliar a extensão em que os juízes consegui am avaliar a personalidade com exatidão baseados apenas na voz Mais de 600 juízes foram empregados no julgamento de 16 oradores Foram usadas três téc nicas diferentes de julgamento esboços de personali dade encontrar o orador correspondente à descrição da personalidade e avaliar os oradores em atributos medidos independentemente Os atributos julgados incluíam características físicas e expressivas como idade altura compleição aparência em fotografias e caligrafia assim como interesses e traços por exem plo vocação preferência política extroversão e as cendência Os resultados dos estudos foram consistentes ao indicar que os juízes conseguiam relacionar a voz a características de personalidade e a certas caracterís ticas físicas com uma exatidão maior que o acaso Uma comparação de julgamentos baseados na voz natural com julgamentos baseados na voz no rádio revelou que nas duas condições os juízes conseguiram um su cesso maior que o casual mas que a voz natural leva va a avaliações um pouco mais exatas do que a voz no rádio Um exame das diferentes características pesso ais avaliadas revelou que os juízes foram mais consis tentes e mais acurados em suas estimativas dos inte resses e dos traços do que das características físicas e da caligrafia Os autores concluíram Os traços e as disposições mais organizados não apenas são avalia dos mais consistentemente do que características ex ternas como o físico e a aparência mas também são avaliados mais corretamente Allport Cantril 1934 p 51 Allport generalizando a partir dos resultados das suas investigações e das de outros afirmou Os aspectos expressivos do corpo não são ativa dos independentemente Qualquer um deles é afe 244 HALL LINDZEY CAMPBELL tado da mesma maneira que qualquer outro Por tanto até certo ponto Lavater tem razão ao dizer que o mesmo espírito se manifesta em todos Mas a consistência jamais é perfeita Um ca nal de expressão não é uma réplica exata de to dos os outros Se fosse assim os métodos monos sintomáticos de psicodiagnóstico estariam plenamente justificados A personalidade comple ta trairseia igualmente bem em qualquer aspec to A caligrafia contaria toda a história assim como os olhos as mãos ou os membros A concordância comprovada não justifica uma interpretação tão simples do caso A unidade de expressão como seria de espe rar acaba sendo inteiramente uma questão de grau exatamente como a unidade da personali dade é uma questão de grau Não devemos espe rar que os aspectos expressivos do corpo reflitam mais consistência do que a própria personalidade possui nem devemos esperar que reflitam me nos A expressão é padronizada de maneiras com plexas exatamente como a própria personalida de é padronizada Existem consistências mais importantes e consistências secundárias muita congruência e algum conflito e contradição Os psicodiagnósticos precisam então prosseguir como prossegue qualquer outro ramo da psicologia da personalidade para o estudo de fenômenos com plexos em um nível complexo 1937 p 480481 Cartas de Jenny Na década de 40 chegaram às mãos de Allport 301 cartas escritas para um jovem casal por uma mulher de meiaidade Jenny Masterson um pseudônimo ao longo de um período de 12 anos Allport reconhe ceu a importância psicológica das cartas e usouas por muitos anos em suas aulas sobre personalidade em Harvard para estimular discussões na turma Elas fo ram publicadas de forma resumida no Journal of Ab normal and Social Psychology Anônimo 1946 Allport e seus alunos fizeram vários tipos de aná lise dessas cartas para determinar os traços mais no táveis de Jenny Baldwin 1942 foi o primeiro a usar as cartas Ele criou um método que chamou de análi se da estrutura pessoal O primeiro passo consistia em ler as cartas a fim de identificar os tópicos e temas proeminentes sobre os quais Jenny escrevia Baldwin descobriu que ela freqüentemente escrevia sobre seu filho Ross sobre dinheiro natureza e arte e é claro sobre seus próprios sentimentos O passo seguinte foi encontrar relações entre esses tópicos observando a freqüência com que ocorriam juntos Quando Jenny escrevia sobre Ross por exemplo quão freqüentemen te ele era mencionado junto com dinheiro arte mu lheres e assim por diante Vários agrupamentos ou constelações estatisticamente significativos emergiram da análise Dois desses agrupamentos giravam em tor no de ver Ross sob uma luz favorável e sob uma luz desfavorável Quando ele era mencionado favoravel mente em uma carta os temas de natureza e arte e das lembranças de Jenny de seu passado também ten diam a ocorrer mais freqüentemente na mesma carta do que ocorreria ao acaso Quando Ross era mencio nado desfavoravelmente outros tópicos eram o ego ísmo de Ross os autosacrifícios de Jenny e outras mulheres mencionadas sob uma luz desfavorável Allport comentou que o estudo de Baldwin mostrava que a quantificação da estrutura de uma única per sonalidade é possível por meio de apoios estatísticos aplicados à análise de conteúdo 1965 p 199 mas ele também se perguntou se esse modo tão trabalho so de classificar agrupamentos de idéias acrescenta algo de novo às interpretações feitas pela leitura cri teriosa do material p 198199 O próprio Allport usou uma abordagem mais de senso comum para a análise dos traços de Jenny con forme revelados em suas cartas Ele pediu a 36 pesso as que lessem as cartas de Jenny e caracterizassemna em termos de seus traços Elas usaram um total de 198 nomes de traços Uma vez que muitos desses no mes eram sinônimos ou altamente relacionados All port pôde agrupálos sob oito itens e um grupo resi dual de 13 termos As oito categorias são 1 Briguentodesconfiado 2 Autocentrado 3 Independenteautônomo 4 Dramáticointenso 5 Estéticoartístico 6 Agressivo 7 Cínicomórbido 8 Sentimental Houve uma considerável concordância entre os juízes quase todos eles percebendo como muito pro eminentes na personalidade de Jenny os traços de desconfiança egocentrismo e autonomia TEORIAS DA PERSONALIDADE 245 Allport reconhecia que uma lista de traços não é uma estrutura A personalidade de Jenny certamen te não é uma soma de oito ou nove traços separados 1965 p 195 Correspondentemente ele perguntou aos juízes se percebiam algum outro tema unificador marcando quase todo o seu comportamento verbal e recebeu uma diversidade tão grande de respostas que foi impossível decidir sobre algum traço cardeal All port também admitiu que os psicanalistas criticariam sua análise dos traços pois ela não chegava à dinâmi ca subjacente motivações do comportamento de Jenny Entretanto ele defendeu sua posição salien tando a consistência do comportamento de Jenny o que nos permite predizer sua futura conduta a partir do que ela fez no passado As avaliações de Allport desses estudos da análise de conteúdo estão resumidas na seguinte declaração A análise de conteúdo quer escrito à mão quer à máquina não oferece nenhuma chave de ouro para o enigma de Jenny Entretanto ela realmen te objetiva quantifica e em certa extensão puri fica impressões do senso comum Ao nos manter perto dos dados as palavras de Jenny ela nos alerta para não deixar que algum insight favorito abafe as evidências E ela chama a nossa atenção para ocasionais revelações novas que estão além do senso comum sem ajuda Em resumo ao foca lizar o mundo fenomenológico de Jenny ela nos permite fazer inferências de primeira ordem mais seguras sobre a estrutura de personalidade subja cente à sua experiência existencial 1965 p 204 PESQUISA ATUAL O Interacionismo e o Debate PessoaSituação Revisitados A publicação de Walter Mischel 1968 Personality and Assessment foi um dos eventos mais importantes na recente literatura sobre a personalidade É impor tante observar dois pontos antes de examinarmos bre vemente o debate em si Primeiro como pretende in dicar a palavra revisitados no título desta seção a controvérsia de forma nenhuma era nova p ex Eps tein OBrien 1985 Pervin 1978 1985 Allport li dou com a questão em toda a sua carreira e um exem plo disso é a sua rejeição do conceito de elementos idênticos como a base da consistência situacional cru zada 1961 p 319324 e a sua discussão dos estu dos de Hartshorne e May 1928 sobre a honestida de Segundo muitos pesquisadores p ex Eysenck 1981b enfatizaram que o debate é artificial porque tanto os fatores da personalidade quanto as forças si tuacionais são necessários para um entendimento do comportamento e que sua importância relativa depen de das circunstâncias específicas em consideração cf Anastasi 1958 sobre hereditariedade e ambiente Embora o debate tenha ocupado o campo por duas décadas ele agora evoluiu para questões diferentes de pesquisa ver p ex Kenrick Funder 1988 Per vin 1985 Entretanto o debate merece ser mencio nado aqui porque uma das questões mais importan tes foi debatida em termos allportianos Mischel 1968 apresentou basicamente um de safio empírico Ele propôs que a utilidade preditiva dos traços globais da personalidade não tinha sido demonstrada Além disso há poucas evidências de que o comportamento tenha uma consistência situacional cruzada como parece implicar a noção de uma per sonalidade permanente e transituacional Na ausên cia de qualquer demonstração do contrário sugere Mischel a conclusão mais razoável é que o comporta mento é situacionalmente específico não consistente em situações cruzadas O desafio de Mischel provocou muitas respostas Alguns pesquisadores salientaram que a conclusão alternativa implícita de que as situações explicam a maior parte da variância no comportamento uma vez que os traços de personalidade aparentemente não explicam estava errada Assim Funder e Ozer 1983 afirmaram que mesmo com forças situacionais tão ostensivamente poderosas como as subjacentes às mudanças de atitude sob uma aquiescência forçada e a intervenção de espectadores e obediência a por centagem da variância comportamental explicada não excedia a reconhecida por Mischel para os traços de personalidade Igualmente Bowers 1973 resumiu os estudos que aplicaram análises da variância à vari ância comportamental dividida Ele relatou que a in teração dos fatores da personalidade com as forças situacionais tinha o maior impacto sobre o comporta mento Outros investigadores sugeriram importantes reconceitualizações da controvérsia Epstein p ex 1979 propôs que o comportamento é muito mais con 246 HALL LINDZEY CAMPBELL sistente quando comportamentos simples são agrega dos em unidades maiores ver Mischel 1984 Mischel Peake 1982 1983 para réplicas Da mesma for ma Moskowitz 1982 demonstrou que constructos de traços amplos e limitados eram caracterizados por padrões de consistência diferentes Mas a resposta a Mischel que gerou mais atenção veio de Daryl Bem e Andrea Allen 1974 Eles nota ram um aparente paradoxo entre as nossas intuições que sugeriam que as pessoas realmente apresentam consistência situacional cruzada e a literatura empí rica que indica o oposto Bem e Allen acreditavam que as intuições em vez da pesquisa estavam mais de acordo com a realidade O problema argumenta ram eles é que a literatura é vítima da falácia nomo tética salientada primeiro por Gordon Allport Isto é os pesquisadores supõem implicitamente que qualquer dimensão de traço é universalmente aplicável a to das as pessoas Em conseqüência acabam investigan do conceitos que fazem sentido para eles mas que não existem na fenomenologia ou no comportamento de seus sujeitos Em outras palavras uma amostra de comportamentos e de situações que para um experi mentador vêm juntos pode não pertencer a uma clas se de equivalência para os sujeitos Na extensão em que isso é verdade a pesquisa resultante não conse guirá encontrar consistência situacional cruzada não porque ela não existe mas porque está sendo procu rada no lugar errado Conforme Bem e Allen colocam O veredito tradicional de inconsistência de forma nenhuma é uma inferência sobre os indivíduos ele é uma declaração da discordância entre um investiga dor e um grupo de indivíduos eou da discordância entre os indivíduos do grupo p 510 Ao contrário da estratégia de pesquisa as nossas intuições operam de maneira idiográfica Nós não começamos impon do rótulos a uma pessoa em vez disso nós primeiro organizamos seu comportamento em tendências raci onais e depois tentamos compreender isso Em conseqüência dessa análise Bem e Allen só esperavam encontrar consistência para parte das pes soas dentro de parte do tempo Eles coletaram dados sobre a consistência situacional cruzada do caráter amistoso e consciencioso em uma tentativa de apoiar essa afirmação Primeiro dividiram sua amostra em sujeitos que relatavam ser consistentes nos traços e sujeitos que relatavam não ser Eles então coletaram exemplos de comportamento amistoso e de compor tamento consciencioso Relataram uma concordância substancial entre os diferentes indicadores de caráter amistoso para os sujeitos que tinham relatado ser con sistentemente amistosos mas uma concordância mí nima para os sujeitos que tinham indicado não ser consistentes nesse traço Resultados semelhantes fo ram obtidos para o caráter consciencioso Em conse qüência de sua análise Bem e Allen concluíram que os pesquisadores realmente devem prestar mais aten ção às situações conforme afirmara Mischel Mas os pesquisadores também devem prestar uma imensa atenção às pessoas E vale a pena prestar atenção a Gordon Allport Ver Chaplin Goldberg 1984 que não conseguiram replicar Bem e Allen Ver também Zuckerman Bernieri Koestner Rosenthal 1989 para uma sofisticada réplica de Bem e Allen Idiográfica e Idiotética O legado mais duradouro de Allport talvez tenha sido sua defesa de uma abordagem idiográfica à perso nalidade Isto é Allport acreditava que o estudo da personalidade não fazia sentido a menos que seu ob jetivo fosse compreender a singularidade padroniza da de cada indivíduo Ele fundamentalmente se opu nha ao desmembramento da personalidade garantido por qualquer comparação de fragmentos de comportamento entre pessoas Em conseqüência All port aceitava a proposição de que a psicologia busca leis gerais mas ele chamou atenção especial para aquelas leis e princípios que mostram como ocorre a singularidade 1961 p 572 Em outras palavras ele propôs partir do comportamento dos indivíduos como uma fonte de palpites depois buscar generali zações sobre tal comportamento e finalmente vol tar ao indivíduo 1962 p 407 É este último passo confrontar as nossas vacilantes leis da personalida de com a pessoa concreta 1962 p 407 que cap tura a essência da prescrição de Allport para a perso nalidade Apesar de ocasionais apoios a Allport p ex Ty ler 1978 é claro que têm havido várias segundas opiniões sobre essa prescrição A objeção central é a de que uma abordagem idiográfica é incompatível com uma abordagem científica Eysenck 1954 Holt 1962 Skaggs 1945 Entretanto nos últimos anos vários psicólogos da personalidade adotaram a posição idio gráfica de Allport Três deles serão examinados aqui TEORIAS DA PERSONALIDADE 247 brevemente ver também a discussão no Capítulo 6 sobre a pesquisa da história de vida Saul Rosenzweig p ex 1986 acreditava que a meta da teoria da personalidade e da psicologia clí nica é compreender os indivíduos como distintos dos outros mas também relacionados aos outros Ele pro pôs que isso fosse feito por meio de normas nomotéti cas ou universais demográficas ou grupais e idio dinâmicas ou individuais Ao contrário do foco de Allport nos traços do indivíduo único Rosenzweig focalizou a organização dinâmica única de eventos através do tempo 1986 p 242 que distingue cada pessoa Ele usou essa análise para localizar a psicolo gia em relação a outras ciências físicas e sociais Talvez a mais influente das propostas idiográficas seja a de James Lamiell Em um artigo amplamente citado Lamiell 1981 propôs uma estratégia empíri ca para combinar a busca de Allport de princípios no motéticos com a descrição idiográfica da personalida de de um indivíduo Lamiell argumentou que o tradicional paradigma de pesquisa das diferenças in dividuais atribui escores a um atributo da pessoa com binando valores em uma série de respostas ou obser vações cada um deles recebendo um peso por sua relevância para o atributo de interesse Por exemplo o nível de extroversão de uma pessoa poderia ser de finido como a soma de seu escore em cada uma das 24 perguntas do autorelato cada pergunta receben do um peso 1 de relevância implícita No próximo passo crucial o escore seria interpretado pela compa ração com o escore médio de um conjunto represen tativo de respondentes Na prática isso é equivalente a obter escores de traços somandose as respostas aos itens de um teste de personalidade e depois compa randose esse escore total com as normas do teste Lamiell argumentou persuasivamente que esses esco res entre pessoas nada dizem sobre a personalidade do indivíduo Além disso ele afirmou que é impossí vel chegarmos a uma conclusão significativa sobre a consistência do comportamento de um indivíduo a partir dessas medidas agregadas ver Rorer Widi ger 1983 para um argumento semelhante Como conseqüência o método empregado por pesquisado res da personalidade é fundamentalmente incompatí vel com sua apregoada meta de compreender os indi víduos Lamiell sugeriu substituirmos esse método por outro que ele chamou de estratégia de mensuração idiotética Tal estratégia diverge de duas maneiras importantes da estratégia das diferenças individuais recémdescrita Primeiro o conjunto de itens pelo qual combinamos as respostas deve ser específico para o indivíduo que está sendo avaliado Em princípio isso pode valer também para a estratégia das diferenças individuais mas na prática quase sempre é usado um conjunto comum de itens Segundo e extrema mente importante o significado do escore total de um indivíduo dependeria não de uma comparação com o escore médio de um conjunto de respondentes mas de onde o escore total se situa dentro do intervalo total de escores possível para aquele indivíduo Isto é uma medida idiograficamente definida da rebeldia de Mary em determinada ocasião dependeria de quão rebelde foi o seu comportamento se comparado à sua rebeldia máxima e mínima O que Lamiell quer dizer é que os pesquisadores podem e realmente devem conceitualizar e medir cada indivíduo por ele mesmo não por meio de comparações com outros indivíduos Isso por sua vez permitiria aos pesquisadores inves tigar a consistência dos indivíduos ao longo do tem po em vez de focalizar medidas agregadas para con juntos de indivíduos No processo seria possível cumprir o requerimento de Allport Bem e Allen 1974 de evitarmos qualquer suposição de que um dado atri buto é relevante para todos ou mesmo para outros indivíduos Recentemente Lamiell 1981 p 287 propôs que o tipo de pessoa que somos está diretamente refleti do no tipo de pessoa que não somos mas poderíamos ser e está apenas incidentalmente se é que está re fletido no tipo de pessoa que alguém mais é ver La miell 1987 para uma discussão mais completa La miell concluiu que o tipo de pesquisa sistemática que ele propõe é idiográfica no sentido de que faz justiça aos indivíduos mas também é nomotética no sentido de que tenta confirmar a aplicabilidade de princípios gerais aos indivíduos Isto é tal pesquisa seria idioté tica Lamiell estava claramente respondendo à exor tação de Allport de que a nossa pesquisa deveria aca bar voltando ao indivíduo Pelham 1933 oferece uma ilustração final de uma pesquisa idiográfica Ele incluiu como idiográfi ca qualquer abordagem que adote um método den trodosujeito em vez de entresujeitos Tal abor dagem argumentou ele revelase muito mais útil do que os críticos p ex Paunonen Jackson 1985 248 HALL LINDZEY CAMPBELL têm afirmado Em especial escreveu Pelham as téc nicas idiográficas trazem vantagens práticas Além disso já que a vida mental é primariamente uma experiência dentrodosujeito em vez de entresu jeitos as técnicas idiográficas capturam a integri dade da realidade fenomenológica de maneira que as técnicas nomotéticas tipicamente não capturam Pe lham 1993 p 666 Pelham apresentou dados con sistentes com sua análise sobre a relação entre a auto percepção e as avaliações dos iguais Allport Revisitado Em uma de suas últimas publicações Allport 1966 revisitou seu conceito de traços Cerca de 20 anos depois vários outros autores também voltaram ao mo delo de traços de Allport usandoo como um trampo lim teórico para discussões estimulantes Examinemos três desses esforços Zuroff 1986 lançou a irônica pergunta Gor don Allport foi um teórico do traço Seu artigo ten tava reabilitar Allport demonstrando que ele não foi um teórico do traço pelo menos no sentido em que o termo é atualmente entendido pela maioria dos psi cólogos p 993 A confusão não é de Allport pelo contrário ela está no entendimento contemporâneo errado da definição de traços de Allport Conforme Zuroff salienta e como vimos antes a definição de Allport de traços não implica uma consistência geral situacional cruzada do comportamento Pelo menos no caso das disposições pessoais Allport predisse que as pessoas manifestarão uma autoconsistência de com portamento ao longo do tempo e em situações rele vantes e não consistência em todas as situações ou em conjuntos de situações compilados por um pes quisador Bem e Allen 1974 estavam ecoando esse ponto quando introduziram o conceito de classes de equivalência Allport propôs que precisamos dos tra ços para nos referir à conexão entre um conjunto de respostas equivalentes e um conjunto de situações provocantes funcionalmente equivalentes Os vín culos intra e entre conjuntos derivamse de seu signi ficado compartilhado A essa luz conforme salientou Zuroff 1986 a teoria de Allport claramente se qua lifica como uma teoria interacionista para usar um termo atual dos psicólogos Isto é o comportamento é determinado tanto pela pessoa quanto pela situa ção e os próprios traços são definidos em termos in teracionistas Nesse ponto Zuroff referiuse à distinção de Mag nusson e Endler 1977 entre a interação pessoasitu ação em um sentido mecanicista e em um sentido di nâmico A primeira se refere à necessidade de incluir tanto as pessoas quanto as situações em explicações ou predições do comportamento mas a segunda se refere a um processo pelo qual as situações afetam o comportamento de um indivíduo Zuroff 1986 ar gumentou que o traço de Allport é interacionista em um sentido mecanicista mas não em um sentido di nâmico Mas também poderíamos argumentar que a referência de Allport ao significado subjacente pro porciona exatamente o mecanismo dinâmico que Zu roff via como ausente O restante do artigo de Zuroff apresenta uma pro veitosa discussão da utilidade dos constructos de tra ço ver também Buss 1989 Zuroff 1986 p 999 acrescentou adequada e ironicamente que Walter Mischel no seu livro de 1968 que levou muitos a re jeitarem o modelo de traços ostensivamente ingênuo de Allport em favor de uma abordagem interacionista ao comportamento supostamente sofisticada e mais acurada introduzira o que pode ser considerado uma reformulação contemporânea do conceito de traço de Allport Mischel 1984 p 362 propôs um foco em consistências específicas ou locais Em vez de buscar altos níveis de consistência de situação para situação para muitos comportamentos em uma ampla varieda de de contextos ou de procurar médias amplas po deríamos tentar identificar agrupamentos ou con juntos únicos de comportamentos prototípicos temporariamente estáveis que caracterizam a pes soa mesmo no decorrer de períodos mais longos de tempo mas não necessariamente na maioria das situ ações ou em todas as situações possivelmente rele vantes Um recente artigo integrativo de Nancy Cantor 1990 poderia ser visto como uma tentativa de pro porcionar o processo que Zuroff via como faltando na teoria de Allport Na verdade o trabalho de Can tor é fascinante precisamente porque ela demonstra conexões entre a psicologia allportiana do traço e o trabalho contemporâneo sobre motivação social Can tor propôs que uma abordagem cognitiva ou de fa zer à expressão manutenção e desenvolvimento da personalidade complementa uma abordagem de tra ço ou de ter à estrutura da personalidade As uni dades cognitivas descritas por Cantor representam unidades de análise contextualizadas de nível mé TEORIAS DA PERSONALIDADE 249 dio no sentido de que proporcionam a expressão de disposições de personalidade mais generalizadas ver Briggs 1989 e Wakefield 1989 Cantor introduziu esquemas tarefas e estratégias para explicar a estru tura intencional da personalidadeemcontexto 1990 p 737 ver também Little 1989 Um esquema é uma estrutura de conhecimento referente a um comportamento passado em algum domínio Uma pessoa com um esquema de selfcomo tímido por exemplo tem certas memórias que a pre dispõem a perceber situações em certos termos e a responder de certas maneiras Ela considerava os es quemas como os portadores cognitivos das disposi ções um registro da expressão particular do indiví duo de por exemplo timidez 1990 p 737738 Essa descrição lembra a necessidade integrada de Henry Murray Além disso a elaboração de um esque ma de timidez por parte de Cantor soa muito pareci da com a definição de Allport do traço como o víncu lo entre um conjunto de estímulos funcionalmente equivalentes e um conjunto de respostas equivalen tes o esquema de timidez de um indivíduo registra os tipos específicos de pessoas e de interações que o deixam nervoso os atos específicos de timidez mais característicos de sua timidez e o subconjunto de si tuações ou contextos de vida aos quais ele está mais predisposto a responder com timidez p 738 Os indivíduos diferem não só em seus esquemas mas também nas tarefas de vida às quais esses esque mas dão origem Cantor sugeriu que as tarefas de vida podem ser universais refletindo um significado evo lutivo desenvolvimental ou sociocultural Além dis so as pessoas têm tarefas de vida individualizadas autoarticuladas Observem aqui o aparente paralelo com os traços comuns e as disposições pessoais de Allport Ela descreveu as tarefas de vida específicas como prontamente vinculadas ao componente moti vacional de disposições características p 740 su gerindo assim um paralelo com a distinção de Murray entre necessidades gerais e metas específicas Cantor apresenta uma análise persuasiva das tarefas de vida e sua fluidez desenvolvimental Nessa detalhada aná lise das tarefas ela estava complementando as suges tões de teóricos como Allport e Murray Cantor ficou ainda mais específica ao discutir as estratégias que os indivíduos empregam para traba lhar nas tarefas da vida Ela acreditava que mesmo quando os indivíduos compartilham tarefas eles usam caminhos comportamentais únicos para realizálas A existência dessas metas e a sua busca por parte do indivíduo sugerem claramente os anseios próprios de Allport A descrição de Cantor de como o traba lho estratégico envolve uma fusão e uma interação recíprocas da cognição e da emoção para atingir uma meta importante do self p 743 como no caso do pessimismo defensivo é uma extensão muito útil do conceito de Allport O aspecto mais atraente da abordagem de Cantor é sua explícita discussão dos diferentes níveis de aná lise que caracterizam as variáveis cognitivas Assim ela descreveu um ordenamento natural de generali dade de esquemas de nível relativamente superior que se aplicam a muitos domínios e períodos da vida o selfcomorealizador a tarefas mais delimitadas para períodos específicos da vida tornarse sócio de uma firma de advocacia a estratégias muito especí ficas condicionalmente ligadas a determinados con textos ou interações manejar a ansiedade antes de um julgamento importante com pessimismo defensi vo p 746 Tal hierarquia permite a Cantor resol ver a coexistência aparentemente paradoxal da esta bilidade da personalidade e da mudança da persona lidade Isto é ela aceitava a evidência longitudinal de uma considerável estabilidade no nível das disposi ções amplas da personalidade mas também acredita va que ocorrem mudanças críticas durante a vida na microestrutura de conteúdo de esquemas nas priori dades de tarefas de vida e nas regras de estratégia p 747 Um exemplo final de uma abordagem neoall portiana à personalidade é dada por David Funder 1991 Funder observou que uma conseqüência do debate pessoasituação foi uma imagem de traços glo bais como idéias antiquadas bastante originais mas nãorelevantes para a moderna pesquisa sobre a per sonalidade p 31 Ao contrário das modernas re conceitualizações da personalidade a teoria neo allportiana de traços globais de Funder sugere que os psicólogos da personalidade ficariam mais bem servidos com a idéia de disposições globais e estrutu radas em linguagem cotidiana Por exemplo uma das 17 afirmações de Funder propõe que os traços globais têm um poder explanatório real precisamente porque não são redundantes com comportamentos específi cos Segundo Funder a explicação tem relação com o movimento do específico comportamento para o geral traço p 36 Isso não significa que os traços são explicações suficientes do comportamento eles 250 HALL LINDZEY CAMPBELL têm uma história desenvolvimental e estão inseridos em uma hierarquia de generalidade Mas os traços permanecem pontos de parada importantes na regres são explanatória p 36 Além disso Funder con cluiu que os traços globais intuitivamente acessíveis permanecem o nível apropriado de análise em que a investigação deve começar e que investigações mais específicas sempre devem lembrar de informar p 37 Funder ecoou Allport em sua crença de que os traços globais proporcionam a nossa melhor oportu nidade de compreender os indivíduos em sua totali dade e em funcionamento STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Segundo Allport 1968 p 377 a maior parte de seu trabalho profissional pode ser compreendida como uma tentativa de responder a uma pergunta Como deve ser escrita a história da vida psicológica Sua tentativa de responder a essa indagação foi orientada pela crença de que a singularidade padronizada dos atributos de um indivíduo é a realidade psicológica central Conforme ele escreveu embora Bill possa ser comparado proveitosamente em muitas dimensões com o ser humano médio ou com seu grupo natural ele ainda tece todos esses atributos em um sistema idiomático único O que quer que seja a individuali dade ela não é a mixórdia residual deixada após as dimensões gerais terem sido exauridas A organiza ção da vida de Bill é antes de tudo supremamente e o tempo todo o fato primário da sua natureza huma na 1962 p 410 Em contraposição a muitos teóricos Allport ja mais desenvolveu uma escola de seguidores embora os traços de sua influência possam ser encontrados no trabalho de antigos alunos como A L Baldwin J S Bruner H Cantril G Lindzey D G McGranahan T Pettigrew e M B Smith A maioria dos desenvolvi mentos em sua teoria está ligada às contribuições do próprio Allport que foram contínuas por quase meio século Começando com sua busca de uma unidade apropriada para a descrição da personalidade que levou à sua concepção do traço e com um interesse simultâneo pela transformação desenvolvimental so frida pelos motivos que culminou no conceito de au tonomia funcional ele modificou progressivamente a teoria passando a enfatizar cada vez mais a intencio nalidade e as funções próprias do ego Um dos mais surpreendentes fenômenos dos últi mos 60 anos na psicologia foi a morte e o subseqüen te renascimento dos conceitos de self e de ego Talvez nenhum outro psicólogo tenha tido um papel tão in fluente na restauração e na purificação do conceito de ego como Allport Ele não só colocou o conceito em um contexto histórico mas também tentou mos trar persistentemente a necessidade funcional de empregar algum conceito desse tipo de uma maneira discriminante em qualquer tentativa de representar o complexo comportamento humano normal Um ou tro aspecto novo da posição de Allport foi sua ênfase na importância dos determinantes conscientes do com portamento e como um corolário disso sua defesa dos métodos diretos de avaliação da motivação hu mana Além disso Allport defendeu ardorosamente o estudo detalhado do caso individual Embora outros tenham compartilhado dessa convicção Allport com sua monografia sobre o uso de documentos pessoais na psicologia 1942 sua ênfase nos métodos idio gráficos suas Letters from Jenny e sua publicação de histórias de caso como editor do Journal of Abnormal and Social Psychology é claramente uma das figuras mais importantes em um movimento que levou à atu al aceitação do caso individual como um objeto legíti mo de investigação psicológica Finalmente a posição de Allport é notável por sua ênfase no futuro e no presente com a relativa exclu são do passado É fácil para um investigador ou tera peuta esquecer a importância dos determinantes situ acionais e presentes do comportamento em favor da determinação histórica Conseqüentemente tem sido muito bom ter os textos de Allport como um constan te lembrete de que o passado não é o todo do indiví duo em funcionamento Já examinamos suficientemente o lado positivo desse livrocaixa Vamos agora dar uma olhada no negativo Em muitos aspectos essa teoria é singular mente vulnerável a críticas e nunca houve escassez de críticos ativos tais como Bertocci 1940 Coutu 1949 Seward 1948 e Skaggs 1945 Como suge rimos anteriormente Allport geralmente estava mais preocupado em apresentar seu ponto de vista de for ma vívida e efetiva do que em se proteger de críticas A inadequação formal da teoria provocou muitos co mentários negativos Qual é exatamente a base axio TEORIAS DA PERSONALIDADE 251 mática de sua posição O que constitui suposição e o que está aberto a testes empíricos De que maneira se interrelacionam as suposições feitas pela teoria e onde estão as cuidadosas definições empíricas que permitem ao investigador traduzir conceitos em ter mos de observação Intimamente relacionada a essas perguntas mas muitíssimo mais importante está a questão da variedade e da quantidade de investiga ção gerada pela teoria Devemos admitir que com a possível exceção do campo do comportamento expres sivo essa teoria não foi uma geradora eficiente de proposições para testes empíricos Como a maioria das outras teorias da personalidade ela está mais à von tade quando tenta explicar relações conhecidas do que quando tenta fazer predições sobre eventos nãoob servados Assim embora os próprios textos e investi gações de Allport tenham levado a uma grande quan tidade de pesquisas relacionadas como por exemplo sobre preconceito atitudes sociais e religiosas e ru mor sua teoria falha tristemente como um gerador formal de pesquisa Muitos psicólogos acham que uma das razões pe las quais a teoria tem dificuldade em fazer predições é que o conceito de autonomia funcional não pode ser demonstrado empiricamente e muito menos pre dizer eventos nãoobservados Nós já nos referimos a um certo embaraço criado para esse conceito quando a noção de propriateness foi introduzida como um critério para determinar o que se torna autônomo A base da autonomia funcional é um fracasso em obser var a extinção ou o abandono esperado de uma dada resposta e independentemente de quanto tempo observemos uma dada resposta que falhou em extin guirse sempre existe a possibilidade de críticas O detrator pode dizer que nós deveríamos ter observa do por mais tempo para verificar a extinção ou pode explicar a aparente autonomia da resposta em termos de alguma motivação subjacente que não foi adequa damente entendida pelo investigador Sempre é pos sível explicar qualquer exemplo concreto de autono mia funcional em termos de outras formulações teóricas mas da mesma forma os exemplos de ou tros princípios teóricos podem ser explicados em ter mos de princípios alternativos Talvez a crítica mais séria a esse princípio é que Allport não ofereceu ne nhuma explicação adequada do processo ou do meca nismo subjacente à autonomia funcional Ele nos diz que o fenômeno ocorre mas não explica satisfatoria mente como ou por quê Um outro aspecto da teoria que sofreu um pesado tiroteio de críticas é a suposição de Allport de uma descontinuidade parcial entre o normal e o anormal entre o bebê e o adulto e entre o animal e o humano A maioria dos psicólogos está tão firmemente conven cida de que aprendemos tanto sobre o comportamen to normal estudando sujeitos anormais que qualquer tentativa de sugerir que o anormal é descontínuo em relação ao normal parece quase uma heresia De fato a extensão em que os psicólogos tomaram empresta dos conceitos desenvolvidos por meio da observação de animais inferiores torna a suposição de desconti nuidades dentro da espécie humana ainda mais difícil de aceitar Consistente com sua visão do comporta mento humano adulto normal como distinto do com portamento animal inferior infantil ou anormal é a preferência de Allport por um modelo de ser humano que enfatiza aspectos positivos ou normativamente valorizados do comportamento A influência da psi canálise e da psicologia comparativa tem sido tão for te que uma teoria que insiste em enfatizar motivos socialmente aceitáveis em vez de necessidades primi tivas como sexo e agressão soa atualmente um tanto vitoriana O próprio Allport diria que ele não nega a importância dos motivos biológicos ou dos motivos inconscientes mas que deseja dar o devido lugar ao papel dos motivos socializados e dos processos racio nais que ele acredita ter sido negligenciado por uma era transitória de irracionalismo Ainda que possa ser assim muitos críticos da teoria afirmam que a posi ção de Allport representa os humanos em termos ex cessivamente parecidos com os usados pelo indivíduo comum para explicar seu próprio comportamento Nenhum psicólogo contemporâneo pode demo rarse muito na singularidade sem incorrer na fúria de muitos colegas preocupados em abstrair e medir o comportamento O que Coutu 1949 chamou de a falácia da personalidade única representa um impor tante desacordo entre as crenças de Allport e as da maioria dos cientistas sociais contemporâneos Eles estão convencidos de que a individualidade pode ser explicada em termos de princípios gerais ou comuns adequados e de que focalizar o individual e o único no presente estado de desenvolvimento da psicologia só pode levar a especulações estéreis 252 HALL LINDZEY CAMPBELL Sanford 1963 também criticou severamente o conceito de singularidade Ele insistiu que a ciência não pode explicar eventos únicos singulares mas que ela procura uniformidades e regularidades estatísti cas e tenta generalizar Ele observou que os clínicos e outras pessoas intimamente envolvidas no estudo de personalidades individuais não seguiram a recomen dação de Allport de tentar compreender a organiza ção singularmente padronizada de cada pessoa Ao invés disso eles tentam descobrir princípios gerais na análise do caso individual A resposta de Allport a essa crítica foi a de que podemos descobrir uniformidades na vida de uma pessoa e que podemos fazer genera lizações para aquela pessoa Mas permanece o fato de que fora Jenny Allport não seguiu seu próprio conse lho Mesmo no caso de Jenny não foi feita uma ten tativa real de estabelecer sua singularidade como ser humano Sua pesquisa foi do tipo nomotética Uma outra objeção à teoria intimamente relacio nada ao seu fracasso em generalizar proposições em píricas é a sua incapacidade de especificar um con junto de dimensões para usar no estudo da persona lidade Os traços individuais por definição não po dem ser afirmados de uma forma geral e o investiga dor se usa a abordagem idiográfica precisa começar novamente a tarefa de planejar variáveis para cada sujeito estudado Obviamente esse estado de coisas é desencorajador para a pessoa interessada em pesqui sa Finalmente os psicólogos contemporâneos im pressionados com a contribuição dos determinantes socioculturais ao comportamento não conseguem re presentar adequadamente esses fatores na teoria de Allport Eles afirmam que a teoria dá total atenção à interrelação de todos os comportamentos mas não reconhece a interrelação entre o comportamento e a situação ambiental em que ele opera Allport atribuiu crédito excessivo ao que se passa dentro do organis mo e crédito insuficiente ao impacto sedutor e cons trangedor das forças externas Allport do seu jeito compreensivo característico ouviu as críticas e respondeu a elas Ele reconheceu em seu importante artigo Traits Revisited 1966 que minhas idéias anteriores parecem ter negligenciado a variabilidade induzida pelos fatores ecológicos so ciais e situacionais p 9 Esse descuido prosse guiu ele precisa ser reparado por meio de uma teo ria adequada que relacione mais acuradamente os sistemas interior e exterior Mas Allport não tentou oferecer essa teoria e de fato pareceu sugerir que tal teoria não invalidaria nem substituiria seu ponto de vista Ele não acreditava que os traços podem ser ex plicados em termos de efeitos de interação As situa ções ambientais e as variáveis socioculturais podem ser forças causais distais mas o fator interveniente da personalidade é sempre a causa proximal da con duta humana Allport afirmava que é o dever da psi cologia estudar a pessoasistema porque é a pessoa quem aceita rejeita ou permanece nãoinfluenciada pelo sistema social O tolerante ecletismo de Allport é visto nessa solução para a controvérsia pessoasocie dade O teórico da personalidade deveria ser tão bem treinado na ciência social que pudesse ver o com portamento de um indivíduo como ajustandose a qualquer sistema de interação isto é ele deve ria ser capaz de considerar adequadamente tal comportamento na cultura em que ocorre em seu contexto situacional e em termos da teoria de papel e da teoria de campo Ao mesmo tempo ele não deveria perder de vista o fato de que existe uma padronização interna e subjetiva de todos esses atos contextuais 1960a p 307 Talvez o atributo mais notável dos textos de All port seja que apesar de seu pluralismo e ecletismo eles conseguiram criar um senso de novidade e exer cer uma grande influência Seu trabalho se destaca como um monumento a um estudioso sábio e sensí vel que estava determinado a representar os aspec tos positivos do comportamento humano em termos que respeitassem a singularidade de cada organismo vivo TEORIAS DA PERSONALIDADE 253 CAPÍTULO 8 A Teoria de Traço FatorialAnalítica de Raymond Cattell INTRODUÇÃO E CONTEXTO 254 Análise Fatorial 254 HISTÓRIA PESSOAL 256 A NATUREZA DA PERSONALIDADE UMA ESTRUTURA DE TRAÇOS 258 Traços 259 Traços de Capacidade e de Temperamento 260 A Equação de Especificação 263 Traços Dinâmicos 265 Cattell e Freud 269 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 270 Análise da HereditariedadeAmbiente 272 Aprendizagem 272 Integração da Maturação e da Aprendizagem 273 O Contexto Social 273 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 274 Um Estudo Fatorial Analítico de um Único Indivíduo 275 O Modelo de Personalidade dos Sistemas VIDAS 276 PESQUISA ATUAL 277 Os Cinco Grandes Fatores da Personalidade 277 Genética do Comportamento 281 Teoria Evolutiva da Personalidade 283 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 286 254 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO No presente capítulo trataremos de um método empí rico específico a técnica da análise fatorial e de uma posição teórica cujo desenvolvimento dependeu mui to do uso deste método a teoria da personalidade de Raymond B Cattell Hans Eysenck ver Capítulo 10 também dependia muito deste instrumento estatísti co e a análise fatorial com certeza é amplamente uti lizada como um instrumento empírico comum por in vestigadores contemporâneos de várias orientações teóricas Entretanto a teoria de Cattell é de longe a teoria da personalidade mais elaborada baseada na análise fatorial Antes de podermos compreendêla precisamos nos familiarizar brevemente com o méto do da análise fatorial em si Análise Fatorial As idéias essenciais da análise fatorial foram introdu zidas por Spearman 1904 um famoso psicólogo in glês mais conhecido por seu trabalho com as capaci dades mentais Spearman 1927 Ele sugeriu que se examinássemos dois testes relacionados de capacida de poderíamos esperar encontrar dois tipos de fator contribuindo para o desempenho nesses testes Pri meiro existe um fator geral p ex fluência verbal inteligência geral nível educacional que é importan te para ambos os testes Segundo existe um fator es pecífico p ex memória visual percepção espacial informação específica que é único para cada teste O método de análise fatorial foi desenvolvido como um meio de determinar a existência de fatores gerais e ajudar a identificálos A técnica de Spearman para isolar fatores simples foi revisada com a introdução de Thurstone 1931 de uma análise de múltiplos fa tores Isso abriu caminho para o estudo de problemas muito mais complexos e tem sido desde então o prin cipal método de análise fatorial Não é necessário um entendimento detalhado da análise fatorial para os propósitos da exposição deste capítulo entretanto é essencial que o leitor aprecie a lógica geral existente por trás da técnica Tipicamen te o teórico fatorial começa a estudar o comporta mento com um grande número de escores para cada um de um grande número de sujeitos Dados estes índices superficiais o investigador então aplica a téc nica de análise fatorial para descobrir quais são os fatores subjacentes que determinam ou controlam a variação nas variáveis superficiais Assim ele espera identificar um pequeno número de fatores básicos cuja operação explica a maior parte da variação no grande número de medidas que o investigador tinha ao co meçar O resultado da análise fatorial não só isola os fa tores fundamentais como também oferece para cada medida ou conjunto de escores uma estimativa da extensão em que cada um dos fatores contribui para esta medida Esta estimativa é comumente conhecida como a carga fatorial ou saturação da medida e é sim plesmente uma indicação de quanto da variação nes sa medida específica deve ser atribuída a cada um dos fatores O significado psicológico de um fator e a na tureza ou rótulo a ele ligados são amplamente deter minados pela natureza das medidas específicas que têm as cargas mais altas neste fator Tendo identifica do estes fatores básicos é possível para o teórico fato rial desenvolver um meio de mensurar esses fatores mais eficientemente do que seria possível por meio das medidas originais Assim o teórico fatorial começa com uma grande variedade de medidas comportamentais identifica os fatores subjacentes a essas medidas e então tenta cri ar um meio mais eficiente de avaliar esses fatores Os fatores do analista fatorial são em concepção muito pouco diferentes dos componentes ou das variáveis subjacentes dos outros teóricos da personalidade Eles são simplesmente tentativas de formular variáveis que expliquem a grande complexidade do comportamen to exterior É na técnica empregada para derivar essas variáveis que está a novidade da abordagem O leitor deve lembrar que embora os fatores gru pais ou comuns sejam de especial interesse para o analista fatorial não são os únicos tipos de fator Burt 1941 apresentou uma descrição amplamente aceita dos tipos de fator que podem ser derivados da aplica ção da análise fatorial Ele sugeriu que existem fato res gerais ou universais que contribuem para o desem penho em todas as medidas e que também existem fatores grupais que desempenham um papel em mais de uma mas não em todas as medidas Além disso existem fatores específicos ou singulares que contribu em para apenas uma das medidas e finalmente exis tem fatores de erro ou acidentais que aparecem em TEORIAS DA PERSONALIDADE 255 Raymond Bernard Cattell 256 HALL LINDZEY CAMPBELL uma administração isolada de uma medida isolada e devem ser atribuídos a uma mensuração falha ou à falta de controle experimental Devemos mencionar aqui uma outra questão que se mostrou um tanto controversa entre os analistas fatoriais a distinção entre sistemas de fatores orto gonais e oblíquos e a noção relacionada de fatores de segunda ordem Podemos especificar na análise fato rial que os fatores extraídos não terão correlação en tre si em um sentido geométrico em ângulos retos um em relação ao outro ou ortogonais ou pode mos permitir que emerjam fatores correlacionados ou oblíquos O primeiro procedimento tem sido pre ferido por alguns analistas fatoriais na esfera da per sonalidade devido à sua simplicidade e eficiência Mas outros incluindo Cattell defendem os fatores oblí quos afirmando que as verdadeiras influências cau sais na esfera da personalidade podem apresentar in tercorrelação e que somente o uso de um sistema de fator oblíquo permitirá a emergência de um quadro sem distorções O uso de fatores oblíquos tem uma implicação adicional Se obtivermos fatores intercorrelacionados poderemos reaplicar os mesmos métodos fatoriais analíticos às correlações entre os fatores produzindo os chamados fatores de segunda ordem Por exemplo o fatoramento de testes de capacidade freqüentemente leva a fatores de primeira ordem como fluência ver bal capacidade numérica visualização espacial e assim por diante que tendem a ser interrelaciona dos Podemos então prosseguir para o fatoramento das correlações entre estes fatores de primeira ordem talvez encontrando um único fator de segunda ordem de inteligência geral ou talvez fatores verbais e nãoverbais amplos ou algo parecido Como em qualquer outro procedimento pode haver abuso da análise fatorial e os melhores investi gadores nesta área enfatizam o fato de que não existe nenhum substituto para as boas idéias ou o conheci mento detalhado dos fenômenos que estão sendo in vestigados Assim Thurstone 1948 ao discutir o tra balho de seu laboratório psicométrico afirma Nós passamos mais tempo planejando os testes experimentais para o estudo de um fator do que em todo o trabalho computacional incluindo as correlações o fatoramento e a análise da estrutu ra Se temos várias hipóteses sobre fatores postu lados planejamos e inventamos novos testes que podem ser crucialmente diferenciadores para as várias hipóteses Esta é uma tarefa inteiramente psicológica sem cálculos Ela exige tanto insight psicológico quanto podemos reunir entre alunos e professores Freqüentemente achamos que nos sos palpites foram errados mas ocasionalmente os resultados são surpreendentemente encoraja dores Eu menciono este aspecto do trabalho fa torial na esperança de neutralizar a impressão geral de que a análise fatorial só se preocupa com álgebra e estatística Ambas devem ser nossas ser vas na investigação das idéias psicológicas Se não temos nenhuma idéia psicológica provavelmen te não descobriremos nada de interessante por que mesmo que os resultados fatoriais estejam claros e nítidos a interpretação deve ser tão sub jetiva quanto em qualquer outro trabalho cientí fico p 402 Para uma discussão completa da análise fatorial o leitor deve procurar Carroll 1993 Comrey 1973 Harman 1967 e Nesselroade e Cattell 1988 Para informações sobre métodos fatoriais analíticos confir matórios mais recentes o leitor pode consultar McAr dle 1996 e Nesselroade e Baltes 1984 Basta da lógica da análise fatorial Para uma ilus tração importante das diversas maneiras pelas quais este método pode ser aplicado à análise teórica e empírica da personalidade vamos examinar a teoria da personalidade de Raymond B Cattell HISTÓRIA PESSOAL Em Raymond Cattell encontramos um investigador cujo profundo interesse pelos métodos quantitativos não limitou o espectro de seu interesse pelas informa ções e pelos problemas psicológicos Para ele a análi se fatorial é um instrumento para esclarecer uma va riedade de problemas todos os quais foram ordenados dentro de uma estrutura sistemática Sua teoria re presenta uma importante tentativa de reunir e orga nizar os achados de estudos fatoriais analíticos da personalidade Ele presta certa atenção aos achados dos investigadores que usam outros métodos de estu do embora a essência de sua posição esteja baseada TEORIAS DA PERSONALIDADE 257 nos resultados da análise fatorial pois é aqui que ele deriva as variáveis que considera mais importantes para explicar o comportamento humano Ele é seme lhante a Gordon Allport no sentido de que a sua posi ção pode corretamente ser chamada de uma teoria do traço e a Kurt Lewin em sua capacidade de tra duzir idéias psicológicas em formas matemáticas ex plícitas Todavia entre os teóricos discutidos neste volume talvez o que mais se assemelhe a Cattell seja Henry Murray Ambos têm uma visão ampla da perso nalidade e desenvolveram sistemas teóricos grandes e inclusivos que incorporam muitas classes diferen tes de variáveis Ambos buscam um mapeamento empírico de amplas extensões do domínio da perso nalidade e isto em ambos os casos resultou em um grande número de constructos que têm vínculos ope racionais com dados e muitas vezes nomes estranhos Além disso ambos os teóricos colocam grande ênfase nos constructos motivacionais necessidades para Murray e traços dinâmicos para Cattell Ambos empregam substancialmente formulações psicanalíti cas e ambos dão um status teórico sistemático ao ambiente bem como à pessoa Uma diferença notá vel entre eles é claro é o profundo comprometimen to de Cattell com uma metodologia estatística especí fica a análise fatorial Raymond Bernard Cattell nasceu em Staffordshi re Inglaterra em 1905 e sua formação foi toda na Inglaterra Ele recebeu seu BSc em química da Uni versidade de Londres em 1924 e seu PhD em psico logia sob a orientação de Spearman desta mesma instituição em 1929 Foi palestrante no University College of the South West Exeter Inglaterra de 1928 a 1931 e diretor da City Psychological Clinic em Lei cester Inglaterra de 1932 a 1937 Esta combinação incomum de um posto acadêmico seguido imediata mente por uma extensiva experiência em um ambien te clínico sem dúvida explica parcialmente a subse qüente amplitude de interesse de Cattell Em 1937 ele recebeu um DSc da Universidade de Londres por suas contribuições para a pesquisa da personalidade Ele trabalhou como pesquisadorassociado com E L Thorndike no Teachers College Universidade de Co lúmbia durante o período de 19371938 e depois foi o professor de psicologia G Stanley Hall na Universi dade de Clark até ir para a Universidade de Harvard como palestrante em 1941 Em 1944 ele aceitou uma posição na Universidade de Illinois onde permane ceu até a sua aposentadoria em 1973 como professor de pesquisa em psicologia e diretor do Laboratory of Personality and Group Behavior Research Em 1973 tornouse professorvisitante na Universidade do Ha vaí Atualmente ele é professor de psicologia no Fo rest Institute of Professional Psychology em Honolu lu Havaí Em 1953 Cattell recebeu o prêmio WennerGren da Academia de Ciência de Nova York por seu trabalho sobre a psicologia do pesquisador Ele foi um dos fundadores da Society for Multivariate Experimental Psychology em 1960 e seu primeiro presidente Como todos os outros teóricos que enfatizam o método da análise fatorial Cattell deve muito ao tra balho pioneiro de Spearman e aos amplos progressos de Thurstone Suas formulações teóricas estão estrei tamente relacionadas às de McDougall cujo interesse em deslindar as dimensões subjacentes do comporta mento e ênfase no sentimento em relação ao self são vistos em roupagem moderna nos textos de Cattell Os detalhes de muitas das idéias teóricas de Cattell especialmente as relacionadas ao desenvolvimento estão intimamente ligados às formulações de Freud e às de autores psicanalíticos que vieram depois Durante um período de quarenta anos Cattell publicou um número surpreendente de livros e arti gos que não apenas cobrem o campo da pesquisa da personalidade e mensuração mental como tratam tam bém de tópicos dos campos tradicionais da psicologia experimental psicologia social e genética humana A simples estatística desta produção é assombrosa Cat tell publicou mais de 400 artigos de pesquisa cerca de 40 livros e mais de uma dúzia de testes diferentes para medir a personalidade a inteligência e a psico patologia Desta riqueza de publicações nós podemos seleci onar algumas que constituem marcos importantes no tratamento sistemático dado por Cattell à personali dade O primeiro destes volumes intitulase Descripti on and measurement of personality 1946 e tenta apre sentar de um ponto de vista secional cruzado fundamentos descritivos para uma teoria adequada da personalidade O segundo se chama Personality A systematic theoretical and factual study 1950 e ten ta desenvolver os fundamentos estabelecidos no livro anterior apresentando uma visão sintética do impor tante fenômeno da personalidade incluindo as pers pectivas desenvolvimental e secional cruzada O ter 258 HALL LINDZEY CAMPBELL ceiro é Personality and motivation structure and mea surement 1957 Um relato semipopular de sua teo ria e pesquisa na área da personalidade está incluído em The scientific analysis of personality 1966a que foi atualizado com Paul Kline e publicado em 1977 como The scientific analysis of personality and motiva tion Este livro juntamente com Human motivation and the dynamic calculus Cattell 1985 e o recente capítulo de Cattell no Handbook of personality Catte ll 1990 de Pervin oferece o melhor sumário atual da posição de Cattell Mas devemos alertar o leitor de que estes últimos volumes contêm materiais difíceis As imensas contribuições de Cattell à teoria multiva riada à mensuração e à pesquisa estão resumidas em The handbook of multivariate experimental psychology Nesselroade Cattell 1988 Cattell resumiu sua abordagem à teoria da aprendizagem em Personality and learning theory que apareceu em dois volumes The structure of personality in its environment 1979 e A systems theory of maturation and structured lear ning 1980 Outros volumes notáveis incluem Perso nality and mood by questionnaire Cattell 1973a Motivation and dynamic structure Cattell Child 1975 The inheritance of personality and ability Cat tell 1982 e Structured personalitylearning theory Cattell 1983 A produtividade de Cattell como es tudioso foi extraordinária Em anos recentes Cattell 1972 1987 propôs uma nova moralidade baseada no conhecimento e na investigação científica Esta abordagem chamada de Beyondism é uma combina ção de ética religião e organização social Os testes psicológicos de Cattell incluem The Cul ture Free Test of Intelligence 1944 The OA Personali ty Test Battery 1954 The Clinical Analysis Question naire Cattell 1973a The Motivation Analysis Test Cattell Horn Sweney 1970 e o Sixteen Personali ty Factor Questionnaire Cattell Saunders Stice 1950 ver também Cattell Eber Tatsuoka 1970 A NATUREZA DA PERSONALIDADE UMA ESTRUTURA DE TRAÇOS O sistema de constructos proposto por Cattell está entre os mais complexos de todas as teorias que exa minaremos Embora estes conceitos derivem seu tom característico e em muitos casos sua definição empí rica de estudos que empregam a análise fatorial al guns deles representam derivações de achados expe rimentais ou simples estudos observacionais do comportamento Mas esta situação é considerada por Cattell como apenas um expediente como revela a seguinte citação O nosso conhecimento da psicologia dinâmica decorre amplamente de métodos clínicos e natu ralistas e secundariamente de experimentos con trolados Achados dos primeiros e até dos últi mos estão no processo de ser colocados sobre uma base mais sólida pela aplicação de métodos esta tísticos mais refinados Em particular os experi mentos e as conclusões clínicas precisam ser re fundamentados em concepções reais daqueles traços notavelmente pulsões que são realmente unitários e isso requer fundamentos da pesquisa fatorial analítica 1950 p 175 Cattell acha que a tarefa detalhada de definir a personalidade deve esperar uma especificação com pleta dos conceitos que o teórico planeja empregar em seu estudo do comportamento Assim ele delibe radamente apresenta apenas uma definição bem ge ral A personalidade é aquilo que permite uma predi ção do que uma pessoa fará em uma dada situa ção A meta da pesquisa psicológica da personali dade é portanto estabelecer leis sobre o que diferentes pessoas farão em todos os tipos de si tuações ambientais sociais e gerais A persona lidade está relacionada a todos os comporta mentos do indivíduo tanto os manifestos quanto os que acontecem sob a pele 1950 p 23 Está claro que esta ênfase no estudo da personalidade incluindo todos os comportamentos não é um ata que à abstração ou segmentação necessárias que ocor rem no estudo empírico habitual É simplesmente um lembrete de que o significado de pequenos segmen tos de comportamento só pode ser inteiramente en tendido quando visto dentro da estrutura mais ampla do organismo inteiro em funcionamento Cattell vê a personalidade como uma estrutura complexa e diferenciada de traços com sua motiva ção grandemente dependente de um subconjunto des tes os chamados traços dinâmicos Quando tivermos TEORIAS DA PERSONALIDADE 259 examinado os variados conceitos de traço e certas noções relacionadas como a equação de especificação e a treliça dinâmica teremos em entendimento bem amplo de sua concepção da personalidade Uma dis cussão de seu tratamento do desenvolvimento da per sonalidade uma consideração de suas idéias sobre o contexto social da personalidade e uma breve olhada em alguns de seus métodos de pesquisa característi cos completarão o quadro Na conclusão desta discus são o leitor apreciará o significado da máxima de Cattell A ciência requer mensuração Traços O traço é de longe o conceito mais importante de Cat tell De fato os conceitos adicionais que examinare mos são em grande parte vistos como casos especiais deste termo geral Exceto talvez por Gordon Allport Cattell examinou este conceito e sua relação com ou tras variáveis psicológicas mais detalhadamente do que qualquer outro teórico Para ele um traço é uma es trutura mental uma inferência feita a partir do com portamento observado para explicar a regularidade ou a consistência neste comportamento Central no ponto de vista de Cattell é a distinção entre traços de superfície que representam agrupamen tos de variáveis manifestas que parecem ocorrer jun tas e traços de origem que representam variáveis sub jacentes que entram na determinação de múltiplas manifestações de superfície Assim se encontramos alguns eventos comportamentais que parecem ocor rer juntos podemos preferir considerálos como uma única variável Em um ambiente médico isso seria referido como uma síndrome mas aqui chamamos de traço de superfície Os traços de origem por outro lado só são identificados por meio da análise fatorial que permite ao investigador estimar as variáveis ou os fatores que são a base deste comportamento exte rior ou de superfície É evidente que Cattell considera os traços de ori gem mais importantes do que os traços de superfície Isso não só porque os traços de origem prometem maior economia de descrição já que presumivelmen te existem menos deles como especialmente porque os traços de origem prometem ser as influências estruturais reais por trás da personalidade neces sários para lidarmos com problemas desenvolvi mentais psicossomáticos e problemas de integra ção dinâmica como a pesquisa está mostrando atualmente esses traços de origem correspondem às influências unitárias reais fatores fisiológicos temperamentais graus de integração dinâmica exposição a instituições sociais sobre os quais muito mais pode ser descoberto depois que forem definidos 1950 p 27 Os traços de superfície são produzidos pela inte ração dos traços de origem e geralmente podemos esperar que sejam menos estáveis que os fatores Cat tell admite que os traços de superfície tendem a pare cer mais válidos e significativos para o observador comum do que os traços de origem porque corres pondem aos tipos de generalização que podem ser feitos com base na simples observação Entretanto no final das contas são os traços de origem que se mostram mais úteis para explicar o comportamento Qualquer traço sozinho certamente pode repre sentar o resultado da operação de fatores ambientais de fatores de hereditariedade ou de alguma mistura dos dois Cattell sugere que embora os traços de su perfície representem o resultado de uma mistura des tes fatores no mínimo é possível que os traços de ori gem possam ser divididos entre aqueles que refletem fatores de hereditariedade ou mais amplamente fa tores constitucionais e aqueles derivados de fatores ambientais Os traços resultantes da operação de con dições ambientais são chamados de traços de molde ambiental os que refletem fatores de hereditariedade são chamados de traços constitucionais Se os traços de origem encontrados pela fatora ção são influências puras independentes como sugerem as evidências presentes um traço de ori gem não poderia deverse tanto à hereditarieda de quanto ao ambiente mas decorreria de um ou de outro Assim os padrões decorrentes de condições ou influências internas podem ser cha mados de traços de origem constitucionais O ter mo inato é evitado porque tudo o que sabemos é que a origem é fisiológica e está dentro do orga nismo o que significará inato apenas em certa fra ção dos casos Por outro lado um padrão poderia ser fixado na personalidade por alguma coisa ex terna a ela Tais traços de origem aparecendo como fatores podem ser chamados de traços de molde ambiental porque decorrem do efeito mo 260 HALL LINDZEY CAMPBELL delador das instituições sociais e das realidades físicas que constituem o padrão cultural 1950 p 3334 Os traços também podem ser divididos em ter mos da modalidade por meio da qual se expressam Se eles têm relação com acionar o indivíduo rumo a alguma meta são traços dinâmicos Se têm relação com a efetividade com a qual o indivíduo atinge a meta são traços de capacidade Ou podem ter relação am plamente com aspectos constitucionais da resposta como velocidade energia ou reatividade emocional e neste caso são referidos como traços de temperamen to Em seus textos mais recentes além destas modali dades importantes dos traços Cattell tem enfatizado muito estruturas mais transitórias ou flutuantes den tro da personalidade incluindo estados e papéis Ao discutir as idéias de Cattell sobre a estrutura da per sonalidade achamos que convém discutir primeiro os traços de capacidade e temperamento relativamente estáveis e duradouros e depois os traços dinâmicos que tendem a ser intermediários em termos de estabi lidade e finalmente os papéis e estados que mudam mais Traços de Capacidade e de Temperamento Na visão de Cattell existem três fontes mais impor tantes de dados sobre a personalidade os registros de vida ou dadosL L de life vida o questionário de autoavaliação ou dadosQ e o teste objetivo ou dadosT Os primeiros os dadosL podem em princí pio envolver registros reais do comportamento da pessoa na sociedade tais como registros escolares e registros de tribunais embora na prática Cattell habi tualmente os substituísse por avaliações de outras pessoas que conheciam o indivíduo em ambientes da vida real A autoavaliação dadosQ em contraste envolve as declarações da própria pessoa sobre seu comportamento e assim pode oferecer um interior mental para os registros externos dos dadosL O tes te objetivo dadosT baseiase em uma terceira pos sibilidade a criação de situações especiais em que o comportamento da pessoa pode ser objetivamente pontuado Essas situações podem ser tarefas de lápis e papel ou podem envolver vários tipos de aparelhos Cattell e seus associados foram extremamente férteis ao planejar e adaptar esses testes um compêndio Cat tell Warburton 1967 lista mais de 400 deles Cattell tentou localizar traços gerais de persona lidade realizando estudos fatoriais analíticos separa dos e usando as três fontes de dados recémcitados partindo da suposição de que se os mesmos traços de origem emergissem de todos os três isso constituiria uma forte evidência presuntiva de que os traços de origem são unidades funcionais verdadeiras e não meros artifícios do método O resultado de umas vin te ou trinta análises fatoriais realizadas por Cattell e seus associados levou à conclusão de que uma estru tura de fator semelhante emerge dos dados de avalia ção do comportamento e dos dados de questionário mas fatores muito diferentes tendem a emergir dos dados do teste objetivo As populações amostradas nestes estudos incluíram vários grupos de idade adul tos adolescentes e crianças e vários países Estados Unidos GrãBretanha Austrália Nova Zelândia Fran ça Itália Alemanha México Brasil Argentina Índia e Japão de modo que presumivelmente os fatores têm certa generalidade Conforme discutimos mais de talhadamente adiante outros investigadores usando procedimentos um pouco diferentes encontraram con juntos diferentes de fatores replicáveis no domínio da personalidade Comrey Jamison 1966 Guilford Zimmerman 1956 Norman 1963 mas mesmo que os fatores de Cattell constituam apenas alguns con juntos de dimensões ao longo das quais a personali dade pode ser descrita eles são pelo menos um con junto em torno do qual foram reunidas informações empíricas consideráveis Um determinante crítico do resultado de uma análise fatorial é o ponto de partida as variáveis de superfície com as quais começamos e Cattell enfati zou consideravelmente a importância de amostrar adequadamente toda a esfera da personalidade no iní cio da pesquisa exploratória Cattell começou seu es tudo da avaliação do comportamento com a lista de Allport e Odbert 1936 com cerca de 4500 nomes de traços de um dicionário completo Estes foram con densados em 171 agrupandose sinônimos e elimi nandose termos raros e metafóricos Os nomes res tantes dos traços foram intercorrelacionados e TEORIAS DA PERSONALIDADE 261 novamente reduzidos por meio de procedimentos de agrupamento empírico produzindo trinta e cinco tra ços de superfície Cattell subseqüentemente acrescen tou outros traços de superfície com base em sua lei tura da literatura experimental e do anormal em um total de 46 Cattell Kline 1977 Cattell referiuse a estes 46 traços de superfície como a esferapadrão reduzida da personalidade ver Cattell 1957 p 813 817 para uma lista As avaliações dos iguais nesses traços forneceram a base para a sua análise fatorial inicial dos dadosL Por meio desta análise Cattell iden tificou 15 fatores que interpretou como os traços de origem dos dadosL da personalidade Usando esses fatores como modelos Cattell escreveu e selecionou milhares de perguntas destinadas a avaliar a persona lidade Por meio de uma série de análises fatoriais de autorelatos dos sujeitos nestes itens ele os reduziu a 16 fatores que interpretou como os traços de origem dos dadosQ da personalidade Cattell determinou que 12 dos 16 correspondiam a 12 dos 15 traços de ori gem dos dadosL Cattell considerou esta como uma razoável correspondência entre a estrutura de fator e portanto a estrutura da personalidade nos domínios de dados L e Q A metade superior da Tabela 81 ver p 262 re sume estes 16 traços que são medidos pelo teste de personalidade mais popular de Cattell o Sixteen Per sonality Factor Test 16 PF Os traços rotulados Q1 Q4 são os únicos exclusivos dos dadosQ e os primei ros 12 são comuns a L e Q Em trabalhos posteriores Cattell identificou 7 traços de origem adicionais e estes estão listados na metade inferior da Tabela 81 Qua tro destes novos fatores são comuns aos dados L e Q e são designados como D J K e P para preencher os pontos alfabéticos ausentes na lista original dos 16 Os três restantes Q5 Q6 e Q7 surgem apenas com da dosQ Muitos dos títulos de fator podemos notar ilustram a predileção característica de Cattell por inventar novos termos Alguns dos títulos de fator são essencialmente descritivos outros refletem as hipóteses de Cattell refe rentes à origem ou à natureza subjacente do fator Par mia por exemplo significa imunidade parassimpáti ca Premsia é uma contração de sensibilidade emocional protegida protected emotional sensitivity autia sugere uma qualidade autista ou autoabsorvi da em pessoas em que se destaca este fator e assim por diante Tabela 81 Em qualquer caso Cattell vê os nomes dos fatores como aproximados e experimen tais e na prática costuma referirse aos fatores por meio de letras ou números de identificação Além des tes vinte e três fatores Cattell propõe doze fatores do domínio da psicopatologia Cattell 1973a Esses fatores de avaliação e questionário enqua dramse principalmente na classe dos traços de tem peramento embora B inteligência seja classificado como um fator de capacidade Os fatores derivados de testes objetivos difundemse mais amplamente atra vés dos domínios de capacidade temperamento e di nâmico Os vinte e um traços de origem dos dadosT identificados pela análise de fator dos escores em muitos testes objetivos de personalidade aparecem na Tabela 82 ver p 264 Um exemplo de fator de teste objetivo na esfera do temperamento é apresentado na Tabela 83 ver p 264 Como é característico dos fatores de dadosT de Cattell surge junto uma curio sa série de medidas embora certa coerência esteja evidente Os temas de emocionalidade e conformida de parecem atravessar muitas das medidas na Tabela 83 Cattell relatou que o fator apresenta boa correla ção com as avaliações psiquiátricas de ansiedade e com a Taylor Manifest Anxiety Scale Cattell Scheier 1961 Este fator específico é interessante também por outra razão Podemos lembrar que os fatores encon trados por Cattell nos dados L e Q tendiam a ser ge ralmente semelhantes mas que os fatores dos dados T de um modo geral não combinavam com eles Mas acontece que alguns dos fatores dos dadosT pareci am corresponder a fatores de segunda ordem em da dos de questionário e de avaliação O fator de dados T recémdescrito parece alinharse muito bem com um fator de temperamento de segunda ordem também chamado de ansiedade que carrega os fatores de pri meira ordem C baixa força de ego O propensão à culpa H timidez e L desconfiança Outro caso des tes de correspondência envolve um fator de dados de teste que carrega medidas de fluência confiança e inexatidão e que mostra grande concordância com um fator de segunda ordem de questionário e avalia ção extroversãointroversão ou como Cattell prefe re exviainvia Esse fator de segunda ordem carrega 262 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 81 Resumo dos Principais Traços de Origem de Cattell Índice de Traços de Origem Descrição de Escores Baixos Descrição de Escores Altos A Sizia Reservado imparcial crítico distante rígido Affectia expansivo caloroso tranqüilo participante B Pouca inteligência obtuso Grande inteligência brilhante C Menor força de ego à mercê dos sentimentos Maior força de ego emocionalmente estável emocionalmente menos estável perturbase maduro enfrenta a realidade calmo facilmente instável E Submissão humilde brando facilmente levado Dominação assertivo agressivo competitivo dócil amoldável obstinado F Desurgency sóbrio taciturno sério Surgency despreocupado alegre entusiástico G Menor força de superego oportunista Maior força de superego consciencioso desconsidera regras persistente moralista sério H Threctia tímido acanhado sensível a ameaças Parmia aventureiro desinibido socialmente ousado I Harria obstinado autoconfiante realista Premsia terno sensível apegado superprotegido L Alaxia confiante aceita condições Protension desconfiado difícil de enganar M Praxernia prático preocupações sensatas Autia imaginativo boêmio desligado N Simplicidade direto despretencioso genuíno Esperteza astuto polido socialmente consciente mas socialmente desajeitado O Adequação tranqüila autoconfiante plácido Propensão à culpa apreensivo autoreprovador seguro complacente sereno inseguro preocupado perturbado Q1 Temperamento conservador conservador Radicalismo experimentador liberal respeita idéias tradicionais livrepensador Q2 Aderência ao grupo dependente do grupo Autosuficiência autosuficiente engenhoso um membro e seguidor fiel prefere as próprias decisões Q3 Pouca integração de autosentimento Grande força de autosentimento controlado autoconflito indisciplinado indulgente exerce sua vontade socialmente exato compulsivo segue os próprios impulsos desligado das segue a autoimagem regras sociais Q4 Baixa tensão érgica relaxado tranqüilo Alta tensão érgica tenso frustrado pressionado letárgico nãofrustrado sossegado esgotado D Excitabilidade insegura Eu fico com a cabeça transbordando de idéias de coisas que quero fazer a seguir a Sempre b Freqüentemente c Praticamente nunca As pessoas que eu quero nunca parecem muito interessadas em mim a Verdadeiro b Variável c Falso J Coasthenia vs Zeppia Eu gosto de reunir um grupo e liderálo em alguma atividade a Verdadeiro b Variável c Falso As pessoas dizem que eu a Costumo ser uma matraca b Intermediário c Sou quieto e difícil de compreender K Socialização madura vs rusticidade Eu prefiro peças de teatro que sejam a Emocionantes b Intermediário c Sobre temas socialmente importantes Quando eu começo uma nova atividade gosto de a Aprender à medida que avanço b Intermediário c Ler um livro sobre o assunto escrito por um especialista continua TEORIAS DA PERSONALIDADE 263 TABELA 81 Continuação P Despreocupação alegre Eu raramente deixo minha mente vagar por fantasias e fazdeconta a Verdadeiro b Variável c Falso Eu adoro falar com meus amigos sobre a Eventos locais b Intermediário c Grandes artistas e quadros Q5 Dedicação grupal com inadequação percebida Eu gosto de projetos em que possa empregar todas as minhas energias a Sim b Talvez c Não Em uma situação em que sou subitamente exigido eu me sinto a Mal b Intermediário c Confiante na minha capacidade de manejála Q6 Bravata social Sou bom em inventar uma boa justificativa quando pareço ter agido mal a Sim b Talvez c Não Nunca fui considerado uma pessoa impetuosa e ousada a Verdadeiro b Variável c Falso Q7 Autoexpressão explícita Não fico perturbado ao expressar minhas idéias em encontros públicos a Verdadeiro b Variável c Falso Em muitas atividades que realizo parece que não sei bem o que quero fazer a seguir a Sim b Talvez c Não Fonte Reimpressa com a permissão de Cattell Kline 1977 p 342344 F despreocupado A expansivo e H aventureiro Cattell identificou oito fatores de segunda ordem usan do os dezesseis traços originais e um total de doze usando o conjunto expandido de vinte e três traços de origem Assim Cattell sugere que parte da falta de corres pondência entre as fontes de dados pode significar apenas que as diferentes abordagens de mensuração estão amostrando dados em níveis bem diferentes de generalidade de modo que não encontramos nenhu ma correspondência umaum de fatores e sim um grau bastante modesto de alinhamento entre os ní veis De qualquer forma está claro que a esperança inicial de Cattell de encontrar estruturas idênticas de fator em todas as três fontes de dados foi realizada apenas parcialmente A Equação de Especificação Uma vez que podemos descrever a personalidade em termos de capacidade temperamento e outros tipos de traço como podemos reunir estas informações em um caso específico para predizer a resposta de um indivíduo em uma determinada situação Cattell su gere que podemos fazer isso por meio de uma equa ção de especificação na forma R S1 T1 S2 T2 S3 T3 Sn Tn Isso significa simplesmente que a resposta especí fica pode ser predita a partir das características da pessoa específica os traços T1 a Tn cada uma pon derada por sua relevância na presente situação os índices situacionais S1 a Sn Se um determinado traço é altamente relevante para uma determinada respos ta o S correspondente será grande se o traço é total mente irrelevante o S será zero se o traço diminui ou inibe a resposta o sinal de S será negativo A forma da equação implica que cada traço tem um efeito inde pendente e aditivo sobre a resposta O modelo é ex tremamente simples Cattell não nega que talvez se jam necessários modelos mais elaborados ele apenas sugere que os modelos lineares simples geralmente fornecem aproximações muito boas em relação aos mais complexos e proporcionam um lugar lógico por onde começar Às vezes se diz que o analista fatorial reduz as interações da personalidade a interações aditivas 264 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 82 Principais Fatores de Teste de Personalidade Objetivo Títulos Breves Combinados para Uso em Sumário UI 16 Ego narcisista vs nãoassertividade disciplinada segura UI 17 Inibiçãotimidez vs confiança UI 18 Esperteza maníaca vs passividade UI 19 Independência vs submissão UI 20 Comention conformidade gregária vs objetividade UI 21 Exuberância vs refreamento UI 22 Cortetia prontidão cortical vs pathemia UI 23 Mobilização de energia vs regressão UI 24 Ansiedade vs ajustamento UI 25 Realismo vs tensinflexia tendência psicótica UI 26 Autosentimento narcisista vs despretensão UI 27 Apatia cética vs envolvimento UI 28 Astenia de superego vs segurança bruta UI 29 Responsividade sincera vs falta de vontade UI 30 Impassibilidade vs dissofrustance UI 31 Prudência vs variabilidade impulsiva UI 32 Exvia extroversão vs invia introversão UI 33 Desânimo pessimismo vs atitude alegre UI 34 Onconautia caráter nãoprático vs caráter prático UI 35 Stolparsonia sonolência vs excitação UI 36 Autosentimento vs autosentimento frágil Fonte Reimpressa com a permissão de Cattell Kline p 347 UI Universal Index Índice Universal TABELA 83 Um Típico Fator de DadosT UI 24 Ansiedade Medidas Carregadas Disposição a admitir fraquezas comuns Tendência a concordar Irritabilidade Modéstia em desempenho não experimentado Grande severidade crítica Poucas preferências de leitura questionáveis Grande emocionalidade nos comentários Muitos sintomas de tensão de ansiedade verificados Fonte Baseada em Hundleby Pawlik e Cattell 1965 UI Universal Index quando de fato elas podem ser multiplicativas ou catalisadoras em certo sentido Não podemos du vidar que provavelmente existem casos em que um fator não apenas se soma a outro como facili ta imensamente o segundo fator Relacionada a isso está a suposição geral de linearidade ao passo que novamente é provável que em alguns casos a relação do fator com o desempenho seja curvilinear Devidamente consideradas estas li mitações são estímulos para novas investigações e não críticas ao método fatorial analítico como tal Precisamos aprender a caminhar antes de cor rer O fato é que o modelo fatorial analítico em sua presente forma simples certamente parece pro porcionar melhores predições e maior constância de análise do que qualquer outro método experi TEORIAS DA PERSONALIDADE 265 mentado À medida que progredir ele sem dúvi da será modificado para atender às necessidades especiais das possibilidades recémindicadas Cattell 1956 p 104 A equação de especificação implica tanto uma re presentação multidimensional da pessoa quanto da situação psicológica A pessoa é descrita por seus es cores em um conjunto de traços um perfil de traços A situação psicológica é descrita por um conjunto de índices de situação como um outro perfil Colocados juntos eles fazem a predição Cattell salienta que a equação de especificação pode ser considerada como uma versão multidimensional da formulação de Kurt Lewin do comportamento como uma função da pes soa e do ambiente C f P ME Na equação de espe cificação a pessoa P é diferenciada em uma série de Ts e o ambiente psicológico ME em uma série de ss A formulação da equação de especificação pres tase bem ao uso aplicado Assim em uma situação de emprego podemos manter um arquivo de funções profissionais descritas como perfis de ss Um candi dato à função poderia então ser testado e descrito como um perfil de Ts que pode por sua vez ser com binado com os vários conjuntos de ss para encontrar mos a colocação profissional em que este indivíduo provavelmente terá o melhor desempenho Ou em um ambiente acadêmico poderia ser desenvolvida uma equação de especificação para predizer a reali zação acadêmica a partir de variáveis de capacidade e personalidade compare com Cattell Butcher 1968 Traços Dinâmicos São de três tipos os traços dinâmicos importantes no sistema de Cattell atitudes ergs e sentimentos Os ergs correspondem aproximadamente a pulsões com base biológica Os sentimentos focalizam um objeto social como a nossa escola nossa mãe ou nosso país Eles são adquiridos por meio de aprendizagem e ser vem como submetas a caminho da meta érgica final Cattell 1985 p 14 As atitudes são traços dinâmi cos de superfície eles são as manifestações ou combi nações específicas de motivos subjacentes Nós agora examinaremos esses três tipos de traços dinâmicos seu interrelacionamento na treliça dinâmica e seu papel no conflito e no ajustamento Atitudes Uma atitude para Cattell é a variável dinâmica ma nifesta a expressão observável de uma estrutura di nâmica subjacente a partir da qual inferimos os ergs os sentimentos e seus interrelacionamentos Uma ati tude de um determinado indivíduo em determinada situação é um interesse de certa intensidade em al gum curso de ação em relação a algum objeto Assim a atitude de um jovem Eu quero muito casar com uma mulher indica uma intensidade de interesse quero muito em um curso de ação casar em relação a um objeto uma mulher A atitude não precisa ser declarada verbalmente na verdade Cat tell preferiria medir a força do interesse do jovem por meio de vários instrumentos diretos e indiretos Es tes poderiam incluir o aumento de sua pressão arteri al diante da foto de uma noiva sua capacidade de lembrar itens de uma lista de boas e más conseqüên cias do casamento suas informações inadequadas so bre as perspectivas matrimoniais do homem na nossa sociedade e assim por diante De fato Cattell e seus colaboradores intercorrelacionaram cerca de sessen ta ou setenta instrumentos diferentes para medir a força de uma atitude em uma série de estudos que buscavam desenvolver uma bateria de testes eficiente para medir componentes de atitudes conscientes e in conscientes ver p ex Cattell Radcliffe Sweney 1963 Cinco fatores de componentes de atitudes de signados como Alfa até Epsilon foram descritos e es peculativamente relacionados a conceitos psicanalíti cos id força de ego superego componente fisiológico e conflito em seu trabalho posterior Cat tell 1985 identificou dois componentes adicionais que não descreveremos aqui Na prática normalmen te são medidos dois componentes de segunda ordem da força da atitude um relacionado aos aspectos re lativamente conscientes e integrados de uma atitude refletindo componentes de ego e superego e um re lacionado aos aspectos inconscientes e nãointegrados refletindo os outros componentes Os aspectos inte grados representam aquelas partes de um interesse que foram articuladas e realizadas mas os aspectos nãointegrados jamais entraram em acordo com a re alidade e se manifestam na fantasia e na fisiologia Os aspectos integrados e nãointegrados de uma atitude podem não ter correlação entre si A discrepância en tre os componentes integrados e nãointegrados é uma 266 HALL LINDZEY CAMPBELL medida do desajustamento ou conflito em um indiví duo As atitudes é claro são tão numerosas quando nos propusermos a especificar Em sua pesquisa Cat tell trabalhou principalmente com uma amostra de cerca de cinqüenta atitudes e interesses variados Uma possível limitação à generalidade de sua pesquisa nesta área está no fato de grande parte dela basearse nessa amostra de atitudes selecionada um tanto arbitraria mente Ergs Nos termos mais simples um erg é um traço de ori gem dinâmico constitucional É este conceito que permite a Cattell representar adequadamente a im portância dos impulsores do comportamento inata mente determinados mas modificáveis Sua grande ênfase na motivação érgica reflete sua convicção de que os determinantes hereditários do comportamen to foram subestimados pelos psicólogos americanos contemporâneos Ele define um erg como uma disposição psicofísica inata que permite ao seu possuidor reagir atenção reconhecimento a certas classes de objetos mais facilmente que a outras a experienciar uma emoção específica em relação a elas e a iniciar um curso de ação que cessa mais completamente em uma atividade es pecífica para uma meta do que em qualquer ou tra O padrão também inclui caminhos preferidos de subsidiação do comportamento até a meta pre ferida 1950 p 199 Como Cattell indica esta definição tem quatro partes importantes que se referem à resposta percep tual à resposta emocional a atos instrumentais que levam à meta e à satisfação da meta em si Cattell considera que dez ergs foram razoavelmen te bemestabelecidos por seus pesquisadores fatoriais analíticos Cattell Child 1975 Estes ergs são fome sexo gregariedade protecionismo parental curiosi dade fuga medo pugnacidade belicosidade aqui sitividade autoasserção e sexo narcisista Este últi mo deriva seu nome de uma noção psicanalítica o conteúdo do fator tem a ver com autoindulgência geral fumar beber entregarse à preguiça e assim por diante Sentimentos Um sentimento é um traço de origem dinâmico mol dado pelo ambiente Assim ele é paralelo ao erg ex ceto por ser o resultado de fatores experienciais ou socioculturais não de determinantes constitucionais Nas palavras de Cattell os sentimentos são impor tantes estruturas adquiridas de traços dinâmicos que fazem com que seu possuidor preste atenção a certos objetos ou classes de objetos e sinta e reaja de certa maneira em relação a eles 1950 p 161 Os sentimentos na visão de Cattell tendem a or ganizarse em torno de objetos culturais importantes como instituições sociais ou pessoas em relação às quais surgem elaboradas constelações de atitudes durante a experiência de vida do indivíduo Entre os sentimentos encontrados nas pesquisas de Cattell e seus associados com populações adultas jovens es pecialmente do sexo masculino estão a carreira ou profissão os esportes e os jogos os interesses mecâ nicos a religião os pais o cônjuge ou o namorado e o self ver Cattell Kline 1977 p 181 para uma lista de vinte e sete sentimentos hipotetizados O úl timo deles o autosentimento ou sentimento do self é um dos mais estáveis e mais consistentemente relata dos em diferentes estudos e como veremos desem penha um papel particularmente importante na teo rização de Cattell A Treliça Dinâmica Os vários traços dinâmicos estão interrelacionados em um padrão de subsidiação Cattell tomou empres tado de Murray este termo Isso significa que certos elementos são subsidiários a outros ou servem como meios para seus fins Em geral as atitudes são subsi diárias aos sentimentos e os sentimentos são subsidi ários aos ergs que são as forças impulsionadoras bá sicas na personalidade Estes vários relacionamentos podem ser expressos na treliça dinâmica representa da pictoricamente na Figura 81 Esta treliça repre senta uma porção da estrutura motivacional de um homem americano hipotético À direita do diagrama estão os impulsos biológicos básicos os ergs No meio do diagrama estão as estruturas de sentimento cada uma subsidiária a vários ergs Assim o sentimento em relação à esposa baseiase na expressão dos ergs de TEORIAS DA PERSONALIDADE 267 sexo gregariedade proteção e autoasserção o senti mento em relação a Deus expressa os ergs de auto submissão e apelo e assim por diante À esquerda do diagrama estão as atitudes em relação a cursos espe cíficos de ação relacionados aos objetos designados ver um determinado filme por exemplo ou viajar para Nova York Observem que cada atitude é subsidiária a e portanto expressa um ou mais sentimentos e atra vés deles vários ergs às vezes as atitudes também expressam ergs diretamente Assim o desejo de ver o filme está ligado a sentimentos em relação ao hobby do homem fotografia e em relação ao seu país tal vez o filme tenha um tema patriótico Também pare ce haver um vínculo cruzado com sua esposa e o esti lo de cabelo dela talvez ele pareça mais bonito no escuro Também há uma expressão direta do erg de curiosidade além do indireto via fotografia Obser vem que por meio dos sentimentos em relação ao ho bby à esposa e ao país o desejo de ver esse filme pode expressar em maior ou menor grau os ergs de curiosidade sexo gregariedade proteção autoasser ção segurança e desagrado em alguns casos ao lon go de múltiplos caminhos Observem também que os sentimentos às vezes podem ser subsidiários a outros sentimentos como a conta no banco para a esposa ou o partido político para o país Estes caminhos múltiplos e sobrepostos entre os ergs os sentimentos e as atitudes expressas são a base para inferirmos ergs a partir dos sentimentos Se ob servamos que um certo subconjunto de atitudes ten de a variar em força entre diferentes indivíduos ou em um indivíduo ao longo do tempo inferimos um erg ou uma estrutura de sentimento subjacente De fato é isso o que Cattell faz medidas de algumas ati tudes são obtidas pelos métodos descritos anterior mente e fatoradas e os fatores interpretados como representando ergs ou sentimentos O Self O self é um dos sentimentos mas um sentimento es pecialmente importante pois quase todas as atitudes FIGURA 81 Porção de uma treliça dinâmica ilustrando a subsidiação Cattell 1950 p 158 268 HALL LINDZEY CAMPBELL tendem a refletir o sentimento de self em maior ou menor grau Ele por sua vez está ligado à expressão da maioria ou de todos os ergs ou outros sentimentos Em alguns estudos ver p ex Cattell Horn 1963 também emergiram sentimentos distintos de superego e de self ideal De qualquer forma Cattell considera que o sentimento ou sistema de sentimentos centrado no self desempenha um papel crucial na integração da personalidade ao interrelacionar a expressão dos vários ergs e sentimentos Em primeiro lugar a preservação do self como uma empresa em funcionamento fisicamente sa dia e intacta é obviamente um prérequisito para a satisfação de qualquer sentimento ou erg que o indivíduo possui O mesmo vale para a preserva ção do self social e ético que a comunidade res peita Dinamicamente o sentimento em rela ção a manter o self correto de acordo com certos padrões de conduta satisfatório para a comuni dade e o superego é portanto uma instrumentali dade necessária para a satisfação da maioria dos nossos outros interesses de vida A conclusão a que isso nos leva é que o autosen timento deve aparecer na treliça dinâmica bem à esquerda e portanto entre os últimos sentimen tos a atingir um desenvolvimento completo Ele contribui para todos os sentimentos e satisfações érgicas e isso também explica sua força dinâmica no controle como o sentimento mestre de to das as outras estruturas Cattell 1966a p 272 Conflito e Ajustamento Cattell sugeriu que uma maneira útil de expressar o grau de conflito que um determinado curso de ação apresenta para uma pessoa é por meio de uma equa ção de especificação que expressa o envolvimento dos traços de origem dinâmicos da pessoa ergs e senti mentos na ação Assim tomando o nosso exemplo anterior vamos supor que o interesse de um determi nado jovem em casar tenha a seguinte equação de especificação em que os Es representam os ergs e os Ms os sentimentos Icasar 02Ecuriosidade 06Esexo 04Egregariedade 03Emedo 03Mpais 04Mcarreira 05Mself Casar para este homem promete recompensas po tenciais para seus ergs de sexo gregariedade e curio sidade ele acha que seus pais aprovariam e que seria bom para a sua autoestima Mas o jovem está um tanto temeroso com a perspectiva deste casamento e ele representa uma ameaça potencial para seus inte resses profissionais A força exata desta atitude em qualquer momento dado evidentemente dependerá das forças atuais dos vários fatores motivacionais mas podemos fazer algumas observações gerais baseados em seus índices situacionais Por exemplo se os ter mos da equação de especificação para uma atitude forem predominantemente positivos a atitude tende rá a se fixar como um aspecto estável da estrutura motivacional do indivíduo se eles forem predominan temente negativos ela tenderá a ser abandonada Uma atitude fixa representará uma fonte de conflito na extensão em que contém termos negativos em sua equação de especificação De fato Cattell 1985 su gere que um índice possível do grau de conflito ine rente a uma determinada atitude é a razão da soma dos pesos situacionais negativos para os traços de ori gem dinâmicos envolvidos No exemplo recémcita do esta razão seria 03 04 02 06 04 03 05 03 04 0727 026 O conflito máximo ocorreria quando os pesos negativos totais e os pesos positivos totais fossem iguais produzindo um valor de 05 Por exemplo se os pais do homem desa provassem mudando o peso do sentimento em rela ção aos pais de 03 para 03 a razão do conflito aumentaria para 1027 037 O grau de conflito inerente a uma personalidade total seria representa do por este tipo de razão calculada em relação a to das as atitudes estáveis da pessoa na prática estima da a partir de uma amostra delas O grau de ajustamento ou o nível de integração de uma perso nalidade poderia então ser definido como o inverso do índice de conflito calculado Cattell 1985 p 32 38 chama esta abordagem à mensuração do conflito de conflito endurecido ou o conflito que permane ce depois que uma decisão foi tomada Também exis te o conflito ativo ou o conflito envolvido na esco TEORIAS DA PERSONALIDADE 269 lha da ação que será realizada Por exemplo um ho mem decidindo com qual de duas mulheres vai casar enfrentará mais conflito quanto mais semelhantes fo rem as duas atitudes ou tendências Além disso exis te uma discrepância entre os componentes integra dos e nãointegrados de uma dada atitude Finalmente Cattell analisou fatorialmente uma variedade de me didas de conflito para encontrar componentes do con flito Cattell Sweney 1964 de uma maneira es sencialmente paralela ao seu trabalho com os componentes de atitudes discutidos anteriormente Estados Papéis e Tendências Os conceitos a serem discutidos nesta seção constitu em um desenvolvimento recente na teorização de Cattell e conseqüentemente algumas de suas formu lações ainda não estão firmemente cristalizadas Certos padrões dentro da personalidade vêm e vão em uma extensão muito maior do que outros os esta dos de ânimo mudam a pessoa adota um determina do papel ou o abandona e tendências mentais mo mentâneas são adotadas em relação a uma série de aspectos do ambiente Todos estes fatores influenci am o comportamento portanto eles precisam ser in cluídos na equação de especificação que termina como uma série de termos de capacidade mais termos de temperamento mais termos de ergs e sentimentos mais termos de papel mais termos de tendências A personalidade ainda é um perfil mas um perfil envol vendo todos os tipos de fatores que podem afetar a resposta em um determinado momento do tempo Embora os papéis e as tendências não tenham sido muito explorados empiricamente por Cattell e seus associados muito trabalho foi feito em relação aos estados especialmente o estado de ansiedade Cat tell Scheier 1961 Podemos lembrar que a ansie dade também foi estudada por Cattell como um tra ço Estas duas abordagens de forma nenhuma são incompatíveis o nível de ansiedade de uma pessoa pode ser característico como um traço e apesar disso flutuar consideravelmente de acordo com as influên cias situacionais e organísmicas como um estado Os estados são investigados pela análise fatorial de maneira semelhante aos traços a diferença estan do no fato de que os traços habitualmente são estuda dos por meio de correlações entre escores de teste e os estados por meio de correlações entre as mudan ças nos escores de teste ao longo do tempo ou em resposta a determinadas situações Assim se as mes mas pessoas tendem a ter um alto escore digamos em irritabilidade e falta de confiança isso ajudará a definir um fator de traço mas se ambas as medidas tendem a aumentar ou diminuir juntas isso ajudará a definir um fator de estado Vários outros fatores de estado além da ansieda de foram investigados por Cattell e seus colegas Es tes incluem exvia depressão excitação fadiga estres se regressão e culpa ver Cattell 1977 Capítulo 11 Cattell e Freud A essa altura já percebemos que Cattell emprega vári as dimensões de traço para responder a perguntas sobre a estrutura e a dinâmica da personalidade Cat tell pretende que sua abordagem substitua os mode los anteriores précientíficos e especulativos intro duzidos por Freud Jung e outros Ele reconhece os intelectos notáveis desses teóricos anteriores assim como o fato de o trabalho deles basearse em obser vação e dados clínicos Cattell todavia está com prometido com a posição de que o método científico assegura a exatidão daquilo que é descoberto Catte ll Kline 1977 p 3 em contraste com a incerteza das conclusões anteriores É possível que homens imensamente perspicazes possam encontrar a verda de Cattell Kline 1977 p 3 mas não podemos confiar na fidedignidade ou validade de suas afirma ções por causa de seus processos imperfeitos de regis tro de dados amostragem e inferência Cattell espera que os modernos procedimentos científicos possam desenvolver seus próprios conjuntos de resultados os quais separarão da confusa massa de especulações o joio do trigo Cattell Kline 1977 p 7 Sob essa luz é interessante observar certas convergências en tre a abordagem fatorial analítica de Cattell e a abor dagem psicanalítica de Freud Por exemplo os pri meiros três componentes das atitudes têm uma semelhança notável com o triunvirato freudiano de id ego e superego O alfa ou id consciente refere se à parte de uma atitude que reflete um componente de eu desejo que é apenas parcialmente consciente pode ser um tanto irracional e não foi testado diante da realidade A porção beta ou ego de uma atitude reflete a força do interesse desenvolvido consciente e deliberadamente O componente gama ou superego 270 HALL LINDZEY CAMPBELL tem uma qualidade de eu tenho de estar interessa do Embora eles certamente não sejam equivalentes às estruturas freudianas correspondentes Cattell Cat tell Kline 1977 p 331 conclui que eles realmen te confirmam a abordagem psicanalítica clássica que vê todos os comportamentos como uma função do equilíbrio entre ego id e superego A distinção de Cattell entre os componentes inte grados e nãointegrados das atitudes também reflete claramente a conclusão de que nem sempre nós esta mos inteiramente conscientes das razões para os nos sos atos e interesses Conforme Freud descobriu não basta simplesmente perguntar às pessoas por que elas fazem isso ou aquilo Cattell 1985 p 17 Em vez de empregar a associação livre como a regra funda mental para descobrir os motivos subjacentes não reconhecidos Cattell baseiase na análise fatorial Como vimos Cattell também utiliza o constructo do conflito embora ele tente quantificálo em seu pró prio sistema Além disso Cattell está seguindo Freud em sua crença de que as metas conscientes e os com portamentos específicos subsidiam ou estão a servi ço de metas érgicas inatas subjacentes Isso fica claro na treliça dinâmica conforme descrito anteriormente neste capítulo Cattell propõe que as linhas na treliça dinâmica refletem caminhos de gratificação ou expres são de motivos subjacentes Além disso ele emprega uma versão do modelo hidráulico de Freud de redu ção de tensão Isto é Cattell propõe que a obstrução do caminho em que o indivíduo é impedido de se guir caminhos estabelecidos dentro da treliça leva à energização de modos de expressão alternativos de ergs e sentimentos subjacentes Por exemplo se a pes soa representada na nossa Figura 81 for impedida de viajar para Nova York o bloqueio da oportunidade de expressar seus ergs de autoasserção e gregariedade estimulará saídas alternativas para estas pulsões bási cas Finalmente Cattell sugere que os sentimentos nos permitem esgotar a energia impulsiva érgica de ma neiras socialmente sancionadas Isso é claro lembra a sublimação freudiana Além disso Cattell propõe que os indivíduos controlam o comportamento anti social provocado por ergs e sentimentos por meio do superego do autosentimento e do ego o leitor deve notar a semelhança entre estas estratégias de contro le e as estratégias de Bandura de engajamento e de sengajamento seletivos de autojulgamento conforme descrito no Capítulo 14 O superego se refere a uma série de atitudes dirigidas ao comportamento moral Cattell 1985 p 39 conforme Freud sugeriu isso é medido no Motivation Analysis Test MAT e também como o fator G no 16 PF O autosentimento não foi descrito por Freud Ele visa manter a aceitabilidade social do self e na verdade até a sua existência física As atitudes carregadas são controlar o impulso man ter a reputação social ser são ser normal no sexo e conhecer melhor a própria natureza Cattell 1985 p 39 Em muitos aspectos esta unidade é análoga ao proprium de Allport ver Capítulo 7 O autosenti mento é medido no MAT e como o fator Q3 no 16 PF O terceiro fator de controle o ego tem essencial mente as características descritas por Freud Cattell 1985 p 40 Ele permite o controle dos impulsos e a persistência e sua meta é a maior satisfação global do indivíduo O ego é medido pelo fator C no 16 PF Os paralelos entre os dois constructos de ego estão mais aparentes na especificação de Cattell das habili dades que o ego precisa desenvolver avaliar a força de e a competição entre vários ergs e sentimentos compare com a resolução do conflito idsuperego no modelo de Freud avaliar as probabilidades nas situ ações externas compare com o teste de realidade chegar a uma decisão compare com o processo se cundário e implementar uma decisão compare com a força e adaptação do ego É esperado que o autosentimento o superego e o ego ocupem posições proeminentes nas equações de especificação para muitas atitudes Eles mais os constructos recémdescritos deixam claro que a abor dagem fatorial analítica de Cattell valida de forma no tável a abordagem psicanalítica de Freud O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE É possível estudar o desenvolvimento da personalida de em um nível puramente descritivo mapeando a mudança nas estruturas de personalidade ao longo da vida Alternativamente podemos estudar o desen volvimento em um nível teórico em termos das influ ências genéticas e ambientais envolvidas e as leis da maturação e da aprendizagem que descrevem como TEORIAS DA PERSONALIDADE 271 elas interagem para moldar o indivíduo em desenvol vimento Cattell fez as duas coisas Em suas investigações dos traços dinâmicos e de temperamento Cattell e seus associados realizaram estudos fatoriais analíticos nos níveis adulto e infan til em um esforço para desenvolver instrumentos ca pazes de medir os mesmos fatores de personalidade em diferentes idades De modo geral ele encontrou fatores semelhantes em idades que variavam dos qua tro anos à idade adulta A Tabela 84 ilustra quais dos vinte e três traços de origem foram encontrados utili zandose o Preschool Personality Quiz PSPQ para crianças de 4 a 6 anos o Early School Personality Quiz ESPQ de 6 a 8 anos o Childs Personality Question naire CPQ de 8 a 12 anos o High School Personality Questionnaire HSPQ de 12 a 15 anos e o 16 PF adul to Como todos os psicólogos sabem é difícil saber com certeza se as medidas pretendidas do mesmo traço realmente medem a mesma coisa em diferentes idades uma dificuldade produzida pelo fato de espe rarmos que um determinado aspecto da personalida de seja expresso por meio de comportamentos um pou co diferentes em idades diferentes Cattell sugeriu que uma maneira de lidar com essa dificuldade é realizar estudos com grupos de idade intermediários assim ele comparou separadamente versões fatoradas de seu questionário de personalidade para adultos e para cri anças de onze anos aplicando ambos a um grupo in termediário de dezesseis anos Cattell Beloff 1953 Os resultados destes estudos foram um tanto equívo cos geralmente existem combinações muito boas mas também há outras menos convincentes Cattell 1973 Capítulo 3 Novos trabalhos nesta linha talvez pro duzissem instrumentos de mensuração da personali dade para diferentes idades genuinamente compará veis e portanto a possibilidade de um verdadeiro mapeamento das tendências desenvolvimentais nos traços de personalidade TABELA 84 Fatores de Vários Grupos de Idade Fator PSPQ ESPQ CPQ HSPQ 16 PF A B C D E F G H I J K L M N O P Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Fonte Reimpressa com a permissão de Cattell Kline 1977 p 52 272 HALL LINDZEY CAMPBELL Análise da Hereditariedade Ambiente Cattell por muitos anos interessouse ativamente em avaliar o peso relativo das influências genéticas e ambientais sobre os traços de personalidade Ele de senvolveu um método para este propósito que cha mou de Multiple Abstract Variance Analysis ou MAVA 1960 1982 O MAVA envolve reunir dados sobre as semelhanças entre gêmeos e irmãos criados juntos em suas próprias famílias ou adotados por famílias dife rentes e depois analisar os dados para estimar as pro porções de variação individual em cada traço associa das a diferenças genéticas a diferenças ambientais e a pelo menos algumas das correlações e interações entre hereditariedade e ambiente Uma versão preli minar do MAVA foi experimentada por Cattell e seus colegas em escala limitada Cattell Blewett Beloff 1955 Cattell Stice Kristy 1957 Uma tendência observada nos estudos iniciais é teoricamente inte ressante as correlações hereditariedadeambiente pareciam ser predominantemente negativas Cattell interpreta isso como evidência de uma lei de coerção para a média biossocial isto é uma tendência das in fluências ambientais de se oporem sistematicamente à expressão da variação genética como quando os pais ou outros agentes sociais tentam fazer com que cri anças diferentes sigam a mesma norma de comporta mento encorajando as tímidas e refreando as mais desregradas Aprendizagem Em um agudo contraste com a maioria dos teóricos da personalidade que tratam da aprendizagem im plicitamente ou de passagem Cattell 1979 1980 1985 1990 desenvolveu uma elaborada teoria da aprendizagem estruturada contendo cinco princípi os ou tipos de aprendizagem Os primeiros dois são os conhecidos condicionamento clássico e instrumen tal operante do psicólogo experimental O tratamen to que Cattell dá a eles é bastante convencional o condicionamento clássico tem importância ao vincu lar respostas emocionais a deixas ambientais e o con dicionamento instrumental ao estabelecer meios para a satisfação de metas érgicas O condicionamento ins trumental desempenha um papel substancial no de senvolvimento da treliça dinâmica que consiste em relações as atitudes e os sentimentos servem como o meio de atingir metas érgicas de subsidiação i e meiosfim Uma forma de condicionamento instru mental de especial interesse na aprendizagem da per sonalidade é o que Cattell chama de aprendizagem de confluência em que um comportamento ou uma ati tude satisfaz simultaneamente mais de uma meta Assim uma atitude passa a ser vinculada a vários sen timentos e um sentimento a vários ergs dando à tre liça dinâmica sua estrutura característica O terceiro tipo de aprendizagem chamase apren dizagem de integração Esta parece ser essencialmente uma forma mais elaborada de aprendizagem instru mental Na aprendizagem de integração o indivíduo aprende a maximizar a satisfação a longo prazo ex pressando alguns ergs em um dado momento e supri mindo reprimindo ou sublimando outros A aprendi zagem de integração é um aspectochave da formação dos sentimentos do self e do superego Observem como esse tipo de aprendizagem é semelhante à dinâmica freudiana do ego e ao cronograma de Murray O quarto tipo de aprendizagem chamase modifi cação de meta érgica Isto ocorre quando a meta érgi ca e o caminho para a meta são modificados e é aná logo ao processo que Freud chamou de sublimação O quinto tipo de aprendizagem a economia de energia referese ao processo de abandonar passos desneces sários nos comportamentos aprendidos Segundo Cattell a aprendizagem da personalida de é mais bemdescrita como uma mudança multidi mensional em resposta à experiência em uma situa ção multidimensional Uma maneira de estudar empiricamente a aprendizagem da personalidade é por meio de um procedimento chamado análise da aprendizagem de caminho Começamos com duas coi sas primeiro com informações sobre mudanças de traços ocorrendo em algumas pessoas possivelmente em resposta a um período de ajustamentos comuns de vida e segundo com uma análise teórica de vários possíveis caminhos de ajustamento como regressão sublimação fantasia sintomas neuróticos que as pes soas podem tomar em resposta a situações de vida conflituais Se pudermos estimar a freqüência com que cada um desses indivíduos tomou cada caminho de ajustamento poderemos resolver uma equação de matriz para descobrir qual é o efeito médio de cada caminho sobre cada um dos traços Isso é teoricamen te interessante em si mesmo e tem um valor prático TEORIAS DA PERSONALIDADE 273 ao resolver a equação na direção oposta no caso de indivíduos novos mas comparáveis e de informações sobre suas mudanças de traços podemos estimar a freqüência com que eles tomaram cada um dos vários caminhos de ajustamento Conforme indicado anteriormente a suposição orientadora na análise da aprendizagem de caminho é que toda aprendizagem é uma mudança multidi mensional em uma situação multidimensional Cat tell 1985 p 43 uma perspectiva multivariada que não caracteriza as abordagens reflexológicas do con dicionamento clássico e da aprendizagem operante A abordagem de matriz de Cattell ainda não foi im plementada com dados reais Integração da Maturação e da Aprendizagem Cattell tentou reunir as mudanças de personalidade devidas às influências ambientais e à maturação ge nética em um único esquema teórico Cattell 1973b Ele cunhou o termo tréptico para designar mudanças devidas à influência ambiental incluindo a aprendi zagem e outras mudanças induzidas por agentes ex ternos como estimulação geral dieta drogas e assim por diante Ele propõe como uma meta a divisão das curvas de mudança desenvolvimental de vários tra ços em componentes genéticos e trépticos e em vários subcomponentes destes Sua estratégia geral para che gar a isso é o uso comparativo do método MAVA men cionado anteriormente As comparações podem en volver várias idades ou vários grupos culturais ou subculturais Assim se a variação tréptica de um tra ço na população é grande durante os anos préescola res diminui durante os anos em que as crianças estão na escola pública recebendo uma educação relativa mente padrão e aumenta novamente na idade adul ta poderíamos tirar conclusões sobre as forças que agem sobre o traço diferentes das que tiraríamos no caso em que os componentes genéticos e trépticos são constantes durante este intervalo de idade Da mes ma forma se os componentes genéticos e trépticos variam ou não variam substancialmente entre dife rentes grupos religiosos ou tradições éticas novamente podemos saber alguma coisa sobre as forças que agem sobre o desenvolvimento do traço em questão Esta análise é muito complexa pois as fontes de influência genética e tréptica sobre um traço podem correlacionarse de várias maneiras e podem intera gir ao longo do tempo Assim a influência genética pode levar a certos comportamentos que podem pro vocar determinados tipos de influências trépticas que podem por sua vez aumentar ou inibir o desenvolvi mento ulterior do traço De modo geral Cattell trata destas questões em um nível esquemático e teórico mas sugeriu várias abordagens estatísticas para resol vêlas empiricamente Cattell 1973b O Contexto Social Até o momento focalizamos os indivíduos e seu de senvolvimento em uma interação com o ambiente ime diato Aqui suspenderemos essa restrição e examina remos os esforços de Cattell para enfatizar adequada mente os determinantes socioculturais do comporta mento Cattell sugere o uso de dimensões objetivas para descrever grupos assim como são usados traços para descrever os indivíduos Essas dimensões representam a sintalidade do grupo Cattell 1948 que é equiva lente à personalidade do indivíduo Assim uma tare fa importante para o indivíduo que estuda a persona lidade em relação à matriz sociocultural é a descrição da sintalidade dos vários grupos que influenciam a personalidade do indivíduo É só por meio de uma representação adequada da personalidade do indiví duo e da sintalidade do grupo que podemos conhecer detalhadamente a interação entre essas duas estrutu ras Existem muitas instituições sociais que exercem uma influência moldadora ou modificadora sobre a personalidade mas a mais importante delas sem dú vida é a família Além dessa fonte de influência pri mária existem outras instituições cujo papel merece consideração como a ocupação a escola o grupo de amigos a religião o partido político e a nação Essas instituições podem produzir efeitos sobre a personali dade de três maneiras Primeiro pode haver uma in tenção deliberada de produzir um determinado tipo de caráter ou personalidade Isto é a definição do com portamento socialmente desejável pode incluir espe cificação de traços de personalidade e a instituição pode envolver uma tentativa autoconsciente de pro duzir tais características Segundo os fatores situaci onais ou os ecológicos podem produzir efeitos que não são pretendidos pela sociedade ou pelas instituições 274 HALL LINDZEY CAMPBELL Terceiro em resultado de padrões de comportamento estabelecidos durante o primeiro ou o segundo pro cessos o indivíduo pode considerar necessárias ou tras modificações da personalidade a fim de expres sar ou gratificar os motivos importantes Portanto um entendimento adequado do desen volvimento da personalidade precisa incluir uma es pecificação da contribuição de várias instituições so ciais variando da família à nação ou ao grupo cultural Além disso esse passo só pode ser dado quando fo rem isoladas as dimensões apropriadas para descre ver e diferenciar esses grupos e instituições Nós con sideramos que a análise fatorial desempenha um papel tão crucial na descrição da sintalidade quanto na des crição da personalidade individual O trabalho inicial no estudo da sintalidade de pequenos grupos Cattell Wispe 1948 Cattell Saunders Stice 1953 le vou à descrição de vários fatores habilidade de fala extrovertida versus retraimento relaxamento realis ta informado versus agressividade rígida diligente intencionalidade inquestionada e vigorosa versus ina daptação autoconsciente desconfiança na comunica ção interna e assim por diante Dadas as variáveis de sintalidade grupal como essas e os meios de medilas objetivamente tornase possível examinar relaciona mentos entre grupos variando nessas dimensões e nas personalidades individuais descritas pelos traços de origem que já consideramos Cattell 1949 também ofereceu um conjunto de dimensões para descrever a sintalidade das nações Nesse caso dez fatores foram derivados do estudo de 70 nações por meio de 72 medidas diversas Desses dez fatores apenas oito pareciam possuir uma impor tância clara tamanho pressão cultural afluência es clarecida diligência previdente ordem vigorosa e obstinada filistinismo burguês budismomongolismo e integração e moral culturais Muitas dessas dimen sões de sintalidade nacional embora não todas rea pareceram em fatoramentos subseqüentes de variá veis econômicas e culturais dentro das nações e entre elas Cattell 1953 Cattell Adelson 1951 Cattell Gorsuch 1965 Cattell reuniu suas idéias sobre o relacionamento entre a personalidade individual e a sintalidade gru pal em uma série de 28 proposições apresentadas em um importante artigo teórico 1961 e em um capítu lo 1966b Ele conclui que o relacionamento entre as personalidades individuais dos membros do grupo e a sintalidade do grupo é mediado por variáveis de es trutura de grupo das quais a mais completamente dis cutida é o papel que representam Um subconjunto de dimensões de sintalidade são as dimensões de siner gia que representam para o grupo o que os traços dinâmicos são para o indivíduo Além disso podemos escrever uma equação de especificação para a siner gia grupal em termos dos interesses dos membros in dividuais do grupo Cattell 1979 1985 destaca ainda mais o influ ente papel do ambiente em seu recente modelo econé tico Cattell propõe que qualquer evento psicológico tem cinco assinaturas da pessoa do estímulo do ato da situação ambiental e do observador Ele repre senta essas cinco influências em uma Matriz de Rela ção de Dados Básicos com cinco dimensões Essa abor dagem exige que o pesquisador considere separada mente o estímulo focal ao qual a pessoa presta aten ção e a situação ambiental em que ocorre a respos ta refutando efetivamente a freqüente crítica de que os teóricos da personalidade ignoram o papel da situ ação na geração do comportamento A econética o estudo da ecologia ambiental requer a construção de uma matriz de sintalidade cultural representando a sintalidade de uma cultura em dimensões comuns mais uma matriz de relevância pessoal que indica quanto os indivíduos consideram cada uma das di mensões de sintalidade cultural O produto dessas duas matrizes produz uma matriz de impacto que indica quanto cada pessoa tem a ver com cada elemento cul tural As matrizes adicionais indicam a relevância dos traços dinâmicos para as dimensões culturais e a for ça dos traços dinâmicos em cada indivíduo O produ to de todas as matrizes resume a interação dos indiví duos com a cultura Tal modelo praticamente ainda não foi testado mas revela a direção do atual pensa mento de Cattell PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Nesta seção nós mencionaremos brevemente certos aspectos distintivos das idéias de Cattell sobre a pes quisa da personalidade Além disso resumiremos uma investigação que ilustra a flexibilidade com que Cat tell aplica seu instrumento preferido de análise fato TEORIAS DA PERSONALIDADE 275 rial neste caso ao estudo dos traços dinâmicos de um único indivíduo O leitor vai lembrar que já temos uma considerável familiaridade com a pesquisa de Cattell como resultado de freqüentes referências ao seu trabalho empírico na discussão de seus conceitos teóricos Anteriormente mencionamos a convicção de Cat tell de que no futuro a pesquisa em grande escala pro duzirá os avanços mais significativos nesta área As sociada a isso está a sua crença de que a maioria dos psicólogos evita insensatamente a necessidade de uma descrição cuidadosa da personalidade em favor de uma generalização impressiva e do estudo dos fenômenos desenvolvimentais Grande parte de seu trabalho es pecialmente referente à identificação dos traços de origem e de superfície pode ser considerada simples mente uma tentativa de realizar essa tarefa de descri ção e oferecer uma base sólida para futuras investiga ções e generalizações Um dos mais novos aspectos dos textos de Cattell tem sido sua constante ênfase nos diferentes tipos de estudos de correlação que o investigador pode reali zar Primeiro salienta ele existem os estudos com a técnicaR que representam a abordagem costumeira do psicólogo Aqui um grande número de indivíduos é comparado em termos de seu desempenho em dois ou mais testes A pergunta fundamental é se os indi víduos com escores elevados em um dos testes ten dem a ter escores elevados no outro e se o coeficien te resultante representa a extensão em que os escores nos testes covariam ou condizem Segundo existe a técnicaP em que os escores do mesmo indivíduo em várias medidas são comparados em diferentes ocasi ões ou momentos Aqui estamos querendo saber quão consistente é o comportamento do indivíduo e a es tatística resultante é um índice de quão estreitamente os diferentes aspectos do comportamento do mesmo indivíduo covariam ou condizem Terceiro existe a técnicaQ em que dois indivíduos são correlaciona dos em um grande número de medidas diferentes Nes se caso o coeficiente resultante representa uma me dida de semelhança ou covariância entre os dois indivíduos se essas correlações forem feitas para muitas pessoas o investigador pode chegar a uma ti pologia ou a um agrupamento de pessoas semelhan tes nessas medidas A técnicaQ a propósito não tem nenhuma relação com os dadosQ o uso da mesma letra é apenas uma coincidência Uma quarta técni ca na verdade uma variante da primeira é chamada de técnicaR diferencial e é como a técnicaR comum exceto que as mensurações são repetidas duas vezes e as mudanças entre elas são correlacionadas e fatora das Conforme observamos esse método é especial mente útil no estudo dos estados psicológicos Além das técnicas citadas Cattell descreveu e dis cutiu muitos outros designs teoricamente possíveis o leitor interessado deve consultar o tratamento da cai xa de dados em Cattell 1966b Entretanto os qua tro designs que mencionamos são os que têm sido mais amplamente empregados na prática Um Estudo Fatorial Analítico de Um Único Indivíduo Na seção precedente fizemos uma distinção entre a técnicaR e a técnicaP Na primeira o procedimento fatorial analítico usual são calculadas correlações para muitas pessoas e os fatores obtidos são traços comuns Mas na técnicaP são calculadas correlações para mui tas medidas repetidas da mesma pessoa e os fatores representam traços únicos daquele indivíduo Confor me Cattell coloca Assim uma descoberta da técnicaR do padrão do traço de origem de dominância poderia mos trar que para a maioria das pessoas ele se ex pressa com maior carga digamos na reação aos insultos e na interferência com subordinados ao passo que para um determinado indivíduo anali sado pela técnicaP ele também revelaria ter uma alta carga digamos no tocar piano porque esse indivíduo aprendeu a expressar a dominância tocando piano Cattell Cross 1952 p 250 Para ilustrar a possibilidade de uma abordagem fatorial analítica ao indivíduo único descreveremos um estudo executado por Cattell e Cross 1952 em que 20 atitudes de um estudante universitário de tea tro de 24 anos foram medidas duas vezes por dia durante um período de 40 dias e depois intercorrela cionadas em oito ocasiões e analisadas fatorialmente Os fatores resultantes representam os traços de ori gem dinâmicos dessa pessoa e podemos observar como eles são parecidos com ou diferentes daqueles que as pessoas em geral obtiveram em estudos da téc 276 HALL LINDZEY CAMPBELL nicaR e como suas flutuações do diaadia refletem os eventos da vida da pessoa durante o período estu dado Esse tipo de estudo apresenta problemas especi ais de método O sujeito precisa ser cooperativo e con fiável precisamos ter medidas que possam ser aplica das repetidas vezes ao mesmo indivíduo sem mostrar grandes efeitos da própria testagem repetida e preci samos trabalhar com traços que mostrem uma apreci ável flutuação no diaadia As 20 atitudes foram selecionadas da amostra de atitudes usada nos estudos da técnicaR de Cattell e medidas por três técnicas uma medida de preferên cia em que o sujeito faz escolhas entre pares de de clarações cada um descrevendo um curso de ação relevante para alguma atitude uma medida de fluên cia em que o sujeito tem 30 segundos para listar o máximo possível de satisfações que poderiam ser de rivadas de um curso de ação relevante para uma ati tude e uma medida de inibição retroativa executada em conjunção com a tarefa de fluência em que seis números de três dígitos foram apresentados ao sujei to antes da mensuração da fluência e observouse a quantidade de interferência na atitude Obtevese um escore combinado para cada atitude em cada ocasião e as atitudes foram intercorrelacionadas nas diferen tes ocasiões e fatoradas Sete dos oito fatores inter pretáveis foram considerados como correspondendo a seis ergs e a um sentimento encontrados em estudos anteriores com a técnicaR medo sexo autoasser ção protecionismo parental apelo e narcisismo além do autosentimento O fator extra foi identificado como fadiga que desde então apareceu como um fator de estado em vários estudos do laboratório de Cattell Assim a estrutura de fator comum de uma popu lação serve razoavelmente bem para descrever essa pessoa específica de qualquer forma a partir dessa análise não surgiu nenhum fator único maciço Pode mos especular como os autores fazem sobre o pos sível significado de alguns dos desvios das cargas des se indivíduo em relação ao padrão da população mas não está claro se esses desvios excedem aqueles que esperaríamos encontrar entre um estudo com a técni caR e um outro com um tamanho de amostra de 80 Tendo identificado os fatores é possível estimar escores nesses fatores para cada sessão e um gráfico deles ao longo do período do experimento mostrado na Figura 82 ver adiante apresenta algumas refle xões interessantes dos eventos da vida do sujeito con forme registrado em um diário que ele manteve du rante o experimento Alguns dos incidentes mais im portantes estão indicados na linha base da Figura 82 ensaios para uma peça na qual ele faria um papel principal um resfriado forte as noites da própria peça um acidente bastante sério sofrido por seu pai uma carta em que uma tia o censura por não desistir dos próprios interesses para ajudar a família e sua preo cupação com a aparente hostilidade de um conselhei ro da faculdade Podemos notar especialmente os ní tidos picos de fadiga durante os ensaios e a peça em si a queda na ansiedade depois da peça quando ele estava começando a mergulhar nos estudos e a ter algum tempo livre para namorar observem o aumento do erg de sexo o aumento nos sentimentos paren tais na época do acidente do pai e a interessante queda posterior quando a tia o censura e finalmen te as oscilações dos traços de origem relacionados ao self autoasserção narcisismo autosentimento no período crítico dos desempenhos na peça O Modelo de Personalidade dos Sistemas VIDAS Uma outra iniciativa de Cattell merece menção por ilustrar a direção tomada por seu pensamento nos úl timos anos Agora 1985 1990 ele descreve seu modelo de personalidade geral como uma teoria de sistemas de descrição de vetorid VIDAS Cattell adota essa designação porque analisa a estrutura da personalidade em ids i e os traços fatoriais por trás do comportamento agindo em vetores i e combi nações ponderadas como em uma equação de espe cificação dentro de um sistema fechado O compli cado diagrama apresentado na Figura 83 ver p 278 resume a concepção VIDAS da personalidade Cattell está tentando mostrar como o fluxo do comporta mento é definido pela mútua interação dos estímulos dos sentimentos dos ergs e da estrutura de ego Dei xemos que Cattell 1985 p 93 descreva como seu sistema funciona Como mostra a Figura 83 os traços do mode lo VIDAS estão reunidos em 11 órgãos importan tes Primeiro temos E a fonte de energia de todos os ergs que tem um compartimento secundário para os ergs que estão em estado de excitação TEORIAS DA PERSONALIDADE 277 como resultado da estimulação pelo aparelho per ceptual P e a memória M A fonte de memória de engramas armazenados principalmente sen timentos também tem suas partes derivadas M os sentimentos presentemente ativados e LM um mecanismo de aprendizagem que gera novos sentimentos em resultado da interação de M E e P Em relação a isso nós temos uma extensão do órgão perceptual P em PD que tem a tarefa de avaliar a extensão da recompensa dinâmica de várias ações realizadas Finalmente supervisi onando as interações de E M e P está o ego con trolador D com a ajuda do reservatório de esta do geral GS que exerce uma orientação geral na solução dos conflitos dinâmicos Agindo juntamen te com o ego estão todos os traços nãodinâmi cos Ts que apresentam poderes limitantes que o ego precisa levar em conta Quando a decisão sobre um ato externo é tomada por D em resultado dos processos inter nos que iniciam com o codificador perceptual P o caráter do ato é parcialmente determinado pe los traços nãodinâmicos T que participam da moldagem do ato por meio de A o determinante da produção Essa abordagem ainda não foi implementada e atualmente representa teoria em vez de pesquisa empírica mas oferece um novo pacote significativo e provocativo de unidades de personalidade PESQUISA ATUAL Os Cinco Grandes Fatores da Personalidade Um dos progressos mais importantes na personalida de nos últimos anos é a emergência dos Cinco Gran FIGURA 82 Mudanças na força dos traços de origem dinâmicos em um indivíduo ao longo de 80 sessões de teste Cattell 1966a p 229 N de T Um engrama é um traço hipotético deixado no sistema nervoso em resultado da aprendizagem O conceito de engrama é empregado para explicar a retenção 278 HALL LINDZEY CAMPBELL FIGURA 83 O modelo completo de personalidade dos sistemas VIDAS Reimpressa com a permissão de Cattell 1985 p 95 des como um modelo geral para descrever a estrutura da personalidade Esse modelo originado do traba lho de Cattell serve como uma base conceitual para grande parte do trabalho contemporâneo na mensu ração da personalidade Como veremos existem di versas versões dos Cinco Grandes e o modelo não foi adotado universalmente mas complementa a abor dagem biológicagenética como uma das duas orien tações dominantes no trabalho contemporâneo sobre a personalidade Existem várias discussões excelentes sobre os Cinco Grandes e nós examinaremos aqui principalmente John 1990 e Goldberg 1993 bem como Digman 1990 Goldberg 1990 e McCrae e John 1992 O desenvolvimento dos Cinco Grandes na verda de começa com Allport e Odbert 1936 que tenta ram identificar possíveis diferenças individuais extra indo todos os termos relevantes do Websters Unabridged Dictionary dicionário completo Allport trabalhou com base em uma hipótese léxica primeiramente articulada por Sir Francis Galton de que as diferen ças individuais mais importantes estarão codificadas na linguagem Allport e Odbert extraíram cerca de 18000 termos dos quais 4500 se referiam a traços TEORIAS DA PERSONALIDADE 279 generalizados e estáveis Aproximadamente na mes ma época Thurstone 1934 analisou fatorialmente avaliações de iguais usando 60 adjetivos comuns Thurstone identificou cinco fatores antecipando as sim o modelo contemporâneo dos Cinco Grandes Raymond Cattell 1943 usou os termos descriti vos de Allport e Odbert como um ponto de partida para suas análises da estrutura da personalidade como vimos anteriormente Mas quando outros pesquisa dores repetiram as análises de Cattell apenas cinco fatores foram obtidos confiavelmente p ex Digman TakemotoChock 1981 Norman 1963 Tupes Christal 1961 Conforme comenta Goldberg 1993 p 27 Cattell pode ser o pai intelectual dos Cinco Grandes mas ele negou consistentemente essa pa ternidade e ainda não adotou o modelo Foi Donald Fiske 1949 que primeiro extraiu cinco fatores replicados usando variáveis de avaliação tira das do trabalho de Cattell Tupes e Christal 1958 1961 reanalisaram os dados de avaliação de oito amostras e identificaram cinco fatores relativamente fortes e recorrentes Eles rotularam esses fatores como I surgency ou loquacidade assertiva II cordiali dade III confiabilidade IV estabilidade emocio nal e V cultura Esse foi o primeiro conjunto de fa tores de personalidade a ser chamado de Cinco Grandes Goldberg 1981 Warren Norman 1963 também confirmou um modelo de cinco fatores usando um conjunto selecio nado de variáveis de Cattell Ele empregou essencial mente os mesmos rótulos de Tupes e Christal para esses fatores renomeando o fator III como conscienciosi dade Norman desconfiava que a amostragem e os problemas estatísticos no trabalho de Cattell limita vam os achados e acreditava que a análise de um con junto mais representativo de termos descrevendo tra ços produziria dimensões adicionais mas Goldberg 1990 subseqüentemente não conseguiu confirmar essa conjetura Norman 1967 extraiu 18125 ter mos de personalidade da edição de 1961 do Websters Third New International Dictionary Ele eliminou apro ximadamente metade deles como inadequados e de pois separou os 8081 termos restantes em três clas ses traços estáveis estados e atividades temporárias e papéis relacionamentos e efeitos sociais Observem a semelhança com as categorias empregadas por Cat tell bem como com sua suposição de que a personali dade pode ser considerada em diferentes níveis Nor man examinou os 2800 termos de traço que depois reduziu para aproximadamente 1600 Ele dividiu es ses termos em dez classes amplas uma para cada pólo alternativo nas Cinco Grandes dimensões A seguir dividiu os termos de cada uma das dez classes em um total de 75 categorias semânticas mais estreitas Como um passo final ele combinou termos semelhantes em um total de 571 conjuntos de sinônimos Em essência então Norman usou os Cinco Grandes para construir uma hierarquia de termos descritivos da personalida de Seguindo o trabalho de Norman Goldberg 1981 1990 1993 realizou uma série de estudos investi gando a estrutura subjacente dos termos adjetivos que descrevem traços Apesar de seu ceticismo inici al ele também identificou cinco fatores amplos que representou usando um conjunto de 100 agrupamen tos de sinônimos Os programas de pesquisa recémdescritos con vergem para uma estrutura de Cinco Grandes ao uti lizar hipóteses léxicas para estudar termos descritivos de traços Um programa de pesquisa separado de Mc Crae e Costa p ex 1987 1989a 1990 Costa McCrae 1988ab 1992a 1995a também identificou uma estrutura de Cinco Grandes ao investigar as ques tões de personalidade em vez de termos descritivos Eles usaram os seguintes rótulos para os cinco fato res neuroticismo extroversão cordialidade consci enciosidade e franqueza John 1990 p 96 salienta que OCEAN serve como um artifício mnemônico útil para lembrar esses cinco nomes as iniciais das pala vras inglesas McCrae e Costa desenvolveram o NEO PI para medir essa estrutura Assim na verdade exis tem dois modelos paralelos de cinco fatores um do trabalho léxico e outro do trabalho com questionários de personalidade Uma das marcas registradas da abor dagem de McCrae e Costa é a especificação de seis facetas específicas para cada um dos Cinco Grandes fatores p ex Costa McCrae Dye 1991 As seis facetas subjacentes à extroversão por exemplo são cordialidade gregariedade assertividade atividade busca de excitação e emoções positivas As seis face tas da conscienciosidade incluem competência ordem respeito busca de realização autodisciplina e delibe ração O NEOPI Revisado NEOPIR Costa Mc N de T Surgency é um traço de personalidade caracterizado por bom humor sociabilidade confiabilidade e responsividade social 280 HALL LINDZEY CAMPBELL Crae 1992b fornece medidas da personalidade em ambos os níveis Em conseqüência deste refinamento Costa e McCrae oferecem uma abordagem hierárqui ca articulada à estrutura da personalidade É essa es trutura que serve como base para grande parte da pesquisa contemporânea Antes de apresentar as amostras de pesquisas que empregam a orientação dos Cinco Grandes devemos observar que existem dissidentes Cattell por exem plo nunca se convenceu de que cinco fatores é um número suficiente Cinco de seus fatores de segunda ordem correspondem bem aos Cinco Grandes ver John 1990 p 88 e ele claramente prefere trabalhar em um nível de maior especificidade Hans Eysenck 1991 1992b cuja teoria consideramos no Capítulo 9 propõe três dimensões básicas de personalidade extroversão neuroticismo e psicoticismo Ele argumen ta que a extroversão e o neuroticismo correspondem aos Cinco Grandes fatores do mesmo nome mas que a cordialidade e a conscienciosidade dos Cinco Gran des devem ser reunidas em seu fator de psicoticismo ver Costa McCrae 1992a 1995a para uma répli ca Da mesma forma Zuckerman 1992 Zuckerman Kuhlman Joireman Teta Kraft 1993 Zuckerman Kuhlman Thornquist Kiers 1991 cujo trabalho também consideramos no Capítulo 9 propõe seu pró prio sistema de cinco fatores Alguns psicólogos também objetaram os Cinco Grandes por motivos conceituais Carlson 1992 p 644 teme que os Cinco Grandes estejam induzindo os pesquisadores da personalidade a valorizar a pu reza psicométrica acima do poder conceitual e que isso não é adequado para aqueles que supõem que a personalidade inclui sentimentos motivos e contex tos interpessoais e sociais bem como a integração desses traços no curso do desenvolvimento individu al Em resumo argumenta ela os defensores do Cin co Grandes limitariam a pessoalidade ao estreito re dil procrustiano de sua própria metodologia ver também Loevinger 1994 McAdams 1992 destaca seis limitações do modelo de cinco fatores a não trata de constructos essenciais do funcionamento da personalidade b é limitado para predizer compor tamentos específicos e descrever a vida do indivíduo c não apresenta explicações causais d não consi dera o contexto e não considera a organização e a integração da personalidade e f adota uma aborda gem comparativa para descrever os indivíduos Vári as dessas objeções como a d e e f representam dis cordâncias filosóficas sobre como a pesquisa da per sonalidade deveria prosseguir A introdução de face tas acomoda bastante a segunda objeção e podería mos argumentar que o trabalho atual especialmente nas áreas da genética do comportamento está come çando a tratar do terceiro ponto A crítica mais elaborada vem de Jack Block 1995a ver réplicas de Costa McCrae 1995b e Goldberg Saucier 1995 e a resposta de Block 1995b Block levanta uma série de argumentos me todológicos estatísticos e conceituais relativos ao de senvolvimento e ao uso dos Cinco Grandes Block 1995a p 204 pergunta Será que os cinco amplos domínios ou dimensões globais adotados e focaliza dos são singularmente abrangentes e suficientemente incisivos para oferecer uma estrutura satisfatória para a pesquisa e avaliação da personalidade A resposta de Block é não Como no caso dos outros críticos a objeção básica de Block é que os pesquisadores deve riam prestar atenção à estrutura e ao funcionamento intraindividuais no processo de adotar um conjunto mais amplo de orientações conceituais e metodológi cas do que permite a abordagem dos Cinco Grandes Em vez de tentar uma revisão sistemática da cres cente literatura sobre os Cinco Grandes nós os ilus traremos mencionando vários estudos representati vos Uma das metas de McCrae e Costa tem sido demonstrar que nos Cinco Grandes estão incluídas outras abordagens de mensuração Por exemplo eles McCrae Costa 1989b demonstram que existe uma correspondência substancial entre os Cinco Grandes fatores e os quatro índices do MyersBriggs Type Indi cator MBTI Especificamente a extroversão apresen ta uma alta correlação com a introversãoextroversão do MBTI e a franqueza com a sensaçãointuição do MBTI em menor extensão a cordialidade se correla ciona com o pensamentosentimento do MBTI e a conscienciosidade se correlaciona com o julgamento percepção do MBTI Não existe um equivalente do neuroticismo no MBTI Da mesma forma McCrae e Costa 1989c apresentam correlações que demons tram que os dois eixos subjacentes ao circumplexo interpessoal podem ser definidos em termos de extro versão e cordialidade Eles concluem que a extrover são e a cordialidade podem portanto ser usadas para definir o plano de comportamento interpessoal p 592 De maneira semelhante eles argumentam que o domínio afetivo pode ser estruturado em termos de extroversão e neuroticismo e que as atitudes podem TEORIAS DA PERSONALIDADE 281 ser compreendidas em termos de cordialidade e fran queza Eles concluem p 593 que o modelo de cinco fatores oferece uma estrutura mais ampla na qual orientar e interpretar o circumplexo e que o círculo interpessoal permite uma proveitosa elaboração de dois dos cinco fatores Em essência McCrae e Costa estão defendendo o uso dos Cinco Grandes para es truturar o nosso entendimento da contribuição das características da pessoa em vários domínios compor tamentais Alguns outros exemplos servem para ilustrar a variedade de pesquisas provocada pelo modelo dos Cinco Grandes Costa McCrae e Dye 1991 demons traram que as medidas do NEOPI de extroversão cor relacionamse positivamente e o neuroticismo nega tivamente com a autoestima Da mesma forma as pessoas que estão felizes e satisfeitas com a vida ten dem a ter escores altos em extroversão e baixos em neuroticismo McCrae Costa 1991a Costa 1991 propôs que a abordagem dos Cinco Grandes pode aju dar as pessoas a selecionar formas apropriadas de te rapia ver também McCrae Costa 1991b E final mente Costa e Widiger 1994 Widiger Costa 1994 sugeriram que o modelo dos cinco fatores pode ser usado para compreendermos as distinções entre vári os transtornos de personalidade Sejam quais forem suas limitações o modelo dos Cinco Grandes foi imen samente bemsucedido em promover as pesquisas e provocar discussões sobre estratégias na investigação dos fenômenos da personalidade Genética do Comportamento Um dos avanços recentes mais entusiasmantes na pes quisa da personalidade envolve o estudo das bases genéticas das características da personalidade p ex Plomin 1986 Como vimos antes Cattell há muito tempo se preocupa em identificar as contribuições ge néticas aos traços de origem Nós veremos uma ênfa se ainda maior na fisiologia e na genética no modelo de Hans Eysenck da personalidade discutido no pró ximo capítulo Uma vez que grande parte da pesquisa genética não está ligada a qualquer teoria ou atributo específico e dada a ênfase inicial de Cattell nas bases biológicas da personalidade no presente capítulo nós introduzimos as abordagens genéticas do comporta mento à personalidade A genética do comportamento baseiase na supo sição de que as diferenças entre um conjunto de indi víduos em alguma característica tal como a extrover são devemse a diferenças no material genético eou nas experiências dos indivíduos Quanto maiores as diferenças ou a variabilidade entre os indivíduos nos genes que contribuem para as diferenças em uma ca racterística maior a herdabilidade dessa característi ca Em outras palavras a herdabilidade de uma ca racterística como a extroversão pode ser definida como a razão da variabilidade genética de um grupo de pessoas comparada à variabilidade total da extro versão nessas pessoas Como tal um índice de herda bilidade para a extroversão estima a porcentagem da variabilidade nos escores de extroversão devida à va riabilidade genética Quanto mais próxima de 10 a herdabilidade maior a contribuição das diferenças genéticas para as diferenças observadas As herdabili dades são instrumentos extremamente úteis Mas antes de começarmos devemos conhecer três limita ções de qualquer coeficiente de herdabilidade ele é apenas uma estimativa é específico para a amostra de pessoas sendo estudada e aplicase à amostra como um todo e não a cada indivíduo A avaliação da herdabilidade talvez seja mais fá cil de compreender se pensarmos em gêmeos idênti cos e em fraternos Os gêmeos idênticos ou monozi góticos vêm de um único óvulo fertilizado mas os gêmeos fraternos ou dizogóticos vêm de óvulos di ferentes Disso decorre que os pares de gêmeos idên ticos têm um material genético idêntico mas os pares de gêmeos fraternos em média compartilham ape nas metade de seus genes As diferenças de escore entre gêmeos idênticos em uma característica como a extroversão por exemplo devemse a diferenças em suas experiências porque seu material genético é idên tico As semelhanças em extroversão nesses gêmeos todavia baseiamse em alguma combinação de genes idênticos e experiências semelhantes As diferenças de extroversão entre gêmeos fraternos devemse a diferenças na genética e na experiência e a semelhan ça nesses pares também reflete alguma combinação de genes compartilhados e de experiências comparti lhadas Uma das maneiras mais comuns de estimar a her dabilidade de uma característica é usar modelos esta tísticos que comparam a semelhança de pares de gê meos idênticos com a semelhança de pares de gêmeos fraternos em alguma característica Os estudos recen tes conseguiram incluir quatro amostras separadas pares de gêmeos idênticos e fraternos criados juntos e 282 HALL LINDZEY CAMPBELL pares de gêmeos idênticos e fraternos criados separa dos Presumivelmente os gêmeos criados juntos ex perienciam um ambiente mais semelhante do que os gêmeos criados separados Apesar desse avanço de terminar o grau de semelhança dos ambientes experi enciados pelos pares de gêmeos permanece uma gran de dificuldades nessas análises Uma complicação final lida com conceitualizações do ambiente Assim como o material genético pode ser compartilhado ou não por gêmeos fraternos tam bém o ambiente experienciado pelos gêmeos pode ser compartilhado ou nãocompartilhado Os fatores am bientais compartilhados tornam os gêmeos semelhan tes e os fatores ambientais nãocompartilhados tor nam os gêmeos dessemelhantes O status socioeconô mico as crenças religiosas e as filosofias dos pais na criação dos filhos operam como fatores compartilha dos A ordem de nascimento os acidentes a saúde o tratamento parental diferenciado e os amigos ou pro fessores diferentes operam como fatores nãocompar tilhados O ambiente compartilhado torna os gêmeos ou os irmãos em geral semelhantes e o ambiente nãocompartilhado os torna dessemelhantes Como veremos um achado surpreendente de estudos recen tes da genética do comportamento da personalidade é que o ambiente nãocompartilhado é muito mais influente do que o ambiente compartilhado Nós agora traremos dados reais para ilustrar ma neiras diferentes de estimar a herdabilidade o ambi ente compartilhado e o ambiente nãocompartilhado Primeiro vamos comparar a semelhança dos pares de gêmeos idênticos criados juntos com a semelhança de pares de gêmeos idênticos criados separados Uma vez que todos os pares de gêmeos idênticos compartilham os mesmos genes a extensão em que os gêmeos idên ticos criados juntos são mais semelhantes que os cria dos separados é uma estimativa da extensão em que o ambiente age para produzir semelhança na persona lidade Bouchard 1981 entretanto relatou que a correlação média entre 11 escores de personalidade para membros de pares de gêmeos idênticos criados juntos foi de 054 mas que a média para pares de gêmeos idênticos criados separados foi de 056 O fato de estas correlações não serem de 100 indica que a genética não é o único determinante da personalida de Os fatores ambientais certamente desempenham um papel importante mas observem que o ambiente está agindo para tornar os pares de gêmeos desseme lhantes não semelhantes Essa conclusão é corrobo rada pelo fato de que a correlação média é levemente menor para os gêmeos criados juntos Esses dados sugerem que ser criado junto i e compartilhar um ambiente não leva à maior semelhança de personali dade Assim esse estudo propõe que existe uma her dabilidade substancial para os traços de personalida de mas que o ambiente compartilhado não é um determinante maior da semelhança de personalida de Em segundo lugar vamos comparar a semelhan ça das características de personalidade para os mem bros de pares de gêmeos idênticos e fraternos Loeh lin e Nichols 1976 relataram correlações entre pares de gêmeos idênticos e pares de gêmeos fraternos em duas dimensões importantes da personalidade segun do Hans Eysenck a extroversão e o neuroticismo As correlações para a extroversão foram de 060 para os gêmeos idênticos e de 025 para os fraternos e as cor relações para o neuroticismo foram de 052 para os gêmeos idênticos e de 024 para os fraternos Uma estimativa simples da herdabilidade de um traço é obtida multiplicandose por dois a diferença entre as correlações de gêmeos idênticos e fraternos Com os dados de Loehlin e Nichols as estimativas de herda bilidade são 2060 025 070 para a extroversão e 2052 024 056 para o neuroticismo Em ou tras palavras mais de dois terços da variabilidade observada nos escores de extroversão e mais da meta de da variabilidade do neuroticismo são atribuídos a diferenças genéticas Um menos a estimativa de herdabilidade propor ciona uma estimativa da contribuição ambiental e a correlação dos gêmeos idênticos menos dois vezes a diferença entre as correlações dos gêmeos idênticos e fraternos proporciona uma estimativa da importância do ambiente familiar compartilhado No exemplo de Loehlin e Nichols as contribuições ambientais são con sideráveis 030 para a extroversão e 044 para o neu roticismo mas não há nenhuma evidência da contri buição de uma família compartilhada para qualquer característica As estimativas para o ambiente com partilhado são na verdade levemente negativas 060 2060 025 010 para a extroversão e 052 2052 024 004 para o neuroticismo Os dados mais recentes relatados por Bouchard e McGue 1990 sobre gêmeos idênticos e fraternos cri ados separados levaram a conclusões semelhantes TEORIAS DA PERSONALIDADE 283 Usando escalas do California Psychological Inventory Bouchard e McGue encontraram uma correlação mé dia de 045 para os gêmeos idênticos e de 018 para os fraternos Usando a fórmula apresentada antes eles relataram uma herdabilidade média um pouco acima de 050 Seus achados os levaram a uma conclusão realmente extraordinária o grau de semelhança en tre os gêmeos idênticos nas características de per sonalidade autorelatadas não parece depender de os gêmeos terem sido criados juntos ou separados Apro ximadamente 50 da variância nas características de personalidade autorelatadas estão associadas a fato res genéticos o que significa que os fatores ambien tais são responsáveis por um parte igual da variância Todavia os fatores do ambiente familiar comum não têm uma influência substancial sobre a personalidade adulta 1990 p 286 Esses achados levaram Plomin e Daniels a con cluir que o ambiente familiar compartilhado é res ponsável por uma porção desprezível da variância ambiental relevante para o desenvolvimento da per sonalidade 1987 p 5 O ambiente proporciona um componente maior da variabilidade na personalida de mas é muito importante observar que influências ambientais psicologicamente relevantes tornam as crianças de uma família diferentes e não iguais en tre si Plomin Daniels 1987 p 1 Plomin e Dani els sugerem que os pesquisadores e os teóricos enfo quem as experiências específicas para cada criança p 9 e que a criança e não a família deve ser con siderada a unidade de socialização p 15 Como um exemplo final de estudos sobre gême os considerem Tellegen e colaboradores 1988 O aspecto notável desse estudo é que ele inclui escores em um inventário de personalidade com 11 escalas para quatro amostras separadas gêmeos idênticos e fraternos criados juntos e gêmeos idênticos e frater nos criados separados Esse planejamento abrangen te permitiu a Tellegen e colaboradores obter estimati vas sofisticadas das influências da herdabilidade do ambiente nãocompartilhado e do ambiente compar tilhado que estamos examinando Suas conclusões foram muito consistentes com o que estamos vendo As correlações médias para os gêmeos idênticos cria dos juntos e separados foram muito semelhantes 052 e 049 respectivamente Isso sugere que o efeito do ambiente compartilhado é muito pequeno uma vez que a ausência de um ambiente compartilhado é tudo o que distingue o último grupo do primeiro Existem algumas diferenças entre as escalas mas Tellegen e seus colaboradores estimaram a contribuição global do ambiente compartilhado em cerca de 005 Além disso as correlações médias sugeriram uma herdabi lidade de aproximadamente 050 consistente com a que tínhamos calculado previamente E dez das 11 escalas diversas tinham herdabilidades entre 040 e 055 sugerindo uma notável consistência do efeito Em resumo os achados surpreendentes mas consis tentes em todos esses estudos de gêmeos são que a os fatores genéticos são responsáveis por cerca de metade da variabilidade nas características de perso nalidade e b o ambiente comum geralmente de sempenha um papel muito modesto na determinação de muitos traços de personalidade Tellegen e cola boradores 1988 p 1037 Tais achados corroboram modelos de personalidade que enfatizam os determi nantes únicos de cada personalidade p ex Gordon Allport ver Capítulo 7 e contestam modelos que en fatizam as experiências familiares compartilhadas Os estudos de gêmeos indicam claramente que existe uma grande contribuição genética para as dife renças individuais em várias características de perso nalidade Existem outras metodologias para investi gar o papel da genética principalmente os estudos de adoção Tais estudos levam a conclusões semelhantes sobre o grande papel das contribuições genéticas e o pequeno papel do ambiente compartilhado embora geralmente produzam estimativas mais baixas de her dabilidade ver Plomin Chipuer Loehlin 1990 Além disso não examinaremos trabalhos que investi gam os mecanismos pelos quais os genes influenciam a personalidade Dadas as sólidas evidências da her dabilidade dos traços entretanto é importante per guntar por que essa influência funciona Nós agora examinaremos brevemente as pressões evolutivas que talvez tenham levado à variação nas características de personalidade Teoria Evolutiva da Personalidade Vários pesquisadores investigaram a base evolutiva das diferenças individuais p ex Arnold Buss 1988 Da vid Buss 1991 Loehlin 1992 Tooby Cosmides 1990 Mas nesta seção nós enfocaremos o trabalho de David Buss Buss 1984 identificou três preocu pações básicas da psicologia da personalidade Que 284 HALL LINDZEY CAMPBELL características são típicas dos humanos Quais são as características mais importantes nas quais os huma nos diferem Qual é o relacionamento entre a nature za humana i e as características típicas da espécie e as diferenças individuais Ele sugeriu que a biologia evolutiva oferece uma estrutura para investigarmos esses temas Em particular ele via um paralelo com a distinção na biologia evolutiva entre pensamento ti pológico e pensamento da população A primeira abordagem conforme enfatizado pela sociobiologia enfatiza as características típicas da espécie e sua im portância adaptativa Isso é análogo à preocupação na personalidade com as tendências nucleares com partilhadas pelas pessoas Esta última abordagem conforme ilustrado pela genética do comportamento estuda as bases genéticas e adaptativas da variação observada entre os membros de uma espécie Isso é análogo à preocupação na personalidade em concei tualizar e medir aquelas dimensões comportamentais ao longo das quais as pessoas diferem Buss 1984 identificou três critérios da biologia evolutiva para determinar se uma característica faz parte da natureza humana Primeiro ela deve ser universal Segundo ela deve ser inata incondicio nada e relativamente difícil de modificar p 1139 Terceiro ela deve ter uma função adaptativa isto é deve capacitar o indivíduo a funcionar bem em seu nicho ecológico Da mesma forma Buss sugeriu qua tro critérios da biologia evolutiva para determinar quais diferenças individuais são importantes O pri meiro desses critérios é a herdabilidade Ele argumen tou que as diferenças entre os indivíduos que podem ser atribuídas a diferenças genéticas são importantes porque proporcionam a variação necessária para a evolução p 1140 Segundo um traço tem impor tância intrínseca se contribui para o ajustamento in clusivo ou para a perpetuação genética por meio da prole Terceiro a seleção sexual sugere que os traços consensualmente valorizados proporcionarão uma base para a escolha do parceiro e portanto são im portantes Finalmente os traços são importantes se proporcionam uma base para o acasalamento combi nativo para a escolha de um parceiro com base em sua semelhança com aquele que escolhe Buss con cluiu que prestar atenção aos dois conjuntos de crité rios pode ajudar os psicólogos da personalidade a tra tar de sua tarefa descritiva relativamente negligencia da e simultaneamente ajudálos a superar a tendên cia a estudar traços isolados sem fundamentos ló gicos explícitos p 1144 Em um artigo subseqüente Buss endossou expli citamente a teoria evolutiva como a base para estu dar a personalidade A teoria evolutiva promete evi tar o excesso de teorias da personalidade aparente mente arbitrárias ao ancorar uma teoria da natureza humana em processos que sabemos que governam toda vida As teorias da personalidade inconsisten tes com a teoria evolutiva têm pouca chance de esta rem certas 1991 p 461 Ele raciocinou que a so brevivência e a reprodução individuais são os dois problemas adaptativos básicos que os humanos têm encontrado em sua história evolutiva Compreender as adaptações que desenvolvemos para lidar com es ses problemas deve indicar aos psicólogos da perso nalidade a direção de dimensões importantes da na tureza humana e das diferenças individuais Dessa maneira o pensamento evolutivo limita asserções um tanto soltas sobre motivação 1991 p 468 Como exemplo Buss discutiu as Cinco Grandes dimensões da personalidade De sua perspectiva evo lutiva identificou três explicações para a proeminên cia dessas dimensões comportamentais Elas podem refletir diferenças fundamentais nas estratégias usa das pelos humanos para atingir metas típicas da espé cie podem representar variações evolutivas pouco importantes que são neutras com relação à seleção natural ou podem capturar as dimensões mais im portantes da paisagem social à qual os seres humanos têm tido de adaptarse 1991 p 471 Como exem plo dessa terceira possibilidade Buss raciocinou que os nossos ancestrais teriam de ter sido sensíveis à cor dialidade e à conscienciosidade dos outros ao formar ligações sociais Como exemplo da primeira possibili dade ele descreve as diferenças individuais herdáveis em extroversão e agressão o oposto da cordialidade que nossos ancestrais poderiam ter desenvolvido para abordar parceiros e outros recursos Buss propôs que a teoria da personalidade deveria seguir a teoria evo lutiva ao especificar as principais metas perseguidas pelos humanos para aumentar o sucesso reprodutivo os mecanismos psicológicos que evoluíram no decor rer da solução desses problemas e as estratégias com portamentais individuais e típicas da espécie desen volvidas pelos humanos para atingir essas metas adaptativas Ele concluiu em termos bem claros que a metateoria evolutiva adequadamente concebida TEORIAS DA PERSONALIDADE 285 oferece à psicologia da personalidade a grande estru tura que ela busca 1991 p 486 Buss também considerou as abordagens evoluti vas que a psicologia poderia usar para investigar as origens das diferenças individuais dentro do período de vida do indivíduo DeKay e Buss 1992 sugerem três possibilidades Primeiro as diferenças individu ais podem resultar de experiências diferenciais durante o desenvolvimento tais como a presença ou a ausên cia do pai Segundo as diferenças no ambiente atual obviamente podem levar a diferenças comportamen tais como o ciúme ser mais provável em uma pessoa com um cônjuge relativamente desejável O aluno deve comparar essas duas possibilidades com a des crição de Skinner da história do reforço e das contin gências da recompensa ver Capítulo 12 Observe tam bém que o terceiro dos mecanismos ambientais propostos por Skinner as contingências da sobrevi vência referese explicitamente às pressões evoluti vas responsáveis pela natureza humana conforme discutido por Buss Tooby e Cosmides e outros estudi osos da teoria evolutiva da personalidade Terceiro as diferenças individuais reativas surgem quando um indivíduo seleciona uma estratégia para atingir uma meta típica da espécie com base em suas característi cas anatômicas Citando Tooby e Cosmides 1990 DeKay e Buss 1992 oferecem o seguinte exemplo os indivíduos mesomórficos são mais capazes de exe cutar uma estratégia agressiva ao passo que os ecto mórficos vão forçosamente cultivar habilidades diplo máticas p 187 Finalmente vamos considerar o trabalho de Buss sobre a teoria das estratégias sexuais Buss 1994 Buss Schmitt 1993 Buss 1994 propôs que os homens e as mulheres desenvolveram mecanismos diferentes subjacentes às suas estratégias de acasalamento a curto e a longo prazo Essas diferenças surgiram porque os homens e as mulheres encontraram problemas adap tativos diferentes no acasalamento Segundo Buss e Schmitt 1993 os homens historicamente eram li mitados em seu sucesso reprodutivo primariamente pelo número de mulheres férteis que conseguiam in seminar ao passo que as mulheres historicamen te eram limitadas em seu sucesso reprodutivo não pelo número de homens aos quais podiam ter acesso sexual mas primariamente pela quantidade e quali dade dos recursos externos que conseguiam assegu rar para elas mesmas e seus filhos e talvez secunda riamente pela qualidade dos genes do homem 1993 p 206 Como conseqüência homens e mulheres de senvolveram conjuntos distintos de problemas subja centes às suas estratégias de acasalamento a curto prazo e a longo prazo ver Tabela 85 p 286 A re sultante teoria das estratégias sexuais afirma que as diferenças homemmulher no comportamento de aca salamento existem porque são evolutivamente vanta josas à luz de diferentes problemas de acasalamento encontrados durante a evolução humana não por se rem culturalmente especificadas A teoria das estratégias sexuais dá origem a vári as hipóteses todas citadas em Buss 1994 Por exem plo o acasalamento a curto prazo é mais importante para os homens que para as mulheres e os homens que buscam um acasalamento a curto prazo minimi zam compromisso e investimento Os homens que buscam um acasalamento a curto prazo resolverão o problema de identificar mulheres férteis ao passo que os homens que buscam um acasalamento a longo pra zo resolverão o problema de identificar mulheres re produtivamente valiosas Uma vez que a beleza a juventude e a saúde estão vinculadas à fertilidade e ao valor reprodutivo esses aspectos são atraentes para os homens Buss relata dados de levantamentos em grande escala de diferentes culturas consistentes com essas hipóteses Além disso os homens que buscam um acasalamento a longo prazo resolverão o proble ma da certeza da paternidade Essa hipótese levou a estudos interessantes sobre fidelidade e ciúme Por exemplo descobriuse que os homens valorizam mais que as mulheres a castidade e a fidelidade masculina Da mesma forma Buss Larsen Westen e Semmelroth 1992 descobriram que os homens ficariam mais cha teados que as mulheres se a parceira tivesse relações sexuais com outro homem do que se ela estabelecesse um vínculo emocional com outro homem O padrão inverso valia para as mulheres que indicaram que fi cariam mais chateadas se o parceiro estabelecesse um vínculo emocional com outras mulheres Ambos os padrões também foram confirmados por medidas de perturbação fisiológica As mulheres têm enfrentado problemas diferen tes dos enfrentados pelos homens na história evoluti va da nossa espécie Como conseqüência Buss 1994 hipotetizou que aquelas que buscam um parceiro a curto prazo serão mais seletivas do que os homens e preferirão homens dispostos a partilhar recursos ime 286 HALL LINDZEY CAMPBELL diatos Em apoio a essas predições Buss relatou que elas não gostam de potenciais parceiros a curto prazo que já estejam em um relacionamento ou que sejam promíscuos e gostam da força física em um potencial parceiro a curto prazo Da mesma forma uma amos tra de mulheres relatou um desagrado especial por homens que são sovinas desde o início de um relacio namento Finalmente ele propôs que as mulheres que buscam um parceiro a longo prazo preferirão ho mens capazes de prover recursos à sua prole Em apoio a isso ele relatou que uma amostra de mulhe res enfatizou mais a probabilidade de sucesso profis sional e financeiro em um parceiro a longo prazo do que em um parceiro a curto prazo e também mais do que os homens Além disso em 36 das 37 culturas amostradas por ele Buss descobriu que as mulheres valorizavam mais do que os homens as perspectivas financeiras de um parceiro em potencial Podemos certamente contestar muitos dos acha dos com base na tendenciosidade de amostragem no tamanho pequeno de amostra ou nas características de demanda Entretanto as hipóteses e os dados em si não são especialmente surpreendentes O que sur preende é que Buss os fundamenta em processos evo lutivos e não em processos contemporâneos ou cul turais STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Está bem claro que ao longo dos anos Cattell desen volveu uma teoria da personalidade ampla diversifi cada e complexa Como uma realização intelectual puramente ela deve ser considerada juntamente com as outras teorias descritas neste livro Está igualmen te claro que Cattell e seus colaboradores produziram um volume de dados empíricos relacionados à sua teoria que excede o inspirado pela maioria das teorias da personalidade discutidas por nós E no entanto as revisões do trabalho de Cattell invariavelmente pare cem revelar uma mistura de admiração e desconfor to Uma perceptiva avaliação de Goldberg 1968 su gere que essa ambivalência pode envolver uma confusão entre Cattell o estrategista e Cattell o táti co TABELA 85 Problemas de Seleção de Parceiroa Enfrentados por Homens e Mulheres em Contextos de Acasalamento a Curto e a Longo Prazos Tipo de Problemas Enfrentados Problemas Enfrentados Acasalamento pelos Homens pelas Mulheres Curto prazo 1 Número de parceiras 1 Extração imediata de recursos 2 Identificar quais mulheres estão 2 Avaliar parceiros a curto prazo como possíveis sexualmente acessíveis parceiros a longo prazo 3 Minimizar custos riscos e compromissos 3 Qualidade dos genes 4 Fertilidade 4 Troca de parceiro expulsão de parceiro ou parceiro extra Longo prazo 1 Confiança na paternidade 1 Identificar homens que sejam capazes de investir 2 Valor reprodutivo da mulher 2 Identificar homens que estejam dispostos a investir 3 Compromisso 3 Proteção física 4 Boas habilidades parentais 4 Compromisso 5 Qualidade dos genes 5 Boas habilidades parentais 6 Qualidade dos genes Fonte Reimpressa com a permissão de Buss Schmitt 1993 TEORIAS DA PERSONALIDADE 287 Virtualmente todas as críticas prévias a Cattell centraramse em Cattell o tático e deixaram de lado Cattell o estrategista uma falha semelhan te a ignorar Freud pelo fato de considerar que a associação livre é uma técnica de mensuração ina dequada Cattell tem sido claramente criticado porque seus esforços para mapear todo o domí nio da estrutura da personalidade o impediram de centrar sua atenção em qualquer porção deli mitada da tarefa total p 618 E isso parece correto A própria amplitude dos interesses teóricos de Cattell tendia a enviálo para um novo projeto antes que o anterior estivesse solida mente concluído As grandes porções da estrutura te órica de Cattell repousam sobre fundamentos empíri cos vacilantes Becker 1960 Mas as grandes porções de qualquer teoria abrangente da personalidade pre cisam repousar sobre fundamentos vacilantes pelo menos durante a vida do teórico se é ele que faz gran de parte do trabalho Uma boa pesquisa da personali dade é lenta e cara Cattell merece grande parte do crédito por uma porção tão grande de sua teoria ter os fundamentos empíricos que tem A teoria de Cattell não é popular como são as te orias de Freud Roger ou Sullivan ou inclusive as de Allport ou Murray já que atraiu um grupo pequeno mas ativo de seguidores Isso se deve parcialmente ao mecanismo técnico um tanto proibitivo da análise fa torial incluindo os debates sobre suas controvérsias que tende a afastar o leitor casual Conforme Cattell 1990 p 101 afirmou Desde o início os psicólo gos recuaram diante das complexidades da análise fa torial como as hostes de bárbaros recuaram diante da Grande Muralha da China A história dos avanços da teoria experimental multivariada da personalida de é portanto uma história extraordinária de isola mento em relação às especulações dominantes sobre a personalidade Parcialmente a falta de populari dade ocorre porque as afirmações empíricas às vezes exageradas e a ocasional rejeição de abordagens al ternativas não são bemcalculadas para conquistar o leitor sofisticado Isso é uma grande pena porque é exatamente este último que teria mais o que apreciar na riqueza das idéias teóricas de Cattell e no brilhan te tesouro de fatos brutos que seu laboratório acumu lou ao longo dos anos Ao contrário do que acontece com outras teorias da personalidade a teoria de Cat tell não tende a se desenvolver como uma abstração teórica enquanto a avaliação empírica vem muito atrás De fato quase não existe uma separação clara entre a teoria e o experimento Em uma área da psicologia caracterizada por sen sibilidade e subjetividade os teóricos fatoriais intro duziram uma aura bemvinda de praticalidade e ên fase no concreto Enquanto muitos teóricos da personalidade contentamse em elaborar conceitos e suposições até um ponto em que o investigador fica aprisionado em um emaranhado de implicações con flitantes e vagas os teóricos fatoriais tendem a apre sentar suas convicções em termos de um conjunto sim ples e lúcido de dimensões ou fatores Assim a simplicidade e a clareza são virtudes cardeais desse ramo da teoria O teórico fatorial não só é econômico e explícito em suas formulações mas é também operacional Mais do que qualquer outro ramo da teoria psicológica essa posição preocupase detalhadamente em chegar a de finições empíricas claras e nãoambíguas O teórico fatorial tomou muito emprestado da habilidade tradi cional do psicometrista ao planejar meios adequados de mensuração e tende a fazer perguntas embaraço sas mas importantes sobre unidimensionalidade con sistência interna e repetibilidade que certamente têm um efeito benéfico sobre os colegas menos preocupa dos com os detalhes da mensuração Enquanto a maioria dos teóricos da personalida de chegou à sua concepção das variáveis cruciais da personalidade por meio de um processo em grande parte intuitivo e inespecificado estes teóricos ofere cem um procedimento objetivo e replicável para a determinação de variáveis subjacentes Embora pos samos questionar a afirmação de que as variáveis são determinadas pela análise fatorial e não pelos testes que são inseridos na análise fatorial não é possível contestar a afirmação de que a análise fatorial no mí nimo oferece um teste para sabermos se a variável que já foi concebida e estava representada na medi da inicial realmente existe Em outras palavras mes mo que a análise fatorial dependa de idéias anterio 288 HALL LINDZEY CAMPBELL res ela oferece um meio de avaliar a utilidade dessas idéias Em contraposição muitos teóricos da perso nalidade originaram hostes de variáveis de personali dade sem sequer submetêlas à prova empírica A maioria das teorias da personalidade deve mais ao ambiente clínico do que à sala de computação Conseqüentemente não surpreende que muitos psi cólogos tenham tratado a teoria fatorial de Cattell como uma intrusa no cenário da personalidade Uma das críticas mais freqüentes e vigorosas alega que os teóricos do fator criam sistemas de artefatos que não têm nenhuma relação verdadeira com qualquer indi víduo e portanto distorcem e representam mal a re alidade Esse ponto de vista foi enunciado efetivamente por Allport 1937 Uma população inteira quanto maior melhor é colocada no moinho e a mistura é tão bem feita que o que sai é uma cadeia de fatores em que cada indivíduo perdeu sua identidade Suas dis posições estão misturadas às disposições de todas as outras pessoas Os fatores assim obtidos repre sentam apenas tendências médias Não fica de monstrado se algum fator é realmente uma dis posição orgânica em algum indivíduo Tudo o que podemos dizer com certeza é que um fator é um componente empiricamente derivado da persona lidade média e que a personalidade média é uma completa abstração Essa objeção ganha força quando refletimos que os fatores derivados dessa maneira raramente se assemelham às disposições e aos traços identificados por métodos clínicos quando o indivíduo é estudado intensivamente p 244 Como vimos a análise fatorial pode lidar com o indivíduo único mas este último ponto ainda vale A essência dessa objeção é que os fatores derivados não são psicologicamente significativos e conseqüente mente que eles não se ajustam às observações de outros estudiosos do comportamento humano Assim a maioria dos psicólogos simplesmente não considera úteis os fatores do analista fatorial para descrever o comportamento individual Outra crítica popular é que aquilo que sai da aná lise fatorial não é nada mais nada menos do que aqui lo que foi colocado Os analistas fatoriais objetam a subjetividade e eliminamna no lugar onde ela nor malmente é encontrada mas eles na verdade estão simplesmente levando a subjetividade ou a intuição de volta ao ponto em que decidimos quais testes ou medidas serão introduzidos na matriz de correlações A crítica parece claramente válida quando o teórico afirma que o método da análise fatorial aplicado à qualquer coleção de variáveis é suficiente para pro duzir as dimensões fundamentais da personalidade Entretanto o conceito de Cattell de amostrar uma esfera definida da personalidade proporciona uma base racional para uma abordagem mais amplamente explanatória Outros críticos salientam a inevitável subjetivida de envolvida em nomear os fatores que resultam da análise fatorial Particularmente se os elementos que compõem o fator são muito diversos como freqüen temente é o caso o investigador pode ter de recorrer a muita imaginação e engenhosidade para chegar a um título global para a variável um título que o clíni co normalmente empregaria para descrever um caso único extensivamente estudado Os dois últimos pon tos podem ser generalizados como uma afirmação de que a preocupação pelo rigor e controle empíricos professada pelo analista fatorial não está uniforme mente disseminada pelo processo de pesquisa Assim esses críticos asseveram que embora a análise fato rial possa ser executada com grande cuidado e aten ção aos detalhes nem sempre é dada a mesma aten ção aos passos que levam aos escores a partir dos quais os fatores são derivados ou ao processo pelo qual o eventual fator é interpretado Muitos psicólogos acham que as teorias fatoriais não são teorias Alguns dos sistemas simplesmente es pecificam variáveis ou fatores importantes mas sem nenhuma indicação do processo desenvolvimental ou oferecimento das detalhadas suposições sobre o com portamento que seriam necessárias para permitir pre dições referentes a dados nãoobservados Como vi mos essa crítica não se aplica à posição de Cattell Um problema mais substancial referese às infor mações extremamente complexas requeridas pela teo ria e pelas equações de Cattell O modelo é detalhado e conceitualmente atraente A ironia está no fato de ser exatamente a sua complexidade que o torna em grande parte impraticável A quantidade de informa TEORIAS DA PERSONALIDADE 289 ções sobre os traços duradouros e os estados tempo rários do indivíduo que o pesquisador ou psicólogo aplicado deve possuir mais os pesos de relevância necessários para predizer qualquer comportamento específico virtualmente impedem a implementação do modelo completo Sejam quais forem as dificuldades da teoria fato rial de Cattell está claro que sua ênfase na clareza e em padrões adequados de mensuração representa uma influência muito saudável Poderíamos discutir se o conteúdo da teoria contribuirá proveitosamente ou não para as futuras teorias da personalidade mas o estilo ou modo de abordagem de Cattell certamente terá um impacto sobre o desenvolvimento de futuras teo rias TEORIAS DA PERSONALIDADE 291 CAPÍTULO 9 A Teoria de Traço Biológico de Hans Eysenck INTRODUÇÃO E CONTEXTO 292 HISTÓRIA PESSOAL 295 A DESCRIÇÃO DO TEMPERAMENTO 297 Extroversão e Neuroticismo 297 Psicoticismo 300 MODELOS CAUSAIS 301 Eysenck 1957 301 Eysenck 1967 303 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 306 PESQUISA ATUAL 310 Gray 310 Zuckerman 312 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 312 292 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO O modelo de Eysenck da personalidade é distintivo em vários aspectos Ele propõe que o estudo da per sonalidade tem dois aspectos interligados 1990 p 244 O primeiro aspecto é descritivo ou taxonômico e enfoca o estabelecimento de unidades a serem usa das para resumir as maneiras pelas quais os indivídu os diferem O segundo referese aos elementos cau sais e é aqui que Eysenck faz uma de suas contribui ções distintivas Ele reconhece o papel crítico desem penhado pela aprendizagem e pelas forças ambien tais mas afirma que nós também precisamos explicar o fato de que o efeito de uma dada situação varia para diferentes indivíduos Além disso precisamos reco nhecer o papel determinante causal desempenhado pelos fatores biológicos A abordagem de Eysenck à personalidade é virtualmente única no sentido de que especifica uma cadeia causal em que um substrato biológico é responsável pelas diferenças individuais em dimensões fundamentais da personalidade O com portamento resulta da posição da pessoa nessas di mensões combinada com as circunstâncias às quais ela está exposta Isto é o comportamento reflete tipi camente uma interação das tendências da pessoa e das forças ambientais Assim Eysenck focaliza as di mensões biológicas da personalidade e sua aborda gem é biossocial no sentido de que o funcionamen to característico do sistema nervoso central predispõe os indivíduos a responder de certas maneiras ao am biente Eysenck pode estar errado acerca das dimen sões básicas da estrutura da personalidade e pode estar errado sobre as diferenças fisiológicas responsá veis por essas dimensões mas ele está certo ao afir mar que um modelo adequado da personalidade pre cisa incluir uma taxonomia descritiva e especificar mecanismos biológicos que contribuem para as dife renças observadas nessas dimensões descritivas Nesse sentido a posição de Eysenck distinguese por ser uma boa teoria em um sentido formal Isto é ele explica o comportamento em um determinado ní vel em termos de processos que operam em um nível mais fundamental Por exemplo os hábitos de traba lho dos introvertidos e dos extrovertidos são uma fun ção das diferenças de sensibilidade à estimulação que por sua vez são uma função de diferenças fisiológicas subjacentes Nós seguiremos a orientação de Eysenck 1990 H J Eysenck Eysenck 1985 mantendo a distinção entre os componentes descritivos e causais de sua teoria Segundo ao desenvolver seu modelo para a des crição da organização da personalidade Eysenck dis tingue entre os conceitos de traço e tipo Um traço se refere a um conjunto de comportamentos relaciona dos que covariam ou ocorrem juntos repetidamente Uma pessoa com um traço de sociabilidade vai a fes tas conversa com amigos gosta de passar tempo com pessoas e assim por diante Um tipo é um constructo de ordem superior ou supraordenado compreenden do um conjunto de traços correlacionados Um extro vertido por exemplo é sociável assertivo e aventu reiro Ambos os conceitos se referem a dimensões contínuas em contraposição à tendência a pensar em um tipo como categorias distônicas A distinção é que um tipo é mais geral e inclusivo O modelo de Eysen ck da personalidade inclui três dimensões tipológicas básicas introversão versus extroversão neuroticismo versus estabilidade e psicoticismo versus controle dos impulsos Como Cattell Eysenck conclui que seus três fatores emergem consistentemente de estudos fatori ais analíticos de questionários de personalidade Por exemplo tanto Eysenck quanto os defensores do mo delo dos Cinco Grandes ver Capítulo 8 incluem a extroversão e o neuroticismo como dimensões bási cas Eysenck H J Eysenck Eysenck 1985 Eysen ck 1992a b ver réplica de Costa McCrae 1992c explica a discrepância entre o seu modelo e o dos Cin co Grandes argumentando que as Cinco Grandes di mensões de cordialidade e conscienciosidade são tra ços do terceiro nível que se combinam como parte do seu de Eysenck tipo de psicoticismo Da mesma for ma ele considera a quinta das Cinco Grandes dimen sões variadamente rotulada como abertura à experi ência e cultura como uma dimensão cognitiva que não se ajusta às suas próprias dimensões temperamen tais A pessoa pode situarse em qualquer localização entre os dois extremos em cada tipo e Eysenck consi dera as três dimensões como distribuídas de uma for ma essencialmente normal dentro da população A Fi gura 91 ver p 294 ilustra os relacionamentos entre os três tipos e seus traços definidores A Figura 91 também demonstra a crença de Ey senck 1947 1990 de que um modelo de personali dade deve ser hierárquico Ele propõe uma hierarquia contendo quatro níveis No nível inferior estão as res postas específicas tais como falar diante da classe em TEORIAS DA PERSONALIDADE 293 Hans J Eysenck 294 HALL LINDZEY CAMPBELL FIGURA 91 Traços que constituem o conceito de tipo de a neuroticismo b extroversão e c psicoticismo Reimpressa com a permissão de H J Eysenck 1985 p 1415 uma ocasião isolada No segundo nível estão as res postas habituais que incluem comportamentos fre qüentes ou recorrentes como falar diante da classe com regularidade O terceiro nível é o dos traços que são definidos em termos de conjuntos intercorrelaci onados de respostas habituais Uma pessoa sociável por exemplo fala diante da classe gosta de conversar com outras pessoas gosta de ir a festas e assim por diante No nível superior de generalidade estão os tipos que por sua vez são definidos como conjuntos intercorrelacionados de traços Na Figura 91 por exemplo o tipo de psicoticismo inclui os traços agres sivo impulsivo e antisocial Eysenck identifica os três tipos usando a análise fatorial ver Capítulo 8 Em termos de análise fatorial um traço é um fator primá rio e um tipo um fator de segunda ordem Assim o traço de Eysenck corresponde ao traço de origem de Cattell e o tipo de Eysenck ao fator de segunda or dem de Cattell Eysenck propõe que o psicoticismo a extroversão e o neuroticismo estruturam as diferen ças individuais de temperamento ou o domínio não cognitivo da personalidade Ele reconhece a inteligên cia como uma característica separada que estrutura diferenças individuais dentro do domínio cognitivo É importantíssimo compreender que Eysenck não está afirmando que esses três superfatores descrevem exaustivamente a personalidade ou são uma base su ficiente para predizer comportamentos específicos Para pintar o quadro descritivo do temperamento de uma pessoa sempre serão necessários alguns traços TEORIAS DA PERSONALIDADE 295 primários além dos superfatores ou dimensões impor tantes da personalidade H J Eysenck Eysenck 1985 p 185 A Figura 91 ilustra esse ponto O lei tor deve notar o paralelo entre a confiança de Eysen ck nos traços para detalhar a estrutura descritiva ge ral estabelecida pelos tipos e a expansão da descrição da personalidade proporcionada pelos Cinco Grandes traços de personalidade por meio da adição de seis facetas incluindo as cinco características supraorde nadas ver Capítulo 8 Eysenck 1990 ver também 1991 para uma dis cussão dos critérios para dimensões e sistemas di mensionais aceitáveis da personalidade apresenta três argumentos ao defender o papel crítico que os fatores biológicos desempenham na determinação das dife renças individuais nos três tipos Primeiro esses mes mos fatores emergiram consistentemente em investi gações da estrutura da personalidade em culturas amplamente divergentes Barratt Eysenck 1984 tal unanimidade cultural cruzada é difícil de explicar a não ser em termos biológicos Segundo os indiví duos tendem a manter suas posições nessas dimen sões ao longo do tempo Conley 1984ab 1985 Ter ceiro há evidências de um componente herdável substancial nas diferenças individuais nas três dimen sões Eaves Eysenck Martin 1989 Loehlin 1989 Os dois últimos achados sugerem claramente para Eysenck que as forças biológicas contribuem para as diferenças individuais nas tipologias Além disso existe um grande corpo de trabalho que apóia diretamente as bases biológicas da extroversão e do neuroticismo Bullock Gilliland 1993 Eysenck 1967 H J Ey senck Eysenck 1985 Gale Eysenck 1989 Mat thews Amelang 1993 Smith 1983 Smith Rockwe llTischer Davidson 1986 Stelmack 1981 1990 Stelmack Geen 1992 Stelmack Houlihan Mc GarryRoberts 1993 Sternberg 1992 Strelau Ey senck 1987 Finalmente Eysenck estipula que uma teoria da personalidade deve ser testável e contrariamente à prática atual que ela deve ser rigorosamente avalia da em termos do equilíbrio de evidências que a apói am e contradizemna Já que não conseguimos fazer isso a ausência de um paradigma na psicologia é particularmente óbvia e instrutiva no campo da per sonalidade Seguindo o exemplo de Hall e Lindzey 1970 a maioria dos livros didáticos atualmente apre senta uma série de capítulos organizados em torno de um autor específico explicando suas teorias citando alguns exemplos de trabalhos mais ou menos relevan tes para elas mas evitando a tarefa cientificamente importante e na verdade essencial de julgar a ade quação da teoria em termos do trabalho empírico a ela dedicado e de comparar a adequação de uma te oria nessa linha com a das outras Assim o que te mos não é a evolução de um paradigma mas um lei lão de idéias estranho ao espírito da ciência que conduz a uma escolha arbitrária em termos de pre conceitos preexistentes por parte do estudante Ey senck 1983 p 369 Acostumado à controvérsia e às afirmações ousadas Eysenck segue argumentando que seu modelo tridimensional oferece pelo menos o iní cio de um paradigma no campo da personalidade e propõe que os testes de personalidade sejam avalia dos correlacionandose os resultados com suas de Eysenck medidas de psicoticismo P extroversão E e neuroticismo N Essa estratégia traria o duplo be nefício de determinar a extensão da contribuição úni ca à mensuração da personalidade para qualquer tes te e também ofereceria uma métrica comum para compararmos escores em testes de personalidade Eysenck afirma que P E e N são mais fundamentais do que outras dimensões propostas e que portanto abrem caminho para a unificação do campo ao pro porcionar uma métrica comum e uma base unificada para gerar predições sobre o relacionamento entre a personalidade e variáveis experimentais ou sociais Eysenck é claramente um defensor sincero da sua pró pria posição mas provavelmente não mais sincero do que alguém como B F Skinner Sua defesa agressiva não deve obscurecer a sensatez fundamental de seu argumento de que uma teoria da personalidade ade quada deve gerar hipóteses testáveis p ex 1991 1992a A esse respeito o modelo de Eysenck teve um sucesso exemplar HISTÓRIA PESSOAL Eysenck publicou dois artigos autobiográficos 1980 1982a e Gibson 1981 escreveu uma biografia No que se segue nos baseamos principalmente em Ey senck 1982a Hans Jurgen Eysenck nasceu em Ber lim Alemanha em 4 de março de 1916 em plena Primeira Guerra Mundial e foi criado durante o tu 296 HALL LINDZEY CAMPBELL multo econômico e social que se seguiu à derrota da Alemanha Ele odiava o regime assassino de Hitler com o qual se chocava repetidamente Eysenck foi criado como protestante mas relata que muito cedo toda a minha simpatia foi para os judeus perseguidos e todo o meu ódio para os seus perseguidores 1982a p 287 Essas simpatias fizeram com que passasse a ser chamado de judeu branco e Eysenck conta que só o seu tamanho e a sua capacidade atlética ele se destacou nacionalmente em tênis e em vários outros esportes o protegiam Os pais de Eysenck eram artis tas do teatro de variedades que se divorciaram quan do ele estava com dois anos de idade e ele foi criado pela avó Essa pessoa muito amada foi assassinada em um campo de concentração no início da década de 40 Eysenck escreve que seu ódio pelo hitlerismo o levou a desenvolver simpatias políticas pela esquer da mais tarde atenuadas pelo reconhecimento de que ambos os extremos políticos tinham problemas Seu interesse pela política durou toda a vida Em 1934 quando fez 18 anos Eysenck recusou se a ingressar no exército alemão e emigrou para Lon dres Ele pretendia estudar física subatômica na Uni versidade de Londres mas escolheu a psicologia quando lhe disseram que carecia dos prérequisitos para a física Ele conta que se sentiu arremessado aos lobos Eu acabei resignado com o meu destino mas a princípio meus sentimentos em relação à psico logia como ciência eram tudo menos lisonjeiros 1982a p 290 O interesse inicial de Eysenck pela ciência natural e pela física continuou caracterizando sua abordagem à psicologia assim como o interesse de Cattell pela química influenciou profundamente sua carreira na psicologia Eysenck estudou com o emi nente psicólogo Sir Cyril Burt mas conta que Burt tinha um comportamento bastante anormal em re lação a ele tanto pessoalmente quanto profissional mente Burt foi provavelmente o psicólogo mais ta lentoso de sua geração mas tinha sérios transtornos psiquiátricos 1982a p 290 Eysenck recebeu seu PhD em 1940 mas seu sta tus como um estrangeiro inimigo prejudicou suas perspectivas de emprego Por meio de uma série for tuita de eventos ele começou a trabalhar como psicó logopesquisador no Mill Hill Emergency Hospital uma instalação psiquiátrica da Segunda Guerra Mundial Eysenck começou lá suas pesquisas defendendo a análise dimensional em vez da análise categórica em grupos diagnósticos separados Ele identificou as duas dimensões mais importantes nos pacientes neuróti cos extroversãointroversão e neuroticismoestabili dade que subseqüentemente aplicou também às pes soas normais Além disso Eysenck manteve seu interesse pela terapia comportamental embora a opo sição do seu diretorpsiquiatra o impedisse de traba lhar abertamente nessa área Depois da guerra Ey senck tornouse diretor do Departamento de Psicologia no novo Instituto de Psiquiatria criado no Maudsley Hospital bem como professor de psicologia na Uni versidade de Londres Foi então que começou a todo vapor a pesquisa de Eysenck em terapia do comporta mento Eysenck 1957a 1960 a pesquisa que o le vou à grande batalha com o Sistema Psiquiátrico Britânico Sob a coordenação de Eysenck o departa mento tornouse um centro de formação clínica e pes quisa em mensuração da personalidade e genética do comportamento Em 1994 Eysenck recebeu o Willi am James Fellow Award da Sociedade Psicológica Americana A citação destacava Eysenck pelo alcan ce de seu intelecto visionário pela qualidade de suas realizações acadêmicas pela fidelidade aos fatos e acima de tudo por sua coragem inabalável Eysenck foi incrivelmente produtivo A lista de suas publicações passava de 650 em 1981 Eysenck 1982a e seu ritmo de publicação não diminuiu nos últimos anos Estão incluídos livros populares p ex 1953a 1957b 1964a 1965 1972 H J Eysenck Eysenck 1983 Eysenck Gudjonsson 1989 decla rações teóricas 1947 1952 1953b 1967 1981b 1983 1990 H J Eysenck Eysenck 1985 H J Ey senck S B G Eysenck 1969 1976 e declarações sobre sua posição em relação à inteligência 1971b 1979 H J Eysenck Kamin 1981 psicanálise 1963 H J Eysenck Wilson 1974 fumo e doença 1985 H J Eysenck OConnor 1979 e terapia do comportamento 1957a 1960 1976a b H J Eysen ck Rachman 1965 TEORIAS DA PERSONALIDADE 297 A DESCRIÇÃO DO TEMPERAMENTO Extroversão e Neuroticismo Examinemos agora a evolução da abordagem tipoló gica de Eysenck aos componentes temperamentais da estrutura da personalidade Eysenck coloca seu mo delo em uma perspectiva histórica ao descrever como dois dos tipos mais importantes de personalidade extroversão e neuroticismo podem ser traçados por meio da história até os sistemas de temperamento descritos em termos de quatro humores pelos autores gregos Hipócrates e Galeno H J Eysenck Eysenck 1985 ver também Stelmack Stalikas 1991 A clás sica teoria dos humores foi descrita inicialmente por Hipócrates 460 aC Baseandose em trabalhos an teriores de Empédocles e dos pitagóricos Hipócrates descreveu quatro humores sangue fleuma bile ne gra e bile amarela Esses humores por sua vez eram reflexos de quatro elementos cósmicos terra água ar e fogo cada um com uma qualidade específica frio para o ar calor para o fogo úmido para a água e seco para a terra A idéia de que toda matéria é com posta por esses quatro elementos parece bem menos absurda quando traduzimos terra água ar e fogo em três formas contemporâneas de matéria sólida lí quida e gasosa mais energia Hipócrates propôs que a maneira pela qual esses elementos se combinavam determinava a saúde e o caráter de um indivíduo O sangue por exemplo estava associado a molhado e quente e a bile negra estava associada a frio e seco Galeno 170 aC ampliou tal modelo argumentan do que o excesso de qualquer humor era responsável pelas qualidades emocionais distintivas do indivíduo A pessoa sangüínea sempre cheia de entusiasmo devia seu temperamento à força do sangue a tristeza do melancólico se devia ao funcionamento excessivo da bile negra a irritabilidade do colérico era atribuí da à predominância da bile amarela no corpo e a aparente lentidão e apatia da pessoa fleumática se devia à influência da fleuma H J Eysenck Eysen ck 1985 p 42 Eysenck argumenta que sob sua aparente absur didade tais idéias corporificam as três principais noções que caracterizam o trabalho atual sobre a per sonalidade H J Eysenck Eysenck 1985 p 42 Primeiro a melhor maneira de descrever o comporta mento é em termos de traços que caracterizam as pes soas em graus variados Segundo esses traços se com binam para definir tipos mais fundamentais Terceiro as diferenças individuais nesses tipos baseiamse em fatores constitucionais i e genéticos neurológicos e bioquímicos Em uma grande extensão essas três no ções servem como o credo de Eysenck O capítulo seguinte dessa resenha histórica foi escrito em 1798 quando Immanuel Kant publicou Anthropologie que Eysenck descreve como essenci almente um manual de psicologia Kant elaborou a descrição dos quatro tipos temperamentais e organi zouos em termos de dois contrastes fundamentais o melancólico tem sentimentos fracos e o sangüíneo tem sentimentos fortes da mesma forma a pessoa fleu mática apresenta pouca atividade e a pessoa colérica apresenta atividade intensa ver Figura 92 Mas Kant ainda via os quatro tipos como independentes e foi Wilhelm Wundt 1874 que introduziu um sistema descritivo dimensional em vez de categórico em seu Elements of Physiological Psychology Wundt afirmou que os quatro tipos refletiam um status característico alto ou baixo nas duas dimensões de mutabilidade e força das emoções ver Figura 92 p 298 Assim o colérico e o melancólico têm emoções fortes e o san güíneo e o colérico estão inclinados a mudanças rápi das Na visão de Wundt então os indivíduos são de finidos em termos de sua posição em um espaço bidimensional em que os quatro temperamentos re presentam posições extremas nos quatro quadrantes Esse sistema prediz com excepcional exatidão o modelo original bidimensional de Eysenck as emo ções fortes versus fracas de Wundt correspondem à dimensão neurótica versus estável de Eysenck e o eixo mutável versus imutável corresponde à dimensão de extroversão versus introversão de Eysenck Conforme salientam Stelmack e Stalikas 1991 a distinção en tre Kant e Wundt também antecipa o desacordo entre Eysenck e Gray sobre a localização dos eixos que defi nem os tipos fundamentais de personalidade ver dis cussão mais adiante neste capítulo A contribuição final na evolução da taxonomia descritiva de Eysenck vem de Carl Jung Em 1921 Jung propôs que a introversãoextroversão é um par de atitudes básicas em que o introvertido está orien tado para o mundo interno e o extrovertido está ori entado para o mundo externo Além disso o extro vertido é sociável mutável e despreocupado todas 298 HALL LINDZEY CAMPBELL essas características são consistentes com a articula ção de Wundt do extremo mutável Igualmente Jung afirmou que a introversão e a extroversão provavel mente levavam a formas diferentes de doença mental diante do estresse Os introvertidos são suscetíveis à psicastenia uma síndrome associada a nervosismo ansiedade flutuante e aquilo que atualmente chama mos de fobia ou neurose obsessivocompulsiva Os extrovertidos ao contrário tendem a desenvolver transtornos histéricos sintomas físicos sem nenhu ma base orgânica O modelo de Jung também incluía um contraste implícito entre neuroticismo e normali dade de modo que o seu modelo completo inclui duas dimensões independentes de introversão versus extro versão e neuroticismo versus normalidade Esse mo delo corresponde ao espaço de personalidade bidimen sional de Eysenck em que os eixos definidores são introversãoextroversão e neuroticismoestabilidade O modelo bidimensional de Eysenck conforme apre sentado na Figura 93 serve para integrar os modelos FIGURA 92 Esquemas dos quatro temperamentos por a Immanuel Kant e b Wilhelm Wundt Reimpressa com a permissão de Stelmack Stalikas 1991 p 262 FIGURA 93 Relação entre os quatro temperamentos e o moderno sistema dimensional de neuroticismoextroversão Reimpressa com a permissão de H J Eysenck Eysenck 1985 p 50 TEORIAS DA PERSONALIDADE 299 descritivos anteriores oferecidos por Hipócrates Ga leno Kant Wundt e Jung Para testar o modelo de Jung Eysenck 1947 examinou os arquivos clínicos de 700 pacientes neu róticos do Mill Hill Emergency Hospital Ele subme teu 39 itens relevantes da história e do comportamento dos clientes a uma análise fatorial que revelou dois fatores bipolares Ele interpretou um dos fatores como neuroticismo geral e o outro fator distinguia pacien tes cujos sintomas neuróticos estavam associados à ansiedade ou a sintomas histéricos Eysenck introdu ziu o termo distimia para referirse aos transtornos de ansiedade que Jung chamara de psicastenia e mante ve a designação de histeria para a outra classe de trans tornos Mais importante ele encontrou apoio no pa drão de traços que caracterizava os dois grupos neuróticos para a afirmação de Jung de que a intro versão é característica dos distímicos e a extroversão caracteriza os histéricos Eysenck generalizou esses resultados ver Eysenck 1953b para um sumário de pesquisas adicionais para argumentar que as dimen sões de extroversão E e neuroticismo N proporci onam uma estrutura básica para descrever as diferen ças individuais de temperamento Embora não querendo negar a existência e a importância de fato res adicionais a E e N nós acreditamos que os dois fatores contribuem mais para uma descrição da per sonalidade do que qualquer conjunto de dois fatores fora do campo cognitivo H J Eysenck Eysenck 1975 p 34 Eysenck desenvolveu uma série de questionários de autorelato no formato lápisepapel para medir diferenças individuais nessas duas dimensões O pri meiro dos questionários foi o Maudsley Personality In ventory Eysenck 1959b Ele foi substituído pelo Ey senck Personality Inventory EPI H J Eysenck Eysenck 1965 e mais tarde pelo Eysenck Personality Questionnaire EPQ H J Eysenck Eysenck 1975 Eysenck afirma que a informação descritiva trazida por esses testes é consistente e escreve no manual do EPQ O que quer que tenha sido descoberto sobre correlatos de E e N com o uso das escalas mais antigas aplicase com igual força às novas escalas H J Ey senck Eysenck 1975 p 3 No entanto as ques tões medindo o traço de impulsividade que carrega va na escala de extroversão do EPI foram mudadas para a escala de psicoticismo no EPQ contestando assim a afirmação de igual força de Eysenck ver Rocklin Revelle 1981 Campbell Reynolds 1982 No manual do EPQ Eysenck apresenta a seguinte descrição do extrovertido e do introvertido típicos O extrovertido típico é sociável gosta de festas tem muitos amigos precisa ter pessoas com as quais conversar e não gosta de ler ou de estudar sozinho Ele precisa de excitação assume riscos geralmente confia nas pessoas age no impulso do momento e de modo geral é um indivíduo im pulsivo Ele gosta de piadas sempre tem uma res posta pronta e geralmente gosta de mudanças ele é descuidado despreocupado otimista e gos ta de rir e divertirse Ele prefere ficar em movi mento e fazer tarefas tende a ser agressivo e a perder a calma facilmente seus sentimentos não são mantidos sob grande controle e ele nem sem pre é uma pessoa confiável O introvertido típico é uma pessoa quieta retra ída introspectiva que gosta mais de livros do que de pessoas ele é reservado e distante exceto com amigos íntimos Ele tende a planejar antecipada mente olha bem antes de saltar e desconfia do impulso do momento Ele não gosta de excitação lida com os problemas do cotidiano com serieda de adequada e gosta de um modo de vida bem organizado Ele guarda seus sentimentos sob gran de controle raramente se comporta de maneira agressiva e não perde a calma facilmente Ele é confiável um tanto pessimista e valoriza muito padrões éticos H J Eysenck Eysenck 1975 p 5 Se o leitor voltar à Figura 91 verá que tal descri ção inclui muitos dos traços que o tipo geral de extro versão incorpora De maneira semelhante Eysenck descreve o N elevado típico é um indivíduo ansioso preo cupado rabugento e freqüentemente deprimido Ele tende a dormir mal e a sofrer de vários trans tornos psicossomáticos Ele é extremamente emo tivo reagindo exageradamente a todos os tipos de estímulo e tem dificuldade para acalmarse depois de uma experiência emocionalmente in tensa Suas fortes reações emocionais atrapalham um ajustamento adequado fazendoo reagir de 300 HALL LINDZEY CAMPBELL maneira irracional e às vezes rígida Se o indi víduo com N elevado tivesse de ser descrito com uma única palavra poderíamos dizer que ele é preocupado sua principal característica é uma constante preocupação com ações e fatos que po deriam dar errado e uma forte reação emocional de ansiedade diante desses pensamentos O indi víduo estável por outro lado tende a responder emocionalmente de forma lenta e geralmente fra ca a retornar rapidamente ao estado anterior depois da excitação emocional ele normalmente é calmo tranqüilo controlado e despreocupado H J Eysenck Eysenck 1975 p 5 Eysenck enfatiza que essas descrições se referem ao aspecto fenotípico ou expresso da personalidade O comportamento observado é uma função da intera ção entre características constitucionais e o ambiente experienciado Nesse aspecto importante Eysenck oferece um modelo biossocial da personalidade Psicoticismo Em anos mais recentes Eysenck H J Eysenck Ey senck 1976 ampliou seu modelo descritivo bidimen sional original acrescentando uma terceira dimensão descritiva de psicoticismo A dimensão de psicoticis mo compreende o contínuo do comportamento nor mal passando pelo comportamento criminoso e psi copático e chegando ao estado esquizofrênico e outros estados psicóticos em que é perdido o contato com a realidade e em que existem sérios transtornos de cog nição afeto e comportamento Essa orientação é con sistente com a abordagem dimensional geral de Ey senck à conceitualização e à mensuração da psicopa tologia Além disso o psicoticismo é poligênico H J Eysenck Eysenck 1976 p 29 no sentido de que o status de uma pessoa nos traços constituintes reflete a presença ou a ausência de vários genes de efeito pequeno Tais genes funcionam de uma maneira adi tiva de modo que o número total herdado pelo indi víduo determina seu grau de psicoticismo Eysenck também postula a existência de outros genes que exer cem um efeito grande Quando o número de genes de valor pequeno é menor do que o requerido para que se desenvolva uma psicose característica ou quan do o estresse externo não foi suficiente para proporci onar uma interação que produza esse estado tere mos indivíduos demonstrando graus variados de es tado esquizóide ou esquizotipos psicopatas socio patas criminosos drogaditos etc Quando os genes de efeito grande estão presentes normalmente ape nas um temos os quadros clássicos discutidos nos manuais de psiquiatria H J Eysenck Eysenck 1976 p 29 A interação de características predispo nentes que se manifestam na psicose quando desen cadeadas por estressores ambientais colocam o mo delo de psicose de Eysenck na categoria geral dos modelos psicopatológicos de diáteseestresse A abordagem dimensional de Eysenck combina da com seu modelo hierárquico de traços constituin tes subjacentes a um tipo mais geral de psicoticismo justifica sua afirmação de que o psicoticismo oferece uma dimensão útil para a descrição de comportamen tos nãosocializados incomuns e malcontrolados em indivíduos nãoclínicos O EPQ contém uma escala planejada para medir diferenças individuais nessa di mensão Mas devemos observar que existe uma consi derável controvérsia em relação à interpretação ade quada dos escores elevados na dimensão de psicoticis mo Por exemplo Claridge 1967 1972 1981 1983 1986 sugeriu que é melhor interpretar os escores em psicoticismo em termos de psicopatia ou comporta mento antisocial ver também Thornquist Zucker man 1995 para uma recente revisão comparativa de modelos de psicopatia Eysenck propõe que a pessoa com um escore ele vado em psicoticismo P deve ser compreendida como tendo herdado uma vulnerabilidade para desenvol ver transtornos psicóticos diante dos estresses desen volvimentais e são os traços associados a essa vulne rabilidade que servem para definir a pessoa que obtém altos escores na escala de psicoticismo Aqui está a descrição de Eysenck do padrão característico das pessoas que obtêm altos escores P Um indivíduo com um escore elevado então pode ser descrito como sendo solitário não se importando com as pessoas ele geralmente traz problemas não se adaptando a lugar nenhum Ele pode ser cruel e desumano sem sentimento e empatia e totalmente insensível Ele é hostil com os outros mesmo com parentes e amigos e agres sivo até com as pessoas amadas Ele gosta de coi sas estranhas e incomuns e não se importa com o perigo ele gosta de fazer os outros de bobos e de TEORIAS DA PERSONALIDADE 301 irritálos Essa é uma descrição de um adulto com escores P elevados no que se refere às crianças nós obtivemos um quadro bastante congruente de uma criança estranha isolada e perturbadora gla cial e carecendo de sentimentos humanos por seus semelhantes e pelos animais agressiva e hostil mesmo com as pessoas mais próximas e queridas Essas crianças tentam compensar a falta de senti mento buscando sensações em excessos excitan tes sem pensar nos perigos envolvidos A sociali zação é um conceito relativamente desconhecido tanto para os adultos como para as crianças em patia sentimentos de culpa sensibilidade a ou tras pessoas são noções estranhas e pouco famili ares para eles H J Eysenck Eysenck 1975 p 56 Os indivíduos situados no intervalo moderado apre sentariam esses comportamentos em um grau menor Eysenck também toma o cuidado de salientar que a escala P indica comportamentos normais nós nos preocupamos com variáveis de personalidade subja centes aos comportamentos que só se tornam patoló gicos em casos extremos H J Eysenck Eysenck 1975 p 6 A descrição de Eysenck do neuroticismo perma neceu relativamente estável ao longo do tempo mas ele modificou sua descrição da extroversão A extro versão originalmente era conceitualizada em termos da combinação dos traços de sociabilidade e impulsi vidade S B G Eysenck Eysenck 1963 Mas com a introdução no EPQ de uma escala para o psicoticis mo o traço da impulsividade foi modificado para con tribuir para o psicoticismo Alguns dos itens do ques tionário de impulsividade que tinham contribuído para a extroversão no EPI foram usados como marcadores de psicoticismo no EPQ No processo de fazer tal mu dança foi articulado um outro componente da impul sividade chamado de aventureirismo S B G Eysen ck Pearson Easting Allsopp ver S B G Eysenck Eysenck 1977 1978 para uma perspectiva adicio nal e este se tornou um traço componente da extro versão ver Brody 1988 O aventureirismo reflete um interesse por atividades perigosas e excitantes e como tal tem muito em comum com o traço de busca de sensação que também contribui para a extroversão Eysenck H J Eysenck Eysenck 1985 argumenta que a impulsividade no sentido amplo assim como características como a busca de sensação ocupa um nível intermediário entre os níveis de tipo e traço em sua hierarquia A pesquisa e a mensuração nesse nível intermediário são ambíguas e Eysenck prefere claramente prosseguir ou no nível de tipo ou no nível de traço Nem todos os pesquisadores concordam com esse conselho p ex Revelle Humphreys Simon Gilliland 1980 ver também uma réplica de M W Eysenck Folkard 1980 MODELOS CAUSAIS A taxonomia tridimensional de Eysenck oferece um sistema para a descrição de diferentes tipos de indiví duos em termos de seus padrões de comportamento característicos O que ainda precisa ser respondido todavia é a pergunta causal de por que um determi nado indivíduo fica predisposto a apresentar um de terminado conjunto de comportamentos Tomando emprestada a linguagem da genética o psicoticismo a extroversão e o neuroticismo se referem aos compo nentes observados ou aos fenotípicos da personalida de A tentativa de Eysenck de especificar os fatores subjacentes ou genotípicos responsáveis pelas varia ções observadas no comportamento depende da iden tificação de diferenças fisiológicas que covariam com o status alto ou baixo nas dimensões tipológicas Ey senck propôs dois modelos explanatórios O primeiro modelo Eysenck 1957a explicava as diferenças en tre introvertidos e extrovertidos em termos de dife renças no sistema nervoso central em níveis de pro cessos neurais inibitórios e excitatórios O segundo modelo Eysenck 1967 explicava as diferenças en tre a introvertidos e extrovertidos em termos de ní veis de excitação cortical e b neuróticos e estáveis em termos de níveis de ativação cerebral visceral Eysenck 1957 Esse modelo começa com o psicólogo russo Ivan Pav lov Pavlov investigou o processo que passou a ser cha mado de condicionamento pavloviano ou clássico apresentando a um cachorro um estímulo neutro como uma campainha imediatamente antes de colocar pó de comida em sua boca O pó de comida provocaria 302 HALL LINDZEY CAMPBELL uma resposta salivar reflexa e após um número sufi ciente de emparelhamentos de campainha e pó de comida a campainha eliciava uma resposta salivar quando apresentada sozinha Conforme descrito por Monte 1995 os cães de Pavlov diferiam em sua ca pacidade de adquirir a resposta salivar à campainha Além disso o temperamento dos cães parecia estar relacionado à sua capacidade de condicionamento Os cachorros sociáveis e ativos eram os piores sujeitos porque ficavam letárgicos quando amarrados pelas correias experimentais Pavlov propôs que as diferen ças existiam porque os cães diferiam em seus índices relativos de processos corticais excitatórios e inibitó rios os maus sujeitos eram caracterizados por mais processos excitatórios mas esses processos se esgota vam rapidamente durante a monótona tarefa de con dicionamento produzindo sonolência e um mau de sempenho de aprendizagem Os bons sujeitos eram caracterizados por mais processos inibitórios e esses processos facilitavam a aquisição de respostas inibitó rias i e aprender a não responder ao membro de um par de estímulos que não fosse reforçado pelo pó de comida Eysenck 1957 rejeitou grande parte do sistema explanatório de Pavlov Ele manteve a distinção entre processos neurais excitatórios e inibitórios como a base da diferença entre os introvertidos e os extrovertidos mas aplicoua de maneira diferente Especificamente ele propôs que os introvertidos são caracterizados por mais processos neurais excitatórios e os introvertidos são caracterizados por mais processos inibitórios Ey senck 1957a p 114 resumiu essa posição em seu postulado tipológico Os indivíduos nos quais o potencial excitatório é gerado lentamente e nos quais os potenciais exci tatórios assim gerados são relativamente fracos estão predispostos a desenvolver padrões extro vertidos de comportamento e a desenvolver trans tornos histéricopsicopáticos em casos de colapso neurótico os indivíduos nos quais o potencial excitatório é gerado rapidamente e nos quais os potenciais assim gerados são fortes estão predis postos a desenvolver padrões introvertidos de comportamento e a desenvolver transtornos dis tímicos em caso de colapso neurótico Da mesma forma os indivíduos nos quais a inibição reativa se desenvolve rapidamente nos quais são gera das inibições reativas fortes e nos quais a inibição reativa se dissipa lentamente estão predispostos a desenvolver padrões extrovertidos de compor tamento e a desenvolver transtornos histéricopsi copáticos em caso de colapso neurótico inversa mente os indivíduos nos quais a inibição reativa se desenvolve lentamente nos quais são geradas inibições reativas fracas e nos quais a inibição rea tiva se dissipa rapidamente estão predispostos a desenvolver padrões introvertidos de comporta mento e a desenvolver transtornos distímicos em caso de colapso neurótico Assim a distinção causal fundamental entre introver tidos e extrovertidos é que os introvertidos têm uma razão baixa de processos inibitórios para excitatórios e os extrovertidos têm uma razão elevada de proces sos neurais inibitórios para excitatórios Alguns resul tados experimentais diretos são consistentes com essa proposta Por exemplo Spielmann 1963 descobriu que os extrovertidos apresentavam pausas involuntá rias de descanso mais freqüentes do que os introverti dos durante uma tarefa de datilografia Esse resulta do é consistente com a predição de que os extroverti dos experienciam um aumento da inibição cortical durante uma tarefa contínua Da mesma forma Cla ridge 1967 ver também Bakan Belton Toth 1963 descobriu que os distímicos tinham um desempenho melhor do que os histéricos em uma tarefa monótona de vigilância auditiva envolvendo a detecção de três dígitos ímpares sucessivos presumivelmente porque a acumulação de pausas involuntárias de descanso nos histéricos extrovertidos os fazia perder mais dos even tos distintivos Além disso se os processos neurais excitatórios podem ser compreendidos como facilitando a aquisi ção de respostas condicionadas então uma predição básica a partir do modelo de 1957 de Eysenck é que todas as outras coisas sendo iguais os introvertidos têm um sistema nervoso que lhes permite condicio narse mais facilmente do que os extrovertidos Tal predição decorre de uma combinação do modelo de Eysenck com o modelo de aprendizagem de Clark Hull De forma extremamente simplificada Hull sugere que a aprendizagem é facilitada por uma grande motiva ção drive e pela prática reforçada força de hábi to mas é prejudicada pela acumulação de proces sos inibitórios durante a prática Se os introvertidos TEORIAS DA PERSONALIDADE 303 têm uma razão baixa de processos inibitórios para ex citatórios e os extrovertidos têm uma razão elevada então os introvertidos têm uma dupla vantagem no modelo de Hull os introvertidos têm drive alto que facilita a aprendizagem e têm poucos processos ini bitórios que interferem na aprendizagem Franks 1956 testou essa predição comparando a aquisição de uma resposta de piscar o olho classica mente condicionada em sujeitos distímicos histéri cos e normais Um sopro de ar estímulo incondicio nado EI no canto do olho induzia os sujeitos a piscar resposta incondicionada RI e um tom musical es tímulo condicionado EC soava imediatamente antes do sopro O tom e o sopro eram emparelhados 30 ve zes entremeados com 18 apresentações do tom sozi nho Os distímicos introvertidos deram mais piscadas condicionadas resposta condicionada RC do que os extrovertidoshistéricos ou os normais consistente mente com a predição de Eysenck Um estudo subse qüente de Franks 1957 confirmou esse efeito Infe lizmente Franks 1963 e outros não conseguiram replicar tais achados lançando dúvidas sobre a vali dade da predição Eysenck 1966 1967 respondeu que o efeito dependia de três parâmetros experimen tais Primeiro ele argumentou que a apresentação de 1957 de seu modelo tinha especificado que a inibição só se desenvolveria durante aquelas tentativas não reforçadas em que o tom era apresentado sem o so pro de ar O procedimento de reforço parcial de Franks de entremear tentativas reforçadas com tentativas de teste deu aos extrovertidos a oportunidade de desen volver fortes efeitos inibitórios os introvertidos têm uma vantagem sob o reforço parcial porque são mais capazes do que os extrovertidos de livrarse da inibi ção que desenvolvem Segundo um sopro fraco de ar EI deve levar à mais inibição favorecendo os intro vertidos mas um EI forte deve levar à mais excitação favorecendo os extrovertidos Finalmente um inter valo curto entre o tom EC e o sopro de ar EI favo rece os introvertidos porque leva a maiores efeitos ini bitórios nos extrovertidos Eysenck 1966 relata um estudo de Levey que manipulou esses três parâme tros Levey descobriu uma tendência nos introverti dos de condicionarse mais prontamente do que os extrovertidos com o reforço parcial mas a diferença não era estatisticamente significativa Os introverti dos realmente se condicionavam mais rapidamente do que os extrovertidos com um intervalo curto de ECEI e com um EI fraco i e um sopro de ar de 3 libras por polegada quadrada 3PSIpounds per squa re inch versus 6 libras por polegada quadrada 6PSI apoiando a predição revisada de Eysenck As explica ções condicionais de Eysenck complicam sua predi ção inicial de que os introvertidos condicionamse mais prontamente do que os extrovertidos Além disso vá rios autores argumentaram que as revisões de Eysen ck especialmente com relação à intensidade do EI não poderiam ser facilmente derivadas de sua decla ração original de 1957 sobre a teoria p ex Brody 1972 O efeito interativo da intensidade do EI toda via é consistente com o modelo de Eysenck de 1967 do qual trataremos agora Eysenck 1967 O segundo modelo causal de Eysenck difere do pri meiro em três aspectos importantes Primeiro ele re laciona diferenças entre introvertidos e extrovertidos a diferenças em níveis de excitação em vez de excita çãoinibição e ele localiza as estruturas do sistema nervoso central nas quais ocorrem essas diferenças Segundo ele oferece uma explicação neurológica para as diferenças de neuroticismoestabilidade observa das Terceiro ele descreve um relacionamento curvi linear entre a intensidade da estimulação externa e o grau de excitação cortical com curvas diferentes para introvertidos e extrovertidos Em sua declaração de 1967 sobre a teoria Eysen ck relaciona diferenças em introversãoextroversão a níveis de atividade no sistema ativador reticular as cendente ascending reticular activating system ARAS Em termos muito gerais a atividade no ARAS serve para estimular o córtex cerebral levando à mai or excitação cortical ver Figura 94 para o diagrama original de Eysenck Devido à maior atividade do ARAS os introvertidos caracterizamse por níveis mais altos de excitação cortical e essas diferenças neuroló gicas servem como uma base causal para diferenças observadas na tipologia de introversãoextroversão Isto é os introvertidos têm limiares mais baixos de excitação do ARAS em relação aos extrovertidos Além disso as diferenças individuais em emocionalidade ou neuroticismo dependem de níveis de atividade no sis tema nervoso autônomo SNA que consistem no hi pocampo na amígdala no cíngulo no septo e no hi potálamo ver Figura 94 p 304 Essas estruturas 304 HALL LINDZEY CAMPBELL freqüentemente referidas como sistema límbico fo ram relacionadas a estados emocionais por meio da operação do sistema nervoso autonômico Os indiví duos neuróticos caracterizamse por níveis mais ele vados de ativação e por limiares mais baixos no SNA A independência desses dois sistemas causais e das resultantes dimensões de extroversão e neuroticismo é complicada por um vínculo unilateral entre o ARAS e o SNA Quando uma pessoa é corticalmente estimu lada necessariamente não ocorre uma ativação emo cional i e do SNA A ativação emocional todavia garante que vai ocorrer a excitação cortical O terceiro aspecto novo do modelo de Eysenck de 1967 especifica um relacionamento curvilinear entre a estimulação e a excitação cortical com os introver tidos atingindo seu ponto de excitação máxima em um nível mais baixo de estimulação do que os extro vertidos No modelo mais novo de Eysenck os intro vertidos são postulados como mais excitados e mais excitáveis do que os extrovertidos Ao desenvolver esse conceito Eysenck novamente se vale do trabalho de Pavlov dessa vez adotando o conceito de Pavlov de força do sistema nervoso Gray 1964 Teplov 1964 Conforme descrito por Teplov um sistema nervoso for te consegue tolerar uma estimulação intensa e é me nos sensível à estimulação do que um sistema nervo so fraco Um sistema nervoso fraco está cronicamente em um alto nível de excitação e tem uma capacidade limitada de tolerar estimulação adicional Ao descre ver sistemas nervosos fortes e fracos Teplov emprega o conceito de Pavlov de inibição transmarginal Esse conceito sugere que a resposta ao estímulo aumenta à medida que aumenta a intensidade do estímulo mas só até certo ponto Além desse ponto que é o ponto de inibição transmarginal a magnitude da resposta diminui na proporção em que aumenta a intensidade do estímulo Esse decréscimo ocorre para proteger o sistema nervoso de uma superexcitação Um indiví duo com um sistema nervoso fraco atinge tal limiar protetor em um nível mais baixo de intensidade de estímulo do que um indivíduo com um sistema nervo so forte Na adaptação de Eysenck os introvertidos se comportam como indivíduos com sistemas nervosos fracos e os extrovertidos se comportam como indiví duos com sistemas nervosos fortes Isto é a excitação cortical aumenta à medida que aumenta a intensida de do estímulo em ambos os tipos mas o ritmo de aumento é mais rápido nos introvertidos devido ao seu ARAS mais sensível Em conseqüência os intro vertidos atingem o ponto de inibição transmarginal em um nível de excitação mais baixo do que os extro vertidos ver Figura 95 adiante Os introvertidos são mais sensíveis à estimulação externa do que os extro vertidos e ficam superestimulados mais facilmente do que os extrovertidos Devido à tendência resultante dos introvertidos de evitar a estimulação excessiva e FIGURA 94 Localizações anatômicas do ARAS e do SNA SNA sistema nervosos autônomo AAP ascending afferent pathways vias aferentes ascendentes ARAS ascending reticular activating system sistema ativador reticular ascendente Reimpressa com a permissão de Eysenck 1967 p 231 TEORIAS DA PERSONALIDADE 305 dos extrovertidos de buscar estimulação Eysenck diz que os introvertidos são arredios diante de estímu los e que os extrovertidos são famintos por estímu los Essa sensibilidade à estimulação é uma caracte rísticachave dos introvertidos porque os faz afastarse de qualquer fonte de estimulação intensa As outras pessoas podem ser uma fonte de estimulação intensa de modo que os introvertidos tendem a evitálas A baixa sociabilidade que os leigos consideram um atri buto fundamental da introversão é portanto um de rivado da extrema sensibilidade do introvertido à es timulação no modelo de Eysenck Em comparação com a população média o tom hedônico é maximizado para os introvertidos em baixos níveis de estimulação e para os extrovertidos em altos níveis de estimulação ver Figura 96 As curvas de inibição transmarginal de Eysenck levaram a predições de comportamento diferencial para introvertidos e extrovertidos em qualquer situa ção que possa ser escalada em termos de grau de esti mulação Por exemplo a explicação de Eysenck 1966 de que os introvertidos se condicionam mais pronta FIGURA 95 Relacionamento entre a intensidade do estímulo e os processos excitatórios em introvertidos e extrovertidos Reimpressa com a permissão de Brody 1972 p 57 FIGURA 96 Relacionamento entre nível de estimulação sensorial e tom hedônico mostrando a mudança esperada de nível ótimo NO para os sujeitos introvertidos à esquerda e para os sujeitos extrovertidos à direita De Eysenck 1971a p 69 306 HALL LINDZEY CAMPBELL mente do que os extrovertidos com um EI fraco mas que os extrovertidos se condicionam mais rapidamente com um EI mais intenso ajustase à estrutura da ini bição transmarginal se o EI de 3PSI estiver na por ção inferior do eixo de intensidade do estímulo onde a curva do introvertido está acima da curva do extro vertido e o EI de 6PSI estiver na extremidade supe rior do eixo de intensidade do estímulo onde a curva de excitação do extrovertido está mais alta do que a curva do introvertido e se a aprendizagem depende da excitação então o achado de Levey é consistente com o modelo Da mesma forma o achado de Camp bell e Hawley 1982 de que os introvertidos prefe rem estudar nas áreas da biblioteca menos estimula doras e os extrovertidos em locais mais estimulado res ajustase ao modelo de inibição transmarginal Eysenck se refere à sua teoria como hipotéticodedu tiva isto é ele acredita que ela está enunciada de uma maneira que permite aos pesquisadores gerar hipóteses testáveis Nós agora examinaremos outros exemplos de pesquisas geradas pela teoria PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Como acabamos de discutir Eysenck 1967 propôs que os introvertidos extremos possuem altos níveis de excitação cortical e que os extrovertidos extremos possuem níveis relativamente baixos de excitação cor tical Igualmente os neuróticos extremos possuem altos níveis de ativação do sistema nervoso autônomo portanto autonômica enquanto os estáveis extre mos possuem baixos níveis de ativação do sistema nervoso autônomo A combinação dos dois extremos gera uma classificação quádrupla em que os introver tidos neuróticos possuem a excitação global mais ele vada i e elevada em ativação límbica e elevada em excitação cortical os extrovertidos estáveis possuem a excitação global mais baixa i e baixa em ativação límbica e baixa em excitação cortical e os introverti dos estáveis baixa elevada bem como os extroverti dos neuróticos elevada baixa situamse no interva lo intermediário McLaughlin e Eysenck 1967 testam essa hierarquia de excitação combinada integrando a com a lei de YerkesDodson 1908 Broadhurst 1959 A lei de YerkesDodson sugere que existe uma re lação curvilinear entre motivação e desempenho isto é o desempenho em uma variedade de tarefas é pre judicado quando a motivação é baixa demais ou alta demais e o desempenho é maximizado em algum ní vel intermediário de motivação ótima ver Figura 97 Imagine que você vai fazer um exame final em um curso sob duas circunstâncias bem diferentes Se você está no curso apenas para passar e o seu desem penho até o momento é suficientemente bom para ter certeza de que vai passar no exame independentemen te do seu desempenho no final sua motivação para estudar e sairse bem será menor do que seria se as situações fossem diferentes e sua nota final provavel mente será mais baixa do que seria se você estivesse mais motivado Mas ao contrário se você precisa ti rar A no exame para ser admitido à faculdade seu nível de motivação será tão alto que poderá atrapa FIGURA 97 Lei de YerkesDodson relacionando motivação e desempenho Baseada em Monte 1995 p 810 TEORIAS DA PERSONALIDADE 307 lhar seu desempenho levando novamente a uma nota mais baixa do que se não sentisse tanta pressão Ra tear ou perturbarse em uma competição atlética são outros exemplos de desempenho prejudicado em fun ção da motivação excessiva Para complicar ainda mais a lei de YerkesDodson referese a uma família de cur vas relacionando a motivação ao desempenho O ní vel ótimo de motivação é mais baixo em uma tarefa mais difícil do que em uma tarefa mais simples pre sumivelmente porque o desempenho em tarefas mais complexas se perturba mais facilmente McLaughlin e Eysenck combinaram a lei de Yerkes Dodson com a hierarquia da excitação combinada pro posta por Eysenck equiparando a excitação de Ey senck à motivação de Yerkes e Dodson Isto é se a lei de YerkesDodson é verdadeira se a hierarquia da excitação proposta por Eysenck está correta e se faz sentido equiparar a excitação à motivação então os introvertidos neuróticos seriam os piores entre os qua tro tipos em uma tarefa bem difícil porque seu alto nível de excitação os deixaria excessivamente moti vados Inversamente os extrovertidos neuróticos se riam os melhores dos quatro tipos na tarefa difícil devido ao seu baixo nível de excitaçãomotivação O desempenho dos outros dois tipos estaria em algum ponto intermediário Entretanto em uma tarefa um pouco mais fácil os extrovertidos neuróticos ou os introvertidos estáveis teriam o melhor desempenho dados seus níveis intermediários de excitaçãomoti vação Os participantes do experimento foram primei ro classificados em um dos quatro tipos de personali dade Depois eles foram solicitados a realizar uma tarefa de aprendizagem difícil ou fácil de pares asso ciados Nessa tarefa eram apresentados aos sujeitos pares de sílabas sem sentido de estímuloresposta e eles precisavam aprender a dar a resposta correta quando cada estímulo era apresentado Em ambas as tarefas os membrosestímulo dos pares eram trigra mas como JET COW FUR BUS e VOL Na tarefa mais fácil os membrosresposta incluíam trigramas signifi cativos mais distinguíveis como SAH GED e TAQ A tarefa mais difícil entretanto continha trigramas de resposta que eram difíceis de distinguir como WOD ZOW e WOT Os resultados confirmaram a predição Conforme ilustrado na Figura 98 ver p 308 os extrovertidos estáveis e os introvertidos neuróticos se saíram mal na tarefa fácil presumivelmente porque os primeiros estavam muito pouco excitados e os últimos estavam excitados demais O desempenho na tarefa fácil foi melhor no caso dos extrovertidos neuróticos Mas na tarefa difícil o desempenho foi melhor no caso dos extrovertidos estáveis o grupo com a menor excita ção O desempenho nesta tarefa deveria ter sido pior no caso dos introvertidos neuróticos altamente exci tados De fato o desempenho dos introvertidos está veis foi um pouco pior do que o dos introvertidos neu róticos Mas essa diferença não foi estatisticamente significativa e os resultados como um todo confir mam solidamente a teoria da excitação de Eysenck O artigo de McLaughlin e Eysenck é um dos mui tos estudos p ex Campbell Hawley 1982 na lite ratura de Eysenck que não tenta medir níveis de exci tação em vez disso ele parte de suposições sobre diferenças de excitação para fazer predições sobre o comportamento que por sua vez são testados Uma estratégia diferente é empregada por Geen 1984 que mede excitação e desempenho em introvertidos e extrovertidos bem como níveis preferidos de estimu lação por barulho O modelo de Eysenck 1967 pre diz que os extrovertidos devido aos seus níveis mais baixos de excitação cortical preferem e saemse me lhor com níveis de estimulação mais altos Mas o que acontece com os níveis de excitação quando introver tidos e extrovertidos estão em seus níveis preferidos de estimulação E o que acontece com o desempenho quando introvertidos e extrovertidos estão em abai xo e acima de seus níveis preferidos de estimulação Geen usou sujeitos do sexo masculino classificados como introvertidos ou extrovertidos com base em es cores extremos no EPI Os sujeitos foram solicitados a realizar uma tarefa de aprendizagem de pares associ ados enquanto ouviam barulhos ocasionais pelos fo nes de ouvido Os sujeitos na condição de escolha fo ram solicitados a escolher o nível de barulho que iriam ouvir Os introvertidos na condição igual ouviam o mesmo volume de barulho que o sujeito introvertido prévio tinha selecionado e os extrovertidos nessa con dição ouviam o volume que o extrovertido prévio ti nha escolhido Os introvertidos na condição diferente ouviam o mesmo volume de ruído que o sujeito extro vertido prévio tinha selecionado e os extrovertidos nessa condição ouviam o volume que o introvertido prévio tinha escolhido Estas condições iguais e dife rentes tinham por objetivo controlar qualquer efeito da escolha do sujeito O ritmo de pulsação e a condu 308 HALL LINDZEY CAMPBELL FIGURA 98 Relacionamento do número de erros com o critério e o nível hipotetizado de excitação para as listas fácil e difícil Reimpressa com a permissão de McLaughlin Eysenck 1967 p 131 tância da pele serviam como medidas dos níveis de excitação dos sujeitos O relacionamento entre as várias medidas confir maram solidamente o modelo de Eysenck Conforme predito os extrovertidos escolheram níveis de baru lho significativamente mais altos dos que os introver tidos Os introvertidos que selecionaram seus própri os níveis de barulho tinham os mesmos níveis de excitação dos introvertidos que receberam o nível de barulho selecionado pelo introvertido prévio igual mente os extrovertidos nas condições de escolha e de mesmo nível projetado não diferiam em excitação Portanto fazer uma escolha não afetou a excitação Os introvertidos que receberam o nível de ruído dos introvertidos ficaram mais excitados do que os extro vertidos que receberam o nível de ruído dos introver tidos e os introvertidos que receberam o nível de ba rulho dos extrovertidos ficaram mais excitados do que os extrovertidos que receberam o nível de ruído dos extrovertidos Isto é conforme Eysenck prediria a excitação era maior nos introvertidos do que nos ex trovertidos Na tarefa de aprendizagem os introverti dos que receberam o nível mais elevado de ruído dos extrovertidos levaram um tempo significativamente mais longo para aprender a tarefa do que os introver tidos que escolheram seu próprio nível ou do que os introvertidos que receberam um nível de ruído dos introvertidos Também existia a tendência nos extro vertidos que receberam o nível de ruído mais baixo dos introvertidos de apresentar um desempenho pior do que os extrovertidos que escolheram ou recebe ram um nível de ruído dos extrovertidos mas a dife rença não era estatisticamente significativa Tais resultados são altamente consistentes com o modelo de Eysenck mas existe certa ambigüidade porque não há maneira de dizer com esse planeja TEORIAS DA PERSONALIDADE 309 mento o que teria acontecido se os introvertidos ti vessem sido expostos a um nível de ruído mais baixo do que o preferido por eles ou se os extrovertidos tivessem sido expostos a um nível de ruído mais alto do que o preferido Geen eliminou a ambigüidade em seu segundo experimento Um quarto dos introverti dos e um quarto dos extrovertidos foram solicitados a selecionar seu nível de ruído preferido Além disso cada um dos introvertidos foi solicitado a indicar o nível de ruído mais baixo considerado aceitável e cada extrovertido foi solicitado a selecionar o nível de ruí do mais alto considerado aceitável Esse procedimen to estabeleceu quatro níveis de intensidade de ruído alto o nível mais alto aceitável pelos extrovertidos moderadamente alto o nível ótimo ou preferido pe los extrovertidos moderadamente baixo o nível pre ferido ou ótimo dos introvertidos e baixo o nível mais baixo aceitável pelos introvertidos As seis con dições restantes do experimento 2 de Geen consisti am em introvertidos designados para os três níveis de ruído diferentes daquele escolhido pelos introverti dos i e alto moderadamente alto e baixo e em extrovertidos designados para os três níveis de ruído não preferidos pelos extrovertidos i e alto mode radamente baixo e baixo Como no experimento 1 o nível de ruído preferi do pelos introvertidos era significativamente mais baixo do que o nível de ruído preferido pelos extro vertidos A Figura 99 apresenta os dados sobre a ex citação com base nos ritmos de pulsação Como no experimento 1 os níveis de excitação são mais altos para os introvertidos do que para os extrovertidos nos dois níveis de ruído intermediários mas a excitação é virtualmente idêntica para introvertidos e extroverti dos quando eles estão em seu nível preferido de esti mulação Além disso não existe nenhuma diferença de excitação entre introvertidos e extrovertidos nos níveis de ruído mais alto e mais baixo Em muitos as pectos essas duas curvas empíricas correspondem às curvas teóricas para introvertidos e extrovertidos no gráfico de inibição transmarginal de Eysenck A Tabe la 91 ver p 310 apresenta as tentativas médias em comparação com o critério para oito grupos na tarefa de aprendizagem de pares associados O desempenho foi melhor i e as tentativas médias em comparação com o critério de aprendizagem foram as mais bai xas quando introvertidos e extrovertidos estavam em seu nível de estimulação preferido Quando introver tidos e extrovertidos estão superestimulados ou su bestimulados seu desempenho se deteriora A única FIGURA 99 Ritmos médios de pulsação de introvertidos e extrovertidos experimento 2 Reimpressa com a permissão de Geen 1984 p 1309 310 HALL LINDZEY CAMPBELL exceção são os introvertidos na condição baixa quan do o desempenho foi pior do que no nível ótimo mas a diferença não atingiu significância Tomados como um todo os resultados de Geen apóiam solidamente as predições de Eysenck em relação às diferenças de excitação desempenho e preferência de estimulação entre introvertidos e extrovertidos PESQUISA ATUAL O modelo de Eysenck da personalidade proporcionou o ímpeto para vários outros programas de pesquisa impressivos Nós agora discutiremos dois deles os propostos por Gray e Zuckerman Gray Gray 1967 1972 1981 1982 1987 concorda com Eysenck que um espaço bidimensional captura gran de parte da variância na personalidade mas ele não aceita a extroversão e o neuroticismo como os eixos definidores desse espaço Em vez disso ele Gray 1981 propõe uma rotação de 45 graus nos eixos de Eysenck ver Figura 910 Os dois novos eixos resul tantes são a ansiedade que vai do quadrante extro vertido estável de Eysenck baixa ansiedade para o TABELA 91 Tentativas Médias em Comparação com o Critério Experimento 2 Condição de Ruído Extrovertidos Introvertidos Baixo 80ab 71bc Moderadobaixo 80ab 50c Moderadoalto 53c 89ab Alto 82ab 99a Nota Os elementos com subscritos comuns não são significativamente diferentes no nível de 005 por um teste de intervalo múltiplo de Duncan Fonte Reimpressa com a permissão de Geen 1984 p 1309 FIGURA 910 A modificação feita por Gray nos eixos de extroversãoneuroticismo de Eysenck Reimpressa com a permissão de Eysenck 1983 p 373 TEORIAS DA PERSONALIDADE 311 seu quadrante introvertido neurótico alta ansieda de e a impulsividade que vai do quadrante introver tido estável baixa impulsividade para o quadrante extrovertido neurótico alta impulsividade Os dois eixos de Gray também têm fundamentos neurológi cos e conseqüências comportamentais Os indivíduos ansiosos são altamente sensíveis a sinais de punição nãorecompensa e novidade O sistema fisiológico subjacente à ansiedade é o sistema de inibição com portamental BIS behavioral inhibition system O BIS consiste em um conjunto interatuante de estru turas compreendendo o sistema septohipocampal SHS septohippocampal system seus aferentes monoaminérgicos do tronco cerebral e sua projeção neocortical no lobo frontal Gray 1981 p 261 Em contraste os níveis crescentes de impulsividade refle tem uma crescente sensibilidade a sinais de recom pensa e de nãopunição O sistema neurológico subja cente à impulsividade é um sistema de ativação comportamental BAS behavioral activation system menos bemdefinido Da perspectiva de Gray a extro versão e o neuroticismo são conseqüências secundá rias das interações entre a ansiedade e a impulsivi dade Isto é os indivíduos nos quais o BIS é mais poderoso do que o BAS são introvertidos e os indiví duos nos quais o BAS é relativamente mais poderoso do que o BIS são extrovertidos Assim a EI reflete a força relativa dos dois sistemas O N no entanto re flete sua força conjunta um aumento na sensibilida de de qualquer sistema traz um aumento para o N 1981 p 261 Matematicamente as posições de Ey senck e Gray são equivalentes mas Gray argumenta que seu modelo é mais consistente com dados neuro lógicos e comportamentais Eysenck 1983 p 375 discorda concluindo que o apoio em favor do siste ma rotacional de Gray é decididamente frágil Ele aceitaria uma rotação de talvez 10 ou no máximo 15 graus mas não de 45 graus Interessantemente Gray 1981 afirma que o valor de 45 graus para a rotação pretendia ser apenas esquemático e há indicações de que uma rotação menor seria mais apropriada Zuckerman Kraft Joireman e Kuhlman 1996 p 3 relatam uma comunicação pessoal com Gray em que ele agora afirma que nunca pretendeu que a coloca ção dos eixos significasse uma relação de 45 graus com E e N mas reconheceu que a ansiedade está mais próxima do eixo N do que do eixo E extremidade baixa cerca de 30 graus e que a impulsividade está mais próxima do eixo E extremidade alta do que do eixo N Na verdade conforme revela a Figura 103 o modelo original de Eysenck relacionando E e N a ca racterísticas dos quatro temperamentos coloca ansi oso e impulsivo exatamente nessas localizações Há poucas razões para escolhermos entre os modelos de Eysenck e de Gray pelo menos em um nível descriti vo embora as descrições de Eysenck de agrupamen tos de traços associados aos tipos sejam um aspecto muito útil de seu modelo Os dois modelos realmente fazem predições diferentes Por exemplo Eysenck pre diz que os introvertidos apresentarão um condicio namento superior com um EI atraente ou recompen sador mas Gray prediz o oposto ver Brody 1988 para uma revisão comparativa Em vários pontos o aspecto mais interessante da alternativa de Gray é sua discussão da suscetibilidade às pistas de recompensa e punição como a caracterís tica comportamental subjacente nos indivíduos impul sivos e ansiosos Eysenck 1983 p 377 admite que esses estudos apóiam levemente uma visão vinculan do extroversão e suscetibilidade à recompensa e in troversão e suscetibilidade à punição A possibilida de de haver diferenças individuais confiáveis na sensibilidade a pistas de recompensa e punição gerou um corpo de pesquisa substancial nos últimos anos Por exemplo Bachorowski e Newman 1990 investi garam a interação entre ansiedade impulsividade e o tempo gasto em traçar círculos em condições de meta comportamental e ausência de meta Eles emprega ram uma versão modificada da teoria de Gray mas usaram os escores de extroversão e neuroticismo do EPQ para definir impulsividade e ansiedade Bacho rowski e Newman predisseram que quando os sujei tos fossem instruídos a traçar um círculo tão lenta mente quanto possível os impulsivos E N traçariam mais rapidamente do que os nãoimpulsi vos E N quando a tarefa incluísse uma meta com portamental concreta de uma linha sigapare Inver samente eles predisseram que os sujeitos ansiosos E N manifestariam uma inibição motora pior do que os sujeitos nãoansiosos E N em uma condição de ausência de meta que presumivelmente promove ria alguma incerteza Os resultados apoiaram as suas N de T EP em Psicofisiologia poderia ser incluído na relação inicial de siglas usadas na Figura efferent pathways vias eferentes ou VE 312 HALL LINDZEY CAMPBELL predições ver também Bachorowski Newman 1985 Wallace Newman Bachorowski 1991 Picke ring Diaz Gray 1995 Finalmente nós observa mos que Zinbarg e Revelle 1989 testaram hipóteses derivadas dos modelos de personalidade e condicio namento de Spence Eysenck Gray e Newman Os re sultados indicaram que a impulsividade e a ansieda de estão mais consistentemente e mais fortemente associadas a diferenças individuais de desempenho do que a extroversão e o neuroticismo Além disso o pa drão de resultados foi inconsistente com as teorias de Eysenck e Gray mas não com a de Newman Zuckerman Zuckerman 1978 1979 1983 1984 1989 1991 desenvolveu o modelo de um traço que chamou de busca de sensação A busca de sensação correlaciona se com as medidas de Eysenck de extroversão e psico ticismo mas Zuckerman afirma que esse traço não pode ser incluído na tipologia de Eysenck A busca de sensação tem quatro componentes de emoção e aven tura buscar sensações excitantes em atividades de ris co de experiências buscar excitamento por meio da mente dos sentidos e de um estilo de vida nãocon formista de desinibição buscar sensações pela esti mulação social e por meio de comportamentos desi nibitórios como beber e de suscetibilidade à monotonia evitar situações e atividades monótonas e tediosas Os escores na escala total da busca de sensação ou em suas subescalas apresentam relacionamentos signifi cativos com uma variedade de comportamentos como uso de drogas atividade sexual participar de espor tes perigosos e uma preferência por comidas estimu lantes Com base em achados como correlações ne gativas da busca de sensação com monoamino oxidase dopaminabetahidroxilase e noradrenalina Zucker man 1983 desenvolveu uma teoria biológica para explicar diferenças individuais na busca de sensação Em sua versão de 1984 do modelo a elevada busca de sensação está associada a baixos níveis de ativida de de noradrenalina ou excitabilidade Essas pessoas buscam estimulação para compensar seus níveis de noradrenalina mais baixos do que os níveis ótimos Nos últimos anos Zuckerman 1991 1995 Zu ckerman e colaboradores 1996 propôs um modelo psicobiológico geral ver Figura 911 adiante para explicar os traços na concepção de personalidade dos cinco fatores alternativos desenvolvida por ele Zu ckerman Kuhlman Joireman Teta Kraft 1993 O modelo propõe que traços biologicamente baseados de afeto positivo e de expectativa de recompensa ge neralizada são uma base para os componentes de so ciabilidade e de atividade do traço de extroversão e que os traços disfóricos particularmente a ansiedade e a expectativa de punição generalizada são subja centes ao neuroticismo emocionalidade geral A hostilidade está associada à agressão e juntas elas constituem um fator importante da personalidade no nosso modelo de cinco fatores Mas a hostilidade também está associada ao fator disfórico geral ou de emocionalidade negativa subjacente ao neuroticismo Segundo o meu modelo o principal mecanismo sub jacente ao traço de busca de sensação nãosocializada impulsiva ImpUSS é a desinibição vs inibição Esse traço descreve a tendência a responder com um com portamento de abordagem impulsiva na presença de sinais tanto de recompensa quanto de punição ou uma relativa insensibilidade a sinais de punição nessa situ ação Zuckerman e colaboradores 1996 p 12 Esse é um dos poucos modelos que promete rivalizar com o desenvolvido por Eysenck em termos de amplitude descritiva e de poder explanatório STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO O modelo de Hans Eysenck da personalidade tem três características definidoras Primeiro ele se baseia em uma descrição hierárquica do componente tempera mental da personalidade em termos de traços especí ficos mais as três dimensões tipológicas gerais de psi coticismo extroversão e neuroticismo Assim ele especifica um sistema descritivo tridimensional para a personalidade Além disso oferece testes escritos para medir as diferenças individuais nessas dimen sões Segundo Eysenck dá uma explicação causal para diferenças observadas nas três tipologias e seus tra ços componentes em termos de características neu rológicas subjacentes No domínio da introversãoex troversão por exemplo a característica fundamental ou genotípica é a quantidade de excitação cortical Isso gera um nível característico de sensibilidade à estimulação ambiental Dentro dos limites impostos pela inibição transmarginal a sensibilidade à estimu TEORIAS DA PERSONALIDADE 313 lação afeta o condicionamento a vigilância e várias outras tarefas No nível fenotípico ou observável os indivíduos podem ser escalados nos traços e tipos Segundo esse modelo biossocial o comportamento observado é uma função da interação entre os fatores biológicos e o ambiente ao qual o indivíduo está ex posto Terceiro o modelo de Eysenck é estruturado de uma maneira que permite testes experimentais de hipóteses derivadas e o próprio Eysenck estava com prometido com o processo científico de avaliar as teo rias em termos de seu grau de confirmação experi mental Os experimentos provocados pelo modelo de Eysenck não confirmaram uniformemente suas pro posições mas apoiaram claramente seu argumento de que uma teoria adequada da personalidade precisa incorporar todas as três características Independen temente do destino do seu modelo e isso representa uma realização e tanto Apesar dos aspectos positivos de sua teoria pre cisamos apontar vários problemas Primeiro as hipó teses derivadas da teoria nem sempre foram confir madas Além disso alguns pesquisadores trabalhando na tradição eysenckiana concluíram que certos efei tos preditos pela teoria dependem de variáveis adici onais como a hora do dia p ex Anderson Revelle 1994 Revelle e colaboradores 1980 Segundo Ey senck ocasionalmente faz suposições ad hoc para pre servar o modelo Terceiro a tentativa de especificar uma explicação biológica para as características feno típicas não foi inteiramente satisfatória e as explica ções estão se tornando obsoletas Por exemplo a ex citação não pode ser considerada uma variável fisiológica unitária Quarto a tentativa de explicar a socialização em termos da maior condicionabilidade dos introvertidos fica comprometida por modificações no modelo de 1967 que limita a vantagem de condi cionamento dos introvertidos a certas condições Além disso a primazia da estrutura tridimensional de Ey senck não foi demonstrada convincentemente Dada essa revisão dois sumários de Nathan Bro dy parecem adequados como conclusão Primeiro Parece para este autor que nenhum outro teórico da personalidade chegou mais perto de entender a forma que deve ter uma teoria da personalidade ge FIGURA 911 Modelo psicobiológico de Zuckerman da personalidade Noradre noradrenalina Adre adrenalina GABA ácido gamaaminobutírico MAO monoaminoxidase SSIMP busca de sensação impulsiva Reimpressa com a permissão de Zuckerman 1991 p 407 314 HALL LINDZEY CAMPBELL ralmente satisfatória 1972 p 70 Segundo Nos últimos 15 anos as inadequações empíricas da teoria biológica de Eysenck tornaramse mais manifestas mas ainda é verdade que praticamente não existe nenhu ma outra teoria rival de escopo comparável 1988 p 158 TEORIAS DA PERSONALIDADE 315 ÊNFASE NA REALIDADE PERCEBIDA Esta seção do livro trata de dois teóricos George Kelly e Carl Rogers Ambos foram descritos em momentos diversos como teóricos fenomenológicos cognitivos humanistas existenciais e inclusive como teóricos da aprendizagem embora eles próprios tenham repudiado esses rótulos O título da nossa seção derivase do fato de a questão central em ambas as teorias ser a maneira como o indivíduo usa sua experiência para construir ou interpretar a realidade à qual ele vai responder Essa ênfase está refletida na elevada pontuação que ambas as teorias recebem na Tabela 3 no item ambiente psicológico Na Tabela 3 também estão aparentes outras semelhanças TABELA 3 Comparação Dimensional de Teorias da Realidade Percebida Parâmetro Comparado Kelly Rogers Propósito A A Determinantes inconscientes M B Processo de aprendizagem M M Estrutura B B Hereditariedade B B Desenvolvimento inicial B B Continuidade B B Ênfase organísmica M A Ênfase no campo A A Singularidade M M Ênfase molar M A Ambiente psicológico A A Autoconceito B A Competência A B Afiliação grupal M M Ancoramento na biologia B B Ancoramento na ciência social M M Motivos múltiplos B B Personalidade ideal B A Comportamento anormal M M Nota A indica alto enfatizado M indica moderado e B indica baixo pouco enfatizado 316 HALL LINDZEY CAMPBELL entre Kelly e Rogers tais como a forte ênfase no propósito e no campo dentro do qual ocorre o comportamento mais uma relativa falta de ênfase em estrutura hereditariedade desenvolvimento inicial continuidade e biologia Além disso ambos os modelos incorporam uma crítica explícita às tradicionais abordagens à motivação Os motivos específicos são descartados como rótulos desnecessários sem nenhuma utilidade explanatória embora Rogers construa seu modelo em torno de uma força unitária que ele chama de tendência realizadora e o modelo de Kelly se baseie no motivo implícito de antecipar resultados com exatidão Em geral nós não examinamos estratégias terapêuticas neste texto mas vale a pena observar que Rogers e Kelly adotam posturas clínicas distintas Rogers é bemconhecido por sua abordagem centrada no cliente em que o terapeuta cria um ambiente nãoameaçador no qual o cliente se sente livre para explorar problemas e encontrar suas próprias respostas A abordagem de Kelly não é tão conhecida mas é igualmente distintiva Ele vê os neuróticos como maus cientistas presos a teorias sobre o mundo que levam a predições incorretas sobre as conseqüências de seu comportamento Ao contrário de Freud que enfatiza a fixação em um estágio desenvolvimental específico Kelly propõe que ficamos pendurados em modos de interpretar o mundo que simplesmente não funcionam Na verdade como logo veremos Kelly provavelmente é o teórico mais nãofreudiano deste livro Tanto Rogers quanto Kelly são otimistas na crença de que as pessoas não são vítimas de suas biografias e estão livres para escolher mudar Kelly chega ao ponto de sugerir que a personalidade é como uma muda de roupas se não serve direito troque por uma nova Sua terapia de papel fixo sugere alternativas enquanto oferece a segurança que permite às pessoas experimentarem novas roupas psicológicas Essas orientações terapêuticas levam a duas diferenças importantes entre Kelly e Rogers Primeiro o modelo de Rogers baseiase muito no autoconceito Ele descreve um projeto genético que nos predispõe a certas características e enfatiza o processo pelo qual o condicionamento social nos aliena do nosso verdadeiro self Kelly em claro contraste vê o self como um fenômeno muito mais fluido Segundo Rogers identifica determinadas características das personalidades sadias mas para Kelly ser sadio se reduz simplesmente a ser capaz de antecipar as conseqüências do comportamento Os dois capítulos que vêm a seguir examinam as duas teorias Nós também salientamos as numerosas semelhanças diferenças e redefinições de conceitos familiares que Kelly e Rogers oferecem No processo apresentamos as posições relacionadas de Kurt Lewin Kurt Goldstein e Abraham Maslow TEORIAS DA PERSONALIDADE 317 CAPÍTULO 10 A Teoria do Constructo Pessoal de George Kelly INTRODUÇÃO E CONTEXTO 318 K U R T L E W I N 319 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 319 O Espaço de Vida 320 Diferenciação 321 Conexões entre as Regiões 322 O Número de Regiões 323 A Pessoa no Ambiente 324 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 324 Energia 325 Tensão 325 Necessidade 325 Tensão e Ação Motora 326 Valência 326 Força ou Vetor 326 Locomoção 327 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 328 G E O R G E K E L L Y 329 HISTÓRIA PESSOAL 329 SUPOSIÇÕES BÁSICAS 331 Alternativismo Construtivo 331 HomemCientista 332 Foco no Constructor 333 Motivação 333 Ser Si Mesmo 334 CONSTRUCTOS PESSOAIS 334 Escalas 335 O POSTULADO FUNDAMENTAL E SEUS COROLÁRIOS 336 O CONTÍNUO DA CONSCIÊNCIA COGNITIVA 340 CONSTRUCTOS SOBRE MUDANÇA 340 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 341 PESQUISA ATUAL 343 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 344 318 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO As ciências mais antigas da física e da química com freqüência influenciaram o curso de ciências mais novas como a psicologia fornecendolhes maneiras de conceber e pensar sobre os fenômenos naturais À medida que novos pontos de vista se desenvolvem na física e na química é quase inevitável considerando a unidade básica de todas as ciências que eles sejam absorvidos pelas ciências menos maduras e aplicados em suas áreas especiais Não surpreende portanto que o conceito de campo da física iniciado pelo tra balho de Faraday Maxwell e Hertz sobre campos eletromagnéticos no século XIX e culminando na po derosa teoria de Einstein da relatividade no século XX tenha tido um impacto sobre o pensamento psi cológico moderno A primeira manifestação importante da influên cia da teoria física de campo sobre a psicologia apare ceu no movimento conhecido como psicologia da Ges talt iniciado por três psicólogos alemães Max Wertheimer Wolfgang Köhler e Kurt Koffka nos anos imediatamente precedentes à Primeira Guerra Mun dial O princípio mais importante da psicologia da Gestalt é que o comportamento é determinado pelo campo psicofísico que consiste em um sistema orga nizado de pressões ou tensões forças análogas a um campo gravitacional ou eletromagnético A nossa maneira de perceber um objeto por exemplo é de terminada pelo campo total em que o objeto está in serido Embora a psicologia da Gestalt seja uma teoria psicológica geral ela se ocupa primariamente da per cepção da aprendizagem e do pensamento e não da personalidade Mas Kurt Lewin criou uma teoria de campo da personalidade 1935 1936 1951 Apesar de profundamente influenciado pela psicologia da Ges talt e também pela psicanálise sua teoria é uma for mulação inteiramente original Nós começaremos con siderando brevemente a teoria de Lewin da persona lidade e depois trataremos de George Kelly cuja teo ria é o foco do capítulo Kurt Lewin TEORIAS DA PERSONALIDADE 319 KURT LEWIN Kurt Lewin nasceu em 9 de setembro de 1890 em uma pequena vila na província prussiana de Posen O segundo de quatro filhos seu pai possuía e adminis trava um loja que vendia todo tipo de mercadorias A família mudouse para Berlim em 1905 onde Lewin completou o ensino secundário Ele então ingressou na Universidade de Freiburg pretendendo estudar me dicina mas logo desistiu da idéia e depois de um se mestre na Universidade de Munique voltou a Berlim em 1910 para estudar psicologia na universidade de lá Ele foi aluno de Carl Stumpf um psicólogo experi mental extremamente respeitado Depois de obter seu doutorado em 1914 Lewin serviu no exército alemão por quatro anos na infantaria passando de soldado raso a tenente No final da guerra ele voltou à Uni versidade de Berlim como instrutor e assistente de pesquisa no Instituto Psicológico Max Wertheimer e Wolfgang Köhler dois dos três fundadores da psicolo gia da Gestalt também estavam na Universidade de Berlim na época Em 1926 Lewin foi promovido a professor Durante sua permanência na Universidade de Berlim Lewin e seus alunos publicaram uma série de brilhantes artigos experimentais e teóricos De Ri vera 1976 Quando Hitler subiu ao poder Lewin trabalhava como professorvisitante na Universidade de Stanford Ele voltou à Alemanha para encerrar seus negócios e depois retornou aos Estados Unidos onde residiu pelo restante de sua vida Ele lecionou psicologia da crian ça na Universidade de Cornell por dois anos 1933 1935 antes de ser chamado pela Universidade Esta dual de Iowa como professor de psicologia na Child Welfare Station Em 1945 Lewin aceitou o cargo de professor e diretor do Research Center for Group Dy namics no Instituto de Tecnologia de Massachusetts Na mesma época ele se tornou diretor da Commissi on of Community Interrelations of the American Jewish Congresss engajandose na pesquisa de problemas da comunidade Ele morreu de ataque cardíaco subita mente em Newtonville Massachusetts em 12 de fe vereiro de 1947 aos 56 anos de idade As principais características da teoria de campo de Lewin podem ser resumidas conforme segue 1 o comportamento é uma função do campo que existe no momento em que ocorre o comportamento 2 a análise começa com a situação como um todo a par tir do qual as partes componentes são diferenciadas e 3 a pessoa concreta em uma situação concreta pode ser representada matematicamente Lewin também enfatizou forças subjacentes necessidades como de terminantes do comportamento e expressou uma pre ferência por descrições psicológicas não físicas ou fi siológicas do campo Um campo é definido como a totalidade de fatos coexistentes que são concebidos como mutuamente interdependentes Lewin 1951 p 240 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE O primeiro passo para definir a pessoa como um con ceito estrutural é representála como uma entidade separada de tudo o mais no mundo Essa separação pode ser feita em palavras como em uma definição de dicionário ou por uma representação espacial da pessoa Já que as representações espaciais podem ser tratadas matematicamente e as definições verbais não Lewin preferiu definir espacialmente os seus concei tos estruturais Dessa maneira ele tentou matemati zar seus conceitos desde o início A separação da pessoa do resto do universo é rea lizada desenhandose uma figura fechada As frontei ras da figura definem os limites da entidade conheci da como a pessoa Tudo o que está dentro das fronteiras é P a pessoa tudo o que está fora das fronteiras é nãoP O passo seguinte na representação da realidade psicológica é desenhar uma outra figura fechada mai or que circunda a pessoa A forma e o tamanho dessa figura circundante não são importantes uma vez que ela preenche as duas condições ser maior do que a pessoa e circundála Para essa representação Lewin preferia uma figura de forma levemente elíptica Tam bém é necessária uma outra qualificação A nova fi gura não pode compartilhar qualquer parte da fron teira do círculo que representa a pessoa Deve haver um espaço entre a fronteira da pessoa e a fronteira da figura maior Com exceção dessa restrição o círculo pode ser colocado em qualquer lugar dentro da elip se Os tamanhos relativos das duas formas não são importantes 320 HALL LINDZEY CAMPBELL Nós agora temos o desenho de um círculo circun dado por uma elipse que não chega a tocar nele Fi gura 101 A região entre os dois perímetros é o am biente psicológico A A área total dentro da elipse incluindo o círculo é o espaço de vida V O espaço dentro da elipse representa os aspectos nãopsicoló gicos do universo Por uma questão de conveniência chamaremos essa região de mundo físico embora ela não se restrinja apenas a fatos físicos No mundo não psicológico por exemplo também existem fatos soci ais O Espaço de Vida Embora nós tenhamos começado com a pessoa e de pois tenhamos a cercado com um ambiente psicológi co estaria mais de acordo com a regra de Lewin de ir do geral para o particular se tivéssemos começado com o espaço de vida e diferenciadoo da pessoa e do am biente Com efeito o espaço de vida é o universo do psicólogo é o todo da realidade psicológica Ele con tém a totalidade de fatos possíveis capazes de deter minar o comportamento de um indivíduo Ele inclui tudo o que precisa ser conhecido para se compreen der o comportamento concreto de um determinado ser humano em um ambiente psicológico específico em dado momento O comportamento é uma função do espaço de vida C fV A tarefa da psicologia dinâmica é derivar inequivocamente o comportamento de um determinado indivíduo da totalidade dos fatos psicológicos que existem no espaço de vida em um dado momento Lewin 1936 O fato de o espaço de vida ser cercado pelo mun do físico não significa que ele seja uma parte do mun do físico O espaço de vida e o espaço além dele são regiões diferenciadas e separadas de uma totalidade maior A possibilidade dessa totalidade maior o uni verso ser finita ou infinita caos ou cosmos não pre ocupa a psicologia exceto em um aspecto muito im portante Os fatos que existem na região externa e adjacente à fronteira do espaço de vida uma região que Lewin chama de o invólucro exterior do espaço de vida podem influenciar materialmente o ambien te psicológico Isto é os fatos nãopsicológicos podem alterar e realmente alteram os fatos psicológicos Lewin sugeriu chamar o estudo dos fatos no invólucro exte rior de ecologia psicológica 1951 Capítulo VIII O primeiro passo em uma investigação psicológica é es tabelecer a natureza dos fatos que existem na frontei ra do espaço de vida uma vez que eles ajudam a de terminar o que é e o que não é possível o que pode ou não acontecer no espaço de vida Os fatos no ambiente psicológico também podem produzir mudanças no mundo físico Existe uma co municação bidirecional entre as duas esferas Conse qüentemente dizemos que a fronteira entre o espaço de vida e o mundo externo tem a propriedade de per meabilidade As implicações de uma fronteira perme ável entre o espaço de vida e o mundo físico são de extrema importância Uma vez que um fato no mun do nãopsicológico pode mudar radicalmente todo o curso de eventos no espaço de vida a predição ape nas a partir de leis psicológicas geralmente é ineficaz Nunca podemos ter certeza antecipadamente de que um fato do invólucro exterior não vai penetrar na fron teira do espaço de vida e virar tudo de pernas para o ar no ambiente psicológico Um encontro casual um telefonema inesperado ou um acidente de automóvel podem mudar o curso de vida de uma pessoa Portan to como Lewin enfatiza é melhor o psicólogo tentar compreender a situação psicológica momentânea concreta descrevendoa e explicandoa em termos teóricos de campo do que tentando predizer como uma pessoa vaise comportar em um momento futuro Uma outra propriedade do espaço de vida deve ser destacada Embora a pessoa esteja cercada pelo FIGURA 101 TEORIAS DA PERSONALIDADE 321 ambiente psicológico ela não é uma parte dele nem está incluída nele O ambiente psicológico termina no perímetro do círculo exatamente como o mundo não psicológico termina no perímetro da elipse Entretan to a fronteira entre a pessoa e o ambiente também é uma fronteira permeável Isso significa que os fatos ambientais podem influenciar a pessoa P f A e que os fatos pessoais podem influenciar o ambiente A fP Antes de examinar a natureza dessa influên cia precisamos fazer uma outra diferenciação dentro da estrutura da pessoa e do ambiente Diferenciação Até este ponto a pessoa foi representada como um círculo vazio A representação seria apropriada se a pessoa fosse uma unidade perfeita o que ela não é Lewin afirmava que a estrutura da pessoa é heterogê nea não homogênea que ela está subdividida em partes separadas mas intercomunicantes Para repre sentar essa situação a área dentro do círculo é dividi da em zonas O procedimento é o seguinte Primeiro dividir a pessoa em duas partes desenhando um círculo con cêntrico dentro do círculo maior A parte externa re presenta a região perceptualmotora PM a parte central representa a região intrapessoal A região in trapessoal está completamente cercada pela área per ceptualmotora de modo que ela não tem nenhum contato direto com a fronteira que separa a pessoa do ambiente O segundo passo é dividir a região intra pessoal em células Figura 102 As células adjacen tes à região perceptualmotora são chamadas de célu las periféricas p as que estão no centro do círculo são chamadas de células centrais c Em essência a pessoa é definida como uma re gião diferenciada no espaço de vida Agora vamos examinar o ambiente psicológico Um ambiente ho mogêneo ou indiferenciado é aquele em que todos os fatos são igualmente influentes sobre a pessoa Nesse ambiente a pessoa teria perfeita liberdade de movi mento uma vez que não haveria nenhuma barreira para impedila Essa completa liberdade de movimento obviamente não representa o verdadeiro estado de coisas Portanto é necessário subdividir o ambiente em regiões parciais ver Figura 103 p 322 Existe uma diferença entre a diferenciação do ambiente e a diferenciação da pessoa Não é necessá rio distinguir tipos diferentes de regiões ambientais O ambiente não contém nada comparável a uma ca mada perceptualmotora ou a uma esfera intrapesso al Todas as regiões do ambiente são semelhantes Mas devemos salientar que na representação concreta de uma pessoa específica em uma situação psicológica concreta e em um determinado momento devem ser conhecidos o número exato e as posições relativas das subregiões ambientais bem como o número exato e as posições relativas da esfera intrapessoal se quiser mos compreender o comportamento Uma análise es trutural completa e acurada revela a totalidade dos fatos psicológicos possíveis na situação momentânea Uma análise dinâmica o tópico da próxima seção deste capítulo nos diz quais dos fatos possíveis vão real mente determinar o comportamento FIGURA 102 322 HALL LINDZEY CAMPBELL FIGURA 103 Conexões entre as Regiões O espaço de vida está agora representado por uma pessoa diferenciada cercada por um ambiente dife renciado Tal diferenciação foi feita desenhandose li nhas que servem como fronteiras entre as regiões Mas não pretendemos que essas fronteiras representem barreiras impenetráveis que dividem a pessoa e o ambiente em regiões independentes e desconectadas A permeabilidade como já salientamos é uma das propriedades de uma fronteira Sendo assim o espa ço de vida consiste em uma rede de sistemas interco nectados O que queremos dizer com regiões conectadas Para responder a esta pergunta vamos supor que cada uma das subregiões do ambiente contém um fato psicológico e que o mesmo fato não aparece em mais de uma região ao mesmo tempo O uso que Lewin faz da palavra fato neste contexto pode soar estranho para alguns ouvidos Um fato para Lewin não é ape nas alguma coisa observável como uma cadeira ou um jogo de futebol é também alguma coisa que tal vez não seja diretamente observável mas que pode ser inferida a partir de algo observável Em outras palavras existem fatos empíricos e fenomenais e fa tos hipotéticos ou dinâmicos Qualquer coisa quer sentida quer inferida é um fato aos olhos de Lewin Um evento por outro lado é o resultado da interação de vários fatos Uma cadeira e uma pessoa são fatos mas uma pessoa sentandose em uma cadeira é um evento Dizemos que duas regiões estão conectadas quando um fato em uma região está em comunicação com um fato em outra região Por exemplo dizemos que uma pessoa está conectada com o ambiente por que um fato contido nele pode alterar modificar des locar intensificar ou minimizar os fatos dentro da pes soa Em linguagem comum o ambiente pode mudar a pessoa e viceversa Lewin também diz que duas regiões estão conectadas quando os fatos de uma re gião são acessíveis aos fatos de outra região A acessi bilidade é o equivalente espacial da influência O nosso problema imediato então é como repre sentar a extensão da influência ou a acessibilidade entre as regiões Há várias maneiras de fazer isso Uma delas é colocar as regiões próximas quando a influên cia de uma sobre a outra é grande e colocálas sepa radas quando a influência é fraca A influência dimi nui à medida que o número de regiões intervenientes diminui Esse tipo de representação pode ser chama do de dimensão proximidadedistância Duas regiões podem estar muito próximas inclu sive compartilhar uma fronteira comum e no entan to não influenciar ou ser acessível uma à outra O grau de conexão ou interdependência não é apenas uma questão do número de fronteiras que precisa ser cruzado mas também depende da força da resistên cia oferecida pela fronteira A resistência de uma fron teira ou sua permeabilidade é representada pela lar gura da linha da fronteira Uma linha muito fina representa uma fronteira frágil uma linha grossa re presenta uma fronteira impermeável Esse tipo de re presentação pode ser chamado de dimensão firmeza fragilidade Uma terceira maneira de representar as interco nexões entre as regiões é levar em conta a natureza do meio de uma região O meio de uma região é a qualidade de sua superfície Lewin distinguiu várias propriedades do meio a mais importante das quais é a dimensão de fluidezrigidez Um meio fluido é aque le que responde rapidamente a qualquer influência agindo sobre ele É flexível e maleável Um meio rígi do resiste à mudança É duro e inelástico Duas regi TEORIAS DA PERSONALIDADE 323 ões que estão separadas uma da outra por uma região cuja qualidade de superfície é extremamente rígida não poderão comunicarse É semelhante a uma pes soa tentando cruzar um pântano ou atravessar uma mata cerrada Utilizando os conceitos de proximidadedistância firmezafragilidade e fluidezrigidez podemos repre sentar a maioria das conexões possíveis no espaço de vida Esses mesmos conceitos se aplicam também à pes soa Por exemplo uma pessoa inacessível está firme mente separada do ambiente por uma parede grossa A Figura 104 ver acima retrata uma pessoa com plexamente estruturada As células p1 e p2 estão es treitamente conectadas enquanto p2 e p3 estão sepa radas uma da outra por uma fronteira impermeável A região c tem pouca ou nenhuma acessibilidade a qualquer outra região É como se essa área estivesse dissociada do restante da pessoa A célula quadricula da é impenetrável à influência devido à qualidade túr gida de sua superfície enquanto a área cinzenta é fa cilmente influenciada A região p4 está remotamente conectada com p1 p2 e p3 A Figura 105 retrata um ambiente psicológico complexamente estruturado Devemos lembrar que esses desenhos represen tam situações momentâneas Não existe nada de fixo ou estático neles que mudam constantemente em re sultado de forças dinâmicas Não podemos caracteri zar a pessoa como sendo de uma determinada manei ra por um longo período de tempo Uma fronteira firme pode dissolverse subitamente uma fronteira frágil pode enrijecerse As regiões distantes podem aproximarse Um meio rígido se suaviza enquanto um meio flexível endurece Mesmo o número de regi ões pode aumentar ou diminuir de momento a mo mento Conseqüentemente as representações espaci ais estão continuamente tornandose obsoletas porque a realidade psicológica está sempre mudando Lewin não se interessava muito por traços fixos hábitos rígi dos ou outras constantes da personalidade Os con ceitos desse tipo são característicos do pensamento aristotélico que Lewin deplorava 1935 Capítulo 1 O Número de Regiões O número de regiões no espaço de vida é determina do pelo número de fatos psicológicos separados que existem em um dado momento do tempo Quando há FIGURA 104 FIGURA 105 324 HALL LINDZEY CAMPBELL apenas dois fatos a pessoa e o ambiente existem ape nas duas regiões no espaço de vida Se o ambiente contém dois fatos por exemplo o fato do jogar e o fato do trabalhar então o ambiente tem de ser dividi do em uma área de jogar e em uma área de trabalhar Se existem vários tipos diferentes de fatos de jogar por exemplo o fato de jogar futebol o fato de jogar xadrez e o fato de jogar dardos então a área de jogar deve ser dividida em tantas subregiões quantos são os fatos de jogar Da mesma forma pode haver dife rentes tipos de fatos de trabalho cada um dos quais deve ter sua região separada O número de regiões na pessoa também é determinado pelo número de fatos pessoais existentes Se só existe o fato de sentir fome a esfera intrapessoal consistirá apenas em uma região Mas se além do fato da fome também existir a ne cessidade de terminar um determinado trabalho a região intrapessoal tem de ser dividida em duas regi ões Como veremos mais adiante os principais fatos da região intrapessoal são chamados de necessidades enquanto os fatos do ambiente psicológico são cha mados de valências Cada necessidade ocupa uma cé lula separada na região intrapessoal e cada valência ocupa uma região separada no ambiente psicológico A Pessoa no Ambiente Anteriormente quando discutimos a colocação da pessoa no ambiente dissemos que não fazia diferen ça onde o círculo era colocado dentro da elipse desde que suas duas fronteiras não se tocassem Isso vale apenas para um ambiente indiferenciado homogêneo onde todos os fatos estão na mesma região isto é onde todos os fatos são idênticos Assim que o ambi ente se diferencia em regiões separadas por frontei ras o lugar onde colocamos o círculo faz uma consi derável diferença Em qualquer região que o coloquemos os fatos dessa região estão mais próxi mos da pessoa e têm maior influência sobre ela do que os fatos de qualquer outra região O entendimen to de uma situação psicológica concreta requer por tanto que saibamos onde a pessoa está em seu ambi ente psicológico Fisicamente a pessoa pode estar sentada em uma sala de aula mas psicologicamente estar jogando beisebol no playground Alguns fatos que existem na sala de aula como aquilo que a professora está falando podem não causar nenhum efeito sobre um garoto ao passo que um bilhete da menina da mesa ao lado pode facilmente desviar seu pensamen to do jogo de beisebol A maneira como as regiões que constituem o es paço de vida estão interconectadas representa o grau de influência ou acessibilidade entre as regiões Exa tamente como se expressa essa influência ou acessibi lidade No exemplo anterior do garoto que é acessí vel ao bilhete da menina mas é inacessível ao que a professora está dizendo acessibilidade significa que o menino pode passar mais facilmente para a região da menina do que para a região da professora Quan do a menina realiza a ação de passar um bilhete para o menino ele pode sair da região do beisebol e entrar na região dela Ele fez o que Lewin chama de locomo ção As duas regiões estão estreitamente conectadas acessíveis uma à outra e mutuamente influentes se locomoções podem ser feitas facilmente entre elas Uma locomoção no ambiente psicológico não sig nifica que a pessoa tenha de fazer um movimento físi co através do espaço de fato a maioria das locomo ções que interessam à psicologia envolve muito pouco movimento físico Existem locomoções sociais como juntarse a um clube locomoções profissionais como ser promovido locomoções intelectuais como resol ver um problema e muitos outros tipos Nós vemos agora que uma propriedade importante do ambiente psicológico é ele ser uma região em que a locomoção é possível Podemos tratar todas as coi sas como um ambiente no qual rumo ao qual ou para longe do qual a pessoa como um todo pode realizar locomoções Lewin 1936 p 167 Ao realizar uma locomoção a pessoa segue por um caminho através do ambiente A direção do caminho e as regiões atra vés das quais ele passa são determinadas em parte pela força das fronteiras e pela fluidez das regiões e em parte por fatores dinâmicos que serão discutidos mais adiante Vamos examinar agora alguns conceitos dinâmi cos de Lewin que tomados juntos constituem o que ele chama de psicologia de vetor A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Uma representação estrutural do espaço de vida é como um mapa de estrada Um bom mapa de estrada contém todas as informações necessárias para plane jarmos qualquer tipo de viagem exatamente como uma boa representação estrutural de pessoas e de seu TEORIAS DA PERSONALIDADE 325 ambiente contém todos os fatos necessários para ex plicarmos qualquer tipo possível de comportamento Mas assim como um mapa de estrada não pode nos dizer que viagem a pessoa vai querer fazer um qua dro detalhado do espaço de vida também não nos dirá como a pessoa vaise comportar Os conceitos estru turais ou tipológicos sozinhos não conseguem expli car o comportamento concreto em uma situação psi cológica real Para esse tipo de entendimento precisamos de conceitos dinâmicos Os principais con ceitos dinâmicos de Lewin são energia tensão neces sidade valência e força ou vetor Energia Lewin como a maioria dos teóricos da personalida de supõe que a pessoa é um sistema complexo de energia O tipo de energia que realiza o trabalho psi cológico é chamado de energia psíquica Uma vez que a teoria de Lewin tem um caráter exclusivamente psi cológico não é necessário que ele trate da questão da relação da energia psíquica com outros tipos de ener gia A energia psíquica é liberada quando o sistema psíquico a pessoa tenta voltar ao equilíbrio depois de ter sido arremessado a um estado de desequilíbrio O desequilíbrio é produzido por um aumento da ten são em uma parte do sistema relativo ao restante do sistema como resultado de estimulação externa ou de mudança interna Quando a tensão em todo o sis tema fica novamente equilibrada a saída de energia é interrompida e o sistema total entra em repouso Tensão A tensão é um estado da pessoa ou falando mais pre cisamente é um estado de uma região intrapessoal relativo a outras regiões intrapessoais Quando Lewin se referiu às propriedades dinâmicas de uma região ou célula da esfera intrapessoal ele chamou a região de sistema A tensão em um determinado sistema tende a igua larse à quantidade de tensão em sistemas circundan tes cf o princípio de entropia de Carl Jung Os mei os psicológicos pelos quais a tensão se equaliza são chamados de processos Um processo pode ser pensar lembrar sentir perceber agir ou algo parecido Por exemplo uma pessoa que se depara com a tarefa de resolver um problema fica tensa em um de seus siste mas Para resolver o problema e assim reduzir a ten são ela se empenha no processo de pensar O proces so de pensar continua até ser encontrada uma solução satisfatória momento em que a pessoa retorna a um estado de equilíbrio Quando a intenção pode ser lem brar um nome o processo de memória entra em ação lembra o nome e faz com que a tensão desapareça Necessidade O aumento de tensão ou a liberação de energia em uma região intrapessoal é causado pelo surgimento de uma necessidade Uma necessidade pode ser uma condição fisiológica como fome sede ou sexo pode ser um desejo de alguma coisa como um emprego ou um cônjuge ou pode ser uma intenção de fazer algu ma coisa como concluir uma tarefa ou cumprir um compromisso Uma necessidade é portanto um con ceito motivacional e equivale a termos como motivo desejo pulsão e impulso Lewin evitou sistematicamente discutir a nature za a fonte o número e os tipos de necessidades por que ele não estava nem um pouco satisfeito com o conceito Ele achava que o termo necessidade acabaria sendo trocado na psicologia por um conceito mais adequado mais observável e mensurável Ele também não achava importante fazer uma lista de necessida des como tantos psicólogos fazem Em primeiro lu gar a lista seria quase infinitamente longa e em se gundo lugar o único elemento que realmente importa na descrição da realidade psicológica é representar aquelas necessidades que realmente existem na situa ção momentânea Elas são as únicas necessidades que estão produzindo efeitos Em um nível abstrato po demos dizer que todo mundo pode sentir fome mas só quando a pulsão de fome está realmente pertur bando o equilíbrio da pessoa é que ela precisa ser le vada em conta Lewin também distinguiu as necessidades das quasenecessidades Uma necessidade se deve a um estado interno como a fome enquanto uma quase necessidade é equivalente a uma intenção específica como satisfazer a fome comendo em um determina do restaurante Lewin achava que as necessidades de uma pessoa são determinadas em grande extensão pelos fatores sociais 1951 p 289 326 HALL LINDZEY CAMPBELL Tensão e Ação Motora Até o momento nos preocupamos principalmente com a dinâmica interna dos sistemas de tensão isto é com a interdependência e a comunicação dinâmica entre sistemas Qual é a relação da tensão com a ação Po deríamos conjecturar que a energia fluindo de uma região intrapessoal para a motora resultaria direta mente em uma locomoção psicológica Mas Lewin re jeitou essa idéia A tensão pressionando sobre a fron teira exterior da pessoa não pode causar uma loco moção Portanto em vez de ligar a necessidade ou a tensão diretamente à ação por meio da ação motora ele ligou a necessidade a certas propriedades do am biente que então determinam o tipo de locomoção que vai ocorrer Essa é uma maneira muito engenhosa de conectar a motivação ao comportamento Dois conceitos adicionais são necessários para tal propósito valência e força Valência A valência é a propriedade conceitual de uma região do ambiente psicológico É o valor daquela região para a pessoa Existem dois tipos de valor positivo e nega tivo Uma região de valor positivo é aquela que con tém um objetometa que reduzirá a tensão quando a pessoa entrar na região Por exemplo uma região que contenha comida terá uma valência positiva para uma pessoa que está com fome Uma região de valor nega tivo é aquela que vai aumentar a tensão Para uma pessoa que tem medo de cachorros qualquer região que contenha um cachorro terá uma valência negati va As valências positivas atraem as valências negati vas repelem Uma valência está coordenada com uma necessi dade Isso significa que o fato de uma determinada região do ambiente ter um valor positivo ou negativo depende diretamente de um sistema em um estado de tensão As necessidades conferem valores ao am biente Elas organizam o ambiente em uma rede de regiões convidativas e repelentes Mas a rede de va lências também depende de fatores exteriores que fo gem do escopo das leis psicológicas A presença ou a ausência dos objetos dos quais precisamos obviamen te desempenha um papel importante na estruturação do ambiente psicológico O fato de a comida estar pre sente e ser reconhecível que tipo de comida ela é e em que quantidade sua disponibilidade e sua proxi midade em relação a objetos que possuem valência negativa todos esses são fatores nãopsicológicos que influenciam a valência de uma região para uma pes soa que está com fome Uma valência é uma quantidade variável ela pode ser fraca média ou forte A força de uma valência depende da força da necessidade mais todos os fato res nãopsicológicos mencionados antes Uma valência não é uma força Ela dirige a pes soa através de seu ambiente psicológico mas não pro porciona a força motivadora para a locomoção Como já vimos um sistema em um estado de tensão tam bém não produz uma locomoção Precisamos de um outro conceito que é o conceito de força ou vetor Força ou Vetor Ocorre uma locomoção sempre que uma força de po tência suficiente age sobre a pessoa Uma força está coordenada com uma necessidade mas não é uma tensão A força existe no ambiente psicológico en quanto a tensão é uma propriedade de um sistema intrapessoal As propriedades conceituais da força são direção potência e ponto de aplicação Essas três proprieda des são representadas matematicamente por um ve tor A direção para a qual esse vetor aponta represen ta a direção da força o comprimento do vetor representa a potência da força e o lugar onde a ponta da flecha se insere na fronteira externa da pessoa re presenta o ponto de aplicação Um vetor é sempre desenhado no lado de fora da pessoa e nunca dentro porque as forças psicológicas são propriedades do ambiente e não da pessoa Se existe apenas um vetor força agindo sobre uma pessoa haverá uma locomoção ou uma tendên cia a moverse na direção do vetor Se dois ou mais vetores estão empurrando a pessoa em várias dire ções diferentes a locomoção conseqüente será o re sultante de todas as forças Agora podemos ver a relação da valência com o vetor Uma região que possui uma valência positiva é uma região em que as forças que agem sobre a pessoa estão dirigidas para essa região Uma região de valên cia negativa é aquela em que os vetores estão apon tando na direção oposta Em outras palavras a dire ção de um vetor é diretamente determinada pela TEORIAS DA PERSONALIDADE 327 localização de uma região com valência positiva ou negativa A potência de um vetor está relacionada à potência de uma valência à distância psicológica en tre a pessoa e a valência e à potência relativa de ou tras valências Podemos observar entre parênteses que o con ceito de necessidade é o único conceito com o qual todos os outros constructos dinâmicos estão coorde nados Uma necessidade libera energia aumenta a tensão confere valor e cria força É o conceito central ou nuclear de Lewin em torno do qual se agrupam todos os outros conceitos Locomoção Agora estamos em posição de representar o caminho específico que uma pessoa fará ao moverse através de seu ambiente psicológico Por exemplo uma cri ança passa diante de uma confeitaria olha a vitrine e fica com vontade de comer um doce A visão do doce desperta uma necessidade e essa necessidade dá iní cio a três estados Ela libera energia e então desper ta tensão em uma região intrapessoal o sistema que quer doce Ela confere uma valência positiva à re gião em que o doce está localizado Ela cria uma força que empurra a criança na direção do doce Digamos que a criança tem de entrar na confeita ria e comprar o doce Essa situação está representada na Figura 106 ver acima Mas suponhamos que a criança não tem dinheiro então a fronteira entre ela e o doce será uma barreira intransponível Ela vaise aproximar o máximo possível do doce talvez encos tando o nariz no vidro sem conseguir alcançálo Fi gura 107 Ela pode dizer a si mesma Se eu tivesse dinhei ro poderia comprar um doce Talvez a mamãe me dê algum dinheiro Em outras palavras é criada uma nova necessidade ou quasenecessidade a intenção de conseguir algum dinheiro com a mãe Essa inten ção por sua vez desperta uma tensão um vetor e uma valência que estão representados na Figura 108 ver p 328 Foi desenhada uma estreita fronteira en tre a criança e a mãe a partir da suposição de que ela precisa ir para casa encontrar a mãe e pedirlhe di nheiro Uma outra fronteira foi desenhada entre a mãe e o doce para representar o esforço necessário para voltar à confeitaria e fazer a compra A criança vai ao doce por intermédio da mãe FIGURA 106 FIGURA 107 328 HALL LINDZEY CAMPBELL Se a mãe se recusar a dar dinheiro à criança ela pode pensar em pedir emprestado a uma amiga Nes se caso a região que contém a mãe fica cercada por uma barreira impenetrável e é feito um novo cami nho ligando a região que contém a amiga e a região em que se encontra o doce Figura 109 Essa representação topológica poderia ser com plicada interminavelmente pela introdução de novas regiões ambientais de fronteiras com graus variados de firmeza e de necessidades adicionais com seus sis temas de tensão valências e vetores coordenados O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Embora Lewin não rejeitasse a idéia de que a heredi tariedade e a maturação desempenham um papel no desenvolvimento em nenhum momento ele discutiu com detalhes sua possível influência e também não lhes atribuiu um lugar em suas representações con ceituais Isso está de acordo com a preferência de Lewin por uma teoria puramente psicológica Uma vez que a hereditariedade e a maturação situamse no domínio dos fatos biológicos e portanto existem fora do espaço de vida juntamente com os fenômenos físi cos e sociais Lewin as ignorou O desenvolvimento para ele é um processo contínuo em que é difícil re conhecer estágios separados Lewin também acredi tava que uma escala de idade para descrever o desen volvimento não é realmente adequada para se compreender o crescimento psicológico A escala de idade terá eventualmente de ser abandonada em fa vor de graus de diferenciação organização integra ção e assim por diante Além disso a psicologia preci sa dedicarse à tarefa de descobrir os fatos coexistentes e dinamicamente relacionados que representam as condições para a mudança no momento em que ela ocorre Não basta dizer que a criança de seis anos de idade pratica ações que a de três não Precisamos ex plicar a mudança usando os conceitos da teoria de campo FIGURA 108 FIGURA 109 TEORIAS DA PERSONALIDADE 329 GEORGE KELLY A essência da abordagem da Gestalt incluindo a abor dagem gestáltica de Lewin à personalidade é a supo sição de que o comportamento é uma função do cam po no qual ocorre o comportamento O espaço de vida ou a realidade psicológica do indivíduo é o que de termina seu comportamento De maneira muito se melhante a abordagem de George Kelly à personali dade baseiase na suposição de que os indivíduos constroem a realidade à qual respondem e a resposta está baseada no uso que o indivíduo faz de sua expe riência em contextos prévios similares para antecipar as conseqüências do comportamento Apesar da se melhança óbvia entre as abordagens de Lewin e de Kelly logo se tornam aparentes as diferenças básicas Por exemplo Kelly fez uma suposição crítica crucial de que os seres humanos tentam antecipar acurada mente as conseqüências de suas ações na verdade essa busca tornase a marca registrada do funciona mento sadio Além disso o comportamento é quase uma reflexão posterior para Kelly ao passo que Lewin descreve detalhadamente as forças e os vetores Da mesma forma Kelly não achava importante discutir as necessidades específicas ou os outros motivos A construção da realidade ou interpretação nos ter mos de Kelly baseiase no sistema de constructos pes soais bipolares desenvolvido pelo indivíduo A perso nalidade por sua vez deve ser compreendida em termos dos sistemas de constructos distintivos dos in divíduos isto é a personalidade reflete diferenças individuais nas tendências de interpretação e não nas tendências de comportamento Essa abordagem sin gular requer uma redefinição de vários conceitos psi cológicos familiares A linguagem de Kelly pode ser difícil de compreender mas o valor heurístico de seu modelo merece o esforço do aluno HISTÓRIA PESSOAL Maher 1969 oferece uma breve biografia da vida de Kelly e o leitor também pode procurar Sechrest 1977 e o obituário escrito por Thompson 1968 O que se segue está baseado nessas três fontes George Kelly nasceu em 28 de abril de 1905 em uma fazenda pró xima de Perth Kansas Seu pai fora educado para ser ministro mas mudouse para essa fazenda logo de pois de seu casamento A escolarização inicial de Ke lly foi irregular mas seus pais supriam a educação dos filhos em casa Eles finalmente decidiram mandálo para Wichita para cursar o ensino médio e ele morou longe de casa a maior parte do tempo depois dos 13 anos Kelly passou três anos na Friends University uma escola Quaker e formouse com um B A em física e em matemática no Park College em 1926 Ele preten dia estudar engenharia mecânica mas seu crescente interesse pelos problemas sociais estimulado por sua participação em debates entre escolas levouo a estu dar sociologia educacional na Universidade de Kan sas Recebeu seu MA em 1928 com uma tese de mestrado sobre a distribuição das atividades no tem po de lazer entre os trabalhadores de Kansas City Após um período de tempo em que ensinou matérias varia das e experimentou ser um engenheiro aeronáutico Kelly recebeu uma bolsa de estudo de intercâmbio em 1929 Ele viajou para a Universidade de Edinbur go onde recebeu o grau de bacharel em educação em 1930 Kelly então voltou aos Estados Unidos onde se matriculou em um programa de graduação em psico logia na Universidade Estadual de Iowa Ele recebeu seu PhD depois de apenas um ano e casouse com Gladys Thompson dois dias depois da formatura No outono de 1931 Kelly foi para o Fort Hays Kansas State College onde ficou por treze anos Foi durante esse período que ele se voltou para a psicolo gia clínica e conseguiu apoio legislativo para estabe lecer um programa de clínicas itinerantes que lhe permitiu atender estudantes perturbados nas escolas de todo o estado e desenvolver novas abordagens de problemas clínicos Kelly publicou uma série de seis artigos sobre questões clínicas práticas entre 1935 e 1940 Em The Autobiography of a Theory Kelly 1963 descreveu como chegou a uma psicologia do próprio homem com um foco na escolha e na iniciação pes soal de ações No processo ele voltou a uma perspec tiva freudiana que tinha ridicularizado durante o curso de graduação Mas gradualmente ele passou a sen tirse desconfortável com seus insights freudianos decidindo em vez disso que seus clientes precisavam de uma nova abordagem à vida e às futuras contin gências Ele também se desencantou com a importân cia do self acreditando que a questão central era ajudar os clientes a imaginar novas hipóteses sobre outras maneiras de viver 1963 p 55 330 HALL LINDZEY CAMPBELL George Kelly TEORIAS DA PERSONALIDADE 331 A ênfase em novos comprometimentos e redefini ções de si mesmo em tornarse diferente do que se é atualmente montou o cenário para a teoria de Kelly da personalidade Também foi durante esse período que Kelly chegou à conclusão de que as queixas que os professores e os pais faziam sobre seus alunos e filhos tinham pouco valor descritivo para se entender o mundo da pessoa que estava sendo diagnosticada Kelly também começou a oferecer aos clientes esbo ços de pessoas diferentes e pedirlhes que experimen tassem fingindo ser essa outra pessoa Isso tornouse a base da terapia de papel fixo de Kelly e também levouo a estabelecer sua analogia do homemcientis ta Em resumo esta foi uma época fértil durante a qual Kelly desenvolveu os fundamentos dos insights clínicos e de personalidade que publicou posterior mente Durante a Segunda Guerra Mundial Kelly rece beu um posto no Aviation Psychology Branch do Bu reau of Medicine and Surgery da Marinha Depois da guerra ele trabalhou como professorassociado na Universidade de Maryland Em 1946 tornouse pro fessor e diretor de psicologia clínica na Universidade Estadual de Ohio Juntamente com Julian Rotter Ke lly levou o programa de psicologia clínica dessa uni versidade a uma posição de proeminência nacional Foi aí em 1955 que Kelly publicou sua obra mais importante The Psychology of Personal Constructs Ele deixou essa universidade em 1965 para assumir a Ri klis Chair of Behavioral Science na Universidade de Brandels onde morreu prematuramente em 1967 Durante sua carreira Kelly foi presidente das Divi sões Clínica e Consultiva da Associação Psicológica Americana e do American Board of Examiners in Pro fessional Psychology Ele também proferiu palestras por todos os Estados Unidos e pelo mundo afora SUPOSIÇÕES BÁSICAS Kelly fundamentou sua teoria em uma série de supo sições e elas constituem um bom ponto de partida para a nossa discussão da teoria Alternativismo Construtivo Esse é o título do primeiro capítulo da apresentação mais importante de Kelly 1955 de sua teoria Kelly supôs que nós poderíamos compreender de várias maneiras o mundo que nos cerca isto é sempre exis tem perspectivas alternativas que podemos escolher quando lidamos com o mundo Conforme Kelly colo ca Nós supomos que todas as nossas presentes inter pretações do universo estão sujeitas à revisão ou à reco locação sempre existem algumas construções alternativas entre as quais podemos escolher ao lidar com o mundo Ninguém precisa pintar a si mesmo como em uma situação sem saída ninguém precisa ser completamente encurralado pelas circunstâncias ninguém precisa ser a vítima da sua biografia Nós chamamos essa posição filosófica de alternativismo construtivo 1955 p 15 Observem como tal posi ção é otimista e como é extraordinariamente dife rente da posição freudiana de determinismo da infân cia ou da posição de Skinner da história de reforço e controle de estímulos Em muitos aspectos a suposi ção de Kelly lembra a posição de Alfred Adler de que as falhas do homem se devem a uma concepção er rônea da vida Ele não precisa ser oprimido por elas Ele pode mudar O passado está morto Ele está livre para ser feliz Na verdade Kelly 1964 citou apro vadoramente a filosofia do como se de Hans Vaihin ger e observou no mesmo artigo o paralelo com Ad ler Kelly estava propondo que as pessoas são livres para escolher como querem ver o mundo e seu com portamento decorre dessas escolhas Existem muitas implicações importantes nessa posição Por exemplo ela representa uma combina ção do que geralmente é chamado de livre arbítrio e determinismo em qualquer momento dado do tem po o nosso comportamento é determinado pela nos sa construção da realidade mas somos livres para mudar tal construção ao longo do tempo Kelly não estava sugerindo que as construções ou as interpreta ções alternativas estão certas ou erradas e sim que elas têm implicações diferentes para o comportamen to As pessoas diferem e diferem também através do tempo porque são guiadas por construções ou inter 332 HALL LINDZEY CAMPBELL pretações alternativas do mundo O aluno pode notar como essa suposição é semelhante à descrição de Hen ry Murray ver Capítulo 6 da pressão beta Observe também como passa a ser crítico que o clínico com preenda a construção que o cliente faz da realidade HomemCientista Os teóricos freqüentemente adotam metáforas em sua tentativa de compreender o comportamento Por exemplo Freud empregou a metáfora da vida mental como um campo de batalha entre impulsos e proibi ções Kelly adotou a metáfora do homemcientista Ele achava que devemos pensar nas pessoas vivendo suas vidas de uma maneira análoga a cientistas formulan do e testando teorias Isto é assim como os cientistas os indivíduos desenvolvem hipóteses sobre as conse qüências de seu comportamento e avaliam a validade dessas hipóteses em termos da exatidão de suas pre dições o que eu esperava que acontecesse quando agi daquela maneira de fato aconteceu Exatamente como um cientista o indivíduo está tentando predi zer e controlar as conseqüências do comportamento saber o que vai acontecer Os cientistas tentam cons truir teorias que levem a predições cada vez melho res e os indivíduos tentam construir sistemas anteci patórios que lhes permitam compreender cada vez melhor o que vai acontecer se eles agirem de certa maneira O bom cientista muda as hipóteses que são refutadas pelos dados e a pessoa sadia muda cons tructos pessoais que se originam de predições refuta das pela experiência A pessoa nãosadia pelo con trário é um mau cientista ela tem uma teoria sobre conseqüências principalmente conseqüências inter pessoais que não funciona mas não consegue mudá la Conforme Kelly colocou A pessoa vive sua vida tentando alcançar o que vem a seguir e os únicos ca nais que ela tem para conseguir aquilo são as suas construções pessoais daquilo que pode realmente es tar acontecendo 1955 p 228 Kelly 1963 p 6061 descreveu como ele che gou a essa conclusão na seguinte passagem Uma das minhas tarefas na década de 30 era ori entar alunos que estavam fazendo mestrado Uma tarde típica poderia me encontrar conversando com um aluno às 13 horas fazendo todas aquelas coisas que os orientadores têm de fazer estimu lar o aluno a identificar as questões a observar a familiarizarse com o problema a criar hipóteses indutivamente ou dedutivamente a fazer alguns testes preliminares a relacionar os dados às suas predições a controlar seus experimentos de modo a saber o que levou a que a generalizar cautelo samente e a revisar seu pensamento à luz da ex periência Às 14 horas eu poderia ter uma sessão com um cliente Nessa entrevista eu não estaria assumin do o papel do cientista mas ajudando a pessoa perturbada a encontrar algumas soluções para seus problemas de vida Então o que eu faria Bem eu tentaria fazer com que ele identificasse as ques tões observasse se familiarizasse com o proble ma criasse hipóteses fizesse alguns testes rela cionasse resultados a antecipações controlasse suas aventuras de modo a saber o que levou a que generalizasse cautelosamente e revisasse seus dogmas à luz da experiência Às 15 horas eu atenderia um outro aluno Prova velmente ele estaria desinteressado e relutante esperando planejar um experimento que sacudi ria o mundo antes sequer de olhar para seu pri meiro sujeito para ver em primeira mão com o que estava lidando atirandose a uma expedição irrefletida e grandiosa de busca de dados Então eu tentaria novamente fazer com que ele identifi casse as questões observasse objetivamente se familiarizasse com o problema criasse hipóteses tudo o que eu tivera de fazer às 13 horas Às 16 horas outro cliente Adivinhem Ele esta ria desinteressado e relutante esperando proje tar uma personalidade completamente nova an tes de se aventurar em sua primeira mudança de comportamento atirandose a uma atuação irre fletida para escapar ao problema etc etc Mas essa é claro não era a minha hora de ciência era a minha hora de psicoterapia E o que eu fizera com aquele aluno da hora anterior obviamente não fora psicoterapia fora ciência Devo dizer que esse tipo de coisa aconteceu por um longo tempo antes de me ocorrer que na ver dade eu fazia a mesma coisa a tarde inteira TEORIAS DA PERSONALIDADE 333 A chave para se compreender o comportamento humano é reconhecer que as pessoas estão tentando antecipar as conseqüências de suas ações e a chave para a personalidade é identificar os constructos pes soais que as pessoas usam para gerar suas predições Foco no Constructor Como vimos a ênfase de Kelly foi em como o indiví duo constrói interpreta ou compreende o mundo No processo de chegar a esse entendimento todavia ele precisa cuidar para não confundir a nossa maneira de interpretar a realidade com como a realidade real mente é ou deveria ser vista Quando uma pessoa faz alguma declaração sobre o mundo nós devemos com preender essa declaração como revelando mais sobre a pessoa que a emitiu do que sobre a realidade Kelly argumentou que as declarações sobre as pessoas ou outros aspectos do mundo devem ser considerados como proposições ou hipóteses mas tanto os psicólo gos como as pessoas leigas cometem o erro de tratá las como afirmações factuais a serem endossadas ou rejeitadas Kelly estava argumentando que nós acaba mos prisioneiros da nossa linguagem e explica isso na seguinte passagem Ocasionalmente posso dizer sobre mim mesmo Eu sou introvertido Eu o sujeito sou intro vertido o predicado A forma de linguagem da declaração coloca claramente o ônus de ser um introvertido sobre o sujeito eu O que eu real mente sou dizem as palavras é introvertido Mas a interpretação adequada da minha declara ção é que eu me vejo ou interpreto como intro vertido ou se estou apenas sendo recatado ou desonesto estou levando meu interlocutor a ver me ou interpretar em termos de introversão O ponto que se perde nessa confusão de palavras é o fato psicológico de que me identifiquei em ter mos de um constructo pessoal introversão Se meu interlocutor é suficientemente sem crítica para ser enganado por essa sutileza de palavras ele pode perder muito tempo acreditando que precisa me ver como introvertido ou discordando disso Mas além disso se eu digo a meu res peito que sou introvertido posso ficar preso na minha própria armadilha sujeitopredicado Até o self interior eu mesmo fica sobrecarregado pelo ônus de realmente ser um introvertido ou de encontrar alguma maneira de livrarse da intro versão que pesa sobre minhas costas Eu me deparo com o dilema de ter de continuar a decla rar que sou introvertido ou que não sou ou um ou outro Mas será que isso necessariamente é assim a introversão não poderia se revelar um constructo totalmente irrelevante Quando eu digo que o sapato do pé esquer do do professor Lindzey é introvertido todo mundo olha para o seu sapato como se ele fosse responsável por essa afirmação Ou se eu digo que a cabeça do professor Cattell é discursiva todo mundo olha para ele como se a proposição tives se saído da cabeça dele e não da minha Não olhem para a cabeça dele Não olhem para aque le sapato Olhem para mim eu sou o responsável pela declaração Depois de entender o que eu que ro dizer vocês podem olhar para ver se compre endem sapatos e cabeças interpretandoos como eu faço Não será fácil fazer isso pois significa abandonar uma das maneiras mais antigas de pen sar e de falar consigo mesmo 1958 p 7072 Motivação Os componentes motivacionais das teorias da perso nalidade destinamse a explicar as forças que compe lem as pessoas a agir de certas maneiras Entretanto de modo parecido com Carl Rogers ver Capítulo 11 e B F Skinner ver Capítulo 12 Kelly propôs que motivação é um constructo desnecessário e redun dante Ele tinha duas objeções fundamentais Primei ro os modelos motivacionais são usados para expli car por que uma pessoa é ativa ao invés de inerte Mas segundo Kelly as pessoas são ativas por defini ção de modo que não precisamos explicar o porquê delas serem ativas elas são ativas porque estão vivas A motivação também é usada para explicar por que as pessoas agem de uma maneira e não de outra Kelly argumentou que as pessoas agem como agem não devido a forças que atuam sobre elas ou dentro delas mas devido às alternativas que percebem em função de sua interpretação do mundo Em conseqüência devemos dirigir a nossa atenção para o entendimento de como a interpretação individual da realidade ca 334 HALL LINDZEY CAMPBELL naliza o comportamento e não para as forças motiva doras que compelem esse comportamento Segundo coerente com a ênfase no constructor Kelly rejeitava os motivos como rótulos que impomos aos outros Esses rótulos têm mais utilidade para compreender mos a visão de mundo da pessoa que os oferece do que o comportamento da pessoa que está sendo rotu lada Kelly 1958 p 81 resumiu sua posição acerca da motivação conforme segue As teorias motivacionais podem ser divididas em dois tipos teorias do empur rão e teorias do puxão Nas teorias do empurrão nós encontramos termos como pulsão motivo ou até estímulos As teorias do puxão usam constructos como propósito valor ou necessidade Em termos de uma metáfora bemconhecida essas são as teorias do for cado por um lado e as teorias da cenoura por outro Mas a nossa teoria não é nenhuma delas Já que pre ferimos examinar a natureza do próprio animal pro vavelmente é melhor chamar a nossa teoria de teoria do jumento Ser Si Mesmo De uma forma ou outra o autoconceito do indivíduo ocupa um papel central na maioria das teorias da per sonalidade Não existe nenhum agente interno na teoria de Kelly análogo ao ego nas abordagens de Freud ou de Murray mas ele falou sobre os construc tos de papel nuclear que usamos para compreender nosso comportamento Além disso Kelly ergueu duas objeções a formulações sobre o self Primeiro elas geralmente funcionam como máscaras atrás das quais nos escondemos de nós mesmos e dos outros Pensar em si mesmo como introvertido é impor um rótulo de self que cria expectativas de comportamento Em muitos aspectos isso é semelhante à idéia de Jung da inflação da persona Segundo Kelly via a autoima gem como fluida não como uma realidade predeter minada ou uma verdade que de alguma forma deve mos revelar Se a interpretação da pessoa de quem ela é se mostrar problemática ou ineficaz a pessoa deve mudála Mais uma vez deixemos que Kelly 1964 p 157158 fale por si mesmo Muito se fala atualmente sobre ser si mesmo Imaginamos que é saudável ser si mesmo Embo ra seja um pouco difícil para mim entender como alguém poderia ser qualquer outra coisa supo nho que o que se quer dizer é que a pessoa não deveria tentar ser aquilo que ela não é Isso me parece uma maneira muito sem graça de viver de fato eu estaria inclinado a argumentar que todos nós estaríamos bem melhor se tentássemos ser aquilo que não somos O que estou dizendo é que o que conta não é tanto o que o homem é e sim o que se aventura a tornarse Para dar o salto ele precisa fazer mais do que se revelar ele precisa arriscarse à certa confusão Então assim que consegue vislumbrar uma maneira diferente de vida ele precisa en contrar uma maneira de superar o momento pa ralisante de ameaça pois é nesse instante que ele se pergunta qual é a realidade se ele é o que era um pouco antes ou o que está prestes a ser CONSTRUCTOS PESSOAIS Vimos que a teoria de Kelly depende da compreensão de como os indivíduos interpretam seu mundo A uni dade fundamental empregada por Kelly para esse pro pósito é o constructo pessoal Um constructo é a ma neira pela qual algumas coisas são interpretadas como sendo parecidas e no entanto diferentes de outras Kelly 1955 p 105 Como veremos adiante neste capítulo os constructos são definidos por identificar uma distinção em que dois objetos são semelhantes e diferentes de um terceiro objeto Por exemplo uma pessoa poderia pensar em seu pai e em sua mãe como inteligentes mas em seu melhor amigo como nãoin teligente Dizer que uma pessoa é inteligente implica que pelo menos uma outra pessoa também é inteli gente e no mínimo outra não é inteligente Esse exemplo ilustra o aspecto distintivo dos cons tructos eles são bipolares Assim o constructo do úl timo parágrafo é inteligente versus nãointeligente A nossa interpretação básica do mundo é em termos dicotômicos alternativas ouou não em termos de escalas ou contínuos o nosso julgamento fundamen tal é se um objeto é bom ou mau não quão bom ele é Além disso cada constructo tem um intervalo muito limitado de aplicação ou intervalo de conveniência O TEORIAS DA PERSONALIDADE 335 constructo inteligente versus nãointeligente por exem plo é útil para fazer predições sobre pessoas sobre cães e gatos e sobre ratos de laboratório mas não so bre árvores as árvores estão fora do intervalo de con veniência deste constructo Da mesma forma o foco de conveniência de um constructo se refere à classe de objetos para a qual ele é mais relevante as pessoas presumivelmente no nosso exemplo de inteligente vs nãointeligente Os constructos diferem em permea bilidade ou na facilidade com que podem ser estendi dos a novos objetos ou eventos Os constructos tam bém podem ser preemptivos constelatórios ou proposicionais No caso de um constructo preemptivo nada mais sobre o objeto importa Em época de guer ra por exemplo a distinção essencial que um solda do precisa fazer é inimigo vs amigo Se alguém é in terpretado como inimigo não importa se essa pessoa é homem ou mulher simpática ou antipática O uso de um constructo constelatório desencadeia outros constructos sem informações adicionais Uma pessoa que chamamos de sexista por exemplo poderia além de interpretar uma pessoa como mulher e não como homem vêla como passiva em vez de ativa como emotiva em vez de nãoemotiva e como caprichosa em vez de lógica As outras poderiam usar homem versus mulher como um constructo proposicional nesse caso designar uma pessoa como mulher não levaria a nenhum outro julgamento Uma distinção final é en tre constructo nuclear e periférico Os constructos nu cleares são centrais para o senso da pessoa de quem ela é e como tal são relativamente resistentes à mu dança Os constructos periféricos são menos funda mentais e como tal são mais suscetíveis à mudança O sistema de constructos pessoais do indivíduo é usado para compreender o mundo Apesar de Kelly referirse aos constructos como moldes ou como aná logos a grandes óculos que distorcem e estruturam o mundo de certas maneiras o leitor não deve supor que eles são apenas mecanismos perceptivos Pelo contrário eles mal começam a capturar as nuanças envolvidas na percepção do mundo físico O sistema de constructos estrutura a realidade para que possa mos antecipar eventos Criar constructos pode ser visto como amarrar conjuntos de eventos em feixes convenientes de fácil manejo para a pessoa que tem de carregálos Os eventos quando assim amarrados tendem a tornarse predizíveis manejáveis e contro lados 1955 p 126 Kelly está sugerindo que um constructo oferece um caminho de movimento no sentido de uma escolha dicotômica entre percepções alternativas ou ações alternativas Os constructos li mitam as nossas possibilidades e oferecemnos cami nhos de liberdade de movimento Escalas A natureza dicotômica dos constructos parece contrá ria à experiência porque todos nós achamos que in terpretamos o mundo em termos de gradações não de alternativas exclusivas Os nossos conhecidos vari am em inteligência cordialidade dominação etc um conjunto de diferenças nas quais se baseiam os mode los de traço da personalidade e parece artificial ig norar essas distinções Uma analogia com o computa dor pode ajudar Um computador baseiase em distinções exclusivas um bit tem uma carga positiva ou negativa e não há gradações envolvidas No en tanto combinandose bits podemos construir progra mas de computador de incrível complexidade Da mesma forma Kelly 1955 p 142145 descreveu como os constructos dicotômicos podem ser usados para se construir escalas supraordenadas contínuas Suponha que empregamos o constructo inteligente versus nãointeligente para observar três pessoas em dez ocasiões diferentes A primeira pessoa pode ter mostrado um comportamento inteligente em oito das ocasiões a segunda em cinco das ocasiões e a tercei ra em duas das ocasiões a combinação das ocasiões nos permite escalar essas três pessoas em termos de seu grau de comportamento inteligente criando o que Kelly chama de escala de acumulação Imagine também um tipo mais complicado de es cala Suponha que uma pessoa tem um constructo supraordenado de bom versus mau que inclui cons tructos subordinados de jovem versus velho republi cano versus democrata homem versus mulher e psi cólogo versus nãopsicólogo em que a primeira alternativa sempre é bom Se atribuirmos a cada pessoa um ponto em uma escala de bondade para cada característica boa então um jovem psicólogo re publicano tem um escore total de 4 uma jovem psi cóloga democrata recebe um escore de 2 e uma ve lha nãopsicóloga democrata recebe um escore de 0 Dessa maneira a pessoa converteu um conjunto de constructos bipolares no que Kelly chama de uma es cala aditiva Kelly ofereceu numerosos exemplos de 336 HALL LINDZEY CAMPBELL escalas mas essa extensão importante e razoável de seu modelo básico é freqüentemente ignorada O POSTULADO FUNDAMENTAL E SEUS COROLÁRIOS Kelly 1955 p 46104 enunciou sua teoria na forma de um postulado fundamental e 11 corolários ver Tabela 101 Nós anteriormente consideramos temas relativos aos corolários de dicotomia intervalo e mo dulação e trataremos agora das nove declarações res tantes Postulado Fundamental Os processos de uma pessoa são psicologicamente canalizados pelas maneiras por meio das quais ela antecipa eventos Esse postulado é o núcleo da posição de Kelly Nele Kelly propõe que o entendimento que a pessoa tem do mundo e seu comportamento neste mundo pro cessos são dirigidos canalizados por uma rede existente de expectativas em relação ao que vai acon tecer se ela agir de determinada maneira antecipa eventos Os vários outros aspectos desse postulado são dignos de nota Primeiro Kelly não estava suge rindo que é assim que as pessoas verdadeiramente são ele estava dizendo vamos supor que é assim que as pessoas funcionam e ver quão bem podemos explicar tal comportamento Segundo ele levou a sério o foco na pessoa o postulado focaliza o indivíduo não al guma parte da pessoa ou algum grupo de pessoas ou algum processo específico manifestado no comporta mento da pessoa 1955 p 47 Nessa atitude Kelly é consistente com outros teóricos da personalidade Finalmente Kelly referiuse à antecipação porque acre dita que os indivíduos como os protótipos de cientis ta que são buscam a predição A antecipação é tanto TABELA 101 O Postulado Fundamental de Kelly e os 11 Corolários Postulado fundamental os processos de uma pessoa são psicologicamente canalizados pelas maneiras por meio das quais ela antecipa eventos Corolário de construção uma pessoa antecipa eventos ao interpretar suas reproduções Corolário de individualidade as pessoas diferem umas das outras na sua interpretação dos eventos Corolário de organização cada pessoa desenvolve caracteristicamente um sistema de interpretação que abrange relacionamentos ordinais entre constructos para ajudar na antecipação de eventos Corolário de dicotomia o sistema de interpretação de uma pessoa é composto por um número finito de constructos dicotômicos Corolário de escolha uma pessoa escolhe aquela alternativa em um constructo dicotomizado pela qual ela antecipa a maior possibilidade de extensão e definição de seu sistema Corolário de intervalo um constructo é conveniente apenas para a antecipação de um intervalo finito de eventos Corolário de experiência o sistema de interpretação de uma pessoa varia conforme ela interpreta sucessivamente as reproduções de eventos Corolário de modulação a variação no sistema de interpretação de uma pessoa é limitada pela permeabilidade dos constructos dentro daquele intervalo de conveniência onde estão as variantes Corolário de fragmentação uma pessoa pode empregar sucessivamente uma variedade de subsistemas de interpretação inferencialmente incompatíveis entre si Corolário de comunalidade na extensão em que uma pessoa emprega uma interpretação da experiência que é semelhante à empregada por outra pessoa seus processos psicológicos são semelhantes aos da outra pessoa Corolário de sociabilidade na extensão em que uma pessoa interpreta os processos de construção de outra ela pode desempenhar um papel em um processo social envolvendo a outra pessoa Fonte Adaptada de Kelly 1955 p 103104 TEORIAS DA PERSONALIDADE 337 o empurrão quanto o puxão da psicologia dos cons tructos pessoais 1955 p 49 Corolário de Construção Uma pessoa antecipa eventos ao interpretar suas re produções Kelly esclareceu sua posição básica nesse corolá rio Os dois termoschave aqui são interpretar e re produções Por interpretar Kelly quer dizer usar o sistema de constructos pessoais para dar uma inter pretação a um evento e tal interpretação dá signifi cado ao evento Por reprodução Kelly quer dizer usar a experiência para identificar temas recorrentes nos significados de eventos Nós então usamos o nosso entendimento desse evento para fazer predições so bre o que provavelmente acontecerá com base no que aconteceu em eventos similares no passado Construir expectativas com base na experiência não a simples categorização de eventos está no âmago do modelo de Kelly Poderíamos pensar nisso como uma versão cognitiva da história de reforço de Skinner Uma analogia ainda melhor é com as antecipações e as ex pectativas introduzidas pelos teóricos da aprendiza gem social ver Capítulo 14 Corolário de Organização Cada pessoa desenvolve caracteristicamente um sis tema de interpretação que abrange relacionamentos ordinais entre constructos para ajudar na antecipa ção de eventos Cada indivíduo organiza seus constructos em um sistema hierárquico que caracteriza sua personalida de Esse sistema muda ou evolui continuamente de acordo com a experiência O termochave nesse coro lário é relacionamentos ordinais pelo qual Kelly quer dizer que um constructo pode incluir outro como um de seus elementos Ele usou um constructo de bom versus mau para ilustrar duas maneiras pelas quais isso pode ocorrer ver Figura 1010 Primeiro bom versus mau pode incluir o constructo de inteligente versus burro ao ampliar sua clivagem Nesse exem plo bom incluiria todas as coisas inteligentes bem como outras características como moral e bravo Mau incluiria todas as coisas burras bem como imo rais e covardes Na terminologia de Kelly bom versus mau é um constructo superordinal e inteligente ver sus burro é um constructo subordinal Alternativamen te um constructo superordinal de avaliativo versus descritivo pode abstrair por meio da linha de cliva gem do constructo subordinal de inteligente versus burro Nesse caso todo o constructo de inteligente versus burro está incluído como um tipo avaliativo de constructo Ao contrário um outro constructo de claro versus escuro poderia ser considerado apenas descritivo Kelly estava sugerindo que as pessoas sistemati zam seus constructos organizandoos em hierarqui as Essa organização é fluida e os relacionamentos FIGURA 1010 Dois tipos de relacionamentos ordinais entre constructos a estendendo a linha de clivagem b abstraindo por meio da linha de clivagem 338 HALL LINDZEY CAMPBELL ordinais podem inclusive inverterse com o passar do tempo A questão para Kelly não era a autoconsistên cia das estruturas psicológicas mas o desenvolvimen to de um sistema que levasse em conta a antecipação acurada de eventos ao identificar temas que se repe tem Corolário de Fragmentação Uma pessoa pode empregar sucessivamente uma va riedade de subsistemas de interpretação inferencial mente incompatíveis entre si O sistema de interpretação está continuamente em fluxo e a evolução do sistema de interpretação é tal que os constructos específicos de uma pessoa e os comportamentos específicos resultantes podem não ser completamente consistentes ao longo do tempo Uma vez que a pessoa busca continuamente um siste ma de interpretação que produza melhor antecipa ção o comportamento em certo momento pode pare cer incompatível com o comportamento imediata mente precedente porque os constructos governan tes mudaram Kelly via isso como um corolário im portante porque ele deixa claro que a única maneira de se compreender o comportamento é em termos do sistema de interpretação corrente ou reinante não do comportamento imediatamente antecedente O comportamento nem sempre será consistente ao lon go do tempo ou das situações mas ele sempre será consistente com o atual sistema de interpretação ou constructos Corolário de Experiência O sistema de interpretação de uma pessoa varia con forme ela interpreta sucessivamente as reproduções de eventos As interpretações que damos aos eventos repre sentam hipóteses sobre as conseqüências dos compor tamentos e nós usamos os resultados reais para vali dar o sistema de constructos exatamente como o cientista usa os dados para validar uma teoria Nós revisamos continuamente as nossas antecipações di ante dos resultados e nesse processo o sistema de constructos sofre uma evolução progressiva Kelly usou experiência para referirse à sucessiva interpretação de eventos não à seqüência de eventos em si Não é o que acontece ao redor dele que torna um homem experiente é a sucessiva interpretação e reinterpre tação daquilo que acontece à medida que acontece que enriquece a experiência de sua vida 1955 p 73 A reprodução de eventos da qual depende o com portamento envolve a experiência de abstrair temas recorrentes de uma seqüência de eventos únicos Os resultados inesperados e a violação das expectativas nos obrigam a modificar os nossos sistemas de cons tructos Por fim o leitor deve notar que a discussão de Kelly da experiência incluiu o tópico usual da apren dizagem Como a motivação a aprendizagem faz parte do processo geral de antecipação e de reinterpreta ção no sistema de Kelly Corolário de Escolha Uma pessoa escolhe aquela alternativa em um cons tructo dicotomizado pela qual ela antecipa a maior possibilidade de extensão e definição de seu sistema Esse é o mais difícil dos corolários de Kelly O pos tulado fundamental descreve como o comportamen to é canalizado pelos constructos e o corolário de es colha revela que o comportamento se reduz a uma escolha entre definir melhor o sistema de constructos existente e agir de uma maneira que amplie o inter valo de conveniência do sistema de constructos Ima ginem uma aluna que precisa escolher entre dois cur sos Um deles é o seu campo mais importante de estudo de modo que ela tem uma boa idéia do que esperar Selecionar esse curso seria a escolha segu ra porque definiria melhor sua capacidade existente de antecipar os resultados O outro curso é em um campo no qual ela não tem nenhum conhecimento Selecionar esse curso seria arriscado ou temerário porque a faria imergir em uma situação na qual ela tem pouca base para antecipar os resultados Depois de designar os eventos para os pólos dos constructos nós nos deparamos com a escolha elaborativa a ser orientada pelo pólocomportamento seguro ou arris cado Segundo Kelly 1955 p 65 o indivíduo colo ca valores relativos nas extremidades de suas dicoto mias e então precisa escolher uma das alternativas A vida não é apenas interpretação é escolha baseada nessa interpretação e a escolha será feita em favor da alternativa que parece no momento oferecer a me lhor base para melhorar a subseqüente antecipação de eventos Tal corolário separa Kelly claramente dos outros teóricos ele afirmava que a busca de uma an TEORIAS DA PERSONALIDADE 339 tecipação cada vez melhor dos eventos não o prazer o reforço a autodefesa ou a autoconsistência é a essência da vida humana em si 1955 p 68 Obser vem também como a terminologia de Kelly de exten são e definição é semelhante à discussão de Carl Ro gers ver Capítulo 11 da maneira como a tendência de realização serve para manter e realçar o organis mo Os meios usados pelos indivíduos para fazer a es colha elaborativa não estão claros mas Kelly descre veu um ciclo CPC circunspecçãopreempçãocontro le que as pessoas tipicamente atravessam ao decidir como agir Retornemos à aluna que está tentando de cidir em qual curso vai se matricular Seu primeiro passo é o da circunspecção ou identificar todos os constructos disponíveis possíveis Por exemplo o cur so é no nível introdutório ou superior difícil ou fácil conhecido ou desconhecido e assim por diante O segundo passo é a preempção ou identificar uma di mensão como a dimensão crítica A nossa aluna por exemplo poderia decidir que a questão mais impor tante é se o curso é conhecido ou desconhecido O passo final é o do controle em que é feita uma esco lha entre os pólos opostos do constructo selecionado A aluna pode decidir que quer ampliar sua perspecti va e portanto fazer o curso que é desconhecido Kelly também descreveu um ciclo de criatividade para gerar novos constructos Essa seqüência começa quando a pessoa afrouxa sua atual construção do mundo a fim de experimentar novas e flexíveis inter pretações dele Na terapia o processo de exploração pode ser facilitado pelo uso de sonhos fantasias ou associação livre De alguma forma a pessoa explora por ensaio e erro uma nova abordagem O truque escreveu Kelly é deixar nascer essas interpretações sem perder de vista o que elas são e sem assustarse com suas monstruosas implicações 1965 p 128 Na outra extremidade do ciclo a pessoa começa a apertar o constructo testando sua consistência em comparação com constructos existentes e validando as resultantes antecipações comportamentais Kelly sugeriu que tal processo cíclico está profundamen te envolvido no empreendimento da pesquisa psico lógica Corolário de Individualidade As pessoas diferem umas das outras na sua interpre tação dos eventos As diferenças fundamentais entre os indivíduos residem na sua interpretação alternativa dos eventos e na antecipação das conseqüências conforme con troladas por seus sistemas de constructos distintos Em outras palavras as pessoas diferem não apenas porque foram expostas a eventos diferentes mas tam bém porque desenvolveram abordagens diferentes na antecipação dos mesmos eventos Corolário de Comunalidade Na extensão em que uma pessoa emprega uma inter pretação da experiência que é semelhante à emprega da por outra pessoa seus processos psicológicos são semelhantes aos da outra pessoa Assim como as interpretações diferentes de even tos levam a diferenças individuais uma interpretação similar dos eventos leva as pessoas a se comportarem de maneira semelhante Observe que Kelly está pro pondo que as ações semelhantes decorrem não da exposição a eventos idênticos mas de interpretações semelhantes de eventos Usando essa abordagem Kelly explicou semelhanças dentro da cultura em termos de expectativas semelhantes tanto expectativas em relação ao que os outros farão como expectativas em relação ao que os outros esperam que nós façamos Corolário de Sociabilidade Na extensão em que uma pessoa interpreta os proces sos de construção de outra ela pode desempenhar um papel em um processo social envolvendo a outra pessoa A apresentação mais importante de Kelly 1955 de sua posição enfatizou em uma grande extensão os relacionamentos interpessoais e terapêuticos e o corolário de sociabilidade é crítico para o entendimen to desses relacionamentos Ao contrário do corolário da comunalidade esse corolário discute o entendimen to e não a semelhança real Kelly acreditava que as 340 HALL LINDZEY CAMPBELL pessoas só podem se envolver em relacionamentos sig nificativos se compreendem os processos de interpre tação umas das outras A ausência do entendimento impede a comunicação e a interação efetivas O cha mado conflito de gerações entre pais e adolescentes pode ser maravilhosamente explicado nesses termos Kelly 1955 p 97 definiu um papel como um processo psicológico baseado na interpretação que o ator faz de aspectos dos sistemas de interpretação das pessoas às quais ele tenta reunirse em um empreen dimento social Em outras palavras um papel é um padrão de comportamento que reflete o entendimen to da pessoa de como os outros do grupo pensam Uma elaboração do conceito de Kelly de papel está além do escopo deste texto mas ele proporciona a base de sua terapia de papel fixo e do Role Construct Repertory Test discutido mais adiante neste capítulo O CONTÍNUO DA CONSCIÊNCIA COGNITIVA Kelly deixou claro que nem todos os constructos exis tem em uma forma verbal e eles podem não estar facilmente acessíveis à consciência Entretanto em vez de reverter a uma noção do inconsciente ele introdu ziu o que chamou de contínuo da consciência cogni tiva Os constructos préverbais os constructos sub mersos e os elementos suspensos caracterizamse por uma baixa consciência cognitiva e poderiam sob ou tros aspectos ser descritos como inconscientes Os constructos são tipicamente representados e modificados como palavras Mas assim como Henry Murray descreveu complexos préverbais Kelly indi cou que é possível que constructos pessoais se estabe leçam antes que a pessoa tenha a capacidade de re presentálos Já que os constructos préverbais não estão codificados em uma forma lingüística eles não podem ser articulados mas continuam exercendo in fluência sobre o comportamento Dado o período de tempo em que foram estabelecidos esses constructos tendem a centrarse em dependência confiança e outras preocupações infantis Cada constructo é definido em termos de dois pólos mas ocasionalmente as pessoas agem como se um pólo do constructo não estivesse disponível Por exemplo uma pessoa pode interpretar o mundo em termos de infelicidade sem o aparente reconhecimen to de que logicamente deve existir também um pólo de felicidade Quando um pólo está consideravelmente menos disponível do que o outro Kelly disse que ele foi submerso Uma vez que esse pólo está indisponí vel podemos considerálo inconsciente Um pólo de um constructo fica submerso por al guma razão e isso lembra muito o conceito freudiano de repressão como esquecimento motivado mas Ke lly preferiu conceitualizar a repressão em termos de elementos suspensos No sistema de Kelly as idéias e as memórias só estarão disponíveis se existirem cons tructos para representálas À medida que o sistema de constructos se modifica alguns elementos podem ficar indisponíveis para a consciência porque a pes soa não tem como recuperálos e representálos O elemento continuará existindo em uma forma suspensa e poderá ser recuperado se mudanças posteriores no sistema de constructos proporcionarem acesso a ele Por exemplo um homem pode empregar um cons tructo de bom versus mau para interpretar a memória de seu pai gritando com ele Se esse constructo mu dar a memória pode ficar indisponível mas pode re emergir quando o homem mais tarde desenvolver um constructo de abusivo versus apoiador Mais uma vez todavia não é o afeto que orienta o processo de sus pensão como acontece no modelo freudiano A nos sa teoria não coloca a ênfase no lembrar o que é agra dável ou esquecer o que é desagradável ela enfatiza que nós lembramos o que está estruturado e esquece mos o que não está estruturado Em contraposição com algumas noções de repressão a suspensão impli ca que a idéia ou o elemento da experiência é esque cido simplesmente porque a pessoa não consegue no momento tolerar nenhuma estrutura em que a idéia tenha significado 1955 p 473 Em resumo Kelly propôs que os constructos diferem no nível de consci ência cognitiva variando dos claramente articulados com dois pólos salientes àqueles cuja estrutura os torna relativamente inacessíveis CONSTRUCTOS SOBRE MUDANÇA Kelly também propôs redefinições de várias palavras conhecidas referentes ao afeto em termos da inade quação do sistema de constructos existente e da mu TEORIAS DA PERSONALIDADE 341 dança subseqüente Por exemplo ele definiu ansieda de como o reconhecimento de que os eventos com os quais nos deparamos estão fora do intervalo de con veniência do nosso sistema de constructos Kelly 1955 p 495 A ansiedade resulta de depararmonos não com um evento aversivo mas com um evento in cognoscível Além disso a ansiedade pode proporcio nar o ímpeto para a reorganização e o desenvolvimento sadio do sistema de constructos ou pode levar a pes soa a manobras defensivas que resultam em pólos sub mersos ou elementos suspensos conforme discutido na seção anterior A apreensão que os universitários freqüentemente sentem quando se deparam com a nova realidade da vida universitária se ajusta bem à concepção de ansiedade de Kelly Um exemplo menos óbvio de ansiedade seria quando um aluno acostuma do a receber notas medíocres recebe um A em um exame isso certamente não é um evento ruim mas é suficientemente inesperado para produzir um estado de ansiedade Da mesma forma a hostilidade reflete não assertividade em um sentido violento mas asser tividade em um sentido cognitivo o continuado es forço de extorquir evidência validacional em favor de um tipo de predição social que já provou ser um fra casso 1955 p 510 A ameaça se refere à consci ência de uma mudança iminente de grande alcance nas nossas estruturas nucleares 1955 p 489 Tal vez o mais interessante em tudo isso é que Kelly defi niu culpa como a percepção do aparente desaloja mento da pessoa de sua estrutura de papel nuclear 1955 p 502 As estruturas de papel nuclear se re ferem a como a pessoa compreende seu relacionamen to com as outras pessoas significativas portanto existe culpa quando a pessoa percebe que violou uma ex pectativa ou um relacionamento de papel importan te Uma mãe recente que percebe que não tratou o filho de maneira aceitável ou o filho que percebe que abandonou os pais idosos sentirão a culpa que Kelly descreve O leitor deve notar como a dinâmica da cul pa é semelhante aos processos que Freud descreve em termos do superego ver Capítulo 2 que Rogers des creve em termos de ansiedade ver Capítulo 11 e que Bandura descreve em termos de autosistema ver Capítulo 14 Essas são redefinições provocativas e ilustram convincentemente o valor heurístico da abor dagem de Kelly PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Kelly produziu poucos trabalhos empíricos mas des creveu um instrumento de avaliação notável para iden tificar constructos pessoais Este instrumento o Role Construct Repertory Test ou Rep Test a Figura 1011 ilustra a forma em grade do teste provocou uma quantidade substancial de pesquisas O Rep Test foi planejado para revelar os construc tos de papel que a pessoa emprega para estruturar suas expectativas de interação social Em outras pala vras que constructos empregamos para interpretar outros sociais significativos O primeiro passo para realizar o Rep Test é o sujeito identificar outras pesso as que assumem vários papéis Os papéis que poderi am ser empregados no teste em número de 20 estão listados na Figura 1011 A primeira tarefa do sujeito é identificar uma pessoa separada que assuma cada papel Segundo a pessoa que está administrando o teste seleciona três das pessoas e pede aos sujeitos que pensem de que maneiras importantes duas das pessoas são semelhantes e diferentes da terceira As colunas na Figura 1011 ilustram alguns desses tri plos O triplo na coluna adjacente aos papéis pede ao sujeito que compare self pai e mãe Por exemplo um respondente poderia dizer que seu pai e sua mãe são ambos assertivos o pólo emergente mas que ele é passivo Nesse caso assertivo versus passivo é escrito na base da coluna como o primeiro constructo de pa pel do respondente A segunda comparação é entre o self uma pessoa atraente e uma pessoa bemsucedi da O respondente poderia identificar ele mesmo e a pessoa bemsucedida como ponderados e a pessoa atraente como avoada produzindo assim um segun do constructo Tal processo continua até que a pessoa que está administrando o teste acredite ter provoca do um número suficiente de constructos A esta altu ra o testando já identificou um conjunto relevante de constructos de papel Ele é então solicitado a conside rar todos os ocupantes de papel em cada constructo colocando um X na célula da pessoa a quem se aplica o pólo emergente do constructo Assim todas as pes soas consideradas assertivas receberiam um X na pri meira coluna 342 HALL LINDZEY CAMPBELL O Rep Test proporciona muitas informações Os constructos revelam os mecanismos de interpretação que o respondente utiliza para compreender as ou tras pessoas e as colunas da grade indicam como cada constructo é aplicado a um conjunto representativo de indivíduosalvo As linhas por sua vez demons tram como o testando conceitualiza esses indivíduos alvo O leitor talvez queira experienciar o Rep Test completando a grade em branco na Figura 1011 Existem diversas versões alternativas e sistemas de pontuação mais complicados do Rep Test p ex Bannister Mair 1968 Landfield Epting 1987 Por exemplo uma pessoa pode identificar dois cons tructos distintos mas empregálos de maneira redun FIGURA 1011 O Role Construct Repertory Test de Kelly TEORIAS DA PERSONALIDADE 343 dante Se o nosso respondente do exemplo indicasse que praticamente todas as pessoasalvo que eram as sertivas eram também ponderadas e que todas as pessoas passivas eram também avoadas então os dois constructos seriam funcionalmente redundantes Quanto mais constructos únicos a pessoa empregar maior a sua complexidade cognitiva p ex Bieri 1955 PESQUISA ATUAL No 20º aniversário da morte de Kelly Jankowicz 1987 ver também Davisson 1978 publicou um ar tigo intitulado Whatever became of George Kelly A resposta de Jankowicz p 483 é que as idéias de Kelly sobrevivem como um tema organizador central para um pequeno grupo de entusiastas Esse grupo está centrado principalmente na Inglaterra onde a figura mais importante é um dos antigos alunos de Kelly Donald Bannister p ex Bannister 1977 1985 Bannister Fransella 1966 1971 Bannister Mair 1968 Fransella Bannister 1977 ver também Fran sella Dalton 1990 Fransella Thomas 1988 Win ter 1992 Nos Estados Unidos a figura central é A W Landfield Landfield 1982 1988 Landfield Ep ting 1987 Landfield Leitner 1980 ver também Epting 1984 Existem vários outros programas de pesquisa sistemática para a aplicação de uma aborda gem de constructo pessoal em domínios terapêuticos tal como o trabalho de Viney Viney 1993 Viney Crooks Walker 1995 Viney Walker Robertson Li lley Ewan 1994 ver também Neimeyer Neimeyer 1990 Os pesquisadores recémmencionados adotaram em grande parte um foco aplicado Entretanto nos últimos anos alguns pesquisadores adotaram uma abordagem de constructo pessoal à pesquisa de labo ratório Por exemplo Leitner e Cado 1982 descobri ram que os indivíduos com as atitudes mais negativas em relação aos homossexuais eram aqueles que viam a homossexualidade como invalidando constructos pessoais importantes Esses são os indivíduos que da perspectiva de Kelly se sentem mais ameaçados ou estressados pela homossexualidade Leitner e Cado mediram o estresse homossexual ou a mudança na interpretação do self quando há homossexualidade envolvida A mudança seria a diferença entre o self interpretado como eu sou agora e como eu seria se fosse homossexual Da mesma forma Tobacyk e Do wns 1986 encontraram e replicaram um relaciona mento significativo entre os escores kellyanos de ame aça e subseqüentes aumentos no estado de ansiedade no caso de uma apresentação musical importante Nessa pesquisa a ameaça foi medida como a discre pância entre a colocação do self e o self se você acabou de ter um mau desempenho diante do seu júri musical mais importante em 40 constructos centrais bipolares Como um aparte o leitor deve notar a se melhança entre essa metodologia e os escores de dis crepância de selfself ideal empregados em algumas pesquisas rogerianas ver Capítulo 11 Isso também é em muitos aspectos a imagem espelhada da abor dagem de Bandura à mensuração da autoeficácia ver Capítulo 14 Finalmente Baldwin Critelli Stevens e Russell 1986 empregaram uma versão do Rep Test planeja da para provocar constructos de papel sexual Os su jeitos fizeram uma versão do Rep Test em que os alvos de papel incluíam três pessoas que você considera muito femininas e três pessoas que você considera muito masculinas Eles foram solicitados a descrever um jeito feminino em que duas das pessoas desig nadas como femininas eram parecidas e diferentes de uma terceira pessoa Foram feitas seis dessas compa rações para formar seis constructos femininos De modo semelhante foram construídos seis constructos masculinos Cada um dos 12 alvos de papel recebeu uma avaliação em cada constructo e os sujeitos indi caram quão desejável cada constructo era para eles As autoavaliações somadas nos constructos de femi nilidade e de masculinidade geraram escores de femi nilidade e de masculinidade para os sujeitos Os esco res de RepSexo são distintos dos escores de masculinidade e feminilidade no Bem Sex Role Inven tory no sentido de que refletem a extensão da iden tificação do indivíduo com sua concepção singular de masculinidade e feminilidade p 1086 em vez de padrões tradicionais ou culturais Os autores também conseguiram demonstrar alguma validade nesses es cores como no achado de que os escores de feminili dade no RepSexo se correlacionavam significativa mente com o ajustamento autorelatado por mães recentes Tomados como um conjunto esses estudos demonstram a potencial utilidade das estratégias con ceitual e de mensuração de Kelly 344 HALL LINDZEY CAMPBELL STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Há muito a recomendar na teoria de Lewin Existe antes de tudo a imensa atividade investigativa esti mulada pelas idéias de Lewin Ele abriu muitas portas novas para o psicólogo portas que levaram a regiões da personalidade e do comportamento social previa mente fechadas para o experimentador O trabalho sobre substituição nível de aspiração efeitos da in terrupção sobre a memória regressão conflito e di nâmica de grupo foi iniciado por Lewin A importân cia de muitos desses fenômenos psicológicos foi estabelecida pelas observações dos psicanalistas mas foi Lewin quem criou uma atmosfera teórica adequa da e planejou métodos para investigálos Lewin possuía o valioso talento de ser capaz de tornar explícitas e concretas algumas das mais implí citas e elusivas suposições sobre a personalidade Ele viu por exemplo a necessidade de explicar detalha damente as suposições básicas dos teóricos psicanalí ticos sobre a substituição de uma atividade por outra Quando isso foi feito em termos de uma organização de sistemas de tensão separados cujas fronteiras pos suíam a propriedade de permeabilidade foi aberto o caminho para o ataque experimental A sua capacida de de pensar de forma rigorosa e esclarecedora sobre conceitos era um dos pontos fortes de Lewin e ele iluminou muitos problemas que jaziam à sombra de conceitualizações incompletas e de teorizações con fusas Ele estava convencido de que a ciência da psi cologia para ser útil aos seres humanos teria de pe netrar na dimensão significativa da conduta humana e explorála experimentalmente Embora Lewin pu desse ser incompreensível em sua teorização ele ra ramente deixava de lado os casos concretos e as pres crições práticas para a pesquisa Além disso ele reconheceu claramente que uma teoria que abrange os aspectos vitais do comporta mento humano tem de ter um alcance multidimen sional Em outras palavras tem de ser uma teoria de campo que abarque uma rede de variáveis interliga das em vez de pares de variáveis Essa ênfase no cam po era necessária nas décadas de 20 e 30 para con trabalançar a influência e o prestígio de uma psicologia supersimplificada e ingênua de estímuloresposta Enquanto a psicologia da Gestalt estava atacando e esmagando os baluartes da psicologia estrutural que defendiam a análise mental em elementos a psicolo gia topológica e vetorial de Lewin competia com uma forma de comportamentalismo bastante estéril que reduzia a conduta humana a simples conexões de es tímuloresposta A teoria de Lewin ajudou a criar uma estrutura de referência subjetiva cientificamente res peitável em um momento no qual o objetivismo era a voz dominante na psicologia Os assim chamados de terminantes internos da conduta como aspirações va lores e intenções tinham sido sumariamente descar tados por uma psicologia objetiva em favor de reflexos condicionados da aprendizagem por repeti ção e do provocar e eliminar automáticos dos víncu los de estímuloresposta O comportamentalismo ti nha quase conseguido reduzir o ser humano a um autômato um marionete mecânico que dançava de acordo com a melodia dos estímulos externos ou pu lava ao ser aguilhoado pelos impulsos fisiológicos in ternos um robô destituído de espontaneidade e de criatividade uma pessoa vazia A teoria de Lewin foi uma das que ajudaram a reviver a concepção do indivíduo como um campo de energia complexo motivado por forças psicológicas e comportandose seletiva e criativamente O homem vazio foi reabastecido com necessidades psicológicas intenções esperanças e aspirações O robô foi trans formado em um ser humano vivo O crasso e árido materialismo do comportamentalismo foi substituído por um quadro mais humanístico das pessoas Enquan to a psicologia objetiva talhava muitas de suas pro posições empíricas para serem testadas em cães ga tos e ratos a teoria de Lewin levou à pesquisa sobre o comportamento humano conforme expresso em am bientes mais ou menos naturais As crianças brincan do os adolescentes em atividades grupais os traba lhadores em fábricas as pessoas planejando refeições essas foram algumas das situações naturais de vida em que hipóteses derivadas da teoria de campo de Lewin foram testadas empiricamente Com essa pes quisa vital sendo feita sob a égide persuasiva da teo ria de campo não surpreende que o ponto de vista de Lewin se tenha tornado tão popular O poder heurísti co da teoria independentemente de sua adequação formal ou de suas pretensões de ser um modelo mate mático justifica a grande estima que a teoria de cam po de Lewin tem recebido Um tanto paradoxalmente Lewin tem sido am plamente ignorado pela atual geração de psicólogos em parte provavelmente porque sua abordagem to pológica parece tão estranha Apesar disso suas idéi as e seus insights permanecem vigorosos e apropria TEORIAS DA PERSONALIDADE 345 dos As evidências dessa fertilidade foram oferecidas pelos três simpósios que constituíram a Préconferên cia realizada pela Society of Personality and Social Psychology na convenção anual de 1996 pela Socieda de Psicológica Americana A Préconferência intitu louse Up to the roots The role of Lewian thought in contemporary personality and social psychology Con forme ilustrado nesses artigos p ex Funder 1996 McAdams 1996 Steele 1996 a abordagem de Lewin permanece relevante A abordagem de constructo pessoal de George Kelly à personalidade teve uma espécie de renasci mento nos últimos anos Em parte isso pode ser atri buído ao Zeitgeist cognitivo que domina a psicologia atualmente Além do fato de nós agora termos uma orientação com a qual recuperar essa teoria previa mente suspensa existe muito que atrai na aborda gem de Kelly Sua premissa básica de que os indivídu os diferem fundamentalmente na sua maneira de interpretar a realidade e nos resultados que anteci pam como conseqüência soa verdadeira Parece ine gável que nós realmente impomos as nossas expecta tivas ao mundo e que essas expectativas servem para canalizar o nosso comportamento Kelly nos prestou um serviço ao dirigir a nossa atenção para a maneira como criamos o mundo ao qual respondemos Entre tanto existem vários pontos que podemos objetar em sua teoria Primeiro a maior força de Kelly é sua ajuda para compreendermos como os indivíduos interpretam ou constroem a realidade Ele disse muito pouco sobre como os indivíduos adquirem seus constructos e como esses constructos originam o comportamento O co rolário de experiência fala sobre a aquisição de cons tructos mas de uma maneira muito geral Ficamos sabendo que as pessoas desenvolvem constructos que lhes permitem antecipar resultados mas não temos como saber que direção seguirá esse processo de aqui sição Os que apóiam a teoria de Kelly podem argu mentar que isso é análogo a queixarse de que a teo ria da aprendizagem não especifica o que é aprendido mas o fato é que Kelly nos diz muito pouco sobre o que governa a natureza dos constructos que forma mos a maneira como designamos objetos e eventos para pólos ou a probabilidade de a pessoa responder a predições inexatas e à ansiedade com mudança cons trutiva em oposição à suspensão submersão ou hos tilidade É como se nos dissessem que os bons cientis tas nascem prontos não se fazem Igualmente fica mos sabendo que baseamos o nosso comportamento em conseqüências antecipadas seguindo o corolário de escolha e o ciclo CPC mas não nos dizem o que governa essas escolhas ou o movimento através do ciclo Isso nos lembra a objeção de que os modelos cognitivos da aprendizagem deixam o rato perdido em pensamentos Segundo existe uma pobreza emocional no mo delo de Kelly da personalidade Talvez em função dos clientes com os quais trabalhava Kelly enfatizou a lógica e a racionalidade No processo de articular essa faceta do comportamento humano ele ignorou as paixões que também desempenham um papel cen tral na vida humana Grande parte do apelo persis tente da teoria freudiana é o destaque que ela dá à paixão humana e não existe nada disso em Kelly Essa falta de atenção à emocionalidade e aos mecanismos de excitação deixa uma imagem fraca e desbotada do comportamento humano Da mesma forma Kelly su geriu que as pessoas sadias sempre agem em seus melhores interesses mas grande parte da intriga no comportamento humano originase de casos em que tal suposição parece não se sustentar Finalmente a plasticidade que Kelly atribuiu à personalidade é problemática Os constructos de pa pel nuclear existem para dar estrutura à personalida de mas não podemos contar com muito mais que per maneça Não existem metas valores unidades estruturais ou tendências comportamentais Em resu mo não existe nenhum alicerce para a personalida de Quer enfatizem as predisposições fisiológicas ou o condicionamento social outros teóricos pintam um quadro bem mais claro de uma pessoa sólida e per manente o retrato de Kelly é vago A fluidez que Ke lly atribui às pessoas é um aspecto provocativo e oti mista de sua teoria mas isso também nos deixa sem saber bem onde estamos Mas todas as teorias têm limitações e Kelly arti culou uma perspectiva provocante e característica da personalidade Ninguém nos fez compreender melhor o processo pelo qual os indivíduos constroem o mun do ao qual respondem A teoria pode ter um intervalo de conveniência limitado mas esse intervalo é consi deravelmente útil os indivíduos são distintivos por que sua maneira particular de compreender a reali dade social e física os leva a expectativas distintivas em relação às conseqüências de suas ações TEORIAS DA PERSONALIDADE 347 CAPÍTULO 11 A Teoria de Carl Rogers Centrada na Pessoa INTRODUÇÃO E CONTEXTO 348 K U R T G O L D S T E I N 349 A ESTRUTURA DO ORGANISMO 350 A DINÂMICA DO ORGANISMO 352 Equalização 352 AutoRealização 352 Chegar a um Acordo com o Ambiente 353 O DESENVOLVIMENTO DO ORGANISMO 354 A B R A H A M M A S L O W 354 SUPOSIÇÕES SOBRE A NATUREZA HUMANA 356 HIERARQUIA DE NECESSIDADES 358 SÍNDROMES 361 AUTOREALIZADORES 362 C A R L R O G E R S 363 HISTÓRIA PESSOAL 365 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 367 O Organismo 367 O Self 368 Organismo e self Congruência e Incongruência 369 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 369 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 371 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 374 Estudos Qualitativos 374 Análise de Conteúdo 375 Escalas de Avaliação 375 Estudos com a TécnicaQ 376 Estudos Experimentais do Autoconceito 380 Outras Abordagens Empíricas 380 PESQUISA ATUAL 380 Teoria da Dissonância Cognitiva 381 Teoria da Autodiscrepância 382 Autoconceito Dinâmico 383 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 384 348 HALL LINDZEY CAMPBELL Nós começamos este capítulo com um breve relato da teoria organísmica conforme desenvolvida por Kurt Goldstein Depois examinamos duas outras formula ções de teoria organísmica a de Abraham Maslow e a de Carl Rogers A figura de destaque deste capítulo será Rogers INTRODUÇÃO E CONTEXTO No século XVII Descartes dividiu o indivíduo em duas entidades separadas mas interatuantes corpo e men te No século XIX Wundt aderindo à tradição do as sociacionismo britânico atomizou a mente reduzin doa a partículas elementares de sensações sentimen tos e imagens Posteriormente houve repetidas ten tativas de voltar a unir a mente e o corpo e tratar o organismo como um todo unificado organizado Uma tentativa notável que atraiu muitos seguidores nos últimos anos é conhecida como o ponto de vista orga nísmico ou holístico Esse ponto de vista encontrou expressão na psicobiologia de Adolf Meyer Meyer 1948 Rennie 1943 na orientação médica denomi nada psicossomática Dunbar 1954 e no trabalho fundamental de Coghill sobre o desenvolvimento do sistema nervoso em relação ao comportamento 1929 Os precursores médicos mais importantes do conceito organísmico são Hughlings Jackson o proe minente neurologista inglês 1931 e Claude Bernard o famoso fisiologista francês 1957 Jan Smuts o estadista e soldado sulafricano foi o proponente fi losófico mais importante da teoria organísmica e seu livro notável Holism and Evolution 1926 tem sido muito influente O general Smuts cunhou a palavra holismo a partir da raiz grega holos que significa com pleto integral inteiro Na psicologia a teoria orga nísmica foi exposta por J R Kantor 1924 1933 1947 R H Wheeler 1940 Heinz Werner 1948 e Gardner Murphy 1947 A teoria organísmica nutriu se do artigo de John Dewey que marcou época The reflex arc concept in psychology 1896 Aristóteles Goethe Spinoza e William James foram menciona dos como providenciando a sementeira na qual ger minou a teoria organísmica Embora nem todos esses autores tenham apresentado teorias organísmicas com pletas seus conceitos apontam nessa direção Estreitamente relacionado ao ponto de vista or ganísmico está o movimento da Gestalt iniciado por Wertheimer Koffka e Köhler que nos anos imediata mente anteriores à Primeira Guerra Mundial lidera ram uma revolta contra o tipo de análise mental rea lizado na época por Wundt e seus seguidores O movimento representou um novo tipo de análise da experiência consciente Partindo do campo perceptual como um todo eles então o diferenciam em figura e fundo e depois estudam as propriedades de cada um deles e suas mútuas influências Na área da aprendi zagem eles substituíram a doutrina da associação pelo conceito de insight Uma pessoa aprende uma tarefa como um todo significativo e não de maneira frag mentada Embora a psicologia da Gestalt tenha tido uma imensa influência sobre o pensamento moderno e certamente seja compatível com a teoria organísmi ca ela não pode ser considerada estritamente falan do uma psicologia organísmica A razão disso é que a psicologia da Gestalt conforme desenvolvida por Wertheimer Koffka e Köhler tende a restringir sua atenção aos fenômenos da percepção consciente e diz muito pouco sobre o organismo ou a personalidade como um todo A teoria organísmica tomou empres tados muitos de seus conceitos da psicologia da Ges talt e os dois pontos de vista estão nos termos mais amigáveis A psicologia organísmica pode ser consi derada a extensão dos princípios gestálticos ao orga nismo como um todo Kurt Goldstein o eminente neuropsiquiatra apre senta uma introdução útil às teorias organísmicas Influenciado largamente por suas observações e in vestigações de soldados com lesão cerebral durante a Primeira Guerra Mundial e por seus estudos anterio res de perturbações da fala Goldstein chegou à con clusão de que nenhum sintoma específico apresenta do por um paciente podia ser compreendido unicamente como o produto de uma determinada le são ou doença orgânica mas tinha de ser considera do como uma manifestação do organismo total O or ganismo sempre se comporta como um todo unificado e não como uma série de partes diferenciadas A mente e o corpo não são entidades separadas a mente não consiste em faculdades ou elementos independentes e o corpo em órgãos e processos independentes O organismo é uma unidade singular O que acontece em uma parte afeta o todo O psicólogo estuda o or TEORIAS DA PERSONALIDADE 349 ganismo de uma perspectiva o fisiologista de outra Mas ambas as disciplinas precisam operar dentro da estrutura da teoria organísmica porque qualquer even to quer psicológico quer fisiológico sempre ocorre no contexto do organismo total a menos que ele se tenha isolado artificialmente desse contexto As leis do todo governam o funcionamento das partes dife renciadas do todo Conseqüentemente é necessário descobrir as leis segundo as quais o organismo todo funciona para podermos entender o funcionamento de qualquer um dos componentes Esse é o princípio básico da teoria organísmica Os principais aspectos da teoria organísmica no que se refere à psicologia da pessoa podem ser resu midos da seguinte maneira 1 A teoria organísmica enfatiza a unidade a integração a consistência e a coerência da personalidade normal A organização é o es tado natural do organismo a desorganiza ção é patológica e normalmente provocada pelo impacto de um ambiente opressivo ou ameaçador ou por anomalias intraorgânicas 2 A teoria organísmica começa com o organis mo como um sistema organizado e analisao diferenciando o todo em seus membros cons tituintes Um membro nunca é abstraído do todo ao qual pertence e estudado como uma entidade isolada ele é sempre considerado como tendo uma qualidade de associação dentro do organismo total Os teóricos orga nísmicos acreditam que é impossível compre ender o todo estudando diretamente partes e segmentos isolados porque o todo funcio na segundo leis que não podem ser encon tradas nas partes 3 A teoria organísmica supõe que o indivíduo é motivado por uma pulsão soberana e não por uma pluralidade de pulsões O termo de Goldstein para esse motivo soberano é auto atualização ou autorealização que significa que os humanos estão sempre tentando rea lizar suas potencialidades inerentes por to dos os caminhos abertos para eles Tal singu laridade de propósito dá direção e unidade à nossa vida 4 Embora a teoria organísmica não considere o indivíduo como um sistema fechado ela tende a minimizar a influência primária e diretiva do ambiente externo sobre o desen volvimento normal e a enfatizar as potencia lidades inerentes de crescimento do organis mo O organismo seleciona os aspectos do ambiente aos quais ele vai reagir e exceto em circunstâncias raras e anormais o am biente não pode forçar o indivíduo a se com portar de maneira inapropriada à sua natu reza Se o organismo não conseguir controlar o ambiente ele tentará se adaptar a ele Em geral a teoria organísmica considera que as potencialidades do organismo se puderem se desdobrar de maneira ordenada por te rem um ambiente apropriado produzirão uma personalidade sadia e integrada embo ra as forças ambientais malignas possam a qualquer momento destruir ou incapacitar a pessoa Não existe nada de inerentemente mau no organismo um ambiente inadequa do o torna mau 5 A teoria organísmica pensa que temos mais a aprender a partir do estudo compreensivo de uma pessoa do que pela investigação ex tensiva de uma função psicológica isolada ob servada em muitos indivíduos Por essa ra zão a teoria organísmica tende a ser mais popular entre os psicólogos clínicos que se preocupam com a pessoa total do que entre psicólogos experimentais primariamente in teressados em processos ou em funções se paradas como a percepção e a aprendiza gem Agora apresentaremos a teoria organísmica de senvolvida por Kurt Goldstein KURT GOLDSTEIN Kurt Goldstein fez sua formação em neurologia e psi quiatria na Alemanha e atingiu uma posição de emi nência como cientistamédico e professor antes de migrar para os Estados Unidos em 1935 depois que os nazistas subiram ao poder Ele nasceu na Alta Sile sia na época uma parte da Alemanha mas atualmen te uma parte da Polônia em 6 de novembro de 1878 350 HALL LINDZEY CAMPBELL e formouse em medicina na Universidade de Bres lau Baixa Silesia em 1903 Ele estagiou com vários cientistasmédicos famosos durante alguns anos an tes de aceitar uma posição de ensino e pesquisa no Hospital Psiquiátrico de Koenigsberg Durante seus oito anos nesse cargo Goldstein pesquisou muito e escre veu numerosos artigos que estabeleceram sua reputa ção e levaramno aos 36 anos de idade ao posto de professor de neurologia e psiquiatria e diretor do Ins tituto Neurológico da Universidade de Frankfurt Du rante a Primeira Guerra Mundial ele se tornou dire tor do Military Hospital for Brain Injured Soldiers e foi então possível estabelecer um instituto de pesquisa sobre os efeitos secundários das lesões cerebrais Foi nesse instituto que Goldstein fez os estudos funda mentais que estabeleceram a base para o seu ponto de vista organísmico Gelb Goldstein 1920 Em 1930 ele foi para a Universidade de Berlim como pro fessor de neurologia e psiquiatria e também foi dire tor do Departamento de Neurologia e Psiquiatria no Hospital Moabit Quando Hitler dominou a Alemanha Goldstein foi preso e depois libertado com a condição de deixar o país Ele foi para Amsterdam onde con cluiu seu livro mais importante Der Aufbau des Orga nismus traduzido para o inglês com o título The Or ganism 1939 Indo para os Estados Unidos em 1935 ele trabalhou por um ano no Instituto Psiquiátrico de Nova York depois tornouse chefe do Laboratório de Neurofisiologia no Hospital Montefiore na cidade de Nova York e professor clínico de neurologia no Colle ge of Physicians and Surgeons da Universidade de Co lúmbia Durante esse período ele realizou palestras sobre psicopatologia no Departamento de Psicologia da Universidade de Colúmbia e foi convidado para proferir as palestras William James na Universidade de Harvard que foram publicadas com o título Hu man Nature in the Light of Psychopathology 1940 Durante os anos da guerra ele trabalhou como pro fessor clínico de neurologia na Tufts Medical School em Boston e publicou um livro sobre os efeitos secun dários das lesões cerebrais na guerra 1942 Em 1945 ele voltou à cidade de Nova York e abriu seu consultó rio como neuropsiquiatra e psicoterapeuta Associou se à Universidade de Colúmbia e à New School for So cial Research e foi professorconvidado na Universi dade de Brandeis viajando semanalmente para Wal tham Aí ele se associou a dois outros teóricos holísti cos Andras Angyal e Abraham Maslow Seu último livro foi sobre linguagem e perturbações da lingua gem 1948 uma área que ele pesquisara durante toda sua vida profissional Nos seus últimos anos Golds tein identificouse mais com a fenomenologia e a psi cologia existencial Ele morreu na cidade de Nova York em 19 de setembro de 1965 aos 86 anos de idade Sua autobiografia 1967 apareceu postumamente Um volume memorial Simmel 1968 contém uma bibliografia completa dos textos de Goldstein A ESTRUTURA DO ORGANISMO O organismo consiste em membros diferenciados e articulados os membros não se separam e nem se iso lam uns dos outros a não ser em condições anormais ou artificiais como por exemplo uma forte ansieda de A organização primária do funcionamento orga nísmico é a da figura e do fundo Uma figura é qual quer processo que emerge e destacase de um fundo Em termos de percepção é aquilo que ocupa o centro da consciência que está atenta Quando por exem plo uma pessoa está olhando para um objeto em uma sala a percepção do objeto se torna uma figura con tra o fundo do resto da sala Em termos de ação a figura é a principal atividade que o organismo está realizando Quando estamos lendo um livro a leitura é a figura que se destaca de outras atividades como mexer no cabelo mascar a ponta do lápis ouvir as vozes da sala ao lado e respirar Uma figura tem uma fronteira ou contorno definido que a encerra e separa do que a cerca O fundo é contínuo ele não só cerca a figura como se estende por trás dela O que faz uma figura emergir do fundo do orga nismo total Ela é determinada pela tarefa exigida no momento pela natureza do organismo Assim quan do um organismo faminto se depara com a tarefa de conseguir comida qualquer processo que ajude na realização da tarefa será uma figura Pode ser a lem brança de onde a comida foi encontrada no passado uma percepção de objetos alimentícios no ambiente ou uma atividade que produza alimento Mas se o organismo mudar por exemplo se a pessoa faminta ficar assustada emergirá um novo processo como fi gura apropriada à tarefa de lidar com o medo Novas figuras emergem como tarefas da mudança do orga nismo TEORIAS DA PERSONALIDADE 351 Kurt Goldstein 352 HALL LINDZEY CAMPBELL Embora Goldstein não tenha dito muito sobre a estrutura do organismo além da diferenciação entre figura e fundo ele realmente salientou que existem três tipos diferentes de comportamento os desempe nhos que são atividades voluntárias experienciadas conscientemente as atitudes que são sentimentos estados de ânimo e outras experiências internas e os processos que são funções corporais que só podem ser experienciadas indiretamente 1929 p 307 ff Goldstein também utilizou muito a distinção es trutural entre comportamento concreto e abstrato O comportamento concreto consiste em reagir a estímu los de maneira bastante automática ou direta enquan to o comportamento abstrato consiste em agir em fun ção do estímulo Por exemplo no comportamento concreto percebemos a configuração do estímulo e reagimos a ela conforme nos parece no momento ao passo que no comportamento abstrato a pessoa pensa sobre o padrão de estímulos no que ele significa na sua relação com outras configurações em como ele pode ser usado e quais são suas propriedades concei tuais A diferença entre comportamento concreto e abstrato é a diferença entre reagir diretamente a um estímulo e reagir a ele depois de pensar sobre o estí mulo Esses dois tipos de comportamento dependem de atitudes contrastantes em relação ao mundo A DINÂMICA DO ORGANISMO Os principais conceitos dinâmicos apresentados por Goldstein são 1 o processo de equalização ou a cen tração do organismo 2 a autorealização e 3 o chegar a um acordo com o ambiente Equalização Goldstein postulou um suprimento de energia dispo nível muito constante que tende a ser distribuído igualmente por todo o organismo Essa energia cons tante igualmente distribuída representa o estado médio de tensão no organismo e é ao estado médio que o organismo sempre retorna ou tenta retornar após um estímulo que muda a tensão O retorno ao estado médio é o processo de equalização Por exemplo ouvi mos um som vindo da direita e voltamos a cabeça nessa direção O virar da cabeça equaliza a distribui ção de energia no sistema que foi desequilibrado pelo som Comer quando se tem fome descansar quando se está cansado e espreguiçarse depois de ficar to lhido em um espaço exíguo são outros exemplos co nhecidos do processo de equalização A meta de uma pessoa normal sadia não é sim plesmente descarregar a tensão mas equalizála O nível em que a tensão se torna equilibrada representa a centração do organismo Esse centro é o que permi te ao organismo desempenhar mais efetivamente o seu trabalho de lidar com o ambiente e de realizarse em outras atividades de acordo com a sua natureza A centração plena ou o equilíbrio completo é um estado holístico ideal e é provavelmente alcançada raras ve zes O princípio da equalização explica a consistência a coerência e a ordenação do comportamento apesar de estímulos perturbadores Goldstein não acreditava que as fontes de perturbação fossem primariamente intraorgânicas exceto em circunstâncias anormais e catastróficas que produzem isolamento e conflito in terno Em um ambiente adequado o organismo sem pre permanecerá mais ou menos em equilíbrio As re distribuições de energia e o desequilíbrio do sistema resultam de interferências ambientais e às vezes de conflito interno Como resultado da maturação e da experiência a pessoa desenvolve modos preferenci ais de comportarse que mantêm em um mínimo as interferências e os conflitos e preservam o equilíbrio do organismo A vida de um indivíduo se torna mais centrada e menos sujeita às mudanças fortuitas do mundo interno e externo à medida que ele fica mais velho AutoRealização Este é o motivomestre de Goldstein na verdade é o único motivo que o organismo possui O que parece ser motivos diferentes como fome sexo poder con quistas e curiosidade é meramente a manifestação do propósito soberano da vida realizarse Quando as pessoas estão com fome elas se realizam comen do quando desejam poder elas se realizam obtendo poder A satisfação de qualquer necessidade específi ca está em primeiro plano quando é um prérequisito para a autorealização do organismo total A autore TEORIAS DA PERSONALIDADE 353 alização é a tendência criativa da natureza humana É o princípio orgânico pelo qual o organismo se torna mais desenvolvido e mais completo A pessoa igno rante que deseja conhecimento sente um vazio interi or ela se sente incompleta Ao ler e estudar o desejo de conhecimento é satisfeito e o vazio desaparece Dessa forma foi criada uma nova pessoa uma pessoa em quem a aprendizagem tomou o lugar da ignorân cia O desejo se tornou uma realidade Qualquer ne cessidade é um estado de déficit que motiva a pessoa a suprilo É como um buraco que precisa ser preen chido O preenchimento ou a realização de uma ne cessidade é o que queremos dizer com autoatualiza ção ou autorealização Embora a autorealização seja um fenômeno de natureza universal os fins específicos buscados pelos seres humanos variam de pessoa para pessoa Isso acontece porque elas têm potencialidades inatas dife rentes que dão forma aos seus fins e dirigem as linhas de seu desenvolvimento e crescimento individuais bem como ambientes e culturas diferentes aos quais precisam ajustarse e nos quais precisam garantir os suprimentos necessários para o crescimento Como podemos determinar as potencialidades do indivíduo Goldstein disse que a melhor maneira de fazer isso é descobrir o que a pessoa prefere e o que ela faz melhor Suas preferências correspondem às suas potencialidades Isso significa que para saber o que as pessoas estão tentando realizar precisamos saber do que elas gostam e quais são seus talentos O joga dor de beisebol está realizando aquelas potencialida des que são desenvolvidas quando ele joga beisebol o advogado aquelas potencialidades que são realiza das pela prática do direito Em geral Goldstein enfatizou a motivação cons ciente mais que a inconsciente O inconsciente aos seus olhos é o fundo para o qual o material conscien te recua quando deixa de ser útil para a autorealiza ção em uma situação definida e do qual emerge quan do novamente se torna adequado e apropriado para a autorealização Todas as peculiaridades que Freud enumera como características do inconsciente corres pondem plenamente às mudanças que o comporta mento normal sofre pelo isolamento provocado pela doença 1939 p 323 Chegar a um Acordo com o Ambiente Embora Goldstein como teórico organísmico tenha enfatizado os determinantes internos do comporta mento e o princípio de que o organismo encontra o ambiente mais apropriado para a autorealização ele não adotou a posição extrema de que o organismo está imune aos eventos do mundo externo Ele reco nheceu a importância do mundo objetivo como uma fonte de perturbação com a qual o organismo precisa lidar e como uma fonte de suprimentos pela qual o organismo realiza seu destino Isto é o ambiente se impõe ao organismo estimulandoo ou superestimu landoo de forma a perturbar o equilíbrio orgânico mas por outro lado o organismo perturbado busca no ambiente aquilo de que precisa para equalizar a tensão interna Em outras palavras existe uma inte ração entre o organismo e o ambiente A pessoa tem de chegar a um acordo com o ambi ente tanto porque ele lhe proporciona os meios pelos quais a autorealização pode ser obtida quanto por que ele contém obstruções na forma de ameaças e de pressões que impedem a autorealização Às vezes a ameaça vinda do ambiente pode ser tão grande que o comportamento do indivíduo fica congelado pela an siedade e ele não consegue fazer qualquer progresso na busca de sua meta Outras vezes a autorealização pode ser impedida porque o ambiente não possui aque les objetos ou condições necessários para a realiza ção Goldstein nos diz que o organismo normal sadio é aquele em que a tendência para a autorealização vem de dentro e supera a perturbação decorrente do choque com o mundo não por ansiedade e sim pelo prazer da conquista 1939 p 305 Essa declaração tocante sugere que chegar a um acordo com o ambi ente consiste primariamente em dominálo Se isso não puder ser feito a pessoa terá de aceitar as dificul dades e ajustarse às realidades do mundo externo da melhor maneira possível Se a discrepância entre as metas do organismo e as realidades do ambiente for grande demais o organismo entra em colapso ou desiste de algumas de suas metas e tenta realizarse em um nível inferior de existência 354 HALL LINDZEY CAMPBELL O DESENVOLVIMENTO DO ORGANISMO Embora o conceito de autorealização sugira que exis tem padrões ou estágios de desenvolvimento por meio dos quais a pessoa progride Goldstein não disse mui to sobre o curso do crescimento exceto por algumas generalidades sobre o comportamento se tornar cada vez mais ordenado e mais ajustado ao ambiente con forme a pessoa fica mais velha Goldstein sugeriu que existem tarefas peculiares a certos níveis de idade mas não especificou quais são ou se são as mesmas para todos os indivíduos A importância da heredita riedade também é sugerida mas sua relativa contri buição não é explicitada Goldstein também não apre sentou uma teoria da aprendizagem Ele falou sobre a reorganização de antigos padrões em padrões no vos e mais efetivos a repressão de atitudes e de im pulsos que estão em oposição ao desenvolvimento da personalidade global a aquisição de maneiras prefe ridas de comportamento a emergência da figura em relação ao fundo a fixação de padrões de comporta mento por estímulos traumáticos ou pela prática re petitiva com estímulos isolados as mudanças de ajus te e as formações substitutas mas essas noções não foram reunidas dentro de uma teoria sistemática de aprendizagem Elas são extremamente compatíveis com uma teoria gestáltica de aprendizagem Goldstein disse que se uma criança é exposta a situações com as quais é capaz de lidar ela vai desen volverse normalmente por meio da maturação e do treinamento À medida que surgirem novos proble mas ela formará novos padrões para lidar com eles As reações que já não forem úteis para a meta da auto realização serão abandonadas Entretanto se as con dições do ambiente forem árduas demais para as ca pacidades da criança ela desenvolverá reações inconsistentes com o princípio da autorealização Nesse caso o processo tende a ficar isolado do pa drão de vida da pessoa O isolamento de um processo é a condição primária para o desenvolvimento de es tados patológicos Por exemplo os seres humanos não são agressivos e nem submissos por natureza mas para cumprir sua natureza eles às vezes precisam ser agressivos e outras vezes submissos dependendo das circunstâncias Entretanto se a pessoa desenvolver um hábito sólido e fixo de agressão ou submissão isso tenderá a ter uma influência destrutiva sobre a perso nalidade ao afirmarse em momentos inadequados e de maneiras contrárias aos interesses da pessoa total Não podemos fazer justiça aqui à riqueza dos da dos empíricos de Goldstein nem podemos transmitir ao leitor a exata medida de seus insights sobre as ra zões da conduta humana Mas podemos orientar o investigador que desejar pesquisar de maneira orga nísmica com um conjunto de direções 1 estudar a pessoa total 2 fazer estudos intensivos de casos in dividuais usando testes entrevistas e observações em condições naturais não depender apenas de um tipo de evidência 3 tentar compreender o comportamen to da pessoa em termos de princípios sistêmicos como autorealização chegando a um acordo com o ambi ente e de atitudes abstratas versus concretas em vez de respostas específicas a estímulos específicos 4 utilizar tanto métodos qualitativos como quantitati vos na coleta e na análise de dados 5 não empregar controles experimentais e condições padronizadas que destruam a integridade do organismo e tornemno nãonatural e artificial 6 jamais esquecer que o or ganismo é uma estrutura complexa e que o seu com portamento resulta de uma vasta rede de determinan tes ABRAHAM MASLOW Abraham Maslow ver especialmente Motivation and Personality 1954 edição revisada 1970 Toward a Psychology of Being 1968a e The Farther Reaches of Human Nature 1971 adotou um ponto de vista ho lísticodinâmico que tem muito em comum com o de Goldstein que foi seu colega na Universidade de Bran deis Maslow considerava que sua posição caía dentro da ampla província da psicologia humanista que ca racterizava como a terceira força na psicologia ame ricana as outras duas sendo o comportamentalismo e a psicanálise Maslow nasceu em Brooklyn Nova York em 1 de abril de 1908 Todos os seus diplomas foram conse guidos na Universidade de Winscosin onde fez pes quisas sobre o comportamento dos primatas Por 14 anos 19371951 ele trabalhou na faculdade do Brooklyn College Em 1951 Maslow foi para a Uni versidade de Brandeis onde permaneceu até 1969 quando tornouse resident fellow da Fundação Laugh TEORIAS DA PERSONALIDADE 355 Abraham Maslow 356 HALL LINDZEY CAMPBELL lin em Menlo Park Califórnia Maslow sofreu um ata que cardíaco fatal em 8 de junho de 1970 Depois de sua morte surgiram vários livros sobre sua vida e obra Entre eles estão um elogioso volume memorial algumas notas nãopublicadas por Maslow uma bibliografia completa de seus textos BG Mas low 1972 e um retrato intelectual por um colega próximo Lowry 1973a Lowry 1973b também reu niu em um volume os artigos embrionários de Mas low Outros livros sobre Maslow foram escritos por Goble 1970 e Wilson 1972 e Lowry publicou os diários de Maslow Maslow 1982 Em vez de analisar a teoria de Maslow em termos de estrutura dinâmica e desenvolvimento nós discu tiremos quatro aspectos distintivos de suas idéias acer ca da personalidade suas suposições sobre a nature za humana sua hierarquia de necessidades sua descrição de síndromes e seu estudo da autorealiza ção É importante não esquecer que Maslow diferen temente de Goldstein valeuse de investigações de pessoas sadias e criativas para chegar a certas formu lações sobre a personalidade SUPOSIÇÕES SOBRE A NATUREZA HUMANA Maslow censurava a psicologia por sua concepção pessimista negativa e limitada do ser humano Se gundo ele a psicologia detiverase mais nas fragilida des do que nas forças humanas explorara mais minu ciosamente os pecados enquanto negligenciara as virtudes A psicologia vira a vida em termos de um indivíduo tentando desesperadamente evitar a dor em vez de agir ativamente para obter prazer e felicidade Onde está a psicologia perguntava Maslow que leva em conta a alegria a exuberância o amor e o bem estar na mesma extensão em que trata da miséria do conflito da vergonha e da hostilidade A psicologia restringiuse voluntariamente apenas à metade de sua legítima jurisdição e à pior metade à metade mais sombria Maslow tentou suprir a outra metade do quadro a metade melhor e mais favorável e oferecer um retrato da pessoa completa Ele escreveu Permitamme tentar apresentar brevemente e a princípio dogmaticamente a essência desta nova concepção do homem psiquiatricamente sadio Em primeiro lugar e o mais importante de tudo está a sólida crença de que o homem tem uma nature za essencial própria o esqueleto de uma estrutu ra psicológica que pode ser tratada e discutida analogamente com sua estrutura física de que ele tem necessidades capacidades e tendências ge neticamente baseadas algumas das quais são ca racterísticas de toda a espécie humana atraves sando todas as linhas culturais e algumas das quais são exclusivas do indivíduo Essas necessi dades são aparentemente boas ou neutras em vez de más Segundo está envolvida a concepção de que o desenvolvimento plenamente sadio normal e desejável consiste em realizar a sua natureza em cumprir todas essas potencialidades e em de senvolverse até a maturidade ao longo das linhas ditadas por sua natureza essencial oculta enco berta e vagamente vislumbrada desenvolvendo se a partir do interior ao invés de ser moldado pelo exterior Terceiro agora vemos claramente que a psicopatologia em geral resulta da nega ção da frustração ou da distorção da natureza essencial do homem Por essa concepção o que é bom Tudo o que conduz a esse desenvolvimento desejável na direção da realização da natureza interior do homem O que é mau ou anormal Tudo o que frustra bloqueia ou nega a natureza essencial do homem O que é psicopatológico Tudo o que perturba frustra ou distorce o curso da autorealização O que é psicoterapia ou por falar no assunto qualquer tipo de terapia Qual quer meio que ajude a pessoa a voltar ao caminho da autorealização e do desenvolvimento ao lon go das linhas ditadas por sua natureza interior 1954 p 340341 Em uma outra apresentação de suas suposições básicas Maslow acrescentou esta importante decla ração Esta natureza interior não é forte irresistível e inconfundível como os instintos dos animais É frágil delicada sutil e facilmente dominada por hábitos pressão cultural e atitudes erradas em TEORIAS DA PERSONALIDADE 357 relação a ela Apesar de frágil ela raramente de saparece na pessoa normal talvez nem mesmo na pessoa doente Mesmo negada ela continua às escondidas pressionando eternamente para realizarse 1968a p 4 Maslow também escreveu Todas as evidências que temos principalmente evidências clínicas mas também outros tipos de evidência de pesquisa indi cam que é razoável supor que praticamente em todos os seres humanos e certamente em quase todo bebê recémnascido existe um desejo ativo de saúde um impulso para o crescimento ou para a realização das potencialidades humanas 1967b Nessas passagens eloqüentes e representativas Maslow fez algumas suposições surpreendentes em relação à natureza humana entre as quais a de que as pessoas têm uma natureza inata que é essencialmen te boa ou pelo menos neutra Ela não é inerentemen te má Não é verdade que os instintos são maus ou antisociais e precisam ser domados pelo treinamento e pela socialização À medida que a personalidade se desdobra pela maturação em um ambiente benigno e pelos esforços ativos por parte da pessoa para realizar a sua nature za os poderes criativos do ser humano se manifestam cada vez mais claramente Quando os humanos são miseráveis ou neuróticos é porque o ambiente os tor nou assim por meio da ignorância e da patologia soci al ou porque eles distorceram seu pensamento Mas low acreditava que muitas pessoas temem e resistem a tornarse seres humanos completos autorealiza dos A destrutividade e a violência por exemplo não são inatas nos seres humanos Eles se tornam destru tivos quando sua natureza interior é distorcida nega da ou frustrada Maslow 1968b distinguia entre a violência patológica e a agressão sadia que luta con tra a injustiça o preconceito e outros males sociais Maslow sugeriu que interpretássemos a neurose como um fracasso do crescimento pessoal Isto é a neurose significa que a pessoa não conseguiu ser o que poderia ter sido e diríamos inclusive o que de veria ter sido biologicamente falando isto é se ela tivesse crescido e se desenvolvido sem nenhum impe dimento Maslow 1971 p 33 Maslow fez a si mesmo a pergunta óbvia que os teóricos do crescimento precisam enfrentar Se todos nós temos o impulso de realizar o nosso potencial o que interfere nisso Por que não estamos todos nos autorealizando Nós já vimos que a exposição a um ambiente nãosadio oferece uma resposta a essa per gunta mais adiante neste capítulo veremos que Carl Rogers respondeu a essa pergunta de maneira seme lhante mas que ele tentou identificar o processo no ambiente que o torna nãosadio Tal posição levou Maslow a examinar honestamente o relacionamento entre os seres humanos e a sociedade Ele escreveu 1 Uma vez que chamamos de doente o homem que está basicamente frustrado ou impedido e 2 uma vez que essa frustração básica só é possível por forças fora do indivíduo 3 a doença no indivíduo só pode vir de uma doença na sociedade A sociedade boa ou sadia seria então definida como aquela que permite a emergência dos propósitos superiores do homem ao satisfazer todas as suas necessidades básicas 1970 p 58 Em parte como veremos tudo isso ocorre por que a motivação para o crescimento é frágil i e menos prepotente se comparada à motivação para satisfazer necessidades básicas Duas defesas internas também nos impedem de estar em contato conosco Primeiro o complexo de Jonas se refere à nossa tendência a temer e a tentar fugir do nosso destino e das possibilidades constitu cionalmente sugeridas Tememos as possibilidades divinas em nós mesmos e não nos permitimos ser grandes A resposta de Maslow quando os alunos se sentiam embaraçados por essa atitude era perguntar Se não for você então quem 1971 p 36 A gran deza nos outros e o potencial de grandeza em nós mesmos geralmente são esmagadores e produzem o que os gregos chamavam de medo de hubris ou peca do do orgulho Nós fugimos ao nosso crescimento e em conseqüência estabelecemos baixos níveis de as piração Segundo ocorre uma dessacralização quan do aprendemos a negar as qualidades impressionan tes simbólicas e poéticas de pessoas ou atividades Disso decorrem a falta de confiança e a falta de res peito De uma maneira que lembra a discussão de Jung sobre a intuição Maslow sugeriu que os indivíduos sadios ou autorealizadores precisam aprender a res sacralizar seu mundo 358 HALL LINDZEY CAMPBELL HIERARQUIA DE NECESSIDADES Maslow 1967a 1970 propôs uma teoria da motiva ção humana com base em uma hierarquia de necessi dades ver Figura 111 Quanto mais baixo o nível de uma necessidade na hierarquia mais preponderante ou dominante é essa necessidade Em outras palavras quando várias necessidades estão ativas a necessida de mais inferior será a mais compelidora À medida que as necessidades são satisfeitas emergem necessi dades novas e superiores Além disso as necessidades dos níveis inferiores da hierarquia trazem uma moti vação de deficiência porque são acionadas por um déficit ou falta na pessoa enquanto as necessidades nos níveis superiores trazem uma motivação de cresci mento porque fazem a pessoa buscar metas e cresci mento pessoais Essa progressão é análoga em mui tos aspectos à progressão do funcionamento oportunista ao funcionamento próprio descrita por Gordon Allport Maslow considerava as necessidades de sua hierarquia como instintóides ou instintos fra cos Isto é nós herdamos os impulsos mas aprende mos suas metas ou seus modos de expressão A grati ficação sadia das necessidades não ocorre por meio de associações arbitrárias mas de tudo o que satisfaz de forma intrinsecamente adequada Em muitos as pectos as necessidades instintóides de Maslow são semelhantes aos fragmentos de pulsão descritos por Erikson O nível mais baixo na hierarquia de Maslow é o das necessidades fisiológicas Elas incluem fome sexo sede e outras pulsões com base somática Na exten são em que as necessidades fisiológicas estejam insa tisfeitas elas passam a dominar a pessoa Tais neces sidades são preemptivas no sentido de que empurram todas as outras necessidades para segundo plano A ausência ou o desaparecimento de todas as outras necessidades em uma pessoa que está dominada pela fome por exemplo alguém que é vítima de guerra ou de um desastre natural não é paradoxal é conse qüência da preponderância das necessidades fisioló gicas Observe que essas necessidades correspondem em muitos aspectos aos instintos descritos por Freud À medida que as necessidades fisiológicas são gratifi cadas emergem novas necessidades Conforme Mas low colocou um desejo satisfeito não é mais um de sejo O organismo é dominado e o seu comportamento é organizado apenas por necessidades insatisfeitas Se a fome é saciada ela deixa de ter importância na di nâmica atual do indivíduo 1970 p 38 O próximo conjunto de necessidades a emergir é o das necessidades de segurança Elas incluem segu rança estabilidade dependência proteção ausência de medo necessidade de estrutura etc Tais necessi dades estão mais óbvias nos bebês e nas crianças como no medo que a criança pequena tem de estranhos As necessidades de segurança estão grandemente satis feitas para a maioria dos adultos que vivem em uma sociedade hospitaleira Tais necessidades só são vis tas durante desastres naturais ou sociais ou no com portamento neurótico como no transtorno obsessi vocompulsivo FIGURA 111 Hierarquia de necessidades de Maslow TEORIAS DA PERSONALIDADE 359 O terceiro conjunto de necessidades a emergir é o das necessidades de pertencimento e amor Elas repre sentam a necessidade de amigos família e de rela ções afetuosas com as pessoas em geral Maslow atri buiu essas necessidades à nossa tendência profunda mente animal de agruparse congregarse reunirse pertencer a 1970 p 44 A crescente urbanização e a despersonalização das gerações recentes podem es tar contribuindo para a frustração dessas necessida des De uma maneira que lembra a discussão de Erik Erikson do conflito básico de Intimidade versus Isola mento Maslow sugeriu que a frustração dessas ne cessidades é o núcleo mais comumente encontrado nos casos de desajustamento e de patologia mais gra ves 1970 p 44 O quarto nível da hierarquia inclui dois conjuntos de necessidades de estima representando as nossas necessidades de autoestima e de estima dos outros O primeiro conjunto inclui desejo de força conquis tas domínio e competência confiança e independên cia O segundo conjunto inclui as necessidades de res peito e estima dos outros incorporando os desejos de fama status dominação atenção e dignidade Essas necessidades conforme Maslow salientou são seme lhantes aos constructos encontrados nas teorias de Adler Horney Allport e Rogers As dinâmicas tam bém são similares como na sugestão de Maslow se melhante à de Adler de que a frustração das necessi dades de autoestima produz sentimentos de inferioridade o que por sua vez dá origem a tendên cias compensatórias ou neuróticas Da mesma forma ele seguiu Carl Rogers ao salientar os perigos de ba searse a autoestima nas opiniões de outros em vez de na verdadeira capacidade competência e adequa ção na tarefa 1970 p 46 O nível mais alto de necessidades é o de auto realização Maslow afirmou que quando todas as qua tro necessidades básicas de deficiência foram satis feitas logo se desenvolve um novo descontentamento e inquietude a menos que o indivíduo esteja fazendo aquilo que ele individualmente é talhado para fazer O que um homem pode ser ele deve ser 1970 p 46 Maslow tomou esse termo emprestado de Golds tein e ele reconhecia seu relacionamento com outros constructos como o arquétipo de self de Jung e a ten dência realizadora de Rogers No uso específico que Maslow faz do termo autorealização se refere ao desejo de tornarmonos cada vez mais aquilo que somos idiossincraticamente de tornarmonos tudo aquilo que somos capazes de tornarnos 1970 p 46 É importante reconhecer que a autorealização não envolve uma deficiência ou a falta de algum ele mento externo ela representa um crescimento in trínseco daquilo que já está no organismo o desen volvimento então vem de dentro e não de fora e paradoxalmente o maior motivo é atingir um estado de nãomotivação e de ausência de esforço 1970 p 134135 As pessoas autorealizadoras não são motivadas primariamente por necessidades básicas elas são metamotivadas por metanecessidades ou Valoresdo ser Maslow estava sugerindo que os autorealizado res que ele chamou de mais inteiramente humanos são orientados por valores intrínsecos não pela busca de objetos desejados Observe como isso lembra a descrição da busca de superioridade de Adler O es tudo de Maslow da autorealização começou com sua devoção de alto QI a dois de seus professores Ruth Benedict e Max Wertheimer É só nessas pessoas emi nentes que vemos a expressão da faceta mais profun da e mais autêntica da natureza humana os Valores doser As metanecessidades são instintóides ou biologicamente necessárias assim como as quatro necessidades básicas Isto é as metanecessidades são necessárias para evitar doenças ou metapatologia e para atingir a plena humanidade A Tabela 111 ver p 360 apresenta a lista de Maslow dos Valoresdo ser e das patologias correspondentes Interessantemen te Maslow descreveu a Tabela 111 como uma espé cie de tabela periódica útil para identificar patologias ainda não descobertas Como um ponto final Maslow notou que embora as necessidades básicas sejam pre ponderantes em relação às metanecessidades as me tanecessidades são igualmente potentes elas não exis tem em uma hierarquia generalizada de predomi nância Mas os indivíduos realmente parecem desen volver suas próprias hierarquias de metanecessidades com base em outros componentes de sua personali dade Maslow ofereceu várias qualificações para a hie rarquia de necessidades recémdescrita Por exemplo além das necessidades conativas contidas na hierar quia nós também possuímos necessidades cognitivas especialmente os desejos de saber e compreender bem como uma necessidade estética verdadeiramente bá sica Não está completamente claro como essas ne 360 HALL LINDZEY CAMPBELL TABELA 111 ValoresdoSer e Metapatologias Específicas ValoresdoSer Privação Patogênica Metapatologias Específicas 1 Verdade Desonestidade Descrença desconfiança cinismo ceticismo suspeita 2 Bondade Maldade Total egoísmo ódio repulsa nojo só confia e pensa em si mesmo nihilismo cinismo 3 Beleza Feiúra Vulgaridade infelicidade específica inquietude perda do gosto tensão fadiga filistinismo desolação 4 Unidade Caos Atomismo perda de conexão Desintegração o mundo está se desintegrando inteireza arbitrariedade 4A Dicotomia Dicotomias pretoebranco perda de Pensamento pretonobranco pensamento ouou ver transcendência gradações de graus polarização tudo como um duelo ou uma guerra ou como um forçada escolhas forçadas conflito baixa sinergia visão simplista da vida 5 Vivacidade Amortecimento mecanização da vida Amortecimento robotização sentirse totalmente processo determinado perda da emoção tédio perda do gosto pela vida vazio experiencial 6 Singularidade Mesmice uniformidade Perda do sentimento de self e de individualidade intercambialidade sentirse intercambiável anônimo não realmente necessário 7 Perfeição Imperfeição desleixo mau acabamento Desânimo desesperança nada pelo que trabalhar má qualidade 7A Necessidade Acidente ocasionalismo inconsistência Caos impredizibilidade perda da segurança vigilância 8 Completude Incompletude Sentimentos de incompletude com perseveração finalidade desesperança a pessoa deixa de lutar e enfrentar não vale a pena tentar 9 Justiça Injustiça Insegurança raiva cinismo desconfiança ilegalidade visão do mundo como uma selva total egoísmo 9A Ordem Ilegalidade caos colapso da autoridade Insegurança cautela perda de segurança de predizibilidade necessidade de vigilância prontidão tensão estar em guarda 10 Simplicidade Complexidade confusa caráter Supercomplexidade confusão desorientação conflito desconexo desintegração perda de orientação 11 Riqueza Pobreza coarctação Depressão inquietude perda do interesse pelo mundo totalidade abrangência 12 Ausência de Muito esforço Fadiga tensão esforço falta de jeito inabilidade falta esforço de graça rigidez 13 Divertimento Ausência de humor Severidade depressão ausência paranóide de humor perda do gosto pela vida falta de alegria perda da capacidade de divertirse 14 Autosuficiência Contingência acidente ocasionalismo Dependência do percebedor ele se torna sua responsabilidade 15 Significado Falta de significado Falta de significado desespero a vida não tem sentido Fonte Reimpressa com a permissão de Maslow 1971 p 318319 TEORIAS DA PERSONALIDADE 361 cessidades subordinadas se encaixam na hierarquia mas sua semelhança com as metanecessidades sugere que elas servem como um componente ou como uma précondição para a autorealização Além disso pode haver exceções para a ordem das necessidades bási cas A inversão mais comum ocorre quando a auto estima é mais importante para uma pessoa do que o amor Às vezes também encontramos pessoas com uma criatividade aparentemente inata nas quais a pulsão para a criatividade emerge não como parte da autorealização mas apesar da falta de gratificação das necessidades básicas Alternativamente as neces sidades menos predominantes podem simplesmente se perder nas pessoas que experienciaram a vida em um nível muito baixo As pessoas podem escolher ar riscarse à privação de uma necessidade inferior a ser viço de uma superior como no caso da pessoa que desiste de um emprego para preservar seu autores peito Mas a necessidade mais preponderante eventu almente se reafirma Finalmente Maslow introduziu o que chamou de maior tolerância à frustração por meio da gratificação inicial As pessoas que tiveram satisfeitas as suas necessidades básicas durante a vida especialmente em seus anos iniciais parecem desen volver um poder excepcional de suportar a frustração presente ou futura dessas necessidades 1970 p 53 Maslow também qualificou sua declaração de que uma necessidade superior emerge quando uma ne cessidade inferior é satisfeita De fato uma necessi dade não precisa estar completamente satisfeita an tes que emerja a próxima e Maslow propôs porcenta gens decrescentes de satisfação à medida que subi mos na hierarquia de preponderância Por exemplo é como se a pessoa média satisfizesse cerca de 85 das necessidades fisiológicas 70 das necessidades de segurança 50 das necessidades de amor 40 das necessidades de autoestima e 10 das necessi dades de autorealização Finalmente Maslow apresentou algumas compli cações razoáveis de seu modelo Primeiro ele não colocou as necessidades como completamente cons cientes ou inconscientes Embora tipicamente não es tejamos conscientes das nossas necessidades básicas podemos tomar consciência delas com certo esforço Ecoando Cattell Maslow sugeriu que os nossos dese jos conscientes do diaadia são indicadores de super fície de necessidades mais básicas 1970 p 56 Se gundo Maslow reconheceu a realidade da diversidade cultural e não afirmou que sua hierarquia fosse uni versal Mas ele realmente sugeriu que a hierarquia é mais universal e mais básica do que os desejos consci entes superficiais e os comportamentos aos quais nor malmente prestamos atenção Terceiro Maslow con cordou com Freud que a maioria dos comportamentos é superdeterminada ou multimotivada por todas as necessidades básicas Valendose de sua pesquisa ini cial com animais ele ofereceu como ilustrações a ali mentação e o comportamento sexual Finalmente al guns comportamentos não são motivados mas determinados pelo campo externo ou são um reflexo do estilo da pessoa SÍNDROMES Maslow acreditava que poderíamos compreender melhor a organização da personalidade por meio do conceito de síndrome da personalidade um termo que ele tomou emprestado da medicina Ele descreveu uma síndrome como um complexo estruturado e organi zado de especificidades aparentemente diversas com portamentos pensamentos impulsos de ação percep ções etc que quando estudadas cuidadosamente e validamente mostram ter uma unidade comum que pode ser chamada variadamente de significado dinâ mico expressão qualidade função ou propósito se melhante 1970 p 303 Tomando emprestado um termo de Allport uma síndrome leva a um grupo de sentimentos e comportamentos funcionalmente equi valentes e relativamente resistentes à mudança Mas low indicou que cada síndrome consiste em muitos níveis de generalidade Ele sugeriu que pensássemos em uma grande caixa contendo caixas menores que por sua vez contêm caixas ainda menores e assim su cessivamente Por exemplo ele descreveu uma sín drome de segurança Ela pode conter 14 subsíndro mes uma das quais poderia ser podersubmissão Uma pessoa insegura poderia expressar a necessidade de poder de muitas maneiras uma delas o preconceito A tendência ao preconceito seria então uma subsín drome da necessidade de poder A análise poderia continuar identificando subsíndromes subjacentes ao preconceito e assim por diante Infelizmente o con ceito de Maslow de síndromes de personalidade é pouco discutido no restante de sua obra e um pouco 362 HALL LINDZEY CAMPBELL ambíguo Por exemplo como as síndromes se desen volvem e quais são os possíveis tipos de síndrome Os exemplos de Maslow de síndromes de autoestima e segurança sugerem que as necessidades de sua hie rarquia oferecem os núcleos das síndromes Essa es tratégia permitiria ao aluno traçar paralelos entre as síndromes e os tipos de caráter freudianos ou os com plexos junguianos A análise de Maslow das síndromes também se gue muitas das outras teorias neste livro ao reconhe cer a artificialidade da exigência de que analisemos ou características gerais ou características específicas de personalidade As características específicas se en caixam nas características mais gerais e podemos tra balhar proveitosamente em qualquer nível particular sem distorcer a estrutura da pessoa total Segundo Maslow essa estratégia nos permite ser sofisticados tanto acerca do particular quanto do todo sem cair em um particularismo sem sentido ou em uma gene ralidade vaga e inútil ela nos permite estudar si multânea e efetivamente o caráter único e o caráter comum 1970 p 317318 AUTOREALIZADORES Maslow talvez seja mais conhecido por seus estudos de indivíduos autorealizadores Ele acreditava que se os psicólogos estudarem exclusivamente pessoas incapacitadas neuróticas que sofreram paradas em seu desenvolvimento eles provavelmente produzirão uma psicologia incompleta A fim de desenvolver uma ciência mais completa e abrangente da pessoa huma na os psicólogos também precisam estudar pessoas que realizaram suas potencialidades integralmente Maslow fez exatamente isso ele estudou intensiva e profundamente um grupo de pessoas autorealizado ras Elas são aves raras conforme Maslow descobriu quando estava formando seu grupo Alguns de seus sujeitos eram personagens históricos como Lincoln Jefferson Walt Whitman Thoureau e Beethoven Outros estavam vivos na época em que foram estuda dos como Eleanor Roosevelt Einstein e amigos e co nhecidos do investigador Essas pessoas foram inves tigadas clinicamente para se descobrir que caracterís ticas as distinguiam das pessoas comuns Essas carac terísticas distintivas são as seguintes 1 Elas são re alisticamente orientadas 2 Elas aceitam a si mes mas as outras pessoas e o mundo natural como são 3 Elas são muito espontâneas 4 Elas se centram em problemas e não em si mesmas 5 Elas têm um ar de destacamento e uma necessidade de privacida de 6 Elas são autônomas e independentes 7 Sua apreciação das pessoas e das coisas é nova em vez de estereotipada 8 A maioria teve experiências místi cas ou espirituais profundas embora não necessaria mente de caráter religioso 9 Elas se identificam com a humanidade 10 Seus relacionamentos íntimos com algumas pessoas especialmente amadas tendem a ser profundos e intensamente emocionais em vez de superficiais 11 Seus valores e atitudes são de mocráticos 12 Elas não confundem os meios com os fins 13 Seu senso de humor é filosófico em vez de hostil 14 Elas têm um grande fundo de criativi dade 15 Elas resistem a conformarse à cultura 16 Elas transcendem o ambiente em vez de simplesmen te lidar com ele Maslow também investigou a natureza do que ele chama de experiências de pico Foram obtidos rela tos sobre a experiência mais maravilhosa da vida da pessoa Descobriuse que as pessoas que estão pas sando por experiências de pico se sentem mais inte gradas mais em união com o mundo mais donas de si mais espontâneas menos conscientes do espaço e tempo mais perceptivas e assim por diante Mas low 1968a Capítulos 6 e 7 Em resumo observe que Maslow 1966 criticava a ciência Ele achava que a ciência mecanicista clássi ca representada pelo comportamentalismo não é adequada para estudar a pessoa inteira Ele defendia uma ciência humanista não como uma alternativa à ciência mecanicista e sim como um complemento dela Essa ciência humanista lidaria com questões de valor individualidade consciência propósito ética e as maiores capacidades da natureza humana Parece que a contribuição notável de Maslow ao ponto de vista organísmico está na sua preocupação com as pessoas sadias ao invés de doentes e em seu sentimento de que os estudos destes dois grupos ge ram tipos diferentes de teoria Goldstein como espe cialista médico e psicoterapeuta entrou em contato com pessoas deficientes e desorganizadas mas ape sar dessa amostra tendenciosa ele criou uma teoria que abarca todo o organismo e que se aplica tanto aos doentes quanto aos sadios Maslow escolheu o curso TEORIAS DA PERSONALIDADE 363 mais direto de estudar as pessoas sadias cuja inteire za e unidade de personalidade estão claramente apa rentes Como autorealizadoras as pessoas observa das por Maslow são a corporificação da teoria organísmica CARL ROGERS Nas edições anteriores nós chamamos o ponto de vis ta de Rogers de teoria do self mas isso não parece mais caracterizar com exatidão a sua posição Está claro agora que a ênfase deve estar no organismo não no self Na verdade o self ou o autoconceito como veremos pode ser um quadro distorcido da autêntica natureza da pessoa Rogers também se identificou com a orientação humanista da psicologia contemporânea A psicolo gia humanista se opõe ao que considera como o triste pessimismo e desespero inerentes à visão psicanalíti ca do ser humano por um lado e à concepção de robô do ser humano retratada no comportamentalis mo por outro A psicologia humanista é mais espe rançosa e otimista em relação ao ser humano Ela acre dita que a pessoa qualquer pessoa contém dentro de si o potencial para um desenvolvimento sadio e criati vo O fracasso em realizar esse potencial se deve às influências coercitivas e distorcedoras do treinamen to parental da educação e de outras pressões sociais Mas os efeitos prejudiciais podem ser superados se o indivíduo estiver disposto a aceitar a responsabilida de por sua própria vida A teoria de Rogers também tem algo em comum com a psicologia existencial Ela é basicamente feno menológica no sentido de que Rogers enfatizou as experiências das pessoas seus sentimentos e valores e tudo o que está contido na expressão vida interior A teoria de Rogers da personalidade como as de Freud Jung Adler Sullivan e Horney originouse de suas experiências no relacionamento terapêutico com pacientes O maior estímulo para seu pensamento psi cológico ele reconhecia era a continuada experiên cia clínica com indivíduos que se percebem ou são percebidos por outros como precisando de ajuda pes soal Desde 1928 por um período agora de aproxi madamente 30 anos eu passei provavelmente uma média de 15 a 20 horas por semana exceto nos perí odos de férias tentando entender e ajudar terapeuti camente estes indivíduos Dessas horas e do meu relacionamento com essas pessoas eu obtive todo o conhecimento que possuo sobre o significado da tera pia a dinâmica dos relacionamentos interpessoais e a estrutura e o funcionamento da personalidade 1959 p 188 Aos olhos do mundo psicológico Carl Rogers é identificado com o método de psicoterapia que ele criou e desenvolveu Essa terapia é chamada de não diretiva ou centrada no cliente Nas palavras de seu criador a terapia bemsucedida centrada no cliente realizada em condições ótimas significa que o terapeuta foi capaz de esta belecer um relacionamento intensamente pessoal e subjetivo com o cliente relacionandose não como um cientista com um objeto de estudo não como um médico esperando diagnosticar e curar mas como uma pessoa com outra pessoa Signi fica que o terapeuta acha que o cliente é uma pes soa de autovalor incondicional de valor indepen dentemente de sua condição comportamento ou sentimentos Significa que o terapeuta é autênti co não se escondendo atrás de uma fachada de fensiva mas encontrando o cliente com os senti mentos que ele o terapeuta está experienciando Significa que o terapeuta é capaz de soltarse ao entender o cliente que nenhuma barreira interna o impede de sentir como é ser este cliente em cada momento do relacionamento e que ele consegue transmitir parte de seu entendimento empático ao cliente Significa que o terapeuta fica à vonta de ao entrar inteiramente nesse relacionamento sem saber cognitivamente onde ele vai levar sa tisfeito por criar um clima que permitirá ao clien te a maior liberdade possível para ser ele mesmo Para o cliente essa terapia ótima significa uma exploração de sentimentos cada vez mais estra nhos desconhecidos e perigosos nele mesmo a exploração só sendo possível porque ele está gra dualmente percebendo que é aceito incondicio nalmente Assim ele entra em contato com os ele mentos de sua experiência que no passado foram negados à consciência como excessivamente ame açadores e perigosos para a estrutura do self Ele se percebe experienciando esses sentimentos in teiramente completamente no relacionamento 364 HALL LINDZEY CAMPBELL Carl Rogers TEORIAS DA PERSONALIDADE 365 de modo que naquele momento ele é o seu medo ou sua raiva ou sua ternura ou sua força E à medida que vive esses variados sentimentos em todos os seus graus de intensidade ele descobre que os experienciou ele mesmo que ele é todos esses sentimentos Ele percebe que seu compor tamento está mudando de modo construtivo de acordo com seu self recentemente experienciado Ele se dá conta de que já não precisa temer aquilo que a experiência pode conter mas pode recebê la livremente como parte de seu self que está mu dando e desenvolvendose 1961 p 185 A partir dessas experiências Rogers inicialmente desenvolveu uma teoria de terapia e de mudança da personalidade O principal aspecto dessa conceituali zação do processo terapêutico é que quando os clien tes percebem que o terapeuta tem uma consideração positiva incondicional por eles e um entendimento empático de sua estrutura interna de referência ini ciase um processo de mudança Durante tal proces so os clientes ficam cada vez mais conscientes de seus verdadeiros sentimentos e experiências e seu auto conceito se torna mais congruente com as experiênci as totais do organismo 1959 p 212221 Se fosse atingida uma congruência completa o cliente tornarseia uma pessoa com um funcionamen to pleno Ser tal pessoa inclui características como abertura à experiência ausência de defensividade consciência acurada autoconsideração incondicional e relações harmoniosas com os outros 1959 1961 Rogers via o processo terapêutico como um exem plo de relação e comunicação interpessoais Isso o le vou a formular uma teoria geral do relacionamento interpessoal 1959 1961 O principal postulado de sua teoria foi apresentado por Rogers conforme se gue Supondose a uma disposição mínima por par te de duas pessoas para estar em contato b uma capacidade e disposição mínimas por parte de cada uma para receber comunicações da outra e c supondose que o contato continue por um perío do de tempo então hipotetizamos que o seguinte relacionamento é verdade Quanto maior a congruência da experiência a consciência e a comunicação por parte de um in divíduo mais o relacionamento resultante envol verá uma tendência à comunicação recíproca com uma qualidade de crescente congruência uma tendência a um entendimento mutuamente mais acurado das comunicações melhor ajustamento psicológico e funcionamento em ambas as partes satisfação mútua no relacionamento 1961 p 344 Podemos notar que apenas uma das pessoas no relacionamento precisa sentir congruência para que ocorram mudanças na outra pessoa As teorias precedentes foram aplicadas por Ro gers à vida familiar 1972 à educação e aprendiza gem 1969 a grupos de encontro 1970 e à tensão e conflito grupais 1977 A terapia nãodiretiva goza de considerável po pularidade entre os conselheiros psicológicos parci almente porque está historicamente ligada à psicolo gia e não à medicina É fácil de aprender e requer pouco ou nenhum conhecimento de diagnóstico e di nâmica da personalidade para ser usada Além disso o curso do tratamento é relativamente breve se com parado por exemplo à psicanálise e alguns clientes já se beneficiam após poucas sessões Entretanto a psicoterapia não é a nossa preocu pação neste livro e nós a mencionamos apenas por que a teoria da personalidade de Rogers evolui de suas experiências como terapeuta centrado no cliente Suas observações terapêuticas lhe proporcionaram um precioso filão de material observacional de raro valor para o estudo da personalidade 1947 p 358 A formulação de uma teoria da personalidade ajudou a iluminar e a elucidar as práticas terapêuticas de Ro gers HISTÓRIA PESSOAL Carl Rogers nasceu em Oak Park Illinois em 8 de ja neiro de 1902 o filho do meio de uma família gran de e unida em que o trabalho duro e um cristianismo protestante extremamente conservador beirando o fundamentalismo eram quase igualmente reverenci ados 1959 p 186 Quando Carl estava com 12 anos sua família mudouse para uma fazenda e ele passou a interessarse pela agricultura científica Esse inte resse pela ciência acompanhouo até a faculdade nos 366 HALL LINDZEY CAMPBELL primeiros anos ele gostava das ciências físicas e bio lógicas Depois de formarse na Universidade de Wis consin em 1924 ele freqüentou o Union Theological Seminary na cidade de Nova York onde foi exposto a um ponto de vista liberal e filosófico referente à reli gião Transferindose para o Teachers College da Uni versidade de Colúmbia ele foi influenciado filosofi camente por John Dewey e apresentado à psicologia clínica por Leta Hollingworth Obteve seu grau de mestre em 1928 e o doutorado em 1931 pela Colúm bia Sua primeira experiência prática na psicologia clínica e na psicoterapia foi como interno no Institute for Child Guidance que tinha uma orientação forte mente freudiana Rogers observou que a clara incom patibilidade do pensamento freudiano altamente es peculativo do Instituto com as idéias extremamente estatísticas e thorndikeanas do Teachers College foi agudamente sentida 1959 p 186 Depois de receber seu grau de doutor em psicolo gia Rogers reuniuse à equipe do Rochester Guidance Center e mais tarde tornouse seu diretor A equipe era eclética de backgrounds diversos e a nossa discussão freqüente e contínua dos méto dos de tratamento baseavase na nossa experiên cia prática cotidiana com crianças adolescentes e adultos que eram nossos clientes Foi o início de um esforço que tem tido significado para mim desde então para descobrir a ordem existente na nossa experiência de trabalho com pessoas O volume sobre o Clinical Treatment of the Problem Child 1939 foi um resultado desse esforço Ro gers 1959 p 186187 Durante esse período Rogers foi influenciado por Otto Rank um psicanalista que rompera com os ensina mentos ortodoxos de Freud Em 1940 Rogers aceitou um convite para ser pro fessor de psicologia na Universidade Estadual de Ohio Essa mudança de um ambiente clínico para um ambi ente acadêmico foi estimulante para Rogers Sob o estímulo oferecido por alunos intelectualmente curi osos e críticos Rogers sentiuse impelido a explicitar suas idéias sobre psicoterapia o que fez no livro Coun seling and Psychotherapy 1942 Em 1945 Rogers foi para a Universidade de Chicago como professor de psicologia e secretárioexecutivo do Counseling Cen ter Aí ele elaborou seu método de psicoterapia cen trada no cliente formulou uma teoria da personali dade e realizou pesquisas sobre psicoterapia Rogers 1951 Rogers Dymond 1954 De 1957 a 1963 Rogers foi professor de psicologia e psiquiatria na Universidade de Wisconsin Durante esses anos ele liderou um grupo de pesquisa que estudou de forma intensiva e controlada a psicoterapia com pacientes esquizofrênicos em um hospital para doentes mentais Rogers 1967a Começando em 1964 ele associou se ao Center for Studies of the Person em La Jolla Cali fórnia Rogers morreu em 4 de fevereiro de 1987 de ataque cardíaco após uma operação de fratura de bacia Rogers recebeu numerosas honras incluindo a presidência da Associação Psicológica Americana seu Distinguished Scientific Contribution Award e seu Dis tinguished Professional Award Ambos os prêmios fo ram recebidos no primeiro ano em que a Associação passou a oferecêlos Apesar do notável reconhecimen to profissional a descrição de Rogers de si mesmo como um mosca parece extremamente apropriada A autobiografia de Rogers aparece no volume 5 da History of Psychology in Autobiography 1967b Nós examinaremos agora a teoria de Rogers da personalidade Essa teoria foi originalmente apresen tada em Clientcentered therapy 1951 elaborada e formalizada em um capítulo escrito para Psychology a study of a science 1959 e descrita mais informal mente em On Becoming a Person 1961 Carl Rogers on Personal Power 1977 Freedom to Learn 1983 e A Way of Being 1980 Este último volume é uma vi são geral muito útil das atividades e das observações de Rogers em seus últimos anos Segundo Rogers a teorização deveria ocorrer assim Eu cheguei à conclusão à que outros chegaram antes de que em um novo campo talvez precise mos primeiro mergulhar nos eventos abordar os fenômenos com o mínimo possível de preconcep ções usar a abordagem observacional e descriti va do naturalista a esses eventos e fazer aquelas inferências de baixo nível que parecem as mais inerentes ao próprio material 1961 p 128 A seguinte citação revela que Rogers também via sua teoria assim como teorias propostas por outros como tentativas No momento de sua formulação toda teoria con tém uma quantidade desconhecida e talvez na quele momento incognoscível de erro e de infe TEORIAS DA PERSONALIDADE 367 rências equivocadas Fico perturbado ao ver como mentes de pequeno calibre aceitam imedia tamente uma teoria quase qualquer teoria como um dogma de verdade Se a teoria pudesse ser vista como realmente é uma tentativa falí vel alterável de construir uma rede de fios finos como teia de aranha que conterá os fatos sólidos então a teoria serviria como deve como um estímulo para continuarmos pensando criativa mente Para Freud parece bem claro que suas teorias altamente criativas nunca foram mais do que isso Ele continuava mudando alterando re visando dando novo significado a antigos termos sempre com mais respeito pelos fatos que ob servava do que pelas teorias que construíra Mas nas mãos de discípulos inseguros assim me pare ce os fios finos como teia de aranha se transfor mam em correntes de ferro de dogma 1959 p 190191 itálicos acrescentados Como um ponto introdutório final é importante notar o paradoxo de que embora as dinâmicas des critas por Rogers sejam surpreendentemente seme lhantes às observadas em outras teorias suas suposi ções sobre a natureza humana só são similares às de Abraham Maslow Por exemplo a fenomenologia de Rogers e sua posição radical sobre a motivação são muito parecidas com a orientação adotada por Geor ge Kelly mas sua suposição de que o desafio essencial para os seres humanos é ser aquele self que verda deiramente se é é diametralmente oposta à fluida abordagem de Kelly à teoria e à terapia Ainda mais intrigantes são os paralelos entre Rogers e Freud e entre Rogers e Skinner três teóricos que seriam tipi camente considerados como companheiros bem es tranhos Como veremos Rogers e Freud empregaram ambos um modelo de psicopatologia em que o confli to desencadeia ansiedade que por sua vez leva à de fesa Mas os modelos funcionam de modo muito dife rente devido às diferentes suposições dos teóricos sobre a natureza humana Rogers 1961 p 194195 em uma passagem que claramente se refere a Freud escreveu que a natureza básica do ser humano quan do funcionando livremente é construtiva e confiável Para mim essa é uma conclusão inescapável resultan te de um quarto de século de experiência em psicote rapia Eu tenho pouca simpatia pelo conceito bas tante predominante de que o homem é basicamente irracional e de que seus impulsos se não controlados levarão à destruição dos outros e do self O comporta mento do homem é requintadamente racional avan çando com sutil e ordenada complexidade para as metas que seu organismo está tentando atingir A tra gédia para a maioria de nós é que nossas defesas nos impedem de ter consciência dessa racionalidade de modo que conscientemente estamos avançando em uma direção enquanto organismicamente estamos avançando em outra Da mesma forma a busca de Rogers de relacionamentos funcionais é análoga à análise funcional de Skinner e as condições de va lor de Rogers são claramente poderosos reforços so ciais Mas Rogers supunha que os indivíduos têm ca racterísticas e potenciais que os reforços podem obrigálos a negar Além disso Rogers escreveu que é impossível para mim negar a realidade e a importân cia da escolha humana Para mim não é uma ilusão que o homem é em certo grau o arquiteto de si mes mo 1980 p 57 Ele prosseguiu enfatizando que a mudança social baseiase no desejo e na potenciali dade humanos de mudança não de condicionamen to e reconhecendo a liberdade e a dignidade essen ciais da pessoa humana e sua capacidade de autodeterminação 1980 p 5759 Em conseqüên cia dessas diferentes suposições Rogers é menos pes simista do que Freud e menos mecanicista do que Skinner A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE Embora Rogers não parecesse enfatizar os construc tos estruturais preferindo dedicar sua atenção à mu dança e ao desenvolvimento da personalidade dois desses constructos são de importância fundamental para a sua teoria e podem inclusive ser considerados como a base sobre a qual repousa toda a teoria o organismo e o self O Organismo O organismo psicologicamente concebido é o foco de toda a experiência A experiência inclui tudo o que está acontecendo dentro do organismo em qualquer momento dado e que está potencialmente disponível 368 HALL LINDZEY CAMPBELL para a consciência Essa totalidade de experiência constitui o campo fenomenal O campo fenomenal é a estrutura de referência do indivíduo que só pode ser conhecida pelo próprio indivíduo Ele não pode ser conhecido por outra pessoa exceto pela inferência empática e jamais pode ser perfeitamente conhecido Rogers 1959 p 210 Como o indivíduo se compor ta depende do campo fenomenal realidade subjeti va e não de condições estimuladoras realidade ex terna O campo fenomenal devemos observar não é idêntico ao campo da consciência A consciência é a simbolização de algumas das nossas experiências Rogers 1959 p 198 Assim o campo fenomenal em qualquer momento dado é constituído por expe riências conscientes simbolizadas e inconscientes nãosimbolizadas Mas o organismo pode discrimi nar e reagir a uma experiência nãosimbolizada Se guindo McCleary e Lazarus 1949 Rogers chamou isso de subcepção A experiência pode não ser simbolizada correta mente e nesse caso a pessoa vaise comportar de modo inadequado Mas a pessoa tende a comparar suas experiências simbolizadas com o mundo confor me ele é Tal testagem da realidade proporciona um conhecimento confiável do mundo de modo que ela consegue se comportar realisticamente Entretanto algumas percepções continuam nãotestadas ou são inadequadamente testadas e isso pode fazer com que a pessoa se comporte de forma irrealista e inclusive prejudicial para si mesma Embora Rogers não lidasse com a questão de uma realidade verdadeira está claro que as pessoas precisam ter alguma concepção de um padrão de realidade externo ou impessoal pois de outra forma elas não poderiam testar uma ima gem interna da realidade comparandoa a uma ima gem objetiva Surge então a questão de como as pessoas podem diferenciar uma imagem subjetiva que não é uma representação correta da realidade de uma que é O que permite às pessoas separar o fato da ficção em seu mundo subjetivo Esse é o grande para doxo da fenomenologia Rogers resolveu o paradoxo afastandose da es trutura conceitual da fenomenologia pura Aquilo que uma pessoa experiencia ou pensa na verdade não é realidade para a pessoa é meramente uma hipótese provisória sobre a realidade uma hipótese que pode ou não ser verdade A pessoa suspende o julgamento até testar a hipótese Qual é esse teste Ele consiste em verificar a exatidão da informação recebida sobre a qual a hipótese da pessoa se baseia comparandoa com outras fontes de informação Por exemplo uma pessoa que deseja salgar sua comida deparase com dois frascos idênticos um dos quais contém sal e o outro pimenta A pessoa acredita que o frasco com os furinhos maiores contém sal mas não tendo certeza absoluta ela vira um pouquinho do conteúdo nas cos tas da mão Se as partículas são brancas em vez de pretas a pessoa fica razoavelmente certa de que é sal Uma pessoa muito cautelosa pode até provar pois pode tratarse de pimenta branca em vez de sal O que te mos aqui é uma testagem das idéias da pessoa em comparação com uma variedade de dados sensoriais O teste consiste em verificar informações menos cer tas com conhecimentos mais diretos No caso do sal o teste final é o sabor um tipo específico de sensação define aquilo como sal É claro o exemplo anterior descreve uma condi ção ideal Em muitos casos a pessoa aceita suas expe riências como representações fiéis da realidade e não as trata como hipóteses sobre a realidade Em conse qüência a pessoa com freqüência termina com uma série de concepções erradas sobre si mesma e sobre o mundo externo A pessoa total escreveu Rogers é aquela que está completamente aberta aos dados da experiência interna e aos dados da experiência do mundo externo 1977 p 250 O Self Uma porção do campo fenomenal gradualmente se diferencia É o self O self ou autoconceito denota a gestalt conceitual organizada e consistente com posta por percepções das características do eu e pelas percepções dos relacionamentos do eu com os outros e com vários aspectos da vida junta mente com os valores associados a essas percep ções É uma gestalt que está disponível à consci ência mas não necessariamente consciente É uma gestalt fluida e mutante um processo mas em qualquer momento dado é uma entidade especí fica Rogers 1959 p 200 O self evidentemente é um dos constructos cen trais na teoria de Rogers e ele explicou de forma inte ressante como isso aconteceu TEORIAS DA PERSONALIDADE 369 Pessoalmente falando eu comecei meu trabalho com a noção estabelecida de que o self era um termo vago ambíguo e cientificamente sem sig nificado que fora excluído do vocabulário do psi cólogo com a partida dos introspeccionistas Con seqüentemente eu custei a reconhecer que quando os clientes têm a oportunidade de expres sar seus problemas e suas atitudes em seus pró prios termos sem qualquer orientação ou inter pretação eles tendiam a falar em termos do self Parecia claro que o self era um elemento importante na experiência do cliente e que em um sentido curioso sua meta era se tornar esse self real 1959 p 200201 Além do self como ele é a estrutura do self exis te um self ideal que é aquilo que a pessoa gostaria de ser Organismo e Self Congruência e Incongruência A importância básica dos conceitos estruturais para a teoria de Rogers organismo e self fica clara em sua discussão da congruência e da incongruência entre o self conforme percebido e a experiência real do or ganismo 1959 p 203 205206 Quando as experi ências simbolizadas que constituem o self espelham fielmente as experiências do organismo dizemos que a pessoa é ajustada madura e funciona de modo com pleto Essa pessoa aceita toda a variedade de experi ências organísmicas sem ameaça ou ansiedade Ela é capaz de pensar realisticamente A incongruência en tre o self e o organismo faz com que os indivíduos se sintam ameaçados e ansiosos Eles se comportam de fensivamente e seu pensamento se torna limitado e rígido Na teoria de Rogers estão implícitas duas outras manifestações de congruênciaincongruência Uma delas é a congruência ou a falta dela entre a realidade subjetiva o campo fenomenal e a realidade externa o mundo conforme ele é A outra é o grau de corres pondência entre o self e o self ideal Se a discrepância entre o self e o self ideal for grande a pessoa fica insa tisfeita e desajustada Como se desenvolve a incongruência e como o self e o organismo podem ficar mais congruentes eram as maiores preocupações de Rogers e foi ao esclareci mento dessas questões vitais que ele dedicou grande parte de sua vida profissional Como ele lidou com tais questões será discutido na seção sobre o desen volvimento da personalidade A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Segundo Rogers o organismo tem uma tendência e uma busca básica realizar manter e melhorar o or ganismo que experiencia 1951 p 487 A tendên cia realizadora é seletiva prestando atenção apenas àqueles aspectos do ambiente que prometem levar a pessoa construtivamente na direção da realização e da completude Por um lado existe uma única força motivadora o impulso autorealizador por outro existe uma única meta de vida autorealizarse ou ser uma pessoa completa O modelo de Rogers baseiase na suposição de que os organismos têm um motivo fundamental para me lhorar Valendose de suas raízes agrícolas Rogers ofe receu a seguinte analogia A tendência realizadora pode é claro ser frus trada ou deformada mas ela não pode ser destru ída sem destruir o organismo Eu lembro que na minha infância o depósito onde guardávamos o nosso suprimento de batatas para o inverno fica va no porão mais de dois metros abaixo de uma pequena janela As condições eram desfavoráveis mas as batatas começavam a brotar brotos de um branco opaco completamente diferentes dos brotos verdes e fortes que surgiam quando as ba tatas eram plantadas no solo na primavera Mas esses brotos tristes esguios cresciam 60 ou 90 centímetros buscando a luz distante da janela Os brotos em seu crescimento bizarro e inútil eram uma espécie de expressão desesperada da tendên cia direcional que estou descrevendo Eles jamais se tornariam plantas nunca amadureceriam nun ca realizariam seu verdadeiro potencial Mas nas circunstâncias mais adversas eles lutavam para existir Ao tratar clientes cujas vidas foram terrivelmente deformadas eu penso freqüen temente nesses brotos de batata As condições em que essas pessoas se desenvolveram foram tão desfavoráveis que suas vidas muitas vezes pare 370 HALL LINDZEY CAMPBELL cem anormais deformadas quase inumanas En tretanto podemos confiar que nelas existe a ten dência direcional 1980 p 118119 O organismo se realiza segundo as linhas deter minadas pela hereditariedade Ele se torna mais dife renciado mais expandido mais autônomo e mais so cializado à medida que amadurece Esta tendência básica de crescimento realizarse e expandirse é vista com mais clareza quando o indivíduo é observa do durante um longo período de tempo Existe um movimento para a frente na vida de todas as pessoas essa tendência a prosseguir é a única força na qual o terapeuta pode realmente confiar para conseguir me lhoras no cliente Ao endossar a tendência realizadora Rogers foi levado à interessante posição de rejeitar constructos motivacionais específicos Ele escreveu A ciência não progrediu postulando forças atra ções repulsões causas e assim por diante para explicar por que as coisas acontecem a ciência progrediu e encontrou caminhos mais proveito sos quando se limitou à questão de como as coi sas acontecem Quando foi proposta a teoria de que a natureza abomina um vácuo e que isso ex plica por que o ar se apressa em preencher qual quer vácuo ou vácuo parcial isso provocou pou cas pesquisas efetivas Mas quando a ciência começou a descrever em termos empíricos os relacionamentos funcionais entre um vácuo par cial e a pressão atmosférica fora do recipiente os resultados foram significativos Eu duvido de que os psicólogos façam progressos em sua ciên cia enquanto sua teoria básica centrarse na for mulação de que o homem busca comida porque tem uma pulsão ou motivo de fome Eu acredi to que quando desenvolvermos e testarmos hi póteses sobre as condições que são antecedentes necessários e suficientes para certos comporta mentos quando compreendermos as variáveis complexas que estão por trás de várias expres sões da tendência realizadora do organismo o conceito de motivos específicos desaparecerá 1963 p 78 Fiel a essa posição Rogers identificou o relaciona mento funcional entre certas condições e a melhora terapêutica ou qualquer crescimento psicológico O terapeuta precisa ser genuíno ou congruente precisa aceitar o cliente importarse com ele e valorizálo proporcionar o que mais adiante chamaremos de consideração positiva incondicional e precisa en tender empaticamente o cliente Tais condições criam um clima de mudança em que o cliente se sente li vre para reconhecer e agir de acordo com a sua ten dência realizadora Rogers acrescentou um novo aspecto ao conceito de crescimento quando observou que a tendência a avançar só pode operar quando as escolhas são clara mente percebidas e adequadamente simbolizadas Uma pessoa não pode realizarse a menos que consiga dis criminar entre os comportamentos progressivos e os regressivos Não existe uma voz interior que nos diga qual é o caminho do progresso nenhuma necessida de organísmica que nos faça avançar As pessoas pre cisam conhecer antes de poder escolher mas quando conhecem elas sempre escolhem crescer em vez de regredir Rogers escreveu que o comportamento é basica mente a tentativa intencional do organismo de satis fazer suas necessidades conforme experienciadas no campo conforme percebido 1951 p 491 Essa pro posição referindose como se refere a necessida des no plural não contradiz a noção de um motivo único Embora existam muitas necessidades todas elas são subservientes à tendência básica do organismo de manterse e de melhorar Rogers permaneceu fiel a tal posição fenomeno lógica empregando os termos qualificativos confor me experienciadas e conforme percebido Entre tanto ao discutir essa proposição ele admitiu que as necessidades podem evocar comportamentos apropri ados mesmo que não sejam experienciadas conscien temente adequadamente simbolizadas De fato Ro gers 1977 menosprezou o papel da consciência ou autoconsciência no funcionamento do indivíduo sa dio Ele escreveu Na pessoa que está funcionando bem a consciência tende a ser uma coisa reflexiva em vez de um claro holofote de atenção focalizada Talvez seja mais exato dizer que em tal pessoa a cons ciência é simplesmente um reflexo de parte do fluxo do organismo naquele momento É só quando o fun cionamento é perturbado que surge uma consciência agudamente autoconsciente p 244245 TEORIAS DA PERSONALIDADE 371 Em 1959 Rogers introduziu uma distinção entre a tendência realizadora do organismo e uma tendên cia autorealizadora Seguindo o desenvolvimento da autoestrutura esta tendência geral para a realização também se expressa na realização daquela porção da experi ência do organismo que é simbolizada no self Se o self e a experiência total do organismo são rela tivamente congruentes a tendência realizadora permanece relativamente unificada Se o self e a experiência são incongruentes a tendência geral a realizar o organismo pode funcionar em contra dição com o subsistema daquele motivo a ten dência a realizar o self 1959 p 196197 Apesar do caráter monístico da teoria motivacio nal de Rogers ele destacou duas necessidades que merecem atenção especial a necessidade de conside ração positiva e a necessidade de autoconsideração Ambas são necessidades aprendidas A primeira se desenvolve no período de bebê em conseqüência de o bebê ser amado e cuidado a última se estabelece em virtude de o bebê receber consideração positiva dos outros 1959 p 223224 As duas necessidades como veremos na próxima seção também podem funcionar em contradição com a tendência realizadora distor cendo as experiências do organismo O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE O organismo e o self embora possuam a tendência inerente a realizarse estão sujeitos a fortes influên cias do ambiente e especialmente do ambiente soci al Rogers diferentemente de outros teóricos com ori entação clínica como Freud Sullivan e Erikson não ofereceu um cronograma de estágios significativos pelos quais a pessoa passa em sua jornada do período de bebê à maturidade Em vez disso ele investigou como as avaliações de um indivíduo pelos outros par ticularmente durante a infância tendem a favorecer o distanciamento entre as experiências do organismo e as experiências do self Se essas avaliações sempre tivessem um sinal po sitivo o que Rogers chamou de consideração positiva incondicional não ocorreria nenhum distanciamen to ou incongruência entre o organismo e o self Ro gers disse Se um indivíduo experienciasse apenas consideração positiva incondicional não se desenvol veria nenhuma condição de valor a autoestima seria incondicional as necessidades de consideração positi va e autoestima jamais discordariam da avaliação or ganísmica e o indivíduo funcionaria de modo com pleto 1959 p 224 Mas já que as avaliações que os pais e outras pes soas fazem do comportamento da criança às vezes são positivas e às vezes são negativas a criança aprende a diferenciar entre ações e sentimentos que são valio sos aprovados e ações e sentimentos indignos de saprovados As experiências indignas tendem a ser excluídas do autoconceito mesmo que sejam organis micamente válidas Isso resulta em um autoconceito em desacordo com a experiência organísmica A cri ança tenta ser aquilo que os outros querem que ela seja em vez de tentar ser aquilo que realmente é Ela valoriza uma experiência positiva ou negativamente só devido às condições de valor que absorveu dos ou tros não porque a experiência melhora ou não é ca paz de melhorar seu organismo 1959 p 209 Isso é o que acontece no seguinte caso um meni no tem uma autoimagem de ser um bom menino e de ser amado pelos pais mas também gosta de ator mentar sua irmãzinha pelo que é punido Como re sultado dessa punição ele é levado a revisar sua auto imagem e seus valores de uma das seguintes maneiras a Eu sou um menino mau b Meus pais não gostam de mim ou c Eu não gosto de implicar com a minha irmã Cada uma dessas autoatitudes pode conter uma distorção da verdade Vamos supor que ele adote a atitude de Eu não gosto de implicar com a minha irmã negando assim seus reais sentimen tos A negação não significa que os sentimentos dei xaram de existir eles ainda influenciarão seu com portamento de várias maneiras mesmo que não sejam conscientes Então existirá um conflito entre os valo res conscientes introjetados e espúrios e os inconsci entes genuínos Se cada vez mais dos valores verda deiros da pessoa forem substituídos por valores tirados ou tomados emprestados de outros ainda que sejam percebidos como sendo da própria pessoa o self tornarseá uma casa dividida contra si mesmo Essa pessoa vai sentirse tensa desconfortável e es 372 HALL LINDZEY CAMPBELL quisita Ela vai sentir como se não soubesse realmen te quem é e o que quer Então durante a infância o autoconceito se tor na cada vez mais distorcido devido às avaliações dos outros Conseqüentemente uma experiência organís mica que está em desacordo com esse autoconceito distorcido é sentida como uma ameaça e evoca ansie dade Para proteger a integridade do autoconceito essas experiências ameaçadoras têm negada a simbo lização ou recebem uma simbolização distorcida Negar uma experiência não é o mesmo que igno rála Negar significa falsificar a realidade dizendo que ela não existe ou percebendoa de maneira dis torcida As pessoas podem negar seus sentimentos agressivos porque eles são inconsistentes com a ima gem que têm de si mesmas como pacíficas e amigá veis Nesse caso os sentimentos negados podem se expressar por meio de uma simbolização distorcida por exemplo sendo projetados em outras pessoas Rogers salientou que as pessoas muitas vezes man têm e destacam firmemente uma autoimagem que discorda totalmente da realidade A pessoa que sente que não vale nada vai excluir da consciência as evi dências que contradizem essa imagem ou vai reinter pretar as evidências para tornálas congruentes com seu senso de inutilidade Por exemplo alguém que recebe uma promoção no trabalho dirá que o patrão ficou com pena de mim ou eu não mereço isso Algumas pessoas podem inclusive sairse mal nessa nova posição para provar a si mesmas e ao mundo que elas não prestam Como podemos negar uma ameaça à autoima gem sem primeiro termos consciência da ameaça Rogers propôs que existem níveis de discriminação abaixo do nível de reconhecimento consciente e que o objeto ameaçador pode ser percebido inconsciente mente ou subceptado antes de ser percebido Por exemplo o objeto ou a situação ameaçadora pode produzir reações viscerais como um coração dispara do que serão conscientemente experienciadas como sensações de ansiedade sem que a pessoa seja capaz de identificar a causa da perturbação Os sentimentos de ansiedade evocam o mecanismo da negação que impede que a experiência ameaçadora se torne cons ciente A brecha entre o self e o organismo não só resulta em defensividade e distorção mas também afeta as relações da pessoa com os outros As pessoas defensi vas tendem a sentirse hostis em relação àquelas cujo comportamento aos seus olhos representa seus pró prios sentimentos negados Como podemos corrigir essa brecha entre o self e o organismo e entre o self e os outros Rogers apre sentou as três seguintes proposições Primeiro sob certas condições envolvendo pri mariamente a completa ausência de qualquer ameaça à autoestrutura podem ser percebidas e examinadas as experiências que são inconsistentes com ela e a estrutura do self pode ser revisada para assimilar e incluir tais experiências Rogers 1951 p 517 Na terapia centrada no cliente a pessoa se en contra em uma situação nãoameaçadora porque o te rapeuta aceita completamente tudo o que ela fala Essa atitude calorosa de aceitação por parte do terapeuta encoraja o cliente a explorar seus sentimentos incons cientes e trazêlos à consciência Lenta e hesitante mente ele explora os sentimentos nãosimbolizados que ameaçam sua segurança Na segurança do relaci onamento terapêutico os sentimentos até então ame açadores podem agora ser assimilados à autoestru tura A assimilação pode exigir uma drástica reorganização do autoconceito do cliente para que fique de acordo com a realidade da experiência orga nísmica Ele será de modo mais unificado aquilo que ele organismicamente é e essa parece ser a essência da terapia 1955 p 269 Rogers admitiu que algu mas pessoas são capazes de realizar esse processo sem se submeter à terapia Um benefício social importante obtido pela acei tação e assimilação de experiências que tiveram ne gada a simbolização é que a pessoa passa a compre ender e a aceitar melhor os outros Tal idéia é apresentada na seguinte proposição Quando o indi víduo percebe e aceita em um sistema consistente e integrado todas as suas experiências sensoriais e vis cerais ele necessariamente compreende melhor os outros e aceitaos melhor como indivíduos diferen tes 1951 p 520 Quando uma pessoa se sente ameaçada por impulsos sexuais ela pode tender a cri ticar aqueles que percebe como se comportando de modo sexual Por outro lado quando aceita os própri os sentimentos sexuais e hostis a pessoa será mais tolerante quando os outros os expressarem Conse qüentemente os relacionamentos sociais vão melho rar e a incidência de conflito social vai diminuir Ro gers acreditava que as implicações sociais dessa TEORIAS DA PERSONALIDADE 373 proposição são tantas que estimulam a imaginação p 522 Esta pode ser inclusive a chave para uma eventual abolição da discórdia internacional Nesta última proposição Rogers salientou como é importante para um ajustamento sadio manter um contínuo exame dos próprios valores À medida que o indivíduo percebe e aceita mais as experiências or gânicas em sua autoestrutura ele descobre que está substituindo seu atual sistema de valores baseado tão amplamente em introjeções distorcidamente sim bolizadas por um processo de valoração contínuo 1951 p 522 A ênfase recai sobre as duas palavras sistema e processo Em um sistema existe a conotação de alguma coisa fixa e estática enquanto um proces so significa que algo está ocorrendo Para um ajusta mento sadio e integrado nós precisamos estar cons tantemente avaliando experiências para ver se elas requerem uma mudança na estrutura de valor Qual quer conjunto fixo de valores tenderá a impedir a pes soa de reagir efetivamente a novas experiências Pre cisamos ser flexíveis para nos ajustar apropriadamente às condições mutantes da vida Em relação a isso Rogers perguntou se um pro cesso contínuo de avaliar as próprias experiências em termos puramente pessoais não levaria a uma anar quia social Ele acreditava que não Todas as pessoas têm basicamente as mesmas necessidades incluindo a necessidade de ser aceito pelos outros p 524 Conseqüentemente seus valores possuem um alto grau de comunalidade p 524 A seguinte passagem de Rogers 1959 p 226227 é um bom resumo de seu modelo desenvolvimental É portanto devido às percepções distorcidas decorrentes das condições de valor que o indiví duo se afasta da integração que caracteriza seu estado de bebê Essa em nossa opinião é a alienação básica do homem Ele não foi fiel a si mesmo à sua valoração da experiência organís mica natural mas para preservar a consideração positiva dos outros ele passou a falsificar alguns dos valores que experiencia e a percebêlos ape nas em termos baseados no seu valor para os ou tros Entretanto essa não foi uma escolha consci ente mas um desenvolvimento natural e trágico no período de bebê O caminho do desenvolvi mento para a maturidade psicológica o caminho da terapia é desfazer tal alienação no funciona mento do homem dissolver as condições de va lor conseguir um self congruente com a experiên cia e restaurar um processo de valoração organís mico unificado como o regulador do comporta mento Segundo o modelo de Rogers a psicopatologia ou a perturbação emocional acontece em indivíduos que foram expostos a uma consideração positiva condici onal As condições de valor associadas levaram à in congruência selfexperiência Essa incongruência que é análoga ao conflito idsuperego no modelo de Freud gera ansiedade conforme se aproxima da consciên cia O indivíduo responde com negação e distorção porque a consciência da incongruência poria em risco a consideração positiva recebida do self e dos outros A meta da defesa assim é manter o autoconceito ar tificial ou inexato Tal modelo se ajusta muito bem a vários comportamentos aparentemente paradoxais Considerem a mulher espancada que continua em um relacionamento claramente patológico Por que ela não termina o casamento Por que ela racionaliza o com portamento do marido De acordo com essa análise ela continua porque reconhecer a depravação do re lacionamento poria em risco sua única via existente de receber consideração positiva Ironicamente ela pode negar seus sentimentos e distorcer o comporta mento e os motivos do marido a fim de preservar seu único canal para receber atenção Ao contrário os indivíduos que experienciam a consideração positiva incondicional mantêm ou reins talam a congruência selfexperiência Devido à ausên cia de conflito ou incongruência tais indivíduos não precisam depender de defesas Rogers caracterizou essas pessoas sadias como funcionando plenamente Como acontece na definição de Maslow da pessoa autorealizadora a pessoa que funciona plenamente exibe um processo ou modo de vida em vez de uma meta ou estado final Os indivíduos que estão viven do essa boa vida parecem ter três características Rogers 1961 p 184192 Primeiro já que não há necessidade de defenderse de nenhuma experiência a pessoa desenvolve uma crescente abertura à experi ência Isto é não existe defensividade e ela consegue reconhecer e expressar todos os seus sentimentos Segundo tal pessoa tem uma vida cada vez mais exis tencial Não existe rigidez e nenhum preconceito so bre o que ela deveria fazer ou ser e por isso vive 374 HALL LINDZEY CAMPBELL intensamente cada momento Finalmente a pessoa que funciona plenamente tem uma crescente confian ça no organismo Ela toma suas próprias decisões e confia nelas Ela desenvolverá um senso de que fazer o que é sentido como certo prova ser um guia com petente e confiável para comportamentos verdadei ramente satisfatórios À medida que se torna mais aberta a todas as suas experiências ela é capaz de fazer aquilo que sente vontade de fazer não de uma maneira hostil ou arrogante mas de maneira confi ante Em essência tal pessoa está aberta aos seus sen timentos e livre de defesas Ela é livre para agir de acordo com suas inclinações porque pode aceitar as conseqüências e pode corrigilas se não forem satisfa tórias Ao concluir esse relato dos principais aspectos da teoria de Rogers o leitor poderia perguntarse por que ela se chama centrada na pessoa e não centrada no organismo A resposta é bastante simples Em um in divíduo com funcionamento pleno a pessoa é o orga nismo Em outras palavras não faz diferença como ela é chamada Preferese pessoa porque envolve uma conotação mais psicológica A pessoa é o orga nismo que experiencia Pessoa e self também coinci dem quando o self é completamente congruente com o organismo Tudo se reduz a isso o organismo um sistema vivo holístico que se desenvolve é a realida de psicológica básica Qualquer desvio dessa realida de ameaça a integridade da pessoa PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Rogers foi um investigador pioneiro na área de acon selhamento e psicoterapia e merece muito crédito por estimular e realizar pesquisas sobre a natureza dos processos que ocorrem durante o tratamento clínico Os estudos bemcontrolados de psicoterapia são ex tremamente difíceis de planejar e executar devido à natureza sutil e privada do ambiente psicoterapêuti co Os terapeutas têm relutado em subordinar o bem estar do paciente às necessidades da pesquisa permi tindo a invasão da privacidade do consultório Mas Rogers demonstrou que gravar as sessões de terapia com a permissão do paciente não é prejudicial ao curso do tratamento De fato o paciente e o terapeu ta logo ignoram a presença do microfone e compor tamse com muita naturalidade A acumulação de uma série de transcrições exatas das sessões de terapia por Rogers e seus associados possibilitou estudar o curso do tratamento de forma objetiva e quantitativa Em grande parte devido aos esforços de Rogers os psicó logos aprenderam muito sobre os processos da psico terapia Ver p ex Rogers 1967a Rogers Dymond 1954 Seeman Raskin 1953 Cartwright Lerner 1963 e para uma revisão crítica Wylie 1978 Embora os estudos empíricos realizados por Ro gers e seus associados visassem primariamente a com preender e elucidar a natureza da psicoterapia e ava liar seus resultados muitos de seus achados se relacionam diretamente à teoria da personalidade desenvolvida por Raimy 1943 e Rogers De fato a formulação sistemática de Rogers da sua teoria foi ditada pelos achados de pesquisa não era um ponto de vista preconcebido que determinava a natureza e a direção quer da terapia quer da pesquisa Sobre esse ponto Rogers disse O self é há muitos anos um con ceito impopular na psicologia e os que trabalham te rapeuticamente segundo uma orientação centrada no cliente certamente não tinham nenhuma inclinação inicial a usar o self como um conceito explanatório 1951 p 136 Estudos Qualitativos Muitas das idéias de Rogers sobre a personalidade foram explicadas por um procedimento qualitativo e indicativo que consiste em demonstrar por extratos de gravações das verbalizações do cliente qual é a sua autoimagem e que mudanças ocorrem nela durante a terapia A literatura sobre terapia nãodiretiva ou centrada no cliente está cheia de exemplos desse tipo Rogers 1942 1949 1951 1961 p 73106 1976a p 401418 Rogers Dymond 1954 Rogers Wal len 1946 Muench Rogers 1946 Snyder e colabo radores 1947 O próprio Rogers parecia preferir esse modo de apresentar suas idéias embora é claro ele não considerasse os excertos das gravações como prova da validade de sua teoria da personalidade Eles eram mais usados para familiarizar o leitor com fenômenos típicos que ocorrem durante as sessões de terapia e para indicar os tipos de experiência que precisam ser explorados TEORIAS DA PERSONALIDADE 375 Análise de Conteúdo Esse método de pesquisa consiste em formular um conjunto de categorias por meio das quais as verbali zações de um cliente podem ser classificadas e conta das Em um estudo pioneiro Porter 1943 estabele ceu as bases para grande parte do trabalho posterior sobre a categorização do conteúdo gravado de entre vistas de aconselhamento mostrando que o método de análise produz resultados confiáveis Em um outro estudo inicial de um aluno de Rogers Raimy 1948 foram analisadas as mudanças características na auto referência durante a terapia Para esse propósito Ra imy usou as seguintes categorias autoreferência po sitiva ou aprovadora autoreferência negativa ou desaprovadora autoreferência ambivalente autore ferência ambígua referências a objetos externos e pessoas e perguntas Os registros transcritos de 14 casos que tinham tido de duas a vinte e quatro entre vistas foram relacionados e classificados nas seis clas ses recémcitadas e foi contado o número em cada categoria nos sucessivos estágios de aconselhamento Descobriuse que no início da terapia os clientes da vam uma preponderância de autoreferências desa provadoras ou ambivalentes e que à medida que o aconselhamento prosseguia ocorriam flutuações na autoaprovação com crescente ambivalência Na con clusão do aconselhamento os clientes avaliados como tendo melhorado estavam fazendo um número pre ponderante de declarações de autoaprovação en quanto os que não tinham melhorado ainda estavam ambivalentes e desaprovadores em relação a si mes mos Em um outro grupo de estudos empregando aná lise de conteúdo foi feita uma tentativa de testar a proposição de que conforme as pessoas passam a se aceitar mais elas também aceitam mais os outros Foram formuladas as categorias de sentimentos posi tivos negativos e ambivalentes em relação ao self e aos outros e essas categorias foram aplicadas a casos em terapia Em um estudo Seeman 1949 o núme ro de autoreferências positivas aumentou e o núme ro de autoreferências negativas diminuiu durante a terapia sem qualquer mudança concomitante nos sen timentos em relação aos outros Um outro investiga dor Stock 1949 usando um método semelhante de análise de conteúdo não encontrou nenhuma evidên cia de que as mudanças no autosentimento ocorrem antes e produzem mudanças nos sentimentos em re lação aos outros Em uma terceira investigação She erer 1949 foi obtido certo apoio positivo para a pro posição embora as mudanças nas atitudes em relação aos outros não fossem nem tão acentuadas nem tão regulares como os aumentos na aceitação do self Uma investigação de Gordon e Cartwright 1954 da pro posição em que foram empregados vários testes e es calas em lugar da análise de conteúdo não apoiou a hipótese de que uma crescente aceitação do self leva a uma crescente aceitação dos outros Mas é interessante a existência de uma correla ção bastante significativa 051 no estudo de Sheerer e 066 no estudo de Stock entre as concepções do self e as concepções dos outros Isso significa que um in divíduo que pensa bem de si mesmo tende a pensar bem dos outros e que aquele que desaprova si mes mo tende a desaprovar os outros Correlações de mag nitude semelhante foram encontradas por Phillips 1951 em uma investigação de autosentimentos e sentimentos em relação aos outros em vários grupos de pessoas que não estavam em terapia Medinnus e Curtis 1963 observaram que a mai oria dos estudos sobre autoaceitação e aceitação dos outros foi realizada com estudantes universitários ou com pessoas em terapia Para aumentar a generaliza ção eles investigaram mães normais As mães que se aceitavam tendiam mais a aceitar os filhos do que as mães que não se aceitavam Depois de examinar mui tos estudos Wylie 1961 1978 concluiu que as evi dências disponíveis de forma geral apóiam a hipótese de que a autoaceitação está associada à aceitação dos outros embora ela ache que a maioria dos estudos tem sérias falhas que tornam equívocos os achados Escalas de Avaliação Uma das principais contribuições de Rogers e seus colaboradores à investigação da psicoterapia é a men suração do processo e da mudança durante a terapia pelo uso de escalas de avaliação Apesar de não ex cluir a importância de avaliarse o resultado da tera pia Rogers pensava que se pode aprender mais sobre a efetividade terapêutica estudando as atitudes e o comportamento do terapeuta em relação às mudan ças no cliente Para esse propósito foram desenvolvi dos dois tipos de escalas de avaliação as que avaliam as atitudes do terapeuta e as que medem a mudança 376 HALL LINDZEY CAMPBELL no cliente Um exemplo das primeiras é a seguinte escala de congruência desenvolvida por Kiesler Ro gers 1967a p 581584 Estágio 1 Existem claras evidências de uma dis crepância entre o que o terapeuta experien cia do cliente e a comunicação corrente Estágio 2 O terapeuta comunica informações ao cliente em resposta ao questionamento do cliente mas a resposta tem uma qualidade falsa enganadora ou de meiaverdade Estágio 3 O terapeuta não nega seus sentimen tos em relação ao cliente mas também não comunica seus exatos sentimentos em rela ção a ele Estágio 4 O terapeuta comunica informações ao cliente quer espontaneamente quer em resposta ao seu questionamento ao invés de retêlas por motivos pessoais ou profissionais Estágio 5 O terapeuta comunica aberta e livre mente seus sentimentos tanto positivos quan to negativos em relação ao cliente em um determinado momento sem traços de de fensividade ou refúgio no profissionalismo Um exemplo de uma escala para medir o proces so terapêutico é a desenvolvida por Gendlin Rogers 1967a p 603611 para avaliar a qualidade do rela cionamento Estágio 1 Recusa de um relacionamento Estágio 2 Aceitação física de um relacionamen to sem aceitação manifesta Estágio 3 Qualidade de aceitação parcial do relacionamento ou qualidade paralela inter mitente do relacionamento Estágio 4 Paralelo e simultâneo o relaciona mento como um contexto da terapia Estágio 5 O relacionamento como terapia es pecífica e não apenas como um contexto geral para a terapia Estágio 6 O relacionamento está pronto para ser uma realidade permanente e portanto pode estar se aproximando do término O uso mais ambicioso dessas escalas ocorreu em um estudo de psicoterapia com esquizofrênicos Ro gers 1967a Embora Rogers e seus associados esti vessem interessados em descobrir se a terapia centra da no cliente funcionaria com pacientes do hospital estadual esse foi primariamente um estudo dos rela cionamentos terapêuticos e não da esquizofrenia As escalas de avaliação foram preenchidas por terapeu tas pacientes e juízes que não tinham nenhuma in formação sobre os casos a não ser excertos das trans crições de sessões de terapia Os achados são muitos extensos para serem resumidos aqui Mas podemos comentar os mais importantes As escalas de avaliação mostraram ter uma fide dignidade satisfatória exceto aquela que media a con sideração positiva incondicional Os juízes indepen dentes conseguiram fazer avaliações confiáveis depois de ler uma série bastante curta de excertos da trans crição de toda a terapia Houve uma correlação nega tiva entre a avaliação do terapeuta do relacionamen to terapêutico e a avaliação do paciente ou do avalia dor imparcial Rogers comentou esse resultado ines perado É um achado moderador esse de que os nossos terapeutas competentes e conscienciosos como são têm percepções excessivamente otimistas e em alguns casos seriamente inválidas dos relaci onamentos em que estão envolvidos O paciente com toda a sua psicose ou o brilhante e jovem universitário sem nenhum conhecimento de tera pia acabaram tendo percepções mais úteis e pro vavelmente mais exatas do relacionamento 1967a p 92 De modo geral houve pouco movimento de processo melhora durante a terapia nesse grupo de oito es quizofrênicos crônicos e oito agudos Estudos com a TécnicaQ O aparecimento do psicólogo inglês William Stephen son na Universidade de Chicago foi extremamente vantajoso para Rogers e seus associados Os métodos de pesquisa que ele desenvolveu foram adaptados para a investigação do autoconceito pelo método do caso único Esses métodos são referidos por Stephenson como técnicaQ Existe uma diferença entre a técnicaQ de Stephen son e a base lógica sobre a qual ela repousa que Ste phenson chama de metodologiaQ As hipóteses lógi cas são derivadas da teoria pela metodologiaQ e tais hipóteses podem então ser testadas pela técnicaQ Entretanto o investigador pode empregar a técnica TEORIAS DA PERSONALIDADE 377 Q sem usar a metodologiaQ É isso o que Rogers e seus associados fizeram A diferença entre o tipo de pesquisa estimulado por Stephenson e aquela realiza da sob a influência de Rogers aparece claramente quando comparamos os estudos de Nunnally 1955 um aluno de Stephenson com os de Butler e Haigh 1954 alunos de Rogers Eles investigaram as mu danças nas autoconcepções antes e depois da terapia Ao planejar seu experimento Nunnally usou a meto dologiaQ e todo o complemento de técnicasQ in cluindo análise fatorial ao passo que Butler e Haigh usaram apenas a classificaçãoQ e as correlações in terpessoais Além disso Nunnally empregou um caso único como Stephenson recomenda e Butler e Haigh empregaram vários casos O que é a técnicaQ Essencialmente é um méto do para estudar sistematicamente as noções de uma pessoa sobre si mesma embora possa ser usado tam bém para outros propósitos A pessoa recebe uma pi lha de declarações e é solicitada a classificálas em uma distribuição préorganizada ao longo de um con tínuo desde aquelas mais características da pessoa que está classificando até as menos características A distribuição se aproxima de uma distribuição normal e é exatamente a mesma para todos os sujeitos em um dado experimento Esse aspecto constante facilita o manejo estatístico dos resultados uma vez que to das as classificações são forçadas a uma distribuição cuja média e desviopadrão são os mesmos Podem ser feitas classificações não apenas de como as pessoas se vêem no momento mas também de como elas gostariam de ser a chamada classificação ideal de como elas eram aos 15 anos de idade de como suas mães as vêem e assim por diante Pode haver tantas classificações ou variáveis diferentes como são chamadas quantas o investigador resolver usar Bo wdlear 1955 por exemplo usou 25 classificações em seu estudo de um paciente epiléptico em terapia Os resultados desse planejamento multivariado po dem ser analisados por métodos correlacionais da aná lise fatorial e da análise da variância Os itens para uma classificaçãoQ podem ser reu nidos de várias maneiras Eles podem ser formulados de modo a conformarse a uma teoria específica da personalidade e Stephenson apresenta muitos exem plos em seu livro 1953 ou podem ser selecionados de uma população de itens obtidos de protocolos te rapêuticos de autodescrições de inventários de per sonalidade e assim por diante Para ilustrar como Rogers e seus associados usa ram a técnicaQ vamos examinar o estudo realizado por Butler e Haigh 1954 Esses investigadores que riam testar a suposição de que as pessoas que buscam aconselhamento estão insatisfeitas consigo mesmas e que após um aconselhamento bemsucedido sua in satisfação será menor Os itens da classificaçãoQ para esse estudo foram escolhidos aleatoriamente de vári os protocolos terapêuticos Eles consistiam em itens como Eu sou uma pessoa submissa Eu sou muito trabalhador Eu sou simpático e Eu sou uma pes soa impulsiva Antes de começar o aconselhamento cada cliente era solicitado a classificar as afirmações de duas maneiras de acordo com as seguintes instru ções Autoclassificação Classifique estes cartões para descrever a si mesmo como você se vê hoje começando por aqueles que são menos pare cidos com você e chegando aos que são mais parecidos Classificação ideal Agora classifique estes cartões para descrever sua pessoa ideal a pessoa que você realmente gostaria de ser As distribuições das duas classificações foram en tão correlacionadas para cada pessoa A correlação média entre a autoclassificação e a classificação ideal no grupo de sujeitos foi zero o que mostra que não existe nenhuma congruência entre como as pessoas se vêem e como elas gostariam de ser Um grupo de controle com sujeitos semelhantes aos do grupo de clientes mas não interessados em fazer aconselhamen to fez as mesmas classificações A correlação média entre a autoclassificação e a classificação ideal nesse grupo foi de 058 o que prova que um grupo que não está em tratamento está muito mais satisfeito consigo mesmo do que aquele que busca terapia Depois de concluir o aconselhamento uma média de 31 sessões por pessoa os clientes foram novamente solicitados a fazer as classificações A correlação média entre as duas classificações foi de 034 um aumento significa tivo em relação à média anterior ao aconselhamento embora ainda inferior à correlação do grupo de con trole O grupo de controle também foi retestado após um intervalo de tempo equivalente ao do grupo de 378 HALL LINDZEY CAMPBELL clientes e sua correlação média de ideal de self não mudou Um outro grupo que buscara terapia mas fora solicitado a esperar 60 dias antes de começar o trata mento não mostrou nenhuma mudança em suas cor relações de ideal de self durante o período de espera Para verificar a permanência da mudança que ocorrera na autoestima dos clientes durante a tera pia foi realizado um estudo de seguimento com os clientes de seis meses a um ano após o término da terapia A correlação média entre a autoclassificação e a classificação ideal foi aproximadamente a mesma do encerramento da terapia 031 versus 034 Os in vestigadores concluíram que a autoestima que eles definem como a congruência entre a autoclassifica ção e a classificação ideal aumenta como um resulta do direto do aconselhamento centrado no cliente Pode ocorrer ao leitor que o aumento na correlação média de zero para 034 poderia ter sido o resultado de uma mudança do autoconceito na direção do ideal ou de uma mudança do ideal na direção do autoconceito ou de mudanças em ambas as direções Em um outro estudo Rudikoff 1954 descobriuse que o ideal di minuía um pouco na direção da autoimagem duran te a terapia o que sugere que ambos os tipos de mu dança realmente ocorrem É interessante observar algumas das mudanças nas correlações individuais ocorridas entre préaconselha mento pósaconselhamento e seguimento Algumas das correlações começam muito baixas aumentam nitidamente durante a terapia e permanecem assim durante o período de seguimento A seguinte pessoa identificada como Oak exemplifica esse padrão Préaconselhamento Pósaconselhamento Seguimento Oak 021 069 071 Outras permanecem baixas o tempo todo como as de Baac Préaconselhamento Pósaconselhamento Seguimento Baac 031 004 019 Outras ainda começam baixas aumentam após o aconselhamento e depois regridem durante o período de seguimento Préaconselhamento Pósaconselhamento Seguimento Beel 028 052 004 Para um outro tipo de pessoa a correlação começa baixa aumenta durante a terapia e continua a aumentar após seu término Préaconselhamento Pósaconselhamento Seguimento Bett 037 039 061 Poderíamos pensar que esses diferentes padrões de mudança estão relacionados à melhora evidencia da durante a terapia Esse não é o caso Quando os sujeitos foram divididos em um grupo melhorado e um grupo nãomelhorado conforme a avaliação de conselheiros e protocolos de testes projetivos os dois grupos não diferiam em suas correlações de ideal de self no término do aconselhamento embora na época da administração das classificaçõesQ no seguimento o grupo melhorado tendesse a apresentar correlações um pouco mais altas Butler e Haigh explicaram o fracasso em encon trar uma relação entre correlações de ideal de self e melhora em termos do que eles chamam de classifi cações defensivas Uma classificação defensiva é aque la em que as pessoas dão uma imagem distorcida de si mesmas para parecer que são mais bemajustadas do que realmente são Por exemplo em um outro es tudo a maior correlação de ideal de self encontrada um 090 extremamente elevado foi obtida por uma pessoa que era claramente patológica A questão da defensividade recebeu uma consi derável atenção de Rogers e seus associados porque levanta sérios problemas relativos à validade dos auto relatos É verdade por exemplo que quando alguém diz que está satisfeito consigo mesmo realmente está TEORIAS DA PERSONALIDADE 379 A estrutura de referência interna nos dá uma imagem acurada da personalidade Haigh 1949 estudou o comportamento defensivo e descobriu que ele pode assumir muitas formas incluindo negação retraimen to justificação racionalização projeção e hostilida de Durante a terapia centrada no cliente algumas pessoas mostraram uma redução na defensividade ao passo que outras mostraram um aumento Mas Haigh tendia a minimizar a importância dos comportamen tos defensivos Ele supunha que a maioria deles con sistia em um engano intencional por parte do cliente para salvar as aparências Essa visão contrasta nitida mente com a teoria psicanalítica dos mecanismos de defesa que supõe que eles operam inconscientemen te Um estudo realizado por Friedman 1955 escla receu melhor o problema da defensividade Três gru pos de homens brancos classificados como normal psiconeurótico e esquizofrênicoparanóide fizeram classificaçõesQ do self e do ideal de self A correla ção média para os 16 sujeitos normais foi 063 para os 16 sujeitos neuróticos 003 e para os 16 sujeitos psicóticos 043 Em outras palavras os pacientes psi cóticos manifestavam consideravelmente mais auto estima do que os neuróticos e não muito menos do que os sujeitos normais Friedman concluiu que em pregar uma alta correlação entre as concepções do self e do ideal de self como o único critério de ajusta mento contudo levaria à categorização de muitas pessoas desajustadas especialmente esquizofrênicos paranóides como ajustadas p 73 O achado de Friedman de que os esquizofrênicos paranóides mostram quase tanta congruência em suas classificações do ideal de self quanto os sujeitos nor mais foi confirmado por Havener e Izard 1962 Em um estudo de adolescentes do sexo feminino com pro blemas de comportamento Cole Oetting e Hinkle 1967 descobriram que alguns dos sujeitos classifi caram o self como superior ao ideal de self Isso parece ser uma outra indicação de classificação defensiva Um outro estudo em que uma medida de defensi vidade estava correlacionada a autoatitudes e à ava liação da personalidade por observadores externos foi realizado por Chodorkoff 1954 Chodorkoff obteve autorelatos de 30 estudantes universitários fazen doos classificar 125 itens em 13 pilhas dos mais ca racterísticos aos menos característicos Quatro juízes que tinham acesso a informações biográficas a proto colos de Rorschach e um resumo dos escores no Rors chach a dados de teste de associação de palavras e protocolos do Teste de Apercepção Temática TAT fi zeram uma classificaçãoQ para cada sujeito usando os mesmos 125 itens Uma medida da defesa percep tual foi obtida expondose palavras ameaçadoras e neutras começando com uma exposição subliminar e aumentandoa gradualmente até o sujeito ser capaz de reconhecer todas as palavras As medidas da defe sa perceptual foram calculadas encontrandose a di ferença entre os limiares de reconhecimento para as palavras neutras e os limiares para as palavras amea çadoras Chodorkoff estava interessado em testar as seguin tes hipóteses 1 quanto maior a concordância entre a autodescrição da pessoa e a descrição da pessoa pelos outros menos defesa perceptual ela manifestará 2 quanto maior a concordância entre a autodescrição da pessoa e uma avaliação feita por juízes mais ade quado será o ajustamento pessoal do indivíduo e 3 quanto mais adequado o ajustamento pessoal menos defesa perceptual a pessoa vai demonstrar Foram empregadas duas medidas de ajustamento 1 a lista de verificação Munroe Inspection Rorschach e 2 as avaliações feitas por juízes em 11 escalas de ajusta mento Os resultados confirmaram todas as hipóteses Quanto maior a concordância entre as autodescrições e as descrições dos outros menos defesa perceptual havia e melhor era o ajustamento pessoal Os sujeitos mais bemajustados também apresentavam menos defesa perceptual Esses estudos indicam que a defensividade é uma variável importante nos autojulgamentos da pessoa e que os autorelatos não transmitem a mesma ima gem da personalidade que é obtida de juízes exter nos Uma outra variável que afeta as autoavaliações é a desejabilidade social Milgram Helper 1961 Um traço considerado desejável recebe uma autoavalia ção melhor do que um considerado indesejável O fa tor de desejabilidade social influencia a discrepância entre as autoavaliações e as avaliações do ideal de self Por exemplo em um estudo de molestadores de crianças Frisbie Vanasek e Dingman 1967 desco briram que termos de traços com um caráter avaliati vo não mostravam discrepância entre as avaliações do self e as ideais enquanto termos nãoavaliativos 380 HALL LINDZEY CAMPBELL puramente descritivos produziam grandes discrepân cias Um exame crítico e abrangente dos estudos de classificaçãoQ do ideal de self foi realizado por Wylie 1974 p 128149 Estudos Experimentais do Autoconceito O interesse atual pelo autoconceito transcendeu seu locus original na situação de terapia e tornouse as sunto de investigação em condições de laboratório Ademais as hipóteses testáveis relativas ao autocon ceito foram derivadas de outras teorias além da de Rogers Por exemplo Pilisuk 1962 predisse com base na teoria de Heider do equilíbrio cognitivo que os sujeitos adversamente criticados por seu desempenho em uma tarefa não mudariam suas autoavaliações Essa predição foi confirmada Os sujeitos usaram vá rias racionalizações para manter uma autoimagem favorável diante das críticas Que o autoconceito pode ser modificado sob cer tas condições é revelado por outros estudos Partindo da teoria da dissonância de Festinger Bergin 1962 realizou o seguinte experimento Os sujeitos primeiro fizeram autoavaliações da masculinidade Depois eles foram informados de que sua masculinidade era vista por outros de uma maneira discrepante da autoava liação Quando a comunicação discrepante era bas tante digna de crédito os sujeitos mudavam suas auto avaliações para tornálas mais consoantes com a opinião dos outros Quando a opinião comunicada podia ser desacreditada suas autoavaliações não mudavam substancialmente Outras Abordagens Empíricas Embora as descrições qualitativas a análise de con teúdo de protocolos terapêuticos e o uso da técnicaQ constituam as principais abordagens empíricas de Rogers e seus associados ao estudo da personalidade eles também empregaram vários outros métodos Es ses métodos consistem em abordar a pessoa a partir de uma estrutura de referência externa Testespadrão como o Rorschach Carr 1949 Haimowitz 1950 Haimowitz Haimowitz 1952 Mosak 1950 Muen ch 1947 Rogers 1976a o TAT Dymond 1954 Grummon John 1954 Rogers 1967a o Minneso ta Multiphasic Mosak 1950 Rogers 1967a o Bell Adjustment Inventory Muench 1947 Mosak 1950 e o KentRosanoff Word Association Muench 1947 foram usados com clientes em terapia Um dos alunos de Rogers também usou índices fisiológicos para me dir tensão e emoção Thetford 1949 1952 PESQUISA ATUAL Como vimos Rogers gerou ou estimulou uma quanti dade substancial de pesquisas Esse fluxo ficou mais lento nos últimos anos mas não parou Uma série de estudos de Cramer 1990 por exemplo examinou a relação entre o ajustamento psicológico operaciona lizado como autoestima e os níveis de apoio social facilitador operacionalizados como nível e incondi cionalidade de aceitação empatia e congruência da outra pessoa em estudantes universitários que man tinham relacionamento íntimos no presente Consis tentemente com a análise de Rogers das condições que geram crescimento psicológico Cramer relatou que a facilitação inicial especialmente a incondicio nalidade da aceitação do parceiro estava associada à autoestima subseqüente Ainda mais impressionante é uma análise longi tudinal de Harrington Block e Block 1987 da teoria da criatividade de Rogers Segundo Rogers a criativi dade construtiva é mais provável na presença de três condições abertura à experiência locus interno de avaliação e capacidade de brincar com elementos e conceitos As condições internas são por sua vez fa vorecidas por duas condições externas segurança psi cológica e liberdade psicológica Harrington e cola boradores 1987 investigaram a extensão em que medidas de práticas de educação infantil de pais de crianças de 4 anos e meio em 106 famílias correlacio navamse com os diferentes índices posteriores de potencial criativo das crianças Os três índices de prá ticas de educação dos filhos correlacionavamse sig nificativamente com o potencial criativo préescolar e com o potencial criativo adolescente as correlações variavam de 038 a 049 em um padrão consistente com a teoria de Rogers Além disso o relacionamento com o potencial criativo adolescente permaneceu igual depois de terem sido removidas as influências de sexo potencial criativo préescolar e inteligência préesco TEORIAS DA PERSONALIDADE 381 lar Os autores concluem que esses resultados são obviamente consistentes com a teoria de Rogers dos ambientes criativos 1987 p 855 Além destes testes diretos do modelo de Rogers sua suposição implícita de que as pessoas buscam a autoconsistência está ligada a uma série de progra mas de pesquisa atuais Tais programas situamse em uma área cinza entre a psicologia da personalidade e a psicologia social pois lidam com o self mas não fo calizam a pessoa inteira apesar de estar clara a sua contribuição à tentativa de compreender a personali dade e refinar as teorias da personalidade Existem muitas pesquisas contemporâneas sobre o self mas nós limitaremos a nossa discussão neste capítulo a dois programas que enfatizam a consistência a teoria de Festinger da dissonância cognitiva e a análise de Hig gins das autodiscrepâncias Nós também introduzimos um trabalho psicológico social recente sobre a exis tência e a função de um autoconceito dinâmico Teoria da Dissonância Cognitiva Leon Festinger 1957 propôs que as pessoas que pos suem duas crenças inconsistentes ou o que ele cha mou de cognições dissonantes experienciam um de sagradável estado de tensão que ficam motivadas a reduzir Por exemplo um homem pode dizer a si mes mo e aos outros que acredita em direitos iguais para as mulheres mas também pode nunca votar em uma candidata do sexo feminino Essas duas cognições são dissonantes e a teoria prediz que elas vão se combi nar para fazer seu portador sentirse inquieto moti vado a resolver tal inconsistência Ele pode fazer isso mudando seu comportamento de votar mudando sua crença ou tentando justificar a discrepância Tal justi ficativa poderia ocorrer se o homem decidisse que te ria votado em uma mulher se houvesse uma candida ta qualificada ou se ele afirmasse que a integridade da unidade familiar tradicional requer que não nos apressemos a distribuir cargos para as mulheres Es sas declarações poderiam ser verdade mas o ponto é que o homem as faz de maneira motivada defensiva Como aconteceu com Rogers e Freud nós encon tramos uma situação em que um observador externo não pode saber facilmente se o comportamento é de fensivo ou legítimo Como um exemplo alternativo considerem a aluna que acredita que colar é errado mas que cola em uma prova se tem a oportunidade Sua atitude e sua ação são dissonantes Ela não pode mudar o comportamento ela já colou mas precisa reduzir a discrepância a fim de remover o desagradá vel estado de tensão Ela pode tentar justificar o com portamento dizendo que o exame não era importan te ou que aquilo só aconteceu porque dessa vez ela não estava preparada ou que não foi nada de impor tante pois aquela matéria não fazia parte de sua área de estudo Mas interessantemente ela também pode reduzir a dissonância mudando seu comportamento concluindo que colar nem sempre é tão ruim Festinger acredita que é melhor descrever as pes soas como seres que racionalizam e não como seres racionais As cognições inconsistentes são análogas ao self e à experiência no modelo de Rogers o estado de tensão é análogo à ansiedade no modelo de conflito de Rogers e a justificativa é análoga às defesas de Rogers da distorção ou negação Tal analogia está lon ge de ser perfeita é claro porque as cognições disso nantes podem ser algo muito diferente do que Rogers quer dizer com self e experiência Mas a confiança básica na autoconsistência conforme provocada por um estado de excitação é muito semelhante O paralelo fica ainda mais interessante à luz dos achados de que um estado de excitação negativa é um prérequisito para que ocorra a dissonância Por exemplo Zanna e Cooper 1974 deram uma pílula de placebo a grupos de sujeitos antes da indução de dissonância dizendo a diferentes grupos que a pílula os deixaria tensos relaxados ou não teria efeito ne nhum Os sujeitos foram então induzidos a escrever uma redação oposta às suas atitudes Os sujeitos mu daram sua atitude na direção da redação escrita con forme prediz a teoria da dissonância quando infor mados de que a pílula não teria nenhum efeito Nenhum efeito de dissonância ocorreu nos sujeitos informados de que a pílula os estimularia presumi velmente porque eles atribuíram erradamente à pí lula a sua excitação por escrever a redação Finalmen te os sujeitos informados de que a pílula os relaxaria mostraram uma mudança de atitude ainda maior do que os membros do primeiro grupo presumivelmen te porque esperavam estar relaxados e portanto fi caram ainda mais perturbados pela excitação sentida Cooper Zanna e Taves 1978 replicaram esse experi mento dizendo aos sujeitos que eles estavam rece bendo um placebo quando de fato alguns estavam recebendo um tranqüilizante alguns um estimulan 382 HALL LINDZEY CAMPBELL te e alguns um placebo Os efeitos de dissonância ocorreram quando os sujeitos receberam o placebo não ocorreram quando eles receberam um tranqüili zante e foram intensificados quando eles receberam o estimulante Aparentemente um estado de excita ção é necessário para que ocorra a dissonância exa tamente como a ansiedade é um gatilho necessário para a defesa no modelo de Rogers Um outro vínculo com Rogers é sugerido por duas modificações da teoria da dissonância Aronson 1969 propôs que o componente mais excitante de uma cog nição dissonante é sua inconsistência com o autocon ceito Em conseqüência a motivação para restaurar a consistência por meio da autojustificativa deverá ser mais intensa quando a inconsistência puser em risco alguma faceta central da autodefinição Alternativa mente a autojustificativa provocada pela dissonância deverá ser mais predominante entre os indivíduos com autoestima elevada Essa visão da consistência afir ma que o nosso nível geral de autoestima opera como um padrão em comparação com o qual a consistência avaliativa de um ato é avaliada Quanto mais incon sistente é o ato de acordo com aquele padrão mais pressão haverá para justificálo como um meio de res taurar a consistência autoavaliativa Steele Spen cer Lynch 1993 p 886 Ao contrário dessa abor dagem de autoconsistência à dissonância Steele Steele Liu 1983 Steele Spencer Lynch 1993 ofereceu uma abordagem de autoafirmação A teoria da auto afirmação postula um motivo para manter a percep ção de integridade global do autosistema Como con seqüência a autojustificativa descrita pela teoria da dissonância representa uma tentativa não de restau rar a consistência mas de restaurar a integridade da autoimagem Já que as pessoas com autoestima ele vada possuem mais recursos com os quais afirmar sua autoimagem ameaçada elas são mais resisten tes à ameaça à autoimagem produzida pela disso nância pósdecisão e portanto é menos provável que se empenhem em autojustificativa Steele e colabora dores 1993 p 886 Assim existem diferenças indi viduais na resistência à ameaça Consistentemente com esse modelo Steele e colaboradores 1993 descobri ram que os indivíduos com autoestima elevada quan do lembrados de seus recursos exibiam menos auto justificativa depois de uma decisão ameaçadora para a autoestima Steele conclui que a dissonância não é fundamentalmente a aflição da inconsistência psi cológica ou mais particularmente a aflição da auto inconsistência mas a angústia de um senso de auto integridade ameaçada Steele e colaboradores 1993 p 893 Teoria da Autodiscrepância A essência do modelo de Rogers é a existência de duas versões de congruênciaincongruência entre o self e a experiência em que o primeiro representa a auto definição do indivíduo e o segundo representa a rea lidade mental do indivíduo e entre o self e o self ide al em que o último denota o autoconceito que o indivíduo mais gostaria de possuir o que ele mais va loriza Rogers 1959 p 200 A teoria da autodis crepância de E T Higgins 1987 1989 está constru ída em torno das discrepâncias existentes entre três domínios alternativos do self a o self real que é a nossa representação dos atributos que alguém nós mesmos ou outra pessoa acredita que nós realmente possuímos b o self ideal que é a nossa representa ção dos atributos que alguém nós mesmos ou outra pessoa gostaria que nós idealmente possuíssemos i e a representação das esperanças das aspirações ou dos desejos de alguém para nós e c o self obri gatório que é a nossa representação dos atributos que alguém nós mesmos ou outra pessoa acredita que devemos ou temos de possuir i e uma representa ção do senso de dever das obrigações ou responsabi lidades de alguém 1987 p 320321 O exemplo de Higgins da distinção entre o self ideal e o self obri gatório é o conflito que algumas mulheres experienci am entre seu próprio desejo de ser uma profissional bemsucedida e a crença de outra pessoa de que elas deveriam ser donasdecasa e mães Observem que Higgins propõe duas origens para cada domínio do self o nosso próprio ponto de vista e o ponto de vista de alguma outra pessoa significativa a distinção de Rogers entre a necessidade de consideração positiva e a necessidade de autoconsideração se refere essen cialmente a esses dois pontos de vista Combinar os três domínios com os dois pontos de vista gera a pos sibilidade de seis tipos básicos de representações de estado de self realpróprio realde outro idealpró prio idealde outro obrigatóriopróprio e obrigató riode outro Observe que a condição de valor de Rogers e a tirania do deveria de Horney represen tam a internalização ou a transformação do obriga TEORIAS DA PERSONALIDADE 383 tóriode outro de Higgins no obrigatóriopróprio Voltando ao exemplo de Higgins o desejo de uma mulher de ser uma profissional bemsucedida seria uma representação do idealpróprio e a insistência de seus pais em que ela fique em casa como esposa e mãe seria uma representação do obrigatóriode ou tro As duas primeiras representações compreendem o que Higgins chama de autoconceito e as quatro res tantes compreendem o que ele chama de autoguias A teoria da autodiscrepância afirma que nós estamos motivados a atingir uma condição em que o nosso autoconceito combine com os nossos autoguias pes soalmente relevantes Higgins 1987 p 321 A teoria da autodiscrepância segue Rogers e a te oria da dissonância ao sugerir que as discrepâncias têm conseqüências emocionais e motivacionais Se a excitação se tornar forte demais a pessoa pode tentar reduzila mudando o seu comportamento ou recon ceitualizando eventos correntes ou passados Mas a teoria é distintiva ao propor que as discrepâncias crô nicas entre determinados pares de representação es tão associadas a predisposições motivacionais especí ficas Por exemplo as discrepâncias realpróprio versus idealpróprio e realpróprio versus idealde outro tor nam a pessoa vulnerável a emoções de abatimento e tristeza Mais especificamente uma discrepância real próprio versus idealpróprio provavelmente levará a desapontamento e insatisfação porque a pessoa acre dita que suas esperanças e seus desejos não se reali zaram Por outro lado uma discrepância realpróprio versus idealde outro produz vulnerabilidade à ver gonha e embaraço porque a pessoa fracassou em aten der às esperanças e desejos de um outro significativo Um exemplo da primeira discrepância ocorreria se uma pessoa que estivesse esperando ir para a faculdade fosse reprovada no vestibular enquanto a última po deria ocorrer se uma pessoa não conseguisse ingres sar na única faculdade que seus pais consideravam digna dela Ao contrário as discrepâncias entre re presentações realpróprio e obrigatóriopróprio tor nam a pessoa vulnerável a emoções de agitação Uma discrepância realpróprio versus obrigatóriopróprio produziria vulnerabilidade à culpa eou autodespre zo porque a pessoa violou um padrão moral pessoal mente aceito mas uma discrepância realpróprio ver sus obrigatóriode outro deixa a pessoa sentindose temerosa ameaçada ou ressentida devido a sanções ou punições antecipadas Um exemplo de uma discre pância realpróprio versus obrigatóriopróprio seria um aluno não tirar as notas que se sente capaz de tirar e não tirar as notas que seus pais esperavam ilustraria uma discrepância realpróprio versus obri gatóriode outro A teoria da autodiscrepância de Higgins é compli cada especialmente quando ele introduz parâmetros governando a disponibilidade e a acessibilidade das discrepâncias Mas ele publicou vários achados con firmatórios e sua teoria da autodiscrepância é uma extensão contemporânea provocativa do modelo ori ginal de Rogers Autoconceito Dinâmico As limitações de espaço impedem uma discussão ex tensa de outros trabalhos recentes que desafiam a su posição de um autoconceito unitário Markus e Wurf 1987 oferecem a melhor introdução para este tra balho sobre o que chamam de autoconceito dinâmico Markus e Wurf observam a conexão entre a pesquisa contemporânea e a teoria da personalidade de Rogers e entre as teorias propostas por Erikson Horney Mas low Murray e Sullivan Por exemplo Markus e Nu rius 1986 p 954 sugeriram que os selves possíveis representam as idéias dos indivíduos sobre o que eles poderiam tornarse o que eles gostariam de tornarse e o que eles temem tornarse Nessa abordagem o autoconceito funcional se refere ao conjunto de auto concepções presentemente ativas no pensamento e na memória p 957 Como um outro exemplo Markus e Kitayama 1991 distinguem entre construções in dependentes e interdependentes do self A visão inde pendente predominante nas culturas ocidentais ba seiase na suposição de que cada indivíduo tem atributos únicos que deve descobrir e expressar A construção interdependente baseiase não na suposi ção da autonomia do indivíduo mas no papel da pes soa na unidade social mais ampla Nesta última visão o que é único no indivíduo não é o seu self interior mas sua configuração de relacionamentos Segundo Markus e Kitayama existem conseqüências cogniti vas emocionais e motivacionais importantes dessas construções alternativas do self Apesar de Markus e Wurf se referirem a esse corpo de trabalho como ofe recendo uma perspectiva psicológica social ele cer tamente não deve ser ignorado por aqueles que estu dam a teoria da personalidade 384 HALL LINDZEY CAMPBELL STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO A teoria organísmica como uma reação ao dualismo mentecorpo à psicologia das faculdades e ao com portamentalismo estímuloresposta foi imensamente bemsucedida Existe alguém na psicologia atualmen te que não seja um proponente dos princípios mais importantes da teoria organísmica de que o todo é mais do que a soma de suas partes de que aquilo que acontece para uma parte acontece para o todo e de que não existem compartimentos separados dentro do organismo Que psicólogo acredita que existe uma mente separada do corpo uma mente que obedece a leis diferentes das que regem o corpo Quem acredita que existem eventos isolados processos insulados fun ções sem conexão Muito poucos psicólogos se é que algum têm atualmente um ponto de vista atomista Todos nós somos psicólogos organísmicos indepen dentemente do que somos além disso Nesse sentido a teoria organísmica é mais uma atitude orientação ou estrutura de referência do que uma teoria sistemática do comportamento Ela diz com efeito que uma vez que tudo se relaciona ao todo o verdadeiro entendimento resulta da colocação cor reta de um fenômeno dentro do contexto do sistema total Ela faz com que o investigador leve em conta uma rede de variáveis em vez de pares de variáveis considere o evento que está estudando como um com ponente de um sistema em vez de como um aconte cimento isolado Compreender as leis pelas quais o organismo opera é de fato a suprema preocupação dos cientistas é o ideal que todos buscam O ponto de vista organísmico conforme aplicado na área da psi cologia humana afirma que a pessoa total é a unida de natural de estudo Uma vez que o ser humano nor mal sadio ou qualquer outro organismo por falar no assunto sempre funciona como um todo organizado a pessoa deve ser estudada como um todo organiza do Uma teoria organísmica da personalidade é defi nida pela atitude do teórico não pelos conteúdos do modelo de personalidade construídos Se a teoria fo caliza o organismo todo como um sistema unificado em vez de traços pulsões ou hábitos então a teoria pode ser chamada de organísmica Goldstein Mas low Allport Murray Rogers Freud Jung e pratica mente todos os outros teóricos contemporâneos ado tam uma orientação organísmica embora existam diferenças radicais entre essas teorias O que Golds tein encontra no organismo não é precisamente o que Allport ou Freud encontram aí embora os três pos sam ser classificados adequadamente como organís micos em sua orientação geral Poucas falhas podem ser encontradas na aborda gem organísmica já que ela é tão universalmente acei ta Mas podemos avaliar uma teoria organísmica es pecífica como a de Goldstein Algumas críticas mais ou menos específicas foram feitas à teoria de Goldstein Ele foi criticado por não distinguir suficientemente entre o que é inerente ao organismo e o que foi colocado nele pela cultura Kat tsoff 1942 por exemplo levantou essa questão O conceito de Goldstein de autorealização foi conside rado como tendo um caráter geral demais para ser útil para predições específicas Skinner 1940 consi derou a autorealização um conceito metafísico por que ele não pode ser testado experimentalmente Al guns psicólogos reclamam que Goldstein aparente mente não considera a análise estatística preferindo uma abordagem qualitativa como investigador Esses psicólogos acham que a análise qualitativa é extrema mente subjetiva e que é difícil repetir uma investiga ção quando ela está expressa em termos puramente qualitativos Outros psicólogos não concordam com as críticas de Goldstein ao uso de testes psicológicos Eles acham que os testes devem ser aplicados e pon tuados de uma maneira padronizada e que eles não devem ser modificados para atender às necessidades de casos individuais Goldstein foi criticado por enfa tizar demais a maturação e dar muito pouca atenção à aprendizagem e por exagerar a importância da ati tude abstrata no funcionamento psicológico Finalmen te foi contestada a tentativa de compreender a per sonalidade normal estudandose pacientes com lesão cerebral A versão de Maslow da teoria organísmica pode acabar sendo mais influente do que todas as outras Maslow foi um escritor e um palestrante incansável e articulado Além disso ele se tornou um dos líderes da psicologia humanista que atrai tantos psicólogos Ao ler Maslow às vezes é difícil desenhar a linha entre o inspiracional e o científico Alguns críticos acredi tam que a psicologia humanista é mais uma substitui ção secular da religião do que uma psicologia científi ca Outros acham que as contribuições dos humanistas aos fundamentos empíricos da psicologia não foram TEORIAS DA PERSONALIDADE 385 proporcionais aos seus textos especulativos Alguns psicólogos acusam os humanistas de aceitar como verdade o que ainda é hipotético de confundir teoria com ideologia e de substituir a pesquisa pela retórica Apesar dessas críticas ao tipo de psicologia que Mas low representa existem muitos psicólogos que foram atraídos por esse ponto de vista porque ele tenta lidar com preocupações humanas vitais e contemporâneas Não houve nenhuma grande mudança no ponto de vista teórico de Rogers depois de 1959 embora ele se tornasse mais firme ao apresentar suas idéias mais seguro de sua validade essencial mais consciente de sua aplicabilidade para ajudar a resolver os proble mas do mundo moderno e mais convencido de que há esperança para o futuro da humanidade Rogers 1977 1980 A terapia centrada no cliente é um mé todo de tratamento estabelecido e amplamente utili zado A teoria centrada na pessoa conforme formula da por Rogers serve como um estímulo formidável para as atividades investigativas Nem todos os acha dos empíricos são favoráveis à teoria de Rogers e nem toda a pesquisa sobre o self pode ser atribuída direta mente a Rogers No entanto ninguém foi mais influ ente na criação de uma tradição intelectual em que a pesquisa sobre o self poderia florescer Seu ditado de que o melhor ponto de vista para se compreender o comportamento é o da estrutura interna de referên cia do próprio indivíduo tem sido um ponto de reu nião para muitos psicólogos Sua consideração apai xonada pelos valores humanistas na pesquisa psicológica conforme apresentada em tantos textos seus e em seu famoso debate com B F Skinner Ro gers 1956 ajudou a polarizar o pensamento dos psi cólogos Seu otimismo sua fé implícita na bondade inerente do ser humano e sua firme crença de que as pessoas perturbadas podem ser ajudadas são atitudes que atraíram muitas pessoas que consideram o com portamentalismo frio demais e a psicanálise pessimis ta demais A existência de uma terceira força na psicologia tão viável quanto o comportamentalismo e a psicanálise devese em grande parte a Carl Ro gers Já observamos que as visões teóricas de Rogers como as de Freud Jung Adler Horney e Sullivan originaramse de sua experiência profissional com pessoas emocionalmente perturbadas Mas existe uma diferença muito significativa entre Rogers e esses ou tros teóricos com uma base clínica A partir de 1940 quando Rogers aceitou um cargo como professor de psicologia na Universidade Estadual de Ohio sua iden tificação primária foi com a psicologia acadêmica Não é nenhum segredo que os avanços no ambiente uni versitário e o prestígio profissional são grandemente determinados pela produtividade da pesquisa da pes soa e pelas atividades de pesquisa dos seus alunos Além disso o psicólogo acadêmico tem de enfrentar o escrutínio crítico de seus colegas Que Rogers passou nesses testes com grande sucesso é atestado pela quan tidade e qualidade de suas publicações pelo número de alunos que teve e pelas honras recebidas de seus colegas psicólogos Ele foi um dos primeiros três psi cólogos escolhidos para receber um Distinguished Sci entific Contribution Award da Associação Psicológica Americana em 1956 Por outro lado apesar de sua associação com o processo acadêmico por muitos anos Rogers criticava agudamente a estrutura universitá ria tradicional Ele achava que conseguira seguir seu caminho sem ser influenciado tanto quanto possível pelas pressões e políticas dos departamentos acadê micos Em certa extensão tal isolamento se reflete no cinismo de Rogers a respeito da nossa instituição edu cacional e sua forçada segregação de sentimentos e de intelecto Usando uma expressão que poderia ser o resumo de sua teoria Rogers deplorou os gritos si lenciosos dos sentimentos negados ecoando em todas as salas de aula e corredores universitários Rogers 1980 p 251 itálicos acrescentados A principal crítica que muitos psicólogos fazem à teoria de Rogers é que ela se baseia em um tipo ingê nuo de fenomenologia Existem abundantes evidênci as mostrando que fatores nãodisponíveis para a cons ciência motivam o comportamento e que aquilo que uma pessoa diz de si mesma está distorcido por defe sas e enganos de vários tipos Os autorelatos care cem notoriamente de confiabilidade não só porque as pessoas talvez pretendam enganar seus ouvintes mas também porque elas não conhecem toda a verda de sobre si mesmas Rogers foi criticado por ignorar o inconsciente cuja potência para controlar a conduta humana foi comprovada por investigações psicanalí ticas durante um período de oito décadas Rogers acre dita que não há necessidade de sondar de interpretar de realizar análises extensas e intricadas dos sonhos ou de escavar camada após camada da psique por que a pessoa se revela naquilo que diz sobre si mes ma 386 HALL LINDZEY CAMPBELL Mas a crítica de ingenuidade não pode ser feita com tanta veemência contra Rogers Na teoria de Ro gers está explicitamente reconhecido o conceito de um organismo que tem muitas experiências das quais não está consciente Algumas dessas experiências não simbolizadas não têm acesso à consciência por serem inconsistentes com a autoimagem Se isso não é re pressão no sentido psicanalítico a distinção entre isso e repressão é tão pequena que pode ser ignorada A principal diferença entre Rogers e a psicanálise está na convicção de Rogers de que a repressão pode ser evitada em primeiro lugar por pais que dão à criança uma consideração positiva incondicional Ou se o dano já foi feito pode ser corrigido mais tarde pela intervenção terapêutica em que o terapeuta valoriza o cliente Quando recebe uma consideração positiva incondicional o cliente eventualmente descobre seu verdadeiro self Esse verdadeiro self é aquele comple tamente congruente com o organismo que experien cia Os psicanalistas objetariam que a consideração positiva incondicional mesmo que pudesse ser man tida consistentemente pelo terapeuta não seria sufi ciente para superar a repressão no paciente A análise e a interpretação do que o paciente está pensando e sentindo dos sonhos e da transferência são necessári as para penetrar nas defesas e tornar consciente o que está inconsciente Mesmo nas condições terapêuticas mais favoráveis uma porção das nossas experiências continua inconsciente Rogers 1977 modificou sua visão do inconsci ente sugerindo que os processos organísmicos incons cientes realmente orientam e devem orientar grande parte do nosso comportamento Tais processos não são antisociais e impulsivos no sentido freudiano eles são guias confiáveis para obtermos realização pessoal e desenvolvermos relações interpessoais calorosas Rogers parece estar dizendo Confie no seu inconsci ente Uma outra crítica focaliza o fracasso de Rogers em descrever a natureza do organismo Se o organis mo é a realidade psicológica básica quais são as ca racterísticas dessa realidade Quais precisamente são as potencialidades do organismo que podem ser rea lizadas Outros teóricos postularam elementos como instintos de vida e de morte Freud arquétipos Jung necessidades Murray Fromm e Maslow dri ves Miller e Dollard e traços Allport e Cattell mas Rogers não postulou nada além da tendência realiza dora muito geral Rogers poderia ter respondido a esse tipo de críti ca dizendo que como fenomenólogo ele está interes sado apenas nas experiências que fluem do organis mo e na abertura da pessoa a essas experiências e não no próprio organismo Evidentemente é prerro gativa do teórico colocar uma teoria dentro de uma estrutura e ignorar o que está fora dessa estrutura por considerálo pouco importante ou irrelevante Todos os teóricos exercem tal direito Seja qual for o futuro da teoria de Rogers ela ser viu muito bem ao propósito de tornar o self um objeto de investigação empírica Muitos psicólogos deram status teórico ao self mas é de Rogers o crédito por suas formulações sobre o self fenomenal terem levado diretamente a predições e atividades investigativas Heuristicamente sua teoria tem sido uma força ex tremamente potente e disseminada TEORIAS DA PERSONALIDADE 387 ÊNFASE NA APRENDIZAGEM Os três teóricos discutidos nesta seção final do texto distinguemse por uma ênfase no papel central desempenhado pela aprendizagem na aquisição daquelas tendências características de comportamento que constituem os componentes estruturais e dinâmicos em outras teorias da personalidade Eles diferem claramente em sua articulação dos princípios que governam a aprendizagem Skinner estabelece uma vigorosa descrição do condicionamento instrumental segundo o qual o comportamento é selecionado e mantido por suas conseqüências A essência do modelo de Skinner é sua especificação dos parâmetros que governam a operação de reforço Dollard e Miller explicam a aprendizagem por meio de estímuloresposta No processo eles reconceitualizam vários aspectos importantes do modelo psicodinâmico de Freud Finalmente Bandura articula um modelo de aprendizagem cognitivo social em que a aprendizagem observacional é o principal meio pelo qual as pessoas desenvolvem seus repertórios comportamentais Grande parte do relato de Bandura baseiase na suposição de que o comportamento humano é guiado pelas conseqüências antecipadas pelo indivíduo Outras diferenças acompanham as posições características desses teóricos a respeito dos princípios de aprendizagem Por exemplo Skinner jamais teria descrito a si mesmo como um teórico da personalidade em vez disso ele tentou oferecer uma estrutura alternativa para explicar os processos que outros teóricos descreviam como partes distintivas da personalidade de um indivíduo Bandura trabalha na fronteira entre a personalidade e a psicologia social Dos três seria mais provável que Dollard e Miller se referissem ao seu trabalho como uma teoria da personalidade Além disso Bandura enfatiza os processos cognitivos em sua exposição Dollard e Miller também tentaram explicar os processos cognitivos mas Skinner recusouse firmemente a explicar o comportamento em termos de processos cognitivos nãoobservados Os três teóricos têm metas extremamente práticas mas a orientação prática levou Skinner a uma posição claramente radical em que só os eventos ambientais observáveis e manipuláveis desempenham um papel causal A Tabela 4 ver p 388 apresenta um resumo comparativo de Skinner Dollard e Miller e Bandura As três posições são classificadas como altas no processo de aprendizagem Todos os teóricos também enfatizam a continuidade e dão pouca atenção à singularidade mas estão aparentes várias diferenças Por exemplo Skinner está sozinho em sua ênfase no papel desempenhado pela hereditariedade Bandura se destaca por sua ênfase no autoconceito e no papel desempenhado pela competência na orientação do comportamento 388 HALL LINDZEY CAMPBELL Cada uma dessas posições foi criticada por apresentar teorias da personalidade incompletas como veremos Entretanto nenhum dos três teóricos adotou isso como uma meta explícita e em grande extensão estamos forçando Skinner e Bandura a papéis que eles não buscaram Apesar disso as três teorias têm muito a oferecer aos que estudam a personalidade Sugerimos ao leitor que examine cada posição e comparea com declarações teóricas apresentadas anteriormente neste livro TABELA 4 Comparação Dimensional das Teorias de Aprendizagem Parâmetro Comparado Skinner Dollard e Miller Bandura Propósito B B M Determinantes inconscientes B M B Processo de aprendizagem A A A Estrutura B B M Hereditariedade A B B Desenvolvimento inicial M A M Continuidade A A A Ênfase organísmica B B M Ênfase no campo B B M Singularidade B B B Ênfase molar B B M Ambiente psicológico B B M Autoconceito B B A Competência B B A Afiliação grupal B M M Ancoramento na biologia M M B Ancoramento na ciência social B A M Motivos múltiplos B M B Personalidade ideal B B B Comportamento anormal M M M Nota A indica alto enfatizado M indica moderado B indica baixo pouco enfatizado TEORIAS DA PERSONALIDADE 389 CAPÍTULO 12 O Condicionamento Operante de B F Skinner INTRODUÇÃO E CONTEXTO 390 HISTÓRIA PESSOAL 390 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS 394 Legitimidade do Comportamento 394 Análise Funcional 395 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 398 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 399 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 401 Condicionamento Clássico 401 Condicionamento Operante 402 Esquemas de Reforço 403 Comportamento Supersticioso 404 Reforço Secundário 405 Generalização e Discriminação de Estímulo 406 Comportamento Social 407 Comportamento Anormal 408 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 411 PESQUISA ATUAL 413 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 414 390 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Na primeira parte deste século a voz estridente mas poderosa de John B Watson teve um imenso impac to sobre a psicologia acadêmica e sobre o público em geral Em anos mais recentes B F Skinner exerceu uma influência comparável e defendeu algumas das mesmas reformas Skinner foi um comportamentalis ta ardente convencido da importância do método objetivo do rigor experimental da capacidade da ex perimentação cuidadosa e da ciência indutiva para resolver os problemas comportamentais mais comple xos Ele aplicou seus conceitos e métodos às princi pais preocupações da nossa época tanto práticas quan to teóricas A posição de Skinner foi muitas vezes descrita como uma teoria de estímuloresposta mas ele repu diava esse rótulo por duas razões Primeiro sua abor dagem depende da conexão entre uma resposta e um evento reforçador subseqüente não entre um estímu lo e uma resposta subseqüente Na verdade Skinner concluiu que não existe nenhum estímulo controla dor ou provocador para a maioria dos comportamen tos a marca registrada do condicionamento operante de Skinner é que o controle reside nas conseqüências do comportamento É mais correto descrever sua abor dagem como selecionista ao invés de associacio nista Skinner freqüentemente enfatizava os parale los entre a seleção operante de determinados comportamentos por suas conseqüências durante a vida de um indivíduo e a seleção de membros de uma população pela seleção natural darwiniana durante o tempo evolutivo Os reflexos e os outros padrões inatos de comportamento se desenvolvem porque au mentam as chances de sobrevivência da espécie Os operantes se fortalecem porque são seguidos por con seqüências importantes na vida do indivíduo Skin ner 1953 p 90 citado em Catania 1993 ver tam bém Catania 1992 Segundo Skinner se distingue por um desagrado pela teoria formal conforme ilus trado por sua rejeição da abordagem de postulado teorema de Clark Hull à teorização Em vez de definir a ciência em termos da busca de princípios explana tórios a meta da ciência de Skinner é o controle a predição e a interpretação do comportamento uma meta considerada atingível uma vez que o comporta mento é supostamente regido por leis Quando a descrição do relacionamento funcional controlador estiver completa obteremos o controle e atingiremos a meta da ciência Holland 1992 p 665 HISTÓRIA PESSOAL Filho de um advogado de cidade pequena Skinner nasceu em 1904 e foi criado em Susquehanna Pensil vânia em um ambiente familiar carinhoso e estável É interessante notar o que o subseqüente inventor da caixa de Skinner da caixa do bebê e de várias máquinas de ensino observa em relação à sua infân cia Eu estava sempre construindo coisas Eu cons truí patinetes carrinhos com direção trenós e balsas que podiam ser impelidas por remos em lagos rasos Eu fiz gangorras carrosséis e pistas para trenós Eu fiz estilingues arcos e flechas armas de pressão e pistolas dágua com bambus e com um aquecedor de água velho construí um canhão a vapor com o qual eu podia atirar balas feitas com batata e cenoura nas casas dos nossos vizinhos Eu fiz brinquedos diabolôs aeroplanos em miniatura impulsionados por elásticos torci dos papagaios retangulares e hélices de lata que podiam subir muito alto presas por um carretel de linha Tentei muitas vezes fazer um planador em que eu pudesse voar Eu inventei coisas algu mas delas no espírito das engenhocas absurdas dos cartuns que Rube Goldber publicava no Phi ladelphia Inquirer o qual como bom republica no meu pai assinava Por exemplo um amigo e eu costumávamos colher bagas de sabugueiro e vendêlas de porta em porta e eu construí um sistema de seleção que separava as bagas madu ras das verdes Trabalhei durante anos no projeto de uma máquina de movimento perpétuo Ela não funcionou Skinner 1967 p 388 Ele ingressou em uma pequena faculdade de hu manidades Hamilton College onde se formou em inglês e decidiu tornarse escritor Encorajado de vá rias maneiras inclusive por uma carta de Robert Frost elogiando três de seus contos ele resolveu passar um ano ou dois escrevendo em tempo integral ainda mo rando com a família Esse período se revelou relativa mente improdutivo e após um breve intervalo em TEORIAS DA PERSONALIDADE 391 B F Skinner 392 HALL LINDZEY CAMPBELL Greenwich Village e na Europa ele desistiu de escre ver e decidiu ingressar em Harvard e estudar psicolo gia Embora Skinner abandonasse uma carreira em redação criativa ele nunca abandonou seu interesse pela literatura como testemunham vários de seus ar tigos subseqüentes Skinner 1961 Nessa época Harvard era um ambiente informal mas estimulante para um jovem psicólogo Skinner não parece ter seguido o caminho de qualquer outro membro da faculdade mas teve um contato significa tivo com muitos deles incluindo E G Boring Carroll Pratt e Henry Murray Tão significativas quanto essas interações foram as influências de seu colega Fred Keller e do eminente biólogo experimental W J Cro zier Skinner recebeu seu PhD em 1931 e passou cin co anos de pósdoutorado trabalhando no laboratório de Crozier os três últimos como Junior Fellow a posi ção de maior prestígio em Harvard para um jovem acadêmico Crozier foi um dos vários biólogos rigoro sos que influenciaram o pensamento de Skinner Ou tros incluem Jacques Loeb C S Sherrington e Ivan Pavlov Na sua linhagem intelectual destacamse psi cólogos como John B Watson e E L Thorndike Skin ner identificou alguns filósofos da ciência cujos textos contribuíram para a sua posição comportamentalista entre os quais Bertrand Russell Ernst Mach Henri Poincaré e Percy Bridgman Sua primeira posição acadêmica foi na Universi dade de Minnesota para onde ele se mudou em 1936 Os nove anos seguintes em Minnesota foram extraor dinariamente produtivos e estabeleceram Skinner como um dos maiores psicólogos experimentais de sua época Durante tal período de intensa atividade cien tífica ele encontrou tempo para começar um roman ce Walden Two 1948 que descrevia a evolução de uma sociedade experimental baseada em princípios psicológicos Após uma breve estada na Universidade de Indiana ele voltou à Harvard pelo restante de sua carreira Durante esses anos Skinner recebeu muitas honras incluindo o Distinguished Scientific Award da Associação Psicológica Americana a condição de mem bro da Academia Nacional de Ciências o Gold Medal Award da Fundação Psicológica Americana proferiu as palestras William James em Harvard e recebeu a Presidents Medal of Science B F Skinner morreu de leucemia em 18 de agosto de 1990 apenas oito dias depois de receber o único prêmio por Outstanding Li fetime Contribution to Psychology dado pela Associa ção Psicológica Americana Nenhum prêmio certa mente foi mais apropriado Holland 1992 p 665 resumiu a contribuição de Skinner como a demons tração de que o comportamento podia ser estudado como um assunto autosuficiente em vez de um re flexo de eventos mentais internos A publicação mais importante de Skinner foi seu primeiro volume The Behavior of Organisms 1938 que continua sendo uma fonte importante de influên cia intelectual muitos anos após a sua publicação O volume intitulado Science and Human Behavior 1953 apresenta uma introdução à sua posição e ilustra sua aplicação a uma ampla variedade de problemas práti cos Uma análise detalhada da linguagem em termos de seus conceitos aparece em Verbal behavior 1957 que o próprio Skinner considerava seu livro mais im portante e um exemplo inicial da aprendizagem pro gramada foi oferecido por Holland e Skinner 1961 Seus artigos mais importantes antes de 1961 estão reunidos em uma coleção intitulada Cumulative Re cord 1961 The Technology of Teaching 1968 deta lha sua abordagem à aprendizagem no ambiente es colar Contingencies of Reinforcement 1969 reafirmou a posição científica de Skinner incluindo sua relevân cia para amplos problemas sociais Em Beyond Free dom and Dignity 1971 provavelmente seu livro mais controverso Skinner argumenta que os conceitos de liberdade e dignidade são obstáculos à melhora da so ciedade moderna About Behaviorism 1974 resume as idéias de Skinner sobre o ramo da psicologia que é praticamente sinônimo de seu nome Skinner publi cou uma autobiografia de três volumes 1976 1979 e 1983b além de um relato anterior Muitos de seus artigos posteriores aparecem em duas coleções Skin ner 1978 1987 e um livro final Skinner Vau ghan 1983 descreve estratégias usadas por Skinner para lidar com alguns dos problemas associados ao envelhecimento Várias biografias de Skinner apare ceram recentemente incluindo Nye 1992 Richelle 1993 e uma biografia intelectual e cultural de Bjork 1993 que Francher chama de a primeira biografia séria do mais famoso psicólogo da América desde sua morte 1995 p 730 ver também Morris 1995 O que podemos dizer em termos gerais sobre a posição de Skinner e seus aspectos distintivos Em primeiro lugar seria difícil encontrar um teórico que se empolgasse menos do que Skinner com o fato de ser lançado ao papel de teórico Apesar de sua imensa TEORIAS DA PERSONALIDADE 393 influência teórica ele questionava a contribuição da teoria ao desenvolvimento científico Até quase o fim de sua carreira Skinner viu seu próprio trabalho como ilustrando um empiricismo informado e sistemático que operava sem derivação teórica Ele se opunha consistentemente a qualquer tentativa de preencher as lacunas entre os eventos observados com variáveis inferidas ou hipotetizadas Sua intenção era reunir leis comportamentais sem nenhuma ficção explanatória Esse ponto de vista foi particularmente bemilustrado em dois artigos intitulados Are theories of learning necessary 1950 e A case history in scientific me thod 1956 Também podemos observar que sua teoria deve tanto ao laboratório quanto qualquer outra teoria dis cutida neste volume Os princípios de Skinner foram derivados de experimentações precisas e ele demons trava mais respeito por dados bemcontrolados do que qualquer teórico comparável É fácil afirmar que as recompensas têm alguma relação com a aprendiza gem e não é muito difícil demonstrar repetidamente em condições cuidadosamente controladas que isso é verdade em vários ambientes diferentes É uma ou tra questão entretanto identificar com precisão rela ções altamente regulares entre padrões específicos de reforço e medidas de resposta cuidadosamente espe cificadas Em seus estudos de esquemas de reforço Skin ner fez exatamente isso e apresentou achados que têm uma regularidade e especificidade que rivalizam com os de qualquer cientista físico Ele demonstrou que padrões específicos esquemas de reforço geram mudanças características e altamente replicáveis no ritmo de resposta tanto na resposta mantida quanto na extinção Skinner diferia claramente do psicólogo experi mental comum em sua preocupação pelo sujeito indivi dual Seus resultados eram tipicamente relatados em termos de registros individuais Não bastava que seus estudos produzissem resultados médios que coincidi am com as expectativas e com a observação futura A lei ou a equação comportamental precisa aplicarse a cada sujeito observado em condições apropriadas A atenção à aplicabilidade individual de todos os acha dos ou leis é especialmente valiosa em uma disciplina na qual o investigador muitas vezes não analisa além dos dados de grupo para ver se existem muitos sujei tos se é que existe algum cujo comportamento se conforma às generalizações grupais O foco de Skinner no estudo dos sujeitos indivi duais ao invés de nas tendências grupais generaliza das refletia sua crença de que o controle da lei pode ser visto no comportamento individual É uma das maiores ironias da psicologia que os psicólogos da personalidade tenham tentado compreender os indi víduos estudando grupos enquanto Skinner procurou desenvolver leis gerais estudando indivíduos A esse respeito Skinner ecoa a busca de Gordon Allport por princípios gerais que expliquem o desenvolvimento e o comportamento dos indivíduos ver Capítulo 7 Embora muitos psicólogos tenham focalizado res postas que parecem estar grandemente sob o contro le de estímulos p ex os reflexos Skinner escolheu dirigir sua atenção para as respostas emitidas em vez de provocadas Essa ênfase nos operantes e não nos respondentes para usar a terminologia de Skinner constitui um outro aspecto distintivo de sua aborda gem ao estudo do comportamento Ele também acre ditava que a psicologia deveria centrarse em eventos comportamentais simples antes de tentar entender e predizer os eventos complexos Embora ele enfatizasse o estudo de organismos individuais e das respostas simples Skinner supunha que os achados desse tipo de pesquisa têm uma gran de generalidade Em suas palavras Eu sugiro que as propriedades dinâmicas do comportamento operante podem ser estudadas com um único reflexo ou pelo menos com o mínimo necessário para atestar a apli cabilidade geral dos resultados Skinner 1928 p 4546 Ele acreditava que os mesmos princípios ge rais do comportamento serão descobertos indepen dentemente de que organismo estímulo resposta e reforço o experimentador resolver estudar Assim o pombo e o laboratório proporcionam um paradigma que pode ser extrapolado e estendido à mais ampla variedade possível de outros organismos e situações Consistente com essa última observação é o fato de que a abordagem de Skinner ao estudo do com portamento suas leis e tecnologia foram usadas em uma ampla variedade de contextos aplicados Skinner e seus alunos lidaram significativamente com proble mas práticos como controle de mísseis Skinner 1960 tecnologia espacial Rohles 1966 teste com portamental de drogas psicoativas Boren 1966 tec nologia educacional Skinner 1968 1984 desenvol vimento de culturas ou sociedades experimentais Skinner 1961 tratamento de psicóticos crianças 394 HALL LINDZEY CAMPBELL autistas e pessoas mentalmente retardadas Krasner Ullmann 1965 uso de vales ou fichas Ayllon Azrin 1965 1968 Krasner 1970 Kazdin 1989 en velhecimento Skinner 1983a Skinner Vaughan 1983 qualidade de vida na cultura ocidental Skin ner 1986b e desenvolvimento da criança Bijou Baer 1966 Conseqüentemente embora em certo aspecto Skinner seja o mais puro de todos os teóri cos em consideração ele também é um teórico cujo trabalho tem tido uma grande aplicação em diversos domínios comportamentais para não mencionar ape nas a própria psicologia ver p ex Morris 1992 Acabamos de ver um pouco das origens e das qua lidades gerais das austeras formulações de Skinner e agora examinaremos um pouco mais detalhadamente as concepções e suas aplicações ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS Comecemos com um exame de algumas das suposi ções e atitudes básicas subjacentes ao trabalho de Skinner Legitimidade do Comportamento Embora a suposição de que o comportamento é re gido por leis esteja implícita em toda pesquisa psicoló gica ela muitas vezes não é explicitada e muitas de suas implicações deixam de ser reconhecidas Skin ner como Freud merece reconhecimento por sua cons tante ênfase no ordenamento do comportamento e talvez mais significativamente pelo fato de comuni car sua crença nessa legitimidade a um grande seg mento da sociedade Por meio de seus textos e experi mentos refinados Skinner convenceu muitos de que o princípio do determinismo se aplica aos seres hu manos e levanta sérias questões referentes à nossa concepção do homem como um agente livre com cer tas metas na vida Por exemplo Skinner salientava continuamente que se aceitarmos esse princípio cul par ou responsabilizar alguém por determinadas ações têm pouco significado Um indivíduo comete crimes sérios outro faz maravilhas a serviço da humanida de Ambas as classes de comportamento resultam da interação de variáveis identificáveis que determinam completamente o comportamento O comportamento de um indivíduo é inteiramente um produto do mun do objetivo e só pode ser compreendido em termos desse mundo Em princípio Skinner acreditava que também na prática as ações de um indivíduo podem ser consideradas regidas por leis da mesma forma que o movimento de uma bola de bilhar quando recebe o impacto de uma outra bola Quando levada até a sua conclusão lógica essa suposição revelouse profun damente perturbadora para muitos leitores de Skin ner Por exemplo assim como não culpamos e nem elogiamos uma bola de bilhar pelas conseqüências de seu movimento também não faz sentido da perspec tiva de Skinner elogiar um indivíduo por ganhar um prêmio Nobel ou culpar outro por se tornar um assas sino serial O comportamento é o produto de forças que agem sobre o indivíduo não de uma escolha pes soal Talvez nenhum outro teórico salvo Freud te nha introduzido uma suposição tão diferente da nos sa maneira habitual de ver a nós mesmos Aceitar ou rejeitar a suposição de Skinner de que o comporta mento é regido por leis tem profundas conseqüências para regras de decisão legal e políticas governamen tais relativas a cidadãos desfavorecidos entre outros domínios para não mencionar os julgamentos pesso ais sobre o nosso próprio comportamento e o com portamento dos outros A esse respeito como em tan tos outros Skinner é profundamente provocativo É claro que todos os teóricos da personalidade supõem veladamente que o comportamento é regido por leis Mas Skinner explicou as implicações dessa suposição de um modo que a pessoa comum pudesse entender A seguinte citação ilustra claramente as idéi as de Skinner A ciência é mais do que a mera descrição de even tos conforme eles ocorrem É uma tentativa de descobrir ordem de mostrar que certos eventos mantêm relações legítimas com outros eventos Nenhuma tecnologia prática pode basearse na ciência até que essas relações tenham sido desco bertas Mas a ordem não é o único produto final possível é uma suposição funcional que deve ser adotada desde o início Não podemos aplicar os métodos da ciência a um assunto que supomos moverse caprichosamente A ciência não apenas descreve ela prediz Ela lida não só com o passa do mas também com o futuro Nem a predição é TEORIAS DA PERSONALIDADE 395 a última palavra na extensão em que as condi ções relevantes podem ser alteradas ou de outra forma controladas o futuro pode ser controlado Para usar os métodos da ciência no campo das questões humanas devemos supor que o compor tamento é regido por leis e determinado Deve mos esperar descobrir que aquilo que um homem faz é o resultado de condições especificáveis e que depois de descobrir tais condições podemos an tecipar e em certa extensão determinar suas ações Essa possibilidade é ofensiva para muitas pesso as Ela se opõe a uma tradição já antiga que vê o homem como um agente livre cujo comportamen to é o produto não de uma condição antecedente especificável mas de mudanças internas espon tâneas de curso As filosofias predominantes da natureza humana reconhecem uma vontade in terna que tem o poder de interferir em relaciona mentos causais e torna impossíveis a predição e o controle do comportamento Sugerir que abando nemos essa visão é ameaçar muitas crenças aca lentadas solapar o que parece ser uma concep ção estimulante e produtiva da natureza humana O ponto de vista alternativo insiste em que reco nheçamos as forças coercitivas na conduta huma na que preferiríamos ignorar Isso desafia as nos sas aspirações quer materiais quer imateriais Independentemente de quanto possamos ganhar por supor que o comportamento humano é o as sunto adequado da ciência ninguém que seja um produto da civilização ocidental consegue fazer isso sem relutar Nós simplesmente não queremos uma ciência assim Skinner 1953 p 67 Em Beyond Freedom and Dignity 1971 Skinner sugeriu que ao analisar o comportamento o leigo geralmente atribui ao ambiente um papel causal em certos comportamentos mas não em outros Se um supervisor está na fábrica é fácil atribuir o bom de sempenho de um operário à presença do supervisor Nós damos mais crédito a um operário que é igual mente diligente na ausência do supervisor porque nesse caso as causas do comportamento são menos óbvias Assim o crédito que damos a uma pessoa ten de a estar inversamente relacionado à visibilidade das causas de seu comportamento Skinner argumentou que o comportamento do operário é regido por leis independentemente de suas causas serem óbvias para o observador casual e que dar crédito ao indivíduo por determinadas ações só impede a busca dos fato res que controlam seu comportamento A suposição de que todos os comportamentos são regidos por leis implica claramente a possibilidade do controle do comportamento Só precisamos manipu lar as condições que influenciam ou resultam em uma mudança de comportamento Pode haver certa dis cordância sobre se controle necessariamente impli ca entendimento ou explicação mas em um nível pu ramente prático Skinner preferia usar o termo controle porque seu significado está claro Skinner não se interessava muito por aqueles aspectos do compor tamento que são fortemente resistentes à mudança governados primariamente pela dotação hereditária por exemplo Os tipos de comportamento que ele es tudou são os que parecem mais plásticos e que ima ginamos que podem mudar pela manipulação das va riáveis ambientais que normalmente interagem com a pessoa O interesse de Skinner pelo comportamento originase não só de uma curiosidade sobre como fun ciona o comportamento mas também de um intenso desejo de manipulálo A palavra controle é usada em parte porque reflete corretamente essa convicção Skinner argumentava freqüentemente que a capaci dade de manipular o comportamento se apropriada mente manejada pode ser usada para a melhora de todos Análise Funcional Surge então a pergunta qual é a maneira mais prová vel de obter esse controle Skinner acreditava que uma análise funcional é a mais adequada Por análise fun cional Skinner queria dizer uma análise do comporta mento em termos de relações de causa e efeito em que as próprias causas são controláveis isto é os estímu los as privações e assim por diante Os psicólogos freqüentemente usam os termos variável independente e variável dependente nesse contexto Uma variável independente é aquela que o experimentador mani pula e uma variável dependente é aquela que pode mudar em resultado dessa manipulação Skinner com parou a análise funcional do comportamento a uma análise que só busca estabelecer correlações entre variáveis dependentes em vez de relacionamentos causais No estabelecimento de correlações como na classificação dos traços poderíamos descobrir por 396 HALL LINDZEY CAMPBELL exemplo que as pessoas agressivas também tendem a ser muito inteligentes Mas não estaríamos querendo mostrar como a disposição agressiva ou a inteligência podem ser encorajadas ou desencorajadas Estamos apenas conectando efeito com efeito e não estamos descobrindo variáveis antecedentes que dão origem a alguma das características Assim embora possamos ser capazes de predizer o comportamento até certo grau porque podemos medir a inteligência e predizer a agressividade não temos nenhuma indicação de quais variáveis manipular a fim de aumentar ou redu zir a agressividade Skinner sempre afirmou que a melhor maneira de estudar o comportamento é examinar como ele se relaciona a eventos antecedentes Esse é um argumen to aceito por muitos psicólogos Skinner também ar gumentava que em uma análise funcional do compor tamento não há nenhuma necessidade de falar sobre mecanismos que operam dentro do organismo O com portamento pode ser explicado e controlado puramen te pela manipulação do ambiente que contém o orga nismo que se comporta e não há nenhuma necessidade de desmontar o organismo ou fazer inferências sobre os eventos que estão ocorrendo dentro dele Confor me Skinner 1974 p 182 afirmou Em sua busca pela explicação interna apoiada pelo falso senso de causa associada a sentimentos e observações intros pectivas o mentalismo obscureceu os antecedentes ambientais que teriam levado a uma análise muito mais efetiva A objeção ao funcionamento interno da mente não é ele não estar aberto à inspeção mas estar atrapalhando a inspeção de coisas mais impor tantes Tal argumento foi muito malcompreendido e ele é central na posição de Skinner Skinner não está propondo que os estados internos não existem e sim que eles não podem servir como as causas em uma análise científica do comportamento Inteligência ex pectativa e outros estados mentais são eles próprios o produto de contingências prévias de reforço e não têm nenhum status causal Quando dizemos que um homem come porque está com fome fuma muito por que tem o hábito do cigarro briga por causa do instin to de belicosidade comportase brilhantemente por causa de sua inteligência ou toca piano muito bem por causa de sua capacidade musical parece que esta mos nos referindo a causas Mas essas afirmações ao serem analisadas revelamse apenas descrições redun dantes Skinner 1953 p 31 Isso não pretende ne gar que os sentimentos existem entretanto eles e outros estados corporais são produtos colaterais das nossas histórias genéticas e ambientais Eles não têm força explanatória Skinner 1975 p 43 ver tam bém Skinner 1985 Da mesma forma Skinner rejei tou tentativas de explicar a variabilidade no compor tamento por referência a estados motivacionais Nada se ganha ao falar sobre um estado de fome sejam quais forem as evidências introspectivas ou fisiológi cas porque ainda precisamos explicar o estado Skin ner 1977b p 1010 Apesar de serem inadmissíveis como causas os estados internos são úteis como preditores Skinner escreveu o seguinte em About Behaviorism O que uma pessoa sente é um produto das contingências das quais seu futuro comportamento também será uma função e portanto existe uma conexão útil entre sen timentos e comportamento Seria tolice excluir o co nhecimento que uma pessoa tem da sua presente con dição todavia podemos predizer o comportamento mais acuradamente se tivermos um conhecimento di reto da história à qual os sentimentos serão atribuí dos 1974 p 230 Mais uma vez é crítico reconhe cer que a meta de Skinner era desenvolver uma tecnologia que nos permitisse alterar o comportamen to não apenas predizêlo O problema é que os esta dos internos são eles próprios o produto de ações ambientais prévias e não estão sujeitos à manipula ção Como conseqüência eles são inúteis em uma ten tativa de controlar o comportamento Para entender sua posição convém examinar o que Skinner diz sobre algumas das explicações cau sais do comportamento comumente usadas que de pendem de eventos internos como o antecedente em uma relação de causaefeito Suponha que um homem entre em um restaurante chame rapidamente o gar çom e peça um hambúrguer Quando o hambúrguer chega ele o devora sem parar para responder às per guntas que lhe fazem Nós perguntamos por que o homem está comendo Uma explicação comum de seu comportamento é que ele está com fome Mas como sabemos que o homem está com fome Só sabemos que o homem realiza várias atividades que tendem a estar associadas e a ocorrer seguindose a determina das condições ambientais Mas ao usar essa descri ção nós não estamos reconhecendo um evento de estar com fome que é antecedente a comer em vez disso o ato de comer rapidamente é parte do que queremos TEORIAS DA PERSONALIDADE 397 dizer com estar com fome O termo estar com fome pode simplesmente descrever a coleção de atividades associadas a uma variável independente identificada consumo de alimento assim como o termo jogar beisebol é um termo usado para abarcar as ativida des de arremessar rebater interceptar a bola e assim por diante Cada uma dessas atividades poderia ser explicada indicandose a seqüência de eventos anteri or ao jogo de beisebol Mas as atividades não são ex plicadas simplesmente pelo fato de serem descritas como parte de jogar beisebol Nós não dizemos que um indivíduo está arremessando simplesmente por que ele está jogando beisebol Jogar beisebol não é um evento antecedente a arremessar mais exatamen te arremessar é uma parte de jogar beisebol Objetando essa linha de raciocínio nós podería mos dizer que o termo estar com fome é usado para rotular um evento antecedente a comer número de horas desde a última refeição e que estar com fome é a causa de comer Nesse sentido estar com fome pode ser usado como um vínculo causal entre a privação de alimento e o comportamento que ocorre no restau rante Então teremos o problema de como identificar a relação causal e as propriedades que lhe serão atri buídas Duas soluções para esse problema são comuns Uma delas é dar ao evento de estar com fome um lugar no universo mental atribuirlhe um status não físico Isso é feito freqüentemente e dá origem à con cepção da pessoa externa e da pessoa interna A pes soa externa ou a pessoa comportamental como poderíamos chamar é impulsionada e controlada pela pessoa metafísica interna A concepção é ilustrada em declarações cotidianas do tipo Ele não conseguiu ter um bom desempenho por causa da fadiga mental ou Ela fracassou porque não estava prestando aten ção à tarefa Ou ainda mais claramente Ele só con seguiu fazer isso por uma tremenda força de vonta de Tais declarações dão a impressão de explicar o comportamento porque parecem referirse a eventos que são antecedentes ao comportamento em conside ração Nós imaginamos é claro que os eventos ocor rem em um mundo nãofísico não é explicado como eles conseguem influenciar eventos físicos A objeção mais séria a esse tipo de explicação é que quando os eventos são examinados mais cuidadosamente des cobrimos que eles não têm nenhuma propriedade que os identifique a não ser a sua capacidade de produzir o comportamento a ser explicado O mesmo tipo de explicação é dado por povos primitivos quando expli cam o movimento do sol por meio de alguma força controladora humana quando a única evidência que eles têm da existência dessa força controladora é o movimento do próprio sol Uma força controladora pode ser criada para explicar a ocorrência de qual quer evento imaginável Vemos como esse tipo de ex plicação é vazio quando nos perguntamos quão mais confiantemente um efeito pode ser predito agora que a sua causa foi isolada Então descobrimos que não existe nenhum isolamento que a causa não é separá vel do efeito pois não existe nenhuma outra proprie dade da causa além de sua produção do efeito Quando não se conhecem os eventos físicos im portantes na produção do comportamento normal mente sua explicação é apresentada em termos de um evento mental Skinner acreditava que esse é um tipo muito prejudicial de explicação simplesmente porque ele parece enganadoramente ser satisfatório e por tanto tende a retardar a investigação das variáveis objetivas que poderiam produzir um controle com portamental genuíno Um outro status que poderíamos atribuir a estar com fome é fisiológico Poderíamos investigar as con trações do estômago a concentração de açúcar no sangue a ativação de centros cerebrais e assim por diante Em uma explicação fisiológica poderiam ser isolados os antecedentes causais do comportamento e não diríamos que os eventos mentais influenciam eventos físicos Skinner não assumiu uma posição tão firme contra as explicações fisiológicas ele acredita va que o comportamento poderia basicamente ser pre dito investigandose os efeitos de uma variável am biental através de toda a seqüência de eventos fisiológicos que se seguem a ela Mas Skinner enfati zou que uma ciência do comportamento não requer necessariamente um conhecimento de processos fisi ológicos para ser viável mesmo quando conhecemos os processos o controle prático do comportamento será exercido pela manipulação de variáveis indepen dentes tradicionais que estão fora do organismo Assim Skinner não via nenhuma razão para não tra tarmos o organismo humano como uma caixa fecha da mas não vazia com vários inputs e outputs e acreditava que tal tratamento produziria o controle mais eficiente desses outputs Como podemos ver quan do examinamos o trabalho experimental de Skinner 398 HALL LINDZEY CAMPBELL suas idéias são solidamente apoiadas pelo sucesso de sua abordagem Como observamos Skinner apresentou um pro grama para uma ciência descritiva pois ligar variá veis dependentes a variáveis independentes sem ne nhuma etapa interveniente leva apenas a leis ou a hipóteses universais e não a teorias A distinção en tre elas nem sempre é muito clara mas em uma dis cussão sobre se as teorias são necessárias na ciência Skinner tentou explicar o que constitui uma teoria A seguinte citação mostra que ele usava o termo para descrever um sistema que relaciona um conjunto de observações a um outro conjunto de observações por meio de um conjunto de eventos ou constructos infe ridos que são descritos em termos diferentes dos que descrevem as observações e que não são eles própri os presentemente observados Certas suposições básicas essenciais para qual quer atividade científica são às vezes chamadas de teorias Que a natureza é ordenada em vez de caprichosa é um exemplo Certas declarações tam bém são teorias simplesmente na extensão em que ainda não são fatos Um cientista pode adivinhar o resultado de um experimento antes que o expe rimento seja executado A predição e o enuncia do posterior dos resultados podem ser compostos pelos mesmos termos no mesmo arranjo sintáti co a diferença sendo o grau de confiança Nesse sentido nenhuma declaração empírica é totalmen te nãoteórica pois as evidências nunca são com pletas e provavelmente também nunca se faz uma predição inteiramente sem evidências O termo teoria não vai se referir aqui a esse tipo de decla ração e sim a qualquer explicação de um fato observado que apele para eventos ocorrendo em algum outro lugar em algum outro nível de ob servação descrito em termos diferentes e medi do se medido em dimensões diferentes 1953 p 26 A abordagem de Skinner baseavase na suposição de que o comportamento é ordenado e o nosso pro pósito primário é controlálo E a melhor maneira de obter o controle é relacionar legitimamente variáveis ou inputs independentes que entram no organismo a variáveis ou outputs dependentes do organismo e então controlar o comportamento subseqüente do or ganismo pela manipulação desses mesmos inputs eventos ambientais de modo a obter um determina do output resposta A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE De todos os teóricos da personalidade examinados neste volume Skinner era o que mostrava maior indi ferença pelas variáveis estruturais Isto não surpreen de em vista do que já dissemos sobre sua abordagem geral ao estudo do comportamento Skinner tratou principalmente do comportamen to modificável Conseqüentemente ele não se inte ressava muito por características comportamentais que parecem ser relativamente permanentes Essa atitude decorre principalmente de sua ênfase no controle do comportamento A predição e a explicação podem ser atingidas conhecendose os aspectos permanentes e os modificáveis da personalidade Mas o controle só pode ser atingido pela modificação o controle impli ca que o ambiente possa ser variado a fim de produzir padrões diferentes de comportamento Mas Skinner nunca afirmou que todos os fatores que determinam o comportamento estão no ambiente Em primeiro lugar ele argumentou que a sensibilidade de um or ganismo ao próprio reforço tem uma base genética tendo evoluído devido às vantagens de sobrevivência de ser capaz de conhecer eventos importantes no ambiente Segundo Skinner afirmou que em qual quer espécie ou indivíduo alguns comportamentos podem ser mais facilmente condicionados do que ou tros Ele também reconheceu que alguns comporta mentos podem ter uma base inteiramente genética de modo que a experiência não tem nenhum efeito sobre eles Skinner via um paralelo entre as bases he reditárias e as bases ambientais do comportamento Ele sugeriu que o processo de evolução molda os com portamentos inatos de uma espécie exatamente como os comportamentos aprendidos do organismo são moldados pelo ambiente No entanto as explicações genéticas do comportamento devem ser vistas com cautela tanto porque os fatores evolutivos que deter minaram a forma de um comportamento inato não são observáveis como porque muitos comportamen tos considerados inatos poderiam na verdade ter sido moldados pela experiência Skinner 1969 Deve fi TEORIAS DA PERSONALIDADE 399 car claro que Skinner não afirmou que o comporta mento de um indivíduo é produto unicamente do ambiente Ele simplesmente não enfatizou a impor tância prática da variabilidade biológica porque em uma ciência puramente comportamental essa varia bilidade não pode facilmente ser colocada sob con trole comportamental Entretanto em contraste com o que Skinner chamou de mentalismo a fisiologia é promissora O fisiologista do futuro nos dirá tudo o que podemos saber sobre aquilo que acontece dentro do organismo que se comporta Sua explicação será um avanço importante em relação a uma análise com portamental porque esta última é necessariamente histórica isto é está confinada a relações funcio nais que apresentam lacunas temporais Alguma coi sa é feita hoje que afeta o comportamento de um or ganismo amanhã Por mais claramente que esse fato possa ser estabelecido uma etapa está faltando e pre cisamos esperar pelo fisiologista para suprila Ele será capaz de mostrar como um organismo é modificado quando exposto a contingências de reforço e porque o organismo modificado então se comporta de uma maneira diferente possivelmente em uma data muito posterior O que ele descobre não invalida as leis de uma ciência do comportamento mas torna mais com pleto o quadro da ação humana Skinner 1974 p 236237 Conforme observado acima Skinner é igualmen te inclusivo com respeito ao papel da evolução e da genética Ele escreveu que o organismo faz o que é induzido a fazer por sua dotação genética ou pelas condições predominantes 1977b p 1007 Ele con cluiu esse mesmo artigo afirmando O comportamen to dos organismos é um campo único em que tanto a filogenia quanto a ontogenia devem ser levadas em conta Como todas as ciências precisa ter seus especi alistas p 1012 Conforme sugerido antes Skin ner escolheu especializarse na análise experimen tal do comportamento Ao selecionar as variáveis de resposta ele estava interessado principalmente em sua simplicidade e as sociação legítima ou regular com a variação ambien tal A classificação mais importante do comportamento sugerida por Skinner é a distinção entre operante e respondente Essa distinção envolve primariamente a diferença entre as respostas provocadas e as respos tas emitidas Como vimos o foco do interesse de Skin ner estava no operante que é emitido na ausência de qualquer estímulo motivador Um respondente por outro lado é provocado por um estímulo conhecido e é mais bem ilustrado por uma resposta como o refle xo pupilar ou o reflexo patelar em que existe uma resposta conhecida e relativamente invariável associ ada a um estímulo específico Nós teremos mais a di zer sobre essa distinção subseqüentemente A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Embora Skinner evitasse conceitos estruturais ele mostrava apenas um leve desagrado pelos conceitos dinâmicos ou motivacionais Ele reconhecia que a pessoa nem sempre exibe o mesmo comportamento no mesmo grau quando em uma situação constante e acreditava que o reconhecimento geral disso é a prin cipal razão para o desenvolvimento do nosso concei to de motivação Uma vez que o comportamento ten de a ser altamente variável em algumas situações supomos que uma força interna explique essa variabi lidade Vemos por exemplo que uma criança nem sempre come o alimento que lhe é apresentado e portanto dizemos que seu comer depende não só da presença do alimento mas também de variações no grau de fome Por outro lado descobrimos que o re flexo patelar é provocado com aproximadamente o mesmo vigor sempre que o joelho recebe uma panca dinha Assim não sentimos nenhuma necessidade de postular uma pulsão patelar variável porque não exis te nenhuma variabilidade inexplicada no vigor ou na freqüência do reflexo Como já sugerimos Skinner acreditava que mes mo quando o comportamento mostra esse tipo de va riabilidade ainda é desnecessário e muitas vezes en ganador postular uma força energizadora interna pois ainda resta a questão de como a intensidade da força é governada Por exemplo queremos saber a causa da fome da criança É necessária uma resposta para a pergunta pois só então poderemos estimar a intensi dade da força e fazer uma predição sobre o vigor do comportamento associado Skinner postulou que uma resposta satisfatória precisa envolver em algum está gio a descoberta de uma variável ambiental à qual a força interna esteja ligada exatamente como a fome está ligada à privação de alimento Por que se preocu par em explicar a variabilidade comportamental em 400 HALL LINDZEY CAMPBELL termos de um estado interno cuja intensidade preci sa ser calculada com base no conhecimento da varia ção no ambiente Por que não nos preocupamos sim plesmente com a variável ambiental e explicamos o comportamento diretamente Seguindo esse argumen to Skinner tratou a variabilidade no vigor do com portamento exatamente como tratou qualquer outro aspecto do comportamento como uma conseqüência causal direta da variação em uma variável indepen dente O argumento recémapresentado poderia nos le var a acreditar que as variáveis que governam os esta dos pulsionais ou motivacionais de outros teóricos não têm nenhuma posição especial no sistema de Skinner Mas isso é incorreto pois elas têm uma propriedade especial porém não a propriedade de ser a causa in terna do comportamento Descobrimos que certas va riáveis afetam a probabilidade de ocorrência de gru pos inteiros de padrões de comportamento Por exemplo considerem o caso da sede A sede pode ser aumentada por várias operações diferentes e por sua vez pode influenciar várias respostas diferentes A temperatura da sala onde um animal está encerrado pode ser aumentada fazendo assim com que ele per ca água por suar mais profusamente ou o tempo de corrido desde que o animal recebeu água pode au mentar ou o animal pode ser induzido a comer alimentos muito salgados Cada uma dessas opera ções aumentará a sede do animal Isso significa que aumenta a probabilidade de o animal engajarse em um ou mais de um grupo de atividades todas as quais são afetadas por alguma desse mesmo grupo de ope rações Assim o animal vai realizar com maior vigor uma resposta aprendida se ela produzir água uma resposta tal como pressionar uma alavanca ou correr por um labirinto por exemplo e ele beberá mais vi gorosamente escolherá água em vez de comida ou escolherá qualquer outra resposta que foi seguida por água no passado Tais exemplos mostram que ao di zer que certas operações aumentam a sede nós esta mos apenas dizendo que essas operações tendem a aumentar a ocorrência de respostas específicas Em resumo Skinner usou um termo como sede simples mente como um artifício verbal conveniente que ad quire significado por sua capacidade de abranger a relação entre um grupo de variáveis independentes e um grupo de variáveis dependentes e o termo não adquire nenhum outro significado além desse Skin ner não atribui um status causal à sede o status cau sal é atribuído às operações que resultam no compor tamento de beber É importante notar que diferente mente de muitos outros teóricos do reforço Skinner não considerava os impulsos uma classe de estímulos Existem outros termos que podem ser tratados como impulsos porque são utilizados para ligar um grupo de variáveis independentes a um grupo de va riáveis dependentes Esses termos pertencem à área da emoção Skinner não fez nenhuma distinção real entre impulsos e emoções e usava os dois termos e justificava seu uso da mesma maneira Considerem o exemplo de uma pessoa zangada Não sabemos que uma pessoa está zangada por termos tido acesso à sua mente ou porque observamos que certas glându las estão secretando certas substâncias Em vez disso notamos que essa pessoa apresenta determinadas ca racterísticas comportamentais Ela adota uma expres são sombria fala laconicamente tende a um compor tamento agressivo e assim por diante Da mesma forma sabemos que uma pessoa está com medo por que gagueja assustase facilmente está tensa e apre senta várias respostas aversivas Esse comportamento pode ser observado quando vemos um aluno esperan do do lado de fora do gabinete de um professor após um mau desempenho em uma prova Nós notamos os aspectos do comportamento do aluno e depois por causa da nossa observação de algum outro comporta mento associado ou porque sabemos a nota que o alu no tirou na prova julgamos que ele está com medo O fato de o aluno gaguejar não significa necessariamen te que ele está com medo Ele pode estar gaguejando devido a um defeito inerente em seu aparelho vocal Mas julgamos que ele está com medo por causa das variáveis independentes condições ambientais e dependentes respostas específicas às quais a gagueira está associada Exibir essa associação específica é es tar com medo Assim Skinner empregou uma série de conceitos que poderiam ser chamados de dinâmicos ou motiva cionais Tais conceitos semelhantes aos conceitos motivacionais em outras teorias foram empregados para explicar a variabilidade do comportamento em situações de outra forma constantes Entretanto no sistema de Skinner eles ocupam uma categoria dis tinta porque relacionam grupos de respostas a grupos TEORIAS DA PERSONALIDADE 401 de operações e não por serem igualados a estados de energia propósito ou qualquer outra condição que implique que eles são antecedentes causais do com portamento O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Skinner tratou principalmente da mudança compor tamental da aprendizagem e da modificação do com portamento conseqüentemente podemos dizer que sua teoria é muito relevante para o desenvolvimento da personalidade Como muitos outros teóricos ele acreditava que o entendimento da personalidade vi ria de um exame do desenvolvimento comportamen tal do organismo humano em contínua interação com o ambiente Consistentemente essa interação tem sido o foco de um grande número de estudos experimen tais cuidadosamente realizados Um conceitochave no sistema de Skinner é o princípio do reforço na verdade a posição de Skinner muitas vezes é rotula da como teoria do reforço operante Condicionamento Clássico Reforçar um comportamento é simplesmente execu tar uma manipulação que muda a probabilidade de ocorrência daquele comportamento no futuro O acha do de que certas operações mudam a probabilidade de ocorrência de respostas de uma maneira legítima é creditado principalmente a dois líderes pioneiros no estudo da modificação comportamental I P Pavlov e E L Thorndike Pavlov descobriu o princípio do re forço conforme se aplica ao condicionamento clássi co Ele pode ser ilustrado com um exemplo famoso Suponha que em várias ocasiões soa uma campainha na presença de um cão faminto e suponha também que em cada uma dessas ocasiões o som da campai nha é imediatamente seguido pela apresentação de carne ao cão O que observamos Em cada apresenta ção da combinação campainhacarne o cão saliva Mas a princípio o cão só saliva quando a carne é apresen tada e não antes Entretanto a salivação mais tarde começa a ocorrer assim que a campainha soa antes da apresentação da carne Nesse estágio a resposta salivar está condicionada ao som da campainha e descobrimos que a apresentação da carne imediata mente após o som da campainha é a operação crítica responsável pelo condicionamento Assim a apresen tação da carne é uma operação reforçadora Ela au menta a probabilidade de a resposta salivar ocorrer quando soar uma campainha em uma ocasião poste rior Além disso uma vez que sua apresentação au menta as chances de salivação ela é classificada como um reforço positivo Seguindo o desenvolvimento de uma sólida res posta condicionada um experimentador poderia que rer saber o que acontece quando o estímulo condicio nado é consistentemente apresentado sem ser seguido pelo estímulo reforçador No exemplo anterior a cam painha soaria mas não seria acompanhada por ne nhuma carne O que acontece então é que a resposta condicionada se extingue isto é sua freqüência de ocorrência e sua magnitude declinam com o sucessi vo soar da campainha até nenhuma salivação ser pro vocada pela campainha A resposta condicionada se extingue então completamente Extinção é a diminui ção de resposta que ocorre quando o reforço que se se gue à mesma deixa de ocorrer Uma característica do condicionamento clássico é o fato de podermos localizar facilmente um estímu lo identificável que estimula a resposta mesmo antes de o condicionamento começar Por exemplo no caso recémcitado o estímulo oferecido pela carne elicia a salivação Conforme observamos Skinner chamou essa resposta de respondente para enfatizar o grande papel eliciador desempenhado pelo estímulo precedente Uma outra característica dessa situação é que o refor ço é manipulado em associação temporal com o estí mulo ao qual a resposta está sendo condicionada en quanto a resposta se houver vem mais tarde O condicionamento é mais efetivo quando o reforço se segue ao estímulo condicionado independentemente de a resposta ter ocorrido ou não Skinner aceitava a existência do condicionamen to clássico e sua dependência do princípio do reforço mas ele estava menos preocupado com isso do que com um outro tipo de aprendizagem que também depende do princípio do reforço O outro tipo de aprendizagem que foi investigado sistematicamente primeiro por Thorndike chamase condicionamento instrumental ou operante 402 HALL LINDZEY CAMPBELL Condicionamento Operante Muitos investigadores acreditavam que toda a apren dizagem envolvia o processo do condicionamento clás sico Mas Skinner notou que muitas respostas não se ajustavam a esse paradigma Existem algumas respos tas que diferentemente dos respondentes não pare cem estar ligadas a um estímulo eliciador facilmente identificável tal como pintar um quadro ou atraves sar uma rua por exemplo Essas respostas parecem ser espontâneas e voluntárias Uma outra proprieda de desse tipo de comportamento que mais uma vez o diferencia do comportamento respondente é que sua freqüência de ocorrência muda de acordo com o even to que vem a seguir Mais especificamente a força de uma das respostas aumenta quando a resposta ocorre e é seguida por reforço A peculiaridade dessa classe de respostas origina o termo operante de Skinner Um operante é uma resposta que opera no ambiente e modificao A mudança no ambiente afeta a ocorrên cia subseqüente da resposta Portanto no condicio namento operante o reforço não está associado a um estímulo eliciador como está quando os respondentes são condicionados Em vez disso ele está associado à resposta Quando uma resposta salivar está condicio nada ao som de uma campainha a apresentação da carne não depende da ocorrência anterior da respos ta Por outro lado quando uma resposta operante é condicionada é essencial que o reforço seja apresen tado depois da ocorrência da resposta Só dessa ma neira a freqüência da resposta vai aumentar Skinner modificou a posição de Thorndike de duas maneiras importantes Primeiro Thorndike 1898 resumira sua posição em termos da lei de efeito Essa lei estabelece que as respostas que produzem um efeito satisfatório têm mais probabilidade de ocorrer nova mente naquela situação específica e que as respostas que produzem um efeito insatisfatório têm menos pro babilidade de ocorrer novamente naquela situação A meta de Skinner era construir uma psicologia basea da em fenômenos observáveis evitando referência a eventos internos dentro do organismo Em conse qüência ele rejeitava qualquer referência aos efeitos satisfatórios e insatisfatórios referidos por Thorndike preferindo referirse simplesmente ao efeito observá vel de um estímulo sobre o comportamento Skinner propôs a lei empírica de efeito Isto é um estímulo re forçador é um evento que aumenta a freqüência do comportamento com o qual é emparelhado sem ne nhuma referência à satisfação ou a qualquer outro evento interno Segundo Skinner observou que o modelo descrito por Thorndike requeria que o orga nismo produzisse o comportamento completo antes que o ambiente pudesse agir sobre ele Mas no mun do real muitos comportamentos são tão complexos que é extremamente improvável que o organismo os produza em primeiro lugar A lei de efeito não pode explicar o reforço de um comportamento que é com plicado demais para ocorrer sozinho Um adulto po deria estar preparado para reforçar uma criança a andar de bicicleta ou a ler um livro ou reforçar um cachorro a rolar sobre si mesmo mas é extremamen te improvável que esses comportamentos ocorram sozinhos Skinner propôs que os organismos podem aprender esses comportamentos complicados por meio da modelagem usando o princípio das aproximações sucessivas Nós começamos reforçando um compor tamento que é um primeiro passo rumo ao comporta mento final e então reforçamos gradualmente apro ximações cada vez maiores do comportamento final Por meio desse processo os organismos podem ad quirir comportamentos extremamente complicados conforme ilustrado mais adiante neste capítulo Vamos tomar um exemplo bem simples de condi cionamento operante Podemos ensinar uma criança a pedir balas freqüentemente dandolhe balas sem pre que ela pedir Nós reforçamos positivamente a resposta de pedir balas Também podemos extinguir a resposta de pedir balas simplesmente não dando as balas quando a criança pedir Descobrimos então que a freqüência da ocorrência de pedir balas diminui Existe uma outra maneira pela qual podemos reduzir a ocorrência da resposta Quando a criança pedir ba las nós podemos punila dandolhe um tapa Quando realizamos uma operação como esta de acrescentar alguma coisa à situação que reduz a probabilidade da resposta dizemos que punimos a resposta Um estí mulo punitivo é um estímulo que provoca aversão e que quando ocorre depois de uma resposta operante diminui a futura probabilidade daquela resposta É importante observar que uma punição não é o mesmo que um reforço negativo Um reforço aumenta a pro babilidade de ocorrência de um comportamento com o qual é emparelhado e uma punição diminui a pro babilidade de um comportamento Mas um compor tamento pode ser reforçado pela remoção de um estí TEORIAS DA PERSONALIDADE 403 mulo aversivo e nesse caso nos referimos a um re forço negativo Por exemplo uma mãe poderia refor çar uma criança por receber boas notas liberandoa de lavar a louça Da mesma forma uma pessoa com um medo fóbico de cobras reforça a resposta de evita ção afastandose sempre que encontra uma cobra eli minando assim o medo aversivo despertado pela co bra Esses dois são exemplos de reforço negativo Os princípios gerais que Skinner empregou para explicar a modificação do comportamento foram agora apresentados Esses princípios derivamse de uma quantidade maciça de pesquisas cuidadosamente con troladas e descobriuse que eles têm ampla aplicabi lidade Pode parecer que são excessivamente simples e não têm relação alguma com o desenvolvimento da personalidade Entretanto Skinner argumentou per suasivamente que a personalidade não é nada além de uma coleção de padrões de comportamento e que quando nos perguntamos sobre o desenvolvimento da personalidade estamos apenas perguntando sobre o desenvolvimento desses padrões de comportamento Skinner acreditava que podemos predizer controlar e explicar os desenvolvimentos examinando como o princípio do reforço funciona para explicar o compor tamento atual de um indivíduo como um resultado do reforço de respostas prévias Uma vez que o princípio do reforço é tão impor tante é necessário considerar detalhadamente o de senvolvimento de uma resposta específica e mostrar como ela pode ser manipulada com o uso das técnicas operantes Suponha que colocamos um pombo faminto em uma pequena câmara bemiluminada isolada do ambiente externo por paredes opacas e à prova de som Esse tipo de câmara é freqüentemente chamado de caixa de Skinner embora não por Skinner e cons titui uma importante realização de engenharia Ela protege o sujeito de muita variação ambiental des controlada e também permite o controle mecânico ou automatizado de eventosestímulo e o registro das respostas Em uma das paredes da câmara a cerca de 25 cm do chão existe um disco translúcido que pode ser ilu minado por trás com uma luz vermelha O disco está conectado por um interruptor elétrico ao aparelho externo que registra e controla os eventos que estão ocorrendo na caixa O aparelho está eletricamente preparado de modo que sempre que alguma pressão for aplicada ao disco é registrada uma resposta e um alimento é dado ao pombo por um depósito alimenta dor fixado na parede da câmara logo abaixo do dis co O pombo pode aplicar uma pressão adequada ao disco bicandoo e essa é a resposta que queremos de senvolver e controlar Para que o pombo bique o disco pela primeira vez nós modelamos o seu comportamento A probabilida de de o pombo bicar o disco aleatoriamente é na verdade muito pequena e está claro que não pode mos aumentar a probabilidade pela ação do reforço alimentar até que essa resposta tenha ocorrido A res posta de bicar é modelada reforçandose sucessivas aproximações da resposta de bicar Primeiro nós trei namos o pássaro para comer de um depósito alimen tador quando ele é aberto Esse comportamento é fa cilmente condicionado e a visão do depósito alimentador aberto tornase um estímulo para comer Então nós apresentamos o alimento apenas quando o pássaro ergue a cabeça quando está perto do disco depois quando seu bico está em uma posição de bi car em relação ao disco e assim por diante Eventual mente por meio dessas sucessivas aproximações o pássaro vai bicar o interruptor pela primeira vez O alimento é claro é dado imediatamente Logo depois disso o pássaro provavelmente vai bicar o disco de novo e o alimento é dado mais uma vez Se o reforço for apresentado em todas as ocasiões em que o pássa ro bicar o bicar logo vai estar ocorrendo rapidamen te Esse esquema é chamado de reforço contínuo En tretanto se o depósito alimentador deixar de ser operado quando o pássaro bicar o ritmo de bicar di minui e em um período bem curto estará reduzido a um ritmo semelhante ao observado quando o pássaro foi colocado na câmara pela primeira vez O bicar pra ticamente deixa de ocorrer já que a resposta previa mente reforçada foi extinta Esquemas de Reforço Suponha que em vez de nunca operar o depósito ali mentador nós o operemos em algumas ocasiões Por exemplo o aparelho pode ser programado para que o alimento seja dado se o pombo bicar seguindo um período de tempo tal como cinco minutos Se o refor ço for contingente a um intervalo de tempo ele é re ferido como reforço de intervalo se esse intervalo for imutável p ex a cada cinco ou dez minutos temos um esquema de reforço de intervalo fixo Em vez de 404 HALL LINDZEY CAMPBELL dar o reforço seguindo um intervalo constante de tem po o investigador pode querer reforçar de acordo com um esquema de intervalo variável ou intermitente Aqui embora o reforço possa estar disponível em média nos intervalos de cinco minutos o intervalo real vai variar aleatoriamente em torno dessa média Assim a cada momento existe uma probabilidade bai xa e constante de ser dado o alimento Em tais condi ções o pombo responde com um ritmo regular de bi cadas A maioria das bicadas não é reforçada mas aquelas que são servem para manter o ritmo global de resposta Se o depósito alimentador for desconec tado e o bicar deixar de ser reforçado a resposta de bicar novamente se extingue Dessa vez isso aconte ce em um ritmo bem mais lento do que quando o re forço era contínuo e muitas bicadas a mais são emiti das antes de a extinção se completar Também pode ser estabelecido um esquema de reforço em que os fatores temporais não são impor tantes e em que o número de recompensas obtidas pelo pássaro depende apenas de seu próprio compor tamento respostas Esse esquema é chamado de re forço de razão Aqui o reforço é determinado apenas pelo número de bicadas emitidas desde o último re forço No primeiro exemplo cada bicada era reforça da É fácil mudar isso para que apenas cada 10ª ou 20ª bicada seja reforçada ou qualquer outro núme ro Esse seria o reforço de razão fixa Ou talvez o número pudesse variar aleatoriamente assim como os intervalos de tempo variavam no exemplo prévio de modo que o reforço poderia em média ser dado depois de cada quinta bicada mas na realidade es tar aleatoriamente distribuído em torno dessa média Em algumas tentativas a recompensa seria dada após a segunda ou terceira bicada e em outras após a sé tima ou oitava Esse seria um esquema de razão vari ável Os esquemas de razão são análogos à situação de uma pessoa que trabalha por tarefa ou comissão em que o pagamento depende apenas da eficiência e do esforço do trabalhador Em todos os sistemas e máquinas de jogos de azar está presente um esquema de razão variável Vale a pena notar que o processo de extinção é muito mais lento com esquemas de razão do que com esquemas de intervalo Além disso o re forço intermitente ou variável tende a tornar uma res posta aprendida mais resistente à extinção A importância dos vários esquemas é por um lado que eles apresentam correspondência com muitas si tuações de aprendizagem que interessam ao investi gador ou teórico da personalidade Por outro lado eles se relacionam a determinados padrões de aquisi ção e extinção das respostas que estão sendo aprendi das Skinner e seus associados trabalharam muito e sistematicamente para descrever os efeitos de uma grande variedade de esquemas Nós já comentamos algumas das diferenças entre os vários esquemas e há muitas outras generalizações às quais o leitor inte ressado pode ter acesso Ferster Skinner 1957 Skin ner 1969 Comportamento Supersticioso Para que uma resposta seja reforçada não é necessá rio que ela produza fisicamente o reforço Comumen te por propósitos experimentais é preparado um apa relho em que a resposta produz um reforço pelo seu efeito sobre o aparelho Isso garante que aquela res posta específica em que estamos interessados é a que será reforçada Mas nós poderíamos simplesmente dar o reforço de modo livre independentemente do comportamento do sujeito Suponha que operamos o depósito alimentador a cada dez ou quinze segundos Quando o depósito alimentador funcionar pela pri meira vez o pássaro estará envolvido em alguma se qüência específica de movimento talvez andando em círculos no centro da câmara O fato de o depósito alimentador surgir imediatamente após uma série de movimentos como esse garante que os movimentos serão repetidos logo depois embora aquele compor tamento não tenha produzido o reforço ele foi imedi atamente seguido pelo reforço Podemos ver facilmen te que essa diferença não seria relevante para as leis que relacionam as respostas ao reforço porque do ponto de vista do pombo não existe como determinar se uma resposta simplesmente foi seguida pela opera ção do depósito alimentador acidentalmente por as sim dizer ou se uma resposta causou a operação do depósito Suponha que a probabilidade de andar em círculos na gaiola aumente Isso significa que esse comportamento provavelmente estará ocorrendo quando o depósito for operado da próxima vez e as sim a seqüência será novamente reforçada Dessa maneira o comportamento de andar em círculos pode adquirir uma força considerável É improvável que o andar em círculos seja seguido pela operação do de pósito alimentador em todas as ocasiões em que ocor TEORIAS DA PERSONALIDADE 405 rer mas como vimos previamente o reforço intermi tente das respostas realmente contribui para a produ ção e manutenção de comportamentos extremamen te estáveis Esse tipo de condicionamento em que não existe nenhuma relação causal entre a resposta e o reforço às vezes é referido como comportamento superstici oso Skinner sugeriu que ele explica muitas das su perstições mantidas pelos humanos Os membros de uma tribo primitiva podem dançar alguma dança ri tualizada para fazer chover Em algumas ocasiões re almente acontece de chover após a dança Assim a dança da chuva é reforçada e tende a ser repetida Os nativos acreditam que existe uma conexão causal en tre a dança e a produção da chuva Na verdade a dança foi condicionada acidentalmente a chuva oca sionalmente seguese à dança O mesmo tipo de com portamento pode ser visto em pessoas supersticiosas que carregam amuletos da sorte pés de coelho e ou tros talismãs Pode inclusive acontecer no caso da pessoa supersticiosa que se distingue das menos su persticiosas o fato de ela ter tido em sua história de vida muitas situações de condicionamento acidental por simples acaso Um outro exemplo que pode ser visto sob essa mesma luz é o suposto poder da oração Ocasionalmente as preces são atendidas O condi cionamento acidental pode explicar uma maior fre qüência de orações sem que se suponha que as pre ces realmente produzem efeito O fato de um reforço casual seguindose a uma resposta ser suficiente para garantir o fortalecimento dessa resposta geralmente não é reconhecido e disso às vezes decorrem sérias conseqüências Por exemplo uma enfermeira trabalha em uma enfermaria de hos pital para crianças mentalmente perturbadas Uma de terminada criança parece ser relativamente normal e tranqüila a maior parte do tempo de modo que a en fermeira dirige sua atenção para outros pacientes e deveres Mas quando ela faz isso a criança talvez comece a gritar e a bater violentamente a cabeça con tra a parede A enfermeira provavelmente vai correr para junto da criança beijála e abraçála dizer pala vras tranqüilizadoras enfim ela responderá de uma maneira carinhosa enquanto diz à criança para não fazer aquilo Nessas condições não devemos nos sur preender se a freqüência dessa forma anormal de com portamento da criança aumentar em vez de diminuir durante sua estada na enfermaria Está muito claro que a resposta de gritar e bater a cabeça contra a pa rede é reforçada pela afeição por palavras carinhosas e contato físico ações que já há algum tempo foram estabelecidas como reforços positivos A enfermeira interpreta mal o efeito de seu próprio comportamen to Os pais agem igualmente quando só dão atenção a uma criança normal quando ela busca atenção cho rando ou de alguma maneira irritante ou antisocial Reforço Secundário Voltemos mais uma vez aos casos mais simples de con dicionamento operante em que as bicadas de um pom bo em um disco vermelho são reforçadas pela apre sentação de comida em um depósito alimentador Suponha que quando a resposta de bicar está firme mente estabelecida e o depósito alimentador cheio de comida foi apresentado várias vezes passemos a uti lizar uma nova resposta talvez a compressão de um pequeno pedal O pedal é inserido na câmara e o apa relho é programado para que uma compressão faça com que seja apresentado o depósito alimentador va zio Ao mesmo tempo o disco vermelho é coberto de modo que o pombo não pode vêlo e nem bicálo O que se descobriu é que o pombo então pressiona o pedal um grande número de vezes O que aconteceu é que a apresentação do depósito alimentador adqui riu propriedades reforçadoras na primeira parte do experimento quando foi consistentemente experien ciado como parte do complexo de estímulos associa do ao alimento Devido a essa associação o depósito alimentador se torna um reforço condicionado ou se cundário O depósito alimentador é um reforço por que sua apresentação aumenta a freqüência de emis são de uma resposta nesse caso a compressão de um pedal e é um reforço condicionado porque seu poder de fazer isso depende de sua associação com outro reforço A manutenção das propriedades reforçado ras do depósito alimentador também depende de uma continuada associação com outro reforço se a comi da é permanentemente omitida do depósito alimen tador suas propriedades reforçadoras condicionadas se extinguem e a freqüência da compressão do pedal diminui Entretanto essas propriedades podem facil mente ser restauradas emparelhandose novamente o depósito alimentador com a comida Skinner acreditava que os reforços condicionados ou secundários são muito importantes no controle do 406 HALL LINDZEY CAMPBELL comportamento humano É óbvio pelo menos nas sociedades ocidentais afluentes que nem toda ação é mantida pela apresentação de reforços incondiciona dos ou primários como comida água e sexo Com base na experimentação animal que demonstrou que os estímulos podem adquirir propriedades reforçadoras é possível concluir que grande parte do comportamen to humano depende de reforços condicionados O exemplo mais comum de um reforço condicionado é o dinheiro O dinheiro é um bom exemplo não só por que ele claramente não possui nenhum valor intrínse co mas também porque ele é um reforço condiciona do generalizado Ele foi emparelhado com vários reforços incondicionados ou primários diferentes e portanto é reforçador em uma grande variedade de impulsos O efeito reforçador extremamente genera lizado do dinheiro baseiase no fato de ele estar asso ciado a um número imenso de outros reforços A no ção de reforço condicionado é importante no sistema de Skinner e como veremos mais adiante ele a usou efetivamente para explicar a manutenção de muitas respostas que ocorrem como parte de nosso compor tamento social Generalização e Discriminação de Estímulo A noção de generalização de estímulo também é im portante no sistema de Skinner como em todas as teorias da personalidade que se derivam da teoria da aprendizagem Nos experimentos com pombos que descrevemos o pombo bicava um disco vermelho Um outro experimento que pode ser realizado depois que a resposta ao disco vermelho se estabilizou é a mani pulação da cor do disco por meio de um espectro de comprimento de onda Se isso for feito ocorre uma mudança bemordenada no ritmo de bicadas À me dida que a cor projetada no disco se afastar da cor que o pássaro foi treinado para bicar o ritmo de res posta diminui Com cores que estão bem próximas ao vermelho no espectro o ritmo de bicar do pássaro é quase tão alto como o ritmo de bicadas no vermelho Poderiam ser mudados outros aspectos da situa ção além da cor do disco e na maioria dos casos ob teríamos o mesmo efeito Talvez o brilho das luzes que iluminam a câmara ou a forma do estímulo pu dessem mudar Novamente ocorreria um declínio sis temático no ritmo de resposta à medida que o estí mulo se afastasse cada vez mais de seu estado origi nal Esse fenômeno é importante por várias razões Primeiro ele mostra que uma resposta pode ser emi tida em uma situação que é levemente diferente da quela em que foi originalmente reforçada Segundo ele demonstra que a magnitude daquela resposta so fre certo decréscimo em uma situação assim modifi cada e se a situação é suficientemente diferente da situação de treinamento a resposta não vai ocorrer Nenhuma pessoa vive duas vezes exatamente a mes ma situação Entretanto uma situação no mundo real pode ser levemente diferente de uma outra situação e ainda produzir o mesmo reforço para a mesma res posta Assim é adaptativo que a situação de estímulo original seja generalizada para a nova situação Se os animais não mostrassem generalização de estímulo nunca se manifestaria a aprendizagem Por outro lado é claramente nãoadaptativo que um animal generali ze completamente de uma situação para todas as ou tras As situações muito diferentes de fato exigem res postas comportamentais bem diferentes Se ocorresse uma generalização de estímulos total e o animal trans ferisse uma resposta para todas as situações indepen dentemente de sua semelhança com a situação origi nal ocorreriam constantemente respostas inadequa das Na verdade não haveria nenhuma aprendizagem e nenhuma razão para supormos que ocorreria uma determinada resposta em vez de outra Assim é im portante que a pessoa apresente discriminação de estí mulo Observe que Skinner não definiu generalização de estímulo e nem discriminação de estímulo em ter mos de processos perceptuais ou outros processos in ternos Ele definiu cada uma em termos de medidas de resposta em uma situação experimental bemcon trolada Na extensão em que a resposta é mantida em uma nova situação existe certo grau de generaliza ção de estímulo Na extensão em que a resposta é re duzida ou enfraquecida existe discriminação de estí mulo O animal discrimina deixa de responder na presença dos novos estímulos na extensão em que ele deixa de generalizar responde de fato aos novos estímulos A discriminação de estímulo pode normalmente ser aumentada apresentandose ao animal um deter minado estímulo como por exemplo o disco verme lho na presença do qual a resposta continua sendo reforçada e depois apresentandose ao animal um TEORIAS DA PERSONALIDADE 407 outro estímulo como por exemplo um disco verde na presença do qual a resposta não é reforçada Res ponder na presença do disco vermelho é mantido pela ação do reforço enquanto responder na presença do disco verde embora talvez começando em um ritmo elevado generalizado é extinto O procedimento sim plesmente mostra que o controle de estímulo do bicar pode ser consideravelmente aumentado pelo treina mento apropriado Comportamento Social A maioria dos aspectos da personalidade é demons trada em um contexto social e o comportamento so cial é uma característica muito importante do com portamento humano em geral Nós agora examinare mos o comportamento social nos humanos para com preender como Skinner usou os achados de seu refi nado trabalho experimental com animais inferiores para chegar a certas conclusões sobre o desenvolvi mento da personalidade nos seres humanos Primei ro devemos notar que Skinner não atribuiu nenhuma importância especial ao comportamento social como distinto de outros comportamentos O comportamen to social se caracteriza apenas pelo fato de envolver uma interação entre duas ou mais pessoas À parte disso ele não é considerado distinto de outros com portamentos porque Skinner acreditava que os prin cípios que determinam o desenvolvimento do com portamento em um ambiente cercado por objetos inanimados ou mecânicos também determinam o com portamento em um ambiente cercado por objetos ani mados Em cada caso o organismo em desenvolvimen to interage com o ambiente e como parte dessa interação recebe um feedback que reforça positiva ou negativamente ou pune aquele comportamento Tal vez as respostas sociais e os reforços apropriados a elas sejam um pouco mais sutis ou difíceis de identifi car do que o comportamento que ocorre em situações nãosociais mas isso em si mesmo não indica nenhu ma diferença importante entre os dois tipos de res posta Um ponto interessante acerca do comportamento social contudo é que os reforços que uma pessoa re cebe em geral dependem inteiramente do seu output comportamental Ao discutir o condicionamento no pombo nós observamos que foram construídos esque mas de razão de modo que o ritmo de reforço do pom bo pudesse aumentar indefinidamente com um output cada vez maior de respostas O comportamen to social é mais freqüentemente reforçado segundo o princípio de razão Uma criança é recompensada por permanecer quieta com balas ou com um reforço con dicionado como afeição ou um sorriso e quanto mais a criança permanecer quieta mais ela será reforçada Na sociedade adulta normalmente somos reforçados por sermos educados Um aperto de mão ou uma sau dação amigável tendem a produzir o reforço social de um gesto amistoso por parte do outro e em alguns casos pode levar a um emprego melhor ou a uma elevação no status social Quando falamos sobre certos aspectos da perso nalidade de uma pessoa no contexto do comporta mento social comumente nos referimos a esquemas gerais de comportamento ao invés de respostas espe cíficas Mas até o momento ao examinar o sistema de Skinner temos considerado apenas o desenvolvimen to de respostas específicas como pressionar uma ala vanca ou falar uma determinada palavra ou frase Como isso está envolvido no entendimento de uma personalidade submissa ou de uma ansiosa ou ainda de uma agressiva Skinner argumentaria que os ter mos normalmente utilizados para descrever os traços de personalidade só têm significado porque são basi camente redutíveis à descrição de um intervalo de respostas específicas que tendem a ser associadas em um certo tipo de situação Assim para determinar se uma pessoa é socialmente dominante observamos como ela conversa em um grupo como interage com vários indivíduos como responde a diversos itens es pecíficos descrevendo situações relevantes e assim por diante e chegamos a uma avaliação ou julgamen to globais Cada uma das respostas específicas nos diz algo sobre a dominância da pessoa O fato de respos tas específicas tenderem a estar associadas em certas situações provavelmente depende de seu reforço se letivo como grupo Uma pessoa adquire o traço geral de dominação porque algum grupo talvez a família valorizou muito uma classe de respostas ao dar refor ço As respostas também tendem a estar associadas por serem funcionalmente intercambiáveis Uma pes soa que encontramos pela primeira vez se comporta de maneira amistosa e tende a ser reforçada da mes ma maneira seja qual for a resposta emitida Em mo mentos anteriores cada resposta nesse tipo de situa 408 HALL LINDZEY CAMPBELL ção pode facilmente ter sido reforçada com igual fre qüência Por causa disso todas as respostas tenderão a ocorrer na presente ocasião e a diferença em seus estímulos controladores que provocam a emissão de uma certa resposta e não de outra pode ser tão sutil que na prática não podemos predizer a ocorrência de uma determinada resposta Nesses casos nos limi taríamos a predizer as características gerais do com portamento que esperamos que aconteça É interessante observar que a mesma situação não produz necessariamente o mesmo comportamento em diferentes indivíduos Um exemplo disso ocorre com os empregados que querem pedir um aumento ao che fe Uma pessoa pode apresentarse de maneira agres siva e outra de forma muito amistosa até obsequiosa Se examinarmos o background da pessoa que reage agressivamente no escritório do seu superior vamos descobrir que o comportamento agressivo foi reforça do com muita freqüência na história desse indivíduo e provavelmente reforçado em uma grande varieda de de situações No caso do outro indivíduo o com portamento agressivo pode ter sido punido por con seqüências aversivas e o comportamento obsequioso pode ter sido reforçado positivamente Na extensão em que as situações prévias que geraram esses com portamentos são semelhantes à situação em que os empregados pedem aumento esperamos que as duas categorias de comportamento diferentes e opostas estejam em evidência Evidentemente nessa situação só uma das abordagens pode funcionar talvez só a pessoa obsequiosa consiga o aumento O comporta mento dessa pessoa vai então ser reforçado enquan to o da pessoa agressiva não será reforçado Entretan to o jeito agressivo do indivíduo nãoreforçado pode sofrer uma pequena mudança A maior parte do com portamento fora do laboratório só é reforçada inter mitentemente e como vimos no caso do pombo o reforço intermitente gera um comportamento muito estável e persistente É quase certo que a história de reforço no indivíduo agressivo foi intermitente e pro vavelmente será menor a amplitude da extinção do comportamento agressivo que ocorre em resultado do nãoreforço Igualmente se os dois indivíduos pedis sem aumento em outras circunstâncias talvez para um outro empregador a abordagem agressiva pode ria ser a bemsucedida revertendo assim as contin gências do reforço Isso ergue um outro fator compli cador Um indivíduo pode mostrar uma capacidade muito maior de discriminação entre os dois tipos de empregador e ajustar o seu comportamento para que seja mais apropriado a diferentes situações Podería mos dizer que essa pessoa tem a capacidade de avali ar os outros e ajustar seu comportamento de acordo com tal avaliação No sistema de Skinner os proces sos envolvidos nisso seriam os de reforço diferencial e discriminação Comportamento Anormal Não surpreendentemente muitos psicólogos clínicos adotaram a abordagem e as atitudes básicas caracte rísticas de Skinner Eles descobriram que essa estru tura pode ser usada para se compreender o compor tamento normal e também pode ser aplicada ao estudo e controle do comportamento patológico Quando pla nejamos um programa para o tratamento do compor tamento anormal nós supomos que o comportamen to anormal segue os mesmos princípios de desenvolvi mento do comportamento normal Skinner afirmou muitas vezes que a meta é simplesmente substituir o comportamento anormal pelo normal e isso pode ser feito pela manipulação direta do comportamento Ao lidar com o comportamento anormal Skinner não apelava para as ações ou desejos reprimidos crise de identidade conflitos entre o ego e o superego ou ou tros constructos pois os considerava uma ficção ex planatória Em vez disso ele tentava modificar o com portamento indesejável pela manipulação do ambiente de uma maneira determinada pelas técnicas de con dicionamento operante e respondente Suponha que um soldado de início medianamen te corajoso é baleado em uma batalha Ele é hospita lizado e depois de se recuperar é enviado mais uma vez para a linha de frente Quando isso acontece o soldado fica com um braço paralisado ou cego Um exame físico não revela nenhuma deficiência signifi cante nos nervos e nos músculos do braço ou no equi pamento sensorial Entretanto essa incapacidade fí sica aparentemente sem causa tem o efeito de liberar o soldado de sua obrigação de ir para a linha de fren te pois cegueira ou paralisia garantem que ele seja enviado para um hospital ou fique em um cargo rela tivamente inativo Skinner analisaria tal situação de modo muito sim ples O ferimento sofrido pelo soldado é adverso e portanto tem propriedades negativamente reforçado TEORIAS DA PERSONALIDADE 409 ras Isto é é um estímulo cuja retirada aumenta a magnitude da resposta que se segue imediatamente É bastante óbvio que o ferimento é esse tipo de estí mulo pois é razoável esperar por exemplo que quan do o soldado está no hospital ele se comporte de ma neira a curar o ferimento o mais rápido possível Ao cumprir as ordens do médico o soldado realmente escapa do ferimento Também podemos esperar dado o princípio do condicionamento clássico ou respon dente que os estímulos associados ao início do feri mento tenham passado a possuir algumas de suas pro priedades negativas Um estímulo associado ao início de um reforço negativo se torna um reforço negativo condicionado Podemos voltar a um experimento simples com animais para uma analogia Suponha que um rato está preso em uma gaiola com um piso de grade que pode ser eletrificado O rato recebe um choque por meio do piso de vez em quando e o choque só cessa quan do o rato pula sobre um pequeno obstáculo que divi de a gaiola Nós logo descobrimos que a resposta de pular sobre o obstáculo seguese rapidamente ao iní cio do choque elétrico Isso acontece porque cada pulo sobre o obstáculo que a princípio só acontece depois de muita ação aleatória é reforçado pelo término de um reforço negativo e tendo sido assim reforçado ocorre mais facilmente em ocasiões subseqüentes Um reforço negativo condicionado pode ser estabelecido muito facilmente Uma campainha é introduzida na situação de modo que seu início precede cada cho que por alguns segundos Isso será suficiente para as segurar que a campainha adquira propriedades refor çadoras condicionadas Mas para tornar mais completa a analogia com o caso do soldado o progra ma experimental é mudado de modo que um pulo sobre o obstáculo seguindose ao início da campai nha silencia a campainha e faz com que não aconte ça o choque que ocorreria subseqüentemente Nessa situação é provável que o rato termine pulando so bre o obstáculo em quase todas as ocasiões em que a campainha soar Isso leva à evitação do choque En tretanto podemos analisar o comportamento do rato sem referência à evitação supondo que a campainha se tornou um reforço negativo condicionado pelo pro cesso de condicionamento clássico e que pular sobre o obstáculo é a resposta reforçada pelo término do reforço negativo Assim como podemos descrever o rato como escapando do choque na situação original também podemos descrevêlo como escapando da campainha na situação modificada Uma vez que o caso do soldado é análogo a esse podemos ver que os estímulos associados ao evento de ter sido baleado na batalha adquiriram proprieda des reforçadoras negativas Assim o soldado prova velmente comportarseia de modo a fazer cessar tais estímulos Um tipo de comportamento assim reforça do seria a resposta de simplesmente recusarse a vol tar para a área de batalha Isso poderia ser interpreta do como uma fuga dos estímulos associados à batalha mas em linguagem comum provavelmente seria des crito como evitação de possíveis ferimentos futuros É muito provável que o comportamento de fuga leve à rejeição social eou à corte marcial com conse qüências aversivas que em si mesmas constituiriam uma punição como uma longa sentença de prisão ou talvez inclusive a pena de morte Assim quando o soldado começa a tomar o caminho óbvio da fuga a desobedecer ordens seu comportamento embora le vando à fuga dos estímulos aversivos associados ao seu ferimento iria em si mesmo produzir outros estí mulos aversivos baseados nas conseqüências da corte marcial ou da rejeição social O comportamento se guido por um aumento da estimulação aversiva tende a diminuir em freqüência nós dizemos que esse com portamento diminui em freqüência porque é punido O caminho que envolve a desobediência de ordens portanto provavelmente não será seguido O que vai acontecer é que vai surgir algum comportamento que fará cessar os dois conjuntos de reforços negativos e tal comportamento será reforçado e mantido Uma paralisia do braço ou uma cegueira satisfazem essas condições porque na maioria dos exércitos o solda do não é considerado responsável por esses padrões de comportamento e seu surgimento não é punido Escolher essa rota é uma decorrência direta de um exame dos princípios formulados por Skinner Observe que na análise acima não há nenhuma referência ao que o soldado está pensando sentindo ou tentando fazer Também não existe nenhuma men ção a processos conscientes ou inconscientes ou a pro cessos fisiológicos A análise utiliza as leis do condici onamento respondente clássico e operante e depende apenas de operações e comportamentos ob servados Ela não recorre a variáveis operando em um nível diferente do comportamental ou a qualquer tipo de constructo teórico hipotético 410 HALL LINDZEY CAMPBELL Surge então a pergunta de como o soldado pode ser curado Há várias maneiras gerais de eliminar muitas variedades de comportamento anormal Vol temos ao experimento do rato Suponha que o apare lho seja agora programado para que a campainha con tinue a soar regularmente mas não seja mais seguida por um choque elétrico independentemente do com portamento do animal Quando é introduzida essa mudança e a campainha soa pela primeira vez o rato pula o obstáculo e o som da campainha cessa Mas após algumas repetições não ocorre o pulo e não ocorre nenhum choque A situação pode ser analisa da desta maneira quando a campainha soa regular mente e não é seguida por um choque como ocorre quando o rato faz terminar o som da campainha e evita o choque ou quando o choque é descontinuado as propriedades aversivas condicionadas da campai nha se reduzem Lembre que ao discutir o condicio namento clássico foi salientado que a resposta sali var condicionada se extinguia se o som da campainha não fosse seguido pela apresentação da carne Igual mente na presente situação as propriedades reforça doras negativas classicamente condicionadas do som da campainha extinguirseão se ela não for seguida pelo choque Então uma vez que as propriedades re forçadoras condicionadas do som da campainha es tão sendo reduzidas é menos provável que ocorra a resposta operante de terminála porque essa respos ta só está sendo reforçada pelo término de um refor ço negativo cuja força está diminuindo gradualmen te O problema com esse tipo de método é que a extinção da resposta de esquiva em geral é extrema mente lenta O animal pode pular o obstáculo por cen tenas ou milhares de tentativas depois que o choque foi interrompido Solomon Kamin Wynne 1953 Da mesma forma se o soldado fosse exposto aos estí mulos associados à batalha sem um reforço negativo incondicionado subseqüente esses estímulos perderi am suas propriedades negativamente reforçadoras e a paralisia ou a cegueira extinguirseiam Entretan to é muito improvável que o soldado se disponha voluntariamente a voltar ao campo de batalha Uma abordagem alternativa a esse problema é impedir que ocorra a resposta de esquiva um proce dimento às vezes chamado de inundação Baum 1970 Se for construída uma barreira de modo que o rato não possa pular o obstáculo a campainha vai soar sem o choque e as propriedades aversivas condicio nadas da campainha extinguirseão rapidamente Da mesma maneira exigir que o soldado volte para o campo de batalha apesar de sua paralisia ou cegueira deve fazer com que as propriedades aversivas dos es tímulos do campo de batalha se extingam caso não ocorra nenhum outro evento aversivo incondiciona do Uma outra maneira de curar o soldado é modelar alguma outra resposta que não seja considerada anor mal e termine com o reforço negativo condicionado Por exemplo o soldado poderia ser autorizado a des ligarse do exército sem medo de uma penalidade Seguindose a isso a paralisia de seu braço presumi velmente desapareceria Ou poderia ser dito ao sol dado que ele vai ser colocado em um cargo inativo independentemente da condição de seu braço Isso seria funcionalmente equivalente a um desligamento Em qualquer caso o soldado escapa do reforço nega tivo condicionado sem ter de dar as respostas que re sultam em paralisia Uma cura que provavelmente não teria sucesso seria punir o soldado Suponha que o soldado fosse punido sempre que a paralisa mostrasse sinais de pio ra Nesse caso a paralisa poderia desaparecer mas apenas para ser substituída por alguma outra respos ta igualmente anormal A razão para a ocorrência de uma nova resposta seria igual àquela que explica a ocorrência da paralisia Seria uma resposta como ce gueira ou mudez cuja força estaria aumentada por que sua ocorrência seria seguida pelo término do re forço negativo ser mandado de volta ao campo de batalha A punição provavelmente não funcionaria porque não resultaria na substituição de uma respos ta anormal por uma normal nem extinguira as pro priedades reforçadoras condicionadas dos estímulos associados à batalha Tem sido muito freqüente a crítica a Skinner de que o tipo de análise da anormalidade e sua cura pela psicoterapia é a análise e a cura dos sintomas ao in vés das causas As causas internas mentais ou fisioló gicas são negligenciadas e só o sintoma é tratado Tal terapia parece desconsiderar as forças subjacentes que então exercem sua influência por meio de alguma outra saída comportamental Entretanto observe que essas curas podem se revelar inadequadas porque o psicoterapeuta não conseguiu compreender bem os princípios da modificação de comportamento ou não examinou apropriadamente a história do paciente para TEORIAS DA PERSONALIDADE 411 determinar os antecedentes do comportamento inde sejável Na verdade as evidências em relação à subs tituição de sintomas nessas condições indicam que esse resultado não é muito provável Krasner Ullmann 1965 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Nós já examinamos vários aspectos nos quais o traba lho de Skinner e seus seguidores se desvia da norma contemporânea Entre essas características estão o estudo intensivo de sujeitos individuais o controle automatizado das condições experimentais e o regis tro das respostas dos sujeitos e um foco em eventos comportamentais simples que podem ser modificados com manipulação ambiental apropriada Aqui nós ampliaremos certos aspectos dessa abordagem e apre sentaremos algumas ilustrações de programas de pes quisa executados por Skinner e seus alunos Existem vários livros excelentes para quem quiser examinar a pesquisa de Skinner e seus seguidores com mais deta lhes incluindo volumes editados por Honig 1966 e Honig e Staddon 1977 assim como os de Skinner Cumulative Record 1966 e Notebooks 1980 Já foi observada a ênfase de Skinner na experi mentação com o sujeito individual Associada a isso está a eliminação de influências indeterminadas que poderiam afetar o comportamento do sujeito Outros experimentadores que trabalham com animais e cujo interesse maior está no processo de aprendizagem usam tipicamente grupos grandes de animais em seus experimentos Isso permite que não se preocupem muito com variáveis nãocontroladas desde que este jam distribuídas aleatoriamente Skinner argumenta va que se existem variáveis nãocontroladas que afe tam o comportamento elas não devem ser negligencia das pois merecem ser estudadas como qualquer ou tra variável Além disso Skinner acreditava que a nossa meta deveria ser o controle de comportamento do sujeito individual Se grandes grupos de animais têm de ser usados no experimento isso é para Skinner uma admissão de fracasso Se os efeitos de uma manipula ção intencional de uma variável independente obvia mente estão sendo mascarados por uma grande quan tidade de ruído ou variabilidade aleatória isso mostra claramente que não está havendo um contro le adequado Nessas condições Skinner deixaria de lado a idéia de manipular a variável independente original pelo menos no momento e tentaria em vez disso descobrir as variáveis ocultas que estão causan do a variabilidade Tal investigação pode nos fazer compreender melhor as variáveis controladoras por si mesmas e se bemsucedida pode nos dar uma idéia de como reduzir a variabilidade que se impôs Então poderemos dedicar novamente a nossa atenção aos efeitos da variável original e a experimentação pode prosseguir em condições mais organizadas Uma vez obtida a estabilidade de uma resposta um teórico do reforço operante típico determinaria uma linha de base em comparação com a qual avaliar as mudanças de resposta que poderiam ocorrer em resultado da manipulação de uma variável indepen dente Usualmente a linha de base consiste em um registro da freqüência de emissão de uma resposta simples como bicar um disco ou no caso do rato pres sionar uma alavanca Por exemplo um experimenta dor poderia treinar um pombo para bicar um disco e depois manter a resposta com um esquema de reforço intermitente Descobriuse que isso produz freqüên cias de resposta de linha de base estáveis duráveis e também bastante sensíveis aos efeitos de variáveis introduzidas Uma variável que pode ser introduzida por exemplo é um breve período de ruído intenso concomitante ao bicar Os efeitos disso seriam medi dos como uma mudança na freqüência de bicadas Provavelmente a freqüência de bicadas diminuiria durante a primeira apresentação do ruído mas com sucessivas apresentações ele diminuiria cada vez menos e depois finalmente não seria mais afetado O experimento seria relatado como mostrando os efei tos da variável independente de ruído sobre a variá vel dependente da resposta de bicar Esse exemplo sim ples ilustra o método geral de experimentação tipicamente empregado Na prática talvez fosse impossível gerar padrões estáveis de resposta em sujeitos individuais Mas Skin ner foi extremamente bemsucedido em atingir esse objetivo Devido à sua ênfase na experimentação com sujeitos individuais ele conseguiu reduzir substanci almente fontes nãocontroladas de influência sobre sujeitos experimentais Isso se deve parcialmente ao uso da caixa de Skinner à prova de som e com luz controlada para abrigar sujeitos durante o experimen 412 HALL LINDZEY CAMPBELL to Esse invento simples isola o organismo de modo muito efetivo de influências que não são diretamente controladas pelo experimentador Uma área em que a influência de Skinner tornou se pronunciada é a da psicofarmacologia ou o estudo de drogas e do comportamento A caixa de Skinner revelouse um instrumento admirável para todos os tipos de trabalho preciso envolvendo a observação do comportamento após a administração de agentes farmacológicos Suponha que os efeitos comportamen tais de uma determinada droga estejam sendo inves tigados Um rato é treinado primeiro para pressionar uma alavanca na caixa de Skinner sendo reforçado ao pressionar a alavanca segundo um esquema de re forço intermitente Após algumas sessões desse trei namento a freqüência de pressões na alavanca se tor na estável Ele não varia muito entre as sessões ou na mesma sessão A droga é então administrada ao rato antes do início de uma nova sessão e durante o curso daquela sessão são determinados o tempo que a dro ga leva para fazer efeito seu efeito sobre o comporta mento e a duração desse efeito E tudo isso pode ser feito com um único sujeito experimental embora co mumente sejam feitas replicações Em estudos psico farmacológicos foram estudados os efeitos de drogas sobre o comportamento regulador percepção medo esquiva e resposta apetitiva entre outros A caixa de Skinner permite que o experimentador investigue isso independentemente em condições básicas muito se melhantes Até o presente momento nenhum méto do de experimentação animal chegou perto do usado pelos skinnerianos para isolar determinados aspectos do comportamento e estudar os efeitos das drogas sobre eles Um exemplo significativo da aplicação de técni cas de condicionamento operante em um hospital para doentes mentais é oferecido por uma série de estudos de Ayllon e Azrin 1965 1968 Esses investigadores trabalhando com um grupo de psicóticos crônicos con siderados nãoresponsivos aos métodos convencionais de terapia e sem possibilidade de alta conseguiram estabelecer uma economia de vales efetiva para manipular o comportamento dos pacientes de uma maneira socialmente desejável O procedimento ge ral envolvia identificar alguma forma de resposta tal como alimentarse satisfatoriamente ou executar al guma tarefa e depois associar a resposta desejada com algum reforço O termo economia de vales se refere ao fato de terem sido introduzidos vales como refor ços condicionados diminuindo o tempo entre a res posta desejada emitida e a apresentação do reforço incondicionado cigarros cosméticos roupas ir a um cinema interação social privacidade etc Ayllon e Azrin conseguiram mostrar que quando um determi nado tipo de resposta tal como concluir uma tarefa designada era associado a um reforço condicionado o pagamento do vale tal resposta podia ser manti da em uma freqüência elevada mas que quando o reforço era removido a freqüência de respostas caía imediatamente embora pudesse ser reinstalado res taurandose a contingência de reforço Eles dizem Os resultados dos seis experimentos demonstram que o procedimento de reforço foi efetivo para manter o desempenho desejado Em cada experi mento o desempenho caiu a um nível próximo de zero quando a relação estabelecida entre a res posta e o reforço foi descontinuada Por outro lado a reintrodução do procedimento de reforço man teve efetivamente o desempenho tanto dentro quanto fora da enfermaria experimental 1968 p 268 Economias de vales ou fichas também têm sido usadas extensivamente em ambientes de sala de aula com populações variadas crianças normais delinqüen tes e crianças gravemente retardadas Os vales podem premiar comportamentos adequados em sala de aula como permanecer sentado prestar atenção e concluir tarefas Os vales mais tarde são trocados por balas cinema períodos de brincadeiras livres ou qualquer reforço que uma determinada criança valorize Ka zdin Bootzin 1972 Os resultados desses e de mui tos outros estudos deixam claro que o uso sistemático e hábil de reforços pode produzir mudanças compor tamentais dramáticas e benéficas mesmo nas pessoas seriamente perturbadas Além disso tais mudanças são altamente legítimas e adaptamse exatamente ao que os princípios do condicionamento operante nos levam a esperar Muitos desses princípios foram empregados por Lovaas e seus colegas em suas tentativas de ensinar a linguagem a crianças autistas Lovaas Berberich Per loff Schaefer 1966 As crianças autistas normal mente não se empenham em nenhuma forma de co municação e apresentam comportamentos bizarros e muitas vezes autodestrutivos Lovaas e colaboradores TEORIAS DA PERSONALIDADE 413 usaram a punição para eliminar comportamentos de automutilação e procedimentos de extinção para eli minar outros comportamentos indesejáveis mas me nos perigosos O programa de treinamento da lingua gem baseiase nos conceitos de modelagem reforço generalização e discriminação Por exemplo uma cri ança pode inicialmente ser recompensada com um pedaço de doce por uma vocalização Essas vocaliza ções são então moldadas em uma palavra boneca por exemplo Depois que várias palavras foram apren didas dessa maneira é feito um treinamento da dis criminação para ensinar a criança a produzir cada pa lavra boneca caminhão etc na presença do objeto estímulo apropriado A criança é ensinada por vários instrutores diferentes em um esforço para promover a generalização dos hábitos de linguagem para outros indivíduos Os procedimentos são lentos e tediosos mas habilidades de linguagem cada vez mais comple xas podem ser ensinadas dessa maneira Esses pro gramas de treinamento apresentam alguns problemas e os relatos de seguimentos são mistos Em geral as crianças que viviam com as famílias continuaram a melhorar ao passo que aquelas colocadas em institui ções às vezes voltaram aos seus comportamentos au tistas Apesar dessas dificuldades todas as crianças mostraram alguma melhora em seu comportamento como resultado do treinamento Lovaas Koegel Sim mons Long 1973 Uma das aplicações mais incomuns da abordagem operante foi feita pelo próprio Skinner 1960 em uma tentativa de desenvolver um meio de controlar a trajetória de um míssil Durante a Segunda Guerra Mundial e por dez anos mais foi executada uma vari edade de estudos financiados pelo governo para de monstrar se seria possível usar pombos como um meio de orientar um míssil até um alvo predeterminado Essa fantasia de ficção científica não envolvia nada além do uso de técnicas operantes para treinar um ou mais pombos Os sujeitos eram ensinados a respon der bicando um estímulo padronizado que represen tava o alvo do míssil um navio um setor de uma cidade ou um perfil de terra Quando o míssil estava no alvo o pombo bicaria o centro da área em exibi ção onde a imagem era apresentada e isso faria o míssil continuar em seu presente curso Quando o míssil se desviava as bicadas do pombo seguindo a imagem do alvo iriam para outra parte da área em exibição e isso ativaria um sistema de controle que ajustaria o curso do míssil Assim digamos quando o alvo se movesse para a esquerda e o pombo bicasse uma área à esquerda do centro o míssil viraria para a esquerda Os investigadores descobriram que seguin do esquemas apropriados de reforço os pombos bica vam acuradamente rapidamente e por períodos sur preendentemente longos de tempo A fim de minimizar a possibilidade de erro eles planejaram inclusive sis temas de orientação múltiplos que envolviam três ou sete pombos Embora os pombos nunca orientassem mísseis reais até alvos reais seu desempenho simula do foi tal que Skinner afirmou O uso de organismos vivos para orientar mísseis parece justo dizer não é mais uma idéia maluca Os pombos são mecanismos extraordinariamente sutis e complexos capazes de desempenhos que no momento podem ser igualados a equipamen tos eletrônicos só que de peso e tamanho bem maiores e podem ser usados confiavelmente de acordo com os princípios que emergiram da aná lise experimental de seu comportamento 1960 p 36 PESQUISA ATUAL Nós já mencionamos vários exemplos da grande vari edade de pesquisas geradas e provocadas por Skin ner Em vez de tentar catalogar essa pesquisa ou a evolução do comportamentalismo nos últimos anos sugerimos que o leitor procure outros livros de Domjan 1996 e Schwartz e Robbins 1995 para discussões atuais da teoria da aprendizagem Rachlin 1991 1994 e Donahoe e Palmer 1994 para discussões de abordagens contemporâneas nãocognitivas selecio nistas ao comportamento e Pearce 1987 e Schwartz e Lacey 1982 para relatos sobre a cognição animal derivados da posição de Skinner Além disso o leitor interessado pode consultar o Journal of the Experimen tal Analysys of Behavior e o Journal of Applied Behavi or Analysys Um dos componentes do trabalho de Skinner merece ser discutido aqui porque revela muito sobre sua posição seu ataque à irrefutabilidade da ciência cognitiva e ao movimento cognitivo dentro da psico logia Em um artigo concluído na noite anterior à sua 414 HALL LINDZEY CAMPBELL morte Skinner descreveu a distinção entre a fisiolo gia que nos diz como o corpo funciona e as ciências da variação e seleção que nos dizem por que aquele corpo funciona daquela maneira 1990 p 1208 As ciências da variação e seleção incluem a etologia que trata da seleção natural do comportamento das espé cies a análise do comportamento que trata do condi cionamento operante do comportamento de um indi víduo e a antropologia que trata da evolução do ambiente social Em uma análise científica do com portamento as histórias de variação e seleção de sempenham o papel do iniciador Não há lugar em uma análise científica do comportamento em uma mente ou self Skinner 1990 p 1209 São as con tingências de reforço as responsáveis pelo comporta mento e aqueles que adotam uma abordagem cogni tiva atribuem erroneamente a responsabilidade a agências internas A analogia que Skinner empregou é a ciência de criação que segundo ele interfere com o ensino adequado da biologia De acordo com Skin ner a ciência cognitiva é a ciência de criação da psi cologia à medida que luta para manter a posição de uma mente ou self 1990 p 1209 Os psicólogos adotaram uma referência ao con trole pessoal a partir de uma definição própria de sua área obscurecendo nesse processo as contingências de reforço que de fato controlam o comportamento O comportamento não resulta de pensamentos senti mentos intenções decisões ou escolhas como na psi cologia cognitiva os comportamentalistas examinam os eventos antecedentes no ambiente e as histórias ambientais da espécie e do indivíduo O ambiente seleciona o comportamento Skinner 1985 p 291 As pessoas não armazenam representações e não pro cessam informações Skinner preferia a analogia de uma bateria de armazenamento ou acumulador Nós mudamos uma bateria quando a carregamos mas não colocamos eletricidade nela Da mesma forma os or ganismos não possuem e não recuperam comporta mentos eles se comportam de várias maneiras em função das experiências que os alteraram O conheci mento e as expectativas aos quais os cientistas cogni tivos se referem assim como aqueles supostos esta dos como desejos necessidades e sentimentos são substitutos atuais da história do reforço Skinner 1985 p 296 ver também Skinner 1977a 1989 Skinner jogou muito bem o jogo da ciência na ausên cia de qualquer demonstração da utilidade dos esta dos e processos sua parcimoniosa referência ao con trole ambiental do comportamento representa uma poderosa hipótese rival para modelos baseados na existência dessas causas internas STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO Está claro que Skinner concordaria com os teóricos da personalidade mais idiográficos em sua ênfase na importância de estudar os indivíduos detalhadamente e propor leis que se apliquem inteiramente ao sujeito isolado e não apenas a dados de grupo Relacionado a essa ênfase no indivíduo está o fato de que os acha dos relatados por Skinner e seus alunos apresentam um grau de legitimidade ou regularidade exata virtu almente sem paralelo entre os psicólogos A combina ção de ótima técnica de laboratório e controle experi mental exato com o estudo de sujeitos individuais representa uma extraordinária realização Aqueles que enfatizam o estudo do indivíduo geralmente carecem de rigor e de achados experimentais Uma realização notável desse grupo é seu estudo sistemático dos esquemas de reforço Seus volumosos achados nessa área constituem a base empírica para se predizer a aquisição e a extinção de respostas apren didas com uma exatidão muito maior do que era pos sível previamente Além disso suas classificações de diferentes tipos de esquemas possibilitaram generali zações para uma ampla variedade de situações e su jeitos As pesquisas subseqüentes nessa tradição têm buscado uma exatidão ainda maior por meio de aná lises matemáticas das freqüências de comportamento em diferentes esquemas de reforço Herrnstein 1970 Devemos observar que os resultados da pesquisa so bre esquemas de reforço são de crucial importância para todos os teóricos e investigadores da aprendiza gem independentemente de adotarem a abordagem de Skinner O vigor a clareza e o caráter explícito da posição de Skinner tornam relativamente fácil identificar os aspectos elogiáveis da teoria e aqueles que seriam objetáveis Ninguém jamais poderia acusar Skinner de tentar evitar controvérsias ou amenizar diferenças com seus contemporâneos Se existem diferenças sig TEORIAS DA PERSONALIDADE 415 nificativas entre Skinner e os outros teóricos impor tantes podemos ter certeza de que elas foram salien tadas e a sua posição vigorosamente defendida Talvez a crítica mais comum a Skinner e seus alu nos seja a de que sua teoria não era nenhuma teoria e além disso que ele tinha pouco respeito pela nature za e pelo papel da teoria na construção de uma ciên cia Como vimos Skinner em geral concordava intei ramente com essa caracterização de sua posição Ele achava que ela não era uma teoria e não acreditava que a ciência especialmente no estágio ocupado pela psicologia pudesse ser ajudada dedicandose tempo à construção de teorias Assim para aqueles que acre ditam que não existe isso de nenhuma teoria que só podemos escolher entre teorias boas ou más ou implícitas e explícitas existia uma lacuna irredutível entre sua concepção do processo científico e a adota da por Skinner Essa lacuna foi substancialmente re duzida com a publicação de Contingencies of reinfor cement 1969 em que ele aceitou explicitamente seu papel como teórico sistemático Em um artigo publicado em 1950 eu perguntei Os teóricos da aprendizagem são necessários e sugeri que a resposta era Não Eu logo me desco bri representando uma posição que tem sido des crita como uma Grande AntiTeoria Felizmente eu defini meus termos A palavra teoria signifi cava qualquer explicação de um fato observado que apela para eventos ocorrendo em algum ou tro lugar em algum outro nível de observação descritos em termos diferentes e medidos se me didos em diferentes dimensões eventos por exemplo no sistema nervoso real no sistema con ceitual ou na mente Eu argumentei que esse tipo de teoria não tem estimulado boas pesquisas so bre a aprendizagem que representa mal os fatos a serem explicados transmite uma falsa seguran ça sobre o estado do nosso conhecimento e leva ao uso continuado de métodos que deveriam ser abandonados Quase no final do artigo eu me refiro à possibi lidade de teoria em um outro sentido como uma crítica aos métodos dados e conceitos de uma ci ência do comportamento Partes de The Behavior of Organisms eram teóricas nesse sentido assim como seis artigos publicados no último dos quais eu insisti que quer alguns psicólogos experimen tais gostem quer não a psicologia experimental está adequada e inevitavelmente comprometida com a construção de uma teoria do comportamen to Uma teoria é essencial para o entendimento científico do comportamento como um assunto de estudo Subseqüentemente eu discuti tal teoria em três outros artigos e em partes substanciais de Science and Human Behavior e Verbal Behavior Skinner 1969 p viiviii Em seu sistema Skinner rejeitou consistentemen te como um meio explanatório qualquer uma das formas de maquinaria mental fantasmagórica que muitos de nós deliberada ou inadvertidamente usam para explicar o comportamento humano Ao fazer isso ele prestou um grande serviço Mas como vimos Skin ner também rejeitou a idéia de introduzir qualquer tipo de mecanismo inferido em seu sistema mesmo aqueles que podem ser adequadamente testados por explicações nãocontraditórias e predições explícitas A partir disso podemos antecipar que Skinner teria dificuldade para predizer o comportamento que ocor reria em uma situação consistindo em combinações de novos estímulos ou novas configurações de estí mulos conhecidos porque ele só podia basear suas expectativas de futuro comportamento sobre as leis de comportamento que já foram formuladas Em ou tras palavras as leis do comportamento só podem ser extrapoladas para exemplos do mesmo tipo de com portamento que elas abrangem no caso geral porque o sistema não contém nenhuma afirmação teórica que implique mais asserções empíricas do que aquelas so bre as quais elas foram construídas Essa dificuldade em predizer novos comportamentos é uma base para as críticas da teoria da aprendizagem social de Albert Bandura a Skinner ver Capítulo 14 O sistema de Skinner evita perguntar o que se passa dentro do organismo e portanto Skinner não pode fazer predições em situações que não estejam diretamente cobertas pelas leis do sistema Mas Skin ner reconhecia esse fato e defendia a atitude que o origina Em seu clássico artigo As teorias da aprendi zagem são realmente necessárias Skinner 1950 salientou que embora a teorização possa nos levar a novas expectativas isso em si mesmo não é nenhuma virtude a menos que as expectativas sejam confirma das E embora seja provável que alguém eventual 416 HALL LINDZEY CAMPBELL mente surja com uma teoria viável que ofereça as ex pectativas corretas isso talvez só aconteça depois de muitos anos de pesquisas improdutivas envolvendo a testagem de teorias inférteis de várias maneiras trivi ais De qualquer maneira as novas situações acaba rão sendo investigadas de modo que certamente não há nenhuma necessidade de teorização O comporta mento em uma situação dessas acabará sendo trazi do para o sistema mesmo na ausência de uma teoria Como vimos Skinner acreditava no valor de uma abordagem molecular ao estudo do comportamento Ele buscava elementos simples do comportamento para estudar e estava certo de que o todo não é mais do que a soma de suas partes Conseqüentemente não surpreende descobrir que os variados tipos de psicó logos holísticos estão convencidos de que a aborda gem de Skinner ao estudo do comportamento é sim plista e elementar demais para representar a complexidade total do comportamento humano Es ses críticos argumentam que o comportamento hu mano apresenta características que necessariamente fazem com que as suas áreas significativas sejam ex cluídas da análise de Skinner Essencialmente isso acontece porque o comportamento é muito mais com plexo do que a análise de Skinner nos leva a supor Skinner tentou explicar comportamentos complexos supondo que muitos elementos de resposta estão in seridos em unidades maiores e ele também supôs que a complexidade decorre da operação simultânea de muitas variáveis Mas é exatamente o método de Skin ner de integrar elementos comportamentais o que é questionado No mínimo muitos observadores acham que o sistema de Skinner não consegue explicar a ri queza e a complexidade tão características do ser humano A linguagem humana é um exemplo do tipo de comportamento que muitos acham não ser suscetível à análise pelos conceitos de Skinner Segundo Skin ner 1957 1986a a linguagem também é um exem plo do poder do condicionamento Isto é a fala é um comportamento verbal adquirido pelo reforço do em parelhamento de palavras corretas com um deter minado objeto ou evento e a gramática também é adquirida à medida que os pais respondem às cons truções verbais de uma criança O pensamento por extensão é o comportamento nãoobservável que ocor re quando as pessoas falam consigo mesmas Podero sos argumentos e dados foram propostos para mos trar que o sistema nervoso caso se desenvolva nor malmente é especialmente receptivo à aquisição de uma série de regras que geram teoremas que chama mos de sentenças Isso implica que uma linguagem não é adquirida por longos encadeamentos de termos de estímuloresposta cada um sendo aprendido por repetição e reforço e sim gerada a partir de uma série de axiomas e regras que podem produzir uma senten ça apropriada mesmo quando essa sentença não foi emitida previamente Como na geometria as regras da linguagem podem gerar teoremas ou sentenças sem nenhuma relação histórica com outras sentenças que ocorreram no passado Lingüistas como Chomsky 1959 enfatizaram especialmente esse ponto Tais argumentos que estão intimamente ligados à idéia de que certos padrões de resposta não podem ser ana lisados em seqüências elementares foram propostos especialmente em conexão com a linguagem mas al guns psicólogos acreditam que eles são igualmente relevantes para a análise de muitos outros tipos de comportamento Está claro a partir do que foi dito que Skinner geralmente realizava experimentos com organismos relativamente simples com histórias relativamente simples e em condições ambientais relativamente sim ples Raramente o sujeito era exposto a variações em mais de uma variável por vez Os críticos às vezes dizem que esse é um tipo artificial de experimentação que essas situações simples nunca ocorrem fora do laboratório e que por causa disso o comportamento necessariamente é bem mais complexo do que a caixa de Skinner nos levaria a acreditar Em resposta Skin ner argumentou muito efetivamente que a ciência caracteristicamente avança de maneira gradativa Ela quase sempre examina primeiro os fenômenos sim ples e constrói os fenômenos complexos de uma ma neira gradual passo a passo pela manipulação e in tegração apropriadas das leis que foram derivadas dos casos mais simples ou claros em que operam A se guinte citação de Skinner é instrutiva Seremos culpados de uma indevida simplifica ção de condições a fim de obter este nível de ri gor Teremos realmente provado que existe uma ordem comparável fora do laboratório É difícil ter certeza das respostas para essas perguntas Suponham que estamos observando o ritmo em que um homem bebe sua xícara de café da ma TEORIAS DA PERSONALIDADE 417 nhã Temos um interruptor escondido na mão que opera um registrador cumulativo em uma outra sala Cada vez que o nosso sujeito bebe nós aper tamos o interruptor É improvável que o registro mostre uma curva regular A princípio o café está quente demais e o beber é seguido por conseqü ências aversivas À medida que ele esfria emer gem reforços positivos mas a saciedade se esta belece Outros eventos à mesa do café também intervêm O beber finalmente cessa não porque a xícara está vazia mas porque as últimas gotas estão frias Mas embora a nossa curva comportamental não seja bonita também não o é a curva de esfria mento do café na xícara Ao extrapolar os nossos resultados para o mundo em geral não podemos fazer mais do que as ciências físicas e biológicas em geral Devido aos experimentos realizados em condições de laboratório ninguém duvida que o esfriamento do café na xícara seja um processo ordenado mesmo que a curva real seja muito di fícil de explicar Da mesma forma quando inves tigamos o comportamento nas condições vantajo sas do laboratório podemos aceitar sua ordenação básica no mundo em geral mesmo que aí não possamos demonstrar as leis inteiramente Skin ner 1957 p 371 Nessa declaração Skinner está concordando que no laboratório comportamental são estudados pro cessos muito simples e que eles nunca ocorrem dessa forma simples fora do laboratório Mas ele também está sugerindo que esta é a maneira pela qual todas as outras ciências são praticadas e elas não parecem sofrer nenhuma desvantagem Uma outra crítica freqüente referese à grande proporção do trabalho inicial de Skinner executada com pombos ou ratos e a rapidez com que os princípios e as leis derivadas foram generalizadas para os seres humanos com pouca ou nenhuma preocupação com diferenças e semelhanças entre as espécies É um fato que Skinner e seus discípulos freqüentemente se com portavam como se qualquer animal de qualquer espé cie incluindo a espécie humana pudesse por meio do controle apropriado ser induzido a produzir qual quer padrão de comportamento Eles não reconheci am suficientemente o fato de que o organismo típico não é uma tábula rasa cujo estado final é determina do apenas pelo padrão de reforço que é a essência do sistema de Skinner Os críticos afirmam que existem pelo menos alguns processos comportamentais que não se ajustam a esse paradigma O trabalho de Har low e Harlow 1962 com o desenvolvimento social de macacos rhesus e parte do trabalho de alguns eto logistas europeus com o comportamento instintivo são típicos das ilustrações usadas nesses argumentos como é o trabalho lingüístico que já discutimos Alguns psi cólogos enfatizaram o papel dos fatores biológicos na aprendizagem questionando se as leis gerais de aprendizagem são realmente possíveis Isso não sig nifica é claro que a aplicação do trabalho de Skinner ao comportamento humano seja inadequada Existe uma imensa riqueza de evidências apoiando o argu mento de Skinner de que os conceitos usados por ele têm uma extensiva aplicação ao comportamento dos seres humanos A pergunta é quanto e onde não se Incrivelmente simples elegantemente exatas e eminentemente práticas não surpreende que as for mulações de Skinner tenham atraído mais do que sua parcela proporcional de adeptos O que é especial mente relevante para nós sem dúvida é a maneira como Skinner desafiou a abordagem tradicional à per sonalidade em termos de estruturas intrapsíquicas e dinâmica Para Skinner como vimos os desejos os conflitos e as defesas que estão no âmago de uma ex plicação freudiana são substitutos mentalistas da his tória de reforço e não têm nenhum status causal O conflito por exemplo é um evento ambiental em vez de intrapsíquico É um rótulo para a existência de contingências incompatíveis de reforço não o anta gonismo entre o impulso e a proibição internalizada Da mesma forma os compromissos defensivos que segundo Freud são a manifestação de um conflito inflamado são mais claramente compreendidos como exemplos de reforço negativo isto é nós evitamos alguma declaração ou ação porque aprendemos que fazer isso evita ou minimiza conseqüências desagra dáveis E o método ABC de descobrir os Anteceden tes de um comportamento problemático oferecer uma definição precisa do Comportamento Behavior em si e alterar as Conseqüências que mantêm o comporta mento substitui os instrumentos terapêuticos freudia nos da associação livre e transferência Observem que o desacordo entre Freud e Skinner não é sobre o papel da aprendizagem Os fenômenos freudianos tão centrais como a seqüência de esco 418 HALL LINDZEY CAMPBELL lhas objetais que ocorre durante o desenvolvimento são claramente compreendidos em termos dos princí pios de aprendizagem descritos por Skinner A dife rença é muito mais fundamental Freud propôs que o comportamento era determinado por uma complexa dinâmica interna de afetos impulsos desejos confli tos e transformações Mas para Skinner as origens do comportamento são ambientais A diferença é en tre um foco nas vicissitudes dos instintos em oposição às vicissitudes dos reforços Além disso o modelo freu diano foi criado para oferecer uma estrutura para a explicitação posterior das origens do comportamen to enquanto a meta do modelo skinneriano é o con trole e a modificação do comportamento futuro Skinner também contrasta claramente com os outros teóricos discutidos neste livro e seria um exer cício útil para o leitor tentar traduzir constructos críticos de outras teorias em termos skinnerianos A dinâmica da inferioridade descrita por Alfred Adler por exemplo pode ser facilmente compreendida como um outro exemplo de reforço negativo e a pressão beta de Henry Murray pode ser vista como um outro nome para pistas discriminativas As condições de valor em que Carl Rogers se centra não são nada além de contingências de reforço e o controle pessoal do qual Rogers depende é uma ilusão mentalista Igual mente a descrição de Gordon Allport de uma disposi ção pessoal como o vínculo entre um conjunto de es tímulos funcionalmente equivalentes e um conjunto de respostas equivalentes pode ser reduzida em ter mos skinnerianos à existência da generalização de estímulo e generalização de resposta O significado percebido que Allport emprega para explicar a cone xão seria supérfluo para Skinner Na verdade Skinner propôs que o constructo de traço é fundamentalmente circular no sentido de que inferimos o traço de um certo comportamento e de pois usamos o traço para explicar aquele comporta mento Assim se observamos um aluno que está bri gando inferimos que ele é agressivo e depois explicamos a briga em termos da agressão acabamos assim entrando em um círculo vicioso sem significa do Nesse exemplo os constructos de traço são em pregados de uma maneira redundante mas eles não precisam ser assim Muitos teóricos p ex Raymond Cattell e Hans Eysenck sugerem meios a priori para medir os traços e depois utilizam os traços para pre dizer os comportamentos subseqüentes E embora eles possam depender muito dos mecanismos de aprendi zagem para explicar as origens das diferenças indivi duais nesses traços eles usam livremente o resíduo dessa aprendizagem para explicar o comportamento subseqüente Esses é claro são os pontos que Skin ner objetava energicamente a meta suprema é con trolar o comportamento não meramente predizêlo e as tendências ou estruturas são inúteis no manejo do comportamento Ironicamente é precisamente nesse aspecto prá tico que Skinner é mais vulnerável Ele propôs que podemos alterar o comportamento modificando as contingências que o mantêm e levando em conta a história de reforço do indivíduo mais as contingênci as de sobrevivência que moldaram todos os membros da espécie No laboratório onde conhecemos as his tórias dos nossos animais e controlamos as contingên cias às quais os expomos esse modelo é viável e efici ente No mundo real todavia a situação não é tão simples Nós podemos alterar contingências mas ge ralmente não conhecemos as histórias dos indivíduos com os quais estamos em contato Se um aluno pro cura um professor queixandose de ansiedade de tes te por exemplo o professor provavelmente não terá nenhuma informação sobre a história de reforço do aluno Como então o professor pode ajudar o aluno Pareceria razoável ele tentar saber alguma coisa so bre a atual dinâmica e tendências do aluno reconhe cendo que essas tendências são o produto de experi ências passadas mas tentando acessar o resíduo da história pois à história em si não temos acesso Skin ner afirmava que o melhor nessas circunstâncias é saber tudo o que pudermos sobre a história mas ava liar o estado atual do indivíduo parece uma alternati va razoável Embora a personalidade possa ser uma substituta de experiências passadas também seria útil demonstrar que os indivíduos que diferem em di mensões a priori subseqüentemente podem apresen tar reações diferentes a circunstâncias específicas A tecnologia de Skinner é extremamente eficiente e pessoas sensatas podem não concordar sobre o status causal de causas proximais e distantes mas não está nem um pouco claro se as características de persona lidade são irrelevantes na predição e no controle do comportamento TEORIAS DA PERSONALIDADE 419 CAPÍTULO 13 A Teoria de EstímuloResposta de Dollard e Miller INTRODUÇÃO E CONTEXTO 420 HISTÓRIAS PESSOAIS 422 UM EXPERIMENTO ILUSTRATIVO 425 A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 430 A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 430 O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 431 Equipamento Inato 431 O Processo de Aprendizagem 431 Drive Secundário e o Processo de Aprendizagem 432 Processos Mentais Superiores 433 O Contexto Social 435 Estágios Críticos de Desenvolvimento 435 APLICAÇÕES DO MODELO 437 Processos Inconscientes 437 Conflito 439 Como as Neuroses São Aprendidas 441 Psicoterapia 443 PESQUISAS CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 444 PESQUISA ATUAL 446 Wolpe 446 Seligman 449 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 454 420 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Apresentamos aqui a teoria da personalidade que é a mais simples e clara a mais econômica e mais ligada aos seus antepassados da ciência natural A teoria de estímuloresposta ER pelo menos em suas origens pode corretamente ser chamada de uma teoria de la boratório ao contrário de outras teorias que exami namos em que o papel da observação clínica ou na turalista é muito mais importante Consistentes com essas origens estão a clareza a economia de formula ção e os sérios esforços da posição para dar um fun damento empírico adequado aos principais termos da teoria Na verdade não existe uma única teoria de ER e sim um agrupamento de teorias mais ou menos pare cidas embora cada uma possua certas qualidades dis tintivas Esses sistemas começaram como tentativas de explicar a aquisição e a retenção de novas formas de comportamento que aparecem com a experiência Assim não surpreende que o processo de aprendiza gem receba uma ênfase predominante Apesar de os fatores inatos não serem ignorados o teórico do ER trata primariamente do processo pelo qual o indiví duo se comporta entre uma série de respostas e a gran de variedade de estimulação interna e externa à qual ele está exposto Embora não seja necessário discutir detalhada mente as complexas origens da teoria de ER não se ria apropriado introduzila sem mencionar as contri buições de Ivan Pavlov John B Watson e Edward L Thorndike O famoso fisiologista russo Ivan Pavlov 1906 1927 descobriu um tipo de aprendizagem que se tornou conhecido como condicionamento clássico Pavlov conseguiu demonstrar que pela apresentação simultânea de um estímulo incondicionado pasta de carne e de um estímulo condicionado o som de um diapasão o estímulo condicionado eventualmente provocaria uma resposta salivação que originalmente só podia ser iniciada pelo estímulo incondicionado O ato de salivar ao som do diapasão era referido como uma resposta condicionada Nas mãos de muitos psicólogos americanos esse processo de condicionamento clássico tornouse um meio de construir uma psicologia objetiva que lidava apenas com observáveis John B Watson 1916 1925 foi o líder do movimento Ele rejeitou a então domi nante concepção da psicologia como um tipo de ciên cia único que tinha como meta descobrir a estrutura da consciência por meio da introspecção A psicolo gia propôs ele deveria estudar o comportamento usando as mesmas técnicas objetivas das outras ciên cias naturais Ele aproveitou o princípio de condicio namento de Pavlov e combinandoo com idéias que já tinha apresentou ao mundo uma posição que cha mou de comportamentalismo Esse ponto de vista objetivo e ambientalista logo passou a representar a psicologia americana e mesmo hoje está estreitamente ligado aos aspectos mais distintivos da psicologia na quele país Ao mesmo tempo em que ocorriam esses desenvolvimentos Edward Thorndike 1911 1932 estava demonstrando a importância da recompensa e da punição no processo de aprendizagem e sua lei de efeito tornouse um dos pilares da moderna teo ria da aprendizagem Apesar da natureza crucial das contribuições de Pavlov a teoria da aprendizagem com sua pesada ênfase na objetividade sua ênfase na experimentação cuidadosa e seu forte tom funcional existe como uma das teorias mais singularmente ame ricanas de todas as posições que estamos examinan do Na terceira década deste século como resultado das idéias e investigações de Edward L Thorndike John B Watson Edward C Tolman Edwin R Guthrie Clark L Hull Kenneth W Spence e outros o interesse teórico dominante dos psicólogos americanos trans feriuse para o processo da aprendizagem Nas duas décadas seguintes a maioria das questões teóricas importantes na psicologia foi debatida dentro da es trutura da teoria da aprendizagem Teóricos como Thorndike Hull Spence e Guthrie descreveram o pro cesso de aprendizagem como envolvendo o vínculo associativo entre processos sensoriais e motores Gran de parte da controvérsia centravase sobre essa con cepção teórica do processo da aprendizagem Edward Tolman um dos maiores teóricos desse período tam bém pensava que a tarefa empírica do teórico da apren dizagem é identificar as forças ambientais que deter minam o comportamento mas concebia a aprendiza gem como o desenvolvimento de cognições organiza das sobre conjuntos de eventos sensoriais ou estímu los Kurt Lewin também estava no rumo de desenvol ver uma teoria de tipo cognitivo embora não se preocupasse profunda e continuamente com o pro cesso de aprendizagem Grande parte do trabalho experimental estimulado por esses debates teóricos TEORIAS DA PERSONALIDADE 421 envolvia a investigação de formas relativamente sim ples de aprendizagem especialmente conforme elas ocorriam nos animais Nos últimos 30 anos os psicó logos experimentais têm mostrado um crescente inte resse pelo estudo da linguagem da memória e dos processos de pensamento complexos nos seres huma nos bem como dos processos cognitivos em outras espécies Refletindo essa mudança de ênfase desen volveramse sofisticadas teorias cognitivas e do pro cessamento da informação que têm pouca semelhan ça com as teorias da associação simples Conforme implica o título deste capítulo estamos preocupados aqui com formulações baseadas na teo ria da associação de ER ou cuja linhagem intelectual embora mostrando a influência do pensamento recente sobre os processos cognitivos deve muito à tradição comportamentalista de ER Mais especificamente prestaremos uma atenção especial às tentativas de generalizar ou aplicar a posição teórica de Clark Hull 1943 1951 1952 aos fenômenos que interessam aos psicólogos da personalidade Quais são as razões para concentrar o nosso interesse nas formulações influenciadas por Hull e seus textos Em primeiro lu gar sua posição teórica é uma das mais claras e bem desenvolvidas de todas as teorias abrangentes O ponto de vista foi apresentado mais explicitamente e forma lizado mais adequadamente do que em qualquer ou tra teoria comparável tendo estimulado uma riqueza maior de investigações empíricas Em segundo lugar e muito importante são principalmente os descenden tes intelectuais de Hull e Spence que fizeram as tenta tivas mais sérias e sistemáticas de aplicar suas teorias desenvolvidas em laboratório ao entendimento da personalidade Um aspecto que torna a teoria hullia na particularmente atraente é a atenção dedicada ao papel da motivação na determinação do comporta mento e aos processos pelos quais os motivos apren didos são adquiridos B F Skinner uma figura importante no campo da aprendizagem também causou um impacto acentua do em muitas áreas da psicologia incluindo o funcio namento da personalidade Suas contribuições foram examinadas no capítulo anterior Ao contrário das teorias que já discutimos os ru dimentos da posição de ER foram desenvolvidos em conexão com dados que possuem pouca semelhança aparente com os dados de maior interesse para o psi cólogo da personalidade Talvez seja um exagero di zer que o rato branco teve mais relação com a criação dessa teoria do que os sujeitos humanos mas certa mente é verdade que membros de espécies inferiores tiveram infinitamente mais relação com o desenvolvi mento da teoria do que no caso das outras teorias que consideramos Entretanto não devemos enfatizar exa geradamente a importância do ponto de origem des sa teoria Uma teoria deve ser avaliada em termos da quilo que faz e não de onde ela vem Hull o pai intelectual dessa posição deixou clara sua intenção de desenvolver uma teoria geral do comportamento humano desde o início de sua busca teórica Foi ape nas por uma questão de estratégia que ele escolheu desenvolver suas idéias iniciais contra o fundo relati vamente estável proporcionado pelo comportamento animal em situações experimentais cuidadosamente controladas Assim a essência de sua teoria não se desenvolveu a partir do estudo de organismos inferi ores devido a uma convicção de que todos os proble mas comportamentais poderiam ser resolvidos dessa maneira Pelo contrário esperavase que a simplici dade dos organismos inferiores permitisse o estabele cimento de certos fundamentos que quando elabora dos pelo estudo do comportamento humano complexo poderiam revelarse o núcleo de uma teoria satisfató ria do comportamento Tal prontidão a mudar e am pliar a parte periférica de sua teoria mantendo ao mesmo tempo certas suposições e conceitos centrais está claramente demonstrada no trabalho de muitos dos alunos de Hull De acordo com esse ponto de vis ta não faremos aqui nenhum esforço para detalhar a teoria de Hull centrandonos em vez disso nas tenta tivas feitas para modificar ou elaborar a teoria de modo a lidar com comportamentos de crucial interesse para o psicólogo da personalidade O exemplo notável de tal teoria derivada é o trabalho de Dollard e Miller e o nosso capítulo dará uma atenção predominante a essa posição O trabalho de muitos outros merecem menção mas as limitações de espaço nos permitirão resumir brevemente as idéias de apenas dois outros indivíduos Wolpe e Seligman Antes de examinar os detalhes dessas teorias de vemos mencionar o Instituto de Relações Humanas da Universidade de Yale Essa instituição foi fundada em 1933 sob a direção de Mark May em uma tentati va de provocar maior colaboração e integração entre psicologia psiquiatria sociologia e antropologia O Instituto abrangia todos os departamentos tradicio 422 HALL LINDZEY CAMPBELL nalmente separados A primeira década de sua exis tência representa um dos períodos mais proveitosos de colaboração nas ciências comportamentais que já ocorreu em qualquer universidade americana Embo ra Clark Hull fornecesse as bases teóricas para o gru po suas atividades não se centravam primariamente na psicologia experimental Na verdade a antropolo gia social o estudo dos aspectos sociais dos humanos em sociedades nãoalfabetizadas contribuiu com ele mentos importantes para a estrutura intelectual do grupo e havia um profundo interesse pela teoria psi canalítica que contribuiu para muitas das idéias teóri cas e de pesquisa dos membros do grupo Durante o período de dez anos um grupo excepcional de jovens recebeu treinamento como alunos de graduação ou membros da equipe e essa experiência parece ter exer cido uma influência profunda e duradoura Entre os membros notáveis do grupo estavam Judson Brown John Dollard Ernest Hilgard Carl Hovland Donald Marquis Neal Miller O H Mowrer Robert Sears Kenneth Spence e John Whiting Foi o Instituto de Relações Humanas dirigido por Mark May infundido com as idéias de Clark Hull e vitalizado pelo trabalho produtivo dos indivíduos recémmencionados que resultou nos desenvolvimentos que examinamos nes te capítulo HISTÓRIAS PESSOAIS Essa teoria representa os esforços de dois indivíduos sofisticados na investigação clínica e de laboratório para modificar e simplificar a teoria de reforço de Hull e fazer com que ela pudesse ser usada fácil e efetiva mente para lidar com eventos do interesse do psicólo go social e clínico Os detalhes da teoria originaram se não só das formulações de Hull mas também da teoria psicanalítica e dos achados e das generaliza ções da antropologia social Como veremos o concei to de hábito que representa uma conexão ER está vel é crucial para essa posição De fato a maior parte da teoria busca especificar as condições em que os hábitos se formam e dissolvemse O número relativa mente pequeno de conceitos empregados para esse propósito tem sido usado com grande engenhosidade pelos autores para explicar fenômenos de interesse central para o clínico como repressão deslocamento e conflito Em muitos casos os autores tentaram deri var dos textos psicanalíticos e da observação clínica um conhecimento maior do comportamento que por sua vez incorporaram aos seus conceitos de ER As sim uma boa parte da aplicação da teoria consiste na tradução da observação geral ou em formulações te óricas vagas nos termos mais assépticos da teoria de ER Embora a tradução não seja em si mesma uma meta particularmente importante esse esforço fre qüentemente possibilitou novos insights e predições referentes a eventos empíricos nãoobservados e es sas funções representam a ordem mais elevada de contribuição teórica Em alguns aspectos John Dollard e Neal Miller apresentam contrastes surpreendentes em outros seus backgrounds mostram grande semelhança Eles são diferentes no sentido de que Miller adiantou idéi as e achados importantes principalmente no domínio da psicologia experimental e Dollard fez contribui ções antropológicas e sociológicas significativas En tretanto ambos foram profundamente influenciados por suas experiências no Instituto de Relações Huma nas e devem muito a Hull e Freud Talvez a fertilida de de sua colaboração derivese desse núcleo comum de convicções sobre o qual ambos erigiram bases empíricas e teóricas únicas John Dollard nasceu em Menasha Wisconsin em 29 de agosto de 1900 Ele recebeu um A B da Uni versidade de Wisconsin em 1922 e depois um MA 1930 e um PhD 1931 em sociologia da Universi dade de Chicago De 1926 a 1929 ele trabalhou como assistente do presidente da Universidade de Chicago Em 1932 aceitou um cargo de professorassistente de antropologia na Universidade de Yale e no ano seguinte tornouse professorassistente de sociologia no recémformado Instituto de Relações Humanas Em 1935 assumiu o cargo de pesquisadorassociado no Instituto e em 1948 pesquisadorassociado e profes sor de psicologia Tornouse professor emérito em 1969 John Dollard morreu em 8 de outubro de 1980 Miller 1982 Ele fez formação psicanalítica no Ber lin Institute e foi membro da Western New England Psychoanalytic Society A convicção e a dedicação pes soais de Dollard à unificação das ciências sociais se reflete não apenas em suas publicações mas também no fato notável de ele ter cargos acadêmicos em an tropologia sociologia e psicologia na mesma univer sidade Devemos observar que sua atividade interdis TEORIAS DA PERSONALIDADE 423 John Dollard 424 HALL LINDZEY CAMPBELL ciplinar ocorreu em uma época na qual as disciplinas individuais eram muito menos receptivas à integra ção do que hoje Dollard escreveu numerosos artigos técnicos nas ciências sociais variando da etnologia à psicoterapia É autor de vários livros que refletem esse mesmo interesse amplo Caste and Class in a Southern Town 1937 é um excelente estudo de campo sobre o papel dos americanos negros em uma comunidade su lista Ele representa um dos primeiros exemplos de análise da cultura e da personalidade Esse estudo foi seguido por um volume relacionado Children of Bon dage 1940 em coautoria com Allison Davis Ele publicou dois volumes sobre a análise psicológica do medo Victory over Fear 1942 e Fear in Battle 1943 e uma significativa monografia sobre o uso de materi al da história de vida Criteria for the life history 1936 Também publicou com Frank Auld e Alice White Steps in Psychotherapy 1953 apresentando um método de psicoterapia e incluindo a descrição detalhada de um tratamento individual e com Frank Auld Scoring Human Motives 1959 Neal E Miller nasceu em Milwaukee Wisconsin em 3 de agosto de 1909 e recebeu seu B S da Univer sidade de Washington em 1931 seu MA da Univer sidade de Stanford em 1932 e seu PhD em psicolo gia da Universidade de Yale em 1935 De 1932 a 1935 Miller trabalhou como assistente em psicologia no Instituto de Relações Humanas e em 19351936 via jou para o Social Science Research Council e aprovei tou para fazer formação em psicanálise no Instituto de Psicanálise de Viena De 1936 a 1940 ele foi ins trutor e mais tarde professorassistente no Instituto de Relações Humanas Tornouse pesquisadorassoci ado e professorassociado em 1941 De 1942 a 1946 dirigiu um projeto de pesquisa psicológica para a For ça Aérea do Exército Em 1946 ele voltou à Universi dade de Yale assumindo o cargo de professor de psi cologia James Rowland Angell em 1952 Ele continuou em Yale até 1966 quando se tornou professor de psi cologia e chefe do Laboratório de Psicologia Fisiológi ca da Universidade de Rockfeller Além de sua colabo ração com John Dollard Miller é muito conhecido na psicologia por seu cuidadoso trabalho experimental e teórico sobre a aquisição de impulsos a natureza do reforço e o estudo do conflito Sua pesquisa inicial foi puramente comportamentalista mas em meados da década de 50 Miller passou a interessarse pelos me canismos fisiológicos subjacentes aos impulsos e ao reforço e outros fenômenos relacionados Esse traba lho foi detalhadamente apresentado em periódicos e grande parte do trabalho inicial é resumido em três capítulos excelentes de manuais Miller 1944 1951a 1959 O trabalho recente de Miller centrouse na medicina comportamental Miller 1983 e na neuro ciência Miller 1995 O respeito despertado por suas contribuições se reflete nas homenagens que ele tem recebido membro da famosa National Academy of Sci ence presidente da Associação Psicológica Americana 1959 a medalha Warren da Society of Experimental Psychologists 1957 e a Presidents Medal of Science 1965 Em 1939 vários membros da equipe do Instituto de Relações Humanas incluindo Dollard e Miller pu blicaram uma monografia intitulada Frustration and Agression Dollard Doob Miller Mowrer Sears 1939 Esse foi um exemplo inicial e interessante do tipo de aplicação com o qual estamos preocupados neste capítulo Os autores tentaram analisar a frus tração e suas conseqüências em termos dos conceitos de ER Em sua monografia eles apresentam uma for mulação sistemática dessa posição juntamente com uma quantidade considerável de novas investigações e predições referentes a eventos a serem observados Esse trabalho não só ilustra a integração de conceitos de ER formulações psicanalíticas e evidências antro pológicas mas também fornece evidências das vanta gens dessa união e levou a uma série de outros estu dos empíricos relacionados Miller e Dollard escreveram juntos dois volumes representando a ten tativa de aplicar uma versão simplificada da teoria de Hull aos problemas do psicólogo social Social Lear ning and Imitation 1941 e aos problemas do psicólo go clínico ou da personalidade Personality and Psycho therapy 1950 É principalmente o conteúdo dos volumes especialmente do último que constitui a base da seguinte exposição O núcleo da posição de ambos é uma descrição do processo de aprendizagem Na seguinte passagem Miller e Dollard expressam claramente sua idéia ge ral desse processo e seus elementos constituintes O que então é a teoria da aprendizagem Em sua forma mais simples é o estudo das circuns tâncias em que uma resposta e um estímulopista tornamse conectados Depois que a aprendiza gem se completou a resposta e a pista ficam uni TEORIAS DA PERSONALIDADE 425 das de tal maneira que o aparecimento da pista evoca a resposta A aprendizagem ocorre de acordo com princípios psicológicos definidos A prática nem sempre faz a perfeição A conexão entre uma pista e uma resposta só pode ser refor çada em certas condições O aprendiz precisa ser levado a dar a resposta e recompensado por ter respondido na presença da pista Isso pode ser expresso de uma maneira simples dizendose que para aprender a pessoa precisa querer alguma coisa notar alguma coisa e conseguir alguma coi sa Colocando de forma mais exata esses fatores são impulso pista resposta e recompensa Tais elementos do processo de aprendizagem foram cuidadosamente explorados e descobriramse novas complexidades A teoria da aprendizagem tornouse um corpo de princípios firmemente unidos úteis para descrever o comportamento humano 1941 p 12 Os princípios de aprendizagem que Dollard e Mi ller aplicaram à vida cotidiana foram descobertos em investigações controladas de laboratório em geral envolvendo animais como sujeitos O conhecimento desses princípios de laboratório bem como de certas noções teóricas relacionadas é portanto importante para um entendimento de sua teoria da personalida de Uma descrição de um experimento hipotético padronizado de acordo com os estudos pioneiros de Miller e seus colegas Miller 1948 Brown Jacobs 1949 e uma análise teórica de seu resultado servi rão como um meio de introduzir o background neces sário UM EXPERIMENTO ILUSTRATIVO Nesse experimento hipotético cada sujeito o sempre presente rato de laboratório é colocado em uma cai xa retangular com um piso de grade A caixa é dividi da em dois compartimentos quadrados por um muro ou obstáculo sobre o qual o rato pode pular facilmen te Soa uma campainha e simultaneamente uma des Neal E Miller 426 HALL LINDZEY CAMPBELL carga elétrica é enviada através do piso de grade O choque elétrico é omitido com sujeitos de controle Podemos esperar que o animal mostre uma variedade de respostas vigorosas ao choque e eventualmente escale o obstáculo passando para o outro comparti mento O aparelho é preparado de tal maneira que assim que o sujeito passa por cima do obstáculo que divide o compartimento a campainha e o choque são suspensos Nos 60 minutos seguintes esse procedi mento é repetido a intervalos irregulares e observa se que o tempo entre o início da campainha e do cho que e a resposta do sujeito de pular o obstáculo tornase progressivamente mais curto No dia seguin te cada sujeito é novamente colocado na caixa por uma hora Durante a sessão a campainha é periodi camente acionada e continua tocando até que o ani mal passe para o outro compartimento mas nunca é acompanhada pelo choque Apesar da ausência do choque o sujeito continua pulando sobre o obstáculo sempre que a campainha soa e pode inclusive conti nuar melhorando seu desempenho Após várias sessões similares é introduzido um novo aspecto no aparelho Pular o obstáculo já não é mais seguido pela cessação da campainha Mas se o rato pressiona uma alavanca acoplada à base do obs táculo a campainha é desligada Novamente obser vase que os animais apresentam uma atividade vigo rosa grandemente limitada a pular de um lado para outro do obstáculo Ao moverse assim o rato talvez pressione a alavanca Gradualmente pular o obstácu lo começa a desaparecer e o tempo entre o início da campainha e a pressão na alavanca também vai dimi nuindo cada vez mais Finalmente a pressão ocorre prontamente assim que soa a campainha O compor tamento desses sujeitos contrasta acentuadamente com os animaiscontrole que não levaram choques e não manifestaram nenhuma mudança sistemática se melhante em seu comportamento em qualquer uma das sessões experimentais Obviamente como resul tado dos emparelhamentos campainhachoque os su jeitos experimentais aprenderam ou adquiriram no vas respostas ao passo que os sujeitoscontrole não Na verdade ocorreram vários tipos de aprendiza gem O primeiro é o condicionamento clássico a forma de aprendizagem originalmente descoberta por Pavlov O condicionamento clássico envolve um procedimen to em que um estímulo inicialmente neutro estímulo condicionado ou EC é emparelhado com um estímulo incondicionado EI que provoca regularmente um padrão característico de comportamento a resposta incondicionada RI Após repetidos emparelhamen tos de ECEI o EC apresentado sozinho ou em ante cipação ao EI estimula uma reação característica co nhecida como a resposta condicionada RC Tipica mente a RC é semelhante à RI embora raramente idêntica Um esboço do condicionamento clássico que ocor reu em nosso experimento ilustrativo segundo a teo ria de Miller é apresentado na Figura 131 ver adi ante Entretanto considere primeiro as conseqüências do choque em si Entre o EI observável choque e o comportamento manifesto remoc que ele produz ocorre um encadeamento de eventos internos O cho que provoca várias respostas internas associadas à dor simbolizadas aqui como remoc Essas remoc originam por sua vez um padrão interno de estímulos Além de ter a mesma capacidade das fontes externas de esti mulação de acionar ou ser uma pista para novas res postas os estímulos internos conseqüentes à remoc te riam propriedades de drive B e portanto são identificados como estímulos drive ou ED O drive é um conceito motivacional no sistema hulliano e impele ou ativa o comportamento mas não determina sua direção Neste exemplo o drive é um impulso nato ou primário baseado na dor Existem é claro vários drives primários além da dor tais como fome sede e sexo Os últimos exemplos ao contrário da dor são estados de privação provocados pela re tenção de algum tipo de estímulo como o alimento e reduzidos pelo oferecimento do estímulo apropriado ao organismo em vez de pela remoção de uma esti mulação desagradável Na verdade Miller postula que qualquer estímulo interno ou externo se suficiente mente intenso evoca um drive e impele à ação Como implica essa declaração os drives diferem em força e quanto mais forte o drive mais vigoroso ou persisten te o comportamento que ele energiza Em nosso ex perimento por exemplo o vigor do comportamento abertamente observável que ocorre nos sujeitos em resposta ao EI e mais tarde da resposta aprendida de pular o obstáculo é influenciado pelo nível de choque dado Inicialmente a campainha não provoca nenhum dos comportamentos emocionais associados ao cho que Mas após repetidas apresentações da campai nha com o choque ela obtém a capacidade de eliciar TEORIAS DA PERSONALIDADE 427 remoc internas semelhantes àquelas originalmente evo cadas pelo EI doloroso uma resposta condicionada RC foi adquirida No sistema hulliano utilizado por Dollard e Miller a aprendizagem que ocorreu é des crita como uma conexão associativa entre o estímulo condicionado campainha e a resposta remoc e é representada pelo conceito teórico de hábito Como discutiremos adiante com mais detalhes Hull postu lou que para que um hábito seja estabelecido o estí mulo e a resposta não só precisam ocorrer próximos temporal e espacialmente mas a resposta também deve ser acompanhada por um reforço ou recompen sa Supondose que a última condição seja satisfeita a força do hábito ER aumenta com o número de oca siões em que o estímulo e a resposta ocorreram juntos As repetidas apresentações da campainha e do choque na primeira sessão do nosso experimento em que a fuga do sujeito do choque age como o reforço são suficientes para estabelecer um hábito relativa mente forte Uma vez que a remoc classicamente con dicionada foi estabelecida a apresentação da campa inha sozinha não só provoca a remoc mas também aciona o resto da cadeia de eventos originalmente associados à administração do choque Assim o pa drão distintivo de estimulação interna ED será desper tado e em combinação com a campainha vai agir como uma pista para provocar comportamentos ma nifestos semelhantes aos previamente evocados pelo choque Ademais essas respostas observáveis são ener gizadas ou ativadas pelas propriedades de drive do ED Uma vez que o drive é provocado por uma respos ta aprendida a um estímulo previamente neutro ele é identificado como um drive adquirido ou secundário ao contrário do drive primário evocado por respostas à estimulação dolorosa Para distinguir entre a seqüência remoc ED elici ada pelo choque e a seqüência classicamente condici onada eliciada pela campainha a última é chamada de ansiedade ou medo Assim o medo é tanto uma resposta aprendida a forma condicionada da respos ta de dor para usar a expressão de Mowrer quanto um drive aprendido ou secundário Mas como dissemos os sujeitos experimentais aprenderam mais do que essas reações de medo Du rante a primeira sessão eles aprenderam rapidamen te a pular sobre o obstáculo assim que a campainha e o choque eram apresentados mesmo que inicialmen te a estimulação provocasse uma variedade de res postas vigorosas das quais pular o obstáculo não era a mais proeminente A chave para sabermos por que essa resposta dominou as outras está nas suas conse qüências só pular o obstáculo era seguido pelo térmi no do choque e pela cadeia de eventos internos que ele provocava Embora haja exceções os eventos que reduzem ou eliminam os estímulos drive tipicamente reforçam ou aumentam a probabilidade de apareci mento de qualquer resposta que eles regularmente acompanham e são chamados de reforços Inversa mente as respostas nãoacompanhadas por eventos que reduzem os estímulos drive não tendem a se re petir Uma vez que apenas pular o obstáculo era se guido pelo reforço término do choque essa respos ta foi reforçada em vez das outras O desenvolvimento da capacidade da combina ção campainhachoque de eliciar o pular o obstáculo é um exemplo de um tipo de aprendizagem em que ao contrário do condicionamento clássico a ocorrên cia do reforço é contingente à resposta ter sido dada a resposta é instrumental para produzir o evento re forçador O tipo de aprendizagem que ocorre nessas FIGURA 131 Análise teórica dos processos envolvidos no condicionamento clássico de uma resposta emocional com base na dor 428 HALL LINDZEY CAMPBELL condições é chamado de instrumental ou nas pala vras de Skinner condicionamento operante Durante a primeira sessão do nosso experimento dois tipos de resposta foram aprendidos a resposta de medo clas sicamente condicionada e a resposta instrumental de pular o obstáculo que fazia cessar o EI reforçando assim pela redução do drive ambas as respostas Após a primeira sessão o choque foi descontinu ado e apenas a campainha foi usada Uma vez que não foi dado nenhum choque a cessação do choque não ocorreu mais O procedimento em que os refor ços usados para estabelecer uma resposta são retira dos é conhecido como extinção experimental e pro duz tipicamente uma rápida redução na força da resposta aprendida Por exemplo os ratos famintos que aprenderam a realizar um ato instrumental espe cífico para obter comida deixam rapidamente de dar a resposta depois que a comida é descontinuada Mas a cessação do choque no nosso experimento não le vou ao desaparecimento da resposta de pular o obstá culo ou teoricamente da remoc para muitos sujei tos a resposta inclusive continuou aumentando em força conforme indicado por um decréscimo no tem po de resposta com sucessivas apresentações da cam painha Miller sugere que tal procedimento de extin ção leva a pouco ou nenhum enfraquecimento das respostas aprendidas porque na verdade elas conti nuam a ser reforçadas O EC não provoca a dor e sim a seqüência de medo aprendida e é isso que ativa o hábito instrumental subjacente ao pular o obstáculo A ocorrência da resposta instrumental desliga a cam painha e os estímulos drive associados ao medo são portanto reduzidos em intensidade Assim tanto a reação de medo classicamente condicionada quanto o pular instrumental do obstáculo continuam a ser reforçados Mas a extinção experimental da resposta de pular o obstáculo realmente ocorreu quando ela se tornou ineficaz para terminar a campainha e o medo que esta eliciava Aprisionados por esse medo os animais aprenderam então a nova resposta efetiva de pressio nar a alavanca Assim os sujeitos só continuaram dan do a resposta que lhes permitira no passado escapar ao estímulo doloroso enquanto ela continuou permi tindo que eles reduzissem o medo Quando as condi ções mudaram eles aprenderam uma nova resposta instrumental motivada pelo drive de medo aprendi do e reforçada pela redução do medo Os experimentos com planejamento semelhante indicaram que as respostas instrumentais que permi tem a um sujeito evitar ou escapar de um EC ansiogê nico podem enfraquecer lentamente com sucessivas apresentações deste último Mas se tivesse havido um número substancial de apresentações de ECEI durante o período inicial de treinamento ou se o EI desagra dável tivesse sido intenso a resposta instrumental poderia continuar com pouca ou nenhuma redução visível em sua força por centenas de apresentações do EC Miller 1948 Dollard e Miller indicaram uma forte analogia entre o animal experimental que continua se assustando com eventos inofensivos como o som de uma campainha e os medos e as ansiedades neuróti cas irracionais que podem ser observados nos sujeitos humanos Se o observador tiver visto o processo de aprendizagem inicial não existe nada de misterioso no medo que o animal tem da campainha e em seus esforços para escapar se o observador tiver visto o processo de aprendizagem que precedeu o sintoma neurótico não existe nada de surpreendente ou ab surdo na forma de comportamento do sujeito huma no É só quando o observador entra em cena depois que o medo foi aprendido que o comportamento do sujeito parece estranho ou irracional Um outro princípio de aprendizagem muito utili zado por Dollard e Miller em sua teoria da personali dade pode ser ilustrado por uma variação no procedi mento do nosso experimento hipotético Após uma primeira sessão em que ocorrem os emparelhamen tos campainhachoque é realizada uma segunda ses são em que apenas a campainha é apresentada Mas agora os sinais da campainha variam em intensidade às vezes sendo iguais ao das primeira sessão e outras vezes mais altos ou mais baixos do que durante o trei namento No início do sinal da campainha os sujeitos pulam o obstáculo quando o som tem a mesma inten sidade que originalmente fora emparelhada com o choque Mas eles também tendem a responder aos outros sons com a força da tendência de resposta es tando inversamente relacionada à semelhança da in tensidade da campainha com a utilizada na primeira sessão Esses comportamentos ilustram um gradiente de generalização de estímulo quando um estímulo se tornou capaz de provocar uma resposta por ser em parelhado com um estímulo incondicionado outros estímulos terão automaticamente adquirido essa ca pacidade em certo grau dependendo de sua seme TEORIAS DA PERSONALIDADE 429 lhança com o estímulo original Um fenômeno relaci onado mais difícil de demonstrar concretamente é a generalização de resposta um estímulo adquire a ca pacidade de eliciar não apenas a resposta que tipica mente se seguiu a ele mas também algumas respos tas semelhantes Foi dito que sem a capacidade de generalização de estímulo e resposta os organismos apresentariam pouca ou nenhuma aprendizagem Embora por con veniência muitas vezes falemos no mesmo estímu lo ocorrendo novamente e eliciando a mesma res posta raramente se é que alguma vez os indivíduos se deparam com exatamente a mesma situaçãoestí mulo em duas ou mais ocasiões e as respostas nunca são completamente idênticas Mesmo em experimen tos meticulosamente controlados é mais exato dizer que é apresentada uma classe de estímulos que pro voca a capacidade de evocar uma classe de respostas Foi demonstrado todavia que os gradientes de generalização se estendem além dos limites da varia ção de estímulo e resposta da situação de treinamen to a força da tendência de generalização estando re lacionada não só ao grau de semelhança com a situação original de aprendizagem mas também com fatores como a quantidade de aprendizagem original e a in tensidade do drive que está por trás da resposta En tretanto o gradiente de generalização pode ser limi tado pelo reforço diferencial Continuando com o nosso experimento ilustrativo dar um choque no ani mal sempre que a campainha com a intensidade ori ginal for apresentada e omitir o choque sempre que a intensidade for diferente levará gradualmente à ex tinção do pular o obstáculo com todos os estímulos com exceção do de treinamento O procedimento le vou à diferenciação de estímulo Como esse relato deixa claro o destino da cone xão estímuloresposta é profundamente influenciado pelo resultado das respostas os eventosestímulo que se seguem imediatamente Certos eventos resultantes reforçam a conexão isto é aumentam a probabilida de de que a resposta ocorra mais vigorosamente ou rapidamente na próxima ocasião em que o estímulo for apresentado Esses eventos são classificados como reforços positivos ou recompensas Nós também vi mos que a cessação de outros tipos de eventos geral mente desagradáveis também pode reforçar respos tas Dollard e Miller procuravam princípios gerais que lhes permitissem determinar se um dado estímulo deveria ser considerado um reforço Seguindo Hull 1943 eles sugeriram uma hipótese de redução de drive que afirma que um evento que resulta em uma súbita redução dos estímulos drive recompensa ou reforça qualquer resposta concomitante No que Mil ler 1959 descreve como sua forma mais forte a hi pótese de redução de drive afirma também que a re dução dos estímulos drive não é apenas uma condição suficiente para que ocorra o reforço é também uma condição necessária A versão forte da hipótese de redução de drive adotada por Dollard e Miller implica que a aprendiza gem de uma associação de ER ou hábito só vai ocor rer se a resposta for reforçada A hipótese de que o reforço é necessário para que ocorra a aprendizagem gerou considerável controvérsia Alguns teóricos como Guthrie 1959 insistiram que a mera contigüidade de um estímulo e resposta é suficiente outros formu laram teorias de dois fatores em que é proposto que alguns tipos de aprendizagem requerem reforço além de contigüidade enquanto outros não ver p ex Mowrer 1947 Spence 1956 Tolman 1949 A suposição de que a redução dos estímulos drive tem um efeito de reforço também foi criticada O pró prio Miller indicou em várias ocasiões ver Miller 1959 que embora ele considerasse a hipótese de redução de drive mais atraente do que qualquer uma das hipóteses rivais existentes ele não confiava mui to que ela estivesse correta Ele apresentou em várias tentativas o que considerava uma alternativa plausí vel à hipótese de redução de drive Miller 1963 Pode haver no cérebro sugere ele um ou mais mecanis mos ativadores ou de siga que são acionados por eventos que resultam na redução do estímulo drive Esses mecanismos ativadores intensificam ou energi zam respostas eliciadas pelas pistasestímulo e essas respostas vigorosas são aprendidas com base na pura contigüidade A ativação de um mecanismo de siga é em si mesma uma resposta e como outras respos tas também pode ser condicionada pela contigüida de Assim um estímulo previamente neutro pode ad quirir a capacidade de acionar um mecanismo de siga em virtude de ter ocorrido previamente em conjunção com a ativação do mecanismo Dollard e Miller sugeriram que os principais ar gumentos em sua análise de ER da personalidade não são afetados por suas hipóteses específicas sobre re forço de modo que é possível aceitar os aspectos es 430 HALL LINDZEY CAMPBELL senciais da sua teoria sem aceitar tais especulações Tudo o que é necessário afirmam eles é supor que os eventos que resultam em uma súbita redução dos es tímulos drive reforçam as respostas com as quais eles são contíguos no sentido de tornar esses atos mais prepotentes Uma vez que as evidências experimen tais demonstram que os estímulos redutores do drive realmente têm efeitos reforçadores com poucas ex ceções possíveis essa suposição deveria ser facilmen te aceita A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE Dollard e Miller têm demonstrado bem menos inte resse pelos elementos estruturais ou relativamente imutáveis da personalidade do que pelo processo de aprendizagem e desenvolvimento da personalidade Uma vez que os aspectos estruturais não são enfatiza dos que conceitos eles empregam para representar as características estáveis e duradouras da pessoa O hábito é o conceitochave na teoria da aprendizagem adotada por Dollard e Miller Um hábito como vimos é uma ligação ou associ ação entre um estímulo pista e uma resposta Os hábitos ou as associações aprendidas podem se for mar não só entre estímulos externos e respostas ma nifestas mas também entre estímulos internos e res postas internas A maior parte da teoria busca especificar as condições em que os hábitos são adqui ridos extintos ou substituídos com pouca ou nenhu ma especificação de classes de hábitos ou listas das principais variedades de hábitos das pessoas Embora a personalidade consista primariamente em hábitos sua estrutura específica dependerá dos eventos únicos aos quais o indivíduo esteve exposto Além disso essa é uma estrutura apenas temporária os hábitos de hoje podem se alterar como resultado da experiência de amanhã Dollard e Miller conten tamse em especificar os princípios que governam a formação dos hábitos e deixam para os clínicos ou investigadores a tarefa de especificar os hábitos que caracterizam cada pessoa Mas eles se preocupam ao máximo em enfatizar que uma classe importante de hábitos dos seres humanos é provocada por estímulos verbais sejam eles produzidos pelas próprias pessoas ou por outros e que as respostas também são freqüen temente de natureza verbal Também devemos salientar que alguns hábitos podem envolver respostas internas que por sua vez eliciam estímulos internos com características de dri ve Já examinamos o medo como um exemplo de um drive aprendido produzido por uma resposta Estes drives secundários também devem ser considerados porções duradouras da personalidade Os drives se cundários e as conexões ER inatas também contribu em para a estrutura da personalidade Mas tipicamen te eles não somente são menos importantes no comportamento humano do que os drives secundári os e outros tipos de hábitos mas também definem o que os indivíduos têm em comum como membros da mesma espécie em vez de sua singularidade A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Dollard e Miller são explícitos em definir a natureza da motivação e eles especificam em consideráveis detalhes o desenvolvimento e a elaboração dos moti vos mas novamente não se interessam pela taxono mia ou classificação Em vez disso eles se centram em certos motivos importantes como a ansiedade Nessa análise eles tentam ilustrar o processo geral que operaria para todos os motivos O efeito dos drives sobre o sujeito humano é com plicado pelo grande número de drives derivados ou adquiridos que eventualmente aparecem No proces so de crescimento o indivíduo típico desenvolve um grande número de drives secundários que servem para instigar o comportamento Estes drives aprendidos são adquiridos com base nos drives primários repre sentam elaborações deles e servem como uma facha da por trás da qual se escondem as funções dos drives inatos subjacentes Dollard Miller 1950 p 3132 Na sociedade moderna típica a estimulação dos drives secundários substitui em grande parte a função original da estimulação dos drives primários Os dri ves adquiridos como ansiedade vergonha e o desejo de agradar impelem a maioria das nossas ações Sen do assim a importância dos drives primários na mai oria dos casos não fica clara em uma observação ca sual do adulto socializado É só no processo de desenvolvimento ou em períodos de crise o fracasso TEORIAS DA PERSONALIDADE 431 dos modos de adaptação culturalmente prescritos que podemos observar claramente a operação dos drives primários Também deve estar óbvio que muitos dos refor ços na vida cotidiana dos sujeitos humanos não são primariamente recompensas mas eventos original mente neutros que adquiriram valor de recompensa por terem sido consistentemente experienciados em conjunto com o reforço primário O sorriso de uma mãe por exemplo tornase uma poderosa recompen sa secundária ou adquirida para o bebê por sua repe tida associação com alimentação troca de fraldas e outras atividades de cuidados que trazem prazer ou removem o desconforto físico As recompensas secun dárias muitas vezes servem sozinhas para reforçar o comportamento Mas a sua capacidade de reforçar não se mantém indefinidamente a menos que elas conti nuem ocorrendo em ocasional conjunto com o refor ço primário Como essas mudanças ocorrem nos leva à questão geral do desenvolvimento da personalida de O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE A transformação do simples bebê no complexo adulto é uma questão de pouco interesse para alguns teóri cos mas esse processo é elaborado por Dollard e Mi ller Nós apresentaremos o tratamento que eles dão ao problema começando com uma breve considera ção do equipamento inato do bebê e depois discutin do a aquisição de motivos e o desenvolvimento dos processos mentais superiores Além disso considera remos brevemente a importância do contexto social do comportamento e dos estágios desenvolvimentais Equipamento Inato No nascimento e logo depois o bebê possui um equi pamento comportamental muito limitado Primeiro ele possui um pequeno número de reflexos específicos que são em geral respostas segmentais a um estímu lo ou classe de estímulos altamente específicos Se gundo ele possui algumas hierarquias inatas de res posta que são tendências de aparecimento de certas respostas em vez de outras em situaçõesestímulo específicas por exemplo pode estar inatamente de terminado que quando exposta a certos estímulos desagradáveis a criança primeiro tentará escapar dos estímulos antes de chorar Essa suposição implica que o assim chamado comportamento aleatório não é ale atório e sim determinado por preferências de respos ta que no início do desenvolvimento do organismo resultam principalmente de fatores inatos e que com o desenvolvimento são influenciadas por uma com plexa mistura da experiência com as hierarquias ina tas Terceiro o indivíduo processa uma série de drives primários que como já vimos são normalmente estí mulos internos de grande força e persistência e habi tualmente ligados a processos fisiológicos conhecidos Assim inicialmente temos um indivíduo capaz de poucas respostas relativamente segmentais ou dife renciadas a estímulos específicos Esse indivíduo tam bém possui um grupo de drives primários que em certas condições orgânicas o impelem a agir ou a com portarse mas não dirigem essa atividade A única orientação inicial de respostas originase de uma hie rarquia inata de tendências de resposta que impõem um controle grosseiro ou geral sobre a ordem em que determinadas respostas aparecerão em situações es pecificadas Dado esse estado inicial a nossa teoria precisa explicar 1 a extensão das presentes respos tas a novos estímulos ou situaçõesestímulo 2 o desenvolvimento de novas respostas 3 o desenvol vimento de motivos novos ou derivados e 4 a extin ção ou a eliminação de associações existentes entre estímulos e respostas Dollard e Miller acreditam que tudo isso pode ser compreendido recorrendose aos princípios de aprendizagem O Processo de Aprendizagem Nós observamos que Dollard e Miller sugeriram que existem quatro elementos conceituais importantes no processo de aprendizagem drive pista resposta e re forço Vamos agora expandir alguns dos nossos co mentários anteriores sobre esses conceitos Uma pista é um estímulo que orienta a resposta do organismo ao dirigir ou determinar a natureza exata da resposta Elas determinam quando ele vai respon der onde ele vai responder e qual resposta ele vai dar Dollard e Miller 1950 p 32 E podem variar em tipo ou intensidade Assim existem pistas visuais e auditivas mas existem também tênues lampejos de 432 HALL LINDZEY CAMPBELL luz e lampejos cegantes de luz Existem pistas auditi vas associadas ao som de uma campainha e pistas auditivas associadas às cordas vocais humanas mas também existem sons de campainha suaves quase imperceptíveis bem como sons de campainha estron dosos e estridentes A função de pistas dos estímulos pode estar associada à variação da sua intensidade ou tipo embora na maioria dos casos sua variação de tipo atenda a essa função Qualquer qualidade que torne o estímulo distintivo serve de base para as pis tas e normalmente a capacidade de distinção baseia se mais facilmente na variação de tipo e não de inten sidade Os estímulos podem operar como pistas não só isoladamente mas também em combinação Isto é a distintividade talvez dependa não da diferença nos estímulos individuais e sim do padrão ou da combi nação de vários estímulos diferentes por exemplo as mesmas letras individuais podem ser usadas em dife rentes combinações para escrever duas ou mais pala vras que terão efeitos completamente diferentes so bre o leitor Nós já sugerimos que qualquer estímulo também pode se tornar um drive se for suficientemente intenso Assim o mesmo estímulo pode ter valor de drive e de pista ele pode ao mesmo tempo provocar e dirigir o comportamento Um papel extremamente importante no processo de aprendizagem deve ser atribuído aos fatores de res posta Conforme Dollard e Miller salientam antes que uma dada resposta possa ser vinculada a uma deter minada pista ela precisa ocorrer Portanto um está gio crucial na aprendizagem do organismo é a produ ção da resposta apropriada Em qualquer situação dada certas respostas serão mais prováveis do que outras Essa ordem de preferência ou probabilidade de resposta quando a situação se apresenta pela pri meira vez é referida como a hierarquia inicial de res postas Se a hierarquia inicial parece ter ocorrido na ausência de qualquer aprendizagem ela pode ser cha mada de hierarquia inata de respostas que já mencio namos como parte do equipamento primitivo do indi víduo Depois que a experiência e a aprendizagem influenciaram o comportamento do indivíduo nessa situação a ordem derivada de respostas é chamada de hierarquia resultante Esses conceitos simplesmen te nos lembram de que em qualquer ambiente as res postas potenciais que um indivíduo pode apresentar têm uma probabilidade diferente de ocorrer e podem ser classificadas em termos dessa probabilidade Com o desenvolvimento a hierarquia de resposta tornase intimamente associada à linguagem porque respostas específicas ficam vinculadas a palavras e dessa forma a fala pode mediar ou determinar a hie rarquia específica que vai operar Assim a mesma si tuação referida como perigosa ou divertida evo cará hierarquias de resposta bem diferentes A hierarquia específica apresentada também é profun damente influenciada pela cultura em que o indiví duo foi socializado pois cada cultura tem respostas preferidas ou mais prováveis em situações de impor tância social Uma vez que a resposta tenha sido dada seu des tino subseqüente é determinado pelos eventos que se seguem à sua ocorrência As respostas que consegui rem provocar reforço primário ou secundário terão uma probabilidade maior de ocorrer novamente da próxima vez em que a situação for encontrada Mui tas vezes surge uma situação em que nenhuma das respostas do indivíduo será reforçadora Essas ocor rências não só levam ao abandono ou extinção do comportamento ineficiente mas também desempe nham um papel crucial no desenvolvimento de novas respostas e uma variedade maior de comportamentos adaptativos Esses dilemas de aprendizagem confor me chamados por Dollard e Miller precisam de novas respostas ou invocam outras que estão mais distantes na sua hierarquia e esse é o dilema de aprender no vas respostas Se as respostas antigas do indivíduo são perfeitamente adequadas para reduzir todas as suas tensões de drives não há razão para produzir novas respostas e seu comportamento não se modifica Drive Secundário e o Processo de Aprendizagem Já vimos que o bebê nasce com uma variedade limita da de drives primários que com o crescimento e a experiência se transformam em um sistema comple xo de drives secundários Os processos de aprendiza gem subjacentes à aquisição dos drives secundários são de modo geral os mesmos e já foram ilustrados em nossa apresentação anterior de um experimento em que foi adquirido o drive aprendido de medo ou ansiedade Vamos voltar brevemente a uma conside ração dos processos pelos quais se desenvolvem esses drives TEORIAS DA PERSONALIDADE 433 Os estímulos fortes como um choque podem pro vocar respostas internas intensas que por sua vez também produzem estímulos internos Os estímulos internos agem como pistas para orientar ou controlar as respostas subseqüentes e servem como um drive que ativa o organismo e mantém a pessoa ativa até que ocorra um reforço ou algum outro processo como a fadiga intervenha As respostas manifestas que re sultam no reforço são aquelas que serão aprendidas Uma pista previamente neutra que ocorreu regular mente em conjunção com um estímulo produtor de drive podese tornar capaz de provocar parte das res postas internas inicialmente só eliciadas pelo drive As respostas internas aprendidas passam a acionar automaticamente estímulos drives Foi estabelecido um drive secundário que vai motivar o organismo a uma nova aprendizagem que leva ao reforço exatamente como os drives primários Dollard e Miller afirmam que a força das respos tas internas aprendidas que acionam estímulos dri ves e portanto o próprio drive adquirido é uma fun ção dos mesmos fatores que determinam a força da conexão ER ou hábito Assim a intensidade do drive primário envolvido no reforço que leva à resposta in terna produtora de drive e o número e o padrão de tentativas reforçadas são determinantes importantes da sua intensidade Se no nosso experimento ilustra tivo são empregados um choque leve e poucas tenta tivas o rato vai desenvolver um medo bem menor da campainha do que se empregarmos um choque forte e uma longa série de tentativas O gradiente de gene ralização de estímulo também se aplica A resposta de medo vaise generalizar para pistas que se asseme lham à pista aprendida com as pistas mais parecidas sendo as mais temidas Em geral as situações em que a resposta produtora de drive não é seguida por refor ço levarão gradualmente à extinção da resposta Ela também pode ser eliminada por um processo conhe cido como contracondicionamento em que uma res posta incompatível é condicionada à mesma pista Se por exemplo um estímulo produtor de medo é empa relhado com um evento agradável como comer ele pode perder sua capacidade de agir como um estímu lo condicionado para a reação de medo pelo menos se o medo for relativamente leve e tornarse em vez disso uma pista para a resposta de comer Os estímulos associados aos drives adquiridos po dem servir como pistas como qualquer outro estímu lo O indivíduo pode aprender a responder com a pa lavra medo em situações que evocam medo isto é a rotular o drive secundário e esta pista produzida pela resposta vai então mediar para a presente situa ção a transferência de respostas aprendidas na situa ção original que produziu medo Essa transferência envolvendo uma resposta que serve como pista cha mase generalização secundária Os indivíduos podem aprender a discriminar diferentes intensidades de es timulação drive exatamente como no caso de um es tímulo diferente de modo que o valor de pista do dri ve adquirido pode depender da intensidade do drive Resumindo as respostas internas que produzem estímulos drive podem associarse a pistas novas e originalmente neutras segundo os mesmos princípi os de aprendizagem que governam a formação e a dissolução de outros hábitos Os estímulos drive que essas respostas internas condicionadas acionam fun cionam como qualquer outra pista e podem provocar por exemplo respostas que foram aprendidas em ou tras situações em que os mesmos estímulos drive fo ram provocados Finalmente esses estímulos produ zidos por respostas servem como um drive secundário no sentido de que vão instigar ou impelir o organismo a responder e sua redução vai reforçar ou fortalecer as respostas associadas à redução Em outras pala vras os drives secundários operam exatamente como os drives primários Processos Mentais Superiores As interações do indivíduo com o ambiente são de dois tipos as dirigidas e orientadas por uma única pista ou situaçãopista e as mediadas por processos internos É esta última classe de respostas que nos interessa aqui as mediadas pelas respostas produtoras de pistas Seguindo Hull Dollard e Miller distingui ram entre as respostas instrumentais que possuem algum efeito imediato sobre o ambiente e as produ toras de pistas cuja principal função é mediar ou mostrar o caminho para uma outra resposta Obvia mente a linguagem está envolvida na maioria das respostas produtoras de pistas embora não necessa riamente a linguagem falada Uma das mais importantes respostas produtoras de pistas é rotular ou nomear eventos e experiências O indivíduo pode imediatamente aumentar a genera lização ou a transferência entre duas ou mais situa 434 HALL LINDZEY CAMPBELL çõespista ao identificálas como tendo o mesmo ró tulo Por exemplo ao identificar duas situações com pletamente diferentes como ameaçadoras o indiví duo pode aumentar imensamente a probabilidade de se comportar da mesma maneira em ambas as situa ções Ou o indivíduo pode discriminar aguçadamente duas situações semelhantes dandolhes nomes dife rentes por exemplo duas pessoas que são objetiva mente muito parecidas podem ser rotuladas respecti vamente como amiga e inimiga e o indivíduo responderá a elas de maneiras bem diferentes Den tro de qualquer cultura encontramos generalizações e discriminações críticas que são enfatizadas e assim facilitadas pela estrutura da linguagem Esse princí pio é ilustrado pelos exemplos freqüentemente repe tidos de tribos em que um determinado produto como gado ou cocos é muito importante e em que a língua contém um número imenso de rótulos diferenciados para tais objetos As palavras não servem apenas para facilitar ou inibir a generalização mas elas também têm a impor tante função de despertar os drives Ademais as pala vras podem ser usadas para recompensar ou reforçar E mais importante de tudo elas servem como meca nismos de união temporal permitindo que o indiví duo instigue ou reforce os comportamentos presentes em termos de conseqüências que estão localizadas no futuro mas que são suscetíveis à representação ver bal no presente É claramente a intervenção verbal na seqüência drivepistarespostareforço que torna o comportamento humano tão complexo e difícil de compreender e ao mesmo tempo explica grande parte da diferença entre os seres humanos e as espécies in feriores O raciocínio é essencialmente o processo de subs tituir atos manifestos por respostas internas produ toras de pistas Como tal ele é imensamente mais efi ciente do que a tentativa e erro manifestos Ele não só tem a função de testar simbolicamente as várias alter nativas mas também possibilita respostas antecipa tórias que podem ser mais efetivas do que qualquer uma das alternativas de resposta manifesta original mente disponíveis Por meio das respostas produtoras de pistas pensamentos é possível partir da situa çãometa e trabalhar retrospectivamente até identifi car a resposta instrumental correta um feito que nor malmente não seria possível na aprendizagem moto ra O planejamento é uma variedade especial de raci ocínio em que a ênfase está na ação futura Para que ocorram o raciocínio ou o planejamen to o indivíduo precisa primeiro ser capaz de inibir ou atrasar a resposta instrumental direta à pista e ao es tímulo drive É essa inibição que oferece às respostas produtoras de pista uma oportunidade de operar e essa resposta de não responder deve ser aprendida exatamente como qualquer outra resposta nova Tam bém é necessário que as respostas produtoras de pista sejam eficientes realistas e finalmente que levem a atos instrumentais ou manifestos apropriados A capacidade de usar a linguagem e outras pistas produzidas por respostas é grandemente influencia da pelo contexto social em que o indivíduo se desen volve Nas palavras de Dollard e Miller As soluções de problemas penosamente alcança das durante séculos de tentativa e erro e pela ordem superior de raciocínio criativo por gênios raros são preservadas e acumulamse como par te da cultura As pessoas recebem uma imensa quantidade de treinamento social ao juntar pala vras e sentenças de maneiras que conduzam à solução adaptativa de problemas 1950 p 116 É um ato raro e criativo criar o teorema de Pitágoras mas não é uma façanha tão grande assim aprendêlo no momento e no lugar apropriados quando ele já é conhecido Assim a linguagem é o meio pelo qual a sabedoria do passado é transmitida para o presente Em vista da imensa importância da linguagem é muito apropriado que a criança seja treinada para prestar atenção e responder às pistas verbais e even tualmente produzilas O uso de símbolos verbais para a comunicação com outras pessoas presumivelmente precede seu uso no pensamento e grande parte das interações da criança com seu ambiente tem relação com como produzir essas pistas em circunstâncias apropriadas e como entender as que são produzidas pelos outros A linguagem é um produto social Se atribuímos significado ao processo de linguagem parece razoá vel que o meio social no qual o indivíduo funciona tenha importância Vamos examinar agora esse fator TEORIAS DA PERSONALIDADE 435 O Contexto Social É muito provável que qualquer teoria ou teórico in fluenciado pela antropologia social saliente o papel dos determinantes socioculturais do comportamento e a presente teoria não é nenhuma exceção a essa re gra Dollard e Miller enfatizam consistentemente o fato de que o comportamento humano só pode ser compreendido com uma completa apreciação do con texto cultural em que ocorre A psicologia da apren dizagem nos proporciona um entendimento dos prin cípios de aprendizagem mas o antropólogo social ou seu equivalente nos proporciona as condições de apren dizagem E ambas as especificações são igualmente importantes para um pleno entendimento do desen volvimento humano Nenhum psicólogo se arriscaria a predizer o com portamento de um rato sem saber em que braço do labirinto em forma de T a comida ou o choque estão situados É igualmente difícil predizer o com portamento de um ser humano sem conhecer as condições de seu labirinto isto é a estrutura de seu ambiente social A cultura conforme conce bida pelos cientistas sociais é um relato do pla nejamento do labirinto humano do tipo de re compensa envolvida e das respostas que são recompensadas Nesse sentido ela é uma receita para a aprendizagem Essa afirmação é facilmen te aceita quando comparamos sociedades muito variadas Mas inclusive dentro da mesma socie dade os labirintos percorridos por dois indivídu os podem parecer iguais e ser na verdade bem diferentes Nenhuma análise de personalidade de duas pessoas diferentes pode ser acurada se não levar em conta as diferenças culturais isto é diferenças nos tipos de resposta em que foram recompensados Miller Dollard 1941 p 56 Conforme essa passagem implica o teórico da aprendizagem enriquece os dados do antropólogo so cial oferecendo princípios que ajudam a explicar sis tematicamente a importância dos eventos culturais enquanto o antropólogo oferece ao teórico da apren dizagem as informações necessárias para ele ajustar seus princípios à experiência real dos sujeitos huma nos Em certo sentido esse ponto de vista argumenta que a definição empírica das variáveis psicológicas é impossível sem o conhecimento e os dados do antro pólogo Assim a posição de Dollard e Miller concede uma espécie de generalidade transcultural aos princípios da aprendizagem ou pelo menos a alguns deles mas ao mesmo tempo garante e até enfatiza que a forma exata do comportamento apresentado por um dado indivíduo será imensamente influenciada pela socie dade da qual ele é membro Estágios Críticos de Desenvolvimento Dollard e Miller supõem que o conflito inconsciente aprendido na maior parte durante o período de bebê e da infância é a base da maioria dos problemas emo cionais graves posteriores Eles concordam com os teóricos psicanalíticos que as experiências dos primei ros seis anos de vida são determinantes cruciais do comportamento adulto É importante perceber que o conflito neurótico não só é aprendido pela criança mas também é apren dido primariamente como resultado das condições cri adas pelos pais A infeliz capacidade dos pais de pre judicar o desenvolvimento da criança originase em parte do fato de que as prescrições culturais referen tes à criança são contraditórias ou descontínuas e em parte do fato de que a criança durante o período de bebê não está bem equipada para lidar com as exi gências de aprendizagem complexas mesmo que se jam consistentes Assim a sociedade exige que a cri ança seja agressiva em certas situações e submissa em outras situações bem parecidas uma discriminação difícil no melhor dos casos Pior de tudo essa exi gência pode ser feita em um momento em que a cri ança ainda não domina todas as funções simbólicas da linguagem de modo que as discriminações podem simplesmente superar sua capacidade de aprendiza gem com resultante frustração e perturbação emoci onal Um conjunto semelhante de condições esmaga doras pode ocorrer na idade adulta em circunstâncias excepcionais como a guerra Como poderia ser espe rado tais condições freqüentemente levam à neurose Um aspecto crucial da experiência infantil é o ex tremo desamparo da criança É principalmente no período de bebê que ela é mais ou menos incapaz de manipular seu ambiente e assim é vulnerável às de vastações de estímulos drive impelidores e às frustra 436 HALL LINDZEY CAMPBELL ções esmagadoras No processo comum de desenvol vimento a pessoa desenvolve mecanismos para evi tar situações extremamente frustrantes No período de bebê a criança não tem escolha a não ser experi enciálas Não surpreende então que ocorram agudos con flitos emocionais na infância O bebê não apren deu a esperar não conhece as rotinas inescapá veis do mundo a ter esperança e assim assegurar a si mesmo que os momentos bons voltarão e os ruins passarão a raciocinar e a planejar e assim escapar da confusão presente construindo o fu turo de uma maneira controlada Em vez disso a criança é impelida de forma urgente desespera da e sem planejamento vivendo momentos de sofrimento eterno e depois descobrindose subi tamente mergulhada em interminável bemaven turança A criança pequena é necessariamente desorientada confusa tem delírios e alucinações em resumo tem exatamente aqueles sintomas que reconhecemos como psicose no adulto O pe ríodo de bebê na verdade pode ser visto como um período de psicose temporária Os drives sel vagens dentro do bebê o impelem à ação Esses drives não são modificados pela esperança ou pelo conceito de tempo Os processos mentais superi ores o Ego não podem fazer seu trabalho benig no de confortar orientar o esforço e organizar o mundo em uma seqüência planejada O que se foi pode nunca retornar O sofrimento presente pode jamais acabar Essas são as circunstâncias tumul tuadas em que podem ser criados graves conflitos mentais inconscientes Somente quando a crian ça foi ensinada a falar e a pensar em um nível bem elevado é que o impacto do caráter bruto e drástico dessas circunstâncias pode ser reduzido Dollard Miller 1950 p 130131 Consistente com essa visão é a prescrição de que durante os primeiros estágios da vida o principal pa pel dos pais é manter os estímulos drive em um nível baixo Os pais devem ser permissivos gratificadores e devem fazer poucas exigências de aprendizagem até a criança desenvolver habilidades de linguagem Todas as culturas fazem exigências aos indivídu os que vivem dentro delas mas algumas dessas exi gências tendem particularmente a produzir conflitos e perturbação emocional Dollard e Miller identificam quatro situações em que a prescrição cultural confor me interpretada pelos pais tende especialmente a ter conseqüências desastrosas para o desenvolvimento normal a situação de ser alimentado no período de bebê o treinamento esfincteriano ou o abandono das fraldas o treinamento sexual inicial e o treinamento para o controle da raiva e da agressão Dollard e Miller sugerem que sua análise dessas situações conflitantes é uma reafirmação das formu lações de Freud em termos de seu deles esquema conceitual Por essa razão não tentaremos reprodu zir aqui tudo o que eles têm a dizer sobre tais estágios críticos só examinaremos brevemente sua análise da situação de alimentação para ilustrar como eles utili zam conceitos de aprendizagem nesse ambiente O importante é que o leitor compreenda que essa teoria acredita que os eventos iniciais do desenvolvimento são de central importância em seus efeitos sobre o comportamento e além disso que a operação desses eventos é vista como perfeitamente consistente com o processo de aprendizagem que já delineamos Os estímulos drive associados à fome estão entre os primeiros fortes impulsores à atividade aos quais o indivíduo é exposto Conseqüentemente as técnicas que o indivíduo desenvolve para reduzir ou controlar esses estímulos têm um papel importante como um modelo para os artifícios usados posteriormente na vida para reduzir outros estímulos fortes Nesse senti do a teoria propõe que a situação de alimentação serve como um modelo em pequena escala que em parte determina os ajustamentos em grande escala do adul to Assim Dollard e Miller sugerem que a criança que chora quando está com fome e descobre que isso leva à alimentação pode estar dando os passos iniciais que resultarão em uma orientação ativa e manipulativa para a redução do drive Por outro lado a criança que é deixada chorando até cansar pode estar estabele cendo a base para uma reação passiva e apática dian te de fortes estímulos drive Além disso se permiti mos que os estímulos de fome aumentem sem restrição a criança pode passar a associar um leve estímulo de fome aos estímulos intensamente doloro sos e esmagadores que experienciou subseqüentemen te em tantas ocasiões e dessa maneira pode reagir exageradamente a estímulos drive relativamente le ves os estímulos drive leves adquiriram uma força de drive secundário equivalente aos estímulos drive mui to intensos Uma outra conseqüência perigosa de se TEORIAS DA PERSONALIDADE 437 permitir que a criança seja exposta a intensos estímu los drive de fome é que isso pode resultar no medo de ficar sozinha Se quando uma criança está sozinha ela é exposta a estímulos de fome muito dolorosos e se os estímulos só diminuem quando a mãe finalmen te aparece pode acontecer que esse reforço forte re dução do estímulo de fome habitue a resposta que precede imediatamente o aparecimento da mãe uma resposta de medo Assim no futuro quando a criança ou o adulto estiver só vai responder com essa respos ta de medo previamente reforçada e logo apresentará um padrão típico de medo do escuro ou de ficar sozi nho Talvez o aspecto mais importante da situação de alimentação seja que seu relativo sucesso pode ter muita relação com as futuras relações interpessoais Isso decorre do fato de que a experiência de alimen tação é associada com a primeira relação interpessoal íntima a relação entre a mãe e a criança Se a ali mentação é bemsucedida e caracterizada pela redu ção e gratificação pulsional a criança passa a associar esse estado agradável à presença da mãe e tal rela ção por um processo de generalização de estímulo passa a ser vinculada a outras pessoas de modo que sua presença se torna uma meta ou uma recompensa secundária Se a alimentação não é bemsucedida e é acompanhada por sofrimento e raiva podemos espe rar o contrário O desmame e as perturbações digesti vas tendem especialmente a ter conseqüências dano sas para a criança à medida que introduzem sofrimento e desconforto na situação e complicam uma situação de aprendizagem que já exige a capacidade total do bebê Um adendo interessante a essa análise da situa ção de alimentação é oferecido pelos resultados de alguns experimentos muito engenhosos realizados com macacos por Harry Harlow e seus colegas ver Har low 1958 Harlow Zimmerman 1959 depois do aparecimento do volume de Dollard e Miller Harlow duvidou de suas suposições sobre a importância da alimentação no relacionamento desenvolvente mãe bebê e sugeriu que o contato corporal era muito mais importante As evidências apoiaram as idéias de Har low em experimentos em que bebês macacos foram criados em completo isolamento exceto pela presen ça de duas mães inanimadas Uma das mães era fei ta de arame e segurava a mamadeira da qual os bebês obtinham toda a sua nutrição e a outra era acolchoa da com um tecido felpudo e oferecia uma superfície aquecida e confortável à qual os jovens macacos po diam se agarrar Os jovens animais passavam grande parte do tempo em contato físico com sua mãe substi tuta de tecido felpudo ou brincando perto dela Quan do assustados eles buscavam sua proteção e compor tavamse em relação à estrutura de pano macio de maneira semelhante à dos macacos bebês em relação às suas mães reais A mãe de arame em claro con traste era quase completamente ignorada quando os macacos não estavam se alimentando O que deve ser observado nesses achados é que eles não contestam a forma essencial do relato de Dollard e Miller sobre o desenvolvimento de apegos afetuosos Eles realmente sugerem que ao especificar as condições de aprendizagem Dollard e Miller po dem ter exagerado a importância da redução da fome e da sede e subestimado a significação dos atos da mãe de embalar acariciar e abraçar seu bebê enquan to ela está amamentando ou cuidando dele de algu ma outra maneira APLICAÇÕES DO MODELO A abordagem de Dollard e Miller revelouse provoca tiva e útil em vários domínios De particular interes se contudo é a sua aplicação a processos dinâmicos previamente explicados pela psicanálise Nesta seção examinaremos a aplicação dos princípios de aprendi zagem de ER a quatro desses processos processos inconscientes conflito aquisição de neuroses e psico terapia Um quinto processo o deslocamento é dis cutido subseqüentemente como uma ilustração das pesquisas características de Dollard e Miller Processos Inconscientes Nós observamos que Dollard e Miller apresentam a linguagem como desempenhando um papel crucial no desenvolvimento humano Em vista disso é muito natural que aqueles determinantes do comportamen to que eludem a linguagem ou são inconscientes desempenhem um papel central nas perturbações com portamentais A teoria é muito consistente com for mulações psicanalíticas ao aceitar fatores inconscien tes como determinantes importantes do comporta 438 HALL LINDZEY CAMPBELL mento entretanto o relato oferecido por Dollard e Miller da origem desses processos inconscientes mos tra pouca semelhança com a versão freudiana Os determinantes inconscientes podem ser divi didos nos que nunca foram conscientes e nos que fo ram mas não são mais Na primeira categoria estão incluídos todos aqueles drives respostas e pistas apren didos antes do advento da fala e que conseqüente mente não foram rotulados Também fazem parte desse grupo certas áreas de experiência para as quais a nossa sociedade dá nomes insuficientes ou inade quados As pistas e as respostas cinestésicas e moto ras geralmente são ignoradas pelos rótulos convenci onais e por essa razão não são facilmente discutidas e podem ser consideradas amplamente inconscientes Em uma linha semelhante certas áreas de experiênci as sexuais e outros tipos de experiênciastabu geral mente não são acompanhadas por designações apro priadas e acabam sendo muito mal representadas na consciência Na segunda categoria estão todas aque las pistas e respostas que anteriormente eram consci entes mas que pela repressão se tornaram inacessí veis à consciência O processo envolvido na primeira categoria está suficientemente claro e é ao fenômeno da repressão que dedicaremos a nossa atenção A repressão é o processo de evitar certos pensa mentos e essa esquiva é aprendida e motivada exata mente da mesma maneira que qualquer outra respos ta aprendida Nesse caso a resposta de não pensar em certas coisas leva à redução do drive e ao reforço tor nandose uma partepadrão do repertório do indiví duo Existem certos pensamentos ou memórias que adquiriram a capacidade de despertar medo estímu los drive secundários e a resposta de não pensar ou deixar de pensar neles leva a uma redução nos estí mulos de medo portanto a resposta de não pensar é reforçada Enquanto na aprendizagem inicial o indi víduo primeiro pensa no ato ou evento temido e de pois experiencia o medo e abandona o pensamento com o conseqüente reforço após a experiência a res posta de não pensar tornase antecipatória e ocorre antes de o indivíduo chegar a reconstruir o evento ou o desejo Não pensar como uma resposta antecipató ria não só mantém fora da consciência os pensamen tos que despertam medo mas também interfere com o processo de extinção normal Isto é se a resposta não chega a ocorrer ela dificilmente pode ser extinta mesmo que a fonte original de reforço já tenha desa parecido Dollard e Miller acreditam que a repressão existe em um contínuo variando de uma leve tendência a não pensar sobre certas coisas à mais forte esquiva do material ameaçador Eles também consideram que as origens dessa tendência podem ser encontradas no treinamento infantil que freqüentemente tende a pro duzir medo de certos pensamentos Depois que se desenvolve o medo do pensamento o processo de re pressão é facilmente compreensível em termos da re dução dos estímulos drive por não pensar As crianças são freqüentemente punidas pelo uso de certas pala vrastabu assim apenas o símbolo verbal falado é suficiente para provocar a punição sem o ato Ou a criança pode anunciar sua intenção de fazer algo er rado e ser punida antes de cometer qualquer ato Em outros casos a criança pode pensar certas coisas que nem sequer expressa verbalmente mas que os pais inferem corretamente a partir do comportamento ex pressivo ou de outras pistas e pelas quais punem a criança A criança muitas vezes é punida por atos exe cutados no passado de modo que a punição acompa nha o pensamento sobre o ato e não o ato em si To das essas e outras experiências tendem a criar uma generalização do ato ou do comportamento manifes to que leva à punição ao mero pensamento ou repre sentação simbólica do ato O indivíduo não só pode generalizar do ato manifesto para o pensamento mas também discriminar entre os dois No indivíduo bem ajustado esse é um processo extremamente impor tante e eficiente ele percebe que certos pensamentos jamais devem ser expressos em determinados contex tos mas sentese relativamente livre para ter esses pensamentos privadamente A extensão e a gravidade da repressão dependem de muitos fatores entre os quais as possíveis varia ções na força inata da resposta de medo o grau de dependência em relação aos pais e portanto a in tensidade da ameaça de perda do amor à qual a cri ança pode ser exposta e a gravidade dos traumas ou situações amedrontadoras experienciados pela crian ça A importância crucial da consciência relacionase com o significado dos rótulos verbais no processo de aprendizagem especialmente em relação à operação dos processos mentais superiores Nós já indicamos TEORIAS DA PERSONALIDADE 439 que os processos de generalização e discriminação podem ser tornados mais eficientes por meio dos sím bolos verbais e se a nomeação é eliminada o indiví duo claramente passa a operar em um nível intelectu al mais primitivo Assim a pessoa se torna mais concreta e presa ao estímulo e seu comportamento fica parecido com o da criança ou do organismo infe rior em que o papel mediador da linguagem não é muito desenvolvido Conflito Nenhum ser humano opera tão efetivamente que to das as suas tendências sejam congruentes e beminte gradas Portanto todas as teorias da personalidade precisam lidar direta ou indiretamente com os pro blemas trazidos para o organismo por motivos ou ten dências conflitantes O comportamento de conflito é representado por Miller e Dollard em termos de cinco suposições básicas que são extensões dos princípios que já discutimos Eles supõem primeiro que a tendência a aproxi marse de uma meta fica mais forte à medida que o indivíduo se aproxima dela Isso é conhecido como o gradiente de aproximação Segundo eles supõem que a tendência a evitar um estímulo negativo tornase mais forte à medida que o indivíduo se aproxima do estímulo Isso é referido como o gradiente de esquiva Essas suposições podem ser derivadas primariamente do princípio de generalização de estímulo que já des crevemos A terceira suposição é que o gradiente de esquiva tem um grau de inclinação maior do que o gradiente de aproximação Isso implica que o ritmo em que as tendências de esquiva aumentam com a aproximação da meta é mais rápido do que o ritmo em que as tendências de aproximação aumentam nas mesmas condições Quarto supõese que um aumen to no drive associado à aproximação ou à esquiva vai aumentar o nível geral do gradiente Assim ainda haverá um aumento na força da aproximação ou da esquiva conforme a meta se aproximar mas essas ten dências agora terão uma força maior em cada estágio da abordagem Quinto supõese que quando existem duas respostas concorrentes vai ocorrer a mais forte Dadas essas suposições além dos conceitos que já dis cutimos Miller e Dollard são capazes de derivar pre dições sobre como vai responder um indivíduo que se depara com os vários tipos de conflito Um dos mais importantes tipos de conflito relacio nase com a oposição entre as tendências de aproxi mação e esquiva despertadas simultaneamente pelo mesmo objeto ou situação Digamos que um jovem se sente fortemente atraído por uma mulher e no en tanto fica embaraçado e pouco à vontade com medo na sua presença Como as três primeiras suposições nos dizem a resposta de esquiva afastarse da mu lher diminui mais bruscamente do que a resposta de aproximação à medida que o sujeito se afasta da meta mulher Isso está representado graficamente na Fi gura 132 ver p 440 em que as linhas tracejadas representando as respostas de esquiva estão em um ângulo mais agudo do que as linhas sólidas que repre sentam as respostas de aproximação Portanto a ten dência de esquiva pode ser maior ou mais intensa do que a resposta de aproximação perto da meta mu lher Quando o sujeito se afastou uma certa distân cia no diagrama até um ponto além da interseção dos gradientes a resposta de aproximação será mais forte do que a resposta de esquiva tendose afastado da mulher ele pode telefonar ou escrever para mar car um outro encontro É no ponto em que os dois gradientes se intersecionam digamos quando o ho mem entra na sala em que está a mulher que o indi víduo deve mostrar o máximo de hesitação e conflito pois é aqui que as duas respostas concorrentes estão aproximadamente equilibradas Quando a resposta de aproximação é mais forte do que a resposta de esqui va o indivíduo vaise aproximar sem conflito e vice versa quando a resposta de esquiva é mais forte É somente quando as duas têm uma força igual que o indivíduo terá dificuldade para dar uma resposta apro priada Se a resposta de aproximação ou de esquiva tiver sua força aumentada isso terá o efeito de elevar todo o nível daquele gradiente conforme mostra o diagra ma nos gradientes superiores de aproximação e es quiva Isso naturalmente levará a um ponto diferente de interseção entre os dois gradientes Assim se a ten dência de aproximação fica mais forte os dois gradi entes terão seu ponto de interseção mais perto da meta o que implica que o indivíduo chegará mais perto da meta antes de hesitar em conflito Quanto mais perto ele chegar da meta mais forte será a resposta de esquiva e mais intenso será seu conflito Isto é quanto mais perto ele chegar da mulher mais atraído e ao mesmo tempo mais pouco à vontade e embara 440 HALL LINDZEY CAMPBELL çado ele se sente Inversamente se a tendência de aproximação se enfraquecer se ele passar a gostar menos da mulher ele não chegará tão perto da meta antes que os gradientes se intersecionem ele não vai ao encontro marcado com a mulher e seu conflito ou perturbação serão menores porque a intensidade das respostas de esquiva e de aproximação será me nor nesse ponto Se a tendência de esquiva aumentar se seu desconforto aumentar isso resultará nos dois gradientes intersecionandose em um ponto mais dis tante da meta ele pode pensar a respeito mas não vai marcar um novo encontro e na redução da inten sidade do conflito Em geral quanto mais perto da meta está o ponto de interseção dos dois gradientes mais fortes são as duas tendências concorrentes e maior o conflito Devemos observar que se a força da resposta de aproximação puder ser aumentada a pon to de ser mais forte do que a da resposta de esquiva na meta na Figura 132 isso é representado pelos gradientes de forte aproximação e fraca esquiva o indivíduo irá diretamente à meta e o conflito será su perado Assim se o homem estiver tão atraído pela mulher que conseguir ficar perto dela mesmo pouco à vontade o conflito eventualmente se resolverá A generalização de resposta também pode deter minar o que um indivíduo faz quando se depara com um conflito de aproximaçãoesquiva Dollard e Miller sugeriram várias vezes que as mesmas suposições fei tas sobre a generalização de estímulo também podem valer para a generalização de resposta que o gradi ente de aproximação de respostas com graus variados de semelhança com aquela provocada pelos estímu los instigadores diminui mais rapidamente do que o gradiente de esquiva Assim uma criança pode ficar extremamente furiosa com os pais por eles terem proi bido alguma atividade favorita mas sentir muito medo ou culpa para expressar diretamente a agressão di zendo palavrões ou atacandoos fisicamente Entre tanto as tendências de esquiva da criança podem di minuir o suficiente para permitir que ela mostre seu desagrado indiretamente indo para o seu quarto pi sando com força e batendo a porta Um segundo tipo de conflito é encontrado quan do um indivíduo se depara com duas respostas con correntes de esquiva Por exemplo um garotinho pode estar com medo de subir em alguma coisa e ao mes mo tempo não quer que os companheiros o chamem de covarde Assim quanto mais perto ele chegar da meta quanto mais alto ele subir mais forte será a resposta de esquiva e mais provável que ele recue Entretanto quanto mais ele recua mais se aproxima da outra meta ser chamado de covarde e a segunda resposta de esquiva aumenta enquanto a primeira di minui Assim a criança vai demonstrar vacilação indo de uma meta para outra isto é subindo até uma cer ta altura e depois descendo Se a força de uma das respostas de esquiva aumentar isso mudará o ponto de interseção de modo que o lugar de onde a criança FIGURA 132 Representação gráfica de situações de conflito Adaptada de Miller 1951b TEORIAS DA PERSONALIDADE 441 vai recuar da sua meta ficará mais distante Isso tam bém vai aumentar a intensidade do conflito pois os dois gradientes estarão mais fortes no ponto de inter seção Novamente se uma das respostas for mais for te do que a outra na meta a criança simplesmente continuará a recuar da situação mais temida até ter minar a situação concorrente e o conflito ser supera do ou ela sobe até a altura necessária ou aceita o fato de que vai ser chamada de covarde Miller e Dollard não acham que a competição en tre duas respostas de aproximação represente um di lema realista Eles salientam que quando o indivíduo começa a aproximarse de uma das metas positivas a força dessa reposta vai aumentar de acordo com a primeira suposição e a força da resposta concorrente vai diminuir Portanto o indivíduo irá diretamente para esta meta Mesmo que a pessoa comece exata mente dividida entre as duas metas as variações na situaçãoestímulo ou dentro do organismo vão alte rar levemente esse equilíbrio e quando isso aconte cer ela continuará aproximandose da meta mais pró xima Quando a pessoa parece estar em conflito entre duas alternativas positivas sempre existem respostas de esquiva ocultas ou latentes Para uma descrição mais detalhada da teoria do conflito o leitor deve consultar Miller 1944 1951b 1959 onde estão resumidos vários estudos experi mentais que testaram derivações dessa posição Em geral os resultados desses estudos oferecem sólidas evidências da utilidade da teoria em questão Como as Neuroses São Aprendidas Dollard e Miller compartilham com os teóricos psica nalíticos uma permanente preocupação com o indiví duo neurótico Conseqüentemente eles dedicam uma porção substancial da sua teoria às condições que le vam ao desenvolvimento das neuroses e aos procedi mentos psicoterapêuticos que podem ser usados para superálas No âmago de todas as neuroses está um forte conflito inconsciente cujas origens quase sempre po dem ser encontradas na infância do indivíduo Os conflitos neuróticos afirmam Dollard e Miller são ensinados pelos pais e aprendidos pelos filhos 1950 p 127 Nós já descrevemos as quatro situações críti cas de treinamento que se emprestam tão facilmente a um manejo errado por parte dos pais e estabelecem as bases de futuros problemas a situação de alimen tação o treinamento esfincteriano ou o abandono das fraldas o treinamento sexual e o treinamento do con trole da agressão Com muita freqüência a criança desenvolve uma profunda ansiedade ou culpa pela expressão de suas necessidades básicas nessas áreas e estabelecese um conflito que tende a continuar de alguma forma na vida adulta Exatamente como o animal experimental do nos so estudo de laboratório aprende uma resposta ins trumental dentro da sua capacidade que lhe permite escapar de estímulos que provocam ansiedade o ser humano em um conflito de vida real tenta escapar ou evitar sentimentos de ansiedade e culpa por meio de algum tipo de resposta instrumental Um modo de reação bastante disponível e portanto freqüentemen te usado é não pensar O indivíduo reprime as me mórias e os pensamentos capazes de deixálo ansioso ou culpado e recusase a tentar compreender seu con flito e as circunstâncias que o provocaram Ele sabe que alguma coisa está errada e freqüentemente sen tese miserável mas não entende porque não quer por quê Uma vez que os conflitos neuróticos são inconsci entes o indivíduo não pode usar suas capacidades solucionadoras de problema para resolvêlos ou para reconhecer que as condições que o levaram ao confli to talvez nem existam mais Por exemplo o adulto constantemente ameaçado pelos pais em seus primei ros anos com a perda do amor e da aprovação ao menor sinal de raiva em relação a eles pode inibir tão completamente qualquer expressão de agressão que jamais descobrirá que os outros não compartilham dessas atitudes parentais À medida que os conflitos permanecem inconscientes é provável que continu em existindo e levem ao desenvolvimento de outras reações ou sintomas Esses sintomas podem ser as con seqüências bem diretas do tumulto emocional causa do pelo conflito mas freqüentemente são comporta mentos que permitem aos indivíduos um escape temporário de seus medos e ansiedades Conforme Dollard e Miller descrevem Embora de certo modo superficiais os sintomas do neurótico são os aspectos mais óbvios de seus problemas O paciente os conhece bem e sente que deveria livrarse deles As fobias as inibições as esquivas as compulsões as racionalizações e 442 HALL LINDZEY CAMPBELL os sintomas psicossomáticos do neurótico são ex perienciados como um inconveniente por ele e por todos que têm de lidar com ele Ele acre dita que os sintomas são o seu transtorno É deles que ele quer se ver livre e não sabendo que por trás deles existe um sério conflito gostaria de li mitar qualquer discussão terapêutica a se ver livre dos sintomas Os sintomas não resolvem o conflito básico em que a pessoa neurótica está mergulhada mas o mitigam Eles são respostas que tendem a reduzir o conflito e em parte são bemsucedidos Quan do um sintoma é bemsucedido ele é reforçado porque reduz o sofrimento neurótico O sintoma é então aprendido como um hábito 1950 p 15 Como uma ilustração das relações entre conflito repressão sintomas e reforço Dollard e Miller apre sentaram com bastante detalhes O Caso da Sra A Seguese uma versão extremamente condensada do caso A Sra A era uma jovem que buscou ajuda psiqui átrica em virtude de alguns medos que tinham acaba do com a paciência do marido e levadoo a ameaçála com divórcio Seu medo mais intenso era que se ela não contasse os batimentos cardíacos seu coração pararia Além disso ela ficava ansiosa e perturbada em muitos lugares públicos e tinha cada vez mais medo de sair sozinha do apartamento No decorrer das ses sões terapêuticas a natureza dos problemas da Sra A foise esclarecendo gradualmente Seu maior con flito era em relação a sexo Embora tivesse fortes ape tites sexuais seu treinamento na infância a fizera sen tirse tão culpada e ansiosa em relação a eles que negava qualquer sentimento sexual e só expressava nojo Embora tentasse conscientemente ser uma boa esposa ela expressava suas necessidades sexuais in diretamente em comportamentos irresponsáveis como sair para beber em bares com outras mulheres mos trandose quase sedutora Ela não sabia porque tinha esse comportamento e ficava constantemente surpre sa com suas conseqüências Uma análise de suas reações fóbicas em locais públicos revelou que quando saía sozinha ela incons cientemente ficava temerosa e culpada pela possibili dade de ser sexualmente abordada e não resistir Seu medo e culpa acerca da tentação sexual diminuíam por voltar para casa ou eram parcialmente evitados por sair acompanhada A contagem compulsiva dos batimentos cardíacos também servia para manter suas ansiedades sexuais a um mínimo Qualquer estímulo com conotações sexuais incluindo os próprios pensa mentos despertavam a ansiedade Mas esses pensa mentos podiam ser banidos ou evitados se ela dedi casse sua atenção aos batimentos cardíacos Assim que começava a contar ela já sentiase melhor de modo que o hábito era reforçado pela redução da ansieda de Os tipos de sintomas apresentados pela Sra A são exemplos de reações aprendidas a estados afetiva mente desagradáveis Dollard e Miller sugeriram que além desse tipo de comportamento aprendido exis tem sintomas de natureza psicossomática que são ina tos As respostas fisiológicas mediadas primariamen te pelo chamado sistema nervoso autônomo são provocadas automaticamente por vários estados de drives intensos sem ter de ser aprendidas Essas res postas autônomas inatas são freqüentemente desper tadas por drives primários mas também podem ser produzidas por drives secundários ou aprendidos As palmas das mãos úmidas o estômago embrulhado e o coração disparado do aluno ansioso que vai fazer uma prova importante são exemplos muitos conhecidos Há muito tempo acreditase que ao contrário das respostas corporais tais como os movimentos dos bra ços e das pernas as reações fisiológicas provocadas pelo sistema nervoso autônomo não estão sob o con trole voluntário do indivíduo As evidências disponí veis para Dollard e Miller também sugeriram que embora as respostas viscerais e glandulares controla das pelo sistema nervoso autônomo possam ser classi camente condicionadas elas não podem ser instrumen talmente condicionadas O condicionamento instru mental ou operante conforme observamos anterior mente é uma forma de aprendizagem em que a ocor rência do reforço é contingente ao aparecimento de uma resposta especificada e se uma recompensa não se segue à resposta ela acaba sendo extinta As res postas autônomas segundo a visão tradicional aceita por Dollard e Miller não eram influenciadas por suas conseqüências não sendo nem reforçadas pela ocor rência de reforços e nem enfraquecidas por sua au sência TEORIAS DA PERSONALIDADE 443 Miller subseqüentemente realizou uma série de estudos em animais cuidadosamente controlados cu jos resultados aparentemente desafiavam essa visão Um experimento de Miller e Banuazizi 1968 envol vendo respostas viscerais em ratos é representativo dessas investigações Dois tipos de respostas internas foram monitorados ritmo cardíaco e contrações in testinais Em um grupo de animais foram escolhidas as contrações intestinais para serem condicionadas Para metade dos sujeitos foi dada uma recompensa cada vez que ocorriam contrações espontâneas acima de certa amplitude Para a outra metade foi dada uma recompensa para as contrações abaixo de uma certa magnitude As contrações aumentaram sistematica mente no decorrer do treinamento nos sujeitos recom pensados por respostas de grande amplitude e dimi nuíram naqueles recompensados por respostas pequenas Nenhuma mudança sistemática no ritmo cardíaco foi encontrada nos dois grupos Em um ou tro grupo de animais houve uma ocorrência espontâ nea de um ritmo cardíaco rápido ou lento na direção apropriada mas nenhuma nas contrações intestinais A limitação do efeito do condicionamento ao tipo es pecífico de resposta que foi seguida pelo reforço foi considerada uma evidência impressionante de que as respostas autônomas podem ser instrumentalmente condicionadas da mesma maneira que as respostas corporais Esses achados revolucionários sugerindo que a resposta autônoma pode ser instrumentalmente con dicionada ergueram várias possibilidades interessan tes Conforme Miller 1969 salientou os sintomas psicossomáticos no ser humano poderiam ser apren didos exatamente como outros sintomas Uma possi bilidade ainda mais fascinante é que as técnicas de condicionamento instrumental poderiam ser usadas terapeuticamente para aliviar a intensidade dos sin tomas somáticos p ex hipertensão arterial quer induzidos por fatores orgânicos quer por fatores psi cológicos Um relato interessante dos experimentos de Miller e algumas aplicações terapêuticas baseadas em seus achados escrito para um público leigo po dem ser encontrados no livro de Jonas de 1973 Visce ral Learning Entretanto Miller Miller Dworkin 1974 relatou subseqüentemente o achado desorien tador de que outros experimentos não tiveram tanto sucesso em demonstrar o condicionamento instrumen tal sugerindo que a existência do fenômeno talvez não tenha sido definitivamente estabelecida Psicoterapia Dollard e Miller preocupamse não apenas com o de senvolvimento das neuroses mas também com o seu tratamento A essência da sua abordagem à psicote rapia é simples Se o comportamento neurótico é aprendido deve ser possível desaprendêlo por meio de alguma combinação dos princípios pelos quais ele foi en sinado Nós acreditamos que esse é o caso A psi coterapia estabelece uma série de condições pe las quais podem ser desaprendidos hábitos neuróticos e aprendidos hábitos nãoneuróticos o terapeuta agindo como uma espécie de professor e o paciente como aprendiz Dollard Miller 1950 p 78 Os procedimentos terapêuticos defendidos por Dollard e Miller são bastante tradicionais O terapeu ta deve ser um ouvinte simpático e permissivo que encoraja o paciente a expressar todos os seus senti mentos e a associar livremente Sejam quais forem os pensamentos do paciente o terapeuta permanece não punitivo e tenta ajudálo a compreender esses pensa mentos e como eles se desenvolveram A contribuição mais inovadora de Dollard e Mil ler consiste em analisar segundo a teoria da aprendi zagem aquilo que ocorre na psicoterapia bemsuce dida Os medos e as culpas irrealistas não se extinguiram porque a pessoa conseguiu desenvolver técnicas para evitar pensamentos e situações que des pertam essas emoções desagradáveis Na situação te rapêutica tentamse criar as condições que resulta rão na extinção O indivíduo é encorajado a expressar as emoções e os pensamentos proibidos e a sentir o medo e a culpa despertados por eles Uma vez que nenhuma conseqüência desagradável se segue a essas expressões podemos esperar que ocorra a extinção do medo neurótico Nos estágios iniciais da terapia é provável que os pacientes discutam problemas ape nas moderadamente perturbadores dos quais eles se permitiram ter consciência Mas à medida que o medo e a culpa irrealistas associados a esses problemas co meçam a desaparecer o efeito de extinção se genera 444 HALL LINDZEY CAMPBELL liza para problemas semelhantes mas mais perturba dores e assim enfraquece a motivação para reprimi los ou evitálos de outras maneiras Gradualmente os pacientes se tornam mais capazes de enfrentar seus conflitos nucleares e o significado de seu comporta mento sintomático O terapeuta apóia constantemen te os pacientes nesse processo encorajandoos a usar rótulos verbais que os ajudam a discriminar entre pen samento e ação seus medos internos e a realidade externa e entre as condições de sua infância em que eles aprenderam seus medos e conflitos e as condi ções de seu mundo adulto Conforme as repressões se desfazem e as discri minações se desenvolvem os pacientes se tornam mais capazes de usar seus processos mentais superiores para encontrar soluções construtivas para os seus proble mas À medida que eles descobrem maneiras melho res de se comportar seus medos se extinguem ainda mais e seus sintomas desaparecem Suas novas ma neiras de responder são fortemente reforçadas por recompensas mais positivas e tomam o lugar dos anti gos sintomas autoderrotistas Todo o processo de de saprender e reaprender que ocorre na terapia tende a ser lento e doloroso mas a aprendizagem que inicial mente levou o paciente ao terapeuta o foi ainda mais O relato teórico do processo terapêutico desen volvido por Dollard e Miller tem várias implicações testáveis algumas das quais foram confirmadas em estudos que analisaram os protocolos de terapia de casos reais Um desses estudos envolvendo o desloca mento um tipo complexo de conflito é descrito na seção seguinte PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Miller e Dollard relataram uma quantidade conside rável de investigações que ilustram ou testam deriva ções de sua posição teórica Em seu volume Social Le arning and Imitation 1941 são resumidos os estudos sobre sujeitos humanos e animais que representam tentativas de confirmar predições derivadas de sua teoria Miller como já mencionamos realizou vários estudos experimentais relevantes para muitos aspec tos da teoria e resumiu diversos deles 1944 1951a 1959 Aqui nós discutiremos uma série de estudos que lidam com o conceito de deslocamento Essas in vestigações não só tentam diminuir a lacuna entre a teoria psicanalítica e os conceitos de ER mas tam bém oferecem evidências experimentais da operação de vários dos conceitos que já discutimos O conceito de deslocamento ocupa uma posição central na teoria psicanalítica sendo comumente usa do para se referir à capacidade do organismo de redi recionar as respostas ou os impulsos para um novo objeto quando eles têm sua expressão negada em re lação ao objeto original Em termos da teoria de Do llard e Miller tal fenômeno pode ser explicado facil mente pelo conceito da generalização de estímulo Miller em uma série de experimentos tentou demons trar o fenômeno empírico mostrar a continuidade da generalização de estímulo e do deslocamento e ofe recer um relato teórico que permitisse novas predi ções acerca desses eventos Um estudo inicial de Miller e Bugelski 1948 ten tou demonstrar o deslocamento nos sujeitos huma nos Esses investigadores aplicaram a um grupo de meninos em um acampamento de verão uma série de questionários que avaliavam as atitudes em rela ção a mexicanos e japoneses Enquanto estavam pre enchendo os questionários os meninos deixavam de participar de um evento social muito valorizado Foi feita uma comparação das atitudes expressas em rela ção aos grupos de minoria antes e depois dessa frus tração Os resultados mostraram que houve um au mento significativo nas atitudes negativas expressas em relação aos dois grupos de minoria seguindose à frustração O aumento na hostilidade foi interpretado como um deslocamento da hostilidade despertada pelos experimentadores quando impediram que os meninos participassem do evento social Em termos psicanalíticos os sujeitos estavam deslocando a hos tilidade sentida em relação aos experimentadores para os membros dos grupos de minoria em termos de E R eles estavam generalizando uma resposta de um objetoestímulo para um objetoestímulo semelhan te De qualquer maneira o estudo mostrou que o fe nômeno em questão realmente ocorre entre os sujei tos humanos e pode ser produzido experimentalmente Miller raciocinou que tanto a teoria psicanalítica quanto a teoria de ER supõem que uma dada respos ta pode ser generalizada não apenas de um estímulo para outro mas também de uma pulsão para outra Freud desde cedo postulou uma considerável inter TEORIAS DA PERSONALIDADE 445 cambialidade ou possibilidade de substituição entre pulsões ou instintos e para o teórico do ER as pul sões são apenas um tipo de estímulo Portanto é per feitamente natural que haja generalização de pulsão bem como de estímulo Para testar essa predição um grupo de ratos foi treinado para correr por um labi rinto sob a motivação da sede e com a recompensa de beber água Esses mesmos animais foram então divi didos em dois grupos Os dois grupos estavam sacia dos de água mas um deles fora privado de comida enquanto o outro fora alimentado até a saciedade A predição era que a resposta de correr pelo labirinto que fora aprendida com a sede seria generalizada ou deslocada para o drive de fome Conseqüentemen te os ratos privados de alimento correriam pelo labi rinto mais rápido que os ratos sem fome Os resulta dos do estudo confirmaram claramente tal predição Também foi possível demonstrar experimentalmente que a resposta de correr pelo labirinto originalmente reforçada pela redução dos estímulos do drive de sede se extinguia quando os animais continuavam corren do pelo labirinto sem nenhuma redução dos estímu los drives Também consistente com a teoria de ER foi a observação de que quando a resposta fora parci almente extinta um intervalo sem nenhuma tentati va produzia uma recuperação espontânea ou um re torno em um nível mais alto de probabilidade de resposta O investigador também demonstrou a gene ralização de resposta do drive de fome para os drives relativamente remotos de dor e medo A maior desse melhança entre o medo e a fome faz com que esse pareça um teste mais convincente da predição da ge neralização de drives do que o estudo anterior Miller incorporou esses achados experimentais como derivações de uma série de cinco suposições muito parecidas com as discutidas em relação à análi se do conflito A principal diferença entre os dois con juntos de suposições é que as referentes ao conflito dizem respeito à distância entre o sujeito e a meta ao passo que as presentes suposições focalizam a seme lhança entre o objetoestímulo original e certos mo delos substitutos Esse modelo aceita o fato de que sempre que ocor re o deslocamento existe uma resposta competindo com a resposta direta e que é mais forte do que a resposta direta Assim a resposta agressiva da crian ça em relação ao pai não é suficientemente forte para superar a resposta de medo provocada pelo mesmo objeto Por essa razão a criança não pode expressar diretamente sua agressão em relação ao pai Além disso o modelo supõe que a resposta direta ao estí mulo original se generaliza para os estímulos seme lhantes e que a resposta concorrente mostra a mesma generalização de estímulo Quanto mais semelhante ao novo estímulo for o estímulo original maior será o grau de generalização Entretanto o gradiente de ge neralização da resposta concorrente inibidora cai ou diminui mais rapidamente do que o gradiente de ge neralização da resposta direta Assim enquanto a res posta concorrente pode ser muito mais forte do que a resposta direta diante do estímulo original no mo mento em que as duas respostas tiverem sido genera lizadas para estímulos com um certo grau de diferen ça a ordem de força pode se inverter isto é a criança pode demonstrar medo em vez de raiva em relação ao pai mas mostrar raiva em vez de medo diante de um bonecopai Tais suposições não apenas permitem a derivação dos fenômenos empíricos que já resumimos desloca mento ou generalização de estímulo e pulsão mas também levam a várias predições adicionais algumas sobre as relações que ainda precisam ser testadas em condições empíricas controladas Miller relatou vári os estudos que apresentam outras evidências empíri cas relevantes para essa teoria a maioria das quais é confirmatória Miller Kraeling 1952 Miller Mur ray 1952 Murray Miller 1952 Os estudos empíricos recémcitados e o raciocí nio teórico que os acompanha demonstram muito cla ramente como as formulações e as investigações des ses teóricos são mais metódicas do que as da maioria dos investigadores da personalidade Percebemos também sua preferência por estudos paradigmáticos envolvendo sujeitos animais mas com estudos relaci onados realizados em sujeitos humanos Está eviden te que esses investigadores não só contribuíram para o entendimento do deslocamento ou da generaliza ção de estímulo mas levaram também a um grande número de afirmações testáveis que quando os pas sos empíricos apropriados forem dados poderão con firmar ou contestar a efetividade dessa teoria 446 HALL LINDZEY CAMPBELL PESQUISA ATUAL As teorias pioneiras de Dollard e Miller juntamente com as de indivíduos como O Hobart Mowrer 1950 1953 e Robert R Sears 1944 1951 têm influenci ado imensamente outros esforços para estender os princípios de aprendizagem à esfera do desenvolvi mento da personalidade e da psicoterapia É impossí vel fazer justiça aos muitos investigadores e teóricos que contribuíram para esse empreendimento Mas o trabalho de dois deles Joseph Wolpe e Martin Selig man servirá para ilustrar as direções em que se de senvolveram as abordagens da teoria da aprendiza gem à personalidade Wolpe É muito interessante comparar as idéias de Wolpe com as de Dollard e Miller Dollard e Miller como vimos foram profundamente influenciados pelo pensamen to psicanalítico e aceitaram como válidos muitos dos insights oferecidos pelos freudianos Eles tentaram combinar as duas tradições juntando à rica literatura da teoria psicanalítica o poder e a precisão dos con ceitos da teoria da aprendizagem Wolpe rejeitou esse tipo de abordagem e sugeriu que um simples conjun to de princípios de aprendizagem estabelecido no la boratório é suficiente para explicar a aquisição de muitos fenômenos da personalidade Ele acha que os métodos tradicionais de psicoterapia deixam igual mente a desejar em termos teóricos e práticos Em lugar desses métodos seriam usadas técnicas radical mente diferentes que passaram a ser chamadas de terapias comportamentais Eysenck 1959a Skinner Lindsley 1954 Tais terapias comportamentais muitas delas desenvolvidas por Wolpe baseiamse na aplicação direta de princípios desenvolvidos no labo ratório de aprendizagem a problemas neuróticos Wolpe um psiquiatra cuja formação médica foi feita na Universidade de Witwatersrand na África do Sul MB 1939 MD 1948 teve muitos anos de experiência prática em psicoterapia Exceto por algu mas interrupções serviço militar ou treinamento avan çado ele trabalhou em consultório particular no seu país de origem de 1940 a 1959 Na última década desse período ele também deu aulas de psiquiatria na Universidade de Witwatersrand onde realizou es tudos de laboratório sobre neuroses experimentais em animais e desenvolveu algumas técnicas de terapia comportamental Esses estudos resultaram em vários artigos publicados em jornais de psiquiatria e psicolo gia Ele passou o ano acadêmico de 19561957 como fellow no Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califórnia Nesse período tra balhou em um livro Psychotherapy by Reciprocal Inhi bition publicado em 1958 no qual resumiu e ampliou suas idéias sobre o desenvolvimento e tratamento das neuroses Em 1960 Wolpe se mudou para os Estados Unidos como professor de psiquiatria primeiro na Escola de Medicina da Universidade de Virgínia e de pois em 1965 na Escola de Medicina da Universida de de Temple Seu continuado trabalho em terapia comportamental culminou em várias publicações in cluindo os livros The Conditioning Therapies 1966 em colaboração com A Salter e L Reyna Behavior Therapy Techniques 1966 com AA Lazarus The Practice of Behavior Therapy 1973 e Theme and Va riations A Behavior Therapy Casebook 1976 Wolpe foi presidente da Association for Advancement of Beha vior Therapy em seu segundo ano 19671968 Ele continua trabalhando como Distinguished Professor of Psychology na Universidade de Pepperdine e conti nua como coeditor do Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry Como poderia ser esperado a partir de seu ba ckground em psiquiatria Wolpe limitou seu interesse pela personalidade às psiconeuroses e inicialmente buscou uma interpretação psicanalítica de sua etiolo gia Ele descreveu os eventos que o levaram a rejeitar essa posição inicial em favor de uma abordagem de teoria da aprendizagem no prefácio de seu trabalho mais importante Psychotherapy by Reciprocal Inhibiti on A teoria das neuroses e os métodos de psicotera pia descritos neste livro originamse diretamente da moderna teoria da aprendizagem A cadeia de eventos que conduziu a esse relato data do ano de 1944 quando como oficial militar médico eu tinha muito tempo para ler Na época um fiel se guidor de Freud fiquei certo dia surpreso por encontrar em Sex and Repression in Savage Socie ty de Malinowski persuasivas evidências contra a suposição de que a teoria de Édipo tinha uma aplicação universal A agitação que isso provocou em mim logo desapareceu pois a questão não TEORIAS DA PERSONALIDADE 447 parecia vital mas aproximadamente um mês de pois eu casualmente li em Psychology of Early Childhood de C W Valentine um relato de ob servações de crianças pequenas que lançava dú vidas sobre a validade da teoria edípica mesmo na sociedade ocidental Dessa vez a minha fé na fortaleza inabalável do freudianismo foi seria mente abalada e um parágrafo em um jornal so bre os russos não aceitarem a psicanálise foi sufi ciente para me motivar a descobrir o que eles aceitavam a resposta foi Pavlov Essa resposta não me trouxe diretamente muitos esclarecimen tos mas Pavlov levou a Hull e Hull aos estudos da neurose experimental que sugeriram os novos métodos de psicoterapia p vii Wolpe concorda com Hans Eysenck ver Capítulo 9 que embora os indivíduos possam diferir no grau em que são constitucionalmente predispostos a de senvolver uma ansiedade neurótica todo comporta mento neurótico é aprendido Sua concepção desse comportamento se afasta muito da clássica teoria psi canalítica como eles fazem questão de salientar As diferenças são descritas sucintamente na seguinte passagem Quando nós observamos as pessoas se compor tando de uma maneira aparentemente anormal autodestrutiva ou desajustada temos duas manei ras muito óbvias e bemestabelecidas de interpre tar seu comportamento A primeira é o modelo médico de acordo com ele essas pessoas são do entes Elas sofrem de alguma forma de doença e o comportamento observado é simplesmente um sintoma ou conjunto de sintomas da doença O tratamento consistiria em curar a doença subja cente isso faria os sintomas desaparecerem auto maticamente A aceitação dos ensinamentos de Freud deve muito ao seu uso inteligente da analogia médica as queixas do paciente são ape nas sintomas a doença subjacente é o complexo que precisa ser erradicado pela psicoterapia in terpretativa a fim de que os sintomas possam desaparecer para sempre O tratamento sintomá tico por essa razão é inútil recaídas e substitui ção de sintomas mostrarão a força do complexo sobrevivente Em claro contraste com o modelo médico nós temos o modelo comportamental que constitui a base da terapia comportamental Eysenck e Ra chman 1965 Esse modelo postula muito sim plesmente que todo comportamento é aprendido e que o comportamento anormal é aprendido de acordo com as mesmas leis do comportamento normal Os princípios de aprendizagem e condi cionamento se aplicam igualmente a ambos per mitindonos entender a gênese tanto do compor tamento normal quanto do anormal Assim os sintomas dos quais o paciente se queixa são sim plesmente itens do comportamento que o pacien te aprendeu não existe nenhuma causa ou com plexo subjacente produzindo e sustentando os sintomas e fazendoos reaparecer se forem eli minados por um tratamento puramente sintomá tico Dessa maneira de ver o problema também decorre que os comportamentos uma vez apren didos também podem ser desaprendidos ou ex tintos como diria o pavloviano Eysenck 1976b p 331333 A teoria psicanalítica postula que um conflito in consciente entre forças instintuais e processos defen sivos do ego está no âmago da neurose Aqui tam bém Wolpe discorda vigorosamente O fenômeno nuclear é simplesmente uma reação de medo condici onado Uma revisão de certos experimentos realiza dos com animais levou Wolpe a sugerir que embora expor um indivíduo a uma situação que simultanea mente provoca fortes respostas concorrentes possa resultar em medo ou ansiedade neurótica o conflito não é o ingrediente necessário na gênese das neuro ses nem o mais freqüente Mais comumente insiste Wolpe o fenômeno nuclear é simplesmente uma rea ção de medo condicionado provocada pela conjun ção em uma ou mais ocasiões de um estímulo inici almente neutro com um evento fisicamente ou psicologicamente doloroso Se o trauma é suficiente mente intenso e a pessoa especialmente vulnerável talvez uma única experiência dessas seja suficiente para estabelecer uma reação de ansiedade muito for te e persistente Uma vez aprendidas as ansiedades condiciona das são originadas não só pelo estímulo condicionado original mas também devido à generalização de es 448 HALL LINDZEY CAMPBELL tímulo por outros estímulos As reações de ansiedade evocadas por esses vários estímulos levam o indiví duo a dar novas respostas que não raramente levam à rápida redução da ansiedade Nessas ocasiões outros estímulos que casualmente estavam presentes no momento em que ocorreu a redução do drive vão ad quirir a capacidade de provocar a ansiedade Dessa maneira as reações de medo podem se espalhar para estímulos que têm pouca ou nenhuma semelhança com aqueles envolvidos no condicionamento original As teorias de Wolpe sobre as neuroses humanas foram profundamente influenciadas pelos resultados de uma série de experimentos que ele realizou com gatos durante a década de 40 experimentos esses estimulados por investigações anteriores do psiquia tra Jules Masserman 1943 Em um dos estudos Mas serman demonstrara que os animais que haviam sido treinados para receber comida em uma dada localiza ção e que depois receberam choques nesse mesmo lugar desenvolveram intensas reações de ansiedade ou neuroses experimentais O experimento fora pla nejado para demonstrar que o conflito conforme afir ma a teoria psicanalítica é um componente impor tante na produção das neuroses e seus resultados são freqüentemente citados em apoio a essa afirmação Wolpe repetiu as condições do experimento de Mas serman mas acrescentou um outro grupo de animais O segundo grupo recebeu choques no aparelho expe rimental mas sem ter tido antes o treinamento com a comida recebido pelo grupo do conflito O comporta mento emocional provocado pelas pistas do ambiente experimental foi semelhante em ambos os grupos um achado que levou Wolpe a acreditar que a ansiedade é tipicamente o elemento essencial na formação das neuroses e que o conflito não precisa necessariamen te estar presente Wolpe também tentou curar as neuroses de seus animais experimentais por meio de vários métodos Uma técnica extremamente bemsucedida demons trada em um estudo era alimentar os animais em uma sala de laboratório apenas levemente parecida com aquela onde os choques tinham sido aplicados de pois em uma sala um pouco mais parecida e assim por diante Os animais eventualmente conseguiam comer e executar outras atividades no ambiente de treinamento sem qualquer sinal visível de perturba ção emocional Wolpe padronizou esse método segundo um pro cedimento relatado muitos anos antes em um estudo de Mary Cover Jones 1924 dos medos infantis Jo nes usou com sucesso uma técnica que em seus ele mentos básicos passou mais tarde a ser chamada de contracondicionamento em que as crianças recebiam uma comida atraente enquanto um objeto temido es tava a certa distância delas O objeto era progressiva mente trazido para mais perto da criança até final mente se tornar um sinal de comida em vez de um estímulo que originava medo Tais achados levaram Wolpe a formular o seguin te princípio Se podemos fazer com que uma respos ta antagonista à ansiedade ocorra na presença de es tímulos ansiogênicos de modo que seja acompanhada por uma supressão completa ou parcial das respostas de ansiedade o vínculo entre esses estímulos e as res postas de ansiedade será enfraquecido Wolpe 1958 p 71 Wolpe via esse princípio como um exemplo específico do princípio ainda mais geral da inibição recíproca Conforme Wolpe usa o termo a inibição recíproca se refere à situação em que a eliciação de uma resposta parece provocar um decréscimo na for ça de evocação de uma resposta simultânea Wolpe 1958 p 29 Wolpe acreditava que as neuroses humanas de senvolvidas no decorrer da vida cotidiana obedeciam essencialmente às mesmas leis das neuroses experi mentais de seus animais de laboratório Assim as te rapias baseadas no princípio da inibição recíproca deveriam ter sucesso com casos clínicos humanos Comer não parecia ser uma resposta apropriada a opor contra reações de ansiedade no caso de adultos de modo que Wolpe tinha de encontrar uma alternativa Ele sugeriu o uso de várias respostas antagonistas à ansiedade e planejou ou adotou técnicas terapêuticas baseadas nessas respostas As mais amplamente utili zadas são o treinamento da assertividade e a dessen sibilização sistemática O treinamento da assertivida de originalmente sugerido por Salter 1949 é um método para descondicionar a ansiedade em indiví duos que são inibidos e temerosos demais em situa ções interpessoais para responder adequadamente O terapeuta tenta persuadir o indivíduo de que agir as sertivamente o que Wolpe define como a expressão adequada de qualquer outra emoção além da ansie dade em relação a uma outra pessoa 1973 p 81 TEORIAS DA PERSONALIDADE 449 será vantajoso para ele e tenta ensinarlhe um com portamento apropriado por meio de técnicas como desempenho de papel em situações imaginárias que são perturbadoras na vida real e a prática de respos tas assertivas A dessensibilização sistemática empre ga o relaxamento muscular profundo em oposição à ansiedade Uma vez que a dessensibilização é a mais desenvolvida das técnicas de Wolpe e está mais liga da ao seu nome ela será a única terapia comporta mental discutida detalhadamente A dessensibilização sistemática é modelada segun do os procedimentos de contracondicionamento que Wolpe usava para tratar as neuroses induzidas por choques em seus animais experimentais Os pacientes recebem inicialmente um treinamento que lhes per mite relaxar voluntariamente todos os seus grandes grupos musculares A segunda tarefa que precisa ser realizada antes de a terapia começar é identificar as áreas de problema do indivíduo e as situações que despertam desconforto emocional Essa informação é obtida em entrevistas iniciais e terapeuta e paciente juntos estabelecem uma ou mais hierarquias de ansi edade em que uma série de situações relacionadas são classificadas de acordo com a quantidade de ansi edade que provocam A terapia consiste em fazer com que os indivídu os relaxem e depois imaginem tão vividamente quan to possível cada cena de sua hierarquia de ansiedade enquanto mantêm o relaxamento Os pacientes come çam imaginando o item menos ansiogênico de sua hierarquia e são instruídos para parar imediatamente se começarem a se sentir ansiosos Eles então repe tem essa cena até poderem imaginála por alguns se gundos e continuar completamente relaxados Quan do a reação de ansiedade à cena se extingue eles passam para o item seguinte A extinção de reações leves de ansiedade à primeira cena se generaliza para esse próximo item tornando mais fácil a extinção a essa cena e assim sucessivamente por toda a lista de situações ansiogênicas Em seu volume de 1958 Wolpe relatou que de aproximadamente 200 indivíduos que ele e seus cole gas tinham tratado com a dessensibilização e outras técnicas de inibição recíproca cerca de 90 ficaram curados ou mostraram grande melhora um núme ro muito mais alto do que o relatado para terapias mais convencionais Além disso eram necessárias con sideravelmente menos sessões para chegar a esses re sultados do que na psicoterapia comum Wolpe tam bém relatou que embora entrevistar o indivíduo que está buscando ajuda para determinar os estímulos eli ciadores de ansiedade e as hierarquias apropriadas exija uma perspicácia clínica considerável as pessoas relativamente nãotreinadas e inexperientes podem supervisionar com sucesso as sessões de dessensibili zação Os dados de Wolpe encorajaram outros terapeu tas a usar a dessensibilização para tratar uma varie dade de ansiedades neuróticas e começaram a apare cer na literatura muitos estudos de caso relatando bons resultados Wolpe reconheceu que por mais anima dores que fossem esses relatos o rigor científico exi gia que as conclusões sobre a relativa eficácia da des sensibilização sistemática em comparação com outras técnicas terapêuticas se baseassem nos resultados de estudos experimentais cuidadosamente controlados Os resultados desses estudos não só confirmaram que a dessensibilização pode ser usada com efeitos bené ficos para tratar muitos tipos de problemas às vezes em conjunto com outras técnicas comportamentais mas também que o procedimento talvez seja superior ao de técnicas terapêuticas mais tradicionais O sucesso da dessensibilização estimulou vários investigadores a realizar testes experimentais sérios com as proposições teóricas de Wolpe e a propor teo rias alternativas para explicar a efetividade da des sensibilização e as extensões ou modificações da téc nica Um resultado importante foi o desenvolvimento dos procedimentos de orientação comportamental visando à reestruturação cognitiva ou modificação dos pensamentos destrutivos que acompanham as reações de ansiedade p ex Meichenbaum 1976 Uma con seqüência desses desenvolvimentos é que a área atu almente se caracteriza por um saudável debate teóri co e que os terapeutas comportamentais têm ao seu dispor várias técnicas incluindo a dessensibilização sistemática cada uma das quais isoladamente ou em combinação pode ser especialmente útil com diferen tes indivíduos ou tipos de queixas Seligman Em sua influente pesquisa e obra Martin Seligman focaliza um conjunto mais limitado de fenômenos mas mostra a mesma disposição de Wolpe de aplicar prin cípios originalmente descobertos com animais no la 450 HALL LINDZEY CAMPBELL boratório aos problemas emocionais do ser humano Seligman observa que no mundo natural podem ocor rer eventos desagradáveis e traumáticos sobre os quais a pessoa ou o animal tem muito pouco controle Quan do o organismo descobre que nada pode fazer para evitar ou escapar de eventos aversivos que reforço e comportamento não são contingentes pode reagir com o que Seligman chama de desamparo aprendido Uma das conseqüências da impotência ou desamparo é a disrupção emocional muito mais intensa do que a das pessoas que experienciam os mesmos eventos de sagradáveis mas que têm certo controle sobre eles O desamparo também leva a um decréscimo na motiva ção o organismo comportase passivamente e parece desistir pouco fazendo para tentar escapar ao estí mulo nocivo Ainda mais sério o desamparo pode le var a um déficit cognitivo que interfere na capacidade do organismo de perceber a reação entre resposta e reforço em outras situações em que o controle é pos sível Seligman observou a semelhança entre o desam paro aprendido que ele e outros demonstraram ex perimentalmente em laboratório com várias espécies animais incluindo o ser humano e o fenômeno psi copatológico da depressão Os comportamentos apre sentados pelo indivíduo deprimido são surpreenden temente semelhantes aos associados ao desamparo aprendido e propõe ele têm origens semelhantes Os métodos que são efetivos para reduzir o desamparo experimentalmente induzido também podem ser be néficos para tratar reações depressivas Portanto os estudos experimentais do desamparo aprendido po dem servir como um modelo de laboratório da de pressão conforme ela ocorre no mundo natural Seligman cursou psicologia experimental na Uni versidade da Pensilvânia recebendo seu diploma em 1967 Ele começou sua carreira acadêmica como pro fessorassistente na Universidade de Cornell voltan do à Universidade da Pensilvânia em 1970 onde é atualmente professor de psicologia Seligman dirigiu o programa de formação em psi cologia clínica da Universidade da Pensilvânia por 14 anos Sua atividade recente mais notável foi traba lhar como consultor em uma pesquisa sobre a experi ência das pessoas com a psicoterapia dirigida pelo Consumer Reports ver Seligman 1995a 1996 mais o comentário seguinte ao último artigo Seligman foi presidente da Divisão 12 da Associação Psicológica Americana Psicologia Clínica e foi eleito presidente da Associação Psicológica Americana em 1998 Além disso recebeu dois prêmios de Distinguished Scientific Contribution da Associação Psicológica Americana o William James Fellow Award da Sociedade Psicológica Americana por ciência básica e o James McKeen Cat tell Fellow Award pela aplicação do conhecimento psi cológico o Laurel Award da Associação Americana por Psicologia Aplicada e Prevenção mais o MERIT Award do Instituto Nacional de Saúde Mental Martin 1996 Seligman escreveu 13 livros mais notavelmente Hel plessness 1975 Learned Optimism 1991 e The Op timistic Child 1995b O trabalho de Seligman sobre o desamparo apren dido teve duas fases separadas pela transição para um modelo atributivo que explicava o desamparo no ser humano Abramson Seligman Teasdale 1978 Como uma introdução para a primeira fase conside re o seguinte experimento Overmier Seligman 1967 Um animal experimental um cão é coloca do em uma caixa dividida por uma barreira de pouca altura Periodicamente ouvese um som e logo de pois o cão experiencia um choque doloroso mas fisi camente inofensivo No início do choque o cão gane e sai correndo e em certo momento pula sobre a bar reira enquanto o choque ainda está sendo adminis trado Quando o cão cruza a barreira tanto o choque quanto o som cessamCom sucessivas tentativas o cão pula sobre a barreira para escapar do choque cada vez mais rapidamente Finalmente o animal espera calmamente em frente à barreira pulando agilmente sobre ela assim que o som inicia conseguindo dessa forma evitar o choque Um outro cão é colocado em uma rede de conten ção e recebe vários choques breves sem poder fazer nada para evitálos ou deles fugir Quando colocado na caixa com a barreira no dia seguinte o animal inicialmente age de maneira muito parecida à do cão que não tivera a experiência inicial com o choque in controlável mas logo ficam claras algumas diferen ças Mesmo que o animal acidentalmente pule a bar reira ele não aprende em tentativas subseqüentes a cruzar a barreira para evitar ou escapar do choque Em vez disso o cão deixa de ser ativo ficando senta do ou deitado choramingando até o som e o choque terminarem Quase todos os cães sem experiência anterior com o choque aprendem a resposta de pular a barreira para escapar da estimulação aversiva ou para evitála Ao TEORIAS DA PERSONALIDADE 451 contrário a maioria dos animais que receberam inici almente o choque incontrolável responde apaticamen te ao choque na caixa com a barreira e mostra pouca ou nenhuma aprendizagem da resposta de pular a barreira Esse efeito de desamparo aprendido não é exclusivo dos cães tendo sido demonstrado também em gatos Thomas Dewald 1977 peixes Padilla Padilla Ketterer Giacolone 1970 ratos Seligman Beagley 1975 e no homem Hiroto 1974 Hiroto Seligman 1975 Klein FencilMorse Seligman 1976 Em um experimento particularmente esclarece dor Hiroto e Seligman 1975 não só demonstraram o desamparo aprendido no sujeito humano mas tam bém mostraram que os eventos incontroláveis e desa gradáveis que induziam o desamparo não precisavam ser fisicamente desagradáveis Três grupos de univer sitários foram colocados em uma situação na qual po diam evitar ou escapar de um ruído alto movendo a mão de um lado de uma caixa para o outro Antes dessa tarefa um dos grupos recebera problemas de aprendizagem de discriminação que podiam ser re solvidos outro grupo recebera problemas que igno rava serem insolúveis e o terceiro grupo não recebe ra nenhum problema Os indivíduos que tinham recebido problemas solúveis ou nenhum problema aprenderam rapidamente a evitar ou a escapar do ruído enquanto aqueles que tinham recebido os pro blemas insolúveis e portanto submetidos a um fra casso inevitável não aprenderam Segundo Seligman 1976 esses resultados revelam principalmente um déficit motivacional nas pessoas expostas a eventos incontroláveis isto é elas demonstram a incapacida de de iniciar respostas que poderiam afastar os even tos indesejáveis Os experimentos complementares lançaram luz sobre o déficit cognitivo que é um dos sintomas do desamparo aprendido Miller e Seligman 1975 primeiro deram a dois grupos de alunos a ta refa de aprender a escapar de um ruído desagradável que ocorria periodicamente Os alunos de um dos gru pos conseguiram descobrir uma resposta que fazia o ruído cessar O outro grupo recebeu exatamente o mesmo ruído mas foi levado a acreditar que o térmi no era automático e não tinha relação com suas res postas que o reforço e seu comportamento não ti nham relação ou não eram contingentes Um terceiro grupo não recebeu nenhum prétratamento Todos os alunos receberam então uma série de anagramas para resolver O grupo que previamente experienciara um ruído inescapável conseguiu resolver menos proble mas do que os outros dois Além de revelar déficits motivacionais e cogniti vos os organismos submetidos a eventos aversivos incontroláveis apresentam freqüentemente uma acen tuada perturbação emocional Os sujeitos humanos que puderam fazer cessar uma estimulação desagradável realizando algum ato instrumental relataram menos estresse emocional e perturbação física do que os su jeitos manietados que receberam a mesma estimula ção mas foram forçados a suportála passivamente Glass Singer 1972 Em experimentos com ani mais os sujeitos manietados tendiam mais a desen volver úlceras e a apresentar perda de peso perda de apetite e outros sintomas de grave estresse emocional do que os sujeitos cujas respostas controlavam a du ração dos eventos desagradáveis Weiss 1971 Se os sujeitos são expostos apenas brevemente a um estresse inescapável o desamparo aprendido é apenas um fenômeno temporário que desaparece ra pidamente e nos experimentos humanos é apresen tado apenas no ambiente de laboratório Mas as in vestigações com animais demonstram que a repetida exposição pode levar não apenas a graves reações emocionais como as recémdescritas mas também a prolongados déficits motivacionais e cognitivos Os ani mais sem nenhuma experiência anterior em lidar com traumas parecem especialmente suscetíveis ao desam paro aprendido Os animais criados em ambientes de laboratório benignos por exemplo são muito mais propensos a exibir o desamparo aprendido após a ex posição a um estresse inescapável do que os animais que experienciaram as dificuldades do mundo natu ral Seligman Groves 1970 Seligman Maier 1967 Os humanos testados no laboratório também di ferem em sua suscetibilidade à síndrome de desam paro Não sabemos quais são as experiências de vida que tornam algumas pessoas particularmente propen sas ao desamparo mas foi demonstrado que existem diferenças relacionadas às respostas das pessoas em um teste de personalidade Rotter 1966 que media a crença no controle interno versus externo do refor ço Dweck Reppucci 1973 Hiroto 1974 Os indi víduos externos aqueles que percebem que aquilo que lhes acontece na vida é uma questão de sorte e além de seu controle tendem mais ao desamparo de 452 HALL LINDZEY CAMPBELL pois de serem expostos a eventos desagradáveis e ines capáveis do que os indivíduos internos aqueles que vêem o seu destino como dependendo em grande parte deles mesmos Uma cura bastante simples foi encontrada para o desamparo transitório induzido em sujeitos huma nos no laboratório dar aos sujeitos a experiência de conseguir dominar alguma tarefa logo depois de te rem sido expostos aos estímulos aversivos inescapá veis Klein Seligman 1976 Para os indivíduos que apresentam desamparo em situações de vida real po dem ser necessários métodos terapêuticos mais com plicados Dweck 1975 por exemplo planejou pro cedimentos terapêuticos para crianças desamparadas aquelas que segundo os professores e diretores das escolas tendiam a sairse mal em seu trabalho esco lar quando ameaçadas de fracasso Essas crianças tam bém tendiam mais do que seus iguais nãodesampa rados a atribuir seus sucessos e fracassos intelectuais a forças externas a elas ou a atribuir seu fracasso à falta de capacidade ambas causas incontroláveis e não à sua falta de esforço uma causa controlável As crianças passaram por um programa prolongado de várias sessões em que recebiam problemas para re solver Em um grupo as crianças foram ensinadas a assumir a responsabilidade por seus fracassos e a atri builos ao esforço insuficiente Em um segundo gru po as crianças só tiveram experiências de sucesso Em um teste de póstratamento as crianças recebe ram problemas difíceis e inevitavelmente não conse guiram resolver alguns Após o fracasso o desempe nho daquelas que só tinham tido sucessos deterio rouse como no ambiente escolar mas o desempenho das crianças treinadas para assumir responsabilidade pessoal mantevese igual ou melhorou Seligman observou paralelos notáveis entre o de samparo aprendido induzido no laboratório e o fe nômeno da depressão reativa assim chamado porque o estado é presumivelmente provocado por algum evento emocionalmente perturbador como perda do emprego morte de uma pessoa amada ou fracasso em alguma atividade valorizada A maioria das pes soas sofre de leves ataques de depressão de tempos em tempos mas para muitas o estado pode ser gra ve e duradouro trazendo inclusive a possibilidade de suicídio As pessoas deprimidas são tipicamente len tas em sua fala e nos movimentos corporais elas se sentem incapazes de agir ou tomar decisões parecem ter desistido e sofrer do mal que um autor Beck 1967 descreve como uma paralisia da vontade Quan do solicitadas a realizar alguma tarefa as pessoas de primidas tendem a insistir que não adianta tentar por que elas não vão conseguir descrevendo seu desempenho como muito pior do que na realidade é Todos esses sintomas se parecem com o desamparo aprendido Subjacente à depressão propõe Seligman 1975 existe não um pessimismo generalizado mas um pessimismo específico quanto à capacidade das pró prias ações p 122 Essa crença de que o reforço não é contingente às próprias ações é naturalmente o núcleo do desamparo aprendido Assim de acordo com a teoria de Seligman a depressão representa um tipo de desamparo aprendido e é desencadeada pelas mesmas causas experienciar eventos traumáticos que os melhores esforços da pessoa não conseguiram evi tar ou fazer cessar e que ela se sente incapaz de con trolar Em um teste experimental do modelo de depres são do desamparo aprendido Miller e Seligman 1976 fizeram com que grupos de alunos levemente deprimidos e de nãodeprimidos realizassem duas sé ries de tarefas uma envolvendo habilidade e a outra sorte e antes de cada tarefa o aluno deveria dizer qual era a sua expectativa de sucesso Na tarefa de habilidade os alunos nãodeprimidos ajustaram suas expectativas para cima e para baixo dependendo de sucesso ou fracasso no problema anterior mas na ta refa de sorte eles não mostraram quase nenhuma mudança em suas expectativas Os alunos deprimidos mostraram pouca mudança depois do sucesso e do fracasso na tarefa de sorte ou na tarefa envolvendo habilidade Os alunos nãodeprimidos que tinham sido prétratados com estímulos desagradáveis inescapá veis mostraram o mesmo padrão O desamparo indu zido no laboratório e a depressão que ocorria natural mente tiveram portanto o mesmo efeito reduzir a expectativa de que o esforço pessoal influencie o re sultado O desamparo exibido no laboratório por universi tários levemente deprimidos pode ser amenizado se lhes proporcionarmos uma série de experiências de sucesso Klein Seligman 1976 Os procedimentos de tratamento para pessoas mais gravemente depri midas baseados no modelo do desamparo aprendi do estão começando a ser desenvolvidos As várias técnicas relacionadas às planejadas por Wolpe foram TEORIAS DA PERSONALIDADE 453 consideradas promissoras como treinar a pessoa de primida para ser mais assertiva Taulbee Wright 1971 ou realizar uma série de tarefas graduadas que requerem cada vez mais esforço Burgess 1968 O segredo da terapia bemsucedida com depressivos sugere Seligman é restaurar seu senso de eficácia fazêlos perceber que eles podem controlar resulta dos pelo próprio comportamento Segundo o modelo original de Seligman a carac terística de déficits presente no desamparo aprendido ocorre quando o organismo adquire i e aprende uma expectativa de futura independência entre a res posta e o resultado O problema com esse modelo quando aplicado ao desamparo humano no laborató rio e à depressão humana foi seu fracasso em expli car as condições limítrofes Peterson Seligman 1984 Isto é que fatores controlam a cronicidade e a generalidade do desamparo e da depressão e por que a depressão está associada a uma perda de autoesti ma A revisão de Abramson e colaboradores 1978 da teoria do desamparo incorporou a explicação cau sal da pessoa sobre o evento incontrolável Especifi camente ela postula que quando as pessoas encon tram eventos ruins incontroláveis elas perguntam por quê Três dimensões explanatórias capturam a natu reza de suas possíveis respostas Primeiro a causa pode relacionarse com a pessoa ou com a situação i e uma atribuição ou explicação interna versus externa Segundo a causa pode persistir ao longo do tempo ou ser temporária uma explicação estável versus ins tável Finalmente a causa pode afetar uma varieda de de situações ou limitarse a um único resultado uma explicação global versus específica A Tabela 131 apresenta exemplos de tipos possíveis de expli cações causais Segundo a reformulação uma atribui ção interna para um evento ruim tende a produzir uma perda de autoestima Uma explicação estável para um evento ruim significa que uma reação de pressiva tenderá a persistir E se for invocada uma explicação global para um evento ruim os déficits de desamparo ou a depressão tenderão a generalizarse para muitas situações Os indivíduos podem ser distinguidos por estilos explanatórios característicos As diferenças individu ais nas tendências explanatórias são necessárias para explicar por que pessoas diferentes têm reações dife rentes aos mesmos eventos Os estilos característicos dos indivíduos para explicar os eventos podem ser inferidos a partir do Attributional Style Questionnaire no qual os respondentes avaliam a internalidade a estabilidade e a globalidade das suas explicações cau sais para uma série de eventos tais como Você vai fazer uma entrevista de emprego e ela corre mal Alternativamente o estilo explanatório pode ser infe TABELA 131 Exemplos de Explicações Causais para o Evento Minha Conta no Banco Entrou no Negativo Explicação Estilo Interna Externa Estável Global Sou incapaz de fazer qualquer coisa Todas as instituições cometem erros direito cronicamente Específico Sempre tenho problemas em calcular Este banco sempre usou técnicas antiquadas meu saldo Instável Global Tive gripe por algumas semanas e As compras de férias fazem com que a gente deixei tudo descambar vá fundo Específico A única vez em que não dei nenhum Estou surpreso meu banco nunca tinha cheque é a única vez que a conta cometido um erro antes entra no negativo Reimpressa de Peterson e Seligman 1984 p 349 com permissão 454 HALL LINDZEY CAMPBELL rido por meio da análise de conteúdo e da avaliação das explicações que as pessoas oferecem em cartas diários entrevistas ou outros documentos pessoais Segundo essa revisão um estilo explanatório depres sivo é aquele em que o indivíduo tende a dar explica ções internas estáveis e globais para eventos ruins Esse estilo é um fator de risco para déficits de desam paro e depressão Curiosamente Peterson e Seligman 1984 consideram o estilo explanatório um traço de personalidade Eles dão três razões para essa conclu são o estilo é inferido a partir da consistência da ex plicação em diferentes situações as pessoas diferem em quão consistentemente elas dão certas explicações ao longo das situações e as medidas de estilo expla natório apresentam uma estabilidade razoavelmente alta ao longo do tempo A reformulação de Seligman é um exemplo do que freqüentemente é chamado de modelo de diátesees tresse Isto é a depressão resulta da combinação de uma diátese ou predisposição neste caso o estilo explanatório depressivo e um estressor situacional nesse modelo um evento ruim incontrolável Am bos os fatores devem estar presentes para que ocorra o resultado Os resultados de numerosos estudos revelaram se consistentes com o modelo Por exemplo Peterson e Seligman 1984 descreveram resultados confirma tórios de estudos empregando várias estratégias de pesquisa NolenHoeksema Girgus e Seligman 1986 1992 relataram conexões entre o estilo explanatório e a depressão em um estudo longitudinal de crianças Peterson Seligman e Vaillant 1988 descobriram que o estilo explanatório pessimista aos 25 anos de idade era um fator de risco para a doença física na meia idade ver Peterson e Seligman 1987 para uma dis cussão de possíveis mecanismos mediadores Selig man e Schulman 1986 descobriram que o estilo explanatório de agentes de seguro principiantes pre dizia tanto a persistência na carreira quanto o valor em dólar das apólices vendidas por aqueles que conti nuavam como agentes Da mesma forma Peterson e Barrett 1987 relataram que um estilo explanatório pessimista predizia uma média baixa nas notas no fi nal do primeiro ano da faculdade mesmo depois de controlados os escores no SAT Duas outras revisões da reformulação foram pro postas recentemente Primeiro Abramson Metalsky e Alloy 1989 oferecem uma teoria da depressão do desamparo em que as atribuições causais são desen fatizadas e o desamparo é uma causa proximal sufici ente dos sintomas de depressão do desamparo O desamparo por sua vez se refere à expectativa de que resultados extremamente desejados não ocorram ou ocorram resultados extremamente aversivos asso ciada a uma expectativa de que nenhuma resposta do repertório do sujeito mude a probabilidade de ocor rência desses resultados p 359 Metalsky e Joiner 1992 e Metalsky Joiner Hardin e Abramson 1993 apresentam uma confirmação parcial desse novo mo delo Segundo Seligman recentemente transferiu sua atenção do desamparo aprendido para o otimismo aprendido Ele continua vendo a depressão como uma conseqüência de uma maneira pessimista de pensar sobre o fracasso O otimismo aprendido é visto como um antídoto Aprender a pensar de modo mais oti mista quando fracassamos nos deixa permanente mente capazes de evitar a depressão Isso também nos ajuda a conseguir uma saúde cada vez melhor Se ligman 1991 p 290 ver também 1995b Seligman descreve as estratégias para se aprender o comporta mento otimista e defende um otimismo flexível como uma abordagem à vida Essa é uma posição fascinan te até o momento não testada STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO A nossa discussão da teoria e da pesquisa de Dollard e Miller deixou claras muitas virtudes Os principais conceitos dessa teoria são claramente expostos e ge ralmente vinculados a certas classes de eventos empí ricos São raras as alusões vagas ou o apelo à intuição no trabalho desses teóricos O leitor prático e positi vista terá muito a admirar em sua obra Além disso a evidente objetividade não impede muitos teóricos da aprendizagem de ER de estarem prontos e ansiosos para abarcar uma ampla variedade de fenômenos empíricos com seus instrumentos conceituais Embo ra suas formulações comecem no laboratório eles não hesitam em avançar com elas até os fenômenos com portamentais mais complexos Uma contribuição extremamente significativa da teoria do ER ao cenário da personalidade é o cuida doso detalhe com que essa posição apresenta o pro cesso de aprendizagem Obviamente a transforma TEORIAS DA PERSONALIDADE 455 ção do comportamento como resultado da experiên cia é uma consideração crucial para qualquer teoria adequada da personalidade mas muitas teorias igno ram grandemente tal questão ou passam por ela com umas poucas frases estereotipadas Nesse sentido a teoria do ER é um modelo a ser seguido por outras posições teóricas A facilidade com que Dollard e Miller extraem sabedoria da antropologia social e da psicanálise clí nica representa para muitos um outro aspecto atra ente da sua posição Eles utilizam variáveis sociocul turais mais explicitamente do que quase todos os outros teóricos discutidos e vemos que sua teoria deve muito ao impacto da psicanálise A facilidade e a so fisticação com que as variáveis socioculturais são in troduzidas na teoria podem estar relacionadas ao fato de que essa teoria tem sido aplicada por antropólogos culturais mais amplamente do que qualquer outra te oria da personalidade exceto a psicanálise A disposição a incorporar as hipóteses e as espe culações de outros tipos de teoria como a psicanáli se embora tentadora para muitos de dentro e de fora do grupo da aprendizagem não foi universalmente aceita por aqueles que defendem a aplicação de prin cípios de aprendizagem aos fenômenos da personali dade Psicólogos como Bandura ver Capítulo 14 Wolpe e Eysenck ver Capítulo 9 sem falar naqueles que adotam a abordagem skinneriana ver Capítulo 12 não só vêem pouca necessidade de ir além dos princípios estabelecidos no laboratório de aprendiza gem mas também discordam ativamente das idéias de teóricos da personalidade mais tradicionais parti cularmente os de orientação psicanalítica Embora divididos em relação a essa questão os teóricos do ER têm caracteristicamente enfatizado a função das teorias como guias para a investigação e a necessidade de submeter diferenças teóricas a teste experimental Nesse aspecto os membros desse gru po são definitivamente superiores à maioria dos teó ricos da personalidade Em geral esses teóricos têm um melhor senso da natureza e da função da teoria em uma disciplina empírica do que qualquer outro grupo de teóricos da personalidade Em seus textos se comparados aos textos de outros teóricos há me nos reificação menos discussões estéreis em relação a palavras e mais disposição a perceber as teorias como conjuntos de regras que só são usados quando são demonstravelmente mais úteis do que outros conjun tos de regras Essa sofisticação metodológica sem dúvida é responsável pela relativa clareza e adequa ção formal de suas teorias De muitas maneiras a teoria do ER tipifica uma abordagem experimental e objetiva ao comportamento humano Como tal tem sido um alvo predileto dos muitos psicólogos convencidos de que uma compre ensão adequada do comportamento humano deve envolver mais do que uma obediente aplicação dos métodos experimentais da ciência física Esses críti cos consideram que embora suas posições teóricas pessoais possam ser vulneráveis por basearse em ob servações empíricas não adequadamente controladas as observações pelo menos são relevantes para os eventos com os quais se propõem a lidar No caso da teoria do ER a maior parte das cuidadosas investiga ções não só se preocupa com comportamentos sim ples em vez de complexos mas também e mais im portante foi realizada com uma espécie animal filogeneticamente bem distante e claramente diferen te do organismo humano em muitos aspectos cruciais De que adiantam rigor e especificações cuidadosas na situação experimental se o investigador subseqüente mente é obrigado a uma tênue suposição de continui dade filogenética a fim de aplicar os achados a even tos importantes Nós já vimos que os teóricos do ER consideram que os princípios de aprendizagem esta belecidos em estudos de laboratório com animais pre cisam ser justificados com estudos experimentais em pregando sujeitos humanos Assim existe aqui uma concordância essencial quanto à importância de pes quisas coordenadas a questão passa a ser a de quanta confiança podemos ter na teoria até ter sido realizada uma quantidade considerável desses estudos Uma crítica relacionada às abordagens da teoria da aprendizagem afirma que a maioria dos aspectos positivos dessa posição incluindo suas cuidadosas definições clareza e riqueza de pesquisa só existem quando a teoria é aplicada ao comportamento animal ou a domínios muito restritos do comportamento hu mano Tão logo a teoria é aplicada ao complexo com portamento humano ela fica na mesma situação das outras teorias da personalidade com definições ad hoc e raciocínio por analogia representando a regra em vez da exceção Essa crítica sugere que o rigor e a relativa adequação formal das teorias de ER são ilu sórios porque só existem quando seus princípios são aplicados dentro de um escopo muito limitado Quan 456 HALL LINDZEY CAMPBELL do a teoria da aprendizagem é generalizada os con ceitos que estavam claros tornamse ambíguos e as definições firmes tornamse fracas Talvez a objeção crítica mais importante às abor dagens de ER seja a afirmação de que elas não ofere cem uma especificação anterior adequada de estímu lo e resposta Tradicionalmente os teóricos da aprendizagem se preocupavam quase exclusivamen te com o processo de aprendizagem sem tentar iden tificar os estímulos do ambiente natural dos organis mos estudados ou desenvolver uma taxonomia adequada para esses eventosestímulo Ademais seus processos de aprendizagem têm sido investigados em ambientes restritos controlados onde é relativamen te simples especificar os estímulos que eliciam o com portamento observável O desafio para o teórico da personalidade é compreender o organismo humano operando no ambiente do mundo real e pode ser con vincentemente argumentado que se os psicólogos não conseguem definir completamente o estímulo para o comportamento a sua tarefa mal começou Aproxi madamente os mesmos argumentos podem ser teci dos em relação à resposta Devemos admitir com jus tiça que teóricos como Miller e Dollard estão bem conscientes desse problema Miller jocosamente su geriu que a teoria de ER talvez devesse ser chamada de teoria do hífen pois ela tem mais a dizer sobre a conexão entre o estímulo e a resposta do que sobre o estímulo ou a resposta em si Miller e Dollard tenta ram superar essa deficiência especificando pelo me nos algumas das condições sociais em que a aprendi zagem ocorre além dos princípios abstratos que a governam ver também a teoria de Bandura no Capí tulo 14 Relacionado a essa crítica está o fato de que a te oria de ER tem surpreendentemente pouco a dizer sobre as estruturas ou as aquisições da personalida de e é sem dúvida por isso que muitos teóricos acham a teoria psicanalítica mais útil para pensar e investi gar Tal objeção também afirma que com sua preocu pação com o processo da aprendizagem a teoria de ER é apenas uma teoria parcial e que os componen tes relativamente estáveis da personalidade são um elemento essencial em qualquer tentativa de se com preender o comportamento humano As críticas mais freqüentes à teoria do ER certa mente apontam para a simplicidade e molecularida de da posição Os holistas acham que essa teoria é a própria essência de uma abordagem segmental frag mentada e atomista ao comportamento Eles afirmam que esses teóricos observam tão pouco do contexto do comportamento que não podem esperar entender ou predizer adequadamente o comportamento huma no Não existe nenhuma apreciação da importância do todo e a configuração das partes é ignorada em favor de seu exame microscópico Por exemplo Mon te 1995 p 753 argumenta que as pessoas reais não pensam as idéias em porções separadas desco nectadas Portanto é quase impossível como salien tou Freud que a repressão possa funcionar eliminan do fragmentos de pensamento descontínuos ansio sos Os sentimentos de desamparo que Freud des creveu tão cuidadosamente como o fator desencade ante crucial para a fuga do ego por meio da repressão não recebem nenhum peso na formulação de ER de Dollard e Miller O tipo de sofrimento sobre o qual Freud escreveu tão eloqüentemente não é capturado Nessas objeções é difícil separar os componentes polêmicos e afetivos de seu legítimo acompanhamen to intelectual Em defesa da teoria da aprendizagem certamente está claro que não há nada na posição de ER dizendo que as variáveis precisam operar sozi nhas ou isoladamente A interação de variáveis é per feitamente aceitável de modo que pelo menos esse grau de holismo é congruente com a teoria de ER Outros psicólogos acusam os teóricos de ER de ter negligenciado a linguagem e os processos de pen samento e afirmam que seus conceitos são inadequa dos para explicar a aquisição e o desenvolvimento dessas complexas funções cognitivas Qualquer teoria aceitável da aprendizagem humana afirmam eles precisa incorporar os fenômenos cognitivos Mas foi só nos últimos anos que se desenvolveram teorias ade quadas da linguagem e da cognição a maioria das quais reconhecidamente fora da tradição de apren dizagem animal de ER Não existe nenhuma barrei ra em princípio impedindo que as descobertas das teorias cognitivas sejam incorporadas aos relatos de desenvolvimento da personalidade da teoria da apren dizagem Como veremos no Capítulo 14 a teoria da TEORIAS DA PERSONALIDADE 457 aprendizagem social de Bandura é um grande passo nessa direção Em resumo a teoria do ER é uma posição teórica e em muitos aspectos singularmente americana Ela é objetiva funcional coloca grande ênfase na pesqui sa empírica e está apenas minimamente preocupada com o lado subjetivo e intuitivo do comportamento humano Como tal ela contrasta surpreendentemen te com muitas das teorias discutidas que devem mui to à psicologia européia TEORIAS DA PERSONALIDADE 459 CAPÍTULO 14 Albert Bandura e as Teorias da Aprendizagem Social INTRODUÇÃO E CONTEXTO 460 A L B E R T B A N D U R A 460 HISTÓRIA PESSOAL 460 RECONCEITUALIZAÇÃO DO REFORÇO 463 PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM OBSERVACIONAL 464 Processos de Atenção 464 Processos de Retenção 465 Processos de Produção 465 Processos Motivacionais 465 DETERMINISMO RECÍPROCO 467 O AUTOSISTEMA 468 AutoObservação 469 Processo de Julgamento 469 AutoReação 470 APLICAÇÕES À TERAPIA 471 AUTOEFICÁCIA 472 PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA 476 W A L T E R M I S C H E L 478 VARIÁVEIS COGNITIVAS PESSOAIS 480 O PARADOXO DE CONSISTÊNCIA E OS PROTÓTIPOS COGNITIVOS 482 UMA TEORIA DA PERSONALIDADE DE SISTEMA COGNITIVOAFETIVO 483 STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO 485 460 HALL LINDZEY CAMPBELL INTRODUÇÃO E CONTEXTO Na metade do século atual o comportamentalismo era claramente a perspectiva dominante dentro da psi cologia nos Estados Unidos o comportamento é ex plicável em termos da manipulação das forças am bientais e é por elas controlado Nas mãos de teóricos como Skinner as tendências e as representações in ternas eram descartadas como epifenômenos sem ne nhum status causal Entretanto logo depois da meta de do século um grupo de teóricos que passaram a ser conhecidos como teóricos da aprendizagem soci al propôs que os estímulos ambientais eram uma base inadequada para explicar o comportamento humano Esses teóricos argumentavam que o comportamento humano só podia ser compreendido em termos de uma interação recíproca entre estímulos externos e cogni ções internas Além disso as representações simbóli cas de eventos passados e da situação atual orientam o comportamento e os processos autoreguladores permitem que as pessoas exerçam controle sobre o próprio comportamento No processo o constructo central de reforço é substancialmente alterado em vez de gravar um comportamento associado o re forço funciona proporcionando informações Um re forço é efetivo à medida que a pessoa está consciente dele e antecipa que ele vai ocorrer com seu comporta mento subseqüente Os teóricos da aprendizagem so cial mantêm a convicção dos comportamentalistas de que dentro dos limites impostos pela biologia a apren dizagem explica a aquisição e a manutenção do com portamento humano Mas essa aprendizagem só pode ser compreendida em um contexto social e baseiase na crença da importância causal da cognição Neste capítulo nós examinamos Albert Bandura como o mais proeminente dos teóricos da aprendizagem social e também consideramos as contribuições cada vez mais influentes de Walter Mischel ALBERT BANDURA Albert Bandura acredita que os princípios de aprendi zagem são suficientes para explicar e predizer o com portamento e a mudança comportamental Entretan to ele discorda das abordagens de aprendizagem à personalidade que extraem seus princípios exclusiva mente de estudos de organismos simples em um am biente impessoal ou que retratam o comportamento humano como sendo passivamente controlado por influências ambientais Ele nos lembra de que o ser humano é capaz de pensamento e de autoregulação que lhe permitem controlar seu ambiente tanto quan to ser moldado por ele Além disso muitos aspectos do funcionamento da personalidade envolvem a inte ração do indivíduo com outros de modo que uma te oria adequada da personalidade precisa levar em conta o contexto social em que o comportamento é origi nalmente adquirido e continua sendo mantido A in tenção de Bandura é ampliar e modificar a teoria tra dicional da aprendizagem desenvolvendo princípios de aprendizagem social Conforme Bandura descreve A teoria da aprendizagem social explica o com portamento humano em termos de uma intera ção recíproca contínua entre determinantes cog nitivos comportamentais e ambientais No processo de determinismo recíproco está a opor tunidade de as pessoas influenciarem seu destino e os limites da autodireção Essa concepção do funcionamento humano então não lança as pes soas ao papel de objetos impotentes controlados por forças ambientais nem ao papel de agentes livres que podemse tornar o que quiserem A pes soa e o seu ambiente são determinantes recípro cos um do outro Bandura 1977b p vii HISTÓRIA PESSOAL Bandura estudou psicologia clínica na Universidade de Iowa e lá recebeu seu PhD em 1952 Em Iowa a tradição hulliana era sólida sua faculdade consistia em indivíduos como Kenneth Spence Judson Brown e Robert Sears todos que tinham feito doutorado em Yale e contribuições pessoais notáveis à teoria de Hull Após um ano de pósdoutorado em clínica Bandura aceitou em 1953 um cargo na Universidade de Stan ford onde atualmente é David Starr Jordan Professor of Social Science Bandura foi chefe do Departamento de Psicologia de Stanford e em 1974 foi eleito presi dente da Associação Psicológica Americana Ele rece beu o Distinguished Scientist Award da Divisão de Psi cologia Clínica da Associação Psicológica Americana TEORIAS DA PERSONALIDADE 461 Albert Bandura 462 HALL LINDZEY CAMPBELL o Distinguished Scientific Contribution Award da Asso ciação Psicológica Americana e o Distinguished Con tribution Award da International Society for Research on Agression Bandura apresentou sua teoria em uma série de livros Com Richard Walters como autor júnior Ban dura 1959 escreveu Adolescent Agression um relato detalhado de um estudo de campo em que foram usa dos princípios de aprendizagem social para analisar o desenvolvimento da personalidade de um grupo de meninos delinqüentes de classe média seguido por Social Learning and Personality Development 1963 um volume em que ele e Walters apresentaram os prin cípios de aprendizagem social que tinham desenvol vido e as evidências sobre as quais basearam a teoria Em 1969 Bandura publicou Principles of Behavior Modification em que relata a aplicação de técnicas comportamentais baseadas em princípios de aprendi zagem à modificação do comportamento e em 1973 ele publicou Agression A Social Learning Analysis So cial Learning Theory 1977b em que Bandura tenta apresentar uma estrutura teórica unificada para ana lisar o pensamento e o comportamento humanos p vi continua sendo seu relato teórico mais claro até o momento embora seu Social Foundations of Thought and Action 1986 ofereça um tratamento mais deta lhado da teoria Além desses relatos teóricos Bandu ra e seus alunos contribuíram com uma longa série de artigos empíricos Em comum com a maioria das abordagens da te oria da aprendizagem à personalidade a teoria da aprendizagem social baseiase na premissa de que o comportamento humano é amplamente adquirido e que os princípios de aprendizagem são suficientes para explicar o desenvolvimento e a manutenção desse comportamento Entretanto as teorias anteriores da aprendizagem prestaram uma atenção insuficiente não só ao contexto social em que surge esse comporta mento mas também ao fato de que muitas aprendi zagens importantes ocorrem indiretamente Isto é ao observar o comportamento dos outros os indivíduos aprendem a imitar aquele comportamento ou de al guma maneira modelamse de acordo com os outros Em seu livro de 1941 Social Learning and Imitation Miller e Dollard reconheceram o papel significativo desempenhado pelos processos imitativos no desen volvimento da personalidade e tentaram explicar cer tos tipos de comportamento imitativo Mas poucas das pessoas interessadas na personalidade tentaram in corporar o fenômeno da aprendizagem observacional às suas teorias da aprendizagem e até Miller e Do llard raramente se referem à imitação em suas publi cações posteriores Bandura tentou não somente re parar essa negligência mas também estender a análise da aprendizagem observacional além dos limitados tipos de situação considerados por Miller e Dollard O artigo de 1974 de Bandura Behavior Theories and the Models of Man apresenta um sumário relati vamente sucinto de seu ponto de vista Contrariamente à crença popular o famoso con dicionamento reflexo nos humanos é em grande parte um mito Condicionamento é simplesmente um termo descritivo para a aprendizagem por meio de experiências emparelhadas não uma ex plicação de como acontecem as mudanças Origi nalmente supunhase que o condicionamento ocorria automaticamente Em um exame mais cui dadoso percebeuse que ele era cognitivamente mediado As pessoas não aprendem apesar de experiências emparelhadas repetitivas a menos que reconheçam que os eventos são correlaciona dos As chamadas reações de condicionamento são em grande parte autoativadas com base em expectativas aprendidas ao invés de automatica mente evocadas O fator crítico portanto não é os eventos ocorrerem juntos no tempo e sim as pessoas aprenderem a predizêlos e a convocar reações antecipatórias apropriadas p 859 As nossas teorias foram incrivelmente lentas em reconhecer que o homem pode aprender também pela observação além de pela experiência direta A forma rudimentar de aprendizagem basea da na experiência direta foi exaustivamente estu dada ao passo que o modo de aprendizagem pela observação mais disseminado e eficiente é gran demente ignorado É necessária uma mudança de ênfase p 863 A carreira de Bandura foi dedicada a encorajar essa mudança TEORIAS DA PERSONALIDADE 463 RECONCEITUALIZAÇÃO DO REFORÇO Bandura ampliou muito a definição de reforço Em vez de funcionar de maneira mecanicista as conse qüências comportamentais alteram o comportamen to subseqüente fornecendo informações Quando as pessoas observam os resultados de seu comportamento e do comportamento dos outros elas desenvolvem hipóteses sobre as prováveis conseqüências de produ zir aquele comportamento no futuro Essa informa ção serve de guia para o comportamento subseqüen te As hipóteses exatas produzem bons desempenhos e as hipóteses inexatas levam a um comportamento ineficaz Observem a semelhança com a explicação de George Kelly sobre construir replicações ver Capítulo 10 Em outras palavras os reforços forne cem informações sobre o que uma pessoa precisa fa zer para assegurar os resultados desejados e evitar os resultados punitivos Em conseqüência o reforço só pode ocorrer quando a pessoa está ciente das contin gências e antecipa que elas se aplicarão a futuros com portamentos A capacidade humana de antecipar re sultados também explica o valor de incentivo dos reforços Ao representar simbolicamente resultados previsíveis as pessoas podem converter futuras con seqüências em motivadores atuais do comportamen to Assim a maioria das ações está amplamente sob controle antecipatório Bandura 1977b p 18 Para Bandura então um reforço funciona principalmente como uma operação informativa e motivacional mais do que um reforçador mecânico de resposta 1977b p 21 Como conseqüência ele considera o termo re gulação mais apropriado do que reforço Bandura também rejeita o entendimento skinne riano de como o reforço funciona Na aprendizagem observacional o reforço serve como uma influência antecedente ao invés de conseqüente Isto é o reforço antecipado é um dos vários fatores que po dem influenciar uma pessoa a prestar atenção a um modelo e também encorajála a ensaiar o comporta mento que foi observado Conforme ilustrado na Fi gura 141 a teoria skinneriana da aprendizagem su gere que o reforço age retrospectivamente para fortalecer uma resposta imitativa e sua conexão com os estímulos circundantes Do ponto de vista de Ban dura entretanto o reforço facilita a aprendizagem de maneira antecipatória ao encorajar o observador a prestar atenção e a ensaiar o comportamento obser vado Bandura propõe inclusive que o reforço direto não é necessário para que ocorra aprendizagem Além dessas modificações na mecânica da moti vação Bandura acrescenta dois outros tipos de refor ço ao clássico conceito de reforço direto como um estímulo cuja presença aumenta a freqüência da ocor rência do comportamento com o qual é emparelhado Primeiro o autoreforço ocorre quando o indivíduo compara seu comportamento com padrões internos Se o comportamento está à altura desses padrões a pessoa pode sentir satisfação ou orgulho mas se o comportamento viola ou não está à altura desses pa drões a pessoa responde com culpa vergonha ou in satisfação Como veremos durante a nossa discussão do autosistema os indivíduos servem como podero FIGURA 141 Representação esquemática de como o reforço influencia a aprendizagem observacional de acordo com a teoria do condicionamento instrumental e a teoria da aprendizagem social Reimpressa com a permissão de Bandura 1977b p 38 464 HALL LINDZEY CAMPBELL sos reforçadores para o próprio comportamento A função de autoreforço dá às pessoas a capacidade de autodireção Elas fazem coisas que originam auto satisfação e autovalor e evitam comportarse de ma neiras que provocam autopunição Bandura 1974 p 861 Bandura está sugerindo que todo comporta mento produz dois conjuntos de conseqüências auto avaliações e resultados externos As conseqüências externas têm o maior efeito sobre o comportamento quando são compatíveis com as conseqüências auto geradas O comportamento é mantido por suas con seqüências mas essas conseqüências não existem ape nas externamente O leitor vai notar semelhanças entre o autoreforço de Bandura e o conceito de Gordon Allport de uma consciência genérica funcionando com base em um senso pessoal em vez de externo daqui lo que devemos fazer O autoreforço também é aná logo ao conceito freudiano de superego mas Bandu ra 1978 argumenta que essas entidades incorpo radas não são capazes de explicar a operação variá vel e a ocasional desconsideração de controles morais internos Nós voltaremos ao autoreforço quando dis cutirmos o autosistema de Bandura Como um segundo tipo novo de reforço Bandura sugere que ocorre um reforço indireto ou vicário quando o indivíduo testemunha alguém experienciar conseqüências reforçadoras ou punitivas por um com portamento e passa a antecipar conseqüências seme lhantes no caso de produzir o mesmo comportamen to Assim o indivíduo pode ser reforçado sem produzir um comportamento ou experienciar uma conseqüên cia As conseqüências observadas podem mudar o com portamento da mesma maneira que as conseqüências diretamente experienciadas Assim como Skinner su geriu que a aprendizagem de tentativa e erro de Thorn dike era uma maneira ineficiente e improvável de adquirir comportamentos complexos Bandura tam bém sugere que o condicionamento operante de Skin ner é um meio pouco prático e perigoso de os huma nos adquirirem muitos comportamentos Ao contrário a maior parte do comportamento humano é aprendi da observacionalmente por meio da modelagem nós observamos o comportamento dos outros e usamos essa informação como um guia para o nosso compor tamento subseqüente Veremos agora como Bandura descreve a modelagem PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM OBSERVACIONAL Bandura 1962 1977b 1986 propõe que uma ma neira fundamental de os humanos adquirirem habili dades e comportamentos é observar o comportamen to dos outros A aprendizagem observacional ou modelagem é governada por quatro processos cons tituintes atenção retenção produção e motivação ver Figura 142 adiante Processos de Atenção As pessoas não vão aprender nada a menos que pres tem atenção a aspectos significativos do comporta mento a ser modelado e que os percebam acurada mente É mais provável que prestemos atenção a comportamentos relevantes simples e que prometam ter algum valor funcional Em conseqüência um mo delo vívido atraente competente e visto repetidamen te tende a chamar mais a nossa atenção Além disso o que uma pessoa nota é influenciado por sua base de conhecimento e orientação atual As características dos observadores também determinam quanto comporta mento imitativo vai ocorrer em uma dada situação As crianças extremamente dependentes por exemplo são mais influenciadas pelo comportamento de um modelo do que as menos dependentes Jakubczak Walters 1959 As características do modelo e do observador em geral determinam juntas o que vai ocorrer Um estu do especialmente informativo mostrando a interação entre modelo e observador foi realizado por Hethe rington e Frankie 1967 com crianças pequenas e seus pais Observando os pais os investigadores primeiro determinaram o grau de carinho e cuidado que cada um expressava em relação à criança e qual progenitor era dominante em termos dos cuidados à criança Subseqüentemente a criança observava cada proge nitor brincar com brinquedos e jogos fornecidos pelos investigadores e logo depois permitiase que ela brin casse com os mesmos materiais Era então registrada a quantidade de comportamento imitativo da crian ça As crianças de ambos os sexos tendiam muito mais a imitar um progenitor carinhoso e cuidadoso do que um frio ou punitivo mas o maior efeito foi encontra TEORIAS DA PERSONALIDADE 465 do nas meninas cujas mães eram carinhosas O proge nitor dominante também provocava mais comporta mentos imitativos mas quando o pai era dominante as meninas imitavam mais a mãe do que o pai Processos de Retenção Um comportamento não pode ser reproduzido a me nos que o lembremos por meio de uma codificação simbólica A retenção do comportamento observado depende principalmente das imagens mentais e das representações verbais A memória pode ser aumen tada pela organização do material e pelo ensaio O material retido geralmente é transformado para cor responder a algum conhecimento ou expectativa exis tente por parte do aprendiz Processos de Produção O aprendiz precisa ser capaz de reproduzir o compor tamento que foi observado Um comportamento ob servado independentemente de quão bem é lembra do não pode ser encenado sem as necessárias habilidades e capacidades Às vezes os problemas de produção decorrem de uma falta das habilidade cog nitivas ou motoras necessárias mas muitas vezes re fletem a falta de feedback da pessoa a respeito daquilo que realmente está fazendo Isso é verdade na apren dizagem de muitas habilidades atléticas mas também é um problema freqüente nos comportamentos soci ais Pode ser extremamente informativo e perturba dor ver ou ouvir fitas gravadas do nosso comporta mento Tentativa e erro prática e feedback todos contribuem para aquilo que geralmente é um proces so gradual de traduzir conhecimento em ação Processos Motivacionais A teoria da aprendizagem social de Bandura enfatiza a distinção entre aquisição e desempenho porque as pessoas não encenam tudo o que aprendem O de sempenho de um comportamento observado é influ enciado por três tipos de incentivo direto vicário in direto e autoadministrado Um comportamento aprendido será encenado se levar diretamente ao re sultado desejado se observamos que foi efetivo para o modelo ou se for autosatisfatório Em outras pala vras é provável que tenhamos um certo comporta mento se acreditarmos que será benéfico agirmos as sim Podemos perceber bem o papel crítico que Ban dura atribui à imitação no desenvolvimento da perso nalidade quando ele analisa sua contribuição para a aquisição de novas respostas Em uma série de expe rimentos realizados com crianças Bandura e seus co legas demonstraram que os sujeitos que tinham tido a chance de observar uma série de respostas incomuns de um indivíduo o modelo tendiam a exibir as mes mas respostas quando colocados em um ambiente se melhante Em um estudo representativo Bandura Ross Ross 1961 crianças de escola maternal tes tadas uma de cada vez observaram um modelo adul to realizar uma série de atos agressivos físicos e ver bais em relação a uma boneca grande Outras crianças viram um adulto nãoagressivo que ficava sentado tranqüilamente na sala experimental e não prestava Figura 142 Subprocessos que governam a aprendizagem observacional Reimpressa com a permissão de Bandura 1986 p 52 466 HALL LINDZEY CAMPBELL nenhuma atenção à boneca Mais tarde as crianças foram submetidas a uma leve frustração e depois co locadas sozinhas na sala com a boneca O comporta mento dos grupos tendia a ser congruente com o mo delo do adulto As crianças que tinham visto um adulto agressivo realizaram mais atos agressivos do que um grupo de controle que não tivera nenhuma experiên cia com o modelo e deram mais respostas exatamen te iguais às do modelo do que as criançascontrole Além disso as crianças que tinham observado o adul to nãoagressivo deram ainda menos respostas agres sivas do que os sujeitoscontrole Como esse experimento ilustra as crianças podem aprender respostas novas simplesmente observando os outros Igualmente importante ele mostra que a aprendizagem pode ocorrer sem que as crianças te nham tido a oportunidade de dar a resposta elas mes mas e sem que o modelo ou elas próprias tenham sido recompensados ou reforçados pelo comportamen to A capacidade de dar respostas novas observadas algum tempo antes mas nunca realmente praticadas é possível devido às habilidades cognitivas humanas Os estímulos oferecidos pelo modelo são transforma dos em imagens daquilo que o modelo fez ou disse ou parecia e ainda mais importante são transformados em símbolos verbais que mais tarde podem ser lem brados Essas habilidades cognitivas simbólicas tam bém permitem aos indivíduos transformar aquilo que aprenderam ou combinar o que observaram em dife rentes modelos em novos padrões de comportamen to Assim ao observar os outros podemos desenvol ver soluções novas e não simplesmente imitações obedientes Nas culturas humanas o novo comportamento é freqüentemente adquirido observandose o compor tamento dos outros Muitas vezes a instrução é bem direta uma criança por exemplo aprende aquilo que vê os outros fazerem Mas os indivíduos também po dem ser influenciados por modelos apresentados em formas mais simbólicas As representações pictóricas como as do cinema e da televisão são fontes de mo delos extremamente influentes Bandura Ross e Ross 1963a por exemplo descobriram que as crianças que assistiam ao comportamento agressivo de um modelo adulto vivo não apresentavam uma tendência maior a imitálo do que as crianças que assistiam a um filme ou mesmo a um desenho animado do mes mo comportamento Bandura sugere que a exposição a modelos além de levar à aquisição de novos comportamentos tem outros dois tipos de efeito Primeiro o comportamen to de um modelo pode simplesmente servir para pro vocar o desempenho de respostas semelhantes já exis tentes no repertório do observador Esse efeito facilitador é especialmente provável quando o com portamento é de natureza socialmente aceitável A segunda maneira como um modelo pode influenciar um observador ocorre quando o modelo está apre sentando um comportamento socialmente proscrito ou desviante As inibições do observador com relação a ter aquele comportamento podem ser reforçadas ou enfraquecidas ao observar o modelo dependendo de o comportamento do modelo ter sido punido ou re compensado Rosekrans e Hartup 1967 por exem plo demonstraram que as crianças que tinham visto o comportamento agressivo de um modelo ser consis tentemente recompensado apresentaram um alto grau de agressão imitativa enquanto aquelas que viam o mesmo comportamento ser consistentemente punido praticamente não apresentaram nenhum comporta mento imitativo As crianças expostas a um modelo às vezes recompensado e às vezes punido apresenta ram uma quantidade intermediária de agressão Os tipos de aprendizagem indireta que estamos discutindo envolvem ações situadas na categoria ge ral de respostas instrumentais ou operantes Bandura 1969 indicou um outro tipo de aprendizagem ba seado na observação de um modelo que é crucial na teoria da aprendizagem social a aquisição indireta de respostas emocionais classicamente condicionadas Observadores expostos às reações emocionais de um modelo não só experienciam reações semelhantes mas também começam a responder emocionalmente a es tímulos que produziam essas reações no modelo Em um experimento ilustrativo de Bandura e Rosenthal 1966 os sujeitos observavam enquanto um mode lo apresentado como um sujeito real se deparava com uma série de toques de campainha Depois de cada toque de campainha o modelo simulava uma varie dade de reações de dor e era falsamente dito aos su jeitos que as reações eram provocadas por um forte choque aplicado imediatamente após a campainha Conforme indicado por uma medida fisiológica de TEORIAS DA PERSONALIDADE 467 responsividade emocional os sujeitos passaram a exi bir uma resposta emocional condicionada à campai nha mesmo em tentativas de testes em que o modelo estava ausente e apesar do fato de eles nunca terem experienciado diretamente o estímulo incondiciona do doloroso supostamente administrado ao modelo DETERMINISMO RECÍPROCO Bandura 1978 sugere que o comportamento huma no costuma ser explicado em termos de um conjunto limitado de determinantes agindo de maneira unidi recional Os teóricos da aprendizagem por exemplo sugerem que o comportamento é controlado por for ças situacionais É verdade que Skinner comenta a capacidade de contracontrole dos organismos mas mesmo essa noção apresenta o ambiente como a for ça instigadora que o indivíduo tenta anular O ambi ente de Skinner serve como uma força autônoma que automaticamente molda orquestra e controla o com portamento 1978 p 344 Os teóricos da persona lidade explicam o comportamento em termos de dis posições e motivos internos Mesmo nas formulações interacionistas p ex Murray e Allport a pessoa e o ambiente operam em grande parte de maneira autô noma ou unidirecional Ao contrário a teoria da aprendizagem social con ceitualiza o comportamento em termos de um deter minismo recíproco as influências pessoais as forças ambientais e o próprio comportamento funcionam como determinantes interdependentes ao invés de autônomos O efeito de cada um dos três componen tes é condicional aos outros Por exemplo o ambiente é uma potencialidade cujos efeitos dependem do en tendimento que o organismo tem dele e do seu com portamento nele Da mesma forma a pessoa desem penha diferentes papéis e tem diferentes expectativas em diferentes situações ela busca e cria o ambiente ao qual responde e o próprio comportamento contri bui para definir o ambiente e o entendimento da pes soa de quem ela é Bandura está sugerindo em parte que as pessoas não simplesmente reagem ao ambien te externo na verdade os fatores externos só influen ciam o comportamento pela mediação dos processos cognitivos da pessoa Ao alterar seu ambiente ou cri ar autoinduções condicionais as pessoas influenci am os estímulos aos quais respondem Ao longo dos anos muitos autores reconheceram que as disposições individuais e as forças situacionais interagem para produzir comportamentos mas os processos de interação foram conceitualizados de três maneiras muito diferentes ver Figura 143 Na inte ração unidirecional as pessoas e as situações são con sideradas entidades independentes que se combinam para gerar os comportamentos Segundo Bandura esse ponto de vista é simplista porque os fatores pessoais e ambientais de fato se influenciam mutuamente Na concepção bidirecional de interação as pessoas e as situações são vistas como causas interdependentes mas o comportamento é visto apenas como uma con seqüência que não aparece no processo causal Na vi são da aprendizagem social do determinismo recípro co o comportamento as forças ambientais e as características pessoais funcionam todos como de terminantes interligados uns dos outros Bandura 1978 oferece três exemplos de como podem variar as contribuições relativas desses três componentes Primeiro se pessoas forem largadas em águas profundas a situação vai ditar que todas come cem a nadar Alternativamente o comportamento pode ser o aspecto central no sistema Por exemplo quan do uma pessoa toca músicas conhecidas de piano para FIGURA 143 Representação esquemática de três concepções alternativas de interação C significa comportamento P eventos cognitivos e outros eventos internos que podem afetar as percepções e ações e E o ambiente externo Reimpressa com a permissão de Bandura 1978 p 345 468 HALL LINDZEY CAMPBELL seu prazer pessoal os processos cognitivos e o ambi ente contextual pouco contribuem Finalmente po dem predominar os fatores cognitivos como quando falsas crenças desencadeiam respostas de esquiva que tornam a pessoa desatenta ao ambiente real e não são alteradas pelo feedback sobre sua qualidade ineficaz e distorcida Bandura está dizendo que devemos ser flexíveis ao considerar as interações entre pessoa comporta mento e ambiente Por exemplo suponha que obser vamos um aluno que está falando diante da classe Como podemos entender seu comportamento Uma abordagem de personalidade poderia destacar que a pessoa é muito loquaz uma abordagem de aprendi zagem procuraria reforços ambientais para o compor tamento de falar e uma abordagem interacionista examinaria as contribuições da pessoa e da situação ao comportamento Mas Bandura diz que temos de perceber o relacionamento determinante recíproco entre a pessoa o comportamento e o ambiente Isto é a pessoa tem uma tendência a falar e o ambiente reforça sua loquacidade mas também acontece que falar é um feedback que torna mais provável que a pessoa fale no futuro e o comportamento de falar tam bém contribui para tornar uma sala de aula o tipo de ambiente em que a fala ocorre Ademais precisamos perceber que a pessoa contribui para a natureza do ambiente exatamente como o ambiente influencia quem a pessoa é Pessoa situação e comportamento estão inextricavelmente entrelaçados Além disso o determinismo recíproco exige que descartemos a ficção de que um evento só pode ser compreendido como um estímulo uma resposta ou um reforço Por exemplo suponha que uma garoti nha pegue um biscoito da lata de biscoitos um pouco antes do jantar O pai diz para pôlo de volta o que ela faz e ele responde dizendo Que boa menina você é Como podemos conceitualizar esta seqüência com portamental O pai dizer à filha para devolver o bis coito é um estímulo ela devolver é uma resposta e o elogio dele é um reforço Isso parece bastante sim ples mas Bandura salienta que o comportamento con tinua O próximo evento na seqüência pode ser a filha abraçar o pai Agora ela devolver o biscoito serve como um estímulo o elogio dele é uma resposta e o abraço dela o reforça pelo elogio Se ele por sua vez abraçá la o elogio dele é um estímulo o abraço dela uma resposta e ele reforça o abraço dela com o abraço dele E assim por diante A nossa interpretação de uma ação depende de onde a localizamos no fluxo de compor tamento e no determinismo recíproco O determinismo recíproco também faz Bandura explicar a liberdade e o determinismo de uma manei ra que soa muito parecida com a de George Kelly Isto é as pessoas são livres na extensão em que conse guem influenciar as futuras condições às quais res ponderão mas seu comportamento também é limita do pelo relacionamento recíproco entre cognição pessoal comportamento e ambiente Conforme Ban dura 1978 p 356357 afirma Uma vez que as con cepções das pessoas seu comportamento e seus am bientes são determinantes recíprocos um do outro os indivíduos não são objetos impotentes controlados por forças ambientais nem agentes inteiramente livres que podem fazer o que quiserem Uma análise completa do comportamento da pers pectiva do determinismo recíproco exige que consi deremos como os três conjuntos de fatores cogniti vos comportamentais e ambientais se influenciam mutuamente Essa análise deixa claro que a teoria da aprendizagem social de modo algum ignora os deter minantes internos pessoais do comportamento Mas em vez de conceitualizar esses determinantes como dimensões estáticas de traços Bandura os trata como fatores cognitivos dinâmicos que regulam e são re gulados pelo comportamento e pelo ambiente Ban dura discute os determinantes pessoais do comporta mento em termos do autosistema e da autoeficácia do indivíduo Trataremos agora dessas variáveis da pessoa O AUTOSISTEMA Bandura não aceita a tentativa comportamentalista radical de eliminar os determinantes internos cogni tivos do comportamento pelo desvio conceitual de reduzilos à conseqüência de eventos ambientais an teriores As cognições têm claramente origens exter nas mas seu papel na regulação do comportamento não pode ser reduzido à experiência anterior Não podemos atribuir a experiências passadas uma capa cidade generalizável esquecendo as influências atu ais decorrentes do exercício dessa capacidade não mais do que atribuiríamos as obrasprimas literárias TEORIAS DA PERSONALIDADE 469 de Shakespeare à sua instrução anterior da mecânica da escrita Bandura 1978 p 350 Mas Bandura tam bém não endossa a perspectiva das teorias do self em que uma autoimagem global explica o comporta mento em uma grande variedade de situações Na teoria da aprendizagem social um autosistema não é um agente psíquico que controla o comportamento Ele se refere a estruturas cognitivas que fornecem mecanismos de preferência e a uma série de subfun ções da percepção da avaliação e da regulação do comportamento 1978 p 348 Também é necessá rio um entendimento das influências autogeradas in cluídas no autosistema para a explicação e predição do comportamento humano A Figura 144 resume os três processos componentes envolvidos na autoregu lação do comportamento pela ativação de contingên cias autoprescritas Tomados como um conjunto es ses processos definem o autosistema e constituem as bases do autoreforço do comportamento Nós vamos examinar um componente de cada vez AutoObservação Nós observamos continuamente o nosso próprio com portamento notando fatores como qualidade quan tidade e originalidade daquilo que fazemos Quanto mais complexo o comportamento que estamos obser vando e mais intricado o ambiente em que ele é ob servado mais provável que a autoobservação inclua certa inexatidão Os estados temporários de humor e a motivação para a mudança também podem influen ciar como o nosso desempenho é monitorado e pro cessado Processo de Julgamento O comportamento gera uma autoreação por meio de julgamentos sobre a correspondência entre aquele comportamento e nossos padrões pessoais Podemos definir a adequação por referência a comportamen tos passados e conhecimento de normas ou por pro cessos de comparação social A escolha dos alvos para a comparação obviamente influencia os julgamentos que serão feitos os autojulgamentos são intensifica dos quando as pessoas menos capazes são escolhidas para a comparação Os julgamentos também variam dependendo da importância da atividade que está sendo julgada e das atribuições individuais quanto aos determinantes do comportamento Criticamos mais os comportamentos que são importantes e pelos quais nos consideramos responsáveis FIGURA 144 Subprocessos envolvidos na autoregulação do comportamento por meio de padrões internos e auto incentivos Reimpressa com a permissão de Bandura 1986 p 337 470 HALL LINDZEY CAMPBELL AutoReação As autoavaliações produzidas por meio da operação dos dois primeiros componentes criam o cenário para o indivíduo fazer uma avaliação do comportamento As avaliações favoráveis geram autoreações recom pensadoras e os julgamentos desfavoráveis ativam autorespostas punitivas Os comportamentos vistos como não tendo nenhuma importância pessoal não geram nenhuma reação As autoreações produzidas nesse estágio alteram o comportamento subseqüente principalmente ao motivar a pessoa a se esforçar para obter algum resultado desejado Bandura 1991b A influência recíproca que Bandura descreve como existindo entre a pessoa e o ambiente é ilustrada em sua afirmação de que os sistemas de autoreforçado res são adquiridos pelos mesmos princípios de apren dizagem responsáveis pela aquisição de outros tipos de comportamento Assim aquilo que os indivíduos recompensam e punem em si mesmos pode refletir as reações que seu comportamento provocou nos outros Pais parentes e outros agentes socializadores estabe lecem padrões comportamentais recompensando o indivíduo por viver à altura deles e expressando seu desagrado quando a pessoa falha Essas normas ex ternamente impostas podem ser assumidas pelo in divíduo e constituir a base de sistemas posteriores de autoreforço Podemos esperar comenta Bandura que os indivíduos que quando crianças foram elogiados e admirados por níveis bastante baixos de realização sejam mais generosos em suas autorecompensas do que aqueles que tinham de estar à altura de altos pa drões de excelência e na verdade há evidências de que isso acontece Kanfer Marston 1963 Extensivas evidências indicam que os padrões autoavaliativos também podem ser adquiridos indi retamente observandose os outros Em um experi mento representativo de Bandura e Kupers 1964 as crianças observavam um modelo que estabelecia um padrão alto ou baixo de realização para autore compensa A observação posterior das crianças reali zando a mesma tarefa mostrou que aquelas expostas ao modelo com um baixo padrão eram mais indul gentes em suas autorecompensas do que aquelas que observaram o modelo mais rígido Como no caso de outros comportamentos as ca racterísticas do modelo influenciam se um observa dor vai ou não prestar atenção e tentar emular os pa drões de autoreforço do modelo Em certas condi ções as crianças por exemplo são mais propensas a imitar os iguais do que os adultos Bandura Grusec Menlove 1967b ou modelos cujos padrões de reali zação estejam ao seu alcance e não fora de sua capa cidade Bandura Whalen 1966 Os componentes do autosistema não funcionam como reguladores autônomos do comportamento mas desempenham um papel na determinação recíproca do comportamento Os fatores externos afetam os pro cessos autoreguladores de pelo menos três maneiras primeiro como vimos os padrões internos em com paração com os quais o comportamento é julgado são extraídos das nossas experiências Segundo as influ ências ambientais podem alterar a maneira como jul gamos o nosso comportamento Por exemplo as pes soas freqüentemente experienciam sanções negativas dos outros por uma autorecompensa não merecida Além disso manter altos padrões é socialmente pro movido por um vasto sistema de recompensas inclu indo elogios reconhecimento social e honras Ban dura 1978 p 354 Finalmente existem fatores externos que promovem a ativação e o desligamento seletivos de influências autoreativas Essa influên cia merece uma discussão mais detalhada Bandura está bem consciente de que o ser huma no é capaz de comportamentos desumanos Ele argu menta que entidades incorporadas como o superego de Freud não conseguem explicar a operação variá vel de controles internos Do ponto de vista da apren dizagem social pessoas ponderadas realizam atos condenáveis devido à dinâmica recíproca entre deter minantes pessoais e situacionais e não devido a de feitos em suas estruturas morais O desenvolvimento de capacidades autoreguladoras não cria um meca nismo de controle invariante dentro da pessoa 1978 p 354 ver também Bandura 1977b 1986 1990 Quando as pessoas apresentam um comportamento repreensível que deveria dar origem à autocondena ção elas conseguem desligarse de uma maneira que as protege da autocrítica A Figura 145 ilustra como e em que ponto isso pode ocorrer No nível do com portamento em si o comportamento repreensível pode tornarse aceitável quando a pessoa o percebe mal como ocorrendo a serviço de uma causa moral A jus tificação moral e a rotulação eufemística são freqüen temente usadas para evitar a autoreprovação e a re provação social e os atos que deveriam ser deplorados TEORIAS DA PERSONALIDADE 471 podem tornarse aceitáveis quando comparados com flagrantes desumanidades Um outro conjunto de medidas defensivas opera distorcendo o relacionamen to entre uma ação e seus efeitos Assim o desloca mento da responsabilidade para as autoridades supe riores e a difusão da responsabilidade para um grupo maior podem ser usados pela pessoa para se dissociar da culpabilidade criando a ilusão de que ela não é pessoalmente responsável Um terceiro conjunto de mecanismos para desli garse das funções de autocondenação é distorcer as conseqüências do ato Assim podemos minimizar ig norar distorcer ou de alguma maneira isolarnos dos efeitos prejudiciais aparentes da nossa ação Finalmen te podemos nos livrar de respostas autopunitivas es peradas desvalorizando desumanizando ou culpan do a vítima de um ato injusto desculpando assim o ato em si A existência de estereótipos sociais facilita essas distorções defensivas Bandura 1978 sugere que os julgamentos pes soais operam em todos os estágios da autoregula ção impedindo assim a automaticidade do proces so Como conseqüência existe uma considerável amplitude para os fatores de julgamento pessoal ati varem ou não as influências autoreguladoras em qual quer atividade dada 1978 p 355 Mas o que ele não explica é a origem a operação e o acionamento desses julgamentos pessoais Isto é por que e quando escolhemos nos desligar de certos comportamentos e não de outros É uma questão de nível de excitação ou de extremidade do comportamento Se é o que determina o limiar de ativação Finalmente o leitor deve notar o paralelo entre esses mecanismos de des ligamento seletivo e os mecanismos de defesa descri tos por Freud e Rogers bem como as estratégias de salvaguarda articuladas por Alfred Adler APLICAÇÕES À TERAPIA Como poderíamos antecipar a partir dessa descrição dos princípios mais importantes da teoria da aprendi zagem social Bandura acredita que técnicas basea das na teoria da aprendizagem podem ser extrema mente efetivas para modificar os comportamentos indesejáveis De fato o primeiro livro de Bandura Prin ciples of Behavior Modification 1969 é quase exclu sivamente dedicado a uma discussão dessas técnicas incluindo vários métodos novos desenvolvidos por ele e seus associados para eliminar as reações infundadas de medo Bandura 1968 Bandura Grusec Menlo ve 1967a Bandura Menlove 1968 Essas últimas técnicas originadas de trabalhos experimentais sobre modelagem e aprendizagem observacional supõem não apenas que as respostas emocionais podem ser adquiridas por experiências diretas e indiretas com eventos traumáticos mas tam bém que nas circunstâncias apropriadas elas podem ser extintas direta ou indiretamente Assim as pesso FIGURA 145 Mecanismos pelos quais o comportamento é desligado das conseqüências autoavaliativas em diferentes pontos do processo comportamental Reimpressa com a permissão de Bandura 1978 p 355 472 HALL LINDZEY CAMPBELL as com medos infundados ou exagerados devem ser capazes de reduzir suas reações defensivas e emocio nais ao observar um modelo interagir destemidamen te com o objeto ou com o evento ansiogênico e de reduzilas ainda mais ao praticar o comportamento do modelo em uma situação nãoameaçadora sob a orientação desses trabalhos experimentais Numero sos experimentos usando várias técnicas de modela gem com crianças e adultos produziram resultados muito animadores Um estudo de Bandura Blanchard e Ritter 1969 é de especial interesse uma vez que incorpora vários aspectos das técnicas de dessensibi lização de Wolpe às condições de modelagem e tam bém inclui para propósitos de comparação uma con dição de dessensibilização convencional Adolescentes e adultos sofrendo de grave fobia de cobras foram divididos em três grupos de tratamentos diferentes Aos membros do grupo de dessensibilização foi apre sentada uma série graduada de cenas imaginárias en volvendo cobras enquanto eles estavam em profun do relaxamento No segundo grupo foi usada uma condição de modelagem simbólica em que os sujeitos assistiam a um filme mostrando modelos em intera ções progressivamente mais próximas com uma gran de cobra também enquanto mantinham um relaxa mento profundo O terceiro grupo observou um modelo vivo dar respostas semelhantes diante de uma cobra real Depois de cada uma dessas interações es tes últimos sujeitos foram solicitados a realizar o mes mo comportamento que o modelo inicialmente com a ajuda do modelo e mais tarde sozinhos Todos os sujeitos foram solicitados a realizar uma série graduada de tarefas envolvendo cobras antes e depois do tratamento Enquanto os sujeitoscontrole que fizeram apenas essas duas séries de testes e ne nhum tratamento interveniente não mostraram pra ticamente nenhuma mudança em seu comportamen to um acentuado aumento no comportamento de aproximação foi observado nos grupos de dessensibi lização e modelagem simbólica após o tratamento Mas a técnica mais bemsucedida foi a modelagem partici pante isto é aquela em que os sujeitos foram expos tos a um modelo real e foram orientados na interação com o objeto fóbico AUTOEFICÁCIA Antes dos teóricos da aprendizagem social as inter venções terapêuticas baseadas nos princípios da apren dizagem eram conceitualizadas em termos dos efei tos automáticos de reforços administrados imediata mente Ao contrário Bandura propôs que os proces sos cognitivos desempenham um papel importante na aquisição e na persistência dos comportamentos pa tológicos exatamente como acontece no comporta mento normal Essa foi uma proposta radical Ban dura p ex 1977a rejeitou a crença dominante de que a angústia emocional é o elementochave causa dor da incapacidade de lidar efetivamente com um objeto ou evento temido e rejeitou a suposição para lela de que a mudança terapêutica é produzida pela eliminação da angústia emocional Segundo Bandu ra o que cria um problema para o indivíduo que está sofrendo de medo ou de um comportamento de es quiva é a crença de que ele é incapaz de lidar bem com uma situação A mudança terapêutica seja qual for sua forma específica resulta do desenvolvimento de um senso de autoeficácia da expectativa de que podemos por esforço pessoal dominar uma situação e provocar um resultado desejado Em outras pala vras a meta da terapia é criar e reforçar as expectati vas de eficácia pessoal Bandura distingue entre dois componentes de autoeficácia uma expectativa de eficácia e uma ex pectativa de resultado Conforme indicado na Figura 146 ver adiante uma expectativa de resultado se refere à crença da pessoa de que um dado comporta mento levará a um resultado específico Uma expec tativa de eficácia é a convicção de que a própria pes soa é capaz do comportamento necessário para gerar o resultado Essa distinção é importante porque um indivíduo pode acreditar que uma ação levará a um resultado mas duvidar de sua capacidade de realizar a ação Bandura supõe que a autoeficácia afeta o iní cio e a persistência do comportamento de manejo As pessoas temem e evitam as situações que percebem como excedendo suas habilidades de manejo mas entram confiantemente em situações que acreditam poder dominar Além disso as expectativas de eficá TEORIAS DA PERSONALIDADE 473 cia determinam quanto as pessoas vão se esforçar e persistir em um comportamento A autoeficácia per cebida não garante o sucesso Entretanto dadas as habilidades apropriadas e os incentivos adequados as expectativas de eficácia são um determinante mai or da atividade que a pessoa vai escolher de quanto esforço vai dispender e de quanto tempo vai manter o esforço de lidar com situações estressantes Bandu ra 1977a p 194 Segundo a perspectiva de aprendizagem social de Bandura as expectativas de eficácia pessoal baseiam se em quatro fontes importantes de informação rea lizações de desempenho experiência indireta persu asão verbal e excitação emocional A Figura 147 lista essas fontes e os procedimentos terapêuticos associa dos usados para criar as expectativas de domínio ou maestria As realizações de desempenho são o método mais efetivo de induzir o domínio porque se baseiam em experiências reais de domínio Ao permitir que o indivíduo experiencie repetidos sucessos é provável que se desenvolvam fortes expectativas de eficácia especialmente se ele puder atribuir o sucesso aos pró prios esforços e não à intervenção de alguma agência externa Bandura sugere que a modelagem participan te é uma técnica especialmente útil uma vez que per mite ao indivíduo não só realizar as tarefas com re sultados positivos que levam às metas desejadas mas também permite a introdução de outros artifícios para induzir o indivíduo a persistir até ser obtido um senso de domínio ou maestria Tais artifícios seriam a ob FIGURA 146 Representação diagramática da diferença entre expectativas de eficácia e expectativas de resultado Reimpressa com a permissão de Bandura 1977a p 193 FIGURA 147 Fontes mais importantes de informação sobre eficácia e as principais fontes pelas quais diferentes modos de tratamento operam Reimpressa com a permissão de Bandura 1977a p 195 474 HALL LINDZEY CAMPBELL servação inicial de um modelo o desempenho em uma série graduada de tarefas com a ajuda do modelo em intervalos cuidadosamente espaçados e o gradual abandono da ajuda fazendo com que o indivíduo passe a depender cada vez mais dos próprios esforços Ban dura Jeffery Wright 1974 As evidências impressivas apoiando a hipótese de que os procedimentos que provocam mudança com portamental o fazem ao aumentar a força da auto eficácia foram apresentadas por Bandura Adams e Beyer 1977 em um estudo de adultos com fobia grave de cobras Como em muitos experimentos ante riores os sujeitos tratados pela técnica de modela gem participante que lhes proporcionou experiênci as bemsucedidas de domínio com o objeto fóbico foram capazes em um teste de póstratamento de interagir mais estreitamente com uma cobra desco nhecida do que aqueles que tinham tido apenas a ex periência indireta de observar um modelo Importan tíssimo na teoria de Bandura é o relacionamento entre o resultado da terapia e as expectativas de eficácia dos participantes Quando questionados na conclu são do tratamento sobre quanta certeza tinham de que seriam capazes de realizar as tarefas da série de testes os indivíduos no grupo de modelagem partici pante indicaram expectativas maiores e mais tarde seu desempenho no teste foi melhor do que os que tinham tido apenas uma experiência indireta Além disso a força das expectativas de eficácia de cada in divíduo predizia com exatidão os comportamentos posteriores independentemente do grupo de trata mento em que a pessoa estava A experiência indireta também pode aumentar a autoeficácia embora não tão prontamente quanto o desempenho direto Observar alguém fazendo uma atividade ameaçadora sem conseqüências negativas pode contribuir para uma expectativa no observador de que ele vai melhorar se for persistente A modela gem que leva a resultados bemsucedidos é extrema mente efetiva Da mesma forma múltiplos modelos são mais efetivos do que um único modelo Bandura Menlove 1968 A persuasão verbal ou encorajar a pessoa a acre ditar que ela é capaz de lidar efetivamente é bastante popular mas geralmente se mostra menos efetiva do que as outras estratégias Finalmente as situações estressantes freqüentemente provocam excitação emo cional e essa excitação pode servir como uma pista para desencadear uma percepção de baixa eficácia Por exemplo um aluno com ansiedade de teste pode experienciar sua freqüência cardíaca acelerada quan do a prova é colocada diante dele como um sinal de que está se deparando com uma situação em que não terá sucesso Como conseqüência ensinar às pessoas técnicas para reduzir a excitação aversiva pode elimi nar algumas das pistas que desencadeiam a percep ção de baixa autoeficácia Dessa perspectiva a exci tação fisiológica é compreendida como uma fonte de informação e não como um estado impulsivo energi zante Seja qual for a estratégia empregada Bandura enfatiza que o efeito sobre as expectativas de eficácia depende de como a informação é cognitivamente ava liada As experiências de sucesso tendem a aumentar a autoeficácia se forem percebidas como resultando de capacidades aumentadas em vez de serem atribu ídas à sorte ou a circunstâncias especiais Bandura argumenta que a importância da auto eficácia não se limita a ambientes clínicos Mas ele enfatiza que a autoeficácia não é um motivo geral e sim específico para uma determinada área Uma pessoa que tem um forte senso de autoeficácia como aluno não vai necessariamente sentirse eficaz em si tuações sociais ou atléticas A abordagem de apren dizagem social baseiase então em uma microanálise de capacidades de manejo percebidas e não em tra ços de personalidade ou motivos de eficiência globais Dessa perspectiva é tão informativo falar sobre a auto eficácia em termos gerais quanto falar sobre um com portamento de abordagem inespecífica Bandura 1977a p 203 Bandura estendeu essa estratégia de pesquisa microanalítica a trabalhos subseqüentes p ex Ban dura 1982 1983 Bandura e colaboradores 1977 Bandura Cervone 1983 Bandura Reese Adams 1982 Tipicamente os participantes dessas pesqui sas recebem escalas de autoeficácia representando uma série de tarefas em algumas áreas que variam em dificuldade ou tensão Eles indicam as tarefas que acreditam serem capazes de fazer e seu grau de certe za do julgamento Os julgamentos são então relacio nados ao desempenho real O achado típico em uma grande variedade de comportamentos é que o desem penho na tarefa está positivamente correlacionado aos julgamentos de eficácia Alguns desses trabalhos p ex Bandura Adams Hardy Howells 1980 indi cam que os níveis de excitação de medo diminuem e TEORIAS DA PERSONALIDADE 475 as autopercepções de eficácia aumentam após a ex posição a uma variedade de intervenções terapêuti cas Todo esse trabalho sobre a autoeficácia percebi da sugere a Bandura 1982 uma maneira alternativa de conceitualizar a ansiedade humana As teorias psi canalíticas explicam a ansiedade em termos de confli tos intrapsíquicos em relação à expressão de impul sos proibidos e a teoria do condicionamento propõe que os eventos anteriormente neutros adquirem pro priedades ansiogênicas por associação a experiências dolorosas Ao contrário dessas duas posições a ori gem primária da ansiedade na teoria de aprendiza gem social de Bandura é a ineficácia percebida na capacidade de lidar com eventos potencialmente aver sivos Bandura 1982 elabora melhor a conexão entre autoeficácia e as reações afetivas retornando à dis tinção entre expectativas de eficácia e de resultado As pessoas podem desistir de tentar porque duvidam da sua capacidade de fazer o que é requerido ou por que imaginam que seus esforços serão inúteis devido à falta de resposta do ambiente Isto é um senso de futilidade pode basearse tanto na eficácia quanto no resultado Em qualquer exemplo dado a melhor maneira de predizer o comportamento seria conside rar tanto as crenças de autoeficácia quanto de resul tado 1982 p 140 Considere as quatro combina ções possíveis de julgamentos bons e maus sobre autoeficácia e resultados conforme ilustrado na Fi gura 148 Um alto senso de autoeficácia combinado com um ambiente responsivo em que o desempenho efetivo é recompensado leva ao comportamento se guro ativo A baixa responsividade ambiental estimula o ativismo social o protesto e o ressentimento em in divíduos com elevada autoeficácia A mesma falta de responsividade leva à apatia à resignação e à ansie dade em indivíduos com baixa autoeficácia Final mente é a combinação de baixa autoeficácia e um ambiente potencialmente responsivo que cria a de pressão Isto é as pessoas desanimam quando não conseguem apresentar aqueles comportamentos que estão sendo recompensados em outras pessoas Essa é uma análise fascinante O trabalho de Bandura sobre a autoeficácia em conjunção com suas noções de determinismo recípro co e autosistema também oferecelhe um poderoso instrumento para explicar a ação humana Segundo esse modelo e em contraste com uma análise skinne riana o ser humano possui a capacidade de exercer controle sobre os eventos em sua vida Nós não con trolamos os resultados de maneira autônoma ou me cânica Pelo contrário as capacidades humanas dis tintivas de criar as representações de metas e de antecipar os resultados prováveis conforme incorpo radas na autoeficácia e no autosistema levam a um modelo de agência interativa emergente Bandura 1986 As pessoas não são agentes autônomos nem simplesmente transmissores mecânicos de influênci as ambientais animadoras Elas fazem contribuições causais à sua motivação e ação dentro de um sistema de causação triádica recíproca Nesse modelo de cau sação recíproca os fatores pessoais cognitivos afeti vos de ação e outros e os eventos ambientais todos operam como determinantes interatuantes Bandu ra 1989 p 1175 Como veremos mais adiante neste FIGURA 148 Efeitos interativos de autopercepções de eficácia e expectativas de resultado da resposta sobre o comportamento e as reações afetivas Reimpressa com a permissão de Bandura 1982 p 140 476 HALL LINDZEY CAMPBELL capítulo Walter Mischel adota uma perspectiva mui to semelhante PESQUISA CARACTERÍSTICA E MÉTODOS DE PESQUISA Um dos aspectos mais admiráveis do modelo de Ban dura é a extensão em que sua teoria se baseia na pes quisa empírica Como uma conseqüência desse estrei to vínculo já apresentamos alguns achados de pesquisa e nesta seção discutiremos estudos adicio nais Não incluímos uma seção de Pesquisa Atual nes te capítulo por duas razões Primeiro devido ao es treito relacionamento recíproco entre a teoria e a pesquisa de Bandura e Mischel é impossível articular suas posturas teóricas sem uma freqüente referência à literatura empírica que ambos produziram e provo caram Segundo as teorias de Bandura e Mischel são atuais na verdade elas continuam em desenvolvi mento Em uma série de estudos extremamente influente à qual aludimos antes neste capítulo Bandura 1965 1973 Bandura Ross Ross 1961 1963ab demons trou como as crianças aprendem comportamentos agressivos pela observação Em um estudo crianças de três a cinco anos de idade assistiram ao filme de um adulto apresentando comportamentos agressivos como dar socos em um grande boneco joãobobo de inflar e batendo nele com uma marreta O ator tam bém fazia comentários p ex Pum bem no nariz e Belo soco para garantir que os comportamentos sendo modelados eram novos Algumas crianças ob servaram o adulto sendo punido pela agressão ou tras o viram sendo recompensado e em uma terceira condição o modelo não sofreu nenhuma conseqüên cia As crianças foram então observadas quando tive ram a oportunidade de interagir com o joãobobo As que tinham visto o adulto ser recompensado por com portamentos agressivos apresentaram os comporta mentos mais agressivos e as que tinham visto o adul to ser punido foram as menos agressivas Tanto os meninos quanto as meninas mostraram esse efeito mas as meninas em geral foram menos agressivas Essa pesquisa demonstra que o comportamento agressivo pode ser adquirido por meio de modelagem Ela tam bém sugere que as conseqüências observadas para o modelo desempenham um papel importante da de terminação da probabilidade de os observadores tam bém se comportarem agressivamente mas a situação na verdade é mais complexa Em um estudo subse qüente Bandura ofereceu às crianças incentivos se elas conseguissem reproduzir o comportamento agressivo que tinham testemunhado As crianças das três con dições conseguiram reproduzir a agressão indepen dentemente de terem observado recompensa puni ção ou nenhuma conseqüência para o modelo Assim é criticamente importante manter uma distinção en tre aprendizagem e desempenho As crianças aprende ram novos comportamentos agressivos em todas as condições as conseqüências negativas para o modelo levaram à supressão do que fora aprendido por meio de observação mas uma mudança nos incentivos pro porcionou a ocasião para o comportamento emergir Bandura usa esses achados para rejeitar vigorosamente o argumento de que o comportamento violento tão dominante na televisão não será reproduzido pelos espectadores à medida que os personagens da televi são forem punidos por suas ações O comportamento pode ser aprendido pela observação indepen dentemente das conseqüências para o modelo a ques tãochave é se o observador vai antecipar as conseqü ências positivas pela reprodução do comportamento Da mesma forma outras pesquisas dessa série demons traram que as crianças modelavam o comportamento agressivo quando os atores estavam vestidos com rou pas de desenho animado Esses resultados contradi zem o argumento de que a violência dos desenhos animados não será reproduzida porque os persona gens não são reais O modelo de autoeficácia de Bandura também gerou muitas pesquisas Esse modelo originalmente foi apoiado por pesquisas sobre o tratamento da ansi edade e do comportamento fóbico Por exemplo Ban dura e colaboradores 1977 comparam tratamentos baseados em realizações de desempenho ou experi ência indireta sem nenhum tratamento para um gru po de fóbicos de cobras Eles descobriram que o trata mento baseado em realizações de desempenho ou maestria produzia expectativas mais elevadas mais sólidas e mais generalizadas de autoeficácia do que o tratamento baseado unicamente em experiências in diretas A autoeficácia também estava ligada ao de sempenho subseqüente com cobras TEORIAS DA PERSONALIDADE 477 A autoeficácia gerou um grande volume de pes quisas também em outras áreas Por exemplo Wein berg Hughes Crittelli England e Jackson 1984 tra balharam com sujeitos que queriam perder peso Os sujeitos foram classificados como tendo uma autoefi cácia preexistente elevada ou baixa com base em auto relatos de quantos quilos queriam perder nos dois meses seguintes e em avaliações de quão certos eles estavam de que conseguiriam perder esse peso Os sujeitos que indicaram estar pelo menos 60 certos de que perderiam o peso desejado foram designados como tendo uma elevada autoeficácia preexistente e os sujeitos que relataram estar menos de 50 cer tos foram classificados como tendo uma baixa auto eficácia preexistente Os sujeitos que foram designa dos para uma condição de autoeficácia manipulada elevada foram informados de que haviam sido especi almente selecionados para o estudo porque os testes revelaram que eles eram o tipo de pessoa que costu ma ter sucesso durante o programa seu comporta mento era freqüentemente atribuído a uma capaci dade de autocontrole previamente nãoreconhecida Os participantes designados para a condição de auto eficácia manipulada baixa não receberam nenhum fe edback especial desse tipo Os resultados revelaram que os sujeitos nas condições de autoeficácia pree xistente elevada e manipulada elevada perderam mais peso do que os sujeitos dos grupos baixos corres pondentes ver também Weinberg Gould Yukelson Jackson 1981 Hawkins 1992 reconhece que a teoria de Ban dura da autoeficácia teve um considerável impacto e que existem evidências abundantes indicando uma relação entre autoeficácia e comportamento p 252 Embora a autoeficácia possa ser útil para predizer o comportamento ele argumenta que ela não é uma causa do comportamento A melhor maneira de con ceitualizar a autoeficácia é como uma conseqüência do comportamento e não como uma causa do com portamento ver outras críticas de Eastman Marzi llier 1984 Marzillier Eastman 1984 e Kirsch 1980 ver também réplicas de Bandura 1980 1984a 1991a Litt 1988 investigou se a autoeficácia serve como um determinante causal da mudança comportamen tal ou se é melhor compreendêla como um correlato da mudança que já ocorreu Litt manipulou a auto eficácia em um grupo de universitárias e mediu sua tolerância à dor em uma condição de vasoconstrição por frio Ele descobriu que as expectativas de auto eficácia afetavam o desempenho além do que seria esperado a partir apenas dos desempenhos passados As mudanças nas expectativas de autoeficácia predi ziam mudanças na tolerância à vasoconstrição por frio Esses achados sugerem que as expectativas de auto eficácia podem ser determinantes causais do compor tamento em uma situação aversiva Litt 1988 p 149 Outros estudos nessa volumosa literatura inves tigaram a autoeficácia e as diferenças sexuais Poole Evans 1989 a autoeficácia e o envelhecimento Seeman Rodin Albert 1993 e correlatos fisioló gicos da autoeficácia Bandura Cioffi Taylor Brou illard 1988 Bandura e colaboradores 1982 Bandu ra Taylor Williams Mefford Barchas 1985 Wiedenfeld e colaboradores 1990 Um outro estudo sobre a autoeficácia merece ser mencionado tanto por ser um ótimo exemplo da abordagem quanto porque a autora articula a cone xão entre autoeficácia e algumas variáveis tradicio nais da personalidade Cozzarelli 1993 usou a auto eficácia para predizer o ajustamento psicológico entre as mulheres que fizeram um aborto Ela também ob teve medidas préaborto das dimensões de personali dade de otimismo controle autoestima e depressão Ela incluiu essas variáveis disposicionais ou de perso nalidade porque acredita que tais variáveis disposici onais influenciam a capacidade do indivíduo de lidar com o estresse por meio de sua influência sobre os sentimentos de autoeficácia Há muitas razões para acreditar que a autoeficácia pode ser considerada um predi tor mais proximal do ajustamento pósestresse do que a personalidade Primeiro os sentimentos de autoeficácia representam uma avaliação cogniti va específica da capacidade da pessoa de conse guir um resultado desejado em uma determinada situação Como avaliações mais generalizadas das habilidades e capacidades pessoais seria espera do que as variáveis disposicionais fossem contri buidores importantes para as crenças de eficácia em uma grande variedade de circunstâncias Entretanto embora os fatores disposicionais pos sam aplicarse em uma grande variedade de cir cunstâncias não é provável que produzam res postas tão adequadas às exigências de uma determinada situação como os sentimentos de 478 HALL LINDZEY CAMPBELL autoeficácia específicos para os eventos Os indivíduos com muita autoestima otimismo ou sentimentos crônicos de controle tendem a lem brar suas realizações passadas sob uma luz exces sivamente positiva e a ter uma história passa da de experiências de manejo mais bemsucedidas Finalmente sentimentos de controle otimis mo e autoestima elevada foram relacionados a uma maior capacidade de cultivar ou utilizar apoi os sociais Cozzarelli 1993 p 1225 A amostra de Cozzarelli incluía 291 mulheres que re alizaram um aborto no primeiro trimestre de gravi dez Essas mulheres completaram medidas de auto estima otimismo controle e depressão uma hora antes de fazer o aborto Elas também completaram uma medida de autoeficácia que perguntava quanta cer teza elas tinham de que nos próximos dois meses con seguiriam apresentar cinco comportamentos de ma nejo pósaborto pensar tranqüilamente sobre bebês passar de carro pela frente da clínica de abortos pas sar tempo com crianças sentindose à vontade conti nuar tendo boas relações sexuais e assistir a progra mas de televisão ou ler histórias sobre abortos Antes de ter alta da clínica as mulheres completaram medi das de ajustamento Três semanas mais tarde elas foram solicitadas a completar medidas de ajustamen to pósaborto Cozzarelli analisou separadamente o ajustamen to imediato e o ajustamento três semanas mais tarde e os resultados foram consistentes com suas hipóte ses Os sentimentos de autoeficácia apresentavam uma forte correlação positiva com o ajustamento ime diato Autoestima elevada otimismo e controle per cebido apresentavam correlações positivas levemente menores com autoeficácia mas as análises de traje tória revelaram que seus efeitos diretos sobre o ajus tamento eram pequenos Em outras palavras os fato res de personalidade exerciam sua influência sobre o ajustamento primariamente pela mediação da auto eficácia Resultados semelhantes foram obtidos no ajustamento depois de três semanas Cozzarelli con clui que as variáveis de personalidade ajudam as pes soas a enfrentar os eventos estressantes de vida ao aumentar os sentimentos de autoeficácia que por sua vez levam aos esforços de manejo O fato de a autoeficácia ser um preditor mais proximal de ajus tamento pósaborto do que as variáveis de personali dade pode refletir o fato de que como uma cognição específica de um evento os sentimentos de autoefi cácia tendem mais a gerar as metas especificamente talhadas para atender aos requerimentos de uma si tuação específica p 1232 Reciprocamente dada sua natureza global as variáveis de personalidade podem contribuir para as crenças de autoeficácia em uma grande variedade de situações Esse foco nas va riáveis cognitivas que influenciam o comportamento em um ambiente específico em vez de em disposi ções globais que se aplicam com menos força em uma grande variedade de ambientes é uma marca regis trada da abordagem de aprendizagem social articula da por Bandura e por Walter Mischel WALTER MISCHEL Conforme discutimos no final do Capítulo 7 Persona lity and Assessment de Walter Mischel 1968 con tinha uma crítica extremamente influente às teorias tradicionais da personalidade Sua conclusão ampla mente citada foi de que com a possível exceção da inteligência não foram demonstradas consistências comportamentais altamente generalizadas e o con ceito de traços de personalidade como predisposições amplas é portanto insustentável Mischel 1968 p 140 Observe os dois termoschave dessa conclusão altamente generalizadas e predisposições amplas Mischel não repudiou a idéia de que os indivíduos têm personalidades distintivas que influenciam seu comportamento Mas ele de fato propôs que a idéia de tendências globais que operam autonomamente em uma grande variedade de situações não tem nenhum apoio empírico convincente O próprio Mischel 1965 tentou usar características amplas de personalidade para predizer o sucesso de professores do Corpo de Paz Essa tentativa fracassou e seu levantamento da literatura sobre a validade preditiva de medidas da personalidade amplas de autorelato indicou que as correlações entre os escores nessas medidas e o com portamento real raramente excediam o nível de 030 Mischel cunhou o termo coeficiente de personalida de para referirse a esse baixo nível de utilidade pre ditiva e sua crítica foi enunciada como um desafio empírico ou apresentem dados demonstrando que variáveis amplas de personalidade realmente são con TEORIAS DA PERSONALIDADE 479 Walter Mischel 480 HALL LINDZEY CAMPBELL sistentes em diferentes situações ou passem para ou tras abordagens teóricas para explicar o papel dos in divíduos na criação dos comportamentos O desafio de Mischel provocou um debate sobre pessoasituação que dominou a literatura por quase duas décadas Vários pesquisadores da personalidade aceitaram o desafio e tentaram apresentar os dados necessários p ex Bem Allen 1974 ver Capítulo 7 enquanto muitos outros voltaram às formulações interacionistas previamente defendidas por teóricos como Henry Murray ver Capítulo 6 embora freqüen temente revelando uma aparente ignorância desses ancestrais intelectuais O próprio Mischel tentou res ponder ao seu desafio tanto gerando dados como apresentando uma reconceitualização da personali dade em termos da aprendizagem social cognitiva 1973 ver também 1977 1979 1984 1990 1993 Kenrick e Funder 1988 concluíram que o campo lu crou com essa controvérsia Um dos ganhos eviden tes veio na forma do novo modelo de Mischel da per sonalidade Antes de tratarmos da reconceitualização de Mis chel é importante reconhecer três aspectos centrais dessa abordagem que o vinculam estreitamente a Al bert Bandura Primeiro o modelo de Mischel está inex tricavelmente ligado e enraizado em resultados em píricos Segundo Mischel enfatiza a construção pelo indivíduo do ambiente no qual ele se comporta A esse respeito a ligação de Mischel com George Kelly com quem ele estudou em Ohio está clara Finalmente Mischel conceitualiza a contribuição da pessoa ao com portamento em termos de um conjunto de variáveis pessoais cognitivas que por sua vez definem a per sonalidade Essas não são tendências globais transi tuacionais como as autoeficácias específicas de Ban dura elas estão ligadas a um ambiente eou domínio comportamental específico Aqui existe uma ironia notável Mischel acredita que as diferenças individu ais no comportamento ocorrem porque os indivíduos têm estratégias se então distintivas que os le vam a comportarse de maneiras características em uma determinada situação mas levam à variabilida de comportamental nas diferentes situações Como conseqüência devido à sua estratégia implícita de agregar comportamentos devido a situações constru indo disposições amplas os teóricos e os pesquisado res tradicionais da personalidade na verdade destro em a individualidade distintiva que parecem estudar Os psicólogos da personalidade criticaram os experi mentalistas por impedir a descoberta dos efeitos da personalidade ao agregar por meio dos sujeitos mas eles cometem um erro parecido ao agregar por meio das situações O objetivo de Mischel é desenvolver uma maneira de conceitualizar a personalidade que reco nheça e preserve a tendência característica do indiví duo de comportarse de uma maneira específica em uma situação específica Como Bandura Mischel adota uma abordagem micro ao comportamento e é essa orientação que distingue seu modelo dos modelos dos teóricos tradicionais da personalidade Walter Mischel nasceu em Viena em 1930 mas sua família fugiu dos nazistas em 1938 e emigrou para a cidade de Nova York Seu interesse inicial era a arte mas em 1951 ele começou a estudar psicologia clíni ca no City College of New York Ele trabalhou como assistente social depois concluiu sua formação na Universidade Estadual de Ohio na década de 50 onde foi influenciado por Kelly por Julian Rotter e pela pri meira geração de teóricos americanos da aprendiza gem social Mischel ensinou em várias universidades antes de mudarse para Stanford em 1962 onde ele e Bandura fundamentaram a abordagem da aprendiza gem social à personalidade Ele se mudou para Co lúmbia em 1983 onde continua sua influente carrei ra Mischel recebeu Distinguished Scientific Contribution Awards da Divisão de Psicologia Clínica da Associa ção Psicológica Americana em 1978 e da Associação Psicológica Americana em 1982 VARIÁVEIS COGNITIVAS PESSOAIS Em sua reconceitualização original da personalidade em termos da aprendizagem social cognitiva Mischel 1973 deixou claro que não estava querendo dizer que as pessoas não mostram nenhuma consistência no comportamento que as diferenças individuais não são importantes ou que as situações são os maiores determinantes do comportamento O que ele realmen te afirmou é que as pessoas têm uma capacidade im pressionante de discriminar entre situações e que os nossos modelos da personalidade precisam explicar tanto a divergência quanto a consistência de compor tamento por meio das situações As nossas histórias idiossincráticas de aprendizagem social produzem TEORIAS DA PERSONALIDADE 481 significados idiossincráticos de estímulos O trabalho de Mischel sobre a capacidade infantil de adiar a gra tificação p ex Mischel Ebbesen Zeiss 1972 o convenceu do poder das transformações cognitivas dos estímulos As crianças que são ensinadas a trans formar cognitivamente recompensas como palitinhos salgados ou marshmallows em pequenos troncos mar rons ou bolinhas de algodão respectivamente aumen tam imensamente sua capacidade de esperar pela re compensa O reconhecimento da organização idiossincrática do comportamento em cada pessoa sugere que as avaliações individualmente orientadas terão um sucesso muito limitado se tentarem rotular uma pessoa com termos de traços generalizados clas sificála em categorias diagnósticas ou tipológicas ou estimar sua posição média em dimensões de média ou moda Mischel 1973 p 260 O que realmente tem utilidade são os autorelatos ou as informações diretas sobre o comportamento passado da pessoa em situações semelhantes Assim enquanto o paradig ma tradicional percebe os traços como as causas in trapsíquicas da consistência comportamental a pre sente posição os tem como os termos sumários rótulos códigos constructos organizadores aplicados ao com portamento observado 1973 p 264 Soando pare cido com George Kelly Mischel conclui que o estudo dos traços globais pode nos dizer mais sobre a ativi dade cognitiva do teórico do traço do que sobre as causas do comportamento da pessoa que nos interes sa Em lugar de dimensões amplas de traços Mischel propõe que conceitualizemos as diferenças individu ais no comportamento em termos de cinco variáveis pessoais de aprendizagem social cognitiva que expli cam as diferenças individuais em como as pessoas medeiam o impacto dos estímulos e geram padrões característicos de comportamento Ele descreve os fundamentos lógicos e a natureza dessas variáveis na seguinte passagem Parece razoável na busca de variáveis pessoais examinar mais especificamente aquilo que a pes soa constrói em condições específicas em vez de tentar inferir que traços amplos ela tem de modo geral e incorporar às descrições daquilo que ela faz às condições psicológicas específicas em que se espera que o comportamento ocorra e não ocorra A abordagem da aprendizagem social cognitiva à personalidade muda a unidade de estudo dos traços globais inferidos a partir de sinais compor tamentais para as atividades cognitivas e padrões de comportamento do indivíduo estudados em relação às condições específicas que os evocam mantêm e modificam e que eles por sua vez mudam Mischel 1968 O foco muda de tentar comparar e generalizar como são diferentes in divíduos para uma avaliação daquilo que eles fa zem em termos comportamentais e cognitivos em relação às condições psicológicas em que o fazem As variáveis pessoais da aprendizagem social cog nitiva lidam primeiro com as competências do indivíduo para construir gerar comportamentos diversos em condições apropriadas A seguir pre cisamos considerar a codificação e a categoriza ção que o sujeito faz dos eventos Além disso uma análise abrangente dos comportamentos que uma pessoa apresenta em situações específicas requer o exame de suas expectativas em relação aos re sultados dos valores subjetivos desses resultados e de seus sistemas e planos autoreguladores Mischel 1973 p 256 Em um trabalho subseqüente Wright e Mischel 1987 elaboraram essa posição Adotando uma posi ção previamente articulada por Henry Murray e Gor don Allport eles demonstram que um dado traço só vai afetar o comportamento em determinadas condi ções Por exemplo uma determinada pessoa vai apre sentar um comportamento agressivo somente em uma série limitada de circunstâncias talvez quando for verbalmente abusada ou desafiada conseqüentemen te um rótulo genérico de agressiva será inadequa do e enganador quando aplicado a essa pessoa Ade mais Wright e Mischel 1988 mostram que a pessoa leiga geralmente evita comprometerse quando des creve o comportamento de outrem incorporando um modificador condicional para indicar quando um de terminado comportamento vai ocorrer É mais prová vel que as pessoas digam Fred é agressivo quando alguém desafia a sua autoridade do que Fred é agres sivo 482 HALL LINDZEY CAMPBELL O PARADOXO DE CONSISTÊNCIA E OS PROTÓTIPOS COGNITIVOS Em sua tentativa de gerar dados para comprovar que existe uma consistência intersituacional do compor tamento Bem e Allen 1974 salientaram a existên cia de um paradoxo por um lado as pessoas sentem um apoio intuitivo compelidor para a existência de disposições amplas que levam à consistência intersi tuacional de comportamentos relevantes mas por outro os dados de pesquisa não apóiam a existência dessa consistência Mischel e Peake 1982 respon dem a esse paradoxo de duas maneiras eles o substi tuem por um novo paradoxo e tentam explicar o novo paradoxo em termos de uma abordagem de protóti po cognitivo Para começar Mischel e Peake replica ram o estudo de Bem e Allen usando dados coletados no Carleton College sobre a consistência intersituacio nal de vários referentes para a conscienciosidade Como no estudo de Bem e Allen eles descobriram que diferentes conjuntos de avaliadores concordavam em suas avaliações da conscienciosidade de membros da amostra que relatavam pouca variabilidade em quão conscienciosos eles eram mas havia pouca con cordância nas avaliações de conscienciosidade dos sujeitos que relatavam grande variabilidade em quão conscienciosos eram Entretanto quando foi realiza da uma análise semelhante do comportamento consci encioso real e não das avaliações de iguais houve poucas evidências de consistência intersituacional em ambos os grupos de sujeitos Mischel e Peake salien tam que a concordância entre avaliadores sobre a cons cienciosidade dos sujeitos foi substancial em ambos os estudos para a baixa variabilidade mas essa con cordância não se refletia em uma consistência intersi tuacional substancialmente mais alta do comporta mento para os sujeitos presumivelmente consistentes Mischel e Peake enfrentaram assim um novo parado xo replicado os sujeitos classificados como apresen tando baixa variabilidade e portanto presumivelmen te consistentes foram realmente avaliados como consistentes mas na verdade eles não apresentavam níveis mais elevados de consistência intersituacional de comportamento Como no paradoxo de Bem e Al len as intuições sobre a consistência do comporta mento não concordaram com os dados A tentativa de Mischel e Peake de explicar esse paradoxo replicável foi orientada pela reconceitua lização da personalidade em termos da aprendizagem social cognitiva e por uma visão de protótipo cogni tivo da categorização da pessoa previamente articu lada por Cantor e Mischel p ex 1979 Eles parti ram da conclusão de que embora os dados ofereçam poucas evidências de consistência intersituacional do comportamento eles realmente demonstram estabi lidade temporal Isso faz sentido quando considerado da perspectiva da reconceitualização de Mischel po demos esperar que as contingências de uma determi nada situação sejam estáveis através do tempo e as competências as codificações as expectativas os va lores e os planos de uma pessoa persistem ao longo do tempo Ao contrário os níveis muito diferentes das variáveis da pessoa podem ser desencadeados por di ferentes situações Esses efeitos podem explicar a con sistência temporal mas o que explica a percepção ilu sória da consistência intersituacional A abordagem de protótipo cognitivo sugere que as categorias natu rais têm definições vagas e que os membros dessas categorias variam em quão prototípicos são Por exemplo é difícil especificar clara e definitivamente a qualidade de membro da categoria pássaro mas a maioria das pessoas concordará que o pardal é um bom exemplo prototípico de um pássaro e que o avestruz não é A abordagem de protótipo cognitivo à consistência sugere que a impressão de consistência se baseia substancialmente na observação da estabili dade temporal daqueles comportamentos que são al tamente relevantes centrais para o protótipo mas é independente da estabilidade temporal de comporta mentos que não são altamente relevantes para o pro tótipo Inversamente a percepção de variabilidade surge da observação da instabilidade temporal de as pectos altamente relevantes Mischel Peake 1982 p 750 Aplicada aos dados de Carleton sobre a cons cienciosidade essa análise leva à hipótese de que as pessoas que dizem ser consistentes por meio das situ ações exibirão maior estabilidade temporal mas não maior consistência intersituacional que aquelas que dizem não ser consistentes entretanto a diferença em estabilidade temporal só ocorrerá em comporta mentos que são exemplos prototípicos de conscienci osidade Para testar essa hipótese os comportamen tos de conscienciosidade foram separados daqueles que eram mais ou menos prototípicos O padrão de resultados apoiou a hipótese não houve nenhuma evidência de consistência intersituacional em nenhum TEORIAS DA PERSONALIDADE 483 dos grupos de sujeitos em nenhum dos conjuntos de comportamento Ao contrário os sujeitos que se per cebiam como altamente consistentes na consciencio sidade demonstraram uma estabilidade temporal sig nificativamente maior nos comportamentos prototípi cos que os sujeitos que se percebiam como altamente variáveis mas não houve diferença entre os dois gru pos na estabilidade temporal média nos comportamen tos menos prototípicos A inferência de Mischel e Pe ake é que um julgamento da estabilidade temporal de comportamentos prototípicos leva as pessoas à con clusão errônea de que elas são consistentes inde pendentemente dos níveis reais de consistência inter situacional do comportamento Em outras palavras nós cometemos um erro cognitivo ao confundir a es tabilidade temporal de comportamentoschave com a consistência intersituacional do comportamento Essa tendência cognitiva explica o paradoxo replicável ob servado por Mischel e Peake 1982 ver também Mis chel Peake 1983 Peake Mischel 1984 e Mis chel 1984 Bem e Allen concluíram que o paradoxo de consistência surgiu porque os pesquisadores pro curavam a consistência no lugar errado e que só po demos esperar consistência intersituacional para al gumas das pessoas em parte do tempo De modo paralelo Mischel e Peake concluem que podemos es perar evidências de consistência temporal mas não de consistência intersituacional O paradoxo de consistência pode ser paradoxal apenas porque temos procurado consistência no lugar errado Se as nossas percepções de atribu tos consistentes da personalidade estão realmen te enraizadas na observação de aspectos compor tamentais temporalmente estáveis que são prototípicos do atributo específico o paradoxo provavelmente está a caminho da resolução Em vez de buscar altos níveis de consistência intersi tuacional em vez de procurar médias amplas talvez precisemos identificar agrupamentos ou conjuntos únicos de comportamentos prototípi cos temporalmente estáveis aspectoschave que caracterizam a pessoa mesmo durante períodos mais longos de tempo mas não necessariamente por meio de muitas ou de todas as situações pos sivelmente relevantes 1982 p 753754 UMA TEORIA DA PERSONALIDADE DE SISTEMA COGNITIVOAFETIVO Em seu trabalho mais recente Mischel colaborou com Yuichi Shoda Mischel Shoda 1995 ver também Shoda Mischel Wright 1989 1993ab 1994 em busca de uma teoria da personalidade de sistema cog nitivoafetivo que conciliasse a presumida invariân cia dos atributos de personalidade através do tempo e das situações com a aparente variabilidade do com portamento nas situações Shoda e Mischel começa ram distinguindo entre duas abordagens diferentes à personalidade A abordagem clássica conceitualiza a personalidade em termos de disposições comportamen tais Em geral essa abordagem tenta obter o escore verdadeiro da pessoa em uma dada característica fazendo a média de seu comportamento ou agregan doo naquelas dimensões em várias situações Por exemplo uma estimativa da cordialidade de uma pes soa poderia ser obtida somandose ou fazendose a média da quantidade de cordialidade exibida pela pessoa em uma variedade de situações A suposição implícita aqui é que variações no comportamento nas diferentes situações refletem erro A segunda aborda gem conceitualiza a personalidade em termos de pro cessos mediadores característicos Esses processos in teragem com situações específicas para produzir comportamentos que diferem em outras situações de maneira confiável A reconceitualização de Mischel da personalidade em termos da aprendizagem social cognitiva é um exemplo dessa abordagem O foco nessa abordagem está no padrão do comportamento do indivíduo e não na quantidade média do compor tamento A Figura 149 ver p 484 ilustra a quantidade do comportamento X exibida pela pessoa A e pela pessoa B em uma variedade de situações Na aborda gem de disposição comportamental a variabilidade na quantidade ou a probabilidade do comportamento nas situações reflete erro e a média das situações é uma medida do verdadeiro nível da característica Na abordagem de processo todavia a questão é de terminar se os diferentes padrões de comportamento apresentados por A e B são estáveis e significativos Em outras palavras o foco não está no nível global de comportamento do indivíduo e sim em seu padrão 484 HALL LINDZEY CAMPBELL de situaçãocomportamento se então distintivo e estável O objetivo de Shoda e Mischel é desenvolver uma teoria de processo que explique as diferenças individuais nas respostas cognitivas e emocionais às situações Tal teoria também explicaria as diferenças individuais no nível médio global do comportamento e em perfis se então estáveis de variabilidade de comportamento nas situações como uma expressão do mesmo sistema de personalidade subjacente A Tabela 141 lista as unidades mediadoras no sis tema de personalidade cognitivoafetivo de Shoda e Mischel Essas unidades cognitivoafetivas são basi camente as mesmas variáveis cognitivas pessoais que Mischel propôs em sua reconceitualização de 1973 com duas mudanças Primeiro as competências po dem ser combinadas com estratégias e planos Uma mudança muito mais significativa é a adição dos afe tos e das emoções como influências sobre o processa mento da informação social Essas unidades intera gem enquanto a pessoa seleciona interpreta gera e responde às situações Na verdade Shoda e Mischel propõem uma visão unificadora de um sistema de personalidade em que os indivíduos são caracteriza dos tanto em termos a das cognições e dos afetos existentes e acessíveis Tabela 141 neste texto quanto b da organização distintiva das interrelações entre eles e os aspectos psicológicos das situações 1995 p 254 A Figura 1410 ver adiante é uma ilustra ção esquemática de tal sistema de personalidade O leitor deve observar o paralelo funcional entre estes mapas de domínio cognitivoafetivo e a rede dinâ mica descrita por Raymond Cattell ver Capítulo 8 Ao longo do tempo o sistema de personalidade vai gerar perfis de situaçãocomportamento se então distintivos com elevação e forma características 1995 p 255 A organização de relações entre as unidades permanece relativamente estável nas mais variadas situações mas diferentes unidades são ati FIGURA 149 Diferenças individuais típicas na probabilidade condicional de um tipo de comportamento em diferentes situações Reimpressa com a permissão de Mischel Shoda 1995 p 247 TABELA 141 Tipos de Unidades CognitivoAfetivas no Sistema Mediador da Personalidade 1 Codificações categorias constructos para self pessoas eventos e situações externas e internas 2 Expectativas e crenças sobre o mundo social sobre os resultados dos comportamentos em situações específicas e sobre a autoeficácia 3 Afetos sentimentos emoções e respostas afetivas incluindo reações fisiológicas 4 Metas e valores resultados desejáveis e estados afetivos resultados aversivos e estados afetivos metas valores e projetos de vida 5 Competências e planos autoreguladores comportamentos potenciais e roteiros que podemos criar e planos e estratégias para organizar a ação e influenciar os resultados e nosso próprio comportamento e estados internos Nota Baseada parcialmente em Mischel 1973 Fonte Reimpressa com a permissão de Mischel e Shoda 1995 p 253 TEORIAS DA PERSONALIDADE 485 vadas por diferentes situações A variabilidade com portamental em termos dos perfis de situaçãocom portamento se então é uma função característica e estável do sistema de personalidade cognitivoafeti vo subjacente SPCA Resumindo por meio das in terações da estrutura do sistema de personalidade com os aspectos das situações que ativam dinâmicas de processamento características os indivíduos podem selecionar buscar interpretar responder a e gerar situações e experiências sociais estáveis nos padrões que são típicos deles 1995 p 259260 No proces so a teoria do SPCA explica de modo integrado tanto a variabilidade nas expressões comportamentais da personalidade quanto a estabilidade no sistema de per sonalidade subjacente que gera essas expressões A Figura 1411 ver p 486 ilustra as implicações com portamentais do SPCA e as influências desenvolvimen tais sobre ele O modelo de SPCA é recente demais para ter sido testado mas constitui uma iniciativa te órica provocativa Com a introdução desse modelo Mischel está con tinuando sua carreira como um pensador provocativo na interface da psicologia social e da personalidade O novo modelo é eminentemente razoável A questão agora é se a sua formulação como as concepções cat tellianas às quais nós a comparamos é complicada demais para ter conseqüências práticas ou empíricas STATUS ATUAL E AVALIAÇÃO A teoria da aprendizagem social de Albert Bandura está construída em torno de alguns componentescha ve Primeiro ele modificou substancialmente o cons tructo de reforço explicando sua ação em termos a FIGURA 1410 Ilustração simplificada de tipos de processos mediadores cognitivoafetivos que geram os padrões de comportamento distintivos do indivíduo Os aspectos situacionais são codificados por uma determinada unidade mediadora que ativa subconjuntos específicos de outras unidades mediadoras gerando cognições afetos e comportamentos distintivos em resposta a diferentes situações As unidades mediadoras são ativadas em relação a alguns aspectos da situação são desativadas inibidas em relação a outros e não são afetadas pelo restante As unidades mediadoras ativadas afetam outras unidades mediadoras por meio de uma rede estável de relações que caracteriza o indivíduo A relação pode ser positiva linha sólida o que aumenta a ativação ou negativa linha tracejada o que diminui a ativação Reimpressa com a permissão de Mischel Shoda 1995 p 254 486 HALL LINDZEY CAMPBELL FIGURA 1411 O sistema de personalidade cognitivoafetivo em relação a interações e influências desenvolvimentais concorrentes Reimpressa com a permissão de Mischel Shoda 1995 p 262 de informação e não de associacionismo mecanicista e b de atenção e antecipação de conseqüências e não de um reforço retroativo do comportamento Ele também passa de um foco no reforço direto para uma ênfase no reforço indireto vicário e no autoreforço Como parte dessas modificações ele reintroduz a cog nição na cadeia causal de comportamentos Segundo ele enfatiza a aprendizagem observacional como um mecanismo pelo qual os humanos adquirem e modifi cam comportamentos A modelagem inclui os subpro cessos de atenção retenção reprodução e motivação Terceiro ele propõe que o ser humano desempenha um papel ativo na construção e na interpretação do ambiente em que se comporta Como parte desse pro cesso ativo as pessoas observam o próprio comporta mento e avaliamno em termos de padrões internos por meio da operação de um autosistema Finalmen te Bandura descreve a autoeficácia como o julgamen to que a pessoa faz da própria capacidade de produ zir um comportamento que leve a efeitos desejados e ele usa esse constructo para explicar a persistência e o grau de esforço em um determinado domínio O modelo de Bandura tem sido extremamente influente na psicologia contemporânea A compatibi lidade entre esse modelo e a orientação cognitiva tão dominante na psicologia hoje certamente contribui para isso mas tal influência pode ser atribuída em grande parte à sua clareza conceitual poder explana tório e aplicabilidade prática Além disso Bandura oferece uma ponte muito freqüentada entre os mode los clássicos da personalidade que confrontam a com plexidade do comportamento humano e as formula ções da aprendizagem que articulam mecanismos poderosos para a aquisição de comportamentos mas são relativamente destituídas de conteúdo Bandura vem de uma tradição de aprendizagem skinneriana que não valorizava muito as noções de personalida de mas ao modificar profundamente a noção skinne riana de reforço e introduzir a confiança em um auto sistema e na autoeficácia Bandura chega a um modelo que tem muito em comum com modelos tradicionais da personalidade Nesse sentido ele é o teórico mais adequado para concluirmos esta consideração das te orias da personalidade Sua discussão do autosiste ma e das estratégias associadas de ativação seletiva e desligamento do autocontrole é de fato análoga aos mecanismos de autocontrole descritos por Murray Allport e outros teóricos psicanalíticos Mas a aborda gem de microanálise de Bandura e sua atenção aos fatores cognitivos que medeiam os comportamentos distintivos em situações específicas realmente o dis tinguem dos teóricos que defendem as disposições transituacionais globais O mesmo também pode ser dito com ênfase ainda maior sobre Walter Mischel TEORIAS DA PERSONALIDADE 487 Bandura descreve a autoeficácia como uma variável específica diferentemente de constructos anteriores de autoestima e competência mas a semelhança de conteúdo entre os teóricos é notável A autoeficácia também permite a Bandura explicar a dinâmica da ansiedade O modelo também é atraente por estar tão estreitamente ligado à pesquisa empírica na verda de o modelo é exemplar por sua fundamentação na experimentação e pela experimentação que gerou Finalmente Bandura emprega a modelagem e a auto eficácia para explicar convincentemente as origens da psicopatologia com base na ansiedade Essa explica ção leva a estratégias específicas de intervenção cuja efetividade está comprovada Apesar das características muito positivas pode mos objetar vários pontos na teoria de Bandura Em especial Bandura não discute a fundamentação fisio lógica das características de personalidade fora certa atenção a correlatos fisiológicos associados a mudan ças na autoeficácia Igualmente existe apenas um foco muito limitado no conflito na excitação no afeto e na motivação Ficamos com um quadro muito claro dos mecanismos envolvidos na aprendizagem obser vacional na autoeficácia e no autosistema mas não há aquele colorido que torna tão reais as formulações psicanalíticas Também não há detalhes sobre as uni dades estruturais que possuem poder explanatório e preditivo nas teorias clássicas da personalidade Ten do dito isso é importante reconhecer que existem compensações e as estruturas teóricas de Bandura recebem notas altas em acessibilidade e testabilida de Além disso a recente inclusão do afeto por parte de Mischel como uma das unidades em sua teoria de SPCA é um passo rumo à inclusão das contribuições afetivas ausentes nas explicações do comportamento fornecidas pela aprendizagem social Este último comentário leva a uma observação fi nal Em muitos aspectos as posições de Mischel e Bandura se complementam Bandura descreve a me cânica dos processos de aprendizagem pelos quais as pessoas adquirem tendências comportamentais e des creve um autosistema pelo qual elas monitoram e avaliam seu comportamento O que ele não oferece é um modelo estrutural ou dinâmico da personalidade conforme observamos antes Mischel por outro lado descreve variáveis gerais da pessoa e articula uma co nexão entre essas estruturas gerais e os comportamen tos característicos mais específicos do indivíduo Mis chel entretanto não foi específico sobre o modo de aquisição dessas unidades estruturais e dinâmicas Como um par então os modelos de aprendizagem social de Bandura e Mischel têm muito a oferecer Os futuros modelos da personalidade certamente benefi ciarseão de seus aspectos notáveis TEORIAS DA PERSONALIDADE 489 PERSPECTIVAS E CONCLUSÕES Nós encerramos aqui o nosso exame das teorias da personalidade Cada teoria como o leitor percebeu adota uma perspectiva específica em sua tentativa de descrever e explicar o comportamento característico dos indivíduos Talvez a realidade central à qual todas as teorias da personalidade respondem seja um reconhecimento de que a pessoa que nos tornamos em função da nossa história distintiva de vida parece nos constranger a continuar agindo de maneiras características Isso não pretende sugerir que o nosso comportamento é imutável ou que o nosso curso de vida é inteiramente mapeado em tenra idade A personalidade se desdobra gradualmente como salienta Erikson e certamente há mudanças com o passar do tempo e a experiência Além disso a compreensão da nossa natureza bem pode ser incompleta ou ilusória como propõem Freud Skinner e praticamente todos os outros teóricos exceto Allport Mas a mensagem da teoria da personalidade é que a nossa avaliação do mundo em que nos movemos e a nossa resposta a ele é constrangida pela pessoa que nos tornamos A meta das teorias da personalidade é oferecer uma estrutura para conceitualizar a natureza característica e integrada do indivíduo e para relacionar essa natureza com o seu comportamento Neste capítulo final nós reconsideramos as teorias diversas que apresentamos bem como o estudo da personalidade em si Nós primeiro comparamos as teorias em termos das questões apresentadas no Capítulo 1 e concluímos com uma tentativa de oferecer alguma perspectiva em relação ao campo TEORIAS DA PERSONALIDADE 491 CAPÍTULO 15 A Teoria da Personalidade em Perspectiva A COMPARAÇÃO DAS TEORIAS DA PERSONALIDADE 492 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A ATUAL TEORIA DA PERSONALIDADE 500 SÍNTESE TEÓRICA VERSUS MULTIPLICIDADE TEÓRICA 504 492 HALL LINDZEY CAMPBELL Chegamos agora ao final da nossa jornada passando pelas 13 teorias da personalidade mais importantes O leitor que concluiu fielmente a jornada deve estar impressionado com a diversidade e a complexidade desses pontos de vista Cada teoria apresenta certos aspectos distintivos e em cada caso descobrimos algo a aprovar ou admirar Parece apropriado neste pon to fazer uma pausa e tentar identificar as tendências gerais que existem apesar das grandes diferenças en tre as teorias da personalidade É importante que os estudantes percebam a individualidade e distintivida de de cada ponto de vista mas é igualmente impor tante que estejam conscientes das qualidades comuns existentes em meio à confusão de afirmações confli tantes e expressões individuais Neste último capítulo fazemos uma retrospecti va final nas teorias da personalidade que estão sendo examinadas em busca do objetivo da generalidade A nossa discussão está organizada em torno das dimen sões propostas no capítulo inicial como apropriadas para comparar teorias da personalidade Nós também apresentamos um pequeno número de questões que nos parecem importantes para determinar futuros de senvolvimentos nessa área Como uma nota de con clusão nós consideramos se seria indicado tentar uma síntese das teorias da personalidade a fim de chegar a uma teoria geral maximamente aceitável para to das as pessoas que trabalham nessa área e ao mesmo tempo mais útil do que qualquer teoria existente A COMPARAÇÃO DAS TEORIAS DA PERSONALIDADE Ao comparar as teorias examinaremos as diferenças de conteúdo em vez das diferenças de forma Nossa principal razão para ignorar as diferenças formais derivase da nossa convicção de que neste estágio de desenvolvimento não temos muita base de escolha entre essas teorias nesses termos Todas precisam ser consideravelmente melhoradas antes de poderem ser consideradas minimamente adequadas em termos de critérios formais como clareza de enunciado e ade quação de definição Embora existam diferenças en tre as teorias nesses critérios as diferenças são menos interessantes e importantes do que as diferenças exis tentes em substância ou conteúdo Mas alguma pala vra deve ser dita sobre a relativa utilidade dos vários pontos de vista como geradores de pesquisa Voltare mos a essa questão quando tivermos concluído nossa discussão sobre as diferenças substanciais entre as teorias A nossa discussão da teoria contemporânea da personalidade revela que a importância de conceber o organismo humano como uma criatura que anseia busca e tem intenção é menos central atualmente do que foi no passado Durante a primeira terça parte deste século essa foi uma questão que provocou uma clivagem dramática entre vários teóricos da psicolo gia McDougall Watson Tolman e outras figuras im portantes dedicaram muita atenção à questão de se o ser humano necessariamente é intencional Embora seja verdade que alguns teóricos contemporâneos como Allport Murray Kelly Rogers e Adler ainda co loquem grande ênfase na natureza intencional do com portamento há pouca resistência a esse ponto de vis ta Até teóricos como Miller Dollard e Skinner que não parecem ver a intenção como uma consideração crucial para entender o comportamento não fizeram nenhuma tentativa de tornála central entre a sua posição e outras teorias Podemos desconfiar que a pergunta relativamente central referente à natureza intencional humana foi substituída por uma série de perguntas mais específicas sobre questões como o papel da recompensa a importância do self e a cen tralidade da motivação inconsciente Em geral então a maioria dos teóricos da personalidade parece con ceber o ser humano como uma criatura intencional Mesmo quando isso não é tomado como certo real mente não parece constituir pomo de discórdia infla mada A importância relativa dos determinantes incons cientes do comportamento como oposta à importân cia dos determinantes conscientes persiste como um fatorchave na distinção entre as várias teorias da per sonalidade Embora isso permaneça uma questão cen tral os termos exatos de desacordo entre os teóricos parecem ter mudado consideravelmente nos últimos anos Originalmente o debate centravase na realida de ou existência da motivação inconsciente mas atu almente a dúvida parece ser menos a existência de tais fatores e mais em que condições e quão intensa mente eles operam A teoria de Freud certamente en fatiza mais os fatores inconscientes e várias teorias influenciadas pela posição psicanalítica ortodoxa TEORIAS DA PERSONALIDADE 493 como as de Murray e de Jung também colocam gran de peso nesses fatores No outro extremo encontra mos teorias como as de Allport Skinner Rogers e Ban dura em que os motivos inconscientes são pouco enfatizados ou só recebem um papel importante no indivíduo anormal É verdade que os teóricos da per sonalidade têm apresentado uma tendência rumo a uma crescente aceitação do papel dos motivos incons cientes mas ainda existe muita variedade na exten são em que esse papel é enfatizado A considerável variação entre as teorias em sua preocupação com o processo de aprendizagem está an corada em uma extremidade na exposição detalha da oferecida por Skinner Bandura Miller e Dollard e na outra extremidade na ausência de qualquer trata mento específico da aprendizagem nas teorias de Jung e Adler Eysenck e Cattell dedicam uma considerável atenção a esse processo mas em geral suas idéias re presentam tentativas de reunir princípios desenvolvi dos por outros teóricos A maioria dos teóricos da per sonalidade contentase em aceitar o desenvolvimento em termos de princípios globais como maturação individuação identificação autorealização ou algo assim em vez de tentar apresentar um quadro deta lhado do processo de aprendizagem Apesar da au sência de discussão detalhada observe que os proces sos de aprendizagem desempenham um papel importante embora implícito em várias das teorias que estão sendo consideradas Assim a discussão de Freud da aquisição infantil de escolhas objetais certa mente precisa ser compreendida no contexto de prin cípios de aprendizagem Da mesma forma a atenção de Murray ao papel da pressão infantil no desenvolvi mento de necessidades catexias e complexos repre senta um claro reconhecimento da centralidade da aprendizagem para não mencionar sua declaração de que a história da personalidade é a personalidade Embora o processo de aprendizagem seja um pou co negligenciado há muito interesse pelos produtos da aprendizagem ou estruturas da personalidade Um dos aspectos mais distintivos das teorias da personali dade são seus numerosos e diferentes esquemas para representar a estrutura da personalidade Entre os que examinaram mais detalhadamente as aquisições da personalidade estão Allport Cattell Freud Jung Murray e Eysenck Historicamente percebemos a se guinte tendência os teóricos mais preocupados com o processo de aprendizagem eram os menos preocu pados com as aquisições da aprendizagem e vicever sa No presente todavia os teóricos que mais igno ram a aprendizagem ou a estrutura tendem a com pensar essa deficiência tomando emprestada uma série de formulações de outra teoria cujo foco concei tual inclui a área negligenciada A melhor ilustração dessa tendência são os esforços de Miller e Dollard para incorporar à sua teoria da aprendizagem os con ceitos estruturais da psicanálise Nós já salientamos o fato de que como grupo os psicólogos americanos minimizaram o papel dos fato res hereditários como determinantes do comportamen to Mas muitos dos teóricos que consideramos enfati zam clara e explicitamente a importância desses fatores Cattell estava convencido da centralidade dos determinantes genéticos e ele esperava que a sua abordagem ao estudo do comportamento esclareces se os detalhes da relação entre eventos genéticos e comportamentais Cattell manifestava interesse teó rico e empírico pelo papel da hereditariedade no com portamento Suas investigações na verdade tendiam a apoiar solidamente suas convicções teóricas sobre o assunto Hans Eysenck foi um veemente defensor da importância dos fatores genéticos Na verdade Ey senck 1991 argumenta que a consideração das cau sas genéticas é um dos critérios para uma teoria ade quada da personalidade Igualmente o modelo desenvolvido em resposta a Eysenck por Gray assim como o trabalho de Zuckerman sobre a busca de sen sação e os Cinco Grandes alternativos coloca gran de ênfase nos mecanismos genéticos A teoria de Jung estava profundamente comprometida com a genéti ca e Freud considerava crucialmente importantes os fatores hereditários Murray Allport e Erikson tam bém aceitavam a importância da hereditariedade embora enfatizassem essa questão um pouco menos do que os teóricos previamente mencionados B F Skinner é muitas vezes malentendido como ignoran do a genética mas ele descrevia repetidamente a im portância da dotação genética do indivíduo bem como os grandes efeitos da história evolutiva as contin gências de sobrevivência sobre o desenvolvimento das características da espécie Além disso como indi camos no final do Capítulo 8 duas das novas e exci tantes linhas da pesquisa contemporânea sobre a per sonalidade referemse à genética do comportamento e à teoria evolutiva da personalidade Dos teóricos da personalidade considerados parece que Horney Ke 494 HALL LINDZEY CAMPBELL lly Bandura e Sullivan são os que menos enfatizam tais fatores Achamos então que a maioria dos teóri cos da personalidade aceita ou enfatiza a importância dos fatores hereditários e vários associaram essa ên fase teórica a pesquisas empíricas relevantes O contraste entre as posições teóricas de Freud e Kelly ilustra bem a variação entre os teóricos da per sonalidade em sua ênfase na importância dos fatores contemporâneos como oposta à importância dos even tos que ocorreram no início do desenvolvimento A abor dagem de Erikson a teoria de Miller e Dollard de es tímuloresposta a personologia de Murray e a teoria interpessoal de Sullivan assemelhamse à teoria de Freud em sua ênfase na experiência inicial e as teori as de Allport e Rogers assemelhamse à posição de Kelly na ênfase no contemporâneo As diferenças teó ricas reais e importantes aqui existentes são às vezes encobertas pela implicação de que os teóricos que enfatizam a experiência inicial o fazem unicamente por um fascínio pela história ou pelo passado e não devido ao poder preditivo ou à importância atual des ses eventos Os defensores da importância do presen te afirmam que o passado só é importante agora devi do à operação dos fatores no presente Assim se compreendemos inteiramente o presente não há ne nhuma necessidade de lidar com o passado Não exis te na verdade nenhum desacordo real sobre o fato de que o passado só influencia o presente por meio da operação de fatores forças ou atributos presentes idéias arquétipos memórias disposições Mas aque les que enfatizam a importância dos eventos passados afirmam que o passado é indispensável para compre endermos o desenvolvimento e também para obter mos informações sobre as forças que estão operando no presente O principal desacordo entre esses dois campos teóricos centrase na questão de se os fatores que influenciam o comportamento presente podem ser adequadamente avaliados a partir do mesmo ou se o conhecimento referente aos eventos passados não traria informações especiais de natureza crucial So bre tal questão os teóricos da personalidade parecem uniformemente divididos A ênfase maior sobre a continuidade do desenvol vimento aparece nas teorias de Erikson Freud Mur ray Miller e Dollard Bandura e Skinner embora o mesmo tema esteja presente em um grau menor nas teorias de Adler e Sullivan Essas teorias deixam claro que os eventos que ocorrem no presente estão siste maticamente ligados a eventos que ocorreram no pas sado e que o desenvolvimento é um processo ordena do e consistente explicável em termos de um conjun to único de princípios Ao contrário Allport Kelly e em certa extensão Rogers enfatizaram explicitamen te a falta de continuidade no desenvolvimento e a re lativa independência do funcionamento adulto em relação aos eventos da infância ou do período de bebê Jung também enfatizou a disjuntividade do desenvol vimento embora percebesse a maior descontinuida de como ocorrendo na meiaidade quando os moti vos biológicos são amplamente substituídos por necessidades culturais e espirituais Todos esses teóri cos sugerem que talvez sejam necessários princípios um pouco diferentes para explicar aquilo que aconte ce nos diferentes estágios do desenvolvimento Nem todas as teorias da personalidade se interessam mui to pelo processo de desenvolvimento mas a maioria das que o fazem concebe o desenvolvimento como um processo contínuo a ser representado em termos de um conjunto único de princípios teóricos Nós já concordamos que um dos aspectos que dis tinguia a teoria da personalidade historicamente de outros tipos de teoria psicológica era uma ênfase no holismo Consistente com essa observação é o fato de que a maioria dos teóricos contemporâneos da perso nalidade pode ser adequadamente classificada como organísmico Como grupo eles enfatizam a importân cia de considerarmos os indivíduos como uma unida de total e em funcionamento Assim Allport Golds tein Jung Murray e Rogers enfatizaram o fato de que não podemos compreender um elemento do compor tamento quando estudado isoladamente do restante do funcionamento da pessoa incluindo sua constitui ção biológica Apenas Skinner e Miller e Dollard pa reciam dispostos a resistir ao consenso geral e questi onaram a importância de estudar o indivíduo total A importância do campo foi enfatizada por Adler Eri kson Kelly Lewin Murray Rogers e Sullivan Somen te Lewin e Murray entretanto tentaram apresentar um conjunto detalhado de variáveis em termos dos quais o campo pudesse ser analisado embora Rogers e Kelly enfatizassem muito a perspectiva fenomeno lógica do indivíduo A relativa falta de interesse pelos detalhes da análise é uma conseqüência lógica das convicções holísticas dos teóricos do campo que os levam a desconfiar de conjuntos específicos de variá veis Quase ninguém nega que a percepção que o in TEORIAS DA PERSONALIDADE 495 divíduo tem da situação em que ocorre o comporta mento é importante ainda que Freud Jung Miller e Dollard e Skinner tenham dado a essa questão me nos atenção explícita do que os outros teóricos É evi dente que a teoria da personalidade contemporânea enfatiza a importância de se estudar o comportamen to organicamente sem tentar isolar pequenos seg mentos do comportamento para estudo microscópi co Ao mesmo tempo existe uma crescente tendência entre os teóricos da personalidade de representar de forma completa a situação ou o contexto em que ocorre o comportamento O indivíduo que adota uma posição holística pode estar recomendando uma de duas abordagens à re presentação do comportamento Ele pode estar sim plesmente sugerindo que uma teoria adequada preci sa ser complexa multivariada e incluir referência à situação em que ocorre o evento comportamental bem como a outros eventos comportamentais do indivíduo Por outro lado ele pode estar sugerindo que todos os comportamentos do indivíduo estão tão estreitamen te unidos e mais que estão tão estreitamente ligados a seu contexto ambiental que qualquer tentativa de abstrair elementos ou variáveis para estudo está con denada ao fracasso O primeiro ponto de vista aceita a complexidade do comportamento e sugere que um modelo razoavelmente complexo do mesmo é neces sário para predizer o comportamento de modo mais eficiente O segundo ponto de vista enfatiza a com plexidade do comportamento e insiste que todos os aspectos do indivíduo e da sua situação devem ser devidamente considerados antes que qualquer progres so possa ser feito É facilmente compreensível que as teorias que representam esta última posição enfati zem costumeiramente a distintividade ou a singulari dade do indivíduo Uma vez que a teoria insiste que o observador considere muitas facetas diferentes do in divíduo o comportamento da pessoa o contexto des se comportamento a distintividade de cada indivíduo e de cada ato precisam ficar óbvios e ser questão de interesse A teoria de Allport é de longe a que mais enfatiza a importância de examinar completamente a individualidade De fato como vimos essa ênfase le vou Allport a propor que fosse dada uma maior aten ção ao método idiográfico de estudo do comporta mento Esse mesmo ponto de vista geral recebe uma ênfase central nas teorias de Adler e Murray Os teóri cos da aprendizagem são extremamente explícitos em negar a importância crucial da singularidade do com portamento Embora existam alguns teóricos da per sonalidade que destaquem a singularidade do com portamento essa ênfase parece menos típica da moderna teoria da personalidade do que a ênfase or ganísmica É comumente reconhecido que Dollard Miller e Skinner examinaram unidades de comportamento bas tante pequenas ao passo que os teóricos organísmi cos estavam mais preocupados com unidades abar cando toda a pessoa Cattell preferia unidades menores e Allport e Rogers preferiam unidades grandes ao des crever o comportamento Os teóricos restantes vari am mais amplamente ao longo do espectro molecu larmolar Freud por exemplo conseguia analisar o comportamento em unidades muito pequenas quan do havia necessidade mas ele também tinha facilida de em lidar com a pessoa inteira como um todo O mesmo pode ser dito sobre Erikson A importância do ambiente psicológico ou do mun do da experiência em oposição ao mundo da realida de física é aceita pela maioria dos teóricos da perso nalidade e é uma questão de ênfase focal para muitos Kelly e Rogers são os mais explícitos e cuidadosos em seu desenvolvimento desse ponto de vista De fato eles foram acusados de ignorar grandemente o mun do da realidade em resultado de sua preocupação com o mundo da experiência Tal ponto de vista também recebe uma considerável atenção em muitas das teo rias psicanalíticas e na teoria de Murray Embora nin guém questione que a maneira como o indivíduo per cebe um dado evento tem certa influência sobre como ele vai responder a esse evento nós achamos que isso recebe pouca atenção nas teorias de Cattell Miller e Dollard Eysenck e Skinner Considerando tudo pro vavelmente seria correto dizer que os teóricos da per sonalidade estão mais impressionados com a impor tância do ambiente psicológico do que com a importância do ambiente físico Nós vimos que existem vários sentidos em que o conceito de self é empregado pelos teóricos da perso nalidade Ou o self é visto como um grupo de proces sos que servem como determinantes do comportamen to ou é concebido como um agrupamento de atitudes e sentimentos que o indivíduo tem a respeito de si mesmo De uma forma ou outra o self ocupa um pa pel proeminente na maioria das atuais formulações da personalidade Não só existem teorias específicas 496 HALL LINDZEY CAMPBELL identificadas como teorias do self mas também um grande número de outras teorias emprega esse con ceito como um elemento teórico focal Entre os teóri cos que de alguma maneira usam proeminentemente o conceito de ego ou self estão Adler Allport Cattell Freud Horney Erikson Jung e Rogers Só Eysenck Skinner Miller Dollard e Kelly parecem não dar um papel importante ao self em sua maneira de conceber o comportamento É verdade que muitas das atuais formulações do self evitam ou diminuem a subjetivi dade existente em concepções anteriores Tem havi do uma tendência definida no sentido de descobrir operações pelas quais o self ou seus aspectos possam ser medidos Poderíamos dizer que nos primeiros dias da teorização psicológica o self tendia a ter implica ções místicas ou vitalistas ao passo que o self contem porâneo parece ter perdido essas qualidades à medi da que ganhou pelo menos uma quantificação pessoal Hoje os teóricos da personalidade caracterizamse claramente por um maior interesse pelo self e por pro cessos concomitantes Um componente do self que recebe uma atenção especial em várias teorias é o senso de competência do indivíduo O motivo de desenvolver áreas de excelên cia nas interações com o ambiente foi introduzido for malmente por White 1959 e subseqüentemente usado para modificar os estágios de desenvolvimento psicossexuais de Freud White 1960 Esse motivo aparece nas teorias da personalidade das seguintes maneiras na ênfase de Adler na superação da inferio ridade e na busca de superioridade como uma das crises básicas propostas por Erikson na proposta de Allport de que o domínio e a competência explicam a autonomia funcional de certos motivos no foco de Kelly em uma antecipação acurada das conseqüênci as e na especificação de Bandura da autoeficácia Não existe um motivo correspondente nas teorias de senvolvidas por Jung Eysenck Rogers Skinner ou Do llard e Miller A importância dos determinantes da afiliação gru pal para o comportamento é enfatizada principalmente naquelas teorias muito influenciadas pela sociologia e antropologia As posições de Adler Erikson Horney e Sullivan ilustram isso É muito natural que os teóri cos que enfatizam o campo dentro do qual ocorre o comportamento também se interessem pelos grupos sociais aos quais o indivíduo pertence Consistente com isso é o fato de que todos os teóricos antes menciona dos podem ser considerados teóricos do campo Ne nhum dos teóricos que examinamos acredita que os fatores da afiliação grupal não sejam importantes embora Allport Jung e Skinner tenham escolhido não focalizar tais fatores Em geral parece que existe uma crescente tendência entre os teóricos da personalida de a dar uma atenção explícita ao contexto sociocul tural em que ocorre o comportamento Nós observamos que os teóricos da personalidade costumam tentar alguma forma de ancoramento in terdisciplinar de suas teorias A maioria desses esfor ços centrase na possibilidade de interpenetrar os conceitos psicológicos com os achados e conceitos das ciências biológicas Essa tendência é ilustrada pelas teorias de Allport Freud Jung Murray e Eysenck Nenhum dos teóricos discutidos com as possíveis ex ceções de Freud e Jung busca vincular suas formula ções às disciplinas da antropologia e sociologia En tretanto Dollard Miller Freud e Murray demonstram um interesse equilibrado em estabelecer vínculos teó ricos com a biologia e as ciências sociais e Erikson mostra um interesse especial em relacionar sua teoria ao campo da história A partir disso fica claro que os teóricos da personalidade como grupo estão mais orientados para as ciências biológicas do que para as ciências sociais Mas existem algumas evidências de um maior interesse pelos achados e pelas teorias da sociologia e da antropologia A diversidade e a multiplicidade de motivação no ser humano são totalmente reconhecidas nas teorias de Allport Cattell Maslow e Murray Em cada uma dessas teorias existe uma firme ênfase no fato de que o comportamento só pode ser compreendido com a identificação e o estudo de um grande número de va riáveis motivacionais As teorias de Cattell e Murray são as únicas tentativas detalhadas de traduzir tal multiplicidade em uma série de variáveis específicas Adler Erikson Freud Eysenck Bandura Horney Ro gers e Skinner parecem dispostos a estudar o com portamento humano com um conjunto muito mais abreviado de conceitos motivacionais Assim embora os teóricos da personalidade compartilhem uma de talhada preocupação com o processo motivacional eles estão divididos entre os que representam a moti vação em termos de um número relativamente pe queno de variáveis e os que consideram necessário um número muito grande delas TEORIAS DA PERSONALIDADE 497 Muitos teóricos da personalidade demonstram um interesse detalhado e contínuo pela personalidade re alizada madura ou ideal Esse é um aspecto central nas teorias de Rogers Allport e Jung Também é pro eminente nos textos de Freud Adler Horney e Erik son Os teóricos que têm demonstrado menos interes se por especificar ou explicar a maturidade e a autorealização incluem Cattell Miller Dollard Skin ner Bandura Eysenck e Kelly Temos observado uma considerável variação en tre as teorias da personalidade na relevância que dão ao comportamento anormal Não só algumas teorias se baseiam em grande parte no estudo de indivíduos neuróticos e outros indivíduos perturbados mas tam bém muitas teorias têm muito a oferecer em termos de métodos adequados para alterar ou tratar as várias formas de psicopatologia As origens da psicanálise na observação de pacientes que se submetiam à psi coterapia são bem conhecidas assim como o profun do impacto que a teoria tem tido sobre o entendimen to e tratamento de todas as variedades de desvio comportamental Uma associação muito semelhante pode ser vista entre os transtornos comportamentais e as teorias de Jung Adler Horney e Sullivan O teó rico que demonstrou menos interesse pelo mundo da psicopatologia foi Allport A nossa discussão até este momento foi bastante geral e praticamente não tentamos avaliar cada teo ria em relação a cada questão Estivemos mais preo cupados com o status global da teoria da personalida de do que com uma comparação detalhada das teorias específicas A Tabela 151 apresenta uma correção parcial dessa generalidade indicando como cada teo ria se comporta em relação às questões individuais enfatiza ocupa um lugar moderado ou não enfatiza a questão Esses julgamentos obviamente são amplos e aproximados Sua falta de precisão devese às cate gorias extremamente gerais usadas na avaliação e à complexidade das teorias que em certos casos torna impossível saber com certeza como um determinado teórico se posiciona diante de uma dada questão De qualquer forma a justificativa para as avaliações foi apresentada nos capítulos precedentes juntamente com referências apropriadas às fontes originais Con seqüentemente o leitor não precisa aceitar nosso jul gamento sem crítica e pode fazer sua própria avalia ção usando as mesmas fontes de dados que empregamos Na Tabela 151 ver p 498 o símbolo A indica que a teoria enfatiza a importância da questão ou do conjunto de determinantes M indica que a teoria ocu pa um lugar intermediário e B sugere que a questão ou posição é pouco enfatizada nessa teoria Podemos observar sem discussão adicional que pelo que sabemos foram realizadas cinco análises multivariadas dos dados apresentados nas edições prévias de Teorias da Personalidade O primeiro dos estudos foi executado por Desmond Cartwright 1957 e apareceu logo depois que a primeira edição foi pu blicada Usando a análise fatorial ele extraiu quatro fatores O Fator A inclui os atributos de propósito e determinantes de afiliação grupal As teorias altamen te saturadas desse fator são as de Adler Fromm Hor ney Rogers e Sullivan O Fator B inclui os atributos de estrutura hereditariedade e biologia Tal fator é eleva do nas teorias de Angyal Eysenck Freud Jung Mur ray e Sheldon Propósito ênfase organísmica e auto conceito são os principais atributos compreendendo o Fator C As teorias carregadas com esse fator são as de Allport Angyal Goldstein e Rogers O quarto fator consiste em estrutura e hereditariedade e é importan te apenas com respeito às teorias de fator Alguns anos mais tarde Taft 1960 relatou os resultados de uma análise de agrupamento dos dados na Tabela 1 primeira edição Emergiram cinco agru pamentos principais O Agrupamento I inclui Adler Fromm Horney Murray e Sullivan e o nome sugeri do para o agrupamento é teorias de campo sociais fun cionalistas O segundo agrupamento chamado de abor dagem desenvolvimental a complexos inconscientes e estruturas de personalidade inclui apenas os três teó ricos psicanalíticos originais Freud Adler e Jung Angyal Goldstein Jung e Rogers foram um agrupa mento rotulado como autorealização organísmica ina ta O Agrupamento IV é identificado como desenvolvi mento contínuo em interação com o ambiente social As teorias pesadamente carregadas com esse fator são as de Adler Freud Murray e Sullivan O último agrupa mento inclui Allport Cattell Eysenck Freud Jung e Sheldon e é denominado de estruturas constitucionais da personalidade Schuh 1966 realizou uma análise de agrupamen to dos atributos e dos teóricos Relataremos apenas seus resultados envolvendo os teóricos Eles se inclu em em quatro agrupamentos O primeiro deles con siste em Adler Fromm e Horney e é chamado de ên 498 HALL LINDZEY CAMPBELL fase social O segundo agrupamento composto por Allport Angyal Goldstein Miller Dollard e Rogers é chamado de ênfase no self O terceiro inclui Eysenck Freud Lewin Murray e Sheldon e o quarto Cattell Jung e Sullivan Os dois últimos agrupamentos não receberam nomes pois não foi encontrado nenhum aspecto comum pelo qual caracterizar os diversos pon tos de vista O estudo de Evans e Smith 1972 envolveu a análise fatorial dos atributos e dos teóricos e uma comparação com os resultados de Schuh Apesar da adição de novas dimensões e teóricos na versão revi sada deste livro e do uso de um método diferente de análise Evans e Smith encontraram uma notável se melhança entre seus achados e os relatados anterior mente Seu primeiro fator de teórico compreendia Binswanger e Boss Miller e Dollard Cattell Rogers Goldstein Angyal e Allport e corresponde ao segun do fator de Schuh a ênfase no self Seu segundo fator incluía Fromm Horney Adler e Freud e corresponde ao primeiro agrupamento de Schuh referido como ênfase social no estudo anterior e como ênfase psica nalítica no relato mais recente O terceiro fator con sistia em Sheldon Murray Lewin e Freud e corres ponde ao terceiro agrupamento de Schuh Evans e Smith o chamam de ênfase biológica Um quarto fator chamado de ênfase na aprendizagem é composto de Binswanger e Boss Skinner Miller e Dollard Murray e Allport Os autores relatam congruências compará veis em seus achados e os de Schuh na comparação das análises dos atributos Um estudo final Campbell 1980 analisou a ta bela correspondente de teorias na terceira edição deste texto usando análise de agrupamento e análise fato rial Os resultados diferiram dos obtidos em estudos prévios tanto por causa de diferenças introduzidas na terceira edição quanto porque as análises trataram os dados de avaliação como ordinais em vez de como dados de intervalo Nós apresentamos os seis agrupa mentos obtidos no procedimento de agrupamento Freud e Erikson o agrupamento mais firme compar tilham uma ênfase no desenvolvimento inicial Mur ray Rogers e Goldstein apresentam uma ênfase orga nísmica além de uma ênfase na singularidade e não TABELA 151 Comparação Dimensional das Teorias da Personalidade Parâmetro Comparado Freud Jung Adler Horney Sullivan Erikson Murray Allport Propósito A A A A A A A A Determinantes inconscientes A A M A M M A B Processo de aprendizagem M B B M M M M M Estrutura A A M M M A A A Hereditariedade A A A B B M M M Desenvolvimento inicial A B A M M A A B Continuidade A B A M A A A B Ênfase organísmica M A M M M M A A Ênfase no campo B B A M A A A M Singularidade M M A M M M A A Ênfase molar M M M M M M M M Ambiente psicológico A A M M A A A M Autoconceito A A A A A A M A Competência M B A M M A M A Afiliação grupal M B A A A A M B Ancoramento na biologia A A M B M M A A Ancoramento nas ciências sociais A B A A A A A B Motivos múltiplos B M B B M M A A Personalidade ideal A A A A M A M A Comportamento anormal A A A A A M M B Nota A indica alto enfatizado M indica moderado e B indica baixo pouco enfatizado TEORIAS DA PERSONALIDADE 499 enfatizam os processos de aprendizagem Skinner e Cattell não consideram o ambiente psicológico Mil ler e Dollard e Binswanger e Boss formam o quarto agrupamento aparentemente por sua ausência de in teresse pela estrutura da personalidade Horney e Angyal enfatizam o autoconceito e a personalidade ideal e oferecem um número limitado de constructos motivacionais O agrupamento final contendo Allport os psicólogos do Leste e Sheldon compartilha uma ênfase organísmica e uma ênfase na singularidade além de uma relativa falta de interesse pela recom pensa pelo desenvolvimento inicial pela afiliação gru pal e por processos inconscientes Uma nota de alerta neste artigo salienta que as análises ponderam igual mente todas as dimensões em cada teórico e entre eles Isso é razoável como uma suposição geral mas realmente obscurece certos aspectos das teorias Por exemplo Allport tem um alto índice em singularida de autoconceito e mecanismos biológicos Essas ava liações são acuradas mas deixam de capturar a im portância da singularidade e do autoconceito na teoria de Allport Uma vez que as análises tomam as avalia ções ao pé da letra quando de fato a gradação flutua nas teorias e entre elas precisamos considerar os gru pos resultantes como aproximações Isso nos leva à questão de quão bem as várias te orias têm funcionado como geradoras de pesquisa Nós já concordamos que essa é a comparação avaliativa mais importante que pode ser feita entre as teorias infelizmente ela também é a comparação mais difícil de fazermos com segurança Nós discutimos algumas das pesquisas geradas pelas teorias nos capítulos in dividuais sobre elas Todas as teorias têm alguma fun ção como geradoras de investigação mas a natureza variada dos estudos resultantes assim como a com plexidade da relação entre a teoria e a pesquisa perti nente torna impossível algo além de um julgamento aproximado Dadas a subjetividade e a natureza provisória do nosso veredito propomos que as teorias sejam dividi das em três agrupamentos em termos de quão úteis elas têm sido como estímulo para a pesquisa O pri meiro grupo inclui teorias que levaram a muitas in vestigações realizadas em várias áreas por um grupo Cattell Eysenck Kelly Rogers Skinner Dollard e Miller Bandura M B A A B B M M M M B B M B A A M M A A A A A B B B B M A A B B A B B M M B B M A M M M B B A A A M M M A B B M M M A A B B M M M M M B B B M M M A B B M B B A A B B M A B B A B B A M B A B B B A M M M M B M M M A B B M M B B B M M B A M A B B B B M B B B B A B B B M M M M M M M 500 HALL LINDZEY CAMPBELL diverso de investigadores Aqui colocamos a teoria de Eysenck a posição de Skinner e a teoria de Bandura Em cada caso a mensagem da teoria transcendeu os limites de um pequeno grupo trabalhando em estrei ta colaboração de modo que as questões relaciona das à teoria foram exploradas em uma variedade de ambientes diferentes e por indivíduos com backgrounds bem heterogêneos O segundo agrupamento inclui as teorias que fo ram acompanhadas por um grande número de estu dos com alcance bastante limitado ou executados por pessoas intimamente envolvidas com a teoria e seu desenvolvimento Nesse grupo colocaríamos as teo rias de Allport Cattell Erikson Jung Murray Sulli van Dollard e Miller e Rogers Como os capítulos in dividuais deixam claro cada uma das teorias é acompanhada por um grande número de pesquisas relevantes ou delas se originou Mas na maioria dos casos a pesquisa lida com uma variedade limitada de problemas ou com a aplicação de um pequeno núme ro de técnicas Além disso essas pesquisas foram ha bitualmente realizadas por um pequeno grupo de in vestigadores intimamente relacionados Nós também incluiríamos Freud nessa categoria apesar da grande riqueza de trabalhos gerados por sua teoria dentro e fora da psicologia devido à dificuldade inerente de testar proposições sobre características pessoais que são por definição inacessíveis ao indivíduo O terceiro grupo consiste nas teorias em que há pouca investiga ção relacionada Aqui colocamos Adler Kelly e Hor ney É tranqüilizador que apesar das limitações das teorias da personalidade como geradoras de pesqui sa a sua grande maioria tem sido acompanhada por uma quantidade considerável de pesquisas Sejam quais forem as limitações de procedimento inerentes a essas investigações resta o fato de que elas docu mentam o interesse dos teóricos em examinar a efeti vidade de suas teorias diante de dados empíricos ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A ATUAL TEORIA DA PERSONALIDADE Qual será o futuro desenvolvimento da teoria da per sonalidade Estariam faltando no atual cenário teóri co qualidades que deveriam ser acrescentadas Exis tem deficiências especificáveis na abordagem teórica da maioria dos psicólogos Há questões hoje em dia assumindo maior importância e apontando o cami nho para futuros progressos prováveis Parecenos que sim embora precisemos admitir que nem todos os psicólogos concordariam conosco quanto à sua exata identidade Nós acreditamos que o campo da personalidade se beneficiaria imensamente com uma maior sofisti cação por parte dos psicólogos referente à natureza e à função das formulações teóricas Embora existam muitos aspectos nessa sofisticação talvez o mais im portante seja compreender a importância central das teorias como um meio de gerar ou estimular pesqui sa Os psicólogos precisam desistir da idéia de que cumpriram sua obrigação se apresentaram uma for mulação teórica que leva em conta ou dá consistência ao que já é conhecido em uma determinada área em pírica Se a teoria não faz nada além de organizar fatos conhecidos bem poderíamos permanecer no nível descritivo e esquecer a teorização Pedimos sim plesmente que as teorias sejam avaliadas em termos de sua capacidade de gerar novas pesquisas Os psi cólogos também precisam estar mais dispostos a acei tar o fato de que as suposições referentes ao compor tamento que não permitem predições ou especificação dos dados a serem coletados são inúteis e uma perda de tempo esforço e papel Que os teóricos focalizem sua atenção em formulações que tenham alguma re lação significativa com o assunto tratado estudar o comportamento A teoria e a pesquisa da personalidade precisam tornarse ao mesmo tempo mais radicais e mais con servadoras Poderíamos expressar isso alternativamen te como um aumento na imaginação criativa e na ava liação crítica O teórico bemsucedido precisa estar disposto a ser radicalmente violento com suposições comuns referentes ao comportamento Depois de ma nifestar a capacidade de inovar ou criar uma teoria que não esteja firmemente ligada a concepções com portamentais existentes o teórico precisa manifestar um rígido conservadorismo ao estender formalizar aplicar e testar as conseqüências desse ponto de vista Em outras palavras os teóricos devem desafiar as con venções mas depois de estabelecer um novo conjun to de convenções eles devem explorar exaustivamen te as implicações dessas convenções É impossível TEORIAS DA PERSONALIDADE 501 testar as conseqüências de uma teoria a menos que o teórico esteja disposto a permanecer em uma posição o tempo suficiente para instituir e completar procedi mentos de verificação Isso não significa que a pessoa deva agarrarse teimosamente às suas formulações diante de uma refutação empírica Isso significa que dado um corpo de pesquisa estável a mudança deve ser introduzida como resultado de evidências empíri cas controladas e não por capricho ou observações superficiais É de crucial importância que o teórico da personalidade e seus seguidores se dediquem à inves tigação empírica ao invés da discussão verbal ou po lêmica Não importa qual teórico da personalidade é o protagonista mais efetivo de um debate o que im porta crucialmente é qual teoria da personalidade é mais útil para gerar conseqüências empíricas impor tantes e verificáveis É mais do que hora de o teórico da personalidade libertarse da obrigação de justificar as formulações te óricas que se afastam das idéias normativas ou costu meiras sobre o comportamento É muito comum que uma determinada teoria seja criticada pelo fato de enfatizar excessivamente os aspectos negativos do comportamento ou superenfatizar a importância dos motivos sexuais É verdade que uma visão sensata do comportamento humano considera os seres humanos como possuindo tanto atributos bons quanto maus e não só motivos sexuais como também outros moti vos Mas isso é um completo non sequitur no que se refere ao desenvolvimento de uma teoria do compor tamento O teórico tem completa liberdade como acabamos de enfatizar de se afastar de preconcep ções costumeiras sobre o comportamento e só preci sa fazer declarações sobre o comportamento que se jam empiricamente úteis A questão sobre se essas declarações agradam ou ofendem o indivíduo comum não é importante É muito possível que as teorias do comportamento mais proveitosas acabem se revelan do altamente ofensivas para um membro comum da nossa sociedade A alternativa oposta é claro tam bém é perfeitamente possível O que estamos queren do dizer aqui não é que os teóricos devem negar as visões costumeiras do comportamento nem que eles devem aceitar essas visões Eles têm total liberdade de tomar uma atitude ou outra Sua posição é neutra em relação a essas idéias e eles podem concordar ou discordar conforme desejarem baseando sua avalia ção em critérios totalmente distantes da aceitabilida de ou desviância normativas de sua teoria Freqüen temente encontramos outras críticas a formulações teóricas com um status igualmente dúbio Assim a sugestão de que uma dada teoria é excessivamente molecular racional ou mecanicista simplesmente re flete preconcepções do crítico sobre o comportamen to Tais comentários servem mais para revelar a posi ção do crítico do que para avaliar a teoria Na análise final a única crítica eficaz a uma teoria existente é uma teoria alternativa que funcione melhor Se dizemos que uma dada teoria é excessivamente molecular é preci so que alguém demonstre que uma teoria alternativa empregando unidades maiores de análise consegue fazer tudo o que a primeira teoria faz e mais ainda Podemos argumentar que na psicologia atualmen te é dado muito pouco valor à pesquisa empírica dire tamente relacionada a teorias existentes e valor demais à contribuição de novas formulações ou especulações teóricas apresentadas depois de ter sido observado um determinado conjunto de achados Muitos psicólogos valorizam mais a criação de uma teoria nova mas tri vial que possui pouca superioridade comprovada so bre teorias existentes do que a realização de pesqui sas diretamente relacionadas a uma teoria importante já existente Os psicólogos em sua admiração pelas teorias e em sua incapacidade de discriminar entre a explicação depoisdofato e a predição antesdofato criaram uma série de condições em que existe um máximo de interesse pelo desenvolvimento de novas teorias e um mínimo de interesse pelo exame das con seqüências das teorias existentes Uma característica importuna e possivelmente maligna apresentada por alguns teóricos contempo râneos da personalidade é a tendência ao que poderia ser chamado de imperialismo teórico Nos referimos aqui à tentativa depois de ter sido desenvolvida uma determinada posição teórica de tentar persuadir o leitor de que essa é a única maneira possível de for mular uma teoria do comportamento Assim muitos psicólogos afirmam que o único modo teórico defen sável é aquele que envolve uma contínua interação com os processos fisiológicos outros sugerem que apenas as formulações molares são úteis e outros ainda que o contexto social deve ser o centro da aten ção do teórico Não estamos dizendo que esses teóri cos necessariamente estão errados em suas crenças e sim que a formulação teórica é um empreendimento livre se é que isso existe Nenhum teórico tem o di 502 HALL LINDZEY CAMPBELL reito de dizer aos outros teóricos o que fazer Ele tem todo o direito de apresentar suas convicções e vincu lálas ao máximo possível de provas empíricas de sua utilidade Ele pode inclusive associar a teoria e as evi dências a argumentos racionais que considere con vincentes sobre o porquê essa abordagem vai acabar se revelando útil Mas afirmar que essa é a maneira como o progresso teórico deve ser feito é bobagem e só serve para confundir o estudante do campo Que o teórico apresente sua teoria da maneira mais convin cente possível mas que ele respeite o fato de que ela não existe como certeza teórica Todas as teorias da personalidade fazem pelo menos tênues suposições sobre a existência de algu ma forma de estrutura de personalidade Assim em bora alguns teóricos estejam mais preocupados do que outros com a relativa importância de fatores externos ou situacionais todos concordam que existe certo grau de constância na personalidade que se generaliza para diferentes períodos de tempo e situações As diferen ças teóricas entre os teóricos do traço como Allport ou Cattell e os deterministas situacionais como Hartshor ne e May 1928 1929 levaram a um debate ativo e a programas de pesquisa nas duas décadas anteriores à Segunda Guerra Mundial Conforme discutimos no Capítulo 7 a questão reemergiu nas décadas de 70 e 80 como um tópico importante de discussão teórica e pesquisa p ex Bem Allen 1974 Endler Mag nusson 1976a b Epstein OBrien 1985 Kenrick Funder 1988 Magnusson Endler 1977b Mischel 1968 1984 Zuroff 1986 Como vimos muito clara mente no caso de Cattell os teóricos do traço acredi tam que os indivíduos podem ser comparados em ter mos dos vários traços ou disposições duradouras e que conhecendose a posição ou o escore relativo de um indivíduo em um determinado traço é possível predizer muitas ocorrências sobre o comportamento da pessoa em vários ambientes diferentes Os que acre ditam no determinismo situacional estão convencidos de que a maioria dos comportamentos é uma conse qüência do ambiente ou da situação em que o indiví duo está se comportando Assim o comportamento é provocado por estímulos em vez de ser emitido devi do a um traço ou a uma disposição duradoura Uma posição intermediária afirma que as disposições ou os traços do indivíduo influenciam as situações em que a pessoa se encontra e os estímulos ambientais aos quais ela presta atenção Essa posição interacionista atribui um papel significativo tanto às variáveis situa cionais quanto aos traços e às disposições A perspec tiva interacionista é inerente a várias das teorias que examinamos Dessa maneira Henry Murray concei tualizou o comportamento em termos de temas a com binação das necessidades da pessoa e da pressão situ acional Na verdade sua variável pessoal básica é o tema serial uma combinação recorrente e caracterís tica de necessidadepressão Da mesma forma Allport propôs que um traço torna muitos estímulos funcio nalmente equivalentes em virtude do significado com partilhado de modo que qualquer uma das situações dá origem a qualquer uma de uma série de comporta mentos vinculados Kelly também argumentou que é a interpretação que o indivíduo faz das situações o que origina o comportamento e não as tendências comportamentais autônomas A abordagem cogniti voafetiva se então de Mischel e Shoda 1995 ao estudo do comportamento é o exemplo mais re cente de uma perspectiva interacionista na psicologia da personalidade Uma questão relacionada se refere aos múltiplos níveis de análise de um comportamento Uma das prin cipais contribuições dos teóricos da personalidade foi o seu reconhecimento de que é importante conceitua lizar e investigar o comportamento em diferentes ní veis de generalidade Essa posição em lugar nenhum foi mais claramente articulada do que na declaração de Murray e Kluckhohn Todo homem é em certos aspectos como todos os outros homens como alguns outros homens e como nenhum outro homem Em vez de cair no reducionismo tal abordagem afirma que todos os níveis de análise são legítimos e infor mativos por si mesmos e que os investigadores estão livres para trabalhar no nível que melhor se adequar aos seus propósitos Nós podemos identificar duas versões diferentes da abordagem de múltiplos níveis Primeiro muitos teóricos descrevem hierarquias de constructos Assim Cattell descreve os traços de su perfície e de origem as atitudes específicas de uma pessoa traços de superfície podem ser compreendi das em termos de ergs gerais e sentimentos traços de origem Eysenck descreve uma progressão de respos tas específicas para respostas habituais para traços e para tipos Murray descreve necessidades gerais bem como metas e necessidades integradas mais específi cas Ele afirma que uma pessoa pode ser descrita em termos de seu conjunto específico de objetos catexi TEORIAS DA PERSONALIDADE 503 zados que por sua vez devem ser compreendidos em termos de constructos mais gerais Freud descre veu instintos gerais e mecanismos comuns mas tam bém enfatizou escolhas de objeto e derivados de ins tintos mais específicos A metapsicologia de Freud foi uma tentativa de formular os princípios gerais que pareciam inerentes em suas observações do compor tamento concreto de indivíduos específicos Essa mes ma mistura é encontrada nas teorias de Adler Erik son Rogers e Skinner É como se esses teóricos detestassem perder o comportamento específico de um indivíduo enquanto estão formulando leis sobre as pessoas em geral Mischel fornece um exemplo con temporâneo com sua descrição de cinco unidades mediadoras cognitivoafetivas estáveis que interagem com a situação percebida para gerar perfis específicos de situaçãocomportamento se então Até All port o defensor de uma abordagem idiográfica à per sonalidade reconheceu a importância de se estabele cer princípios gerais que expliquem as origens das características individuais Na verdade qualquer ten tativa de rotular um determinado teórico da persona lidade como idiográfico ou nomotético está em gran de parte condenada ao fracasso Em segundo lugar especialmente em anos mais recentes os teóricos da personalidade descreveram sistemas integrados rela cionando o comportamento observado a processos subjacentes Eysenck por exemplo constrói um mo delo em que as características neurológicas subjacen tes como a excitação cortical dão origem a diferen ças na sensibilidade à estimulação que por sua vez afetam as características psicológicas como condicio namento sociabilidade e impulsividade as quais se manifestam nos tipos de personalidade de introver sãoextroversão Da mesma forma Zuckerman 1994 1995 apresenta um modelo psicofarmacológico vin culando mecanismos neuroquímicos neurotransmis sores enzimas e hormônios a mecanismos compor tamentais aproximação inibição e excitação que são por sua vez vinculados a traços básicos de perso nalidade sociabilidade busca de sensação nãosocia lizada impulsiva e ansiedade Nós encorajamos es sas abordagens de múltiplos níveis como estímulos para novos progressos na teorização da personalida de ver também Briggs 1989 Dahlstrom 1995 Re velle 1995 Wakefield 1989 Os últimos anos testemunharam uma crescente preferência entre os teóricos de avançar com passos mais modestos do que os sugeridos por uma única teoria geral que abarque todo ou quase todo o com portamento humano adaptativo Essas teorias mais limitadas ou miniteorias às vezes se referem apenas a um domínio ou área de comportamento específico tal como a tomada de decisão ou as habilidades mo toras ou podem referirse a um complexo específico de comportamentos como a esquizofrenia ou o de senvolvimento sexual Alguns teóricos dirigem sua atenção para modelos matemáticos de cognição ou aprendizagem Outros se interessam mais pelo subs trato neurofisiológico do comportamento mas em todos os casos os teóricos centraramse em uma de terminada dimensão ou modo de representação do comportamento com a relativa exclusão de muitos outros aspectos do comportamento Tais abordagens modestas ou circunscritas precisam ser consideradas por teorias inclusivas ou gerais da personalidade e para elas contribuem Como já observamos nos últimos anos tem havi do progressos grandes e significativos na área ampla da psicobiologia A investigação sistemática dos deter minantes genéticos do comportamento foi promovi da tanto pelo desenvolvimento de novos métodos e achados como por algumas evidências de uma dimi nuição do tradicional foco americano no ambiente e a relativa exclusão da biologia O mesmo pode ser dito em relação aos hormônios e ao comportamento às associações do comportamento cerebral e à psicofisi ologia p ex Zuckerman 1995 Considerando tudo tem havido uma ampliação e um aprofundamento do nosso conhecimento sobre como os fatores biológicos influenciam e são influenciados pelo comportamen to e essa informação somente agora está começando a entrar significativamente na tentativa de explicar o complexo comportamento do ser humano A imensa vitalidade das neurociências e a conhecida preocupa ção de estender a teoria evolutiva para áreas de com portamento humano complexo como agressão altru ísmo cooperação competição e padrões de acasala mento Barash 1977 D Buss 1990 1991 1994 Wilson 1975 apontam para a crescente probabilida de de a biologia ter muito mais a dizer sobre o futuro das teorias da personalidade do que tem a ver com as teorias passadas O leitor deve tomar cuidado para não interpretar o que foi dito como indicando um sentimento de de sânimo em relação ao presente estado da teoria da 504 HALL LINDZEY CAMPBELL personalidade É verdade que muita coisa pode ser criticada nas teorias atuais especialmente quando comparadas a padrões absolutos ou ideais Mas é mais significativo o fato de que os sinais de progresso são indiscutíveis Foi nos últimos 50 anos que a maior parte das pesquisas empíricas relevantes foi realizada e tam bém foi nesse período que a contribuição das discipli nas vizinhas se tornou mais sofisticada Ao mesmo tempo as teorias tenderam a tornarse mais explíci tas em suas declarações e a dar muito mais atenção ao problema de oferecer definições empíricas adequa das Além disso a variedade de idéias ou concepções relativas ao comportamento aumentou imensamen te Em geral nós acreditamos que sejam quais forem as deficiências formais dessas teorias as idéias nelas contidas têm tido uma influência notavelmente am pla e criativa sobre a psicologia E não parece haver nenhuma razão para esperar que tal influência dimi nua no futuro SÍNTESE TEÓRICA VERSUS MULTIPLICIDADE TEÓRICA Nós vimos que embora existam semelhanças e con vergências entre as teorias da personalidade as di versidades e os desacordos ainda são notáveis Ape sar do agrupamento em torno de certas posições teóricas modais ainda há pouco progresso na direção de desenvolver uma posição teórica única e ampla mente aceita Podemos inclusive nos surpreender com a engenhosidade aparentemente interminável dos psicólogos em desenvolver novas maneiras de consi derar ou ordenar os fenômenos do comportamento Em um levantamento inicial da literatura sobre a per sonalidade Sears foi estimulado por essa situação a comentar Uma teoria só é válida na extensão em que se mostra útil para predizer ou controlar o compor tamento não existe certo ou errado na questão apenas conveniência Uma vez que nenhuma teo ria já se revelou brilhantemente eficaz para orde nar os dados do comportamento para esses pro pósitos talvez não surpreenda que tantos psicólogos se sintam estimulados a novas tentati vas de construir um conjunto sistemático de vari áveis de personalidade 1950 p 116 Dada a existência da multiplicidade teórica e dado também que os fatores que conduzem a esse estado são evidentes não seria indesejável ter tantos pontos de vista conflitantes em uma única área empírica Não seria melhor um único ponto de vista que incorporas se tudo o que existe de bom e efetivo em cada uma das teorias de modo que pudéssemos abraçar uma única teoria aceita por todos os investigadores da área Muitas das teorias que discutimos certamente contêm forças que não estão presentes em outras teorias Não poderíamos combinar essas forças individuais para criar uma teoria singularmente eficiente que nos faça compreender melhor o comportamento humano e gere predições sobre o comportamento mais abrangentes e verificáveis do que as geradas por uma única teoria da personalidade Embora essa linha de raciocínio seja fascinante e encontre muito apoio entre os psicólogos contempo râneos há sérias objeções a ela Em primeiro lugar tal ponto de vista supõe que as teorias da personali dade existentes possuem um grau suficiente de clare za formal para estabelecer sua exata natureza e para que o sintetizador possa identificar facilmente os ele mentos comuns e os elementos discrepantes Como vimos esse não é o caso Muitas das teorias são enun ciadas tão imprecisamente que seria extremamente difícil fazer qualquer comparação direta de seus ele mentos com os elementos de alguma outra teoria Isso sugere que a síntese necessária seria um processo um tanto aleatório uma vez que os elementos envolvidos na síntese estão apenas vagamente delineados Em segundo lugar o argumento supõe que não existem conflitos insolúveis entre o conteúdo das várias posi ções teóricas ou se existem que podem ser facilmen te resolvidos por meio de um exame dos fatos da questão É evidente que existem muitos pontos em que as teorias discordam totalmente Além disso es ses pontos de discordância estão freqüentemente re lacionados a fenômenos empíricos que ainda preci sam ser muito mais estudados De fato muitas das diferenças teóricas relacionamse a questões empíri cas bastante elusivas de modo que os fatos da ques tão não estão nem um pouco claros Em terceiro lu gar essa idéia sugere que todas ou a maioria das teorias TEORIAS DA PERSONALIDADE 505 têm uma contribuição única e positiva a fazer para uma teoria eficiente do comportamento A verdade é que algumas dessas teorias estão muito longe de pos suir uma utilidade empírica comprovada A quantida de de testagem empírica das conseqüências derivá veis de uma teoria psicológica é pequena se comparada à variedade de problemas com os quais a teoria se propõe a lidar Quarto esse ponto de vista assume que um estado de harmonia e concordância teóricas é mais saudável atualmente Em um estágio no qual ne nhuma posição teórica parece ter uma superioridade convincente em relação às outras podemos argumen tar razoavelmente que ao invés de investir todo o nosso tempo e talento em uma única teoria seria mais inteligente explorar ativamente a área pelo uso simul tâneo de uma variedade de posições teóricas Quan do sabemos tão pouco com certeza por que colocar todas as esperanças do futuro em uma única cesta te órica Não é melhor deixar que o desenvolvimento teórico siga um curso natural e desacorrentado com a expectativa razoável de que à medida que os acha dos empíricos se multiplicarem e as teorias individu ais se tornarem mais formalizadas chegaremos natu ralmente a uma integração com uma firme base empírica e não a um processo artificialmente monta do no qual o gosto e as crenças pessoais são os prin cipais determinantes do processo Em quinto lugar precisamos reconhecer que várias das teorias que dis cutimos são altamente ecléticas Por exemplo a posi ção final de Gordon Allport incorpora muito de várias teorias que discutimos Da mesma forma a teoria da aprendizagem social de Bandura gradualmente pas sou a ter muito em comum com as abordagens cogni tivas ao entendimento do comportamento outrora consideradas a própria antítese da tradição de ER da qual sua teoria emergiu Assim ao longo do tempo tem ocorrido uma fusão e mistura naturais de formu lações teóricas mesmo que isso não tenha resultado em uma única posição de consenso E o que podemos dizer sobre o valor didático de apresentarmos ao aluno uma única visão organizada da personalidade ao invés da confusão de idéias con traditórias que apresentamos neste volume Presumi velmente é uma boa higiene mental dar ao aluno uma única posição teórica claramente delineada mas isso certamente não é uma boa preparação para um tra balho sério no campo Se os alunos acreditam que existe apenas uma teoria útil é fácil sentirem que dominam firmemente a realidade esquecendo assim a importância do estudo empírico e a possibilidade de mudanças teóricas impostas pelo resultado de tal estudo Por que deveriam os alunos receber um falso senso de harmonia Que eles vejam o campo como ele realmente é teóricos diferentes fazendo suposi ções diferentes sobre o comportamento centrandose em problemas empíricos diferentes usando técnicas diferentes de pesquisa Que eles também compreen dam que esses indivíduos estão unidos em seu inte resse comum pelo comportamento humano e em sua disposição a deixar que os dados empíricos tomem a decisão final sobre o que está certo ou errado em ter mos teóricos Relacionado ao argumento recémcitado está a compelidora consideração de que as teorias são úteis principalmente para a pessoa que as abraça e tenta extrair suas conseqüências de maneira simpática e sen sível A noção de uma síntese ou integração geral nor malmente comunica ao aluno a necessidade de ter cau tela de considerar todos os pontos de vista e de evitar envolverse emocionalmente em uma determinada posição unilateral Antes de abraçar qualquer teoria específica vamos comparála com outras ver se é tão boa quanto as outras em todos os aspectos e ler o que os críticos têm a dizer sobre ela Contrariamente a essa concepção nós recomendamos decididamente que os alunos depois de examinar as teorias existen tes sobre a personalidade adotem sem reservas uma posição teórica específica de modo vigoroso e afeti vo Que o indivíduo possa ficar entusiasmado e imbu ído da teoria antes de começar a examinála critica mente Uma teoria da personalidade não vai dizer ou fazer muito pelo indivíduo que dela se aproximar com indiferença sem críticas ou reservas Ela vai ditar pro blemas para o devoto e estimulálo a pesquisar mas não fará o mesmo pelo observador frio e imparcial Que os alunos reservem sua capacidade crítica e seus instrumentos acadêmicos detalhados para assegurar que a pesquisa executada seja tão bem feita que os achados situemse onde devem Se o indivíduo ex trair conseqüências da teoria e fizer pesquisas rele vantes ele terá amplas oportunidades de desânimo e desespero referentes à adequação da teoria e poderá 506 HALL LINDZEY CAMPBELL acabar convencido de sua falta de utilidade Mas pelo menos ele terá tido a oportunidade de descobrir exa tamente o que a teoria pode fazer Continuamos vigorosamente convencidos de que este não é o momento nem a circunstância apropria da para tentar uma síntese ou integração das teorias da personalidade Nos termos mais simples nós sen timos que não convém tentar uma síntese de teorias cuja utilidade empírica ainda precisa em grande par te ser demonstrada Por que fazer arranjos conceituais em termos de reação estética e consistência interna quando a questão importante é como esses elementos se comportam diante de dados empíricos Nós acre ditamos que muito mais proveitoso do que a tentativa de uma teoria dominante é o cuidadoso desenvolvi mento e especificação de cada teoria existente com atenção simultânea a dados empíricos relevantes A resposta final para qualquer questão teórica está em dados empíricos bemcontrolados e a natureza des ses dados só será adequadamente definida à medida que as próprias teorias estiverem mais desenvolvidas Uma posição é mudar uma teoria à luz de dados em píricos que obrigam o teórico a alguma mudança es sencial outra bem diferente é mudar uma teoria devido à alguma questão avaliativa ou racional con flitante Acreditamos que quase qualquer teoria se sistematicamente ampliada e associada a pesquisas empíricas extensivas oferece maiores esperanças de avanço do que uma amalgamação de teorias existen tes algumas das quais estão malformuladas e preca riamente relacionadas a dados empíricos TEORIAS DA PERSONALIDADE 507 Referências Bibliográficas Abramson L Y Metalsky G I Alloy L B 1989 Hopelessness depression A theorybased sub type of depression Psychological Review 96 358372 Abramson L Y Seligman M E P Teasdale J D 1978 Learned helplessness in humans Criti que and reformulation Journal of Abnormal Psychology 87 4974 Adams G R Fitch S A 1982 Ego stage and identity status development A crosssequential analysis Journal of Personality and Social Psychology 43 574583 Adler A 1917 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Balay J 76 Baldwin A C 344 Baldwin A L 244245 250 Ball E D 112 Baltes P B 256 Bandura A 55 62 156 165 216 233 270 341 344 387 388 415 456 460478 479 485486 493 505 Bannister D 343 Banuazizi A 443 Barash D 503 Barchas J D 478 Barclay A M 194195 Barker B 3334 Barnhardt T M 7778 Barratt P 294 Barrett L C 453 Bash K W 113114 Bates M 109 Baum M 410 Beagley G 451 Beauvoir S de 7879 Bechtel W 3334 Beck A T 452 Becker W C 286 Bell J E 112 Bellak L 161 566 HALL LINDZEY CAMPBELL Beloff J R 272 Belton J A 302 Bem D 245 246 248 478 482 483 502 Bennet E A 86 Bentham J 28 Berberich J P 413 Bergin A E 380 Bergman A 159 Bernard C 348 Bernieri F 246 Bertocci P A 235 250 Beyer J 473 Bieri J 343 Bijou S 394 Bjork D W 393 Blanchard E B 472 Blanck G 157 Blanck R 157 Blass J 216 Blatt S J 159 Blewett D B 272 Blitsten D 140141 Block J 280 381 Block J H 381 Blum G S 7475 Blustein D L 183 Bootzin R R 412 Boren J J 394 Boring E G 28 112 191 392 Borrello G M 109 Bottome P 118 Bottomore T B 128 Bouchard T J Jr 282 Bowdlear C 377 Bower G 61 Bowers K S 216 245 Bowlby J 159 Boyatzis R E 215 Brenner C 63 Brett 113 Breuer J 50 70 Bridgeman P 392 Briggs S R 112 248 503 Brill A A 50 Brody N 301 303 310311 314 Brouillard M E 478 Brown J S 422 425426 460462 Brown N O 181 Brown R 7273 Brücke E 50 Bruhn A R 126 127 Bruner J S 7778 250 Buehler H A 109 Bugelski R 444 Bullit W 179180 Bullock W A 294 Burgess E W 139140 452 Burt C L 256 296 Buss A H 248 283 Buss D M 2829 30 283 284 285 286 503 Butcher H J 265 Butler J M 376 378 C Cado S 343 Campbell J B 299 307 498 Cann D R 111 Cantor N 127 196 248 249 250 482 Cantril H 239 243 250 Caplan P J 177 Carlson J G 109 Carlson L A 218 Carlson R 32 108 217218 280 Carlyn M 109 Carr A C 380 Carroll J B 256 Carson R C 2829 Cartwright D S 375376 496 Cartwright R D 374 Cashdan S 158 Catania A C 390 Cattell R B 42 187 232 253289 292 294 296 361 418 493 Cella D F 183 Cervone D 475 Chaplin W 246 Chapman A H 140141 Charcot J 2829 50 86 Child D 257 266 Chipuer H M 283 Chodorkoff B 379 Chomsky N 416 Christal R E 278 Ciacolone D 450451 Cioffi D 478 Claridge G S 300 302 Coghill G E 348 Cohen E D 111 Colby K M 118 Cole C W 379 Coles R 155 166 Comrey A L 256 Comte A 28 Conley J J 294 TEORIAS DA PERSONALIDADE 567 Constantinople A 183 Cooper J 381 Cosmides L 283 285 Costa P T Jr 279 280 281 292 Cote J E 183 Coutu W 250 251 Cozzarelli C 478 Cramer D 380 Cramer P 177 Crandall J E 127 Crews F 78 7879 Critelli J W 344 477 Cronbach L J 29 Crooks L 343 Cross K P 276 Crozier W J 392 Csikszentmihalyi M 183 Curtis F J 375376 D Dahlstrom W G 503 Dallett J O 113114 Dalton P 343 Daniels D 126 282 Darwin C 2829 3435 6970 78 Davidson R 294 Davis A 424 Davisson A 343 DeKay W T 284 DeRivera J 319 Descartes R 348 de St Aubin E 183 Dewald L 450 Dewey J 348 365 DeWolfe A S 183 Diaz A 312 Dickman S 77 Digman J M 2829 278 Dingman H F 379 Dixon N F 77 Dobson W R 183 Dollard J 387 388 422457 463 492 493 Domhoff G W 181 Domjan N 413 Donahoe J W 413 Donderi D C 111 Doob L W 425 Dostoevsky F 74 179180 Douglas C 191 Downs A 343 Dry AM 86 8788 112 DuBois C 193 Dunbar H F 348 Dweck C S 452 Dworkin B R 443 Dye D A 279 281 Dyer R 155 Dyk W 193 Dymond R F 366 374375 380 DZurilla T 77 E Eagle M N 3334 157 158 Earman J 3334 Easting G 301 Eastman C 477 Eaves L 294 Ebbesen E B 480481 Ebbinghaus H 30 Eber H W 257 Edwards A L 213 Einstein A 318 Ellenberger H 50 101 118 Elliot L B 183 Elms A C 217218 Emmons R A 194195 Empédocles 297 Endler N S 216 248 502 England R 477 Epstein S 77 245 502 Epting F R 343 Erdelyi M H 7778 Erikson E H 46 47 101 135 156 159 165185 193 196 198 218 359 493 Erikson K T 185 Eron L D 213 Evans G T 477 Evans J D 497 Evans R B 113 Evans R I 128 Ewan C 343 Eysenck H J 28 36 42 7475 112 113114 245 247 254 279 281 282 291316 418 446 447 454 493 Eysenck M W 301 Eysenck S B G 292 294 297 298 299 300 301 F Fairbairn W R D 158 Fancher R E 393 568 HALL LINDZEY CAMPBELL Faraday M 318 Fechner G T 5758 68 Feldman S S 111 Felker D W 126 FencilMorse E 451 Fenichel O 53 Ferenczi S 50 139 Ferster C B 404 Festinger L 380 381 Fisher S 7475 Fiske D 278 Fitch S A 183 Fitzgibbon M 183 Fliess W 6970 78 Flournoy T 105106 Folkard S 301 Fordham F 86 Fordham M S M 111 113114 Forer L K 126 Frank I 151 Frank S 194195 Frankie G 464465 Frankl I 100 Franks C M 302 303 Fransella F 343 Franz C 218 Frazier E F 149 FrenkelBrunswik E 161 Freud A 50 63 126 155156 165 167 175 Freud M B 50 Freud S 2829 29 31 3435 4547 5081 84 85 86 8788 9293 9394 98 101 105106 107 112 113 119120 121 125126 128 133 135 139140 142 144 149 150 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 175 178 179180 191 193 196 197 198 202 217218 228 269270 332 353 366 367 387 418 422 436 456457 470 471 493 Friedan B 7879 Friedman I 378 379 Frisbie L V 379 Fromm E 117 128133 150 Frost R 392 Funder D C 245 250 345 479 502 Furtmüller C 118 G Gale A 294 Galen 297 Galliland K 301 Galton F 112 278 Gandhi M 177 179181 Gardner M 73 Gardner R W 162 Gavell M 139140 Gay P 52 6869 Geary P S 183 Geen R G 294 307 308 309310 Geisler C 7576 Gelb A 350 Gendlin 376 Getzels J W 183 Gholson B 3334 Gibson H B 295 Gill M M 63 157 162 162 Gilliland K 294 Girgus J S 453 Glass D C 451 Glover E 112 Goble F G 354 Goethe J W von 348 Goldberg L R 246 278 279 280 286 Goldstein G 113 Goldstein K 316 348354 360 384385 Gordon T 375376 Gorky M 179180 Gorlow L 112 Gorsuch R L 273 Gould D 477 Gray H 112 113114 Gray J A 304 310312 493 Greenberg R P 7475 Greenwald A G 7778 Greer G 7879 Groves D 452 Grummon D L 380 Grunbaum A 7475 Grusec J E 470 472 Gudjonsson H G 297 Guntrip H 159 Guthrie E R 421 429 H Haigh G V 376 378 Haimowitz M L 380 Haimowitz N R 380 Hall C S 53 62 9394 100101 113 160 207 295 Hall G S 50 Hannah B 86 Harackiewicz J M 126 127 Hardaway R A 77 TEORIAS DA PERSONALIDADE 569 Hardin T S 453 Harding M E 111 Hardy A B 475 Harlow H F 234 417 436 Harlow M K 417 Harman H H 256 Harms E 111 Harrington D M 381 Hartmann E von 8788 Hartmann H 156 162 175 Hartshorne H 245 502 Hartup W W 466 Hausdorff D 128 Havener P H 379 Hawkey M L 113114 Hawkins R M 477 Hawley C W 307 Healy C C 109 Healy W 139140 Hector M 128 Heider 380 Helmholtz H L F von 2829 30 Helper M M 379 Helson R 108 Henderson L J 194 Hendrick 162 Herrnstein R J 414 Hertz H 318 Hesse H 111 Hetherington E M 464465 Hicks L E 109 Higgins E T 382 383384 Hilgard E R 61 7475 422 Hinkle J E 379 Hipócrates 28 297 Hiroto D S 451 452 Hitler A 91 125 179180 295 319 Hobbes T 28 Hoffman E 118 Hoffman L W 126 Hogan K 177 Holender D 76 Holland J G 390 393 Hollingworth L 365 Holt R R 7475 157 162 239 247 Holtzman P S 162 Honig W K 411 Hook S 79 Hopkins J R 167 Horn J 257 267 Horney K 46 47 117 125 126 130 133138 149 150 360 382 493 Horwitz L 7475 Houlihan M 294 Hovland C 422 Howells G N 475 Hughes H H 477 Hull C L 160 162 302 390 421 422 425 429 Humphreys M S 301 Hundleby J D 264 I Izard C E 379 J Jackson A 477 Jackson D N 213 248 Jackson H 348 Jacobi J 111 Jacobs A 425426 Jaffé A 86 100101 111 Jakubczak L F 464465 James W 120 179180 224 348 James W T 117 Janet P 28 2829 Jankowicz A D 343 Jefferson T 179181 Jeffery R W 473 Jemmot J B 106 216 John E S 380 John O P 278 279 Johnson C S 149 Joiner T E Jr 453 Joireman J 280 310311 313 Jones E 50 52 70 74 85 86 111112 118 Jones H E 126 Jung C G 28 29 46 47 50 52 53 83114 121 130 149 154 155 191 232 235 298 325 493 K Kafka F 143 Kahn S 183 Kamin L J 297 410 Kanfer F H 469470 Kant I 298 Kantor J R 348 Kaplan R M 213 Kattsoff L O 384 Kazdin A E 394 412 Keirsey D 109 570 HALL LINDZEY CAMPBELL Keller F 392 Kelly G A 39 109 206207 229 239 315316 331 345 479 480481 492 Kelly W 463 Kennedy J F 216 Kenrick D T 32 217218 245 479 502 Kerenyi C 107108 Kernberg O 159 Kerr J 85 Ketterer T 450451 Kierkegaard S 28 Kiers H 280 Kiesler 375376 Kihlstrom J F 7778 126 127 Kilpatrick F P 239 Kirsch I 477 Kirsch J 113114 Kitayama S 383384 Klein G S 157 161162 451 452 Kline P 7475 257 261 263 264 266 269 Klinger M R 77 Kluckhohn C 194 196 210 217218 Koegel R 413 Koestner R 246 Koffka K 318 348349 Köhler W 318 319 348349 Kohut H 159160 Koopman R F 182 Kraeling D 446 Kraft M 280 310311 313 Krasner L 394 411 Krauss H 112 Kristy N F 272 Kubie L 7980 Kuhlman D M 280 310311 313 Kuhn T 3334 35 36 Külpe O 30 Kupers C J 470 L Lacey H 413 Lachman F M 7475 Lakatos I 3334 Lamiell J 3839 247 248 Landfield A W 343 Larsen R 286 Lashley K 191 Lasswell H 139140 Layton L 218 Lazarus R S 367 Leahey T H 3334 113 Leak G K 128 Leitner L M 343 Lenin V I 180181 Leonard R L Jr 216 Lerner B 374 Lerner H 159 Lesser I 183 Levey 303 Levine C 183 LevitzJones E M 183 Levy N 108 Levy S 112 Lewin K 160 256 263264 316 319329 345 421 Lichter S R 216 Lilley B 343 Lindsley O R 446 Lindzey G 53 160 194195 207 213 250 295 333 Litt M D 477 Little B R 249 Liu T J 382 Locke J 28 Loeb J 392 Loehlin J C 207 282 283 294 Loevinger J 280 Loewenstein R 160 Loftus E F 77 109 Logan R L 183 Long J S 413 Lovaas O L 413 Lowry R J 354 Lustig D A 7576 Luther M 177 179180 180181 Lynch M 382 M Maccoby M 133 Mach E 392 Machiavelli N 28 MacKinnon D W 193 213 Maddi S R 2829 Magnusson D 2829 216 248 502 Mahler B 329 Mahler M S 159 Maier S F 452 Mair J M M 343 Manicus P T 3334 Manosevitz M 207 Mao tsetung 180181 Marcia J E 182 183 Markus H 383384 Marquis D 422 TEORIAS DA PERSONALIDADE 571 Marston A R 469470 Martin N 294 Martin S 450 Marx K 128 131 132 Marzillier J S 477 Maslow A 113 130131 235 316 354363 366 385 Maslow B G 354 Masserman J 448 Masson J 77 78 Matthews G 294 Maxwell J C 318 May M A 245 422 502 Mayman M 126 McAdams D P 2829 158 181 183 216 218 280 345 McArdle J J 256 McCaulley M H 109 110 McClain E W 183 McCleary R A 367 McClelland D C 215 215 216 McCrae R R 278 279 280 281 292 McDougall W 2829 29 31 224 492 McGarryRoberts P 294 McGranahan D G 250 McGue M 282 McGuire W 84 86 154 McKeel H S 193 McLaughlin R J 306 307 308 Mead G H 139140 Medinnus G R 375376 Meehl P 80 Mefford I N 478 Meichenbaum D 449 Meier C A 113114 Melhado J J 113114 Mellon P 111 Melville H 191 194 213214 Menlove F L 470 472 474 Merriam C E 139140 Metalsky G I 453 Meyer A 139140 348 Miley C H 126 Milgram N A 379 Milich R 7475 Miller N E 160 387 388 422457 463 492 493 Miller R J 128 Miller W R 451 452 Millet K 7879 Mischel W 2829 216 245 248 476 478487 502 Mitchell J 7879 Monte C F 2829 301 456 Morgan C D 191 194195 215 Morris E K 393 394 Mosak H H 126 380 Moisés profeta 179180 Moskowitz D 245 Mowrer O H 161 422 425 429 446 Mozdzierz G J 128 Muench G A 374375 380 Mullahy P 140141 Mumford L 111 Munroe R 117 Munsterberg H 191 Murphy G 113114 Murray E J 446 Murray H A 28 160 167 189221 228 249 257 272 286 332 392 479 486 492 493 Murray J B 109 Murstein B I 213 Musgrave A 3334 Myers I B 109 110 112 Myers P B 109 N Nacht S 157 Napoleão Bonaparte e of France 88 125 Neimeyer G J 343 Neimeyer R A 343 Nesselroade J R 256 257 Neumann E 111 Newman J P 312 Newton H 185 Nichols R C 282 Nietzsche F 28 8788 100 Nisbett R 7778 NolenHoeksema S 453 Nordby V J 9394 100101 113 Norman W T 278 279 Nunnally J C 376 Nurius 383384 Nye R D 393 O OBrien E J 245 502 Ochse R 183 OConnor K 297 Odbert 232 261 278 Oetting E R 379 Olson W C 234 Orgler H 118 Orlofsky J L 183 Overmier J B 450 Ozer D J 216 245 572 HALL LINDZEY CAMPBELL P Padilla A M 450451 Padilla C 450451 Palmer D C 413 Parisi T 6970 Park R E 139140 Paunonen S V 248 Pavlov I P 2829 301 304 305 392 401 420 425426 Pawlik K 264 Peake P 245 482 483 Pearce J M 413 Pearson P R 301 Pelham B W 248 Perloff B F 413 Perry H S 139141 Perry N W 128 Pervin L A 2829 245 Peterfreund 7475 Peters 113 Peterson C 2829 453 Pettigrew T 250 Phillips E L 375376 Phillips S D 183 Piaget J 156 166 Pickering A 312 Pilisuk M 380 Pincus A L 2829 Pine F 159 Platão 28 Plomin R 126 281 282 283 Plug C 183 Poincaré H 392 Poole M E 477 Popper K 3334 Porter E H Jr 374375 Pratt C 392 Prince M 191 Progoff I 111 PumpianMindlin E 161 Q Quinn S 133 R Rabin A I 194195 Rachlin H 413 Rachman S 297 447 Radcliffe J A 265 Radin P 111 Raimy V C 374 374375 Rank O 52 154 366 Rapaport D 157 160 161 Raskin N J 374 Read D 183 Read H E 111 Reese L 475 Reich W 154 Rennie T A C 348 Reppucci N D 452 Revelle W 2829 299 301 312 503 Reyna L 446 Reynolds J H 299 Richards I A 108 Richelle M 393 Ritter B 472 Roazen P 155 165 166 Robbins S J 413 Robertson T 343 Robinson F G 191 194195 Robinson P 6970 7475 7879 Rocklin T 299 RockwellTischer S 294 Rodin J 477 Rogers C 113 130 136 142 233 315316 333 347 386 357 360 363386 418 471 492 493 Rohles F H 394 Roosevelt T 122 Rorer L G 2829 3334 Rosekrans M A 466 Rosenthal R 246 Rosenthal T L 467 Rosenzweig S 6869 7475 77 193 213 247 Ross D L 7576 465 466 476 Ross S A 465 466 476 Rothman S 216 Rotter J B 112 452 479 Rubin I M 215 Rubin Z 216 Rubins J L 133 Rudikoff E C 378 Rule W R 126 Runyan W M 218 Russell B 392 Russell S 344 Ryckman R M 2829 S Saccuzzo D P 213 Sachs D 7475 TEORIAS DA PERSONALIDADE 573 Sachs H 133 191 Salter A 446 448 Sanford R N 28 32 193 251 Sapir E 139140 Saucier G 280 Saunders D R 257 273 Sayers J 133 155 Schaefer B 413 Schafer R A 162 Scheier I H 261 269 Schenkel S 183 Schmitt D P 285 286 Schooler C 126 Schopenhauer A 8788 Schreber D 179180 Schuh A J 497 Schulman P 453 Schumer F 213 Schur M 53 Schwartz B 413 Sears R R 7475 161 422 425 446 460462 504 Secord P F 3334 Seeman J 374 374375 Seeman T E 477 Selesnick S T 112 Seligman M E P 422 449454 Selye H 234 Semmelroth J 286 Semyck R W 352 Serrano M 111 Seward J P 250 Shakespeare W 74 468469 Shakow D 160 Shaw G B 179180 Sheerer E T 375376 Sheldon W 493 Sherrington C S 392 Shevrin H 76 77 Shneidman 194195 Shoda Y 483 484 502 Silverman L H 7476 Silverstein B 6970 Simmel M L 350 Simmons J Q 413 Simon L 301 Simonson N R 112 Singer J E 451 Skaggs E B 247 250 Skinner B F 143 163 295 333 366 367 384 385 387 388 389418 421 446 464 467 492 493 Slugoski B R 182 183 Smith B D 294 Smith H W 497 Smith M B 193 250 Smuts J 348 Sófocles 74 Solomon R L 234 410 Spearman C 254 257 Spence K W 421 422 429 460462 Spencer S J 382 Sperber M 118 Spinoza 348 Staddon J E R 411 Stalikas A 29 297 298 Steele C M 345 382 Stekel 52 Stelmack R M 29 294 297 298 Stenberg G 294 Stepansky P 5758 Stephenson W 239 376 377 Stern P J 86 101 Stern W 2829 120 224 234 Stevens L C 344 Stewart A J 216 218 Stice G F 257 272 273 Stock D 375376 Strauman T J 127 Strelau J 294 Sullivan H S 46 47 117 138149 150 166 493 Sulloway F 6970 Suppe F 3334 Sweney A B 257 265 269 T Taft R 497 TakemotoChock N K 278 Tataryn D J 7778 Tatsuoka M M 257 Taulbee E S 452 Taves P A 381 Taylor C B 478 Teasdale J D 450 Tellegen A 282 Teplov B M 304 305 Teta P 280 313 Thetford W N 380 Thomas E 450 Thomas L 343 Thomas W I 139140 Thompson B 109 Thompson C 139 Thompson G G 329 Thorndike E L 2829 257 392 401 420 421 464 574 HALL LINDZEY CAMPBELL Thornquist M H 280 300 Thurstone L L 254 256 278 Titchener E B 30 Tobacyk J J 343 Tolman E C 234 421 429 492 Tolstoy L 88 Tomkins S S 193 218 Tooby J 283 285 Torestad B 2829 Toth J C 302 Triplet R G 190 191 194195 220 Truman H S 216 Tupes E C 278 Turiell E 55 Tyler L 246 U Ullmann L P 394 411 V Vaihinger H 120 121 331 Vaillant G E 453 Valentine C W 447 Vanasek F J 379 van der Post L 86 101 Van de Water D 183 Vaughan M E 394 Vernon P E 239 242 243 Veroff J 216 Vinci L da 62 74 179180 217218 Viney L L 343 Vockell E L 126 von Franz ML 86 W Wainer H A 215 Wakefield J C 248 503 Walker B M 343 Wallace J F 312 Wallen J L 374375 Walters R H 460462 464465 Warburton F W 261 Ward R A 109 Waterman A S 183 183 Waterman C K 183 Watkins C E Jr 128 Watson J B 2829 389390 392 421 492 Watson R I Sr 113 Wehr D S 86 Wehr G 86 Weigert E V 85 Weinberg R S 477 Weinberger J 7475 76 Weiss J M 451 Werner H 348 Wertheimer M 318 319 348349 Westen D 7475 77 156 157 159 160 286 Whalen C K 470 Wheeler R H 348 Wheelwright J B 109 112 113114 Wheelwright J H 109 Whitbourne S K 183 White A 424 White R W 32 162165 193 194 213 235 495 Whitehead A N 194 Whiting J 422 Whyte L L 50 Wickes F 111 Widiger T A 2829 3334 281 Wiedenfeld S A 478 Wiggins J S 2829 Wilhelm R 92 Williams D E 128 Williams S L 478 Wilson C 354 Wilson E O 503 Wilson G 7475 Wilson T 7778 Wilson W 179180 Windelband W 239 Winter D A 343 Winter D G 216 218 Wispe L G 273 Wolpe J 422 446449 454 Woodworth R S 234 Wright C L 473 Wright H W 452 Wright J C 482 483 484 Wundt W 2829 30 112 298 348 Wurf E 383384 Wylie P 111 Wylie R C 374 375376 380 Wynne L G 234 410 Y YoungBruehl E 155 Yukelson D 477 TEORIAS DA PERSONALIDADE 575 Z Zanna M P 381 Zeiss A R 480481 Zeller 77 Zimmerman G 183 Zimmerman R R 436 Zinbarg R 312 Zubin J 213 Zucker R A 194195 Zuckerman M 246 280 300 310311 312 493 503 Zuroff D C 248 502 Zuschlag M K 183 TEORIAS DA PERSONALIDADE 577 Índice A Abordagem molar teoria da personalidade 4243 Abordagem molecular teoria da personalidade 4243 Aborto 478 Abrangência teoria da personalidade 3435 Abstração teoria da personalidade 4243 Ação motora teoria do constructo pessoal 326 Adaptação psicologia do ego 157 Adler A biografia de 117120 Adolescência Ver também Fatores desenvolvimentais teoria analítica jungiana 101 teoria eriksoniana 168 173174 teoria sullivaniana 145146 Afiliação grupal teoria da personalidade 43 496 Agressão Allport G 234 personologia oral 208209 teoria da aprendizagem social 465467 476 482 teoria das relações objetais 158 teoria psicanalítica 5758 Agressão oral personologia 208209 Ajustamento Allport G 238 teoria da personalidade 32 43 teoria fatorial analítica do traço 268269 Alienação Fromm E 132133 Horney K 137138 Allport G biografia de 224228 desenvolvimento da personalidade 236239 idade adulta 238239 período de bebê 236238 estrutura e dinâmica da personalidade 228236 autonomia funcional 233236 caráter e temperamento 228229 de modo geral 228228 intenções 232 proprium 232233 traço 229232 unidade 236 métodos de pesquisa 239250 análise de cartas 244245 contemporâneos 245250 de modo geral 239 estudos sobre o comportamento expressivo 241 243 idiográfico versus nomotético 239240 medidas diretas e indiretas 240241 resumo 223224 status atual 250252 Alternativismo construtivo teoria do constructo pessoal 331332 Ambiente teoria da aprendizagem social 467 teoria da personalidade 4243 teoria de traço fatorialanalítica 272 teoria do constructo pessoal 320321 Ver também Teoria do constructo pessoal teoria organísmica 353354 teorias da personalidade comparadas 494 Ambiente psicológico Ver ambiente Ameaça teoria do constructo social 340 Amor teoria eriksoniana 174 teoria psicanalítica 5758 Análise de cartas Allport G 244245 578 HALL LINDZEY CAMPBELL Análise de conteúdo teoria centrada na pessoa 374376 Análise funcional condicionamento operante 395398 Ancoramento interdisciplinar teoria da personalidade 44 496 Anima e animus teoria analítica junguiana 91 96 Ansiedade básica Horney K 135136 projeção 64 segunda teoria de Freud sobre a 154 teoria do constructo pessoal 340 teoria do estímuloresposta 448449 teoria psicanalítica 6061 teoria sullivaniana 144 Ansiedade básica Horney K 135136 Ansiedade de realidade projeção 64 teoria psicanalítica 6061 Ansiedade moral projeção 64 teoria psicanalítica 6061 Ansiedade neurótica projeção 64 teoria psicanalítica 6061 Anticatexias teoria psicanalítica 5860 Antropologia teoria eriksoniana 179180 183184 Aprendizagem de neuroses teoria do estímuloresposta 441443 drive secundário e fatores desenvolvimentais teoria do estímuloresposta 432433 personologia 209210 teoria da personalidade 4041 teoria de traço biológico 302 teoria de traço fatorialanalítica 272273 teoria de estímuloresposta 421 429 430 431432 Ver também Teoria de estímuloresposta teorias da personalidade comparadas 493 Arquétipos teoria analítica junguiana 8991 Associação livre teoria psicanalítica 7072 Associação Psicanalítica Internacional 52 84 Atenção seletiva teoria sullivaniana 142 Atitudes teoria analítica junguiana 9293 94 teoria de traço fatorialanalítica 265266 Autoanálise teoria psicanalítica 74 Autoconceito experimental teoria centrada na pessoa 380 teoria da personalidade 4243 teoria do constructo pessoal 334334 teorias da personalidade comparadas 494 Autoconceito dinâmico 383384 Autoeficácia teoria da aprendizagem social 472477 Autonomia funcional Allport G 233236 Autonomia funcional Allport G 233236 vergonha e dúvida versus teoria eriksoniana 171 Autoobservação teoria da aprendizagem social 469470 Autoreação teoria da aprendizagem social 469471 Autorealização características da 362363 hierarquia de necessidades 360 personologia 209210 teoria organísmica 352353 Autorealização teoria analítica junguiana 99100 Autoreforço teoria da aprendizagem social 464 Autoritarismo Fromm E 130 Autosistema teoria da aprendizagem social 468471 Ver também Teoria da aprendizagem social teoria sullivaniana 141142 B Bandura A biografia de 460463 Ver também teoria da aprendizagem social Biografia personologia 217218 psicohistória teoria eriksoniana 179181 Biologia Allport G 237238 personologia 210211 teoria adleriana 119120 teoria analítica junguiana 9697 100101 teoria da personalidade 4142 teoria de traço fatorialanalítica 272 teoria do estímuloresposta 443 teoria eriksoniana 178179 teoria psicanalítica 6970 teoria sullivaniana 139 Bissexualidade teoria analítica junguiana 91 teoria psicanalítica 67 7374 Busca de superioridade teoria adleriana 121 C Capitalismo Fromm E 131133 Caráter concreto teoria da personalidade 4243 Caráter Allport G 228229 Caso do Homem dos Lobos Freud 72 73 Caso do Homem dos Ratos Freud 72 73 Caso do Pequeno Hans Freud 72 73 156 Caso Dora Freud 72 TEORIAS DA PERSONALIDADE 579 Catexias personologia 202 206209 teoria psicanalítica 5860 68 Cattell R B biografia de 256257 Ver também Teoria de traço fatorialanalítica Causalidade teleologia versus teoria analítica junguiana 99100 teoria adleriana 121 teoria do traço biológico 301305 Cena primária teoria psicanalítica 73 Cérebro personalidade e 195 Ciências ocultas teoria analítica junguiana 105107 Cinco Grandes Fatores Eysenck e 292 teoria de traço fatorialanalítica 278281 Cognição fatores desenvolvimentais teoria de estímuloresposta 433435 teoria da aprendizagem social 473 Compensação teoria adleriana 121122 teoria analítica junguiana 9495 Competência teoria da personalidade 4243 teorias da personalidade comparadas 494495 White R 162163 Complexo de castração personologia 209 teoria psicanalítica 6667 Complexo de Édipo teoria psicanalítica 6668 Complexo de Ícaro personologia 209 Complexo materno teoria analítica junguiana 88 Complexos infantis personologia 206209 teoria analítica junguiana 88 9698 105 Complexos anais personologia 209 Complexos claustrais personologia 208 Complexos infantis personologia 206209 Complexos orais personologia 208 Comportamentalismo teoria de estímuloresposta 420 Ver também teoria de estímuloresposta Comportamento anormal condicionamento operante 408411 teorias da personalidade comparadas 496 Comportamento ideal teoria da personalidade 43 Comportamento lúdico teoria eriksoniana 172 177179 White 163164 Comportamento social condicionamento operante 407 408 Comportamento supersticioso condicionamento operante 404405 Comportamento legitimidade do condicionamento operante 394395 Compulsão à repetição teoria psicanalítica 56 Conceito de necessidade integrada personologia 204205 Conceito de pressão personologia 202204 Conceito de tema personologia 203205 Conceito de unidadetema personologia 204205 Condicionamento clássico condicionamento operante 401402 teoria do estímuloresposta 420 425427 Ver também Teoria de estímuloresposta Condicionamento operante 389418 desenvolvimento da personalidade 401411 comportamento anormal 408411 comportamento social 407408 comportamento supersticioso 404405 condicionamento clássico 401402 condicionamento operante 402403 discriminação e generalização de estímulo 406 407 esquemas de reforço 403404 reforço secundário 405406 dinâmica da personalidade 399401 estrutura da personalidade 398399 material biográfico Skinner BF 390394 métodos de pesquisa 411414 contemporâneos 413414 descritos 411413 status atual 414418 sumário 389390 suposições 394398 análise funcional 395398 legitimidade do comportamento 394395 Confiança básica versus desconfiança básica teoria eriksoniana 169171 Confiança confiança básica versus desconfiança básica teoria eriksoniana 169171 Conflito personologia 197 teoria de traço fatorialanalítica 268269 teoria de estímuloresposta 439441 teoria psicodinâmica 45 Conformidade de autômato Fromm E 130 Conformidade Fromm E 130 Consciência teoria psicanalítica 5455 Consciência Ver também Inconsciente teoria da personalidade 4041 teoria do constructo pessoal 340 teoria de estímuloresposta 439 teoria organísmica 353 Conselho diagnóstico personologia métodos de pesquisa 212 Conservação teoria psicanalítica 56 580 HALL LINDZEY CAMPBELL Constructos de mudança teoria do constructo pessoal 340341 Contexto social teoria de traço fatorialanalítica 273274 teoria do estímuloresposta 435435 Continuidade teoria da personalidade 41 Contínuo de consciência cognitiva teoria do constructo pessoal 340 Contracondicionamento teoria do estímuloresposta 432 Corolário da comunalidade teoria do constructo pessoal 339 Corolário de construção teoria do constructo pessoal 337 Corolário de escolha teoria do constructo pessoal 338 339 Corolário de experiência teoria do constructo pessoal 337338 Corolário de fragmentação teoria do constructo pessoal 337338 Corolário de individualidade teoria do constructo pessoal 339 Corolário de organização teoria do constructo pessoal 337338 Corolário de socialidade teoria do constructo pessoal 339340 Corolários teoria do constructo pessoal 336340 Criatividade personologia 198 teoria centrada na pessoa 381 Culpa iniciativa versus teoria eriksoniana 171172 teoria da aprendizagem pessoal 464 teoria do constructo pessoal 340341 teoria psicanalítica 6061 Cultura estudos interculturais teoria eriksoniana 183184 personologia 196 198 209210 teoria da personalidade 43 teoria de estímuloresposta 436 D Debate pessoasituação Allport G 245246 Déficit cognitivo teoria de estímuloresposta 449 Definição biofísica da personalidade 32 Definição biossocial da personalidade 32 Definição da personalidade do tipo coletânea 3233 Depressão teoria do desamparo 453454 teoria do estímuloresposta 449 450453 Desamparo aprendido teoria do estímuloresposta 450 453 Desconfiança confiança básica versus desconfiança básica teoria eriksoniana 169171 Descontinuidade teoria da personalidade 41 Desejo teoria psicanalítica 55 Desespero integridade versus teoria eriksoniana 175175 Deslocamento teoria do estímuloresposta 444 teoria psicanalítica 5657 6263 Destrutividade Fromm E 130 Determinismo recíproco teoria da aprendizagem social 467467 Diferenças individuais Allport G 223252 Ver também Allport G personologia 210 217218 teoria da personalidade 42 teoria de traço fatorialanalítica 275277 283286 Diferenças sexuais Horney K 135 poder personologia 216 teoria adleriana 122 teoria analítica junguiana 91 96 teoria da dissonância cognitiva 381381 teoria do constructo pessoal 335 344 teoria eriksoniana 178179 teoria psicanalítica 6668 7879 Diferenças Ver Diferenças individuais Diferenciação teoria do constructo pessoal 321322 Diligência inferioridade versus teoria eriksoniana 172 173 Discriminação e generalização de estímulo condicionamento operante 406407 Disposição cardeal Allport G 231232 Disposição central Allport G 231232 Disposição secundária Allport G 231232 Disposição Allport G 231232 Dollard J biografia de 422426 Ver também Teoria do estímuloresposta Dominantes teoria analítica junguiana 8990 Domínio ou maestria teoria da personalidade 4243 Drive secundário 432433 Drives teoria do estímuloresposta 427 429 431 432 433 436 Ver também Teoria do estímulo resposta Dúvida e vergonha autonomia versus teoria eriksoniana 171171 E Edutores teoria sullivaniana 141 Efeito Zeigarnik 234 Efeitos subliminares teoria psicanalítica 7477 TEORIAS DA PERSONALIDADE 581 Ego Allport G 232233 distribuição da energia psíquica 5860 personologia 196197 teoria analítica junguiana 88 teoria das relações objetais 158 teoria eriksoniana 175176 teoria psicanalítica 54 Empiricismo teoria centrada na pessoa 375380 teoria da personalidade 3435 3940 teoria psicodinâmica 46 Energia psíquica personologia 196 teoria analítica junguiana 90 96100 103104 teoria do constructo pessoal 325 teoria psicanalítica e 5555 5860 teoria sullivaniana 144145 Energia Ver Energia psíquica Ênfase no campo teoria da personalidade 42 Entrevista teoria sullivaniana 147148 Envelhecimento teoria eriksoniana 175175 Equação de especificação teoria de traço fatorialanalítica 263265 Equalização teoria organísmica 352352 Ergs teoria de traço fatorialanalítica 266 Erikson E H biografia 166167 Escalas escalas de avaliação teoria centrada na pessoa 375 376 teoria do constructo pessoal 335336 Escalas de avaliação teoria centrada na pessoa 375376 Escolha objetal teoria psicanalítica 58 Espaço de vida teoria do constructo pessoal 320321 Esquema de vetorvalor personologia 205206 Esquemas de reforço condicionamento operante 403404 Esquemas e programas seriados personologia 195196 Esquemas personologia 196196 Esquizofrenia teoria sullivaniana 148149 Estados teoria de traço fatorialanalítica 269269 Estágio anal teoria psicanalítica 66 Estágio fálico teoria psicanalítica 6668 Estágio genital teoria psicanalítica 68 Estágio oral teoria psicanalítica 65 Estagnação generatividade versus teoria eriksoniana 174 175 Estatística conceito de análise fatorial 254 256 Estereótipos teoria sullivaniana 143 Estilo cognitivo Klein G 162 Estilo de vida teoria adleriana 123125 Estilo explanatório teoria do estímuloresposta 453 Estimulação Fromm E 130131 Estímulo condicionado teoria do estímuloresposta 425 430 Ver também Teoria do estímuloresposta Estímulo incondicionado teoria do estímuloresposta 425430 Ver também Teoria do estímulo resposta Estratégia cognitiva personologia 196 Estrutura de orientação Fromm E 130131 Estudos com animais teoria de estímuloresposta 422 443 448 450451 Estudos de caso teoria analítica junguiana 105106 teoria eriksoniana 177 179181 teoria psicanalítica 7274 Estudos de gêmeos teoria de traço fatorialanalítica 281 283 Estudos do comportamento expressivo Allport G 241 243 Estudos experimentais do autoconceito teoria centrada na pessoa 380 Estudos interculturais teoria eriksoniana 183184 Estudos quantitativos teoria centrada na pessoa 374375 Excitação Fromm E 130131 Excitação teoria de traço biológico 307310 Ver também Teoria de traço biológico Execução teoria eriksoniana 181183 Extinção experimental teoria do estímuloresposta 428 Extinção teoria de estímuloresposta 428 449 Extroversão e introversão teoria analítica junguiana 9294 101 108111 112 teoria de traço biológico 292 294 297300 Ver também Teoria de traço biológico teoria do constructo pessoal 333 Eysenck H J biografia de 295297 Ver também Teoria de traço biológico F Farmacologia Skinner B F e 412 Fatores desenvolvimentais Allport G 236239 idade adulta 238239 período de bebê 236238 condicionamento operante 401411 402403 comportamento anormal 408411 comportamento social 407408 comportamento supersticioso 404405 condicionamento clássico 401402 esquemas de reforço 403404 generalização e discriminação de estímulo 406 407 reforço secundário 405406 582 HALL LINDZEY CAMPBELL personologia 206211 aprendizagem 209210 complexos infantis 206209 de modo geral 206207 fatores socioculturais 209210 genética 209210 inconsciente 210211 processo de socialização 210211 singularidade 210 teoria analítica junguiana 99104 causalidade versus teleologia 99100 de modo geral 99100 estágios 100102 função transcendente 103104 genética 100101 individuação 103 progressão e regressão 102103 simbolização 103104 sincronicidade 100101 sublimação e repressão 103104 teoria centrada na pessoa 371374 teoria da personalidade 4041 teoria das relação objetais 158159 teoria de traço fatorialanalítica 270274 análise de hereditariedadeambiente 272 aprendizagem 272273 contexto social 273274 de modo geral 270272 maturação 273 teoria do constructo pessoal 328329 teoria de estímuloresposta 430437 contexto social 435 estágios 435437 processo de aprendizagem e drive secundário 432 433 processo de aprendizagem 431432 processos mentais superiores 433435 qualidades inatas 431 teoria eriksoniana 165185 Ver também Teoria eriksoniana teoria organísmica 354354 teoria psicanalítica 6168 de modo geral 61 deslocamento 6263 estágios 6568 identificação 6162 mecanismos de defesa 6365 teoria sullivaniana 144146 teorias da personalidade comparadas 494 White R 163164 Fatores econômicos Fromm E 131133 teoria psicológicateoria psicanalítica 161 Fatores socioculturais personologia 209210 Feminismo teoria psicanalítica 7879 Finalismo ficcional teoria adleriana 120121 Fisiologia teoria da personalidade 28 Fixação teoria psicanalítica 6465 Fobias teoria da aprendizagem social 473474 Foco no constructor teoria do constructo pessoal 333 Força Ver Vetor Formação reativa 64 Freud S Ver também Teoria psicanalítica Adler e 119120 biografia de 5053 Horney K e 133 135 psicanálise e 5381 Fromm E biografia 128130 contribuições de 130133 149151 Função integrativa da personalidade 32 Função transcendente teoria analítica junguiana 95 103104 Fundação Bollingen 111 G Generalização teoria do estímuloresposta 429 433 Generatividade estagnação versus teoria eriksoniana 174175 Genética Allport G 237238 personologia 209210 teoria adleriana 125 teoria analítica junguiana 91 100101 teoria da personalidade 28 4041 teoria de traço biológico 300 teoria de traço fatorialanalítica 272 281283 teoria de estímuloresposta 431 teoria sullivaniana 139 146 teorias da personalidade comparadas 493 Genética do comportamento teoria de traço fatorial analítica 281283 Genética lamarkiana teoria analítica junguiana 100101 Genitalidade teoria eriksoniana 174 178179 Goldstein K biografia de 349350 Ver também Teoria organísmica H Habilidades personologia 196 Hereditariedade Ver Genética Heurística teoria da personalidade 3435 Hierarquia de necessidades Maslow A 358361 TEORIAS DA PERSONALIDADE 583 Histeria teoria psicanalítica 50 Holismo teoria da personalidade 4142 teoria organísmica 348 teorias da personalidade comparadas 494 Homossexualidade teoria analítica junguiana 91 teoria do constructo pessoal 343 teoria psicanalítica 7374 teoria sullivaniana 145146 Horney K alienação 137138 ansiedade básica 135136 biografia 133 Freud S e 133135 necessidades neuróticas 136137 soluções para necessidades neuróticas 137 Hostilidade teoria do constructo pessoal 340 Humanismo dialético Fromm E 128 I Id distribuição de energia psíquica 5860 personologia 196 psicologia do ego 155 156 teoria psicanalítica 5454 Idade adulta Ver também Fatores desenvolvimentais Allport G 238239 teoria de traço fatorial analítica 273 teoria eriksoniana 174175 Ideal de ego personologia 197 Identidade confusão de identidade versus teoria eriksoniana 173 174 Fromm E 130131 teoria eriksoniana 168 182183 Identificação teoria psicanalítica 5859 6162 Idiográfica e idiotética Allport G 239240 246248 Imagens primordiais teoria analítica junguiana 8990 Imagos teoria analítica junguiana 8990 Imitação teoria psicanalítica 62 Inconsciente coletivo teoria analítica junguiana 8892 100101 Inconsciente pessoal teoria analítica junguiana 88 Inconsciente transpessoal Ver Inconsciente coletivo Inconsciente Ver também Consciente coletivo teoria analítica junguiana 8892 100101 personologia 210211 pessoal teoria analítica junguiana 88 teoria da personalidade 4041 teoria de traço fatorialanalítica 265266 teoria do constructo pessoal 340340 teoria de estímuloresposta 437439 teoria organísmica 353 teoria psicanalítica 50 teoria psicodinâmica 45 46 47 teorias da personalidade comparadas 492493 Indicador de Tipo MyersBriggs MBTI MyersBriggs Type Indicator teoria analítica junguiana 108 109111 teoria de traço fatorialanalítica 280281 Individuação teoria analítica junguiana 103 Infância Allport G 233 comportamento lúdico White R 163164 Horney K 135136 teoria adleriana 122 127 teoria analítica junguiana 100101 teoria centrada na pessoa 373373 teoria da aprendizagem social 464465 476 480481 teoria da personalidade 4041 teoria das relações objetais 159 teoria de estímuloresposta 435437 teoria eriksoniana 171173 teoria psicanalítica 6568 teoria sullivaniana 144148 Inferioridade diligência versus teoria eriksoniana 172 173 Inibição transmarginal teoria do traço biológico 305305 Iniciativa culpa versus teoria eriksoniana 171172 Instinto definido 55 psicologia do ego 156 teoria das relações objetais 158 160 teoria psicanalítica 5558 White R 162163 Instinto de morte teoria psicanalítica 5758 Instinto de vida teoria psicanalítica 57 5758 Instituto de Relações Humanas Universidade de Yale 422422 424 Instrumentos de mensuração Allport G 239 240241 personologia métodos de pesquisa 212213 Integridade desespero versus teoria eriksoniana 175175 Intenções Allport G 232232 Interacionismo Allport G 245246 personologia 216216 Interações objetosujeito personologia 195196 Interações sujeitoobjeto personologia 195196 Interações sujeitosujeito personologia 195196 Interesse social teoria adleriana 122123 Intimidade isolamento versus teoria eriksoniana 174 Introjeção teoria psicanalítica 55 584 HALL LINDZEY CAMPBELL Introversão Ver Extroversão e introversão Intuição teoria analítica junguiana 93 Inveja do pênis Horney K 135 teoria psicanalítica 6667 7879 Irmãos ordem de nascimento teoria adleriana 126126 Isolamento intimidade versus 174 J Jung C G biografia de 8588 Freud e 8485 K Kelly G biografia de 328331 Ver também Teoria do constructo pessoal L Legitimidade do comportamento condicionamento operante 394395 Lei de YerkesDodson teoria de traço biológico 306307 Lewin K biografia de 319320 Ver também Teoria do constructo pessoal Libido teoria psicanalítica 57 White R 165 Linguagem condicionamento operante 416 fatores desenvolvimentais teoria de estímuloresposta 433435 teoria do constructo pessoal 333 340 teoria de estímuloresposta 421 Linguagem corporal estudos do comportamento expressivo 241243 Locomoção teoria do constructo pessoal 327328 M Mandala teoria analítica junguiana 92 103104 Maslow A Ver também Teoria organísmica teoria centrada na pessoa autorealizadores 362363 biografia de 354 hierarquia de necessidades 358361 natureza humana 356358 síndromes 361362 Maturação personologia 209210 teoria de traço fatorialanalítica 285286 Mecanismos de defesa psicologia do ego 156157 teoria psicanalítica 61 6365 Medicação Skinner B F e 412 Meiaidade teoria analítica junguiana 101102 Memória inconsciente coletivo 8892 100101 teoria adleriana 126127 Memória inicial teoria adleriana 126127 Ver também Memória Memória racial inconsciente coletivo 8889 Metáfora do homemcientista teoria do constructo pessoal 332333 Metapsicologia teoria psicanalítica 75 154 162 Método científico Skinner B F sobre 393 teoria do estímuloresposta 419420 Ver também Teoria do estímulo resposta teoria psicanalítica 5555 6970 79 teoria sullivaniana 139 Método comparativo teoria analítica junguiana 105107 Método do duplocego teoria psicanalítica 76 Miller N biografia de 422 425426 Ver também Teoria do estímuloresposta Mischel W biografia de 478481 Ver também Teoria da aprendizagem social Mitologia teoria analítica junguiana 90 105107 Modelo de diáteseestresse teoria do estímuloresposta 453 Modelo dos sistemas VIDAS teoria de traço fatorial analítica 277278 Motivação Allport G 233236 hierarquia de necessidades Maslow A 358361 lei de YerkesDodson 307 personologia 190191 197198 198 215216 teoria adleriana 118 119120 teoria da personalidade 3031 43 teoria do constructo pessoal 325326 333334 teoria de estímuloresposta 427 449 teoria psicodinâmica 45 teorias da personalidade comparadas 496 White R 162163 Multiplicidade síntese versus teoria da personalidade 504506 Murray H biografia de 191195 Ver também Personologia TEORIAS DA PERSONALIDADE 585 N Natureza humana Maslow sobre 356358 Rogers sobre 367 Nazismo Fromm E 130 Jung C G 111 Necessidades Fromm E 130131 hierarquia de necessidades Maslow A 358361 neuróticas Horney K 136137 personologia 196 198202 teoria do constructo pessoal 325326 teoria psicanalítica 55 Neuroses aprendizagem das teoria de estímuloresposta 441 443 Horney K 136137 teoria adleriana 125126 Neuroticismo teoria de traço biológico 297300 Normas teoria da personalidade 4344 O Objeto teoria psicanalítica 56 Observação clínica teoria da personalidade 28 Observação Ver Observação clínica Ódio teoria psicanalítica 5758 Oposição teoria analítica junguiana 95 Ordem de nascimento teoria adleriana 126 P Padrões de comportamento teoria analítica junguiana 90 Palestras da Clark University Freud Jung 84 Papéis teoria de traço fatorialanalítica 269 Paradigma teoria da personalidade 36 Paradoxo de consistência protótipos cognitivos e teoria da aprendizagem social 482483 Paradoxo paradoxo de consistência protótipos cognitivos e teoria da aprendizagem social 482483 Parcimônia teoria da personalidade 35 Pensamento teoria analítica junguiana 9293 Percepção Klein G 161162 realidade e 315316 teoria da personalidade 39 4243 teoria do constructo pessoal 321322 Ver também Teoria do constructo pessoal Período de bebê Ver também Fatores desenvolvimentais Allport G 236238 personologia 206209 teoria centrada na pessoa 373 teoria das relações objetais 159 teoria eriksoniana 168171 Persona teoria analítica junguiana 9191 Personalidade definida 3233 194195 228 Personificações teoria sullivaniana 142143 Personologia 189176 desenvolvimento da personalidade 206211 aprendizagem 209210 complexos infantis 206209 de modo geral 206207 fatores socioculturais 209210 genética 209210 inconsciente 210211 processo de socialização 210211 singularidade 210 dinâmica da personalidade 198206 conceito de necessidades integradas 204205 conceito de pressão 202204 conceito de tema 203205 conceito de unidadetema 204205 de modo geral 198198 esquema de vetorvalor 205206 necessidade 198202 processos reinantes 205 redução de tensão 203204 estrutura da personalidade 194198 capacidades e realizações 196 definição de personalidade 194195 estabilidades e estruturas 196198 planos e programas seriados 196 procedimentos e séries 195196 material biográfico 191195 métodos de pesquisa 210218 conselho diagnóstico 212 contemporâneos 215218 de modo geral 210211 escala e amostra 211212 estudos representativos 213215 instrumentos de mensuração 212285 status atual 219221 sumário 190 191 Pesquisa dimensional Ver Pesquisa nomotética Pesquisa morfogênica Ver Idiográfica Pesquisa nomotética versus idiográfica Allport G 239 240 Pista teoria do estímuloresposta 431432 Ver também Teoria do estímuloresposta Poder personologia 215216 586 HALL LINDZEY CAMPBELL Política Eysenck H J 296 teoria eriksoniana 185 Posição organísmica teoria centrada na pessoa 367369 teoria da personalidade 4142 teorias da personalidade comparadas 494 Postulado e corolários teoria do constructo pessoal 336 340 Predição teoria da personalidade 3334 Princípio da entropia teoria analítica junguiana 98100 103104 teoria do constructo pessoal 325 Princípio da equivalência teoria analítica junguiana 98 Princípio da realidade teoria psicanalítica 54 Princípio do prazer teoria psicanalítica 54 Princípio epigenético teoria eriksoniana 168 Princípios da aprendizagem observacional teoria da aprendizagem social 464467 Ver também Teoria da aprendizagem social Procedimentos personologia 195196 Processo de julgamento teoria da aprendizagem social 469470 Processo de socialização 210211 Processo primário teoria psicanalítica 54 Processo secundário teoria psicanalítica 54 Processos cognitivos teoria sullivaniana 143 Processos de atenção teoria da aprendizagem social 464 465 Processos de produção teoria da aprendizagem social 465 Processos de retenção teoria da aprendizagem social 465 Processos mentais fatores desenvolvimentais teoria do estímuloresposta 433435 Processos motivacionais teoria da aprendizagem social 465467 Processos motores teoria do estímuloresposta 421 Processos reinantes personologia 205 Processos sensoriais teoria do estímuloresposta 421 Profissão médica teoria da personalidade 29 46 Progressão teoria analítica junguiana 102104 Projeção teoria psicanalítica 64 Proprium Allport G 232233 Protótipos cognitivos paradoxo de consistência e teoria da aprendizagem social 482483 Protótipos cognitivos paradoxo de consistência e teoria da aprendizagem social 482483 Psicobiografia personologia 217218 Psicofarmacologia Skinner B F e 412 Psicohistória teoria eriksoniana 179181 Psicologia da gestalt Ver também Teoria do constructo pessoal Allport G 224 descrita 318319 teoria da personalidade 28 teoria organísmica 348349 Psicologia do ego teoria psicanalítica 155157 Psicologia do self Allport G 232 Kohut H 159160 Psicologia do vetor teoria do constructo pessoal 324 Ver também Teoria do constructo pessoal Psicologia experimental teoria da personalidade 2829 31 Psicométrica tradição teoria da personalidade 28 Psicoterapia teoria de estímuloresposta 443444 Ver também Terapia Psicoticismo teoria do traço biológico 300301 Q Qualidade intencional teoria de traço fatorialanalítica 275 teoria psicodinâmica 46 47 Qualidades inatas Ver Genética R Realidade percebida 315316 teoria centrada na pessoa 347386 Ver também Teoria centrada na pessoa teoria do constructo pessoal 317345 Ver também Teoria do constructo pessoal Realidade percepção e 315316 Ver também Percepção Realização do desejo 54 Realizações de desempenho teoria da aprendizagem social 473 Realizações personologia 196 Rede dinâmica teoria de traço fatorialanalítica 266267 Reflexos teoria de estímuloresposta 431 teoria psicanalítica 54 Reforço esquemas de condicionamento operante 403404 secundário condicionamento operante 405406 teoria da aprendizagem social 463464 Reforço indireto ou vicário teoria da aprendizagem social 464 466467 474 Reforço secundário condicionamento operante 405406 Regressão teoria analítica junguiana 102104 teoria psicanalítica 56 6465 Reinância personologia 198 Relacionarse Fromm E 130131 132 TEORIAS DA PERSONALIDADE 587 Religião teoria analítica junguiana 9293 103104 105 107 111 113 Repressão segunda teoria de Freud da ansiedade 154 teoria analítica junguiana 96 103104 teoria do estímuloresposta 438439 443 teoria psicanalítica 6364 Ritualismo teoria eriksoniana 168 Rogers C biografia de 363367 Ver também Teoria centrada na pessoa Role Construct Repertory Test 341343 S Sadomasoquismo Fromm E 130 Horney K 135 Schreber o caso Freud 72 73 Seleção do parceiro teoria de traço fatorialanalítica 285 286 Self Allport G 232233 personologia 196 teoria analítica junguiana 9293 teoria centrada na pessoa 368369 teoria de traço fatorialanalítica 267268 Self criativo teoria adleriana 125125 Seligman M biografia de 449450 Ver também Teoria de estímuloresposta Sensação teoria analítica junguiana 93 Sentimento teoria analítica junguiana 93 Sentimentos de inferioridade teoria adleriana 121122 Sentimentos teoria de traço fatorialanalítica 266 Sexualidade teoria adleriana 120 teoria analítica junguiana 84 85 101 teoria de traço fatorialanalítica 285286 teoria eriksoniana 174 teoria psicanalítica 50 57 65 71 7273 teoria sullivaniana 145146 White R 164165 Sexualidade infantil teoria psicanalítica 7273 78 Simbolização teoria analítica junguiana 103104 Sincronicidade teoria analítica junguiana 100101 Síndromes Maslow A 361362 Singularidade Ver Diferenças individuais Síntese multiplicidade versus teoria da personalidade 504506 Sistema ativador reticular ascendente SARA ou ARAS ascending reticular activating system teoria de traço biológico 303305 Sistema cognitivoafetivo teoria da aprendizagem social 483486 Sistema de ativação comportamental SAC ou BAS behavioral activaction system teoria de traço biológico 310 Sistema de inibição comportamental SIC ou BIS behavioral inhibition system teoria de traço biológico 310 Sistema nervoso central teoria do traço biológico 301 305 Skinner BF biografia de 390394 Ver também Condicionamento operante Sombra teoria analítica junguiana 9192 Sonhos teoria analítica junguiana 107108 teoria psicanalítica 54 7072 Subcepção teoria centrada na pessoa 367 Subjetividade teoria da personalidade 4243 Sublimação teoria analítica junguiana 103104 teoria psicanalítica 62 teoria sullivaniana 145146 Subsidiação teoria de traço fatorialanalítica 266 Suicídio teoria psicanalítica 74 Sullivan H S biografia de 138141 Superego distribuição da energia psíquica 5860 personologia 197 teoria da aprendizagem social 470 teoria psicanalítica 5455 Superioridade busca de teoria adleriana 121 Suposições teoria da personalidade 3334 T Tamanho da amostra personologia métodos de pesquisa 211212 Tarefas de vida personologia 196 TécnicaP teoria de traço fatorialanalítica 275 TécnicaQ teoria centrada na pessoa 376380 teoria de traço fatorialanalítica 275 TécnicaR teoria de traço fatorialanalítica 275277 Teleologia causalidade versus teoria analítica junguiana desenvolvimento da personalidade 99100 teoria da personalidade 40 Temperamento Allport G 228229 teoria de traço biológico 297301 Ver também Teoria do traço biológico 588 HALL LINDZEY CAMPBELL teoria de traço fatorialanalítica 260263 Tendências teoria de traço fatorialanalítica 269 Tensão personologia 203204 teoria do constructo pessoal 325 326 teoria sullivaniana 143144 Teoria adleriana 117128 Ver também Teoria psicológica social busca de superioridade 121 estilo de vida 123125 finalismo ficcional 120121 interesse social 122123 material biográfico 117120 métodos de pesquisa 125128 contemporânea 127128 experiência infantil 127 memória inicial 126127 neurose 125126 ordem de nascimento 126 self criativo 125125 sentimentos de inferioridade e compensação 121122 status atual 149151 Teoria analítica junguiana 83114 desenvolvimento da personalidade 99104 causalidade versus teleologia 99100 de modo geral 99100 estágios 100102 função transcendente 103104 genética 100101 individuação 103 progressão e regressão 102103 simbolização 103104 sincronicidade 100101 sublimação e repressão 103104 dinâmica da personalidade 96100 de modo geral 9697 energia psíquica 9698 princípio da entropia 98100 princípio da equivalência 98 uso da energia 99100 estrutura da personalidade 8896 atitudes 9293 de modo geral 88 ego 88 funções 9294 inconsciente coletivo 8892 inconsciente pessoal 88 interações na 9496 self 9293 métodos de pesquisa 105111 contemporâneos 107111 de modo geral 105 estudos de caso 105106 estudos experimentais de complexos 105 método comparativo 105107 sonhos 107108 perspectiva histórica 8488 status atual 111114 Teoria centrada na pessoa 347386 363367 Ver também Maslow A Teoria organísmica desenvolvimento da personalidade 371374 dinâmica da personalidade 369371 estrutura da personalidade 367369 material biográfico Rogers C 363367 métodos de pesquisa 374384 abordagens empíricas 380 análise de conteúdo 374376 contemporâneos 380384 de modo geral 374374 escalas de avaliação 375376 estudos da técnicaQ 376380 estudos experimentais do autoconceito 380 estudos quantitativos 374375 status atual 383386 teoria organísmica e 348354 Teoria cognitiva teoria do estímuloresposta 421 Teoria da aprendizagem Allport G 237238 condicionamento operante 389418 Ver também Condicionamento operante sumário 387388 teoria da aprendizagem social 459487 Ver também Teoria da aprendizagem social teoria da personalidade 28 3939 teoria do estímuloresposta 419457 Ver também Teoria do estímuloresposta Teoria da aprendizagem social 459487 Ver também Teoria da aprendizagem aplicações terapêuticas 471472 autoeficácia 472476 autosistema 468471 dados biográficos Bandura A 460463 Mischel W 478481 determinismo recíproco 467 métodos de pesquisa 475478 paradoxo de consistência e protótipos cognitivos 482 483 princípios da aprendizagem observacional 464467 processos de atenção 464465 processos de produção 465 processos de retenção 465 processos motivacionais 465467 reforço 463464 sistema cognitivoafetivo 483486 status atual 485487 TEORIAS DA PERSONALIDADE 589 variáveis cognitivas pessoais 480482 Teoria da autodiscrepância descrita 382384 Teoria da dissonância cognitiva descrita 381382 Teoria da personalidade 2747 491506 Ver também Teoria eriksoniana Teoria analítica junguiana Teoria Psicanalítica Teoria psicológica social Allport G 223252 Ver também Allport G agrupamentos familiares 3939 análise de agrupamento 497499 atributos formais 3940 atributos substantivos 4044 comparações de 3944 492500 pesquisa e 499500 definição da personalidade 3233 194195 228 258 definição de teoria 3336 descrita 3638 estrutura da personalidade ênfase na 187188 orientação funcional da 2930 papel dissidente da 29 percepção 39 4243 Ver também Realidade percebida personologia 189221 Ver também Personologia perspectiva histórica 2832 reflexões sobre 500504 sínteses versus multiplicidade 504506 sumário 2728 teoria estrutural 39 187188 Ver também Teoria estrutural teoria psicodinâmica 4547 teoria psicológica e 32 3839 teoria psicológica social 115151 teorias da aprendizagem 387388 Ver também Teoria da aprendizagem Teoria da pulsão Ver Instinto Teoria das relações objetais 157160 descrita 157159 Kohut H 159160 teoria psicanalítica 157160 Teoria de estágio Ver Fatores desenvolvimentais Teoria de traço biológico 291314 Ver também Teoria de traço fatorialanalítica material biográfico 295297 métodos de pesquisa 306312 contemporâneos 310312 descritos 306310 modelos causais 301305 status atual 312314 sumário 291292 292295 temperamento 297301 extroversão e neuroticismo 297300 psicoticismo 300301 Teoria de traço fatorialanalítica 253289 Ver também Teoria de traço biológico conceito de análise fatorial 254 256256 desenvolvimento da personalidade 270274 análise hereditariedadeambiente 272 aprendizagem 272273 contexto social 273274 de modo geral 270272 maturação 273 estrutura da personalidade 258271 de modo geral 258 equação de especificação 263265 Freud e 269270 traços de temperamento e capacidade 260263 traços dinâmicos 265269 traços 259260 material biográfico Cattell 256257 métodos de pesquisa 274286 contemporâneos 278286 de modo geral 274275 indivíduo único 275277 modelo de sistemas VIDAS 277278 status atual 286289 sumário 253254 Teoria do constructo pessoal 317345 constructos de mudança 340341 constructos 334336 contínuo de consciência cognitiva 340 desenvolvimento da personalidade 328329 dinâmica da personalidade 324328 de modo geral 324 energia 325 força ou vetor 326327 locomoção 327328 necessidades 325326 tensão e ação motora 326 tensão 325 valência 326326 estrutura da personalidade 319324 conexões regionais 321324 de modo geral 319320 diferenciação 321322 espaço de vida 320321 números de regiões 323324 relacionamento pessoaambiente 323324 material biográfico Kelly G 328331 Lewin K 319320 métodos de pesquisa 341344 contemporâneos 343344 descritos 341343 postulado e corolários 336340 status atual 344345 sumário 318319 suposições 331334 alternativismo construtivo 331334 590 HALL LINDZEY CAMPBELL autoconceito 334 foco no constructor 333 metáfora do homemcientista 332333 motivação 333334 Teoria do desamparo teoria de estímuloresposta 453 454 Teoria de estímuloresposta 419457 505 aplicações 437444 desenvolvimento da personalidade 430437 contexto social 435 estágios 435437 processo de aprendizagem 431433 estrutura da personalidade 430 experimentação 425430 materiais biográficos Dollard e Miller 422426 métodos de pesquisa 444454 Skinner e 390 status atual 454457 sumário 419422 Teoria eriksoniana 165185 ego na 175176 estágios desenvolvimentais 168175 autonomia versus vergonha e dúvida 171 confiança básica versus desconfiança básica 169 171 de modo geral 168169 diligência versus inferioridade 172173 generatividade versus estagnação 174175 identidade versus confusão de identidade 173174 iniciativa versus culpa 171172 integridade versus desespero 175 intimidade versus isolamento 174 tabelasresumo 169 170 métodos de pesquisa 177184 antropologia 179180 contemporâneos 181184 histórias de caso 177 psicohistória 179181 situações lúdicas 177179 status atual 184185 sumário 165167 Teoria estrutural 39 187188 Allport G 223252 Ver também Allport G personologia 189221 Ver também Personologia teoria de traço biológico 291314 Ver também Teoria de traço biológico teoria de traço fatorialanalítica 253289 Ver também Teoria de traço fatorialanalítica Teoria evolutiva teoria de traço fatorialanalítica 283286 Teoria experiencial teoria da personalidade 39 Teoria mecanicista teoria da personalidade 40 Teoria organísmica Ver também Maslow A Teoria centrada na pessoa desenvolvimento 35459 dinâmica 352354 ambiente 353354 autorealização 352353 equalização 352 estrutura 350352 material biográfico Goldstein K 349354 sumário 348349 Teoria psicanalítica clássica Ver Teoria psicanalítica Teoria psicanalítica 4981 Ver também Teoria da personalidade autoanálise de Freud 74 desenvolvimento da personalidade 6168 deslocamento 6263 estágios no 6568 identificação 6162 mecanismos de defesa 6365 dinâmica da personalidade 5561 ansiedade 6061 energia psíquica 5860 instinto 5558 estrutura da personalidade 5355 ego 54 id 5354 superego 5455 evolução da 154155 método científico 6970 métodos de pesquisa 6878 associação livre e análise de sonhos 7072 contemporâneos 7478 estudos de caso 7274 perspectiva histórica 4950 psicologia do ego 155157 status atual 7881 teoria das relações objetais 157160 teoria eriksoniana 165185 Ver também Teoria eriksoniana teoria psicológica e 160165 Teoria psicodinâmica teoria da personalidade 39 4547 Ver também Teoria eriksoniana teoria analítica junguiana teoria psicanalítica Teoria psicológica social Teoria psicológica teoria da personalidade e 32 3839 teoria psicanalítica e 160165 Teoria psicológica social 115151 Ver também Teoria adleriana Fromm E Horney K teoria sullivaniana adleriana 117128 Fromm E 128133 Horney K 133138 perspectiva histórica 116117 status atual 143151 TEORIAS DA PERSONALIDADE 591 sullivaniana 138149 Teoria sullivaniana 138149 Ver também Teoria psicológica social desenvolvimento da personalidade 144146 dinâmica da personalidade 143145 estrutura da personalidade 140143 material biográfico 138141 métodos de pesquisa 147149 status atual 149151 Teoria definida 3336 Terapia depressão teoria do estímuloresposta 452453 teoria da aprendizagem social 471472 teoria da personalidade e 29 teoria do estímuloresposta 443444 teoria psicanalítica 7075 Terapia centrada no cliente Ver Teoria centrada na pessoa Testagem psicológica Allport G 239 240241 Eysenck 299 personologia métodos de pesquisa 212213 teoria analítica junguiana 9798 105 112 teoria centrada na pessoa 375380 385 teoria de traço fatorial analítica 260263 Ver também Teoria de traço fatorial analítica teoria do constructo pessoal 343344 teoria psicológica e 3839 Teste de Apercepção Temática TAT 213 215216 379 Teste de realidade teoria psicanalítica 54 Teste Rep 341343 Testes de associação de palavras teoria analítica junguiana 9798 112 Testes de personalidade Ver Testagem psicológica Testes Ver Testagem psicológica Traço Ver também Allport G Teoria do traço biológico Teoria de traço fatorialanalítica Allport G 229232 tipo contrastado 292 Traços de capacidade teoria fatorial analítica do traço 260263 Traços de origem teoria de traço fatorialanalítica 259 260 Traços de superfície teoria de traço fatorial analítica 259 260 Traços dinâmicos teoria de traço fatorialanalítica 265 269 Trauma do nascimento teoria psicanalítica 61 Trauma teoria psicanalítica 61 Treinamento esfincteriano psicologia e psicanálise 164 teoria psicanalítica 66 U Unidade de personalidade Allport G 236 Utilidade teoria da personalidade 3335 V Valência teoria do constructo pessoal 326 Variáveis cognitivas pessoais teoria da aprendizagem social 480482 Vergonha dúvida e autonomia versus teoria eriksoniana 171 171 teoria da aprendizagem social 464 Verificação teoria da personalidade 3435 Vetor teoria do constructo pessoal 326327 Vínculo associativo teoria do estímuloresposta 421 W Wolpe J biografia de 446 Ver também Teoria de estímuloresposta Z Zonas erógenas teoria eriksoniana 178179 teoria psicanalítica 57