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RAECLÁSSICOS PARADIGMA FUNCIONALISTA DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS E INSTITUCIONALISMO NOS ANOS 1980 E 1990 46 RAE VOL 45 Nº2 PARADIGMA FUNCIONALISTA DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS E INSTITUCIONALISMO NOS ANOS 1980 E 1990 Miguel P Caldas Professor associado da Loyola University New Orleans Email mpcaldasloynoedu Roberto Fachin Professor do Mestrado Profissional de Administração da PUCMinas Fundação Dom Cabral Email rcfachinportowebcombr vez de buscar atualização nos últimos desenvolvimentos teóricos desse paradigma abrigouse na ortodoxia estru turalistasistêmica que dominou o funcionalismo até a década de 1970 em especial no contingencialismo Com isso salvo raras exceções como as abaixo citadas no caso do neoinstitucionalismo no Brasil desde os anos 1990 predominou no campo um distanciamento por um lado entre os debates mais recentes do paradigma funciona lista que parece ter abraçado e por outro as replicações estruturalistasistêmicas e contingencialistas que a maio ria da nossa produção de cunho funcionalista parecia espelhar O resultado é uma geração de pesquisadores de orientação funcionalista que acabou tendo menor aces so a esses novos debates e às novas teorias desse paradig ma e com ênfase maior nas revisitas infindáveis a luga rescomuns do contingencialismo sistêmico Foi abraçada uma ortodoxia no mais das vezes sem man ter com ela um mínimo vínculo de atualização O re sultado desse distanciamento é fácil de visualizar seja na nossa pesquisa ou no ensino de teoria organizacio nal que oferecemos No âmbito da pesquisa é possível notar essa lacuna por estudo de conteúdo ou por análise bibliométrica da nossa produção Enquanto o funcionalismo efervescia nos anos 1980 e 1990 por acalorados debates intrafun cionalistas a maior parte da nossa produção de mesma orientação desconhecia ou ignorava as teorias no cen tro desse debate como o neoinstitucionalismo a eco logia populacional as teorias da agência e de custos de transação e o neocontingencialismo As honrosas exce ções saíam dos principais programas de pósgraduação filiados à ANPAD cujos pesquisadores tinham acesso às principais publicações estrangeiras ou tinham se famili INTRODUÇÃO Como discutido na introdução ao primeiro número des ta série Caldas 2005 em 1979 Burrell e Morgan mos travam que dentre os quatro paradigmas sociológicos em seu modelo o funcionalismo no quadrante da ob jetividade e da sociologia da regulação constituía até aquele momento a ortodoxia em estudos organiza cionais Embora o funcionalismo ainda seja a ortodoxia do campo o texto de Burrell e Morgan 1979 não visuali zava a expansão do paradigma interpretacionista como ocorreu nas décadas de 1980 e 1990 nem a inflexão crítica e pósmoderna que foram infundidas no campo a partir da influência européia em especial na década de 1990 Mas apesar de tudo é indiscutível que em boa parte devido à representatividade institucional do mainstream norteamericano o funcionalismo conti nuou a expandir sua hegemonia até hoje no campo de estudos organizacionais De 1980 até o momento o campo de estudos organi zacionais cresceu exponencialmente e como já foi mos trado em inúmeros estudos sobre o desenvolvimento da área eg MachadodaSilva et al 1990 Bertero e Keinert 1994 abraçou especialmente a ortodoxia funcionalista como plataforma apesar do crescimento relativo tam bém de vertentes interpretacionistas críticas e mais re centemente pósmodernistas No entanto como também discutido em outros traba lhos sobre o campo eg Bertero et al 1999 a adoção do paradigma funcionalista no Brasil teve até certo pon to qualidade questionável e critérios duvidosos Com isso muito do que foi incorporado nos anos 1980 e 1990 em 046051 apres 200405 1613 46 ABRJUN 2005 RAE 47 MIGUEL P CALDAS ROBERTO FACHIN to acertadamente fornecido ao funcionalismo organiza cional estreitamente definido uma agenda de desenvol vimento teórico que iria centrarse nesses debates fun damentais Astley e Van de Ven previam que entre as quatro pers pectivas teóricas centrais que viam no campo emergiriam ao menos seis debates principais que orientariam o de senvolvimento teórico da área Não que esses autores tenham acertado em todos os debates principais na ver dade deixaram de ver diversas forças latentes à época e deram atenção demais a alguns vetores teóricos que aca baram não tendo expressão No entanto a simples cons tatação de que o determinismo sistêmico não mais sim bolizava um consenso no campo e que o contingencia lismo não mais expressava a única teoria possível pa rece o bastante para dar ao leitor ainda não iniciado em tais debates um ponto de partida para explorar o funcio nalismo além do tradicional contingencialismo Ao menos quatro desses debates de fato emergiram fortemente no campo geraram tradições teóricas con correntes que expandiram a tradição funcionalista e po voaram suas publicações nos últimos 25 anos O primei ro deles é de natureza intrinsecamente determinista en tre perspectivas de adaptação e de seleção o segun do entre perspectivas deterministas e voluntaristas o terceiro é o debate entre ação individual e ação coletiva e o quarto entre modelos racionais e modelos normati voinstitucionais que eles chamam de organizações versus instituições É do debate entre as perspectivas deterministas de adaptação e de seleção que surgem as separações entre os contingencialistas adaptação e os teóricos da cha mada ecologia populacional seleção Este embate per mitiu uma expansão teórica do campo Na essência Astley e Van de Ven acertaram ao sugerir que a perspec tiva da seleção expandiria o campo ao mostrar empirica mente como o determinismo contingencialista era sim plista em superestimar a capacidade de as organizações perceberem reagirem e responderem a ditames ambien tais e subestimava forças ambientais aleatórias e de lon go prazo que tornariam a ação do administrador muito menos significativa para a sobrevivência organizacional do que faziam crer os contingencialistas O argumento central dos ecologistas populacionais é que não são as organizações que se adaptam ou não a seus ambientes mas a as populações organizacionais que têm ou não tal adaptação e b nem organizações nem populações se adaptam elas já estão adaptadas ou não a variações ambientais aleatórias quando estas ocorrem Um outro mérito importante desse debate é a sugestão de que a arizado com os novos desenvolvimentos do campo ao desenvolverem seus doutoramentos em instituições es trangeiras Obviamente tendemos a não ensinar o que não conhe cemos e o resultado é que nos cursos de graduação e pósgraduação em todo o Brasil repetiase o fenômeno a teoria organizacional ensinada era tipicamente um funcio nalismo desatualizado comumente précontingencialista Novos pesquisadores e docentes que emergiam desse tipo de educação repetiam o ciclo passando adiante uma ver são ainda limitada e desconectada do debate corrente da ortodoxia funcionalista Por sua vez livrostexto de teo ria de Administração que surgiram na época e ainda amplamente adotados no Brasil praticamente ignoram qualquer desenvolvimento teórico posterior ao estrutura lismo sistêmico ou na melhor das hipóteses ao contin gencialismo do final da década de 1970 Como prometido no primeiro número desta série ire mos neste e no próximo número da RAEClássicos pro curar estreitar esta lacuna veiculando textos dos princi pais debates nos quais o funcionalismo se engajou desde a década de 1980 Neste segundo número da série nosso interesse é oferecer um texto que sirva de guia das dire ções que esses debates e novas teorias funcionalistas to maram nos últimos 25 anos e iniciar a viagem por uma das teorias que o funcionalismo engendrou no último quarto de século o neoinstitucionalismo DEBATES DO FUNCIONALISMO EM TEORIA ORGANIZACIONAL NOS ANOS 1980 E 1990 O primeiro artigo da RAEClássicos deste número de Astley e Van de Ven é hoje um texto clássico no ensino do funcionalismo em teoria organizacional e pode ser um excelente guia para compreender os caminhos do desenvolvimento teórico desse paradigma hegemônico no campo depois da predominância contingencialista até o final da década de 1970 Como mencionado anteriormente o funcionalismo encontravase em 1979 severamente entrincheirado na ortodoxia estruturalistasistêmica mais especificamente no determinismo contingencialista e no foco da relação organizaçãoambiente ambos amplamente inspirados nos achados da chamada Escola de Aston Westwood e Clegg 2003 p 5 É preciso lembrar que em 1983 Astley e Van de Ven limitavam a teoria organizacional ao estruturalismo sistêmico por entenderem que este abrangia a totalida de do campo O seu maior mérito é ter naquele momen 046051 apres 200405 1613 47 RAECLÁSSICOS PARADIGMA FUNCIONALISTA DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS E INSTITUCIONALISMO NOS ANOS 1980 E 1990 48 RAE VOL 45 Nº2 pesquisa sobre sobrevivência e adaptação organizacional deveria ser deslocada do âmbito organizacional de análi se para o âmbito populacional ou seja a população e não a organização individual seria a unidade de análi se adequada Pouco no Brasil tem sido escrito sobre esse debate à exceção do trabalho de Carvalho 2002 E menos ainda sobre as limitações da perspectiva contingencialista mesmo usando a ecologia populacio nal como base A despeito da idade avançada desse deba te o Brasil ainda poderia se beneficiar de agendas de pes quisa que mesmo numa tradição determinista procu rassem investigar indústrias inteiras em cortes longitu dinais de longo prazo em vez de se concentrarem ape nas em alguns representantes esparsos e em um corte transversal de tempo O segundo debate ocorreu de fato entre os represen tantes do determinismo ou seja aqueles que assu mem que as organizações apenas sobrevivem quando obedecem a ditames exógenos seja de eficiência ou am bientais representados em especial pelo contingencia lismo até então imperante e por perspectivas em expan são como a ecologia populacional e as teorias econômi cas da organização ambas a serem discutidas nesta sé rie e os representantes do voluntarismo que questi onavam a existência ou necessidade dessa dependência passiva da organização a ditames externos Astley e Van de Ven citam como exemplos de teorias voluntaristas correntes como a da escolha estratégica Child 1972 que inserem na ação organizacional componentes de cognição do corpo dirigente e coalizões políticas que fil trariam e escolheriam quais ditames externos perceber e atender e quais ignorar Mais importante do que tentar estabelecer um grupo de teorias voluntaristas o que o debate determinismovoluntarista propiciou foi o fim da hegemonia da hipótese determinista e em seu lugar o estabelecimento de um espectro que iria do alto deter minismo ao alto voluntarismo dentro do qual uma vari edade de teorias poderia emergir E isso de fato repre senta um rico debate que surgiu e expandiu o campo nos últimos 25 anos Teorias como o neoinstitucionalismo e a teoria da agência que serão representadas nesta série são exemplos de vertentes nascidas em parte da expan são desse espectro ao permitir abordagens mais distan tes do extremo determinista para posições mais inter mediárias No Brasil poderia ser muito melhorado o en tendimento em termos de posicionamento e potencial teórico dessa simples diferença na visão da ação organi zacional com relação ao ambiente O terceiro debate localizado na oposição entre a ação individual e a ação coletiva é mais importante por sim bolizar o caminho seguido pela expansão do campo na direção da análise do ambiente organizacional como uni dade de análise Tanto no exterior como no Brasil essa expansão é bem exemplificada pela mudança de foco da organização em particular para redes organizacionais dotadas de maior nível de análise e maior fluidez interacional Em nosso país essa extensão do campo foi sentida tanto nos estudos sobre redes organizacionais na área de teoria organizacional como é o exemplo da linha de redes feitas a partir da UFBA sob a liderança de Tânia Fischer como em estratégia a partir de vários centros de pesquisa e pósgraduação Ainda há muito no Brasil para se compreender sobre a dinâmica interorganizacional nesse nível de análise e o artigo de Astley e Van de Ven pode ser uma referência inicial para o pesquisador ainda não iniciado nesse novo veio de pesquisa Por fim o quarto debate é aquele entre modelos racio nais e modelos normativoinstitucionais ou entre or ganizações e instituições De todos talvez esse tenha sido o debate mais frutífero do funcionalismo nos últi mos 25 anos em termos de desenvolvimento e expansão teórica No seio do próprio funcionalismo esse debate já vinha das discussões provocadas por March e Simon a partir do conceito de racionalidade limitada Mas mes mo além dessa origem diversas outras confluências entre elas o interesse crescente sobre cultura organiza cional na práxis dos anos 1980 e os desenvolvimentos em teoria sociológica difíceis de ser ignorados entre os anos 1960 e 1980 como o interacionismo simbólico o construtivismo social e a etnometodologia provocaram debates internos no funcionalismo entre objetivistas racionalistas e os que defendiam posturas teóricas e abor dagens metodológicas mais próximas do que Burrell e Morgan 1979 chamaram de interpretacionismo Na tradição funcionalista dominante até o início da década de 1980 dominada pelo imperativo objetivistaracional de teorias como contingencialismo e economia organi zacional os atores organizacionais seriam objetivos e racionais Como tal não apenas respondem a ditames técnicos e ambientais mas o fazem como instrumen tos de eficiência e racionalidade em prol de objetivos organizacionais compartilhados e incontestes Desde o início da década de 1970 novas perspectivas passaram a questionar essa natureza exclusivamente técnica e racio nal do ator organizacional e a salientar elementos polí ticos cognitivos e mesmo culturais ou normativos do ambiente que limitariam a ação organizacional racional e neutra e favoreceriam outros elementos internos e ex ternos da ação organizacional Em todo o mundo inclu sive no Brasil começouse a ver novas explicações e abor 046051 apres 200405 1613 48 ABRJUN 2005 RAE 49 MIGUEL P CALDAS ROBERTO FACHIN dagens teóricas que passaram a atribuir significado va lor simbólico eou político à ação organizacional o que tornaria mais viável explicar por exemplo por que or ganizações tecnicamente ineficazes teimariam em sobre viver e por outro lado as eficazes desapareceriam Ou noutros termos por que elementos normativos como le gitimidade social ou aderência cultural importariam mais do que ditames técnicos do ambiente A teoria neoins titucional é um excelente exemplo dessa inflexão subje tivista e menos racionalista que o funcionalismo teste munhou nos últimos 25 anos como veremos na discus são do texto seguinte da RAEClássicos deste número CONTRIBUIÇÃO DO NEOINSTITUCIONALISMO AO DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS FUNCIONALISTAS O segundo texto desta edição da série RAEClássicos é o famoso artigo de DiMaggio e Powell sobre o isomorfis mo que junto com o texto de Meyer e Rowan de 1977 é provavelmente o principal alicerce da chamada teoria neoinstitucional que se distingue do institucionalis mo de Selznick e seus seguidores que o neoinstitucio nalismo busca expandir Escolhemos esse texto e o neoinstitucionalismo por que são exemplos ideais no funcionalismo organizacio nal daquilo que no texto de Astley e Van de Ven discu tido anteriormente se referia a vertentes menos volun taristas e que superava a barreira do nível organizacio nal para mostrar a interdependência entre organizações e os campos interorganizacionais que conceitualmente situamse no nível de análise seguinte Além disso o neo institucionalismo é um dos melhores exemplos de como o próprio funcionalismo viveu na década de 1980 em diante um processo de contínuo questionamento e su peração do modelo voluntaristaracionalista classicamen te representado pelo contingencialismo e suas ramifica ções administrativistas Como previam Burrell e Morgan 1979 o funcionalismo procurava em elementos mais subjetivistas da teoria sociológica caminhos para sua extensão territorial Desde o início a teoria organizacional tem se preocu pado em identificar a melhor forma de organizar e par ticularmente a literatura sobre estratégia tem acentuado a competência distintiva Selznick 1971 que define o caráter de uma organização em relação às demais exis tentes no mercado Mas em termos da melhor forma de organizar dentre os textos mais citados e talvez menos lidos está o do sociólogo alemão Max Weber que cu nhou o termo burocracia como exemplo de uma estru tura de poder que universalmente adotado define a melhor forma de obter conformidade das pessoas na or ganização O texto de DiMaggio e Powell que foi publicado na American Sociological Review e agora pela primeira vez é publicado em português constitui em um bom exem plo da vertente sociológica nos estudos organizacionais É com a iron cage ou gaiola de ferro nomeada por Max Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo que provoca o leitor já no início explicitamente afir mando que a ordem racionalista se tornara uma gaiola de ferro na qual a humanidade foi aprisionada Weber apud DiMaggio e Powell 2005 p 75 A burocra tização passou a ter características de irreversibilidade e embora Weber afirmasse que a burocratização se ori ginara de uma economia de mercado capitalista a tese defendida pelos autores do texto em exame é que foram modificadas as causas da burocratização e da racionali zação não sendo mais a economia capitalista de merca do a causa por excelência mas o Estado e as profis sões de onde surgem posteriormente os mecanismos isomórficos institucionais Em tese a grande proposição de DiMaggio e Powell é que a mudança estrutural acon tece hoje não por razões de eficiência ou da necessida de de enfrentamento da concorrência mas em razão de outros processos que tornam as organizações mais se melhantes sem necessariamente fazêlas mais eficientes É nesse ponto que os autores acentuam a importância da percepção e entendimento da estruturação de campos organizacionais Giddens 1979 para a compreensão do processo de isomorfismo institucional Destacamos que a preocupação com os campos organizacionais está fortemente presente na introdução do livro de Vieira e Carvalho 2003 talvez a primeira obra sobre a temática institucional no Brasil O segundo momento do artigo de DiMaggio e Powell introduz a questão principal de seus estudos que é buscar explicar por que as organizações apresentam tanta ho mogeneidade em suas estruturas diferentemente da busca da variação entre as diferentes organizações como em Hannan e Freeman 1977 de quem teremos um texto na RAEClássicos do próximo número que questio nam por que há tantos tipos diferentes de organizações É nesse segundo momento que os autores lidam mais extensamente com o conceito de campo organizacional e buscam explicar por que as inovações organizacionais ou novas práticas normalmente impulsionadas por de sejos de melhoria de desempenho podem ficar impreg nadas de valor além das exigências técnicas da tarefa 046051 apres 200405 1613 49 RAECLÁSSICOS PARADIGMA FUNCIONALISTA DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS E INSTITUCIONALISMO NOS ANOS 1980 E 1990 50 RAE VOL 45 Nº2 como Selznick 1971 já afirmara E portanto como Meyer e Rowan 1977 concluíram a adoção da inova ção consegue legitimidade mas não chega a melhorar o desempenho A partir desse ponto com exemplos de pesquisas pertinentes o texto avança no tratamento do isomorfismo como o conceito que melhor capta o pro cesso de homogeneização descrevendo em seguida dois tipos de isomorfismo o competitivo e o institucional e três mecanismos de mudança institucional isomórfica a coercitiva a mimética e a normativa já sobejamen te trabalhada nos textos brasileiros veja o trabalho de MachadodaSilva e Gonçalves 1998 No Brasil a teoria neoinstitucional teve grande aco lhida no campo de estudos organizacionais Uma origem fundamental dessa popularidade é o trabalho de Clóvis Luiz MachadodaSilva que desde o final da década de 1980 indicava os textos de Meyer e Rowan bem como o presente artigo de DiMaggio e Powell para gerações de orientandos que teve em Santa Catarina UFSC Paraná UFPR e mais recentemente na FGVEAESP Esses orientandos difundiram o conceito para muitos outros estados em especial Alagoas Pernambuco Rio Grande do Sul Rio de Janeiro e São Paulo O conceito de isomor fismo em particular foi também popularizado por pes quisadores não diretamente influenciados por Machado daSilva vindos de instituições tão diversas quanto a FGV FEAUSP PUCRJ UFMG UFRGS e Univali A maioria dos trabalhos produzidos investigou a difusão de modis mos ou modelos de gestão a homogeneização organiza cional ou estrutural e a questão de campos institucionais Naturalmente tanto com sua difusão no Brasil quan to com a passagem do tempo propriamente dita vieram também os muitos críticos do modelo institucional Se gundo tais críticos o neoinstitucionalismo deu o que tinha que dar e portanto desencorajam o prolonga mento de sua adoção aos dias de hoje eg Donaldson 2001 Donaldson e Hilmer 1996 Muitas dessas críticas procedem Por exemplo ao afirmarem que embora o institucionalismo tenha tido seu papel ao estabelecer li mites ao voluntarismo e ao racionalismo exacerbados de postulados contingenciais clássicos ele pode ter se limi tado demais aos aspectos normativos da realidade orga nizacional e interorganizacional Com isso acreditam que ele deixa tanto de indicar caminhos para a melhoria do desempenho na tradição funcionalista quanto para a superação de limitações cognitivas que impedem a auto nomia constitutiva de organizações Por outro lado é também verdade que o instituciona lismo pode ser ainda um rico veio de pesquisa no Brasil razão que nos levou à escolha deste texto para a série pelo menos por duas dimensões A primeira como pla taforma para ampliar o conhecimento teórico do campo inserindose no avanço científico internacional dessa li nha teórica a segunda talvez mais realista no caso brasi leiro é o uso da teoria institucional como veículo para o entendimento de fenômenos sociais passíveis de institu cionalização Quanto à primeira dimensão de contribuição potencial da teoria institucional no Brasil é verdade que muito do que tem sido pesquisado no país usando essa teoria teria dificuldade de oferecer avanços no campo de conhecimen to internacionalmente pois tende a se limitar à replicação de postulados feitos em trabalhos estrangeiros há mais de uma década Mas também é verdade que isso não se aplica a todos os estudos acerca do institucionalismo no Brasil Os esforços de MachadodaSilva e seus diversos colabo radores especialmente Valéria Fonseca e Sandro Gonçal ves nos últimos anos no sentido de tentar ligar institu cionalismo e cognição podem ser um rico veio de pesqui sa mesmo em âmbito internacional Outro exemplo é a ligação entre institucionalismo e facetas mais ou menos evidentes de poder particularmente pela associação com o neoestruturalismo em sociologia e a expansão e o resgate do trabalho de Bourdieu como têm buscado os esforços de pesquisadores como Marcelo Milano Falcão Vieira FGVEBAPE Cristina Carvalho UFPE Rosimeri Carvalho da Silva UFSC e Maria Ceci A Misoczky UFRGS bem como seus colaboradores Es sas e outras tentativas nacionais de expandir a teoria ins titucional são possibilidades concretas de contribuir para o desenvolvimento teórico do institucionalismo No entanto a realidade é que em nosso país a segun da possibilidade de uso da teoria institucional parece ser a mais promissora em termos de volume ou seja usar o institucionalismo mais para entender melhor outros ob jetos eis que aí tanto modelos racionalistas quanto voluntaristas têm menor poder explicativo do que para estender a teoria per se Foi esse o maior uso que já se fez no Brasil do institucionalismo inclusive do texto de DiMaggio e Powell Por exemplo o uso de isomorfismo mimético para entender a difusão dos mais variados ele mentos desde modismos em gestão até teorias e mode los científicos entre campos organizacionais ou a utili zação do isomorfismo coercitivo para entender a institu cionalização e aplicação de elementos tão diversos quanto programas de qualidade e burocratização em diversos campos organizacionais ou ainda a aplicação do iso morfismo normativo para compreender a institucionali zação de objetos diversos desde códigos de ética e pro gramas de mudança organizacional até a profissionaliza 046051 apres 200405 1613 50 ABRJUN 2005 RAE 51 MIGUEL P CALDAS ROBERTO FACHIN ção de empresas familiares e a empresarialização de organizações do terceiro setor Múltiplas outras possibili dades surgem ao se tomarem outras dimensões do traba lho do institucionalismo desde a discussão do processo de institucionalização como uma resultante e não apenas determinante na ação organizacional e interorganizacio nal ou ainda as respostas cognitivas e intraorganizacio nais a pressões institucionais exteriores até a expansão em múltiplos níveis de análise do conceito de campos ins titucionais As possibilidades são inúmeras Nossa esperança é que com a publicação desse impor tante trabalho neoinstitucionalista na série RAEClássi cos maior número de pesquisadores brasileiros possam ter acesso a esse veio de pesquisa e que novas possibilida des de aplicação possam surgir além das abordagens racionalistas voluntaristas e da análise limitada ao nível organizacional E por extensão que esses novos pesqui sadores possam leválo não apenas a replicações de pouca profundidade ou novidade mas a novas fronteiras teóri cas que expandam no Brasil e no campo internacional criado em torno dessa tradição acadêmica o entendimen to da realidade organizacional que nos cerca REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTERO C O KEINERT T M M A evolução da análise organizacio nal no Brasil 19611993 Revista de Administração de Empresas v 34 n 3 p 8190 1994 BERTERO C O CALDAS M WOOD JR T Produção científica em Administração de Empresas provocações insinuações e contribuições para um debate local Revista de Administração Contemporânea v 3 n 1 p 147178 1999 BURRELL G MORGAN G Sociological Paradigms and Organizational Analysis London Heinemann Educational Books 1979 CALDAS M P Paradigmas em estudos organizacionais uma introdução à série Revista de Administração de Empresas v 45 n 1 p 5357 2005 CARVALHO L F N Ecologia organizacional e estratégia empresarial uma proposta para integração de frameworks In ENCONTRO NACIO NAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓSGRA DUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO 26 2002 Salvador Anais Salva dor ANPAD 2002 CHILD J Organizational structure environment and performance the role of strategic choice Sociology v 6 p 122 1972 DIMAGGIO P J POWELL W W The Iron Cage revisited institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields American Sociological Review v 48 n 2 p 147160 1983 DIMAGGIO P J POWELL W W A gaiola de ferro revisitada isomorfis mo institucional e racionalidade coletiva nos campos organizacionais Re vista de Administração de Empresas v 45 n 2 p 7489 2005 DONALDSON L The Contingency Theory of Organizations Thousand Oaks CA Sage 2001 DONALDSON L HILMER F Management Redeemed Debunking the Fads that Undermine Our Corporations New York and Sydney The Free Press 1996 GIDDENS A A constituição da sociedade São Paulo Martins Fontes 1989 HANNAN M T FREEMAN J H The population ecology of organizations American Journal of Sociology v 82 n 5 p 929964 1977 MACHADODASILVA C L CUNHA V AMBONI N Organizações o estado da arte da produção acadêmica In ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓSGRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO 14 1990 Florianópolis Anais Florianópolis ANPAD 1990 MACHADODASILVA C L GONÇALVES S A Nota técnica a teoria institucional In CLEGG S HARDY C NORD W R Org edição origi nal CALDAS M P FACHIN R FISCHER T Org edição brasileira Handbook de Estudos Organizacionais v 1 São Paulo Atlas 1998 MEYER J W ROWAN B Institutionalized organizations formal structure as myth and ceremony American Journal of Sociology v 83 n 2 p 340 363 1977 SELZNICK P A liderança na Administração Rio de Janeiro Editora FGV 1971 VIEIRA M M F CARVALHO C A Organizações instituições e poder Rio de Janeiro Editora FGV 2003 WESTWOOD R CLEGG S Debating Organization PointCounterpoint in Organization Studies Malden MA Blackwell 2003 046051 apres 200405 1613 51
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RAECLÁSSICOS PARADIGMA FUNCIONALISTA DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS E INSTITUCIONALISMO NOS ANOS 1980 E 1990 46 RAE VOL 45 Nº2 PARADIGMA FUNCIONALISTA DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS E INSTITUCIONALISMO NOS ANOS 1980 E 1990 Miguel P Caldas Professor associado da Loyola University New Orleans Email mpcaldasloynoedu Roberto Fachin Professor do Mestrado Profissional de Administração da PUCMinas Fundação Dom Cabral Email rcfachinportowebcombr vez de buscar atualização nos últimos desenvolvimentos teóricos desse paradigma abrigouse na ortodoxia estru turalistasistêmica que dominou o funcionalismo até a década de 1970 em especial no contingencialismo Com isso salvo raras exceções como as abaixo citadas no caso do neoinstitucionalismo no Brasil desde os anos 1990 predominou no campo um distanciamento por um lado entre os debates mais recentes do paradigma funciona lista que parece ter abraçado e por outro as replicações estruturalistasistêmicas e contingencialistas que a maio ria da nossa produção de cunho funcionalista parecia espelhar O resultado é uma geração de pesquisadores de orientação funcionalista que acabou tendo menor aces so a esses novos debates e às novas teorias desse paradig ma e com ênfase maior nas revisitas infindáveis a luga rescomuns do contingencialismo sistêmico Foi abraçada uma ortodoxia no mais das vezes sem man ter com ela um mínimo vínculo de atualização O re sultado desse distanciamento é fácil de visualizar seja na nossa pesquisa ou no ensino de teoria organizacio nal que oferecemos No âmbito da pesquisa é possível notar essa lacuna por estudo de conteúdo ou por análise bibliométrica da nossa produção Enquanto o funcionalismo efervescia nos anos 1980 e 1990 por acalorados debates intrafun cionalistas a maior parte da nossa produção de mesma orientação desconhecia ou ignorava as teorias no cen tro desse debate como o neoinstitucionalismo a eco logia populacional as teorias da agência e de custos de transação e o neocontingencialismo As honrosas exce ções saíam dos principais programas de pósgraduação filiados à ANPAD cujos pesquisadores tinham acesso às principais publicações estrangeiras ou tinham se famili INTRODUÇÃO Como discutido na introdução ao primeiro número des ta série Caldas 2005 em 1979 Burrell e Morgan mos travam que dentre os quatro paradigmas sociológicos em seu modelo o funcionalismo no quadrante da ob jetividade e da sociologia da regulação constituía até aquele momento a ortodoxia em estudos organiza cionais Embora o funcionalismo ainda seja a ortodoxia do campo o texto de Burrell e Morgan 1979 não visuali zava a expansão do paradigma interpretacionista como ocorreu nas décadas de 1980 e 1990 nem a inflexão crítica e pósmoderna que foram infundidas no campo a partir da influência européia em especial na década de 1990 Mas apesar de tudo é indiscutível que em boa parte devido à representatividade institucional do mainstream norteamericano o funcionalismo conti nuou a expandir sua hegemonia até hoje no campo de estudos organizacionais De 1980 até o momento o campo de estudos organi zacionais cresceu exponencialmente e como já foi mos trado em inúmeros estudos sobre o desenvolvimento da área eg MachadodaSilva et al 1990 Bertero e Keinert 1994 abraçou especialmente a ortodoxia funcionalista como plataforma apesar do crescimento relativo tam bém de vertentes interpretacionistas críticas e mais re centemente pósmodernistas No entanto como também discutido em outros traba lhos sobre o campo eg Bertero et al 1999 a adoção do paradigma funcionalista no Brasil teve até certo pon to qualidade questionável e critérios duvidosos Com isso muito do que foi incorporado nos anos 1980 e 1990 em 046051 apres 200405 1613 46 ABRJUN 2005 RAE 47 MIGUEL P CALDAS ROBERTO FACHIN to acertadamente fornecido ao funcionalismo organiza cional estreitamente definido uma agenda de desenvol vimento teórico que iria centrarse nesses debates fun damentais Astley e Van de Ven previam que entre as quatro pers pectivas teóricas centrais que viam no campo emergiriam ao menos seis debates principais que orientariam o de senvolvimento teórico da área Não que esses autores tenham acertado em todos os debates principais na ver dade deixaram de ver diversas forças latentes à época e deram atenção demais a alguns vetores teóricos que aca baram não tendo expressão No entanto a simples cons tatação de que o determinismo sistêmico não mais sim bolizava um consenso no campo e que o contingencia lismo não mais expressava a única teoria possível pa rece o bastante para dar ao leitor ainda não iniciado em tais debates um ponto de partida para explorar o funcio nalismo além do tradicional contingencialismo Ao menos quatro desses debates de fato emergiram fortemente no campo geraram tradições teóricas con correntes que expandiram a tradição funcionalista e po voaram suas publicações nos últimos 25 anos O primei ro deles é de natureza intrinsecamente determinista en tre perspectivas de adaptação e de seleção o segun do entre perspectivas deterministas e voluntaristas o terceiro é o debate entre ação individual e ação coletiva e o quarto entre modelos racionais e modelos normati voinstitucionais que eles chamam de organizações versus instituições É do debate entre as perspectivas deterministas de adaptação e de seleção que surgem as separações entre os contingencialistas adaptação e os teóricos da cha mada ecologia populacional seleção Este embate per mitiu uma expansão teórica do campo Na essência Astley e Van de Ven acertaram ao sugerir que a perspec tiva da seleção expandiria o campo ao mostrar empirica mente como o determinismo contingencialista era sim plista em superestimar a capacidade de as organizações perceberem reagirem e responderem a ditames ambien tais e subestimava forças ambientais aleatórias e de lon go prazo que tornariam a ação do administrador muito menos significativa para a sobrevivência organizacional do que faziam crer os contingencialistas O argumento central dos ecologistas populacionais é que não são as organizações que se adaptam ou não a seus ambientes mas a as populações organizacionais que têm ou não tal adaptação e b nem organizações nem populações se adaptam elas já estão adaptadas ou não a variações ambientais aleatórias quando estas ocorrem Um outro mérito importante desse debate é a sugestão de que a arizado com os novos desenvolvimentos do campo ao desenvolverem seus doutoramentos em instituições es trangeiras Obviamente tendemos a não ensinar o que não conhe cemos e o resultado é que nos cursos de graduação e pósgraduação em todo o Brasil repetiase o fenômeno a teoria organizacional ensinada era tipicamente um funcio nalismo desatualizado comumente précontingencialista Novos pesquisadores e docentes que emergiam desse tipo de educação repetiam o ciclo passando adiante uma ver são ainda limitada e desconectada do debate corrente da ortodoxia funcionalista Por sua vez livrostexto de teo ria de Administração que surgiram na época e ainda amplamente adotados no Brasil praticamente ignoram qualquer desenvolvimento teórico posterior ao estrutura lismo sistêmico ou na melhor das hipóteses ao contin gencialismo do final da década de 1970 Como prometido no primeiro número desta série ire mos neste e no próximo número da RAEClássicos pro curar estreitar esta lacuna veiculando textos dos princi pais debates nos quais o funcionalismo se engajou desde a década de 1980 Neste segundo número da série nosso interesse é oferecer um texto que sirva de guia das dire ções que esses debates e novas teorias funcionalistas to maram nos últimos 25 anos e iniciar a viagem por uma das teorias que o funcionalismo engendrou no último quarto de século o neoinstitucionalismo DEBATES DO FUNCIONALISMO EM TEORIA ORGANIZACIONAL NOS ANOS 1980 E 1990 O primeiro artigo da RAEClássicos deste número de Astley e Van de Ven é hoje um texto clássico no ensino do funcionalismo em teoria organizacional e pode ser um excelente guia para compreender os caminhos do desenvolvimento teórico desse paradigma hegemônico no campo depois da predominância contingencialista até o final da década de 1970 Como mencionado anteriormente o funcionalismo encontravase em 1979 severamente entrincheirado na ortodoxia estruturalistasistêmica mais especificamente no determinismo contingencialista e no foco da relação organizaçãoambiente ambos amplamente inspirados nos achados da chamada Escola de Aston Westwood e Clegg 2003 p 5 É preciso lembrar que em 1983 Astley e Van de Ven limitavam a teoria organizacional ao estruturalismo sistêmico por entenderem que este abrangia a totalida de do campo O seu maior mérito é ter naquele momen 046051 apres 200405 1613 47 RAECLÁSSICOS PARADIGMA FUNCIONALISTA DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS E INSTITUCIONALISMO NOS ANOS 1980 E 1990 48 RAE VOL 45 Nº2 pesquisa sobre sobrevivência e adaptação organizacional deveria ser deslocada do âmbito organizacional de análi se para o âmbito populacional ou seja a população e não a organização individual seria a unidade de análi se adequada Pouco no Brasil tem sido escrito sobre esse debate à exceção do trabalho de Carvalho 2002 E menos ainda sobre as limitações da perspectiva contingencialista mesmo usando a ecologia populacio nal como base A despeito da idade avançada desse deba te o Brasil ainda poderia se beneficiar de agendas de pes quisa que mesmo numa tradição determinista procu rassem investigar indústrias inteiras em cortes longitu dinais de longo prazo em vez de se concentrarem ape nas em alguns representantes esparsos e em um corte transversal de tempo O segundo debate ocorreu de fato entre os represen tantes do determinismo ou seja aqueles que assu mem que as organizações apenas sobrevivem quando obedecem a ditames exógenos seja de eficiência ou am bientais representados em especial pelo contingencia lismo até então imperante e por perspectivas em expan são como a ecologia populacional e as teorias econômi cas da organização ambas a serem discutidas nesta sé rie e os representantes do voluntarismo que questi onavam a existência ou necessidade dessa dependência passiva da organização a ditames externos Astley e Van de Ven citam como exemplos de teorias voluntaristas correntes como a da escolha estratégica Child 1972 que inserem na ação organizacional componentes de cognição do corpo dirigente e coalizões políticas que fil trariam e escolheriam quais ditames externos perceber e atender e quais ignorar Mais importante do que tentar estabelecer um grupo de teorias voluntaristas o que o debate determinismovoluntarista propiciou foi o fim da hegemonia da hipótese determinista e em seu lugar o estabelecimento de um espectro que iria do alto deter minismo ao alto voluntarismo dentro do qual uma vari edade de teorias poderia emergir E isso de fato repre senta um rico debate que surgiu e expandiu o campo nos últimos 25 anos Teorias como o neoinstitucionalismo e a teoria da agência que serão representadas nesta série são exemplos de vertentes nascidas em parte da expan são desse espectro ao permitir abordagens mais distan tes do extremo determinista para posições mais inter mediárias No Brasil poderia ser muito melhorado o en tendimento em termos de posicionamento e potencial teórico dessa simples diferença na visão da ação organi zacional com relação ao ambiente O terceiro debate localizado na oposição entre a ação individual e a ação coletiva é mais importante por sim bolizar o caminho seguido pela expansão do campo na direção da análise do ambiente organizacional como uni dade de análise Tanto no exterior como no Brasil essa expansão é bem exemplificada pela mudança de foco da organização em particular para redes organizacionais dotadas de maior nível de análise e maior fluidez interacional Em nosso país essa extensão do campo foi sentida tanto nos estudos sobre redes organizacionais na área de teoria organizacional como é o exemplo da linha de redes feitas a partir da UFBA sob a liderança de Tânia Fischer como em estratégia a partir de vários centros de pesquisa e pósgraduação Ainda há muito no Brasil para se compreender sobre a dinâmica interorganizacional nesse nível de análise e o artigo de Astley e Van de Ven pode ser uma referência inicial para o pesquisador ainda não iniciado nesse novo veio de pesquisa Por fim o quarto debate é aquele entre modelos racio nais e modelos normativoinstitucionais ou entre or ganizações e instituições De todos talvez esse tenha sido o debate mais frutífero do funcionalismo nos últi mos 25 anos em termos de desenvolvimento e expansão teórica No seio do próprio funcionalismo esse debate já vinha das discussões provocadas por March e Simon a partir do conceito de racionalidade limitada Mas mes mo além dessa origem diversas outras confluências entre elas o interesse crescente sobre cultura organiza cional na práxis dos anos 1980 e os desenvolvimentos em teoria sociológica difíceis de ser ignorados entre os anos 1960 e 1980 como o interacionismo simbólico o construtivismo social e a etnometodologia provocaram debates internos no funcionalismo entre objetivistas racionalistas e os que defendiam posturas teóricas e abor dagens metodológicas mais próximas do que Burrell e Morgan 1979 chamaram de interpretacionismo Na tradição funcionalista dominante até o início da década de 1980 dominada pelo imperativo objetivistaracional de teorias como contingencialismo e economia organi zacional os atores organizacionais seriam objetivos e racionais Como tal não apenas respondem a ditames técnicos e ambientais mas o fazem como instrumen tos de eficiência e racionalidade em prol de objetivos organizacionais compartilhados e incontestes Desde o início da década de 1970 novas perspectivas passaram a questionar essa natureza exclusivamente técnica e racio nal do ator organizacional e a salientar elementos polí ticos cognitivos e mesmo culturais ou normativos do ambiente que limitariam a ação organizacional racional e neutra e favoreceriam outros elementos internos e ex ternos da ação organizacional Em todo o mundo inclu sive no Brasil começouse a ver novas explicações e abor 046051 apres 200405 1613 48 ABRJUN 2005 RAE 49 MIGUEL P CALDAS ROBERTO FACHIN dagens teóricas que passaram a atribuir significado va lor simbólico eou político à ação organizacional o que tornaria mais viável explicar por exemplo por que or ganizações tecnicamente ineficazes teimariam em sobre viver e por outro lado as eficazes desapareceriam Ou noutros termos por que elementos normativos como le gitimidade social ou aderência cultural importariam mais do que ditames técnicos do ambiente A teoria neoins titucional é um excelente exemplo dessa inflexão subje tivista e menos racionalista que o funcionalismo teste munhou nos últimos 25 anos como veremos na discus são do texto seguinte da RAEClássicos deste número CONTRIBUIÇÃO DO NEOINSTITUCIONALISMO AO DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS FUNCIONALISTAS O segundo texto desta edição da série RAEClássicos é o famoso artigo de DiMaggio e Powell sobre o isomorfis mo que junto com o texto de Meyer e Rowan de 1977 é provavelmente o principal alicerce da chamada teoria neoinstitucional que se distingue do institucionalis mo de Selznick e seus seguidores que o neoinstitucio nalismo busca expandir Escolhemos esse texto e o neoinstitucionalismo por que são exemplos ideais no funcionalismo organizacio nal daquilo que no texto de Astley e Van de Ven discu tido anteriormente se referia a vertentes menos volun taristas e que superava a barreira do nível organizacio nal para mostrar a interdependência entre organizações e os campos interorganizacionais que conceitualmente situamse no nível de análise seguinte Além disso o neo institucionalismo é um dos melhores exemplos de como o próprio funcionalismo viveu na década de 1980 em diante um processo de contínuo questionamento e su peração do modelo voluntaristaracionalista classicamen te representado pelo contingencialismo e suas ramifica ções administrativistas Como previam Burrell e Morgan 1979 o funcionalismo procurava em elementos mais subjetivistas da teoria sociológica caminhos para sua extensão territorial Desde o início a teoria organizacional tem se preocu pado em identificar a melhor forma de organizar e par ticularmente a literatura sobre estratégia tem acentuado a competência distintiva Selznick 1971 que define o caráter de uma organização em relação às demais exis tentes no mercado Mas em termos da melhor forma de organizar dentre os textos mais citados e talvez menos lidos está o do sociólogo alemão Max Weber que cu nhou o termo burocracia como exemplo de uma estru tura de poder que universalmente adotado define a melhor forma de obter conformidade das pessoas na or ganização O texto de DiMaggio e Powell que foi publicado na American Sociological Review e agora pela primeira vez é publicado em português constitui em um bom exem plo da vertente sociológica nos estudos organizacionais É com a iron cage ou gaiola de ferro nomeada por Max Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo que provoca o leitor já no início explicitamente afir mando que a ordem racionalista se tornara uma gaiola de ferro na qual a humanidade foi aprisionada Weber apud DiMaggio e Powell 2005 p 75 A burocra tização passou a ter características de irreversibilidade e embora Weber afirmasse que a burocratização se ori ginara de uma economia de mercado capitalista a tese defendida pelos autores do texto em exame é que foram modificadas as causas da burocratização e da racionali zação não sendo mais a economia capitalista de merca do a causa por excelência mas o Estado e as profis sões de onde surgem posteriormente os mecanismos isomórficos institucionais Em tese a grande proposição de DiMaggio e Powell é que a mudança estrutural acon tece hoje não por razões de eficiência ou da necessida de de enfrentamento da concorrência mas em razão de outros processos que tornam as organizações mais se melhantes sem necessariamente fazêlas mais eficientes É nesse ponto que os autores acentuam a importância da percepção e entendimento da estruturação de campos organizacionais Giddens 1979 para a compreensão do processo de isomorfismo institucional Destacamos que a preocupação com os campos organizacionais está fortemente presente na introdução do livro de Vieira e Carvalho 2003 talvez a primeira obra sobre a temática institucional no Brasil O segundo momento do artigo de DiMaggio e Powell introduz a questão principal de seus estudos que é buscar explicar por que as organizações apresentam tanta ho mogeneidade em suas estruturas diferentemente da busca da variação entre as diferentes organizações como em Hannan e Freeman 1977 de quem teremos um texto na RAEClássicos do próximo número que questio nam por que há tantos tipos diferentes de organizações É nesse segundo momento que os autores lidam mais extensamente com o conceito de campo organizacional e buscam explicar por que as inovações organizacionais ou novas práticas normalmente impulsionadas por de sejos de melhoria de desempenho podem ficar impreg nadas de valor além das exigências técnicas da tarefa 046051 apres 200405 1613 49 RAECLÁSSICOS PARADIGMA FUNCIONALISTA DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS E INSTITUCIONALISMO NOS ANOS 1980 E 1990 50 RAE VOL 45 Nº2 como Selznick 1971 já afirmara E portanto como Meyer e Rowan 1977 concluíram a adoção da inova ção consegue legitimidade mas não chega a melhorar o desempenho A partir desse ponto com exemplos de pesquisas pertinentes o texto avança no tratamento do isomorfismo como o conceito que melhor capta o pro cesso de homogeneização descrevendo em seguida dois tipos de isomorfismo o competitivo e o institucional e três mecanismos de mudança institucional isomórfica a coercitiva a mimética e a normativa já sobejamen te trabalhada nos textos brasileiros veja o trabalho de MachadodaSilva e Gonçalves 1998 No Brasil a teoria neoinstitucional teve grande aco lhida no campo de estudos organizacionais Uma origem fundamental dessa popularidade é o trabalho de Clóvis Luiz MachadodaSilva que desde o final da década de 1980 indicava os textos de Meyer e Rowan bem como o presente artigo de DiMaggio e Powell para gerações de orientandos que teve em Santa Catarina UFSC Paraná UFPR e mais recentemente na FGVEAESP Esses orientandos difundiram o conceito para muitos outros estados em especial Alagoas Pernambuco Rio Grande do Sul Rio de Janeiro e São Paulo O conceito de isomor fismo em particular foi também popularizado por pes quisadores não diretamente influenciados por Machado daSilva vindos de instituições tão diversas quanto a FGV FEAUSP PUCRJ UFMG UFRGS e Univali A maioria dos trabalhos produzidos investigou a difusão de modis mos ou modelos de gestão a homogeneização organiza cional ou estrutural e a questão de campos institucionais Naturalmente tanto com sua difusão no Brasil quan to com a passagem do tempo propriamente dita vieram também os muitos críticos do modelo institucional Se gundo tais críticos o neoinstitucionalismo deu o que tinha que dar e portanto desencorajam o prolonga mento de sua adoção aos dias de hoje eg Donaldson 2001 Donaldson e Hilmer 1996 Muitas dessas críticas procedem Por exemplo ao afirmarem que embora o institucionalismo tenha tido seu papel ao estabelecer li mites ao voluntarismo e ao racionalismo exacerbados de postulados contingenciais clássicos ele pode ter se limi tado demais aos aspectos normativos da realidade orga nizacional e interorganizacional Com isso acreditam que ele deixa tanto de indicar caminhos para a melhoria do desempenho na tradição funcionalista quanto para a superação de limitações cognitivas que impedem a auto nomia constitutiva de organizações Por outro lado é também verdade que o instituciona lismo pode ser ainda um rico veio de pesquisa no Brasil razão que nos levou à escolha deste texto para a série pelo menos por duas dimensões A primeira como pla taforma para ampliar o conhecimento teórico do campo inserindose no avanço científico internacional dessa li nha teórica a segunda talvez mais realista no caso brasi leiro é o uso da teoria institucional como veículo para o entendimento de fenômenos sociais passíveis de institu cionalização Quanto à primeira dimensão de contribuição potencial da teoria institucional no Brasil é verdade que muito do que tem sido pesquisado no país usando essa teoria teria dificuldade de oferecer avanços no campo de conhecimen to internacionalmente pois tende a se limitar à replicação de postulados feitos em trabalhos estrangeiros há mais de uma década Mas também é verdade que isso não se aplica a todos os estudos acerca do institucionalismo no Brasil Os esforços de MachadodaSilva e seus diversos colabo radores especialmente Valéria Fonseca e Sandro Gonçal ves nos últimos anos no sentido de tentar ligar institu cionalismo e cognição podem ser um rico veio de pesqui sa mesmo em âmbito internacional Outro exemplo é a ligação entre institucionalismo e facetas mais ou menos evidentes de poder particularmente pela associação com o neoestruturalismo em sociologia e a expansão e o resgate do trabalho de Bourdieu como têm buscado os esforços de pesquisadores como Marcelo Milano Falcão Vieira FGVEBAPE Cristina Carvalho UFPE Rosimeri Carvalho da Silva UFSC e Maria Ceci A Misoczky UFRGS bem como seus colaboradores Es sas e outras tentativas nacionais de expandir a teoria ins titucional são possibilidades concretas de contribuir para o desenvolvimento teórico do institucionalismo No entanto a realidade é que em nosso país a segun da possibilidade de uso da teoria institucional parece ser a mais promissora em termos de volume ou seja usar o institucionalismo mais para entender melhor outros ob jetos eis que aí tanto modelos racionalistas quanto voluntaristas têm menor poder explicativo do que para estender a teoria per se Foi esse o maior uso que já se fez no Brasil do institucionalismo inclusive do texto de DiMaggio e Powell Por exemplo o uso de isomorfismo mimético para entender a difusão dos mais variados ele mentos desde modismos em gestão até teorias e mode los científicos entre campos organizacionais ou a utili zação do isomorfismo coercitivo para entender a institu cionalização e aplicação de elementos tão diversos quanto programas de qualidade e burocratização em diversos campos organizacionais ou ainda a aplicação do iso morfismo normativo para compreender a institucionali zação de objetos diversos desde códigos de ética e pro gramas de mudança organizacional até a profissionaliza 046051 apres 200405 1613 50 ABRJUN 2005 RAE 51 MIGUEL P CALDAS ROBERTO FACHIN ção de empresas familiares e a empresarialização de organizações do terceiro setor Múltiplas outras possibili dades surgem ao se tomarem outras dimensões do traba lho do institucionalismo desde a discussão do processo de institucionalização como uma resultante e não apenas determinante na ação organizacional e interorganizacio nal ou ainda as respostas cognitivas e intraorganizacio nais a pressões institucionais exteriores até a expansão em múltiplos níveis de análise do conceito de campos ins titucionais As possibilidades são inúmeras Nossa esperança é que com a publicação desse impor tante trabalho neoinstitucionalista na série RAEClássi cos maior número de pesquisadores brasileiros possam ter acesso a esse veio de pesquisa e que novas possibilida des de aplicação possam surgir além das abordagens racionalistas voluntaristas e da análise limitada ao nível organizacional E por extensão que esses novos pesqui sadores possam leválo não apenas a replicações de pouca profundidade ou novidade mas a novas fronteiras teóri cas que expandam no Brasil e no campo internacional criado em torno dessa tradição acadêmica o entendimen to da realidade organizacional que nos cerca REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTERO C O KEINERT T M M A evolução da análise organizacio nal no Brasil 19611993 Revista de Administração de Empresas v 34 n 3 p 8190 1994 BERTERO C O CALDAS M WOOD JR T Produção científica em 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