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16 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares CAPÍTULO 1 Regime de Conhecimento e Narrativas Xakriabá Educação Territorializada ecologias de saberes e políticas como alternativas epistemológicas Heiberle H Horácio Apresentação Reconhecer a participação indígena no fazer epistemológico é contribuir para o processo de descolonização de mentes e corpos Célia Xakriabá2 2018 A ideia de ecologia está relacionada a um conjunto de referências sobre um determinado lugar Ecologia para quem vive em uma floresta é floresta viva a respirar e a inspirar a vida da floresta é o suporte para a materialidade e a espiritualidade da existência da cultura e da produçãoreprodução da subsistência KRENAK 2018 Assim como a floresta é o suporte para a materialidade e a espiritualidade tal qual menciona Ailton Krenak na citação acima o Cerrado também o é e este texto quer propor possibilidades de reflexões sobre como um povo indígena no Sertão de Minas Gerais produz saberes e narrativas ao mesmo tempo em que se produz WAGNER 2010 em relação comno ambiente não só porque não há ambiente sem um sujeito de quem ele é o ambiente VIVEIROS DE CASTRO 2007 mas porque possui uma relação com a Terra Indígena reconhecendoa como vivente e concebendoa constituída de múltiplos agentes com ntencionalidades3 2 Há atualmente pelo menos dois modos de escrita do nome XakriabáXacriabá ambos inclusive utilizados pelos próprios indígenas 3 A versão completa e original deste artigo foi publicada no livro Religião e Ecologia plantas espiritualidades e política pela editora da UEPA organizado pelas professoras 17 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes Para tanto expressões do Regime de Conhecimento Xakriabá e a Literatura desse povo indígena ambas já instituindo um fazer epistemológico de autoria Xakriabá XAKRIABÁ 2018 serão respeitosamente frequentadas por um leitor o autor deste texto que se relaciona há anos com os Xakriabá HORÁCIO 2016 2018 2018b 2019 2022 Por fim após o contato mesmo introdutório e apresentativo com uma ínfima parte da Literatura e alguns traços do Regime de Conhecimento Xakriabá serão mobilizadas reflexões do entendimento de Educação Territorializada da indígena Célia Xakriabá 2018 articuladas às considerações sobre Ecologia Política de Ailton Krenak 2018 e pela perspectiva da Ecologia de Saberes de Boaventura de Souza Santos 2007 sendo que elas se constituem juntas e em relação em inspiração e como componente do que o autor deste texto propõe chamar de alternativas epistemológicas4 A respeito do Regime de Conhecimento do Povo Indígena Xakriabá Célia Xakriabá ao falar do fazer epistemológico Xakriabá menciona que envolve diferentes agências e agentes e que constitui uma epistemologia nativa presente na memória e na transmissão oral além da presença ressonante em melodia na escrita Xakriabá XAKRIABÁ 2018 Ademais a seguinte compreensão também aparece nas falas de alguns5 Xakriabá Sandra Duarte Ronize da Silva Santos e Flávia Cristina A Lucas 4 A concepção de alternativas epistemológicas adotada pelo autor deste texto se diferencia da concepção de epistemologias alternativas e dialoga mais com as epistemologias marginais 5 A consideração feita pelo pesquisador Rafael Barbi em sua dissertação é fundamental para observamos com as devidas cautelas generalizações que causam perigosas reduções sobre os Xakriabá até porque a produção dos livros costuma ser coletiva ou seja não diferentes Xakriabá que o compõe Quanto a isso a fala do pesquisador Rafael Barbi é significativa Peço licença aos meus colegas e amigos Xakriabá por algumas generalizações aqui nas referências feitas aos Xakriabá esse plural construído através da convivência e de uma história conjunta do compartilhamento da terra dos laços de parentesco e dos elementos cosmológicos implicados nesse conjunto Porque os Xakriabá são tão similares entre si quanto são diversos algo que eles têm consciência 18 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares CIÊNCIA é palavra muito usada pelo nosso povo no sentido de cautela de saber fazer alguma coisa Está relacionada com proporcionar o bem e a saúde Até na forma de organizar um ritual não pode ser de qualquer jeito tem que seguir uma regra porque senão aquilo que vai fazer poderá não ser realizado cumprido e surtir efeito Essa regra é a ciência CRENÇA tem o sentido de se acreditar no que diz respeito a todos os nossos costumes não só material e visual mas também espiritual ou seja diz respeito às coisas concretas e às abstratas SABEDORIA é tudo aquilo que vem guardado na memória coisas que há muito foram acontecidas e também tem a ver com o significado de saber alguma coisa no sentido de ser inteligente e conhecer além daquilo que é ensinado na escola ou na família A pessoa já nasce com aquele saber XAKRIABÁ 2013b Importa destacar a não dissociação entre o Regime de Conhecimento Indígena e a Literatura indígena indissociação que é evidenciada por exemplo quando os anciões Xakriabá são chamados de livros vivos pois nas palavras de um jovem indígena reafirmamos os mais velhos caciques lideranças e pajés como pilares de nossa identidade nossos livros vivos62017 A indissociação7 Regime de Conhecimento Indígena e Literatura Indígena é um dos elementos quiçá o mais importante dentro das muitas reflexões que são realizadas sobre a literatura indígena que são muitas tanto literaturas quanto reflexões sobre elas Até porque as reflexões perspectivas questões e possibilidades relacionadas às escritas narrativas e literaturas indígenas só não são e a que se referem com frequência COSTA E SANTOS 2010 6 É imprescindível destacar a importância da literatura oral Xakriabá expressa no jogar Loas 7 Para um trabalho específico sobre a literatura e o regime de conhecimento Xakriabá e a imprescindibilidade da indissociação deles ver HORÁCIO Heiberle Literatura Indígena e Regimes de Conhecimento indissociabilidade diversidade diferença lei 1164508 e a Educação Territorializada Xakriabá In Revista ECurriculum 2022 19 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes mais numerosas do que a própria quantidade de povos indígenas existentes tamanha a potência desses povos Possibilidades que vão desde os originais trabalhos como os do pesquisador Pedro de Niemeyer Cesarino que se dedica às transformações do conhecimento xamanístico dos Marubo povo falante de língua Pano do Vale do Javari AM em sua relação com a escrita CESARINO 2012 até questões que mais especificamente atravessam as reflexões que envolvem as narrativas e a literatura indígena tais como a relação entre literatura indígena e as novas formas literárias as questões sobre uma literatura oralritualística questões relacionadas à autoria se são produções individuais ou coletivas por exemplo discussões sobre o modo como não indígenas na universidade no mercado editorial nas escolas nos órgãos governamentais se relacionam com as literaturas indígenas sobre os equívocos de uma literatura indianista questões relacionadas às reificações e projeções produzidas pela universidade não indígena sobre a literatura indígena a relação entre literatura indígena e certo etnocentrismo da teoria literária questões sobre como as narrativas indígenas parecem participar de vários gêneros sem se fixar em nenhum deles SÁ 2012 além das questões que dizem respeito à literatura como elemento de resistência para a defesa dos direitos indígenas e como crítica do presente DORRICO et al 2018 A despeito da imprescindibilidade e da importância de todas as questões supracitadas que se entremeiam e que de algum modo atravessam este texto o objetivo inicial dele com a Literatura e outras produções que exibem ínfima parte do Regime de Conhecimento Xakriabá é apontar possibilidades de reflexões ou de encontros a partir das potentes construções que o povo Xakriabá compartilha8 da sua relação com a Terra Indígena e também da articulação dessas criações 8 Importa muito destacar que todas as narrativas aqui trazidas só o foram porque estão publicizadas com autorização dos indígenas 20 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares às outras reflexões de resistência e criações E este texto busca fazer isso não só articulando as diferentes perspectivas supracitadas mas ainda se esforçando muito para seguir as orientações do etnólogo Bruce Albert de fazer justiça de modo escrupuloso à imaginação conceitual dos anfitriões KOPENAWA ALBERT 2015 p 520 no caso o povo Xakriabá Ademais nas narrativas Xakriabá estão presentes a resistência e a luta como fortes componentes juntamente com a defesa dos direitos indígenas os indígenas mais velhos os tronco véio e a Terra Indígena A Terra Indígena Xakriabá e o Povo Xakriabá O Cerrado e também a Caatinga do Sertão Norte Mineiro é habitado por muitos povos indígenas além dos Xakriabá e dos Tuxá há diferentes comunidades tradicionais9 como vazanteiros geraizeiros catingueiros veredeiros apanhadores de flores comunidades quilombolas e outras10 que ainda que não sejam indígenas no sentido da palavra usado para se referir aos povos originários são indígenas 9 Manuela Carneiro da Cunha fez importante consideração a esse respeito Embora como buscaremos mostrar as populações tradicionais tenham tomado os povos indígenas como modelos a categoria populações tradicionais não os inclui A separação repousa sobre uma distinção legal fundamental os direitos territoriais indígenas não têm como fundamento a conservação ambiental mesmo quando se verifica que as terras indígenas figuram como ilhas de conservação em contextos de acelerada devastação Para realçar essa especificidade da legislação brasileira que separa os povos indígenas das populações tradicionais não os incluiremos nesta categoria e usaremos quando necessário a expressão populações indígenas e tradicionais 2017 Para uma leitura ampla do conceito de Comunidade Tradicional ver Carlos Rodrigues Brandão 2015 10 Há na região a Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais que se consolida hoje como espaço de articulação e de construção de alianças envolvendo a diversidade tradicional da região do Norte de Minas e Alto Vale do JequitinhonhahttpsptbrfacebookcompgArticulaC3A7C3A3o RosalinoGomes 21 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes no sentido que são aqueles gerados dentro da terra que lhe é própria originário da terra em que vive VIVEIROS DE CASTRO 2016 Esses povos que possuem muitos elementos comuns têm também uma luta de resistência conjunta até porque se todos os índios no Brasil são indígenas mas nem todos os indígenas que vivem no Brasil são índios11 VIVEIROS DE CASTRO 2016 é evidente que a ofensiva não é só contra os índios e sim contra muitos outros povos indígenas VIVEIROS DE CASTRO 2016 De acordo com Ailton Krenak indígena é aquele que vem do lugar Ser do lugar marca a diferença do não lugar O sujeito coletivo pertence ao lugar é o oposto político do lugar que pertence ao indivíduo KRENAK 2018 Assim por exemplo Os Kaiowa Guarani lutam pela terra porque pertencem à terra não porque a terra pertence a eles a terra não pertence a ninguém Para o indígena da terra não há outro lugar não há outra ecologia Frente à despossessão a espoliação e expropriação do desterro da relação ecológica com a Natureza proteger a terra tem o sentido da existência KRENAK 2018 No caso específico do povo indígena Xakriabá sua história recente é também constituída por vários atentados mortais e violações de seus direitos como o que ficou conhecido como Curral de Varas que resultou no desaparecimento e assassinato de muitos Xakriabá SANTOS 1997 e como a chacina conforme nomeiam alguns Xakriabá o genocídio sofrida em 12 de fevereiro de 1987 que levou ao assassinato dos indígenas Manoel Fiúza José Santana e o Cacique 11 Nas palavras de Viveiros de Castro Índios são os membros de povos e comunidades que têm consciência seja porque nunca a perderam seja porque a recobraram de sua relação histórica com os indígenas que viviam nesta terra antes da chegada dos europeus Foram chamados de índios por conta do famoso equívoco dos invasores que ao aportarem na América pensavam ter chegado na Índia Indígena por outro lado é uma palavra muito antiga sem nada de indiana nela Há povos indígenas no Brasil na África na Ásia na Oceania e até mesmo na Europa 2016 22 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares Rosalino liderança Xakriabá que lutava como asos demais indígenas pela homologação da Terra Indígena Xakriabá A Terra Indígena Xakriabá que só teve a sua homologação após a violência absurda supracitada está localizada na microrregião do Vale do Peruaçu município de São João das Missões MG no Alto Médio São Francisco à margem esquerda do rio entre os biomas da caatinga e do cerrado São 11 mil indígenas e a Terra Indígena Xakriabá possui ao todo juntamente com a TIX Rancharia uma área de aproximadamente 54000 hectares XAKRIABÁ 2016 sendo que 47000 hectares foram homologados em 1988 e outra parte a Terra Indígena Rancharia de 6798 hectares foi homologada somente no ano de 2003 SILVA 2014 Em outro artigo indiquei que há os Xakriabá que se autodeclaram católicos maior parte e que há aqueles que se autodeclaram evangélicos HORÁCIO 2018 2019 existindo inclusive em algumas aldeias da Terra Indígena igrejas pentecostais como a Congregação Cristã do Brasil e a Assembleia de Deus Há também em algumas aldeias igrejas católicas e há os Xakriabá que participam de batizados e casamentos celebrados pelo padre que vem do município São João das Missões onde se localiza a Terra Indígena Ademais é significativo o número de festejos realizados pelos Xakriabá como o Festejo de Santa Cruz Festejo de Santo Antônio Festejo de São João Festejo de Bom Jesus Folia de Santos Reis Noite de Maria entre outros Para alguns Xakriabá pelo menos as Festas são diferentes dos Festejos isso porque as festas são aquelas de casamento ou aniversário por exemplo enquanto os festejos são aqueles que acontecem todos os anos em que as pessoas fazem suas promessas para levantar o mastro rezam cantam reis12 XAKRIABÁ 2013 Há ainda na Terra Indígena Xakriabá as benzeções ou 12 Além dos festejos e compondo os festejos há um grande número de ladainhas lundus rezas e benditos Xakriabá como o Bendito do Fim do Mundo Bendito de São Sebastião Bendito da Lavadeira etc XAKRIABÁ 2013e 23 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes benzimentos que de acordo com alguns Xakriabá são aquilo que cura benzendo com ramo dor de dente quebrante dor no corpo dor de cólica e bicheira No benzimento junto com o ramo tem também uma reza que não pode ser dita nem escrita XAKRIABÁ 2013b p37 De acordo com Costa e Santos A ideia de benzer entre os Xakriabá carrega uma conotação muito ampla indicando a capacidade de fazer bem através de algum ato sobrenatural o que varia desde reformar uma cura a identificar um feiticeiro O feitiço é a contraparte do benzimento e indica um ato deliberado de fazer mal por meios sobrenaturais Os atos de benzer ou fazer feitiço são referidos como cruzar o ramo e os Xakriabá indicam que seu processo é o mesmo o que acaba por tornar todo benzedorcurador num feiticeiro em potencial 2010 p170 Na Terra Indígena Xakriabá também há a realização do Toré conjunto ritual para a comunicação com o encantado Onça Cabocla Iaiá De acordo com o pesquisador Rafael B Costa e Santos o Toré Xakriabá figura como parte integrante da cosmologia do grupo de sua religião13 de sua vida14 COSTA e SANTOS 2010 p 202 Nas palavras do indígena Pedro Paulo Santiago ôta coisa a nossa devoção qué dizê a dança do Toré que serve a bem de todos pruquê é atravéis dela que podemos ter contato cum a nossa protetora Iaiá Caboca Mas 13 Particularmente o autor deste texto opta por não trabalhar com a noção de religião indígena optando por Regime de Conhecimento ou pelo termo religiosidades quando envolvem reflexões articuladas às igrejas e lideranças cristãs e cristãs indígenas em Terra Indígena Para uma importante abordagem em torno da religião informada por aqueles que se autodeclaram indígenas ver PISSOLATO 2013 14 Atualmente esse Toré possui duas dimensões uma externa ou pública e a outra secreta Sobre a dimensão pública ela passa a ser representada pela performance que reúne dança e cantigas de evocação à onça cabocla OLIVEIRA 2008 p67 e surge da necessidade da existência de representações públicas das práticas rituais dos Xakriabá Já a dimensão secreta do Toré Xakriabá é realizada nos terreiros específicos do território indígena em lugar de difícil acesso conhecido apenas pelos envolvidos diretamente no ritual e que sempre é mudado de lugar para a manutenção do segredo SILVA 2011 HORÁCIO 2018 p33 24 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares nem sempre é todo mundo que pode participa só quem é índio ou aquele que tem decendença XAKRIABÁ 2013b p32 Aqui importa destacar também o caráter de segredo desse conjunto ritual o segredo sobre muitos elementos do Regime de Conhecimento Xakriabá como sobre algumas informações relacionadas aos encantados inclusive à Onça Cabocla Iaiá15 O encantado Onça Cabocla Iaiá compõem as narrativas Xakriabá como é possível observar não só por pelo conjunto ritual supracitado mas no Regime de Conhecimento e na Literatura do povo indígena Xakriabá Os Encantados a Terra Indígena o Regime de Conhecimento e a Literatura Xakriabá Em outro texto escrevi sobre as narrativas do povo indígena Xakriabá relacionadas ao encantado Onça Cabocla Iaiá HORACIO 2019 e algumas dessas narrativas sobre Iaiá serão recuperadas para a reflexão que será aqui realizada e que enfatiza a relação dela com a Terra Indígena A respeito da Onça Cabocla Iaiá ela é um encantado que habita a Terra Indígena Xakriabá sendo que os encantados são seres históricos cuja gênese está no encantamento de algum índio de valor ARRUTI 2006 p7 e a relação com eles pode proporcionar conhecimentos que apenas esses seres extrahumanos possuem HORÁCIO 2018 p11 O encantado Onça Cabocla Iaiá é considerada a avó de todos os Xakriabá COSTA e SANTOS 2010 e na narrativa a seguir é possível ver alguns traços comuns a todas elas no tocante à origem da Onça Cabocla Iaiá Eram duas irmãs Saíram pro mato Quando chegaram lá foram apanhar lenha Uma ficou juntando lenha e ela chegou lá na hora dela ir fazer os trabalhos falou 15 Como já fora mencionado no início do texto as narrativas aqui trazidas só o foram porque estão publicizadas com autorização dos indígenas 25 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes Ó fulana quandeu vim de lá ah tenho uma bocaberta Cê pega e ponhuma foi verde na minha boca pra modeu disvirá Puqueu venho doto jeito mas eu num vou fazer medo no cê não Quando ela de lá veio a irmã pegou saiu Correu Não aguentou Subiu num pau Ela passou e com isso não desvirou mais Ela ficou Ficou sendo mandatária A que comandava a reserva Mas ela sendo uma mesma gente Ele ficou corregendo todas as reservas É só uma num é duas não XACRIABÁ 2005 p111 Na versão acima mas também em outras podese observar que um dos traços comuns é uma indígena que se transformou em onça e que ao procurar ser transformada novamente em indígena não foi reconhecida pela pessoa responsável por reverter a transformação o encantamento HORÁCIO 2019 No caso o encantado Onça Cabocla Iaiá é a protetora da Terra Indígena e vive desde então e desde sempre nela Em outras narrativas observase ainda que a Onça Cabocla Iaiá se relaciona diretamente com os Xakriabá e que eles podem se comunicar com ela Comunicação que não se dá exclusivamente através do Toré ou pelos trabalhos de mesa16 como é possível ler no trecho que fala do indígena Estevão Gomes que por sua vez aparece sempre como um destacado interlocutor da Onça Iaiá Cabocla vinha dentro da área e assobiava uma música Ela vinha e conversava com o índio Estevo Gomes de Oliveira À noite o Estevo falava com a Iaiá Cabocla conversando sobre como estavam as coisas naquela ocasião Então nesse tempo eles agradavam a Iaiá Cabocla com fumo e quando vinha uma pessoa fraca ela ficava nervosa porque eles conversavam coisas que não agradavam a ela Ela batia de chicote e corria com eles da casa Precisava conversar com o Estevo Gomes de Oliveira 16 O pesquisador Rafael Barbi 2010 2014 menciona Iaiá como elemento poderoso do trabalho de mesa e Fernandes 2008 escreve como S Evaristo pajé e liderança da Aldeia Caatinguinha menciona invocar a Onça Cabocla no trabalho de mesa 26 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares Aí ele ia conversava com ela e ela deixava de mão A música que ela tocava era linda Aqui dentro da área tem um encanto muito lindo e uma luz Ela caminha em volta da nossa área Ela anda sobe e desce e volta da nossa área Ela roda em volta do coqueiro de três galhos que tem na grota do arrozal O nosso cacique Manuel Gomes de oliveira e o nosso pajé José Gomes de Oliveira falecido Uma lembrança do índio velho João Barbosa dos Santos com 75 anos SILVEIRA 2005 p50 Embora seja frequente a menção de que os mais velhos é que dialogavam com a Onça Cabocla Iaiá há indígenas ainda vivos que também já viram ou conversaram com ela como é o caso da liderança indígena sr Emílio Gomes que relata já ter recebido visitas da Onça Cabocla Iaiá Eu vi muitas vezes ela fazer beber o sangue de cachorro novo após furar a cabeça na casa do meu pai Nós estávamos tudo junto em casa ela chegou conversou e nem foi difícil conversar com ela Ela gosta muito de mãe Ela quase não mata mais novilhas XACRIABÁ 2005 p48 Há sempre narrativas que mencionam a Onça Cabocla Iaiá como defensora da Terra Indígena e também que mencionam que ela expulsa ou ataca forasteiros que buscam tirar vantagens da Terra ou buscam prejudicar algum indígena vivente nela A Onça Cabocla Iaiá habita as lapas até porque tem umas lapas que são encantadas Algumas pessoas pessoas que não são do lugar não podem entrar nelas Se entrar a lapa fecha a boca a prende a pessoa lá dentro XAKRIABÁ 2013B p27 Existem muitas lapas também há os que chamam de grutas ou cavernas na Terra Indígena e elas possuem muitos e importantes significados para o povo Xakriabá inclusive porque em uma gruta foram escondidasguardadas pelos Xakriabá as tralhas do Toré quando muitos Xakriabá foram violentados e vários deles desapareceram em decorrência de um trágico episódio ocorrido em meados da década de 27 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes 1920 e que ficou conhecido como Curral de Varas HORÁCIO 2019 Por causa dessa violência os Xakriabá guardaram os objetos chamados de tralhas que são utilizados no conjunto ritual do Toré e que só foram encontrados no início da década de 1970 em uma gruta dentro da área sendo levados à FUNAI para comprovar a indianidade do grupo SANTOS 1997 p51 Sobre a Onça Cabocla Iaiá que habita as lapas e olhos dágua a fala da indígena Dona Ercina diz E antônce essa a dona da aldeia da aldeia meu fio ó sem mentira nenhuma ali no pedaço da noite ali a barra de dez pra onze da noite já aconteceu aquilo por duas veiz Por duas vezi bem aqui nesse rumo aqui naquela grota que desce aqui ó Nessa grota que desce aí Ali ó Ali ela deu um sobeio Ela deu um sobeio Eu tava daqui a porta aberta ainda tinha fechado não Num inda tinha acabado de rezar Eu tava rezando Ela deu subeio no rumo daquele pau grande daquelaruera lá ó Mas na grota Um subeio Mas um subeio meu fio mas é um assubeio f i n o que num tem mais pra donde Bom eu assuntei feito tarudo cabou Aí passou passou passou uns pouco de dia assim feito coisa assim de um mês ela tornou a dar outro subeio Na mesma confrontação Mas na grota aí Que de lá o subeio vem direitinho assim aqui nessa porta í ó Quem é essa É a onça caboca É a onça caboca Qué a Iaiá nossa XACRIABÁ 2005 p37 Embora a Onça Cabocla Iaiá seja o principal encantado dana Terra Indígena Xakriabá ela não é o único há ainda os encantados Bicho Homem Bicho do morro Xibungo ou Pé de Garrafa o Pé de Serra ou Caipora São encantados que governam as caças e encantam o mato uma vez que a associação entre mato e encanto é a ideia de que o mato tem encanto porque os bichos rareiam e abundam conforme querem os encantados COSTA e SANTOS 2010 p156 e 162 Na poesia Xakriabá 28 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares A gruta do Rifino tem um grande salão quando chove forma lagoa não tem pedra no chão Um carote de pinga lá ele escondeu por lá apareceu uma raposa e bebeu Essa gruta é um lugar muito assombrado tem pé de garrafa e outros bichos encantados XAKRIABÁ 2013 p 69 O pesquisador Rafael B Costa e Santos menciona que os encantados ocupam marcos na paisagem os tabuleiros as áreas de gerais e principalmente as lapas COSTA e SANTOS 2010 p156 Ademais há narrativas que dizem que Iaiá pode ainda se transformar em outros animais e mesmo em um toco XAKRIABÁ 2005 A Onça Cabocla Iaiá que também é vista como protetora das crianças é considerada um ancestral comum ou seja um antigo que se encantou até porque há narrativas que falam da transição de alguns antigos para a condição de encantados HORÁCIO 2019 Ela é identificada à Terra Indígena Xakriabá e como menciona o pesquisador Rafael Barbi a Terra Indígena além de ser uma herança indivisa provedora da fartura e doada aos índios a terra tem uma dimensão cosmológica anterior e muito forte A Onça Cabocla17 e outros encantados possuem uma ligação imanente com a terra e muito da atuação dos chefes gerais passava pela relação com estes COSTA e SANTOS 2010 p72 E se Iaiá é a avó de todos os Xakriabá para o povo Xakriabá Terra é Mãe como mencionou Dona Ercina XARIABÁ 2005b 17 Ademais o encantado Onça Cabocla Iaiá não está presente apenas nas narrativas Xakriabá mas aparece também com determinadas diferenças entre povos indígenas do Nordeste e entre comunidades não indígenas do Vale do Urucuia e do São Francisco COSTA E SANTOS 2010 p28 29 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes e como disse o Xakriabá Pajé Vicente A Terra é mãe de todos nós HORÁCIO 2018 E a conexão que esse povo indígena possui com a Terra que Célia Xakriabá chama de corpoterritório XAKRIABÁ 2018c faz com que eles tenham com a Terra uma relação não só de proteção mas também de cura medicinal A Terra Indígena a Onça Cabocla Iaiá os tronco véio o diálogo e a negociação com os animas a defesa da Terra são alguns dos elementos constituintes das narrativas além do elemento da cura pela Terra e pelos elementos nada Terra indígena Na Ciência dos Remédios e da Cura nome dado pelos Xakriabá podese ler que alguns animais além de servir de alimento servem de remédio Outros nos avisam que vai acontecer alguma coisa boa ou ruim Devemos ter cuidado tanto com os animais da mata quanto com os de estimação pois dependemos deles para a nossa sobrevivência XAKRIABÁ 2013b A pesquisadora Maria Inês de Almeida em fala relacionada à educação e ao elemento da cura na literatura dos povos indígenas menciona o caráter transdisciplinar dessa literatura e cita também que ela abre uma possibilidade de literatura que não separa as vidas mas que trata ciência terra literatura juntas ALMEIDA 2014 As intensas palavras de Célia Xakriabá são categóricas sobre separações e fragmentações Ao adentrar no território acadêmico umas das minhas inquietações foi ver o conhecimento ser produzido de forma fragmentada Tudo se discute em seção com os recortes dos recortes Mas para nós Xakriabá no território e no movimento da vida não é assim que acontece já que os conhecimentos produzidos em torno destes elementos operam de maneira articulada XAKRIABÁ 2018c Assim tendo sido o autor deste texto decisivamente afetado pelas inspiradoras palavras e narrativas acima este texto é finalizado e apenas ele procurando pensar uma reflexão comungada articulando diferentes possibilidades já abertas 30 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares Conclusãopara uma sugestão de recomeço Educação Territorializada e saberes ecológicos e ecologias políticas como alternativas epistemológicas Este artigo procurou apresentar a relação do povo Xakriabá com a Terra Indígena sua forma de pensar ono todo tendo a Onça Cabocla Iaiá como elemento também agenciador desse pensamento reconhecendo diferentes agências e agentes processo que os Xakriabá vão chamar de sua Ciência e Célia Xakriabá vai falar de epistemologia nativa em trabalho específico sobre o que ela chama de Educação Territorializada 2018 Na Educação Territorializada potente e generosaente compartilhada por Célia Xakriabá há um saber corporificado que ela diz estar ancorado no território e que a Educação Territorializada que também agora tem sido desenvolvida na Educação Escolar Indígena Xakriabá constitui a todos nós Xakriabá como corpoterritório XAKRIABÁ 2018 Portanto Educação Territorializada Xakriabá é o movimentar da educação para outros espaços onde se constituem e se conecta a outros saberes por meio do deslocamento da mente e dos corpos para vivenciar experiência de aprendizado ancorada com a interação de acordo a dinâmica do território XAKRIABÁ 2018 É esse enorme aprendizado que se pode ter tanto do modo e da Ciência do Povo Xakriabá e dessa possibilidade aberta por Célia Xakriabá que serve de intensa inspiração para que nessas linhas finais se possa ousar uma tentativa de articular diferentes referências num pensar junto Além do que vale mencionar as palavras do professor Felipe Milanez porque o pensar junto também é um pensar junto do ambiente e Milanez menciona que pensar junto do ambiente pode ser uma saída oferecida pela educação ambiental ou as epistemologias ambientais conforme propõe o sociólogo mexicano Enrique Loff 31 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes 2020 Procedimento que os não indígenas já poderiam ter aprendido se não tivessem apostado em um entendimento da natureza externa da sociedade MILANEZ 2020 e tirassem lições como das palavras do Xamã Kopenawa e seu entendimento Outro de ecologia Omama tem sido desde o primeiro tempo o centro das palavras que os brancos chamam de ecologia É verdade Muito antes de essas palavras existirem entre eles e de começarem a repetilas tantas vezes já estavam em nós embora não as chamássemos do mesmo jeito Eram desde sempre para os xamãs palavras vindas dos espíritos para defender a floresta Se tivéssemos livros os brancos entenderiam o quanto são antigas entre nós Na floresta a ecologia somos nós os humanos Mas são também tanto quanto nós os xapiri os animais as árvores os rios os peixes o céu a chuva o vento e o sol É tudo o que veio à existência na floresta longe dos brancos tudo o que ainda não tem cerca As palavras da ecologia são nossas antigas palavras as que Omama deu a nossos ancestrais Os xapiri defendem a floresta desde que ela existe Sempre estiveram do lado de nossos antepassados que por isso nunca a devastaram Ela continua bem viva não é Os brancos que antigamente ignoravam essas coisas estão agora começando a entender É por isso que alguns deles inventaram novas palavras para proteger a floresta Agora dizem que são a gente da ecologia porque estão preocupados porque sua terra está cando cada vez mais quente KOPENAWA ALBERT 2015 E para a saída do que Kopenawa chamou de palavras dos brancos do que Boaventura chamou de pensamento abissal e que Ailton Krenak aponta como violência colonial a comunhão dessa imaginação da resistência é fundamental O indígena Ailton Krenak denuncia o desmembramento do humano da relação com o lugar como suporte da vida 2018 Ao escrever o artigo denominado Ecologia Política termo que possui outros autores mobilizadores18 menciona que ela é uma 18 Essa abordagem mais ampla da ecologia que se chama ecologia política implica em trazer para a discussão sobre a ecologia temas que geralmente estão ligados a questões 32 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares epistemologia contrahegemônica que propomos é um projeto que reconstrói essa relação entre sujeitos coletivos e a existência orgânica em comum expõe as estruturas assimétricas de poder que atingem essa relação comum sujeitoambiente e promovem a individualização espoliação com a apropriação do trabalho e das formas ecológicas de subsistência com a construção de um eusaqueadoreuaniquilador tal como a crítica ao indivíduo patriarcal ocidental sou logo conquisto de Enrique Dussel e sou logo extermino de Ramon Grosfoguel KRENAK 2018 Ailton Krenak aponta que o desmembramento do humano seu desterramento da Terra do lugar cria um desequilíbrio ecológico e com isso doenças enfermidades no humano em todas as suas dimensões que na verdadeiramente são uma Assim o desastre que produz essa separação do sujeito com o ecossistema para a apropriação da Natureza constrói o lugar do outro A diferença abissal constrói o lugar do outro separado da sua existência com o lugar e o lugar de dominação ocupado pelo sujeito de poder KRENAK 2018 E será o próprio Ailton Krenak quem mencionará Boaventura de Souza Santos ao escrever não só sobre a violenta divisão abissal fruto e também estratégia da máquina colonial que produz o que ele chama de desequilíbrio ecológico mas também quando diz que Boaventura de Sousa Santos nos ensina que a ecologia de saberes deveria também integrar nossa experiência cotidiana inspirar nossas escolhas sobre o lugar em que queremos viver nossa experiência como comunidade KRENAK 2020 Sobre a Ecologia de Saberes Boaventura de Souza Santos menciona que ela é uma contraepistemologia e sobre ela O impulso básico para o seu avanço resulta de dois fatores O primeiro consiste nas novas emergências étnicoraciais como a questão da reparação da escravização e dos genocídios das desigualdades econômicas e sociais assim como as responsabilidades diferentes que acabe a cada um para a proteção do Planeta enquanto espaço comum de convívio 33 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes políticas de povos do outro lado da linha como parceiros da resistência ao capitalismo global globalização contrahegemônica Em termos geopolíticos tratase de sociedades periféricas do sistemamundo moderno onde a crença na ciência moderna é mais tênue onde é mais visível a vinculação da ciência moderna aos desígnios da dominação colonial e imperial onde conhecimentos nãocientíficos e nãoocidentais prevalecem nas práticas cotidianas das populações O segundo fator é uma proliferação sem precedentes de alternativas as quais porém não podem ser agrupadas sob a alçada de uma única alternativa global visto que globalização contrahegemônica se destaca pela ausência de uma alternativa no singular A ecologia de saberes procura dar consistência epistemológica ao pensamento pluralista e propositivo SANTOS 2007b Assim uma Ecologia de Saberes confronta a monocultura da ciência moderna reconhece a diversidade e pluralidade de conhecimentos inclusive a própria ciência na interação entre eles e reconhece que há um interconhecimento e a imprescindibilidade da busca pela intersubjetividade A Ecologia de Saberes renuncia a qualquer epistemologia geral SANTOS 2007b e nesse sentido são imprescindíveis as palavras de Manuela Carneiro da Cunha quando ela diz sobre a potência do caráter local do que chamou de conhecimentos tradicionais de Regimes de Conhecimento Tradicionais que se diferem da pretensão universalizante do conhecimento científico por serem muito mais tolerantes que acolhem frequentemente com igual confiança ou ceticismo explicações divergentes cuja validade entendem seja puramente local 2017 A Ecologia de Saberes é contra o monopolismo da ciência moderna embora não a exclua como parte de uma ecologia de saberes nunca colocandoa como superior uma vez que a busca pelo reconhecimento dos conhecimentos não científicos não necessariamente implica a deslegitimação do conhecimento científico Mas implica imprescindivelmente na utilização da ciência de maneira contra 34 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares hegemônica no reconhecimento da sua pluralidade interna e das práticas científicas alternativas como de acordo com ele as epistemologias feministas e póscoloniais e também das suas interdependências com outros saberes e os limites internos e externos do conhecimento científico SANTOS 2007b Sobre a ciência as palavras de Célia Xakriabá são decisivas e fundamentais nessa articulação aqui promovida A produção da ciência encontrase em crise e é necessário reconhecer outras instâncias que também produzem conhecimentos e conceitos Considerar outras formas de agência e agentes as narrativas e narradores como potência de uma epistemenativa com referência na ciência do território 2018 Para finalizar obviamente apenas este artigo importa destacar Ailton Krenak e seu pensamento com a Terra que dá o seguinte aviso Do nosso divórcio das integrações e interações com a nossa mãe a Terra resulta que ela está nos deixando órfãos não só aos que em diferente graduação são chamados de índios indígenas ou povos indígenas mas a todos 2018 Ademais Boaventura menciona que é próprio da natureza da ecologia de saberes constituirse mediante perguntas constantes e respostas incompletas e Célia Xakriabá generosamente aconselha Pensar o processo de descolonização do pensamento requer conceber uma transformação das estruturas sistêmicas Para transgredir esse pensamento a uma educação territorializada carecemos ter um movimento cotidiano de práticas subversivas para isso se faz necessário reaprender sem se prender isso significa uma retomada de valores A maior inquietação é pensar como fazê lo Não há bula o que podemos fazer é nos lançar na construção do novo Subverter requer colocar nosso corpo e mente em ação e isso provoca deslocamento portanto não há outra alternativa senão a de começar e fazer Mas como começar Comece fazendo por algum lugar antes de qualquer coisa a única pista que eu daria seria aprenda a se descalçar dos sapatos que usou para percorrer os caminhos e acessar os conhecimentos teóricos produzido no centro mas deixe os pés tocarem no 35 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes chão no território esses sapatos que já estarão pequenos e não caberão nos pés coletivos eles apertarão tanto a nossa mente que limitarão o acesso ao conhecimento no território do corpo Deixe a sabedoria chegar ela tem uma temporalidade diferente da inteligência 2018 537 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes REFERÊNCIAS DOS CAPÍTULOS Capítulo 1 ALMEIDA Maria Inês de O caminho de um pensamento vivo e a estética orgânica a escola indígena a partir da experiência literária Patrimônio e memória São Paulo Unesp v 10 n 2 p 1734 julhodezembro 2014 ARRUTI José Maurício A Produção da Alteridade O Toré e as conversões Missionárias e Indígenas In MONTEIRO Paula Org O Deus na Aldeia missionários índios e mediação cultural São Paulo Globo 2006 BRANDÃO Carlos Rodrigues A comunidade tradicional In Conhecimento tradicional Conceitos e marco legal Udry Consolación EIDT Jane Simoni editoras técnicas BrasíliaDF Embrapa 2015 BRITO Tarsilla C de FILHO Sinval M S CANDIDO Gláucia V O avesso do direito à literatura por uma definição de literatura indígena Revista de estudos de literatura brasileira contemporânea n 53 p 177197 janabr 2018 CARNEIRO DA CUNHA Manuela Cultura com Aspas São Paulo UbuEditoras 2017 Índios no Brasil história direitos e cidadania São Paulo Claro Enigma 2012 CESARINO Pedro N A Escrita E Os Corpos Desenhados Transformações Do Conhecimento Xamanístico Entre Os Marubo Revista de Antropologia USP Impresso v 55 p 75 2012 COSTA E SANTOS Rafael Barbi A Cultura O Segredo e o Índio diferença e cosmologia entre os Xakriabá de São João das MissõesMG Dissertação em Antropologia Social UFMG 2010 DACANAL JH Dependência cultura e literatura São Paulo Ática 1978 DORRICO Julie DANNER Leno Francisco CORREIA Heloisa Helena Siqueira DANNER Fernando Orgs Literatura indígena brasileira contemporânea criação crítica e recepção Porto Alegre RS Editora Fi 2018 HORÁCIO Heiberle H Aspectos da religiosidade do Povo Indígena Xakriabá Revista do Programa de Antropologia Social da UFAL Revista Mundaú 2018 n4 p3051 O genocídio contra o Povo Indígena Xakriabá e o Cacique Rosalino que morreu para ser adubo da justiça da fulô Trabalho apresentado na 31ª Reunião Brasileira de Antropologia ABA realizada entre os dias 9 e 12 de dezembro de 2018b UNB BrasíliaDF Literatura Indígena e Regimes de Conhecimento indissociabilidade diversidade diferença lei 1164508 e a Educação Territorializada Xakriabá In Revista ECurriculum Revista do PPGE da PUCSP 2022 Conceitos antropológicos e reflexões sobre uma etnografia inicial nas Aldeias Xakriabá São João das MissõesMG Texto produzido para apresentação e compartilhamento UEMG curso de Ciências Sociais 2016 As narrativas do povo indígena Xakriabá sobre o encantado 538 Educação Interfaces Saberes Tradicionais e Populares Onça Cabocla Iaiá Revista Relicário v 5 2019 HORÁCIO Heiberle XAKRIABA Ana Paula Neves Santos ARAÚJO Jully A OLIVEIRA Rosangela C Indígenas e a questão indígena na Unimontes In VI Colóquio Internacional de Povos e Comunidades Tradicionais 2019 Montes Claros Anais do VI CIPCT Unimontes 2019a p 7585 KRENAK Ailton Ideias para adiar o fim do mundo SP Companhia das Letras 2019 Ecologia Política Ethnoscientia 3 n2 Especial 12 2018 O amanhã não está à venda SP Companhia das Letras 2020 KOPENAWA Davi ALBERT Bruce A queda do céu Palavras de um xamã yanomami SP Companhia das Letras 2015 LÉVISTRAUSS Claude Le Cru e cuit Paris Plon 1964 MILANEZ Felipe Fundamentos da ecologia Salvador UFBA Faculdade de Direito Superintendência de Educação a Distância 2020 OLIVEIRA FILHO João Pacheco de A Viagem da Volta Reelaboração Cultural e Horizonte Político dos Povos Indígenas do Nordeste In Atlas das Terras IndígenasNordeste Rio de Janeiro PETI Museu NacionalUFRJ pp VVIII 1994 PISSOLATO Elizabeth de Paula Tradições indígenas nos censos brasileiros questões em torno do reconhecimento indígena e da relação entre indígenas e religião In TEIXEIRA F MENEZES R Orgs Religiões em movimento o censo de 2010 Petrópolis Vozes 2013 RIVERA Silva Alternativas epistemológicas axiología lenguaje y política Bs As Prometeo 2013 RONCARI Luiz Literatura brasileira dos primeiros cronistas aos últimos românticos 2ª ed São Paulo EdUsp 1995 SÁ L Literatura da floresta textos amazônicos e cultura latinoamericana Rio de Janeiro EdUERJ 2012 SANTA ROSA Helen Dayane Rodrigues O governo da lua relação natureza e cultura no contexto da política nacional de gestão ambiental e territorial nos Xakriabá Dissertação Mestrado em Sociedade Ambiente e Território Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Agrárias Montes Claros 2017 SANTOS Ana Flávia Moreira Do terreno dos caboclos do Sr São João à Terra indígena Xakriabá as circunstâncias da formação de um povo Um estudo sobre a construção social de fronteiras Dissertação de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da UNB 1997 SANTOS Boaventura de Souza Para além do pensamento abissal Das linhas globais a uma ecologia de saberes Novos Estudos CEBRAP 79 nov 2007 pp 7194 SILVA Cássio Alexandre da A natureza de um território no sertão do Norte de Minas a ação terrotoriar dos Xakriabá Tese de doutorado Programa de Pós graduação em Geografia UFU 2014 SILVEIRA Elza G da Sobre a literatura Xakriabá FALEUFMG 2005 SOUZA Fabiano José Alves Os Pataxó em morros brutos e terras fanosas Descortinando o movimento das puxadas de rama São CarlosSP 2015 Tese no Programa de Pósgraduação em Antropologia Social UFSCar 539 Reflexões a partir do Norte de Minas Gerais e contribuições concernentes VIVEIROS DE CASTRO Eduardo Exceto quem não é In RICARDO Beto RICARDO Fany ed Povos Indígenas no Brasil 20012005 São Paulo Instituto Socioambiental 2006 A natureza em pessoa sobre outras práticas de conhecimento Encontro Visões do Rio Babel Conversas sobre o futuro da bacia do Rio Negro Instituto Socioambiental e a Fundação Vitória Amazônica Manaus 22 a 25 de maio de 2007 Os involuntários da pátria Aula pública durante o ato Abril Indígena RJ 20042016 wwwacasadevidrocom WAGNER Roy A invenção da Cultura SP Cosac Naify 2012 XAKRIABÁ Ranison Xakriabá e suas pinturas corporais Tabebuia índios pensamento e educação Belo Horizonte Ano 1 2010 XAKRIABÁ Célia Nunes Corrêa O Barro o Genipapo e o Giz no fazer epistemológico 2018 218f Dissertação Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais MESPT Universidade de Brasília XAKRIABÁ Célia Tecendo história Xakriabá Manzuá nº1 setembro de 2016 XACRIABÁ Povo Iaiá Cabocla Belo Horizonte FALEUFMG CGEEI SECADMEC 2005b XACRIABÁ Povo O tempo passa e a história fica Belo Horizonte SEEDUCMG coordenação editorial Maria Inês de Almeida 1997 1ª edição XACRIABÁ Povo Com os mais velhos Belo Horizonte FALEUFMG SECADMEC 2005a XAKRIABÁ Edgar Nunes Correa Kanaykõ Etnovisão o olhar indígena que atravessa a lente Dissertação de Mestrado PPGANUFMG 2019 XAKRIABÁ Povo Claudiana Lopo Alquimim Elizabete Carneiro Geovana P Santiago Maria Rosa Seixas Santos Rosa Ferreira Gama Sandra de Oliveira Mota Festejos Xakriabá Belo Horizonte FIEIFALEUFMG 2013 XAKRIABÁ Povo Nelson Gomes de Oliveir Geovana Paulo Santiago orgs Revelando os Conhecimentos BH Editora Cipó Voador 2005 XAKRIABÁ Povo Anilde Araújo Ducilene Araújo Vanilde Gonçalves Nem tudo que se vê se fala FALEUFMG CGEEISECADMEC 2013b XAKRIABÁ Povo Cleuza Cavalcante Luzineide Freire Maria Aparecia Evaristo Maria Neuza Alkimin Nelza Gonçalves Alkimin Quitéria Farias Mota Rosânia Gonçalves dos Santos Poesia sobre os conhecimentos Xakriabá FALE UFMG CGEEISECADMEC 2013b XAKRIABÁ Povo Creuza Ferreira dos Santos Juvenira Ferreira de Araújo Marli Gonçalves Araújo Valdeir Marcos de Almeida Plantas medicinais e processos de cura Xakriabá FALEUFMGLITERATERRAS 2013d XAKRIABÁ Povo Andrelina G da Silva Francisca G da Silva Iracema M Leite Para o seu trono lirar FALEUFMGLITERATERRAS 2013e XAKRIABÁ Eulina Andando para o futuro sem esquecer o passado Belo Hozinte FIEIFALEUFMG 2013c