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POEMAS SIMBOLISTAS NO BRASIL 1 Hino da Bandeira do Brasil Olavo Bilac Salve lindo pendão da esperança Salve símbolo augusto da paz Tua nobre presença à lembrança A grandeza da Pátria nos traz Recebe o afeto que se encerra Em nosso peito juvenil Querido símbolo da terra Da amada terra do Brasil Em teu seio formoso retratas Este céu de puríssimo azul A verdura sem par destas matas E o esplendor do Cruzeiro do Sul Recebe o afeto que se encerra Em nosso peito juvenil Querido símbolo da terra Da amada terra do Brasil Contemplando o teu vulto sagrado Compreendemos o nosso dever E o Brasil por seus filhos amado Poderoso e feliz há de ser Recebe o afeto que se encerra Em nosso peito juvenil Querido símbolo da terra Da amada terra do Brasil Sobre a imensa Nação Brasileira Nos momentos de festa ou de dor Paira sempre sagrada bandeira Pavilhão da justiça e do amor Recebe o afeto que se encerra Em nosso peito juvenil Querido símbolo da terra Da amada terra do Brasil 2 Amor e Vida Raimundo Correia Escondeme a alma no íntimo oprimida Este amor infeliz como se fora Um crime aos olhos dessa que ela adora Dessa que crendoo crerase ofendida A crua e rija lâmina homicida Do seu desdém varame o peito embora Que o amor que cresce nele e nele mora Só findará quando findarme a vida Ó meu amor como num mar profundo Achaste em mim teu álgido teu fundo Teu derradeiro teu feral abrigo E qual do rei de Tule a taça de ouro Ó meu sacro ó meu único tesouro Ó meu amor tu morrerás comigo 3 Vaso Chinês Alberto de Oliveira Estranho mimo aquele vaso Vio Casualmente uma vez de um perfumado Contador sobre o mármor luzidio Entre um leque e o começo de um bordado Fino artista chinês enamorado Nele pusera o coração doentio Em rubras flores de um sutil lavrado Na tinta ardente de um calor sombrio Mas talvez por contraste à desventura Quem o sabe de um velho mandarim Também lá estava a singular figura Que arte em pintála a gente acaso vendoa Sentia um não sei quê com aquele chim De olhos cortados à feição de amêndoa 4 Antifona Cruz e Sousa Ó Formas alvas brancas Formas claras De luares de neves de neblinas Ó Formas vagas fluidas cristalinas Incensos dos turíbulos das aras Formas do Amor constelarmente puras De Virgens e de Santas vaporosas Brilhos errantes mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas Indefiníveis músicas supremas Harmonias da Cor e do Perfume Horas do Ocaso trêmulas extremas Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume Visões salmos e cânticos serenos Surdinas de órgãos flébeis soluçantes Dormências de volúpicos venenos Sutis e suaves mórbidos radiantes Infinitos espíritos dispersos Inefáveis edênicos aéreos Fecundai o Mistério destes versos Com a chama ideal de todos os mistérios Do Sonho as mais azuis diafaneidades Que fuljam que na Estrofe se levantem E as emoções todas as castidades Da alma do Verso pelos versos cantem Que o pólen de ouro dos mais finos astros Fecunde e inflame a rima clara e ardente Que brilhe a correção dos alabastros Sonoramente luminosamente Forças originais essência graça De carnes de mulher delicadezas Todo esse eflúvio que por ondas passa Do Éter nas róseas e áureas correntezas Cristais diluídos de clarões álacres Desejos vibrações ânsias alentos Fulvas vitórias triunfamentos acres Os mais estranhos estremecimentos Flores negras do tédio e flores vagas De amores vãos tantálicos doentios Fundas vermelhidões de velhas chagas Em sangue abertas escorrendo em rios Tudo vivo e nervoso e quente e forte Nos turbilhões quiméricos do Sonho Passe cantando ante o perfil medonho E o tropel cabalístico da Morte 5 Violões que choram Cruz e Sousa Ah plangentes violões dormentes mornos Soluços ao luar choros ao vento Tristes perfis os mais vagos contornos Bocas murmurejantes de lamento Noites de além remotas que eu recordo Noites de solidão noites remotas Que nos azuis da Fantasia bordo Vou constelando de visões ignotas Sutis palpitações à luz da lua Anseio dos momentos mais saudosos Quando lá choram na deserta rua As cordas vivas dos violões chorosos Vozes veladas veludosas vozes Volúpias dos violões vozes veladas Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos vivas vãs vulcanizadas Tudo nas cordas dos violões ecoa E vibra e se contorce no ar convulso Tudo na noite tudo clama e voa Sob a febril agitação de um pulso Que esses violões nevoentos e tristonhos São ilhas de degredo atroz funéreo Para onde vão fatigadas do sonho Almas que se abismaram no mistério Sons perdidos nostálgicos secretos Finas diluídas vaporosas brumas Longo desolamento dos inquietos Navios a vagar à flor de espumas 6 Vida obscura Cruz e Sousa Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro Ó ser humilde entre os humildes seres Embriagado tonto dos prazeres O mundo para ti foi negro e duro Atravessaste num silêncio escuro A vida presa e trágicos deveres E chegaste ao saber de altos saberes Tornandote mais simples e mais puro Ninguém te viu o sentimento inquieto Magoado oculto e aterrador secreto Que o coração te apunhalou no mundo Mas eu que sempre te segui os passos Sei que cruz infernal prendeute os braços E o teu suspiro como foi profundo 7 Cárcere das almas Cruz e Sousa Ah Toda a alma num cárcere anda presa Soluçando nas trevas entre as grades Do calabouço olhando imensidades Mares estrelas tardes natureza Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e sonhando as imortalidades Rasga no etéreo o Espaço da Pureza Ó almas presas mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas Da Dor no calabouço atroz funéreo Nesses silêncios solitários graves Que chaveiro do Céu possui as chaves para abrirvos as portas do Mistério 8 Ismália Alphonsus de Guimaraens Quando Ismália enlouqueceu Pôsse na torre a sonhar Viu uma lua no céu Viu outra lua no mar No sonho em que se perdeu Banhouse toda em luar Queria subir ao céu Queria descer ao mar E no desvario seu Na torre pôsse a cantar Estava perto do céu Estava longe do mar E como um anjo pendeu As asas para voar Queria a lua do céu Queria a lua do mar As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par Sua alma subiu ao céu Seu corpo desceu ao mar 9 A catedral Alphonsus de Guimaraens Entre brumas ao longe surge a aurora O hialino orvalho aos poucos se evapora Agoniza o arrebol A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu risonho Toda branca de sol E o sino canta em lúgubres responsos Pobre Alphonsus Pobre Alphonsus O astro glorioso segue a eterna estrada Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz A catedral ebúrnea do meu sonho Onde os meus olhos tão cansados ponho Recebe a bênção de Jesus E o sino clama em lúgubres responsos Pobre Alphonsus Pobre Alphonsus Por entre lírios e lilases desce A tarde esquiva amargurada prece Põese a lua a rezar A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu tristonho Toda branca de luar E o sino chora em lúgubres responsos Pobre Alphonsus Pobre Alphonsus O céu é todo trevas o vento uiva Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem açoitar o rosto meu E a catedral ebúrnea do meu sonho Afundase no caos do céu medonho Como um astro que já morreu E o sino geme em lúgubres responsos Pobre Alphonsus Pobre Alphonsus 10 Hão de chorar por ela os cianomomos Alphonsus de Guimaraens Hão de chorar por ela os cinamomos Murchando as flores ao tombar do dia Dos laranjais hão de cair os pomos Lembrandose daquela que os colhia As estrelas dirão Ai nada somos Pois ela se morreu silente e fria E pondo os olhos nela como pomos Hão de chorar a irmã que lhes sorria A lua que lhe foi mãe carinhosa Que a viu nascer e amar há de envolvêla Entre lírios e pétalas de rosa Os meus sonhos de amor serão defuntos E os arcanjos dirão no azul ao vêla Pensando em mim Por que não vieram juntos