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Mariza de Carvalho Soares Organizadora ROTAS ATLÂNTICAS DA DIÁSPORA AFRICANA DA BAÍA DO BENIM AO RIO DE JANEIRO 2ª EDIÇÃO REVISTA E ATUALIZADA Em setembro de 1994 a UNESCO lançou um projeto de pesquisa sobre o comércio de escravos conhecido no Brasil como ROTA DOS ESCRAVOS que se desdobrou em um conjunto de iniciativas em todo o mundo entre elas o NIGERIAN HINTERLAND PROJECT por mim dirigido A região então objeto de minha investigação abrangia o interior das baias do Benim e Biafra na costa ocidental africana de onde saíram aproximadamente 40 do total dos escravos enviados para as Américas O objetivo primordial desse projeto era reunir um grupo de pesquisadores em história da África e da diáspora africana de diferentes instituições e paísescom o objetivo de mapear a origem desses escravos Um segundo objetivo era através dessa experiência fortalecer uma rede de colaboração entre pesquisadores e formar novos estudiosos que dessem continuidade ao trabalho Um dos mais significativos resultados desse esforço foi a publicação de um conjunto de obras individuais e coletivas que começam a trazer a público os resultados desse trabalho ROTAS ATLÂNTICAS DA DIÁSPORA AFRICANA é um exemplo desse trabalho colaborativo e seguindo os objetivos do projeto explora o impacto histórico da escravidão e da diáspora africana tendo como foco a rota entre a Baia do Benim e a cidade do Rio de Janeiro Ao contrário de outras iniciativas anteriores em que as conexões atlânticas são apresentadas por um conjunto diversificado de pontos de partida e chegada essa coletânea enfoca uma linha de deslocamento específica e privilegia a compreensão das formas particulares de organização dos escravos oriundos da Baia do Benim que integram o grupo que os portugueses convencionaram chamar de pretos minas Nesse sentido a concentração do olhar na cidade do Rio de Janeiro um dos mais importantes portos atlânticos mas minoritário para a entrada de escravos vindos da Baia do Benim se mostra como uma estratégia inovadora para estudar esse grupo em profundidade assim como perceber a complexidade das redes comerciais aí envolvidas No seu conjunto é um livro extremamente provocador tanto pela escolha do universo abordado quanto pelas questões tratadas em cada texto que vão desde o comércio atlântico até o cotidiano urbano da vida dos africanos escravos e forros Outro ponto que merece destaque é justamente a longevidade dessa rota Vindo diretamente da África para o Rio de Janeiro como chega a acontecer no século XVIII ou com passagens intermediárias por outras partes como Pernambuco e Bahia rota mais freqüente e demograficamente mais relevante a verdade é que o Rio de Janeiro recebeu escravos oriundos da Baia do Benim desde os primeiros anos do século XVIII até a extinção do tráfico ilegal e como apontado mesmo depois num fluxo ainda não estudado de africanos efetivamente livres aí chegados nas últimas décadas do século XIX Esse é portanto um livro que merece ser lido e assimilado não apenas por seus resultados mas como ponto de partida para novas investigações de modo a mais uma vez formar novas gerações de pesquisadores que levem adiante a imensa tarefa de não deixar cair no esquecimento os mais de dez milhões de africanos que desembarcaram nos portos das Américas como escravos Paul E Lovejoy FRSC Distinguished Research Professor Canada Research Chair in African Diaspora History Rotas Atlânticas da Diáspora Africana Mariza de Carvalho Soares Organizadora Rotas atlânticas da diáspoRa afRicana da Baía do Benim ao Rio de JaneiRo 2ª edição revista e atualizada Editora da Universidade Federal Fluminense Niterói 2011 Copyright 2007 by Mariza de Carvalho Soares 2011 2ª edição Direitos desta edição reservados à EdUFF Editora da Universidade Federal Fluminense Rua Miguel de Frias 9 anexo sobreloja Icaraí CEP 24220900 Niterói RJ Brasil Tel 21 26295287 Fax 21 2629 5288 httpwwweditorauffbr Email secretariaeditorauffbr É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora Normalização Caroline Brito de Oliveira Edição de texto Rozely Campello Barrôco Revisão Sônia Peçanha Capa projeto gráfico e editoração eletrônica José Luiz Stalleiken Martins Supervisão gráfica Káthia M P Macedo Foto da capa Alberto Henschel Coleção Alemã LeibnizInstitut Für Länderkunde Dados Internacionais de CatalogaçãonaFonte CIP R8429 Soares Mariza de Carvalho Rotas Atlânticas da Diáspora Africana da Baía do Benim ao Rio de Janeiro Mariza de Carvalho Soares Organizadora Niterói EdUFF 2007 2 ed revista e atualizada 2011 322 p il 23 cm Coleção Biblioteca EdUFF 2004 Inclui bibliografias ISBN 9788522806515 1 História 2 Diáspora Africana I Título II Série CDD 90904 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Reitor Roberto de Souza Salles ViceReitor Sidney Luiz de Matos Mello PróReitor de Pesquisa e PósGraduação e Inovação Antonio Claudio Lucas da Nóbrega Diretor da EdUFF Mauro Romero Leal Passos Divisão de Editoração e Produção Ricardo Borges Divisão de Distribuição Luciene Pereira de Moraes Assessoria de Comunicação e Eventos Ana Paula Campos Comissão Editorial Presidente Mauro Romero Leal Passos Ana Maria Martensen Roland Kaleff Gizlene Neder Heraldo Silva da Costa Mattos Humberto Fernandes Machado Juarez Duayer Livia Reis Luiz Sérgio de Oliveira Marco Antonio Sloboda Cortez Renato de Souza Bravo Silvia Maria Baeta Cavalcanti Tania de Vasconcellos Editora filiada à Este livro é dedicado ao Embaixador Alberto da Costa e Silva que com sua obra e de terminação mais que ninguém tem contribuído para alterar os rumos do conhecimento sobre a História da África e da es cravidão africana no Brasil AgrAdecimentos Este livro é o resultado de um conjunto de discussões sobre as conexões entre os povos da Baía do Benim e o Brasil Em 2002 Toyin Falola e Matt Childs convidaramme para participar da coletânea de textos The Yoruba Diaspora in the Atlantic World Caberia a mim a tarefa de escrever sobre os iorubás no Rio de Janeiro O processo de escrita deste texto trouxe mais perguntas do que respostas e acabou por dar origem ao capítulo que intitulei From Gbe to Yoruba Ethnic Change and the Mina Nation in Rio de Janeiro Ao longo do texto que deveria ser um panorama da presença iorubá no Rio de Janeiro percebi não apenas a fragilidade dos dados então disponíveis sobre os iorubás mas a fragilidade desse recorte linguístico para o caso da cidade do Rio de Janeiro Por isso em primeiro lugar agradeço a Toyin Falola e Matt Childs a oportunidade de discutir esta questão no volume por eles organizado Foi assim que em 2003 dei início à execução do projeto de orga nizar uma obra coletiva a respeito do tráfico entre a Baía do Benim e o porto do Rio de Janeiro focalizando a presença dos chamados pretos minas na cidade do Rio de Janeiro Organizei uma longa lista de nomes incluindo nela todos os pesquisadores da escravidão no Rio de Janeiro com quem tinha contato direta ou indiretamente A lista foi ampla mas como sempre nem todos puderam aceitar o convite Este parece ser o momento adequado para me responsabilizar por alguma omissão e também para agradecer àqueles que não puderam chegar até aqui conosco O incentivo que recebi de todos foi fundamental para que levasse adiante este projeto editorial Entre as ausências quero destacar três colegas Hebe Mattos Manolo Florentino e Silvia Lara Cada um deles contribuiu de forma decisiva para a pesquisa sobre a escravidão no Brasil e no Rio de Janeiro em particular com eles tam bém tenho tido ao longo dos anos uma interlocução insubstituível Durante a gestação deste projeto recebi um financiamento do Harriet Tubman Resource Centre on the African Diaspora que permi tiu o levantamento de parte da documentação aqui utilizada assim como o treinamento em pesquisa de alguns alunos do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense Contei ainda com o apoio dos colegas orientandos e estagiários do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense que aqui aparecem como autores de dois dos capítulos A finalização do livro foi feita com 6 a colaboração de Priscilla Leal historiadora e jornalista responsável pela revisão final dos textos a quem agradeço o equilíbrio e o rigor profissional A todos que participaram do projeto e especialmente aos autores agradeço a seriedade e o cumprimento de todas as etapas do trabalho sendo de minha responsabilidade a lentidão da edição final que espero seja do agrado de todos O trabalho de cada um foi e é de inestimável importância e espero que este livro seja merecedor do esforço e generosidade de cada um A história do tráfico atlântico e dos pretosminas na cidade do Rio de Janeiro é ainda hoje um negócio de risco para os historiado res Embora seja atualmente um tema bastante discutido permanece ainda pouco explorado pelos pesquisadores em toda a sua comple xidade Parte dos autores que colaboraram nesta coletânea não têm o tema como centro de suas pesquisas Alguns retomaram antigos trabalhos revendoos com novos olhos outros procederam a recortes específicos no quadro de pesquisas mais amplas outros por fim es creveram os textos sob encomenda Houve por parte de todos uma determinada intenção de colaborar a fim de produzir uma publicação que possa ser lida como um balanço historiográfico sobre o tema e um apelo a novas pesquisas Como última palavra gostaria de reforçar a importância do trabalho coletivo e exploratório como melhor caminho para o avanço do conhecimento histórico e da pesquisa científica Por isso agradeço de modo especial aos que aceitaram participar deste projeto e desejo a todos os leitores que tomem o que foi feito como um ponto de partida para novas pesquisas Gostaria ainda de agradecer a Bruno Rossato pelos croquis das rotas africanas e ao Dr Heinz Peter Brogiato por intermédio de quem a LeibnizInstitut für Länderkunde Leipzig gentilmente nos cedeu a imagem da capa Por fim não posso deixar de mencionar a dedicação e o companheirismo da equipe da EdUFF e a iniciativa da Universidade Federal Fluminense de implementar um programa edi torial de incentivo e financiamento de publicações de pesquisadores dessa universidade sumário introdução 8 Mariza de Carvalho Soares o fidAlgomercAdor frAncisco Pinheiro e o negócio dA cArne humAnA 17071715 30 Carlos Gabriel Guimarães indícios PArA o trAçAdo dAs rotAs terrestres de escrAvos nA BAíA do Benim século Xviii 61 Mariza de Carvalho Soares dAmAs mercAdorAs As PretAsminAs no rio de JAneiro século Xviii A 1850 96 Sheila de Castro Faria rosA egiPcíAcA de escrAvA dA costA dA minA A flor do rio de JAneiro 131 Luiz Mott o cAso dA escunA DestemiDa rePressão Ao tráfico nA rotA dA costA dA minA 18301831 153 Ana Flávia Cicchelli Pires negrAsminAs no rio de JAneiro gênero nAção e trABAlho urBAno no século XiX 186 Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio dos Santos Gomes Ardis dA liBerdAde trABAlho urBAno AlforriAs e identidAdes 220 Juliana Barreto Farias referênciAs 252 soBre os Autores 301 ANEXO descrição dos Portos vilAs e AldeiAs dA costA dA minA c 1786 301 Mariza de Carvalho Soares mAPA 313 Introdução Mariza de Carvalho Soares A historiografia da escravidão e do tráfico atlântico Partindo de diferentes pressupostos em diferentes épocas e com objetivos diversos muitos historiadores contribuíram para uma im portante mudança nos estudos sobre a escravidão e o tráfico de es cravos no Brasil Os desdobramentos dessa nova perspectiva têm mostrado que a sociedade colonial e o Império impuseram certos limites às formas de organização das populações escrava e forra Por outro lado mesmo os africanos desembarcados adultos e sem qual quer contato anterior com o chamado mundo ocidental aprende ram a moverse e organizarse no interior dessa nova ordem criando alternativas concretas de vida e mesmo de ascensão social de acordo com as condições particulares que a situação ao lon go do tempo ofereceu1 No Brasil esse novo entendimento abriu cami nho para que a História da Escravidão pudesse se nutrir de uma perspectiva historiográfica que hoje incorpora não apenas o tráfico atlântico mas a diáspora africana e as diferentes condições nas quais os africanos deixaram a África e foram in seridos nas sociedades americanas de um modo geral2 Tal perspectiva foi ampliada e repensada por meio do estreitamento dos contatos acadê micos entre historiadores brasileiros e estran geiros que começam a ser lidos regularmente e traduzidos no Brasil fazendo surgir uma nova lei tura da escravidão no Brasil mais atenta às suas ligações com a África3 embora ainda esteja em débito com a historiografia caribenha pouco di vulgada4 Merecem ainda destaque a tradução de alguns trabalhos de historiadores de outras áreas 9 de estudo que influenciaram fortemente a historiografia brasileira da escravidão5 Com essa rápida retrospectiva quero reforçar a ideia de que a disponibilização de trabalhos importantes a partir do final dos anos 1980 e ao longo dos anos 1990 não apenas indica o interesse nesses trabalhos mas permitiu a formação de um pequeno repertório de leituras que marcaram fortemente a historiografia da escravidão dos últimos 20 anos colaborando para a partir dos anos 1990 mudar de modo irreversível o patamar dos estudos sobre a escravidão nas Américas em geral e no Brasil em particular Já não é mais possí vel pensar a escravidão sem levar em conta a expansão comercial no Atlântico já não é possível pensar as escravarias dos engenhos cidades minas e fazendas de café sem destacar a presença e a es pecificidade dos africanos já não é possível pensar a ilustração os movimentos abolicionistas e o fim da escravidão no Brasil sem levar em conta as revoluções atlânticas6 Por intermédio do enfoque do lugar do porto do Rio de Janeiro no circuito atlântico a coletânea Rotas Atlânticas da Diáspora Africana da Baía do Benim ao Rio de Janeiro procura identificar as trocas e fluxos do tráfico atlântico a distribuição das procedências africanas aí encontradas e suas formas de organização no cativeiro A partir de diferentes pontos de vista os textos aqui apresentados tratam da Costa da Mina e dos chamados pretosminas cuja procedência são os vários portos da Baía do Benim entre os séculos XVII e XIX Ao lon go dos últimos 10 anos o debate sobre os significados do termo mina em suas várias acepções aproximou um conjunto de autores que de um modo ou de outro passaram a se referir mutuamente o que tem enriquecido o debate e aberto novas perspectivas de pesquisa Na historiografia brasileira recente o tema foi abordado inicial mente por Maria Inês Côrtes de Oliveira7 Por ocasião do Seminário II Encontro de História da UFF Sociedade e Escravidão debate das in terpretações realizado em outubro de 1997 a mesaredonda Etnia e Identidades reuniu três comunicações que davam destaque à ques tão das categorias identitárias de africanos no Brasil8 Embora traba lhos anteriores tenham abordado a temática das identidades étnicas africanas na diáspora em especial João Reis já na primeira edição de Rebelião Escrava no Brasil 1986 e Mary Karasch em Slave Life in Rio de Janeiro 1987 é a partir de então que o debate sobre a iden tidade étnica dos escravos africanos se coloca de modo definitivo 10 no cenário da historiografia da escravidão no Brasil Minha pesquisa enfoca de modo particular os chamados pretosminas na cidade do Rio de Janeiro no século XVIII9 Na literatura internacional o debate sobre os minas tem sido alvo da atenção da historiadora da escravidão Gwendolyn Midlo Hall e do africanista Robin Law10 É importante acrescentar que a discussão sobre a identidade mina é parte de um debate mais amplo sobre as identidades africanas na diáspora que vem sendo apresentado em livros e revistas internacionais em especial History in Africa e Slavery and Abolition11 O tráfico atlântico Muitos foram os esforços a fim de dimensionar o volume e o im pacto do tráfico atlântico W E B Du Bois e Carter G Woodson foram pioneiros já na virada do século XIX para o XX quando no Brasil ainda eram fortes as marcas da escravidão12 Depois deles outro grande passo foi dado por Philip Curtin no famoso livro The Slave Trade a cen sus de 1969 que apresentou a primeira estimativa do tráfico atlântico fortemente assentada em fontes primárias A par tir de então vários historiadores dedicaramse a segmentos espe cíficos do tráfico e novas estimativas mas foi com a divulgação do projeto The transatlantic slave trade a database on CDROM que os números apresentados por Curtin foram novamente revistos com a entrada em grande escala de nova documentação já com resultados preliminares mas ainda sem a divulgação dos resultados finais do projeto13 Os dados apresentados a seguir baseiamse nos números mais recentes fornecidos por David Eltis coordenador do projeto em publicações recentes Segundo ele o projeto define como Baía do Benim a extensão do litoral africano entre o Rio Volta e o delta do Niger14 Para uma melhor compreensão dos dados apresentados é im portante reforçar que ficam de fora desta definição a chamada Costa do Ouro a leste do Rio Volta onde fica localizado o Castelo da Mina e os portos de Elem Kalabari e Bonny localizados no lado oeste do delta do Niger e já fora dele Velho Calabar área englobada pela Baía de Biafra Como escravos vindos dos portos a oeste do Rio Volta e a leste do delta do Niger são raros no Brasil essa delimitação nos é largamente favorável O quadro abaixo oferece um painel dos portos da Baía do Benim que exportaram escravos para as Américas 11 Quadro 1 Estimativa de partida de escravos dos portos da Baía do Benim 16501865 em milhares Popó Ajudá Jaquem Epê Porto Novo Badagri Onim Lagos Rio Benim outros TOTAL 165175 10 209 219 167600 27 1334 859 09 2229 170125 18 3744 286 12 16 4075 172650 438 1779 212 360 153 109 10 3062 175175 201 1304 06 172 117 328 36 362 03 2530 177600 150 783 56 05 968 181 240 251 09 2644 180125 72 725 09 192 141 1142 46 47 2366 182650 119 829 19 77 52 1706 12 68 2884 185165 11 247 49 70 377 TOTAL 1036 10755 1656 537 1354 855 3173 792 232 20390 Fonte ELTIS David The Diaspora of Yoruba Speakers 16501865 dimensions and implications In FALOLA Toyin CHILDS Matt Ed The yoruba diaspora in the Atlantic World BloomingtonIndianapolis Indiana University Press 2004 p 24 tabela 23 Esta entrada reúne tanto os embarques do Gran Popó quanto do Popó Pequeno Embora estes portos sejam bem distantes um do outro como indica Eltis os números foram reunidos porque nem sempre a documentação é clara nesta distinção O crescimento das exportações da Baía do Benim começa em tor no de 1630 Até 1650 o tráfico esteve a cargo de comerciantes portu gueses e holandeses mas desde então ingleses e franceses passaram também a traficar levando escravos para suas colônias no Caribe e no continente americano As primeiras estimativas para o século XVII que reveem os dados de Curtin para a Baía do Benim são de Patrick Manning em seu livro publicado em 1982 Segundo ele 1670 é uma décadachave época em que as exportações duplicam O mais importante em seu argumento foi ter chamado a atenção para o fato de que a maioria dos escravos traficados pode ser identificada como ajá15 Já nas últimas décadas do século XVII existe um comércio regular de escravos e mercadorias entre a Baía do Benim e diversos portos escravistas das Américas entre eles o da cidade de Salvador A par tir de 1690 quando aumenta a exportação de escravos pelos portos da Baía do Benim essa região passa a ser conhecida como Costa dos Escravos sendo que grosso modo coincide com a área ocupada pelos povos falantes de línguas gbe e seus vizinhos16 A documenta ção portuguesa à diferença da inglesa e da francesa mantém o uso da terminologia quinhentista Costa da Mina o que dificulta a identificação dos segmentos da costa ocidental frequentados pelos portugueses Pela distribuição do tráfico é possível concluir que seu 12 maior volume se concentra nos portos da Baía do Benim embora os portugueses tenham ocasionalmente negociado tanto a leste quan to a oeste17 A partir dos primeiros anos do século XVIII negociando com ouro trazido de Minas Gerais os comerciantes da cidade do Rio de Janeiro começam a enviar embarcações em busca de escravos na Costa da Mina rota até então restrita à Bahia Em 20 de junho de 1703 o go vernador da Bahia D Rodrigo Costa 17021705 escreve uma carta ao rei de Portugal informando que moradores do Rio de Janeiro es tão comprando escravos na Costa da Mina com o ouro desviado do quinto18 os moradores do Rio de Janeiro e das capitanias suas anexas continuam a mandar há poucos anos várias embarcações a resgatar escravos a Costa da Mina o que até agora não faziam achei que a maior importância de suas carregações era ouro em pó e em barras e que o negócio que haviam de fazer com os negros da dita Costa levando para isso os gêneros cos tumados o fazem com os estrangeiros Em setembro do mesmo ano o rei D Pedro II proíbe a ida de em barcações do Rio de Janeiro à Costa da Mina19 e em seguida institui uma cota para importação de escravos da Costa da Mina limitando a 1200 os escravos destinados ao Rio de Janeiro e a 1300 os destina dos a Pernambuco e mantendo os 200 destinados a Minas Gerais Os demais deveriam permanecer na Bahia Na verdade muitos desses escravos foram reembarcados por mar para o Rio de Janeiro e outros tantos foram enviados nas carregações que atravessavam o Sertão da Bahia em direção a Minas Gerais A lei nunca era cumprida e ter minou por ser abolida em 171520 Assim sendo ao iniciar o século XVIII já existiam duas rotas de escravos em direção às lavras de ouro a primeira saía da cidade de Salvador e passando pela Vila de Cachoeira seguia por terra pelo Caminho do Sertão até as Minas a outra saía de Salvador por mar passava pelo Rio de Janeiro onde se juntava à rota que vinha da Costa da Mina para o Rio Janeiro seguia por mar para a Vila de Parati e daí subia por terra a Serra da Mantiqueira até chegar às Minas Embora a documentação que registra esses deslocamentos seja escassa um Livro de Passaportes e Guias da cidade de Salvador 13 indica que entre os anos de 1718 e 1729 saíram dessa cidade 21 238 escravos sendo que 19500 deles com destino a Minas21 O Livro não esclarece mas tal número só pode ter sido atingido incorporando os escravos novos recémchegados da África A considerar o quadro acima pelo menos boa parte deles deve ter sido embarcada no porto de Ajudá A rota entre Rio de Janeiro e Minas Gerais na primeira metade do século XVIII para fornecer escravos para as lavras mineiras já apon tada por mim anteriormente foi identificada por Fernanda Pinheiro que estudou os pretosminas reunidos na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Mariana Por meio de um conjunto de cartas de alforrias foi possível verificar que muitos dos escravos alforria dos foram comprados de comboieiros vindos do Rio de Janeiro ou foram adquiridos pessoalmente por seus senhores na cidade do Rio de Janeiro e depois transportados serra acima Certamente a quase totalidade deles chegou à Bahia sendo depois reembarcados para o Rio de Janeiro Todos trabalharam nas lavras dos arredores do Arraial do Carmo depois Mariana onde foram batizados22 Nesse sentido embora Rio de Janeiro e Bahia possam diferir em termos de volume do tráfico com a Baía do Benim ambos recorrem aos mesmos portos e recebem escravos de igual procedência com o objetivo de abastecer as lavras de ouro de Minas Gerais Portanto entre Rio de Janeiro Bahia e Minas Gerais mais do que diferenças étnicas e linguísticas parecem existir diferenças na forma de classifi cação desses indivíduos em termos das nações que operam em cada lugar assim como no tratamento das fontes disponíveis23 Nesse sen tido um maior entrosamento das pesquisas é certamente o caminho mais fértil para uma compreensão das redes comerciais do modo como em cada localidade esses escravos experimentaram a escravi dão e como reagiram a ela e finalmente que bagagem cultural trou xeram e como fizeram uso dela no cativeiro Diante dos dados de Eltis é possível concluir que o crescimento da entrada de africanos da Baía do Benim pelos portos da Bahia e do Rio de Janeiro resultou de uma demanda explosiva de escravos nos primeiros anos da mineração em Minas Gerais O período com maior número de escravos saídos da Baía do Benim corresponde ao primeiro terço do século 407500 escravos embarcados entre 1701 e 1735 sendo que 374400 pelo porto de Ajudá nos anos seguintes os números caem lentamente até o final do tráfico24 14 Por fim devese considerar as diferentes procedências no interior da própria Baía do Benim Existiram certamente muitos indivíduos e pequenos grupos traficados cuja procedência está perdida para sem pre Entretanto para muitos outros é possível reconstituir se não os locais exatos pelo menos algumas grandes áreas geográficas que po dem grosso modo se associar a grupos étnicos e a famílias linguís ticas Como já tem sido discutido o uso de classificação linguística como critério para identificação e diferenciação de grupos na África é pouco preciso25 No caso da Baía do Benim é possível estabelecer três áreas geográficas razoavelmente distintas Assim sendo e com todas as ressalvas necessárias me refiro aqui a uma área geográfica ocupada majoritariamente por grupos de lín gua gbe que abrange o litoral e a primeira hinterlândia do atual Togo e Benim até o norte do antigo Daomé onde os mahis partilham cer tos territórios com grupos iorubás26 a segunda área ocupada por grupos e cidades iorubás estendese pelo interior da atual Nigéria até o Niger e ao norte até o território haussá a terceira área locali zada ao norte onde estão os haussás e outros povos vizinhos como baribas tapas chambas borgus Entre os séculos XVII e XIX toda essa região passou por profundas modificações e foi fortemente afe tada pelo tráfico de escravos assim como pela expansão do Islã sem esquecer que um e outro estiveram estreitamente ligados As três grandes áreas a que me refiro aqui tem sentido pelo modo como os escravos a elas se reportam tanto na Bahia quanto no Rio de Janeiro a primeira e a segunda estão englobadas na categoria mina A terceira é ainda uma incógnita já que a escassa presença no Rio de Janeiro de escravos dessa procedência dificulta a identi ficação de formas coletivas de organização Tal fato é preciso dei xar claro não elimina outras alianças e tem como objetivo apenas ser um ponto de partida para compreender a procedência dos es cravos Para citar apenas um argumento contra essa generalização lembro minha própria pesquisa indicando a presença de oiós entre os mahis na irmandade de Santo Elesbão no século XVIII27 e o artigo de Nicolau Parés sobre o processo de nagoização na Bahia no final do século XIX28 Esse argumento tem como objetivo mostrar que as formas de or ganização no cativeiro podem ser mais ou menos inclusivas e mu dar ao longo do tempo Enquanto como foi demonstrado os povos de língua gbe foram traficados desde o início do tráfico atlântico os 15 povos de língua iorubá só começaram a ser traficados em larga esca la na segunda metade do século XVIII e só se tornaram majoritários nas exportações atlânticas depois da década de 1820 com o colapso de Oió29 Esses dados são comprovados pelo Slave Trade Database e mostram a complexidade de opções que os traficados tiveram diante de si Esse é o motivo de na maioria dos casos ser impossível falar em identidade étnica já que na maior parte das vezes as alianças em cativeiro envolvem pessoas e grupos multiétnicos e multilíngues que não podem ser ignorados O quadro abaixo mostra a alternância no tráfico de escravos oriundos das áreas gbe e iorubá com a ressalva de que no meio deles podem existir minorias não identificadas Quadro 2 Estimativa da saída de escravos da Baía do Benim por grupo linguístico30 16501865 em milhares Gbe e outros Iorubás e outros TOTAL 165175 197 22 219 167600 2007 222 2229 170125 3658 417 4075 172650 2167 895 3062 175175 1129 1401 2530 177600 915 1729 2644 180125 252 2114 2366 182650 310 2574 2884 185165 70 307 377 TOTAL 10708 9682 20390 Fonte ELTIS David The diaspora of yoruba speakers 16501865 dimensions and implications In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 Com base nas tabelas 23 e 25 A partir do último quartel do século XVIII a relação entre os ioru bás e demais traficados se inverte progressivamente em especial a partir de 1817 com os conflitos que envolveram Ilorin e Oió31 O mais importante a ser destacado é que nas faixas entre 182650 e 185065 o tráfico está majoritariamente destinado ao Brasil e a Cuba e no Brasil os iorubás se concentram na Bahia de onde um número ainda não estimado se deslocou para o Rio de Janeiro Esse perfil pode ser analisado ainda do ponto de vista da entrada desses escravos no Brasil por meio do quadro a seguir que mostra a distribuição dos iorubás por áreas de desembarque32 16 Quadro 3 Estimativa de saída de escravos iorubás falantes para o Brasil por região de chegada 16501865 em milhares Nordeste Bahia Sudeste TOTAL 165175 167600 48 48 170125 01 91 01 93 172650 07 47 54 175175 07 506 513 177600 793 793 180125 38 1752 10 1800 182650 17 1162 284 1463 185165 22 22 TOTAL 69 4398 317 4784 Fonte ELTIS David The diaspora of yoruba speakers 16501865 dimensions and implications In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 Tabela 25 p 3031 A tabela apresenta um erro evidente o número indicado é 977 onde deve ser 10 Fica nítida a concentração no período a partir do último quartel do século assim como sua alta concentração na Bahia Essa cons tatação em termos gerais não difere do que já havia sido dito por Maurício Goulart e depois por Pierre Verger mas coloca a rota entre a Baía do Benim e a Bahia no quadro mais amplo da demografia do tráfico e ratifica no detalhe os números divulgados anteriormente33 Destaco ainda as 28400 entradas no sudeste que abarcam tan to os escravos que devem ter sido destinados ao Vale do Paraíba e ao sul em geral quanto os chegados ilegalmente e recolhidos pela Comissão Mista34 Se 10 deles tiverem permanecido na cidade do Rio de Janeiro sua presença já seria bastante significativa O Daomé exportou escravos até as últimas remessas transatlânticas35 É inter essante notar que posteriormente a 1850 são ainda identificadas 2200 entradas de escravos no Brasil todas no Sudeste A procedência dos escravos africanos Os dados referentes às exportações da Baía do Benim e à entra da de escravos desses portos na cidade do Rio de Janeiro são de pouca importância em termos da demografia do tráfico atlântico Entretanto a força da presença mina na cidade desde o início do século XVIII até as primeiras décadas do século XX mostra que uma análise mais apurada das rotas do Atlântico precisa ser feita em re lação ao Rio de Janeiro e quem sabe em relação a muitas outras regiões em que o mesmo encobrimento de rotas minoritárias possa ter ocorrido 17 O interesse pelas rotas majoritárias e a importância das pesqui sas realizadas sobre elas na verdade terminou por provocar uma de satenção sobre as rotas minoritárias O trabalho de Verger sobre o tráfico com a Baía do Benim e o de Manolo Florentino e Luiz Felipe de Alencastro sobre o tráfico com Angola na verdade pela força de seus respectivos argumentos fizeram com que não prosperasse por um lado a pesquisa sobre os contatos comerciais diretos ou indi retos entre o Rio de Janeiro e a Baía do Benim e por outro lado as ligações entre Bahia e Pernambuco e Angola36 Acrescentese a isso a ressalva já feita anteriormente de que na medida em que leva em conta apenas o primeiro desembarque e não a distribuição dos lotes de escravos no Brasil os números usualmente apresentados pelos estudiosos do tráfico inclusive os aqui apresentados a partir de Eltis por serem os únicos disponíveis na verdade mascaram o destino fi nal dos escravos que fica em grande parte desconhecido e dependen te de documentação local tal como a que se refere ao pagamento dos direitos os passaportes registros paroquiais alforrias inventários Este seria em princípio um problema a ser enfrentado pelos historiadores da escravidão e não da África e do tráfico atlântico Entretanto o que quero destacar aqui é que ao considerar como rota de tráfico a ligação entre os portos atlânticos de embarque e desem barque o Slave Trade Database e todos os outros cálculos feitos na mesma base dão margem ao entendimento de que esta seria a rota do comércio atlântico quando na verdade indica apenas um segmento dessa rota aquele que pode ser apreendido na documentação seria da utilizada Ficam de fora dele tanto o trecho terrestre ou marítimo costeiro percorrido pelos escravos até os portos de embarque como também o trecho que leva os escravos de seu desembarque até o destino final O alerta para esse problema tem em mente não apenas o conheci mento da totalidade das rotas mas a própria concepção do que seja uma rota ou seja a identificação dos pontos de saída e chegada as paradas os caminhos percorridos as relações comerciais aí envolvi das como os créditos o modo de comerciar os vínculos que se criam entre os comerciantes a escolha das mercadorias negociadas a se leção dos escravos e os motivos que os levaram à escravidão e tan tas outras coisas Assim sendo a rota que traz escravos da Baía do Benim para o Brasil precisa ser entendida em toda essa complexidade 18 porque só assim será possível avançar no conhecimento dos povos traficados e na sua difícil inserção na sociedade escravista Foi com esse intuito que a presente coletânea enfocou as redes comerciais e as fontes locais da cidade do Rio de Janeiro para mos trar que apesar da pouca expressão na demografia do tráfico os chamados pretosminas se constituíram como uma minoria na ci dade do Rio de Janeiro mas desempenharam um papel social muito particular e determinante no quadro da escravidão urbana Devido à sua forte presença na documentação é possível responder a algumas questões para as quais não se encontravam respostas na documen tação do tráfico Como não será difícil concluir as informações sobre as áreas for necedoras de escravos são as mais escassas Por outro lado lendo a literatura africanista é possível concluir que também para os histo riadores da África essa identificação é uma deficiência tendo em vis ta que grande parte da documentação na qual se baseiam correspon de a registros dos traficantes e não dos traficados sendo que grande parte dela é de caráter comercial pouco elucidativa sobre temas da geografia e da história social dos povos escravizados Por isso numa certa ironia tem sido os historiadores da escravidão e os historiado res da África voltados para o estudo da diáspora que com todos os riscos que tal metodologia implica têm avançado nessa perspectiva Para o Rio de Janeiro numa amostra que toma livros de assen to de batismo de escravos da cidade do Rio de Janeiro entre 1718 e 1760 num total de 6609 escravas que batizaram seus filhos portanto uma amostra composta apenas por mulheres 95 foram indicadas como procedentes da Costa da Mina37 Em Ouro Preto entre 1712 e 1750 do total dos escravos africanos batizados 32 foram regis trados como vindo da Costa da Mina38 Combinando as ocorrências encontradas nas duas capitanias ao longo do século XVIII é possível perceber que embora presentes em proporções bem diferentes os escravos da Costa da Mina recebem mais ou menos as mesmas desig nações Os sabarus39 mahis40 chambas41 os couracouranos e os co bus42 aparecem no Rio de Janeiro e em Minas Gerais Em Minas Gerais aparecem ainda os nagôs43 os ladas ou seja vindos de Aladá44 e jaquim Jaquem45 No Rio de Janeiro são mencionados também os da gomés do Daomé46 os ianos ou oiós e agolins vindos de Agonli47 que não aparecem em Minas Gerais Para a Bahia os dados são mais 19 tardios mas como se tratam de inventários e não assentos de batis mo podem corresponder a um mesmo período Nos inventários ana lisados por Verger entre 1737 e 1841 constam para o século XVIII seis minas 1737 um jeje 1739 um savaru savalu um maquim maki mahi e um lada aladá 177948 Os números são bem menores já que não existem cálculos com base nos batismos e por isso não chegam a ter relevância demográfica mas podem exemplificar a presença das mesmas designações49 Alguns desses nomes podem ser facilmente associados a lugares portos povoados ou grupos africanos Outros são ainda de difícil identificação tais como couranos e cobus O importante a ser destacado é que essas recorrências demons tram claramente um perfil e o caminho dos escravos traficados da Baía do Benim para o Brasil e sua distribuição nos portos de desem barque Rio de Janeiro e Bahia e o posterior deslocamento para Minas Gerais ou seja o trecho final da rota atlântica que se inicia na hinterlândia da Baía do Benim para se estender até Minas Gerais até Mato Grosso por terra e até o Prata por mar Por isso os escravos minas encontrados na cidade do Rio de Janeiro e em menor escala em outras localidades da capitania são certamente pequenos lotes encomendados ou desgarrados dessa longa e pouco estudada rota cujo modo de operar e cujas mudanças ao longo do tempo ainda es tão por ser estudadas Os negócios de Francisco Pinheiro importan te negociante reinol da virada do século XVII para o XVIII tema do segundo capítulo deste livro é um exemplo dessa ampla e complexa rede O caso de Ignacio rei mahi na cidade do Rio de Janeiro no sécu lo XVIII mostra outro aspecto da história o modo como os próprios traficados deixam as marcas de seus deslocamentos pistas valiosas para desvendar os segmentos desconhecidos das rotas atlânticas Para o século XIX uma documentação mais farta permite conhecer melhor o trabalho dos escravos urbanos que circulam pelas ruas como mostram os dois textos finais deste livro É difícil responder se há e qual é a especificidade dessa geração de traficados perante os demais escravos na medida em que cada vez mais ao longo do sécu lo XIX todos passam a ser chamados apenas de africanos Para chegar à composição da nação mina no século XIX foi neces sário procedimento equivalente ao do XVIII buscar na documenta ção seriada ou avulsa dados que pudessem elucidar a questão Mais uma vez recorro à listagem dos inventários apresentada por Pierre Verger para a Bahia Segundo ele entre 1801 e 1840 os inventários 20 listam um total de 59 escravos ditos jejes e minas 62 escravos ditos barba bariba tapa e ussa haussá e 297 ditos nagôs50 Se conside rarmos que a quase totalidade dos minas do Rio de Janeiro no século XIX foram traficados da Bahia podemos admitir que esta deve ser a composição aproximada dos escravos da Baía do Benim no período tanto lá quanto aqui Um caso à parte no Rio de Janeiro são os cala bares traficados da Baía de Biafra que não aparecem na Bahia mas podem ser encontrados no Rio de Janeiro Não é possível saber em que medida estão ou não encobertos no interior do grupo mina A única pista de que podem não estar é o fato de que assim como os haussás aparecem diferenciados em várias fontes como um livro de batismo de escravos 18021821 que indica 38 calabares e um livro de entrada de irmandade mina que indica a filiação de 7 calabares51 As nações no Rio de Janeiro O termo nações africanas é cunhado fora da África para dar aos escravos transmigrados uma unidade que nunca lhes foi própria e que nem sempre existiu aqui tampouco Ao longo de toda a vigência do tráfico atlântico nações corresponderam ao modo de classificar a procedência dos escravos traficados e distinguiam angolas de minas moçambiques cabosverdes e outros É no século XIX principalmen te a partir da elaboração da legislação antitráfico que o termo afri cano começa a aparecer com maior frequência na documentação se consolidando esse uso na designação de africano livre ou seja aqueles escravizados ilegalmente e resgatados pela Comissão Mista BrasilInglaterra que aparecem no capítulo quinto52 Sobre a variedade de nações encontradas no Brasil assim como em outras partes das Américas é importante esclarecer que essas nações devem ser entendidas como categorias que agrupam a po pulação escrava africana e que nesse sentido não correspondem a grupos étnicos Por outro lado são constituídos tendo como re ferência alguns critérios entre os quais os grupos étnicos lugares e outras variáveis que compõem os referentes de uma determinada rota fazendo portanto de algum modo parte da experiência dos traficados Enfrentando a problemática das mudanças decorrentes da escravidão se beneficiando de falarem duas ou mais línguas53 reelaborando antigas formas de convivência e conflito com seus vi zinhos os escravos submetidos ao tráfico atlântico têm diante de si 21 a possibilidade de redefinir suas identidades e as fronteiras que os separam Desse longo e drástico processo surgem novas formas de organização que ficaram conhecidas como nações Mas é importan te ficar claro que uma vez designados dessa forma pelos agentes en carregados da identificação dos escravos traficados comerciantes por ocasião das transações comerciais padres por ocasião dos bati zados autoridades por ocasião da emissão de passaportes prisão os indivíduos reunidos no interior de uma nação podem optar por usar esse rótulo como ferramenta para a organização ou não Na verdade a palavra nação reúne dois momentos da consti tuição dessa identidade o ato de designar a nação próprio às agên cias de escravização e o ato de assumir essa nação como uma mo dalidade de autoidentificação É por combinar essas duas operações que a nação se tornou um mecanismo tão eficaz de identificação ge rando uma identidade que os minas em particular tornam operativa e geradora de formas organizacionais Nesse sentido falar das nações é reproduzir no texto historiográ fico uma categoria de época presente na documentação que por si só nada diz sobre os indivíduos assim designados Em trabalho anterior desenvolvi a noção de grupo de procedên cia com o objetivo de mostrar a especificidade das formas organiza tivas dos escravos traficados da África para as Américas estudando em particular o caso dos chamados pretosminas que compõem a nação mina54 Por isso para além da pesquisa que venho desen volvendo sobre os minas quero aqui destacar que embora outras nações possam ter existido como efetivamente aconteceu com os angolas cabindas e moçambiques entre outros elas podem ou não ter optado como fizeram os minas por construir estratégias de ação conjunta tendo a nação como definidora das fronteiras do grupo Os quilombos até onde se sabe parecem ter sido formas organizati vas mais abrangentes e pouco atreladas ao quebracabeça das nações ou dos grupos étnicos55 nas irmandades do Rosário é usual uma forte aliança entre angolas e crioulos não parecendo haver entre eles o mesmo tipo de exclusão que ocorre em relação aos minas Por outro lado mesmo os que assim o fizeram e isso precisa ser melhor estu dado mostraram a possibilidade de outras escolhas Os haussás da Bahia optaram pela revolta religiosa56 os nagôs pela rebelião escra va57 já os cabindas do Rio de Janeiro que começam a ser estudados parecem agir de modo muito mais individual do que grupal 22 Foi justamente para poder voltar ao tema dos minas na cidade do Rio de Janeiro sob um ponto de vista diferente do já por mim ado tado e avaliar a diversidade de situações que ocorrem que planejei esta coletânea Os textos aqui apresentados foram todos pensados a partir da contribuição específica de cada um dos autores Em seu conjunto estão longe de fornecer um panorama historiográfico des sa rota entre a Baía do Benim e o Rio de Janeiro mas representam o atual investimento individual e coletivo na compreensão da especifi cidade da escravaria africana no interior da sociedade escravista no Brasil colonial e imperial O objetivo do livro é portanto mostrar as pesquisas já realiza das e em andamento a fim de fornecer aos leitores e pesquisadores novos desdobramentos e sugestões de pesquisa Não há como se verá uma uniformidade teórica ou mesmo uma concordância entre os autores na análise de alguns aspectos da documentação algumas vezes recorrente entre os textos Sobre essa falta de afinação entre os autores vale lembrar que se trata de um campo de pesquisa em cons trução no qual ainda estamos longe de orquestrar qualquer trabalho conjunto de maior fôlego No atual estágio da pesquisa as divergên cias têm sido valiosas para estimular novas formas de entendimento e incentivar a multiplicação dos ainda escassos trabalhos monográfi cos sobre os africanos no cativeiro Os capítulos estão organizados em ordem cronológica O primei ro O fidalgomercador Francisco Pinheiro e o negócio da carne humana 17071726 é de autoria de Carlos Gabriel Guimarães Nele o autor descreve a movimentação comercial desse rico comerciante em suas carregações para a Costa da Mina com destino ao Rio de Janeiro mostrando que a decisão de atuar ou não em cada segmento desse tráfico está associada às condições de comércio como um todo e à maior ou menor oferta de escravos em cada área exportadora O meu texto de um lado trata da demanda de escravos para as áreas mineradoras de Minas Gerais que passam pelo porto do Rio de Janeiro e do outro apresenta uma hipótese sobre a procedência desses escravos argumentando que podem ter vindo do interior da Baía do Benin e não da área costeira O texto de Sheila de Castro Faria Damas mercadoras as pretas minas no Rio de Janeiro século XVIII1850 mostra a longevidade das estratégias das mulheres minas comerciantes nas ruas da cidade Se de um lado acionam a identidade mina construída no cativeiro 23 por outro trazem com elas a sabida habilidade feminina colocada em prática nos mercados espalhados pelas cidades e aldeias da Baía do Benim de onde provêm A presença das mulheres minas é ainda reforçada pelo texto de Luiz Mott Rosa Egipcíaca de escrava da Costa da Mina a Flor do Rio de Janeiro que apresenta um resumo de sua rica biografia da escrava Rosa de nação courana natural da Costa da Mina58 Este texto retoma a questão étnica colocada no tex to anterior e abre caminho para pensar as estratégias individuais que caminham paralelas às formas de organização de grupo abordadas nos textos anteriores Passando ao século XIX o texto de autoria de Ana Flávia Cicchelli Pires O caso da escuna Destemida repressão ao tráfico na rota da Costa da Mina 18301831 aborda o outro extremo da cronologia do tráfico atlântico tratando da questão do tráfico ilegal por meio da análise de um processo de apresamento de uma embarcação vinda da Costa da Mina para a Bahia mas que vai ser remetida ao Rio de Janeiro pelos ingleses em 1830 local em que os chamados africanos livres são finalmente desembarcados Os textos que se seguem mais uma vez abordam as temáticas de gênero e trabalho iniciando com Flávio dos Santos Gomes e Carlos Eugênio Líbano Soares Negras minas no Rio de Janeiro gênero nação e trabalho urbano no século XIX no qual os autores fazem um vasto levantamento das estratégias individuais de ação dos mi nas Este texto à diferença dos anteriores privilegia os laços com a Bahia e a importação de estratégias de conduta por meio da imigra ção dos nagôs da Bahia para o Rio de Janeiro a partir da década de 1830 O livro se encerra com o texto de Juliana Barreto Farias Ardis da liberdade trabalho urbano alforrias e identidades que abor da o trabalho dos ganhadores A autora atravessa as fronteiras da escravidão para chegar aos primeiros anos do século XX e mostrar como essas formas de organização baseadas em relações de gênero e trabalho perduraram por intermédio dos últimos pretosminas que ainda circulavam pela cidade do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX De um modo ou de outro o binômio trabalhogênero tem mos trando ser este não apenas um tema apreciado pelos historiadores mas uma temática que povoa a documentação disponível mostran do em que medida não apenas os textos foram produzidos sob essas chaves de conhecimento mas as fontes mesmas foram produzidas 24 sob a égide desses critérios organizativos da população escrava Procedência gênero trabalho religião são entre outras chaves mes tras para o acesso à compreensão das formas de organização social da população escrava e alforriada durante a vigência da escravidão A coletânea se completa com um anexo com destaque para uma descrição da Costa da Mina em documento datado de 1786 Notas 1 Destaco trabalhos abrangentes e clássicos da historiografia sobre escravidão no Brasil como GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extin ção do tráfico São Paulo AlfaOmega 1975 1 ed 1949 português BOXER C R A idade de ouro do Brasil dores de crescimento de uma sociedade colonial São Paulo Companhia Ed Nacional 1969 1 ed 1962 inglês COSTA Emília Viotti da Da sen zala à colônia Difel São Paulo 1966 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 1 ed 1968 em francês MATTOSO Katia M de Q Ser escravo no Brasil São Paulo Brasiliense 1988 1 ed 1979 francês RUSSEL WOOD A J R Escravidão e liberdade Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2005 1 ed 1982 inglês SCHWARTZ Stuart Segredos internos engenhos e escravos na sociedade colonial São Paulo Companhia das Letras 1995 1 ed 1984 inglês 2 Muitos trabalhos já vêm sendo feitos nesse sentido destacando as conexões entre o Brasil e a Baía do Benim tema deste livro No Brasil sem mencionar Nina Rodrigues e outros autores pioneiros a obra de Pierre Verger é um marco na historiografia contemporânea com o já mencionado Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX na década de 1980 João José Reis abriu o campo da pesquisa recente sobre os africanos na Bahia Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 1 ed 1986 em português assim como fez Mary Karasch para o Rio de Janeiro A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 1 ed 1987 inglês Em bora enfocando o tráfico entre o Rio de Janeiro e Angola dois trabalhos têm sido um importante contraponto para avançar na pesquisa sobre o tráfico na Baía do Benim para o século XVII ALENCASTRO Luiz Felipe de O trato dos viventes São Paulo Companhia das Letras 2000 para a primeira metade do século XIX ver FLORENTI NO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 1 ed Arquivo Nacional 1997 3 Entre a produção africanista dos anos 1980 a primeira obra a ser divulgada no Brasil foi o livro do antropólogo Claude Meillassoux Antropologia da escravidão o ventre de ferro e dinheiro Rio de Janeiro J Zahar 1995 1 ed 1986 francês lido mais por sua referência à escravidão que à África propriamente Outros trabalhos traduzidos posteriormente já atraíram a atenção por tratarem da história da África embora seu uso local continuasse na maioria dos casos vinculado aos estudos da escravidão Nos anos 1990 o primeiro destaque foi para o importante livro Transformations in Slavery 1982 de Paul E Lovejoy aqui lançado com o título A escravidão na África uma história de suas transformações Rio de Janeiro Civilização Brasileiro 2002 logo em seguida Africa and the Africans 1992 de John Thornton foi lançado com o título A África e os africanos na formação do Mundo Atlântico Rio de Janeiro Cam pus 2003 e lamentavelmente ainda não foi adiante o esforço pelo lançamento no Brasil do importante livro Way of Death de Joseph Miller As revistas AfroAsia e Es 25 tudos AfroAsiáticos por sua vez têm desempenhado um papel decisivo na tradução de textos de um conjunto variado de autores enfocando a temática da história da África e da diáspora africana 4 Excetuandose algumas poucas exceções praticamente não existem traduções da historiografia caribenha no Brasil O recente interesse pela história da África está provavelmente contribuindo para uma desatenção ainda maior pelo Caribe no Brasil Cito aqui alguns trabalhos disponíveis KLEIN Herbert A escravidão africa na na América Latina e Caribe São Paulo Brasiliense 1987 1 ed 1986 inglês o clássico trabalho sobre Cuba FRAGINALS Manuel Moreno O engenho complexo econômicosocial cubano do açúcar São Paulo HucitecUnesp 188889 v 13 1 ed 19 espanhol SCOTT Rebecca J Emancipação escrava em Cuba a transição para o trabalho livre 18601899 São Paulo Paz e Terra Unicamp 1991 1 ed 19 inglês JAMES C L R Os jacobinos negros Toussaint L Ouverture e a Revolução de São Domingos São Paulo Boitempo 2000 escrito em 1938 primeira edição em inglês 1963 5 Eugene Genovese Eric J Hobsbauwm Herbert Klein Richard Price e Sidney Mintz Edward Thompson 6 Para este debate contribuiu de modo inestimável especialmente pela possibilidade de divulgar o trabalho de historiadores brasileiros no exterior os projetos vincu lados à Rota dos EscravosUNESCO e em especial o Nigerian Hinterland Project dirigido por Paul Lovejoy que por intermédio de um conjunto de simpósios e publi cações colaborou decisivamente para a construção de uma rede de pesquisadores envolvidos com a temática da História da África da diáspora africana e da escravi dão Alguns livros já publicados representam esse esforço de modo exemplar Ver LOVEJOY Paul Org Identity in the shadow of slavery London Continuum 2000 CURTO José C LOVEJOY Paul E Ed Enslaving connections changing cultures of Africa and Brazil during the era of slavery New York Humanity Books 2004 LOVE JOY Paul TROTMAN David Ed TransAtlantic dimensions of ethnicity in the african diaspora London Continuum Press 2004 7 Cf OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de Retrouver une identité jeux sociaux des Africains de Bahia vers 1750 vers 1890 Paris Université de Paris Sorbonne Paris IV 1992 A tese nunca foi publicada mas deu origem a dois artigos Viver e morrer no meio dos seus Revista da USP São Paulo n 28 19951996 p 174193 e Quem eram os negros da Guiné a origem dos africanos da Bahia AfroÁsia Salvador v 1920 p 3773 1997 8 Refirome aqui às comunicações de Maria Inês Côrtes de Oliveira Marina de Mello e Souza e Mariza de Carvalho Soares Interessante notar que os textos aí apresentados são contemporâneos do texto de Robin Law sobre os lucumi e nagô Ver LAW Ro bin Ethnicity and the slave trade Lucumi and Nagô as ethnomyms in West África History in Africa Sl p 205279 n 24 1997 9 SOARES Mariza de Carvalho Identidade étnica religiosidade e escravidão os pre tos minas no Rio de Janeiro século XVIII Programa de PósGraduação em Histó ria Universidade Federal Fluminense Niterói 1997 SOARES Mariza de Carvalho Mina Angola e Guiné nomes dÁfrica no Rio de Janeiro setecentista Tempo Niterói v 3 n 6 p 7393 dez 1998 10 Em 2004 Hall lançou um artigo em livro organizado por Paul Lovejoy que recebeu em 2005 uma resposta de Law In LOVEJOY Paul TROTMAN David Ed Trans Atlantic dimensions of ethnicity in the african diaspora London Continuum 2004 Cf LAW Robin Ethnicities of the enslaved africans in the diaspora on the meaning of mina again History in Africa Sl v 32 p 247267 2005 HALL Gwendolyn Midlo Slavery and african ethnicities in the Americas restoring the links North California The University of North Carolina Press 2005 A tradução portuguesa do texto de Law pode ser encontrada na revista Tempo n 20 2006 11 Ver debate sobre a identidade iorubá envolvendo Biodun Adediran Robin Law e Lo rand Motory sobre os Ibo nos trabalhos de David Northrup e Douglas Chambers e 26 mesmo sobre os angola como artigo publicado por John Thornton Cf CHAMBERS Douglas B My own nation igbo exiles in the diaspora Slavery Abolition London v 18 n1 p 73971 997 12 MANN Kristin Shifting paradigms in the study of the african diaspora and of atlantic history and culture Slavery Abolition London v 22 n 1 p 321 apr 2001 13 CURTIN Philip The Atlantic slave trade a census Madison University of Wisconsin Press 1969 ELTIS David et al Ed The transatlantic slave trade a database on cd rom Cambridge Cambridge University Press 1999 14 ELTIS David The Diaspora of Yoruba Speakers 16501865 dimensions and impli cations In FALOLA Toyin CHILDS Matt Ed The Yoruba diaspora in the Atlantic World BloomingtonIndianapolis Indiana University Press 2004 p 18 15 MANNING Patrick Slavery colonialism and economic growth in Dahomey 1640 1960 Cambridge sn 1982 p 910 Os grupos de língua ajá atualmente aparecem como segmento dos gbe um tronco linguístico que inclui ainda línguas da família fon e outras isoladas como o mahi Sobre as línguas gbe ver CAPO H B C A com parative phonology of Gbe Berlin Foris Garome Bénin Labo Gbe 1991 e GBÉTO Flavien Le maxi du CentreBénin et du CentreTogo unapproche autosegmentale et dialetologique dun parler gbe de la section fon Köln Köppe 1997 16 LAW Robin The slave coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic slave trade on an african society Oxford Claredon 1991 p 14 2122 Ver mapa 18 17 Na definição portuguesa o que fica mais obscuro é a possibilidade de avaliar o trá fico português na Baía de Biafra devido à sua conexão com São Thomé Segundo Pierre Verger a Costa da Mina está a sotavento da Mina ou seja a leste do Castelo da Mina Essa delimitação que difere da apresentada por Eltis é reforçada por Ma ria Inês Cortes de Oliveira Ver VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 669675 OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de Quem eram os negros da Guiné a origem dos africanos da Bahia AfroAsia Salvador v 1920 1997 p 59 18 Arquivo do Estado da Bahia apud VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escra vos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 3940 19 As frequentes proibições para o comércio entre a cidade do Rio de Janeiro e a Costa da Mina podem explicar em parte a ausência de registros e a consequente invisibi lidade desta atividade 20 BOXER C R A idade de ouro do Brasil dores de crescimento de uma sociedade colonial São Paulo Companhia Ed Nacional 1969 p 6869 Para maiores detalhes sobre esse argumento ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 2 21 Arquivo Público Estado da Bahia Salvador Livro de passaportes e guias 7181729 doc 248 Agradeço a Anna Amélia Vieira Nascimento diretora do arquivo por suas sugestões para o levantamento documental por mim realizado nesse arquivo em 1998 Esses dados foram usados por mim em SOARES Mariza de Carvalho O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro século XVIII Topoi Revista de História Rio de Janeiro n 4 2002 nota 17 22 Foi o caso de Vitória alforriada em 1737 comprada a um comboieiro e de Ana tra zida do Rio de Janeiro por seu senhor que a alforriou em 1736 Sobre a remessa de escravos do Rio de Janeiro para MarianaMG na primeira metade do século XVIII ver PINHEIRO Fernanda Aparecida Domingos Confrades do Rosário sociabilidade e iden tidade étnica em Mariana Minas Gerais 17451820 Dissertação Mestrado Progra ma de PósGraduação em História Universidade Federal FluminenseNiterói 2006 p 138139 Sobre os batismos de minas nas primeiras décadas do XVIII em Minas Gerais ver MAIA Moacir C Quem tem padrinho não morre pagão as relações de compadres 27 e apadrinhamento de escravos numa vila colonial Mariana 17151750 Dissertação mestrado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 23 Com mais frequência do que a documentação equivalente no Rio de Janeiro os li vros de batismo a documentação das irmandades e as cartas de alforria mineiras informam a procedência dos escravos 24 Como a demanda de escravos sobe em praticamente toda a América esse aumento na demanda não chega a provocar um aumento no percentual de escravos pratica dos para o Brasil em relação à totalidade dos traficados 25 LAW Robin Ethnicities of the enslaved africans in the diaspora on the meaning of mina again History in Africa Sl v 32 p 247267 2005 THORNTON John K La Nation Angolaise en Amérique son identité en Afrique et en amérique Cahiers des Anneaux de la Mémoire Sl n 2 p 241255 2000 26 A referência aqui é à chamada língua geral da Mina Os minas têm tamanho desta que na população escrava de Minas Gerais que sua presença deu origem a um voca bulário da então chamada língua geral da Mina uma variante do gbe que ainda ca rece de análise detalhada tanto do ponto de vista histórico quanto linguístico Ver PEIXOTO Antônio da Costa Obra nova de Lingoa gal de mina traduzida ao nosso Igdioma por Antonio da Costa Peixoto Naciognal do Rno de Portugal da Provincia de Entre Douro e Minho do comcelho de Filgras Que com curuzide trabalho e desvello se expoz em aprendella pa tembem a emsignar a qm for curiozo e tiver vonde de a saber Eo Nas Minas Geraise Frga de Barmou Anno de 1741 Lisboa Agência Geral das Colônias 1949 Esse vocabulário foi analisado em dois trabalhos LARA Silvia H Linguagem domínio senhorial e identidade étnica nas Minas Gerais de meados do século XVIII Trânsitos coloniais diálogos críticos lusobrasileiros Lisboa p 205 225 2002 YAI Olabiyi Texts of enslavement fon and yoruba vocabularies from eighteenthandniniteenthcentury Brazil In LOVEJOY Paul E Ed Identity in the shadow of slavery London Continuum 2000 p 102112 27 SOARES Mariza de Carvalho From Gbe to Yoruba ethnic changes within the Mina Nation in Rio de Janeiro In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 p 234 28 PARÉS Luis Nicolau The nagôization process in Bahian Candomblé In FALOLA Toyn CHILDS Matt D Ed The Yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 p 191194 29 MANNING Patric Slavery colonialism and economic growth in Dahomey 16401960 Cambridge sn 1982 p 10 30 Cálculo feito com base nasTabelas 23 e 25 que informam o total das exportações e as exportações de iorubás 31 Essa inversão foi por mim analisada em trabalho anterior com base na documen tação local da cidade do Rio de Janeiro Cf SOARES Mariza de Carvalho From Gbe to Yoruba ethnic changes within the Mina Nation in Rio de Janeiro In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The Yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 Para uma visão geral dos conflitos que deram origem ao tráfico dos iorubás remetidos à Bahia ver REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do levante dos malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 158180 32 É importante levar em conta que esse período corresponde ao tráfico dos haussás escravizados por ocasião da jihad de Usman dan Fodio de 1807 em diante Sobre o tráfico dos haussás para a Bahia ver LOVEJOY Paul E Jihad e escravidão as ori gens dos escravos muçulmanos de Bahia Topoi Rio de Janeiro n 1 p 1144 2000 sobre as revoltas haussás na Bahia ver SCHWARTZ Stuart Cantos e quilombos numa conspiração de escravos haussás Bahia 1814 In REIS João José GOMES Flávio dos Santos Org Liberdade por um fio história dos quilombos no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1998 p 373406 33 GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico São Paulo AlfaOmega 1975 1 ed 1949 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico 28 de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 34 Para um levantamento dos desembarques clandestinos apreendidos pela Comissão Mista cujas embarcações foram enviadas ao Rio de Janeiro ver PIRES Ana Flavia Cicchelli Tráfico ilegal de escravos os caminhos que levam a Cabinda 2006 Disser tação Mestrado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 35 Para uma breve história do tráfico ver SILVA Alberto da Costa e Francisco Félix de Souza mercador de escravos Rio de Janeiro Nova Fronteira Ed da UFRJ 2003 36 Cf VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 FLORENTINO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 ALENCASTRO Luiz Felipe de O trato dos viventes São Paulo Companhia das Letras 2000 37 Total de 6609 batismos sendo 1072 do Gentio de Guiné 1622 630 da Costa da Mina 953 e 978 de Angola 1479 Os restantes 3929 somam todas as demais ou seja as nascidas no Brasil as sem identificação e as pertencentes a pequenos grupos não considerados nesse cálculo como as escravas vindas de Cabo Verde Moçambique e outras localidades da África centroocidental que não Angola Foram tomados como base para esse cálculo dados analisados em SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 3 38 Banco de Dados da Freguesia do Pilar de Ouro PretoMG 17121750 Ver CAMPOS Adalgisa Arantes et al O banco de dados relativo ao acervo da freguesia de N Sra do Pilar de Ouro Preto registros paroquiais e as possibilidades de pesquisa In Anais da V Jornada Setecentista Curitiba 2003 p 24 Se a esses 32 forem somados os sabaru coura nagôs ladas e os embarcados em Jaquim que aparecem em separado no Banco de Dados a cifra dos minas na Freguesia de N Sra do Pilar subiria para 42 da população adulta africana batizada 39 Os sabaru são de Savalu localidade no interior do território Mahi Aparecem na documentação pela primeira vez como sabalours 1733 Archives Nationales Pa ris apud LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic slave trade on an african society Oxford Claredon 1991 p 19 nota 19 40 Segundo Robin Law os mahi são um povo localizado ao norte do Daomé resultante da fusão de grupos gbefalantes deslocados da região em que se estabeleceu Abo mey com povos iorubá que migraram para a mesma região Por isso os Mahi são o único grupo Gbe importante que não reporta sua origem a Tado LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic slave trade on an african society Oxford Claredon 1991 p 19 24 2627 41 De acordo com Robin Law Chamba é um grupo situado a noroeste do Daomé mas o termo é também usado de modo mais amplo para os Gurfalantes LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic slave trade on an african society Oxford Claredon 1991 p 189 42 Em trabalho anterior aventei a possibilidade de os cobus serem assim nomeados com referência aos Kaabu da Senegâmbia Diante da inexistência de outros registros de membros de qualquer outro grupo dessa região estou tendendo a crer que se trate de algum grupo ainda não identificado da própria hinterlândia da Baía do Be nim 43 Na Bahia segundo Inês Cortes de Oliveira nagô é uma designação genérica No Rio de Janeiro aparece muito raramente tanto no século XVIII quanto no XIX Antônia Maria pretamina também dita nagô batizada na Freguesia de Santa Rita em data ignorada faleceu em 1804 É até agora a mais antiga referência à presença nagô no Rio de Janeiro Se considerado que ela foi batizada na Freguesia de Santa Rita criada em 1751 sua chegada deve ter ocorrido a partir de então ACMRJ Livro de óbitos e testamentos da Freguesia da Candelária 17971809 Testamento de Antonia Maria p 172v 29 44 Aladá é um importante reino litorâneo Na documentação do século XVII os escra vos procedentes de Aladá são chamados ardras Sobre ardras em Pernambuco na guerra contra os holandeses ver MATTOS Hebe Maria Marcas da escravidão biografia racialização e memória do cativeiro na História do Brasil Monografia apresentada em concurso para Professor Titular de História do Brasil Universidade Federal Fluminense Niterói 2004 p 194223 45 Jaquim Jaquem Jakin Jeken é um dos portos de embarque de escravos na Baía do Benim 46 Aqueles vindos do reino do Daomé que nas primeiras décadas do século XVIII se expande do interior para o litoral invadindo Alada em 1723 e Hueda onde ficava localizado o porto de Ajudá em 1727 47 AgolinAgonli é uma região no interior do território mahi à margem esquerda do rio Zou com população majoritariamente gbefalante CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photographies Paris Éditions BergerLevrault 1962 48 Dados retirados do quadro apresentado por Pierre Verger no Apêndice III relativo aos inventários da Vila de São Francisco do Conde no Recôncavo baiano VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 669675 49 Informações sobre a procedência dos escravos da Costa da Mina na documentação portuguesa do período são escassas mas para o México baseado nas observações de DElbée e Labat Manning mostra que a maioria deles pertencia a grupos linguís ticos gbe O autor indica Aja 15 Calabar 6 Fon 12 Allada 7 Ouidah 7 Popo 6 Oyo 1 Cf MANNING Patrick The slave trade in the Bight of Benin 16401890 In GEMERY Henry A HOGENDORN Jan S Ed The uncommon market essays in the economic history of the atlantic slave trade New York sn 1979 p 12529 50 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 669675 51 SOARES Mariza de Carvalho From Gbe to Yoruba ethnic changes within the Mina Nation in Rio de Janeiro In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The yoruba dias pora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 p 236237 Agradeço a Roberto Guedes a consulta a seu banco de dados sobre a Freguesia da Sé 18081821 52 Sobre africanos livres ver MAMIGONIAN Beatriz G Do que o preto mina é capaz etnia e resistência entre africanos livres AfroAsia Salvador v 24 p 7195 2000 PI RES Ana Flavia Cicchelli Tráfico ilegal de escravos os caminhos que levam a Cabin da 2006 Dissertação Mestrado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 53 LAW Robin Ethnicities of the enslaved africans in the diaspora on the meaning of mina again History in Africa Sl v 32 p 247267 2005 publicado em português na Tempo 20 54 Sobre a noção de grupo de procedência ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 3 e SOARES Mariza de Carvalho A nação que se tem e a terra de onde se vem categorias de inserção social de afri canos no Império português século XVIII Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 26 p 303331 maioago 2004 55 REIS João José GOMES Flávio dos Santos Org Liberdade por um fio história dos quilombos no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1998 56 SCHWARTZ Stuart Cantos e quilombos numa conspiração de escravos haussás Bahia 1814 In REIS João José GOMES Flávio dos Santos Org Liberdade por um fio história dos quilombos no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1998 p 373406 57 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do levante dos malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 58 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 O fidalgomercador Francisco Pinheiro e o negócio da carne humana 17071715 Carlos Gabriel Guimarães A descoberta do ouro nas Minas Gerais no final do século XVII promoveu uma intensa procura pelo trabalho escravo nas minas e lavouras do Brasil o que provocou uma corrida dos negociantes portugueses em direção à África em busca de escravos Essa dispu ta que atraiu também ingleses e holandeses fez com que a Coroa portuguesa autorizasse o comércio negreiro na região mineradora contribuindo dessa forma para o acirramento das rivalidades entre as praças mercantis de Lisboa Salvador e Rio de Janeiro De acor do com as práticas comerciais da época todos disputavam o uso exclusivo do comércio dos escravos da Costa da Mina As conces sões de licenças reais pela Coroa para o acesso à região foram uma tentativa de manter o controle e evitar o tráfico ilegal favorecido pela presença dos negociantes de outras nações europeias Com a regulamentação do comércio a Coroa poderia também arrecadar mais com taxações1 Essa nova conjuntura repercutiu sobre os negócios do comércio colonial e os negociantes portugueses que pas saram a atuar no comércio da Costa da Mina pois viram no tráfico negreiro algo altamente rentável embora também de grande risco Este artigo trata da atuação do fidalgo mercador Francisco Pinheiro no chamado negócio da carne humana e das vantagens e limites dessa que foi uma das mais lucrativas atividades comerciais da chamada idade de ouro do Brasil2 Estando em Lisboa próximo à Corte e com negó cios em diferentes regiões da América Portuguesa primeiramente na Bahia e em Pernambuco e depois no Rio de Janeiro e demais capitanias do CentroSul Francisco Pinheiro viu na crescente necessidade de braços para Minas Gerais um negó cio que fez com que aumentasse seu interesse e investimentos na organização do tráfi co africano Com o intuito de atuar no 31 comércio de escravos na África enviou pela primeira vez seus agen tes para a Costa da Mina no ano de 1707 Quatro anos depois em 1711 enviou agentes para Luanda Angola Durante os primeiros anos do século XVIII Francisco Pinheiro dedicouse ao comércio com a Costa da Mina Mesmo com toda a sua vigilância os riscos eram muito altos envolvendo financiamen to da viagem escolha do capitão para cada uma delas organização da tripulação e por fim a compra ou arrendamento da embarcação Havia também a previsão das estratégias em relação à concorrência de outros comerciantes portugueses e estrangeiros Por fim eram necessárias negociações para a venda dos escravos na Bahia e no Rio de Janeiro Isto sem contar que todos os esforços poderiam cair por terra caso qualquer dessas escolhas falhasse ou mesmo se uma disenteria ou qualquer outro mal dizimasse a carga ao longo da tra vessia Foi assim que diante da presença holandesa e especialmente da expansão da presença de ingleses na costa ocidental africana a partir de 1715 o negócio do tráfico negreiro de Francisco Pinheiro seja na Costa da Mina seja em Angola começou a declinar passan do ele a privilegiar suas conexões com a Colônia de Sacramento em detrimento do comércio na África Este trabalho está dividido em duas partes além desta apresenta ção e da consideração final Na primeira analisaremos de uma forma sintética a historiografia sobre os homens de negócio no Império Português em particular a que se refere ao negociante Francisco Pinheiro Na segunda parte nos concentraremos no negócio do tráfi co negreiro na Costa da Mina tendo como documentação principal a Coleção Francisco Pinheiro organizada por Luiz Lisanti Filho em Negócios Coloniais3 na qual ele publica uma seleção de 5600 docu mentos em mais de 4000 páginas seis maços e parcelas de vários outros do acervo de 30 maços que restaram da referida coleção Essa publicação tem como principal fundo a correspondência passi va e ativa de Francisco Pinheiro com seus agentes capitães de navios e outros Os originais dessa documentação encontramse no Arquivo do Hospital de São José o antigo Hospital Real de Todos os Santos situado na cidade de Lisboa Portugal O nome e as atividades de Francisco Pinheiro ficaram conhecidos por meio da divulgação da já então constituída Coleção Francisco Pinheiro analisada no artigo de Nuno Daupiás de Alcochete A Testamentária de Francisco Pinheiro publicado em 1956 no Boletim 32 Clínico e de Estatística dos Hospitais Civis de Lisboa nº 20 Lisboa 1956 uma publicação um tanto desconhecida dos historiadores que como destaca Miriam Ellis é a mais extensa e diversificada co leção impressa de documentos mercantis pertinentes ao período co lonial do Novo Mundo4 Francisco Pinheiro na historiografia A historiografia nas últimas décadas tem destacado o papel dos homens de negócio no Império Português e na sociedade colonial brasileira principalmente nos séculos XVII e XVIII5 No entanto na década de 1950 analisando a atuação dos mercadores de grosso tra to no comércio colonial português especialmente nos contratos do sal tabaco escravos e outros a historiadora Virgínia Rau enfatizou a necessidade de estudar esse ator social Segundo ela O estudo da sociedade lusobrasileira do século XVIII ficará incompleto se nele não inserirmos a contextura da vida pro fissional e particular dos mercadores de grosso trato que no Brasil e em Portugal arrematavam contratos emprestavam a juros negociavam em sal tabaco escravos ouro diamantes e toda a espécie de mercadorias interferindo assim na vida econômicosocial da metrópole e dos seus domínios ultramari nos grifos nossos6 No início da década de 1960 outra historiadora Eulália Maria Lahmeyer Lobo chamou a atenção para a influência dos homens de negócios no Império Português Segundo ela tal presença pode ser percebida na atuação da Mesa do Bem Comum ou Mesa do Espírito Santo dos Homens de Negócios uma agremiação mercantil portugue sa que no período Filipino se opôs à implementação de consulados espanhóis nas praças mercantis do Império português7 Tal agremia ção composta no início pelos mercadores do comércio urbano nos portos principais de Lisboa e Porto foi estendida no século XVII aos comerciantes por atacado e aos exportadores e importadores vincu lados ao comércio colonial sejam os de Lisboa sejam os da colônia ou os da Bahia8 No início da década de 1970 Eulália Lobo e Sérgio Buarque de Holanda retornaram aos estudos sobre os negociantes na sociedade 33 colonial Comparando a atuação dos negociantes das cidades do Rio de Janeiro e de Charleston atual VirginiaEUA em meados do século XVIII duas importantes cidades comerciais nos impérios português e inglês Eulália Lobo ressaltou a dinâmica dos negócios e dos nego ciantes destacando sua atuação como homens bons na Câmara da cidade do Rio de Janeiro9 Sérgio Buarque de Holanda por sua vez enfatizou a importância dos agentes do trato mercantil na sociedade colonial e imperial brasileira10 No artigo Sobre uma doença infantil da historiografia11 ele criticou o conceito de estamento ou ordem adotados pela historiografia da época e chamou a atenção para o fato de que os negociantes constituíramse numa classe social no sentido weberiano de estilo de vida definição que não se opõe à ideia de formação de redes de interesses e clientelas com atuação destacada no mesmo período Os homens de negócios conhecidos como os comerciantes que negociam a grosso12 diferenciavamse dos demais comerciantes re talhistas ou lojistas A definição da palavra negociante é a occupação de um membro que remete para os paizes estrangeiros as produções da sua patria ou seja com o fim de trocalas por outras necessarias ou por dinheiro este commer cio feito por terra ou por mar na Europa ou com outras par tes do mundo tem distinto nome de commercio em grosso e os que se occupão nele são chamados de homens de negocios grifos nossos13 Tendo como principal atividade o comércio de longa distância os homens de negócios tiveram uma grande mobilidade na socieda de imperial portuguesa setecentista Seja em Lisboa14 seja em ou tras regiões e centros mercantis do Império como na Bahia15 Rio de Janeiro16 e Minas Gerais17 essa mobilidade fruto do seu prestí gio econômico e político permitiu que muitos fossem habilitados na Ordem de Cristo a principal Ordem Militar do Império Português e recebessem mercês e sesmarias nas colônias Tal tendência ao eno brecimento ou seja de converter a acumulação mercantil em status fez com que Vitorino Magalhães Godinho os denominasse fidalgos mercadores18 É importante enfatizar que esse enobrecimento do negociante não estava restrito a Portugal pois na Inglaterra muitos ne gociantes que acumularam capital no comércio colonial setecentista 34 ao retornarem a Londres tornaramse gentlemen19 O conceito de fidalgomercador é apropriado ao negociante e contratador portu guês Francisco Pinheiro cavaleiro da Ordem de Cristo20 membro da Mesa do Bem Comum do Espírito Santo dos Homens de Negócios21 e com múltiplos negócios na Europa e no Império Português Na década de 1970 com a documentação organizada por Luis Lisanti Filho tendo como objeto principal as finanças da colônia Maria Bárbara Levy destacou a atuação de Pinheiro nos negócios das Minas Gerais na primeira metade do século XVIII principalmente no tocante ao crédito Para essa autora o crédito na colônia estava concentrado nas mãos de negociantes como Francisco Pinheiro o que permitiu caracterizálos como os detentores da moeda privada colonial22 No início da década de 1980 retornando ao tema dos con tratadores e negociantes23 Myrian Ellis ressaltou a necessidade de aprofundar os estudos sobre esses atores sociais na sociedade colo nial pois mencionar contratos e contratadores é pressupor o monopó lio em geral e em particular bem como a presença dos comer ciantes no panorama econômico e social lusobrasileiro desde os primórdios Monopólios arrendamentos e contratos antigas e tradicionais práticas desenvolvidas em Portugal tam bém o foram no Brasil24 Como exemplo de estudo de caso de um contratador e de sua atua ção no comércio e na sociedade colonial a autora destacou a atua ção de Francisco Pinheiro e a necessidade de aprofundar uma pesquisa sobre ele Ainda nos anos 1980 Joseph Miller citou os Negócios co loniais no seu trabalho sobre o tráfico negreiro em Angola Embora seja uma obra de grande importância para o entendimento do referido comércio nessa região africana pós1730 no tocante à documentação organizada em Negócios coloniais ressaltou muito pouco25 Na década de 1990 surgiram duas teses de doutorado sobre Francisco Pinheiro cujas fontes foram os Negócios coloniais e a do cumentação manuscrita do Arquivo do Hospital São José A partir das correspondências de Francisco Pinheiro com seus agentes em Minas Gerais Júnia Ferreira Furtado26 procurou não só analisar a participação dos homens de negócios no comércio das Minas sete centista como também reforçar a visão de Maria Odila Silva Dias no 35 texto A interiorização da metrópole 1808185327 Furtado reforça o argumento de que o comércio é um dos mecanismos do processo de interiorização da metrópole no CentroSul da colônia portuguesa da América28 O segundo trabalho e entre todos os que se referem a Francisco Pinheiro o de maior envergadura é a tese de doutorado de Willian Michael Donovan29 na qual foi analisado o desenvolvimento da ativi dade comercial do negociante Francisco Pinheiro desde o primeiro negócio do sal em sua terra natal a Aldeia Galega até a montagem da sua casa comercial em Lisboa A partir dessa mudança estraté gica pois estava na sede do Império Francisco Pinheiro ampliou seus negócios para além do contrato real do sal Com o crescimento das demandas da região mineradora das Minas Gerais tendo o Rio de Janeiro como sede dos seus negócios coloniais privilegiando o comércio das Minas Francisco Pinheiro expandiu suas atividades à Bahia e até mesmo à distante Colônia do Sacramento o que vem de encontro à perspectiva apontada por Maria Bárbara Levy30 Willian Donovan ressaltou também os outros negócios de Francisco Pinheiro que abrangeram desde o comércio de produtos têxteis e molhados vinho azeite e outros até o de escravos na África Partindo de uma rede comercial que envolveu uma série de agentes e comissários a grande maioria constituída por seus parentes Willian Donovan des tacou a expansão e o apogeu de Francisco Pinheiro assim como tam bém seus limites31 Embora tratem do negociante Francisco Pinheiro e de seus negó cios coloniais os trabalhos mencionados deixaram algumas lacunas no tocante ao comércio de escravos empreendido por esse negocian te na África principalmente na Costa da Mina A respeito desse co mércio parte da documentação encontrase perdida principalmen te a relativa às carregações de escravos32 Mas sabese que esse comércio correspondeu a apenas 49 do total dos investimentos do negociante Francisco Pinheiro33 motivo quem sabe da pouca aten ção recebida até agora por esse segmento de suas atividades Willian Donovan ressaltou as dificuldades de Francisco Pinheiro na organi zação do comércio de escravos apontando situações conjunturais como a invasão francesa no Rio de Janeiro em 171134 Como desta ca uma carta de 1707 foi a partir desse ano que Francisco Pinheiro passou a fazer carregação para a Costa da Mina Entretanto ape sar de seu interesse em participar do comércio de escravos as já 36 mencionadas dificuldades relacionadas aos altos custos da organiza ção do comércio negreiro mantiveram esse seu ramo comercial como uma atividade menor no conjunto de seus negócios35 Francisco Pinheiro e o comércio de escravos na Costa da Mina Tendo agentes primeiramente na Bahia e em Pernambuco e de pois no Rio de Janeiro e outros centros36 Francisco Pinheiro inte ressouse pelo comércio na Costa da Mina atrás de seus negros ti dos como mais fortes e aptos para o árduo trabalho de mineração Embora fossem tidos como mais rebeldes que os vindos de Angola eram também considerados mais ativos37 Essa preferência pelos minas em detrimento dos angolas pode ser avaliada na carta de Antonio Pinheiro Gomes seu sobrinho e agente na Bahia38 datada de 1712 Por se oferecer esta ocazião deste navio partir para as Ilhas não quero deixar de lhe escrever a VM e juntamente para lhe dar parte em como chegou meu pai ao Rio de Janeiro com saú de e com suceço nos negros ainda que as vendas não são o que esperávamos porque derão muita baixa os negros de Angola no Rio juntamente os que vierão pera esta cidade que ninguém faz cazo deles senão dos minas porque he o que procura nesta terra e pera as minas 39 A preferência pelo escravo mina foi destacada também numa carta do governador do Rio de Janeiro Luís Vahia Monteiro ao rei escrita em 571726 Segundo o governador os negros minas são os de maior reputação para aquelle traba lho das minas dizendo os mineiros que são os mais fortes e vigorozos mas eu entendo que adquerirão aquella reputação por serem tidos por feiticeyros e que tem introduzido o diabo que só elles descobrem ouro e pella mesma cauza não há mi neiro que poça viver sem hua negra mina dizendo que só com ellas tem fortuna grifos nossos 40 37 Essa carta destaca o caráter mágico da propriedade dos escravos da Costa da Mina sejam eles homens usados no trabalho das minas sejam mulheres com quem os mineiros podiam viver41 No entender de Charles Boxer a corrida em direção à Costa da Mina estava relacionada a fatores endógenos e exógenos à África42 Quanto aos endógenos afirmou a descoberta de ouro em Minas Gerais na última década do sé culo XVII tornouse urgentemente necessário encontrar escra vos negros que fossem mais fortes e preparados para o traba lho nas minas que os Bantus de angola e congo Isto conduziu à reabertura do tráfico de escravos entre os portos brasileiros Rio de Janeiro Bahia e Recife e a Costa da Mina como os portugueses chamavam à Baixa Guiné43 No tocante aos fatores exógenos Boxer destacou os conflitos en tre os reinos africanos abastecedores de escravos e o desastre demo gráfico causado pela epidemia de varíola de 1685 e 1687 em Angola que causou uma grande mortandade Os negócios de Francisco Pinheiro na Costa da Mina acontece ram justamente no momento em que a Baía do Benim aumentou a exportação de escravos para o Brasil assim como cresceu a con corrência estrangeira Não só ele mas também seus agentes tinham cons ciência dos riscos que corriam Uma carta de um seu agente na Bahia Balthasar Alvarez de Araújo dizia viagem nova que já me vai parecendo velha e inda ficão em ser outroz cento e tantos massos cauza pelos holandezes apanharem todas embarcaçois que encontrão na costa da Mina 44 Numa carta de 20 de agosto de 1707 dirigida ao capitão Antonio de Cubellos de viagem marcada para a Costa da Mina Francisco Pinheiro passava instruções sobre como marcar os escravos e efe tuar suas vendas no Rio de Janeiro onde Cubellos deveria prestar contas a seu agente local Dizia a carta Copia das ordens que dei ao capitão da carregasão que fiz pera a Costa da Mina embarcada no navio Nossa Sra do Rozario e Sam Juseph Senhor Capitão Antonio de Cubellos ahi remeto a VM a carregasão e o conhecimento junto o que VM benefisia ra como couza sua própria em a vender pello mais alto preço 38 que puder ou pello estado da terra e o porsedido della levara VM em sua companhia para o Rio de Janeiro emperguado em negros machos os melhores que VM achar e os marcara com minha marca no peito direito e levando Deos a VM a salvamen to ao Rio de Janeiro os vendera pello mais alto preço que pu der e o seu liquido rendimento mo remetera VM em barras de ouro ou moedas de ouro como também o porsedido da venda do navio que me tocar na minha tresa parte tudo emperguado na forma asima e mo remetera na capitania e almeiranta em ambas em igual parte e assinara conhecimento a entregar a minha ordem ou a quem meus negócios fizere nisto obarra VM como coza sua própria e no tocante a estes meus negócios VM tomara pareser no Rio de Janeiro com Lourenço Antunes Vianna auzente o Joseph de Almeida Cardoso pera com os seus pareseres poderem melhor asertar as minhas conviniensias e no mais que for do serviço de VM não faltarei Deos guarde a VM como desejo45 Diante de seu interesse pelo comércio de escravos na Costa da Mina Francisco Pinheiro requereu um privilégio para seu comércio Em 17 de setembro de 1709 obteve provisão régia para comércio da Costa da Mina e na Guiné46 É importante destacar que tal provisão significava não só isenção de determinados impostos ao negocian te português em Lisboa47 como também contrariava os interesses dos negociantes baianos que em 1703 haviam conseguido um pri vilégio de comércio na região Na realidade e de acordo com Pierre Verger a ameaça ao privilégio dos baianos no comércio de escravos na Costa da Mina veio com os negociantes do Rio de Janeiro Numa carta enviada ao rei de Portugal em 20 de junho de 1703 o governa dor da Bahia D Rodrigo da Costa solicitava providências quanto à participação dos negociantes do Rio de Janeiro no referido comér cio pois passaram a concorrer com os baianos no abastecimento de mão de obra para as Minas Gerais48 Em 27 de setembro de 1703 o rei de Portugal levava ao conhecimento do governador da Bahia o seguinte Eu ElRey fui servido mandar prohibir absolutamete que não vão embarcações nem do Rio de Janeiro nem dos por tos das Capitanias do sul a costa da Mina impondo aos 39 transgressores desta ley a pena de se lhe confiscarem assy os navios em que navegarem como as fazendas que se acharem e de serem degradados por tempo de seis annos para S Tomé49 O favorecimento aos negociantes baianos foi reforçado pela ins tituição de cotas de escravos vindos da Mina para o Rio de Janeiro Pernambuco e Minas Gerais de modo que todos os outros escravos importados para atender à demanda de Minas Gerais deveriam en trar pela Bahia50 Entretanto a concessão de privilégio a Francisco Pinheiro demonstra a disputa pelo comércio de escravos na Costa da Mina em 170951 Reforçando a rivalidade entre as praças mercan tis portuguesas por essa região africana em 1712 uma associação de lusobrasileiros no Rio de Janeiro se uniu com ingleses em uma sociedade para trazer 300 escravos da Costa da Mina52 A respeito dessa sociedade é importante destacar que os ingleses João Charem John Sherman e Rafael Glouston Ralph Gulston fizeram negócios com Francisco Pinheiro Segundo Donovan na condição de mem bro de uma das quatro famílias britânicas autorizadas a negociar em Portugal pelo tratado de 1654 Ralph Gulston esteve em Lisboa e depois no Rio de Janeiro em 170953 Juntamente com seu irmão Joseph Gulston estabeleceu uma casa comercial com grande pres tígio e tudo leva a crer que suas relações com Francisco Pinheiro bem como com outros negociantes portugueses como por exemplo Duarte Sodré Pereira54 eram antigas Por ocasião da carregação55 de escravos feita pela referida sociedade do Rio de Janeiro Joseph que estava em Lisboa desempenhou um importante papel Esse e ou tros episódios mostram que devemos ter uma certa cautela na ênfase da autonomia dos comerciantes da colônia56 O privilégio recebido por Francisco Pinheiro poderia ter dado iní cio a uma atividade regular e rentável mas ao contrário mostrou se por demais arriscada e fonte de diversas dificuldades para o negociante Um episódio interessante é a fuga de seu capitão Antonio de Cubellos com um lote de escravos de sua propriedade trazido por Cubellos da Costa da Mina para o Rio de Janeiro na embarcação Nossa Senhora do Rosário Em carta datada de 13 de abril de 1710 Lourenço Antunes Vianna relatou a Francisco Pinheiro o desapareci mento do capitão informando que a embarcação não havia chegado ao Rio de Janeiro até aquela data 40 Recebi a procuração que VM me remeteo pera que por auzen cia do cappm Antonio de Cubellos tomasse conta da carrega ção que VM lhe deu e juntamente da Ba parte do navio Nossa Senhora do Rosário e de tudo fizesse venda pello mais alto preço que pudesse o dito navio inda the o precedente não he chegado a esta cidade permita o Nosso Senhor trase llo a salvamento e juntamente o capitão e quando se ve do faltar de tudo tomarei conta para beneficiar com a melhor reputação que for possível 57 Em outra carta para Francisco Pinheiro escrita em 11 de no vembro de 1710 ou seja após a tentativa de invasão francesa de Duclerc58 o mesmo Lourenço Antunes Vianna falava sobre o ataque e o carregamento do navio Nossa Senhora do Rosário Como se offereceo este patacho como avizo da gloriosa vitó ria que nesta alcanssamos contra os francezas e cujo sucesso VM sa vera lla com mais miudezas não quero deichar de dar a VM conta dos seus particullares o cappm Antonio Cubellos me tem entregada huma quantidade de pannicos59 mas ain da me não tem dado a conta dos que pertencem a VM a maior parte ou coais todos chegarão com sua avaria também me en tregou 7 barrilinhos de pólvora e 35 barras de ferro o resto deste me disse que se misturara com a da outra carregação já lhe tenho advertido grifos nossos Enquoanto ao navio esta sem ninguém fallar a elle eu dezejara que se vendesse para que VM ficasse livre desta penção as contas das vendas dos negros ainda ma não deu o do cappm com esta guerra dos francezes não deu lugar a mais agora o hei de aplicar para que a faça eu suponho que elle escreve a VM porque me disse que o fazia 60 Além de confirmar o desaparecimento do capitão e da carga de escravos a carta acima destacou a tentativa de invasão e a vitória momentânea dos portugueses Entretanto numa carta de 25 de abril de 1712 Lourenço Antunes Vianna relatou para Francisco Pinheiro os danos causados pela invasão francesa liderada por Du Guay Trouin em 12 de setembro de 1711 tais como a perda do navio Nossa Senhora do Rosário os empréstimos forçados para o governador do Rio de 41 Janeiro pagar o resgate exigido pelos franceses e a fuga para as Minas do capitão Cubellos com seus escravos Além disso chamou a aten ção de Francisco Pinheiro sua argúcia em conseguir enviarlhe uma remessa a Lisboa escapando ao controle do governador Em 9 de dezembro do anno passado escrevi a VM pella nao caravella que foi a levar a lastimoza nova da tomada que os franceses fizaerão a esta cidade de cujo sucesso não tornarei a falar A VM avizei o grandiozo danno que VM esprementou e em pri meiro lugar com a perda do navio em que veio o Cubellos que se foi ao fundo ou o meterão os francezes e juntamente que o dito Cubellos assim que chegou a frota se partiu para as Minas escondidamente sentindo que viesse procuração como assim sucedeo com a que VM mandou e outros mais que vierão e de couza nenhua deu conta que tudo foi VM Vera da conta que remeto do quoal ficou liquido 1098879 rs este dra a VM avizei em como o escapara da mão dos piratas com a minha inteligência porque o tiranno do governador mandou lanssar hum bando que ninguém mandasse nada para fora da cidade com penna de o perder que a todos em geral cauzou grande danno eu me vali de hun amigo official de guerra para mo man dar por fora algum preciozo que tinha o que com effeito assim me fes mandando para hua sua fazenda grifos nossos Da carregação que VM me consignou toda levarão os france zes hua que estavão dentro da alfândega e outra que estava em caza 61 Para além do desastre provocado pela situação da capitania do Rio de Janeiro nos negócios de Francisco Pinheiro a carta demons trou a reação do agente Lourenço Antunes Viana frente às medidas do governador Castro Morais que agiu em consonância com outras reações à atitude do governador de abandonar a cidade deixandoa sob o controle dos invasores franceses liderados por DuguayTroin Como apontam Laura de Mello e Souza e Maria Fernanda Bicalho essa reação pode ser vista numa petição dos oficiais da Câmara do Rio de Janeiro ao rei na qual os oficiais fizeram duras críticas ao go vernador acusandoo de ter feito pouco caso do aviso recebido de Lisboa e argumentando que o governador deveria ter defendido a 42 cidade nas palavras da petição como são obrigados os Vassalos a cujo cargo estão semelhantes lugares62 A invasão francesa no Rio de Janeiro refletiu também sobre os negócios de Francisco Pinheiro na Bahia Numa carta de 15 de outu bro de 1712 Guilherme Rubim agente de Pinheiro na capital baiana relatou suas dificuldades para escoar produtos para o Rio de Janeiro pella cauza dos framcesses destruhirem o Rio de Janeiro e se acha a terra falta de vários gêneros desta cidade me dissem forão tantos que se acha abundante delles primcipalmente de gêneros de lam e pannos de linho e alguns mantimentos de sorte que esta cidade ficou exsausta destes últimos 63 Após a retomada da cidade mediante resgate os negócios re tornaram e já em 1714 Francisco Pinheiro enviou as galeras Nossa Senhora da Atalaia e Santo Antônio para a Costa da Mina com um cai xeiro e um capitão de sua confiança Mostrando que dirigia pessoal mente seus negócios em carta escrita de Lisboa ao irmão Antonio Pinheiro Neto seu representante no Rio de Janeiro Pinheiro deu de talhes sobre os procedimentos a serem adotados na venda dos escra vos chegados ao Rio de Janeiro Os portadores desta he o meu caixeiro João Deniz de Azevedo e o cappam Joseph Vieira Marques os quais hão de entregar a VM os negros todos que fizerão da carregaam incluza na Costa da Mina marcados no peito direito com a marca incliza na dita carrgam que VM fará logo dilligencia a vender os ditos negros pelo mais alto preço que puder com assistência do meu caixei ro e cappam ou quem seos poderes tiverem de que se não fará venda nenhuma sem assistenciados dous nomeados estando nessa cidade e estando fora della alguns dos dois poderá VM com o que estiver na dita cidade reputando sempre pello mais alto preço que for possível o estado da terra carreguando tudo em livros com toda clareza para meu governo vendendo os to dos a troco de ouro ou em barra ou em pó ou em moedas e depois da dita venda feita toda se armara conta do rendimento de toda a importância de carregam e se tiraraão a doze por cen to de comição dos quais entregara VM ao dito cappam cinco por cento e os sete que ficão os repartira igualmente com meu 43 o caixeiro João Deniz de Azevedo a 3 ½ por cento a cada hum em tal forma que isto digo com declaração que da remeça do ouro se não há de tirar comição nenhuma para o remeter nem VM nem os ditos e chegado que o dito navio seja a salvamento como confio em Deos porá VM logo di tais para se vender o dito navio de que fará VM deligencia ditos nomeados pello vender pello mais alto que for possível e me fará favor de me escolher um molecão grande de dezouto annos dos mais bem feitos que vierem da carregaçam e este vira em compa nhia de VM ou mo remetera grifos nossos Acressentamento a carta de 15 de setembro que foi com a ga lera Nossa Senhora da Atalaia e Santo Antonio que foi a Costa da Mina64 Preocupado com os acontecimentos de 1710 e 1711 Francisco Pinheiro enviou seu caixeiro de Lisboa João Diniz de Azevedo e o capitão José Vieira Marques para uma carregação de escravos da Costa da Mina em 1714 Por instrução sua somente com a presença do caixeiro e com tudo documentado em livro Antonio Pinheiro Neto poderia efetuar as vendas e sempre pelo mais alto preço Além dis so a carta explicitava que os escravos deveriam ser vendidos em ouro ou em barra ou em pó ou em moedas e que depois da venda a comissão de 12 seria distribuída da seguinte forma 5 para o capitão e 7 para serem divididos em partes iguais entre o caixeiro e o agente Em 1715 Francisco Pinheiro recebeu informações da chegada da carregação de negros da Mina por intermédio do caixeiro João Diniz de Azevedo e de Antonio Pinheiro Neto Na carta para Francisco Pinheiro datada de 8 de maio de 1715 João Diniz de Azevedo informa ter chegado ao Rio de Janeiro em 14 de abril e relata sua malsucedida viagem quando saímos de Lxa Lisboa que foi com a tenção de carregar 400 escravos e que a fortuna que tinha sido tal que somente carregamos 173 em todos os que se carregarão assim de VM como de partes e viemos seguindo viagem e chega mos a esta cidade domingo de ramos que foi em 14 de abril no mesmo dia já de noute vim eu para therra e vim fallar com o Sr 44 Antonio Pinheiro netto a que dei as contas dos escravos que da conta de VM morrerão no mar quatro escravos e os que chegarão a salvamento com vida a esta cidade forão cento e doze entre grandes e pequenos machos e fêmeas também destes chegarão alguns doentes e outros cegos de dor de olhos grifos nossos 65 No mesmo dia Antonio Pinheiro Neto escreveu a Francisco Pinheiro relatando sua versão dos resultados da viagem Senhor o navio chegou a este porto a salvamento a 14 de abril de que tomei bem grande susto por vir em a ocazião em que vinha de se achar junto com a frotta mas Nosso Senhor foi ser vido de nos dar boa sahida aos escravos pois os vendemos por muitos bons preços por ser a ocazião que hera e estar a therra tão abundante delles a qual venda VM remeto a VM as contas que Jão Deniz de Azevedo me deu assignadas pello cappitam das quais VM o negocio que fize rão e a fazenda que sobejou que da que receber avizarei a VM advirta a VM que destas cabeças que que fizerão morrerão quatro negros pello mar das quais recebi cento e doze e depois de estarem em therra morreu um moleque como se vê do rol e os que estão em ser são hum negro cego que foi de uma dor de olhos que no mar lhe deu e outro da mesma dor cego de hum olho e outro com defeito grande e hua negra velha e torta que cegou de um olho da mesma dor e hum molecão para João Deniz levar para VM e hum negro nosso que ainda esta em ser com bexigas porem caso dellas he o que se offerece avizar a VM que para frota grifos nossos66 Nas duas cartas do total de 173 escravos embarcados na Costa da Mina 116 pertenciam a Francisco Pinheiro Com a morte de quatro escravos no mar de um moleque menino de 8 a 14 anos morto em terra hum negro cego que se deu a hum ferreiro para lhe dar de comer67 e um outro enviado para Lisboa o número de escravos à venda no Rio de Janeiro ficou reduzido a 109 Outro dado importante que constava na carta do caixeiro João Diniz de Azevedo era a divi são da carregação de escravos entre Francisco Pinheiro e outros negociantes não identificados Embora coubesse ao primeiro 636 45 dos escravos a associação com outros negociantes era importante para a divisão dos custos e riscos da viagem A respeito dos escra vos chamou a atenção o número daqueles tomados pela cegueira durante a viagem68 Além dos problemas acima citados em outra carta datada de 20 de maio de 1715 o capitão José Vieira Marques apresentava uma nova questão que interferia no tráfico negreiro a guerra entre os rei nos africanos69 Nessa carta relatava o capitão trouse em ser perto de 3 de fazenda ou mais por lhe não po der dar sahida que também entreguei no Rio de Janeiro ao Sr irmão Antonio Pinheiro Neto com os escravos na forma da or dem de VM e entendo que das embarcaçoens que foram dessa cidade a Costa da Mina há muitos tempos não fizeram tam bom negocio porque inda assim senão estiverão aqueles reis em guerra e os caminhos impedidos por cauzas dellas entenda VM que nada vinha em ser grifos nossos70 A venda do carregamento de escravos da Costa da Mina que foi de 15 de abril a 8 de maio ou seja de 15 a 20 dias rendeu a Francisco Pinheiro um liquido 9677198 rs 9677198 que tanto abono na conta corrente e da conta dos fretes também VM Vera com o dinhei ro que VM deu a gente em essa cidade 71 O relato referente à venda dos africanos ficou mais compre ensível num documento anexo à carta de Antonio Pinheiro Neto a Francisco Pinheiro em 28 de setembro de 1721 Neste documento Antonio Pinheiro Neto descreveu Entrada de hua carregaçam de negros vindos da Costa da Mina e porto de Judá em o navio Nossa Senhora da Atalia e santo Antonio cappitam Joseph Vieria Marques remetido da cidade de Lisboa por seu irmão o Sr Francisco Pinheiro e por sua con ta e risco a dito porto para o dito cappitam e João deniz de Azevedo fazerem os ditos negros e com elles virem a esta cida de do Rio de Janeiro a emtregar a mim Antonio Pinheiro Neto marcados com a marca a margem no peito direito abril 15 do dito anno São os seguintes p cento e doze cabeças emtre grandes e pequenas machos e fêmeas como se vê da venda 112p quatro negros que morrerão 46 no discurso da viagem como me constou pelo 1º dos mortos do dito navio 4 Gastos feitos com os ditos negros em este Rio de Janeiro p 97420 rs que se gastarão em comer e beber tudo o mais com os ditos negros como se vê do rol que vai 97420p comição de 11107520 rs que tanto emportou a venda dos negros a 12 pc o seguinte para o cappam Joseph Vieira Marques 5 pc 555375 rs para mim Antonio Pinheiro Netto a 3 ½ pc 388764 rs para João Deniz de Azevedo a 3 ½ pc 388764 rs 1332902 rs para o líquido rendimento que fica que faço bom em conta corrente como della se vê 9677198 rs 11107520 rs72 No relato acima do bruto de 11107520 rs 11107520 foram retirados 97420 rs 97420 referentes às despesas dos escravos e 1322902 rs 132290273 das comissões do capitão do agente e do caixeiro ficando um líquido de 9677198 rs 9677198 para Francisco Pinheiro A respeito das despesas com os escravos no Rio de Janeiro o que significava um trato mínimo necessário para alcançar no mercado os melhores preços a fim de serem obtidos retornos satisfatórios de uma longa operação iniciada meses antes em Lisboa chamou a atenção o item alfândega que correspondeu a 512 de acordo com a Tabela 1 Nesse montante acreditamos que estava contabilizada a despesa de 10 com a dízima da alfândega Tabela 1 Despesas com escravos Rio de Janeiro 1715 Valor réis Alimentação 13740 141 Vestuário 10960 113 Saúde 16240 167 Alfândega 49920 512 Outras 6560 67 Total 97420 100 Alimentação inclui alimentos feijão farinha sal mais água Vestuário inclui roupas mais esteiras de dormir Saúde inclui visita da saúde mais medicamentos Fonte LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 Usaremos a abreviatura NC ao referirmos a esta documentaçãov I p DIV No tocante à estrutura etária e de sexos do carregamento Tabela 2 e dos preços médios por faixa etária Tabela 3 e Gráfico 1 temos mais homens 615 do que mulheres 385 sendo que dos primei ros temos mais negros homens com idade entre 20 a 35 anos se guidos de molecões 15 a 19 anos e das segundas mais molecas 47 mulheres de 15 a 19 anos do que negras 20 a 35 anos74 Em re lação às mulheres escravas a menor desvalorização das mulheres velhas comparativamente aos homens velhos ainda precisa ser melhor explicada pela historiografia75 O interesse por escravos numa determinada faixa etária como a de 15 até 20 anos foi reforçado na carta de Luiz Álvares Pretto para Francisco Pinheiro em 4 de maio de 1723 na qual o primeiro dizia Rendo a VM as graças pella mercê querer nos entereçar para a Costa da Mina em dez mil cruzados tendo ocazião a não lar gue por ser o milhor negócio que corre nesta seja o cappitam entereçado verdadeiro e capz quando sendo assim deixa lucro bastante advertindo seja negraria nossa de 15 anoz athe 20 grifos nossos76 Tabela 2 Estrutura etária e sexo do carregamento de 1715 Idade Sexo masculino Sexo Feminino Total Até 7 anos molequinho 8 119 5 119 13 119 8 14 anos molequea 6 90 2 48 8 74 15 19 anos molecãoona 18 269 18 429 36 330 20 35 anos negroa 33 493 8 190 41 376 36 e mais anos velhoa 2 29 9 214 11 101 Total 67 1000 42 1000 109 1000 615 385 1000 Fonte LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 Usaremos a abreviatura NC ao nos referirmos a esta documentação v I p DIX Tabela 3 Estrutura etária e preço médio do carregamento de 1715 Idade Homens réis Mulheres réis 0 7 anos 57750 57609 8 14 anos 89000 74000 15 19 anos 120080 118188 20 35 anos 149348 92500 36 e mais 45000 75855 Fonte LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 Usaremos a abreviatura NC ao nos referirmos a esta documentação v I p DX 48 Gráfico 1 Estrutura etária e preço médio do carregamento de 1715 Infelizmente após essa carregação de 1715 não encontramos mais documentos capazes de detalhar novas remessas de escravos vindas da Costa da Mina para o Rio de Janeiro Em carta datada de 15 de outubro de 1721 João Francisco Muzzi e Luiz Alvarez Pretto relatavam a Francisco Pinheiro O milhor negocio desta he de negros em particular da Costa da Mina que em dois dias reduze logo em dinheiro de conta do sem detensa nem fiar cousa alguma como conseguirão dois navios que a esta chegarão o mês passado que he coiza por maior ver como corre toda a gente a comprar como si de de sem de graça que cada negro de 14 annos para cima 150 e 180 e 200 reis he o seu preço e em tentando alguma coiza deste negocio sempre seja com interes do cappitam que assim são mais bem tratados 77 Em outra carta da mesma data João Francisco Muzzi solicitou in formações do negociante Francisco Pinheiro sobre o envio de navio para o comércio de escravos na Costa da Mina Em seu relato diz Si VM thera resolvido de mandar o navio a costa da Mina espe re VM de ther feito um negocio considerável e de muito lucro e de ther logo seu dinheiro pois chegarão nestes dias o Rei nau da Costa com 290 e tantos negros e também hum Angola com 49 outros tantos elles chegarão com negros porem o dia seguinte acharamse com o dinheiro delles na mão que lhe não posso explicar com quanta facilidade e brevidade se vendem estes escravos com dinheiro na mão logo e o preço mui altos Em resolvendo alguma couza dos negros seja antes da Costa que Angola porque estes logrão maior precio e são mais extimados78 No texto percebemos não só o interesse dos agentes pela lucra tividade do comércio de escravos pois as comissões dos mesmos eram maiores como também a acirrada disputa pela oferta de escra vos Na resposta de Francisco Pinheiro ficou explícita a dificuldade de se organizar o navio pela falta de sócios para custear as despesas Seus parceiros costumeiros os negociantes Paulus Hieronimo Médici e Egneas Beroardi este último italiano estabelecido em Lisboa não se interessaram pelo negócio de carne humana Dizia a carta Eu boa vontade tinha de fazer a compra de hum navio para a costa e que enteressassem nelle os srs Médici e Beroardi mas me respondem que não querem enteressar se em negocio de carne humana assim que quando ache alguma que se queira interessar em algum comigo para ir remetido a VM o estima rei grifos nossos79 Além das dificuldades já apontadas para organizar sociedades para o comércio de escravos dois acontecimentos também dificulta ram os negócios de Francisco Pinheiro na Costa da Mina na década de 1720 O primeiro foi a construção do Forte em São João Batista de Ajudá em 1721 Financiado por negociantes baianos e sob a iniciati va de Vasco Fernandez César de Meneses 39o governador e capitão geral da Bahia e 4o vicerei do Brasil que autorizou o capitão de mar e guerra Joseph de Torres80 a construílo O forte simbolizou a vitória dos baianos perante os portugueses no tráfico da Costa da Mina O segundo foi o início da expansão do Reino de Daomé que in tensificou as disputas entre os reinos africanos pelo tráfico na Costa da Mina aumentando o risco do comércio de escravos na região81 A respeito dessa situação africana na carta de 15 de outubro de 1721 Luiz Alvarez Pretto destacou o problema para Francisco Pinheiro di zendo possa ser com ordem de VM farei o que me ordenar o Sr 50 João Francisco na que remete a VM manda amis largamente a noticia do negocio da Costa da Mina verdade he corre perigo do alevantamen to e grande risco grifos nossos82 Apesar dos obstáculos parece que o comércio dos escravos con tinuou sendo feito por Francisco Pinheiro Numa carta de 5 de julho de 1726 Luiz Alvares Pretto relatava para Francisco Pinheiro que a venda de um carregamento de escravos não foi boa pois era cons tituído de menores e mulheres muitos deles com problemas nos olhos A ênfase na saúde dos escravos na preferência por homens na idade adulta mostra o perfil de uma boa carga e a previsão de realizar boas vendas e lucros Dizia a carta Pella conta de vendas que juntamente remetto de 26 escravos de huma carregação que VM remetteu pella Costa da Mina na galera Nossa Senhora da Conceição pella dita conta pode ra VM ver o mizeravel preço pello que vendi os ditos escravos que alem de ser barato me não foi possível poder conseguir com a dita venda a dinheiro de contado por estes serem todos de menor idade e femias e virem achacados dos olhos assim achara emportar o seu liquido rendimento conforme consta da dita conta 831996 rs 831996 grifos nossos83 Entretanto mesmo com a venda do carregamento de 1726 o co mércio de escravos feito por Francisco Pinheiro declinou As guerras na costa africana as disputas entre negociantes das praças coloniais de Salvador84 e do Rio de Janeiro dificultavam as atividades regula res A cobrança de novas taxas os chamados direitos sobre a im portação de escravos juntamente com as restrições dos holandeses à circulação das embarcações na Costa da Mina85 oneravam ainda mais o custo do escravo86 Por fim a falta de sócios para a organi zação do navio e a liquidação de uma sociedade no Rio de Janeiro87 parecem ter repercutido sobre as atividades de Francisco Pinheiro afastandoo do comércio negreiro Um aspecto interessante da correspondência é que além de ne gociar escravos Francisco Pinheiro periodicamente também os encomendava para uso próprio Em 1714 além dos acertos comer ciais com seu agente Francisco Pinheiro lhe encomendara um mole cão de 18 anos que deveria ser remetido a Lisboa88 Esses pedidos mesmo que eventuais mostram não apenas a sabida presença de 51 escravos em Lisboa89 mas o uso regular deles por Pinheiro Em carta de 10 de agosto de 1728 João Francisco Muzzi tratou novamente do assunto mencionando a remessa a Lisboa de dois moleques minas O segundo pedido deu ainda oportunidade para que o agente se ex plicasse sobre a dificuldade da remessa oferecendonos importantes informações a respeito das etapas do tráfico Atlântico Deixava claro que as carregações de escravos entre a Costa da Mina e o Rio de Janeiro passaram a não vir mais em direitura incluindo uma escala na Bahia ou em Pernambuco o que encareceu o preço do escravo da mina especialmente a partir de agosto quando teve início a monção Essa nova escala é certamente o motivo pelo qual não aparecem mais registros da chegada de navios seus da Mina no Rio de Janeiro90 Todavia não lhe podemos remeter dos dous moleques minas que VM nos pede pelos não haver pois ainda agora prinsipia a monsão para elles poderem vir da Bahia e de Pernambuco e os dias passados virão hums desta ultima parte e querendo comprar dous dois bonitos e do tãomanho que VM dezeja não quizerão dallos por 250 rs que como não vem para esta da Costa em direitura hão sempre de custar mais e tãobem por serem muito procurados estando bastante gente e cabedal nes ta esperando escravos minas para fazer emprego e sertamente que boa ocazião hera esta para mandar para a Costa ainda que fosse necessário gastar huas poucas moedas para haver pas saporte holandês para não entenderem com a embarcação as galeras que la estão cruzando e por agora não se nos oferese mais que partissipa lhe grifos nossos91 A resposta de Francisco Pinheiro foi direta No que VM fala das novas negociações para a Costa da Mina Ilha de são Lourenço e minas eu não me rezolvo a emtrar em novos negócios sem primeiro ajuntar os cabedais que tenho na mão de VM porque os tais negossios dependem de grande dezembolço e eu não me acho em termos de os fazer sem pri meiro puxar os meu cabedais que tenho espalhados nesse Rio e na Colônia 92 52 Portanto dependente dos sócios dos seus agentes e do capital dos seus negócios coloniais para organizar o comércio de escravos Francisco Pinheiro priorizaria outras atividades até o final de sua vida o que ocorreu em 1749 Considerações finais Neste texto procuramos descrever e analisar o comércio de es cravos realizado pelo fidalgomercador Francisco Pinheiro Por meio da correspondência entre ele e seus agentes e capitães de navio pu demos perceber o quanto era arriscado custoso e nem sempre lucra tivo o comércio de carne humana da Costa da Mina para o Rio de Janeiro Mas se havia lucro podia ser alto e não apenas para o ne gociante mas também para seus agentes e principalmente para os capitães das embarcações Infelizmente como destacado por Luis Lisanti a documentação sobre os carregamentos dos escravos não é muito farta tampouco detalhada Encontramos apenas uma descrição pormenorizada a do carregamento de 1715 que por sinal foi importantíssima pela riqueza de detalhes seja pelos preços dos escravos e o lucro alcançado com a venda destes seja pela estrutura etária e pelo sexo dos mesmos Apesar de todas essas dificuldades os relatos sobre o negócio do co mércio de escravos envolvendo riqueza e poderprestígio por parte do negociante oferecem uma importante contribuição para o enten dimento do funcionamento da sociedade e do Império português no século XVIII A História do Negócio como toda história particular não está dissociada da História Social Nesse sentido concordamos com Marc Bloch quando ele afirma Nada há mais legítimo nem freqüentemente de mais salu tar que centrar o estudo de uma sociedade num dos seus aspectos particulares ou melhor ainda num dos problemas precisos que este ou aquele desses aspectos suscita crenças economia estruturas das classes ou dos grupos crises políti cas Em resultado dessa escolha refletida os problemas não ficarão apenas em geral formulados com maior firmeza os próprios fatos de contato e de troca ficarão realçados com maior nitidez Sob a condição simplesmente de que queremos descobrilos 93 53 Notas 1 As licenças eram concedidas pela Coroa seja para o comércio atlântico de escravos seja para outros tratos mercantis como por exemplo o comércio no Caminho Ve lho para as Minas A respeito do comércio legal para a Costa da Mina ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 7375 2 A respeito da idade de ouro do Brasil e do tráfico de escravos na Costa da Mina e na Bahia ver BOXER C R A idade de ouro do Brasil dores de crescimento de uma sociedade colonial Tradução de Nair de Lacerda 2 ed rev São Paulo Companhia Ed Nacional 1969 Coleção Brasiliana v 341 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX Tradução de Tasso Gadzanis 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 3 LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII 5 v Brasília DF Min da Fazenda 1973 Usaremos a abreviatura NC ao nos referirmos a esta documentação 4 ELLIS Miriam Comerciantes e contratadores no passado colonial uma hipótese de trabalho Revista do Instituto de Estudos Brasileiros São Paulo n 24 p 120 1982 Esta publicação foi citada por Luiz Lisanti e por Willian Donovan 5 Existe um grande número de trabalhos sobre negociantes no período colonial Cor rendo o risco de deixar de lado trabalhos importantes destacarei alguns deles nas notas seguintes 6 RAU Virgínia Um mercador lusobrasileiro do século XVIII In Estudos sobre História Econômica e Social do Antigo Regime Introdução e Organização de José Manuel Garcia Lisboa Ed Presença 1984 p 19 Esse texto foi elaborado para ser apresentado no II Colóquio Internacional de Estudos LusoBrasileiros que se realizou em São Paulo em 1954 Foi publicado pela primeira vez em 1961 7 LOBO Eulália Maria Lahmeyer A mesa do bem comum ou mesa do espírito santo dos homens de negócio e o consulado em Portugal In Aspectos da in fluência dos homens de negócio na política comercial iberoamericana Rio de Janeiro sn 1961 p 47105 8 LOBO Eulália Maria Lahmeyer A mesa do bem comum ou mesa do espírito santo dos homens de negócio e o consulado em Portugal In Aspectos da in fluência dos homens de negócio na política comercial iberoamericana Rio de Janeiro sn 1961 p 3637 9 LOBO Eulália Maria Lameyer O Comércio Atlântico e a Comunidade de mercadores no Rio de Janeiro e em Charlenston no Século XVIII Separata da Revista de História São Paulo n101 p 49106 1975 Esta tese foi ressaltada no trabalho de GOUVÊA Maria de Fátima Silva Redes de poder na América Portuguesa o caso dos homens bons do Rio de Janeiro 17901822 Revista Brasileira de História São Paulo v 18 n 36 p 297330 1998 10 Entre os trabalhos e orientações com influência do pensamento de Sérgio Buar que que tratam do comércio e comerciantes destacamos HOLANDA Sérgio Buar que de Monções 2 ed São Paulo Alfa Ômega 1976 DIAS Maria Odila Silva A interiorização da metrópole 18081853 In MOTA Carlos Guilherme Org 1822 dimensões 2 ed São Paulo Perspectiva 1986 PETRONE Maria T S A lavoura canavieira em São Paulo expansão e declínio 17651851 São Paulo Companhia Ed Nacional 1968 PETRONE Maria T S O Barão de Iguape um empresário da época da Independên cia São Paulo Companhia Ed Nacional 1976 BLAJ Ilana A trama das tensões o processo de mercantilização de São Paulo colonial 16811725 Tese Doutorado em História FFLCHUSP São Paulo 1996 FURTADO Júnia Ferreira Homens de negócio a interiorização da metrópole e do comércio nas Minas Setecentistas São Paulo 54 HUCITEC 1999 A respeito da importância de Sergio Buarque de Holanda para a historiografia brasileira ver CÂNDIDO Antonio Org Sérgio Buarque de Holanda e o Brasil São Paulo Fundação Perseu Abramo 1998 11 HOLANDA Sérgio Buarque de Sobre uma doença infantil da Historiografia O Estado de São Paulo São Paulo suplemento literário 24 jun 1973 12 Max Weber denominou esses negociantes comerciantes atacadistas e Fernand Braudel denominouos negociantescapitalistas Para Weber e Braudel esses nego ciantes eram capitalistas modernos Cf WEBER Max História geral da Economia Tradução de Calógeras A Pajuaba São Paulo Mestre Jou 1968 cap 4 as origens do capitalismo moderno BRAUDEL Fernand Civilização material economia e capitalis mo séculos XVXVIII tomo II o jogo das trocas Lisboa Teorema 19 p 329382 Série Especial 13 SALES Alberto Jaqueri de Diccionario Universal de Commercio Tradução e adapta ção manuscrita do Dictionnaire Universel de Commerce de Jacques Savary de Bru lons 3 v 1813 O dicionário francês foi editado em 1723 14 A respeito do papel dos negociantes de Lisboa cf PEDREIRA Jorge L Os homens de negócios da Praça de Lisboa de Pombal ao Vintismo 17551822 diferenciação reprodução e identificação de um grupo social Tese Doutorado em Sociologia e Economia Históricas Universidade Nova de Lisboa Lisboa 1996 MADUREIRA Nuno Luís Mercado e privilégios a indústria portuguesa entre 17501834 Lisboa Estampa 1997 SILVA Maria Julia de Oliveira e Fidalgosmercadores no século XVIII Duarte Sodré Pereira Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda 1992 Com relação à nobreza cf MONTEIRO Nuno Gonçalo O crepúsculo dos grandes a casa e o patri mônio da aristocracia em Portugal 17501825 Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda 1998 15 FLORY Rae SMITH David Grant Bahian merchants and planters in the seventeenth and early eightenth centuries HAHR Maryland v 58 n 4 p 571594 1978 LUGAR Catherine The mercant community of Salvador Bahia 17801830 Ph Thesis The State University of New York at Stony Brook 1980 KENNEDY John Norman Bahian elites HAHR Maryland v 53 p 415439 aug 1973 RUSSELLWOOD A J R Fidalgos e filantropos a Santa Casa de Misericórdia da Bahia 15501755 Brasília DF UNB 1981 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 16 FRAGOSO João Luis R Homens de Grossa Ventura acumulação e hierarquia na pra ça mercantil do Rio de Janeiro 17801830 Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1992 SAMPAIO Antônio Carlos Juca Na curva do tempo na encruzilhada do Império hie rarquização social estratégias de classe na produção da exclusão Rio de Janeiro c1650c1750 Tese Doutorado em História PPGH Universidade Federal Flumi nense Niterói 2000 17 CHAVES Claudia Maria das Graças Perfeitos negociantes mercadores das Minas Se tecentistas São Paulo Annablume 1999 FURTADO Júnia Ferreira Homens de negó cio a interiorização da metrópole e do comércio nas Minas Setecentistas São Paulo HUCITEC 1999 ARAÚJO Luiz Antonio Contratos e tributos nas Minas Setecentistas estudo de um caso João de Souza Lisboa 1745 1765 Dissertação Mestrado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2002 18 GODINHO Vitorino Magalhães Estrutura da Antiga Sociedade portuguesa Lisboa Ar cádia 1979 p 103 19 Essa forma de atuação do comerciante e do comércio inglês fez com que Cain e Hopkins denominassem esse período de Gentlemanly Capitalism Cf CAIN JP HOPKINS AG Gentlemanly capitalism and british expansion overseas I the old co lonial system 16881850 The Economic History Review Sl 2nd ser v 39 n 4 p 501525 1986 A influência desta visão pode ser constatada nos seguintes trabalhos HANCOCK David Citizens of the world London Merchants and the Integration of 55 the British Atlantic Community 17351785 Cambridge Cambridge University Press 1995 Parte III Becoming a Gentleman BOWEN H V Elites enterprise and the making of the british overseas empire 16881775 London Palgrave Macmillan 1996 chapter 6 merchants planters and gentlemanly ideal 20 ANTT Ordem de Cristo Habilitação letra P Maço 37 6 apud DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 p 144 notas 7779 21 A respeito da Mesa do Bem Comum cf LOBO Eulália Maria Lameyer O Comércio Atlântico e a Comunidade de mercadores no Rio de Janeiro e em Charlenston no Sécu lo XVIII Separata da Revista de História São Paulo n101 p 49106 1975 22 LEVY Maria Bárbara História Financeira do Brasil Colonial Rio de Janeiro IBMEC 1978 p 94100 23 A respeito dos contratos e contratadores do sal e da pesca da baleia na colônia cf ELLIS Myriam O monopólio do sal no Estado do Brasil São Paulo FFCL 1955 e A baleia no Brasil Colonial São Paulo Melhoramentos EDUSP 1969 24 ELLIS Myriam O monopólio do sal no Estado do Brasil São Paulo FFCL 1955 p 121 25 MILLER Joseph C Way of death merchant capitalism and the angolan slave trade 17301830 Madison Wisconsin University Press 1988 26 FURTADO Júnia Ferreira Homens de negócio a interiorização da metrópole e do comércio nas minas setecentistas Tese Doutorado em História Social FFLCH Universidade de São Paulo São Paulo 1996 O livro de Júnia Furtado citado nas notas 8 e 11 é originalmente esta tese 27 DIAS Maria Odila Silva A interiorização da metrópole 18081853 In MOTA Carlos Guilherme Org 1822 Dimensões 2 ed São Paulo Perspectiva 1986 nota 9 28 FURTADO Júnia Ferreira Homens de negócio a interiorização da metrópole e do comércio nas minas setecentistas Tese Doutorado em História Social FFLCH Universidade de São Paulo São Paulo 1996 p 46 29 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 30 LEVY Maria Bárbara História Financeira do Brasil Colonial Rio de Janeiro IBMEC 1978 p 94100 31 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 cap 4 5 e 6 32 LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 v I p DIII 33 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 p 327 gráfico IV 34 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 cap 4 35 A presença de estrangeiros nas praças do Império Português e a disputa na África não são novidade na historiografia Em 1951 numa tese original sobre o abasteci 56 mento das Minas Gerais no século XVIII Mafalda Zemella destacava essa presença e a disputa pelo mercado de escravos Charles Boxer nos seus vários trabalhos também enfatizou tal dinâmica Cf ZEMELLA Mafalda O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII São Paulo HUCITECEDUSP 1990 Além das obras citadas de Charles Boxer no texto cf BOXER Charles R Brazilian gold and british traders in the first half of the eighteenth century HAHR Maryland v XLIX n 3 p 454472 ago 1969 36 Sobre os agentes parentes de Francisco Pinheiro cf LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fa zenda 1973 v I p CXXIXCXLVII DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Fran cisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 Cap 3 e 4 37 LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 v I p DI 38 Antonio Pinheiro Gomes era filho de Antonio Pinheiro Neto irmão de Francisco Pi nheiro Em 1714 foi para Luanda Angola vindo a falecer em 1716 morto pelos seus escravos na selva LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 v I p CXXXIVCXXXV 39 Antonio Pinheiro Gomes para Francisco Pinheiro 12091712 Cartas da Bahia NC v I p 19 Por nesta terrra entendase a Bahia e peras minas as Minas Gerais 40 ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO Publicação oficial de documentos interessan tes para a história e costumes de São Paulo v 50 São Paulo 1929 p 60 In LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 v I p DI DII nota 4 41 Para Mariza Soares em pouco tempo numa alquimia tardia essa capacidade de en contrar ouro transformase em acesso à sorte à fortuna SOARES Mariza de Carva lho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 86 42 BOXER Charles R O Império Marítimo Português 14151825 Tradução de Inês Silva Duarte Lisboa Edições 70 19 p 172 A respeito desse declínio principalmente de Luanda enquanto centro exportador cf FERREIRA Roquinaldo Amaral Transfor ming atlantic slaving trade warfare and territorial control in Angola 16501800 Ph Thesis University of California Los Angeles 2003 cap 1 43 BOXER Charles R Relações raciais no Império Colonial Português 14151825 Tradu ção de Elice Munerato Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1967 p 50 44 Baltazar Alvarez de Araújo para Francisco Pinheiro 15011719 Cartas da Bahia NC v I p 93 45 Francisco Pinheiro para Antonio de Cubellos 20081707 NC vol V p 519 Segundo Willian Donovan Francisco Pinheiro Theofilo Borges e Manuel Martins receberam permissão para que seus navios N Sra Rosário e S Joseph fossem para a costa da Mina DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Bal timore Maryland 1990 p 244 nota 70 46 ANTT Chancelaria de D João V Livro 34 fl 26 apud Daupias opcit p 451 In NC vol I p DIII 47 Infelizmente não temos o documento citado Entretanto podemos supor que trata de uma licença o que significa privilégios e isenções de tributos A respeito da fisca lidade colonial cf COSTA Wilma P Do domínio à Nação os impasses da fiscalidade na época da independência In JANCSÓ Istvan Org Brasil formação do Estado e 57 da Nação São Paulo HUCITECFAPESP 2001 p 143193 Especialmente na parte O sentido da fiscalidade colonial 48 APEB 7 doc 218 In VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX p 58 49 APEB 7 doc 218 In VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX p 58 50 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 74 51 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 79 52 SAMPAIO Antônio Carlos Juca Na curva do tempo na encruzilhada do Império hie rarquização social estratégias de classe na produção da exclusão Rio de Janeiro c1650c1750 Tese Doutorado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2000 p 271 53 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 p 265 A respeito do Tratado de 1654 e sua repercussão sobre o comércio InglaterraPortugal cf SHAW L M E The anglo portugueses alliance and the english merchants in Portugal 16541810 UKAldershot Ashegate 1998 54 Joseph Gulstons e Cia foi um agente comercial um factor comissárioconsignatá rio importante para o fidalgomercador Duarte Sodré Pereira Pereira op cit p 8889 55 Carregação era o termo utilizado para designar uma carga específica mercadoria inclusive escravos pertencente a uma ou mais pessoas e enviada para uma loca lidade distinta daquela em que seus proprietários residiam com a finalidade de ser vendida SAMPAIO Antônio Carlos Juca Na curva do tempo na encruzilhada do Império hierarquização social estratégias de classe na produção da exclusão Rio de Janeiro c1650c1750 Tese Doutorado em História Universidade Federal Flu minense Niterói 2000 p238 56 A respeito das autonomias e funcionamentos dos mercados do Império português é importante resgatar o trabalho de José Roberto do Amaral Lapa O Antigo Sistema Colonial São Paulo Brasiliense 1982 cf os capítulos O Mercado Interno Colonial e o Comércio Intercolonial Essa questão merece ser mais discutida em SAMPAIO Antônio Carlos Juca Na curva do tempo na encruzilhada do Império hierarquiza ção social estratégias de classe na produção da exclusão Rio de Janeiro c1650 c1750 Tese Doutorado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2000 p 273274 57 Carta de Lourenço Antunes Vianna para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro em 13041710 NC vol II p 5 58 Duclerc chegou ao Rio de Janeiro em 1181710 rendeuse em 1991710 e foi assassi nado em 1831711 A respeito dessa tentativa de 1710 e da invasão de 1711 essa úl tima chefiada por Du Guay Trouin cf BOXER Charles R Relações raciais no Império Colonial Português 14151825 Tradução de Elice Munerato Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1967 cap IV os franceses no Rio de Janeiro CAVALCANTI Nireu O Rio de Janeiro Setecentista a vida e a construção da cidade da invasão até a chegada da Corte Rio de Janeiro J Zahar 2004 p 4448 GUAITROUIN René du O corsário uma invasão francesa no Rio de Janeiro Tradução de Carlos André Nougué Rio de Janeiro Bom Texto 2002 59 Pânico era um tecido de linho de diversas qualidades 58 60 Carta de Lourenço Antunes Vianna para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 11111711 NC v II p 6 61 Carta de Lourenço Antunes Viana para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 25041712 NC v II p 89 Nas cartas de Francisco Pinheiro para seus agentes no RJ e MG a questão referente à busca e cobrança sobre o referido Cubellos foi cons tante A notícia da morte de Cubellos em 1721 não convenceu Francisco Pinheiro na busca do seu prejuízo Sobre a notícia da morte e seu desdobramento cf FURTADO Júnia Ferreira Homens de negócio a interiorização da metrópole e do comércio nas Minas Setecentistas São Paulo HUCITEC 1999 p 9495 62 SOUZA Laura de Mello BICALHO Maria Fernanda 16801720 o Império deste mun do São Paulo Companhia das Letras 2000 p 57 63 Carta de Guilherme Rubin para Francisco Pinheiro Carta da Bahia 15101712 NC v 1 p 22 64 Carta de Francisco Pinheiro para Antonio Pinheiro Neto Carta de Lisboa 1591714 NC v 4 p 704705 65 Carta de João Diniz de Azevedo para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 851715 NC v 2 p 50 66 Carta de Antonio Pinheiro Netto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 851715 NC v 2 p 54 67 Carta de Antonio Pinheiro Neto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 2891721 NC v II p 174 Documento anexado à carta 68 Segundo Luis Lisanti Filho a cegueira era uma enfermidade comum entre os cativos e entre as causas podiam estar as condições alimentares que afetam a vista a ambliopia e a alimentação dada ao escravo feijão e farinha de mandioca não eram ricos em vitamina A Ambliopsia é o enfraquecimento da vista sem lesão orgânica aparente do olho associada especialmente ao efeito de certas drogas ou à deficiên cia dietética Dicionário Michaelis 2001 cdrom Entretanto o autor assinala que a deficiência visual total eou parcial podia estar ligada sobretudo a outros fatores O tracoma pelo menos atualmente não é assinalado na região africana de onde vi nham tradicionalmente os escravos Resta a varíola grifo nosso Cremos que esta moléstia fosse a grande responsável LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 p DVII nota 1 Tracoma é uma doença crônica de olho de causa infecciosa A respei to das doenças e outros problemas dos escravos nas viagens dos tumbeiros cf MILLER Joseph C Way of death merchant capitalism and the angolan slave trade 17301830 Madison Wisconsin University Press 1988 p 424442 69 LOVEJOY opcit p 128146 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identida de étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 78 70 Carta de José Vieira Marques para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 20051715 NC v II p 6263 71 Carta de Antonio Pinheiro Neto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 20061715 NC v II p 73 72 Carta de Antonio Pinheiro Neto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 2891721 NC v II p 170171 73 No tocante à comissão de 12 referente à venda do carregamento capitão 5 agente 3 ½ e caixeiro 3 ½ Willian Donovan chamou atenção que foi superior à das vendas de outros produtos A comissão da venda de produtos secos têxtil girava em torno de 6 e de couros 2 DONOVAN William Michael Commercial en terprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 p 260 59 74 Sobre a preferência pelo escravo homem adulto e a distribuição da oferta e deman da de escravos por sexo ver LOVEJOY Paul E RICHARDSON David Competing markets for male and female slaves slave prices in the interior of West Africa Jour nal of Economic History Sl v 28 p 26193 1995 75 Entre os historiadores brasileiros que se detiveram sobre o tema da família e da mulher escrava destaco FLORENTINO Manolo GÓES José Roberto A paz das sen zalas famílias escravas e tráfico atlântico c1790 c1850 Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1997 MATTOS Hebe Maria Das cores do silêncio os significados da li berdade no Sudeste escravista Brasil século XIX 2 ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1998 1 ed Arquivo Nacional 1995 SLENES Robert W Na senzala uma flor esperança e recordações na formação da família escrava Brasil Sudeste século XIX Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 FARIA Sheila Siqueira de Castro A colônia em movimento fortuna e família no cotidiano colonial Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1998 76 Carta de Luiz Álvares Pretto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 04051723 NC v II p 361 77 Carta de João Francisco Muzzi e Luiz Álvares Pretto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 15101721 NC v II p 190 78 Carta de João Francisco Muzzi para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 15101721 NC v II p 228 79 Carta de Francisco Pinheiro para João Francisco Muzzi Carta de Lisboa 20031722 NC v V p 9 80 O capitão de mar e guerra Joseph de Torres era também proprietário de navios que traficavam na Costa da Mina VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX Tradução de Tasso Gadzanis 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 8588 81 A respeito da expansão de Daomé e a ocupação do porto de Ajuda pelo daomeanos ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 79 LOVEJOY op cit p 136137 82 Carta de Luiz Álvares Pretto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 15101721 NC v II p 234 83 Carta de Luiz Alvares Pretto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 05071726 NC v III p 88 84 A respeito das associações de negociantes baianos com ingleses cf VERGER Pier re Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX Tradução de Tasso Gadzanis 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 6264 85 Sobre os holandeses um agente de Pinheiro informa que diante do bom preço de um escravo mina no Rio de Janeiro na época das monções quando é dificil trazêlos da Bahia valeria a pena pagarlhes o que pediam para fazer negócio sertamente que boa ocazião hera esta para mandar para a Costa ainda que fosse necessário gastar huas poucas moedas para haver passaporte holandês Carta de João Fran cisco Muzzi para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 10081728 NC v III p 312 86 Em 1725 o negociante Jerônimo Lobo Guimarães do Rio de Janeiro arrematou o contrato novo dos direitos que pagam os escravos que entram no Rio de Janeiro vindos da Mina e Cabo Verde SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identi dade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janei ro Civilização Brasileira 2000 p 81 87 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon 60 to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 p 264269 88 e me fará favor de me escolher um molecão de dezouto annos dos mais bem feitos que vierem da carregaçam e este vira em companhia da VM ou me remete ra Carta de Francisco Pinheiro para Antonio Pinheiro Neto Carta de Lisboa 5091714 NC v 4 p 705 89 LAHON Didier Esclavage et Confréries Noires au Portugal durant lAncien Regime 14411830 2001 Cdrom 90 Essa rota entre a Mina e o Rio de Janeiro foi destacada por Soares para explicar a presença de escravos da Costa da Mina na cidade do Rio de Janeiro na primeira me tade do século XVIII Sobre a transferência de escravos da Costa da Mina da Bahia para o Rio de Janeiro nesse período ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 2 especialmente p 85 91 Carta de João Francisco Muzzi para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 10081728 NC v III p 312 92 Carta de Francisco Pinheiro para João Francisco Muzzi Carta de Lisboa 18011729 NC v V p 163 93 BLOCH Marc Introdução a História 5 ed Tradução de Maria Manuel e Rui Gracio Lisboa Publicações Europa América 19 p 135 Coleção Saber 59 Indícios para o traçado das rotas terrestres de escravos na Baía do Benim século XVIII1 Mariza de Carvalho Soares As mudanças e alterações provocadas localmente no interior direta ou indiretamente por este tráfico estão longe de cons tituir os temas principais ou prioritários de pesquisa Ficase com a impressão de que Abomé capital do Daomé e Uidá seu porto comercial continuam a ser os principais centros de in teresse dos pesquisadores Enquanto isso as regiões há muito tempo e seguidamente vítimas dos ataques do exército daome ano são um campo de pesquisa ainda pouco explorado Essas regiões são ocupadas principalmente pelas populações ketu idaisa e mahi que ainda mantêm fresca em sua memória a lem brança daqueles tempos difícieis Elisée Soumonni Daomé e o Mundo Atlântico Durante muitos anos os estudos sobre o tráfico de escravos2 e o comércio atlântico3 estabeleceram o vínculo entre a história das Américas da Europa e da África O olhar cada vez mais atento para a especificidade dos africanos no seio da população escrava nas várias partes do Atlântico tem resultado no estreitamento do diálogo entre a história da escravidão e da diáspora africana nas Américas sem que com isso se tenha perdido a perspectiva da diferença entre as abordagens desses dois campos Enquanto a história da escravidão moderna tem caminhado lado a lado com a história das Américas e do Caribe a história da diáspora africana é um desdobramento recente da história da África Assim a historiografia chegou a um patamar no qual hoje é impossível em qualquer quadro de análise ignorar uma reflexão sumária que seja sobre a presença africana nas Américas4 Tal virada abre ca minho para uma perspectiva historiográfica que in corpora não apenas o comércio atlântico de escravos do ponto de vista 62 da história econômica e demográfica mas também a diáspora afri cana dando com isso um maior destaque à dispersão dos escravos africanos e às suas modalidades de reinserção social A temática da diáspora africana tem sido abordada das mais va riadas formas desde as biografias até grandes projetos coletivos de bancos de dados5 O que a história da diáspora tem de particular é que ela trata de pessoas Seu objetivo maior é entender os proces sos sociais que provocaram acompanharam e resultaram da disper são de 11 milhões de escravos que atravessaram o Atlântico ao longo de quatro séculos Uma das mais importantes áreas exportadoras foi a Baía do Benim No Rio de Janeiro esses escravos ficaram conhe cidos como pretosminas Em trabalhos anteriores tenho frisado o fato de que o termo mina é uma designação que varia de acor do com o lugar e a época nas diferentes partes das Américas em que aparece Mais recentemente Robin Law mostrou que também na Baía do Benim o termo tem vários significados6 Do meu ponto de vista mina não é um lugar específico como o é uma terra para usar outro termo de época um porto ou um rio tampouco um grupo étnico No caso aqui tratado a palavra mina referese aos escravos que embarcaram nos portos da Baía do Benim e construíram uma identidade coletiva cujo entendimento passa pelo reconhecimento da perspectiva de uma migração forçada7 e pela construção do con ceito de grupo de procedência8 A pesquisa está em andamento por isso os resultados aqui apre sentados ainda podem ser questionados mas acredito que seja esse o caminho a ser seguido Partindo dessa perspectiva meu trabalho de um modo geral e este capítulo em particular agrega à historio grafia da escravidão no Brasil a questão da necessidade de conhe cer a efetiva procedência dos escravos africanos como precondição para entender como se deu na sua particularidade a inserção des ses escravos na sociedade colonial É nesse sentido que falo de uma história atlântica não apenas para mostrar a circulação de pessoas mas para entender os deslocamentos e reassentamentos de grupos Enquanto por exemplo a história de Baquaqua apresentada por Robin Law e Paul Lovejoy assim como a ideia de crioulo atlânti co de Ira Berlin destacam a mobilidade de alguns indivíduos9 meu foco vai para aqueles que não se movem que estabelecem laços es treitos nos lugares a que chegam e ficam Trato de grupos e não de pessoas isoladas A biografia importa como metodologia e não como 63 narrativa Proponhome a buscar nos lugares da geografia atlântica diria em terra não no mar o entendimento dos movimentos de pes soas de onde saíram como e por onde foram transportadas como chegaram e por fim de que modo essa experiência forçada coletiva transformou suas vidas Diante da grande diversidade de grupos étnicos e procedências envolvidas tenhome dedicado a dois deles em particular os cha mados minamahi e os minacoura aqui tomados eles mesmos como grupos de procedência ou para ser mais exata como subgru pos no interior do grupo de procedência mina e não como grupos étnicos A documentação que já reuni sobre eles abre caminho para uma vez identificada a terra da qual vieram10 reconstituir os pas sos da sua migração e chegar a seu ponto de partida Pela intensa concentração que caracterizou o tráfico nos primeiros 20 ou 30 anos do século XVIII estamos tratando de grupos e não de indivíduos iso lados há sempre um lugar de onde saem um grupo que se desloca e que é recolocado junto do outro lado do Atlântico Não sei dizer quanto esses casos são raros atualmente não existem no Brasil mas não há outros já estudados A opção deste capítulo pelo grupo de procedência em detrimento do grupo étnico se deve ao fato de que a documentação disponível não permite na maior parte dos casos avançar nos processos de identificação étnica mas apenas identifi car os lugares de procedência A diversidade dos escravos da Baía do Benim no Brasil O comércio regular de escravos entre o Brasil e a Baía do Benim na África Ocidental estendeuse do final do século XVII até o térmi no do tráfico atlântico em 1850 sem contar as primeiras remessas que remontam ao século XVI e os últimos desembarques clandesti nos que podem ter ocorrido até cerca de 1856 Na documentação co lonial tanto no Brasil quanto em Portugal a costa ocidental africana é denominada Costa da Mina11 Na primeira metade do século XVIII boa parte dos escravos daí trazidos teve como destino as lavras de ouro de Minas Gerais seguido por Goiás e Mato Grosso em busca dos diamantes O principal porto de desembarque foi a Bahia mas estudos recentes de Mary Karasch demostram a importância da rota via Belém do Pará rio acima até Goiás Minha própria pesquisa e a de 64 outros que ao tema se agregaram mostram que o Rio de Janeiro tam bém é uma rota de acesso às minas de ouro e diamantes no século XVIII Embora os portos de Pernambuco Bahia e Rio de Janeiro pos sam diferir no número de africanos desembarcados para cada um deles confluem escravos embarcados nos vários portos ao longo da costa da Baía do Benim na qual por sua vez se aglutinam escravos oriundos de diferentes partes seja do próprio litoral seja do interior mais remoto por meio de rotas terrestres que nos séculos XVI XVII e XVIII ainda precisam de estudos por parte dos historiadores da história da África e da escravidão africana Conhecendose a distribuição étnica e linguística dos povos que habitam o entorno da Baía do Benim e seu interior é possível verifi car que embora tenham ocorrido variações na forma de classifica ção dos escravos aí embarcados assim como diferenças nas suas estratégias de organização no cativeiro as nações ou grupos de procedência que operavam em cada lugar das Américas e especial mente no Império português apresentam um elenco comum de deno minações mina angola cabinda moçambique entre outras Para melhor exemplificar esse argumento retomo aqui dados apresenta dos em trabalhos anteriores Embora em proporções diferentes os escravos da Costa da Mina desembarcados em Pernambuco Bahia e Rio de Janeiro recebem mais ou menos as mesmas designações Uma grande parte deles vai para Minas Gerais que por isso é também aqui incorporada Ressalvado o risco dos possíveis usos locais do termo mina uma amostra recente feita por Laird Begard indica um total de 34327 africanos 17151888 sendo os minas estimados em 10 do total de escravos arrolados Nesse caso devese considerar que esse percentual fica prejudicado pelo fato de os minas terem es tado altamente concentrados nas primeiras três décadas do século O Banco de Dados da Freguesia do Pilar de Ouro Preto Minas Gerais 17121750 indica que os minas correspondem a 32 dos escravos12 É importante notar que se aos minas forem somados os sabarus os couranos os nagôs os ladas e os jaquem que aparecem em separa do a cifra dos minas sobe para 42 do total de escravos13 Os minas têm tamanho destaque na população escrava de Minas Gerais que sua presença deu origem a um vocabulário da então chamada lín gua geral da Mina uma variante do gbe que ainda carece de análise detalhada tanto do ponto de vista histórico quanto do linguístico14 65 Numa amostra feita com base em livros de batismo de escravos da cidade do Rio de Janeiro 17181760 listei um total de 6609 es cravas que levaram seus filhos para serem batizados 9 vinham da Costa da Mina15 Os 9 de minas no Rio de Janeiro na primeira meta de do século indicam que a proporção em Minas Gerais no mesmo período é bem mais alta e que para lá convergem em especial para a Freguesia do Pilar a grande maioria dos escravos vindos da Costa da Mina desembarcados no Rio de Janeiro A designação mina entre tanto em nada auxilia a identificação das procedências ao contrário esconde a diversidade contida sob essa identidade genérica em de trimento de outras menos abrangentes e operativas em esferas es pecíficas da vida social Assim é que para além da identidade mina outras designações aparecem na documentação de forma esparsa e minoritária mas são exatamente elas que nos dão as pistas para avançar nos processos de reconhecimento da diversidade identitária e da procedência dos mesmos Volto então à documentação disponível para analisar os sub grupos no interior do grupo de procedência mina16 Na Bahia entre 1684 e 1745 os africanos correspondem a 31 da amostra recolhida por Stuart Schwartz baseada em dados sobre manumissão Num to tal de 950 casos 112 são ditos minas sendo que 106 são indicados apenas como minas e um como mina Ladini minaladano ou lada aladá quatro como mina Courani minacourano e um como mina Sabara minasabaru 10 são ditos Arda ardra lada aladá e um Gege jeje17 Ainda para a Bahia Pierre Verger apresenta um quadro com inventários 17371841 no qual para o século XVIII arrola seis minas em 1737 um jeje em 1739 um savaru um maquim e um ladá em 1779 Em Pernambuco em meados do século XVIII a Costa da Mina correspondia a 29 do total das procedências dos escra vos africanos que entraram na capitania A irmandade do Rosário da cidade de Recife reunia parte deles sob a liderança dos angolas que elegiam reis e rainhas angolas e congos Dentre os minas havia ardas sabarus e dagomés ali também chamados gome Até 1776 os sabarus e os dagomés elegiam juntos um mesmo governador ao que tudo indica sob a autoridade dos sabarus Nesse ano os dagomés fizeram requerimento ao governador da capitania para serem autori zados a eleger seu próprio governador separado do governador dos sabarus18 66 Os sabarus vieram de Savalu localidade situada no interior do ter ritório Mahi Eles aparecem na documentação africana pela primeira vez como sabalours em 173319 Em vila do Carmo Minas Gerais não aparecem na listagem da captação de 1723 mas existem sete deles entre os confrades do Rosário de Mariana na década de 175020 Outros integram a Congregação Mina no Rio de Janeiro pelo menos desde a década de 176021 Os mahis ou maki makim maquim são um povo localizado ao norte do Daomé que resultou da fusão de gru pos que falavam línguas gbe com outros que falavam iorubá que mi graram para a mesma região22 Não existe uma localidade denomina da Mahi Mahi era e ainda é uma terra e na documentação colonial francesa aparecia também como uma confederação ou país Tem várias localidades entre elas Savalu nas quais se falava majorita riamente a língua gbe e Dassa na qual predominava a língua ioru bá23 A primeira referência aos mahis no Rio de Janeiro é o batismo de Ignácio Monte então Ignácio Mina em 1742 em Minas Gerais a menção mais remota data de 172524 e na documentação referente à África aparecem em 172825 Os chambas Tchamba segundo Robin Law são membros de um grupo situado a noroeste do Daomé mas o termo é também usado de modo mais amplo para todos os falantes da língua gur26 já aparecem na listagem de 1723 e também no Rio de Janeiro entre 1718 e 172627 Os couranos courá coura coura são praticamente irreconhecíveis na documentação africana não fora por sua hipotética identificação geográfica nos mapas modernos e históricos que indicam as rotas das caravanas Na costa há apenas uma referência a eles feita por Pierre Verger que cita informações de João Basílio diretor do forte português de São João Batista de Ajudá Em Slave Coast Robin Law não faz qualquer menção a uma localidade ou grupo com esse nome reforçando a dúvida contra a explicação de Verger que alega virem eles das proximidades do Lago Curamo na faixa litorânea da atual Nigéria28 Questiono essa locali zação e voltarei ao assunto mais adiante Em Minas Gerais aparecem ainda os nagôs estudados por Inês Cortes de Oliveira na Bahia e os ladá ou lada ladanos provavelmente oriundos do reino de Aladá Na documentação portuguesa do século XVII os escravos proceden tes de Aladá são chamados ardas e aparecem como tais na documen tação da guerra contra os holandeses em Pernambuco29 A menção a Jaquem é pouco usual já que não aparecem nomes de outros por tos de embarque de escravos No Rio de Janeiro são mencionados 67 também os ianos iono ayonous em francês Oyo em inglês e oió em português que provavelmente correspondem aos anagôs na África30 Por fim os agolins agonli vêm de Agonli uma vila situada à mar gem esquerda do rio Zou cuja maioria da população fala a língua gbe31 Entre os encontrados tanto no Rio de Janeiro quanto em Minas e não identificados estão os cobus32 os cabrerás e os fuams Embora precárias do ponto de vista de uma análise demográfica e ainda primárias do ponto de vista da linguística essas ocorrências mostram certamente com variações locais que a presença de desig nações bastante semelhantes em Pernambuco Bahia Minas Gerais e Rio de Janeiro ao longo do século XVIII é significativa Em algumas delas a associação a localidades línguas grupos e reinos é perce bida com facilidade Em outras são apenas hipóteses passíveis de correção ao longo do tempo Nos dois casos é difícil saber de que forma o vínculo entre cada indivíduo e a designação que lhe corres ponde ocorreu e em que medida ela pode ter sido alterada ao longo do tempo de acordo com diferentes circunstâncias Tais questões podem ser enfrentadas apenas num nível de análise mais aprofunda do para o qual os dados são escassos Por isso a correspondência aparentemente simplista entre grupos da diáspora e grupos africa nos é apenas um artifício para tentar traçar suas rotas sem com isso pretender buscar qualquer interpretação continuísta do ponto de vista da cultura Passo agora a enfocar as designações que aparecem na documen tação referente à cidade do Rio de Janeiro local em que minha pes quisa tem estado concentrada até agora Para isso parto dos dados biográficos de dois escravos alforriados que chegaram ao Brasil provavelmente na mesma época tendo ambos terminado juntos na cidade do Rio de Janeiro A identificação dessas procedências com binada à leitura da historiografia dos povos conhecidos como fon ou gbe classificação linguística está permitindo a reconstituição das rotas que deslocaram escravos em direção aos portos do litoral nos séculos XVII e XVIII antes e depois da expansão do reino do Daomé ao longo da década de 1720 Entretanto é importante deixar claro que a língua é apenas um dos componentes aqui considerados e que as fronteiras entre os grupos de procedência e os grupos étnicos são bem mais complexas As duas biografias aqui apresentadas são um resumo de textos anteriores que podem ser consultados para a obtenção de análises 68 mais detalhadas sobre Ignacio Gonçalves do Monte e Victoria Correa da Conceição33 As biografias de Ignacio Monte e Victoria da Conceição O escravo identificado mais tarde como Ignacio Gonçalves do Monte foi batizado na Freguesia de Nossa Senhora da Candelária cidade do Rio de Janeiro em 22 de setembro de 174134 Seguindo o uso local no assento consta apenas terem sido batizados dois es cravos de Domingos Gonçalves Ignacio Mina e José Mina ambos adultos Ignacio teve como padrinho outro José que por sua vez era escravo de Antônio Gonçalves e como madrinha Tereza escrava de Domingos Francisco35 Pelo menos desde 1748 e provavelmente antes disso Ignacio era membro da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia no interior da qual passou a pertencer à Congregação Mina que reunia africanos vindos da Costa da Mina Nessa ocasião a Irmandade estava instalada na Igreja de São Domingos e começava a construir uma capela própria nas imediações Em 1757 um oficial de barbeiro chamado Antônio Gonçalves da Costa36 pagou a Domingos Gonçalves 350000 réis37 pela alforria de Ignacio Segundo consta na carta Ignacio era também oficial de barbeiro e sangrador Em data e condições não esclarecidas parece ter ingressado no Regimento dos Pretos da cidade sendo respeitosamente chamado de capitão A irmandade possuía outros barbeiros e oficiais do Regimento dos Pretos entre seus membros mostrando que pertenciam a uma eli te da escravaria da cidade Em 26 de fevereiro de 1759 casouse com Victoria Mina e com ela viveu até o fim de seus dias Em 1762 em meio a um grande conflito Ignacio e outros aliados deixaram a Congregação Mina para organizar sua própria agremiação que ficou sendo conhecida como Congregação Mahi A nova Congregação reu nia membros dissidentes da Congregação Mina de várias localidades no interior da terra dos mahis como Savalu Dassa e outros de fora como Za Agolim e mesmo de bem longe como os ianos Nessa ocasião Monte foi eleito rei da Congregação Mahi título que mante ve até morrer no Natal de 1783 em consequência de uma moléstia que o deixou na cama por algum tempo Foi sepultado no cemitério da Irmandade em um funeral pomposo compatível com sua posição É o próprio Monte quem relata em seu testamento ser ele neto de 69 Eseú Agoa rei dos mahis motivo que sem dúvida deve ter contribuí do para ser eleito rei dos mahis no Rio de Janeiro Após sua morte a Congregação enfrentou uma grande crise sucessória em meio à qual foi escolhido um novo rei numa eleição que segundo consta reuniu em torno de 200 membros da Congregação Mahi38 Ainda no ano de 1742 foi batizada em Vila Rica do Ouro Preto capitania de Minas Gerais uma escrava nomeada Victoria Courana que veio a ser a esposa de Monte em cujo testamento foi apresen tada como herdeira e testamenteira sob o nome de Victoria Correa da Conceição Seu batismo realizado em janeiro foi anotado pelo Pe Leão Sá que a descreveu como uma mulher baixa bemfeita de corpo de aproximadamente 25 anos e que trazia no rosto as marcas de sua terra Depois de um número indefinido de anos passados em Vila Rica em data desconhecida e por motivos ignorados Victoria foi para o Rio de Janeiro onde em 13 de dezembro de 1755 pagou 180000 réis por sua alforria a Domingues Rabello de Almeida seu então senhor Não encontrei até agora documento que esclareça como Victoria chegou ao Rio de Janeiro nem como juntou dinheiro para comprar sua alforria39 O certo é que ela e Ignacio se encontra ram ou se reencontraram e se casaram O processo de habilitação matrimonial que faz correr os proclamas para o casamento informa todos os nomes com os quais ela foi identificada ao longo da vida no batismo era Victoria courana escrava de Domingos Correa Campos na carta de alforria passou a Victoria Correa Campos sobrenome do seu primeiro senhor que a mandou batizar no testamento do mari do datado de 1763 está como Victoria Correa da Conceição quem sabe em homenagem à Virgem que dá o nome à paróquia em que foi batizada Com a morte de Monte sua condição de rainha foi ques tionada fazendo com que ela se envolvesse no conflito sucessório e fosse destronada e acusada de revoltosa Não pude ainda encon trar seu testamento tampouco seu óbito A última notícia sobre ela data de 1788 quando ainda lutava contra seus oponentes para man ter a coroa de rainha da Congregação Mahi e aspirava ser coroada Imperatriz da Costa da Mina na antiga Congregação Mina que ela e o defunto marido tinham deixado para trás em 1762 quando fundaram a Congregação Mahi40 No assento de casamento Monte e Victoria aparecem como mi nas41 mas em documentação complementar é possível verificar que Monte é minamahi42 e Victoria minacourana43 É importante agora 70 esclarecer que não apenas o fato de se encontrarem na cidade mas também o de terem vínculos de parentesco consanguíneo anteriores certamente influenciaram na opção matrimonial e na escolha do ca sal para reinar sobre os mahis do Rio de Janeiro Segundo o próprio Monte Victoria era sua parenta por sanguinidade por ser filha de seu avô Temos então dois escravos um mahi e uma coura que são batizados no mesmo ano de 1742 e que dizem ser consanguíneos O próprio Ignácio relata Declaro que sou natural da Costa da Mina preto forro e liber to e fui escravo de Domingos Gonçalves do Monte a quem dei por minha liberdade trezentos e cinqüenta mil réis como constará da minha Carta de Alforria Declaro que sou casado com Vitória Correa da Conceição preta forra e até o fazer des te meu testamento não temos tido filhos e nem os tenho de outra qualquer mulher em solteiro e nem depois de casado Declaro que a dita minha mulher é minha parenta por sangüi nidade em terceiro grau por ser ela filha do meu avô Eseú Agoa bem conhecido rei que foi entre os gentios daquela costa do Reino de Maý ou Maqui 44 Segundo as regras estabelecidas pelas Ordenações Filipinas e con firmadas pelas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia os senhores tinham um prazo de seis meses para batizar seus escra vos45 É possível que muitos não tenham cumprido essa ordem mas tendo Victoria e Ignacio sido batizados no mesmo ano em lugares diferentes é grande a possibilidade de terem chegado ambos no ano de 1741 numa mesma embarcação ou em viagens contemporâneas Uma vez desembarcados provavelmente no Rio de Janeiro Ignacio foi comprado por um morador da cidade e Victoria foi levada para Minas Gerais As histórias de Ignacio Victoria e outros pretosminas que fre quentavam a Igreja de São Domingos e participavam da Irmandade de Santo Elesbão apontam pistas para desvendar seu passado O pa rentesco entre Ignacio e Victoria foi o ponto de partida para a identifi cação do lugar de procedência dos couranos e para o esforço de iden tificar outros lugares como Cobu46 Antônio Luiz Soares sobreviveu a vários senhores e comprou sua liberdade tendo morrido bem velho no ano de 1755 Embora sua maior devoção fosse São Domingos em 71 cuja capela pediu para ser sepultado Antônio deixou 3400 réis de esmola para as obras da igreja de Santa Efigênia inaugurada incom pleta em 1754 Em seu testamento escrito em português confuso demonstra ser ele um dos pretosminas mais ricos do seu tempo Declaro que fui nascido em terras de brutos e de gentilidade como foi a Costa da Mina e sou de nação Cobu e por o Senhor se querer lembrar de mim passei daquele reino dele há sete anos pouco mais ou menos a vender da Cidade da Bahia onde fui vendido ao primeiro senhor que tive na dita terra cidade por nome Antônio de Bastos Mendes o que me ensinou a Santa Doutrina e me mandou batizar e com efeito fui batizado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia da dita cidade qual parti também a vender nesta Cidade do Rio de Janeiro e fui comprado pelo defunto em sua vida Antônio Soares homem estrangeiro e boticário que foi e mo rou com sua mulher detrás do Convento de Nossa Senhora do Monte do Carmo e desta escravidão me libertei depois do dito defunto por duzentos e tantos mil réis que dei pela minha pes soa ao defunto o Reverendo Padre Teodósio de Souza como testamenteiro do mesmo defunto o qual testamenteiro me pas sou Carta de Liberdade em notas pelo sobredito preço tudo feito a beneplácito e consentimento e vontade da mulher viúva do sobredito defunto47 Ao lado dos mahis e dos couranos os cobus são também uma identificação recorrente na documentação setecentista especial mente em Minas Gerais e ainda menos conhecidos do que os outros dois Dados recentes na historiografia dos africanos minas em Minas Gerais A questão aqui levantada é saber como tais grupos que à diferen ça dos mahis são desconhecidos da historiografia da Baía do Benim podem ser identificados O fato de se referirem a Coura e Cobu como terras indica que havia uma unidade um grupo anterior à diáspora que partilhava um território e que membros desse grupo se reencon traram no cativeiro A questão é como saber de onde eles vieram Nos 72 limites desse texto basearmeei em dois trabalhos clássicos o livro de Robert Cornevin Histoire du Dahomey e o livro de Robin Law The Slave Coast of West Africa48 Essas leituras foram fundamentais para entender tanto o comércio de escravos no litoral Law quanto a dis tribuição das populações do interior Cornevin A documentação disponível e exaustivamente consultada por Cornevin e Law geralmente recobre os relatos e documentos pro duzidos pelo próprio comércio de escravos no litoral Com isso sa bese perfeitamente onde os escravos foram embarcados mas para tempos mais remotos como a primeira metade do século XVIII ou antes é difícil estabelecer a procedência dos escravos que chegam ao litoral Por outro lado o apresamento de escravos no entorno da Baía do Benim tem estado sempre associado às guerras que aí ocor reram a partir do século XVII e que estiveram de um modo ou de outro vinculadas ao surgimento e à expansão dos reinos de Akwamu no atual Gana e Daomé no atual Benim Vários historiadores de bruçaramse sobre a história desses povos e existe um amplo debate historiográfico sobre o impacto causado pelo comércio atlântico de escravos na região de vários pontos de vista De um modo ou de ou tro as guerras e sua relação com o comércio atlântico têm sido uma explicação constante para a oferta de escravos a serem negociados nos diferentes portos dessa costa que ficou conhecida como a Costa dos Escravos49 Temos então como ponto de partida para a identificação das pro cedências dos escravos duas variáveis importantes primeiramente os nomes desses grupos no Brasil não correspondem aos nomes dos reinos ou outras nomenclaturas do litoral em segundo lugar se as guerras efetivamente geraram a maior parte dos escravos da diáspo ra atlântica que guerras foram essas As principais guerras das pri meiras décadas do século XVIII no litoral são as guerras de expansão dos reinos do Daomé e Akwamu Estes são conflitos absolutamente determinantes para os destinos do comércio de escravos e para a reordenação da distribuição da população litorânea mas são raras as menções a esses reinos na nomenclatura associada às formas de organização dos escravos minas no Brasil apenas pouquísimas refe rências a escravos dagomés Ao lado dessas guerras litorâneas mui tas outras ocorreram associadas a deslocamentos populacionais ao norte e que foram muito pouco registradas pela historiografia Assim sendo no litoral e principalmente no interior um grande número de 73 pequenos grupos aldeias e regiões de menor destaque permanecem desconhecidos Mas alguns deles mesmo pouco destacados na geo grafia e na nomenclatura da Costa dos Escravos e de seu interior adquirem visibilidade na escravidão Não à toa já que são os perde dores aqueles que terminam nas mãos dos negreiros Em Minas Gerais num total de 34327 escravos arrolados em in ventários de Minas Gerais entre 1715 e 1888 temos minas 2769 homens e 824 mulheres total de 105 nagôs 272 homens e 29 mu lheres total de 09 cobus 220 homens e 19 mulheres total de 07 couranos 139 homens e 23 mulheres total de 05 Dentre os não diferenciados estão por exemplo os mahis Os dados de Begard mostram que a entrada dos minas concentrouse nas três primeiras décadas do século começando a cair sistematicamente já a partir da década de 172050 Isso também indica que boa parte dos 105 dos minas teria entrado antes de 1730 e talvez mesmo antes de 1720 O problema é que a documentação anterior a 1715 dada a desorganiza ção da capitania é quase nula Reforçando os dados de Begard uma listagem de Vila do Carmo depois Mariana para o ano de 1723 arrola 1239 africanos sendo 423 minas 18 cobus 1 courano51 Um outro componente importante dos dados apresentados por Begard é a alta proporção de escravos do sexo masculino Seguindo a argumentação de Paul Lovejoy os escravos homens são aque les que percorrem as mais longas distâncias havendo uma tendência a que as mulheres do interior sejam comerciadas no mercado afri cano e não no Atlântico Portanto o comércio atlântico de escravos se caracteriza por mulheres e crianças da região costeira e homens que podem ser apresados nas guerras litorâneas ou trazidos pelas caravanas de lugares mais remotos do interior52 Portanto o perfil do escravo mina encontrado em Minas Gerais nas primeiras duas ou três décadas do século XVIII parece corresponder mais ao negócio de longa distância do que ao perfil do escravo litorâneo Entretanto se consultada a literatura não há menção a um comér cio regular de escravos entre o interior e o litoral com vistas ao aten dimento da demanda atlântica de escravos na primeira metade do sé culo XVIII A associação entre escravidão e guerra faz com que Robin Law só se preocupe com o interior depois de 1730 Quando encer radas as guerras com os reinos de Alada e Hueda o Daomé se volta para o interior passando a atacar sistematicamente Oió e também os mahis que ficam em seu caminho Diante da baixa representatividade 74 dos mahis na documentação mineira duas possibilidades mostram se dignas de melhor investigação eles podem estar ocultos entre os chamados minas ou podem ter sido traficados em maior número a partir de 173040 compatível com a historiografia africana e já não ter ido em tão grande proporção para Minas Gerais ficando parte deles no Rio de Janeiro como foi o caso de Ignacio Monte eou po dem ter sido mandados para Mato Grosso para faiscar diamantes A segunda hipótese parece mais plausível mas de todo modo Joam Maquine como foi visto já estava em Minas Gerais em 1725 Os couranos estavam bem representados em Minas Gerais na dé cada de 1720 e provavelmente antes disso O primeiro caso regis trado é o de Joana courana moradora em Vila do Carmo que foi al forriada em 172253 Como as informações aqui obtidas vêm de inven tários e alforrias essas datas não correspondem ao ano de chegada Especialmente no caso das alforrias as datas devem ser calculadas considerando pelo menos dez anos de trabalho para que um escravo pudesse juntar os recursos necessários para comprar sua carta de alforria ou merecer a generosidade de seu senhor Assim sendo tanto os mahis quanto os couranos e cobus provavelmente já começaram a ser negociados nos portos do litoral no máximo na segunda década do século XVIII correspondendo às primeiras levas de escravos che gados a Minas Gerais Essa cronologia é fundamental não apenas para a história da escravidão mas também para a história do comércio atlântico de escravos e para a própria história da África porque aponta para uma pouco explorada cronologia dos contatos entre os portos do litoral e os mercados de escravos do interior que em épocas tão remotas normalmente estão mais associados ao comércio das ca ravanas haussás e ao circuito muçulmano54 Para melhor explicar a questão aqui colocada passo a descrever sumariamente as rotas das caravanas Os couranos não aparecem em outras documentações africanas e tampouco foram até agora encontrados na documentação baiana ressalva feita à menção de Verger aos couranos em Ajudá Embora minha pesquisa ainda esteja em andamento acredito haver um equí voco na identificação dos couranos a quem Verger não deu a devida atenção A presença significativa de couranos em Minas Gerais mos tra que um contingente importante desse grupo foi escravizado em 75 condições ignoradas No que diz respeito à dificuldade de identifica ção de grupos étnicos em decorrência das fontes analisadas agrego o argumento da dificuldade de compreensão da etnicidade por sua dimensão transformadora que gera o que Paul Lovejoy chama de mi ragem da etnicidade55 Um caso analisado por Luiz Mott merece destaque Josefa Maria pretamina courana das Minas de Paracatu foi denuncia da à Inquisição Segundo consta promovia a dança de Tunda ou Acotundá falando na língua de Coura fazendo sacrifícios ao deus de sua terra o deus da nação coura descrito como um boneco de barro com cabeça e nariz a imitação do Diabo espetado em uma ponta de ferro com uma capa de pano bran co colocado no meio da casa em um tapete com umas frigi deiras em roda e dentro delas umas ervas cozidas e cruas búzios dinheiro da Costa uma galinha morta uma panela de feijão moringas de água etc56 A referência a uma terra ou reino termos próprios do universo colonial português nos previne quanto à ilusão de que reproduzam uma organização territorial e política africana original Se por um lado é preciso evitar essa interpretação ingênua da terminologia por outro não há dúvida de que a nomenclatura evoca de forma con tundente um passado vivido e representado57 Ignacio mahi declara se neto de um bem conhecido rei Victoria courana tem o rosto coartado à moda de sua terra Antônio Cobu vem de uma terra de brutos para conhecer a salvação eterna na devoção aos santos em Minas Gerais Josepha coura canta e faz sacrifícios ao deus de sua terra Tanto aqueles que se apresentam como católicos fervorosos e combatem o abuzo gentílico e supersticioso quanto os que cultuam os deuses pagãos de sua terra possuem as marcas de uma identidade construída com base no lugar do qual vieram qualquer que seja ele Mas por outro lado é importante lembrar que essas identidades são operacionais e que se misturam sem que seja possível saber como e por que atuam sem um estudo detalhado de cada caso Victoria por exemplo era courana em meio aos mahis e apesar dos confli tos por algum motivo essa particularidade nunca foi aventada nem contra nem a favor dela58 Tudo o que contra ela se fez foi por ser considerada feiticeira e revoltosa Por outro lado dados os casos 76 descritos por Mott não podemos ignorar a possível fama de feiti ceiras que deviam ter as mulheres couranas assim como tinham as mulheres mahis59 Essas referências mesmo que esparsas a um passado geografi camente localizado mostra um profundo vínculo com os lugares de onde saíram indicando que o rastreamento das nações e terras apre sentase até agora como a melhor estratégia para conectar os dois pontos extremos das rotas da diáspora africana o lugar de onde as pessoas saem e para onde elas vão Essa informação é fundamental porque a identificação dos portos de embarque e desembarque trabalho da maior importância e base para qualquer outro estudo pode dizer muito pouco das pessoas que por ali transitam É exata mente a força dessa identidade que faz com que ela seja apreendida pela escrita colonial e fique registrada na documentação da época As rotas do interior para a Costa dos Escravos Coura e Mahi lugar de partida O argumento apresentado aqui é uma conjectura ponto de par tida para novas etapas de pesquisa a serem desenvolvidas tanto na documentação do Brasil quanto na de outras partes das Américas e também da Baía do Benim Em trabalhos anteriores tenhome dedicado a mostrar que os mahis concentrados na cidade do Rio de Janeiro pelo menos des de meados do século XVIII e aí permanecem atuando pelo menos até a primeira década do século XIX abriram um enorme campo para pensar a possibilidade de identificar de modo mais preciso a procedência dos escravos ditos minas Do conjunto de pequenas bio grafias obtidas por meio de pesquisa meticulosa na documentação eclesiástica e cartorial foi possível chegar ao interessante caso do casal Ignacio Monte e Victoria Correa já descrito acima No entanto a mais importante constatação que esse caso trouxe à tona foi a in formação de que essa mulher courana era filha de um homem mahi mais exatamente de uma importante liderança que seu neto chamou Eseu Agoa e a quem atribuiu o título de rei dos mahis A leitura da história dos povos da África ocidental num sentido mais amplo abriume os olhos para uma nova identificação dos cou ranos diferente da de Verger que passo a expor Os couranos assim como os mahis vieram do interior e foram enviados ao litoral para 77 atender a uma urgente demanda de escravos para as recémdesco bertas minas de ouro de Minas Gerais Em 20 de junho de 1703 o go vernador da Bahia D Rodrigo Costa 17021705 escreveu uma carta ao rei de Portugal informando que moradores do Rio de Janeiro esta vam comprando escravos na Costa da Mina com o ouro desviado do quinto Em setembro do mesmo ano o rei D Pedro II proibiu a ida de embarcações do Rio de Janeiro à Costa da Mina A lei nunca foi cum prida e terminou por ser abolida em 171560 Essa é uma das razões por que a documentação é falha para os anos anteriores a 1715 já que grande parte dos escravos que entraram em Minas Gerais entre 1700 e 1715 foram levados para lá mediante alguma irregularidade Mas com base na denúncia do governador sabese que provavel mente desde 1702 comerciantes de escravos do Brasil tinham ouro e precisavam comprar escravos para obter mais ouro Embora essa demanda possa não ter afetado significativamente o conjunto do vo lume do comércio atlântico foi determinante para drenar rapidamen te um número elevado de escravos para o litoral Em vez de contar com as guerras e outros mecanismos de apresamento parece que essa demanda foi atendida por meio de encomendas a comerciantes dos mercados ou feiras do interior situados nas rotas das carava nas que puderam arcar com a transferência de um número eleva do de escravos num curto espaço de tempo Assim sendo ao lado da oferta regular dos escravos do litoral entre ca1702 e ca173061 foram trazidos escravos do norte de localidades próximas a rotas muçulmanas nas quais costumavam ser negociados os escravos des tinados ao Sudão Central Esses escravos foram levados para Minas Gerais homens em sua maioria o que era uma vantagem adicional à fartura da oferta e colocados para trabalhar nas lavras de ouro Um dos mais importantes centros mineradores foi Vila do Carmo depois Mariana onde os casos aqui tratados estão concentrados Tal hipótese amparase exatamente na identificação da procedên cia dos escravos de Minas Gerais nas primeiras décadas do século XVIII Nas irmandades católicas frequentadas por escravos e forros foram encontrados couranos cabus mahis e sabarus todos bem or ganizados mas a documentação faz ainda menção a uma longa lis ta de nomes que estão sendo progressivamente identificados como chamba cabrera e fuam Todos esses nomes correspondem com maior ou menor precisão a lugares ao norte da terra dos mahis entre 78 esses e a rota das caravanas que vão de Salaga para Kano numa área hoje dividida entre Benim e Togo62 Buscando informações dispersas em vários autores e fazendo uma cuidadosa pesquisa cartográfica pude chegar a um quadro geral des sa região Parrinder descreve uma migração iorubá de leste para oes te que teria chegado a Dassa e Savé e de lá seguido para o norte em direção a Bassila no limite entre os grupos majoritariamente iden tificados como de língua iorubá e cotocoli É nessa região ao norte de Bassila e próxima às nascentes do rio Mono que fica localizada Aledjo63 que em iorubá quer dizer estrangeiro64 Cornevin refere se à mesma localidade como Aledjo Koura Koura estrangeira65 Segundo ele quando os cotokolis vieram de Gourma atravessaram Aledjo Koura em seu caminho para Soudou Koumandé até Aledjo Kadara todas localidades do atual Togo Ele menciona ainda a rota de Djogou66 em direção a Savalu67 localidade no interior do território mahi de onde seguindo sempre em direção ao sul chegavase à épo ca a Abomey capital do reino do Daomé e de lá ao litoral Cornevin identifica ainda Kabou como um importante mercado de escravos da rota de Salaga situado perto de Aledjo Koura Segundo ele nessa re gião estão localizados os Gourounsi e os Kourouma68 Os Gourounsi são encontrados no Brasil no século XIX conhecidos como grunci e provavelmente os Kourouma são os Couranos Segundo Cornevin os Gourounsi do leste são os Kabré69 Em trabalhos mais recentes o historiador togolês N L Gayibor insere Aledjo Kabou e Tchamba os chambas do Rio e Minas na rota oitocentista da nozdecola já estudada por Lovejoy mostrando que tanto Aledjo Koura quanto Kabou ficam na rota entre Salaga e Zaira e que Tchamba um pouco mais afastada está ligada a essa mesma rota70 Em toda a África oci dental os grandes mercados convivem com outros menores e com pequenas feiras em dias alternados da semana de modo que cada pequeno povoado tem seu mercado e faz negócios locais de curta e de longa distância comprando e vendendo todo tipo de mercado rias inclusive escravos tanto para uso local quanto para a venda às caravanas71Assim sendo chegamos a uma geografia que conta com duas linhas horizontais imaginárias uma ao norte a estrada entre Salaga atual Gana e Kano atual Nigéria por onde os haussás trans portam sua valiosa nozdecola além de outros produtos e escravos para serem negociados em todo o Sudão Central outra no sul o li toral da Baía do Benim pontuado por portos negreiros nas praias e 79 lagoas que se prolongam por toda a costa Foi nessa larga faixa que ao longo da vigência do tráfico atlântico os escravos foram encon trados Mas para que descessem de um extremo a outro e atendes sem à demanda do litoral precisaram de estradas rotas comerciais que bem conhecidas no século XIX ainda são pouco analisadas para os séculos anteriores Uma rota de escravos dessas proporções não surge do nada em um ou dois anos Embora não existam registros claros sobre isso certamente tais rotas já existiam Referências es parsas a comerciantes muçulmanos na costa datam do século XVI Por fim quero ressaltar que a movimentação dessa rota no século XVIII quando os escravos eram pagos a peso de ouro pode indicar uma transferência do ouro do Brasil não para os reinos costeiros mas para o comércio africano do interior motivo pelo qual teria sido pouco detectado no litoral Considerando as localidades acima in dicadas é possível que tenham mesmo existido duas grandes rotas de saída uma que descia de Kabou passava por Sokode e chegava ao litoral na altura de Aflao e Lomé72 no atual Togo ou nessas ime diações73 e outra que descendo de Natitingo passava por onde em meados do século XVIII se estabeleceu o chamado círculo de Djogou chegava a Aledjo Koura de lá ia a Bassila e mais ao sul entrava nas terras dos mahis passando por Savalu e Dassa dali entrava no reino do Daomé passando por Abomey capital e de lá a Aladá onde a estrada se bifurcava para os portos de Ajudá hoje conhecida como Ouidah e Jaquem ambos no atual Benim74 Uma descrição dos portos da Costa da Mina deixada por Francisco Alves de Sousa o regente da Congregação Mahi quando Ignacio era rei menciona dois portos Popo Pequeno no atual Togo e Ajudá no atual Benim O texto faz parte do já mencionado diálogo cujo conjun to está datado de 1786 mas como essa parte foi escrita com base nas informações de um piloto meu amigo como informa Sousa pode conter informações mais antigas75 Do Cabo de São Paulo ao Popo Pequeno haverá 14 léguas e daí ao Grã Popo 4 mas adiante 5 ou 6 léguas para a banda de leste está o porto de Ardra chamado Fida ou Ajudâ Este porto é muito perigoso principalmente nos meses de abril maio junho e julho por andar então o mar tão grosso que será arris car visivelmente um navio o querer entrar nele e se tem visto 80 ali muitas desgraças adiante 5 léguas está o porto de Jequem aonde se faz muito negócio de pretos76 Assim tanto couranos quanto mahis e outros devem ter embarca do em Ajudá Também podem ter embarcado em Ajudá ou Jaquem os ianos assim chamados numa grafia aportuguesada da grafia usada pelos franceses Ayonous para Ayo que os ingleses escrevem Oyo deixando cair o A como algumas vezes acontecia Essa hipótese por sua vez aponta para uma ligação entre os comerciantes do Rio de Janeiro e os franceses que negociavam na Mina especialmente em Jaquem onde pelo menos desde 1728 os franceses já possuíam feito ria o que indica que deviam comerciar ali antes disso77 A informação mais precisa que pude encontrar sobre os contatos entre a costa e os comerciantes muçulmanos vem do livro Caravans of Kola de Paul Lovejoy Ao tratar da ligação entre a rota da cola e o lito ral ele menciona a presença dos malais na costa atlântica no início do século XVIII argumentando que quase certamente esses malais seriam comerciantes wangara uma identidade complicada associada ao comércio da nozdecola e aos deslocamentos haussás pelo Sudão Central Embora o autor não faça referência a Aledjo Koura aponta para o comércio de escravos na região Thiamba Chamba e Kotokoli foram embarcados para as Américas desde os anos de 1750 Todos vinham da região de Dedaure à qual os muçulmanos geralmente se referem como Kotokoli O uso do termo indicava que Gonja Dagbon e tal vez Dahomey estivessem rastreando a área em busca de es cravos mas também era possível que ali houvesse um centro comercial78 Koura pode assim como outras localidades ter exercido essa fun ção Portanto como mostram esses autores o problema não é iden tificar a descida dos escravos em direção ao litoral mas tentar datar esses movimentos e identificar com mais precisão de onde vinham os escravos assim como a possibilidade de que existiram já nos primei ros anos do século XVIII não apenas uma mas duas rotas para o litoral sendo a menos conhecida a que atingiria Aflao onde mais do que em Ajudá se desconhece a origem dos escravos aí vendidos Se essa se gunda rota operava nas mesmas proporções das outras pode ter tra zido um grande número de escravos de áreas ainda mais impensadas até agora Uma rápida olhada no mapa de William Snelgrave que traz informações de cerca de 1730 mostra o enorme vazio que se estende 81 entre os rios Volta e Benim e a completamente distorcida localização do reino do Daomé supostamente o mais conhecido dos comerciantes europeus O mesmo vazio permanece no mapa de Fage o mais conhe cido atlas da África79 Robin Law menciona a presença de comerciantes muçulmanos no litoral em 1704 mas não oferece qualquer informação sobre o comér cio então realizado80 Com base nas fontes mineiras é possível intuir que esses comerciantes lá estavam atraídos pela oferta de ouro para atender à demanda de escravos de Minas Gerais Como mostra a correspondência do governador do Rio de Janeiro desde 1702 os comerciantes do Rio de Janeiro mandavam buscar escravos em troca de ouro na Costa da Mina Rio de Janeiro e Salvador foram os portos que deram saída ao ouro do quinto desviado dos cofres portugueses Se Ajudá já tinha contatos comerciais regulares com a Bahia desde os anos de 1680 não seria impróprio pensar terem os comerciantes do Rio de Janeiro ido tentar melhor sorte em Aflao e Jaquem Os mapas apresentados e o croqui das rotas terrestres abaixo aju dam a visualizar a localização dos povoados e os caminhos por meio dos quais estão interligados Só estão marcados os caminhos que apa recem na literatura africanista As duas rotas assinaladas em tracejado são a de SokodêSavalu mostrada apenas por Fage e a de Sokodê litoral cuja existência no início do século XVIII não está comprovada Traçado conjectural da rota terrestre dos escravos ditos mina em Minas Gerais desde suas terras até os portos da Baía de Benim Observação As fronteiras atuais foram incluídas com a intenção de facilitar a leitura do mapa 82 No conjunto o ponto mais remoto ao norte é Kobu por mim as sociado aos cobus Embora seja difícil comprovar cada detalhe da hipótese apresentada separadamente é indiscutível que juntas es sas diversas peças do quebracabeça formam um conjunto bastante verossímil Se a escravização desses grupos da segunda metade do século XVIII em diante é assegurada pela literatura o que propronho aqui é recuar no tempo e perceber que tal rota já está em funciona mento desde as primeiras décadas do século para atender às lavras de ouro de Minas Gerais Voltemos ao testamento de Antônio Cobu Morto em 1755 ele chegou à Bahia com aproximadamente sete anos segundo seu pró prio depoimento Em sendo verdadeira esta data ele teria chegado c 1707 Antônio ao contrário de outros cobus ficou em Salvador ven dendo quiabos e não foi mandado sertão adentro a pé até Minas para lavrar ouro Talvez por isso tenha sobrevivido para contar sua his tória81 Em sua listagem de 1723 referente aos quintos reais Moacir Maia indica 23 cobus 21 homens e duas mulheres e 13 couranos 11 homens e duas mulheres já Fernanda Pinheiro em sua listagem da década de 1750 encontra apenas sete cobus e 67 couranos indican do com isso que os cobus seriam mais antigos em Minas do que os couranos Nenhum dos dois menciona os mahis Pinheiro menciona sete saborus que como já foi dito anteriormente devem ter sido exportados em maior escala depois de 1730 e começaram a aparecer regularmente na documentação na segunda metade do século Esse retardo é geralmente consequência das fontes consultadas princi palmente os testamentos de forros Para concluir o conjunto dos dados coletados indica que ao con trário do que se possa pensar a escravização não avançou do litoral para o interior pelo que vemos na rota estudada ela começou no interior Isso indica que povos e localidades que foram usadas como passagem das caravanas foram progressivamente transformadas em alvo da escravização Assim sendo com o tempo os campos de caça foramse deslocando para o sul até que nos anos 1930 o Daomé podia obter escravos em local bem próximo seus próprios vizinhos mahis Por outro lado indica também que os mahis devem ter participado regularmente do comércio de escravos do norte durante boa parte da primeira metade do século XVIII quando as rotas das caravanas passavam por Savalu para atingir o litoral Como último comentá rio os motivos e o modo como essas populações do norte foram 83 escravizadas nada têm de imediato a ver com os conflitos que lhes foram contemporâneos no litoral estando mais associados às migra ções dos iorubás e dos baribas no final do século XVII e começo do XVIII Os conflitos aí ocorridos entre populações que já ocupavam a região e as levas de migrantes que chegam geraram certamente uma enorme oferta de escravos que devem ter sido levados para várias partes do Sudão central através da rota de Salaga a Kano e também enviados ao litoral de onde foram mandados para partes ainda pouco conhecidas das Américas entre elas o Rio de Janeiro com destino a Minas Gerais Para completar quero ainda citar dois outros casos identificados no Brasil na mesma época e que ficaram em suspenso cabrerá e fuam ou foam Os cabrerás provavelmente correspondem aos Kabré es tudados por Charles Piot82 Sobre os fuans ou foam provavelmente também vindos dessa mesma região não pude encontrar nenhum trabalho de maior profundidade para auxiliar na identificação Voltando ao caso de Ignacio e Victoria Os anos de intensa demanda de escravos para Minas Gerais atra vés dos portos do Rio de Janeiro não ultrapassam a década de 1730 começando a cair no final da década de 1720 Assim sendo tanto Victoria quanto Ignacio parecem não se adequar à situação descrita Teriam ambos chegado no início da década de 1740 no máximo na década de 1730 já no final dos anos de ouro das Minas Assim o caso que deu origem à investigação mostrouse pouco explicativo e conti nua carecendo de explicação Como poderia Victoria ser filha do avô de Ignacio conforme explicitamente dito por ele em seu testamento Por que teriam eles e outros mahis chegado tão tarde Para responder a essa questão é preciso voltar à cronologia e ver que embora apareçam alguns mahis na documentação da década de 1720 eles são minoria A irmandade do Rosário de Mariana reúne 80 couranos na primeira metade do século e não há menção a um só mahi por outro lado em 1786 eles chegam a 200 na Congregação Mahi do Rio de Janeiro Assim ao que tudo indica a rota que leva os couranos ao litoral é a mesma dos mahis que parecem ter sido tra ficados em quantidade em momentos distintos Enquanto o apresa mento de couranos se concentrou nas primeiras décadas do século o dos mahis deve ter ocorrido a partir da década de 1730 À diferença 84 dos couranos cujas condições de apresamento ainda precisam ser mais bem explicadas os mahis foram alvo de repetidas investidas do reino do Daomé principalmente depois de terminadas as conquistas do litoral De 1731 em diante os ataques se sucederam por todo o século até os mahis se tornarem tributários do reino do Daomé83 Assim Victoria é uma courana fora de época e pode ter sido apre sada num lote tardio ou mais provavelmente junto com os mahis em c 1739 para estar sendo batizada em janeiro de 1742 e não com seus conterrâneos Os couranos encontrados em 1743 no forte de Ajudá podem ter sido presos nas mesmas circunstâncias ou estar lá por ou tros motivos que provavelmente nunca se saberá A probabilidade de Ignacio e Victoria terem sido aprisionados juntos explicaria não ape nas a cronologia de sua escravização mas o parentesco entre eles Casamentos realizados entre reinos e povos aliados assim como a compra de escravas por homens ilustres são comuns em todas as partes da Baía do Benim Infelizmente não se sabe o parentesco exato entre Victoria e Ignacio mas tudo indica uma ou duas gerações de intercasamentos entre mahis e couras para que Victoria pudesse ser filha do avô de Ignacio Este casamento é também compatível com o padrão encontrado por Florentino e Góes no Rio de Janeiro onde mulheres mais velhas casavam com homens mais novos o que pode ter sido o caso84 Fica aqui a hipótese de contatos regulares entre pessoas de Aledjo Koura e da região Mahi que devido à distância que os separa justi ficase apenas com base em algum vínculo comercial A considerar a condição de estrangeiros dos iorubás seus vizinhos podem ter muito bem sido alvo de seguidas guerras e razias A pista para a co nexão dos mahis com as áreas fornecedoras de escravos nas primei ras décadas do século é dada por Pierre DAyrie o feitor francês no porto de Jaquem Em 13 de agosto de 1728 os daomeanos tinham interrompido a estrada que ligava Jaquem ao interior e ele carente de escravos advogava a necessidade de encontrar um caminho alter nativo para chegar ao território mahi porque segundo ele era de lá que vinham os escravos85 Esta é até agora a mais remota referência aos mahis encontrada na historiografia da Costa dos Escravos e mos tra que eles já eram conhecidos pelos europeus86 Esta frase pode ser interpretada de dois modos diversos os mahis eram os escravos como o serão a partir de 1730 com as investidas daomeanas em seu território ou até então o território mahi era passagem dos escravos 85 do norte para o litoral Savalu foi sem dúvida um ponto de confluên cia de estradas que de lá desciam para o litoral Termino esse argumento com a hipótese de que Victoria seria fru to de algum casamento negociado entre a gente de Mahi e a gente de Coura em algum momento da década de 1710 já que Victoria foi batizada em 1742 com cerca de 25 anos Infelizmente até agora não consegui identificar nenhuma grande guerra em c 1740 que justifi casse a prisão de dois destacados membros da elite mahi Apesar da escassez de dados que a comprovem tal hipótese baseiase no rela to de Ignacio que parece bastante confiável na medida em que suas informações confirmamse na historiografia africanista Segundo Cornevin AgouaGuédé é o nome do herói fundador do povo mahi Assim sendo Eseú Agoa nome dado por Ignacio a seu avô e pai de Victoria seria um nome ou título nitidamente associado ao herói fundador mahi Como a poligamia e a compra de mulheres era usual não é de se estranhar que Victoria possa ter sido filha de uma das mulheres de um poderoso chefe mahi que teria quem sabe tomado sua mãe como escrava ou negociado um acordo matrimonial ou re cebido um presente87 Pensar em Eseú Agoa como rei dos mahis traz à tona mais um problema Na África os mahis se caracterizavam pela ausência de poder político unificado Eram um conjunto diversificado de peque nas aldeias nas quais habitavam grupos vindos de lugares distantes como resultado de grandes e longas migrações entre o final do sé culo XVI e meados do século XVII todos falando línguas diferentes majoritariamente gbe e iorubá e tendo em comum o fato de parti lharem um mesmo território conhecido como a terra dos mahis88 Assim sendo Eseú Agoa não poderia ter sido rei Assim como não houve um reino ele foi provavelmente uma liderança familiar e local importante a ponto de trazer no nome uma referência ao herói fun dador aquele que levou um grupo do sul para o norte até aquelas montanhas inóspitas onde resistiram durante séculos às investidas estrangeiras89 A questão do estudo dos povos da Baía do Benim do ponto de vis ta dos reinos é um problema na historiografia Se de um lado permitiu um enorme avanço no conhecimento da região principalmente das relações entre esses reinos e os europeus por outro ofuscou partes da região e grupos menores que ainda hoje são pouco conhecidos Estes grupos menores parecem ter mostrado uma grande capacidade 86 de resistência e recuperação diante da caçada humana de que foram alvo Reinos foram derrotados Aladá Hueda Oió mas os mahis e outros permaneceram sendo sangrados por séculos Por não serem centralizados constituídos com base em uma unidade territorial e étnica eram difíceis de serem dominados e destruídos como se des trói um império Não havia rei para matar nem capital para invadir Isso acontece com os mahis constantemente atacados pelo Daomé durante todo o século XVIIII quando os daomeanos anunciaram em várias ocasiões terem submetido e destruído os mahis Mas eles con tinuavam lá então como agora90 Entre os séculos XV e XVIII grande parte da documentação que sustenta a historiografia da Costa Ocidental africana em particular da Baía do Benim baseiase em relatos e fontes relacionados à pre sença europeia no litoral africano e aos deslocamentos dos mercado res e líderes religiosos muçulmanos Um dos mais fortes argumentos para esta abordagem é o fato de que a historiografia dos povos africa nos lida com enormes lacunas documentais para os séculos anterio res à presença europeia especialmente nas áreas não atingidas pelo Islã como é o caso da região entre a costa e as estradas do interior no que hoje corresponde ao norte do Benim e Togo até o século XIX Assim sendo informações sobre a distribuição dos africanos nas Américas que resultam do comércio atlântico e não de fontes produ zidas pelos próprios escravizados não são fontes de natureza diver sa da maioria daquelas analisadas pelos historiadores da história da África É interessante destacar que boa parte da documentação que sustenta a pesquisa histórica da Baía do Benim foi não apenas produ zida em função do comércio atlântico mas efetivamente produzida na Europa Acresçase a isso o fato de que dificilmente a historiografia africanista tem acesso a documentos produzidos por africanos nos séculos XVII e XVIII que possam dar informações relevantes sobre as condições em que os apresamentos e o comércio de escravos se deram Trabalhos como a biografia de Baquaqua que trata de mea dos do século XIX mostram que os esforços para proceder a essa identificação tornamse mais raros na medida em que se retorna no tempo fato comprovado também do ponto de vista das análises de deslocamentos coletivos como é o caso do Slave Trade Database no qual grande parte das informações disponíveis se concentra da se gunda metade do século XVIII em diante91 87 No Brasil o acesso aos inventários de senhores de escravos a diferentes listagens nominativas e à documentação eclesiástica es pecialmente os batismos os testamentos de africanos alforriados e documentação das irmandades leigas são fontes preciosas a serem exploradas Neste sentido o trabalho que venho desenvolvendo abre infinitas possibilidades para a leitura de outros conjuntos documen tais como é o caso das confrarias de Cuba e mesmo da Espanha e de Portugal nas quais os africanos também tiveram papel de destaque Notas 1 A pesquisa que deu origem a este texto foi desenvolvida no âmbito do Harriet Tub man Resource Centre on the African Diaspora da York University que financiou o projeto Mina People in Rio de Janeiro coordenado por mim entre 20032005 inspi rado na proposta sintetizada por Paul E Lovejoy Ver Identifying enslaved africans in the African Diaspora In LOVEJOY Paul E Ed Identity in the shadow of slavery London Continium 2000 p 129 O argumento aqui apresentado é de minha respon sabilidade mas não teria vindo à tona sem o diálogo com os trabalhos de Paul Love joy e Robin Law que em grande parte inspiraram esta investigação Das consultas e conversas que o projeto tem gerado ao longo desses anos tenho sido e sou grata a ambos a maior beneficiária 2 Obras clássicas da historiografia brasileira têm no tráfico o centro de suas preocu pações GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico Prefácio de Sérgio Buarque de Holanda 3 ed rev São Paulo AlfaOmega 1975 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 FLORENTINO Manolo Garcia Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro séculos XVIII e XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacio nal 1995 3 Para o comércio atlântico merece destaque o monumental trabalho de MAURO Frédéric Le Portugal et lAtlantique au XVIIe Siècle 15701670 Paris SEVPEN 1960 4 Lembro aqui o interessante estudo de Mathew Restall sobre a presença de africa nos nas expedições de conquista na América espanhola RESTALL Matthew Con quistadores negros africanos armados en la temprana hispanoamerica In SERNA HERRERA Juan Manuel de la Coord Pautas de convivencia étnica en la América Latina colonial índios negros mulatos pardos y esclavos México DC Universidad Autónoma de México Centro Coordinador y Difusor de Estudios Latinoamericanos Gobierno del Estado de Guanajuato 2005 p 1972 5 Dois trabalhos exemplares são LAW Robin LOVEJOY Paul E Ed The biography of Mahommah Gardo Baquaqua his passage from slavery to freedom in Africa and America Princeton Markus Wierner Publishers 2001 ELTIS David et al The Trans Atlantic Slave Trade a database on CDRom Cambridge Cambridge University Press 1999 ainda em construção 6 Para Bahia ver OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de Quem eram os negros da Guiné a origem dos africanos na Bahia AfroÁsia Salvador p 3773 n1920 1997 para a Baía do Benim ver LAW Robin Etnias africanas na diáspora novas considerações sobre o significado do termo mina Tempo Sl Niterói n 20 v 10 p 109131 janjul 2006 para o Rio de Janeiro ver SOARES Mariza de Carvalho From Gbe to Yoruba ethnic changes within the Mina Nation in Rio de Janeiro In FALOLA Toyin 88 CHILDS Matt Org The Yoruba Diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 p 231247 7 INIKORI J E Forced migration the impact of the export slave trade on african socie ties The History Teacher Sl v 17 n 4 p 624625 Aug 1984 8 Sobre o tema ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 3 Ver também O guru o iniciador e outras variações antropo lógicas Organizado por Tomke Lask Rio de Janeiro ContraCapa 2000 Também o historiador Paul Lovejoy igualmente inspirado nos trabalhos de Barth fala de identificações étnicas mais inclusivas que fazem emergir esferas de solidariedade entre diferentes grupos étnicos mesmo quando não existem condições previamente determinadas para isso Cf LOVEJOY Paul Enslaved africans in the diaspora In E Ed Identity in the shadow of slavery London Continuum 2000 9 LAW Robin LOVEJOY Paul E Ed The biography of Mahommah Gardo Baquaqua his passage from slavery to freedom in Africa and América Princeton Markus Wier ner Publishers 2001 BERLIN Ira De crioulo a africano as origens atlânticas da sociedade afroamericana na América do Norte Continental Estudo AfroAsiáticos Sl ano 26 n 2 p 231258 2004 10 SOARES Mariza de Carvalho A nação que se tem e a terra de onde se vem ca tegorias de inserção social de africanos no Império português século XVIII Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 26 p 303331 maioago 2004 11 Ver também SOARES Mariza de Carvalho Descobrindo a Guiné no Brasil colonial Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Rio de Janeiro v 161 n 407 p 7194 abrjun 2000 12 BEGARD Laird W Escravidão e história econômica demografia de Minas Gerais 17201888 Bauru EDUSC 2004 p 228229 CAMPOS Adalgisa Arantes et al O banco de dados relativo ao acervo da freguesia de N Sra do Pilar de Ouro Preto registros paroquiais e as possibilidades de pesquisa In JORNADA SETECENTISTA 5 2003 Curitiba Anais Curitibasn 2003 p24 Para a região de Ouro Preto e Mariana que mais interessa aqui ver BERGARD op cit Tabela 42 dados gerais p 228 fig 41 concentração de africanos p 199 fig 410 distribuição dos minas no tempo p 229 13 CAMPOS Adalgisa Arantes et al O banco de dados relativo ao acervo da freguesia de N Sra do Pilar de Ouro Preto registros paroquiais e as possibilidades de pesquisa In JORNADA SETECENTISTA 5 2003 Curitiba Anais Curitibasn 2003 p24 14 Ver PEIXOTO Antônio da Costa Obra nova de Lingoa gal de mina traduzida ao nos so Igdioma por Antonio da Costa Peixoto Naciognal do Rno de Portugal da Provincia de Entre Douro e Minho do comcelho de Filgras Que com curuzide trabalho e des vello se expoz em aprendella pa tembem a emsignar a qm for curiozo e tiver von de de a saber Eo Nas Minas Geraise Frga de Barmou Anno de 1741 Lisboa Agência Geral das Colônias1949 Esse vocabulário foi analisado em dois trabalhos LARA Silvia Hunold Linguagem domínio senhorial e identidade étnica nas Minas Gerais de meados do século XVIII Trânsitos coloniais diálogos críticos lusobrasileiros Lisboa p 205225 2002 YAI Olabiyi Texts of enslavement fon and yoruba voca bularies from eighteenthandniniteenthcentury Brazil In LOVEJOY Paul E Ed Identity in the shadow of slavery London Continuum 2000 p 102112 15 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 3 16 A diversidade de grafias para os nomes dos lugares e grupos seja no Brasil seja na África é enorme Envolve o uso de diferentes línguas europeias e africanas e 89 ainda a dificuldade da leitura de manuscritos Procurei manter a grafia original dos documentos transcritos assim como de cada autor consultado 17 SCHWARTZ Stuart B The manumission of slave in colonial Brazil Bahia 16841745 HAHR Maryland v 54 n 4 p 603635 nov 1974 Tabela IV p 613 18 Tratase de pesquisa de mestrado em andamento de Clara Farias que destaca ain da que apenas os minas criaram mecanismos para sair da subordinação dos ango las que dirigiam a irmandade e se organizar de modo autônomo FARIAS Clara As nações minas em Pernambuco Trabalho de curso apresentado ao Programa de PósGraduação em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 19 Para a primeira referência aos sabalours ver LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 p 19 nota 19 20 Para listagem de 1723 ver MAIA Moacir Rodrigo de Castro Quem tem padrinho não morre pagão as relações de compadrio e apadrinhamento de escravos numa vila colonial Mariana 17151750 Dissertação Mestrado Departamento de História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 44 para listagem de 175060 ver PINHEIRO Fernanda Aparecida Domingos Confrades do Rosário sociabilidade e identidade étnica em Mariana Minas Gerais 17451820 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 75 21 SOARES Mariza de Carvalho O Império de Santo Eslebão na cidade do Rio de Ja neiro no século XVIII Topoi Revista de História do Programa de PósGraduação em História Social da UFRJ Rio de Janeiro p 5983 2002 22 Sobre as migrações iorubás que atravessam o que veio a ser a terra dos mahis em direção a oeste e noroeste atravessando as fronteiras do atual Togo ve BERTHO Jacques La parente des Yoruba aux peuplades de Dahomey et Togo Africa Journal of the International African Institute Sl v 19 n 2 p 121132 Apr 1949 Especial mente mapa p 125 23 LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 p 1927 Adoto aqui a grafia mahi por ser a mais usual na literatura internacional Na documentação em português aparecem outras grafias como maí maqui maki makii maquino Em seu testamento Ignacio Monte apresenta duas grafias Maý e Maqui A grafia atual usada por linguistas do Benim é maxi Ver GBÉTO Flavien Le Maxi du CentreBénin et du CentreTogo unapproche autosegmentale et dialetologique dun parler gbe de la section fon Köln Köppe 1997 24 Numa listagem de escravos de 1725 consta o nome de Joam Maquine escravo do coronel Salvador Fernandes Furtado de Mendonça Arquivo da Câmara Municipal de Mariana Lista dos escravos vendas e forros da freguesia de São Caetano perten cente a Vila do Carmo de 1725 Agradeço a informação a Moacir Maia 25 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 p 80 26 LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 p 189 27 MAIA Moacir Rodrigo de Castro Quem tem padrinho não morre pagão as re lações de compadrio e apadrinhamento de escravos numa vila colonial Mariana 17151750 Dissertação Mestrado Departamento de História Universidade Fe deral Fluminense Niterói 2006 p 44 Os chambas aparecem na Tabela 2 à época foram erradamente por mim incluídos entre os grupos da costa centroocidental SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 80 90 28 Na literatura africanista não há menção explícita a um lugar ou etnia de nome Coura ou courano A única referência por mim encontrada é feita por Pierre Verger que transcreve uma informação do forte português de São João Batista de Ajudá no qual consta estarem ali guardados alguns couranos no ano de 1743 O episódio narrado envolve João Basílio o diretor do forte que escreve uma carta na qual está escrito E se seguio pretender o mesmo Cabo tratavase de um agau título equivalente a general no exército do Daomé que se lhe entregassem huns negros Couranos ini migos do Rey Daumê que se dizia estarem na dita fortaleza Uma outra passagem faz referência a uma denúncia sobre um possível ataque de couranos ao mesmo forte Um outro documento datado de 1767 anuncia uma invasão de coiranos em Ajudá VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 204 nota 106 207 nota 30 209 Não há dúvida quanto ao uso por João Basílio do nome couranos mas por outro lado não há tampouco qualquer evidência de que os couranos viessem do lago Curamo 29 Ver MATTOS Hebe Maria Marcas da escravidão biografia racialização e memória do cativeiro na História do Brasil Monografia apresentada em concurso para Pro fessor Titular de História do Brasil Universidade Federal Fluminense Niterói 2004 p 194223 30 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 31 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 32 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 109 No início de minha pesquisa acreditei serem os CobuCabu uma variação de Kaabu na Senegâmbia Diante da não localização até agora de registros que incentivem tal hipótese estou começando a crer que Cobu seja uma localidade no interior do atual Benim como vou argumentar adiante 33 Os documentos manuscritos aqui consultados foram 1 o compromisso da Irman dade de Santo Elesbão e Santa Efigênia e suas alterações entre 1740 e 1767 cópia pertencente ao acervo da Irmandade 2 uma proposta de compromisso da devo ção de Nossa Senhora dos Remédios de 1788 original AHUCUcód1300 3 livros de batismo casamento e óbitos assim como os processos de habilitação matrimo nial do Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de JaneiroACMRJ 4 o manuscrito Regra ou estatutos pormodo de hûm dialogo onde se dá notiçias das Caridades e Sufragaçoens das Almas que uzam osprettos Minnas comseus Nancionaes no Esta do do Brazil expecialmente noRio de Janeiro por onde se hao de regerem egôver narem fora detodo oabuzo gentilico e supersticiozo composto por Françîsco Alvês de Souza pretto enatural do Reino deMakim hûm dos mais exçelentes e potentados daqûela ôriunda Costa da Minna Tratase de um documento precioso escrito sob a forma de diálogo datado de c1786 que pertence à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Sobre ele ver SOARES Mariza de Carvalho Apreço e imitação no diálogo do gentio convertido Ipotesi Revista de Estudos Literários Juiz de Fora v 4 n 1 p 111 123 janjun 2000 p 111123 34 ACMRJ Habilitações Matrimoniais Doc 22119 cx 1648 35 ACMRJ Livro de Batismo de Escravos da Freguesia de Nossa Senhora da Candelária 2291742 36 Não pude ainda comprovar se Antônio Gonçalves senhor do padrinho de Ignacio e Antonio Gonçalves da Costa eram a mesma pessoa O mais curioso é que 30 anos mais tarde em seu testamento Ignacio Monte declarou ter pago ele mesmo a dita quantia a seu senhor ACMRJ Livro de Óbitos e Testamentos da Sé 17761784 Tes tamento de Ignacio Gonçalves do Monte Fl 442v444 91 37 Ao que tudo indica o preço é alto mas justo Ignacio tinha a mesma profissão de Antônio por quem em 1753 sua mulher Rita da Silva pagara 256000 réis no ato da alforria comprometendose a completar os 94000 réis restantes em parcelas mensais de 4000 réis a alforria de Ignacio é paga à vista em dinheiro corrente e moedas de ouro e prata A carta de Antônio está registrada no 1º Ofício de Notas RJ livro 123 p 130 12011753 a carta de Ignacio no 2º Ofício de NotasRJ livro 76 p 17v 12011757 Ignacio e Antônio constam do banco de dados para alforrias de Sheila de Castro Faria a quem agradeço a consulta 38 Para maiores detalhes sobre a biografia de Monte ver SOARES Mariza de Carvalho A biografia de Ignácio Monte o escravo que virou rei In VAINFAS Ronaldo SANTOS Georgiana Silva dos NEVES Guilherme Pereira das Retratos do Império trajetórias individuais no mundo português XVI e XIX Niterói EDUFF 2006 39 Victoria não consta da lista das pretas forras minuciosamente estudadas por FA RIA Sheila de Castro Sinhás pretas damas mercadoras as pretas minas nas cidades do Rio de Janeiro e de São João Del Rey 17001850 Monografia apresentada ao concurso de Professor Titular junto ao Departamento de História da Universidade Federal Fluminense Niterói 2004 40 SOARES Mariza de Carvalho Can women guide or govern men gender and power among African Catholics in Colonial Brazil In CAMPBELL Gwyn MIERS Suzanne MILLER Joseph C Ed Women and Slavery II The New World of Atlantic Commer cial Integration Ohio University Press 2007 No prelo 41 Uma primeira referência ao casal foi feita por mim em SOARES Mariza de Carva lho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 6 Dois trabalhos mais recentes traçam um panorama dos africanos forros da cidade do Rio de Janeiro e dão uma medida da importância e da particularidade dos chamados pretosminas FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista notas de pesquisa Topoi Revista de História do Programa de PósGraduação em História Social da UFRJ Rio de Janeiro p 940 set 2002 FARIA Sheila de Castro Sinhás pre tas damas mercadoras as pretas minas nas cidades do Rio de Janeiro e de São João Del Rey 17001850 Monografia apresentada ao concurso de Professor Titular junto ao Departamento de História da Universidade Federal Fluminense Niterói 2004 42 Os mahis são frequentemente mencionados pela historiografia africanista e conhe cidos como vizinhos do Daomé O único trabalho integralmente dedicado a eles foi escrito por Jessie Mulira que depois de uma breve apresentação se concentra nos anos posteriores a 1770 Este trabalho nunca foi publicado O primeiro relato deta lhado sobre os mahis foi escrito em 1920 por J A M A R Bergé um administrador colonial francês Bergé foi o primeiro a mencionar o País Mahi como campo de caça de escravos dos daomeanos Esta expressão foi notabilizada por Akinjogbin slave raiding ground Em 1962 Robert Cornevin publicou sua Histoire du Daho mey onde reúne as informações disponíveis sobre os mahis e vários outros povos Segundo ele os mahis migram do sul para o norte onde ocupam uma região para onde também grupos iorubás do leste se deslocam formando juntos um grande território que recobre uma área montanhosa ao norte do que veio a ser o reino do Daomé MULIRA Jessie Gaston A history of the mahi peoples from 17741920 a dissertation submitted in partial satisfaction of the requirements for the degree of Doctor of Philosophy in History Sl University of California 1984 BERGÉ J A M A R Étude sur le pays Mahi Bulletin du Comité dÉtudes Historiques et Scientifiques de lA O F II Sl 1928 AKINJOGBIN Isaac A Dahomey and its neighbours 17081818 Cambridge Cambridge University Press 1967 p 80 mapa p 93 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photographies Paris Éditions BergerLevrault 1962 Sobre mulheres mahis ver BAY Edna G Wives of the Leopard gender politics and culture in the Kingdom of Dahomey Charlottesville University of Virgina Press 1998 p 152 Em meu livro Devotos da cor analiso a criação de uma 92 Congregação Mahi no Rio de Janeiro em 1762 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 43 Fernanda Domingos Pinheiro indica a presença de couranos em Vila do Carmo atu al MarianaMG em 1723 sendo que o seu número cresce substancialmente a partir de 1730 A década de 1750 marca o ingresso dos couranos na Irmandade do Rosário de Vila do Carmo muitos deles já forros De um total de 74 couranos filiados 64 se matricularam nesta década 38 forros e 62 e escravos 59 homens e 41 mulhe res PINHEIRO Fernanda Domingos Tráfico Atlântico Diáspora Africana e escravi dão os Couranos em Vila do Carmo Minas Gerais século XVIII manuscrito Dados mais detalhados constam de sua dissertação de mestrado Confrades do Rosário sociabilidade e identidade étnica em Mariana Minas Gerais 17451820 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em História Universidade Federal Flumi nense Niterói 2006 44 ACMRJ Livro de Testamentos e Óbitos da Freguesia da Sé 17761784 Testamento de Ignacio Gonçalves do Monte p 442v444 45 Sobre a obrigatoriedade do batismo dos escravos ver LARA Silvia Hunold Org Ordenações Filipinas Livro V São Paulo Companhia das Letras 1999 p 99 309 46 Para maiores detalhes sobre as nações e terras encontradas no interior dessa irman dade ver SOARES Mariza de Carvalho A nação que se tem e a terra de onde se vem categorias de inserção social de africanos no Império português século XVII Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 26 p 303331 maioago 2004 47 Falecido em 27 de janeiro de 1755 Ver SOARES Mariza de Carvalho A nação que se tem e a terra de onde se vem categorias de inserção social de africanos no Império português século XVIII Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 26 p 303 331 maioago 2004 48 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 LAW Robin The Slave Coast of West Afri ca 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 49 MANNING Patrick Escravidão e mudança social na África Novos Estudos CEBRAP Rio de Janeiro 21 jul 1988 50 BERGARD Laird W Escravidão e história econômica demografia de Minas Gerais 17201888 Bauru EDUSC 2004 p 228229 51 MAIA Moacir Rodrigo de Castro Quem tem padrinho não morre pagão as relações de compadrio e apadrinhamento de escravos numa vila colonial Mariana 1715 1750 Dissertação Mestrado Departamento de História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 44 52 LOVEJOY Paul E A escravidão na África uma história de suas transformações Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 p 53 53 PINHEIRO Fernanda Aparecida Domingos Confrades do Rosário sociabilidade e identidade étnica em Mariana Minas Gerais 17451820 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 139 54 LOVEJOY Paul E Mercadores e carregadores das caravanas do Sudão Central Tem po Revista do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense Nite rói n 20 v 10 p 6182 janjul 2006 55 LOVEJOY Paul E Identidade e a miragem da etnicidade AfroÁsia Salvador n 27 p 939 2002 56 Além de Josefa Luiz Mott identificou duas outras mulheres couranas Maria do O e Rosa Egipcíaca sobre quem escreveu uma longa biografiaVer MOTT Luiz De escra 93 vas à senhoras Jornal Mulherio São Paulo 1987 Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 Acontundá raízes setecentistas do sincretismo religioso afrobrasileiro In MOTT Luiz Escravidão homossexualis mo e demonologia São Paulo Ícone 1988 57 Importante trabalho para uma discussão sobre uma concepção espacializada da temporalidade está em BENSA Alban Da microhistória a uma antropologia crítica In REVEL Jacques Org Jogos de escalas a experiência da microanálise Rio de Janeiro Fundação Getúlio Vargas 1998 p 61 58 A irmandade de Santa Efigênia tinha pelo menos mais um courano Antonio coura no cuja liberdade foi comprada por 89600 com recursos da irmandade em 1754 SWEET James Manumission in Rio de Janeiro 174954 an African Perspective Sla very and Abolition Sl v 24 n 1 p 5470 April 2003 59 Sobre as acusações de feitiçaria que pairam sobre Victoria ver SOARES Mariza de Carvalho Can Women Guide or Govern Men Gendering Politics among African Catholics in Colonial Brazil In CAMPBELL Gwyn MIERS Suzanne MILLER Joseph C Ed Women and Slavery VII Americas Ohio University Press 2007 p 7999 60 Seguindo Boxer e Verger desenvolvo esse argumento em SOARES Mariza de Carva lho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 2 61 Segundo meus cálculos a entrada de minas na cidade do Rio de Janeiro cai a par tir de 1725 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica reli giosid de e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 tabela 2 p 80 James Sweet comprova essa tendência de queda comparando o percentual de 307 de minas entre os africanos da Freguesia da Candelária por mim encontrados com os 259 por ele calculados para o período de 1737 a 1740 SWEET James Manumission in Rio de Janeiro 174954 an African Perspective Slavery and Abolition Sl v 24 n 1 p 5470 April 2003 62 LOVEJOY Paul Caravans of Kola the Hausa Kola Trade 17001900 Zaria Ahmadu Bello University Press 1980 63 PARRINDER G Yorubaspeaking peoples in Dahomey Africa Journal of the Interna tional African Insitute 17 Sl v 2 p 12223 1947 64 O significado de aledjo como estrangeiro é de uso corrente os mapas indicam ou tras localidades cujos nomes vêm complementados por aledjo na mesma área e o significado da palavra está em Dictionary of the Yoruba Language part two Yoruba English London Oxford University 1975 65 Não pode ser esquecida a associação entre estrangeiro e escravo Cf MEILLASSOUX Claude Antropologia da escravidão o ventre de ferro e dinheiro Rio de Janeiro J Zahar 1995 Como mostra Piot não fica por outro lado excluída a possibilidade de escravização dos mais próximos como o caso dos Kabré que habitam as montanhas de Atakora ao norte dos couranos PIOT Charles Remotely global village moderni ty in West Africa Chicago The University of Chicago Press 1999 66 A rota de Djogou até o litoral foi percorrida por Baquaqua e está descrita em sua biografia LAW Robin LOVEJOY Paul E Ed The biography of Mahommah Gardo Baquaqua his passage from slavery to freedom in Africa and América Princeton Markus Wierner Publishers 2001 Mais uma vez estou tentando recuar no tempo o uso dessa rota sem esquecer que Djogou só pode ser tomado como um reino depois de c1750 67 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 p 1617 63 68 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 p 37 94 69 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 p 21 70 GAYIBOR Nicoué Lodjou Histoire des Togolais v 1 des origines a 1884 Lomé Pres ses de lUniversité du Benin 1997 p 282 287 291 71 LOVEJOY Paul E Ecology and ethnography of the Muslim trade in West Africa New Jersey África World Press 2005 72 Embora a rota entre Kabou e o litoral na altura de AflaoLomé nos primeiros anos do século XVIII não apareça nos mapas históricos ela pode ser um dos motivos que levaram os Akwamu a invadir Aflao em 1727 Ver FAGE J D An Atlas of African History London Edward Arnold 19 mapa p 40 No mesmo mapa para o século XIX Fage mostra ainda uma estrada entre Sokode e Savalu que não aparece nos outros mapas nos quais a ligação com Sokodê e o litoral se faz diretamente para o sul e apenas no século XIX Segundo Cornevin no século XIX a rota de Kabou em direção a Salaga tem uma saída para Keta no litoral do atual Togo a oeste de Aflao e Lomé CORNEVIN Robert Histoire du Togo Préface de M le Gouverneur Hu bert Deschamps avec 16 cartes et 45 photographies Paris Editions BergerLevrault 1962 p 117 73 Para uma descrição dessa região na virada do século XVII para o XVIII e a ocupação do território dos anlos pelos Akwamo ver GREENE Sandra E Gender ethnicity and social change on the upper Slave Coast a history of the AnloEwe London James Currey Portsmouth Heinemann 1996 74 Essas estradas existem atualmente e esses caminhos vêm sendo usados há séculos A questão que se coloca é desde quando Uma história dos caminhos na longa dura ção seria uma contribuição inestimável à história dos povos da Baía do Benim 75 Jaquem ou Jaquin Jaquim atual Godomey no Benim 76 Uma análise mais detalhada dessa descrição está em andamento Ver a íntegra da derrota em anexo 77 Documento do Conseil de Marine 13 de agosto de 1728 citado por CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photographies Paris Éditions BergerLevrault 1962 78 LOVEJOY Paul E Caravans of Kola the Hausa Kola Trade 17001900 Zaria Ahmadu Bello University Press 1980 p 3436 79 SNELGRAVE A new account of some parts of Guinea and the slavetrade London Frank Cass Co 1971 FAGE J D An Atlas of African History London Edward Ar nold 19 mapa p 32 80 LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 p 188 81 MAIA Moacir Rodrigo de Castro Quem tem padrinho não morre pagão as relações de compadrio e apadrinhamento de escravos numa vila colonial Mariana 1715 1750 Dissertação Mestrado Departamento de História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 44 para listagem de 175060 ver PINHEIRO Fernanda Aparecida Domingos Confrades do Rosário sociabilidade e identidade étnica em Mariana Minas Gerais 17451820 Dissertação Mestrado Programa de PósGra duação em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 75 82 Podem ser os Kabré do norte do Togo estudados por PIOT Charles Remotely glo bal village modernity in West Africa Chicago The University of Chicago Press 1999 83 Em dois de seus principais trabalhos Law apresenta um sumário dos fatos conhe cidos sobre os mahis do ponto de vista de suas relações com os reinos do Daomé e Oió Cf LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 LAW Robin 95 The Oyo Empire c 1600 c 1836 a West African Imperialism in the Era of the Atlantic Slave Trade Oxford Clarendon Press 1977 84 FLORENTINO Manolo GÓES José Roberto A paz das senzalas famílias escravas e tráfico atlântico c1790 c1850 Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1997 85 Documento do Conseil de Marine 13 de agosto de 1728 citado por CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photographies Paris Éditions BergerLevrault 1962 86 Importante ter em mente que a primeira menção aos mahis data de 1725 em Minas Gerais 87 Edna Bay mostra as modalidades de trocas envolvendo mulheres escravas e livres no Daomé Cf BAY Edna G Wives of the Leopard gender politics and culture in the Kingdom of Dahomey Charlottesville University of Virgina Press 1998 88 A expressão terra dos é frequente na documentação eclesiástica por mim con sultada Em fontes francesas aparece como terreu e pays em inglês como land e country Voltarei a essa terminologia mais adiante 89 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 90 Até hoje como pude constatar em relatos recolhidos no Benim os mahis são identi ficados como os mahis des collines mahis das montanhas e os mahis sans collines mahis sem montanhas mostrando a importância das montanhas na vida desse povo 91 ELTIS David et al A participação dos países da Europa e das Américas no tráfi co transatlântico de escravos novas evidências AfroÁsia Salvador n 24 p 4849 2000 Damas mercadoras as pretasminas no Rio de Janeiro século XVIII a 1850 Sheila de Castro Faria Gostais da África Ide pela manhã ao mercado próximo do porto Lá está ela sentada acocorada ondulosa e tagarela com o seu turbante de casimira ou vestida de trapos arras tando as rendas ou os andrajos É uma curiosa e estranha ga leria onde a graça e o grotesco se misturam Povo de Cam debaixo da sua tenda Há também as negras vendedoras matronas do lugar patrícias da manga e da banana com o seu rosário de chaves Essas damas mercadoras têm seus escravos que lhes arrumam as quitandas vigiam vendem ou vão colocar seus grandes cestos nas esquinas das ruas freqüentadas tentando a curiosidade do passante Não acrediteis que essa aristocracia do comércio negro que tem prerrogativas e patentes se deixe arrastar pe las suaves e santas piedades a ponto de socorrer os pés des calços da África seus irmãos ou irmãs Ela é avara e implacá vel Só ama e compreende o di nheiro e os próprios portugue ses a respeitam em negócios Charles Ribeyrolles 18121861 em Brasil Pitoresco O viajante francês Charles Ribeyrolles esteve no Brasil em 1858 aqui morrendo vítima de febre amarela em 1860 Sendo um abolicionista com ironia criticava o modo como as negras vendedoras tratavam seus próprios escravos seus irmãos ou irmãs e no limite o fato de possuírem escravos Nos dá a entender que o correto seria ha ver maior solidariedade entre escravos e 97 exescravos não só por serem ou terem sido cativos mas por sua origem territorial comum pés descalços da África seus irmãos ou irmãs Ao autor escapava a inexistência entre eles de uma África genérica e abstrata que lhes pudesse servir como ponto de referên cia Não considerava tampouco embora devesse ser de seu conhe cimento que os costumes de origem dos escravos nascidos na África também pressupunham a escravidão Homens e mulheres nascidos na África assumiam ou eram identifi cados no Brasil por designações variadas algumas vezes era o por to de embarque outras eram designações mais genéricas e criadas no Brasil outras mais raramente de seus próprios grupos étnicos Mas certamente não africano ou africana Somente na segunda metade do século XIX começou a aparecer na documentação a indi cação africanoa embora o mais comum para indicar o nascimen to na África fosse o termo de nação O que mais impressiona nas considerações de Ribeyrolles é o estabelecimento de uma hierarquia para as negras da cidade do Rio de Janeiro em meados do século XIX O autor afirmou que as damas mercadoras formavam a primeira classe das quitandeiras seguidas pelas que não têm mais que um tamborete e um tabuleiro sobre es tacas e debaixo de um toldo nas horas de muito sol1 Quanto às pri meiras não explicitou a origem mas das segundas afirmou serem filhas das Minas Gerais e da Bahia Crioulas portanto O prole tariado seria composto pelas negras do Congo de Moçambique de Anguiz e de Benguela marchando atrás de suas senhoras Apesar de não estar explícito a primeira classe das quitandei ras deveria ser composta pelas pretasminas posto ter indicado as crioulas e as nascidas na África centroocidental na segunda e na terceira categoria respectivamente Sugiro que sua referência pri meira classe das quitandeiras diga respeito às pretasminas por ter comentado sobre o pretomina descrevendoo como arrogante e alti vo avesso às atividades domésticas Mais além encontramos a rua de S Bento Grande entreposto de café Dela sobretudo partem os negros minas atléticos mármores vivos que fazem o transporte dos armazéns ao cais Rebeldes a toda sorte de escravatura doméstica formam entre si uma corporação sustentam uma caixa de resgates que a cada ano alforria e remete alguns às plagas africanas2 98 As palavras com as quais Ribeyrolles se refere aos pretosminas são quase as mesmas das de outro francês Charles Expilly que tam bém afirma a não acomodação dos pretosminas às exigências do serviço doméstico em outro ponto observei o espírito rebelde e o caráter independente dos pretosminas Afirmei que a sua nature za não se amoldaria bastante às exigências do serviço doméstico3 Quero crer que Expilly plagiava Ribeyrolles pois seu primeiro livro Le Brésil tel quil est em que explora os diferentes tipos culturais do Rio de Janeiro foi publicado em Paris pela primeira vez em 1862 enquanto a primeira edição do livro de Ribeyrolles Brasil pitoresco fora editado em 18594 Plágio ou não parece ter sido impressão cor rente pelo menos para viajantes que estiveram no Rio de Janeiro em meados do século XIX que os pretosminas tinham comportamento diferente dos nascidos na África centroocidental basicamente as re giões do Congo e de Angola indicados hoje genericamente como bantos5 A convicção de que essas diferenças realmente existiram varou décadas e foi reproduzida mais além com base nesses e em ou tros viajantes por diversos autores tais como Gilberto Freyre Nina Rodrigues Edison Carneiro Arthur Ramos e outros estavam certos de que os escravos originários da costa ocidental africana os mi nas eram superiores em termos culturais aos demais povos es cravizados da África Edison Carneiro estabeleceu inclusive uma hierarquia cultural Dividiu os povos africanos traficados para o Brasil em duas categorias os negros sudaneses e os negros bantos Os três principais grupos sudaneses seriam em ordem de importân cia os nagôs iorubás seguidos dos jejes ewes ambos da Costa dos Escravos estando em terceiro os negrosminas tshis e gás da Costa do Ouro Afirmava como Nina Rodrigues que portadores de cultura mais adiantada e aqui entrados em maior número os nagôs dominaram completamente a massa da população negra6 Essas considerações sobre os diferentes grupos sudaneses no Brasil referemse especificamente à Bahia da segunda metade do sé culo XVIII à década de 1850 época de entrada do maior contingente de escravos da África ocidental O quadro é bastante diferente do Rio de Janeiro local em que os escravos da África centroocidental eram a maioria esmagadora No Rio em bem menor número es cravos da África ocidental eram denominados genericamente de pretosminas Não temos como avaliar portanto a que povos ou 99 nações como se dizia na época Ribeyrolles e Expilly se referiam nem mesmo se conheciam suas diferenças mas podemos ter certe za de que não eram escravos falantes de línguas bantos estes sim melhor conhecidos por etnias Ribeyrolles sabia por exemplo que havia diferença entre as escravas do Congo de Moçambique de Anguiz e de Benguela mas aos demais tratava genericamente por minas A forma indistinta com que esses viajantes denominavam os escravos da África ocidental era comum aos habitantes do Rio de Janeiro entre os séculos XVIII e XIX Raríssimas vezes em documen tos há a especificação sobre a etnia de um escravo oriundo da África ocidental Até mesmo em testamentos em que testadores eram nas cidos nessa região havia só a informação mina ou eventualmente da costa da mina do gentio da guiné Eventualmente em alguns documentos como nas cartas de alforria há informação dupla como mina courana mina calabar mina haussá e mina nagô infor mações preciosas que precisam ser mais bem exploradas Claro que há diferenças em relação ao período Para o Rio de Janeiro desde o século XVII predominavam escravos oriundos das regiões do Congo e de Angola África centroocidental Mas no início do século XVIII embora os da África centroocidental continuassem a ser maioria ampliouse a entrada de escravos denominados minas Em trabalho bastante sugestivo Mariza Soares indica que o ter mo mina foi usado no Rio de Janeiro desde o século XVIII quando os minas da cidade representavam quase 30 da população escrava nascida na África7 Mas apesar da designação comum os componen tes dos que eram indicados como minas mudaram no decorrer dos anos Segundo Soares no século XVIII os minas eram majoritaria mente falantes de língua gbe vindos da Baía do Benim embarcados em Ajudá e outros portos desta costa Eram fon ewe mahi aladá e outros8 No século XIX cada vez mais os minas se compunham de po vos de língua iorubá genericamente designados de nagôs na Bahia e minas no Rio de Janeiro Sugerese que o termo nagô era oriundo da designação que os daomeanos de língua ewe davam aos povos de língua iorubá9 Minha proposta neste capítulo é apontar para certas especifici dades adquiridas pelo grupo mina no Rio de Janeiro entre o século XVIII e a primeira metade do XIX mesmo se composto de diversos grupos linguísticos e étnicos e sendo sempre a minoria entre os 100 escravos nascidos na África Quero crer que entre eles existiu uma organização baseada na tradição muito poderosa dos que eram iden tificados e se autoidentificavam como minas e que varou décadas Mantiveramse como elite capazes de articulações específicas para se libertar do cativeiro enriquecer e se tornarem visíveis aos olhos da sociedade escravista A alforria Independentemente do período histórico analisado é recorren te a interpretação historiográfica de que os escravos que conseguiam a liberdade passavam a engrossar o contingente da população po bre10 Paradoxalmente essa mesma historiografia enfatiza o fato de muitos senhores e suas famílias viverem do trabalho de um ou dois escravos A capacidade de como escravos sustentaremse a si mes mos e a seus senhores não se manteria quando tornados livres Como forros passam a ser pensados necessariamente como pobres Eu mesma em trabalhos anteriores considerei como pobre sem preci sar bem essa qualidade a população saída do cativeiro11 Supunha que a maioria dos alforriados pagara por sua liberdade depois de passar anos acumulando recursos e que lhes restava pouco tempo de vida e pobreza Já há algum tempo entretanto venho analisando uma série de documentos que comprovam ser inadequado estabele cer uma relação causal entre alforria e pobreza Não pretendo aqui contestar a hipótese de que a maioria dos al forriados mantevese pobre e estigmatizada Achoa até bastante provável O que tento indicar é que as condições de vida dos alfor riados foram mais complexas do que a pobreza inevitável Meu in tuito é tentar problematizar uma sociedade que deu condições ou elas foram criadas pelos próprios alforriados para tornar possível a criação de uma elite negra escrava ou forra recuperando pistas nas suas histórias de vida da herança africana que a tornou possível E o grupo que mais detinha essas condições era o mina Antes porém é necessário esclarecer o que entendo como po breza na sociedade escravista do Brasil Obviamente é um termo re lativo e depende de um conjunto de fatores inclusive culturais Em primeiro lugar e no aspecto material sugiro que quem tem escravo mesmo que apenas um não pode ser considerado pobre Além da propriedade escrava os que tiveram inventário postmortem aberto 101 ou redigiram um testamento também não poderiam ser pobres pois eram proprietários de bens Os destituídos de posses não faziam tes tamento nem tinham inventário sendo no geral grande parte ou a maioria da população adulta12 fosse livre ou liberta Outro fator que caracterizava a pobreza era a posição do indivíduo na hierarquia social Negros e seus descendentes libertos ou livres eram pobres mais pela condição estigmatizada que possuíam do que pelos bens materiais que efetivamente puderam acumular Um ponto de partida para observar a capacidade de escravos de acumular pecúlio é a modalidade da alforria ou melhor a forma como a liberdade foi conquistada Uma primeira questão que se colo ca é de ordem legal A legislação que trata do escravo se introduz nas Ordenações Filipinas13 na parte referente ao direito de propriedade inclusive no que se refere à sua alienação O escravo era uma pro priedade e como qualquer outra mercadoria só poderia ser alienado caso o proprietário assim o quisesse Dessa forma mesmo tendo o escravo o montante equivalente a seu preço o senhor não era obriga do a alforriálo Só o faria se fosse de sua vontade o que se interpreta va como uma doação mesmo quando a alforria era paga14 Foi em 1871 que a Lei conhecida como Ventre Livre estabele ceu o direito de o escravo ser libertado caso desse o equivalente a seu preço independentemente da vontade do senhor Assim sen do a conquista da alforria dependeu primordialmente e em quase todo período escravista das relações estabelecidas entre senhores e escravos Quero crer que nessa relação dependia mais da capa cidade dos próprios escravos de convencer seus senhores a libertá los do que da boa vontade deles em reconhecer os bons serviços prestados pelos escravos como consta em quase todos os papéis de liberdade Havia três modos legais de se obter a alforria a carta ou pa pel de liberdade assinada pelo senhor ou por outro a seu rogo na maioria das vezes registrada nos livros de notas dos cartórios outras somente como um papel particular o testamento e os posteriores codicilos a pia batismal Não havia necessidade de registrar em car tório as alforrias testamentárias e da pia batismal Embora em alguns casos isso ocorresse esses registros já eram o documento legal de liberdade Nos últimos anos os estudos sobre a alforria são numerosos mas este ainda é um tema relativamente recente Os mais antigos 102 e conhecidos são da década de 1970 um artigo de Stuart Schwartz para a Bahia no século XVII o de Mary Karasch para o Rio de Janeiro do século XIX alguns artigos pontuais de Luiz Mott sobre casos de alforria vários artigos de Kátia Mattoso para a Bahia e Parati no século XIX e um trabalho de maior fôlego de James Kiernan para Parati na virada do século XVIII para o XIX15 Esses trabalhos tratam da alforria em si não dos libertos mas são quase todos baseados nas cartas de liberdade registradas em cartórios James Kiernan foi o úni co que analisou também as alforrias na pia Suas conclusões são muito sugestivas pois descobriu que as crianças alforriadas na pia batismal em Parati não eram as mesmas que estavam nas cartas de liberdade Não trabalhou entretanto com as alforrias inscritas em testamentos que provavelmente também não foram registradas em cartórios Importante destacar que é muito difícil que uma região guarde séries completas de todos esses documentos Quanto aos escritos particulares estes certamente se perderam Muitos deles devem ter servido para comprovar a liberdade e não foram registrados em car tórios Podese concluir então que as alforrias no conjunto da popu lação cativa foram em muito maior número do que as registradas em cartórios Dessa forma posso supor que o contingente de libertos era grande muito maior do que o de algumas estimativas existentes mesmo considerando que as proporções variaram de região para re gião e no tempo16 O acesso à liberdade foi mais frequente do que podemos supor ou comprovar com as fontes que nos restaram Os estudos indicam que apesar de bem menos numerosas na po pulação escrava das áreas mais dinâmicas da economia as mulheres eram privilegiadas no acesso à manumissão Embora alguns dados re centes indiquem que em alguns curtos períodos de tempo os homens foram mais numerosos do que as mulheres no acesso à alforria é fato que no geral mulheres tinham mais condições de se tornarem livres Uma das hipóteses que foram aventadas pela historiografia referese ao preço inferior da escrava17 Além do mais os senhores estariam mais propensos a libertar mulheres do que homens já que os últimos seriam preferidos em várias atividades principalmente nas agrárias e de mineração Também existe o argumento que sugere a capacida de da mulher escrava de acumular pecúlio pois executaria ativida des rentáveis como prostituta ama de leite e no pequeno comércio entre outras18 Outra hipótese enfatiza o grau de afetividade que elas 103 puderam estabelecer com seus senhores fosse como ama de leite no serviço doméstico ou como amante19 Argumentouse que mes mo alforriadas elas poderiam continuar a trabalhar em serviço de escrava sem repúdio social20 Peter Eisenberg apresenta uma outra hipótese a de que a família escrava pressupondoa solidária teria a tendência a investir conjuntamente na alforria de mulheres para pre servar a prole da escravidão já que a escravidão seguia o ventre21 É bastante provável que todos esses argumentos estejam corretos para explicar a maior manumissão de mulheres em conjunto mas é necessário fazer distinção entre as mulheres que tiveram mais ou me nos condições de deter o controle de um ou outro recurso Analisei 7739 alforrias em 5878 registros cartoriais um registro muitas vezes tinha mais de uma alforria do Rio de Janeiro entre 1612 e 1861 Há grandes variações entre os séculos No XVII foram 94 alforrias no XVIII 2305 e no XIX 534022 Os números não destoam muito de ou tras pesquisas Para a Bahia as mulheres alforriadas eram o dobro dos homens23 Em minha pesquisa para a cidade de São João Del Rei entre os anos de 1774 e 1831 56 das alforrias foram concedidas a mulheres No século XVII no Rio de Janeiro 57 dos alforriados eram mulheres No século seguinte a participação feminina aumen tou para 64 diminuindo para 59 na primeira metade do século XIX Quadro 1 A proporção variava conforme a região e no tempo mas na esmagadora maioria das vezes com saldo positivo para as mu lheres Fossem elas crioulas ou nascidas na África detiveram mais recursos do que os homens para se libertar do cativeiro Quadro 1 Alforrias por sexo século XVII ao XIX total geral Séculos Homens Mulheres Mulheres Total XVII 40 54 57 94 XVIII 823 1482 64 2305 XIX 2188 3152 59 5340 Total 3051 4688 60 7739 Até a década de 1850 Fontes ANRJ Cartas de Liberdade Livros de Notas e de Registro Geral Cartórios do 1o 2o 3o e 4o Ofício de Notas Havia uma impressão nos primeiros estudos sobre alforria de que escravos crioulos estavam mais propensos à alforria do que os nascidos na África Essa proporção para o Rio de Janeiro entretanto variou mais do que a relação entre os sexos Os escravos alforriados no século XVII no Rio de Janeiro eram majoritariamente indígenas 104 ou seus descendentes denominados de gentio da terra e mulato provavelmente como ocorria em São Paulo onde eram assim desig nados os mestiços de brancos com índios24 Os nascidos no Brasil correspondiam a 73 dos alforriados Quadro 2 No século seguinte eram 62 diminuindo para 42 na primeira metade do século XIX Houve uma clara tendência à menor participação de crioulos mula tos cabras e pardos no acesso à alforria Quadro 2 Alforrias por origem Brasil ou África século XVII ao XIX SéculoOrigem XVII XVIII XIX Nº Nº Nº Brasil 69 73 1425 62 2230 42 África 2 2 711 31 2438 46 Outra origem 1 0 2 0 Indeterminado 23 25 167 7 669 12 Total 94 100 2304 100 5339 100 Até a década de 1850 Fontes ANRJ Cartas de Liberdade Livros de Notas e de Registro Geral Cartórios do 1o 2o e 3o Ofícios de Notas Nada do que se refira à alforria pode ser explicado por dados me ramente quantitativos As mulheres eram minoria nas escravarias mas eram as que mais se libertavam Não era tampouco o fato de serem os nascidos na África mais numerosos do que os crioulos que no conjunto eram os africanos os mais alforriados Em períodos ante riores eles foram maioria no conjunto das escravarias mas os criou los se alforriaram mais O motivo para o aumento da proporção de nascidos na África entre os que se alforriavam pode ser a entrada ma ciça de escravos nos portos do Rio de Janeiro pelo tráfico Atlântico na primeira metade do século XIX Podese conjecturar que havia por parte dos senhores uma maior predisposição à liberdade pela facilidade de acesso à mão de obra trazida pelo tráfico O que intriga entretanto é que quanto mais numerosos são os nascidos na África privilegiados pela alforria menor é o número daqueles que têm de pagar por ela Aumenta progressivamente e muito a percentagem de alforrias gratuitas dado aparentemente paradoxal O estado atual das pesquisas permite apenas apresentar algumas hipóteses prelimi nares sobre a questão No século XVIII 54 dos escravos tiveram de pagar por sua liber dade No século XIX até a década de 1850 somente 14 dos homens e 13 das mulheres o fizeram Quadro 3 Manolo Florentino sugere que o aumento do valor do preço do cativo impediu que escravos 105 pudessem acumular recursos suficientes para o pagamento de sua liberdade cada vez mais elevado25 Restavalhes então negociar a liberdade gratuita Para o autor foi o auge da politização na bus ca da liberdade já que sua aquisição deslocouse da acumulação de recursos ou seja do mercado para a órbita intrínseca da nego ciação26 Penso que o autor pode ter certa razão mas devese ter em mente que sempre mesmo pagando por ela o escravo tinha de convencer seu senhor a permitir a alforria Conseguir o papel de li berdade nunca deixou de depender de uma negociação ou de uma politização segundo sua expressão Nunca foi uma questão mera mente de mercado Quadro 3 Forma de aquisição da alforria por sexo século XVII ao XIX Séculos Gratuita Onerosa Onerosas Total Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher XVII 18 33 19 17 51 37 34 50 87 XVIII 396 664 426 818 52 822 55 1482 2304 XIX 1616 2129 573 1022 26 2189 32 3151 5340 Total 100 Até a década de 1850 Fontes ANRJ Cartas de Liberdade Livros de Notas e de Registro Geral Cartórios do 1o 2o e 3o Ofícios de Notas O que mais interessa frisar no presente capítulo é que nem to dos os grupos puderam ou quiseram obter a alforria gratuitamente Dessa forma quando grupos de alforriados são analisados separada mente o argumento de Manolo Florentino perde parte de sua eficá cia Os crioulos sempre receberam alforria majoritariamente gratuita No século XVIII mais da metade deles recebeu alforria sem ônus em dinheiro27 No século XIX a proporção aumentou significativamente para 72 O mesmo aconteceu com os nascidos na costa centrooci dental no século XVIII 41 deles receberam alforria gratuita no XIX a proporção subiu expressivamente para 74 Já para os nascidos na África ocidental no século XVIII 30 dos minas receberam alforria gratuita No século seguinte como nos outros grupos também entre eles cresceu a tendência de gratuidade mas atingiu somente a cifra de 43 Mais da metade deles continuou pagando por sua alforria principalmente as mulheres Dos escravos minas 52 dos homens e expressivos 62 das mulheres pagaram pela liberdade Quadro 4 106 Esta diferença de procedimento faz dos minas um grupo de compor tamento diferenciado do restante dos escravos Quadro 4 Aquisição da alforria paga por origem e sexo século XVIII a XIX Século XVIII XIX Origem H AO AO M AO AO H AO AO M AO AO Áfr C Oc 128 72 56 277 175 63 691 171 25 990 286 29 Áfr Oc 83 54 65 222 166 75 188 97 52 205 127 62 Brasil 547 264 48 878 432 49 808 200 25 1422 442 31 Até a década de 1850 AO Alforria Onerosa Fontes ANRJ Cartas de Liberdade Livros de Notas e de Registro Geral Cartórios do 1o 2o e 3o Ofícios de Notas Os nascidos na África ocidental conseguiram ou quiseram majo ritariamente pagar por suas alforrias mesmo que consideremos que seu valor de mercado tenha aumentado na primeira metade do sécu lo XIX O que teriam os pretosminas de especial Manolo Florentino28 sugere que os minas eram mais ocupados no serviço de ganho nas ruas do que os demais daí sua maior capacidade de acumular pe cúlio Supõe também sua maior eficiência na organização de suas instituições como irmandades associações de auxílio mútuo cantos e família que permitiriam maior capacidade de arrecadar recursos Se tudo isso é verdade e eu concordo os contemporâneos Ribeyrolles e Expilly tiveram razão ao destacálos do conjunto dos es cravos Traziam então bagagem cultural mais adequada para supe rar a condição de escravos a que foram obrigados a se submeter Por fim coube às mulheres minas mais do que aos homens essas quali dades As mulheres foram maioria entre os alforriados em todos os grupos com exceção dos nascidos na África oriental Moçambique em que os homens chegam a 61 dos alforriados Quadro 5 Foram elas entretanto que mais tiveram de pagar por suas alforrias quan do comparadas aos homens de seus mesmos grupos Entre as mulhe res minas no século XVIII 75 pagou por sua alforria percentual que caiu para 62 no século XIX Algumas vezes na própria carta de alforria há referência à for ma de pagamento e ao total pago Não é possível quantificar essas informações pois elas são eventuais e desnecessárias ao registro Quando a alforria era paga por alguém algumas vezes havia referên cia sobre as relações entre eles Em 1738 a alforria da mina Violante foi paga por seu padrinho João Batista Pinto Em 1742 Maria mina já de idade foi libertada mediante pagamento feito pelo alferes 107 Caetano Gomes da Silva em função de ela o haver criado Em 1750 Joana mina teve a liberdade paga por seu marido Manoel Machado de Jesus pardo liberto e sapateiro Em 1754 a alforria da mina Catarina foi paga por seu irmão Antônio de Bastos Maia preto forro um dos fundadores da irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia em 174029 Guiomar mina teve a alforria paga por sua filha a preta forra Joana de Deus Pinheiro em 1755 A liberdade de Maria mina em 1784 foi paga por sua comadre Inês Luiza Relações portanto de parentesco consanguíneo e ritual muitas vezes foram fundamentais para a liberdade Mas a maioria das alforrias onerosas foi paga ao que tudo indica por meio do resultado do trabalho da própria bene ficiada ou por suas agências Quadro 5 Alforrias entre homens e mulheres por área da África século XVIII ao XIX XVIII XIX H M Tot H M T H M Tot H M Tot África Centro Ocidental 128 277 405 32 405 68 405 57 711 691 990 1681 41 1681 59 1681 69 2438 África Ocidental 83 222 305 27 305 73 305 43 711 188 205 393 48 393 52 393 16 2438 África Oriental 1 1 0 134 87 221 61 221 39 221 9 2438 África indeterminado 52 91 143 37 143 63 143 6 2438 Total 212 499 711 100 1065 1373 2438 100 Até a década de 1850 Fontes ANRJ Cartas de Liberdade Livros de Notas e de Registro Geral Cartórios do 1o 2o e 3o Ofícios de Notas Para obter a sua liberdade em 1749 a escrava Luzia pretamina tomou dinheiro emprestado com Pedro Francisco Ignácia em 1746 pagou sua alforria mediante empréstimo que fez junto à sua coma dre Informação como a de que Rita mina em 1753 pagou sua al forria com o que obteve dos jornais do seu ofício de quitandeira é rara mas deve ter sido uma situação bastante comum Houve formas mais gerais como a de que a escrava obteve autorização para vender suas quitandas ou utilizar suas agências para conseguir o dinheiro necessário para a sua liberdade Outras não estipulavam o valor mas deram escravos em troca de sua alforria Estas foram mais numero sas Maria mina em 1745 pagou sua alforria dando em seu lugar a es crava Guiomar moleca ganguela No mesmo ano Ana mina deu dois escravos A escrava Águida em 1750 pagou sua alforria mediante a 108 entrega de sua escrava Tereza de nação angola Francisca em 1830 pagou sua alforria dando em seu lugar um moleque de nação nagô e outro de nação cabinda Havia ainda aquelas que declararam em suas cartas de liberdade ter pedido esmolas A escrava Joana as sim como inúmeras outras obteve autorização do seu proprietário em 1749 para pedir esmolas com o objetivo de pagar sua alforria Nas cartas de liberdade o mais comum era a simples referência de que pagou tantos mil réis ou tantas doblas por sua liberdade Nos resgistros das 293 mulheres nascidas na África ocidental que paga ram por sua alforria 63 nada foi dito sobre como conseguiram o dinheiro Sendo por relações solidárias entre parentes amigos irmãos ou por suas próprias agências essas mulheres minas conseguiram efetivamente pagar por sua liberdade Houve até as que se utiliza ram fraudulentamente da participação em alguma irmandade para conseguir bens para si ou para o pagamento da alforria de outrem O testamento de Isabel da Silva preta forra da costa a mina do gentio da guiné é bastante esclarecedor Tendo sido casada por três vezes informou que o último marido Antônio Vieira crioulo forro havia ido para sua companhia sem possuir coisa alguma Afirmou categó rica Eu paguei por sua liberdade Isabel conseguiu juntar pecúlio por um meio que no momento da redação do testamento admitiu ilícito Declarou que pedira dinheiro à caixinha da Irmandade de São Felippe e Santiago e que embora não tivesse se vestido e sustentado com essas esmolas dela tirou alguns dinheiros dos quais procede tudo que possuo e também o dinheiro que dei para a liberdade do dito meu marido Por isso determina que nestes tempos tudo o que se achar por minha morte pertence à Irmandade a quem rogo pelo amor de Deus me per doe o que faltar e o que eu consumi e peço ao dito meu ma rido convenha em tudo e se entregue por restituição à minha Irmandade pois ele muito bem sabe a verdade do que digo 30 A participação em irmandade religiosa poderia ser extremamen te vantajosa para alguns escravos O capitão Ignácio Gonçalves do Monte foi rei da Irmandade de Santo Elesbão por 21 anos entre 1762 e 178331 Revelou em seu testamento aberto em 1783 que 109 alguns meus patrícios e amigos me dão a guardar seus dinhei ros por mais seguros em minha mão e os vem buscar quando querem ou tudo ou por parcelas cujos assentos e declarações faço em um livrinho que tenho na minha gaveta aonde trago as mais coisas de valor de que minha mulher de tudo te perfeito conhecimento e o dito livrinho tem setenta e cinco folhas ru bricadas com meu nome ou apelido Monte32 Ter acesso aos dinheiros de patrícios e amigos era talvez inte ressante para o cotidiano dos Reis que poderiam eventualmente usálos para suas atividades particulares O próprio Ignácio reconhe ceu que usou esses recursos ao declarar que os ditos dinheiros que me dão a guardar se me tiver servido de algum para algum particular meu e não tiver ainda reposto ou inteirado até minha morte ordeno a meus testamenteiros que do primeiro dinheiro que fizerem da minha fazenda seja primeiro que tudo para inteirar a tal quantia ou quantias de que me servi para os meus particulares a seus donos A prática da usura estava também presente nesse cargo Declarou Ignácio que no mesmo sobre dito livrinho faço também assentos e decla rações de algum dinheiro que empresto a várias pessoas e pago que seja ponho pg e riscado a tal assento e todos que assim não estiverem he a mesma verdade que me está deven do a tal pessoa As famílias Os dados das cartas de liberdade dão algumas indicações para en tendermos como as mulheres minas conseguiram amealhar pecúlio para pagar por sua liberdade mas não são informações sistemáticas nem necessárias ao registro É difícil elucidar os detalhes Outros do cumentos e relatos podem trazer mais pistas Nem todas as forras mesmo as que pagaram por sua alforria puderam fazer testamento 110 ou ter inventário aberto por não terem bens suficientes para tanto Não enriqueceram Várias entretanto conseguiram Suponho que as opções de suas atividades exercidas não se modificaram substancial mente depois que se libertaram do cativeiro em particular para as pretasminas Analisei 68 testamentos de forras da cidade do Rio de Janeiro realizados entre os anos de 1736 e 1832 Dessas 36 vieram da Costa da Mina África ocidental Eram 14 casadas 12 solteiras e 10 viúvas Nitidamente o casamento era relação querida por elas Argu men tei em outro artigo que algumas mulheres tentaram preservar seus bens em relação a seus maridos33 Realmente a tentativa de que o ma rido não fosse herdeiro de seus bens foi frequente embora não fosse maioria Caso não possuíssem herdeiros necessários preferiam dei xar como herdeira sua própria alma irmandades suas crias filhas de suas escravas e exescravas Algumas entretanto declararam ter vivido bem com o marido como Mariana da Costa de Oliveira natu ral da Costa da Mina do gentio da Guiné em 1777 que deixou ao mais que restar de minha terça instituo dela herdeiro ao dito meu marido pela boa harmonia e união que sempre comi go fez sem nunca me dar desgosto tratandome sempre com muito amor tanto no tempo da saúde como de moléstia por essa razão o instituo herdeiro no que restar da dita minha ter ça Test 23 Josefa Fortunata em 1798 declarou que sou do gentio da Guiné e sou casada com João Antônio Gomes Jordão de cujo matrimônio não tenho filhos por cuja razão instituo como meu herdeiro universal o dito meu marido pela boa harmonia que sempre fez comigo tratandome com amor tanto em saúde como na ocasião da moléstia por cuja razão o instituo herdeiro de tudo que por direito me haver dos meus bens Test 84 Houve até as que casaram mais de uma vez como Isabel da Silva referida anteriormente em 1789 que o fez por três vezes Não sei se os primeiros casamentos foram ainda como escrava mas ela decla rou que 111 fui casada a primeira vez com Antonio de Oliveira preto es cravo de Vicente de Oliveira e passando a segundas núpcias com Pedro Alves da Guerra escravo de Dona Joana Maria de Santana e por falecimento deste passei a terceiras núpcias com Antonio Vieira crioulo forro Inv 31 Mesmo casadas ou viúvas o resultado mais impressionante é que 26 delas 72 não tiveram filhos Isabel da Silva mesmo casando três vezes declarou não tive filhos nem tenho herdeiro algum que por direito possa herdar os meus bens Inv 31 A ausência de filhos foi um perfil comum às alforriadas de qualquer origem ainda mais para as nascidas na África Podese presumir que um dos motivos que levaram essas mulheres a fazerem testamentos foi justamente o fato de não terem herdeiros necessários Nesses casos os bens poderiam ir para os órgãos administrativos o então juizado dos de funtos e ausentes Para evitar que fossem parar em mãos alheias as forras preocupavamse em indicar o destino de suas fortunas ditan do um testamento Creio entretanto que não era só isso Penso que era uma opção de vida não ter filhos principalmente quando ainda escravas Caso fosse somente pelo fato de ser necessário determinar o destino dos bens por um instrumento legal as que os tinham não teriam feito testamento Uma determinação do Compromisso da Irmandade de Santo Elesbão de 1740 pode nos induzir a supor que pelo menos uma par te da população mina do Rio de Janeiro optava pela não procriação por fidelidade à sua etnia Esta fidelidade aparece no compromisso da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia A irmandade era integrada por vários grupos oriundos da Costa da Mina entre eles os mahis Determinava o Compromisso que seriam aceitos como ir mãos os naturais e oriundos da Costa da Mina Cabo Verde Ilha de São Tomé ou de Moçambique sendo que somente os destas nações poderiam se eleger juízes escrivãos procuradores etc Os demais como mulheres e pardos e pardas querendo por sua devoção serão admitidos por irmãos desta Santa Irmandade Surpreendentemente havia impedimento para o ingresso de pessoas de outras origens E de nenhuma sorte se admitirão pretas de Angola nem crioulas nem cabras ou mestiças Pardos e pardas seriam aceitos mas não pode riam fazer parte da administração Inicialmente colocase a questão o que era pardoa Quero crer que o termo significasse filho de 112 africano nascido já na liberdade ou seja de mãe forra nunca tendo sido escravoa Já há algum tempo temos advertido para o fato de que o termo não significava uma mestiçagem Percebo agora que ele adquiriu diferentes significados no tempo No caso pardoa foi dife renciado de mestiço e mesmo de criouloa Criouloa nitidamente era o filhoa de africana nascidoa no cativeiro Era escravo Ter fi lhos escravos principalmente do sexo feminino não era experiên cia aceita ou querida Segundo Mariza Soares com a qual concordo o Compromisso nos deixa a impressão de que os mahis daquele perío do não se crioulizaram34 Mantiveramse apegados a suas origens e a certas tradições aparentandose com outros nacionais e não com sua descendência O tráfico servia para recriar novos laços de frater nidade e parentesco Não creio que tenha sido somente esta a expli cação para a opção por não ter filhos por parte da população mina mas pode ter sido importante para várias pessoas Foi deveras reveladora a composição dos lares dessas mulhe res forras quando havia deles descrição em seus testamentos As mulheres forras oriundas da Costa da Mina formavam com muita frequência domicílios compostos basicamente por mulheres Sugeri em outro artigo35 que este arranjo familiar fazia parte da organiza ção matrifocal resultado da poligamia em que cada esposa tinha sua própria residência e era ela a referência para seus filhos Entre certos grupos étnicos da África ocidental mulheres não herdavam bens de pais maridos ou filhos nem os deixavam como herdeiros de seus bens Eram herdeiras de suas mães e deixavam heranças para suas filhas Suponho que a opção por não ter filhos ou herdeiros levasse essas mulheres a formar famílias compostas por escravas exescravas e suas crias que por sua vez tornavamse suas herdeiras Em seu testa mento datado de 1792 Rita Francisca de Passos dizia ser natural da costa da mina de onde vim menor e batizada na fre guesia de Nossa Senhora da Candelária desta cidade fui casada com Teodoro Rodrigues homem pardo de cujo matrimônio não tenho nem tive filho algum nem tenho herdeiros alguns ascen dentes ou descendentes que por direito hajam de me suce der e por isso instituo por herdeiros deles a Theodosia Francisca de Passos de nação Mina que foi minha escrava e 113 hoje se acha liberta tudo em remuneração dos bons serviços que sempre me fez e ainda faz com todo o necessário36 Um outro procedimento comum entre elas era o de amparo em momentos difíceis Agradecimentos a escravas e exescravas foram muito comuns nos testamentos de forras com referências do tipo por ter me acompanhado em minha doença por me ter ampara do Quando havia filhas houve referência explícita a esse amparo O caso de Maria do Bonsucesso é esclarecedor Natural da Costa da Mina do gentio da Guiné em 1811 era casada e sem filhos do ma trimônio mas tivera uma filha antes de ser casada37 No caso de Maria ela teve vários bens mas naquele momento não tinha bens algum senão a roupa de meu uso e os que havia no meu casal escravos e mais móveis tudo se tomou em execução pelas dívidas de meu marido e destruído tudo desapartouse sic de minha companhia e não sei dele até o presente e estou vivendo por esmola na companhia de minha filha e a dita mi nha filha se compadece de minha alma a fazer por mim o que se tivesse poderia fazer por ela Houve ainda outras forras que reconheceram os ensinamentos ou como diziam a boa criação transmitidos pelas exsenhoras Em 1753 Mariana da Costa Ribeira solteira e sem herdeiros natural da Costa da Mina deixou dois cordões de ouro quero que meus testamenteiros façam logo entrega de um de les a Senhora Antonia de Jesus minha senhora que foi o qual lhe deixo gratuitamente em reconhecimento da boa criação e estimação que me deu enquanto fui sua escrava38 A boa criação provavelmente incluía o aprendizado de algum ofício e o controle sobre certas atividades As famílias assim como certas irmandades baseadas na origem étnica ou geográfica foram certamente o alicerce para muitas escravas tornaremse livres enri quecerem e por sua vez adotarem os mesmos procedimentos 114 Atividades Dos 36 testamentos de pretasminas do Rio de Janeiro é impres sionante a quantidade delas que investe em escravos Somente seis não os tinham A esmagadora maioria 83 era senhora de escravos A composição das escravarias dessas mulheres era absolutamente feminina39 Quando havia homens quase sempre eram filhos das es cravas Essa estrutura tinha origem provavelmente em suas cultu ras da África posto que reproduziam a divisão sexual do trabalho Investiam então em escravas Uma das principais ocupações era a quitanda comércio a varejo de alimentos ou pequenos objetos A ocupação não era necessariamente explicitada nos testamentos mas algumas a ela se referiram Tanto observadores contemporâneos quanto a historiografia têm destacado que o comércio a varejo pelas ruas do Rio de Janeiro des de pelo menos o século XVIII ficava a cargo de mulheres Observando pinturas de inúmeros artistas da primeira metade do século XIX como JeanBaptiste Debret Thomas Ender Guilhobel constatase a figura de mulheres negras nessas atividades sendo as negras minas as mais ricas ou extravagantes desse comércio Charles Expilly em seu livro Mulheres e costumes do Brasil informa que uma das princi pais ocupações das escravas minas era a venda a varejo A escrava Manoela uma pretamina personagem provavelmente fictícia de seu livro quando escrava carregava o tabuleiro à cabeça e vendia frutas da propriedade de seu senhor Debret descreve a negra baiana pro vavelmente mina que teria ido em quantidade para o Rio de Janeiro a partir das perturbações políticas de 182240 com indumentária similar à de outros cronistas e viajantes e de acordo com o que elas declaram possuir em seus testamentos Desde então apareceram entre as quitandeiras da cidade as negras baianas notáveis pela sua indumentária e inteligência umas mascateando musselinas e xales outras menos comer ciantes oferecendo como novidade algumas guloseimas im portadas da Bahia e cujo êxito foi grande Entre estas figura a ataçaça creme de arroz doce vendido frio dentro de um canu do de folha de bananeira e bolos de canjica pasta açucarada feita com farinha de milho e leite e vendida em folhas de ma noeiro Elas introduziram também o uso de polvilho de forma 115 amido preparado em pequenos quadrados de uma polegada de espessura e próprios para engomar roupas A negra baiana se reconhece facilmente pelo seu turbante bem como pela al tura exagerada da faixa da saia o resto de sua vestimenta se compõe de uma camisa de musselina bordada sobre a qual ela coloca uma baeta cujo riscado caracteriza a fabricação baia na A riqueza da camisa e a quantidade de jóias de ouro são os objetos sobre os quais se expande sua faceirice41 Estou cada vez mais convicta de que as minas monopolizavam os ramos mais rentáveis como o da venda de comida amplamente citado pelos viajantes Em cidades portuárias como o Rio de Janeiro a venda de alimentos para a tripulação de navios escravos e demais transeuntes era fundamental No Brasil homens e mulheres nascidos na África tiveram de aceitar diferentes hábitos alimentares não só por sua condição escrava como também pela inexistência de pro dutos usados em suas terras de origem Por outro lado muitos dos novos alimentos foram adaptados segundo suas heranças culturais e introduzidos no grande mosaico alimentar que foi a sociedade brasi leira42 Creio que havia tipos de alimentos específicos para os grupos étnicos Há relatos de viajantes que experimentaram tais guloseimas e até as aprovaram Como afirma Robert Slenes43 para os nascidos na África a alimentação não era somente uma forma de sustentar o corpo mas de fortalecer os espíritos São poucos os pesquisadores dedicados aos aspectos da culi nária do Brasil escravista como Gilberto Freyre e especialmente Luís da Câmara Cascudo44 Os estudos sobre alimentação no Brasil tenderam a se concentrar mais nas condições de produção e comer cialização do que no tocante à cultura culinária propriamente dita Doces e salgados feitos com a mandioca e milho regados a azeite de dendê e acompanhados de pimentamalagueta ambos de origem africana acrescidos de alho e sal português complementados com o coco asiá tico transformado em leite de coco e usado nos quitutes adoçados com o açúcar de cana embrulhados em folhas de bananei ra eram feitos e vendidos pelas negras de tabuleiro Conhecer os consumidores e suas preferências alimentares presumo foi funda mental para o sucesso das atividades de algumas dessas mulheres Provavelmente de forma maldosa Debret relata alguns artifícios usa dos para atrair clientes 116 Os mais generosos chamam uma vendedora negra cujas maneiras e trajes rebuscados revelam o desejo e os meios de agradar que muitas empregam habilmente a fim de au mentar o benefício da venda explorando a boa vontade dos compradores45 Todo tipo de comércio tem regras e estratégias No caso a ob servação de Debret do século XIX sobre a tática das negras em dominar as técnicas de vendas agradando aos clientes já havia sido ressaltada séculos antes João Brandão cronista que escreveu em 1552 sobre a cidade de Lisboa afirmou que as negras tinham aptidão para a venda conseguindo que os consumidores provassem de suas mercadorias Em suas palavras terçafeira as negras estão vendendo na feira que lhes não escapa coisa que não vendam46 Mulheres escravas ou forras em cidades como as de Minas Gerais no século XVIII e do Rio de Janeiro e de Salvador desde o século XVII vendiam pelas ruas comidas que poderiam agradar ao paladar e aos espíritos Presença reconhecidamente fundamental para o abasteci mento urbano e ao mesmo tempo incômoda para as autoridades as negras foram sistematicamente acusadas de promover encontros tidos pelas autoridades como badernas Eram as responsáveis pela organização de folguedos como os lúdicos e sensuais lundus e batu ques em que estariam presentes comidas afrodisíacas regadas pelo líquido espirituoso mais popular do Brasil a aguardente de cana As tentativas de controlar seu movimento estipulando lugares fixos para sua atuação foram sempre em vão e elas acabaram se tornando responsáveis pelo contato e confraternização entre povos muito dife rentes Talvez a negra de tabuleiro também designada como negra doceira ou preta quituteira seja a categoria social que melhor re presente simbolicamente a síntese do que foi o encontro de variados povos por meio das comidas e das festas das associações de santos católicos com santos africanos do candomblé baiano da presença de pretos velhos e de caboclos na macumba do Rio de Janeiro cria ramse condições para o surgimento de novas identidades no Brasil escravista Há juntamente com o alimento do corpo e dos espíritos um outro setor do comércio ambulante que deveria ser extremamente rentável não só em termos materiais mas também simbólico Era o comércio de amuletos Chamou muito a atenção dos estrangeiros 117 a quantidade de amuletos portados principalmente pelas negras Charles Expilly informa que negros e negras instalados ao lado da Igreja da Santa Cruz dos Militares na rua Direita vendiam com permissão das autoridades as esquisitas mercadorias que se compõem unicamente de figuras de cera crescen tes de cornalina e figas de madeira grossamente esculpidas Alguns ajuntam a este comércio medalhas bentas e imagens representando a cena do Desagravo Esta palavra consagrada pela tradição lembra uma lenda colhida na própria Igreja dos Militares Segundo essa lenda um artista português retocava as pinturas de um enorme Cristo suspenso na parede de uma capela Num estúpido acesso de raiva o artista distraiuse a ponto de esbofetear o HomemDeus A sua impiedade foi pu nida ali mesmo pois o Cristo despregandose da parede caiu sobre ele esmagandoo Todos esses objetos tão diversos no entanto são destinados a exconjurar o mauolhado ou en canto Este sítio poderia chamarse justamente mercado de amuletos47 Os compradores eram de todos os grupos sociais mas predomi navam negros escravos e libertos É curioso verse desde pela manhã a afluência dos fregueses em volta da loja As amasdeleite aí são as mais numerosas e adquirem um arsenal miraculoso que penduram ao pescoço e ao da criança que amamentam As moças supersticiosas e as orgulhosas senhoras não trepidam em vir fazer provisão de armas sobrenaturais contra os feiticeiros que vão encontrar no caminho48 Estes adereços medalhas e imagens católicas crucifixos ou Agnus Dei santos e escapulários e os amuletos africanos figas mi çangas contas etc eram objetos mágicos que tinham cunho pro piciatório ou buscavam proteção e tiveram uso corriqueiro O fato mais interessante entretanto é a mistura de elementos católicos e africanos O primeiro dinheiro que um escravo ganha anotou Ewbank é gasto na compra de uma figa49 Baseado em observação 118 de Câmara Cascudo Márcio Soares informa que a figa é um talismã cuja origem remonta à antiguidade O costume de usálas como forma de proteção contra as for ças maléficas dos feitiços doenças e mauolhado remonta à Antigüidade Clássica onde eram empregadas nos rituais de fertilidade celebrados nas ilhas mediterrâneas e difundidas pelo Ocidente à medida que o Império Romano se expandia tornandose um talismã bastante popular entre os povos lati nos Segundo este folclorista Câmara Cascudo a hipótese da origem africana das figas levantada por alguns estudiosos do folclore negro não se sustenta50 As figas eram feitas de ouro prata marfim chumbo coralina chi fres ossos e madeira A utilização de chifres foi particularmente no tada por vários viajantes Debret observou que um cirurgião negro vende ainda talismãs curativos sob a forma de amuletos Citarei aqui apenas o pequeno cone misterioso feito de chifre de boi preciosa jóia de seis linhas de altura que se pendura ao pescoço para preservar das hemorróidas ou das afecções espasmódicas 51 Tratando de um grupo de carregadores de café o artista com sua crítica comum e preconceituosa sobre os costumes africanos obser vou que Quanto ao transporte de café penoso muitas vezes em vir tude da extensão do trajeto fazse mister para efetuálo sem inconvenientes não somente um número de carregadores igual ao de sacos mas ainda um capataz entusiasta capaz de animar os homens com suas canções improvisadas Em geral o primeiro carregador é o portabandeira e se distingue por um lenço amarrado a uma vara Toda coluna é guiada pelo capa taz que costuma munirse de um chifre de boi ou de carneiro é este troféu para ele um talismã contra todas as infelicidades que poderiam ameaçar a marcha do grupo um amuleto que ali menta sua verborragia com a qual ele se impõe à superstição de seus soldados ocasionais Entretanto depois de a coluna 119 chegar a seu destino e ser paga a igualdade volta a imperar e a fraternização se faz na venda mais perto52 Thomas Ewbank avaliou que Além dos numerosos preventivos mostrados em figuras e des critos em capítulos precedentes há ainda outros entre os quais os chifres ou cornos não são raros Tomei conhecimen to pela primeira vez na Rua dos Barbonos numa casa em que eram expostos à venda frutas verduras e outros comestíveis Um par de chifres de carneiro pintados com listras alternada mente azuis vermelhas brancas e amarelas estava dependu rado no lado do portal Perguntando com que finalidade os chi fres estavam expostos a negra proprietária exclamou rindo Para afastar o mauolhado H perguntou se ela os venderia ao que ela respondeu negativamente53 Mary Karasch acredita que os amuletos e demais objetos das reli giões africanas não eram apresentados aos brancos pelo receio que tinham os negros de que fossem presos pois alguns eram conside rados objetos de magia e seus portadores acusados de bruxaria ou feitiçaria54 Dessa forma somente amuletos e imagens menos com prometedoras estavam às vistas de viajantes e do público em geral Era um comércio negro e muito provavelmente dominado pelas mu lheres Trajes e adereços portados por negras escravas ou libertas representam mais do que uma forma de ostentação Tinham também significados simbólicos e rituais assim como de proteção Alguns contemporâneos e até mesmo alguns historiadores consideraram muitas vezes que houve um processo de adoção de hábitos da elite por parte dos alforriados que enriqueceram Em trabalho extremamente sugestivo Silvia Lara55 analisou a vasta legislação portuguesa que estabelecia determinações sobre os trajes tecidos ornamentos armas arreios de animais número de criados e séquitos particulares que poderiam ser permitidos às mais diversas categorias sociais desde pelo menos a segunda meta de do século XVI até meados do XVIII O Brasil colonial estava sujeito à mesma legislação mas algumas foram feitas especificamente para negros e mulatos bem mais numerosos em terras coloniais Houve inclusive uma série de medidas legais diretamente ligadas aos trajes 120 das escravas genericamente mas que também incluíam as negras fossem forras ou livres Segundo Silvia Lara a crítica ao luxo das roupas das escravas aparece na correspondência entre autoridades metropolitanas e coloniais em 169596 17034 e em 1709 tendo resul tado em algumas ordens régias Por intermédio de cartas régias diri gidas ao governadorgeral e a alguns governadores de capitanias do Estado do Brasil e em pareceres do Conselho Ultramarino em final do século XVII e início do XVIII proibiase ou reprovavase o uso de sedas e joias pelas escravas Segundo carta régia de 20 de fevereiro de 1696 ao governador e capitãogeral do Estado do Brasil haveria demasia do luxo de que usam no vestir as escravas deste Estado do Brasil56 O que impressiona é a importância dada aos trajes de escravas percebida mediante a frequência com que eram referidas em cartas régias na legislação e em tratados ou relatos de contemporâneos Entre as genericamente denominadas escravas estavam também as mulheres libertas De qualquer forma o que interessa aqui mais do que o significado simbólico é a constatação de que as muitas mu lheres fossem escravas ou forras andavam com trajes ricos e para os observadores inadequados à sua condição social Atribuíamse aos senhores os custos das roupas de seus cativos principalmen te se fossem ricos Senhores ostentariam sua riqueza por meio dos enfeites de seus escravos Mary Karasch foi bastante enfática nesse ponto O modo de vestirse dos cativos refletia a riqueza e posição de seu senhor57 Não creio entretanto que tenha sido às custas de seus senhores que elas se ataviavam Rosa Egipcíaca foi prostituta quando escrava Segundo Luiz Mott ela foi a única exescrava que deixou documento assinado datado de 1752 no qual descreve sua vida passada e as visões celestiais que passou a ter Rosa afirmava que se desonesta va vivendo como meretriz tratando com qualquer homem secular que a procurava em cuja vida andou até o tempo que teve o Espírito Maligno58 O motivo para andar desonestada era o fato de sua se nhora não lhe fornecer roupas e enfeites que solicitava por isso ela os conseguia em prêmio de sua sensualidade59 Já entre as forras os custos de ter roupas e adereços corriam certamente por conta de suas próprias agências Cabe pensar quem escolhia tecidos e modelos Caso realmente os ricos senhores qui sessem estampar em seus escravos os símbolos de sua importância 121 podemos imaginar que a indumentária deveria ser o mais próxima possível do que os padrões europeus designavam como signos de riqueza Entretanto os ricos eram minoria Além do mais os relatos indicam que era somente em público que se apresentavam ricamente ataviados No cotidiano suas roupas eram simples Mary Karasch deduz que a indumentária deve ter sido uma mistura de trajes afri canos e europeus e chega à conclusão de que a única generalização possível é que os trajes dos cativos variavam muito não só de perío do como também de nação para nação60 Lendo os relatos de viajantes e cronistas fica a impressão de que alguns escravos e principalmente os alforriados esforçaramse por se incorporar aos padrões culturais dos brancos ou melhor dizen do aos padrões culturais ocidentais É assim que interpreta Maria Graham ao afirmar que um negro livre quando sua loja ou seu quintal correspon de ao seu esforço vestindose e a sua mulher com um belo fato preto um colar e pulseiras para a senhora e fivelas nos joe lhos e sapatos para adornar as meias de seda raramente se es força muito mais e contentase com sua alimentação diária 61 E Lindley que em 1805 dizia os negros sentem que sua importância aumenta por causa do grande número dos que são alforriados os quais na turalmente passam por senhores assumindo freqüentemente os modos de seus antigos donos agindo em toda a plenitude com igual desenvoltura62 Depreendese dessas observações que os negros fossem africa nos ou crioulos quando libertos adquiriam os costumes dos grupos dominantes transformandose em senhores indolentes e arrogantes A indolência e a arrogância entre brancos embora criticadas por viajantes que vinham de um mundo não escravista poderiam ser toleradas Em negros eram ridicularizadas pois ressaltavam de ma neira caricatural as piores consequências para eles da utilização do trabalho escravo Os numerosos adereços antes de fazerem parte de um exagero na indumentária ocidentalizada eram importantes em vários sentidos Entre as mulheres talvez para atrair os olhares 122 masculinos para solicitar favores para simbolizar um lugar social ou para atrair os espíritos Certamente que nós hoje não teríamos condições de avaliar o que poderiam representar os vários adornos das escravas e forras que de resto pertenciam a etnias diferentes Segundo Silvia Lara os signos poderiam ter sentidos diferentes e as diferenças de aparência e de costumes entre os homens receberam explicações diversas que mesclavam aspectos religiosos e mágicos físicos e naturais63 De qualquer forma cabe registrar que o vestuá rio e os adornos não tinham como objetivo somente a ostentação de riqueza nos moldes ocidentais e os seus significados poderiam variar de acordo com o portador ou o observador Consta que as mulheres minas eram especialmente tentadas por adereços e vestidos vistosos Charles Expilly enalteceu a beleza das negras mas ressaltava cada vez que eu falar da negra é sempre a negra mina Por pouco que se possua do sentimento de verdade o homem que habita a zona equatorial não pode recusar a sua admira ção por essas soberbas criaturas cujo porte está cheio dessa majestade radiosa que o elogio atribui às rainhas e a poesia às deusas64 Também fazia referência ao gosto das pretasminas pelos adere ços Manuela legítima preta mina que era apreciava as jóias e os enfeites65 Como já foi indicado Rosa Egipcíaca também mina de nação courana declarou que se prostituiu para as conseguir66 Mas quem concebia os modelos e confeccionava as roupas usa das por mulheres escravas e forras A costura era comum entre as mulheres negras mas creio que havia algumas que se tornaram espe cialistas na modelagem e confecção As camisas de musselina renda da das negras baianas descritas por Debret não deveriam ser feitas por qualquer uma Quero crer que era uma atividade provavelmente especializada e que rendia bem para as que a executavam Há refe rência inclusive a um comércio de panos com a África os chamados panos da costa que aparecem em alguns testamentos Dessa forma sugiro que algumas delas não só se tornavam importadoras de teci dos como modistas e costureiras de um mercado restrito por certo mas proporcionalmente bastante rentável 123 Nos testamentos há menção frequente a roupas das mulheres for ras quando deixavamnas de esmola ou herança para alguém mas foram os objetos e adereços de metais preciosos os que mais apare ceram Das 36 testadoras minas 22 eram proprietárias de objetos de ouro e prata muitos deles imagens e medalhas sacras Predominava por exemplo a imagem em ouro de Nossa Senhora da Conceição Maria do Carmo testando em 1757 possuía uma imagenzinha de Nossa Senhora da Conceição em ouro e olhos de Santa Luzia67 Uma variante era a imagem estar pendurada em um cordão de ouro como o de Maria Narciza Preta em 1804 A bemsucedida pretamina Francisca Maria Teresa nascida na Costa da Mina fora batizada na Nossa Senhora das Mercês da ci dade de Lisboa Seu testamento não informa como veio parar no Rio de Janeiro mas em 1776 aí redigiu seu testamento Era pro prietária de uma escravaria totalmente feminina Isabel de nação angola sua filha Dorothéia Tereza e uma crioulinha também por nome Tereza Morava em umas casas térreas na rua do Alecrim de sua propriedade Deixou Isabel angola coartada no valor de três doblas dandolhe dois anos para conseguir esse valor Já à sua cria Dorothéia filha de Isabel deixava forra e isenta de toda escravidão como se nascesse sem do ventre da dita sua mãe Durante sua vida de forra Francisca já havia tido outras escravas e já as tinha li bertado Eram elas Maria Tereza suas filhas Claudiana e Ana e Maria da Glória Francisca possuía um conjunto expressivo de joias três cordões de ouro da Vera Cruz e meia cada um pouco mais ou menos e quatro pares de brincos de ouro com suas pedras e diamantes um botão de ouro grande de gota duas imagens de Nossa Senhora da Conceição de ouro ambas com seu cor dão de pescoço dois anéis de ouro com suas pedras verme lhas e olhos de diamantes A propriedade de joias por parte dessas mulheres tinha signifi cados variados Mas havia um que presumo era importantíssimo sua facilidade para funcionar como garantia de empréstimo Muitas mulheres tinham joias empenhadas nas mãos de terceiros O que sur preende entretanto é que os credores eram muitas vezes também mulheres Maria Ribeira da Conceição do gentio da Guiné em 1753 124 era devedora de nove patacas à sua comadre Rosa Maria Sobre o assunto afirma e em sua mão foram uns penhores que é um par de brincos e uma volta de contas de ouro e peço a meu testamenteiro logo satisfaça sem demora Declaro que devo mais seis patacas a uma preta por nome Isabel da casa de João 68 A comadre Rosa Maria não teve referência de origem pois a in dicação do compadrio era superior a qualquer outra em terras do Brasil69 mas poderia tratarse de mulher forra Já a preta Isabel era provavelmente uma escrava que emprestava dinheiro a juros Bernarda da Conceição preta forra sem identificação de origem era proprietária de uma Senhora da Conceição de ouro grande com uma volta de cordão do mesmo uns brincos de ouro com seus diamantes que tudo se acha empenhado na mão de Joana de Carvalho mulher preta pela quantia de treze mil e quarenta réis70 Maria do Carmo pretamina em 1757 era credora de um preto forro chamado José Antônio de Amorim de dezesseis mil réis de di nheiro de empréstimo Alugava ao mesmo preto forro as lojas de sua casa Também sua madrinha e seu marido lhe deviam dinheiro de empréstimo71 Luiza Rodrigues mina em 1793 declarou a dita crioula Rosaria me está devedora da quantia de dobla e meia e assim também me é devedora a preta Rosa moradora de trás do hospício por baixo do Cônego Pedro Barbosa a quantia de quinze patacas e sua companheira também chamada Rosa moradora na mesma casa e ambas mina me deve dois cruza dos cujas quantias se cobrarão meus testamenteiros 72 Em 1803 Catarina dos Santos nação cabunda devia a uma preta mina Teodósia na Prainha a quantia de seis mil e quatrocentos réis à mulher de seu testamenteiro Esperança dois mil quinhentos e ses senta réis73 Havia portanto uma rede financeira em que praticamente só se envolviam mulheres nas condições de credora ou devedora algumas 125 vezes com penhor de objetos mais valiosos e outras apenas median te a palavra posto que não há referência a registro escrito Tudo in dica que o mundo criado por essas mulheres pressupunha alguns comportamentos similares Não eram propriamente usurárias mas socorriam ou se aproveitavam das outras dependendo da conjuntu ra Em 1753 talvez por ser proprietária de significativos bens uma escrava Maria de nação benguela duas moradinhas de casas sen do que residia numa delas dois cordões de ouro de vara e meia cada um cinco botões de ouro de colete um fio de contas de ouro um par de brincos de ouro de aljofres e mais bens móveis Mariana da Costa Ribeira deixou seus bens em testamento para a exsenhora pela boa criação dela recebida74 Tenho convicção de que essas mulheres ensinavam a suas escra vas futuras damas mercadoras a forma de agir e de sobreviver O tipo de comida a ser oferecido nos tabuleiros das quituteiras a in dumentária os amuletos a serem comercializados os adereços ade quados de metais preciosos a serem adquiridos os escravos a serem comprados em suma tudo fazia parte da boa criação Por sua vez chama a atenção a facilidade com que as senhoras forras permitiam que suas escravas se alforriassem Não repudiavam a escravidão ti nham escravas vindas da Costa da Mina e do gentio da Guiné como elas mas lhes davam instrumentos para suportar e superar essa condição A boa criação não necessariamente passava pela alforria gratuita já que quase todas exigiam pagamento para alforriar suas escravas Mas eram elas que eram designadas herdeiras e a elas as escravas destinavam seus bens em testamento Antes porém as pretasminas damas mercadoras transmitiam seus conhecimentos às senhoras Notas 1 RIBEYROLLES Charles Brasil Pitoresco Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1980 v 1 p 203 2 RIBEYROLLES Charles Brasil Pitoresco Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1980 v 1 p 209 3 EXPILLY Charles Mulheres e costumes do Brasil 2 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF INL 1977 p 81 4 Foi publicada em 1859 somente a primeira parte do Brasil Pitoresco onde se encon tram suas impressões sobre os pretosminas 126 5 O termo banto é analisado por Robert Slenes SLENES Robert W Malungu Ngoma vem África coberta e descoberta no Brasil Redescobrir os descobrimentos as des cobertas do Brasil Revista da USP São Paulo n 12 dez1991 fev 1992 p 49 6 CARNEIRO Edison Religiões negras 3 ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1991 p 30 7 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 8 Para uma melhor contextualização do que Mariza Soares chama de grupos de pro cedência ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica re ligiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 SOARES Mariza de Carvalho From Gbe to Yoruba ethnic changes within the Mina Nation in Rio de Janeiro In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 BARTH Fredrik Grupos étnicos e suas fronteiras In LASK Tomke Org O guru o iniciador e outras variações antropológicas Rio de Janeiro Contra Capa 2000 LOVE JOY Paul Enslave africans in the diaspora In Org Identity in the shadow of slavery Londres Continuum 2000 9 OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de O liberto o seu mundo e os outros Salvador 1790 1890 Salvador Corrupio 1988 10 DIAS Maria Odila da Silva Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX 2 ed São Paulo Brasiliense 1995 SOUZA Laura de Mello e Desclassificados do ouro a pobreza mineira no século XVIII Rio de Janeiro Graal 1983 FIGUEIREDO Luciano de Almeida O avesso da memória cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII Brasília DF EdUnb Rio de Janeiro J Olympio 1993 FIGUEIREDO Luciano MAGALDI Ana Maria Bandeira de Mello Negras de tabuleiro e vendeiras a presença feminina na desordem mineira do século XVIII Ciências Sociais Hoje São Paulo 1984 11 FARIA Sheila de Castro A colônia em movimento fortuna e família no cotidiano colonial Rio de Janeiro Nova Fronteira 1998 12 É possível pelos registros paroquiais de óbitos ter uma ideia de sua quantidade Os que não fizeram testamento ato comum e esperado para os proprietários de bens têm referido não fez testamento por não ter de quê Outros têm indicado que foram enterrados pelo amor de Deus ou seja gratuitamente Há ainda os que são referidos como vivendo de esmolas vadio ou mesmo pobre As indicações são muitas para designar a quem falta o necessário para a vida na definição do dicionarista Antônio de Moraes e Silva publicado pela primeira vez em 1789 SILVA Antônio de Moraes e Dicionário da Língua portuguesa Lisboa Typografia Lacerdina 1813 13 Ordenações Filipinas editada pela primeira vez em 1603 Edição facsímile da edição feita por Candido Mendes de Almeida Rio de Janeiro 1870 com nota de apre sentação de Mário Júlio de Almeida Costa Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 1985 14 Alforriar escravo mesmo que ele desse o seu valor não era obrigatório conforme a historiografia considerou durante anos Ver para esse erro sobre a existência de uma suposta Lei que obrigava o senhor a alforriar seu escravo CUNHA Manuela Carneiro da Sobre os silêncios da lei lei costumeira e positiva nas alforrias de escra vos no Brasil do século XIX In Antropologia do Brasil mito história etnicidade São Paulo Brasiliense EDUSP 1986 15 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 revisão de sua tese de doutoramento de 1972 Publicado em português A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 MOTT Luiz R B Pardos e pretos em Sergipe 17741851 Revista 127 do Instituto de Estudos Brasileiros São Paulo n 18 p 737 1976 MOTT Luiz R B Cautelas de alforria de duas escravas na província do Pará 18291846 Revista de História São Paulo v XLVII n 95 2638 1973 MATTOSO Katia M de Queirós Ser escravo no Brasil São Paulo Brasiliense 1982 MATTOSO Katia M de Queirós A carta de alforria como fonte complementar para o estudo da rentabilidade da mão deobra escrava urbana 18191888 In PELAEZ Carlos Manuel BUESCU Mircea Org A Moderna História Econômica Rio de Janeiro Apec 1976 MATTOSO Katia M de Queirós A propósito de cartas de alforria Bahia 17791850 Anais de História Assis v 4 p 2352 1972 SCHWARTZ Stuart B A manumissão dos escravos no Brasil Colonial 16841745 Anais de História Assis v 4 p 71114 1974 SCHWARTZ Stuart B The manumission of slave in colonial Brazil Bahia 16841745 HAHR Hispanic American Historical Review Maryland v 54 n 4 nov 1974 p 603635 Traduzido para o português como A manumissão dos escravos no Brasil Colonial Bahia 1684 1745 e publicado em Anais de História Assis v 6 p 71114 1974 KIERNAN James Baptism and manumission in Brazil Paraty 17891822 Social Science History Pitts burgh v 3 n 1 p 5671 1978 KIERNAN James The manumission of slaves in colo nial Brazil Paraty 17891822 Tese Doutorado em História New York University New York 1976 16 A estimativa de Kátia Mattoso é a de que 10 da população escrava poderia ter acesso à alforria Cf MATTOSO Katia M de Queirós Ser escravo no Brasil São Paulo Brasiliense 1982 17 Cf MATTOSO Katia M de Queirós A propósito de cartas de alforria Bahia 1779 1850 Anais de História Assis v 4 p 2352 1972 MATTOSO Katia M de Queirós A carta de alforria como fonte complementar para o estudo da rentabilidade da mão deobra escrava urbana 18191888 In PELAEZ Carlos Manuel BUESCU Mircea Org A Moderna História Econômica Rio de Janeiro Apec 1976 18 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 19 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 20 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 21 Cf EISENBERG Peter Homens esquecidos escravos e trabalhadores livres no Brasil séc XVIII e XIX Campinas SP Ed da UNICAMP 1989 22 Devo esclarecer que não utilizei todas as cartas de alforrias registradas em livros de notas dos cartórios de 1º 2º 3º e 4º Ofícios de Notas e de Registro Geral do Rio de Janeiro mas creio que coletei número significativo delas que sustentam os argumen tos que me proponho a seguir 23 Schwartz faz um rápido balanço dos estudos sobre alforrias para a Bahia Ele pró prio realizou um importante trabalho sobre alforrias entre os anos de 1684 e 1745 Cf SCHWARTZ Stuart B A manumissão dos escravos no Brasil Colonial 16841745 Anais de História Assis v 4 p 71114 1974 24 Sérgio Buarque de Holanda assim se refere a ele de passagem convém notar que a palavra mulato se aplicava em São Paulo a mestiços de índios tanto como de negros e àqueles naturalmente mais do que a estes por ser então diminuta ali a escravidão africana mesmo durante a primeira metade do século XVIII os registros de batizados de carijós falam em molatos com tal acepção e só raramente aludem a mamelucos HOLANDA Sérgio Buarque de Caminhos e fronteiras São Paulo Companhia das Letras 1994 p 264 25 FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista Topoi Rio de Janeiro p 940 set 2002 128 26 FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista Topoi Rio de Janeiro set 2002 p 2021 27 Estou considerando como alforria gratuita a que não resultou do desembolso de um valor monetário por parte do escravo pago por ele ou por terceiros Podese considerar como fizeram outros analistas que a alforria condicional poderia ser traduzida como um pagamento mas não era um pagamento monetário O que me interessa realmente é destacar os que puderam acumular recursos em bens para arcar com sua alforria 28 FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista Topoi Rio de Janeiro p 940 set 2002 29 Esse irmão no caso não deve ser consanguíneo mas ritual posto que deveriam participar da mesma irmandade A informação sobre Antônio Bastos Maia é de SO ARES Mariza de Carvalho O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro no século XVIII Topoi Rio de Janeiro v 4 2002 30 Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de JaneiroACMRJ Livro de Óbito da Fregue sia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Isabel da Silva de 21111779 31 SOARES Devotos da cor Identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janei ro seculo XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 6 32 ACMRJ Testamento do Capitão Ignácio Gonçalves do Monte Livro 18 da Sé Testa mentos e Óbitos 17761784 fl 442v Agradeço a Anderson de Oliveira por me ter cedido a transcrição do referido testamento 33 Os herdeiros necessários eram em ordem descendentes ascendentes e colaterais até o segundo grau de consanguinidade Normalmente os nascidos na África tinham poucas chances de ter pais ou irmãos em cativeiro 34 SOARES Mariza de Carvalho O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janei ro no século XVIII Topoi Rio de Janeiro v 4 2002 35 FARIA Sheila Siqueira de Castro Sinhás pretas acumulação de pecúlio e transmis são de bens de mulheres forras no sudeste escravista séculos XVIII e XIX In SILVA F C T da MATTOS H FRAGOSO J Org Ensaios sobre História e Educação Rio de Janeiro Mauad Faperj 200 p 289329 36 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Rita Francisca de Passos 1792 37 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia da Sé do Rio de Janeiro Testamento de Maria do Bonsucesso 1811 38 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Mariana da Costa Ribeira 1753 39 Dos escravos adultos das mulheres forras 87 deles eram mulheres Cf Sinhás pre tas acumulação de pecúlio e transmissão de bens de mulheres forras no sudeste escravista séculos XVIII e XIX In FRAGOSO J MATTOS H M SILVA F C Org Escritos sobre história e educação homenagem a Maria Yedda Linhares Rio de Janei ro Mauad FAPERJ 2001 p 289329 40 Debret ignorava assim como de resto o fizeram analistas posteriores a presença dos minas no Rio de Janeiro desde a primeira metade do século XVIII Cf SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 41 DEBRET JeanBaptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet 4 v Belo Horizonte Itatiaia São Paulo Martins 1989 v 2 p 137 1 ed entre 1834 e 1839 42 SLENES Robert Na senzala uma flor as esperanças e as recordações na formação da família escrava Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 129 43 Cf SLENES Robert Na senzala uma flor as esperanças e as recordações na forma ção da família escrava Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 44 Cf FREYRE Gilberto Casa Grande Senzala as origens da Família Patriarcal Brasi leira Rio de Janeiro J Olympio 1987 CASCUDO Luís da Câmara História da alimen tação no Brasil Belo Horizonte Itatiaia 1983 1 ed 1933 45 DEBRET JeanBaptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet 4 v Belo Horizonte Itatiaia São Paulo Martins 1989 46 BRANDÃO João Majestade e grandeza de Lisboa em 1552 Ed Anselmo Braamcamp Freire e JJ Gomes de Brito Arquivo Historico Portuguez XI 1917 p824 apud CA LAINHO Daniela Buono Metrópole das mandingas religiosidade negra e inquisição portuguesa no Antigo Regime Tese DoutoradoUniversidade Federal Fluminense Niterói 2000 p 53 47 EXPILLY Charles Mulheres e costumes do Brasil 2 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF INL 1977 p 8485 48 EXPILLY Charles Mulheres e costumes do Brasil 2 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF INL 1977 p 85 49 Cf EWBANK Thomas A vida no Brasil Belo Horizonte Itatiaia 1976 p 188 50 CASCUDO Luís da Câmara Dicionário do Folclore p 262263 apud SOARES Márcio de Souza A doença e a cura saberes médicos e cultura popular na Corte imperial Dissertação Mestrado Universidade Federal Fluminense Niterói 1999 51 DEBRET JeanBaptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet 4 v Belo Horizonte Itatiaia São Paulo Martins 1989 v 2 p 178 52 DEBRET JeanBaptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet 4 v Belo Horizonte Itatiaia São Paulo Martins 1989 v 2 p 150151 53 EWBANK Thomas A vida no Brasil Belo Horizonte Itatiaia 1976 p 189 54 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 55 LARA Sílvia Hunold The signs of color womens dress and racial relations in Salva dor and Rio de Janeiro c 17501815 Colonial Latin American Review London 6 ed v 2 p 205224 1997 56 LARA Sílvia Hunold The signs of color womens dress and racial relations in Salva dor and Rio de Janeiro c 17501815 Colonial Latin American Review London 6 ed v 2 1997 p 205 57 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 p 301 58 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 p 34 59 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 p 39 60 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 p 301 61 Cf GRAHAM Maria Diário de uma viagem ao Brasil Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1990 1 ed inglesa 1824 62 LINDLEY Thomas Narrativa de uma viagem ao Brasil 18045 São Paulo Compa nhia Ed Nacional 1969 p 176177 63 LARA Sílvia Hunold The signs of color womens dress and racial relations in Salva dor and Rio de Janeiro c 17501815 Colonial Latin American Review London 6 ed v 2 1997 p 215 130 64 EXPILLY Charles Mulheres e costumes do Brasil 2 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF INL 1977 p 96 65 EXPILLY Charles Mulheres e costumes do Brasil 2 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF INL 1977 p 94 66 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 p 14 67 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Maria do Carmo 1757 68 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Maria Ribeira da Conceição 1753 69 Cf FARIA Sheila de Castro A colônia em movimento fortuna e família no cotidiano colonial Rio de Janeiro Nova Fronteira 1998 70 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Bernarda da Conceição 1765 71 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Maria do Carmo 1757 72 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Luiza Rodrigues 1793 73 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento Catarina dos Santos 1803 74 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento Mariana da Costa Ribeira 1753 Rosa Egipcíaca de escrava da Costa da Mina a Flor do Rio de Janeiro Luiz Mott Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz é certamente a mulher negra africana do século XVIII tanto em África como na diáspora afroame ricana e no Brasil a respeito de quem se dispõe de mais detalhes documentais sobre sua vida sonhos escritos e paixão É a primeira afrobrasileira a ter escrito um livro do qual restaram algumas pági nas manuscritas1 Dos seus 46 anos de fantástica existência viveu 20 anos no Rio de Janeiro primeiro de 1725 a 1733 quando foi vendida para as Minas Gerais lá permanecendo por 18 anos seguidos retor nando à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro em 1751 e aqui vivendo até 1763 quando foi enviada presa para os cárceres do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa Foi considerada na época como a maior santa do céu a quem brancos mulatos e negros inclusive toda a família de seu ex senhor e respeitáveis sacerdotes adoravam de joe lhos beijandolhe os pés venerando suas relíquias intitulandoa a Flor do Rio de Janeiro Fundou o Recolhimento de Nossa Senhora do Parto ocupa do predominantemente por negras e mestiças cuja capela reformada permanece até hoje no Centro dessa cidade na rua da Assembleia Melhor que ninguém Rosa tipifica a riqueza e a força do sincre tismo religioso católico afrobrasileirocarioca Todos os detalhes de sua vida encontramse em três pro cessos conservados na Torre do Tombo em Lisboa divulgados em meu livro Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil2 Rosa era uma negrinha nascida na Costa da Mina de nação Courana também conhecida como Coura que desembarcou de um navio negreiro no Rio de Janeiro em 1725 aos seis anos de idade São pouquís simas as informações disponíveis sobre essa nação africana Dentre as centenas de etnias negras trazi das para o Novo Mundo nos três séculos de tráfico 132 negreiro os nativos dessa nação aparecem referidos nos documentos lusobrasileiros com diferentes grafias courá curá curamo curano couxaina courã karam e pelos compostos courámina courano da Costa da Mina courábaxé Todos estes nomes provêm com certeza de três importantes acidentes geográficos situados entre a Fortaleza de Ouidah Judá ou Ajudá e o Reino de Benim o rio Curamo a lagoa e a ilha do mesmo nome Segundo ensina Pierre Verger os courá ini migos do rei do Daomé habitavam as margens da lagoa de Curamo nos arredores da atual cidade de Lagos3 Se nos debruçarmos sobre os poucos mapas antigos da África re lativos a essa região podemos descobrir bem próximo à costa ao sul do porto de Judá e ao norte do Rio Benim esses três pontos geo gráficos assim como a pequena vila de Curamo que na Descrição do Reino de Benin de 1748 é dita como situandose a dez léguas do Rio Formoso povoação que tinha todo seu espaço circundado por paliçada dupla distante 13 léguas da vila de Jabum4 A mesma fonte revela que os couranos distinguiamse dos vizinhos pela excelente qualidade e beleza dos tecidos que aí confeccionavam e que eram vendidos por altos preços na Costa do Ouro5 Provavelmente foi numa das batalhas ou escaramuças entre essas etnias inimigas que nossa menininha courá foi pilhada vendida junto com outros cativos e despachada no porto de Judá em direção ao Brasil Nada sabemos sobre sua parentela No Tribunal da Inquisição de Lisboa quatro décadas mais tarde declarou não saber quem são seus pais Em nenhum momento de sua biografia esta negra coura na fez qualquer menção à sua família africana nem a seu nome ori ginal Somente quando adulta é que construiu sua família espiritual pois além de se tornar comadre e madrinha teve dezenas de filhas em seu Recolhimento de Nossa Senhora do Parto além de muitas outras dezenas de filhos espirituais e devotos no interior de Minas Gerais e na cidade do Rio de Janeiro Rosa teve também diversos pais espirituais seus confessores com quem manteve cordial e de vota relação filial Do principal deles foi até mesmo infamada de ser amante carnal Ao ser desembarcada no porto do Rio de Janeiro o comércio de escravos faziase nas imediações da Rua Direita em pleno cen tro comercial da cidade já que somente no governo do Marquês de Lavradio por volta de 1760 foi determinado o Valongo como lugar próprio ao mercado negreiro Foi comprada por um tal senhor José 133 de Souza Azevedo o qual mandou batizála na Igreja da Candelária que no tempo do Onça6 não passava de uma pequenina igreja sede da Freguesia do mesmo nome situada na várzea da cidade hu mílima em comparação à grandiosidade do templo neoclássico que hoje conhecemos Era certamente a igreja onde mais escravos eram batizados entre 17251726 dos 444 batismos aí realizados 62 eram escravos permitindonos levantar a hipótese de que a familiarida de com a patrona dessa igreja talvez explique a gênese da associa ção entre Nossa Senhora das Candeias com o culto à Rainha do Mar Iemanjá Não conseguimos localizar qualquer pista da negrinha Rosa Courá nos livros de registros batismais7 Não é difícil reconstruir sua vida de menininha escrava urbana residente na freguesia da Candelária nos inícios do século XVIII rea lizando pequenos serviços domésticos compatíveis com sua pe quenez cuidando de crianças carregando objetos dando recados ajudando na limpeza da casa ou na cozinha Provavelmente nesta primeira fase de adaptação à sua recente condição de escrava com novo nome aprendendo língua estranha e costumes completamente diferentes dos de sua tribo natal é que esta pretinha de seis anos foi informada por outros negros seus conterrâneos de que era nativa da nação courana procedente do porto de Judá identificação que guardará para toda a vida Talvez possuísse algumas marcas tribais ou cicatrizes decorativas em seu rosto e barriga Teria sofrido muti lação clitoriana prática comum em muitas tribos da Costa da Mina Dizem os manuscritos da Torre do Tombo que o senhor de Rosa após desonestála e tratar torpemente com ela vendeua para as Minas Gerais aos 14 anos Triste destino de tantas adolescentes da cor de ébano presas fáceis da volúpia dos machos de todas as cores Segundo o viajante alemão Carl Schlichthort em seu livro O Rio de Janeiro como é doze anos é a idade em flor das africanas Nelas há de quando em quando um encanto tão grande que a gente esque ce a cor As negrinhas são geralmente fornidas e sólidas com feições denotando agradável amabilidade e todos os mo vimentos cheios de graça natural pés e mãos plasticamente belos Dos olhos irradia um fogo tão peculiar e o seio arfa em tão ansioso desejo que é difícil resistir a tais seduções 8 134 Foram certamente tais encantos primaveris e a impunidade dos abusos sexuais que devem ter despertado a concupiscência do pro prietário de Rosa pois conforme contou ela própria em companhia deste senhor esteve até a idade de 14 anos o qual a deflorou e tratou com ela torpemente Malgrado os anátemas do clero contra a man cebia e a simples fornicação dos senhores com suas escravas9 o que aconteceu à nossa negrinha devia ser a regra para a maioria das ca tivas nesse período tão cruelmente marcado pelo mandonismo dos donos do poder Como lembra acertadamente Gilberto Freyre não há escravidão sem depravação sexual É da essência mesma do regi me10 Teria a adolescente Rosa ficado grávida abortado ou parido Não há em seu processo junto ao Tribunal do Santo Ofício qualquer informação sobre isso Após oito anos no Rio de Janeiro novamente Rosa sofre outra se paração de seus conhecidos a ruptura de uma rotina de sua vida de adolescente a angústia e o temor perante o desconhecido Por mais fome que tenha passado desde que atingira a idade da razão por mais pancadas beliscões palmatoadas ou mesmo chicotadas que te nha recebido na casa de seu senhor certamente essa meninamoça africana criara laços afetivos e de amizade com outros escravos tal vez com gente de sua mesma nação de modo que provavelmente deve ter derramado muitas lágrimas ao se despedir do pequeno gru po de seus entes queridos A viagem para as Minas cerca de 500 quilômetros percorridos a pé foi a segunda grande caminhada forçada na vida dessa garota a primeira havia mais ou menos nove anos quando foi de sua aldeia tribal até o porto de Judá agora esta outra atravessando densas e úmidas florestas ferindo seus pés descalços subindo a Serra da Mantiqueira em direção às Minas Gerais Esse trajeto deve ter levado pelo menos de 10 a 12 dias de viagem seguindo o mesmo itinerário referido por Antonil no seu Roteiro do caminho novo para as Minas 1711 marchando à paulista isto é andando bem desde a madrugada até as 3 horas da tarde quando se arranchavam para terem tempo de descansar e buscar alguma caça peixe mel palmito ou outro qualquer mantimento11 135 Em 1733 ano em que Rosa chega a Minas Gerais esta capitania estava no seu apogeu absorvendo cada vez mais e mais mão de obra escrava De 1715 a 1727 saem do Rio de Janeiro mais de 26 mil cati vos em direção às Minas uma média de 2300 negros todos os anos Ao chegar a essa região existiam na capitania cerca de 96 mil cativos sendo que somente em Mariana sede da comarca residiam mais de 26 mil Os brancos representavam tão somente um quarto da popu lação mineira12 Na capitania das Minas Rosa foi comprada por Dona Ana Garcês de Morais mãe de um de nossos mais destacados literatos do perío do colonial frei José de Santa Rita Durão indo morar na Freguesia do Inficcionado a duas léguas de Mariana O Inficcionado na verdade não passava de um humilde arraial de mineiros encravado num vale cercado por altas montanhas um ar ruado que nunca abrigou sequer uma centena de residências No alto de um morrote logo à entrada do arraial para quem vinha de Catas Altas estava a Fazenda Cata Preta de propriedade do sargentomor de milícias urbanas Paulo Rodrigues Durão pai do futuro agostinia no e escritor Santa Rita Durão Aí viveu Rosa dos 14 aos 32 anos entre 17331751 Tive oportunidade de visitar as ruínas do sobrado dessa fazenda durante minha pesquisa de campo na região Como tantas escravas de norte a sul da colônia a negra coura na viveu de vender seu corpo e prestar favores sexuais aos concu piscentes mineiros que com ouro em pó compravam mercadorias e prazer das poucas mulheres que percorriam as faisqueiras Era a úni ca escrava num plantel de 77 escravos machos Segundo mais tarde confessou perante o Comissário do Santo Ofício do Rio de Janeiro passou 15 anos a se desonestar vivendo como meretriz tratando com qualquer homem secular que a procurava em cuja vida assim andou até o tempo que teve o Espírito Maligno Este comércio ve néreo deu à escrava africana um traquejo social e um verniz civiliza tório que muito lhe auxiliaram em seu futuro grandioso Não é difícil imaginar todos os constrangimentos violências e doenças que essa jovem africana deve ter sofrido na condição de prostituta escrava negra numa região abarrotada de aventureiros e carente de filhas de Eva Esses 15 anos de meretrício dos 14 aos 29 anos foram fun damentais na constituição da personalidade e na desenvoltura social desta negra que na qualidade de mercadoria sexual deve ter priva do do relacionamento com centenas de homens de diferentes raças e 136 classes sociais escravos negros forros mestiços brancos aventurei ros quiçá portugueses favorecidos pela sorte do vil metal Auri sacra fames Relacionamentos sempre marcados pela dominação machis ta deboche malandragem incluindo certamente um elevado con sumo de aguardente e altas doses de almíscar o perfume preferido pelas negras no tempo do Onça Muita dança batuque fandango até o fim da vida mesmo vestida de freira no Recolhimento Rosa não resistia à tentação de dançar Nas Minas na época do Barroco a dança fazia parte do culto divino fosse nas igrejas doiradas nas procissões ou triunfos fosse nas clandestinas casas de culto de matriz africana Segundo o historiador J F Carrato o batuque era o coqueluche da época e Tomás Antônio Gonzaga imortalizou em suas Cartas Chilenas os gingados e bamboleios dos parceiros nesse baile descarado Fingindo a moça que levanta a saia E voando nas pontas dos dedinhos Prega no machacaz de quem mais gosta A lasciva embigada abrindo os braços Então o machacaz mexendo a bunda Pondo uma mão na testa outra na ilharga Ora dando alguns estalos com os dedos Seguindo das violas o compasso Lhe diz eu pago eu pago e de repente Sobre a torpe michela atira o salto Ó dança venturosa Tu entravas Nas humildes choupanas onde as negras Aonde as vis mulatas apertando Por baixo do bandulho a larga cinta Te honravam cos marotos e brejeiros Batendo sobre o chão o pé descalço13 Ao completar 30 anos a cativa courana foi atacada por uma estranha enfermidade ficava com o rosto inchado sentia tumor no estômago caía ao chão desacordada Rosa decidiu então deixar de ser mulher da vida por volta de 1748 vendeu seus parcos bens joias e roupas amealhadas com a venda de seu corpo distribuiu tudo aos pobres Adotou vida beata frequentando os ofícios divinos e liturgias que abundantes eram celebrados nas barrocas igrejas mineiras 137 muitas delas construídas nessa mesma década Foi numa dessas an danças pias que encontrou na Capela de Bento Gonçalves vizinha ao arraial do Inficcionado o padre Francisco Gonçalves Lopes realizan do fantásticos exorcismos em alguns energúmenos Este sacerdote português nascido no Minho em 1694 era então vigário da Freguesia de São Caetano no mesmo distrito e tão eficaz e useiro era em tirar o demônio do corpo de brancos e pretos que tinha por apelido o XotaDiabos Impressionada com a cerimônia do exorcismo Rosa revelou tam bém estar ela própria possuída por sete demônios segundo pala vras do exorcista caiu no chão fazendo diferentes visagens e mui tos trejeitos com o corpo levantandose e dizendo que era Lúcifer que a vexava e lhe causava grandes inchações que tinha na cara e ventre Uma testemunha presente a esses exorcismos revelou que Rosa fazia gestos e movimentos que parecia o Demônio A própria energúmena descreveu assim seu transe viu e sentiu que do ar lhe deitaram um caldeirão de água fervendo com o que caiu logo desa cordada e quando se restituiu se achou lançando sangue da cabeça que estava rachada e metida aos pés de São Benedito Não deixa de ser emblemática a coincidência de seu primeiro transe religioso ter acontecido exatamente ao pé de um santo negro exescravo e depois irmão leigo franciscano da Sicília Um segundo exorcismo realizado nessa mesma freguesia confirma ao sacerdote que de fato a escra va do casal Durão era uma possessa especial pois quando vexada fazia sermões edificantes sempre preocupada que todos mantives sem perfeita compostura nos templos retirando à força para a rua a quantos conversassem ou desrespeitassem a presença do Santíssimo Sacramento Quando possuída por Satanás falava grosso caía desa cordada e dizia ter visões celestiais vendo por diversas vezes Nossa Senhora da Conceição ouvindo diversos coros de anjos que lhe ensi naram algumas orações recebendo até a revelação de uma fonte de água milagrosa ao pé de uma montanha onde devia ser construída uma igreja em honra de Senhora Santana O culto aos avós de Cristo substitui certamente no imaginário místico de Rosa a perda e des conhecimento de seus próprios ancestrais culto tão forte na maior parte das tribos da Costa da África O século XVIII representa igual mente o auge da devoção a SantAna na América Portuguesa utiliza da como reforço da dominação dos mais velhos às novas gerações 138 Após os exorcismos Rosa dizia ser arrebatada por um misterioso vento quando saía de casa para ir à igreja logo na rua que sentia um vento tão forte que lhe impedia os passos e com grande violên cia a fazia retroceder para trás e se bater com o corpo em uma cruz sendo em dias que não havia vento e só por virtude dos preceitos que punha o exorcista é que podia resistir ao dito vento e entrar na igreja A partir de então os exorcismos farão parte essencial do dia a dia dessa beata africana e dado o caráter público desses rituais e dos locais onde o Diabo a atacava Rosa passará a ser vista e conside rada como uma vexada pelo demônio de mulher pública tornase espiritada sendo outra agora a assistência de curiosos que passam a circundála Ainda hoje existe no Inficcionado uma grande cruz qua se defronte da Igreja de Nossa Senhora do Rosário teria sido neste cruzeiro que Rosa sentiu os tais acidentes e ventanias O vento muito antes de os filósofos présocráticos elegeremno como um dos elementos constitutivos da vida foi apontado por ou tros povos como a própria manifestação da divindade ou um de seus atributos Na tradição bíblica o vento o ar e o hálito são identifi cadores da força de Javé O próprio Espírito Santo a terceira pes soa da Santíssima Trindade em grego é chamado de Pneuma isto é ar E mais recentemente nos meados do século XIX a aparição de Nossa Senhora de Lourdes à Santa Bernadette ocorre após um pé de vento Entre nossos escravos trazidos da Costa da Mina de onde provinha Rosa Egipcíaca alguns importantes Orixás sobretudo a po derosa Iansã são identificados com ventos ou melhor o vento é a materialização da manifestação desses espíritos Encontramos mes mo outras africanas contemporâneas de Rosa que nas Minas Gerais já haviam sido denunciadas às autoridades eclesiásticas exatamente por cultuarem tal elemento etéreo Maria Conga inventava uma dan ça de batuque no meio da qual entrava a sairlhe da cabeça uma coisa que se chama vento e entrava a adivinhar o que queria14 A fama de visionária de Rosa espalhase por Mariana Ouro Preto São João Del Rei sempre acompanhada do padre XotaDiabos e de seus exorcismos Nessa última cidade na Igreja do Pilar cer ta vez Rosa Courana interrompeu a pregação de um missionário 139 capuchinho gritando que ela era o próprio Satanás ali presente foi presa e enviada para Mariana a sede do Bispado onde foi flagelada no pelourinho com tal rigor que por pouco não morreu ficando con tudo para o resto da vida com o lado direito do corpo semiparalisa do No aljube recebeu a visita do próprio Santo Antônio Recuperada da tortura procurou o recémempossado bispo da Diocese D Frei Manoel da Cruz que formou uma junta de teólogos para investigar se a incorrigível energúmena era mesmo possessa ou embusteira Após uma série de provas inclusive testando a resistência da pobre ve xada à chama de uma vela que por cinco minutos suportou acesa debaixo da língua concluíram os teólogos que tudo não passava de fingimento passando então o povo a chamála de feiticeira Para evitar novos problemas Rosa fugiu para o Rio de Janeiro sempre auxiliada e protegida pelo seu inseparável padre XotaDiabos o qual nesta época passava dos 50 anos e que a comprou de sua dona tornandose seu proprietário legal O retorno à cidade de sua segunda infância ocorreu em condições bem melhores do que quando subiu a serra num magote de cativos em vez de simplesmente Rosa após uma visão celestial agora apresentavase com o nome de uma verda deira religiosa Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz Montada a cavalo dormindo em estalagens intercalava visões celestiais com tentações carnais tendo o XotaDiabos como o eleito de seu coração relação íntima insinuada e comentada por seus próprios contemporâneos embora nunca comprovada e jamais assumida pelos dois Chegaram à heroica e leal cidade do Rio de Janeiro em abril de 1751 Depois de Salvador capital da América Portuguesa que na épo ca contava com 7 mil fogos e pouco mais de 40 mil habitantes o Rio de Janeiro era a segunda cidade em importância demográfica e econômica entre 17501760 possuía de 24 a 30 mil moradores com 7723 fogos Cidade barroca com vivíssimo décor religioso 23 igrejas distribuídas em quatro paróquias Sé Catedral Candelária São José e Santa Rita Aí estavam distribuídos 70 oratórios 26 confrarias 380 frades mais de uma centena de padres seculares15 Nessa mesma dé cada foi iniciada ou concluída a construção de diversas igrejas Rosa instalouse inicialmente numas casas em frente à Igreja de Santa Rita na atual Rua Visconde de Inhaúma tendo sua primei ra visão na Igreja de Nossa Senhora da Lapa onde apareceulhe o Menino Jesus vestido de azulceleste tendo na cabeça uma tiara pon tifícia caindo no chão sem sentidos e como morta Por sugestão de 140 uma beata das muitas que frequentavam assiduamente os templos cariocas Rosa revelou sua vida atribulada e os dons espirituais ao Provincial dos Franciscanos frei Agostinho de São José que passou a ser seu diretor espiritual Este frade ficou na história carioca por ter sido o responsável pela edificação do segundo andar do Convento de Santo Antônio ainda hoje dominando o alto do morro no Largo da Carioca A vida mística de Rosa impressionou vivamente os francis canos que viramna cumprir todos os exercícios pios então muito em voga jejuns prolongados autoflagelação uso de silício novenas intermitentes comunhão frequente Deram à preta Rosa o maravilho so título de Flor do Rio de Janeiro Nessa época convém esclarecer malgrado a discriminação legal e institucional contra a raça negra sujeita à escravidão e aos mais cruéis tormentos a Igreja Católica procurava oferecer modelos de santidade para este enorme contingente demográfico representado pelos africanos e afrodescendentes que pululavam por toda a colô nia É nestes meados do século XVIII que o papado estimulou por todas as partes do mundo escravista o culto a São Benedito Santo Elesbão Santa Efigênia Santo Antônio de Noto ou Categeró todos negros como Rosa todos exemplos de humildade resignação e santi dade16 O monarca da época D João V ele próprio com lágrimas nos olhos escrevia ao clero da América Portuguesa insistindo que não deixassem os cativos morrer sem o batismo quando transportados nos tumbeiros da África para o Brasil e cuidassem da rápida evan gelização desses pobres descendentes do Prestes João o patriarca evangelizador da Etiópia A beata Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz portanto exprosti tuta como sua patrona Santa Maria Egipcíaca vinha a calhar nesse aggiornamento da Igreja colonial e poderia ser certamente assim o desejavam os franciscanos uma futura santa E ter uma santa em casa ensinava a tradição redundava em romarias polpudas doações para o convento a garantia portanto de manutenção das velas dos altares e demais gastos dos atos litúrgicos e do próprio convento Tão logo chegara ao Rio através de uma visão celestial Nossa Senhora obriga a negra courana a aprender a ler e escrever tarefa que cumprirá razoavelmente Também por inspiração sobrenatural Rosa Egipcíaca decide fundar um Recolhimento para mulheres do mundo que pretendiam como ela trocar o amor dos homens pelo do Divino Esposo Ajudada por polpuda doação de um sacerdote de 141 Minas Gerais seu devoto e admirador de suas excelsas virtudes con tando com o beneplácito do bispo do Rio de Janeiro D Antônio do Desterro em 1754 foi lançada a primeira pedra do Recolhimento de Nossa Senhora do Parto aproveitando a existência de uma pequena capela localizada não muito distante do Largo da Carioca onde hoje se situa a Rua da Assembleia Construído o Recolhimento chegou a abrigar uma vintena de moçasdonzelas e exmulheres da vida sendo metade delas negras ou mulatas Viviam de doações dos fiéis e dos parentes das recolhidas seguindo a rotina comum a tais instituições leigas com religiosas sem votos perpétuos incluindo a recitação co letiva do Ofício de Nossa Senhora e outras liturgias sacramentais além do trabalho de manutenção da casa pia e demais exercícios co munitários Entre as recolhidas estavam três filhas de um exsenhor de Rosa de São João del Rei compadre do XotaDiabos Madre Rosa como então passou a ser chamada por dezenas de seus devotos sofistica suas visões passando a escrevêlas ou di tando para que suas escribas anotassem tudo o que via e ouvia seja revelado pelos santos por Maria Santíssima ou pela própria boca de Deus Sempre aplaudida e venerada pelo padre Francisco Gonçalves Lopes pelo seu frade confessor e por um capuchinho italiano a ne gra courana escreve mais de 250 folhas do livro Sagrada teologia do amor de Deus luz brilhante das almas peregrinas no qual diz que o Menino Jesus vinha todo dia mamar em seu peito e agradecido pen teava sua carapinha que Nosso Senhor trocara seu coração com o dela e que no seu peito trazia Jesus Sacramentado que morrera e tinha ressuscitado que Nossa Senhora era Mãe de Misericórdia e que ela Rosa recebera de Deus o título e encargo de ser Mãe de Justiça dependendo de seu arbítrio o futuro de todas as almas se iam para o céu ou para o inferno que ela própria era a esposa da Santíssima Trindade a nova Redentora do mundo Em seu misticismo como católica fervorosa assistida por diversos diretores espirituais Rosa incorporou em sua espiritualidade o que de mais moderno existia em termos de devoção na época tal qual era praticado por outras santas em Roma Lisboa e demais metrópo les da Cristandade a exescrava agora a madre do Recolhimento do Parto foi a principal vidente e divulgadora em terras brasileiras do culto aos Sagrados Corações iniciado nos meados do século XVII pela visitacionista francesa Santa Margarida Marie Alacoque Mas nossa beata courana foi além propagou não apenas a devoção oficial 142 aos sagrados corações de Jesus e Maria mas de toda a família do Nazareno a saber os corações de São José e dos avós de Cristo São Joaquim e Santana Foi graças às visões de Rosa e para representá las visualmente que os franciscanos construíram no Convento do Largo da Carioca a maravilhosa Capela dos Sagrados Corações até hoje perfeitamente conservada e aberta à visitação pública muito embora sem se dar os créditos à sua verdadeira inspiradora Santa Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz Em seu recolhimento instalouse verdadeiro culto idolátrico à sua pessoa com os devotos venerandoa de joelhos disputando suas re líquias guardando seus escritos como se fossem revelações divinas Algumas liturgias pecavam pela heterodoxia notandose elementos de forte inspiração africana Não esquecer que mais da metade das recolhidas entre estas as quatro principais assessoras de Rosa eram afrodescendentes Além do vício de pitar cachimbo Rosa coman dava certas cerimônias nas quais é nítido o sincretismo afrocatólico Numa ocasião conta a recolhida Irmã Ana do Coração de Jesus negra crioula natural de Ouro Preto que na noite da festa Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel que era o dia das sortes da congregação estando a comunidade rezando a novena no coro saiu Rosa de joelhos e cantando o Ave Maris Stella Ave Estrela do Mar começou a dançar em frente do altar fazendo muitas visagens até cair desmaiada no chão Levantouse então e de um balainho pequenino tirou quatro papelinhos trazidos à maneira de sorte e deu cada um a quatro irmãs três negras e uma branca onde estavam escritos São Mateus São Lucas São Marcos e São João dizendo que elas eram suas evangelistas 17 Em que medida tal imposição de novos nomes poderia evocar ri tuais congêneres praticados nos cultos afrobrasileiros quando as yaôs saem da camarinha e têm revelados seus nomes de santo pas sando a partir de então a incorporar seus orixás A descrição de outra cerimônia faznos lembrar de uma seção de gira num terreiro de Umbanda ou Candomblé Na capela do Parto Rosa tirava às vezes algumas imagens do altar dizendo que ela era Deus e metia as imagens na mão 143 de algumas irmãs e ia dançando até ao pé delas e lá as deixava e ia buscar outra e entrava a apertar a dança arrodeandoas e caía no colo de alguma irmã e ficava como estivesse a fora de si e depois de muito tempo se tornava a si e começava a perguntar aquilo o que era quem a tinha trazido para ali e isto era quase sempre e se não críamos levantandose da sua pas sividade roncando se agarrava pela goela e entrava a bater pelo chão dando murros 18 Noutras oportunidades a negra courana parecia estar possuída de algum erê tanto que certa manhã entrou Rosa no coro com uma vara de marmelo dando na ca beça das recolhidas dizendo ABC com o que mataste o meu Iapê com uma vara de dimpê Explicando que Iapê era Nosso Senhor e a vara de dimpê era a contradição que as reco lhidas tinham19 Infelizmente nenhum linguista conseguiu até agora darnos a pis ta dessas expressões idiomáticas utilizadas pela Abelha Mestra do Recolhimento do Parto O ritual lembra um erê quando usa varinhas para de brincadeira açoitar as pernas dos frequentadores dos ter reiros de candomblé Outro aspecto da religiosidade de Rosa Egipcíaca revelador do sincretismo afrocatólico remetenos ao próprio espírito que passou a acompanhála desde que se converteu uma entidade que por mais de 15 anos vexoua primeiro identificado como Lúcifer mas depois referido como Afecto Curioso que em vez de comportarse como o Príncipe do Mal este espírito induziaa para o bem para zelar e de fender a honra de Deus Tal espírito faznos pensar em Avrektu cuja semelhança fonética com Afecto é evidente um anjo ou mensageiro de luz da cultura Gêge da Nigéria vizinha próxima da região natal de Rosa Courá O Avrektu é um misto de mensageiro do além e espírito protetor por meio do qual seu portador profetizava o futuro exata mente como nossa biografada No Recolhimento do Parto as freirinhas entravam em transe qua se diariamente às vezes diversas vezes por dia Quando o Espírito baixava na comunidade sempre ficava ao menos uma ou duas es piritadas sem estar atacadas da mesma forma como ocorre nas 144 casas de culto de matriz africana onde institucionalizouse costume semelhante através da figura da ekédi mulher auxiliar das filhas de santo em transe amparandoas em seus ataques enxugandolhes o suor etc As ekédis não entram em transe e nos xangôs de Recife são chamadas de iabás ou ilais e nos candomblés de Angola macotas Prevalecia contudo na espiritualidade desta negramina a inspi ração o imaginário e a linguagem próprias do catolicismo romano Eis uma bela página manuscrita por Mestra Rosa datada de 24 de novembro de 1760 na qual se revelou fiel discípula da espiritualidade de São Francisco de Assis Meu Menino Jesus da Porciúncula amo Jesus adoro Jesus ben digo Jesus reverencio Jesus agradeço a Jesus exalto Jesus santifico o nome Santíssimo de Jesus por agora e sempre e no ultimo suspiro glorifico a Jesus no Santíssimo Sacramento da Eucaristia Peço ao céu e à terra peço às flores do campo e peço às estrelas do céu peço ao sol nos seus raios peço à lua na sua luz peço às aves do céu cantai Peço aos peixes nas suas conchas peço aos rios no seu curso e belo correr peço aos anjos peço aos santos peço aos homens e às mulheres peço a todas as línguas e nações remotas me ajudem a dar graças a meu Jesus Crucificado porque nos criou e nos remiu como seu precioso sangue Peço à Sagrada Família a São João Batista a São João Evangelista ao meu Anjo Custódio à Santa do meu nome que louvem por mim ao Senhor por tantos bene fícios e tão grandes misericórdias que de suas liberantíssimas mãos tenho recebido e que me faça uma criatura tal qual ele quer que eu seja Amem Jesus Maria José eu vos dou o meu coração e minha alma Rosa20 Madre Rosa não resistiu à tentação e desenvolveu fantasiosa me galomania religiosa tendo no padre XotaDiabos seu estimulador o qual mandara pintar um quadro sobre cobre onde a negra courana posava como se fosse uma bemaventurada vestida no hábito francis cano com as cinco chagas cordão e rosário do lado pisando alguns diabos e salvando uma alma do purgatório enquanto um esbelto São Miguel a coroava com esplêndido buquê de flores Numa das mãos segurava o Menino Jesus e na outra trazia uma pena símbolo de sua 145 erudição teológica posto que o padre XotaDiabos agora Capelão do Recolhimento proclamara mais de uma vez que Rosa deixava Santa Teresa Dávila a léguas de distância e que aquela Doutora da Igreja não passava de uma menina de recados da mestra africana Ao re zarem a Ladainha de Nossa Senhora na estrofe Mater Misericordiae suas recolhidas se inclinavam reverentes para a Madre Superiora que era reverentemente incensada pelo sacerdote o qual trazia no pescoço preciosa relíquia um dente de Santa Rosa Egipcíaca Muitos fiéis frequentavam o Recolhimento do Parto alguns para ouvir os conselhos da Mestra outros para buscar suas relíquias no tadamente uma espécie de biscoito feito com a saliva de Rosa amas sada com farinha que era guardada para este fim a que seus devo tos atribuíam o poder de curar todas as enfermidades Verdadeiros rituais de adoração eram autorizados pelo padre XotaDiabos esti mulando as recolhidas e os frequentadores deste Sacro Colégio a adorar a bemaventurada eleita da Divina Providência Eis os títulos laudatórios com os quais seus fiéis devotos saudavam a exprostituta negra à moda de ladainha Que o leitor atente para a riqueza e puerili dade do imaginário religioso do barroco lusoafrobrasileiro Menina dos Olhos de Cristo Teatro do Amor divino Arca do Testamento Novo e Velho Nau da Divindade Irmã consorte de Nossa Senhora Filha de Santana Breve e Arca do Pai Eterno Relicário do peito de Deus Filhos Arca e cofre da Santíssima Trindade Judith gloriosa que haverá de cortar a cabeça do dra gão infernal Carta e Guia de todas as almas para a Santíssima Trindade Chave de ouro no peito de Nosso Senhor Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo Rosa no peito do Rei Salvador Intercessora dos pecadores Símbolo da obediência Colar no pescoço de Jesus Jóia de seu peito Jardim florido das conver tidas Paraíso dos bemaventurados Rainha dos vivos Juíza dos mortos Embargo dos descrentes21 Vários desses títulos além de reproduzir a mesma simbologia temática comum das ladainhas de Nossa Senhora e demais santos evocam a troca que a beata Rosa fez de seu coração com o de Jesus que permanecia vivo e palpitante no seu peito daí ser referida como arca nau relicário breve e cofre da própria divindade Outros en cômios declaramna predileta do Divino Esposo sua menina dos 146 olhos sua rosa enfeite e colar Toda esta idolatria altamente herética sendo praticada sob os olhos coniventes do Prior do Convento dos Franciscanos Além dessa rica coleção de títulos honoríficos alguns hinos fo ram inventados pelas recolhidas negras e mestiças em sua maio ria reafirmando pedagogicamente as virtudes superiores da santa fundadora Tal hinário tornouse conhecido e cantado não apenas no Rio de Janeiro no Recolhimento de Nossa Senhora do Parto mas também por seus devotos nas Minas pois foi entre os papéis da famí lia de seu antigo senhor em São João del Rei que foram encontrados alguns desses preciosos manuscritos Apesar dos pés quebrados e da assimetria poética tais estrofes comprovam o alto grau de vene ração a que uma negra africana pôde chegar na sociedade escravista brasileira Cheguemos a nossa Mãe cheguemos com devoção pois nela está encerrada toda a nossa salvação Vitória demos a nossa boa fortuna Porque tivemos a dita Que Rosa fosse mãe De tão pecadoras filhas O amor de Rosa é tão firme Porque nem um só instante dela se retira Nem se pode retirar Aquele amante divino Porque todo o seu empenho É abrasado e contínuo Quem seguir minha Mãe De todo o seu coração Bem pode ter esperança Da sua salvação Rosa é flor fragrante Do peito de seu amante Quem a amar com firmeza Achará a contrição Rosa é palma ditosa De eterno Rei sem fim 147 Quem a seguir com veras A terá naquele último dia Por sua grande valia Jesus é cravo Rosa é a flor de seu amor Cheguemos todos a ela Pois que somos abelhinhas Chupemos o mel da flor22 A partir de 1756 Rosa insistiu na profecia de que o Rio de Janeiro seria inundado e destruído do mesmo modo que acontecera no ano anterior com o terrível terremoto de Lisboa Madre Rosa convenceu dezenas de famílias a refugiaremse no Recolhimento garantindo que seriam os únicos sobreviventes ao dilúvio e que essa nova Arca de Noé iria cruzar o mar oceano para encontrarse triunfalmente com o Rei D Sebastião o Encoberto desaparecido havia dois séculos nas areias do Marrocos o qual tinha escolhido a negra Rosa para sua esposa e que deste matrimônio e de seu ventre nasceria o novo Redentor da humanidade Rosa foi dentre todos os sebastianistas a que mais ousou em suas profecias Era voz corrente no beatério do Parto e entre seus devotos que frequentavam a capela onde Rosa era a figurante de maior destaque que naquele tenebroso dia a Divina Providência castigaria a América Portuguesa quando o dilúvio das Minas vier dar ao mar salgado derrubando todos esses montes e quando todos os mais rios se hão de soltar e o mar há de sair fora dos seus limites ficando toda a cida de do Rio de Janeiro dentro de suas entranhas Neste momento fatí dico o Recolhimento do Parto iria se transformar milagrosamente na Arca dos Cinco Corações começando a flutuar ocorrendo aí seu feliz encontro com a nau capitaneada por D Sebastião o Desejado Nesse momento Rosa ia se casar com Dom Sebastião e suas quatro evan gelistas também se casariam com seus vassalos ou criados voltando para reformar o mundo e fundar o Império de Cristo Cumpriase assim a tão desejada profecia feita pelo TodoPoderoso ao fundador do Reino Portucalense Quero em ti e na tua descendência formar para um Império Esse novo império seria mestiço mulato pois três das evangelistas eram da mesma cor da negramina Não contente em proclamarse Esposa da Santíssima Trindade Rosa Egipcíaca aspirou enlaçarse com a família real portuguesa 148 iniciando com suas auxiliares mais fiéis nova e reformada geração mulata na cor mas de costumes tão alvos como a neve Nigra sum sed formosa A concretização final do mito sebástico resgatado e adaptado pela negra Rosa era o corolário de sua vida profética seu casamento com Dom Sebastião após o dilúvio universal na América Portuguesa iniciaria o reinado visível dos Sagrados Corações Em Rosa cumpriase o prometido tão ardorosamente esperado por in contáveis gerações lusitanas desde Bandarra Anchieta Vieira e tantos outros sebastianistas nenhum contudo ousara imaginar que o Encoberto ia fazer de uma africana sua esposa a rainha do novo Império e mãe de seus herdeiros Como salientou um especialista no sebastianismo em épocas de exceção numa situação de catástrofe por exem plo quanto é vital que homens descubram dentro de si formas de resistência psicológica à adversidade não é senão natural que os mitos de raízes porventura profundas no inconsciente desta coletividade ameaçada regressem ou ressurjam do seu adormecimento É o que explica a subida irresistível de um mito como o sebástico O Desejado passa a Encoberto o jovem Rei desaparecido há de voltar das brumas onde se esconde para ser a cabeça universal de novo Império Ele tirará toda a erronia ele fará a paz em todo mundo ele consubstanciará todas as aspirações ideais da época23 Não foram tanto os vaticínios não cumpridos nem seus êxtases e revelações com nítidas características epileptoides digase en pas sant a causa da derrota de Madre Egipcíaca seu erro gravíssimo foi indisporse com o clero local ralhando com alguns sacerdotes que davam mau exemplo conversando nas igrejas durante as cerimônias sacras Foi por esta animosidade denunciada ao Bispo sobretudo após ter retirado à força da igreja de Santo Antônio uma senhora da sociedade que se comportava com menos compostura Por este es cândalo uma negra descompor uma branca de status elevado o Bispo entra em ação e a partir de fevereiro de 1762 dezenas de tes temunhas passam a denunciar as excentricidades dessa preta beata Revelamse então todos os seus desatinos religiosos 149 Tivera notícia o Bispo de que a negra Rosa há muitos aos é ou se finge vexada do Demônio e que o Espírito que fala por ela se chama Afecto e lhe fora dado por Deus para purificar e zelar pelo seu culto nos tempos agredindo as pessoas na mesa da comunhão que o Padre Francisco Gonçalves Lopes seu senhor é o principal pregoeiro de suas fingidas virtudes e quem manda escrever em verso e trova suas profecias que o Recolhimento de Nossa Senhora do Parto flutuaria como a arca de Noé que o Verbo Divino ia se encarnar de novo numa cria tura para estabelecer um mundo mais perfeito que o presente que tais profecias tinham provocado escândalo e descaminho de pessoas idiotas e de fácil convenção causando pernicio sas confusões e escandalizando a toda esta cidade em geral de sorte que uns ignorantes e materiais acreditam e outros a condenam por herege e feiticeira e para que não fique sem emenda e satisfação o escândalo e perturbação que ela tem causado com seus erros e culpas que seja presa e feito sumá rio de culpas24 Depois de quase um ano presos no aljube do Rio de Janeiro Rosa e o padre XotaDiabos foram enviados a Lisboa e presos no Tribunal da Inquisição em agosto de 1763 O padre em poucas sessões do inquérito declarou ter sido enganado pela falsidade da negra alegan do ser pouco letrado em teologia e ter se fiado na boa opinião que o Provincial dos Franciscanos dela fazia Pediu perdão de sua boafé e excessiva credulidade recebendo como pena o degredo de cinco anos para o extremo sul do Algarve além de perder o direito de con fessar e exorcizar Sua sentença foi proclamada no Auto de Fé de 27 de outubro de 1765 Se verdadeira ou falsa sua arrenegação da fé em sua exescrava filha espiritual e possível amante nunca poderemos saber Rosa em contrapartida deu um heroico espetáculo de autentici dade insistindo em muitas sessões que nunca mentiu nem inventou coisa alguma confirmando que todas as suas visões revelações e êxtases foram reais Ela acreditava ser uma predestinada e que Deus em sua misericórdia a tinha escolhido para revelar ao mundo seus fantásticos desígnios Enquanto os inquisidores estimulavamna a admitir que tudo não passara de fingimento para chamar atenção sobre sua pobre figura Rosa dizia o contrário Tudo vi e ouvi Sua 150 coragem e autenticidade a qualificaram como verdadeira heroína da fé em Cristo Numa dessas sessões narrou uma de suas visões beatíficas Disse a ré que no ano de 1759 estando na igreja do Recolhimento do Parto pedindo as recolhidas ao Capelão que deixasse ela entrar para receber com elas o santíssimo sacramento pois tinha sido então expulsa do beatério por ordem do Bispo do Rio de Janeiro assim lho permitiu e depois da comunhão estando devotamente rezando ao pé do caixão onde estava o Senhor Morto viu da parte do mesmo caixão sair um clarão como de sol e logo um pilar da altura de uma vara e sobre eles uma coisa encarnada muito viva coberta com um pano muito cândido mas tão fino que pelo mesmo se via uma multidão de abelhas E ao mesmo tempo ouviu uns cânticos que diziam Chegai chegai abelhinhas todas a la divinidad a la divinidad O doce suco na flor Jesus que hoje nasceu nasceu para vós A cujas vozes sentiu ela em si uma extraordinária comoção para dançar o qual impulso reprimiu com pejo das recolhidas que estavam presentes 25 Em 4 de junho de 1765 ocorreu a última sessão de perguntas à vidente afrobrasileira Neste dia ela narra uma de suas muitas vi sões que estando para comungar ouviu uma voz sobrenatural que lhe dizia Tu serás a abelhamestra recolhida no cortiço do amor Fabricareis o doce favo de mel para pores na mesa dos celestiais ban queteados para o sustento e alimento dos seus amigos convidados A partir daí inexplicavelmente interrompeuse o processo de Rosa Dos mais de mil processos de feiticeiras sodomitas bígamos falsas santas e blasfemos pesquisados não encontrei outro que ficas se inconcluso pois sempre os inquisidores eram muito minuciosos em anotar o desfecho do julgamento a pena a que foi condenado o réu se morreu de doença no cárcere ou até se houve suicídio se foi mandado para o hospital de loucos para a fogueira ou para o degredo Comparando suas culpas com a de outras beatas e embus teiras processadas pelo Santo Ofício da Inquisição avaliamos que deveria ser condenada à pena dos açoites sentenciada num auto de fé e degredada por cinco anos para o Algarve aliás como foi o caso de outra afrobrasileira a angolana Luiza Pinta esta sim verdadeira 151 mãe de santo de um calundu em Sabará muito mais ligada às raízes africanas do que Madre Rosa26 Inexplicavelmente o processo de Rosa tem como última página este registro costumeiro do notário do Santo Ofício Por ser avançada a hora lhe não foram feitas mais perguntas e sendo lidas estas anotações e por ela ouvidas e entendi das disse estar escrita na verdade e assinou com o Senhor Inquisidor depois do que foi mandada para o seu cárcere27 Notas 1 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 2 Ibidem 3 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 4 BOSMAN William A new and accurate description of the Coast of Guinea divided into the gold the slave and the ivory coasts New York sn 1967 5 PRÉVOST Abbé Histoire générale des voyages Paris Didot 17441759 6 Período em que foi governador o assim chamado Luís Vahia Monteiro que governou o Rio de Janeiro de 1725 a 1732 7 Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro Livro de Batismo de escravos Freguesia da Candelária 17 17 8 SCHLICHTHORST Carl O Rio de Janeiro como é Rio de Janeiro Zelio Valverde 1943 9 BENCI Jorge Economia cristã dos senhores no governo dos escravos 1700 São Pau lo Grijalbo 1977 10 FREYRE Gilberto Casagrande e senzala Recife Companhia Ed de Pernambuco 1970 p 341 11 ANTONIL André João Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas 1711 Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1982 12 GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico São Paulo AlfaOmega 1975 13 GONZAGA Tomás Antônio Cartas chilenas 1786 Rio de Janeiro MEC INL 1958 apud CARRATO José Ferreira Igreja Iluminismo e escolas mineiras coloniais São Paulo Companhia Ed Nacional 1968 14 FIGUEIREDO Luciano R A O avesso da memória cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII Brasília DF EdUNB Rio de Janeiro J Olympio 1993 15 COARACY Vivaldo Memórias da cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro J Olym pio 1965 EDMUNDO Luiz O Rio de Janeiro no tempo dos vicereis Rio de Janeiro Imprensa Nacional 1932 16 OLIVEIRA Anderson José Machado Os santos pretos carmelitas culto dos santos catequese e devoção negra no Brasil colônia Tese Doutorado Universidade Fe deral Fluminense Niterói 2002 152 17 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 18 Ibidem 19 Ibidem 20 Ibidem 21 Ibidem 22 Ibidem 23 QUADROS Antonio Poesia e filosofia do mito sebastianista Lisboa Guimarães Edito res 1982 24 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 25 Ibidem 26 MOTT Luiz O Calundu Angola de Luzia Pinta Sabará 1739 Revista do Instituto de Arte e Cultura Ouro Preto v 10 n 171 p 128130 1994 27 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 O caso da escuna Destemida repressão ao tráfico na rota da Costa da Mina 18301831 Ana Flávia Cicchelli Pires Que a sorte dos africanos ilicitamente importados e como tais reputados livres é péssima é sem garantias reais ninguém contesta E entretanto os poderes públicos estabeleceram regras que de alguma forma podiam amortecer os golpes de sua desventura Já que não existe coração neste país já que o instinto da benevolência está embotado já que se despreza assim o direito do miserável vós consentireis meu amigo que eu advogue a sua causa perante o governo de Sua Majestade com a letra das leis o espírito e as cláusulas de tratados sole nes Avivando a lembrança das providências escritas e das ga rantias prometidas talvez eu possa conseguir que as garantias se cumpram e que a lei se execute Tavares Bastos Cartas do Solitário Em 20 de dezembro de 1830 o Jornal do Commercio anunciava a entrada da fragata inglesa Druid no Porto do Rio de Janeiro com 48 dos 50 africanos encontrados a bordo da escuna Destemida con duzida para o Rio de Janeiro após ter sido apresada 5 milhas ao sul da Bahia quando vinha da Ilha do Príncipe1 O caso estava sendo encaminhado à Comissão Mista Brasileira e Inglesa encarregada de julgar os navios apreendidos em virtude da política de repressão ao comércio atlântico de escravos O processo da escuna Destemida será analisado neste artigo com o objetivo de apontar mais uma via de acesso dos africanos oriundos da Costa da Mina no Rio de Janeiro sobretudo após 1815 Isso ocor reu a partir da captura de diversas embarcações e consequente enca minhamento para julgamento perante o Tribunal de Comissão Mista Além disso este estudo de caso nos ajudará a compreender como as redes comerciais eram formadas de 154 que modo os traficantes operavam diante das restrições ao comércio atlântico de escravos assim como os subterfúgios empregados para o prolongamento de tal atividade A abolição do comércio atlântico de escravos para o Brasil até 1830 A Inglaterra aboliu o comércio escravista em 18072 abrindo mão de uma atividade na qual até então tinha substancial participação Embora não tenha sido o primeiro país a proibir essa atividade foi o que mais se empenhou nessa campanha tentando fazer com que todas as outras nações adotassem a mesma política especialmente Portugal Espanha e suas colônias Brasil no primeiro caso Cuba e Porto Rico no segundo No que diz respeito a Portugal e sua colônia o Brasil a pressão inglesa para a abolição do comércio negreiro remonta à vinda da família real para o Rio de Janeiro em 1808 Portugal encontravase envolvido numa série de problemas em função das Guerras Napoleô nicas sendo a transferência da Corte para o Brasil auxiliada pela Inglaterra Em função dessa proteção Portugal vêse impelido a as sinar o Tratado de Aliança e Amizade entre o Príncipe Regente de Portugal e o Rei do Reino Unido da GrãBretanha e Irlanda em 19 de fevereiro de 1810 Este é apenas o primeiro ato formal a partir do qual uma série de tratados internacionais entre Inglaterra e Portugal e após a Independência com o Brasil é assinada com o objetivo de pôr fim ao tráfico de escravos3 Entre outras determinações ficou decidido que o Príncipe Regente estando convencido da injustiça do comércio de escravos e resolvendo cooperar com Sua Majestade Britânica adotaria os meios mais eficazes para conseguir uma abolição gradual do tráfico atlântico em seus domínios sendo que a partir de então só seria permitido comerciar com os territórios africanos que lhe pertences sem O que ficava estipulado nesse artigo não afetava os direitos de Portugal sobre os territórios de Cabinda e Molembo4 nem limitava ou restringia o comércio em Ajudá e em outros portos da África com ocupação portuguesa O tratado permitiu também uma redução nos direitos alfandegários sobre os produtos manufaturados ingleses que passaram a pagar uma taxa de 15 em substituição aos 24 an teriormente estabelecidos5 155 Alguns problemas advieram a partir da assinatura do tratado de 1810 uma vez que este gerou dúvidas com relação aos locais na costa africana onde era permitido realizar o comércio de escravos Diversas embarcações pertencentes a súditos portugueses foram apreendidas alegando a Inglaterra para tal ato o fato de que elas es tavam sendo empregadas no tráfico ilegal Estes acontecimentos cau saram certa agitação especialmente entre os negociantes da praça da Bahia De acordo com Pierre Verger no espaço de dois anos foram apresadas pelos cruzadores da Marinha de Guerra britânica 17 em barcações Salvo duas as demais comerciavam em lugares autoriza dos pelo Tratado de Aliança e Amizade6 Analisando a documentação produzida pela Comissão Mista Brasileira e Inglesa de um total de 155 embarcações que foram alvo de processo na sobredita comis são encontramos dez que foram apresadas no período ressaltado por Verger Todas negociavam na Costa da Mina região autorizada pelo mesmo tratado Quadro de embarcações apreendidas que negociaram na Costa da Mina Nº Nome Destino Informações sobre apresamento 1 Brigue Calipso Costa da Mina Apresado em Onim 2 Bergantim Conde do Amarante Costa da Mina e Ajudá Fundeado no Porto de Ajudá 3 Bergantim Destino Portos da Costa da Mina Fundeado em Porto Novo 4 Brigue Dezengano Portos da Costa da Mina Apresado em Porto Novo 5 Brigue Feliz Americano Costa da Mina Conduzido para Serra Leoa após apreensão 6 Sumaca Flor de Alecrim Costa da Mina Benim e Calabar com escala na Ilha do Príncipe Conduzida para Serra Leoa após apreensão 7 Sumaca Flor do Porto Costa da Mina Apresada em Onim 8 Bergantim Lindeza Portos da Costa da Mina Apresado em Onim 9 Escuna Mariana Portos da Costa da Mina Apresada em IaqueIaque 10 Bergantim Prazeres Portos da Costa da Mina Apresado em Onim Fonte Arquivo Histórico do Itamaraty AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Portugal e GrãBretanha tentaram solucionar tais problemas por meio de outro acordo assinado em janeiro de 1815 durante o Congresso de Viena quando a questão do tráfico foi novamente le vantada discutida e temporariamente resolvida Segundo o novo tra tado estava proibido a todo vassalo da Coroa de Portugal comprar ou traficar escravos em qualquer lugar da Costa da África ao norte do Equador7 Além disso o Príncipe Regente de Portugal comprometiase 156 em não empreender o tráfico debaixo da bandeira portuguesa para outro fim que não fosse suprir de escravos suas possessões transa tlânticas adotar as medidas necessárias para que o ajuste fosse cum prido fixar por meio de um tratado em separado o período em que o tráfico de escravos seria proibido em todos os seus domínios Já Sua Majestade Britânica comprometiase em adotar medidas que impe dissem qualquer embaraço às embarcações portuguesas enquanto o comércio escravista agora limitado ao sul da linha do Equador ainda fosse permitido segundo as leis de Portugal e os tratados existentes entre as duas nações Além disso indenizaria Portugal pe las embarcações indevidamente apresadas até 1º de junho de 18148 Para a regulamentação dos pontos fixados em 1815 foi assinada a Convenção Adicional de 28 de julho de 1817 que estipulou cláusu las para impedir qualquer comércio ilícito de escravos tendo como itens principais o direito mútuo de busca e visita aos navios mer cantes das partes contratantes Portugal e Inglaterra sempre que houvesse suspeita de tráfico ilícito o apresamento de embarcações caso a bordo fossem encontrados escravos irregularmente embarca dos na África Tais casos seriam encaminhados aos tribunais estabe lecidos para esse efeito as Comissões Mistas encarregadas de jul gar com agilidade os apresamentos e determinar a indenização por perdas sofridas em caso de detenção injusta e arbitrária Portugal ainda assumiu o compromisso de promulgar uma lei determinando as penas que deveriam ser aplicadas aos vassalos de sua Coroa que viessem a fazer o tráfico ilícito de escravos A GrãBretanha ainda de acordo com a Convenção concederia indenizações aos donos de na vios portugueses que foram apresados pelos cruzadores britânicos no período compreendido entre 1º de junho de 1814 e o estabeleci mento das Comissões Mistas9 A Convenção de 28 de julho de 1817 te ria validade de 15 anos contados a partir da abolição total do tráfico de escravos caso as partes contratantes não chegassem a um novo ajuste antes disso Este prazo foi estipulado em um artigo adicional à Convenção de 1817 assinado em 11 de setembro deste mesmo ano em Londres10 As Comissões Mistas teriam sedes na Costa da África Serra Leoa no Brasil Rio de Janeiro e na Inglaterra Londres e se destinariam a julgar sem apelação a legalidade da detenção dos navios empre gados no tráfico de escravos Além disso seriam responsáveis pelo estabelecimento de indenizações caso fosse concedida liberdade ao 157 navio apresado Cada uma das comissões seria composta por um co missário juiz um comissário árbitro e um secretário ou oficial de re gistro nomeados pelo soberano do país onde residia a comissão No caso de o navio ser condenado por viagem ilícita o casco e a carga à exceção dos escravos seriam considerados boa presa sendo vendidos em leilão público em benefício dos dois governos Quanto aos escravos encontrados nas embarcações apreendidas ficou de terminado que receberiam uma carta de alforria e seriam consigna dos ao governo do país em que estivesse instalada a comissão que dera a sentença para prestarem serviço como trabalhadores livres11 A Comissão Mista estabelecida em Serra Leoa foi responsável pelo julgamento de diversos navios que traficavam para o Brasil Mesmo navios apresados próximos à costa brasileira foram conduzidos para lá pelos cruzadores britânicos12 Em 26 de janeiro de 1818 foi promulgado outro alvará com for ça de lei para a execução e punição dos transgressores que conti nuassem a traficar escravos nos portos proibidos da costa africana dando as convenientes providências a respeito do destino da carga humana Os navios empregados no tráfico seriam confiscados com todos os aparelhos e pertences juntamente com a carga Aos ofi ciais dos navios seria imputada uma pena de degredo por cinco anos em Moçambique além do pagamento de multa Ficou determinado que os africanos encontrados a bordo seriam entregues ao Juízo da Ouvidoria da comarca para aí servirem como libertos por tempo de 14 anos em algum serviço público ou alugados em praça a particu lares de estabelecimento e probidade conhecida Os responsáveis deveriam alimentálos vestilos doutrinálos e ensinarlhes o ofício ou trabalho que se convencionasse pelo tempo que fosse estipulado Além disso seria nomeado um curador também pessoa de conheci da probidade que teria por ofício requerer tudo o que for a bem dos libertos e fiscalizar os possíveis abusos13 Para Manolo Florentino a pressão inglesa e a proibição do tráfico ao norte do Equador se configuraram como mais um fator de risco para os traficantes14 Tal qual já havia ocorrido após a assinatura do Tratado de Aliança e Amizade em 1810 estes tratados internacio nais provocaram acirrados atritos entre os traficantes de diversas províncias e os ingleses nelas residentes uma vez que assistimos à apreensão de diversas embarcações Mais uma vez os negociantes da praça de Salvador foram os mais afetados acumulando maiores 158 prejuízos em função dos laços estreitos que mantinham com a África Ocidental mais especificamente com os portos localizados na Costa da Mina15 De acordo com Pierre Verger os comerciantes da Bahia foram por meio do governador apresentar suas queixas ao Príncipe Regente em virtude da proibição de se fazer o comércio nos lugares habituais Não conformados com tal situação continuaram enviando seus na vios para fazer o tráfico na Costa da Mina apesar da repressão vigi lância e captura realizada pelos cruzadores britânicos Sendo assim o comércio entre a Bahia e a Costa da Mina continuou com grande intensidade embora este conjunto de tratados tenha tido grande in fluência sobre a situação da Bahia modificando o caráter de suas relações com a Baía de Benim16 Em função das restrições parciais ao comércio escravista percebemos que uma série de subterfúgios foi empregada para dar continuidade a tal atividade apresentando os primeiros sinais de adaptações ao novo quadro de proibições Em 1821 por temor de perder o trono português em decorrên cia das revoluções liberalnacionalistas do ano anterior assistimos ao retorno de D João VI a Portugal deixando em aberto a questão da fixação do prazo para o término do tráfico de escravos17 Com a posterior independência do Brasil em 1822 os ingleses tentaram novo entendimento agora com o nascente Império As negociações prosseguiram até 1825 envolvendo por um lado o reconhecimento da independência por parte da Coroa Britânica e por outro garan tias seguras da abolição do tráfico por parte do Brasil Embora as primeiras negociações tenham sido rejeitadas em 23 de novembro de 1826 foi ajustada uma nova convenção entre o Brasil e a Grã Bretanha com a finalidade de pôr termo ao comércio de escravatura da Costa da África quando os tratados angloportugueses de 1815 e 1817 foram adotados e renovados pelo Brasil18 Segundo o novo acordo num prazo de três anos após sua ratificação o que ocorreu em 13 de março de 1827 não seria mais lícito ao Império do Brasil comerciar escravos na Costa da África equiparando sua prática à pirataria Além disso as duas partes contratantes se comprometiam em nomear desde já Comissões Mistas à semelhança daquelas esti puladas com Portugal19 Esse acordo soou altamente impopular refletindo mal em diver sas partes do Império Segundo Leslie Bethell a grande maioria dos 159 deputados brasileiros estava convencida de que a abolição do tráfico negreiro naquele momento seria um desastre já que o Brasil era economicamente dependente de braços escravos Além disso argu mentavam como boa parte do país que o governo imperial tinha abolido o tráfico em consequência da pressão estrangeira e não para atender aos interesses nacionais20 Mais uma vez as repercussões fo ram enormes marcando negativa e profundamente as relações entre os dois governos brasileiro e inglês que durante algumas déca das continuariam envolvidos em questões diplomáticas O governo brasileiro tentou adiar a data marcada para a abolição ou seja 13 de março de 1830 mas o governo britânico não estava dis posto a ceder Quando a data chegou o comércio atlântico de escra vos para o Brasil encontravase a partir de então proibido Porém apesar dessas medidas que foram gradativamente sendo estipuladas desde 1810 o tráfico atlântico continuou Em 1826 quando foi anun ciada a proibição da entrada de escravos no Brasil criouse grande inquietação não só neste lado do Atlântico mas também na Costa da África21 Temendo o cumprimento desta convenção os interes sados no prolongamento do comércio negreiro fizeram um esforço grande para importar o máximo possível de africanos o que resultou num aumento brutal do volume de escravos traficados para o Brasil atingindo uma cifra superior aos períodos anteriores como resposta à iminência do seu fim Muitos fazendeiros contraíram dívidas com os traficantes ficando depois sem condições de saldálas22 Por seu turno foi grande também o número de apreensões realizadas pelos cruzadores britânicos nesse período Os traficantes continuaram em ação através de um sistema de contrabando com a conivência do governo e das autoridades bra sileiras cabendo à Inglaterra vigiar reprimir e exigir o cumprimento dos tratados e convenções firmados Os esforços para conter o tráfi co de africanos foram poucos e insuficientes encontrando apoio nas populações locais e fácil mercado Adicionase a isso a conivência das autoridades locais frequentemente constituídas pelos próprios fazendeiros interessados na continuidade do tráfico23 Embora o co mércio escravista tenha sofrido um forte abalo nos primeiros anos da década de 1830 a partir de 183536 assistimos à sua recuperação muito em função do contexto político da Regência24 No que diz res peito aos negociantes da Bahia estes continuaram suas incursões especialmente na Costa da Mina25 160 O apresamento e o processo contra a escuna Destemida pela Comissão Mista É neste contexto que podemos situar o caso da escuna Destemida Esta embarcação foi apresada pelo navio de guerra de S M B Druid sob o comando de G William Hamilton26 Segundo o relato deste comandante Na manhã de 2 de dezembro de 1830 estando 10 milhas ao S O da Bahia observamos uma escuna a barlavento a qual su pusemos ser a mesma que me tinha sido denunciada naquela manhã muito cedo estando então ancorado na Bahia como dirigindose para o Porto e depois fugindo dele portanto em razão das aparências suspeitosas demoslhes caça e tendo chegado a distância própria fizemoslhes fogo e a obrigamos a vir para nós içou bandeira portuguesa27 O comandante Hamilton mandou um dos tenentes de sua tripu lação a bordo da escuna para averiguar os fatos Voltando de sua incursão o oficial comunicou que o mestre da escuna Raimundo Arribas o informara tratarse de uma escuna portuguesa denomi nada Destemida de propriedade de Manoel Vicente da Conceição da praça da Ilha do Príncipe Estava vindo de São Thomé e Príncipe para a Bahia em lastro e encontravase muito ansioso para entrar no porto porque a escuna fazia muita água Informa ainda o tenente que os papéis da escuna estavam muito irregulares não tinha regis tro nem despacho do último porto de onde o mestre dizia ter saído tinha a bordo quatro ou cinco pessoas a menos que as indicadas na matrícula tinha ainda cinco escravos que o mestre dissera fazerem parte da sua equipagem mas cujos nomes não correspondiam aos listados na matrícula28 Diante de tais declarações o comandante Hamilton mandou ou tra vez o tenente a bordo da Destemida desta vez encarregado da tarefa de conduzila ao porto da Bahia de Todos os Santos acompa nhada pelo Druid As duas embarcações entraram no porto na tarde do mesmo dia Chegando lá outro tenente da tripulação do Druid juntamente com o carpinteiro senhor Bean foi enviado a bordo da escuna para ver e conhecer a natureza dos seus rombos e por onde fazia água com muita dificuldade Durante o processo de inspeção 161 foram encontrados escondidos no porão da embarcação 50 africa nos todos do sexo masculino Diante de tais acontecimentos o se nhor Bean informou ser necessário que os negros fossem retirados da escuna para se drenar a mesma e conhecer por onde fazia água Nessa ocasião 48 dos 50 africanos foram transferidos para a fragata inglesa29 Apesar dos reparos realizados pelos carpinteiros do Druid a es cuna Destemida ainda estava fazendo dois pés de água por hora quando foi conduzida para o Rio de Janeiro tendo a bordo apenas o mestre Arribas cinco membros da equipagem dois escravos e mais 18 homens todos sob o comando de um oficial inglês Por outro lado o comandante Hamilton achou prudente manter a bordo do Druid os 48 africanos que lá já estavam mais os cinco escravos que suposta mente faziam parte da equipagem e outros três homens livres que também faziam parte da equipe Chegando ao Rio de Janeiro apro veitou a primeira ocasião para mandar os escravos novamente para bordo da escuna de origem30 Ainda de acordo com as alegações do comandante do Druid a es cuna foi conduzida para adjudicação por dois motivos primeiro por ter sido informado pela equipagem e pelos próprios escravos que es tes últimos haviam sido embarcados no Porto de Whydah Ajudá segundo por ter encontrado a derrota31 da escuna indicando que a viagem teria principiado no Porto de Ajudá em 26 de outubro de 1830 com destino à Bahia Alegou ainda Hamilton que a Destemida não tinha papéis regulares e já que não trazia o passaporte real usualmente concedido aos vasos portugueses autorizados a negociar nos portos onde tal comércio ainda era legal como agravante es tava sendo empregada no tráfico ilícito da escravatura32 Na visão do comandante os cinco escravos encontrados a bordo da Destemida que o mestre alegava fazerem parte de sua equipagem assim como os 50 africanos descobertos no porão haviam sido todos irregular mente comprados nesta viagem33 Essa versão do ocorrido foi fornecida pelo comandante G W Hamilton à Comissão Mista por meio de um relato escrito a bordo da fragata Druid no dia 21 de dezembro de 1830 quando já se encontra va no Rio de Janeiro para julgamento do caso da escuna Destemida Tais dados são confirmados quando se apresenta para prestar o ju ramento e o depoimento na sobredita comissão em 11 de janeiro de 1831 Nesta ocasião o oficial inglês aproveita para entregar os 162 papéis referentes à escuna que se encontravam em seu poder Os documentos foram anexados ao processo e segundo o mesmo co mandante parte deles foi fornecida pelo mestre da Destemida outra parte lhe foi entregue por um escravo ou criado do mestre da escuna e o restante foi achado a bordo da mesma Hamilton faz questão de ressaltar que os documentos foram repassados à Comissão Mista no mesmo estado em que os recebeu sem fraudes nem subtração nem alteração alguma34 No dia 12 de janeiro de 1831 no Rio de Janeiro foi expedido um aviso para que o capitão o contramestre e os principais componen tes da equipagem da escuna portuguesa Destemida comparecessem perante a Comissão Mista no dia seguinte por volta das 11 horas para prestar depoimento e apresentar os documentos que compro vassem o direito sobre a mesma Em 13 de janeiro apresentaram se à Comissão Raimundo de Arribas mestre da escuna Joaquim Marques contramestre da escuna Joaquim da Silva Neves João José marinheiro35 O relato de Raimundo de Arribas traz novas versões sobre o acon tecimento De acordo com suas alegações apresentadas tanto em seu depoimento quanto no requerimento entregue à Comissão Mista posteriormente 36 ele havia nascido na Flórida Oriental Portanto era súdito do Rei de Espanha Contudo havia se naturalizado portu guês na Ilha do Príncipe onde residia havia cinco anos Segundo ele a escuna Destemida era portuguesa comprada na Ilha do Príncipe sendo seu proprietário Manoel Afonso Vicente da Conceição súdito português residente na mesma Ilha do qual disse não ser parente Com relação aos dados referentes à apreensão e irregularidades da Destemida Arribas afirma que a escuna se achava sob seu co mando antes de largar da Costa da África fazendo muita água si tuação que se agravou a ponto de correrem risco de vida Por este motivo achou prudente embarcar os 50 africanos na qualidade de domésticos para aprenderem um ofício temeroso de que o rombo aumentasse na viagem o que de fato aconteceu Segundo ele caso não dispusesse dos 50 homens teriam ido ao fundo Ainda de acordo com o mestre da Destemida quando a escuna foi detida pela fragata inglesa pediu permissão para ir a bordo participar ao comandan te inglês que tinha 50 homens livres a bordo Porém os oficiais in gleses não lhe permitiram falar uma vez que nada desejavam saber Quando foi detido pelo Druid eram dez horas da manhã e se achava 163 em frente ao porto pois estava indo para dentro da Bahia de Todos os Santos onde pretendia ancorar No que se refere à equipagem informa que em sua matrícula constavam 18 pessoas e que havendo desembarcado alguns na Costa da África foi preciso suprir as faltas com pretos marinheiros37 De acordo com o contramestre da Destemida Joaquim Marques solteiro 30 anos súdito português a escuna era portuguesa de pro priedade do capitão Raimundo de Arribas que foi quem o nomeou na Ilha do Príncipe Ele não sabia fixar a residência do mesmo nem in formar se teria outra pessoa interessada na escuna e na negociação Quando questionado se conhecia na Ilha do Príncipe um senhor de nome Manoel Afonso Vicente da Conceição disse que não o conhe cia nem sabia que ele era o proprietário da escuna ou se teria algum interesse na mesma Sobre os africanos encontrados a bordo alega que eles foram embarcados em Ajudá e que por intermédio do ca pitão ficou sabendo que eram homens livres destinados a aprender um ofício Estes africanos teriam se escondido entre pipas tonéis e tábuas em função dos tiros dados pela fragata inglesa38 Os outros dois depoentes que compareceram perante a Comissão Mista foram Joaquim da Silva Neves solteiro 24 anos português embarcado na Ilha do Príncipe e João José solteiro 22 anos natural de Setúbal sú dito português O que vale destacar de seus relatos é o fato de ambos negarem conhecer Manoel Afonso Vicente da Conceição acreditando ser Raimundo de Arribas o dono da Destemida com quem fizeram seus ajustes Sobre os 50 africanos embarcados disseram que tal fato aconteceu em Ajudá porém segundo informações do capitão seriam homens livres destinados a aprender ofícios no Brasil39 Os subterfúgios da Destemida no circuito do tráfico ilegal No processo da escuna Destemida foram localizadas cartas e di versos documentos alguns encontrados a bordo da embarcação como é o caso do Alvará de Navegar e do Diário Náutico que nos au xiliam na reconstrução desse episódio acrescentando informações aos dados apresentados Estes documentos nos ajudam também a perceber como se dava a atuação dos traficantes e as redes formadas nesta conjuntura de proibições e repressão ao tráfico assim como os subterfúgios utilizados para dar prosseguimento ao mesmo Por 164 outro lado não podemos deixar de frisar que este material apesar de muito rico e valioso apresenta consideráveis dificuldades de análise em função de lacunas documentais difíceis de serem preenchidas No Alvará de Navegar encontramos uma autorização para a saída da escuna portuguesa Destemida do porto da Ilha do Príncipe com via gem em lastro para os portos da Costa da Mina e deles para a cidade da Bahia Segundo o mesmo documento a escuna tinha como mestre Raimundo de Arribas e como proprietário Manoel Afonso Vicente da Conceição morador da Ilha do Príncipe A tripulação era composta por 18 homens incluindo o mestre todos matriculados na Intendência da Marinha com a seguinte recomendação de João Maria Xavier de Brito então governadorgeral das ilhas do Príncipe e de São Thomé40 pelo que mando a todos os meus subordinados lhe dêem todo o favor e auxílio e aos que o não forem rogo que pro tejam ao dito mestre na certeza de que haverei com eles igual procedimento O Alvará foi passado na Cidade de Santo Antônio capital da lha do Príncipe em 15 de janeiro de 1830 com a assinatura do governa dor e o selo das armas reais41 Através deste documento podemos levantar a possibilidade do emprego de pelo menos dois subterfúgios utilizados durante o tráfico ilegal que também aparecem menciona dos nas declarações de Raimundo de Arribas quando presta seu de poimento perante a Comissão Mista As ilhas de São Tomé e Príncipe serviram como pretexto para o tráfico clandestino de escravos Diversos navios autorizados a co merciar na Costa da África recebiam a concessão de tocar essas ilhas Tal concessão acabava por justificar a presença dos navios ao norte da linha do Equador onde o comércio de escravos era consi derado ilegal Esta estratégia utilizada pelos contrabandistas não passou despercebida às autoridades britânicas que entre os anos de 1824 e 1825 enviaram algumas correspondências ao governo bra sileiro atentando para o fato O governo britânico pedia que fosse alterada a forma do passaporte pois com a permissão para tocar ou comercializar nas ilhas de São Tomé e Príncipe os navegadores se aproveitavam para contrabandear escravos Nessa ocasião as auto ridades inglesas enviaram uma relação de dez embarcações que se enquadravam neste mesmo padrão Todas haviam saído da Bahia42 165 Relação das embarcações que contrabandearam escravos na Costa da Mina Embarcação Porto de saída Destino Local da captura Data da captura Observações 1 Ninfa do Mar Bahia Ilhas de São Tomé e Príncipe Whydah Ajudá 641822 2 Defensora da Pátria Bahia São Tomé Old Calabar 2841822 100 escravos a bordo 3 Esperança Feliz Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Onim 741822 187 escravos a bordo 4 Estrella Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Após ter deixado o porto de Onim Condenada em Serra Leoa Havia escravos a bordo 5 Santo Antonio de Lisboa Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Após ter deixado Porto Novo Permaneceu em Porto Novo durante 5 meses Havia 336 escravos a bordo 6 Comerciante Bahia Molembo com escala por Camarões São Tomé e Príncipe Rio Camarões 791822 7 Conceição Bahia Molembo com escala por Camarões São Tomé e Príncipe Fora de São Tomé 13111822 Carga de 207 negros embarcados nos Camarões 8 Creola Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Lagos Onim 3011824 9 Cerqueira Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Onim Conduzida para Serra Leoa Como não tinha negros a bordo foi liberada 10 Minerva Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Lagos Onim 3011824 Retornaria para o Rio de Janeiro com escala por Bahia e Pernambuco Fonte AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas tráfico de negros Correspondência entre a Secretaria de Estado e Autoridades Inglesas Lata 56 Maço 3 O outro ardil empregado diz respeito à declaração de que a em barcação estava voltando em lastro Este era um recurso utiliza do pelos traficantes após a carga já ter sido desembarcada Outro subterfúgio muito adotado era declarar um destino fictício antes da partida e na volta justificar o retorno por estar em arribada em decorrência de algum problema Tudo isso na tentativa de justificar a falta de vistos apropriados para os portos onde atracavam sem os devidos papéis43 166 Outro importante documento que nos ajuda a compor o quebra cabeça é a derrota da escuna Destemida que em sua primeira folha registra uma partida do porto de Ajudá a 26 de outubro de 1830 A 1 h de la tarde suspendimos de Ajudá para Bahia de Todos os Santos Apesar de anotada diariamente até 30 de novembro de 1830 não encontramos na dita derrota muitas informações a não ser aque las que dizem respeito à latitude longitude rumos ventos vela e condições do tempo e do mar44 Como visto anteriormente a partida do porto de Ajudá é confirmada nos depoimentos da equipagem da Destemida perante a Comissão Mista indo de encontro ao que decla rou inicialmente Raimundo de Arribas ao tenente da fragata inglesa Druid quando disse ter saído das ilhas de São Thomé e Príncipe para a Bahia em lastro Importante ponto de partida de escravos para o Novo Mundo o porto de Ajudá localizado na Costa da Mina Baía do Benim assumiu papel de destaque no comércio através do Atlântico e transformou se no mais importante porto negreiro da África Ocidental Se este porto já desfrutava de uma posição proeminente no início do século XVIII tal posição será reafirmada após sua conquista pelo reino do Daomé em 1727 reino que daí em diante passa a controlar o comér cio de escravos nesse porto Embora Ajudá fosse primordialmente um porto de tráfico de escravos não podemos deixar de destacar sua posição enquanto província integrada ao sistema político dao meano O estabelecimento da dominação daomeana inaugurou uma nova fase na administração de Ajudá introduzindo mudanças funda mentais especialmente a partir da ascensão de Gezo em 1818 quan do ficou estabelecido um novo padrão na administração dos portos comerciais controlados pelo reino do Daomé45 O comércio entre a Costa da Mina e a Bahia se desenvolveu a par tir do fim do século XVII Até meados do século XIX os negociantes da praça da Bahia mantiveram fortes relações com a região espe cialmente Ajudá relações estas que continuaram existindo apesar dos tratados e convenções a respeito da proibição do comércio de escravos Para prolongar o tráfico em Ajudá e em outros portos tanto ao norte quanto ao sul do Equador foi necessário o emprego de diversos subterfúgios O mestre da escuna Destemida declarou perante a Comissão Mista que os 50 africanos encontrados a bordo embarcaram em Ajudá como domésticos para vir aprender um ofício sendo desembarcados 167 com o consentimento do Governo da Bahia a partir do comprome timento de pagamento de uma fiança e de leválos de volta para a África ou para o porto de Ajudá assim que tivessem terminado de aprender seus ofícios46 Na época do contrabando de africanos houve algumas tentativas de introdução de escravos no Brasil sob o pretexto de que estes co lonos ou domésticos que estariam vindo a fim de aprender ofícios Como podemos perceber tratase de mais uma das estratégias dos traficantes A ideia de qualificação profissional fazia parte do projeto de assentamento de africanos livres nas Américas e o comandante Arribas parecia estar a par disso e fazer uso do argumento para justi ficar a presença daqueles 50 homens em sua embarcação47 Segundo Pierre Verger a Destemida teria se beneficiado também do uso de bandeiras estrangeiras Em função das medidas abolicio nistas a utilização da bandeira brasileira tornavase muito arriscada para aqueles que continuaram a traficar Na tentativa de burlar as leis em vigor navegar com papéis e bandeira de uma outra nacionalidade passou também a ser uma estratégia empregada pelos traficantes48 Na documentação da Destemida a única informação sobre o uso de bandeiras aparece no depoimento de Raimundo de Arribas Quando indagado se a bordo da escuna havia outra bandeira além da portu guesa respondeu que sim que havia uma usada para fazer sinais a terra para chamar canoas A mesma pergunta foi feita para os demais membros da equipagem mas todos afirmaram ter visto apenas a ban deira portuguesa49 Diversas outras pistas sobre esse caso e sobre a atuação das re des comerciais surgem a partir da análise de outros documentos en contrados a bordo da escuna Destemida Nesse caso estou me refe rindo a quatro cartas assinadas por ninguém menos que o famoso negociante Francisco Félix de Souza sendo três delas endereçadas a Raimundo de Arribas e uma a José Alves da Cruz Rios importante comerciante da praça da Bahia50 Francisco Félix de Souza importante traficante de escravos brasileiro teve papel de destaque na organização da comunidade afrobrasileira e na história política e econômica do Daomé tendo auxiliado o futuro rei Gezo em seu golpe de Estado em 1818 Neste momento os ingleses já haviam começado sua cruzada internacio nal pelo fim do tráfico de escravos no Atlântico Félix de Souza pas sou a ocupar o cargo de Chachá e a funcionar como principal agente 168 comercial de Gezo em Ajudá transformandose no grande intermedi ário entre o rei e os comerciantes europeus assim permanecendo até sua morte em 1849 A ascensão de Gezo ao trono ocorreu durante o período de transição do tráfico ilegal de escravos para o comércio legítimo quando passou a predominar a exportação do azeite de dendê Entretanto tanto Gezo quanto Félix de Souza mantiveram seu envolvimento com o antigo comércio de escravos51 Segundo Robin Law é rica e pormenorizada a informação exis tente sobre as atividades mercantis do Chachá na documentação re lativa à busca e à apreensão de navios negreiros pelos cruzadores ingleses Por meio desta documentação é possível identificarmos também outros indivíduos envolvidos no tráfico de escravos em Ajudá seja como sócios seja como competidores de Francisco Félix de Souza As atividades mercantis de Félix de Souza se estendiam a oeste de Ajudá a Popó Pequeno e a leste a Porto Novo Badagri e Lagos Onim operando então em escala internacional52 As cartas de Félix de Souza endereçadas a Raimundo de Arribas versam sobre o embarque de uma carga de 50 dentes de elefante na escuna Destemida sob sua responsabilidade Raimundo de Arribas seria interessado na terça parte do carregamento e dois dentes de elefantes pertenceriam a José da Silva Rios A carta endereçada a José Alves da Cruz Rios datada de 24 de outubro de 1830 segundo o Diário Náutico dois dias antes da partida da Destemida do Porto de Ajudá complementa e ratifica tais informações Hoje larga a escuna Destemida com 50 dentes de elefante pe sando 2835 livros No caso que a escuna esteja capaz de fazer obra Vmce me fará o favor de a mandar pôla pronta carregando o que já fiz ciente ilegível Jozé da Silva Rios hé interessado na terça parte do marfim que leva a dita o capi tão Raimundo de Arribas e caso se acha a Escuna capaz de fazer outra viagem tomará interesse o mesmo Raimundo em a terça parte da ilegível escuna ilegível e carregamento cen do que a dita escuna não se possa fazer a obra fará Vmce o que melhor lhe parecer ilegível entra na conta dos 50 dentes dois que pertence ao Sr Jozé da Silva Rios com 40 e 45 livros sendo que ilegível do agrado de Vmce querer interessar na terça parte da dita he obséquio que me faz nada mais tenho a dizerlhe a esse respeito para que estou certo que tudo quanto 169 faça será do mui agrado estimando Esteje com prefeita saúde Francisco Félix de Souza53 O número de dentes de elefantes que Francisco Félix de Souza informa ter embarcado corresponde exatamente ao número de escra vos encontrados a bordo da escuna Além disso todas as pessoas da tripulação que compareceram perante a Comissão Mista para prestar seus depoimentos exceto o mestre negaram a presença dos ditos dentes a bordo da escuna ou pelo menos não sabiam dessa carga devendo os 50 dentes de elefante certamente corresponder aos 50 africanos aí encontrados Não é de surpreender que tenha sido essa a conclusão da Comissão Mista54 Embora seja ainda necessário encontrar documentação comple mentar fica patente que Francisco Félix de Souza mantinha fortes relações comerciais com José Alves da Cruz Rios Considerada sua responsabilidade no negócio e a possibilidade de uma viagem futu ra da escuna é possível supor que mantivessem negócios regulares Sabemos que José Alves da Cruz Rios era um importante negocian te da praça da Bahia fazendo parte daqueles comerciantes baianos que acumularam fortunas consideráveis tanto no tráfico de escravos quanto em outras operações comerciais Pierre Verger encontrou nos arquivos 28 partidas de seus navios para a Costa da África entre 1806 e 1833 Cruz foi proprietário das seguintes embarcações as goeletas Rosália Carolina Fortuna Marianna os brigues Tibério II e Clara e as sumacas S João Espardate Trajano e Esperança Das 18 partidas no período do tráfico clandestino em apenas duas ocasiões suas em barcações foram apreendidas pelos cruzadores britânicos a saber a Trajano e a Esperança55 Cruzando as informações de Verger com os dados obtidos a partir da análise dos processos que compõem a coleção referente à Comissão Mista Brasil GrãBretanha pudemos constatar que os nomes de José Alves da Cruz Rios e José da Silva Rios aparecem duas vezes O primeiro aparece como proprietário e o segundo como comandante das duas embarcações apresadas pe los cruzadores britânicos A escuna Esperança brasileira foi apreendida pela fragata inglesa de S M B Sybilla comandante Francis August Collier em Lagos na Baía do Benim e levada para Serra Leoa De acordo com seu passa porte a embarcação saiu da Bahia com destino a Cabinda no dia 9 de março de 1828 de onde retornaria para o Rio de Janeiro com escala 170 pelos portos do Brasil Segundo o mestre da escuna esta teve de arri bar em função de um forte temporal Embora não tenham sido encon trados escravos a bordo o navio foi condenado juntamente com sua carga transportava aguardente espingarda e outras mercadorias empregadas na troca por escravos na Costa da África em sentença proferida em Serra Leoa a 26 de maio de 182856 Já o brigue Trajano brasileiro foi apresado pelo navio de S M B Maidstone comandante Charles Bullen em Ajudá e levado para Serra Leoa O brigue saíra da Bahia para Molembo em 27 de janeiro de 1827 para resgatar escravos com regresso para o mesmo porto Segundo o comandante do Trajano por contratempos em sua nave gação e por necessidades de mar entrou por arribada57 em Ajudá Achavase aí trocando fazenda por búzios em função da necessidade da negociação em Molembo quando foi apreendido pela fragata in glesa Alega ainda o comandante que o brigue se achava fundeado de baixo da proteção do Forte Português58 circunstância na qual pelo artigo II das Instruções da Convenção de 1817 não era permitida a detenção A bordo foram encontradas as seguintes mercadorias ta baco aparelhos mobílias fazendas e outros Como no caso anterior mesmo não tendo sido encontrados escravos a bordo o brigue foi considerado boa presa e condenado em sentença de 30 de abril de 182759 Como podemos perceber a rota BahiaCosta da Mina era bem conhecida e utilizada por José Alves da Cruz Rios que no caso do brigue Trajano julgado anteriormente à escuna Destemida alegou estar fundeado debaixo do Forte Português Além disso já era bem familiar a este negociante o emprego de diversos subterfúgios para despistar a repressão ao tráfico e os cruzadores ingleses responsá veis pela patrulha dos mares Nos casos do brigue Trajano e da escu na Esperança o artifício utilizado foi a emissão do passaporte cons tando como portos de destino Molembo e Cabinda respectivamente Cabinda e Molembo eram portos onde mesmo após a convenção de 1815 ainda era permitido o comércio de escravos Por isso ser viram diversas vezes como álibi para os negociantes que queriam continuar a fazer clandestinamente seu tráfico em Ajudá Porto Novo Badagri e Lagos As embarcações saíam do Brasil com passaportes autorizados para se abasteceram de escravos ao sul do Equador mas dirigiamse aos portos proibidos da Costa da Mina Este era um 171 subterfúgio empregado sobretudo pelos negociantes da praça da Bahia60 A participação de Francisco Félix de Souza e Raimundo de Arribas na negociação da carga da Destemida levanta suspeitas sobre a vera cidade da propriedade da escuna por parte de Manoel Afonso Vicente da Conceição É mais do que conhecido que as cargas e a proprieda de dos navios eram falsificados na época do tráfico ilegal Além disso sabemos também que Francisco Félix de Souza não apenas supria os navios na África mas embarcava escravos para as Américas por sua própria conta61 Para completar suas embarcações aportavam regularmente na Ilha do Príncipe a fim de ali obter passaportes das autoridades portuguesas como nos informa Robin Law62 As evidên cias não param por aí Foi encontrada a bordo da Destemida uma declaração assinada por Antônio Pedroso de Albuquerque datada de 1828 informando que apesar de os despachos e justificação de propriedade da escuna Zephiro estarem em seu nome nenhum inte resse ou parte teria ele no casco e aparelho da dita embarcação que pertenceria a Francisco Félix de Souza e Raimundo de Arribas capi tão da mesma63 Ou seja pelo menos mais uma vez a dupla Félix de Souza e Raimundo de Arribas aparece envolvida com embarcações atuantes durante o período do contrabando de africanos Será que ela estava em ação novamente Dentro desse contexto podemos fazer algumas suposições ainda não comprovadas como a de que José Alves da Cruz Rios Francisco Félix de Souza e Raimundo Arribas fariam parte de uma rede de rela ções comerciais Tal hipótese se baseia na carta encontrada a bordo da Destemida na qual se aventa a possibilidade de negociações fu turas e no caso do brigue Trajano Não podemos esquecer tampou co que de um lado João Marques Joaquim da Silva Neves e João José indicaram Raimundo de Arribas como proprietário da escuna Destemida nos seus depoimentos com ele fizeram seus ajustes na Ilha do Príncipe e de outro os três declaram não conhecer nem Manoel Vicente nem Francisco Félix de Souza Restam ainda portan to dúvidas quanto ao papel de Manoel Afonso Vicente da Conceição em relação à propriedade da escuna assim como de sua participação na mesma rede comercial nessa e em outras ocasiões64 A relação entre Manoel Vicente e os demais aparece de for ma menos clara mas igualmente demarcada Quando indagado na Comissão Mista sobre o fato de o passaporte indicar Manoel Afonso 172 Vicente da Conceição como proprietário da Destemida quando a cor respondência indicava ser Francisco Félix de Souza o mandante da operação Raimundo de Arribas respondeu que Vicente seria apenas um amigo do dono da escuna sem interesse algum na negociação Nesse caso esta amizade certamente se estabelecia através de la ços comerciais entre eles Já sobre o documento que se referia à es cuna Zephiro Arribas informou que essa declaração se encontrava em seu poder por estar interessado na mesma sendo mais difícil nesse caso estabelecer as devidas conexões65 Antes de passar para o próximo tópico vale a pena tecer algumas considerações a respeito de Antônio Pedroso de Albuquerque Da mesma maneira que José Alves da Cruz Rios Pedroso de Albuquerque era um proeminente negociante da praça da Bahia que acumulou fortuna dedicandose ao tráfico de escravos e a outras operações comerciais Pierre Verger encontrou 31 saídas de embarcações suas dedicadas ao tráfico de escravos tendo quatro sido apresadas pe los cruzadores britânicos66 a saber bergantim Príncipe de Guiné goeleta Vênus brigue Venturoso bergantim Creola67 Conferindo com os dados extraídos dos navios julgados perante a Comissão Mista encontrei três embarcações suas processadas a sumaca Criola co mandante André Pinto da Silveira68 o brigue Venturoso comandante Joaquim Pinto de Sousa69 e o famoso Príncipe de Guiné comandante Manoel Joaquim de Almeida70 O veredicto final da Comissão Mista No dia 21 de dezembro de 1830 o Jornal do Commercio publica a seguinte nota A fragata inglesa Druyd chegou a este porto trazendo em sua conserva a escuna portuguesa Destemida que fôra apresada pela dita fragata na altura do Morro de S Paulo onde perten dia sic desembarcar escravatura contra os Tratados existen tes entre este Império e a Gram Bretanha e entre esta ultima potência e Portugal Dizem que a Comissão Mista Brasileira e Inglesa condenará tanto esta como as outras embarcações portuguesas que tem importado escravatura por contrabando nos portos do Império Consta igualmente que da Inglaterra 173 tem sido enviados novos vasos de Guerra à fim de vedarem a continuação do tráfico na Costa dÁfrica71 Como podemos perceber corria na Corte a notícia da possível condenação da escuna Tal especulação seria confirmada pela sen tença A Comissão Mista Brasileira e Inglesa conclui seus trabalhos e chega a um veredicto no dia 22 de janeiro de 1831 Segundo os autos na conformidade do artigo 3º da Convenção de 28 de julho de 1817 adicional ao Tratado de 15 de janeiro de 1815 e Tratado de 23 de novembro de 1826 a Comissão julgou legal a detenção da escuna Destemida portuguesa de propriedade de Manoel Afonso Vicente da Conceição súdito português da praça da Ilha do Príncipe Segundo o Artigo 7º do Regulamento das Comissões Mistas os escravos encon trados a bordo dela estavam sujeitos à disposição do 2º do Alvará de 26 de janeiro de 1818 e deveriam ser libertos recebendo suas car tas de liberdade Por não se achar compreendido no Artigo 1º do ci tado Alvará o casco e o aparelho da dita escuna foram relaxados72 Declara ainda a Comissão que embora os apelide domésticos e ale gue que os trouxera para aprender ofícios desembarcandoos com a faculdade do Governo da Bahia a intenção de Raimundo Arribas foi conduzir os escravos na cidade de Salvador Conclui a Comissão que não pode admitir tais pretextos arbitrários figurando o embarque dos escravos em questão pelo de dentes de elefantes Por todas es sas razões declararam os escravos em número de 50 todos do sexo masculino naturais da Costa da África livres e emancipados e postos à disposição do Governo de SMB Imperador como criados e trabalhadores livres73 A cada um dos 50 africanos da escuna Destemida foi concedida carta de liberdade nos termos abaixo Devem ter sido todos batiza dos tendo sido Fortunato o primeiro a receber a carta de liberdade e emancipação Dom Pedro Primeiro por graça de Deus e unânime aclamação dos povos Imperador constitucional e perpétuo defensor do Império do Brasil Faço saber que tendose em conformidade da Convenção de 28 de julho de 1817 adicional ao Tratado de 22 de janeiro de 1815 julgado por sentença da Comissão Mista estabelecida nesta cidade sobre o tráfico da escrava tura de 22 de janeiro do corrente boa presa os escravos da Escuna Destemida de que era mestre Raimundo de Arribas e 174 proprietário Manoel Afonso Vicente da Conceição da Ilha do Príncipe por ser apreendida no tráfico ilícito da escravatura e havidos por emancipados e livres do cativeiro os escravos vindos a bordo da dita Escuna Destemida Sou servido deter minar que de ora em diante e por esta carta fique considerado o preto Fortunato de nação nagô sem marca livre e emancipado da escravidão para ser empregado na conformidade do artigo sétimo do Regulamento anexo à dita Convenção e do Alvará de 26 de janeiro de 1818 como criado ou trabalhador livre E esta se cumprirá como se contem e declara sem dúvida nem emba raço algum registrandose no livro da Comissão O Imperador constitucional o mandou Os comissários da Comissão Mista abaixo assinaram Theophilo de Mello Secretário interino e in térprete da Comissão Mista o escrevi Rio de Janeiro 22 de janei ro de 1831 Alexandre Cunningham João Carneiro de Campos número hum Lugar do sello Imperial da comissão74 De acordo com a lista das cartas de liberdade dadas aos africanos encontrados na Destemida ver anexo eles perfaziam um total de 50 escravos todos homens com nomes cristãos e sem marcas sendo 28 ditos nagô 20 ditos gege um dito nagô ou gege e um sem informação A variedade da procedência dos africanos traficados no período do tráfico ilegal não está sendo analisada aqui mas é impor tante destacar a presença de um número representativo de escravos gbe ditos gege no grupo apreendido Da mesma forma devese no tar o fato de terem sido supostamente embarcados 20 escravos ditos nagô ou seja iorubas no Porto de Ajudá e não nos portos a leste como Porto Novo Badagri e Onim Vale ainda destacar que o uso do termo gege não é usual no Rio de Janeiro estando esta classifica ção provavelmente associada ao fato de a embarcação estar na rota entre a Bahia e Ajudá Por fim deve ser também notado que assim como Fortunato nenhum dos africanos da escuna Destemida trazia marcas Na Bahia os nagôs costumam ser identificados por suas marcas faciais o que faz refletir sobre a que marca estaria se referin do o autor das cartas de liberdade75 já que além das marcas étnicas os africanos eram também marcados com a marca de seus compra dores76 Provavelmente tratase de ausência da informação por oca sião da identificação dos africanos e não de marcas propriamente já que seria muito improvável que em meio a 50 deles nenhum portas se qualquer tipo de marca 175 Os africanos livres vindos a bordo da Destemida para o Rio de Janeiro Os africanos que receberam cartas de liberdade passaram a fa zer parte do grupo conhecido como africanos livres Como visto anteriormente este novo status jurídico surgiu com a finalidade de legalizar a situação dos africanos desembarcados de navios apresa dos pela Comissão Mista77 Diversos autores inclusive contemporâ neos à época tal como Perdigão Malheiro e Tavares Bastos apon tam para a má condição de vida a que eram submetidos os africa nos livres no Brasil nivelados aos de mais baixa condição ou seja aos escravos78 Os emancipados mantidos sob controle direto do Governo eram utilizados principalmente em ocupações urbanas tra balhando em abertura de estradas conservação e limpeza das ruas cemitérios e serviços afins Eles podiam ser encontrados servindo em fábricas de pólvora em fábricas de ferro nas obras da estrada da Serra da Estrela nas obras da Casa de Correção da Corte79 na Câmara Municipal de Niterói no Cemitério de Maruí em Niterói na Biblioteca Nacional no Corpo Policial da Província entre outros esta belecimentos Já os africanos livres arrematados a particulares eram em sua maioria empregados no serviço agrícola ou doméstico como a maior parte dos escravos no Brasil80 Segundo Perdigão Malheiro nas cidades os emancipados também eram empregados pelos parti culares no ganho ou em outros fins lucrativos e não no serviço pes soal desses concessionários conforme as instruções Empregando os nas ruas os arrematantes ganhavam mais por mês do que eram obrigados por eles anualmente81 Os africanos libertos vindos a bordo da escuna Destemida devem ter tido destino semelhante ao de todos os outros permanecendo no anonimato da sociedade escravista Por outro lado uma vez oriun dos da Costa da Mina como mostra a historiografia recente podem ter trilhado uma outra história A riqueza das experiências vividas no Rio de Janeiro pelos africanos conhecidos como minas permite aventar o desenrolar de trajetórias pessoais extraordinárias que se destacam entre as demais82 Consultando a bibliografia em busca de pistas constatei a presença na cidade do Rio de Janeiro de vários afri canos livres de nação mina gêge e nagôs como os da Destemida Ao identificar os africanos envolvidos na prática da capoeira na pri meira metade do século XIX Carlos Eugênio Líbano Soares identifica 176 uma minoria mina em relação aos demais africanos Entretanto eram os minas os que causavam maiores problemas aos responsáveis pela ordem pública e entre eles os livres libertos e africanos livres mais que os escravos83 Beatriz G Mamigonian escreveu um artigo no qual destaca a trajetória de um grupo de africanos livres de nação mina que veio da Bahia para o Rio de Janeiro e São Paulo detalhando sua luta pela emancipação Segundo o argumento da autora estes africa nos livres usaram a identidade étnica para pressionar os funcioná rios do governo imperial e os arrematantes de seus serviços a reco nhecerem seu status jurídico distinto e concederem sua liberdade84 Contudo infelizmente o destino dos africanos livres oriundos da Costa da Mina vindos a bordo da escuna Destemida ainda é desco nhecido Como podemos perceber pela notícia abaixo praticamente um mês após proferida a sentença pela Comissão Mista os africanos ainda permaneciam a bordo da Destemida Em solução ao ofício que VSª me dirigiu com data de 18 do corrente acerca de não terse ainda efetuado o desembarque dos 50 pretos conduzidos pela escuna portuguesa Destemida que a comissão respectiva julgou libertos tenho de significar a VSª que nesta ocasião torno a oficiar com urgência ao Sñr Ministro da Fazenda a este respeito Deus guarde a VSª Paço em 21 de fevereiro de 183185 Como conclusão espero que o presente capítulo tenha contribuí do para a reflexão sobre os pretosminas do Rio de Janeiro a fim de mostrar que muitos deles devem ter aqui chegado via tráfico ilegal Se os que aqui foram desembarcados com sucesso entre 1830 e 1856 devem ter vindo primordialmente dos portos da África centrooci dental de onde devem ter sido logo enviados às fazendas de café do vale do Paraíba86 os apresados pela Comissão Mista muitos deles destinados à Bahia como os da Destemida vinham da Costa da Mina Assim sendo as rotas entre os portos da África e do Brasil devem ser minuciosamente investigadas para que junto com a documentação local possam contribuir para um melhor entendimento da composi ção da população escrava no período do tráfico ilegal de escravos 177 ANEXO Registro das cartas de alforria dos pretos e pretas africanos libertos vindos a bordo da escuna Destemida87 Nº Nome Nação Marca 1 Preto Fortunato Nagô Sem marca 2 Preto Simplício Nagô Sem marca 3 Preto Policarpio Nagô Sem marca 4 Preto Justino Nagô Sem marca 5 Preto Valentim Nagô Sem marca 6 Preto Amaro Nagô Sem marca 7 Preto Roque Nagô Sem marca 8 Preto Francisco Nagô Sem marca 9 Preto Antonio Nagô Sem marca 10 Preto Leão Nagô Sem marca 11 Preto ilegível Nagô Sem marca 12 Preto Pantaleão Nagô Sem marca 13 Preto Felício Nagô Sem marca 14 Preto Felisberto Nagô Sem marca 15 Preto ilegível Nagô Sem marca 16 Preto rapaz Gregório Nagô Gege Sem marca 17 Preto rapaz Tibúrcio Nagô Sem marca 18 Preto rapaz Tristão Nagô Sem marca 19 Preto rapaz Felippe Nagô Sem marca 20 Preto rapaz sem nome Nagô Sem marca 21 Preto rapaz Felizardo Nagô Sem marca 22 Preto rapaz Aleixo Gege Sem marca 23 Preto rapaz ilegível Gege Sem marca 24 Preto rapaz Lucio Gege Sem marca 25 Preto rapaz Joaquim Gege Sem marca 26 Preto rapaz Pedro Gege Sem marca 27 Preto rapaz Paulo Gege Sem marca 28 Preto rapaz Paulino Gege Sem marca 29 Preto rapaz Adão Gege Sem marca 30 Preto rapaz João Gege Sem marca 31 Preto rapaz Jorge Gege Sem marca 32 Preto rapaz Luiz Gege Sem marca 33 Preto rapaz sem nome Sem marca 34 Preto rapaz Lucianno Gege Sem marca 35 Preto rapaz Lucas Gege Sem marca 36 Preto rapaz Mathias Nagô Sem marca 37 Preto rapaz Matheus Nagô Sem marca 38 Preto rapaz Eduardo Nagô Sem marca 39 Preto rapaz Romão Nagô Sem marca 40 Preto rapaz Thomas Gege Sem marca 41 Preto rapaz Zacarias Gege Sem marca 42 Preto rapaz Florêncio Gege Sem marca 43 Preto rapaz sem nome Gege Sem marca 44 Preto rapaz Severianno Gege Sem marca 45 Preto rapaz Domingos Gege Sem marca 46 Preto rapaz André Nagô Sem marca 47 Preto rapaz Alberto Nagô Sem marca 48 Preto rapaz Nicolão Nagô Sem marca 49 Preto rapaz Conrado Gege Sem marca 50 Preto rapaz Julião Nagô Sem marca Beatriz Mamigonian leu João Fonte Arquivo Nacional Códice 184 Volume 3 Agradeço a Beatriz G Mamigonian o envio de sua transcrição do documento O cruzamento de minha transcrição com a dela permitiu a elucidação de partes de maior dificuldade de leitura do documento ampliando sua compreensão 178 Notas 1 Jornal do Commercio 20121830 2 Tal medida passa a vigorar a partir de 1º de janeiro de 1808 3 Sobre o processo de abolição do tráfico no que diz respeito ao Brasil entre outros ver GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico São Paulo AlfaOmega 1975 BETHELL Leslie A abolição do tráfico de escravos no Brasil a GrãBretanha o Brasil e a questão do tráfico de escravos 18071869 Rio de Janeiro Expressão e Cultura São Paulo EDUSP 1976 CONRAD Robert Os eman cipados nem escravos nem libertos In Tumbeiros o tráfico de escravos para o Brasil São Paulo Brasiliense 1985 RODRIGUES Jaime O infame comércio propostas e experiências no final do tráfico de africanos para o Brasil 18001850 Campinas SP CECULT UNICAMP 2000 PIRES Ana Flavia Cicchelli Tráfico ilegal de escravos os caminhos que levam a Cabinda 2006 Dissertação Mestrado em His tória Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 Algumas questões referentes a esse processo são contempladas ainda em MALHEIRO Perdigão A escravidão no Brasil ensaio histórico jurídico e social 3 ed Petrópolis Vozes Brasília DF INL 1976 2v BASTOS A C Tavares Cartas do solitário São Paulo Companhia Ed Nacional Brasília DF INL 1975 4 Os direitos sobre tais territórios já haviam sido disputados pelo governo da França 5 Tratado de Amizade e Aliança entre o Príncipe Regente de Portugal e ElRey do Rei no Unido da GrãBretanha e Irlanda assinado em 19 de fevereiro de 1810 Collecção das Leis do Império do Brasil 1810 BN Segundo Maurício Goulart o compromisso português nessa ocasião foi mais além uma vez que comprometeuse o príncipe regente depois de reafirmar o intento de cooperar eficazmente na causa de huma nidade tão gloriosa sustentada pela Inglaterra a abolir de pronto todo o comércio e tráfico de escravos nos estabelecimentos de Bissau e Cacheu GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico São Paulo Alfa Omega 1975 p 2201 grifos do autor 6 Segundo Pierre Verger as embarcações apresadas e os locais de captura foram 1 Brigue Falcão Porto Rico 2 Bergantim Bom Amigo Cuba 3 Galera Urbano Ca binda 4 Brigue Calipso Onim 5 Bergantim Vênus Badagri 6 Goeleta Volante Cabinda 7 Goeleta Marianna Jaquejaque 8 Bergantim Prazeres não consta 9 Sumaca não consta 10 Sumaca Flor do Porto ou Cavalinho Onim 11 Bergantim S Joãozinho Cape Coast 12 Bergantim Americano não consta 13 Bergantim Desti no Porto Novo 14 Bergantim Dezengano não consta 15 Bergantim Piedade não consta 16 Bergantim Fragatinha Onim 17 Sumaca Santo Antonio Onim Do total de embarcações apresadas 12 pertenciam a negociantes da Bahia A saber nº 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 e 16 Embora Verger informe serem as embarcações em número de 12 em sua listagem constam 13 como pertencentes a esta praça VER GER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 3258 p 3512 nota 15 Esta é uma evidência do enraizamento do tráfico na Bahia 7 O comércio de escravos entre o Brasil e a Costa da Mina encontravase dessa manei ra proibido 8 Tratado de 22 de Janeiro de 1815 Collecção das Leis do Império do Brasil 1815 BN Durante este Congresso as principais nações concordaram em abolir o comércio escravista exceto Portugal Espanha e França Porém logo depois em novembro de 1815 a França adota a mesma resolução Dessa maneira Portugal e Espanha foram as únicas nações que permaneceram ativas no comércio escravista KLEIN Herbert O fim do comércio de escravos In O comércio atlântico de escravos quatro séculos de comércio escravagista Lisboa Replicação 2002 p186 179 9 Convenção Adicional de 28 de julho de 1817 Collecção das Leis do Império do Brasil 1817 BN Anexo a essa Convenção encontramos os seguintes atos ou ins trumentos 1 Formulário de passaporte para os navios mercantes portugueses que se destinarem ao tráfico lícito da escravatura 2 Instruções para os navios de guerra das duas nações que forem destinados a impedir o tráfico ilícito de escravos 3 Re gulamento para as Comissões Mistas que residirão na Costa dÁfrica no Brasil e em Londres 10 Artigo separado da Convenção assinada aos 28 de julho de 1817 Collecção das Leis do Império do Brasil 1817 BN 11 Anexo nº 3 Regulamento para as Comissões Mistas que devem residir na Costa da África no Brasil e em Londres Collecção das Leis do Império do Brasil 1817 BN 12 Alguns navios embora poucos foram conduzidos para a Ilha de Santa Helena e aí julgados 13 Alvará com força de lei de 26 de janeiro de 1818 Collecção das Leis do Império do Brasil 1818 BN 14 FLORENTINO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro séculos XVIII e XIX São Paulo Companhia das Letras 1997 p149 15 Consultando os processos referentes às embarcações apresadas e julgadas perante a Comissão Mista Brasil GrãBretanha consegui localizar 16 que foram apreendidas no período compreendido entre 1817 e 1825 Deste total 11 haviam saído da Bahia uma retornaria para esses mesmos portos duas saíram de Pernambuco e uma havia saído de Lisboa Havia ainda uma escuna inglesa que saíra de Gibraltar AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros 16 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 32932 17 BETHELL Leslie A abolição do tráfico de escravos no Brasil a GrãBretanha o Brasil e a questão do tráfico de escravos 18071869 Rio de Janeiro Expressão e Cultura São Paulo EDUSP 1976 p 34 GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico São Paulo AlfaOmega 1975 p 240 18 Vale destacar que o reconhecimento da Independência por parte da Coroa britânica estava vinculado à abolição do comércio de escravos pelo Brasil Sem o reconheci mento inglês ficava difícil fazer o comércio marítimo 19 Convenção de 23 de novembro de 1826 Collecção das Leis do Império do Brasil 1826 BN O Tratado de 1826 estipulou que no período compreendido entre 1827 e 1830 os cruzadores britânicos continuariam a operar de acordo com a Convenção de Direito de Busca firmada em 1817 entre Inglaterra e Portugal BETHELL Leslie A abolição do tráfico de escravos no Brasil a GrãBretanha o Brasil e a questão do trá fico de escravos 18071869 Rio de Janeiro Expressão e Cultura São Paulo EDUSP 1976 p 95 20 BETHELL Leslie A abolição do tráfico de escravos no Brasil a GrãBretanha o Brasil e a questão do tráfico de escravos 18071869 Rio de Janeiro Expressão e Cultura São Paulo EDUSP 1976 p734 21 Com relação aos conflitos gerados na Costa da África quando do anúncio do fim do comércio de escravos para o Brasil especialmente na costa centroocidental vide FERREIRA Roquinaldo Amaral Dos sertões ao Atlântico tráfico ilegal de escravos e comércio lícito em Angola 18301860 Dissertação de Mestrado em História Uni versidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 1996 Ainda do mesmo autor Escravidão e revoltas de escravos em Angola 18301860 AfroÁsia Salvador n 2122 p 944 19981999 180 22 FLORENTINO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro séculos XVIII e XIX São Paulo Companhia das Letras 1997 p47 Luís Henrique Dias Tavares também ressalta em seu trabalho que os proprietários endividados inclusive ministros imperiais acabaram ficando nas mãos dos traficantes e agentes do comércio de escravos isso já na conjuntura pós1830 TAVARES Luís Henrique Dias Comércio proibido de escravos Rio de Janeiro Ática 19 p1 301 23 De acordo com Mary Karasch grandes somas de dinheiro foram gastas com subornos que eram distribuídos no Brasil para capitães do porto agentes alfandegários juízes municipais e até mesmo para o chanceler da legação portuguesa Ressalta ainda a autora que ao lado da cooperação dos oficiais do governo e dos políticos muitos brasileiros ajudavam as embarcações negreiras a desembarcar na costa dando infor mações a respeito dos lugares de desembarque localização dos cruzeiros ingleses e condições do mercado KARASCH Mary The brazilian slavers and the illegal slave trade 18361851 Tese Mestrado University of Wisconsin Wisconsin 1967 p 43 Sobre as propinas recebidas pelas autoridades brasileiras e sobretudo pelo chance ler português ver ALCOFORADO Joaquim de Paula Guedes História sobre o infame negócio de africanos da África Oriental e Ocidental com todas as ocorrências desde 1831 a 1853 In FERREIRA Roquinaldo Amaral O relatório alcoforado Estudos Afro Asiáticos Rio de Janeiro v 28 p 21929 out 1995 24 Sobre o volume do tráfico transatlântico de escravos entre outros ver ELTIS David Economic growth and the ending of the Transatlantic Slave Trade New York Oxford University Press 1987 p 2434 25 Após 13 de março de 1830 ainda serão promulgadas duas leis com o objetivo de pôr fim ao tráfico atlântico de escravos Lei de 7 de novembro de 1831 e Lei de 4 de setembro de 1850 26 Não encontrei nenhuma outra atuação do Druid nem de seu comandante nos proces sos da Comissão Mista Brasil GrãBretanha Vale ressaltar que em alguns casos não consta tal informação 27 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 28 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 29 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 30 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 31 Derrota é o roteiro das viagens marítimas A derrota da escuna Destemida encontrase entre os documentos do seu processo na Comissão Mista AHI III Coleções Espe ciais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 32 O tráfico de escravos ao sul do Equador continuou a ser legal para os nacionais por tugueses até 1836 Vale ressaltar que até o Equipment Act de 1839 que autorizava a captura dos navios aparelhados para o tráfico de escravos as embarcações portu guesas só podiam ser apreendidas pela Marinha britânica se tivessem carga humana a bordo 33 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 34 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 181 35 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 36 Um aviso com data de 15 de janeiro de 1831 foi expedido pela Comissão Mista solici tando que o mestre da escuna Destemida ou quem autorizado fosse para fazer recla mações sobre a mesma se apresentasse impreterivelmente até a terçafeira seguinte à publicação do aviso No dia 21 de janeiro Raimundo Arribas apresenta uma petição à Comissão Mista AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil Grã Bretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 37 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 38 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 39 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 40 Xavier de Brito era também Comendador da Ordem Militar de São Bento de Aviz e Brigadeiro do Real Exército português 41 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 42 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Correspondência entre a Secretaria de Estado e Autoridades Inglesas Re cebida Do Cônsul Inglês Lata 56 Maço 3 Correspondência entre a Secretaria de Estado e Autoridades Brasileiras Recebida Governo das Províncias Lata 55 Maço 3 Pierre Verger também está atento a este fato e transcreve em seu trabalho parte de uma das cartas enviadas VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 4425 43 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 45761 44 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 45 SOUMONNI Elisée Daomé e o mundo Atlântico Rio de Janeiro CEAAUCAM Ams terdã SEPHIS 2001 46 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 O caso é resumida mente relatado por VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 448 47 Como já foi visto o surgimento da categoria africano livre está associado à proibição do tráfico atlântico pelos ingleses em 1807 o que afeta todas as áreas escravistas das Américas especialmente o Brasil e o Caribe Analisando o caso das Bahamas Gail Saunders mostra que entre 1811 e 1860 aproximadamente 6 mil africanos livres foram enviados às Bahamas A primeira razão para essa concentração parece ter sido a posição das Bahamas na rota das embarcações negreiras entre a África e Cuba Assim como no Brasil ao serem liberados esses africanos ficavam sob a respon sabilidade do Chief Customs Officer para terem algum tipo de aprendizado junto a senhores que pudessem ensinarlhes alguma forma de comércio ou atividade manual in order for them to learn a trade or handicraf pelo período de 14 anos Ver SAUN DERS Gail The liberated africans Disponível em httpwwwthenassauguardian comsocialcommunity292447452164802php 182 48 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 44950 Esta não seria a única vez em que esta embarcação faria uso da bandeira de outra nacionalidade De acordo com o autor o Destemido por volta de 1833 teria sido equipado para o comércio de escravos tendo partido para a Costa da África sob as cores portuguesas estando munido com um duplo jogo de papéis o que lhe possibi litava içar bandeira argentina VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 451 Não tive como confirmar se este Destemido datado de 1833 é a mesma Destemida 49 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 50 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 Como bem nos informa Pierre Verger grande parte dos dados a respeito dos principais navegadores e comerciantes da Bahia que tomaram parte no tráfico clandestino emerge da docu mentação produzida pela cruzada antiescravista britânica a partir dos documentos encontrados a bordo dos navios negreiros apreendidos VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 475 51 SOUMONNI Elisée Daomé e o mundo Atlântico Rio de Janeiro CEAAUCAM Ams terdã SEPHIS 2001 Ver também LAW Robin A comunidade brasileira de Uidá e os últimos anos do tráfico atlântico de escravos 185066 AfroÁsia Salvador n 27 p 4177 2002 LAW Robin Ed From slave trade to legitimate commerce the com mercial transition in nineteenthcentury West Africa Cambrigde Cambridge University Press 19 52 LAW Robin A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental 18001849 Topoi Rio de Janeiro p939 mar 2001 Ainda sobre Francisco Félix de Souza ver entre outros SILVA Alberto da Costa e Francisco Félix de Souza mercador de es cravos Rio de Janeiro Nova Fronteira Ed da UFRJ 2003 SILVA Alberto da Costa Um rio chamado Atlântico a África no Brasil e o Brasil na África Rio de Janeiro Nova Fronteira Ed UFRJ 2003 GURAN Milton Agudás os brasileiros do Benim Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 53 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 54 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 55 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 486 56 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 14 Maço 4 Embarcação Esperança 57 Como ressaltado anteriormente esta era uma estratégia comum utilizada pelos con trabandistas na tentativa de despistar as autoridades para a continuação do comércio atlântico de escravos 58 Provavelmente sob proteção de Francisco Félix de Souza 59 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 30 Maço 2 Embarcação Trajano Pierre Verger menciona José da Silva Rios como comandante da goeleta Mariana também de propriedade de José Alves da Cruz Rios VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 452 183 60 Sobre este tema ver PIRES Ana Flávia Cicchelli Tráfico ilegal de escravos os cami nhos que levam a Cabinda 2006 Dissertação Mestrado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 Especialmente o Capítulo 3 Ver também VER GER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 4335 61 Na Bahia o comerciante André Pinto da Silveira operou como seu agente comercial na quarta década do século XIX LAW Robin A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental 18001849 Topoi Revista de História do Programa de PósGra duação em História Social da UFRJ Rio de Janeiro p939 mar 2001 p 223 62 LAW Robin A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental 18001849 Topoi Revista de História do Programa de PósGraduação em História Social da UFRJ Rio de Janeiro p939 mar 2001 p 27 63 A declaração fora assinada na Bahia em 21 de setembro de 1828 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 64 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 65 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 De acordo com Arri bas a escuna Zephiro tinha sido apresada por piratas na costa 66 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p481 67 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 5089 nota 26 68 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 9 Maço 2 Embarcação Criola 69 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 31 Maço 4 Embarcação Venturoso 70 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 27 Maço 1 Embarcação Príncipe de Guiné De acordo com Robin Law a Príncipe de Guiné teria sido encomendada nos Estados Unidos por Francisco Félix de Souza partindo esta embarcação da Filadélfia para Ajudá em 1825 tendo como destino final a Bahia Porém complementa Law que quando o navio voltou no ano seguinte à Costa da África seus documentos acusavam como proprietário Antônio Pe droso de Albuquerque LAW Robin A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental 18001849 Topoi Revista de História do Programa de PósGraduação em História Social da UFRJ Rio de Janeiro p 939 mar 2001p 223 Dessa maneira percebemos que a confusão acerca da propriedade de navios por parte de Félix de Souza e Antônio Pedroso de Albuquerque aconteceu pelo menos duas vezes ou seja nos casos da Príncipe de Guiné e Zephiro 71 Jornal do Commercio 21121830 72 Entre outras definições dadas por António de Morais Silva encontramos o termo re laxar como dispensar da observância de uma lei do cumprimento de um dever ou então perdoar uma culpa ou um pecado a António de Morais Silva Grande Dicio nário da Língua Portuguesa 10ª edição revista Editorial Confluência vol IX p382 Segundo Verger a embarcação foi devolvida ao proprietário português cujo nome não consta na documentação VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 450 184 73 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 74 Arquivo Nacional Códice 184 Volume 3 75 As marcas eram uma prática usual na Baía do Benim tanto entre os povos gbes quan to entre os iorubas 76 Sobre as marcas ver RAPOSO Luciano Marcas de escravos listas de escravos emancipados vindos a bordo de navios negreiros 18391841 Texto analítico de Lu ciano Raposo Rio de Janeiro Arquivo Nacional CNPq 1990 77 Além dos africanos emancipados por estarem a bordo de embarcações capturadas e condenadas por tráfico ilegal pela Comissão Mista no Rio de Janeiro como é o caso da escuna Destemida estavam também inseridos nesta categoria os africanos recémimportados apreendidos em terra por autoridades brasileiras Sobre os afri canos livres entre outros ver MAMIGONIAN Beatriz G To be a liberated african in Brazil labour and citizenship in the nineteenth century Tese Doutorado em História University of Waterloo Waterloo 2002 CONRAD Robert Os emancipados nem escravos nem libertos In Tumbeiros o tráfico de escravos para o Brasil São Paulo Brasiliense 1985 PIRES Ana Flávia Cicchelli Os africanos livres na Pro víncia do Rio de Janeiro Trabalho de Conclusão de Curso Bacharelado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2004 BASTOS A C Tavares Cartas do solitário São Paulo Companhia Ed Nacional Brasília DF INL 1975 78 BASTOS A C Tavares Cartas do solitário São Paulo Companhia Ed Nacional Bra sília DF INL 1975 MALHEIRO Perdigão A escravidão no Brasil ensaio histórico jurídico e social 3 ed Petrópolis Vozes Brasília DF INL 1976 2v 79 Muitos africanos livres no Rio de Janeiro eram enviados à Casa de Correção De acordo com Robert Conrad esta era a primeira parada para muitos africanos eman cipados CONRAD Robert Os emancipados nem escravos nem libertos In Tumbeiros o tráfico de escravos para o Brasil São Paulo Brasiliense 1985 Mary Karasch ressalta que a Casa de Correção era usada pelo governo para confinar os africanos livres quando não estavam a seu serviço Podia acontecer dessa estada se prolongar servindo algumas vezes como residência permanente para os africanos libertos que trabalhavam na cidade KARASCH Mary Catherine A vida dos escra vos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 179 Embora os africanos da escuna Destemida não estejam enquadrados nesta situação pois a construção da Casa de Correção teve início em 1834 acredito que esta é uma importante informação a ser destacada Sobre este último dado ver SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CECULT UNICAMP 2001 p 392 e p 424 nota 135 80 Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro APERJ Fundo Presidência da Provín cia PP Coleção diversas 81 MALHEIRO Perdigão A escravidão no Brasil ensaio histórico jurídico e social 3 ed Petrópolis Vozes Brasília DF INL 1976 p 612 Em função da cláusula que dizia que os africanos livres deveriam ser concedidos a senhores de reconhecida inteireza e probidade na maioria das vezes eles naturalmente foram confiados a senhores proeminentes ricos e influentes da Província do Rio de Janeiro 82 Aproveito para citar apenas alguns exemplos SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 FARIA Sheila de Castro Sinhás pretas acumulação de pecúlio e transmissão de bens de mulheres forras no sudeste escra vista séculos XVIII e XIX In FRAGOSO J MATTOS H M SILVA F C Org Escritos sobre história e educação homenagem a Maria Yedda Linhares Rio de Ja neiro Mauad FAPERJ 2001 SOARES Carlos Eugênio Líbano Comércio nação e gênero as negras minas quitandeiras no Rio de Janeiro 18351900 In FRAGOSO J MATTOS H M SILVA F C Org Escritos sobre história e educação homena 185 gem a Maria Yedda Linhares Rio de Janeiro Mauad FAPERJ 2001 GOMES Flávio dos Santos SOARES Carlos Eugênio Líbano Com o pé sobre um vulcão africanos minas identidades e a repressão antiafricana no Rio de Janeiro 18301840 Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 23 n 2 p 144 2001 83 SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CECULT UNICAMP 2001 p376 p379 84 MAMIGONIAN Beatriz Gallotti Do que o preto mina é capaz etnia e resistência entre africanos livres AfroÁsia Salvador n 24 p 7195 2000 85 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Volumes encadernados Alvarás Decretos Portarias Livro de registro de Alvarás Decretos Nomeações e Correspondência expedida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros com diversos Localização 341 1 6 Embora não tenha con seguido confirmar se é a mesma embarcação estudada neste artigo consultando o Slave Trade Database encontrei um brigue Destemida que partiu da Bahia em 1839 Consta como comandante Manuel Francisco Pinto e como proprietário Joaquim Pe reira Marinho A embarcação teria sido apresada pelos cruzadores britânicos na Baía do Benim e conduzida à Serra Leoa onde foi condenada ELTIS David et al The TransAtlantic Slave Trade a database on CDRom Cambridge Cambridge University Press 1999 Também Verger indica essa viagem Destemido VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 50910 nota 31 86 MATTOS Hebe Maria SCHNOOR Eduardo Org Resgate uma janela para o Oito centos ensaios Rio de Janeiro Topbooks 1995 87 Título que consta no documento tudo indica ser um formato padrão já que menciona pretas quando no caso da Destemida não consta a presença de nenhuma mulher Negrasminas no Rio de Janeiro gênero nação e trabalho urbano no século XIX1 Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio dos Santos Gomes Agosto de 1863 Policiais entram em um navio ancorado ao lar go da cidade do Rio de Janeiro Buscam um passageiro clandesti no o escravo crioulo de nome Napoleão Com ele encontram grande soma de dinheiro um relógio objetos diversos e roupas O navio tinha bandeira norteamericana país que enfrentava uma guerra civil exatamente por causa da instituição servil e onde meses antes o presidente Abraham Lincoln decretara a emancipação dos escravos Depois de interrogado Napoleão denunciou quem o havia ajudado Paula uma mulher africana da nação mina quitandeira 35 anos es crava de Manuel Martins Freitas Paula foi presa e interrogada arras tando com ela todo um esquema de fuga2 O caso da escrava Paula abre caminho para uma das faces mais in teressantes da escravidão africana em terras brasileiras as mulheres quitandeiras da Costa da Mina que dominaram o comércio de rua da Imperial Cidade do Rio de Janeiro no século XIX A partir de fontes policiais e de anúncios de fuga sugerimos novas questões sobre et nicidade e mercado de trabalho relacionando gênero e reconstrução de identidades étnicas Mas antes disso é necessário focalizar de que forma a historiografia tem abordado o tema das relações de gênero no regime escravista Gênero e etnicidade olhares e identidades Os estudos sobre mulheres no Brasil principalmente na pers pectiva histórica têm cada vez mais ampliado seus horizontes de análise3 Não só novos temas têm sido enfocados como caminhos metodológicos e teóricos originais estão sendo abertos4 Há contu do algumas lacunas tal como o caso das mulheres africanas sob a escravidão As análises apresentadas destacadamente sobre o Caribe são indicati vas das estratégias de embate da mu lher escrava com a ordem social As reflexões sobre a participação de mulheres na organização das comunidades escravas no Brasil carecem de maior fôlego5 Na África e na diáspora as africanas e suas descendentes são conhecidas por sua tenacidade6 Temos evidências da participação efetiva das mulheres na organização de revoltas como é o caso da grande rebelião em Granada no final do século XVIII que contou com a liderança de uma negra livre7 Mas a agência das mulheres se mani festa fundamentalmente na vida cotidiana onde crioulas e africanas procuram elaborar e manejar mecanismos diversos de enfrentamen tos visando modificar suas vidas e as de seus familiares contrarian do a ideia de que aceitam com passividade o cativeiro Agem deter minadamente na proteção da integridade física e psicológica de seus filhos e companheiros e mesmo de toda a comunidade8 Na tentativa de impedir a separação da família pela venda em separado de seus membros recusamse a trabalhar e ameaçam os senhores com sui cídio e infanticídio Alguns fazendeiros temiam ser envenenados por suas mucamas Elas também são elementos decisivos para as fugas obtendo informações providenciando suprimentos e prestando toda sorte de auxílio Ajudam assim a manter a riqueza e a originalidade da cultura escrava É possível mesmo argumentar que as mulheres são os primeiros agentes da emancipação das comunidades afrodes cendentes na diáspora Na Jamaica os fazendeiros asseveravam que elas eram mais agressivas do que os homens9 No século XVI durante um embar que realizado por portugueses na África um piloto comentou sobre a necessidade de se colocarem homens e mulheres separados nos porões pois quando viajavam juntos elas frequentemente instigavam os homens à revolta10 Elas representavam a reconstrução e a recria ção permanente de aspectos culturais e portanto a edificação de só lidas comunidades escravas11 Uma das características fundamentais das culturas escravas em toda a América é a manutenção da família na qual a mulher tinha papelchave na transmissão oral das crenças e valores12 Elizabeth FoxGenovese destaca a importância de se con siderar a autonomia e a autoridade das mulheres na África para se perceber as transformações das relações de sexo e gênero entre os escravos nas Américas13 No Brasil a questão da mulher escrava começa a despontar nos últimos 20 anos14 A obra de Mary Karasch já dá atenção aos africanos minas e em particular às mulheres e a seu mundo ocupacional15 Mas seria preciso o Centenário da Abolição para que tais temas emergis sem num conjunto de novos trabalhos A tese de Luís Carlos Soares mais especificamente seu capítulo sobre escravos ao ganho deta lha a importância desproporcional dos africanos de nação mina de ambos os sexos no comércio ambulante16 Também na década de 1980 em estudo pioneiro da vida cotidiana Maria Odila Dias analisa as práticas sociais das mulheres negras escravas e libertas na São Paulo do século XIX17 Luciano Figueiredo e Liana Reis projetam para Minas Gerais a especificidade da negra de tabuleiro do século XVIII precursora da quitandeira do século XIX18 Na Bahia o trabalho de Cecília Soares comprova o peso das africanas no comércio urbano destacando a presença das mulheres da África Ocidental19 O trabalho de Eduardo Silva sobre o Príncipe Obá um crioulo da Bahia que por suas ligações com elementos da elite dirigente incluindo o próprio Imperador se torna líder de ampla parcela da po pulação negra da Corte traça interessante paralelo com as quitan deiras da Costa da Mina também vindas da Bahia na mesma época20 Poucos anos antes Sidney Chalhoub decifrara os signos políticos da massa negra escrava e livre no Rio de Janeiro no crepúsculo da ins tituição escravista Investiga os processos de liberdade impetrados por africanas minas contra seus senhores demonstrando sua habi lidade em articular aliados nos corredores da justiça21 Em análises mais recentes Eduardo França Junia Furtado e Sheila de Castro Faria resgatam as imbricações entre alforria e pequeno comércio envol vendo as negras forras e livres22 Estudos sobre escravidão rural têm apontado para a importância das cativas na organização das comuni dades escravas23 Viajantes e cronistas deixam registrada a importân cia da mulher escrava principalmente das africanas no mercado de trabalho24 A partir de tais olhares brancos revelase uma face da cultura de gênero no espaço da cidade25 Entre as africanas escravas e libertas aquelas que mais desper tam a imaginação de viajantes e cronistas são as lendárias negras minas com seu indefectível turbante pano da costa tabuleiro cesto ou caixinha de vidro onde as mercadorias eram guardadas As pri meiras descrições destacando a presença das minas quitandeiras no Rio de Janeiro surgem nos relatos dos viajantes e artistas É o caso de Guilhobel Julião Debret do reverendo Kidder e mais adiante das fo tografias de Marc Ferrez e Leuzinger o suíço naturalizado brasileiro26 Alguns viajantes como Ewbank Dabadie e Ribeyrolles revelam a predileção senhorial em têlas como cativas vendedoras27 Também o casal Agassiz se surpreende com as minas quitandeiras nas ruas do Rio em 1865 É uma raça possante e as mulheres em particular têm formas muito belas e um porte quase nobre Sinto sempre um grande prazer em contemplálas na rua ou no mercado onde se vêem em grande número pois as empregam mais como vendedoras de frutas e legumes que como criadas Dizse que há no caráter desta tribo um elemento de independência indomável que não permite empregálas nas funções domésticas28 Os viajantes revelam muito do olhar costumeiro mas pouco falam da relação das minas com o restante da população negra da cidade29 Este olhar tem sua contrapartida no seio da população escrava e de setores livres de baixa condição que veem nelas poderosas merca doras senhoras de pontos cobiçados da rede de comércio urbano Em finais do século XIX após o colapso final do cativeiro os cien tistas e etnógrafos brasileiros voltamse para os africanos fazendo dos minas um capítulo à parte Nina Rodrigues é o primeiro a dedicar uma obra à presença africana no Brasil30 Nina dedica a parte mais relevante de seu texto aos africanos ocidentais da Bahia entre eles jejes haussás nagôs minas etc tentando entender a nomenclatura étnica ou transétnica dos minas no século XIX Na geração seguin te Arthur Ramos é o nome mais brilhante31 Para ele os minas são portadores de uma resposta cultural sob o jugo da escravidão fato que os separa do conjunto dos africanos ditos centroocidentais os chamados bantos que formam a maioria dos nativos do continente africano no Brasil Esta resposta chega a ser entendida como superio ridade cultural perante os outros africanos o que reflete também as visões raciais da época Já em meados do século XX tanto em seu es tudo da religiosidade como das transformações ocorridas em torno dos modelos culturais africanos Roger Bastide focaliza sua atenção no legado dos africanos ocidentais e contribui decisivamente para a construção do estereótipo da superioridade nagô incorporada pe los candomblés jejenagôs32 Outro importante estudioso da herança afroocidental é Pierre Verger cujo precioso estudo sobre tráfico ne greiro recria em detalhes as relações entre Salvador e os portos da Baía do Benim O conjunto de sua obra particularmente seu trabalho sobre os libertos serve de referência para a pesquisa sobre a nação mina no Rio de Janeiro33 O tema da identidade tão caro aos antropólogos chega tarde às preocupações dos historiadores e se cristaliza na alcunha gené rica dos estudos da cultura Felizmente hoje os historiadores estão sendo mais cautelosos no uso do termo e a problemática da cultura está assumindo múltiplas formas34 Além das importantes e clássicas obras de João Reis e Maria Inês Oliveira sobre Salvador e a temática das identidades étnicas no contexto escravista urbano surgiu mais recentemente o trabalho de Mariza Soares sobre os africanos minas no Rio de Janeiro no século XVIII35 Apesar de sabermos dos limites da concepção de nação encon trada nos documentos da era da escravidão como representações de identidades étnicas africanas cristalizadas equívoco muito co mum na historiografia brasileira pensamos estas identidades não só como construções do tráfico negreiro ou fruto das usanças se nhoriais mas também como experiências forjadas pelos próprios africanos e seus descendentes na diáspora Admitimos assim que a nação mina como de resto as demais é uma identidade em cons trução fruto das profundas mudanças culturais que afetam as Áfricas nas Américas Entendemos também que grande parte da construção cultural dos minas no Rio colonial é produto das novas realidades do cativeiro e não necessariamente heranças trazidas da África en volvendo migrações circulações e interações culturais Assim por exemplo a aptidão comercial das negrasminas da qual trataremos é vista por nós como uma opção política forjada no guante da expe riência escrava Embora as pesquisas sobre visões políticas dos escravos e liber tos crioulos ou africanos em seus contextos particulares tenha avançado bastante ainda pouco se debate sobre a construção po lítica das identidades africanas na condição escrava36 Qual o peso social e cultural das negras mercadoras no seio da população africa na no Rio Quais as prerrogativas destas mulheres nas suas relações com cativos e livres setores marginalizados e parcelas da classe dirigente Que canais de influência desfrutam essas mulheres como líderes de microcomunidades urbanas O Rio de Janeiro foi uma das regiões mais afetadas pelo tráfi co mas este comércio se dirige majoritariamente para a África CentroOcidental37 No Rio de Janeiro a rota costeira de escravos africanos mais importante apontava para Salvador que há muitos anos tinha o seu tráfico centrado na Baía do Benim terra dos aqui chamados nagôs jejes e haussás38 Uma variedade de povos diferen tes falantes de língua iorubá foi identificada na Bahia como nagô re presentando a maioria dos africanos vindos da Baía do Benim Como bem coloca João Reis este guardachuva nagô sofre profundas transformações e estas reconstruções étnicas e culturais marcam as estratégias destes africanos diante do poder senhorial Desde o clássico texto de Mintz e Price sobre as transformações culturais escravas no Caribe o tema das identidades étnicas africa nas nas Américas nunca mais foi o mesmo Lentamente os estudio sos passaram a falar cada vez mais de reconstruções circularidades trocas invenções em vez das tradicionais visões de permanências sobrevivências purezas e uma genuína africanidade como forma de resistência39 Estudos recentes sobre a diáspora africana com des taque para o trabalho de africanistas têm problematizado a ques tão da dinâmica das identidades étnicas A busca de entendimento dos processos de reinvenção e reinterpretação cultural dos africa nos e seus descendentes nas Américas tem levado os historiadores a recuperar as profundas transformações sofridas pelas sociedades africanas no mundo Atlântico Podemos dizer que há atualmente na produção internacional um fino debate entre os historiadores africanistas e aqueles da escravidão nas Américas Estes processos de redefinição étnica e transétnica também têm lugar em sociedades do continente africano afetadas ou não pelo tráfico e os estudos contemporâneos destacam os processos de continuidadedesconti nuidade e invençãoreinvenção da história africana confluindo para a perspectiva de que a transformação histórica e cultural dos chama dos africanos não se inicia nas Américas40 Redefinindo a nação o êxodo mina na década do medo A Revolta dos Malês em 1835 representa o auge de uma série de levantes escravos que sacodem o Recôncavo Baiano na primeira me tade do século XIX41 A repressão que se desencadeia sobre os africa nos escravos e libertos em Salvador após a derrota do movimento é tremenda Centenas de libertos são deportados para fora do país enquanto outros tantos deixam a província voluntariamente muitos com destino ao continente africano Para os que ficam a rota predile ta os leva à capital do Império a cidade do Rio de Janeiro Os minas vivem no Rio desde o início do século XVIII quando a cidade se torna o porto principal do fluxo de escravos para as Minas Gerais Mas a enchente de africanos ocidentais que se derrama sobre a cidade após 1835 nunca tinha sido vista42 Não são apenas libertos Centenas de escravos são vendidos por seus senhores baianos temerosos da então chamada índole rebelde dos minas Navios carregados de africanos são embaraçados pela Polícia do Porto do Rio passaportes são negados e famílias inteiras de minas são sumariamente depor tadas para a Costa da África Tudo para impedir um levante malê no coração do Império43 Entre os africanos que emigram da Bahia para o Rio de Janeiro destacamse as mulheres Já em Salvador elas são comerciantes de rua conhecidas por seus turbantes panos riscados de cores atraves sados no ombro o pano da costa ornamentos de prata e ouro de notando riqueza Eram respeitadas não só por outros africanos que trabalhavam nas ruas mas por crioulos brancos pobres e até por negociantes de grosso trato que as tinham como suas freguesas e exímias comerciantes Muitos senhores dependiam de seus jor nais a quantia paga aos proprietários pelas escravas que viviam sobre si agenciando o próprio aluguel comprando a sua comida e pagando suas despesas com o fruto de seu esforço diário44 Na dé cada de 1830 com os preços do açúcar caindo no plano internacio nal a capital baiana entrou em fase de profunda depressão A crise afetou muitos senhores que foram forçados a vender seus escravos especialmente as mulheres para os mais opulentos proprietários da Corte Com a crise econômica as libertas perderam mercado e clien tes e foram forçadas a tomar o mesmo destino45 operando também elas mudanças no panorama étnico da escravidão carioca46 As fon tes sobre a venda de africanas da Bahia para o sul revelam que mais de 80 delas são de nação nagô47 no Rio de Janeiro dos anos de 1830 em diante passam a se chamar minas Que fatores levam os nagôs e outros africanos ocidentais da Bahia a se transformarem em minas na cidade do Rio de Janeiro A nação pode ser articulada por diversos grupos africanos dependendo das conjunturas sociodemográficas ou da própria política interétnica entre eles48 Apesar de originalmente atribuída pelos traficantes de escravos europeus ou africanos ela pode com o tempo ser alte rada de forma que corresponda aos interesses africanos de asso ciação Inúmeros estudos sobre irmandades de escravos africanos livres e pardos demonstram as dimensões destas dinâmicas identi tárias na diáspora49 Anúncios de escravos fugitivos exibem cativos que ocultam a nação ou adotam outras para enganar seus captores Quanto aos minas percebese que a população carioca generaliza o termo para todos os africanos ocidentais chegados da Bahia50 É possível sugerir ainda que estes homens e mulheres lentamente introjetam o novo rótulo na intenção de criar no Rio uma comunida de afrobaiana que se tornaria célebre na virada do século como a Pequena África Nosso argumento aqui é que se forja na experiência da escravidão urbana carioca uma nova identidade transétnica para os africanos ocidentais uma identidade mina que não é exatamen te aquela do tráfico nem aquela dos africanos no Rio de Janeiro se tecentista nem aquela dos africanos da Bahia Os contornos desta identidade são complexos Pelo enfoque nas quitandeiras podemos entender que este novo movimento de redefinição transétnico rela cionase com a cultura de gênero o mercado de trabalho e os es paços urbanos reinventados Pensamos inclusive este movimento num cenário transnacional no sentido do retorno à África e da arti culação com outros cenários étnicos51 Essa nova identidade mina deve ser considerada como pertencen te a um contexto dinâmico e não estático das identidades africa nas52 Estudos recentes sobre os povos exportados da Costa da Mina mencionam a tradição fon do antigo Daomé A literatura da temática afrobrasileira na Bahia entretanto menciona os povos de língua io rubá como a matriz dos minas De qualquer forma na Bahia espe cialmente em Salvador os minas são uma entre outras nações e de presença bem inferior aos nagôs No Rio de Janeiro eles destacam se como maioria absoluta em todas as listas com denominações de procedência eou classificações étnicas e homogeneizam os afro ocidentais como se percebe nas denominações minanagô ou mina maki53 No Rio os minas podem ter se transformado num guarda chuva étnico como sugere João Reis onde todos os ocidentais e talvez todos os africanos vindos da Bahia se encontram54 Fator também importante na atração dos minas para o Rio é a tradição urbana de alguns reinos da África Ocidental Seria complicado aqui tentar procurar qualquer reminiscência histórica ou cultural africana eou propor transmutações lineares A bibliografia sobre a África a escravidão e a pósemancipação nas Américas é fundamental para perscrutar o que Sílvia Lara denominou significados cruzados das experiências de africanos e seus descendentes55 Com relação à experiência urbana reinventada por africanos na Corte destacamos os padrões de moradia dos minas A maioria esma gadora destes africanos residia nas freguesias centrais Candelária Sacramento Santa Rita Santana e São José área de urbanização mais densa da Corte56 Uma tradição de alémmar transformada na experiência do cativeiro era o comércio A forte ligação da África Ocidental com o mundo muçulmano transformou a região em um dos extremos da complexa rede de caravanas do deserto e municiou di versos povos com uma densa tradição comercial Essa aptidão dos homens e mulheres minas era facilmente reconhecida pelos senho res do Brasil Império que os empregavam em atividades remunera das fosse como quitandeiras ou como carregadores Mas é impor tante perceber que essas tradições são repensadas e reconstruídas na diáspora já que urbanização e comércio não são monopólio dos minas57 Se congos angolas e benguelas também encontravam ocu pação no comércio de rua nos registros da Casa de Detenção mais de 75 das quitandeiras eram minas58 Uma questão importante que pode ajudar a explicar o papel das minas no seio da comunidade africana e seu nicho ocupacional é a proporção entre homens e mulheres os homens perfaziam a maioria dos africanos trazidos pelos tumbeiros59 e a inferioridade numéri ca feminina apontava para espaços sociais diferenciados As mulhe res eram escolhidas para funções específicas lavadeiras costurei ras mucamas criadas de quarto e por vários motivos ainda não completamente identificados as africanas minas eram consideradas como as mais tarimbadas para o ofício de quitandeiras60 A ampla maioria dos proprietários era do sexo masculino e prova velmente atuou sobre eles algum tipo de sedução feminina africanas minas eram retratadas pelos viajantes estrangeiros como as mais be las entre as negras superando com seus traços finos até as criou las o que pelo padrão europeu era sinal de avanço civilizatório O preço das escravas minas resultado de sua especialização ocupacio nal também deve ter sido motivo para que seus senhores evitassem colocálas em tarefas insalubres ou de pouca rentabilidade61 Essas virtudes devem ser contrabalançadas com o medo que os senhores passam a sentir dos africanos vindos da Bahia depois de 1835 e com os conflitos entre senhores e escravos Os anúncios de fu gas são numerosos mostrando que a maioria das pretasminas fugi das se ocultam na própria cidade Os anúncios de fuga para o perío do anterior a 1835 são nossa matériaprima62 Como destacado por Marcos de Carvalho os anúncios refletem a visão do senhor sobre as potencialidades do escravo de romper as regras que lhe são im postas63 Entretanto é preciso que o estudioso também interprete no texto as estratégias aí inscritas pelos escravos em relação à fuga e ao seu relacionamento com outros setores sociais no meio urbano O que se destaca até 1835 é a nítida ausência das africanas minas entre as escravas fugidas quando apenas 4 delas eram minas Como na petit maronage caribenha elas parecem fazer fugas rápi das para se abastecer cultural e socialmente no meio dos africanos64 Tudo indica também que essas mulheres introduziram as tradições dos orixás no Rio oitocentista e seu poder de convencimento junto a outros africanos deve ter sido grande haja vista o virtual monopólio que têm das práticas religiosas de tradição africana na cidade na virada para o século XX65 Inventando paisagens personagens e números Antes de entrarmos no universo das africanas minas precisamos entender de que forma vive o conjunto de escravas na cidade sejam africanas ou crioulas Somente a partir disso podemos ter um parâ metro para julgar se as minas representam um fenômeno específico ou se são mera extensão de uma ampla tradição escrava Os anúncios de fugas assim como os registros policiais revelam muito do cotidiano dessas mulheres Grandes reuniões públicas facilitavam as escapadas Dina fugiu no dia de entrudo pelas 9 ho ras e meia da noite A mulata Senhorinha fez o seu esforço fugin do com um ferro no pé enquanto Rosa escafedeuse saindo de casa com um barril novo66 Africanas fogem com seus filhos pro tegendo e reorganizando arranjos familiares Assim faz Rita uma Benguela que levou o filho Custódio mulato de 12 anos67 A cida de é não apenas um emaranhado de línguas e identidades étnicas não exclusivas de escravos e libertos africanos como também palco de processos trans e interculturais das populações africanas escravizadas Podemos destacar a questão do uso diferenciado das línguas Dina que se aproveitara do entrudo para fugir era filha do Cabo da Boa Esperança falava português e inglês68 Também não é raro os africanos confundirem os esquemas de identificação criados pelos senhores É o caso de um fugitivo de nação Cabinda que falava Congo e tinha marcas de sua terra nas costas69 Balbina era criou la mas falava fluentemente a língua de nação70 Por outro lado a mina Justa não falava bem o português Não se sabe o quanto falar línguas é uma forma de afirmação ou dissimulação Ser boçal algu mas vezes pode render frutos João nascido em Cabo Verde fugiu de um bergantim ancorado na Pedra do Sal e pode ter tido guarida em outra embarcação pois falava um inglês razoável71 Não só da África Ocidental são as africanas trazidas pelo tráfico da Bahia Uma preta de nação Congo traz trejeitos de linguagem que seu senhor identifica como falas do costume da Bahia72 Muitas angolas cabindas e mon jolos fazem o trajeto SalvadorRio de Janeiro o que quebra o estereó tipo de que a Bahia era domínio absoluto dos ocidentais Nas áreas do Recôncavo da Guanabara há vários episódios de ca tivas presas com filhos e parentes Em 1827 Bárbara moçambique acaba presa em Jacutinga juntamente com seu filho Elízio No mes mo ano outra moçambique é capturada em Meriti ao lado de Adão crioulo idade de um ano Em 1838 é a vez de Rosa benguela ser presa por fugida com sua filha de 4 anos73 Os registros de prisão re velam estratégias semelhantes Uma delas é se intitular livre ou liber ta como faz uma tal Ana cabra que diz ser forra Mudar o próprio nome ou o de seus senhores também é comum Assim age a crioula Silvéria remetida de Icaraí em 1826 Jura ser de Maria Rosa porém verificase ser de José Gabriel de Lacerda e chamarse Silvana74 Na Gazeta do Rio de Janeiro entre 1809 a 1821 de um total de 337 fugitivos as mulheres aparecem como 195 Destas as africanas correspondem a 83 Entre os crioulos as mulheres são 137 e en tre africanos 213 Talvez não seja o caso de as mulheres crioulas fugirem menos e sim de não aparecerem com frequência nos anún cios A maior parte das africanas estavam na faixa de 15 a 25 anos e se ocupavam como lavadeiras e vendedoras ou seja atividades externas à casa Já as crioulas estavam na faixa de 20 a 50 anos e tinham ocupações domésticas como amas de leite e cozinheiras Havia mais proprietários homens para as africanas e proprietárias mulheres para as crioulas75 Analisando os anúncios do Jornal do Commercio nos anos de 1825 1831 e 1832 encontramos padrões semelhantes76 As africanas são respectivamente 90 91 e 84 das fugitivas e são mais jovens entre 20 a 30 anos enquanto as crioulas estão na faixa de 25 a 45 anos Considerando as ocupações em 1825 415 são quitandeiras 20 vendedoras e 8 lavadeiras respectivamente No Jornal do Commercio de 1826 identificamos um aumento percentual de escra vas fugitivas perfazendo um pouco mais de 25 do total Das 39 mu lheres com ocupação determinada 32 são quitandeiras vendedoras e ao ganho Ou seja há um predomínio absoluto das ocupações fe mininas nos serviços de comércio destacandose entre elas as afri canas Há também uma grande incidência de lavadeiras escravas domésticas alugadas ou de ganho que fazem parte da paisagem urbana lavando roupas em chafarizes fontes rios e lagoas77 Também podemos analisar as amas de leite outro importante se tor ocupacional feminino78 Nos 256 anúncios de venda compra e alu guel de amas de leite para os meses de janeiro a junho de 1845 e nos 492 dos meses de janeiro a abril de 1855 há também um predomínio de africanas Em 1845 28 das amas de leite são crioulas e 16 são brancas entre as crioulas 715 são pardas Em 1855 48 dos anún cios mencionam algum padrão de classificação étnicoracial As pre tas são 62 as pardas e cabras juntas 27 e as brancas 11 Entre 1809 e 1821 as nações que mais se destacam são nesta or dem as cabindas benguelas congas e moçambiques com um total de 235 mulheres Esta concentração é maior nos anos de 1825 1826 e 1831 juntandose a elas as de nação cassange rebola e monjola As minas correspondem a apenas 3 Em contraste de 1835 em dian te encontramos uma surpreendente quantidade de africanas minas nos anúncios de fuga Ainda que algumas já estivessem há anos na cidade o grosso destas mulheres chega ao Rio na década de 1830 Para as quitandeiras experiências comerciais e de relacionamento com potenciais clientes ou fornecedores são vitais para a vivên cia urbana Em 1835 a primeira africana da Costa da Mina anunciada na coluna de escravos fugidos do Diário é Albana que aparece na edição de 19 de janeiro cinco dias antes de Salvador ser sacudida pela fúria dos Malês79 Em 1835 o termo mina abarca uma ampla gama de povos que são quase sempre embarcados em portos da Baía do Benim como Popo Ajudá Jaquem Porto Novo Onim Lagos entre outros Um exem plo é um fugitivo de nação mina maguim provavelmente maki80 Esta dupla denominação étnica permite uma maior precisão na bus ca da origem específica do africano na babel de povos da Costa da Mina Décadas depois esse detalhamento irá desaparecer e parte substantiva dos africanos ocidentais no Rio passa a ser chamada simplesmente de mina É possível que os africanos ocidentais no Rio mantenham divisões como nagô maki jeje entre eles e que a identi dade mina seja usada nas relações com outros africanos no caso os falantes de línguas banto81 Na Bahia isso não é importante pois a presença de falantes de línguas banto é menor As marcas étnicas na face de escravos de nação mina relatadas nos anúncios refletem a diversidade oculta por trás do guardachu va mina É o caso de Angélica que tem marcas de nação não só pelo rosto mas pelo braço82 A imagem da negra mina se expressa com toda força no seguinte anúncio Fugiu da praia da Saúde nº 161 no dia 3 de fevereiro uma pre ta de nação mina de nome Francisca alta com sinais de sua nação no rosto e terá de idade 36 a 40 anos levou vestido de riscadinho escuro e panodacosta quem a apreender queira dirigirse a casa acima que receberá alvíçaras83 Pelos anúncios podemos reproduzir com detalhes o vestuário das africanas minas quitandeiras bem diferentes das quitandeiras da época de Debret que usam um grande chapéu de sol e não osten tavam pano da costa84 O prestígio das mulheres minas avança sobre a alma dos outros africanos Isso pode ser sentido pelo uso cada vez maior dos trajes característicos daquela nação como pano da costa e turbante entre outras negras como uma preta benguela que foge usando um pano da costa85 Descortinase nos anúncios de fuga a formação de uma comuni dade multiétnica entre as escravas afroocidentais da cidade do Rio que guarda fortes vínculos de autoproteção e auxílio mútuo É o que se revela no caso de João Mina cujo senhor suspeita que fora desen caminhado por uma pretamina86 Estas habilidades na certa fasci nam os demais cativos que buscam poder usufruir mais amplamente da vida urbana longe do olhar senhorial87 É certo que as mulheres minas gozavam de muito prestígio no seio da comunidade negra da cidade Era muito difícil controlar escravos que trabalhavam nas ruas entre eles as quitandeiras que tão bem conheciam os labirintos da cidade imperial como a Freguesia de Santana na qual moradores listavam cativos fugidos ou a rua do Sabão onde a polícia desbara tara uma casa de coito para cativos em fuga88 Algumas vezes para fugir não era preciso sequer sumir ou pelo menos assim pensava um moleque que transitava abertamente por avaliar que seu senhor por doença não sairia à rua ficando des se modo impedido de caçálo89 Esse emaranhado social favorecia o relacionamento e o enraizamento das pretasminas vindas da Bahia Episodicamente os jornais revelavam como as quitandeiras guarda vam estratégias muito próprias de fugas Estas estratégias envolviam a capacidade de transitar por toda a cidade sem despertar suspeitas alugar e frequentar casas subornar autoridades transformar outros escravos em clientes através do fornecimento de alimento Algumas delas chegavam a comprar outras escravas africanas para seus ne gócios estabelecendo com elas uma relação escravista singular É o caso de Ana Teresa de Jesus de nação mina ou calabar e sua escrava Lucinda Conga Andavam juntas pelas cercanias da cidade vendendo tecidos até que Ana veio a falecer e Lucinda passou para uma nova proprietária Esta anunciou a fuga da escrava informan do que devia ter voltado a mascatear panos90 Um exemplo de rotas mais longas são as de retorno a Salvador91 Mas nem todas as escravas minas eram vistosas quitandeiras en vergando turbantes altivos e panos caprichosos A que pertencia a Francisco José Lamego morador da Ilha das Cobras usava uma rou pa velha e rasgada e tinha no alto da cabeça marcas deixadas pelo trabalho duro de carregar barris de água92 Raras vezes faltava ocupação para os escravos em fuga Como foi tão bem colocado por Marcos de Carvalho os fugitivos na cida de eram empregados por vários senhores em serviços esporádicos muitas vezes como se fossem forros93 Estes fugitivos não apenas permaneciam no ambiente urbano bem próximos de seus exdonos como sem ter de pagar jornais conseguiam fazer alguma econo mia Na certa é o que ocorre com o mina Rufino oficial de marcenei ro que para seu dono estaria trabalhando em algum estabelecimen to como é natural94 O mesmo ocorreu com uma preta de nação que mesmo fugida vendia quitandas na cidade Ao ser interceptada no Valongo puxou uma carta de apadrinhamento que logo a deixou livre95 Raras vezes também a fuga era um empreendimento solitá rio Os jornais da época falavam com insistência em sedução ou seja em fuga agenciada por alguém interessado em vender o cativo ou em libertos e escravos que levavam outros escravos para suas comunidades e quilombos nos subúrbios da cidade Na década de 1830 o pretomina com suas escarificações étni cas em estilo bigode de gato começa a se tornar uma imagem ca racterística da paisagem social96 Outros africanos passaram a ser identificados nos anúncios por comparação a eles como um mon jolo que tinha riscas muito semelhantes às da Costa da Mina97 Chegou também da Bahia uma quantidade cada vez maior de criou los que aparentemente não se misturavam com os africanos vindos da mesma terra Os crioulos da Bahia compartilhavam estratégias próprias aproximandose de outros crioulos como eles98 Em 1835 mina ainda não é o termo genérico para aqueles vindos da África Ocidental Joana ainda era dita de nação nagô e vendia galinhas longe do seu senhor99 Se vivesse mais alguns anos talvez se tornas se somente mina como tantas outras Algumas marcas étnicas não muito comuns entre os minas como dentes limados apontam para a sua complexa variedade identitária100 Com o tempo mina será uma nação tão genérica quanto angola e congo ainda que estes últimos sejam à época mais numerosos que aqueles Na década de 1840 os minas tornaramse mestres na sedução de escravos101 Com o tempo os senhores se tornam também mestres na arte de saber os costumes de seus cativos e por onde eles andam Por exemplo o se nhor de Isabel Calabar achava que ela zanzava pelas vendas já que se embriagava com frequência102 Já então pontilhavam na cidade os zungus ou casas de angu como eram conhecidas as casas coletivas para onde convergiam crioulos e africanos tal como o pretomina José frequentador assí duo de um zungu na rua MataCavalos103 No Beco dos Gatos havia outro que era da predileção da crioula Bernardina Rosa que se dizia forra104 Estas casas eram redutos procurados por escravos e libertos para trocas sociais e culturais longe do olhar fiscalizador da polícia Custódia nagô fula gorda rosto magro com vestido de riscado roxo e em adiantado estado de gravidez vendia quitanda de frutas quando desapareceu no dia 10 de novembro de 1835 Seu senhor desconfiou que ela estivesse oculta em alguma casa de zungu105 O ano de 1835 se foi e a temida revolta dos africanos minas vindos da Bahia para o Rio de Janeiro não aconteceu Mas o medo não cedeu e a presen ça das minas no Rio de Janeiro pelo menos nos anúncios de venda de escravos cresceu Uma negramina de apenas 12 anos à venda demonstra o vigor do tráfico atlântico já em plena proibição106 Em 1836 os casos de fuga e sedução se intensificaram sensivelmente nos anúncios de jornal provocando pânico entre proprietários que dependiam de seus cativos para sobreviver Quem não recebeu a visi ta de um sedutorprotetor o procura como Luiz Cabinda que bate de porta em porta nas freguesias do Engenho Velho e Inhaúma para encontrar alguém que o leve para Minas Gerais107 Aliás a rota para Minas Gerais é de longe a preferida dos pretos que buscam um se nhor mais tolerante Mas o que levava as africanas minas a optarem tão concentrada mente pela ocupação de vender quitandas O pequeno comércio era uma atividade muito rentável108 Os minas desde sua chegada em massa à Corte a partir de 1835 e talvez até antes disso109 formaram uma comunidade que mesmo sem estar fechada a contribuições de outros africanos tendia a formar um grupo com identidade própria autoprotetor e que se reunia em sigilo nas sombras da noite ou nos subterrâneos da cidade110 Estes laços estavam patentes na fuga do casal Simão Mina e Rita Mina que saem juntos do cais do Valongo em março de 1836111 O mesmo chamado da nação levou o moleque cozinheiro de nome Camilo Mina a se esconder segundo seu senhor numa casa de minas libertos quem sabe beneficiado por suas ha bilidades de cozinheiro e engomador O proprietário ainda detalhou que Camilo costumava trocar de nome e se dizer forro112 O que se sente é que em 1836 nenhum escravo da Corte de qual quer nação desconhecia a possibilidade de ser seduzido de trocar de dono de ser escondido por outrem seja para negociar melhores relações com seus senhores seja para fugir de vez E a presença dos minas foi um fator importante para transformar a sedução em proble ma de primeira ordem da cidade do Rio de Janeiro113 Os minas firma ram no Rio de Janeiro a reputação de rebeldes difíceis intratáveis e particularmente propensos a fugas como João Mina que carregava na perna as marcas da corrente que o prendia antes de nas contas de seu senhor desaparecer pela oitava vez Um fenômeno114 Além de minas ladinos perambulavam pelas ruas pretos novos recémsaídos dos negreiros proibidos como um africano que não fa lava nada e só respondia que viera de Molambuda Mais um enigma do labirinto de nações Escravos disfarçados de feitores quitandei ras cativas dissimuladas em pretas de aluguel enfronhadas em casas alheias O repertório de embustes criados pelos minas parecia inter minável Antônio minajeje vindo da Bahia preferiu viver e morrer entre os seus pretendia fugir e voltar não se sabe ao certo se para a Bahia ou para a África Rita Mina 24 anos com vestido de riscadinho e lenço de chita ao pescoço sem sinal no rosto mas com marcas nas costas das mãos ocupavase no ofício de lavar roupa para as bandas do Catete quando resolveu que era hora de fazer seu próprio cami nho Até mesmo em plena Baía da Guanabara os pretos arranjavam seu ganho como os ganhadores do mar vendendo mercadorias aos marinheiros o que lhes facilitava passeios não autorizados115 Opções não faltam mas todas envolvem certo risco Mas a pretamina clássica personagem inesquecível da paisagem carioca de antanho era onipresente No dia 28 de junho de 1836 ela saiu da rua do Sacramento sobrado nº 14 e não voltou Ladina bem falante alta magra e distinta com os dentes muito claros trazia uma camisa de algodão e vestido de riscadinho escuro Na cabeça um tur bante à maneira das pretas da Bahia e um pano da costa de risca do com que se embrulha Tinha como companheira de ofício outra mina que vendia galinhas no Largo do Capim e morava no Valongo Seu nome não ficou na história mas seu porte e garbo transpare cem no anúncio Uma soberana das ruas em toda sua majestade Esse tipo social da cidade na segunda metade do século XIX estava formado já em 1836 Algumas delas traziam as marcas da violência Maria tinha uma cicatriz por trás da cabeça por ter sido quebra da de fresco quer dizer por ter apanhado quando nova Apesar de toda violência escravagista em 1836 elas eram jovens vigorosas alti vas116 Nos anos vindouros elas continuaram a chamar a atenção dos transeuntes até que a morte foi ceifandoas uma a uma No final da década de 1830 nagôs e calabares circulavam pelos anúncios de fuga apontando a crescente presença de africanos oci dentais no Rio de Janeiro Izidora Mina trazia brincos dourados na orelha e saia e camisa à moda da Bahia donde tinha vindo Seu vestido novo de chita azul mesma cor do pano da costa e o turbante amarelo compunham um estilo elegante117 Ela fora comprada de um tal José Maria Pinto Guerra comerciante de escravos na cidade do Rio de Janeiro Na juventude de seus 20 anos Rita fugiu da Praia da Gamboa carregando no rosto as marcas da bexiga varíola que quase a matou118 Em 11 de novembro a polícia publica no Diário que uma pretamina de nome Izidora ou Maria escrava de um tal Fuão Rafael se encontrava presa no Calabouço A escrava afirmara ter sido comprada em uma casa de leilão da rua do Ouvidor ou do Sabão Seria a mesma Izidora elegante que aparecera em anúncio do dia an terior Seria a casa de leilão a do tal José Maria Pinto Guerra Seja como for ela não estava sozinha um crioulo de nome Plácido fora detido pelo sedutor da africana Parece coincidência119 e realmente é Dias depois volta a ser publicado o anúncio de Izidora revelando que ela continuava em fuga120 A Izidora era outra ou simplesmen te mentira sobre seu nome Talvez sabendo do estratagema alguns senhores evitassem publicar o nome de seus escravos fugidos infor mando apenas sua descrição física e hábitos mais correntes121 Além dos anúncios de fugas também os registros de prisões eram fontes importantes para identificarmos as mulheres minas no Rio de Janeiro Para o período de 1810 a 1830 do total de 4355 escravos presos por fugidos temos pouco mais de 10 475 de mulheres sen do 77 delas africanas Se nos anúncios 18091832 as crioulas re presentavam entre 9 e 16 nos registros de prisão 18101830 elas representam 23 do total dos presos As crioulas podem ser mais adaptadas às estratégias de despistamento e integração na socieda de escravista urbana e ao mesmo tempo mais expostas às redes de controle social Das africanas capturadas neste período menos de 4 delas foi classificada como mina Décadas depois o panorama é outro Nos registros de prisões de escravos da Casa de Detenção da Corte do Rio de Janeiro 18601883 surgiram outros itens de análise em relação às questões de gênero e etnicidade Fundada em 1857 a Casa de Detenção da Corte funciona como um imenso xadrez onde ficam detidos os presos por pequenos crimes e os que aguardam julgamento Se condenados vão para a Casa de Correção que funciona realmente como presídio Todos os dias por volta das 18 horas o carro gradeado da Casa de Detenção percorre as subdelegacias da cidade em busca dos presos no dia an terior Dos livros de entrada com as fichas dos detentos restam os de 1860 em diante mas somente a partir de 1880 existem séries longas e para escravos só apenas os de 1863 1879 1881 e 1882 abarcando os anos finais da era de ouro das pretasminas quitandeiras na Corte As cativas da Costa da Mina colocadas ao ganho pelas ruas que têm seus dados relacionados nas fichas de prisão abrem uma dimen são pouco conhecida dessas africanas122 A primeira que aparece nos registros é Mara segundo ela escrava de um tal João presa na Freguesia de Santo Antônio próximo ao morro do mesmo nome Quitandeira como quase todas traiu sua personalidade turbulenta ao proferir palavras indecentes em público que acabaram por levá la para trás das grades Do alto de seus 35 anos tinha sangue jovem para enfrentar as violências da vida escrava Vitória a seguinte da lis ta detida por desordem pelo menos informou com clareza o nome de seu senhor Jerônimo da Costa Jácome Sofia foi a primeira a ter registrado pelo escrivão o uso do pano da costa diferentemente de Rosa Mina que passava com seu tabuleiro tarde da noite quando foi surpreendida pela polícia Sofia foi presa de dia123 Andreza usava uma jaqueta masculina quando provocou nos poli ciais desconfiança de que estava em rota de fuga foi presa por sus peita Já Palmira foi detida em Santa Rita com a certeza do subde legado de que estava se evadindo da sua condição e foi despachada para a Detenção124 Algumas como Maria foram para trás das grades a pedido de seu senhor Felicidade 32 anos estava envolvida no as sassinato do preto Prudêncio A passagem de Jerônima Mina pela Casa de Detenção não foi tão fugaz quanto a de suas antecessoras Processada pela justiça acabou condenada pelo artigo 235 do código penal calúnia e injúria Cinco dias depois foi levada para o sinis tro tronco da Casa de Correção onde sofreria o suplício dos açoites Jussara mostrou predileção pela jogatina foi ferozmente perseguida pela polícia e acabou caindo no laço Mas no dia seguinte retornou à liberdade pelo menos à liberdade que desfrutava uma escrava qui tandeira125 Uma grande parte das pretasminas escravas foi para a Detenção por desordem o que envolveu uma quantidade infinita de atos delituosos Flora teve um entrevero com o fiscal de Freguesia da Candelária no mercado da Praia do Peixe Para evitar esses in cômodos Marciana assim como a já citada Rosa vendia à noite e terminou também na cadeia por estar fora de horas sem bilhete do senhor A obsessão de forjar uma cidade civilizada e saneada nos moldes das metrópoles europeias livre das paisagens africa nas e a aplicação das novas posturas municipais acirra os conflitos entre funcionários municipais senhores e escravas Algumas vezes a polícia era a solução Virgínia Mina entrou na Detenção para tentar fazer do Chefe de Polícia seu padrinho Virgínia era lavadeira e en gomadeira uma das raras africanas minas que não era quitandeira e estava tendo problemas com sua senhora dona Delfina Rosa de Jesus Leal126 Ser quitandeira e escrava significava encarar quotidianamente o espectro da violência vinda de senhores e policiais mas também delas sobre outros Rufina Mina espancou um menor de idade foi presa mas no dia seguinte voltou ao seu canto127 Esta truculência fez de algumas quitandeiras frequentadoras assíduas dos catres da Detenção Catarina presa por carregar tabuleiro de noite estava pas sando por uma das experiências mais traumáticas da condição escra va a mudança de dono Escrava de dona Isabel estava sendo arre matada por João Manoel Soares provavelmente por dívidas já que houve a intervenção de um juiz da Provedoria Pública Cobiçadas por fornecerem polpudos jornais a seus donos elas são ao mesmo tempo temidas pela fama de altivez e orgulho característicos da na ção como aparece na opinião dos viajantes Catarina e sua colega de ofício Ignez assim como tantas outras atravessavam o portão de ferro da Casa pelo mesmo motivo mercadejar fora de horas A lavadeira Joaquina conseguiu tal êxito em se misturar com outros de condição diversa e desnorteou as autoridades a tal ponto que não sabiam se ela era escrava livre ou liberta Bastava esta dúvida para que ela fosse trancafiada por longos meses numa enxovia imunda que lhe custara prejuízos à saúde como se percebe por suas entra das na enfermaria128 O tal Jerônimo da Costa Jácome dono da infausta Vitória possuía pelo menos mais três quitandeiras minas Luiza Felicidade e Maria As duas primeiras foram detidas ao mesmo tempo pelo subdelegado da Freguesia do Engenho Velho Companheiras de ofício e de senho rio elas tinham tudo para forjar uma forte amizade importante me canismo para enfrentar os dissabores do cativeiro A última Maria Mina presa na Freguesia do Sacramento por injúrias e desordem na certa teve um desentendimento com algum paisano Jácome tinha várias quitandeiras na rua trabalhando no ganho algo raro no perfil do proprietário urbano o que fez dele um dos maiores donos de es cravos da cidade na qual normalmente se possuía apenas um preto como propriedade servil129 De março de 1863 a maio de 1864 41 escravas da Costa da Mina foram levadas para a Casa de Detenção É possível que o número de prisões fosse maior pois muitos subdelegados soltavam suas deten tas antes que o carro gradeado passasse pela subdelegacia130 Uma particularidade do padrão de fuga das minas era a tendência a man ter a mesma ocupação de quitandeiras em qualquer ambiente Os outros cativos em geral muito rapidamente trocavam de ocupação para despistar seus donos mas elas trabalhando sem pagar o jornal acumulavam recursos uma singularidade das mulheres minas e que as separava dos demais escravos Mas nem tudo era diferente entre as minas e outras africanas O padrão de crime das escravas se aproximava do conjunto dos es cravos presos de todas as nações na Casa de Detenção 20 eram fugidas ou suspeitas de fugidas As presas por desordem 11 podem estar disputando espaço no mercado infringindo o Código de Posturas ou se defendendo dos numerosos ladrões das ruas Embriaguez é outro motivo que leva africanas minas para os cubícu los da detenção 10 para as escravas e 5 para as livres Muitas são detidas por uso excessivo de álcool Atos imorais podem es tar ligados ao preconceito das autoridades policiais contra escra vas que ficam tarde da noite na rua ou são encontradas em casas suspeitas Cinco cativas minas 8 foram detidas por este motivo Apenas uma foi presa por furto mas três o foram por desobedecerem a seus senhores131 Raramente eram presas por furto Por último não podemos deixar de mencionar as presas para averiguações sobre sua condição 8 ou seja para verificar se elas eram escravas ou libertas Na década de 1860 as minas já eram hegemônicas entre os africa nos oriundos da África Ocidental num total 70 fichas de prisão ape nas uma era de nação calabar Na metade do século XIX mina repre senta a virtual totalidade dos africanos ocidentais no Rio de Janeiro Entretanto não pode ser esquecido que muitas das africanas minas foram libertas Na documentação da Casa de Detenção de 1860 até os primórdios do século XX aflora uma considerável quantidade de dados sobre minas libertas Os registros de escravas são em me nor número e cobrem apenas quatro anos 1863 1879 1881 e 1882 Quanto às minas libertas o primeiro contraste é o número reduzido das que eram encontradas na Detenção apenas 35 libertas foram lo calizadas entre 1860 e 1883132 Quanto aos padrões de criminalidade as acusações de fuga e suspeita de fugida são substituídas pela de desordem 47 seguida pela de vagabundagem 33 O pa drão ocupacional de libertas e escravas se aproxima 71 das escra vas e 76 das libertas são quitandeiras menos do que esperávamos surpreendendo a presença de 14 de lavadeiras Outra questão importante é saber os locais de prisão dessas mu lheres teriam elas pontos separados na geografia do trabalho urba no Compartilhavam as mesmas áreas Do total das escravas 16 delas foram presas na Freguesia do Sacramento área central da parte mais antiga da cidade e 8 em Santa Rita zona portuária onde tran sitavam marinheiros e homens do mar Em relação às libertas quase metade delas 47 foi presa na Freguesia de Santana área periférica da cidade velha 23 na Freguesia de São José já no caminho do litoral sul da cidade 14 na Freguesia do Santíssimo Sacramento e 10 em Santana Estes dados apontam uma geografia ocupacional diferenciada que separava os nichos de trabalho já que os locais de prisão e de trabalho tinham íntima relação entre si Agrupando os endereços das libertas por freguesia as escravas não tinham en dereço e sabemos que elas normalmente não moravam com seus senhores podemos ter um padrão comparativo melhor Uma parte grande das 35 libertas residia em Sacramento 28 e Santana 20 enquanto as restantes se distribuíam em São José 11 e Santa Rita 8 Estes dados aproximam libertas e escravas que têm este pa drão quanto ao local de prisão Nos últimos anos do século XIX a população de mulheres minas se reduziu drasticamente Orgulhosas e numerosas nas décadas de 1840 e 1850 elas chegavam à virada do século como memórias vivas de um passado que a elite da cidade queria apagar Mesmo assim nos livros da Detenção entre 1860 e 1900 somando a totalidade dos africanos presos os minas perfaziam entre 30 dos escravos e 20 dos libertos São a maior nação africana isolada seguida dos moçam biques 17 angolas 15 e congos 13 que junto a outros gru pos menores totalizavam 966 africanos libertos presos As mulheres minas representavam 15 do total das africanas presas133 Por ocasião da proclamação da República as mulheres minas ain da inquietam o cenário Em 1889 furiosos com a iniciativa de um policial de expulsar a quitandeira que costumeiramente fazia ponto na entrada da Faculdade de Medicina um grupo de estudantes de sencadeia a chamada Revolta das Laranjas A vitória dos estudantes e a volta da quitandeira Sabina vendedora de laranjas para a por ta da faculdade na rua da Misericórdia pode ser apontada entre os acontecimentos que desgastaram a autoridade do último gabinete da monarquia e ajudaram mesmo que timidamente a derrubada da velha ordem imperial A República não agradeceu A repressão republicana de 1890 ainda encontrou número razoável de casas de dar fortuna mantidas por minas cercadas de crioulos pardos e até brancos Desbaratadas pela repressão moralista do draconiano e po sitivista novo regime elas lançaram luz sobre a reconstrução cultural africana do pósabolição134 Vistas como enganadoras da credulida de popular desobedientes contumazes do código de posturas da municipalidade as minas sofreram como as rameiras os capoeiras ratoneiros ladrões de residência vadios e todos os pobres e de socupados o impacto da limpeza social das ruas135 Mas seu maior inimigo é o tempo Os registros de prisão deste final de século mostram parco número de mulheres minas idosas curvadas pelo trabalho extenuante algumas em condição de miséria tal que acabam no Asilo de Mendicidade mantido pela Prefeitura A morte chegou para a maioria delas antes que o século XIX entrasse em seu crepúsculo derradeiro136 Contudo uma nova geração se er gueu Apesar da repressão do novo regime mulheres crioulas cario cas ou baianas envergando turbantes panos da costa joias ostento sas nas mãos e seu indefectível tabuleiro continuavam a percorrer as ruas Elas eram o elo decisivo que manteve acesa a chama da cultura mina entre crioulos cariocas e baianos do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX O elo não apenas na formação das casas de santo do candomblé reduto da cultura religiosa panafricana na ca pital federal mas também na criação do samba moderno Era esse o caso da lendária Tia Ciata crioula da Bahia ícone da cultura popular da virada do século e bastião da religiosidade africana na cidade do Rio de Janeiro Iluminando a trajetória das lendárias pretasminas quitandeiras podemos resgatar um capítulo esquecido da história social do trabalho das experiências de seus trabalhadores urbanos das articulações com as culturas de gênero e do papel das identida des sociais e étnicas reconfiguradas137 Notas 1 Este artigo apresenta resultados de pesquisas em andamento que contam com o apoio do CNPq Parte dele foi apresentada por Carlos Eugênio Líbano Soares no XXIII Encontro da Latin American Studies Association LASA setembro de 2001 com o título Commerce Nations and Gender the mina Coast African Women gre engrocers Rio de Janeiro 1835 1900 As pesquisadoras Bárbara Canedo e Lucia Miller participaram de parte da coleta de dados Agradecemos a João Reis Mariza Soares e Olívia Cunha pelos comentários de versões anteriores 2 Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro Livros de Entrada da Casa de Deten ção da Corte doravante LECDC nº 3969 ficha 909 1681863 3 Com perspectivas históricas e abordagens variadas ver os estudos a respeito da mulher no Brasil DIAS Maria Odila Silva Quotidiano e poder em São Paulo no sé culo XIX São Paulo Brasiliense 1984 ENGEL Magali Meretrizes e doutores saber médico e prostituição no Rio de Janeiro 18401890 São Paulo Brasiliense 1989 ESTEVES Marta de Abreu Meninas perdidas os populares e o cotidiano do amor no Rio de Janeiro da Belle Époque Rio de Janeiro Paz e Terra 1989 GRAHAM Sandra Lauderdale Proteção e obediência criadas e seus patrões no Rio de Janeiro 18601910 São Paulo Companhia das Letras 1988 PEDRO Joana Maria Mulhe res honestas e mulheres faladas uma questão de classe Florianópolis Ed da UFSC 1994 SAMARA Eni de Mesquita As mulheres o poder e a família São Paulo século XIX São Paulo Marco Zero 1989 e SOIHET Rachel Condição feminina e formas de violência mulheres pobres e ordem urbana 18901920 Rio de Janeiro Forense Universitária 1989 Entre os trabalhos históricos sobre mulheres no Brasil colo nial destacamse os estudos de PRIORE Mary del Org A mulher na História do Brasil São Paulo Contexto 1988 e Ao sul da historia do corpo condição feminina maternidades e mentalidades no Brasil Colônia Brasília DF EdUnB Rio de Janei ro J Olympio 1993 4 Ver entre outros SCOTT Joan Gênero uma categoria útil para análise histórica Sl sn1991 mimeo 5 Além do estudo pioneiro de Maria Odila Dias as referências eram GRAHAM San dra Lauderdale Proteção e obediência criadas e seus patrões no Rio de Janeiro 18601910 São Paulo Companhia das Letras 1988 ver Caetana Says No Cam bridge University Pres 2003 GIACOMINI Sônia Maria Mulher e escrava uma intro dução ao estudo da mulher negra no Brasil Petrópolis Vozes 1988 e MOTT Maria Lúcia de Barros Submissão e resistência a mulher na luta contra a escravidão São Paulo Contexto 1988 6 Numa perspectiva africanista Pantoja recupera as dimensões de poder e gênero destacadamente Nzinga Mbandi nas relações comerciais do tráfico em áreas centroocidentais no século XVII Ver PANTOJA Selma Nzinga Mbandi mulher guerra e escravidão Brasília DF Thesaurus 2000 cap VI e VII 7 TERNORGPENN Rosalyn Black women in resistance a crosscultural perspecti ve In OKIHIRO Gary Y Resistance studies in African caribean and afroamerican history Boston The University of Massachusets Press 1986 p 188209 8 ELLISON Mary Resistance to oppression black womens response to slavery in the United States Slavery Abolition London v 4 n 1 p 5663 maio 1983 9 BUSH Barbara Towards emancipation slave women and resistance to coerciti ve labour regimes in the British West Indian Colonies 17901838 In RICHARSON David Abolition and its aftermath the historical context 17901916 Frank Cass University of Hull 1985 p 2931 10 SAUNDERS A C de M A social history of black slaves and freedom in Portugal 1411 1555 Cambridge Cambridge University Press 1982 p 14 11 BUSH Barbara The family tree is not cut women and cultural resistance in slave family life in the british Caribbean In OKIHIRO Gary Y Resistance studies in Afri can Caribean and afroamerican history Boston The University of Massachusets Press 1986 p 117131 12 BUSH Barbara Slave women in Caribbean society 16501838 Londres sn 1990 13 FOXGENOVESE Elizabeth Strategies and forms of resistance focus on slave wo men in the United States In OKIHIRO Gary Y Resistance studies in African cari bean and afroamerican history Boston The University of Massachusets Press 1986 p 147152 Ver também BECKLES Hilary McD Natural rebels a social history of enslaved black women in Barbados New Brunswick Rutgers University Press 1989 DAVID Barry Gaspar HINE Darlene Clark Org More than Chattel black women and slavery in the Americas Bloomington Indiana University Press 1996 Uma análise clássica para sociedades coloniais relacionando gênero sexualidade e racismo continua sendo STOLKE Verena Racismo y sexualidad en la Cuba Co lonial Madrid Alianza América 1992 Para uma interessante abordagem sobre as relações de gênero na estrutura de trabalho dos escravos urbanos especialmente no contexto da esfera pública e privada ver SIDBURY James Race and construc tions of gender in early Richmond In Ploughshares into swords race rebelion and identify in Gabriels Virginia 17301810 Cambridge Cambridge University Press 1997 p 220255 Agradecemos a José Celso Castro Alves a indicação deste texto 14 Resistência aqui pode ser entendida como um conceito estático muito usado nos anos 1970 de oposição violenta ao sistema Adaptação é um conceito novo cujo precursor foi Gilberto Freyre mas que pode ser entendido melhor na ideia de negociação sugerida por João Reis e Eduardo Silva 15 KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 Especialmente Capítulo 7 16 SOARES Luís Carlos Urban slavery in nineteenth century 1808 1888 Rio de Janei ro PhD Dissertation University College Londres 1988 Escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX Revista Brasileira de História São Paulo v 8 n 16 p 107142 marago 1988 Sobre escravidão ao ganho no Rio de Janeiro ver também ALGRANTI Leila Mezan O feitor ausente estudo de escravidão urbana Rio de Ja neiro 18081821 Petrópolis Vozes 1988 e SILVA Marilene Rosa Nogueira Negro na rua a nova face da escravidão urbana São Paulo Hucitec 1988 De um total de 2823 africanos colocados ao ganho no Rio entre 1851 e 1870 Soares encontrou pelo menos 516 18 de nação Mina a maior nação isolada SOARES Luís Carlos Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX Revista Brasileira de Histó ria São Paulo n 16 p 107142 1988 p 139 tabela I 17 DIAS Maria Odila da Silva Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX São Paulo Brasiliense 1995 18 FIGUEIREDO Luciano O avesso da memória cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII Brasília DF EdUNB Rio de Janeiro J Olympio 1993 e Barrocas famílias vida familiar em Minas Gerais no século XVIII Rio de Janei ro Hucitec 1998 E seus artigos Mulheres nas Minas Gerais In PRIORI Mary del Org História das mulheres no Brasil São Paulo Contexto UNESP 1997 p 141188 e FIGUEIREDO Luciano R A MAGALDI Ana Maria Bandeira de Mello Quitandas e quitutes um estudo sobre rebeldia e transgressão femininas numa sociedade colonial Cadernos de Pesquisa São Paulo v 54 p 5061 1985 Ver também REIS Liana Maria Mulheres de ouro as negras de tabuleiro nas Minas Gerais do século XVIII Revista do Departamento de História da UFMG Belo Horizonte n 8 1989 19 SOARES Cecília Moreira Mulher negra na Bahia no século XIX Dissertação Mes trado em História Universidade Federal da Bahia Salvador 1994 Ver também da mesma autora As ganhadeiras mulher e resistência negra em Salvador no século XIX AfroÁsia Salvador n 17 p 5772 1996 20 SILVA Eduardo Dom Obá II D África vida tempo e pensamento de um homem livre de cor São Paulo Companhia das Letras 1997 21 CHALHOUB Sidney Visões da liberdade uma história das últimas décadas da es cravidão na corte São Paulo Companhia das Letras 1990 Ainda que não enfo cando as relações de gênero Grinberg acompanha as lutas judiciais da exescrava Liberata na primeira metade do século XIX em Santa Catarina para garantir a liberdade de seus filhos e família Ver GRINBERG Keila Liberata a lei da ambi güidade as ações de liberdade da Corte de Apelação do Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro RelumeDumará 1994 p 1336 22 FARIA Sheila de Castro Mulheres forras riqueza e estigma social Tempo Niterói v 5 n 9 p 6592 jul 2000 FURTADO Júnia Ferreira Pérolas negras mulheres livres de cor no Distrito Diamantino In Diálogos oceânicos Minas Ge rais e as novas abordagens para uma história do Império Ultramarino Português Belo Horizonte Ed da UFMG 2001 p 81126 e PAIVA Eduardo França Celebrando a alforria amuletos e práticas culturais entre as mulheres negras e mestiças do Brasil In JANCSÓ István KANTOR Iris Org Festa cultura e sociabilidade na América Portuguesa São Paulo Hucitec EDUSP 2001 v 2 p 505520 23 GOMES Flávio dos Santos Histórias de quilombolas mocambos e comunidades de senzalas Rio de Janeiro séc XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1994 e SLE NES Robert W Na senzala uma flor as esperanças e as recordações na formação da família escrava Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 24 MOREIRA Leite Mirian L A mulher no Rio de Janeiro no século XIX um índice de referências em livros de viajantes estrangeiros São Paulo Fundação Carlos Cha gas 1982 e A condição feminina no Rio de Janeiro século XIX São Paulo Hucitec Brasília DF INL 1984 25 Pistas teóricas e metodológicas de trabalhar com iconografias sobre escravidão e significados culturais reinventados encontramse em SLENES Robert W As pro vações de Abraão africano a nascente nação brasileira na Viagem alegórica de Johann Moritz Rugendas Revista de História da Arte e Arqueologia Campinas SP n 2 p 271294 19951996 26 DEBRET Jean Baptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Tradução de Sér gio Miliet São Paulo Martins Fontes 1954 KIDDER Daniel P Reminiscências de viagens e permanências no Brasil Províncias do Sul Tradução de Moacir N Vas concelos São Paulo Livraria Martins EDUSP 1972 e SANSON Maria Lúcia David AIZEN Mário VASQUEZ Pedro Karp O Rio de Janeiro do fotógrafo Leuzinger Rio de Janeiro Sextante Artes 1998 A fotografia de Ferrez que mostra as negras qui tandeiras está reproduzida em TATI Miécio O mundo de Machado de Assis Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Cultura DGDI 1995 p 131 Biblioteca Carioca e também em FERREZ Gilberto O Rio de Janeiro do fotógrafo Marc Ferrez paisagens e tipos humanos do Rio de Janeiro 18651918 Rio de Janeiro João Fortes Eng Ex Libris 1984 27 EWBANK Thomas A vida no Brasil ou diário de uma visita ao país do cacau e das palmeiras Tradução de Homero Castro Jobim Rio de Janeiro Conquista 1973 p 99 DABADIE F A travers LAmérique du Sud Rio de Janeiro et environs les esclaves au Brésil Paris Ferdinand Sartoriuns 1859 p 51 RIBEYROLLES Charles Brasil pitoresco Tradução de Gastão Penalva Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1975 p 203 28 AGASSIZ Luiz AGASSIZ Elizabeth Cary Viagem ao Brasil 18651866 Belo Horizon te Itatiaia São Paulo EDUSP 1975 p 6869 29 Sobre outros viajantes que mencionam as pretasminas ver BIARD François Dois anos no Brasil Trad de Mário Sete São Paulo Companhia Ed Nacional 1945 p 43 e WALSH Robert Notícias do Brasil Belo Horizonte Itatiaia 1985 p 501502 Para outras descrições de viajantes sobre mulheres escravas e africanas no Rio de Janeiro ver MOREIRA Mirian Leite A mulher no Rio de Janeiro no século XIX um índice de referências em livros de viajantes estrangeiros São Paulo Fundação Car los Chagas 1982 e A condição feminina no Rio de Janeiro século XIX São Paulo Hucitec Brasília DF INL 1984 30 RODRIGUES Nina Os africanos no Brasil 5 ed São Paulo Fundação Ed Nacional 1977 Uma análise crítica deste estudioso e sua obra está em CORRÊA Mariza As ilusões da liberdade a escola de Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil Tese Doutorado FFLCH Universidade de São Paulo São Paulo 1982 31 Entre suas obras ver RAMOS Arthur A aculturação negra no Novo Mundo São Paulo Companhia Ed Nacional 1942 O negro na civilização brasileira Rio de Ja neiro Casa do Estudante do Brasil 1953 e principalmente As culturas negras no Novo Mundo 3 ed São Paulo Companhia Ed Nacional 1979 32 BASTIDE Roger As religiões africanas no Brasil contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações 3 ed São Paulo Pioneira 1989 e As Américas negras as civilizações africanas no Novo Mundo São Paulo Difel EDUSP 1974 33 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1988 e Os libertos sete caminhos na liberdade de escravos na Bahia no século XIX São Paulo Corrupio 1992 34 Mais recentemente Reis discutiu a questão das identidades étnicas a partir das irmandades Ver REIS João José Identidade e diversidade étnica nas irmandades negras no tempo da escravidão Tempo Niterói v 2 n 3 p 733 1997 Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e amplia da São Paulo Companhia das Letras 2003 Cap 10 35 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 36 Entre os estudos mais recentes ver CARON Peter Of a nation wich the others do not Understand Bambara Slaves and African Ethnicity in Colonial Lousiana 1718 1760 Slavery Abolition London v 18 n 1 p 98121 1997 e CHAMBERS Douglas B My own nation igbo exiles in the Diaspora Slavery Abolition London v 18 n 1 p 7397 1997 37 Por exemplo FLORENTINO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1994 38 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1988 39 Ver MINTZ Sidney W PRICE Richard An anthropological aproach to the AfroAme rican Past a caribbean perspective Philadelfia ISHI 1976 Retomando a polêmica ver mais recentemente as instigantes análises de PRICE Richard The miracle of creolization a retrospective New West Indian Guide Sl v 75 p 3564 2000 Um marco nos novos estudos de etnicidades é BARTH Fredrik Grupos étnicos e suas fronteiras In POUTIGNAT Philippe STREIFFFENART Jocelyne Teorias de etnici dade São Paulo UNESP 1997 40 Ver especialmente LOVEJOY Paul E Identifying enslaved africans in the African Diaspora In LOVEJOY Paul E Ed Identity in the shadow of slavery London Con tinium 2000 p 129 Além do artigo anterior de Price citado esse debate aparece em GOMÉZ Michael Exchanging our country marks the transformation of african identities in the colonial and Antebelum south Chapel Hill The University of Nor th Carolina Press 1998 HALL Gwendolyn Midlo Africans in colonial the develo pment of AfroCreole culture in the eighteenth century Baton Rouge Louisiana State University Press 1992 MORGAN Philip D The cultural implications of the Atlantic Slave african regional origins american destinations and new world deve lopments Slavery Abolition London v 18 n1 1997 MULLIN Michael Africa in America slave acculturation and Resistance in the America South and the British Caribbean 17361831 Sl University of Illinois Press 1992 e THORNTON John K Africa and africans in the making of the Atlantic World 14001680 Cambridge Cambridge University Press 1992 A África e os africanos na formação do mundo atlântico 1400 1800 Rio de Janeiro Elesevier Campus 2004 41 O melhor trabalho sobre o movimento de 1835 continua sendo REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 Sobre a tradição de revoltas escravas na Bahia no primeiro quartel do século XIX ver REIS João José Recôn cavo rebelde revoltas escravas nos engenhos baianos AfroÁsia Salvador n 15 p 100126 1992 42 Uma comparação de anúncios de fuga de escravos no Diário do Rio de Janeiro para dois anos 1828 e 1836 revela claramente a presença bem mais incisiva de africa nas minas no último período 43 GOMES Flávio dos Santos SOARES Carlos Eugênio Líbano Com o pé sobre um vulcão africanos minas identidades e a repressão antiafricana no Rio de Janeiro 18301840 Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 23 n 2 p 335378 2001 44 SOARES Cecília Moreira Mulher negra na Bahia no século XIX Dissertação Mes trado em História Universidade Federal da Bahia Salvador 1994 REIS João José A greve negra de 1857 na Bahia Revista USP São Paulo v 18 p 821 1993 45 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 Especial mente a primeira parte 46 Nesse movimento histórico incluímos o impacto dos africanos livres aqueles que foram capturados na repressão ao tráfico negreiro proibido e passaram a ser tutelados pelo Estado no Rio de Janeiro Ver CUNHA Manuela Carneiro da Ne gros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Brasiliense 1985 Para os africanos livres minas na Corte do Rio de Janeiro ver MAMIGO NIAN Beatriz Gallotti Do que o preto mina é capaz etnia e resistência entre africa nos livres AfroÁsia Salvador n 24 p 7195 2000 47 Dados relativos a passaportes guardados no Arquivo Público da Bahia entre 1835 e 1842 revelam este número de 80 de nagôs entre as mulheres africanas chega das ao Rio 48 Para a melhor discussão mais recente em termos de historiografia brasileira so bre a problemática da classificaçãoconstruções dos nomes de nação no tráfico africano ver OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de Quem eram os negros da Guiné a origem dos africanos na Bahia AfroÁsia Salvador p 3773 n 1920 1997 49 Para o século XIX são vários os estudos sobre irmandades Destacamos REIS João José Identidade e diversidade étnica nas irmandades negras no tempo da escravidão Tempo Niterói v 2 n 3 p 733 1997 Para o Rio de Janeiro ver OLI VEIRA Anderson José Machado de Devoção e caridade irmandades religiosas no Rio de Janeiro Imperial 18401889 Dissertação Mestrado ICHF Universida de Federal Fluminense Niterói 1995 Para pensar essas questões mais amplas de identidades étnicas ver SILVEIRA Renato da Pragmatismo e milagres de fé no Extremo Ocidente In REIS João José Escravidão e invenção da liberdade estudos sobre o negro no Brasil São Paulo Brasiliense 1988 p 166197 OLIVEIRA Ma ria Inês Côrtes de Quem eram os negros da Guiné a origem dos africanos na Bahia AfroÁsia Salvador p 3773 n1920 1997 SLENES Robert W As provações de Abraão africano a nascente nação brasileira na Viagem alegórica de Johann Moritz Rugendas Revista de História da Arte e Arqueologia Campinas SP n 2 p 271294 19951996 SLENES Robert W Malungu Ngoma vem África coberta e descoberta no Brasil Redescobrir os descobrimentos as descobertas do Brasil Revista da USP São Paulo n 12 dez1991 fev 1992 50 Essa afirmativa também aparece em KARASCH Mary Catherine A vida dos escra vos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 64 51 Pensamos aqui nas sugestões de MATORY J Lorand Jeje repensando nações e transnacionalismo Mana Estudos de Antropologia Social Rio de Janeiro p 5780 abr 1999 52 Para a África Ocidental ver os estudos clássicos e aqueles mais recentes Law e Lovejoy Destacamos LOVEJOY Paul E Transformations in slavery a history of slavery in Africa Cambridge Cambridge University Press 1983 A escravidão na África uma história de suas transformações Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 e LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 53 De acordo com Inês Oliveira e Nina Rodrigues os minas vinham do oeste da re gião do porto de Elmina antiga São Jorge da Mina Na Bahia no início do século XVIII de acordo com João Reis mina tinha um significado restrito referente ao Reino do Pequeno Popo na costa do Daomé formado por refugiados das guerras daomeanas em São Jorge da Mina bastante diferente dos minas do Rio no século XIX Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 328 A nação mina da Bahia foi se reduzindo no correr do século XIX ao que Nina chamou de propria mente mina Para uma comprovação da hegemonia mina entre os ocidentais no Rio de Janeiro ver as tabelas no final da obra de SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoei ra escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Cam pinas SP CECULT UNICAMP 2001 54 Ver REIS João José A greve negra de 1857 na Bahia Revista USP São Paulo v 18 p 821 1993 p 1721 e OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de Viver e morrer no meio dos seus nações e comunidades africanas na Bahia do Século XIX Revista da USP São Paulo n 28 p 174193 dez1995fev1996 55 Ver LARA Sílvia Hunold Significados cruzados um reinado de Congos na Bahia In CUNHA Maria Clementina Pereira Org Carnavais e outras frestas ensaios de História Social da Cultura Campinas SP CECULT UNICAMP 2002 p 71100 56 É importante observar que essa é uma pesquisa em andamento e que estamos comparando o padrão de moradia de libertas minas com outras nações africa nas no Rio A documentação de presos na Detenção no Rio informa o endereço somente para libertos e livres e não para escravos que teoricamente residiam com seus senhores 57 Ver o importante estudo recente de PANTOJA Selma A dimensão atlântica das quitandeiras In FURTADO Júnia Ferreira Diálogos oceânicos Minas Gerais e as novas abordagens para uma história do Império Ultramarino Português Belo Hori zonte Ed da UFMG 2001 p 4568 58 Nos registros da Casa de Detenção entre 1860 e 1900 as minas eram em maioria quitandeira De um total de 35 libertas e 79 escravas minas 75 eram quitandei ras Entre as outras africanas libertas vemos dados diferentes Entre as angolas 47 essa percentagem chegava a 12 As de nação cabinda 15 eram 6 As ben guelas 52 eram 7 as moçambiques 19 eram 5 Não havia nenhuma mulher da nação congo 6 com ocupação de quitandeira De um total de 40 africanas li bertas quitandeiras 65 eram minas Para uma análise mais acurada ver FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 59 Para as relações de mercado mas principalmente os números do tráfico africano para o Rio de Janeiro entre o final do século XVIII e o primeiro quartel do século XIX ver FLORENTINO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escra vos entre a África e o Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 Novas abordagens e números para o tráfico transatlântico com destaque para a questão das identidades étnicas aparecem em ELTIS David The rise of African Slavery in the Americas Cambridge Cambridge University Press 2000 Especial mente o cap 9 p 224257 60 Analisando a importância das relações de gênero e o pequeno comércio em socie dades africanas especialmente na Costa da Mina Sheila de Castro Faria em Mu lheres forras riqueza e estigma social Tempo Niterói v 5 n 9 p 6592 jul 2000 p 90 cita o trabalho de HOUSEMIDAMBA Bessie EKICH Félix K African market women and economic power the role of women in African economic developmen te 1995 61 Estamos analisando os padrões de alforria e de compravenda desses africanos Sobre padrões de alforrias para o Rio de Janeiro ver KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 Abordagens relacionando o valor das mulheres na alforria aparecem também em FARIA Sheila de Castro Mulheres forras riqueza e estigma social Tempo Ni terói v 5 n 9 p 6592 jul 2000 p 70 et seq 62 Os anúncios de fugas nos jornais especialmente de africanos diminuem entre as décadas de 1850 e 1860 Registros da Casa de Detenção surgem exatamente a partir deste período Daí podermos enfocar estes dois acervos como complemen tares mas de épocas diferentes 63 CARVALHO Marcos de Liberdade rotinas e rupturas do escravismo Recife 1822 1850 Recife Ed da UFPE 1998 Especialmente o cap 12 64 Ver SOARES Carlos Eugênio Líbano Zungu rumor de muitas vozes Rio de Janeiro Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro 1998 65 Para religiosidade escrava e africana reconstruída no Rio de Janeiro colonial além de SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 ver a importante obra de MOTT Luiz R B Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 Para o Rio de Janeiro imperial ver KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 e SAMPAIO Gabriela dos Reis Pai Qui lombo o chefe das macumbas do Rio de Janeiro imperial Tempo sl v 11 p 157169 19 Há pesquisas arquivísticas e abordagens mais recentes levantando questões sobre as reinterpretações e reinvenções religiosas dos africanos no Bra sil Ver entre outros MOTT Luiz R B Acontundá raízes setecentistas do sincretis mo religioso afrobrasileiro In Escravidão homossexualismo e demo nologia São Paulo Ícone 1988 REIS João José Magia Jeje na Bahia a invasão do Calundu no Pasto de Cachoeira 1785 Revista Brasileira de História São Paulo v 8 n16 p 5781 marago 1988 A invasão do Candomblé do Açu In REIS João José SILVA Eduardo Negociação e conflito resistência negra no Brasil escravista São Paulo Companhia das Letras 1989 e SOARES Cecília Moreira Resistência negra e religião a repressão ao candomblé de Paramerim 1853 Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro v 23 p 133142 dez 1992 Sobre a participação e liderança feminina no desenvolvimento do candomblé no contexto urbano do século XIX ver HARDING Rachel E A Refuge in thunder candomblé and alternative spaces of blackness In dianapolis Indiana University Press 2000 p 68103 João Reis indica que a maioria dos africanos envolvidos em feitiçaria em Salvador é composta por homens 66 GRJ 2521809 791811 e 1101814 67 GRJ 2021819 68 Gazeta do Rio de Janeiro doravante GRJ 2521809 e 6101819 respectivamente 69 GRJ 791811 70 DRJ 2871836 p 4 71 DRJ 2971836 p 4 e 2981836 p 4 72 DRJ 19121836 p 5 anexos 73 ANRJ Códice 359 2811826 f 7 e Códice 404 441827 f 25 11101827 f 94 74 ANRJ Códice 359 561826 f 39 e Códice 403 2351826 vol 3 f 61 75 GRJ 18091821 76 Atualmente continuamos a tabular os dados sobre mulheres escravas fugidas em anúncios de jornais Diário do Rio de Janeiro e Jornal do Commercio Para a Casa de Detenção os dados já estão tabulados 77 Para a cidade de São Paulo na segunda metade do século XIX especialmente os significados dos espaços para escravos e libertos ver as análises de WISSENBA CH Maria Cristina Cortez Sonhos africanos vivências ladinas escravos e forros no Município de São Paulo 18501888 São Paulo Hucitec 1993 Para descrições de viajantes estrangeiros sobre lavadeiras e aguadeiras ver LEITE Mirian L Moreira A condição feminina no Rio de Janeiro século XIX São Paulo Hucitec Brasília DF INL 1984 p 90 107108 78 Agradecemos à historiadora Bárbara Canedo por disponibilizar dados de sua pes quisa em andamento sobre amas de leite na Corte do Rio de Janeiro 79 Diário do Rio de Janeiro doravante DRJ 1911835 p 4 80 Diário do Rio de Janeiro doravante DRJ 1911835 p 4 Ver também Mina Uçá 2341835 Recolhidos ao Calabouço Nação Geje DRJ 741835 p 4 Cf SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 e Mina Angola e Guiné nomes dÁfrica no Brasil setecentista Tempo Niterói v 3 n 6 p 7393 dez 1998 Dossiê Escravidão e Africa Negra 81 Ver REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 cap 10 82 Sobre marcas de Nação de africanos ver RAPOSO Luciano Org Marcas de es cravos listas de escravos emancipados vindos a bordo de navios negreiros 1839 1841 Texto analítico de Luciano Raposo Rio de Janeiro Arquivo Nacional CNPq 1990 83 DRJ 16031835 p 4 e REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 Cap 10 84 Para uma imagem da quitandeira do período joanino ver FRÈRES Thierry Négres ses libres vivant de leur travail In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de A traves sia da Calunga Grande três séculos de imagens sobre o negro no Brasil 16371899 São Paulo EDUSP 2000 p 403 A questão da indumentária e do cabelo das africa nas e crioulas deve ser também pensada no contextos das redefinições étnicas tanto pode haver crioulização como africanização dos escravos Ver pistas e abordagens interessantes em ESCOREL Sílvia Vestir poder e poder vestir o tecido social e a trama cultural nas imagens do traje negro Rio de Janeiro século XVIII Dissertação Mestrado IFCS Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2000 FREYRE Gilberto O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX tentativa de interpretação antropológica através de anúncios de jornais brasileiros do século XIX de características de personalidade e de formas de corpo de negros ou mestiços fugidos ou expostos à venda como escravos no Brasil do século passado 2 ed aum São Paulo Companhia Ed Nacional Recife Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais 1979 LARA Silvia Hunold The signs of color womens dress and racial relations in Salvador and Rio de Janeiro ca 17501815 Colonial Latin American Review London v 6 n 2 p 205224 1997 e SCARANO Julita Roupas de escravos e de forros Resgate Revista de Cultura São Paulo n 4 1992 85 DRJ 551835 86 DRJ 1831835 Os minas já eram conhecidos como notórios desencaminhadores de escravos Sobre escravos desencaminhados por africanos minas ver O êxodo mina em SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CECULT UNICAMP 2001 87 O caso sintomático é o de Isabel da nação Angola Seu senhor acreditava que al guém a tinha desencaminhado ou que ela estava escondida em alguma casa pois não sendo quitandeira precisaria de apoio para fugir DRJ 741835 88 DRJ 3031835 f 2 Em 1836 um senhor de uma escrava fugitiva recomendou que os capitães do mato ficassem de tocaia nas casas onde moravam pretos libertos DRJ 2331836 p 4 89 DRJ 341835 90 DRJ 2141835 91 José Mina estava prestes a embarcar de acordo com o anúncio para a Bahia ou Pernambuco onde esteve antes do Rio DRJ 1351835 p 4 92 DRJ 2551835 Bernarda Mina 93 CARVALHO Marcos de Liberdade rotinas e rupturas do escravismo Recife 18221850 Recife Ed da UFPE 1998 94 DRJ 361835 p 4 95 Carta de apadrinhamento era uma carta dirigida ao senhor do cativo escrita pelo padrinho do fugitivo que garantia o retorno da escrava mediante algumas con dições de que o padrinho era o avalista Ela também informava que este era o protetor da cativa o que afastava certos perseguidores DRJ 1961835 p 4 96 Essa marca na realidade se liga aos povos iorubá como aparece em uma antiga escultura da cidade sagrada de Ifé SILVA Alberto da Costa e A enxada e a lança a África antes dos portugueses Rio de Janeiro Nova Fronteira 1996 p 465 97 DRJ 1081835 p 4 98 Típico era o crioulo da Bahia Antônio Maceió sic que era na opinião de seu dono muito mentiroso e trapaceiro DRJ 2891835 p 4 Já o moleque André fugiu de Recife para a Corte e disse a seus parceiros que queria fugir por gostar da terra do Rio de Janeiro DRJ 13101835 p 4 99 DRJ 2261835 p 4 100 Joaquina de nação mina DRJ 271835 p 4 Outro caso interessante é o do preto mina de nome Docó nome de sua nação com riscos na cara de ambos os lados DRJ 2071835 Felizardo por sua vez era de nação mina ajá 7101835 p 4 Ver também mina itapa que deve ser tapa DRJ 2971836 p 4 101 Severino Cabinda é preso em Magé e confessa ter fugido com apoio de Teresa Maria e Joaquim todos minas Fugira numa Sextafeira da Paixão e nesse tempo estava alugado a um pretomina DRJ 1671835 p 1 Sobre as seduções envol vendo fugas e fugitivos e o papel dos africanos minas ver GOMES Flávio dos San tos SOARES Carlos Eugênio Líbano Em busca de um risonho futuro seduções identidades e comunidades em fugas no Rio de Janeiro escravista séc XIX Lócus Revista de História Sl v 7 n 2 p 928 2001 102 DRJ 1471835 p 4 103 DRJ 13111835 p 4 104 DRJ 17111835 p 3 105 DRJ 25111835 p 4 106 DRJ 521836 p 2 107 DRJ 1341836 p 4 108 Escravos e libertos dela tiravam uma renda não desprezível como se percebia com os moleques que compravam peixe na Praia do Peixe e os vendiam em cestos e samburás no pregão da cidade muito perto dali DRJ1831836 p 4 109 Ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 110 É claro que outras comunidades africanas também transétnicas como os mo çambiques e mesmo da proto nação banto de Robert Slenes podiam estar sen do formadas por africanos e seus descendentes no Rio de Janeiro neste momento Devemos ter cuidado para não transformar esse processo num imperialismo dos africanos ocidentais sobre o conjunto dos africanos da cidade Sobre as conexões e o processo de transculturação entre africanos dos reinos do Congo e Angola no Brasil dos séculos XVII e XVIII a partir das irmandades ver HEYWOOD Linda M The angolanafrobrazilian cultural connections In FREY Sylvia R WOOD Bety Org From slavery to emancipation in the Atlantic World London Portland Frank Cass 1999 p 923 Agradecemos a Lucilene Reginaldo a indicação desse texto 111 DRJ 3131836 p 4 112 DRJ 1141836 p 4 113 Esta interpretação está clara em SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escra va e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CECULT UNICAMP 2001 Êxodo Mina p 372399 114 DRJ 1341836 p 4 115 DRJ 1451836 p 2 3051836 p 4 161836 p 4 1461836 p 4 e 3061836 p 4 116 DRJ 1671836 p 4 e 1971836 p 4 117 Respectivamente DRJ 18 e 27101836 p 2 e 4 E DRJ 10111836 p 4 118 DRJ 10111836 p 4 119 DRJ 11111836 p 4 120 DRJ 25111836 p 4 121 DRJ 28111836 p 4 122 Os dados são nome número da ficha nome do senhor data da prisão motivo da prisão autoridade que ordenou autoridade policial que levou para a prisão nação idade estado civil cor ocupação altura cabelo data da soltura roupa observações 123 LECD n 3969 ficha doravante F 666 2651863 e F 703 561863 124 LECD n 3969 666 2651863 F 703 561863 F 799 871863 Adelaide escrava de Joaquim Antônio Barros suspeita de fugida LECD n Cd 65 F 306 2321864 LECD n 3969 F 666 2651863LECD n 3969 F 1094 8101863 LECD n 3969 F 666 2651863 125 LECD n 3969 F 836 1871863 F 838 1871863 F 858 2471863 e F 933 2381863 126 LECD n 3969 F 1142 22101863 127 LECD n 3969 F 1226 22111863 128 LECD n 3969 F 1334 F 1344 16121863 F 83 1911864 F 82 1011864 e F 95 1511864 Ela só foi libertada em 10 de setembro de 1864 129 LECD n 3969 F 119 2211864 F 120 2211864 F 510 241864 e F 595 2441864 130 LECD n 3969 F 172 421864 F 1073 6101863 e F 595 1151864 Sobre zungu ver SOARES Carlos Eugênio Líbano Zungu rumor de muitas vozes Rio de Janeiro Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro 1998 131 Para dados do conjunto de africanos ver GOMES Flávio dos Santos et al No labi rinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Prêmio Arquivo Nacional 2003 132 Os anos levantados até agora são 1860 1861 1868 1870 1875 1879 1880 1881 1882 e 1883 sendo que até 1881 os dados são incompletos para cada ano 133 Quando falamos nação isolada estamos nos referindo àqueles mencionados nos documentos da Detenção como Origem do liberto Existe um nagô um calabar e dois minanagô mas não os listamos aqui como mina que são imensamente mais numerosos 134 MOURA Roberto Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Cultura DGDI 1994 135 CHALHOUB Sidney Cidade febril São Paulo Companhia das Letras 1996 136 Encontramos poucas evidências sobre este Asilo mas devem existir caixas perdi das no imenso depósito do Arquivo Nacional ou no Arquivo Geral da Cidade 137 Há um desafio para nós historiadores da História Social do Trabalho produzir mos análises sobre os trabalhadores urbanos no Rio de Janeiro ligando as cul turas transétnicas da sociedade escravista com aquelas dos trabalhadores livres e estrangeiros do início do século XX Por caminhos variados em termos de problemáticas históricas e objeto indicações importantes aparecem em ALEN CASTRO Luiz Felipe de Proletários e escravos imigrantes portugueses e cativos africanos no Rio de Janeiro 18501872 Novos Estudos CEBRAP São Paulo n 21 jul 1988 Especialmente p 4051 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Tra piche e Café Rio de janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 MATTOS Wilson Roberto de Negros contra a ordem resistência e práticas negras de territorialização no espaço da exclusão social Salvador BA 18501888 Tese Doutorado Pontifícia Universidade CatólicaSP São Paulo 2000 Especialmente o cap 1 Trabalhadores urbanos um retrato da cidade negra p 3296 e REIS João José De olho no canto trabalho de rua na Bahia na véspera da abolição Afro Ásia Salvador n 24 p 199242 2000 Ardis da liberdade trabalho urbano alforrias e identidades1 Juliana Barreto Farias Africano tem resistência menino africano pagou seu cor po Eu juntei vintém a vintém um conto e oitocentos para me comprar e houve escravas como a mãe de Henriqueta que juntaram dinheiro para comprar o próprio corpo e mais o das filhas Mas como homem de Deus Ora como Trabalhando nos aluguéis no café venden do santos ou doces na rua e com auxílio do feitiço Não ria Africano sempre vendeu feitiços aos brancos porque os bran cos sempre acreditaram em feitiços Hoje os africanos daquele tempo estão ricos2 O alufá Júlio Ganam teria proferido estas reveladoras palavras numa conversa que tivera em 1905 com João do Rio jornalista carioca que as registrou em uma de suas crônicas na Gazeta de Notícias Não era uma data qualquer Aproximava se o 13 de maio e Ganam convidara o amigo para juntos comemorarem a data da libertação dos es cravos Como se apressara em ressaltar não seria nada extravagante como fazia a gente de santo apenas diriam alguns salas seguidos de um saboro so carneiro recheado ao forno Os festejos daquela tarde seriam modestos porque a data nada signifi cava para os africanos que já estavam libertos antes mesmo de a princesa assinar o decreto libertando todos os escravos Segundo ele os mulsumins fa zem orações nesse dia pelos que partiram para o pa raíso mortos a vergalho e a gente de santo organiza candomblés pela mesma razão3 A crônica fala dos negros que trabalhavam duro para conquistar sua liberdade percebendose em Ganam o cuidado de 221 demarcar práticas religiosas divergentes entre a gente de santo e os musulmins Os africanos já estavam livres inquirira o cronista carioca a Ganam surpreso com aquela revelação O orgulhoso alufá pron tamente lhe respondeu que em 13 de maio de 1888 quase todos os africanos ou já tinham morrido ou já tinham comprado sua carta de alforria Juntando vintém a vintém alugando seu trabalho como cozinheiras artesãos carpinteiros ou sapateiros carregando café no porto ou vendendo água ou doces no mercado e nas ruas da cidade Júlio Ganam e muitos de seus patrícios teriam comprado seu cor po e o de seus parentes Enquanto as mulheres começaram com a venda de acarajés miçangas e feitiços o café foi para os homens o veio inesgotável4 A manha e a persistência desses africanos além de lhes proporcionar a tão almejada liberdade teria contribuído para a construção de grandes fortunas Negros Livres e Ricos João do Rio não podia acreditar Ganam fez questão de listar os nomes e as fortunas de alguns deles Olhe aqui no Rio quantas fortunas O tio João morreu dei xando a Misericórdia todo o correr de casas do lado direito da rua do Hospício entre Núncio e Campo da Aclamação O Geminiano que foi fundador da Igreja do Senhor do Bonfim de Copacabana deixou mil contos Este até dizia quando Deus ajuda a gente a gente já foi escravo e hoje pode estar senta do sem fazer nada Deus é grande Olhe o Pai Balthazar Esse é da política anda todo bonito amigo de deputados a quem sempre empresta dinheiro Mas não é só Balthazar rico Há também o alikali Miguel e mama Soledade que mora na rua Barão de S Felix João Abacejebu que é dono de vá rios cortiços a tia Christina uma das ultimas negras minas do Mercado que dirige empregados seus e tem cerca sic de con tos Fortunato Machado proprietário influente e tia Felicidade a maior fortuna entre negros 5 Em outros artigos publicados na Gazeta ao longo dos anos de 1904 e 1905 João do Rio informa que mil negros ainda viviam na cidade naqueles anos6 Referese aos africanos que segundo ele eram origi nários de pequenas nações como igesá oié aboum haussá itaqua Havia ainda aqueles que se consideravam filhos dos ibouam ixáu 222 ou dos gêges todos grupos étnicos do entorno da Baía do Benim na África Ocidental7 A revelação da presença de africanos assim identificados é sur preendente já que desde a década de 1860 as denominações étnicas conjugadas como minanagô minatapa ou minacalabar haviam praticamente desaparecido do cenário carioca e o termo mina pas sara a designar genericamente os cativos e libertos originários da Costa da Mina Além disso curiosamente ao longo de todos os tex tos publicados pelo cronista no período em nenhum outro momento esses homens e mulheres são identificados de forma tão precisa Não há tampouco qualquer menção a indivíduos iorubá ou nagô nem o uso regular de mina para designar um grupo Mas todas as chama das divulgadas no periódico carioca no período em que João do Rio publicou suas crônicas sobre as religiões africanas anunciam suas incursões e descrições dos negrosminas Lamentavelmente não sa bemos se estas chamadas foram redigidas pelo próprio João do Rio ou pela editoria do jornal De qualquer modo os africanos aparecem ali como um grupo organizado Segundo o cronista da Gazeta todos falavam entre si um idioma comum o eubá Como destacara seu guia Antônio que havia estudado em Lagos o eubá era para os africanos o que o inglês era para os povos civilizados Quem conhecia esta língua africana podia atravessar a África e viver entre os pretos do Rio8 O termo eubá era uma corruptela de iorubá ou o modo como João do Rio a entendera9 Naquela tarde de 1905 certamente o curioso jornalista esperava ouvir histórias de negros vadios e criminosos Talvez por isso o as sombro que pouco a pouco foi denunciando em seu texto Fugindo ao controle do próprio João do Rio esta crônica com o sugestivo tí tulo Negros ricos publicada pela Gazeta de Notícias em 13 de maio de 1905 não obstante os frequentes comentários preconceituosos que emergem aqui e ali desvela muitos aspectos da experiência de africanos e seus descendentes tanto em sua luta pela conquista da li berdade como em sua participação no mercado de trabalho e na vida da cidade do Rio de Janeiro Ganhando as ruas Desde o início do século XIX no porto do Rio de Janeiro muitos trabalhadores avulsos eram largamente empregados nas atividades 223 de manuseio e transporte de carga especialmente os escravos de ga nho10 Pelas ruas da cidade esses cativos deixados a maior parte do tempo a viver sobre si buscavam atividades que lhes permitissem prover suas necessidades e a de seus senhores Diária ou semanal mente entregavam ao senhor uma quantia previamente estabele cida11 ficando com o excedente prática em geral respeitada pelos senhores ainda que nenhuma lei a garantisse antes de 187112 Esses escravos estavam submetidos ao arbítrio do senhor mas dia a dia conseguiam decidir onde como e com quem trabalhar Muitos apare ciam na casa de seus donos apenas para entregar a féria que lhes ca bia arcando com moradia alimentação roupas e juntando recursos para comprar sua alforria13 O trabalho das ruas foi registrado por vários viajantes Maria Graham estimou que em 1822 praticamente a metade dos escravos ganhadores do Rio eram africanos recémimportados que levavam todo tipo de mercadoria na cabeça desde sacas de café e sal até pesados pianos Trabalhavam em grupos capitaneados por um líder que marcava o tempo e os compassos ao som de chocalhos marim bas ou peças de ferro e em coro entoavam canções de sua terra na tal Ernst Ebel observaria que quando cantavam ou tocavam tambo res para distrair os instrumentos conseguiam suportar mais facil mente as pesadas cargas que transportavam14 Jean BaptisteDebret comenta que eles eram trabalhadores indispensáveis o português com seu orgulho e a sua indolência consideravam desprezível quem carregasse um pacote na mão por menor que seja15 Mas os fardos quase sempre eram bem pesados Alguns escravos chegavam a transportar sacas de café com mais de 70 quilos Por isso como descreveu Robert Elwes em 1854 eram escolhidos os escravos me lhores e mais fortes os bem alimentados com aparência gorda e saudável16 Como podemos observar na prancha de Debret os carregadores de café percorriam um penoso e extenso percurso liderados por um capataz entusiasta capaz de animar os homens com suas canções improvisadas Munido de um chifre de boi ou carneiro amuleto que alimenta sua verborragia com a qual ele se impõe à superstição de seus soldados ocasionais o líder e seus companheiros chegavam a seu destino recebiam a féria do dia e depois seguiam para confra ternizar na venda mais perto17 Em geral os carregadores decidiam o tamanho das turmas de trabalho de acordo com a quantidade e o 224 peso dos volumes a transportar e quando a carga era muito pesada recusavamse a trabalhar em grupos reduzidos Em 1832 Expilly assi nalava que os negros de ganho ficavam nas soleiras das portas à es pera de trabalho organizados em grupos de 10 20 ou 50 Assim que o capitão dava o sinal marchavam de modo cadenciado aos sons desta orquestra primitiva e assim carga à cabeça avançam com uma ordem e uma precisão que não se pode deixar de admirar18 Ao descrever as ruas da Corte Imperial entre os anos de 1858 e 1861 Rybeirolles anotaria que da rua de São Bento grande entreposto de café partiam os negros minas atléticos mármores vivos que fazem o transporte dos armazéns do cais Rebeldes a toda sorte de escrava tura formam entre si uma corporação sustentam uma caixa de res gates19 que a cada ano alforria e remete alguns às plagas africanas20 Desses registros também inferimos a especificidade étnica das tur mas de trabalho ligadas ao carregamento de café Os pretosminas que traziam consigo uma forte tradição urbana e mercantil pareciam monopolizar o atendimento à demanda das casas comerciais expor tadoras de café Além disso mantinhamse relacionados por associa ções de fundo étnico como as caixas de alforria muito semelhantes a uma instituição ioruba de crédito chamada esusu que a diáspora africana incutiu em várias regiões das Américas21 Para além da busca da liberdade essas associações podiam ain da colaborar no pagamento do jornal que o cativo devia entregar a seu senhor ou mesmo auxiliar os companheiros nos momentos mais difíceis Em 1838 um grupo de africanos minas se juntou para res gatar da escravidão Fernando Mina cativo doado à Santa Casa de Misericórdia em decorrência de uma incurável elefantíase Seus co legas de nação que o acompanharam até lá pediam que a instituição arbitrasse o valor de sua liberdade22 Candles e Burgess no relato de uma visita feita ao Brasil em 1852 como representantes da Religious Society of Friends descrevem o encontro que tiveram com um grupo de libertos da tribo mina da Costa do Benin que haviam sido ar rancados de lá há muitos anos por um ladrão de homens cruel tra zidos e vendidos como escravos Desejosos de voltarem para suas Áfricas trabalharam arduamente e juntaram dinheiro para o retorno Mas só partiram depois de confirmarem que a costa estava suficien temente livre de negreiros a fim de garantir o sucesso da tentativa Segundo eles já em 1851 60 africanos libertos haviam chegado sãos e salvos a Badagri Ao final do relato os autores informam ainda 225 que dias depois do primeiro encontro receberam um papel escri to em árabe por um dos chefes dos libertos que era muçulmano23 Essas narrativas deixam entrever a solidariedade que havia entre eles bem como sua capacidade de acumular recursos Como já salientou João Reis em relação a Salvador24 ao se orga nizarem para o trabalho os pretosminas no Rio de Janeiro também acresciam suas atividades de atributos culturais específicos trazidos de outros contextos procurando reavivar a memória de um passado mais ou menos remoto Cantando espantavam a tristeza e ao mes mo tempo restabeleciam no dia a dia os limites à exploração Além disso conforme assinala Reis o trabalho africano no Novo Mundo não seguia um ritmo demarcado de tarefas a serem cumpridas Diferentemente da lógica capitalista em que o operário vende sua força de trabalho por um preço e um período de tempo determina dos mantendose quase sempre alheio ao processo produtivo como um todo entre os africanos que aqui exerciam ofícios urbanos ha via uma certa simbiose entre trabalho e vida cotidiana25 Mais adian te veremos em mais detalhes como isso ocorria nas ruas do Rio de Janeiro Vários autores vêm realizando nos últimos anos importantes pesquisas sobre as relações étnicas e de classe entre escravos e li bertos crioulos e africanos Os espaços urbanos de Salvador Recife e Rio de Janeiro eram constantemente redefinidos e distribuídos pe los africanos de acordo com seus grupos de procedência26 ou do lu gar que ocupavam no campo profissional e no processo de trabalho Em Salvador de acordo com João J Reis os cantos criados a partir do sistema de ganho reuniam escravos e libertos africanos de um mesmo grupo étnico em locais específicos da cidade à espera de fre gueses Não há informações precisas sobre sua organização interna mas eles possuíam um líder o capitão do canto Tanto na rebelião de 1835 como em outras mobilizações organizadas por trabalhadores urbanos especialmente africanos como a chamada Greve Negra de 1857 os cantos tiveram um papel significativo27 No Rio de Janeiro a escravidão urbana no século XIX é assun to abordado por Leila Algranti Mary Karasch Luís Carlos Soares e Marilene Silva28 Trabalhando com relatos de viajantes posturas mu nicipais e licenças de trabalho Soares apresenta a mais abrangente pesquisa sobre o tema Contudo como estava mais preocupado com os debates sobre a economia sistêmica e as formas de trabalho sob a 226 escravidão questões ainda muito fortes para a historiografia da déca da de 1980 deu pouca atenção aos africanos e suas reconfigurações étnicas29 Para colocar seus cativos andando ao ganho pelas ruas do Rio os senhores deviam encaminhar um pedido por escrito à Câmara Municipal no qual seria identificado o proprietário ou seu procu rador legal seu endereço além de informações básicas sobre o es cravo ou os escravos tais como nome nação e idade aproximada Era necessário ainda pagar um alvará e adquirir uma chapa metálica que garantiria ao cativo e a seu proprietário a legalidade de sua si tuação Os escravos encontrados trabalhando sem a chapa seriam recolhidos pelas autoridades municipais30 Em 30 de junho de 1841 o fiscal da Freguesia de Santa Rita encaminhou ao presidente da Câmara Municipal uma relação de escravos que haviam sido encon trados sem as chapas e foram recolhidos à prisão do Calabouço Entre os cinco detidos estava José Calabar escravo de José Pedro de Oliveira31 Se até a década de 1840 ainda eram relativamente poucas as soli citações de licença enviadas à Câmara entre os anos de 1851 e 1870 foram 2868 requerimentos só para escravos Com base nos dados de Luís Carlos Soares apresenta sob a denominação origem étnica dos escravos de ganho de rua podemos estabelecer algumas com parações Certamente havia muita repetição nesses lançamentos como também ocorria com os registros policiais De todo modo des se conjunto de pedidos para cativos 2653 indicam a nacionalida de Destes 2225 são africanos o que equivale a 84 do total dos requerimentos O ganho era ainda então um trabalho para africanos Para classificar esses africanos segundo sua nação Soares adotou a distribuição por origem usada por Mary Karasch África CentroOcidental África Ocidental e África Oriental Ao analisar os resultados apresentados por Luís Carlos Soares podemos redimen sionar em detalhes os pequenos e grandes grupos de procedência bem como sua representatividade no mercado de trabalho urbano Dos africanos registrados sabemos a procedência de 1848 Neste conjunto os africanos dos grupos angola benguela cabinda congo mina e moçambique correspondem a 1592 862 Considerando apenas esta amostra 327 são identificados como minas 521 regis tros 209 congos 159 moçambiques e 158 cabindas 227 Tabela 1 Africanos escravos trabalhadores ao ganho por grupos de procedência majoritários 18511870 Grupos de procedência majoritários 18511870 Mina 521 327 Congo 332 209 Moçambique 253 159 Cabinda 251 158 Benguela 129 81 Angola 106 66 TOTAL 1592 100 Fonte Adaptação de SOARES Luís Carlos Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX Revista Brasileira de História São Paulo n 16 p 107142 1988 Tabela 1 Entre os grupos de procedência minoritários o autor chega a um total de 229 casos incluindo monjolo cassange moange rebolo inhambane nagô quilimane Nos registros aparecem ainda grupos com menos de dez indivíduos designados como embamba ganguela muxicongo quissama songo haussá e macua Há ainda cerca de 347 africanos de nação desconhecidanão informada o que equivale a 156 da amostra de 2225 africanos Apenas 53 153 registros apresentam especificação ocupacional destacandose os vendedo res com 915 140 registros entre eles vendedores de café carne fazendas frutas legumes artigos de armarinho pão e biscoito peixe e calçados Também pouco sabemos sobre a idade dos africanos e seus locais de trabalho Por fim resta compreender melhor a presença das mulheres no que parece ser uma atividade masculina Infelizmente são raras as informações sobre as escravas que nessa documentação perfazem apenas 058 do total dos registros 13 pedidos Como todos os re latos de viajantes estrangeiros e outros documentos do período mar cam a presença feminina nas ruas elas podem estar subregistradas na condição de ganhadoras palavra ausente da documentação ou sendo classificadas em outra modalidade de trabalho de rua Se levarmos em conta a proporção dos minas no total da po pulação escrava africana da Corte é possível reconhecer a partir dessas estimativas a destacada participação desse grupo entre os ganhadores o que por certo contribuiu para sua grande capacidade de arregimentação de recursos e consequentemente a disposição que tinham para comprar sua liberdade Podemos aqui dialogar com estudos mais recentes que evidenciam a participação dos africanos minas nesse mercado da liberdade De acordo com os resultados parciais obtidos por Manolo Florentino a partir da análise de 14 mil 228 alforrias concedidas no período de 1840 e 1864 os minas eram um grupo de duas a três vezes superior à sua participação na escravaria africana do Rio de Janeiro Conforme assinala o autor em que pese o contexto de contínua alta de seus preços os minas não apenas faziam do mercado a via mais comum de acesso às sua cartas como também concentravam a maioria das cartas de liberdade pagas pelos africanos no período de 1840185932 Florentino avalia que as alforrias dos afroorientais seriam mais representadas por aquelas de serviço já as dos congoangolanos pelas gratuitas e as dos afroocidentais pelas alforrias pagas Com base numa amostra de inventários postmortem o autor verifica ainda um padrão sociodemográfico relacionado à representatividade dos grupos de africanos nas áreas rurais e urbanas do Rio de Janeiro entre 1790 e 1864 A presença dos congoangolanos variava de 65 a 90 Os afroorientais alcançaram 23 nas áreas rurais e 18 na urbanas Já os afroocidentais representam apenas até 19 no meio rural e 15 na urbe Antes de 1835 alcançaram apenas 3 e até 1859 não chegavam a 933 Trabalhando especificamente com o grupo de africanos ociden tais Flávio Gomes apresenta padrões de alforria que revelam índices de agregação organizacional e faces da construção de identidades africanas mais ampliadas34 O autor examina 2565 alforrias de afri canos ocidentais entre os anos de 1800 e 1871 sendo 755 1944 alforrias delas de minas os restantes aparecem como nagô calabar haussá e jejê Até o início da década de 1830 apenas 122 237 alforrias do total de pretosminas adquirem sua carta de liberdade Mas é justamente a partir dos anos 1830 que esses números come çam a crescer registrandose o maior índice de alforrias 371 do total entre 1851 e 1860 Daí em diante observase uma estabiliza ção do percentual em 144 Depois de 1861 as denominações nagô calabar haussá e jejê praticamente desaparecem da documentação consultada35 Gomes agrega os registros de alforrias para o período de 1800 a 1871 onde aparecem assinaladas as identidades minanagô mina haussá minacalabar e minajejê Já em 1819 aparece um registro de liberdade de uma minahaussá Vemos assim que ao contrário do 229 que sugerem Florentino Líbano Soares e Mamigoniam o processo de agregação identitária em torno dos minas começou bem antes da década de 1830 Talvez a chave dessa articulação já estivesse colo cada no final do século XVIII como indica Mariza Soares ao discutir a constituição das identidades dos minas maki no Rio de Janeiro36 De qualquer modo os minasnagôs aparecem com 756 214 alfor rias do total de minas conjugados com calabar haussá jejê e nagô justamente no período de 1831 a 1860 Como também observado por Florentino estas denominações étnicas conjugadas praticamente desaparecem a partir de 1861 verificandose em apenas 88 25 al forrias após este período Teriam todos no final se transformado ge nericamente em mina entendido como um grande guardachuva étnico37 Trabalho e invenção da liberdade As evidências reunidas até aqui parecem indicar que os africanos minas de fato controlavam o setor de carregamento de mercadorias aí incluído o transporte de café na região portuária o que lhes garantia a soma de recursos necessária para a compra das desejadas alforrias Um surpreendente necrológico publicado pela Gazeta de Notícias nos fornece outras pistas Em 9 de dezembro de 1904 o jor nal noticiava a morte do tremendo feiticeiro Apotijá rememorando pequenas passagens da história deste africano que saíra de Lagos porto negreiro localizado na atual Nigéria por volta de 1897 onde havia sido escravo de um outro negro chamado Salvador e chegara ao Brasil desejando trabalhar como carregador Mas como destacou o periódico a época dos minas carregadores já passara Os pretos eram todos feiticeiros Com o auxílio de alguns de seus patrícios como Emanuel Ojô e também do babalaô Cipriano Abedé Apotijá arranjou essa profissão de feiticeiro com a qual passou regular mente a vida38 Maiores detalhes sobre a travessia atlântica deste personagem ainda continuam nebulosos Possivelmente contatos precedentes com a comunidade de brasileiros em Lagos ou com africanos que viviam no Rio de Janeiro como o próprio Ojô e o mina Abubaca Caolho motivaram sua viagem Seja como for em meados do século XIX os carregadores de café em sua maioria africanos escravos ou libertos já constituíam uma fração de classe específica 230 e claramente delineada na forçadetrabalho empregada no sistema portuário39 Já ao raiar do dia carroças se espalhavam pelas ruas da área por tuária Nas portas dos trapiches e dos grandes depósitos de café trabalhadores cobertos de suor conduziam mercadorias de um lado para o outro lotando e esvaziando veículos de carga Um outro gru po de trabalhadores permanecia no interior dos prédios arrumando as cargas Das comissarias o café saía em lotes corridos de um a mil sacos contendo dez ou mais tipos diferentes de grãos Antes de ser vendido era preciso escolher separar repassar em máquinas e depositar o café em novos sacos Em seguida o café era pesado e agrupado em lotes uniformes de 125 sacos no mínimo cada saco contendo o peso padrão de 60 quilos líquidos Todas essas ativida des eram realizadas por trabalhadores avulsos nos armazéns dos ensacadores eou exportadores Apenas a escolha dos grãos podia ser feita também pelas mulheres40 mas não tenho informações sobre elas nem mesmo se corresponderiam aos já mencionados 058 do total dos registros de ganhadoras O porto oferecia múltiplas modalidades de trabalho Através da chamada livre todos os que desejavam trabalhar nos trapiches e armazéns da região reuniamse em horas convencionais e locais de terminados nos quais eram escolhidos pelos encarregados ou ca patazes das várias firmas agenciadoras de mão de obra de acordo com os carregamentos Como não havia qualquer vínculo emprega tício as atividades podiam durar uma hora um dia uma noite meia noite sem qualquer garantia de que no dia seguinte a vaga estaria assegurada O transporte propriamente dito era monopolizado pelos carroceiros a quem cabiam as negociações diretas com os carrega dores Os capitães e suas tropas que trabalhavam na arrumação e executavam as atividades próprias à exportação começaram então a se fixar nas proximidades das casas de café e trapiches num mo vimento de apropriação de territórios bastante comum entre os trabalhadores informais conforme registrou Cruz Nesse esquema incerto e inseguro tornavase factível a demarcação de fronteiras o estabelecimento de uma reserva de mercado e sobretudo a criação de laços identitários e de redes de relações sociais41 Era justamente na labuta cotidiana nos armazéns e grandes de pósitos de café que os personagens evocados por Júlio Ganam no começo deste texto faziam seus extras Conforme dissera naqueles 231 idos de 1905 os negros começavam no trabalho como carregadores das sacas Subiam depois a ajudante Em seguida passavam a capitão e enfim chegavam a furadores Furador era o chefe supremo do carregamento de café Todo o grão que caía era deles Como havia dias em que furavam umas mil sacas juntavam a noite duas e três sacas fora o que escondiam42 Se tomarmos como base as estimativas apresentadas pelo alufá duas ou três sacas mais o que caía para um conjunto de mil sacas de café empacotadas por dia esses negros juntavam para uma jor nada de 23 dias úteis de trabalho cerca de 36 sacas de café por mês ou cerca de 03 do que era produzido diariamente nesses armazéns Casos como esses também foram observados por Maria Helena Machado em sua análise a respeito do trabalho escravo nas lavouras paulistas especialmente em Taubaté e Campinas do século XIX Na calada da noite escravos furtavam pequenas parcelas da produção agrícola sangrando a economia das fazendas e deixando proprietá rios e feitores em constante estado de alerta Os libertos inseridos nas fainas cafeeiras nas mesmas condições que os cativos também participavam desses ardis noturnos43 Os produtos furtados eram tro cados por rolo pinga doces e sobretudo por dinheiro nas tavernas e vendas localizadas ao redor das fazendas Estas trocas geralmente selavam alianças entre cativos e brancos pobres contribuíam para o acúmulo de capital e a regularização dos negócios dos vendeiros da região44 e alimentavam uma economia escrava paralela Assim sendo às reivindicações quanto a dias livres alimentação vestuário e pagamento de serviços extras juntavase o costume de subtrair parte da produção45 Ainda que os gêneros desviados fossem reven didos a preços normalmente muito abaixo da cotação comercial tais transações abriam uma das raras possibilidades de acesso à moeda corrente Na cidade do Rio de Janeiro em 14 de agosto de 1883 o carre gador Tomé Rabelo mina de 42 anos morador à rua da Conceição foi preso sob a acusação de ter subtraído uma saca de café Não te mos como verificar se esse africano era um dos que participavam do esquema revelado por Ganam nem tampouco encontramos até o momento registros de detenção de outros minas46 Como as 232 informações fornecidas por Ganam são muito imprecisas não dispo mos de indicações exatas sobre o período a que ele faz alusão mas tratase da segunda metade do século XIX Dessa forma se recorrer mos ao volume de café exportado diariamente em 1846 inferimos que o volume empacotado nos armazéns em que trabalhavam alguns daqueles negros ricos corresponderia a cerca de 162 da média de sacos vendidos por dia no Rio de Janeiro Já em 1885 este número cairia para 105 Cruz avalia que em torno de mil carregadores po deriam estar envolvidos no transporte de café em dias de pico o que permite estimar que Júlio Ganam estivesse se referindo a um grupo de aproximadamente 100 homens cujos recursos extras arreca dados poderiam corresponder a 005 em 1846 e 003 em 1885 respectivamente do volume de sacas de café exportado diariamente pelo porto da cidade do Rio47 Mas seria essa estratégia capaz de proporcionar tantas fortunas O alufá indica que não Para complementar sua renda esses negros faziam naquele centro o feitiço dos senhores ricos para a paixão de mulheres bonitas para fazer mal aos inimigos dos caixeiros que rendo ganhar dos filhos dos patrões Toda essa gente pagava48 Quanto ganhavam não se sabe mas as quantias eram bem genero sas Os trabalhos com feitiços desempenhavam importante papel no redimensionamento de conexões identitárias que entrelaça das uniam os carregadores e estivadores nas tropas de trabalho49 Como assinala Reis em Salvador o mesmo local onde se negociava com os deuses servia para a negociação com os homens Nos can tos de trabalho da região portuária os ganhadores nagôs tinham Exu como um patrono adequado Tanto a divindade quanto os afri canos cuidavam do transporte sendo que o primeiro de oferendas para deuses os demais de todo tipo de carga para seus clientes50 Os malês também criavam novos significados sagrados nesses espaços de trabalho Nos cantos os cativos e libertos muçulmanos rezavam com seus tessubás recitavam orações exercitavamse na escrita do Alcorão costuravam abadás e buscavam novos correligionários para abraçar sua fé O escravo haussá Antônio por exemplo trabalhava como pescador e também faturava quatro patacas por dia com a ven da de orações protetoras que escrevia para sua clientela Uma pata ca equivalia a 320 réis cifra próxima da diária paga aos senhores em torno de 1835 Podese dizer que Antônio mantinha um ótimo negócio Dessa forma conclui João Reis os grupos de trabalho se 233 desdobravam em grupos religiosos sendo possível neles o reforço da identidade de classe e étnica por meio do islã51 Ainda que estejamos passeando por caminhos incertos a crônica de João do Rio nos permite chegar a algumas conclusões como a existência de um grupo de africanos ligados por fortes laços de soli dariedade e cumplicidade Quem sabe os furadores chefes supre mos do carregamento de café tinham controle sobre os capitães e suas tropas o que decerto facilitava a apropriação das sacas de café Ocupariam eles lugar equivalente ao dos trabalhadores feito res também conhecidos como capitães de tropa Segundo Cruz como as firmas de café passaram a tratar a mão de obra braçal como um elemento menor no conjunto dos seus negócios cabia a esses ca pitães negociar com os operários entregar ou retirar a carga pagar o serviço e coordenar o trabalho num cenário que a autora considera muito próximo àquele descrito pelos viajantes estrangeiros no sécu lo XIX52 Essas prerrogativas são também muito semelhantes às dos capitães de canto em Salvador que além de acertar os serviços es tabelecer os preços e pagar aos africanos que estavam sob sua lide rança também eram os responsáveis por puxar as canções africanas que embalavam a execução das tarefas coletivas53 Os furadores capitães do Rio de Janeiro viviam então numa si tuação ambígua de um lado eram pessoas que haviam alcançado a confiança do comerciante comissário ou trapicheiro e de outra parte deviam ser líderes respeitados pelas turmas de trabalho já que não podiam se arriscar a perder a posição conquistada Seriam eles responsáveis pela administração das tão decantadas caixas de alforrias dos minas54 Mas os africanos minas não eram os únicos a se organizarem coletivamente para alcançar a liberdade Logo após a promulgação da Lei do Ventre Livre 1871 escravos e mesmo liber tos criaram associações buscando angariar fundos para a compra de alforrias Foi uma grande surpresa para os legisladores imperiais que acreditavam que a lei incentivaria os escravos a buscarem in dividualmente através da dedicação ao trabalho os recursos ne cessários à compra da própria liberdade Em vez disso assistiram à multiplicação das associações que se constituíram em arma crucial na mobilização pela emancipação nas décadas de 1870 e 188055 Ainda assim uma outra questão continua a nos inquietar como depois de abolida a escravidão os ganhadores especialmente os africanos minas inseridos num mercado de trabalho cada vez mais 234 exíguo conseguiam preservar suas antigas atividades e ainda acu mular vultosas somas de dinheiro como sugere o alufá Júlio Ganam Precisamos percorrer um longo caminho para destrinçar este enig ma no qual os minas libertos que viviam ao ganho pelas ruas do Rio aparecem como nossa primeira pista Depois da liberdade as ruas Em 21 de junho de 1879 o contador da prefeitura Antonio Francisco Fortes Bustamante Sá enviou um ofício à Contadoria da Câmara Municipal informando que naquele ano apenas 39 indivíduos haviam tirado licenças para andarem ao ganho Esta cons tatação evidenciava uma progressiva diminuição da receita muni cipal diretamente afetada pela drástica redução do número de se nhores que tiravam licenças para seus escravos se empregarem nos ofícios de rua Mas a invasão de homens livres que se negavam a adquirir e pagar pela autorização também estava exaurindo os co fres municipais56 As providências reclamadas pelo contador foram prontamente ouvidas pelos deputados e cerca de um mês depois começam a surgir as primeiras solicitações Em julho 1879 a Câmara já contava com 510 pedidos de licença feitos por ganhadores livres que em agosto chegaram a 717 No ano seguinte apenas três traba lhadores tiraram autorização e em 1885 outros 5057 Depois desse período não encontramos mais registros Assim como os escravos forros e livres também deviam apresen tar pedido por escrito indicando seus dados pessoais como nome nacionalidade endereço e em alguns poucos casos a atividade a ser exercida Era necessário ainda que um profissional respeitado pro prietário e com boa condição financeira quase sempre um comer ciante fosse apresentado como fiador confirmando a boa conduta do trabalhador e garantindo o pagamento das despesas que porven tura pudessem surgir caso o ganhador fosse encontrado em situa ção irregular ou sem a devida licença Desde pelo menos a década de 1850 encontramos pedidos de licença encaminhados à Câmara por africanos livres e libertos crioulos e até mesmo imigrantes euro peus58 No entanto em 1879 o governo municipal parecia estar firme mente empenhado em controlar o trabalho de rua Decerto esta pos tura estava relacionada ao número cada vez maior de trabalhadores 235 entre os quais muitos libertos muitas vezes confundidos com os escravos que ocupavam as ruas e vielas da cidade59 À diferença da Bahia não encontramos até o momento no Rio de Janeiro referências a reações mais incisivas por parte dos ganhado res livres às exigências da municipalidade60 Certamente alguns de les conseguiam burlar as regras mas o risco era constante Em 23 de agosto de 1883 a polícia da Corte realizou uma grande batida contra os ganhadores não autorizados fossem escravos ou livres entre os 14 ganhadores presos estavam os libertos José Mina morador à rua do Conde que já contava com 60 anos de idade e Braz Mina mais idoso ainda com 70 anos morando na mesma rua61 Podemos conhecer um pouco mais sobre esses ganhadores bem como compreender a dinâmica de seus nichos ocupacionais ana lisando três livros de registros de licenças para ganhadores livres 1879188562 Seguindo uma tendência que já havíamos verificado entre os escravos de ganho esta é uma atividade basicamente mas culina Aqui os pedidos foram na sua totalidade encaminhados por homens Esta cifra é surpreendente quando sabemos que a maior parte das alforrias era obtida por mulheres e que elas quase monopo lizavam certas atividades ligadas ao comércio ambulante como era o caso das quitandeiras cuja maioria era mina De qualquer forma do conjunto de 770 pedidos de licença encaminhados nesse período 394 515 indicam a nacionalidade do ganhador Dos 376 restantes 485 355 não fazem quaisquer referências ao país região ou cida de de procedência e tampouco apontam a cor dos indivíduos63 Os 21 restantes são referidos pretos livres libertos ou forros Como podemos observar a partir da Tabela 2 os imigrantes euro peus destacandose os portugueses italianos e espanhóis consti tuíam 632 dos trabalhadores de rua que tiveram sua nacionalidade indicada Os portugueses mais numerosos pelo menos desde a déca da de 1820 representam o maior grupo registrado64 Logo em segui da vinham os africanos com 116 pedidos de licença 29 45 indi cando que depois de libertos mantêmse na atividade de ganhadores 236 Tabela 2 Ganhadores livres por nacionalidade 18791885 Nacionalidade Ganhadores Portugueses 167 4240 Africanos 116 2945 Italianos 48 1218 Espanhóis 34 862 Brasileiros 28 710 Paraguaios 1 025 TOTAL 394 100 Fontes AGCRJ Códices Ganhadores Livres 18791885 Em fins do século XIX as cantigas de trabalho africanas estavam sendo paulatinamente substituídas pela gritaria dos muitos imigran tes europeus pobres que vinham sendo empregados no transporte de cargas65 Das áreas agrícolas da Europa mediterrânea partia a maior parte dos imigrantes que sobretudo após a década de 1870 desem barcaram no porto do Rio de Janeiro66 Contrariando os discursos imigrantistas do período muitos em sua maior parte jovens tinham poucos conhecimentos dos códigos urbanos e precária qualificação profissional Acabariam compondo um proletariado miserável que se ocupava dos serviços antes desempenhados por escravos67 Nesse quadro a competição pelas poucas opções no mercado de trabalho e também pela sobrevivência na cidade acirrava rivalida des entre africanos e imigrantes europeus68 Já em 1872 podemos assistir a um desses conflitos que serão intensificados na virada do século envolvendo disputas por questões de trabalho na orla marí tima O episódio ocorrera no mês de maio daquele ano contrapondo 50 pretos ganhadores da praça das Marinhas que têm por costume carregar para a terra a carne seca trazida dos navios em canoas aos cerca de 12 trabalhadores brancos ocupados naquele servi ço Poucos dias antes os pretos haviam exigido um aumento de 20 réis aos donos da carneseca Como não quiseram se sujeitar a esta exigência os patrões resolveram chamar trabalhadores brancos Inconformados com a nova situação os ganhadores voltaram às 12 horas do dia 2 de maio armados de cacetes e um deles com uma foice Assaltaram os novos trabalhadores travandose luta renhi da só debelada após a atuação de um capitão e de praças da guarda urbana Ao noticiar a contenda o Diário do Rio de Janeiro destacara que os pretos carregadores teriam feito uma parede à moda da Costa da Mina o que acabou provocando a prisão de sete escravos e de um negro liberto69 237 Além das disputas entre pretos e brancos que o conflito narrado permite entrever indubitavelmente nos anos 1870 o espaço portuá rio ainda era ocupado por escravos e libertos africanos com desta que para os minas70 A Tabela 3 mostra as nações dos ganhadores e carregadores nas décadas de 1870 e 1880 Dos 96 africanos que têm seus grupos de procedência indicados os minas constituíam uma es magadora maioria com 796 da amostra71 Os cabindas perfazem apenas 83 e os congos 52 Os demais grupos como os angolas benguelas cassanges moçambiques e moanges agrupados corres pondem a 73 Confirmase assim o ganho como um espaço de tra balho do africano mina que a partir da década de 1870 passa a ser disputado pelos imigrantes portugueses Tabela 3 Ganhadores livres africanos por grupos de procedência 18791885 Grupo de Procedência Ganhadores Mina 76 792 Cabinda 8 83 Congo 5 52 Benguela 2 209 Moçambique 2 209 Cassange 1 104 Angola 1 104 Moange 1 104 TOTAL 96 100 Fontes AGCRJ Códices Ganhadores Livres 18791885 Para o período após os anos de 1870 localizamos apenas nove licenças para cativos minas andarem ao ganho72 Em junho de 1879 entre os 39 indivíduos que tiraram autorização na Câmara estava Francisco mina de 40 anos escravo de dona Emília Peçanha Pinto Nenhum outro cativo de sua nação foi registrado naquele período Um mês depois dos 76 pretosminas ganhadores livres que pedi ram licença apenas 14 foram indicados como libertos Para os de mais não há qualquer referência acerca do seu estatuto legal Não temos como garantir que todos fossem exescravos que conquista ram sua liberdade Encontramos casos como o do carregador João Mina único afri cano que ao solicitar sua licença apresentou como fiador seu ex senhor Luiz Legnago morador à rua Senador Vergueiro número 773 Em 31 de julho de 1879 os pretosminas João Domingos Pedro e Feliz Júlio todos residentes no número 58 da rua de São Lourenço 238 em Santana solicitaram licença para andarem ao ganho74 Os três apresentaram como fiador o proprietário Fellipe Charame que tam bém apresentou aquele endereço como local de sua residência e foram anotados no livro de ganhadores livres Alguns dias depois em 6 de agosto de 1879 mais dois africanos minas Fortunato Hilário de Roza e Jacinto Manuel de Bussa ambos residentes à rua da Prainha 209 também indicariam Fellipe Charame como seu fiador O endereço indicado era a rua do Príncipe número 58 na freguesia de Santa Rita Dois dias antes o mesmo Fellipe abonara o mina David Antonio Rocha morador à rua do Príncipe número 240 que pedia autorização para ganhar pelas ruas75 Dificilmente Fellipe Charame teria mudado de residência em apenas uma semana ainda que isso não seja impossível O mais provável é que fosse proprietário de dois imóveis ou que um deles fosse sua residência e o outro um estabelecimento comercial que empregasse ganhadores ou quem sabe uma estalagem ou um cortiço Em algumas licenças referências a casas comerciais desse tipo aparecem de forma mais explícita No pedido encaminhado pelo mina Rodolpho Albino da Costa em 28 de julho de 1879 aparecem como fiadores os negociantes Costa Torres Machado Cia decerto o nome de alguma firma localizada à rua Candelária número 20 área portuária de grande circulação de mercadorias Também Oliveira e Barrozo negociantes que ficavam na rua do Rosário número 20 foram apresentados como fiadores do mina Alexandre Antônio mo rador à rua Barão de São Félix número 5976 Nesse grupo de ganhadores livres minas encontramos ainda dois registros de homens livres conforme indica Vicente Mina que morava na rua do Senhor dos Passos número 77 em seu pedido apresentado em 2 de agosto de 1879 Na licença encaminhada pelo mina Thomaz três dias antes também está escrito que ele era livre77 Entre as 770 licenças compulsadas dez falam em pretos livres mas não dão detalhes sobre a procedência O que diferia esses africanos e pretos livres dos libertos A primeira suposição é que fossem afri canos livres ou seja aqueles africanos que chegaram ao Rio depois de extinto o tráfico de escravos e foram emancipados78 Nesses ter mos podemos sugerir ainda que Manoel Ribeiro Guimarães fiador de Vicente Mina também fosse seu concessionário a quem o africa no servia como criado ou trabalhador livre Mas por que somente 239 esses dois africanos não foram identificados como africanos livres se entre 1879 e 1885 há sete desses casos79 É possível supor ainda que Vicente Mina e Tomaz fossem real mente livres e não africanos livres Os estudos sobre africanos na di áspora especialmente em cidades como Rio de Janeiro Salvador ou Recife tendem sempre a considerálos sob o ponto de vista da escra vidão Mas desde pelo menos o final do século XIX encontramos afri canos livres entendase imigrantes chegando ao Rio Decerto seu número era bem reduzido devido às restrições legais que impediam sua entrada no país Em 1857 foi derrotado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro um projeto de lei que pretendia estimular a vinda de colonos africanos A decisão foi saudada num editorial do Jornal do Commercio que associava o atraso da agricultura brasileira jus tamente aos africanos argumentando que só os europeus poderiam regenerála80 O primeiro decreto do governo republicano proclama do em 1889 proibia o ingresso de africanos e asiáticos no Brasil81 Tudo indica que essas barreiras legais não foram impedimentos suficientes Pelo menos desde os anos 18601870 alguns africanos chegados livres já estavam residindo na cidade A primeira trajetória que conseguimos identificar foi a do feiticeiro Apotijá citado ante riormente que veio para o Rio por volta de 1897 com a intenção de trabalhar como carregador no porto João do Rio em suas crônicas publicadas no início do século XX cita pelo menos mais três casos de africanos de Lagos que chegaram ao Rio de Janeiro quando havia muito já se extinguira o tráfico transatlântico de escravos82 Nos flu xos e refluxos que uniam África e Brasil ao mesmo tempo que encon tramos africanos e muitos de seus descendentes retornando à costa africana há imigrantes saídos da cidade de Lagos por exemplo entre os quais vários brasileiros que voltam a se estabelecer na Bahia83 Seja como for os minas que andavam ao ganho na Corte certa mente mantinham a mesma ocupação que tiveram quando ainda ca tivos Constatamos que apenas dez das 76 autorizações indicam a atividade desempenhada pelos pretosminas Destes nove são iden tificados somente como carregadores um deles para trabalhar nas descargas de carneseca e demais gêneros Em 23 de agosto de 1861 o forro mina João José da Costa pede autorização para quitandar verduras na barraca do Largo do Capim 129 Mesmo sem endereço e na ausência de um fiador que o abonasse o pedido foi aprovado84 240 Comparando esses dados com aqueles computados por Carlos Eugênio Soares nos registros de africanos libertos presos na Detenção confirmamos a proeminência dos minas nas atividades de transporte de mercadorias Dos 1157 africanos libertos detidos entre 1860 e 1900 21 eram africanos ocidentais mina minanagô nagô e calabar os vindos da África Oriental moçambique inham bane munhanbane quilimane e mucena perfaziam 18 e os centro ocidentais que compunham a grande maioria dos africanos na ci dade em todas as outras listas do século XIX correspondiam a 61 Entre os homens e mulheres originários da África Ocidental a grande maioria era composta por minas 208 Corroborando o que viemos demonstrando até aqui os minas correspondiam a 302 do total de ganhadores presos e a 328 dos carregadores Também eram maioria entre os quitandeiros dos 83 quitandeiros africanos presos na Detenção 41 eram minas 499 destes 293 eram homens e 707 mulheres85 Estes números mais uma vez deixam em aberto a questão da modalidade de controle do trabalho das mulheres nas ruas da cidade Negros ricos Ainda que as licenças de ganhadores livres não representem a to talidade dos trabalhadores que realizavam ofícios urbanos no Rio a partir da análise dessa documentação constatamos a presença marcante dos minas nesse nicho ocupacional que a partir dos anos 1870 passa a ser controlado pelos imigrantes europeus A vida nas ruas não era nada fácil para os africanos A carta de alforria não os livrava do olhar vigilante das autoridades policiais Foi o que ocorreu com o ganhador Jacob Mina liberto de 75 anos de idade No dia 1º de janeiro de 1871 ele foi preso sob a suspeita de ser escravo Na ocasião trajava uma camisa de algodão calça preta paletó de ris cadinho roto e a indefectível carapuça Foi solto Um mês depois seria preso novamente pelo mesmo motivo86 Além disso a maioria tinha muitos de seus desejos de ascensão social e cidadania frustrados pelo preconceito social e racial O estig ma de inferioridade marcava a maneira como eram vistos por outros setores livres da população Como assinala Reis a escravidão não era para os libertos apenas uma lembrança mas um problema pes soal e mais ainda uma ameaça sempre presente87 Mas a pecha de 241 vagabundo contumaz não recaía apenas sobre os forros africanos pesava sobre o conjunto dos pobres grande parte deles também am bulantes vendendo serviços ou produtos88 Curiosamente apenas 8 dos libertos africanos que trabalhavam como ganhadores no Rio foram presos por vagabundagem entre os carregadores 26 foram presos por este motivo89 Mas como explicar que alguns deles já em fins do século XIX te nham se tornado negros ricos como constatou João do Rio e seu amigo Júlio Ganam Durante muito tempo o discurso histográfico sobre os forros via de regra os qualificava pela precariedade das condições materiais Como as alforrias eram extremamente onerosas para os escravos depois de anos juntando recursos necessários à compra da liberdade era de se esperar que esses libertos ficassem destituídos de qualquer pecúlio Às dificuldades de enriquecimento vinham se juntar os obstáculos para adquirir algum tipo de status social90 Partindo das solicitações encaminhadas pelos ganhadores li vres e de outros documentos tais como os registros da Casa de Detenção não conseguimos auferir se os ganhos obtidos com os ofí cios urbanos eram realmente vultosos e o que podiam representar para aqueles africanos Mas entre os senhores que solicitaram auto rizações à Câmara Municipal encontramos africanos minas o que revela que o sistema de ganho não apenas possibilitava que escravos comprassem sua alforria contribuindo assim para a desagregação do escravismo91 mas também permitia que alguns poupassem o su ficiente para adquirir cativos Era comum que os minas libertos adquirissem escravos da mesma nação Em 4 de abril de 1857 o africano mina Inocêncio Antonio da Cunha morador à loja 114 da rua Formosa na Freguesia de Santana pediu licença ao cativo Gervásio de nação mina para vender peixe Inocêncio pertencera à mesa da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia aparecendo como juiz nas décadas de 1860 e 187092 Um vi zinho seu Ignacio José Antônio Mina morador à rua Formosa nú mero 116 também colocou um escravo mina para vender peixe pelo município93 Laurianna Maria de Santa Anna uma africana minatapa solicitou em 9 de maio de 1855 autorização para um escravo da mes ma nação exercer algum ofício urbano No mesmo dia o minanagô Delfino Antônio de Miranda morador à rua da Pedreira número 1 requeria licença para dois cativos minanagô94 242 Ainda continuavam vivas na memória de Júlio Ganam as figuras de tia Cristina uma das últimas negras minas do Mercado que ficara rica vendendo santos e doces na rua e dirigia muitos empregados e de tia Felicidade a maior fortuna entre negros que parava sempre na esquina da rua São Lourenço perto do quartelgeneral com seu tabuleiro de doces Em torno dela uma porção de negras contam cousas para divertila cuidamlhe dos bolos chamamna de mãe e pedem sua benção Parecia guardar com zelo suas riquezas já que nem aos seus melhores amigos dava bolos grátis vende pela me tade mas vende Porém como muitos dos africanos referidos por Ganam ela não gostava de ostentar sua fortuna isso era para os brancos Além de não abrir sua bolsa nem seu coração dizia que era pobre95 Vemos assim como desde meados do século XIX os africanos da Costa da Mina trabalhavam para conquistar sua liberdade e preser var seus postos num mercado de trabalho cada vez mais competiti vo Muitos confundidos com os escravos nas ruas da cidade eram constantemente abordados pelas autoridades policiais Outros tan tos conseguiam poupar dinheiro adquirir cativos e quem sabe se tornar um negro rico Notas 1 Uma primeira versão deste capítulo está em FARIAS Juliana Barreto Entre identida des e diásporas negros minas no Rio de Janeiro 18701930 Dissertação Mestra do Programa de PósGraduação em História Comparada Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2004 Agradeço aos professores Mariza de Carvalho Soa res e Flávio dos Santos Gomes pelas valiosas indicações e leituras críticas desta e de outras versões deste artigo 2 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias 13 de maio de 1905 p 3 João do Rio foi um importante jornalista que deixou registrada em suas crônicas a vida cotidiana da cidade do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o XX Uma parte dessas crônicas publicadas entre os anos de 1904 e 1908 foi reunida no livro RIO João do As religiões no Rio Rio de Janeiro Nova Aguilar 1976 3 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias 13 de maio de 1905 p 3 Aqui obser vamos as intenções de Júlio Ganam de preservar algumas prescrições islâmicas Na África Ocidental muitos muçulmanos comemoravam datas religiosas e festejavam nascimentos em ceias servidas com carneiros Na Bahia Oitocentista as ceias malês eram ocasião de reunião e segundo Reis ceias expressavam o compromisso dos malês com o preceito islâmico de só consumir comida preparada por mãos mu çulmanas Também Manuel Querino nos informa que o final do Ramadã o mês de jejum era celebrado pelos malês baianos com sacrifícios de carneiros REIS João J Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 233234 4 Sobre a participação dos minas no transporte de café na região portuária ver CUNHA Manuela Carneiro da Negros estrangeiros os escravos libertos e sua vol 243 ta à África São Paulo Brasiliense 1985 p 3435 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos tra balhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 RIO João do As religiões no Rio Rio de Janeiro Nova Aguilar 1976 Especialmente os textos sobre as religiões africanas na cidade do Rio Sobre quitandeiras minas ver GOMES Flávio SOARES Carlos Eugênio Líbano Dizem as quitandeiras ocupações e identidades étnicas numa cidade escravista Rio de Ja neiro século XIX Acervo Rio de Janeiro v 15 n 2 p 316 juldez 2002 SOARES Carlos Eugênio Comércio nação e gênero as negras minas quitandeiras no Rio de Janeiro 18351900 In FRAGOSO J MATTOS H M SILVA F C Org Escritos sobre história e educação homenagem a Maria Yedda Linhares Rio de Janeiro Mauad FAPERJ 2001 p 401415 5 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias p 3 13 maio 1905 6 Cf RIO João do No mundo do feitiço os feiticeiros Gazeta de Notícias p 2 9 mar 1904 7 Entre eles como se verá estavam grupos de língua iorubá SILVA Alberto da Costa e A manilha e o libambo a África e a escravidão de 1500 a 1700 Rio de Janeiro Nova Fronteira Fundação Biblioteca Nacional 2002 p 532533 8 RIO João do No mundo do feitiço os feiticeiros Gazeta de Notícias p 2 9 mar 1904 9 Na Bahia segundo Nina Rodrigues muitos dos nomes de nações africanas eram deformados Muitos negros não pronunciavam o g como na palavra Egbá Assim era comum encontrar documentos que falavam em negros de Ebá ou simplesmente de Bá RODRIGUES Nina Os africanos no Brasil 7 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF Ed da UnB 1988 p 102103 10 Cruz destaca que a utilização da mão de obra avulsa é comum nos portos e está rela cionada à variação cotidiana da demanda por trabalho A autora emprega os termos trabalhotrabalhador avulso expressão do linguajar dos portos e da legislação brasileira CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindi cato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 254 Para uma análise mais aprofundada da questão ver da mesma autora Virando o jogo estivadores e carre gadores no Rio de Janeiro da Primeira República Tese Doutorado Universidade de São Paulo São Paulo 1998 11 Como destaca Reis esses arranjos não eram desconhecidos de alguns escravos africanos Em Sokoto cativos rurais trabalhavam metade do dia para seu senhor metade para si e sua família REIS João J Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 585 nota 3 12 Desde muito cedo os escravos da Corte já acumulavam certos bens mas somente com a lei de 28 de setembro de 1871 a chamada Lei do Ventre Livre em seu artigo 4º permitiuse legalmente que o escravo formasse um pecúlio CHALHOUB Sidney Visões da liberdade uma história das últimas décadas da escravidão na corte São Paulo Companhia das Letras 1990 p 159 13 Vários autores já analisaram a escravidão ao ganho no Rio de Janeiro entre eles po demos citar SOARES Luís Carlos Urban slavery in nineteenth century 1808 1888 Rio de Janeiro PhD Dissertation University College Londres 1988 Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX Revista Brasileira de História São Paulo n 16 p 107142 1988 ALGRANTI Leila Mezan O feitor ausente estudo de escravidão urbana Rio de Janeiro 18081821 Petrópolis Vozes 1988 KARASCH Mary Cathe rine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 259291 SILVA Marilene Rosa Nogueira Negro na rua a nova face da escravidão urbana São Paulo Hucitec 1988 244 14 GRAHAM Maria Journal of a voyage to Brazil and residence there during part of the years 1821 1822 1823 Londres sn 1924 p 195 EBEL Ernst O Rio de Janeiro e seus arredores em 1824 São Paulo Companhia Ed Nacional 1972 p 13 4446 cita dos em KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 264 Conforme destaca o missionário Sa muel Johnson referindose aos retornados para Serra Leoa a música estava de tal forma entranhada na vida dos nagôs que aqueles que se dedicavam à percussão passavam por uma cuidadosa e demorada iniciação JOHNSON Samuel The history of Yorubas Londres Routledge Kegan Paul 1921 p 120121 citado em REIS João J Tambores e temores a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX In CUNHA Maria Clementina P Carnavais e outras frestas ensaios de história cul tural Campinas SP CECULT UNICAMP 2002 p 118 Como destaca Reis Johnson escreveu no final do século XIX Mas antes disso o capitão inglês Hugh Clapperton que passou pela África Ocidental em meados da década de 1820 também observara que a música o canto e a dança impregnavam ao longo do dia e da noite entre dig natários e gente comum em cada vila iorubana por onde passava apesar de haver guerra em toda parte CLAPPERTON Hugh Journal of a second expedition into the interior of Africa from the bight of Benin to Soccato Londres Frank Cass 1966 orig 1826 citado em REIS João José Tambores e temores a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX In CUNHA Maria Clementina P Carnavais e outras frestas ensaios de história cultural Campinas SP CECULT UNICAMP 2002 p 119 15 DEBRET Jean Baptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet São Paulo Círculo do Livro 1993 p 196 16 ELWES Robert A sketchers tour round the world Londres sn 1854 p 2526 citado em KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 265 17 DEBRET Jean Baptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet São Paulo Círculo do Livro 1993 p 288289 prancha 37 18 EXPILY Charles Le Brésil tel quil est Paris E Denu 1862 p 8284 citado em CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 Afro Ásia Salvador n 24 p 243290 2000 p 258259 19 CUNHA Manuela Carneiro da Negros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Brasiliense 1985 p 35 365366 Em Salvador essas associações organizadas de acordo com a nação além de contribuírem para a promoção de al forrias coletivas também garantiam de alguma forma a segurança e o bom uso das economias amealhadas pelos africanos funcionando como caixas de poupança Os membros fossem escravos ou libertos contribuíam com algum recurso e podiam retirar de forma rotativa a quantia necessária para a compra de sua liberdade 20 RIBEYROLLES Charles Brasil pitoresco Tradução de Gastão Penalva Belo Horizon te Itatiaia São Paulo EDUSP 1980 v 1 p 208209 Cf CUNHA Manuela Carneiro da Negros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Brasiliense 1985 p 35 365366 Em Salvador essas associações organizadas de acordo com a nação além de contribuírem para a promoção de alforrias coletivas também garantiam de alguma forma a segurança e o bom uso das economias amealhadas pelos africanos funcionando como caixas de poupança Os membros fossem es cravos ou libertos contribuíam com algum recurso e podiam retirar de forma ro tativa a quantia necessária para a compra de sua liberdade CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 261 21 CUNHA Manuela Carneiro da Negros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Brasiliense 1985 p 35 João Reis recorre a Samuel Johnson 245 para descrever esta instituição de crédito iorubá Johnson assim descreveu uma esusu uma soma fixa previamente estabelecida e dada por cada um numa perio dicidade geralmente a cada semana e local determinados sob administração de um presidente a quantia total é paga a cada membro rotativamente Isto permite a um homem pobre fazer negócios de valor que demandem uma soma grande Há leis regulando esse sistema JOHNSON Samuel The history of Yorubas Londres Rou tledge Kegan Paul 1921 p 119 citado em REIS João J Tambores e temores a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX In CUNHA Maria Clementina P Carnavais e outras frestas ensaios de história cultural Campinas SP CECULT UNI CAMP 2002 p 366 BASCOM William R The esusu a credit institution of the Yoruba Journal of Royal Anthropological Institute London v 82 n1 p 6369 janjun 1952 citado em CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindi cato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 261 22 O caso é citado em KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janei ro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 467 23 BURGER Wilson CANDLER John Narrative of a recent visit to Brazil to present an address on the slave trade and slavery issued by the Religious Society Friends Lon dres E Newmann Printer 1853 p 3739 Citado em CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos traba lhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 259260 24 REIS João J Tambores e temores a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX In CUNHA Maria Clementina P Carnavais e outras frestas ensaios de história cultural Campinas SP CECULT UNICAMP 2002 p 358 25 REIS João J Tambores e temores a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX In CUNHA Maria Clementina P Carnavais e outras frestas ensaios de história cultural Campinas SP CECULT UNICAMP 2002 p 359 Como destaca Reis o intercâmbio entre vida social e trabalho observado entre os africanos na Bahia e acrescentamos aqui o Rio de Janeiro é bem próximo do que sugere o historiador inglês E P Thompson para o trabalhador précapitalista na Europa THOMPSON E P Tiempo disciplina de trabajo y capitalismo industrial In Costumbres en común Barcelona Crítica 1995 26 Uso esta definição nos termos propostos por Mariza de Carvalho Soares em Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 Seguindo essa perspectiva os africanos minas da Corte teriam construído sob as suas identidades um processo sociocultu ral no qual o mercado de trabalho e também aquele da cultura material religiosa foram fundamentais Ver ainda as análises para Salvador a grande tenda nagô proposta por Cortês de Oliveira e o guardachuva étnico sugerido por Reis OLI VEIRA Maria Inês Côrtes de Viver e morrer no meio dos seus nações e comunida des africanas na Bahia do Século XIX Revista da USP São Paulo n 28 p 174193 dez1995fev1996 REIS João José Identidade e diversidade étnica nas irmandades negras no tempo da escravidão Tempo Niterói v 2 n 3 p 733 1997 27 Como assinala Reis esses espaços tiveram o papel de assegurar uma organização solidária entre os trabalhadores Ao mesmo tempo que funcionavam como instru mentos de defesa do mercado contra os negros locais impediram a competição individual exacerbada entre os ganhadores mantiveram a tradição de trabalho coletivo e assim evitaram que a escravidão destruísse nos africanos o espírito de comunidade REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 361364 Ver ainda do mesmo autor A greve negra de 1857 na Bahia Revista USP São Paulo v 18 p 821 1993 De olho no canto trabalho de rua na Bahia na véspera da abolição AfroÁsia Salvador n 24 p 199242 2000 246 28 ALGRANTI Leila Mezan O feitor ausente estudo de escravidão urbana Rio de Janei ro 18081821 Petrópolis Vozes 1988 KARASCH Mary Catherine A vida dos escra vos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 259291 SILVA Marilene Rosa Nogueira Negro na rua a nova face da escravidão urbana São Paulo Hucitec 1988 29 SOARES Luís Carlos Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX Revista Brasileira de História São Paulo n 16 p 107142 1988 Cf Silva op cit p 91 30 As análises e comparações dos dados extraídos das licenças para escravos anda rem ao ganho no Rio já foram analisadas em FARIAS Juliana B GOMES Flávio S Descobrindo mapas dos minas trabalho urbano alforrias e identidades 18001915 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro séc XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 31 AGCRJ Códice 6 1 43 Escravos ao ganho e escravidão 18331841 p 43 32 FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista notas de pesquisa Topoi Rio de Janeiro p 940 set 2002 p 2728 Florentino destaca que nas cartas de alforria além dos majoritários minas aparecem também as seguintes designações relativas à etnia ou à região afroocidental de embarque borno cabo verde calabar gege hauçá minanago nago e nagomina nota 46 p 37 33 FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista notas de pesquisa Topoi Rio de Janeiro p 940 set 2002 34 FARIAS Juliana B GOMES Flávio S Descobrindo mapas dos minas trabalho ur bano alforrias e identidades 18001915 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 35 GOMES Flávio dos S Reiventando as nações africanos e grupos de procedência no Rio de Janeiro 18101888 In FARIAS J B GOMES F S SOARES C E No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Prêmio Arqui vo Nacional 2003 cap 1 36 Ver FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista notas de pesquisa Topoi Rio de Janeiro p 940 set 2002 MAMIGONIAN Beatriz Gallotti Do que o preto mina é capaz etnia e resistência entre africanos livres Afro Ásia Salvador n 24 p 7195 2000 SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoei ra escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CE CULT UNICAMP 2001 p 355390 e SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 37 Expressão usada por João José Reis em Identidade e diversidade étnica nas irman dades negras no tempo da escravidão Tempo Niterói v 2 n 3 p 733 1997 38 O FEITICEIRO Apotijá Gazeta de Notícias p 2 9121904 39 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato socie dade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 263 40 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato socie dade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 41 Sobre a descrição do cotidiano das firmas no setor cafeeiro a partir da segunda metade do século XIX ver CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na for mação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 265267 Da mesma autora ver também Virando o jogo estivadores e carregadores no Rio de Janeiro da Primeira República Tese Doutorado Universidade de São Paulo São 247 Paulo 1998 p 4546 176178 Para a inserção de homens livres na ocupação de car roceiros no Rio de Janeiro ver MOURA Ana Maria da Silva Cocheiros e carroceiros homens livres no Rio de senhores e escravos São Paulo Hucitec 1988 p 3950 42 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias p 3 13 maio 1905 43 Como ressalta Machado utilizavamse de coragem e habilidade para contornar os inúmeros obstáculos que se lhes colocavam reiterando a importância dessas prá ticas costumeiras na organização de sua sobrevivência MACHADO Maria Helena Crime e escravidão trabalho luta e resistência nas lavouras paulistas 18301888 São Paulo Brasiliense 1987 p 104 106 44 Os senhores também estavam atentos a essas relações entre escravos e homens livres Em 1860 Luiz de Tolledo Piza acusou Antônio Ribeiro agregado havia três anos nas terras de Domingos Leite da Silva por receptação de açúcar e café furtados por escravos Em sua defesa o acusado alegou que diversos escravos tinham ido a sua venda tentar vender café ele porém jamais aceitou esse negocio Processo crime n 582 1860 Campinas AESP Citado em MACHADO Maria Helena Crime e escravidão trabalho luta e resistência nas lavouras paulistas 18301888 São Paulo Brasiliense 1987 p 106 45 MACHADO Maria Helena Crime e escravidão trabalho luta e resistência nas lavou ras paulistas 18301888 São Paulo Brasiliense 1987 p 108 46 SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 153 Podemos ter uma ideia do volume de grãos apropriados pelos africanos da região portuária do Rio comparando os cálcu los apresentados por Ganan e Thomas Ewbank Segundo Ewbank o movimento dos carregadores de café em 1846 era contínuo com um volume anual de exportação em torno de 1849833 sacas Considerando 300 dias úteis chegamos a uma média de 6166 grandes sacas a exportar por dia Nos anos subsequentes estes números continuaram crescendo Em 1885 registrouse a venda de 2 858107 sacas o que corresponde a uma média diária de 9527 sacas Decerto em alguns dias o volume de exportação podia exceder estes valores médios Para o número de sacas exporta das ver EWBANK Thomas A vida no Brasil ou diário de uma visita ao país do cacau e das palmeiras Tradução de Homero Castro Jobim v 1 Rio de Janeiro Conquista 1973 p 119120 THE BRAZILIAN YEAR BOOK issued under the patronage of the Brazilian Government Rio de Janeiro J P Wileman 1909 p 633 citados em CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 Afro Ásia Salvador n 24 p 243290 2000 p 263 47 Não esquecer que o volume arrecadado ou a renda obtida a partir de sua venda era dividido entre aqueles que juntavam os grãos de café Cf CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 263 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias p 3 13 maio 1905 48 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias p 3 13 maio 1905 Reis informa que na Bahia uma das estratégias de sobrevivência utilizadas pelos africanos era ocu parse em mais de uma atividade de trabalho Cf REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 210 49 CRUZ Maria Cecília Velasco e Virando o jogo estivadores e carregadores no Rio de Janeiro da Primeira República Tese Doutorado Universidade de São Paulo São Paulo 1998 p 52 248 50 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 210 Reis destaca como essa trama simbólica podia fazer do capitão das tropas uma figura de grande poder muitas vezes poder religioso No romance oitocentista O feiticeiro de Xavier Marques Elesbão acumulava as funções de capitão do canto e líder sacer dotal apud REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 362 51 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 362363 52 A autora destaca ainda que a partir de meados do século XIX com o alargamento das linhas férreas o café transportado do Vale do Paraíba convergia para a estação terminal da Estrada de Ferro D Pedro II construída no Campo de Santana e inaugu rada em 1858 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 264266 53 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 361 54 Não podemos descartar também a possibilidade de que entre esses africanos es tivessem alguns dos escravos e libertos que nas fazendas do sudeste escravista se apropriavam dos grãos de café estocados já que com a proibição do tráfico na década de 1850 muitos deles se estabeleceram no mercado de trabalho portuário do Rio vindos de outras províncias e das zonas rurais fluminenses Ver GRAHAN Richard Nos tumbeiros mais uma vez o comércio interprovincial de escravos no Brasil AfroÁsia Salvador n 27 2002 55 CHALHOUB Sidney Visões da liberdade uma história das últimas décadas da escra vidão na corte São Paulo Companhia das Letras 1990 p 107157 56 AGCRJ Códice 6159 escravidão e escravos ao ganho 1870 e 1880 p 136 57 Trabalhamos com 3 Códices de Ganhadores livreslibertos 44128 44129 e 441 30 do AGCRJ onde encontramos algumas poucas solicitações para homens livres 58 Em junho de 1850 João do Amaral liberto de nação calabar morador na rua do Saco do Alferes pedia licença para andar ao ganho apresentando como fiador José Bráu lio de Mesquita AGCRJ Códice 44127 p 168 Em 19 de agosto de 1858 é a vez de Matheus preto forro mina cujo pedido vem afiançado por Antônio José de Freitas com negócio na rua do Sabão 329 Há mais quatro solicitações encaminhadas por libertos minas antes da década de 1870 Cf Códices 44127 p 16 4547 39130 p 6 59 Não por coincidência também a partir de 1879 os registros de prisão de libertos africanos na Casa de Detenção até então muito fragmentados em livros isolados se avolumam e passam a constituir séries completas O aumento dos registros de pri são está diretamente relacionado a uma política de maior vigilância das ruas Esta constatação é feita por Carlos Eugênio Soares que assinala que a partir de 1879 os registros ficam mais organizados e compactados em séries completas Ver SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das na ções africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 145 60 Os ganhadores de Salvador não aceitaram de bom grado as resoluções impostas pela municipalidade em 1857 Além da obrigação de se registrarem na Câmara Mu nicipal deveriam pagar uma expressiva taxa anual usar uma chapa metálica no pescoço com o número da matrícula e apresentar um fiador que abonasse o bom comportamento dos libertos Contrários a estas novas resoluções organizaram em junho daquele ano uma greve que recebeu adesão bem maior do que a revolta de 249 1835 O movimento se prolongou por mais de uma semana praticamente parando os negócios de transporte da cidade já que este trabalho era quase todo feito pelos ganhadores REIS João J A greve negra de 1857 na Bahia p 821 Em 5 de outubro de 1880 foi publicado um novo regulamento bem como um livro de matrículas que acompanha o documento no qual os capitães dos cantos registravam a matrícula dos ganhadores de seus cantos que são analisados em REIS João J De olho no canto trabalho de rua na Bahia na véspera da abolição AfroÁsia Salvador n 24 p 199242 2000 61 APERJ Livro de Entrada na Casa de Detenção 3969 citado e analisado em SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das na ções africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 154 62 Cf AGCRJ Códices 44128 44129 e 44130 63 Para uma discussão sobre o uso da categoria raça ver GUIMARÃES Antonio Sérgio Racismo e antiracismo no Brasil São Paulo FUSP Ed 34 1999 Especialmente cap 1 e2 64 Os portugueses eram o grupo estrangeiro dominante no Rio de Janeiro Em 1872 23 dos imigrantes do então Distrito Federal eram lusitanos e o censo de 1890 mos trou que além de constituírem a mais antiga comunidade estrangeira da cidade mais da metade de seus membros chegara há apenas dez anos RIBEIRO Gladys Cabras e pésdechumbo os rolos do tempo o antilusitanismo no Rio de Janeiro da República Velha Dissertação Mestrado Departamento de História Universi dade Federal Fluminense Niterói 1987 65 Reis destaca que ao contrário do que ocorreu no Rio de Janeiro onde os imigrantes europeus foram ao longo do século XIX substituindo uma parte dos africanos e afrobrasileiros embora isso não tenha sido verificado com tanta intensidade na região portuária em Salvador os europeus não participaram dessa transição REIS João José De olho no canto trabalho de rua na Bahia na véspera da abolição Afro Ásia Salvador n 24 p 199242 2000 p 218 João do Rio em uma visita rápida pela cidade de Salvador em 1909 descreveria deslumbrado as ruas estreitas da Cidade Baixa e seus personagens negros feitos de músculos débano mulatinhas adoles centes com a carnação das mangas maduras rapazes desempenados velhas africa nas mulatos sacudidos soldados a turba brasileira a antiga turba brasileira que desaparece do Rio e se estrangeira nas avenidas mas que ainda domina na Bahia a turba mixta de portugueses e africanos em que há ingleses e brasileiros mas onde domina o gosto da pimenta a mastigação do orobó e o temor macabro dos deuses bárbaros RIO João do São Salvador à noite A Notícia p 3 2 jan1909 66 Destacamse como focos de emigração para o Brasil em Portugal o Minho Douro e TrásosMontes na Espanha a Galícia e as províncias meridionais da Itália como Cozenza Salerno e Potenza MENEZES Lená Medeiros Bastidores um outro olhar sobre a imigração no Rio de Janeiro Acervo Rio de Janeiro v 10 n 2 p 0316 jul dez 1997 67 MENEZES Lená Medeiros Bastidores um outro olhar sobre a imigração no Rio de Janeiro Acervo Rio de Janeiro v 10 n 2 p 0316 juldez 1997 68 Luiz Felipe de Alencastro assinala que a concentração desses imigrantes pobres nas cidades deixava evidente uma realidade social cujos termos eram até então con traditórios a existência de europeus pobres nivelados ao estatuto dos escravos de ganho e do eito exercendo atividades insalubres e personificando formas de decadência social que pareciam estar reservadas aos negros em ALENCASTRO Luiz Felipe RENAUX Maria Luiza Caras e modos dos migrantes e imigrantes In ALENCASTRO L F Org História da vida privada no Brasil Império São Paulo Companhia das Letras 1997 v 2 p 310 250 69 O conflito é apresentado por Cruz Cf Jornal do Commercio 3 de maio de 1872 p 3 Diário do Rio de Janeiro 3 de maio de 1872 em CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos traba lhadores em Trapiche e Café Rio de janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 268 70 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato socie dade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 268 71 Ficaram de fora dessa amostra os africanos indicados como africanos de nação 5 de nação africana1 africanos livres 7 e simplesmente como africa nos12 72 São nove os pedidos de licença para minas entre 18701880 Cf AGCRJ Códice 61 52 e Códice 44128 73 AGCRJ Códice 44128 p 199 74 AGCRJ Códice 44128 p 474476 75 AGCRJ Códice 44129 p 97 194 195 76 AGCRJ Códice 44128 p 255 265 77 AGCRJ Códices 44129 p 73 6159 p 128 78 Sobre os africanos livres no Rio de Janeiro especialmente os minas ver MAMI GONIAN Beatriz Gallotti Do que o preto mina é capaz etnia e resistência entre africanos livres AfroÁsia Salvador n 24 p 7195 2000 A autora analisa petições de emancipação de africanos minas Entre eles estava Cyro um nagô de 32 anos que em 1850 tinha Dionísio Peçanha oficial na Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha como seu concessionário Cyro conseguiu permissão para morar longe de Peçanha e pagarlhe 480 réis por mês Como muitos de seus companheiros de nação trabalhava como carregador de café Ele era casado com uma africana mina liberta chamada Luiza e tinha dois filhos p 85 79 Nos registros desses sete africanos livres não há qualquer menção a sua procedên cia ou nação 80 Jornal do Commercio 6101857 em ALENCASTRO Luiz Felipe RENAUX Maria Lui za Caras e modos dos migrantes e imigrantes In ALENCASTRO L F Org História da vida privada no BrasilImpério São Paulo Companhia das Letras 1997 p 297 81 Decretolei n 528 de 28 de junho de 1890 artigo 1º Ver LESSER Jeffrey A negocia ção da identidade nacional imigrantes minorias e a luta pela etnicidade no Brasil São Paulo Ed da Unesp 2001 p 28 82 Entre eles estavam os minas Emanuel Ojô que era tido como chefe de uma espécie de maçonaria geral dos negros o consultor técnico dos pretos do Rio e Abubaca Caolho que também nascera em Lagos e que com auxílio de Ojô firmarase como feiticeiro na capital carioca Em princípios de 1904 chegava à cidade o africano mina Tio Sanin que logo se instalou na casa de seu conterrâneo Ojô Para outros detalhes sobre as trajetórias desses africanos ver FARIAS Juliana Barreto Vivendo entre parentes de nação trajetórias identidades e religiosidades 19041915 In Entre identidades e diásporas negros minas no Rio de Janeiro 1870 1930 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em História Compara da Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2004 p 67116 83 CUNHA Manuela Carneiro da Negros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Brasiliense 1985 p 216 84 AGCRJ Códice 39130 p 6 85 AGCRJ Códice 39130 p 185 tabela 29 No grupo dos quitandeiros temos ainda os angolas com apenas dez registros 12 os benguela com nove 105 e os moçambiques com oito 96 251 86 SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 143 87 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 384 88 Carlos Eugênio Soares destaca que o maior motivo isolado de prisão de africanos era a vagabundagem Comparando dados de africanos libertos com o conjunto dos presos no ano de 1881 vêse que sua prisão por vagabundagem era idêntica ao quadro global da população detida na Casa de Detenção 17 dos presos o foram por vagabundos SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro séc XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 168 89 Para Soares isso talvez ocorresse porque aqueles que transportavam cargas pe las ruas tinham mais mobilidade que os que se colocavam ao ganho tornando os primeiros mais suscetíveis aos estigmas policiais SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In FARIAS Juliana B GO MES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identi dades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 168 90 Sheila de Castro Faria aponta a questão indicando que ela própria incorrera no erro Dos trabalhos que seguem essa perspectiva citados por Faria destacamos MATTO SO Kátia de Queirós Ser escravo no Brasil São Paulo Brasiliense 1988 SCHWARTZ Stuart B Segredos internos engenhos e escravos na sociedade colonial São Paulo Companhia das Letras 1988 KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 A própria autora em trabalho anterior também adotava essa argumentação Cf FARIA Sheila de Castro A colônia em movimento fortuna e família no cotidiano colonial Rio de Janeiro Nova Fronteira 1998 91 Segundo Reis o sistema de ganho evidenciava para o escravo a exploração escra vista e trabalhar ao lado dos libertos esclarecia ainda mais as coisas Enquanto estes embolsavam tudo que recebiam para transportar passageiros carregar caixas de açúcar e barris os parceiros escravos eram obrigados a entregar o grosso da féria do dia ao senhor Isso representava o elo fraco da escravidão urbana um ponto de alta tensão nas relações senhorescravo REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Pau lo Companhia das Letras 2003 p 383 Cf CHALHOUB Sidney Visões da liberdade uma história das últimas décadas da escravidão na corte São Paulo Companhia das Letras 1990 92 AGCRJ Códice 6146 p 141 Livro de Registros de Irmãos na Irmandade de San to Elesbão e Santa Efigênia Arquivo da Irmandade documento sem catalogação 18431930 93 AGCRJ Códice 6149 p 73 23031855 94 AGCRJ Códice 6146 p 47 95 Nesse mesmo dia 09051855 Marcolino Pedro Paraíso cuja nacionalidade desconhecemos residente no mesmo endereço que a africana de nação minatapa Laurianna Maria de Santa Ana na rua da Alfândega número 304 também solicitava licença para o escravo Manoel minanagô 95 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias p 3 13 maio 1905 Segundo o alufá nessa época apenas um africano fazia garbo de ser rico tio Aly da Prainha Anda sempre bem vestido de chapéu de manilha roupas meias de seda e é o negro mais alto do Rio de Janeiro Referências ABREU Capistrano de Capítulos de História Colonial 6 ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1906 AdEdiRAn Biodun Yoruba Ethnic Groups or a Yoruba Ethnic Group a review of the problem of ethnic identification África Revista do Centro de Estudos Africanos da USP São Paulo v 7 p 5770 1984 AGASSiz Luiz AGASSiz Elizabeth Cary Viagem ao Brasil 18651866 Belo Horizonte itatiaia São Paulo EdUSP 1975 p 6869 AGBAnon ii Fio Histoire de PetitPopo et du Royaume Guin 1934 Lomé n L Gayibor 1991 AkinJoGBin isaac A Dahomey and its neighbours 17081818 Cambridge Cambridge University Press 1967 ALdEn dauril Royal government in colonial Brazil with special refe rence to the administration of the Marquis of Lavradio viceroy 1769 1779 Los Angeles University of California Press 1968 ALEnCAStRo Luiz Felipe de O trato dos viventes São Paulo Companhia das Letras 2000 Proletários e escravos imigrantes portugueses e cativos africanos no Rio de Janeiro 18501872 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Pragmatismo e milagres de fé no Extremo ocidente in REiS João José Escravidão e invenção da liberdade es tudos sobre o negro no Brasil São Paulo Brasiliense 1988 p 166197 SLEnES Robert w As provações de Abraão africano a nascente nação brasileira na Viagem alegórica de Johann Moritz Rugendas Revista de História da Arte e Arqueologia Campinas SP n 2 p 271 294 19951996 Malungu ngoma vem África coberta e descoberta no Brasil Redescobrir os descobrimentos as descobertas do Brasil São Paulo n 12 dez1991 fev 1992 Na senzala uma flor as esperanças e as recordações na formação da família escrava Rio de Janeiro nova Fronteira 1999 SnELGRAVE A new account of some parts of Guinea and the slave trade London Frank Cass Co 1971 SoARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escrava e outras tradi ções rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CECULt UniCAMP 2001 295 Comércio nação e gênero as negras minas quitandeiras no Rio de Janeiro 18351900 in FRAGoSo J MAttoS H M SiLVA F C org Escritos sobre 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olabiyi texts of enslavement fon and yoruba vocabularies from eighteenthandniniteenthcentury Brazil in LoVEJoY Paul E Ed Identity in the shadow of slavery London Continuum 2000 p 102112 zEMELLA Mafalda O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII São Paulo Hucitec EdUSP 1990 Sobre os autores Ana Flávia Cicchelli Pires Doutoranda em História pela Universidade Federal Fluminense preparando tese em História da África sobre a história de Cabinda nos séculos XVIII e XIX Carlos Eugênio Líbano Soares Professor adjunto de História na Universidade Federal da Bahia Principais publicações A negregada instituição os capoeiras no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Cultura 1994 A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 1808 1850 Campinas EdUnicamp 2001 e No labirinto das nações Africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX em coautoria com Flávio dos Santos Gomes e Juliana Barreto Farias Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 Carlos Gabriel Guimarães Professor adjunto de História na Universidade Federal Fluminense Principais publicações organizou o Dossiê Negócio e Riqueza da revista Tempo 15 2003 e publicou vários artigos em revistas e capí tulos de livros Flávio dos Santos Gomes Professor adjunto de História na Universidade Federal do Rio de Janeiro Principais publicações A hydra e os pântanos mocambos e quilom bos no Brasil séculos XVIIIXIX São Paulo Unesp 2005 Experiências atlânticas Ensaios e pesquisas sobre a escravidão e o pósemancipa ção no Brasil Passo Fundo Universidade de Passo Fundo 2003 No labirinto das nações Africanos e identidades no Rio de Janeiro sé culo XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 em coautoria com Carlos Eugênio Líbano Soares e Juliana Barreto Farias e Histórias de quilombolas Mocambos e comunidades de senzalas Rio de Janeiro Século XIX São Paulo Companhia das Letras 2006 Juliana Barreto Farias Doutoranda em História pela Universidade de São Paulo prepa rando tese sobre africanos minas no mercado de trabalho urbano no Rio de Janeiro Bolsista de Produtividade em Pesquisa da Biblioteca Nacional 2007 Principais publicações No labirinto das nações Africanos e identi dades no Rio de Janeiro século XIX em coautoria com Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio dos Santos Gomes Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 e Cidades Negras Africanos no espaço urbano no Brasil escravista São Paulo Alameda Editorial 2006 em coautoria com Carlos Eugênio Líbano Soares Flávio dos Santos Gomes e Carlos Eduardo Moreira Luiz Mott Professor titular de Antropologia na Universidade Federal da Bahia Principais publicações Escravidão homossexualidade e demono logia São Paulo Ed Icone 1988 A inquisição em Sergipe Aracaju Fundesc l989 O sexo proibido virgens gays e escravos nas garras da inquisição Campinas Ed Papirus 1989 Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Ed BertrandBrasil 1993 e Candomblés da Bahia Catálogo de 500 casas de culto afrobrasileiro de Salvador em coautoria com Marcelo F Cerqueira Salvador Ed CBAAMinistério da Saúde 1998 Mariza de Carvalho Soares Professor associado de História na Universidade Federal Fluminense Network Professor do Harriet Tubman Centre on the African Diaspora na York UniversityCanadá Principais publicações Devotos da cor Identidade étnica religio sidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 e Episódios da história afrobrasileira em coautoria com Ricardo Henrique Salles 2005 Sheila de Castro Faria Professor titular de História na Universidade Federal Fluminense Principais publicações A Colônia em Movimento Fortuna e fa mília no cotidiano colonial Rio de Janeiro Nova Fronteira 1998 e Sinhás pretas damas mercadoras As pretasminas no sudeste do Brasil a sair ANEXO Descrição dos portos vilas e aldeias da Costa da Mina c 1786 Mariza de Carvalho Soares Apresentação O documento aqui apresentado é um trecho de um manuscrito de um total de 90 páginas1 composto sob a forma de um diálogo escrito por Francisco Alves de Souza um escravo alforriado segundo suas próprias palavras preto e natural do Reino de Makim e destacado membro da Congregação Maki2 instalada na cidade do Rio de Janeiro em 1762 A congregação está sediada na Igreja de Santo Elesbão e Santa Efigênia no Rio de Janeiro e pertence à irmandade de homens pretos do mesmo nome controlada por um grupo de pretosminas traficados pelos portos da Baía do Benim para o Brasil ao longo do século XVIII O diálogo tem como interlocutores Francisco Alves de Sousa e Gonçalo Cordeiro Francisco foi eleito rei dos Mahi em 1786 Gonçalo é seu secretário e quem incentiva Francisco a escrever O documento é composto por dois diálogos cada um deles dividido em capítulos O primeiro diálogo narra a disputa sucessória entre Francisco e a víúva do falecido rei pelo controle da congregação3 e o segundo é uma descrição da então chamada Costa da Mina4 O trecho abaixo transcrito corresponde a partes dos capítulos terceiro e quarto do segundo diálogo O documento como um todo não está datado mas o primeiro diá logo inclui a transcrição de um estatuto datado de 1786 Um docu mento posterior datado de 1888 faz menção aos acontecimentos nar rados do primeiro diálogo o que permite estimar que este tenha sido escrito entre 1786 e 17885 O segundo diálogo foi escrito segundo o autor com informações obtidas de um amigo piloto Não há qualquer informação adicional sobre o piloto ou à época em que as informa ções foram recolhidas muito menos sobre a época em que o piloto viajou pela costa africana O manuscrito consultado é uma cópia de época prática usual e se encontra na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro sob o título Regra ou estatutos pormodo de hûm dialo go onde sedá notiçias das Caridades e Sufragaçoens das Almas que uzam osprettos Minnas comseus Nancionaes no Estado do Brazil expecialmente no Rio de Janeiro por onde se hao de regerem egôver narem fora detodo oabuzo gentilico e supersticiozo composto por Françîsco Alvês de Souza pretto enatural do Reino deMakim hûm dos mais exçelentes e potentados daqûela ôriunda Costa daMinna clas sificado como BNMA 9311 Antiga 5312 A Biblioteca Nacional não dispõe de mais informações que permitam datar a entrada e es clarecer a origem do documento A primeira referência disponível é sua inclusão no catálogo da Exposição de História do Brasil durante a qual foi exposto6 A transcrição da íntegra do documento está em fase de edição devendo ser divulgada com texto de apresentação e notas7 A versão aqui apresentada teve ortografia e pontuação atualiza das Tal opção resultou da extrema dificuldade de leitura do texto em sua forma original Foi mantida a grafia original apenas nos casos em que não foi possível asseverar o significado da palavra ou sua cor respondência na grafia contemporânea Foram acrescidas também notas explicativas sempre que informações adicionais importantes para uma melhor compreensão do texto estavam disponíveis Transcrição do documento Capítulo 3º Das descrições das Costas da Mina Acara8 Adra e Benin9 entre o Cabo das Três Pontas e o Rio Formoso Do Cabo das 3 pontas até o adigue10 que é uma fortaleza dos in gleses haverá três léguas e adiante cousa de uma légua está uma aldeia de pretos chamados Butry ou Boutrú11 adiante cousa de outra légua está um banco de pedra chamado de Anta e meia légua ao nordeste quarta do norte do banco de Anta é uma baía pequena fl 56 com uma aldeia chamada Tacoary12 do banco de Anta 5 léguas ao nordeste está aldeia de Sama junto do Rio de São João e a lesueste tem um pequeno forte que ali tem os holandeses e sudoeste quarta do sul fica uma grande pedra que se vê bem distante da terra de Sama corre a costa a les nordeste quatro léguas até as barreiras de Suma13 que é um Monte redondo sobre a borda do mar com três árvores grandes com um oiteiro14 pequeno da banda de leste a modo de uma ilha pequena na qual há malhas brancas Cousa de uma légua para leste do dito monte redondo ou barrei ra de Suma está uma aldeia de pretos chamados Pequeno Comendo e outra légua adiante está outra chamada Grã Comendo e para ban da de leste se verão logo o Castelo da Mina branquejar15 São Jorge da Mina Cousa de duas léguas para leste do Grã Comendo está umas terras grossa com um monte redondo sobre si chamada Monte de Futo e da banda do sul do dito monte bota uma ponta delgada e nela está o famoso Castelo de São Jorge da Mina mandado edificar por El Rei Dom João o 2º de Portugal Deste porto da Mina para leste quarta do nordeste esta o Cabo Corso sem arvoredo e a do porto da Mina a ele 3 Léguas por costa no Cabo Corso têm os ingleses a sua principal fortaleza cabeça de todos as que tem nesta costa e mais abaixo uma légua a lesnordeste têm os holandeses um forte chamado de Nassau junto de uma aldeia de pretos que se chama Murea légua desta aldeia se vê um monte chamado Monte de Ferro coberto de arvoredo muito aprazível e daí uma légua tem os ingleses outro forte junto de uma aldeia cha mada fl 57 Anambo16 e daí légua e meia têm os holandeses outro forte chamado de Amsterdã junto das Aldeias de Cormantim17 aon de se vêem dois montes pela terra dentro a que chamam os Frades e daí oito léguas tem outro perto de um monte muito alto chamado Monte do Diabo que é muito conhecido dos marcantes18 por se ver muitos dias areyô quando o vento é contrários e por esta costa adiante estão outros fortes das quais o último é dos dinamarqueses chamado Christiamburg na Costa de Acara19 Do cabo Corso até o dito Monte do Diabo que os antigos chama vam Monte de Beriqui ou cabo das redes há 13 léguas e um cabo com outro se correm lesnordeste o e sudoeste e a terra ao longo da costa do cabo a cabo é razoavelmente alta e montanhosa Do Monte do Diabo até Berkú corre a costa 4 léguas e a lesnordeste e de Berkú e Carâ são outras quatro léguas também a lesnordeste passada a terra alta em que está o Monte do Diabo E daí em diante se faz uma terra muito baixa ao longo do mar até o Rio das Voltas e haverá desde Acarâ até o Rio das voltas 23 ou 24 léguas a lesnordeste um pouco mais para leste20 Rio das Voltas Este rio é muito largo na entrada mas corre com tanta força que se conhece a sua corrente estando 3 léguas do mar traz tantas árvores de dentro do sertão arrancadas que se detendo e embarançandose umas com outras causam na boca do rio grandes ariciros de sorte que se ano pode passar em uma canoa mas que duas vezes no ano que é ordinariamente desde o mês de abril até o de novembro mas deste mês por diante em que começam as chuvas cresse muito o rio e corre muita fúria quem partir da Mina para o Rio das Voltas ponhase 3 ou 4 léguas do mar e faça o caminho de lesnordeste e irá dar na aldeia fl 58 deste rio haverá na de rota quarenta e seis léguas pouco mais ou menos Cabo de São Paulo Do Rio da Volta ao Cabo de Mondego a quatro léguas a les quarta de nordeste e nestas 4 léguas a costa é baixa com algumas matas pequenas de arvoredo e daí a 10 léguas ao mesmo rumo está o Cabo de São Paulo A terra deste cabo é muito baixa e faz uma ponte de areia que sai muito ao mar a leste deste cabo se vem quatro montes pequenos e compridos juntos uns dos outros Popos Do Cabo de São Paulo ao Popo Pequeno21 haverá 14 léguas e daí ao Grã Popo22 4 mas adiante 5 ou 6 léguas para a banda de leste está o porto de Ardra chamado Fida ou Ajudâ23 Este porto é muito perigo so principalmente nos meses de abril maio junho e julho por andar então o mar tão grosso que será arriscar visivelmente um navio o querer entrar nele e se tem visto ali muitas desgraças adiante 5 lé guas está o porto de Jequem24 onde se faz muito negócio de pretos Rio da Lagoa Do porto de Ardra ao Rio da Lagoa haverá 16 léguas ao nordeste quarta de leste e a lesnordeste é terra toda baixa e praia ao longo do mar com algumas aldeias este rio da lagoa tem uma boca peque na e de preamar não tem mais que 2 braças a entrada é mui perigo sa com baixos de areia em que arrebenta o mar o mais do tempo e não aparece o canal nem podem entrar nele senão navios de 30 e 40 toneladas e entrando dentro se faz logo uma grande lagoa que tem 2 ou 3 léguas de largo e outras tantas de comprido por este rio acima a 12 Léguas está uma cidade a que chamam Jabûm25 muito grande cercada com uma cava em roça Aqui se faz negócio de escravos e muito marfim fl 59 Está este rio em 7 graus do norte Rio Primeiro Do Rio da Lagoa ao Rio Primeiro se corre a costa a sueste e há na de rota 25 léguas este rio tem a boca um pouco grande que tem meia légua de largo da parte do sueste tem um arvoredo grosso deste rio a 4 léguas estão 3 esteiros26 e a costa destes esteiros ao longo do mar tem vaza e areia dali por diante 10 léguas toda terra é cortada por dentro com outros rios de maneira que se fazem muitas ilhas e no mês de agosto setembro há por aqui muitas chuvas27 Rio Fermozo28 Distante deste Rio Primeiro está o Rio Fermozo ou Rio de Benim distante 5 léguas ao sueste rio dito tem uma grande boca de largura de uma légua mas de preamar não tem mais de 18 palmos de água vaza solta e este parcel corre ao mar quase 2 léguas o rio forma dentro grandes quantidades de braços dos quais algum é tão largos que se lhe pode dar nome de rios Indo por este rio acima da parte da mão esquerda uma légua es tão dois braços subindo pelo 2º braço cousa de 12 léguas está uma vila a que chamam Agûna Este é o Rio grande de Cidade de Benim a qual é do tamanho de uma légua sem muros mas está cercada de uma grande cava e podem ir por este rio acima naus de 50 toneladas Benin é um grande reino e tem por capital uma bela e grandiosa cidade do mesmo nome em África e no fl 60 Golfo de Guiné O seu rei é mui poderoso chamase pelos naturais Bâ Benin29 e o que presentemente está governando chamase pelos naturais Dallicâ e pode por em pouco tempo um exército de cem mil homens tem contínua guerra com seus vizinhos e cativam muitos escravos que vendem a troco de manilhas30 e outras cousas31 Capítulo 4º em que se prossegue as notícias da Fortaleza de São Jorge da Mina Acara Ardra e Benim entre o Cabo das 3 Pontas e o Rio Fermozo com seus graus e minutos de latitude e longitude com outras explicações curiosas Do Cabo das 3 pontas tem de latitude 4 graus e 28 minutos ao norte e de longitude 18 graus e 35 minutos Portuguesa De Boutry ou Boutru tem de latitude 4 graus e 32 minutos ao norte de longitude 18 graus e 50 minutos De Sama tem de latitude 4 graus e 45 minutos ao norte de longitude 19 graus e 4 minutos Comendo tem de latitude 4 graus e 50 minutos ao norte de longitude 19 graus e 20 minutos São Jorge da Mina é o famoso Castelo edificada nas costa de África em Guiné mandado por El Rei Dom João 2º de Portugal no de 1482 tem de latitude 4 graus e 55 minutos A norte e de longitude 19 graus e 30 minutos Cabo Corso é em Guiné nas Costas do Ouro em África com uma vila do mesmo nome cercada esta a maior e principal f63 for taleza dos ingleses depois da de São Jorge da Mina e tem de latitude 4 graus e 57 minutos ao norte e de longitude 19 graus e 40 minutos Murea é um pequeno reino e por outro nome Sabou32 fica sobre a Costa do Ouro em Guiné e é muito fértil produz grãos e várias frutas e tem muitas vilas e entre as quais é a principal Sabou aonde os holandeses tem o forte chamado Nassau e tem de latitude 5 graus e de longitude 19 graus e 44 minutos Ao norte Cormantim33 é um país com uma vila do mesmo nome em a Costa do Ouro em Guiné com dois fortes que pertenciam aos ingleses porém os deitou dali o almirante Ruiter no ano de 1665 e tem nela os holandeses um forte com boa guarnição chamado Amsterdã e tem de latitude 5 graus e 4 minutos ao norte e de longitude 19 graus e 54 minutos Monte do Diabo é muito conhecido dos navegantes como já disse e tem de latitude 5 graus e 12 minutos ao norte e de longitude 20 graus e 18 minutos Berkû34 tem de latitude 5 graus e 17 minutos ao norte e de longitude 20 graus e 30 minutos Acara35 um país com uma vila do Reino de Agambû36 sobre a Costa de Guiné têm ali os holandeses digo os Ingleses uma vila com um forte o mesmo têm os holandeses e dinamarqueses e este país é o melhor de todos os da costa e mui útil aos pretos pelo seu comércio Tem de latitude 5 graus e 22 minu tos ao norte e de longitude 20 graus e 42 minutos Rio das Voltas veja na descrição da folha 37 aonde já se disse tem de latitude 5 graus e 44 minutos ao norte e de longitude 21 graus e 55 minutos Cabo de São Paulo veja a discrição folha 38 e tem de latitude f 4437 5 graus e 53 minutos ao norte de longitude 22 graus e 40 minutos Popo tem de latitude 6 graus e 15 minutos ao norte e de longitude 23 graus e 15 minutos Ajudâ ou Fida porto de Adra tem de latitude 6 graus e 15 minutos ao norte e de longitude 23 graus e 20 minutos Rio da Lagoa tem de latitude 6 graus e 55 minutos ao norte e de longitude 24 graus e 30 minutos Rio Fermoso ou Rio de Benin tem de latitude 6 graus e 20 minutos ao norte e de longitude 26 graus Cordeiro Já Vossa Mercê acabou a narração da Costa da Mina Souza Entendo que sim senão houver alguma dúvida que encon tre o que tenho dito Cordeiro Não há nenhuma e nem pode haver segundo o que co lijo pelo que lhe fico muito obrigado portanto trabalho o quanto tem tido por meu respeito que Deus lhe dará o pago Eu estava para lhe pedir uma cousa mas tenho vergonha de o fazer porque o tenho importunado muito e porque também o vejo ainda mui cansado e fadigado da compendiosa história dos portos da Costa da Mina pois ainda falta o dizerme Souza Esta boa história dizerme o que Cordeiro Sim o dizerme Se o Castelo de São Jorge da Costa da Mina assim como os portugueses tiveram todo o trabalho em desco brir e edificar se hoje ainda é dos portugueses Souza Pois para isso é preciso estar a gaguejar a mais de uma hora não sei que Paixões têm Vossa Mercê com esse Castelo que sempre me está a perseguir com perguntas sim Senhor o satisfarei f 45 Notas 1 Há um erro na numeração das folhas a partir da folha 64 que é erradamente numera da como 44 Portanto ao total de 70 folhas numeradas devem ser acrescidas mais 20 folhas Agradeço a Luciana Gandelman e Eduardo Cavalcanti então alunos do curso de graduação em História da UFF a transcrição e revisão do documento 2 A palavra mahi tem várias grafias diferentes dependendo da época e língua em que é escrita Maki Makii Makim Maqui Mahee ou Mahi No documento aqui transcrito aparecem várias grafias Maki Makim Makii mas optei por fazer uso da ortografia mais corrente na literatura africanista atual mahi O texto recebeu uma atualização ortográfica e também uma nova pontuação sempre que a alteração foi considerada necessária para facilitar a comprensão do sentido do texto Uma ver são integral do documento está sendo editada SOARES Mariza de Carvalho Org O Manuscrito Mahi e outros documentos da Igreja de Santo Elesbão e Santa Efigênia Introdução e notas de Mariza de Carvalho Soares Rio de Janeiro sn 200 Ma nuscrito 3 O primeiro diálogo tem início na folha 1 com o título Regra ou estatutos pormodo de hûm dialogo onde sedá notiçias das Caridades e Sufragaçoens das Almas que uzam osprettos Minnas comseus Nancionaes no Estado do Brazil expecialmente noRio de Janeiro por onde se hao de regerem egôvernarem fora detodo oabuzo gentilico e supersticiozo composto por Françîsco Alvês de Souza pretto enatural do Reino deMakim hûm dos mais exçelentes e potentados daqûela ôriunda Costa da Minna Este primeiro título foi usado pela BN para identificar o conjunto do do cumento 4 O segundo diálogo tem início na folha 47 sob o título Dialogo segundo em que se dá notícias da fundaçam da grandioza fortaleza de S Jorge da Costa da Mina edificadas nas costas de Africa em Guinnê e dos seus portos hê o reino de Benin e outras no tícias curiosas por francisco Alves de Sousa preto e natural do reino de Makii hum dos mais exelentes e potentados daquela oriunda costa da Minna 5 Estatuto da Irmandade de N S dos Remédios AHUCUcód 1300 Tratase de uma nova proposta de estatuto elaborada no interior da mesma congregação e enviada a D Maria I então rainha de Portugal no ano de 1788 6 CATÁLOGO da Exposição de História do Brazil realizada pela Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro a 2 de dezembro de 1881 Rio de Janeiro Typographia G Leuzinger Filhos 1881 p 1007 O manuscrito consta também do GUIA brasileiro de fontes para a história da África da escravidão negra e do negro na sociedade atual Rio de Janeiro Sergipe v 2 Brasília DF Imprensa Nacional 1988 p 728 7 Para maiores informações sobre o manuscrito ver SOARES Mariza de Carvalho Apreço e imitação no diálogo do gentio convertido Ipotesi Revista de Estudos Literá rios Juiz de Fora v 4 n 1 p 111 123 janjun 2000 8 Acara Acarâ é o mesmo que Accra e Acra 9 Na grafia contemporânea escrevese Benin inglês e francês e Benim português 10 Palavra e local não identificados 11 Atual Boutry 12 Atual Tacorari 13 Provavelmente Sama 14 Oiteiro é a grafia arcaica de outeiro pequeno monte 15 O Castelo da Mina foi construído em pedra e cal pelos portugueses em 1482 Poste riormente passou por várias reformas até chegar ao que é hoje tendo sido declara do Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco 16 Atual Anamabo 17 Atual Coromantim 18 Deve ser mercantes 19 Forte Christiamnborg na costa de Acra atual capital de Gana 20 Carâ e Acarâ correspondem a Acra 21 Atualmente conhecido como Petit Popo 22 Atualmente denominado Grand Popo 23 Ardra ou Aladá correspondem ao reino de Aladá localizado a oeste de Ajudá que por sua vez também aparece grafado como Ouidah Fida Uidá e Whydah Ajudá é um porto localizado no reino de Hueda tomado pelos daomeanos em 1727 É inte ressante notar o desconhecimento de Francisco Alves de Souza autoidentificado como Mahi e autor do roteiro da diferença entre Aladá e Ajudá Certamente tratase de uma confusão sua e não do piloto que lhe passou a derrota Esse desconhecimen to pode indicar que ele não teria sido traficado por nenhum desses portos o que provavelmente o levaria para o tráfico realizado em Popo Jaquim ou Epe 24 Jaquim Jaquem atual Godomey no Benim 25 Provavelmente tratase de Ijebu Também aparece na literatura como Jabum Iabu Gabu Jabboe Sandoval indica essa localidade entre Aladá e Benim nas lagunas de Lagos Segundo ele é uma cidade murada circundada por um fosso Instauranda p 78 Também Dapper fala sobre ela Tais descrições combinam com a indicação de que a cidade é cercada por uma cava 26 Esteiro é um braço pequeno de rio ou mar BLUTEAU D R Vocabulário portuguez e latino Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro 2000 1 CDROM 27 Não há no documento menção a três portos importantes Epe destruído pelo Dao mé em 1782 Badagri destruído pelo Daomé em 1784 e Onin Lagos 28 Rio Formoso 29 Bá ou Oba soberano do antigo reino do Benim 30 São braceletes de metal usados usualmente no comércio e no tráfico de escravos 31 Outras descrições da cidade do Benin muito se assemelham a aqui apresentada Já no século XVI Duarte Pacheco Pereira informa O reino do Beni será de oitenta léguas de comprido e quarenta de largo E o mais do tempo faz guerra aos vizinhos onde toma muitos cativos que nós compramos a doze e quinze manilhas de latão ou cobre que eles mais estimam Já o Dapper 1668 informa ser em seu tempo a cidade rodeada de um lado por uma muralha de dez pés de altura feita de uma paliçada e de outro por um pântano tendo várias portas de madeira maciça COQUERYVIDROVITCH Catherine Org A descoberta da África Lisboa Edições 70 1981 p 8688 32 Local não identificado 33 Atual Koromantin 34 Local não identificado 35 Acra 36 Reino não identificado 37 Aqui há um erro na numeração das folhas do documento correspondendo à folha 64 e não à 44 O golfo do Benim o baixo Niger e o golfo de Biafra A manilha e o libambo 1061 Coleção Biblioteca EdUFF O cotidiano dos trabalhadores de Buenos Aires 18801920 Norberto Osvaldo Ferreras Em busca da boa sociedade Selene Herculano História do anarquismo no Brasil V 1 Rafael Borges Deminicis e Daniel Aarão Reis Filho Orgs O poder de domar do fraco construção de autoridade e poder tutelar na política de povoamento do solo nacional Jair de Souza Ramos Cruéis paisagens Ângela Maria Dias de Brito Gomes Percursos do olhar comunicação narrativa e memória Marialva Carlos Barbosa Literalmente falando sentido literal e metáfora na metalinguagem Solange Coelho Vereza Terras lusas a questão agrária em Portugal Márcia Maria Menendes Motta Org Este livro foi composto na fonte ITC Cheltenham Std corpo 11 Impresso na Globalprint Gráf ca e Editora em Papel Polén Soft 80g gramas miolo e Cartão Supremo 250 gramas capa produzido em harmonia com o meio ambiente Esta edição foi impressa em junho de 2011 PRIMEIRA EDITORA NEUTRA EM CARBONO DO BRASIL Título conferido pela OSCIP PRIMA wwwprimaorgbr após a implementação de um Programa Socioambiental com vistas à ecoef ciência e ao plantio de árvores referentes à neutralização das emissões dos GEEs Gases do Efeito Estufa 3ª prova JLuiz 13 jul 2009 2ª prova JLuizSM 25 jul 2011 A Coleção Biblioteca EdUFF busca a renovação do mercado do livro acadêmico contemplando no âmbito da Universidade Federal Fluminense obras de todas as áreas do conhecimento A responsabilidade da seleção de textos inscritos por edital público está a cargo da Comissão Editorial da Editora da UFF e de pareceristas convidados As edições deste selo são totalmente financiadas com recursos da UFF Visando ao crescimento equilibrado sem perder as oportunidades a Editora da UFF procura cumprir a missão da UFF ser um espaço plural socialmente referenciado para a formação de cidadãos e profissionais críticos e competentes para a produção e disseminação de conhecimento pluri inter e transdisciplinar contribuindo para a diminuição das desigualdades e o desenvolvimento do país ISBN 8522806519 9788522806515 Universidade Federal Fluminense Editora da UFF
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Mariza de Carvalho Soares Organizadora ROTAS ATLÂNTICAS DA DIÁSPORA AFRICANA DA BAÍA DO BENIM AO RIO DE JANEIRO 2ª EDIÇÃO REVISTA E ATUALIZADA Em setembro de 1994 a UNESCO lançou um projeto de pesquisa sobre o comércio de escravos conhecido no Brasil como ROTA DOS ESCRAVOS que se desdobrou em um conjunto de iniciativas em todo o mundo entre elas o NIGERIAN HINTERLAND PROJECT por mim dirigido A região então objeto de minha investigação abrangia o interior das baias do Benim e Biafra na costa ocidental africana de onde saíram aproximadamente 40 do total dos escravos enviados para as Américas O objetivo primordial desse projeto era reunir um grupo de pesquisadores em história da África e da diáspora africana de diferentes instituições e paísescom o objetivo de mapear a origem desses escravos Um segundo objetivo era através dessa experiência fortalecer uma rede de colaboração entre pesquisadores e formar novos estudiosos que dessem continuidade ao trabalho Um dos mais significativos resultados desse esforço foi a publicação de um conjunto de obras individuais e coletivas que começam a trazer a público os resultados desse trabalho ROTAS ATLÂNTICAS DA DIÁSPORA AFRICANA é um exemplo desse trabalho colaborativo e seguindo os objetivos do projeto explora o impacto histórico da escravidão e da diáspora africana tendo como foco a rota entre a Baia do Benim e a cidade do Rio de Janeiro Ao contrário de outras iniciativas anteriores em que as conexões atlânticas são apresentadas por um conjunto diversificado de pontos de partida e chegada essa coletânea enfoca uma linha de deslocamento específica e privilegia a compreensão das formas particulares de organização dos escravos oriundos da Baia do Benim que integram o grupo que os portugueses convencionaram chamar de pretos minas Nesse sentido a concentração do olhar na cidade do Rio de Janeiro um dos mais importantes portos atlânticos mas minoritário para a entrada de escravos vindos da Baia do Benim se mostra como uma estratégia inovadora para estudar esse grupo em profundidade assim como perceber a complexidade das redes comerciais aí envolvidas No seu conjunto é um livro extremamente provocador tanto pela escolha do universo abordado quanto pelas questões tratadas em cada texto que vão desde o comércio atlântico até o cotidiano urbano da vida dos africanos escravos e forros Outro ponto que merece destaque é justamente a longevidade dessa rota Vindo diretamente da África para o Rio de Janeiro como chega a acontecer no século XVIII ou com passagens intermediárias por outras partes como Pernambuco e Bahia rota mais freqüente e demograficamente mais relevante a verdade é que o Rio de Janeiro recebeu escravos oriundos da Baia do Benim desde os primeiros anos do século XVIII até a extinção do tráfico ilegal e como apontado mesmo depois num fluxo ainda não estudado de africanos efetivamente livres aí chegados nas últimas décadas do século XIX Esse é portanto um livro que merece ser lido e assimilado não apenas por seus resultados mas como ponto de partida para novas investigações de modo a mais uma vez formar novas gerações de pesquisadores que levem adiante a imensa tarefa de não deixar cair no esquecimento os mais de dez milhões de africanos que desembarcaram nos portos das Américas como escravos Paul E Lovejoy FRSC Distinguished Research Professor Canada Research Chair in African Diaspora History Rotas Atlânticas da Diáspora Africana Mariza de Carvalho Soares Organizadora Rotas atlânticas da diáspoRa afRicana da Baía do Benim ao Rio de JaneiRo 2ª edição revista e atualizada Editora da Universidade Federal Fluminense Niterói 2011 Copyright 2007 by Mariza de Carvalho Soares 2011 2ª edição Direitos desta edição reservados à EdUFF Editora da Universidade Federal Fluminense Rua Miguel de Frias 9 anexo sobreloja Icaraí CEP 24220900 Niterói RJ Brasil Tel 21 26295287 Fax 21 2629 5288 httpwwweditorauffbr Email secretariaeditorauffbr É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora Normalização Caroline Brito de Oliveira Edição de texto Rozely Campello Barrôco Revisão Sônia Peçanha Capa projeto gráfico e editoração eletrônica José Luiz Stalleiken Martins Supervisão gráfica Káthia M P Macedo Foto da capa Alberto Henschel Coleção Alemã LeibnizInstitut Für Länderkunde Dados Internacionais de CatalogaçãonaFonte CIP R8429 Soares Mariza de Carvalho Rotas Atlânticas da Diáspora Africana da Baía do Benim ao Rio de Janeiro Mariza de Carvalho Soares Organizadora Niterói EdUFF 2007 2 ed revista e atualizada 2011 322 p il 23 cm Coleção Biblioteca EdUFF 2004 Inclui bibliografias ISBN 9788522806515 1 História 2 Diáspora Africana I Título II Série CDD 90904 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Reitor Roberto de Souza Salles ViceReitor Sidney Luiz de Matos Mello PróReitor de Pesquisa e PósGraduação e Inovação Antonio Claudio Lucas da Nóbrega Diretor da EdUFF Mauro Romero Leal Passos Divisão de Editoração e Produção Ricardo Borges Divisão de Distribuição Luciene Pereira de Moraes Assessoria de Comunicação e Eventos Ana Paula Campos Comissão Editorial Presidente Mauro Romero Leal Passos Ana Maria Martensen Roland Kaleff Gizlene Neder Heraldo Silva da Costa Mattos Humberto Fernandes Machado Juarez Duayer Livia Reis Luiz Sérgio de Oliveira Marco Antonio Sloboda Cortez Renato de Souza Bravo Silvia Maria Baeta Cavalcanti Tania de Vasconcellos Editora filiada à Este livro é dedicado ao Embaixador Alberto da Costa e Silva que com sua obra e de terminação mais que ninguém tem contribuído para alterar os rumos do conhecimento sobre a História da África e da es cravidão africana no Brasil AgrAdecimentos Este livro é o resultado de um conjunto de discussões sobre as conexões entre os povos da Baía do Benim e o Brasil Em 2002 Toyin Falola e Matt Childs convidaramme para participar da coletânea de textos The Yoruba Diaspora in the Atlantic World Caberia a mim a tarefa de escrever sobre os iorubás no Rio de Janeiro O processo de escrita deste texto trouxe mais perguntas do que respostas e acabou por dar origem ao capítulo que intitulei From Gbe to Yoruba Ethnic Change and the Mina Nation in Rio de Janeiro Ao longo do texto que deveria ser um panorama da presença iorubá no Rio de Janeiro percebi não apenas a fragilidade dos dados então disponíveis sobre os iorubás mas a fragilidade desse recorte linguístico para o caso da cidade do Rio de Janeiro Por isso em primeiro lugar agradeço a Toyin Falola e Matt Childs a oportunidade de discutir esta questão no volume por eles organizado Foi assim que em 2003 dei início à execução do projeto de orga nizar uma obra coletiva a respeito do tráfico entre a Baía do Benim e o porto do Rio de Janeiro focalizando a presença dos chamados pretos minas na cidade do Rio de Janeiro Organizei uma longa lista de nomes incluindo nela todos os pesquisadores da escravidão no Rio de Janeiro com quem tinha contato direta ou indiretamente A lista foi ampla mas como sempre nem todos puderam aceitar o convite Este parece ser o momento adequado para me responsabilizar por alguma omissão e também para agradecer àqueles que não puderam chegar até aqui conosco O incentivo que recebi de todos foi fundamental para que levasse adiante este projeto editorial Entre as ausências quero destacar três colegas Hebe Mattos Manolo Florentino e Silvia Lara Cada um deles contribuiu de forma decisiva para a pesquisa sobre a escravidão no Brasil e no Rio de Janeiro em particular com eles tam bém tenho tido ao longo dos anos uma interlocução insubstituível Durante a gestação deste projeto recebi um financiamento do Harriet Tubman Resource Centre on the African Diaspora que permi tiu o levantamento de parte da documentação aqui utilizada assim como o treinamento em pesquisa de alguns alunos do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense Contei ainda com o apoio dos colegas orientandos e estagiários do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense que aqui aparecem como autores de dois dos capítulos A finalização do livro foi feita com 6 a colaboração de Priscilla Leal historiadora e jornalista responsável pela revisão final dos textos a quem agradeço o equilíbrio e o rigor profissional A todos que participaram do projeto e especialmente aos autores agradeço a seriedade e o cumprimento de todas as etapas do trabalho sendo de minha responsabilidade a lentidão da edição final que espero seja do agrado de todos O trabalho de cada um foi e é de inestimável importância e espero que este livro seja merecedor do esforço e generosidade de cada um A história do tráfico atlântico e dos pretosminas na cidade do Rio de Janeiro é ainda hoje um negócio de risco para os historiado res Embora seja atualmente um tema bastante discutido permanece ainda pouco explorado pelos pesquisadores em toda a sua comple xidade Parte dos autores que colaboraram nesta coletânea não têm o tema como centro de suas pesquisas Alguns retomaram antigos trabalhos revendoos com novos olhos outros procederam a recortes específicos no quadro de pesquisas mais amplas outros por fim es creveram os textos sob encomenda Houve por parte de todos uma determinada intenção de colaborar a fim de produzir uma publicação que possa ser lida como um balanço historiográfico sobre o tema e um apelo a novas pesquisas Como última palavra gostaria de reforçar a importância do trabalho coletivo e exploratório como melhor caminho para o avanço do conhecimento histórico e da pesquisa científica Por isso agradeço de modo especial aos que aceitaram participar deste projeto e desejo a todos os leitores que tomem o que foi feito como um ponto de partida para novas pesquisas Gostaria ainda de agradecer a Bruno Rossato pelos croquis das rotas africanas e ao Dr Heinz Peter Brogiato por intermédio de quem a LeibnizInstitut für Länderkunde Leipzig gentilmente nos cedeu a imagem da capa Por fim não posso deixar de mencionar a dedicação e o companheirismo da equipe da EdUFF e a iniciativa da Universidade Federal Fluminense de implementar um programa edi torial de incentivo e financiamento de publicações de pesquisadores dessa universidade sumário introdução 8 Mariza de Carvalho Soares o fidAlgomercAdor frAncisco Pinheiro e o negócio dA cArne humAnA 17071715 30 Carlos Gabriel Guimarães indícios PArA o trAçAdo dAs rotAs terrestres de escrAvos nA BAíA do Benim século Xviii 61 Mariza de Carvalho Soares dAmAs mercAdorAs As PretAsminAs no rio de JAneiro século Xviii A 1850 96 Sheila de Castro Faria rosA egiPcíAcA de escrAvA dA costA dA minA A flor do rio de JAneiro 131 Luiz Mott o cAso dA escunA DestemiDa rePressão Ao tráfico nA rotA dA costA dA minA 18301831 153 Ana Flávia Cicchelli Pires negrAsminAs no rio de JAneiro gênero nAção e trABAlho urBAno no século XiX 186 Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio dos Santos Gomes Ardis dA liBerdAde trABAlho urBAno AlforriAs e identidAdes 220 Juliana Barreto Farias referênciAs 252 soBre os Autores 301 ANEXO descrição dos Portos vilAs e AldeiAs dA costA dA minA c 1786 301 Mariza de Carvalho Soares mAPA 313 Introdução Mariza de Carvalho Soares A historiografia da escravidão e do tráfico atlântico Partindo de diferentes pressupostos em diferentes épocas e com objetivos diversos muitos historiadores contribuíram para uma im portante mudança nos estudos sobre a escravidão e o tráfico de es cravos no Brasil Os desdobramentos dessa nova perspectiva têm mostrado que a sociedade colonial e o Império impuseram certos limites às formas de organização das populações escrava e forra Por outro lado mesmo os africanos desembarcados adultos e sem qual quer contato anterior com o chamado mundo ocidental aprende ram a moverse e organizarse no interior dessa nova ordem criando alternativas concretas de vida e mesmo de ascensão social de acordo com as condições particulares que a situação ao lon go do tempo ofereceu1 No Brasil esse novo entendimento abriu cami nho para que a História da Escravidão pudesse se nutrir de uma perspectiva historiográfica que hoje incorpora não apenas o tráfico atlântico mas a diáspora africana e as diferentes condições nas quais os africanos deixaram a África e foram in seridos nas sociedades americanas de um modo geral2 Tal perspectiva foi ampliada e repensada por meio do estreitamento dos contatos acadê micos entre historiadores brasileiros e estran geiros que começam a ser lidos regularmente e traduzidos no Brasil fazendo surgir uma nova lei tura da escravidão no Brasil mais atenta às suas ligações com a África3 embora ainda esteja em débito com a historiografia caribenha pouco di vulgada4 Merecem ainda destaque a tradução de alguns trabalhos de historiadores de outras áreas 9 de estudo que influenciaram fortemente a historiografia brasileira da escravidão5 Com essa rápida retrospectiva quero reforçar a ideia de que a disponibilização de trabalhos importantes a partir do final dos anos 1980 e ao longo dos anos 1990 não apenas indica o interesse nesses trabalhos mas permitiu a formação de um pequeno repertório de leituras que marcaram fortemente a historiografia da escravidão dos últimos 20 anos colaborando para a partir dos anos 1990 mudar de modo irreversível o patamar dos estudos sobre a escravidão nas Américas em geral e no Brasil em particular Já não é mais possí vel pensar a escravidão sem levar em conta a expansão comercial no Atlântico já não é possível pensar as escravarias dos engenhos cidades minas e fazendas de café sem destacar a presença e a es pecificidade dos africanos já não é possível pensar a ilustração os movimentos abolicionistas e o fim da escravidão no Brasil sem levar em conta as revoluções atlânticas6 Por intermédio do enfoque do lugar do porto do Rio de Janeiro no circuito atlântico a coletânea Rotas Atlânticas da Diáspora Africana da Baía do Benim ao Rio de Janeiro procura identificar as trocas e fluxos do tráfico atlântico a distribuição das procedências africanas aí encontradas e suas formas de organização no cativeiro A partir de diferentes pontos de vista os textos aqui apresentados tratam da Costa da Mina e dos chamados pretosminas cuja procedência são os vários portos da Baía do Benim entre os séculos XVII e XIX Ao lon go dos últimos 10 anos o debate sobre os significados do termo mina em suas várias acepções aproximou um conjunto de autores que de um modo ou de outro passaram a se referir mutuamente o que tem enriquecido o debate e aberto novas perspectivas de pesquisa Na historiografia brasileira recente o tema foi abordado inicial mente por Maria Inês Côrtes de Oliveira7 Por ocasião do Seminário II Encontro de História da UFF Sociedade e Escravidão debate das in terpretações realizado em outubro de 1997 a mesaredonda Etnia e Identidades reuniu três comunicações que davam destaque à ques tão das categorias identitárias de africanos no Brasil8 Embora traba lhos anteriores tenham abordado a temática das identidades étnicas africanas na diáspora em especial João Reis já na primeira edição de Rebelião Escrava no Brasil 1986 e Mary Karasch em Slave Life in Rio de Janeiro 1987 é a partir de então que o debate sobre a iden tidade étnica dos escravos africanos se coloca de modo definitivo 10 no cenário da historiografia da escravidão no Brasil Minha pesquisa enfoca de modo particular os chamados pretosminas na cidade do Rio de Janeiro no século XVIII9 Na literatura internacional o debate sobre os minas tem sido alvo da atenção da historiadora da escravidão Gwendolyn Midlo Hall e do africanista Robin Law10 É importante acrescentar que a discussão sobre a identidade mina é parte de um debate mais amplo sobre as identidades africanas na diáspora que vem sendo apresentado em livros e revistas internacionais em especial History in Africa e Slavery and Abolition11 O tráfico atlântico Muitos foram os esforços a fim de dimensionar o volume e o im pacto do tráfico atlântico W E B Du Bois e Carter G Woodson foram pioneiros já na virada do século XIX para o XX quando no Brasil ainda eram fortes as marcas da escravidão12 Depois deles outro grande passo foi dado por Philip Curtin no famoso livro The Slave Trade a cen sus de 1969 que apresentou a primeira estimativa do tráfico atlântico fortemente assentada em fontes primárias A par tir de então vários historiadores dedicaramse a segmentos espe cíficos do tráfico e novas estimativas mas foi com a divulgação do projeto The transatlantic slave trade a database on CDROM que os números apresentados por Curtin foram novamente revistos com a entrada em grande escala de nova documentação já com resultados preliminares mas ainda sem a divulgação dos resultados finais do projeto13 Os dados apresentados a seguir baseiamse nos números mais recentes fornecidos por David Eltis coordenador do projeto em publicações recentes Segundo ele o projeto define como Baía do Benim a extensão do litoral africano entre o Rio Volta e o delta do Niger14 Para uma melhor compreensão dos dados apresentados é im portante reforçar que ficam de fora desta definição a chamada Costa do Ouro a leste do Rio Volta onde fica localizado o Castelo da Mina e os portos de Elem Kalabari e Bonny localizados no lado oeste do delta do Niger e já fora dele Velho Calabar área englobada pela Baía de Biafra Como escravos vindos dos portos a oeste do Rio Volta e a leste do delta do Niger são raros no Brasil essa delimitação nos é largamente favorável O quadro abaixo oferece um painel dos portos da Baía do Benim que exportaram escravos para as Américas 11 Quadro 1 Estimativa de partida de escravos dos portos da Baía do Benim 16501865 em milhares Popó Ajudá Jaquem Epê Porto Novo Badagri Onim Lagos Rio Benim outros TOTAL 165175 10 209 219 167600 27 1334 859 09 2229 170125 18 3744 286 12 16 4075 172650 438 1779 212 360 153 109 10 3062 175175 201 1304 06 172 117 328 36 362 03 2530 177600 150 783 56 05 968 181 240 251 09 2644 180125 72 725 09 192 141 1142 46 47 2366 182650 119 829 19 77 52 1706 12 68 2884 185165 11 247 49 70 377 TOTAL 1036 10755 1656 537 1354 855 3173 792 232 20390 Fonte ELTIS David The Diaspora of Yoruba Speakers 16501865 dimensions and implications In FALOLA Toyin CHILDS Matt Ed The yoruba diaspora in the Atlantic World BloomingtonIndianapolis Indiana University Press 2004 p 24 tabela 23 Esta entrada reúne tanto os embarques do Gran Popó quanto do Popó Pequeno Embora estes portos sejam bem distantes um do outro como indica Eltis os números foram reunidos porque nem sempre a documentação é clara nesta distinção O crescimento das exportações da Baía do Benim começa em tor no de 1630 Até 1650 o tráfico esteve a cargo de comerciantes portu gueses e holandeses mas desde então ingleses e franceses passaram também a traficar levando escravos para suas colônias no Caribe e no continente americano As primeiras estimativas para o século XVII que reveem os dados de Curtin para a Baía do Benim são de Patrick Manning em seu livro publicado em 1982 Segundo ele 1670 é uma décadachave época em que as exportações duplicam O mais importante em seu argumento foi ter chamado a atenção para o fato de que a maioria dos escravos traficados pode ser identificada como ajá15 Já nas últimas décadas do século XVII existe um comércio regular de escravos e mercadorias entre a Baía do Benim e diversos portos escravistas das Américas entre eles o da cidade de Salvador A par tir de 1690 quando aumenta a exportação de escravos pelos portos da Baía do Benim essa região passa a ser conhecida como Costa dos Escravos sendo que grosso modo coincide com a área ocupada pelos povos falantes de línguas gbe e seus vizinhos16 A documenta ção portuguesa à diferença da inglesa e da francesa mantém o uso da terminologia quinhentista Costa da Mina o que dificulta a identificação dos segmentos da costa ocidental frequentados pelos portugueses Pela distribuição do tráfico é possível concluir que seu 12 maior volume se concentra nos portos da Baía do Benim embora os portugueses tenham ocasionalmente negociado tanto a leste quan to a oeste17 A partir dos primeiros anos do século XVIII negociando com ouro trazido de Minas Gerais os comerciantes da cidade do Rio de Janeiro começam a enviar embarcações em busca de escravos na Costa da Mina rota até então restrita à Bahia Em 20 de junho de 1703 o go vernador da Bahia D Rodrigo Costa 17021705 escreve uma carta ao rei de Portugal informando que moradores do Rio de Janeiro es tão comprando escravos na Costa da Mina com o ouro desviado do quinto18 os moradores do Rio de Janeiro e das capitanias suas anexas continuam a mandar há poucos anos várias embarcações a resgatar escravos a Costa da Mina o que até agora não faziam achei que a maior importância de suas carregações era ouro em pó e em barras e que o negócio que haviam de fazer com os negros da dita Costa levando para isso os gêneros cos tumados o fazem com os estrangeiros Em setembro do mesmo ano o rei D Pedro II proíbe a ida de em barcações do Rio de Janeiro à Costa da Mina19 e em seguida institui uma cota para importação de escravos da Costa da Mina limitando a 1200 os escravos destinados ao Rio de Janeiro e a 1300 os destina dos a Pernambuco e mantendo os 200 destinados a Minas Gerais Os demais deveriam permanecer na Bahia Na verdade muitos desses escravos foram reembarcados por mar para o Rio de Janeiro e outros tantos foram enviados nas carregações que atravessavam o Sertão da Bahia em direção a Minas Gerais A lei nunca era cumprida e ter minou por ser abolida em 171520 Assim sendo ao iniciar o século XVIII já existiam duas rotas de escravos em direção às lavras de ouro a primeira saía da cidade de Salvador e passando pela Vila de Cachoeira seguia por terra pelo Caminho do Sertão até as Minas a outra saía de Salvador por mar passava pelo Rio de Janeiro onde se juntava à rota que vinha da Costa da Mina para o Rio Janeiro seguia por mar para a Vila de Parati e daí subia por terra a Serra da Mantiqueira até chegar às Minas Embora a documentação que registra esses deslocamentos seja escassa um Livro de Passaportes e Guias da cidade de Salvador 13 indica que entre os anos de 1718 e 1729 saíram dessa cidade 21 238 escravos sendo que 19500 deles com destino a Minas21 O Livro não esclarece mas tal número só pode ter sido atingido incorporando os escravos novos recémchegados da África A considerar o quadro acima pelo menos boa parte deles deve ter sido embarcada no porto de Ajudá A rota entre Rio de Janeiro e Minas Gerais na primeira metade do século XVIII para fornecer escravos para as lavras mineiras já apon tada por mim anteriormente foi identificada por Fernanda Pinheiro que estudou os pretosminas reunidos na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Mariana Por meio de um conjunto de cartas de alforrias foi possível verificar que muitos dos escravos alforria dos foram comprados de comboieiros vindos do Rio de Janeiro ou foram adquiridos pessoalmente por seus senhores na cidade do Rio de Janeiro e depois transportados serra acima Certamente a quase totalidade deles chegou à Bahia sendo depois reembarcados para o Rio de Janeiro Todos trabalharam nas lavras dos arredores do Arraial do Carmo depois Mariana onde foram batizados22 Nesse sentido embora Rio de Janeiro e Bahia possam diferir em termos de volume do tráfico com a Baía do Benim ambos recorrem aos mesmos portos e recebem escravos de igual procedência com o objetivo de abastecer as lavras de ouro de Minas Gerais Portanto entre Rio de Janeiro Bahia e Minas Gerais mais do que diferenças étnicas e linguísticas parecem existir diferenças na forma de classifi cação desses indivíduos em termos das nações que operam em cada lugar assim como no tratamento das fontes disponíveis23 Nesse sen tido um maior entrosamento das pesquisas é certamente o caminho mais fértil para uma compreensão das redes comerciais do modo como em cada localidade esses escravos experimentaram a escravi dão e como reagiram a ela e finalmente que bagagem cultural trou xeram e como fizeram uso dela no cativeiro Diante dos dados de Eltis é possível concluir que o crescimento da entrada de africanos da Baía do Benim pelos portos da Bahia e do Rio de Janeiro resultou de uma demanda explosiva de escravos nos primeiros anos da mineração em Minas Gerais O período com maior número de escravos saídos da Baía do Benim corresponde ao primeiro terço do século 407500 escravos embarcados entre 1701 e 1735 sendo que 374400 pelo porto de Ajudá nos anos seguintes os números caem lentamente até o final do tráfico24 14 Por fim devese considerar as diferentes procedências no interior da própria Baía do Benim Existiram certamente muitos indivíduos e pequenos grupos traficados cuja procedência está perdida para sem pre Entretanto para muitos outros é possível reconstituir se não os locais exatos pelo menos algumas grandes áreas geográficas que po dem grosso modo se associar a grupos étnicos e a famílias linguís ticas Como já tem sido discutido o uso de classificação linguística como critério para identificação e diferenciação de grupos na África é pouco preciso25 No caso da Baía do Benim é possível estabelecer três áreas geográficas razoavelmente distintas Assim sendo e com todas as ressalvas necessárias me refiro aqui a uma área geográfica ocupada majoritariamente por grupos de lín gua gbe que abrange o litoral e a primeira hinterlândia do atual Togo e Benim até o norte do antigo Daomé onde os mahis partilham cer tos territórios com grupos iorubás26 a segunda área ocupada por grupos e cidades iorubás estendese pelo interior da atual Nigéria até o Niger e ao norte até o território haussá a terceira área locali zada ao norte onde estão os haussás e outros povos vizinhos como baribas tapas chambas borgus Entre os séculos XVII e XIX toda essa região passou por profundas modificações e foi fortemente afe tada pelo tráfico de escravos assim como pela expansão do Islã sem esquecer que um e outro estiveram estreitamente ligados As três grandes áreas a que me refiro aqui tem sentido pelo modo como os escravos a elas se reportam tanto na Bahia quanto no Rio de Janeiro a primeira e a segunda estão englobadas na categoria mina A terceira é ainda uma incógnita já que a escassa presença no Rio de Janeiro de escravos dessa procedência dificulta a identi ficação de formas coletivas de organização Tal fato é preciso dei xar claro não elimina outras alianças e tem como objetivo apenas ser um ponto de partida para compreender a procedência dos es cravos Para citar apenas um argumento contra essa generalização lembro minha própria pesquisa indicando a presença de oiós entre os mahis na irmandade de Santo Elesbão no século XVIII27 e o artigo de Nicolau Parés sobre o processo de nagoização na Bahia no final do século XIX28 Esse argumento tem como objetivo mostrar que as formas de or ganização no cativeiro podem ser mais ou menos inclusivas e mu dar ao longo do tempo Enquanto como foi demonstrado os povos de língua gbe foram traficados desde o início do tráfico atlântico os 15 povos de língua iorubá só começaram a ser traficados em larga esca la na segunda metade do século XVIII e só se tornaram majoritários nas exportações atlânticas depois da década de 1820 com o colapso de Oió29 Esses dados são comprovados pelo Slave Trade Database e mostram a complexidade de opções que os traficados tiveram diante de si Esse é o motivo de na maioria dos casos ser impossível falar em identidade étnica já que na maior parte das vezes as alianças em cativeiro envolvem pessoas e grupos multiétnicos e multilíngues que não podem ser ignorados O quadro abaixo mostra a alternância no tráfico de escravos oriundos das áreas gbe e iorubá com a ressalva de que no meio deles podem existir minorias não identificadas Quadro 2 Estimativa da saída de escravos da Baía do Benim por grupo linguístico30 16501865 em milhares Gbe e outros Iorubás e outros TOTAL 165175 197 22 219 167600 2007 222 2229 170125 3658 417 4075 172650 2167 895 3062 175175 1129 1401 2530 177600 915 1729 2644 180125 252 2114 2366 182650 310 2574 2884 185165 70 307 377 TOTAL 10708 9682 20390 Fonte ELTIS David The diaspora of yoruba speakers 16501865 dimensions and implications In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 Com base nas tabelas 23 e 25 A partir do último quartel do século XVIII a relação entre os ioru bás e demais traficados se inverte progressivamente em especial a partir de 1817 com os conflitos que envolveram Ilorin e Oió31 O mais importante a ser destacado é que nas faixas entre 182650 e 185065 o tráfico está majoritariamente destinado ao Brasil e a Cuba e no Brasil os iorubás se concentram na Bahia de onde um número ainda não estimado se deslocou para o Rio de Janeiro Esse perfil pode ser analisado ainda do ponto de vista da entrada desses escravos no Brasil por meio do quadro a seguir que mostra a distribuição dos iorubás por áreas de desembarque32 16 Quadro 3 Estimativa de saída de escravos iorubás falantes para o Brasil por região de chegada 16501865 em milhares Nordeste Bahia Sudeste TOTAL 165175 167600 48 48 170125 01 91 01 93 172650 07 47 54 175175 07 506 513 177600 793 793 180125 38 1752 10 1800 182650 17 1162 284 1463 185165 22 22 TOTAL 69 4398 317 4784 Fonte ELTIS David The diaspora of yoruba speakers 16501865 dimensions and implications In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 Tabela 25 p 3031 A tabela apresenta um erro evidente o número indicado é 977 onde deve ser 10 Fica nítida a concentração no período a partir do último quartel do século assim como sua alta concentração na Bahia Essa cons tatação em termos gerais não difere do que já havia sido dito por Maurício Goulart e depois por Pierre Verger mas coloca a rota entre a Baía do Benim e a Bahia no quadro mais amplo da demografia do tráfico e ratifica no detalhe os números divulgados anteriormente33 Destaco ainda as 28400 entradas no sudeste que abarcam tan to os escravos que devem ter sido destinados ao Vale do Paraíba e ao sul em geral quanto os chegados ilegalmente e recolhidos pela Comissão Mista34 Se 10 deles tiverem permanecido na cidade do Rio de Janeiro sua presença já seria bastante significativa O Daomé exportou escravos até as últimas remessas transatlânticas35 É inter essante notar que posteriormente a 1850 são ainda identificadas 2200 entradas de escravos no Brasil todas no Sudeste A procedência dos escravos africanos Os dados referentes às exportações da Baía do Benim e à entra da de escravos desses portos na cidade do Rio de Janeiro são de pouca importância em termos da demografia do tráfico atlântico Entretanto a força da presença mina na cidade desde o início do século XVIII até as primeiras décadas do século XX mostra que uma análise mais apurada das rotas do Atlântico precisa ser feita em re lação ao Rio de Janeiro e quem sabe em relação a muitas outras regiões em que o mesmo encobrimento de rotas minoritárias possa ter ocorrido 17 O interesse pelas rotas majoritárias e a importância das pesqui sas realizadas sobre elas na verdade terminou por provocar uma de satenção sobre as rotas minoritárias O trabalho de Verger sobre o tráfico com a Baía do Benim e o de Manolo Florentino e Luiz Felipe de Alencastro sobre o tráfico com Angola na verdade pela força de seus respectivos argumentos fizeram com que não prosperasse por um lado a pesquisa sobre os contatos comerciais diretos ou indi retos entre o Rio de Janeiro e a Baía do Benim e por outro lado as ligações entre Bahia e Pernambuco e Angola36 Acrescentese a isso a ressalva já feita anteriormente de que na medida em que leva em conta apenas o primeiro desembarque e não a distribuição dos lotes de escravos no Brasil os números usualmente apresentados pelos estudiosos do tráfico inclusive os aqui apresentados a partir de Eltis por serem os únicos disponíveis na verdade mascaram o destino fi nal dos escravos que fica em grande parte desconhecido e dependen te de documentação local tal como a que se refere ao pagamento dos direitos os passaportes registros paroquiais alforrias inventários Este seria em princípio um problema a ser enfrentado pelos historiadores da escravidão e não da África e do tráfico atlântico Entretanto o que quero destacar aqui é que ao considerar como rota de tráfico a ligação entre os portos atlânticos de embarque e desem barque o Slave Trade Database e todos os outros cálculos feitos na mesma base dão margem ao entendimento de que esta seria a rota do comércio atlântico quando na verdade indica apenas um segmento dessa rota aquele que pode ser apreendido na documentação seria da utilizada Ficam de fora dele tanto o trecho terrestre ou marítimo costeiro percorrido pelos escravos até os portos de embarque como também o trecho que leva os escravos de seu desembarque até o destino final O alerta para esse problema tem em mente não apenas o conheci mento da totalidade das rotas mas a própria concepção do que seja uma rota ou seja a identificação dos pontos de saída e chegada as paradas os caminhos percorridos as relações comerciais aí envolvi das como os créditos o modo de comerciar os vínculos que se criam entre os comerciantes a escolha das mercadorias negociadas a se leção dos escravos e os motivos que os levaram à escravidão e tan tas outras coisas Assim sendo a rota que traz escravos da Baía do Benim para o Brasil precisa ser entendida em toda essa complexidade 18 porque só assim será possível avançar no conhecimento dos povos traficados e na sua difícil inserção na sociedade escravista Foi com esse intuito que a presente coletânea enfocou as redes comerciais e as fontes locais da cidade do Rio de Janeiro para mos trar que apesar da pouca expressão na demografia do tráfico os chamados pretosminas se constituíram como uma minoria na ci dade do Rio de Janeiro mas desempenharam um papel social muito particular e determinante no quadro da escravidão urbana Devido à sua forte presença na documentação é possível responder a algumas questões para as quais não se encontravam respostas na documen tação do tráfico Como não será difícil concluir as informações sobre as áreas for necedoras de escravos são as mais escassas Por outro lado lendo a literatura africanista é possível concluir que também para os histo riadores da África essa identificação é uma deficiência tendo em vis ta que grande parte da documentação na qual se baseiam correspon de a registros dos traficantes e não dos traficados sendo que grande parte dela é de caráter comercial pouco elucidativa sobre temas da geografia e da história social dos povos escravizados Por isso numa certa ironia tem sido os historiadores da escravidão e os historiado res da África voltados para o estudo da diáspora que com todos os riscos que tal metodologia implica têm avançado nessa perspectiva Para o Rio de Janeiro numa amostra que toma livros de assen to de batismo de escravos da cidade do Rio de Janeiro entre 1718 e 1760 num total de 6609 escravas que batizaram seus filhos portanto uma amostra composta apenas por mulheres 95 foram indicadas como procedentes da Costa da Mina37 Em Ouro Preto entre 1712 e 1750 do total dos escravos africanos batizados 32 foram regis trados como vindo da Costa da Mina38 Combinando as ocorrências encontradas nas duas capitanias ao longo do século XVIII é possível perceber que embora presentes em proporções bem diferentes os escravos da Costa da Mina recebem mais ou menos as mesmas desig nações Os sabarus39 mahis40 chambas41 os couracouranos e os co bus42 aparecem no Rio de Janeiro e em Minas Gerais Em Minas Gerais aparecem ainda os nagôs43 os ladas ou seja vindos de Aladá44 e jaquim Jaquem45 No Rio de Janeiro são mencionados também os da gomés do Daomé46 os ianos ou oiós e agolins vindos de Agonli47 que não aparecem em Minas Gerais Para a Bahia os dados são mais 19 tardios mas como se tratam de inventários e não assentos de batis mo podem corresponder a um mesmo período Nos inventários ana lisados por Verger entre 1737 e 1841 constam para o século XVIII seis minas 1737 um jeje 1739 um savaru savalu um maquim maki mahi e um lada aladá 177948 Os números são bem menores já que não existem cálculos com base nos batismos e por isso não chegam a ter relevância demográfica mas podem exemplificar a presença das mesmas designações49 Alguns desses nomes podem ser facilmente associados a lugares portos povoados ou grupos africanos Outros são ainda de difícil identificação tais como couranos e cobus O importante a ser destacado é que essas recorrências demons tram claramente um perfil e o caminho dos escravos traficados da Baía do Benim para o Brasil e sua distribuição nos portos de desem barque Rio de Janeiro e Bahia e o posterior deslocamento para Minas Gerais ou seja o trecho final da rota atlântica que se inicia na hinterlândia da Baía do Benim para se estender até Minas Gerais até Mato Grosso por terra e até o Prata por mar Por isso os escravos minas encontrados na cidade do Rio de Janeiro e em menor escala em outras localidades da capitania são certamente pequenos lotes encomendados ou desgarrados dessa longa e pouco estudada rota cujo modo de operar e cujas mudanças ao longo do tempo ainda es tão por ser estudadas Os negócios de Francisco Pinheiro importan te negociante reinol da virada do século XVII para o XVIII tema do segundo capítulo deste livro é um exemplo dessa ampla e complexa rede O caso de Ignacio rei mahi na cidade do Rio de Janeiro no sécu lo XVIII mostra outro aspecto da história o modo como os próprios traficados deixam as marcas de seus deslocamentos pistas valiosas para desvendar os segmentos desconhecidos das rotas atlânticas Para o século XIX uma documentação mais farta permite conhecer melhor o trabalho dos escravos urbanos que circulam pelas ruas como mostram os dois textos finais deste livro É difícil responder se há e qual é a especificidade dessa geração de traficados perante os demais escravos na medida em que cada vez mais ao longo do sécu lo XIX todos passam a ser chamados apenas de africanos Para chegar à composição da nação mina no século XIX foi neces sário procedimento equivalente ao do XVIII buscar na documenta ção seriada ou avulsa dados que pudessem elucidar a questão Mais uma vez recorro à listagem dos inventários apresentada por Pierre Verger para a Bahia Segundo ele entre 1801 e 1840 os inventários 20 listam um total de 59 escravos ditos jejes e minas 62 escravos ditos barba bariba tapa e ussa haussá e 297 ditos nagôs50 Se conside rarmos que a quase totalidade dos minas do Rio de Janeiro no século XIX foram traficados da Bahia podemos admitir que esta deve ser a composição aproximada dos escravos da Baía do Benim no período tanto lá quanto aqui Um caso à parte no Rio de Janeiro são os cala bares traficados da Baía de Biafra que não aparecem na Bahia mas podem ser encontrados no Rio de Janeiro Não é possível saber em que medida estão ou não encobertos no interior do grupo mina A única pista de que podem não estar é o fato de que assim como os haussás aparecem diferenciados em várias fontes como um livro de batismo de escravos 18021821 que indica 38 calabares e um livro de entrada de irmandade mina que indica a filiação de 7 calabares51 As nações no Rio de Janeiro O termo nações africanas é cunhado fora da África para dar aos escravos transmigrados uma unidade que nunca lhes foi própria e que nem sempre existiu aqui tampouco Ao longo de toda a vigência do tráfico atlântico nações corresponderam ao modo de classificar a procedência dos escravos traficados e distinguiam angolas de minas moçambiques cabosverdes e outros É no século XIX principalmen te a partir da elaboração da legislação antitráfico que o termo afri cano começa a aparecer com maior frequência na documentação se consolidando esse uso na designação de africano livre ou seja aqueles escravizados ilegalmente e resgatados pela Comissão Mista BrasilInglaterra que aparecem no capítulo quinto52 Sobre a variedade de nações encontradas no Brasil assim como em outras partes das Américas é importante esclarecer que essas nações devem ser entendidas como categorias que agrupam a po pulação escrava africana e que nesse sentido não correspondem a grupos étnicos Por outro lado são constituídos tendo como re ferência alguns critérios entre os quais os grupos étnicos lugares e outras variáveis que compõem os referentes de uma determinada rota fazendo portanto de algum modo parte da experiência dos traficados Enfrentando a problemática das mudanças decorrentes da escravidão se beneficiando de falarem duas ou mais línguas53 reelaborando antigas formas de convivência e conflito com seus vi zinhos os escravos submetidos ao tráfico atlântico têm diante de si 21 a possibilidade de redefinir suas identidades e as fronteiras que os separam Desse longo e drástico processo surgem novas formas de organização que ficaram conhecidas como nações Mas é importan te ficar claro que uma vez designados dessa forma pelos agentes en carregados da identificação dos escravos traficados comerciantes por ocasião das transações comerciais padres por ocasião dos bati zados autoridades por ocasião da emissão de passaportes prisão os indivíduos reunidos no interior de uma nação podem optar por usar esse rótulo como ferramenta para a organização ou não Na verdade a palavra nação reúne dois momentos da consti tuição dessa identidade o ato de designar a nação próprio às agên cias de escravização e o ato de assumir essa nação como uma mo dalidade de autoidentificação É por combinar essas duas operações que a nação se tornou um mecanismo tão eficaz de identificação ge rando uma identidade que os minas em particular tornam operativa e geradora de formas organizacionais Nesse sentido falar das nações é reproduzir no texto historiográ fico uma categoria de época presente na documentação que por si só nada diz sobre os indivíduos assim designados Em trabalho anterior desenvolvi a noção de grupo de procedên cia com o objetivo de mostrar a especificidade das formas organiza tivas dos escravos traficados da África para as Américas estudando em particular o caso dos chamados pretosminas que compõem a nação mina54 Por isso para além da pesquisa que venho desen volvendo sobre os minas quero aqui destacar que embora outras nações possam ter existido como efetivamente aconteceu com os angolas cabindas e moçambiques entre outros elas podem ou não ter optado como fizeram os minas por construir estratégias de ação conjunta tendo a nação como definidora das fronteiras do grupo Os quilombos até onde se sabe parecem ter sido formas organizati vas mais abrangentes e pouco atreladas ao quebracabeça das nações ou dos grupos étnicos55 nas irmandades do Rosário é usual uma forte aliança entre angolas e crioulos não parecendo haver entre eles o mesmo tipo de exclusão que ocorre em relação aos minas Por outro lado mesmo os que assim o fizeram e isso precisa ser melhor estu dado mostraram a possibilidade de outras escolhas Os haussás da Bahia optaram pela revolta religiosa56 os nagôs pela rebelião escra va57 já os cabindas do Rio de Janeiro que começam a ser estudados parecem agir de modo muito mais individual do que grupal 22 Foi justamente para poder voltar ao tema dos minas na cidade do Rio de Janeiro sob um ponto de vista diferente do já por mim ado tado e avaliar a diversidade de situações que ocorrem que planejei esta coletânea Os textos aqui apresentados foram todos pensados a partir da contribuição específica de cada um dos autores Em seu conjunto estão longe de fornecer um panorama historiográfico des sa rota entre a Baía do Benim e o Rio de Janeiro mas representam o atual investimento individual e coletivo na compreensão da especifi cidade da escravaria africana no interior da sociedade escravista no Brasil colonial e imperial O objetivo do livro é portanto mostrar as pesquisas já realiza das e em andamento a fim de fornecer aos leitores e pesquisadores novos desdobramentos e sugestões de pesquisa Não há como se verá uma uniformidade teórica ou mesmo uma concordância entre os autores na análise de alguns aspectos da documentação algumas vezes recorrente entre os textos Sobre essa falta de afinação entre os autores vale lembrar que se trata de um campo de pesquisa em cons trução no qual ainda estamos longe de orquestrar qualquer trabalho conjunto de maior fôlego No atual estágio da pesquisa as divergên cias têm sido valiosas para estimular novas formas de entendimento e incentivar a multiplicação dos ainda escassos trabalhos monográfi cos sobre os africanos no cativeiro Os capítulos estão organizados em ordem cronológica O primei ro O fidalgomercador Francisco Pinheiro e o negócio da carne humana 17071726 é de autoria de Carlos Gabriel Guimarães Nele o autor descreve a movimentação comercial desse rico comerciante em suas carregações para a Costa da Mina com destino ao Rio de Janeiro mostrando que a decisão de atuar ou não em cada segmento desse tráfico está associada às condições de comércio como um todo e à maior ou menor oferta de escravos em cada área exportadora O meu texto de um lado trata da demanda de escravos para as áreas mineradoras de Minas Gerais que passam pelo porto do Rio de Janeiro e do outro apresenta uma hipótese sobre a procedência desses escravos argumentando que podem ter vindo do interior da Baía do Benin e não da área costeira O texto de Sheila de Castro Faria Damas mercadoras as pretas minas no Rio de Janeiro século XVIII1850 mostra a longevidade das estratégias das mulheres minas comerciantes nas ruas da cidade Se de um lado acionam a identidade mina construída no cativeiro 23 por outro trazem com elas a sabida habilidade feminina colocada em prática nos mercados espalhados pelas cidades e aldeias da Baía do Benim de onde provêm A presença das mulheres minas é ainda reforçada pelo texto de Luiz Mott Rosa Egipcíaca de escrava da Costa da Mina a Flor do Rio de Janeiro que apresenta um resumo de sua rica biografia da escrava Rosa de nação courana natural da Costa da Mina58 Este texto retoma a questão étnica colocada no tex to anterior e abre caminho para pensar as estratégias individuais que caminham paralelas às formas de organização de grupo abordadas nos textos anteriores Passando ao século XIX o texto de autoria de Ana Flávia Cicchelli Pires O caso da escuna Destemida repressão ao tráfico na rota da Costa da Mina 18301831 aborda o outro extremo da cronologia do tráfico atlântico tratando da questão do tráfico ilegal por meio da análise de um processo de apresamento de uma embarcação vinda da Costa da Mina para a Bahia mas que vai ser remetida ao Rio de Janeiro pelos ingleses em 1830 local em que os chamados africanos livres são finalmente desembarcados Os textos que se seguem mais uma vez abordam as temáticas de gênero e trabalho iniciando com Flávio dos Santos Gomes e Carlos Eugênio Líbano Soares Negras minas no Rio de Janeiro gênero nação e trabalho urbano no século XIX no qual os autores fazem um vasto levantamento das estratégias individuais de ação dos mi nas Este texto à diferença dos anteriores privilegia os laços com a Bahia e a importação de estratégias de conduta por meio da imigra ção dos nagôs da Bahia para o Rio de Janeiro a partir da década de 1830 O livro se encerra com o texto de Juliana Barreto Farias Ardis da liberdade trabalho urbano alforrias e identidades que abor da o trabalho dos ganhadores A autora atravessa as fronteiras da escravidão para chegar aos primeiros anos do século XX e mostrar como essas formas de organização baseadas em relações de gênero e trabalho perduraram por intermédio dos últimos pretosminas que ainda circulavam pela cidade do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX De um modo ou de outro o binômio trabalhogênero tem mos trando ser este não apenas um tema apreciado pelos historiadores mas uma temática que povoa a documentação disponível mostran do em que medida não apenas os textos foram produzidos sob essas chaves de conhecimento mas as fontes mesmas foram produzidas 24 sob a égide desses critérios organizativos da população escrava Procedência gênero trabalho religião são entre outras chaves mes tras para o acesso à compreensão das formas de organização social da população escrava e alforriada durante a vigência da escravidão A coletânea se completa com um anexo com destaque para uma descrição da Costa da Mina em documento datado de 1786 Notas 1 Destaco trabalhos abrangentes e clássicos da historiografia sobre escravidão no Brasil como GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extin ção do tráfico São Paulo AlfaOmega 1975 1 ed 1949 português BOXER C R A idade de ouro do Brasil dores de crescimento de uma sociedade colonial São Paulo Companhia Ed Nacional 1969 1 ed 1962 inglês COSTA Emília Viotti da Da sen zala à colônia Difel São Paulo 1966 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 1 ed 1968 em francês MATTOSO Katia M de Q Ser escravo no Brasil São Paulo Brasiliense 1988 1 ed 1979 francês RUSSEL WOOD A J R Escravidão e liberdade Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2005 1 ed 1982 inglês SCHWARTZ Stuart Segredos internos engenhos e escravos na sociedade colonial São Paulo Companhia das Letras 1995 1 ed 1984 inglês 2 Muitos trabalhos já vêm sendo feitos nesse sentido destacando as conexões entre o Brasil e a Baía do Benim tema deste livro No Brasil sem mencionar Nina Rodrigues e outros autores pioneiros a obra de Pierre Verger é um marco na historiografia contemporânea com o já mencionado Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX na década de 1980 João José Reis abriu o campo da pesquisa recente sobre os africanos na Bahia Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 1 ed 1986 em português assim como fez Mary Karasch para o Rio de Janeiro A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 1 ed 1987 inglês Em bora enfocando o tráfico entre o Rio de Janeiro e Angola dois trabalhos têm sido um importante contraponto para avançar na pesquisa sobre o tráfico na Baía do Benim para o século XVII ALENCASTRO Luiz Felipe de O trato dos viventes São Paulo Companhia das Letras 2000 para a primeira metade do século XIX ver FLORENTI NO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 1 ed Arquivo Nacional 1997 3 Entre a produção africanista dos anos 1980 a primeira obra a ser divulgada no Brasil foi o livro do antropólogo Claude Meillassoux Antropologia da escravidão o ventre de ferro e dinheiro Rio de Janeiro J Zahar 1995 1 ed 1986 francês lido mais por sua referência à escravidão que à África propriamente Outros trabalhos traduzidos posteriormente já atraíram a atenção por tratarem da história da África embora seu uso local continuasse na maioria dos casos vinculado aos estudos da escravidão Nos anos 1990 o primeiro destaque foi para o importante livro Transformations in Slavery 1982 de Paul E Lovejoy aqui lançado com o título A escravidão na África uma história de suas transformações Rio de Janeiro Civilização Brasileiro 2002 logo em seguida Africa and the Africans 1992 de John Thornton foi lançado com o título A África e os africanos na formação do Mundo Atlântico Rio de Janeiro Cam pus 2003 e lamentavelmente ainda não foi adiante o esforço pelo lançamento no Brasil do importante livro Way of Death de Joseph Miller As revistas AfroAsia e Es 25 tudos AfroAsiáticos por sua vez têm desempenhado um papel decisivo na tradução de textos de um conjunto variado de autores enfocando a temática da história da África e da diáspora africana 4 Excetuandose algumas poucas exceções praticamente não existem traduções da historiografia caribenha no Brasil O recente interesse pela história da África está provavelmente contribuindo para uma desatenção ainda maior pelo Caribe no Brasil Cito aqui alguns trabalhos disponíveis KLEIN Herbert A escravidão africa na na América Latina e Caribe São Paulo Brasiliense 1987 1 ed 1986 inglês o clássico trabalho sobre Cuba FRAGINALS Manuel Moreno O engenho complexo econômicosocial cubano do açúcar São Paulo HucitecUnesp 188889 v 13 1 ed 19 espanhol SCOTT Rebecca J Emancipação escrava em Cuba a transição para o trabalho livre 18601899 São Paulo Paz e Terra Unicamp 1991 1 ed 19 inglês JAMES C L R Os jacobinos negros Toussaint L Ouverture e a Revolução de São Domingos São Paulo Boitempo 2000 escrito em 1938 primeira edição em inglês 1963 5 Eugene Genovese Eric J Hobsbauwm Herbert Klein Richard Price e Sidney Mintz Edward Thompson 6 Para este debate contribuiu de modo inestimável especialmente pela possibilidade de divulgar o trabalho de historiadores brasileiros no exterior os projetos vincu lados à Rota dos EscravosUNESCO e em especial o Nigerian Hinterland Project dirigido por Paul Lovejoy que por intermédio de um conjunto de simpósios e publi cações colaborou decisivamente para a construção de uma rede de pesquisadores envolvidos com a temática da História da África da diáspora africana e da escravi dão Alguns livros já publicados representam esse esforço de modo exemplar Ver LOVEJOY Paul Org Identity in the shadow of slavery London Continuum 2000 CURTO José C LOVEJOY Paul E Ed Enslaving connections changing cultures of Africa and Brazil during the era of slavery New York Humanity Books 2004 LOVE JOY Paul TROTMAN David Ed TransAtlantic dimensions of ethnicity in the african diaspora London Continuum Press 2004 7 Cf OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de Retrouver une identité jeux sociaux des Africains de Bahia vers 1750 vers 1890 Paris Université de Paris Sorbonne Paris IV 1992 A tese nunca foi publicada mas deu origem a dois artigos Viver e morrer no meio dos seus Revista da USP São Paulo n 28 19951996 p 174193 e Quem eram os negros da Guiné a origem dos africanos da Bahia AfroÁsia Salvador v 1920 p 3773 1997 8 Refirome aqui às comunicações de Maria Inês Côrtes de Oliveira Marina de Mello e Souza e Mariza de Carvalho Soares Interessante notar que os textos aí apresentados são contemporâneos do texto de Robin Law sobre os lucumi e nagô Ver LAW Ro bin Ethnicity and the slave trade Lucumi and Nagô as ethnomyms in West África History in Africa Sl p 205279 n 24 1997 9 SOARES Mariza de Carvalho Identidade étnica religiosidade e escravidão os pre tos minas no Rio de Janeiro século XVIII Programa de PósGraduação em Histó ria Universidade Federal Fluminense Niterói 1997 SOARES Mariza de Carvalho Mina Angola e Guiné nomes dÁfrica no Rio de Janeiro setecentista Tempo Niterói v 3 n 6 p 7393 dez 1998 10 Em 2004 Hall lançou um artigo em livro organizado por Paul Lovejoy que recebeu em 2005 uma resposta de Law In LOVEJOY Paul TROTMAN David Ed Trans Atlantic dimensions of ethnicity in the african diaspora London Continuum 2004 Cf LAW Robin Ethnicities of the enslaved africans in the diaspora on the meaning of mina again History in Africa Sl v 32 p 247267 2005 HALL Gwendolyn Midlo Slavery and african ethnicities in the Americas restoring the links North California The University of North Carolina Press 2005 A tradução portuguesa do texto de Law pode ser encontrada na revista Tempo n 20 2006 11 Ver debate sobre a identidade iorubá envolvendo Biodun Adediran Robin Law e Lo rand Motory sobre os Ibo nos trabalhos de David Northrup e Douglas Chambers e 26 mesmo sobre os angola como artigo publicado por John Thornton Cf CHAMBERS Douglas B My own nation igbo exiles in the diaspora Slavery Abolition London v 18 n1 p 73971 997 12 MANN Kristin Shifting paradigms in the study of the african diaspora and of atlantic history and culture Slavery Abolition London v 22 n 1 p 321 apr 2001 13 CURTIN Philip The Atlantic slave trade a census Madison University of Wisconsin Press 1969 ELTIS David et al Ed The transatlantic slave trade a database on cd rom Cambridge Cambridge University Press 1999 14 ELTIS David The Diaspora of Yoruba Speakers 16501865 dimensions and impli cations In FALOLA Toyin CHILDS Matt Ed The Yoruba diaspora in the Atlantic World BloomingtonIndianapolis Indiana University Press 2004 p 18 15 MANNING Patrick Slavery colonialism and economic growth in Dahomey 1640 1960 Cambridge sn 1982 p 910 Os grupos de língua ajá atualmente aparecem como segmento dos gbe um tronco linguístico que inclui ainda línguas da família fon e outras isoladas como o mahi Sobre as línguas gbe ver CAPO H B C A com parative phonology of Gbe Berlin Foris Garome Bénin Labo Gbe 1991 e GBÉTO Flavien Le maxi du CentreBénin et du CentreTogo unapproche autosegmentale et dialetologique dun parler gbe de la section fon Köln Köppe 1997 16 LAW Robin The slave coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic slave trade on an african society Oxford Claredon 1991 p 14 2122 Ver mapa 18 17 Na definição portuguesa o que fica mais obscuro é a possibilidade de avaliar o trá fico português na Baía de Biafra devido à sua conexão com São Thomé Segundo Pierre Verger a Costa da Mina está a sotavento da Mina ou seja a leste do Castelo da Mina Essa delimitação que difere da apresentada por Eltis é reforçada por Ma ria Inês Cortes de Oliveira Ver VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 669675 OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de Quem eram os negros da Guiné a origem dos africanos da Bahia AfroAsia Salvador v 1920 1997 p 59 18 Arquivo do Estado da Bahia apud VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escra vos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 3940 19 As frequentes proibições para o comércio entre a cidade do Rio de Janeiro e a Costa da Mina podem explicar em parte a ausência de registros e a consequente invisibi lidade desta atividade 20 BOXER C R A idade de ouro do Brasil dores de crescimento de uma sociedade colonial São Paulo Companhia Ed Nacional 1969 p 6869 Para maiores detalhes sobre esse argumento ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 2 21 Arquivo Público Estado da Bahia Salvador Livro de passaportes e guias 7181729 doc 248 Agradeço a Anna Amélia Vieira Nascimento diretora do arquivo por suas sugestões para o levantamento documental por mim realizado nesse arquivo em 1998 Esses dados foram usados por mim em SOARES Mariza de Carvalho O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro século XVIII Topoi Revista de História Rio de Janeiro n 4 2002 nota 17 22 Foi o caso de Vitória alforriada em 1737 comprada a um comboieiro e de Ana tra zida do Rio de Janeiro por seu senhor que a alforriou em 1736 Sobre a remessa de escravos do Rio de Janeiro para MarianaMG na primeira metade do século XVIII ver PINHEIRO Fernanda Aparecida Domingos Confrades do Rosário sociabilidade e iden tidade étnica em Mariana Minas Gerais 17451820 Dissertação Mestrado Progra ma de PósGraduação em História Universidade Federal FluminenseNiterói 2006 p 138139 Sobre os batismos de minas nas primeiras décadas do XVIII em Minas Gerais ver MAIA Moacir C Quem tem padrinho não morre pagão as relações de compadres 27 e apadrinhamento de escravos numa vila colonial Mariana 17151750 Dissertação mestrado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 23 Com mais frequência do que a documentação equivalente no Rio de Janeiro os li vros de batismo a documentação das irmandades e as cartas de alforria mineiras informam a procedência dos escravos 24 Como a demanda de escravos sobe em praticamente toda a América esse aumento na demanda não chega a provocar um aumento no percentual de escravos pratica dos para o Brasil em relação à totalidade dos traficados 25 LAW Robin Ethnicities of the enslaved africans in the diaspora on the meaning of mina again History in Africa Sl v 32 p 247267 2005 THORNTON John K La Nation Angolaise en Amérique son identité en Afrique et en amérique Cahiers des Anneaux de la Mémoire Sl n 2 p 241255 2000 26 A referência aqui é à chamada língua geral da Mina Os minas têm tamanho desta que na população escrava de Minas Gerais que sua presença deu origem a um voca bulário da então chamada língua geral da Mina uma variante do gbe que ainda ca rece de análise detalhada tanto do ponto de vista histórico quanto linguístico Ver PEIXOTO Antônio da Costa Obra nova de Lingoa gal de mina traduzida ao nosso Igdioma por Antonio da Costa Peixoto Naciognal do Rno de Portugal da Provincia de Entre Douro e Minho do comcelho de Filgras Que com curuzide trabalho e desvello se expoz em aprendella pa tembem a emsignar a qm for curiozo e tiver vonde de a saber Eo Nas Minas Geraise Frga de Barmou Anno de 1741 Lisboa Agência Geral das Colônias 1949 Esse vocabulário foi analisado em dois trabalhos LARA Silvia H Linguagem domínio senhorial e identidade étnica nas Minas Gerais de meados do século XVIII Trânsitos coloniais diálogos críticos lusobrasileiros Lisboa p 205 225 2002 YAI Olabiyi Texts of enslavement fon and yoruba vocabularies from eighteenthandniniteenthcentury Brazil In LOVEJOY Paul E Ed Identity in the shadow of slavery London Continuum 2000 p 102112 27 SOARES Mariza de Carvalho From Gbe to Yoruba ethnic changes within the Mina Nation in Rio de Janeiro In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 p 234 28 PARÉS Luis Nicolau The nagôization process in Bahian Candomblé In FALOLA Toyn CHILDS Matt D Ed The Yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 p 191194 29 MANNING Patric Slavery colonialism and economic growth in Dahomey 16401960 Cambridge sn 1982 p 10 30 Cálculo feito com base nasTabelas 23 e 25 que informam o total das exportações e as exportações de iorubás 31 Essa inversão foi por mim analisada em trabalho anterior com base na documen tação local da cidade do Rio de Janeiro Cf SOARES Mariza de Carvalho From Gbe to Yoruba ethnic changes within the Mina Nation in Rio de Janeiro In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The Yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 Para uma visão geral dos conflitos que deram origem ao tráfico dos iorubás remetidos à Bahia ver REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do levante dos malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 158180 32 É importante levar em conta que esse período corresponde ao tráfico dos haussás escravizados por ocasião da jihad de Usman dan Fodio de 1807 em diante Sobre o tráfico dos haussás para a Bahia ver LOVEJOY Paul E Jihad e escravidão as ori gens dos escravos muçulmanos de Bahia Topoi Rio de Janeiro n 1 p 1144 2000 sobre as revoltas haussás na Bahia ver SCHWARTZ Stuart Cantos e quilombos numa conspiração de escravos haussás Bahia 1814 In REIS João José GOMES Flávio dos Santos Org Liberdade por um fio história dos quilombos no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1998 p 373406 33 GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico São Paulo AlfaOmega 1975 1 ed 1949 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico 28 de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 34 Para um levantamento dos desembarques clandestinos apreendidos pela Comissão Mista cujas embarcações foram enviadas ao Rio de Janeiro ver PIRES Ana Flavia Cicchelli Tráfico ilegal de escravos os caminhos que levam a Cabinda 2006 Disser tação Mestrado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 35 Para uma breve história do tráfico ver SILVA Alberto da Costa e Francisco Félix de Souza mercador de escravos Rio de Janeiro Nova Fronteira Ed da UFRJ 2003 36 Cf VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 FLORENTINO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 ALENCASTRO Luiz Felipe de O trato dos viventes São Paulo Companhia das Letras 2000 37 Total de 6609 batismos sendo 1072 do Gentio de Guiné 1622 630 da Costa da Mina 953 e 978 de Angola 1479 Os restantes 3929 somam todas as demais ou seja as nascidas no Brasil as sem identificação e as pertencentes a pequenos grupos não considerados nesse cálculo como as escravas vindas de Cabo Verde Moçambique e outras localidades da África centroocidental que não Angola Foram tomados como base para esse cálculo dados analisados em SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 3 38 Banco de Dados da Freguesia do Pilar de Ouro PretoMG 17121750 Ver CAMPOS Adalgisa Arantes et al O banco de dados relativo ao acervo da freguesia de N Sra do Pilar de Ouro Preto registros paroquiais e as possibilidades de pesquisa In Anais da V Jornada Setecentista Curitiba 2003 p 24 Se a esses 32 forem somados os sabaru coura nagôs ladas e os embarcados em Jaquim que aparecem em separado no Banco de Dados a cifra dos minas na Freguesia de N Sra do Pilar subiria para 42 da população adulta africana batizada 39 Os sabaru são de Savalu localidade no interior do território Mahi Aparecem na documentação pela primeira vez como sabalours 1733 Archives Nationales Pa ris apud LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic slave trade on an african society Oxford Claredon 1991 p 19 nota 19 40 Segundo Robin Law os mahi são um povo localizado ao norte do Daomé resultante da fusão de grupos gbefalantes deslocados da região em que se estabeleceu Abo mey com povos iorubá que migraram para a mesma região Por isso os Mahi são o único grupo Gbe importante que não reporta sua origem a Tado LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic slave trade on an african society Oxford Claredon 1991 p 19 24 2627 41 De acordo com Robin Law Chamba é um grupo situado a noroeste do Daomé mas o termo é também usado de modo mais amplo para os Gurfalantes LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic slave trade on an african society Oxford Claredon 1991 p 189 42 Em trabalho anterior aventei a possibilidade de os cobus serem assim nomeados com referência aos Kaabu da Senegâmbia Diante da inexistência de outros registros de membros de qualquer outro grupo dessa região estou tendendo a crer que se trate de algum grupo ainda não identificado da própria hinterlândia da Baía do Be nim 43 Na Bahia segundo Inês Cortes de Oliveira nagô é uma designação genérica No Rio de Janeiro aparece muito raramente tanto no século XVIII quanto no XIX Antônia Maria pretamina também dita nagô batizada na Freguesia de Santa Rita em data ignorada faleceu em 1804 É até agora a mais antiga referência à presença nagô no Rio de Janeiro Se considerado que ela foi batizada na Freguesia de Santa Rita criada em 1751 sua chegada deve ter ocorrido a partir de então ACMRJ Livro de óbitos e testamentos da Freguesia da Candelária 17971809 Testamento de Antonia Maria p 172v 29 44 Aladá é um importante reino litorâneo Na documentação do século XVII os escra vos procedentes de Aladá são chamados ardras Sobre ardras em Pernambuco na guerra contra os holandeses ver MATTOS Hebe Maria Marcas da escravidão biografia racialização e memória do cativeiro na História do Brasil Monografia apresentada em concurso para Professor Titular de História do Brasil Universidade Federal Fluminense Niterói 2004 p 194223 45 Jaquim Jaquem Jakin Jeken é um dos portos de embarque de escravos na Baía do Benim 46 Aqueles vindos do reino do Daomé que nas primeiras décadas do século XVIII se expande do interior para o litoral invadindo Alada em 1723 e Hueda onde ficava localizado o porto de Ajudá em 1727 47 AgolinAgonli é uma região no interior do território mahi à margem esquerda do rio Zou com população majoritariamente gbefalante CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photographies Paris Éditions BergerLevrault 1962 48 Dados retirados do quadro apresentado por Pierre Verger no Apêndice III relativo aos inventários da Vila de São Francisco do Conde no Recôncavo baiano VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 669675 49 Informações sobre a procedência dos escravos da Costa da Mina na documentação portuguesa do período são escassas mas para o México baseado nas observações de DElbée e Labat Manning mostra que a maioria deles pertencia a grupos linguís ticos gbe O autor indica Aja 15 Calabar 6 Fon 12 Allada 7 Ouidah 7 Popo 6 Oyo 1 Cf MANNING Patrick The slave trade in the Bight of Benin 16401890 In GEMERY Henry A HOGENDORN Jan S Ed The uncommon market essays in the economic history of the atlantic slave trade New York sn 1979 p 12529 50 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 669675 51 SOARES Mariza de Carvalho From Gbe to Yoruba ethnic changes within the Mina Nation in Rio de Janeiro In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The yoruba dias pora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 p 236237 Agradeço a Roberto Guedes a consulta a seu banco de dados sobre a Freguesia da Sé 18081821 52 Sobre africanos livres ver MAMIGONIAN Beatriz G Do que o preto mina é capaz etnia e resistência entre africanos livres AfroAsia Salvador v 24 p 7195 2000 PI RES Ana Flavia Cicchelli Tráfico ilegal de escravos os caminhos que levam a Cabin da 2006 Dissertação Mestrado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 53 LAW Robin Ethnicities of the enslaved africans in the diaspora on the meaning of mina again History in Africa Sl v 32 p 247267 2005 publicado em português na Tempo 20 54 Sobre a noção de grupo de procedência ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 3 e SOARES Mariza de Carvalho A nação que se tem e a terra de onde se vem categorias de inserção social de afri canos no Império português século XVIII Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 26 p 303331 maioago 2004 55 REIS João José GOMES Flávio dos Santos Org Liberdade por um fio história dos quilombos no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1998 56 SCHWARTZ Stuart Cantos e quilombos numa conspiração de escravos haussás Bahia 1814 In REIS João José GOMES Flávio dos Santos Org Liberdade por um fio história dos quilombos no Brasil São Paulo Companhia das Letras 1998 p 373406 57 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do levante dos malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 58 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 O fidalgomercador Francisco Pinheiro e o negócio da carne humana 17071715 Carlos Gabriel Guimarães A descoberta do ouro nas Minas Gerais no final do século XVII promoveu uma intensa procura pelo trabalho escravo nas minas e lavouras do Brasil o que provocou uma corrida dos negociantes portugueses em direção à África em busca de escravos Essa dispu ta que atraiu também ingleses e holandeses fez com que a Coroa portuguesa autorizasse o comércio negreiro na região mineradora contribuindo dessa forma para o acirramento das rivalidades entre as praças mercantis de Lisboa Salvador e Rio de Janeiro De acor do com as práticas comerciais da época todos disputavam o uso exclusivo do comércio dos escravos da Costa da Mina As conces sões de licenças reais pela Coroa para o acesso à região foram uma tentativa de manter o controle e evitar o tráfico ilegal favorecido pela presença dos negociantes de outras nações europeias Com a regulamentação do comércio a Coroa poderia também arrecadar mais com taxações1 Essa nova conjuntura repercutiu sobre os negócios do comércio colonial e os negociantes portugueses que pas saram a atuar no comércio da Costa da Mina pois viram no tráfico negreiro algo altamente rentável embora também de grande risco Este artigo trata da atuação do fidalgo mercador Francisco Pinheiro no chamado negócio da carne humana e das vantagens e limites dessa que foi uma das mais lucrativas atividades comerciais da chamada idade de ouro do Brasil2 Estando em Lisboa próximo à Corte e com negó cios em diferentes regiões da América Portuguesa primeiramente na Bahia e em Pernambuco e depois no Rio de Janeiro e demais capitanias do CentroSul Francisco Pinheiro viu na crescente necessidade de braços para Minas Gerais um negó cio que fez com que aumentasse seu interesse e investimentos na organização do tráfi co africano Com o intuito de atuar no 31 comércio de escravos na África enviou pela primeira vez seus agen tes para a Costa da Mina no ano de 1707 Quatro anos depois em 1711 enviou agentes para Luanda Angola Durante os primeiros anos do século XVIII Francisco Pinheiro dedicouse ao comércio com a Costa da Mina Mesmo com toda a sua vigilância os riscos eram muito altos envolvendo financiamen to da viagem escolha do capitão para cada uma delas organização da tripulação e por fim a compra ou arrendamento da embarcação Havia também a previsão das estratégias em relação à concorrência de outros comerciantes portugueses e estrangeiros Por fim eram necessárias negociações para a venda dos escravos na Bahia e no Rio de Janeiro Isto sem contar que todos os esforços poderiam cair por terra caso qualquer dessas escolhas falhasse ou mesmo se uma disenteria ou qualquer outro mal dizimasse a carga ao longo da tra vessia Foi assim que diante da presença holandesa e especialmente da expansão da presença de ingleses na costa ocidental africana a partir de 1715 o negócio do tráfico negreiro de Francisco Pinheiro seja na Costa da Mina seja em Angola começou a declinar passan do ele a privilegiar suas conexões com a Colônia de Sacramento em detrimento do comércio na África Este trabalho está dividido em duas partes além desta apresenta ção e da consideração final Na primeira analisaremos de uma forma sintética a historiografia sobre os homens de negócio no Império Português em particular a que se refere ao negociante Francisco Pinheiro Na segunda parte nos concentraremos no negócio do tráfi co negreiro na Costa da Mina tendo como documentação principal a Coleção Francisco Pinheiro organizada por Luiz Lisanti Filho em Negócios Coloniais3 na qual ele publica uma seleção de 5600 docu mentos em mais de 4000 páginas seis maços e parcelas de vários outros do acervo de 30 maços que restaram da referida coleção Essa publicação tem como principal fundo a correspondência passi va e ativa de Francisco Pinheiro com seus agentes capitães de navios e outros Os originais dessa documentação encontramse no Arquivo do Hospital de São José o antigo Hospital Real de Todos os Santos situado na cidade de Lisboa Portugal O nome e as atividades de Francisco Pinheiro ficaram conhecidos por meio da divulgação da já então constituída Coleção Francisco Pinheiro analisada no artigo de Nuno Daupiás de Alcochete A Testamentária de Francisco Pinheiro publicado em 1956 no Boletim 32 Clínico e de Estatística dos Hospitais Civis de Lisboa nº 20 Lisboa 1956 uma publicação um tanto desconhecida dos historiadores que como destaca Miriam Ellis é a mais extensa e diversificada co leção impressa de documentos mercantis pertinentes ao período co lonial do Novo Mundo4 Francisco Pinheiro na historiografia A historiografia nas últimas décadas tem destacado o papel dos homens de negócio no Império Português e na sociedade colonial brasileira principalmente nos séculos XVII e XVIII5 No entanto na década de 1950 analisando a atuação dos mercadores de grosso tra to no comércio colonial português especialmente nos contratos do sal tabaco escravos e outros a historiadora Virgínia Rau enfatizou a necessidade de estudar esse ator social Segundo ela O estudo da sociedade lusobrasileira do século XVIII ficará incompleto se nele não inserirmos a contextura da vida pro fissional e particular dos mercadores de grosso trato que no Brasil e em Portugal arrematavam contratos emprestavam a juros negociavam em sal tabaco escravos ouro diamantes e toda a espécie de mercadorias interferindo assim na vida econômicosocial da metrópole e dos seus domínios ultramari nos grifos nossos6 No início da década de 1960 outra historiadora Eulália Maria Lahmeyer Lobo chamou a atenção para a influência dos homens de negócios no Império Português Segundo ela tal presença pode ser percebida na atuação da Mesa do Bem Comum ou Mesa do Espírito Santo dos Homens de Negócios uma agremiação mercantil portugue sa que no período Filipino se opôs à implementação de consulados espanhóis nas praças mercantis do Império português7 Tal agremia ção composta no início pelos mercadores do comércio urbano nos portos principais de Lisboa e Porto foi estendida no século XVII aos comerciantes por atacado e aos exportadores e importadores vincu lados ao comércio colonial sejam os de Lisboa sejam os da colônia ou os da Bahia8 No início da década de 1970 Eulália Lobo e Sérgio Buarque de Holanda retornaram aos estudos sobre os negociantes na sociedade 33 colonial Comparando a atuação dos negociantes das cidades do Rio de Janeiro e de Charleston atual VirginiaEUA em meados do século XVIII duas importantes cidades comerciais nos impérios português e inglês Eulália Lobo ressaltou a dinâmica dos negócios e dos nego ciantes destacando sua atuação como homens bons na Câmara da cidade do Rio de Janeiro9 Sérgio Buarque de Holanda por sua vez enfatizou a importância dos agentes do trato mercantil na sociedade colonial e imperial brasileira10 No artigo Sobre uma doença infantil da historiografia11 ele criticou o conceito de estamento ou ordem adotados pela historiografia da época e chamou a atenção para o fato de que os negociantes constituíramse numa classe social no sentido weberiano de estilo de vida definição que não se opõe à ideia de formação de redes de interesses e clientelas com atuação destacada no mesmo período Os homens de negócios conhecidos como os comerciantes que negociam a grosso12 diferenciavamse dos demais comerciantes re talhistas ou lojistas A definição da palavra negociante é a occupação de um membro que remete para os paizes estrangeiros as produções da sua patria ou seja com o fim de trocalas por outras necessarias ou por dinheiro este commer cio feito por terra ou por mar na Europa ou com outras par tes do mundo tem distinto nome de commercio em grosso e os que se occupão nele são chamados de homens de negocios grifos nossos13 Tendo como principal atividade o comércio de longa distância os homens de negócios tiveram uma grande mobilidade na socieda de imperial portuguesa setecentista Seja em Lisboa14 seja em ou tras regiões e centros mercantis do Império como na Bahia15 Rio de Janeiro16 e Minas Gerais17 essa mobilidade fruto do seu prestí gio econômico e político permitiu que muitos fossem habilitados na Ordem de Cristo a principal Ordem Militar do Império Português e recebessem mercês e sesmarias nas colônias Tal tendência ao eno brecimento ou seja de converter a acumulação mercantil em status fez com que Vitorino Magalhães Godinho os denominasse fidalgos mercadores18 É importante enfatizar que esse enobrecimento do negociante não estava restrito a Portugal pois na Inglaterra muitos ne gociantes que acumularam capital no comércio colonial setecentista 34 ao retornarem a Londres tornaramse gentlemen19 O conceito de fidalgomercador é apropriado ao negociante e contratador portu guês Francisco Pinheiro cavaleiro da Ordem de Cristo20 membro da Mesa do Bem Comum do Espírito Santo dos Homens de Negócios21 e com múltiplos negócios na Europa e no Império Português Na década de 1970 com a documentação organizada por Luis Lisanti Filho tendo como objeto principal as finanças da colônia Maria Bárbara Levy destacou a atuação de Pinheiro nos negócios das Minas Gerais na primeira metade do século XVIII principalmente no tocante ao crédito Para essa autora o crédito na colônia estava concentrado nas mãos de negociantes como Francisco Pinheiro o que permitiu caracterizálos como os detentores da moeda privada colonial22 No início da década de 1980 retornando ao tema dos con tratadores e negociantes23 Myrian Ellis ressaltou a necessidade de aprofundar os estudos sobre esses atores sociais na sociedade colo nial pois mencionar contratos e contratadores é pressupor o monopó lio em geral e em particular bem como a presença dos comer ciantes no panorama econômico e social lusobrasileiro desde os primórdios Monopólios arrendamentos e contratos antigas e tradicionais práticas desenvolvidas em Portugal tam bém o foram no Brasil24 Como exemplo de estudo de caso de um contratador e de sua atua ção no comércio e na sociedade colonial a autora destacou a atua ção de Francisco Pinheiro e a necessidade de aprofundar uma pesquisa sobre ele Ainda nos anos 1980 Joseph Miller citou os Negócios co loniais no seu trabalho sobre o tráfico negreiro em Angola Embora seja uma obra de grande importância para o entendimento do referido comércio nessa região africana pós1730 no tocante à documentação organizada em Negócios coloniais ressaltou muito pouco25 Na década de 1990 surgiram duas teses de doutorado sobre Francisco Pinheiro cujas fontes foram os Negócios coloniais e a do cumentação manuscrita do Arquivo do Hospital São José A partir das correspondências de Francisco Pinheiro com seus agentes em Minas Gerais Júnia Ferreira Furtado26 procurou não só analisar a participação dos homens de negócios no comércio das Minas sete centista como também reforçar a visão de Maria Odila Silva Dias no 35 texto A interiorização da metrópole 1808185327 Furtado reforça o argumento de que o comércio é um dos mecanismos do processo de interiorização da metrópole no CentroSul da colônia portuguesa da América28 O segundo trabalho e entre todos os que se referem a Francisco Pinheiro o de maior envergadura é a tese de doutorado de Willian Michael Donovan29 na qual foi analisado o desenvolvimento da ativi dade comercial do negociante Francisco Pinheiro desde o primeiro negócio do sal em sua terra natal a Aldeia Galega até a montagem da sua casa comercial em Lisboa A partir dessa mudança estraté gica pois estava na sede do Império Francisco Pinheiro ampliou seus negócios para além do contrato real do sal Com o crescimento das demandas da região mineradora das Minas Gerais tendo o Rio de Janeiro como sede dos seus negócios coloniais privilegiando o comércio das Minas Francisco Pinheiro expandiu suas atividades à Bahia e até mesmo à distante Colônia do Sacramento o que vem de encontro à perspectiva apontada por Maria Bárbara Levy30 Willian Donovan ressaltou também os outros negócios de Francisco Pinheiro que abrangeram desde o comércio de produtos têxteis e molhados vinho azeite e outros até o de escravos na África Partindo de uma rede comercial que envolveu uma série de agentes e comissários a grande maioria constituída por seus parentes Willian Donovan des tacou a expansão e o apogeu de Francisco Pinheiro assim como tam bém seus limites31 Embora tratem do negociante Francisco Pinheiro e de seus negó cios coloniais os trabalhos mencionados deixaram algumas lacunas no tocante ao comércio de escravos empreendido por esse negocian te na África principalmente na Costa da Mina A respeito desse co mércio parte da documentação encontrase perdida principalmen te a relativa às carregações de escravos32 Mas sabese que esse comércio correspondeu a apenas 49 do total dos investimentos do negociante Francisco Pinheiro33 motivo quem sabe da pouca aten ção recebida até agora por esse segmento de suas atividades Willian Donovan ressaltou as dificuldades de Francisco Pinheiro na organi zação do comércio de escravos apontando situações conjunturais como a invasão francesa no Rio de Janeiro em 171134 Como desta ca uma carta de 1707 foi a partir desse ano que Francisco Pinheiro passou a fazer carregação para a Costa da Mina Entretanto ape sar de seu interesse em participar do comércio de escravos as já 36 mencionadas dificuldades relacionadas aos altos custos da organiza ção do comércio negreiro mantiveram esse seu ramo comercial como uma atividade menor no conjunto de seus negócios35 Francisco Pinheiro e o comércio de escravos na Costa da Mina Tendo agentes primeiramente na Bahia e em Pernambuco e de pois no Rio de Janeiro e outros centros36 Francisco Pinheiro inte ressouse pelo comércio na Costa da Mina atrás de seus negros ti dos como mais fortes e aptos para o árduo trabalho de mineração Embora fossem tidos como mais rebeldes que os vindos de Angola eram também considerados mais ativos37 Essa preferência pelos minas em detrimento dos angolas pode ser avaliada na carta de Antonio Pinheiro Gomes seu sobrinho e agente na Bahia38 datada de 1712 Por se oferecer esta ocazião deste navio partir para as Ilhas não quero deixar de lhe escrever a VM e juntamente para lhe dar parte em como chegou meu pai ao Rio de Janeiro com saú de e com suceço nos negros ainda que as vendas não são o que esperávamos porque derão muita baixa os negros de Angola no Rio juntamente os que vierão pera esta cidade que ninguém faz cazo deles senão dos minas porque he o que procura nesta terra e pera as minas 39 A preferência pelo escravo mina foi destacada também numa carta do governador do Rio de Janeiro Luís Vahia Monteiro ao rei escrita em 571726 Segundo o governador os negros minas são os de maior reputação para aquelle traba lho das minas dizendo os mineiros que são os mais fortes e vigorozos mas eu entendo que adquerirão aquella reputação por serem tidos por feiticeyros e que tem introduzido o diabo que só elles descobrem ouro e pella mesma cauza não há mi neiro que poça viver sem hua negra mina dizendo que só com ellas tem fortuna grifos nossos 40 37 Essa carta destaca o caráter mágico da propriedade dos escravos da Costa da Mina sejam eles homens usados no trabalho das minas sejam mulheres com quem os mineiros podiam viver41 No entender de Charles Boxer a corrida em direção à Costa da Mina estava relacionada a fatores endógenos e exógenos à África42 Quanto aos endógenos afirmou a descoberta de ouro em Minas Gerais na última década do sé culo XVII tornouse urgentemente necessário encontrar escra vos negros que fossem mais fortes e preparados para o traba lho nas minas que os Bantus de angola e congo Isto conduziu à reabertura do tráfico de escravos entre os portos brasileiros Rio de Janeiro Bahia e Recife e a Costa da Mina como os portugueses chamavam à Baixa Guiné43 No tocante aos fatores exógenos Boxer destacou os conflitos en tre os reinos africanos abastecedores de escravos e o desastre demo gráfico causado pela epidemia de varíola de 1685 e 1687 em Angola que causou uma grande mortandade Os negócios de Francisco Pinheiro na Costa da Mina acontece ram justamente no momento em que a Baía do Benim aumentou a exportação de escravos para o Brasil assim como cresceu a con corrência estrangeira Não só ele mas também seus agentes tinham cons ciência dos riscos que corriam Uma carta de um seu agente na Bahia Balthasar Alvarez de Araújo dizia viagem nova que já me vai parecendo velha e inda ficão em ser outroz cento e tantos massos cauza pelos holandezes apanharem todas embarcaçois que encontrão na costa da Mina 44 Numa carta de 20 de agosto de 1707 dirigida ao capitão Antonio de Cubellos de viagem marcada para a Costa da Mina Francisco Pinheiro passava instruções sobre como marcar os escravos e efe tuar suas vendas no Rio de Janeiro onde Cubellos deveria prestar contas a seu agente local Dizia a carta Copia das ordens que dei ao capitão da carregasão que fiz pera a Costa da Mina embarcada no navio Nossa Sra do Rozario e Sam Juseph Senhor Capitão Antonio de Cubellos ahi remeto a VM a carregasão e o conhecimento junto o que VM benefisia ra como couza sua própria em a vender pello mais alto preço 38 que puder ou pello estado da terra e o porsedido della levara VM em sua companhia para o Rio de Janeiro emperguado em negros machos os melhores que VM achar e os marcara com minha marca no peito direito e levando Deos a VM a salvamen to ao Rio de Janeiro os vendera pello mais alto preço que pu der e o seu liquido rendimento mo remetera VM em barras de ouro ou moedas de ouro como também o porsedido da venda do navio que me tocar na minha tresa parte tudo emperguado na forma asima e mo remetera na capitania e almeiranta em ambas em igual parte e assinara conhecimento a entregar a minha ordem ou a quem meus negócios fizere nisto obarra VM como coza sua própria e no tocante a estes meus negócios VM tomara pareser no Rio de Janeiro com Lourenço Antunes Vianna auzente o Joseph de Almeida Cardoso pera com os seus pareseres poderem melhor asertar as minhas conviniensias e no mais que for do serviço de VM não faltarei Deos guarde a VM como desejo45 Diante de seu interesse pelo comércio de escravos na Costa da Mina Francisco Pinheiro requereu um privilégio para seu comércio Em 17 de setembro de 1709 obteve provisão régia para comércio da Costa da Mina e na Guiné46 É importante destacar que tal provisão significava não só isenção de determinados impostos ao negocian te português em Lisboa47 como também contrariava os interesses dos negociantes baianos que em 1703 haviam conseguido um pri vilégio de comércio na região Na realidade e de acordo com Pierre Verger a ameaça ao privilégio dos baianos no comércio de escravos na Costa da Mina veio com os negociantes do Rio de Janeiro Numa carta enviada ao rei de Portugal em 20 de junho de 1703 o governa dor da Bahia D Rodrigo da Costa solicitava providências quanto à participação dos negociantes do Rio de Janeiro no referido comér cio pois passaram a concorrer com os baianos no abastecimento de mão de obra para as Minas Gerais48 Em 27 de setembro de 1703 o rei de Portugal levava ao conhecimento do governador da Bahia o seguinte Eu ElRey fui servido mandar prohibir absolutamete que não vão embarcações nem do Rio de Janeiro nem dos por tos das Capitanias do sul a costa da Mina impondo aos 39 transgressores desta ley a pena de se lhe confiscarem assy os navios em que navegarem como as fazendas que se acharem e de serem degradados por tempo de seis annos para S Tomé49 O favorecimento aos negociantes baianos foi reforçado pela ins tituição de cotas de escravos vindos da Mina para o Rio de Janeiro Pernambuco e Minas Gerais de modo que todos os outros escravos importados para atender à demanda de Minas Gerais deveriam en trar pela Bahia50 Entretanto a concessão de privilégio a Francisco Pinheiro demonstra a disputa pelo comércio de escravos na Costa da Mina em 170951 Reforçando a rivalidade entre as praças mercan tis portuguesas por essa região africana em 1712 uma associação de lusobrasileiros no Rio de Janeiro se uniu com ingleses em uma sociedade para trazer 300 escravos da Costa da Mina52 A respeito dessa sociedade é importante destacar que os ingleses João Charem John Sherman e Rafael Glouston Ralph Gulston fizeram negócios com Francisco Pinheiro Segundo Donovan na condição de mem bro de uma das quatro famílias britânicas autorizadas a negociar em Portugal pelo tratado de 1654 Ralph Gulston esteve em Lisboa e depois no Rio de Janeiro em 170953 Juntamente com seu irmão Joseph Gulston estabeleceu uma casa comercial com grande pres tígio e tudo leva a crer que suas relações com Francisco Pinheiro bem como com outros negociantes portugueses como por exemplo Duarte Sodré Pereira54 eram antigas Por ocasião da carregação55 de escravos feita pela referida sociedade do Rio de Janeiro Joseph que estava em Lisboa desempenhou um importante papel Esse e ou tros episódios mostram que devemos ter uma certa cautela na ênfase da autonomia dos comerciantes da colônia56 O privilégio recebido por Francisco Pinheiro poderia ter dado iní cio a uma atividade regular e rentável mas ao contrário mostrou se por demais arriscada e fonte de diversas dificuldades para o negociante Um episódio interessante é a fuga de seu capitão Antonio de Cubellos com um lote de escravos de sua propriedade trazido por Cubellos da Costa da Mina para o Rio de Janeiro na embarcação Nossa Senhora do Rosário Em carta datada de 13 de abril de 1710 Lourenço Antunes Vianna relatou a Francisco Pinheiro o desapareci mento do capitão informando que a embarcação não havia chegado ao Rio de Janeiro até aquela data 40 Recebi a procuração que VM me remeteo pera que por auzen cia do cappm Antonio de Cubellos tomasse conta da carrega ção que VM lhe deu e juntamente da Ba parte do navio Nossa Senhora do Rosário e de tudo fizesse venda pello mais alto preço que pudesse o dito navio inda the o precedente não he chegado a esta cidade permita o Nosso Senhor trase llo a salvamento e juntamente o capitão e quando se ve do faltar de tudo tomarei conta para beneficiar com a melhor reputação que for possível 57 Em outra carta para Francisco Pinheiro escrita em 11 de no vembro de 1710 ou seja após a tentativa de invasão francesa de Duclerc58 o mesmo Lourenço Antunes Vianna falava sobre o ataque e o carregamento do navio Nossa Senhora do Rosário Como se offereceo este patacho como avizo da gloriosa vitó ria que nesta alcanssamos contra os francezas e cujo sucesso VM sa vera lla com mais miudezas não quero deichar de dar a VM conta dos seus particullares o cappm Antonio Cubellos me tem entregada huma quantidade de pannicos59 mas ain da me não tem dado a conta dos que pertencem a VM a maior parte ou coais todos chegarão com sua avaria também me en tregou 7 barrilinhos de pólvora e 35 barras de ferro o resto deste me disse que se misturara com a da outra carregação já lhe tenho advertido grifos nossos Enquoanto ao navio esta sem ninguém fallar a elle eu dezejara que se vendesse para que VM ficasse livre desta penção as contas das vendas dos negros ainda ma não deu o do cappm com esta guerra dos francezes não deu lugar a mais agora o hei de aplicar para que a faça eu suponho que elle escreve a VM porque me disse que o fazia 60 Além de confirmar o desaparecimento do capitão e da carga de escravos a carta acima destacou a tentativa de invasão e a vitória momentânea dos portugueses Entretanto numa carta de 25 de abril de 1712 Lourenço Antunes Vianna relatou para Francisco Pinheiro os danos causados pela invasão francesa liderada por Du Guay Trouin em 12 de setembro de 1711 tais como a perda do navio Nossa Senhora do Rosário os empréstimos forçados para o governador do Rio de 41 Janeiro pagar o resgate exigido pelos franceses e a fuga para as Minas do capitão Cubellos com seus escravos Além disso chamou a aten ção de Francisco Pinheiro sua argúcia em conseguir enviarlhe uma remessa a Lisboa escapando ao controle do governador Em 9 de dezembro do anno passado escrevi a VM pella nao caravella que foi a levar a lastimoza nova da tomada que os franceses fizaerão a esta cidade de cujo sucesso não tornarei a falar A VM avizei o grandiozo danno que VM esprementou e em pri meiro lugar com a perda do navio em que veio o Cubellos que se foi ao fundo ou o meterão os francezes e juntamente que o dito Cubellos assim que chegou a frota se partiu para as Minas escondidamente sentindo que viesse procuração como assim sucedeo com a que VM mandou e outros mais que vierão e de couza nenhua deu conta que tudo foi VM Vera da conta que remeto do quoal ficou liquido 1098879 rs este dra a VM avizei em como o escapara da mão dos piratas com a minha inteligência porque o tiranno do governador mandou lanssar hum bando que ninguém mandasse nada para fora da cidade com penna de o perder que a todos em geral cauzou grande danno eu me vali de hun amigo official de guerra para mo man dar por fora algum preciozo que tinha o que com effeito assim me fes mandando para hua sua fazenda grifos nossos Da carregação que VM me consignou toda levarão os france zes hua que estavão dentro da alfândega e outra que estava em caza 61 Para além do desastre provocado pela situação da capitania do Rio de Janeiro nos negócios de Francisco Pinheiro a carta demons trou a reação do agente Lourenço Antunes Viana frente às medidas do governador Castro Morais que agiu em consonância com outras reações à atitude do governador de abandonar a cidade deixandoa sob o controle dos invasores franceses liderados por DuguayTroin Como apontam Laura de Mello e Souza e Maria Fernanda Bicalho essa reação pode ser vista numa petição dos oficiais da Câmara do Rio de Janeiro ao rei na qual os oficiais fizeram duras críticas ao go vernador acusandoo de ter feito pouco caso do aviso recebido de Lisboa e argumentando que o governador deveria ter defendido a 42 cidade nas palavras da petição como são obrigados os Vassalos a cujo cargo estão semelhantes lugares62 A invasão francesa no Rio de Janeiro refletiu também sobre os negócios de Francisco Pinheiro na Bahia Numa carta de 15 de outu bro de 1712 Guilherme Rubim agente de Pinheiro na capital baiana relatou suas dificuldades para escoar produtos para o Rio de Janeiro pella cauza dos framcesses destruhirem o Rio de Janeiro e se acha a terra falta de vários gêneros desta cidade me dissem forão tantos que se acha abundante delles primcipalmente de gêneros de lam e pannos de linho e alguns mantimentos de sorte que esta cidade ficou exsausta destes últimos 63 Após a retomada da cidade mediante resgate os negócios re tornaram e já em 1714 Francisco Pinheiro enviou as galeras Nossa Senhora da Atalaia e Santo Antônio para a Costa da Mina com um cai xeiro e um capitão de sua confiança Mostrando que dirigia pessoal mente seus negócios em carta escrita de Lisboa ao irmão Antonio Pinheiro Neto seu representante no Rio de Janeiro Pinheiro deu de talhes sobre os procedimentos a serem adotados na venda dos escra vos chegados ao Rio de Janeiro Os portadores desta he o meu caixeiro João Deniz de Azevedo e o cappam Joseph Vieira Marques os quais hão de entregar a VM os negros todos que fizerão da carregaam incluza na Costa da Mina marcados no peito direito com a marca incliza na dita carrgam que VM fará logo dilligencia a vender os ditos negros pelo mais alto preço que puder com assistência do meu caixei ro e cappam ou quem seos poderes tiverem de que se não fará venda nenhuma sem assistenciados dous nomeados estando nessa cidade e estando fora della alguns dos dois poderá VM com o que estiver na dita cidade reputando sempre pello mais alto preço que for possível o estado da terra carreguando tudo em livros com toda clareza para meu governo vendendo os to dos a troco de ouro ou em barra ou em pó ou em moedas e depois da dita venda feita toda se armara conta do rendimento de toda a importância de carregam e se tiraraão a doze por cen to de comição dos quais entregara VM ao dito cappam cinco por cento e os sete que ficão os repartira igualmente com meu 43 o caixeiro João Deniz de Azevedo a 3 ½ por cento a cada hum em tal forma que isto digo com declaração que da remeça do ouro se não há de tirar comição nenhuma para o remeter nem VM nem os ditos e chegado que o dito navio seja a salvamento como confio em Deos porá VM logo di tais para se vender o dito navio de que fará VM deligencia ditos nomeados pello vender pello mais alto que for possível e me fará favor de me escolher um molecão grande de dezouto annos dos mais bem feitos que vierem da carregaçam e este vira em compa nhia de VM ou mo remetera grifos nossos Acressentamento a carta de 15 de setembro que foi com a ga lera Nossa Senhora da Atalaia e Santo Antonio que foi a Costa da Mina64 Preocupado com os acontecimentos de 1710 e 1711 Francisco Pinheiro enviou seu caixeiro de Lisboa João Diniz de Azevedo e o capitão José Vieira Marques para uma carregação de escravos da Costa da Mina em 1714 Por instrução sua somente com a presença do caixeiro e com tudo documentado em livro Antonio Pinheiro Neto poderia efetuar as vendas e sempre pelo mais alto preço Além dis so a carta explicitava que os escravos deveriam ser vendidos em ouro ou em barra ou em pó ou em moedas e que depois da venda a comissão de 12 seria distribuída da seguinte forma 5 para o capitão e 7 para serem divididos em partes iguais entre o caixeiro e o agente Em 1715 Francisco Pinheiro recebeu informações da chegada da carregação de negros da Mina por intermédio do caixeiro João Diniz de Azevedo e de Antonio Pinheiro Neto Na carta para Francisco Pinheiro datada de 8 de maio de 1715 João Diniz de Azevedo informa ter chegado ao Rio de Janeiro em 14 de abril e relata sua malsucedida viagem quando saímos de Lxa Lisboa que foi com a tenção de carregar 400 escravos e que a fortuna que tinha sido tal que somente carregamos 173 em todos os que se carregarão assim de VM como de partes e viemos seguindo viagem e chega mos a esta cidade domingo de ramos que foi em 14 de abril no mesmo dia já de noute vim eu para therra e vim fallar com o Sr 44 Antonio Pinheiro netto a que dei as contas dos escravos que da conta de VM morrerão no mar quatro escravos e os que chegarão a salvamento com vida a esta cidade forão cento e doze entre grandes e pequenos machos e fêmeas também destes chegarão alguns doentes e outros cegos de dor de olhos grifos nossos 65 No mesmo dia Antonio Pinheiro Neto escreveu a Francisco Pinheiro relatando sua versão dos resultados da viagem Senhor o navio chegou a este porto a salvamento a 14 de abril de que tomei bem grande susto por vir em a ocazião em que vinha de se achar junto com a frotta mas Nosso Senhor foi ser vido de nos dar boa sahida aos escravos pois os vendemos por muitos bons preços por ser a ocazião que hera e estar a therra tão abundante delles a qual venda VM remeto a VM as contas que Jão Deniz de Azevedo me deu assignadas pello cappitam das quais VM o negocio que fize rão e a fazenda que sobejou que da que receber avizarei a VM advirta a VM que destas cabeças que que fizerão morrerão quatro negros pello mar das quais recebi cento e doze e depois de estarem em therra morreu um moleque como se vê do rol e os que estão em ser são hum negro cego que foi de uma dor de olhos que no mar lhe deu e outro da mesma dor cego de hum olho e outro com defeito grande e hua negra velha e torta que cegou de um olho da mesma dor e hum molecão para João Deniz levar para VM e hum negro nosso que ainda esta em ser com bexigas porem caso dellas he o que se offerece avizar a VM que para frota grifos nossos66 Nas duas cartas do total de 173 escravos embarcados na Costa da Mina 116 pertenciam a Francisco Pinheiro Com a morte de quatro escravos no mar de um moleque menino de 8 a 14 anos morto em terra hum negro cego que se deu a hum ferreiro para lhe dar de comer67 e um outro enviado para Lisboa o número de escravos à venda no Rio de Janeiro ficou reduzido a 109 Outro dado importante que constava na carta do caixeiro João Diniz de Azevedo era a divi são da carregação de escravos entre Francisco Pinheiro e outros negociantes não identificados Embora coubesse ao primeiro 636 45 dos escravos a associação com outros negociantes era importante para a divisão dos custos e riscos da viagem A respeito dos escra vos chamou a atenção o número daqueles tomados pela cegueira durante a viagem68 Além dos problemas acima citados em outra carta datada de 20 de maio de 1715 o capitão José Vieira Marques apresentava uma nova questão que interferia no tráfico negreiro a guerra entre os rei nos africanos69 Nessa carta relatava o capitão trouse em ser perto de 3 de fazenda ou mais por lhe não po der dar sahida que também entreguei no Rio de Janeiro ao Sr irmão Antonio Pinheiro Neto com os escravos na forma da or dem de VM e entendo que das embarcaçoens que foram dessa cidade a Costa da Mina há muitos tempos não fizeram tam bom negocio porque inda assim senão estiverão aqueles reis em guerra e os caminhos impedidos por cauzas dellas entenda VM que nada vinha em ser grifos nossos70 A venda do carregamento de escravos da Costa da Mina que foi de 15 de abril a 8 de maio ou seja de 15 a 20 dias rendeu a Francisco Pinheiro um liquido 9677198 rs 9677198 que tanto abono na conta corrente e da conta dos fretes também VM Vera com o dinhei ro que VM deu a gente em essa cidade 71 O relato referente à venda dos africanos ficou mais compre ensível num documento anexo à carta de Antonio Pinheiro Neto a Francisco Pinheiro em 28 de setembro de 1721 Neste documento Antonio Pinheiro Neto descreveu Entrada de hua carregaçam de negros vindos da Costa da Mina e porto de Judá em o navio Nossa Senhora da Atalia e santo Antonio cappitam Joseph Vieria Marques remetido da cidade de Lisboa por seu irmão o Sr Francisco Pinheiro e por sua con ta e risco a dito porto para o dito cappitam e João deniz de Azevedo fazerem os ditos negros e com elles virem a esta cida de do Rio de Janeiro a emtregar a mim Antonio Pinheiro Neto marcados com a marca a margem no peito direito abril 15 do dito anno São os seguintes p cento e doze cabeças emtre grandes e pequenas machos e fêmeas como se vê da venda 112p quatro negros que morrerão 46 no discurso da viagem como me constou pelo 1º dos mortos do dito navio 4 Gastos feitos com os ditos negros em este Rio de Janeiro p 97420 rs que se gastarão em comer e beber tudo o mais com os ditos negros como se vê do rol que vai 97420p comição de 11107520 rs que tanto emportou a venda dos negros a 12 pc o seguinte para o cappam Joseph Vieira Marques 5 pc 555375 rs para mim Antonio Pinheiro Netto a 3 ½ pc 388764 rs para João Deniz de Azevedo a 3 ½ pc 388764 rs 1332902 rs para o líquido rendimento que fica que faço bom em conta corrente como della se vê 9677198 rs 11107520 rs72 No relato acima do bruto de 11107520 rs 11107520 foram retirados 97420 rs 97420 referentes às despesas dos escravos e 1322902 rs 132290273 das comissões do capitão do agente e do caixeiro ficando um líquido de 9677198 rs 9677198 para Francisco Pinheiro A respeito das despesas com os escravos no Rio de Janeiro o que significava um trato mínimo necessário para alcançar no mercado os melhores preços a fim de serem obtidos retornos satisfatórios de uma longa operação iniciada meses antes em Lisboa chamou a atenção o item alfândega que correspondeu a 512 de acordo com a Tabela 1 Nesse montante acreditamos que estava contabilizada a despesa de 10 com a dízima da alfândega Tabela 1 Despesas com escravos Rio de Janeiro 1715 Valor réis Alimentação 13740 141 Vestuário 10960 113 Saúde 16240 167 Alfândega 49920 512 Outras 6560 67 Total 97420 100 Alimentação inclui alimentos feijão farinha sal mais água Vestuário inclui roupas mais esteiras de dormir Saúde inclui visita da saúde mais medicamentos Fonte LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 Usaremos a abreviatura NC ao referirmos a esta documentaçãov I p DIV No tocante à estrutura etária e de sexos do carregamento Tabela 2 e dos preços médios por faixa etária Tabela 3 e Gráfico 1 temos mais homens 615 do que mulheres 385 sendo que dos primei ros temos mais negros homens com idade entre 20 a 35 anos se guidos de molecões 15 a 19 anos e das segundas mais molecas 47 mulheres de 15 a 19 anos do que negras 20 a 35 anos74 Em re lação às mulheres escravas a menor desvalorização das mulheres velhas comparativamente aos homens velhos ainda precisa ser melhor explicada pela historiografia75 O interesse por escravos numa determinada faixa etária como a de 15 até 20 anos foi reforçado na carta de Luiz Álvares Pretto para Francisco Pinheiro em 4 de maio de 1723 na qual o primeiro dizia Rendo a VM as graças pella mercê querer nos entereçar para a Costa da Mina em dez mil cruzados tendo ocazião a não lar gue por ser o milhor negócio que corre nesta seja o cappitam entereçado verdadeiro e capz quando sendo assim deixa lucro bastante advertindo seja negraria nossa de 15 anoz athe 20 grifos nossos76 Tabela 2 Estrutura etária e sexo do carregamento de 1715 Idade Sexo masculino Sexo Feminino Total Até 7 anos molequinho 8 119 5 119 13 119 8 14 anos molequea 6 90 2 48 8 74 15 19 anos molecãoona 18 269 18 429 36 330 20 35 anos negroa 33 493 8 190 41 376 36 e mais anos velhoa 2 29 9 214 11 101 Total 67 1000 42 1000 109 1000 615 385 1000 Fonte LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 Usaremos a abreviatura NC ao nos referirmos a esta documentação v I p DIX Tabela 3 Estrutura etária e preço médio do carregamento de 1715 Idade Homens réis Mulheres réis 0 7 anos 57750 57609 8 14 anos 89000 74000 15 19 anos 120080 118188 20 35 anos 149348 92500 36 e mais 45000 75855 Fonte LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 Usaremos a abreviatura NC ao nos referirmos a esta documentação v I p DX 48 Gráfico 1 Estrutura etária e preço médio do carregamento de 1715 Infelizmente após essa carregação de 1715 não encontramos mais documentos capazes de detalhar novas remessas de escravos vindas da Costa da Mina para o Rio de Janeiro Em carta datada de 15 de outubro de 1721 João Francisco Muzzi e Luiz Alvarez Pretto relatavam a Francisco Pinheiro O milhor negocio desta he de negros em particular da Costa da Mina que em dois dias reduze logo em dinheiro de conta do sem detensa nem fiar cousa alguma como conseguirão dois navios que a esta chegarão o mês passado que he coiza por maior ver como corre toda a gente a comprar como si de de sem de graça que cada negro de 14 annos para cima 150 e 180 e 200 reis he o seu preço e em tentando alguma coiza deste negocio sempre seja com interes do cappitam que assim são mais bem tratados 77 Em outra carta da mesma data João Francisco Muzzi solicitou in formações do negociante Francisco Pinheiro sobre o envio de navio para o comércio de escravos na Costa da Mina Em seu relato diz Si VM thera resolvido de mandar o navio a costa da Mina espe re VM de ther feito um negocio considerável e de muito lucro e de ther logo seu dinheiro pois chegarão nestes dias o Rei nau da Costa com 290 e tantos negros e também hum Angola com 49 outros tantos elles chegarão com negros porem o dia seguinte acharamse com o dinheiro delles na mão que lhe não posso explicar com quanta facilidade e brevidade se vendem estes escravos com dinheiro na mão logo e o preço mui altos Em resolvendo alguma couza dos negros seja antes da Costa que Angola porque estes logrão maior precio e são mais extimados78 No texto percebemos não só o interesse dos agentes pela lucra tividade do comércio de escravos pois as comissões dos mesmos eram maiores como também a acirrada disputa pela oferta de escra vos Na resposta de Francisco Pinheiro ficou explícita a dificuldade de se organizar o navio pela falta de sócios para custear as despesas Seus parceiros costumeiros os negociantes Paulus Hieronimo Médici e Egneas Beroardi este último italiano estabelecido em Lisboa não se interessaram pelo negócio de carne humana Dizia a carta Eu boa vontade tinha de fazer a compra de hum navio para a costa e que enteressassem nelle os srs Médici e Beroardi mas me respondem que não querem enteressar se em negocio de carne humana assim que quando ache alguma que se queira interessar em algum comigo para ir remetido a VM o estima rei grifos nossos79 Além das dificuldades já apontadas para organizar sociedades para o comércio de escravos dois acontecimentos também dificulta ram os negócios de Francisco Pinheiro na Costa da Mina na década de 1720 O primeiro foi a construção do Forte em São João Batista de Ajudá em 1721 Financiado por negociantes baianos e sob a iniciati va de Vasco Fernandez César de Meneses 39o governador e capitão geral da Bahia e 4o vicerei do Brasil que autorizou o capitão de mar e guerra Joseph de Torres80 a construílo O forte simbolizou a vitória dos baianos perante os portugueses no tráfico da Costa da Mina O segundo foi o início da expansão do Reino de Daomé que in tensificou as disputas entre os reinos africanos pelo tráfico na Costa da Mina aumentando o risco do comércio de escravos na região81 A respeito dessa situação africana na carta de 15 de outubro de 1721 Luiz Alvarez Pretto destacou o problema para Francisco Pinheiro di zendo possa ser com ordem de VM farei o que me ordenar o Sr 50 João Francisco na que remete a VM manda amis largamente a noticia do negocio da Costa da Mina verdade he corre perigo do alevantamen to e grande risco grifos nossos82 Apesar dos obstáculos parece que o comércio dos escravos con tinuou sendo feito por Francisco Pinheiro Numa carta de 5 de julho de 1726 Luiz Alvares Pretto relatava para Francisco Pinheiro que a venda de um carregamento de escravos não foi boa pois era cons tituído de menores e mulheres muitos deles com problemas nos olhos A ênfase na saúde dos escravos na preferência por homens na idade adulta mostra o perfil de uma boa carga e a previsão de realizar boas vendas e lucros Dizia a carta Pella conta de vendas que juntamente remetto de 26 escravos de huma carregação que VM remetteu pella Costa da Mina na galera Nossa Senhora da Conceição pella dita conta pode ra VM ver o mizeravel preço pello que vendi os ditos escravos que alem de ser barato me não foi possível poder conseguir com a dita venda a dinheiro de contado por estes serem todos de menor idade e femias e virem achacados dos olhos assim achara emportar o seu liquido rendimento conforme consta da dita conta 831996 rs 831996 grifos nossos83 Entretanto mesmo com a venda do carregamento de 1726 o co mércio de escravos feito por Francisco Pinheiro declinou As guerras na costa africana as disputas entre negociantes das praças coloniais de Salvador84 e do Rio de Janeiro dificultavam as atividades regula res A cobrança de novas taxas os chamados direitos sobre a im portação de escravos juntamente com as restrições dos holandeses à circulação das embarcações na Costa da Mina85 oneravam ainda mais o custo do escravo86 Por fim a falta de sócios para a organi zação do navio e a liquidação de uma sociedade no Rio de Janeiro87 parecem ter repercutido sobre as atividades de Francisco Pinheiro afastandoo do comércio negreiro Um aspecto interessante da correspondência é que além de ne gociar escravos Francisco Pinheiro periodicamente também os encomendava para uso próprio Em 1714 além dos acertos comer ciais com seu agente Francisco Pinheiro lhe encomendara um mole cão de 18 anos que deveria ser remetido a Lisboa88 Esses pedidos mesmo que eventuais mostram não apenas a sabida presença de 51 escravos em Lisboa89 mas o uso regular deles por Pinheiro Em carta de 10 de agosto de 1728 João Francisco Muzzi tratou novamente do assunto mencionando a remessa a Lisboa de dois moleques minas O segundo pedido deu ainda oportunidade para que o agente se ex plicasse sobre a dificuldade da remessa oferecendonos importantes informações a respeito das etapas do tráfico Atlântico Deixava claro que as carregações de escravos entre a Costa da Mina e o Rio de Janeiro passaram a não vir mais em direitura incluindo uma escala na Bahia ou em Pernambuco o que encareceu o preço do escravo da mina especialmente a partir de agosto quando teve início a monção Essa nova escala é certamente o motivo pelo qual não aparecem mais registros da chegada de navios seus da Mina no Rio de Janeiro90 Todavia não lhe podemos remeter dos dous moleques minas que VM nos pede pelos não haver pois ainda agora prinsipia a monsão para elles poderem vir da Bahia e de Pernambuco e os dias passados virão hums desta ultima parte e querendo comprar dous dois bonitos e do tãomanho que VM dezeja não quizerão dallos por 250 rs que como não vem para esta da Costa em direitura hão sempre de custar mais e tãobem por serem muito procurados estando bastante gente e cabedal nes ta esperando escravos minas para fazer emprego e sertamente que boa ocazião hera esta para mandar para a Costa ainda que fosse necessário gastar huas poucas moedas para haver pas saporte holandês para não entenderem com a embarcação as galeras que la estão cruzando e por agora não se nos oferese mais que partissipa lhe grifos nossos91 A resposta de Francisco Pinheiro foi direta No que VM fala das novas negociações para a Costa da Mina Ilha de são Lourenço e minas eu não me rezolvo a emtrar em novos negócios sem primeiro ajuntar os cabedais que tenho na mão de VM porque os tais negossios dependem de grande dezembolço e eu não me acho em termos de os fazer sem pri meiro puxar os meu cabedais que tenho espalhados nesse Rio e na Colônia 92 52 Portanto dependente dos sócios dos seus agentes e do capital dos seus negócios coloniais para organizar o comércio de escravos Francisco Pinheiro priorizaria outras atividades até o final de sua vida o que ocorreu em 1749 Considerações finais Neste texto procuramos descrever e analisar o comércio de es cravos realizado pelo fidalgomercador Francisco Pinheiro Por meio da correspondência entre ele e seus agentes e capitães de navio pu demos perceber o quanto era arriscado custoso e nem sempre lucra tivo o comércio de carne humana da Costa da Mina para o Rio de Janeiro Mas se havia lucro podia ser alto e não apenas para o ne gociante mas também para seus agentes e principalmente para os capitães das embarcações Infelizmente como destacado por Luis Lisanti a documentação sobre os carregamentos dos escravos não é muito farta tampouco detalhada Encontramos apenas uma descrição pormenorizada a do carregamento de 1715 que por sinal foi importantíssima pela riqueza de detalhes seja pelos preços dos escravos e o lucro alcançado com a venda destes seja pela estrutura etária e pelo sexo dos mesmos Apesar de todas essas dificuldades os relatos sobre o negócio do co mércio de escravos envolvendo riqueza e poderprestígio por parte do negociante oferecem uma importante contribuição para o enten dimento do funcionamento da sociedade e do Império português no século XVIII A História do Negócio como toda história particular não está dissociada da História Social Nesse sentido concordamos com Marc Bloch quando ele afirma Nada há mais legítimo nem freqüentemente de mais salu tar que centrar o estudo de uma sociedade num dos seus aspectos particulares ou melhor ainda num dos problemas precisos que este ou aquele desses aspectos suscita crenças economia estruturas das classes ou dos grupos crises políti cas Em resultado dessa escolha refletida os problemas não ficarão apenas em geral formulados com maior firmeza os próprios fatos de contato e de troca ficarão realçados com maior nitidez Sob a condição simplesmente de que queremos descobrilos 93 53 Notas 1 As licenças eram concedidas pela Coroa seja para o comércio atlântico de escravos seja para outros tratos mercantis como por exemplo o comércio no Caminho Ve lho para as Minas A respeito do comércio legal para a Costa da Mina ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 7375 2 A respeito da idade de ouro do Brasil e do tráfico de escravos na Costa da Mina e na Bahia ver BOXER C R A idade de ouro do Brasil dores de crescimento de uma sociedade colonial Tradução de Nair de Lacerda 2 ed rev São Paulo Companhia Ed Nacional 1969 Coleção Brasiliana v 341 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX Tradução de Tasso Gadzanis 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 3 LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII 5 v Brasília DF Min da Fazenda 1973 Usaremos a abreviatura NC ao nos referirmos a esta documentação 4 ELLIS Miriam Comerciantes e contratadores no passado colonial uma hipótese de trabalho Revista do Instituto de Estudos Brasileiros São Paulo n 24 p 120 1982 Esta publicação foi citada por Luiz Lisanti e por Willian Donovan 5 Existe um grande número de trabalhos sobre negociantes no período colonial Cor rendo o risco de deixar de lado trabalhos importantes destacarei alguns deles nas notas seguintes 6 RAU Virgínia Um mercador lusobrasileiro do século XVIII In Estudos sobre História Econômica e Social do Antigo Regime Introdução e Organização de José Manuel Garcia Lisboa Ed Presença 1984 p 19 Esse texto foi elaborado para ser apresentado no II Colóquio Internacional de Estudos LusoBrasileiros que se realizou em São Paulo em 1954 Foi publicado pela primeira vez em 1961 7 LOBO Eulália Maria Lahmeyer A mesa do bem comum ou mesa do espírito santo dos homens de negócio e o consulado em Portugal In Aspectos da in fluência dos homens de negócio na política comercial iberoamericana Rio de Janeiro sn 1961 p 47105 8 LOBO Eulália Maria Lahmeyer A mesa do bem comum ou mesa do espírito santo dos homens de negócio e o consulado em Portugal In Aspectos da in fluência dos homens de negócio na política comercial iberoamericana Rio de Janeiro sn 1961 p 3637 9 LOBO Eulália Maria Lameyer O Comércio Atlântico e a Comunidade de mercadores no Rio de Janeiro e em Charlenston no Século XVIII Separata da Revista de História São Paulo n101 p 49106 1975 Esta tese foi ressaltada no trabalho de GOUVÊA Maria de Fátima Silva Redes de poder na América Portuguesa o caso dos homens bons do Rio de Janeiro 17901822 Revista Brasileira de História São Paulo v 18 n 36 p 297330 1998 10 Entre os trabalhos e orientações com influência do pensamento de Sérgio Buar que que tratam do comércio e comerciantes destacamos HOLANDA Sérgio Buar que de Monções 2 ed São Paulo Alfa Ômega 1976 DIAS Maria Odila Silva A interiorização da metrópole 18081853 In MOTA Carlos Guilherme Org 1822 dimensões 2 ed São Paulo Perspectiva 1986 PETRONE Maria T S A lavoura canavieira em São Paulo expansão e declínio 17651851 São Paulo Companhia Ed Nacional 1968 PETRONE Maria T S O Barão de Iguape um empresário da época da Independên cia São Paulo Companhia Ed Nacional 1976 BLAJ Ilana A trama das tensões o processo de mercantilização de São Paulo colonial 16811725 Tese Doutorado em História FFLCHUSP São Paulo 1996 FURTADO Júnia Ferreira Homens de negócio a interiorização da metrópole e do comércio nas Minas Setecentistas São Paulo 54 HUCITEC 1999 A respeito da importância de Sergio Buarque de Holanda para a historiografia brasileira ver CÂNDIDO Antonio Org Sérgio Buarque de Holanda e o Brasil São Paulo Fundação Perseu Abramo 1998 11 HOLANDA Sérgio Buarque de Sobre uma doença infantil da Historiografia O Estado de São Paulo São Paulo suplemento literário 24 jun 1973 12 Max Weber denominou esses negociantes comerciantes atacadistas e Fernand Braudel denominouos negociantescapitalistas Para Weber e Braudel esses nego ciantes eram capitalistas modernos Cf WEBER Max História geral da Economia Tradução de Calógeras A Pajuaba São Paulo Mestre Jou 1968 cap 4 as origens do capitalismo moderno BRAUDEL Fernand Civilização material economia e capitalis mo séculos XVXVIII tomo II o jogo das trocas Lisboa Teorema 19 p 329382 Série Especial 13 SALES Alberto Jaqueri de Diccionario Universal de Commercio Tradução e adapta ção manuscrita do Dictionnaire Universel de Commerce de Jacques Savary de Bru lons 3 v 1813 O dicionário francês foi editado em 1723 14 A respeito do papel dos negociantes de Lisboa cf PEDREIRA Jorge L Os homens de negócios da Praça de Lisboa de Pombal ao Vintismo 17551822 diferenciação reprodução e identificação de um grupo social Tese Doutorado em Sociologia e Economia Históricas Universidade Nova de Lisboa Lisboa 1996 MADUREIRA Nuno Luís Mercado e privilégios a indústria portuguesa entre 17501834 Lisboa Estampa 1997 SILVA Maria Julia de Oliveira e Fidalgosmercadores no século XVIII Duarte Sodré Pereira Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda 1992 Com relação à nobreza cf MONTEIRO Nuno Gonçalo O crepúsculo dos grandes a casa e o patri mônio da aristocracia em Portugal 17501825 Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda 1998 15 FLORY Rae SMITH David Grant Bahian merchants and planters in the seventeenth and early eightenth centuries HAHR Maryland v 58 n 4 p 571594 1978 LUGAR Catherine The mercant community of Salvador Bahia 17801830 Ph Thesis The State University of New York at Stony Brook 1980 KENNEDY John Norman Bahian elites HAHR Maryland v 53 p 415439 aug 1973 RUSSELLWOOD A J R Fidalgos e filantropos a Santa Casa de Misericórdia da Bahia 15501755 Brasília DF UNB 1981 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 16 FRAGOSO João Luis R Homens de Grossa Ventura acumulação e hierarquia na pra ça mercantil do Rio de Janeiro 17801830 Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1992 SAMPAIO Antônio Carlos Juca Na curva do tempo na encruzilhada do Império hie rarquização social estratégias de classe na produção da exclusão Rio de Janeiro c1650c1750 Tese Doutorado em História PPGH Universidade Federal Flumi nense Niterói 2000 17 CHAVES Claudia Maria das Graças Perfeitos negociantes mercadores das Minas Se tecentistas São Paulo Annablume 1999 FURTADO Júnia Ferreira Homens de negó cio a interiorização da metrópole e do comércio nas Minas Setecentistas São Paulo HUCITEC 1999 ARAÚJO Luiz Antonio Contratos e tributos nas Minas Setecentistas estudo de um caso João de Souza Lisboa 1745 1765 Dissertação Mestrado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2002 18 GODINHO Vitorino Magalhães Estrutura da Antiga Sociedade portuguesa Lisboa Ar cádia 1979 p 103 19 Essa forma de atuação do comerciante e do comércio inglês fez com que Cain e Hopkins denominassem esse período de Gentlemanly Capitalism Cf CAIN JP HOPKINS AG Gentlemanly capitalism and british expansion overseas I the old co lonial system 16881850 The Economic History Review Sl 2nd ser v 39 n 4 p 501525 1986 A influência desta visão pode ser constatada nos seguintes trabalhos HANCOCK David Citizens of the world London Merchants and the Integration of 55 the British Atlantic Community 17351785 Cambridge Cambridge University Press 1995 Parte III Becoming a Gentleman BOWEN H V Elites enterprise and the making of the british overseas empire 16881775 London Palgrave Macmillan 1996 chapter 6 merchants planters and gentlemanly ideal 20 ANTT Ordem de Cristo Habilitação letra P Maço 37 6 apud DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 p 144 notas 7779 21 A respeito da Mesa do Bem Comum cf LOBO Eulália Maria Lameyer O Comércio Atlântico e a Comunidade de mercadores no Rio de Janeiro e em Charlenston no Sécu lo XVIII Separata da Revista de História São Paulo n101 p 49106 1975 22 LEVY Maria Bárbara História Financeira do Brasil Colonial Rio de Janeiro IBMEC 1978 p 94100 23 A respeito dos contratos e contratadores do sal e da pesca da baleia na colônia cf ELLIS Myriam O monopólio do sal no Estado do Brasil São Paulo FFCL 1955 e A baleia no Brasil Colonial São Paulo Melhoramentos EDUSP 1969 24 ELLIS Myriam O monopólio do sal no Estado do Brasil São Paulo FFCL 1955 p 121 25 MILLER Joseph C Way of death merchant capitalism and the angolan slave trade 17301830 Madison Wisconsin University Press 1988 26 FURTADO Júnia Ferreira Homens de negócio a interiorização da metrópole e do comércio nas minas setecentistas Tese Doutorado em História Social FFLCH Universidade de São Paulo São Paulo 1996 O livro de Júnia Furtado citado nas notas 8 e 11 é originalmente esta tese 27 DIAS Maria Odila Silva A interiorização da metrópole 18081853 In MOTA Carlos Guilherme Org 1822 Dimensões 2 ed São Paulo Perspectiva 1986 nota 9 28 FURTADO Júnia Ferreira Homens de negócio a interiorização da metrópole e do comércio nas minas setecentistas Tese Doutorado em História Social FFLCH Universidade de São Paulo São Paulo 1996 p 46 29 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 30 LEVY Maria Bárbara História Financeira do Brasil Colonial Rio de Janeiro IBMEC 1978 p 94100 31 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 cap 4 5 e 6 32 LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 v I p DIII 33 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 p 327 gráfico IV 34 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 cap 4 35 A presença de estrangeiros nas praças do Império Português e a disputa na África não são novidade na historiografia Em 1951 numa tese original sobre o abasteci 56 mento das Minas Gerais no século XVIII Mafalda Zemella destacava essa presença e a disputa pelo mercado de escravos Charles Boxer nos seus vários trabalhos também enfatizou tal dinâmica Cf ZEMELLA Mafalda O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII São Paulo HUCITECEDUSP 1990 Além das obras citadas de Charles Boxer no texto cf BOXER Charles R Brazilian gold and british traders in the first half of the eighteenth century HAHR Maryland v XLIX n 3 p 454472 ago 1969 36 Sobre os agentes parentes de Francisco Pinheiro cf LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fa zenda 1973 v I p CXXIXCXLVII DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Fran cisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 Cap 3 e 4 37 LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 v I p DI 38 Antonio Pinheiro Gomes era filho de Antonio Pinheiro Neto irmão de Francisco Pi nheiro Em 1714 foi para Luanda Angola vindo a falecer em 1716 morto pelos seus escravos na selva LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 v I p CXXXIVCXXXV 39 Antonio Pinheiro Gomes para Francisco Pinheiro 12091712 Cartas da Bahia NC v I p 19 Por nesta terrra entendase a Bahia e peras minas as Minas Gerais 40 ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO Publicação oficial de documentos interessan tes para a história e costumes de São Paulo v 50 São Paulo 1929 p 60 In LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 v I p DI DII nota 4 41 Para Mariza Soares em pouco tempo numa alquimia tardia essa capacidade de en contrar ouro transformase em acesso à sorte à fortuna SOARES Mariza de Carva lho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 86 42 BOXER Charles R O Império Marítimo Português 14151825 Tradução de Inês Silva Duarte Lisboa Edições 70 19 p 172 A respeito desse declínio principalmente de Luanda enquanto centro exportador cf FERREIRA Roquinaldo Amaral Transfor ming atlantic slaving trade warfare and territorial control in Angola 16501800 Ph Thesis University of California Los Angeles 2003 cap 1 43 BOXER Charles R Relações raciais no Império Colonial Português 14151825 Tradu ção de Elice Munerato Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1967 p 50 44 Baltazar Alvarez de Araújo para Francisco Pinheiro 15011719 Cartas da Bahia NC v I p 93 45 Francisco Pinheiro para Antonio de Cubellos 20081707 NC vol V p 519 Segundo Willian Donovan Francisco Pinheiro Theofilo Borges e Manuel Martins receberam permissão para que seus navios N Sra Rosário e S Joseph fossem para a costa da Mina DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Bal timore Maryland 1990 p 244 nota 70 46 ANTT Chancelaria de D João V Livro 34 fl 26 apud Daupias opcit p 451 In NC vol I p DIII 47 Infelizmente não temos o documento citado Entretanto podemos supor que trata de uma licença o que significa privilégios e isenções de tributos A respeito da fisca lidade colonial cf COSTA Wilma P Do domínio à Nação os impasses da fiscalidade na época da independência In JANCSÓ Istvan Org Brasil formação do Estado e 57 da Nação São Paulo HUCITECFAPESP 2001 p 143193 Especialmente na parte O sentido da fiscalidade colonial 48 APEB 7 doc 218 In VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX p 58 49 APEB 7 doc 218 In VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX p 58 50 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 74 51 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 79 52 SAMPAIO Antônio Carlos Juca Na curva do tempo na encruzilhada do Império hie rarquização social estratégias de classe na produção da exclusão Rio de Janeiro c1650c1750 Tese Doutorado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2000 p 271 53 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 p 265 A respeito do Tratado de 1654 e sua repercussão sobre o comércio InglaterraPortugal cf SHAW L M E The anglo portugueses alliance and the english merchants in Portugal 16541810 UKAldershot Ashegate 1998 54 Joseph Gulstons e Cia foi um agente comercial um factor comissárioconsignatá rio importante para o fidalgomercador Duarte Sodré Pereira Pereira op cit p 8889 55 Carregação era o termo utilizado para designar uma carga específica mercadoria inclusive escravos pertencente a uma ou mais pessoas e enviada para uma loca lidade distinta daquela em que seus proprietários residiam com a finalidade de ser vendida SAMPAIO Antônio Carlos Juca Na curva do tempo na encruzilhada do Império hierarquização social estratégias de classe na produção da exclusão Rio de Janeiro c1650c1750 Tese Doutorado em História Universidade Federal Flu minense Niterói 2000 p238 56 A respeito das autonomias e funcionamentos dos mercados do Império português é importante resgatar o trabalho de José Roberto do Amaral Lapa O Antigo Sistema Colonial São Paulo Brasiliense 1982 cf os capítulos O Mercado Interno Colonial e o Comércio Intercolonial Essa questão merece ser mais discutida em SAMPAIO Antônio Carlos Juca Na curva do tempo na encruzilhada do Império hierarquiza ção social estratégias de classe na produção da exclusão Rio de Janeiro c1650 c1750 Tese Doutorado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2000 p 273274 57 Carta de Lourenço Antunes Vianna para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro em 13041710 NC vol II p 5 58 Duclerc chegou ao Rio de Janeiro em 1181710 rendeuse em 1991710 e foi assassi nado em 1831711 A respeito dessa tentativa de 1710 e da invasão de 1711 essa úl tima chefiada por Du Guay Trouin cf BOXER Charles R Relações raciais no Império Colonial Português 14151825 Tradução de Elice Munerato Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1967 cap IV os franceses no Rio de Janeiro CAVALCANTI Nireu O Rio de Janeiro Setecentista a vida e a construção da cidade da invasão até a chegada da Corte Rio de Janeiro J Zahar 2004 p 4448 GUAITROUIN René du O corsário uma invasão francesa no Rio de Janeiro Tradução de Carlos André Nougué Rio de Janeiro Bom Texto 2002 59 Pânico era um tecido de linho de diversas qualidades 58 60 Carta de Lourenço Antunes Vianna para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 11111711 NC v II p 6 61 Carta de Lourenço Antunes Viana para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 25041712 NC v II p 89 Nas cartas de Francisco Pinheiro para seus agentes no RJ e MG a questão referente à busca e cobrança sobre o referido Cubellos foi cons tante A notícia da morte de Cubellos em 1721 não convenceu Francisco Pinheiro na busca do seu prejuízo Sobre a notícia da morte e seu desdobramento cf FURTADO Júnia Ferreira Homens de negócio a interiorização da metrópole e do comércio nas Minas Setecentistas São Paulo HUCITEC 1999 p 9495 62 SOUZA Laura de Mello BICALHO Maria Fernanda 16801720 o Império deste mun do São Paulo Companhia das Letras 2000 p 57 63 Carta de Guilherme Rubin para Francisco Pinheiro Carta da Bahia 15101712 NC v 1 p 22 64 Carta de Francisco Pinheiro para Antonio Pinheiro Neto Carta de Lisboa 1591714 NC v 4 p 704705 65 Carta de João Diniz de Azevedo para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 851715 NC v 2 p 50 66 Carta de Antonio Pinheiro Netto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 851715 NC v 2 p 54 67 Carta de Antonio Pinheiro Neto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 2891721 NC v II p 174 Documento anexado à carta 68 Segundo Luis Lisanti Filho a cegueira era uma enfermidade comum entre os cativos e entre as causas podiam estar as condições alimentares que afetam a vista a ambliopia e a alimentação dada ao escravo feijão e farinha de mandioca não eram ricos em vitamina A Ambliopsia é o enfraquecimento da vista sem lesão orgânica aparente do olho associada especialmente ao efeito de certas drogas ou à deficiên cia dietética Dicionário Michaelis 2001 cdrom Entretanto o autor assinala que a deficiência visual total eou parcial podia estar ligada sobretudo a outros fatores O tracoma pelo menos atualmente não é assinalado na região africana de onde vi nham tradicionalmente os escravos Resta a varíola grifo nosso Cremos que esta moléstia fosse a grande responsável LISANTI FILHO Luís Negócios coloniais uma correspondência comercial do século XVIII Brasília DF Min da Fazenda 1973 p DVII nota 1 Tracoma é uma doença crônica de olho de causa infecciosa A respei to das doenças e outros problemas dos escravos nas viagens dos tumbeiros cf MILLER Joseph C Way of death merchant capitalism and the angolan slave trade 17301830 Madison Wisconsin University Press 1988 p 424442 69 LOVEJOY opcit p 128146 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identida de étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 78 70 Carta de José Vieira Marques para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 20051715 NC v II p 6263 71 Carta de Antonio Pinheiro Neto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 20061715 NC v II p 73 72 Carta de Antonio Pinheiro Neto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 2891721 NC v II p 170171 73 No tocante à comissão de 12 referente à venda do carregamento capitão 5 agente 3 ½ e caixeiro 3 ½ Willian Donovan chamou atenção que foi superior à das vendas de outros produtos A comissão da venda de produtos secos têxtil girava em torno de 6 e de couros 2 DONOVAN William Michael Commercial en terprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 p 260 59 74 Sobre a preferência pelo escravo homem adulto e a distribuição da oferta e deman da de escravos por sexo ver LOVEJOY Paul E RICHARDSON David Competing markets for male and female slaves slave prices in the interior of West Africa Jour nal of Economic History Sl v 28 p 26193 1995 75 Entre os historiadores brasileiros que se detiveram sobre o tema da família e da mulher escrava destaco FLORENTINO Manolo GÓES José Roberto A paz das sen zalas famílias escravas e tráfico atlântico c1790 c1850 Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1997 MATTOS Hebe Maria Das cores do silêncio os significados da li berdade no Sudeste escravista Brasil século XIX 2 ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1998 1 ed Arquivo Nacional 1995 SLENES Robert W Na senzala uma flor esperança e recordações na formação da família escrava Brasil Sudeste século XIX Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 FARIA Sheila Siqueira de Castro A colônia em movimento fortuna e família no cotidiano colonial Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1998 76 Carta de Luiz Álvares Pretto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 04051723 NC v II p 361 77 Carta de João Francisco Muzzi e Luiz Álvares Pretto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 15101721 NC v II p 190 78 Carta de João Francisco Muzzi para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 15101721 NC v II p 228 79 Carta de Francisco Pinheiro para João Francisco Muzzi Carta de Lisboa 20031722 NC v V p 9 80 O capitão de mar e guerra Joseph de Torres era também proprietário de navios que traficavam na Costa da Mina VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX Tradução de Tasso Gadzanis 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 8588 81 A respeito da expansão de Daomé e a ocupação do porto de Ajuda pelo daomeanos ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 79 LOVEJOY op cit p 136137 82 Carta de Luiz Álvares Pretto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 15101721 NC v II p 234 83 Carta de Luiz Alvares Pretto para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 05071726 NC v III p 88 84 A respeito das associações de negociantes baianos com ingleses cf VERGER Pier re Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX Tradução de Tasso Gadzanis 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 6264 85 Sobre os holandeses um agente de Pinheiro informa que diante do bom preço de um escravo mina no Rio de Janeiro na época das monções quando é dificil trazêlos da Bahia valeria a pena pagarlhes o que pediam para fazer negócio sertamente que boa ocazião hera esta para mandar para a Costa ainda que fosse necessário gastar huas poucas moedas para haver passaporte holandês Carta de João Fran cisco Muzzi para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 10081728 NC v III p 312 86 Em 1725 o negociante Jerônimo Lobo Guimarães do Rio de Janeiro arrematou o contrato novo dos direitos que pagam os escravos que entram no Rio de Janeiro vindos da Mina e Cabo Verde SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identi dade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janei ro Civilização Brasileira 2000 p 81 87 DONOVAN William Michael Commercial enterprise and lusobrazilian society during the brazilian gold rush the mercantile house of Francisco Pinheiro and the Lisbon 60 to Brazil Trade 16951750 Ph Thesis The Johns Hopkins University Baltimore Maryland 1990 p 264269 88 e me fará favor de me escolher um molecão de dezouto annos dos mais bem feitos que vierem da carregaçam e este vira em companhia da VM ou me remete ra Carta de Francisco Pinheiro para Antonio Pinheiro Neto Carta de Lisboa 5091714 NC v 4 p 705 89 LAHON Didier Esclavage et Confréries Noires au Portugal durant lAncien Regime 14411830 2001 Cdrom 90 Essa rota entre a Mina e o Rio de Janeiro foi destacada por Soares para explicar a presença de escravos da Costa da Mina na cidade do Rio de Janeiro na primeira me tade do século XVIII Sobre a transferência de escravos da Costa da Mina da Bahia para o Rio de Janeiro nesse período ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 2 especialmente p 85 91 Carta de João Francisco Muzzi para Francisco Pinheiro Carta do Rio de Janeiro 10081728 NC v III p 312 92 Carta de Francisco Pinheiro para João Francisco Muzzi Carta de Lisboa 18011729 NC v V p 163 93 BLOCH Marc Introdução a História 5 ed Tradução de Maria Manuel e Rui Gracio Lisboa Publicações Europa América 19 p 135 Coleção Saber 59 Indícios para o traçado das rotas terrestres de escravos na Baía do Benim século XVIII1 Mariza de Carvalho Soares As mudanças e alterações provocadas localmente no interior direta ou indiretamente por este tráfico estão longe de cons tituir os temas principais ou prioritários de pesquisa Ficase com a impressão de que Abomé capital do Daomé e Uidá seu porto comercial continuam a ser os principais centros de in teresse dos pesquisadores Enquanto isso as regiões há muito tempo e seguidamente vítimas dos ataques do exército daome ano são um campo de pesquisa ainda pouco explorado Essas regiões são ocupadas principalmente pelas populações ketu idaisa e mahi que ainda mantêm fresca em sua memória a lem brança daqueles tempos difícieis Elisée Soumonni Daomé e o Mundo Atlântico Durante muitos anos os estudos sobre o tráfico de escravos2 e o comércio atlântico3 estabeleceram o vínculo entre a história das Américas da Europa e da África O olhar cada vez mais atento para a especificidade dos africanos no seio da população escrava nas várias partes do Atlântico tem resultado no estreitamento do diálogo entre a história da escravidão e da diáspora africana nas Américas sem que com isso se tenha perdido a perspectiva da diferença entre as abordagens desses dois campos Enquanto a história da escravidão moderna tem caminhado lado a lado com a história das Américas e do Caribe a história da diáspora africana é um desdobramento recente da história da África Assim a historiografia chegou a um patamar no qual hoje é impossível em qualquer quadro de análise ignorar uma reflexão sumária que seja sobre a presença africana nas Américas4 Tal virada abre ca minho para uma perspectiva historiográfica que in corpora não apenas o comércio atlântico de escravos do ponto de vista 62 da história econômica e demográfica mas também a diáspora afri cana dando com isso um maior destaque à dispersão dos escravos africanos e às suas modalidades de reinserção social A temática da diáspora africana tem sido abordada das mais va riadas formas desde as biografias até grandes projetos coletivos de bancos de dados5 O que a história da diáspora tem de particular é que ela trata de pessoas Seu objetivo maior é entender os proces sos sociais que provocaram acompanharam e resultaram da disper são de 11 milhões de escravos que atravessaram o Atlântico ao longo de quatro séculos Uma das mais importantes áreas exportadoras foi a Baía do Benim No Rio de Janeiro esses escravos ficaram conhe cidos como pretosminas Em trabalhos anteriores tenho frisado o fato de que o termo mina é uma designação que varia de acor do com o lugar e a época nas diferentes partes das Américas em que aparece Mais recentemente Robin Law mostrou que também na Baía do Benim o termo tem vários significados6 Do meu ponto de vista mina não é um lugar específico como o é uma terra para usar outro termo de época um porto ou um rio tampouco um grupo étnico No caso aqui tratado a palavra mina referese aos escravos que embarcaram nos portos da Baía do Benim e construíram uma identidade coletiva cujo entendimento passa pelo reconhecimento da perspectiva de uma migração forçada7 e pela construção do con ceito de grupo de procedência8 A pesquisa está em andamento por isso os resultados aqui apre sentados ainda podem ser questionados mas acredito que seja esse o caminho a ser seguido Partindo dessa perspectiva meu trabalho de um modo geral e este capítulo em particular agrega à historio grafia da escravidão no Brasil a questão da necessidade de conhe cer a efetiva procedência dos escravos africanos como precondição para entender como se deu na sua particularidade a inserção des ses escravos na sociedade colonial É nesse sentido que falo de uma história atlântica não apenas para mostrar a circulação de pessoas mas para entender os deslocamentos e reassentamentos de grupos Enquanto por exemplo a história de Baquaqua apresentada por Robin Law e Paul Lovejoy assim como a ideia de crioulo atlânti co de Ira Berlin destacam a mobilidade de alguns indivíduos9 meu foco vai para aqueles que não se movem que estabelecem laços es treitos nos lugares a que chegam e ficam Trato de grupos e não de pessoas isoladas A biografia importa como metodologia e não como 63 narrativa Proponhome a buscar nos lugares da geografia atlântica diria em terra não no mar o entendimento dos movimentos de pes soas de onde saíram como e por onde foram transportadas como chegaram e por fim de que modo essa experiência forçada coletiva transformou suas vidas Diante da grande diversidade de grupos étnicos e procedências envolvidas tenhome dedicado a dois deles em particular os cha mados minamahi e os minacoura aqui tomados eles mesmos como grupos de procedência ou para ser mais exata como subgru pos no interior do grupo de procedência mina e não como grupos étnicos A documentação que já reuni sobre eles abre caminho para uma vez identificada a terra da qual vieram10 reconstituir os pas sos da sua migração e chegar a seu ponto de partida Pela intensa concentração que caracterizou o tráfico nos primeiros 20 ou 30 anos do século XVIII estamos tratando de grupos e não de indivíduos iso lados há sempre um lugar de onde saem um grupo que se desloca e que é recolocado junto do outro lado do Atlântico Não sei dizer quanto esses casos são raros atualmente não existem no Brasil mas não há outros já estudados A opção deste capítulo pelo grupo de procedência em detrimento do grupo étnico se deve ao fato de que a documentação disponível não permite na maior parte dos casos avançar nos processos de identificação étnica mas apenas identifi car os lugares de procedência A diversidade dos escravos da Baía do Benim no Brasil O comércio regular de escravos entre o Brasil e a Baía do Benim na África Ocidental estendeuse do final do século XVII até o térmi no do tráfico atlântico em 1850 sem contar as primeiras remessas que remontam ao século XVI e os últimos desembarques clandesti nos que podem ter ocorrido até cerca de 1856 Na documentação co lonial tanto no Brasil quanto em Portugal a costa ocidental africana é denominada Costa da Mina11 Na primeira metade do século XVIII boa parte dos escravos daí trazidos teve como destino as lavras de ouro de Minas Gerais seguido por Goiás e Mato Grosso em busca dos diamantes O principal porto de desembarque foi a Bahia mas estudos recentes de Mary Karasch demostram a importância da rota via Belém do Pará rio acima até Goiás Minha própria pesquisa e a de 64 outros que ao tema se agregaram mostram que o Rio de Janeiro tam bém é uma rota de acesso às minas de ouro e diamantes no século XVIII Embora os portos de Pernambuco Bahia e Rio de Janeiro pos sam diferir no número de africanos desembarcados para cada um deles confluem escravos embarcados nos vários portos ao longo da costa da Baía do Benim na qual por sua vez se aglutinam escravos oriundos de diferentes partes seja do próprio litoral seja do interior mais remoto por meio de rotas terrestres que nos séculos XVI XVII e XVIII ainda precisam de estudos por parte dos historiadores da história da África e da escravidão africana Conhecendose a distribuição étnica e linguística dos povos que habitam o entorno da Baía do Benim e seu interior é possível verifi car que embora tenham ocorrido variações na forma de classifica ção dos escravos aí embarcados assim como diferenças nas suas estratégias de organização no cativeiro as nações ou grupos de procedência que operavam em cada lugar das Américas e especial mente no Império português apresentam um elenco comum de deno minações mina angola cabinda moçambique entre outras Para melhor exemplificar esse argumento retomo aqui dados apresenta dos em trabalhos anteriores Embora em proporções diferentes os escravos da Costa da Mina desembarcados em Pernambuco Bahia e Rio de Janeiro recebem mais ou menos as mesmas designações Uma grande parte deles vai para Minas Gerais que por isso é também aqui incorporada Ressalvado o risco dos possíveis usos locais do termo mina uma amostra recente feita por Laird Begard indica um total de 34327 africanos 17151888 sendo os minas estimados em 10 do total de escravos arrolados Nesse caso devese considerar que esse percentual fica prejudicado pelo fato de os minas terem es tado altamente concentrados nas primeiras três décadas do século O Banco de Dados da Freguesia do Pilar de Ouro Preto Minas Gerais 17121750 indica que os minas correspondem a 32 dos escravos12 É importante notar que se aos minas forem somados os sabarus os couranos os nagôs os ladas e os jaquem que aparecem em separa do a cifra dos minas sobe para 42 do total de escravos13 Os minas têm tamanho destaque na população escrava de Minas Gerais que sua presença deu origem a um vocabulário da então chamada lín gua geral da Mina uma variante do gbe que ainda carece de análise detalhada tanto do ponto de vista histórico quanto do linguístico14 65 Numa amostra feita com base em livros de batismo de escravos da cidade do Rio de Janeiro 17181760 listei um total de 6609 es cravas que levaram seus filhos para serem batizados 9 vinham da Costa da Mina15 Os 9 de minas no Rio de Janeiro na primeira meta de do século indicam que a proporção em Minas Gerais no mesmo período é bem mais alta e que para lá convergem em especial para a Freguesia do Pilar a grande maioria dos escravos vindos da Costa da Mina desembarcados no Rio de Janeiro A designação mina entre tanto em nada auxilia a identificação das procedências ao contrário esconde a diversidade contida sob essa identidade genérica em de trimento de outras menos abrangentes e operativas em esferas es pecíficas da vida social Assim é que para além da identidade mina outras designações aparecem na documentação de forma esparsa e minoritária mas são exatamente elas que nos dão as pistas para avançar nos processos de reconhecimento da diversidade identitária e da procedência dos mesmos Volto então à documentação disponível para analisar os sub grupos no interior do grupo de procedência mina16 Na Bahia entre 1684 e 1745 os africanos correspondem a 31 da amostra recolhida por Stuart Schwartz baseada em dados sobre manumissão Num to tal de 950 casos 112 são ditos minas sendo que 106 são indicados apenas como minas e um como mina Ladini minaladano ou lada aladá quatro como mina Courani minacourano e um como mina Sabara minasabaru 10 são ditos Arda ardra lada aladá e um Gege jeje17 Ainda para a Bahia Pierre Verger apresenta um quadro com inventários 17371841 no qual para o século XVIII arrola seis minas em 1737 um jeje em 1739 um savaru um maquim e um ladá em 1779 Em Pernambuco em meados do século XVIII a Costa da Mina correspondia a 29 do total das procedências dos escra vos africanos que entraram na capitania A irmandade do Rosário da cidade de Recife reunia parte deles sob a liderança dos angolas que elegiam reis e rainhas angolas e congos Dentre os minas havia ardas sabarus e dagomés ali também chamados gome Até 1776 os sabarus e os dagomés elegiam juntos um mesmo governador ao que tudo indica sob a autoridade dos sabarus Nesse ano os dagomés fizeram requerimento ao governador da capitania para serem autori zados a eleger seu próprio governador separado do governador dos sabarus18 66 Os sabarus vieram de Savalu localidade situada no interior do ter ritório Mahi Eles aparecem na documentação africana pela primeira vez como sabalours em 173319 Em vila do Carmo Minas Gerais não aparecem na listagem da captação de 1723 mas existem sete deles entre os confrades do Rosário de Mariana na década de 175020 Outros integram a Congregação Mina no Rio de Janeiro pelo menos desde a década de 176021 Os mahis ou maki makim maquim são um povo localizado ao norte do Daomé que resultou da fusão de gru pos que falavam línguas gbe com outros que falavam iorubá que mi graram para a mesma região22 Não existe uma localidade denomina da Mahi Mahi era e ainda é uma terra e na documentação colonial francesa aparecia também como uma confederação ou país Tem várias localidades entre elas Savalu nas quais se falava majorita riamente a língua gbe e Dassa na qual predominava a língua ioru bá23 A primeira referência aos mahis no Rio de Janeiro é o batismo de Ignácio Monte então Ignácio Mina em 1742 em Minas Gerais a menção mais remota data de 172524 e na documentação referente à África aparecem em 172825 Os chambas Tchamba segundo Robin Law são membros de um grupo situado a noroeste do Daomé mas o termo é também usado de modo mais amplo para todos os falantes da língua gur26 já aparecem na listagem de 1723 e também no Rio de Janeiro entre 1718 e 172627 Os couranos courá coura coura são praticamente irreconhecíveis na documentação africana não fora por sua hipotética identificação geográfica nos mapas modernos e históricos que indicam as rotas das caravanas Na costa há apenas uma referência a eles feita por Pierre Verger que cita informações de João Basílio diretor do forte português de São João Batista de Ajudá Em Slave Coast Robin Law não faz qualquer menção a uma localidade ou grupo com esse nome reforçando a dúvida contra a explicação de Verger que alega virem eles das proximidades do Lago Curamo na faixa litorânea da atual Nigéria28 Questiono essa locali zação e voltarei ao assunto mais adiante Em Minas Gerais aparecem ainda os nagôs estudados por Inês Cortes de Oliveira na Bahia e os ladá ou lada ladanos provavelmente oriundos do reino de Aladá Na documentação portuguesa do século XVII os escravos proceden tes de Aladá são chamados ardas e aparecem como tais na documen tação da guerra contra os holandeses em Pernambuco29 A menção a Jaquem é pouco usual já que não aparecem nomes de outros por tos de embarque de escravos No Rio de Janeiro são mencionados 67 também os ianos iono ayonous em francês Oyo em inglês e oió em português que provavelmente correspondem aos anagôs na África30 Por fim os agolins agonli vêm de Agonli uma vila situada à mar gem esquerda do rio Zou cuja maioria da população fala a língua gbe31 Entre os encontrados tanto no Rio de Janeiro quanto em Minas e não identificados estão os cobus32 os cabrerás e os fuams Embora precárias do ponto de vista de uma análise demográfica e ainda primárias do ponto de vista da linguística essas ocorrências mostram certamente com variações locais que a presença de desig nações bastante semelhantes em Pernambuco Bahia Minas Gerais e Rio de Janeiro ao longo do século XVIII é significativa Em algumas delas a associação a localidades línguas grupos e reinos é perce bida com facilidade Em outras são apenas hipóteses passíveis de correção ao longo do tempo Nos dois casos é difícil saber de que forma o vínculo entre cada indivíduo e a designação que lhe corres ponde ocorreu e em que medida ela pode ter sido alterada ao longo do tempo de acordo com diferentes circunstâncias Tais questões podem ser enfrentadas apenas num nível de análise mais aprofunda do para o qual os dados são escassos Por isso a correspondência aparentemente simplista entre grupos da diáspora e grupos africa nos é apenas um artifício para tentar traçar suas rotas sem com isso pretender buscar qualquer interpretação continuísta do ponto de vista da cultura Passo agora a enfocar as designações que aparecem na documen tação referente à cidade do Rio de Janeiro local em que minha pes quisa tem estado concentrada até agora Para isso parto dos dados biográficos de dois escravos alforriados que chegaram ao Brasil provavelmente na mesma época tendo ambos terminado juntos na cidade do Rio de Janeiro A identificação dessas procedências com binada à leitura da historiografia dos povos conhecidos como fon ou gbe classificação linguística está permitindo a reconstituição das rotas que deslocaram escravos em direção aos portos do litoral nos séculos XVII e XVIII antes e depois da expansão do reino do Daomé ao longo da década de 1720 Entretanto é importante deixar claro que a língua é apenas um dos componentes aqui considerados e que as fronteiras entre os grupos de procedência e os grupos étnicos são bem mais complexas As duas biografias aqui apresentadas são um resumo de textos anteriores que podem ser consultados para a obtenção de análises 68 mais detalhadas sobre Ignacio Gonçalves do Monte e Victoria Correa da Conceição33 As biografias de Ignacio Monte e Victoria da Conceição O escravo identificado mais tarde como Ignacio Gonçalves do Monte foi batizado na Freguesia de Nossa Senhora da Candelária cidade do Rio de Janeiro em 22 de setembro de 174134 Seguindo o uso local no assento consta apenas terem sido batizados dois es cravos de Domingos Gonçalves Ignacio Mina e José Mina ambos adultos Ignacio teve como padrinho outro José que por sua vez era escravo de Antônio Gonçalves e como madrinha Tereza escrava de Domingos Francisco35 Pelo menos desde 1748 e provavelmente antes disso Ignacio era membro da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia no interior da qual passou a pertencer à Congregação Mina que reunia africanos vindos da Costa da Mina Nessa ocasião a Irmandade estava instalada na Igreja de São Domingos e começava a construir uma capela própria nas imediações Em 1757 um oficial de barbeiro chamado Antônio Gonçalves da Costa36 pagou a Domingos Gonçalves 350000 réis37 pela alforria de Ignacio Segundo consta na carta Ignacio era também oficial de barbeiro e sangrador Em data e condições não esclarecidas parece ter ingressado no Regimento dos Pretos da cidade sendo respeitosamente chamado de capitão A irmandade possuía outros barbeiros e oficiais do Regimento dos Pretos entre seus membros mostrando que pertenciam a uma eli te da escravaria da cidade Em 26 de fevereiro de 1759 casouse com Victoria Mina e com ela viveu até o fim de seus dias Em 1762 em meio a um grande conflito Ignacio e outros aliados deixaram a Congregação Mina para organizar sua própria agremiação que ficou sendo conhecida como Congregação Mahi A nova Congregação reu nia membros dissidentes da Congregação Mina de várias localidades no interior da terra dos mahis como Savalu Dassa e outros de fora como Za Agolim e mesmo de bem longe como os ianos Nessa ocasião Monte foi eleito rei da Congregação Mahi título que mante ve até morrer no Natal de 1783 em consequência de uma moléstia que o deixou na cama por algum tempo Foi sepultado no cemitério da Irmandade em um funeral pomposo compatível com sua posição É o próprio Monte quem relata em seu testamento ser ele neto de 69 Eseú Agoa rei dos mahis motivo que sem dúvida deve ter contribuí do para ser eleito rei dos mahis no Rio de Janeiro Após sua morte a Congregação enfrentou uma grande crise sucessória em meio à qual foi escolhido um novo rei numa eleição que segundo consta reuniu em torno de 200 membros da Congregação Mahi38 Ainda no ano de 1742 foi batizada em Vila Rica do Ouro Preto capitania de Minas Gerais uma escrava nomeada Victoria Courana que veio a ser a esposa de Monte em cujo testamento foi apresen tada como herdeira e testamenteira sob o nome de Victoria Correa da Conceição Seu batismo realizado em janeiro foi anotado pelo Pe Leão Sá que a descreveu como uma mulher baixa bemfeita de corpo de aproximadamente 25 anos e que trazia no rosto as marcas de sua terra Depois de um número indefinido de anos passados em Vila Rica em data desconhecida e por motivos ignorados Victoria foi para o Rio de Janeiro onde em 13 de dezembro de 1755 pagou 180000 réis por sua alforria a Domingues Rabello de Almeida seu então senhor Não encontrei até agora documento que esclareça como Victoria chegou ao Rio de Janeiro nem como juntou dinheiro para comprar sua alforria39 O certo é que ela e Ignacio se encontra ram ou se reencontraram e se casaram O processo de habilitação matrimonial que faz correr os proclamas para o casamento informa todos os nomes com os quais ela foi identificada ao longo da vida no batismo era Victoria courana escrava de Domingos Correa Campos na carta de alforria passou a Victoria Correa Campos sobrenome do seu primeiro senhor que a mandou batizar no testamento do mari do datado de 1763 está como Victoria Correa da Conceição quem sabe em homenagem à Virgem que dá o nome à paróquia em que foi batizada Com a morte de Monte sua condição de rainha foi ques tionada fazendo com que ela se envolvesse no conflito sucessório e fosse destronada e acusada de revoltosa Não pude ainda encon trar seu testamento tampouco seu óbito A última notícia sobre ela data de 1788 quando ainda lutava contra seus oponentes para man ter a coroa de rainha da Congregação Mahi e aspirava ser coroada Imperatriz da Costa da Mina na antiga Congregação Mina que ela e o defunto marido tinham deixado para trás em 1762 quando fundaram a Congregação Mahi40 No assento de casamento Monte e Victoria aparecem como mi nas41 mas em documentação complementar é possível verificar que Monte é minamahi42 e Victoria minacourana43 É importante agora 70 esclarecer que não apenas o fato de se encontrarem na cidade mas também o de terem vínculos de parentesco consanguíneo anteriores certamente influenciaram na opção matrimonial e na escolha do ca sal para reinar sobre os mahis do Rio de Janeiro Segundo o próprio Monte Victoria era sua parenta por sanguinidade por ser filha de seu avô Temos então dois escravos um mahi e uma coura que são batizados no mesmo ano de 1742 e que dizem ser consanguíneos O próprio Ignácio relata Declaro que sou natural da Costa da Mina preto forro e liber to e fui escravo de Domingos Gonçalves do Monte a quem dei por minha liberdade trezentos e cinqüenta mil réis como constará da minha Carta de Alforria Declaro que sou casado com Vitória Correa da Conceição preta forra e até o fazer des te meu testamento não temos tido filhos e nem os tenho de outra qualquer mulher em solteiro e nem depois de casado Declaro que a dita minha mulher é minha parenta por sangüi nidade em terceiro grau por ser ela filha do meu avô Eseú Agoa bem conhecido rei que foi entre os gentios daquela costa do Reino de Maý ou Maqui 44 Segundo as regras estabelecidas pelas Ordenações Filipinas e con firmadas pelas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia os senhores tinham um prazo de seis meses para batizar seus escra vos45 É possível que muitos não tenham cumprido essa ordem mas tendo Victoria e Ignacio sido batizados no mesmo ano em lugares diferentes é grande a possibilidade de terem chegado ambos no ano de 1741 numa mesma embarcação ou em viagens contemporâneas Uma vez desembarcados provavelmente no Rio de Janeiro Ignacio foi comprado por um morador da cidade e Victoria foi levada para Minas Gerais As histórias de Ignacio Victoria e outros pretosminas que fre quentavam a Igreja de São Domingos e participavam da Irmandade de Santo Elesbão apontam pistas para desvendar seu passado O pa rentesco entre Ignacio e Victoria foi o ponto de partida para a identifi cação do lugar de procedência dos couranos e para o esforço de iden tificar outros lugares como Cobu46 Antônio Luiz Soares sobreviveu a vários senhores e comprou sua liberdade tendo morrido bem velho no ano de 1755 Embora sua maior devoção fosse São Domingos em 71 cuja capela pediu para ser sepultado Antônio deixou 3400 réis de esmola para as obras da igreja de Santa Efigênia inaugurada incom pleta em 1754 Em seu testamento escrito em português confuso demonstra ser ele um dos pretosminas mais ricos do seu tempo Declaro que fui nascido em terras de brutos e de gentilidade como foi a Costa da Mina e sou de nação Cobu e por o Senhor se querer lembrar de mim passei daquele reino dele há sete anos pouco mais ou menos a vender da Cidade da Bahia onde fui vendido ao primeiro senhor que tive na dita terra cidade por nome Antônio de Bastos Mendes o que me ensinou a Santa Doutrina e me mandou batizar e com efeito fui batizado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia da dita cidade qual parti também a vender nesta Cidade do Rio de Janeiro e fui comprado pelo defunto em sua vida Antônio Soares homem estrangeiro e boticário que foi e mo rou com sua mulher detrás do Convento de Nossa Senhora do Monte do Carmo e desta escravidão me libertei depois do dito defunto por duzentos e tantos mil réis que dei pela minha pes soa ao defunto o Reverendo Padre Teodósio de Souza como testamenteiro do mesmo defunto o qual testamenteiro me pas sou Carta de Liberdade em notas pelo sobredito preço tudo feito a beneplácito e consentimento e vontade da mulher viúva do sobredito defunto47 Ao lado dos mahis e dos couranos os cobus são também uma identificação recorrente na documentação setecentista especial mente em Minas Gerais e ainda menos conhecidos do que os outros dois Dados recentes na historiografia dos africanos minas em Minas Gerais A questão aqui levantada é saber como tais grupos que à diferen ça dos mahis são desconhecidos da historiografia da Baía do Benim podem ser identificados O fato de se referirem a Coura e Cobu como terras indica que havia uma unidade um grupo anterior à diáspora que partilhava um território e que membros desse grupo se reencon traram no cativeiro A questão é como saber de onde eles vieram Nos 72 limites desse texto basearmeei em dois trabalhos clássicos o livro de Robert Cornevin Histoire du Dahomey e o livro de Robin Law The Slave Coast of West Africa48 Essas leituras foram fundamentais para entender tanto o comércio de escravos no litoral Law quanto a dis tribuição das populações do interior Cornevin A documentação disponível e exaustivamente consultada por Cornevin e Law geralmente recobre os relatos e documentos pro duzidos pelo próprio comércio de escravos no litoral Com isso sa bese perfeitamente onde os escravos foram embarcados mas para tempos mais remotos como a primeira metade do século XVIII ou antes é difícil estabelecer a procedência dos escravos que chegam ao litoral Por outro lado o apresamento de escravos no entorno da Baía do Benim tem estado sempre associado às guerras que aí ocor reram a partir do século XVII e que estiveram de um modo ou de outro vinculadas ao surgimento e à expansão dos reinos de Akwamu no atual Gana e Daomé no atual Benim Vários historiadores de bruçaramse sobre a história desses povos e existe um amplo debate historiográfico sobre o impacto causado pelo comércio atlântico de escravos na região de vários pontos de vista De um modo ou de ou tro as guerras e sua relação com o comércio atlântico têm sido uma explicação constante para a oferta de escravos a serem negociados nos diferentes portos dessa costa que ficou conhecida como a Costa dos Escravos49 Temos então como ponto de partida para a identificação das pro cedências dos escravos duas variáveis importantes primeiramente os nomes desses grupos no Brasil não correspondem aos nomes dos reinos ou outras nomenclaturas do litoral em segundo lugar se as guerras efetivamente geraram a maior parte dos escravos da diáspo ra atlântica que guerras foram essas As principais guerras das pri meiras décadas do século XVIII no litoral são as guerras de expansão dos reinos do Daomé e Akwamu Estes são conflitos absolutamente determinantes para os destinos do comércio de escravos e para a reordenação da distribuição da população litorânea mas são raras as menções a esses reinos na nomenclatura associada às formas de organização dos escravos minas no Brasil apenas pouquísimas refe rências a escravos dagomés Ao lado dessas guerras litorâneas mui tas outras ocorreram associadas a deslocamentos populacionais ao norte e que foram muito pouco registradas pela historiografia Assim sendo no litoral e principalmente no interior um grande número de 73 pequenos grupos aldeias e regiões de menor destaque permanecem desconhecidos Mas alguns deles mesmo pouco destacados na geo grafia e na nomenclatura da Costa dos Escravos e de seu interior adquirem visibilidade na escravidão Não à toa já que são os perde dores aqueles que terminam nas mãos dos negreiros Em Minas Gerais num total de 34327 escravos arrolados em in ventários de Minas Gerais entre 1715 e 1888 temos minas 2769 homens e 824 mulheres total de 105 nagôs 272 homens e 29 mu lheres total de 09 cobus 220 homens e 19 mulheres total de 07 couranos 139 homens e 23 mulheres total de 05 Dentre os não diferenciados estão por exemplo os mahis Os dados de Begard mostram que a entrada dos minas concentrouse nas três primeiras décadas do século começando a cair sistematicamente já a partir da década de 172050 Isso também indica que boa parte dos 105 dos minas teria entrado antes de 1730 e talvez mesmo antes de 1720 O problema é que a documentação anterior a 1715 dada a desorganiza ção da capitania é quase nula Reforçando os dados de Begard uma listagem de Vila do Carmo depois Mariana para o ano de 1723 arrola 1239 africanos sendo 423 minas 18 cobus 1 courano51 Um outro componente importante dos dados apresentados por Begard é a alta proporção de escravos do sexo masculino Seguindo a argumentação de Paul Lovejoy os escravos homens são aque les que percorrem as mais longas distâncias havendo uma tendência a que as mulheres do interior sejam comerciadas no mercado afri cano e não no Atlântico Portanto o comércio atlântico de escravos se caracteriza por mulheres e crianças da região costeira e homens que podem ser apresados nas guerras litorâneas ou trazidos pelas caravanas de lugares mais remotos do interior52 Portanto o perfil do escravo mina encontrado em Minas Gerais nas primeiras duas ou três décadas do século XVIII parece corresponder mais ao negócio de longa distância do que ao perfil do escravo litorâneo Entretanto se consultada a literatura não há menção a um comér cio regular de escravos entre o interior e o litoral com vistas ao aten dimento da demanda atlântica de escravos na primeira metade do sé culo XVIII A associação entre escravidão e guerra faz com que Robin Law só se preocupe com o interior depois de 1730 Quando encer radas as guerras com os reinos de Alada e Hueda o Daomé se volta para o interior passando a atacar sistematicamente Oió e também os mahis que ficam em seu caminho Diante da baixa representatividade 74 dos mahis na documentação mineira duas possibilidades mostram se dignas de melhor investigação eles podem estar ocultos entre os chamados minas ou podem ter sido traficados em maior número a partir de 173040 compatível com a historiografia africana e já não ter ido em tão grande proporção para Minas Gerais ficando parte deles no Rio de Janeiro como foi o caso de Ignacio Monte eou po dem ter sido mandados para Mato Grosso para faiscar diamantes A segunda hipótese parece mais plausível mas de todo modo Joam Maquine como foi visto já estava em Minas Gerais em 1725 Os couranos estavam bem representados em Minas Gerais na dé cada de 1720 e provavelmente antes disso O primeiro caso regis trado é o de Joana courana moradora em Vila do Carmo que foi al forriada em 172253 Como as informações aqui obtidas vêm de inven tários e alforrias essas datas não correspondem ao ano de chegada Especialmente no caso das alforrias as datas devem ser calculadas considerando pelo menos dez anos de trabalho para que um escravo pudesse juntar os recursos necessários para comprar sua carta de alforria ou merecer a generosidade de seu senhor Assim sendo tanto os mahis quanto os couranos e cobus provavelmente já começaram a ser negociados nos portos do litoral no máximo na segunda década do século XVIII correspondendo às primeiras levas de escravos che gados a Minas Gerais Essa cronologia é fundamental não apenas para a história da escravidão mas também para a história do comércio atlântico de escravos e para a própria história da África porque aponta para uma pouco explorada cronologia dos contatos entre os portos do litoral e os mercados de escravos do interior que em épocas tão remotas normalmente estão mais associados ao comércio das ca ravanas haussás e ao circuito muçulmano54 Para melhor explicar a questão aqui colocada passo a descrever sumariamente as rotas das caravanas Os couranos não aparecem em outras documentações africanas e tampouco foram até agora encontrados na documentação baiana ressalva feita à menção de Verger aos couranos em Ajudá Embora minha pesquisa ainda esteja em andamento acredito haver um equí voco na identificação dos couranos a quem Verger não deu a devida atenção A presença significativa de couranos em Minas Gerais mos tra que um contingente importante desse grupo foi escravizado em 75 condições ignoradas No que diz respeito à dificuldade de identifica ção de grupos étnicos em decorrência das fontes analisadas agrego o argumento da dificuldade de compreensão da etnicidade por sua dimensão transformadora que gera o que Paul Lovejoy chama de mi ragem da etnicidade55 Um caso analisado por Luiz Mott merece destaque Josefa Maria pretamina courana das Minas de Paracatu foi denuncia da à Inquisição Segundo consta promovia a dança de Tunda ou Acotundá falando na língua de Coura fazendo sacrifícios ao deus de sua terra o deus da nação coura descrito como um boneco de barro com cabeça e nariz a imitação do Diabo espetado em uma ponta de ferro com uma capa de pano bran co colocado no meio da casa em um tapete com umas frigi deiras em roda e dentro delas umas ervas cozidas e cruas búzios dinheiro da Costa uma galinha morta uma panela de feijão moringas de água etc56 A referência a uma terra ou reino termos próprios do universo colonial português nos previne quanto à ilusão de que reproduzam uma organização territorial e política africana original Se por um lado é preciso evitar essa interpretação ingênua da terminologia por outro não há dúvida de que a nomenclatura evoca de forma con tundente um passado vivido e representado57 Ignacio mahi declara se neto de um bem conhecido rei Victoria courana tem o rosto coartado à moda de sua terra Antônio Cobu vem de uma terra de brutos para conhecer a salvação eterna na devoção aos santos em Minas Gerais Josepha coura canta e faz sacrifícios ao deus de sua terra Tanto aqueles que se apresentam como católicos fervorosos e combatem o abuzo gentílico e supersticioso quanto os que cultuam os deuses pagãos de sua terra possuem as marcas de uma identidade construída com base no lugar do qual vieram qualquer que seja ele Mas por outro lado é importante lembrar que essas identidades são operacionais e que se misturam sem que seja possível saber como e por que atuam sem um estudo detalhado de cada caso Victoria por exemplo era courana em meio aos mahis e apesar dos confli tos por algum motivo essa particularidade nunca foi aventada nem contra nem a favor dela58 Tudo o que contra ela se fez foi por ser considerada feiticeira e revoltosa Por outro lado dados os casos 76 descritos por Mott não podemos ignorar a possível fama de feiti ceiras que deviam ter as mulheres couranas assim como tinham as mulheres mahis59 Essas referências mesmo que esparsas a um passado geografi camente localizado mostra um profundo vínculo com os lugares de onde saíram indicando que o rastreamento das nações e terras apre sentase até agora como a melhor estratégia para conectar os dois pontos extremos das rotas da diáspora africana o lugar de onde as pessoas saem e para onde elas vão Essa informação é fundamental porque a identificação dos portos de embarque e desembarque trabalho da maior importância e base para qualquer outro estudo pode dizer muito pouco das pessoas que por ali transitam É exata mente a força dessa identidade que faz com que ela seja apreendida pela escrita colonial e fique registrada na documentação da época As rotas do interior para a Costa dos Escravos Coura e Mahi lugar de partida O argumento apresentado aqui é uma conjectura ponto de par tida para novas etapas de pesquisa a serem desenvolvidas tanto na documentação do Brasil quanto na de outras partes das Américas e também da Baía do Benim Em trabalhos anteriores tenhome dedicado a mostrar que os mahis concentrados na cidade do Rio de Janeiro pelo menos des de meados do século XVIII e aí permanecem atuando pelo menos até a primeira década do século XIX abriram um enorme campo para pensar a possibilidade de identificar de modo mais preciso a procedência dos escravos ditos minas Do conjunto de pequenas bio grafias obtidas por meio de pesquisa meticulosa na documentação eclesiástica e cartorial foi possível chegar ao interessante caso do casal Ignacio Monte e Victoria Correa já descrito acima No entanto a mais importante constatação que esse caso trouxe à tona foi a in formação de que essa mulher courana era filha de um homem mahi mais exatamente de uma importante liderança que seu neto chamou Eseu Agoa e a quem atribuiu o título de rei dos mahis A leitura da história dos povos da África ocidental num sentido mais amplo abriume os olhos para uma nova identificação dos cou ranos diferente da de Verger que passo a expor Os couranos assim como os mahis vieram do interior e foram enviados ao litoral para 77 atender a uma urgente demanda de escravos para as recémdesco bertas minas de ouro de Minas Gerais Em 20 de junho de 1703 o go vernador da Bahia D Rodrigo Costa 17021705 escreveu uma carta ao rei de Portugal informando que moradores do Rio de Janeiro esta vam comprando escravos na Costa da Mina com o ouro desviado do quinto Em setembro do mesmo ano o rei D Pedro II proibiu a ida de embarcações do Rio de Janeiro à Costa da Mina A lei nunca foi cum prida e terminou por ser abolida em 171560 Essa é uma das razões por que a documentação é falha para os anos anteriores a 1715 já que grande parte dos escravos que entraram em Minas Gerais entre 1700 e 1715 foram levados para lá mediante alguma irregularidade Mas com base na denúncia do governador sabese que provavel mente desde 1702 comerciantes de escravos do Brasil tinham ouro e precisavam comprar escravos para obter mais ouro Embora essa demanda possa não ter afetado significativamente o conjunto do vo lume do comércio atlântico foi determinante para drenar rapidamen te um número elevado de escravos para o litoral Em vez de contar com as guerras e outros mecanismos de apresamento parece que essa demanda foi atendida por meio de encomendas a comerciantes dos mercados ou feiras do interior situados nas rotas das carava nas que puderam arcar com a transferência de um número eleva do de escravos num curto espaço de tempo Assim sendo ao lado da oferta regular dos escravos do litoral entre ca1702 e ca173061 foram trazidos escravos do norte de localidades próximas a rotas muçulmanas nas quais costumavam ser negociados os escravos des tinados ao Sudão Central Esses escravos foram levados para Minas Gerais homens em sua maioria o que era uma vantagem adicional à fartura da oferta e colocados para trabalhar nas lavras de ouro Um dos mais importantes centros mineradores foi Vila do Carmo depois Mariana onde os casos aqui tratados estão concentrados Tal hipótese amparase exatamente na identificação da procedên cia dos escravos de Minas Gerais nas primeiras décadas do século XVIII Nas irmandades católicas frequentadas por escravos e forros foram encontrados couranos cabus mahis e sabarus todos bem or ganizados mas a documentação faz ainda menção a uma longa lis ta de nomes que estão sendo progressivamente identificados como chamba cabrera e fuam Todos esses nomes correspondem com maior ou menor precisão a lugares ao norte da terra dos mahis entre 78 esses e a rota das caravanas que vão de Salaga para Kano numa área hoje dividida entre Benim e Togo62 Buscando informações dispersas em vários autores e fazendo uma cuidadosa pesquisa cartográfica pude chegar a um quadro geral des sa região Parrinder descreve uma migração iorubá de leste para oes te que teria chegado a Dassa e Savé e de lá seguido para o norte em direção a Bassila no limite entre os grupos majoritariamente iden tificados como de língua iorubá e cotocoli É nessa região ao norte de Bassila e próxima às nascentes do rio Mono que fica localizada Aledjo63 que em iorubá quer dizer estrangeiro64 Cornevin refere se à mesma localidade como Aledjo Koura Koura estrangeira65 Segundo ele quando os cotokolis vieram de Gourma atravessaram Aledjo Koura em seu caminho para Soudou Koumandé até Aledjo Kadara todas localidades do atual Togo Ele menciona ainda a rota de Djogou66 em direção a Savalu67 localidade no interior do território mahi de onde seguindo sempre em direção ao sul chegavase à épo ca a Abomey capital do reino do Daomé e de lá ao litoral Cornevin identifica ainda Kabou como um importante mercado de escravos da rota de Salaga situado perto de Aledjo Koura Segundo ele nessa re gião estão localizados os Gourounsi e os Kourouma68 Os Gourounsi são encontrados no Brasil no século XIX conhecidos como grunci e provavelmente os Kourouma são os Couranos Segundo Cornevin os Gourounsi do leste são os Kabré69 Em trabalhos mais recentes o historiador togolês N L Gayibor insere Aledjo Kabou e Tchamba os chambas do Rio e Minas na rota oitocentista da nozdecola já estudada por Lovejoy mostrando que tanto Aledjo Koura quanto Kabou ficam na rota entre Salaga e Zaira e que Tchamba um pouco mais afastada está ligada a essa mesma rota70 Em toda a África oci dental os grandes mercados convivem com outros menores e com pequenas feiras em dias alternados da semana de modo que cada pequeno povoado tem seu mercado e faz negócios locais de curta e de longa distância comprando e vendendo todo tipo de mercado rias inclusive escravos tanto para uso local quanto para a venda às caravanas71Assim sendo chegamos a uma geografia que conta com duas linhas horizontais imaginárias uma ao norte a estrada entre Salaga atual Gana e Kano atual Nigéria por onde os haussás trans portam sua valiosa nozdecola além de outros produtos e escravos para serem negociados em todo o Sudão Central outra no sul o li toral da Baía do Benim pontuado por portos negreiros nas praias e 79 lagoas que se prolongam por toda a costa Foi nessa larga faixa que ao longo da vigência do tráfico atlântico os escravos foram encon trados Mas para que descessem de um extremo a outro e atendes sem à demanda do litoral precisaram de estradas rotas comerciais que bem conhecidas no século XIX ainda são pouco analisadas para os séculos anteriores Uma rota de escravos dessas proporções não surge do nada em um ou dois anos Embora não existam registros claros sobre isso certamente tais rotas já existiam Referências es parsas a comerciantes muçulmanos na costa datam do século XVI Por fim quero ressaltar que a movimentação dessa rota no século XVIII quando os escravos eram pagos a peso de ouro pode indicar uma transferência do ouro do Brasil não para os reinos costeiros mas para o comércio africano do interior motivo pelo qual teria sido pouco detectado no litoral Considerando as localidades acima in dicadas é possível que tenham mesmo existido duas grandes rotas de saída uma que descia de Kabou passava por Sokode e chegava ao litoral na altura de Aflao e Lomé72 no atual Togo ou nessas ime diações73 e outra que descendo de Natitingo passava por onde em meados do século XVIII se estabeleceu o chamado círculo de Djogou chegava a Aledjo Koura de lá ia a Bassila e mais ao sul entrava nas terras dos mahis passando por Savalu e Dassa dali entrava no reino do Daomé passando por Abomey capital e de lá a Aladá onde a estrada se bifurcava para os portos de Ajudá hoje conhecida como Ouidah e Jaquem ambos no atual Benim74 Uma descrição dos portos da Costa da Mina deixada por Francisco Alves de Sousa o regente da Congregação Mahi quando Ignacio era rei menciona dois portos Popo Pequeno no atual Togo e Ajudá no atual Benim O texto faz parte do já mencionado diálogo cujo conjun to está datado de 1786 mas como essa parte foi escrita com base nas informações de um piloto meu amigo como informa Sousa pode conter informações mais antigas75 Do Cabo de São Paulo ao Popo Pequeno haverá 14 léguas e daí ao Grã Popo 4 mas adiante 5 ou 6 léguas para a banda de leste está o porto de Ardra chamado Fida ou Ajudâ Este porto é muito perigoso principalmente nos meses de abril maio junho e julho por andar então o mar tão grosso que será arris car visivelmente um navio o querer entrar nele e se tem visto 80 ali muitas desgraças adiante 5 léguas está o porto de Jequem aonde se faz muito negócio de pretos76 Assim tanto couranos quanto mahis e outros devem ter embarca do em Ajudá Também podem ter embarcado em Ajudá ou Jaquem os ianos assim chamados numa grafia aportuguesada da grafia usada pelos franceses Ayonous para Ayo que os ingleses escrevem Oyo deixando cair o A como algumas vezes acontecia Essa hipótese por sua vez aponta para uma ligação entre os comerciantes do Rio de Janeiro e os franceses que negociavam na Mina especialmente em Jaquem onde pelo menos desde 1728 os franceses já possuíam feito ria o que indica que deviam comerciar ali antes disso77 A informação mais precisa que pude encontrar sobre os contatos entre a costa e os comerciantes muçulmanos vem do livro Caravans of Kola de Paul Lovejoy Ao tratar da ligação entre a rota da cola e o lito ral ele menciona a presença dos malais na costa atlântica no início do século XVIII argumentando que quase certamente esses malais seriam comerciantes wangara uma identidade complicada associada ao comércio da nozdecola e aos deslocamentos haussás pelo Sudão Central Embora o autor não faça referência a Aledjo Koura aponta para o comércio de escravos na região Thiamba Chamba e Kotokoli foram embarcados para as Américas desde os anos de 1750 Todos vinham da região de Dedaure à qual os muçulmanos geralmente se referem como Kotokoli O uso do termo indicava que Gonja Dagbon e tal vez Dahomey estivessem rastreando a área em busca de es cravos mas também era possível que ali houvesse um centro comercial78 Koura pode assim como outras localidades ter exercido essa fun ção Portanto como mostram esses autores o problema não é iden tificar a descida dos escravos em direção ao litoral mas tentar datar esses movimentos e identificar com mais precisão de onde vinham os escravos assim como a possibilidade de que existiram já nos primei ros anos do século XVIII não apenas uma mas duas rotas para o litoral sendo a menos conhecida a que atingiria Aflao onde mais do que em Ajudá se desconhece a origem dos escravos aí vendidos Se essa se gunda rota operava nas mesmas proporções das outras pode ter tra zido um grande número de escravos de áreas ainda mais impensadas até agora Uma rápida olhada no mapa de William Snelgrave que traz informações de cerca de 1730 mostra o enorme vazio que se estende 81 entre os rios Volta e Benim e a completamente distorcida localização do reino do Daomé supostamente o mais conhecido dos comerciantes europeus O mesmo vazio permanece no mapa de Fage o mais conhe cido atlas da África79 Robin Law menciona a presença de comerciantes muçulmanos no litoral em 1704 mas não oferece qualquer informação sobre o comér cio então realizado80 Com base nas fontes mineiras é possível intuir que esses comerciantes lá estavam atraídos pela oferta de ouro para atender à demanda de escravos de Minas Gerais Como mostra a correspondência do governador do Rio de Janeiro desde 1702 os comerciantes do Rio de Janeiro mandavam buscar escravos em troca de ouro na Costa da Mina Rio de Janeiro e Salvador foram os portos que deram saída ao ouro do quinto desviado dos cofres portugueses Se Ajudá já tinha contatos comerciais regulares com a Bahia desde os anos de 1680 não seria impróprio pensar terem os comerciantes do Rio de Janeiro ido tentar melhor sorte em Aflao e Jaquem Os mapas apresentados e o croqui das rotas terrestres abaixo aju dam a visualizar a localização dos povoados e os caminhos por meio dos quais estão interligados Só estão marcados os caminhos que apa recem na literatura africanista As duas rotas assinaladas em tracejado são a de SokodêSavalu mostrada apenas por Fage e a de Sokodê litoral cuja existência no início do século XVIII não está comprovada Traçado conjectural da rota terrestre dos escravos ditos mina em Minas Gerais desde suas terras até os portos da Baía de Benim Observação As fronteiras atuais foram incluídas com a intenção de facilitar a leitura do mapa 82 No conjunto o ponto mais remoto ao norte é Kobu por mim as sociado aos cobus Embora seja difícil comprovar cada detalhe da hipótese apresentada separadamente é indiscutível que juntas es sas diversas peças do quebracabeça formam um conjunto bastante verossímil Se a escravização desses grupos da segunda metade do século XVIII em diante é assegurada pela literatura o que propronho aqui é recuar no tempo e perceber que tal rota já está em funciona mento desde as primeiras décadas do século para atender às lavras de ouro de Minas Gerais Voltemos ao testamento de Antônio Cobu Morto em 1755 ele chegou à Bahia com aproximadamente sete anos segundo seu pró prio depoimento Em sendo verdadeira esta data ele teria chegado c 1707 Antônio ao contrário de outros cobus ficou em Salvador ven dendo quiabos e não foi mandado sertão adentro a pé até Minas para lavrar ouro Talvez por isso tenha sobrevivido para contar sua his tória81 Em sua listagem de 1723 referente aos quintos reais Moacir Maia indica 23 cobus 21 homens e duas mulheres e 13 couranos 11 homens e duas mulheres já Fernanda Pinheiro em sua listagem da década de 1750 encontra apenas sete cobus e 67 couranos indican do com isso que os cobus seriam mais antigos em Minas do que os couranos Nenhum dos dois menciona os mahis Pinheiro menciona sete saborus que como já foi dito anteriormente devem ter sido exportados em maior escala depois de 1730 e começaram a aparecer regularmente na documentação na segunda metade do século Esse retardo é geralmente consequência das fontes consultadas princi palmente os testamentos de forros Para concluir o conjunto dos dados coletados indica que ao con trário do que se possa pensar a escravização não avançou do litoral para o interior pelo que vemos na rota estudada ela começou no interior Isso indica que povos e localidades que foram usadas como passagem das caravanas foram progressivamente transformadas em alvo da escravização Assim sendo com o tempo os campos de caça foramse deslocando para o sul até que nos anos 1930 o Daomé podia obter escravos em local bem próximo seus próprios vizinhos mahis Por outro lado indica também que os mahis devem ter participado regularmente do comércio de escravos do norte durante boa parte da primeira metade do século XVIII quando as rotas das caravanas passavam por Savalu para atingir o litoral Como último comentá rio os motivos e o modo como essas populações do norte foram 83 escravizadas nada têm de imediato a ver com os conflitos que lhes foram contemporâneos no litoral estando mais associados às migra ções dos iorubás e dos baribas no final do século XVII e começo do XVIII Os conflitos aí ocorridos entre populações que já ocupavam a região e as levas de migrantes que chegam geraram certamente uma enorme oferta de escravos que devem ter sido levados para várias partes do Sudão central através da rota de Salaga a Kano e também enviados ao litoral de onde foram mandados para partes ainda pouco conhecidas das Américas entre elas o Rio de Janeiro com destino a Minas Gerais Para completar quero ainda citar dois outros casos identificados no Brasil na mesma época e que ficaram em suspenso cabrerá e fuam ou foam Os cabrerás provavelmente correspondem aos Kabré es tudados por Charles Piot82 Sobre os fuans ou foam provavelmente também vindos dessa mesma região não pude encontrar nenhum trabalho de maior profundidade para auxiliar na identificação Voltando ao caso de Ignacio e Victoria Os anos de intensa demanda de escravos para Minas Gerais atra vés dos portos do Rio de Janeiro não ultrapassam a década de 1730 começando a cair no final da década de 1720 Assim sendo tanto Victoria quanto Ignacio parecem não se adequar à situação descrita Teriam ambos chegado no início da década de 1740 no máximo na década de 1730 já no final dos anos de ouro das Minas Assim o caso que deu origem à investigação mostrouse pouco explicativo e conti nua carecendo de explicação Como poderia Victoria ser filha do avô de Ignacio conforme explicitamente dito por ele em seu testamento Por que teriam eles e outros mahis chegado tão tarde Para responder a essa questão é preciso voltar à cronologia e ver que embora apareçam alguns mahis na documentação da década de 1720 eles são minoria A irmandade do Rosário de Mariana reúne 80 couranos na primeira metade do século e não há menção a um só mahi por outro lado em 1786 eles chegam a 200 na Congregação Mahi do Rio de Janeiro Assim ao que tudo indica a rota que leva os couranos ao litoral é a mesma dos mahis que parecem ter sido tra ficados em quantidade em momentos distintos Enquanto o apresa mento de couranos se concentrou nas primeiras décadas do século o dos mahis deve ter ocorrido a partir da década de 1730 À diferença 84 dos couranos cujas condições de apresamento ainda precisam ser mais bem explicadas os mahis foram alvo de repetidas investidas do reino do Daomé principalmente depois de terminadas as conquistas do litoral De 1731 em diante os ataques se sucederam por todo o século até os mahis se tornarem tributários do reino do Daomé83 Assim Victoria é uma courana fora de época e pode ter sido apre sada num lote tardio ou mais provavelmente junto com os mahis em c 1739 para estar sendo batizada em janeiro de 1742 e não com seus conterrâneos Os couranos encontrados em 1743 no forte de Ajudá podem ter sido presos nas mesmas circunstâncias ou estar lá por ou tros motivos que provavelmente nunca se saberá A probabilidade de Ignacio e Victoria terem sido aprisionados juntos explicaria não ape nas a cronologia de sua escravização mas o parentesco entre eles Casamentos realizados entre reinos e povos aliados assim como a compra de escravas por homens ilustres são comuns em todas as partes da Baía do Benim Infelizmente não se sabe o parentesco exato entre Victoria e Ignacio mas tudo indica uma ou duas gerações de intercasamentos entre mahis e couras para que Victoria pudesse ser filha do avô de Ignacio Este casamento é também compatível com o padrão encontrado por Florentino e Góes no Rio de Janeiro onde mulheres mais velhas casavam com homens mais novos o que pode ter sido o caso84 Fica aqui a hipótese de contatos regulares entre pessoas de Aledjo Koura e da região Mahi que devido à distância que os separa justi ficase apenas com base em algum vínculo comercial A considerar a condição de estrangeiros dos iorubás seus vizinhos podem ter muito bem sido alvo de seguidas guerras e razias A pista para a co nexão dos mahis com as áreas fornecedoras de escravos nas primei ras décadas do século é dada por Pierre DAyrie o feitor francês no porto de Jaquem Em 13 de agosto de 1728 os daomeanos tinham interrompido a estrada que ligava Jaquem ao interior e ele carente de escravos advogava a necessidade de encontrar um caminho alter nativo para chegar ao território mahi porque segundo ele era de lá que vinham os escravos85 Esta é até agora a mais remota referência aos mahis encontrada na historiografia da Costa dos Escravos e mos tra que eles já eram conhecidos pelos europeus86 Esta frase pode ser interpretada de dois modos diversos os mahis eram os escravos como o serão a partir de 1730 com as investidas daomeanas em seu território ou até então o território mahi era passagem dos escravos 85 do norte para o litoral Savalu foi sem dúvida um ponto de confluên cia de estradas que de lá desciam para o litoral Termino esse argumento com a hipótese de que Victoria seria fru to de algum casamento negociado entre a gente de Mahi e a gente de Coura em algum momento da década de 1710 já que Victoria foi batizada em 1742 com cerca de 25 anos Infelizmente até agora não consegui identificar nenhuma grande guerra em c 1740 que justifi casse a prisão de dois destacados membros da elite mahi Apesar da escassez de dados que a comprovem tal hipótese baseiase no rela to de Ignacio que parece bastante confiável na medida em que suas informações confirmamse na historiografia africanista Segundo Cornevin AgouaGuédé é o nome do herói fundador do povo mahi Assim sendo Eseú Agoa nome dado por Ignacio a seu avô e pai de Victoria seria um nome ou título nitidamente associado ao herói fundador mahi Como a poligamia e a compra de mulheres era usual não é de se estranhar que Victoria possa ter sido filha de uma das mulheres de um poderoso chefe mahi que teria quem sabe tomado sua mãe como escrava ou negociado um acordo matrimonial ou re cebido um presente87 Pensar em Eseú Agoa como rei dos mahis traz à tona mais um problema Na África os mahis se caracterizavam pela ausência de poder político unificado Eram um conjunto diversificado de peque nas aldeias nas quais habitavam grupos vindos de lugares distantes como resultado de grandes e longas migrações entre o final do sé culo XVI e meados do século XVII todos falando línguas diferentes majoritariamente gbe e iorubá e tendo em comum o fato de parti lharem um mesmo território conhecido como a terra dos mahis88 Assim sendo Eseú Agoa não poderia ter sido rei Assim como não houve um reino ele foi provavelmente uma liderança familiar e local importante a ponto de trazer no nome uma referência ao herói fun dador aquele que levou um grupo do sul para o norte até aquelas montanhas inóspitas onde resistiram durante séculos às investidas estrangeiras89 A questão do estudo dos povos da Baía do Benim do ponto de vis ta dos reinos é um problema na historiografia Se de um lado permitiu um enorme avanço no conhecimento da região principalmente das relações entre esses reinos e os europeus por outro ofuscou partes da região e grupos menores que ainda hoje são pouco conhecidos Estes grupos menores parecem ter mostrado uma grande capacidade 86 de resistência e recuperação diante da caçada humana de que foram alvo Reinos foram derrotados Aladá Hueda Oió mas os mahis e outros permaneceram sendo sangrados por séculos Por não serem centralizados constituídos com base em uma unidade territorial e étnica eram difíceis de serem dominados e destruídos como se des trói um império Não havia rei para matar nem capital para invadir Isso acontece com os mahis constantemente atacados pelo Daomé durante todo o século XVIIII quando os daomeanos anunciaram em várias ocasiões terem submetido e destruído os mahis Mas eles con tinuavam lá então como agora90 Entre os séculos XV e XVIII grande parte da documentação que sustenta a historiografia da Costa Ocidental africana em particular da Baía do Benim baseiase em relatos e fontes relacionados à pre sença europeia no litoral africano e aos deslocamentos dos mercado res e líderes religiosos muçulmanos Um dos mais fortes argumentos para esta abordagem é o fato de que a historiografia dos povos africa nos lida com enormes lacunas documentais para os séculos anterio res à presença europeia especialmente nas áreas não atingidas pelo Islã como é o caso da região entre a costa e as estradas do interior no que hoje corresponde ao norte do Benim e Togo até o século XIX Assim sendo informações sobre a distribuição dos africanos nas Américas que resultam do comércio atlântico e não de fontes produ zidas pelos próprios escravizados não são fontes de natureza diver sa da maioria daquelas analisadas pelos historiadores da história da África É interessante destacar que boa parte da documentação que sustenta a pesquisa histórica da Baía do Benim foi não apenas produ zida em função do comércio atlântico mas efetivamente produzida na Europa Acresçase a isso o fato de que dificilmente a historiografia africanista tem acesso a documentos produzidos por africanos nos séculos XVII e XVIII que possam dar informações relevantes sobre as condições em que os apresamentos e o comércio de escravos se deram Trabalhos como a biografia de Baquaqua que trata de mea dos do século XIX mostram que os esforços para proceder a essa identificação tornamse mais raros na medida em que se retorna no tempo fato comprovado também do ponto de vista das análises de deslocamentos coletivos como é o caso do Slave Trade Database no qual grande parte das informações disponíveis se concentra da se gunda metade do século XVIII em diante91 87 No Brasil o acesso aos inventários de senhores de escravos a diferentes listagens nominativas e à documentação eclesiástica es pecialmente os batismos os testamentos de africanos alforriados e documentação das irmandades leigas são fontes preciosas a serem exploradas Neste sentido o trabalho que venho desenvolvendo abre infinitas possibilidades para a leitura de outros conjuntos documen tais como é o caso das confrarias de Cuba e mesmo da Espanha e de Portugal nas quais os africanos também tiveram papel de destaque Notas 1 A pesquisa que deu origem a este texto foi desenvolvida no âmbito do Harriet Tub man Resource Centre on the African Diaspora da York University que financiou o projeto Mina People in Rio de Janeiro coordenado por mim entre 20032005 inspi rado na proposta sintetizada por Paul E Lovejoy Ver Identifying enslaved africans in the African Diaspora In LOVEJOY Paul E Ed Identity in the shadow of slavery London Continium 2000 p 129 O argumento aqui apresentado é de minha respon sabilidade mas não teria vindo à tona sem o diálogo com os trabalhos de Paul Love joy e Robin Law que em grande parte inspiraram esta investigação Das consultas e conversas que o projeto tem gerado ao longo desses anos tenho sido e sou grata a ambos a maior beneficiária 2 Obras clássicas da historiografia brasileira têm no tráfico o centro de suas preocu pações GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico Prefácio de Sérgio Buarque de Holanda 3 ed rev São Paulo AlfaOmega 1975 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 FLORENTINO Manolo Garcia Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro séculos XVIII e XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacio nal 1995 3 Para o comércio atlântico merece destaque o monumental trabalho de MAURO Frédéric Le Portugal et lAtlantique au XVIIe Siècle 15701670 Paris SEVPEN 1960 4 Lembro aqui o interessante estudo de Mathew Restall sobre a presença de africa nos nas expedições de conquista na América espanhola RESTALL Matthew Con quistadores negros africanos armados en la temprana hispanoamerica In SERNA HERRERA Juan Manuel de la Coord Pautas de convivencia étnica en la América Latina colonial índios negros mulatos pardos y esclavos México DC Universidad Autónoma de México Centro Coordinador y Difusor de Estudios Latinoamericanos Gobierno del Estado de Guanajuato 2005 p 1972 5 Dois trabalhos exemplares são LAW Robin LOVEJOY Paul E Ed The biography of Mahommah Gardo Baquaqua his passage from slavery to freedom in Africa and America Princeton Markus Wierner Publishers 2001 ELTIS David et al The Trans Atlantic Slave Trade a database on CDRom Cambridge Cambridge University Press 1999 ainda em construção 6 Para Bahia ver OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de Quem eram os negros da Guiné a origem dos africanos na Bahia AfroÁsia Salvador p 3773 n1920 1997 para a Baía do Benim ver LAW Robin Etnias africanas na diáspora novas considerações sobre o significado do termo mina Tempo Sl Niterói n 20 v 10 p 109131 janjul 2006 para o Rio de Janeiro ver SOARES Mariza de Carvalho From Gbe to Yoruba ethnic changes within the Mina Nation in Rio de Janeiro In FALOLA Toyin 88 CHILDS Matt Org The Yoruba Diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 p 231247 7 INIKORI J E Forced migration the impact of the export slave trade on african socie ties The History Teacher Sl v 17 n 4 p 624625 Aug 1984 8 Sobre o tema ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 3 Ver também O guru o iniciador e outras variações antropo lógicas Organizado por Tomke Lask Rio de Janeiro ContraCapa 2000 Também o historiador Paul Lovejoy igualmente inspirado nos trabalhos de Barth fala de identificações étnicas mais inclusivas que fazem emergir esferas de solidariedade entre diferentes grupos étnicos mesmo quando não existem condições previamente determinadas para isso Cf LOVEJOY Paul Enslaved africans in the diaspora In E Ed Identity in the shadow of slavery London Continuum 2000 9 LAW Robin LOVEJOY Paul E Ed The biography of Mahommah Gardo Baquaqua his passage from slavery to freedom in Africa and América Princeton Markus Wier ner Publishers 2001 BERLIN Ira De crioulo a africano as origens atlânticas da sociedade afroamericana na América do Norte Continental Estudo AfroAsiáticos Sl ano 26 n 2 p 231258 2004 10 SOARES Mariza de Carvalho A nação que se tem e a terra de onde se vem ca tegorias de inserção social de africanos no Império português século XVIII Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 26 p 303331 maioago 2004 11 Ver também SOARES Mariza de Carvalho Descobrindo a Guiné no Brasil colonial Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Rio de Janeiro v 161 n 407 p 7194 abrjun 2000 12 BEGARD Laird W Escravidão e história econômica demografia de Minas Gerais 17201888 Bauru EDUSC 2004 p 228229 CAMPOS Adalgisa Arantes et al O banco de dados relativo ao acervo da freguesia de N Sra do Pilar de Ouro Preto registros paroquiais e as possibilidades de pesquisa In JORNADA SETECENTISTA 5 2003 Curitiba Anais Curitibasn 2003 p24 Para a região de Ouro Preto e Mariana que mais interessa aqui ver BERGARD op cit Tabela 42 dados gerais p 228 fig 41 concentração de africanos p 199 fig 410 distribuição dos minas no tempo p 229 13 CAMPOS Adalgisa Arantes et al O banco de dados relativo ao acervo da freguesia de N Sra do Pilar de Ouro Preto registros paroquiais e as possibilidades de pesquisa In JORNADA SETECENTISTA 5 2003 Curitiba Anais Curitibasn 2003 p24 14 Ver PEIXOTO Antônio da Costa Obra nova de Lingoa gal de mina traduzida ao nos so Igdioma por Antonio da Costa Peixoto Naciognal do Rno de Portugal da Provincia de Entre Douro e Minho do comcelho de Filgras Que com curuzide trabalho e des vello se expoz em aprendella pa tembem a emsignar a qm for curiozo e tiver von de de a saber Eo Nas Minas Geraise Frga de Barmou Anno de 1741 Lisboa Agência Geral das Colônias1949 Esse vocabulário foi analisado em dois trabalhos LARA Silvia Hunold Linguagem domínio senhorial e identidade étnica nas Minas Gerais de meados do século XVIII Trânsitos coloniais diálogos críticos lusobrasileiros Lisboa p 205225 2002 YAI Olabiyi Texts of enslavement fon and yoruba voca bularies from eighteenthandniniteenthcentury Brazil In LOVEJOY Paul E Ed Identity in the shadow of slavery London Continuum 2000 p 102112 15 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 3 16 A diversidade de grafias para os nomes dos lugares e grupos seja no Brasil seja na África é enorme Envolve o uso de diferentes línguas europeias e africanas e 89 ainda a dificuldade da leitura de manuscritos Procurei manter a grafia original dos documentos transcritos assim como de cada autor consultado 17 SCHWARTZ Stuart B The manumission of slave in colonial Brazil Bahia 16841745 HAHR Maryland v 54 n 4 p 603635 nov 1974 Tabela IV p 613 18 Tratase de pesquisa de mestrado em andamento de Clara Farias que destaca ain da que apenas os minas criaram mecanismos para sair da subordinação dos ango las que dirigiam a irmandade e se organizar de modo autônomo FARIAS Clara As nações minas em Pernambuco Trabalho de curso apresentado ao Programa de PósGraduação em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 19 Para a primeira referência aos sabalours ver LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 p 19 nota 19 20 Para listagem de 1723 ver MAIA Moacir Rodrigo de Castro Quem tem padrinho não morre pagão as relações de compadrio e apadrinhamento de escravos numa vila colonial Mariana 17151750 Dissertação Mestrado Departamento de História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 44 para listagem de 175060 ver PINHEIRO Fernanda Aparecida Domingos Confrades do Rosário sociabilidade e identidade étnica em Mariana Minas Gerais 17451820 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 75 21 SOARES Mariza de Carvalho O Império de Santo Eslebão na cidade do Rio de Ja neiro no século XVIII Topoi Revista de História do Programa de PósGraduação em História Social da UFRJ Rio de Janeiro p 5983 2002 22 Sobre as migrações iorubás que atravessam o que veio a ser a terra dos mahis em direção a oeste e noroeste atravessando as fronteiras do atual Togo ve BERTHO Jacques La parente des Yoruba aux peuplades de Dahomey et Togo Africa Journal of the International African Institute Sl v 19 n 2 p 121132 Apr 1949 Especial mente mapa p 125 23 LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 p 1927 Adoto aqui a grafia mahi por ser a mais usual na literatura internacional Na documentação em português aparecem outras grafias como maí maqui maki makii maquino Em seu testamento Ignacio Monte apresenta duas grafias Maý e Maqui A grafia atual usada por linguistas do Benim é maxi Ver GBÉTO Flavien Le Maxi du CentreBénin et du CentreTogo unapproche autosegmentale et dialetologique dun parler gbe de la section fon Köln Köppe 1997 24 Numa listagem de escravos de 1725 consta o nome de Joam Maquine escravo do coronel Salvador Fernandes Furtado de Mendonça Arquivo da Câmara Municipal de Mariana Lista dos escravos vendas e forros da freguesia de São Caetano perten cente a Vila do Carmo de 1725 Agradeço a informação a Moacir Maia 25 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 p 80 26 LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 p 189 27 MAIA Moacir Rodrigo de Castro Quem tem padrinho não morre pagão as re lações de compadrio e apadrinhamento de escravos numa vila colonial Mariana 17151750 Dissertação Mestrado Departamento de História Universidade Fe deral Fluminense Niterói 2006 p 44 Os chambas aparecem na Tabela 2 à época foram erradamente por mim incluídos entre os grupos da costa centroocidental SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 80 90 28 Na literatura africanista não há menção explícita a um lugar ou etnia de nome Coura ou courano A única referência por mim encontrada é feita por Pierre Verger que transcreve uma informação do forte português de São João Batista de Ajudá no qual consta estarem ali guardados alguns couranos no ano de 1743 O episódio narrado envolve João Basílio o diretor do forte que escreve uma carta na qual está escrito E se seguio pretender o mesmo Cabo tratavase de um agau título equivalente a general no exército do Daomé que se lhe entregassem huns negros Couranos ini migos do Rey Daumê que se dizia estarem na dita fortaleza Uma outra passagem faz referência a uma denúncia sobre um possível ataque de couranos ao mesmo forte Um outro documento datado de 1767 anuncia uma invasão de coiranos em Ajudá VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 204 nota 106 207 nota 30 209 Não há dúvida quanto ao uso por João Basílio do nome couranos mas por outro lado não há tampouco qualquer evidência de que os couranos viessem do lago Curamo 29 Ver MATTOS Hebe Maria Marcas da escravidão biografia racialização e memória do cativeiro na História do Brasil Monografia apresentada em concurso para Pro fessor Titular de História do Brasil Universidade Federal Fluminense Niterói 2004 p 194223 30 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 31 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 32 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 p 109 No início de minha pesquisa acreditei serem os CobuCabu uma variação de Kaabu na Senegâmbia Diante da não localização até agora de registros que incentivem tal hipótese estou começando a crer que Cobu seja uma localidade no interior do atual Benim como vou argumentar adiante 33 Os documentos manuscritos aqui consultados foram 1 o compromisso da Irman dade de Santo Elesbão e Santa Efigênia e suas alterações entre 1740 e 1767 cópia pertencente ao acervo da Irmandade 2 uma proposta de compromisso da devo ção de Nossa Senhora dos Remédios de 1788 original AHUCUcód1300 3 livros de batismo casamento e óbitos assim como os processos de habilitação matrimo nial do Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de JaneiroACMRJ 4 o manuscrito Regra ou estatutos pormodo de hûm dialogo onde se dá notiçias das Caridades e Sufragaçoens das Almas que uzam osprettos Minnas comseus Nancionaes no Esta do do Brazil expecialmente noRio de Janeiro por onde se hao de regerem egôver narem fora detodo oabuzo gentilico e supersticiozo composto por Françîsco Alvês de Souza pretto enatural do Reino deMakim hûm dos mais exçelentes e potentados daqûela ôriunda Costa da Minna Tratase de um documento precioso escrito sob a forma de diálogo datado de c1786 que pertence à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Sobre ele ver SOARES Mariza de Carvalho Apreço e imitação no diálogo do gentio convertido Ipotesi Revista de Estudos Literários Juiz de Fora v 4 n 1 p 111 123 janjun 2000 p 111123 34 ACMRJ Habilitações Matrimoniais Doc 22119 cx 1648 35 ACMRJ Livro de Batismo de Escravos da Freguesia de Nossa Senhora da Candelária 2291742 36 Não pude ainda comprovar se Antônio Gonçalves senhor do padrinho de Ignacio e Antonio Gonçalves da Costa eram a mesma pessoa O mais curioso é que 30 anos mais tarde em seu testamento Ignacio Monte declarou ter pago ele mesmo a dita quantia a seu senhor ACMRJ Livro de Óbitos e Testamentos da Sé 17761784 Tes tamento de Ignacio Gonçalves do Monte Fl 442v444 91 37 Ao que tudo indica o preço é alto mas justo Ignacio tinha a mesma profissão de Antônio por quem em 1753 sua mulher Rita da Silva pagara 256000 réis no ato da alforria comprometendose a completar os 94000 réis restantes em parcelas mensais de 4000 réis a alforria de Ignacio é paga à vista em dinheiro corrente e moedas de ouro e prata A carta de Antônio está registrada no 1º Ofício de Notas RJ livro 123 p 130 12011753 a carta de Ignacio no 2º Ofício de NotasRJ livro 76 p 17v 12011757 Ignacio e Antônio constam do banco de dados para alforrias de Sheila de Castro Faria a quem agradeço a consulta 38 Para maiores detalhes sobre a biografia de Monte ver SOARES Mariza de Carvalho A biografia de Ignácio Monte o escravo que virou rei In VAINFAS Ronaldo SANTOS Georgiana Silva dos NEVES Guilherme Pereira das Retratos do Império trajetórias individuais no mundo português XVI e XIX Niterói EDUFF 2006 39 Victoria não consta da lista das pretas forras minuciosamente estudadas por FA RIA Sheila de Castro Sinhás pretas damas mercadoras as pretas minas nas cidades do Rio de Janeiro e de São João Del Rey 17001850 Monografia apresentada ao concurso de Professor Titular junto ao Departamento de História da Universidade Federal Fluminense Niterói 2004 40 SOARES Mariza de Carvalho Can women guide or govern men gender and power among African Catholics in Colonial Brazil In CAMPBELL Gwyn MIERS Suzanne MILLER Joseph C Ed Women and Slavery II The New World of Atlantic Commer cial Integration Ohio University Press 2007 No prelo 41 Uma primeira referência ao casal foi feita por mim em SOARES Mariza de Carva lho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 6 Dois trabalhos mais recentes traçam um panorama dos africanos forros da cidade do Rio de Janeiro e dão uma medida da importância e da particularidade dos chamados pretosminas FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista notas de pesquisa Topoi Revista de História do Programa de PósGraduação em História Social da UFRJ Rio de Janeiro p 940 set 2002 FARIA Sheila de Castro Sinhás pre tas damas mercadoras as pretas minas nas cidades do Rio de Janeiro e de São João Del Rey 17001850 Monografia apresentada ao concurso de Professor Titular junto ao Departamento de História da Universidade Federal Fluminense Niterói 2004 42 Os mahis são frequentemente mencionados pela historiografia africanista e conhe cidos como vizinhos do Daomé O único trabalho integralmente dedicado a eles foi escrito por Jessie Mulira que depois de uma breve apresentação se concentra nos anos posteriores a 1770 Este trabalho nunca foi publicado O primeiro relato deta lhado sobre os mahis foi escrito em 1920 por J A M A R Bergé um administrador colonial francês Bergé foi o primeiro a mencionar o País Mahi como campo de caça de escravos dos daomeanos Esta expressão foi notabilizada por Akinjogbin slave raiding ground Em 1962 Robert Cornevin publicou sua Histoire du Daho mey onde reúne as informações disponíveis sobre os mahis e vários outros povos Segundo ele os mahis migram do sul para o norte onde ocupam uma região para onde também grupos iorubás do leste se deslocam formando juntos um grande território que recobre uma área montanhosa ao norte do que veio a ser o reino do Daomé MULIRA Jessie Gaston A history of the mahi peoples from 17741920 a dissertation submitted in partial satisfaction of the requirements for the degree of Doctor of Philosophy in History Sl University of California 1984 BERGÉ J A M A R Étude sur le pays Mahi Bulletin du Comité dÉtudes Historiques et Scientifiques de lA O F II Sl 1928 AKINJOGBIN Isaac A Dahomey and its neighbours 17081818 Cambridge Cambridge University Press 1967 p 80 mapa p 93 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photographies Paris Éditions BergerLevrault 1962 Sobre mulheres mahis ver BAY Edna G Wives of the Leopard gender politics and culture in the Kingdom of Dahomey Charlottesville University of Virgina Press 1998 p 152 Em meu livro Devotos da cor analiso a criação de uma 92 Congregação Mahi no Rio de Janeiro em 1762 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 43 Fernanda Domingos Pinheiro indica a presença de couranos em Vila do Carmo atu al MarianaMG em 1723 sendo que o seu número cresce substancialmente a partir de 1730 A década de 1750 marca o ingresso dos couranos na Irmandade do Rosário de Vila do Carmo muitos deles já forros De um total de 74 couranos filiados 64 se matricularam nesta década 38 forros e 62 e escravos 59 homens e 41 mulhe res PINHEIRO Fernanda Domingos Tráfico Atlântico Diáspora Africana e escravi dão os Couranos em Vila do Carmo Minas Gerais século XVIII manuscrito Dados mais detalhados constam de sua dissertação de mestrado Confrades do Rosário sociabilidade e identidade étnica em Mariana Minas Gerais 17451820 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em História Universidade Federal Flumi nense Niterói 2006 44 ACMRJ Livro de Testamentos e Óbitos da Freguesia da Sé 17761784 Testamento de Ignacio Gonçalves do Monte p 442v444 45 Sobre a obrigatoriedade do batismo dos escravos ver LARA Silvia Hunold Org Ordenações Filipinas Livro V São Paulo Companhia das Letras 1999 p 99 309 46 Para maiores detalhes sobre as nações e terras encontradas no interior dessa irman dade ver SOARES Mariza de Carvalho A nação que se tem e a terra de onde se vem categorias de inserção social de africanos no Império português século XVII Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 26 p 303331 maioago 2004 47 Falecido em 27 de janeiro de 1755 Ver SOARES Mariza de Carvalho A nação que se tem e a terra de onde se vem categorias de inserção social de africanos no Império português século XVIII Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 26 p 303 331 maioago 2004 48 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 LAW Robin The Slave Coast of West Afri ca 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 49 MANNING Patrick Escravidão e mudança social na África Novos Estudos CEBRAP Rio de Janeiro 21 jul 1988 50 BERGARD Laird W Escravidão e história econômica demografia de Minas Gerais 17201888 Bauru EDUSC 2004 p 228229 51 MAIA Moacir Rodrigo de Castro Quem tem padrinho não morre pagão as relações de compadrio e apadrinhamento de escravos numa vila colonial Mariana 1715 1750 Dissertação Mestrado Departamento de História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 44 52 LOVEJOY Paul E A escravidão na África uma história de suas transformações Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 p 53 53 PINHEIRO Fernanda Aparecida Domingos Confrades do Rosário sociabilidade e identidade étnica em Mariana Minas Gerais 17451820 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 139 54 LOVEJOY Paul E Mercadores e carregadores das caravanas do Sudão Central Tem po Revista do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense Nite rói n 20 v 10 p 6182 janjul 2006 55 LOVEJOY Paul E Identidade e a miragem da etnicidade AfroÁsia Salvador n 27 p 939 2002 56 Além de Josefa Luiz Mott identificou duas outras mulheres couranas Maria do O e Rosa Egipcíaca sobre quem escreveu uma longa biografiaVer MOTT Luiz De escra 93 vas à senhoras Jornal Mulherio São Paulo 1987 Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 Acontundá raízes setecentistas do sincretismo religioso afrobrasileiro In MOTT Luiz Escravidão homossexualis mo e demonologia São Paulo Ícone 1988 57 Importante trabalho para uma discussão sobre uma concepção espacializada da temporalidade está em BENSA Alban Da microhistória a uma antropologia crítica In REVEL Jacques Org Jogos de escalas a experiência da microanálise Rio de Janeiro Fundação Getúlio Vargas 1998 p 61 58 A irmandade de Santa Efigênia tinha pelo menos mais um courano Antonio coura no cuja liberdade foi comprada por 89600 com recursos da irmandade em 1754 SWEET James Manumission in Rio de Janeiro 174954 an African Perspective Sla very and Abolition Sl v 24 n 1 p 5470 April 2003 59 Sobre as acusações de feitiçaria que pairam sobre Victoria ver SOARES Mariza de Carvalho Can Women Guide or Govern Men Gendering Politics among African Catholics in Colonial Brazil In CAMPBELL Gwyn MIERS Suzanne MILLER Joseph C Ed Women and Slavery VII Americas Ohio University Press 2007 p 7999 60 Seguindo Boxer e Verger desenvolvo esse argumento em SOARES Mariza de Carva lho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 2 61 Segundo meus cálculos a entrada de minas na cidade do Rio de Janeiro cai a par tir de 1725 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica reli giosid de e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 tabela 2 p 80 James Sweet comprova essa tendência de queda comparando o percentual de 307 de minas entre os africanos da Freguesia da Candelária por mim encontrados com os 259 por ele calculados para o período de 1737 a 1740 SWEET James Manumission in Rio de Janeiro 174954 an African Perspective Slavery and Abolition Sl v 24 n 1 p 5470 April 2003 62 LOVEJOY Paul Caravans of Kola the Hausa Kola Trade 17001900 Zaria Ahmadu Bello University Press 1980 63 PARRINDER G Yorubaspeaking peoples in Dahomey Africa Journal of the Interna tional African Insitute 17 Sl v 2 p 12223 1947 64 O significado de aledjo como estrangeiro é de uso corrente os mapas indicam ou tras localidades cujos nomes vêm complementados por aledjo na mesma área e o significado da palavra está em Dictionary of the Yoruba Language part two Yoruba English London Oxford University 1975 65 Não pode ser esquecida a associação entre estrangeiro e escravo Cf MEILLASSOUX Claude Antropologia da escravidão o ventre de ferro e dinheiro Rio de Janeiro J Zahar 1995 Como mostra Piot não fica por outro lado excluída a possibilidade de escravização dos mais próximos como o caso dos Kabré que habitam as montanhas de Atakora ao norte dos couranos PIOT Charles Remotely global village moderni ty in West Africa Chicago The University of Chicago Press 1999 66 A rota de Djogou até o litoral foi percorrida por Baquaqua e está descrita em sua biografia LAW Robin LOVEJOY Paul E Ed The biography of Mahommah Gardo Baquaqua his passage from slavery to freedom in Africa and América Princeton Markus Wierner Publishers 2001 Mais uma vez estou tentando recuar no tempo o uso dessa rota sem esquecer que Djogou só pode ser tomado como um reino depois de c1750 67 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 p 1617 63 68 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 p 37 94 69 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 p 21 70 GAYIBOR Nicoué Lodjou Histoire des Togolais v 1 des origines a 1884 Lomé Pres ses de lUniversité du Benin 1997 p 282 287 291 71 LOVEJOY Paul E Ecology and ethnography of the Muslim trade in West Africa New Jersey África World Press 2005 72 Embora a rota entre Kabou e o litoral na altura de AflaoLomé nos primeiros anos do século XVIII não apareça nos mapas históricos ela pode ser um dos motivos que levaram os Akwamu a invadir Aflao em 1727 Ver FAGE J D An Atlas of African History London Edward Arnold 19 mapa p 40 No mesmo mapa para o século XIX Fage mostra ainda uma estrada entre Sokode e Savalu que não aparece nos outros mapas nos quais a ligação com Sokodê e o litoral se faz diretamente para o sul e apenas no século XIX Segundo Cornevin no século XIX a rota de Kabou em direção a Salaga tem uma saída para Keta no litoral do atual Togo a oeste de Aflao e Lomé CORNEVIN Robert Histoire du Togo Préface de M le Gouverneur Hu bert Deschamps avec 16 cartes et 45 photographies Paris Editions BergerLevrault 1962 p 117 73 Para uma descrição dessa região na virada do século XVII para o XVIII e a ocupação do território dos anlos pelos Akwamo ver GREENE Sandra E Gender ethnicity and social change on the upper Slave Coast a history of the AnloEwe London James Currey Portsmouth Heinemann 1996 74 Essas estradas existem atualmente e esses caminhos vêm sendo usados há séculos A questão que se coloca é desde quando Uma história dos caminhos na longa dura ção seria uma contribuição inestimável à história dos povos da Baía do Benim 75 Jaquem ou Jaquin Jaquim atual Godomey no Benim 76 Uma análise mais detalhada dessa descrição está em andamento Ver a íntegra da derrota em anexo 77 Documento do Conseil de Marine 13 de agosto de 1728 citado por CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photographies Paris Éditions BergerLevrault 1962 78 LOVEJOY Paul E Caravans of Kola the Hausa Kola Trade 17001900 Zaria Ahmadu Bello University Press 1980 p 3436 79 SNELGRAVE A new account of some parts of Guinea and the slavetrade London Frank Cass Co 1971 FAGE J D An Atlas of African History London Edward Ar nold 19 mapa p 32 80 LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 p 188 81 MAIA Moacir Rodrigo de Castro Quem tem padrinho não morre pagão as relações de compadrio e apadrinhamento de escravos numa vila colonial Mariana 1715 1750 Dissertação Mestrado Departamento de História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 44 para listagem de 175060 ver PINHEIRO Fernanda Aparecida Domingos Confrades do Rosário sociabilidade e identidade étnica em Mariana Minas Gerais 17451820 Dissertação Mestrado Programa de PósGra duação em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 p 75 82 Podem ser os Kabré do norte do Togo estudados por PIOT Charles Remotely glo bal village modernity in West Africa Chicago The University of Chicago Press 1999 83 Em dois de seus principais trabalhos Law apresenta um sumário dos fatos conhe cidos sobre os mahis do ponto de vista de suas relações com os reinos do Daomé e Oió Cf LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 LAW Robin 95 The Oyo Empire c 1600 c 1836 a West African Imperialism in the Era of the Atlantic Slave Trade Oxford Clarendon Press 1977 84 FLORENTINO Manolo GÓES José Roberto A paz das senzalas famílias escravas e tráfico atlântico c1790 c1850 Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1997 85 Documento do Conseil de Marine 13 de agosto de 1728 citado por CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photographies Paris Éditions BergerLevrault 1962 86 Importante ter em mente que a primeira menção aos mahis data de 1725 em Minas Gerais 87 Edna Bay mostra as modalidades de trocas envolvendo mulheres escravas e livres no Daomé Cf BAY Edna G Wives of the Leopard gender politics and culture in the Kingdom of Dahomey Charlottesville University of Virgina Press 1998 88 A expressão terra dos é frequente na documentação eclesiástica por mim con sultada Em fontes francesas aparece como terreu e pays em inglês como land e country Voltarei a essa terminologia mais adiante 89 CORNEVIN Robert Histoire du Dahomey avec 10 cartes 1 croquis et 35 photogra phies Paris Éditions BergerLevrault 1962 90 Até hoje como pude constatar em relatos recolhidos no Benim os mahis são identi ficados como os mahis des collines mahis das montanhas e os mahis sans collines mahis sem montanhas mostrando a importância das montanhas na vida desse povo 91 ELTIS David et al A participação dos países da Europa e das Américas no tráfi co transatlântico de escravos novas evidências AfroÁsia Salvador n 24 p 4849 2000 Damas mercadoras as pretasminas no Rio de Janeiro século XVIII a 1850 Sheila de Castro Faria Gostais da África Ide pela manhã ao mercado próximo do porto Lá está ela sentada acocorada ondulosa e tagarela com o seu turbante de casimira ou vestida de trapos arras tando as rendas ou os andrajos É uma curiosa e estranha ga leria onde a graça e o grotesco se misturam Povo de Cam debaixo da sua tenda Há também as negras vendedoras matronas do lugar patrícias da manga e da banana com o seu rosário de chaves Essas damas mercadoras têm seus escravos que lhes arrumam as quitandas vigiam vendem ou vão colocar seus grandes cestos nas esquinas das ruas freqüentadas tentando a curiosidade do passante Não acrediteis que essa aristocracia do comércio negro que tem prerrogativas e patentes se deixe arrastar pe las suaves e santas piedades a ponto de socorrer os pés des calços da África seus irmãos ou irmãs Ela é avara e implacá vel Só ama e compreende o di nheiro e os próprios portugue ses a respeitam em negócios Charles Ribeyrolles 18121861 em Brasil Pitoresco O viajante francês Charles Ribeyrolles esteve no Brasil em 1858 aqui morrendo vítima de febre amarela em 1860 Sendo um abolicionista com ironia criticava o modo como as negras vendedoras tratavam seus próprios escravos seus irmãos ou irmãs e no limite o fato de possuírem escravos Nos dá a entender que o correto seria ha ver maior solidariedade entre escravos e 97 exescravos não só por serem ou terem sido cativos mas por sua origem territorial comum pés descalços da África seus irmãos ou irmãs Ao autor escapava a inexistência entre eles de uma África genérica e abstrata que lhes pudesse servir como ponto de referên cia Não considerava tampouco embora devesse ser de seu conhe cimento que os costumes de origem dos escravos nascidos na África também pressupunham a escravidão Homens e mulheres nascidos na África assumiam ou eram identifi cados no Brasil por designações variadas algumas vezes era o por to de embarque outras eram designações mais genéricas e criadas no Brasil outras mais raramente de seus próprios grupos étnicos Mas certamente não africano ou africana Somente na segunda metade do século XIX começou a aparecer na documentação a indi cação africanoa embora o mais comum para indicar o nascimen to na África fosse o termo de nação O que mais impressiona nas considerações de Ribeyrolles é o estabelecimento de uma hierarquia para as negras da cidade do Rio de Janeiro em meados do século XIX O autor afirmou que as damas mercadoras formavam a primeira classe das quitandeiras seguidas pelas que não têm mais que um tamborete e um tabuleiro sobre es tacas e debaixo de um toldo nas horas de muito sol1 Quanto às pri meiras não explicitou a origem mas das segundas afirmou serem filhas das Minas Gerais e da Bahia Crioulas portanto O prole tariado seria composto pelas negras do Congo de Moçambique de Anguiz e de Benguela marchando atrás de suas senhoras Apesar de não estar explícito a primeira classe das quitandei ras deveria ser composta pelas pretasminas posto ter indicado as crioulas e as nascidas na África centroocidental na segunda e na terceira categoria respectivamente Sugiro que sua referência pri meira classe das quitandeiras diga respeito às pretasminas por ter comentado sobre o pretomina descrevendoo como arrogante e alti vo avesso às atividades domésticas Mais além encontramos a rua de S Bento Grande entreposto de café Dela sobretudo partem os negros minas atléticos mármores vivos que fazem o transporte dos armazéns ao cais Rebeldes a toda sorte de escravatura doméstica formam entre si uma corporação sustentam uma caixa de resgates que a cada ano alforria e remete alguns às plagas africanas2 98 As palavras com as quais Ribeyrolles se refere aos pretosminas são quase as mesmas das de outro francês Charles Expilly que tam bém afirma a não acomodação dos pretosminas às exigências do serviço doméstico em outro ponto observei o espírito rebelde e o caráter independente dos pretosminas Afirmei que a sua nature za não se amoldaria bastante às exigências do serviço doméstico3 Quero crer que Expilly plagiava Ribeyrolles pois seu primeiro livro Le Brésil tel quil est em que explora os diferentes tipos culturais do Rio de Janeiro foi publicado em Paris pela primeira vez em 1862 enquanto a primeira edição do livro de Ribeyrolles Brasil pitoresco fora editado em 18594 Plágio ou não parece ter sido impressão cor rente pelo menos para viajantes que estiveram no Rio de Janeiro em meados do século XIX que os pretosminas tinham comportamento diferente dos nascidos na África centroocidental basicamente as re giões do Congo e de Angola indicados hoje genericamente como bantos5 A convicção de que essas diferenças realmente existiram varou décadas e foi reproduzida mais além com base nesses e em ou tros viajantes por diversos autores tais como Gilberto Freyre Nina Rodrigues Edison Carneiro Arthur Ramos e outros estavam certos de que os escravos originários da costa ocidental africana os mi nas eram superiores em termos culturais aos demais povos es cravizados da África Edison Carneiro estabeleceu inclusive uma hierarquia cultural Dividiu os povos africanos traficados para o Brasil em duas categorias os negros sudaneses e os negros bantos Os três principais grupos sudaneses seriam em ordem de importân cia os nagôs iorubás seguidos dos jejes ewes ambos da Costa dos Escravos estando em terceiro os negrosminas tshis e gás da Costa do Ouro Afirmava como Nina Rodrigues que portadores de cultura mais adiantada e aqui entrados em maior número os nagôs dominaram completamente a massa da população negra6 Essas considerações sobre os diferentes grupos sudaneses no Brasil referemse especificamente à Bahia da segunda metade do sé culo XVIII à década de 1850 época de entrada do maior contingente de escravos da África ocidental O quadro é bastante diferente do Rio de Janeiro local em que os escravos da África centroocidental eram a maioria esmagadora No Rio em bem menor número es cravos da África ocidental eram denominados genericamente de pretosminas Não temos como avaliar portanto a que povos ou 99 nações como se dizia na época Ribeyrolles e Expilly se referiam nem mesmo se conheciam suas diferenças mas podemos ter certe za de que não eram escravos falantes de línguas bantos estes sim melhor conhecidos por etnias Ribeyrolles sabia por exemplo que havia diferença entre as escravas do Congo de Moçambique de Anguiz e de Benguela mas aos demais tratava genericamente por minas A forma indistinta com que esses viajantes denominavam os escravos da África ocidental era comum aos habitantes do Rio de Janeiro entre os séculos XVIII e XIX Raríssimas vezes em documen tos há a especificação sobre a etnia de um escravo oriundo da África ocidental Até mesmo em testamentos em que testadores eram nas cidos nessa região havia só a informação mina ou eventualmente da costa da mina do gentio da guiné Eventualmente em alguns documentos como nas cartas de alforria há informação dupla como mina courana mina calabar mina haussá e mina nagô infor mações preciosas que precisam ser mais bem exploradas Claro que há diferenças em relação ao período Para o Rio de Janeiro desde o século XVII predominavam escravos oriundos das regiões do Congo e de Angola África centroocidental Mas no início do século XVIII embora os da África centroocidental continuassem a ser maioria ampliouse a entrada de escravos denominados minas Em trabalho bastante sugestivo Mariza Soares indica que o ter mo mina foi usado no Rio de Janeiro desde o século XVIII quando os minas da cidade representavam quase 30 da população escrava nascida na África7 Mas apesar da designação comum os componen tes dos que eram indicados como minas mudaram no decorrer dos anos Segundo Soares no século XVIII os minas eram majoritaria mente falantes de língua gbe vindos da Baía do Benim embarcados em Ajudá e outros portos desta costa Eram fon ewe mahi aladá e outros8 No século XIX cada vez mais os minas se compunham de po vos de língua iorubá genericamente designados de nagôs na Bahia e minas no Rio de Janeiro Sugerese que o termo nagô era oriundo da designação que os daomeanos de língua ewe davam aos povos de língua iorubá9 Minha proposta neste capítulo é apontar para certas especifici dades adquiridas pelo grupo mina no Rio de Janeiro entre o século XVIII e a primeira metade do XIX mesmo se composto de diversos grupos linguísticos e étnicos e sendo sempre a minoria entre os 100 escravos nascidos na África Quero crer que entre eles existiu uma organização baseada na tradição muito poderosa dos que eram iden tificados e se autoidentificavam como minas e que varou décadas Mantiveramse como elite capazes de articulações específicas para se libertar do cativeiro enriquecer e se tornarem visíveis aos olhos da sociedade escravista A alforria Independentemente do período histórico analisado é recorren te a interpretação historiográfica de que os escravos que conseguiam a liberdade passavam a engrossar o contingente da população po bre10 Paradoxalmente essa mesma historiografia enfatiza o fato de muitos senhores e suas famílias viverem do trabalho de um ou dois escravos A capacidade de como escravos sustentaremse a si mes mos e a seus senhores não se manteria quando tornados livres Como forros passam a ser pensados necessariamente como pobres Eu mesma em trabalhos anteriores considerei como pobre sem preci sar bem essa qualidade a população saída do cativeiro11 Supunha que a maioria dos alforriados pagara por sua liberdade depois de passar anos acumulando recursos e que lhes restava pouco tempo de vida e pobreza Já há algum tempo entretanto venho analisando uma série de documentos que comprovam ser inadequado estabele cer uma relação causal entre alforria e pobreza Não pretendo aqui contestar a hipótese de que a maioria dos al forriados mantevese pobre e estigmatizada Achoa até bastante provável O que tento indicar é que as condições de vida dos alfor riados foram mais complexas do que a pobreza inevitável Meu in tuito é tentar problematizar uma sociedade que deu condições ou elas foram criadas pelos próprios alforriados para tornar possível a criação de uma elite negra escrava ou forra recuperando pistas nas suas histórias de vida da herança africana que a tornou possível E o grupo que mais detinha essas condições era o mina Antes porém é necessário esclarecer o que entendo como po breza na sociedade escravista do Brasil Obviamente é um termo re lativo e depende de um conjunto de fatores inclusive culturais Em primeiro lugar e no aspecto material sugiro que quem tem escravo mesmo que apenas um não pode ser considerado pobre Além da propriedade escrava os que tiveram inventário postmortem aberto 101 ou redigiram um testamento também não poderiam ser pobres pois eram proprietários de bens Os destituídos de posses não faziam tes tamento nem tinham inventário sendo no geral grande parte ou a maioria da população adulta12 fosse livre ou liberta Outro fator que caracterizava a pobreza era a posição do indivíduo na hierarquia social Negros e seus descendentes libertos ou livres eram pobres mais pela condição estigmatizada que possuíam do que pelos bens materiais que efetivamente puderam acumular Um ponto de partida para observar a capacidade de escravos de acumular pecúlio é a modalidade da alforria ou melhor a forma como a liberdade foi conquistada Uma primeira questão que se colo ca é de ordem legal A legislação que trata do escravo se introduz nas Ordenações Filipinas13 na parte referente ao direito de propriedade inclusive no que se refere à sua alienação O escravo era uma pro priedade e como qualquer outra mercadoria só poderia ser alienado caso o proprietário assim o quisesse Dessa forma mesmo tendo o escravo o montante equivalente a seu preço o senhor não era obriga do a alforriálo Só o faria se fosse de sua vontade o que se interpreta va como uma doação mesmo quando a alforria era paga14 Foi em 1871 que a Lei conhecida como Ventre Livre estabele ceu o direito de o escravo ser libertado caso desse o equivalente a seu preço independentemente da vontade do senhor Assim sen do a conquista da alforria dependeu primordialmente e em quase todo período escravista das relações estabelecidas entre senhores e escravos Quero crer que nessa relação dependia mais da capa cidade dos próprios escravos de convencer seus senhores a libertá los do que da boa vontade deles em reconhecer os bons serviços prestados pelos escravos como consta em quase todos os papéis de liberdade Havia três modos legais de se obter a alforria a carta ou pa pel de liberdade assinada pelo senhor ou por outro a seu rogo na maioria das vezes registrada nos livros de notas dos cartórios outras somente como um papel particular o testamento e os posteriores codicilos a pia batismal Não havia necessidade de registrar em car tório as alforrias testamentárias e da pia batismal Embora em alguns casos isso ocorresse esses registros já eram o documento legal de liberdade Nos últimos anos os estudos sobre a alforria são numerosos mas este ainda é um tema relativamente recente Os mais antigos 102 e conhecidos são da década de 1970 um artigo de Stuart Schwartz para a Bahia no século XVII o de Mary Karasch para o Rio de Janeiro do século XIX alguns artigos pontuais de Luiz Mott sobre casos de alforria vários artigos de Kátia Mattoso para a Bahia e Parati no século XIX e um trabalho de maior fôlego de James Kiernan para Parati na virada do século XVIII para o XIX15 Esses trabalhos tratam da alforria em si não dos libertos mas são quase todos baseados nas cartas de liberdade registradas em cartórios James Kiernan foi o úni co que analisou também as alforrias na pia Suas conclusões são muito sugestivas pois descobriu que as crianças alforriadas na pia batismal em Parati não eram as mesmas que estavam nas cartas de liberdade Não trabalhou entretanto com as alforrias inscritas em testamentos que provavelmente também não foram registradas em cartórios Importante destacar que é muito difícil que uma região guarde séries completas de todos esses documentos Quanto aos escritos particulares estes certamente se perderam Muitos deles devem ter servido para comprovar a liberdade e não foram registrados em car tórios Podese concluir então que as alforrias no conjunto da popu lação cativa foram em muito maior número do que as registradas em cartórios Dessa forma posso supor que o contingente de libertos era grande muito maior do que o de algumas estimativas existentes mesmo considerando que as proporções variaram de região para re gião e no tempo16 O acesso à liberdade foi mais frequente do que podemos supor ou comprovar com as fontes que nos restaram Os estudos indicam que apesar de bem menos numerosas na po pulação escrava das áreas mais dinâmicas da economia as mulheres eram privilegiadas no acesso à manumissão Embora alguns dados re centes indiquem que em alguns curtos períodos de tempo os homens foram mais numerosos do que as mulheres no acesso à alforria é fato que no geral mulheres tinham mais condições de se tornarem livres Uma das hipóteses que foram aventadas pela historiografia referese ao preço inferior da escrava17 Além do mais os senhores estariam mais propensos a libertar mulheres do que homens já que os últimos seriam preferidos em várias atividades principalmente nas agrárias e de mineração Também existe o argumento que sugere a capacida de da mulher escrava de acumular pecúlio pois executaria ativida des rentáveis como prostituta ama de leite e no pequeno comércio entre outras18 Outra hipótese enfatiza o grau de afetividade que elas 103 puderam estabelecer com seus senhores fosse como ama de leite no serviço doméstico ou como amante19 Argumentouse que mes mo alforriadas elas poderiam continuar a trabalhar em serviço de escrava sem repúdio social20 Peter Eisenberg apresenta uma outra hipótese a de que a família escrava pressupondoa solidária teria a tendência a investir conjuntamente na alforria de mulheres para pre servar a prole da escravidão já que a escravidão seguia o ventre21 É bastante provável que todos esses argumentos estejam corretos para explicar a maior manumissão de mulheres em conjunto mas é necessário fazer distinção entre as mulheres que tiveram mais ou me nos condições de deter o controle de um ou outro recurso Analisei 7739 alforrias em 5878 registros cartoriais um registro muitas vezes tinha mais de uma alforria do Rio de Janeiro entre 1612 e 1861 Há grandes variações entre os séculos No XVII foram 94 alforrias no XVIII 2305 e no XIX 534022 Os números não destoam muito de ou tras pesquisas Para a Bahia as mulheres alforriadas eram o dobro dos homens23 Em minha pesquisa para a cidade de São João Del Rei entre os anos de 1774 e 1831 56 das alforrias foram concedidas a mulheres No século XVII no Rio de Janeiro 57 dos alforriados eram mulheres No século seguinte a participação feminina aumen tou para 64 diminuindo para 59 na primeira metade do século XIX Quadro 1 A proporção variava conforme a região e no tempo mas na esmagadora maioria das vezes com saldo positivo para as mu lheres Fossem elas crioulas ou nascidas na África detiveram mais recursos do que os homens para se libertar do cativeiro Quadro 1 Alforrias por sexo século XVII ao XIX total geral Séculos Homens Mulheres Mulheres Total XVII 40 54 57 94 XVIII 823 1482 64 2305 XIX 2188 3152 59 5340 Total 3051 4688 60 7739 Até a década de 1850 Fontes ANRJ Cartas de Liberdade Livros de Notas e de Registro Geral Cartórios do 1o 2o 3o e 4o Ofício de Notas Havia uma impressão nos primeiros estudos sobre alforria de que escravos crioulos estavam mais propensos à alforria do que os nascidos na África Essa proporção para o Rio de Janeiro entretanto variou mais do que a relação entre os sexos Os escravos alforriados no século XVII no Rio de Janeiro eram majoritariamente indígenas 104 ou seus descendentes denominados de gentio da terra e mulato provavelmente como ocorria em São Paulo onde eram assim desig nados os mestiços de brancos com índios24 Os nascidos no Brasil correspondiam a 73 dos alforriados Quadro 2 No século seguinte eram 62 diminuindo para 42 na primeira metade do século XIX Houve uma clara tendência à menor participação de crioulos mula tos cabras e pardos no acesso à alforria Quadro 2 Alforrias por origem Brasil ou África século XVII ao XIX SéculoOrigem XVII XVIII XIX Nº Nº Nº Brasil 69 73 1425 62 2230 42 África 2 2 711 31 2438 46 Outra origem 1 0 2 0 Indeterminado 23 25 167 7 669 12 Total 94 100 2304 100 5339 100 Até a década de 1850 Fontes ANRJ Cartas de Liberdade Livros de Notas e de Registro Geral Cartórios do 1o 2o e 3o Ofícios de Notas Nada do que se refira à alforria pode ser explicado por dados me ramente quantitativos As mulheres eram minoria nas escravarias mas eram as que mais se libertavam Não era tampouco o fato de serem os nascidos na África mais numerosos do que os crioulos que no conjunto eram os africanos os mais alforriados Em períodos ante riores eles foram maioria no conjunto das escravarias mas os criou los se alforriaram mais O motivo para o aumento da proporção de nascidos na África entre os que se alforriavam pode ser a entrada ma ciça de escravos nos portos do Rio de Janeiro pelo tráfico Atlântico na primeira metade do século XIX Podese conjecturar que havia por parte dos senhores uma maior predisposição à liberdade pela facilidade de acesso à mão de obra trazida pelo tráfico O que intriga entretanto é que quanto mais numerosos são os nascidos na África privilegiados pela alforria menor é o número daqueles que têm de pagar por ela Aumenta progressivamente e muito a percentagem de alforrias gratuitas dado aparentemente paradoxal O estado atual das pesquisas permite apenas apresentar algumas hipóteses prelimi nares sobre a questão No século XVIII 54 dos escravos tiveram de pagar por sua liber dade No século XIX até a década de 1850 somente 14 dos homens e 13 das mulheres o fizeram Quadro 3 Manolo Florentino sugere que o aumento do valor do preço do cativo impediu que escravos 105 pudessem acumular recursos suficientes para o pagamento de sua liberdade cada vez mais elevado25 Restavalhes então negociar a liberdade gratuita Para o autor foi o auge da politização na bus ca da liberdade já que sua aquisição deslocouse da acumulação de recursos ou seja do mercado para a órbita intrínseca da nego ciação26 Penso que o autor pode ter certa razão mas devese ter em mente que sempre mesmo pagando por ela o escravo tinha de convencer seu senhor a permitir a alforria Conseguir o papel de li berdade nunca deixou de depender de uma negociação ou de uma politização segundo sua expressão Nunca foi uma questão mera mente de mercado Quadro 3 Forma de aquisição da alforria por sexo século XVII ao XIX Séculos Gratuita Onerosa Onerosas Total Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher XVII 18 33 19 17 51 37 34 50 87 XVIII 396 664 426 818 52 822 55 1482 2304 XIX 1616 2129 573 1022 26 2189 32 3151 5340 Total 100 Até a década de 1850 Fontes ANRJ Cartas de Liberdade Livros de Notas e de Registro Geral Cartórios do 1o 2o e 3o Ofícios de Notas O que mais interessa frisar no presente capítulo é que nem to dos os grupos puderam ou quiseram obter a alforria gratuitamente Dessa forma quando grupos de alforriados são analisados separada mente o argumento de Manolo Florentino perde parte de sua eficá cia Os crioulos sempre receberam alforria majoritariamente gratuita No século XVIII mais da metade deles recebeu alforria sem ônus em dinheiro27 No século XIX a proporção aumentou significativamente para 72 O mesmo aconteceu com os nascidos na costa centrooci dental no século XVIII 41 deles receberam alforria gratuita no XIX a proporção subiu expressivamente para 74 Já para os nascidos na África ocidental no século XVIII 30 dos minas receberam alforria gratuita No século seguinte como nos outros grupos também entre eles cresceu a tendência de gratuidade mas atingiu somente a cifra de 43 Mais da metade deles continuou pagando por sua alforria principalmente as mulheres Dos escravos minas 52 dos homens e expressivos 62 das mulheres pagaram pela liberdade Quadro 4 106 Esta diferença de procedimento faz dos minas um grupo de compor tamento diferenciado do restante dos escravos Quadro 4 Aquisição da alforria paga por origem e sexo século XVIII a XIX Século XVIII XIX Origem H AO AO M AO AO H AO AO M AO AO Áfr C Oc 128 72 56 277 175 63 691 171 25 990 286 29 Áfr Oc 83 54 65 222 166 75 188 97 52 205 127 62 Brasil 547 264 48 878 432 49 808 200 25 1422 442 31 Até a década de 1850 AO Alforria Onerosa Fontes ANRJ Cartas de Liberdade Livros de Notas e de Registro Geral Cartórios do 1o 2o e 3o Ofícios de Notas Os nascidos na África ocidental conseguiram ou quiseram majo ritariamente pagar por suas alforrias mesmo que consideremos que seu valor de mercado tenha aumentado na primeira metade do sécu lo XIX O que teriam os pretosminas de especial Manolo Florentino28 sugere que os minas eram mais ocupados no serviço de ganho nas ruas do que os demais daí sua maior capacidade de acumular pe cúlio Supõe também sua maior eficiência na organização de suas instituições como irmandades associações de auxílio mútuo cantos e família que permitiriam maior capacidade de arrecadar recursos Se tudo isso é verdade e eu concordo os contemporâneos Ribeyrolles e Expilly tiveram razão ao destacálos do conjunto dos es cravos Traziam então bagagem cultural mais adequada para supe rar a condição de escravos a que foram obrigados a se submeter Por fim coube às mulheres minas mais do que aos homens essas quali dades As mulheres foram maioria entre os alforriados em todos os grupos com exceção dos nascidos na África oriental Moçambique em que os homens chegam a 61 dos alforriados Quadro 5 Foram elas entretanto que mais tiveram de pagar por suas alforrias quan do comparadas aos homens de seus mesmos grupos Entre as mulhe res minas no século XVIII 75 pagou por sua alforria percentual que caiu para 62 no século XIX Algumas vezes na própria carta de alforria há referência à for ma de pagamento e ao total pago Não é possível quantificar essas informações pois elas são eventuais e desnecessárias ao registro Quando a alforria era paga por alguém algumas vezes havia referên cia sobre as relações entre eles Em 1738 a alforria da mina Violante foi paga por seu padrinho João Batista Pinto Em 1742 Maria mina já de idade foi libertada mediante pagamento feito pelo alferes 107 Caetano Gomes da Silva em função de ela o haver criado Em 1750 Joana mina teve a liberdade paga por seu marido Manoel Machado de Jesus pardo liberto e sapateiro Em 1754 a alforria da mina Catarina foi paga por seu irmão Antônio de Bastos Maia preto forro um dos fundadores da irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia em 174029 Guiomar mina teve a alforria paga por sua filha a preta forra Joana de Deus Pinheiro em 1755 A liberdade de Maria mina em 1784 foi paga por sua comadre Inês Luiza Relações portanto de parentesco consanguíneo e ritual muitas vezes foram fundamentais para a liberdade Mas a maioria das alforrias onerosas foi paga ao que tudo indica por meio do resultado do trabalho da própria bene ficiada ou por suas agências Quadro 5 Alforrias entre homens e mulheres por área da África século XVIII ao XIX XVIII XIX H M Tot H M T H M Tot H M Tot África Centro Ocidental 128 277 405 32 405 68 405 57 711 691 990 1681 41 1681 59 1681 69 2438 África Ocidental 83 222 305 27 305 73 305 43 711 188 205 393 48 393 52 393 16 2438 África Oriental 1 1 0 134 87 221 61 221 39 221 9 2438 África indeterminado 52 91 143 37 143 63 143 6 2438 Total 212 499 711 100 1065 1373 2438 100 Até a década de 1850 Fontes ANRJ Cartas de Liberdade Livros de Notas e de Registro Geral Cartórios do 1o 2o e 3o Ofícios de Notas Para obter a sua liberdade em 1749 a escrava Luzia pretamina tomou dinheiro emprestado com Pedro Francisco Ignácia em 1746 pagou sua alforria mediante empréstimo que fez junto à sua coma dre Informação como a de que Rita mina em 1753 pagou sua al forria com o que obteve dos jornais do seu ofício de quitandeira é rara mas deve ter sido uma situação bastante comum Houve formas mais gerais como a de que a escrava obteve autorização para vender suas quitandas ou utilizar suas agências para conseguir o dinheiro necessário para a sua liberdade Outras não estipulavam o valor mas deram escravos em troca de sua alforria Estas foram mais numero sas Maria mina em 1745 pagou sua alforria dando em seu lugar a es crava Guiomar moleca ganguela No mesmo ano Ana mina deu dois escravos A escrava Águida em 1750 pagou sua alforria mediante a 108 entrega de sua escrava Tereza de nação angola Francisca em 1830 pagou sua alforria dando em seu lugar um moleque de nação nagô e outro de nação cabinda Havia ainda aquelas que declararam em suas cartas de liberdade ter pedido esmolas A escrava Joana as sim como inúmeras outras obteve autorização do seu proprietário em 1749 para pedir esmolas com o objetivo de pagar sua alforria Nas cartas de liberdade o mais comum era a simples referência de que pagou tantos mil réis ou tantas doblas por sua liberdade Nos resgistros das 293 mulheres nascidas na África ocidental que paga ram por sua alforria 63 nada foi dito sobre como conseguiram o dinheiro Sendo por relações solidárias entre parentes amigos irmãos ou por suas próprias agências essas mulheres minas conseguiram efetivamente pagar por sua liberdade Houve até as que se utiliza ram fraudulentamente da participação em alguma irmandade para conseguir bens para si ou para o pagamento da alforria de outrem O testamento de Isabel da Silva preta forra da costa a mina do gentio da guiné é bastante esclarecedor Tendo sido casada por três vezes informou que o último marido Antônio Vieira crioulo forro havia ido para sua companhia sem possuir coisa alguma Afirmou categó rica Eu paguei por sua liberdade Isabel conseguiu juntar pecúlio por um meio que no momento da redação do testamento admitiu ilícito Declarou que pedira dinheiro à caixinha da Irmandade de São Felippe e Santiago e que embora não tivesse se vestido e sustentado com essas esmolas dela tirou alguns dinheiros dos quais procede tudo que possuo e também o dinheiro que dei para a liberdade do dito meu marido Por isso determina que nestes tempos tudo o que se achar por minha morte pertence à Irmandade a quem rogo pelo amor de Deus me per doe o que faltar e o que eu consumi e peço ao dito meu ma rido convenha em tudo e se entregue por restituição à minha Irmandade pois ele muito bem sabe a verdade do que digo 30 A participação em irmandade religiosa poderia ser extremamen te vantajosa para alguns escravos O capitão Ignácio Gonçalves do Monte foi rei da Irmandade de Santo Elesbão por 21 anos entre 1762 e 178331 Revelou em seu testamento aberto em 1783 que 109 alguns meus patrícios e amigos me dão a guardar seus dinhei ros por mais seguros em minha mão e os vem buscar quando querem ou tudo ou por parcelas cujos assentos e declarações faço em um livrinho que tenho na minha gaveta aonde trago as mais coisas de valor de que minha mulher de tudo te perfeito conhecimento e o dito livrinho tem setenta e cinco folhas ru bricadas com meu nome ou apelido Monte32 Ter acesso aos dinheiros de patrícios e amigos era talvez inte ressante para o cotidiano dos Reis que poderiam eventualmente usálos para suas atividades particulares O próprio Ignácio reconhe ceu que usou esses recursos ao declarar que os ditos dinheiros que me dão a guardar se me tiver servido de algum para algum particular meu e não tiver ainda reposto ou inteirado até minha morte ordeno a meus testamenteiros que do primeiro dinheiro que fizerem da minha fazenda seja primeiro que tudo para inteirar a tal quantia ou quantias de que me servi para os meus particulares a seus donos A prática da usura estava também presente nesse cargo Declarou Ignácio que no mesmo sobre dito livrinho faço também assentos e decla rações de algum dinheiro que empresto a várias pessoas e pago que seja ponho pg e riscado a tal assento e todos que assim não estiverem he a mesma verdade que me está deven do a tal pessoa As famílias Os dados das cartas de liberdade dão algumas indicações para en tendermos como as mulheres minas conseguiram amealhar pecúlio para pagar por sua liberdade mas não são informações sistemáticas nem necessárias ao registro É difícil elucidar os detalhes Outros do cumentos e relatos podem trazer mais pistas Nem todas as forras mesmo as que pagaram por sua alforria puderam fazer testamento 110 ou ter inventário aberto por não terem bens suficientes para tanto Não enriqueceram Várias entretanto conseguiram Suponho que as opções de suas atividades exercidas não se modificaram substancial mente depois que se libertaram do cativeiro em particular para as pretasminas Analisei 68 testamentos de forras da cidade do Rio de Janeiro realizados entre os anos de 1736 e 1832 Dessas 36 vieram da Costa da Mina África ocidental Eram 14 casadas 12 solteiras e 10 viúvas Nitidamente o casamento era relação querida por elas Argu men tei em outro artigo que algumas mulheres tentaram preservar seus bens em relação a seus maridos33 Realmente a tentativa de que o ma rido não fosse herdeiro de seus bens foi frequente embora não fosse maioria Caso não possuíssem herdeiros necessários preferiam dei xar como herdeira sua própria alma irmandades suas crias filhas de suas escravas e exescravas Algumas entretanto declararam ter vivido bem com o marido como Mariana da Costa de Oliveira natu ral da Costa da Mina do gentio da Guiné em 1777 que deixou ao mais que restar de minha terça instituo dela herdeiro ao dito meu marido pela boa harmonia e união que sempre comi go fez sem nunca me dar desgosto tratandome sempre com muito amor tanto no tempo da saúde como de moléstia por essa razão o instituo herdeiro no que restar da dita minha ter ça Test 23 Josefa Fortunata em 1798 declarou que sou do gentio da Guiné e sou casada com João Antônio Gomes Jordão de cujo matrimônio não tenho filhos por cuja razão instituo como meu herdeiro universal o dito meu marido pela boa harmonia que sempre fez comigo tratandome com amor tanto em saúde como na ocasião da moléstia por cuja razão o instituo herdeiro de tudo que por direito me haver dos meus bens Test 84 Houve até as que casaram mais de uma vez como Isabel da Silva referida anteriormente em 1789 que o fez por três vezes Não sei se os primeiros casamentos foram ainda como escrava mas ela decla rou que 111 fui casada a primeira vez com Antonio de Oliveira preto es cravo de Vicente de Oliveira e passando a segundas núpcias com Pedro Alves da Guerra escravo de Dona Joana Maria de Santana e por falecimento deste passei a terceiras núpcias com Antonio Vieira crioulo forro Inv 31 Mesmo casadas ou viúvas o resultado mais impressionante é que 26 delas 72 não tiveram filhos Isabel da Silva mesmo casando três vezes declarou não tive filhos nem tenho herdeiro algum que por direito possa herdar os meus bens Inv 31 A ausência de filhos foi um perfil comum às alforriadas de qualquer origem ainda mais para as nascidas na África Podese presumir que um dos motivos que levaram essas mulheres a fazerem testamentos foi justamente o fato de não terem herdeiros necessários Nesses casos os bens poderiam ir para os órgãos administrativos o então juizado dos de funtos e ausentes Para evitar que fossem parar em mãos alheias as forras preocupavamse em indicar o destino de suas fortunas ditan do um testamento Creio entretanto que não era só isso Penso que era uma opção de vida não ter filhos principalmente quando ainda escravas Caso fosse somente pelo fato de ser necessário determinar o destino dos bens por um instrumento legal as que os tinham não teriam feito testamento Uma determinação do Compromisso da Irmandade de Santo Elesbão de 1740 pode nos induzir a supor que pelo menos uma par te da população mina do Rio de Janeiro optava pela não procriação por fidelidade à sua etnia Esta fidelidade aparece no compromisso da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia A irmandade era integrada por vários grupos oriundos da Costa da Mina entre eles os mahis Determinava o Compromisso que seriam aceitos como ir mãos os naturais e oriundos da Costa da Mina Cabo Verde Ilha de São Tomé ou de Moçambique sendo que somente os destas nações poderiam se eleger juízes escrivãos procuradores etc Os demais como mulheres e pardos e pardas querendo por sua devoção serão admitidos por irmãos desta Santa Irmandade Surpreendentemente havia impedimento para o ingresso de pessoas de outras origens E de nenhuma sorte se admitirão pretas de Angola nem crioulas nem cabras ou mestiças Pardos e pardas seriam aceitos mas não pode riam fazer parte da administração Inicialmente colocase a questão o que era pardoa Quero crer que o termo significasse filho de 112 africano nascido já na liberdade ou seja de mãe forra nunca tendo sido escravoa Já há algum tempo temos advertido para o fato de que o termo não significava uma mestiçagem Percebo agora que ele adquiriu diferentes significados no tempo No caso pardoa foi dife renciado de mestiço e mesmo de criouloa Criouloa nitidamente era o filhoa de africana nascidoa no cativeiro Era escravo Ter fi lhos escravos principalmente do sexo feminino não era experiên cia aceita ou querida Segundo Mariza Soares com a qual concordo o Compromisso nos deixa a impressão de que os mahis daquele perío do não se crioulizaram34 Mantiveramse apegados a suas origens e a certas tradições aparentandose com outros nacionais e não com sua descendência O tráfico servia para recriar novos laços de frater nidade e parentesco Não creio que tenha sido somente esta a expli cação para a opção por não ter filhos por parte da população mina mas pode ter sido importante para várias pessoas Foi deveras reveladora a composição dos lares dessas mulhe res forras quando havia deles descrição em seus testamentos As mulheres forras oriundas da Costa da Mina formavam com muita frequência domicílios compostos basicamente por mulheres Sugeri em outro artigo35 que este arranjo familiar fazia parte da organiza ção matrifocal resultado da poligamia em que cada esposa tinha sua própria residência e era ela a referência para seus filhos Entre certos grupos étnicos da África ocidental mulheres não herdavam bens de pais maridos ou filhos nem os deixavam como herdeiros de seus bens Eram herdeiras de suas mães e deixavam heranças para suas filhas Suponho que a opção por não ter filhos ou herdeiros levasse essas mulheres a formar famílias compostas por escravas exescravas e suas crias que por sua vez tornavamse suas herdeiras Em seu testa mento datado de 1792 Rita Francisca de Passos dizia ser natural da costa da mina de onde vim menor e batizada na fre guesia de Nossa Senhora da Candelária desta cidade fui casada com Teodoro Rodrigues homem pardo de cujo matrimônio não tenho nem tive filho algum nem tenho herdeiros alguns ascen dentes ou descendentes que por direito hajam de me suce der e por isso instituo por herdeiros deles a Theodosia Francisca de Passos de nação Mina que foi minha escrava e 113 hoje se acha liberta tudo em remuneração dos bons serviços que sempre me fez e ainda faz com todo o necessário36 Um outro procedimento comum entre elas era o de amparo em momentos difíceis Agradecimentos a escravas e exescravas foram muito comuns nos testamentos de forras com referências do tipo por ter me acompanhado em minha doença por me ter ampara do Quando havia filhas houve referência explícita a esse amparo O caso de Maria do Bonsucesso é esclarecedor Natural da Costa da Mina do gentio da Guiné em 1811 era casada e sem filhos do ma trimônio mas tivera uma filha antes de ser casada37 No caso de Maria ela teve vários bens mas naquele momento não tinha bens algum senão a roupa de meu uso e os que havia no meu casal escravos e mais móveis tudo se tomou em execução pelas dívidas de meu marido e destruído tudo desapartouse sic de minha companhia e não sei dele até o presente e estou vivendo por esmola na companhia de minha filha e a dita mi nha filha se compadece de minha alma a fazer por mim o que se tivesse poderia fazer por ela Houve ainda outras forras que reconheceram os ensinamentos ou como diziam a boa criação transmitidos pelas exsenhoras Em 1753 Mariana da Costa Ribeira solteira e sem herdeiros natural da Costa da Mina deixou dois cordões de ouro quero que meus testamenteiros façam logo entrega de um de les a Senhora Antonia de Jesus minha senhora que foi o qual lhe deixo gratuitamente em reconhecimento da boa criação e estimação que me deu enquanto fui sua escrava38 A boa criação provavelmente incluía o aprendizado de algum ofício e o controle sobre certas atividades As famílias assim como certas irmandades baseadas na origem étnica ou geográfica foram certamente o alicerce para muitas escravas tornaremse livres enri quecerem e por sua vez adotarem os mesmos procedimentos 114 Atividades Dos 36 testamentos de pretasminas do Rio de Janeiro é impres sionante a quantidade delas que investe em escravos Somente seis não os tinham A esmagadora maioria 83 era senhora de escravos A composição das escravarias dessas mulheres era absolutamente feminina39 Quando havia homens quase sempre eram filhos das es cravas Essa estrutura tinha origem provavelmente em suas cultu ras da África posto que reproduziam a divisão sexual do trabalho Investiam então em escravas Uma das principais ocupações era a quitanda comércio a varejo de alimentos ou pequenos objetos A ocupação não era necessariamente explicitada nos testamentos mas algumas a ela se referiram Tanto observadores contemporâneos quanto a historiografia têm destacado que o comércio a varejo pelas ruas do Rio de Janeiro des de pelo menos o século XVIII ficava a cargo de mulheres Observando pinturas de inúmeros artistas da primeira metade do século XIX como JeanBaptiste Debret Thomas Ender Guilhobel constatase a figura de mulheres negras nessas atividades sendo as negras minas as mais ricas ou extravagantes desse comércio Charles Expilly em seu livro Mulheres e costumes do Brasil informa que uma das princi pais ocupações das escravas minas era a venda a varejo A escrava Manoela uma pretamina personagem provavelmente fictícia de seu livro quando escrava carregava o tabuleiro à cabeça e vendia frutas da propriedade de seu senhor Debret descreve a negra baiana pro vavelmente mina que teria ido em quantidade para o Rio de Janeiro a partir das perturbações políticas de 182240 com indumentária similar à de outros cronistas e viajantes e de acordo com o que elas declaram possuir em seus testamentos Desde então apareceram entre as quitandeiras da cidade as negras baianas notáveis pela sua indumentária e inteligência umas mascateando musselinas e xales outras menos comer ciantes oferecendo como novidade algumas guloseimas im portadas da Bahia e cujo êxito foi grande Entre estas figura a ataçaça creme de arroz doce vendido frio dentro de um canu do de folha de bananeira e bolos de canjica pasta açucarada feita com farinha de milho e leite e vendida em folhas de ma noeiro Elas introduziram também o uso de polvilho de forma 115 amido preparado em pequenos quadrados de uma polegada de espessura e próprios para engomar roupas A negra baiana se reconhece facilmente pelo seu turbante bem como pela al tura exagerada da faixa da saia o resto de sua vestimenta se compõe de uma camisa de musselina bordada sobre a qual ela coloca uma baeta cujo riscado caracteriza a fabricação baia na A riqueza da camisa e a quantidade de jóias de ouro são os objetos sobre os quais se expande sua faceirice41 Estou cada vez mais convicta de que as minas monopolizavam os ramos mais rentáveis como o da venda de comida amplamente citado pelos viajantes Em cidades portuárias como o Rio de Janeiro a venda de alimentos para a tripulação de navios escravos e demais transeuntes era fundamental No Brasil homens e mulheres nascidos na África tiveram de aceitar diferentes hábitos alimentares não só por sua condição escrava como também pela inexistência de pro dutos usados em suas terras de origem Por outro lado muitos dos novos alimentos foram adaptados segundo suas heranças culturais e introduzidos no grande mosaico alimentar que foi a sociedade brasi leira42 Creio que havia tipos de alimentos específicos para os grupos étnicos Há relatos de viajantes que experimentaram tais guloseimas e até as aprovaram Como afirma Robert Slenes43 para os nascidos na África a alimentação não era somente uma forma de sustentar o corpo mas de fortalecer os espíritos São poucos os pesquisadores dedicados aos aspectos da culi nária do Brasil escravista como Gilberto Freyre e especialmente Luís da Câmara Cascudo44 Os estudos sobre alimentação no Brasil tenderam a se concentrar mais nas condições de produção e comer cialização do que no tocante à cultura culinária propriamente dita Doces e salgados feitos com a mandioca e milho regados a azeite de dendê e acompanhados de pimentamalagueta ambos de origem africana acrescidos de alho e sal português complementados com o coco asiá tico transformado em leite de coco e usado nos quitutes adoçados com o açúcar de cana embrulhados em folhas de bananei ra eram feitos e vendidos pelas negras de tabuleiro Conhecer os consumidores e suas preferências alimentares presumo foi funda mental para o sucesso das atividades de algumas dessas mulheres Provavelmente de forma maldosa Debret relata alguns artifícios usa dos para atrair clientes 116 Os mais generosos chamam uma vendedora negra cujas maneiras e trajes rebuscados revelam o desejo e os meios de agradar que muitas empregam habilmente a fim de au mentar o benefício da venda explorando a boa vontade dos compradores45 Todo tipo de comércio tem regras e estratégias No caso a ob servação de Debret do século XIX sobre a tática das negras em dominar as técnicas de vendas agradando aos clientes já havia sido ressaltada séculos antes João Brandão cronista que escreveu em 1552 sobre a cidade de Lisboa afirmou que as negras tinham aptidão para a venda conseguindo que os consumidores provassem de suas mercadorias Em suas palavras terçafeira as negras estão vendendo na feira que lhes não escapa coisa que não vendam46 Mulheres escravas ou forras em cidades como as de Minas Gerais no século XVIII e do Rio de Janeiro e de Salvador desde o século XVII vendiam pelas ruas comidas que poderiam agradar ao paladar e aos espíritos Presença reconhecidamente fundamental para o abasteci mento urbano e ao mesmo tempo incômoda para as autoridades as negras foram sistematicamente acusadas de promover encontros tidos pelas autoridades como badernas Eram as responsáveis pela organização de folguedos como os lúdicos e sensuais lundus e batu ques em que estariam presentes comidas afrodisíacas regadas pelo líquido espirituoso mais popular do Brasil a aguardente de cana As tentativas de controlar seu movimento estipulando lugares fixos para sua atuação foram sempre em vão e elas acabaram se tornando responsáveis pelo contato e confraternização entre povos muito dife rentes Talvez a negra de tabuleiro também designada como negra doceira ou preta quituteira seja a categoria social que melhor re presente simbolicamente a síntese do que foi o encontro de variados povos por meio das comidas e das festas das associações de santos católicos com santos africanos do candomblé baiano da presença de pretos velhos e de caboclos na macumba do Rio de Janeiro cria ramse condições para o surgimento de novas identidades no Brasil escravista Há juntamente com o alimento do corpo e dos espíritos um outro setor do comércio ambulante que deveria ser extremamente rentável não só em termos materiais mas também simbólico Era o comércio de amuletos Chamou muito a atenção dos estrangeiros 117 a quantidade de amuletos portados principalmente pelas negras Charles Expilly informa que negros e negras instalados ao lado da Igreja da Santa Cruz dos Militares na rua Direita vendiam com permissão das autoridades as esquisitas mercadorias que se compõem unicamente de figuras de cera crescen tes de cornalina e figas de madeira grossamente esculpidas Alguns ajuntam a este comércio medalhas bentas e imagens representando a cena do Desagravo Esta palavra consagrada pela tradição lembra uma lenda colhida na própria Igreja dos Militares Segundo essa lenda um artista português retocava as pinturas de um enorme Cristo suspenso na parede de uma capela Num estúpido acesso de raiva o artista distraiuse a ponto de esbofetear o HomemDeus A sua impiedade foi pu nida ali mesmo pois o Cristo despregandose da parede caiu sobre ele esmagandoo Todos esses objetos tão diversos no entanto são destinados a exconjurar o mauolhado ou en canto Este sítio poderia chamarse justamente mercado de amuletos47 Os compradores eram de todos os grupos sociais mas predomi navam negros escravos e libertos É curioso verse desde pela manhã a afluência dos fregueses em volta da loja As amasdeleite aí são as mais numerosas e adquirem um arsenal miraculoso que penduram ao pescoço e ao da criança que amamentam As moças supersticiosas e as orgulhosas senhoras não trepidam em vir fazer provisão de armas sobrenaturais contra os feiticeiros que vão encontrar no caminho48 Estes adereços medalhas e imagens católicas crucifixos ou Agnus Dei santos e escapulários e os amuletos africanos figas mi çangas contas etc eram objetos mágicos que tinham cunho pro piciatório ou buscavam proteção e tiveram uso corriqueiro O fato mais interessante entretanto é a mistura de elementos católicos e africanos O primeiro dinheiro que um escravo ganha anotou Ewbank é gasto na compra de uma figa49 Baseado em observação 118 de Câmara Cascudo Márcio Soares informa que a figa é um talismã cuja origem remonta à antiguidade O costume de usálas como forma de proteção contra as for ças maléficas dos feitiços doenças e mauolhado remonta à Antigüidade Clássica onde eram empregadas nos rituais de fertilidade celebrados nas ilhas mediterrâneas e difundidas pelo Ocidente à medida que o Império Romano se expandia tornandose um talismã bastante popular entre os povos lati nos Segundo este folclorista Câmara Cascudo a hipótese da origem africana das figas levantada por alguns estudiosos do folclore negro não se sustenta50 As figas eram feitas de ouro prata marfim chumbo coralina chi fres ossos e madeira A utilização de chifres foi particularmente no tada por vários viajantes Debret observou que um cirurgião negro vende ainda talismãs curativos sob a forma de amuletos Citarei aqui apenas o pequeno cone misterioso feito de chifre de boi preciosa jóia de seis linhas de altura que se pendura ao pescoço para preservar das hemorróidas ou das afecções espasmódicas 51 Tratando de um grupo de carregadores de café o artista com sua crítica comum e preconceituosa sobre os costumes africanos obser vou que Quanto ao transporte de café penoso muitas vezes em vir tude da extensão do trajeto fazse mister para efetuálo sem inconvenientes não somente um número de carregadores igual ao de sacos mas ainda um capataz entusiasta capaz de animar os homens com suas canções improvisadas Em geral o primeiro carregador é o portabandeira e se distingue por um lenço amarrado a uma vara Toda coluna é guiada pelo capa taz que costuma munirse de um chifre de boi ou de carneiro é este troféu para ele um talismã contra todas as infelicidades que poderiam ameaçar a marcha do grupo um amuleto que ali menta sua verborragia com a qual ele se impõe à superstição de seus soldados ocasionais Entretanto depois de a coluna 119 chegar a seu destino e ser paga a igualdade volta a imperar e a fraternização se faz na venda mais perto52 Thomas Ewbank avaliou que Além dos numerosos preventivos mostrados em figuras e des critos em capítulos precedentes há ainda outros entre os quais os chifres ou cornos não são raros Tomei conhecimen to pela primeira vez na Rua dos Barbonos numa casa em que eram expostos à venda frutas verduras e outros comestíveis Um par de chifres de carneiro pintados com listras alternada mente azuis vermelhas brancas e amarelas estava dependu rado no lado do portal Perguntando com que finalidade os chi fres estavam expostos a negra proprietária exclamou rindo Para afastar o mauolhado H perguntou se ela os venderia ao que ela respondeu negativamente53 Mary Karasch acredita que os amuletos e demais objetos das reli giões africanas não eram apresentados aos brancos pelo receio que tinham os negros de que fossem presos pois alguns eram conside rados objetos de magia e seus portadores acusados de bruxaria ou feitiçaria54 Dessa forma somente amuletos e imagens menos com prometedoras estavam às vistas de viajantes e do público em geral Era um comércio negro e muito provavelmente dominado pelas mu lheres Trajes e adereços portados por negras escravas ou libertas representam mais do que uma forma de ostentação Tinham também significados simbólicos e rituais assim como de proteção Alguns contemporâneos e até mesmo alguns historiadores consideraram muitas vezes que houve um processo de adoção de hábitos da elite por parte dos alforriados que enriqueceram Em trabalho extremamente sugestivo Silvia Lara55 analisou a vasta legislação portuguesa que estabelecia determinações sobre os trajes tecidos ornamentos armas arreios de animais número de criados e séquitos particulares que poderiam ser permitidos às mais diversas categorias sociais desde pelo menos a segunda meta de do século XVI até meados do XVIII O Brasil colonial estava sujeito à mesma legislação mas algumas foram feitas especificamente para negros e mulatos bem mais numerosos em terras coloniais Houve inclusive uma série de medidas legais diretamente ligadas aos trajes 120 das escravas genericamente mas que também incluíam as negras fossem forras ou livres Segundo Silvia Lara a crítica ao luxo das roupas das escravas aparece na correspondência entre autoridades metropolitanas e coloniais em 169596 17034 e em 1709 tendo resul tado em algumas ordens régias Por intermédio de cartas régias diri gidas ao governadorgeral e a alguns governadores de capitanias do Estado do Brasil e em pareceres do Conselho Ultramarino em final do século XVII e início do XVIII proibiase ou reprovavase o uso de sedas e joias pelas escravas Segundo carta régia de 20 de fevereiro de 1696 ao governador e capitãogeral do Estado do Brasil haveria demasia do luxo de que usam no vestir as escravas deste Estado do Brasil56 O que impressiona é a importância dada aos trajes de escravas percebida mediante a frequência com que eram referidas em cartas régias na legislação e em tratados ou relatos de contemporâneos Entre as genericamente denominadas escravas estavam também as mulheres libertas De qualquer forma o que interessa aqui mais do que o significado simbólico é a constatação de que as muitas mu lheres fossem escravas ou forras andavam com trajes ricos e para os observadores inadequados à sua condição social Atribuíamse aos senhores os custos das roupas de seus cativos principalmen te se fossem ricos Senhores ostentariam sua riqueza por meio dos enfeites de seus escravos Mary Karasch foi bastante enfática nesse ponto O modo de vestirse dos cativos refletia a riqueza e posição de seu senhor57 Não creio entretanto que tenha sido às custas de seus senhores que elas se ataviavam Rosa Egipcíaca foi prostituta quando escrava Segundo Luiz Mott ela foi a única exescrava que deixou documento assinado datado de 1752 no qual descreve sua vida passada e as visões celestiais que passou a ter Rosa afirmava que se desonesta va vivendo como meretriz tratando com qualquer homem secular que a procurava em cuja vida andou até o tempo que teve o Espírito Maligno58 O motivo para andar desonestada era o fato de sua se nhora não lhe fornecer roupas e enfeites que solicitava por isso ela os conseguia em prêmio de sua sensualidade59 Já entre as forras os custos de ter roupas e adereços corriam certamente por conta de suas próprias agências Cabe pensar quem escolhia tecidos e modelos Caso realmente os ricos senhores qui sessem estampar em seus escravos os símbolos de sua importância 121 podemos imaginar que a indumentária deveria ser o mais próxima possível do que os padrões europeus designavam como signos de riqueza Entretanto os ricos eram minoria Além do mais os relatos indicam que era somente em público que se apresentavam ricamente ataviados No cotidiano suas roupas eram simples Mary Karasch deduz que a indumentária deve ter sido uma mistura de trajes afri canos e europeus e chega à conclusão de que a única generalização possível é que os trajes dos cativos variavam muito não só de perío do como também de nação para nação60 Lendo os relatos de viajantes e cronistas fica a impressão de que alguns escravos e principalmente os alforriados esforçaramse por se incorporar aos padrões culturais dos brancos ou melhor dizen do aos padrões culturais ocidentais É assim que interpreta Maria Graham ao afirmar que um negro livre quando sua loja ou seu quintal correspon de ao seu esforço vestindose e a sua mulher com um belo fato preto um colar e pulseiras para a senhora e fivelas nos joe lhos e sapatos para adornar as meias de seda raramente se es força muito mais e contentase com sua alimentação diária 61 E Lindley que em 1805 dizia os negros sentem que sua importância aumenta por causa do grande número dos que são alforriados os quais na turalmente passam por senhores assumindo freqüentemente os modos de seus antigos donos agindo em toda a plenitude com igual desenvoltura62 Depreendese dessas observações que os negros fossem africa nos ou crioulos quando libertos adquiriam os costumes dos grupos dominantes transformandose em senhores indolentes e arrogantes A indolência e a arrogância entre brancos embora criticadas por viajantes que vinham de um mundo não escravista poderiam ser toleradas Em negros eram ridicularizadas pois ressaltavam de ma neira caricatural as piores consequências para eles da utilização do trabalho escravo Os numerosos adereços antes de fazerem parte de um exagero na indumentária ocidentalizada eram importantes em vários sentidos Entre as mulheres talvez para atrair os olhares 122 masculinos para solicitar favores para simbolizar um lugar social ou para atrair os espíritos Certamente que nós hoje não teríamos condições de avaliar o que poderiam representar os vários adornos das escravas e forras que de resto pertenciam a etnias diferentes Segundo Silvia Lara os signos poderiam ter sentidos diferentes e as diferenças de aparência e de costumes entre os homens receberam explicações diversas que mesclavam aspectos religiosos e mágicos físicos e naturais63 De qualquer forma cabe registrar que o vestuá rio e os adornos não tinham como objetivo somente a ostentação de riqueza nos moldes ocidentais e os seus significados poderiam variar de acordo com o portador ou o observador Consta que as mulheres minas eram especialmente tentadas por adereços e vestidos vistosos Charles Expilly enalteceu a beleza das negras mas ressaltava cada vez que eu falar da negra é sempre a negra mina Por pouco que se possua do sentimento de verdade o homem que habita a zona equatorial não pode recusar a sua admira ção por essas soberbas criaturas cujo porte está cheio dessa majestade radiosa que o elogio atribui às rainhas e a poesia às deusas64 Também fazia referência ao gosto das pretasminas pelos adere ços Manuela legítima preta mina que era apreciava as jóias e os enfeites65 Como já foi indicado Rosa Egipcíaca também mina de nação courana declarou que se prostituiu para as conseguir66 Mas quem concebia os modelos e confeccionava as roupas usa das por mulheres escravas e forras A costura era comum entre as mulheres negras mas creio que havia algumas que se tornaram espe cialistas na modelagem e confecção As camisas de musselina renda da das negras baianas descritas por Debret não deveriam ser feitas por qualquer uma Quero crer que era uma atividade provavelmente especializada e que rendia bem para as que a executavam Há refe rência inclusive a um comércio de panos com a África os chamados panos da costa que aparecem em alguns testamentos Dessa forma sugiro que algumas delas não só se tornavam importadoras de teci dos como modistas e costureiras de um mercado restrito por certo mas proporcionalmente bastante rentável 123 Nos testamentos há menção frequente a roupas das mulheres for ras quando deixavamnas de esmola ou herança para alguém mas foram os objetos e adereços de metais preciosos os que mais apare ceram Das 36 testadoras minas 22 eram proprietárias de objetos de ouro e prata muitos deles imagens e medalhas sacras Predominava por exemplo a imagem em ouro de Nossa Senhora da Conceição Maria do Carmo testando em 1757 possuía uma imagenzinha de Nossa Senhora da Conceição em ouro e olhos de Santa Luzia67 Uma variante era a imagem estar pendurada em um cordão de ouro como o de Maria Narciza Preta em 1804 A bemsucedida pretamina Francisca Maria Teresa nascida na Costa da Mina fora batizada na Nossa Senhora das Mercês da ci dade de Lisboa Seu testamento não informa como veio parar no Rio de Janeiro mas em 1776 aí redigiu seu testamento Era pro prietária de uma escravaria totalmente feminina Isabel de nação angola sua filha Dorothéia Tereza e uma crioulinha também por nome Tereza Morava em umas casas térreas na rua do Alecrim de sua propriedade Deixou Isabel angola coartada no valor de três doblas dandolhe dois anos para conseguir esse valor Já à sua cria Dorothéia filha de Isabel deixava forra e isenta de toda escravidão como se nascesse sem do ventre da dita sua mãe Durante sua vida de forra Francisca já havia tido outras escravas e já as tinha li bertado Eram elas Maria Tereza suas filhas Claudiana e Ana e Maria da Glória Francisca possuía um conjunto expressivo de joias três cordões de ouro da Vera Cruz e meia cada um pouco mais ou menos e quatro pares de brincos de ouro com suas pedras e diamantes um botão de ouro grande de gota duas imagens de Nossa Senhora da Conceição de ouro ambas com seu cor dão de pescoço dois anéis de ouro com suas pedras verme lhas e olhos de diamantes A propriedade de joias por parte dessas mulheres tinha signifi cados variados Mas havia um que presumo era importantíssimo sua facilidade para funcionar como garantia de empréstimo Muitas mulheres tinham joias empenhadas nas mãos de terceiros O que sur preende entretanto é que os credores eram muitas vezes também mulheres Maria Ribeira da Conceição do gentio da Guiné em 1753 124 era devedora de nove patacas à sua comadre Rosa Maria Sobre o assunto afirma e em sua mão foram uns penhores que é um par de brincos e uma volta de contas de ouro e peço a meu testamenteiro logo satisfaça sem demora Declaro que devo mais seis patacas a uma preta por nome Isabel da casa de João 68 A comadre Rosa Maria não teve referência de origem pois a in dicação do compadrio era superior a qualquer outra em terras do Brasil69 mas poderia tratarse de mulher forra Já a preta Isabel era provavelmente uma escrava que emprestava dinheiro a juros Bernarda da Conceição preta forra sem identificação de origem era proprietária de uma Senhora da Conceição de ouro grande com uma volta de cordão do mesmo uns brincos de ouro com seus diamantes que tudo se acha empenhado na mão de Joana de Carvalho mulher preta pela quantia de treze mil e quarenta réis70 Maria do Carmo pretamina em 1757 era credora de um preto forro chamado José Antônio de Amorim de dezesseis mil réis de di nheiro de empréstimo Alugava ao mesmo preto forro as lojas de sua casa Também sua madrinha e seu marido lhe deviam dinheiro de empréstimo71 Luiza Rodrigues mina em 1793 declarou a dita crioula Rosaria me está devedora da quantia de dobla e meia e assim também me é devedora a preta Rosa moradora de trás do hospício por baixo do Cônego Pedro Barbosa a quantia de quinze patacas e sua companheira também chamada Rosa moradora na mesma casa e ambas mina me deve dois cruza dos cujas quantias se cobrarão meus testamenteiros 72 Em 1803 Catarina dos Santos nação cabunda devia a uma preta mina Teodósia na Prainha a quantia de seis mil e quatrocentos réis à mulher de seu testamenteiro Esperança dois mil quinhentos e ses senta réis73 Havia portanto uma rede financeira em que praticamente só se envolviam mulheres nas condições de credora ou devedora algumas 125 vezes com penhor de objetos mais valiosos e outras apenas median te a palavra posto que não há referência a registro escrito Tudo in dica que o mundo criado por essas mulheres pressupunha alguns comportamentos similares Não eram propriamente usurárias mas socorriam ou se aproveitavam das outras dependendo da conjuntu ra Em 1753 talvez por ser proprietária de significativos bens uma escrava Maria de nação benguela duas moradinhas de casas sen do que residia numa delas dois cordões de ouro de vara e meia cada um cinco botões de ouro de colete um fio de contas de ouro um par de brincos de ouro de aljofres e mais bens móveis Mariana da Costa Ribeira deixou seus bens em testamento para a exsenhora pela boa criação dela recebida74 Tenho convicção de que essas mulheres ensinavam a suas escra vas futuras damas mercadoras a forma de agir e de sobreviver O tipo de comida a ser oferecido nos tabuleiros das quituteiras a in dumentária os amuletos a serem comercializados os adereços ade quados de metais preciosos a serem adquiridos os escravos a serem comprados em suma tudo fazia parte da boa criação Por sua vez chama a atenção a facilidade com que as senhoras forras permitiam que suas escravas se alforriassem Não repudiavam a escravidão ti nham escravas vindas da Costa da Mina e do gentio da Guiné como elas mas lhes davam instrumentos para suportar e superar essa condição A boa criação não necessariamente passava pela alforria gratuita já que quase todas exigiam pagamento para alforriar suas escravas Mas eram elas que eram designadas herdeiras e a elas as escravas destinavam seus bens em testamento Antes porém as pretasminas damas mercadoras transmitiam seus conhecimentos às senhoras Notas 1 RIBEYROLLES Charles Brasil Pitoresco Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1980 v 1 p 203 2 RIBEYROLLES Charles Brasil Pitoresco Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1980 v 1 p 209 3 EXPILLY Charles Mulheres e costumes do Brasil 2 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF INL 1977 p 81 4 Foi publicada em 1859 somente a primeira parte do Brasil Pitoresco onde se encon tram suas impressões sobre os pretosminas 126 5 O termo banto é analisado por Robert Slenes SLENES Robert W Malungu Ngoma vem África coberta e descoberta no Brasil Redescobrir os descobrimentos as des cobertas do Brasil Revista da USP São Paulo n 12 dez1991 fev 1992 p 49 6 CARNEIRO Edison Religiões negras 3 ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1991 p 30 7 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e es cravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 8 Para uma melhor contextualização do que Mariza Soares chama de grupos de pro cedência ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica re ligiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 SOARES Mariza de Carvalho From Gbe to Yoruba ethnic changes within the Mina Nation in Rio de Janeiro In FALOLA Toyin CHILDS Matt Org The yoruba diaspora in the Atlantic World Bloomington Indiana University Press 2004 BARTH Fredrik Grupos étnicos e suas fronteiras In LASK Tomke Org O guru o iniciador e outras variações antropológicas Rio de Janeiro Contra Capa 2000 LOVE JOY Paul Enslave africans in the diaspora In Org Identity in the shadow of slavery Londres Continuum 2000 9 OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de O liberto o seu mundo e os outros Salvador 1790 1890 Salvador Corrupio 1988 10 DIAS Maria Odila da Silva Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX 2 ed São Paulo Brasiliense 1995 SOUZA Laura de Mello e Desclassificados do ouro a pobreza mineira no século XVIII Rio de Janeiro Graal 1983 FIGUEIREDO Luciano de Almeida O avesso da memória cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII Brasília DF EdUnb Rio de Janeiro J Olympio 1993 FIGUEIREDO Luciano MAGALDI Ana Maria Bandeira de Mello Negras de tabuleiro e vendeiras a presença feminina na desordem mineira do século XVIII Ciências Sociais Hoje São Paulo 1984 11 FARIA Sheila de Castro A colônia em movimento fortuna e família no cotidiano colonial Rio de Janeiro Nova Fronteira 1998 12 É possível pelos registros paroquiais de óbitos ter uma ideia de sua quantidade Os que não fizeram testamento ato comum e esperado para os proprietários de bens têm referido não fez testamento por não ter de quê Outros têm indicado que foram enterrados pelo amor de Deus ou seja gratuitamente Há ainda os que são referidos como vivendo de esmolas vadio ou mesmo pobre As indicações são muitas para designar a quem falta o necessário para a vida na definição do dicionarista Antônio de Moraes e Silva publicado pela primeira vez em 1789 SILVA Antônio de Moraes e Dicionário da Língua portuguesa Lisboa Typografia Lacerdina 1813 13 Ordenações Filipinas editada pela primeira vez em 1603 Edição facsímile da edição feita por Candido Mendes de Almeida Rio de Janeiro 1870 com nota de apre sentação de Mário Júlio de Almeida Costa Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 1985 14 Alforriar escravo mesmo que ele desse o seu valor não era obrigatório conforme a historiografia considerou durante anos Ver para esse erro sobre a existência de uma suposta Lei que obrigava o senhor a alforriar seu escravo CUNHA Manuela Carneiro da Sobre os silêncios da lei lei costumeira e positiva nas alforrias de escra vos no Brasil do século XIX In Antropologia do Brasil mito história etnicidade São Paulo Brasiliense EDUSP 1986 15 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 revisão de sua tese de doutoramento de 1972 Publicado em português A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 MOTT Luiz R B Pardos e pretos em Sergipe 17741851 Revista 127 do Instituto de Estudos Brasileiros São Paulo n 18 p 737 1976 MOTT Luiz R B Cautelas de alforria de duas escravas na província do Pará 18291846 Revista de História São Paulo v XLVII n 95 2638 1973 MATTOSO Katia M de Queirós Ser escravo no Brasil São Paulo Brasiliense 1982 MATTOSO Katia M de Queirós A carta de alforria como fonte complementar para o estudo da rentabilidade da mão deobra escrava urbana 18191888 In PELAEZ Carlos Manuel BUESCU Mircea Org A Moderna História Econômica Rio de Janeiro Apec 1976 MATTOSO Katia M de Queirós A propósito de cartas de alforria Bahia 17791850 Anais de História Assis v 4 p 2352 1972 SCHWARTZ Stuart B A manumissão dos escravos no Brasil Colonial 16841745 Anais de História Assis v 4 p 71114 1974 SCHWARTZ Stuart B The manumission of slave in colonial Brazil Bahia 16841745 HAHR Hispanic American Historical Review Maryland v 54 n 4 nov 1974 p 603635 Traduzido para o português como A manumissão dos escravos no Brasil Colonial Bahia 1684 1745 e publicado em Anais de História Assis v 6 p 71114 1974 KIERNAN James Baptism and manumission in Brazil Paraty 17891822 Social Science History Pitts burgh v 3 n 1 p 5671 1978 KIERNAN James The manumission of slaves in colo nial Brazil Paraty 17891822 Tese Doutorado em História New York University New York 1976 16 A estimativa de Kátia Mattoso é a de que 10 da população escrava poderia ter acesso à alforria Cf MATTOSO Katia M de Queirós Ser escravo no Brasil São Paulo Brasiliense 1982 17 Cf MATTOSO Katia M de Queirós A propósito de cartas de alforria Bahia 1779 1850 Anais de História Assis v 4 p 2352 1972 MATTOSO Katia M de Queirós A carta de alforria como fonte complementar para o estudo da rentabilidade da mão deobra escrava urbana 18191888 In PELAEZ Carlos Manuel BUESCU Mircea Org A Moderna História Econômica Rio de Janeiro Apec 1976 18 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 19 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 20 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 21 Cf EISENBERG Peter Homens esquecidos escravos e trabalhadores livres no Brasil séc XVIII e XIX Campinas SP Ed da UNICAMP 1989 22 Devo esclarecer que não utilizei todas as cartas de alforrias registradas em livros de notas dos cartórios de 1º 2º 3º e 4º Ofícios de Notas e de Registro Geral do Rio de Janeiro mas creio que coletei número significativo delas que sustentam os argumen tos que me proponho a seguir 23 Schwartz faz um rápido balanço dos estudos sobre alforrias para a Bahia Ele pró prio realizou um importante trabalho sobre alforrias entre os anos de 1684 e 1745 Cf SCHWARTZ Stuart B A manumissão dos escravos no Brasil Colonial 16841745 Anais de História Assis v 4 p 71114 1974 24 Sérgio Buarque de Holanda assim se refere a ele de passagem convém notar que a palavra mulato se aplicava em São Paulo a mestiços de índios tanto como de negros e àqueles naturalmente mais do que a estes por ser então diminuta ali a escravidão africana mesmo durante a primeira metade do século XVIII os registros de batizados de carijós falam em molatos com tal acepção e só raramente aludem a mamelucos HOLANDA Sérgio Buarque de Caminhos e fronteiras São Paulo Companhia das Letras 1994 p 264 25 FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista Topoi Rio de Janeiro p 940 set 2002 128 26 FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista Topoi Rio de Janeiro set 2002 p 2021 27 Estou considerando como alforria gratuita a que não resultou do desembolso de um valor monetário por parte do escravo pago por ele ou por terceiros Podese considerar como fizeram outros analistas que a alforria condicional poderia ser traduzida como um pagamento mas não era um pagamento monetário O que me interessa realmente é destacar os que puderam acumular recursos em bens para arcar com sua alforria 28 FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista Topoi Rio de Janeiro p 940 set 2002 29 Esse irmão no caso não deve ser consanguíneo mas ritual posto que deveriam participar da mesma irmandade A informação sobre Antônio Bastos Maia é de SO ARES Mariza de Carvalho O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro no século XVIII Topoi Rio de Janeiro v 4 2002 30 Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de JaneiroACMRJ Livro de Óbito da Fregue sia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Isabel da Silva de 21111779 31 SOARES Devotos da cor Identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janei ro seculo XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 cap 6 32 ACMRJ Testamento do Capitão Ignácio Gonçalves do Monte Livro 18 da Sé Testa mentos e Óbitos 17761784 fl 442v Agradeço a Anderson de Oliveira por me ter cedido a transcrição do referido testamento 33 Os herdeiros necessários eram em ordem descendentes ascendentes e colaterais até o segundo grau de consanguinidade Normalmente os nascidos na África tinham poucas chances de ter pais ou irmãos em cativeiro 34 SOARES Mariza de Carvalho O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janei ro no século XVIII Topoi Rio de Janeiro v 4 2002 35 FARIA Sheila Siqueira de Castro Sinhás pretas acumulação de pecúlio e transmis são de bens de mulheres forras no sudeste escravista séculos XVIII e XIX In SILVA F C T da MATTOS H FRAGOSO J Org Ensaios sobre História e Educação Rio de Janeiro Mauad Faperj 200 p 289329 36 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Rita Francisca de Passos 1792 37 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia da Sé do Rio de Janeiro Testamento de Maria do Bonsucesso 1811 38 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Mariana da Costa Ribeira 1753 39 Dos escravos adultos das mulheres forras 87 deles eram mulheres Cf Sinhás pre tas acumulação de pecúlio e transmissão de bens de mulheres forras no sudeste escravista séculos XVIII e XIX In FRAGOSO J MATTOS H M SILVA F C Org Escritos sobre história e educação homenagem a Maria Yedda Linhares Rio de Janei ro Mauad FAPERJ 2001 p 289329 40 Debret ignorava assim como de resto o fizeram analistas posteriores a presença dos minas no Rio de Janeiro desde a primeira metade do século XVIII Cf SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 41 DEBRET JeanBaptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet 4 v Belo Horizonte Itatiaia São Paulo Martins 1989 v 2 p 137 1 ed entre 1834 e 1839 42 SLENES Robert Na senzala uma flor as esperanças e as recordações na formação da família escrava Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 129 43 Cf SLENES Robert Na senzala uma flor as esperanças e as recordações na forma ção da família escrava Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 44 Cf FREYRE Gilberto Casa Grande Senzala as origens da Família Patriarcal Brasi leira Rio de Janeiro J Olympio 1987 CASCUDO Luís da Câmara História da alimen tação no Brasil Belo Horizonte Itatiaia 1983 1 ed 1933 45 DEBRET JeanBaptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet 4 v Belo Horizonte Itatiaia São Paulo Martins 1989 46 BRANDÃO João Majestade e grandeza de Lisboa em 1552 Ed Anselmo Braamcamp Freire e JJ Gomes de Brito Arquivo Historico Portuguez XI 1917 p824 apud CA LAINHO Daniela Buono Metrópole das mandingas religiosidade negra e inquisição portuguesa no Antigo Regime Tese DoutoradoUniversidade Federal Fluminense Niterói 2000 p 53 47 EXPILLY Charles Mulheres e costumes do Brasil 2 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF INL 1977 p 8485 48 EXPILLY Charles Mulheres e costumes do Brasil 2 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF INL 1977 p 85 49 Cf EWBANK Thomas A vida no Brasil Belo Horizonte Itatiaia 1976 p 188 50 CASCUDO Luís da Câmara Dicionário do Folclore p 262263 apud SOARES Márcio de Souza A doença e a cura saberes médicos e cultura popular na Corte imperial Dissertação Mestrado Universidade Federal Fluminense Niterói 1999 51 DEBRET JeanBaptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet 4 v Belo Horizonte Itatiaia São Paulo Martins 1989 v 2 p 178 52 DEBRET JeanBaptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet 4 v Belo Horizonte Itatiaia São Paulo Martins 1989 v 2 p 150151 53 EWBANK Thomas A vida no Brasil Belo Horizonte Itatiaia 1976 p 189 54 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 55 LARA Sílvia Hunold The signs of color womens dress and racial relations in Salva dor and Rio de Janeiro c 17501815 Colonial Latin American Review London 6 ed v 2 p 205224 1997 56 LARA Sílvia Hunold The signs of color womens dress and racial relations in Salva dor and Rio de Janeiro c 17501815 Colonial Latin American Review London 6 ed v 2 1997 p 205 57 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 p 301 58 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 p 34 59 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 p 39 60 KARASCH Mary C Slave Life in Rio de Janeiro 18081850 Princeton Princeton University Press 1987 p 301 61 Cf GRAHAM Maria Diário de uma viagem ao Brasil Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1990 1 ed inglesa 1824 62 LINDLEY Thomas Narrativa de uma viagem ao Brasil 18045 São Paulo Compa nhia Ed Nacional 1969 p 176177 63 LARA Sílvia Hunold The signs of color womens dress and racial relations in Salva dor and Rio de Janeiro c 17501815 Colonial Latin American Review London 6 ed v 2 1997 p 215 130 64 EXPILLY Charles Mulheres e costumes do Brasil 2 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF INL 1977 p 96 65 EXPILLY Charles Mulheres e costumes do Brasil 2 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF INL 1977 p 94 66 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 p 14 67 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Maria do Carmo 1757 68 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Maria Ribeira da Conceição 1753 69 Cf FARIA Sheila de Castro A colônia em movimento fortuna e família no cotidiano colonial Rio de Janeiro Nova Fronteira 1998 70 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Bernarda da Conceição 1765 71 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Maria do Carmo 1757 72 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento de Luiza Rodrigues 1793 73 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento Catarina dos Santos 1803 74 ACMRJ Livro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da antiga Sé do Rio de Janeiro Testamento Mariana da Costa Ribeira 1753 Rosa Egipcíaca de escrava da Costa da Mina a Flor do Rio de Janeiro Luiz Mott Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz é certamente a mulher negra africana do século XVIII tanto em África como na diáspora afroame ricana e no Brasil a respeito de quem se dispõe de mais detalhes documentais sobre sua vida sonhos escritos e paixão É a primeira afrobrasileira a ter escrito um livro do qual restaram algumas pági nas manuscritas1 Dos seus 46 anos de fantástica existência viveu 20 anos no Rio de Janeiro primeiro de 1725 a 1733 quando foi vendida para as Minas Gerais lá permanecendo por 18 anos seguidos retor nando à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro em 1751 e aqui vivendo até 1763 quando foi enviada presa para os cárceres do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa Foi considerada na época como a maior santa do céu a quem brancos mulatos e negros inclusive toda a família de seu ex senhor e respeitáveis sacerdotes adoravam de joe lhos beijandolhe os pés venerando suas relíquias intitulandoa a Flor do Rio de Janeiro Fundou o Recolhimento de Nossa Senhora do Parto ocupa do predominantemente por negras e mestiças cuja capela reformada permanece até hoje no Centro dessa cidade na rua da Assembleia Melhor que ninguém Rosa tipifica a riqueza e a força do sincre tismo religioso católico afrobrasileirocarioca Todos os detalhes de sua vida encontramse em três pro cessos conservados na Torre do Tombo em Lisboa divulgados em meu livro Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil2 Rosa era uma negrinha nascida na Costa da Mina de nação Courana também conhecida como Coura que desembarcou de um navio negreiro no Rio de Janeiro em 1725 aos seis anos de idade São pouquís simas as informações disponíveis sobre essa nação africana Dentre as centenas de etnias negras trazi das para o Novo Mundo nos três séculos de tráfico 132 negreiro os nativos dessa nação aparecem referidos nos documentos lusobrasileiros com diferentes grafias courá curá curamo curano couxaina courã karam e pelos compostos courámina courano da Costa da Mina courábaxé Todos estes nomes provêm com certeza de três importantes acidentes geográficos situados entre a Fortaleza de Ouidah Judá ou Ajudá e o Reino de Benim o rio Curamo a lagoa e a ilha do mesmo nome Segundo ensina Pierre Verger os courá ini migos do rei do Daomé habitavam as margens da lagoa de Curamo nos arredores da atual cidade de Lagos3 Se nos debruçarmos sobre os poucos mapas antigos da África re lativos a essa região podemos descobrir bem próximo à costa ao sul do porto de Judá e ao norte do Rio Benim esses três pontos geo gráficos assim como a pequena vila de Curamo que na Descrição do Reino de Benin de 1748 é dita como situandose a dez léguas do Rio Formoso povoação que tinha todo seu espaço circundado por paliçada dupla distante 13 léguas da vila de Jabum4 A mesma fonte revela que os couranos distinguiamse dos vizinhos pela excelente qualidade e beleza dos tecidos que aí confeccionavam e que eram vendidos por altos preços na Costa do Ouro5 Provavelmente foi numa das batalhas ou escaramuças entre essas etnias inimigas que nossa menininha courá foi pilhada vendida junto com outros cativos e despachada no porto de Judá em direção ao Brasil Nada sabemos sobre sua parentela No Tribunal da Inquisição de Lisboa quatro décadas mais tarde declarou não saber quem são seus pais Em nenhum momento de sua biografia esta negra coura na fez qualquer menção à sua família africana nem a seu nome ori ginal Somente quando adulta é que construiu sua família espiritual pois além de se tornar comadre e madrinha teve dezenas de filhas em seu Recolhimento de Nossa Senhora do Parto além de muitas outras dezenas de filhos espirituais e devotos no interior de Minas Gerais e na cidade do Rio de Janeiro Rosa teve também diversos pais espirituais seus confessores com quem manteve cordial e de vota relação filial Do principal deles foi até mesmo infamada de ser amante carnal Ao ser desembarcada no porto do Rio de Janeiro o comércio de escravos faziase nas imediações da Rua Direita em pleno cen tro comercial da cidade já que somente no governo do Marquês de Lavradio por volta de 1760 foi determinado o Valongo como lugar próprio ao mercado negreiro Foi comprada por um tal senhor José 133 de Souza Azevedo o qual mandou batizála na Igreja da Candelária que no tempo do Onça6 não passava de uma pequenina igreja sede da Freguesia do mesmo nome situada na várzea da cidade hu mílima em comparação à grandiosidade do templo neoclássico que hoje conhecemos Era certamente a igreja onde mais escravos eram batizados entre 17251726 dos 444 batismos aí realizados 62 eram escravos permitindonos levantar a hipótese de que a familiarida de com a patrona dessa igreja talvez explique a gênese da associa ção entre Nossa Senhora das Candeias com o culto à Rainha do Mar Iemanjá Não conseguimos localizar qualquer pista da negrinha Rosa Courá nos livros de registros batismais7 Não é difícil reconstruir sua vida de menininha escrava urbana residente na freguesia da Candelária nos inícios do século XVIII rea lizando pequenos serviços domésticos compatíveis com sua pe quenez cuidando de crianças carregando objetos dando recados ajudando na limpeza da casa ou na cozinha Provavelmente nesta primeira fase de adaptação à sua recente condição de escrava com novo nome aprendendo língua estranha e costumes completamente diferentes dos de sua tribo natal é que esta pretinha de seis anos foi informada por outros negros seus conterrâneos de que era nativa da nação courana procedente do porto de Judá identificação que guardará para toda a vida Talvez possuísse algumas marcas tribais ou cicatrizes decorativas em seu rosto e barriga Teria sofrido muti lação clitoriana prática comum em muitas tribos da Costa da Mina Dizem os manuscritos da Torre do Tombo que o senhor de Rosa após desonestála e tratar torpemente com ela vendeua para as Minas Gerais aos 14 anos Triste destino de tantas adolescentes da cor de ébano presas fáceis da volúpia dos machos de todas as cores Segundo o viajante alemão Carl Schlichthort em seu livro O Rio de Janeiro como é doze anos é a idade em flor das africanas Nelas há de quando em quando um encanto tão grande que a gente esque ce a cor As negrinhas são geralmente fornidas e sólidas com feições denotando agradável amabilidade e todos os mo vimentos cheios de graça natural pés e mãos plasticamente belos Dos olhos irradia um fogo tão peculiar e o seio arfa em tão ansioso desejo que é difícil resistir a tais seduções 8 134 Foram certamente tais encantos primaveris e a impunidade dos abusos sexuais que devem ter despertado a concupiscência do pro prietário de Rosa pois conforme contou ela própria em companhia deste senhor esteve até a idade de 14 anos o qual a deflorou e tratou com ela torpemente Malgrado os anátemas do clero contra a man cebia e a simples fornicação dos senhores com suas escravas9 o que aconteceu à nossa negrinha devia ser a regra para a maioria das ca tivas nesse período tão cruelmente marcado pelo mandonismo dos donos do poder Como lembra acertadamente Gilberto Freyre não há escravidão sem depravação sexual É da essência mesma do regi me10 Teria a adolescente Rosa ficado grávida abortado ou parido Não há em seu processo junto ao Tribunal do Santo Ofício qualquer informação sobre isso Após oito anos no Rio de Janeiro novamente Rosa sofre outra se paração de seus conhecidos a ruptura de uma rotina de sua vida de adolescente a angústia e o temor perante o desconhecido Por mais fome que tenha passado desde que atingira a idade da razão por mais pancadas beliscões palmatoadas ou mesmo chicotadas que te nha recebido na casa de seu senhor certamente essa meninamoça africana criara laços afetivos e de amizade com outros escravos tal vez com gente de sua mesma nação de modo que provavelmente deve ter derramado muitas lágrimas ao se despedir do pequeno gru po de seus entes queridos A viagem para as Minas cerca de 500 quilômetros percorridos a pé foi a segunda grande caminhada forçada na vida dessa garota a primeira havia mais ou menos nove anos quando foi de sua aldeia tribal até o porto de Judá agora esta outra atravessando densas e úmidas florestas ferindo seus pés descalços subindo a Serra da Mantiqueira em direção às Minas Gerais Esse trajeto deve ter levado pelo menos de 10 a 12 dias de viagem seguindo o mesmo itinerário referido por Antonil no seu Roteiro do caminho novo para as Minas 1711 marchando à paulista isto é andando bem desde a madrugada até as 3 horas da tarde quando se arranchavam para terem tempo de descansar e buscar alguma caça peixe mel palmito ou outro qualquer mantimento11 135 Em 1733 ano em que Rosa chega a Minas Gerais esta capitania estava no seu apogeu absorvendo cada vez mais e mais mão de obra escrava De 1715 a 1727 saem do Rio de Janeiro mais de 26 mil cati vos em direção às Minas uma média de 2300 negros todos os anos Ao chegar a essa região existiam na capitania cerca de 96 mil cativos sendo que somente em Mariana sede da comarca residiam mais de 26 mil Os brancos representavam tão somente um quarto da popu lação mineira12 Na capitania das Minas Rosa foi comprada por Dona Ana Garcês de Morais mãe de um de nossos mais destacados literatos do perío do colonial frei José de Santa Rita Durão indo morar na Freguesia do Inficcionado a duas léguas de Mariana O Inficcionado na verdade não passava de um humilde arraial de mineiros encravado num vale cercado por altas montanhas um ar ruado que nunca abrigou sequer uma centena de residências No alto de um morrote logo à entrada do arraial para quem vinha de Catas Altas estava a Fazenda Cata Preta de propriedade do sargentomor de milícias urbanas Paulo Rodrigues Durão pai do futuro agostinia no e escritor Santa Rita Durão Aí viveu Rosa dos 14 aos 32 anos entre 17331751 Tive oportunidade de visitar as ruínas do sobrado dessa fazenda durante minha pesquisa de campo na região Como tantas escravas de norte a sul da colônia a negra coura na viveu de vender seu corpo e prestar favores sexuais aos concu piscentes mineiros que com ouro em pó compravam mercadorias e prazer das poucas mulheres que percorriam as faisqueiras Era a úni ca escrava num plantel de 77 escravos machos Segundo mais tarde confessou perante o Comissário do Santo Ofício do Rio de Janeiro passou 15 anos a se desonestar vivendo como meretriz tratando com qualquer homem secular que a procurava em cuja vida assim andou até o tempo que teve o Espírito Maligno Este comércio ve néreo deu à escrava africana um traquejo social e um verniz civiliza tório que muito lhe auxiliaram em seu futuro grandioso Não é difícil imaginar todos os constrangimentos violências e doenças que essa jovem africana deve ter sofrido na condição de prostituta escrava negra numa região abarrotada de aventureiros e carente de filhas de Eva Esses 15 anos de meretrício dos 14 aos 29 anos foram fun damentais na constituição da personalidade e na desenvoltura social desta negra que na qualidade de mercadoria sexual deve ter priva do do relacionamento com centenas de homens de diferentes raças e 136 classes sociais escravos negros forros mestiços brancos aventurei ros quiçá portugueses favorecidos pela sorte do vil metal Auri sacra fames Relacionamentos sempre marcados pela dominação machis ta deboche malandragem incluindo certamente um elevado con sumo de aguardente e altas doses de almíscar o perfume preferido pelas negras no tempo do Onça Muita dança batuque fandango até o fim da vida mesmo vestida de freira no Recolhimento Rosa não resistia à tentação de dançar Nas Minas na época do Barroco a dança fazia parte do culto divino fosse nas igrejas doiradas nas procissões ou triunfos fosse nas clandestinas casas de culto de matriz africana Segundo o historiador J F Carrato o batuque era o coqueluche da época e Tomás Antônio Gonzaga imortalizou em suas Cartas Chilenas os gingados e bamboleios dos parceiros nesse baile descarado Fingindo a moça que levanta a saia E voando nas pontas dos dedinhos Prega no machacaz de quem mais gosta A lasciva embigada abrindo os braços Então o machacaz mexendo a bunda Pondo uma mão na testa outra na ilharga Ora dando alguns estalos com os dedos Seguindo das violas o compasso Lhe diz eu pago eu pago e de repente Sobre a torpe michela atira o salto Ó dança venturosa Tu entravas Nas humildes choupanas onde as negras Aonde as vis mulatas apertando Por baixo do bandulho a larga cinta Te honravam cos marotos e brejeiros Batendo sobre o chão o pé descalço13 Ao completar 30 anos a cativa courana foi atacada por uma estranha enfermidade ficava com o rosto inchado sentia tumor no estômago caía ao chão desacordada Rosa decidiu então deixar de ser mulher da vida por volta de 1748 vendeu seus parcos bens joias e roupas amealhadas com a venda de seu corpo distribuiu tudo aos pobres Adotou vida beata frequentando os ofícios divinos e liturgias que abundantes eram celebrados nas barrocas igrejas mineiras 137 muitas delas construídas nessa mesma década Foi numa dessas an danças pias que encontrou na Capela de Bento Gonçalves vizinha ao arraial do Inficcionado o padre Francisco Gonçalves Lopes realizan do fantásticos exorcismos em alguns energúmenos Este sacerdote português nascido no Minho em 1694 era então vigário da Freguesia de São Caetano no mesmo distrito e tão eficaz e useiro era em tirar o demônio do corpo de brancos e pretos que tinha por apelido o XotaDiabos Impressionada com a cerimônia do exorcismo Rosa revelou tam bém estar ela própria possuída por sete demônios segundo pala vras do exorcista caiu no chão fazendo diferentes visagens e mui tos trejeitos com o corpo levantandose e dizendo que era Lúcifer que a vexava e lhe causava grandes inchações que tinha na cara e ventre Uma testemunha presente a esses exorcismos revelou que Rosa fazia gestos e movimentos que parecia o Demônio A própria energúmena descreveu assim seu transe viu e sentiu que do ar lhe deitaram um caldeirão de água fervendo com o que caiu logo desa cordada e quando se restituiu se achou lançando sangue da cabeça que estava rachada e metida aos pés de São Benedito Não deixa de ser emblemática a coincidência de seu primeiro transe religioso ter acontecido exatamente ao pé de um santo negro exescravo e depois irmão leigo franciscano da Sicília Um segundo exorcismo realizado nessa mesma freguesia confirma ao sacerdote que de fato a escra va do casal Durão era uma possessa especial pois quando vexada fazia sermões edificantes sempre preocupada que todos mantives sem perfeita compostura nos templos retirando à força para a rua a quantos conversassem ou desrespeitassem a presença do Santíssimo Sacramento Quando possuída por Satanás falava grosso caía desa cordada e dizia ter visões celestiais vendo por diversas vezes Nossa Senhora da Conceição ouvindo diversos coros de anjos que lhe ensi naram algumas orações recebendo até a revelação de uma fonte de água milagrosa ao pé de uma montanha onde devia ser construída uma igreja em honra de Senhora Santana O culto aos avós de Cristo substitui certamente no imaginário místico de Rosa a perda e des conhecimento de seus próprios ancestrais culto tão forte na maior parte das tribos da Costa da África O século XVIII representa igual mente o auge da devoção a SantAna na América Portuguesa utiliza da como reforço da dominação dos mais velhos às novas gerações 138 Após os exorcismos Rosa dizia ser arrebatada por um misterioso vento quando saía de casa para ir à igreja logo na rua que sentia um vento tão forte que lhe impedia os passos e com grande violên cia a fazia retroceder para trás e se bater com o corpo em uma cruz sendo em dias que não havia vento e só por virtude dos preceitos que punha o exorcista é que podia resistir ao dito vento e entrar na igreja A partir de então os exorcismos farão parte essencial do dia a dia dessa beata africana e dado o caráter público desses rituais e dos locais onde o Diabo a atacava Rosa passará a ser vista e conside rada como uma vexada pelo demônio de mulher pública tornase espiritada sendo outra agora a assistência de curiosos que passam a circundála Ainda hoje existe no Inficcionado uma grande cruz qua se defronte da Igreja de Nossa Senhora do Rosário teria sido neste cruzeiro que Rosa sentiu os tais acidentes e ventanias O vento muito antes de os filósofos présocráticos elegeremno como um dos elementos constitutivos da vida foi apontado por ou tros povos como a própria manifestação da divindade ou um de seus atributos Na tradição bíblica o vento o ar e o hálito são identifi cadores da força de Javé O próprio Espírito Santo a terceira pes soa da Santíssima Trindade em grego é chamado de Pneuma isto é ar E mais recentemente nos meados do século XIX a aparição de Nossa Senhora de Lourdes à Santa Bernadette ocorre após um pé de vento Entre nossos escravos trazidos da Costa da Mina de onde provinha Rosa Egipcíaca alguns importantes Orixás sobretudo a po derosa Iansã são identificados com ventos ou melhor o vento é a materialização da manifestação desses espíritos Encontramos mes mo outras africanas contemporâneas de Rosa que nas Minas Gerais já haviam sido denunciadas às autoridades eclesiásticas exatamente por cultuarem tal elemento etéreo Maria Conga inventava uma dan ça de batuque no meio da qual entrava a sairlhe da cabeça uma coisa que se chama vento e entrava a adivinhar o que queria14 A fama de visionária de Rosa espalhase por Mariana Ouro Preto São João Del Rei sempre acompanhada do padre XotaDiabos e de seus exorcismos Nessa última cidade na Igreja do Pilar cer ta vez Rosa Courana interrompeu a pregação de um missionário 139 capuchinho gritando que ela era o próprio Satanás ali presente foi presa e enviada para Mariana a sede do Bispado onde foi flagelada no pelourinho com tal rigor que por pouco não morreu ficando con tudo para o resto da vida com o lado direito do corpo semiparalisa do No aljube recebeu a visita do próprio Santo Antônio Recuperada da tortura procurou o recémempossado bispo da Diocese D Frei Manoel da Cruz que formou uma junta de teólogos para investigar se a incorrigível energúmena era mesmo possessa ou embusteira Após uma série de provas inclusive testando a resistência da pobre ve xada à chama de uma vela que por cinco minutos suportou acesa debaixo da língua concluíram os teólogos que tudo não passava de fingimento passando então o povo a chamála de feiticeira Para evitar novos problemas Rosa fugiu para o Rio de Janeiro sempre auxiliada e protegida pelo seu inseparável padre XotaDiabos o qual nesta época passava dos 50 anos e que a comprou de sua dona tornandose seu proprietário legal O retorno à cidade de sua segunda infância ocorreu em condições bem melhores do que quando subiu a serra num magote de cativos em vez de simplesmente Rosa após uma visão celestial agora apresentavase com o nome de uma verda deira religiosa Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz Montada a cavalo dormindo em estalagens intercalava visões celestiais com tentações carnais tendo o XotaDiabos como o eleito de seu coração relação íntima insinuada e comentada por seus próprios contemporâneos embora nunca comprovada e jamais assumida pelos dois Chegaram à heroica e leal cidade do Rio de Janeiro em abril de 1751 Depois de Salvador capital da América Portuguesa que na épo ca contava com 7 mil fogos e pouco mais de 40 mil habitantes o Rio de Janeiro era a segunda cidade em importância demográfica e econômica entre 17501760 possuía de 24 a 30 mil moradores com 7723 fogos Cidade barroca com vivíssimo décor religioso 23 igrejas distribuídas em quatro paróquias Sé Catedral Candelária São José e Santa Rita Aí estavam distribuídos 70 oratórios 26 confrarias 380 frades mais de uma centena de padres seculares15 Nessa mesma dé cada foi iniciada ou concluída a construção de diversas igrejas Rosa instalouse inicialmente numas casas em frente à Igreja de Santa Rita na atual Rua Visconde de Inhaúma tendo sua primei ra visão na Igreja de Nossa Senhora da Lapa onde apareceulhe o Menino Jesus vestido de azulceleste tendo na cabeça uma tiara pon tifícia caindo no chão sem sentidos e como morta Por sugestão de 140 uma beata das muitas que frequentavam assiduamente os templos cariocas Rosa revelou sua vida atribulada e os dons espirituais ao Provincial dos Franciscanos frei Agostinho de São José que passou a ser seu diretor espiritual Este frade ficou na história carioca por ter sido o responsável pela edificação do segundo andar do Convento de Santo Antônio ainda hoje dominando o alto do morro no Largo da Carioca A vida mística de Rosa impressionou vivamente os francis canos que viramna cumprir todos os exercícios pios então muito em voga jejuns prolongados autoflagelação uso de silício novenas intermitentes comunhão frequente Deram à preta Rosa o maravilho so título de Flor do Rio de Janeiro Nessa época convém esclarecer malgrado a discriminação legal e institucional contra a raça negra sujeita à escravidão e aos mais cruéis tormentos a Igreja Católica procurava oferecer modelos de santidade para este enorme contingente demográfico representado pelos africanos e afrodescendentes que pululavam por toda a colô nia É nestes meados do século XVIII que o papado estimulou por todas as partes do mundo escravista o culto a São Benedito Santo Elesbão Santa Efigênia Santo Antônio de Noto ou Categeró todos negros como Rosa todos exemplos de humildade resignação e santi dade16 O monarca da época D João V ele próprio com lágrimas nos olhos escrevia ao clero da América Portuguesa insistindo que não deixassem os cativos morrer sem o batismo quando transportados nos tumbeiros da África para o Brasil e cuidassem da rápida evan gelização desses pobres descendentes do Prestes João o patriarca evangelizador da Etiópia A beata Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz portanto exprosti tuta como sua patrona Santa Maria Egipcíaca vinha a calhar nesse aggiornamento da Igreja colonial e poderia ser certamente assim o desejavam os franciscanos uma futura santa E ter uma santa em casa ensinava a tradição redundava em romarias polpudas doações para o convento a garantia portanto de manutenção das velas dos altares e demais gastos dos atos litúrgicos e do próprio convento Tão logo chegara ao Rio através de uma visão celestial Nossa Senhora obriga a negra courana a aprender a ler e escrever tarefa que cumprirá razoavelmente Também por inspiração sobrenatural Rosa Egipcíaca decide fundar um Recolhimento para mulheres do mundo que pretendiam como ela trocar o amor dos homens pelo do Divino Esposo Ajudada por polpuda doação de um sacerdote de 141 Minas Gerais seu devoto e admirador de suas excelsas virtudes con tando com o beneplácito do bispo do Rio de Janeiro D Antônio do Desterro em 1754 foi lançada a primeira pedra do Recolhimento de Nossa Senhora do Parto aproveitando a existência de uma pequena capela localizada não muito distante do Largo da Carioca onde hoje se situa a Rua da Assembleia Construído o Recolhimento chegou a abrigar uma vintena de moçasdonzelas e exmulheres da vida sendo metade delas negras ou mulatas Viviam de doações dos fiéis e dos parentes das recolhidas seguindo a rotina comum a tais instituições leigas com religiosas sem votos perpétuos incluindo a recitação co letiva do Ofício de Nossa Senhora e outras liturgias sacramentais além do trabalho de manutenção da casa pia e demais exercícios co munitários Entre as recolhidas estavam três filhas de um exsenhor de Rosa de São João del Rei compadre do XotaDiabos Madre Rosa como então passou a ser chamada por dezenas de seus devotos sofistica suas visões passando a escrevêlas ou di tando para que suas escribas anotassem tudo o que via e ouvia seja revelado pelos santos por Maria Santíssima ou pela própria boca de Deus Sempre aplaudida e venerada pelo padre Francisco Gonçalves Lopes pelo seu frade confessor e por um capuchinho italiano a ne gra courana escreve mais de 250 folhas do livro Sagrada teologia do amor de Deus luz brilhante das almas peregrinas no qual diz que o Menino Jesus vinha todo dia mamar em seu peito e agradecido pen teava sua carapinha que Nosso Senhor trocara seu coração com o dela e que no seu peito trazia Jesus Sacramentado que morrera e tinha ressuscitado que Nossa Senhora era Mãe de Misericórdia e que ela Rosa recebera de Deus o título e encargo de ser Mãe de Justiça dependendo de seu arbítrio o futuro de todas as almas se iam para o céu ou para o inferno que ela própria era a esposa da Santíssima Trindade a nova Redentora do mundo Em seu misticismo como católica fervorosa assistida por diversos diretores espirituais Rosa incorporou em sua espiritualidade o que de mais moderno existia em termos de devoção na época tal qual era praticado por outras santas em Roma Lisboa e demais metrópo les da Cristandade a exescrava agora a madre do Recolhimento do Parto foi a principal vidente e divulgadora em terras brasileiras do culto aos Sagrados Corações iniciado nos meados do século XVII pela visitacionista francesa Santa Margarida Marie Alacoque Mas nossa beata courana foi além propagou não apenas a devoção oficial 142 aos sagrados corações de Jesus e Maria mas de toda a família do Nazareno a saber os corações de São José e dos avós de Cristo São Joaquim e Santana Foi graças às visões de Rosa e para representá las visualmente que os franciscanos construíram no Convento do Largo da Carioca a maravilhosa Capela dos Sagrados Corações até hoje perfeitamente conservada e aberta à visitação pública muito embora sem se dar os créditos à sua verdadeira inspiradora Santa Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz Em seu recolhimento instalouse verdadeiro culto idolátrico à sua pessoa com os devotos venerandoa de joelhos disputando suas re líquias guardando seus escritos como se fossem revelações divinas Algumas liturgias pecavam pela heterodoxia notandose elementos de forte inspiração africana Não esquecer que mais da metade das recolhidas entre estas as quatro principais assessoras de Rosa eram afrodescendentes Além do vício de pitar cachimbo Rosa coman dava certas cerimônias nas quais é nítido o sincretismo afrocatólico Numa ocasião conta a recolhida Irmã Ana do Coração de Jesus negra crioula natural de Ouro Preto que na noite da festa Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel que era o dia das sortes da congregação estando a comunidade rezando a novena no coro saiu Rosa de joelhos e cantando o Ave Maris Stella Ave Estrela do Mar começou a dançar em frente do altar fazendo muitas visagens até cair desmaiada no chão Levantouse então e de um balainho pequenino tirou quatro papelinhos trazidos à maneira de sorte e deu cada um a quatro irmãs três negras e uma branca onde estavam escritos São Mateus São Lucas São Marcos e São João dizendo que elas eram suas evangelistas 17 Em que medida tal imposição de novos nomes poderia evocar ri tuais congêneres praticados nos cultos afrobrasileiros quando as yaôs saem da camarinha e têm revelados seus nomes de santo pas sando a partir de então a incorporar seus orixás A descrição de outra cerimônia faznos lembrar de uma seção de gira num terreiro de Umbanda ou Candomblé Na capela do Parto Rosa tirava às vezes algumas imagens do altar dizendo que ela era Deus e metia as imagens na mão 143 de algumas irmãs e ia dançando até ao pé delas e lá as deixava e ia buscar outra e entrava a apertar a dança arrodeandoas e caía no colo de alguma irmã e ficava como estivesse a fora de si e depois de muito tempo se tornava a si e começava a perguntar aquilo o que era quem a tinha trazido para ali e isto era quase sempre e se não críamos levantandose da sua pas sividade roncando se agarrava pela goela e entrava a bater pelo chão dando murros 18 Noutras oportunidades a negra courana parecia estar possuída de algum erê tanto que certa manhã entrou Rosa no coro com uma vara de marmelo dando na ca beça das recolhidas dizendo ABC com o que mataste o meu Iapê com uma vara de dimpê Explicando que Iapê era Nosso Senhor e a vara de dimpê era a contradição que as reco lhidas tinham19 Infelizmente nenhum linguista conseguiu até agora darnos a pis ta dessas expressões idiomáticas utilizadas pela Abelha Mestra do Recolhimento do Parto O ritual lembra um erê quando usa varinhas para de brincadeira açoitar as pernas dos frequentadores dos ter reiros de candomblé Outro aspecto da religiosidade de Rosa Egipcíaca revelador do sincretismo afrocatólico remetenos ao próprio espírito que passou a acompanhála desde que se converteu uma entidade que por mais de 15 anos vexoua primeiro identificado como Lúcifer mas depois referido como Afecto Curioso que em vez de comportarse como o Príncipe do Mal este espírito induziaa para o bem para zelar e de fender a honra de Deus Tal espírito faznos pensar em Avrektu cuja semelhança fonética com Afecto é evidente um anjo ou mensageiro de luz da cultura Gêge da Nigéria vizinha próxima da região natal de Rosa Courá O Avrektu é um misto de mensageiro do além e espírito protetor por meio do qual seu portador profetizava o futuro exata mente como nossa biografada No Recolhimento do Parto as freirinhas entravam em transe qua se diariamente às vezes diversas vezes por dia Quando o Espírito baixava na comunidade sempre ficava ao menos uma ou duas es piritadas sem estar atacadas da mesma forma como ocorre nas 144 casas de culto de matriz africana onde institucionalizouse costume semelhante através da figura da ekédi mulher auxiliar das filhas de santo em transe amparandoas em seus ataques enxugandolhes o suor etc As ekédis não entram em transe e nos xangôs de Recife são chamadas de iabás ou ilais e nos candomblés de Angola macotas Prevalecia contudo na espiritualidade desta negramina a inspi ração o imaginário e a linguagem próprias do catolicismo romano Eis uma bela página manuscrita por Mestra Rosa datada de 24 de novembro de 1760 na qual se revelou fiel discípula da espiritualidade de São Francisco de Assis Meu Menino Jesus da Porciúncula amo Jesus adoro Jesus ben digo Jesus reverencio Jesus agradeço a Jesus exalto Jesus santifico o nome Santíssimo de Jesus por agora e sempre e no ultimo suspiro glorifico a Jesus no Santíssimo Sacramento da Eucaristia Peço ao céu e à terra peço às flores do campo e peço às estrelas do céu peço ao sol nos seus raios peço à lua na sua luz peço às aves do céu cantai Peço aos peixes nas suas conchas peço aos rios no seu curso e belo correr peço aos anjos peço aos santos peço aos homens e às mulheres peço a todas as línguas e nações remotas me ajudem a dar graças a meu Jesus Crucificado porque nos criou e nos remiu como seu precioso sangue Peço à Sagrada Família a São João Batista a São João Evangelista ao meu Anjo Custódio à Santa do meu nome que louvem por mim ao Senhor por tantos bene fícios e tão grandes misericórdias que de suas liberantíssimas mãos tenho recebido e que me faça uma criatura tal qual ele quer que eu seja Amem Jesus Maria José eu vos dou o meu coração e minha alma Rosa20 Madre Rosa não resistiu à tentação e desenvolveu fantasiosa me galomania religiosa tendo no padre XotaDiabos seu estimulador o qual mandara pintar um quadro sobre cobre onde a negra courana posava como se fosse uma bemaventurada vestida no hábito francis cano com as cinco chagas cordão e rosário do lado pisando alguns diabos e salvando uma alma do purgatório enquanto um esbelto São Miguel a coroava com esplêndido buquê de flores Numa das mãos segurava o Menino Jesus e na outra trazia uma pena símbolo de sua 145 erudição teológica posto que o padre XotaDiabos agora Capelão do Recolhimento proclamara mais de uma vez que Rosa deixava Santa Teresa Dávila a léguas de distância e que aquela Doutora da Igreja não passava de uma menina de recados da mestra africana Ao re zarem a Ladainha de Nossa Senhora na estrofe Mater Misericordiae suas recolhidas se inclinavam reverentes para a Madre Superiora que era reverentemente incensada pelo sacerdote o qual trazia no pescoço preciosa relíquia um dente de Santa Rosa Egipcíaca Muitos fiéis frequentavam o Recolhimento do Parto alguns para ouvir os conselhos da Mestra outros para buscar suas relíquias no tadamente uma espécie de biscoito feito com a saliva de Rosa amas sada com farinha que era guardada para este fim a que seus devo tos atribuíam o poder de curar todas as enfermidades Verdadeiros rituais de adoração eram autorizados pelo padre XotaDiabos esti mulando as recolhidas e os frequentadores deste Sacro Colégio a adorar a bemaventurada eleita da Divina Providência Eis os títulos laudatórios com os quais seus fiéis devotos saudavam a exprostituta negra à moda de ladainha Que o leitor atente para a riqueza e puerili dade do imaginário religioso do barroco lusoafrobrasileiro Menina dos Olhos de Cristo Teatro do Amor divino Arca do Testamento Novo e Velho Nau da Divindade Irmã consorte de Nossa Senhora Filha de Santana Breve e Arca do Pai Eterno Relicário do peito de Deus Filhos Arca e cofre da Santíssima Trindade Judith gloriosa que haverá de cortar a cabeça do dra gão infernal Carta e Guia de todas as almas para a Santíssima Trindade Chave de ouro no peito de Nosso Senhor Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo Rosa no peito do Rei Salvador Intercessora dos pecadores Símbolo da obediência Colar no pescoço de Jesus Jóia de seu peito Jardim florido das conver tidas Paraíso dos bemaventurados Rainha dos vivos Juíza dos mortos Embargo dos descrentes21 Vários desses títulos além de reproduzir a mesma simbologia temática comum das ladainhas de Nossa Senhora e demais santos evocam a troca que a beata Rosa fez de seu coração com o de Jesus que permanecia vivo e palpitante no seu peito daí ser referida como arca nau relicário breve e cofre da própria divindade Outros en cômios declaramna predileta do Divino Esposo sua menina dos 146 olhos sua rosa enfeite e colar Toda esta idolatria altamente herética sendo praticada sob os olhos coniventes do Prior do Convento dos Franciscanos Além dessa rica coleção de títulos honoríficos alguns hinos fo ram inventados pelas recolhidas negras e mestiças em sua maio ria reafirmando pedagogicamente as virtudes superiores da santa fundadora Tal hinário tornouse conhecido e cantado não apenas no Rio de Janeiro no Recolhimento de Nossa Senhora do Parto mas também por seus devotos nas Minas pois foi entre os papéis da famí lia de seu antigo senhor em São João del Rei que foram encontrados alguns desses preciosos manuscritos Apesar dos pés quebrados e da assimetria poética tais estrofes comprovam o alto grau de vene ração a que uma negra africana pôde chegar na sociedade escravista brasileira Cheguemos a nossa Mãe cheguemos com devoção pois nela está encerrada toda a nossa salvação Vitória demos a nossa boa fortuna Porque tivemos a dita Que Rosa fosse mãe De tão pecadoras filhas O amor de Rosa é tão firme Porque nem um só instante dela se retira Nem se pode retirar Aquele amante divino Porque todo o seu empenho É abrasado e contínuo Quem seguir minha Mãe De todo o seu coração Bem pode ter esperança Da sua salvação Rosa é flor fragrante Do peito de seu amante Quem a amar com firmeza Achará a contrição Rosa é palma ditosa De eterno Rei sem fim 147 Quem a seguir com veras A terá naquele último dia Por sua grande valia Jesus é cravo Rosa é a flor de seu amor Cheguemos todos a ela Pois que somos abelhinhas Chupemos o mel da flor22 A partir de 1756 Rosa insistiu na profecia de que o Rio de Janeiro seria inundado e destruído do mesmo modo que acontecera no ano anterior com o terrível terremoto de Lisboa Madre Rosa convenceu dezenas de famílias a refugiaremse no Recolhimento garantindo que seriam os únicos sobreviventes ao dilúvio e que essa nova Arca de Noé iria cruzar o mar oceano para encontrarse triunfalmente com o Rei D Sebastião o Encoberto desaparecido havia dois séculos nas areias do Marrocos o qual tinha escolhido a negra Rosa para sua esposa e que deste matrimônio e de seu ventre nasceria o novo Redentor da humanidade Rosa foi dentre todos os sebastianistas a que mais ousou em suas profecias Era voz corrente no beatério do Parto e entre seus devotos que frequentavam a capela onde Rosa era a figurante de maior destaque que naquele tenebroso dia a Divina Providência castigaria a América Portuguesa quando o dilúvio das Minas vier dar ao mar salgado derrubando todos esses montes e quando todos os mais rios se hão de soltar e o mar há de sair fora dos seus limites ficando toda a cida de do Rio de Janeiro dentro de suas entranhas Neste momento fatí dico o Recolhimento do Parto iria se transformar milagrosamente na Arca dos Cinco Corações começando a flutuar ocorrendo aí seu feliz encontro com a nau capitaneada por D Sebastião o Desejado Nesse momento Rosa ia se casar com Dom Sebastião e suas quatro evan gelistas também se casariam com seus vassalos ou criados voltando para reformar o mundo e fundar o Império de Cristo Cumpriase assim a tão desejada profecia feita pelo TodoPoderoso ao fundador do Reino Portucalense Quero em ti e na tua descendência formar para um Império Esse novo império seria mestiço mulato pois três das evangelistas eram da mesma cor da negramina Não contente em proclamarse Esposa da Santíssima Trindade Rosa Egipcíaca aspirou enlaçarse com a família real portuguesa 148 iniciando com suas auxiliares mais fiéis nova e reformada geração mulata na cor mas de costumes tão alvos como a neve Nigra sum sed formosa A concretização final do mito sebástico resgatado e adaptado pela negra Rosa era o corolário de sua vida profética seu casamento com Dom Sebastião após o dilúvio universal na América Portuguesa iniciaria o reinado visível dos Sagrados Corações Em Rosa cumpriase o prometido tão ardorosamente esperado por in contáveis gerações lusitanas desde Bandarra Anchieta Vieira e tantos outros sebastianistas nenhum contudo ousara imaginar que o Encoberto ia fazer de uma africana sua esposa a rainha do novo Império e mãe de seus herdeiros Como salientou um especialista no sebastianismo em épocas de exceção numa situação de catástrofe por exem plo quanto é vital que homens descubram dentro de si formas de resistência psicológica à adversidade não é senão natural que os mitos de raízes porventura profundas no inconsciente desta coletividade ameaçada regressem ou ressurjam do seu adormecimento É o que explica a subida irresistível de um mito como o sebástico O Desejado passa a Encoberto o jovem Rei desaparecido há de voltar das brumas onde se esconde para ser a cabeça universal de novo Império Ele tirará toda a erronia ele fará a paz em todo mundo ele consubstanciará todas as aspirações ideais da época23 Não foram tanto os vaticínios não cumpridos nem seus êxtases e revelações com nítidas características epileptoides digase en pas sant a causa da derrota de Madre Egipcíaca seu erro gravíssimo foi indisporse com o clero local ralhando com alguns sacerdotes que davam mau exemplo conversando nas igrejas durante as cerimônias sacras Foi por esta animosidade denunciada ao Bispo sobretudo após ter retirado à força da igreja de Santo Antônio uma senhora da sociedade que se comportava com menos compostura Por este es cândalo uma negra descompor uma branca de status elevado o Bispo entra em ação e a partir de fevereiro de 1762 dezenas de tes temunhas passam a denunciar as excentricidades dessa preta beata Revelamse então todos os seus desatinos religiosos 149 Tivera notícia o Bispo de que a negra Rosa há muitos aos é ou se finge vexada do Demônio e que o Espírito que fala por ela se chama Afecto e lhe fora dado por Deus para purificar e zelar pelo seu culto nos tempos agredindo as pessoas na mesa da comunhão que o Padre Francisco Gonçalves Lopes seu senhor é o principal pregoeiro de suas fingidas virtudes e quem manda escrever em verso e trova suas profecias que o Recolhimento de Nossa Senhora do Parto flutuaria como a arca de Noé que o Verbo Divino ia se encarnar de novo numa cria tura para estabelecer um mundo mais perfeito que o presente que tais profecias tinham provocado escândalo e descaminho de pessoas idiotas e de fácil convenção causando pernicio sas confusões e escandalizando a toda esta cidade em geral de sorte que uns ignorantes e materiais acreditam e outros a condenam por herege e feiticeira e para que não fique sem emenda e satisfação o escândalo e perturbação que ela tem causado com seus erros e culpas que seja presa e feito sumá rio de culpas24 Depois de quase um ano presos no aljube do Rio de Janeiro Rosa e o padre XotaDiabos foram enviados a Lisboa e presos no Tribunal da Inquisição em agosto de 1763 O padre em poucas sessões do inquérito declarou ter sido enganado pela falsidade da negra alegan do ser pouco letrado em teologia e ter se fiado na boa opinião que o Provincial dos Franciscanos dela fazia Pediu perdão de sua boafé e excessiva credulidade recebendo como pena o degredo de cinco anos para o extremo sul do Algarve além de perder o direito de con fessar e exorcizar Sua sentença foi proclamada no Auto de Fé de 27 de outubro de 1765 Se verdadeira ou falsa sua arrenegação da fé em sua exescrava filha espiritual e possível amante nunca poderemos saber Rosa em contrapartida deu um heroico espetáculo de autentici dade insistindo em muitas sessões que nunca mentiu nem inventou coisa alguma confirmando que todas as suas visões revelações e êxtases foram reais Ela acreditava ser uma predestinada e que Deus em sua misericórdia a tinha escolhido para revelar ao mundo seus fantásticos desígnios Enquanto os inquisidores estimulavamna a admitir que tudo não passara de fingimento para chamar atenção sobre sua pobre figura Rosa dizia o contrário Tudo vi e ouvi Sua 150 coragem e autenticidade a qualificaram como verdadeira heroína da fé em Cristo Numa dessas sessões narrou uma de suas visões beatíficas Disse a ré que no ano de 1759 estando na igreja do Recolhimento do Parto pedindo as recolhidas ao Capelão que deixasse ela entrar para receber com elas o santíssimo sacramento pois tinha sido então expulsa do beatério por ordem do Bispo do Rio de Janeiro assim lho permitiu e depois da comunhão estando devotamente rezando ao pé do caixão onde estava o Senhor Morto viu da parte do mesmo caixão sair um clarão como de sol e logo um pilar da altura de uma vara e sobre eles uma coisa encarnada muito viva coberta com um pano muito cândido mas tão fino que pelo mesmo se via uma multidão de abelhas E ao mesmo tempo ouviu uns cânticos que diziam Chegai chegai abelhinhas todas a la divinidad a la divinidad O doce suco na flor Jesus que hoje nasceu nasceu para vós A cujas vozes sentiu ela em si uma extraordinária comoção para dançar o qual impulso reprimiu com pejo das recolhidas que estavam presentes 25 Em 4 de junho de 1765 ocorreu a última sessão de perguntas à vidente afrobrasileira Neste dia ela narra uma de suas muitas vi sões que estando para comungar ouviu uma voz sobrenatural que lhe dizia Tu serás a abelhamestra recolhida no cortiço do amor Fabricareis o doce favo de mel para pores na mesa dos celestiais ban queteados para o sustento e alimento dos seus amigos convidados A partir daí inexplicavelmente interrompeuse o processo de Rosa Dos mais de mil processos de feiticeiras sodomitas bígamos falsas santas e blasfemos pesquisados não encontrei outro que ficas se inconcluso pois sempre os inquisidores eram muito minuciosos em anotar o desfecho do julgamento a pena a que foi condenado o réu se morreu de doença no cárcere ou até se houve suicídio se foi mandado para o hospital de loucos para a fogueira ou para o degredo Comparando suas culpas com a de outras beatas e embus teiras processadas pelo Santo Ofício da Inquisição avaliamos que deveria ser condenada à pena dos açoites sentenciada num auto de fé e degredada por cinco anos para o Algarve aliás como foi o caso de outra afrobrasileira a angolana Luiza Pinta esta sim verdadeira 151 mãe de santo de um calundu em Sabará muito mais ligada às raízes africanas do que Madre Rosa26 Inexplicavelmente o processo de Rosa tem como última página este registro costumeiro do notário do Santo Ofício Por ser avançada a hora lhe não foram feitas mais perguntas e sendo lidas estas anotações e por ela ouvidas e entendi das disse estar escrita na verdade e assinou com o Senhor Inquisidor depois do que foi mandada para o seu cárcere27 Notas 1 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 2 Ibidem 3 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 4 BOSMAN William A new and accurate description of the Coast of Guinea divided into the gold the slave and the ivory coasts New York sn 1967 5 PRÉVOST Abbé Histoire générale des voyages Paris Didot 17441759 6 Período em que foi governador o assim chamado Luís Vahia Monteiro que governou o Rio de Janeiro de 1725 a 1732 7 Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro Livro de Batismo de escravos Freguesia da Candelária 17 17 8 SCHLICHTHORST Carl O Rio de Janeiro como é Rio de Janeiro Zelio Valverde 1943 9 BENCI Jorge Economia cristã dos senhores no governo dos escravos 1700 São Pau lo Grijalbo 1977 10 FREYRE Gilberto Casagrande e senzala Recife Companhia Ed de Pernambuco 1970 p 341 11 ANTONIL André João Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas 1711 Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1982 12 GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico São Paulo AlfaOmega 1975 13 GONZAGA Tomás Antônio Cartas chilenas 1786 Rio de Janeiro MEC INL 1958 apud CARRATO José Ferreira Igreja Iluminismo e escolas mineiras coloniais São Paulo Companhia Ed Nacional 1968 14 FIGUEIREDO Luciano R A O avesso da memória cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII Brasília DF EdUNB Rio de Janeiro J Olympio 1993 15 COARACY Vivaldo Memórias da cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro J Olym pio 1965 EDMUNDO Luiz O Rio de Janeiro no tempo dos vicereis Rio de Janeiro Imprensa Nacional 1932 16 OLIVEIRA Anderson José Machado Os santos pretos carmelitas culto dos santos catequese e devoção negra no Brasil colônia Tese Doutorado Universidade Fe deral Fluminense Niterói 2002 152 17 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 18 Ibidem 19 Ibidem 20 Ibidem 21 Ibidem 22 Ibidem 23 QUADROS Antonio Poesia e filosofia do mito sebastianista Lisboa Guimarães Edito res 1982 24 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 25 Ibidem 26 MOTT Luiz O Calundu Angola de Luzia Pinta Sabará 1739 Revista do Instituto de Arte e Cultura Ouro Preto v 10 n 171 p 128130 1994 27 MOTT Luiz Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 O caso da escuna Destemida repressão ao tráfico na rota da Costa da Mina 18301831 Ana Flávia Cicchelli Pires Que a sorte dos africanos ilicitamente importados e como tais reputados livres é péssima é sem garantias reais ninguém contesta E entretanto os poderes públicos estabeleceram regras que de alguma forma podiam amortecer os golpes de sua desventura Já que não existe coração neste país já que o instinto da benevolência está embotado já que se despreza assim o direito do miserável vós consentireis meu amigo que eu advogue a sua causa perante o governo de Sua Majestade com a letra das leis o espírito e as cláusulas de tratados sole nes Avivando a lembrança das providências escritas e das ga rantias prometidas talvez eu possa conseguir que as garantias se cumpram e que a lei se execute Tavares Bastos Cartas do Solitário Em 20 de dezembro de 1830 o Jornal do Commercio anunciava a entrada da fragata inglesa Druid no Porto do Rio de Janeiro com 48 dos 50 africanos encontrados a bordo da escuna Destemida con duzida para o Rio de Janeiro após ter sido apresada 5 milhas ao sul da Bahia quando vinha da Ilha do Príncipe1 O caso estava sendo encaminhado à Comissão Mista Brasileira e Inglesa encarregada de julgar os navios apreendidos em virtude da política de repressão ao comércio atlântico de escravos O processo da escuna Destemida será analisado neste artigo com o objetivo de apontar mais uma via de acesso dos africanos oriundos da Costa da Mina no Rio de Janeiro sobretudo após 1815 Isso ocor reu a partir da captura de diversas embarcações e consequente enca minhamento para julgamento perante o Tribunal de Comissão Mista Além disso este estudo de caso nos ajudará a compreender como as redes comerciais eram formadas de 154 que modo os traficantes operavam diante das restrições ao comércio atlântico de escravos assim como os subterfúgios empregados para o prolongamento de tal atividade A abolição do comércio atlântico de escravos para o Brasil até 1830 A Inglaterra aboliu o comércio escravista em 18072 abrindo mão de uma atividade na qual até então tinha substancial participação Embora não tenha sido o primeiro país a proibir essa atividade foi o que mais se empenhou nessa campanha tentando fazer com que todas as outras nações adotassem a mesma política especialmente Portugal Espanha e suas colônias Brasil no primeiro caso Cuba e Porto Rico no segundo No que diz respeito a Portugal e sua colônia o Brasil a pressão inglesa para a abolição do comércio negreiro remonta à vinda da família real para o Rio de Janeiro em 1808 Portugal encontravase envolvido numa série de problemas em função das Guerras Napoleô nicas sendo a transferência da Corte para o Brasil auxiliada pela Inglaterra Em função dessa proteção Portugal vêse impelido a as sinar o Tratado de Aliança e Amizade entre o Príncipe Regente de Portugal e o Rei do Reino Unido da GrãBretanha e Irlanda em 19 de fevereiro de 1810 Este é apenas o primeiro ato formal a partir do qual uma série de tratados internacionais entre Inglaterra e Portugal e após a Independência com o Brasil é assinada com o objetivo de pôr fim ao tráfico de escravos3 Entre outras determinações ficou decidido que o Príncipe Regente estando convencido da injustiça do comércio de escravos e resolvendo cooperar com Sua Majestade Britânica adotaria os meios mais eficazes para conseguir uma abolição gradual do tráfico atlântico em seus domínios sendo que a partir de então só seria permitido comerciar com os territórios africanos que lhe pertences sem O que ficava estipulado nesse artigo não afetava os direitos de Portugal sobre os territórios de Cabinda e Molembo4 nem limitava ou restringia o comércio em Ajudá e em outros portos da África com ocupação portuguesa O tratado permitiu também uma redução nos direitos alfandegários sobre os produtos manufaturados ingleses que passaram a pagar uma taxa de 15 em substituição aos 24 an teriormente estabelecidos5 155 Alguns problemas advieram a partir da assinatura do tratado de 1810 uma vez que este gerou dúvidas com relação aos locais na costa africana onde era permitido realizar o comércio de escravos Diversas embarcações pertencentes a súditos portugueses foram apreendidas alegando a Inglaterra para tal ato o fato de que elas es tavam sendo empregadas no tráfico ilegal Estes acontecimentos cau saram certa agitação especialmente entre os negociantes da praça da Bahia De acordo com Pierre Verger no espaço de dois anos foram apresadas pelos cruzadores da Marinha de Guerra britânica 17 em barcações Salvo duas as demais comerciavam em lugares autoriza dos pelo Tratado de Aliança e Amizade6 Analisando a documentação produzida pela Comissão Mista Brasileira e Inglesa de um total de 155 embarcações que foram alvo de processo na sobredita comis são encontramos dez que foram apresadas no período ressaltado por Verger Todas negociavam na Costa da Mina região autorizada pelo mesmo tratado Quadro de embarcações apreendidas que negociaram na Costa da Mina Nº Nome Destino Informações sobre apresamento 1 Brigue Calipso Costa da Mina Apresado em Onim 2 Bergantim Conde do Amarante Costa da Mina e Ajudá Fundeado no Porto de Ajudá 3 Bergantim Destino Portos da Costa da Mina Fundeado em Porto Novo 4 Brigue Dezengano Portos da Costa da Mina Apresado em Porto Novo 5 Brigue Feliz Americano Costa da Mina Conduzido para Serra Leoa após apreensão 6 Sumaca Flor de Alecrim Costa da Mina Benim e Calabar com escala na Ilha do Príncipe Conduzida para Serra Leoa após apreensão 7 Sumaca Flor do Porto Costa da Mina Apresada em Onim 8 Bergantim Lindeza Portos da Costa da Mina Apresado em Onim 9 Escuna Mariana Portos da Costa da Mina Apresada em IaqueIaque 10 Bergantim Prazeres Portos da Costa da Mina Apresado em Onim Fonte Arquivo Histórico do Itamaraty AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Portugal e GrãBretanha tentaram solucionar tais problemas por meio de outro acordo assinado em janeiro de 1815 durante o Congresso de Viena quando a questão do tráfico foi novamente le vantada discutida e temporariamente resolvida Segundo o novo tra tado estava proibido a todo vassalo da Coroa de Portugal comprar ou traficar escravos em qualquer lugar da Costa da África ao norte do Equador7 Além disso o Príncipe Regente de Portugal comprometiase 156 em não empreender o tráfico debaixo da bandeira portuguesa para outro fim que não fosse suprir de escravos suas possessões transa tlânticas adotar as medidas necessárias para que o ajuste fosse cum prido fixar por meio de um tratado em separado o período em que o tráfico de escravos seria proibido em todos os seus domínios Já Sua Majestade Britânica comprometiase em adotar medidas que impe dissem qualquer embaraço às embarcações portuguesas enquanto o comércio escravista agora limitado ao sul da linha do Equador ainda fosse permitido segundo as leis de Portugal e os tratados existentes entre as duas nações Além disso indenizaria Portugal pe las embarcações indevidamente apresadas até 1º de junho de 18148 Para a regulamentação dos pontos fixados em 1815 foi assinada a Convenção Adicional de 28 de julho de 1817 que estipulou cláusu las para impedir qualquer comércio ilícito de escravos tendo como itens principais o direito mútuo de busca e visita aos navios mer cantes das partes contratantes Portugal e Inglaterra sempre que houvesse suspeita de tráfico ilícito o apresamento de embarcações caso a bordo fossem encontrados escravos irregularmente embarca dos na África Tais casos seriam encaminhados aos tribunais estabe lecidos para esse efeito as Comissões Mistas encarregadas de jul gar com agilidade os apresamentos e determinar a indenização por perdas sofridas em caso de detenção injusta e arbitrária Portugal ainda assumiu o compromisso de promulgar uma lei determinando as penas que deveriam ser aplicadas aos vassalos de sua Coroa que viessem a fazer o tráfico ilícito de escravos A GrãBretanha ainda de acordo com a Convenção concederia indenizações aos donos de na vios portugueses que foram apresados pelos cruzadores britânicos no período compreendido entre 1º de junho de 1814 e o estabeleci mento das Comissões Mistas9 A Convenção de 28 de julho de 1817 te ria validade de 15 anos contados a partir da abolição total do tráfico de escravos caso as partes contratantes não chegassem a um novo ajuste antes disso Este prazo foi estipulado em um artigo adicional à Convenção de 1817 assinado em 11 de setembro deste mesmo ano em Londres10 As Comissões Mistas teriam sedes na Costa da África Serra Leoa no Brasil Rio de Janeiro e na Inglaterra Londres e se destinariam a julgar sem apelação a legalidade da detenção dos navios empre gados no tráfico de escravos Além disso seriam responsáveis pelo estabelecimento de indenizações caso fosse concedida liberdade ao 157 navio apresado Cada uma das comissões seria composta por um co missário juiz um comissário árbitro e um secretário ou oficial de re gistro nomeados pelo soberano do país onde residia a comissão No caso de o navio ser condenado por viagem ilícita o casco e a carga à exceção dos escravos seriam considerados boa presa sendo vendidos em leilão público em benefício dos dois governos Quanto aos escravos encontrados nas embarcações apreendidas ficou de terminado que receberiam uma carta de alforria e seriam consigna dos ao governo do país em que estivesse instalada a comissão que dera a sentença para prestarem serviço como trabalhadores livres11 A Comissão Mista estabelecida em Serra Leoa foi responsável pelo julgamento de diversos navios que traficavam para o Brasil Mesmo navios apresados próximos à costa brasileira foram conduzidos para lá pelos cruzadores britânicos12 Em 26 de janeiro de 1818 foi promulgado outro alvará com for ça de lei para a execução e punição dos transgressores que conti nuassem a traficar escravos nos portos proibidos da costa africana dando as convenientes providências a respeito do destino da carga humana Os navios empregados no tráfico seriam confiscados com todos os aparelhos e pertences juntamente com a carga Aos ofi ciais dos navios seria imputada uma pena de degredo por cinco anos em Moçambique além do pagamento de multa Ficou determinado que os africanos encontrados a bordo seriam entregues ao Juízo da Ouvidoria da comarca para aí servirem como libertos por tempo de 14 anos em algum serviço público ou alugados em praça a particu lares de estabelecimento e probidade conhecida Os responsáveis deveriam alimentálos vestilos doutrinálos e ensinarlhes o ofício ou trabalho que se convencionasse pelo tempo que fosse estipulado Além disso seria nomeado um curador também pessoa de conheci da probidade que teria por ofício requerer tudo o que for a bem dos libertos e fiscalizar os possíveis abusos13 Para Manolo Florentino a pressão inglesa e a proibição do tráfico ao norte do Equador se configuraram como mais um fator de risco para os traficantes14 Tal qual já havia ocorrido após a assinatura do Tratado de Aliança e Amizade em 1810 estes tratados internacio nais provocaram acirrados atritos entre os traficantes de diversas províncias e os ingleses nelas residentes uma vez que assistimos à apreensão de diversas embarcações Mais uma vez os negociantes da praça de Salvador foram os mais afetados acumulando maiores 158 prejuízos em função dos laços estreitos que mantinham com a África Ocidental mais especificamente com os portos localizados na Costa da Mina15 De acordo com Pierre Verger os comerciantes da Bahia foram por meio do governador apresentar suas queixas ao Príncipe Regente em virtude da proibição de se fazer o comércio nos lugares habituais Não conformados com tal situação continuaram enviando seus na vios para fazer o tráfico na Costa da Mina apesar da repressão vigi lância e captura realizada pelos cruzadores britânicos Sendo assim o comércio entre a Bahia e a Costa da Mina continuou com grande intensidade embora este conjunto de tratados tenha tido grande in fluência sobre a situação da Bahia modificando o caráter de suas relações com a Baía de Benim16 Em função das restrições parciais ao comércio escravista percebemos que uma série de subterfúgios foi empregada para dar continuidade a tal atividade apresentando os primeiros sinais de adaptações ao novo quadro de proibições Em 1821 por temor de perder o trono português em decorrên cia das revoluções liberalnacionalistas do ano anterior assistimos ao retorno de D João VI a Portugal deixando em aberto a questão da fixação do prazo para o término do tráfico de escravos17 Com a posterior independência do Brasil em 1822 os ingleses tentaram novo entendimento agora com o nascente Império As negociações prosseguiram até 1825 envolvendo por um lado o reconhecimento da independência por parte da Coroa Britânica e por outro garan tias seguras da abolição do tráfico por parte do Brasil Embora as primeiras negociações tenham sido rejeitadas em 23 de novembro de 1826 foi ajustada uma nova convenção entre o Brasil e a Grã Bretanha com a finalidade de pôr termo ao comércio de escravatura da Costa da África quando os tratados angloportugueses de 1815 e 1817 foram adotados e renovados pelo Brasil18 Segundo o novo acordo num prazo de três anos após sua ratificação o que ocorreu em 13 de março de 1827 não seria mais lícito ao Império do Brasil comerciar escravos na Costa da África equiparando sua prática à pirataria Além disso as duas partes contratantes se comprometiam em nomear desde já Comissões Mistas à semelhança daquelas esti puladas com Portugal19 Esse acordo soou altamente impopular refletindo mal em diver sas partes do Império Segundo Leslie Bethell a grande maioria dos 159 deputados brasileiros estava convencida de que a abolição do tráfico negreiro naquele momento seria um desastre já que o Brasil era economicamente dependente de braços escravos Além disso argu mentavam como boa parte do país que o governo imperial tinha abolido o tráfico em consequência da pressão estrangeira e não para atender aos interesses nacionais20 Mais uma vez as repercussões fo ram enormes marcando negativa e profundamente as relações entre os dois governos brasileiro e inglês que durante algumas déca das continuariam envolvidos em questões diplomáticas O governo brasileiro tentou adiar a data marcada para a abolição ou seja 13 de março de 1830 mas o governo britânico não estava dis posto a ceder Quando a data chegou o comércio atlântico de escra vos para o Brasil encontravase a partir de então proibido Porém apesar dessas medidas que foram gradativamente sendo estipuladas desde 1810 o tráfico atlântico continuou Em 1826 quando foi anun ciada a proibição da entrada de escravos no Brasil criouse grande inquietação não só neste lado do Atlântico mas também na Costa da África21 Temendo o cumprimento desta convenção os interes sados no prolongamento do comércio negreiro fizeram um esforço grande para importar o máximo possível de africanos o que resultou num aumento brutal do volume de escravos traficados para o Brasil atingindo uma cifra superior aos períodos anteriores como resposta à iminência do seu fim Muitos fazendeiros contraíram dívidas com os traficantes ficando depois sem condições de saldálas22 Por seu turno foi grande também o número de apreensões realizadas pelos cruzadores britânicos nesse período Os traficantes continuaram em ação através de um sistema de contrabando com a conivência do governo e das autoridades bra sileiras cabendo à Inglaterra vigiar reprimir e exigir o cumprimento dos tratados e convenções firmados Os esforços para conter o tráfi co de africanos foram poucos e insuficientes encontrando apoio nas populações locais e fácil mercado Adicionase a isso a conivência das autoridades locais frequentemente constituídas pelos próprios fazendeiros interessados na continuidade do tráfico23 Embora o co mércio escravista tenha sofrido um forte abalo nos primeiros anos da década de 1830 a partir de 183536 assistimos à sua recuperação muito em função do contexto político da Regência24 No que diz res peito aos negociantes da Bahia estes continuaram suas incursões especialmente na Costa da Mina25 160 O apresamento e o processo contra a escuna Destemida pela Comissão Mista É neste contexto que podemos situar o caso da escuna Destemida Esta embarcação foi apresada pelo navio de guerra de S M B Druid sob o comando de G William Hamilton26 Segundo o relato deste comandante Na manhã de 2 de dezembro de 1830 estando 10 milhas ao S O da Bahia observamos uma escuna a barlavento a qual su pusemos ser a mesma que me tinha sido denunciada naquela manhã muito cedo estando então ancorado na Bahia como dirigindose para o Porto e depois fugindo dele portanto em razão das aparências suspeitosas demoslhes caça e tendo chegado a distância própria fizemoslhes fogo e a obrigamos a vir para nós içou bandeira portuguesa27 O comandante Hamilton mandou um dos tenentes de sua tripu lação a bordo da escuna para averiguar os fatos Voltando de sua incursão o oficial comunicou que o mestre da escuna Raimundo Arribas o informara tratarse de uma escuna portuguesa denomi nada Destemida de propriedade de Manoel Vicente da Conceição da praça da Ilha do Príncipe Estava vindo de São Thomé e Príncipe para a Bahia em lastro e encontravase muito ansioso para entrar no porto porque a escuna fazia muita água Informa ainda o tenente que os papéis da escuna estavam muito irregulares não tinha regis tro nem despacho do último porto de onde o mestre dizia ter saído tinha a bordo quatro ou cinco pessoas a menos que as indicadas na matrícula tinha ainda cinco escravos que o mestre dissera fazerem parte da sua equipagem mas cujos nomes não correspondiam aos listados na matrícula28 Diante de tais declarações o comandante Hamilton mandou ou tra vez o tenente a bordo da Destemida desta vez encarregado da tarefa de conduzila ao porto da Bahia de Todos os Santos acompa nhada pelo Druid As duas embarcações entraram no porto na tarde do mesmo dia Chegando lá outro tenente da tripulação do Druid juntamente com o carpinteiro senhor Bean foi enviado a bordo da escuna para ver e conhecer a natureza dos seus rombos e por onde fazia água com muita dificuldade Durante o processo de inspeção 161 foram encontrados escondidos no porão da embarcação 50 africa nos todos do sexo masculino Diante de tais acontecimentos o se nhor Bean informou ser necessário que os negros fossem retirados da escuna para se drenar a mesma e conhecer por onde fazia água Nessa ocasião 48 dos 50 africanos foram transferidos para a fragata inglesa29 Apesar dos reparos realizados pelos carpinteiros do Druid a es cuna Destemida ainda estava fazendo dois pés de água por hora quando foi conduzida para o Rio de Janeiro tendo a bordo apenas o mestre Arribas cinco membros da equipagem dois escravos e mais 18 homens todos sob o comando de um oficial inglês Por outro lado o comandante Hamilton achou prudente manter a bordo do Druid os 48 africanos que lá já estavam mais os cinco escravos que suposta mente faziam parte da equipagem e outros três homens livres que também faziam parte da equipe Chegando ao Rio de Janeiro apro veitou a primeira ocasião para mandar os escravos novamente para bordo da escuna de origem30 Ainda de acordo com as alegações do comandante do Druid a es cuna foi conduzida para adjudicação por dois motivos primeiro por ter sido informado pela equipagem e pelos próprios escravos que es tes últimos haviam sido embarcados no Porto de Whydah Ajudá segundo por ter encontrado a derrota31 da escuna indicando que a viagem teria principiado no Porto de Ajudá em 26 de outubro de 1830 com destino à Bahia Alegou ainda Hamilton que a Destemida não tinha papéis regulares e já que não trazia o passaporte real usualmente concedido aos vasos portugueses autorizados a negociar nos portos onde tal comércio ainda era legal como agravante es tava sendo empregada no tráfico ilícito da escravatura32 Na visão do comandante os cinco escravos encontrados a bordo da Destemida que o mestre alegava fazerem parte de sua equipagem assim como os 50 africanos descobertos no porão haviam sido todos irregular mente comprados nesta viagem33 Essa versão do ocorrido foi fornecida pelo comandante G W Hamilton à Comissão Mista por meio de um relato escrito a bordo da fragata Druid no dia 21 de dezembro de 1830 quando já se encontra va no Rio de Janeiro para julgamento do caso da escuna Destemida Tais dados são confirmados quando se apresenta para prestar o ju ramento e o depoimento na sobredita comissão em 11 de janeiro de 1831 Nesta ocasião o oficial inglês aproveita para entregar os 162 papéis referentes à escuna que se encontravam em seu poder Os documentos foram anexados ao processo e segundo o mesmo co mandante parte deles foi fornecida pelo mestre da Destemida outra parte lhe foi entregue por um escravo ou criado do mestre da escuna e o restante foi achado a bordo da mesma Hamilton faz questão de ressaltar que os documentos foram repassados à Comissão Mista no mesmo estado em que os recebeu sem fraudes nem subtração nem alteração alguma34 No dia 12 de janeiro de 1831 no Rio de Janeiro foi expedido um aviso para que o capitão o contramestre e os principais componen tes da equipagem da escuna portuguesa Destemida comparecessem perante a Comissão Mista no dia seguinte por volta das 11 horas para prestar depoimento e apresentar os documentos que compro vassem o direito sobre a mesma Em 13 de janeiro apresentaram se à Comissão Raimundo de Arribas mestre da escuna Joaquim Marques contramestre da escuna Joaquim da Silva Neves João José marinheiro35 O relato de Raimundo de Arribas traz novas versões sobre o acon tecimento De acordo com suas alegações apresentadas tanto em seu depoimento quanto no requerimento entregue à Comissão Mista posteriormente 36 ele havia nascido na Flórida Oriental Portanto era súdito do Rei de Espanha Contudo havia se naturalizado portu guês na Ilha do Príncipe onde residia havia cinco anos Segundo ele a escuna Destemida era portuguesa comprada na Ilha do Príncipe sendo seu proprietário Manoel Afonso Vicente da Conceição súdito português residente na mesma Ilha do qual disse não ser parente Com relação aos dados referentes à apreensão e irregularidades da Destemida Arribas afirma que a escuna se achava sob seu co mando antes de largar da Costa da África fazendo muita água si tuação que se agravou a ponto de correrem risco de vida Por este motivo achou prudente embarcar os 50 africanos na qualidade de domésticos para aprenderem um ofício temeroso de que o rombo aumentasse na viagem o que de fato aconteceu Segundo ele caso não dispusesse dos 50 homens teriam ido ao fundo Ainda de acordo com o mestre da Destemida quando a escuna foi detida pela fragata inglesa pediu permissão para ir a bordo participar ao comandan te inglês que tinha 50 homens livres a bordo Porém os oficiais in gleses não lhe permitiram falar uma vez que nada desejavam saber Quando foi detido pelo Druid eram dez horas da manhã e se achava 163 em frente ao porto pois estava indo para dentro da Bahia de Todos os Santos onde pretendia ancorar No que se refere à equipagem informa que em sua matrícula constavam 18 pessoas e que havendo desembarcado alguns na Costa da África foi preciso suprir as faltas com pretos marinheiros37 De acordo com o contramestre da Destemida Joaquim Marques solteiro 30 anos súdito português a escuna era portuguesa de pro priedade do capitão Raimundo de Arribas que foi quem o nomeou na Ilha do Príncipe Ele não sabia fixar a residência do mesmo nem in formar se teria outra pessoa interessada na escuna e na negociação Quando questionado se conhecia na Ilha do Príncipe um senhor de nome Manoel Afonso Vicente da Conceição disse que não o conhe cia nem sabia que ele era o proprietário da escuna ou se teria algum interesse na mesma Sobre os africanos encontrados a bordo alega que eles foram embarcados em Ajudá e que por intermédio do ca pitão ficou sabendo que eram homens livres destinados a aprender um ofício Estes africanos teriam se escondido entre pipas tonéis e tábuas em função dos tiros dados pela fragata inglesa38 Os outros dois depoentes que compareceram perante a Comissão Mista foram Joaquim da Silva Neves solteiro 24 anos português embarcado na Ilha do Príncipe e João José solteiro 22 anos natural de Setúbal sú dito português O que vale destacar de seus relatos é o fato de ambos negarem conhecer Manoel Afonso Vicente da Conceição acreditando ser Raimundo de Arribas o dono da Destemida com quem fizeram seus ajustes Sobre os 50 africanos embarcados disseram que tal fato aconteceu em Ajudá porém segundo informações do capitão seriam homens livres destinados a aprender ofícios no Brasil39 Os subterfúgios da Destemida no circuito do tráfico ilegal No processo da escuna Destemida foram localizadas cartas e di versos documentos alguns encontrados a bordo da embarcação como é o caso do Alvará de Navegar e do Diário Náutico que nos au xiliam na reconstrução desse episódio acrescentando informações aos dados apresentados Estes documentos nos ajudam também a perceber como se dava a atuação dos traficantes e as redes formadas nesta conjuntura de proibições e repressão ao tráfico assim como os subterfúgios utilizados para dar prosseguimento ao mesmo Por 164 outro lado não podemos deixar de frisar que este material apesar de muito rico e valioso apresenta consideráveis dificuldades de análise em função de lacunas documentais difíceis de serem preenchidas No Alvará de Navegar encontramos uma autorização para a saída da escuna portuguesa Destemida do porto da Ilha do Príncipe com via gem em lastro para os portos da Costa da Mina e deles para a cidade da Bahia Segundo o mesmo documento a escuna tinha como mestre Raimundo de Arribas e como proprietário Manoel Afonso Vicente da Conceição morador da Ilha do Príncipe A tripulação era composta por 18 homens incluindo o mestre todos matriculados na Intendência da Marinha com a seguinte recomendação de João Maria Xavier de Brito então governadorgeral das ilhas do Príncipe e de São Thomé40 pelo que mando a todos os meus subordinados lhe dêem todo o favor e auxílio e aos que o não forem rogo que pro tejam ao dito mestre na certeza de que haverei com eles igual procedimento O Alvará foi passado na Cidade de Santo Antônio capital da lha do Príncipe em 15 de janeiro de 1830 com a assinatura do governa dor e o selo das armas reais41 Através deste documento podemos levantar a possibilidade do emprego de pelo menos dois subterfúgios utilizados durante o tráfico ilegal que também aparecem menciona dos nas declarações de Raimundo de Arribas quando presta seu de poimento perante a Comissão Mista As ilhas de São Tomé e Príncipe serviram como pretexto para o tráfico clandestino de escravos Diversos navios autorizados a co merciar na Costa da África recebiam a concessão de tocar essas ilhas Tal concessão acabava por justificar a presença dos navios ao norte da linha do Equador onde o comércio de escravos era consi derado ilegal Esta estratégia utilizada pelos contrabandistas não passou despercebida às autoridades britânicas que entre os anos de 1824 e 1825 enviaram algumas correspondências ao governo bra sileiro atentando para o fato O governo britânico pedia que fosse alterada a forma do passaporte pois com a permissão para tocar ou comercializar nas ilhas de São Tomé e Príncipe os navegadores se aproveitavam para contrabandear escravos Nessa ocasião as auto ridades inglesas enviaram uma relação de dez embarcações que se enquadravam neste mesmo padrão Todas haviam saído da Bahia42 165 Relação das embarcações que contrabandearam escravos na Costa da Mina Embarcação Porto de saída Destino Local da captura Data da captura Observações 1 Ninfa do Mar Bahia Ilhas de São Tomé e Príncipe Whydah Ajudá 641822 2 Defensora da Pátria Bahia São Tomé Old Calabar 2841822 100 escravos a bordo 3 Esperança Feliz Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Onim 741822 187 escravos a bordo 4 Estrella Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Após ter deixado o porto de Onim Condenada em Serra Leoa Havia escravos a bordo 5 Santo Antonio de Lisboa Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Após ter deixado Porto Novo Permaneceu em Porto Novo durante 5 meses Havia 336 escravos a bordo 6 Comerciante Bahia Molembo com escala por Camarões São Tomé e Príncipe Rio Camarões 791822 7 Conceição Bahia Molembo com escala por Camarões São Tomé e Príncipe Fora de São Tomé 13111822 Carga de 207 negros embarcados nos Camarões 8 Creola Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Lagos Onim 3011824 9 Cerqueira Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Onim Conduzida para Serra Leoa Como não tinha negros a bordo foi liberada 10 Minerva Bahia Molembo com escala por São Tomé e Príncipe Lagos Onim 3011824 Retornaria para o Rio de Janeiro com escala por Bahia e Pernambuco Fonte AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas tráfico de negros Correspondência entre a Secretaria de Estado e Autoridades Inglesas Lata 56 Maço 3 O outro ardil empregado diz respeito à declaração de que a em barcação estava voltando em lastro Este era um recurso utiliza do pelos traficantes após a carga já ter sido desembarcada Outro subterfúgio muito adotado era declarar um destino fictício antes da partida e na volta justificar o retorno por estar em arribada em decorrência de algum problema Tudo isso na tentativa de justificar a falta de vistos apropriados para os portos onde atracavam sem os devidos papéis43 166 Outro importante documento que nos ajuda a compor o quebra cabeça é a derrota da escuna Destemida que em sua primeira folha registra uma partida do porto de Ajudá a 26 de outubro de 1830 A 1 h de la tarde suspendimos de Ajudá para Bahia de Todos os Santos Apesar de anotada diariamente até 30 de novembro de 1830 não encontramos na dita derrota muitas informações a não ser aque las que dizem respeito à latitude longitude rumos ventos vela e condições do tempo e do mar44 Como visto anteriormente a partida do porto de Ajudá é confirmada nos depoimentos da equipagem da Destemida perante a Comissão Mista indo de encontro ao que decla rou inicialmente Raimundo de Arribas ao tenente da fragata inglesa Druid quando disse ter saído das ilhas de São Thomé e Príncipe para a Bahia em lastro Importante ponto de partida de escravos para o Novo Mundo o porto de Ajudá localizado na Costa da Mina Baía do Benim assumiu papel de destaque no comércio através do Atlântico e transformou se no mais importante porto negreiro da África Ocidental Se este porto já desfrutava de uma posição proeminente no início do século XVIII tal posição será reafirmada após sua conquista pelo reino do Daomé em 1727 reino que daí em diante passa a controlar o comér cio de escravos nesse porto Embora Ajudá fosse primordialmente um porto de tráfico de escravos não podemos deixar de destacar sua posição enquanto província integrada ao sistema político dao meano O estabelecimento da dominação daomeana inaugurou uma nova fase na administração de Ajudá introduzindo mudanças funda mentais especialmente a partir da ascensão de Gezo em 1818 quan do ficou estabelecido um novo padrão na administração dos portos comerciais controlados pelo reino do Daomé45 O comércio entre a Costa da Mina e a Bahia se desenvolveu a par tir do fim do século XVII Até meados do século XIX os negociantes da praça da Bahia mantiveram fortes relações com a região espe cialmente Ajudá relações estas que continuaram existindo apesar dos tratados e convenções a respeito da proibição do comércio de escravos Para prolongar o tráfico em Ajudá e em outros portos tanto ao norte quanto ao sul do Equador foi necessário o emprego de diversos subterfúgios O mestre da escuna Destemida declarou perante a Comissão Mista que os 50 africanos encontrados a bordo embarcaram em Ajudá como domésticos para vir aprender um ofício sendo desembarcados 167 com o consentimento do Governo da Bahia a partir do comprome timento de pagamento de uma fiança e de leválos de volta para a África ou para o porto de Ajudá assim que tivessem terminado de aprender seus ofícios46 Na época do contrabando de africanos houve algumas tentativas de introdução de escravos no Brasil sob o pretexto de que estes co lonos ou domésticos que estariam vindo a fim de aprender ofícios Como podemos perceber tratase de mais uma das estratégias dos traficantes A ideia de qualificação profissional fazia parte do projeto de assentamento de africanos livres nas Américas e o comandante Arribas parecia estar a par disso e fazer uso do argumento para justi ficar a presença daqueles 50 homens em sua embarcação47 Segundo Pierre Verger a Destemida teria se beneficiado também do uso de bandeiras estrangeiras Em função das medidas abolicio nistas a utilização da bandeira brasileira tornavase muito arriscada para aqueles que continuaram a traficar Na tentativa de burlar as leis em vigor navegar com papéis e bandeira de uma outra nacionalidade passou também a ser uma estratégia empregada pelos traficantes48 Na documentação da Destemida a única informação sobre o uso de bandeiras aparece no depoimento de Raimundo de Arribas Quando indagado se a bordo da escuna havia outra bandeira além da portu guesa respondeu que sim que havia uma usada para fazer sinais a terra para chamar canoas A mesma pergunta foi feita para os demais membros da equipagem mas todos afirmaram ter visto apenas a ban deira portuguesa49 Diversas outras pistas sobre esse caso e sobre a atuação das re des comerciais surgem a partir da análise de outros documentos en contrados a bordo da escuna Destemida Nesse caso estou me refe rindo a quatro cartas assinadas por ninguém menos que o famoso negociante Francisco Félix de Souza sendo três delas endereçadas a Raimundo de Arribas e uma a José Alves da Cruz Rios importante comerciante da praça da Bahia50 Francisco Félix de Souza importante traficante de escravos brasileiro teve papel de destaque na organização da comunidade afrobrasileira e na história política e econômica do Daomé tendo auxiliado o futuro rei Gezo em seu golpe de Estado em 1818 Neste momento os ingleses já haviam começado sua cruzada internacio nal pelo fim do tráfico de escravos no Atlântico Félix de Souza pas sou a ocupar o cargo de Chachá e a funcionar como principal agente 168 comercial de Gezo em Ajudá transformandose no grande intermedi ário entre o rei e os comerciantes europeus assim permanecendo até sua morte em 1849 A ascensão de Gezo ao trono ocorreu durante o período de transição do tráfico ilegal de escravos para o comércio legítimo quando passou a predominar a exportação do azeite de dendê Entretanto tanto Gezo quanto Félix de Souza mantiveram seu envolvimento com o antigo comércio de escravos51 Segundo Robin Law é rica e pormenorizada a informação exis tente sobre as atividades mercantis do Chachá na documentação re lativa à busca e à apreensão de navios negreiros pelos cruzadores ingleses Por meio desta documentação é possível identificarmos também outros indivíduos envolvidos no tráfico de escravos em Ajudá seja como sócios seja como competidores de Francisco Félix de Souza As atividades mercantis de Félix de Souza se estendiam a oeste de Ajudá a Popó Pequeno e a leste a Porto Novo Badagri e Lagos Onim operando então em escala internacional52 As cartas de Félix de Souza endereçadas a Raimundo de Arribas versam sobre o embarque de uma carga de 50 dentes de elefante na escuna Destemida sob sua responsabilidade Raimundo de Arribas seria interessado na terça parte do carregamento e dois dentes de elefantes pertenceriam a José da Silva Rios A carta endereçada a José Alves da Cruz Rios datada de 24 de outubro de 1830 segundo o Diário Náutico dois dias antes da partida da Destemida do Porto de Ajudá complementa e ratifica tais informações Hoje larga a escuna Destemida com 50 dentes de elefante pe sando 2835 livros No caso que a escuna esteja capaz de fazer obra Vmce me fará o favor de a mandar pôla pronta carregando o que já fiz ciente ilegível Jozé da Silva Rios hé interessado na terça parte do marfim que leva a dita o capi tão Raimundo de Arribas e caso se acha a Escuna capaz de fazer outra viagem tomará interesse o mesmo Raimundo em a terça parte da ilegível escuna ilegível e carregamento cen do que a dita escuna não se possa fazer a obra fará Vmce o que melhor lhe parecer ilegível entra na conta dos 50 dentes dois que pertence ao Sr Jozé da Silva Rios com 40 e 45 livros sendo que ilegível do agrado de Vmce querer interessar na terça parte da dita he obséquio que me faz nada mais tenho a dizerlhe a esse respeito para que estou certo que tudo quanto 169 faça será do mui agrado estimando Esteje com prefeita saúde Francisco Félix de Souza53 O número de dentes de elefantes que Francisco Félix de Souza informa ter embarcado corresponde exatamente ao número de escra vos encontrados a bordo da escuna Além disso todas as pessoas da tripulação que compareceram perante a Comissão Mista para prestar seus depoimentos exceto o mestre negaram a presença dos ditos dentes a bordo da escuna ou pelo menos não sabiam dessa carga devendo os 50 dentes de elefante certamente corresponder aos 50 africanos aí encontrados Não é de surpreender que tenha sido essa a conclusão da Comissão Mista54 Embora seja ainda necessário encontrar documentação comple mentar fica patente que Francisco Félix de Souza mantinha fortes relações comerciais com José Alves da Cruz Rios Considerada sua responsabilidade no negócio e a possibilidade de uma viagem futu ra da escuna é possível supor que mantivessem negócios regulares Sabemos que José Alves da Cruz Rios era um importante negocian te da praça da Bahia fazendo parte daqueles comerciantes baianos que acumularam fortunas consideráveis tanto no tráfico de escravos quanto em outras operações comerciais Pierre Verger encontrou nos arquivos 28 partidas de seus navios para a Costa da África entre 1806 e 1833 Cruz foi proprietário das seguintes embarcações as goeletas Rosália Carolina Fortuna Marianna os brigues Tibério II e Clara e as sumacas S João Espardate Trajano e Esperança Das 18 partidas no período do tráfico clandestino em apenas duas ocasiões suas em barcações foram apreendidas pelos cruzadores britânicos a saber a Trajano e a Esperança55 Cruzando as informações de Verger com os dados obtidos a partir da análise dos processos que compõem a coleção referente à Comissão Mista Brasil GrãBretanha pudemos constatar que os nomes de José Alves da Cruz Rios e José da Silva Rios aparecem duas vezes O primeiro aparece como proprietário e o segundo como comandante das duas embarcações apresadas pe los cruzadores britânicos A escuna Esperança brasileira foi apreendida pela fragata inglesa de S M B Sybilla comandante Francis August Collier em Lagos na Baía do Benim e levada para Serra Leoa De acordo com seu passa porte a embarcação saiu da Bahia com destino a Cabinda no dia 9 de março de 1828 de onde retornaria para o Rio de Janeiro com escala 170 pelos portos do Brasil Segundo o mestre da escuna esta teve de arri bar em função de um forte temporal Embora não tenham sido encon trados escravos a bordo o navio foi condenado juntamente com sua carga transportava aguardente espingarda e outras mercadorias empregadas na troca por escravos na Costa da África em sentença proferida em Serra Leoa a 26 de maio de 182856 Já o brigue Trajano brasileiro foi apresado pelo navio de S M B Maidstone comandante Charles Bullen em Ajudá e levado para Serra Leoa O brigue saíra da Bahia para Molembo em 27 de janeiro de 1827 para resgatar escravos com regresso para o mesmo porto Segundo o comandante do Trajano por contratempos em sua nave gação e por necessidades de mar entrou por arribada57 em Ajudá Achavase aí trocando fazenda por búzios em função da necessidade da negociação em Molembo quando foi apreendido pela fragata in glesa Alega ainda o comandante que o brigue se achava fundeado de baixo da proteção do Forte Português58 circunstância na qual pelo artigo II das Instruções da Convenção de 1817 não era permitida a detenção A bordo foram encontradas as seguintes mercadorias ta baco aparelhos mobílias fazendas e outros Como no caso anterior mesmo não tendo sido encontrados escravos a bordo o brigue foi considerado boa presa e condenado em sentença de 30 de abril de 182759 Como podemos perceber a rota BahiaCosta da Mina era bem conhecida e utilizada por José Alves da Cruz Rios que no caso do brigue Trajano julgado anteriormente à escuna Destemida alegou estar fundeado debaixo do Forte Português Além disso já era bem familiar a este negociante o emprego de diversos subterfúgios para despistar a repressão ao tráfico e os cruzadores ingleses responsá veis pela patrulha dos mares Nos casos do brigue Trajano e da escu na Esperança o artifício utilizado foi a emissão do passaporte cons tando como portos de destino Molembo e Cabinda respectivamente Cabinda e Molembo eram portos onde mesmo após a convenção de 1815 ainda era permitido o comércio de escravos Por isso ser viram diversas vezes como álibi para os negociantes que queriam continuar a fazer clandestinamente seu tráfico em Ajudá Porto Novo Badagri e Lagos As embarcações saíam do Brasil com passaportes autorizados para se abasteceram de escravos ao sul do Equador mas dirigiamse aos portos proibidos da Costa da Mina Este era um 171 subterfúgio empregado sobretudo pelos negociantes da praça da Bahia60 A participação de Francisco Félix de Souza e Raimundo de Arribas na negociação da carga da Destemida levanta suspeitas sobre a vera cidade da propriedade da escuna por parte de Manoel Afonso Vicente da Conceição É mais do que conhecido que as cargas e a proprieda de dos navios eram falsificados na época do tráfico ilegal Além disso sabemos também que Francisco Félix de Souza não apenas supria os navios na África mas embarcava escravos para as Américas por sua própria conta61 Para completar suas embarcações aportavam regularmente na Ilha do Príncipe a fim de ali obter passaportes das autoridades portuguesas como nos informa Robin Law62 As evidên cias não param por aí Foi encontrada a bordo da Destemida uma declaração assinada por Antônio Pedroso de Albuquerque datada de 1828 informando que apesar de os despachos e justificação de propriedade da escuna Zephiro estarem em seu nome nenhum inte resse ou parte teria ele no casco e aparelho da dita embarcação que pertenceria a Francisco Félix de Souza e Raimundo de Arribas capi tão da mesma63 Ou seja pelo menos mais uma vez a dupla Félix de Souza e Raimundo de Arribas aparece envolvida com embarcações atuantes durante o período do contrabando de africanos Será que ela estava em ação novamente Dentro desse contexto podemos fazer algumas suposições ainda não comprovadas como a de que José Alves da Cruz Rios Francisco Félix de Souza e Raimundo Arribas fariam parte de uma rede de rela ções comerciais Tal hipótese se baseia na carta encontrada a bordo da Destemida na qual se aventa a possibilidade de negociações fu turas e no caso do brigue Trajano Não podemos esquecer tampou co que de um lado João Marques Joaquim da Silva Neves e João José indicaram Raimundo de Arribas como proprietário da escuna Destemida nos seus depoimentos com ele fizeram seus ajustes na Ilha do Príncipe e de outro os três declaram não conhecer nem Manoel Vicente nem Francisco Félix de Souza Restam ainda portan to dúvidas quanto ao papel de Manoel Afonso Vicente da Conceição em relação à propriedade da escuna assim como de sua participação na mesma rede comercial nessa e em outras ocasiões64 A relação entre Manoel Vicente e os demais aparece de for ma menos clara mas igualmente demarcada Quando indagado na Comissão Mista sobre o fato de o passaporte indicar Manoel Afonso 172 Vicente da Conceição como proprietário da Destemida quando a cor respondência indicava ser Francisco Félix de Souza o mandante da operação Raimundo de Arribas respondeu que Vicente seria apenas um amigo do dono da escuna sem interesse algum na negociação Nesse caso esta amizade certamente se estabelecia através de la ços comerciais entre eles Já sobre o documento que se referia à es cuna Zephiro Arribas informou que essa declaração se encontrava em seu poder por estar interessado na mesma sendo mais difícil nesse caso estabelecer as devidas conexões65 Antes de passar para o próximo tópico vale a pena tecer algumas considerações a respeito de Antônio Pedroso de Albuquerque Da mesma maneira que José Alves da Cruz Rios Pedroso de Albuquerque era um proeminente negociante da praça da Bahia que acumulou fortuna dedicandose ao tráfico de escravos e a outras operações comerciais Pierre Verger encontrou 31 saídas de embarcações suas dedicadas ao tráfico de escravos tendo quatro sido apresadas pe los cruzadores britânicos66 a saber bergantim Príncipe de Guiné goeleta Vênus brigue Venturoso bergantim Creola67 Conferindo com os dados extraídos dos navios julgados perante a Comissão Mista encontrei três embarcações suas processadas a sumaca Criola co mandante André Pinto da Silveira68 o brigue Venturoso comandante Joaquim Pinto de Sousa69 e o famoso Príncipe de Guiné comandante Manoel Joaquim de Almeida70 O veredicto final da Comissão Mista No dia 21 de dezembro de 1830 o Jornal do Commercio publica a seguinte nota A fragata inglesa Druyd chegou a este porto trazendo em sua conserva a escuna portuguesa Destemida que fôra apresada pela dita fragata na altura do Morro de S Paulo onde perten dia sic desembarcar escravatura contra os Tratados existen tes entre este Império e a Gram Bretanha e entre esta ultima potência e Portugal Dizem que a Comissão Mista Brasileira e Inglesa condenará tanto esta como as outras embarcações portuguesas que tem importado escravatura por contrabando nos portos do Império Consta igualmente que da Inglaterra 173 tem sido enviados novos vasos de Guerra à fim de vedarem a continuação do tráfico na Costa dÁfrica71 Como podemos perceber corria na Corte a notícia da possível condenação da escuna Tal especulação seria confirmada pela sen tença A Comissão Mista Brasileira e Inglesa conclui seus trabalhos e chega a um veredicto no dia 22 de janeiro de 1831 Segundo os autos na conformidade do artigo 3º da Convenção de 28 de julho de 1817 adicional ao Tratado de 15 de janeiro de 1815 e Tratado de 23 de novembro de 1826 a Comissão julgou legal a detenção da escuna Destemida portuguesa de propriedade de Manoel Afonso Vicente da Conceição súdito português da praça da Ilha do Príncipe Segundo o Artigo 7º do Regulamento das Comissões Mistas os escravos encon trados a bordo dela estavam sujeitos à disposição do 2º do Alvará de 26 de janeiro de 1818 e deveriam ser libertos recebendo suas car tas de liberdade Por não se achar compreendido no Artigo 1º do ci tado Alvará o casco e o aparelho da dita escuna foram relaxados72 Declara ainda a Comissão que embora os apelide domésticos e ale gue que os trouxera para aprender ofícios desembarcandoos com a faculdade do Governo da Bahia a intenção de Raimundo Arribas foi conduzir os escravos na cidade de Salvador Conclui a Comissão que não pode admitir tais pretextos arbitrários figurando o embarque dos escravos em questão pelo de dentes de elefantes Por todas es sas razões declararam os escravos em número de 50 todos do sexo masculino naturais da Costa da África livres e emancipados e postos à disposição do Governo de SMB Imperador como criados e trabalhadores livres73 A cada um dos 50 africanos da escuna Destemida foi concedida carta de liberdade nos termos abaixo Devem ter sido todos batiza dos tendo sido Fortunato o primeiro a receber a carta de liberdade e emancipação Dom Pedro Primeiro por graça de Deus e unânime aclamação dos povos Imperador constitucional e perpétuo defensor do Império do Brasil Faço saber que tendose em conformidade da Convenção de 28 de julho de 1817 adicional ao Tratado de 22 de janeiro de 1815 julgado por sentença da Comissão Mista estabelecida nesta cidade sobre o tráfico da escrava tura de 22 de janeiro do corrente boa presa os escravos da Escuna Destemida de que era mestre Raimundo de Arribas e 174 proprietário Manoel Afonso Vicente da Conceição da Ilha do Príncipe por ser apreendida no tráfico ilícito da escravatura e havidos por emancipados e livres do cativeiro os escravos vindos a bordo da dita Escuna Destemida Sou servido deter minar que de ora em diante e por esta carta fique considerado o preto Fortunato de nação nagô sem marca livre e emancipado da escravidão para ser empregado na conformidade do artigo sétimo do Regulamento anexo à dita Convenção e do Alvará de 26 de janeiro de 1818 como criado ou trabalhador livre E esta se cumprirá como se contem e declara sem dúvida nem emba raço algum registrandose no livro da Comissão O Imperador constitucional o mandou Os comissários da Comissão Mista abaixo assinaram Theophilo de Mello Secretário interino e in térprete da Comissão Mista o escrevi Rio de Janeiro 22 de janei ro de 1831 Alexandre Cunningham João Carneiro de Campos número hum Lugar do sello Imperial da comissão74 De acordo com a lista das cartas de liberdade dadas aos africanos encontrados na Destemida ver anexo eles perfaziam um total de 50 escravos todos homens com nomes cristãos e sem marcas sendo 28 ditos nagô 20 ditos gege um dito nagô ou gege e um sem informação A variedade da procedência dos africanos traficados no período do tráfico ilegal não está sendo analisada aqui mas é impor tante destacar a presença de um número representativo de escravos gbe ditos gege no grupo apreendido Da mesma forma devese no tar o fato de terem sido supostamente embarcados 20 escravos ditos nagô ou seja iorubas no Porto de Ajudá e não nos portos a leste como Porto Novo Badagri e Onim Vale ainda destacar que o uso do termo gege não é usual no Rio de Janeiro estando esta classifica ção provavelmente associada ao fato de a embarcação estar na rota entre a Bahia e Ajudá Por fim deve ser também notado que assim como Fortunato nenhum dos africanos da escuna Destemida trazia marcas Na Bahia os nagôs costumam ser identificados por suas marcas faciais o que faz refletir sobre a que marca estaria se referin do o autor das cartas de liberdade75 já que além das marcas étnicas os africanos eram também marcados com a marca de seus compra dores76 Provavelmente tratase de ausência da informação por oca sião da identificação dos africanos e não de marcas propriamente já que seria muito improvável que em meio a 50 deles nenhum portas se qualquer tipo de marca 175 Os africanos livres vindos a bordo da Destemida para o Rio de Janeiro Os africanos que receberam cartas de liberdade passaram a fa zer parte do grupo conhecido como africanos livres Como visto anteriormente este novo status jurídico surgiu com a finalidade de legalizar a situação dos africanos desembarcados de navios apresa dos pela Comissão Mista77 Diversos autores inclusive contemporâ neos à época tal como Perdigão Malheiro e Tavares Bastos apon tam para a má condição de vida a que eram submetidos os africa nos livres no Brasil nivelados aos de mais baixa condição ou seja aos escravos78 Os emancipados mantidos sob controle direto do Governo eram utilizados principalmente em ocupações urbanas tra balhando em abertura de estradas conservação e limpeza das ruas cemitérios e serviços afins Eles podiam ser encontrados servindo em fábricas de pólvora em fábricas de ferro nas obras da estrada da Serra da Estrela nas obras da Casa de Correção da Corte79 na Câmara Municipal de Niterói no Cemitério de Maruí em Niterói na Biblioteca Nacional no Corpo Policial da Província entre outros esta belecimentos Já os africanos livres arrematados a particulares eram em sua maioria empregados no serviço agrícola ou doméstico como a maior parte dos escravos no Brasil80 Segundo Perdigão Malheiro nas cidades os emancipados também eram empregados pelos parti culares no ganho ou em outros fins lucrativos e não no serviço pes soal desses concessionários conforme as instruções Empregando os nas ruas os arrematantes ganhavam mais por mês do que eram obrigados por eles anualmente81 Os africanos libertos vindos a bordo da escuna Destemida devem ter tido destino semelhante ao de todos os outros permanecendo no anonimato da sociedade escravista Por outro lado uma vez oriun dos da Costa da Mina como mostra a historiografia recente podem ter trilhado uma outra história A riqueza das experiências vividas no Rio de Janeiro pelos africanos conhecidos como minas permite aventar o desenrolar de trajetórias pessoais extraordinárias que se destacam entre as demais82 Consultando a bibliografia em busca de pistas constatei a presença na cidade do Rio de Janeiro de vários afri canos livres de nação mina gêge e nagôs como os da Destemida Ao identificar os africanos envolvidos na prática da capoeira na pri meira metade do século XIX Carlos Eugênio Líbano Soares identifica 176 uma minoria mina em relação aos demais africanos Entretanto eram os minas os que causavam maiores problemas aos responsáveis pela ordem pública e entre eles os livres libertos e africanos livres mais que os escravos83 Beatriz G Mamigonian escreveu um artigo no qual destaca a trajetória de um grupo de africanos livres de nação mina que veio da Bahia para o Rio de Janeiro e São Paulo detalhando sua luta pela emancipação Segundo o argumento da autora estes africa nos livres usaram a identidade étnica para pressionar os funcioná rios do governo imperial e os arrematantes de seus serviços a reco nhecerem seu status jurídico distinto e concederem sua liberdade84 Contudo infelizmente o destino dos africanos livres oriundos da Costa da Mina vindos a bordo da escuna Destemida ainda é desco nhecido Como podemos perceber pela notícia abaixo praticamente um mês após proferida a sentença pela Comissão Mista os africanos ainda permaneciam a bordo da Destemida Em solução ao ofício que VSª me dirigiu com data de 18 do corrente acerca de não terse ainda efetuado o desembarque dos 50 pretos conduzidos pela escuna portuguesa Destemida que a comissão respectiva julgou libertos tenho de significar a VSª que nesta ocasião torno a oficiar com urgência ao Sñr Ministro da Fazenda a este respeito Deus guarde a VSª Paço em 21 de fevereiro de 183185 Como conclusão espero que o presente capítulo tenha contribuí do para a reflexão sobre os pretosminas do Rio de Janeiro a fim de mostrar que muitos deles devem ter aqui chegado via tráfico ilegal Se os que aqui foram desembarcados com sucesso entre 1830 e 1856 devem ter vindo primordialmente dos portos da África centrooci dental de onde devem ter sido logo enviados às fazendas de café do vale do Paraíba86 os apresados pela Comissão Mista muitos deles destinados à Bahia como os da Destemida vinham da Costa da Mina Assim sendo as rotas entre os portos da África e do Brasil devem ser minuciosamente investigadas para que junto com a documentação local possam contribuir para um melhor entendimento da composi ção da população escrava no período do tráfico ilegal de escravos 177 ANEXO Registro das cartas de alforria dos pretos e pretas africanos libertos vindos a bordo da escuna Destemida87 Nº Nome Nação Marca 1 Preto Fortunato Nagô Sem marca 2 Preto Simplício Nagô Sem marca 3 Preto Policarpio Nagô Sem marca 4 Preto Justino Nagô Sem marca 5 Preto Valentim Nagô Sem marca 6 Preto Amaro Nagô Sem marca 7 Preto Roque Nagô Sem marca 8 Preto Francisco Nagô Sem marca 9 Preto Antonio Nagô Sem marca 10 Preto Leão Nagô Sem marca 11 Preto ilegível Nagô Sem marca 12 Preto Pantaleão Nagô Sem marca 13 Preto Felício Nagô Sem marca 14 Preto Felisberto Nagô Sem marca 15 Preto ilegível Nagô Sem marca 16 Preto rapaz Gregório Nagô Gege Sem marca 17 Preto rapaz Tibúrcio Nagô Sem marca 18 Preto rapaz Tristão Nagô Sem marca 19 Preto rapaz Felippe Nagô Sem marca 20 Preto rapaz sem nome Nagô Sem marca 21 Preto rapaz Felizardo Nagô Sem marca 22 Preto rapaz Aleixo Gege Sem marca 23 Preto rapaz ilegível Gege Sem marca 24 Preto rapaz Lucio Gege Sem marca 25 Preto rapaz Joaquim Gege Sem marca 26 Preto rapaz Pedro Gege Sem marca 27 Preto rapaz Paulo Gege Sem marca 28 Preto rapaz Paulino Gege Sem marca 29 Preto rapaz Adão Gege Sem marca 30 Preto rapaz João Gege Sem marca 31 Preto rapaz Jorge Gege Sem marca 32 Preto rapaz Luiz Gege Sem marca 33 Preto rapaz sem nome Sem marca 34 Preto rapaz Lucianno Gege Sem marca 35 Preto rapaz Lucas Gege Sem marca 36 Preto rapaz Mathias Nagô Sem marca 37 Preto rapaz Matheus Nagô Sem marca 38 Preto rapaz Eduardo Nagô Sem marca 39 Preto rapaz Romão Nagô Sem marca 40 Preto rapaz Thomas Gege Sem marca 41 Preto rapaz Zacarias Gege Sem marca 42 Preto rapaz Florêncio Gege Sem marca 43 Preto rapaz sem nome Gege Sem marca 44 Preto rapaz Severianno Gege Sem marca 45 Preto rapaz Domingos Gege Sem marca 46 Preto rapaz André Nagô Sem marca 47 Preto rapaz Alberto Nagô Sem marca 48 Preto rapaz Nicolão Nagô Sem marca 49 Preto rapaz Conrado Gege Sem marca 50 Preto rapaz Julião Nagô Sem marca Beatriz Mamigonian leu João Fonte Arquivo Nacional Códice 184 Volume 3 Agradeço a Beatriz G Mamigonian o envio de sua transcrição do documento O cruzamento de minha transcrição com a dela permitiu a elucidação de partes de maior dificuldade de leitura do documento ampliando sua compreensão 178 Notas 1 Jornal do Commercio 20121830 2 Tal medida passa a vigorar a partir de 1º de janeiro de 1808 3 Sobre o processo de abolição do tráfico no que diz respeito ao Brasil entre outros ver GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico São Paulo AlfaOmega 1975 BETHELL Leslie A abolição do tráfico de escravos no Brasil a GrãBretanha o Brasil e a questão do tráfico de escravos 18071869 Rio de Janeiro Expressão e Cultura São Paulo EDUSP 1976 CONRAD Robert Os eman cipados nem escravos nem libertos In Tumbeiros o tráfico de escravos para o Brasil São Paulo Brasiliense 1985 RODRIGUES Jaime O infame comércio propostas e experiências no final do tráfico de africanos para o Brasil 18001850 Campinas SP CECULT UNICAMP 2000 PIRES Ana Flavia Cicchelli Tráfico ilegal de escravos os caminhos que levam a Cabinda 2006 Dissertação Mestrado em His tória Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 Algumas questões referentes a esse processo são contempladas ainda em MALHEIRO Perdigão A escravidão no Brasil ensaio histórico jurídico e social 3 ed Petrópolis Vozes Brasília DF INL 1976 2v BASTOS A C Tavares Cartas do solitário São Paulo Companhia Ed Nacional Brasília DF INL 1975 4 Os direitos sobre tais territórios já haviam sido disputados pelo governo da França 5 Tratado de Amizade e Aliança entre o Príncipe Regente de Portugal e ElRey do Rei no Unido da GrãBretanha e Irlanda assinado em 19 de fevereiro de 1810 Collecção das Leis do Império do Brasil 1810 BN Segundo Maurício Goulart o compromisso português nessa ocasião foi mais além uma vez que comprometeuse o príncipe regente depois de reafirmar o intento de cooperar eficazmente na causa de huma nidade tão gloriosa sustentada pela Inglaterra a abolir de pronto todo o comércio e tráfico de escravos nos estabelecimentos de Bissau e Cacheu GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico São Paulo Alfa Omega 1975 p 2201 grifos do autor 6 Segundo Pierre Verger as embarcações apresadas e os locais de captura foram 1 Brigue Falcão Porto Rico 2 Bergantim Bom Amigo Cuba 3 Galera Urbano Ca binda 4 Brigue Calipso Onim 5 Bergantim Vênus Badagri 6 Goeleta Volante Cabinda 7 Goeleta Marianna Jaquejaque 8 Bergantim Prazeres não consta 9 Sumaca não consta 10 Sumaca Flor do Porto ou Cavalinho Onim 11 Bergantim S Joãozinho Cape Coast 12 Bergantim Americano não consta 13 Bergantim Desti no Porto Novo 14 Bergantim Dezengano não consta 15 Bergantim Piedade não consta 16 Bergantim Fragatinha Onim 17 Sumaca Santo Antonio Onim Do total de embarcações apresadas 12 pertenciam a negociantes da Bahia A saber nº 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 e 16 Embora Verger informe serem as embarcações em número de 12 em sua listagem constam 13 como pertencentes a esta praça VER GER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 3258 p 3512 nota 15 Esta é uma evidência do enraizamento do tráfico na Bahia 7 O comércio de escravos entre o Brasil e a Costa da Mina encontravase dessa manei ra proibido 8 Tratado de 22 de Janeiro de 1815 Collecção das Leis do Império do Brasil 1815 BN Durante este Congresso as principais nações concordaram em abolir o comércio escravista exceto Portugal Espanha e França Porém logo depois em novembro de 1815 a França adota a mesma resolução Dessa maneira Portugal e Espanha foram as únicas nações que permaneceram ativas no comércio escravista KLEIN Herbert O fim do comércio de escravos In O comércio atlântico de escravos quatro séculos de comércio escravagista Lisboa Replicação 2002 p186 179 9 Convenção Adicional de 28 de julho de 1817 Collecção das Leis do Império do Brasil 1817 BN Anexo a essa Convenção encontramos os seguintes atos ou ins trumentos 1 Formulário de passaporte para os navios mercantes portugueses que se destinarem ao tráfico lícito da escravatura 2 Instruções para os navios de guerra das duas nações que forem destinados a impedir o tráfico ilícito de escravos 3 Re gulamento para as Comissões Mistas que residirão na Costa dÁfrica no Brasil e em Londres 10 Artigo separado da Convenção assinada aos 28 de julho de 1817 Collecção das Leis do Império do Brasil 1817 BN 11 Anexo nº 3 Regulamento para as Comissões Mistas que devem residir na Costa da África no Brasil e em Londres Collecção das Leis do Império do Brasil 1817 BN 12 Alguns navios embora poucos foram conduzidos para a Ilha de Santa Helena e aí julgados 13 Alvará com força de lei de 26 de janeiro de 1818 Collecção das Leis do Império do Brasil 1818 BN 14 FLORENTINO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro séculos XVIII e XIX São Paulo Companhia das Letras 1997 p149 15 Consultando os processos referentes às embarcações apresadas e julgadas perante a Comissão Mista Brasil GrãBretanha consegui localizar 16 que foram apreendidas no período compreendido entre 1817 e 1825 Deste total 11 haviam saído da Bahia uma retornaria para esses mesmos portos duas saíram de Pernambuco e uma havia saído de Lisboa Havia ainda uma escuna inglesa que saíra de Gibraltar AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros 16 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 32932 17 BETHELL Leslie A abolição do tráfico de escravos no Brasil a GrãBretanha o Brasil e a questão do tráfico de escravos 18071869 Rio de Janeiro Expressão e Cultura São Paulo EDUSP 1976 p 34 GOULART Maurício A escravidão africana no Brasil das origens à extinção do tráfico São Paulo AlfaOmega 1975 p 240 18 Vale destacar que o reconhecimento da Independência por parte da Coroa britânica estava vinculado à abolição do comércio de escravos pelo Brasil Sem o reconheci mento inglês ficava difícil fazer o comércio marítimo 19 Convenção de 23 de novembro de 1826 Collecção das Leis do Império do Brasil 1826 BN O Tratado de 1826 estipulou que no período compreendido entre 1827 e 1830 os cruzadores britânicos continuariam a operar de acordo com a Convenção de Direito de Busca firmada em 1817 entre Inglaterra e Portugal BETHELL Leslie A abolição do tráfico de escravos no Brasil a GrãBretanha o Brasil e a questão do trá fico de escravos 18071869 Rio de Janeiro Expressão e Cultura São Paulo EDUSP 1976 p 95 20 BETHELL Leslie A abolição do tráfico de escravos no Brasil a GrãBretanha o Brasil e a questão do tráfico de escravos 18071869 Rio de Janeiro Expressão e Cultura São Paulo EDUSP 1976 p734 21 Com relação aos conflitos gerados na Costa da África quando do anúncio do fim do comércio de escravos para o Brasil especialmente na costa centroocidental vide FERREIRA Roquinaldo Amaral Dos sertões ao Atlântico tráfico ilegal de escravos e comércio lícito em Angola 18301860 Dissertação de Mestrado em História Uni versidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 1996 Ainda do mesmo autor Escravidão e revoltas de escravos em Angola 18301860 AfroÁsia Salvador n 2122 p 944 19981999 180 22 FLORENTINO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro séculos XVIII e XIX São Paulo Companhia das Letras 1997 p47 Luís Henrique Dias Tavares também ressalta em seu trabalho que os proprietários endividados inclusive ministros imperiais acabaram ficando nas mãos dos traficantes e agentes do comércio de escravos isso já na conjuntura pós1830 TAVARES Luís Henrique Dias Comércio proibido de escravos Rio de Janeiro Ática 19 p1 301 23 De acordo com Mary Karasch grandes somas de dinheiro foram gastas com subornos que eram distribuídos no Brasil para capitães do porto agentes alfandegários juízes municipais e até mesmo para o chanceler da legação portuguesa Ressalta ainda a autora que ao lado da cooperação dos oficiais do governo e dos políticos muitos brasileiros ajudavam as embarcações negreiras a desembarcar na costa dando infor mações a respeito dos lugares de desembarque localização dos cruzeiros ingleses e condições do mercado KARASCH Mary The brazilian slavers and the illegal slave trade 18361851 Tese Mestrado University of Wisconsin Wisconsin 1967 p 43 Sobre as propinas recebidas pelas autoridades brasileiras e sobretudo pelo chance ler português ver ALCOFORADO Joaquim de Paula Guedes História sobre o infame negócio de africanos da África Oriental e Ocidental com todas as ocorrências desde 1831 a 1853 In FERREIRA Roquinaldo Amaral O relatório alcoforado Estudos Afro Asiáticos Rio de Janeiro v 28 p 21929 out 1995 24 Sobre o volume do tráfico transatlântico de escravos entre outros ver ELTIS David Economic growth and the ending of the Transatlantic Slave Trade New York Oxford University Press 1987 p 2434 25 Após 13 de março de 1830 ainda serão promulgadas duas leis com o objetivo de pôr fim ao tráfico atlântico de escravos Lei de 7 de novembro de 1831 e Lei de 4 de setembro de 1850 26 Não encontrei nenhuma outra atuação do Druid nem de seu comandante nos proces sos da Comissão Mista Brasil GrãBretanha Vale ressaltar que em alguns casos não consta tal informação 27 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 28 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 29 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 30 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 31 Derrota é o roteiro das viagens marítimas A derrota da escuna Destemida encontrase entre os documentos do seu processo na Comissão Mista AHI III Coleções Espe ciais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 32 O tráfico de escravos ao sul do Equador continuou a ser legal para os nacionais por tugueses até 1836 Vale ressaltar que até o Equipment Act de 1839 que autorizava a captura dos navios aparelhados para o tráfico de escravos as embarcações portu guesas só podiam ser apreendidas pela Marinha britânica se tivessem carga humana a bordo 33 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 34 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 181 35 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 36 Um aviso com data de 15 de janeiro de 1831 foi expedido pela Comissão Mista solici tando que o mestre da escuna Destemida ou quem autorizado fosse para fazer recla mações sobre a mesma se apresentasse impreterivelmente até a terçafeira seguinte à publicação do aviso No dia 21 de janeiro Raimundo Arribas apresenta uma petição à Comissão Mista AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil Grã Bretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 37 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 38 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 39 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 40 Xavier de Brito era também Comendador da Ordem Militar de São Bento de Aviz e Brigadeiro do Real Exército português 41 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 42 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Correspondência entre a Secretaria de Estado e Autoridades Inglesas Re cebida Do Cônsul Inglês Lata 56 Maço 3 Correspondência entre a Secretaria de Estado e Autoridades Brasileiras Recebida Governo das Províncias Lata 55 Maço 3 Pierre Verger também está atento a este fato e transcreve em seu trabalho parte de uma das cartas enviadas VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 4425 43 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 45761 44 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 45 SOUMONNI Elisée Daomé e o mundo Atlântico Rio de Janeiro CEAAUCAM Ams terdã SEPHIS 2001 46 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 O caso é resumida mente relatado por VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 448 47 Como já foi visto o surgimento da categoria africano livre está associado à proibição do tráfico atlântico pelos ingleses em 1807 o que afeta todas as áreas escravistas das Américas especialmente o Brasil e o Caribe Analisando o caso das Bahamas Gail Saunders mostra que entre 1811 e 1860 aproximadamente 6 mil africanos livres foram enviados às Bahamas A primeira razão para essa concentração parece ter sido a posição das Bahamas na rota das embarcações negreiras entre a África e Cuba Assim como no Brasil ao serem liberados esses africanos ficavam sob a respon sabilidade do Chief Customs Officer para terem algum tipo de aprendizado junto a senhores que pudessem ensinarlhes alguma forma de comércio ou atividade manual in order for them to learn a trade or handicraf pelo período de 14 anos Ver SAUN DERS Gail The liberated africans Disponível em httpwwwthenassauguardian comsocialcommunity292447452164802php 182 48 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 44950 Esta não seria a única vez em que esta embarcação faria uso da bandeira de outra nacionalidade De acordo com o autor o Destemido por volta de 1833 teria sido equipado para o comércio de escravos tendo partido para a Costa da África sob as cores portuguesas estando munido com um duplo jogo de papéis o que lhe possibi litava içar bandeira argentina VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 451 Não tive como confirmar se este Destemido datado de 1833 é a mesma Destemida 49 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 50 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 Como bem nos informa Pierre Verger grande parte dos dados a respeito dos principais navegadores e comerciantes da Bahia que tomaram parte no tráfico clandestino emerge da docu mentação produzida pela cruzada antiescravista britânica a partir dos documentos encontrados a bordo dos navios negreiros apreendidos VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1987 p 475 51 SOUMONNI Elisée Daomé e o mundo Atlântico Rio de Janeiro CEAAUCAM Ams terdã SEPHIS 2001 Ver também LAW Robin A comunidade brasileira de Uidá e os últimos anos do tráfico atlântico de escravos 185066 AfroÁsia Salvador n 27 p 4177 2002 LAW Robin Ed From slave trade to legitimate commerce the com mercial transition in nineteenthcentury West Africa Cambrigde Cambridge University Press 19 52 LAW Robin A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental 18001849 Topoi Rio de Janeiro p939 mar 2001 Ainda sobre Francisco Félix de Souza ver entre outros SILVA Alberto da Costa e Francisco Félix de Souza mercador de es cravos Rio de Janeiro Nova Fronteira Ed da UFRJ 2003 SILVA Alberto da Costa Um rio chamado Atlântico a África no Brasil e o Brasil na África Rio de Janeiro Nova Fronteira Ed UFRJ 2003 GURAN Milton Agudás os brasileiros do Benim Rio de Janeiro Nova Fronteira 2000 53 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 54 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 55 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 486 56 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 14 Maço 4 Embarcação Esperança 57 Como ressaltado anteriormente esta era uma estratégia comum utilizada pelos con trabandistas na tentativa de despistar as autoridades para a continuação do comércio atlântico de escravos 58 Provavelmente sob proteção de Francisco Félix de Souza 59 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 30 Maço 2 Embarcação Trajano Pierre Verger menciona José da Silva Rios como comandante da goeleta Mariana também de propriedade de José Alves da Cruz Rios VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 452 183 60 Sobre este tema ver PIRES Ana Flávia Cicchelli Tráfico ilegal de escravos os cami nhos que levam a Cabinda 2006 Dissertação Mestrado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2006 Especialmente o Capítulo 3 Ver também VER GER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 4335 61 Na Bahia o comerciante André Pinto da Silveira operou como seu agente comercial na quarta década do século XIX LAW Robin A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental 18001849 Topoi Revista de História do Programa de PósGra duação em História Social da UFRJ Rio de Janeiro p939 mar 2001 p 223 62 LAW Robin A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental 18001849 Topoi Revista de História do Programa de PósGraduação em História Social da UFRJ Rio de Janeiro p939 mar 2001 p 27 63 A declaração fora assinada na Bahia em 21 de setembro de 1828 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 64 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 65 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 De acordo com Arri bas a escuna Zephiro tinha sido apresada por piratas na costa 66 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p481 67 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 5089 nota 26 68 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 9 Maço 2 Embarcação Criola 69 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 31 Maço 4 Embarcação Venturoso 70 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 27 Maço 1 Embarcação Príncipe de Guiné De acordo com Robin Law a Príncipe de Guiné teria sido encomendada nos Estados Unidos por Francisco Félix de Souza partindo esta embarcação da Filadélfia para Ajudá em 1825 tendo como destino final a Bahia Porém complementa Law que quando o navio voltou no ano seguinte à Costa da África seus documentos acusavam como proprietário Antônio Pe droso de Albuquerque LAW Robin A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental 18001849 Topoi Revista de História do Programa de PósGraduação em História Social da UFRJ Rio de Janeiro p 939 mar 2001p 223 Dessa maneira percebemos que a confusão acerca da propriedade de navios por parte de Félix de Souza e Antônio Pedroso de Albuquerque aconteceu pelo menos duas vezes ou seja nos casos da Príncipe de Guiné e Zephiro 71 Jornal do Commercio 21121830 72 Entre outras definições dadas por António de Morais Silva encontramos o termo re laxar como dispensar da observância de uma lei do cumprimento de um dever ou então perdoar uma culpa ou um pecado a António de Morais Silva Grande Dicio nário da Língua Portuguesa 10ª edição revista Editorial Confluência vol IX p382 Segundo Verger a embarcação foi devolvida ao proprietário português cujo nome não consta na documentação VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 450 184 73 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Lata 10 Maço 2 Embarcação Destemida 18301831 74 Arquivo Nacional Códice 184 Volume 3 75 As marcas eram uma prática usual na Baía do Benim tanto entre os povos gbes quan to entre os iorubas 76 Sobre as marcas ver RAPOSO Luciano Marcas de escravos listas de escravos emancipados vindos a bordo de navios negreiros 18391841 Texto analítico de Lu ciano Raposo Rio de Janeiro Arquivo Nacional CNPq 1990 77 Além dos africanos emancipados por estarem a bordo de embarcações capturadas e condenadas por tráfico ilegal pela Comissão Mista no Rio de Janeiro como é o caso da escuna Destemida estavam também inseridos nesta categoria os africanos recémimportados apreendidos em terra por autoridades brasileiras Sobre os afri canos livres entre outros ver MAMIGONIAN Beatriz G To be a liberated african in Brazil labour and citizenship in the nineteenth century Tese Doutorado em História University of Waterloo Waterloo 2002 CONRAD Robert Os emancipados nem escravos nem libertos In Tumbeiros o tráfico de escravos para o Brasil São Paulo Brasiliense 1985 PIRES Ana Flávia Cicchelli Os africanos livres na Pro víncia do Rio de Janeiro Trabalho de Conclusão de Curso Bacharelado em História Universidade Federal Fluminense Niterói 2004 BASTOS A C Tavares Cartas do solitário São Paulo Companhia Ed Nacional Brasília DF INL 1975 78 BASTOS A C Tavares Cartas do solitário São Paulo Companhia Ed Nacional Bra sília DF INL 1975 MALHEIRO Perdigão A escravidão no Brasil ensaio histórico jurídico e social 3 ed Petrópolis Vozes Brasília DF INL 1976 2v 79 Muitos africanos livres no Rio de Janeiro eram enviados à Casa de Correção De acordo com Robert Conrad esta era a primeira parada para muitos africanos eman cipados CONRAD Robert Os emancipados nem escravos nem libertos In Tumbeiros o tráfico de escravos para o Brasil São Paulo Brasiliense 1985 Mary Karasch ressalta que a Casa de Correção era usada pelo governo para confinar os africanos livres quando não estavam a seu serviço Podia acontecer dessa estada se prolongar servindo algumas vezes como residência permanente para os africanos libertos que trabalhavam na cidade KARASCH Mary Catherine A vida dos escra vos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 179 Embora os africanos da escuna Destemida não estejam enquadrados nesta situação pois a construção da Casa de Correção teve início em 1834 acredito que esta é uma importante informação a ser destacada Sobre este último dado ver SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CECULT UNICAMP 2001 p 392 e p 424 nota 135 80 Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro APERJ Fundo Presidência da Provín cia PP Coleção diversas 81 MALHEIRO Perdigão A escravidão no Brasil ensaio histórico jurídico e social 3 ed Petrópolis Vozes Brasília DF INL 1976 p 612 Em função da cláusula que dizia que os africanos livres deveriam ser concedidos a senhores de reconhecida inteireza e probidade na maioria das vezes eles naturalmente foram confiados a senhores proeminentes ricos e influentes da Província do Rio de Janeiro 82 Aproveito para citar apenas alguns exemplos SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 FARIA Sheila de Castro Sinhás pretas acumulação de pecúlio e transmissão de bens de mulheres forras no sudeste escra vista séculos XVIII e XIX In FRAGOSO J MATTOS H M SILVA F C Org Escritos sobre história e educação homenagem a Maria Yedda Linhares Rio de Ja neiro Mauad FAPERJ 2001 SOARES Carlos Eugênio Líbano Comércio nação e gênero as negras minas quitandeiras no Rio de Janeiro 18351900 In FRAGOSO J MATTOS H M SILVA F C Org Escritos sobre história e educação homena 185 gem a Maria Yedda Linhares Rio de Janeiro Mauad FAPERJ 2001 GOMES Flávio dos Santos SOARES Carlos Eugênio Líbano Com o pé sobre um vulcão africanos minas identidades e a repressão antiafricana no Rio de Janeiro 18301840 Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 23 n 2 p 144 2001 83 SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CECULT UNICAMP 2001 p376 p379 84 MAMIGONIAN Beatriz Gallotti Do que o preto mina é capaz etnia e resistência entre africanos livres AfroÁsia Salvador n 24 p 7195 2000 85 AHI III Coleções Especiais 33 Comissões Mistas Brasil GrãBretanha tráfico de negros Volumes encadernados Alvarás Decretos Portarias Livro de registro de Alvarás Decretos Nomeações e Correspondência expedida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros com diversos Localização 341 1 6 Embora não tenha con seguido confirmar se é a mesma embarcação estudada neste artigo consultando o Slave Trade Database encontrei um brigue Destemida que partiu da Bahia em 1839 Consta como comandante Manuel Francisco Pinto e como proprietário Joaquim Pe reira Marinho A embarcação teria sido apresada pelos cruzadores britânicos na Baía do Benim e conduzida à Serra Leoa onde foi condenada ELTIS David et al The TransAtlantic Slave Trade a database on CDRom Cambridge Cambridge University Press 1999 Também Verger indica essa viagem Destemido VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVII a XIX 4 ed rev Salvador Corrupio 2002 p 50910 nota 31 86 MATTOS Hebe Maria SCHNOOR Eduardo Org Resgate uma janela para o Oito centos ensaios Rio de Janeiro Topbooks 1995 87 Título que consta no documento tudo indica ser um formato padrão já que menciona pretas quando no caso da Destemida não consta a presença de nenhuma mulher Negrasminas no Rio de Janeiro gênero nação e trabalho urbano no século XIX1 Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio dos Santos Gomes Agosto de 1863 Policiais entram em um navio ancorado ao lar go da cidade do Rio de Janeiro Buscam um passageiro clandesti no o escravo crioulo de nome Napoleão Com ele encontram grande soma de dinheiro um relógio objetos diversos e roupas O navio tinha bandeira norteamericana país que enfrentava uma guerra civil exatamente por causa da instituição servil e onde meses antes o presidente Abraham Lincoln decretara a emancipação dos escravos Depois de interrogado Napoleão denunciou quem o havia ajudado Paula uma mulher africana da nação mina quitandeira 35 anos es crava de Manuel Martins Freitas Paula foi presa e interrogada arras tando com ela todo um esquema de fuga2 O caso da escrava Paula abre caminho para uma das faces mais in teressantes da escravidão africana em terras brasileiras as mulheres quitandeiras da Costa da Mina que dominaram o comércio de rua da Imperial Cidade do Rio de Janeiro no século XIX A partir de fontes policiais e de anúncios de fuga sugerimos novas questões sobre et nicidade e mercado de trabalho relacionando gênero e reconstrução de identidades étnicas Mas antes disso é necessário focalizar de que forma a historiografia tem abordado o tema das relações de gênero no regime escravista Gênero e etnicidade olhares e identidades Os estudos sobre mulheres no Brasil principalmente na pers pectiva histórica têm cada vez mais ampliado seus horizontes de análise3 Não só novos temas têm sido enfocados como caminhos metodológicos e teóricos originais estão sendo abertos4 Há contu do algumas lacunas tal como o caso das mulheres africanas sob a escravidão As análises apresentadas destacadamente sobre o Caribe são indicati vas das estratégias de embate da mu lher escrava com a ordem social As reflexões sobre a participação de mulheres na organização das comunidades escravas no Brasil carecem de maior fôlego5 Na África e na diáspora as africanas e suas descendentes são conhecidas por sua tenacidade6 Temos evidências da participação efetiva das mulheres na organização de revoltas como é o caso da grande rebelião em Granada no final do século XVIII que contou com a liderança de uma negra livre7 Mas a agência das mulheres se mani festa fundamentalmente na vida cotidiana onde crioulas e africanas procuram elaborar e manejar mecanismos diversos de enfrentamen tos visando modificar suas vidas e as de seus familiares contrarian do a ideia de que aceitam com passividade o cativeiro Agem deter minadamente na proteção da integridade física e psicológica de seus filhos e companheiros e mesmo de toda a comunidade8 Na tentativa de impedir a separação da família pela venda em separado de seus membros recusamse a trabalhar e ameaçam os senhores com sui cídio e infanticídio Alguns fazendeiros temiam ser envenenados por suas mucamas Elas também são elementos decisivos para as fugas obtendo informações providenciando suprimentos e prestando toda sorte de auxílio Ajudam assim a manter a riqueza e a originalidade da cultura escrava É possível mesmo argumentar que as mulheres são os primeiros agentes da emancipação das comunidades afrodes cendentes na diáspora Na Jamaica os fazendeiros asseveravam que elas eram mais agressivas do que os homens9 No século XVI durante um embar que realizado por portugueses na África um piloto comentou sobre a necessidade de se colocarem homens e mulheres separados nos porões pois quando viajavam juntos elas frequentemente instigavam os homens à revolta10 Elas representavam a reconstrução e a recria ção permanente de aspectos culturais e portanto a edificação de só lidas comunidades escravas11 Uma das características fundamentais das culturas escravas em toda a América é a manutenção da família na qual a mulher tinha papelchave na transmissão oral das crenças e valores12 Elizabeth FoxGenovese destaca a importância de se con siderar a autonomia e a autoridade das mulheres na África para se perceber as transformações das relações de sexo e gênero entre os escravos nas Américas13 No Brasil a questão da mulher escrava começa a despontar nos últimos 20 anos14 A obra de Mary Karasch já dá atenção aos africanos minas e em particular às mulheres e a seu mundo ocupacional15 Mas seria preciso o Centenário da Abolição para que tais temas emergis sem num conjunto de novos trabalhos A tese de Luís Carlos Soares mais especificamente seu capítulo sobre escravos ao ganho deta lha a importância desproporcional dos africanos de nação mina de ambos os sexos no comércio ambulante16 Também na década de 1980 em estudo pioneiro da vida cotidiana Maria Odila Dias analisa as práticas sociais das mulheres negras escravas e libertas na São Paulo do século XIX17 Luciano Figueiredo e Liana Reis projetam para Minas Gerais a especificidade da negra de tabuleiro do século XVIII precursora da quitandeira do século XIX18 Na Bahia o trabalho de Cecília Soares comprova o peso das africanas no comércio urbano destacando a presença das mulheres da África Ocidental19 O trabalho de Eduardo Silva sobre o Príncipe Obá um crioulo da Bahia que por suas ligações com elementos da elite dirigente incluindo o próprio Imperador se torna líder de ampla parcela da po pulação negra da Corte traça interessante paralelo com as quitan deiras da Costa da Mina também vindas da Bahia na mesma época20 Poucos anos antes Sidney Chalhoub decifrara os signos políticos da massa negra escrava e livre no Rio de Janeiro no crepúsculo da ins tituição escravista Investiga os processos de liberdade impetrados por africanas minas contra seus senhores demonstrando sua habi lidade em articular aliados nos corredores da justiça21 Em análises mais recentes Eduardo França Junia Furtado e Sheila de Castro Faria resgatam as imbricações entre alforria e pequeno comércio envol vendo as negras forras e livres22 Estudos sobre escravidão rural têm apontado para a importância das cativas na organização das comuni dades escravas23 Viajantes e cronistas deixam registrada a importân cia da mulher escrava principalmente das africanas no mercado de trabalho24 A partir de tais olhares brancos revelase uma face da cultura de gênero no espaço da cidade25 Entre as africanas escravas e libertas aquelas que mais desper tam a imaginação de viajantes e cronistas são as lendárias negras minas com seu indefectível turbante pano da costa tabuleiro cesto ou caixinha de vidro onde as mercadorias eram guardadas As pri meiras descrições destacando a presença das minas quitandeiras no Rio de Janeiro surgem nos relatos dos viajantes e artistas É o caso de Guilhobel Julião Debret do reverendo Kidder e mais adiante das fo tografias de Marc Ferrez e Leuzinger o suíço naturalizado brasileiro26 Alguns viajantes como Ewbank Dabadie e Ribeyrolles revelam a predileção senhorial em têlas como cativas vendedoras27 Também o casal Agassiz se surpreende com as minas quitandeiras nas ruas do Rio em 1865 É uma raça possante e as mulheres em particular têm formas muito belas e um porte quase nobre Sinto sempre um grande prazer em contemplálas na rua ou no mercado onde se vêem em grande número pois as empregam mais como vendedoras de frutas e legumes que como criadas Dizse que há no caráter desta tribo um elemento de independência indomável que não permite empregálas nas funções domésticas28 Os viajantes revelam muito do olhar costumeiro mas pouco falam da relação das minas com o restante da população negra da cidade29 Este olhar tem sua contrapartida no seio da população escrava e de setores livres de baixa condição que veem nelas poderosas merca doras senhoras de pontos cobiçados da rede de comércio urbano Em finais do século XIX após o colapso final do cativeiro os cien tistas e etnógrafos brasileiros voltamse para os africanos fazendo dos minas um capítulo à parte Nina Rodrigues é o primeiro a dedicar uma obra à presença africana no Brasil30 Nina dedica a parte mais relevante de seu texto aos africanos ocidentais da Bahia entre eles jejes haussás nagôs minas etc tentando entender a nomenclatura étnica ou transétnica dos minas no século XIX Na geração seguin te Arthur Ramos é o nome mais brilhante31 Para ele os minas são portadores de uma resposta cultural sob o jugo da escravidão fato que os separa do conjunto dos africanos ditos centroocidentais os chamados bantos que formam a maioria dos nativos do continente africano no Brasil Esta resposta chega a ser entendida como superio ridade cultural perante os outros africanos o que reflete também as visões raciais da época Já em meados do século XX tanto em seu es tudo da religiosidade como das transformações ocorridas em torno dos modelos culturais africanos Roger Bastide focaliza sua atenção no legado dos africanos ocidentais e contribui decisivamente para a construção do estereótipo da superioridade nagô incorporada pe los candomblés jejenagôs32 Outro importante estudioso da herança afroocidental é Pierre Verger cujo precioso estudo sobre tráfico ne greiro recria em detalhes as relações entre Salvador e os portos da Baía do Benim O conjunto de sua obra particularmente seu trabalho sobre os libertos serve de referência para a pesquisa sobre a nação mina no Rio de Janeiro33 O tema da identidade tão caro aos antropólogos chega tarde às preocupações dos historiadores e se cristaliza na alcunha gené rica dos estudos da cultura Felizmente hoje os historiadores estão sendo mais cautelosos no uso do termo e a problemática da cultura está assumindo múltiplas formas34 Além das importantes e clássicas obras de João Reis e Maria Inês Oliveira sobre Salvador e a temática das identidades étnicas no contexto escravista urbano surgiu mais recentemente o trabalho de Mariza Soares sobre os africanos minas no Rio de Janeiro no século XVIII35 Apesar de sabermos dos limites da concepção de nação encon trada nos documentos da era da escravidão como representações de identidades étnicas africanas cristalizadas equívoco muito co mum na historiografia brasileira pensamos estas identidades não só como construções do tráfico negreiro ou fruto das usanças se nhoriais mas também como experiências forjadas pelos próprios africanos e seus descendentes na diáspora Admitimos assim que a nação mina como de resto as demais é uma identidade em cons trução fruto das profundas mudanças culturais que afetam as Áfricas nas Américas Entendemos também que grande parte da construção cultural dos minas no Rio colonial é produto das novas realidades do cativeiro e não necessariamente heranças trazidas da África en volvendo migrações circulações e interações culturais Assim por exemplo a aptidão comercial das negrasminas da qual trataremos é vista por nós como uma opção política forjada no guante da expe riência escrava Embora as pesquisas sobre visões políticas dos escravos e liber tos crioulos ou africanos em seus contextos particulares tenha avançado bastante ainda pouco se debate sobre a construção po lítica das identidades africanas na condição escrava36 Qual o peso social e cultural das negras mercadoras no seio da população africa na no Rio Quais as prerrogativas destas mulheres nas suas relações com cativos e livres setores marginalizados e parcelas da classe dirigente Que canais de influência desfrutam essas mulheres como líderes de microcomunidades urbanas O Rio de Janeiro foi uma das regiões mais afetadas pelo tráfi co mas este comércio se dirige majoritariamente para a África CentroOcidental37 No Rio de Janeiro a rota costeira de escravos africanos mais importante apontava para Salvador que há muitos anos tinha o seu tráfico centrado na Baía do Benim terra dos aqui chamados nagôs jejes e haussás38 Uma variedade de povos diferen tes falantes de língua iorubá foi identificada na Bahia como nagô re presentando a maioria dos africanos vindos da Baía do Benim Como bem coloca João Reis este guardachuva nagô sofre profundas transformações e estas reconstruções étnicas e culturais marcam as estratégias destes africanos diante do poder senhorial Desde o clássico texto de Mintz e Price sobre as transformações culturais escravas no Caribe o tema das identidades étnicas africa nas nas Américas nunca mais foi o mesmo Lentamente os estudio sos passaram a falar cada vez mais de reconstruções circularidades trocas invenções em vez das tradicionais visões de permanências sobrevivências purezas e uma genuína africanidade como forma de resistência39 Estudos recentes sobre a diáspora africana com des taque para o trabalho de africanistas têm problematizado a ques tão da dinâmica das identidades étnicas A busca de entendimento dos processos de reinvenção e reinterpretação cultural dos africa nos e seus descendentes nas Américas tem levado os historiadores a recuperar as profundas transformações sofridas pelas sociedades africanas no mundo Atlântico Podemos dizer que há atualmente na produção internacional um fino debate entre os historiadores africanistas e aqueles da escravidão nas Américas Estes processos de redefinição étnica e transétnica também têm lugar em sociedades do continente africano afetadas ou não pelo tráfico e os estudos contemporâneos destacam os processos de continuidadedesconti nuidade e invençãoreinvenção da história africana confluindo para a perspectiva de que a transformação histórica e cultural dos chama dos africanos não se inicia nas Américas40 Redefinindo a nação o êxodo mina na década do medo A Revolta dos Malês em 1835 representa o auge de uma série de levantes escravos que sacodem o Recôncavo Baiano na primeira me tade do século XIX41 A repressão que se desencadeia sobre os africa nos escravos e libertos em Salvador após a derrota do movimento é tremenda Centenas de libertos são deportados para fora do país enquanto outros tantos deixam a província voluntariamente muitos com destino ao continente africano Para os que ficam a rota predile ta os leva à capital do Império a cidade do Rio de Janeiro Os minas vivem no Rio desde o início do século XVIII quando a cidade se torna o porto principal do fluxo de escravos para as Minas Gerais Mas a enchente de africanos ocidentais que se derrama sobre a cidade após 1835 nunca tinha sido vista42 Não são apenas libertos Centenas de escravos são vendidos por seus senhores baianos temerosos da então chamada índole rebelde dos minas Navios carregados de africanos são embaraçados pela Polícia do Porto do Rio passaportes são negados e famílias inteiras de minas são sumariamente depor tadas para a Costa da África Tudo para impedir um levante malê no coração do Império43 Entre os africanos que emigram da Bahia para o Rio de Janeiro destacamse as mulheres Já em Salvador elas são comerciantes de rua conhecidas por seus turbantes panos riscados de cores atraves sados no ombro o pano da costa ornamentos de prata e ouro de notando riqueza Eram respeitadas não só por outros africanos que trabalhavam nas ruas mas por crioulos brancos pobres e até por negociantes de grosso trato que as tinham como suas freguesas e exímias comerciantes Muitos senhores dependiam de seus jor nais a quantia paga aos proprietários pelas escravas que viviam sobre si agenciando o próprio aluguel comprando a sua comida e pagando suas despesas com o fruto de seu esforço diário44 Na dé cada de 1830 com os preços do açúcar caindo no plano internacio nal a capital baiana entrou em fase de profunda depressão A crise afetou muitos senhores que foram forçados a vender seus escravos especialmente as mulheres para os mais opulentos proprietários da Corte Com a crise econômica as libertas perderam mercado e clien tes e foram forçadas a tomar o mesmo destino45 operando também elas mudanças no panorama étnico da escravidão carioca46 As fon tes sobre a venda de africanas da Bahia para o sul revelam que mais de 80 delas são de nação nagô47 no Rio de Janeiro dos anos de 1830 em diante passam a se chamar minas Que fatores levam os nagôs e outros africanos ocidentais da Bahia a se transformarem em minas na cidade do Rio de Janeiro A nação pode ser articulada por diversos grupos africanos dependendo das conjunturas sociodemográficas ou da própria política interétnica entre eles48 Apesar de originalmente atribuída pelos traficantes de escravos europeus ou africanos ela pode com o tempo ser alte rada de forma que corresponda aos interesses africanos de asso ciação Inúmeros estudos sobre irmandades de escravos africanos livres e pardos demonstram as dimensões destas dinâmicas identi tárias na diáspora49 Anúncios de escravos fugitivos exibem cativos que ocultam a nação ou adotam outras para enganar seus captores Quanto aos minas percebese que a população carioca generaliza o termo para todos os africanos ocidentais chegados da Bahia50 É possível sugerir ainda que estes homens e mulheres lentamente introjetam o novo rótulo na intenção de criar no Rio uma comunida de afrobaiana que se tornaria célebre na virada do século como a Pequena África Nosso argumento aqui é que se forja na experiência da escravidão urbana carioca uma nova identidade transétnica para os africanos ocidentais uma identidade mina que não é exatamen te aquela do tráfico nem aquela dos africanos no Rio de Janeiro se tecentista nem aquela dos africanos da Bahia Os contornos desta identidade são complexos Pelo enfoque nas quitandeiras podemos entender que este novo movimento de redefinição transétnico rela cionase com a cultura de gênero o mercado de trabalho e os es paços urbanos reinventados Pensamos inclusive este movimento num cenário transnacional no sentido do retorno à África e da arti culação com outros cenários étnicos51 Essa nova identidade mina deve ser considerada como pertencen te a um contexto dinâmico e não estático das identidades africa nas52 Estudos recentes sobre os povos exportados da Costa da Mina mencionam a tradição fon do antigo Daomé A literatura da temática afrobrasileira na Bahia entretanto menciona os povos de língua io rubá como a matriz dos minas De qualquer forma na Bahia espe cialmente em Salvador os minas são uma entre outras nações e de presença bem inferior aos nagôs No Rio de Janeiro eles destacam se como maioria absoluta em todas as listas com denominações de procedência eou classificações étnicas e homogeneizam os afro ocidentais como se percebe nas denominações minanagô ou mina maki53 No Rio os minas podem ter se transformado num guarda chuva étnico como sugere João Reis onde todos os ocidentais e talvez todos os africanos vindos da Bahia se encontram54 Fator também importante na atração dos minas para o Rio é a tradição urbana de alguns reinos da África Ocidental Seria complicado aqui tentar procurar qualquer reminiscência histórica ou cultural africana eou propor transmutações lineares A bibliografia sobre a África a escravidão e a pósemancipação nas Américas é fundamental para perscrutar o que Sílvia Lara denominou significados cruzados das experiências de africanos e seus descendentes55 Com relação à experiência urbana reinventada por africanos na Corte destacamos os padrões de moradia dos minas A maioria esma gadora destes africanos residia nas freguesias centrais Candelária Sacramento Santa Rita Santana e São José área de urbanização mais densa da Corte56 Uma tradição de alémmar transformada na experiência do cativeiro era o comércio A forte ligação da África Ocidental com o mundo muçulmano transformou a região em um dos extremos da complexa rede de caravanas do deserto e municiou di versos povos com uma densa tradição comercial Essa aptidão dos homens e mulheres minas era facilmente reconhecida pelos senho res do Brasil Império que os empregavam em atividades remunera das fosse como quitandeiras ou como carregadores Mas é impor tante perceber que essas tradições são repensadas e reconstruídas na diáspora já que urbanização e comércio não são monopólio dos minas57 Se congos angolas e benguelas também encontravam ocu pação no comércio de rua nos registros da Casa de Detenção mais de 75 das quitandeiras eram minas58 Uma questão importante que pode ajudar a explicar o papel das minas no seio da comunidade africana e seu nicho ocupacional é a proporção entre homens e mulheres os homens perfaziam a maioria dos africanos trazidos pelos tumbeiros59 e a inferioridade numéri ca feminina apontava para espaços sociais diferenciados As mulhe res eram escolhidas para funções específicas lavadeiras costurei ras mucamas criadas de quarto e por vários motivos ainda não completamente identificados as africanas minas eram consideradas como as mais tarimbadas para o ofício de quitandeiras60 A ampla maioria dos proprietários era do sexo masculino e prova velmente atuou sobre eles algum tipo de sedução feminina africanas minas eram retratadas pelos viajantes estrangeiros como as mais be las entre as negras superando com seus traços finos até as criou las o que pelo padrão europeu era sinal de avanço civilizatório O preço das escravas minas resultado de sua especialização ocupacio nal também deve ter sido motivo para que seus senhores evitassem colocálas em tarefas insalubres ou de pouca rentabilidade61 Essas virtudes devem ser contrabalançadas com o medo que os senhores passam a sentir dos africanos vindos da Bahia depois de 1835 e com os conflitos entre senhores e escravos Os anúncios de fu gas são numerosos mostrando que a maioria das pretasminas fugi das se ocultam na própria cidade Os anúncios de fuga para o perío do anterior a 1835 são nossa matériaprima62 Como destacado por Marcos de Carvalho os anúncios refletem a visão do senhor sobre as potencialidades do escravo de romper as regras que lhe são im postas63 Entretanto é preciso que o estudioso também interprete no texto as estratégias aí inscritas pelos escravos em relação à fuga e ao seu relacionamento com outros setores sociais no meio urbano O que se destaca até 1835 é a nítida ausência das africanas minas entre as escravas fugidas quando apenas 4 delas eram minas Como na petit maronage caribenha elas parecem fazer fugas rápi das para se abastecer cultural e socialmente no meio dos africanos64 Tudo indica também que essas mulheres introduziram as tradições dos orixás no Rio oitocentista e seu poder de convencimento junto a outros africanos deve ter sido grande haja vista o virtual monopólio que têm das práticas religiosas de tradição africana na cidade na virada para o século XX65 Inventando paisagens personagens e números Antes de entrarmos no universo das africanas minas precisamos entender de que forma vive o conjunto de escravas na cidade sejam africanas ou crioulas Somente a partir disso podemos ter um parâ metro para julgar se as minas representam um fenômeno específico ou se são mera extensão de uma ampla tradição escrava Os anúncios de fugas assim como os registros policiais revelam muito do cotidiano dessas mulheres Grandes reuniões públicas facilitavam as escapadas Dina fugiu no dia de entrudo pelas 9 ho ras e meia da noite A mulata Senhorinha fez o seu esforço fugin do com um ferro no pé enquanto Rosa escafedeuse saindo de casa com um barril novo66 Africanas fogem com seus filhos pro tegendo e reorganizando arranjos familiares Assim faz Rita uma Benguela que levou o filho Custódio mulato de 12 anos67 A cida de é não apenas um emaranhado de línguas e identidades étnicas não exclusivas de escravos e libertos africanos como também palco de processos trans e interculturais das populações africanas escravizadas Podemos destacar a questão do uso diferenciado das línguas Dina que se aproveitara do entrudo para fugir era filha do Cabo da Boa Esperança falava português e inglês68 Também não é raro os africanos confundirem os esquemas de identificação criados pelos senhores É o caso de um fugitivo de nação Cabinda que falava Congo e tinha marcas de sua terra nas costas69 Balbina era criou la mas falava fluentemente a língua de nação70 Por outro lado a mina Justa não falava bem o português Não se sabe o quanto falar línguas é uma forma de afirmação ou dissimulação Ser boçal algu mas vezes pode render frutos João nascido em Cabo Verde fugiu de um bergantim ancorado na Pedra do Sal e pode ter tido guarida em outra embarcação pois falava um inglês razoável71 Não só da África Ocidental são as africanas trazidas pelo tráfico da Bahia Uma preta de nação Congo traz trejeitos de linguagem que seu senhor identifica como falas do costume da Bahia72 Muitas angolas cabindas e mon jolos fazem o trajeto SalvadorRio de Janeiro o que quebra o estereó tipo de que a Bahia era domínio absoluto dos ocidentais Nas áreas do Recôncavo da Guanabara há vários episódios de ca tivas presas com filhos e parentes Em 1827 Bárbara moçambique acaba presa em Jacutinga juntamente com seu filho Elízio No mes mo ano outra moçambique é capturada em Meriti ao lado de Adão crioulo idade de um ano Em 1838 é a vez de Rosa benguela ser presa por fugida com sua filha de 4 anos73 Os registros de prisão re velam estratégias semelhantes Uma delas é se intitular livre ou liber ta como faz uma tal Ana cabra que diz ser forra Mudar o próprio nome ou o de seus senhores também é comum Assim age a crioula Silvéria remetida de Icaraí em 1826 Jura ser de Maria Rosa porém verificase ser de José Gabriel de Lacerda e chamarse Silvana74 Na Gazeta do Rio de Janeiro entre 1809 a 1821 de um total de 337 fugitivos as mulheres aparecem como 195 Destas as africanas correspondem a 83 Entre os crioulos as mulheres são 137 e en tre africanos 213 Talvez não seja o caso de as mulheres crioulas fugirem menos e sim de não aparecerem com frequência nos anún cios A maior parte das africanas estavam na faixa de 15 a 25 anos e se ocupavam como lavadeiras e vendedoras ou seja atividades externas à casa Já as crioulas estavam na faixa de 20 a 50 anos e tinham ocupações domésticas como amas de leite e cozinheiras Havia mais proprietários homens para as africanas e proprietárias mulheres para as crioulas75 Analisando os anúncios do Jornal do Commercio nos anos de 1825 1831 e 1832 encontramos padrões semelhantes76 As africanas são respectivamente 90 91 e 84 das fugitivas e são mais jovens entre 20 a 30 anos enquanto as crioulas estão na faixa de 25 a 45 anos Considerando as ocupações em 1825 415 são quitandeiras 20 vendedoras e 8 lavadeiras respectivamente No Jornal do Commercio de 1826 identificamos um aumento percentual de escra vas fugitivas perfazendo um pouco mais de 25 do total Das 39 mu lheres com ocupação determinada 32 são quitandeiras vendedoras e ao ganho Ou seja há um predomínio absoluto das ocupações fe mininas nos serviços de comércio destacandose entre elas as afri canas Há também uma grande incidência de lavadeiras escravas domésticas alugadas ou de ganho que fazem parte da paisagem urbana lavando roupas em chafarizes fontes rios e lagoas77 Também podemos analisar as amas de leite outro importante se tor ocupacional feminino78 Nos 256 anúncios de venda compra e alu guel de amas de leite para os meses de janeiro a junho de 1845 e nos 492 dos meses de janeiro a abril de 1855 há também um predomínio de africanas Em 1845 28 das amas de leite são crioulas e 16 são brancas entre as crioulas 715 são pardas Em 1855 48 dos anún cios mencionam algum padrão de classificação étnicoracial As pre tas são 62 as pardas e cabras juntas 27 e as brancas 11 Entre 1809 e 1821 as nações que mais se destacam são nesta or dem as cabindas benguelas congas e moçambiques com um total de 235 mulheres Esta concentração é maior nos anos de 1825 1826 e 1831 juntandose a elas as de nação cassange rebola e monjola As minas correspondem a apenas 3 Em contraste de 1835 em dian te encontramos uma surpreendente quantidade de africanas minas nos anúncios de fuga Ainda que algumas já estivessem há anos na cidade o grosso destas mulheres chega ao Rio na década de 1830 Para as quitandeiras experiências comerciais e de relacionamento com potenciais clientes ou fornecedores são vitais para a vivên cia urbana Em 1835 a primeira africana da Costa da Mina anunciada na coluna de escravos fugidos do Diário é Albana que aparece na edição de 19 de janeiro cinco dias antes de Salvador ser sacudida pela fúria dos Malês79 Em 1835 o termo mina abarca uma ampla gama de povos que são quase sempre embarcados em portos da Baía do Benim como Popo Ajudá Jaquem Porto Novo Onim Lagos entre outros Um exem plo é um fugitivo de nação mina maguim provavelmente maki80 Esta dupla denominação étnica permite uma maior precisão na bus ca da origem específica do africano na babel de povos da Costa da Mina Décadas depois esse detalhamento irá desaparecer e parte substantiva dos africanos ocidentais no Rio passa a ser chamada simplesmente de mina É possível que os africanos ocidentais no Rio mantenham divisões como nagô maki jeje entre eles e que a identi dade mina seja usada nas relações com outros africanos no caso os falantes de línguas banto81 Na Bahia isso não é importante pois a presença de falantes de línguas banto é menor As marcas étnicas na face de escravos de nação mina relatadas nos anúncios refletem a diversidade oculta por trás do guardachu va mina É o caso de Angélica que tem marcas de nação não só pelo rosto mas pelo braço82 A imagem da negra mina se expressa com toda força no seguinte anúncio Fugiu da praia da Saúde nº 161 no dia 3 de fevereiro uma pre ta de nação mina de nome Francisca alta com sinais de sua nação no rosto e terá de idade 36 a 40 anos levou vestido de riscadinho escuro e panodacosta quem a apreender queira dirigirse a casa acima que receberá alvíçaras83 Pelos anúncios podemos reproduzir com detalhes o vestuário das africanas minas quitandeiras bem diferentes das quitandeiras da época de Debret que usam um grande chapéu de sol e não osten tavam pano da costa84 O prestígio das mulheres minas avança sobre a alma dos outros africanos Isso pode ser sentido pelo uso cada vez maior dos trajes característicos daquela nação como pano da costa e turbante entre outras negras como uma preta benguela que foge usando um pano da costa85 Descortinase nos anúncios de fuga a formação de uma comuni dade multiétnica entre as escravas afroocidentais da cidade do Rio que guarda fortes vínculos de autoproteção e auxílio mútuo É o que se revela no caso de João Mina cujo senhor suspeita que fora desen caminhado por uma pretamina86 Estas habilidades na certa fasci nam os demais cativos que buscam poder usufruir mais amplamente da vida urbana longe do olhar senhorial87 É certo que as mulheres minas gozavam de muito prestígio no seio da comunidade negra da cidade Era muito difícil controlar escravos que trabalhavam nas ruas entre eles as quitandeiras que tão bem conheciam os labirintos da cidade imperial como a Freguesia de Santana na qual moradores listavam cativos fugidos ou a rua do Sabão onde a polícia desbara tara uma casa de coito para cativos em fuga88 Algumas vezes para fugir não era preciso sequer sumir ou pelo menos assim pensava um moleque que transitava abertamente por avaliar que seu senhor por doença não sairia à rua ficando des se modo impedido de caçálo89 Esse emaranhado social favorecia o relacionamento e o enraizamento das pretasminas vindas da Bahia Episodicamente os jornais revelavam como as quitandeiras guarda vam estratégias muito próprias de fugas Estas estratégias envolviam a capacidade de transitar por toda a cidade sem despertar suspeitas alugar e frequentar casas subornar autoridades transformar outros escravos em clientes através do fornecimento de alimento Algumas delas chegavam a comprar outras escravas africanas para seus ne gócios estabelecendo com elas uma relação escravista singular É o caso de Ana Teresa de Jesus de nação mina ou calabar e sua escrava Lucinda Conga Andavam juntas pelas cercanias da cidade vendendo tecidos até que Ana veio a falecer e Lucinda passou para uma nova proprietária Esta anunciou a fuga da escrava informan do que devia ter voltado a mascatear panos90 Um exemplo de rotas mais longas são as de retorno a Salvador91 Mas nem todas as escravas minas eram vistosas quitandeiras en vergando turbantes altivos e panos caprichosos A que pertencia a Francisco José Lamego morador da Ilha das Cobras usava uma rou pa velha e rasgada e tinha no alto da cabeça marcas deixadas pelo trabalho duro de carregar barris de água92 Raras vezes faltava ocupação para os escravos em fuga Como foi tão bem colocado por Marcos de Carvalho os fugitivos na cida de eram empregados por vários senhores em serviços esporádicos muitas vezes como se fossem forros93 Estes fugitivos não apenas permaneciam no ambiente urbano bem próximos de seus exdonos como sem ter de pagar jornais conseguiam fazer alguma econo mia Na certa é o que ocorre com o mina Rufino oficial de marcenei ro que para seu dono estaria trabalhando em algum estabelecimen to como é natural94 O mesmo ocorreu com uma preta de nação que mesmo fugida vendia quitandas na cidade Ao ser interceptada no Valongo puxou uma carta de apadrinhamento que logo a deixou livre95 Raras vezes também a fuga era um empreendimento solitá rio Os jornais da época falavam com insistência em sedução ou seja em fuga agenciada por alguém interessado em vender o cativo ou em libertos e escravos que levavam outros escravos para suas comunidades e quilombos nos subúrbios da cidade Na década de 1830 o pretomina com suas escarificações étni cas em estilo bigode de gato começa a se tornar uma imagem ca racterística da paisagem social96 Outros africanos passaram a ser identificados nos anúncios por comparação a eles como um mon jolo que tinha riscas muito semelhantes às da Costa da Mina97 Chegou também da Bahia uma quantidade cada vez maior de criou los que aparentemente não se misturavam com os africanos vindos da mesma terra Os crioulos da Bahia compartilhavam estratégias próprias aproximandose de outros crioulos como eles98 Em 1835 mina ainda não é o termo genérico para aqueles vindos da África Ocidental Joana ainda era dita de nação nagô e vendia galinhas longe do seu senhor99 Se vivesse mais alguns anos talvez se tornas se somente mina como tantas outras Algumas marcas étnicas não muito comuns entre os minas como dentes limados apontam para a sua complexa variedade identitária100 Com o tempo mina será uma nação tão genérica quanto angola e congo ainda que estes últimos sejam à época mais numerosos que aqueles Na década de 1840 os minas tornaramse mestres na sedução de escravos101 Com o tempo os senhores se tornam também mestres na arte de saber os costumes de seus cativos e por onde eles andam Por exemplo o se nhor de Isabel Calabar achava que ela zanzava pelas vendas já que se embriagava com frequência102 Já então pontilhavam na cidade os zungus ou casas de angu como eram conhecidas as casas coletivas para onde convergiam crioulos e africanos tal como o pretomina José frequentador assí duo de um zungu na rua MataCavalos103 No Beco dos Gatos havia outro que era da predileção da crioula Bernardina Rosa que se dizia forra104 Estas casas eram redutos procurados por escravos e libertos para trocas sociais e culturais longe do olhar fiscalizador da polícia Custódia nagô fula gorda rosto magro com vestido de riscado roxo e em adiantado estado de gravidez vendia quitanda de frutas quando desapareceu no dia 10 de novembro de 1835 Seu senhor desconfiou que ela estivesse oculta em alguma casa de zungu105 O ano de 1835 se foi e a temida revolta dos africanos minas vindos da Bahia para o Rio de Janeiro não aconteceu Mas o medo não cedeu e a presen ça das minas no Rio de Janeiro pelo menos nos anúncios de venda de escravos cresceu Uma negramina de apenas 12 anos à venda demonstra o vigor do tráfico atlântico já em plena proibição106 Em 1836 os casos de fuga e sedução se intensificaram sensivelmente nos anúncios de jornal provocando pânico entre proprietários que dependiam de seus cativos para sobreviver Quem não recebeu a visi ta de um sedutorprotetor o procura como Luiz Cabinda que bate de porta em porta nas freguesias do Engenho Velho e Inhaúma para encontrar alguém que o leve para Minas Gerais107 Aliás a rota para Minas Gerais é de longe a preferida dos pretos que buscam um se nhor mais tolerante Mas o que levava as africanas minas a optarem tão concentrada mente pela ocupação de vender quitandas O pequeno comércio era uma atividade muito rentável108 Os minas desde sua chegada em massa à Corte a partir de 1835 e talvez até antes disso109 formaram uma comunidade que mesmo sem estar fechada a contribuições de outros africanos tendia a formar um grupo com identidade própria autoprotetor e que se reunia em sigilo nas sombras da noite ou nos subterrâneos da cidade110 Estes laços estavam patentes na fuga do casal Simão Mina e Rita Mina que saem juntos do cais do Valongo em março de 1836111 O mesmo chamado da nação levou o moleque cozinheiro de nome Camilo Mina a se esconder segundo seu senhor numa casa de minas libertos quem sabe beneficiado por suas ha bilidades de cozinheiro e engomador O proprietário ainda detalhou que Camilo costumava trocar de nome e se dizer forro112 O que se sente é que em 1836 nenhum escravo da Corte de qual quer nação desconhecia a possibilidade de ser seduzido de trocar de dono de ser escondido por outrem seja para negociar melhores relações com seus senhores seja para fugir de vez E a presença dos minas foi um fator importante para transformar a sedução em proble ma de primeira ordem da cidade do Rio de Janeiro113 Os minas firma ram no Rio de Janeiro a reputação de rebeldes difíceis intratáveis e particularmente propensos a fugas como João Mina que carregava na perna as marcas da corrente que o prendia antes de nas contas de seu senhor desaparecer pela oitava vez Um fenômeno114 Além de minas ladinos perambulavam pelas ruas pretos novos recémsaídos dos negreiros proibidos como um africano que não fa lava nada e só respondia que viera de Molambuda Mais um enigma do labirinto de nações Escravos disfarçados de feitores quitandei ras cativas dissimuladas em pretas de aluguel enfronhadas em casas alheias O repertório de embustes criados pelos minas parecia inter minável Antônio minajeje vindo da Bahia preferiu viver e morrer entre os seus pretendia fugir e voltar não se sabe ao certo se para a Bahia ou para a África Rita Mina 24 anos com vestido de riscadinho e lenço de chita ao pescoço sem sinal no rosto mas com marcas nas costas das mãos ocupavase no ofício de lavar roupa para as bandas do Catete quando resolveu que era hora de fazer seu próprio cami nho Até mesmo em plena Baía da Guanabara os pretos arranjavam seu ganho como os ganhadores do mar vendendo mercadorias aos marinheiros o que lhes facilitava passeios não autorizados115 Opções não faltam mas todas envolvem certo risco Mas a pretamina clássica personagem inesquecível da paisagem carioca de antanho era onipresente No dia 28 de junho de 1836 ela saiu da rua do Sacramento sobrado nº 14 e não voltou Ladina bem falante alta magra e distinta com os dentes muito claros trazia uma camisa de algodão e vestido de riscadinho escuro Na cabeça um tur bante à maneira das pretas da Bahia e um pano da costa de risca do com que se embrulha Tinha como companheira de ofício outra mina que vendia galinhas no Largo do Capim e morava no Valongo Seu nome não ficou na história mas seu porte e garbo transpare cem no anúncio Uma soberana das ruas em toda sua majestade Esse tipo social da cidade na segunda metade do século XIX estava formado já em 1836 Algumas delas traziam as marcas da violência Maria tinha uma cicatriz por trás da cabeça por ter sido quebra da de fresco quer dizer por ter apanhado quando nova Apesar de toda violência escravagista em 1836 elas eram jovens vigorosas alti vas116 Nos anos vindouros elas continuaram a chamar a atenção dos transeuntes até que a morte foi ceifandoas uma a uma No final da década de 1830 nagôs e calabares circulavam pelos anúncios de fuga apontando a crescente presença de africanos oci dentais no Rio de Janeiro Izidora Mina trazia brincos dourados na orelha e saia e camisa à moda da Bahia donde tinha vindo Seu vestido novo de chita azul mesma cor do pano da costa e o turbante amarelo compunham um estilo elegante117 Ela fora comprada de um tal José Maria Pinto Guerra comerciante de escravos na cidade do Rio de Janeiro Na juventude de seus 20 anos Rita fugiu da Praia da Gamboa carregando no rosto as marcas da bexiga varíola que quase a matou118 Em 11 de novembro a polícia publica no Diário que uma pretamina de nome Izidora ou Maria escrava de um tal Fuão Rafael se encontrava presa no Calabouço A escrava afirmara ter sido comprada em uma casa de leilão da rua do Ouvidor ou do Sabão Seria a mesma Izidora elegante que aparecera em anúncio do dia an terior Seria a casa de leilão a do tal José Maria Pinto Guerra Seja como for ela não estava sozinha um crioulo de nome Plácido fora detido pelo sedutor da africana Parece coincidência119 e realmente é Dias depois volta a ser publicado o anúncio de Izidora revelando que ela continuava em fuga120 A Izidora era outra ou simplesmen te mentira sobre seu nome Talvez sabendo do estratagema alguns senhores evitassem publicar o nome de seus escravos fugidos infor mando apenas sua descrição física e hábitos mais correntes121 Além dos anúncios de fugas também os registros de prisões eram fontes importantes para identificarmos as mulheres minas no Rio de Janeiro Para o período de 1810 a 1830 do total de 4355 escravos presos por fugidos temos pouco mais de 10 475 de mulheres sen do 77 delas africanas Se nos anúncios 18091832 as crioulas re presentavam entre 9 e 16 nos registros de prisão 18101830 elas representam 23 do total dos presos As crioulas podem ser mais adaptadas às estratégias de despistamento e integração na socieda de escravista urbana e ao mesmo tempo mais expostas às redes de controle social Das africanas capturadas neste período menos de 4 delas foi classificada como mina Décadas depois o panorama é outro Nos registros de prisões de escravos da Casa de Detenção da Corte do Rio de Janeiro 18601883 surgiram outros itens de análise em relação às questões de gênero e etnicidade Fundada em 1857 a Casa de Detenção da Corte funciona como um imenso xadrez onde ficam detidos os presos por pequenos crimes e os que aguardam julgamento Se condenados vão para a Casa de Correção que funciona realmente como presídio Todos os dias por volta das 18 horas o carro gradeado da Casa de Detenção percorre as subdelegacias da cidade em busca dos presos no dia an terior Dos livros de entrada com as fichas dos detentos restam os de 1860 em diante mas somente a partir de 1880 existem séries longas e para escravos só apenas os de 1863 1879 1881 e 1882 abarcando os anos finais da era de ouro das pretasminas quitandeiras na Corte As cativas da Costa da Mina colocadas ao ganho pelas ruas que têm seus dados relacionados nas fichas de prisão abrem uma dimen são pouco conhecida dessas africanas122 A primeira que aparece nos registros é Mara segundo ela escrava de um tal João presa na Freguesia de Santo Antônio próximo ao morro do mesmo nome Quitandeira como quase todas traiu sua personalidade turbulenta ao proferir palavras indecentes em público que acabaram por levá la para trás das grades Do alto de seus 35 anos tinha sangue jovem para enfrentar as violências da vida escrava Vitória a seguinte da lis ta detida por desordem pelo menos informou com clareza o nome de seu senhor Jerônimo da Costa Jácome Sofia foi a primeira a ter registrado pelo escrivão o uso do pano da costa diferentemente de Rosa Mina que passava com seu tabuleiro tarde da noite quando foi surpreendida pela polícia Sofia foi presa de dia123 Andreza usava uma jaqueta masculina quando provocou nos poli ciais desconfiança de que estava em rota de fuga foi presa por sus peita Já Palmira foi detida em Santa Rita com a certeza do subde legado de que estava se evadindo da sua condição e foi despachada para a Detenção124 Algumas como Maria foram para trás das grades a pedido de seu senhor Felicidade 32 anos estava envolvida no as sassinato do preto Prudêncio A passagem de Jerônima Mina pela Casa de Detenção não foi tão fugaz quanto a de suas antecessoras Processada pela justiça acabou condenada pelo artigo 235 do código penal calúnia e injúria Cinco dias depois foi levada para o sinis tro tronco da Casa de Correção onde sofreria o suplício dos açoites Jussara mostrou predileção pela jogatina foi ferozmente perseguida pela polícia e acabou caindo no laço Mas no dia seguinte retornou à liberdade pelo menos à liberdade que desfrutava uma escrava qui tandeira125 Uma grande parte das pretasminas escravas foi para a Detenção por desordem o que envolveu uma quantidade infinita de atos delituosos Flora teve um entrevero com o fiscal de Freguesia da Candelária no mercado da Praia do Peixe Para evitar esses in cômodos Marciana assim como a já citada Rosa vendia à noite e terminou também na cadeia por estar fora de horas sem bilhete do senhor A obsessão de forjar uma cidade civilizada e saneada nos moldes das metrópoles europeias livre das paisagens africa nas e a aplicação das novas posturas municipais acirra os conflitos entre funcionários municipais senhores e escravas Algumas vezes a polícia era a solução Virgínia Mina entrou na Detenção para tentar fazer do Chefe de Polícia seu padrinho Virgínia era lavadeira e en gomadeira uma das raras africanas minas que não era quitandeira e estava tendo problemas com sua senhora dona Delfina Rosa de Jesus Leal126 Ser quitandeira e escrava significava encarar quotidianamente o espectro da violência vinda de senhores e policiais mas também delas sobre outros Rufina Mina espancou um menor de idade foi presa mas no dia seguinte voltou ao seu canto127 Esta truculência fez de algumas quitandeiras frequentadoras assíduas dos catres da Detenção Catarina presa por carregar tabuleiro de noite estava pas sando por uma das experiências mais traumáticas da condição escra va a mudança de dono Escrava de dona Isabel estava sendo arre matada por João Manoel Soares provavelmente por dívidas já que houve a intervenção de um juiz da Provedoria Pública Cobiçadas por fornecerem polpudos jornais a seus donos elas são ao mesmo tempo temidas pela fama de altivez e orgulho característicos da na ção como aparece na opinião dos viajantes Catarina e sua colega de ofício Ignez assim como tantas outras atravessavam o portão de ferro da Casa pelo mesmo motivo mercadejar fora de horas A lavadeira Joaquina conseguiu tal êxito em se misturar com outros de condição diversa e desnorteou as autoridades a tal ponto que não sabiam se ela era escrava livre ou liberta Bastava esta dúvida para que ela fosse trancafiada por longos meses numa enxovia imunda que lhe custara prejuízos à saúde como se percebe por suas entra das na enfermaria128 O tal Jerônimo da Costa Jácome dono da infausta Vitória possuía pelo menos mais três quitandeiras minas Luiza Felicidade e Maria As duas primeiras foram detidas ao mesmo tempo pelo subdelegado da Freguesia do Engenho Velho Companheiras de ofício e de senho rio elas tinham tudo para forjar uma forte amizade importante me canismo para enfrentar os dissabores do cativeiro A última Maria Mina presa na Freguesia do Sacramento por injúrias e desordem na certa teve um desentendimento com algum paisano Jácome tinha várias quitandeiras na rua trabalhando no ganho algo raro no perfil do proprietário urbano o que fez dele um dos maiores donos de es cravos da cidade na qual normalmente se possuía apenas um preto como propriedade servil129 De março de 1863 a maio de 1864 41 escravas da Costa da Mina foram levadas para a Casa de Detenção É possível que o número de prisões fosse maior pois muitos subdelegados soltavam suas deten tas antes que o carro gradeado passasse pela subdelegacia130 Uma particularidade do padrão de fuga das minas era a tendência a man ter a mesma ocupação de quitandeiras em qualquer ambiente Os outros cativos em geral muito rapidamente trocavam de ocupação para despistar seus donos mas elas trabalhando sem pagar o jornal acumulavam recursos uma singularidade das mulheres minas e que as separava dos demais escravos Mas nem tudo era diferente entre as minas e outras africanas O padrão de crime das escravas se aproximava do conjunto dos es cravos presos de todas as nações na Casa de Detenção 20 eram fugidas ou suspeitas de fugidas As presas por desordem 11 podem estar disputando espaço no mercado infringindo o Código de Posturas ou se defendendo dos numerosos ladrões das ruas Embriaguez é outro motivo que leva africanas minas para os cubícu los da detenção 10 para as escravas e 5 para as livres Muitas são detidas por uso excessivo de álcool Atos imorais podem es tar ligados ao preconceito das autoridades policiais contra escra vas que ficam tarde da noite na rua ou são encontradas em casas suspeitas Cinco cativas minas 8 foram detidas por este motivo Apenas uma foi presa por furto mas três o foram por desobedecerem a seus senhores131 Raramente eram presas por furto Por último não podemos deixar de mencionar as presas para averiguações sobre sua condição 8 ou seja para verificar se elas eram escravas ou libertas Na década de 1860 as minas já eram hegemônicas entre os africa nos oriundos da África Ocidental num total 70 fichas de prisão ape nas uma era de nação calabar Na metade do século XIX mina repre senta a virtual totalidade dos africanos ocidentais no Rio de Janeiro Entretanto não pode ser esquecido que muitas das africanas minas foram libertas Na documentação da Casa de Detenção de 1860 até os primórdios do século XX aflora uma considerável quantidade de dados sobre minas libertas Os registros de escravas são em me nor número e cobrem apenas quatro anos 1863 1879 1881 e 1882 Quanto às minas libertas o primeiro contraste é o número reduzido das que eram encontradas na Detenção apenas 35 libertas foram lo calizadas entre 1860 e 1883132 Quanto aos padrões de criminalidade as acusações de fuga e suspeita de fugida são substituídas pela de desordem 47 seguida pela de vagabundagem 33 O pa drão ocupacional de libertas e escravas se aproxima 71 das escra vas e 76 das libertas são quitandeiras menos do que esperávamos surpreendendo a presença de 14 de lavadeiras Outra questão importante é saber os locais de prisão dessas mu lheres teriam elas pontos separados na geografia do trabalho urba no Compartilhavam as mesmas áreas Do total das escravas 16 delas foram presas na Freguesia do Sacramento área central da parte mais antiga da cidade e 8 em Santa Rita zona portuária onde tran sitavam marinheiros e homens do mar Em relação às libertas quase metade delas 47 foi presa na Freguesia de Santana área periférica da cidade velha 23 na Freguesia de São José já no caminho do litoral sul da cidade 14 na Freguesia do Santíssimo Sacramento e 10 em Santana Estes dados apontam uma geografia ocupacional diferenciada que separava os nichos de trabalho já que os locais de prisão e de trabalho tinham íntima relação entre si Agrupando os endereços das libertas por freguesia as escravas não tinham en dereço e sabemos que elas normalmente não moravam com seus senhores podemos ter um padrão comparativo melhor Uma parte grande das 35 libertas residia em Sacramento 28 e Santana 20 enquanto as restantes se distribuíam em São José 11 e Santa Rita 8 Estes dados aproximam libertas e escravas que têm este pa drão quanto ao local de prisão Nos últimos anos do século XIX a população de mulheres minas se reduziu drasticamente Orgulhosas e numerosas nas décadas de 1840 e 1850 elas chegavam à virada do século como memórias vivas de um passado que a elite da cidade queria apagar Mesmo assim nos livros da Detenção entre 1860 e 1900 somando a totalidade dos africanos presos os minas perfaziam entre 30 dos escravos e 20 dos libertos São a maior nação africana isolada seguida dos moçam biques 17 angolas 15 e congos 13 que junto a outros gru pos menores totalizavam 966 africanos libertos presos As mulheres minas representavam 15 do total das africanas presas133 Por ocasião da proclamação da República as mulheres minas ain da inquietam o cenário Em 1889 furiosos com a iniciativa de um policial de expulsar a quitandeira que costumeiramente fazia ponto na entrada da Faculdade de Medicina um grupo de estudantes de sencadeia a chamada Revolta das Laranjas A vitória dos estudantes e a volta da quitandeira Sabina vendedora de laranjas para a por ta da faculdade na rua da Misericórdia pode ser apontada entre os acontecimentos que desgastaram a autoridade do último gabinete da monarquia e ajudaram mesmo que timidamente a derrubada da velha ordem imperial A República não agradeceu A repressão republicana de 1890 ainda encontrou número razoável de casas de dar fortuna mantidas por minas cercadas de crioulos pardos e até brancos Desbaratadas pela repressão moralista do draconiano e po sitivista novo regime elas lançaram luz sobre a reconstrução cultural africana do pósabolição134 Vistas como enganadoras da credulida de popular desobedientes contumazes do código de posturas da municipalidade as minas sofreram como as rameiras os capoeiras ratoneiros ladrões de residência vadios e todos os pobres e de socupados o impacto da limpeza social das ruas135 Mas seu maior inimigo é o tempo Os registros de prisão deste final de século mostram parco número de mulheres minas idosas curvadas pelo trabalho extenuante algumas em condição de miséria tal que acabam no Asilo de Mendicidade mantido pela Prefeitura A morte chegou para a maioria delas antes que o século XIX entrasse em seu crepúsculo derradeiro136 Contudo uma nova geração se er gueu Apesar da repressão do novo regime mulheres crioulas cario cas ou baianas envergando turbantes panos da costa joias ostento sas nas mãos e seu indefectível tabuleiro continuavam a percorrer as ruas Elas eram o elo decisivo que manteve acesa a chama da cultura mina entre crioulos cariocas e baianos do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX O elo não apenas na formação das casas de santo do candomblé reduto da cultura religiosa panafricana na ca pital federal mas também na criação do samba moderno Era esse o caso da lendária Tia Ciata crioula da Bahia ícone da cultura popular da virada do século e bastião da religiosidade africana na cidade do Rio de Janeiro Iluminando a trajetória das lendárias pretasminas quitandeiras podemos resgatar um capítulo esquecido da história social do trabalho das experiências de seus trabalhadores urbanos das articulações com as culturas de gênero e do papel das identida des sociais e étnicas reconfiguradas137 Notas 1 Este artigo apresenta resultados de pesquisas em andamento que contam com o apoio do CNPq Parte dele foi apresentada por Carlos Eugênio Líbano Soares no XXIII Encontro da Latin American Studies Association LASA setembro de 2001 com o título Commerce Nations and Gender the mina Coast African Women gre engrocers Rio de Janeiro 1835 1900 As pesquisadoras Bárbara Canedo e Lucia Miller participaram de parte da coleta de dados Agradecemos a João Reis Mariza Soares e Olívia Cunha pelos comentários de versões anteriores 2 Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro Livros de Entrada da Casa de Deten ção da Corte doravante LECDC nº 3969 ficha 909 1681863 3 Com perspectivas históricas e abordagens variadas ver os estudos a respeito da mulher no Brasil DIAS Maria Odila Silva Quotidiano e poder em São Paulo no sé culo XIX São Paulo Brasiliense 1984 ENGEL Magali Meretrizes e doutores saber médico e prostituição no Rio de Janeiro 18401890 São Paulo Brasiliense 1989 ESTEVES Marta de Abreu Meninas perdidas os populares e o cotidiano do amor no Rio de Janeiro da Belle Époque Rio de Janeiro Paz e Terra 1989 GRAHAM Sandra Lauderdale Proteção e obediência criadas e seus patrões no Rio de Janeiro 18601910 São Paulo Companhia das Letras 1988 PEDRO Joana Maria Mulhe res honestas e mulheres faladas uma questão de classe Florianópolis Ed da UFSC 1994 SAMARA Eni de Mesquita As mulheres o poder e a família São Paulo século XIX São Paulo Marco Zero 1989 e SOIHET Rachel Condição feminina e formas de violência mulheres pobres e ordem urbana 18901920 Rio de Janeiro Forense Universitária 1989 Entre os trabalhos históricos sobre mulheres no Brasil colo nial destacamse os estudos de PRIORE Mary del Org A mulher na História do Brasil São Paulo Contexto 1988 e Ao sul da historia do corpo condição feminina maternidades e mentalidades no Brasil Colônia Brasília DF EdUnB Rio de Janei ro J Olympio 1993 4 Ver entre outros SCOTT Joan Gênero uma categoria útil para análise histórica Sl sn1991 mimeo 5 Além do estudo pioneiro de Maria Odila Dias as referências eram GRAHAM San dra Lauderdale Proteção e obediência criadas e seus patrões no Rio de Janeiro 18601910 São Paulo Companhia das Letras 1988 ver Caetana Says No Cam bridge University Pres 2003 GIACOMINI Sônia Maria Mulher e escrava uma intro dução ao estudo da mulher negra no Brasil Petrópolis Vozes 1988 e MOTT Maria Lúcia de Barros Submissão e resistência a mulher na luta contra a escravidão São Paulo Contexto 1988 6 Numa perspectiva africanista Pantoja recupera as dimensões de poder e gênero destacadamente Nzinga Mbandi nas relações comerciais do tráfico em áreas centroocidentais no século XVII Ver PANTOJA Selma Nzinga Mbandi mulher guerra e escravidão Brasília DF Thesaurus 2000 cap VI e VII 7 TERNORGPENN Rosalyn Black women in resistance a crosscultural perspecti ve In OKIHIRO Gary Y Resistance studies in African caribean and afroamerican history Boston The University of Massachusets Press 1986 p 188209 8 ELLISON Mary Resistance to oppression black womens response to slavery in the United States Slavery Abolition London v 4 n 1 p 5663 maio 1983 9 BUSH Barbara Towards emancipation slave women and resistance to coerciti ve labour regimes in the British West Indian Colonies 17901838 In RICHARSON David Abolition and its aftermath the historical context 17901916 Frank Cass University of Hull 1985 p 2931 10 SAUNDERS A C de M A social history of black slaves and freedom in Portugal 1411 1555 Cambridge Cambridge University Press 1982 p 14 11 BUSH Barbara The family tree is not cut women and cultural resistance in slave family life in the british Caribbean In OKIHIRO Gary Y Resistance studies in Afri can Caribean and afroamerican history Boston The University of Massachusets Press 1986 p 117131 12 BUSH Barbara Slave women in Caribbean society 16501838 Londres sn 1990 13 FOXGENOVESE Elizabeth Strategies and forms of resistance focus on slave wo men in the United States In OKIHIRO Gary Y Resistance studies in African cari bean and afroamerican history Boston The University of Massachusets Press 1986 p 147152 Ver também BECKLES Hilary McD Natural rebels a social history of enslaved black women in Barbados New Brunswick Rutgers University Press 1989 DAVID Barry Gaspar HINE Darlene Clark Org More than Chattel black women and slavery in the Americas Bloomington Indiana University Press 1996 Uma análise clássica para sociedades coloniais relacionando gênero sexualidade e racismo continua sendo STOLKE Verena Racismo y sexualidad en la Cuba Co lonial Madrid Alianza América 1992 Para uma interessante abordagem sobre as relações de gênero na estrutura de trabalho dos escravos urbanos especialmente no contexto da esfera pública e privada ver SIDBURY James Race and construc tions of gender in early Richmond In Ploughshares into swords race rebelion and identify in Gabriels Virginia 17301810 Cambridge Cambridge University Press 1997 p 220255 Agradecemos a José Celso Castro Alves a indicação deste texto 14 Resistência aqui pode ser entendida como um conceito estático muito usado nos anos 1970 de oposição violenta ao sistema Adaptação é um conceito novo cujo precursor foi Gilberto Freyre mas que pode ser entendido melhor na ideia de negociação sugerida por João Reis e Eduardo Silva 15 KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 Especialmente Capítulo 7 16 SOARES Luís Carlos Urban slavery in nineteenth century 1808 1888 Rio de Janei ro PhD Dissertation University College Londres 1988 Escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX Revista Brasileira de História São Paulo v 8 n 16 p 107142 marago 1988 Sobre escravidão ao ganho no Rio de Janeiro ver também ALGRANTI Leila Mezan O feitor ausente estudo de escravidão urbana Rio de Ja neiro 18081821 Petrópolis Vozes 1988 e SILVA Marilene Rosa Nogueira Negro na rua a nova face da escravidão urbana São Paulo Hucitec 1988 De um total de 2823 africanos colocados ao ganho no Rio entre 1851 e 1870 Soares encontrou pelo menos 516 18 de nação Mina a maior nação isolada SOARES Luís Carlos Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX Revista Brasileira de Histó ria São Paulo n 16 p 107142 1988 p 139 tabela I 17 DIAS Maria Odila da Silva Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX São Paulo Brasiliense 1995 18 FIGUEIREDO Luciano O avesso da memória cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII Brasília DF EdUNB Rio de Janeiro J Olympio 1993 e Barrocas famílias vida familiar em Minas Gerais no século XVIII Rio de Janei ro Hucitec 1998 E seus artigos Mulheres nas Minas Gerais In PRIORI Mary del Org História das mulheres no Brasil São Paulo Contexto UNESP 1997 p 141188 e FIGUEIREDO Luciano R A MAGALDI Ana Maria Bandeira de Mello Quitandas e quitutes um estudo sobre rebeldia e transgressão femininas numa sociedade colonial Cadernos de Pesquisa São Paulo v 54 p 5061 1985 Ver também REIS Liana Maria Mulheres de ouro as negras de tabuleiro nas Minas Gerais do século XVIII Revista do Departamento de História da UFMG Belo Horizonte n 8 1989 19 SOARES Cecília Moreira Mulher negra na Bahia no século XIX Dissertação Mes trado em História Universidade Federal da Bahia Salvador 1994 Ver também da mesma autora As ganhadeiras mulher e resistência negra em Salvador no século XIX AfroÁsia Salvador n 17 p 5772 1996 20 SILVA Eduardo Dom Obá II D África vida tempo e pensamento de um homem livre de cor São Paulo Companhia das Letras 1997 21 CHALHOUB Sidney Visões da liberdade uma história das últimas décadas da es cravidão na corte São Paulo Companhia das Letras 1990 Ainda que não enfo cando as relações de gênero Grinberg acompanha as lutas judiciais da exescrava Liberata na primeira metade do século XIX em Santa Catarina para garantir a liberdade de seus filhos e família Ver GRINBERG Keila Liberata a lei da ambi güidade as ações de liberdade da Corte de Apelação do Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro RelumeDumará 1994 p 1336 22 FARIA Sheila de Castro Mulheres forras riqueza e estigma social Tempo Niterói v 5 n 9 p 6592 jul 2000 FURTADO Júnia Ferreira Pérolas negras mulheres livres de cor no Distrito Diamantino In Diálogos oceânicos Minas Ge rais e as novas abordagens para uma história do Império Ultramarino Português Belo Horizonte Ed da UFMG 2001 p 81126 e PAIVA Eduardo França Celebrando a alforria amuletos e práticas culturais entre as mulheres negras e mestiças do Brasil In JANCSÓ István KANTOR Iris Org Festa cultura e sociabilidade na América Portuguesa São Paulo Hucitec EDUSP 2001 v 2 p 505520 23 GOMES Flávio dos Santos Histórias de quilombolas mocambos e comunidades de senzalas Rio de Janeiro séc XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1994 e SLE NES Robert W Na senzala uma flor as esperanças e as recordações na formação da família escrava Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 24 MOREIRA Leite Mirian L A mulher no Rio de Janeiro no século XIX um índice de referências em livros de viajantes estrangeiros São Paulo Fundação Carlos Cha gas 1982 e A condição feminina no Rio de Janeiro século XIX São Paulo Hucitec Brasília DF INL 1984 25 Pistas teóricas e metodológicas de trabalhar com iconografias sobre escravidão e significados culturais reinventados encontramse em SLENES Robert W As pro vações de Abraão africano a nascente nação brasileira na Viagem alegórica de Johann Moritz Rugendas Revista de História da Arte e Arqueologia Campinas SP n 2 p 271294 19951996 26 DEBRET Jean Baptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Tradução de Sér gio Miliet São Paulo Martins Fontes 1954 KIDDER Daniel P Reminiscências de viagens e permanências no Brasil Províncias do Sul Tradução de Moacir N Vas concelos São Paulo Livraria Martins EDUSP 1972 e SANSON Maria Lúcia David AIZEN Mário VASQUEZ Pedro Karp O Rio de Janeiro do fotógrafo Leuzinger Rio de Janeiro Sextante Artes 1998 A fotografia de Ferrez que mostra as negras qui tandeiras está reproduzida em TATI Miécio O mundo de Machado de Assis Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Cultura DGDI 1995 p 131 Biblioteca Carioca e também em FERREZ Gilberto O Rio de Janeiro do fotógrafo Marc Ferrez paisagens e tipos humanos do Rio de Janeiro 18651918 Rio de Janeiro João Fortes Eng Ex Libris 1984 27 EWBANK Thomas A vida no Brasil ou diário de uma visita ao país do cacau e das palmeiras Tradução de Homero Castro Jobim Rio de Janeiro Conquista 1973 p 99 DABADIE F A travers LAmérique du Sud Rio de Janeiro et environs les esclaves au Brésil Paris Ferdinand Sartoriuns 1859 p 51 RIBEYROLLES Charles Brasil pitoresco Tradução de Gastão Penalva Belo Horizonte Itatiaia São Paulo EDUSP 1975 p 203 28 AGASSIZ Luiz AGASSIZ Elizabeth Cary Viagem ao Brasil 18651866 Belo Horizon te Itatiaia São Paulo EDUSP 1975 p 6869 29 Sobre outros viajantes que mencionam as pretasminas ver BIARD François Dois anos no Brasil Trad de Mário Sete São Paulo Companhia Ed Nacional 1945 p 43 e WALSH Robert Notícias do Brasil Belo Horizonte Itatiaia 1985 p 501502 Para outras descrições de viajantes sobre mulheres escravas e africanas no Rio de Janeiro ver MOREIRA Mirian Leite A mulher no Rio de Janeiro no século XIX um índice de referências em livros de viajantes estrangeiros São Paulo Fundação Car los Chagas 1982 e A condição feminina no Rio de Janeiro século XIX São Paulo Hucitec Brasília DF INL 1984 30 RODRIGUES Nina Os africanos no Brasil 5 ed São Paulo Fundação Ed Nacional 1977 Uma análise crítica deste estudioso e sua obra está em CORRÊA Mariza As ilusões da liberdade a escola de Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil Tese Doutorado FFLCH Universidade de São Paulo São Paulo 1982 31 Entre suas obras ver RAMOS Arthur A aculturação negra no Novo Mundo São Paulo Companhia Ed Nacional 1942 O negro na civilização brasileira Rio de Ja neiro Casa do Estudante do Brasil 1953 e principalmente As culturas negras no Novo Mundo 3 ed São Paulo Companhia Ed Nacional 1979 32 BASTIDE Roger As religiões africanas no Brasil contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações 3 ed São Paulo Pioneira 1989 e As Américas negras as civilizações africanas no Novo Mundo São Paulo Difel EDUSP 1974 33 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1988 e Os libertos sete caminhos na liberdade de escravos na Bahia no século XIX São Paulo Corrupio 1992 34 Mais recentemente Reis discutiu a questão das identidades étnicas a partir das irmandades Ver REIS João José Identidade e diversidade étnica nas irmandades negras no tempo da escravidão Tempo Niterói v 2 n 3 p 733 1997 Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e amplia da São Paulo Companhia das Letras 2003 Cap 10 35 SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 36 Entre os estudos mais recentes ver CARON Peter Of a nation wich the others do not Understand Bambara Slaves and African Ethnicity in Colonial Lousiana 1718 1760 Slavery Abolition London v 18 n 1 p 98121 1997 e CHAMBERS Douglas B My own nation igbo exiles in the Diaspora Slavery Abolition London v 18 n 1 p 7397 1997 37 Por exemplo FLORENTINO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro Rio de Janeiro Arquivo Nacional 1994 38 VERGER Pierre Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos séculos XVIII a XIX 3 ed São Paulo Corrupio 1988 39 Ver MINTZ Sidney W PRICE Richard An anthropological aproach to the AfroAme rican Past a caribbean perspective Philadelfia ISHI 1976 Retomando a polêmica ver mais recentemente as instigantes análises de PRICE Richard The miracle of creolization a retrospective New West Indian Guide Sl v 75 p 3564 2000 Um marco nos novos estudos de etnicidades é BARTH Fredrik Grupos étnicos e suas fronteiras In POUTIGNAT Philippe STREIFFFENART Jocelyne Teorias de etnici dade São Paulo UNESP 1997 40 Ver especialmente LOVEJOY Paul E Identifying enslaved africans in the African Diaspora In LOVEJOY Paul E Ed Identity in the shadow of slavery London Con tinium 2000 p 129 Além do artigo anterior de Price citado esse debate aparece em GOMÉZ Michael Exchanging our country marks the transformation of african identities in the colonial and Antebelum south Chapel Hill The University of Nor th Carolina Press 1998 HALL Gwendolyn Midlo Africans in colonial the develo pment of AfroCreole culture in the eighteenth century Baton Rouge Louisiana State University Press 1992 MORGAN Philip D The cultural implications of the Atlantic Slave african regional origins american destinations and new world deve lopments Slavery Abolition London v 18 n1 1997 MULLIN Michael Africa in America slave acculturation and Resistance in the America South and the British Caribbean 17361831 Sl University of Illinois Press 1992 e THORNTON John K Africa and africans in the making of the Atlantic World 14001680 Cambridge Cambridge University Press 1992 A África e os africanos na formação do mundo atlântico 1400 1800 Rio de Janeiro Elesevier Campus 2004 41 O melhor trabalho sobre o movimento de 1835 continua sendo REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 Sobre a tradição de revoltas escravas na Bahia no primeiro quartel do século XIX ver REIS João José Recôn cavo rebelde revoltas escravas nos engenhos baianos AfroÁsia Salvador n 15 p 100126 1992 42 Uma comparação de anúncios de fuga de escravos no Diário do Rio de Janeiro para dois anos 1828 e 1836 revela claramente a presença bem mais incisiva de africa nas minas no último período 43 GOMES Flávio dos Santos SOARES Carlos Eugênio Líbano Com o pé sobre um vulcão africanos minas identidades e a repressão antiafricana no Rio de Janeiro 18301840 Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro ano 23 n 2 p 335378 2001 44 SOARES Cecília Moreira Mulher negra na Bahia no século XIX Dissertação Mes trado em História Universidade Federal da Bahia Salvador 1994 REIS João José A greve negra de 1857 na Bahia Revista USP São Paulo v 18 p 821 1993 45 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 Especial mente a primeira parte 46 Nesse movimento histórico incluímos o impacto dos africanos livres aqueles que foram capturados na repressão ao tráfico negreiro proibido e passaram a ser tutelados pelo Estado no Rio de Janeiro Ver CUNHA Manuela Carneiro da Ne gros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Brasiliense 1985 Para os africanos livres minas na Corte do Rio de Janeiro ver MAMIGO NIAN Beatriz Gallotti Do que o preto mina é capaz etnia e resistência entre africa nos livres AfroÁsia Salvador n 24 p 7195 2000 47 Dados relativos a passaportes guardados no Arquivo Público da Bahia entre 1835 e 1842 revelam este número de 80 de nagôs entre as mulheres africanas chega das ao Rio 48 Para a melhor discussão mais recente em termos de historiografia brasileira so bre a problemática da classificaçãoconstruções dos nomes de nação no tráfico africano ver OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de Quem eram os negros da Guiné a origem dos africanos na Bahia AfroÁsia Salvador p 3773 n 1920 1997 49 Para o século XIX são vários os estudos sobre irmandades Destacamos REIS João José Identidade e diversidade étnica nas irmandades negras no tempo da escravidão Tempo Niterói v 2 n 3 p 733 1997 Para o Rio de Janeiro ver OLI VEIRA Anderson José Machado de Devoção e caridade irmandades religiosas no Rio de Janeiro Imperial 18401889 Dissertação Mestrado ICHF Universida de Federal Fluminense Niterói 1995 Para pensar essas questões mais amplas de identidades étnicas ver SILVEIRA Renato da Pragmatismo e milagres de fé no Extremo Ocidente In REIS João José Escravidão e invenção da liberdade estudos sobre o negro no Brasil São Paulo Brasiliense 1988 p 166197 OLIVEIRA Ma ria Inês Côrtes de Quem eram os negros da Guiné a origem dos africanos na Bahia AfroÁsia Salvador p 3773 n1920 1997 SLENES Robert W As provações de Abraão africano a nascente nação brasileira na Viagem alegórica de Johann Moritz Rugendas Revista de História da Arte e Arqueologia Campinas SP n 2 p 271294 19951996 SLENES Robert W Malungu Ngoma vem África coberta e descoberta no Brasil Redescobrir os descobrimentos as descobertas do Brasil Revista da USP São Paulo n 12 dez1991 fev 1992 50 Essa afirmativa também aparece em KARASCH Mary Catherine A vida dos escra vos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 64 51 Pensamos aqui nas sugestões de MATORY J Lorand Jeje repensando nações e transnacionalismo Mana Estudos de Antropologia Social Rio de Janeiro p 5780 abr 1999 52 Para a África Ocidental ver os estudos clássicos e aqueles mais recentes Law e Lovejoy Destacamos LOVEJOY Paul E Transformations in slavery a history of slavery in Africa Cambridge Cambridge University Press 1983 A escravidão na África uma história de suas transformações Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 e LAW Robin The Slave Coast of West Africa 15501750 the impact of the Atlantic Slave Trade on an African Society Oxford Claredon Press 1991 53 De acordo com Inês Oliveira e Nina Rodrigues os minas vinham do oeste da re gião do porto de Elmina antiga São Jorge da Mina Na Bahia no início do século XVIII de acordo com João Reis mina tinha um significado restrito referente ao Reino do Pequeno Popo na costa do Daomé formado por refugiados das guerras daomeanas em São Jorge da Mina bastante diferente dos minas do Rio no século XIX Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 328 A nação mina da Bahia foi se reduzindo no correr do século XIX ao que Nina chamou de propria mente mina Para uma comprovação da hegemonia mina entre os ocidentais no Rio de Janeiro ver as tabelas no final da obra de SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoei ra escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Cam pinas SP CECULT UNICAMP 2001 54 Ver REIS João José A greve negra de 1857 na Bahia Revista USP São Paulo v 18 p 821 1993 p 1721 e OLIVEIRA Maria Inês Côrtes de Viver e morrer no meio dos seus nações e comunidades africanas na Bahia do Século XIX Revista da USP São Paulo n 28 p 174193 dez1995fev1996 55 Ver LARA Sílvia Hunold Significados cruzados um reinado de Congos na Bahia In CUNHA Maria Clementina Pereira Org Carnavais e outras frestas ensaios de História Social da Cultura Campinas SP CECULT UNICAMP 2002 p 71100 56 É importante observar que essa é uma pesquisa em andamento e que estamos comparando o padrão de moradia de libertas minas com outras nações africa nas no Rio A documentação de presos na Detenção no Rio informa o endereço somente para libertos e livres e não para escravos que teoricamente residiam com seus senhores 57 Ver o importante estudo recente de PANTOJA Selma A dimensão atlântica das quitandeiras In FURTADO Júnia Ferreira Diálogos oceânicos Minas Gerais e as novas abordagens para uma história do Império Ultramarino Português Belo Hori zonte Ed da UFMG 2001 p 4568 58 Nos registros da Casa de Detenção entre 1860 e 1900 as minas eram em maioria quitandeira De um total de 35 libertas e 79 escravas minas 75 eram quitandei ras Entre as outras africanas libertas vemos dados diferentes Entre as angolas 47 essa percentagem chegava a 12 As de nação cabinda 15 eram 6 As ben guelas 52 eram 7 as moçambiques 19 eram 5 Não havia nenhuma mulher da nação congo 6 com ocupação de quitandeira De um total de 40 africanas li bertas quitandeiras 65 eram minas Para uma análise mais acurada ver FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 59 Para as relações de mercado mas principalmente os números do tráfico africano para o Rio de Janeiro entre o final do século XVIII e o primeiro quartel do século XIX ver FLORENTINO Manolo Em costas negras uma história do tráfico de escra vos entre a África e o Rio de Janeiro Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 Novas abordagens e números para o tráfico transatlântico com destaque para a questão das identidades étnicas aparecem em ELTIS David The rise of African Slavery in the Americas Cambridge Cambridge University Press 2000 Especial mente o cap 9 p 224257 60 Analisando a importância das relações de gênero e o pequeno comércio em socie dades africanas especialmente na Costa da Mina Sheila de Castro Faria em Mu lheres forras riqueza e estigma social Tempo Niterói v 5 n 9 p 6592 jul 2000 p 90 cita o trabalho de HOUSEMIDAMBA Bessie EKICH Félix K African market women and economic power the role of women in African economic developmen te 1995 61 Estamos analisando os padrões de alforria e de compravenda desses africanos Sobre padrões de alforrias para o Rio de Janeiro ver KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 Abordagens relacionando o valor das mulheres na alforria aparecem também em FARIA Sheila de Castro Mulheres forras riqueza e estigma social Tempo Ni terói v 5 n 9 p 6592 jul 2000 p 70 et seq 62 Os anúncios de fugas nos jornais especialmente de africanos diminuem entre as décadas de 1850 e 1860 Registros da Casa de Detenção surgem exatamente a partir deste período Daí podermos enfocar estes dois acervos como complemen tares mas de épocas diferentes 63 CARVALHO Marcos de Liberdade rotinas e rupturas do escravismo Recife 1822 1850 Recife Ed da UFPE 1998 Especialmente o cap 12 64 Ver SOARES Carlos Eugênio Líbano Zungu rumor de muitas vozes Rio de Janeiro Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro 1998 65 Para religiosidade escrava e africana reconstruída no Rio de Janeiro colonial além de SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 ver a importante obra de MOTT Luiz R B Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Bertrand do Brasil 1993 Para o Rio de Janeiro imperial ver KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 e SAMPAIO Gabriela dos Reis Pai Qui lombo o chefe das macumbas do Rio de Janeiro imperial Tempo sl v 11 p 157169 19 Há pesquisas arquivísticas e abordagens mais recentes levantando questões sobre as reinterpretações e reinvenções religiosas dos africanos no Bra sil Ver entre outros MOTT Luiz R B Acontundá raízes setecentistas do sincretis mo religioso afrobrasileiro In Escravidão homossexualismo e demo nologia São Paulo Ícone 1988 REIS João José Magia Jeje na Bahia a invasão do Calundu no Pasto de Cachoeira 1785 Revista Brasileira de História São Paulo v 8 n16 p 5781 marago 1988 A invasão do Candomblé do Açu In REIS João José SILVA Eduardo Negociação e conflito resistência negra no Brasil escravista São Paulo Companhia das Letras 1989 e SOARES Cecília Moreira Resistência negra e religião a repressão ao candomblé de Paramerim 1853 Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro v 23 p 133142 dez 1992 Sobre a participação e liderança feminina no desenvolvimento do candomblé no contexto urbano do século XIX ver HARDING Rachel E A Refuge in thunder candomblé and alternative spaces of blackness In dianapolis Indiana University Press 2000 p 68103 João Reis indica que a maioria dos africanos envolvidos em feitiçaria em Salvador é composta por homens 66 GRJ 2521809 791811 e 1101814 67 GRJ 2021819 68 Gazeta do Rio de Janeiro doravante GRJ 2521809 e 6101819 respectivamente 69 GRJ 791811 70 DRJ 2871836 p 4 71 DRJ 2971836 p 4 e 2981836 p 4 72 DRJ 19121836 p 5 anexos 73 ANRJ Códice 359 2811826 f 7 e Códice 404 441827 f 25 11101827 f 94 74 ANRJ Códice 359 561826 f 39 e Códice 403 2351826 vol 3 f 61 75 GRJ 18091821 76 Atualmente continuamos a tabular os dados sobre mulheres escravas fugidas em anúncios de jornais Diário do Rio de Janeiro e Jornal do Commercio Para a Casa de Detenção os dados já estão tabulados 77 Para a cidade de São Paulo na segunda metade do século XIX especialmente os significados dos espaços para escravos e libertos ver as análises de WISSENBA CH Maria Cristina Cortez Sonhos africanos vivências ladinas escravos e forros no Município de São Paulo 18501888 São Paulo Hucitec 1993 Para descrições de viajantes estrangeiros sobre lavadeiras e aguadeiras ver LEITE Mirian L Moreira A condição feminina no Rio de Janeiro século XIX São Paulo Hucitec Brasília DF INL 1984 p 90 107108 78 Agradecemos à historiadora Bárbara Canedo por disponibilizar dados de sua pes quisa em andamento sobre amas de leite na Corte do Rio de Janeiro 79 Diário do Rio de Janeiro doravante DRJ 1911835 p 4 80 Diário do Rio de Janeiro doravante DRJ 1911835 p 4 Ver também Mina Uçá 2341835 Recolhidos ao Calabouço Nação Geje DRJ 741835 p 4 Cf SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 e Mina Angola e Guiné nomes dÁfrica no Brasil setecentista Tempo Niterói v 3 n 6 p 7393 dez 1998 Dossiê Escravidão e Africa Negra 81 Ver REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 cap 10 82 Sobre marcas de Nação de africanos ver RAPOSO Luciano Org Marcas de es cravos listas de escravos emancipados vindos a bordo de navios negreiros 1839 1841 Texto analítico de Luciano Raposo Rio de Janeiro Arquivo Nacional CNPq 1990 83 DRJ 16031835 p 4 e REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 Cap 10 84 Para uma imagem da quitandeira do período joanino ver FRÈRES Thierry Négres ses libres vivant de leur travail In MOURA Carlos Eugênio Marcondes de A traves sia da Calunga Grande três séculos de imagens sobre o negro no Brasil 16371899 São Paulo EDUSP 2000 p 403 A questão da indumentária e do cabelo das africa nas e crioulas deve ser também pensada no contextos das redefinições étnicas tanto pode haver crioulização como africanização dos escravos Ver pistas e abordagens interessantes em ESCOREL Sílvia Vestir poder e poder vestir o tecido social e a trama cultural nas imagens do traje negro Rio de Janeiro século XVIII Dissertação Mestrado IFCS Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2000 FREYRE Gilberto O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX tentativa de interpretação antropológica através de anúncios de jornais brasileiros do século XIX de características de personalidade e de formas de corpo de negros ou mestiços fugidos ou expostos à venda como escravos no Brasil do século passado 2 ed aum São Paulo Companhia Ed Nacional Recife Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais 1979 LARA Silvia Hunold The signs of color womens dress and racial relations in Salvador and Rio de Janeiro ca 17501815 Colonial Latin American Review London v 6 n 2 p 205224 1997 e SCARANO Julita Roupas de escravos e de forros Resgate Revista de Cultura São Paulo n 4 1992 85 DRJ 551835 86 DRJ 1831835 Os minas já eram conhecidos como notórios desencaminhadores de escravos Sobre escravos desencaminhados por africanos minas ver O êxodo mina em SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CECULT UNICAMP 2001 87 O caso sintomático é o de Isabel da nação Angola Seu senhor acreditava que al guém a tinha desencaminhado ou que ela estava escondida em alguma casa pois não sendo quitandeira precisaria de apoio para fugir DRJ 741835 88 DRJ 3031835 f 2 Em 1836 um senhor de uma escrava fugitiva recomendou que os capitães do mato ficassem de tocaia nas casas onde moravam pretos libertos DRJ 2331836 p 4 89 DRJ 341835 90 DRJ 2141835 91 José Mina estava prestes a embarcar de acordo com o anúncio para a Bahia ou Pernambuco onde esteve antes do Rio DRJ 1351835 p 4 92 DRJ 2551835 Bernarda Mina 93 CARVALHO Marcos de Liberdade rotinas e rupturas do escravismo Recife 18221850 Recife Ed da UFPE 1998 94 DRJ 361835 p 4 95 Carta de apadrinhamento era uma carta dirigida ao senhor do cativo escrita pelo padrinho do fugitivo que garantia o retorno da escrava mediante algumas con dições de que o padrinho era o avalista Ela também informava que este era o protetor da cativa o que afastava certos perseguidores DRJ 1961835 p 4 96 Essa marca na realidade se liga aos povos iorubá como aparece em uma antiga escultura da cidade sagrada de Ifé SILVA Alberto da Costa e A enxada e a lança a África antes dos portugueses Rio de Janeiro Nova Fronteira 1996 p 465 97 DRJ 1081835 p 4 98 Típico era o crioulo da Bahia Antônio Maceió sic que era na opinião de seu dono muito mentiroso e trapaceiro DRJ 2891835 p 4 Já o moleque André fugiu de Recife para a Corte e disse a seus parceiros que queria fugir por gostar da terra do Rio de Janeiro DRJ 13101835 p 4 99 DRJ 2261835 p 4 100 Joaquina de nação mina DRJ 271835 p 4 Outro caso interessante é o do preto mina de nome Docó nome de sua nação com riscos na cara de ambos os lados DRJ 2071835 Felizardo por sua vez era de nação mina ajá 7101835 p 4 Ver também mina itapa que deve ser tapa DRJ 2971836 p 4 101 Severino Cabinda é preso em Magé e confessa ter fugido com apoio de Teresa Maria e Joaquim todos minas Fugira numa Sextafeira da Paixão e nesse tempo estava alugado a um pretomina DRJ 1671835 p 1 Sobre as seduções envol vendo fugas e fugitivos e o papel dos africanos minas ver GOMES Flávio dos San tos SOARES Carlos Eugênio Líbano Em busca de um risonho futuro seduções identidades e comunidades em fugas no Rio de Janeiro escravista séc XIX Lócus Revista de História Sl v 7 n 2 p 928 2001 102 DRJ 1471835 p 4 103 DRJ 13111835 p 4 104 DRJ 17111835 p 3 105 DRJ 25111835 p 4 106 DRJ 521836 p 2 107 DRJ 1341836 p 4 108 Escravos e libertos dela tiravam uma renda não desprezível como se percebia com os moleques que compravam peixe na Praia do Peixe e os vendiam em cestos e samburás no pregão da cidade muito perto dali DRJ1831836 p 4 109 Ver SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 110 É claro que outras comunidades africanas também transétnicas como os mo çambiques e mesmo da proto nação banto de Robert Slenes podiam estar sen do formadas por africanos e seus descendentes no Rio de Janeiro neste momento Devemos ter cuidado para não transformar esse processo num imperialismo dos africanos ocidentais sobre o conjunto dos africanos da cidade Sobre as conexões e o processo de transculturação entre africanos dos reinos do Congo e Angola no Brasil dos séculos XVII e XVIII a partir das irmandades ver HEYWOOD Linda M The angolanafrobrazilian cultural connections In FREY Sylvia R WOOD Bety Org From slavery to emancipation in the Atlantic World London Portland Frank Cass 1999 p 923 Agradecemos a Lucilene Reginaldo a indicação desse texto 111 DRJ 3131836 p 4 112 DRJ 1141836 p 4 113 Esta interpretação está clara em SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoeira escra va e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CECULT UNICAMP 2001 Êxodo Mina p 372399 114 DRJ 1341836 p 4 115 DRJ 1451836 p 2 3051836 p 4 161836 p 4 1461836 p 4 e 3061836 p 4 116 DRJ 1671836 p 4 e 1971836 p 4 117 Respectivamente DRJ 18 e 27101836 p 2 e 4 E DRJ 10111836 p 4 118 DRJ 10111836 p 4 119 DRJ 11111836 p 4 120 DRJ 25111836 p 4 121 DRJ 28111836 p 4 122 Os dados são nome número da ficha nome do senhor data da prisão motivo da prisão autoridade que ordenou autoridade policial que levou para a prisão nação idade estado civil cor ocupação altura cabelo data da soltura roupa observações 123 LECD n 3969 ficha doravante F 666 2651863 e F 703 561863 124 LECD n 3969 666 2651863 F 703 561863 F 799 871863 Adelaide escrava de Joaquim Antônio Barros suspeita de fugida LECD n Cd 65 F 306 2321864 LECD n 3969 F 666 2651863LECD n 3969 F 1094 8101863 LECD n 3969 F 666 2651863 125 LECD n 3969 F 836 1871863 F 838 1871863 F 858 2471863 e F 933 2381863 126 LECD n 3969 F 1142 22101863 127 LECD n 3969 F 1226 22111863 128 LECD n 3969 F 1334 F 1344 16121863 F 83 1911864 F 82 1011864 e F 95 1511864 Ela só foi libertada em 10 de setembro de 1864 129 LECD n 3969 F 119 2211864 F 120 2211864 F 510 241864 e F 595 2441864 130 LECD n 3969 F 172 421864 F 1073 6101863 e F 595 1151864 Sobre zungu ver SOARES Carlos Eugênio Líbano Zungu rumor de muitas vozes Rio de Janeiro Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro 1998 131 Para dados do conjunto de africanos ver GOMES Flávio dos Santos et al No labi rinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Prêmio Arquivo Nacional 2003 132 Os anos levantados até agora são 1860 1861 1868 1870 1875 1879 1880 1881 1882 e 1883 sendo que até 1881 os dados são incompletos para cada ano 133 Quando falamos nação isolada estamos nos referindo àqueles mencionados nos documentos da Detenção como Origem do liberto Existe um nagô um calabar e dois minanagô mas não os listamos aqui como mina que são imensamente mais numerosos 134 MOURA Roberto Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Secretaria Municipal de Cultura DGDI 1994 135 CHALHOUB Sidney Cidade febril São Paulo Companhia das Letras 1996 136 Encontramos poucas evidências sobre este Asilo mas devem existir caixas perdi das no imenso depósito do Arquivo Nacional ou no Arquivo Geral da Cidade 137 Há um desafio para nós historiadores da História Social do Trabalho produzir mos análises sobre os trabalhadores urbanos no Rio de Janeiro ligando as cul turas transétnicas da sociedade escravista com aquelas dos trabalhadores livres e estrangeiros do início do século XX Por caminhos variados em termos de problemáticas históricas e objeto indicações importantes aparecem em ALEN CASTRO Luiz Felipe de Proletários e escravos imigrantes portugueses e cativos africanos no Rio de Janeiro 18501872 Novos Estudos CEBRAP São Paulo n 21 jul 1988 Especialmente p 4051 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Tra piche e Café Rio de janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 MATTOS Wilson Roberto de Negros contra a ordem resistência e práticas negras de territorialização no espaço da exclusão social Salvador BA 18501888 Tese Doutorado Pontifícia Universidade CatólicaSP São Paulo 2000 Especialmente o cap 1 Trabalhadores urbanos um retrato da cidade negra p 3296 e REIS João José De olho no canto trabalho de rua na Bahia na véspera da abolição Afro Ásia Salvador n 24 p 199242 2000 Ardis da liberdade trabalho urbano alforrias e identidades1 Juliana Barreto Farias Africano tem resistência menino africano pagou seu cor po Eu juntei vintém a vintém um conto e oitocentos para me comprar e houve escravas como a mãe de Henriqueta que juntaram dinheiro para comprar o próprio corpo e mais o das filhas Mas como homem de Deus Ora como Trabalhando nos aluguéis no café venden do santos ou doces na rua e com auxílio do feitiço Não ria Africano sempre vendeu feitiços aos brancos porque os bran cos sempre acreditaram em feitiços Hoje os africanos daquele tempo estão ricos2 O alufá Júlio Ganam teria proferido estas reveladoras palavras numa conversa que tivera em 1905 com João do Rio jornalista carioca que as registrou em uma de suas crônicas na Gazeta de Notícias Não era uma data qualquer Aproximava se o 13 de maio e Ganam convidara o amigo para juntos comemorarem a data da libertação dos es cravos Como se apressara em ressaltar não seria nada extravagante como fazia a gente de santo apenas diriam alguns salas seguidos de um saboro so carneiro recheado ao forno Os festejos daquela tarde seriam modestos porque a data nada signifi cava para os africanos que já estavam libertos antes mesmo de a princesa assinar o decreto libertando todos os escravos Segundo ele os mulsumins fa zem orações nesse dia pelos que partiram para o pa raíso mortos a vergalho e a gente de santo organiza candomblés pela mesma razão3 A crônica fala dos negros que trabalhavam duro para conquistar sua liberdade percebendose em Ganam o cuidado de 221 demarcar práticas religiosas divergentes entre a gente de santo e os musulmins Os africanos já estavam livres inquirira o cronista carioca a Ganam surpreso com aquela revelação O orgulhoso alufá pron tamente lhe respondeu que em 13 de maio de 1888 quase todos os africanos ou já tinham morrido ou já tinham comprado sua carta de alforria Juntando vintém a vintém alugando seu trabalho como cozinheiras artesãos carpinteiros ou sapateiros carregando café no porto ou vendendo água ou doces no mercado e nas ruas da cidade Júlio Ganam e muitos de seus patrícios teriam comprado seu cor po e o de seus parentes Enquanto as mulheres começaram com a venda de acarajés miçangas e feitiços o café foi para os homens o veio inesgotável4 A manha e a persistência desses africanos além de lhes proporcionar a tão almejada liberdade teria contribuído para a construção de grandes fortunas Negros Livres e Ricos João do Rio não podia acreditar Ganam fez questão de listar os nomes e as fortunas de alguns deles Olhe aqui no Rio quantas fortunas O tio João morreu dei xando a Misericórdia todo o correr de casas do lado direito da rua do Hospício entre Núncio e Campo da Aclamação O Geminiano que foi fundador da Igreja do Senhor do Bonfim de Copacabana deixou mil contos Este até dizia quando Deus ajuda a gente a gente já foi escravo e hoje pode estar senta do sem fazer nada Deus é grande Olhe o Pai Balthazar Esse é da política anda todo bonito amigo de deputados a quem sempre empresta dinheiro Mas não é só Balthazar rico Há também o alikali Miguel e mama Soledade que mora na rua Barão de S Felix João Abacejebu que é dono de vá rios cortiços a tia Christina uma das ultimas negras minas do Mercado que dirige empregados seus e tem cerca sic de con tos Fortunato Machado proprietário influente e tia Felicidade a maior fortuna entre negros 5 Em outros artigos publicados na Gazeta ao longo dos anos de 1904 e 1905 João do Rio informa que mil negros ainda viviam na cidade naqueles anos6 Referese aos africanos que segundo ele eram origi nários de pequenas nações como igesá oié aboum haussá itaqua Havia ainda aqueles que se consideravam filhos dos ibouam ixáu 222 ou dos gêges todos grupos étnicos do entorno da Baía do Benim na África Ocidental7 A revelação da presença de africanos assim identificados é sur preendente já que desde a década de 1860 as denominações étnicas conjugadas como minanagô minatapa ou minacalabar haviam praticamente desaparecido do cenário carioca e o termo mina pas sara a designar genericamente os cativos e libertos originários da Costa da Mina Além disso curiosamente ao longo de todos os tex tos publicados pelo cronista no período em nenhum outro momento esses homens e mulheres são identificados de forma tão precisa Não há tampouco qualquer menção a indivíduos iorubá ou nagô nem o uso regular de mina para designar um grupo Mas todas as chama das divulgadas no periódico carioca no período em que João do Rio publicou suas crônicas sobre as religiões africanas anunciam suas incursões e descrições dos negrosminas Lamentavelmente não sa bemos se estas chamadas foram redigidas pelo próprio João do Rio ou pela editoria do jornal De qualquer modo os africanos aparecem ali como um grupo organizado Segundo o cronista da Gazeta todos falavam entre si um idioma comum o eubá Como destacara seu guia Antônio que havia estudado em Lagos o eubá era para os africanos o que o inglês era para os povos civilizados Quem conhecia esta língua africana podia atravessar a África e viver entre os pretos do Rio8 O termo eubá era uma corruptela de iorubá ou o modo como João do Rio a entendera9 Naquela tarde de 1905 certamente o curioso jornalista esperava ouvir histórias de negros vadios e criminosos Talvez por isso o as sombro que pouco a pouco foi denunciando em seu texto Fugindo ao controle do próprio João do Rio esta crônica com o sugestivo tí tulo Negros ricos publicada pela Gazeta de Notícias em 13 de maio de 1905 não obstante os frequentes comentários preconceituosos que emergem aqui e ali desvela muitos aspectos da experiência de africanos e seus descendentes tanto em sua luta pela conquista da li berdade como em sua participação no mercado de trabalho e na vida da cidade do Rio de Janeiro Ganhando as ruas Desde o início do século XIX no porto do Rio de Janeiro muitos trabalhadores avulsos eram largamente empregados nas atividades 223 de manuseio e transporte de carga especialmente os escravos de ga nho10 Pelas ruas da cidade esses cativos deixados a maior parte do tempo a viver sobre si buscavam atividades que lhes permitissem prover suas necessidades e a de seus senhores Diária ou semanal mente entregavam ao senhor uma quantia previamente estabele cida11 ficando com o excedente prática em geral respeitada pelos senhores ainda que nenhuma lei a garantisse antes de 187112 Esses escravos estavam submetidos ao arbítrio do senhor mas dia a dia conseguiam decidir onde como e com quem trabalhar Muitos apare ciam na casa de seus donos apenas para entregar a féria que lhes ca bia arcando com moradia alimentação roupas e juntando recursos para comprar sua alforria13 O trabalho das ruas foi registrado por vários viajantes Maria Graham estimou que em 1822 praticamente a metade dos escravos ganhadores do Rio eram africanos recémimportados que levavam todo tipo de mercadoria na cabeça desde sacas de café e sal até pesados pianos Trabalhavam em grupos capitaneados por um líder que marcava o tempo e os compassos ao som de chocalhos marim bas ou peças de ferro e em coro entoavam canções de sua terra na tal Ernst Ebel observaria que quando cantavam ou tocavam tambo res para distrair os instrumentos conseguiam suportar mais facil mente as pesadas cargas que transportavam14 Jean BaptisteDebret comenta que eles eram trabalhadores indispensáveis o português com seu orgulho e a sua indolência consideravam desprezível quem carregasse um pacote na mão por menor que seja15 Mas os fardos quase sempre eram bem pesados Alguns escravos chegavam a transportar sacas de café com mais de 70 quilos Por isso como descreveu Robert Elwes em 1854 eram escolhidos os escravos me lhores e mais fortes os bem alimentados com aparência gorda e saudável16 Como podemos observar na prancha de Debret os carregadores de café percorriam um penoso e extenso percurso liderados por um capataz entusiasta capaz de animar os homens com suas canções improvisadas Munido de um chifre de boi ou carneiro amuleto que alimenta sua verborragia com a qual ele se impõe à superstição de seus soldados ocasionais o líder e seus companheiros chegavam a seu destino recebiam a féria do dia e depois seguiam para confra ternizar na venda mais perto17 Em geral os carregadores decidiam o tamanho das turmas de trabalho de acordo com a quantidade e o 224 peso dos volumes a transportar e quando a carga era muito pesada recusavamse a trabalhar em grupos reduzidos Em 1832 Expilly assi nalava que os negros de ganho ficavam nas soleiras das portas à es pera de trabalho organizados em grupos de 10 20 ou 50 Assim que o capitão dava o sinal marchavam de modo cadenciado aos sons desta orquestra primitiva e assim carga à cabeça avançam com uma ordem e uma precisão que não se pode deixar de admirar18 Ao descrever as ruas da Corte Imperial entre os anos de 1858 e 1861 Rybeirolles anotaria que da rua de São Bento grande entreposto de café partiam os negros minas atléticos mármores vivos que fazem o transporte dos armazéns do cais Rebeldes a toda sorte de escrava tura formam entre si uma corporação sustentam uma caixa de res gates19 que a cada ano alforria e remete alguns às plagas africanas20 Desses registros também inferimos a especificidade étnica das tur mas de trabalho ligadas ao carregamento de café Os pretosminas que traziam consigo uma forte tradição urbana e mercantil pareciam monopolizar o atendimento à demanda das casas comerciais expor tadoras de café Além disso mantinhamse relacionados por associa ções de fundo étnico como as caixas de alforria muito semelhantes a uma instituição ioruba de crédito chamada esusu que a diáspora africana incutiu em várias regiões das Américas21 Para além da busca da liberdade essas associações podiam ain da colaborar no pagamento do jornal que o cativo devia entregar a seu senhor ou mesmo auxiliar os companheiros nos momentos mais difíceis Em 1838 um grupo de africanos minas se juntou para res gatar da escravidão Fernando Mina cativo doado à Santa Casa de Misericórdia em decorrência de uma incurável elefantíase Seus co legas de nação que o acompanharam até lá pediam que a instituição arbitrasse o valor de sua liberdade22 Candles e Burgess no relato de uma visita feita ao Brasil em 1852 como representantes da Religious Society of Friends descrevem o encontro que tiveram com um grupo de libertos da tribo mina da Costa do Benin que haviam sido ar rancados de lá há muitos anos por um ladrão de homens cruel tra zidos e vendidos como escravos Desejosos de voltarem para suas Áfricas trabalharam arduamente e juntaram dinheiro para o retorno Mas só partiram depois de confirmarem que a costa estava suficien temente livre de negreiros a fim de garantir o sucesso da tentativa Segundo eles já em 1851 60 africanos libertos haviam chegado sãos e salvos a Badagri Ao final do relato os autores informam ainda 225 que dias depois do primeiro encontro receberam um papel escri to em árabe por um dos chefes dos libertos que era muçulmano23 Essas narrativas deixam entrever a solidariedade que havia entre eles bem como sua capacidade de acumular recursos Como já salientou João Reis em relação a Salvador24 ao se orga nizarem para o trabalho os pretosminas no Rio de Janeiro também acresciam suas atividades de atributos culturais específicos trazidos de outros contextos procurando reavivar a memória de um passado mais ou menos remoto Cantando espantavam a tristeza e ao mes mo tempo restabeleciam no dia a dia os limites à exploração Além disso conforme assinala Reis o trabalho africano no Novo Mundo não seguia um ritmo demarcado de tarefas a serem cumpridas Diferentemente da lógica capitalista em que o operário vende sua força de trabalho por um preço e um período de tempo determina dos mantendose quase sempre alheio ao processo produtivo como um todo entre os africanos que aqui exerciam ofícios urbanos ha via uma certa simbiose entre trabalho e vida cotidiana25 Mais adian te veremos em mais detalhes como isso ocorria nas ruas do Rio de Janeiro Vários autores vêm realizando nos últimos anos importantes pesquisas sobre as relações étnicas e de classe entre escravos e li bertos crioulos e africanos Os espaços urbanos de Salvador Recife e Rio de Janeiro eram constantemente redefinidos e distribuídos pe los africanos de acordo com seus grupos de procedência26 ou do lu gar que ocupavam no campo profissional e no processo de trabalho Em Salvador de acordo com João J Reis os cantos criados a partir do sistema de ganho reuniam escravos e libertos africanos de um mesmo grupo étnico em locais específicos da cidade à espera de fre gueses Não há informações precisas sobre sua organização interna mas eles possuíam um líder o capitão do canto Tanto na rebelião de 1835 como em outras mobilizações organizadas por trabalhadores urbanos especialmente africanos como a chamada Greve Negra de 1857 os cantos tiveram um papel significativo27 No Rio de Janeiro a escravidão urbana no século XIX é assun to abordado por Leila Algranti Mary Karasch Luís Carlos Soares e Marilene Silva28 Trabalhando com relatos de viajantes posturas mu nicipais e licenças de trabalho Soares apresenta a mais abrangente pesquisa sobre o tema Contudo como estava mais preocupado com os debates sobre a economia sistêmica e as formas de trabalho sob a 226 escravidão questões ainda muito fortes para a historiografia da déca da de 1980 deu pouca atenção aos africanos e suas reconfigurações étnicas29 Para colocar seus cativos andando ao ganho pelas ruas do Rio os senhores deviam encaminhar um pedido por escrito à Câmara Municipal no qual seria identificado o proprietário ou seu procu rador legal seu endereço além de informações básicas sobre o es cravo ou os escravos tais como nome nação e idade aproximada Era necessário ainda pagar um alvará e adquirir uma chapa metálica que garantiria ao cativo e a seu proprietário a legalidade de sua si tuação Os escravos encontrados trabalhando sem a chapa seriam recolhidos pelas autoridades municipais30 Em 30 de junho de 1841 o fiscal da Freguesia de Santa Rita encaminhou ao presidente da Câmara Municipal uma relação de escravos que haviam sido encon trados sem as chapas e foram recolhidos à prisão do Calabouço Entre os cinco detidos estava José Calabar escravo de José Pedro de Oliveira31 Se até a década de 1840 ainda eram relativamente poucas as soli citações de licença enviadas à Câmara entre os anos de 1851 e 1870 foram 2868 requerimentos só para escravos Com base nos dados de Luís Carlos Soares apresenta sob a denominação origem étnica dos escravos de ganho de rua podemos estabelecer algumas com parações Certamente havia muita repetição nesses lançamentos como também ocorria com os registros policiais De todo modo des se conjunto de pedidos para cativos 2653 indicam a nacionalida de Destes 2225 são africanos o que equivale a 84 do total dos requerimentos O ganho era ainda então um trabalho para africanos Para classificar esses africanos segundo sua nação Soares adotou a distribuição por origem usada por Mary Karasch África CentroOcidental África Ocidental e África Oriental Ao analisar os resultados apresentados por Luís Carlos Soares podemos redimen sionar em detalhes os pequenos e grandes grupos de procedência bem como sua representatividade no mercado de trabalho urbano Dos africanos registrados sabemos a procedência de 1848 Neste conjunto os africanos dos grupos angola benguela cabinda congo mina e moçambique correspondem a 1592 862 Considerando apenas esta amostra 327 são identificados como minas 521 regis tros 209 congos 159 moçambiques e 158 cabindas 227 Tabela 1 Africanos escravos trabalhadores ao ganho por grupos de procedência majoritários 18511870 Grupos de procedência majoritários 18511870 Mina 521 327 Congo 332 209 Moçambique 253 159 Cabinda 251 158 Benguela 129 81 Angola 106 66 TOTAL 1592 100 Fonte Adaptação de SOARES Luís Carlos Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX Revista Brasileira de História São Paulo n 16 p 107142 1988 Tabela 1 Entre os grupos de procedência minoritários o autor chega a um total de 229 casos incluindo monjolo cassange moange rebolo inhambane nagô quilimane Nos registros aparecem ainda grupos com menos de dez indivíduos designados como embamba ganguela muxicongo quissama songo haussá e macua Há ainda cerca de 347 africanos de nação desconhecidanão informada o que equivale a 156 da amostra de 2225 africanos Apenas 53 153 registros apresentam especificação ocupacional destacandose os vendedo res com 915 140 registros entre eles vendedores de café carne fazendas frutas legumes artigos de armarinho pão e biscoito peixe e calçados Também pouco sabemos sobre a idade dos africanos e seus locais de trabalho Por fim resta compreender melhor a presença das mulheres no que parece ser uma atividade masculina Infelizmente são raras as informações sobre as escravas que nessa documentação perfazem apenas 058 do total dos registros 13 pedidos Como todos os re latos de viajantes estrangeiros e outros documentos do período mar cam a presença feminina nas ruas elas podem estar subregistradas na condição de ganhadoras palavra ausente da documentação ou sendo classificadas em outra modalidade de trabalho de rua Se levarmos em conta a proporção dos minas no total da po pulação escrava africana da Corte é possível reconhecer a partir dessas estimativas a destacada participação desse grupo entre os ganhadores o que por certo contribuiu para sua grande capacidade de arregimentação de recursos e consequentemente a disposição que tinham para comprar sua liberdade Podemos aqui dialogar com estudos mais recentes que evidenciam a participação dos africanos minas nesse mercado da liberdade De acordo com os resultados parciais obtidos por Manolo Florentino a partir da análise de 14 mil 228 alforrias concedidas no período de 1840 e 1864 os minas eram um grupo de duas a três vezes superior à sua participação na escravaria africana do Rio de Janeiro Conforme assinala o autor em que pese o contexto de contínua alta de seus preços os minas não apenas faziam do mercado a via mais comum de acesso às sua cartas como também concentravam a maioria das cartas de liberdade pagas pelos africanos no período de 1840185932 Florentino avalia que as alforrias dos afroorientais seriam mais representadas por aquelas de serviço já as dos congoangolanos pelas gratuitas e as dos afroocidentais pelas alforrias pagas Com base numa amostra de inventários postmortem o autor verifica ainda um padrão sociodemográfico relacionado à representatividade dos grupos de africanos nas áreas rurais e urbanas do Rio de Janeiro entre 1790 e 1864 A presença dos congoangolanos variava de 65 a 90 Os afroorientais alcançaram 23 nas áreas rurais e 18 na urbanas Já os afroocidentais representam apenas até 19 no meio rural e 15 na urbe Antes de 1835 alcançaram apenas 3 e até 1859 não chegavam a 933 Trabalhando especificamente com o grupo de africanos ociden tais Flávio Gomes apresenta padrões de alforria que revelam índices de agregação organizacional e faces da construção de identidades africanas mais ampliadas34 O autor examina 2565 alforrias de afri canos ocidentais entre os anos de 1800 e 1871 sendo 755 1944 alforrias delas de minas os restantes aparecem como nagô calabar haussá e jejê Até o início da década de 1830 apenas 122 237 alforrias do total de pretosminas adquirem sua carta de liberdade Mas é justamente a partir dos anos 1830 que esses números come çam a crescer registrandose o maior índice de alforrias 371 do total entre 1851 e 1860 Daí em diante observase uma estabiliza ção do percentual em 144 Depois de 1861 as denominações nagô calabar haussá e jejê praticamente desaparecem da documentação consultada35 Gomes agrega os registros de alforrias para o período de 1800 a 1871 onde aparecem assinaladas as identidades minanagô mina haussá minacalabar e minajejê Já em 1819 aparece um registro de liberdade de uma minahaussá Vemos assim que ao contrário do 229 que sugerem Florentino Líbano Soares e Mamigoniam o processo de agregação identitária em torno dos minas começou bem antes da década de 1830 Talvez a chave dessa articulação já estivesse colo cada no final do século XVIII como indica Mariza Soares ao discutir a constituição das identidades dos minas maki no Rio de Janeiro36 De qualquer modo os minasnagôs aparecem com 756 214 alfor rias do total de minas conjugados com calabar haussá jejê e nagô justamente no período de 1831 a 1860 Como também observado por Florentino estas denominações étnicas conjugadas praticamente desaparecem a partir de 1861 verificandose em apenas 88 25 al forrias após este período Teriam todos no final se transformado ge nericamente em mina entendido como um grande guardachuva étnico37 Trabalho e invenção da liberdade As evidências reunidas até aqui parecem indicar que os africanos minas de fato controlavam o setor de carregamento de mercadorias aí incluído o transporte de café na região portuária o que lhes garantia a soma de recursos necessária para a compra das desejadas alforrias Um surpreendente necrológico publicado pela Gazeta de Notícias nos fornece outras pistas Em 9 de dezembro de 1904 o jor nal noticiava a morte do tremendo feiticeiro Apotijá rememorando pequenas passagens da história deste africano que saíra de Lagos porto negreiro localizado na atual Nigéria por volta de 1897 onde havia sido escravo de um outro negro chamado Salvador e chegara ao Brasil desejando trabalhar como carregador Mas como destacou o periódico a época dos minas carregadores já passara Os pretos eram todos feiticeiros Com o auxílio de alguns de seus patrícios como Emanuel Ojô e também do babalaô Cipriano Abedé Apotijá arranjou essa profissão de feiticeiro com a qual passou regular mente a vida38 Maiores detalhes sobre a travessia atlântica deste personagem ainda continuam nebulosos Possivelmente contatos precedentes com a comunidade de brasileiros em Lagos ou com africanos que viviam no Rio de Janeiro como o próprio Ojô e o mina Abubaca Caolho motivaram sua viagem Seja como for em meados do século XIX os carregadores de café em sua maioria africanos escravos ou libertos já constituíam uma fração de classe específica 230 e claramente delineada na forçadetrabalho empregada no sistema portuário39 Já ao raiar do dia carroças se espalhavam pelas ruas da área por tuária Nas portas dos trapiches e dos grandes depósitos de café trabalhadores cobertos de suor conduziam mercadorias de um lado para o outro lotando e esvaziando veículos de carga Um outro gru po de trabalhadores permanecia no interior dos prédios arrumando as cargas Das comissarias o café saía em lotes corridos de um a mil sacos contendo dez ou mais tipos diferentes de grãos Antes de ser vendido era preciso escolher separar repassar em máquinas e depositar o café em novos sacos Em seguida o café era pesado e agrupado em lotes uniformes de 125 sacos no mínimo cada saco contendo o peso padrão de 60 quilos líquidos Todas essas ativida des eram realizadas por trabalhadores avulsos nos armazéns dos ensacadores eou exportadores Apenas a escolha dos grãos podia ser feita também pelas mulheres40 mas não tenho informações sobre elas nem mesmo se corresponderiam aos já mencionados 058 do total dos registros de ganhadoras O porto oferecia múltiplas modalidades de trabalho Através da chamada livre todos os que desejavam trabalhar nos trapiches e armazéns da região reuniamse em horas convencionais e locais de terminados nos quais eram escolhidos pelos encarregados ou ca patazes das várias firmas agenciadoras de mão de obra de acordo com os carregamentos Como não havia qualquer vínculo emprega tício as atividades podiam durar uma hora um dia uma noite meia noite sem qualquer garantia de que no dia seguinte a vaga estaria assegurada O transporte propriamente dito era monopolizado pelos carroceiros a quem cabiam as negociações diretas com os carrega dores Os capitães e suas tropas que trabalhavam na arrumação e executavam as atividades próprias à exportação começaram então a se fixar nas proximidades das casas de café e trapiches num mo vimento de apropriação de territórios bastante comum entre os trabalhadores informais conforme registrou Cruz Nesse esquema incerto e inseguro tornavase factível a demarcação de fronteiras o estabelecimento de uma reserva de mercado e sobretudo a criação de laços identitários e de redes de relações sociais41 Era justamente na labuta cotidiana nos armazéns e grandes de pósitos de café que os personagens evocados por Júlio Ganam no começo deste texto faziam seus extras Conforme dissera naqueles 231 idos de 1905 os negros começavam no trabalho como carregadores das sacas Subiam depois a ajudante Em seguida passavam a capitão e enfim chegavam a furadores Furador era o chefe supremo do carregamento de café Todo o grão que caía era deles Como havia dias em que furavam umas mil sacas juntavam a noite duas e três sacas fora o que escondiam42 Se tomarmos como base as estimativas apresentadas pelo alufá duas ou três sacas mais o que caía para um conjunto de mil sacas de café empacotadas por dia esses negros juntavam para uma jor nada de 23 dias úteis de trabalho cerca de 36 sacas de café por mês ou cerca de 03 do que era produzido diariamente nesses armazéns Casos como esses também foram observados por Maria Helena Machado em sua análise a respeito do trabalho escravo nas lavouras paulistas especialmente em Taubaté e Campinas do século XIX Na calada da noite escravos furtavam pequenas parcelas da produção agrícola sangrando a economia das fazendas e deixando proprietá rios e feitores em constante estado de alerta Os libertos inseridos nas fainas cafeeiras nas mesmas condições que os cativos também participavam desses ardis noturnos43 Os produtos furtados eram tro cados por rolo pinga doces e sobretudo por dinheiro nas tavernas e vendas localizadas ao redor das fazendas Estas trocas geralmente selavam alianças entre cativos e brancos pobres contribuíam para o acúmulo de capital e a regularização dos negócios dos vendeiros da região44 e alimentavam uma economia escrava paralela Assim sendo às reivindicações quanto a dias livres alimentação vestuário e pagamento de serviços extras juntavase o costume de subtrair parte da produção45 Ainda que os gêneros desviados fossem reven didos a preços normalmente muito abaixo da cotação comercial tais transações abriam uma das raras possibilidades de acesso à moeda corrente Na cidade do Rio de Janeiro em 14 de agosto de 1883 o carre gador Tomé Rabelo mina de 42 anos morador à rua da Conceição foi preso sob a acusação de ter subtraído uma saca de café Não te mos como verificar se esse africano era um dos que participavam do esquema revelado por Ganam nem tampouco encontramos até o momento registros de detenção de outros minas46 Como as 232 informações fornecidas por Ganam são muito imprecisas não dispo mos de indicações exatas sobre o período a que ele faz alusão mas tratase da segunda metade do século XIX Dessa forma se recorrer mos ao volume de café exportado diariamente em 1846 inferimos que o volume empacotado nos armazéns em que trabalhavam alguns daqueles negros ricos corresponderia a cerca de 162 da média de sacos vendidos por dia no Rio de Janeiro Já em 1885 este número cairia para 105 Cruz avalia que em torno de mil carregadores po deriam estar envolvidos no transporte de café em dias de pico o que permite estimar que Júlio Ganam estivesse se referindo a um grupo de aproximadamente 100 homens cujos recursos extras arreca dados poderiam corresponder a 005 em 1846 e 003 em 1885 respectivamente do volume de sacas de café exportado diariamente pelo porto da cidade do Rio47 Mas seria essa estratégia capaz de proporcionar tantas fortunas O alufá indica que não Para complementar sua renda esses negros faziam naquele centro o feitiço dos senhores ricos para a paixão de mulheres bonitas para fazer mal aos inimigos dos caixeiros que rendo ganhar dos filhos dos patrões Toda essa gente pagava48 Quanto ganhavam não se sabe mas as quantias eram bem genero sas Os trabalhos com feitiços desempenhavam importante papel no redimensionamento de conexões identitárias que entrelaça das uniam os carregadores e estivadores nas tropas de trabalho49 Como assinala Reis em Salvador o mesmo local onde se negociava com os deuses servia para a negociação com os homens Nos can tos de trabalho da região portuária os ganhadores nagôs tinham Exu como um patrono adequado Tanto a divindade quanto os afri canos cuidavam do transporte sendo que o primeiro de oferendas para deuses os demais de todo tipo de carga para seus clientes50 Os malês também criavam novos significados sagrados nesses espaços de trabalho Nos cantos os cativos e libertos muçulmanos rezavam com seus tessubás recitavam orações exercitavamse na escrita do Alcorão costuravam abadás e buscavam novos correligionários para abraçar sua fé O escravo haussá Antônio por exemplo trabalhava como pescador e também faturava quatro patacas por dia com a ven da de orações protetoras que escrevia para sua clientela Uma pata ca equivalia a 320 réis cifra próxima da diária paga aos senhores em torno de 1835 Podese dizer que Antônio mantinha um ótimo negócio Dessa forma conclui João Reis os grupos de trabalho se 233 desdobravam em grupos religiosos sendo possível neles o reforço da identidade de classe e étnica por meio do islã51 Ainda que estejamos passeando por caminhos incertos a crônica de João do Rio nos permite chegar a algumas conclusões como a existência de um grupo de africanos ligados por fortes laços de soli dariedade e cumplicidade Quem sabe os furadores chefes supre mos do carregamento de café tinham controle sobre os capitães e suas tropas o que decerto facilitava a apropriação das sacas de café Ocupariam eles lugar equivalente ao dos trabalhadores feito res também conhecidos como capitães de tropa Segundo Cruz como as firmas de café passaram a tratar a mão de obra braçal como um elemento menor no conjunto dos seus negócios cabia a esses ca pitães negociar com os operários entregar ou retirar a carga pagar o serviço e coordenar o trabalho num cenário que a autora considera muito próximo àquele descrito pelos viajantes estrangeiros no sécu lo XIX52 Essas prerrogativas são também muito semelhantes às dos capitães de canto em Salvador que além de acertar os serviços es tabelecer os preços e pagar aos africanos que estavam sob sua lide rança também eram os responsáveis por puxar as canções africanas que embalavam a execução das tarefas coletivas53 Os furadores capitães do Rio de Janeiro viviam então numa si tuação ambígua de um lado eram pessoas que haviam alcançado a confiança do comerciante comissário ou trapicheiro e de outra parte deviam ser líderes respeitados pelas turmas de trabalho já que não podiam se arriscar a perder a posição conquistada Seriam eles responsáveis pela administração das tão decantadas caixas de alforrias dos minas54 Mas os africanos minas não eram os únicos a se organizarem coletivamente para alcançar a liberdade Logo após a promulgação da Lei do Ventre Livre 1871 escravos e mesmo liber tos criaram associações buscando angariar fundos para a compra de alforrias Foi uma grande surpresa para os legisladores imperiais que acreditavam que a lei incentivaria os escravos a buscarem in dividualmente através da dedicação ao trabalho os recursos ne cessários à compra da própria liberdade Em vez disso assistiram à multiplicação das associações que se constituíram em arma crucial na mobilização pela emancipação nas décadas de 1870 e 188055 Ainda assim uma outra questão continua a nos inquietar como depois de abolida a escravidão os ganhadores especialmente os africanos minas inseridos num mercado de trabalho cada vez mais 234 exíguo conseguiam preservar suas antigas atividades e ainda acu mular vultosas somas de dinheiro como sugere o alufá Júlio Ganam Precisamos percorrer um longo caminho para destrinçar este enig ma no qual os minas libertos que viviam ao ganho pelas ruas do Rio aparecem como nossa primeira pista Depois da liberdade as ruas Em 21 de junho de 1879 o contador da prefeitura Antonio Francisco Fortes Bustamante Sá enviou um ofício à Contadoria da Câmara Municipal informando que naquele ano apenas 39 indivíduos haviam tirado licenças para andarem ao ganho Esta cons tatação evidenciava uma progressiva diminuição da receita muni cipal diretamente afetada pela drástica redução do número de se nhores que tiravam licenças para seus escravos se empregarem nos ofícios de rua Mas a invasão de homens livres que se negavam a adquirir e pagar pela autorização também estava exaurindo os co fres municipais56 As providências reclamadas pelo contador foram prontamente ouvidas pelos deputados e cerca de um mês depois começam a surgir as primeiras solicitações Em julho 1879 a Câmara já contava com 510 pedidos de licença feitos por ganhadores livres que em agosto chegaram a 717 No ano seguinte apenas três traba lhadores tiraram autorização e em 1885 outros 5057 Depois desse período não encontramos mais registros Assim como os escravos forros e livres também deviam apresen tar pedido por escrito indicando seus dados pessoais como nome nacionalidade endereço e em alguns poucos casos a atividade a ser exercida Era necessário ainda que um profissional respeitado pro prietário e com boa condição financeira quase sempre um comer ciante fosse apresentado como fiador confirmando a boa conduta do trabalhador e garantindo o pagamento das despesas que porven tura pudessem surgir caso o ganhador fosse encontrado em situa ção irregular ou sem a devida licença Desde pelo menos a década de 1850 encontramos pedidos de licença encaminhados à Câmara por africanos livres e libertos crioulos e até mesmo imigrantes euro peus58 No entanto em 1879 o governo municipal parecia estar firme mente empenhado em controlar o trabalho de rua Decerto esta pos tura estava relacionada ao número cada vez maior de trabalhadores 235 entre os quais muitos libertos muitas vezes confundidos com os escravos que ocupavam as ruas e vielas da cidade59 À diferença da Bahia não encontramos até o momento no Rio de Janeiro referências a reações mais incisivas por parte dos ganhado res livres às exigências da municipalidade60 Certamente alguns de les conseguiam burlar as regras mas o risco era constante Em 23 de agosto de 1883 a polícia da Corte realizou uma grande batida contra os ganhadores não autorizados fossem escravos ou livres entre os 14 ganhadores presos estavam os libertos José Mina morador à rua do Conde que já contava com 60 anos de idade e Braz Mina mais idoso ainda com 70 anos morando na mesma rua61 Podemos conhecer um pouco mais sobre esses ganhadores bem como compreender a dinâmica de seus nichos ocupacionais ana lisando três livros de registros de licenças para ganhadores livres 1879188562 Seguindo uma tendência que já havíamos verificado entre os escravos de ganho esta é uma atividade basicamente mas culina Aqui os pedidos foram na sua totalidade encaminhados por homens Esta cifra é surpreendente quando sabemos que a maior parte das alforrias era obtida por mulheres e que elas quase monopo lizavam certas atividades ligadas ao comércio ambulante como era o caso das quitandeiras cuja maioria era mina De qualquer forma do conjunto de 770 pedidos de licença encaminhados nesse período 394 515 indicam a nacionalidade do ganhador Dos 376 restantes 485 355 não fazem quaisquer referências ao país região ou cida de de procedência e tampouco apontam a cor dos indivíduos63 Os 21 restantes são referidos pretos livres libertos ou forros Como podemos observar a partir da Tabela 2 os imigrantes euro peus destacandose os portugueses italianos e espanhóis consti tuíam 632 dos trabalhadores de rua que tiveram sua nacionalidade indicada Os portugueses mais numerosos pelo menos desde a déca da de 1820 representam o maior grupo registrado64 Logo em segui da vinham os africanos com 116 pedidos de licença 29 45 indi cando que depois de libertos mantêmse na atividade de ganhadores 236 Tabela 2 Ganhadores livres por nacionalidade 18791885 Nacionalidade Ganhadores Portugueses 167 4240 Africanos 116 2945 Italianos 48 1218 Espanhóis 34 862 Brasileiros 28 710 Paraguaios 1 025 TOTAL 394 100 Fontes AGCRJ Códices Ganhadores Livres 18791885 Em fins do século XIX as cantigas de trabalho africanas estavam sendo paulatinamente substituídas pela gritaria dos muitos imigran tes europeus pobres que vinham sendo empregados no transporte de cargas65 Das áreas agrícolas da Europa mediterrânea partia a maior parte dos imigrantes que sobretudo após a década de 1870 desem barcaram no porto do Rio de Janeiro66 Contrariando os discursos imigrantistas do período muitos em sua maior parte jovens tinham poucos conhecimentos dos códigos urbanos e precária qualificação profissional Acabariam compondo um proletariado miserável que se ocupava dos serviços antes desempenhados por escravos67 Nesse quadro a competição pelas poucas opções no mercado de trabalho e também pela sobrevivência na cidade acirrava rivalida des entre africanos e imigrantes europeus68 Já em 1872 podemos assistir a um desses conflitos que serão intensificados na virada do século envolvendo disputas por questões de trabalho na orla marí tima O episódio ocorrera no mês de maio daquele ano contrapondo 50 pretos ganhadores da praça das Marinhas que têm por costume carregar para a terra a carne seca trazida dos navios em canoas aos cerca de 12 trabalhadores brancos ocupados naquele servi ço Poucos dias antes os pretos haviam exigido um aumento de 20 réis aos donos da carneseca Como não quiseram se sujeitar a esta exigência os patrões resolveram chamar trabalhadores brancos Inconformados com a nova situação os ganhadores voltaram às 12 horas do dia 2 de maio armados de cacetes e um deles com uma foice Assaltaram os novos trabalhadores travandose luta renhi da só debelada após a atuação de um capitão e de praças da guarda urbana Ao noticiar a contenda o Diário do Rio de Janeiro destacara que os pretos carregadores teriam feito uma parede à moda da Costa da Mina o que acabou provocando a prisão de sete escravos e de um negro liberto69 237 Além das disputas entre pretos e brancos que o conflito narrado permite entrever indubitavelmente nos anos 1870 o espaço portuá rio ainda era ocupado por escravos e libertos africanos com desta que para os minas70 A Tabela 3 mostra as nações dos ganhadores e carregadores nas décadas de 1870 e 1880 Dos 96 africanos que têm seus grupos de procedência indicados os minas constituíam uma es magadora maioria com 796 da amostra71 Os cabindas perfazem apenas 83 e os congos 52 Os demais grupos como os angolas benguelas cassanges moçambiques e moanges agrupados corres pondem a 73 Confirmase assim o ganho como um espaço de tra balho do africano mina que a partir da década de 1870 passa a ser disputado pelos imigrantes portugueses Tabela 3 Ganhadores livres africanos por grupos de procedência 18791885 Grupo de Procedência Ganhadores Mina 76 792 Cabinda 8 83 Congo 5 52 Benguela 2 209 Moçambique 2 209 Cassange 1 104 Angola 1 104 Moange 1 104 TOTAL 96 100 Fontes AGCRJ Códices Ganhadores Livres 18791885 Para o período após os anos de 1870 localizamos apenas nove licenças para cativos minas andarem ao ganho72 Em junho de 1879 entre os 39 indivíduos que tiraram autorização na Câmara estava Francisco mina de 40 anos escravo de dona Emília Peçanha Pinto Nenhum outro cativo de sua nação foi registrado naquele período Um mês depois dos 76 pretosminas ganhadores livres que pedi ram licença apenas 14 foram indicados como libertos Para os de mais não há qualquer referência acerca do seu estatuto legal Não temos como garantir que todos fossem exescravos que conquista ram sua liberdade Encontramos casos como o do carregador João Mina único afri cano que ao solicitar sua licença apresentou como fiador seu ex senhor Luiz Legnago morador à rua Senador Vergueiro número 773 Em 31 de julho de 1879 os pretosminas João Domingos Pedro e Feliz Júlio todos residentes no número 58 da rua de São Lourenço 238 em Santana solicitaram licença para andarem ao ganho74 Os três apresentaram como fiador o proprietário Fellipe Charame que tam bém apresentou aquele endereço como local de sua residência e foram anotados no livro de ganhadores livres Alguns dias depois em 6 de agosto de 1879 mais dois africanos minas Fortunato Hilário de Roza e Jacinto Manuel de Bussa ambos residentes à rua da Prainha 209 também indicariam Fellipe Charame como seu fiador O endereço indicado era a rua do Príncipe número 58 na freguesia de Santa Rita Dois dias antes o mesmo Fellipe abonara o mina David Antonio Rocha morador à rua do Príncipe número 240 que pedia autorização para ganhar pelas ruas75 Dificilmente Fellipe Charame teria mudado de residência em apenas uma semana ainda que isso não seja impossível O mais provável é que fosse proprietário de dois imóveis ou que um deles fosse sua residência e o outro um estabelecimento comercial que empregasse ganhadores ou quem sabe uma estalagem ou um cortiço Em algumas licenças referências a casas comerciais desse tipo aparecem de forma mais explícita No pedido encaminhado pelo mina Rodolpho Albino da Costa em 28 de julho de 1879 aparecem como fiadores os negociantes Costa Torres Machado Cia decerto o nome de alguma firma localizada à rua Candelária número 20 área portuária de grande circulação de mercadorias Também Oliveira e Barrozo negociantes que ficavam na rua do Rosário número 20 foram apresentados como fiadores do mina Alexandre Antônio mo rador à rua Barão de São Félix número 5976 Nesse grupo de ganhadores livres minas encontramos ainda dois registros de homens livres conforme indica Vicente Mina que morava na rua do Senhor dos Passos número 77 em seu pedido apresentado em 2 de agosto de 1879 Na licença encaminhada pelo mina Thomaz três dias antes também está escrito que ele era livre77 Entre as 770 licenças compulsadas dez falam em pretos livres mas não dão detalhes sobre a procedência O que diferia esses africanos e pretos livres dos libertos A primeira suposição é que fossem afri canos livres ou seja aqueles africanos que chegaram ao Rio depois de extinto o tráfico de escravos e foram emancipados78 Nesses ter mos podemos sugerir ainda que Manoel Ribeiro Guimarães fiador de Vicente Mina também fosse seu concessionário a quem o africa no servia como criado ou trabalhador livre Mas por que somente 239 esses dois africanos não foram identificados como africanos livres se entre 1879 e 1885 há sete desses casos79 É possível supor ainda que Vicente Mina e Tomaz fossem real mente livres e não africanos livres Os estudos sobre africanos na di áspora especialmente em cidades como Rio de Janeiro Salvador ou Recife tendem sempre a considerálos sob o ponto de vista da escra vidão Mas desde pelo menos o final do século XIX encontramos afri canos livres entendase imigrantes chegando ao Rio Decerto seu número era bem reduzido devido às restrições legais que impediam sua entrada no país Em 1857 foi derrotado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro um projeto de lei que pretendia estimular a vinda de colonos africanos A decisão foi saudada num editorial do Jornal do Commercio que associava o atraso da agricultura brasileira jus tamente aos africanos argumentando que só os europeus poderiam regenerála80 O primeiro decreto do governo republicano proclama do em 1889 proibia o ingresso de africanos e asiáticos no Brasil81 Tudo indica que essas barreiras legais não foram impedimentos suficientes Pelo menos desde os anos 18601870 alguns africanos chegados livres já estavam residindo na cidade A primeira trajetória que conseguimos identificar foi a do feiticeiro Apotijá citado ante riormente que veio para o Rio por volta de 1897 com a intenção de trabalhar como carregador no porto João do Rio em suas crônicas publicadas no início do século XX cita pelo menos mais três casos de africanos de Lagos que chegaram ao Rio de Janeiro quando havia muito já se extinguira o tráfico transatlântico de escravos82 Nos flu xos e refluxos que uniam África e Brasil ao mesmo tempo que encon tramos africanos e muitos de seus descendentes retornando à costa africana há imigrantes saídos da cidade de Lagos por exemplo entre os quais vários brasileiros que voltam a se estabelecer na Bahia83 Seja como for os minas que andavam ao ganho na Corte certa mente mantinham a mesma ocupação que tiveram quando ainda ca tivos Constatamos que apenas dez das 76 autorizações indicam a atividade desempenhada pelos pretosminas Destes nove são iden tificados somente como carregadores um deles para trabalhar nas descargas de carneseca e demais gêneros Em 23 de agosto de 1861 o forro mina João José da Costa pede autorização para quitandar verduras na barraca do Largo do Capim 129 Mesmo sem endereço e na ausência de um fiador que o abonasse o pedido foi aprovado84 240 Comparando esses dados com aqueles computados por Carlos Eugênio Soares nos registros de africanos libertos presos na Detenção confirmamos a proeminência dos minas nas atividades de transporte de mercadorias Dos 1157 africanos libertos detidos entre 1860 e 1900 21 eram africanos ocidentais mina minanagô nagô e calabar os vindos da África Oriental moçambique inham bane munhanbane quilimane e mucena perfaziam 18 e os centro ocidentais que compunham a grande maioria dos africanos na ci dade em todas as outras listas do século XIX correspondiam a 61 Entre os homens e mulheres originários da África Ocidental a grande maioria era composta por minas 208 Corroborando o que viemos demonstrando até aqui os minas correspondiam a 302 do total de ganhadores presos e a 328 dos carregadores Também eram maioria entre os quitandeiros dos 83 quitandeiros africanos presos na Detenção 41 eram minas 499 destes 293 eram homens e 707 mulheres85 Estes números mais uma vez deixam em aberto a questão da modalidade de controle do trabalho das mulheres nas ruas da cidade Negros ricos Ainda que as licenças de ganhadores livres não representem a to talidade dos trabalhadores que realizavam ofícios urbanos no Rio a partir da análise dessa documentação constatamos a presença marcante dos minas nesse nicho ocupacional que a partir dos anos 1870 passa a ser controlado pelos imigrantes europeus A vida nas ruas não era nada fácil para os africanos A carta de alforria não os livrava do olhar vigilante das autoridades policiais Foi o que ocorreu com o ganhador Jacob Mina liberto de 75 anos de idade No dia 1º de janeiro de 1871 ele foi preso sob a suspeita de ser escravo Na ocasião trajava uma camisa de algodão calça preta paletó de ris cadinho roto e a indefectível carapuça Foi solto Um mês depois seria preso novamente pelo mesmo motivo86 Além disso a maioria tinha muitos de seus desejos de ascensão social e cidadania frustrados pelo preconceito social e racial O estig ma de inferioridade marcava a maneira como eram vistos por outros setores livres da população Como assinala Reis a escravidão não era para os libertos apenas uma lembrança mas um problema pes soal e mais ainda uma ameaça sempre presente87 Mas a pecha de 241 vagabundo contumaz não recaía apenas sobre os forros africanos pesava sobre o conjunto dos pobres grande parte deles também am bulantes vendendo serviços ou produtos88 Curiosamente apenas 8 dos libertos africanos que trabalhavam como ganhadores no Rio foram presos por vagabundagem entre os carregadores 26 foram presos por este motivo89 Mas como explicar que alguns deles já em fins do século XIX te nham se tornado negros ricos como constatou João do Rio e seu amigo Júlio Ganam Durante muito tempo o discurso histográfico sobre os forros via de regra os qualificava pela precariedade das condições materiais Como as alforrias eram extremamente onerosas para os escravos depois de anos juntando recursos necessários à compra da liberdade era de se esperar que esses libertos ficassem destituídos de qualquer pecúlio Às dificuldades de enriquecimento vinham se juntar os obstáculos para adquirir algum tipo de status social90 Partindo das solicitações encaminhadas pelos ganhadores li vres e de outros documentos tais como os registros da Casa de Detenção não conseguimos auferir se os ganhos obtidos com os ofí cios urbanos eram realmente vultosos e o que podiam representar para aqueles africanos Mas entre os senhores que solicitaram auto rizações à Câmara Municipal encontramos africanos minas o que revela que o sistema de ganho não apenas possibilitava que escravos comprassem sua alforria contribuindo assim para a desagregação do escravismo91 mas também permitia que alguns poupassem o su ficiente para adquirir cativos Era comum que os minas libertos adquirissem escravos da mesma nação Em 4 de abril de 1857 o africano mina Inocêncio Antonio da Cunha morador à loja 114 da rua Formosa na Freguesia de Santana pediu licença ao cativo Gervásio de nação mina para vender peixe Inocêncio pertencera à mesa da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia aparecendo como juiz nas décadas de 1860 e 187092 Um vi zinho seu Ignacio José Antônio Mina morador à rua Formosa nú mero 116 também colocou um escravo mina para vender peixe pelo município93 Laurianna Maria de Santa Anna uma africana minatapa solicitou em 9 de maio de 1855 autorização para um escravo da mes ma nação exercer algum ofício urbano No mesmo dia o minanagô Delfino Antônio de Miranda morador à rua da Pedreira número 1 requeria licença para dois cativos minanagô94 242 Ainda continuavam vivas na memória de Júlio Ganam as figuras de tia Cristina uma das últimas negras minas do Mercado que ficara rica vendendo santos e doces na rua e dirigia muitos empregados e de tia Felicidade a maior fortuna entre negros que parava sempre na esquina da rua São Lourenço perto do quartelgeneral com seu tabuleiro de doces Em torno dela uma porção de negras contam cousas para divertila cuidamlhe dos bolos chamamna de mãe e pedem sua benção Parecia guardar com zelo suas riquezas já que nem aos seus melhores amigos dava bolos grátis vende pela me tade mas vende Porém como muitos dos africanos referidos por Ganam ela não gostava de ostentar sua fortuna isso era para os brancos Além de não abrir sua bolsa nem seu coração dizia que era pobre95 Vemos assim como desde meados do século XIX os africanos da Costa da Mina trabalhavam para conquistar sua liberdade e preser var seus postos num mercado de trabalho cada vez mais competiti vo Muitos confundidos com os escravos nas ruas da cidade eram constantemente abordados pelas autoridades policiais Outros tan tos conseguiam poupar dinheiro adquirir cativos e quem sabe se tornar um negro rico Notas 1 Uma primeira versão deste capítulo está em FARIAS Juliana Barreto Entre identida des e diásporas negros minas no Rio de Janeiro 18701930 Dissertação Mestra do Programa de PósGraduação em História Comparada Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2004 Agradeço aos professores Mariza de Carvalho Soa res e Flávio dos Santos Gomes pelas valiosas indicações e leituras críticas desta e de outras versões deste artigo 2 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias 13 de maio de 1905 p 3 João do Rio foi um importante jornalista que deixou registrada em suas crônicas a vida cotidiana da cidade do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o XX Uma parte dessas crônicas publicadas entre os anos de 1904 e 1908 foi reunida no livro RIO João do As religiões no Rio Rio de Janeiro Nova Aguilar 1976 3 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias 13 de maio de 1905 p 3 Aqui obser vamos as intenções de Júlio Ganam de preservar algumas prescrições islâmicas Na África Ocidental muitos muçulmanos comemoravam datas religiosas e festejavam nascimentos em ceias servidas com carneiros Na Bahia Oitocentista as ceias malês eram ocasião de reunião e segundo Reis ceias expressavam o compromisso dos malês com o preceito islâmico de só consumir comida preparada por mãos mu çulmanas Também Manuel Querino nos informa que o final do Ramadã o mês de jejum era celebrado pelos malês baianos com sacrifícios de carneiros REIS João J Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 233234 4 Sobre a participação dos minas no transporte de café na região portuária ver CUNHA Manuela Carneiro da Negros estrangeiros os escravos libertos e sua vol 243 ta à África São Paulo Brasiliense 1985 p 3435 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos tra balhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 RIO João do As religiões no Rio Rio de Janeiro Nova Aguilar 1976 Especialmente os textos sobre as religiões africanas na cidade do Rio Sobre quitandeiras minas ver GOMES Flávio SOARES Carlos Eugênio Líbano Dizem as quitandeiras ocupações e identidades étnicas numa cidade escravista Rio de Ja neiro século XIX Acervo Rio de Janeiro v 15 n 2 p 316 juldez 2002 SOARES Carlos Eugênio Comércio nação e gênero as negras minas quitandeiras no Rio de Janeiro 18351900 In FRAGOSO J MATTOS H M SILVA F C Org Escritos sobre história e educação homenagem a Maria Yedda Linhares Rio de Janeiro Mauad FAPERJ 2001 p 401415 5 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias p 3 13 maio 1905 6 Cf RIO João do No mundo do feitiço os feiticeiros Gazeta de Notícias p 2 9 mar 1904 7 Entre eles como se verá estavam grupos de língua iorubá SILVA Alberto da Costa e A manilha e o libambo a África e a escravidão de 1500 a 1700 Rio de Janeiro Nova Fronteira Fundação Biblioteca Nacional 2002 p 532533 8 RIO João do No mundo do feitiço os feiticeiros Gazeta de Notícias p 2 9 mar 1904 9 Na Bahia segundo Nina Rodrigues muitos dos nomes de nações africanas eram deformados Muitos negros não pronunciavam o g como na palavra Egbá Assim era comum encontrar documentos que falavam em negros de Ebá ou simplesmente de Bá RODRIGUES Nina Os africanos no Brasil 7 ed São Paulo Ed Nacional Bra sília DF Ed da UnB 1988 p 102103 10 Cruz destaca que a utilização da mão de obra avulsa é comum nos portos e está rela cionada à variação cotidiana da demanda por trabalho A autora emprega os termos trabalhotrabalhador avulso expressão do linguajar dos portos e da legislação brasileira CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindi cato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 254 Para uma análise mais aprofundada da questão ver da mesma autora Virando o jogo estivadores e carre gadores no Rio de Janeiro da Primeira República Tese Doutorado Universidade de São Paulo São Paulo 1998 11 Como destaca Reis esses arranjos não eram desconhecidos de alguns escravos africanos Em Sokoto cativos rurais trabalhavam metade do dia para seu senhor metade para si e sua família REIS João J Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 585 nota 3 12 Desde muito cedo os escravos da Corte já acumulavam certos bens mas somente com a lei de 28 de setembro de 1871 a chamada Lei do Ventre Livre em seu artigo 4º permitiuse legalmente que o escravo formasse um pecúlio CHALHOUB Sidney Visões da liberdade uma história das últimas décadas da escravidão na corte São Paulo Companhia das Letras 1990 p 159 13 Vários autores já analisaram a escravidão ao ganho no Rio de Janeiro entre eles po demos citar SOARES Luís Carlos Urban slavery in nineteenth century 1808 1888 Rio de Janeiro PhD Dissertation University College Londres 1988 Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX Revista Brasileira de História São Paulo n 16 p 107142 1988 ALGRANTI Leila Mezan O feitor ausente estudo de escravidão urbana Rio de Janeiro 18081821 Petrópolis Vozes 1988 KARASCH Mary Cathe rine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 259291 SILVA Marilene Rosa Nogueira Negro na rua a nova face da escravidão urbana São Paulo Hucitec 1988 244 14 GRAHAM Maria Journal of a voyage to Brazil and residence there during part of the years 1821 1822 1823 Londres sn 1924 p 195 EBEL Ernst O Rio de Janeiro e seus arredores em 1824 São Paulo Companhia Ed Nacional 1972 p 13 4446 cita dos em KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 264 Conforme destaca o missionário Sa muel Johnson referindose aos retornados para Serra Leoa a música estava de tal forma entranhada na vida dos nagôs que aqueles que se dedicavam à percussão passavam por uma cuidadosa e demorada iniciação JOHNSON Samuel The history of Yorubas Londres Routledge Kegan Paul 1921 p 120121 citado em REIS João J Tambores e temores a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX In CUNHA Maria Clementina P Carnavais e outras frestas ensaios de história cul tural Campinas SP CECULT UNICAMP 2002 p 118 Como destaca Reis Johnson escreveu no final do século XIX Mas antes disso o capitão inglês Hugh Clapperton que passou pela África Ocidental em meados da década de 1820 também observara que a música o canto e a dança impregnavam ao longo do dia e da noite entre dig natários e gente comum em cada vila iorubana por onde passava apesar de haver guerra em toda parte CLAPPERTON Hugh Journal of a second expedition into the interior of Africa from the bight of Benin to Soccato Londres Frank Cass 1966 orig 1826 citado em REIS João José Tambores e temores a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX In CUNHA Maria Clementina P Carnavais e outras frestas ensaios de história cultural Campinas SP CECULT UNICAMP 2002 p 119 15 DEBRET Jean Baptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet São Paulo Círculo do Livro 1993 p 196 16 ELWES Robert A sketchers tour round the world Londres sn 1854 p 2526 citado em KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 265 17 DEBRET Jean Baptiste Viagem pitoresca e histórica ao Brasil Trad Sérgio Milliet São Paulo Círculo do Livro 1993 p 288289 prancha 37 18 EXPILY Charles Le Brésil tel quil est Paris E Denu 1862 p 8284 citado em CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 Afro Ásia Salvador n 24 p 243290 2000 p 258259 19 CUNHA Manuela Carneiro da Negros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Brasiliense 1985 p 35 365366 Em Salvador essas associações organizadas de acordo com a nação além de contribuírem para a promoção de al forrias coletivas também garantiam de alguma forma a segurança e o bom uso das economias amealhadas pelos africanos funcionando como caixas de poupança Os membros fossem escravos ou libertos contribuíam com algum recurso e podiam retirar de forma rotativa a quantia necessária para a compra de sua liberdade 20 RIBEYROLLES Charles Brasil pitoresco Tradução de Gastão Penalva Belo Horizon te Itatiaia São Paulo EDUSP 1980 v 1 p 208209 Cf CUNHA Manuela Carneiro da Negros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Brasiliense 1985 p 35 365366 Em Salvador essas associações organizadas de acordo com a nação além de contribuírem para a promoção de alforrias coletivas também garantiam de alguma forma a segurança e o bom uso das economias amealhadas pelos africanos funcionando como caixas de poupança Os membros fossem es cravos ou libertos contribuíam com algum recurso e podiam retirar de forma ro tativa a quantia necessária para a compra de sua liberdade CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 261 21 CUNHA Manuela Carneiro da Negros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Brasiliense 1985 p 35 João Reis recorre a Samuel Johnson 245 para descrever esta instituição de crédito iorubá Johnson assim descreveu uma esusu uma soma fixa previamente estabelecida e dada por cada um numa perio dicidade geralmente a cada semana e local determinados sob administração de um presidente a quantia total é paga a cada membro rotativamente Isto permite a um homem pobre fazer negócios de valor que demandem uma soma grande Há leis regulando esse sistema JOHNSON Samuel The history of Yorubas Londres Rou tledge Kegan Paul 1921 p 119 citado em REIS João J Tambores e temores a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX In CUNHA Maria Clementina P Carnavais e outras frestas ensaios de história cultural Campinas SP CECULT UNI CAMP 2002 p 366 BASCOM William R The esusu a credit institution of the Yoruba Journal of Royal Anthropological Institute London v 82 n1 p 6369 janjun 1952 citado em CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindi cato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 261 22 O caso é citado em KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janei ro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 467 23 BURGER Wilson CANDLER John Narrative of a recent visit to Brazil to present an address on the slave trade and slavery issued by the Religious Society Friends Lon dres E Newmann Printer 1853 p 3739 Citado em CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos traba lhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 259260 24 REIS João J Tambores e temores a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX In CUNHA Maria Clementina P Carnavais e outras frestas ensaios de história cultural Campinas SP CECULT UNICAMP 2002 p 358 25 REIS João J Tambores e temores a festa negra na Bahia na primeira metade do século XIX In CUNHA Maria Clementina P Carnavais e outras frestas ensaios de história cultural Campinas SP CECULT UNICAMP 2002 p 359 Como destaca Reis o intercâmbio entre vida social e trabalho observado entre os africanos na Bahia e acrescentamos aqui o Rio de Janeiro é bem próximo do que sugere o historiador inglês E P Thompson para o trabalhador précapitalista na Europa THOMPSON E P Tiempo disciplina de trabajo y capitalismo industrial In Costumbres en común Barcelona Crítica 1995 26 Uso esta definição nos termos propostos por Mariza de Carvalho Soares em Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 Seguindo essa perspectiva os africanos minas da Corte teriam construído sob as suas identidades um processo sociocultu ral no qual o mercado de trabalho e também aquele da cultura material religiosa foram fundamentais Ver ainda as análises para Salvador a grande tenda nagô proposta por Cortês de Oliveira e o guardachuva étnico sugerido por Reis OLI VEIRA Maria Inês Côrtes de Viver e morrer no meio dos seus nações e comunida des africanas na Bahia do Século XIX Revista da USP São Paulo n 28 p 174193 dez1995fev1996 REIS João José Identidade e diversidade étnica nas irmandades negras no tempo da escravidão Tempo Niterói v 2 n 3 p 733 1997 27 Como assinala Reis esses espaços tiveram o papel de assegurar uma organização solidária entre os trabalhadores Ao mesmo tempo que funcionavam como instru mentos de defesa do mercado contra os negros locais impediram a competição individual exacerbada entre os ganhadores mantiveram a tradição de trabalho coletivo e assim evitaram que a escravidão destruísse nos africanos o espírito de comunidade REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 361364 Ver ainda do mesmo autor A greve negra de 1857 na Bahia Revista USP São Paulo v 18 p 821 1993 De olho no canto trabalho de rua na Bahia na véspera da abolição AfroÁsia Salvador n 24 p 199242 2000 246 28 ALGRANTI Leila Mezan O feitor ausente estudo de escravidão urbana Rio de Janei ro 18081821 Petrópolis Vozes 1988 KARASCH Mary Catherine A vida dos escra vos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 p 259291 SILVA Marilene Rosa Nogueira Negro na rua a nova face da escravidão urbana São Paulo Hucitec 1988 29 SOARES Luís Carlos Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX Revista Brasileira de História São Paulo n 16 p 107142 1988 Cf Silva op cit p 91 30 As análises e comparações dos dados extraídos das licenças para escravos anda rem ao ganho no Rio já foram analisadas em FARIAS Juliana B GOMES Flávio S Descobrindo mapas dos minas trabalho urbano alforrias e identidades 18001915 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro séc XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 31 AGCRJ Códice 6 1 43 Escravos ao ganho e escravidão 18331841 p 43 32 FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista notas de pesquisa Topoi Rio de Janeiro p 940 set 2002 p 2728 Florentino destaca que nas cartas de alforria além dos majoritários minas aparecem também as seguintes designações relativas à etnia ou à região afroocidental de embarque borno cabo verde calabar gege hauçá minanago nago e nagomina nota 46 p 37 33 FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista notas de pesquisa Topoi Rio de Janeiro p 940 set 2002 34 FARIAS Juliana B GOMES Flávio S Descobrindo mapas dos minas trabalho ur bano alforrias e identidades 18001915 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 35 GOMES Flávio dos S Reiventando as nações africanos e grupos de procedência no Rio de Janeiro 18101888 In FARIAS J B GOMES F S SOARES C E No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro Rio de Janeiro Prêmio Arqui vo Nacional 2003 cap 1 36 Ver FLORENTINO Manolo Alforrias e etnicidade no Rio de Janeiro oitocentista notas de pesquisa Topoi Rio de Janeiro p 940 set 2002 MAMIGONIAN Beatriz Gallotti Do que o preto mina é capaz etnia e resistência entre africanos livres Afro Ásia Salvador n 24 p 7195 2000 SOARES Carlos Eugênio Líbano A capoei ra escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro 18081850 Campinas SP CE CULT UNICAMP 2001 p 355390 e SOARES Mariza de Carvalho Devotos da cor identidade étnica religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 37 Expressão usada por João José Reis em Identidade e diversidade étnica nas irman dades negras no tempo da escravidão Tempo Niterói v 2 n 3 p 733 1997 38 O FEITICEIRO Apotijá Gazeta de Notícias p 2 9121904 39 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato socie dade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 263 40 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato socie dade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 41 Sobre a descrição do cotidiano das firmas no setor cafeeiro a partir da segunda metade do século XIX ver CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na for mação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 265267 Da mesma autora ver também Virando o jogo estivadores e carregadores no Rio de Janeiro da Primeira República Tese Doutorado Universidade de São Paulo São 247 Paulo 1998 p 4546 176178 Para a inserção de homens livres na ocupação de car roceiros no Rio de Janeiro ver MOURA Ana Maria da Silva Cocheiros e carroceiros homens livres no Rio de senhores e escravos São Paulo Hucitec 1988 p 3950 42 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias p 3 13 maio 1905 43 Como ressalta Machado utilizavamse de coragem e habilidade para contornar os inúmeros obstáculos que se lhes colocavam reiterando a importância dessas prá ticas costumeiras na organização de sua sobrevivência MACHADO Maria Helena Crime e escravidão trabalho luta e resistência nas lavouras paulistas 18301888 São Paulo Brasiliense 1987 p 104 106 44 Os senhores também estavam atentos a essas relações entre escravos e homens livres Em 1860 Luiz de Tolledo Piza acusou Antônio Ribeiro agregado havia três anos nas terras de Domingos Leite da Silva por receptação de açúcar e café furtados por escravos Em sua defesa o acusado alegou que diversos escravos tinham ido a sua venda tentar vender café ele porém jamais aceitou esse negocio Processo crime n 582 1860 Campinas AESP Citado em MACHADO Maria Helena Crime e escravidão trabalho luta e resistência nas lavouras paulistas 18301888 São Paulo Brasiliense 1987 p 106 45 MACHADO Maria Helena Crime e escravidão trabalho luta e resistência nas lavou ras paulistas 18301888 São Paulo Brasiliense 1987 p 108 46 SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 153 Podemos ter uma ideia do volume de grãos apropriados pelos africanos da região portuária do Rio comparando os cálcu los apresentados por Ganan e Thomas Ewbank Segundo Ewbank o movimento dos carregadores de café em 1846 era contínuo com um volume anual de exportação em torno de 1849833 sacas Considerando 300 dias úteis chegamos a uma média de 6166 grandes sacas a exportar por dia Nos anos subsequentes estes números continuaram crescendo Em 1885 registrouse a venda de 2 858107 sacas o que corresponde a uma média diária de 9527 sacas Decerto em alguns dias o volume de exportação podia exceder estes valores médios Para o número de sacas exporta das ver EWBANK Thomas A vida no Brasil ou diário de uma visita ao país do cacau e das palmeiras Tradução de Homero Castro Jobim v 1 Rio de Janeiro Conquista 1973 p 119120 THE BRAZILIAN YEAR BOOK issued under the patronage of the Brazilian Government Rio de Janeiro J P Wileman 1909 p 633 citados em CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 Afro Ásia Salvador n 24 p 243290 2000 p 263 47 Não esquecer que o volume arrecadado ou a renda obtida a partir de sua venda era dividido entre aqueles que juntavam os grãos de café Cf CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 263 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias p 3 13 maio 1905 48 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias p 3 13 maio 1905 Reis informa que na Bahia uma das estratégias de sobrevivência utilizadas pelos africanos era ocu parse em mais de uma atividade de trabalho Cf REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 210 49 CRUZ Maria Cecília Velasco e Virando o jogo estivadores e carregadores no Rio de Janeiro da Primeira República Tese Doutorado Universidade de São Paulo São Paulo 1998 p 52 248 50 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 210 Reis destaca como essa trama simbólica podia fazer do capitão das tropas uma figura de grande poder muitas vezes poder religioso No romance oitocentista O feiticeiro de Xavier Marques Elesbão acumulava as funções de capitão do canto e líder sacer dotal apud REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 362 51 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 362363 52 A autora destaca ainda que a partir de meados do século XIX com o alargamento das linhas férreas o café transportado do Vale do Paraíba convergia para a estação terminal da Estrada de Ferro D Pedro II construída no Campo de Santana e inaugu rada em 1858 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de Janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 264266 53 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 361 54 Não podemos descartar também a possibilidade de que entre esses africanos es tivessem alguns dos escravos e libertos que nas fazendas do sudeste escravista se apropriavam dos grãos de café estocados já que com a proibição do tráfico na década de 1850 muitos deles se estabeleceram no mercado de trabalho portuário do Rio vindos de outras províncias e das zonas rurais fluminenses Ver GRAHAN Richard Nos tumbeiros mais uma vez o comércio interprovincial de escravos no Brasil AfroÁsia Salvador n 27 2002 55 CHALHOUB Sidney Visões da liberdade uma história das últimas décadas da escra vidão na corte São Paulo Companhia das Letras 1990 p 107157 56 AGCRJ Códice 6159 escravidão e escravos ao ganho 1870 e 1880 p 136 57 Trabalhamos com 3 Códices de Ganhadores livreslibertos 44128 44129 e 441 30 do AGCRJ onde encontramos algumas poucas solicitações para homens livres 58 Em junho de 1850 João do Amaral liberto de nação calabar morador na rua do Saco do Alferes pedia licença para andar ao ganho apresentando como fiador José Bráu lio de Mesquita AGCRJ Códice 44127 p 168 Em 19 de agosto de 1858 é a vez de Matheus preto forro mina cujo pedido vem afiançado por Antônio José de Freitas com negócio na rua do Sabão 329 Há mais quatro solicitações encaminhadas por libertos minas antes da década de 1870 Cf Códices 44127 p 16 4547 39130 p 6 59 Não por coincidência também a partir de 1879 os registros de prisão de libertos africanos na Casa de Detenção até então muito fragmentados em livros isolados se avolumam e passam a constituir séries completas O aumento dos registros de pri são está diretamente relacionado a uma política de maior vigilância das ruas Esta constatação é feita por Carlos Eugênio Soares que assinala que a partir de 1879 os registros ficam mais organizados e compactados em séries completas Ver SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das na ções africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 145 60 Os ganhadores de Salvador não aceitaram de bom grado as resoluções impostas pela municipalidade em 1857 Além da obrigação de se registrarem na Câmara Mu nicipal deveriam pagar uma expressiva taxa anual usar uma chapa metálica no pescoço com o número da matrícula e apresentar um fiador que abonasse o bom comportamento dos libertos Contrários a estas novas resoluções organizaram em junho daquele ano uma greve que recebeu adesão bem maior do que a revolta de 249 1835 O movimento se prolongou por mais de uma semana praticamente parando os negócios de transporte da cidade já que este trabalho era quase todo feito pelos ganhadores REIS João J A greve negra de 1857 na Bahia p 821 Em 5 de outubro de 1880 foi publicado um novo regulamento bem como um livro de matrículas que acompanha o documento no qual os capitães dos cantos registravam a matrícula dos ganhadores de seus cantos que são analisados em REIS João J De olho no canto trabalho de rua na Bahia na véspera da abolição AfroÁsia Salvador n 24 p 199242 2000 61 APERJ Livro de Entrada na Casa de Detenção 3969 citado e analisado em SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das na ções africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 154 62 Cf AGCRJ Códices 44128 44129 e 44130 63 Para uma discussão sobre o uso da categoria raça ver GUIMARÃES Antonio Sérgio Racismo e antiracismo no Brasil São Paulo FUSP Ed 34 1999 Especialmente cap 1 e2 64 Os portugueses eram o grupo estrangeiro dominante no Rio de Janeiro Em 1872 23 dos imigrantes do então Distrito Federal eram lusitanos e o censo de 1890 mos trou que além de constituírem a mais antiga comunidade estrangeira da cidade mais da metade de seus membros chegara há apenas dez anos RIBEIRO Gladys Cabras e pésdechumbo os rolos do tempo o antilusitanismo no Rio de Janeiro da República Velha Dissertação Mestrado Departamento de História Universi dade Federal Fluminense Niterói 1987 65 Reis destaca que ao contrário do que ocorreu no Rio de Janeiro onde os imigrantes europeus foram ao longo do século XIX substituindo uma parte dos africanos e afrobrasileiros embora isso não tenha sido verificado com tanta intensidade na região portuária em Salvador os europeus não participaram dessa transição REIS João José De olho no canto trabalho de rua na Bahia na véspera da abolição Afro Ásia Salvador n 24 p 199242 2000 p 218 João do Rio em uma visita rápida pela cidade de Salvador em 1909 descreveria deslumbrado as ruas estreitas da Cidade Baixa e seus personagens negros feitos de músculos débano mulatinhas adoles centes com a carnação das mangas maduras rapazes desempenados velhas africa nas mulatos sacudidos soldados a turba brasileira a antiga turba brasileira que desaparece do Rio e se estrangeira nas avenidas mas que ainda domina na Bahia a turba mixta de portugueses e africanos em que há ingleses e brasileiros mas onde domina o gosto da pimenta a mastigação do orobó e o temor macabro dos deuses bárbaros RIO João do São Salvador à noite A Notícia p 3 2 jan1909 66 Destacamse como focos de emigração para o Brasil em Portugal o Minho Douro e TrásosMontes na Espanha a Galícia e as províncias meridionais da Itália como Cozenza Salerno e Potenza MENEZES Lená Medeiros Bastidores um outro olhar sobre a imigração no Rio de Janeiro Acervo Rio de Janeiro v 10 n 2 p 0316 jul dez 1997 67 MENEZES Lená Medeiros Bastidores um outro olhar sobre a imigração no Rio de Janeiro Acervo Rio de Janeiro v 10 n 2 p 0316 juldez 1997 68 Luiz Felipe de Alencastro assinala que a concentração desses imigrantes pobres nas cidades deixava evidente uma realidade social cujos termos eram até então con traditórios a existência de europeus pobres nivelados ao estatuto dos escravos de ganho e do eito exercendo atividades insalubres e personificando formas de decadência social que pareciam estar reservadas aos negros em ALENCASTRO Luiz Felipe RENAUX Maria Luiza Caras e modos dos migrantes e imigrantes In ALENCASTRO L F Org História da vida privada no Brasil Império São Paulo Companhia das Letras 1997 v 2 p 310 250 69 O conflito é apresentado por Cruz Cf Jornal do Commercio 3 de maio de 1872 p 3 Diário do Rio de Janeiro 3 de maio de 1872 em CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato sociedade de resistência dos traba lhadores em Trapiche e Café Rio de janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 268 70 CRUZ Maria Cecília Velasco e Tradições negras na formação de um sindicato socie dade de resistência dos trabalhadores em Trapiche e Café Rio de janeiro 19051930 AfroÁsia Salvador n 24 p 243290 2000 p 268 71 Ficaram de fora dessa amostra os africanos indicados como africanos de nação 5 de nação africana1 africanos livres 7 e simplesmente como africa nos12 72 São nove os pedidos de licença para minas entre 18701880 Cf AGCRJ Códice 61 52 e Códice 44128 73 AGCRJ Códice 44128 p 199 74 AGCRJ Códice 44128 p 474476 75 AGCRJ Códice 44129 p 97 194 195 76 AGCRJ Códice 44128 p 255 265 77 AGCRJ Códices 44129 p 73 6159 p 128 78 Sobre os africanos livres no Rio de Janeiro especialmente os minas ver MAMI GONIAN Beatriz Gallotti Do que o preto mina é capaz etnia e resistência entre africanos livres AfroÁsia Salvador n 24 p 7195 2000 A autora analisa petições de emancipação de africanos minas Entre eles estava Cyro um nagô de 32 anos que em 1850 tinha Dionísio Peçanha oficial na Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha como seu concessionário Cyro conseguiu permissão para morar longe de Peçanha e pagarlhe 480 réis por mês Como muitos de seus companheiros de nação trabalhava como carregador de café Ele era casado com uma africana mina liberta chamada Luiza e tinha dois filhos p 85 79 Nos registros desses sete africanos livres não há qualquer menção a sua procedên cia ou nação 80 Jornal do Commercio 6101857 em ALENCASTRO Luiz Felipe RENAUX Maria Lui za Caras e modos dos migrantes e imigrantes In ALENCASTRO L F Org História da vida privada no BrasilImpério São Paulo Companhia das Letras 1997 p 297 81 Decretolei n 528 de 28 de junho de 1890 artigo 1º Ver LESSER Jeffrey A negocia ção da identidade nacional imigrantes minorias e a luta pela etnicidade no Brasil São Paulo Ed da Unesp 2001 p 28 82 Entre eles estavam os minas Emanuel Ojô que era tido como chefe de uma espécie de maçonaria geral dos negros o consultor técnico dos pretos do Rio e Abubaca Caolho que também nascera em Lagos e que com auxílio de Ojô firmarase como feiticeiro na capital carioca Em princípios de 1904 chegava à cidade o africano mina Tio Sanin que logo se instalou na casa de seu conterrâneo Ojô Para outros detalhes sobre as trajetórias desses africanos ver FARIAS Juliana Barreto Vivendo entre parentes de nação trajetórias identidades e religiosidades 19041915 In Entre identidades e diásporas negros minas no Rio de Janeiro 1870 1930 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em História Compara da Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2004 p 67116 83 CUNHA Manuela Carneiro da Negros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Brasiliense 1985 p 216 84 AGCRJ Códice 39130 p 6 85 AGCRJ Códice 39130 p 185 tabela 29 No grupo dos quitandeiros temos ainda os angolas com apenas dez registros 12 os benguela com nove 105 e os moçambiques com oito 96 251 86 SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 143 87 REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Paulo Companhia das Letras 2003 p 384 88 Carlos Eugênio Soares destaca que o maior motivo isolado de prisão de africanos era a vagabundagem Comparando dados de africanos libertos com o conjunto dos presos no ano de 1881 vêse que sua prisão por vagabundagem era idêntica ao quadro global da população detida na Casa de Detenção 17 dos presos o foram por vagabundos SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In FARIAS Juliana B GOMES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identidades no Rio de Janeiro séc XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 168 89 Para Soares isso talvez ocorresse porque aqueles que transportavam cargas pe las ruas tinham mais mobilidade que os que se colocavam ao ganho tornando os primeiros mais suscetíveis aos estigmas policiais SOARES Carlos E L Os últimos malungos moradia ocupação e criminalidade 18601900 In FARIAS Juliana B GO MES Flávio S SOARES Carlos E Líbano No labirinto das nações africanos e identi dades no Rio de Janeiro século XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 p 168 90 Sheila de Castro Faria aponta a questão indicando que ela própria incorrera no erro Dos trabalhos que seguem essa perspectiva citados por Faria destacamos MATTO SO Kátia de Queirós Ser escravo no Brasil São Paulo Brasiliense 1988 SCHWARTZ Stuart B Segredos internos engenhos e escravos na sociedade colonial São Paulo Companhia das Letras 1988 KARASCH Mary Catherine A vida dos escravos no Rio de Janeiro 18081850 São Paulo Companhia das Letras 2000 A própria autora em trabalho anterior também adotava essa argumentação Cf FARIA Sheila de Castro A colônia em movimento fortuna e família no cotidiano colonial Rio de Janeiro Nova Fronteira 1998 91 Segundo Reis o sistema de ganho evidenciava para o escravo a exploração escra vista e trabalhar ao lado dos libertos esclarecia ainda mais as coisas Enquanto estes embolsavam tudo que recebiam para transportar passageiros carregar caixas de açúcar e barris os parceiros escravos eram obrigados a entregar o grosso da féria do dia ao senhor Isso representava o elo fraco da escravidão urbana um ponto de alta tensão nas relações senhorescravo REIS João José Rebelião escrava no Brasil a história do Levante dos Malês em 1835 Edição revista e ampliada São Pau lo Companhia das Letras 2003 p 383 Cf CHALHOUB Sidney Visões da liberdade uma história das últimas décadas da escravidão na corte São Paulo Companhia das Letras 1990 92 AGCRJ Códice 6146 p 141 Livro de Registros de Irmãos na Irmandade de San to Elesbão e Santa Efigênia Arquivo da Irmandade documento sem catalogação 18431930 93 AGCRJ Códice 6149 p 73 23031855 94 AGCRJ Códice 6146 p 47 95 Nesse mesmo dia 09051855 Marcolino Pedro Paraíso cuja nacionalidade desconhecemos residente no mesmo endereço que a africana de nação minatapa Laurianna Maria de Santa Ana na rua da Alfândega número 304 também solicitava licença para o escravo Manoel minanagô 95 RIO João do Negros ricos Gazeta de Notícias p 3 13 maio 1905 Segundo o alufá nessa época apenas um africano fazia garbo de ser rico tio Aly da Prainha Anda sempre bem vestido de chapéu de manilha roupas meias de seda e é o negro mais alto do Rio de Janeiro Referências ABREU Capistrano de Capítulos de História Colonial 6 ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1906 AdEdiRAn Biodun Yoruba Ethnic Groups or a Yoruba Ethnic Group a review of the problem of ethnic identification África Revista do Centro de Estudos Africanos da USP São Paulo v 7 p 5770 1984 AGASSiz Luiz AGASSiz Elizabeth Cary Viagem ao Brasil 18651866 Belo Horizonte itatiaia São Paulo EdUSP 1975 p 6869 AGBAnon ii Fio Histoire de PetitPopo et du Royaume Guin 1934 Lomé n L Gayibor 1991 AkinJoGBin isaac A Dahomey and its neighbours 17081818 Cambridge Cambridge University Press 1967 ALdEn dauril Royal government in colonial Brazil with special refe rence to the administration of the Marquis of Lavradio viceroy 1769 1779 Los Angeles University of California Press 1968 ALEnCAStRo Luiz Felipe de O trato dos viventes São Paulo Companhia das Letras 2000 Proletários e escravos imigrantes portugueses e cativos africanos no Rio de Janeiro 18501872 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asiáticos e guerra no tráfico angolano de es cravos século XViii in FRAGoSo João GoUVêA Maria de Fátima S BiCALHo Maria Fernanda org O Antigo Regime nos trópicos a dinâmica imperial portuguesa séculos XVi e XVii Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2001 Dos sertões ao Atlântico tráfico ilegal de escravos e co mércio lícito em Angola 18301860 dissertação de Mestrado em História Universidade Federal do Reio de Janeiro Rio de Janeiro 1996 Escravidão e revoltas de escravos em Angola 18301860 AfroÁsia Salvador n 2122 p944 19981999 o relatório alcoforado Estudos AfroAsiáticos Rio de Janeiro v 28 p 21929 out 1995 266 Transforming Atlantic Slaving trade warfare and territorial control in Angola 16501800 Ph thesis University of California Los Angeles 2003 FERREz Gilberto O Rio de Janeiro do fotógrafo Marc Ferrez paisagens e tipos humanos do Rio de Janeiro 18651918 Rio de Janeiro João Fortes Eng Ex Libris 1984 FiGUEiREdo Luciano de Almeida Barrocas famílias vida familiar em Minas Gerais no 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Gabriel Guimarães Professor adjunto de História na Universidade Federal Fluminense Principais publicações organizou o Dossiê Negócio e Riqueza da revista Tempo 15 2003 e publicou vários artigos em revistas e capí tulos de livros Flávio dos Santos Gomes Professor adjunto de História na Universidade Federal do Rio de Janeiro Principais publicações A hydra e os pântanos mocambos e quilom bos no Brasil séculos XVIIIXIX São Paulo Unesp 2005 Experiências atlânticas Ensaios e pesquisas sobre a escravidão e o pósemancipa ção no Brasil Passo Fundo Universidade de Passo Fundo 2003 No labirinto das nações Africanos e identidades no Rio de Janeiro sé culo XIX Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 em coautoria com Carlos Eugênio Líbano Soares e Juliana Barreto Farias e Histórias de quilombolas Mocambos e comunidades de senzalas Rio de Janeiro Século XIX São Paulo Companhia das Letras 2006 Juliana Barreto Farias Doutoranda em História pela Universidade de São Paulo prepa rando tese sobre africanos minas no mercado de trabalho urbano no Rio de Janeiro Bolsista de Produtividade em Pesquisa da Biblioteca Nacional 2007 Principais publicações No labirinto das nações Africanos e identi dades no Rio de Janeiro século XIX em coautoria com Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio dos Santos Gomes Rio de Janeiro Arquivo Nacional 2005 e Cidades Negras Africanos no espaço urbano no Brasil escravista São Paulo Alameda Editorial 2006 em coautoria com Carlos Eugênio Líbano Soares Flávio dos Santos Gomes e Carlos Eduardo Moreira Luiz Mott Professor titular de Antropologia na Universidade Federal da Bahia Principais publicações Escravidão homossexualidade e demono logia São Paulo Ed Icone 1988 A inquisição em Sergipe Aracaju Fundesc l989 O sexo proibido virgens gays e escravos nas garras da inquisição Campinas Ed Papirus 1989 Rosa Egipcíaca uma santa africana no Brasil Rio de Janeiro Ed BertrandBrasil 1993 e Candomblés da Bahia Catálogo de 500 casas de culto afrobrasileiro de Salvador em coautoria com Marcelo F Cerqueira Salvador Ed CBAAMinistério da Saúde 1998 Mariza de Carvalho Soares Professor associado de História na Universidade Federal Fluminense Network Professor do Harriet Tubman Centre on the African Diaspora na York UniversityCanadá Principais publicações Devotos da cor Identidade étnica religio sidade e escravidão no Rio de Janeiro século XVIII Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2000 e Episódios da história afrobrasileira em coautoria com Ricardo Henrique Salles 2005 Sheila de Castro Faria Professor titular de História na Universidade Federal Fluminense Principais publicações A Colônia em Movimento Fortuna e fa mília no cotidiano colonial Rio de Janeiro Nova Fronteira 1998 e Sinhás pretas damas mercadoras As pretasminas no sudeste do Brasil a sair ANEXO Descrição dos portos vilas e aldeias da Costa da Mina c 1786 Mariza de Carvalho Soares Apresentação O documento aqui apresentado é um trecho de um manuscrito de um total de 90 páginas1 composto sob a forma de um diálogo escrito por Francisco Alves de Souza um escravo alforriado segundo suas próprias palavras preto e natural do Reino de Makim e destacado membro da Congregação Maki2 instalada na cidade do Rio de Janeiro em 1762 A congregação está sediada na Igreja de Santo Elesbão e Santa Efigênia no Rio de Janeiro e pertence à irmandade de homens pretos do mesmo nome controlada por um grupo de pretosminas traficados pelos portos da Baía do Benim para o Brasil ao longo do século XVIII O diálogo tem como interlocutores Francisco Alves de Sousa e Gonçalo Cordeiro Francisco foi eleito rei dos Mahi em 1786 Gonçalo é seu secretário e quem incentiva Francisco a escrever O documento é composto por dois diálogos cada um deles dividido em capítulos O primeiro diálogo narra a disputa sucessória entre Francisco e a víúva do falecido rei pelo controle da congregação3 e o segundo é uma descrição da então chamada Costa da Mina4 O trecho abaixo transcrito corresponde a partes dos capítulos terceiro e quarto do segundo diálogo O documento como um todo não está datado mas o primeiro diá logo inclui a transcrição de um estatuto datado de 1786 Um docu mento posterior datado de 1888 faz menção aos acontecimentos nar rados do primeiro diálogo o que permite estimar que este tenha sido escrito entre 1786 e 17885 O segundo diálogo foi escrito segundo o autor com informações obtidas de um amigo piloto Não há qualquer informação adicional sobre o piloto ou à época em que as informa ções foram recolhidas muito menos sobre a época em que o piloto viajou pela costa africana O manuscrito consultado é uma cópia de época prática usual e se encontra na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro sob o título Regra ou estatutos pormodo de hûm dialo go onde sedá notiçias das Caridades e Sufragaçoens das Almas que uzam osprettos Minnas comseus Nancionaes no Estado do Brazil expecialmente no Rio de Janeiro por onde se hao de regerem egôver narem fora detodo oabuzo gentilico e supersticiozo composto por Françîsco Alvês de Souza pretto enatural do Reino deMakim hûm dos mais exçelentes e potentados daqûela ôriunda Costa daMinna clas sificado como BNMA 9311 Antiga 5312 A Biblioteca Nacional não dispõe de mais informações que permitam datar a entrada e es clarecer a origem do documento A primeira referência disponível é sua inclusão no catálogo da Exposição de História do Brasil durante a qual foi exposto6 A transcrição da íntegra do documento está em fase de edição devendo ser divulgada com texto de apresentação e notas7 A versão aqui apresentada teve ortografia e pontuação atualiza das Tal opção resultou da extrema dificuldade de leitura do texto em sua forma original Foi mantida a grafia original apenas nos casos em que não foi possível asseverar o significado da palavra ou sua cor respondência na grafia contemporânea Foram acrescidas também notas explicativas sempre que informações adicionais importantes para uma melhor compreensão do texto estavam disponíveis Transcrição do documento Capítulo 3º Das descrições das Costas da Mina Acara8 Adra e Benin9 entre o Cabo das Três Pontas e o Rio Formoso Do Cabo das 3 pontas até o adigue10 que é uma fortaleza dos in gleses haverá três léguas e adiante cousa de uma légua está uma aldeia de pretos chamados Butry ou Boutrú11 adiante cousa de outra légua está um banco de pedra chamado de Anta e meia légua ao nordeste quarta do norte do banco de Anta é uma baía pequena fl 56 com uma aldeia chamada Tacoary12 do banco de Anta 5 léguas ao nordeste está aldeia de Sama junto do Rio de São João e a lesueste tem um pequeno forte que ali tem os holandeses e sudoeste quarta do sul fica uma grande pedra que se vê bem distante da terra de Sama corre a costa a les nordeste quatro léguas até as barreiras de Suma13 que é um Monte redondo sobre a borda do mar com três árvores grandes com um oiteiro14 pequeno da banda de leste a modo de uma ilha pequena na qual há malhas brancas Cousa de uma légua para leste do dito monte redondo ou barrei ra de Suma está uma aldeia de pretos chamados Pequeno Comendo e outra légua adiante está outra chamada Grã Comendo e para ban da de leste se verão logo o Castelo da Mina branquejar15 São Jorge da Mina Cousa de duas léguas para leste do Grã Comendo está umas terras grossa com um monte redondo sobre si chamada Monte de Futo e da banda do sul do dito monte bota uma ponta delgada e nela está o famoso Castelo de São Jorge da Mina mandado edificar por El Rei Dom João o 2º de Portugal Deste porto da Mina para leste quarta do nordeste esta o Cabo Corso sem arvoredo e a do porto da Mina a ele 3 Léguas por costa no Cabo Corso têm os ingleses a sua principal fortaleza cabeça de todos as que tem nesta costa e mais abaixo uma légua a lesnordeste têm os holandeses um forte chamado de Nassau junto de uma aldeia de pretos que se chama Murea légua desta aldeia se vê um monte chamado Monte de Ferro coberto de arvoredo muito aprazível e daí uma légua tem os ingleses outro forte junto de uma aldeia cha mada fl 57 Anambo16 e daí légua e meia têm os holandeses outro forte chamado de Amsterdã junto das Aldeias de Cormantim17 aon de se vêem dois montes pela terra dentro a que chamam os Frades e daí oito léguas tem outro perto de um monte muito alto chamado Monte do Diabo que é muito conhecido dos marcantes18 por se ver muitos dias areyô quando o vento é contrários e por esta costa adiante estão outros fortes das quais o último é dos dinamarqueses chamado Christiamburg na Costa de Acara19 Do cabo Corso até o dito Monte do Diabo que os antigos chama vam Monte de Beriqui ou cabo das redes há 13 léguas e um cabo com outro se correm lesnordeste o e sudoeste e a terra ao longo da costa do cabo a cabo é razoavelmente alta e montanhosa Do Monte do Diabo até Berkú corre a costa 4 léguas e a lesnordeste e de Berkú e Carâ são outras quatro léguas também a lesnordeste passada a terra alta em que está o Monte do Diabo E daí em diante se faz uma terra muito baixa ao longo do mar até o Rio das Voltas e haverá desde Acarâ até o Rio das voltas 23 ou 24 léguas a lesnordeste um pouco mais para leste20 Rio das Voltas Este rio é muito largo na entrada mas corre com tanta força que se conhece a sua corrente estando 3 léguas do mar traz tantas árvores de dentro do sertão arrancadas que se detendo e embarançandose umas com outras causam na boca do rio grandes ariciros de sorte que se ano pode passar em uma canoa mas que duas vezes no ano que é ordinariamente desde o mês de abril até o de novembro mas deste mês por diante em que começam as chuvas cresse muito o rio e corre muita fúria quem partir da Mina para o Rio das Voltas ponhase 3 ou 4 léguas do mar e faça o caminho de lesnordeste e irá dar na aldeia fl 58 deste rio haverá na de rota quarenta e seis léguas pouco mais ou menos Cabo de São Paulo Do Rio da Volta ao Cabo de Mondego a quatro léguas a les quarta de nordeste e nestas 4 léguas a costa é baixa com algumas matas pequenas de arvoredo e daí a 10 léguas ao mesmo rumo está o Cabo de São Paulo A terra deste cabo é muito baixa e faz uma ponte de areia que sai muito ao mar a leste deste cabo se vem quatro montes pequenos e compridos juntos uns dos outros Popos Do Cabo de São Paulo ao Popo Pequeno21 haverá 14 léguas e daí ao Grã Popo22 4 mas adiante 5 ou 6 léguas para a banda de leste está o porto de Ardra chamado Fida ou Ajudâ23 Este porto é muito perigo so principalmente nos meses de abril maio junho e julho por andar então o mar tão grosso que será arriscar visivelmente um navio o querer entrar nele e se tem visto ali muitas desgraças adiante 5 lé guas está o porto de Jequem24 onde se faz muito negócio de pretos Rio da Lagoa Do porto de Ardra ao Rio da Lagoa haverá 16 léguas ao nordeste quarta de leste e a lesnordeste é terra toda baixa e praia ao longo do mar com algumas aldeias este rio da lagoa tem uma boca peque na e de preamar não tem mais que 2 braças a entrada é mui perigo sa com baixos de areia em que arrebenta o mar o mais do tempo e não aparece o canal nem podem entrar nele senão navios de 30 e 40 toneladas e entrando dentro se faz logo uma grande lagoa que tem 2 ou 3 léguas de largo e outras tantas de comprido por este rio acima a 12 Léguas está uma cidade a que chamam Jabûm25 muito grande cercada com uma cava em roça Aqui se faz negócio de escravos e muito marfim fl 59 Está este rio em 7 graus do norte Rio Primeiro Do Rio da Lagoa ao Rio Primeiro se corre a costa a sueste e há na de rota 25 léguas este rio tem a boca um pouco grande que tem meia légua de largo da parte do sueste tem um arvoredo grosso deste rio a 4 léguas estão 3 esteiros26 e a costa destes esteiros ao longo do mar tem vaza e areia dali por diante 10 léguas toda terra é cortada por dentro com outros rios de maneira que se fazem muitas ilhas e no mês de agosto setembro há por aqui muitas chuvas27 Rio Fermozo28 Distante deste Rio Primeiro está o Rio Fermozo ou Rio de Benim distante 5 léguas ao sueste rio dito tem uma grande boca de largura de uma légua mas de preamar não tem mais de 18 palmos de água vaza solta e este parcel corre ao mar quase 2 léguas o rio forma dentro grandes quantidades de braços dos quais algum é tão largos que se lhe pode dar nome de rios Indo por este rio acima da parte da mão esquerda uma légua es tão dois braços subindo pelo 2º braço cousa de 12 léguas está uma vila a que chamam Agûna Este é o Rio grande de Cidade de Benim a qual é do tamanho de uma légua sem muros mas está cercada de uma grande cava e podem ir por este rio acima naus de 50 toneladas Benin é um grande reino e tem por capital uma bela e grandiosa cidade do mesmo nome em África e no fl 60 Golfo de Guiné O seu rei é mui poderoso chamase pelos naturais Bâ Benin29 e o que presentemente está governando chamase pelos naturais Dallicâ e pode por em pouco tempo um exército de cem mil homens tem contínua guerra com seus vizinhos e cativam muitos escravos que vendem a troco de manilhas30 e outras cousas31 Capítulo 4º em que se prossegue as notícias da Fortaleza de São Jorge da Mina Acara Ardra e Benim entre o Cabo das 3 Pontas e o Rio Fermozo com seus graus e minutos de latitude e longitude com outras explicações curiosas Do Cabo das 3 pontas tem de latitude 4 graus e 28 minutos ao norte e de longitude 18 graus e 35 minutos Portuguesa De Boutry ou Boutru tem de latitude 4 graus e 32 minutos ao norte de longitude 18 graus e 50 minutos De Sama tem de latitude 4 graus e 45 minutos ao norte de longitude 19 graus e 4 minutos Comendo tem de latitude 4 graus e 50 minutos ao norte de longitude 19 graus e 20 minutos São Jorge da Mina é o famoso Castelo edificada nas costa de África em Guiné mandado por El Rei Dom João 2º de Portugal no de 1482 tem de latitude 4 graus e 55 minutos A norte e de longitude 19 graus e 30 minutos Cabo Corso é em Guiné nas Costas do Ouro em África com uma vila do mesmo nome cercada esta a maior e principal f63 for taleza dos ingleses depois da de São Jorge da Mina e tem de latitude 4 graus e 57 minutos ao norte e de longitude 19 graus e 40 minutos Murea é um pequeno reino e por outro nome Sabou32 fica sobre a Costa do Ouro em Guiné e é muito fértil produz grãos e várias frutas e tem muitas vilas e entre as quais é a principal Sabou aonde os holandeses tem o forte chamado Nassau e tem de latitude 5 graus e de longitude 19 graus e 44 minutos Ao norte Cormantim33 é um país com uma vila do mesmo nome em a Costa do Ouro em Guiné com dois fortes que pertenciam aos ingleses porém os deitou dali o almirante Ruiter no ano de 1665 e tem nela os holandeses um forte com boa guarnição chamado Amsterdã e tem de latitude 5 graus e 4 minutos ao norte e de longitude 19 graus e 54 minutos Monte do Diabo é muito conhecido dos navegantes como já disse e tem de latitude 5 graus e 12 minutos ao norte e de longitude 20 graus e 18 minutos Berkû34 tem de latitude 5 graus e 17 minutos ao norte e de longitude 20 graus e 30 minutos Acara35 um país com uma vila do Reino de Agambû36 sobre a Costa de Guiné têm ali os holandeses digo os Ingleses uma vila com um forte o mesmo têm os holandeses e dinamarqueses e este país é o melhor de todos os da costa e mui útil aos pretos pelo seu comércio Tem de latitude 5 graus e 22 minu tos ao norte e de longitude 20 graus e 42 minutos Rio das Voltas veja na descrição da folha 37 aonde já se disse tem de latitude 5 graus e 44 minutos ao norte e de longitude 21 graus e 55 minutos Cabo de São Paulo veja a discrição folha 38 e tem de latitude f 4437 5 graus e 53 minutos ao norte de longitude 22 graus e 40 minutos Popo tem de latitude 6 graus e 15 minutos ao norte e de longitude 23 graus e 15 minutos Ajudâ ou Fida porto de Adra tem de latitude 6 graus e 15 minutos ao norte e de longitude 23 graus e 20 minutos Rio da Lagoa tem de latitude 6 graus e 55 minutos ao norte e de longitude 24 graus e 30 minutos Rio Fermoso ou Rio de Benin tem de latitude 6 graus e 20 minutos ao norte e de longitude 26 graus Cordeiro Já Vossa Mercê acabou a narração da Costa da Mina Souza Entendo que sim senão houver alguma dúvida que encon tre o que tenho dito Cordeiro Não há nenhuma e nem pode haver segundo o que co lijo pelo que lhe fico muito obrigado portanto trabalho o quanto tem tido por meu respeito que Deus lhe dará o pago Eu estava para lhe pedir uma cousa mas tenho vergonha de o fazer porque o tenho importunado muito e porque também o vejo ainda mui cansado e fadigado da compendiosa história dos portos da Costa da Mina pois ainda falta o dizerme Souza Esta boa história dizerme o que Cordeiro Sim o dizerme Se o Castelo de São Jorge da Costa da Mina assim como os portugueses tiveram todo o trabalho em desco brir e edificar se hoje ainda é dos portugueses Souza Pois para isso é preciso estar a gaguejar a mais de uma hora não sei que Paixões têm Vossa Mercê com esse Castelo que sempre me está a perseguir com perguntas sim Senhor o satisfarei f 45 Notas 1 Há um erro na numeração das folhas a partir da folha 64 que é erradamente numera da como 44 Portanto ao total de 70 folhas numeradas devem ser acrescidas mais 20 folhas Agradeço a Luciana Gandelman e Eduardo Cavalcanti então alunos do curso de graduação em História da UFF a transcrição e revisão do documento 2 A palavra mahi tem várias grafias diferentes dependendo da época e língua em que é escrita Maki Makii Makim Maqui Mahee ou Mahi No documento aqui transcrito aparecem várias grafias Maki Makim Makii mas optei por fazer uso da ortografia mais corrente na literatura africanista atual mahi O texto recebeu uma atualização ortográfica e também uma nova pontuação sempre que a alteração foi considerada necessária para facilitar a comprensão do sentido do texto Uma ver são integral do documento está sendo editada SOARES Mariza de Carvalho Org O Manuscrito Mahi e outros documentos da Igreja de Santo Elesbão e Santa Efigênia Introdução e notas de Mariza de Carvalho Soares Rio de Janeiro sn 200 Ma nuscrito 3 O primeiro diálogo tem início na folha 1 com o título Regra ou estatutos pormodo de hûm dialogo onde sedá notiçias das Caridades e Sufragaçoens das Almas que uzam osprettos Minnas comseus Nancionaes no Estado do Brazil expecialmente noRio de Janeiro por onde se hao de regerem egôvernarem fora detodo oabuzo gentilico e supersticiozo composto por Françîsco Alvês de Souza pretto enatural do Reino deMakim hûm dos mais exçelentes e potentados daqûela ôriunda Costa da Minna Este primeiro título foi usado pela BN para identificar o conjunto do do cumento 4 O segundo diálogo tem início na folha 47 sob o título Dialogo segundo em que se dá notícias da fundaçam da grandioza fortaleza de S Jorge da Costa da Mina edificadas nas costas de Africa em Guinnê e dos seus portos hê o reino de Benin e outras no tícias curiosas por francisco Alves de Sousa preto e natural do reino de Makii hum dos mais exelentes e potentados daquela oriunda costa da Minna 5 Estatuto da Irmandade de N S dos Remédios AHUCUcód 1300 Tratase de uma nova proposta de estatuto elaborada no interior da mesma congregação e enviada a D Maria I então rainha de Portugal no ano de 1788 6 CATÁLOGO da Exposição de História do Brazil realizada pela Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro a 2 de dezembro de 1881 Rio de Janeiro Typographia G Leuzinger Filhos 1881 p 1007 O manuscrito consta também do GUIA brasileiro de fontes para a história da África da escravidão negra e do negro na sociedade atual Rio de Janeiro Sergipe v 2 Brasília DF Imprensa Nacional 1988 p 728 7 Para maiores informações sobre o manuscrito ver SOARES Mariza de Carvalho Apreço e imitação no diálogo do gentio convertido Ipotesi Revista de Estudos Literá rios Juiz de Fora v 4 n 1 p 111 123 janjun 2000 8 Acara Acarâ é o mesmo que Accra e Acra 9 Na grafia contemporânea escrevese Benin inglês e francês e Benim português 10 Palavra e local não identificados 11 Atual Boutry 12 Atual Tacorari 13 Provavelmente Sama 14 Oiteiro é a grafia arcaica de outeiro pequeno monte 15 O Castelo da Mina foi construído em pedra e cal pelos portugueses em 1482 Poste riormente passou por várias reformas até chegar ao que é hoje tendo sido declara do Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco 16 Atual Anamabo 17 Atual Coromantim 18 Deve ser mercantes 19 Forte Christiamnborg na costa de Acra atual capital de Gana 20 Carâ e Acarâ correspondem a Acra 21 Atualmente conhecido como Petit Popo 22 Atualmente denominado Grand Popo 23 Ardra ou Aladá correspondem ao reino de Aladá localizado a oeste de Ajudá que por sua vez também aparece grafado como Ouidah Fida Uidá e Whydah Ajudá é um porto localizado no reino de Hueda tomado pelos daomeanos em 1727 É inte ressante notar o desconhecimento de Francisco Alves de Souza autoidentificado como Mahi e autor do roteiro da diferença entre Aladá e Ajudá Certamente tratase de uma confusão sua e não do piloto que lhe passou a derrota Esse desconhecimen to pode indicar que ele não teria sido traficado por nenhum desses portos o que provavelmente o levaria para o tráfico realizado em Popo Jaquim ou Epe 24 Jaquim Jaquem atual Godomey no Benim 25 Provavelmente tratase de Ijebu Também aparece na literatura como Jabum Iabu Gabu Jabboe Sandoval indica essa localidade entre Aladá e Benim nas lagunas de Lagos Segundo ele é uma cidade murada circundada por um fosso Instauranda p 78 Também Dapper fala sobre ela Tais descrições combinam com a indicação de que a cidade é cercada por uma cava 26 Esteiro é um braço pequeno de rio ou mar BLUTEAU D R Vocabulário portuguez e latino Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro 2000 1 CDROM 27 Não há no documento menção a três portos importantes Epe destruído pelo Dao mé em 1782 Badagri destruído pelo Daomé em 1784 e Onin Lagos 28 Rio Formoso 29 Bá ou Oba soberano do antigo reino do Benim 30 São braceletes de metal usados usualmente no comércio e no tráfico de escravos 31 Outras descrições da cidade do Benin muito se assemelham a aqui apresentada Já no século XVI Duarte Pacheco Pereira informa O reino do Beni será de oitenta léguas de comprido e quarenta de largo E o mais do tempo faz guerra aos vizinhos onde toma muitos cativos que nós compramos a doze e quinze manilhas de latão ou cobre que eles mais estimam Já o Dapper 1668 informa ser em seu tempo a cidade rodeada de um lado por uma muralha de dez pés de altura feita de uma paliçada e de outro por um pântano tendo várias portas de madeira maciça COQUERYVIDROVITCH Catherine Org A descoberta da África Lisboa Edições 70 1981 p 8688 32 Local não identificado 33 Atual Koromantin 34 Local não identificado 35 Acra 36 Reino não identificado 37 Aqui há um erro na numeração das folhas do documento correspondendo à folha 64 e não à 44 O golfo do Benim o baixo Niger e o golfo de Biafra A manilha e o libambo 1061 Coleção Biblioteca EdUFF O cotidiano dos trabalhadores de Buenos Aires 18801920 Norberto Osvaldo Ferreras Em busca da boa sociedade Selene Herculano História do anarquismo no Brasil V 1 Rafael Borges Deminicis e Daniel Aarão Reis Filho Orgs O poder de domar do fraco construção de autoridade e poder tutelar na política de povoamento do solo nacional Jair de Souza Ramos Cruéis paisagens Ângela Maria Dias de Brito Gomes Percursos do olhar comunicação narrativa e memória Marialva Carlos Barbosa Literalmente falando sentido literal e metáfora na metalinguagem Solange Coelho Vereza Terras lusas a questão agrária em Portugal Márcia Maria Menendes Motta Org Este livro foi composto na fonte ITC Cheltenham Std corpo 11 Impresso na Globalprint Gráf ca e Editora em Papel Polén Soft 80g gramas miolo e Cartão Supremo 250 gramas capa produzido em harmonia com o meio ambiente Esta edição foi impressa em junho de 2011 PRIMEIRA EDITORA NEUTRA EM CARBONO DO BRASIL Título conferido pela OSCIP PRIMA wwwprimaorgbr após a implementação de um Programa Socioambiental com vistas à ecoef ciência e ao plantio de árvores referentes à neutralização das emissões dos GEEs Gases do Efeito Estufa 3ª prova JLuiz 13 jul 2009 2ª prova JLuizSM 25 jul 2011 A Coleção Biblioteca EdUFF busca a renovação do mercado do livro acadêmico contemplando no âmbito da Universidade Federal Fluminense obras de todas as áreas do conhecimento A responsabilidade da seleção de textos inscritos por edital público está a cargo da Comissão Editorial da Editora da UFF e de pareceristas convidados As edições deste selo são totalmente financiadas com recursos da UFF Visando ao crescimento equilibrado sem perder as oportunidades a Editora da UFF procura cumprir a missão da UFF ser um espaço plural socialmente referenciado para a formação de cidadãos e profissionais críticos e competentes para a produção e disseminação de conhecimento pluri inter e transdisciplinar contribuindo para a diminuição das desigualdades e o desenvolvimento do país ISBN 8522806519 9788522806515 Universidade Federal Fluminense Editora da UFF