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wwwabclimaggfbr CCoonnvveerrssaannddoo ccoom m JJoosséé BBuueennoo CCoonnttii 1 DDIIRREETTOORRIIAA 2200112222001144 PPEERRFFIILL DDOO EENNTTRREEVVIISSTTAADDOO Professor escreva um pouco de sua trajetória José Bueno Conti é professor titular aposentado do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP onde exerceu atividades de ensino e pesquisa de 1964 a 2007 continuando a atuar como colaborador na pósgraduação Na Universidade ministrou prioritariamente a disciplina Climatologia em nível de graduação tendo três na mesma temática credenciadas na pósgraduação Nos anos 196465 cumpriu programa de aperfeiçoamento em Climatologia na Universidade de ClermontFerrand França como bolsista do governo francês Doutorouse em 1973 e obteve a livredocência em 1994 estudando temas vinculados à Climatologia Orientou dezenas de alunos de mestrado e doutorado não só em Climatologia mas em outros setores tais como geomorfologia metodologia da geografia biogeografia ensino da geografia etc Publicou inúmeros artigos em revistas nacionais e dois em periódicos internacionais sendo autor de dois livros Circulação secundária e efeito orográfico na gênese das chuvas na região lesnordeste paulista Instituto de Geografia da USP e Clima e meio ambiente Editora Atual Foi sóciofundador da ABClima e presidente da entidade no biênio 20062008 1 A Associação Brasileira de Climatologia Prof Conti a ABCLIMA gostaria de agradecer inicialmente o aceite em nos conceder esta entrevista E gostaríamos de iniciar nossa conversa perguntando ao Senhor como avalia o desenvolvimento da Climatologia nas últimas duas décadas no âmbito da Geografia Professor Conti Nos mais de quarenta anos de minha vida profissional posso afirmar que os estudos de Climatologia tiveram enorme avanço Embora a pergunta formulada peça uma avaliação sobre as últimas duas décadas não poderia deixar de destacar o papel do Prof Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro que revolucionou a Climatologia Brasileira com a introdução da metodologia da análise rítmica proposta em seu artigo Análise Rítmica em Climatologia publicação nº 1 da série Climatologia editada pelo Instituto de Geografia da USP em 1971 onde estabelece o conceito de ritmo como sendo a representação concomitante dos elementos fundamentais do clima em unidades de tempo cronológico pelo menos diárias compatíveis com a representação da circulação atmosférica regional geradora dos estados atmosféricos que se sucedem e constituem os fundamentos do ritmo Esse caminho apontado pelo Prof Monteiro iria produzir um número enorme de trabalhos que muito ajudaram no entendimento do clima do espaço brasileiro Sua outra contribuição bastante relevante foi o livro Teoria e Clima Urbano USP 1976 que estabelece as bases teóricas para o estudo desse setor da Climatologia e ainda hoje é importante referência wwwabclimaggfbr CCoonnvveerrssaannddoo ccoom m JJoosséé BBuueennoo CCoonnttii 2 DDIIRREETTOORRIIAA 2200112222001144 Nas últimas décadas especialmente após o surgimento e consolidação da Associação Brasileira de Climatologia ABClima que desde 1992 realiza simpósios nacionais a cada dois anos houve notável abertura nos estudos de nossa ciência enriquecida com temas variadíssimos e pesquisados em todas as escalas empregando técnicas e instrumental cada vez mais aprimorado além de análises estatísticas avançadas como não se fazia no passado Nas últimas décadas estruturouse a Climatologia Geográfica área reconhecida nos meios científicos nacionais e que veio para ficar cumprindo cada vez melhor sua finalidade de avaliar o papel dos processos atmosféricos na elaboração do mosaico espacial resultante das interações entre natureza e sociedade É nessa interface superfícieatmosfera que o ser humano organiza seu meio isto é aquilo que denominamos de ecúmeno 2 A Associação Brasileira de Climatologia Apesar da fragmentação da Geografia os problemas ambientais vêm obrigando os cientistas a buscarem respostas de maneira integrada não apenas dentro de um aspecto da realidade mas também sob o ponto de vista téoriometodológico Nesse sentido como fica a Climatologia quando abordamos a questão dos desastres naturais riscos e vulnerabilidades ambientais dentre outros tantos novos temas que necessitam de respostas Nesse sentido qual é o papel do pesquisador da área de Climatologia na atualidade Professor Conti Os problemas ambientais devem ser tratados necessariamente por equipes interdisciplinares elaborando estudos integrados abrangendo em amplo espectro de especialidades não só das geociências mas também das ciências humanas dentro de uma visão sistêmica O complexo geográfico se exprime antes de tudo na paisagem formada indissoluvelmente pelos elementos naturais transformados pelo trabalho humano razão pela qual o entendimento da paisagem constitui a essência da pesquisa geográfica A geografia portanto deve estar obrigatoriamente presente nos estudos ambientais e se lembrarmos que no estudo da paisagem o clima é o agente exógeno de maior interferência fica muito claro o papel da climatologia nessa esfera de investigação em todas as escalas de grandeza Os desastres ambientais de natureza atmosférica só poderão ser entendidos na sua inteireza se tiverem a colaboração de estudiosos de climatologia já que é a energia solar e sua difusão na massa atmosférica que dinamizam todos os processos naturais As excepcionalidades climáticas causadoras dessas catástrofes constituem hoje um importante foco de atenção da climatologia geográfica e sua contribuição é da maior relevância 3 A Associação Brasileira de Climatologia Em relação aos grandes temas hoje abordados mudanças climáticas globais eventos extremos desertificação e tantos outros qual é o atual panorama das pesquisas que estão sendo desenvolvidas em sua opinião wwwabclimaggfbr CCoonnvveerrssaannddoo ccoom m JJoosséé BBuueennoo CCoonnttii 3 DDIIRREETTOORRIIAA 2200112222001144 Professor Conti Em primeiro lembraria que de longa data a Geografia vem contribuindo para o estudo de temas ambientais especialmente os de natureza climatológica A desertificação por exemplo foi objeto de debates durante o XVIII Congresso Internacional de Geografia União Geográfica Internacional realizado no Rio de Janeiro em 1956 ao qual tive o privilégio de comparecer na condição de estudante de graduação durante o qual foi organizada uma Comissão Internacional para o Estudo de Terras Áridas Entre nós o pioneiro foi Aziz Nacib AbSáber que em 1977 publicou o artigo Problemática da Desertificação e da Savanização no Brasil Intertropical e muitos outros estudioso se seguiriam tendo eu próprio colaborado com minha tese de livredocência investigando a desertificação no semiárido brasileiro Atualmente destacamse os trabalhos de Dirce Suertegaray da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Marta Celina Linhares Sales da Universidade Federal do Ceará entre outros No que diz respeito às mudanças climáticas globais sobre as quais hoje tanto se fala muitas vezes com insuficiente argumentação científica citaria um livro de cinqüenta anos atrás Changes of Climate Proceedings of the Rome Symposium organized by UNESCO and WWO UNESCO Paris 1963 vejam como a preocupação é antigatenho um exemplar em que o tema das oscilações durante o período histórico é tratado em 30 artigos de diferentes autores e a discussão teórica sobre as mudanças climáticas e sua significância aparece apresentada por 39 trabalhos de variados estudiosos entre os quais o geógrafo francês Jean Tricart Atualmente há uma grande controvérsia na comunidade científica especialmente no que diz respeito às causas dessas mudanças defendendo alguns a tese de são desencadeadas pela ação humana liberação de gases de feito estufa e outros de que os processos naturais são muito mais relevantes O assunto é vasto sendo impossível esgotálo nesta resposta sucinta mas deixo claro que me incluo entre os últimos Não tenho qualquer dúvida de que a ação antrópica urbanização industrialização queima de combustíveis etc só produz conseqüências na ordem de grandeza local não havendo nenhuma evidência de que controlem o clima na escala planetária 4 A Associação Brasileira de Climatologia O Brasil está se preparando para enfrentar a questão dos eventos extremos além da política assistencialista Quais seriam as possibilidades de mitigação desses fenômenos bem como dos problemas sociais advindos deles Professor Conti O que se tem visto como nos excessos pluviométricos que castigaram a região serrana do Estado do Rio de Janeiro no início de 2013 com centenas de vítimas nosso país não está minimamente preparado para agir nessas emergências nem mesmo com medidas assistencialistas Seria necessário adotar uma política pública séria prevendo recursos e infraestrutura adequados já que tais episódios voltarão a ocorrer tendo em vista as wwwabclimaggfbr CCoonnvveerrssaannddoo ccoom m JJoosséé BBuueennoo CCoonnttii 4 DDIIRREETTOORRIIAA 2200112222001144 características de clima tropical úmido que domina nosso território Catástrofe equivalente ocorreu em março de 1967 na Serra do Mar região de Caraguatatuba SP e na Serra das Araras RJ vitimando centenas de pessoas e nada se aprendeu com a lição Infelizmente não temos uma cultura de prevenção de acidentes naturais e adotála é um processo de longo prazo Seria importante ainda um planejamento adequado do uso do espaço especialmente nas periferias urbanas impedindo construções em áreas de risco por exemplo mas embora sobre isso muito tenha sido falado pouco tem sido feito de forma efetiva Só conheço um trabalho realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP em São Paulo mas é insuficiente dada a enorme dimensão do problema 5 A Associação Brasileira de Climatologia A cada ano que passa as notícias envolvendo eventos extremos se repetem muitos com intensidades cada vez maiores Tal fato pode ser um indicador de que o espaço geográfico está mais vulnerável em especial o meio urbano Caso positivo como se explica isso sob o ponto de vista da Climatologia Professor Conti Do ponto de vista da Climatologia não é procedente a afirmação de que os eventos extremos se repetem com intensidades cada vez maiores Tais fenômenos fazem parte da dinâmica da natureza sempre aconteceram e se repetem com alto grau de aleatoriedade nada podendo ser feito para evitálos Refirome aos excessos de chuvas A professora do Departamento de Geografia da USP Olga Cruz fez uma tese de doutorado sobre o episódio de Caraguatatuba 1967 e demonstrou de forma inequívoca com consulta a arquivos idôneos que naquela área já havia ocorrido chuvas com a mesma intensidade de 1967 nos verões de 191920 192526 e 194647 para citar apenas três exemplos O trabalho foi publicado e está disponível nas bibliotecas CRUZ O A Serra do Mar e o Litoral na Área de Caraguatatuba São Paulo USP Instituto de Geografia 1974 181 p É muito bom consultálo 6 A Associação Brasileira de Climatologia Em sua opinião Prof Conti a influência antrópica no clima ocorre de maneira mais evidente em quais escalas É possível inferirmos que essas mudanças estão ocorrendo em escalas climáticas superiores Professor Conti A influência antrópica no clima pode ser demonstrada apenas na escala local As grandes áreas urbanas por exemplo e mesmo as de porte médio quase sempre registram uma elevação discreta da média de chuvas ao longo de décadas Anos atrás estudei dados pluviométricos da cidade de São Paulo desde o final do século XIX Em 1889 o posto instalado na época junto à Estação da Luz registrou 1302mm ao passo que o do Mirante de Santana Instituto Nacional de Meteorologia INEMET em 1976 recolheu 1422 mm Embora sejam de pontos diferentes da cidade os dados assinalaram um aumento de 92 wwwabclimaggfbr CCoonnvveerrssaannddoo ccoom m JJoosséé BBuueennoo CCoonnttii 5 DDIIRREETTOORRIIAA 2200112222001144 As normais pluviométricas mais recentes do INEMET 19611990 indicam a média de 1454 mm A grande concentração de micropartículas na atmosfera urbana desempenhando o papel de núcleos higroscópicos estimula os processos de condensação e precipitação o que explicaria o acréscimo das chuvas e também do granizo Da mesma forma sua temperatura média frequentemente registra elevação produzindo um fenômeno conhecido como ilha de calor urbano estudada pioneiramente em São Paulo por Magda Adelaide Lombardo Uma das causas seria a redução dos espaços verdes e das superfícies líquidas concorrendo para diminuir a evaporação enfraquecer o fluxo de calor latente e acentuar o calor sensível Admitese também que a poluição urbana contribua para a maior eficácia do bloqueio da radiação de onda longa ou seja agravaria o chamado efeito de estufa Todavia sabese hoje que na atmosfera livre a dinâmica dos fluidos expressa nos movimentos convectivos do ar aquecido redistribui a energia produzindo perda para o espaço o que torna o efeito estufa bastante imprevisível Além disso embora metade da população mundial hoje esteja concentrada em áreas urbanas devendo chegar em 60 até 2030 a superfície abrangida pelas manchas urbanizadas é mínima se compararmos com a grandeza do planeta A área das 20 maiores áreas metropolitanas do mundo equivale a apenas 09 das terras emersas dado que recua par 02 se considerarmos o planeta como um todo Portanto na escala global o papel do clima urbano é desprezível Na regional a influência antrópica é também incerta Vejamos o caso do desmatamento frequentemente apontado como causa da redução das chuvas Pode ser correto para a escala local não o é porém em escalas maiores havendo vários estudos que demonstram isso Citarei o de João Lima SantAnna Neto nome importante da climatologia brasileira e professor titular da UNESP Presidente Prudente Apresentou em 1995 a tese de doutorado defendida na USP As Chuvas no Estado de São Paulo cujo território de aproximadamente 250000 km2 originalmente coberto pela mata atlântica foi intensamente desflorestado a partir do século XIX em virtude da expansão avassaladora da cultura cafeeira que praticamente a eliminou calculase que tenham restado apenas 3 a 4 No entanto o período estudado na tese 19411993 aponta um acréscimo em torno de 10 das medias de chuvas em praticamente todo o Estado As únicas áreas que indicaram decréscimo foram justamente as menos atingidas pelo desmatamento Serras do Mar e Mantiqueira Litorais Norte e Central O autor explica o aumento generalizado das chuvas no espaço paulista à diminuição da participação dos sistemas polares e frontais e aumento dos tropicais ou seja à dinâmica atmosférica controlada pelo anticiclone semipermanente do Atlântico Sul Esses resultados não surpreendem pois sabese que nas escalas de grandeza maiores os fatores que determinam o clima são além da radiação solar o principal os oceanos a circulação de macroescala e a inclinação do eixo da Terra Nada disso é passível de ser alterado pela ação humana 7 A Associação Brasileira de Climatologia O advento da questão ambiental promoveu a retomada de um pensamento mais conjuntivo entre natureza e sociedade e portanto também uma aproximação das ciências humanas com as ciências naturais em certa medida revalorizou a dimensão da Geografia que busca a conexão entre a dimensão natural e social principalmente no que se refere na produção do espaço Em relação à mudança climática wwwabclimaggfbr CCoonnvveerrssaannddoo ccoom m JJoosséé BBuueennoo CCoonnttii 6 DDIIRREETTOORRIIAA 2200112222001144 global identificamse duas formas diferentes de retomada de um pensamento conjuntivo na atualidade uma que é de certa forma uma ressurgência do determinismo a outra cuja análise exige compreensão das práticas sociais das ideologias e das culturas envolvidas Nesse sentido podese dizer que estamos vivendo um processo de mudança climática de fato ou uma mudança cognitivasocial desse fenômeno Professor Conti A questão ambiental emergiu após a Segunda Guerra Mundial e começou a se institucionalizar por assim dizer após a Conferência de Estocolmo convocada pela ONU em 1972 logo após a qual se criou o PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente consolidandose com as Conferências de Cúpula do Rio de Janeiro 1992 e 2012 quando além de outras iniciativas criouse a Agenda 21 que estabeleceu a importância de cada país a refletir local e globalmente no sentido das soluções para os problemas socio ambientais base da idéia do chamado desenvolvimento sustentável Nesse sentido não se pode dizer que estejamos vivendo um momento especial de mudanças climáticas pois tais alterações nunca deixaram de acontecer sendo um processo permanente conhecido de todos os estudiosos de Climatologia e portanto seria mais adequado se falar em mudança cognitivasocial do fenômeno que envolve práticas sociais ideologias e culturas É portanto necessário um esforço interdisciplinar para se estudar o que está acontecendo 8 A Associação Brasileira de Climatologia Hoje qual é a contribuição dos estudos climatológicos para a compreensão da relação homemnatureza e mesmo na produção do espaço Professor Conti O conhecimento do clima sempre foi uma forte preocupação dos geógrafos e não é difícil entender a estreita associação entre a paisagem categoria fundamental do estudo da Geografia e seus habitantes sendo que na paisagem o clima é o fator exógeno de maior interferência como atrás afirmamos Os arranjos espaciais são a resultante desse processo interativo Já esclarecemos também que a energia procedente do sol difundese na massa atmosférica interagindo com a superfície do planeta litosferahidrosfera e a nebulosidade desencadeando todos os fenômenos que constituem a essência do estudo da Climatologia Portanto nossa disciplina desempenha o papel de carrochefe no entendimento dos processos naturais e de seu dinamismo que resultam na produção do espaço 9 A Associação Brasileira de Climatologia No que tange aos estudos as pesquisas em Climatologia quais serão os próximos desafios em sua opinião Professor Conti wwwabclimaggfbr CCoonnvveerrssaannddoo ccoom m JJoosséé BBuueennoo CCoonnttii 7 DDIIRREETTOORRIIAA 2200112222001144 Os desafios são inúmeros Um deles é o da ampliação e melhoria das redes de observação de superfície que continua sendo muito insuficiente nas baixas latitudes e no hemisfério sul embora essenciais para a pesquisa climatológica É bem verdade que desde 1960 dispomos dos satélites meteorológicos o primeiro foi o Tiros 1 lançado da base americana de Cabo Canaveral no dia 1º de abril daquele ano além dos avanços extraordinários da informática e de seus sofisticados equipamentos os quais são uma valiosíssima ajudas aos pesquisadores do mundo todo porém os registros de estações em terra não podem ser de forma alguma dispensados para complementar as informações Como toda pesquisa a Climatologia exige cursos financeiros significativos indispensáveis à formação de pessoal qualificado e esse constitui outro desafio importante 10 A Associação Brasileira de Climatologia Professor para finalizar gostaríamos que deixasse algumas palavras principalmente para aqueles que estão iniciando seus estudos no ramo da Climatologia Professor Conti Em primeiro lugar cumprimento os que fizeram essa escolha porque o estudo da Climatologia Geográfica é de fato empolgante e pode contribuir de maneira significativa para o conhecimento do meio ambiente que é a interface onde interagem a natureza e a sociedade Esse é objeto principal da investigação geográfica buscando entender as infinitas unidades paisagísticas que compõem a superfície do planeta A Geografia nada mais é do que uma reflexão sobre o significado da natureza e portanto do clima e de seu papel enquanto suporte da ação da sociedade Muito obrigado José Bueno Conti Junho de 2013 3 ELABORE um pequeno texto sobre a abordagem tradicional do estudo do tempo e do clima destacando suas principais críticas e limitações em relação à abordagem dinâmica 13 VISITE o site WWWINMETGOVBR e responda obs INDIQUE a data de visita ao site b ILUSTRE com imagens eou fotos de cada tipo de nuvem alta média e baixa e INDIQUE o nome e as características de cada nuvem 15 Considere os dados da Tabela 1 em anexo e após CORRELACIONE as diferenças observadas nos resultados obtidos A REPRESENTE graficamente os valores mensais das temperaturas do ar máxima mínima e média e a amplitude térmica Defina a temperatura média como a média entre a máxima e a mínima B REPRESENTE graficamente os valores mensais da diferença QoQg C EXPLIQUE a relação entre as amplitudes térmicas e a diferença QoQg nas seguintes situações Porto alegre em janeiro e em julho Coxim em dezembro e em julho Tauá em março e em agosto 17 Considere os dados da Tabela 2 em anexo e represente graficamente a temperatura do ar para cada cidade mineira Considere a altitude como variável da ordenada 28 Considere dois pontos distantes 300 KM um do outro ao longo de uma dada latitude Assuma que um dos pontos apresenta valor aproximado da pressão atmosférica à superfície igual a 1000 hPa e o outro igual a 960 hPa a ELABORE um diagrama que mostre a posição relativa dos pontos e indique a direção e o sentido do gradiente de pressão no seu desenho b CALCULE a intensidade do gradiente de pressão 29 Obtenha dois mapas contendo a distribuição média global da pressão em janeiro e em julho ANALISE os mapas e indique aproximadamente em quais regiões do globo em ambos os hemisférios os ventos são mais intensos e mais fracos respectivamente 32 DIFERENCIE e ILUSTRE os principais tipos de ventos locais brisas sistema valemontanha monções destacando as influências de cada um deles na vida cotidiana das pessoas Revista do Departamento de Geografia 18 2006 8994 89 OBJETO E MÉTODO DA CLIMATOLOGIA Max Sorre1 Introdução O que se propõe é fixar com nitidez a individualidade da climatologia e particularmente da climatologia entre as discipli nas que estudam a atmosfera e dessa forma chegar a uma definição correta da noção de clima Os fenômenos que tem como teatro a atmosfera podem ser estudados sob muitos pontos de vista A condensação do vapor dágua a chuva a descarga elétrica o relâmpago são fenômenos físicos cujo estudo pertence ao ramo da física que se denomina de meteorologia Esta se preocupa com a medida desses fenômenos determina as condições físicas em que são produzidos investiga a natureza das relações que existem entre eles e os fatores que os condicionam e tenta prever a repetição dos mesmos Aí está toda a tarefa da meteorologia sob seu duplo aspecto estático e dinâmico definição qualitativa dos fenômenos pesquisa das leis previsão Quando estudamos as variações geográficas da lâmina de água precipitada na superfície do solo quando comparamos as diferenças de ritmo de oscilação térmica de uma região para outra quando caracterizamos a atmosfera de um lugar pela combinação dos meteoros quando investigamos a relação entre esses fatos e outros fatos geográficos tais como distribuição dos vegetais animais ou homens nós trabalhamos imbuídos de outro espírito Fazemos climatologia geral ou descritiva conforme o caso É claro que o meteorologista por uma tendência natural chega a se preocupar com a repartição geral dos meteoros Da mesma forma evidentemente o climatólogo não pode dar um passo sem utilizar os resultados gerais e particulares da meteorologia Nas relações que estabelece entre as variações da precipitação e a altitude ele reencontra leis físicas Porém esses reencontros necessários indispensáveis não devem mascarar a dualidade dos pontos de vista Insistimos ainda que meteorologistas e climatólogos po dem fazer observações com os mesmos instrumentos sobre os mesmos fenômenos como a temperatura por exemplo Eles elaboram séries registradas nos mesmos arquivos Todavia a apreciação da justeza e sensibilidade dos aparelhos a crítica matemática das séries o estudo das variações tendo em vista a previsão tudo isso é essencialmente da alçada do meteorologista Ele é preparado para essa tarefa pois a sua formação é a do físico Aos olhos do climatólogo a variação termométrica aparece primeiro como um elemento da particularidade climática de um lugar ou de uma região Esta particularidade climática é por sua vez apenas um elemento das características geográficas as quais compreendem ainda a forma do terreno as águas o mundo vivo Ele tem constantemente presentes no espírito as relações da interdepen dência entre esses elementos relações que não se exprimem absolutamente por fórmulas matemáticas Se ele estiver sobretudo preocupado com as relações do clima com os aspectos da vida isto é se ele é climatobiologista a formação do biologista lhe é indispensável Essas distinções são clássicas Contudo insistimos sobre elas porque como diz muito bem Morikofer a climatologia atra vessa um período de crise A climatologia clássica à qual devemos obras magistrais como a de Hann foi sobretudo obra de meteorologistas Suas insuficiências se evidenciam claramen te As mesmas tiveram conseqüências desagradáveis Se a geografia botânica se desviou das considerações ecológicas a carência da climatologia não foi estranha a isso Agrônomos e médicos reclamam com insistência o retorno dessa disciplina a sua verdadeira vocação Essa orientação assume uma grande importância no momento em que o progresso da navegação aérea coloca em primeiro plano a pesquisa da previsão o estudo da atmosfera não é objeto de uma disciplina única as pretensões do climatólogo são tão justificadas quanto as do meteorologista Foi dito mais acima que eles utilizam o mesmo material cientifico Todavia é necessário colocar algumas reservas É verdadeiro para o essencial Porém todas as categorias de obser vações não proporcionam exatamente a mesma contribuição para ambos Por exemplo as observações relativas à alta e à media atmosfera à formação dos sistemas de nuvens apresentam um interesse maior em meteorologia O climatólogo se atém mais à duração à intensidade da nebulosidade porque esses elementos exercem influência sobre o aspecto do tapete vegetal Encontrar seiam facilmente outros exemplos 1 Este texto corresponde ao capítulo introdutório da obra Traité de climatologie biologique et medicale publicado em 1934 em Paris sob a direção de M Piery Masson et Cie Éditeurs Vol I pp 1 a 9 Traduzido pelo Prof Dr José Bueno Conti Departamento de Geografia FFLCHUSP Revista do Departamento de Geografia 18 2006 8994 90 A diferença existente entre a meteorologia ramo das ciências físicas que faz largo uso da linguagem e dos métodos matemáticos e a climatologia vinculada por suas tendências e sua natureza ao grupo das ciências de observação levanos a definir mais exatamente esta última analisando a noção funda mental do clima A definição clássica de clima e suas insuficiências Durante o último meio século estivemos presos à definição de Hann o estado médio da atmosfera sobre um lugar mais exatamente o conjunto dos fenômenos meteorológicos que caracterizam a condição média da atmosfera em cada lugar da Terra Esta definição é simples e cômoda Ela marca bem o caráter local desta combinação de elementos meteorológicos que compõem o clima Porém é insuficiente sob dois pontos de vista Corresponde a uma média isto é a uma abstração inteiramente destituída de realidade e conduz a um abuso das médias aritméticas para caracterizar os elementos do clima Apresenta em segundo lugar um caráter estático e artificial pois não menciona o desenvolvimento dos fenômenos ao longo do tempo Ora o ritmo é um dos elementos essenciais do clima As descrições de Hann escapam freqüentemente a esses inconvenientes Ele se mantinha em contacto mais estreito com a realidade climatológica do que sua definição poderia supor Todavia não podemos nos contentar com essa definição A que nós propomos deverá levar em conta o fator tempo duração Não é sem dúvida perfeita Contudo corresponde melhor às nossas concepções Clima local Denominamos clima à série de estados atmosféricos sobre determinado lugar em sua sucessão habitual Cada um desses estados caracterizase pelas suas propriedades dinâmicas e estáticas da coluna atmosférica composição química pressão tensão dos gases temperatura grau de saturação comporta mento quanto aos raios solares poeiras ou matérias orgânicas em suspensão estado do campo elétrico velocidade de deslocamento das moléculas etc É o que a linguagem comum designa sob o nome de tempo A palavra tempo corresponde portanto a uma combinação complexa na qual conforme o caso um ou dos elementos que acabamos de enumerar desempenham um papel preponderante Dizemos que o tempo é quente seco chuvoso ou calmo Porém a temperatura a pressão o estado elétrico etc só podem ser isolados por um artifício de análise A noção de tempo e por conseqüência a noção de clima são noções sintéticas Esta observação preliminar é de uma importância capital para o biólogo Ele pode por uma espécie de análise harmônica considerar separadamente a ação de cada um dos elementos do tempo e do clima sobre o ser vivo Ele não deve porém nunca perder de vista que esses elementos agem todos em conjunto e mesmo através de outros Consideraremos enfim como fatores do clima as circunstâncias que determinam a existência e regulam a sucessão dos tipos de tempo Tais são latitude altitude situação relativa às massas oceânicas e continentais aos centros de ação e aos movimentos gerais da atmosfera exposição declividade etc As definições que acabamos de apresentar provocam reflexões importantes Em primeiro lugar em cada instante dado e em cada ponto do globo a atmosfera é uma combinação singular que tem muito pouca chance de se reproduzir de uma maneira perfeitamente idêntica A árvore de meu jardim não florescerá jamais duas vezes nas mesmas condições de temperatura luminosidade estado higrométrico etc Não podemos contudo nos contentar em selecionar as realidades climáticas sob este aspecto de fluxo perpétuo O ritmo das estações traz estados higrométricos comparáveis a vários meses de distância Estes estados se agrupam em torno de formas ou tipos característicos de cada período do ano Os fatores dos quais depende sua sucessão oferecem senão uma estabilidade rigorosa ao menos uma regularidade relativa E isso basta para que escapemos à impressão de um escoamento indefinido de formas e para que tomemos consciência da existência do clima local realidade fun damental da climatologia Entre os estados atmosféricos que se sucedem há os que se distanciam consideravelmente dos estados tipos que se repetem em intervalos muito distanciados não havendo nenhuma regra que permita lhes prever a ocorrência por exemplo frios muito rigorosos dos grandes invernos dos quais a história guarda a lembrança Não se pode racionalmente fazêlos entrar na noção de clima os valores correspondentes ao que se chama em meteorologia extremos absolutos devem ser manejados com muita discrição e prudência Postos de lado esses extremos excepcionais todos os outros os extremos e os que se aproximam dos tipos médios entram na definição de clima local Tiraremos mais adiante desta consideração regras para o emprego das médias Clima regional Da mesma forma que o tempo no sentido meteorológico é Revista do Departamento de Geografia 18 2006 8994 91 um estado singular da atmosfera o clima local é uma combinação singular irredutível Não há talvez no globo dois locais cujos climas sejam idênticos Porém a ação dos fatores do clima produz uma generalidade suficiente para que tenhamos pratica mente o direito de considerar acima dos climas locais os climas regionais A noção de clima regional é uma etapa do caminho da abstração Ela se aproxima o mais possível da realidade concreta na região onde o jogo do dinamismo atmosférico é o mais simples e onde a topografia é a mais uniforme As duas condições encontramse realizadas nas regiões intertropicais sobre grandes extensões A uniformidade do clima e a regularidade da sucessão dos estados atmosféricos ao longo do ano de fato caracterizam essas áreas em oposição às temperadas Por outro lado quando a topografia revela uma grande variedade como nas regiões de montanha o clima regional é simplesmente uma associação de climas locais estacionais como também se diz É outro caso extremo seu interesse é muito grande por causa do valor terapêutico diferente dos climas estacionais nas montanhas Podese portanto legitimamente falar de climas regionais ou se quisermos de regiões climáticas e dessa forma somos levados a introduzir a idéia de limite climático tão importante para a biogeografia Essa idéia tem sido freqüentemente concebida e utilizada sem espírito de medida Não se encontra limite climático linear se é que se encontra a não ser em casos muito raros como o de um obstáculo montanhoso normal ao sentido de propagação de influências climáticas Regra geral há zonas limí trofes isto é manchas onde se fazem e se desfazem combina ções de elementos característicos de regiões climáticas em contacto Nessas zonas transicionais combinações fortuitas de fatores podem fazer reaparecer localmente um ou outro clima das vizinhanças em toda sua identidade É dessa forma que nas bordas do mundo mediterrâneo condições estacionais de abrigo permitem a reconstituição em locais pouco extensos de verdadeiros oásis mediterrâneos fora da região onde o clima do mar interior reina soberanamente Quem subestimasse esta característica dos limites climáticos correria o risco de se equivocar sobre o sentido dos limites das associações vegetais O problema dos limites climáticos desperta aliás outras questões de doutrina Microclima Tomamos como ponto de partida o clima local ou estacional porque ele corresponde a uma realidade concreta e num certo sentido elementar Não se deve crer todavia que esta noção de clima local esgota todas as possibilidades de análise O climatólogo pode questionar o que representa exatamente a estação como fizeram antes deles os fitogeógrafos Falo do clima de ClermontFerrand ninguém duvidaria que o mesmo é uma realidade Porém nem a temperatura nem os movimentos de ar são os mesmos na Praça de Jaude e nas ruas que para aí se dirigem Mais ainda há diferenças de um lado a outro de uma mesma rua E se nos deslocarmos para o campo As condições variam conforme consideremos seja o interior de uma lavoura de trigo a sombra ou a obscuridade de uma floresta de árvores com muitas folhas ou de um bosque de pinheiros Vêse que passamos por gradações insensíveis se considerarmos a uma coluna atmosférica sobre um lugar à de um meio atmosférico em torno de um ponto ou em outras palavras da noção de clima local à de microclima Esta noção foi introduzida bastante recentemente Foi elaborada na Alemanha por Geiger O importante é notar que ela não representa o resultado de uma análise crítica dissociada da noção de clima local é o complemento necessário disso Como o microclima define as condições de vida particulares ao interior de uma estação o mesmo deve ser tomado em consideração seja pelo biólogo pelo agrônomo ou pelo médico O clima local nem por isso deixa de ser fato fundamental Definição biológica dos climas As considerações precedentes têm um caráter de generali dade são válidas para todos os climatólogos quer suas preocu pações particulares se voltem para a geografia física ou para a geografia biológica Estes últimos entretanto têm preocupações especiais às quais vamos nos ater doravante Não mais separaremos a fisioclimatologia e a patoclimatologia dos outros aspectos da bioclimatologia Neste ponto tornase necessário voltar por um instante às nossas considerações iniciais Nossa definição abrange os aspectos físicos do clima Os progressos da meteorologia nos levaram a isolálos a colocálos em primeiro plano Simples etapa da análise científica Na ordem do desenvolvimento histórico a idéia de clima apresentase de outra forma Ela é inseparável das preocupações biológicas Os primeiros registradores não foram instrumentos de medida mas sim registradores naturais em particular a sensibilidade do homem Não se conhecia o calor e o frio a não ser por seus efeitos sobre o organismo humano Sabe se o que representa o clima para os sábios gregos Desta primeira indiferenciação destacamse duas disciplinas a meteorologia que se aproxima da física e a climatologia ramo da geografia Nos tempos modernos fizeramse notáveis esforços para se Revista do Departamento de Geografia 18 2006 8994 92 definir os climas por parte de meteorologistas como Hann ou Angot Chegouse a pensar que estudo total da atmosfera era da alçada dos meteorologistas Esse é um ponto de vista errado susceptível de conduzir a equívocos graves Da mesma forma isso é da essência geográfica a idéia de clima é inseparável de suas conexões Se na sua origem ela é impregnada de biologia porque só os sentidos percebem as variações atmosféricas em um estágio bem mais avançado do desenvolvimento científico quando se adquire uma idéia mais correta das relações entre o meio e a vida ela reencontra se assim se pode dizer sua cor biológica Sua elaboração pertence aos biogeógrafos Cada uma delas contribui com seu estado de espírito Estas considerações explicam aliás como pode haver diferentes classificações de climas inspiradas em diferentes pon tos de vista Os princípios gerais das definições climáticas do ponto de vista da biologia humana Na pesquisa dos fatos necessários a servir de base a uma definição dos climas algumas regras de método devem ser observadas Decorrem em parte das considerações preceden tes 1 Os valores numéricos que devem ser guardados para as escalas são os valores críticos para as principais funções orgânicas Esta regra encontra sua aplicação particularmente na análise dos elementos do clima Tomemos o caso da temperatura Acostumamonos a observar a escala térmica como sendo determinada por dois fenômenos físicos correspondentes às mudanças do estado da água Ora nenhum fenômeno biológico nem a alteração dos protoplasmas nem a constante orgânica representada pela temperatura interna nem o jogo dos mecanismos destinados a manter essa constante apesar das variações do meio nem o limite da sensação térmica têm relação com esses fatos Encontramonos então na obrigação de definir previamente um zero termobiológico seja por intermédio de considerações teóricas seja pelo testemunho da sensibilidade térmica seja pelo estudo do metabolismo Uma vez estabelecido esse zero a busca de limites diferenciadores levaria à determinação de valores críticos secundários Enfim os pontos extremos seriam determinados pelos momentos nos quais o jogo das sensações orgânicas tornase impotente para manter a constante térmica interna À primeira vista tudo isso parece fácil Na realidade o ponto de neutralidade térmica é mais difícil de se fixar do que parece O confronto entre trabalhos de Rubner Attwater e Lefèvre deixa o climatologista hesitante tanto mais que ele não é absolutamente seguro de que os pontos críticos não se desloquem conforme as zonas Não podemos aqui expor todos os termos de um problema extremamente delicado O que se pode tirar de mais nítido disso é que dois níveis apresentam um interesse especial um entre 15 e 16oC e outro ligeiramente superior a 20oC Para os climas frios Köppen adotou um nível auxiliar de 10 graus cuja escolha foi mais arbitrária Para nós tratase menos de oferecer resultados definitivos do que mostrar em que sentido as pesquisas devem ser orientadas no futuro 2 Uma definição climatológica deve abranger a totalidade dos elementos do clima susceptíveis de agir sobre o organismo Considerase geralmente a temperatura e a umidade cuja ação sobre o metabolismo humano é evidente Porém a riqueza do ar em radiações luminosas e químicas oferece igual interesse embora sejam menos estudadas Ocorre o mesmo com o estado elétrico A necessidade de não se limitar a estudar os elementos clássicos é cada vez mais evidente para os médicos Veremos através dos artigos de M Morikofer de M Baldit de Maurain e de M Salles qual é o balanço de nossos conhecimentos sobre actinometria ionização e radioatividade da atmosfera 3 Os elementos climáticos devem ser considerados em suas interações Esta necessidade reconhecida cada vez mais tanto pelos biologistas como pelos geógrafos determina a procura de funções nas quais entram como variáveis dois elementos do clima ou mais Não se deve aliás exigir mais do que elas podem dar A medida que se aumenta o número de variáveis o sentido do resultado numérico tornase cada vez mais difícil de precisar Entre as relações empíricas onde entram ao mesmo tempo a temperatura e a umidade podese citar o índice de aridez de De Martonne que é de uso cômodo para o estudo das formas de erosão Há já algum tempo que os fisiologistas têm se orientado para as pesquisas de funções fisiológicas que comportam como variáveis a temperatura a umidade e a velocidade do vento Encontrarseá no artigo de M Baldit sobre os elementos meteorológicos do clima indicações úteis sobre os trabalhos de L Hill e de Dorno Estes trabalhos são do mais alto interesse para a climatologia médica As funções climatológicas em questão conduzem a uma expressão numérica Podese também traduzilas graficamente Os agrônomos têm feito há algum tempo curiosas tentativas nesse sentido Um fisiologista Dorno fez um experimento da mesma ordem 4 Qualquer classificação climática deve acompanhar de perto a realidade viva Disso decorre que em climatologia deve Revista do Departamento de Geografia 18 2006 8994 93 se fazer maior uso possível das observações brutas As tempe raturas corrigidas não têm nenhum valor para nós Além disso esta regra limita o emprego das médias Seus extremos suas amplitudes suas freqüências suas ordens de sucessão são dados capitais Encontrarseá no artigo de M Baldit todas as informações úteis sobre o emprego das médias A crítica de sua significação biológica decorre disso Elas têm sua importância como modo de expressão porém o que um organismo vivo sofre o que registra não são puras abstrações aritméticas Tudo isso é um a questão de nuances Uma figura composta de duas curvas das máximas e mínimas diárias de um ano qualquer dá uma idéia bem satisfatória das condições térmicas de uma estação tropical por causa da regularidade dos fenômenos meteorológicos Não decorre de maneira nenhuma o mesmo em nossas latitudes 5 O fator tempo duração é essencial na definição dos climas Esta regra decorre da precedente Uma característica climática não tem a mesma significação para os seres vivos se ela atua com continuidade ou se exerce por intervalos Considerando a mesma amplitude uma variação que se produz lentamente não tem o mesmo interesse que uma variação brusca Enfim a constância de um estado atmosférico dado não pode ser negligenciada A cada momento do processo é sobre um terreno fisiológico modificado pelas ações anteriores que se exerce a influência do meio climático O organismo não é somente um registrador como se tem dito freqüentemente É um integrador A ecologia vegetal vem se orientando desde há muito nesse sentido A integral das temperaturas é desde de Candolle a mais conhecida dessas funções onde a variável tempo duração desempenha um papel Experiências análogas foram tentadas na Índia a propósito da ação retardada das precipitações Fórmulas mais complexas foram elaboradas na América Não posso dizer a priori se pesquisas desse gênero dariam resultados para o estudo da fisiologia normal ou patológica do homem Porém um aparelho matemático complicado não pode ser talvez indispensável ao menos no estágio em que estamos para a introdução do fator tempo Quando se pensa que a duração dos períodos sem chuva no clima mediterrâneo não foi jamais estudada em detalhe passase a ter pretensões modestas Conclusão As regras que acabamos de apresentar aplicamse à definição dos climas É evidente que uma classificação satisfatória resultaria naturalmente de uma definição correta No presente estado de nossos conhecimentos quando desejamos definir um clima do ponto de vista médico verificamos que nosso vocabulário técnico tem justamente a mesma riqueza e a mesma precisão que o de Hipócrates Porém nós ganhamos por melhor ver o sentido das pesquisas necessárias e isso por si mesmo é um progresso apreciável Max Sorre Revista do Departamento de Geografia 18 2006 8994 94 SORRE M 2006 Object and metod of climatology Revista do Departamento de Geografia n 18 p 8994 Recebido em 30 de março de 2006 aceito em 15 de maio de 2006 3 A abordagem tradicional do estudo do tempo e do clima também conhecida como climatologia estatística foca principalmente na coleta e análise de dados históricos para identificar padrões e tendências climáticas Este método se baseia em médias e extremos climáticos ao longo de longos períodos como temperaturas médias mensais ou anuais precipitações acumuladas entre outros indicadores A fundamental vantagem dessa abordagem é a sua capacidade de fornecer uma visão geral das condições climáticas de uma região ao longo do pace o que é útil para planejamento agrícola construção civil e outras atividades dependentes do clima No entanto a abordagem tradicional enfrenta críticas e limitações significativas Uma das principais críticas é sua incapacidade de lidar adequadamente com a variabilidade climática e os fenômenos extremos que podem não ser capturados com precisão por médias históricas Além disso essa abordagem tende a ignorar os processos atmosféricos dinâmicos que influenciam o clima em escalas de pace mais curtas como a interação entre diferentes camadas da atmosfera e os efeitos de teleconexões climáticas como El Niño e La Niña Em contraste a abordagem dinâmica do estudo do pace e do clima enfatiza a compreensão dos processos físicos que governam a atmosfera Esta abordagem utiliza modelos numéricos e simulações computacionais para prever mudanças climáticas com base em condições iniciais e nas leis da física A abordagem dinâmica é considerada mais robusta na previsão de eventos extremos e na compreensão dos mecanismos subjacentes às mudanças climáticas oferecendo uma visão mais detalhada e precisa das variações climáticas em diferentes escalas de pace e espaço 13 Acesso em 11082024 NUVENS ALTAS Cirrus CI Aspecto delicado sedoso ou fibroso cor branca brilhante Cirrocumulus CC Delgadas compostas de elementos muito pequenos em forma de grânulos e rugas Indicam base de corrente de jato e turbulência Cirrostratus CS Véu transparente fino e esbranquiçado sem ocultar o sol ou a lua apresentam o fenômeno de halo NUVENS MÉDIAS Altostratus AS Camadas cinzentas ou azuladas muitas vezes associadas a altocumulus compostas de gotículas superesfriadas e cristais de gelo não formam halo encobrem o sol precipitação leve e contínua Altocumulus AC Banco lençol ou camada de nuvens brancas ou cinzentas tendo geralmente sombras próprias Constituem o chamado céu encarneirado NUVENS BAIXAS Stratus St Muito baixas em camadas uniformes e suaves cor cinza coladas à superfície é o nevoeiro apresenta topo uniforme ar estável e produz chuvisco garoa Stratocumulus SC Lençol contínuo ou descontínuo de cor cinza ou esbranquiçada tendo sempre partes escuras Quando em voo há turbulência dentro da nuvem Nimbostratus NS Aspecto amorfo base difusa e baixa muito espessa escura ou cinzenta produz precipitação intermitente e mais ou menos intensa NUVENS COM DESENVOLVIMENTO VERTICAL Cumulus Cu Contornos bem definidos assemelhamse a couveflor máxima frequência sobre a terra de dia e sobre a água de noite Podem ser orográficas ou térmicas convectivas apresentam precipitação em forma de pancadas Cumulonimbus CB Nuvem de trovoada base entre 700 e 1500 m com topo podendo chegar em torno de 20 km de altura sendo a média entre 9 e 12 km Caracterizadas pela bigorna o topo apresenta expansão horizontal devido aos ventos superiores lembrando a forma de uma bigorna de ferreiro 13 A Nos gráficos a temperatura média foi calculada como a média entre a temperatura máxima e a mínima de cada mês Essa linha de temperatura média ajudou a visualizar o clima médio mensal suavizando as variações extremas diárias e facilitando a compreensão das tendências climáticas ao longo do ano B C Em Porto Alegre durante janeiro que é verão a amplitude térmica tende a ser menor devido a noites mais quentes Nesse período a diferença 𝑄𝑜𝑄𝑔 pode ser maior pois a radiação solar é intensa e o solo pode não emitir tanto calor devido à alta umidade Já em julho no inverno a amplitude térmica é maior com dias frios e noites ainda mais frias A diferença 𝑄𝑜𝑄𝑔 pode ser menor pois a radiação solar é reduzida e o solo emite menos calor Em Coxim em dezembro durante o verão a amplitude térmica é menor devido ao calor constante A diferença 𝑄𝑜𝑄𝑔 provavelmente é maior com alta radiação solar e evapotranspiração No entanto em julho no inverno a amplitude térmica é maior com noites frias A diferença 𝑄𝑜𝑄𝑔 pode ser menor devido à menor radiação solar Em Tauá em março que é a transição entre o verão e o outono a amplitude térmica é moderada A diferença 𝑄𝑜𝑄𝑔 pode variar dependendo da umidade e da cobertura de nuvens Em agosto durante a estação seca a amplitude térmica é maior com dias quentes e noites frias A diferença 𝑄𝑜𝑄𝑔 provavelmente é maior com alta radiação solar durante o dia e pouca emissão de calor à noite devido à baixa umidade Uma alta amplitude térmica está associada a condições de céu claro permitindo maior variação de temperatura entre o dia e a noite o que pode aumentar a diferença 𝑄𝑜𝑄𝑔 durante o dia Por outro lado uma baixa amplitude térmica está associada a condições nubladas ou úmidas suavizando as variações de temperatura e podendo reduzir a diferença 𝑄𝑜𝑄𝑔 17 Temperatura Média C Altitude m 32 Os ventos locais são fenômenos atmosféricos que desempenham um papel crucial na determinação do clima e das condições meteorológicas em diferentes regiões do planeta Três tipos principais de ventos locais merecem destaque as brisas o sistema valemontanha e as monções Cada um desses sistemas de vento tem características distintas e impacta significativamente a vida cotidiana das pessoas nas áreas onde ocorrem As brisas são ventos locais que ocorrem em áreas costeiras ou próximas a grandes corpos dágua Elas se dividem em dois tipos principais a brisa marítima que sopra do mar para a terra durante o dia e a brisa terrestre que sopra da terra para o mar durante a noite Esse ciclo diário é causado pela diferença de temperatura entre a terra e a água As brisas têm uma influência notável na regulação da temperatura em áreas costeiras tornandoas geralmente mais amenas Além disso elas afetam diretamente atividades de lazer e esportes aquáticos como vela e surfe e desempenham um papel importante na dispersão de poluentes em cidades litorâneas O sistema valemontanha é outro tipo de vento local que ocorre em regiões montanhosas Esse sistema é causado pelo aquecimento e resfriamento diferencial das encostas e vales ao longo do dia Durante o dia o ar quente sobe pelas encostas das montanhas vento anabático enquanto à noite o ar frio e denso desce pelas encostas em direção aos vales vento catabático Esse sistema de ventos influencia significativamente o planejamento de atividades agrícolas em regiões montanhosas afeta a prática de esportes como parapente e asadelta e impacta a dispersão de poluentes em vales e encostas As monções por sua vez são sistemas de ventos sazonais que ocorrem em grandes escalas principalmente na Ásia e na África Elas são causadas pela diferença de aquecimento entre continentes e oceanos durante as estações do ano As monções de verão trazem ar úmido do oceano para o continente resultando em chuvas intensas enquanto as monções de inverno levam ar seco do continente para o oceano Esse sistema de ventos tem um impacto profundo na vida das pessoas determinando os ciclos agrícolas em muitas regiões especialmente no sul e sudeste da Ásia As monções afetam significativamente o regime de chuvas causando estações secas e chuvosas bem definidas o que por sua vez influencia o planejamento urbano e a infraestrutura necessária para lidar com inundações e secas As principais diferenças entre esses tipos de ventos locais residem em sua escala temporal e espacial bem como em seus mecanismos de formação As brisas e o sistema valemontanha operam em um ciclo diário enquanto as monções seguem um padrão sazonal Em termos de escala espacial as brisas e o sistema valemontanha são fenômenos locais afetando áreas costeiras e regiões montanhosas respectivamente O mecanismo de formação também varia as brisas são causadas pela diferença de temperatura entre terra e água o sistema valemontanha resulta do aquecimento e resfriamento diferencial das encostas e vales e as monções são geradas pela diferença sazonal de aquecimento entre continentes e oceanos Além disso o impacto na precipitação é distinto para cada tipo de vento sendo as monções as que têm o efeito mais pronunciado na definição de estações secas e chuvosas Estes ventos locais têm um impacto significativo e multifacetado na vida cotidiana das pessoas Eles influenciam desde o conforto térmico e as atividades de lazer até aspectos mais amplos como a agricultura o planejamento urbano e a gestão de recursos hídricos Compreender esses sistemas de ventos é portanto crucial para o planejamento e adaptação às condições climáticas locais e regionais permitindo que as comunidades se preparem melhor para os desafios e oportunidades apresentados por esses fenômenos atmosféricos BRISA MARITIMA E TERRESTRE VALE MONTANHA MONÇÃO Monção de Verão Monção de Inverno Continente Oceano Continente Oceano