·

Cursos Gerais ·

História

Send your question to AI and receive an answer instantly

Ask Question

Preview text

N Te o r ia d o C o n h e c im e n t o Te o r ia d o Pr o g r e s s o Os tem pos são m ais interessantes que os homens Honoré de Balzac Critique Littéraire Introdução de Louis Lumet Paris 1912 p 103 Guy de la Ponneraye Histoire de I1Amiral Coligny A reforma da consciência consiste apenas em despertar o mundo do sonho de si mesmo Karl Marx Der historische Materialismus Die Frühschriften Leipzig 1932 vol I p 226 Carta de Marx a Ruge Kreuzenach setembro de 1843 Nos domínios de que tratamos aqui o conhecimento existe apenas em lampejos O texto é o trovão que segue ressoando por muito tempo N 1 1 Comparação das tentativas dos outros com empreendimentos de navegação nos quais os navios são desviados do Pólo Norte magnético Encontrar esse Pólo Norte O que são desvios para os outros são para mim os dados que determinam a minha rota Construo meus cálculos sobre os diferenciais de tempo que para outros perturbam as grandes Unhas da pesquisa IN 1 2 Ober algo sobre o próprio método da composição como tudo em que estamos pensando dham e um trabalho no qual estamos imersos deve serlhe incorporado a qualquer preço Sqppelo fato de que sua intensidade aí se manifesta seja porque os pensamentos de a rmão carregam consigo um télos em relação a esse trabalho É o caso também deste pnpao que deve caracterizar e preservar os intervalos da reflexão os espaços entre as partes nmii essenciais deste trabalho voltadas com máxima intensidade para fora N 1 3 ailtiváveis regiões onde até agora viceja apenas a loucura Avançar com o machado razão sem olhar nem para a direita nem para a esquerda para não sucumbir ao que acena das profundezas da selva Todo solo deve alguma vez ter sido revolvido n o carpido do matagal do desvairio e do mito E o que deve ser realizado aqui para do século XIX N 1 4 y u Passagens A redação deste texto que trata das passagens parisienses foi iniciada ao ar livre sob um céu azul sem nuvens arcado como uma abóbada sobre a folhagem e que no entanto foi coberto com o pó dos séculos por milhões de folhas nas quais rumorcjam a brisa fresca do labor a respiração ofegante do estudioso o ímpeto do zelo juvenil c o leve e lento sopro da curiosidade Pois o céu de verão pintado nas arcadas que se debruça sobre a sala de leitura da Biblioteca Nacional de Paris estendeu sobre ela seu manto opaco e sonhador N 1 5 O páthos deste trabalho não há épocas de decadcncia Tentativa de ver o século XIX de maneira tão positiva quanto procurei ver o século XVII no trabalho sobre o drama barroco1 Nenhuma crença em épocas de decadência Assim também fora dos limites qualquer cidade para mim é bela e por isso não acho aceitável qualquer discurso sobre o valor maior ou menor das línguas LN 16 E depois o lugar envidraçado diante do meu assento na Staatsbibliothek círculo mágico intocado terra virgem a ser pisada por figuras que evoco N 1 7 O lado pedagógico deste projeto Educar em nós o medium criador de imagens para um olhar estereoscópico e dimensional para a profundidade das sombras históricas São palavras de Rudolf Borchardt Epilegomena zu Dante vol I Berlim 1923 pp 5657 N 1 8 Delimitação da tendência deste trabalho em relação a Aragon enquanto Aragon persiste no domínio do sonho deve ser encontrada aqui a constelação do despertar Enquanto em Aragon permanece um elemento impressionista a mitologia e a esse impressionismo se devem os muitos filosofemas vagos do livro2 tratase aqui da dissolução da mitologia no espaço da história Isso de fato só pode acontecer através do despertar de um saber ainda não consciente do ocorrido N 1 9 Este trabalho deve desenvolver ao máximo a arte de citar sem usar aspas Sua teoria está intimamente ligada à da montagem N 1 10 À exceção de um certo charme sofisticado os drapeados artísticos do século passado pegaram mofo Sigfricd Giedion Bauen in Frankreich LeipzigBerlim 1928 p 3 Cremos porém que a atração que exercem sobre nós revela que também conservam substâncias vitais para nós não tanto para nossa arquitetura como ocorre com as antecipações construtivas das estruturas de ferro mas para o nosso conhecimento ou se preferirmos para a radioscopia da situação da classe burguesa no momento em que nela surgem os primeiros sinais de decadência Em todo caso matérias de vital importância no plano político como o demonstram tanto a fixação dos surrealistas por estas coisas quanto a exploração delas pela moda atual Em outras palavras exatamente como Giedion nos ensina 1 W Benjamin Ursprung des deutschen Trauerspiels 1928 in GS I 203430 Origem do Drama Barroco Alemão ODBA RT wb 2 A referência é Louis Aragon Le Paysan de Paris Paris 1926 ed brasileira O Camponês de Paris apres trad e notas de Hãvia Nascimento Rio de Janeiro Imago 1996 RT wb N Teoria do Conhecimento i eoria do Progresso 501 aiooxair da arquitetura da época em torno de 1850 os traços fundamentais da arquitetura de hoje queremos reconhecer nas formas aparentemente secundárias e perdidas daquela época a vida de hoje as formas de hoje n TNios degraus da Torre Eiffel varridos pelo vento ou melhor ainda nas pernas de aço de a pont transbordeur confrontamonos com a experiência estética fundamental da aujuitetura de hoje através da fina rede de ferro estendida no ar passa o fluxo das coisas nrios mar casas mastros paisagem porto Elas perdem sua forma delimitada quando Jcscemos elas rodopiam umas nas outras e simultaneamente se misturam Sigfried Oodion Bauen in Frankreich LeipzigBerlim p 7 Assim também o historiador hoje tem qnr construir uma estrutura filosófica sutil porém resistente para capturar em sua lie os aspectos mais atuais do passado No entanto assim como as magníficas vistas das cidades oferecidas pelas novas construções de ferro ver também as ilustrações 6163 de Giedion ficaram durante muito tempo reservadas exclusivamente aos operários e engenheiros também o filósofo que deseja captar aqui suas primeiras visões deve ser um operário independente livre de vertigens e se necessário solitário IN la l San analogia com o livro sobre o drama barroco3 que iluminou o século XVII através do presente deve ocorrer aqui o mesmo em relação ao século XIX porém de maneira mais nítida N la 2 Ibquena proposta metodológica para a dialética da história cultural É muito fácil estabelecer Aoocomias para cada época cm seus diferentes domínios segundo determinados pontos Je vista de modo a ter de um lado a parte fértil auspiciosa viva e positiva e de nauo a parte inútil atrasada e morta de cada época Com efeito os contornos da parte pantiva só se realçarão nitidamente se ela for devidameite delimitada em relação à parte negativa Toda negação por sua vez tem o seu valor apenas como pano de fundo para os i m o mos do vivo do positivo Por isso é dc importância decisiva aplicar novamente uma IBfvsão a esta parte negativa inicialmente excluída de modo que a mudança de ângulo de mão mas não de critérios faça surgir novamente nela também um elemento positivo e diferente daquele anteriormente especificado E assim por diante ad infinitum até que do o passado seja recolhido no presente em uma apocatástase4 histórica N la 3 O que foi dito anteriormente em outros termos a indestrutibilidade da vida suprema em todas as coisas Contra os profetas da decadência E com efeito não se trata dc uma afronta a Goethe filmar o Fausto e não existe um mundo entre o Fausto enquanto obra literária e o filme Sem dúvida Entretanto não existe também um mundo entre uma adaptação boa e uma adaptação ruim do Fausto para o cinema O que interessa não são os grandes contrastes e sim os contrastes dialéticos que freqüentemente se confundem com nuances A partir deles no entanto rccriasc sempre a vida de novo N la 4 3 Cf nota 1 4 ApotaLdstasis a admissão de todas as almas no Paraíso Cf W Benjamin GS II 458 Der Erzêhier OE I p 216 O narrador JL wb 502 Passagens Compreender juntos Breton e Le Corbusier isto significaria estender o espírito da França atual como um arco com o qual o conhecimento atinge o instante bem no coração N la ü Marx expõe a relação causai entre economia e cultura O que conta aqui é a relação expressiva Não se trata de apresentar a gênese econômica da cultura e sim a expressão da economia na cultura Em outras palavras tratase da tentativa de apreender um processo econômico como fenômeno primevo perceptível do qual se originam todas as manifestações de vida das passagens e igualmente do século XIX N U 4 Este estudo que trata íbndamenalmente do caráter expressivo dos primeiros produtos industriais das primeiWonstruçoêSsindustriais das primeiras máquinas mas também das primeiras lãÁ dejbartamentoá reclames etc tornase com isso duplamente importante parai o Primeiçaínente o estudo apontará de que maneira o contexto no qual surgiu ádeuttina de Marx teve influência sobre ela através de seu caráter expressivo portanto não só através de relações causais Em segundo lugar deverá mostrar sob que aspectos também o marxismo compartilha o caráter expressivo dos produtos materiais que lhe são contemporâneos ÍN la 7 Método deste trabalho montagem literária Não tenho nada a dizer Somente a mostrar Não surrupiarei coisas valiosas nem me apropriarei de formulações espirituosas Porém os farrapos os resíduos não quero inventariálos e sim fazerlhes justiça da única maneira possível utilizandoos N la 8 Ter sempre em mente que o comentário de uma realidade pois tratase aqui de um comentário de uma interpretação de seus pormenores exige um método totalmente diferente daquele requerido para um texto No primeiro caso a ciência fundamental é a teologia no segundo a filologia ÍN 2 II Podese considerar um dos objetivos metodológicos deste trabalho demonstrar um materialismo histórico que aniquilou em si a idéia de progresso Precisamente aqui o materialismo histórico tem todos os motivos para se diferenciar rigorosamente dos hábitos de pensamento burgueses Seu conceito fundamental não é o progresso e sim a atualização N 2 2 A compreensão histórica deve ser fundamentalmente entendida como uma vida posterior do que é compreendido e por isso aquilo que foi reconhecido na análise da vida posterior das obras de sua fortuna crítica deve ser considerado como o fundamento da história em geral N 2 3 Como este trabalho foi escrito degrau por degrau à medida que o acaso oferecia um estreito ponto de apoio e sempre como alguém que escala alturas perigosas e que em N Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso 503 momento algum deve olhar em volta a fim de não sentir vertigem mas também para reservar para o fim toda a majestade do panorama que se lhe oferecerá N 2 4 A superação dos conceitos de progresso e de época de decadência são apenas dois lados de uma mesma coisa N 2 5 llm problema central do materialismo histórico a ser finalmente considerado será que a compreensão marxista da história tem que ser necessariamente adquirida ao preço da visibilidade Anschaulichkeit da história Ou de que maneira seria possível conciliar um incremento da visibilidade com a realização do método marxista A primeira etapa desse caminho será aplicar à história o princípio da montagem Isto é erguer as grandes construções a partir de elementos minúsculos recortados com clareza e precisão E mesmo descobrir na análise do pequeno momento individual o cristal do acontecimento total Portanto romper com o naturalismo histórico vulgar Apreender a construção da história como tal Na estrutura do comentário Resíduos da história N 2 6 Uma citação de Kierkegaard em Wiesengrund com este comentário tuPodese também chegar a uma mesma consideração do mítico quando se parte do elemento imagético Quando numa época de reflexão numa representação reflexiva vêse o elemento imagético sobressair de maneira muito comedida e quase imperceptível como um fóssil antediluviano lembrando uma outra forma de existência que apagou a dúvida talvez fiquemos surpresos com o íato de que o imagético tenha um dia desempenhado um papel tão importante Esse surpreenderse é refutado em seguida por Kierkegaard No entanto isso anuncia a mais profunda intuição sobre as relações entre dialética mito e imagem Pois não é como algo sempre vivo e atual que a natureza se impõe na dialética A dialética detémse na imagem e cita no acontecimento histórico mais recente o mito como passado muito antigo a natureza como história primeva Por isso as imagens como as do intérieur que conduzem a dialética e o mito a um ponto de indistinção são verdadeiramente fósseis antediluvianos Podem ser denominadas segundo uma expressão de Benjamin imagens dialéticas cuja concludente definição da alegoria vale também para a intenção alegórica de Kierkegaard como figura da dialética histórica e da natureza mítica Segundo ela na alegoria a fades hippocratica da história revelase ao observador como paisagem primeva petrificada5 Theodor WiesengrundAdorno Kierkegaard Tübingen 1933 p 60 Resíduos da história N 2 7 Somente um observador superficial pode negar que existem correspondências entre o mundo da tecnologia moderna e o mundo arcaico dos símbolos da mitologia Num primeiro momento de fato a novidade tecnológica produz efeito somente enquanto novidade Mas logp nas seguintes lembranças da infância transforma seus traços Cada infância realiza algo grande e insubstituível para a humanidade Cada infância com seu interesse pelos fenômenos remológicos sua curiosidade por toda a sorte de invenções e máquinas liga as conquistas recnológicas aos mundos simbólicos antigos Não existe nada no domínio da natureza que seja por essência subtraído de tal ligação Só que ela não se forma na aura da novidade e sim naquela do hábito Na recordação na infância e no sonho Despertar N 2a 1 5 W Benjamin Ursprung des deutschen Trauerspiels in GS I 343 ODBA p 188 wb 504 Passagens O momento histórico primevo no passado não é mais encoberto como antes isto também é uma conseqüência e uma condição da tecnologia pela tradição da Igreja e da família O antigo horror préhistórico já envolve o mundo de nossos pais porque não estamos mais ligados a esse mundo pela tradição Os universos de memória Merkwelten decompõemse mais rapidamente o elemento mítico neles contido vem à tona mais pronta e brutalmente de maneira mais veloz deve ser erigido um novo universo de memória totalmente diferente e contraposto ao anterior Eis como o ritmo acelerado da tecnologia se apresenta do ponto de vista da história primeva atual Despertar N 2a 2 Não é que o passado lança sua luz sobre o presente ou que o presente lança sua luz sobre o passado mas a imagem é aquilo em que o ocorrido encontra o agora num lampejo formando uma constelação Em outras palavras a imagem é a dialética na imobilidade Pois enquanto a relação do presente com o passado é puramente temporal e contínua a relação do ocorrido com o agora é dialética não é uma progressão e sim uma imagem que salta Somente as imagens dialéticas são imagens autênticas isto é nãoarcaicas e o lugar onde as encontramos é a linguagem Despertar N 2a 3 Ao estudar em Simmel a apresentação do conceito de verdade de Goethe ficou muito claro para mim que meu conceito de origem Ursprung no livro sobre o drama barroco é uma transposição rigorosa e concludente deste conceito goetheano fundamental do domínio da natureza para aquele da história Origem eis o conceito de fenômeno originário transposto do contexto pagão da natureza para os contextos judaicos da história Agora nas Passagens empreendo também um estudo da origem Na verdade persigo a origem das formas e das transformações das passagens parisienses desde seu surgimento até seu ocaso e a apreendo nos fatos econômicos Estes fatos do ponto de vista da causalidade ou seja como causas não seriam fenômenos originários tornamse tais apenas quando em seu próprio desenvolvimento um termo mais adequado seria desdobramento fazem surgir a série das formas históricas concretas das passagens assim como a folha ao abrirse desvenda toda a riqueza do mundo empírico das plantas IN 2a Estudando essa época tão próxima e tão longínqua comparome a um cirurgião que opera com anestesia local trabalho em regiões insensíveis mortas e o doente entretanto vive e ainda pode falar Paul Morand 1900 Paris 1931 pp 67 N 2a 5 O que distingue as imagens das essências da fenomenologia é seu índice histórico Heidegger procura em vão salvar a história para a fenomenologia de maneira abstrata através da historicidade Estas imagens devem ser absolutamente distintas das categorias das ciências do espírito do assim chamado habitus do estilo etc O índice histórico das imagens diz pois não apenas que elas pertencem a uma determinada época mas sobretudo que elas só se tornam legíveis numa determinada época E atingir essa legibilidade constitui um determinado ponto crítico específico do movimento em seu interior Todo presente é determinado por aquelas imagens que lhe são sincrônicas cada agora é o agora de uma determinada cognoscibilidade Nele a verdade está carregada de tempo até o ponto de 6 6 Georg Simmel G oeth e Leipzig 1913 pp 5661 cf GS I 953954 RT N Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso 505 opkxiir Esta explosão e nada mais é a morte da intentio que coincide com o nascimento do œmpo histórico autêntico o tempo da verdade Não é que o passado lança sua luz sobre o presente ou que o presente lança sua luz sobre o passado mas a imagem é aquilo em que o omcrido encontra o agora num lampejo formando uma constelação Em outras palavras a imagem é a dialética na imobilidade Pois enquanto a relação do presente com o passado é pmamente temporal a do ocorrido com o agora é dialética não de natureza temporal mas imagé tica Somente as imagens dialéticas são autenticamente históricas isto é imagens carcaicas A imagem lida quer dizer a imagem no agora da cognoscibilidade carrega oro mais alto grau a marca do momento crítico perigoso subjacente a toda leitura N 3 I É importante afastarse resolutamente do conceito de Verdade atemporal No entanto a ndade não é como afirma o marasmo apenas uma função temporal do conhecer mas é ligada a um núcleo temporal que se encontra simultaneamente no que é conhecido e He que conhece Isto é tao verdadeiro que o eterno de qualquer forma é muito mais i drapeado em um vestido do que uma idéia N 3 2 Edboçar a história das Passagens conforme o seu desenvolvimento Seu componente propriamente problemático não renunciar a nada que possa demonstrar que a representação rrialista da história é imagética bildhaftI num sentido superior que a representação didonal N 3 3 l aulação de Ernst Bloch sobre o trabalho das Passagens A história mostra seu distintivo ábScodandYard Foi no contexto de uma conversa na qual eu explicava como este trabalho comparável ao método da fissão nuclear libera as forças gigantescas da história que fiam presas no era uma vez da narrativa histórica clássica A historiografia que mostrou ino as coisas efetivamente aconteceram foi o narcótico mais poderoso do século7 N 3 4 Tfcneidade não nos escapará é o que se lê num dos epigramas Sinngedicht de Keller8 M mn é formulado o conceito de verdade com o qual pretendese romper nestas exposições N 3a 1 THSstória primeva do século XIX esta não teria interesse se apenas significasse que fibs da história primeva deveriam ser encontradas nos repertórios do século XIX Somente de o século XIX fosse apresentado como forma originária da história primeva isto é roo uma forma na qual toda a história primeva se agrupa de maneira nova em imagens npre pertencem àquele século o conceito de uma história primeva do século XEX teria indo N 3a 2 Sena o despertar a síntese da tese da consciência onírica e da antítese da consciência desperta Nesse caso o momento do despertar seria idêntico ao agora da cognoscibilidade no qual as coisas mostram seu rosto verdadeiro o surrealista Assim em Proust é importante a Cf 0 o 71 e nota wb 8 A referida frase não foi encontrada no Sinngedicht de Keller RT 506 Passagens mobilização da vida inteira em seu ponto de ruptura dialético ao extremo o despertar Proust inicia com uma apresentação do espaço daquele que desperta N 3a 3 Se insisto nesse mecanismo de contradição na biografia de um escritor é porque a seqüência de seu pensamento não pode negligenciar os fatos que têm uma lógica diferente daquela de seu pensamento tomado de forma isolada É porque não há uma só idéia que ele sustente que perdure verdadeiramente em face de fatos primordiais e muito simples que há a polícia e os canhões diante dos trabalhadores que há a ameaça de guerra e o fascismo que já reina Faz parte da dignidade de um homem submeter suas concepções a esses fatos e não introduzir esses fatos por um passe de mágica em suas concepções por mais engenhosas que sejam Aragon DAlfred de Vigny à Avdeenko Commune II 20 abr 1935 pp 808809 Porém é possível que em contradição com meu passado eu estabeleça uma continuidade com o passado de um outro que ele por sua vez como comunista contesta Neste caso com o passado de Aragon que no mesmo ensaio renega o seu Paysan de Paris E como a maioria de meus amigos eu amava tudo aquilo que é falho que é monstruoso o que não pode viver o que não pode ter êxito Eu era como eles preferia o erro a seu contrário p 807 N 3a 4 fase média Na imagem dialética o ocorrido de uma determinada época é sempre simultaneamente o ocorrido desde sempre Como tal porém revelase somente a uma época bem determinada a saber aquela na qual a humanidade esfregando os olhos percebe como tal justamente esta imagem onírica E nesse instante que o historiador assume a tarefa da interpretação dos sonhos N 4 1 A expressão o livro da natureza indica que se pode 1er o real como um texto Assim será tratada aqui a realidade do século XIX Nós abrimos o livro do que aconteceu N 4 2 Assim como Proust inicia a história de sua vida com o despertar toda apresentação da história deve também começar com o despertar no fundo ela não deve tratar de outra coisa Esta exposição portanto ocupase com o despertar do século XIX N 4 3 A utilização dos elementos do sonho ao despertar é o cânone da dialética Tal utilização é exemplar para o pensador e obrigatória para o historiador N 4 4 Raphael procura corrigir a concepção marxista do caráter normativo da arte grega Se o caráter normativo da arte grega é um fato histórico explicável devemos determinar quais foram as condições especiais que levaram a cada renascimento e portanto quais os N Teoia do Conhecimento Teoria do Progresso 507 fatores especiais da arte grega que esses renascimentos aceitaram como modelo De fato a arte grega em sua totalidade nunca possuiu um caráter normativo os renascimentos têm sua própria história Somente uma análise histórica pode indicar a época na qual nasceu a noção abstrata de uma norma da Antigüidade Esta só rol criada pela Renascença isto é pelo capitalismo primitivo e em seguida foi aceita pelo classicismo que começou a determinar seu lugar no encadeamento dos fatos históricos Marx não avançou nessa via com a plena medida das possibilidades do materialismo histórico Max Raphael Proudhon Marx Picasso Paris 1933 pp 178179 ÍN 4 É próprio das formas técnicas de construção em oposição às formas artísticas que seu progresso e seu êxito sejam proporcionais à transparência de seu conteúdo social Daí a arquitetura em vidro N 4 6 Uma passagem importante em Marx É reconhecido no que concerne por exemplo a epopéia que certas expressões importantes da arte não são possíveis senão num grau pouco desenvolvido da evolução artística Se isso é válido para as relações entre as diferentes espécies de arte no domínio da própria arte já será menos surpreendente que isso também seja válido para as relações entre a totalidade do domínio das artes e o desenvolvimento geral da sociedade Citado sem referências talvez Theorien des Mehrwerts vol I9 em Max Raphael Proudhon Marx Picasso Paris 1933 p 160 N 4a 1 A teoria marxista da arte ora presunçosa ora escolástica N 4a 2 Proposta para um ordenamento dos diversos graus da superestrutura em A Asturaro Materialismo Storico e la Sociologia Generale Gênova 1904 resenha de Erwin Szabó em Die Neue Zeit XXIII Stuttgart I p 62 Economia família e parentesco Direito Guerra Política Moral Religião Arte Ciência N 4a 3 Curiosa afirmação de Engels sobre as forças sociais Uma vez compreendida sua natureza elas podem nas mãos dos produtores associados scr transformadas de soberanos demoníacos em servos obedientes10 Engels Die Entwicklung des Sozialismus von der Utopie zur Wissenschaft 1882 ÍN 4a 41 Marx no posfácio da segunda edição de 0 Capital A pesquisa deve apropriarse da matéria no detalhe analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e descobrir seu concatenamento interno Somente depois de realizado este trabalho é que o movimento real pode ser apresentado adequadamente Se isso for alcançado de modo que a vida do material seja refletida agora de maneira ideal então pode parecer que se está diante de uma construção aprioru Karl Marx Das Kapital ed org por K Korsch Berlim 1932 p 45 N 4a 51 9 A passagem encontrase na Introdução de Kritik der politischen Ökonomie de 1857 cf Marx e Engels MEW vol XIII 2a ed Berlim 1964 pp 640641 RT 10 Marx e Engels MEW vol XIX Berlim 1962 p 223 RT ÿOS Passagens É necessário expor a dificuldade particular do trabalho historiográfico para o período posterior ao fim do século XVIII Depois do surgimento da grande imprensa as fontes tornamse ilimitadas N 4a 631 Michelet gosta de dar ao povo o nome de bárbaros Bárbaros A palavra me agrada aceitoa e afirma a respeito de seus escritores Eles amam infinitamente e até demais entregandose às vezes até aos detalhes com a santa inabilidade de Albrecht Dürer ou com o polimento excessivo de JeanJacques que não esconde o bastante sua arte pelo detalhe minucioso comprometem o conjunto E preciso não repreendêlos demais é a extravagância da verve essa seiva quer alcançar tudo ao mesmo tempo as folhas os frutos e as flores ela verga e torce os ramos Os defeitos destes grandes trabalhadores encontram se freqüentemente em meus livros que não têm aquelas boas qualidades Não importa Michelet Le Peuple Paris 1846 pp XXXVIXXXVII N 5 1 Carta de Wiesengrund de 5 de agosto de 1935 A tentativa de reconciliar o momento do sonho mencionado pelo senhor como o elemento subjetivo na imagem dialética com a concepção desta ultima como modelo ensejoume algumas considerações À medida que o valor de uso morre nas coisas as coisas alienadas são esvaziadas atraindo para si significados como cifras A subjetividade se apossa delas à medida que as investe de intenções de desejo e temor Pelo fato de as coisas mortas responderem enquanto imagens pelas intenções subjetivas estas se apresentam como imemoriais e eternas Imagens dialéticas são constelações entre coisas alienadas e o significado incipiente detendose no instante de indiferença entre a morte e o significado Enquanto na aparência as coisas são despertadas para o que é o mais novo a morte transforma os significados no que é o mais antigo Com respeito a estas considerações devese ter em conta que no século XIX o número das coisas esvaziadas aumenta numa medida e num ritmo antes desconhecidos uma vez que o progresso tecnológico retira continuamente de circulação os novos objetos de uso N 5 2 O crítico pode tomar como ponto de partida qualquer forma da consciência teórica e prática e desenvolver a partir das próprias formas da realidade existente a realidade verdadeira como seu deverser e sua intenção final Karl Marx Der historische Materialismus Die Frühschriften ed por Landshut e Mayer Leipzig 1932 vol I p 225 Marx a Ruge Kreuzenach setembro de 1843 O ponto de partida do quäl Marx fala aqui não corresponde necessariamente ao último estágio do desenvolvimento Ele pode ser empregado para épocas muito remotas cujo deverser e intenção final podem ser apresentados não em relação ao estágio subseqüente ao desenvolvimento e sim nele mesmo e como préformação do objetivo final da história N 5 3 Engels diz Marx und Engels über Feuerbach Aus dem Nachlass MarxEngelsArchiv ed org por D Rjazanov vol I Frankfurt am Main 1928 p 300 Não esquecer que o direito como a religião não tem uma história própria O que vale para ambos vale principalmente e de maneira decisiva para a cultura Pensar as formas de existência da sociedade sem classes segundo a imagem da humanidade civilizada seria um contrasenso N 5 4 N Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso 509 Nosso lema deve ser reforma da consciência não por meio de dogmas e sim pela análise da consciência mística obscura a si mesma seja em sua manifestação religiosa ou política Ficará claro que o mundo há muito possui o sonho de uma coisa da qual precisa apenas possuir a consciência para possuíla realmente Karl Marx Der historische Materialismus Die Frühschriften ed org por Landshut e Mayer Leipzig 1932 vol I p 226227 Carta de Marx a Ruge Kreuzenach setembro de 1843 N 5a 1 A humanidade deve despedirse de seu passado reconciliada e uma forma de reconciliação é a alegria O regime alemão atual a nulidade do Antigo Regime exibida aos olhos do mundo nada mais é que o comediante de uma ordem mundial cujos heróis verdadeiros morreram A história é radical e atravessa muitas fases quando leva para o túmulo uma forma antiga A última fase de uma forma da história universal é sua comédia Os deuses da Grécia que de maneira trágica já haviam sido feridos de morte no Prometeu Acorrentado de Ésquilo tinham de morrer mais uma vez de maneira cômica nos Diálogos de Luciano Por que esta marcha da história Para que a humanidade se despeça alegremente de seu passado Karl Marx Der historische Materialismus Die Frühschriften ed org por Landshut e Mayer Leipzig vol I p 268 Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie Sobre a crítica da Filosofia do Direito de Hegel O Surrealismo é a morte do século XIX na comédia N 5a 2 Marx Marx und Engels über Feuerbach Aus dem Nachlass MarxEngelsArchiv vol I Frankfurt a M 1928 p 301 Não existe história da política do direito da ciência etc da arte da religião etc N 5a 3 Em A Sagrada Famíliay dizse do materialismo de Bacon A matéria mostrandose em seu esplendor poético e sensual sorri ao homem inteiro11 N 5a 4 Lamento só ter podido tratar de maneira muito incompleta os fatos da vida cotidiana alimentação vestuário habitação costumes de família direito privado divertimentos relações sociais que sempre constituíram o interesse principal da vida para a imensa maioria dos indivíduos Charles Seignobos Histoire Sincère de la Nation Française Paris 1933 p XI N 5a 5 Ad notam uma frase de Valéry O que distingue aquilo que é verdadeiramente geral é sua fertilidade N 5a 6 A barbárie está inserida no próprio conceito de cultura como conceito de um tesouro de valores considerado de forma independente não do processo de produção no qual nasceram os valores mas do processo no qual eles sobrevivem Desta maneira servem à apoteose deste último não importando o quão bárbaro possa ser N 5a 71 Investigar como surgiu o conceito de cultura qual seu sentido nas diferentes épocas e a que necessidades correspondeu sua elaboração Poderia evidenciarse que na medida em que Marx e Engels MEW vol II Berlim 1957 p 135 RT designa a soma dos bens culturais5 ele seja de origem recente certamente era desconhecido por exemplo pelo clero que no início da Idade Média promoveu uma guerra de aniquilamento contra os testemunhos da Antigüidade ÍN 6 11 Michelet um autor que não importa onde seja citado fàz o leitor esquecer o livro no qual aparece a citação IN 6 2 É de se enfatizar a apresentação gráfica particularmente cuidadosa dos primeiros escritos sobre os problemas sociais e assistenciais como Naville De la Charité Légale Frégier Des Classes Dangereuses etc N 6 3 Eu não saberia insistir demais sobre o fato de que para um materialista esclarecido como Lafargue o determinismo econômico não é a ferramenta absolutamente perfeita que pode tornarse a chave de todos os problemas da história André Breton Position Politique du Surréalisme Paris 1935 pp 89 N 6 41 Todo conhecimento histórico pode ser representado pela imagem de uma balança em equilíbrio que tem sobre um de seus pratos o ocorrido e sobre o outro o conhecimento do presente Enquanto no primeiro prato os fatos reunidos nunca serão insignificantes e numerosos demais o outro deve receber apenas alguns poucos pesos grandes e maciços N 6 5 A única atitude digna da filosofia na era industrial é o retraimento O cientificismo de um Maix não significa que a filosofia renuncia a sua tarefa e sim que ela se retrai até que se tenha posto um fim à dominação de uma realidade inferior Hugo Fischer Karl Marx und sein Verhältnis zu Staat und Wirtschaft Jena 1932 p 59 N 6 6 Não é irrelevante a ênfase que Engels dá à classicidade no contexto da concepção materialista da história Para demostrar a dialética do desenvolvimento ele evoca as leis que o próprio curso histórico fornece na medida em que cada momento pode ser observado no ponto de desenvolvimento de sua maturidade plena de sua classicidade Cit em Gustav Mayer Friedrich Engels vol II Engels und der Aufetieg der Arbeiterbewegung in Europa Berlim 1922 pp 434435 N 5 7 Engels em carta a Mehring de 14 de julho de 1893 É sobretudo esta aparência de uma história autônoma das constituições de Estado dos sistemas jurídicos e das representações ideológicas em cada domínio particular que ofusca a maioria das pessoas Quando Lutero e Calvino superam a religião católica oficial quando Hegel supera Fichte e Kant e Rousseau com seu Contrato Social indiretamente supera o constitucional Montesquieu tratase de um processo que mantendose no âmbito da teologia da filosofia da ciência política representa uma etapa na história destes domínios do pensamento sem ultrapassar a esfera do pensamento E desde que se somou a isso a ilusão burguesa relativa ao caráter N i leoria do Conhecimento Teoria do Progresso 511 eterno e definitivo da produção capitalista até mesmo a superação dos mercanálistas pelos fisiocratas e Adam Smith é considerada uma mera vitória do pensamento não o reflexo intelectual de fatos econômicos transformados mas a visão correta finalmenre conquistada áe condições reais sempre presentes em todos os lugares Cit em Gustav Mayer Friedrich Engels vol II Friedrich Engek und der Aufstieg der Arbeiterbewegung in Europa Berlim H 450451 N 6a 1 0 que Schlosser poderia replicar àquelas recriminações de ressentido rigor moral seria o seguinte que na história e na vida em geral diferentemente do que ocorre na novela e no romance não se adquire uma superficial alegria de viver por mais serenos que sejam os sentidos e o espírito que a contemplação da história pode não inspirar desprezo ou misantropia mas decerto uma visão severa do mundo e firmes princípios de vida que pelo menos no que diz respeito aos maiores juizes da vida e dos homens aos que souberam medir a vida exterior a partir de sua própria vida interior a um Shakespeare um Dante um Machiavel a essência do mundo sempre provocou uma tal impressão que conduz à Äiiedade e ao rigor G G Gervinus Friedrich Christoph Schlosser Leipzig 1861 in Deutsche IDenkreden ed por Rudolf Borchardt Munique 1925 p 312 IN 6a 21 E preciso investigar a relação entre a tradição e a técnica de reprodução As tradições têm com as comunicações escritas em geral a mesma relação que as reproduções destas à pena têm com as reproduções pela imprensa a relação que as sucessivas cópias à mão têm com as impressões simultâneas de um livro Carl Gustav Jochmann Über die Sprache Heidelberg 1928 pp 259260 Die Rückschritte der Poesie As regressões da poesia N 6a 3 Roger Caillois Paris mythe moderne Nouvelle Revue Française XXV n 284 1 maio 1937 p 699 fornece uma lista das pesquisas que deveriam ser realizadas para melhor esclarecer o assunto 1 Descrições de Paris anteriores ao século XIX Marivaux Rétif de la Bretonne 2 A discussão entre girondinos e jacobinos a respeito da relação de Paris com a província a lenda dos dias revolucionários cm Par is 3 A polícia secreta sob o Império e a ação 4 Peinture morale de Paris em Hugo Balzac Baudelaire 5 Descrições objetivas le Dulaure Du Camp 6 Vigny Hugo Paris incendiada no ano terrível aud N 7 1 É preciso estabelecer a relação entre a presença de espírito e o método do materialismo Salérico Não se trata apenas de sempre poder demonstrar um processo dialético na presença de espírito considerada como uma das formas mais elevadas de comportamento apropriado O que é decisivo é que o dialético não pode considerar a história senão como uma constelação de perigos que ele que acompanha seu desenvolvimento com o pensamento está sempre prestes a desviar fN 7 2 Revolução talvez seja mais um drama que uma história e o patético nela é uma condição não imperiosa quanto a autenticidade Blanquicit em Geffroy LEnfermé vol I Paris 1926 p 232 lX 7 3 5 2 Passagens Necessidade de prestar atenção durante muitos anos a qualquer citação casual qualquer menção fortuita de um livro N 7 Contrastar a teoria da história com a observação de Grillparzer traduzida por Edmond Jaloux nos Journaux intimes Le Tempsy 23 maio 1937 Ler o futuro é difícil ma enxergar puramente o passado é mais difícil ainda digo puramente isto é sem misturar a esse olhar retrospectivo tudo o que aconteceu no intervalo A pureza do olhar não só c difícil mas também impossível de ser alcançada N 75 É importante para o historiador materialista distinguir com máximo rigor a construção de um estado de coisas histórico daquilo que se costuma denominar sua reconstrução A reconstrução através da emparia é unidimensional A construção pressupõe a destruição N 7 Para que um fragmento do passado seja tocado pela atualidade não pode haver qualquer continuidade entre eles N 771 A história anterior Vorgeschichte e a história posterior Nachgeschichte de um fàto histórico aparecem nele graças a sua apresentação dialética Além disso cada fato histórico apresentado dialeticamente se polariza tornandose um campo de forças no qual se processa o confronto entre sua história anterior e sua história posterior Ele se transforma neste campo de forças quando a atualidade penetra nele E assim o fato histórico se polariza em sua história anterior e posterior sempre de novo e nunca da mesma maneira Tal polarização ocorre foia do fato na própria atualidade como numa linha dividida segundo o corte apolíneo12 13 em que a divisão é feita fora da linha N 7a 11 O materialismo histórico não aspira a uma apresentação homogêna nem tampouco contínua da história Do fato de a superestrutura reagir sobre a infraestrutura resulta que não exisse uma história homogêna por exemplo a história da economia nem tampouco existe uma história da literatura ou do direito Por outro lado uma vez que as diferentes épocas do passado são tocadas pelo presente do historiador em graus bem diversos sendo muitas vezes o passado mais recente nem sequer tocado pelo presente este não lhe faz justiça uma continuidade da apresentação histórica é inviável N 7a 4 Télescopage do passado através do presente A recepção de grandes e muito admiradas obras de arte é um ad plures ire N 7a 12 Tratase provavelmente do segmento áureo o j proporção áurea golden section elaborado na Grécia antiga e retomado pelo matemático italiano Leonardo de Pisa Fibonacci Cf H E HuntleyA Divina Proporção Um Ensaio sobre a Beleza na Matemática Brasília Ed UnB 1985 wb 13 Esta expressão latina cuja tradução literal é ir para onde está a maioria ocorre por exemplo em Petrônio e significa ir para a comunidade dos mortos EM wb N Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso 513 A apresentação materialista da história leva o passado a colocar o presente numa situação crítica a 5 É minha intenção resistir àquilo que Valéry chama de uma leitura lenta e pontuada de resistências de um leitor difícil e refinado Charles Baudelaire Les Fleurs du Mal Introdução de Paul Valéry Paris 1928 p XIII a 6 Meu pensamento está para a teologia como o mataborrão está para a tinta Ele está completamente embebido dela Mas se fosse pelo mataborrão nada restaria do que está escrito N 7a 7 Ë o presente que polariza o acontecimento em história anterior e história posterior N 7a 8 fase tardia Sobre a questão do inacabamento da história carta de Horkheimer de 16 de março de 1937 A afirmação do inacabamento é idealista se nela não está contido o acabamento A injustiça passada aconteceu e está consumada acabada As vítimas de assassinato foram assinadas dc fato Sc levarmos o inacabamento a sério teremos que acreditar no Juízo final Quanto ao inacabamento talvez exista uma diferença entre o positivo e o negativo de forma que somente a injustiça o terror e as dores do passado são irreparáveis A justiça pnricada as alegrias e as obras comportamse de maneira diferente em relação ao tempo pois seu caráter positivo é amplamente negado pela fugacidade das coisas Isto vale bretudo para a existência individual na qual não a felicidade e sim a infelicidade é sdada pela morte O corretivo desta linha de pensamento pode ser encontrado na consideração de que a história nao é apenas uma ciência mas igualmente uma forma de JDOacmoração O que a ciência estabeleceu pode ser modificado pela rememoração Esta pode transformar o inacabado a felicidade em algo acabado e o acabado o sofrimento m algo inacabado Isto é teologia na rememoração porém fazemos uma experiência que nos proíbe de conceber a história como fundamentalmente ateológica embora tampouco nos seja permitido tentar escrevêla com conceitos imediatamente teológicos N 8 1 JL função inequivocamente regressiva que a doutrina das imagens arcaicas tem para Jung mmk à tona no seguinte trecho do ensaio Über die Beziehungen der analytischen Psychologie m m dichterischen Kunstwerk Sobre as relações da psicologia analítica com a obra dc mut literária O processo criativo consiste em uma ativação inconsciente do arquétipo c om sua elaboração até resultar na obra perfeita A nova configuração daquela imagem pumiiiva é de certa forma sua tradução para a língua do presente Nisso reside o significado mensal da arte ela traz à tona as formas de que mais sente falta o espírito do tempo 14 Passagens Insatisfeito com o presente o desejo do artista se retrai até atingir no inconsciente a imagem arquetípica apta a compensar a unilateralidade do espírito do tempo O desejo apodera se desta imagem e ao aproximála da consciência muda também sua forma até que da possa ser apreendida pelo homem do presente segundo sua capacidade de compreensão1 C G Jung Seelenprobleme der Gegenwart ZuriqueLeipzigStuttgart 1932 p 71 Assim a teoria esotérica da arte acaba por tornar os arquétipos acessíveis ao 4 espírito do tempo N l 2 Na produção de Jung um dos elementos que foram trazidos à luz de maneira pioneira c eruptiva pelo Expressionismo chega a ter um efeito tardio e particularmente eficaz com se pode reconhecer hoje Tratase de um niilismo específico dos médicos como aqude encontrado também nas obras de Benn c que tem um representante tardio em Céline Este niilismo resultou do choque que o interior do corpo provocou nos profissionais que tratam dele O próprio Jung atribui ao Expressionismo o crescente interesse pelo psíqukm e escreve A arte expressionista antecipou profeticamente esta orientação assim como a arte sempre capta intuitivamente por antecipação as orientações futuras da consciência geral Seelenprobleme der Gegenwart ZuriqueLeipzigStuttgart 1932 p 415 Das Seelenproblem des modernen Menschen A este respeito é preciso não perder de vista w relações que Lukács estabeleceu entre o Expressionismo e o fascismo Cf K 7a 4 A tradição fábula errante que se recolhe Entrecortada como o vento nas folhas Victor Hugo La Fin de Satan Paris 1886 p 235 N Julien Benda em Un Régulier dans le Siècle cita esta frase de Fustel de Coulanges Se quiserdes reviver uma época esquecei tudo que sabeis sobre o que se passou depois dehC Esta é a magna charta secreta da apresentação da história própria da escola histórica c Benda é pouco convincente quando acrescenta Fustel nunca disse que esse era m procedimento adequado para compreender o papel de uma época na história N à Investigar se existe uma relação entre a secularização do tempo no espaço e a visão alegóricL De qualquer modo a primeira como se torna claro no último escrito de Blanqui esaci oculta na imagem científica do mundo da segunda metade do século Secularização dk história em Heidegger14 N 5a i Goethe anteviu a crise da educação burguesa Ele a enfrenta no Wilhelm Meister Ekr ai caracteriza em sua correspondência com Zelter N 5a S Wilhelm von Humboldt desloca o centro de gravidade para as línguas Marx e Engpfa deslocamno para as ciências naturais Mas também o estudo das línguas possui funções 14 Referência a Auguste Blanqui LÉternité par les Astres 1872 cf D 5a 1 e a Martin Heidegger 5 m und Zeit Ser e Tempo 1927 parágrafo 3 EM N Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso 515 econômicas Ele vai ao encontro do comércio mundial enquanto o estudo das ciências naturais vai ao encontro do processo de produção 9 1 Um método científico se distingue pelo fato de ao encontrar novos objetos desenvolver novos métodos exatamente como a forma na arte que ao conduzir a novos conteúdos desenvolve novas formas Apenas exteriormente uma obra de arte tem uma e somente uma forma e um tratado científico tem um e somente um método N 9 2 Sobre o conceito de salvação o vento do absoluto nas velas do conceito O princípio do vento é o elemento cíclico A posição das velas é o elemento relativo N 9 3 Os fenômenos são salvos de quê Não apenas nem principalmente do descrédito e do desprezo em que caíram mas da catástrofe que é representada muitas vezes por um certo tipo de tradição sua celebração como patrimônio São salvos pela demonstração de que existe neles uma ruptura ou descontinuidade Sprung Existe uma tradição que é catástrofe N 9 4 A especificidade da experiência dialética consiste em dissipar a aparência do sempreigual e mesmo da repetição na história A experiência política autêntica está absolutamente livre desta aparência N 9 5 Para o dialético o que importa é ter o vento da história universal Weltgeschichte em suas velas Pensar significa para ele içar as velas O que é decisivo c como elas são posicionadas As palavras são suas velas O modo como são dispostas transformaas em conceitos N 9 6 A imagem dialética é uma imagem que lampeja É assim como uma imagem que lampeja no agora da cognoscibilidade que deve ser captado o ocorrido A salvação que se realiza deste modo e somente deste modo não pode se realizar senão naquilo que estará irremediavelmente perdido no instante seguinte Em relação a isso conferir o trecho metafórico de minha introdução a Jochmann sobre o olhar profético que se acende nos cumes do passado15 N 9 7 Ser dialético significa ter o vento da história nas velas As velas são os conceitos Porém não basta dispor das velas O decisivo é a arte de posicionálas N 98 O conceito de progresso deve ser fundamentado na idéia de catástrofe Que as coisas continuam assim eis a catástrofe Ela não consiste naquilo que está por acontecer em cada situação e sim naquilo que é dado em cada situação Assim Strindberg afirma em Rumo a Damasco o inferno não é aquilo que nos aguarda e sim esta vida aqui N 9a 1 15 Cf W Benjamin Einleitung Introdução para Carl Gustav Jochmann Die Rückschritte der Poesie in GS II 572585 5 Passagens É bom dar uma conclusão nãoaguçada a pesquisas materialistas N 9a 2 Da salvação faz parte a apreensão firme aparentemente brutal N 9a 3 A imagem dialética é aquela forma do objeto histórico que satisfaz às exigências de Goethe para o objeto de uma análise revelar uma síntese autêntica É o fenômeno originário da história N 9a 4 A celebração ou apologia está empenhada em encobrir os momentos revolucionários do curso da história Ela almeja intensamente a produção de uma continuidade e dá importância apenas àqueles elementos da obra que já fazem parte da influência que ela exerceu Escapam a ela os pontos nos quais a tradição se interrompe e com isso escapam lhe as asperezas e as saliências que oferecem um apoio àquele que pretende ir além N 9a 5 O materialismo histórico precisa renunciar ao elemento épico da história Ele arranca por uma explosão sprengt aby a época da continuidade da história reificada Mas ele faz explodir sprengt auf também a homogeneidade dessa épocay impregnandoa com ecrasita isto é com o presente16 N 9a 6 Em toda obra de arte autêntica existe um lugar onde aquele que a penetra sente uma aragem como a brisca fresca de um amanhecer Daí resulta que a arte muitas vezes considerada refratária a qualquer relação com o progresso pode servir a sua verdadeira definição O progresso não se situa na continuidade do curso do tempo e sim em suas interferências onde algo verdadeiramente novo se faz sentir pela primeira vez com a sobriedade do amanhecer N 9a 7 Para o historiador materialista cada época com a qual ele se ocupa é apenas a história anterior da época que lhe interessa Por isso mesmo não existe para ele a aparência da repetição na história uma vez que precisamente os momentos do curso da história que mais lhe importam tornamse eles mesmos em virtude de seu índice como história anterior momentos do presente mudando seu próprio caráter conforme a definição catastrófica ou triunfante desse presente N 9a 8 O progresso científico assim como o progresso histórico é sempre apenas o primeiro passo nunca o segundo terceiro ou enésimo 1 supondo que estes últimos pertençam não apenas ao exercício da ciência mas também a seu corpus Na verdade porém não é esse o caso uma vez que cada etapa do processo dialético como cada etapa no processo da própria história por mais que seja condicionada pelos estágios precedentes coloca em jogo uma tendência fundamentalmente nova que exige um tratamento fundamentalmente novo Portanto o método dialético se distingue pelo fato de ao encontrar novos objetos 16 Cf a tese XVII de W Benjamin Über den Begriff der Geschichte GS I 703 Teses p 130 wb N Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso 517 desenvolver novos métodos exatamente como a forma na arte que ao conduzir a novos conteúdos desenvolve novas formas Apenas exteriormente uma obra de arre rem uma e somente uma forma e um tratado dialético tem um e somente um método n i o i Definições de conceitos históricos básicos a catástrofe ter perdido a oportunidade o momento crítico a ameaça de o status quo ser mantido o progresso a primeira medida revolucionária n o Que o objeto da história seja arrancado por uma explosão do continuum do curso da história é uma exigência de sua estrutura monadológica Esta tornase visível apenas no próprio objeto arrancado E isso ocorre sob a forma da confrontação histórica que constitui o interior e por assim dizer as entranhas do objeto histórico e da qual participam em uma escala reduzida todas as forças e interesses históricos Graças a sua estrutura monadológica o objeto histórico encontra representada em seu interior sua própria história anterior e posterior Assim por exemplo a história anterior de Baudelaire conforme apresentado nesta pesquisa encontrase na alegoria e sua história posterior no Jugendstil N 10 3 0 confronto com a historiografia convencional e com a celebração1 deve ter como base a polêmica contra a emparia Grillparzer Fustel de Coulanges N 10 4 Bmault o saintsimonista estabelece uma distinção entre épocas orgânicas e épocas criticas cf U 15a 4 A difamação do espírito crítico iniciase logo após a vitória da Itaireuesia na Revolução de Julho N 10 5 0 1 momento destrutivo ou crítico na historiografia materialista se manifesta através do fazer explodir a continuidade histórica é assim que se constitui o objeto histórico De fato Jbqoo do curso contínuo da história não é possível visar um objeto histórico Tanto assim fut a historiografia desde sempre simplesmente selecionou um objeto desse curso contínuo Adas isso ocorria sem um princípio como expediente e sua primeira preocupação sempre Bsl a de reinserir o objeto no continuum que ela recriava através da emparia A historiografia önmnialista não escolhe aleatoriamente seus objetos Ela não os toma e sim os arranca por iia explosão do curso da história Seus procedimentos são mais abrangentes seus aoMiiecimentos mais essenciais N 10a 1 pife o momento destrutivo na historiografia materialista deve ser entendido como reação a constelação de perigos que ameaça tanto o objeto da tradição quanto seus Jcsninatários17 É com esta constelação de perigos que se confronta a historiografia inMcrialista é neste confronto que reside sua atualidade é neste instante que ela tem que fiMWüi sua presença de espírito Uma tal apresentação da história tem por objetivo para liar como Engels ultrapassar o domínio do pensamento N 10a 2 7 Cf a tese VI de W Benjamin Über den Begriff der Geschichte GS I 695 Teses p 65 wb 518 Passagens Ao pensamento pertencem tanto o movimento quanto a imobilização dos pensamentos Onde ele se imobiliza numa constelação saturada de tensões aparece a imagem dialética Ela é a cesura no movimento do pensamento Naturalmente seu lugar não é arbritrário Em uma palavra ela deve ser procurada onde a tensão entre os opostos dialéticos é a maior possível Assim o objeto construído na apresentação materialista da história é ele mesmo uma imagem dialética Ela é idêntica ao objeto histórico e justifica seu arrancamento do continuum da história N 10a 3 A forma arcaica da história primeva que é evocada em qualquer época e agora mais uma vez por Jung é aquela que torna a aparência na história ainda mais ofuscante ao designar lhe a natureza como pátria ÍN 11 IJ Escrever a história significa dar às datas a sua fisionomia N 11 2 Os acontecimentos que cercam o historiador e dos quais ele mesmo participa estarão na base de sua apresentação como um texto escrito com tinta invisível A história que ele submete ao leitor constitui por assim dizer as citações deste texto e somente elas se apresentam de uma maneira legível para todos Escrever a história significa portanto citar a história Ora no conceito de citação está implícito que o objeto histórico em questão seja arrancado de seu contexto N 11 3 Sobre a doutrina elementar do materialismo histórico 1 Um objeto da história é aquele em que o conhecimento se realiza como sua salvação 2 A história se decompõe em imagens não em histórias 3 Onde se realiza um processo dialético estamos lidando com uma mônada 4 A apresentação materialista da história traz consigo uma crítica imanente do conceito de progresso 5 O materialismo histórico baseia seu procedimento na experiência no bom senso na presença de espírito e na dialética Sobre mônadas ver N 10a 3 N 114 O presente determina no objeto do passado o ponto onde divergem sua história anterior e sua história posterior a fim de circunscrever seu núcleo N 11 5 Demonstrar por meio de exemplos que a grande filologia relativa aos escritos do século passado não pode ser praticada senão pelo marxismo N 11 61 As primeiras regiões que se tornaram esclarecidas não são aquelas em que elas as ciênciasj tiveram maior progresso Turgot Œuvres vol II Paris 1844 pp 601602 Second discours sur les progrès successifs de lesprit humain 1750 Este pensamento desempenha um papel na literatura posterior e também em Marx N 117 No decorrer do século XIX quando a burguesia consolidou sua posição de poder o conceito de progresso foi perdendo cada vez mais as funções críticas que originalmente possuía N Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso 519 A doutrina da seleção natural teve uma importância decisiva neste processo com ela íbrtaleceuse a opinião de que o progresso se realiza automaticamente Ademais ela favoreceu a extensão do conceito de progresso a todos os domínios da atividade humana Em Turgor o conceito de progresso ainda tinha funções críticas Isso permitiu sobretudo chamar a aenção das pessoas para os movimentos regressivos da história É significativo que Turgot considerava o progresso garantido sobretudo no domínio das pesquisas matemáticas Que espetáculo é a sucessão das opiniões dos homens Procuro nela o progresso do espírito humano e praticamente não encontro nada além da história de seus erros Por que a sua marcha tão segura desde os primeiros passos no estudo das matemáticas é tão vacilante quanto ao resto tão sujeita ao extravio Nessa progressão lenta de opiniões e de erros creio ver as primeiras folhas esses invólucros que a natureza deu ao caule nascente das plantas saírem da terra antes delas fanaremse sucessivamente com o nascimento de WBtos invólucros até que enfim esse caule apareça e se coroe de flores e de frutos imagem Ja verdade tardia Turgot Œuvres vol II Paris 1844 pp 600601 Second discours mm les progrès successifs de lesprit humain N lia 2 Existe ainda um limes limite do progresso em Turgot Nos últimos tempos era preciso uraoniar pela reflexão ao ponto onde os primeiros homens haviam sido conduzidos por wm instinto cego c quem sabe não seria este o supremo esforço da razão Turgot op cit fi 61018 Em Marx ainda existe este limes mais tarde ele se perde N Tia 3 Jlíá c evidente em Turgot que o conceito de progresso se orienta pela ciência mas tem seu ŒBxerivo na arte no fundo a arte tampouco pode ser considerada exclusivamente sob a CMEgoria do retrocesso e de fato o ensaio de Jochmann não desenvolve este aspecto sem ono restrição Obviamente Turgot exime a arte do progresso de modo diferente de como aifiammos hoje O conhecimento da natureza e da verdade é infinito igual a elas As artes iipi objetivo é de nos proporcionar prazer são limitadas como nós O tempo faz eclodir gfflm cessar novas descobertas nas ciências mas a poesia a pintura a música têm um ponto Smk determinado pelo gênio das línguas pela imitação da natureza pela sensibilidade lllinniiiraria de nossos órgãos Os grandes homens do século de Augusto o alcançaram e são imiimmnia nossos modelos Turgot Œuvres vol II Paris 1844 pp 605606 Second discours mm les progrès successifs de lesprit humain Portanto uma renúncia programática à ODiipfflialidade na arte w N 12 1 TUii dementos na arte do gosto que puderam se aperfeiçoar com o tempo testemunha J im c a perspectiva que depende da ótica Mas a cor local a imitação da natureza e a iiiiiijpÍL expressão das paixões pertencem a todos os tempos Turgot Œuvres vol II Paris IllBiC n 658 Plan du second discours sur lhistoire universelle N 12 2 iCaHmacpção militante do progresso Não é o erro que se opõe ao progresso da verdade mas Mwàéèaáa a teimosia o espírito de rotina tudo o que leva à inatividade O progresso Os tradutores americanos corrigiram a transcrição de Benjamin verificando o texto de Turgot Em lugar ae era preciso retornar pela perfeição eles colocam era preciso retomar pela reflexão De fato er3 versão é mais plausível e foi aqui adotada wb grifos meus mesmo das artes mais pacíficas entre os povos antigos da Grécia e suas repúblicas era entremeado de guerras contínuas Estavam ali como os judeus construindo os muros de Jerusalém com uma mão e combatendo com a outra Os espíritos estavam sempre em atividade a coragem sempre excitada as luzes do pensamento cresciam a cada dia Tu Œuvres vol II Paris 1844 p 672 Pensées et fragments lurgpt A presença de espírito como categoria política encontra uma expressão magnífica nestas palavras de Turgor Antes de compreendermos que as coisas se encontram em uma determinada situação elas já mudaram várias vezes Assim sempre percebemos os acontecimentos tarde demais e a política tem sempre necessidade de prever por assim dizer o presente Turgot Œuvres vol II Paris 1844 p 673 Pensées et fragments N 12a 1 A paisagem profimdamente transformada do século XIX permanece visível até hoje pelo menos em seus rastros Ela foi formada pela estrada de ferro Os lugares onde se concentra essa paisagem histórica são aqueles em que montanha e túnel desfiladeiro e viaduto torrente e teleférico rio e ponte de ferro revelam seu parentesco Em sua singularidade atestam que a natureza não se degradou diante do triunfo da civilização técnica em algo que não tem nome nem imagem que a mera construção da ponte ou do túnel em si mesma não se tornou a característica da paisagem e sim que o rio ou a montanha tomaram imediatamente um lugar a seu lado não como um derrotado aos pés do vencedor mas como uma potência amiga O trem de ferro que desaparece em um túnel dentro das montanhas parece retornar à sua própria origem onde repousa a matéria da qual ele próprio foi feito Dolf Sternberger Panorama oder Ansichten vom 19 Jahrhundert Hamburgo 1938 pp 3435 N 12a 2 O conceito de progresso precisou oporse à teoria crítica da história a partir do momento em que deixou de ser usado como medida de determinadas transformações históricas para servir como medida da tensão entre um lendário início e um lendário fim da história Em outras palavras tão logo o progresso se torna a assinatura do curso da história em sua totalidade o seu conceito aparece associado a uma hipóstase acrítica e não a um questionamento crítico Este último se reconhece no estudo concreto da história pelo fato de conferir ao retrocesso contornos tão nítidos quanto a qualquer progresso Assim em Turgot e em Jochmann N 13 1 Lotze como crítico do conceito de progresso Diante da afirmação bem aceita de um progresso retilíneo da humanidade uma reflexão mais prudente viuse há muito obrigada a constatar que a história avança em espirais outros preferem falar em epiciclóides Em suma nunca faltaram mesmo sob a forma de obscuros travestimentos testemunhos de que a impressão geral da história não é puramente edificante mas predominantemente melancólica Um observador isento nunca deixará de se espantar e se lamentar de quantos bens culturais e quanta beleza singular da vida desapareceram para nunca mais voltar Hermann Lotze Mikrokosmosy vol III Leipzig 1864 p 21 N 13 2 N Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso 521 Lotze como crítico do conceito de progresso Não é um pensamento claro imaginar que a educação seja repartida sobre a seqüência das gerações humanas deixando às últimas saborearem os frutos que nasceram do esforço não recompensado e muitas vezes da miséria das primeiras Por nobres que sejam os sentimentos que inspiraram tal entusiasmo é leviano menosprezar as reivindicações das diferentes épocas e dos diferentes seres humanos e desviar o olhar de seus infortúnios contanto que a humanidade progrida em geral Não pode haver progresso que não represente um acréscimo de felicidade e de perfeição nos mesmos espíritos que antes sofreram sob condições imperfeitas Hermann Lotze Mikrokosmos wcL III Leipzig 1864 p 23 Se a concepção de progresso extensivo à totalidade do curso da história é própria de uma burguesia saturada percebemse em Lotze as reservas da burguesia colocada na defensiva Cf ao contrário Hölderlin Amo as gerações dos séculos wïndouros19 13 3 Uma frase que faz pensar Pertence às mais notáveis particularidades do espírito humano ao lado de tanto egoísmo nos indivíduos a ausência geral de inveja de cada presente em fação ao seu futuro Esta ausência de inveja indica que a nossa idéia de felicidade está jrofundamente tingida pelo tempo que é o de nossa vida Nós só podemos imaginar a fctridade no ar que respiramos entre as pessoas que viveram conosco Em outras palavras u idéia de felicidade é isso o que nos ensina aquele fato singular vibra conjuntamente a idéia de redenção Esta felicidade se funda justamente no desconsolo e no abandono que ctam nossos Nossa vida é em outras palavras um músculo que possui força suficiente para contrair todo o tempo histórico Ou ainda a autêntica concepção do tempo histórico baseiase inteiramente na imagem da redenção20 A citação encontrase em Lotze Mßkrokosmos vol III Leipzig 1864 p 49 N 13a IJ Rejeição da idéia de progresso na concepção religiosa da história aNão obstante todos os us movimentos a história jamais poderia alcançar um objetivo que não se situasse em seu proprio plano e podemos nos poupar do esforço de procurar em seu desenvolvimento fincar um progresso que ela está destinada a fazer não neste plano mas num movimento ascendente em cada um de seus momentos singulares Hermann Lotze Mikrokosmos m l in Leipzig 1864 p 49 N 13a 2 Bfefação entre a idéia de progresso e a idéia de redenção em Lotze O sentido do mundo i nrseia um contrasenso se não rejeitássemos a idéia de que o trabalho das gerações que promu seja irremediavelmente perdido para elas beneficiando somente aquelas que lhes t A t i i p 50 Isto é inadmissível a não ser que o próprio mundo com toda a amplidão dk s u desenvolvimento histórico queira aparecer como um ruído incompreensível e vão IÉ a convicção de que de algum modo misterioso o progresso da história alcança de fato i irni as gerações que passam que nos permite falar de uma humanidade do modo no o fazemos p 51 Lotze define este pensamento como idéia de uma conservação eAc uma restituição p 52 N 13a 3 3 Hölderlin Sämtliche Werke vol VI tomo 1 Briefe ed org por Adolf Beck Stuttgart 1954 p 92 carta de setemtro de 1793 a seu irmão RT Cf a tese II de W Benjamin Über den Begriff der Geschichte GS I 693 Teses p 48 wh 522 Passagens A história cultural segundo Bernheim surgiu do positivismo de Comte a Griechische Geschichte de Karl Julius Beloch vol I 2a ed 1912 é para ele um exemplo típico da influência de Comte A historiografia positivista negligenciou o Estado e os acontecimentos políticos e via ao contrário no conjunto do desenvolvimento intelectual da sociedade o único conteúdo da história A elevação da história cultural à posição de único objeto digno de pesquisa histórica Ernst Bernheim Mittelalterliche Zeitanschauungen in ihrem Einfluß auf Politik und Geschichtschreibung Tübingen 1918 p 8 LN 141 A categoria lógica do tempo não domina o verbo tanto quanto poderíamos crer Por estranho que pareça a expressão do futuro não parece estar situada no mesmo plano do espírito humano que as do passado e do presente O futuro muitas vezes não tem expressão própria ou se a tem esta é complicada sem paralelo com as do presente e do passado Não temos razão nenhuma para pensar que o indoeuropeu préhistórico tenha em algum momento possuído um verdadeiro futuro Meillet JeanRichard Bloch Langage dutilité langage poétique in Encyclopédie Française vol XVI 1650 10 N 14 2 Simmel toca em uma questão muito importante ao falar da antinomia entre o conceito de cultura e os domínios autônomos do Idealismo clássico A distinção recíproca dos três domínios autônomos evitou que o Idealismo clássico concebesse aquele conceito de cultura que tanto favoreceu a barbárie Simmel diz sobre o ideal de cultura O essencial é que ele supera o valor autônomo da realização estética científica ética até mesmo da realização religiosa a fim de integrálas todas como elementos ou componentes na construção do desenvolvimento do ser humano para além de seu estado natural Georg Simmel Philosophie des Geldes Leipzig 1900 pp 467477 N 14 3 Nunca existiu um período da história no qual a cultura Bildung própria dessa época tivesse se difundido por toda a humanidade ou pela totalidade daquele povo que foi seu representante mais exponencial Todos os graus ou nuances de crueza moral estupidez espiritual e miséria física sempre coexistiram com o refinamento cultivado da vida e a livre fruição das vantagens da ordem burguesa Hermann Lotze Mikrokosmos vol III Leipzig 1864 pp 2324 N 14a 1 A concepção segundo a qual há progresso suficiente quando a cultura Bildung de uma pequena minoria procura se sofisticar cada vez mais enquanto a grande maioria permanece em uma condição de perene incultura Unbildung Lotze contrapõe a pergunta como seria possível falar em tais condições de uma história da humanidade como um todo Lotze Mikrokosmos vol III p 25 N 14a 2 A maneira como a educação da Antigüidade é quase que exclusivamente transmitida leva como diz Lotze diretamente de volta a algo que é o contrário daquilo que deveria ser o objetivo do trabalho histórico quero dizer ela leva à formação de um instinto de cultura que abrange cada vez mais elementos da vida moral e os subtrai da ação autônoma para transformálos em uma propriedade já sem vida p 28 De maneira análoga O progresso N Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso 523 da ciência não é de imediato um progresso da humanidade ele o seria se com o crescimento dos conteúdos de verdade acumulados aumentasse igualmente a participação dos seres humanos nestes conhecimentos e a clara compreensão do que significa para eles o seu conjunto Lotze op cit p 29 N iíà 3 Locze sobre a humanidade Não se pode dizer que a humanidade se torna aquilo que ela é com a consciência de seu devir e com a lembrança de seus estados anteriores Lotze op àt p 31 X l4a 4 A concepção de história de Lotze parece ter afinidade com a de Stifter A vontade desregrada dos indivíduos é sempre limitada em sua realização por condições gerais subtraídas ao arbítrio situadas nas leis da vida espiritual em geral na ordem estabelecida da natureza Lotze op c i t y p 34 N 14a 5 Comparar ao prefácio de Stifter em Bunte Steine CPedras Coloridas Para começar tenhamos como certo que um grande efeito devese sempre a uma grande causa jamais a uma pequena Napoleão III Histoire de Jules César vol I Paris 1865 N l4a 6 Uma fórmula que Baudelaire cria para a consciência do tempo própria de quem se encontra sob o efeito do haxixe pode ser aplicada à definição de uma consciência histórica arrolucionária ele fala de uma noite na qual estava tomado pelos efeitos do haxixe Por mxzis longa que ela tenha parecido eu tinha a impressão entretanto de que ela não havia durado mais que alguns segundos ou mesmo de que ela não havia tomado um lugar na eternidade Baudelaire Œuvres ed Le Dantec Paris 1931 vol I pp 29829921 N 151 Em qualquer época os vivos descobremse no meiodia da história Esperase deles que p gparem um banquete para o passado O historiador é o arauto que convida os defuntos à mesa fN 15 2 U n e a dietética dos livros de história O contemporâneo que reconhece por meio deles há f u tempo a miséria que se abate sobre ele vem sendo preparada e mostrarlhe isto ferne so o desejo caro ao historiador adquire uma alta opinião a respeito de suas próprias ifansçzs Uma história que assim o instrui não o entristece ao contrário ela lhe fornece rasas E tampouco ela provém da tristeza ao contrário daquela que Flaubert tinha em UDicme quando escreveu a seguinte confissão Poucos suspeitarão o quanto foi preciso estar irmz para empreender a ressureição de Cartago A pura curiosidade nasce da tristeza e iii MHohinda N 15 3 Emsnpio de uma observação de história cultural no pior sentido Huizinga fala como era xMMsaàmda a vida do povo humilde nas pastorais do fim da Idade Média Disso faz parte íiMinnnibfem aquele interesse pelos indigentes que já começa a se manifestar As miniaturas Baudelaire OC I p 424 JL 524 Passagens dos calendários enfatizam com satisfação os joelhos rotos dos ceifadores de trigo ou a pintura a roupa maltrapilha dos mendigos Começa aqui a linha que passando pelas gravuras de Rembrandt e pelos meninos mendicantes de Murillo conduz aos tipos de rua de Steinlen J Huizinga Herbst des Mittelalters Munique 1928 p 448 Naturalmente tratase de fato de um fenômeno muito específico N i54 O passado deixou nos textos literários imagens de si mesmo comparáveis às imagens que a luz imprime sobre uma chapa sensível Só o futuro possui reveladores suficientemente ativos para examinar perfeitamente tais clichês Várias páginas de Marivaux ou de Rousseau contêm um sentido misterioso que os primeiros leitores não podiam decifrar plenamente André Monglond Le Préromantisme Français vol I Le Héros Préromantique Grenoble 1930 p XII N 15a 1 Uma visão reveladora do progresso em Hugo Paris incendié LAnnée Terrible O quê Sacrificar tudo O quê O celeiro do pão O quê A Biblioteca arco onde se levanta a aurora Insondável ABC do ideal onde sonha apoiado nos braços o progresso este leitor eterno22 N 15a 2 Sobre o estilo a que se deve aspirar É através das palavras comuns que o estilo morde e invade o leitor E através delas que circulam e são considerados genuínos os grandes pensamentos como o ouro e a prata marcados com um selo conhecido Elas inspiram a confiança naquele que se serve delas para tornar seus pensamentos mais inteligíveis pois reconhecemos no emprego da língua comum um homem que sabe da vida e das coisas e que se mantém em contato com elas Além do mais essas palavras tornam o estilo franco Elas mostram que o autor por muito tempo remoeu o pensamento ou o sentimento expresso que se apropriou deles e os tornou de tal forma familiares que as expressões mais comuns lhe são suficientes para exprimir idéias que para ele se tornaram banais graças a uma longa meditação Enfim o que se diz parece mais verdadeiro porque nada é tão claro no domínio das palavras quanto aquelas que chamamos de familiares e a clareza é um elemento tão distintivo da verdade que muitas vezes tomamos uma pela outra Nada mais sutil que o conselho de ser claro para pelo menos parecer verdadeiro O conselho de escrever com simplicidade na maioria das vezes fruto do ressentimento quando dado desta maneira adquire a máxima autoridade J Joubert Œuvres vol II Paris 1883 p 293 Du style XCIX N 15a 3 Aquele que pudesse desenvolver a dialética dos preceitos de Joubert obteria uma estilística digna de nota Assim Joubert aconselha o uso das palavras familiares mas adverte contra a língua particular que só exprime coisas relativas a nossos costumes presentes Op cit p 286 Du style LXVII N 16 T 22 Victor Hugo Œuvres Complètes Poésie vol XII LAnnée Terrible Paris 1880 p 268 RT N Teoria ao Conhecimento Teoria do Frogressol 525 Todas as belas palavras são suscetíveis de mais de uma significação Quando uma bela palavra apresenta um sentido mais belo que aquele do autor é preciso adotálo J Joubert Œuvres vol II Paris 1883 p 276 Du style XVII N 16 2 Considerando a economia política Marx caracteriza magnificamente como seu elemento vulgar o elemento que nela é mera reprodução da aparência como representação da aparência Cit em Korsch Karl Marx manuscrito vol II p 2223 Este elemento vulgar deve ser igualmente denunciado nas outras ciências N 16 3 Conceito de natureza em Marx Se em Hegel também a natureza física intervém na história universal Marx concebe a natureza desde o início segundo categorias sociais A natureza física não intervém de maneira imediata na história universal e sim de maneira mediata como um processo de produção material que se desenvolve desde a sua origem não só entre o homem e a natureza mas também entre o homem e o homem Ou para usar uma linguagem compreensível também para os filósofos a natureza pura pressuposto de toda atividade humana a natura naturans econômica c substituída em toda parte enquanto matéria social na ciência rigorosamente social de Marx pela natureza como produção material a natura naturata econômica mediada e transformada pela atividade inumana social e com isso ao mesmo tempo suscetível de ser modificada e transformada 0 0 presente e no futuro Korsch op cit vol III p 324 N 16 4 Korsch menciona as seguintes reformulações da tríade de Hegel nos termos de Marx A contradição hegeliana é substituída pela luta das classes sociais a negação dialética pelo proletariado e a síntese dialética pela revolução proletária Korsch op cit vol III P 4525 N 16 5 Restrições à concepção materialista da história por parte de Korsch Com as transformações do modo de produção material transformase também o sistema dc mediações existente cotre a base material e sua superestrutura política e jurídica com suas correspondentes ibnnas sócias de consciência Por isso as proposições gerais da teoria social materialista CDQcernentes às relações entre economia e política ou economia e ideologia ou conceitos gerais como classes e luta de classes têm um significado diferente para cada época específica e na forma específica em que foram enunciadas por Marx em relação à atual sociedade knrguesa estas proposições são válidas a rigor somente para esta sociedade Apenas para a anal sociedade burguesa na qual as esferas da economia e da política estão fbrmalmente e iciolmente separadas uma da outra e onde os trabalhadores na qualidade de cidadãos são lives e iguais quanto a seus direitos a demonstração científica de sua efetiva e contínua 23 Paralelamente às referências à versão manuscrita do livro de Korsch que foi o texto utilizado por Benjamin indicamse aqui as citações da edição em livro Karl Korsch Karl Marx ed org por Gõtz Langkau Frankfurt a M Viena 1967 p 74 RT 24 Korsch 1967 pp 128129 A obra de Hegel citada por Korsch é Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte Introdução geral 2 1 a RT EM 25 Op cit p 160 RT ijfc u Passagens falta de liberdade na esfera econômica tem o caráter de uma descoberta teórica Korsch op cit vol III p 212226 N 16a 1 Korsch faz a constatação aparentemente paradoxal mas pertinente para a última e mais madura forma da ciência marxista de que na teoria social materialista de Marx aquele todo das relações sociais que é tratado pelos sociólogos burgueses como um domínio de pesquisas independente já é tratado pela ciência histórica e social da economia segundo seu conteúdo objetivo Nesse sentido a ciência social materialista de Marx não é sociologia e sim econom iaKorsch op cit vol III p 10327 N 16a 2 Uma citação de Marx sobre a mutabilidade da natureza em Korsch op cit vol III p 9 Mesmo as diferenças naturais das espécies como as diferenças de raça etc podem e devem ser abolidas no processo histórico28 N 16a 31 Teoria da superestrutura segundo Korsch Para a determinação do tipo particular de conexões e relações que existem entre a base econômica e a superestrutura jurídica e política com as correspondentes formas de consciência não bastam nesta forma geral nem a definição filosófica de causalidade dialética nem a causalidade científica completada por interações A ciência natural do século XX aprendeu que as relações causais a serem definidas por um pesquisador em sua área específica não podem absolutamente ser definidas na forma de um conceito geral ou de uma lei geral de causalidade mas devem ser determinadas especificamente para cada área particular Cf Philipp Frank Das Kausalgesetz und seine Grenzen Viena 1932 A maior parte dos resultados a que chegaram Marx e Engels não consiste nas formulações teóricas do novo princípio e sim em sua utilização específica em uma série de questões ora de importância prática fundamental ora de natureza teórica extremamente difícil Situamse aqui as questões levantadas ao final da Introdução para os Grundrisse de 1857 pp 779 et seq relativas ao desenvolvimento desigual dos diferentes âmbitos da vida social desenvolvimento desigual da produção material em relação à produção artística e das diversas formas de arte entre si diferença entre as condições culturais nos Estados Unidos e na Europa desenvolvimento desigual das relações de produção enquanto relações de direito etc A determinação científica exata das conexões aqui citadas é ainda hoje uma tarefa para o futuro tarefa cujo centro de gravidade não deve se situar na formulação teórica e sim na constante aplicação e experimentação dos princípios implícitos na obra de Marx Nisso não se deve de forma alguma tomar ao pé da letra as expressões muitas vezes empregadas em sentido figurado com as quais Marx descreveu as conexões especiais aqui existentes como uma relação de base e superestrutura como correspondências etc Em todps estes casos os conceitos de Marx tal como entre os marxistas posteriores o entenderam de maneira mais clara Sorel e Lenin não são tomados como novos entraves dogmáticos não como condições estabelecidas a priori para serem aplicadas por uma pesquisa verdadeiramente materialista segundo uma ordem determinada 26 Op cit p 139 RT 27 Op cit pp 128129 RT 28 Op cit p 133 Korsch cita de Marx e Engels Gesamtausgabe Berlim 19271930 vol I parte V p 403 RT EM N Teoria do Conhecimento Teoria do Progresso 527 e sim como um guia inteiramente nãodogmático para a pesquisa e para a ação Korsch Karl Marx manuscrito vol III pp 939629 Concepção materialista da história e filosofia materialista As fórmulas da concepção materialista da história aplicadas por Marx e Engels apenas à análise da sociedade burguesa e transpostas para outras épocas históricas apenas com a devida modificação foram desvinculadas pelos epígonos de Marx desta aplicação específica e aliás de qualquer aplicação histórica e o assim chamado materialismo histórico foi transformado em uma teoria sociológica geral A partir deste nivelamento da teoria social materialista era apenas um passo para se chegar à idéia defendida ainda hoje ou justamente hoje de que é necessário alicerçar a ciência histórica e econômica de Marx não apenas com uma filosofia social geral mas até mesmo com uma visão de mundo universal materialista que abrange a totalidade da natureza e da sociedade Ou retomando uma expressão de Marx de reduzir as formas científicas nas quais se havia desenvolvido o conteúdo verdadeiro do materialismo filosófico do século XVIII novamente às frases filosóficas dos materialistas sobre a matéria A ciência social materialista não necessita de tal fundamento filosófico Este progresso mais importante alcançado por Marx escapou em seguida também a seus intérpretes ortodoxos Com isso reintroduziram seu próprio atraso filosófico na teoria de Marx que progredira transformandose conscientemente de filosofia em ciência O destino histórico da ortodoxia marxista aparece assim de forma quase grotesca ao defenderse dos ataques revisionistas ela acaba por chegar em todas as questões capitais ao mesmo ponto de vista dos adversários Quando por exemplo Plekhanov o principal representante desta tendência em sua busca obstinada da filosofia que subjaz ao marxismo acabou apresentando o marxismo como uma forma de spinozismo libertado por Feuerbach de seus componentes teológicos Korsch op cit vol 111 pp 293130 N 17a Korsch cita o Novum Organum de Bacon Recte enim veritas temporis filia dicitur non auctoritas Ele fundou sobre esta autoridade de todas as autoridades o tempo a superioridade da nova ciência empírica burguesa face à ciência dogmática da Idade Média Korsch op cit vol I p 7231 N 18 1 Para o uso positivo Marx substitui o postulado exagerado de Hegel segundo o qual a verdade deve ser concreta pelo princípio racional da especificação O verdadeiro interesse encontrase nos traços específicos através dos quais cada sociedade histórica determinada diferenciase das características comuns a cada sociedade em geral e nos quais portanto consiste o seu desenvolvimento Assim uma ciência social rigorosa não pode formar seus conceitos gerais pela simples abstração de algumas características de uma dada forma histórica da sociedade burguesa e a conservação de outras escolhidas de modo mais ou menos arbitrário Ela pode atingir o conhecimento do universal contido nesta forma social particular 29 Op cit pp 199202 Korsch referese ao prefácio de Marx à Kritik der politischen Ökonomie 1859 RT EM 30 Op dt pp 145146 Korsch cita frases de Marx e Engels Die deutsche Ideologie 18451846 e de George Plekhanov Fundamental Problems o f Marxism 1908 RT EM 31 Op cit p 54 Tradução da citação de Bacon Pois é correto dizer que a verdade é filha do tempo não da autoridade RT wb 528 Passagens apenas por meio do estudo minucioso de todas as condições históricas de seu surgimento a partir de um outro estágio da sociedade e das modificações de sua forma presente sob condições rigorosamente estabelecidas As únicas leis autênticas na ciência social são portanto as leis do desenvolvimento Korsch op cit pp 495232 N 18 2 O conceito autêntico da história universal é um conceito messiânico A história universal como compreendida hoje é um assunto de obscurantistas N 18 3 O agora da cognoscibilidade é o momento do despertar Jung quer manter o despertar longe do sonho N 18 4 SainteBeuve em sua caracterização de Leopardi declarase persuadido de que a crítica literária só alcança todo o seu valor e originalidade quando se dedica a temas dos quais dominamos há muito tempo o contexto e todas as circunstâncias C A SainteBeuve Portraits Contemporains vol IV Paris 1882 p 365 Em contrapartida é preciso reconhecer que a ausência de certas condições exigidas por ele pode ter seu valor A incapacidade de sentir as nuances mais sutis do texto pode levar o observador a pesquisar com maior atenção os mínimos detalhes nas relações sociais que subjazcm à obra de arte Ademais aquele que não tem uma sensibilidade para as gradações mais sutis pode adquirir através de uma percepção mais clara dos contornos do poema uma certa superioridade em relação a outros críticos uma vez que o sentido para nuances nem sempre acompanha o dom da análise N 18a 1 Observações críticas sobre o progresso técnico aparecem bem cedo O autor do uatado Da Arte Hipócrates Penso que o desejo da inteligência é descobrir algumas das coisas que são ainda desconhecidas se for melhor descobrilas do que não têlas descobertoLeonardo da Vinci Como e por que não escrevo sobre meu método de permanecer embaixo dàgua por tanto tempo quanto é possível ficar sem comer se não o publico nem o divulgo é em razão da maldade dos homens que se serviriam dele para assassinar no fundo dos mares abrindo os navios e submergindoos com sua tripulação Bacon Na Nova Atlântida ele confia a uma comissão especialmente escolhida o cuidado de decidir quais das novas invenções serão divulgadas e quais serão mantidas em segredo PierreMaxime Schuhl Machinisme et Philosophie Paris 1938 pp 7 e 35 Os aviões bombardeiros nos lembram o que Leonardo da Vinci esperava do homem em vôo que se elevasse para buscar a neve no cume das montanhas e retornar espalhandoa sobre o pavimento escaldante da cidade no verão Op cit p 95 N 18a 2 Pode ser que a continuidade da tradição seja uma aparência Mas então é a permanência desta aparência de permanência que cria nela a continuidade n 19 n Proust a propósito de uma citação de uma carta de Balzac a M de Forgues que provavelmente tomara de empréstimo a Montesquiou numa carta que ele lhe endereçou A passagem parece conter um erro de sentido devido à grafia ou à impressão Já faz 32 Op cit pp 4851 e 252 RT N ITeoria do Conhecimento Teoria do Progresso 529 quinze dias que a suprimi a citação de minhas provas Meu livro será provavelmente muito pouco lido não haveria risco de desgastar sua citação Ainda assim redreia menos por você que pela própria frase Penso com efeito que existe para todas as belas frases um direito imprescritível que as torna inalienáveis para qualquer um que as queira possuir exceto para aquele que elas esperavam por uma destinação que lhes é reservada Correspondance Générale de Marcel Proust vol I Lettres à Robert de Montesquiou Paris 1930 pp 737433 19 2 O elemento patológico na representação da cultura manifestase da maneira mais expressiva no efeito que o enorme depósito da loja de antigüidades de quatro andares exerce sobre Raphael o herói de La Peau de Chagrin que nele se aventura Para começar o desconhecido comparou três salas repletas de civilização de cultos de divindades de obrasprimas de realeza de orgia de razão e de loucura a um espelho de inúmeras facetas cada uma representando um mundo A visão de tantas existências nacionais ou individuais atestadas por esses penhores humanos que a elas sobreviveram acabou por entorpecer os sentidos do jovem Este oceano de móveis invenções modas obras e ruínas compunha um poema sem fim Ele se agarrava a todas as alegrias apreendia todas as dores apropriavase de iodas as fórmulas de existência dispersando generosamente sua vida e seus sentimentos mbre os simulacros dessa natureza plástica e vazia Sufocavase sob os resquícios de cinqüenta reailos desaparecidos sentiase nauseado com todo esse excesso de pensamentos humanos abatido pelo luxo e pelas artes Semelhante em seus caprichos à química moderna que resume a criação a um gás a alma não compõe terríveis venenos pela rápida concentração de suas alegrias ou de suas idéias Muitos homens não são fidminados por algum ácido moral espalhado de repente em seu ser interior Balzac La Peau de Chagrin Paris Ed Flammarion pp 19 2122 e 24 N 19 3 JUgumas teses de Focillon que tratam da aparência A teoria materialista da arte está é dvo interessada na dispersão desta aparência Não temos o direito de confundir o estado da vida das formas com o estado da vida social O tempo que traz consigo a obra de arte não a define em seu princípio nem na particularidade de sua forma p 93 A ação combinada da monarquia dos Capetos do episcopado e da gente das cidades no desenvolvimento das cmodrais góticas mostra a influência decisiva que o concurso das forças sociais pode exercer M s essa ação tão poderosa não está capacitada para resolver um problema de pura estática tim para combinar uma relação de valores O pedreiro que ergueu dois arcos de pedra cmzados em ângulo reto sob o campanário norte de Bayeux o autor do coro de Saint Denis eram geômerras trabalhando sobre sólidos e não historiadores interpretando o Empo O estudo mais atento do meio mais homogêneo da rede de circunstâncias mais rehamente amarradas não nos dá o desenho das torres de Laon p 89 Seria necessário arnwrinuar esta reflexão para mostrar por um lado a diferença entre a teoria do meio social c a reoria das forças produtivas e por outro a diferença entre uma reconstrução e uma iiTrpinaçáo histórica das obras Henri Focillon Vie des Formes Paris 1934 N 19a 1 33 A citação é de Guez de Balzac carta de 7 de março de 1634 E como não sou avarento nem no olhar nem na alma eu considero as esmeraldas de seus pavões um prêmio tão grande quanto as do joalheiro In Marcel Proust Correspondance vol Il 18961901 ed org por Philip Kolb Paris Plon 1976 pp 5253 A carta de Proust data de abril de 1896 O livro em questão é Les Plaisirs et les Jours EM 530 Passagens Focillon sobre a técnica Ela era para nós como um observatório de onde a visão e o estudo podiam abarcar na mesma perspectiva o maior número de objetos e sua maior diversidade Isso por ser ela suscetível de várias acepções Podemos considerála uma força viva ou uma mecânica ou ainda um puro atrativo Ela não era para nós nem o automatismo do ofício nem as receitas de uma cozinha mas toda uma poesia de ação e o meio dm metamorfoses Pareceunos sempre que a observação dos fenômenos de ordem técnka não somente nos garantia uma certa objetividade controlável como ainda nos levava m coração dos problemas colocandoos para nós nos mesmos termos e sob o mesmo ângulo qmt para o artista A passagem grifada pelo autor indica o erro essencial Henri Focillon Vie des Formes Paris 1934 pp 5354 N 19a 3 A atividade de um estilo em vias de se definir é apresentada geralmente como uma evolução no sentido mais geral e mais vago do termo Enquanto essa noção era controlada com cuidado pelas ciências biológicas a arqueologia a adotava como um método de classificação Mostrei alhures o perigo de tal noção a de evolução por seu caráter falsamente harmonioso por seu percurso linear pelo emprego em casos duvidosos do expediente das transições pela incapacidade de dar lugar à energia revolucionária dos inventores Henri Focillon Vie des Formes Paris 1934 pp 1112 N 20