·
Cursos Gerais ·
Empreendedorismo
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
1
Gestao e Empreendedorismo - Objetivos Perfil e Fundamentos
Empreendedorismo
UMG
7
Empreendedorismo - Atividade 1
Empreendedorismo
UMG
6
Prova de Empreendedorismo
Empreendedorismo
UMG
1
Análise dos Casos de Recuperação Judicial: O Fracasso da Americanas
Empreendedorismo
UMG
12
Capitulo 4 -continuação Identificando Oportunidades
Empreendedorismo
UMG
6
Prova de Empreendedorismo 2
Empreendedorismo
UMG
7
Prova de Empreendedorismo
Empreendedorismo
UMG
2
Empreendedorismo e Oportunidades - Influência do Conhecimento Prévio e Mudanças Ambientais
Empreendedorismo
UMG
1
Analise Contabil Custos e Despesas na Producao de Bebidas Suco
Empreendedorismo
UMG
3
Projeto Integrador III Gestão Financeira EAD - Estudo de Caso Empreendedorismo
Empreendedorismo
UMG
Preview text
JOSEPH ALOIS SCHUMPETER TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE LUCROS CAPITAL CRÉDITO JURO E O CICLO ECONÔMICO Tradução de Maria Sílvia Possas Disponibilizado por Ronaldo DartVeiga Fundador VICTOR CIVITA 1907 1990 Editora Nova Cultural Ltda Copyright desta edição 1997 Círculo do Livro Ltda Rua Paes Leme 10º andar CEP 05424010 São Paulo SP Título original Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung Dunker Humblot Berlim Alemanha 1964 Publicado sob licença de Duncker Humblot Alemanha Tradução feita a partir do texto em língua inglesa intitulado The Theory of Economic Development traduzido por Redvers Opie por autorização especial de The President and Fellows of Harvard College Cambridge USA Direitos exclusivos da tradução deste volume Editora Nova Cultural Impressão e acabamento DONNELLEY COCHRANE GRÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA DIVISÃO CÍRCULO FONE 55 11 41914633 ISBN 8535109153 INTRODUÇÃO Existiram muitos Schumpeters o brilhante enfant terrible da Es cola Austríaca que antes de completar trinta anos havia escrito dois livros extraordinários o jovem causídico que chegou a advogar no Cairo o criador de cavalos o Ministro da Fazenda na Áustria o filósofo social e profeta do desenvolvimento capitalista o historiador das doutrinas eco nômicas o teórico de Economia que preconizava o uso de métodos e ins trumentos mais exatos de raciocínio o professor de Economia1 Ninguém melhor do que Paul Samuelson para sintetizar a ge nialidade e a versatilidade de Joseph Alois Schumpeter O elogio foi publicado inicialmente na Review of Economics and Statistics e pos teriormente na coletânea de trabalhos organizada por Seymeur E Harris em homenagem ao grande economista austríaco O dia 8 de fevereiro de 1983 é a data do centenário de nascimento de Schumpeter Nascido em Triesch na Morávia província austríaca hoje pertencente à Tchecoslováquia Schumpeter foi o único filho do fabricante de tecidos Alois Schumpeter Pouca coisa se sabe a respeito de seus pais exceto que a mãe Johanna era filha do médico Julius Gruner Joszi como era chamado na infância ficou órfão de pai com apenas quatro anos Sua mãe casouse novamente em 1893 com o te nentecoronel do Exército AustroHúngaro Sigismund von Keller A família passou então a viver em Viena onde Schumpeter concluiu o curso secundário com distinção Posteriormente ingressou na Facul dade de Direito da Universidade de Viena graduandose em 1906 Nessa época as universidades imperiais incluíam no estudo de Direito cursos e exames complementares de economia e ciência política Aluno aplicado Schumpeter dedicouse ao estudo da ciência econômica sem entretanto descuidarse do Direito Já formado decidiu viajar para a Inglaterra onde permaneceu 5 1 SAMUELSON Paul A Shcumpeter como Professor y Teorico de la Economia in Schumpeter Científico Social El Sistema Schumpeteriano Barcelona Ediciones de Occidente SA 1965 p 107 durante vários meses principalmente em Londres Na capital inglesa além de visitar Cambridge e Oxford manteve intensa vida social Em 1907 casouse com Gladys Ricarde Seaves filha de alto dignitário da Igreja Anglicana e doze anos mais velha que ele No mesmo ano o casal partiu para o Cairo onde Schumpeter advogou perante o Tribunal Misto Internacional do Egito sendo também conselheiro de finanças de uma princesa egípcia Motivos de saúde entretanto obrigaram o casal a retornar para Viena em 1909 Gladys voltou para a Inglaterra em 1914 lá permanecendo durante a I Guerra Mundial não retornando mais a Viena Em 1920 o casal divorciouse Schumpeter iniciou a vida universitária no mesmo ano em que retornou à Austria ou seja a partir de 1909 Nomeado professor de Economia da Universidade de Czernowitz capital da província de Bu kovina na parte oriental da Áustria hoje território da União Soviética Schumpeter passou dois anos bastante felizes É verdade que consi derava seus colegas extremamente provincianos e incultos embora os julgasse capazes em seus respectivos campos de atividade Foi em Czer nowitz aliás que teve início sua fama de enfant terrible Schumpeter costumava assistir às reuniões da Congregação Universitária com botas de montaria suscitando comentários desfavoráveis Mas para jantar a sós com a esposa vestiase a rigor Em 1911 convidado a lecionar na Universidade de Graz capital da província de Styria foi nomeado professor de Economia por decreto imperial graças à influência do economista austríaco BöhmBawerk Além de ser o mais jovem catedrático da Universidade a fama de enfant terrible criou um certo malestar entre os colegas da congregação A atmosfera pouco cordial obrigou Schumpeter a viajar freqüentemente para Viena Na qualidade de professor visitante passou o ano letivo de 191314 na Universidade de Colúmbia Nova York onde foi distinguido com um grau honorífico o de Litt D da Universidade de Colúmbia Pouco antes do início da I Guerra Mundial retornou a Viena aban donando a Universidade de Graz a partir de 1918 Não obstante con tinuou a pertencer ao quadro da congregação até 1921 Entre 1919 e 1924 decidido a dedicarse aos negócios e à política resolve afastarse das atividades docentes Com o Armistício o governo socialista alemão objetivando estudar e preparar a socialização da indústria cria uma comissão de estudos e convida Schumpeter para participar das discussões Nomeado membro da Comissão de Sociali zação de Berlim Schumpeter permanece no grupo durante três meses sua participação nesse trabalho fez com que se suspeitasse de suas convicções socialistas A suspeita entretanto não correspondia à ver dade Schumpeter tendia para o sistema capitalista embora acreditasse que o socialismo provavelmente triunfaria sobre o capitalismo Em março de 1919 aceitou o convite de Karl Renner socialista OS ECONOMISTAS 6 da ala direita do Partido Socialista Cristão para ser o Ministro da Fazenda do primeiro governo republicano da Áustria Mas permaneceu no cargo apenas dez meses Em seguida passou para a presidência do Banco Privado de Biedermannbank em Viena antiga e conceituada instituição financeira de pequeno porte O banco abriu falência em 1924 não somente devido às difíceis condições econômicas da época mas também e principalmente pela desonestidade de alguns de seus diretores Nessa aventura Schumpeter não só perdeu sua fortuna pes soal como ficou totalmente endividado pois não quis aproveitar a Lei da Falência preferindo pagar com seus bens pessoais a totalidade dos credores do banco Após essa desastrosa aventura empresarial resolveu retornar à vida universitária Recusou um convite para lecionar no Japão mas aceitou a docência na Universidade de Bonn como subs tituto do eminente economista liberal Heinrich Dietzel Schumpeter jamais esqueceria a oportunidade oferecida por essas universidades num momento de crise Antes de partir para Bonn casouse com Annie Reisinger jovem de 21 anos filha do porteiro do edifício onde residia sua mãe A jovem era conhecida da família havia muitos anos tanto que o próprio Schum peter e a mãe haviam cuidado de sua educação enviandoa para Paris e posteriormente para a Suíça Annie faleceu de parto após um ano de casamento deixando Schumpeter abalado para o resto da vida A esse rude golpe seguiuse no mesmo ano a morte da mãe com 75 anos Mas Schumpeter não permaneceu durante muito tempo em Bonn Em 1927 e 1928 lecionou na Universidade de Harvard nos Estados Unidos voltando a ensinar nessa faculdade no outono de 1930 Em 1932 decidido a fixar residência nos Estados Unidos abandonou de finitivamente a Universidade de Bonn Nunca mais voltou para a Ale manha ou Áustria embora tivesse visitado a Europa algumas vezes Estabeleceuse em Cambridge Massachusetts e adquiriu uma casa de campo em Taconic Connecticut onde viria a falecer durante o sono no dia 8 de janeiro de 1950 Ao iniciar a vida acadêmica em Harvard Schumpeter passara a residir na casa do Prof Taussig Em 1937 havia se casado novamente dessa vez com Elizabeth Boody des cendente de família da Nova Inglaterra e economista de méritos pró prios sua companheira inseparável até o final da vida Um dos fundadores da sociedade de Econometria Econometric Society cuja presidência exerceu de 1937 a 1941 Schumpeter foi eleito presidente da American Economic Association em 1948 e pouco antes de sua morte foi elevado à categoria de primeiro presidente da recém formada International Economic Association Schumpeter costumava afirmar que a capacidade criativa do ho mem estava em seu ponto mais alto entre os 20 e os 30 anos de idade Após esse período o trabalho intelectual apenas completava e ampliava aquilo que a mente humana produzira de criativo até os trinta anos SCHUMPETER 7 De fato quando tinha apenas 25 anos em 1908 portanto Schumpeter publicou sua primeira grande obra A Natureza e a Essência da Eco nomia Política Teórica Das Wesen und der Hauptinhalt der Theore tischen National Ökonomie e quatro anos mais tarde sua célebre Teoria do Desenvolvimento Econômico Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung obras que estabeleceram sua importância como teórico de Economia Ao completar 30 anos ainda escreveu a história de sua ciência Épocas da História dos Métodos e Dogmas Epochen der Dogmen und Methodengeschichte A essa evidente precocidade o Professor Ar thur Spiethoff rendeu a seguinte homenagem Não se sabe o que é mais notável se o fato de que um homem de 25 e 27 anos tenha dado forma aos próprios fundamentos de sua ciência ou se aos 30 anos tenha escrito a história daquela disciplina2 Ao completar 50 anos Schumpeter já havia escrito dezessete livros inclusive duas novelas e centenas de artigos e ensaios científicos Embora trabalhasse 84 horas semanais parecia insatisfeito com sua produção Achava que gastava muito tempo com aulas seminários e conselhos a estudantes e colegas não conseguindo produzir o suficiente para completar seu programa de contribuições à ciência econômica e à sociologia No conjunto de seus trabalhos destacase ainda o tratado sobre os Ciclos Econômicos Business Cycles 1939 cujo subtítulo elucida sua relação com o livro que comentaremos em seguida Uma Análise Teórica Histórica e Estatística do Processo Capitalista Foi a primeira obra que publicou como Professor da Universidade de Harvard Em 1942 publicou Capitalismo Socialismo e Democracia Capi talism Socialism and Democracy obra considerada por muitos como um trabalho pessimista por concluir pelo inevitável triunfo do socia lismo e o conseqüente desaparecimento do capitalismo A conclusão é decorrente do processo analítico desenvolvido por Schumpeter mas não expressa de maneira alguma sua ideologia ou preferência pessoal Não obstante vale acrescentar que as idéias de Karl Marx a quem Schumpeter admirava e respeitava representaram uma das maiores influências intelectuais em sua formação científica Maior ainda que a influência exercida por Marx foi a inspiração na obra do economista francês Léon Walras Influenciado por Walras Schumpeter adquiriu o interesse pela formulação matemática e econométrica das questões econômicas além de optar pela concepção de modelos econômicos para explicar a realidade e para a compreensão do processo de desenvolvi mento capitalista Em vários artigos Schumpeter traçou esboços biográficos de gran des economistas reunidos mais tarde no volume Dez Grandes Econo mistas de Marx a Keynes Seu crescente interesse pela História levouo OS ECONOMISTAS 8 2 Joseph Schumpeter in Memorian Seymeur Harris op cit p 18 a escrever História da Análise Econômica History of Economic Ana lysis 1954 que infelizmente não chegou a concluir O livro foi com pletado por sua viúva e publicado postumamente A Teoria do Desenvolvimento Econômico foi publicado pela pri meira vez em 1911 em língua alemã No prefácio à primeira edição em inglês Schumpeter adverte que algumas das idéias contidas no livro datam de 1907 e que em 1909 todas as teorias desenvolvidas na obra já estavam formuladas Em 1926 já esgotada a 1ª edição Schumpeter aquiesceu numa nova edição também em alemão Essa edição resultou numa revisão em profundidade na qual além de outras modificações foi omitido o capítulo VII e reescritos os capítulos II e VI O próprio Schumpeter afirmou que a Teoria do Desenvolvimento Econômico em seu método e objetivo é francamente teórico Esclarece ainda que quando escrevera o livro pensava diferente sobre a relação entre pesquisa prática e pesquisa teórica Afirma sua convicção de que nossa ciência mais do que as outras não pode dispensar esse senso comum refinado que chamamos teoria e que nos dá instrumentos para analisar os fatos e os problemas práticos O primeiro capítulo da obra apresenta um modelo de economia estacionário fundamentado num fluxo circular da vida econômica As sim toda a atividade econômica se apresenta de maneira idêntica em sua essência repetindose continuamente Mas esse modelo contrasta com a estrutura dinâmica que Schumpeter apresenta no capítulo II intitulado O Fenômeno Fundamental do Desenvolvimento Econômico onde aparece a figura central do empresário inovador agente eco nômico que traz novos produtos para o mercado por meio de combi nações mais eficientes dos fatores de produção ou pela aplicação prática de alguma invenção ou inovação tecnológica Nenhum outro economista que eu saiba percebeu tão clara mente a importância crítica da taxa de crescimento na produção total Como ele afirmou se a produção aumentar no futuro ao nível que aumentou no passado todos os sonhos dos reformadores sociais poderão dar certo Entretanto se a política se dirigir à redistribuição imediata não se realizarão nem os desígnios dos reformistas nem o aumento da produção3 Como vemos Schumpeter não só percebeu o papel central do crescimento econômico para a justiça social como advertiu para os perigos da redistribuição prematura Opiniões sem dúvida relevantes para o debate econômico do Brasil contemporâneo Sem dúvida Schum peter distinguiu claramente a diferença entre crescimento e desenvol vimento Nem o mero crescimento da economia representado pelo SCHUMPETER 9 3 SMITHIES Arthur Schumpeter e Keynes In Harris op cit p 295 aumento da população e da riqueza será designado aqui como um processo do desenvolvimento4 Em outra passagem da obra Schumpeter destaca a figura do empreendedor na vida econômica devese agir sem resolver todos os detalhes do que deve ser feito Aqui o sucesso depende da intuição da capacidade de ver as coisas de uma maneira que posteriormente se constata ser verdadeira mesmo que no momento isso não possa ser comprovado e de se perceber o fato essencial deixando de lado o per functório mesmo que não se possa demonstrar os princípios que nor tearam a ação5 Também a relação entre a inovação a criação de novos mer cados e a ação de empreendedor está claramente descrita por Schum peter É contudo o produtor que via de regra inicia a mudança econômica e os consumidores se necessário são por ele educados eles são por assim dizer ensinados a desejar novas coisas ou coisas que diferem de alguma forma daquelas que têm o hábito de consu mir6 Daí a prescrever a destruição criadora ou seja a substi tuição de antigos produtos e hábitos de consumir por novos foi um passo que Schumpeter rapidamente deu ao descrever o processo do desenvolvimento econômico De outro lado ao atribuir papel fundamental ao crédito no cres cimento econômico Schumpeter de certa maneira idealizou o moderno banco de desenvolvimento Assim escreveu ele Primeiro devemos pro var a afirmativa estranha à primeira vista de que ninguém além do empreendedor necessita de crédito ou o corolário aparentemente me nos estranho de que o crédito serve ao desenvolvimento industrial Já demonstramos que o empreendedor em princípio e como regra neces sita de crédito entendido como uma transferência temporária de poder de compra a fim de produzir e se tornar capaz de executar novas combinações de fatores para tornarse empreendedor7 Schumpeter considerava que o crédito ao consumidor não era um elemento essencial ao processo econômico Assim afirmou que não fazia parte da natureza econômica de qualquer indivíduo que ele obtivesse empréstimo para o consumo ou da natureza de qualquer processo produtivo que os participantes tivessem de contrair dívidas para fins consecutivos E apesar de reconhecer sua importância deixa de lado o fenômeno do crédito ao consumo pois não tem importância aqui para nós e a despeito de toda a sua importância prática nós o excluímos de nossas considerações8 Na verdade o raciocínio desen OS ECONOMISTAS 10 4 SCHUMPETER Joseph The Theory of Economic Devefopment Oxford Oxford University Press 1978 p 63 5 SCHUMPETER Joseph Op cit p 85 6 Ibid p 65 7 Ibid p 102 8 Ibid p 103 volvido por Schumpeter procura demonstrar que o desenvolvimento em princípio é impossível sem crédito9 Schumpeter discute a função do capital no desenvolvimento eco nômico considerando um agente especial e afirma também que o mercado de capitais é aquilo a que na prática se chama mercado de dinheiro pois em sua opinião não há outro mercado de capitais A discussão em torno do papel do crédito do capital e do dinheiro unifica as três fontes de poder de compra de maneira extremamente interes sante caracterizandoos como um meio de financiar a inovação e con seqüentemente o crescimento industrial Digase de passagem que o modelo de desenvolvimento econômico concebido por Schumpeter é basicamente um modelo de industrialização Ao examinar o lucro empresarial Schumpeter apresenta algumas reflexões sociológicas sobre a impossibilidade de os empreendedores transmitirem geneticamente a seus herdeiros as qualidades que os conduziram ao êxito por meio de inovações e novos métodos produtivos Assim compara o estrato mais rico da sociedade com um hotel repleto de gente alertando porém para o fato de que os hóspedes nunca são os mesmos Isso decorre de um processo no qual os que herdam a riqueza dos empreendedores estão geralmente tão distanciados da ba talha da vida que não conseguem aumentar ou simplesmente manter a fortuna herdada Schumpeter discute a teoria do juro refutando conceitos antigos e relaciona o fenômeno do juro com o processo de desenvolvimento Essa interpretação é coerente com sua idéia de que só o empreendedor inovador necessita de crédito A discussão apesar de longa é extre mamente interessante Contestando outros economistas que supunham que a taxa de juros variava conforme a quantidade de dinheiro em circulação Schumpeter demonstra que essa relação é inversa isto é o efeito imediato de um aumento de dinheiro em circulação seria o aumento da taxa de juros e não sua redução10 O capítulo final da Teoria do Desenvolvimento Econômico trata dos ciclos econômicos ou seja dos períodos de prosperidade e recessão eco nômica comuns no processo de desenvolvimento capitalista Embora Schumpeter considerasse que o tratamento dado ao problema não fosse totalmente satisfatório as idéias centrais contidas no capítulo constituíram o cerne de sua obra Ciclos Econômicos publicada em dois volumes Schum peter relaciona os períodos de prosperidade ao fato de que o empreendedor inovador ao criar novos produtos é imitado por um verdadeiro enxame de empreendedores não inovadores que investem recursos para produzir e imitar os bens criados pelo empresário inovador Conseqüentemente SCHUMPETER 11 9 Ibid p 106 10 Ibid p 186 uma onda de investimentos de capital ativa a economia gerando a prosperidade e o aumento do nível de emprego À medida que as inovações tecnológicas ou as modificações in troduzidas nos produtos antigos são absorvidas pelo mercado e seu consumo se generaliza a taxa de crescimento da economia diminui e tem início um processo recessivo com a redução dos investimentos e a baixa da oferta de emprego A alternância entre prosperidade e re cessão isto é a descontinuidade no aumento de produção é vista por Schumpeter dentro do contexto do processo de desenvolvimento eco nômico como um obstáculo periódico e transitório no curso normal de expansão da renda nacional da renda per capita e do consumo Até o aparecimento da teoria de Schumpeter as descontinuidades cíclicas eram explicadas pelos economistas em função das flutuações da atividade cósmica do sol da alternância de boas e más colheitas do subconsumo da superpopulação etc Neste importante capítulo da teoria econômica a grande contribuição de Schumpeter foi estabelecer a correlação entre o abrupto aumento do nível de investimento que se segue às inovações tecnológicas transformadas em produtos para o mer cado e o período subseqüente de prosperidade econômica seguido de uma redução do nível de emprego produção e investimento além da incorporação da novidade aos hábitos de consumo da população A tradução para o português e a publicação deste livro de Schum peter é importante para os estudiosos de Economia estudantes uni versitários e professores porque setenta anos após sua primeira edição em alemão o livro é atual e pertinente ao debate econômico travado no Brasil e nos países industrializados do Ocidente Vale ressaltar ainda que o sistema schumpeteriano se contrapõe em muitos aspectos ao sistema keynesiano Schumpeter e Keynes contemporâneos que se conheceram pessoalmente nunca demonstra ram nenhuma afinidade intelectual ou ideológica Arthur Smithies con firma que sempre estiveram intelectualmente muito distanciados No momento em que o sistema keynesiano concepção que vem domi nando a política econômica há quase cinqüenta anos está sendo questionado pelos economistas da supply side economics cujas idéias foram perfilhadas pelo presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan assume maior importância o estudo do sistema schumpeteriano prin cipalmente como alternativa à intervenção estatal à política do Estado dominador que participa e interfere na vida do cidadão do seu nas cimento à morte O pessimismo de Schumpeter em relação ao futuro do capitalismo não parece algo a se concretizar num futuro próximo Muito ao con trário o triunfo final do socialismo parece cada vez mais distante e improvável O fato se deve sem dúvida à ausência nos países socia listas da figura do empreendedor inovador Nesses países o Estado OS ECONOMISTAS 12 e suas empresas apenas mostraramse capazes de copiar a tecnologia produzida pelos empreendedores inovadores no Ocidente De outro lado a visão otimista de Schumpeter de que se o cres cimento econômico no futuro fosse igual ao do passado quando as economias cresciam à taxa média anual de 3 o problema social desapareceria tornando realidade o sonho de todos os reformadores sociais também não parece na iminência de concretização O que vimos em nosso país por exemplo após quinze anos de crescimento econômico ininterrupto a taxas com que Schumpeter jamais sonharia foi o agra vamento de muitos problemas sociais e uma contínua deterioração da distribuição de renda Ao render minhas homenagens a um dos mais brilhantes teóricos da ciência econômica não posso deixar de referir que em nossa ciência nem mesmo as inteligências mais privilegiadas conseguem produzir boas profecias Rubens Vaz da Costa Rubens Vaz da Costa economista formado pela Universidade da Bahia fez seus estudos de pósgraduação na Universidade George Washington EUA Doutor honoris causa das Uni versidades Federal do Ceará e Regio nal do Nordeste foi também Secretá rio de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo vicepresidente da Editora Abril Presidente do Banco Nacional da Habitação Presidente do Banco do Nordeste e Superintendente da Sudene É atualmente consultor de empresas SCHUMPETER 13 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE LUCROS CAPITAL CRÉDITO JURO E O CICLO ECONÔMICO Traduzido de The Theory of Economic Development An Inquiry into Profits Capital Credit Interest and the Business Cycle Ed do Departamento de Economia da Harvard University USA 1934 Reimpressão de 1978 Essa versão do original alemão Theorie der Wirtschaf tlichen Entwicklung para o inglês por Redvers Opie leva o mérito de ter sido revista com modificações pelo Autor conforme ele declara no Prefácio a essa edição NOTA DO TRADUTOR DA EDIÇÃO INGLESA Meu objetivo principal foi transmitir o significado tão precisa mente quanto possível e para esse fim não hesitei em usar uma frase canhestra nos casos em que não havia equivalentes da palavra alemã em inglês corrente Depois de atenta reflexão decidime por fluxo cir cular para Kreislauf por razões cujo relato tomaria muito tempo Há deselegâncias que nada têm a ver com o lado técnico da tradução Erradicálas implicaria reescrever tudo e não pareceu conveniente fazê lo O Professor Schumpeter está tão familiarizado com a língua inglesa que teria inevitavelmente deixado sua marca na tradução mesmo que não houvesse dedicado tanto tempo aos pontos mais difíceis quanto dedicou Por essa razão e pelas mencionadas no prefácio o livro é mais do que uma tradução O título do original alemão é Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung Redvers Opie PREFÁCIO À EDIÇÃO INGLESA Algumas das idéias propostas neste livro procedem do ano de 1907 todas estavam formuladas em 1909 quando o quadro geral dessa análise das características puramente econômicas da sociedade capi talista tomou a forma que permaneceu substancialmente inalterada desde então O livro foi publicado pela primeira vez em alemão no outono de 1911 Depois que já estava esgotado havia dez anos quando consenti não sem alguma relutância numa segunda edição omiti o capítulo VII reescrevi o II e o VI e reduzi ou acrescentei aqui e ali Isso aconteceu em 1926 A terceira edição alemã é apenas uma reim pressão da segunda da qual foi feita também a presente versão para o inglês Estaria dando um veredito muito falho sobre o que fiz e pensei desde que o livro apareceu se dissesse que o fato de não ter feito alterações que modificassem mais do que a maneira de expor foi causado por acreditar que o livro seja satisfatório em todos os detalhes Embora considere como corretos no essencial tanto as linhas gerais o que poderia ser chamado de visão quanto os resultados há muitos pontos sobre os quais tenho agora outra opinião Para mencionar apenas um à guisa de exemplo quando elaborei a teoria do ciclo econômico que o leitor encontra no capítulo VI tinha como certo que havia um único movimento ondulatório a saber o descoberto por Juglar Estou convencido agora de que há pelo menos três desses movimentos pro vavelmente mais e que o problema mais importante com que no mo mento se defrontam os teóricos do ciclo consiste precisamente em iso lálos e descrever os fenômenos associados à sua interação Mas esse elemento não foi introduzido nas edições mais recentes Pois os livros como os filhos tornamse seres independentes uma vez que tenham deixado a casa paterna Vivem suas próprias vidas enquanto os autores também fazem o mesmo Não se deve interferir no rumo dos que se tornaram estranhos à casa Este livro abriu seu próprio caminho e certa ou erradamente ganhou o seu lugar na literatura alemã de sua área e de seu tempo Pareceume melhor mexer o menos possível nele 19 Dificilmente eu teria pensado em uma tradução para o inglês se não fosse a sugestão e o estímulo de meu eminente amigo o Professor Taussig Por razões similares não segui o exemplo de meu grande mestre BöhmBawerk que se inteirava de todas as objeções e críticas com infinito cuidado e incorporava seus próprios comentários nas edições posteriores Não se trata de nenhuma falta de respeito para com os que me deram a honra da crítica cuidadosa à minha argumentação o que me levou a limitar ao mínimo a controvérsia Devo confessar to davia que nunca me deparei com uma objeção a pontos essenciais que eu viesse a considerar convincente Este livro é francamente teórico por seu objetivo e método Este não é o lugar para uma professio fidei quanto ao método Talvez eu pense agora de modo um pouco diferente do que pensava em 1911 sobre a relação entre a pesquisa factual e a teórica Mantenho porém minha convicção de que nossa ciência não pode em nada mais do que as outras prescindir daquele refinado senso comum que cha mamos de teoria e que nos fornece as ferramentas para abordar tanto os fatos quanto os problemas práticos Por mais importante que possa ser a influência de novas massas de fatos não analisados especialmente fatos estatísticos sobre o nosso aparato teórico e sem dúvida a crescente riqueza de material factual deve sugerir continuamente novos modelos teóricos e com isso melhorar discreta e constantemente qual quer estrutura teórica existente em qualquer estágio dado algum conhecimento teórico constitui prérequisito para o tratamento de novos fatos ou seja de fatos ainda não incorporados aos teoremas existentes Se esse conhecimento permanecer rudimentar e inconsciente pode tra tarse de má teoria porém não deixará de ser teoria Não pude con vencerme por exemplo de que questões como a da fonte do juro sejam sem importância ou sem interesse Em qualquer hipótese só o seriam por culpa do autor Espero contudo fornecer dentro em breve o material detalhado que falta aqui em estudos mais realistas sobre o dinheiro e o crédito o juro e os ciclos O tema do livro forma um todo interligado Isso não se deve a nenhum plano preconcebido Quando comecei a trabalhar sobre as teo rias do juro e do ciclo quase há um quarto de século não suspeitava que esses assuntos se ligariam um ao outro e provariam estar intima mente relacionados aos lucros empresariais ao dinheiro ao crédito e semelhantes da maneira precisa a que me conduziu o desenrolar do raciocínio Mas logo se tornou claro que todos esses fenômenos e muitos outros secundários eram somente manifestações de um pro cesso distinto e que certos princípios simples que os explicariam tam bém explicariam todo o processo A conclusão por si mesma sugeria que esse corpo teórico poderia ser contrastado de modo proveitoso com a teoria do equilíbrio que explícita ou implicitamente sempre foi e ainda é o centro da teoria tradicional Empreguei a princípio os termos OS ECONOMISTAS 20 estática e dinâmica para essas duas estruturas mas agora deixei definitivamente de usálos nesse sentido em deferência ao Professor Frisch Foram substituídos por outros que talvez sejam canhestros Mas mantenho a distinção considerandoa reiteradamente de grande proveito em meu presente trabalho Isso ocorreu até mesmo além das fronteiras da economia pelo que pode ser chamado de teoria da evolução cultural que apresenta em pontos importantes notáveis analogias com a teoria econômica deste livro A distinção propriamente dita foi objeto de muita crítica adversa Mas é realmente artificial ou contrário à vida real manter separados os fenômenos implicados na administra ção de uma empresa dos implicados na criação de uma nova E isso tem necessariamente algo a ver com uma analogia mecânica Os que tiverem pendor para aprofundarse na história dos termos deveriam se assim se sentissem inclinados falar antes em uma analogia zoológica pois os termos estático e dinâmico embora num sentido diferente foram introduzidos na economia por John Stuart Mill Provavelmente Mill tomouos de Comte que por sua vez nos diz que os emprestou do zoólogo de Blainville Meus agradecimentos cordiais ao meu amigo Dr Redvers Opie que com inigualável gentileza empreendeu a árdua tarefa de traduzir um texto que se mostrou tão resistente a esse trabalho Decidimos omitir os dois apêndices aos capítulos I e II do original e também passagens e parágrafos esparsos Em alguns lugares a exposição foi modificada e um certo número de páginas foi reescrito Como o racio cínio em si não foi alterado em nenhum lugar penso ser supérfluo dar uma lista das modificações Joseph A Schumpeter Cambridge Massachusetts Março de 1934 SCHUMPETER 21 CAPÍTULO I O Fluxo Circular da Vida Econômica Enquanto Condicionado por Circunstâncias Dadas11 O processo social na realidade é um todo indivisível De seu grande curso a mão classificadora do investigador extrai artificialmente os fatos econômicos A designação de um fato como econômico já envolve uma abstração a primeira entre muitas que nos são impostas pelas condições técnicas da cópia mental da realidade Um fato nunca é pura ou exclusivamente econômico sempre existem outros aspectos em geral mais importantes Não obstante falamos de fatos econômicos na ciência exatamente como na vida comum e com o mesmo direito com o mesmo direito também com que podemos escrever uma história da literatura mesmo apesar da literatura de um povo estar inseparavelmente ligada a todos os outros elementos de sua existência Os fatos sociais resultam ao menos de modo imediato do com portamento humano Os fatos econômicos resultam do comportamento econômico Este último pode ser definido como comportamento dirigido para a aquisição de bens Nesse sentido também falamos de um motivo econômico para a ação de forças econômicas na vida social e econômica e assim por diante Todavia como estamos preocupados somente com aquele comportamento econômico que está dirigido à aquisição de bens por troca ou produção restringiremos seu conceito a esses tipos de aquisição enquanto deixaremos aos conceitos de motivo econômico e força econômica a maior abrangência porque necessitamos de ambos fora do campo mais estreito dentro do qual falaremos de comportamento econômico O campo dos fatos econômicos está assim antes de tudo deli mitado pelo conceito de comportamento econômico Todos devem ao menos em parte agir economicamente cada um deve ser um sujeito 23 11 Este título foi escolhido em referência a uma expressão usada por Philippovitch Cf seu Grundriss t II Introdução econômico Wirtschaftssubjekt ou depender de um deles Mas tão logo os membros dos grupos sociais se tornam especializados ocupa cionalmente podemos distinguir classes de pessoas cuja atividade prin cipal é o comportamento econômico ou os negócios de outras classes em que o aspecto econômico do comportamento é eclipsado por outros aspectos Nesse caso a vida econômica é representada por um grupo especial de pessoas embora todos os outros membros da sociedade também devam agir economicamente Podese dizer que a atividade daquele grupo constitui a vida econômica κατ εξοχην e dizer isso não mais acarreta uma abstração a despeito de todas as relações entre a vida econômica nesse sentido com as outras manifestações vitais das pessoas Como falamos dos fatos econômicos em geral assim o fazemos com o desenvolvimento econômico A explicação deste é aqui o nosso objetivo Antes de voltarmos à nossa discussão vamos nos prover neste capítulo dos princípios necessários e familiarizarnos com certos ins trumentos conceptuais dos quais careceremos adiante Além do mais o que se segue deve ser dotado por assim dizer de dentes que o engrenem com as rodas da teoria aceita Renuncio completamente à armadura dos comentários metodológicos Com referência a isso ob servese apenas que o que este capítulo oferece é na verdade parte do corpo principal da teoria econômica mas no essencial não requer do leitor nada que hoje em dia precise de justificação especial Além disso como só poucos dos resultados da teoria são necessários para nossos objetivos aproveitei com satisfação a oportunidade que se ofe recia de apresentar o que tenho a dizer da forma mais simples e não técnica possível Isso implica um sacrifício do rigor absoluto Decidime no entanto por esse caminho sempre que as vantagens de uma for mulação mais correta estejam em pontos sem maior importância para nós Com relação a isso reportome a outro livro meu12 Quando investigamos as formas gerais dos fenômenos econômicos sua uniformidade ou a chave para sua compreensão indicamos ipso facto que no momento desejamos considerálos como algo a ser inves tigado e procurado como o desconhecido e que desejamos seguir sua pista até o relativamente conhecido exatamente como qualquer ciên cia faz com seu objeto de investigação Quando conseguimos achar uma relação causal definida entre dois fenômenos nosso problema estará resolvido se aquilo que representou o papel causal for nãoeconômico Teremos então realizado aquilo de que nós como economistas somos capazes e devemos dar lugar às outras disciplinas Se por outro lado o próprio fator causal é de natureza econômica devemos continuar em nossos esforços de explanação até que pousemos numa base nãoeco OS ECONOMISTAS 24 12 Das Wesen und der Hauptinhalt der Theoretischen Nationalökonomie doravante citado como Wesen nômica Isso é verdade para a teoria geral assim como para casos concretos Se pudesse dizer por exemplo que o fenômeno da renda da terra se funda em diferenças na qualidade dos terrenos a explicação econômica estaria completa Se puder encontrar a origem de movimen tos particulares de preços em regulamentações políticas do comércio então fiz o que podia como teórico da economia porque as regulamen tações políticas do comércio não têm como objetivo imediato a aquisição de bens por meio de troca ou produção e por isso não se incluem em nosso conceito de fatos puramente econômicos Estamos sempre preo cupados em descrever as formas gerais dos elos causais que ligam os dados econômicos aos nãoeconômicos A experiência nos ensina que isso é possível Os eventos econômicos têm sua lógica que todo homem prático conhece e que temos apenas de formular conscientemente com precisão Ao fazêlo consideraremos para maior simplicidade uma co munidade isolada podemos ver bem a essência das coisas que é o único interesse deste livro tanto nesse caso como em outro mais complicado Por isso delinearemos as características principais de uma ima gem mental do mecanismo econômico E para isso pensaremos pri meiramente num Estado organizado comercialmente no qual vigorem a propriedade privada a divisão do trabalho e a livre concorrência Se alguém que nunca tenha visto ou ouvido falar em tal Estado observasse que um agricultor produz trigo para ser consumido como pão numa cidade distante verseia impelido a perguntar como o agri cultor sabia que esse consumidor queria pão e exatamente naquela quantidade Seguramente surpreenderseia ao ter conhecimento de que o agricultor não sabia onde nem por quem o trigo seria consumido Ainda mais poderia observar que todas as pessoas por cujas mãos o trigo deve passar em seu caminho até o consumidor final não sabiam nada sobre este com a possível exceção dos últimos vendedores do pão e mesmo estes devem em geral produzir ou comprar antes de saber que esse consumidor particular vai adquirilo O agricultor po deria responder facilmente à questão a ele formulada longa experiên cia13 em parte herdada ensinoulhe quanto produzir para alcançar maior vantagem a experiência ensinoulhe a conhecer a extensão e a intensidade da demanda com que se deve contar A essa quantidade ele se atém tanto quanto pode e só a altera gradualmente sob a pressão das circunstâncias O mesmo vale para os outros itens dos cálculos do agricultor quer calcule tão perfeitamente quanto um grande industrial quer che gue a suas decisões meio inconscientemente e por força do hábito Em geral conhece dentro de certos limites os preços das coisas que deve comprar sabe quanto de seu próprio trabalho deve empregar quer SCHUMPETER 25 13 Cf WIESER Der natürliche Wert onde esse ponto foi elaborado e pela primeira vez elucidado seu sentido avalie este segundo princípios puramente econômicos quer considere o trabalho em sua própria terra com olhos bastante diferentes de quais quer outros conhece o método de cultivo tudo através de longa experiência Também por experiência todas as pessoas de quem compra conhecem a extensão e a intensidade de sua demanda Como o fluxo circular dos períodos econômicos que é o mais notável dos ritmos econômicos marcha relativamente rápido e como em todo período econômico ocorre essencialmente a mesma coisa o mecanismo da troca econômica se opera com grande precisão Os períodos econômicos pas sados governam a atividade do indivíduo num caso como o nosso não apenas porque o ensinaram severamente o que deve fazer mas também por outra razão Durante todos os períodos o agricultor precisa viver seja diretamente do produto físico do período precedente seja dos rendimentos que puder obter de seu produto Todos os períodos precedentes ademais emaranharamno numa rede de conexões eco nômicas e sociais da qual ele não pode livrarse facilmente Legaramlhe meios e métodos de produção definidos Tudo isso o mantém firmemente na sua trilha com grilhões de ferro Aqui aparece uma força que tem considerável significado para nós e que logo nos ocupará mais inten samente No entanto nesse momento apenas afirmaremos que na aná lise que se segue suporemos sempre que em cada período econômico todos vivem de bens produzidos no período precedente o que é pos sível se a produção se estende pelo passado adentro ou se o produto de um fator de produção flui continuamente Isso representa meramente uma simplificação da exposição O caso do agricultor pode agora ser generalizado e um tanto depurado Suponhamos que cada um venda toda a sua produção e na medida em que a consome é o seu próprio freguês já que na verdade tal consumo privado é determinado pelo preço do mercado ou seja indi retamente pela quantidade de outros bens obtenível com a restrição do consumo privado de seu próprio produto e suponhamos ao contrário que a quantidade de consumo privado atue sobre o preço de mercado exatamente como se a quantidade em questão aparecesse realmente no mercado Todos os homens de negócios estão portanto na posição do agricultor São todos ao mesmo tempo compradores com o pro pósito de produzir e consumir e vendedores Nesta análise os tra balhadores podem ser concebidos de maneira similar ou seja seus serviços podem ser incluídos na mesma categoria que outras coisas suscetíveis de comercialização Ora como cada um desses homens de negócios tomado individualmente produz seu produto e encontra seus compradores com base em sua experiência exatamente como o nosso agricultor o mesmo deve ser verdade para todos tomados em conjunto À parte os imprevistos que obviamente podem ocorrer por variados motivos todos os produtos devem ser vendidos pois realmente só serão OS ECONOMISTAS 26 produzidos tendo como referência as possibilidades do mercado empi ricamente conhecidas Insistamos nisso A quantidade de carne que o açougueiro vende depende de quanto seu freguês o alfaiate comprará e a que preço Isso depende todavia dos resultados financeiros dos negócios deste último estes novamente dependem das necessidades e do poder de compra de seu freguês o sapateiro cujo poder de compra depende por sua vez das necessidades e do poder de compra das pessoas para quem produz e assim por diante até que finalmente chegamos a al guém cujos rendimentos provenham da venda de seus bens ao açou gueiro Essa concatenação e dependência mútua das quantidades de que consiste o cosmo econômico é sempre visível em qualquer das possíveis direções que alguém queira escolher para seguir Onde quer que se irrompa para onde quer que se mova a partir daí devese sempre voltar ao ponto de partida talvez após um número de passos bem grande embora finito A análise nem chega a um ponto final natural nem esbarra com uma causa ou seja um elemento que faça mais para determinar outros elementos do que ser por eles determinado Nosso quadro será mais completo se representarmos o ato de consumir de forma diferente da costumeira Todos por exemplo con sideramse consumidores de pão mas não de terra serviços ferro e assim por diante Se considerarmos as pessoas como consumidores des sas outras coisas podemos ver mais claramente o rumo tomado pelos bens individuais no fluxo circular14 Ora é óbvio que todas as unidades de todas as mercadorias não viajam sempre pela mesma estrada e em direção ao mesmo consumidor como viajou no período econômico an terior seu predecessor no processo de produção Mas podemos supor que isso efetivamente ocorre sem nenhuma alteração essencial Pode mos imaginar que ano após ano todo emprego recorrente de fontes permanentes de capacidade produtiva procura alcançar o mesmo con sumidor De qualquer modo o resultado do processo é o mesmo que se teria se isso ocorresse Seguese pois que em qualquer lugar do sistema econômico uma demanda está por assim dizer esperando solicitamente cada oferta e que em nenhum lugar do sistema econô mico há mercadorias sem complementos ou seja outras mercadorias em posse de pessoas que desejam trocálas pelos bens anteriores sob condições empiricamente determinadas Do fato de que todos os bens encontram um mercado seguese novamente que o fluxo circular da vida econômica é fechado em outras palavras que os vendedores de todas as mercadorias aparecem novamente como compradores em me dida suficiente para adquirir os bens que manterão seu consumo e seu SCHUMPETER 27 14 Cf MARSHALL A Principles Livro Sexto assim como sua conferência The Old Gene ration of Economists and the New para quem essa concepção cumpre o mesmo papel equipamento produtivo no período econômico seguinte e no nível obtido até então e viceversa As famílias e as empresas tomadas individualmente agem então de acordo com elementos empiricamente dados e de uma maneira tam bém empiricamente determinada Obviamente isso não significa que não possa haver alguma mudança em sua atividade econômica Os dados podem mudar e todos agirão de acordo com essa mudança logo que for percebida Mas todos se apegarão o mais firmemente possível aos métodos econômicos habituais e somente se submeterão à pressão das circunstâncias se for necessário Assim o sistema econômico não se modificará arbitrariamente por iniciativa própria mas estará sempre vinculado ao estado precedente dos negócios Isso pode ser chamado de princípio de continuidade de Wieser15 Se o sistema econômico realmente não se modifica por si não estaremos desprezando nada de essencial com relação ao nosso presente objetivo se supusermos simplesmente que ele permanece como é mas estaremos expressando meramente um fato com sua precisão ideal E se descrevermos um sistema completamente imutável é certo que fa zemos uma abstração mas apenas com o intuito de expor a essência do que efetivamente acontece Provisoriamente nós o faremos Não se trata de algo contrário à teoria ortodoxa mas no máximo apenas contrário à sua exposição usual que não expressa claramente nosso ponto de vista16 Podese chegar ao mesmo resultado por outra via O total de mercadorias produzidas e comercializadas numa comunidade em dado período econômico pode ser chamado de produto social Para nossos propósitos não é necessário aprofundarnos mais no significado do con ceito17 O produto social em si não existe É tão pequeno o resultado da atividade sistemática a que se aspira conscientemente quanto o sistema econômico como tal é uma economia que funciona segundo um plano uniforme Mas é uma abstração útil Podemos imaginar que ao fim do período econômico os produtos de todos os indivíduos formam em certo lugar uma pilha que é então distribuída segundo certos prin cípios Como não acarreta nenhuma mudança essencial dos fatos a suposição é bastante admissível até esse ponto Podemos então dizer que cada indivíduo lança sua contribuição nesse grande reservatório social e posteriormente recebe algo dele A cada contribuição corres OS ECONOMISTAS 28 15 Exposto mais recentemente no trabalho sobre o problema do valor do dinheiro Schriften des Vereins für Sozialpolitik Relatórios da Sessão de 1909 16 Cf Wesen Livro Segundo 17 Cf sobre esse ponto especialmente Adam Smith e A Marshall O conceito é quase tão antigo quanto a economia e como se sabe tem um passado acidentado que faz necessário usálo com precaução Para conceitos ligados cf também FISHER Capital and Income WAGNER A Grundlegung E finalmente PIGOU Preferential and Protective Tariffs em que se faz muito uso do conceito de Dividendo Nacional Vejase também o seu Economics of Welfare ponde em algum ponto do sistema uma reivindicação de outro indivíduo a cota de cada um está disponível em algum lugar E como todos sabem por experiência com quanto devem contribuir para obter o que querem tendo em vista a condição de que cada cota acarreta uma certa contribuição o fluxo circular do sistema está fechado e todas as contribuições e cotas devem se cancelar reciprocamente qualquer que seja o princípio segundo o qual é feita a distribuição Até agora foi feita a suposição de que todas as quantidades envolvidas são dadas empiricamente Podese aperfeiçoar o quadro fazer com que proporcione melhor percepção do funcionamento do sistema econômico por meio de um artifício bem conhecido Supomos que toda essa experiência não existe e a reconstruímos ab ovo18 como se as mesmas pessoas com a mesma cultura o mesmo gosto o mesmo conhecimento técnico e o mesmo estoque inicial de bens de consumo e de produção19 mas sem o auxílio da experiência devessem encontrar seu caminho em direção à meta do maior bemestar econômico possível mediante um esforço consciente e racional Com isso não inferimos que na vida prática as pessoas sejam capazes de tal esforço20 Simplesmente queremos trazer à luz o rationale do comportamento econômico fora de considerações sobre a psicologia efetiva das empresas e famílias em observação21 Tampouco pretendemos proporcionar um esboço de história econômica O que que remos analisar não é o modo como o processo econômico se desenvolve historicamente até o estágio em que efetivamente o encontramos mas o funcionamento de seu mecanismo ou organismo em um dado estágio de desenvolvimento Esta análise sugere elabora e usa as ferramentas conceptuais com as quais já estamos familiarizados agora A atividade econômica pode ter qualquer motivo até mesmo espiritual mas seu significado é sempre a satisfação de necessidades Daí a importância fundamental desses conceitos e proposições que derivamos do fato das necessidades sendo o primeiro deles o conceito de utilidade e seu derivado o de utilidade marginal ou para usar um termo mais moderno o coeficiente de escolha Continuaremos a expor certos teoremas sobre a distribuição dos recursos na gama de usos possíveis sobre a complementaridade e SCHUMPETER 29 18 Esse método se deve a Léon Walras 19 Como todo leitor de J B Clark sabe em sentido estrito é necessário considerar esses estoques não em suas formas efetivas como tantos arados tantos pares de botas etc mas como forças produtivas acumuladas que podem a qualquer momento e sem perda ou choque ser transformadas em quaisquer mercadorias específicas desejadas 20 Portanto há uma má interpretação na objeção levantada tão freqüentemente à teoria pura de que esta supõe que as únicas forças em efetivo funcionamento na vida econômica são o motivo hedonístico e a conduta perfeitamente racional 21 Seguramente a psicologia vem depois para explicar o comportamento real e os seus desvios do quadro racional Nosso raciocínio nos capítulos seguintes gira amplamente em torno de uma espécie desses desvios a força do hábito e os motivos nãohedonísticos Mas essa é outra questão a rivalidade entre bens e logicamente chegaremos a relações de troca preços e à antiga e empírica lei da oferta e da procura Finalmente teremos uma idéia preliminar de um sistema de valores e das condições para o seu equilíbrio22 A produção é por um lado condicionada pelas propriedades físicas dos objetos materiais e dos processos naturais A esse respeito como observou John Rae23 para a atividade econômica pode ser apenas uma questão de observar o resultado dos processos naturais e tirar o máximo deles A porção do reino dos fatos físicos que pode ser relevante para a economia não pode ser fixada de uma só vez Conforme o tipo de teoria que se tem em vista coisas como a lei dos rendimentos físicos decrescentes pode significar muito ou pouco no tocante a resultados especificamente econômicos Não há relação entre a importância de um fato para o bemestar da humanidade e sua importância dentro do empenho de explanação da teoria econômica Mas é claro como demonstra o exemplo de BöhmBawerk24 que em qualquer momento podemos ser levados a introduzir novos fatos técnicos em nosso esquema de trabalho Os fatos da organização social não se situam na mesma classe No entanto são equivalentes aos fatos técnicos no sentido de que estão fora do domínio da teoria econômica e são para ela meros dados25 O outro lado da questão pelo qual podemos penetrar muito mais profundamente na essência da produção do que pelo seu lado físico e social é o propósito concreto de todo ato de produção O objetivo que o homem econômico persegue ao produzir e que explica por que existe certo tipo de produção põe claramente o seu selo sobre o método e o volume da produção Obviamente não se requer nenhum argumento para provar que deva ser determinante para o quê e o porquê da produção dentro do quadro dos meios dados e das necessidades obje tivas Esse propósito só pode ser a criação de coisas úteis ou objetos de consumo Numa economia que não seja de trocas só pode tratarse de utilidades para o consumo dentro do sistema Nesse caso todo in divíduo produz diretamente para o consumo ou seja para satisfazer suas necessidades É claro que a natureza e a intensidade das neces sidades desse produto são decisivas dentro das possibilidades práticas As condições externas dadas e as necessidades do indivíduo aparecem como dois fatores decisivos no processo econômico que contribuem para OS ECONOMISTAS 30 22 Posso referirme aqui a toda a literatura sobre a teoria da utilidade marginal e seus seguidores 23 Cf a edição de seu trabalho feita por MIXTER sob o título The Sociological Theory of Capital A poderosa profundidade e a originalidade de seu trabalho ainda podem recom pensar uma leitura cuidadosa por parte do estudante moderno 24 A sua lei dos retornos que crescem com a duração do período de produção pareceme ser a única tentativa bemsucedida de introduzir explicitamente o elemento tempo nas equações da produção 25 Por essa como por outras razões a distinção nítida traçada por J S Mill entre produção e distribuição pareceme ser menos do que satisfatória a determinação do resultado A produção segue as necessidades é por assim dizer puxada por elas Mas o mesmo é perfeitamente válido mutatis mutandis para uma economia de trocas Esse segundo lado da produção faz dela desde o início um problema econômico Este deve ser distinguido do problema puramente tecnológico da produção Há um contraste entre esses aspectos fre qüentemente testemunhado na vida econômica na oposição pessoal entre o gerente comercial e o técnico de uma empresa Muitas vezes no processo produtivo vemos mudanças recomendadas por um lado e rejeitadas pelo outro por exemplo o engenheiro pode recomendar um novo processo que o diretor comercial rejeita com o argumento de que não compensará O engenheiro e o homem de negócios podem ambos expressar seus pontos de vista assim seu objetivo é conduzir adequa damente o negócio e sua avaliação deriva de seu conhecimento dessa adequação À parte os equívocos a falta de conhecimento dos fatos e assim por diante a diferença de avaliação só pode vir do fato de que cada um tem em vista um tipo diferente de adequação O que o homem de negócios quer dizer quando fala em adequação é claro Referese à vantagem comercial e podemos expressar assim sua visão os recursos que seriam requeridos para abastecer a máquina poderiam ser empre gados em outro lugar com mais vantagem O diretor comercial quer dizer que numa economia que não fosse de trocas a satisfação das necessidades não seria incrementada mas pelo contrário reduzida por tal alteração do processo produtivo Se isso é verdade qual pode ser o significado do ponto de vista do tecnólogo que tipo de adequação tem ele em mente Se a satisfação das necessidades é o único fim de toda a produção então não há realmente nenhum sentido econômico em recorrer a uma medida que a prejudica O homem de negócios está certo em não seguir o engenheiro desde que sua objeção esteja correta objetivamente Desdenhamos a alegria um tanto artística de aperfeiçoar tecnicamente o aparato produtivo Efetivamente na vida prática ob servamos que o elemento técnico deve submeterse quando colide com o econômico Mas isso não é um argumento contra sua existência e seu significado independentes e contra a avaliação correta presente no ponto de vista do engenheiro Pois embora o objetivo econômico guie os métodos técnicos tal como usados na prática é bem razoável aclarar a lógica interna dos métodos sem levar em conta as barreiras práticas Vemos isso melhor num exemplo Suponhase que uma máquina a vapor e todas as suas partes componentes obedecem à adequação eco nômica À luz dessa adequação fazse o máximo com ela Então não haveria sentido em tirar maior proveito na prática aquecendoa mais contratando homens mais experientes para trabalhar nela e aperfei çoandoa se isso não se pagasse ou seja se fosse possível prever que o combustível as pessoas mais talentosas os melhoramentos e o au mento de matériasprimas custariam mais do que renderiam Mas é SCHUMPETER 31 bem razoável considerar as condições sob as quais a máquina poderia fazer mais e quanto a isso quais melhoramentos são possíveis com o conhecimento atual e assim por diante Pois então todas essas medidas já estarão elaboradas para o momento em que se tornarem vantajosas Também é sempre útil pôr o ideal ao lado do real de modo que as possibilidades sejam deixadas de lado não por ignorância mas por razões econômicas bem ponderadas Em resumo todo método de pro dução em uso num momento dado se curva diante da adequação eco nômica Esses métodos consistem em idéias de conteúdo não somente econômico mas também físico As últimas têm seus problemas e uma lógica própria e o papel da tecnologia é pensar neles sistematicamente até resolvêlos sem considerar de início o fator econômico decisivo ao final e na medida em que o elemento econômico não exigir algo dife rente levar à prática essas soluções é produzir no sentido tecnológico Do mesmo modo que em última instância a conveniência regula a produção tecnológica assim como a econômica e a distinção entre as duas está na diferença do caráter dessa conveniência assim também uma linha de pensamento um pouco diferente nos mostra a princípio uma analogia fundamental e depois a mesma distinção A produção não cria nada no sentido físico considerada tanto tecnológica quanto economicamente Em ambos os casos só pode influenciar as coisas e os processos ou forças Ora para o que se segue necessitamos de um conceito que abarque esse utilizar e esse influenciar Eles in cluem muitos métodos diferentes de usar e de se comportar em relação aos bens todos os tipos de mudanças de localização e de processos mecânicos químicos e outros Mas tratase sempre de mudar o estado existente de satisfação de nossas necessidades de mudar a relação recíproca entre as coisas e forças de unir algumas e separar outras Considerandose tanto econômica quanto tecnologicamente produzir significa combinar as forças e coisas ao nosso alcance Todos os métodos de produção significam algumas dessas combinações técnicas Métodos de produção diferentes só podem ser diferenciados pela maneira com que se dão essas combinações ou seja pelos objetos combinados ou pela relação entre suas quantidades Todo ato concreto de produção incorpora a nosso ver é a nosso ver certa combinação Esse conceito pode ser estendido até aos transportes e outras áreas em suma a tudo que for produção no sentido mais amplo Também consideraremos como combinações uma empresa como tal e mesmo as condições pro dutivas de todo o sistema econômico Esse conceito exerce um papel importante em nossa análise Mas não coincidem as combinações econômicas e as tecnológicas as primeiras ligadas às necessidades e meios existentes as últimas à idéia básica dos métodos O objetivo da produção tecnológica é na verdade determinado pelo sistema econômico a tecnologia só desen volve métodos produtivos para bens procurados A realidade econômica OS ECONOMISTAS 32 não executa necessariamente os métodos até que cheguem à sua con clusão lógica com inteireza tecnológica mas subordina sua execução a pontos de vista econômicos O ideal tecnológico que não leva em conta as condições econômicas é modificado A lógica econômica prevalece sobre a tecnológica E em conseqüência vemos na vida real por toda a parte à nossa volta cordas rotas em vez de cabos de aço animais de tração defeituosos ao invés de linhagens de exposição o trabalho manual mais primitivo ao invés de máquinas perfeitas uma desajeitada economia baseada no dinheiro em vez de na circulação de cheques e assim por diante O ótimo econômico e o perfeito tecnologicamente não precisam divergir no entanto o fazem com freqüência não apenas por causa da ignorância e da indolência mas porque métodos que são tecnologicamente inferiores ainda podem ser os que melhor se ajustam às condições econômicas dadas Os coeficientes de produção representam a relação quantitativa dos bens de produção numa unidade de produto e portanto são uma característica essencial da combinação Nesse ponto o elemento econô mico contrasta agudamente com o tecnológico Aqui o ponto de vista econômico não apenas decidirá entre dois métodos de produção dife rentes mas até mesmo atuará sobre os coeficientes no interior de qual quer método dado já que cada um dos meios de produção podem ser em certa medida substituídos por um outro ou seja a falha de um pode ser compensada por incremento de outro sem mudar o método de produção por exemplo um decréscimo da energia a vapor substituído por um aumento do trabalho manual e viceversa26 Caracterizamos o processo de produção mediante o conceito de combinações de forças produtivas Os resultados dessas combinações são os produtos Agora devemos definir precisamente o que é que deve ser combinado falando de modo geral todos os tipos possíveis de objetos e forças Em parte consistem também em produtos e em parte em objetos ofertados pela natureza Muitas forças naturais no sentido físico também assumirão para nós o caráter de produto como é por exemplo o caso da corrente elétrica Elas abrangem coisas parcialmente materiais parcialmente imateriais Além disso é em geral uma questão de interpretação conceber um bem como um produto ou como um meio O trabalho por exemplo é passível de ser visto como o produto dos bens consumidos pelo trabalhador ou como um meio original de pro dução Decidimos pela última alternativa a nosso ver o trabalho não é um produto Muitas vezes a classificação de um bem nessa ou naquela categoria depende do ponto de vista do indivíduo de modo que o mesmo bem pode ser bem de consumo para uma pessoa e meio de produção para outra Da mesma maneira o caráter de um dado bem muitas SCHUMPETER 33 26 Essas variações estão explicadas muito nítida e claramente por CARVER The Distribution of Wealth vezes depende do uso que dele se faz A literatura teórica está repleta da discussão dessas coisas especialmente a dos primeiros tempos Con tentarnosemos com essa referência A questão seguinte todavia é mais importante É comum classificar os bens em ordens de acordo com sua distância do ato final de consumo27 Os bens de consumo são da primeira ordem os bens de cuja combinação se originam imediatamente os bens de consumo são da segunda ordem e assim por diante com ordens cada vez mais altas ou mais remotas Não se deve esquecer que só os bens prontos para o consumo nas mãos dos consumidores recaem na primeira ordem e que o pão na padaria por exemplo só se coloca na primeira ordem estritamente falando ao ser combinado com o trabalho do entregador Os bens das ordens mais baixas se não forem de modo imediato dádivas da natureza sempre se originam de uma combinação de bens de ordens superiores Embora o esquema possa ser construído de outra maneira é melhor para os nossos propósitos classificar um bem na mais alta das ordens em que pode aparecer De acordo com isso o trabalho por exemplo é um bem da ordem mais alta porque entra no início de toda produção embora também seja encontrado em todos os outros estágios Em combinações ou processos produtivos su cessivos cada bem amadurece para o consumo pela adição de outros bens pertencentes a um maior ou menor número de ordens com o auxílio de tais adições abre seu caminho para o consumidor tal como um ribeirão que auxiliado pelo influxo de riachos rompe seu curso através das pedras penetrando sempre mais profundamente na terra Deve ser tomado em conta agora o fato de que quando olhamos as ordens de baixo para cima os bens se tornam crescentemente amor fos perdem mais e mais aquela forma característica aquelas qualidades precisas que os predestinam a um uso e os excluem de todos os outros Quanto mais alto subimos nas ordens dos bens mais eles perdem sua especialização sua eficácia para um propósito particular e mais amplos são seus usos potenciais mais geral o seu sentido Continuamente encontramos menos tipos distinguíveis de bens e as categorias indi viduais tornamse correspondentemente mais abrangentes como quan do nos elevamos a um sistema de conceitos lógicos e chegamos a um número cada vez menor deles de conteúdo sempre mais diluído mas com alcance cada vez mais amplo A árvore genealógica dos bens tor nase progressivamente mais fina Isso significa simplesmente que quanto mais longe dos bens de consumo escolhermos nosso ponto de vista mais numerosos se tornam os bens de primeira ordem que des cendem de bens similares de ordens superiores Quando quaisquer bens forem inteira ou parcialmente combinações de meios de produção si OS ECONOMISTAS 34 27 Cf MENGER C Grundsätze BÖHMBAWERK Positive Theorie des Kapitals milares dizemos que são aparentados na produção Portanto podemos dizer que o parentesco produtivo dos bens aumenta com sua ordem Assim sendo se subimos na hierarquia dos bens chegamos fi nalmente aos que são para os nossos objetivos os últimos elementos da produção Não é necessária maior argumentação para dizer que esses últimos elementos são o trabalho e as dádivas da natureza ou terra os serviços do trabalho e da terra28 Todos os outros bens con sistem pelo menos em um destes e a maioria em ambos Podemos converter todos os bens em terra e trabalho no sentido de que po demos conceber todos os bens como feixes dos serviços do trabalho e da terra Por outro lado os bens de consumo são uma classe especial caracterizada por sua capacidade de ser consumida Mas os produtos remanescentes ou seja os meios de produção produzidos são por um lado apenas a encarnação dos dois bens de produção originais por outro lado bens de consumo potenciais ou melhor partes de bens de consumo potenciais Até agora não encontramos nenhuma ra zão e ficará claro mais tarde que não há nenhuma razão para que devêssemos ver neles um fator de produção independente Nós os con vertemos em trabalho e terra Também podemos transformar os bens de consumo e de modo inverso conceber os fatores produtivos originais como bens de consumo em potencial Ambas as perspectivas todavia são aplicáveis apenas aos meios de produção produzidos pois não têm existência em separado Colocase agora a questão em que relação os dois fatores pro dutivos originais se encontram um diante do outro Algum dos dois tem precedência sobre o outro ou seus papéis são essencialmente di ferentes Não podemos responder a isso tendo um ponto de vista geral seja filosófico seja físico ou qualquer outro mas somente do ângulo econômico Para nós é uma questão apenas de como se representa a sua relação para os propósitos do sistema econômico Todavia a res posta que deve ser válida no reino da doutrina econômica não pode ser válida em geral mas apenas com respeito a uma construção par ticular do sistema teórico Assim os fisiocratas por exemplo respon deram afirmativamente à primeira questão e na verdade favoravel mente à terra de forma perfeitamente correta em si mesma Na medida em que em sua visão não expressavam nada além do fato de que o trabalho não pode criar nenhuma matéria física nova nada há que se possa objetarlhes É apenas uma questão de quanto é fecunda essa concepção no campo econômico A concordância nesse ponto com os fisiocratas por exemplo não impede que neguemos nossa apro SCHUMPETER 35 28 Isso foi enfatizado de modo particularmente eloqüente por O Effertz Quando se reflete sobre o quanto os economistas clássicos enfatizaram unilateralmente o trabalho como isso estava tão fortemente ligado a alguns de seus resultados e que realmente só BöhmBawerk atingiu consistência completa nesse ponto é preciso reconhecer a ênfase de Effertz sobre o assunto como um serviço efetivamente importante vação a seus argumentos posteriores Adam Smith também respondeu afirmativamente à mesma questão mas em favor do trabalho Também isso não é falso em si mesmo poderia até ser correto tomar essa con cepção como ponto de partida Expressa o fato de que o uso da terra não demanda de nós nenhum sacrifício sob forma de desutilidade e se ganhássemos algo com isso também poderíamos adotar essa con cepção É verdade que Adam Smith pensava claramente no potencial produtivo oferecido pela natureza como bens livres e atribuiu o fato de não serem assim efetivamente considerados no sistema econômico à sua ocupação pelos donos da terra Pensava claramente que numa comunidade sem propriedade privada da terra somente o trabalho seria um fator nos cálculos econômicos Ora isso é decididamente in correto mas o seu ponto de partida não é em si mesmo tão indefen sável A maior parte dos economistas clássicos mais que todos Ri cardo põe o elemento trabalho em primeiro plano Podiam fazêlo porque por meio de sua teoria da renda eliminavam a terra e a de terminação de seu valor Se a teoria da renda fosse defensável então certamente poderíamos nos contentar com essa concepção Mesmo um espírito tão independente como Rae contentouse com ela precisamente porque aceitou aquela teoria da renda Finalmente um terceiro grupo de escritores respondeu negativamente à nossa questão Ao lado destes nos colocamos Para nós o ponto decisivo é que ambos os fatores pro dutivos originais são igualmente indispensáveis à produção e na ver dade pela mesma razão e da mesma maneira A segunda questão também pode ser respondida de vários modos bastante independente da resposta à primeira Assim Effertz por exemplo atribui um papel ativo ao trabalho e um passivo à terra O motivo por que o faz é muito claro Pensa ele que o trabalho é o elemento motivador na produção enquanto a terra representa o objeto em que o trabalho se manifesta Nisso está certo mas sua orientação não nos proporciona nenhum conhecimento novo Pelo lado técnico dificilmente podese adotar a concepção de Effertz mas esse aspecto não é decisivo para nós Só nos interessa o papel desempenhado pelos dois fatores produtivos originais nas deliberações e procedimentos econômicos dos indivíduos e a esse respeito os dois se mostram bem capazes O tra balho assim como a terra é economizado O trabalho como a terra é avaliado é usado segundo critérios econômicos e ambos recebem igual enfoque econômico E nenhum dos casos envolve qualquer outra coisa Como nada mais é relevante para nossos objetivos com relação aos dois fatores de produção originais colocálosemos em termos de igualdade Nessa interpretação concordamos com os outros teóricos da utilidade marginal Embora não tenhamos mais nada a dizer sobre o fator produtivo terra é a nosso ver aconselhável examinar um pouco mais detidamente o outro fator o trabalho Passando por cima das diferenças entre tra OS ECONOMISTAS 36 balho produtivo e improdutivo entre trabalho usado direta e indire tamente na produção e ultrapassando as distinções do mesmo modo irrelevantes entre trabalho mental e manual e entre qualificado e nãoqualificado devemos analisar duas outras distinções que são sig nificativas na medida em que podemos partir delas para fazer uma observação que é essencial para nós São as distinções entre dirigente e dirigido e entre trabalho assalariado e autônomo O que distingue o trabalho dirigente do dirigido parece à primeira vista ser muito fun damental Há duas características principais Em primeiro lugar o trabalho dirigente tem uma posição mais elevada na hierarquia do organismo produtivo Essa direção e supervisão do trabalho executor parece erguer o trabalho dirigente acima e fora da classe do outro trabalho Enquanto o trabalho executor está simplesmente no mesmo nível que os usos da terra e do ponto de vista econômico tem absolu tamente a mesma função que estes o trabalho dirigente está claramente numa posição predominante tanto em contraste com o trabalho executor quanto com os usos da terra É como se fosse um terceiro fator produtivo A outra característica que o separa do trabalho dirigido parece cons tituir sua natureza o trabalho dirigente tem algo criativo no sentido de que estabelece seus próprios fins Podemos delinear a distinção entre trabalho autônomo e assalariado do mesmo modo que a exis tente entre trabalho dirigente e dirigido O trabalho autônomo é algo peculiar precisamente na medida em que possui a função de trabalho dirigente ao passo que de resto não difere em nada do trabalho assalariado Se portanto um indivíduo autônomo produz por sua própria conta e também faz trabalho executor então divi dese por assim dizer em dois indivíduos a saber um diretor e um trabalhador no sentido usual É fácil ver que a característica de estar num posto mais alto a própria função de superintendência não constitui nenhuma distinção econômica essencial A simples circunstância que coloca um trabalhador num posto acima do de outro numa organização industrial numa po sição de direção e superintendência não torna seu trabalho em nada distinto Mesmo que o líder nesse sentido não mova um dedo nem contribua em nada diretamente para a produção ainda assim realiza trabalho indireto no sentido usual exatamente como digamos o vigia Muito mais importância parece ser atribuída ao outro elemento que consiste na decisão sobre a direção o método e a quantidade da pro dução Mesmo que se admita que o referido posto mais elevado não significa muito economicamente embora talvez bastante sociologi camente ainda se verá um traço distintivo essencial nessa função de tomar decisões Mas vemos de imediato que a necessidade de tomar decisões ocorre em qualquer trabalho Nenhum aprendiz de sapateiro pode con sertar um sapato sem tomar algumas resoluções e sem decidir inde SCHUMPETER 37 pendentemente algumas questões por menores que sejam O que e o como lhe são ensinados mas isso não o isenta da necessidade de uma certa independência Quando um trabalhador de uma empresa de eletricidade entra numa casa para consertar o sistema de iluminação ele mesmo precisa decidir algo sobre o que e o como Um vendedor pode até ter que participar nas decisões relativas aos preços o esta belecimento do preço de um artigo pode ser dentro de certos limites deixado a cargo dele apesar disso ele não é nem líder nem ne cessariamente autônomo Ora o diretor ou o proprietário indepen dente de um negócio certamente tem que decidir mais e tomar a maior parte das decisões Mas o quê e o porquê também lhe são ensinados Ele conhece antes de tudo o como aprendeu sobre a produção técnica e sobre todos os dados econômicos pertinentes O que ainda há para ser decidido difere apenas em grau das decisões do aprendiz de sapa teiro E o que lhe é prescrito pela demanda Não estabelece ele ne nhuma meta particular mas as circunstâncias dadas o forçam a agir de uma maneira definida Certamente os dados podem mudar e então dependerá de sua capacidade o quão rapidamente reage e com quanto sucesso Mas é assim sempre que leva a cabo qualquer trabalho Ele age não com base nas condições normais das coisas mas preferivelmente de acordo com certos sintomas aos quais aprendeu a prestar atenção especialmente as tendências que de imediato lhe mostram a demanda de seus fregueses E a essas tendências ele se entrega passo a passo de modo que normalmente apenas elementos de menor significação podem serlhe desconhecidos Dessa consideração todavia seguese que na me dida em que os indivíduos em seu comportamento econômico tiram sim plesmente conclusões de circunstâncias conhecidas e é disso de fato que estamos tratando e que a economia sempre tratou não há nenhuma importância se são dirigidos ou dirigentes O comportamento dos últimos está sujeito às mesmas regras que o dos primeiros e é uma tarefa fun damental da teoria econômica estabelecer essa regularidade mostrar que o aparentemente fortuito é na realidade estritamente determinado Portanto em nossos pressupostos os meios de produção e o pro cesso produtivo não têm em geral nenhum líder real ou melhor o líder real é o consumidor As pessoas que dirigem as empresas de negócios apenas executam o que lhes é prescrito pelas necessidades ou pela demanda e pelos meios e métodos de produção dados Os in divíduos só têm influência na medida em que são consumidores na medida em que expressam uma demanda Nesse sentido de fato todo indivíduo participa na direção da produção não apenas aquele a quem coube o papel de diretor de um negócio mas todos especialmente o trabalhador em sentido mais estrito Em nenhum outro sentido há uma direção pessoal da produção Os dados que regularam o sistema econômico no passado são bem conhecidos e se permanecerem inalte rados o sistema continuará no mesmo caminho As mudanças pelas OS ECONOMISTAS 38 quais os dados podem passar não são tão comuns mas em princípio o indivíduo as segue do melhor modo que pode Ele não altera nada espontaneamente só altera o que as condições já estão alterando por sua própria conta remove as discrepâncias que emergem entre os dados e o seu comportamento se as condições dadas mudam e as pessoas tentam continuar a atuar do mesmo modo Qualquer indivíduo pode agir de fato de maneira diferente ao nosso modo de ver mas na medida em que as mudanças resultam simplesmente da pressão da necessidade objetiva qualquer papel criativo fica ausente do sistema econômico Se o indivíduo age diferentemente então aparecem fenô menos essencialmente diferentes como veremos Mas aqui só estamos interessados em expor a lógica inerente aos fatos econômicos De nossos pressupostos também se segue que a quantidade de trabalho é determinada pelas circunstâncias dadas Aqui agregamos a consideração de uma questão que ficou anteriormente em aberto a saber a amplitude da oferta de trabalho existente em qualquer mo mento Obviamente não se determina rigorosamente desde o princípio quanto um dado número de homens trabalha Se supomos por en quanto que são conhecidas as melhores possibilidades de emprego do trabalho de todos os indivíduos que portanto há uma escala rigoro samente determinada de tais empregos então em qualquer ponto dessa escala a utilidade esperada de todo emprego concreto de trabalho é comparada com a desutilidade que acompanha o emprego Milhares de expressões da vida cotidiana nos lembram que o trabalho para ob tenção do pão nosso de cada dia é um fardo pesado só suportável porque necessário e dele nos livramos quando podemos Daí tornase inequivocamente evidente o montante de trabalho que um trabalhador realizará Ao início de cada dia de trabalho naturalmente tal compa ração é sempre favorável ao trabalho a ser empreendido Todavia à medida que se progride na satisfação das necessidades mais declina o impulso para o trabalho e ao mesmo tempo mais cresce a quantidade com que é comparado a saber a desutilidade do trabalho de modo que a comparação tornase continuamente mais desfavorável à conti nuação do trabalho até que para cada trabalhador chega o momento em que a utilidade crescente e a desutilidade crescente de trabalho se equilibram Naturalmente a potência de ambas as forças varia de acordo com os indivíduos e segundo os países Nessas variações repousa um fator explicativo fundamental da conformação da história pessoal e nacional Mas a essência do princípio teórico não é perturbada por elas29 Os serviços do trabalho e da terra são portanto simplesmente forças produtivas A medida da quantidade de trabalho de qualquer SCHUMPETER 39 29 Para detalhes cf Wesen Livros Primeiro e Segundo Obviamente o princípio é válido apenas para certo resultado do esforço ou seja um resultado inequívoco tal como os salários reais por hora qualidade certamente apresenta dificuldades mas pode ser efetuada do mesmo modo que em princípio não haveria dificuldades para es tabelecer alguma medida física dos serviços da terra por mais com plicada que a questão pudesse ser na prática Então se houvesse apenas um fator de produção se por exemplo o trabalho de uma qualidade pudesse produzir todos os bens o que é concebível ao se supor que todas as dádivas da natureza são bens livres de modo que não se levanta nenhuma questão sobre o comportamento econômico em relação a elas ou se ambos os fatores de produção funcionassem separada mente de modo que cada um produzisse bens distintos por si só tal medida seria tudo o que o homem precisaria na prática para seus planos econômicos Por exemplo se a produção de um bem de consumo de valor definido requeresse três unidades de trabalho e outro do mesmo valor requeresse duas então o seu comportamento estaria determinado Todavia na realidade não é assim Os fatores produtivos sempre atuam praticamente juntos Ora se digamos fossem necessárias três unidades de trabalho e duas de terra para produzir um bem de determinado valor e duas de trabalho e três de terra para produzir outro qual a alternativa que o produtor deveria escolher Obviamente é necessário um padrão para comparar as duas combinações requerse um deno minador comum Podemos chamar essa questão de problema de Petty30 A teoria da imputação nos dá sua solução O que o indivíduo deseja medir é o valor relativo das quantidades de seus meios de pro dução Precisa de um padrão que o auxilie a regular seu comportamento econômico precisa de catálogos aos quais possa adaptarse Em suma precisa de um padrão de valor Mas só dispõe de tal coisa diretamente apenas para seus bens de consumo pois só estes satisfazem imedia tamente suas necessidades cuja intensidade é a base da importância que seus bens têm para ele Em primeira instância não há tal padrão para o seu estoque de serviços do trabalho e da terra e da mesma forma podemos acrescentar nenhum padrão para seus meios de pro dução produzidos Está claro que esses outros bens também devem sua importância simplesmente ao fato de que também servem para satisfazer necessi dades Contribuem para a satisfação de necessidades porque contri buem para a realização de bens de consumo Portanto recebem seu valor destes últimos É como se o valor dos bens de consumo refletisse de volta sobre eles Élhes imputado e com base nesse valor impu tado recebem seu lugar na ordem econômica Assim nem sempre se mostrará possível uma expressão finita do valor total do estoque de meios de produção ou de um dos dois fatores produtivos originais porque esse valor total muitas vezes será infinitamente grande Toda OS ECONOMISTAS 40 30 Petty coloca incidentalmente esse problema em seu trabalho Political Arithmetic que tam bém contém como se sabe muitos outros germes da análise teórica posterior via conhecer esse valor total não é necessário nem para o homem concreto nem para a teoria Não se trata nunca de uma questão de abandonar qualquer possibilidade de produção ou seja de existência mas simplesmente de alocar certas quantidades de meios produtivos para um fim ou outro Um indivíduo isolado por exemplo que não pudesse de modo algum produzir ou viver sem qualquer um dos fatores produtivos originais não poderia formular nenhuma expressão finita do valor de qualquer deles Nessa medida Mill tem bastante razão31 quando diz que os serviços do trabalho e da terra são indeterminados e incomensuráveis Mas está errado quando prossegue e diz também que num caso particular não se pode nunca dizer quais são as cotas da natureza e do trabalho presentes no produto Fisicamente de fato as duas não admitem separação mas isso não é necessário para os objetivos do sistema econômico Todo indivíduo sabe muito bem o que é necessário para este último a saber que aumento da satisfação deve a todo pequeno incremento de cada meio de produção Todavia aqui não adentraremos mais o problema da teoria da imputação32 Em contraste com o valor de uso dos bens de consumo esse valor dos bens de produção é valor de rendimento Ertragswert ou como também se poderia dizer valor de produtividade Produktivitätswert À utilidade marginal dos primeiros corresponde o uso produtivo mar ginal Produktivitätsgrenznutzen dos últimos ou seguindo o termo usual a produtividade marginal a importância de uma unidade indi vidual dos serviços do trabalho ou da terra é dada pela produtividade marginal do trabalho ou da terra que portanto deve ser definida como o valor da unidade menos importante do produto gerada até agora com o auxílio de uma unidade de um dado estoque dos serviços do trabalho ou da terra Esse valor indica a cota de cada serviço in dividual do trabalho ou da terra presente no valor do produto social total e por isso pode ser chamado em certo sentido de produto de um serviço do trabalho ou da terra Essas parcas afirmações não trans mitirão o que deveriam transmitir aos que não estejam completamente familiarizados com a teoria do valor Remeto o leitor ao trabalho de J B Clark Distribution of Wealth em que a teoria está exposta com rigor e seu sentido é elucidado33 e simplesmente observo que é este o único significado preciso da expressão produto do trabalho para os objetivos de uma abordagem puramente econômica Aqui nós só o usaremos SCHUMPETER 41 31 Principles ed Ashley p 26 32 Cf Carl Menger Wieser e BöhmBawerk que primeiro trataram do problema Cf também Wesen Livro Segundo e o meu Bemerkungen zum Zurechnungsproblem In Zeitschrift für Volkswirtschaft Sozialpolitik und Verwaltung 1909 Não estamos preocupados com os problemas mais difíceis que surgem da teoria da produtividade marginal e não precisamos portanto nos referir à sua forma atual muito mais correta 33 Os equívocos surgem especialmente de uma compreensão inadequada do conceito de marginal Cf a respeito do artigo de EDGEWORTH The Theory of Distribution In Quarterly Journal of Economics 1904 Particularmente sua resposta aos argumentos de Hobson contra Clark nesse sentido Também nesse sentido dizemos que os preços dos serviços da terra e do trabalho numa economia de trocas ou seja a renda e os salários são determinados pela produtividade marginal da terra e do trabalho e portanto que sob a livre concorrência o senhor da terra e o trabalhador recebem o produto de seus meios de produção Esse teorema que na moderna teoria dificilmente pode ser controverso é apenas apresentado aqui Tornarseá mais claro com as explanações posteriores O ponto seguinte também é importante para nós Na realidade o indivíduo usa com certa presteza esse valor dos meios de produção porque os bens de consumo em que se convertem lhes são empirica mente familiares Como o valor dos primeiros depende do dos últimos os primeiros devem mudar quando se produzem bens de consumo di ferentes dos até então produzidos E como desejamos desconhecer a existência dessa experiência dada e permitir que ela surja diante de nossos olhos para investigar sua natureza devemos começar pelo ponto em que o indivíduo ainda não está certo quanto à escolha entre as possibilidades existentes de emprego Então antes de tudo empregará seus meios de produção na produção dos bens que satisfazem suas necessidades mais prementes e depois prosseguirá na satisfação das necessidades sentidas progressivamente com menos urgência Além dis so considerará a cada passo que outras sensações de carência não devem ser satisfeitas em conseqüência do emprego dos meios de produção para as carências preferenciais do momento Só se pode dar um passo econômico se ficar assegurado que a satisfação de necessidades mais intensas não se torna com isso impossível Enquanto a escolha não for feita os meios de produção não terão valor determinado A cada possibilidade de emprego considerada corresponderá um valor parti cular de cada incremento Então só pode ficar claro qual desses valores estará definitivamente associado com qualquer incremento depois de a escolha ter sido feita e de ter resistido ao teste da experiência A condição fundamental de que uma necessidade não será satisfeita antes que as necessidades mais intensas o tenham sido leva finalmente à conclusão de que todos os bens devem se dividir entre os seus diferentes usos possíveis de forma que a utilidade marginal de cada bem seja igual em todos os seus usos Então com esse arranjo o indivíduo en controu a melhor solução possível sob condições dadas e segundo seu ponto de vista Se agir assim então pode dizer que a seu ver tirou o máximo proveito dessas circunstâncias Esforçarseá em busca dessa dis tribuição de seus bens e modificará todo plano econômico concebido ou executado até alcançála Se não houver nenhuma experiência disponível então deve tentar o seu caminho passo a passo no sentido dessa distri buição Se já é disponível tal experiência dos períodos econômicos ante riores procurará percorrer o mesmo caminho E se mudarem as condições OS ECONOMISTAS 42 que se expressam nessa experiência então submeterseá à pressão das novas condições e a elas adaptará sua conduta e suas avaliações Em todos os casos há um método definido de empregar cada bem por conseguinte uma determinada satisfação das necessidades e daí um índice de utilidade para os incrementos individuais dos bens que é a expressão deles Esse índice de utilidade caracteriza o lugar de cada incremento na economia do indivíduo Se surge uma nova possibilidade de emprego deve ser considerada à luz desse valor To davia se retornarmos aos atos de escolha individuais que foram rea lizados e que resultam nesse índice de utilidade verificamos que em cada caso a utilidade decisiva é outra e não essa utilidade determinada Se eu tiver repartido um certo bem entre três possibilidades de seu emprego quando surgir uma quarta possibilidade eu a apreciarei con forme o estado de satisfação atingido com as três primeiras Todavia essa utilidade não é determinante para a divisão entre essas três porque só passa a existir depois que a divisão tiver sido decidida Mas finalmente emerge para cada bem uma escala definida de utilidades que reflete as utilidades de todos os seus usos e que lhe dá uma utilidade marginal determinada Para um meio de produção o mesmo é obtido como dissemos mediante seu produto ou segundo a expressão de Wieser mediante sua contribuição produtiva Como toda produção envolve uma escolha entre possibilidades concorrentes e sempre significa renúncia à produção de outros bens o valor total do produto nunca é ganho líquido mas apenas o seu excedente sobre o valor do produto que teria sido produzido de outra forma O valor deste último representa um contraargumento em re lação ao produto escolhido e ao mesmo tempo mede a sua força Aqui aparece o elemento custos Os custos são um fenômeno do valor Na análise final o que a produção de um bem custa ao produtor são aqueles bens de consumo que de outro modo poderiam ser adquiridos com os mesmos meios de produção e que em conseqüência da escolha da pro dução não podem ser produzidos agora Portanto o gasto nos meios de produção envolve um sacrifício tanto no caso do trabalho como no de outros meios de produção Sem dúvida no caso de trabalho há também outra condição que deve ser preenchida a saber que todo dispêndio de trabalho deve resultar numa utilidade que ao menos com pense a desutilidade vinculada a esse dispêndio de trabalho Isso to davia não altera de nenhum modo o fato de que dentro dos limites dessa condição o indivíduo se comporta em relação ao dispêndio de trabalho exatamente como em relação ao dispêndio de outros recursos produtivos Necessidades não satisfeitas portanto de jeito nenhum são des providas de significado Sua marca é observável em todos os lugares e toda decisão produtiva deve lutar com elas E quanto mais longe o produtor leva a produção numa dada direção mais dura se torna essa SCHUMPETER 43 luta ou seja quanto mais uma necessidade particular é satisfeita menor a intensidade do desejo por mais satisfação desse tipo por isso menor é o incremento da satisfação alcançado com a produção adicional Ademais o sacrifício ligado à produção desse tipo também cresce si multaneamente Pois os meios de produção desse produto devem ser retirados de categorias de necessidades cada vez mais importantes O ganho em valor por meio de um tipo de produção tornase portanto cada vez menor e finalmente desaparece Quando isso acontece essa produção particular chega ao fim Assim sendo podemos falar aqui de uma lei dos rendimentos decrescentes na produção Esta contudo tem um significado completamente diferente do da lei do produto físico decrescente da qual a validade de nossa proposição é independente34 É óbvio que a lei econômica dos custos crescentes terminaria por atuar mesmo que a proposição física não fosse válida e mesmo que o seu contrário fosse o correto Pois o valor do investimento a ser feito cres ceria tanto eventualmente que o ganho em utilidade advindo da pro dução desapareceria mesmo que caísse progressivamente o montante físico desse investimento Se fosse esse o caso obviamente a condição de satisfação das necessidades de todos estaria num nível mais alto mas nem por isso os fenômenos essenciais seriam diferentes A consideração que os produtores efetivamente têm pelo elemento custo de produção portanto nada é além de uma maneira de levar em conta as outras possibilidades de emprego dos bens de produção Essa consideração constitui um freio para todo emprego produtivo e um guia que todo produtor segue Mas na prática muito logo o costume a cristaliza numa expressão curta e de fácil manejo da qual todo in divíduo faz uso sem construíla de novo a cada vez Com ela o produtor trabalha na prática adaptandoa às circunstâncias em mudança quan do surge a necessidade nela se expressam em geral inconscientemente todas as relações entre necessidades e meios presentes todas as con dições de sua vida e de seu horizonte econômico Enquanto expressão do valor dos outros empregos potenciais dos meios de produção os custos constituem os itens de passivo na folha do balanço social Esse é o significado mais profundo do fenômeno do custo O valor dos bens de produção deve ser distinguido dessa ex pressão Pois representa ex hypothesi o maior valor total do pro duto efetivamente criado Mas na margem da produção de acordo com o dito acima ambas as quantidades são iguais porque os custos se elevam até a altura da utilidade marginal do produto e portanto tam bém da combinação presente aos de meios de produção Nesse ponto OS ECONOMISTAS 44 34 Ao abandonar dessa maneira a lei do decréscimo físico damos um passo decisivo no sentido de nos afastar do sistema dos economistas clássicos Cf meu ensaio Das Rentenprinzip in der Verteilungslehre In Schmollers Jahrbuch 1906 e 1907 Além deste WEISS P X Abnehmender Ertrag In Handwörterbuch der Staatswissenschaften surge aquela posição relativamente melhor que é usualmente chamada de equilíbrio econômico35 e que enquanto os dados se mantiverem tende a se repetir em todo período Isso tem uma conseqüência muito digna de nota Antes de tudo seguese disso que o último incremento de todo produto será produzido sem um ganho em utilidade maior do que os custos Entendido corre tamente sem dúvida isso é claro e evidente por si mesmo Mas indo além seguese que em geral nenhum valor excedente acima do valor dos bens de produção pode ser obtido na produção Esta realiza apenas os valores previstos no plano econômico que existem previamente em potencial nos valores dos meios de produção Também nesse sentido e não apenas no sentido físico supracitado a produção não cria ne nhum valor ou seja no processo produtivo não ocorre nenhum aumento do valor A futura satisfação de necessidades antes que a produção tenha feito o seu trabalho é exatamente tão dependente da posse dos meios de produção necessários quanto o é depois em relação à posse do produto O indivíduo tentará evitar as perdas dos primeiros com a mesma energia que usou com as dos últimos e só renunciará aos pri meiros pela mesma compensação que teve pelos últimos Ora o processo de imputação deve voltar aos elementos últimos da produção os serviços do trabalho e da terra Não pode se deter em nenhum meio de produção produzido pois o mesmo argumento pode ser repetido para cada um deles Assim nenhum produto pode até aqui apresentar um valor excedente acima do valor dos serviços do trabalho e da terra nele contidos Assim como anteriormente dividimos os meios de produção produzidos em trabalho e terra vemos agora que são somente itens transitórios do processo de valorização Por isso numa economia de trocas no momento antecipamos um pouco os preços de todos os produtos devem ser iguais aos preços dos serviços do trabalho e da natureza neles incorporados em livre concorrência Pois o mesmo preço que é obtido pelo produto depois da produção deve ter sido obtenível antes pelo conjunto completo dos meios de produção necessários pois depende deles exatamente tanto quanto do produto Cada produtor deve ceder suas receitas totais àqueles que o abasteceram dos meios de produção e na medida em que eles também foram produtores de um ou outro produto devem por sua vez passar adiante suas receitas até que finalmente todo o preço total original recaia sobre os fornecedores dos serviços do trabalho e da natureza Todavia voltaremos a isso mais tarde Aqui deparamos com um segundo conceito de custo o da economia de trocas O homem de negócios considera como seus custos as somas de dinheiro que deve pagar a outros indivíduos para obter suas mer SCHUMPETER 45 35 Cf Wesen Livro Segundo cadorias ou os meios de produzilas ou seja suas despesas de produção Completamos seu cálculo ao incluir também nos custos o valor em dinheiro de seus esforços pessoais36 Então os custos são em sua essência os totais dos preços dos serviços do trabalho e da natureza E esses totais de preços devem sempre se igualar às receitas obtidas pelos produtos Nessa medida portanto a produção deve fluir essencialmente sem lucro É um paradoxo que o sistema econômico em sua situação mais perfeita deva operar sem lucro Se recordarmos o significado de nossas afirmações o paradoxo desaparece ao menos em parte É claro que nossa asserção não significa que se o sistema econômico estiver perfeitamente equilibrado produz sem resultado mas apenas que os resultados fluem inteiramente para os fatores produtivos originais As sim como o valor é um sintoma de nossa pobreza o lucro é um sintoma de imperfeição Todavia o paradoxo permanece parcialmente Parece óbvio que os produtores como por regra recebem mais do que os sa lários pelo seu trabalho e pela renda da terra que eventualmente pos suam Não haverá uma taxa geral de lucro líquido no sentido de um excedente sobre os custos A concorrência pode varrer o lucro excedente particular de uma indústria mas não poderia destruir os lucros comuns a todos os ramos da produção Mas suponhamos que os produtores obtêm um tal lucro Então devem valorizar correspondentemente os meios de produção aos quais os devem Ora estes são meios de produção originais quer dizer serviços pessoais ou agentes naturais e nesse caso estamos onde estávamos antes ou então são meios de produção produzidos e nesse caso seus preços devem ser correspondentemente mais altos ou seja os serviços do trabalho e da terra incorporados neles devem ter preços mais altos do que outros serviços semelhantes Isso contudo é impossível uma vez que trabalhadores e senhores de terra podem competir de modo muito efetivo com aquelas quantidades de trabalho e de terra que foram previamente investidas Conseqüen temente o lucro puro não pode existir porque o valor e o preço dos serviços produtivos originais sempre absorverão o valor e o preço do produto mesmo que o processo produtivo seja distribuído entre muitas empresas independentes Não quero cansar demais o leitor e pus mais adiante uma continuação da análise cujo lugar adequado seria este37 Isso não se opõe tanto à doutrina clássica como pode parecer a alguns leitores A teoria do valor baseado nos custos e especialmente a teoria ricardiana do trabalho sugerem claramente a mesma conclusão e assim se explicam algumas tendências teóricas tais como a tendência a chamar de salários todos os tipos de renda às vezes até o juro Se OS ECONOMISTAS 46 36 Os serviços pessoais de trabalho são por assim dizer despesas virtuais como Seager apropriadamente afirmou cf sua Introduction to Economics p 55 Todo homem de negócios que calcula corretamente inclui agora a renda de sua própria terra nas suas despesas 37 Cf capítulo IV e especialmente capítulo V isso não foi colocado expressamente no tempo dos clássicos38 foi porque primeiro os economistas mais antigos não eram muito rigorosos no reconhecimento das conseqüências de seus próprios princípios e em segundo lugar porque a nossa conclusão parece contradizer os fatos de maneira muito clara De fato foi BöhmBawerk o primeiro que disse expressamente que todo o valor do produto deve em princípio ser dividido entre trabalho e terra se o processo de produção desenrolarse com perfeição ideal Isso naturalmente requer que todo o sistema eco nômico esteja adaptado com precisão à produção empreendida e que todos os valores estejam ajustados apropriadamente aos dados que todos os esquemas econômicos funcionem juntos harmoniosamente e que nada perturbe sua execução Duas circunstâncias todavia assim prossegue BöhmBawerk perturbam constantemente o equilíbrio entre os valores do produto e dos meios de produção A primeira é conhecida com o nome de fricção Por milhares de razões o organismo econômico não funciona com muita presteza O erro o contratempo a indolência e coisas semelhantes como sabemos tornamse fonte contínua de perda mas também de lucro39 Antes de passar à segunda circunstância aludida por BöhmBa werk vamos inserir aqui algumas palavras sobre dois elementos que são de importância considerável O primeiro é o elemento do risco Podemos distinguir dois tipos de risco o risco de falha técnica na pro dução no qual podemos incluir o risco de perda por fatores que de pendem de Deus e o risco do fracasso comercial Na proporção em que esses perigos são previstos eles atuam de imediato sobre os planos econômicos Os homens de negócios incluirão prêmios de risco em sua contabilidade de custos realizarão gastos para se proteger contra certos perigos ou finalmente levarão em conta e uniformizarão as di ferenças de risco entre os ramos da produção evitando simplesmente os ramos mais arriscados até que a conseqüente elevação dos preços nos últimos ofereça uma compensação40 Nenhum desses métodos para equiparar os riscos econômicos cria um lucro em princípio Um produtor que tome precauções contra o risco por quaisquer medidas cons trução de represas seguro das máquinas e outras tem certamente uma vantagem ao proteger o fruto de sua produção mas ordinariamente tem também custos correspondentes O prêmio de risco não é uma fonte de ganho para o produtor mas no máximo para uma com panhia de seguros que pode tirar daí um lucro de intermediário prin cipalmente ao reunir muitos riscos pois no correr do tempo será o SCHUMPETER 47 38 Lotz por exemplo fez isso apesar de se ter afastado da percepção de maneira muito débil ver o seu Handbuch der Staatswissenschaftslehre Podese encontrar sugestões muito claras em Smith 39 Cf a exposição de BÖHMBAWERK Positive Theorie des Kapitalzinses 4ª ed p 219316 40 Cf EMERY citado em meu ensaio Die neuere Wirtschsftstheorie in den Vereinigten Staaten In Schmollers Jahrbuch 1910 FISHER Capital and Income prêmio requerido para os casos das necessidades que surgirem E a compensação pelo maior risco só aparentemente é um retorno maior deve ser multiplicada por um coeficiente de probabilidade por meio do qual seu valor real é reduzido novamente e exatamente no mon tante do excedente Quem simplesmente consumir esse excedente pa gará por isso no curso dos acontecimentos Portanto não existe o papel independente atribuído com freqüência ao elemento risco nem o retorno independente que às vezes é vinculado a ele É claro que a questão é diferente se os riscos não forem previstos ou se nem ao menos forem tidos em conta no plano econômico Então se tornam por um lado fonte de perdas temporárias e por outro lado fonte de ganhos temporários A fonte principal desses ganhos e perdas e este é o segundo elemento que desejo considerar aqui são as mudanças espontâneas dos dados com os quais o indivíduo está acostumado a contar Elas criam novas situações às quais é preciso tempo para se adaptar E antes que isso possa acontecer ocorrem no sistema econômico muitas discrepâncias positivas ou negativas entre custos e receitas A adap tação sempre oferece dificuldades Na maioria dos casos não se atinge com a presteza desejável o simples conhecimento do estado de coisas modificado Tirar conclusões desse conhecimento é de novo um grande passo que se defronta com muitos obstáculos na falta de preparação de meios etc Mas em geral é impossível a adaptação perfeita em relação aos produtos existentes anteriormente especialmente é claro no caso dos bens de consumo duráveis Durante o tempo que deve transcorrer até que se gastem inteiramente aparecem inevitavelmente mudanças reais nas condições e isso causa uma das peculiaridades na determi nação de seu valor de que Ricardo tratou na seção IV de seu capítulo I Os seus retornos perdem toda conexão com os seus custos e devem simplesmente ser aceitos seus valores apropriados se alteram sem que haja a possibilidade de ser modificada a oferta correspondente Tornamse assim num certo sentido um tipo especial de retornos e podem elevarse acima ou cair abaixo do total de preços dos serviços do trabalho e da terra neles contidos Eles aparecem para o homem de negócios de modo semelhante ao aparecimento dos agentes naturais Nós os chamamos com Marshall de quaserendas Todavia BöhmBawerk aponta para uma segunda circunstância que pode alterar o resultado da imputação e impedir que uma parte do valor do produto se reflita nos serviços do trabalho e da natureza Esse é como se sabe o período de tempo41 envolvido em toda produção exceto a produção instantânea de esforços primitivos para manter a OS ECONOMISTAS 48 41 Quanto ao elemento tempo na vida econômica BöhmBawerk é a autoridade mais impor tante W S Jevons e John Rae vêm em seguida Para uma elaboração detalhada do elemento especial preferência de tempo é relevante Rate of Interest de Fisher Cf também o tratamento do elemento tempo em A Marshall vida Por causa disso os meios de produção não são meramente bens de consumo em potencial mas se distinguem desses últimos por uma nova característica essencial a distância no tempo que os separa dos bens capazes de ser consumidos Os meios de produção são bens de consumo futuros e assim valem menos do que os bens de consumo O seu valor não exaure o valor do produto Estamos tocando num problema extremamente delicado Mas como sua importância em relação ao objeto de discussão deste livro é limitada apenas nos colocaremos uma questão aqui No curso normal de um sistema econômico no qual ano após ano o processo de produção segue o mesmo caminho e todos os dados permanecem os mesmos haveria uma subvalorização sistemática dos meios de produção com parados aos produtos Essa questão se subdivide em duas outras abs traindo os coeficientes de risco objetivos e pessoais num tal sistema econômico as satisfações futuras podem ser sistemática e generaliza damente valorizadas em menos do que as satisfações atuais iguais E num tal sistema econômico deixandose à parte a influência do próprio transcurso do tempo sobre as valorizações o que acontece no correr do tempo pode estabelecer essas diferenças no valor Uma resposta afirmativa à primeira questão parece bastante plausível Certamente é mais agradável a entrega imediata de um presente do que sua promessa para o futuro42 Essa todavia não é a questão aqui mas sim a valorização de um fluxo regular de renda Se possível imaginemos o seguinte caso Alguém desfruta de uma renda anual vitalícia Suas necessidades permanecem absolutamente cons tantes tanto em qualidade como em intensidade pelo resto de sua vida A renda anual é grande e segura o suficiente para desobrigálo da necessidade de criar fundos para emergências especiais ou para a possibilidade de perda Sabese livre de responsabilidades que possam surgir em relação a outros e tem garantidos seus desejos repentinos Não existe nenhuma possibilidade de investir poupanças a juros pois se o admitíssemos estaríamos assumindo de antemão o elemento do juro e chegaríamos perigosamente perto do raciocínio circular Ora um homem em tal posição estimará menos as parcelas futuras de sua renda do que as mais próximas no tempo Desistiria das parcelas fu turas mais facilmente do que das presentes abstraindo sempre os danos na vida pessoal Obviamente que não pois se o fizesse ou seja se cedesse uma parcela futura por uma compensação menor do que para uma mais próxima no tempo descobriria no momento devido que tinha obtido uma satisfação total menor do que poderia ter obtido Seu comportamento portanto o induziria à perda seria nãoeconômico No entanto os fatos poderiam ter tal curso já que freqüentemente SCHUMPETER 49 42 Todavia podese mencionar que mesmo esse fato também não é tão claro e simples pelo contrário as suas razões requerem uma análise que brevemente será feita abaixo ocorrem transgressões das regras da razão econômica Mas não é es sencial a essas próprias regras que tais transgressões devam ocorrer43 É claro que a maioria das exceções com que nos defrontamos na vida prática não são transgressões mas devem ser explicadas pelo fato de as nossas suposições não se adequarem aos fatos Todavia quando verificamos uma estima excessiva dos prazeres presentes como parti cularmente no caso das crianças e selvagens o que temos diante de nós é meramente uma discrepância entre o problema econômico a ser resolvido e a perspectiva econômica do sujeito crianças e homens pri mitivos só conhecem a produção imediata As necessidades futuras não lhes parecem menores eles simplesmente não as vêem Portanto não resistirão ao teste de decisões que requer um horizonte mais amplo Isso é óbvio e ordinariamente eles não precisam tomar tais decisões Aquele que capta a cadência dupla das necessidades e dos meios de satisfação talvez possa num caso particular desdenhar a conclusão de que o deslocamento unilateral de qualquer deles significa perda de satisfação mas não pode rejeitála por princípio Mas e a nossa segunda questão O processo de produção não pode se dar de uma forma à qual não se possam adequar as suposições de nosso caso típico O fluxo contínuo dos bens não pode moverse de modo ora mais fraco ora mais forte Mas em especial o fato de que um método mais fértil de produção demanda mais tempo não deve afetar o valor dos bens presentes cuja simples posse torna possível a sua escolha constituindo o tempo assim um fator do fluxo circular A resposta negativa que damos a essa questão pode facilmente ser mal compreendida e só posteriormente adquirirá sua plena significação Não nego a importância do elemento tempo para a vida econômica mas apenas o vejo sob um prisma diferente A questão da introdução de processos mais produtivos que consomem porém mais tempo e a questão de como o elemento tempo a afeta são problemas bem distintos Não estamos falando agora da introdução de novos processos mas do fluxo circular que consiste em processos dados e já em funcionamento E aqui o método mais frutífero de produção gera seus resultados tão prontamente quanto qualquer outro não importando qual a extensão de sua duração Um método de produção obviamente só será chamado de mais frutífero se gerar mais produtos do que a soma dos processos menos frutíferos que podem ser executados no mesmo tempo por meio da mesma quantidade de fatores produtivos Dadas as quantidades necessárias de trabalho e agentes naturais a produção por esse método será repetida indefinidamente sem nenhum exercício da escolha e a OS ECONOMISTAS 50 43 Minha objeção está bem expressa pelo mais eminente intérprete vivo da subestimação das satisfações futuras Professor Fisher quando introduz o termo impaciência para designála A impaciência irracional como o erro etc indubitavelmente existe Mas não é um elemento do curso normal das coisas corrente de produtos será contínua Mas mesmo se não fosse esse o caso não haveria subestima dos futuros produtos Pois se o processo produtivo entregasse seus resultados em intervalos periódicos ainda assim não haveria espera porque o consumo poderia se adaptar e prosseguir continuamente e a uma taxa igual por unidade de tempo de modo que não haveria motivo para subestimar os produtos futuros44 Posso muito bem ter um maior apreço pelos bens presentes do que pelos futuros se a sua posse me assegura mais bens no futuro Porém não o farei mais e as minhas valorizações presentes e futuras deverão ser igualadas quando eu estiver seguro de que o fluxo de bens é mais rico e quando meu comportamento se adaptar a ele Ter mais bens no futuro não dependerá mais então da posse de bens presentes Podemos estender também o exemplo de nosso pensionista para esse caso Suponhamos que ele recebeu até aqui 1 000 dólares por mês Então lhe oferecem em vez disso 20 mil dólares ao fim do ano Ora até que vença o prazo da primeira anuidade o elemento tempo pode fazerse sentir de modo desagradável Desde o momento em que vence o prazo todavia verá sua posição melhorar e na verdade avaliará essa melhora pela adição total de 8 mil dólares por ano e não por uma parte dessa soma Igual argumento se aplica ao elemento abstinência45 necessidade de esperar e outros E aqui remeto o leitor especialmente à exposição de BöhmBawerk Para nós é necessário apenas formular com exatidão nossa posição Esse fenômeno também não pode simplesmente ser ne gado como não existente Mas é muito mais complicado do que aparenta ser e é digno de nota que sua natureza e suas manifestações ainda não encontraram nenhuma análise profunda Aqui também se deve distinguir o processo de criação de um aparato produtivo do processo de fazêlo funcionar uma vez criado Qualquer que seja o papel da abstinência no primeiro teremos que falar disso repetidamente e para começar na discussão sobre poupança no próximo capítulo certamente no último processo a necessidade de espera não ressurge toda vez que um processo de produção for repetido Não é preciso esperar pelos retornos regulares uma vez que são habitualmente recebidos exatamente quando deles necessitamos No fluxo circular nor mal não é preciso resistir periodicamente à tentação da produção ime SCHUMPETER 51 44 É claro que imediatamente após a colheita o trigo é mais barato do que mais tarde Esse fato é todavia explicável pelos custos de armazenagem pela existência efetiva do juro e por muitas outras cicunstâncias nenhuma das quais muda nada em nossos princípios 45 Os autores principais são Senior e do outro lado BöhmBawerk em seu Geschichte und Kritik der Kapitalzinstheorien e mais recentemente o escritor americano McVane Cf também o artigo Abstinência no Palgraves Dictionary e a literatura ali especificada Quanto à falta de cuidado com que esse elemento é freqüentemente tratado é exemplar o trabalho de CASSEL The Nature and Necessity of Interest Nossa posição está próxima à da obra de WIESER Natürlicher Wert E à de CLARK John B Distribution of Wealth Cf também Wesen Livro Terceiro diata pelo fato de que quem sucumbisse estaria pior imediatamente Portanto não pode entrar em questão a abstinência no sentido de nãoconsumo das fontes de rendimentos porque pelas nossas pressu posições não há outra fonte de recursos além do trabalho e da terra Será que por fim o elemento abstinência não poderia exercer um papel no fluxo circular normal porque se é necessário à criação inicial do aparato produtivo deve ser posteriormente pago a partir da produção regular Em primeiro lugar ficará claro ao longo de nossa investigação que a abstinência tem apenas um papel muito secundário na provisão dos fatores necessários que falando concretamente a introdução de novos métodos de produção não requer no total nenhuma acumulação prévia de bens E em segundo lugar considerar a abstinência como um elemento independente dos custos acarreta nesse caso contar duas vezes o mesmo item como mostrou BöhmBawerk46 Qualquer que seja a natureza da espera ela certamente não é um elemento do processo econômico de que estamos tratando aqui porque o fluxo circular uma vez estabelecido não deixa defasagens entre o dispêndio ou o esforço produtivo e a satisfação de necessidades Ambos seguindo expressão conclusiva do Professor Clark são automaticamente sincronizados47 A teoria da imputação explica os valores de todos os bens indi viduais Só resta acrescentar que os valores individuais não são inde pendentes mas se condicionam mutuamente A única exceção à regra é o caso de uma mercadoria que não pode ser substituída por outra que tem somente meios de produção que não sejam passíveis de subs tituição e além disso não sejam empregáveis em mais nenhum lugar Tais exemplos são imagináveis podem ocorrer por exemplo no caso de bens de consumo ofertados imediatamente pela natureza mas cons tituem uma exceção que pode ser desprezada Todas as outras quan tidades de bens e seus valores mantêm uma estrita relação mútua Isso se expressa pela sua relação enquanto complementares pela pos sibilidade de emprego alternativo e pela relação enquanto substitutos Mesmo se dois bens têm em comum apenas um único agente de pro dução seus valores ainda estão relacionados pois as quantidades e por conseguinte os valores de ambos os bens dependentes da cooperação desse agente seguirão a regra da utilidade marginal igual em relação ao agente de produção comum aos dois Quase nem é necessário mostrar que a relação produtiva resultante em particular do fator produtivo trabalho abrange praticamente todos os bens A determinação da quan OS ECONOMISTAS 52 46 O tratamento dado por Fisher para o mesmo tema Rate of Interest p 4351 é viciado por considerar o desconto de tempo como o fato primário cuja existência é quase evidente por si mesma 47 Clark é verdade atribui ao capital o mérito de efetuar essa sincronização Como ficará claro não o acompanhamos nisso Enfatizo mais uma vez o gasto e o retorno são automa ticamente sincronizados um com o outro sob a influência aceleradora ou retardadora do lucro e da perda tidade de cada bem e com isso de seu valor está sob a influência dos valores de todos os outros bens e só é completamente explicável se estes forem levados em consideração Portanto podemos dizer que os valores dos bens individuais formam um sistema de valores para cada pessoa cujos elementos separados são mutuamente dependentes Nesse sistema de valores está expressa toda a economia de uma pessoa todas as relações de sua vida seus pontos de vista seu método de produção suas necessidades todas as suas ligações econômicas O indivíduo nunca é igualmente consciente de todas as partes desse sis tema de valores antes pelo contrário em qualquer momento a maior parte deste permanece abaixo do limiar de sua consciência Além disso quando ele toma decisões concernentes a seu comportamento econômico não presta atenção a todos os fatos expressos nesse sistema de valores mas apenas a certos dados que estão à mão Na rotina cotidiana ele age de acordo com o costume geral e a experiência e em todo uso de determinado bem parte de seu valor que lhe é dado pela experiência Mas a estrutura e a natureza dessa experiência estão dadas no sistema de valores Os valores do modo como se ajustam um ao outro são realizados pelo indivíduo ano após ano Ora esse sistema de valores como já dissemos mostra uma estabilidade notável Em qualquer pe ríodo econômico existe a tendência a voltar ao caminho já percorrido e a obter uma vez mais os mesmos valores E mesmo quando essa regularidade é interrompida sempre permanece alguma continuidade pois mesmo que as condições externas mudem não se trata nunca de fazer algo completamente novo mas apenas de adaptar às novas con dições o que já vinha sendo feito O sistema de valores que for esta belecido e as combinações que forem dadas serão sempre ponto de partida para cada novo período econômico e têm por assim dizer um pressuposto a seu favor Essa estabilidade é indispensável para o comportamento econô mico dos indivíduos Na prática eles não poderiam na grande maioria dos casos fazer o trabalho mental necessário para criar de novo essa experiência Também vemos de fato que a quantidade e o valor dos bens nos períodos passados determinam parcialmente as quantidades e os valores dos bens nos seguintes mas isso por si só não explica a estabilidade Obviamente o fato notável é que essas regras de compor tamento resistiram ao teste da experiência e que os indivíduos são de opinião que em geral não podem fazer nada melhor do que continuar a agir de acordo com elas E nossa análise do sistema de valores a geologia por assim dizer dessa montanha de experiência também nos mostrou que efetivamente essas quantidades e esses valores dos bens são explicáveis dadas as necessidades e os horizontes das pessoas como conseqüências das condições dadas no mundo que as cerca Essa maneira empírica de atuar do indivíduo não é portanto um acidente mas tem uma base racional Há um tipo de comportamento SCHUMPETER 53 econômico que sob condições dadas estabelece da melhor forma pos sível o equilíbrio entre os meios disponíveis e as necessidades a serem satisfeitas O sistema de valores que descrevemos corresponde a uma posição de equilíbrio econômico cujas partes constituintes não podem ser alteradas se todos os dados permanecerem os mesmos sem que o indivíduo tenha a sensação de estar pior do que antes Portanto na medida em que é uma questão de se adaptar às condições e simples mente agir de acordo com as necessidades objetivas do sistema econômico sem desejar modificálas só se recomenda ao indivíduo uma e apenas uma maneira particular de agir48 e os resultados dessa ação continuarão os mesmos enquanto as condições dadas permanecerem as mesmas Supondo que o leitor esteja familiarizado com a teoria geral da troca e dos preços tanto concorrentes quanto monopolísticos podemos mencionar de passagem que a possibilidade ubíqua da troca natural mente alterará o sistema de valores de todos É claro que ainda será válido o teorema fundamental pelo qual as unidades de recursos são distribuídas entre os usos possíveis de forma a render satisfações mar ginais iguais Numa economia de trocas podemos expressálo dizendo que para todas as famílias os preços devem ser proporcionais às uti lidades marginais dos bens de consumo e para todas as empresas os preços dos bens de produção devem ser proporcionais às suas produ tividades marginais Mas um novo fenômeno se apresenta no fato de que os produtos não mais serão avaliados por seus produtores segundo qualquer valor de uso que possam ter para eles mas de acordo com a utilidade daquelas mercadorias que os produtores afinal adquirem em troca deles49 A escala pela qual cada um avalia seus produtos e assim a escala pela qual cada um avalia os meios de produção que porventura possa ter será composta da escala de avaliações dos bens recebidos em sua troca ou comprados com a renda derivada da venda dos serviços desses meios de produção A maneira mais vantajosa de executar essas operações será encontrada com a experiência e toda mercadoria ou serviço produtivo será avaliado de modo correspondente Todas as inumeráveis trocas que podemos observar numa eco nomia de trocas em cada período constituem em sua totalidade a forma externa do fluxo circular da vida econômica As leis da troca nos mos OS ECONOMISTAS 54 48 De fato isso só é universalmente reconhecido nos casos da livre concorrência e do monopólio unilateral no sentido técnico de ambas as palavras No entanto é suficiente para nossos propósitos E demonstrouse ultimamente que Cournot não estava errado afinal ao sus tentar que há importantes casos de determinação determinateness mesmo no campo da concorrência monopolística 49 Isso é o que os austríacos chamavam de valor de troca subjetivo Os leitores que estiverem familiarizados com a história das discussões teóricas dos últimos cinqüenta anos recordar seão de como esse fenômeno ocasionou uma acusação de que havia um raciocínio circular implícito como sustentavam muitos oponentes da teoria austríaca em qualquer argumento que tente explicar os preços dos bens de produção pela utilidade Hoje entretanto difi cilmente valeria a pena sair de nosso caminho para mostrar por que essa objeção é falha tram como se explica esse fluxo circular a partir de condições dadas e também nos ensina por que ele não se altera enquanto essas condições permanecerem as mesmas e por que e como muda ao adaptarse a mudanças dessas condições Sob a suposição de condições constantes bens de consumo e de produção do mesmo tipo e quantidade seriam produzidos e consumidos em todos os períodos sucessivos pelo fato de que na prática as pessoas agem em conformidade com a experiência bemsucedida e que em teoria nós as consideramos como agindo em conformidade com um conhecimento da melhor combinação dos meios presentes sob as condições dadas Mas também há outra conexão entre os períodos sucessivos porque todo período funciona com bens que um período anterior preparou para ele e em todo período se produzem bens para uso no próximo Agora para simplificar a exposição expres saremos esse fato pela suposição de que em todo período só são con sumidos produtos que foram produzidos no período anterior e que só são produzidos os que serão consumidos no período seguinte Esse modo de encaixar os períodos econômicos não muda em nada de essencial como se pode ver facilmente De acordo com ele todo bem de consumo requer dois períodos econômicos para seu acabamento nem mais nem menos Agora classificaremos as trocas que são necessárias para efetivar em cada período esse processo econômico simplificado Primeiro des cartaremos aquelas executadas meramente para passar adiante qual quer coisa que seja assim recebida A teoria demonstra que tais trocas devem existir em grande número em toda economia mercantil no en tanto essas transações puramente técnicas não nos interessam aqui50 Então resta a troca dos serviços do trabalho e da terra por bens de consumo que ocorre em toda economia mercantil Sem dúvida essa espécie de troca incorpora o grosso da corrente de bens do sistema econômico e liga sua fonte à sua desembocadura Mas trabalhador e proprietário de terra vendem seus serviços produtivos que somente geram seu produto ao fim de cada período por bens de consumo que já estão disponíveis Mais ainda vendem seus serviços produtivos por bens de consumo mesmo que alguns de seus serviços se dirijam à produção de bens de produção Em cada período os serviços do trabalho e da terra que ainda não estão incorporados aos meios de produção a serem empregados no período em consideração são trocados por bens de consumo que foram terminados no período anterior Tudo que seja contrário aos fatos nessa asserção serve meramente para simplificar a exposição e não afeta o princípio Sabemos quem possui os serviços do trabalho e da terra antes dessa troca Mas quem constitui a outra parte da transação Quem tem nas mãos antes da troca os bens de consumo para pagar pelos serviços A resposta é simplesmente as SCHUMPETER 55 50 Cf Wesen Livro Segundo pessoas que precisam dos serviços do trabalho e da terra nesse período ou seja aqueles que desejam transformar os meios de produção pro duzidos no período anterior em bens de consumo pela adição de mais serviços do trabalho e da terra ou que desejam produzir novos meios de produção Suponhamos em nome da simplicidade que ambas as categorias fazem a mesma coisa em todos os períodos considerados ou seja continuam a produzir bens de consumo ou bens de produção o que se adapta ao princípio de uma economia mercantil com divisão do trabalho Então podemos dizer que aqueles indivíduos que produ ziram bens de consumo no período precedente cedem parte deles no período atual aos trabalhadores e aos proprietários de terra de cujos serviços precisam para a produção de novos bens de consumo para o período seguinte Aqueles indivíduos que produziram bens de produção no período precedente e que desejam agir da mesma forma no presente cederão esses bens de produção aos produtores de bens de consumo em troca daqueles bens de consumo que querem para adquirir novos serviços produtivos Portanto trabalhadores e proprietários de terra sempre trocam seus serviços produtivos apenas por bens de consumo presentes mesmo se os primeiros sejam empregados direta ou apenas indiretamente na produção de bens de consumo Não é necessário que eles troquem seus serviços do trabalho e da terra por bens futuros ou por promessas de bens de consumo futuros ou solicitem quaisquer adiantamentos de bens de consumo presentes É simplesmente uma questão de troca e não de transações a crédito O elemento tempo não cumpre nenhum papel Todos os produtos são apenas produtos e nada mais Para cada empresa é completamente indiferente produzir meios de produção ou bens de consumo Em ambos os casos o produto é pago imediatamente e pelo seu valor total O indivíduo não precisa olhar além do período em curso mesmo que sempre trabalhe para o próximo Simplesmente segue os ditames da demanda e o mecanismo do processo econômico se encarrega de fazêlo ao mesmo tempo prepararse também para o futuro Não está interessado com o que acontece mais tarde aos seus produtos e provavelmente não começaria nunca o processo de produção se tivesse que seguilo até o fim Bens de consumo são também apenas produtos e nada mais produtos aos quais nada acontece além da sua venda aos consumidores Não formam nas mãos de ninguém um fundo para a manutenção dos trabalhadores e assim por diante não servem direta nem indiretamente para fins produtivos posteriores Assim de saparecem todas as questões referentes à acumulação de seus estoques Como se inicia esse mecanismo que uma vez ajustado mantémse continuamente é outra questão Como se desenvolve é um problema diferente de como funciona Seguese de novo que em toda parte mesmo numa economia mercantil meios de produção produzidos não são nada mais do que OS ECONOMISTAS 56 itens transitórios Não encontramos em nenhum lugar um estoque deles preenchendo quaisquer funções por assim dizer por sua própria conta Nenhuma parte do dividendo nacional é reivindicada por eles além dos salários e da renda pelos serviços do trabalho e da terra neles contidos Não se lhes atribui enfim nenhum elemento de renda líquida Nenhuma demanda independente parte deles Pelo contrário em cada período todos os bens de consumo disponíveis irão para os serviços do trabalho e da terra empregados nesse período por isso todos os ren dimentos são absorvidos a título de salário ou renda dos agentes na turais51 Assim chegamos à conclusão de que o processo de troca entre o trabalho e a terra de um lado e os bens de consumo de outro não apenas fornece a direção principal do curso da vida econômica mas sob nossos pressupostos seria o único O trabalho e a terra compar tilham todo o dividendo nacional e há tantos bens de consumo quantos são necessários para satisfazer sua demanda efetiva e não mais E isso está de acordo com o par de dados fundamentais da economia as necessidades e os meios para sua satisfação Também é um quadro fiel daquela parte da realidade econômica que estivemos considerando até agora Isso foi mutilado pela teoria e daí um grande número de ficções e falsos problemas foram artificialmente criados inclusive o problema do que é o fundo pelo qual são remunerados os serviços do trabalho e da terra A organização de uma economia de troca portanto se nos apre senta da seguinte maneira Negócios individuais nos aparecem agora como locais de produção para necessidades alheias e o resultado de toda a produção de uma nação será em primeiro lugar distribuído entre essas unidades Dentre estas últimas contudo não há nenhuma outra função além da de combinar os dois fatores originais de produção e essa função é executada mecanicamente em cada período por assim dizer por iniciativa própria sem requerer um elemento pessoal distinto da superintendência e coisas similares Assim se supomos que os ser viços de terra estão em mãos privadas então abstraindo os monopo listas não há nenhuma pessoa com qualquer direito sobre o produto exceto os que executam algum tipo de trabalho ou colocam os serviços da terra à disposição da produção Sob essas condições não há nenhuma outra classe de pessoas no sistema econômico em particular não há nenhuma classe cuja característica é a de possuir meios de produção produzidos ou bens de consumo Já vimos que a idéia de que em algum lugar há um estoque acumulado de tais bens é absolutamente falsa Ela é evocada principalmente pelo fato de que muitos meios de produção produzidos perduram por uma série de períodos econômicos Entretan to esse não é um elemento essencial e não fazemos nenhuma alteração SCHUMPETER 57 51 O primeiro teorema fundamental da teoria da distribuição repousa nessa afirmação fundamental se limitarmos o uso de tais meios de produção a um período econômico A idéia de um estoque de bens de consumo não tem nem mesmo esse suporte pelo contrário os bens de consumo ge ralmente estão apenas nas mãos dos varejistas e dos consumidores e na quantidade necessária para fazer frente às exigências do momento Encontramos um fluxo contínuo de bens e um processo econômico que se move continuamente mas não encontramos estoques que sejam cons tantes em suas partes componentes ou que sejam renovados constan temente Também não faz nenhuma diferença para uma determinada empresa produzir bens de consumo ou de produção Em ambos os casos ela dispõe dos seus produtos da mesma forma recebe sob a hipótese da concorrência completamente livre um pagamento correspondente ao valor dos seus serviços do trabalho e da terra e nada mais Se preferimos chamar o gerente ou o dono de um negócio de empresário ele então seria um entrepeneur faisant ni bénéfice ni perte52 sem função especial e sem rendimento de tipo especial Se os possuidores dos meios de produção produzidos fossem chamados de capitalistas então só poderiam ser produtores em nada diferindo de outros produtores e como os outros não poderiam vender seus produtos acima dos custos dados pelo total de salários e da renda da terra Do ponto de vista dessa interpretação portanto vemos uma cor rente de bens sendo continuamente renovada53 Só por um momento há qualquer coisa como um estoque de certos bens individuais e mais ainda só se pode falar realmente de estoque em sentido abstrato a saber no sentido de que os bens de um certo tipo e quantidade sempre aparecem por meio do mecanismo da produção e da troca em lugares definidos do sistema econômico Os estoques nesse sentido são mais comparáveis ao leito de um rio do que à água que nele corre A corrente é alimentada pelo fluir contínuo de mananciais de força de trabalho e terra e corre em cada período econômico para os reservatórios que chamamos de renda para ser transformada em satisfação de necessi dades Não nos alongaremos nisso mas apenas observaremos breve mente que isso envolve a aceitação de um conceito definido de renda nomeadamente o de Fetter e a exclusão do seu alcance de todos os bens que não forem regularmente consumidos Num sentido o fluxo circular termina nesse ponto Noutro sentido todavia não o faz pois o consumo gera o desejo de repetição e esse desejo gera por sua vez a atividade econômica Seremos perdoados por não termos falado de quaserendas em conexão com esse problema como deveríamos ter OS ECONOMISTAS 58 52 Uma construção de Walras É verdade contudo que o juro existe como um rendimento em seu sistema de equilíbrio 53 A nítida separação entre fundos e fluxos e o fato de tornála frutífera é um dos méritos do livro tão pouco apreciado de NEWCOMB S Principles of Political Economy Na literatura contemporânea a questão é particularmente enfatizada por Fisher O fluxo circular do dinheiro não está descrito em nenhum lugar mais claramente do que em Newcomb p 316 et seq feito À primeira vista parece ser mais séria a ausência de qualquer menção à poupança No entanto esse ponto também será explicado De qualquer modo a poupança não teria um grande papel nos sistemas econômicos que não apresentem mudanças O valor de troca de qualquer quantidade de uma mercadoria para cada indivíduo depende do valor dos bens que ele pode obter e que realmente tenciona obter com ela Enquanto isso não for decidido esse valor de troca flutuará indubitavelmente segundo as possibilidades concebidas no momento e do mesmo modo sofrerá alteração se o in divíduo alterar a direção de sua demanda No entanto quando for encontrado o melhor emprego na troca de qualquer bem o valor de troca permanece em um e somente em um nível sendo constantes as condições Obviamente tomado nesse sentido o valor de troca de qual quer unidade da mesma mercadoria é diferente para indivíduos dife rentes e não apenas em conseqüência das diferenças primeiramente de seus gostos e em segundo lugar de suas situações econômicas como um todo mas também em terceiro lugar de modo bastante in dependente desses fatos em conseqüência de diferenças nos bens que o indivíduo troca54 Mas a relação entre as quantidades em que dois bens quaisquer são trocados no mercado ou os seus recíprocos o preço de cada bem é a mesma para todos os indivíduos ricos ou pobres como dissemos antes Só ficará bastante claro que o preço de qualquer bem está vinculado aos preços de todos os outros bens se os reduzirmos todos a um denominador comum55 Apresentemos agora esse denominador do preço e do meio de troca e escolhamos o ouro para o papel de mercadoria dinheiro En quanto para os nossos propósitos requeremos muito pouco da teoria familiar da troca e assim pudemos tratála bem brevemente devemos ir um pouco além na teoria do dinheiro Mas também aqui nos limi taremos àqueles pontos que mais tarde serão significativos para nós e mesmo eles só serão considerados na medida em que forem necessários para o que se segue Portanto deixaremos de lado os problemas que não aflorarão de novo neste livro por exemplo o problema do bime talismo ou do valor internacional do dinheiro E substituiremos sem receio as teorias cujos méritos residam em direções que não teremos oportunidade de seguir por outras mais simples ou mais bem conhe cidas desde que igualmente nos sirvam mesmo que sejam muito mais incompletas em outros aspectos56 SCHUMPETER 59 54 Quero dizer em conseqüência das diferenças de gostos e das situações econômicas totais cada indivíduo valora diferentemente até os mesmos bens que outros indivíduos trocam do mesmo modo Mas os indivíduos também trocam bens diferentes 55 Cf Wesen Livro Segundo 56 O leitor encontrará as características principais das minhas idéias sobre o dinheiro e o seu valor em Das Sozialprodukt und die Rechenpfennige In Archiv für Sozialwissenschaft t XLIV 1918 O conceito de dinheiro ali empregado é inteiramente diferente A experiência nos mostra que todo indivíduo avalia seu estoque de dinheiro E no mercado todas essas estimativas individuais de valor levam ao estabelecimento de uma relação de troca definida entre a unidade de dinheiro e as quantidades de todos os outros bens em princípio exatamente como declaramos anteriormente a respeito dos outros bens Da concorrência entre indivíduos e entre possibilidades de emprego resultam sob condições dadas tantos preços definidos do dinheiro quantos outros bens houver Esses preços do dinheiro uma expressão que é completamente definida pelas afirmações prece dentes e que usaremos freqüentemente no que se segue baseiamse portanto como qualquer outro preço nas estimativas individuais de valor Mas em que se baseiam estas A questão se coloca porque aqui no caso do dinheiro não temos a explicação simples que para qualquer outra mercadoria reside na satisfação de necessidades obtida pelo in divíduo mediante seu consumo Respondemos à questão seguindo Wie ser57 o valor de uso da mercadoria material obviamente proporciona o fundamento histórico pelo qual o dinheiro adquire uma relação de troca definida com os outros bens mas seu valor para cada indivíduo e seu preço de mercado podem deslocarse em relação a essa base e efetivamente o fazem Certamente é óbvio que nem a utilidade marginal individual nem o preço de ouro enquanto dinheiro podem desviarse da sua utilidade marginal individual e de seu preço de mercado en quanto mercadoria Pois se isso acontecesse existiria uma tendência contínua a se remover a diferença amoedando o ouro dos objetos de arte ou fundindo moedas de ouro Isso é correto Só que não prova nada Pelo fato de uma mercadoria alcançar o mesmo preço em dois usos diferentes não se pode concluir que um uso determina o preço e que o outro simplesmente o segue Pelo contrário é evidente que ambos os empregos formam juntos a escala de valor do bem e que seu preço seria diferente se um deles deixasse de existir A mercadoria dinheiro está nessa condição Serve a duas possibilidades diferentes de emprego e embora as utilidades marginais e os preços devam certamente ser iguais em ambas se o bem puder se mover livremente de uma para a outra seu valor nunca é explicável pelo seu emprego apenas na ouri vesaria Isso se torna especialmente claro se imaginarmos que todo o estoque da mercadoria dinheiro for amoedado o que de fato seria pos OS ECONOMISTAS 60 57 Schriften des Vereins für Sozialpolitik Relatórios da Sessão de 1909 Sobre isso ver MISES Theorie des Geldes und der Umlaufsmittel 2ª ed e anteriormente WEISS Die moderne Tendenz in der Lehre von Geldwert In Zeitschrift für Volkswirtschaft Sozialpolitik und Verwaltung 1910 O leitor também pode ser remetido ao livro do Professor Von Mises caso suspeite de que a colocação acima implique em raciocínio circular Embora não implique o autor deseja declarar que agora não consideraria satisfatória essa maneira de introduzir o elemento dinheiro mesmo dentro dos limites dos propósitos deste capítulo sível Mesmo assim o dinheiro teria um valor e um preço mas a explicação acima obviamente seria anulada A suspensão da cunhagem por um lado e a proibição de fundir por outro oferecemnos do mesmo modo exemplos dados pela experiência do caráter independente do valor do dinheiro Portanto o valor do dinheiro enquanto dinheiro teoricamente pode ser completamente separado do valor do material Sem dúvida este último é a fonte histórica do primeiro Mas em princípio podemos desprezar o valor do material ao explicar o processo concreto do valor do dinheiro exatamente como podemos desprezar ao considerar o baixo curso de um grande rio a contribuição ao seu volume dada pela sua fonte Podemos imaginar que os indivíduos recebem em proporção à sua posse de bens ou mais de acordo com a expressão em preços desta última uma porção distribuída em unidades de algum meio de troca sem valor de uso pelo qual todos os bens devem ser vendidos em cada período econômico Então esse meio seria avaliado apenas como um meio de troca Seu valor ex hypothesi só pode ser apenas valor de troca58 Cada indivíduo como afirmamos antes em relação a todos os bens produzidos para o mercado avaliará esse meio de troca de acordo com o valor dos bens que com ele pode obter Cada indivíduo portanto avaliará diferentemente seu dinheiro e mesmo que cada um expresse suas estimativas dos valores dos outros bens em dinheiro essas estimativas terão um significado diferente de indivíduo para in divíduo mesmo que sejam numericamente equivalentes No mercado em verdade cada bem terá apenas um preço em dinheiro e também só pode haver apenas um preço em dinheiro no mercado em qualquer momento Todos os indivíduos calculam com esses preços e nesse ponto encontram um terreno comum Mas apenas superficialmente pois embora iguais para todos os preços têm implicações diferentes para cada um significam para cada um diferentes limites para a aquisição de bens Como então é formado esse valor de troca pessoal do dinheiro Nesse ponto ligaremos a teoria do dinheiro com o que acabamos de dizer sobre o fluxo do processo econômico Vemos de imediato que segundo nossa concepção o valor de troca pessoal deve retroceder até os bens de produção Dissemos que os bens de produção são itens transitórios e que não envolvem nenhuma formação de valor indepen dente numa economia de troca Dissemos também que não há nenhum fluxo de renda para aqueles que os possuem em certo momento Por tanto não há aqui nenhuma oportunidade para a construção de um valor de troca pessoal do dinheiro independente Assim como no pro SCHUMPETER 61 58 O dinheiro será avaliado pela sua função de troca E essa é obviamente análoga à função de meio de produção Se se concebe o dinheiro simplesmente como bene strumentale como o fazem muitos italianos a questão fica mais clara cesso econômico nos cálculos em dinheiro do homem de negócios os meios de produção produzidos são itens transitórios segundo nossas proposições Esses indivíduos não avaliarão o dinheiro de acordo com o seu valor pessoal de troca uma vez que não obtêm nenhum bem para seu consumo próprio por meio deste mas simplesmente passamno adiante Assim não podemos buscar aqui a determinação do valor pes soal de troca do dinheiro pelo contrário o valor de troca que está refletido nessas transações deve originarse em outro lugar Assim só permanece o fluxo primário de bens a troca entre serviços do trabalho e da terra por um lado e os bens de consumo por outro Só se valora o estoque próprio de dinheiro de acordo com os valores dos bens de consumo que podem ser obtidos com dinheiro Portanto a troca entre a renda monetária e a renda real é o ponto importante é o ponto do processo econômico em que se forma o valor pessoal de troca e conse qüentemente o preço do dinheiro O resultado é agora fácil de se es tabelecer o valor de troca do dinheiro para cada um depende do valor de uso dos bens de consumo que se pode obter com a renda própria A demanda efetiva total em termos de bens em dado período serve de escala de valor para as unidades de renda disponíveis nesse processo econômico Portanto sob dadas condições há para cada indivíduo uma escala de valor inequivocamente determinada e uma utilidade marginal definida de seu estoque de dinheiro59 A magnitude absoluta desse estoque de dinheiro no sistema econômico é irrelevante Em princípio um estoque menor executa o mesmo serviço que um maior Se supu sermos que a quantidade de dinheiro existente é constante então ha verá a mesma demanda de dinheiro ano após ano e estabelecerseá o mesmo valor do dinheiro para cada indivíduo O dinheiro estará distribuído de tal forma no sistema econômico que surgirá um preço uniforme do dinheiro Isso se dará quando forem vendidos todos os bens de consumo e pagos todos os serviços do trabalho e da terra A troca entre serviços do trabalho e da terra por um lado e entre bens de consumo por outro é dividida em duas partes a troca entre serviços do trabalho e da terra e dinheiro e entre dinheiro e bens de consumo Uma vez que os valores e preços do dinheiro devem ser iguais por um lado aos valores e preços dos bens de consumo e por outro aos valores e preços dos serviços do trabalho e da terra60 é claro que as OS ECONOMISTAS 62 59 Com uma determinada técnica da troca no mercado e determinados hábitos de pagamento Cf a respeito a obra de MARSHALL Money Credit and Commerce Ou a de KEYNES Tract on Monetary Reform E também SCHLESINGER Theorie der Geld und Kreditwirtschaft 60 Para simplificar consideramos aqui repito um sistema econômico isolado já que a inclusão de relações internacionais complicaria a exposição sem contribuir com nada de essencial Similarmente estamos considerando um sistema econômico em que todos os indivíduos calculam perfeitamente em dinheiro e estão ligados uns aos outros linhas essenciais de nosso quadro não são alteradas pela inserção de elos intermediários que o dinheiro só tem a função de um instrumento técnico mas não acrescenta nada de novo aos fenômenos Para em pregar uma expressão usual podemos dizer que o dinheiro representa nessa medida apenas o disfarce das coisas econômicas e nada de es sencial é deixado de lado ao fazermos abstração dele À primeira vista o dinheiro aparece como um comando geral sobre diferentes quantidades de bens61 ou como poderíamos dizer um poder de compra em geral Todo indivíduo considera o dinheiro antes de tudo como meio de obtenção de bens em geral se vender seus serviços do trabalho ou da terra os vende não por bens definidos mas por assim dizer por bens em geral Se se olhar mais de perto porém as coisas tomam um aspecto diferente Pois todo indivíduo avalia real mente a sua renda em dinheiro conforme os bens que efetivamente obtiver com ela e não conforme os bens em geral Quando ele fala do valor do dinheiro o rol de bens que costumeiramente compra flutua mais ou menos claramente diante de seus olhos Se grupos inteiros de compradores subitamente mudassem o dispêndio de suas rendas então obviamente o preço do dinheiro e também o valor de troca pessoal do dinheiro teriam indubitavelmente que mudar Ordinariamente porém isso não acontece Em geral um plano definido de gastos é assumido como sendo o melhor e não muda rapidamente É por isso que na prática todos podem normalmente contar com valor e um preço do dinheiro constantes e só se precisa ajustálos gradualmente às condições modificadas Portanto podese também dizer do dinheiro o que disse mos anteriormente de todos os outros bens a saber que para cada parte do poder de compra existente há uma demanda pronta em algum lugar do sistema econômico uma oferta de bens e que a maior parte do dinheiro como a maior parte dos meios de produção e dos bens de consumo vai pelo mesmo caminho ano após ano Aqui também podemos afirmar que não mudamos nada de essencial se imaginarmos que toda peça de dinheiro individual passa exatamente pela mesma rota em cada período econômico Essa relação entre a renda real e a renda monetária também determina as mudanças no valor do dinheiro62 Até aqui consideramos o dinheiro apenas como um meio de cir culação Tivemos em vista a determinação do valor apenas daquelas quantidades de dinheiro que efetivamente são usadas para movimentar periodicamente a massa de mercadorias Obviamente também há em SCHUMPETER 63 61 Essa concepção já pode ser encontrada em Berkeley Nunca se perdeu e J S Mill mais recentemente tornoua idéia corrente Na literatura alemã contemporânea é encontrada principalmente em Bendixen Não contradiz a teoria quantitativa a do custo de produção nem a do equilíbrio 62 Cf WIESER Loc cit todo sistema econômico por razões bem conhecidas quantidades de dinheiro nãocirculantes e a determinação de seu valor ainda não foi explicada Pois até agora não tomamos conhecimento de nenhum em prego do dinheiro que necessite de uma acumulação maior do que a medida que capacita o indivíduo a pagar suas compras atuais Devemos retornar mais tarde a esse ponto Não penetraremos mais a fundo nele aqui mas contentarnosemos com o fato de ter explicado a circulação e a determinação do valor daquelas quantidades de dinheiro que cor respondem às principais transações de troca que descrevemos De qual quer modo no fluxo circular normal que temos em vista aqui não seria necessária nenhuma manutenção de importantes estoques de di nheiro para outros propósitos Também desprezamos outro elemento O poder de compra é em pregado não apenas para levar a cabo a troca de bens de consumo pelos serviços do trabalho e da terra mas também para transferir a posse da própria propriedade fundiária e além disso o próprio poder de compra é transferido Poderíamos facilmente levar em conta todos esses elementos mas eles têm para nós um significado essencialmente diferente do daqueles que podemos analisar dentro do quadro de nossa presente discussão Podemos apenas apontar brevemente que dentro do processo econômico continuamente recorrente que estivemos des crevendo não haveria muito lugar para essas coisas Transferências de poder de compra enquanto tais não são elementos necessários desse processo Este ao contrário continua a fluir como se fosse por iniciativa própria e em essência não torna necessária nenhuma transação a cré dito Já salientamos que não é feito nenhum adiantamento para os trabalhores e proprietários de terra mas que simplesmente os seus meios de produção são comprados deles Isso não se altera pela intervenção do dinheiro e um pagamento adiantado de dinheiro não é mais necessário do que um adiantamento de bens de consumo ou de meios de produção Obviamente não precisamos excluir o caso em que os indivíduos obtêm poder de compra de outros e em troca lhes transferem uma parte de suas forças produtivas originais a terra por exemplo Tal é o caso de empréstimos com o propósito de consumo ao qual não se atribui nenhum interesse especial Si milar como mostraremos abaixo é o caso das transferências de trabalho e terra em geral e portanto podemos dizer que o dinheiro não tem nenhum outro papel no fluxo circular do que o de facilitar a circulação de mercadorias Podese acrescentar também que por uma razão similar não falamos dos instrumentos de crédito É claro que não apenas uma parte mas todo o processo de troca pode ser saldado por esses recursos creditícios Não é sem interesse imaginar que só circulam digamos OS ECONOMISTAS 64 letras de câmbio ao invés de dinheiro metálico de verdade Isso por exemplo nos ensina que a asserção sobre uma necessidade original de ter o dinheiro um valor de mercadoria não significa que a mercadoria dinheiro particular deva efetivamente circular Pois de fato nada mais é necessário para pôr o dinheiro numa relação fixa com os valores dos outros bens do que o fato de que ele deve estar vinculado a algo de valor definido O processo econômico portanto poderia ser levado a cabo sem a intervenção do dinheiro metálico Quem quer que fornecesse serviços do trabalho e da terra receberia uma letra por um determinado montante de unidades monetárias e então compraria com ela bens de consumo para receber de novo no período seguinte se nos manti vermos fiéis à nossa concepção da identidade das rotas percorridas pelo dinheiro periodicamente o mesmo montante de unidades sob a forma de outra letra de câmbio Supondo um funcionamento re gular e uma aceitabilidade geral tal meio de troca preenche per feitamente o papel do dinheiro e porque o faz será valorizado pelos indivíduos exatamente como o dinheiro metálico e mudará de mãos pelos mesmos preços expressos nas mercadorias Isso é verdade mesmo que nunca entre em questão o resgate mas haja simples mente um processo contínuo de compensação recíproca de direitos à moeda legal Haverá portanto uma demanda desse meio de troca que segundo nossas proposições sempre encontrará uma oferta cor respondente Mas como vimos que o preço da unidade de dinheiro metálico simplesmente espelha o preço dos bens de consumo e por conseguinte dos bens de produção seguese que o preço de nossas letras de câmbio hipotéticas fará o mesmo Assim elas serão nego ciadas pelo seu valor nominal total ou em outras palavras estarão sempre ao par Pois não existe nenhum motivo para se conceder um desconto Esse argumento nos ensina de um modo um tanto mais prático do que anteriormente o fizera que não apareceria ne nhum juro no sistema econômico segundo nossas proposições e que portanto a lógica das coisas econômicas como foi aqui descrito não explica o fenômeno do juro Mas à parte esta não há nenhuma razão para que aqui nos ocupemos ainda dos meios creditícios de pagamento Se os instrumentos de crédito apenas substituem um dinheiro metálico já existente então o seu uso não produzirá por si mesmo nenhum fenômeno novo Se ano após ano é estabelecida uma transação de troca particular por meio de tais instrumentos de crédito então estes últimos cumprem o mesmo papel que o montante correspondente de dinheiro metálico teria e até agora não há nenhum incentivo para uma súbita introdução do crédito no fluxo circular que devêssemos levar em consideração Por essa razão mas também porque o elemento crédito mais tarde se tornará muito SCHUMPETER 65 importante para nós e porque queremos muito contrastálo rapidamente com a função do dinheiro aqui descrita suporemos que nossa circulação monetária consiste até agora apenas em dinheiro metálico63 na ver dade para simplificar as coisas em ouro Para manter a separação entre os dois elementos entenderemos de modo geral por dinheiro apenas o dinheiro metálico E incluímos esse conceito no de meios de pagamento juntamente com instrumentos de crédito que não substi tuem simplesmente quantidades de dinheiro previamente existentes O problema de saber se os meios de pagamento creditícios são dinheiro será tratado mais tarde64 Assim correspondendo à corrente de bens há uma corrente de dinheiro cujo sentido é oposto ao da corrente de bens e cujos movimentos são apenas reflexos dos movimentos dos bens supondose que não ocor ra nenhum aumento de ouro ou qualquer outra mudança unilateral Com isso concluímos a descrição do fluxo circular Para uma economia de trocas como um todo há a mesma continuidade e dadas as mesmas suposições a mesma invariabilidade que existe para uma economia que não seja de trocas continuidade e constância não apenas dos processos mas também dos valores Seria de fato uma deturpação dos fatos falar em valorações sociais Os valores psíquicos devem viver numa consciência e por isso se se espera que a palavra tenha qualquer significado devem por natureza ser individuais Os valores que aqui têm interesse para nós têm sentido não em referência ao ponto de vista de todo o sistema econômico mas apenas ao do indivíduo O fato social aqui como em todas as valorações está na circunstância de que os valores individuais são interrelacionados e não são independentes um do outro A totalidade das relações econômicas constitui o sistema econômico justamente como a totalidade das relações sociais consti tuem a sociedade Se não se pode falar em valores sociais há no entanto um sistema social de valores um sistema social de valores individuais Esses valores estão interrelacionados de modo similar aos valores na economia do indivíduo Eles atuam um sobre o outro mediante a relação OS ECONOMISTAS 66 63 A quantidade de dinheiro metálico num tal sistema econômico não corresponde apenas a um nível de preços definido mas também a uma determinada velocidade de circulação do dinheiro Se todos os rendimentos fossem pagos anualmente então obviamente reque rerseia um maior montante de dinheiro ou todos os preços deveriam ser mais baixos do que se fossem pagos semanalmente Supomos que essa velocidade de circulação é constante uma vez que dentro dos limites dessa discussão concordamos com Wieser quando diz loc cit p 522 et seq que as modificações na velocidade de circulação como a quantidade dos meios de pagamento creditícios não são causas independentes de modificações do nível de preços já que de nosso ponto de vista é melhor dizer na medida em que são induzidas pelos movimentos das mercadorias Cf também AUPETIT Théorie de la Monnaie DEL VECCHIO Teoria della Moneta In Giornale degli Economisti 1909 64 Cf a respeito do conceito de poder de compra entre outros DAVENPORT Value and Distribution de troca de modo que influenciam e são influenciados por todos os valores dos outros indivíduos65 Nesse sistema social de valores se re fletem todas as condições de vida de um país nele são expressas em particular todas as combinações O sedimento do sistema social de valores é o sistema de preços É uma unidade no mesmo sentido Se guramente os preços não expressam uma espécie de estimativa do valor social de um bem Na verdade eles não são de modo algum a expressão imediata de um valor definido mas apenas o resultado de processos que atuam sob a pressão de muitas valorações individuais SCHUMPETER 67 65 Há uma interdependência geral entre eles Cf Wesen Livro Segundo para maiores detalhes sobre esse ponto CAPÍTULO II O Fenômeno Fundamental do Desenvolvimento Econômico I O processo social que racionaliza66 nossa vida e nosso pensa mento afastounos do tratamento metafísico do desenvolvimento social e nos ensinou a ver a possibilidade de um tratamento empírico mas fez o seu trabalho de maneira tão imperfeita que devemos ser cuida dosos ao tratar do próprio fenômeno mas ainda do conceito com o qual o compreendemos e mais do que todos da palavra com a qual desig namos o conceito e cujas associações podem desencaminharnos para todo tipo de direções não desejadas Toda busca de um sentido da história mesmo que em si mesma não seja um preconceito metafísico está intimamente vinculada ao preconceito metafísico mais preci samente às idéias que se originam de raízes metafísicas e se tornam preconceitos se fazemos com que realizem o trabalho da ciência empí rica desprezando lacunas intransponíveis O mesmo vale para o pos tulado de que uma nação uma civilização ou mesmo toda a humani dade deve mostrar algum tipo de desenvolvimento uniforme unilinear já que foi assumido até por uma mente tão presa aos fatos quanto Roscher e que os inúmeros filósofos e teóricos da história na longa e brilhante linha de Vico a Lamprecht o tiveram e ainda o têm por certo Aqui também se incluem todos os tipos de pensamento evolucionista que se centram em Darwin ao menos se isso não significar nada além do raciocínio por analogia e também o preconceito psicológico que consiste em ver nos motivos e atos da vontade mais do que um 69 66 É usado aqui no sentido dado por Max Weber Como o leitor verá racional e empírico significam aqui coisas que se não são idênticas são no entanto cognatas São em igual proporção diferentes de e opostas a metafísico que implica ir além do alcance tanto da razão quanto dos fatos ou seja além do reino da ciência Para alguns tornouse hábito usar a palavra racional quase no mesmo sentido em que usamos metafísico Assim não está fora de lugar uma advertência evitando malentendidos reflexo do processo social Mas a idéia evolucionista está agora desacre ditada em nosso campo especialmente com os historiadores e os etnólogos ainda por uma outra razão À acusação de misticismo nãocientífico e extracientífico que cerca as idéias evolucionistas se acrescenta a de diletantismo Com tantas generalizações apressadas em que a palavra evolução cumpre um papel muitos de nós perderam a paciência Devemos nos afastar de tais coisas Ainda permanecem dois fatos primeiramente o fato da mudança histórica pela qual as condições sociais se tornam indivíduos históricos no tempo histórico Essas mudanças não constituem nem um processo circular nem movimentos pendulares em torno de um centro O conceito de desenvolvimento social é definido por essas duas circunstâncias juntamente com o outro fato o de que sempre que não conseguimos explicar adequadamente um dado estado de coisas histórico a partir do precedente reconhecemos de fato a existência de um problema não resolvido mas não insolúvel Isso é válido antes de tudo para o caso individual Por exemplo entendemos a história da política interna da Alemanha em 1919 como um dos efeitos da guerra precedente Vale também contudo para problemas mais gerais O desenvolvimento econômico até agora é simplesmente o objeto da história econômica que por sua vez é meramente uma parte da história universal só separada do resto para fins de explanação Por causa dessa dependência fundamental do aspecto econômico das coisas em relação a tudo o mais não é possível explicar a mudança econômica somente pelas condições econômicas prévias Pois o estado econômico de um povo não emerge simplesmente das condições econômicas pre cedentes mas unicamente da situação total precedente As dificuldades de análise e de exposição que surgem daí são muito diminuídas na prática se não em princípio pelos fatos que formam a base da inter pretação econômica da história sem sermos compelidos a tomar uma posição a favor ou contra essa visão podemos afirmar que o mundo econômico é relativamente autônomo pois abrange uma parte tão gran de da vida da nação e forma ou condiciona uma grande parte do res tante pelo que escrever a história econômica por si mesma é obviamente uma coisa diferente do que escrever digamos a história militar A esse fato devese acrescentar ainda um outro que facilita a descrição em separado de qualquer das divisões do processo social Cada setor da vida social é por assim dizer habitado por um conjunto distinto de pessoas Os elementos heterônomos geralmente não afetam o pro cesso social em qualquer desses setores diretamente como a explosão de uma bomba afeta todas as coisas que estiverem no lugar em que explodir mas apenas através de seus dados e do comportamento de seus habitantes e mesmo que ocorra um evento como o sugerido pela nossa metáfora da explosão de uma bomba os efeitos só ocorrem sob a roupagem particular com que o vestem os primariamente interessa dos Portanto assim como a descrição dos efeitos da ContraReforma sobre OS ECONOMISTAS 70 a pintura italiana e a espanhola sempre continua sendo história da arte descrever o processo econômico continua sendo história econômica mesmo que a verdadeira causalidade seja largamente nãoeconômica O setor econômico outrossim está aberto a uma variedade sem fim de pontos de vista e tratamentos que se podem ordenar por exem plo de acordo com a amplitude de seu alcance ou do mesmo modo poderíamos dizer de acordo com o grau de generalidade que implicam De uma explanação sobre a natureza da vida econômica do mosteiro de Niederaltaich no século XIII até a explanação de Sombart sobre o desenvolvimento da vida econômica na Europa ocidental passa um fio contínuo logicamente uniforme Uma explanação tal como a de Sombart é teoria e de fato teoria do desenvolvimento econômico no sentido que por enquanto lhe damos Mas não é teoria econômica no sentido em que o conteúdo do primeiro capítulo deste livro é teoria econômica que é o que tem sido entendido por teoria econômica desde os dias de Ricardo A teoria econômica nesse último sentido na verdade tem um papel numa teoria como a de Sombart mas totalmente subordinado a saber quando a conexão entre os fatos históricos é bastante compli cada a ponto de necessitar de métodos de interpretação que vão além dos poderes analíticos do homem comum a linha de pensamento toma a forma oferecida por aquele aparato analítico Contudo quando for simplesmente uma questão de tornar inteligível o desenvolvimento ou o seu resultado histórico de elaborar os elementos que caracterizam uma situação ou determinam uma saída a teoria econômica no sentido tradicional não tem quase nada com que contribuir67 SCHUMPETER 71 67 Se não obstante os economistas sempre tiveram algo a dizer sobre esse tema é apenas porque não se restringiram à teoria econômica mas e na verdade em geral muito superficialmente estudaram sociologia histórica ou fizeram afirmações sobre o futuro econômico A divisão do trabalho a origem da propriedade privada da terra o controle crescente sobre a natureza a liberdade econômica e a segurança legal eis os mais im portantes elementos constitutivos da sociologia econômica de Adam Smith Relacionamse claramente com estrutura social do curso econômico dos acontecimentos não a nenhuma espontaneidade imanente do último Também se pode considerar o tema como a teoria do desenvolvimento de Ricardo digamos no sentido dado por Büchner que ademais exibe a linha de pensamento que lhe valeu a caracterização de pessimista a saber o prognóstico hipotético de que em conseqüência do crescimento progressivo da população aliado à exaus tão progressiva da potência do solo que segundo ele pode ser interrompida apenas tem porariamente por aperfeiçoamentos na produção eventualmente apareceria uma posição de imobilidade que deve ser distinguida toto coelo da posição momentânea ideal de imobilidade do equilíbrio da teoria moderna na qual a situação econômica se caracterizaria por hipertrofia da renda da terra que é algo totalmente diferente do que é entendido acima por teoria do desenvolvimento e ainda mais diferente do que entenderemos por isso neste livro Mill elaborou mais cuidadosamente a mesma linha de pensamento e também distribuiu diferentemente a cor e o tom Em essência todavia seu Livro Quarto Influence of the Progress of Society on Production and Distribution é exatamente a mesma coisa Até esse título expressa o quanto o progresso é considerado como algo nãoeconômico como algo enraizado nos dados que apenas exerce uma influência sobre a produção e a distribuição Em particular o seu tratamento dos aperfeiçoamentos das artes da produção é estritamente estático O aperfeiçoamento de acordo com essa visão tradicional é algo que simplesmente acontece e cujos efeitos devemos investigar ao passo que não temos nada a dizer quanto à sua ocorrência per se O que se passa por alto com isso é o assunto de que trata este Não estamos interessados aqui numa teoria do desenvolvimento nesse sentido Não será indicado nenhum fator histórico evolutivo sejam eventos individuais como a aparição da produção americana de ouro na Europa no século XVI sejam circunstâncias mais gerais como modificações na mentalidade do homem econômico no âmbito do mundo civilizado na organização social nas constelações políticas na técnica produtiva e assim por diante nem serão descritos seus efeitos para casos individuais ou para grupos de casos68 Pelo contrário a teoria econômica cuja natureza foi suficientemente exposta ao leitor no ca pítulo I simplesmente será aperfeiçoada para seus próprios fins cons truindose a partir dela mesma Se isso também capacitar essa teoria a executar melhor do que até agora o seu serviço em relação ao outro tipo de teoria do desenvolvimento ainda restará o fato de que os dois métodos estão em planos diferentes Nosso problema é o seguinte A teoria do capítulo I descreve a vida econômica do ponto de vista do fluxo circular correndo essen cialmente pelos mesmos canais ano após ano semelhante à circu lação do sangue num organismo animal Ora esse fluxo circular e os seus canais alteramse com o tempo e aqui abandonamos a analogia OS ECONOMISTAS 72 livro ou melhor sua pedra angular J B Clark Essentials of Economic Theory cujo mérito reside em ter separado conscientemente a estática e a dinâmica viu nos elementos dinâmicos uma perturbação do equilíbrio estático Essa visão é semelhante à nossa e também de nosso ponto de vista é uma tarefa essencial investigar o efeito dessa perturbação e o novo equilíbrio que surge então Mas enquanto ele se confina a isso e como Mill vê aí o significado da dinâmica daremos antes de tudo uma teoria dessas causas de pertur bações na medida em que são mais do que meras perturbações para nós e na medida em que nos parece que fenômenos econômicos essenciais dependem de seu aparecimento Em particular duas das causas de perturbação enumeradas por ele crescimento do capital e da população são para nós como para ele meramente causas de perturbação qualquer que seja sua importância como fatores de mudança para outra espécie de problema apenas indicado no texto O mesmo é verdadeiro quanto a uma terceira mudanças na direção do gosto dos consumidores o que será fundamentado mais adiante Mas as outras duas mudanças na técnica e na organização produtiva requerem análise especial e causam algo diferente de perturbações no sentido teórico O nãoreconhecimento disso é a mais importante razão isolada para o que nos parece insatisfatório na teoria econômica Dessa fonte aparentemente insignificante brota como veremos uma nova concepcão do processo econômico que supera uma série de dificuldades fundamentais e assim justifica a nova exposição do problema no texto Essa exposição do problema é mais exatamente paralela à de Marx Pois segundo ele há um desenvolvimento econômico interno e não uma mera adaptação da vida econômica a dados que mudam Mas a minha estrutura só cobre uma pequena parte de seu campo 68 Por isso um dos malentendidos mais incômodos que surgiram a partir da primeira edição deste livro foi o de que essa teoria do desenvolvimento despreza todos os fatores históricos de mudança exceto um a saber a individualidade dos empresários Se a minha apresentação tivesse a intenção de ser o que essa objeção supõe seria obviamente uma tolice Mas não está interessada de modo algum nos fatores concretos de mudança mas no método pelo qual estes atuam com o mecanismo da mudança O empresário é meramente o portador do mecanismo da mudança E não levei em conta um fator sequer de mudança histórica nem mesmo um Temos ainda menos a fazer aqui com os fatores que explicam em particular as mudanças na organização econômica no costume econômico etc Esse é ainda um outro problema e embora haja pontos em que todos esses métodos de tratamento se encontrem significaria estragar o fruto de todos se não fossem mantidos separados e se a cada um não fosse concedido o direito de crescer por si mesmo com a circulação do sangue Pois embora esta também mude ao longo do crescimento e do declínio do organismo só o faz continuamente ou seja muda por etapas das quais podemos escolher um tamanho menor do que qualquer quantidade definível por menor que seja e sempre muda dentro do mesmo limite A vida econômica também experimenta tais mudanças mas experimenta outras que não aparecem continua mente e que mudam o limite o próprio curso tradicional Essas mu danças não podem ser compreendidas por nenhuma análise do fluxo circular embora sejam puramente econômicas e embora sua explicação esteja obviamente entre as tarefas da teoria pura Ora essas mudanças e os fenômenos que surgem em seu curso são o objeto de nossa inves tigação Mas não perguntamos que mudanças dessa espécie levaram efetivamente o moderno sistema econômico a ser o que é ou quais as condições dessas mudanças Apenas perguntamos e no mesmo sen tido que a teoria sempre pergunta como acontecem tais mudanças e quais os fenômenos econômicos que as ocasionam A mesma coisa pode ser colocada de maneira um tanto diferente A teoria do capítulo I descreve a vida econômica do ponto de vista da tendência do sistema econômico para uma posição de equilíbrio ten dência que nos dá os meios de determinar os preços e as quantidades de bens e pode ser descrita como uma adaptação aos dados existentes em qualquer momento Em contraste com as condições do fluxo circular isso não significa por si só que ano após ano as mesmas coisas acon teçam pois apenas significa que concebemos os vários processos do sistema econômico como fenômenos parciais da tendência para uma posição de equilíbrio mas não necessariamente para a mesma A po sição do estado ideal de equilíbrio do sistema econômico nunca atingido pelo qual continuamente se luta é claro que não conscientemente muda porque os dados mudam E a teoria não está desarmada frente a essas mudanças dos dados Está construída de modo a aplicarse às conseqüências de tais mudanças tem instrumentos especiais para esse fim por exemplo o instrumento chamado quaserenda Se a mudança ocorrer nos dados nãosociais condições naturais ou nos dados sociais nãoeconômicos aqui se incluem os efeitos da guerra as mudanças na política comercial social ou econômica ou no gosto dos consumidores não parece ser necessária nenhuma revisão fundamental nos instru mentos teóricos Esses instrumentos só falham e aqui esse argumento se junta ao precedente quando a vida econômica em si mesma mo difica seus próprios dados de tempos em tempos A construção de uma estrada de ferro pode servir de exemplo As mudanças contínuas que podem eventualmente transformar uma pequena firma varejista numa grande loja de departamentos mediante adaptação contínua feita em inúmeras etapas pequenas estão no âmbito da análise estática Mas a análise estática não é apenas incapaz de predizer as conseqüências das mudanças descontínuas na maneira tradicional de fazer as coisas SCHUMPETER 73 não pode explicar a ocorrência de tais revoluções produtivas nem os fenômenos que as acompanham Só pode investigar a nova posição de equilíbrio depois que as mudanças tenham ocorrido Essa ocorrência da mudança revolucionária é justamente o nosso problema o proble ma do desenvolvimento econômico num sentido muito estreito e formal A razão pela qual colocamos assim o problema e nos afastamos da teoria tradicional não reside tanto no fato de que as mudanças econô micas especialmente se não unicamente na época capitalista ocor reram efetivamente assim e não mediante adaptação contínua mas reside no fato de serem elas fecundas69 Entenderemos por desenvolvimento portanto apenas as mu danças da vida econômica que não lhe forem impostas de fora mas que surjam de dentro por sua própria iniciativa Se se concluir que não há tais mudanças emergindo na própria esfera econômica e que o fenômeno que chamamos de desenvolvimento econômico é na prática baseado no fato de que os dados mudam e que a economia se adapta continuamente a eles então diríamos que não há nenhum desenvolvi mento econômico Pretenderíamos com isso dizer que o desenvolvimento econômico não é um fenômeno a ser explicado economicamente mas que a economia em si mesma sem desenvolvimento é arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta e que as causas e portanto a explicação do desenvolvimento devem ser procuradas fora do grupo de fatos que são descritos pela teoria econômica Nem será designado aqui como um processo de desenvolvimento o mero crescimento da economia demonstrado pelo crescimento da população e da riqueza Por isso não suscita nenhum fenômeno qua litativamente novo mas apenas processos de adaptação da mesma es pécie que as mudanças nos dados naturais Como desejamos dirigir nossa atenção para outros fenômenos consideraremos tais incrementos como mudanças dos dados70 Todo processo concreto de desenvolvimento repousa finalmente sobre o desenvolvimento precedente Mas para ver claramente a es sência da coisa faremos abstração disso e admitiremos que o desen volvimento surge de uma situação sem desenvolvimento Todo processo de desenvolvimento cria os prérequisitos para o seguinte Com isso a forma deste último é alterada e as coisas se desenrolarão de modo diferente OS ECONOMISTAS 74 69 Os problemas do capital crédito lucro empresarial juro sobre o capital e crises ou ciclos econômicos são questões pelas quais será aqui demonstrado que elas são fecundas No entanto com isso não será exaurida a sua fecundidade Para o teórico especializado aponto como exemplo as dificuldades que cercam o problema do retorno crescente a questão dos múltiplos pontos de intersecção entre as curvas da demanda e da oferta e o elemento tempo que mesmo na análise de Marshall não foi superado 70 Fazemolo porque essas mudanças são pequenas per annum e portanto não são um obstáculo à aplicabilidade do método estático Não obstante seu aparecimento freqüentemente é uma condição de desenvolvimento no sentido que damos a este Mas mesmo que amiúde elas tornem possível este último não o criam a partir de si mesmas do que o teriam feito se cada fase concreta do desenvolvimento tivesse sido primeiro compelida a criar suas próprias condições Todavia se quisermos chegar à raiz da questão não podemos incluir nos dados de nossa explicação elementos daquilo que deve ser explicado Mas se não o fizermos criaremos uma aparente discrepância entre o fato e a teoria o que pode constituir uma grande dificuldade para o leitor Se eu tiver sido mais bemsucedido em concentrar a exposição sobre o essencial e em resguardála contra malentendidos do que na primeira edição então não são necessárias explicações próprias adi cionais das palavras estática e dinâmica com seus inúmeros sig nificados O desenvolvimento no sentido em que o tomamos é um fenômeno distinto inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo perturbação do equilíbrio que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente Nossa teoria do desenvolvimento não é nada mais que um modo de tratar esse fenômeno e os processos a ele inerentes71 II Essas mudanças espontâneas e descontínuas no canal do fluxo circular e essas perturbações do centro do equilíbrio aparecem na esfera da vida industrial e comercial não na esfera das necessidades dos consumidores de produtos finais Quando aparecem mudanças espon tâneas e descontínuas no gosto dos consumidores tratase de uma questão de súbita mudança dos dados a qual o homem de negócios deve enfrentar por isso é possivelmente um motivo ou uma oportuni dade para adaptações de seu comportamento que não sejam graduais mas não de um outro comportamento em si mesmo Portanto esse caso não oferece nenhum outro problema além de uma mudança nos dados naturais nem requer nenhum método novo de tratamento razão pela qual desprezaremos qualquer espontaneidade das necessidades dos con sumidores que possa existir de fato e admitiremos que os gostos são dados Isso nos é facilitado pelo fato de que a espontaneidade das necessidades é em geral pequena Certamente devemos sempre começar SCHUMPETER 75 71 Na primeira edição deste livro chameio de dinâmica Mas é preferível evitar aqui essa expressão uma vez que nos desvia muito facilmente do caminho por causa das associações que se vinculam a seus vários significados Melhor então dizer simplesmente a que nos referimos mudanças da vida econômica ela muda parcialmente por causa das mudanças dos dados às quais tende a se adaptar Mas esse não é o único tipo de mudança econômica há outro que não é causado pela influência dos dados externos mas que emerge de dentro do sistema e esse tipo de mudança é a causa de tantos fenômenos econômicos importantes que parece valer a pena construir uma teoria para ele e para isso isolálo de todos os outros fatores de mudança O autor toma a liberdade de acrescentar uma definição mais exata que tem o hábito de usar o que estamos prestes a considerar é o tipo de mudança que emerge de dentro do sistema que desloca de tal modo o seu ponto de equilíbrio que o novo não pode ser alcançado a partir do antigo mediante passos infinitesimais Adicione sucessivamente quantas diligências quiser com isso nunca terá uma estrada de ferro da satisfação das necessidades uma vez que são o fim de toda produção e a situação econômica dada em qualquer momento deve ser entendida a partir desse aspecto No entanto as inovações no sistema econômico não aparecem via de regra de tal maneira que primeiramente as novas necessidades surgem espontaneamente nos consumidores e então o aparato produtivo se modifica sob sua pressão Não negamos a pre sença desse nexo Entretanto é o produtor que via de regra inicia a mudança econômica e os consumidores são educados por ele se ne cessário são por assim dizer ensinados a querer coisas novas ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito de usar Portanto apesar de ser permissível e até necessário considerar as necessidades dos consumidores como uma força indepen dente e de fato fundamental na teoria do fluxo circular devemos tomar uma atitude diferente quando analisamos a mudança Produzir significa combinar materiais e forças que estão ao nosso alcance cf capítulo I Produzir outras coisas ou as mesmas coisas com método diferente significa combinar diferentemente esses mate riais e forças Na medida em que as novas combinações podem com o tempo originarse das antigas por ajuste contínuo mediante pequenas etapas há certamente mudança possivelmente há crescimento mas não um fenômeno novo nem um desenvolvimento em nosso sentido Na medida em que não for este o caso e em que as novas combinações aparecerem descontinuamente então surge o fenômeno que caracteriza o desenvolvimento Por motivo da conveniência de exposição quando falarmos em novas combinações de meios produtivos só estaremos nos referindo doravante ao último caso O desenvolvimento no sentido que lhe damos é definido então pela realização de novas combinações Esse conceito engloba os cinco casos seguintes 1 Introdução de um novo bem ou seja um bem com que os consumidores ainda não estiverem familiarizados ou de uma nova qualidade de um bem 2 Introdução de um novo método de produção ou seja um método que ainda não tenha sido testado pela experiência no ramo próprio da indústria de transformação que de modo algum precisa ser baseada numa descoberta cientificamente nova e pode consistir também em nova maneira de manejar comercialmente uma mercadoria 3 Abertura de um novo mercado ou seja de um mercado em que o ramo particular da indústria de transformação do país em questão não tenha ainda entrado quer esse mercado tenha existido antes quer não 4 Conquista de uma nova fonte de oferta de matériasprimas ou de bens semima nufaturados mais uma vez independentemente do fato de que essa fonte já existia ou teve que ser criada 5 Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria como a criação de uma posição de monopólio por exemplo pela trustificação ou a fragmentação de uma posição de monopólio Ora duas coisas são essenciais para os fenômenos inerentes à OS ECONOMISTAS 76 realização dessas combinações novas e para a compreensão dos fenô menos envolvidos Em primeiro lugar não é essencial embora possa acontecer que as combinações novas sejam realizadas pelas mesmas pessoas que controlam o processo produtivo ou comercial a ser deslocado pelo novo Pelo contrário as novas combinações via de regra estão corporificadas por assim dizer em empresas novas que geralmente não surgem das antigas mas começam a produzir a seu lado para manter o exemplo já escolhido em geral não é o dono de diligências que constrói estradas de ferro Esse fato não apenas coloca sob uma luz especial a descontinuidade que caracteriza o processo que queremos descrever e por assim dizer cria ainda um outro tipo de descontinui dade além da mencionada acima mas também explica características importantes do curso dos acontecimentos Especialmente numa econo mia de concorrência na qual combinações novas signifiquem a elimi nação das antigas pela concorrência explica por um lado o processo pelo qual indivíduos e famílias ascendem e decaem econômica e so cialmente e que é peculiar a essa forma de organização assim como toda uma série de outros fenômenos do ciclo econômico do mecanismo da formação de fortunas privadas etc Numa economia que não seja de troca por exemplo numa economia socialista as combinações novas também apareceriam freqüentemente lado a lado com as antigas Mas as conseqüências econômicas desse fato estariam em certa medida au sentes e as conseqüências sociais estariam totalmente ausentes E se a economia concorrencial for rompida pelo crescimento de grandes car téis como ocorre crescentemente hoje em dia em todos os países então isso deve se tornar mais e mais a verdade quanto à vida real e a realização de combinações novas deve se tornar em medida cada vez maior a preocupação interna de um mesmo corpo econômico A dife rença assim criada é suficientemente grande para servir de divisor de água entre duas épocas da história social do capitalismo Devemos notar em segundo lugar apenas parcialmente em co nexão com esse elemento que sempre que estivermos interessados em princípios fundamentais não devemos nunca supor que a realização de combinações novas tem lugar pelo emprego de meios de produção que por acaso estejam sem ser usados Na vida prática isso ocorre muito freqüentemente Há sempre trabalhadores desempregados ma tériasprimas nãovendidas capacidade produtiva nãoutilizada e as sim por diante Esta certamente é uma circunstância que contribui como condição favorável e mesmo como incentivo para o surgimento de combinações novas mas um grande índice de desemprego é apenas conseqüência de eventos nãoeconômicos como por exemplo a Guer ra Mundial ou precisamente do desenvolvimento que estamos in vestigando Em nenhum dos dois casos a sua existência cumpre um papel fundamental na explicação e não pode ocorrer em um fluxo circular bem equilibrado do qual partimos Tampouco o incremento SCHUMPETER 77 anual normal o provocaria já que seria em primeiro lugar pequeno e também porque normalmente seria absorvido por uma expansão cor respondente da produção dentro do fluxo circular e se admitimos tais incrementos devemos pensálos como estando ajustados a essa taxa de crescimento72 Como regra a nova combinação deve retirar os meios de produção necessários de algumas combinações antigas e por razões já mencionadas suporemos que sempre o fazem para dar um nítido relevo ao que consideramos ser a linha essencial de contorno A realização de combinações novas significa portanto simplesmente o emprego diferente da oferta de meios produtivos existentes no sistema econômico o que pode fornecer uma segunda definição de desenvol vimento no sentido em que o tomamos Aquele rudimento de uma teoria econômica pura do desenvolvimento que está implícito na doutrina tradicional da formação de capital sempre se refere apenas à poupança e ao investimento de pequenos acréscimos anuais a ela atribuíveis Nisso não afirma nada de falso mas passa totalmente por cima de coisas muito mais essenciais O lento e contínuo acréscimo no tempo da oferta nacional de meios produtivos e de poupança é obviamente um fator importante na explicação do curso da história econômica através dos séculos mas é completamente eclipsado pelo fato de que o desenvolvimento consiste pri mariamente em empregar recursos diferentes de uma maneira diferente em fazer coisas novas com eles independentemente de que aqueles re cursos cresçam ou não No tratamento de períodos mais curtos isso é ainda mais certo num sentido mais tangível Métodos diferentes de em prego e não a poupança e os aumentos na quantidade disponível de mãodeobra mudaram a face do mundo econômico nos últimos cinqüenta anos De modo especial o crescimento da população como também das fontes a partir das quais se pode poupar tornouse possível em grande parte pelo emprego diferente dos meios então existentes O próximo passo de nosso raciocínio também é evidente por si só o comando sobre os meios de produção é necessário para a realização de novas combinações A obtenção dos meios de produção é um problema especial das empresas estabelecidas que trabalham dentro do fluxo circular Pois elas já obtiveram esses meios ou então podem obtêlos comumente com o lucro da produção anterior como foi explicado no capítulo I Não há aqui nenhum hiato fundamental entre a receita e a despesa que pelo contrário necessariamente correspondem uma à outra justamente porque ambas correspondem aos meios de produção oferecidos e aos produtos demandados Uma vez colocado em movi mento esse mecanismo funciona automaticamente Ademais o proble ma não existe numa economia que não seja de trocas mesmo se nela OS ECONOMISTAS 78 72 Em geral é muito mais correto dizer que a população cresce devagar até o limite das possibilidades de qualquer ambiente econômico do que dizer que ela tem certa tendência a excedêlo tornandose com isso uma causa independente de mudança forem realizadas novas combinações pois o órgão dirigente por exem plo um Ministério da Economia socialista está numa posição em que dirige os recursos produtivos da sociedade para novos usos exatamente como pode dirigilos para seus empregos anteriores Sob certas cir cunstâncias o novo emprego pode impor sacrifícios temporários pri vações ou aumento de esforços para os membros da comunidade pode pressupor a solução de problemas difíceis por exemplo a questão de saber de qual das antigas combinações devem ser retirados os meios produtivos necessários mas não se trata de obter meios de produção que já não estejam à disposição do Ministério da Economia Finalmente o problema também não existe numa economia concorrencial no caso da realização de novas combinações se aqueles que as realizam têm os meios de produção necessários ou podem obtêlos em troca de outros que tenham ou de qualquer outra propriedade que porventura possuam Não se trata do privilégio da posse de propriedade per se mas apenas do privilégio da posse de propriedade da qual se possa dispor ou melhor que seja utilizável imediatamente na realização da combinação nova ou na troca pelos bens e serviços necessários73 Caso contrário e esta é a regra assim como este é um caso fundamentalmente interes sante o possuidor da riqueza mesmo que seja o maior dos cartéis deve recorrer ao crédito se desejar realizar uma nova combinação que não pode como numa empresa estabelecida ser financiado pelos re tornos da produção anterior Fornecer esse crédito é exatamente a função daquela categoria de indivíduos que chamamos de capitalistas É óbvio que esse é o método característico do tipo capitalista de so ciedade e suficientemente importante para servir de sua differentia specifica para forçar o sistema econômico a seguir por novos canais para colocar seus meios ao serviço de novos fins em contraste com o método de uma economia que não seja de trocas do tipo que consiste simplesmente em exercer o poder de comando do órgão dirigente Não me parece possível contestar de modo algum a afirmação precedente A ênfase sobre o significado do crédito se encontra em todo livro de texto Nem mesmo a ortodoxia mais conservadora dos teóricos pode negar que a estrutura da indústria moderna não poderia ter sido erigida sem ele que ele torna o indivíduo até certo ponto independente dos bens herdados que o talento na vida econômica cavalga sobre suas dívidas em direção ao sucesso Nem é para ofender ninguém a conexão estabelecida aqui entre o crédito e a realização de inovações uma conexão a ser elaborada posteriormente Pois é tão claro a priori como está estabelecido historicamente que o crédito é primariamente necessário às novas combinações e que é por estas que ele força seu SCHUMPETER 79 73 Um privilégio que o indivíduo também pode atingir pela poupança Numa economia do tipo artesanal esse elemento teria que ser mais enfatizado Os fundos de reserva dos industriais supõem a existência de desenvolvimento caminho dentro do fluxo circular de um lado porque foi necessário originalmente para a fundação do que agora são as empresas antigas e de outro porque seu mecanismo uma vez em funcionamento também se apodera das combinações antigas por razões óbvias74 Primeiro a priori vimos no capítulo I que tomar emprestado não é um elemento necessário da produção no fluxo circular normal em canais costumeiros não é um elemento sem o qual não poderíamos entender os fenômenos essenciais deste último Por outro lado na realização de combinações novas o financiamento como um ato especial é fundamentalmente necessário na prática como na teoria Segundo historicamente os que tomam e concedem empréstimos para fins industriais não aparecem cedo na história O prestamista précapitalista fornecia dinheiro para fins outros que não os negócios E todos nos lembramos do tipo de industrial que sentia estar perdendo prestígio ao tomar um empréstimo e que portanto se esquivava dos bancos e das letras de câmbio O sistema de crédito capitalista cresceu e prosperou a partir do financiamento de combinações novas em todos os países mesmo que de forma diferente em cada um a origem dos bancos alemães organizados por ações é es pecialmente característica Finalmente não se pode constituir em nenhum empecilho nossa referência ao recebimento de crédito em dinheiro ou substitutos do dinheiro Certamente não afirmamos que com moedas se pode produzir notas ou saldos bancários e não negamos que os serviços do trabalho matériasprimas e ferramentas são as coisas de que preci samos Estamos apenas falando de um método para sua obtenção Não obstante há aqui um ponto no qual como já foi dado a entender nossa teoria diverge da visão tradicional A teoria aceita vê um problema na existência dos meios produtivos necessários para pro cessos produtivos novos ou na verdade para qualquer processo pro dutivo e portanto essa acumulação tornase uma função ou serviço distinto Não reconhecemos de modo algum esse problema parecenos que ele é criado por uma análise defeituosa Não existe no fluxo circular porque o funcionamento deste pressupõe quantidades dadas de meios de produção Mas tampouco existe para a realização de combinações novas75 porque os meios de produção requeridos por estas são retirados do fluxo circular quer já existam na forma desejada quer tenham que ser produzidos primeiro pelos outros meios de produção lá existentes Ao invés desse problema existe para nós um outro o problema de OS ECONOMISTAS 80 74 A mais importante delas é o aparecimento do juro produtivo como veremos no capítulo V Assim que o juro aparece em algum lugar do sistema expandese por todo ele 75 Evidentemente os meios produtivos não caem do céu Na medida em que não são dados pela natureza ou de modo nãoeconômico foram e são criados em algum momento pelas ondas individuais de desenvolvimento no sentido que damos a este e a partir daí incor porados ao fluxo circular Mas toda onda individual de desenvolvimento e toda combinação individual nova em si mesma provém novamente da oferta de meios produtivos do fluxo circular existente um caso da galinha e do ovo destacar meios produtivos já empregados em algum lugar do fluxo circular e alocálos nas novas combinações Isso é feito pelo crédito por meio do qual quem quer realizar novas combinações sobrepuja os produtores do fluxo circular no mercado dos meios de produção reque ridos E embora o significado e o objeto desse processo repouse num movimento dos bens de seus antigos usos em direção aos novos não pode ser descrito inteiramente em termos de bens sem que se passe por cima de algo essencial que acontece na esfera do dinheiro e do crédito e do que depende a explicação de fenômenos importantes na forma capi talista de organização econômica em contraste com outros tipos Finalmente mais um passo nessa direção de onde vêm as somas necessárias à aquisição dos meios de produção necessários para as combinações novas se o indivíduo em questão por acaso não as tiver A resposta convencional é simples vêm do crescimento anual da pou pança social mais aquela parte dos recursos que anualmente pode tor narse livre Ora a primeira quantidade foi de fato tão importante antes da Guerra talvez possa ser estimada em 15 do total da renda privada na Europa e na América do Norte que junto com a última soma que é difícil de obter estatisticamente não refuta de imediato essa resposta quantitativamente Ao mesmo tempo também não se dispõe atualmente de um número que represente a extensão de todas as operações de negócios envolvidas na realização de combinações no vas Mas não podemos nem mesmo começar com a poupança total Pois a sua magnitude só é explicável pelos resultados do desenvolvi mento anterior Sua maior parte decididamente não vem da parci mônia em sentido estrito ou seja da abstenção por alguém do consumo de parte de sua renda regular mas consiste em fundos que são eles próprios resultado de inovação bemsucedida e nos quais reconhece remos mais tarde o lucro empresarial No fluxo circular não haveria por um lado nenhuma fonte tão rica de poupança e por outro essen cialmente haveria menor incentivo para se poupar Os únicos grandes rendimentos por ele conhecidos seriam as receitas de monopólio e as rendas de grandes proprietários de terra enquanto provisões para os reveses ou para a velhice talvez também por motivos sem razão seriam os únicos incentivos O incentivo mais importante a chance de parti cipar dos ganhos do desenvolvimento estaria ausente Por isso num tal sistema econômico não haveria nenhum grande reservatório de po der de compra livre para o qual pudesse se voltar quem desejasse formar novas combinações e a sua própria poupança só seria sufi ciente em casos excepcionais Todo o dinheiro circularia estaria fixado em determinados canais estabelecidos Ainda que a resposta convencional à nossa questão não seja cer tamente absurda há no entanto um outro método de obter dinheiro para esse propósito que chama nossa atenção porque diferentemente do referido não pressupõe a existência de resultados acumulados do SCHUMPETER 81 desenvolvimento anterior e por isso pode ser considerado como o único disponível dentro de uma lógica estrita Esse método de obter dinheiro é a criação de poder de compra pelos bancos A forma que toma é imaterial A emissão de bilhetes de banco não cobertos totalmente por moeda metálica retirada da circulação é um exemplo óbvio mas os métodos dos bancos de depósitos prestam o mesmo serviço quando aumentam a soma total do dispêndio possível Ou podemos pensar nos aceites bancários na medida em que servem como dinheiro para fazer pagamentos no comércio atacadista É sempre uma questão não de transformar o poder de compra que já existe em propriedade de alguém mas da criação de novo poder de compra a partir do nada a partir do nada mesmo que o contrato de crédito pelo qual é criado o novo poder de compra seja apoiado em garantias que não sejam elas próprias meio circulante que se adiciona à circulação existente E essa é a fonte a partir da qual as novas combinações freqüentemente são fi nanciadas e a partir da qual teriam que ser financiadas sempre se os resultados do desenvolvimento anterior não existissem de fato em al gum momento Esses meios de pagamento creditícios ou seja meios de paga mento criados com o propósito e pelo ato de conceder crédito servem tanto quanto o dinheiro sonante no comércio em parte diretamente em parte porque podem ser imediatamente convertidos em dinheiro sonante para pequenos pagamentos ou pagamentos às classes nãoban cárias em particular aos assalariados Com sua ajuda os que rea lizam combinações novas podem obter acesso aos estoques existentes de meios produtivos ou quando for o caso podem capacitar àqueles de quem compram os serviços produtivos a obter acesso imediato ao mercado de bens de consumo Nunca há nesse nexo concessão de crédito no sentido de que alguém precise esperar pelo equivalente em bens do seu serviço e contentarse com um direito preenchendo com isso uma função especial nem mesmo no sentido de que alguém tenha que acumular meios de manutenção para trabalhadores ou proprietá rios de terra ou meios de produção produzidos que seriam todos pagos apenas com os resultados finais da produção Economicamente é ver dade há uma diferença essencial entre esses meios de pagamento se forem criados para novos fins e o dinheiro ou os outros meios de pagamento do fluxo circular Estes últimos podem ser concebidos de um lado como uma espécie de certificado de que a produção foi com pletada e de que foi efetuado um aumento no produto social por meio dela e de outro como uma espécie de comando sobre ou direito a parte desse produto social Os primeiros não têm a primeira dessas duas características Também eles são comando com que se pode obter imediatamente bens de consumo mas não certificados de produção prévia Acesso ao dividendo nacional usualmente só pode ser conseguido com a condição de que algum serviço produtivo tenha sido previamente OS ECONOMISTAS 82 prestado ou algum produto previamente vendido Essa condição nesse caso ainda não foi preenchida Só o será depois que as novas combi nações forem completadas com sucesso Assim esse crédito afetará o nível de preços nesse espaço de tempo Portanto o banqueiro não é primariamente tanto um intermediário da mercadoria poder de compra mas um produtor dessa mercadoria Contudo como toda poupança e fundos de reserva hoje em dia afluem geralmente para ele e nele se concentra a demanda de poder livre de compra quer já exista quer tenha que ser criado ele substitui os capi talistas privados ou tornouse o seu agente tornouse ele mesmo o capi talista par excellence Ele se coloca entre os que desejam formar combi nações novas e os possuidores dos meios produtivos Ele é essencialmente um fenômeno do desenvolvimento embora apenas quando nenhuma au toridade central dirige o processo social Ele torna possível a realização de novas combinações autoriza as pessoas por assim dizer em nome da sociedade a formálas É o éforo da economia de trocas III Chegamos agora ao terceiro dos elementos com que a nossa aná lise trabalha a saber a nova combinação de meios de produção e o crédito Embora os três elementos formem um todo o terceiro pode ser descrito como o fenômeno fundamental do desenvolvimento econô mico Chamamos empreendimento à realização de combinações novas chamamos empresários aos indivíduos cuja função é realizálas Esses conceitos são a um tempo mais amplos e mais restritos do que no uso comum Mais amplos porque em primeiro lugar chamamos empresá rios não apenas aos homens de negócios independentes em uma economia de trocas que de modo geral são assim designados mas todos que de fato preenchem a função pela qual definimos o conceito mesmo que sejam como está se tornando regra empregados depen dentes de uma companhia como gerentes membros da diretoria etc ou mesmo se o seu poder real de cumprir a função empresarial tiver outros fundamentos tais como o controle da maioria das ações Como a realização de combinações novas é que constitui o empresário não é necessário que ele esteja permanentemente vinculado a uma empresa individual muitos financistas promotores etc não são e ainda po dem ser empresários no sentido que lhe damos Por outro lado nosso conceito é mais restrito do que o tradicional ao deixar de incluir todos os dirigentes de empresas gerentes ou industriais que simplesmente podem operar um negócio estabelecido incluindo apenas os que real mente executam aquela função Não obstante sustento que a definição acima não faz mais do que formular com maior precisão o que a doutrina tradicional realmente pretende transmitir Em primeiro lugar nossa definição concorda com a comum no ponto fundamental da distinção entre empresários e capitalistas independentemente de os últimos SCHUMPETER 83 serem vistos como proprietários de dinheiro de direitos ao dinheiro ou de bens materiais Essa distinção hoje em dia é geralmente aceita e o tem sido por um tempo considerável Nossa definição coloca também a questão de que o acionista comum é um empresário enquanto tal e descarta a concepção do empresário como aquele que corre riscos76 Além disso a caracterização comum do empresário por expressões tais como iniciativa autoridade ou previsão aponta diretamente em nossa direção Pois há um pequeno raio de ação para tais qualidades dentro da rotina do fluxo circular e se essa tivesse sido separada claramente da ocorrência de mudanças nessa própria rotina a ênfase na definição da função dos empresários teria se transferido automati camente para estas últimas Finalmente há definições que poderíamos simplesmente aceitar Em particular há a definição bem conhecida que remonta a J B Say a função do empresário é combinar os fatores produtivos reunilos Como isso é uma atuação de tipo especial apenas quando os fatores são combinados pela primeira vez ao passo que é mero trabalho de rotina quando feito no curso da operação de um negócio essa definição coincide com a nossa Quando Mataja em Unternehmergewinn define o empresário como quem recebe lucro só temos que acrescentar a conclusão do capítulo I de que não há nenhum lucro no fluxo circular para que essa formulação também remonte à nossa77 E essa visão não é estranha à teoria tradicional como é de monstrado pela explicação do entrepreneur faisant ni bénéfice ni perte que foi rigorosamente elaborada por Walras mas pertence a muitos outros autores A tendência é de que o empresário não tenha nem lucro nem prejuízo no fluxo circular ou seja ele não tem ali nenhuma função de tipo especial simplesmente ele não existe mas em seu lugar há dirigentes de empresas ou gerentes de negócios de um tipo diferente e é melhor que não sejam designados pelo mesmo termo É um preconceito acreditar que o conhecimento da origem his OS ECONOMISTAS 84 76 O risco obviamente recai sempre sobre o proprietário dos meios de produção ou do capi taldinheiro que foi pago por eles portanto nunca sobre o empresário enquanto tal veja capítulo IV Um acionista pode ser um empresário Pode até dever o poder de atuar como empresário ao fato de possuir uma participação com a qual detém o controle Os acionistas per se contudo nunca são empresários mas apenas capitalistas que em consideração ao fato de se submeterem a certos riscos participam nos lucros Isso não é razão para con siderálos como qualquer um e não como capitalistas como está demonstrado pelos fatos de que primeiro o acionista médio normalmente não tem nenhum poder para influenciar a administração de sua companhia e em segundo lugar a participação nos lucros é freqüente em casos em que todos reconhecem a presença de um contrato de empréstimo Compare por exemplo o foenus nauticum grecoromano Seguramente essa interpretação é mais fiel à vida do que a outra que seguindo uma orientação legal defeituosa que só pode ser explicada historicamente atribui ao acionista médio funções que ele dificilmente pensa desempenhar algum dia 77 A definição do empresário em termos do lucro empresarial e não em termos da função cujo desempenho cria o lucro empresarial obviamente não é brilhante Mas temos ainda outra objeção a ela veremos que o lucro empresarial não cabe ao empresário por neces sidade no mesmo sentido que o produto marginal do trabalho cabe ao trabalhador tórica de uma instituição ou de um tipo nos mostra imediatamente sua natureza sociológica ou econômica Tal conhecimento freqüente mente nos leva à sua compreensão mas não produz diretamente uma teoria a seu respeito Ainda mais falsa é a convicção de que as formas primitivas de um tipo também são ipso facto as mais simples ou as mais originais no sentido de que mostram sua natureza de modo mais puro e com menos complicações do que as posteriores Muito freqüentemente ocorre o contrário entre outras razões porque a espe cialização crescente pode permitir que sobressaiam nitidamente funções e qualidades que são mais difíceis de reconhecer em condições mais primitivas quando estão misturadas com outras Assim é em nosso caso Na posição geral do chefe de uma horda primitiva é difícil separar o elemento empresarial dos outros Pela mesma razão a maior parte dos economistas até o tempo do mais moço dos Mill não conseguiu distinguir entre capitalista e empresário porque o industrial de cem anos atrás era ambas as coisas e certamente o curso dos acontecimentos desde então facilitou a realização dessa distinção como o sistema de arrendamento de terras na Inglaterra facilitou a distinção entre agri cultor e proprietário da terra ao passo que no Continente essa distinção ainda é ocasionalmente desprezada especialmente no caso do camponês que lavra sua própria terra78 Mas em nosso caso há ainda mais difi culdades como essas O empresário dos tempos mais antigos não só era via de regra também o capitalista mas freqüentemente era ainda como ainda é hoje no caso de estabelecimentos menores seu próprio perito técnico enquanto um especialista profissional não fosse chamado para os casos especiais Da mesma forma era e ainda é muitas vezes seu próprio agente de compras e vendas o chefe de seu escritório seu próprio diretor de pessoal e às vezes seu próprio con sultor legal para negócios gerais mesmo que na verdade via de regra empregasse advogados E era executando algumas dessas funções ou todas que ele preenchia regularmente os seus dias A realização de novas combinações não pode ser mais uma vocação do que a tomada e a execução de decisões estratégicas embora seja essa função e não o seu trabalho de rotina o que caracteriza o líder militar Portanto a função essencial do empresário deve sempre aparecer misturada com outros tipos de atividade que via de regra devem ser muito mais importantes que o essencial Por isso é que a definição marshalliana do empresário que trata a função empresarial simplesmente como ad ministração no sentido mais amplo atrai naturalmente a maior parte de nós Não a aceitamos simplesmente porque não ressalta o que con SCHUMPETER 85 78 Só esse desprezo explica a atitude de muitos teóricos socialistas para com a propriedade camponesa Pois a pequenez da propriedade individual só faz diferença para o pequeno burguês não para o socialista O critério do emprego de trabalho que não seja o do pro prietário e de sua família só é economicamente relevante do ponto de vista de uma espécie de teoria da exploração que praticamente não é mais sustentável sideramos ser o ponto chave e o único que distingue especificamente a atividade empresarial de outras Não obstante há tipos que apresentam a função empresarial com uma pureza particular o curso dos acontecimentos desenvol veuos paulatinamente O promotor certamente só se enquadra entre eles com algumas qualificações Pois deixando de lado as associações relativas ao status social e moral que estão ligadas a esse tipo o pro motor freqüentemente é apenas um agente que recebe uma comissão na intermediação que executa o trabalho da técnica financeira para lançar uma nova empresa Nesse caso não é o criador nem a força propulsora desse processo Contudo também pode ser esta última e então será algo como um empresário profissional Mas o tipo moderno de capitão de indústria79 corresponde mais estritamente ao que que remos expressar aqui especialmente se se reconhece por um lado a sua identidade digamos com o empresário comercial da Veneza do século XII ou entre os tipos mais modernos com John Law e por outro com o potentado da aldeia que combina a sua agricultura e o seu comércio de gado digamos com uma cervejaria rural um hotel uma loja Mas qualquer que seja o tipo alguém só é um empresário quando efetivamente levar a cabo novas combinações e perde esse caráter assim que tiver montado o seu negócio quando dedicarse a dirigilo como outras pessoas dirigem seus negócios Essa é a regra certamente e assim é tão raro alguém permanecer sempre como em presário através das décadas de sua vida ativa quanto é raro um homem de negócios nunca passar por um momento em que seja empresário mesmo que seja em menor grau Como ser um empresário não é uma profissão nem em geral uma condição duradoura os empresários não formam uma classe social no sentido técnico como por exemplo o fazem os proprietários de terra os capitalistas ou os trabalhadores Evidentemente a função empresa rial levará o empresário bemsucedido e sua família a certas posições de classe Também pode pôr o seu selo numa época da história social pode formar um estilo de vida ou sistemas de valores morais e estéticos mas em si mesma não significa uma posição de classe não mais do que pressupõe tais coisas E a posição de classe que pode ser alcançada não é enquanto tal uma posição empresarial mas se caracteriza como de proprietário de terras ou de capitalista de acordo com o modo pelo qual se usa o produto do empreendimento A herança do fruto pecu niário e das qualidades pessoais então tanto pode manter essa posição por mais de uma geração como tornar mais fácil para os descendentes o empreendimento adicional mas a função do empresário em si mesma OS ECONOMISTAS 86 79 Cf por exemplo uma boa descrição em WIEDENFELD Das Persönliche im modernen Unternehmertum Embora tenha aparecido no Schmollers Jahrbuch em 1910 este trabalho não me era conhecido quando a primeira edição deste livro foi publicada não pode ser herdada como é suficientemente bem demonstrado pela história das famílias industriais80 Mas agora surge a questão decisiva por que então a realização de combinações novas é um processo especial e o objeto de um tipo especial de função Cada indivíduo leva adiante seus afazeres eco nômicos tão bem quanto pode Seguramente suas próprias intenções nunca são realizadas com perfeição ideal mas em última instância o seu comportamento é moldado pela influência exercida sobre ele pelos resultados de sua conduta de modo a adequarse a circunstâncias que via de regra não mudam subitamente Se um negócio não pode nunca ser absolutamente perfeito em qualquer sentido pode no entanto com o tempo aproximarse de uma relativa perfeição considerandose o mundo ao redor as condições sociais o conhecimento do momento e o horizonte de cada indivíduo ou de cada grupo Novas possibilidades continuamente são oferecidas pelo mundo circundante em particular descobertas novas são continuamente acrescentadas ao estoque de co nhecimento existente Por que o indivíduo não deveria justamente fazer uso das novas possibilidades tanto quanto das antigas e conforme a posição de mercado tal como ele a entende criar porcos em vez de vacas ou até escolher uma nova rotação de culturas se isso puder ser visto como mais vantajoso E que tipo de fenômenos ou problemas novos especiais não encontráveis no fluxo circular estabelecido podem surgir daí Enquanto no fluxo circular habitual todo indivíduo pode agir pron ta e racionalmente porque está seguro do terreno em que pisa e se apóia na conduta ajustada a esse fluxo circular por parte de todos os outros indivíduos que por sua vez esperam dele a atividade habitual ele não pode simplesmente fazer isso quando se defronta com uma nova tarefa Enquanto nos canais habituais é suficiente a própria ap tidão e experiência do indivíduo normal quando se defronta com ino vações precisa de orientação Enquanto ele nada a favor da corrente no fluxo circular que lhe é familiar se quiser mudar o seu canal ele nada contra a corrente O que anteriormente era um auxílio tornase um obstáculo O que era um dado familiar tornase uma incógnita Quando terminam as fronteiras da rotina muitas pessoas não podem ir além e outros só podem fazêlo de uma maneira altamente variável A suposição de que a conduta é rápida e racional é uma ficção em todas as situações Mas prova ser suficientemente próxima à realidade se as coisas tiverem tempo de fixar a lógica no homem Onde isso tiver acontecido e dentro dos limites em que tiver acontecido é possível ficar contente com essa ficção e sobre ela construir teorias Não é pois verdade que o hábito o costume ou os modos nãoeconômicos de pensar SCHUMPETER 87 80 Sobre a natureza da função empresarial compare também minha exposição no artigo Un ternehmer In Handwörterbuch der Staatswissenschaften causem uma diferença irremediável entre os indivíduos de classes épo cas ou culturas diferentes e que por exemplo a economia da bolsa de valores seria inaplicável digamos aos camponeses de hoje ou aos artesãos da Idade Média Pelo contrário o mesmo quadro teórico81 em seus contornos mais amplos se ajusta a indivíduos de culturas bem diferentes qualquer que seja o seu grau de inteligência e de ra cionalidade econômica e podemos estar certos de que o camponês vende o seu novilho exatamente com tanta astúcia e egoísmo quanto o corretor da bolsa de valores vende a sua carteira de ações Mas isso só vale quando um semnúmero de precedentes formaram a conduta através de décadas e em seu fundamento através de centenas e milhares de anos e eliminaram o comportamento nãoadaptado Fora desses limites nossa ficção perde sua proximidade da realidade82 Apegarse também a isso como faz a teoria tradicional é encobrir uma coisa essencial e ignorar um fato que contrastando com outros desvios de nossas su posições em relação à realidade é teoricamente importante e fonte da explicação de fenômenos que não existiriam sem esse fato Portanto ao descrever o fluxo circular devese tratar as combi nações de meios de produção as funções de produção como dados como possibilidades naturais e admitir apenas variações pequenas83 na margem tais que todo indivíduo pode realizar ao adaptarse às mudanças em seu ambiente econômico sem desviarse materialmente das linhas habituais Portanto a realização de combinações novas é ainda uma função especial e o privilégio de um tipo de pessoa que é muito menos numeroso do que todos os que têm a possibilidade ob jetiva de fazêlo Portanto finalmente os empresários são um tipo especial84 e o seu comportamento um problema especial a força motriz OS ECONOMISTAS 88 81 O mesmo quadro teórico obviamente não o mesmo quadro sociológico cultural etc 82 Até que ponto é esse o caso é mais bem visto hoje em dia na vida econômica daquelas nações e dentro de nossa civilização na economia daqueles indivíduos que o desenvolvimento do último século ainda não lançou completamente em sua corrente por exemplo na economia do camponês da Europa central Esse camponês calcula não há nele nenhuma deficiência na maneira econômica de pensar Wirtschaftsgesinnung No entanto não pode dar um passo fora do caminho trilhado sua economia não mudou nem um pouco durante séculos exceto talvez pelo exercício da força e influência externas Por quê Porque a escolha de novos métodos não é simplesmente um elemento do conceito de ação econômica racional nem algo lógico de se esperar mas um processo distinto que tem necessidade de explicação especial 83 Pequenas perturbações que podem realmente como mencionamos anteriormente somarse com o tempo até tornarse grandes montantes O ponto decisivo é que o homem de negócios nunca altera sua rotina apesar de fazer adaptações O caso comum é o de pequenas perturbações à exceção do caso de grandes grandes uno actu Apenas nesse sentido a ênfase é posta aqui sobre a pequenez A objeção de que não pode haver em princípio nenhuma diferença entre as perturbações pequenas e grandes não é válida Pois é falsa em si mesma na medida em que se baseia na desconsideração do princípio do método infinitesimal cuja essência repousa no fato de que em certas circunstâncias podese afirmar sobre pequenas quantidades o que não se pode afirmar sobre grandes quantidades Mas o leitor que se ofender com o contraste grandepequeno pode se quiser substituílo pelo contraste adaptadoespontâneo Pessoalmente não estou disposto a fazêlo porque esse úl timo método de expressão é muito mais facilmente mal interpretado do que o primeiro e realmente demandaria explicações ainda mais longas SCHUMPETER 89 84 Em primeiro lugar é uma questão de um tipo de conduta e de uma categoria de pessoa na medida em que essa conduta é acessível em medida muito desigual e para relativamente poucas pessoas de modo que isso constitui sua característica destacada Como a exposição da primeira edição foi censurada como tendo exagerado e se enganado quanto à peculiaridade dessa conduta e como tendo deixado de lado o fato de que é ela mais ou menos aberta a todos os homens de negócios e como a exposição num artigo posterior Wellenbewegung des Wirtschaftslebens In Archiv für Sozialwissenschaft foi acusada de introduzir uma categoria intermediária homem de negócios meioestático podese argumentar o seguinte A conduta em questão é peculiar de duas maneiras Em primeiro lugar porque é dirigida a algo diferente e significa fazer algo diferente de outra conduta Podese na verdade incluíla com a última numa unidade mais elevada mas isso não altera o fato de que existe uma diferença teoricamente relevante entre as duas e que apenas uma delas é adequada mente descrita pela teoria tradicional Em segundo o tipo de conduta em questão não apenas difere do outro em seu objetivo sendolhe peculiar a inovação mas também por pressupor aptidões que diferem em tipo e não apenas em grau daquelas do mero compor tamento econômico racional Ora essas aptidões presumivelmente são distribuídas numa população eticamente homo gênea exatamente como outras ou seja a curva de sua distribuição tem uma ordenada máxima desvios de cada lado que se tornam mais raros quanto maiores são Similarmente podemos supor que todo homem saudável pode cantar se quiser Talvez metade dos indi víduos num grupo eticamente homogêneo tem a capacidade para isso num grau médio um quarto em medida progressivamente menor e digamos um quarto numa medida superior à média e dentro dessa quarta parte por uma série de habilidade para cantar continuamente crescente e um número continuamente decrescente de pessoas que a possui chegamos finalmente aos Carusos Apenas nessa quarta parte nos impressionamos em geral pela habilidade para cantar e apenas nas instâncias supremas isso pode tornarse a marca característica de uma pessoa Embora praticamente todos os homens possam cantar a habilidade para cantar não deixa de ser uma característica diferenciadora e um atributo de uma minoria na verdade não exatamente de uma categoria porque essa característica diferentemente da nossa afeta relativamente pouco o total da personalidade Vamos nos concentrar nisso mais uma vez um quarto da população pode ser tão pobre em termos dessas qualidades digamos aqui provisoriamente da iniciativa econômica que a deficiência se faz sentir pela pobreza de sua personalidade moral e cumpre um papel desprezível nos menores assuntos da vida privada e profissional em que esse elemento é requerido Reconhecemos essa categoria e sabemos que muitos dos melhores funcionários que se distinguem por sua devoção ao dever seus conhecimentos especializados e sua cor reção pertencem a ela Então vem o mediano o normal Estes provam ser melhores nas coisas que mesmo dentro dos canais estabelecidos não podem simplesmente ser des pachadas erledigen mas também devem ser decididas entscheiden e realizadas durch setzen Praticamente todos os homens de negócios se enquadram aqui de outro modo não teriam atingido nunca suas posições a maior parte representa uma seleção individual ou hereditariamente testada Um industrial têxtil não percorre um caminho novo quando vai a um leilão de lã Mas as situações ali não são nunca as mesmas e o sucesso do negócio depende tanto da habilidade e iniciativa para comprar a lã que o fato de que a indústria têxtil não tenha até agora mostrado uma trustificação comparável com a da indústria pesada é indubitavelmente explicável em parte pela relutância dos industriais mais talen tosos em renunciar à vantagem de sua própria habilidade para comprar a lã A partir daí subindo na escala chegamos finalmente à quarta parte mais elevada às pessoas que são da categoria caracterizada por qualidades de intelecto e de vontade acima do normal Dentro dessa categoria não apenas há muitas variedades comerciantes industriais financistas etc mas também uma variedade contínua de graus de intensidade de iniciativa Em nosso raciocínio ocorrem tipos de todos os graus de intensidade Muitos podem rumar por um caminho seguro onde ninguém ainda esteve outros seguem por onde antes alguém passou primeiro outros ainda vão apenas com a multidão mas nesta entre os primeiros Assim também o grande líder político de todas as espécies e tempos constitui uma categoria no entanto não uma coisa única mas apenas o ápice de uma pirâmide abaixo do qual há uma variação contínua até o meio e deste para valores abaixo do normal E no entanto não apenas liderar é uma função especial mas o líder também é algo especial distinto razão por que não há nenhum sentido em perguntar em nosso caso Onde começa então essa categoria e então exclamar Este não constitui de modo algum uma categoria de um grande número de fenômenos significativos Assim nossa posição pode ser caracterizada por três partes correspondentes de oposições Primeiramente pela oposição de dois processos reais o fluxo circular ou a tendência para o equilíbrio por um lado uma mudança dos canais da rotina econômica ou uma mudança espontânea nos dados econômicos que emergem de dentro do sistema por outro Em segundo lugar pela oposição de dois aparatos teóricos o estático e o dinâmico85 Em terceiro lugar pela oposição de dois tipos de conduta que seguindo a realidade podemos descrever como dois tipos de indivíduos os meros adminis tradores e os empresários E portanto o melhor método de produzir no sentido teórico deve ser concebido como o mais vantajoso dentre os métodos que foram testados empiricamente e se tornaram conheci dos Mas não é o melhor dos métodos possíveis no momento Se não se faz essa distinção o conceito tornase sem sentido e precisamente os problemas que tencionamos atender com a nossa interpretação per manecem sem ser resolvidos Formulemos agora precisamente o traço característico da conduta e do tipo em discussão A menor ação diária abrange um enorme esforço mental Todo colegial precisaria ser um gigante mental se ele próprio tivesse que criar por meio de sua própria atividade individual tudo o que sabe e usa E todo homem precisaria ser um gigante de sabedoria OS ECONOMISTAS 90 85 Objetouse contra a primeira edição que ela às vezes define estática como uma construção teórica às vezes como o esboço de um estado efetivo da vida econômica Creio que a presente exposição não dá nenhum sustento a essa opinião A teoria estática não supõe uma economia estacionária também trata dos efeitos das mudanças nos dados Propria mente falando portanto não há nenhuma conexão necessária entre teoria estática e rea lidade estacionária Só na medida em que se pode apresentar a forma fundamental do curso econômico dos acontecimentos com a máxima simplicidade numa economia que não muda é que essa suposição se recomenda à teoria A economia estacionária é por incontáveis milhares de anos e também nos tempos históricos em muitos lugares por séculos um fato incontrovertível à parte o fato que Sombart enfatizou de que além disso há uma tendência para o estado estacionário em cada período de depressão Assim compreendese facilmente como esse fato histórico e aquela construção teórica aliaramse de uma maneira que levou a alguma confusão O autor não usaria agora as palavras estática e dinâmica no sentido que têm acima em que são simples expressões curtas para teoria do fluxo circular e teoria do desenvolvimento Mais uma coisa a teoria emprega dois métodos de interpretação o que pode talvez trazer dificuldades Se se deve mostrar como todos os elementos do sistema econômico são determinados um pelo outro no equilíbrio esse sistema de equilíbrio é considerado como ainda não existente e é construído ab ovo diante de nossos olhos Isso não quer dizer que o seu viraser é com isso geneticamente explicado Apenas são tornados logicamente claros a sua existência e o seu funcionamento pela dis secção mental E as experiências e os hábitos dos indivíduos são considerados como exis tentes Como exatamente essas combinações produtivas surgiram não é explicado com isso Além disso se se investigam duas posições de equilíbrio contíguas então às vezes nem sempre como na Economics of Welfare de Pigou a melhor combinação produtiva na primeira é comparada com a melhor na segunda E isso novamente não precisa mas pode significar que as duas combinações no sentido dado aqui diferem não apenas por pequenas variações na quantidade mas em toda a sua estrutura técnica e comercial Aqui também o viraser da segunda combinação e os problemas ligados a este não são inves tigados mas apenas o funcionamento e o resultado da combinação já existente Mesmo que justificado até o ponto em que foi esse método de tratamento passa longe de nosso problema Se se subentendesse a asserção de que este é resolvido por aquele seria falso e vontade se tivesse que criar de novo todas as normas com as quais guia sua conduta cotidiana em todos os casos Isso é verdadeiro não apenas quanto às decisões e ações da vida individual e social cujos princípios são o produto de dezenas de milhares de anos mas também quanto aos produtos de períodos mais curtos e de uma natureza mais especial que constituem o instrumento particular para a execução de tarefas profissionais Mas precisamente as coisas cuja execução de acordo com isso deveriam acarretar um esforço supremo em geral não demandam nenhum esforço individual especial as que deveriam ser especialmente difíceis são na realidade especialmente fáceis o que deveria demandar capacidade sobrehumana é acessível ao menos dotado desde que tenha saúde mental Em particular dentro da rotina ordinária não há nenhuma necessidade de liderança É claro que ainda é necessário estabelecer as tarefas para as pessoas manter a disciplina etc mas isso é fácil e é uma função que qualquer pessoa normal pode aprender a cumprir Dentro das linhas conhecidas de todos mesmo a função de dirigir outras pessoas embora ainda necessária é um mero trabalho como qualquer outro comparável ao serviço de cuidar de uma máquina Todas as pessoas conseguem reconhecer suas tarefas diárias e estão aptas a fazêlas do modo costumeiro e de ordinário as executam por si próprias o diretor tem sua rotina como elas têm a delas e a sua função diretiva serve meramente para corrigir as aber rações individuais Isso é assim porque todo conhecimento e todo hábito uma vez adquirido incorporamse tão firmemente em nós como um terrapleno ferroviário na terra Não requerem ser continuamente renovados e cons cientemente reproduzidos mas afundam nos estratos do subconsciente São transmitidos normalmente quase sem conflitos pela herança pelo ensino pela educação pela pressão do ambiente Tudo o que pensamos sentimos ou fazemos muito tornase freqüentemente automático e nos sa vida consciente fica livre desse esforço A enorme economia de força aqui envolvida na raça e no indivíduo não é suficiente contudo para tornar a vida diária um fardo leve e para evitar que as suas demandas esgotem a energia média apesar de tudo Mas é grande o suficiente para tornar possível satisfazer os reclamos ordinários Isso vale da mesma forma para a vida econômica diária E daí se segue também para a vida econômica que cada passo fora da rotina diária encontra dificuldades e envolve um elemento novo É esse elemento que constitui o fenômeno da liderança A natureza dessas dificuldades pode ser enfocada nos três se guintes pontos Primeiro fora desses canais habituais o indivíduo está desprovido dos dados para as suas decisões e das regras de conduta que em geral são conhecidos por ele de modo muito acurado dentro deles É claro que ainda deve prever e julgar com base na sua expe rência Mas muitas coisas devem permanecer incertas outras ainda SCHUMPETER 91 são determináveis apenas dentro de limites amplos outras talvez só possam ser adivinhadas Isso é certo em particular quanto àqueles dados que o indivíduo luta para alterar e os que deseja criar Agora ele deve fazer realmente em alguma medida o que a tradição faz para ele na vida cotidiana a saber planejar conscientemente a sua conduta em todos os particulares Haverá muito mais racionalidade consciente nisso do que na ação costumeira que como tal não necessita de modo algum que se reflita sobre ela mas esse plano necessariamente deve estar exposto não apenas a erros maiores em grau mas também a outros tipos de erros que não são os que ocorrem na ação costumeira O que já foi feito tem a realidade aguda de todas as coisas que vimos e experimentamos o novo é apenas o fruto de nossa imaginação Levar a cabo um plano novo e agir de acordo com um plano habitual são coisas tão diferentes quanto fazer uma estrada e caminhar por ela Tornase claro o quanto isso é diferente se se tem em mente a impossibilidade de examinar exaustivamente todos os efeitos e contra feitos do empreendimento projetado Mesmo os que poderiam em teoria ser averiguados se se tivesse tempo e meios ilimitados devem na prática permanecer obscuros Como a ação militar deve ser decidida numa dada posição estratégica mesmo que todos os dados potencial mente obteníveis não estejam disponíveis assim também na vida eco nômica a ação deve ser decidida sem a elaboração de todos os detalhes do que deve ser feito Aqui o sucesso de tudo depende da intuição da capacidade de ver as coisas de um modo que depois prove ser correto mesmo que não possa ser estabelecido no momento e da captação do fato essencial descartandose o nãoessencial mesmo que não seja pos sível prestar contas dos princípios mediante os quais isso é feito Um meticuloso trabalho preparatório conhecimento especializado profun didade de compreensão intelectual talento para a análise lógica podem em certas circunstâncias ser fontes de fracasso Quanto mais acura damente porém aprendemos a conhecer o mundo natural e social mais perfeito se torna nosso controle dos fatos e quanto maior a ex tensão com o tempo e a racionalização progressiva em que as coisas puderem ser calculadas simples rápida e seguramente mais decresce o significado dessa função Portanto a importância da categoria em presário deve diminuir justamente como já diminuiu a importância do comandante militar Não obstante uma parte da essência mesma de cada tipo está vinculada a essa função Assim como esse primeiro ponto repousa na tarefa o segundo repousa na psique do próprio homem de negócios Não apenas é obje tivamente mais difícil fazer algo novo do que fazer o que é conhecido e testado pela experiência mas o indivíduo se sente relutante em fazêlo e assim seria mesmo que as dificuldades objetivas não existissem É assim em todos os campos A história da ciência é uma grande con firmação do fato de que consideramos excessivamente difícil adotar OS ECONOMISTAS 92 um ponto de vista científico ou um método novos O pensamento volta repetidamente à trilha habitual mesmo que tenha se tornado inade quada e mesmo que a inovação mais adequada em si mesma não apre sente nenhuma dificuldade particular A própria natureza dos hábitos arraigados de pensar a sua função poupadora de energia se funda no fato de que se tornaram subconscientes que produzem seus resultados automaticamente e são à prova de crítica e até de contradição por fatos individuais Mas precisamente por causa disso tornamse gri lhões quando sobrevivem à sua utilidade Assim é também no mundo econômico No peito de quem deseja fazer algo novo as forças do hábito se levantam e testemunham contra o projeto em embrião É portanto necessário uma força de vontade nova e de outra espécie para arrancar dentre o trabalho e a lida com as ocupações diárias oportunidade e tempo para conceber e elaborar a combinação nova e resolver olhála como uma possibilidade real e não meramente como um sonho Essa liberdade mental pressupõe um grande excedente de força sobre a de manda cotidiana e é algo peculiar e raro por natureza O terceiro ponto consiste na reação do meio ambiente social contra aquele que deseja fazer algo novo Essa reação pode se manifestar primeiro que tudo na existência de impedimentos legais ou políticos Mas desprezandose isso qualquer conduta divergente por parte de um membro de um grupo social é condenada embora em grau alta mente variável conforme o grupo social esteja ou não acostumado a tal conduta Mesmo um desvio do costume social em coisas como a vestimenta ou os costumes desperta oposição e é claro que essa será maior nos casos mais graves Essa oposição é maior nos estágios pri mitivos da cultura do que nos outros mas não está nunca ausente Até mesmo o mero espanto para com o desvio mesmo sua simples observação exerce uma pressão sobre o indivíduo A manifestação da condenação pode trazer de imediato conseqüências perceptíveis em seu rastro Pode até levar ao ostracismo social e finalmente ao distancia mento físico ou ao ataque direto Nem o fato de que a diferenciação progressiva enfraquece a oposição especialmente por ser o próprio desenvolvimento que desejamos explicar a causa mais importante desse enfraquecimento nem o fato adicional de que a oposição social age em certas circunstâncias e sobre muitos indivíduos como um estímulo mudam em princípio qualquer coisa em seu significado Superar essa oposição é sempre um gênero especial de trabalho que não existe no curso costumeiro da vida trabalho que também requer um gênero es pecial de conduta Em questões econômicas essa resistência se mani festa antes de tudo nos grupos ameaçados pela inovação depois na dificuldade para encontrar a cooperação necessária finalmente na di ficuldade para conquistar os consumidores Mesmo que esses elementos ainda sejam efetivos hoje em dia a despeito do fato de que um período de desenvolvimento turbulento acostumounos à aparição e à realização SCHUMPETER 93 de inovações eles podem ser mais bem estudados nos primórdios do capitalismo Mas são tão óbvios ali que seria tempo perdido para os nossos propósitos estendernos a respeito Há liderança apenas por essas razões liderança quer dizer como um tipo especial de função em contraste com uma mera diferença de posição que existiria em todo corpo social no menor como no maior em combinação com o qual essa diferença sempre aparece Os fatos aludidos criam uma fronteira além da qual as pessoas em sua maioria não agem prontamente por si mesmas e requerem a ajuda de uma minoria Se a vida social tivesse em todos os aspectos a imutabilidade relativa do mundo astronômico por exemplo ou se sendo mutável essa mutabilidade fosse no entanto incapaz de ser influenciada pela ação humana ou finalmente se sendo capaz de ser assim influenciada esse tipo de ação fosse no entanto igualmente aberto para todos então não haveria nenhuma função especial de liderança distinta do trabalho de rotina O problema específico da liderança surge e a figura do líder apa rece apenas quando novas possibilidades se apresentam É por isso que ele é tão fortemente marcante entre os normandos ao tempo de suas conquistas e tão debilmente entre os eslavos nos séculos de sua vida sem mudança e relativamente protegida nos pântanos do Pripet Nossos três pontos caracterizam a natureza da função assim como a conduta ou comportamento que constitui o símbolo do líder Não é parte de sua função descobrir ou criar novas possibilidades Elas estão sempre presentes abundantemente acumuladas por toda sorte de pessoas Freqüentemente elas também são conhecidas de modo geral e são discutidas por autores literários ou científicos Em outros casos não há nada a descobrir sobre elas porque são bem óbvias Para tomar um exemplo da vida política não foi absolutamente difícil ver como as condições sociais e políticas da França no tempo de Luís XVI po deriam ter sido melhoradas de modo a evitar a queda do ancien régime Na verdade numerosas pessoas o viram Mas ninguém estava em po sição de assumilo Ora é nesse assumir as coisas sem o qual as possibilidades estão mortas que consiste a função do líder Isso vale para todos os tipos de liderança tanto as efêmeras como as mais du radouras As primeiras podem servir de exemplo O que deve ser feito numa emergência casual é via de regra muito simples A maioria das pessoas ou todas elas podem vêlo no entanto querem que alguém fale claramente lidere e organize Mesmo a liderança que influencia me ramente pelo exemplo como a liderança artística ou científica não consiste simplesmente em descobrir ou criar a coisa nova mas em impressionar com ela o grupo social de modo a arrastálo em sua esteira É portanto mais pela vontade do que pelo intelecto que os líderes cumprem a sua função mais pela autoridade pelo peso pessoal etc do que por idéias originais OS ECONOMISTAS 94 A liderança econômica em particular deve pois ser distinguida da invenção Enquanto não forem levadas à prática as invenções são economicamente irrelevantes E levar a efeito qualquer melhora mento é uma tarefa inteiramente diferente da sua invenção e uma tarefa ademais que requer tipos de aptidão inteiramente diferentes Embora os empresários possam naturalmente ser inventores exata mente como podem ser capitalistas não são inventores pela natureza de sua função mas por coincidência e viceversa Além disso as ino vações cuja realização é a função dos empresários não precisam ne cessariamente ser invenções Não é aconselhável portanto e pode ser completamente enganador enfatizar o elemento invenção como fazem tantos autores O tipo empresarial de liderança enquanto distinto de outros tipos de liderança econômica tais como os que esperaríamos encontrar numa tribo primitiva ou numa sociedade comunista é evidentemente colorido pelas condições que lhe são peculiares Nada tem do encanto que ca racteriza outros tipos de liderança Consiste em cumprir uma tarefa muito especial que apenas em raros casos apela à imaginação do pú blico Para o seu sucesso a perspicácia e a energia não são mais es senciais do que uma certa exigência que agarra a chance imediata e nada mais O peso pessoal por certo não é desprovido de importância No entanto a personalidade do empresário capitalista não precisa cor responder e geralmente não corresponde à idéia da maioria de nós sobre como parecer um líder tanto assim que há alguma dificuldade na constatação de quem entra na categoria sociológica de líder Ele conduz os meios de produção para novos canais Mas não faz isso convencendo as pessoas da conveniência da realização de seu plano ou criando confiança em sua liderança à maneira de um líder político o único homem a quem tem que convencer ou impressionar é o banqueiro que deve financiálo mas comprandoas ou comprando os seus serviços e então usandoos como achar adequado Também lidera no sentido em que arrasta ao seu ramo outros produtores atrás de si Mas como são seus concorrentes que primeiro reduzem e então ani quilam seu lucro esta é por assim dizer uma liderança contra sua própria vontade Finalmente presta um serviço cuja apreciação plena demanda o conhecimento de um especialista Não é tão facilmente entendido pelo público em geral como um discurso bemsucedido de um político ou uma vitória de um general no campo de batalha para não insistir no fato de que parece agir e muitas vezes de modo desagradável somente em seu próprio interesse Entenderemos por tanto que não observamos nesse caso o surgimento de todos aqueles valores afetivos que são a glória de todos os outros tipos de liderança social Acrescentese a isso a precariedade da posição econômica tanto do empresário individual quanto dos empresários enquanto grupo e o fato de que quando o seu sucesso econômico o eleva socialmente SCHUMPETER 95 ele não tem nenhuma tradição cultural ou posição a recorrer mas se move na sociedade como um novorico de cujas maneiras riem facil mente e entenderemos por que esse tipo nunca foi popular e por que mesmo a crítica científica passa rapidamente por ele86 Finalmente tentaremos dar o último toque em nosso quadro do empresário da mesma maneira em que sempre na ciência como na vida prática tentamos compreender o comportamento humano a saber analisando os motivos característicos de sua conduta Qualquer tenta tiva de fazêlo deve evidentemente enfrentar todas aquelas objeções contra a intromissão do economista na psicologia que uma longa série de autores tornou conhecidas Não podemos entrar aqui na questão fundamental da relação entre a psicologia e a economia É suficiente manifestar que os que em princípio desaprovam qualquer consideração psicológica numa discussão econômica podem omitir o que estamos prestes a dizer sem com isso perder contato com a discussão dos ca pítulos seguintes Pois nenhum dos resultados a que pretendemos con duzir com nossa análise se mantém de pé ou cai com a nossa psicologia do empresário ou poderia estar viciado pelos erros desta Não há em nenhum lugar como o leitor pode facilmente verificar necessidade alguma de ultrapassarmos as fronteiras do comportamento observável Os que não desaprovam toda psicologia mas apenas a espécie de psicologia que conhecemos pelo livrotexto tradicional verão que não adotamos ne nhuma parte do quadro tradicional da motivação do homem econômico Na teoria do fluxo circular a importância de examinar os motivos é muito reduzida pelo fato de que as equações do sistema de equilíbrio podem ser interpretadas de modo a não implicar em nenhuma dimensão psíquica como demonstrado pela análise de Pareto e de Barone Essa é a razão por que mesmo uma psicologia bastante deficiente interfere muito menos nos resultados do que se esperaria Pode haver conduta racional mesmo na ausência de motivo racional Mas assim que dese jamos realmente penetrar na motivação o problema prova não ser nada simples Dentro dos hábitos e circunstâncias sociais dados a maior parte do que as pessoas fazem todos os dias lhes aparece pri mariamente do ponto de vista do dever e traz consigo uma sanção social ou divina Nisso há muito pouco de racionalidade consciente ainda menos de hedonismo e de egoísmo individual e quanto dessas características que se pode dizer com segurança que existe é de cres OS ECONOMISTAS 96 86 Portanto pode não ser supérfluo salientar que a nossa análise do papel do empresário não acarreta qualquer glorificação do tipo como alguns leitores da primeira edição deste livro pareceram pensar Sustentamos que os empresários têm uma função econômica distinta digamos dos ladrões Mas não descrevemos todo empresário como um gênio ou como um benfeitor da humanidade nem desejamos expressar nenhuma opinião sobre os méritos comparativos da organização social em que ele desempenha o seu papel ou sobre a questão de que o que ele faz não poderia ser efetuado de modo mais barato ou eficiente por outras maneiras cimento comparativamente recente Não obstante enquanto nos con finarmos às grandes linhas da ação econômica constantemente repetida podemos vinculála com as necessidades e o desejo de satisfazêlas sob a condição de que sejamos cuidadosos para reconhecer que o motivo econômico assim definido varia muito em intensidade no tempo é a sociedade que molda os desejos particulares que observamos que as necessidades devem ser tomadas com referência ao grupo no qual o indivíduo pensa quando decide o curso de sua ação a família ou qualquer outro grupo menor ou maior do que a família que a ação não acompanha prontamente o desejo mas apenas corresponde a este de modo mais ou menos imperfeito que o campo para a escolha indi vidual está sempre delimitado embora de maneiras muitos diferentes e em graus muito diferentes pelos hábitos ou convenções sociais e coisas semelhantes ainda é amplamente verdadeiro que dentro do fluxo circular todos se adaptam ao seu meio ambiente de modo a satisfazer certas necessidades dadas suas ou dos outros do melhor modo que possam Em todos os casos o significado da ação econômica é a satisfação de necessidades no sentido de que não haveria nenhuma ação econômica se não houvesse nenhuma necessidade No caso do fluxo circular podemos também pensar na satisfação das necessidades como o motivo normal O último não é verdadeiro para o nosso exemplo Em certo sentido pode ser chamado o mais racional e o mais egoísta de todos Pois como vimos a racionalidade consciente entra muito mais na realização de novos planos os quais devem ser elaborados antes de que se possa atuar com base neles do que na mera direção de um negócio estabe lecido que é em grande parte uma questão de rotina E o empresário típico é mais egocêntrico do que os de outra espécie porque menos do que estes conta com a tradição e a conexão e porque a sua tarefa característica teórica como historicamente consiste precisamente em demolir a velha tradição e criar uma nova Embora isso se aplique primariamente à sua ação econômica também se estende às conse qüências morais culturais e sociais desta Evidentemente não é mera coincidência que o período de ascensão da figura do empresário também tenha dado origem ao Utilitarismo Mas a sua conduta e o seu motivo não são racionais em nenhum outro sentido E em nenhum sentido a sua motivação característica é do tipo hedonista Se definimos motivo hedonista da ação como o desejo de satisfazer as próprias necessidades podemos realmente fazer com que as necessidades incluam quaisquer impulsos do mesmo modo como podemos definir o egoísmo de forma a incluir também todos os valores altruísticos baseandose no fato de que também significam algo no sentido da autogratificação Mas isso reduziria a nossa definição à tautologia Se desejamos darlhe significado devemos restringila às necessidades tais que sejam capazes de ser satisfeitas pelo consumo SCHUMPETER 97 de bens e àquele tipo de satisfação que se espera deste Então não é mais verdade que nosso modelo esteja agindo de acordo com um desejo de satisfazer suas necessidades Pois a menos que admitamos que os indivíduos de nosso exemplo são impulsionados por uma ânsia insaciável de satisfação hedonista a atuação da lei de Gossen no caso dos líderes dos negócios logo poria um ponto final nos esforços posteriores A experiência ensina todavia que os empresários típicos se retiram da arena apenas quando e porque sua força está gasta e não se sentem mais à altura de sua tarefa Isso não parece confirmar a imagem do homem econômico confrontando os resultados prováveis com a desutilidade do esforço e alcançando em tempo hábil um ponto de equilíbrio além do qual ele não está disposto a ir O esforço em nosso caso não parece pesar de modo algum pelo fato de ser sentido como uma razão para parar E a atividade do tipo empresarial é obviamente um obstáculo ao gozo hedonista daqueles tipos de mercadorias que comumente são adquiridos por rendimentos que vão além de certa medida porque o seu consumo pressupõe lazer Hedonisticamente portanto a conduta que geralmente observamos em indivíduos de nosso exemplo seria irracional Evidentemente isso não provaria a ausência de motivo hedonista No entanto aponta para uma outra psicologia de caráter nãohedo nista especialmente se tivermos em conta a indiferença ao gozo he donista que amiúde é notório em espécimens ilustres de nosso exemplo e que não é difícil de entender Antes de tudo há o sonho e o desejo de fundar um reino privado e comumente embora não necessariamente também uma dinastia O mundo moderno realmente não conhece nenhuma colocação desse tipo mas o que pode ser alcançado pelo sucesso industrial ou comercial ainda é para o homem moderno a melhor maneira possível de se aproximar da nobreza medieval Sua fascinação é especialmente forte para as pessoas que não têm nenhuma outra chance de atingir distinção social A sensação de poder e independência nada perde pelo fato de ambos serem em grande parte ilusões Uma análise mais cuidadosa levaria à descoberta de uma variedade sem fim dentro desse conjunto de estímulos desde a ambição moral até o mero esnobismo Mas essa necessidade não nos detém Basta assinalar que os estímulos desse tipo embora mais próximos à satisfação dos consumidores não coin cidem com esta Há então o desejo de conquistar o impulso para lutar para pro varse superior aos outros de ter sucesso em nome não de seus frutos mas do próprio sucesso Nesse aspecto a ação econômica tornase afim do esporte há competições financeiras ou melhor lutas de boxe O resultado financeiro é uma consideração secundária ou pelo menos avaliada principalmente como índice de sucesso e sinal de vitória cuja exibição mui freqüentemente é mais importante como fator de altos OS ECONOMISTAS 98 gastos do que o desejo dos bens de consumo em si mesmos Novamente poderíamos encontrar incontáveis nuances algumas das quais como a ambição social se interpenetram com o primeiro conjunto de estí mulos E novamente nos defrontamos com uma motivação caracteris ticamente diferente da satisfação de necessidades no sentido definido acima ou da adaptação hedonista para dizer a mesma coisa em outras palavras Finalmente há a alegria de criar de fazer as coisas ou simples mente de exercitar a energia e a engenhosidade Esse é um motivo que está perto de ser ubíquo mas em nenhuma outra parte sobressai como um fator independente de comportamento com qualquer coisa como a clareza com que se impõe em nosso caso Nosso exemplo procura dificuldades muda por mudar deliciase com a aventura Esse conjunto de estímulos é o mais distintamente antihedonista dos três Apenas no primeiro conjunto de estímulos a propriedade privada enquanto resultado da atividade empresarial é um fator essencial para tornála operante Nos outros dois não é O ganho pecuniário é real mente uma expressão muito acurada de sucesso especialmente de su cesso relativo e do ponto de vista do homem que luta por ele tem a vantagem adicional de ser um fator objetivo e em grande parte inde pendente da opinião dos outros Essas e outras peculiaridades inerentes ao mecanismo da sociedade aquisitiva tornam muito difícil substituílo como motor do desenvolvimento industrial mesmo que descartássemos a importância que tem para a criação de um fundo disponível para o investimento Não obstante é verdade que o segundo e o terceiro con juntos de estímulos empresariais podem em princípio ser protegidos por outros arranjos sociais que não impliquem o ganho privado me diante inovação econômica Que outros estímulos poderiam ser propor cionados e como poderiam ser postos a funcionar tão bem como o fazem os capitalistas são questões que estão além do nosso tema São referidas mui ligeiramente pelos reformadores sociais e completa mente ignoradas pelo radicalismo fiscal Mas não são insolúveis e podem ser respondidas pela observação detalhada da psicologia da atividade empresarial ao menos para dados momentos e lugares SCHUMPETER 99 CAPÍTULO III Crédito e Capital A natureza e a função do crédito87 A noção fundamental de que a essência do desenvolvimento eco nômico consiste num emprego diferente dos serviços existentes do tra balho e da terra nos leva à declaração de que a realização de combi nações novas tem lugar mediante a retirada de serviços do trabalho e da terra de seus empregos anteriores Com relação a toda forma de economia em que o líder não tenha nenhum poder direto de dispor desses serviços isso nos leva novamente a duas heresias primeiro à heresia de que o dinheiro e já então à segunda heresia de que também outros meios de pagamento desempenham uma função essencial daí que os processos em termos de meios de pagamento não são meramente reflexos dos processos em termos de bens Em todos os estilos possíveis com rara unanimidade até com impaciência e indignação moral e in telectual uma linha muito longa de teóricos nos assegurou o contrário A economia quase na época em que se tornou uma ciência resistiu continuamente aos erros populares que se ligam ao fenômeno do di 101 87 A linha de pensamento que é exposta sem alteração no fundamental recebeu nesse meio tempo uma consolidação valiosa e um aperfeiçoamento pelas investigações de A Hahn em seu Volkswirtschaftliche Theorie des Bankkredits 1ª ed 1920 2ª ed 1926 O leitor é remetido expressamente a esse livro original e meritório que desenvolveu essencialmente o nosso conhecimento do problema Equivalente do mesmo modo em muitos aspectos paralelo é W G Langworthy Taylor em The Credit System Talvez os fenômenos do pós guerra e as discussões quanto ao papel do crédito bancário no auge e na depressão tenham removido do que tenho a dizer boa parte da aparência paradoxal Hoje em dia todas as teorias do ciclo econômico consideram o fato do crédito adicional na prosperidade e têm em conta a questão levantada por Keynes de que o ciclo poderia ser mitigado ao ser influenciado pelo lado monetário Isso ainda não significa aceitação de meu ponto de vista Mas deve conduzir a ela Cf também meu artigo Kreditkontrolle no Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik 1925 Recentemente Robertson em Banking Policy and the Price Level chegou a resultados similares sobre isso cf PIGOU Economic Journal junho 1926 nheiro muito corretamente Esse foi um de seus serviços fundamen tais E quem quer que medite sobre o que foi dito até agora conver cerseá facilmente de que nenhum desses erros se mantém aqui É claro que se alguém fosse dizer que o dinheiro é apenas um meio para facilitar a circulação dos bens e que nenhum fenômeno importante pode estar ligado a ele isso seria falso Se alguém criasse a partir daí uma objeção contra nosso raciocínio então seria refutado imediata mente por nossa prova de que em nosso caso um emprego diferente do potencial produtivo do sistema não pode ser alcançado de outro modo que não por alteração no poder relativo de compra dos indivíduos Vimos que em princípio não é possível o empréstimo dos serviços do trabalho e da terra pelos trabalhadores e proprietários da terra Nem pode o próprio empresário tomar emprestado meios de produção pro duzidos Pois no fluxo circular não haveria estoques ociosos para as necessidades do empresário Se em um lugar ou outro porventura exis tirem exatamente os meios de produção produzidos de que o empresário necessita então é claro que este pode comprálos para isso contudo precisa outrossim de poder de compra Mas não pode simplesmente tomálos emprestados pois são necessários para os propósitos para os quais foram produzidos e o possuidor não pode e não quer esperar pelo seu retorno que o empresário pode realmente devolverlhe mas apenas mais tarde e também não pode e não quer arcar com nenhum risco Se não obstante alguém o faz então ocorrem duas transações uma compra e uma extensão do crédito Ambas não são apenas duas partes legalmente distintas de um mesmo processo econômico mas dois processos econômicos muito diferentes a cada um dos quais cor respondem fenômenos econômicos muito diferentes como será visto mais tarde Finalmente o empresário também não pode adiantar88 bens de consumo a trabalhadores e senhores de terra simplesmente porque não os tem Se os comprar precisa de poder de compra para esse propósito Não podemos passar por cima desse ponto uma vez que se trata sempre de retirar bens do fluxo circular Com relação ao empréstimo de bens de consumo vale o mesmo que em relação ao empréstimo de meios de produção produzidos Não afirmamos pois nada de misterioso ou estranho Evidentemente não haveria nenhum sentido em objetar que nada de essencial pode depender do dinheiro Efetivamente o poder de compra é o veículo de um processo essencial quanto a isso não pode haver dúvida alguma Ademais a objeção realmente não pode ser feita de modo algum porque todos reconhecem o fenômeno análogo de que as mudanças na quantidade ou na distribuição de dinheiro podem ter OS ECONOMISTAS 102 88 A construção teórica que essa concepção irreal reforçou desde os dias de Quesnay refutase assim por si mesma E é tão importante que se pode falar em economias de adiantamentos Vorschussökonomie efeitos de muito longo alcance Mas até agora essa observação foi dei xada de lado No entanto a comparação é muito esclarecedora Aqui também não há necessariamente uma mudança na esfera dos bens uma causa precedente do lado das mercadorias à qual se possa recorrer em busca de explicação Os bens comportamse muito passivamente em qualquer caso Não obstante sua espécie e sua quantidade são como todos sabem muito influenciadas por tais mudanças Nossa segunda heresia também está longe de ser tão perigosa quanto parece Também repousa em última análise num fato que não só é simplesmente demonstrável mas mesmo óbvio e também geral mente admitido São criados no sistema econômico meios de pagamento que em sua forma externa é verdade são representados como meros direitos a dinheiro mas que diferem essencialmente de direitos a outros bens por desempenharem exatamente o mesmo serviço ao menos temporariamente que o próprio bem em questão de modo que podem em certas circunstâncias tomarlhe o lugar89 Não apenas isso é reco nhecido na literatura sobre o dinheiro e as transações bancárias como também na teoria no sentido mais estrito Isso pode ser visto em qualquer compêndio Não temos nada a acrescentar à observação mas apenas à análise Os problemas cuja discussão tiveram mais relação com o reconhecimento do fato foram as questões do conceito e do valor do dinheiro Quando a teoria quantitativa montou a sua fórmula para o valor do dinheiro a crítica primeiro agarrouse ao fato dos outros meios de pagamento É também bastante sabido que a velha questão de que esses meios de pagamento mais especialmente os créditos ban cários são dinheiro foi respondida afirmativamente por muitos dos melhores autores Mas é suficiente que tenha sido colocada De qualquer modo o fato que nos interessa foi reconhecido sem exceção que eu saiba mesmo por aqueles autores que responderam negativamente à questão Sempre tem sido explicado também em maior ou menor de talhe como e em que forma é tecnicamente possível Isso implica reconhecer que os meios de circulação assim criados não representam meramente uma quantidade igual de dinheiro metá lico mas que existem em tais quantidades que não seria possível serem todos resgatados imediatamente e mais ainda que não apenas subs tituem por questão de conveniência somas de dinheiro que circulavam anteriormente mas também aparecem recémcriados lado a lado com as somas existentes Do mesmo modo achamos que concorda com a concepção predominante o ponto de modo nenhum essencial para nós mas que mantemos para fins de exposição de que a criação de meios SCHUMPETER 103 89 Embora em geral não se possa somar direitos a bens com os próprios bens não mais do que espigas e grãos de cereal no entanto a questão apresenta aqui claramente certa diferença Enquanto não posso fazer um direito montar em um cavalo posso em certas condições fazer exatamente o mesmo com os direitos a dinheiro e com o próprio dinheiro ou seja comprar de pagamento centrase nos bancos e constitui sua função fundamental A criação de dinheiro pelos bancos ao estabelecer direitos contra si próprios que é descrita por Adam Smith e na verdade por autores ainda mais antigos de uma forma completamente livre de erros vul gares tornouse um lugarcomum hoje em dia com o que apressome a acrescentar que para os nossos propósitos tanto faz se considera a expressão criação de dinheiro como teoricamente correta ou não Nos sas deduções são completamente independentes dos pontos particulares de qualquer teoria monetária Finalmente não pode haver dúvida de que esses meios de cir culação passam a existir no processo de concessão de crédito e são criados especialmente desprezandose os casos em que há apenas uma questão de evitar o transporte de dinheiro metálico com o propósito de conceder crédito Um banco segundo Fetter Principles of Economics p 462 é um negócio cujo rendimento deriva principal mente do empréstimo de suas promessas de pagamento Até agora não disse nada de controverso e até agora nem mesmo vejo a possibi lidade de uma diferença de opinião Ninguém pode me acusar de con trariar a afirmação de Ricardo de que as operações bancárias não podem aumentar a riqueza de um país ou de tornarme culpado di gamos de uma especulação nebulosa90 no sentido dado por Law Além disso quem negaria o fato de que em alguns países talvez 34 dos depósitos bancários são simplesmente créditos91 e que em geral o ho mem de negócios primeiro tornase devedor do banco para tornarse depois seu credor que primeiro toma emprestado o que uno actu deposita para não falar do fato de que apenas uma fração desprezível de todas as transações são e podem ser efetuadas pelo dinheiro em sentido estrito Portanto não mais considerarei aqui essas coisas com tanto cuidado Realmente não há nenhum propósito em dar aqui ex plicações que podem ser encontradas em todos os livros elementares por aqueles a quem elas ofereçam qualquer coisa de novo Também é tido como indiscutível que todas as formas de crédito dos bilhetes de OS ECONOMISTAS 104 90 Cf J S Mill Além disso todo economista admitirá que a afirmação de Ricardo não é muito correta mesmo sendo ele sempre tão conservador sobre esse ponto Cf por exemplo J L Laughlin que diz em seu Principles of Money O crédito não aumenta o capital ou seja os meios de produção mas o mobiliza e o torna mais eficiente e conduz assim a um aumento do produto Teremos algo similar a dizer 91 Apenas poucos bancos mostram em seus balanços periódicos que parte de seus depósitos consiste em depósitos reais A estimativa acima é baseada em balanços ingleses que o mostram ao menos indiretamente e provavelmente equivalem a uma communis opinio Isso não vale para a Alemanha por exemplo porque lá não é prática simplesmente creditar a um cliente o montante do empréstimo Todavia a essência da teoria não é diferente por causa disso Estritamente falando ademais todos os depósitos bancários são baseados em simples créditos como Hahn enfatizou corretamente apenas os créditos que derivam de somas pagas são cobertos de uma maneira especial e não aumentam o poder de compra dos depositantes banco aos créditos contábeis são essencialmente a mesma coisa e que em todas essas formas o crédito aumenta os meios de pagamento92 Até agora só um ponto pode ser dado como controvertido A maior parte dos meios de circulação obviamente não pode ser criada sem uma base que consista em moeda legal ou mercadorias Creio que não me engano quando digo que para o homem de negócios assim como para o teórico a letra de câmbio do produtor aparece com o exemplo típico de tais meios de circulação O produtor depois de concluir a sua produção e vender o seu produto saca contra seus fregueses para transformar imediatamente seus direitos em dinheiro Então esses produtos servem de base in concreto digamos conhecimentos de embarque e mesmo que o título não esteja respaldado por dinheiro existente está ao invés baseado em bens existentes e assim ainda num certo sentido em poder de compra existente Os depósitos men cionados acima obviamente também surgem em grande parte do des conto de papel comercial dessa espécie Esse bem poderia ser conside rado o caso normal de concessão de crédito ou de colocação de instru mentos de crédito nos canais do comércio e todos os outros casos seriam chamados anormais93 Mas mesmo nos casos em que não se trata de liquidar uma transação normal de mercadorias geralmente exigese uma caução e portanto o que chamamos criação seria apenas uma questão de mobilização dos ativos existentes Nesse ponto deveríamos portanto retornar à concepção tradicional De fato a última parece triunfar porque então não apenas não haveria nenhum meio de cir culação sem uma base mas mesmo o dinheiro poderia ser supresso e assim tudo teria seu caminho traçado de volta à troca de mercadorias por mercadorias ou seja de volta a processos puramente da esfera dos bens Essa interpretação também explica por que em geral se acre dita que a criação de dinheiro é meramente uma questão técnica sem maior significado para a teoria geral da vida econômica que pode ser relegada com segurança para o capítulo sobre os métodos bancários Não concordamos totalmente com isso Por enquanto só precisa ser enfatizado que o que a prática designa de anormal é apenas a criação de meios de circulação que aparentam ser o resultado de tran SCHUMPETER 105 92 Evidentemente há sempre teóricos que tomam o ponto de vista do leigo que encaram com espanto as somas gigantescas nos bancos É mais surpreendente que os autores financeiros às vezes também adotem uma linha similar Como exemplo veja o livro que de outro modo é muito útil A Money Market Primer de Clare que realmente não aceita totalmente esse ponto de vista mas no entanto define as somas disponíveis para a concessão de crédito como dinheiro de outras pessoas o que evidentemente é verdade apenas em parte e mesmo assim somente em sentido figurado 93 Aqui estou desprezando desde o início o caso em que os negócios regulares de um sistema econômico são despachados com meios de pagamento creditícios e o produtor recebe uma letra ou outro instrumento de crédito de seus fregueses e com isso compra imediatamente bens de produção Aqui não há nenhuma concessão de crédito em qualquer sentido relevante e o caso não é fundamentalmente diferente de transações à vista por meio de dinheiro metálico corrente Esse caso do qual nada mais diremos aqui foi mencionado no capítulo I sações regulares de mercadorias sem que seja esse o caso Isso à parte títulos financeiros não são simplesmente algo anormal Não são na verdade criações de crédito para financiar novas combinações mas freqüentemente vêm a ser algo muito parecido Quanto à caução que em tais casos não pode ser de produtos existentes mas apenas de outras coisas seu significado em princípio não é o de que os ativos que constituem a caução são mobilizados pela concessão de crédito Essa não é uma boa caracterização da natureza da coisa Pelo contrário devemos distinguir dois casos Primeiro o empresário pode ter alguma espécie de garantia que possa empenhar no banco94 Essa circunstância certamente lhe torna muito mais fácil na prática a obtenção de crédito Mas isso não faz parte da natureza da coisa em sua forma mais pura A função empresarial em princípio não está vinculada à posse de riqueza como a análise e a experiência igualmente ensina mesmo que o fato acidental da posse de riqueza constitua uma vantagem prática Em vista dos casos em que essa última circunstância está ausente essa interpretação dificilmente pode ser constatada e seguese então que a afirmação de que o crédito por assim dizer a moeda proprie dade não é uma formulação suficiente da questão Ou segundo o empresário pode empenhar bens que adquire com o poder de compra que toma emprestado A concessão de crédito vem primeiro e a caução deve ser dispensada ao menos a princípio por mais que seja curto o intervalo Desse caso a concepção da colocação de ativos existentes em circulação recebe ainda menos apoio do que do primeiro Pelo contrário é perfeitamente claro que é criado poder de compra ao qual não cor responde nenhum bem no primeiro caso Disso seguese portanto que na vida real o crédito total deve ser maior do que poderia ser se houvesse apenas crédito totalmente coberto A estrutura de crédito se projeta não apenas além da base existente de ouro mas também além da base existente de mercadorias Novamente esse fato como tal não pode ser negado Só a sua significação teórica pode ser posta em dúvida A distinção entre crédito normal e anormal é contudo importante para nós O crédito normal cria direitos ao dividendo social que representam e podem ser pensados como com provante dos serviços prestados e da entrega prévia de bens existentes Aquela espécie de crédito que é designada pela opinião tradicional como anormal também cria direitos ao produto social que contudo OS ECONOMISTAS 106 94 Ademais se se trata de coisas como terra ou ações que não circulam ou não estão no mercado de bens então a criação de dinheiro tem exatamente o mesmo efeito na esfera das mercadorias e sobre os preços de uma emissão a descoberto Isso é freqüentemente deixado de lado Cf o erro análogo no caso do dinheiro fiat do Governo quando esse dinheiro é baseado em terra O apoio freqüente dessa categoria de meios de pagamento sobre alguma espécie de caução apenas elimina a insegurança que existiria de outro modo mas não altera o fato de que não há nenhuma oferta de produtos correspondente à nova demanda por produtos que daí procede Cf capítulo II na ausência de serviços produtivos passados só poderiam ser descritos como certificados de serviços futuros ou de bens ainda a serem pro duzidos Assim há uma diferença fundamental entre as duas categorias tanto em sua natureza como em seus efeitos Ambas servem ao mesmo propósito como meios de pagamento e são externamente indistinguíveis Mas uma abarca meios de pagamento para os quais há uma contribuição correspondente ao produto social a outra abrange meios de pagamento aos quais não corresponde até agora nada ao menos nenhuma con tribuição ao produto social mesmo que essa deficiência seja freqüen temente compensada por outras coisas Após essas observações introdutórias cuja brevidade espero que não cause nenhum malentendido passo ao tema deste capítulo Pri meiro devemos provar a afirmação tão estranha à primeira vista de que em princípio ninguém além do empresário precisa de crédito ou o corolário mas de imediato uma afirmação muito menos estranha de que o crédito serve ao desenvolvimento industrial Já foi estabelecido que o empresário em princípio e via de regra não precisa de crédito no sentido de uma transferência temporária para ele de poder de compra para produzir para ser capaz de realizar suas combinações novas para tornarse empresário E esse poder de compra não flui automaticamente para ele como para o produtor do fluxo circular pela venda do que produziu em períodos precedentes Se por acaso ele não o possuir e se o possuísse isso seria simplesmente conseqüência de desenvolvimento anterior deve tomálo emprestado Se ele não o conseguir então obviamente não pode tornarse empresário Nisso não há nada de fictício é meramente a formulação de fatos geralmente conhecidos Ele só pode tornarse empresário ao tornarse previamente um devedor Tornase um devedor em conseqüência da lógica do pro cesso de desenvolvimento ou para dizêlo ainda de outra maneira sua conversão em devedor surge da necessidade do caso e não é algo anormal um evento acidental a ser explicado por circunstâncias par ticulares O que ele quer primeiro é crédito Antes de requerer qualquer espécie de bens requer poder de compra É o devedor típico na sociedade capitalista95 A argumentação deve ser completada agora com a prova negativa de que o mesmo não pode ser dito de qualquer outro tipo e de que ninguém mais é devedor pela natureza de sua função econômica Evi dentemente há na realidade muitos outros motivos para tomar ou con ceder empréstimos Mas a questão é que a concessão de crédito não aparece então como um elemento essencial do processo econômico Isso SCHUMPETER 107 95 O empresário também é um devedor num sentido mais profundo como pode ser enfatizado aqui recebe bens da corrente social em princípio antes de ter contribuído para esta com alguma coisa Nesse sentido é por assim dizer um devedor da sociedade Sãolhe transferidos bens aos quais ele não tem aquele direito que é a única coisa que em outros casos dá acesso ao dividendo nacional Cf capítulo II vale antes de tudo para o crédito ao consumo Desprezandose o fato de que o seu significado só pode ser limitado ele não é um elemento das formas e necessidades fundamentais da vida industrial Não faz parte da natureza econômica de nenhum indivíduo que deva contrair empréstimos para o consumo nem da natureza de nenhum processo produtivo que os participantes devam incorrer em dívidas para o pro pósito de seu consumo Portanto o fenômeno do crédito ao consumo não tem maior interesse para nós aqui e a despeito de toda a sua importância prática o excluímos de nossa consideração Isso não im plica nenhuma abstração reconhecemolo como um fato apenas não temos nada particular para dizer a respeito Exatamente o mesmo vale para os casos em que surgir uma necessidade de crédito somente para a manutenção de um negócio que foi perturbado talvez por con tratempos Esses casos que reúno sob o conceito de créditos consun tivosprodutivos também não fazem parte da natureza de um processo econômico no sentido de que o seu tratamento integra a compreensão da vida do organismo econômico Também não são aqui de maior in teresse para nós Uma vez que toda espécie de extensão de crédito para fins de inovações é por definição a concessão de crédito ao empresário e constitui um elemento do desenvolvimento econômico então a única espécie de concessão de crédito que resta para ser considerada aqui é o crédito para a condução de um negócio no fluxo circular Betriebs kredit Nossa prova será conseguida se pudermos explicálo como não essencial no sentido que lhe damos O que importa isso então Vimos no capítulo I que não faz parte da natureza do fluxo circular que o crédito Betriebskredit seja correntemente tomado e concedido96 quando o produtor terminou seus produtos então segundo a nossa concepção os vende imediatamente e começa de novo a sua produção com os resultados dessa venda Seguramente as coisas não ocorrem sempre assim Pode ser que ele deseje começar a produzir antes de ter entregue os produtos ao seu freguês Mas o ponto decisivo é que podemos sem deixar de lado nada de essencial representar o processo dentro do fluxo circular como se a produção fosse financiada corren temente pelas receitas O crédito na rotina ordinária do negócio esta belecido deve sua importância prática somente ao fato de que há de senvolvimento e de que esse desenvolvimento carrega consigo a pos sibilidade de empregar somas de dinheiro que estão temporariamente ociosas Assim todo homem de negócios tirará proveito dessas receitas tão pronto quanto possível e depois tomará emprestado o poder de OS ECONOMISTAS 108 96 Devese esperar que o leitor não vá confundir esse crédito corrente no fluxo circular com a soma que deve também ser fornecida ao empresário para o funcionamento em contraste com a fundação do negócio ou seja especialmente com o propósito de pagamento dos salários correntes compra que possa requerer Se não houvesse desenvolvimento nenhum então as somas de dinheiro necessárias à realização de transações nor malmente precisariam ser mantidas realmente em todas as empresas e famílias e teriam que permanecer ociosas durante o tempo em que delas não se necessitasse É o desenvolvimento que altera isso Logo varre para longe os tipos cujo orgulho era o de nunca terem demandado crédito E no fim quando todos os negócios antigos como novos são lançados dentro do círculo do fenômeno do crédito os banqueiros até preferirão essa espécie de crédito por envolver menor risco Muitos bancos particularmente os do tipo depósitos e também quase todas as casas antigas fazemno efetivamente e se restringem mais ou menos a tal crédito corrente Mas essa é apenas uma conseqüência do de senvolvimento já em plena atividade Essa interpretação não nos coloca tanto em oposição à predomi nante quanto se pode pensar97 Pelo contrário afirmamos por ela em completa concordância com a visão geral que podemos dispensar o crédito se quisermos captar o processo econômico do fluxo circular Apenas porque a teoria predominante adota a mesma visão e como nós não vê no financiamento das transações correntes de mercadorias pelo crédito nada de essencial para o entendimento da questão é que pode eliminar esse procedimento de seu tratamento das características principais do processo econômico Só por isso pode restringir sua visão da esfera dos bens Evidentemente dentro do mundo dos bens podese encontrar algo como as transações a crédito mas já chegamos a um entendimento sobre isso De qualquer modo a teoria predominante não reconhece a necessidade de criar novo poder de compra nesse ponto como nós tampouco e o fato de que também não vê tal necessidade em qualquer outro ponto mostra de novo que é meramente estática Esse crédito corrente pode portanto ser eliminado de nosso tra tamento com a mesma justificativa que para o crédito ao consumo Chegamos à seguinte conclusão a partir do conhecimento de que se trata apenas de uma questão de expediente técnico de troca no fluxo circular é claro porque com o desenvolvimento seria algo bem diferente pela razão mencionada expediente que não tem maior efeito sobre o processo econômico Para contrastar nitidamente o crédito corrente com o crédito que desempenha um papel fundamental e sem o qual a compreensão completa do processo econômico é impossível suporemos que no caso do fluxo circular todas as trocas são efetuadas com dinheiro metálico que existe numa quantidade dada de uma vez SCHUMPETER 109 97 Além disso é comprovada diretamente pelos fatos Por muitos séculos só havia praticamente crédito ao consumo Depois não havia mais do que crédito para a fundação de um negócio E o fluxo circular continuou sem ele O crédito corrente só obteve a sua importância atual nos tempos modernos E uma vez que a fábrica moderna não difere economicamente de uma oficina medieval em nenhum outro aspecto fundamental chegase à conclusão de que a primeira não necessita em princípio de nenhum crédito por todas e com uma dada velocidade de circulação Obviamente toda a circulação de uma economia sem desenvolvimento também pode con sistir em meios de pagamento creditícios Como esses meios de paga mento contudo funcionariam exatamente como o dinheiro metálico por serem certificados dos bens existentes e dos serviços passados e como não há portanto nenhuma diferença essencial entre eles e o di nheiro metálico ao usar esse recurso expositivo apenas indicamos que o que consideramos como o elemento essencial no fenômeno do crédito não pode ser encontrado no crédito corrente dentro do fluxo circular Com isso tanto provamos a nossa tese quanto formulamos pre cisamente o sentido que pretendemos darlhe Apenas o empresário então em princípio precisa de crédito este só cumpre um papel fun damental para o desenvolvimento industrial ou seja um papel cujo exame é essencial para compreensão de todo o processo Ainda mais vêse imediatamente a partir dos argumentos do capítulo II que o correlato da tese também é válido a saber a afirmação de que onde não há nenhum poder direto dos líderes de dispor dos meios de pro dução o desenvolvimento é em princípio impossível sem o crédito A função essencial do crédito no sentido em que o tomamos consiste em habilitar o empresário a retirar de seus empregos anteriores os bens de produção de que precisa ativando uma demanda por eles e com isso forçar o sistema econômico para dentro de novos canais Nossa segunda tese agora se coloca na medida em que o crédito não puder ser concedido a partir dos resultados de empreendimento passado ou em geral a partir das reservas de poder de compra criadas pelo desenvolvimento passado só pode consistir em meios de pagamento creditícios criados ad hoc que não podem ser respaldados pelo dinheiro em sentido estrito nem por produtos já existentes Pode realmente ser coberto por outros ativos que não os produtos ou seja por qualquer espécie de propriedade que o em presário porventura possua Mas em primeiro lugar isso não é necessário e em segundo não altera a natureza do processo que consiste em criar uma nova demanda sem simultaneamente criar uma nova oferta de bens Essa tese não precisa aqui de nenhuma prova adicional mas seguese dos argumentos do capítulo II Ela nos fornece uma conexão entre o emprés timo e os meios de pagamento creditícios e conduznos ao que considero a natureza do fenômeno do crédito Uma vez que o crédito no caso em que é essencial ao processo econômico só pode ser concedido a partir de tais meios de pagamento recémcriados desde que não haja nenhum resultado de desenvolvi mento prévio e uma vez que inversamente apenas nesse caso espe cífico a criação de tais meios de pagamento creditícios cumpre mais do que um papel meramente técnico então nessa medida a concessão de crédito envolve a criação de poder de compra e o poder de compra recémcriado é útil apenas na concessão de crédito ao empresário é necessário somente para esse propósito Esse é o único caso em que OS ECONOMISTAS 110 não podemos substituir os meios de pagamento creditícios por dinheiro metálico sem prejudicar a veracidade de nosso quadro teórico Pois podemos supor que uma certa quantidade de dinheiro metálico existe em qualquer momento uma vez que nada depende de sua magnitude absoluta mas não podemos supor que um crescimento deste apareça justamente no momento e no local certos Portanto se excluirmos dos empréstimos assim como da criação de instrumentos de crédito os casos em que as transações a crédito e os instrumentos de crédito não de sempenham nenhum papel essencial então os dois devem coincidir se desprezarmos os resultados de um desenvolvimento anterior Nesse sentido portanto definimos o cerne do fenômeno do crédito da seguinte maneira o crédito é essencialmente a criação de poder de compra com o propósito de transferilo ao empresário mas não sim plesmente a transferência de poder de compra existente A criação de poder de compra caracteriza em princípio o método pelo qual o de senvolvimento é levado a cabo num sistema com propriedade privada e divisão do trabalho Através do crédito os empresários obtêm acesso à corrente social dos bens antes que tenham adquirido o direito normal a ela Ele substitui temporariamente por assim dizer o próprio direito por uma ficção deste A concessão de crédito opera nesse sentido como uma ordem para o sistema econômico se acomodar aos propósitos do em presário como um comando sobre os bens de que necessita significa con fiarlhe forças produtivas É só assim que o desenvolvimento econômico poderia surgir a partir do mero fluxo circular em equilíbrio perfeito E essa função constitui a pedra angular para a moderna estrutura de crédito Assim embora a concessão de crédito não seja essencial ao fluxo circular normal porque nele não existe necessariamente nenhuma bre cha entre os produtos e os meios de produção e porque se pode supor que ali todas as compras de bens de produção feitas por produtores são transações à vista ou que em geral qualquer um que seja com prador tenha vendido previamente bens do mesmo valor em dinheiro é certo que tal brecha existe na realização de combinações novas Trans por essa brecha é uma função do prestamista e ele a cumpre colocando à disposição do empresário poder de compra criado ad hoc Então os ofertantes de bens de produção não precisam esperar e no entanto o empresário não precisa adiantarlhes nem bens nem dinheiro exis tente Assim é fechada a brecha que de outro modo tornaria o desen volvimento extraordinariamente difícil se não impossível numa eco nomia de trocas em que prevalece a propriedade privada Que nisso reside a função dos prestamistas ninguém nega Diferenças de opinião só existem quanto à natureza da ponte Creio que nossa concepção longe de ser mais audaciosa e estranha à realidade do que as outras está mais próxima da realidade e torna supérflua toda uma rede de ficções No fluxo circular do qual sempre partimos os mesmos produtos são produzidos todos os anos da mesma maneira Para cada oferta existe SCHUMPETER 111 à espera uma demanda correspondente em algum lugar do sistema econômico para cada demanda uma oferta correspondente Todos os bens são negociados a preços determinados com oscilações simples mente insignificantes de modo que se pode considerar que toda unidade de dinheiro percorre o mesmo caminho em cada período Em qualquer momento uma dada quantidade de poder de compra está disponível para adquirir a quantidade existente de serviços produtivos originais para então passálos às mãos de seus proprietários e depois serem gastos novamente em bens de consumo Não há nenhum mercado para os portadores dos próprios serviços produtivos originais especialmente para a terra e também não há nenhum preço para eles dentro do fluxo circular normal98 Se desprezarmos o valor do material das unidades monetárias como nãoessencial o poder de compra então realmente não representa nada além de bens existentes O seu total não nos diz nada mas sim a participação nele por parte das famílias e das empresas Se agora forem criados e colocados à disposição dos empresários meios de pa gamento creditícios poder de compra novo no sentido que lhe damos então ele toma o seu lugar junto aos produtores anteriores e o seu poder de compra toma lugar junto ao total anteriormente existente Obviamente isso não aumenta a quantidade de serviços produtivos existente no sistema econômico No entanto a nova demanda tornase possível num sentido muito óbvio Provoca um aumento nos preços dos serviços produtivos Disso decorre a retirada de bens de seu uso an terior à qual nos referimos99 O processo significa a compressão100 do poder de compra existente Em certo sentido nenhum bem e certamente nenhum bem novo corresponde ao poder de compra recémcriado OS ECONOMISTAS 112 98 Cf a explanação feita no capítulo I pela qual fica claro por que não menciono os meios de produção produzidos com os serviços do trabalho e da terra embora o poder de compra obviamente também seja aplicado neles e não apenas nos serviços da terra e do trabalho 99 Nesse ponto discordo de Spiethoff Seus três artigos Die äussere Ordnung des Kapital und Geldmarktes Das Verhältnis von Kapital Geld und a Güterwelt e Der Kapital mangel in seinem Verhältnisse zur Güterwelt in Schmollers Jahrbuch 1909 também independentemente sob o título Kapital Geld und Güterwelt têm acima de tudo o mérito de ter atacado o problema Em um bom número de pontos anteciparam o que é dito neste capítulo A possibilidade de criar novos substitutos do dinheiro também foi expressamente enfatizada por exemplo no segundo artigo p 85 Mas para esta há um limite econômico intransponível na oferta de bens existente Apenas na proporção em que essas medidas artificiais podem pôr em circulação bens até então ociosos é que elas podem funcionar Se exceder esse limite os preços sobem O último certamente é correto mas o ponto importante para nós está precisamente aqui Evidentemente concordamos que a escassez de dinheiro não pode ser eliminada pela criação de poder de compra ou de qualquer modo só pode sêlo quando se tratar de um pânico momentâneo 100 Em primeiro lugar o poder de compra dos produtores anteriores no mercado de bens de produção será comprimido depois o poder de compra no mercado de bens de consumo daquelas pessoas que não recebem nenhuma cota ou só recebem uma cota insuficiente das rendas monetárias aumentadas resultantes da demanda do empresário Isso explica a ele vação de preços em períodos de alta Se não estou enganado foi Von Mises quem cunhou a expressão extremamente feliz poupança forçada erzwungenes Sparen para esse processo Mas um lugar para ele é aberto à custa do poder de compra anterior mente existente Isso explica a maneira como funciona a criação de poder de com pra O leitor pode ver que não há nada de ilógico ou místico nela101 A forma externa dos instrumentos de crédito é bastante irrelevante Seguramente a questão é vista de modo mais claro no caso da nota de banco sem cobertura Mas também um título que não substitua dinheiro existente e que não esteja baseado em bens já produzidos tem o mesmo caráter se realmente circular Evidentemente isso não será correto se apenas registrar a obrigação do empresário para com o seu credor ou se apenas for descontado mas somente quando for usado no pagamento de bens E todas as outras formas de instrumentos de crédito mesmo o simples crédito na contabilidade de um banco podem ser consideradas do mesmo ponto de vista Assim como quando se introduz gás adicional dentro de um recipiente a parte do espaço ocupada por cada molécula do gás anteriormente existente é diminuída pela compressão também o influxo do novo poder de compra no sistema econômico comprimirá o poder de compra antigo Quando se completam as mudanças de preços que se tornam assim necessárias quaisquer mercadorias dadas se trocam por novas unidades de poder de compra nos mesmos termos que pelas antigas sendo apenas que as unidades de poder de compra agora existentes são todas menores do que as que existiam antes e sua distribuição entre os indivíduos se alterou Isso pode ser chamado de inflação creditícia Mas se distingue da inflação creditícia com propósitos de consumo por um elemento muito essencial Nesses casos também o novo poder de compra toma o seu lugar junto ao antigo os preços sobem há uma retirada de bens que resulta favorável a quem recebe o crédito ou àqueles a quem este paga com as somas emprestadas Aí o processo se rompe os bens retirados são consumidos os meios de pagamento criados permanecem em cir culação o crédito deve ser continuamente renovado e os preços subiram permanentemente Pode ser então que o crédito seja pago com a corrente normal de renda por exemplo por um aumento dos impostos Mas essa é uma operação nova especial deflação que tendo um prosse guimento bem conhecido restaura novamente a saúde do sistema mo netário que se não fosse por ela não retornaria ao seu estado anterior Em nosso caso contudo o processo segue adiante vi impressa O empresário deve não apenas devolver legalmente o dinheiro ao seu banqueiro mas deve também devolver economicamente as mercadorias ao reservatório de bens o equivalente aos meios produtivos empres tados ou como o exprimimos deve em última instância cumprir a condição com a qual os bens podem normalmente ser retirados da SCHUMPETER 113 101 Cf também HAHN A Kredit In Handwörterbuch der Staatswissenschaften corrente social O resultado de seu empréstimo o capacita a cumprir essa condição Após completar o seu negócio portanto em nossa concepção após o período ao fim do qual os seus produtos estão no mercado e os seus bens produtivos foram gastos se tudo correu de acordo com as suas expectativas ele enriqueceu a corrente social com bens cujo preço total é maior do que o crédito recebido e do que o preço total dos bens direta ou indiretamente gastos por ele Assim a equivalência entre o dinheiro e as correntes de mercadorias é mais do que restaurada a inflação creditícia mais do que eliminada os efeitos sobre os preços mais do que compensados102 de modo que se pode dizer que não há nenhuma inflação creditícia nesse caso antes talvez deflação mas apenas um aparecimento nãosincrônico de poder de compra e das mercadorias a ele correspondentes o que temporaria mente produz a aparência de inflação Ademais o empresário pode agora pagar a sua dívida montante creditado mais juros em seu banco e normalmente ainda reter um saldo credor lucro empresarial que é retirado do fundo de poder de compra do fluxo circular Apenas esse lucro e juros necessariamente permanecem em circulação o crédito bancário original desapareceu de modo que o efeito deflacionário em si mesmo e especialmente se não forem financiados continuamente novos e maiores empreendi mentos seria muito mais grave do que o indicado acima É verdade que na prática duas razões evitam o desaparecimento rápido do poder de compra recémcriado primeiro o fato de que a maior parte dos empreendimentos não são terminados em um período mas na maioria dos casos apenas depois de uma série de anos A essência do problema não se altera com isso mas o poder de compra recémcriado permanece por mais tempo na circulação e o resgate na data legal toma fre qüentemente então a forma de uma prorrogação Nesse caso não se trata economicamente de nenhum resgate mas de um método de testar periodicamente a solidez do empreendimento Economicamente isso de veria na verdade chamarse apresentação para exame das contas ao invés de apresentação para pagamento quer a coisa a ser resgatada seja uma letra ou um empréstimo pessoal Além disso se é verdade que os empreendimentos de longo prazo são financiados por crédito de curto prazo cada empresário e cada banco tentará por razões óbvias trocar essa base assim que for possível por outra mais permanente e na verdade considerará uma façanha se puder saltar completamente a etapa inicial num caso individual Na prática isso coincide aproxi madamente com a substituição do poder de compra criado ad hoc pelo já existente E isso geralmente acontece no caso do desenvolvimento OS ECONOMISTAS 114 102 Só isso explicaria a queda dos preços em períodos de depressão e efetivamente explica a queda tradicional do nível de preços em momentos que nenhuma outra causa por exemplo a descoberta de ouro pode evitála como veremos no capítulo VI em plena marcha que já acumulou reservas de poder de compra isso por razões que a nossa própria teoria explica e que não depõem contra ela e na verdade em dois passos Em primeiro lugar são criados títulos e ações e seus montantes são creditados para o em preendimento o que significa que os recursos bancários ainda financiam o empreendimento Depois dispomos dessas ações e títulos e estes são pagos gradualmente nem sempre de imediato pelo contrário as contas dos fregueses subscritores freqüentemente são apenas debitadas pelos subscritores a partir de ofertas de poder de compra reservas ou poupanças existentes Assim como se pode exprimir são reabsor vidos pela poupança da comunidade O resgate dos instrumentos de crédito é pois consumado e estes são substituídos por dinheiro vivo Mas esse ainda não é o resgate final da dívida do empresário o resgate em bens Este último só vem mais tarde mesmo nesse caso Em segundo lugar ainda um outro fato evita o desaparecimento rápido do novo poder de compra Os instrumentos de crédito podem desaparecer no caso de sucesso final e têm por assim dizer a tendência de fazêlo automaticamente Mas mesmo que não desapareçam ne nhuma perturbação ocorre nem na economia individual nem na social pois agora existem as mercadorias que constituem um contrapeso ao novo poder de compra e a única espécie realmente significativa de cobertura para esse poder que é precisamente o que está sempre ausente no caso do crédito ao consumo E assim o processo de produção pode sempre ser repetido de novo com o auxílio da renovação do crédito embora isso não seja mais empreendimento novo em nossa concepção Logo os instrumentos de crédito não apenas não têm nenhuma outra influência sobre os preços mas perdem até mesmo a que originalmente exerciam Na verdade essa é a mais importante das maneiras pelas quais o crédito bancário força a sua entrada no fluxo circular até que tenha se estabelecido ali de tal modo que seja necessário esforço ana lítico para reconhecer que a sua fonte não está ali Se não fosse assim a teoria convencional não apenas seria falsa como é de qualquer modo mas indefensável e incompreensível Se portanto a possibilidade de conceder crédito não está limitada pela quantidade de recursos líquidos existentes independentemente da criação para o próprio propósito de concessão de crédito nem pela quan tidade de bens existentes ociosa ou total pelo que está ela limitada Primeiro no que diz respeito à prática suponhamos que temos um padrãoouro livre ou seja resgate das notas de banco em ouro à sua apresentação a obrigação de vender ouro ao preço legal e a livre exportação de ouro Suponhamos também que temos um sistema ban cário agrupado em torno de um banco emissor central mas que não há nenhuma outra barreira e norma legais para a gestação de negócios bancários por exemplo nenhuma regulamentação quanto a reservas para as notas etc no banco central nem regulamentação quanto a SCHUMPETER 115 reservas para os depósitos etc nos outros bancos Isso representa o caso dominante cujo tratamento é facilmente aplicável a outros casos Então toda nova criação de poder de compra que precede o apareci mento de quantidades correspondentes de bens e assim eleva os preços terá a tendência a elevar o valor do ouro contido na moeda de ouro acima do valor da unidade monetária Isso levará a uma diminuição da quantidade de ouro em circulação mas acima de tudo à apresen tação de meios de pagamento bancários para o resgate primeiro de notas de banco depois todos os outros direta e indiretamente em outro sentido para outro propósito e por outra razão que o que aca bamos de descrever E se a solvência do sistema bancário nesse sentido não deve ser posta em perigo os bancos só podem conceder crédito de modo tal que a inflação resultante seja realmente temporária e além disso permaneça moderada Mas só pode continuar temporária se o complemento em mercadoria do poder de compra recémcriado chega ao mercado no devido tempo e se o banqueiro intervir com poder de compra retirado do fluxo circular por exemplo com dinheiro poupado por outras pessoas nos casos de falência em que esse complemento não aparece de modo algum no mercado e nos casos de produção de longa duração em que ele só aparece depois de muitos anos Assim a necessidade de manter uma reserva que atue como um freio sobre o banco central bem como sobre os outros bancos Concorrendo com esse nexo está a circunstância de que todos os créditos concedidos se de compõem em somas pequenas no comércio diário e para servir a este último deve ser trocado por moedas ou notas pequenas ao menos na maioria dos países que não podem ser criadas pelos bancos Finalmente a inflação creditícia deve provocar um escoamento de ouro para o exterior portanto um perigo adicional de insolvência Pode ocorrer contudo e na verdade às vezes isso de certo modo acontece que os bancos de todos os países estendam seu crédito quase simul taneamente Portanto mesmo que não possamos pela natureza das coisas e com as suposições feitas estabelecer o limite à criação de poder de compra tão acuradamente como digamos o limite à produção de uma mercadoria e mesmo que o limite deva variar de acordo com a mentalidade do povo com a legislação etc no entanto podemos estabelecer que em qualquer momento esse limite existe e quais as circunstâncias que normalmente garantem a sua manutenção A sua existência não exclui a criação de poder de compra no sentido que lhe damos nem altera o seu significado Mas faz de seu volume em qualquer momento uma grandeza elástica embora determinada A questão fundamental em consideração aqui é na verdade res pondida apenas muito superficialmente pelo que foi dito acima do mesmo modo como é respondida superficialmente a questão relativa às razões para uma taxa de câmbio ao se dizer que esta deve estar entre os pontos do ouro no caso de um padrãoouro livre universal OS ECONOMISTAS 116 Contudo assim como no último caso consideramos o essencial se omi tirmos o mecanismo do ouro e considerarmos os pontos de mercadorias subjacentes também em nosso caso pelo mesmo princípio chegamos a uma explicação mais fundamental do fato de que a criação de poder de compra tem limites definidos embora elásticos se considerarmos um país como um padrãopapel ou digamos com nada além de meios de pagamento bancários Uma vez que o caso dos países que comerciam uns com os outros não oferece nada de fundamentalmente novo dei xamos sua análise ao leitor Aqui então o limite é dado pela condição de que a inflação creditícia em favor dos novos empreendimentos deva ser apenas temporária ou que não haja nenhuma inflação no sentido de elevação permanente do nível de preços E o freio que garante a manutenção desse limite é o fato de que qualquer outra conduta frente à grande demanda dos empresários por crédito significaria uma perda para o banco em questão Essa perda sempre ocorre se o empresário não conseguir produzir mercadorias pelo menos iguais em valor ao crédito mais o juro Só quando conseguir fazêlo é que o banco terá feito um bom negócio então e só então contudo não haverá também nenhuma inflação como demonstramos ou seja nenhuma infração do limite Disso podem derivar as normas que determinam a magnitude da criação possível de poder de compra em casos individuais Apenas num outro caso se fosse liberado da obrigação de resgatar os seus meios de pagamento em ouro e se fosse suspensa a consideração pela troca internacional o mundo bancário poderia provocar inflação e determinar arbitrariamente o nível de preços não apenas sem perdas mas até mesmo com lucro a saber se injetasse meios de pagamento creditícios no fluxo circular ou tornando boas as más obrigações me diante criação adicional de novos meios de circulação ou concedendo créditos que realmente servem a fins de consumo Em geral nenhum banco isolado poderia fazêlo Pois enquanto a sua emissão de meios de pagamento não afetasse apreciavelmente o nível de preços a má obrigação permaneceria má e o crédito ao consumo se tornaria ruim se não ficasse dentro dos limites em que pudesse ser devolvido pelo devedor a partir de sua renda Mas todos os bancos juntos poderiam fazêlo Segundo nossas proposições eles poderiam conceder continua mente crédito adicional e precisamente por seu efeito sobre os preços tornar bom o concedido anteriormente E que isso seja possível até certo ponto mesmo sem essas suposições é a razão principal pela qual são efetivamente necessárias na prática restrições legais especiais e válvulas especiais de segurança Essa última afirmação é realmente evidente por si mesma Como o Estado em certas circunstâncias pode imprimir notas sem nenhum limite determinável assim também os bancos poderiam fazer o mesmo se o Estado pois se trata disso lhes transferisse o direito no interesse e para os propósitos deles e o senso comum não os impedisse SCHUMPETER 117 de exercêlo Mas isso não tem nada a ver com o nosso caso a saber a concessão de crédito e a criação de poder de compra para a realização de novas combinações que sejam remunerativas ao nível vigente de preços103 portanto nada a ver com o significado a natureza e a origem da criação de poder de compra empresarial em geral Enfatizo isso expressamente porque a tese concernente ao poder ilimitado que têm os bancos de criar meios de circulação tornouse um ponto de ataque e um motivo para a rejeição da nova teoria do crédito depois de ser repetidamente citada não apenas sem as qualificações neces sárias mas também fora do contexto em que se encontra104 Capital Já é tempo de dar expressão a um pensamento que esteve lon gamente à espera de formulação e que é familiar a todo homem de negócios A economia capitalista é a forma de organização econômica na qual os bens necessários à nova produção são retirados de seu lugar estabelecido no fluxo circular pela intervenção de poder de compra criado ad hoc enquanto aquelas formas de economia em que isso acon tece por meio de qualquer tipo de poder de comando ou por meio de um acordo de todos os interessados representam a produção nãocapi talista O capital não é nada mais do que a alavanca com a qual o empresário subjuga ao seu controle os bens concretos de que necessita nada mais do que um meio de desviar os fatores de produção para novos usos ou de ditar uma nova direção para a produção Essa é a única função do capital e por ela se caracteriza inteiramente o lugar do capital no organismo econômico Ora o que é essa alavanca esse meio de controle Certamente não consiste em nenhuma categoria definida de bens em nenhuma parte definível da oferta existente de bens Geralmente concluímos que encontramos o capital na produção e que de algum modo ele é útil no processo produtivo Portanto devemos também vêlo em operação em algum lugar em nosso exemplo da realização de combinações novas Ora todos os bens de que o empresário necessita estão no mesmo nível de seu ponto de vista Ele carece dos serviços dos agentes naturais do trabalho da maquinaria da matériaprima de todos igualmente exatamente no mesmo sentido e nada distingue essas necessidades umas das outras Evidentemente isso não quer dizer que não haja nenhuma diferença relevante entre essas categorias de bens Pelo con OS ECONOMISTAS 118 103 Nossa teoria foi interpretada como se ela afirmasse que a criação de crédito facilita a realização de coisas novas ao elevar os preços tornando com isso remunerativo o que de outra maneira não o seria Isso não é o que ela diz 104 Cf o artigo sob outros aspectos excelente Kredit de Hahn no Handwörterbuch der Staatswissenschaften Contra a sua formulação pareceme correto dizer a quantidade de poder de compra novo que é possível criar é sustentada e limitada pelos bens futuros embora não pelos bens existentes e repetindo pelos bens futuros a preços atuais trário certamente há diferenças mesmo que seu significado tenha sido e ainda seja superestimado por muitos teóricos Mas está claro que o comportamento do empresário é o mesmo em relação a todas essas categorias ele compra todas elas com dinheiro pelo qual calcula ou paga juros sem distinção sejam ferramentas terra ou trabalho Todas cumprem o mesmo papel são igualmente necessárias para ele Em particular é bem irrelevante se ele começa a sua produção ab ovo ou seja simplesmente compra trabalho e terra ou se também adquire de imediato produtos intermediários existentes ao invés de ele próprio produzilos Finalmente se precisasse adquirir bens de consumo isso também não faria nenhuma diferença fundamental Não obstante pa receria que os bens de consumo teriam maior direito a serem enfati zados especialmente se se aceitasse a teoria de que o empresário adianta bens de consumo aos possuidores de meios produtivos no sentido mais restrito da palavra Nesse caso esses bens teriam carac terísticas diferentes de outros bens desempenhariam um papel especial e na verdade precisamente o papel que atribuímos ao capital Disso se seguiria que o empresário trocaria serviços produtivos por bens de consumo Então deveríamos dizer que o capital consiste em bens de consumo Contudo essa possibilidade já está resolvida Deixando de lado essa última interpretação não há nenhuma razão para fazer qualquer tipo de distinção entre todos os bens que o empresário compra e conseqüentemente nenhuma razão para incluir qualquer grupo deles sob o nome de capital Não é necessário nenhum argumento para mostrar que a definição do capital que o faz consistir em bens é aplicável a todas as organizações econômicas e assim não é adequada para caracterizar a economia capitalista Além disso não é verdade que se se perguntasse ao homem de negócios em que consiste o seu capital ele indicaria qualquer dessas categorias de bens Se mencionar sua fábrica incluirá o terreno sobre o qual esta se assenta e se quiser responder de maneira completa não esquecerá o seu capital de giro no qual estão incluídas compras de serviços do trabalho direta ou indiretamente O capital de um empreendimento contudo também não é o agre gado de todos os bens que servem aos seus propósitos Pois o capital se defronta com o mundo das mercadorias Os bens são comprados com capital o capital é investido em bens mas esse mesmo fato implica o reconhecimento de que a sua função é diferente da dos bens adquiridos A função dos bens consiste em servir a um fim produtivo que corresponde à sua natureza técnica A função do capital consiste em obter para o empresário os meios com que produzir O capital se coloca como um terceiro agente necessário à produção numa economia de trocas entre o empresário e o mundo dos bens Constitui a ponte entre eles Não faz parte diretamente da produção ele próprio não é SCHUMPETER 119 elaborado pelo contrário desempenha uma tarefa que deve ser feita antes que a produção técnica possa começar O empresário precisa ter capital antes que possa pensar em se abastecer de bens concretos Há um momento em que ele já tem o capital necessário mas não ainda os bens de produção e nesse momento se pode ver mais claramente do que nunca que o capital não é algo idêntico a bens concretos mas é um agente independente E o seu único propósito a única razão pela qual o empresário precisa de capital recorro a fatos óbvios é simplesmente a de servir como um fundo com o qual os bens produtivos podem ser pagos Ademais enquanto essa compra não terminar o capital não tem absolutamente nenhuma relação com algum bem definido Evidentemente ele existe quem poderia negálo mas sua qualidade característica é precisamente a de não entrar em consideração como uma categoria concreta de bens a de não ser empregada tecnicamente como um bem mas como um meio de prover esses bens para serem empregados na produção em sentido técnico Mas quando se completa essa compra o capital do empresário consiste então em bens concretos todas as espécies de terra assim como ferramentas compradas mas ainda assim em bens Se alguém exclamar com Quesnay Parcourez les fermes et les ateliers et vous trouverez des bâtiments des bestiaux des semences des ma tières premières des meubles et des instruments de toute espèce do nosso ponto de vista devese ainda acrescentar serviços da terra e do trabalho e também bens de consumo isso não se justifica após a compra O capital já cumpriu agora a função que lhe foi atribuída por nós Se os meios produtivos necessários e como suporemos também os serviços do trabalho necessários estão comprados então o empresário não tem mais o capital que foi colocado à sua disposição Entregouo em troca de meios produtivos Foi dissolvido em rendimentos A con cepção tradicional atualmente é a de que o capital consiste agora em bens adquiridos Na verdade um pressuposto dessa interpretação é o de que a função do capital de obter bens é completamente ignorada e substituída pela hipótese irreal de que ao empresário são emprestados os bens mesmos de que precisa Se não se faz isso e se seguindo a realidade se distingue o fundo com o qual os bens de produção são pagos desses próprios meios produtivos não pode haver em minha opinião a menor dúvida de que é a esse fundo que se refere tudo o que se costuma chamar de capital e tudo o que designamos por fenô meno capitalista Se isso é correto é ainda mais claro que o empresário não possui mais esse fundo porque acabou de gastálo e que as partes dele nas mãos dos vendedores de meios produtivos não podem ter um caráter diferente das somas recebidas com a venda de pão nas mãos do padeiro O método habitual de expressão freqüentemente encontrado que descreve como capital os meios produtivos comprados não prova nada ainda mais quando acompanhado da outra expressão a saber OS ECONOMISTAS 120 que o capital está incorporado a esses bens Esse último método de expressão só pode estar correto no sentido em que também se pode dizer que o carvão está incorporado a uma viga de aço ou seja no sentido de que o uso do carvão levou à criação da viga de aço Mas por tudo isso o empresário não tem ainda o seu capital E não pode ele ao menos retirar de novo o seu capital desse investimento em bora o mesmo carvão não possa ser obtido de novo Creio que essas questões podem ser respondidas satisfatoriamente Não o empresário gastou o seu capital Em troca deste adquiriu bens que não empregará como capital ou seja como fundo para pagamento de outros bens mas na produção técnica Entretanto se mudar de idéia e desejar desfazerse desses bens haverá constantemente outras pessoas prontas a comprá los e então pode novamente entrar na posse de um maior ou menor montante de capital Desse ponto de vista uma vez que os seus meios produtivos podem não apenas servir como meios produtivos mas tam bém indiretamente como capital na medida em que pode usálos para obter primeiramente poder de compra e depois outros meios pro dutivos está certo ao chamálos por elipse de seu capital Realmente eles são a única fonte de poder de compra sob seu comando se ele tiver necessidade disso antes que sua produção se complete Chegare mos ainda a uma outra razão para essa interpretação A segunda ques tão agora também está respondida o empresário pode obter capital novamente vendendo seus bens de produção Evidentemente ele não pode obter de novo o mesmo capital na maioria dos casos nem mesmo a mesma soma Mas como isso não importa a expressão plástica retirar o seu capital tem um sentido que embora figurado é no entanto bastante correto Isso não entra em conflito com a nossa interpretação O que é então o capital se não consiste nem em uma espécie definida de bens nem em bens em geral A essa altura a resposta é bastante óbvia é um fundo de poder de compra Só enquanto tal pode desempenhar sua função essencial a única função para a qual o capital é necessário na prática e para a qual o conceito de capital tem um uso na teoria que não pode ser substituído com igual adequação pela enumeração de categorias de bens Colocase agora a questão do que exatamente constitui esse fundo de poder de compra Essa questão parece ser muito simples Em que consiste o meu fundo de poder de compra Ora em dinheiro e nos meus outros ativos calculados em dinheiro Essa resposta nos levaria praticamente ao conceito de capital de Menger Certamente chamo isso de meu capital inúmeras vezes Além disso também não há nenhuma dificuldade em distinguilo enquanto fundo do fluxo de rendimen tos de modo que aqui damos um passo em direção a Irving Fisher Novamente é lícito dizer que posso aplicar num empreendimento essa mesma soma ou emprestála a um empresário Contudo essa visão aparentemente tão satisfatória à primeira SCHUMPETER 121 vista infelizmente não é completamente adequada Não é verdade que posso entrar nas fileiras dos empresários apenas com essa soma Se posso sacar uma letra que será tomada em pagamento então posso também comprar bens de produção no seu montante Poderseia dizer agora que simplesmente contraio uma dívida com isso o que está longe de aumentar o meu capital Poderseia dizer ainda que os bens com prados com a letra me são simplesmente emprestados No entanto olhemos mais atentamente Se eu for bemsucedido poderei resgatar a letra com dinheiro ou com letras que não provêm do meu capital mas dos resultados financeiros do meu produto Assim aumentei meu capital ou se houver alguma relutância em admitilo fiz algo que me presta exatamente o mesmo serviço que um aumento de meu capital sem incorrer em dívidas que posteriormente diminuiriam novamente o meu capital Poderseia objetar que o meu capital teria crescido se eu não tivesse que pagar dívidas Contudo essas dívidas foram pagas com um ganho que nem mesmo podemos ter certeza de que teria sido acrescentado ao meu capital se este me fosse devolvido inalterado Pois eu poderia usálo para adquirir bens de consumo caso em que seria contrário a toda espécie de tratamento descrevêlo como uma parte do capital Se é correto que a função do capital só consiste em assegurar ao empresário o controle sobre os bens de produção então não podemos fugir à conclusão de que o meu capital seria aumentado pela criação da letra Se o leitor tiver em mente o que foi dito ante riormente em combinação com o que se segue nossa conclusão perderá muito de sua aparência paradoxal É verdade que não me tornei mais rico pela criação da letra Mas o termo riqueza Vermögen torna possível levar em consideração esse outro aspecto do problema Mas também não é verdade que a expressão em termos de di nheiro baste para emprestar um caráter de capital no sentido em que o tomamos à propriedade que não for ela mesma mantida na forma de dinheiro Se alguém possui alguma espécie de bens não será possível em geral obter os bens de produção de que necessita pela troca direta Pelo contrário sempre será preciso vender os bens que se tem e depois empregar o resultado da venda como capital ou seja na obtenção dos bens de produção requeridos Na verdade a concepção que está sendo considerada também reconhece isso ao enfatizar o valor em dinheiro dos bens que alguém possui É fácil verificar quando se descreve esses bens próprios como capital que se trata apenas de um modo de ex pressão elíptico ou figurativo O mesmo também é verdade quanto aos meios de produção comprados como já se mencionou que essa con cepção também trata como capital Até agora nossa definição é por um lado mais ampla e por outro mais estreita que a de Menger e de outras a ela rela cionadas Apenas meios de pagamento são capital não meramente dinheiro mas meios de circulação em geral de qualquer espécie OS ECONOMISTAS 122 que possam ser contudo nem todos os meios de pagamento mas apenas os que efetivamente cumprem a função característica em que estamos interessados Essa limitação reside na natureza da coisa Se os meios de pa gamento não servem para prover um empresário dos bens de produção e retirar estes últimos de seu emprego anterior com esse propósito então não são capital Num sistema econômico sem desenvolvimento não há portanto nenhum capital ou exprimindo de outra maneira o capital não cumpre a sua função característica não é um agente independente Ou dito ainda em outras palavras as várias formas de poder de compra em geral não constituem capital nesse ponto são simplesmente meios de troca meios técnicos para a realização de trocas habituais Com isso o seu papel no fluxo circular está completo a não ser esse papel técnico elas não têm nenhum outro de modo que podem ser desprezadas sem que se deixe de lado nada realmente es sencial Na realização de combinações novas contudo o dinheiro e seus substitutos tornamse um fator essencial e exprimimos isso ao descrevêlos como capital Assim de acordo com o nosso ponto de vista o capital é um conceito do desenvolvimento ao qual nada corresponde no fluxo circular Esse conceito incorpora um aspecto do processo eco nômico que somente os fatos do desenvolvimento nos sugerem Gostaria de chamar a atenção do leitor para essa afirmação Muito contribui ela para a compreensão do ponto de vista aqui desenvolvido Se se fala em capital com a conotação que a palavra tem na vida prática então sempre se pensa não tanto em coisas mas em processos ou em certo aspecto das coisas isto é na possibilidade de atividade empresarial ou na possibilidade de controle sobre meios produtivos em geral Esse aspecto é algo comum a muitos conceitos de capital e os esforços para pôlo em relevo explicam em minha opinião as qualidades proteiformes da definição real Segundo ela nada em si mesmo é realmente capital incondicionalmente e em virtude de qualidades imanentes mas o que é designado como capital o é apenas na proporção em que satisfaz certas condições ou apenas de um certo ponto de vista Definiremos o capital então como a soma de meios de pagamento que está disponível em dado momento para transferência aos empre sários No momento em que o desenvolvimento começa a partir de um fluxo circular em equilíbrio apenas uma parte muito pequena dessa soma de capital poderia de acordo com a nossa interpretação consistir em dinheiro pelo contrário deveria consistir em outros meios de pa gamento recémcriados com esse propósito Se o desenvolvimento já foi desencadeado ou se o desenvolvimento capitalista se associa a uma forma nãocapitalista ou intermediária começará com um suprimento de recursos líquidos acumulados Mas na teoria estrita não poderia fazêlo E mesmo na realidade quando uma coisa realmente significa tiva deve ser feita pela primeira vez isso é sempre impossível SCHUMPETER 123 O capital então é um agente na economia de trocas Um processo da economia de trocas está expresso na imagem do capital a saber a transferência de meios produtivos ao empresário Em nossa concepção portanto há realmente somente capital privado e não social Os meios de pagamento só podem desempenhar seu papel de capital nas mãos de indivíduos particulares Assim não haveria muito propósito em falar de capital social com esse sentido Não obstante a soma de capitais privados nos diz algo dános a dimensão do fundo que pode ser posto à disposição dos empresários a dimensão do poder de retirar meios de produção de seus canais anteriores Portanto o conceito de capital social não é desprovido de sentido105 embora não haja tal capital numa economia comunista No entanto em geral se pensa no estoque de bens de uma nação quando se fala de capital social e somente os conceitos de capital real conduziram ao de capital social O mercado monetário Ainda há um passo a ser dado O capital não é nem o todo nem uma parte dos meios de produção originais ou produzidos Tampouco o capital é um estoque de bens de consumo Ele é um agente especial Como tal deve ter um mercado naquele sentido teórico em que há um mercado para bens de consumo e para bens de produção E a esse mercado teórico deve corresponder na realidade algo similar ao que ocorre no caso desses outros dois Vimos no capítulo I que há mercados para os serviços do trabalho e da terra e para bens de consumo nos quais está assentado tudo de essencial ao fluxo circular enquanto os meios de produção produzidos itens transitórios não têm um tal mer cado independente No desenvolvimento que introduz esse novo agente o capital no processo econômico deve haver ainda um terceiro mercado em que ocorre algo interessante o mercado de capital Isso existe a realidade nôlo mostra diretamente muito mais diretamente do que nos mostra os mercados de serviços e de bens de consumo Ele é muito mais concentrado muito mais bem organizado muito mais fácil de observar do que os outros dois É o que o homem de negócios chama de mercado monetário aquele a respeito do qual todo jornal noticia diariamente sob esse título Do nosso ponto de vista o nome não é totalmente satisfatório não é simplesmente o dinheiro que é negociado e poderíamos em parte nos juntar ao protesto dos economistas contra essa concepção dele Mas aceitamos o nome De qualquer modo o mercado de capital é a mesma coisa que o fenômeno que a prática descreve como mercado monetário Não há nenhum outro OS ECONOMISTAS 124 105 Isso é sobretudo verdadeiro se se mede cada unidade de capital pelos montantes de bens de produção obteníveis com ela num dado momento Se se faz isso podese falar também de capital real mas apenas em sentido figurado mercado de capital106 Esboçar uma teoria do mercado monetário seria uma tarefa atraente e proveitosa Até agora não temos nenhuma107 Seria especialmente interessante e proveitoso coletar e testar o signi ficado teórico das regras práticas da experiência que determinam as decisões do homem prático e o seu julgamento de situações particulares Na verdade são formuladas de modo estrito em sua maior parte e guiam todo autor de artigos sobre o mercado monetário Essas regras práticas de previsão econômica são atualmente muito desligadas da teoria embora o seu estudo auxilie profundamente a compreensão da vida econômica moderna Não podemos aqui entrar nesse assunto Só diremos o que for necessário para os nossos propósitos Isso pode ser feito em poucas palavras Numa economia sem desenvolvimento não haveria tal mercado monetário Se ela fosse extremamente organizada e suas transações fossem liquidadas com meios de pagamento creditícios haveria um escritório central de liquidações uma espécie de câmara de compen sação ou de centro contábil do sistema econômico Nas transações dessa instituição se refletiria tudo o que acontece no sistema econômico por exemplo o pagamento periódico de salários e impostos os requisitos para proceder às colheitas e para os feriados Mas esses seriam apenas problemas de cômputo Ora essas funções também devem ser desem penhadas quando há desenvolvimento Com desenvolvimento além dis so há sempre emprego para o poder de compra que esteja momenta neamente ocioso E finalmente com o desenvolvimento como já foi enfatizado o crédito bancário penetra nas transações do fluxo circular É assim então que essas coisas se tornam na prática elementos da função do mercado monetário Tornamse uma parte do organismo do mercado monetário E assim os requisitos do fluxo circular são acres centados à demanda do empresário no mercado monetário por um lado e por outro o dinheiro do fluxo circular aumenta a oferta de dinheiro nesse mercado Por isso sentimos em todo artigo sobre o mercado monetário a pulsação do fluxo circular por isso vemos que a demanda de poder de compra aumenta na época da colheita quando vence o prazo dos impostos etc ao passo que depois desses momentos a oferta aumenta Mas isso não deve impedirnos de distinguir as tran sações no mercado monetário que pertencem ao fluxo circular das ou tras Apenas estas últimas são fundamentais as primeiras são acres centadas a elas e de qualquer modo o fato de que apareçam no mercado monetário é meramente uma conseqüência do desenvolvimento Todos os efeitos recíprocos que obviamente juntam as duas não alteram o SCHUMPETER 125 106 Podese no máximo com Spiethoff loc cit distinguir o mercado de capital como o mercado para o poder de compra de longo prazo do mercado monetário como o mercado para empréstimos a curto prazo Mas o poder de compra é a mercadoria de ambos 107 Cf contudo HAHN A Zur Theorie des Geldmarkets In Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik 1923 fato de que mesmo na prática elas podem ser distintas em todos os casos e de que no mercado monetário é sempre possível dizer o que pertence ao fluxo circular e o que pertence ao desenvolvimento O cerne da questão reside nos requisitos de crédito dos novos empreendimentos Evidentemente que devemos recordar que a influên cia das relações internacionais nas quais todo sistema econômico se insere e da intervenção nãoeconômica à qual todo sistema econômico está exposto são desprezadas aqui para abreviar e simplificar a ex posição Assim passam fora da nossa vista os fenômenos da balança de pagamentos nacional do comércio de barras de ouro etc Com essa condição só acontece uma coisa fundamental no mercado monetário em relação à qual tudo o mais é acessório pelo lado da demanda aparecem empresários e do lado da oferta produtores e negociantes de poder de compra isto é banqueiros ambos com suas equipes de agentes e intermediários O que acontece é simplesmente a troca de poder de compra presente por futuro Na luta cotidiana de preços entre as duas partes é decidido o destino das novas combinações O sistema de valores futuros nessa luta de preços aparece primeiro de forma prática tangível e em relação com as condições dadas do sistema econômico Seria to talmente errôneo acreditar que o preço do crédito de curto prazo é uma questão indiferente para as novas empresas uma vez que é de crédito de longo prazo que elas precisam Pelo contrário em nenhum lugar se expressa tão claramente toda a situação econômica em todos os momentos quanto no preço dos empréstimos de curto prazo O em presário não toma necessariamente um empréstimo para todo o período no qual precisa de crédito mas à proporção que vai surgindo a neces sidade e freqüentemente quase de um dia para o outro Além disso os especuladores freqüentemente conservam ações especialmente de novos empreendimentos com esse crédito de curto prazo que pode ser concedido hoje e negado amanhã Podemos observar dia a dia como os requisitos de crédito da indústria se manifestam e como o mundo ban cário às vezes apóia e encoraja e às vezes refreia a demanda Enquanto em outros mercados a demanda assim como a oferta mostra certa constância mesmo no desenvolvimento aqui surpreendentemente apa recem dia a dia grandes flutuações Explicaremos isso pela função es pecial do mercado monetário Todos os planos e perspectivas quanto ao futuro do sistema econômico o afetam todas as condições da vida nacional todos os acontecimentos políticos econômicos e naturais Di ficilmente há uma notícia que não influencie necessariamente as de cisões relativas à realização de novas combinações ou à posição do mercado monetário e as opiniões e intenções dos empresários O sistema de valores futuros deve se adaptar a cada situação nova Evidentemente isso não é efetuado meramente pelas variações no preço do poder de compra Freqüentemente a influência pessoal atua somandose a estas OS ECONOMISTAS 126 últimas ou em lugar delas Mas não há necessidade de entrar nesses detalhes bem conhecidos O mercado monetário é sempre por assim dizer o quartelgeneral do sistema capitalista do qual partem as ordens para as suas divisões individuais e o que ali é debatido e decidido é sempre em essência o estabelecimento de planos para o desenvolvimento posterior Todas as espécies de requisitos de crédito vêm a esse mercado nele todas as espécies de projetos econômicos travam relação uns com os outros e lutam por sua realização todas as espécies de poder de compra saldos de toda sorte fluem para ele a fim de serem vendidos Isso dá origem a um bom número de operações de arbitragem e de manobras de in termediação que podem com facilidade esconder o fundamental Não obstante creio que no fundo a nossa concepção quase não precisa temer a contradição Assim a função principal do mercado monetário ou de capital é o comércio de crédito com o propósito de financiar o desenvolvimento O desenvolvimento cria e alimenta esse mercado No curso do desen volvimento lhe é atribuída ainda uma outra ou seja uma terceira função ele se torna mercado das próprias fontes de rendimentos Con sideraremos mais tarde a relação entre o preço do crédito e o preço das fontes de rendimentos permanentes ou temporários Aqui fica claro o seguinte a venda de tais fontes de retornos representa um método de adquirir capital e a sua compra um método de empregar capital conseqüentemente a negociação de fontes de retornos não pode ser muito afastada do mercado monetário O comércio de terra também se inseriria aqui e somente circunstâncias técnicas impedem que apa reça na prática como uma parte das transações do mercado monetário mas não há falta de ligação causal entre os dois SCHUMPETER 127 CAPÍTULO IV O Lucro Empresarial108 Os primeiros três capítulos assentaram as bases sobre as quais se apóia tudo o que se segue Como primeiro fruto chegamos à explicação do lucro empresarial e de modo tão fácil e natural que para manter este capítulo breve e simples prefiro pôr algumas discussões mais difíceis cujo lugar realmente seria aqui no próximo capítulo onde todos os problemas espinhosos podem ser tratados como um todo O lucro empresarial é um excedente sobre os custos Do ponto de vista do empresário é a diferença entre receitas e despesas no negócio como nos foi dito por grande número de economistas Por superficial que seja essa definição é suficiente como ponto de partida Por despesas entendemos todos os desembolsos que o empresário deve fazer direta ou indiretamente na produção A isso se deve acres centar um salário apropriado para o trabalho desempenhado pelo em presário uma renda apropriada para qualquer terra que porventura lhe pertença e finalmente um prêmio de risco Por outro lado não insisto aqui em que o juro sobre o capital deva ser excluído desses custos Na prática é incluído neles visivelmente ou se o capital per tence ao próprio empresário pelo mesmo método de cômputo que o dos salários pelo seu trabalho pessoal ou da renda pela sua terra pró pria Isso pode bastar por enquanto ainda mais que muitos teóricos põem o juro sobre o capital na mesma categoria que a renda e os salários Deixo agora neste capítulo a critério do leitor desprezar a existência de juros sobre o capital no sentido de nossa interpretação ou reconhecêlo no sentido de qualquer teoria de juros como um ter 129 108 As teorias mais importantes sobre os lucros podem ser caracterizadas nos seguintes termos teoria da fricção teoria dos salários teoria do risco teoria da renda diferencial Remeto para sua discussão a Wesen Livro Terceiro e não entrarei aqui numa crítica delas Para a história da doutrina ver Pierstorff e Mataja Ao mesmo tempo J B Clark cuja teoria é a mais próxima à minha pode ser citado aqui cf seu Essentials of Economic Theory ceiro ramo estático de rendimento e incluílo nos custos do negócio De qualquer modo sua natureza e sua origem não nos interessam aqui Com essa definição das despesas pode parecer duvidoso que haja qualquer excedente sobre os custos Provar que há um excedente é portanto a nossa primeira tarefa Nossa solução pode ser assim bre vemente expressa no fluxo circular as receitas totais de um negócio abstraindo o monopólio são suficientemente grandes para cobrir as despesas Nele só há produtores que não ganham lucros nem sofrem perdas e cujo rendimento é suficientemente caracterizado pela frase salários de administração E uma vez que as novas combinações que são realizadas se há desenvolvimento são necessariamente mais van tajosas do que as antigas as receitas totais devem nesse caso ser maio res do que os custos totais Em honra a Lauderdale109 que foi o primeiro a tratar de nosso problema começarei com o aperfeiçoamento do processo produtivo com o exemplo tradicional do tear mecânico o que também é recomendado pelo fato de ter sido submetido a uma análise minuciosa por Böhm Bawerk110 Muitos se não a maioria dos feitos dos líderes da vida econômica moderna são desse gênero em particular a nova era dos séculos XVIII e XIX apresenta esforços nesse sentido É verdade que nesse período encontramos as várias funções que devem ser diferen ciadas no processo de introdução de aperfeiçoamentos na produção ain da menos separadas do que hoje em dia Homens como Arkwright inventaram e ao mesmo tempo colocaram em prática as suas invenções Não tinham à sua disposição o nosso moderno sistema de crédito Con tudo espero que tenha levado o leitor tão longe que eu possa fazer uso de nossas ferramentas analíticas em sua forma mais pura sem maiores explicações e repetições A questão então aparece da seguinte maneira Se alguém num sistema econômico no qual a indústria têxtil produza apenas com tra balho manual vê a possibilidade de fundar um negócio que use teares mecânicos se se sente à altura da tarefa de transpor todas as inume ráveis dificuldades e tomou a decisão final então antes de tudo precisa de poder de compra Tomao emprestado de um banco e cria o seu negócio É absolutamente irrelevante se constrói ele mesmo os teares mecânicos ou se manda uma outra empresa construílos de acordo com suas diretrizes para se limitar a utilizálos Se um trabalhador pode com esse tear produzir agora seis vezes mais do que um traba lhador manual num dia é óbvio que dadas três condições o negócio deve render um excedente sobre os custos uma diferença entre receitas e despesas Primeiro o preço do produto não deve cair quando a nova OS ECONOMISTAS 130 109 Inquiry into the Nature and Origin of Public Wealth É verdade que ele tinha em vista um objetivo completamente diferente a saber a explicação do juro 110 Em seu Capital and Interest VII 3 oferta111 aparecer ou então não deve cair numa proporção tal que o produto maior por trabalhador não produza receitas maiores agora do que o produto menor obtenível pelo trabalho manual produzia ante riormente Em segundo lugar os custos do tear mecânico por dia pre cisam ficar abaixo dos salários diários dos cinco trabalhadores despe didos ou então abaixo da soma que permanece depois de abater a possível queda no preço do produto e deduzir o salário do trabalhador requerido A terceira condição suplementa as outras duas Essas duas cobrem os salários dos operários que trabalham junto aos teares e os salários e a renda que vão em pagamento aos teares Até agora tomei o caso em que esses salários e rendas são simplesmente aqueles que imperavam antes que o empresário preparasse seus planos Se a sua demanda for relativamente pequena podemos nos contentar com isso112 Se não for porém os preços dos serviços do trabalho e da terra se elevam por causa da nova demanda Pois os outros estabelecimentos têxteis de início continuam funcionando e os meios de produção ne cessários não precisam ser retirados diretamente deles mas da indús tria em geral Isso ocorre por meio de um aumento de preços E por tanto o homem de negócios que deve antever e estimar a alta de preços no mercado de bens de produção que se segue ao seu apareci mento não pode simplesmente incluir em seus cálculos os salários e rendas anteriores mas deve acrescentar um montante apropriado de modo que ainda um terceiro item deve ser deduzido Apenas se as receitas excederem as despesas após o abatimento dos três conjuntos de mudanças é que haverá um excedente sobre os custos Essas três condições cumpriramse na prática inumeráveis vezes Isso prova a possibilidade de um excedente sobre os custos113 Todavia obviamente não se cumprem sempre e quando não o fazem e o fato é previsto o novo negócio não é organizado se esse fato não for previsto não resulta nenhum excedente mas perda Se as condições forem cum pridas contudo o excedente realizado é ipso facto um lucro líquido Pois os teares geram um produto físico maior do que poderiam gerar com o método anterior os serviços da terra e do trabalho neles contidos embora no caso de preços constantes dos bens de produção e dos pro dutos esse último método também permitisse que a produção fosse realizada sem perda Além disso os teares obviamente estão disponíveis para o nosso empresário pelo preço de custo desprezamos a possi SCHUMPETER 131 111 Aqui partimos do exemplo de Lauderdale para permanecermos fiéis a toda a nossa concepção do processo e ao mesmo tempo à realidade 112 Esse seria o caso da concorrência completamente livre para cujo conceito é necessário que nenhuma empresa seja forte o suficiente para influenciar os preços pela sua própria ação sobre a oferta e a demanda 113 Devese notar que nessa afirmação não há um apelo à realidade de um fenômeno ainda a ser explicado do tipo encontrado em muitos representantes da teoria da produtividade em relação ao fato do juro Quanto ao resto uma maior fundamentação virá depois bilidade de patenteamento por julgála incompreensível sem outras con siderações Assim tem origem uma diferença entre as receitas que são determinadas de acordo com os preços que eram de equilíbrio ou seja o custo quando só o trabalho manual estava sendo utilizado e as despesas que agora são essencialmente menores por unidade de produto do que para os outros estabelecimentos E essa diferença não precisa ser aniqui lada pelas mudanças de preços ocasionadas pelo aparecimento do indivíduo em questão pelo lado da demanda e da oferta Isso é tão claro que podemos dispensar uma formulação mais rigorosa desse ponto Mas agora vem o segundo ato do drama O encanto está quebrado e os novos estabelecimentos estão surgindo continuamente sob o im pulso dos lucros sedutores Ocorre uma reorganização completa da in dústria com aumento de produção luta concorrencial superação dos estabelecimentos obsoletos possível demissão de trabalhadores etc Cuidaremos melhor desse processo mais adiante Apenas uma coisa nos interessa aqui o resultado final deve ser uma nova posição de equilíbrio na qual com os novos dados reine novamente a lei do custo de modo que os preços dos produtos agora sejam de novo iguais aos salários e rendas dos serviços do trabalho e da terra que estão incor porados nos teares mais os salários e rendas dos serviços do trabalho e da terra que ainda devem colaborar com os teares para que o produto possa vir a existir O incentivo a produzir mais e mais produtos não cessará antes que se alcance essa condição nem antes que o preço caia como resultado do crescimento da oferta Conseqüentemente o excedente do empresário em questão e de seus seguidores imediatos desaparece114 Não em seguida é verdade mas em regra apenas após um período maior ou menor de diminuição progressiva115 Não obstante o excedente é realizado constitui em dadas condições um montante definido de retornos líquidos mesmo que apenas temporários Ora a quem caberá ele Obviamente aos in divíduos que introduziram os teares no fluxo circular não aos meros inventores mas também não aos meros produtores ou usuários deles Aqueles que os produzem sob encomenda apenas receberão seu preço de custo aqueles que os empregam de acordo com as instruções os comprarão tão caro de início que dificilmente receberão algum lucro O lucro caberá àqueles indivíduos cuja façanha seja introduzir os teares quer os produzam e usem quer apenas os produzam ou apenas os usem Em nosso exemplo a grande importância associase ao emprego mas isso não é essencial A introdução é realizada pela fundação de novos estabelecimentos quer para a produção quer para o emprego ou para ambos Com o que os indivíduos em consideração contribuíram para isso Apenas com a vontade e a ação não com bens concretos OS ECONOMISTAS 132 114 Cf BÖHMBAWERK Loc cit p 174 115 Para simplificar porém a exposição confinamos o processo em geral a um período econômico pois compraram estes de outros ou de si mesmos não com poder de compra com o qual os compraram pois tomaram este emprestado de outros ou se também levarmos em consideração a aquisição em períodos anteriores de si mesmos E o que fizeram Não acumularam nenhuma espécie de bens não criaram nenhum meio de produção original mas empregaram os meios de produção existentes de modo diferente mais apropriadamente de maneira mais vantajosa Eles realizaram novas combinações São empresários E o seu lucro o excedente ao qual não corresponde nenhuma obrigação é um lucro empresarial Assim como a introdução de teares é um caso especial da intro dução de maquinaria em geral também a introdução de maquinaria é um caso especial de todas as mudanças no processo produtivo no sentido mais amplo cujo objetivo é produzir uma unidade de produto com menos dispêndio e assim criar uma discrepância entre o seu preço existente e seus novos custos Muitas inovações na organização dos negócios e todas as inovações nas combinações comerciais se incluem nisso Para todos esses casos se pode repetir o que foi dito palavra por palavra A introdução de estabelecimentos industriais de larga es cala num sistema econômico no qual eram anteriormente desconhe cidos é representativa do primeiro grupo Num negócio em larga escala são possíveis um arranjo mais adequado e uma utilização dos fatores de produção melhor do que em negócios menores e além disso é possível a escolha de uma localização mais favorável Mas a introdução de ne gócios de larga escala é difícil Em nossas proposições todas as condições necessárias estão faltando trabalhadores pessoal treinado condições necessárias de mercado Resistências inumeráveis de caráter político e social trabalham contra E a organização em si mesma ainda des conhecida requer uma capacidade especial para ser construída Con tudo se alguém tem em si o que faz parte do sucesso nessas circuns tâncias e se pode obter o crédito necessário então pode colocar uma unidade de produto no mercado a um preço mais baixo e se as nossas três condições se realizaram terá um lucro que ficará em seu bolso Mas também triunfou para os outros abriu o caminho e criou um modelo para os que podem copiar Podem e vão seguilo primeiramente os indi víduos e depois multidões inteiras Novamente ocorre aquele processo de reorganização que deve resultar na aniquilação do excedente sobre os custos quando a nova forma de negócio tiver se tornado parte do fluxo circular Mas anteriormente foram feitos lucros Repetindo esses indiví duos não fizeram nada mais do que empregar os bens existentes com maiores efeitos realizaram novas combinações e são empresários no sen tido que lhes damos O seu ganho é um lucro empresarial Como exemplo dos casos de combinações comerciais podese citar a escolha de uma fonte nova e mais barata para o fornecimento de um meio de produção talvez uma matériaprima Essa fonte de for necimento não existia anteriormente para o sistema econômico Não SCHUMPETER 133 existia nenhuma conexão direta e regular com o seu país de origem se fosse estrangeira por exemplo nem linha de navegação a vapor nem correspondentes estrangeiros A inovação é arriscada impossível para a maioria dos produtores Mas se alguém estabelece um negócio relacionado com essa fonte de fornecimento e tudo vai bem então pode produzir uma unidade de produto de modo mais barato ao passo que de início os preços vigentes continuam substancialmente a existir Então tem um lucro De novo não contribuiu com nada mais do que vontade e ação não fez nada mais do que recombinar fatores existentes De novo se trata de um empresário seu lucro é lucro empresarial E novamente este último e também a função empresarial enquanto tal aparece no vórtice da concorrência que segue atrás deles Vem aqui o caso da escolha de novas rotas de comércio Análogo aos casos de simples aperfeiçoamento do processo de produção é o caso da substituição de um bem de produção ou consumo por outro que serve para o mesmo propósito ou aproximadamente ao mesmo sendo porém mais barato Exemplos concretos são oferecidos pela substituição parcial da lã pelo algodão no último quartel do século XVIII e por toda a produção de substitutos Esses casos devem ser tratados exatamente como os que acabamos de mencionar A diferença de que os novos produtos aqui certamente não trarão os mesmos preços que os anteriormente produzidos na indústria em consideração é apenas de grau como pode facilmente ser visto Quanto ao resto vale exata mente o mesmo Novamente é irrelevante se os indivíduos em questão produzem eles próprios o novo bem de produção ou de consumo ou se apenas o usam ou dele dispõem conforme seja o caso e o retiram com esse propósito de seus possíveis usos existentes Aqui também esses indivíduos não contribuem nem com bens nem com poder de compra Aqui também têm entretanto um lucro que está ligado à realização de novas combinações Reconhecemolos conseqüentemente como em presários Aqui também o lucro não durará muito A criação de um novo bem que satisfaça mais adequadamente as necessidades existentes e anteriormente satisfeitas é um caso um tanto diferente A produção de instrumentos musicais aperfeiçoados é um exem plo Nesse caso a possibilidade de lucro repousa no fato de que o preço mais alto recebido por uma mercadoria melhor excede os seus custos que são do mesmo modo mais altos na maioria dos casos É fácil convencerse de sua existência Além disso a adaptação de nossas três condições a esse caso não apresenta dificuldades e pode ser deixada ao leitor Se existe um excedente e portanto ocorre a introdução de melhores instrumentos então aqui também se manifestará uma tendência à reorganização da indústria que finalmente restaurará a vigência da lei dos custos Assim também aqui há claramente uma nova combinação dos fatores existentes uma ação empresarial e um lucro empresarial mesmo que não sejam permanentes Uma combinação do caso da melhor satisfação de uma ne OS ECONOMISTAS 134 cessidade com o caso do custo mais baixo por unidade de produto seguindose ao aparecimento de um aumento muito grande da deman da é apresentada pelo exemplo da construção de ferrovias e canais A busca de novos mercados nos quais um artigo ainda não tenha se tornado familiar e no qual não é produzido é uma fonte extraordi nariamente rica de lucro empresarial e antigamente era muito dura doura Os lucros de comércio primitivos entram aqui e a venda de contas de vidro para uma tribo de negros pode servir de exemplo O essencial do problema é que a nova mercadoria é valorizada pelos compradores como ocorre com as dádivas da natureza ou os quadros dos velhos mestres ou seja o seu preço é determinado sem que se leve em consideração o custo de produção Daí a possibilidade de se vender acima dos custos incluindo todos os gastos ligados à superação das inumeráveis dificuldades da aventura A princípio apenas uns pou cos vêem o novo empreendimento e são capazes de realizálo Esta também é uma ação empresarial a realização de uma combinação nova e rende um lucro que permanece no bolso do empresário É verdade que a fonte seca mais cedo ou mais tarde Hoje em dia logo passaria a existir uma organização apropriada e o comércio de contas de vidro muito em breve não mais daria lucro O que foi dito acima abrange ao mesmo tempo o caso da produção de um bem completamente novo Um tal bem deve antes de tudo ser imposto aos consumidores talvez até ser dado gratuitamente Uma série de obstáculos aparece Mas quando estes são superados e os con sumidores são atraídos pela mercadoria seguese um período de de terminação do preço com base somente na valorização direta e sem levar muito em consideração os custos que aqui também consistem fundamentalmente nos preços dos serviços necessários do trabalho e da terra vigentes até então Assim pode existir um excedente que permaneça nas mãos dos produtores bemsucedidos Estes são nova mente empresários que apenas contribuíram com a vontade e a ação e apenas realizaram combinações novas dos fatores produtivos exis tentes Novamente há um lucro empresarial E esse desaparece de novo quando a nova mercadoria se torna parte do fluxo circular e o seu preço se coloca na relação normal com os custos Esses exemplos nos apresentam a natureza do lucro como resul tado da realização de novas combinações Mostramnos também como se pode imaginar esse processo essencialmente como o emprego novo de bens de produção existentes O empresário não poupa para obter os meios de que necessita nem acumula qualquer bem antes de começar a produzir Ademais quando um negócio não é estabelecido de uma vez em sua forma definitiva mas se desenvolve lentamente a questão não é tão diferente quanto se poderia crer Se a força do empresário não se exaurir em um projeto e ele ainda continuar a con duzir o mesmo negócio então procederá a novas mudanças que serão SCHUMPETER 135 sempre empreendimentos de acordo com a nossa terminologia fre qüentemente com meios retirados de seus lucros passados O processo então parece ser diferente mas sua natureza é a mesma O mesmo é correto se um novo empreendimento é iniciado por um produtor na mesma indústria e está ligado à sua produção anterior Essa não é de modo algum a regra os novos empreendimentos são em sua maior parte fundados por homens novos e os negócios antigos submergem na insignificância Mas mesmo que um indivíduo que an teriormente conduziu o seu negócio através da reposição anual de sua parte no fluxo circular se torne um empresário nenhuma mudança se verifica na natureza do processo O fato de que nesse caso o próprio empresário já tenha os meios de produção necessários em parte ou totalmente ou conforme o caso possa pagar por eles com os recursos auferidos de seu negócio não muda a sua função de empresário É verdade que então nossa concepção não se ajusta aos fatos em todos os detalhes O novo empreendimento ainda coexiste com os outros ne gócios que de início continuam a operar da maneira usual mas não aumenta a demanda de meios de produção nem oferece necessariamente novos produtos Entretanto só organizamos assim a nossa explicação porque o caso mais importante o exige na prática e porque ela nos mostra o princípio do problema e especialmente o fato de que os novos negócios não precisam se originar diretamente dos antigos Interpretada apropriadamente ela também se ajusta a esse caso no essencial Aqui também se trata apenas da realização de novas combinações e nada mais O empresário nunca é aquele que corre o risco116 Em nosso exemplo isso está bem claro Quem concede crédito sofre os reveses se a empresa fracassar Pois embora qualquer propriedade possuída pelo empresário possa responder pelos prejuízos no entanto essa posse de riqueza não é essencial embora vantajosa Mas mesmo que o empresário se autofinancie pelos lucros anteriores ou que contribua com os meios de produção per tencentes ao seu negócio estático o risco recai sobre ele enquanto ca pitalista ou possuidor de bens não enquanto empresário Correr riscos não é em hipótese nenhuma um componente da função empresarial Mes mo que possa arriscar sua reputação a responsabilidade econômica direta do fracasso não recai nunca sobre ele Podese agora observar brevemente que o lucro tal como é aqui concebido é o elemento principal do fenômeno descrito como lucro do fundador promoters profit117 Além disso seja o que for o lucro do OS ECONOMISTAS 136 116 Cf capítulo II p 74 et seqs 117 Na verdade promoters profit seria mais bem traduzido por lucro do empresário não fosse a especificidade do conceito de empresário na obra de Schumpeter Lucro do fundador também não é uma boa solução por sua tendência a provocar confusão com a obra de Hilferding em que o conceito de lucro do fundador é bem particular e nada tem a ver com o promoters profit de Schumpeter Optei no entanto por esse termo por me parecer mais adequado ao que o autor tem em mente N do T fundador sua base é o excedente temporário das receitas sobre os custos de produção num novo empreendimento Na verdade o fundador pode ser como vimos o tipo mais puro do gênero empresário É então o empresário que se confina mais estritamente à função empresarial característica a realização de novas combinações Se durante a fun dação de um negócio tudo se desenrolasse corretamente com perfeição ideal e com previsão de todos os aspectos o lucro seria o que perma necesse nas mãos do fundador É claro que na prática é muito diferente Mas isso ainda fornece o princípio da questão É verdade que isso se aplica apenas ao fundador real e não ao agente que às vezes executa o trabalho técnico de organizar uma companhia e freqüentemente tam bém recebe essa designação Este último recebe apenas uma remune ração que tem o caráter de salário Finalmente na maioria dos casos nem tudo de novo que é criado numa companhia fica perfeito com sua promoção Pelo contrário seus dirigentes muitas vezes se dedicam continuamente a novos empreendimentos com o que dão seqüência então ao papel do fundador original e são empresários qualquer que seja sua posição oficial dentro da companhia Se supusermos todavia que a companhia uma vez fundada é simplesmente posta a funcionar então o fundador é o único que exerce atividade empresarial em relação a esse negócio Suponhamos que os preços dos meios de produção118 sejam representados por títulos que os rendimentos maiores capitali zados pelas fontes duradouras de ganho associadas ao empreendimento sejam representados por ações e que também haja ações do fundador que lhe são transferidas gratuitamente Então essas ações do fundador não produzirão um rendimento duradouro mas apenas trarão ao fun dador aquele excedente temporário que existe antes que o empreen dimento seja incorporado pelo sistema econômico e então se tornarão sem valor Num tal caso o lucro apareceria em sua forma mais pura Essa imagem do lucro deve ser agora mais bem elaborada E isso se dá ao nos fazermos a pergunta do que corresponde a esse fenômeno numa outra forma de sociedade que não a capitalista A economia mercantil simples ou seja a espécie de sistema econômico na qual há troca de produtos mas na qual o método capitalista é desconhecido não nos oferece nenhum problema novo para resolver Nas unidades de uma tal sociedade deve haver uma espécie diferente de poder de disposição sobre os meios de produção em relação ao qual a economia de trocas possa ser tratada como no caso que tomaremos a seguir Quanto ao resto vale o mesmo que para o sistema capitalista Portanto para evitar repetições voltarmeei para a economia simples nãomercantil SCHUMPETER 137 118 Ou seja falando de modo estrito os preços dos meios de produção que constituem o material do investimento que correspondem aos seus valores em seus empregos até então vigentes sem considerar o novo em questão mesmo que na prática fosse preciso pagar mais na maioria dos casos Aqui entram em consideração dois tipos de organização O primeiro é o de uma propriedade senhorial isolada na qual a maior parte dos meios de produção pertencem ao senhor e todas as pessoas estão sujeitas a ele O segundo é o de uma sociedade comunista isolada na qual o órgão central dispõe de todos os bens materiais e serviços do trabalho e expressa todos os julgamentos de valor A princípio ambas as formas podem ser tratadas em comum Em ambas alguns indivíduos têm controle absoluto sobre os meios de produção Não esperam das outras unidades econômicas nem cooperação na produção nem a oferta de possibilidades de se fazer lucros O mundo dos preços não existe e só o dos valores permanece Assim quando passamos da consideração de nossos exemplos à análise de uma economia nãomercantil começamos a investigação dos fenômenos do valor que estão na base do lucro Sabemos que aqui também há um fluxo circular no qual a lei do custo é a norma estrita no sentido de igualdade entre o valor dos produtos e o valor dos meios de produção e de que aqui também o desenvolvimento econômico no sentido que lhe damos só é obtido na forma da realização de novas combinações dos bens existentes Poder seia pensar que a acumulação de estoques de bens seria necessária aqui e formaria uma função especial O primeiro ponto é correto em parte nem sempre é verdade mas com freqüência a acumulação de estoques é um passo em direção ao fim da realização de novas com binações Mas nunca constitui uma função especial à qual possam se ligar fenômenos especiais relativos ao valor Um emprego diferente dos bens é simplesmente prescrito pelo dirigente ou pelo órgão diretor do sistema É completamente irrelevante se o resultado desejado é alcançado diretamente ou apenas indiretamente através de um estágio preparatório de acúmulo de estoques É do mesmo modo irrelevante se todos os participantes individualmente concordam com os novos ob jetivos e estão dispostos a empreender a acumulação de estoques Os dirigentes não fazem nenhum sacrifício e não tomam conhecimento de um possível sacrifício temporário dos dirigidos se e enquanto as rédeas permanecerem firmes em suas mãos Se a execução de planos de longo alcance diminuir o consumo presente das pessoas liberadas o que não é necessário mas é possível estes últimos se oporão àqueles se puderem119 Sua oposição pode tornar esses planos impos síveis Mas deixando isso de lado eles não têm nenhuma influência econômica e direta no que pode acontecer em particular não é seu serviço voluntário a contração do consumo e a acumulação de estoques OS ECONOMISTAS 138 119 Pois terão em vista apenas a perda imediata enquanto o ganho futuro possivelmente tem tão pouca realidade como se não fosse existir nunca Isso se aplica a todos os estágios da civilização de que temos algum conhecimento através da história o elemento força nunca esteve ausente quando se tratava de uma questão de desenvolvimento que pressupusesse a cooperação de grandes massas Em muitos casos é verdade não foi exigido do povo nenhum sacrifício Portanto isso também não implica nenhuma função especial que deva ser inserida em nosso esboço do processo de desenvolvimento Se o dirigente prometer um prêmio ao povo não significa mais do que quan do um general promete aos seus soldados alguma remuneração especial é um presente com a intenção de tornar o povo mais dócil mas não faz parte da essência do problema e não constitui nenhuma categoria especial puramente econômica Assim a diferença entre o senhor e o dirigente de uma economia comunista é apenas de grau Não constitui nenhuma diferença fundamental o fato de que de acordo com a idéia de uma sociedade comunista as vantagens conseguidas devam ir para toda a comunidade enquanto o senhor possivelmente só tem em vista os seus próprios interesses Daí também se segue que o elemento tempo não pode ter aqui nenhuma influência independente É verdade que os dirigentes devem comparar o resultado da combinação escolhida não só com o resultado que os mesmos fatores produtivos poderiam produzir no mesmo tempo em seu método de emprego anterior mas também com os resultados de outras combinações novas que poderiam ser realizadas alternativa mente com os mesmos meios E se estas últimas requererem menos tempo devese ter em conta os resultados de tantas outras combinações quantas as que poderiam ser realizadas no tempo poupado na esti mativa da importância relativa dos métodos concorrentes Portanto o elemento tempo certamente aparecerá numa economia nãomercantil enquanto no sistema capitalista sua influência é expressa pelo item juro como veremos mais tarde Isso todavia é evidente por si só Mesmo aqui o tempo não desempenha nenhum outro papel por exem plo não transforma em fatores especiais a necessidade de esperar ou o desejo menor por prazeres futuros Só se espera de má vontade porque e na medida em que se pode fazer algo nesse meio tempo Prazeres futuros só parecem menores porque quanto mais longe no futuro está a sua realização maiores se tornam as deduções sob a rubrica de prazeres realizáveis em outra parte Assim o dirigente de tal comunidade qualquer que seja sua po sição retira uma certa quantidade de meios de produção de seus usos anteriores e realiza com eles uma nova combinação por exemplo a produção de um novo bem ou a produção por um método melhor de um bem já conhecido No último caso é bastante irrelevante se ele retira os meios de produção necessários do ramo da indústria que até então manufaturava a mesma mercadoria ou se permite que as em presas existentes continuem a funcionar da maneira habitual e começa a produzir lado a lado com elas com o novo método e retira os meios de produção necessários de ramos da indústria bastante diferentes Os novos produtos serão ex hypothesi de valor maior do que os produzidos anteriormente pelas mesmas quantidades de meios de produção de qualquer modo que sejam formadas as avaliações em tal sociedade SCHUMPETER 139 Como procede o processo de imputação em relação aos novos produtos No momento em que se completa a combinação e os novos produtos passam a existir é determinado o seu valor Como se formarão os valores dos fatores que participaram É melhor ainda escolher o mo mento em que se toma a decisão de realizar a nova combinação e supor que tudo acontece exatamente de acordo com a decisão Antes de tudo deve ser feita pelos produtores uma avaliação o valor dos novos produtos deve ser comparado com o valor dos produtos que os mesmos meios de produção vinham produzindo até então no fluxo circular normal Essa avaliação é perfeitamente necessária para se fazer qualquer estimativa da vantagem da nova combinação e sem ela não seria possível nenhuma ação A questão central para o nosso problema agora é saber qual dos dois valores alternativos que podem ser produzidos pelos meios de produção será imputado a estes últimos O que está claro antes de ser tomada a decisão quanto à realização da nova combinação apenas o valor que corresponde ao emprego antigo Pois não haveria sentido em imputar antes o valor excedente da nova combinação aos meios de produção uma vez que a realização desta então não apareceria mais como uma vantagem e a base para a com paração necessária dos valores nos dois usos estaria perdida Mas como fica a questão uma vez que a decisão tenha sido tomada O ganho total em satisfação não deveria ser imputado no sentido mengeriano120 aos meios de produção justamente como no fluxo circular uma vez que agora eles realizam um valor maior de modo que se tudo funcionar com perfeição ideal todo o valor dos novos produtos refletirseá nos meios de produção usados Respondo que não e afirmo que mesmo aqui os serviços do tra balho e da terra devem ser estimados por seus valores antigos e pelas duas seguintes razões Primeiro os valores antigos são familiares Lon ga experiência os determinou e eles estão estabelecidos nas consciências dos indivíduos Só são alterados com o correr do tempo e sob a pressão de mais uma longa experiência Seus valores são estáveis em alto grau ainda mais se os próprios serviços do trabalho e da terra não mudaram Os valores dos novos produtos pelo contrário permanecem tão fora do sistema de valores existentes quanto os preços dos novos produtos no sistema capitalista Não estão ligados de modo contínuo aos valores antigos mas estão discretamente separados Daí a justificativa do mé todo de interpretação121 de acordo com o qual a qualquer bem produtivo só é atribuído o valor que realizaria num outro emprego que não o efetivamente seu Pois apenas esse valor qual seja em nosso caso seu valor vigente até aqui depende dos meios de produção concretos OS ECONOMISTAS 140 120 Cf WIESER Natürlicher Wert p 70 et seq 121 Com o qual não concordo inteiramente cf Wesen Livro Segundo Bemerkungen über das Zurechnungsproblem In Zeitschrift für Volkswirtschaft Sozialpolitik und Verwaltung 1909 Se deixassem de existir seriam substituídos por outras unidades desses outros empregos Nenhuma unidade de uma mercadoria pode ter valor mais alto do que outra unidade idêntica se elas existem simultanea mente Ora os serviços do trabalho e da terra empregados na nova combinação e os empregados simultaneamente são homogêneos se não o fossem haveria de fato uma diferença de valor mais facilmente explicável sem afetar o princípio e portanto não podem ter valores diferentes entre si Mesmo no caso extremo se todas as forças produ tivas do sistema econômico fossem postas a serviço da nova combinação teriam que ser investidas nesse estágio pelos valores até então vigentes Em caso de fracasso tais valores poderiam ser recuperados novamente e sobre os mesmos se basearia a dimensão das perdas se aquelas forças fossem completamente aniquiladas Portanto a realização bem sucedida de novas combinações também resulta num valor excedente numa economia nãomercantil não apenas na capitalista e de fato um valor excedente no sentido de uma quantidade de valor para a qual não há nenhum direito correspondente de imputação pelos meios de produção não meramente um excedente de satisfação comparado à posição anterior Como podemos também apresentálo o valor exce dente122 no desenvolvimento não é apenas um fenômeno privado mas também social e até agora é em todos os aspectos a mesma coisa que o lucro empresarial capitalista que vimos anteriormente Em segundo lugar o mesmo resultado pode ser alcançado com uma outra abordagem A atividade empresarial do dirigente que de fato é uma condição necessária para a realização da combinação pode ser concebida como um meio de produção Não a concebo comumente assim porque há mais interesses no contraste entre empresário e meios de produção Mas aqui esse método de consideração presta um bom serviço Portanto vamos estabelecer por enquanto a função de liderança como terceiro fator produtivo original Então fica claro que alguma parte do valor dos novos produtos lhe deve ser imputada Mas quanto O dirigente e os meios de produção são igualmente necessários e o valor excedente dos novos produtos como um todo depende da coope ração de ambos Isso não requer nenhum comentário a mais e não é contraditório com o que disse no parágrafo precedente As dimensões apropriadas de todas as categorias de valor só são determinadas pela força da concorrência seja de bens seja de indivíduos Já que essa segunda espécie de concorrência não existe numa economia nãomer cantil e como nesta a diferença entre o que é e o que não é lucro é também de significado muito menor do que numa economia de trocas como logo veremos o seu valor não apareceria sempre com a mesma SCHUMPETER 141 122 Somente esse excedente que aparece como lucro e juro sobre o capital do ponto de vista econômico privado pode ser descrito como valor excedente no sentido marxiano Não existe nenhum outro excedente clareza com que acontece quando a diferença é muito essencial Mas não obstante podemos especificar na maioria dos casos quanto deve ser imputado à função do empresário Na maioria dos casos como dissemos os meios de produção são substituíveis mas não o dirigente123 Portanto aos primeiros será imputado aquele valor que estará perdido na eventualidade de ser necessária uma substituição e à função de liderança será atribuído o restante À função de liderança é imputado o valor dos novos produtos menos o valor que poderia ser realizado sem ela Portanto o excedente aqui corresponde a um direito especial à imputação e portanto não pode em nenhum caso avolumar o direito que se origina nos meios de produção Quanto a isso não se deve esquecer contudo que não seria muito correto se falássemos sempre da imputação do valor até então vigente aos meios de produção O valor marginal de fato cresce nos usos an teriores em conseqüência de se retirar deles os meios de produção Já observamos o mesmo fenômeno no sistema capitalista O aumento dos preços dos meios de produção em conseqüência da nova demanda dos empresários no sistema capitalista corresponde exatamente a esse processo de estimativa dos valores Nosso modo de expressar deve ser corrigido de acordo com isso Todavia nada muda no fundamental Esse aumento do valor não deve ser confundido evidentemente com a imputação aos meios de produção no valor devido ao desenvolvimento Ninguém pode afirmar que o processo de estimativa dos valores descrito acima não seja real e que o lucro enquanto dimensão especial de valor não teria nenhum sentido numa economia nãomercantil Mes mo uma economia nãomercantil deve saber exatamente o que está fazendo que vantagem suas novas combinações proporcionam e tam bém a que se deve atribuir essa vantagem Podese afirmar contudo que o lucro não tem nenhum significado enquanto categoria distribu tiva numa economia nãomercantil Em certo sentido isso é verdade Na economia nãomercantil do tipo feudal o senhor de fato pode dispor livremente da quantidade de produto correspondente ao seu serviço mas nela o senhor pode dispor livremente de todos os rendimentos pode dar aos trabalhadores mais ou também menos do que corresponde à sua produtividade marginal Na economia do tipo comunista o lucro cabe inteiramente ao povo como um todo ao menos em teoria Isso em si não nos diz respeito Mas não se pode inferir daí especialmente para a economia comunista que o lucro seja absorvido nos salários que a realidade elimine a teoria do valor e que os salários abranjam todo o produto Não é preciso distinguir a natureza econômica de um rendimento daquilo que acontece a este A natureza econômica de um OS ECONOMISTAS 142 123 Mesmo que a atividade do dirigente concorra com um meio de produção insubstituível perdura um excedente de valor em favor do primeiro Pois no momento da introdução da inovação ao último só deve ser atribuído o seu valor até então vigente rendimento se apóia sobre um serviço produtivo Nesse sentido cha mamos de salário o rendimento que é imputado a um serviço do tra balho Em livre concorrência numa economia de trocas esse rendi mento vai para o trabalhador mas apenas porque o princípio da livre concorrência é a remuneração de acordo com a significação marginal Isso ocorre necessariamente apenas no sentido de que precisamente no sistema capitalista esse salário é que suscita o esforço Se se asse gurasse o esforço por outro método pelo sentimento de dever social ou talvez pela coerção o trabalhador poderia receber menos mas o seu salário seria não obstante determinado pela produtividade mar ginal do trabalho e o montante em que sua remuneração estivesse abaixo disso deveria ser classificado como uma dedução de seu salário econômico Essa dedução também seria salário no mesmo plano que o do salário pago ao trabalhador Numa sociedade comunista o dirigente certamente não receberia lucro E decididamente não se pode afirmar que isso tornaria o desenvolvimento impossível Pelo contrário é pos sível que as pessoas numa tal organização eventualmente pensassem tão diferentemente que não reivindicariam o lucro mais do que um estadista ou um general desejariam conservar para si totalmente ou em parte o espólio da vitória Mas o lucro permaneceria lucro Que não seria possível caracterizálo como salário do trabalho podese ver pela adaptação do argumento da formulação clássica de BöhmBawerk com relação ao juro124 Isso também se aplica à renda da terra na qual do mesmo modo a natureza e o valor da contribuição produtiva da terra devem ser distintos da receita recebida pelos indivíduos particulares125 O lucro seria designado como salário de quais trabalhadores São concebíveis duas respostas a essa questão Em primeiro lugar podese dizer como parte do salário dos trabalhadores que trabalharam no novo produto Ora isso não pode ser Pois então esses trabalhadores receberiam ex hypothesi salários mais altos do que os seus companheiros Estes úl timos porém não executam menos trabalho nem trabalho de qualidade inferior de modo que se aceitarmos essa possibilidade entraremos em conflito com um princípio econômico fundamental que proíbe que partes diferentes de bens homogêneos tenham valores diferentes À parte a in justiça que residiria nessa medida seriam evidentemente criados por ela trabalhadores privilegiados O arranjo é possível mas o excedente recebido por esses trabalhadores não seria salário A outra resposta concebível é os valores que chamamos de lucro e os montantes de produto a eles correspondentes simplesmente cons tituem uma parte do dividendo nacional e devem ser distribuídos igual mente por todos os serviços do trabalho com que se contribuiu no período econômico em questão supondose a homogeneidade dos ser SCHUMPETER 143 124 Positive Theorie capítulo final 125 Cf Wesen Livro Terceiro viços ou conforme o caso levandose em conta as disparidades por algum modo aprovado Nesse caso os trabalhadores que não tiverem trabalhado nos novos produtos recebem mais do que o produto de seu trabalho Nunca foi ainda associado um significado econômico a um salário que fosse maior do que o valor produzido total Portanto será fácil admitir que nesse caso os trabalhadores recebem a sua parte não inteiramente enquanto um salário econômico mas parcialmente a tí tulo nãoeconômico Seguramente esse arranjo também é possível e igualmente muitos outros A comunidade deve de fato dispor de algum modo de seu lucro assim como de todos os outros rendimentos Deve dispor dele em favor dos trabalhadores uma vez que não há mais ninguém com direito a ações Quanto a isso pode proceder de acordo com os princípios mais variados pode por exemplo distribuir segundo a intensidade da necessidade ou desenvolver os objetivos gerais sem distribuílo Mas isso nada altera nas categorias econômicas No fluxo circular normal não é possível aos trabalhadores tampouco à terra receber direta ou indiretamente mais do que o seu produto econômico pois não existe mais Se isso é possível em nosso caso é somente porque algum outro agente não recebe o seu produto Se definirmos a ambígua expressão exploração de modo que a exploração ocorra quan do um agente necessário da produção ou o seu possuidor conforme seja o caso receber menos do que o seu produto no sentido econômico então podemos dizer que esse pagamento extra aos trabalhadores só é possível pela exploração dos dirigentes Se restringimos essa expres são ao caso em que algum serviço pessoal é privado de seu produto para impedir a aplicação à terra do conceito de exploração pois considerando a inexistência de senhores da terra na sociedade comu nista a expressão estaria aí fora de lugar ainda podemos dizer que ocorre a exploração dos dirigentes seguramente sem querer ex primir nenhum julgamento moral Portanto o lucro não se torna salário no sentido econômico nem mesmo se for distribuído totalmente para os trabalhadores É impor tante na prática para um sistema comunista reconhecer isso claramente e sempre separar o lucro dos salários Pois a compreensão geral de sua vida assim como as decisões quanto a questões concretas dependem manifestamente de tal reconhecimento Toda essa consideração nos mostra a independência do fenômeno em relação à forma concreta da organização econômica E então há uma verdade geral o lucro enquanto um fenômeno do valor especial e independente está vinculado funda mentalmente ao papel de liderança no sistema econômico Se o desen volvimento não requisesse nenhuma direção nem nenhuma força então o lucro existiria seria uma parte dos salários e rendas mas não seria um fenômeno sui generis Na medida em que não é esse o caso ou seja na medida em que a maioria das pessoas tenham a mais ligeira semelhança com as massas de todas as nações das quais temos algum OS ECONOMISTAS 144 conhecimento então nem todo o rendimento pode ser imputado aos serviços do trabalho e da terra mesmo no caso idealmente perfeito de um processo econômico sem fricções e intemporal126 Mas também na economia nãomercantil o lucro não vive eter namente Aqui também necessariamente aparecem mudanças que lhe põem um fim A nova combinação é realizada seus resultados estão à mão todas as dúvidas são silenciadas as vantagens e ao mesmo tempo a maneira de obtêlas são portanto evidentes Há ainda ne cessidade no máximo de um gerente ou de um chefe mas não do poder criativo de um dirigente Só é necessário repetir o que foi feito antes para obter as vantagens equivalentes E isso pode e vai ser feito sem um dirigente Mesmo que ainda seja preciso superar resistências oriundas das fricções o problema tornouse essencialmente diferente e mais fácil As vantagens se tornaram realidade para todos os membros da comunidade e os novos produtos uniformemente distribuídos no tempo estão continuamente ante seus olhos estes os liberam no sen tido do que dissemos sobre esse ponto no capítulo I de todo sacrifício ou necessidade de esperar pelo término de mais produtos Não se espera mais que o sistema econômico avance mas apenas que assegure a continuidade da corrente de bens existente Podemos esperar isso dele Então o novo processo de produção se repetirá127 E para isso a atividade empresarial não é mais necessária Se a concebermos de novo como um terceiro fator produtivo podemos então dizer que na mera repetição das novas combinações já familiares desaparece um dos fatores de produção que eram necessários para realizálas inicial SCHUMPETER 145 126 Uma palavra sobre o argumento tão freqüentemente ouvido hoje em dia de que o empresário nada produz e a organização produz tudo de que nenhum produto de alguém é dele mesmo mas do todo social No fundo disso está a verdade de que cada um é produto de seu meio ambiente pessoal herdado e que ninguém pode produzir nada sem que existam condições Mas não podemos fazer nada com isso no reino da teoria em que o interesse não é moldar os homens mas os homens já formados Até os representantes dessa interpretação respon deriam rispidamente de modo afirmativo à questão de saber se a iniciativa individual tem uma função Além disso é preciso e correto em relação aos fenômenos secundários do desenvolvimento Quanto ao resto é baseado meramente no preconceito popular de que apenas o trabalho físico é realmente produtivo e na impressão de que todos os elementos do desenvolvimento funcionam harmoniosamente juntos e cada fase do desenvolvimento tem como base as fases precedentes Isso contudo é o resultado do desenvolvimento que já foi colocado em movimento e nada explica O princípio de seu mecanismo é a questão principal 127 Poderseia objetar que se a inovação se afastar demais dos métodos habituais a compulsão ainda será necessária Devemos estabelecer a seguinte diferença Primeiramente num tal caso ela ainda não foi compreendida e não se tornou familiar Então a nova combinação simplesmente não é realizada ainda Supomos que isso tenha acontecido e que possa durar um tempo indefinidamente longo Depois disso a compulsão do tipo inerente à organização especialmente ao nível dos trabalhadores das classes mais altas e mais baixas certamente será sempre necessária Mas é algo diferente da compulsão para realizar coisas novas Finalmente na organização feudal pode estar ligado à inovação um dano direto às massas Então também é necessária a compulsão para que ela seja realizada Mas isso também é uma coisa diferente Para a manutenção de algo já existente não é necessário o nosso modelo de dirigente mas apenas um governante mente Ao mesmo tempo o direito à imputação a ele associado é abolido e os valores dos outros ou seja dos serviços do trabalho e da terra aumentam até que esgotem o valor do produto Apenas estes são agora necessários eles sozinhos criam o produto A imputação é só para eles em primeiro lugar para os serviços do trabalho e da terra que são efetivamente usados na produção dada mas subseqüentemente de acordo com princípios bem conhecidos igualmente para todos Os va lores dos serviços anteriores do trabalho e da terra primeiro crescerão e depois se difundirão por todos os outros Assim sendo os valores de todos os serviços do trabalho e da terra aumentarão de modo correspondente Esse aumento contudo deve ser distinguido do que apareceu com a realização da nova com binação não apenas em grau mas também em qualidade Não significa nenhum aumento em sua escala de valores mas apenas em sua uti lidade marginal em conseqüência do fato de que por causa da retirada dos meios de produção de seus usos até então predominantes a pro dução não pode ser levada tão longe quanto antes e assim apenas as necessidades de maior intensidade do que antes podem ser satisfeitas No outro caso ocorre algo bastante diferente a saber a entrada do valor dos novos produtos na escala de valores dos meios de produção Isso também pode elevar a utilidade marginal destes últimos mas eleva também o seu valor total uma diferença que tem importância prática quando se tratar da disposição de maiores quantidades de fa tores Assim os valores dos meios de produção exprimem agora o fato de que o novo aumento da satisfação depende deles e apenas deles que o produto do trabalho e da terra tornouse maior Não lhes serão atribuídos mais os valores que tinham no antigo fluxo circular mas os que eles realizam no novo fluxo circular No momento da transfor mação não havia sentido em imputarlhes um valor maior do que o seu valor existente de reposição Agora o seu valor de reposição já inclui o valor do novo emprego O aumento no valor do produto social arrasta consigo o valor dos meios de produção e o novo estado dos negócios logo substituirá o antigo valor tradicional por um novo que no fim tornarseá o habitual baseado na nova produtividade marginal Assim se restabeleceria o contato entre o valor do produto e o valor dos meios de produção Não haverá discrepância entre as duas cate gorias de valores no novo sistema mais do que havia no anterior E se tudo funcionar com perfeição ideal a sociedade comunista es tará bastante certa agora se considerar todo o produto resultante como um rendimento permanente de seu trabalho e de sua terra e o distribuir entre os seus membros para o consumo128 Os fatos não o desautorizariam OS ECONOMISTAS 146 128 Como faz também o sistema capitalista à sua maneira Até agora a eliminação do lucro numa economia nãomercantil se desenrola de uma maneira bastante análoga à sua eliminação no sistema capitalista Mas a outra parte desse processo no sistema ca pitalista a saber o rebaixamento do preço do novo produto em con seqüência do aparecimento de empresas concorrentes deve estar au sente numa economia nãomercantil É verdade que aqui também os novos produtos precisam ser incorporados ao fluxo circular que também aqui os seus valores devem se colocar em relação com os valores de todos os outros produtos Teoricamente ainda podemos distinguir como duas coisas diferentes a realização da inovação e o processo de sua incorporação ao fluxo circular Mas se vê facilmente que faz uma con siderável diferença na prática se ambos efetivamente ocorrem uno actu ou não Numa economia nãomercantil a demonstração da existência de um excedente atribuível à atividade empresarial é o suficiente para resolver o nosso problema Num sistema capitalista esses excedentes só podem encontrar o seu caminho até o empresário com o auxílio do mecanismo do mercado e só lhe podem ser arrancados novamente por meio desse mecanismo Assim além do simples problema do valor há o adicional de como é que o lucro efetivamente chega até o empresário E esse mecanismo cria muitos fenômenos que devem estar ausentes numa economia nãomercantil A despeito disso não apenas a natureza mais profunda do lucro é a mesma em todas as formas de organização mas também o é a natureza mais profunda do processo que o elimina Em todos os casos o problema gira em torno da eliminação das obstruções que impedem que todo o valor do produto seja imputado aos serviços do trabalho e da terra ou conforme o caso que os seus preços sejam nivelados ao preço do produto Os princípios reguladores são sempre de que o pro cesso econômico se desobstruído primeiramente não tolera excedentes de valor no caso de produtos individuais e em segundo lugar sempre força para cima os valores dos meios de produção até alcançarem os dos produtos Esses princípios são imediatamente válidos numa eco nomia nãomercantil e são realizados pela livre concorrência num sis tema capitalista Neste último os preços dos meios de produção em livre concorrência devem ser tais que esgotem o preço do produto Na medida em que isso não for possível o preço do produto deve cair de modo correspondente Se nessas circunstâncias existe qualquer lucro é apenas porque a transição de uma posição na qual não há nenhum excedente para outra posição nova na qual novamente não há nenhum excedente não pode acontecer sem o auxílio do empresário e sem que a condição adicional necessária num sistema capitalista seja também cumprida a saber que o lucro não lhe possa ser arrancado imediata mente pela concorrência SCHUMPETER 147 O lucro não se adere aos meios de produção a não ser no sentido em que o faz o esforço de um poeta ao seu manuscrito parcialmente terminado Nenhuma parte do lucro lhes é imputada nem o conteúdo da função empresarial é a posse e o fornecimento deles E acima de tudo como vimos o lucro não deve ser procurado no permanente au mento de valor que os meios de produção experimentam em conse qüência do novo emprego Consideremos o caso de uma economia es cravista na qual a terra e os trabalhadores pertencem ao empresário que os comprou com o propósito de realizar novas combinações Po derseia dizer nesse caso se é possível dizêlo em algum lugar que será pago um preço pela terra e pelos trabalhadores correspondente aos seus empregos até então vigentes e que o lucro é o montante a mais que a terra e trabalhadores produzem então permanentemente Mas isso estaria errado por duas razões Primeiro as receitas dos novos produtos atingirão uma altura a partir da qual a concorrência deve trazêlas de novo para baixo de modo que essa concepção não admitiria um elemento de lucro Segundo o montante duradouro de excedente na medida em que não é quaserenda economica mente é apenas um aumento dos salários do trabalho que na ver dade cabe aqui ao proprietário do trabalho não ao trabalhador e um aumento da renda da terra Escravos e terra certamente têm agora um valor maior para o seu proprietário mas ele se tornou permanentemente mais rico como seu proprietário e não enquanto empresário se se deixa de lado o lucro temporário ou ocasional Mesmo se um agente natural da produção só começa a existir com a nova combinação por exemplo um riacho enquanto energia hi dráulica a questão não é de modo algum diferente Não é a energia hidráulica que rende o lucro O que ela rende permanentemente é renda no sentido em que a tomamos Assim uma parte do que em primeira instância é lucro se transforma em renda Com isso a natureza econômica da quantidade em questão é modificada Suponhamos que um plantador que tenha cultivado antes canadeaçúcar mude para o cultivo de algodão que até recentemente era mais lucrativo do que agora129 Essa é uma combinação nova o homem tornase com isso um empresário e obtém lucro Por ora a renda da terra aparece na lista dos custos apenas no montante apropriado ao cultivo de canadeaçúcar Como efeti vamente aconteceu suporemos que a concorrência mais cedo ou mais tarde força para baixo as receitas Se ainda permanecer um exce dente contudo como se deve explicálo e o que é ele economica OS ECONOMISTAS 148 129 Escrito em 1911 mente Desprezandose a fricção esse resultado só pode ocorrer porque a terra seja diferentemente apropriada para o cultivo de algodão ou porque a renda da terra cresceu em geral como resultado dos novos empregos em princípio isso é sempre conseqüência de am bos os elementos Isso caracteriza de imediato a parte do aumento do rendimento total que é permanente enquanto renda da terra A função empresarial desse homem desaparece se continuar a cultivar algodão e o rendimento inteiro é doravante imputado aos fatores originais de produção Uma palavra sobre a relação entre lucro e receita de monopólio Uma vez que o empresário não tem concorrentes quando os novos produtos aparecem pela primeira vez a determinação de seu preço se processa inteiramente ou dentro de certos limites segundo os princí pios do preço de monopólio Assim há um elemento de monopólio no lucro numa economia capitalista Suponhamos agora que a nova com binação consiste em estabelecer um monopólio permanente talvez em formar um trust que absolutamente não precisa temer nenhum con corrente de fora Então o lucro obviamente deve ser considerado sim plesmente como receita permanente de monopólio e a receita de mo nopólio simplesmente como lucro E no entanto existem dois fenôme nos econômicos bastante diferentes A realização da organização mo nopolista é um ato empresarial e o seu produto é expresso no lucro Uma vez que esteja funcionando sem problemas a preocupação nesse caso vai para o ganho de um excedente que doravante contudo deve ser imputado às forças naturais ou sociais sobre as quais repousa a posição de monopólio tornouse uma receita de monopólio O lucro da fundação de um negócio e o retorno permanente são distintos na prática o primeiro é o valor do monopólio o último é apenas o ren dimento da condição de monopólio Essas discussões não podem ser levadas mais adiante no âm bito desse trabalho Talvez já estejam longas demais Mas se devo repreenderme por ter cansado demais o leitor com essas coisas ainda não posso pouparme a reprimenda por não estarem todos os pontos explicados exaustivamente e por não estarem excluídas todas as interpretações errôneas possíveis Os aspectos fundamentais da questão devem ser elucidados Mais umas poucas observações antes de deixarmos o assunto O lucro empresarial não é uma renda como o rendimento das vantagens diferenciais nos elementos permanentes de um negócio nem é um rendimento do capital qualquer que seja o modo como se defina capital De maneira que não há razão para falar de uma tendência no sentido de igualar os lucros que não existe de modo algum na realidade pois apenas o embaralhamento de juro e lucro explica por que muitos SCHUMPETER 149 autores sustentam tal tendência130 embora possamos observar lucros tão extraordinariamente diferentes num mesmo e único lugar ao mes mo tempo e na mesma indústria Queremos finalmente enfatizar que o lucro também não é salário embora a analogia seja tentadora Cer tamente não é um simples resíduo é a expressão do valor daquilo com que o empresário contribui para a produção exatamente no mesmo sentido em que os salários são a expressão em valor do que o traba lhador produz Não é um lucro de exploração tampouco o são os salários Contudo enquanto os salários são determinados segundo a produtividade marginal do trabalho o lucro é uma exceção notável a essa lei o problema do lucro reside precisamente no fato de que as leis do custo e da produtividade marginal parecem excluílo E o que o empresário marginal recebe é inteiramente indiferente para o su cesso dos outros Todo aumento de salários é difundido por todos os salários quem tem sucesso como empresário temno sozinho a prin cípio Os salários são um elemento do preço o lucro não o é no mesmo sentido O pagamento de salários é um dos freios à produção o lucro não Podese dizer deste último mas com mais direito o que os eco nomistas clássicos disseram da renda da terra a saber que ela não entra no preço dos produtos Os salários são um ramo permanente de renda income o lucro não é absolutamente um ramo da renda se se considerar a repetição regular de um rendimento como um dos traços característicos da renda income Ele escapa do alcance do empresário logo que é desempenhada a função empresarial Está ligado à criação de coisas novas à realização do futuro sistema de valores É ao mesmo tempo o filho e a vítima do desenvolvimento131 Sem o desenvolvimento não há nenhum lucro sem o lucro ne nhum desenvolvimento Para o sistema capitalista deve ser acrescen tado ainda que sem lucro não haveria nenhuma acumulação de riqueza Ao menos não haveria o grande fenômeno social que temos em vista este é certamente uma conseqüência do desenvolvimento e de fato do lucro Se desprezarmos a capitalização das rendas e da poupança no sentido estrito da palavra à qual não atribuímos nenhum papel muito importante e finalmente os presentes que o desenvolvimento em suas repercussões e oportunidades atira ao colo de muitos indiví duos que na verdade são em si temporários mas que podem levar à acumulação de riqueza se não forem consumidos permanece ainda OS ECONOMISTAS 150 130 Outros como por exemplo Lexis sustentam também a uniformidade da taxa de juros O problema que trouxe tantas dificuldades a Marx desaparece se nossa conclusão for aceita 131 Como isso corresponde de perto à realidade e como representa claramente uma visão sem preconceitos está claro na observação de Adam Smith que qualquer homem prático poderia ter feito e efetivamente faz na vida cotidiana de que os novos ramos da produção são mais lucrativos do que os antigos como a fonte sem dúvida a mais importante de acumulação de riqueza da qual se originam a maioria das fortunas O nãoconsumo do lucro não é poupança em sentido próprio pois não é uma usurpação em relação ao padrão costumeiro de vida E assim podemos dizer que é a ação empresarial que cria a maioria das fortunas Pareceme que a realidade de modo persuasivo dá fundamento a essa derivação da acumulação de riqueza a partir do lucro Embora eu tenha deixado o leitor livre neste capítulo para pôr o juro sobre o capital junto aos salários e renda como uma despesa da produção conduzi a investigação entretanto como se todo o exce dente sobre os salários e a renda passasse ao empresário Na verdade ainda deve pagar juros sobre o capital Para que eu não possa ser censurado por designar uma soma primeiramente como lucro e depois como juro que se note expressamente que esse ponto será plenamente elucidado mais tarde A dimensão do lucro não está determinada tão definitivamente quanto a amplitude dos rendimentos do fluxo circular Em particular não se pode dizer dele como dos elementos do custo neste último que é suficiente apenas para provocar precisamente a quantidade reque rida de serviços empresariais Não existe uma tal quantidade teori camente determinável E o montante total de lucro efetivamente obtido num dado tempo assim como o lucro realizado por um empresário individual pode ser muito maior do que o necessário para provocar os serviços empresariais que foram efetivamente operantes É verdade que esse montante total freqüentemente é superestimado132 É verdade que se deve manter em mente que mesmo o sucesso individual obvia mente desproporcional tem a sua função porque a possibilidade de obtêlo atua como um incentivo mais forte do que aquele que é racio nalmente justificado pela sua dimensão multiplicada pelo coeficiente de probabilidade Tais expectativas também entram por assim dizer na remuneração daqueles empresários para quem elas não se reali zam Não obstante é bastante claro que em muitos casos montantes menores e especialmente montantes totais menores teriam o mesmo efeito assim como também está claro que a conexão entre a qualidade de serviço e sucesso privado é muito mais fraca aqui do que por exem plo no mercado de trabalho profissional Isso é importante não apenas para a teoria da tributação mesmo que a importância desse ele mento na prática seja limitada pela necessidade de se ter em conta a acumulação de capital no sentido de aumentar a oferta de meios de produção produzidos mas também explica por que o empresário SCHUMPETER 151 132 Cf a respeito STAMP Wealth and Taxable Capacity p 103 et seq pode ser privado de seu lucro de modo relativamente tão fácil e por que o empresário assalariado por exemplo o gerente industrial que tão freqüentemente desempenha o papel empresarial pode em geral ser adequadamente remunerado com muito menos do que o montante total do lucro Quanto mais a vida se torna racionalizada nivelada democratizada e quanto mais temporárias se tornam as relações do indivíduo com pessoas concretas especialmente no círculo familiar e com coisas concretas com uma fábrica concreta ou com um lar ances tral mais perdem sua importância muitos dos motivos enumerados no capítulo II e mais o controle do empresário sobre o lucro perde a sua força133 A progressiva automatização do desenvolvimento corre paralela a esse processo e isso também tende a enfraquecer a signi ficação da função empresarial Hoje em dia assim como na época em que ainda não se conhecia os primórdios desse processo social a função empresarial é não apenas o veículo de contínua reorganização do sistema econômico mas também o veículo de mudanças contínuas nos elementos que constituem os estratos mais altos da sociedade O empresário bemsucedido ascende socialmente e com ele a sua família que adquire a partir dos frutos de seu sucesso uma posição que não depende imediatamente de sua conduta pessoal Esse representa o fator mais importante de ascensão na escala social no mundo capitalista Como isso ocorre com a des truição pela concorrência de negócios antigos e portanto das vidas deles dependentes sempre corresponde a um processo de declínio perda de prestígio de eliminação Esse destino também ameaça o empresário cujos poderes estejam em declínio ou os seus herdeiros que receberam sua riqueza sem sua habilidade Isso não acontece apenas porque todos os lucros individuais se esgotam não tolerando o mecanismo concor rencial nenhum valor excedente permanente mas antes aniquilan doos exatamente por meio desse estímulo da luta pelo lucro que é a força propulsora do mecanismo mas também porque no caso normal as coisas acontecem de modo que o sucesso empresarial se incorpore à propriedade de um negócio e esse negócio usualmente é levado à frente pelos herdeiros no que em breve se tornam linhas tradicionais até que novos empresários o suplantem Um adágio americano o ex prime três gerações de macacão a macacão E assim pode ser134 Ex ceções são raras e são mais do que compensadas pelos casos em que a queda é ainda mais rápida Como há sempre empresários parentes OS ECONOMISTAS 152 133 Cf a respeito meu artigo Sozialistische Möglichkeiten von heute In Archiv für Sozial wissenschaft 1921 134 Só dispomos de poucas investigações desse fenômeno fundamental Cf no entanto por exemplo CHAPMAN e MARQUIS The Recruiting of the Employing Classes from the Ranks of the Wage Earners In Journal of the Royal Statistical Society 1912 e herdeiros de empresários a opinião pública e também a fraseologia da luta social prontamente passam por cima desses fatos Eles cons tituem os ricos uma classe de herdeiros que estão afastados da ba talha da vida Na verdade os estratos superiores da sociedade são como hotéis que de fato estão sempre cheios de pessoas mas pessoas que estão continuamente mudando Tratase de pessoas que são re crutadas de baixo numa extensão muito maior do que muitos de nós estamos dispostos a admitir Com o que se descobre ainda uma multidão de problemas e somente a solução destes nos mostrará a verdadeira natureza do sistema competitivo capitalista e da estru tura de sua sociedade SCHUMPETER 153 CAPÍTULO V O Juro Sobre o Capital Observações preliminares Depois de maduras considerações submeto ao leitor pela se gunda vez a teoria do juro que publiquei originalmente na primeira edição deste livro inalterada a não ser por modificações verbais bem pouco importantes A todas as objeções que me chegaram ao conheci mento minha única resposta é remeter ao texto original Elas apenas me induziram a não encurtálo mais De outro modo eu teria ficado satisfeito em fazêlo Mas uma vez que as coisas que me pareceram mais prolixas e elaboradas e que prejudicam a simplicidade e o poder de convencimento do argumento se anteciparam corretamente às ob jeções mais importantes elas adquiriram um direito à existência que talvez não tivessem originalmente Em particular a exposição anterior deixou isso tão claro que não nego que o juro seja um elemento normal na economia moderna o que de fato seria absurdo mas pelo contrário tento explicálo que mal posso entender a afirmação de que o neguei O juro é um prêmio ao poder de compra presente por conta do poder de compra futuro Esse prêmio tem várias causas Muitas delas não constituem nenhum problema Um desses casos é o juro sobre empréstimos ao consumo Que alguém por um revés inesperado por exemplo se o fogo destruir uma empresa ou com expectativa de um aumento futuro da renda por exemplo se um estudante é herdeiro de uma tia bem situada e de saúde frágil dê muito mais valor a 100 marcos no presente do que a 100 futuros não requer nenhuma explicação e é evidente que o juro pode existir em tais casos Todas as categorias de crédito gover namental se enquadram aqui Sempre houve tais casos de juros e ob viamente eles também poderiam existir no fluxo circular em que não há nenhum desenvolvimento Mas não constituem o grande fenômeno 155 social que precisa de explicação Este consiste no juro sobre emprés timos produtivos Produktivzins Pode ser encontrado em toda parte no sistema capitalista e não apenas onde se origina ou seja nos em preendimentos novos Apenas desejo mostrar que o lucro produtivo tem a sua fonte nos lucros que por natureza é uma ramificação destes últimos e que como aquilo que chamo de aspecto juro dos rendimen tos se espalha por todo o sistema econômico a partir dos lucros ine rentes à realização bemsucedida de novas combinações e até força a sua passagem para a esfera dos negócios antigos em cuja vida não seria um elemento necessário se não houvesse nenhum desenvolvimen to Isso é tudo o que quero dizer com a afirmação a economia estática não conhece o juro produtivo que certamente é fundamental em nossa abordagem da estrutura e funcionamento do capitalismo E não é isso quase evidente por si mesmo a partir da análise passada Nin guém pode negar que assim como a situação dos negócios decide o movimento da taxa de juros e situação dos negócios significa nor malmente quer dizer desprezandose os efeitos das forças nãoeconô micas simplesmente o ritmo existente de desenvolvimento assim também o dinheiro necessário para inovações constitui o fator principal da demanda industrial no mercado monetário Haveria uma distância tão grande dessa afirmação para o reconhecimento de que o principal fator real é também o fator teórico fundamental apenas pelo qual a outra fonte da demanda desempenha um papel enquanto a última ou seja a demanda dos velhos negócios na rotina continuamente testada e repetida normalmente não precisaria procurar o mercado mone tário uma vez que os velhos negócios estão adequadamente financiados pelo rendimento corrente da produção Disso procede o resto especial mente o teorema de que o juro se vincula ao dinheiro e não aos bens Estou interessado na verdade e não na originalidade da minha teoria Em particular baseiome de bom grado sobre a teoria de Böhm Bawerk tanto quanto possível por mais decididamente que este tenha recusado qualquer participação em comum Do seu ponto de vista deve também tratarse de uma questão de poder de compra em primeiro lugar mesmo que passe imediatamente ao prêmio para os bens presentes Na verdade das três famosas razões em que ele baseia o prêmio em valor ao poder de compra presente rejeito apenas uma o desconto sobre os prazeres futuros na medida em que BöhmBawerk nos pede para aceitála como uma causa e não que ela mesma precise de alguma explicação Por outro lado eu poderia alegar que a razão que ele chama de relação cambiante entre as necessidades e os meios de satisfação é uma fórmula à qual se ajusta a minha teoria E quanto à terceira os métodos indiretos de produção Se BöhmBawerk tivesse se mantido estritamente fiel à sua expressão adoção de métodos in diretos de produção e se tivesse seguido a indicação que ela contém isso seria um ato empresarial um dos muitos casos subordinados OS ECONOMISTAS 156 do meu conceito de realização de combinações novas Não o fez e creio que isso pode ser demonstrado com a ajuda de sua própria análise de que não fluiria nenhuma renda líquida da mera repetição de métodos indiretos de produção que já tivessem sido realizados e incorporados ao fluxo circular Logo chega um ponto em que nossa explicação entra por um caminho fundamentalmente diferente Contudo a nossa análise preenche completamente os requisitos da teoria do valor de BöhmBa werk e em nenhum ponto está exposta a qualquer das objeções de BöhmBawerk apresentadas até agora135 1 O juro sobre o capital assim nos ensina a experiência é um rendimento líquido permanente que flui para uma categoria determi nada de indivíduos De onde e por quê Primeiramente há a questão da fonte dessa corrente de bens para que possa fluir antes de tudo deve existir um valor do qual possa provir136 Em segundo lugar há a questão da razão por que esse valor se torna presa desses indivíduos particulares a questão da causa dessa corrente no mundo dos bens Finalmente há a questão sem dúvida a mais difícil que pode ser descrita como o problema central do juro sobre o capital como é que essa corrente de bens pode fluir permanentemente e como o juro pode ser um rendimento líquido que alguém pode consumir sem prejudicar a sua posição econômica A existência do juro constitui um problema porque sabemos que no fluxo circular normal todo o valor do produto deve ser im putado aos fatores produtivos originais ou seja aos serviços do tra balho e da terra assim sendo todas as receitas da produção devem ser divididas entre trabalhadores e proprietários de terra e não pode haver nenhum rendimento líquido permanente que não os salários e a renda A concorrência por um lado e a imputação por outro devem aniquilar qualquer excedente das receitas sobre as despesas qualquer excesso de valor do produto por sobre o valor dos serviços do trabalho e da terra nele incorporados O valor dos meios de pro dução originais deve se ligar com fidelidade de uma sombra ao valor SCHUMPETER 157 135 Isso deve ser tão enfatizado porque fora de um círculo estreito de especialistas nem mesmo a parte crítica da contribuição de BöhmBawerk foi ainda plenamente absorvida Mas pressuponho um conhecimento dela O que se segue tem relação com ela em todos os pontos e quem quer que ainda sustente que o juro é evidente por si mesmo e não veja o problema decisivo deve achar o que se segue desnecessariamente tortuoso em grande parte incompreensível e até mesmo falso Na obra de BöhmBawerk contudo o leitor pode encontrar tudo o que for necessário e referências a quase toda a literatura Um conhecimento geral dela é necessário Finalmente não desejo repetir o que eu já disse Cf Wesen Livro Terceiro 136 Cf BöhmBawerk por exemplo no que diz sobre Say I 142 O método de expressão de BöhmBawerk contudo já é influenciado ali pelo fato de que tem em mente uma teoria definida do juro do produto e não poderia permitir que existisse a menor brecha per manente entre os dois137 Mas o juro é um fato E então Esse dilema é difícil muito pior do que o análogo no caso dos lucros que foi superado com relativa facilidade porque ali se tratava apenas de uma corrente de bens temporária e não permanente e conseqüentemente não entramos num conflito tão agudo com os fatos fundamentais e indubitáveis da concorrência e da imputação pelo con trário pudemos chegar sem problemas à conclusão de que os serviços do trabalho e da terra são as únicas fontes de renda cujo rendimento líquido não é reduzido a zero por esses fatos Em face desse dilema podemos proceder de duas maneiras diferentes Primeiro ele pode ser aceito Parece então que o juro deve ser explicado como uma espécie de salário ou renda e como esta não é factível então como salário como espoliação dos assalariados a teoria da explo ração como salário do trabalho dos capitalistas teoria do trabalho no sentido literal ou como salário do trabalho incorporado aos instrumentos de produção e às matériasprimas na concepção por exemplo de James Mill e McCulloch Todas as três tentativas de explicação foram feitas Só tenho a acrescentar à crítica de BöhmBawerk que nossa análise do empresário especialmente quando o isolamos dos meios de produção tam bém mina uma parte da base das duas primeiras variantes Em segundo lugar a conclusão teórica que leva a que o dilema deva ser contestado Aqui novamente podemos estender a lista dos custos ou seja afirmar que com os salários e a renda ainda não foram pagos todos os meios de produção necessários ou procurar no meca nismo da imputação e da concorrência um freio escondido que impeça permanentemente que os valores dos serviços do trabalho e da terra alcancem o valor do produto de modo que reste um permanente ex cedente de valor138 Passo à rápida discussão dessas duas possibilidades Estender a lista dos custos nesse sentido não significa meramente afirmar que o juro representa um gasto regular na contabilidade de um negócio Isso seria evidente por si mesmo e não teria poder expli cativo Significa muito mais conceber o juro como um elemento do custo no sentido mais estrito e especial que foi formulado no capítulo I Isso é equivalente a constituir um terceiro fator produtivo original que cria o juro como o trabalho recebe salário Se isso fosse conseguido satisfatoriamente as nossas três questões a questão da fonte a da base e a do nãodesaparecimento do juro seriam obviamente todas respondidas de uma vez e o dilema seria contornado A abstinência poderia ser esse terceiro fator Se fosse um serviço produtivo indepen dente todos os nossos requisitos estariam preenchidos de modo livre de objeções e a existência e a fonte de um rendimento líquido perma OS ECONOMISTAS 158 137 Cf BÖHMBAWERK Op cit I 230 138 Cf as considerações finais de BÖHMBAWERK Op cit I 606 et seq nente assim como sua atribuição a indivíduos determinados estariam explicados sem sombra de dúvida Apenas teria que ser ainda provado que na realidade o juro se apóia sobre esse elemento Mas infelizmente essa explicação não é satisfatória porque tal elemento independente não existe como já foi demonstrado por BöhmBawerk e não precisa ser mais discutido aqui Os meios de produção produzidos também poderiam constituir um terceiro fator produtivo independentemente da abstinência Com eles é o contrário Não pode haver dúvida sobre o seu efeito produtivo Isso é tão claro que o olhar do observador logo lhe caiu em cima e hoje em dia a proposição fundamental da igualdade entre o valor do produto e dos serviços do trabalho e da terra ainda provoca espanto É tão claro que ainda hoje em dia é extremamente difícil como ensina a experiência afastar até mesmo especialistas dessa trilha errada No entanto não explica um rendimento líquido permanente Seguramente os meios de produção produzidos têm a faculdade de servir na produção de bens Podese produzir mais bens com eles do que sem eles E esses bens também têm um valor mais alto do que os que poderiam ser produzidos sem os meios de produção produzidos139 Mas esse valor mais alto também deve levar a um valor mais alto desses instrumentos de produção e isso de novo a um valor mais alto dos serviços do trabalho e da terra empregados Nenhum elemento de valor excedente pode manterse permanentemente ligado a esses meios de produção inter mediários Pois por um lado não pode existir permanentemente ne nhuma discrepância entre o valor dos produtos a lhes ser imputado e o seu próprio valor Por maior que seja a quantidade de produtos que uma máquina possa ajudar a produzir a concorrência deve sempre rebaixar o seu preço até que se estabeleça a igualdade Por outro lado por mais que a máquina produza muito além do trabalho manual uma vez introduzida deixa de poupar trabalho de novo de modo que não rende continuamente um novo lucro As receitas extraordinárias devidas a ela que são tão consideráveis a soma total que o usuário está pronto a pagar por ela devem ser entregues aos trabalhadores e proprietários da terra Em geral ela não produz o valor que adiciona ao produto como muitas vezes se supõe ingenuamente140 mas este último só se associa a ela temporariamente como foi argumentado no capítulo anterior Um casaco contendo uma nota de banco tem real mente na medida em que seja esse o caso um valor correspondente mente maior para o seu dono mas só recebeu esse valor maior de fora e não o produziu Similarmente uma máquina tem um valor corres pondente ao seu produto mas só o recebeu141 dos serviços do trabalho SCHUMPETER 159 139 Cf BÖHMBAWERK Op cit I 132 Sobre o conceito de produtividade tanto física como em valor dos meios de produção produzidos 140 Cf as observações de BöhmBawerk por exemplo sobre Say e Roesler e da terra que existiram antes que ela fosse criada aos quais o valor como um todo já foi imputado É verdade que uma corrente de bens flui para a máquina mas também flui através dela Ela não é represada nesse sentido para formar um reservatório para o consumo O possuidor da máquina não obtém permanentemente mais do que deve desem bolsar nem em valor computado nem em preços A própria máquina é um produto e portanto exatamente como um bem de consumo o seu valor segue adiante para um reservatório do qual não pode fluir mais nenhum juro Assim com base nos argumentos dos capítulos I e IV e na refe rência a BöhmBawerk podemos afirmar que o que foi dito acima não abre nenhum caminho para sair do dilema e que não existe aqui ne nhuma fonte de valor para o pagamento de juros No máximo ocorre uma dificuldade no caso de bens dos quais se diz que crescem auto maticamente por exemplo as sementes de cereais ou o gado usado para reprodução Estes não asseguram a seu proprietário mais cereal e mais rebanho no futuro e esse gado e esse cereal a mais não devem ser mais valiosos do que as sementes e o gado originais Todos aqueles a quem essas idéias são familiares sabem quão firmemente a maioria das pessoas está convencida de que elas são a prova da existência de um incremento do valor Mas sementes de cereal e gado reprodutor não crescem automaticamente pelo contrário itens bem conhecidos de gasto devem ser deduzidos de seu rendimento Todavia é decisivo que mesmo o resíduo que fica após essa dedução não representa nenhum ganho em valor pois a safra e os rebanhos certamente dependem das sementes e do gado reprodutor e estes devem portanto ser ava liados de acordo com os valores dos primeiros Se as sementes e o gado reprodutor fossem vendidos então supondo não ser possível nenhuma substituição o valor da safra e do rebanho depois de deduzidos os custos em que ainda se incorreria e de se fazer um abatimento para os riscos estaria expresso totalmente em seu preço Seu preço seria igual ao preço dos produtos a eles imputado E o cereal e os animais seriam empregados na reprodução até que o seu emprego não rendesse mais um lucro e o seu preço cobrisse apenas o gasto necessário com salários e renda da terra A utilidade marginal do produto deles ou seja da parcela do produto a eles imputada conseqüentemente tenderia para zero 2 Gostaria de observar aqui que não é correto ou melhor não é conveniente significa comprometerse com uma visão determinada OS ECONOMISTAS 160 141 À máquina é atribuído o valor de seus produtos aos serviços do trabalho e da terra ne cessários à produção da máquina é atribuído o valor desta última Conseqüentemente os serviços já têm o valor do produto final e se se tornarem uma máquina esta simplesmente tomará o lugar deles Nesse sentido dizemos que a máquina recebe o valor dos serviços produtivos Devese esperar que eu não seja mal compreendido como se derivasse o seu valor de seus custos caracterizar o estado de coisas representado nesse estágio da dis cussão da seguinte maneira Não podemos explicar desse modo a la cuna entre o valor do produto e o valor dos meios de produção Mas ela existe efetivamente E devemos tentar explicála de outra forma Pelo contrário nego a existência fundamental de tal lacuna perma nente Defrontamonos apenas com um fato nãoanalisado e seria me lhor suspeitar como acredito que uma olhada na realidade nos mostra que é uma conseqüência do juro sobre o capital que deve ser ex plicado de maneira muito diferente do que suspeitar que é um fato primário que explica independentemente o juro Os indivíduos podem avaliar os meios de produção abaixo dos produtos porque precisam pagar juros na passagem dos primeiros aos segundos mas não pagam forçosamente juros porque avaliam os primeiros abaixo dos segundos por outros motivos Isso é muito importante Aqui só desejo chamar a atenção para o fato de que a dificuldade que toda a minha exposição deve enfrentar é especialmente grande no caso do juro a saber a dificuldade de que à parte certos pontos fundamentais tornamonos habituados a simplesmente aceitar uma série de fatos nãoanalisados e em vez de penetrar mais profundamente no interior das coisas con siderar como elementos muitas coisas que são combinações complexas Uma vez adquirido esse hábito apenas prosseguimos adiante na análise com muita relutância estamos sempre inclinados a apontar esses fatos como objeções reais A abstinência é um desses fatos A asserção de que o valor do capital é simplesmente o valor capitalizado do retorno é outro E como ao fazer essa asserção as pessoas sempre se posicionam sobre a experiência esta não oferece uma contradição suficientemente enfática Por enquanto todavia ainda devemos reter essa concepção da lacuna Agora são necessárias umas poucas observações para se formular precisamente o processo de computação Einrechnungsvorgang Até aqui sempre falamos do processo de imputação e traçamos o seu ca minho de volta do seu ponto de apoio no valor do produto até os serviços do trabalho e da terra Poderia parecer agora que a imputação poderia dar ainda um outro passo que poderia levar a corrente de valor ainda mais para trás a saber para o próprio potencial de trabalho e para a própria terra Uma vez que não há razão numa economia de trocas para tomar consciência do valor do potencial de trabalho enquanto tal e como se houvesse valeria o mesmo para ele como para a terra limitarnosemos a essa última e com relação ao potencial de trabalho apenas acentuamos de novo que só apresentaria um problema especial se o encarássemos o que não fazemos como um produto dos meios de subsistência do trabalhador e de sua família Ora poderseia antes de tudo conceber os serviços da terra como produtos da terra e esta em si como o verdadeiro meio de produção original para o qual a imputação deve arrastar o valor de seu produto Isso seria logicamente incorreto142 Pois a terra não é mercadoria independente separada de seus próprios SCHUMPETER 161 serviços mas apenas um feixe desses serviços Portanto é melhor não falar em imputação nesse caso Pois a imputação envolve a transfe rência de valor a bens de ordens cada vez mais altas Ela opera de tal modo que em nenhuma parte deixa pendente alguma parcela de valor Contudo algo mais está envolvido na determinação do valor da terra a saber a derivação de seu valor a partir dos valores dados dos elementos em que consiste economicamente que foram determinados pela imputação Aqui é melhor falar em computação Einrechnung No caso de cada bem seja de consumo seja de produção esses dois processos devem ser distinguidos Apenas os seus serviços têm valores definidos determinados143 diretamente pela escala de necessi dades ou indiretamente pela imputação a partir da qual se deve derivar o seu valor Mas enquanto esse último processo é extremamente sim ples no caso dos bens produzidos e é reduzido a regras fixas e conhe cidas pela necessidade de sua reprodução que surge mais cedo ou mais tarde no caso da terra ele é complicado pelo fato de que é inerente à terra uma série ilimitada de usos que se reproduzem automatica mente e em princípio sem custos144 Assim colocase a questão por causa da qual nos envolvemos nessa discussão não deve ser infinita mente grande o valor da terra e assim a renda enquanto rendimento líquido não desaparece através da computação Respondo a essa ques tão de uma maneira diferente de BöhmBawerk145 Primeiro mesmo que o valor da terra fosse infinitamente grande eu ainda descreveria a renda como um rendimento líquido Pois a fonte do rendimento não poderia então ser exaurida pelo consumo e expli carseia uma corrente contínua de bens para o proprietário da terra A mera adição de rendimentos líquidos não pode nunca abrogar o seu caráter de rendimentos líquidos Apenas a imputação nunca a com putação aniquila um rendimento líquido Em segundo lugar na vida real evidentemente o preço de um pedaço de terra nunca é infinita mente grande Contudo minha concepção não deve ser acusada de levar a esse valor infinito ou seja a uma conclusão absurda Não é OS ECONOMISTAS 162 142 Cf BÖHMBAWERK Rechte und Verhältnisse vom Standpunkte der Volkswirtschaftlichen Güterlehre Também suas observações sobre as teorias do juro baseadas no uso que são do mesmo modo aplicáveis ao nosso caso Ao mesmo tempo posso observar que excluo de minhas considerações a idéia fundamental da teoria do juro baseada no uso porque não tenho nada a acrescentar aos argumentos de BöhmBawerk 143 Falando estritamente esse método de expressão só é adequado ao caso da economia não mercantil Numa economia mercantil o valor dos meios de produção não é reconhecido em nenhum lugar como valor de uso indireto Não obstante também aqui a concepção deles enquanto produtos potenciais dá o princípio da formação de seu valor E um método mais correto de expressão apenas leva ao mesmo resultado 144 O caso de autoreprodução dos serviços da terra se distingue do caso do aumento de um rebanho pelo fato de que se pode deixar este aumentar de um modo tal que o valor de um animal finalmente caia ao nível de seu custo em trabalho e terra Os serviços da terra se reproduzem automaticamente apenas pelo mesmo montante em todo período econômico Não são é verdade incapazes de crescimento mas seu crescimento acarreta custos 145 Cf Kapital und Kapitalzins v II minha concepção que é equivocada mas a idéia fundamental da teoria dominante da capitalização a saber que o valor de uma propriedade que gera rendimentos é formado apenas pela adição dos rendimentos apropriadamente descontados Pelo contrário a determinação desse valor é um problema especial razoavelmente complicado que será es tudado neste capítulo Neste como em todos os casos de estimativa de valor é necessário considerar os propósitos concretos em vista Não há aqui nenhuma regra rígida de adição uma vez que quantidades de valores não são simplesmente aditivas na maioria dos casos No curso normal do fluxo circular não há nenhuma razão para se ficar ciente do valor da terra enquanto tal É diferente com a máquina todo produto deve ter um valor total definido uma vez que é necessário para decidir a questão da sua reprodução E a regra da adição também se aplica aqui A concorrência a impõe Se se pudesse obter uma má quina por menos do que ela produzisse ganharseia um lucro o que necessariamente elevaria a demanda e o preço das máquinas se cus tasse mais do que o seu uso o rendesse o resultado seria uma perda o que rebaixaria a demanda e o preço A terra por outro lado não é vendida no fluxo circular normal mas apenas os seus usos Portanto apenas os seus valores e não o valor da terra enquanto tal são ele mentos do planejamento econômico E os processos do fluxo circular normal não nos podem ensinar nada sobre a determinação do valor da terra Só o desenvolvimento cria o valor da terra capitaliza renda mobiliza terra Num sistema econômico sem desenvolvimento o valor da terra não existiria como um fenômeno econômico geral Um relance sobre a realidade o confirma Pois a única ocasião em que há algum sentido em estar ciente do valor da terra é na sua venda E efetivamente esta dificilmente ocorre em estágios econômicos em que a realidade econômica mais se aproxima da concepção de fluxo circular O mercado para o comércio de terras é um fenômeno do desenvolvimento e só pode ser entendido a partir dos fatos do desenvolvimento somente nos quais podemos encontrar a chave para esse problema Por enquanto ainda não sabemos nada a respeito Assim até agora podemos dizer que nossa concepção não leva a um valor infinito mas a nenhum valor em geral que os valores dos serviços da terra não devem ser relacio nados com nenhum outro valor e por conseguinte são rendimentos líquidos Caso se objete que não obstante devem surgir incentivos à venda devese dizer que esses incentivos necessariamente devem ser esporádicos e que as condições pessoais como reveses desperdício ob jetivos nãoeconômicos e coisas semelhantes devem ser decisivas Nada mais se pode afirmar a essa altura Onde quer que a regra da adição produza um valor infinito fa lamos de um rendimento líquido exatamente como no caso dos salários Pois nossa única preocupação aqui é a de que uma corrente permanente de bens flua para um indivíduo e que não seja preciso que este os SCHUMPETER 163 passe adiante E a computação que produz um resultado infinito longe de excluir a possibilidade de uma tal corrente de bens é um sintoma de sua existência Este de fato é um elemento essencial à compreensão da teoria do juro a ser exposta 3 Ainda há um segundo método para escapar ao dilema do juro A questão de como é possível um excedente permanente sobre o valor dos serviços do trabalho e da terra também pode ser respondida apon tandose para um freio a este Se houvesse um tal freio então estaria indubitavelmente provada a possibilidade de um excedente de valor permanente e deverseia atribuir à circunstância que o provocasse ao menos do ponto de vista privado produtividade de valor no sentido mais amplo Ela ou a mercadoria em que estivesse incor porada produziria um rendimento líquido Um excedente de valor especial e independente ocorreria em todo processo econômico O juro não seria então um elemento do custo no sentido real deveria sua existência a uma discrepância entre os custos e o valor ou preço do produto seria um excedente real sobre os custos Um caso desses ocorre numa economia de trocas quando um produto é monopolizado monopólios dos fatores produtivos originais não nos interessam aqui porque está claro desde o início que o juro não pode se basear neles A posição de monopólio efetivamente funciona como um freio e traz um rendimento líquido permanente ao monopo lista Consideramos a receita de monópolio um rendimento líquido com o mesmo direito e pela mesma razão que o fazemos em relação à renda Nesse caso também a regra da adição daria um resultado infinito E também aqui isso não tiraria o caráter de rendimento líquido da receita Por que motivo o valor do monopólio digamos de uma patente per pétua não é infinito contudo não nos interessa nesse ponto a res posta aparecerá depois Finalmente também aqui a determinação do valor do monópolio é um problema especial e ao resolvêlo não devemos esquecer que no fluxo circular normal não existe nenhum motivo para que se forme um tal valor por isso o ganho não deve ser relacionado a nenhuma outra grandeza Como quer que seja tudo isso o monopo lista pelo menos não pode dizer nunca Não obtenho lucro nenhum porque atribuo um valor extremamente alto ao meu monopólio Isso é bastante certo Ao discutir a teoria do juro de Lauderdale BöhmBawerk também comenta o caso em que é monopolizada uma máquina poupadorade trabalho e portanto produtoradelucro Acentua ele corretamente que essa máquina será tão cara que ao seu emprego não estará ligado nenhum lucro ou apenas o mínimo bastante para induzir as pessoas a comprála ou alugála Até aqui está certo No entanto indubitavel mente há um lucro ligado à sua produção tão permanente quanto a patente Poderseia dizer que a posição de monopólio é para o mono OS ECONOMISTAS 164 polista algo análogo a um fator produtivo Verificase uma imputação com relação aos serviços desse quasefator de produção exatamente como em relação aos outros fatores A máquina enquanto tal não é uma fonte de valor excedente nem o são os seus meios de produção mas o monopólio torna possível obter um valor excedente com a má quina ou com seus meios de produção Obviamente nada muda se ad mitimos que o produtor e o usuário coincidem numa única pessoa Por conseguinte temos um rendimento líquido sui generis Se o que se chama de juro fosse o mesmo que isso tudo estaria bem Nossas três questões seriam respondidas satisfatoriamente Haveria uma fonte de valor excedente cuja existência seria explicada pela teoria do mo nopólio haveria também uma razão para que se atribuísse um rendi mento aos monopolistas e finalmente estaria explicado o fato de que nem a imputação nem a concorrência anulam o rendimento Contudo tais posições de monopólio não ocorrem regularmente e em número suficiente para que essa explicação seja aceita e além disso o juro existe sem elas146 Outro caso em que se poderia falar em um atraso permanente e regular do valor dos serviços do trabalho e da terra em relação ao valor do produto existiria se os bens futuros fossem sistematicamente e em princípio avaliados abaixo dos bens presentes O leitor já sabe que não se aceita isso aqui mas é necessário mencionar o caso uma vez mais Enquanto em todos os casos tratados até agora uma fonte permanente de rendimento resultou simplesmente de um serviço per manente e produtivo ao menos do ponto de vista privado esse caso envolveria algo diferente a saber um movimento nos próprios valores Enquanto anteriormente a explicação residia na determinação do valor de alguns serviços produtivos sui generis aqui residiria na determinação do valor dos serviços do trabalho e da terra por um lado e dos bens de consumo por outro Aqui haveria um excedente do valor do produto acima do valor dos meios de produção num sentido mais estrito e mais real do que no caso do monopólio E excedente sobre os custos significaria ipso facto um rendimento líquido e exce dente acima do valor do capital dos meios de produção produzidos Assim estaria provado ipso facto que o rendimento nem desapareceria nem seria absorvido pelo processo de computação Pois o valor pleno de um produto futuro não pode ser imputado e computado se no mo mento de se empreender a imputação e a determinação do valor dos meios de produção aparece não com a sua grandeza real mas menor A possibilidade de uma corrente permanente de bens estaria assim indubitavelmente provada quer fosse ou não o juro que observamos SCHUMPETER 165 146 No entanto foi feita uma tentativa muito elaborada nesse sentido Cf CONRAD Otto Lohn und Rente Todas as outras sugestões dessa espécie de explicação do juro não se classificam como uma teoria elaborada na vida real Nossa primeira questão estaria respondida existiria uma fonte de valor da qual o juro pode provir A segunda questão a saber por que a corrente de bens vai para aqueles indivíduos particulares obviamente não seria difícil de responder E a terceira por que os rendimentos não desaparecem decisivamente a parte mais espinhosa do problema do juro seria supérflua Uma vez que o excedente em valor teria sido explicado em razão da nãoimputação não haveria sentido em explicar por que não é imputado Assim se a mera passagem do tempo tivesse um efeito primário sobre a estimativa dos valores e se o que a realidade nos mostra ser a sua influência não fosse simplesmente um fato nãoanalisado que por sua vez repousa fundamentalmente sobre a existência de juro que por outro lado deve ser explicado por outros motivos essa linha de argumentação seria em si bastante satisfatória mesmo que em minha opinião nos coloque em conflito com o curso efetivo do processo econômico Em termos puramente lógicos isso estaria livre de objeções Mas a passagem do tempo não tem esse efeito primário independente E mesmo o crescimento do valor de muitos bens com o correr do tempo não prova nada Uma vez que esse fato é especialmente proeminente e desempenhou um certo papel na literatura sobre o assunto algumas palavras lhe podem ser devotadas Há dois tipos desses crescimentos do valor Primeiramente os serviços efetivos ou potenciais de um bem podem se alterar au tomaticamente no correr do tempo e o valor do bem crescer Uma floresta jovem e um estoque de vinho são exemplos freqüentemente citados O que acontece em tais casos Ora tanto a floresta quanto o vinho certamente se tornam bens mais valiosos mediante processos naturais que demandam tempo Todavia o seu valor só cresce fisica mente economicamente esse valor mais alto já existia nas arvorezinhas da floresta jovem e no vinho recémadegado porque depende deles Essas arvorezinhas e esse vinho portanto devem ser por enquanto do ponto de vista dos fatos com que já estamos familiarizados exatamente tão valiosos quanto a madeira pronta para ser derrubada e o vinho amadurecido Na medida em que a madeira e o vinho também podem ser vendidos aos consumidores antes que estejam bem maduros os seus possuidores se perguntarão qual das duas alternativas produ zirá o maior rendimento por período econômico deixar o tempo passar para maior amadurecimento ou vender agora e produzir de novo Es colherão a alternativa que produzir o maior rendimento e de acordo com esta estimarão os valores das árvores e do vinho e dos serviços necessários do trabalho e da terra desde o começo Na realidade isso não é assim Pois a floresta e o vinho aumentam continuamente de valor pari passu com a aproximação da maturação Isso contudo se deve fundamentalmente ao risco material e pessoal especialmente o risco de vida e ao fato de que o juro já existe um fato que em certas OS ECONOMISTAS 166 condições faz do tempo um elemento do custo como veremos em breve Se não fosse por esses fatores não haveria tal crescimento do valor Se for decidido deixar a floresta e o vinho amadurecerem mais do que se intencionava originalmente só pode ser porque se descobriu que é mais vantajoso fazêlo Ocorre então um novo método de empregar a floresta e o vinho que obviamente deve resultar no momento da decisão num aumento do valor Mas em geral não há nenhum crescimento real contínuo do valor com a passagem do tempo enquanto fenômeno primário e independente Em segundo lugar freqüentemente acontece que os serviços de um bem permanecem absolutamente os mesmos fisicamente no entanto aumentam de valor com o correr do tempo Isso só pode se atribuir ao aparecimento de uma nova demanda e é um fenômeno do desen volvimento É fácil ver como se deve considerar esse caso Se o aumento da demanda não for previsto então haverá um ganho mas não que constitua um aumento permanente do valor Se pelo contrário for previsto então deve ser imputado desde o começo ao bem em questão de modo que novamente não há aumento do valor Se não obstante na realidade parece que há explicáloemos do mesmo modo que no caso do aperfeiçoamento das qualidades físicas 4 Exaurimos as linhas mais importantes de pensamento que nos poderiam ter feito sair do dilema do juro e com resultado negativo Assim nos vemos levados de volta novamente àqueles valores exceden tes dos quais já falamos repetidamente e que podemos com a cons ciência tranqüila considerar como excedentes líquidos a saber os ex cedentes de valor dos produtos acima do valor das quantidades de bens de produção neles incorporados Devem eles sua existência a al guma circunstância especial que eleva o valor dos produtos acima do valor de equilíbrio que a mercadoria em questão teria no fluxo circular O caráter de rendimento líquido e de fonte de um fluxo de bens de tais excedentes está com isso ipso facto estabelecido tanto quanto o estaria no caso de subvalorização sistemática dos bens futuros Circunstâncias que elevem o valor do produto acima do de seus meios de produção de modo que com a ajuda destes últimos possa se obter um lucro também ocorrem numa economia sem desenvolvi mento Erros e imprevistos desvios nãointencionais e inesperados dos resultados em relação às expectativas situações de infortúnio e de superabundância acidental essas e muitas outras circunstâncias po dem produzir excedentes mas essa espécie de desvio dos valores efe tivos em relação aos normais e ao mesmo tempo dos valores dos meios de produção usados é de pouca importância Passamos àqueles valores excedentes que devem a sua existência ao desenvolvimento e que são muito mais interessantes Já os dividimos em dois grupos principais Um abrange os valores excedentes que o desenvolvimento SCHUMPETER 167 necessariamente traz consigo em cuja criação consiste num certo sen tido o desenvolvimento e que se explicam pela escolha de usos novos mais vantajosos dos bens de produção cujos valores foram determi nados previamente segundo outros usos menos vantajosos O segundo grupo abrange os valores excedentes que têm por base as repercussões do desenvolvimento ou seja aumentos efetivos ou esperados da de manda de certos bens que o desenvolvimento provoca Repetindo todos esses valores excedentes são como BöhmBa werk também admitiria excedentes verdadeiros e reais em qualquer sentido concebível e não têm nada a temer nem da Cila da computação nem da Caribde da lista de custos Todas as correntes de bens que fluem para indivíduos a quaisquer outros títulos que não de salários renda e receita de monopólio devem direta ou indiretamente lhes ser devidas Recordemos todavia a proposição já deduzida de que a concorrência e o funcionamento das leis gerais da estimativa de valores tendem a eliminar todos os excedentes acima dos custos147 Por exemplo se um negócio súbita e inesperadamente precisa de máquinas de certo tipo o valor das últimas subirá e ao possuidor de tais máquinas será assegurado o valor excedente no todo ou em parte Mas se a nova demanda for prevista então se deve admitir que muitas dessas má quinas já tenham sido produzidas e sejam ofertadas agora pelos pro dutores concorrentes Então ou não se realizará nenhum lucro especial ou se a produção não puder ser aumentada apropriadamente o exce dente será imputado aos fatores produtivos naturais e originais e en tregue aos seus proprietários de acordo com regras conhecidas Mesmo que a nova demanda não seja prevista o sistema econômico finalmente se ajustará a ela e não se associará às máquinas nenhum valor exce dente permanente 5 Podemos formular agora cinco proposições da nossa teoria do juro que se seguem automaticamente da primeira conclusão elementar de que o juro é o fenômeno do valor e um elemento do preço temos isso em comum com todas as teorias científicas do juro e que terão que ser completadas mais tarde por uma sexta proposição Primeiro o juro provém essencialmente dos valores excedentes que se acabou de considerar Não pode provir de nada mais uma vez que não há nenhum outro excedente no curso normal da vida econômica Evidentemente isso só é válido para o que chamamos de juro produtivo no sentido mais estrito que não inclui o juro consuntivoprodutivo148 Pois na medida em que o juro é apenas um OS ECONOMISTAS 168 147 Cf a argumentação do capítulo IV 148 Wesen Livro Terceiro cap III também cap III Parte Primeira da presente obra Exemplo se uma fábrica for destruída por acidente e se for reconstruída por meio de um empréstimo o juro sobre esse empréstimo é o que designamos de consuntivoprodutivo parasita no corpo dos salários e da renda obviamente não tem nada a ver diretamente com esses valores excedentes Mas a grande corrente de bens de fluxo regular da qual a classe capitalista vive e que flui para esta em todos os períodos econômicos a partir dos lucros da pro dução esta só pode provir dos nossos valores excedentes Esses pontos serão depois examinados mais cuidadosamente Além disso há um valor excedente que não é dessa espécie a saber a receita de monopólio Nossa tese supõe portanto que a fonte típica do juro não é a receita de monopólio Isso contudo como eu já disse deveria estar suficien temente claro Assim sem o desenvolvimento com as qualificações mencionadas não haveria juro é uma parte das grandes ondas que o desenvolvimento ocasiona no mar dos valores econômicos Nossa tese se apóia antes de tudo na prova negativa de que a determinação do valor no fluxo circular exclui o fenômeno do juro essa prova por sua vez se apóia primeiro sobre o conhecimento direto do processo que determina os valores e em segundo lugar sobre a insustentabilidade das várias tentativas de estabelecer diferenças decisivas entre os va lores dos produtos e dos meios de produção numa economia sem de senvolvimento Depois acrescentamos a prova positiva de que tal di ferença de valor ocorre no desenvolvimento A tese perderá muito da sua estranheza no curso da discussão seguinte Podese enfatizar aqui de imediato contudo que ela não está como poderia parecer tão longe de um tratamento sem preconceitos da realidade pois o desenvolvi mento industrial é certamente no mínimo a fonte principal da forma juro da renda income149 Em segundo lugar os valores excedentes no desenvolvimento de ságuam como vimos em dois grupos o lucro empresarial e os valores que representam as repercussões do desenvolvimento Evidentemente o juro não pode se prender a estas últimas Podemos afirmálo tão facilmente porque o processo em que se cria essa espécie de excedente é bastante evidente de modo que podemos ver imediatamente o que cabe e o que não cabe nele Consideremos o exemplo de um comerciante que em conseqüência do estabelecimento de fábricas em sua aldeia recebe por um tempo mais do que a renda de equilíbrio Então obtém um determinado lucro Esse lucro não pode em si ser juro pois não é permanente e é logo varrido pela concorrência Mas tampouco flui juro dele supondo que o comerciante não tenha feito nada mais para adquirilo do que simplesmente ficar em sua loja e elevar os preços para os seus consumidores pois absolutamente nada mais acontece ao lucro o comerciante o embolsa e o usa como lhe aprouver O processo todo não deixa espaço para o fenômeno do juro Portanto o juro deve partir do lucro empresarial Essa é uma conclusão indireta à qual é SCHUMPETER 169 149 Apenas a regularidade do juro fundamenta a préconcepção de que ele deva ser explicado estaticamente mas levamos em conta essa regularidade claro dou uma importância apenas secundária se comparada com ou tros fatos que apóiam essa tese O desenvolvimento pois de algum modo leva de roldão uma parte do lucro do capitalista O juro fun ciona como um tributo sobre o lucro Em terceiro lugar contudo é óbvio que nem o lucro todo nem mesmo uma parte dele podem ser direta e imediatamente juro porque é apenas temporário E analogamente vemos de imediato que o juro não se prende a nenhuma classe de bens concretos Todos os valores excedentes que se prendem a bens concretos devem ser por natureza temporários e mesmo que tais excedentes surjam constantemente num sistema econômico em pleno desenvolvimento tanto que se requer uma análise mais profunda para se reconhecer a efemeridade de qual quer um deles no entanto não podem formar imediatamente uma renda permanente Uma vez que o juro é permanente não pode ser entendido simplesmente como um valor excedente proveniente de bens concretos Embora ele provenha de uma classe definida de valores ex cedentes nenhum valor excedente per se é juro Essas três proposições de que o juro enquanto um grande fe nômeno social é um produto do desenvolvimento150 que provém do lucro e que não se prende a bens concretos são a base de nossa teoria do juro A sua aceitação põe um fim a todas as tentativas continuamente repetidas de encontrar um elemento do valor dos bens concretos cor respondente ao juro151 e com isso concentra num campo bem pequeno o trabalho relativo ao problema do juro 6 Chegou o momento de tomar mais firmemente a questão fun damental e dominála A questão principal cuja solução é decidi damente o ponto mais importante do problema do juro segue agora como a partir dos lucros transitórios sempre mudando se extrai essa corrente permanente de juros fluindo sempre para o mesmo capital Essa apresentação da questão incorpora as conclusões até aqui obtidas e é independente da direção em que continuamos Se for respondida satisfatoriamente o problema do juro estará então respondido de maneira que satisfaz a todas as demandas que a análise de BöhmBawerk provou serem indispensáveis e quais quer que sejam os outros defeitos que possa ter não está exposta a todas as objeções fatais às teorias anteriores OS ECONOMISTAS 170 150 Cf Wesen Livro Terceiro cap III 151 Disso se seguem de imediato duas conclusões práticas Primeira o assim chamado juro comercial primitivo não é juro Na medida em que não seja receita de monopólio ou salários deve ser lucro empresarial apenas temporário também Segunda aluguel não é juro Aluguel é compra parcial e não pode incluir nenhum elemento de juro no fluxo circular A renda líquida de uma casa só poderia ser renda da terra e salários de superinten dência Verseá automaticamente a partir de nossa argumentação como um elemento de juro pode no desenvolvimento entrar no aluguel O fato de que o juro já existente sobre o capital torne o tempo um elemento dos custos é especialmente importante Prosseguimos com a nossa quarta tese que difere totalmente das teorias usuais com exceção da teoria da exploração e que tem contra si o peso da autoridade mais competente numa sociedade co munista ou nãomercantil em geral não haveria juro enquanto fenômeno de valor independente Obviamente não se pagaria nenhum juro Ob viamente ainda existiriam os fenômenos de valor dos quais provém o juro numa economia de trocas Mas enquanto fenômeno do valor es pecial enquanto quantidade econômica mesmo enquanto conceito o juro não existiria aí ele depende da organização de uma economia de trocas Formulemos isso ainda mais precisamente Salários e renda da terra também não seriam pagos numa organização puramente co munista Mas os serviços do trabalho e da terra ainda existiriam seriam avaliados e os seus valores seriam um elemento fundamental no plano econômico Nada disso vale para o juro O agente ao qual se paga juro simplesmente não existiria numa economia comunista Então não po deria ser objeto de uma avaliação E conseqüentemente não poderia haver um rendimento líquido correspondente à forma de juro de renda O juro é pois de fato uma categoria econômica não criada direta mente por forças nãoeconômicas mas que só surge numa economia de trocas Por que não há nenhum juro numa sociedade comunista embora haja numa economia de trocas Essa questão nos leva à nossa quinta tese Abrenos uma primeira visão da natureza do aparelho de sucção que arranca dos lucros uma corrente permanente de bens O capitalista certamente tem algo a ver com a produção E tecnicamente a produção é sempre o mesmo processo qualquer que seja a organização em que porventura ocorra Tecnicamente sempre requer bens e nada além de bens Portanto não pode existir aqui nenhuma diferença Mas em outra parte há uma diferença A relação do empresário com os seus bens de produção numa economia de trocas é essencialmente diferente da do órgão central numa comunidade nãomercantil Este último dispõe di retamente deles o primeiro deve antes de tudo obtêlos por aluguel ou compra Se os empresários estivessem em posição de confiscar os bens de produção de que necessitassem para levar a efeito seus novos planos ainda haveria lucro do empresário mas nenhuma parte deste precisaria ser desembolsada por eles como juro Nem haveria nenhum motivo para que considerassem parte dele como juro sobre o capital que despen dessem Pelo contrário tudo o que obtivessem acima dos custos seria para eles lucros e nada mais É somente porque outras pessoas têm o comando sobre os bens de produção necessários que os empresários precisam chamar o capitalista para ajudálos a remover o obstáculo que a propriedade privada dos meios de produção ou o direito de dispor livremente de seus próprios serviços pessoais põem em seu caminho Tal ajuda não é necessária para produzir no fluxo circular pois em SCHUMPETER 171 presas já em funcionamento podem ser e em princípio são financiadas correntemente por suas receitas anteriores que fluem para elas sem a intervenção de nenhum agenciamento capitalista distinto Assim não se obscurece nada de essencial ao quadro do fluxo circular se se supõe que os meios com os quais a produção é levada em frente con sistem em produtos dos períodos precedentes mas no caso das novas combinações os empresários não têm tais produtos com os quais obter meios de produção Aqui pois entra a função do capital e tornase evidente que não pode existir nada a ela correspondente nem numa sociedade comunista nem mesmo numa sociedade nãocomunista mas estacionária 7 Gostaria de chamar a atenção do leitor para o fato de que nossa concepção do problema do juro envolve algo diferente da concepção usual Embora isso seja realmente óbvio não obstante não será su pérfluo elucidar ainda mais esse ponto Com esse propósito partirei da distinção usual entre juros sobre empréstimos e juros originais sobre o capital Ela está presente nos primórdios das investigações quanto à natureza do juro e tornouse uma das pedras angulares da teoria A especulação sobre o problema do juro começou como seria lógico com o juro sobre empréstimos ao consumo Antes de tudo é natural que começasse com o juro sobre tais empréstimos porque se sobressai como um ramo independente de renda caracterizado por muitos traços nítidos É sempre mais fácil entender conceitualmente um ramo de renda que também é externa mente característico do que um que precise primeiro ser limpo de uma mistura de outros elementos por isso a renda da terra foi notoria mente reconhecida primeiro na Inglaterra onde não apenas existia mas também era como regra geral paga separadamente Mas o juro sobre empréstimos ao consumo também foi o ponto de partida porque era a forma mais importante e mais bem conhecida nos tempos antigos e na Idade Média É verdade que não deixava de existir juro sobre empréstimos produtivos mas na antigüidade clássica ele operava num mundo que não filosofava ao passo que o mundo que filosofava só observava as coisas econômicas de passagem e só prestava atenção ao juro que podia ser observado em sua esfera E também mais tarde os elementos duma economia capitalista que existiam eram familiares apenas a um círculo que era um mundo em si e que nem meditava nem escrevia O padre da Igreja o canonista ou o filósofo dependente da Igreja e de Aristóteles todos eles só pensavam no juro sobre empréstimos ao consumo que se fazia notar dentro de seu horizonte e de maneira muito desagradável De seu desprezo pela extorsão do necessitado e pela exploração do imprudente do libertino de sua reação contra a pressão exercida pelo usuário surgiu a sua hostilidade para com a cobrança de juros e isso explica as várias proibições do juro OS ECONOMISTAS 172 Outra concepção se formou da observação da vida dos negócios quando a economia capitalista ganhava força Seria um exagero dizer que o juro sobre empréstimos produtivos foi positivamente uma des coberta de autores mais recentes Mas com efeito a ênfase dada a isso veio a ser quase uma descoberta Esta logo tornou claro que a concepção antiga simplesmente ignorava uma parte do fenômeno e na verdade a que então era sem dúvida a parte mais importante e ao mesmo tempo aquela que o devedor de modo algum se torna cada vez mais pobre por pedir emprestado Isso tirou a força da razão principal para a hostilidade em relação ao juro e levou cientificamente a um passo adiante Toda a literatura inglesa sobre o juro até a época de Adam Smith está imbuída da idéia de que um empréstimo amiúde leva o prestatário a um lucro No lugar do fraco devedor aparece na mente do teórico um forte devedor no lugar de plangentes multidões de pobres desafortunados e descuidados senhores de terra aparece uma figura de outra estirpe o empresário não definido muito clara e precisamente é verdade mas ainda assim suficientemente visível E é esse o ponto suscitado pela teoria aqui exposta Mas o juro produtivo ainda é juro sobre empréstimos para esse grupo de teóricos O lucro empresarial é reconhecido como a sua fonte Contudo daí não se segue que o lucro empresarial é simplesmente juro assim como não se segue do fato de que as receitas totais são a fonte dos salários que essas receitas totais de produção sejam salários Se se pode dizer qualquer coisa definida em vista da brevidade dos argumentos desses autores sobre o juro é que pelo menos não con fundiram juro e lucro nem os viram como de caráter idêntico Pelo contrário perceberam como se pode ver em Hume152 a diferença entre os dois e estavam longe de não ver no lucro nada mais do que o juro sobre o próprio capital Explicam eles o lucro de uma maneira que de modo algum é aplicável ao juro sobre empréstimos enquanto tais mas apenas a uma outra espécie de lucro que é a fonte do juro sobre os empréstimos153 Todos esses autores seguiram o juro de volta até o lucro nos negócios como sua fonte mas não disseram que este último em si é apenas um exemplo e na verdade o principal exemplo do juro O seu lucro profit não pode ser traduzido por juro mesmo quando ocorre na frase lucro do capital profit of capital Eles não resolveram o problema do juro Mas não seria correto dizer que eles meramente seguiram de volta ao caminho de uma forma derivada juro sobre empréstimos até juro original e real sem explicar este úl timo Simplesmente não conseguiram eles provar por que o credor com o seu capital está em posição de exigir essa fração do lucro por que SCHUMPETER 173 152 Também poderíamos citar Petty Locke e Steuart 153 Isso explica efetivamente a desarmonia que se apresenta num primeiro relance na teoria de Locke como enfatiza BöhmBawerk Cf Kapital und Kapitalzins 2ª ed I 52 o mercado de capitais sempre decide a seu favor Ademais o problema central de cuja solução depende a compreensão do fenômeno do juro reside certamente no lucro dos negócios contudo não porque o lucro nos negócios seja em si o verdadeiro juro mas porque sua existência é um prérequisito do pagamento do juro produtivo Finalmente o em presário é certamente a pessoa mais importante em toda a questão não todavia porque seja o auferidor verdadeiro original típico de juros mas porque é o típico pagante de juros No exemplo de Adam Smith ainda podemos perceber um traço da visão segundo a qual lucro e juro simplesmente não coincidem Apenas com Ricardo e seus epígonos os dois são plenamente sinônimos Só então a teoria passou a ver no lucro dos negócios em geral o único problema e de fato o problema do juro só então a questão de saber por que o empresário obtém um lucro nos negócios tornouse o problema do juro e finalmente é só então que o significado dos autores ingleses é corretamente captado se o seu lucro profit for traduzido por lucro sobre o capital Kapitalgewinn ou juro primário ursprunglicher Zins Isso de modo algum constitui meramente uma substituição ino fensiva do juro contratual sobre o capital emprestado pelo juro sobre o capital próprio mas uma nova asserção a saber que o lucro do empresário é essencialmente juro sobre o capital Os fatos seguintes devem ter contribuído para o que do nosso ponto de vista claramente aparece como um desvio do caminho certo Antes de tudo essa apresentação da questão é extraordinariamente óbvia A renda agrícola contratual certamente é apenas uma conseqüência do fenômeno original a saber da parte do produto que é imputável à terra Nada mais é do que este último em si o rendimento líquido da agricultura do ponto de vista do proprietário da terra Salários contratuais são apenas conseqüência da produtividade econômica do trabalho são simplesmente rendimento líquido da produção do ponto de vista do tra balhador Por que deveria ser diferente no caso do juro Sem uma razão especial ele não será considerado como sendo assim A conclusão de que ao juro contratual há um correspondente juro original e que este último é a renda típica do empresário tanto quanto a renda da terra é a renda típica do proprietário da terra parece ser perfeitamente natural quase evidente por si só Na prática o empresário computa o juro sobre o seu próprio capital isso aparece como uma sanção incontestável se for inteiramente necessário O excedente do valor dos produtos acima de seus custos então é realmente o fenômeno fundamental do qual também depende o juro E aparece nas mãos do empresário É de se admirar que só esse pro blema tenha sido visto e que se esperasse que tudo estivesse resolvido com a sua solução Os economistas tinham acabado de se ver livres das superficialidades mercantilistas e tinham se acostumado a olhar os bens concretos que jazem atrás do véu monetário Enfatizavase OS ECONOMISTAS 174 que o capital consiste em bens concretos e a tendência era fazer com que esse capital constituísse um fator produtivo especial Esse ponto de vista uma vez aceito leva diretamente a considerar o juro como um elemento do preço dos estoques dos bens e assim foi simplesmente identificado com o que o empresário obtém por meio desses estoques Como o juro indubitavelmente vinha do lucro e representava assim uma parte do lucro este ou de qualquer modo a maior parte deste tornouse inadvertidamente juro de maneira bastante automática no momento em que o juro foi vinculado aos bens concretos de que o empresário faz uso na produção É uma reflexão mais remota do que se poderia pensar a de que os salários não se tornam similarmente juro porque o juro pode ser pago com eles A análise insatisfatória da função empresarial contribuiu pode rosamente para generalizar essa visão Talvez não seja muito correto dizer que o empresário e o capitalista foram simplesmente agregados um ao outro Mas de qualquer modo partiuse da observação de que o empresário só pode obter o seu lucro com a ajuda de capital no sentido de um estoque de bens e colocouse ênfase nessa observação que não merecia Viase e isso era muito natural no emprego do capital a função característica do empresário e por ela o distinguiam do trabalhador Ele era encarado em princípio como o que emprega capital o usuário de bens de produção assim como o capitalista era encarado como o fornecedor de algum tipo de bens A apresentação dada acima da questão prontamente então se insinua deve aparecer simplesmente como uma apresentação mais precisa e mais profunda da questão concernente aos juros sobre empréstimos Isso obviamente deve ter tido graves conseqüências para o pro blema do juro Havia juro sobre empréstimos porque havia o juro ori ginal e este aparecia nas mãos dos empresários Com isso todo o aparato para a solução do problema foi concentrado no empresário Ora isso levou a um grande número de pistas falsas Muitas tentativas de ex plicação como a teoria da exploração e algumas teorias do trabalho enquanto explicações do juro tornaramse possíveis pela primeira vez Pois só quando o juro está vinculado ao empresário é que pode surgir a idéia de explicálo pelo seu serviço de trabalho ou pelo trabalho contido nos bens de produção ou pela luta de preços entre empresário e trabalhadores Outras tentativas tais como por exemplo todas as teorias da produtividade mesmo que não tenham sido viáveis não obstante se tornaram essencialmente mais óbvias por essa maneira de formular o problema do juro Isso tornou impraticável uma teoria correta sobre empresários e capitalistas dificultou o reconhecimento de um lucro empresarial especial e arruinou a sua explicação desde o começo Mas sem dúvida a pior conseqüência dessa interpretação foi a criação de um problema que se tornou uma espécie de perpetuum mobile econômico SCHUMPETER 175 O juro como a experiência ensina é uma renda permanente Tem origem nas mãos do empresário Conseqüentemente uma renda permanente sui generis tem origem nas mãos do empresário E a ques tão com que se defronta a teoria tradicional do juro é de onde ele vem Por mais de um século os teóricos têm atacado essa questão impossível na verdade uma questão sem sentido Nossa posição é inteiramente diferente Se a teoria tradicional vincula o juro contratual aos lucros dos empresários apenas delineia o problema até o que considera ser o seu caso fundamental e depois de fazêlo ainda tem que desempenhar a parte principal da tarefa Se conseguirmos vincular o juro aos lucros dos empresários teremos re solvido todo o problema porque os lucros dos empresários não são eles mesmos outro caso de juros mas algo diferente disso que já foi ex plicado A afirmação de que há juros sobre empréstimos porque há lucros nos negócios só tem valor para a teoria predominante enquanto apresentação mais precisa da questão ao passo que para nós já tem um valor explicativo Para nós está solucionada a questão mas de onde vem o lucro dos negócios que para a teoria predominante contém um apelo a que faça o seu trabalho principal Para nós resta apenas a questão como surge o juro a partir do lucro empresarial Foi necessário chamar especialmente a atenção do leitor para essa apresentação diferente e mais restrita da questão em nosso problema do juro porque a objeção de que não se faz aqui nada mais do que reduzir o juro aos lucros o que a teoria já fez há muito tempo seria particularmente aborrecida Assim se justifica bem a repetida ênfase sobre coisas que o leitor poderia facilmente ter dito a si mesmo Agora procederemos à sexta e última proposição de nossa teoria do juro 8 O excedente que constitui a base do juro sendo um excedente de valor só pode surgir com uma expressão em valor Portanto numa economia de trocas só pode ser expresso na comparação de duas somas de dinheiro Isso é evidente e prima facie completamente incontro verso Em particular nenhuma comparação de quantidades de bens não pode em si mesma assegurar nada quanto à existência de um excedente em valor Onde quer que se fale em quantidades de bens num tal contexto elas aparecem apenas como símbolos de valores Na prática se usa a expressão em valor e o juro é representado somente na forma de dinheiro De qualquer modo podemos aceitar esse fato mas interpretálo muito diversamente Poderíamos chegar à conclusão de que esse aparecimento do juro na forma de dinheiro depende me ramente da necessidade de um padrão de valor e não tem nada a ver com a natureza do juro Essa é a visão predominante Segundo ela o dinheiro serve como forma de expressão e nada mais ao passo que o juro pelo contrário surge nos bens de certo tipo como um excedente dos próprios bens Também adotamos essa visão no caso do lucro em OS ECONOMISTAS 176 presarial Também é necessária uma medida de valor para expressálo e a representação em dinheiro é portanto utilizada por uma questão de conveniência Mas a despeito disso a natureza do lucro empresarial não tem em absoluto nada a ver com o dinheiro Inquestionavelmente no caso do juro também é extraordinaria mente tentador procurar afastarse do elemento dinheiro tão rapida mente quanto possível e trazer a explicação do juro para a área em que os valores e os rendimentos surgem a saber o reino da produção de bens Contudo não podemos nos desviar É verdade que em todos os casos há um prêmio aos bens de certa espécie correspondente ao juro em dinheiro ou seja ao prêmio ao poder de compra É verdade que para produzir no sentido técnico é necessário bens e não dinheiro Mas se daí concluirmos que o dinheiro é apenas um elo intermediário com importância meramente técnica e começarmos a substituílo pelos bens que com ele são obtidos e pelos quais portanto o juro é numa última análise pago perdemos imediatamente o terreno sob nossos pés Ou expressando mais corretamente podemos efetivamente dar um passo ou mesmo alguns passos no sentido de nos afastar da base monetária e adentrar o mundo das mercadorias Mas o caminho acaba subitamente porque esses prêmios às mercadorias não são permanentes e então vemos imediatamente que esse caminho estava errado pois uma característica essencial do juro é que ele é permanente Portanto é impossível atravessar o véu monetário para se chegar aos prêmios para os bens concretos Se alguém penetrar por ele penetrará no vazio154 Assim sendo não podemos nos afastar da base monetária do juro Isso constitui uma prova indireta de que se deve preferir uma segunda interpretação do significado da forma dinheiro em que o juro chega a nós a saber a de que essa forma dinheiro não é uma casca mas é o cerne Obviamente uma tal prova não poderia sozinha justificar inferências de grande alcance Mas se ajusta aos nossos argumentos anteriores quanto ao tema do crédito e do capital em virtude dos quais podemos entender o papel cumprido aqui pelo poder de compra Assim como resultado disso podemos apresentar agora a nossa sexta propo sição o juro é um elemento do preço do poder de compra considerado como um meio de controle sobre os bens de produção É claro que essa proposição não atribui nenhum papel produtivo ao poder de compra No entanto a maioria das pessoas a rejeitam a limine a despeito do fato de que o juro flutua no mercado monetário com a oferta e a demanda de dinheiro o que indubitavelmente aponta no sentido de nossa interpretação155 Podese acrescentar imediatamen SCHUMPETER 177 154 Aqui não entrarei mais nos convenientes estoque de bens de consumo e estoque de serviços do trabalho e da terra acumulados 155 Cf as observações de Marshall perante a Comissão sobre a Depressão do Comércio Na discussão da relação entre a quantidade de moeda e os preços das mercadorias diz ele falando de um aumento na quantidade de moeda Devo dizer que atuaria de imediato te outro ponto Ficar molhado quando chove não é mais evidente para o homem de negócios do que a queda dos juros quando aumenta a disponibilidade de crédito permanecendo tudo o mais invariável Na realidade se o Governo imprimisse dinheiro de papel e o emprestasse aos empresários o lucro não cairia E o Estado não poderia receber juros por ele A conexão dos juros com as taxas de câmbio e os movi mentos do ouro não falam suficientemente claro Há um espectro ex tremamente amplo e significativo de observações cotidianas que aqui nos corrobora Não obstante apenas poucos teóricos significativos introduziram esses fatos na discussão do fenômeno do juro Sidgwick representa uma interpretação na qual com BöhmBawerk percebo essencialmente uma teoria da abstinência Mas antes da sedes materiae o capítulo sobre o juro ele trata do juro no capítulo sobre o valor do dinheiro e aí o relaciona ao dinheiro e reconhece a influência da criação do poder de compra sobre o juro na afirmação Devemos considerar que o banqueiro em ampla medida produz o dinheiro que empresta e que facilmente pode ter condições para vender o uso dessa mercadoria a um preço materialmente menor do que a taxa de juros sobre o capital em geral156 Essa afirmação contém muitos pontos acerca dos quais não podemos nos regozijar Além disso não fornece nenhum funda mento sólido para o processo Finalmente não se tira nenhuma con clusão adicional para a teoria do juro No entanto tratase de um passo em nossa direção obviamente feito com referência a Macleod Davenport se concentra muito mais no assunto mas sua análise tam bém não chega a nada Avança com muita habilidade e vontade para o obstáculo mas se recusa a retirálo As teorias predominantes des prezam completamente o elemento dinheiro deixamno para os au tores sobre finanças como uma questão técnica sem interesse teórico Essa posição é tão generalizada que deve apoiarse em algum elemento de verdade e de qualquer modo precisa de uma explicação Podese dizer menos em relação à tentativa de negar a ligação estatística entre a taxa de juros e a quantidade de dinheiro R Georges Lévy157 comparou a taxa de juros com a produção de ouro e como era de se esperar concluiu que não existe nenhuma correlação significativa Deixando de lado o fato de que o método estatístico empregado era falho isso não justifica a conclusão de que a taxa de juros e a quantidade de dinheiro não têm nada a ver uma com a outra Em primeiro lugar não é de se esperar uma correlação exata no tempo Depois a oferta OS ECONOMISTAS 178 sobre Lombard Street e tornaria as pessoas dispostas a emprestar mais incharia os de pósitos e saldos contábeis e assim habilitaria as pessoas a aumentar a sua especulação Alquém que diz isso e quem poderia negálo não pode rejeitar facilmente a nossa inter pretação 156 Principles of Political Economy 3ª ed p 251 157 Journal des Economistes 1899 de ouro mesmo nos bancos não é simplesmente proporcional ao volume de crédito concedido e apenas a concessão de crédito tem significado para a taxa de juros Finalmente nem toda a produção de ouro vai para o empresário Tampouco a refutação indutiva tentada por Irving Fisher The Rate of Interest p 319 et seqs afeta o nosso argumento Médias anuais não provam absolutamente nada em comparação com as observações que po dem ser feitas nos detalhes das negociações cotidianas em dinheiro Além disso comparou a circulação de dinheiro per capita com a taxa de juros tornando assim a comparação completamente irrelevante Mas evidentemente os economistas do século XVIII tinham todas as razões para enfatizar que o juro é pago em última instância pelos bens Tinham que combater não apenas os erros dos mercantilistas mas todos os outros tipos de erros tanto dos homens de negócio quanto dos filósofos e ao fazêlo eles de fato estabeleceram verdades válidas e expuseram uma longa lista de enganos populares Law Locke Mon tesquieu e outros indubitavelmente estavam errados ao fazer a taxa de juros depender simplesmente da quantidade de dinheiro e Adam Smith estava certo ao mostrar158 que um aumento na quantidade de dinheiro coeteris paribus elevará os preços e que a um nível mais alto tenderá a se restabelecer a mesma relação entre rendimento e capital que reinava antes Até mesmo o efeito imediato de um aumento do dinheiro em circulação seria elevar a taxa de juros ao invés de dimi nuíla Pois a previsão de tal aumento deve ter esse efeito159 e a de manda de crédito será estimulada pela elevação dos preços Mas tudo isso embora explique e em alguma medida justifique a aversão que a maioria de nossas mais altas autoridades demonstram para com qual quer teoria monetária do juro não tem entretanto nada a ver com a nossa proposição Também podemos descobrir outros elementos de verdade no ponto de vista hostil a explicações monetárias160 Homens de negócio e au tores sobre finanças enfatizam freqüentemente de uma maneira errada a importância da política de desconto e do sistema monetário O fato de que o banco central pode influenciar a taxa de juros não prova que o juro é o preço do poder de compra mais do que o fato de que o Estado pode fixar os preços prova que os preços em geral são explicáveis pela ação governamental A taxa de juros sem dúvida pode ser influenciada SCHUMPETER 179 158 Cf seu pequeno e fecundo argumento no Livro Segundo cap IV da Wealth of Nations 159 Cf FISHER The Rate of Interest p 78 160 Por exemplo o seu justificado desdém pela conexão causal entre o juro e a quantidade de moeda na forma seguinte se existe mais dinheiro então o valor do dinheiro cai e por esse dinheiro menos valioso é pago menos juro Evidentemente não há nisso nenhum aspecto de resgate Não discuti absolutamente essa interpretação neste texto mas acredito que ela contribuiu largamente para afastar os economistas de uma vez por todas desse nexo entre dinheiro e juro pela atenção prestada ao estado da liquidez mas o significado teórico desse fato em si mesmo não vai muito longe É um caso de influência sobre os preços por motivos situados fora do mercado A visão de que mediante o sistema monetário e a política de desconto a taxa de juros de um país pode ser mantida mais baixa do que a de outros países e de que tal política estimula o desenvolvimento econômico nada mais é do que um julgamento précientífico A organização de um mercado monetário é tão capaz de ser aperfeiçoada quanto a do mercado de trabalho mas nada pode ser alterado por isso nos processos fundamentais 9 Nosso problema se reduz agora simplesmente à questão quais são as condições para o aparecimento de um prêmio ao poder de compra presente por conta do poder de compra futuro Por que é que se eu empresto um certo número de unidades de poder de compra posso estipular que um número maior de tais unidades seja devolvido em alguma data futura Esse é obviamente um fenômeno de mercado O mercado que devemos estudar é o mercado monetário E é um processo de deter minação de preços o que temos que investigar Toda a transação de empréstimo individual é uma troca real A princípio parece estranho talvez que uma mercadoria seja por assim dizer trocada por si mesma Depois dos argumentos de BöhmBawerk quanto a esse ponto161 con tudo não é necessário entrar em maiores detalhes a troca de presente por futuro não é uma troca entre coisas iguais e por isso sem sentido diferente da troca de algo em um lugar por algo em outro lugar Assim como o poder de compra em um lugar pode ser trocado por poder de compra em outro lugar assim também o poder de compra presente pode ser trocado pelo futuro A analogia entre transações de emprés timos e a arbitragem do câmbio é óbvia e podese chamar a atenção do leitor para isso Se conseguirmos provar que em certas circunstâncias digamos de uma vez no caso do desenvolvimento o poder de compra presente deve regularmente obter um prêmio por conta do poder de compra futuro no mercado monetário então a possibilidade de um fluxo per manente de bens para os possuidores de poder de compra é explicada teoricamente O capitalista pode então obter uma renda permanente que em todos os aspectos se comporta como se surgisse no fluxo circular embora as suas fontes individualmente não sejam permanentes e em bora sejam efeitos do desenvolvimento E nenhuma imputação ou com putação pode alterar algo no caráter dessa corrente de bens enquanto rendimento líquido Agora podemos indicar diretamente que altura pode ter o valor OS ECONOMISTAS 180 161 Cf BÖHMBAWERK Kapital und Kapitalzins v II total de uma anuidade interminável Deve ser a soma que se empres tada a juros produzirá um rendimento igual à anuidade pois se fosse menor os emprestadores competiriam para comprar a anuidade e se fosse maior os compradores potenciais prefeririam emprestar seu di nheiro a juros comprála Essa é a regra real da capitalização que já pressupõe a existência de uma taxa de juros Daí se segue de novo que a avaliação dos rendimentos permanentes não lhes pode retirar o caráter de renda líquida Portanto teremos respondido a todas as três questões nas quais consiste o problema do juro se resolvermos o problema do prêmio ao poder de compra presente A prova de um fluxo permanente de bens aos capitalistas do qual não se deve fazer nenhuma dedução e que não é para ser passado para outros indivíduos resolve completamente a questão e explica ipso facto que esse fluxo também represente um ganho ou seja um rendimento líquido Procederemos agora à elabo ração dessa prova desenvolvendo passo a passo a nossa explicação do intrincado problema do juro 10 Já se disse que mesmo no fluxo circular podem surgir e certa mente surgirão casos em que as pessoas estarão prontas a tomar em prestado mesmo com a condição de ter que pagar de volta uma soma maior do que a que receberem Qualquer que seja o motivo reveses temporários expectativas de um aumento futuro da renda deficiência de vontade ou de previsão tais pessoas serão capazes de expressar a sua avaliação do poder de compra presente em termos de poder de compra futuro o que determina a sua curva de demanda pelo primeiro da maneira comum Por outro lado pode haver e em geral haverá pessoas dispostas a satisfazer a sua demanda desde que recebam um prêmio que lhes compense de sobra as perturbações que o empréstimo de somas conservadas com propósitos definidos deve acarretar Por tanto também podemos construir curvas de oferta e quase não é ne cessário mostrar em detalhes como nesse mercado aparecerá um preço um prêmio determinado Mas transações dessa espécie não poderiam normalmente ser de grande importância e acima de tudo não seriam elementos necessários na direção de negócios Emprestar e tomar emprestado só podem se tornar uma parte da rotina normal da indústria e do comércio e o juro só pode adquirir econômica e socialmente a importância que efetiva mente tem se o controle do poder de compra presente significar mais poder de compra futuro para o prestamista Como a perspectiva de lucro é o pivô em torno do qual efetivamente gira a avaliação de somas de poder de compra presente colocaremos de lado por enquanto todos os outros fatores que podem dar origem ao juro mesmo quando não houver desenvolvimento Ora dentro do fluxo circular e num mercado que está em equi SCHUMPETER 181 líbrio é impossível com uma dada soma de dinheiro obter uma soma de dinheiro maior Como quer que eu empregue um valor de cem uni dades monetárias de recursos incluindo a administração no âmbito das possibilidades conhecidas e costumeiras não posso obter por elas receitas maiores do que exatamente cem unidades monetárias Quais quer que sejam as possibilidades existentes de produção em que possa aplicar cem unidades monetárias nunca receberei mais do que cem unidades monetárias possivelmente contudo receberei menos Pois essa é precisamente a característica da posição de equilíbrio a de re presentar a melhor combinação nas condições dadas em sentido amplo das forças produtivas O valor da unidade monetária é nesse sentido necessariamente o valor ao par pois ex hypothesi todos os ganhos de arbitragem já foram obtidos e portanto estão excluídos Se eu comprar serviços do trabalho e da terra com as cem unidades mo netárias e com estes realizar a produção mais lucrativa verificarei que posso colocar o produto exatamente por cem unidades monetárias Foi precisamente em vista dessas possibilidades mais lucrativas de emprego que foram estabelecidos os valores e os preços dos meios de produção e esse emprego mais lucrativo também determina o valor do poder de compra no sentido em que o tomamos Apenas no curso do desenvolvimento a questão é diferente Só então posso obter um rendimento maior pelo meu produto quer dizer se realizar uma nova combinação das forças produtivas que comprei com cem unidades monetárias e conseguir colocar no mer cado um novo produto de maior valor Pois os preços dos meios de produção não foram determinados em vista apenas desse emprego mas em vista dos usos anteriores Aqui pois a posse de uma soma de dinheiro é o meio de se obter uma soma maior Por causa disso nessa medida normalmente se estimará para uma soma presente um valor mais alto do que para uma futura Portanto as somas presentes de dinheiro enquanto somas potencialmente maiores por assim dizer terão um prêmio em valor que também conduz a um prêmio no preço E nisso reside a explicação do juro No de senvolvimento a concessão e a obtenção de crédito se tornam parte essencial do processo econômico Ali aparece o fenômeno que foi descrito pelas expressões escassez relativa de capital e atraso da oferta de capital em relação à demanda e outras semelhantes Ape nas se e por que a corrente social de bens se torna mais ampla e rica o juro se destaca com tanta nitidez e finalmente nos coloca de tal modo sob a sua influência que se requer um longo esforço ana lítico para perceber que ele não aparece sempre automaticamente quando os homens atuam economicamente 11 Observemos agora mais atentamente o processo de formação do juro Depois do que foi dito isso significa que examinaremos mais atentamente o método de determinação do preço do poder de compra OS ECONOMISTAS 182 Com esse fim vamos nos limitar estritamente de início ao caso que reconhecemos como fundamental e ao qual também se dirigiu a dis cussão nos capítulos anteriores a saber o caso da troca entre empre sários e capitalistas Mais tarde seguiremos as ramificações mais im portantes do fenômeno do juro Em nossas proposições presentes as únicas pessoas que têm uma estimativa mais alta do poder de compra presente em relação ao poder de compra futuro são os empresários Apenas eles são os portadores da quele movimento do mercado em favor do dinheiro presente ou daquela demanda que eleva o preço do dinheiro acima do par como o definimos Os capitalistas pelo lado da oferta confrontamse com os em presários pelo lado da demanda Iniciemos com a suposição de que os meios de pagamento necessários à realização de novas combinações devem ser retirados do fluxo circular e que não há criação de meios de pagamento creditícios Além disso como estamos considerando uma economia sem resultados de desenvolvimento anterior não há grandes reservas de poder de compra ocioso pois estas como foi demonstrado acima só são criadas pelo desenvolvimento Um capitalista seria assim alguém que estivesse disposto em certas condições a transferir ao em presário uma soma definida retirandoa de seus usos habituais ou seja restringindo seus gastos quer na produção quer no consumo Supomos ainda que a quantidade de dinheiro no sistema não cresce de nenhuma outra maneira por exemplo pela descoberta de ouro A troca se desenvolverá entre empresários e possuidores de di nheiro desenrolandose como em qualquer outro caso Temos curvas de oferta e demanda definidas para todos os indivíduos que trocam A demanda do empresário é determinada pelo lucro que pode conseguir com a ajuda de uma certa soma monetária ao explorar as possibilidades que pairam diante dele Seguiremos a prática de supor que essas curvas de demanda são contínuas exatamente como fazemos no caso de outros bens embora um empréstimo muito pequeno digamos de poucas uni dades monetárias tenha pouco uso para o empresário e em certos pontos quais sejam onde se tornam possíveis inovações importantes as curvas de demanda individuais sejam de fato descontínuas Além de certo ponto a saber além da soma que é necessária para a realização de todos os planos que o empresário tenha concebido a sua demanda cairá abruptamente talvez a zero Todavia ao considerar todo o pro cesso econômico ou seja ao considerar muitos empresários essas cir cunstâncias perdem muito da sua importância Portanto imaginaremos que o empresário é capaz de atribuir determinadas quantidades de lucro empresarial às unidades monetárias individuais de zero até o limite dos fins práticos do mesmo modo como todo indivíduo atribui certos valores às sucessivas unidades de qualquer bem A avaliação que qualquer indivíduo normal faz de seu estoque de dinheiro por período econômico resulta do valor de troca subjetivo SCHUMPETER 183 de qualquer unidade como foi explicado no capítulo I As mesmas normas também são válidas para um aumento do dinheiro além de seu estoque habitual Disso resulta uma curva de utilidade definida para todos os indivíduos e também uma curva definida de ofertas potenciais no mercado monetário162 de acordo com princípios bem co nhecidos E agora temos que descrever a luta de preços entre os empresários e os potenciais ofertantes de dinheiro Como ponto de partida suponhamos que alguém oferece para experiência um certo preço pelo poder de compra no nosso mercado monetário que poderia ser visto como semelhante a uma bolsa de valores Com nossas atuais proposições esse preço precisaria ser muito alto uma vez que o emprestador teria que perturbar seriamente todos os seus planos particulares e de negócios Suponhamos então que esse preço do poder de compra presente expresso em poder de compra futuro seja de 140 por um ano Com um prêmio de 40 só poderiam exercer uma demanda efetiva aqueles empresários que esperassem fazer um lucro empresarial de pelo menos 40 ou mais corretamente um lucro de mais de 40 todos os outros estariam excluídos Suponhamos que existisse um certo número dos primeiros De acordo com o princípio melhor trocar com vantagem pequena do que não trocar em absolu to163 esses empresários realmente estariam dispostos a pagar essa taxa de juros por uma certa quantidade de poder de compra Do outro lado do mercado haveria do mesmo modo emprestadores que não tro cariam nem mesmo a essa taxa Supondo por outro lado que um certo número de pessoas considerasse essa compensação adequada ponde rariam sobre a questão de quanto deveriam emprestar A 40 existe uma compensação suficiente apenas para uma certa soma para todos há um limite além do qual a dimensão do sacrifício no período econômico presente deve exceder a dimensão do aumento da utilidade no próximo Mas o empréstimo deve ser também efetivamente tão grande que um aumento leve a um excedente de desvantagem pois na medida em que fosse menor o empréstimo de unidades monetárias adicionais àque la taxa permitiria um excedente de vantagens de que de acordo com princípios gerais nenhum indivíduo pode privarse A oferta e a demanda portanto são determinadas inequivoca mente em todos esses casos de preços experimentais Se por acidente elas fossem igualmente grandes então o preço manteria em nosso caso uma taxa de juros de 40 Se todavia os empresários puderem utilizar mais dinheiro a essa taxa do que o oferecido cada um cobrirá o lance do outro com o que alguns deles se retirarão e novos empresários aparecerão até que seja atingido o equilíbrio Se os empresários não OS ECONOMISTAS 184 162 Cf para detalhes Wesen Livro Segundo Aqui não estamos interessados numa exposição elaborada da teoria dos preços 163 Cf BÖHMBAWERK Kapital und Kapitalzins v II puderem usar tanto dinheiro quanto o oferecido a essa taxa então alguns emprestadores darão lances menores do que outros com o que alguns deles se retirarão e novos empresários aparecerão até que seja atingido o equilíbrio Assim na luta da troca no mercado monetário estabelecerseá um preço definido para o poder de compra exatamente como em qualquer outro mercado E uma vez que em regra ambas as partes dão valor mais alto para o dinheiro presente que para o futuro o empresário porque o dinheiro presente significa para ele mais dinheiro futuro o emprestador porque segundo nossas proposi ções o dinheiro presente torna possível o curso ordenado de sua ativi dade econômica ao passo que o dinheiro futuro é meramente acrescentado à sua renda o preço estará praticamente sempre acima do par O resultado de nossa discussão até esse ponto pode ser expresso em termos da teoria marginalista exatamente como no caso de qualquer processo de determinação de preços Por um lado o juro será igual ao lucro do último empresário que é simplesmente aquele que espera da realização de seu projeto um lucro apenas suficiente para tornar possível o pagamento do juro Se classificarmos os empresários tendo na devida conta o elemento variedade dos riscos de acordo com a dimensão dos lucros que esperam obter de forma que a capacidade para tomar emprestado que têm os empresários caia à medida que avançamos na classificação e se imaginarmos essa série como algo contínuo então deve sempre haver ao menos um empresário cujo lucro compense exatamente o juro e que esteja entre os que obtêm lucros maiores e os que são excluídos da troca no mercado monetário porque o seu lucro é menor do que o juro a ser pago Na prática o último empresário ou o empresário marginal também deve reter um pequeno excedente mas às vezes haverá empresários para quem esse excedente é tão pequeno que eles só podem exercer demanda de poder de compra ao juro efetivamente vigente e não a uma taxa mais alta por menor que seja o total Estes estão na posição que corresponde ao empresário marginal teórico Podemos então dizer que o juro deve ser sempre igual ao menor lucro empresarial efetivamente realizado Com essa afirmação aproximamonos de novo da interpretação usual Por outro lado o juro também deve compensar o valor da esti mativa que o último capitalista ou o capitalista marginal faz de seu dinheiro O conceito de tal capitalista marginal é obtido mutatis mu tandis exatamente da mesma maneira que o de empresário marginal Podese ver facilmente que desse ponto de vista o juro deve ser igual à avaliação do último emprestador e além disso também deve ser igual à avaliação do último empresário Também é óbvio como esse resultado poderia ainda ser mais desenvolvido o que já foi feito com freqüência na literatura econômica Apenas um ponto ainda deve ser mencionado A avaliação do último emprestador apóiase na importân cia que este atribui ao curso habitual de sua vida econômica e isso SCHUMPETER 185 se pode exprimir dizendo que o empresário acarreta um sacrifício e para o capitalista marginal um sacrifício marginal que corresponde à avaliação do aumento na renda pela receita do juro Então o juro também é igual ao maior sacrifício ou sacrifício marginal que deve ser feito para satisfazer a demanda de dinheiro existente a uma dada taxa de juros E com isso nos aproximamos do método de expressão da teoria da abstinência 12 O juro teria que ser determinado dessa maneira se o desenvol vimento industrial efetivamente fosse financiado com recursos do fluxo circular Todavia observamos que o juro também é pago por poder de compra criado ad hoc quer dizer por meios de pagamento creditícios Isso nos conduz de volta às conclusões desenvolvidas nos capítulos II e III deste livro e é hora de introduzilas aqui Vimos ali que numa sociedade capitalista o desenvolvimento industrial poderia em princí pio ser levado a cabo somente com meios de pagamento creditícios Agora adotamos essa concepção Recordamos mais uma vez que as grandes reservas de dinheiro que existem efetivamente surgem como conseqüência do desenvolvimento e portanto devem a princípio ser dei xadas de lado Com a introdução desse elemento o nosso esboço anterior da reali dade se altera mas não se torna inutilizável em seus traços principais O que dissemos sobre a parte da demanda do mercado monetário per manece provisoriamente inalterado Agora como antes a demanda provém dos empresários e de fato da mesma maneira que no caso que acabamos de considerar Só há muita alteração pelo lado da oferta A oferta é posta agora sobre uma outra base aparece uma nova fonte de poder de compra de natureza diferente que não existe no fluxo circular A oferta também provém agora de pessoas diferentes de capitalistas definidos diferente mente a quem chamamos banqueiros em conformidade com o que foi dito anteriormente A troca à qual o juro deve sua origem nesse caso e que de acordo com a nossa interpretação também é típica entre todas as outras trocas concernentes ao dinheiro na sociedade moderna ocorre entre o empresário e o banqueiro Assim se pudermos dar as condições que governam a oferta de meios de pagamento creditícios teremos captado o caso fundamental do fenômeno do juro Já sabemos por quais forças essa oferta é regulada primeiro tendo em consideração os possíveis fracassos dos empresários e em segundo lugar tendo em consideração a possível depreciação dos meios de pagamento creditícios Podemos eliminar de nossas conside rações o primeiro elemento Com esse propósito só precisamos consi derar como incluído de uma vez por todas no preço ao par do em préstimo um acréscimo pelo risco que é conhecido empiricamente Isso significa que se se sabe por experiência que 1 dos empréstimos é irrecuperável então diremos que o banqueiro recebe a mesma soma OS ECONOMISTAS 186 que emprestou se efetivamente receber um adicional de aproximada mente 101 de todas as dívidas que não forem frias E há natural mente um elemento de salário para a atividade profissional do ban queiro que também desprezamos A dimensão da oferta será então determinada apenas pelo segundo elemento ou seja considerandose a necessidade de evitar uma diferença de valor entre o poder de compra existente e o recémcriado Devemos demonstrar que o processo de determinação do valor e do preço também cria um prêmio ao poder de compra recémcriado No caso tratado anteriormente não era totalmente impossível que ocorresse juro negativo Poderia ocorrer no caso em que a demanda de dinheiro para novos empreendimentos fosse menor do que as ofertas das pessoas para quem farseia um favor cuidando temporariamente de seu dinheiro Aqui todavia isso está descartado O banqueiro que recebesse de volta menos do que tivesse concedido sofreria um prejuízo teria que cobrir a falta uma vez que não estaria completamente ca pacitado a satisfazer os direitos de saque sobre ele Portanto nesse caso o juro não pode cair abaixo de zero Mas em geral estará acima de zero porque a demanda dos em presários por poder de compra se distingue em um aspecto importante da demanda ordinária por bens A demanda no fluxo circular deve sempre se apoiar numa oferta real de bens senão deixa de ser efetiva A demanda do empresário por poder de compra todavia contrastando com a sua demanda por bens concretos de que ele necessita não está sujeita a essa condição Pelo contrário só é restringida pela condição muito menos severa de que o empresário seja posteriormente capaz de devolver o emprés timo com juros Assim mesmo que não houvesse juro o empresário só demandaria crédito no caso de ser capaz de obter um lucro com o auxílio do empréstimo pois de outro modo não teria nenhum incentivo econômico para produzir também podemos dizer que a demanda do empresário está sujeita à condição ou é efetiva com a condição de que possa obter lucro com o empréstimo Isso conduz à relação entre oferta e demanda Em qualquer tipo de situação econômica o número de inovações possíveis é praticamente ilimitado como foi explicado no capítulo II Mesmo o sistema econômico mais rico não é absolutamente perfeito e não pode sêlo Sempre se pode fazer aperfeiçoamento e a busca de aperfeiçoamento é sempre limitada pelas condições dadas e não pela perfeição do que existe Todo passo adiante abre novas pers pectivas Todo aperfeiçoamento leva a uma maior distância da apa rência da perfeição absoluta A possibilidade do lucro portanto e com ela a demanda potencial não tem limite definido Conseqüentemente a demanda a um juro nulo seria sempre maior do que a oferta que é sempre limitada Todavia essas possibilidades de lucro são impotentes e irreais SCHUMPETER 187 se não se apoiarem na personalidade do empresário Até agora só sa bemos que inovações que rendem lucro são possíveis na vida econô mica não sabemos nem mesmo se serão sempre adotadas por indivíduos concretos em tal medida que a demanda por poder de compra com um juro de zero seja sempre maior do que a oferta Podemos ir ainda mais além O fato de que possam existir sistemas econômicos sem desen volvimento nos mostra que pode ser até que nem existam indivíduos que sejam capazes ou que estejam inclinados a realizar tais inovações Não se poderia concluir disso que também é possível que tais indivíduos existam num número tão pequeno que a oferta de poder de compra não seja exaurida ao invés de ser insuficiente para a satisfação de todos Não haveria absolutamente nenhuma criação de poder de compra e a oferta total de meios de pagamento creditícios simplesmente de sapareceria164 se não existisse nenhuma ou apenas uma insignificante demanda por poder de compra Mas se existe qualquer demanda de empresários por crédito então é impossível que seja menor do que a oferta a um juro de zero Pois o aparecimento de um empresário facilita o aparecimento de outros No capítulo VI demonstrarseá que os obs táculos com os quais as inovações se defrontam se tornam menores quanto mais a comunidade se acostuma com o aparecimento de tais inovações e que em particular as dificuldades técnicas para se fundar novos empreendimentos se tornam menores porque as conexões com mercados estrangeiros as formas de crédito etc uma vez criadas be neficiam os epígonos dos pioneiros Portanto quanto maior o número de pessoas que já tenham fundado com sucesso novos negócios menos difícil se torna agir como empresário A experiência mostra que os sucessos nesse plano como em todos os outros trazem em sua esteira um número sempre crescente de interessados donde cada vez mais pessoas procedem continuamente à realização de novas combinações A demanda por capital em si mesma engendra continuamente nova demanda E portanto no mercado monetário há uma oferta efetiva limitada por maior que seja em contraste com uma demanda efetiva que não tem nenhum limite definido Isso deve elevar o juro acima de zero Assim que esse passa a existir muitos empresários são eliminados e à medida que ele sobe mais e mais empresários desaparecem Pois embora as possibilidades de lucro sejam praticamente ilimitadas diferem em tamanho e eviden temente a maioria delas é pequena O aparecimento do juro eleva por outro lado a oferta que não está fixada em termos absolutos mas o juro não obstante deve continuar a existir e o fará Iniciase uma guerra de OS ECONOMISTAS 188 164 Para evitar malentendidos podese observar que seria possível que as trocas no fluxo circular fossem efetuadas com o auxílio de meios de pagamento creditícios Estes circulariam sem juro e ao par Mas para que haja um incentivo para se criar mais meios de pagamento creditícios o juro é certamente necessário preços no mercado monetário que não descreveremos novamente e sob a influência de todos os elementos do sistema econômico se esta belece um preço definido para o poder de compra que deve conter juro 13 Agora temos que ligar os fatos empíricos que até aqui foram excluídos ao princípio fundamental relativo ao juro Em primeiro lugar devemos enumerar todas as fontes de poder de compra existentes por contraste com o recémcriado que efetivamente alimentam o grande reservatório do mercado monetário e em segundo lugar devemos mos trar como a partir de sua base bastante estreita o juro se espalha por toda a economia de trocas permeia por assim dizer todo o sistema econômico de modo que o juro parece ocupar muito mais espaço do que se poderia esperar por nossa teoria Só podemos considerar nosso problema como resolvido se se puder explorar exaustivamente do nosso ponto de vista toda a área do problema do juro nessas duas direções A primeira tarefa não apresenta dificuldades Antes de tudo toda fase concreta de desenvolvimento começa como dissemos acima com uma herança das fases anteriores Um reservatório de poder de compra pode já estar formado pelos elementos que a economia de trocas pré capitalista criou e assim sempre haverá quantidades maiores ou me nores de poder de compra no sistema econômico que estão à disposição de novos empreendimentos seja permanentemente seja por algum tem po Além disso quando o desenvolvimento capitalista está em funcio namento uma corrente sempre crescente de poder de compra disponível flui para o mercado monetário Distinguiremos três ramificações dela Em primeiro lugar a parte do lucro empresarial que é sem dúvida a maior é empregada dessa forma o lucro será investido Aqui em princípio é bastante irrelevante se um empresário investe o seu lucro em seu próprio negócio ou se a soma em questão chega ao mercado Em segundo lugar se o caso do afastamento de empresários ou talvez de seus sucessores da vida ativa de negócios leva à liquidação do em preendimento somas maiores ou menores ficam liberadas sem que outras somas sempre e necessariamente fiquem ao mesmo tempo imo bilizadas Em terceiro e último lugar os lucros que o desenvolvimento carreia por assim dizer para outras pessoas que não os empresários e que se apóiam nas repercussões do desenvolvimento virão em maior ou menor medida direta ou indiretamente para o mercado monetário Observemos aqui que esse processo é acessório ainda num outro sentido além daquele segundo o qual essa soma deve sua existência apenas ao desenvolvimento é o fato de que o juro existe a possibilidade de receber juro por essa soma de dinheiro que drena para o mercado monetário o poder de compra disponível A aquisição de juro é o único motivo que leva o seu possuidor a oferecêlo se não houvesse juro o poder de compra seria armazenado ou gasto em bens Isso ocorre de modo semelhante no caso de um outro elemento SCHUMPETER 189 Vimos que o significado da poupança num sistema econômico sem de senvolvimento165 seria relativamente muito pequeno e que aquilo que usualmente se designa como dimensão da poupança de uma nação moderna não é nada mais do que a soma dos lucros do desenvolvimento que nunca se tornam elementos de renda Ora a importância da pou pança num sentido real não poderia ser tão grande mesmo num sistema com desenvolvimento a ponto de exercer um papel decisivo em relação aos requisitos industriais a não ser pelo fato de que aparece uma nova espécie de poupança na verdade de poupança real que está ausente num sistema sem desenvolvimento O fato de que se possa assegurar uma renda permanente pelo empréstimo de uma soma de dinheiro atua como um novo motivo para poupar É concebível que exatamente porque uma soma poupada aumenta automaticamente e em conseqüência sua utilidade marginal cai seja às vezes poupado menos do que se não se recebesse nenhum juro Contudo em geral a existência do juro que abre um novo método de empregar o dinheiro poupado leva claramente a um considerável aumento da atividade de poupar o que evidentemente não significa que todo aumento do juro deva resultar num aumento proporcional ou em qualquer aumento da poupança Disso se segue que a poupança efetivamente observável é em parte uma conseqüência do juro existente e aqui também há uma corrente acessória de poder de compra chegando ao mercado monetário Uma terceira fonte que abastece o mercado monetário é o dinheiro que está ocioso por um período de tempo maior ou menor e que também é emprestado se se puder obter juro por ele Consiste em capital de empresa momentaneamente disponível etc O banco reúne essas somas e uma técnica altamente desenvolvida capacita cada unidade monetá ria mesmo que esteja guardada para um gasto iminente a contribuir para o aumento da oferta de poder de compra Um outro fato ainda cabe aqui Vimos que a natureza dos meios creditícios de pagamento e a explicação de sua existência não devem ser buscadas no esforço de economizar dinheiro metálico Evidentemente os meios creditícios de pagamento fazem com que seja usado menos dinheiro metálico do que o que deveria ser usado se as mesmas transações devessem ser levadas a cabo somente com dinheiro metálico Mas essas transações só surgiram com o auxílio dos meios creditícios de pagamento enquanto até hoje não ocorre nenhuma economia de dinheiro em relação às exigências de dinheiro que teriam se desenvolvido no mesmo tempo se não tivesse havido nenhum meio creditício de pagamento No entanto devemos reconhecer agora que à parte os meios creditícios de paga mento a que o desenvolvimento dá origem outras transações que talvez fossem realizadas anteriormente por meio do dinheiro metálico são OS ECONOMISTAS 190 165 Cf capítulo II liquidadas com crédito pelos bancos sob a pressão do desejo de aumentar a quantidade de poder de compra portador de juros ou seja meios creditícios de pagamento são do mesmo modo criados pela técnica ban cária conseqüentemente provém dessa fonte ainda um aumento adi cional da quantidade de dinheiro disponível Todos esses elementos aumentam a oferta no mercado monetário e fazem o juro cair muito abaixo do nível no qual estaria se eles não estivessem presentes Reduziriamno a zero muito em breve se o de senvolvimento não criasse continuamente novas possibilidades de em prego Quando o desenvolvimento estagna dificilmente o banqueiro sabe o que fazer com os fundos disponíveis e freqüentemente se torna duvidoso se o preço do dinheiro contém mais do que a soma de capital mais um prêmio pelo risco e uma compensação pelo trabalho Espe cialmente então e particularmente nos mercados monetários de nações muito ricas o elemento da criação de poder de compra freqüentemente retrocede para o último plano e podese criar facilmente a impressão tão cara à teoria econômica assim como à prática bancária de que o banqueiro não é nada mais do que um intermediário entre os que emprestam e os que tomam empréstimos A partir dessa concepção há apenas um passo simplesmente para substituir o dinheiro do em prestador pelos bens concretos de que o empresário necessita ou mesmo pelos bens concretos de que precisam os que transferem para o em presário os meios de produção necessários Podese observar ainda que há casos como BöhmBawerk já en fatizou nos quais só se demanda e se paga juro porque é possível demandálo e pagálo O juro sobre os saldos bancários é um exemplo Ninguém transfere o seu poder de compra ao banco com a intenção de investir seu capital dessa forma Pelo contrário o dinheiro é depo sitado apenas na medida em que é desejável ter um suprimento de poder de compra disponível por razões pessoais ou para negócios Isso aconteceria mesmo que se tivesse de pagar algo em troca Mas na realidade o depositante recebe na maioria dos países uma espécie de participação nos juros que a soma em questão coloca nas mãos do banqueiro E uma vez que isso tenha se tornado habitual as pessoas não se disporão a deixar um saldo num banco que não pague juro Aqui o juro é pago ao depositante sem que este tenha que fazer nada de sua parte Ora esse fenômeno tem um alcance muito grande dentro da vida econômica O fato de que toda partícula de poder de compra possa obter juros atribuilhe um prêmio qualquer que seja o propósito a que sirva Assim o juro força sua entrada nos negócios das pessoas que por si mesmas não têm nada a ver com combinações novas Todas as unidades de poder de compra devem lutar por assim dizer contra a corrente que tenta drenála para o mercado monetário Além disso é óbvio que em todos os casos em que alguém precisa de crédito por SCHUMPETER 191 qualquer razão a transação de empréstimo empréstimos estatais e outros estará vinculada ao fenômeno fundamental 14 Desse modo o fenômeno do juro se estende gradualmente sobre todo o sistema econômico e portanto apresenta ao observador uma frente muito mais ampla do que se suspeitaria a partir de sua natureza íntima Assim o tempo em si mesmo se torna um elemento do custo num certo sentido como já foi indicado Esse fenômeno resultante que a doutrina predominante aceita como o fato fundamental explica e ao mesmo tempo justifica a discrepância entre ela e a nossa in terpretação Mas ainda temos um outro passo a dar a saber explicar o fato de que o juro finalmente se torne uma forma de expressão para todos os rendimentos com exceção dos salários Na prática falamos da terra como rendendo juro do mesmo modo que uma patente ou qualquer outro bem que renda uma receita de monopólio Falamos em portador de juros até mesmo no caso de um rendimento não permanente dizemos por exemplo que uma soma de dinheiro empregada em especulação mesmo uma mercadoria empre gada em especulação rendeu juros Isso não é contraditório com a nossa interpretação Isso não mostra que o juro é uma renda derivada da propriedade de bens que é uma categoria completamente diferente do que seria segundo a nossa interpretação Esse método de expressar os rendimentos gerou um fruto definido em termos de teoria entre os economistas americanos O impulso veio do Professor Clark Chamou ele os rendimentos oriundos dos bens de produção concretos de renda rent o mesmo rendimento concebido como resultado do fundo econômico duradouro de poder produtivo que ele chama de capital chamou de juro Aqui então o juro aparece meramente como um aspecto especial dos rendimentos e não mais como uma parte independente da corrente da renda nacional O Pro fessor Fetter166 desenvolveu a mesma idéia de modo mais forte ainda e de maneira um pouco diferente Mas aqui estamos interessados mais do que tudo na teoria do Professor Fisher exposta em seu trabalho The Rate of Interest O Professor Fisher explica o fato do juro simples mente pela subestimativa da satisfação das necessidades futuras mais recentemente167 expressou sua teoria na afirmativa O juro é a im paciência cristalizada numa taxa de mercado Em conformidade com isso ele liga o juro a todos os bens separados no tempo do consumo final E como todos os rendimentos destes últimos podem ser capita lizados conseqüentemente expressos na forma de juro o juro não é uma parte mas o todo da corrente de renda salários são juros sobre OS ECONOMISTAS 192 166 Cf meu artigo Die neuere Wirtschaftstheorie in den Vereinigten Staaten In Schmollers Jahrbuch 1910 167 Scientia Rivista di Scienza 1911 o capital humano a renda da terra é juro sobre o capital na forma de terra e todos os outros rendimentos são juros sobre o capital produzido Toda renda é valor produzido descontado de acordo com a taxa de desvalorização das satisfações futuras É claro que não podemos aceitar essa teoria porque não reconhecemos nem mesmo a existência de seu elemento fundamental Isso é exatamente tão claro quanto para Fisher esse elemento se torna um fator central na vida econômica que deve ser introduzido para explicar quase todos os fenômenos econômicos O princípio fundamental que entra aqui em consideração e que deveria nos conduzir à compreensão da prática universal de se expres sar os rendimentos na forma de juro é o seguinte De acordo com a nossa interpretação os bens concretos nunca são capital No entanto quem possui bens concretos pode obter capital vendendoos num sis tema que é concebido como estando em pleno desenvolvimento Nesse sentido os bens concretos podem ser chamados de capital potencial ao menos o são do ponto de vista de seu possuidor que pode trocálos por capital Com referência a isso contudo apenas a terra e as posições de monopólio168 entram em consideração por duas razões Em primeiro lugar não se pode evidentemente vender o próprio potencial de trabalho enquanto tal se desprezarmos a questão da escravidão Mas não há nenhum estoque de bens de consumo e de meios de produção produzidos no sentido asseverado pela doutrina predominante assim em prin cípio voltamos imediatamente à terra e aos monopólios E em segundo lugar apenas a terra e as posições de monopólio são diretamente ge radoras de renda Uma vez que o capital também é gerador de renda o seu proprietário não o trocaria por bens que não rendessem nenhuma renda líquida ou somente o faria se lhe fosse concedida uma tal redução de preço que ele pudesse obter um lucro com os bens no período econômico corrente e então reinvestir o seu capital indene mas nesse caso o vendedor sofreria um prejuízo ao qual só se decidiria em condições anormais es pecialmente no desespero como logo se demonstrará Os possuidores dos agentes naturais e os monopolistas têm pois toda a razão se houver desenvolvimento em comparar sua renda com o rendimento que poderiam obter sobre o capital ao vender os seus agentes naturais ou o seu monopólio uma vez que tal venda poderia ser vantajosa E os capitalistas têm razão em comparar sua renda proveniente do juro com a renda da terra ou a receita de monopólio permanente que podem obter com seu capital Ora em quanto se ele vará o preço de tais fontes de renda Nenhum capitalista na medida em que se coloque na posição de comprador pode estimar um valor para um pedaço de terra que seja mais alto do que a soma de dinheiro que rende tanto juro quanto a renda gerada por aquele Nenhum ca SCHUMPETER 193 168 Embora use esse método de expressão não tenciono lançar dúvidas sobre o fato fundamental de que as posições de monopólio não são bens como facilmente veremos pitalista pode estimar um valor menor para a terra com as mesmas qualificações Se o pedaço de terra custasse mais seria invendável deixandose de lado elementos secundários óbvios nenhum capitalista o compraria Se custasse menos surgiria uma concorrência entre os capitalistas o que elevaria o seu preço até aquele nível Nenhum pro prietário de terras que não estivesse em apuros estaria disposto a entregar a sua terra por uma soma menor do que aquela que lhe rendesse tanto juro quanto a pura renda da terra que o seu pedaço lhe gerasse Mas tampouco poderia obter uma soma mais alta por ele porque uma grande quantidade de terra seria oferecida imediatamente ao capitalista que estivesse pronto a concedêla Assim o valor de capital das fontes permanentes de renda é inequivocamente determi nado As conhecidas circunstâncias que fazem com que seja pago mais ou menos na maioria dos casos não afetam o princípio Nessa solução do problema da capitalização o fator fundamental e central é o juro sobre o poder de compra O rendimento de todas as outras fontes permanentes de renda é comparado a ele e de acordo com ele em conseqüência da existência do juro o seu preço é fixado pelo mecanismo concorrencial de tal modo que não se comete nenhum erro na prática ao se conceber o rendimento do capital potencial como juro real Na realidade portanto todo rendimento permanente está ligado ao juro mas apenas externamente apenas na medida em que a magnitude a que está relacionado é determinada pelo nível do juro Não é juro o método oposto de expressão é meramente na prática um breve jogo de palavras E não depende diretamente do juro como seria o caso se a natureza do juro fosse caracterizada corretamente pela expressão desconto temporal Nossa conclusão também pode ser estendida aos rendimentos líquidos não permanentes por exemplo às quaserendas Não é difícil ver que em livre concorrência um rendimento líquido temporário será vendido e comprado pela soma de dinheiro que se investida a juros no momento da conclusão do negócio produziria ao ser acumulada a mesma soma ao tempo em que cessasse o rendimento líquido que todos os rendimentos líquidos gerariam se fossem emprestados à me dida que fossem sendo obtidos Aqui também na prática falaremos do capital do comprador como rendendo juros e com o mesmo direito que no caso dos rendimentos permanentes embora o comprador não tenha mais o seu capital e tenha se transformado de capitalista em rentista E que soma digamos o proprietário de um altoforno poderá obter por este se não é gerador de um rendimento líquido permanente talvez monopólico ou temporário mas é um negócio do fluxo circular ou seja sem lucro abstraindo a renda da terra que aqui deixaremos de lado Ora nenhum capitalista investirá o seu capital em tal negócio Se é que a transação deva ser efetuada deve lhe render não apenas a reposição de seu capital depois que a aparelhagem já OS ECONOMISTAS 194 estiver gasta mas também um rendimento líquido durante a sua vida útil correspondente ao juro que de outro modo poderia obter Conse qüentemente se o comprador não tiver nenhum outro objetivo com o forno além de simplesmente juntar os seus rendimentos do fluxo cir cular ou seja se não for chamado a cumprir um papel numa nova combinação deve ele ser vendido a um preço mais baixo do que o custo O vendedor deve resolverse a ter um prejuízo pois apenas assim o comprador poderia obter um lucro igual ao juro que de outro modo poderia obter com o dinheiro da compra Em todos esses casos a interpretação e a expressão do homem de negócios não estão corretas Mas em todos esses casos a incorreção não tem nenhuma conseqüência prática e está bem claro por que o homem de negócios faz uso dessa interpretação inadequada No sistema econômico moderno a taxa de juros é de tal modo um fator normativo o juro é em tal medida um barômetro de toda a situação econômica que é necessário leválo em consideração no que diz respeito a prati camente todas as ações econômicas e ele entra em todas as deliberações econômicas Isso conduz ao fenômeno observado pela teoria desde tem pos imemoriais pelo qual todos os rendimentos de um sistema econô mico vistos de um certo ângulo tendem a se igualar 15 A expressão elíptica do homem prático que está sempre implícita quando se fala em juros sobre bens concretos conduziu a teoria para o caminho errado Mas quero demonstrar agora que o erro teórico que está sempre presente nessa extensão da idéia de juros além de sua base real também traz em sua esteira erros práticos O aspecto juro dos rendimentos é uma visão inofensiva para se adotar no caso dos rendimentos permanentes ou seja renda da terra e receitas permanentes de monopólio mas não o é em outros casos Consideremos primeiramente o nosso exemplo do forno para demonstrar isso De acordo com as nossas proposições o comprador do forno recebe durante a vida útil deste o suficiente para recuperar o dinheiro da compra e além deste o juro que vamos supor ele gasta como renda Ora se todas as condições econômicas permanecerem inalteradas quando o forno estiver completamente gasto pelo uso ele poderá construir outro169 exatamente do mesmo tipo e do mesmo custo que o do antigo Mas se esse custo é mais alto que originalmente o indivíduo em questão deve acrescentar algo ao seu fundo de amortização a fim de cobrilo E doravante o forno não lhe renderia mais um ren dimento líquido de acordo com isso Ora se o comprador do forno percebesse claramente essas condições ele não levaria à frente a cons SCHUMPETER 195 169 O leitor verá facilmente que o argumento não é alterado se admitimos que o comprador que deseja manter o forno em atividade não o deixa deteriorarse para reconstruílo de novo mas o preserva mediante permanentes consertos trução mas investiria em outro lugar a soma recuperada Se não as percebesse se se deixasse enganar pelo aspecto juro então seria ele o perdedor embora o vendedor também pudesse ter sido de sua parte o perdedor e o comprador naquele momento acreditasse corretamente que tinha feito um bom negócio À primeira vista o caso parece sur preendente Mas não acrescentarei nenhuma outra palavra de expli cação porque a questão deve estar clara ao leitor que lhe der a devida atenção Tais casos não são raros na prática e são conseqüência do hábito de se atribuir rendimentos líquidos permanentes a bens que não os geram É claro que outros erros também podem levar a tais decepções Por outro lado as decepções podem deixar de se materializar em conseqüência de circunstâncias particularmente favoráveis Mas acredito que todos devem encontrar em sua experiência provas sufi cientes do que foi dito O caso é semelhante se realmente existirem rendimentos líquidos mas não permanentes se por exemplo um negócio ainda rende algu mas poucas parcelas de lucro empresarial receitas monopólicas tem porárias ou quaserendas Se não obstante se falar em coisas tais como geração de juros não haverá problemas desde que se esteja cons ciente do caráter temporário desses rendimentos Mas no momento em que eles são explicados como juros é óbvia a tentação de encarálos como permanentes na verdade às vezes a expressão já é um sintoma desse erro E então é claro que se experimenta a mais desagradável das surpresas Esse juro sempre arranja um jeito de diminuir obsti nadamente até mesmo de acabar subitamente O homem de negócios se queixa nesse caso de que os tempos estão ruins e clama por tarifas protecionistas assistência governamental e outros recursos ou se con sidera vítima de um grande infortúnio ou com mais razão como vítima de nova concorrência Tais ocorrências são muito freqüentes e fundamentam a nossa argumentação de modo notável No entanto obviamente levam de volta ao erro fundamental que conduz na prática a passos em falso e a amargas decepções e na teoria às explicações do juro que estamos criticando Freqüentemente se ouve a afirmação de que o negócio de alguém rende digamos 30 Evidentemente não se trata simplesmente de juro Na maioria dos casos o resultado é alcançado ao não se ter em conta a atividade do empresário como uma despesa e conseqüente mente não incluindo nos custos o seu pagamento Se essa não for a explicação então o rendimento não pode ser permanente As experiên cias dos negócios fundamentam completamente essa conclusão da nossa interpretação Pois que negócio rende juro permanentemente É ver dade que freqüentemente o homem de negócios não se dá conta desse caráter temporário do rendimento e imagina as mais diversas hipóteses quanto à sua crescente redução E o comprador mui freqüentemente é seduzido pela expectativa de que tal rendimento se mantenha no OS ECONOMISTAS 196 máximo reconhece que a experiência do proprietário anterior pode ter algo a ver com o tamanho do rendimento Então aplica automaticamente a fórmula do juro ao invés do método correto de cálculo Se fizer es tritamente isso ou seja se capitalizar o rendimento à taxa de juros corrente então se seguirá o fracasso O rendimento de todo negócio cessa depois de certo tempo todo negócio que permanece inalterado logo cai na insignificância O estabelecimento industrial individual não é uma fonte perma nente de qualquer outro rendimento que não os salários e a renda da terra O indivíduo que está mais propenso a esquecer isso no cotidiano e a sofrer a experiência desagradável indicada acima é o típico acionista Poderseia pensar que uma objeção contra a nossa teoria poderia ser montada a partir do fato de que um acionista pode obter um rendi mento permanente mesmo sem mudar periodicamente o seu investi mento Segundo a nossa visão o capitalista teria primeiro que em prestar o seu capital a um empresário e depois de um certo tempo a outro uma vez que o primeiro não pode estar permanentemente em condições de pagar juros Como caracterizamos os acionistas como me ros contribuintes de dinheiro e no entanto eles retiram um rendimento permanente de um mesmo e único empreendimento a objeção pareceria ser muito forte Mas precisamente o exemplo do acionista e de todo credor que compartilha permanentemente da sorte de um empreendi mento mostra quão fiel à realidade é a nossa interpretação Pois esse fato é muito discutível As companhias vivem eternamente e pagam dividendos para sempre Certamente há as que o fazem mas de modo geral apenas dois grupos delas Primeiramente há ramos da indústria algumas ferrovias por exemplo que têm um monopólio se não perpétuo ao menos assegurado por um longo período Aqui o acio nista recebe simplesmente receita de monopólio Depois há espécies de empreendimentos que por natureza e programa estão continuamente fazendo coisas novas e nada são realmente além de formas de em preendimentos sempre novos Aqui os objetivos se alteram incessan temente e as personalidades dirigentes também mudam de modo que é da natureza da coisa que sempre apareçam nos cargos de direção pessoas de considerável habilidade Estão sempre surgindo novos lu cros e se o acionista perder o seu rendimento o que não é realmente necessário será apenas um infortúnio a ser explicado pelo caso indi vidual Mas desprezandose essas duas categorias ou seja se uma companhia simplesmente opera um negócio determinado sem uma po sição de monopólio há no máximo a renda dos agentes naturais en quanto rendimento permanente e nada mais Ora a experiência o confirma notavelmente embora na prática a concorrência não atue prontamente e assim as empresas permaneçam na posse de excedentes por um tempo considerável Nenhuma companhia industrial do tipo indicado gratifica os seus acionistas com uma chuva constante de ouro SCHUMPETER 197 pelo contrário logo declina a um estágio que tem a mais lamentável semelhança com uma fonte que seca Assim freqüentemente a devo lução do capital está escondida nos dividendos mesmo que o desgaste das máquinas etc seja sempre levado conscienciosamente em conside ração nos cálculos de depreciação De modo muito correto portanto freqüentemente se amortiza muito mais do que a depreciação e muitas companhias se esforçam por amortizar todo o capital o mais breve possível Pois para cada uma chega o momento em que o negócio fica realmente sem valor ou seja quando os seus rendimentos apenas co brem os custos Desse modo não existe uma coisa tal como uma renda permanente proveniente de juros auferidos do mesmo e único negócio como qualquer um que não acredite e aja de acordo poderá aprender à sua custa Assim a receita de dividendos dos acionistas não depõe contra a nossa interpretação muito pelo contrário 16 Resta ainda para ser visto o quanto essa teoria se mostrará um instrumento eficiente na análise de material estatístico e na investi gação das questões que surgem em relação ao juro Certamente isso parece trazer o fato do dinheiro do crédito e dos procedimentos ban cários para mais perto da teoria pura do que fazem outras interpre tações O autor espera poder propor as conclusões de algum trabalho nessa linha em um livro a ser publicado em futuro próximo onde serão discutidos problemas como por exemplo a relação entre reservas de ouro e juro a influência do sistema monetário sobre o juro as diferenças entre taxas de juro de diferentes países e a correlação entre taxas de câmbio e de juros Nossa argumentação também deveria explicar o movimento no tempo da taxa de juros É dessa classe de fatos que se deveria esperar antes de tudo a verificação da idéia fundamental Se o juro da vida de negócios o que comumente se chama juro produtivo tem as suas raízes no lucro empresarial ambos deveriam se mover bem juntos Na verdade isso é válido para flutuações de curto prazo Em períodos mais longos ainda podemos observar alguma relação entre a predo minância de combinações novas e o juro mas há tantos elementos a serem levados em conta e outras coisas permanecem tão imperfeita mente iguais assim que ultrapassamos o período digamos de uma década que a verificação tornase extremamente complicada Então não apenas é necessário admitir as dívidas governamentais a migração de capital e os movimentos do nível geral de preços mas há também questões mais delicadas que não podem ser abordadas aqui Não há nada em nossa teoria que apóie a antiga visão que adquiriu a força de um dogma para muitas pessoas a partir dos eco nomistas clássicos em diante de que o juro deve necessariamente apresentar uma tendência secular a cair Podese demonstrar todavia que a impressão desse efeito que parece se impor tão fortemente é OS ECONOMISTAS 198 devida em grande parte ao elemento risco que é responsável pelas cifras medievais e que a taxa real de juros não apresenta nenhuma tendência secular clara que a sua história mais confirma a nossa in terpretação do que a desautoriza Essas observações devem bastar Por mais que os nossos argu mentos estejam incompletos e por mais que exijam formulações mais precisas e modificações acredito que o leitor não obstante encontrará neles alguns elementos para a compreensão daquela parte dos fenô menos econômicos que até aqui apresentou maiores dificuldades Só tenho uma coisa a acrescentar desejava explicar o fenômeno do juro mas não justificálo O juro não é como o lucro por exemplo fruto direto do desenvolvimento no sentido de ser um prêmio pelas suas realizações Ao contrário é antes um freio um freio necessário numa economia de trocas ao desenvolvimento uma espécie de imposto sobre o lucro empresarial Certamente isso não é suficiente para con denálo mesmo que se inclua nas tarefas de nossa ciência a condenação ou a aprovação de coisas Contra o veredito condenatório podemos as severar a importância da função desse éforo do sistema econômico e podemos concluir que o juro só tira alguma coisa do empresário que de outro modo caberia a este mas não tira nada de outras classes deixandose de lado os casos do crédito ao consumo e do crédito pro dutivoconsuntivo No entanto esse fato juntamente com o fato de que o fenômeno do juro não é um elemento necessário em todas as organizações econômicas sempre resultará em que a crítica das con dições sociais encontre mais o que objetar no juro do que em qualquer outra coisa Portanto é importante afirmar que o juro é apenas con seqüência de um método especial de se realizar novas combinações e que esse método pode ser mudado com muito mais facilidade do que as outras instituições fundamentais do sistema concorrencial SCHUMPETER 199 46 Evaluation Performance Testing The developer will be responsible for evaluating the system to ensure it meets all user requirements and performs optimally This includes conducting unit tests integration tests and system tests The performance of the software will be analyzed under different conditions to guarantee its scalability reliability and responsiveness User feedback will be collected and incorporated to improve the system further ensuring a userfriendly and efficient product CAPÍTULO VI O Ciclo Econômico Observações Preliminares A teoria seguinte que trata das crises mais corretamente das flutuações econômicas recorrentes tem ainda menos pretensão a ser considerada uma representação satisfatória do assunto em questão do que as teorias da função empresarial do crédito do capital do mercado monetário do lucro e do juro que já foram expostas Uma teoria sa tisfatória exigiria hoje mais do que nunca um tratamento abrangente do material notavelmente ampliado o exame das numerosas teorias individuais baseadas nos diferentes índices das condições dos negócios e de sua relação mútua O meu trabalho nesse sentido é truncado a promessa de um tratamento exaustivo ainda não foi cumprida170 e de acordo com o meu programa de trabalho deve permanecer assim por longo tempo Não obstante apresento novamente esse capítulo sem nenhuma alteração exceto quanto à exposição não apenas porque agora ele tem o seu lugar na investigação das crises mas também porque ainda o considero correto não apenas porque creio que ele contenha a contribuição da argumentação deste livro dada ao tema mas também porque essa contribuição coloca a essência da questão Assim estou disposto a aceitar críticas com base neste capítulo 201 170 Desde então publiquei sobre o tema além do artigo no Zeitschrift für Volkswirthchaft Sozialpolitik und Verwaltung 1910 o artigo Die Wellenbewegung des Wirtschaftslebens In Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik 1914 Até hoje minha teoria das crises é citada com base nesse artigo Também foi exposta em 1914 numa conferência na Uni versidade de Harvard quando foi dado um passo além deste capítulo na formulação e na fundamentação factual mas sem nenhuma mudança essencial Além disso há um artigo Kreditkontrolle ibid 1925 que estava primariamente preocupado com outras coisas Oude en nieuwe Bankpolitiek In EconomischStatistischen Berichten 1925 Esse artigo também mal toca na questão fundamental Expus isso detalhadamente numa conferência na Escola Superior de Comércio em Roterdam em 1925 Finalmente para uma exposição breve veja The Explanation of the Business Cycle In Economica 1928 O estudo das objeções que chegaram ao meu conhecimento rati ficou minha convicção Mencionarei apenas duas Primeiro há a crítica de que minha teoria é meramente uma psicologia das crises Essa objeção foi feita tão gentilmente por uma autoridade da maior compe tência e que é para mim da mais alta estima que de minha parte devo formular o seu real conteúdo com maior precisão para que o leitor veja o que ela realmente significa Psicologia das crises significa uma coisa bem definida diferente de psicologia do valor por exemplo significa insistir naquelas aberrações tragicômicas do temeroso mundo dos negócios que notamos e especialmente temos notado no passado em todas as crises Enquanto teoria das crises portanto significaria basear uma explicação científica seja sobre os fenômenos que obvia mente acompanham ou resultam da crise pânico pessimismo etc seja o que seria apenas um pouco menos ruim sobre tendências altistas prévias febre de promoções etc Tal teoria é estéril tal explicação não explica nada Mas não é essa minha posição Não apenas discuto sempre a conduta exterior de modo que só se pode encontrar psicologia no meu argumento no sentido em que estaria implícita em qualquer afir mação quanto aos fatos econômicos mesmo a mais objetiva mas explico o fenômeno das flutuações econômicas quer estejam realmente ocor rendo agora quer não somente por uma corrente de causação objetiva que percorre automaticamente o seu curso ou seja pelo efeito do apa recimento de novos empreendimentos sobre as condições dos já exis tentes uma corrente de causação que decorre dos fatos explicados no capítulo II Depois há a objeção formulada por Loewe minha teoria não explica a periodicidade das crises171 Não compreendo assim Duas coi sas podem ser chamadas de periodicidade Em primeiro lugar o simples fato de que todo boom é seguido por uma depressão toda depressão por um boom Mas isso minha teoria explica Ou em segundo lugar podese chamar assim a duração efetiva do ciclo Mas isso nenhuma teoria pode explicar numericamente porque obviamente depende dos dados concretos do caso individual No entanto minha teoria dá uma resposta geral o boom termina e a depressão começa após a passagem do tempo que deve transcorrer antes que os produtos dos novos em preendimentos possam aparecer no mercado E um novo boom se sucede à depressão quando o processo de reabsorção das inovações estiver terminado Mas Loewe tem algo mais em vista que foi formulado por Emil Lederer172 como se segue Dizse que o meu tratamento é insatisfatório porque não tenta explicar por que os empresários aparecem periodi OS ECONOMISTAS 202 171 In Festschrift für Brentano II 351 172 Cf seu notável trabalho Konjunktur und Krisen In Grundriss der Sozialökonomik v IV Parte Primeira p 368 camente por assim dizer em enxames quais são as condições nas quais eles podem aparecer e se sempre aparecerão e por que se as condições lhes forem favoráveis Ora podese afirmar que não expliquei de modo decisivo o aparecimento em bloco dos empresários que com os fenômenos conseqüentes constitui a única causa dos períodos de boom Mas pareceme insustentável que não tenha nem tentado expli cálo quando toda a minha argumentação o objetivava As condições nas quais os empresários podem aparecer deixandose de lado as condições econômicas e sociais gerais da economia concorrencial estão apresentadas no capítulo II e podem ser formuladas incompleta e brevemente como a existência de novas e mais vantajosas possibili dades do ponto de vista econômico privado uma condição que deve ser sempre cumprida a acessibilidade limitada dessas possibilidades por causa das qualificações pessoais e circunstâncias exteriores que são necessárias173 e uma situação econômica que permite um cálculo razoavelmente confiável Por que os empresários aparecem nessas con dições não é mais problemático se se aceita as proposições implícitas em nosso conceito de empresário do que o fato de que qualquer pessoa se apodera de um ganho que esteja imediatamente ante seus olhos Sem nenhuma intenção crítica e somente para permitir que as idéias sobressaiam mais claramente gostaria agora de comparar minha teoria com o que é sem dúvida o trabalho mais profundo feito nesse campo o de Spiethoff174 por menos que seja comparável com este último em minuciosidade e perfeição O ponto de vista tomado de Juglar de acordo com o qual a flutuação econômica em forma de onda e não a própria crise aparece como a coisa fundamental a ser explicada é comum a ambos Somos concordes na concepção que é estabalecida por mim não apenas neste mas também no capítulo II de que as situações alternantes Wechsellagen Spiethoff são a forma que o desenvolvimento econômico toma na era do capitalismo Assim também somos concordes na visão de que o capitalismo com pletamente desenvolvido deve ser datado historicamente apenas a par tir do momento em que tais situações alternantes começam inequivo camente a ocorrer ou seja na Inglaterra apenas a partir de 1821 segundo Spiethoff na Alemanha a partir da década de 40 do século XIX Além disso concordamos que os dados do consumo de ferro são o melhor índice das condições dos negócios ou seja esse índice que Spiethoff descobriu e elaborou não tenho nenhum trabalho a apre sentar nesse sentido também é reconhecido por mim como o certo SCHUMPETER 203 173 A nova formulação do cap II também esclarece a objeção de Loewe que ele exprime com o conceito de homem de negócios semiestático 174 Cf suas exposições mais recentes sobretudo o artigo Krisen no Handwörterbuch der Staatswissenschaften mas também a exposição no Hamburger Wirtschaftsdienst 1926 caderno I e a sua conferência Moderne Konjunkturforschung perante os Amigos e Pa tronos da Universidade de Bonn do ponto de vista da minha teoria Concordamos que o nexo causal começa antes de tudo com os meios de produção que são comprados com o capital e que o boom se materializa antes de tudo na produção de plantas industriais fábricas minas navios ferrovias etc Final mente concordamos com a concepção de que o boom surge como Spiet hoff coloca porque se investe mais capital este se fixa em novos negócios e de que o impulso se difunde então pelos mercados de ma tériasprimas trabalho equipamento etc Também entendemos a mes ma coisa pelo termo capital no sentido que é significativo aqui com a exceção de que a criação de poder de compra cumpre um papel fun damental na minha argumentação o que não acontece na de Spiethoff Até aqui só teria uma coisa a acrescentar que o investimento de capital não é distribuído uniformemente no tempo mas aparece en masse por intervalos Esse é obviamente um fato muito fundamental e para isso ofereço uma explicação não oferecida por Spiethoff Aceito a concepção de Spiethoff do ciclopadrão Musterkreislauf A diferença entre nós reside na explicação da circunstância que corta o boom e ocasiona a depressão Para Spiethoff essa circunstância é a superprodução de bens de capital com relação por um lado ao capital existente e por outro à demanda efetiva Como descrição dos fatos efetivos eu também poderia aceitar isso Mas enquanto a teoria de Spiethoff pára nesse elemento e tenta nos fazer entender que cir cunstâncias induzem os produtores de equipamentos fabris de material de construção etc a produzir periodicamente mais do que os seus mercados são capazes de absorver no momento minha teoria tenta explicar o estado dos negócios da maneira que aparece neste capítulo que pode ser resumida como se segue O efeito do aparecimento de novos empreendimentos en masse sobre as empresas antigas e sobre a situação econômica estabelecida tendo em consideração o fato esta belecido no capítulo II de que em regra o novo não nasce do velho mas aparece ao lado deste e o elimina na concorrência é o de mudar de tal modo todas as condições que se torna necessário um processo especial de adaptação Essa diferença entre nós seria ainda mais re duzida por uma discussão mais detalhada Foi impossível manter concisa minha antiga exposição e ao mesmo tempo tornála invulnerável Não obstante sintetizeia mais ainda para que a idéia fundamental sobressaísse mais claramente Pela mesma razão enumerarei os passos da argumentação 1 A nossa questão é todo esse desenvolvimento que estivemos des crevendo prossegue com uma continuidade ininterrupta é similar ao crescimento orgânico gradual de uma árvore A experiência nos res ponde negativamente É fato comprovado que o sistema econômico não anda sempre para a frente de modo contínuo e sem tropeços Ocorrem movimentos contrários contratempos incidentes dos tipos mais varia OS ECONOMISTAS 204 dos que obstruem o caminho do desenvolvimento há colapsos no sis tema de valores econômicos que o interrompem Por que isso Aqui nos defrontamos com um novo problema Se esses desvios do sistema econômico em relação a uma linha uniforme de desenvolvimento fossem raros dificilmente constituiriam um problema com direito especial à atenção do teórico Numa economia desprovida de desenvolvimento o indivíduo pode se defrontar com re veses que para ele são muito sérios sem que haja nenhuma razão para que a teoria aborde tais fenômenos Do mesmo modo fatos que talvez pudessem destruir o desenvolvimento econômico de toda uma nação não exigiriam nenhuma investigação geral se fossem raros se pudessem ser concebidos como contratempos isolados Mas os movi mentos contrários e os contratempos de que estamos aqui falando são freqüentes tão freqüentes que algo semelhante a uma periodicidade necessária parece se insinuar à primeira vista Isso torna impossível praticamente em todos os casos se não do ponto de vista da lógica que façamos abstração dessa classe de fenômenos Além disso se ocorresse que após tal contratempo ser superado o desenvolvimento anterior começasse de novo do ponto alcançado antes que fosse interrompido o peso desse contratempo não seria em princípio muito grande Poderíamos dizer que tínhamos levado em conta todos os fatos fundamentais do desenvolvimento mesmo que não pudéssemos explicar esses próprios incidentes perturbadores ou simplesmente deles abstraíssemos Contudo não é esse o caso Os movimentos contrários não apenas entravam o desenvolvimento mas põemlhe um fim Uma grande quantidade de valores é aniquilada as condições e os pressu postos fundamentais dos planos dos dirigentes do sistema econômico se alteram O sistema econômico precisa se reanimar antes de poder caminhar de novo para a frente o seu sistema de valores precisa se reorganizar E o desenvolvimento que então começa novamente é um novo e não simplesmente a continuação do antigo É verdade e a ex periência nos ensina que ele se moverá numa direção mais ou menos similar à anterior mas a continuidade do plano é interrompida175 O novo desenvolvimento provém de condições diferentes e em parte da ação de pessoas diferentes muitas esperanças e valores antigos são enterrados para sempre e surgem outros completamente novos Em piricamente pode ocorrer que as linhas principais de todos esses de senvolvimentos parciais situados entre os contratempos coincidam com as linhas gerais do desenvolvimento total mas teoricamente não po demos considerar apenas os contornos do total Os empresários não podem saltar a fase dos contratempos e deixar os seus planos intactos SCHUMPETER 205 175 Evidentemente sempre menos à medida que progride a trustificação para a próxima fase de desenvolvimento e tampouco a explicação cien tífica pode fazêlo sem perder completamente o contato com a realidade Precisamos investigar agora essa classe de fenômenos que tão nitidamente se destaca aparentemente com certa oposição dos outros fenômenos do desenvolvimento De início existem as seguintes possi bilidades Em primeiro lugar as crises podem ou não ser um fenômeno uniforme Os colapsos peculiares do desenvolvimento que conhecemos pela experiência e descrevemos como crises aparecem sempre mesmo às mentes ingênuas como formas de um único fenômeno Todavia essa homogeneidade das crises certamente não vai longe Pelo contrário existe principalmente apenas numa similaridade dos efeitos sobre o sistema econômico e sobre os indivíduos e no fato de que certos eventos habitualmente ocorrem na maioria das crises Tais efeitos e tais even tos contudo apareceriam com as perturbações internas e externas mais variadas da vida econômica e não são suficientes para provar que as crises são sempre o mesmo fenômeno Efetivamente distin guemse diferentes espécies e causas de crises E nada justifica que suponhamos de antemão que as crises tenham mais em comum umas com as outras do que o elemento do qual partimos a saber que todas são eventos que fazem parar o desenvolvimento econômico precedente Em segundo lugar sejam fenômenos homogêneos sejam hetero gêneos as crises podem ou não ser passíveis de uma explicação pura mente econômica Evidentemente não se pode duvidar de que as crises pertencem essencialmente à esfera econômica Mas de modo nenhum é óbvio que pertençam à natureza do sistema econômico ou mesmo a qualquer tipo de sistema no sentido de que resultariam necessaria mente do funcionamento dos fatores econômicos considerados em si mesmos Pelo contrário seria bem possível que as causas reais das crises existissem fora da esfera puramente econômica ou seja que fossem conseqüências de perturbações que atuassem de fora sobre estas últimas A freqüência e mesmo a regularidade das crises tantas vezes confirmada não seria em si mesma nenhum argumento conclusivo uma vez que se pode facilmente conceber que tais perturbações devam ocorrer na vida prática Uma crise seria então simplesmente o processo pelo qual a vida econômica se adapta a novas condições No que concerne ao primeiro ponto podemos de início dizer uma coisa Se falamos em crises sempre que nos defrontarmos com grandes perturbações então não há nenhum atributo geral para além do fato da perturbação Por enquanto é melhor conceber as crises nesse sentido amplo Em conformidade com isso os processos econômicos são divididos em três classes nos processos do fluxo circular nos do desenvolvimento e nos que impedem o curso deste último sem perturbações Essa classi ficação de modo algum é alheia à realidade Podemos claramente manter as três classes separadas na vida real Só uma análise mais detalhada mostrará se alguma delas se subordina a uma das outras duas OS ECONOMISTAS 206 A ausência de um atributo geral nas perturbações é provada pela história das crises Tais perturbações já irromperam em todos os lugares concebíveis do corpo econômico e além disso de maneiras muito di ferentes nos diferentes lugares Às vezes aparecem pelo lado da oferta às vezes pelo lado da demanda no primeiro caso às vezes na produção técnica às vezes nas relações do mercado ou de crédito no último caso às vezes mediante mudanças na direção da demanda por exemplo mudanças de moda às vezes mediante mudanças no poder de compra dos consumidores Em sua maior parte os vários grupos industriais não sofrem da mesma maneira mas primeiro uma indústria sofre mais depois outra Às vezes a crise se caracteriza por um colapso do sistema de crédito que afeta especialmente os capitalistas às vezes sofrem mais os proprietários de terra ou os trabalhadores Os empresários também podem se comprometer de diferentes maneiras À primeira vista a tentativa de procurar os elementos comuns das crises nas formas de seu surgimento parece ser mais promissora Efetivamente foi esse elemento que nos levou à convicção popular e científica de que as crises são um mesmo e único fenômeno Contudo é fácil perceber que essas características externas que podem ser apreendidas superficialmente não são comuns nem essenciais a todas as crises na medida em que vão além de um elemento de perturbação do desenvolvimento O elemento pânico por exemplo é muito óbvio Foi um aspecto destacado das primeiras crises Mas também há pânicos sem crises E além disso há crises sem pânico real A intensidade do pânico de qualquer modo não mantém uma relação necessária com a importância da crise Finalmente o pânico é muito mais uma con seqüência do que uma causa do irrompimento das crises Isso também é verdadeiro quanto a termos difundidos como febre especulativa superprodução176 etc Uma vez que tenha irrompido uma crise que tenha alterado toda a situação econômica grande parte da especulação pode parecer sem sentido e grande demais qualquer quantidade de bens produzidos embora ambas fossem perfeitamente apropriadas ao estado de negócios anterior ao irrompimento da crise Similarmente a falência de estabelecimentos individuais a falta de uma relação apro priada entre os ramos individuais da produção a incongruência entre produção e consumo e outros elementos semelhantes são mais efeitos do que causas O fato de que embora na literatura que descreve o tema reapareça invariavelmente um certo número de crises e no en tanto além desse ponto as enumerações individuais das crises não estejam de acordo umas com as outras indica que não há nenhum critério satisfatório das crises nesse sentido Chegamos agora à outra questão a de saber se as crises são ou SCHUMPETER 207 176 Não nos referimos com isso às minuciosas teorias da superprodução mas apenas à referência popular a esse elemento não fenômenos puramente econômicos ou seja se elas e todas as suas causas e efeitos podem ser entendidos por meio de fatores explicativos resultantes do estudo do sistema econômico Evidentemente esse não é sempre e necessariamente o caso Admitirseá de imediato que a deflagração de uma guerra por exemplo pode causar perturbações suficientemente grandes para que se fale em crise Seguramente essa não é de modo algum a regra As grandes guerras do século XIX por exemplo em sua maior parte não levaram imediatamente a crises Mas o caso é concebível Suponhamos que uma nação insular que tenha um comércio ativo com outras nações e cujo sistema econômico possa ser concebido como em pleno desenvolvimento no sentido em que o tomamos seja isolada do resto do mundo por uma frota inimiga As importações e exportações são igualmente paralisadas o sistema de preços e valores é desmantelado as obrigações não podem ser res peitadas a âncora do crédito se quebra tudo isso é concebível ocorreu na realidade e certamente representa uma crise E essa crise não pode ser explicada de maneira puramente econômica uma vez que a causa a guerra é um elemento estranho ao sistema econômico Pela atuação desse corpo estranho na esfera econômica é que ao mesmo tempo a crise surge e é explicada Tais fatores externos explicam mui freqüentemente as crises177 Um exemplo importante é o das más co lheitas que evidentemente podem provocar crises e como é bastante sabido tornaramse até mesmo a base de uma teoria geral das crises Mas mesmo circunstâncias que não atuem de modo tão destacado sobre o sistema econômico a partir de fora quanto as guerras ou as condições meteorológicas devem ser vistas do ponto de vista da teoria pura como efeitos de causas externas de perturbação e assim em princípio como acidentais Para tomar um exemplo a súbita abolição de tarifas protecionistas pode causar uma crise Tal medida comercial é certamente um fato econômico Mas não podemos afirmar precisa mente nada sobre o seu aparecimento somente podemos investigar os seus efeitos Do ponto de vista das leis da vida econômica é simples mente uma influência vinda de fora Assim há crises que não são puramente fenômenos econômicos no sentido que lhes damos E como não o são não podemos dizer nada em geral sobre as suas causas do ponto de vista puramente econômico Para nós devem passar por de sastrosos acidentes Colocase agora a pergunta existe alguma crise puramente eco nômica no sentido em que a tomamos uma crise que apareceria sem os estímulos externos dos quais acabamos de dar exemplos De fato OS ECONOMISTAS 208 177 Não apenas cabem aqui os fenômenos parecidos com os de uma crise da época da deflagração da Guerra Mundial como também as crises de pósguerra de todos os países natureza das quais além disso não é exaustivamente descrita com os lugarescomuns crise de estabilização ou crise de deflação conforme o caso é concebível a perspectiva que foi realmente sustentada de que as crises sempre são efeitos de circunstâncias externas E isso indubita velmente é muito plausível Se ela for correta não há então nenhuma teoria econômica real das crises e nada podemos fazer além de esta belecer simplesmente esses fatos ou no máximo tentar classificar essas causas externas das crises Antes de respondermos à nossa pergunta devemos desfazernos de um tipo especial de crise Se a indústria de um país é financiada por outro e se uma onda de prosperidade inunda este último oferecendo ao capital emprego mais rentável do que encontrava até então no pri meiro país existirá uma tendência a retirar o capital de seus inves timentos anteriores Se isso ocorrer rápida e irrefletidamente pode perfeitamente provocar uma crise no primeiro país Esse exemplo deve mostrar que causas puramente econômicas numa região econômica po dem dar origem a crises em outra O fenômeno é freqüente e geralmente reconhecido Obviamente isso pode acontecer não apenas entre dois países diferentes mas também entre partes diferentes de um mesmo país e finalmente em certas circunstâncias dentro de uma região econômica entre os diferentes ramos da indústria Quando uma crise irrompe num local envolve em geral outros locais Agora a pergunta é tais fenômenos são puramente econômicos do tipo que estamos bus cando A resposta é negativa As condições econômicas de outras regiões são pontos de referência para qualquer sistema econômico dado e só podem desempenhar o papel de elementos nãoeconômicos na explicação de fenômenos no interior desse sistema Para o sistema econômico considerado eles são acidentes e seria ocioso tentar encontrar uma lei geral para tais crises Finalmente depois de descartar todas as causas exógenas das crises ainda encontramos outras que são de caráter puramente eco nômico no sentido de que brotam de dentro do sistema econômico mas que não obstante não apresentam um problema teórico novo Toda combinação nova para usar a nossa velha expressão está exposta ao perigo óbvio de vir a ser um fracasso Embora sejam raros os casos em que ramos inteiros da indústria cometam erros fatais no entanto eles acontecem e se a indústria em questão for suficientemente im portante a maioria dos sintomas de uma crise podem ser provocados por eles Porém mais uma vez eventos desse tipo são meramente contratempos a serem explicados individualmente em cada caso e não inerentes ao processo econômico no sentido de serem resultado de algum elemento ou fator essencial a ele Se considerarmos essa lista de possíveis causas de perturbações é bem possível que fiquemos na dúvida se restará qualquer coisa ao abstrairmos todos esses itens e se portanto podemos dizer algo mais sobre a causação das crises além de que elas ocorrem se em conse qüência de acidentes externos ou internos algo bastante importante SCHUMPETER 209 vai mal A história não entraria em contradição com essa teoria Pois em quase todos os casos históricos há tantos acidentes que podem ser responsabilizados pela crise que ocorre realmente sem nenhum disparate evidente que a necessidade de qualquer busca de causas mais gerais e fundamentais é menos óbvia do que alguns de nós parecem acreditar Podese observar de passagem que como quer que decidamos essa questão o cenário individual da maioria das grandes crises da história é mais importante para a explicação dos acontecimentos efe tivos observados em cada caso do que qualquer coisa que entre numa teoria geral supondo que tal teoria seja possível que portanto nunca pode ser tomada como produzindo mais do que uma contribuição tanto ao diagnóstico quanto à política de correção em qualquer caso real Se os homens de negócios quase sempre tentam explicar qualquer crise por circunstâncias especiais ao caso em questão não estão intei ramente errados Também não o está o antagonismo do empirista em relação a qualquer tentativa de construir uma teoria geral sem fundamento embora não seja antagonismo o que se requer nesse caso mas uma distinção clara entre duas tarefas inteiramente diferentes A descoberta decisiva que resolveu a nossa questão e ao mesmo tempo pôs o nosso problema em bases um tanto diferentes consistiu em estabelecer o fato de que há de qualquer modo alguns tipos de crises que são elementos ou pelo menos componentes regulares se não necessários de um movimento em forma de onda que alterna pe ríodos de prosperidade e depressão que têm permeado a vida econômica desde o início da era capitalista178 Esse fenômeno emerge então da massa de fatos variados e heterogêneos que podem ser responsabili zados pelos retrocessos e colapsos de toda espécie O que temos que explicar primeiramente são essas grandes peripécias da vida econômica Assim que dominarmos esse problema não apenas estaremos justifi cados mas forçados para fins de análise teórica a supor a ausência de todas as outras perturbações externas e internas às quais está exposta a vida industrial para isolar a única questão interessante do ponto de vista da teoria Ao fazêlo não devemos contudo esquecer nunca que aquilo que descartamos não é por isso de menor importância e que se a nossa teoria for mantida dentro dos estreitos limites de nossa pergunta deverá se tornar desproporcional a todos os esforços analíticos de maior alcance que objetivem fornecer um aparato para o pleno entendimento do curso efetivo das coisas Aquela pergunta pode agora ser formulada da seguinte maneira por que é que o desenvolvimento econômico como o definimos não avança uniformemente como cresce uma árvore mas por assim dizer OS ECONOMISTAS 210 178 Essa descoberta e a clara percepção de suas conseqüências se devem a Clément Juglar espasmodicamente por que apresenta ele esses altos e baixos que lhe são característicos 2 A resposta não pode ser mais curta e precisa exclusivamente porque as combinações novas não são como se poderia esperar segundo os princípios gerais de probabilidade distribuídas uniformemente atra vés do tempo de tal modo que intervalos de tempo iguais pudessem ser escolhidos a cada um dos quais caberia a realização de uma com binação nova mas aparecem se é que o fazem descontinuamente em grupos ou bandos Agora essa resposta deve a ser interpretada depois esse apa recimento em grupos deve b ser explicado e então c devem ser ana lisadas no 3 deste capítulo as conseqüências desse fato e o curso do nexo causal provocado por elas O terceiro ponto contém um novo problema sem a solução do qual a teoria estaria incompleta Embora aceitemos a afirmação de Juglar de que a única causa da depressão é a prosperidade o que significa que a depressão nada mais é do que a reação do sistema econômico ao boom ou a adaptação à situação à qual o boom submete o sistema de modo que a sua explicação também está enraizada na explicação do boom no entanto a maneira pela qual o boom leva à depressão permanece uma questão em si como o leitor pode ver de imediato na diferença que existe quanto a esse ponto entre Spiethoff e eu Também será visto imediatamente que essa questão é respondida pela nossa argumentação sem dificuldade e sem ajuda de fatos novos ou de novos instrumentos teóricos a Se os novos empreendimentos em nossa concepção apare cessem independentemente um do outro não haveria nenhum boom ou depressão enquanto fenômeno especial reconhecido notável regu larmente recorrente Pois o seu aparecimento seria então em geral contínuo eles seriam distribuídos uniformemente no tempo e as mu danças que seriam efetuadas por eles no fluxo circular seriam cada uma delas relativamente pequenas assim as perturbações teriam im portância apenas local e seriam facilmente superadas pelo sistema econômico como um todo Não haveria nenhuma perturbação conside rável do fluxo circular e portanto nenhuma perturbação do crescimento Devese notar que isso é válido para qualquer teoria das crises com relação ao elemento que a teoria considera como causa em particular para todas as teorias da desproporcionalidade o fenômeno nunca se torna inteligível se não se explica por que a causa qualquer que ela seja não pode atuar de maneira a permitir que as conseqüências sejam contínua e correntemente absorvidas179 SCHUMPETER 211 179 Com o que quero dizer que essa parte de nossa argumentação deve simplesmente ser admitida por todas as teorias das crises Pois mesmo que estejam livres de outras objeções nenhuma explica precisamente essa circunstância Mesmo assim haveria tempos bons e ruins A inflação do ouro ou qualquer outra ainda apressaria o crescimento econômico a deflação o obstruiria os eventos políticos e sociais e a legislação econômica ainda exerceriam sua influência Um fato como a Guerra Mundial por exemplo com o ajustamento do sistema econômico às exigências de guerra impostas por ele com a liquidação necessária após a sua con clusão com a perturbação de todas as relações econômicas suas de vastações e sublevações sociais a destruição de importantes mercados a alteração de todos os dados teria ensinado aos homens como são as crises e depressões se é que ainda não o soubessem Mas não haveria o tipo de prosperidade e depressão que está sendo aqui considerado Tais eventos não seriam regulares ou necessários no sentido de que emergem do funcionamento do próprio sistema econômico mas preci sariam ser explicados por causas externas especiais como já foi sufi cientemente enfatizado Devese recordar particularmente uma circuns tância favorável que sempre facilita e parcialmente explica um boom a saber o estado dos negócios criado por todo período de depressão Como se sabe há geralmente massas de desempregados estoques acu mulados de matériasprimas máquinas edifícios etc oferecidos abaixo do custo de produção e via de regra há uma taxa de juros irregular mente baixa Na verdade esses fatos cumprem um papel em quase todas as investigações do fenômeno como por exemplo a de Spiethoff e a de Mitchell Mas é evidente que não podemos nunca explicar o fenômeno por essas suas conseqüências se quisermos primeiro abster nos de derivar a depressão do boom e depois derivar este da depressão Portanto aqui onde se trata apenas do princípio da questão e não de uma apresentação exaustiva das circunstâncias más colheitas180 rumores de guerra etc que operam concretamente no auge ou na crise deixaremos completamente de lado essas conseqüências Três circunstâncias aumentam o efeito do aparecimento em con junto dos novos empreendimentos sem serem no entanto causas reais iguais a ele Em primeiro lugar nossa argumentação no capítulo II nos permite esperar e a experiência o confirma que a grande maioria das combinações novas não brotará das empresas antigas nem tomará imediatamente o seu lugar mas aparecerá a seu lado e com petirá com elas Do ponto de vista da nossa teoria esse elemento não é novo nem independente nem é essencial para a existência de booms e depressões embora seja obviamente muito importante na explicação da amplitude do movimento em forma de onda Em segundo lugar o fato de que a demanda empresarial aparece OS ECONOMISTAS 212 180 As boas colheitas por exemplo facilitam e prolongam o boom ou suavizam e encurtam a depressão Freqüentemente são mais importantes na explicação de uma situação individual H L Moore certamente demonstrou isso Mas nunca são da mesma importância teórica que o nosso nexo causal apenas operam através dele en masse significa um aumento muito substancial do poder de compra por toda a esfera dos negócios Isso inicia um boom secundário que se espraia por todo o sistema econômico e é o veículo do fenômeno da prosperidade geral que só pode ser completamente entendido desse modo e não pode ser explicado satisfatoriamente de outra maneira Somente porque o novo poder de compra vai em grande volume das mãos dos empresários para os proprietários de meios materiais de produção para todos os produtores de bens para o consumo reprodu tivo Spiethoff e para os trabalhadores e então se difunde por todos os canais econômicos é que todos os bens de consumo são vendidos finalmente a preços sempre crescentes Com isso os varejistas fazem encomendas maiores os industriais estendem as operações e com esse propósito meios de produção cada vez mais desfavoráveis e em geral já abandonados voltam de novo ao uso E somente por causa disso é que a produção e o comércio rendem temporariamente um lucro em toda parte exatamente como num período de inflação por exemplo quando as despesas de guerra são financiadas com papel moeda Muitas coisas flutuam nessa onda secundária sem nenhum impulso novo e direto da força propulsora real e no fim o prognóstico especulativo adquire um significado causal Os sinais de prosperidade por si mesmos tornamse finalmente um fator de prosperidade de modo como sabemos Evidentemente isso é muito importante para os índices da teoria dos negócios e para a compreensão da situação dos negócios como um todo Para o nosso objetivo todavia só é essencial a divisão entre as ondas primária e secundária e é suficiente notar que esta última pode se remontar à primeira e que numa teoria elaborada com base em nosso princípio tudo o que sempre foi observado no movimento cíclico en contraria o seu lugar definido Mas numa exposição como a presente não se pode fazer justiça a tais coisas pois pode surgir uma impressão de afastamento da realidade que na verdade não se justifica181 Em terceiro lugar seguese de nossa argumentação que os erros devem desempenhar um papel considerável no começo do boom e no curso da depressão Em sua maior parte as teorias das crises usam de fato esse elemento de uma maneira ou de outra Contudo os erros não ocorrem normalmente na extensão máxima requerida a produção é iniciada por homens sensatos e somente com base numa investigação mais ou menos cuidadosa dos fatos Embora possam ocorrer erros de SCHUMPETER 213 181 Em particular todas as circunstâncias que em outras teorias das crises atuam como causas encontram o seu lugar dentro da estrutura da nossa teoria como o leitor pode facilmente observar se estiver inclinado a pensar cuidadosamente nessa questão Neste livro obvia mente nossa explicação do ciclo permanece sempre exposta a uma objeção similar à que foi feita contra a teoria do desenvolvimento no capítulo II a saber que enfatiza unilate ralmente e de modo exagerado um elemento entre muitos Essa objeção confunde o problema de explicar a natureza e o mecanismo do ciclo com o problema de uma teoria dos fatores concretos de ciclos individuais cálculo numa escala que pode facilmente pôr em perigo uma firma individual em casos excepcionais talvez toda uma indústria não é em geral suficiente para pôr em perigo o sistema econômico como um todo Então como é que erros tão gerais podem ser feitos de tal modo que todo o sistema seja afetado e na verdade como uma causa indepen dente e não meramente como uma conseqüência da depressão que deve ser explicada Uma vez que tenha começado por outras razões a de pressão certamente transtorna muitos planos que anteriormente eram perfeitamente razoáveis e torna perigosos certos erros que de outro modo seriam facilmente retificados Os erros iniciais requerem uma explicação especial sem a qual nada se explica Nossa análise fornece essa explicação Se o traço caraterístico de um período de boom não é meramente a ampliação da atividade econômica enquanto tal mas a realização de combinações novas e ainda não experimentadas fica então imediatamente claro como já foi mencionado no capítulo II que aí o erro deve desempenhar um papel especial qualitativamente diferente do seu papel no fluxo circular Não obstante não se econtrará aqui nenhuma teoria do erro Pelo contrário para evitar tal impressão isolaremos esse elemento Na verdade ele é um elemento acidental de apoio e reforço mas não uma causa primária necessária à com preensão do princípio Ainda haveria movimentos cíclicos embora de forma mais suave mesmo que ninguém nunca fizesse qualquer coisa que pudesse ser descrita como falsa de seu ponto de vista mesmo que não houvesse nenhum erro técnico ou comercial febre especulativa ou otimismo e pessimismo sem fundamento e ainda que todos tivessem o dom de uma ampla presciência A situação objetiva que o boom necessariamente cria explica exclusivamente a natureza da coisa182 como veremos b Por que os empresários aparecem não de modo contínuo ou seja individualmente a cada intervalo escolhido apropriadamente mas aos magotes Exclusivamente porque o aparecimento de um ou de poucos empresários facilita o aparecimento de outro e estes provocam o apa recimento de mais outros em número sempre crescente Isso significa primeiro que pelas razões explicadas no capítulo II a realização de combinações novas é difícil e acessível apenas a pessoas com certas qualidades como se vê melhor por um exemplo dos tempos antigos ou por uma situação econômica no estágio que mais se parece a uma economia sem desenvolvimento a saber o estágio de grande estagnação Apenas poucas pessoas têm essas qualidades de liderança e só algumas podem ter sucesso nesse sentido numa tal OS ECONOMISTAS 214 182 O que é óbvio não significa que se negue a importância prática do elemento erro nem a dos elementos que comumente são designados por febre especulativa fraude etc categoria à qual também pertence a superprodução Afirmamos apenas que todas essas coisas são em parte conseqüências e que mesmo que não seja esse o caso a natureza do fenômeno não pode ser entendida a partir delas situação ou seja numa situação que em si ainda não é um boom Contudo se um ou alguns tiverem avançado com êxito muitas difi culdades desaparecem Outros podem então seguir esses pioneiros como o farão certamente sob o estímulo do sucesso agora atingível O seu sucesso torna ainda mais fácil para mais pessoas seguirem o exem plo mediante remoção cada vez mais completa dos obstáculos anali sados no capítulo II até que finalmente a inovação se torna habitual e sua aceitação uma questão de livre escolha Em segundo lugar uma vez que como vimos a qualificação em presarial é algo distribuído num grupo etnicamente homogêneo se gundo a lei do erro como muitas outras qualidades aumenta conti nuamente o número de indivíduos que satisfazem padrões em dimi nuição progressiva nesse aspecto Assim desprezando casos excepcio nais dos quais seria um exemplo a existência de uns poucos europeus numa população negra com a progressiva simplificação da tarefa cada vez mais pessoas poderão tornarse empresários e o farão razão pela qual o aparecimento bemsucedido de um empresário é seguido pelo aparecimento não simplesmente de alguns outros mas de um número cada vez maior de empresários embora progressivamente me nos qualificados É assim que se dá na prática cujo testemunho me ramente interpretamos Em indústrias nas quais ainda há concorrência e grande número de pessoas independentes vemos antes de tudo o aparecimento singular de uma inovação em grande parte dos casos em firmas criadas ad hoc e depois vemos como as firmas existentes a agarram com rapidez e perfeição variáveis primeiro algumas firmas depois muitas outras Já nos deparamos com esse fenômeno em conexão com o processo de eliminação do lucro empresarial Aqui isso entra novamente em consideração embora de outro ponto de vista183 Em terceiro lugar isso explica que os empresários apareçam em grupos na verdade a ponto de eliminar o lucro empresarial antes de tudo no ramo da indústria em que aparecem os pioneiros A realidade também revela que todo boom normal começa em um ou em poucos ramos da indústria construção de ferrovias indústrias químicas e elé tricas etc e que recebe o seu caráter das inovações na indústria em que se inicia Mas os pioneiros removem os obstáculos para os outros não apenas no ramo da produção em que primeiro aparecem mas também ipso facto em outros ramos devido à natureza desses obstá culos Muitas coisas podem ser copiadas por esses outros o modelo enquanto tal também age sobre eles e muitos empreendimentos tam bém servem diretamente a outros ramos como por exemplo a abertura de um mercado estrangeiro deixandose inteiramente à parte as cir SCHUMPETER 215 183 Pois a eliminação do lucro empresarial prevista em sua maior parte não é a causa em nossa teoria das crises Cf 3 2º parágrafo cunstâncias de importância secundária que logo aparecem preços crescentes etc Assim os primeiros líderes são eficientes além da sua esfera imediata de ação e desse modo o grupo de empresários cresce ainda mais e o sistema econômico é impulsionado mais rápida e com pletamente do que o seria por qualquer outro meio para o processo de reorganização tecnológica e comercial que constitui o significado dos períodos de boom Em quarto lugar quanto mais o processo de desenvolvimento se torna comum e é visto como um simples problema de cálculo para todos os interessados e quanto mais fracos se tornam os obstáculos no correr do tempo menor a liderança que será necessária para sus citar inovações Assim se tornará menos pronunciado o aparecimento conjunto dos empresários e mais suave o movimento cíclico E de modo evidente essa conseqüência de nossa interpretação também é notavel mente confirmada pela realidade A trustificação progressiva da vida econômica atua no mesmo sentido mesmo que hoje em dia um grande conglomerado com suas vendas e exigências financeiras ainda seja tão dependente da situação de mercado que é determinada em medida considerável pela concorrência de tal modo que só é possível espora dicamente o adiamento totalmente vantajoso de suas inovações espe cialmente da construção para os períodos de depressão como é exem plificado pela política das ferrovias norteamericanas Mas na medida em que opera esse elemento também confirma a nossa interpretação Em quinto lugar o aparecimento de novas combinações em conjunto explica fácil e necessariamente os traços fundamentais dos períodos de boom Explica por que o aumento do investimento de capital é o primeiro sintoma do boom que chega por que as indústrias produtoras de meios de produção são as primeiras a apresentar estimulação acima do normal e acima de tudo por que aumenta o consumo de ferro Explica o apare cimento em grande volume184 de novo poder de compra com isso o au mento característico dos preços durante os booms o que obviamente ne nhuma referência a aumento das necessidades ou a aumento dos custos pode sozinha explicar Além disso explica o declínio do desemprego e a elevação dos salários185 a elevação da taxa de juros o aumento dos fretes a crescente pressão sobre os saldos e as reservas bancárias etc e como dissemos a produção de ondas secundárias a difusão da prosperidade por todo o sistema econômico OS ECONOMISTAS 216 184 Pelo que não é muito necessário enfatizar que nossa teoria não está entre as que procuram a causa do ciclo no dinheiro e no sistema de crédito por mais importante que seja em nossa interpretação o elemento da criação de poder de compra Não obstante não negamos que os movimentos cíclicos poderiam ser influenciados e mesmo evitados pela política cre ditícia com eles na verdade também esse tipo de desenvolvimento econômico em geral 185 Em princípio também deve subir a renda da terra Mas onde a terra for alugada por longo prazo essa renda não pode subir e adicionalmente muitas circunstâncias evitam a rápida elevação desse ramo da receita 3 c O aparecimento de empresários em grupos que é a única causa do boom tem sobre o sistema econômico um efeito qualitativamente diferente do de um aparecimento contínuo distribuído uniformemente no tempo na medida em que não significa como esse último apareci mento uma perturbação contínua e mesmo imperceptível da posição de equilíbrio mas uma perturbação espasmódica uma perturbação de uma ordem de grandeza diferente Enquanto as perturbações causadas por um aparecimento contínuo de empresários poderiam ser absorvidas continuamente o aparecimento em grupo necessita de um processo de absorção especial e distinto de incorporação de coisas novas e de adap tação a elas do sistema econômico de um processo de liquidação ou como eu costumava dizer de aproximação a um novo estado estático Sta tisierung Esse processo é a essência das depressões periódicas que por tanto podem ser definidas do nosso ponto de vista como o combate do sistema econômico no sentido de uma nova posição de equilíbrio sua adaptação aos dados alterados pela perturbação trazida pelo boom A essência da questão não reside no fato de que o empresário individual interessado apenas em planejar o seu próprio empreendi mento não leva em conta o bando de seguidores e assim sofre um revés De fato é verdade que a conduta que é correta do ponto de vista da firma individual pode ser despojada de seus frutos pelo efeito geral da conduta similar de muitos Identificamos o exemplo mais im portante disso quando explicamos como os produtores em sua luta real pelo lucro máximo põem em movimento o mecanismo que tende a eliminar o valor excedente no sistema Similarmente aqui também o efeito geral pode tornar falso o que era correto para o indivíduo e esse elemento efetivamente desempenhará um papel na maioria das crises pois embora o bando de seguidores do empresário seja conhecido de antemão por este e não possa apanhálo desprevenido a magnitude e o ritmo podem ser com freqüência avaliados erroneamente Contudo a essência da perturbação causada pelo boom não reside no fato de que amiúde transtorna os cálculos dos empresários186 mas nas três circunstâncias seguintes Em primeiro lugar a demanda do novo empresário por meios de produção que é baseada sobre o novo poder de compra a conhecida disputa pelos meios de produção Lederer num período de prospe ridade eleva os preços destes Na realidade essa tendência é en fraquecida pelo fato de que ao menos alguns dos novos empreendi mentos não aparecem lado a lado com os antigos mas brotam deles e que as antigas empresas não funcionam simplesmente sem lucro mas ainda podem receber alguma quaserenda Podemos porém elucidar melhor a natureza da operação se supusermos que todas as inovações SCHUMPETER 217 186 Nem no fato de que a conseqüente extensão geral da produção prove ser errada se corporificam em empresas recémestabelecidas financiamse somen te com poder de compra recémcriado e tomam o seu lugar ao lado das empresas que pertencem estritamente ao fluxo circular e trabalham sem lucro e que portanto em conseqüência do aumento de seus custos começam a ter prejuízo A realidade entra em contradição com essa construção menos do que se poderia imaginar Na verdade apenas a atmosfera que paira sobre o período de boom esconde o fato de que logo em seu começo e na medida em que é expresso simplesmente na demanda aumentada o boom significa dificuldades para muitos pro dutores embora ele diminua novamente quando entra em cena a ele vação dos preços de seus produtos Essas dificuldades são uma forma do processo pelo qual os meios de produção são retirados das empresas antigas e colocados à disposição de novos propósitos como está expli cado no capítulo II Em segundo lugar os novos produtos chegam ao mercado depois de alguns anos ou mais cedo e concorrem com os antigos o complemento em mercadoria do poder de compra criado previamente teoricamente mais do que contrabalançando este último entra no fluxo circular Novamente as conseqüências desse processo são atenuadas na prática pelas causas mencionadas na seção precedente e além disso pelo fato de que como alguns investimentos são distantes dos produtos finais esse complemento só aparece gradualmente Mas isso não atinge a natureza do processo No início do boom os custos se elevam nas em presas antigas mais tarde suas receitas são reduzidas primeiramente nas empresas com as quais concorre a inovação mas depois em todas as empresas antigas na medida em que a demanda dos consumidores se altera em favor da inovação À parte a possibilidade de lucrar secundariamente com a inovação o seu funcionamento com prejuízo só é impedido pelo amortecedor da quaserenda que é efetivo apenas temporariamente E esse funcionamento com prejuízo não leva ime diatamente ao colapso apenas porque firmas antigas são em sua maioria bem estabelecidas e aparecem como especialmente merecedoras de cré dito A sua quebra parcial afeta o sucesso das novas iniciativas A quebra é atenuada pelo fato que se ajusta tão bem à estrutura da nossa interpretação de que o boom de início nunca é geral mas se concentra em um ramo ou em poucos ramos industriais sem perturbar as outras áreas e subseqüentemente só afeta estas últimas de uma maneira diferente e secundária Assim como os empresários aparecem en masse o mesmo acontece com seus produtos porque os primeiros não fazem coisas diferentes mas muito semelhantes e assim os seus produtos aparecem no mercado quase simultaneamente O tempo mé dio187 que deve decorrer antes que os novos produtos apareçam OS ECONOMISTAS 218 187 Esse tempo é determinado primeiro tecnicamente depois pelo ritmo em que a multidão segue os líderes embora seja óbvio que dependa de muitos outros elementos explica fundamentalmente a duração do boom Esse aparecimento dos novos produtos ocasiona uma queda dos preços188 que por sua vez põe fim ao boom pode levar a uma crise deve levar a uma depressão e inicia todo o resto Em terceiro lugar o aparecimento dos efeitos dos novos empreen dimentos leva a uma deflação creditícia porque agora os empresários estão em condição de pagar suas dívidas e têm todo o incentivo para isso e uma vez que não entram em seu lugar outros tomadores isso leva ao desaparecimento do poder de compra criado há pouco exatamente quando surge o seu complemento em bens e que doravante pode ser produzido repetidamente à maneira do fluxo circular Essa tese requer cuidadosa reserva Em primeiro lugar essa deflação deve ser distinguida de dois outros tipos O aparecimento de novos produtos deve resultar em deflação não apenas com relação ao nível de preços do período de boom mas também teoricamente com relação ao período de depressão precedente mesmo que nenhum meio de pagamento de saparecesse no pagamento das dívidas pelos empresários pois a soma dos preços dos novos produtos obviamente deve ser normalmente maior do que o montante dessas dívidas Isso teria o mesmo efeito que a liquidação das dívidas apenas numa menor extensão mas agora es tamos pensando no efeito da redução das dívidas A deflação também ocorre numa depressão já em andamento ou que é esperada pelo mundo bancário porque os bancos procuram restringir seu crédito por sua própria iniciativa Esse fator é muito importante na prática e freqüen temente dá início a uma crise real mas é acessório e não inerente ao processo Aqui tampouco estamos pensando nesse fator embora não neguemos sua existência nem sua importância mas apenas seu papel de causa primária189 Então mais adiante nossa formulação contém duas abstrações que farão com que o essencial se destaque mais cla ramente mas que excluem influências moderadoras de grande impor tância prática Primeiro ela despreza o fato de que os novos produtos geralmente contêm apenas pequenas cotas para depreciação dos in vestimentos feitos em sua produção pelo que apenas uma parte na maioria das vezes pequena do gasto total do período do boom chega ao mercado numa forma vendável quando os novos empreendimentos estão aptos a produzir portanto o poder de compra recémcriado só sai de circulação gradualmente em parte apenas quando períodos pos teriores de boom tiverem trazido solicitantes de crédito ao mercado SCHUMPETER 219 188 Essa queda dos preços na prática é geralmente adiada devido a muitas circunstâncias Cf infra sobre isso Todavia o estado subjacente dos negócios só se acentua e não se elimina pelo adiamento da queda dos preços A única coisa eliminada com isso é a utilidade dos índices de preços como sintomas do ciclo 189 Papel de causa primária porque a restrição creditícia iniciada pelos bancos é certamente a causa de ocorrências posteriores que de outro modo não seriam esperadas monetário A reabsorção do novo poder de compra pela poupança nada altera desse processo deflacionário mas faz diferença o fato de que muitos Estados municípios e bancos hipotecários agrícolas entrem no lugar da demanda empresarial decrescente À parte esse desapareci mento apenas gradual das dívidas dos empresários devese ter em mente que no sistema econômico moderno no qual o juro penetrou até mesmo no fluxo circular o crédito pode ficar permanentemente na circulação na medida em que agora há todo ano bens produzidos que lhe correspondem o que é o segundo fator a atenuar ainda mais o processo Mas a tendência deflacionária é atuante por tudo o que foi dito e ocorre a liquidação das dívidas pelos empreendimentos bem sucedidos de modo que a deflação mesmo que de forma suave deve sempre aparecer automaticamente a partir da lógica da situação ob jetiva quando o boom já estiver suficientemente afastado Uma veri ficação digna de nota nessa teoria que leva à conclusão de que no curso do desenvolvimento o nível secular de preços deve cair é de fato dada pela história dos preços no século XIX Os dois períodos que não foram perturbados por mudanças monetárias revolucionárias ou seja o período das guerras napoleônicas às descobertas de ouro na Califórnia e o período 187395 efetivamente apresentam a caracterís tica que esperaríamos de nossa teoria a saber a de que toda baixa periódica é mais profunda que a precedente e que a curva dos preços se move para baixo eliminando as flutuações cíclicas Finalmente ainda se deve explicar por que outros empresários à procura de crédito não entram sempre no lugar dos que liquidam sua dívida Há duas razões às quais na prática se adicionam outras que podem ser descritas seja como conseqüências dos elementos que chamamos de fundamentais seja como acidentais seja como influências que operam a partir de fora e nesse sentido como secundárias não essenciais ou acessórias Em primeiro lugar se sob o estímulo do su cesso na indústria em que ocorre o boom brotam tantos empreendi mentos novos que produziriam em atividade plena uma quantidade de produto que eliminaria o lucro empresarial pela queda nos preços e elevação dos custos o que naturalmente ocorre mesmo se a in dústria em questão obedecer à chamada lei dos rendimentos crescentes então se esgota o impulso para um avanço a mais nessa direção Na prática mesmo numa sociedade concorrencial a eliminação do lucro é apenas uma ameaça próxima e o processo não exclui a sobrevivência de algum lucro nem a ocorrência imediata de prejuízos O limite até onde podem ir o aparecimento de empresários em outras indústrias e os fenômenos criados pelas ondas secundárias de desenvolvimento é determinado de modo análogo Quando esse limite é alcançado esgo tase o impulso desse boom A segunda razão explica por que simples mente não se segue um novo boom porque a ação do grupo de em presários alterou nesse meio tempo os dados do sistema transtornou OS ECONOMISTAS 220 o seu equilíbrio e assim deu início a um movimento aparentemente irregular do sistema econômico que concebemos como uma luta por nova posição de equilíbrio Isso em geral torna impossível o cálculo preciso mas especialmente para o planejamento de novos empreendi mentos Na prática apenas o último elemento a incerteza caracte rística que resulta das novas criações do boom é sempre imediata mente observável o primeiro limite mencionado se manifesta na maio ria das vezes apenas em pontos isolados Ambos os limites são todavia ofuscados primeiro pelos fenômenos conseqüentes que muitos indiví duos prevêem Alguns indivíduos começam antes de outros a sentir a pressão como acontece com os bancos ou a elevação dos custos e de outros elementos como no caso de muitas empresas antigas e reagem à altura na maioria dos casos tarde demais é verdade mas quando o fazem estão tomados de pânico especialmente os mais débeis Em segundo lugar são ofuscados por eventos fortuitos que sempre ocorrem mas que a partir da incerteza criada pelo boom adquirem uma im portância que não tinham antes Isso explica por que o homem prático em quase todas as crises pensa que pode por exemplo aduzir como causas acontecimentos fortuitos rumores políticos desfavoráveis e por que de fato o impulso freqüentemente provém desses fatores Em ter ceiro lugar são ofuscados pelos atos de intervenção vindos de fora dos quais em geral o mais importante é feito pelo banco central ao puxar conscientemente as rédeas 4 Se o leitor pensar cuidadosamente no que foi dito e testálo com algum material factual ou com os argumentos de qualquer teoria das crises e do ciclo econômico deve compreender como o boom que está explicado agora cria por si mesmo uma situação objetiva que mesmo deixando de lado todos os elementos acessórios e fortuitos dá fim ao boom facilmente conduz a uma crise necessariamente a uma depressão e assim a uma posição temporária de relativa fixidez e ausência de desenvolvimento Podemos chamar a depressão como tal de processo normal de reabsorção e liquidação ao curso de acontecimentos ca racterizado pela irrupção de uma crise pânico colapso do sistema de crédito epidemia de falências e suas conseqüências posteriores podemos chamar de processo anormal de liquidação Completando e repetindo alguns pontos temos agora mais algumas coisas a dizer sobre esse processo mas apenas sobre o normal já que o anormal não apre senta nenhum problema fundamental O que foi dito leva diretamente à compreensão de todos os as pectos primários e secundários do período de depressão que agora aparecem como parte de um único nexo casual O boom em si neces sariamente leva muitas empresas a funcionar com prejuízos causa uma queda dos preços além da que é devida à deflação e adicionalmente provoca deflação mediante a contração do crédito fenômenos esses SCHUMPETER 221 que crescem secundariamente no curso dos acontecimentos Além disso explicase tanto a diminuição do investimento de capital190 e da ativi dade empresarial como por isso a estagnação das indústrias produ toras de meios de produção e a queda no índice de Spiethoff consumo de ferro e nos indicadores similares tais como as encomendas não executadas da United States Steel Corporation Com a queda da de manda de meios de produção também caem o volume de emprego e a taxa de juros se for removido o coeficiente de risco Com a queda das rendas monetárias que remonta em termos causais à deflação mesmo que seja aumentada pelas falências etc a demanda de outras mercadorias finalmente cai e então o processo terá penetrado todo o sistema econômico O quadro da depressão está completo Todavia duas razões evitam que essas características apareçam na ordem cronológica que corresponderia à sua posição no nexo causal Em primeiro lugar o fato de que não apenas são precipitadas pela conduta dos indivíduos mas também precipitadas em graus muito de siguais Isso acontece especialmente em mercados nos quais a especu lação profissional tem um papel importante Assim o mercado de va lores apresenta às vezes crises especulativas preliminares muito antes que se chegue a um real ponto de reversão que então são superadas e abrem espaço a um movimento a mais para cima que ainda pertence ao mesmo boom assim foi em 1873 e em 1907 Mas uma outra coisa é muito mais importante Exatamente como na prática o aumento do preço do produto freqüentemente é anterior ao aumento dos custos que não obstante é a sua causa assim também aparece aqui um fenômeno semelhante A queda do investimento de capital no sentido indicado acima a queda paralela da atividade empresarial e a estag nação das indústrias de bens de produção podem ocorrer por exemplo antes que o boom tenha atingido o seu ponto culminante externamente no que concerne à lógica do processo mas não é necessário que ocorram Pelo contrário se esses sintomas ocorrerem regularmente antes do fim do boom é porque estão sob a influência de fatores que antecipam com relativa rapidez o que está por vir Em segundo lugar contudo muitas circunstâncias fazem com que no curso efetivo dos aconteci mentos elementos secundários freqüentemente se destaquem com maior proeminência do que os primários A ansiedade dos prestamistas por exemplo se expressa numa elevação da taxa de juros e somente quando a depressão já estiver avançada é que aparece o efeito que pela natureza das coisas apareceria bem cedo no curso normal dos acontecimentos A redução da demanda de trabalho deveria ser um OS ECONOMISTAS 222 190 O fenômeno em discussão agora deve ser distinguido da diminuição do investimento im plicada na contração de crédito pela liquidação da dívida Referese aqui ao investimento para propósitos novos adicionais E as estatísticas da emissão de ações e títulos que na prática são um bom índice dos negócios Spiethoff refletem principalmente embora não unicamente um terceiro elemento a consolidação do crédito bancário mediante poupança sintoma muito inicial da mudança mas assim como os salários não sobem imediatamente na prosperidade porque via de regra há tra balhadores desempregados também os salários e o montante de em prego em geral não caem tão rapidamente quanto seria de se esperar porque aparece uma série de obstáculos bem conhecidos O mundo dos negócios tenta defenderse de uma queda nos preços e ali onde a con corrência não é completamente livre como na prática não é em lugar nenhum e quando os bancos emprestam o seu apoio ele resiste com sucesso temporário de modo que o nível máximo de preços freqüen temente é posterior ao ponto de reversão Estabelecer todas essas coisas é uma tarefa fundamental da investigação das crises Mas aqui é suficiente declarar sem maiores fundamentações que tudo isso não altera a essência da questão mais do que os fenômenos análogos em outros campos aos quais me referi acima sustentam objeções à teoria dos preços O curso dos acontecimentos em períodos de depressão apresenta um quadro de incerteza e irregularidade que interpretamos do ponto de vista de busca de um novo equilíbrio ou de adaptação a uma situação geral que mudou de maneira relativamente rápida e considerável A incerteza e a irregularidade são bastante compreensíveis Os dados costumeiros se alteram para todos os negócios A extensão e a natureza da mudança contudo só podem ser apreendidas com a experiência Há novos concorrentes deixam de aparecer antigos fregueses e distri buidores devese encontrar a atitude correta para com fatos econômicos novos a qualquer momento podem ocorrer acontecimentos imprevisí veis recusas inesperadas de crédito O mero homem de negócios se defronta com problemas que estão fora de sua rotina problemas aos quais não está acostumado e em face dos quais comete erros que se tornam então uma importante causa secundária de novos transtor nos A especulação é uma outra causa devido aos reveses que ela traz aos especuladores assim como pelo fato de que estes antecipam uma queda posterior dos preços de modo que todos esses elementos conhe cidos se incrementam mutuamente O resultado final não pode ser visto claramente em nenhuma parte pontos fracos que em si nada têm a ver com a crise podem vir à tona em qualquer lugar A contração dos negócios ou sua extensão podem finalmente mostrarse como o tipo correto de reação sem que seja possível no momento propor razões confiáveis para uma ou outra Essa complicação e a pouca clareza da situação da qual na minha opinião a teoria faz um uso injustificado para explicar as causas da depressão tornase realmente um fator importante nos casos objetivos A incerteza dos dados e valores envolvidos no novo ajuste as perdas que aparentemente ocorrem de modo irregular e não passível de cálculo criam a atmosfera característica dos períodos de depressão De modo especial sofrem os elementos especulativos que formam o juízo da bolsa de valores e que na prosperidade são tão significativos SCHUMPETER 223 comercial e socialmente As condições parecem essencialmente piores do que são para muitas pessoas particularmente para a classe espe culativa e para os produtores de bens de luxo que dependem parcial mente da sua demanda para eles parece que chegou o fim de tudo O ponto de reversão aparece subjetivamente para os produtores es pecialmente se eles resistem à queda inevitável dos preços como uma deflagração da superprodução latente até então e a depressão como sua conseqüência A invendabilidade das mercadorias já produzidas ainda mais a das produzíveis a preços que cobrem os custos provoca o conhecido fenômeno posterior da carência de dinheiro possivelmente o da insolvência que é tão típico que todas as teorias do ciclo econômico devem estar em condição de explicálo A nossa teoria o faz como o leitor pode ver mas não utiliza esse fato típico como uma causa primária e independente191 A superprodução é acentuada pela distorção do boom que já notamos e explicamos Essa circunstância por um lado e por outro a discrepância entre a oferta efetiva e a demanda efetiva que deve ocorrer em muitas indústrias durante a depressão tornam possível descrever a forma externa da depressão na linguagem de várias teorias da desproporcionalidade O âmago de todas essas teorias está na ma neira com que tentam explicar o aparecimento da desproporcionalidade e nas quantidades particulares entre as quais se considera que existe desproporcionalidade Para nós a desproporcionalidade entre quanti dades e preços de bens que aparece em muitos pontos por causa da perda do equilíbrio no sistema econômico é um fenômeno intermediário exatamente como a superprodução e não é uma causa primária Em relação a isso pode haver desproporcionalidade entre as rendas das indústrias individuais mas não entre as rendas das diferentes classes econômicas pois os lucros empresariais não demonstram nenhuma pro porção normal com as rendas das outras pessoas que poderiam ser prejudicadas e as outras rendas com a exceção das fixadas em termos monetários têm a tendência a moverse pari passu e a ganhar ou perder terreno à custa ou em vantagem das rendas fixas deixando inalterada a demanda total dos consumidores OS ECONOMISTAS 224 191 Toda teoria das crises em que a superprodução desempenha o papel de uma causa ou mesmo de uma causa primária pareceme estar exposta à objeção de raciocinar circularmente à parte a objeção já formulada por Say mesmo que não afirme a superprodução geral Desse jul gamento devo excluir a teoria de Spiethoff Os argumentos muito curtos com que ele tenta fundamentar a superprodução periódica de bens para o consumo reprodutivo não permitem nenhum julgamento final Além disso devese observar que o objetivo de Spiethoff é uma análise penetrante de todos os detalhes do problema Os elementos que governam o aspecto externo certamente cabe aqui a estagnação nas indústrias produtoras de meios de produção são realmente em relação às causas primárias muito mais importantes para tal análise do que para uma exposição como esta Finalmente na ênfase dada às indústrias produtoras de meios de produção há uma referência aos fatores que em minha opinião constituem a natureza do problema de modo que não é absolutamente correto descrever a análise de Spiethoff simplesmente como uma teoria da superprodução uma exposição mais detalhada de sua teoria mostraria talvez uma concordância ainda maior do que suponho agora A distorção do boom tem a conseqüência entre outras de que a pressão e o perigo na situação não tenham a mesma dimensão para todos os ramos da indústria A experiência também ensina como Af talion192 já demonstrou que muitos ramos não são em absoluto pre judicados outros o são relativamente pouco Dentro de cada indústria os novos empreendimentos geralmente se comprometem consideravel mente mais do que os já estabelecidos o que parece contradizer a nossa interpretação Isso deve se explicar da seguinte maneira uma empresa antiga tem o amortecedor da quaserenda e o que é mais importante geralmente tem reservas acumuladas Está envolvida em relações protetoras em geral é apoiada com segurança por ligações bancárias de muitos anos Pode estar perdendo terreno há anos sem que os seus credores fiquem apreensivos Portanto resiste muito mais tempo do que um novo empreendimento que é fiscalizado rigorosa mente e mantido sob suspeita que não tem reservas mas no máximo apenas facilidade de saque a descoberto e que só precisa dar um sinal de embaraço para ser considerado um mau devedor Assim a reação da mudança de todas as condições sobre os novos empreendimentos pode tornarse visível mais cedo e mais destacadamente do que as condições sobre as empresas antigas E portanto nos primeiros tal reação leva muito mais facilmente à conseqüência final à falência do que nas últimas em que mais provavelmente inicia uma queda lenta Isso distorce a imagem da realidade e é também a razão por que nas crises só se pode falar em um processo seletivo com uma significativa classificação pois a firma que tiver maior sustentação e não a que em si é mais perfeita é a que tem maior chance de sobreviver à crise Mas isso não afeta a natureza do fenômeno 5 Embora seja evidente que o processo de ajustamento e reabsorção que compõe o período de depressão causa incômodos aos elementos mais vigorosos do sistema econômico os que fazem mais no sentido de criar o estado de espírito do mundo de negócios e embora tal processo aniquile necessariamente muitos valores e existências mesmo que tudo ocorra com perfeição ideal sua natureza e seus efeitos no entanto seriam captados inadequadamente se fossem vistos apenas pelo as pecto da cessação do impulso à prosperidade ou descritos meramente por características negativas Há nela mais aspectos agradáveis que são muito mais característicos dela do que as coisas que acabamos de indicar Primeiro a depressão conduz como já foi colocado a uma nova SCHUMPETER 225 192 Les Crises Périodiques de Surproduction Livro Primeiro Na verdade destacase muito mais claramente o outro fato diferente do que temos em vista aqui de que o movimento cíclico é sempre marcado de maneira particularmente forte nas indústrias produtoras de novas plantas Evidentemente isso não entra em contradição com a interpretação aqui apresentada antes pelo contrário posição de equilíbrio Para nos convencermos de que tudo o que acontece nela deve ser realmente compreendido desse ponto de vista e é só aparentemente sem sentido e anormal consideremos uma vez mais o comportamento dos indivíduos num período de depressão Devem eles se adaptar à perturbação causada pelo boom ou seja pelo aparecimento de grupos de combinações novas e de seus produtos pelo seu apare cimento lado a lado com as antigas firmas e pela unilateralidade de seu aparecimento As firmas antigas ou seja teoricamente todas as existentes com exceção das formadas no boom e também com ex ceção na prática das afastadas do perigo por uma posição de monopólio pela posse de vantagens peculiares ou de técnica especial duradoura se defrontam com três possibilidades decair se forem inadaptáveis por razões objetivas ou pessoais recolher as velas e tentar sobreviver numa posição mais modesta finalmente com seus próprios recursos ou com a ajuda externa mudar para outra indústria ou adotar outros métodos técnicos ou comerciais que significam aumentar a produção a um custo menor por unidade As novas firmas precisam passar pelo seu primeiro teste que é muito mais difícil do que aquele pelo qual teriam que passar se aparecessem continuamente e não em grupos Uma vez estabelecidas devem ser incorporadas apropriadamente ao fluxo circular e mesmo que não tenha sido cometido nenhum erro quando foram fundadas deve haver muito o que corrigir sob vários aspectos Enfrentam problemas e possibilidades semelhantes aos que as antigas firmas enfrentam mesmo que por causas diferentes e se cundárias e como mencionado acima são em muitos aspectos menos capacitadas a lidar com eles do que as antigas A conduta característica dos homens de negócios na depressão consiste em medidas correção de medidas e novas medidas para resolver esse problema todos os fenômenos à parte o pânico sem fundamento nos fatos e as conse qüências de erros que caracterizam o curso anormal dos aconteci mentos em uma crise podem ser incluídos nessa concepção da si tuação criada pelo boom e da conduta dos homens de negócios por ele forçada da perturbação do equilíbrio e da reação a ela da mudança dos dados e da adaptação a ela seja bemsucedida ou abortiva Exatamente como a luta por uma nova posição de equilíbrio que incorporará as inovações e dará expressão aos seus efeitos sobre as empresas antigas assim é o significado real de um período de depressão como o conhecemos pela experiência assim também pode demonstrar do mesmo modo que essa luta deve efetivamente conduzir a uma es treita aproximação com uma situação de equilíbrio por um lado o impulso que impele o processo de depressão teoricamente não pode parar até que tenha feito a sua parte tenha realmente conduzido a uma nova posição de equilíbrio por outro lado nenhuma perturbação nova na forma de um novo boom pode até então surgir do sistema econômico em si mesmo A conduta dos homens de negócios no período OS ECONOMISTAS 226 de depressão é inteiramente regida pelo princípio do prejuízo efetivo ou iminente Mas prejuízos ocorrem ou são iminentes não necessa riamente em todo o sistema econômico mas nas partes expostas ao perigo enquanto todos os estabelecimentos e assim o sistema como um todo não estiverem em equilíbrio estável o que na prática é o mesmo que dizer até que produzam novamente a preços que aproxi madamente cubram os custos Em conseqüência há depressão teori camente enquanto tal equilíbrio não for em grande parte alcançado E nem esse processo será interrompido por um novo boom antes que tenha desempenhado sua parte nesse sentido Pois até então necessa riamente há incerteza sobre quais serão os novos dados o que torna impossível o cálculo de combinações novas e torna difícil obter a coo peração dos fatores requeridos Ambas as conclusões se ajustam aos fatos se se mantiver em vista as qualificações seguintes Algum co nhecimento do movimento cíclico e de seu mecanismo que é peculiar ao moderno mundo dos negócios permite aos homens de negócios prever o boom que virá e especialmente os seus fenômenos secundários quando o pior tiver passado a adaptação de muitos indivíduos e assim de muitos valores ao novo equilíbrio freqüentemente é retardada ou evi tada pela expectativa de que se eles pelo menos conseguirem resistir o que em geral é do interesse de seus credores facilitar poderão liquidar as dívidas em termos favoráveis no próximo boom ou não achar necessário liquidálas o que é especialmente importante em épocas mais prósperas e salva muitas empresas que realmente não são aptas para sobreviver assim como muitas que o são mas de qualquer modo retarda ou evita que se alcance uma posição firme de equilíbrio A trustificação progressiva da vida econômica facilita a continua ção permanente de desajustes dentro dos próprios conglomerados gran des e conseqüentemente fora deles pois na prática só pode haver equi líbrio completo se houver livre concorrência em todos os ramos da produção Além disso em conseqüência da força financeira de algumas empresas especialmente das mais antigas o ajuste nem sempre é muito urgente não é uma questão imediata de vida ou de morte Há também a prática de ser o apoio externo estendido a empresas ou a indústrias inteiras em dificuldades por exemplo os subsídios governamentais dados com a suposição de bona ou mala fide de que a dificuldade é apenas temporária criada por circunstâncias exógenas Em tempo de depressão também há freqüentemente um clamor por tarifas protecio nistas Tudo isso atua da mesma maneira que a força financeira das firmas antigas Além disso há o elemento acaso por exemplo uma boa colheita que ocorra no momento certo Finalmente as anormali dades no curso da depressão às vezes têm o efeito de produzir excesso de compensações se por exemplo um pânico injustificado tiver depreciado indevidamente as ações de uma empresa e em conseqüência começar nessas ações um movimento corretivo ascendente esse movimento para SCHUMPETER 227 cima pode por sua vez ultrapassar os limites manter as ações a uma cotação impropriamente alta e conduzir a um pequeno pseudoboom que em certas circunstâncias pode durar até que comece um real Evidentemente a posição alcançada no fim nunca corresponde completamente ao quadro teórico de um sistema sem desenvolvimento no qual não haveria mais renda sob a forma de juro Somente a duração relativamente curta das depressões evita isso Não obstante sempre ocorre a aproximação de uma posição sem desenvolvimento e esta sendo relativamente estável pode ser de novo um ponto de partida para a realização de novas combinações Nesse sentido portanto che gamos à conclusão de que conforme nossa teoria deve sempre haver um processo de absorção entre dois booms terminando numa posição que se aproxima do equilíbrio cuja execução é a sua função Isso é importante para nós não só porque existe efetivamente uma tal posição intermediária e a sua explicação é uma incumbência de qualquer teoria do ciclo mas também porque apenas a prova da necessidade de uma tal posição periódica de quaseequilíbrio completa o nosso argumento Porque começamos com uma posição a partir da qual surge a onda de desenvolvimento sem levar em conta se ou quando historicamente foi este o caso Poderíamos até mesmo assumir meramente um estado estático inicial para deixar que se destacasse claramente a natureza da onda Mas para que a nossa teoria explique a essência do fenômeno não é suficiente que uma baixa siga efetivamente todas as cristas das ondas deve fazêlo necessariamente o que não pode simplesmente ser suposto nem pode uma prova ser substituída por indicar o fato Por essa razão pareceu ser necessário nessa seção usar certa dose de formalismo Em segundo lugar à parte a assimilação das inovações que acaba de ocupar a nossa atenção o período de depressão faz algo mais que não salta tanto à vista quanto os fenômenos aos quais deve o seu nome cumpre o que o boom prometeu E esse efeito é duradouro ao passo que os fenômenos sentidos como desagradáveis são temporários A corrente de bens é enriquecida a produção parcialmente reorganizada os custos de produção diminuídos193 e o que a princípio aparece como lucro empre sarial incrementa depois as rendas reais permanentes de outras classes OS ECONOMISTAS 228 193 Falamos duas vezes dos efeitos do boom no aumento dos custos primeiro a demanda dos empresários impulsiona para cima os preços dos bens de produção depois a demanda que se segue das pessoas que vêm nas ondas secundárias de desenvolvimento os impulsiona ainda mais Esses custos crescentes não têm nada a ver com a elevação secular sustentada pelos economistas clássicos com base em sua suposição de uma progressiva ultrapassagem das possibilidades de produção de meios de subsistência pelo aumento da população Ora os custos decrescentes em questão acima não são o complemento desses custos crescentes em termos monetários São a conseqüência do progresso produtivo realizado pelo boom e significam uma queda dos custos reais por unidade de produto primeiro nos novos em preendimentos em relação aos antigos depois também nestes últimos uma vez que devem se adaptar por exemplo reduzindo sua produção e se restringindo às melhores possi bilidades ou desaparecer Depois de todo boom o sistema econômico enquanto tal produz a unidade de produto com menor dispêndio de trabalho e terra Essa conclusão que resulta da nossa teoria cf também o capítulo IV se justifica a despeito de inúmeros obstáculos com que esses efeitos se defrontam de início pelo fato de que o quadro econômico de um período normal de depressão194 não é tão negro como levaria a crer o estado de espírito que o permeia Deixandose de lado o fato de que grande parte da vida econômica permanece em geral quase intocada o volume físico do total de transações na maioria dos casos só cai em proporção insigni ficante Como são exageradas as concepções populares quanto aos danos causados por uma depressão se demonstra por qualquer investigação oficial sobre as crises195 Isso não vale apenas para a análise em termos de bens mas também em termos de dinheiro a despeito do fato de que o movimento cíclico acarretando inflação na prosperidade e deflação na depressão deve ser especial e fortemente marcado na expressão monetária A renda total não cresce no boom nem cai na depressão mais do que de 8 a 12 se comparada aos números para os anos médios mesmo nos Estados Unidos Mitchell onde a intensidade do desenvolvimento presumivelmente faz com que as flutuações sejam marcadas mais fortemente do que na Europa Aftalion já demonstrou que a queda dos preços durante a depressão cons titui apenas uma porcentagem baixa da média e que as flutuações real mente grandes têm suas causas nas condições especiais dos artigos indi viduais e têm pouco a ver com o movimento cíclico O mesmo pode ser demonstrado para todos os movimentos gerais realmente grandes como por exemplo o período do pósguerra Quando desaparecerem os fenômenos do curso anormal dos acontecimentos pânico epidemia de falências etc que estão se tornando cada vez mais fracos e com eles a ansiedade quanto a perigos incalculáveis a opinião pública também julgará diferen temente as depressões Entendemos o verdadeiro caráter de um período de depressão quan do consideramos o que ele traz para diferentes categorias de indivíduos e o que delas tira sempre abstraindo os fenômenos relativos ao curso anormal dos acontecimentos que aqui não tem nenhum interesse Tal período retira a possibilidade de lucro dos empresários e de todos os seus seguidores em especial dos que fortuita ou especulativamente se benefi ciam dos frutos da alta dos preços durante o boom vantagem que SCHUMPETER 229 194 Evidentemente a depressão do pósguerra não foi normal Em minha opinião é um erro tentar compreender os resultados gerais da teoria do ciclo econômico no material do pós guerra Mas é um erro cometido freqüentemente Assim muitos juízos dos modernos tera peutas das crises por meio da política creditícia se explicam pelo fato de que eles afirmam para o movimento cíclico normal o que só é verdadeiro para a crise do pósguerra 195 Cf por exemplo as de Verein für Sozialpolitik ou os relatórios ingleses no período das depressões predominantes anterior a 1895 como o famoso Third Report on the Depression of Trade Investigações acuradas são apenas de data mais recente como por exemplo no Special Memorandum no 8 do London and Cambridge Economic Service de J W F Rowe ou para os Estados Unidos os dados e estimativas no Report of a Committee of the Presidents Conference on Unemploymente Um método interessante que leva ao mesmo resultado para o ano de 1921 embora este não tenha sido simplesmente um ano de depressão cf a nota precedente devese a C Snyder in Administration Maio de 1923 especialmente no caso da especulação só é substituída de modo muito imperfeito pelas possibilidades do mercado surgidas na baixa No caso normal o empresário obteve o seu lucro e o incorporou às empresas agora estabelecidas e ajustadas mas não obtém mais nenhum lucro pelo contrário é ameaçado pelos prejuízos No caso geral seu lucro empresarial secaria sua outra renda empresarial estaria em seu mí nimo mesmo no curso ideal dos acontecimentos No curso real dos acontecimentos sobrevêm muitas influências adversas embora mitiga das por alguns fatores já mencionados As pessoas ligadas aos estabe lecimentos antigos que agora estão sendo sobrepujados na concorrên cia evidentemente sofrem Os que têm rendas monetárias fixas ou rendas que só se alteram depois de um longo tempo tais como pen sionistas rentistas funcionários públicos e proprietários de terra que a tiverem alugado por um longo período são os típicos beneficiários da depressão O conteúdo em mercadorias de suas rendas monetárias que é comprimido na prosperidade agora se expande e na verdade em princípio deve se expandir mais do que foi comprimido antes como já foi demonstrado cf acima 3 em terceiro lugar Os capitalistas com investimentos de curto prazo ganham pelo aumento do poder de compra da unidade da renda e do capital e perdem pela taxa de juros mais baixa teoricamente devem perder mais do que ganham mas numerosas circunstâncias secundárias por um lado o perigo de pre juízo por outro prêmios altos de riscos e demanda em pânico retiram desse teorema sua importância prática Os proprietários de terra cujas rendas da terra não estiverem fixadas em dinheiro por contratos de longos períodos acima de tudo portanto o agricultor proprietário estão no fundamental exatamente na mesma posição que os tra balhadores de forma que aquilo que se argumentar agora quanto aos trabalhadores também é válido para eles As diferenças importantes na prática que não se podem considerar teoricamente são conhecidas de modo tão generalizado que não entraremos no mérito delas196 No boom os salários devem subir Porque a nova demanda pri meiro a dos empresários e depois a de todos os que aumentam as operações com a alta da onda secundária é direta ou indiretamente de modo especial uma demanda de trabalho Portanto primeiro o em prego deve crescer e com ele a soma total dos salários do trabalho depois a taxa do pagamento de salários e com ela a renda do trabalhador individual É dessa elevação dos salários que provém o aumento da demanda por bens de consumo que resulta na elevação do nível geral de preços E como parte das rendas dos proprietários de terra os quais OS ECONOMISTAS 230 196 Do mesmo modo não é necessário dedicarnos aqui aos diferentes graus em que a depressão afeta as diferentes indústrias por exemplo as indústrias de bens de luxo mais do que as produtoras de alimentos O que há de interesse teórico nisso já foi referido em vários tópicos deste capítulo teoricamente são da mesma categoria e importância que os trabalha dores capítulo I não se eleva com os salários pelas razões mencio nadas tampouco crescem as rendas fixas o aumento dos salários totais não é meramente nominal mas equivale a uma maior renda real do trabalho e esta por sua vez a uma maior participação no produto social que não cresceu até então Esse é um caso especial de uma verdade geral nenhuma inflação pode ser imediatamente prejudicial aos interesses dos trabalhadores se e na medida em que o novo poder de compra deve primeiro atuar sobre os salários antes que possa afetar os preços dos bens de consumo É apenas na medida em que este não for o caso ou em que a elevação dos salários se defrontar com obstáculos externos como por exemplo na Guerra Mundial que os salários podem ficar de fasados197 da maneira tão freqüentemente retratada Se na verdade for o veículo de um excesso no consumo como por exemplo se uma guerra for financiada pela inflação o empobrecimento conseqüente198 do sistema econômico também deve reagir sobre a posição dos trabalhadores mesmo que não tão severamente quanto sobre a posição de outros grupos de indivíduos Mas em nosso caso ocorre exatamente o oposto Numa depressão o poder de compra da unidade de salário cresce Por outro lado cai a expressão monetária da demanda efetiva de tra balho em conseqüência da deflação automática que o boom provoca Na medida em que ocorresse apenas isso a demanda efetiva e real199 SCHUMPETER 231 197 A verificação estatística dessa teoria se defronta com várias dificuldades Antes de tudo os nossos dados sobre os preços a varejo dos artigos consumidos pelos trabalhadores não se reportam suficientemente ao passado com a amplitude desejável e o simples movimento dos salários monetários obviamente não significa nada fundamentaria a nossa tese é ver dade se fosse possível contentarse com eles A medida do aumento do emprego é ainda menos satisfatória e no entanto não podemos passar sem ela Pelo que eu sei não era mesmo possível antes da guerra medir o trabalho em tempo parcial e o desemprego completo apenas com a ajuda dos dados dos sindicatos e de censos ocasionais Hoje em dia a tentativa teria maior êxito mas por razões já mencionadas apenas as cifras de antes da guerra entram em consideração para os nossos objetivos Já temos um trabalho que tenta encontrar exatamente o que precisamos a saber o de WOOD G H Real Wages and the Standard of Comfort since 1850 In Journal of the Royal Statistical Society Março de 1909 Esse trabalho se reporta até 1902 e confirma a nossa expectativa Todavia na virada do século apareceu o movimento de preços nãocíclico e nesse sentido secular que distorce o quadro e também implica uma aberração das linhas do movimento cíclico De acordo com a conti nuação da obra de Wood feita pelo Professor Bowley e também segundo o trabalho da Sra WOOD The Course of Real Wages in London 19001912 in Journal of the Royal Statistical Society dezembro de 1913 e o de HANSEN A H Factors Affecting the Trend of Real Wages in American Economic Review março de 1925 que na verdade não estão preo cupados com o aumento do emprego a teoria não se ajusta aos fatos Mas é fácil ver que nossa conclusão seria confirmada se a elevação secular dos preços fosse eliminada Quanto à questão da conexão entre a produção de ouro e o nível de salários cf PIGOU Economic Journal junho de 1923 A argumentação que se segue agora no texto é suficientemente apoiada pelos números Os salários reais caem regularmente na depressão no entanto apenas numa parte do montante a que subiram no boom Isso é exatamente o que deveríamos esperar 198 Mesmo sem o emprego de métodos financeiros inflacionários apareceria o empobrecimento e as suas conseqüências e portanto também a inflação relativa no caso de uma quantidade relativamente constante de meios de pagamento O texto se refere à intensificação dos efeitos que o papelmoeda ou a inflação creditícia trazem consigo de trabalho poderia permanecer sem perturbações A renda real do trabalho então seria ainda não apenas mais alta do que na posição anterior de equilíbrio aproximado mas também do que no boom Pois o que antes era lucro empresarial vai teoricamente e de acordo com a nossa concepção em seu todo mas na prática apenas de modo gradual e incompleto para os serviços do trabalho e da terra na medida em que não for absorvido pela queda do preço do produto capítulo IV Mas as circunstâncias abaixo enumeradas o evitam temporaria mente e ocasionam a queda temporária da renda real que é efetiva mente mostrada pelas estatísticas ao passo que a elevação final que deve ser esperada em conformidade com a nossa teoria é em geral ofuscada na realidade pelo aparecimento do boom seguinte a Primeiro os fatos que chamamos de incerteza e irregularidade aparente dos dados e acontecimentos no período de depressão ainda mais o pânico e os erros no curso anormal dos fatos transtornam muitas empresas e reduzem outras por certo tempo à ociosidade Isso deve resultar entre outras coisas em desemprego cujo caráter essen cialmente temporário não altera o fato de que é para os envolvidos um grande revés em certas circunstâncias aniquilador e de que o medo do desemprego contribui substancialmente para o clima de de pressão simplesmente por causa da imprevisibilidade da sua ocor rência Este desemprego é típico dos períodos de depressão e é a fonte de ofertas de trabalho movidas pelo pânico resultando assim na perda de muito terreno ganho pela ação sindical e às vezes embora não necessariamente numa severa pressão sobre os salários cujo efeito pode ser maior do que se poderia pensar tendo em vista o número de desempregados b Devemos distinguir dessas coisas o fato de que os novos em preendimentos eliminam completamente os estabelecimentos antigos ou então os forçam a restringir suas operações Opondose ao desem prego assim causado há seguramente a nova demanda de trabalho para a realização de novas combinações O exemplo da ferrovia e da diligência mostra com quanta freqüência essa demanda contrabalança o desemprego criado Mas isso não é necessariamente assim e mesmo que fosse pode haver dificuldades e conflitos que com o funcionamento incompleto do mercado de trabalho têm um peso desproporcionalmente alto na balança c A nova demanda de trabalho mencionada acima que surge quando a prosperidade está em plena marcha também perde impor OS ECONOMISTAS 232 199 Esse novo conceito significa aqui simplesmente a demanda expressa em unidades de um padrão ideal que não sofre mudanças cíclicas do tipo provocado por alterações na quantidade de meios de circulação assim indica apenas as mudanças reais na demanda total de trabalho e não as que são meramente nominais tância pelo fato de que eventualmente cessa a demanda dos empresários pelo trabalho que criou os novos investimentos d Via de regra o boom significa afinal um passo na direção da mecanização do processo produtivo e assim necessariamente uma diminuição do trabalho requerido por unidade de produto e freqüen temente embora não necessariamente implica também uma diminui ção da quantidade de trabalho requerido na indústria em questão a despeito da extensão da produção que ocorre Demonstrase assim que o desemprego tecnológico é uma parte integrante do desemprego cíclico e não deve ser colocado em oposição a este como se não tivesse nada a ver com o ciclo Esse elemento presente praticamente em toda depressão acar reta dificuldades grandes e dolorosas mas em sua maior parte apenas transitórias200 Pois a demanda real total de trabalho não pode em geral cair permanentemente porque deixando de lado todos os ele mentos compensadores e todos os secundários o gasto da parte do lucro empresarial que não é aniquilado pela queda dos preços neces sariamente é mais do que suficiente para evitar qualquer contração duradoura Mesmo que tal lucro fosse gasto apenas em consumo de veria se converter em salários e em renda da terra pois repito que tudo o que foi dito aqui também vale teoricamente para eles Quando e na medida em que for investido ocorre um aumento da demanda real de trabalho e O boom diretamente ou por seus efeitos pode baixar perma nentemente a demanda de trabalho apenas de uma maneira se nas novas combinações desloca a relativa significação marginal do trabalho e da terra que era obtida nas antigas combinações produtivas com suficiente desvantagem do trabalho Então não apenas pode cair per manentemente a participação do trabalho no produto social mas tam bém o montante absoluto de sua renda real Mais importante do que esse caso na prática mas também não necessariamente de natureza permanente é um deslocamento na demanda em favor dos meios de produção produzidos já existentes Com essa ressalva retornamos então à nossa conclusão de que a natureza econômica da depressão reside na difusão das conquistas do boom por todo o sistema econômico por meio do mecanismo da luta pelo equilíbrio e que somente reações temporárias que apenas em parte são necessárias ao sistema é que obscurecem esse traço funda mental e produzem o clima expresso pela palavra depressão assim como a repercussão que apresentam até mesmo aqueles índices que não pertencem ou não exclusivamente à esfera do dinheiro do crédito SCHUMPETER 233 200 Quanto a isso cf meu artigo Das Grundprinzip der Verteilungslehre In Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik t 42 e dos preços e não refletem simplesmente a deflação automática ca racterística de períodos de depressão 6 A irrupção de uma crise desencadeia um curso anormal de acon tecimentos ou origina o que é anormal no curso dos acontecimentos Como foi mencionado isso não levanta nenhuma questão téorica nova Nossa análise nos mostra que o pânico as falências os colapsos do sistema creditício etc não precisam mas podem facilmente aparecer no momento em que a prosperidade dá lugar a depressão O perigo persiste por algum tempo mas é tanto menor quanto mais completa mente o processo de depressão tiver feito o seu trabalho201 Se ocorrer pânico então os erros que se cometem em tal situação ou que sim plesmente ganham relevo com ela as condições da opinião pública etc tornamse causas independentes o que não poderiam ter sido no curso normal dos acontecimentos tornamse causas de uma depressão que apresenta traços diferentes e conduz a resultados finais diferentes do normal O equilíbrio que finalmente se estabelece aqui não é o mesmo que se teria estabelecido em outras circunstâncias Os erros graves e a ruína em geral não podem ser corrigidos e reparados novamente e criam situações que por sua vez têm outros efeitos os quais devem se esgotar significam novas perturbações e forçam processos de adap tação que de outro modo seriam dispensáveis Essa distinção entre o curso normal e o anormal de acontecimentos é muito importante não apenas para a compreensão da natureza da coisa mas também para as questões teóricas e práticas a ela relacionadas Vimos em contraste com a doutrina que vê o ciclo econômico essencialmente como um fenômeno monetário ou como um fenômeno que tem sua raiz no crédito bancário e que hoje está especialmente associada aos nomes de Keynes Fisher e Hawtrey e à política do Federal Reserve Board que nem os lucros de um boom nem os prejuízos de OS ECONOMISTAS 234 201 À medida que prossegue a depressão tornase cada vez menor o perigo de um colapso do sistema econômico e de sua estrutura creditícia Essa afirmação é compatível com o fato de que a maioria das falências não ocorre exatamente no ponto de reversão nem próximo a ele mas só mais tarde às vezes só quando já passou o perigo para o sistema econômico Pois mesmo um golpe mortal em uma firma não causa necessariamente sua falência ime diata Pelo contrário todas resistem o tempo que for possível E a maioria das firmas pode fazêlo por um período maior ou menor Elas ficam esperando e com elas os seus credores por tempos mais favoráveis Ponderam recorrem a artifícios buscam novos pontos de apoio às vezes com sucesso às vezes ao menos com o êxito bastante para tornar possível uma liquidação com acordo mais freqüentemente é verdade sem êxito mas mesmo então a luta mortal resulta no adiamento da falência ou da reorganização em geral até o próximo movimento ascendente de modo que a submersão ocorre quando já se avista a terra Esse não é o resultado de novos contratempos cujo perigo se reduz progressivamente mas é a conseqüência final do que aconteceu há muito tempo Aqui como em outros lugares estamos interessados nas causas primárias e na feição característica da explicação não na questão de quando as causas se tornam visíveis Isso cria uma discrepância aparente entre a nossa teoria e a observação Mas todas essas discrepâncias só podem se tornar objeções se se demonstrar que não estão satisfatoriamente explicadas uma depressão são desprovidos de sentido ou de função Pelo contrário onde o empresário privado em concorrência com os seus iguais ainda desempenha um papel eles são elementos essenciais do mecanismo do desenvolvimento econômico e não podem ser eliminados sem mutilar este último Esse sistema econômico não pode se realizar bem sem a ultima ratio da destruição completa dos elementos existentes que estão irrecuperavelmente associados aos inadaptados sem esperança Mas os prejuízos e a destruição que acompanham o curso anormal de acon tecimentos são realmente sem sentido e função A justificativa para as várias propostas de uma profilaxia e de uma terapia das crises se baseia principalmente neles O outro ponto de partida certo para uma política terapêutica é o fato de que mesmo a depressão normal ainda mais a anormal afeta indivíduos que não têm nada a ver com a causa e o significado do ciclo sobretudo os trabalhadores O remédio mais importante à la longue e o único que não está sujeito a nenhuma objeção é o aperfeiçoamento do prognóstico do ciclo econômico A familiaridade sempre crescente entre os homens de ne gócios e o ciclo juntamente com a trustificação progressiva é a razão principal para que estejam se tornando mais fracos os fenômenos da crise real202 não importando aqui acontecimentos como a Guerra Mundial e momentos como o período do pósguerra O adiamento de novas construções para os períodos de depressão ordenado pelos em preendimentos governamentais ou pelos grandes conglomerados apa rece do nosso ponto de vista como um abrandamento das conseqüências do aparecimento de grupos de combinações novas e como uma atenuação da inflação do boom e da deflação da depressão como um meio efetivo pois de amenizar o movimento cíclico e o perigo de crises Um aumento indiscriminado e geral das disponibilidades de crédito significa sim plesmente inflação exatamente como acontece com as emissões de pa pelmoeda pelo Governo É possível que esse aumento obstrua comple tamente o processo normal bem como o anormal E a ele se contrapõe não apenas a argumentação antiinflacionária em geral mas também o argumento de que ele destrói o critério de seleção que ainda pode ser atribuído à depressão e sobrecarrega o sistema econômico com os inadaptados e com as firmas que não têm condições para viver Em SCHUMPETER 235 202 A previdência exagerada também enfraquece o movimento cíclico normal Mas não pode evitálo como se reconhecerá caso nossa argumentação for esquadrinhada desse ponto de vista Portanto T S Adams vai longe demais quando afirma que Prever o ciclo é neu tralizálo É diferente o que acontece em relação ao elemento mencionado anteriormente 2 b em quarto lugar pelo qual no curso do tempo o desenvolvimento econômico se torna cada vez mais uma questão de cálculo Rechenstift Esse elemento é algo diferente da familiaridade e da previdência das quais estamos falando agora Também suaviza o movimento cíclico mas por outra razão tende a eliminar a causa fundamental do boom e portanto atua muito mais lentamente mas por tendência de modo muito mais completo do que a mera previsão do curso do movimento cíclico que é não obstante inevitável enquanto existir a causa É diferente também o que acontece com a trustificação esta suaviza o curso normal e o anormal dos acontecimentos pelas mesmas razões contraste com isso a restrição creditícia que comumente é empreendida pelos bancos assistematicamente e sem muita previdência aparece sob a luz de uma política que ao menos está aberta à discussão a política de curar o mal deixando que as suas conseqüências agudas sigam o seu curso Esse procedimento poderia ser suplementado por outras medidas que tornariam difícil aos produtores individuais resistir à ne cessária queda dos preços Mas também é concebível uma política cre ditícia por parte dos bancos individuais enquanto tais mas ainda mais por parte dos bancos centrais com a sua influência sobre o mundo bancário privado que diferenciaria entre os fenômenos relativos ao processo anormal que destroem e não têm função É verdade que essa política iria longe na direção de uma variedade especial de planeja mento econômico que aumentaria infinitamente a influência de fatores políticos sobre os destinos de indivíduos e de grupos Mas isso acarreta um julgamento político que não nos interessa aqui Os prérequisitos técnicos de tal política uma visão abrangente dos fatos e das possibi lidades de vida econômica e cultural embora teoricamente obteníveis com o tempo indubitavelmente não são disponíveis no presente Mas em teoria é conveniente estabelecer que essa política não é impossível e não deve ser classificada simplesmente como quimera ou como medida inadequada por natureza para a obtenção de seus fins ou finalmente como medida cujas reações contrárias são necessariamente mais do que suficientes para compensar seus efeitos diretos Os fenômenos do curso normal e os do curso anormal dos acontecimentos não são dis tinguíveis meramente em termos conceituais Na realidade são duas coisas diferentes e com um discernimento bastante profundo de modo que mesmo hoje em dia os casos concretos geralmente podem ser reconhecidos imediatamente como pertencentes a um ou ao outro Essa política teria que distinguir dentre as numerosas empresas ameaçadas pelo desastre em qualquer depressão dada aquelas que se tornaram obsoletas técnica ou comercialmente com o boom daquelas que pare cessem estar em perigo por circunstâncias reações e acidentes secun dários deixaria as primeiras sozinhas e apoiaria as últimas com con cessão de crédito E poderia ser bemsucedida no mesmo sentido em que uma política consciente de higiene racial pode levar a sucessos não obteníveis se as coisas forem deixadas a funcionar automatica mente De qualquer maneira contudo as crises desaparecerão antes do sistema capitalista do qual são filhas Mas nenhuma terapia pode obstruir permanentemente o grande processo econômico e social pelo qual as empresas as posições indivi duais as formas de vida os valores e ideais culturais descem de nível na escala social e finalmente desaparecem Numa sociedade com pro priedade privada e concorrência esse processo é o complemento ne cessário do aparecimento contínuo de novas práticas econômicas e so ciais e de rendas reais sempre crescentes em todos os estratos sociais OS ECONOMISTAS 236 O processo seria mais suave se não houvesse flutuações cíclicas mas não se deve completamente a estas últimas e se completa independen temente delas Essas mudanças são teórica e praticamente econômica e culturalmente muito mais importantes do que a estabilidade econô mica sobre a qual esteve concentrada por tanto tempo toda a atenção analítica E à sua maneira especial tanto a ascensão quanto a queda de famílias e empresas são muito mais características do sistema eco nômico capitalista de sua cultura e de seus efeitos do que qualquer das coisas que se podem observar numa sociedade que seja estacionária no sentido de que os seus processos se reproduzam a uma taxa constante SCHUMPETER 237 ÍNDICE TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Introducão 5 Nota do Tradutor da edição inglesa 17 Prefácio à edição inglesa 19 CAP I O fluxo circular da vida econômica enquanto condicionado por circunstâncias dadas 23 CAP II O fenômeno fundamental do desenvolvimento econômico 69 CAP III Crédito e capital 101 A natureza e a função do crédito 101 Capital 118 O mercado monetário 124 CAP IV O lucro empresarial 129 CAP V O juro sobre o capital 155 Observações preliminares 155 CAP VI O ciclo econômico 201 Observações preliminares 201
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
1
Gestao e Empreendedorismo - Objetivos Perfil e Fundamentos
Empreendedorismo
UMG
7
Empreendedorismo - Atividade 1
Empreendedorismo
UMG
6
Prova de Empreendedorismo
Empreendedorismo
UMG
1
Análise dos Casos de Recuperação Judicial: O Fracasso da Americanas
Empreendedorismo
UMG
12
Capitulo 4 -continuação Identificando Oportunidades
Empreendedorismo
UMG
6
Prova de Empreendedorismo 2
Empreendedorismo
UMG
7
Prova de Empreendedorismo
Empreendedorismo
UMG
2
Empreendedorismo e Oportunidades - Influência do Conhecimento Prévio e Mudanças Ambientais
Empreendedorismo
UMG
1
Analise Contabil Custos e Despesas na Producao de Bebidas Suco
Empreendedorismo
UMG
3
Projeto Integrador III Gestão Financeira EAD - Estudo de Caso Empreendedorismo
Empreendedorismo
UMG
Preview text
JOSEPH ALOIS SCHUMPETER TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE LUCROS CAPITAL CRÉDITO JURO E O CICLO ECONÔMICO Tradução de Maria Sílvia Possas Disponibilizado por Ronaldo DartVeiga Fundador VICTOR CIVITA 1907 1990 Editora Nova Cultural Ltda Copyright desta edição 1997 Círculo do Livro Ltda Rua Paes Leme 10º andar CEP 05424010 São Paulo SP Título original Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung Dunker Humblot Berlim Alemanha 1964 Publicado sob licença de Duncker Humblot Alemanha Tradução feita a partir do texto em língua inglesa intitulado The Theory of Economic Development traduzido por Redvers Opie por autorização especial de The President and Fellows of Harvard College Cambridge USA Direitos exclusivos da tradução deste volume Editora Nova Cultural Impressão e acabamento DONNELLEY COCHRANE GRÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA DIVISÃO CÍRCULO FONE 55 11 41914633 ISBN 8535109153 INTRODUÇÃO Existiram muitos Schumpeters o brilhante enfant terrible da Es cola Austríaca que antes de completar trinta anos havia escrito dois livros extraordinários o jovem causídico que chegou a advogar no Cairo o criador de cavalos o Ministro da Fazenda na Áustria o filósofo social e profeta do desenvolvimento capitalista o historiador das doutrinas eco nômicas o teórico de Economia que preconizava o uso de métodos e ins trumentos mais exatos de raciocínio o professor de Economia1 Ninguém melhor do que Paul Samuelson para sintetizar a ge nialidade e a versatilidade de Joseph Alois Schumpeter O elogio foi publicado inicialmente na Review of Economics and Statistics e pos teriormente na coletânea de trabalhos organizada por Seymeur E Harris em homenagem ao grande economista austríaco O dia 8 de fevereiro de 1983 é a data do centenário de nascimento de Schumpeter Nascido em Triesch na Morávia província austríaca hoje pertencente à Tchecoslováquia Schumpeter foi o único filho do fabricante de tecidos Alois Schumpeter Pouca coisa se sabe a respeito de seus pais exceto que a mãe Johanna era filha do médico Julius Gruner Joszi como era chamado na infância ficou órfão de pai com apenas quatro anos Sua mãe casouse novamente em 1893 com o te nentecoronel do Exército AustroHúngaro Sigismund von Keller A família passou então a viver em Viena onde Schumpeter concluiu o curso secundário com distinção Posteriormente ingressou na Facul dade de Direito da Universidade de Viena graduandose em 1906 Nessa época as universidades imperiais incluíam no estudo de Direito cursos e exames complementares de economia e ciência política Aluno aplicado Schumpeter dedicouse ao estudo da ciência econômica sem entretanto descuidarse do Direito Já formado decidiu viajar para a Inglaterra onde permaneceu 5 1 SAMUELSON Paul A Shcumpeter como Professor y Teorico de la Economia in Schumpeter Científico Social El Sistema Schumpeteriano Barcelona Ediciones de Occidente SA 1965 p 107 durante vários meses principalmente em Londres Na capital inglesa além de visitar Cambridge e Oxford manteve intensa vida social Em 1907 casouse com Gladys Ricarde Seaves filha de alto dignitário da Igreja Anglicana e doze anos mais velha que ele No mesmo ano o casal partiu para o Cairo onde Schumpeter advogou perante o Tribunal Misto Internacional do Egito sendo também conselheiro de finanças de uma princesa egípcia Motivos de saúde entretanto obrigaram o casal a retornar para Viena em 1909 Gladys voltou para a Inglaterra em 1914 lá permanecendo durante a I Guerra Mundial não retornando mais a Viena Em 1920 o casal divorciouse Schumpeter iniciou a vida universitária no mesmo ano em que retornou à Austria ou seja a partir de 1909 Nomeado professor de Economia da Universidade de Czernowitz capital da província de Bu kovina na parte oriental da Áustria hoje território da União Soviética Schumpeter passou dois anos bastante felizes É verdade que consi derava seus colegas extremamente provincianos e incultos embora os julgasse capazes em seus respectivos campos de atividade Foi em Czer nowitz aliás que teve início sua fama de enfant terrible Schumpeter costumava assistir às reuniões da Congregação Universitária com botas de montaria suscitando comentários desfavoráveis Mas para jantar a sós com a esposa vestiase a rigor Em 1911 convidado a lecionar na Universidade de Graz capital da província de Styria foi nomeado professor de Economia por decreto imperial graças à influência do economista austríaco BöhmBawerk Além de ser o mais jovem catedrático da Universidade a fama de enfant terrible criou um certo malestar entre os colegas da congregação A atmosfera pouco cordial obrigou Schumpeter a viajar freqüentemente para Viena Na qualidade de professor visitante passou o ano letivo de 191314 na Universidade de Colúmbia Nova York onde foi distinguido com um grau honorífico o de Litt D da Universidade de Colúmbia Pouco antes do início da I Guerra Mundial retornou a Viena aban donando a Universidade de Graz a partir de 1918 Não obstante con tinuou a pertencer ao quadro da congregação até 1921 Entre 1919 e 1924 decidido a dedicarse aos negócios e à política resolve afastarse das atividades docentes Com o Armistício o governo socialista alemão objetivando estudar e preparar a socialização da indústria cria uma comissão de estudos e convida Schumpeter para participar das discussões Nomeado membro da Comissão de Sociali zação de Berlim Schumpeter permanece no grupo durante três meses sua participação nesse trabalho fez com que se suspeitasse de suas convicções socialistas A suspeita entretanto não correspondia à ver dade Schumpeter tendia para o sistema capitalista embora acreditasse que o socialismo provavelmente triunfaria sobre o capitalismo Em março de 1919 aceitou o convite de Karl Renner socialista OS ECONOMISTAS 6 da ala direita do Partido Socialista Cristão para ser o Ministro da Fazenda do primeiro governo republicano da Áustria Mas permaneceu no cargo apenas dez meses Em seguida passou para a presidência do Banco Privado de Biedermannbank em Viena antiga e conceituada instituição financeira de pequeno porte O banco abriu falência em 1924 não somente devido às difíceis condições econômicas da época mas também e principalmente pela desonestidade de alguns de seus diretores Nessa aventura Schumpeter não só perdeu sua fortuna pes soal como ficou totalmente endividado pois não quis aproveitar a Lei da Falência preferindo pagar com seus bens pessoais a totalidade dos credores do banco Após essa desastrosa aventura empresarial resolveu retornar à vida universitária Recusou um convite para lecionar no Japão mas aceitou a docência na Universidade de Bonn como subs tituto do eminente economista liberal Heinrich Dietzel Schumpeter jamais esqueceria a oportunidade oferecida por essas universidades num momento de crise Antes de partir para Bonn casouse com Annie Reisinger jovem de 21 anos filha do porteiro do edifício onde residia sua mãe A jovem era conhecida da família havia muitos anos tanto que o próprio Schum peter e a mãe haviam cuidado de sua educação enviandoa para Paris e posteriormente para a Suíça Annie faleceu de parto após um ano de casamento deixando Schumpeter abalado para o resto da vida A esse rude golpe seguiuse no mesmo ano a morte da mãe com 75 anos Mas Schumpeter não permaneceu durante muito tempo em Bonn Em 1927 e 1928 lecionou na Universidade de Harvard nos Estados Unidos voltando a ensinar nessa faculdade no outono de 1930 Em 1932 decidido a fixar residência nos Estados Unidos abandonou de finitivamente a Universidade de Bonn Nunca mais voltou para a Ale manha ou Áustria embora tivesse visitado a Europa algumas vezes Estabeleceuse em Cambridge Massachusetts e adquiriu uma casa de campo em Taconic Connecticut onde viria a falecer durante o sono no dia 8 de janeiro de 1950 Ao iniciar a vida acadêmica em Harvard Schumpeter passara a residir na casa do Prof Taussig Em 1937 havia se casado novamente dessa vez com Elizabeth Boody des cendente de família da Nova Inglaterra e economista de méritos pró prios sua companheira inseparável até o final da vida Um dos fundadores da sociedade de Econometria Econometric Society cuja presidência exerceu de 1937 a 1941 Schumpeter foi eleito presidente da American Economic Association em 1948 e pouco antes de sua morte foi elevado à categoria de primeiro presidente da recém formada International Economic Association Schumpeter costumava afirmar que a capacidade criativa do ho mem estava em seu ponto mais alto entre os 20 e os 30 anos de idade Após esse período o trabalho intelectual apenas completava e ampliava aquilo que a mente humana produzira de criativo até os trinta anos SCHUMPETER 7 De fato quando tinha apenas 25 anos em 1908 portanto Schumpeter publicou sua primeira grande obra A Natureza e a Essência da Eco nomia Política Teórica Das Wesen und der Hauptinhalt der Theore tischen National Ökonomie e quatro anos mais tarde sua célebre Teoria do Desenvolvimento Econômico Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung obras que estabeleceram sua importância como teórico de Economia Ao completar 30 anos ainda escreveu a história de sua ciência Épocas da História dos Métodos e Dogmas Epochen der Dogmen und Methodengeschichte A essa evidente precocidade o Professor Ar thur Spiethoff rendeu a seguinte homenagem Não se sabe o que é mais notável se o fato de que um homem de 25 e 27 anos tenha dado forma aos próprios fundamentos de sua ciência ou se aos 30 anos tenha escrito a história daquela disciplina2 Ao completar 50 anos Schumpeter já havia escrito dezessete livros inclusive duas novelas e centenas de artigos e ensaios científicos Embora trabalhasse 84 horas semanais parecia insatisfeito com sua produção Achava que gastava muito tempo com aulas seminários e conselhos a estudantes e colegas não conseguindo produzir o suficiente para completar seu programa de contribuições à ciência econômica e à sociologia No conjunto de seus trabalhos destacase ainda o tratado sobre os Ciclos Econômicos Business Cycles 1939 cujo subtítulo elucida sua relação com o livro que comentaremos em seguida Uma Análise Teórica Histórica e Estatística do Processo Capitalista Foi a primeira obra que publicou como Professor da Universidade de Harvard Em 1942 publicou Capitalismo Socialismo e Democracia Capi talism Socialism and Democracy obra considerada por muitos como um trabalho pessimista por concluir pelo inevitável triunfo do socia lismo e o conseqüente desaparecimento do capitalismo A conclusão é decorrente do processo analítico desenvolvido por Schumpeter mas não expressa de maneira alguma sua ideologia ou preferência pessoal Não obstante vale acrescentar que as idéias de Karl Marx a quem Schumpeter admirava e respeitava representaram uma das maiores influências intelectuais em sua formação científica Maior ainda que a influência exercida por Marx foi a inspiração na obra do economista francês Léon Walras Influenciado por Walras Schumpeter adquiriu o interesse pela formulação matemática e econométrica das questões econômicas além de optar pela concepção de modelos econômicos para explicar a realidade e para a compreensão do processo de desenvolvi mento capitalista Em vários artigos Schumpeter traçou esboços biográficos de gran des economistas reunidos mais tarde no volume Dez Grandes Econo mistas de Marx a Keynes Seu crescente interesse pela História levouo OS ECONOMISTAS 8 2 Joseph Schumpeter in Memorian Seymeur Harris op cit p 18 a escrever História da Análise Econômica History of Economic Ana lysis 1954 que infelizmente não chegou a concluir O livro foi com pletado por sua viúva e publicado postumamente A Teoria do Desenvolvimento Econômico foi publicado pela pri meira vez em 1911 em língua alemã No prefácio à primeira edição em inglês Schumpeter adverte que algumas das idéias contidas no livro datam de 1907 e que em 1909 todas as teorias desenvolvidas na obra já estavam formuladas Em 1926 já esgotada a 1ª edição Schumpeter aquiesceu numa nova edição também em alemão Essa edição resultou numa revisão em profundidade na qual além de outras modificações foi omitido o capítulo VII e reescritos os capítulos II e VI O próprio Schumpeter afirmou que a Teoria do Desenvolvimento Econômico em seu método e objetivo é francamente teórico Esclarece ainda que quando escrevera o livro pensava diferente sobre a relação entre pesquisa prática e pesquisa teórica Afirma sua convicção de que nossa ciência mais do que as outras não pode dispensar esse senso comum refinado que chamamos teoria e que nos dá instrumentos para analisar os fatos e os problemas práticos O primeiro capítulo da obra apresenta um modelo de economia estacionário fundamentado num fluxo circular da vida econômica As sim toda a atividade econômica se apresenta de maneira idêntica em sua essência repetindose continuamente Mas esse modelo contrasta com a estrutura dinâmica que Schumpeter apresenta no capítulo II intitulado O Fenômeno Fundamental do Desenvolvimento Econômico onde aparece a figura central do empresário inovador agente eco nômico que traz novos produtos para o mercado por meio de combi nações mais eficientes dos fatores de produção ou pela aplicação prática de alguma invenção ou inovação tecnológica Nenhum outro economista que eu saiba percebeu tão clara mente a importância crítica da taxa de crescimento na produção total Como ele afirmou se a produção aumentar no futuro ao nível que aumentou no passado todos os sonhos dos reformadores sociais poderão dar certo Entretanto se a política se dirigir à redistribuição imediata não se realizarão nem os desígnios dos reformistas nem o aumento da produção3 Como vemos Schumpeter não só percebeu o papel central do crescimento econômico para a justiça social como advertiu para os perigos da redistribuição prematura Opiniões sem dúvida relevantes para o debate econômico do Brasil contemporâneo Sem dúvida Schum peter distinguiu claramente a diferença entre crescimento e desenvol vimento Nem o mero crescimento da economia representado pelo SCHUMPETER 9 3 SMITHIES Arthur Schumpeter e Keynes In Harris op cit p 295 aumento da população e da riqueza será designado aqui como um processo do desenvolvimento4 Em outra passagem da obra Schumpeter destaca a figura do empreendedor na vida econômica devese agir sem resolver todos os detalhes do que deve ser feito Aqui o sucesso depende da intuição da capacidade de ver as coisas de uma maneira que posteriormente se constata ser verdadeira mesmo que no momento isso não possa ser comprovado e de se perceber o fato essencial deixando de lado o per functório mesmo que não se possa demonstrar os princípios que nor tearam a ação5 Também a relação entre a inovação a criação de novos mer cados e a ação de empreendedor está claramente descrita por Schum peter É contudo o produtor que via de regra inicia a mudança econômica e os consumidores se necessário são por ele educados eles são por assim dizer ensinados a desejar novas coisas ou coisas que diferem de alguma forma daquelas que têm o hábito de consu mir6 Daí a prescrever a destruição criadora ou seja a substi tuição de antigos produtos e hábitos de consumir por novos foi um passo que Schumpeter rapidamente deu ao descrever o processo do desenvolvimento econômico De outro lado ao atribuir papel fundamental ao crédito no cres cimento econômico Schumpeter de certa maneira idealizou o moderno banco de desenvolvimento Assim escreveu ele Primeiro devemos pro var a afirmativa estranha à primeira vista de que ninguém além do empreendedor necessita de crédito ou o corolário aparentemente me nos estranho de que o crédito serve ao desenvolvimento industrial Já demonstramos que o empreendedor em princípio e como regra neces sita de crédito entendido como uma transferência temporária de poder de compra a fim de produzir e se tornar capaz de executar novas combinações de fatores para tornarse empreendedor7 Schumpeter considerava que o crédito ao consumidor não era um elemento essencial ao processo econômico Assim afirmou que não fazia parte da natureza econômica de qualquer indivíduo que ele obtivesse empréstimo para o consumo ou da natureza de qualquer processo produtivo que os participantes tivessem de contrair dívidas para fins consecutivos E apesar de reconhecer sua importância deixa de lado o fenômeno do crédito ao consumo pois não tem importância aqui para nós e a despeito de toda a sua importância prática nós o excluímos de nossas considerações8 Na verdade o raciocínio desen OS ECONOMISTAS 10 4 SCHUMPETER Joseph The Theory of Economic Devefopment Oxford Oxford University Press 1978 p 63 5 SCHUMPETER Joseph Op cit p 85 6 Ibid p 65 7 Ibid p 102 8 Ibid p 103 volvido por Schumpeter procura demonstrar que o desenvolvimento em princípio é impossível sem crédito9 Schumpeter discute a função do capital no desenvolvimento eco nômico considerando um agente especial e afirma também que o mercado de capitais é aquilo a que na prática se chama mercado de dinheiro pois em sua opinião não há outro mercado de capitais A discussão em torno do papel do crédito do capital e do dinheiro unifica as três fontes de poder de compra de maneira extremamente interes sante caracterizandoos como um meio de financiar a inovação e con seqüentemente o crescimento industrial Digase de passagem que o modelo de desenvolvimento econômico concebido por Schumpeter é basicamente um modelo de industrialização Ao examinar o lucro empresarial Schumpeter apresenta algumas reflexões sociológicas sobre a impossibilidade de os empreendedores transmitirem geneticamente a seus herdeiros as qualidades que os conduziram ao êxito por meio de inovações e novos métodos produtivos Assim compara o estrato mais rico da sociedade com um hotel repleto de gente alertando porém para o fato de que os hóspedes nunca são os mesmos Isso decorre de um processo no qual os que herdam a riqueza dos empreendedores estão geralmente tão distanciados da ba talha da vida que não conseguem aumentar ou simplesmente manter a fortuna herdada Schumpeter discute a teoria do juro refutando conceitos antigos e relaciona o fenômeno do juro com o processo de desenvolvimento Essa interpretação é coerente com sua idéia de que só o empreendedor inovador necessita de crédito A discussão apesar de longa é extre mamente interessante Contestando outros economistas que supunham que a taxa de juros variava conforme a quantidade de dinheiro em circulação Schumpeter demonstra que essa relação é inversa isto é o efeito imediato de um aumento de dinheiro em circulação seria o aumento da taxa de juros e não sua redução10 O capítulo final da Teoria do Desenvolvimento Econômico trata dos ciclos econômicos ou seja dos períodos de prosperidade e recessão eco nômica comuns no processo de desenvolvimento capitalista Embora Schumpeter considerasse que o tratamento dado ao problema não fosse totalmente satisfatório as idéias centrais contidas no capítulo constituíram o cerne de sua obra Ciclos Econômicos publicada em dois volumes Schum peter relaciona os períodos de prosperidade ao fato de que o empreendedor inovador ao criar novos produtos é imitado por um verdadeiro enxame de empreendedores não inovadores que investem recursos para produzir e imitar os bens criados pelo empresário inovador Conseqüentemente SCHUMPETER 11 9 Ibid p 106 10 Ibid p 186 uma onda de investimentos de capital ativa a economia gerando a prosperidade e o aumento do nível de emprego À medida que as inovações tecnológicas ou as modificações in troduzidas nos produtos antigos são absorvidas pelo mercado e seu consumo se generaliza a taxa de crescimento da economia diminui e tem início um processo recessivo com a redução dos investimentos e a baixa da oferta de emprego A alternância entre prosperidade e re cessão isto é a descontinuidade no aumento de produção é vista por Schumpeter dentro do contexto do processo de desenvolvimento eco nômico como um obstáculo periódico e transitório no curso normal de expansão da renda nacional da renda per capita e do consumo Até o aparecimento da teoria de Schumpeter as descontinuidades cíclicas eram explicadas pelos economistas em função das flutuações da atividade cósmica do sol da alternância de boas e más colheitas do subconsumo da superpopulação etc Neste importante capítulo da teoria econômica a grande contribuição de Schumpeter foi estabelecer a correlação entre o abrupto aumento do nível de investimento que se segue às inovações tecnológicas transformadas em produtos para o mer cado e o período subseqüente de prosperidade econômica seguido de uma redução do nível de emprego produção e investimento além da incorporação da novidade aos hábitos de consumo da população A tradução para o português e a publicação deste livro de Schum peter é importante para os estudiosos de Economia estudantes uni versitários e professores porque setenta anos após sua primeira edição em alemão o livro é atual e pertinente ao debate econômico travado no Brasil e nos países industrializados do Ocidente Vale ressaltar ainda que o sistema schumpeteriano se contrapõe em muitos aspectos ao sistema keynesiano Schumpeter e Keynes contemporâneos que se conheceram pessoalmente nunca demonstra ram nenhuma afinidade intelectual ou ideológica Arthur Smithies con firma que sempre estiveram intelectualmente muito distanciados No momento em que o sistema keynesiano concepção que vem domi nando a política econômica há quase cinqüenta anos está sendo questionado pelos economistas da supply side economics cujas idéias foram perfilhadas pelo presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan assume maior importância o estudo do sistema schumpeteriano prin cipalmente como alternativa à intervenção estatal à política do Estado dominador que participa e interfere na vida do cidadão do seu nas cimento à morte O pessimismo de Schumpeter em relação ao futuro do capitalismo não parece algo a se concretizar num futuro próximo Muito ao con trário o triunfo final do socialismo parece cada vez mais distante e improvável O fato se deve sem dúvida à ausência nos países socia listas da figura do empreendedor inovador Nesses países o Estado OS ECONOMISTAS 12 e suas empresas apenas mostraramse capazes de copiar a tecnologia produzida pelos empreendedores inovadores no Ocidente De outro lado a visão otimista de Schumpeter de que se o cres cimento econômico no futuro fosse igual ao do passado quando as economias cresciam à taxa média anual de 3 o problema social desapareceria tornando realidade o sonho de todos os reformadores sociais também não parece na iminência de concretização O que vimos em nosso país por exemplo após quinze anos de crescimento econômico ininterrupto a taxas com que Schumpeter jamais sonharia foi o agra vamento de muitos problemas sociais e uma contínua deterioração da distribuição de renda Ao render minhas homenagens a um dos mais brilhantes teóricos da ciência econômica não posso deixar de referir que em nossa ciência nem mesmo as inteligências mais privilegiadas conseguem produzir boas profecias Rubens Vaz da Costa Rubens Vaz da Costa economista formado pela Universidade da Bahia fez seus estudos de pósgraduação na Universidade George Washington EUA Doutor honoris causa das Uni versidades Federal do Ceará e Regio nal do Nordeste foi também Secretá rio de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo vicepresidente da Editora Abril Presidente do Banco Nacional da Habitação Presidente do Banco do Nordeste e Superintendente da Sudene É atualmente consultor de empresas SCHUMPETER 13 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE LUCROS CAPITAL CRÉDITO JURO E O CICLO ECONÔMICO Traduzido de The Theory of Economic Development An Inquiry into Profits Capital Credit Interest and the Business Cycle Ed do Departamento de Economia da Harvard University USA 1934 Reimpressão de 1978 Essa versão do original alemão Theorie der Wirtschaf tlichen Entwicklung para o inglês por Redvers Opie leva o mérito de ter sido revista com modificações pelo Autor conforme ele declara no Prefácio a essa edição NOTA DO TRADUTOR DA EDIÇÃO INGLESA Meu objetivo principal foi transmitir o significado tão precisa mente quanto possível e para esse fim não hesitei em usar uma frase canhestra nos casos em que não havia equivalentes da palavra alemã em inglês corrente Depois de atenta reflexão decidime por fluxo cir cular para Kreislauf por razões cujo relato tomaria muito tempo Há deselegâncias que nada têm a ver com o lado técnico da tradução Erradicálas implicaria reescrever tudo e não pareceu conveniente fazê lo O Professor Schumpeter está tão familiarizado com a língua inglesa que teria inevitavelmente deixado sua marca na tradução mesmo que não houvesse dedicado tanto tempo aos pontos mais difíceis quanto dedicou Por essa razão e pelas mencionadas no prefácio o livro é mais do que uma tradução O título do original alemão é Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung Redvers Opie PREFÁCIO À EDIÇÃO INGLESA Algumas das idéias propostas neste livro procedem do ano de 1907 todas estavam formuladas em 1909 quando o quadro geral dessa análise das características puramente econômicas da sociedade capi talista tomou a forma que permaneceu substancialmente inalterada desde então O livro foi publicado pela primeira vez em alemão no outono de 1911 Depois que já estava esgotado havia dez anos quando consenti não sem alguma relutância numa segunda edição omiti o capítulo VII reescrevi o II e o VI e reduzi ou acrescentei aqui e ali Isso aconteceu em 1926 A terceira edição alemã é apenas uma reim pressão da segunda da qual foi feita também a presente versão para o inglês Estaria dando um veredito muito falho sobre o que fiz e pensei desde que o livro apareceu se dissesse que o fato de não ter feito alterações que modificassem mais do que a maneira de expor foi causado por acreditar que o livro seja satisfatório em todos os detalhes Embora considere como corretos no essencial tanto as linhas gerais o que poderia ser chamado de visão quanto os resultados há muitos pontos sobre os quais tenho agora outra opinião Para mencionar apenas um à guisa de exemplo quando elaborei a teoria do ciclo econômico que o leitor encontra no capítulo VI tinha como certo que havia um único movimento ondulatório a saber o descoberto por Juglar Estou convencido agora de que há pelo menos três desses movimentos pro vavelmente mais e que o problema mais importante com que no mo mento se defrontam os teóricos do ciclo consiste precisamente em iso lálos e descrever os fenômenos associados à sua interação Mas esse elemento não foi introduzido nas edições mais recentes Pois os livros como os filhos tornamse seres independentes uma vez que tenham deixado a casa paterna Vivem suas próprias vidas enquanto os autores também fazem o mesmo Não se deve interferir no rumo dos que se tornaram estranhos à casa Este livro abriu seu próprio caminho e certa ou erradamente ganhou o seu lugar na literatura alemã de sua área e de seu tempo Pareceume melhor mexer o menos possível nele 19 Dificilmente eu teria pensado em uma tradução para o inglês se não fosse a sugestão e o estímulo de meu eminente amigo o Professor Taussig Por razões similares não segui o exemplo de meu grande mestre BöhmBawerk que se inteirava de todas as objeções e críticas com infinito cuidado e incorporava seus próprios comentários nas edições posteriores Não se trata de nenhuma falta de respeito para com os que me deram a honra da crítica cuidadosa à minha argumentação o que me levou a limitar ao mínimo a controvérsia Devo confessar to davia que nunca me deparei com uma objeção a pontos essenciais que eu viesse a considerar convincente Este livro é francamente teórico por seu objetivo e método Este não é o lugar para uma professio fidei quanto ao método Talvez eu pense agora de modo um pouco diferente do que pensava em 1911 sobre a relação entre a pesquisa factual e a teórica Mantenho porém minha convicção de que nossa ciência não pode em nada mais do que as outras prescindir daquele refinado senso comum que cha mamos de teoria e que nos fornece as ferramentas para abordar tanto os fatos quanto os problemas práticos Por mais importante que possa ser a influência de novas massas de fatos não analisados especialmente fatos estatísticos sobre o nosso aparato teórico e sem dúvida a crescente riqueza de material factual deve sugerir continuamente novos modelos teóricos e com isso melhorar discreta e constantemente qual quer estrutura teórica existente em qualquer estágio dado algum conhecimento teórico constitui prérequisito para o tratamento de novos fatos ou seja de fatos ainda não incorporados aos teoremas existentes Se esse conhecimento permanecer rudimentar e inconsciente pode tra tarse de má teoria porém não deixará de ser teoria Não pude con vencerme por exemplo de que questões como a da fonte do juro sejam sem importância ou sem interesse Em qualquer hipótese só o seriam por culpa do autor Espero contudo fornecer dentro em breve o material detalhado que falta aqui em estudos mais realistas sobre o dinheiro e o crédito o juro e os ciclos O tema do livro forma um todo interligado Isso não se deve a nenhum plano preconcebido Quando comecei a trabalhar sobre as teo rias do juro e do ciclo quase há um quarto de século não suspeitava que esses assuntos se ligariam um ao outro e provariam estar intima mente relacionados aos lucros empresariais ao dinheiro ao crédito e semelhantes da maneira precisa a que me conduziu o desenrolar do raciocínio Mas logo se tornou claro que todos esses fenômenos e muitos outros secundários eram somente manifestações de um pro cesso distinto e que certos princípios simples que os explicariam tam bém explicariam todo o processo A conclusão por si mesma sugeria que esse corpo teórico poderia ser contrastado de modo proveitoso com a teoria do equilíbrio que explícita ou implicitamente sempre foi e ainda é o centro da teoria tradicional Empreguei a princípio os termos OS ECONOMISTAS 20 estática e dinâmica para essas duas estruturas mas agora deixei definitivamente de usálos nesse sentido em deferência ao Professor Frisch Foram substituídos por outros que talvez sejam canhestros Mas mantenho a distinção considerandoa reiteradamente de grande proveito em meu presente trabalho Isso ocorreu até mesmo além das fronteiras da economia pelo que pode ser chamado de teoria da evolução cultural que apresenta em pontos importantes notáveis analogias com a teoria econômica deste livro A distinção propriamente dita foi objeto de muita crítica adversa Mas é realmente artificial ou contrário à vida real manter separados os fenômenos implicados na administra ção de uma empresa dos implicados na criação de uma nova E isso tem necessariamente algo a ver com uma analogia mecânica Os que tiverem pendor para aprofundarse na história dos termos deveriam se assim se sentissem inclinados falar antes em uma analogia zoológica pois os termos estático e dinâmico embora num sentido diferente foram introduzidos na economia por John Stuart Mill Provavelmente Mill tomouos de Comte que por sua vez nos diz que os emprestou do zoólogo de Blainville Meus agradecimentos cordiais ao meu amigo Dr Redvers Opie que com inigualável gentileza empreendeu a árdua tarefa de traduzir um texto que se mostrou tão resistente a esse trabalho Decidimos omitir os dois apêndices aos capítulos I e II do original e também passagens e parágrafos esparsos Em alguns lugares a exposição foi modificada e um certo número de páginas foi reescrito Como o racio cínio em si não foi alterado em nenhum lugar penso ser supérfluo dar uma lista das modificações Joseph A Schumpeter Cambridge Massachusetts Março de 1934 SCHUMPETER 21 CAPÍTULO I O Fluxo Circular da Vida Econômica Enquanto Condicionado por Circunstâncias Dadas11 O processo social na realidade é um todo indivisível De seu grande curso a mão classificadora do investigador extrai artificialmente os fatos econômicos A designação de um fato como econômico já envolve uma abstração a primeira entre muitas que nos são impostas pelas condições técnicas da cópia mental da realidade Um fato nunca é pura ou exclusivamente econômico sempre existem outros aspectos em geral mais importantes Não obstante falamos de fatos econômicos na ciência exatamente como na vida comum e com o mesmo direito com o mesmo direito também com que podemos escrever uma história da literatura mesmo apesar da literatura de um povo estar inseparavelmente ligada a todos os outros elementos de sua existência Os fatos sociais resultam ao menos de modo imediato do com portamento humano Os fatos econômicos resultam do comportamento econômico Este último pode ser definido como comportamento dirigido para a aquisição de bens Nesse sentido também falamos de um motivo econômico para a ação de forças econômicas na vida social e econômica e assim por diante Todavia como estamos preocupados somente com aquele comportamento econômico que está dirigido à aquisição de bens por troca ou produção restringiremos seu conceito a esses tipos de aquisição enquanto deixaremos aos conceitos de motivo econômico e força econômica a maior abrangência porque necessitamos de ambos fora do campo mais estreito dentro do qual falaremos de comportamento econômico O campo dos fatos econômicos está assim antes de tudo deli mitado pelo conceito de comportamento econômico Todos devem ao menos em parte agir economicamente cada um deve ser um sujeito 23 11 Este título foi escolhido em referência a uma expressão usada por Philippovitch Cf seu Grundriss t II Introdução econômico Wirtschaftssubjekt ou depender de um deles Mas tão logo os membros dos grupos sociais se tornam especializados ocupa cionalmente podemos distinguir classes de pessoas cuja atividade prin cipal é o comportamento econômico ou os negócios de outras classes em que o aspecto econômico do comportamento é eclipsado por outros aspectos Nesse caso a vida econômica é representada por um grupo especial de pessoas embora todos os outros membros da sociedade também devam agir economicamente Podese dizer que a atividade daquele grupo constitui a vida econômica κατ εξοχην e dizer isso não mais acarreta uma abstração a despeito de todas as relações entre a vida econômica nesse sentido com as outras manifestações vitais das pessoas Como falamos dos fatos econômicos em geral assim o fazemos com o desenvolvimento econômico A explicação deste é aqui o nosso objetivo Antes de voltarmos à nossa discussão vamos nos prover neste capítulo dos princípios necessários e familiarizarnos com certos ins trumentos conceptuais dos quais careceremos adiante Além do mais o que se segue deve ser dotado por assim dizer de dentes que o engrenem com as rodas da teoria aceita Renuncio completamente à armadura dos comentários metodológicos Com referência a isso ob servese apenas que o que este capítulo oferece é na verdade parte do corpo principal da teoria econômica mas no essencial não requer do leitor nada que hoje em dia precise de justificação especial Além disso como só poucos dos resultados da teoria são necessários para nossos objetivos aproveitei com satisfação a oportunidade que se ofe recia de apresentar o que tenho a dizer da forma mais simples e não técnica possível Isso implica um sacrifício do rigor absoluto Decidime no entanto por esse caminho sempre que as vantagens de uma for mulação mais correta estejam em pontos sem maior importância para nós Com relação a isso reportome a outro livro meu12 Quando investigamos as formas gerais dos fenômenos econômicos sua uniformidade ou a chave para sua compreensão indicamos ipso facto que no momento desejamos considerálos como algo a ser inves tigado e procurado como o desconhecido e que desejamos seguir sua pista até o relativamente conhecido exatamente como qualquer ciên cia faz com seu objeto de investigação Quando conseguimos achar uma relação causal definida entre dois fenômenos nosso problema estará resolvido se aquilo que representou o papel causal for nãoeconômico Teremos então realizado aquilo de que nós como economistas somos capazes e devemos dar lugar às outras disciplinas Se por outro lado o próprio fator causal é de natureza econômica devemos continuar em nossos esforços de explanação até que pousemos numa base nãoeco OS ECONOMISTAS 24 12 Das Wesen und der Hauptinhalt der Theoretischen Nationalökonomie doravante citado como Wesen nômica Isso é verdade para a teoria geral assim como para casos concretos Se pudesse dizer por exemplo que o fenômeno da renda da terra se funda em diferenças na qualidade dos terrenos a explicação econômica estaria completa Se puder encontrar a origem de movimen tos particulares de preços em regulamentações políticas do comércio então fiz o que podia como teórico da economia porque as regulamen tações políticas do comércio não têm como objetivo imediato a aquisição de bens por meio de troca ou produção e por isso não se incluem em nosso conceito de fatos puramente econômicos Estamos sempre preo cupados em descrever as formas gerais dos elos causais que ligam os dados econômicos aos nãoeconômicos A experiência nos ensina que isso é possível Os eventos econômicos têm sua lógica que todo homem prático conhece e que temos apenas de formular conscientemente com precisão Ao fazêlo consideraremos para maior simplicidade uma co munidade isolada podemos ver bem a essência das coisas que é o único interesse deste livro tanto nesse caso como em outro mais complicado Por isso delinearemos as características principais de uma ima gem mental do mecanismo econômico E para isso pensaremos pri meiramente num Estado organizado comercialmente no qual vigorem a propriedade privada a divisão do trabalho e a livre concorrência Se alguém que nunca tenha visto ou ouvido falar em tal Estado observasse que um agricultor produz trigo para ser consumido como pão numa cidade distante verseia impelido a perguntar como o agri cultor sabia que esse consumidor queria pão e exatamente naquela quantidade Seguramente surpreenderseia ao ter conhecimento de que o agricultor não sabia onde nem por quem o trigo seria consumido Ainda mais poderia observar que todas as pessoas por cujas mãos o trigo deve passar em seu caminho até o consumidor final não sabiam nada sobre este com a possível exceção dos últimos vendedores do pão e mesmo estes devem em geral produzir ou comprar antes de saber que esse consumidor particular vai adquirilo O agricultor po deria responder facilmente à questão a ele formulada longa experiên cia13 em parte herdada ensinoulhe quanto produzir para alcançar maior vantagem a experiência ensinoulhe a conhecer a extensão e a intensidade da demanda com que se deve contar A essa quantidade ele se atém tanto quanto pode e só a altera gradualmente sob a pressão das circunstâncias O mesmo vale para os outros itens dos cálculos do agricultor quer calcule tão perfeitamente quanto um grande industrial quer che gue a suas decisões meio inconscientemente e por força do hábito Em geral conhece dentro de certos limites os preços das coisas que deve comprar sabe quanto de seu próprio trabalho deve empregar quer SCHUMPETER 25 13 Cf WIESER Der natürliche Wert onde esse ponto foi elaborado e pela primeira vez elucidado seu sentido avalie este segundo princípios puramente econômicos quer considere o trabalho em sua própria terra com olhos bastante diferentes de quais quer outros conhece o método de cultivo tudo através de longa experiência Também por experiência todas as pessoas de quem compra conhecem a extensão e a intensidade de sua demanda Como o fluxo circular dos períodos econômicos que é o mais notável dos ritmos econômicos marcha relativamente rápido e como em todo período econômico ocorre essencialmente a mesma coisa o mecanismo da troca econômica se opera com grande precisão Os períodos econômicos pas sados governam a atividade do indivíduo num caso como o nosso não apenas porque o ensinaram severamente o que deve fazer mas também por outra razão Durante todos os períodos o agricultor precisa viver seja diretamente do produto físico do período precedente seja dos rendimentos que puder obter de seu produto Todos os períodos precedentes ademais emaranharamno numa rede de conexões eco nômicas e sociais da qual ele não pode livrarse facilmente Legaramlhe meios e métodos de produção definidos Tudo isso o mantém firmemente na sua trilha com grilhões de ferro Aqui aparece uma força que tem considerável significado para nós e que logo nos ocupará mais inten samente No entanto nesse momento apenas afirmaremos que na aná lise que se segue suporemos sempre que em cada período econômico todos vivem de bens produzidos no período precedente o que é pos sível se a produção se estende pelo passado adentro ou se o produto de um fator de produção flui continuamente Isso representa meramente uma simplificação da exposição O caso do agricultor pode agora ser generalizado e um tanto depurado Suponhamos que cada um venda toda a sua produção e na medida em que a consome é o seu próprio freguês já que na verdade tal consumo privado é determinado pelo preço do mercado ou seja indi retamente pela quantidade de outros bens obtenível com a restrição do consumo privado de seu próprio produto e suponhamos ao contrário que a quantidade de consumo privado atue sobre o preço de mercado exatamente como se a quantidade em questão aparecesse realmente no mercado Todos os homens de negócios estão portanto na posição do agricultor São todos ao mesmo tempo compradores com o pro pósito de produzir e consumir e vendedores Nesta análise os tra balhadores podem ser concebidos de maneira similar ou seja seus serviços podem ser incluídos na mesma categoria que outras coisas suscetíveis de comercialização Ora como cada um desses homens de negócios tomado individualmente produz seu produto e encontra seus compradores com base em sua experiência exatamente como o nosso agricultor o mesmo deve ser verdade para todos tomados em conjunto À parte os imprevistos que obviamente podem ocorrer por variados motivos todos os produtos devem ser vendidos pois realmente só serão OS ECONOMISTAS 26 produzidos tendo como referência as possibilidades do mercado empi ricamente conhecidas Insistamos nisso A quantidade de carne que o açougueiro vende depende de quanto seu freguês o alfaiate comprará e a que preço Isso depende todavia dos resultados financeiros dos negócios deste último estes novamente dependem das necessidades e do poder de compra de seu freguês o sapateiro cujo poder de compra depende por sua vez das necessidades e do poder de compra das pessoas para quem produz e assim por diante até que finalmente chegamos a al guém cujos rendimentos provenham da venda de seus bens ao açou gueiro Essa concatenação e dependência mútua das quantidades de que consiste o cosmo econômico é sempre visível em qualquer das possíveis direções que alguém queira escolher para seguir Onde quer que se irrompa para onde quer que se mova a partir daí devese sempre voltar ao ponto de partida talvez após um número de passos bem grande embora finito A análise nem chega a um ponto final natural nem esbarra com uma causa ou seja um elemento que faça mais para determinar outros elementos do que ser por eles determinado Nosso quadro será mais completo se representarmos o ato de consumir de forma diferente da costumeira Todos por exemplo con sideramse consumidores de pão mas não de terra serviços ferro e assim por diante Se considerarmos as pessoas como consumidores des sas outras coisas podemos ver mais claramente o rumo tomado pelos bens individuais no fluxo circular14 Ora é óbvio que todas as unidades de todas as mercadorias não viajam sempre pela mesma estrada e em direção ao mesmo consumidor como viajou no período econômico an terior seu predecessor no processo de produção Mas podemos supor que isso efetivamente ocorre sem nenhuma alteração essencial Pode mos imaginar que ano após ano todo emprego recorrente de fontes permanentes de capacidade produtiva procura alcançar o mesmo con sumidor De qualquer modo o resultado do processo é o mesmo que se teria se isso ocorresse Seguese pois que em qualquer lugar do sistema econômico uma demanda está por assim dizer esperando solicitamente cada oferta e que em nenhum lugar do sistema econô mico há mercadorias sem complementos ou seja outras mercadorias em posse de pessoas que desejam trocálas pelos bens anteriores sob condições empiricamente determinadas Do fato de que todos os bens encontram um mercado seguese novamente que o fluxo circular da vida econômica é fechado em outras palavras que os vendedores de todas as mercadorias aparecem novamente como compradores em me dida suficiente para adquirir os bens que manterão seu consumo e seu SCHUMPETER 27 14 Cf MARSHALL A Principles Livro Sexto assim como sua conferência The Old Gene ration of Economists and the New para quem essa concepção cumpre o mesmo papel equipamento produtivo no período econômico seguinte e no nível obtido até então e viceversa As famílias e as empresas tomadas individualmente agem então de acordo com elementos empiricamente dados e de uma maneira tam bém empiricamente determinada Obviamente isso não significa que não possa haver alguma mudança em sua atividade econômica Os dados podem mudar e todos agirão de acordo com essa mudança logo que for percebida Mas todos se apegarão o mais firmemente possível aos métodos econômicos habituais e somente se submeterão à pressão das circunstâncias se for necessário Assim o sistema econômico não se modificará arbitrariamente por iniciativa própria mas estará sempre vinculado ao estado precedente dos negócios Isso pode ser chamado de princípio de continuidade de Wieser15 Se o sistema econômico realmente não se modifica por si não estaremos desprezando nada de essencial com relação ao nosso presente objetivo se supusermos simplesmente que ele permanece como é mas estaremos expressando meramente um fato com sua precisão ideal E se descrevermos um sistema completamente imutável é certo que fa zemos uma abstração mas apenas com o intuito de expor a essência do que efetivamente acontece Provisoriamente nós o faremos Não se trata de algo contrário à teoria ortodoxa mas no máximo apenas contrário à sua exposição usual que não expressa claramente nosso ponto de vista16 Podese chegar ao mesmo resultado por outra via O total de mercadorias produzidas e comercializadas numa comunidade em dado período econômico pode ser chamado de produto social Para nossos propósitos não é necessário aprofundarnos mais no significado do con ceito17 O produto social em si não existe É tão pequeno o resultado da atividade sistemática a que se aspira conscientemente quanto o sistema econômico como tal é uma economia que funciona segundo um plano uniforme Mas é uma abstração útil Podemos imaginar que ao fim do período econômico os produtos de todos os indivíduos formam em certo lugar uma pilha que é então distribuída segundo certos prin cípios Como não acarreta nenhuma mudança essencial dos fatos a suposição é bastante admissível até esse ponto Podemos então dizer que cada indivíduo lança sua contribuição nesse grande reservatório social e posteriormente recebe algo dele A cada contribuição corres OS ECONOMISTAS 28 15 Exposto mais recentemente no trabalho sobre o problema do valor do dinheiro Schriften des Vereins für Sozialpolitik Relatórios da Sessão de 1909 16 Cf Wesen Livro Segundo 17 Cf sobre esse ponto especialmente Adam Smith e A Marshall O conceito é quase tão antigo quanto a economia e como se sabe tem um passado acidentado que faz necessário usálo com precaução Para conceitos ligados cf também FISHER Capital and Income WAGNER A Grundlegung E finalmente PIGOU Preferential and Protective Tariffs em que se faz muito uso do conceito de Dividendo Nacional Vejase também o seu Economics of Welfare ponde em algum ponto do sistema uma reivindicação de outro indivíduo a cota de cada um está disponível em algum lugar E como todos sabem por experiência com quanto devem contribuir para obter o que querem tendo em vista a condição de que cada cota acarreta uma certa contribuição o fluxo circular do sistema está fechado e todas as contribuições e cotas devem se cancelar reciprocamente qualquer que seja o princípio segundo o qual é feita a distribuição Até agora foi feita a suposição de que todas as quantidades envolvidas são dadas empiricamente Podese aperfeiçoar o quadro fazer com que proporcione melhor percepção do funcionamento do sistema econômico por meio de um artifício bem conhecido Supomos que toda essa experiência não existe e a reconstruímos ab ovo18 como se as mesmas pessoas com a mesma cultura o mesmo gosto o mesmo conhecimento técnico e o mesmo estoque inicial de bens de consumo e de produção19 mas sem o auxílio da experiência devessem encontrar seu caminho em direção à meta do maior bemestar econômico possível mediante um esforço consciente e racional Com isso não inferimos que na vida prática as pessoas sejam capazes de tal esforço20 Simplesmente queremos trazer à luz o rationale do comportamento econômico fora de considerações sobre a psicologia efetiva das empresas e famílias em observação21 Tampouco pretendemos proporcionar um esboço de história econômica O que que remos analisar não é o modo como o processo econômico se desenvolve historicamente até o estágio em que efetivamente o encontramos mas o funcionamento de seu mecanismo ou organismo em um dado estágio de desenvolvimento Esta análise sugere elabora e usa as ferramentas conceptuais com as quais já estamos familiarizados agora A atividade econômica pode ter qualquer motivo até mesmo espiritual mas seu significado é sempre a satisfação de necessidades Daí a importância fundamental desses conceitos e proposições que derivamos do fato das necessidades sendo o primeiro deles o conceito de utilidade e seu derivado o de utilidade marginal ou para usar um termo mais moderno o coeficiente de escolha Continuaremos a expor certos teoremas sobre a distribuição dos recursos na gama de usos possíveis sobre a complementaridade e SCHUMPETER 29 18 Esse método se deve a Léon Walras 19 Como todo leitor de J B Clark sabe em sentido estrito é necessário considerar esses estoques não em suas formas efetivas como tantos arados tantos pares de botas etc mas como forças produtivas acumuladas que podem a qualquer momento e sem perda ou choque ser transformadas em quaisquer mercadorias específicas desejadas 20 Portanto há uma má interpretação na objeção levantada tão freqüentemente à teoria pura de que esta supõe que as únicas forças em efetivo funcionamento na vida econômica são o motivo hedonístico e a conduta perfeitamente racional 21 Seguramente a psicologia vem depois para explicar o comportamento real e os seus desvios do quadro racional Nosso raciocínio nos capítulos seguintes gira amplamente em torno de uma espécie desses desvios a força do hábito e os motivos nãohedonísticos Mas essa é outra questão a rivalidade entre bens e logicamente chegaremos a relações de troca preços e à antiga e empírica lei da oferta e da procura Finalmente teremos uma idéia preliminar de um sistema de valores e das condições para o seu equilíbrio22 A produção é por um lado condicionada pelas propriedades físicas dos objetos materiais e dos processos naturais A esse respeito como observou John Rae23 para a atividade econômica pode ser apenas uma questão de observar o resultado dos processos naturais e tirar o máximo deles A porção do reino dos fatos físicos que pode ser relevante para a economia não pode ser fixada de uma só vez Conforme o tipo de teoria que se tem em vista coisas como a lei dos rendimentos físicos decrescentes pode significar muito ou pouco no tocante a resultados especificamente econômicos Não há relação entre a importância de um fato para o bemestar da humanidade e sua importância dentro do empenho de explanação da teoria econômica Mas é claro como demonstra o exemplo de BöhmBawerk24 que em qualquer momento podemos ser levados a introduzir novos fatos técnicos em nosso esquema de trabalho Os fatos da organização social não se situam na mesma classe No entanto são equivalentes aos fatos técnicos no sentido de que estão fora do domínio da teoria econômica e são para ela meros dados25 O outro lado da questão pelo qual podemos penetrar muito mais profundamente na essência da produção do que pelo seu lado físico e social é o propósito concreto de todo ato de produção O objetivo que o homem econômico persegue ao produzir e que explica por que existe certo tipo de produção põe claramente o seu selo sobre o método e o volume da produção Obviamente não se requer nenhum argumento para provar que deva ser determinante para o quê e o porquê da produção dentro do quadro dos meios dados e das necessidades obje tivas Esse propósito só pode ser a criação de coisas úteis ou objetos de consumo Numa economia que não seja de trocas só pode tratarse de utilidades para o consumo dentro do sistema Nesse caso todo in divíduo produz diretamente para o consumo ou seja para satisfazer suas necessidades É claro que a natureza e a intensidade das neces sidades desse produto são decisivas dentro das possibilidades práticas As condições externas dadas e as necessidades do indivíduo aparecem como dois fatores decisivos no processo econômico que contribuem para OS ECONOMISTAS 30 22 Posso referirme aqui a toda a literatura sobre a teoria da utilidade marginal e seus seguidores 23 Cf a edição de seu trabalho feita por MIXTER sob o título The Sociological Theory of Capital A poderosa profundidade e a originalidade de seu trabalho ainda podem recom pensar uma leitura cuidadosa por parte do estudante moderno 24 A sua lei dos retornos que crescem com a duração do período de produção pareceme ser a única tentativa bemsucedida de introduzir explicitamente o elemento tempo nas equações da produção 25 Por essa como por outras razões a distinção nítida traçada por J S Mill entre produção e distribuição pareceme ser menos do que satisfatória a determinação do resultado A produção segue as necessidades é por assim dizer puxada por elas Mas o mesmo é perfeitamente válido mutatis mutandis para uma economia de trocas Esse segundo lado da produção faz dela desde o início um problema econômico Este deve ser distinguido do problema puramente tecnológico da produção Há um contraste entre esses aspectos fre qüentemente testemunhado na vida econômica na oposição pessoal entre o gerente comercial e o técnico de uma empresa Muitas vezes no processo produtivo vemos mudanças recomendadas por um lado e rejeitadas pelo outro por exemplo o engenheiro pode recomendar um novo processo que o diretor comercial rejeita com o argumento de que não compensará O engenheiro e o homem de negócios podem ambos expressar seus pontos de vista assim seu objetivo é conduzir adequa damente o negócio e sua avaliação deriva de seu conhecimento dessa adequação À parte os equívocos a falta de conhecimento dos fatos e assim por diante a diferença de avaliação só pode vir do fato de que cada um tem em vista um tipo diferente de adequação O que o homem de negócios quer dizer quando fala em adequação é claro Referese à vantagem comercial e podemos expressar assim sua visão os recursos que seriam requeridos para abastecer a máquina poderiam ser empre gados em outro lugar com mais vantagem O diretor comercial quer dizer que numa economia que não fosse de trocas a satisfação das necessidades não seria incrementada mas pelo contrário reduzida por tal alteração do processo produtivo Se isso é verdade qual pode ser o significado do ponto de vista do tecnólogo que tipo de adequação tem ele em mente Se a satisfação das necessidades é o único fim de toda a produção então não há realmente nenhum sentido econômico em recorrer a uma medida que a prejudica O homem de negócios está certo em não seguir o engenheiro desde que sua objeção esteja correta objetivamente Desdenhamos a alegria um tanto artística de aperfeiçoar tecnicamente o aparato produtivo Efetivamente na vida prática ob servamos que o elemento técnico deve submeterse quando colide com o econômico Mas isso não é um argumento contra sua existência e seu significado independentes e contra a avaliação correta presente no ponto de vista do engenheiro Pois embora o objetivo econômico guie os métodos técnicos tal como usados na prática é bem razoável aclarar a lógica interna dos métodos sem levar em conta as barreiras práticas Vemos isso melhor num exemplo Suponhase que uma máquina a vapor e todas as suas partes componentes obedecem à adequação eco nômica À luz dessa adequação fazse o máximo com ela Então não haveria sentido em tirar maior proveito na prática aquecendoa mais contratando homens mais experientes para trabalhar nela e aperfei çoandoa se isso não se pagasse ou seja se fosse possível prever que o combustível as pessoas mais talentosas os melhoramentos e o au mento de matériasprimas custariam mais do que renderiam Mas é SCHUMPETER 31 bem razoável considerar as condições sob as quais a máquina poderia fazer mais e quanto a isso quais melhoramentos são possíveis com o conhecimento atual e assim por diante Pois então todas essas medidas já estarão elaboradas para o momento em que se tornarem vantajosas Também é sempre útil pôr o ideal ao lado do real de modo que as possibilidades sejam deixadas de lado não por ignorância mas por razões econômicas bem ponderadas Em resumo todo método de pro dução em uso num momento dado se curva diante da adequação eco nômica Esses métodos consistem em idéias de conteúdo não somente econômico mas também físico As últimas têm seus problemas e uma lógica própria e o papel da tecnologia é pensar neles sistematicamente até resolvêlos sem considerar de início o fator econômico decisivo ao final e na medida em que o elemento econômico não exigir algo dife rente levar à prática essas soluções é produzir no sentido tecnológico Do mesmo modo que em última instância a conveniência regula a produção tecnológica assim como a econômica e a distinção entre as duas está na diferença do caráter dessa conveniência assim também uma linha de pensamento um pouco diferente nos mostra a princípio uma analogia fundamental e depois a mesma distinção A produção não cria nada no sentido físico considerada tanto tecnológica quanto economicamente Em ambos os casos só pode influenciar as coisas e os processos ou forças Ora para o que se segue necessitamos de um conceito que abarque esse utilizar e esse influenciar Eles in cluem muitos métodos diferentes de usar e de se comportar em relação aos bens todos os tipos de mudanças de localização e de processos mecânicos químicos e outros Mas tratase sempre de mudar o estado existente de satisfação de nossas necessidades de mudar a relação recíproca entre as coisas e forças de unir algumas e separar outras Considerandose tanto econômica quanto tecnologicamente produzir significa combinar as forças e coisas ao nosso alcance Todos os métodos de produção significam algumas dessas combinações técnicas Métodos de produção diferentes só podem ser diferenciados pela maneira com que se dão essas combinações ou seja pelos objetos combinados ou pela relação entre suas quantidades Todo ato concreto de produção incorpora a nosso ver é a nosso ver certa combinação Esse conceito pode ser estendido até aos transportes e outras áreas em suma a tudo que for produção no sentido mais amplo Também consideraremos como combinações uma empresa como tal e mesmo as condições pro dutivas de todo o sistema econômico Esse conceito exerce um papel importante em nossa análise Mas não coincidem as combinações econômicas e as tecnológicas as primeiras ligadas às necessidades e meios existentes as últimas à idéia básica dos métodos O objetivo da produção tecnológica é na verdade determinado pelo sistema econômico a tecnologia só desen volve métodos produtivos para bens procurados A realidade econômica OS ECONOMISTAS 32 não executa necessariamente os métodos até que cheguem à sua con clusão lógica com inteireza tecnológica mas subordina sua execução a pontos de vista econômicos O ideal tecnológico que não leva em conta as condições econômicas é modificado A lógica econômica prevalece sobre a tecnológica E em conseqüência vemos na vida real por toda a parte à nossa volta cordas rotas em vez de cabos de aço animais de tração defeituosos ao invés de linhagens de exposição o trabalho manual mais primitivo ao invés de máquinas perfeitas uma desajeitada economia baseada no dinheiro em vez de na circulação de cheques e assim por diante O ótimo econômico e o perfeito tecnologicamente não precisam divergir no entanto o fazem com freqüência não apenas por causa da ignorância e da indolência mas porque métodos que são tecnologicamente inferiores ainda podem ser os que melhor se ajustam às condições econômicas dadas Os coeficientes de produção representam a relação quantitativa dos bens de produção numa unidade de produto e portanto são uma característica essencial da combinação Nesse ponto o elemento econô mico contrasta agudamente com o tecnológico Aqui o ponto de vista econômico não apenas decidirá entre dois métodos de produção dife rentes mas até mesmo atuará sobre os coeficientes no interior de qual quer método dado já que cada um dos meios de produção podem ser em certa medida substituídos por um outro ou seja a falha de um pode ser compensada por incremento de outro sem mudar o método de produção por exemplo um decréscimo da energia a vapor substituído por um aumento do trabalho manual e viceversa26 Caracterizamos o processo de produção mediante o conceito de combinações de forças produtivas Os resultados dessas combinações são os produtos Agora devemos definir precisamente o que é que deve ser combinado falando de modo geral todos os tipos possíveis de objetos e forças Em parte consistem também em produtos e em parte em objetos ofertados pela natureza Muitas forças naturais no sentido físico também assumirão para nós o caráter de produto como é por exemplo o caso da corrente elétrica Elas abrangem coisas parcialmente materiais parcialmente imateriais Além disso é em geral uma questão de interpretação conceber um bem como um produto ou como um meio O trabalho por exemplo é passível de ser visto como o produto dos bens consumidos pelo trabalhador ou como um meio original de pro dução Decidimos pela última alternativa a nosso ver o trabalho não é um produto Muitas vezes a classificação de um bem nessa ou naquela categoria depende do ponto de vista do indivíduo de modo que o mesmo bem pode ser bem de consumo para uma pessoa e meio de produção para outra Da mesma maneira o caráter de um dado bem muitas SCHUMPETER 33 26 Essas variações estão explicadas muito nítida e claramente por CARVER The Distribution of Wealth vezes depende do uso que dele se faz A literatura teórica está repleta da discussão dessas coisas especialmente a dos primeiros tempos Con tentarnosemos com essa referência A questão seguinte todavia é mais importante É comum classificar os bens em ordens de acordo com sua distância do ato final de consumo27 Os bens de consumo são da primeira ordem os bens de cuja combinação se originam imediatamente os bens de consumo são da segunda ordem e assim por diante com ordens cada vez mais altas ou mais remotas Não se deve esquecer que só os bens prontos para o consumo nas mãos dos consumidores recaem na primeira ordem e que o pão na padaria por exemplo só se coloca na primeira ordem estritamente falando ao ser combinado com o trabalho do entregador Os bens das ordens mais baixas se não forem de modo imediato dádivas da natureza sempre se originam de uma combinação de bens de ordens superiores Embora o esquema possa ser construído de outra maneira é melhor para os nossos propósitos classificar um bem na mais alta das ordens em que pode aparecer De acordo com isso o trabalho por exemplo é um bem da ordem mais alta porque entra no início de toda produção embora também seja encontrado em todos os outros estágios Em combinações ou processos produtivos su cessivos cada bem amadurece para o consumo pela adição de outros bens pertencentes a um maior ou menor número de ordens com o auxílio de tais adições abre seu caminho para o consumidor tal como um ribeirão que auxiliado pelo influxo de riachos rompe seu curso através das pedras penetrando sempre mais profundamente na terra Deve ser tomado em conta agora o fato de que quando olhamos as ordens de baixo para cima os bens se tornam crescentemente amor fos perdem mais e mais aquela forma característica aquelas qualidades precisas que os predestinam a um uso e os excluem de todos os outros Quanto mais alto subimos nas ordens dos bens mais eles perdem sua especialização sua eficácia para um propósito particular e mais amplos são seus usos potenciais mais geral o seu sentido Continuamente encontramos menos tipos distinguíveis de bens e as categorias indi viduais tornamse correspondentemente mais abrangentes como quan do nos elevamos a um sistema de conceitos lógicos e chegamos a um número cada vez menor deles de conteúdo sempre mais diluído mas com alcance cada vez mais amplo A árvore genealógica dos bens tor nase progressivamente mais fina Isso significa simplesmente que quanto mais longe dos bens de consumo escolhermos nosso ponto de vista mais numerosos se tornam os bens de primeira ordem que des cendem de bens similares de ordens superiores Quando quaisquer bens forem inteira ou parcialmente combinações de meios de produção si OS ECONOMISTAS 34 27 Cf MENGER C Grundsätze BÖHMBAWERK Positive Theorie des Kapitals milares dizemos que são aparentados na produção Portanto podemos dizer que o parentesco produtivo dos bens aumenta com sua ordem Assim sendo se subimos na hierarquia dos bens chegamos fi nalmente aos que são para os nossos objetivos os últimos elementos da produção Não é necessária maior argumentação para dizer que esses últimos elementos são o trabalho e as dádivas da natureza ou terra os serviços do trabalho e da terra28 Todos os outros bens con sistem pelo menos em um destes e a maioria em ambos Podemos converter todos os bens em terra e trabalho no sentido de que po demos conceber todos os bens como feixes dos serviços do trabalho e da terra Por outro lado os bens de consumo são uma classe especial caracterizada por sua capacidade de ser consumida Mas os produtos remanescentes ou seja os meios de produção produzidos são por um lado apenas a encarnação dos dois bens de produção originais por outro lado bens de consumo potenciais ou melhor partes de bens de consumo potenciais Até agora não encontramos nenhuma ra zão e ficará claro mais tarde que não há nenhuma razão para que devêssemos ver neles um fator de produção independente Nós os con vertemos em trabalho e terra Também podemos transformar os bens de consumo e de modo inverso conceber os fatores produtivos originais como bens de consumo em potencial Ambas as perspectivas todavia são aplicáveis apenas aos meios de produção produzidos pois não têm existência em separado Colocase agora a questão em que relação os dois fatores pro dutivos originais se encontram um diante do outro Algum dos dois tem precedência sobre o outro ou seus papéis são essencialmente di ferentes Não podemos responder a isso tendo um ponto de vista geral seja filosófico seja físico ou qualquer outro mas somente do ângulo econômico Para nós é uma questão apenas de como se representa a sua relação para os propósitos do sistema econômico Todavia a res posta que deve ser válida no reino da doutrina econômica não pode ser válida em geral mas apenas com respeito a uma construção par ticular do sistema teórico Assim os fisiocratas por exemplo respon deram afirmativamente à primeira questão e na verdade favoravel mente à terra de forma perfeitamente correta em si mesma Na medida em que em sua visão não expressavam nada além do fato de que o trabalho não pode criar nenhuma matéria física nova nada há que se possa objetarlhes É apenas uma questão de quanto é fecunda essa concepção no campo econômico A concordância nesse ponto com os fisiocratas por exemplo não impede que neguemos nossa apro SCHUMPETER 35 28 Isso foi enfatizado de modo particularmente eloqüente por O Effertz Quando se reflete sobre o quanto os economistas clássicos enfatizaram unilateralmente o trabalho como isso estava tão fortemente ligado a alguns de seus resultados e que realmente só BöhmBawerk atingiu consistência completa nesse ponto é preciso reconhecer a ênfase de Effertz sobre o assunto como um serviço efetivamente importante vação a seus argumentos posteriores Adam Smith também respondeu afirmativamente à mesma questão mas em favor do trabalho Também isso não é falso em si mesmo poderia até ser correto tomar essa con cepção como ponto de partida Expressa o fato de que o uso da terra não demanda de nós nenhum sacrifício sob forma de desutilidade e se ganhássemos algo com isso também poderíamos adotar essa con cepção É verdade que Adam Smith pensava claramente no potencial produtivo oferecido pela natureza como bens livres e atribuiu o fato de não serem assim efetivamente considerados no sistema econômico à sua ocupação pelos donos da terra Pensava claramente que numa comunidade sem propriedade privada da terra somente o trabalho seria um fator nos cálculos econômicos Ora isso é decididamente in correto mas o seu ponto de partida não é em si mesmo tão indefen sável A maior parte dos economistas clássicos mais que todos Ri cardo põe o elemento trabalho em primeiro plano Podiam fazêlo porque por meio de sua teoria da renda eliminavam a terra e a de terminação de seu valor Se a teoria da renda fosse defensável então certamente poderíamos nos contentar com essa concepção Mesmo um espírito tão independente como Rae contentouse com ela precisamente porque aceitou aquela teoria da renda Finalmente um terceiro grupo de escritores respondeu negativamente à nossa questão Ao lado destes nos colocamos Para nós o ponto decisivo é que ambos os fatores pro dutivos originais são igualmente indispensáveis à produção e na ver dade pela mesma razão e da mesma maneira A segunda questão também pode ser respondida de vários modos bastante independente da resposta à primeira Assim Effertz por exemplo atribui um papel ativo ao trabalho e um passivo à terra O motivo por que o faz é muito claro Pensa ele que o trabalho é o elemento motivador na produção enquanto a terra representa o objeto em que o trabalho se manifesta Nisso está certo mas sua orientação não nos proporciona nenhum conhecimento novo Pelo lado técnico dificilmente podese adotar a concepção de Effertz mas esse aspecto não é decisivo para nós Só nos interessa o papel desempenhado pelos dois fatores produtivos originais nas deliberações e procedimentos econômicos dos indivíduos e a esse respeito os dois se mostram bem capazes O tra balho assim como a terra é economizado O trabalho como a terra é avaliado é usado segundo critérios econômicos e ambos recebem igual enfoque econômico E nenhum dos casos envolve qualquer outra coisa Como nada mais é relevante para nossos objetivos com relação aos dois fatores de produção originais colocálosemos em termos de igualdade Nessa interpretação concordamos com os outros teóricos da utilidade marginal Embora não tenhamos mais nada a dizer sobre o fator produtivo terra é a nosso ver aconselhável examinar um pouco mais detidamente o outro fator o trabalho Passando por cima das diferenças entre tra OS ECONOMISTAS 36 balho produtivo e improdutivo entre trabalho usado direta e indire tamente na produção e ultrapassando as distinções do mesmo modo irrelevantes entre trabalho mental e manual e entre qualificado e nãoqualificado devemos analisar duas outras distinções que são sig nificativas na medida em que podemos partir delas para fazer uma observação que é essencial para nós São as distinções entre dirigente e dirigido e entre trabalho assalariado e autônomo O que distingue o trabalho dirigente do dirigido parece à primeira vista ser muito fun damental Há duas características principais Em primeiro lugar o trabalho dirigente tem uma posição mais elevada na hierarquia do organismo produtivo Essa direção e supervisão do trabalho executor parece erguer o trabalho dirigente acima e fora da classe do outro trabalho Enquanto o trabalho executor está simplesmente no mesmo nível que os usos da terra e do ponto de vista econômico tem absolu tamente a mesma função que estes o trabalho dirigente está claramente numa posição predominante tanto em contraste com o trabalho executor quanto com os usos da terra É como se fosse um terceiro fator produtivo A outra característica que o separa do trabalho dirigido parece cons tituir sua natureza o trabalho dirigente tem algo criativo no sentido de que estabelece seus próprios fins Podemos delinear a distinção entre trabalho autônomo e assalariado do mesmo modo que a exis tente entre trabalho dirigente e dirigido O trabalho autônomo é algo peculiar precisamente na medida em que possui a função de trabalho dirigente ao passo que de resto não difere em nada do trabalho assalariado Se portanto um indivíduo autônomo produz por sua própria conta e também faz trabalho executor então divi dese por assim dizer em dois indivíduos a saber um diretor e um trabalhador no sentido usual É fácil ver que a característica de estar num posto mais alto a própria função de superintendência não constitui nenhuma distinção econômica essencial A simples circunstância que coloca um trabalhador num posto acima do de outro numa organização industrial numa po sição de direção e superintendência não torna seu trabalho em nada distinto Mesmo que o líder nesse sentido não mova um dedo nem contribua em nada diretamente para a produção ainda assim realiza trabalho indireto no sentido usual exatamente como digamos o vigia Muito mais importância parece ser atribuída ao outro elemento que consiste na decisão sobre a direção o método e a quantidade da pro dução Mesmo que se admita que o referido posto mais elevado não significa muito economicamente embora talvez bastante sociologi camente ainda se verá um traço distintivo essencial nessa função de tomar decisões Mas vemos de imediato que a necessidade de tomar decisões ocorre em qualquer trabalho Nenhum aprendiz de sapateiro pode con sertar um sapato sem tomar algumas resoluções e sem decidir inde SCHUMPETER 37 pendentemente algumas questões por menores que sejam O que e o como lhe são ensinados mas isso não o isenta da necessidade de uma certa independência Quando um trabalhador de uma empresa de eletricidade entra numa casa para consertar o sistema de iluminação ele mesmo precisa decidir algo sobre o que e o como Um vendedor pode até ter que participar nas decisões relativas aos preços o esta belecimento do preço de um artigo pode ser dentro de certos limites deixado a cargo dele apesar disso ele não é nem líder nem ne cessariamente autônomo Ora o diretor ou o proprietário indepen dente de um negócio certamente tem que decidir mais e tomar a maior parte das decisões Mas o quê e o porquê também lhe são ensinados Ele conhece antes de tudo o como aprendeu sobre a produção técnica e sobre todos os dados econômicos pertinentes O que ainda há para ser decidido difere apenas em grau das decisões do aprendiz de sapa teiro E o que lhe é prescrito pela demanda Não estabelece ele ne nhuma meta particular mas as circunstâncias dadas o forçam a agir de uma maneira definida Certamente os dados podem mudar e então dependerá de sua capacidade o quão rapidamente reage e com quanto sucesso Mas é assim sempre que leva a cabo qualquer trabalho Ele age não com base nas condições normais das coisas mas preferivelmente de acordo com certos sintomas aos quais aprendeu a prestar atenção especialmente as tendências que de imediato lhe mostram a demanda de seus fregueses E a essas tendências ele se entrega passo a passo de modo que normalmente apenas elementos de menor significação podem serlhe desconhecidos Dessa consideração todavia seguese que na me dida em que os indivíduos em seu comportamento econômico tiram sim plesmente conclusões de circunstâncias conhecidas e é disso de fato que estamos tratando e que a economia sempre tratou não há nenhuma importância se são dirigidos ou dirigentes O comportamento dos últimos está sujeito às mesmas regras que o dos primeiros e é uma tarefa fun damental da teoria econômica estabelecer essa regularidade mostrar que o aparentemente fortuito é na realidade estritamente determinado Portanto em nossos pressupostos os meios de produção e o pro cesso produtivo não têm em geral nenhum líder real ou melhor o líder real é o consumidor As pessoas que dirigem as empresas de negócios apenas executam o que lhes é prescrito pelas necessidades ou pela demanda e pelos meios e métodos de produção dados Os in divíduos só têm influência na medida em que são consumidores na medida em que expressam uma demanda Nesse sentido de fato todo indivíduo participa na direção da produção não apenas aquele a quem coube o papel de diretor de um negócio mas todos especialmente o trabalhador em sentido mais estrito Em nenhum outro sentido há uma direção pessoal da produção Os dados que regularam o sistema econômico no passado são bem conhecidos e se permanecerem inalte rados o sistema continuará no mesmo caminho As mudanças pelas OS ECONOMISTAS 38 quais os dados podem passar não são tão comuns mas em princípio o indivíduo as segue do melhor modo que pode Ele não altera nada espontaneamente só altera o que as condições já estão alterando por sua própria conta remove as discrepâncias que emergem entre os dados e o seu comportamento se as condições dadas mudam e as pessoas tentam continuar a atuar do mesmo modo Qualquer indivíduo pode agir de fato de maneira diferente ao nosso modo de ver mas na medida em que as mudanças resultam simplesmente da pressão da necessidade objetiva qualquer papel criativo fica ausente do sistema econômico Se o indivíduo age diferentemente então aparecem fenô menos essencialmente diferentes como veremos Mas aqui só estamos interessados em expor a lógica inerente aos fatos econômicos De nossos pressupostos também se segue que a quantidade de trabalho é determinada pelas circunstâncias dadas Aqui agregamos a consideração de uma questão que ficou anteriormente em aberto a saber a amplitude da oferta de trabalho existente em qualquer mo mento Obviamente não se determina rigorosamente desde o princípio quanto um dado número de homens trabalha Se supomos por en quanto que são conhecidas as melhores possibilidades de emprego do trabalho de todos os indivíduos que portanto há uma escala rigoro samente determinada de tais empregos então em qualquer ponto dessa escala a utilidade esperada de todo emprego concreto de trabalho é comparada com a desutilidade que acompanha o emprego Milhares de expressões da vida cotidiana nos lembram que o trabalho para ob tenção do pão nosso de cada dia é um fardo pesado só suportável porque necessário e dele nos livramos quando podemos Daí tornase inequivocamente evidente o montante de trabalho que um trabalhador realizará Ao início de cada dia de trabalho naturalmente tal compa ração é sempre favorável ao trabalho a ser empreendido Todavia à medida que se progride na satisfação das necessidades mais declina o impulso para o trabalho e ao mesmo tempo mais cresce a quantidade com que é comparado a saber a desutilidade do trabalho de modo que a comparação tornase continuamente mais desfavorável à conti nuação do trabalho até que para cada trabalhador chega o momento em que a utilidade crescente e a desutilidade crescente de trabalho se equilibram Naturalmente a potência de ambas as forças varia de acordo com os indivíduos e segundo os países Nessas variações repousa um fator explicativo fundamental da conformação da história pessoal e nacional Mas a essência do princípio teórico não é perturbada por elas29 Os serviços do trabalho e da terra são portanto simplesmente forças produtivas A medida da quantidade de trabalho de qualquer SCHUMPETER 39 29 Para detalhes cf Wesen Livros Primeiro e Segundo Obviamente o princípio é válido apenas para certo resultado do esforço ou seja um resultado inequívoco tal como os salários reais por hora qualidade certamente apresenta dificuldades mas pode ser efetuada do mesmo modo que em princípio não haveria dificuldades para es tabelecer alguma medida física dos serviços da terra por mais com plicada que a questão pudesse ser na prática Então se houvesse apenas um fator de produção se por exemplo o trabalho de uma qualidade pudesse produzir todos os bens o que é concebível ao se supor que todas as dádivas da natureza são bens livres de modo que não se levanta nenhuma questão sobre o comportamento econômico em relação a elas ou se ambos os fatores de produção funcionassem separada mente de modo que cada um produzisse bens distintos por si só tal medida seria tudo o que o homem precisaria na prática para seus planos econômicos Por exemplo se a produção de um bem de consumo de valor definido requeresse três unidades de trabalho e outro do mesmo valor requeresse duas então o seu comportamento estaria determinado Todavia na realidade não é assim Os fatores produtivos sempre atuam praticamente juntos Ora se digamos fossem necessárias três unidades de trabalho e duas de terra para produzir um bem de determinado valor e duas de trabalho e três de terra para produzir outro qual a alternativa que o produtor deveria escolher Obviamente é necessário um padrão para comparar as duas combinações requerse um deno minador comum Podemos chamar essa questão de problema de Petty30 A teoria da imputação nos dá sua solução O que o indivíduo deseja medir é o valor relativo das quantidades de seus meios de pro dução Precisa de um padrão que o auxilie a regular seu comportamento econômico precisa de catálogos aos quais possa adaptarse Em suma precisa de um padrão de valor Mas só dispõe de tal coisa diretamente apenas para seus bens de consumo pois só estes satisfazem imedia tamente suas necessidades cuja intensidade é a base da importância que seus bens têm para ele Em primeira instância não há tal padrão para o seu estoque de serviços do trabalho e da terra e da mesma forma podemos acrescentar nenhum padrão para seus meios de pro dução produzidos Está claro que esses outros bens também devem sua importância simplesmente ao fato de que também servem para satisfazer necessi dades Contribuem para a satisfação de necessidades porque contri buem para a realização de bens de consumo Portanto recebem seu valor destes últimos É como se o valor dos bens de consumo refletisse de volta sobre eles Élhes imputado e com base nesse valor impu tado recebem seu lugar na ordem econômica Assim nem sempre se mostrará possível uma expressão finita do valor total do estoque de meios de produção ou de um dos dois fatores produtivos originais porque esse valor total muitas vezes será infinitamente grande Toda OS ECONOMISTAS 40 30 Petty coloca incidentalmente esse problema em seu trabalho Political Arithmetic que tam bém contém como se sabe muitos outros germes da análise teórica posterior via conhecer esse valor total não é necessário nem para o homem concreto nem para a teoria Não se trata nunca de uma questão de abandonar qualquer possibilidade de produção ou seja de existência mas simplesmente de alocar certas quantidades de meios produtivos para um fim ou outro Um indivíduo isolado por exemplo que não pudesse de modo algum produzir ou viver sem qualquer um dos fatores produtivos originais não poderia formular nenhuma expressão finita do valor de qualquer deles Nessa medida Mill tem bastante razão31 quando diz que os serviços do trabalho e da terra são indeterminados e incomensuráveis Mas está errado quando prossegue e diz também que num caso particular não se pode nunca dizer quais são as cotas da natureza e do trabalho presentes no produto Fisicamente de fato as duas não admitem separação mas isso não é necessário para os objetivos do sistema econômico Todo indivíduo sabe muito bem o que é necessário para este último a saber que aumento da satisfação deve a todo pequeno incremento de cada meio de produção Todavia aqui não adentraremos mais o problema da teoria da imputação32 Em contraste com o valor de uso dos bens de consumo esse valor dos bens de produção é valor de rendimento Ertragswert ou como também se poderia dizer valor de produtividade Produktivitätswert À utilidade marginal dos primeiros corresponde o uso produtivo mar ginal Produktivitätsgrenznutzen dos últimos ou seguindo o termo usual a produtividade marginal a importância de uma unidade indi vidual dos serviços do trabalho ou da terra é dada pela produtividade marginal do trabalho ou da terra que portanto deve ser definida como o valor da unidade menos importante do produto gerada até agora com o auxílio de uma unidade de um dado estoque dos serviços do trabalho ou da terra Esse valor indica a cota de cada serviço in dividual do trabalho ou da terra presente no valor do produto social total e por isso pode ser chamado em certo sentido de produto de um serviço do trabalho ou da terra Essas parcas afirmações não trans mitirão o que deveriam transmitir aos que não estejam completamente familiarizados com a teoria do valor Remeto o leitor ao trabalho de J B Clark Distribution of Wealth em que a teoria está exposta com rigor e seu sentido é elucidado33 e simplesmente observo que é este o único significado preciso da expressão produto do trabalho para os objetivos de uma abordagem puramente econômica Aqui nós só o usaremos SCHUMPETER 41 31 Principles ed Ashley p 26 32 Cf Carl Menger Wieser e BöhmBawerk que primeiro trataram do problema Cf também Wesen Livro Segundo e o meu Bemerkungen zum Zurechnungsproblem In Zeitschrift für Volkswirtschaft Sozialpolitik und Verwaltung 1909 Não estamos preocupados com os problemas mais difíceis que surgem da teoria da produtividade marginal e não precisamos portanto nos referir à sua forma atual muito mais correta 33 Os equívocos surgem especialmente de uma compreensão inadequada do conceito de marginal Cf a respeito do artigo de EDGEWORTH The Theory of Distribution In Quarterly Journal of Economics 1904 Particularmente sua resposta aos argumentos de Hobson contra Clark nesse sentido Também nesse sentido dizemos que os preços dos serviços da terra e do trabalho numa economia de trocas ou seja a renda e os salários são determinados pela produtividade marginal da terra e do trabalho e portanto que sob a livre concorrência o senhor da terra e o trabalhador recebem o produto de seus meios de produção Esse teorema que na moderna teoria dificilmente pode ser controverso é apenas apresentado aqui Tornarseá mais claro com as explanações posteriores O ponto seguinte também é importante para nós Na realidade o indivíduo usa com certa presteza esse valor dos meios de produção porque os bens de consumo em que se convertem lhes são empirica mente familiares Como o valor dos primeiros depende do dos últimos os primeiros devem mudar quando se produzem bens de consumo di ferentes dos até então produzidos E como desejamos desconhecer a existência dessa experiência dada e permitir que ela surja diante de nossos olhos para investigar sua natureza devemos começar pelo ponto em que o indivíduo ainda não está certo quanto à escolha entre as possibilidades existentes de emprego Então antes de tudo empregará seus meios de produção na produção dos bens que satisfazem suas necessidades mais prementes e depois prosseguirá na satisfação das necessidades sentidas progressivamente com menos urgência Além dis so considerará a cada passo que outras sensações de carência não devem ser satisfeitas em conseqüência do emprego dos meios de produção para as carências preferenciais do momento Só se pode dar um passo econômico se ficar assegurado que a satisfação de necessidades mais intensas não se torna com isso impossível Enquanto a escolha não for feita os meios de produção não terão valor determinado A cada possibilidade de emprego considerada corresponderá um valor parti cular de cada incremento Então só pode ficar claro qual desses valores estará definitivamente associado com qualquer incremento depois de a escolha ter sido feita e de ter resistido ao teste da experiência A condição fundamental de que uma necessidade não será satisfeita antes que as necessidades mais intensas o tenham sido leva finalmente à conclusão de que todos os bens devem se dividir entre os seus diferentes usos possíveis de forma que a utilidade marginal de cada bem seja igual em todos os seus usos Então com esse arranjo o indivíduo en controu a melhor solução possível sob condições dadas e segundo seu ponto de vista Se agir assim então pode dizer que a seu ver tirou o máximo proveito dessas circunstâncias Esforçarseá em busca dessa dis tribuição de seus bens e modificará todo plano econômico concebido ou executado até alcançála Se não houver nenhuma experiência disponível então deve tentar o seu caminho passo a passo no sentido dessa distri buição Se já é disponível tal experiência dos períodos econômicos ante riores procurará percorrer o mesmo caminho E se mudarem as condições OS ECONOMISTAS 42 que se expressam nessa experiência então submeterseá à pressão das novas condições e a elas adaptará sua conduta e suas avaliações Em todos os casos há um método definido de empregar cada bem por conseguinte uma determinada satisfação das necessidades e daí um índice de utilidade para os incrementos individuais dos bens que é a expressão deles Esse índice de utilidade caracteriza o lugar de cada incremento na economia do indivíduo Se surge uma nova possibilidade de emprego deve ser considerada à luz desse valor To davia se retornarmos aos atos de escolha individuais que foram rea lizados e que resultam nesse índice de utilidade verificamos que em cada caso a utilidade decisiva é outra e não essa utilidade determinada Se eu tiver repartido um certo bem entre três possibilidades de seu emprego quando surgir uma quarta possibilidade eu a apreciarei con forme o estado de satisfação atingido com as três primeiras Todavia essa utilidade não é determinante para a divisão entre essas três porque só passa a existir depois que a divisão tiver sido decidida Mas finalmente emerge para cada bem uma escala definida de utilidades que reflete as utilidades de todos os seus usos e que lhe dá uma utilidade marginal determinada Para um meio de produção o mesmo é obtido como dissemos mediante seu produto ou segundo a expressão de Wieser mediante sua contribuição produtiva Como toda produção envolve uma escolha entre possibilidades concorrentes e sempre significa renúncia à produção de outros bens o valor total do produto nunca é ganho líquido mas apenas o seu excedente sobre o valor do produto que teria sido produzido de outra forma O valor deste último representa um contraargumento em re lação ao produto escolhido e ao mesmo tempo mede a sua força Aqui aparece o elemento custos Os custos são um fenômeno do valor Na análise final o que a produção de um bem custa ao produtor são aqueles bens de consumo que de outro modo poderiam ser adquiridos com os mesmos meios de produção e que em conseqüência da escolha da pro dução não podem ser produzidos agora Portanto o gasto nos meios de produção envolve um sacrifício tanto no caso do trabalho como no de outros meios de produção Sem dúvida no caso de trabalho há também outra condição que deve ser preenchida a saber que todo dispêndio de trabalho deve resultar numa utilidade que ao menos com pense a desutilidade vinculada a esse dispêndio de trabalho Isso to davia não altera de nenhum modo o fato de que dentro dos limites dessa condição o indivíduo se comporta em relação ao dispêndio de trabalho exatamente como em relação ao dispêndio de outros recursos produtivos Necessidades não satisfeitas portanto de jeito nenhum são des providas de significado Sua marca é observável em todos os lugares e toda decisão produtiva deve lutar com elas E quanto mais longe o produtor leva a produção numa dada direção mais dura se torna essa SCHUMPETER 43 luta ou seja quanto mais uma necessidade particular é satisfeita menor a intensidade do desejo por mais satisfação desse tipo por isso menor é o incremento da satisfação alcançado com a produção adicional Ademais o sacrifício ligado à produção desse tipo também cresce si multaneamente Pois os meios de produção desse produto devem ser retirados de categorias de necessidades cada vez mais importantes O ganho em valor por meio de um tipo de produção tornase portanto cada vez menor e finalmente desaparece Quando isso acontece essa produção particular chega ao fim Assim sendo podemos falar aqui de uma lei dos rendimentos decrescentes na produção Esta contudo tem um significado completamente diferente do da lei do produto físico decrescente da qual a validade de nossa proposição é independente34 É óbvio que a lei econômica dos custos crescentes terminaria por atuar mesmo que a proposição física não fosse válida e mesmo que o seu contrário fosse o correto Pois o valor do investimento a ser feito cres ceria tanto eventualmente que o ganho em utilidade advindo da pro dução desapareceria mesmo que caísse progressivamente o montante físico desse investimento Se fosse esse o caso obviamente a condição de satisfação das necessidades de todos estaria num nível mais alto mas nem por isso os fenômenos essenciais seriam diferentes A consideração que os produtores efetivamente têm pelo elemento custo de produção portanto nada é além de uma maneira de levar em conta as outras possibilidades de emprego dos bens de produção Essa consideração constitui um freio para todo emprego produtivo e um guia que todo produtor segue Mas na prática muito logo o costume a cristaliza numa expressão curta e de fácil manejo da qual todo in divíduo faz uso sem construíla de novo a cada vez Com ela o produtor trabalha na prática adaptandoa às circunstâncias em mudança quan do surge a necessidade nela se expressam em geral inconscientemente todas as relações entre necessidades e meios presentes todas as con dições de sua vida e de seu horizonte econômico Enquanto expressão do valor dos outros empregos potenciais dos meios de produção os custos constituem os itens de passivo na folha do balanço social Esse é o significado mais profundo do fenômeno do custo O valor dos bens de produção deve ser distinguido dessa ex pressão Pois representa ex hypothesi o maior valor total do pro duto efetivamente criado Mas na margem da produção de acordo com o dito acima ambas as quantidades são iguais porque os custos se elevam até a altura da utilidade marginal do produto e portanto tam bém da combinação presente aos de meios de produção Nesse ponto OS ECONOMISTAS 44 34 Ao abandonar dessa maneira a lei do decréscimo físico damos um passo decisivo no sentido de nos afastar do sistema dos economistas clássicos Cf meu ensaio Das Rentenprinzip in der Verteilungslehre In Schmollers Jahrbuch 1906 e 1907 Além deste WEISS P X Abnehmender Ertrag In Handwörterbuch der Staatswissenschaften surge aquela posição relativamente melhor que é usualmente chamada de equilíbrio econômico35 e que enquanto os dados se mantiverem tende a se repetir em todo período Isso tem uma conseqüência muito digna de nota Antes de tudo seguese disso que o último incremento de todo produto será produzido sem um ganho em utilidade maior do que os custos Entendido corre tamente sem dúvida isso é claro e evidente por si mesmo Mas indo além seguese que em geral nenhum valor excedente acima do valor dos bens de produção pode ser obtido na produção Esta realiza apenas os valores previstos no plano econômico que existem previamente em potencial nos valores dos meios de produção Também nesse sentido e não apenas no sentido físico supracitado a produção não cria ne nhum valor ou seja no processo produtivo não ocorre nenhum aumento do valor A futura satisfação de necessidades antes que a produção tenha feito o seu trabalho é exatamente tão dependente da posse dos meios de produção necessários quanto o é depois em relação à posse do produto O indivíduo tentará evitar as perdas dos primeiros com a mesma energia que usou com as dos últimos e só renunciará aos pri meiros pela mesma compensação que teve pelos últimos Ora o processo de imputação deve voltar aos elementos últimos da produção os serviços do trabalho e da terra Não pode se deter em nenhum meio de produção produzido pois o mesmo argumento pode ser repetido para cada um deles Assim nenhum produto pode até aqui apresentar um valor excedente acima do valor dos serviços do trabalho e da terra nele contidos Assim como anteriormente dividimos os meios de produção produzidos em trabalho e terra vemos agora que são somente itens transitórios do processo de valorização Por isso numa economia de trocas no momento antecipamos um pouco os preços de todos os produtos devem ser iguais aos preços dos serviços do trabalho e da natureza neles incorporados em livre concorrência Pois o mesmo preço que é obtido pelo produto depois da produção deve ter sido obtenível antes pelo conjunto completo dos meios de produção necessários pois depende deles exatamente tanto quanto do produto Cada produtor deve ceder suas receitas totais àqueles que o abasteceram dos meios de produção e na medida em que eles também foram produtores de um ou outro produto devem por sua vez passar adiante suas receitas até que finalmente todo o preço total original recaia sobre os fornecedores dos serviços do trabalho e da natureza Todavia voltaremos a isso mais tarde Aqui deparamos com um segundo conceito de custo o da economia de trocas O homem de negócios considera como seus custos as somas de dinheiro que deve pagar a outros indivíduos para obter suas mer SCHUMPETER 45 35 Cf Wesen Livro Segundo cadorias ou os meios de produzilas ou seja suas despesas de produção Completamos seu cálculo ao incluir também nos custos o valor em dinheiro de seus esforços pessoais36 Então os custos são em sua essência os totais dos preços dos serviços do trabalho e da natureza E esses totais de preços devem sempre se igualar às receitas obtidas pelos produtos Nessa medida portanto a produção deve fluir essencialmente sem lucro É um paradoxo que o sistema econômico em sua situação mais perfeita deva operar sem lucro Se recordarmos o significado de nossas afirmações o paradoxo desaparece ao menos em parte É claro que nossa asserção não significa que se o sistema econômico estiver perfeitamente equilibrado produz sem resultado mas apenas que os resultados fluem inteiramente para os fatores produtivos originais As sim como o valor é um sintoma de nossa pobreza o lucro é um sintoma de imperfeição Todavia o paradoxo permanece parcialmente Parece óbvio que os produtores como por regra recebem mais do que os sa lários pelo seu trabalho e pela renda da terra que eventualmente pos suam Não haverá uma taxa geral de lucro líquido no sentido de um excedente sobre os custos A concorrência pode varrer o lucro excedente particular de uma indústria mas não poderia destruir os lucros comuns a todos os ramos da produção Mas suponhamos que os produtores obtêm um tal lucro Então devem valorizar correspondentemente os meios de produção aos quais os devem Ora estes são meios de produção originais quer dizer serviços pessoais ou agentes naturais e nesse caso estamos onde estávamos antes ou então são meios de produção produzidos e nesse caso seus preços devem ser correspondentemente mais altos ou seja os serviços do trabalho e da terra incorporados neles devem ter preços mais altos do que outros serviços semelhantes Isso contudo é impossível uma vez que trabalhadores e senhores de terra podem competir de modo muito efetivo com aquelas quantidades de trabalho e de terra que foram previamente investidas Conseqüen temente o lucro puro não pode existir porque o valor e o preço dos serviços produtivos originais sempre absorverão o valor e o preço do produto mesmo que o processo produtivo seja distribuído entre muitas empresas independentes Não quero cansar demais o leitor e pus mais adiante uma continuação da análise cujo lugar adequado seria este37 Isso não se opõe tanto à doutrina clássica como pode parecer a alguns leitores A teoria do valor baseado nos custos e especialmente a teoria ricardiana do trabalho sugerem claramente a mesma conclusão e assim se explicam algumas tendências teóricas tais como a tendência a chamar de salários todos os tipos de renda às vezes até o juro Se OS ECONOMISTAS 46 36 Os serviços pessoais de trabalho são por assim dizer despesas virtuais como Seager apropriadamente afirmou cf sua Introduction to Economics p 55 Todo homem de negócios que calcula corretamente inclui agora a renda de sua própria terra nas suas despesas 37 Cf capítulo IV e especialmente capítulo V isso não foi colocado expressamente no tempo dos clássicos38 foi porque primeiro os economistas mais antigos não eram muito rigorosos no reconhecimento das conseqüências de seus próprios princípios e em segundo lugar porque a nossa conclusão parece contradizer os fatos de maneira muito clara De fato foi BöhmBawerk o primeiro que disse expressamente que todo o valor do produto deve em princípio ser dividido entre trabalho e terra se o processo de produção desenrolarse com perfeição ideal Isso naturalmente requer que todo o sistema eco nômico esteja adaptado com precisão à produção empreendida e que todos os valores estejam ajustados apropriadamente aos dados que todos os esquemas econômicos funcionem juntos harmoniosamente e que nada perturbe sua execução Duas circunstâncias todavia assim prossegue BöhmBawerk perturbam constantemente o equilíbrio entre os valores do produto e dos meios de produção A primeira é conhecida com o nome de fricção Por milhares de razões o organismo econômico não funciona com muita presteza O erro o contratempo a indolência e coisas semelhantes como sabemos tornamse fonte contínua de perda mas também de lucro39 Antes de passar à segunda circunstância aludida por BöhmBa werk vamos inserir aqui algumas palavras sobre dois elementos que são de importância considerável O primeiro é o elemento do risco Podemos distinguir dois tipos de risco o risco de falha técnica na pro dução no qual podemos incluir o risco de perda por fatores que de pendem de Deus e o risco do fracasso comercial Na proporção em que esses perigos são previstos eles atuam de imediato sobre os planos econômicos Os homens de negócios incluirão prêmios de risco em sua contabilidade de custos realizarão gastos para se proteger contra certos perigos ou finalmente levarão em conta e uniformizarão as di ferenças de risco entre os ramos da produção evitando simplesmente os ramos mais arriscados até que a conseqüente elevação dos preços nos últimos ofereça uma compensação40 Nenhum desses métodos para equiparar os riscos econômicos cria um lucro em princípio Um produtor que tome precauções contra o risco por quaisquer medidas cons trução de represas seguro das máquinas e outras tem certamente uma vantagem ao proteger o fruto de sua produção mas ordinariamente tem também custos correspondentes O prêmio de risco não é uma fonte de ganho para o produtor mas no máximo para uma com panhia de seguros que pode tirar daí um lucro de intermediário prin cipalmente ao reunir muitos riscos pois no correr do tempo será o SCHUMPETER 47 38 Lotz por exemplo fez isso apesar de se ter afastado da percepção de maneira muito débil ver o seu Handbuch der Staatswissenschaftslehre Podese encontrar sugestões muito claras em Smith 39 Cf a exposição de BÖHMBAWERK Positive Theorie des Kapitalzinses 4ª ed p 219316 40 Cf EMERY citado em meu ensaio Die neuere Wirtschsftstheorie in den Vereinigten Staaten In Schmollers Jahrbuch 1910 FISHER Capital and Income prêmio requerido para os casos das necessidades que surgirem E a compensação pelo maior risco só aparentemente é um retorno maior deve ser multiplicada por um coeficiente de probabilidade por meio do qual seu valor real é reduzido novamente e exatamente no mon tante do excedente Quem simplesmente consumir esse excedente pa gará por isso no curso dos acontecimentos Portanto não existe o papel independente atribuído com freqüência ao elemento risco nem o retorno independente que às vezes é vinculado a ele É claro que a questão é diferente se os riscos não forem previstos ou se nem ao menos forem tidos em conta no plano econômico Então se tornam por um lado fonte de perdas temporárias e por outro lado fonte de ganhos temporários A fonte principal desses ganhos e perdas e este é o segundo elemento que desejo considerar aqui são as mudanças espontâneas dos dados com os quais o indivíduo está acostumado a contar Elas criam novas situações às quais é preciso tempo para se adaptar E antes que isso possa acontecer ocorrem no sistema econômico muitas discrepâncias positivas ou negativas entre custos e receitas A adap tação sempre oferece dificuldades Na maioria dos casos não se atinge com a presteza desejável o simples conhecimento do estado de coisas modificado Tirar conclusões desse conhecimento é de novo um grande passo que se defronta com muitos obstáculos na falta de preparação de meios etc Mas em geral é impossível a adaptação perfeita em relação aos produtos existentes anteriormente especialmente é claro no caso dos bens de consumo duráveis Durante o tempo que deve transcorrer até que se gastem inteiramente aparecem inevitavelmente mudanças reais nas condições e isso causa uma das peculiaridades na determi nação de seu valor de que Ricardo tratou na seção IV de seu capítulo I Os seus retornos perdem toda conexão com os seus custos e devem simplesmente ser aceitos seus valores apropriados se alteram sem que haja a possibilidade de ser modificada a oferta correspondente Tornamse assim num certo sentido um tipo especial de retornos e podem elevarse acima ou cair abaixo do total de preços dos serviços do trabalho e da terra neles contidos Eles aparecem para o homem de negócios de modo semelhante ao aparecimento dos agentes naturais Nós os chamamos com Marshall de quaserendas Todavia BöhmBawerk aponta para uma segunda circunstância que pode alterar o resultado da imputação e impedir que uma parte do valor do produto se reflita nos serviços do trabalho e da natureza Esse é como se sabe o período de tempo41 envolvido em toda produção exceto a produção instantânea de esforços primitivos para manter a OS ECONOMISTAS 48 41 Quanto ao elemento tempo na vida econômica BöhmBawerk é a autoridade mais impor tante W S Jevons e John Rae vêm em seguida Para uma elaboração detalhada do elemento especial preferência de tempo é relevante Rate of Interest de Fisher Cf também o tratamento do elemento tempo em A Marshall vida Por causa disso os meios de produção não são meramente bens de consumo em potencial mas se distinguem desses últimos por uma nova característica essencial a distância no tempo que os separa dos bens capazes de ser consumidos Os meios de produção são bens de consumo futuros e assim valem menos do que os bens de consumo O seu valor não exaure o valor do produto Estamos tocando num problema extremamente delicado Mas como sua importância em relação ao objeto de discussão deste livro é limitada apenas nos colocaremos uma questão aqui No curso normal de um sistema econômico no qual ano após ano o processo de produção segue o mesmo caminho e todos os dados permanecem os mesmos haveria uma subvalorização sistemática dos meios de produção com parados aos produtos Essa questão se subdivide em duas outras abs traindo os coeficientes de risco objetivos e pessoais num tal sistema econômico as satisfações futuras podem ser sistemática e generaliza damente valorizadas em menos do que as satisfações atuais iguais E num tal sistema econômico deixandose à parte a influência do próprio transcurso do tempo sobre as valorizações o que acontece no correr do tempo pode estabelecer essas diferenças no valor Uma resposta afirmativa à primeira questão parece bastante plausível Certamente é mais agradável a entrega imediata de um presente do que sua promessa para o futuro42 Essa todavia não é a questão aqui mas sim a valorização de um fluxo regular de renda Se possível imaginemos o seguinte caso Alguém desfruta de uma renda anual vitalícia Suas necessidades permanecem absolutamente cons tantes tanto em qualidade como em intensidade pelo resto de sua vida A renda anual é grande e segura o suficiente para desobrigálo da necessidade de criar fundos para emergências especiais ou para a possibilidade de perda Sabese livre de responsabilidades que possam surgir em relação a outros e tem garantidos seus desejos repentinos Não existe nenhuma possibilidade de investir poupanças a juros pois se o admitíssemos estaríamos assumindo de antemão o elemento do juro e chegaríamos perigosamente perto do raciocínio circular Ora um homem em tal posição estimará menos as parcelas futuras de sua renda do que as mais próximas no tempo Desistiria das parcelas fu turas mais facilmente do que das presentes abstraindo sempre os danos na vida pessoal Obviamente que não pois se o fizesse ou seja se cedesse uma parcela futura por uma compensação menor do que para uma mais próxima no tempo descobriria no momento devido que tinha obtido uma satisfação total menor do que poderia ter obtido Seu comportamento portanto o induziria à perda seria nãoeconômico No entanto os fatos poderiam ter tal curso já que freqüentemente SCHUMPETER 49 42 Todavia podese mencionar que mesmo esse fato também não é tão claro e simples pelo contrário as suas razões requerem uma análise que brevemente será feita abaixo ocorrem transgressões das regras da razão econômica Mas não é es sencial a essas próprias regras que tais transgressões devam ocorrer43 É claro que a maioria das exceções com que nos defrontamos na vida prática não são transgressões mas devem ser explicadas pelo fato de as nossas suposições não se adequarem aos fatos Todavia quando verificamos uma estima excessiva dos prazeres presentes como parti cularmente no caso das crianças e selvagens o que temos diante de nós é meramente uma discrepância entre o problema econômico a ser resolvido e a perspectiva econômica do sujeito crianças e homens pri mitivos só conhecem a produção imediata As necessidades futuras não lhes parecem menores eles simplesmente não as vêem Portanto não resistirão ao teste de decisões que requer um horizonte mais amplo Isso é óbvio e ordinariamente eles não precisam tomar tais decisões Aquele que capta a cadência dupla das necessidades e dos meios de satisfação talvez possa num caso particular desdenhar a conclusão de que o deslocamento unilateral de qualquer deles significa perda de satisfação mas não pode rejeitála por princípio Mas e a nossa segunda questão O processo de produção não pode se dar de uma forma à qual não se possam adequar as suposições de nosso caso típico O fluxo contínuo dos bens não pode moverse de modo ora mais fraco ora mais forte Mas em especial o fato de que um método mais fértil de produção demanda mais tempo não deve afetar o valor dos bens presentes cuja simples posse torna possível a sua escolha constituindo o tempo assim um fator do fluxo circular A resposta negativa que damos a essa questão pode facilmente ser mal compreendida e só posteriormente adquirirá sua plena significação Não nego a importância do elemento tempo para a vida econômica mas apenas o vejo sob um prisma diferente A questão da introdução de processos mais produtivos que consomem porém mais tempo e a questão de como o elemento tempo a afeta são problemas bem distintos Não estamos falando agora da introdução de novos processos mas do fluxo circular que consiste em processos dados e já em funcionamento E aqui o método mais frutífero de produção gera seus resultados tão prontamente quanto qualquer outro não importando qual a extensão de sua duração Um método de produção obviamente só será chamado de mais frutífero se gerar mais produtos do que a soma dos processos menos frutíferos que podem ser executados no mesmo tempo por meio da mesma quantidade de fatores produtivos Dadas as quantidades necessárias de trabalho e agentes naturais a produção por esse método será repetida indefinidamente sem nenhum exercício da escolha e a OS ECONOMISTAS 50 43 Minha objeção está bem expressa pelo mais eminente intérprete vivo da subestimação das satisfações futuras Professor Fisher quando introduz o termo impaciência para designála A impaciência irracional como o erro etc indubitavelmente existe Mas não é um elemento do curso normal das coisas corrente de produtos será contínua Mas mesmo se não fosse esse o caso não haveria subestima dos futuros produtos Pois se o processo produtivo entregasse seus resultados em intervalos periódicos ainda assim não haveria espera porque o consumo poderia se adaptar e prosseguir continuamente e a uma taxa igual por unidade de tempo de modo que não haveria motivo para subestimar os produtos futuros44 Posso muito bem ter um maior apreço pelos bens presentes do que pelos futuros se a sua posse me assegura mais bens no futuro Porém não o farei mais e as minhas valorizações presentes e futuras deverão ser igualadas quando eu estiver seguro de que o fluxo de bens é mais rico e quando meu comportamento se adaptar a ele Ter mais bens no futuro não dependerá mais então da posse de bens presentes Podemos estender também o exemplo de nosso pensionista para esse caso Suponhamos que ele recebeu até aqui 1 000 dólares por mês Então lhe oferecem em vez disso 20 mil dólares ao fim do ano Ora até que vença o prazo da primeira anuidade o elemento tempo pode fazerse sentir de modo desagradável Desde o momento em que vence o prazo todavia verá sua posição melhorar e na verdade avaliará essa melhora pela adição total de 8 mil dólares por ano e não por uma parte dessa soma Igual argumento se aplica ao elemento abstinência45 necessidade de esperar e outros E aqui remeto o leitor especialmente à exposição de BöhmBawerk Para nós é necessário apenas formular com exatidão nossa posição Esse fenômeno também não pode simplesmente ser ne gado como não existente Mas é muito mais complicado do que aparenta ser e é digno de nota que sua natureza e suas manifestações ainda não encontraram nenhuma análise profunda Aqui também se deve distinguir o processo de criação de um aparato produtivo do processo de fazêlo funcionar uma vez criado Qualquer que seja o papel da abstinência no primeiro teremos que falar disso repetidamente e para começar na discussão sobre poupança no próximo capítulo certamente no último processo a necessidade de espera não ressurge toda vez que um processo de produção for repetido Não é preciso esperar pelos retornos regulares uma vez que são habitualmente recebidos exatamente quando deles necessitamos No fluxo circular nor mal não é preciso resistir periodicamente à tentação da produção ime SCHUMPETER 51 44 É claro que imediatamente após a colheita o trigo é mais barato do que mais tarde Esse fato é todavia explicável pelos custos de armazenagem pela existência efetiva do juro e por muitas outras cicunstâncias nenhuma das quais muda nada em nossos princípios 45 Os autores principais são Senior e do outro lado BöhmBawerk em seu Geschichte und Kritik der Kapitalzinstheorien e mais recentemente o escritor americano McVane Cf também o artigo Abstinência no Palgraves Dictionary e a literatura ali especificada Quanto à falta de cuidado com que esse elemento é freqüentemente tratado é exemplar o trabalho de CASSEL The Nature and Necessity of Interest Nossa posição está próxima à da obra de WIESER Natürlicher Wert E à de CLARK John B Distribution of Wealth Cf também Wesen Livro Terceiro diata pelo fato de que quem sucumbisse estaria pior imediatamente Portanto não pode entrar em questão a abstinência no sentido de nãoconsumo das fontes de rendimentos porque pelas nossas pressu posições não há outra fonte de recursos além do trabalho e da terra Será que por fim o elemento abstinência não poderia exercer um papel no fluxo circular normal porque se é necessário à criação inicial do aparato produtivo deve ser posteriormente pago a partir da produção regular Em primeiro lugar ficará claro ao longo de nossa investigação que a abstinência tem apenas um papel muito secundário na provisão dos fatores necessários que falando concretamente a introdução de novos métodos de produção não requer no total nenhuma acumulação prévia de bens E em segundo lugar considerar a abstinência como um elemento independente dos custos acarreta nesse caso contar duas vezes o mesmo item como mostrou BöhmBawerk46 Qualquer que seja a natureza da espera ela certamente não é um elemento do processo econômico de que estamos tratando aqui porque o fluxo circular uma vez estabelecido não deixa defasagens entre o dispêndio ou o esforço produtivo e a satisfação de necessidades Ambos seguindo expressão conclusiva do Professor Clark são automaticamente sincronizados47 A teoria da imputação explica os valores de todos os bens indi viduais Só resta acrescentar que os valores individuais não são inde pendentes mas se condicionam mutuamente A única exceção à regra é o caso de uma mercadoria que não pode ser substituída por outra que tem somente meios de produção que não sejam passíveis de subs tituição e além disso não sejam empregáveis em mais nenhum lugar Tais exemplos são imagináveis podem ocorrer por exemplo no caso de bens de consumo ofertados imediatamente pela natureza mas cons tituem uma exceção que pode ser desprezada Todas as outras quan tidades de bens e seus valores mantêm uma estrita relação mútua Isso se expressa pela sua relação enquanto complementares pela pos sibilidade de emprego alternativo e pela relação enquanto substitutos Mesmo se dois bens têm em comum apenas um único agente de pro dução seus valores ainda estão relacionados pois as quantidades e por conseguinte os valores de ambos os bens dependentes da cooperação desse agente seguirão a regra da utilidade marginal igual em relação ao agente de produção comum aos dois Quase nem é necessário mostrar que a relação produtiva resultante em particular do fator produtivo trabalho abrange praticamente todos os bens A determinação da quan OS ECONOMISTAS 52 46 O tratamento dado por Fisher para o mesmo tema Rate of Interest p 4351 é viciado por considerar o desconto de tempo como o fato primário cuja existência é quase evidente por si mesma 47 Clark é verdade atribui ao capital o mérito de efetuar essa sincronização Como ficará claro não o acompanhamos nisso Enfatizo mais uma vez o gasto e o retorno são automa ticamente sincronizados um com o outro sob a influência aceleradora ou retardadora do lucro e da perda tidade de cada bem e com isso de seu valor está sob a influência dos valores de todos os outros bens e só é completamente explicável se estes forem levados em consideração Portanto podemos dizer que os valores dos bens individuais formam um sistema de valores para cada pessoa cujos elementos separados são mutuamente dependentes Nesse sistema de valores está expressa toda a economia de uma pessoa todas as relações de sua vida seus pontos de vista seu método de produção suas necessidades todas as suas ligações econômicas O indivíduo nunca é igualmente consciente de todas as partes desse sis tema de valores antes pelo contrário em qualquer momento a maior parte deste permanece abaixo do limiar de sua consciência Além disso quando ele toma decisões concernentes a seu comportamento econômico não presta atenção a todos os fatos expressos nesse sistema de valores mas apenas a certos dados que estão à mão Na rotina cotidiana ele age de acordo com o costume geral e a experiência e em todo uso de determinado bem parte de seu valor que lhe é dado pela experiência Mas a estrutura e a natureza dessa experiência estão dadas no sistema de valores Os valores do modo como se ajustam um ao outro são realizados pelo indivíduo ano após ano Ora esse sistema de valores como já dissemos mostra uma estabilidade notável Em qualquer pe ríodo econômico existe a tendência a voltar ao caminho já percorrido e a obter uma vez mais os mesmos valores E mesmo quando essa regularidade é interrompida sempre permanece alguma continuidade pois mesmo que as condições externas mudem não se trata nunca de fazer algo completamente novo mas apenas de adaptar às novas con dições o que já vinha sendo feito O sistema de valores que for esta belecido e as combinações que forem dadas serão sempre ponto de partida para cada novo período econômico e têm por assim dizer um pressuposto a seu favor Essa estabilidade é indispensável para o comportamento econô mico dos indivíduos Na prática eles não poderiam na grande maioria dos casos fazer o trabalho mental necessário para criar de novo essa experiência Também vemos de fato que a quantidade e o valor dos bens nos períodos passados determinam parcialmente as quantidades e os valores dos bens nos seguintes mas isso por si só não explica a estabilidade Obviamente o fato notável é que essas regras de compor tamento resistiram ao teste da experiência e que os indivíduos são de opinião que em geral não podem fazer nada melhor do que continuar a agir de acordo com elas E nossa análise do sistema de valores a geologia por assim dizer dessa montanha de experiência também nos mostrou que efetivamente essas quantidades e esses valores dos bens são explicáveis dadas as necessidades e os horizontes das pessoas como conseqüências das condições dadas no mundo que as cerca Essa maneira empírica de atuar do indivíduo não é portanto um acidente mas tem uma base racional Há um tipo de comportamento SCHUMPETER 53 econômico que sob condições dadas estabelece da melhor forma pos sível o equilíbrio entre os meios disponíveis e as necessidades a serem satisfeitas O sistema de valores que descrevemos corresponde a uma posição de equilíbrio econômico cujas partes constituintes não podem ser alteradas se todos os dados permanecerem os mesmos sem que o indivíduo tenha a sensação de estar pior do que antes Portanto na medida em que é uma questão de se adaptar às condições e simples mente agir de acordo com as necessidades objetivas do sistema econômico sem desejar modificálas só se recomenda ao indivíduo uma e apenas uma maneira particular de agir48 e os resultados dessa ação continuarão os mesmos enquanto as condições dadas permanecerem as mesmas Supondo que o leitor esteja familiarizado com a teoria geral da troca e dos preços tanto concorrentes quanto monopolísticos podemos mencionar de passagem que a possibilidade ubíqua da troca natural mente alterará o sistema de valores de todos É claro que ainda será válido o teorema fundamental pelo qual as unidades de recursos são distribuídas entre os usos possíveis de forma a render satisfações mar ginais iguais Numa economia de trocas podemos expressálo dizendo que para todas as famílias os preços devem ser proporcionais às uti lidades marginais dos bens de consumo e para todas as empresas os preços dos bens de produção devem ser proporcionais às suas produ tividades marginais Mas um novo fenômeno se apresenta no fato de que os produtos não mais serão avaliados por seus produtores segundo qualquer valor de uso que possam ter para eles mas de acordo com a utilidade daquelas mercadorias que os produtores afinal adquirem em troca deles49 A escala pela qual cada um avalia seus produtos e assim a escala pela qual cada um avalia os meios de produção que porventura possa ter será composta da escala de avaliações dos bens recebidos em sua troca ou comprados com a renda derivada da venda dos serviços desses meios de produção A maneira mais vantajosa de executar essas operações será encontrada com a experiência e toda mercadoria ou serviço produtivo será avaliado de modo correspondente Todas as inumeráveis trocas que podemos observar numa eco nomia de trocas em cada período constituem em sua totalidade a forma externa do fluxo circular da vida econômica As leis da troca nos mos OS ECONOMISTAS 54 48 De fato isso só é universalmente reconhecido nos casos da livre concorrência e do monopólio unilateral no sentido técnico de ambas as palavras No entanto é suficiente para nossos propósitos E demonstrouse ultimamente que Cournot não estava errado afinal ao sus tentar que há importantes casos de determinação determinateness mesmo no campo da concorrência monopolística 49 Isso é o que os austríacos chamavam de valor de troca subjetivo Os leitores que estiverem familiarizados com a história das discussões teóricas dos últimos cinqüenta anos recordar seão de como esse fenômeno ocasionou uma acusação de que havia um raciocínio circular implícito como sustentavam muitos oponentes da teoria austríaca em qualquer argumento que tente explicar os preços dos bens de produção pela utilidade Hoje entretanto difi cilmente valeria a pena sair de nosso caminho para mostrar por que essa objeção é falha tram como se explica esse fluxo circular a partir de condições dadas e também nos ensina por que ele não se altera enquanto essas condições permanecerem as mesmas e por que e como muda ao adaptarse a mudanças dessas condições Sob a suposição de condições constantes bens de consumo e de produção do mesmo tipo e quantidade seriam produzidos e consumidos em todos os períodos sucessivos pelo fato de que na prática as pessoas agem em conformidade com a experiência bemsucedida e que em teoria nós as consideramos como agindo em conformidade com um conhecimento da melhor combinação dos meios presentes sob as condições dadas Mas também há outra conexão entre os períodos sucessivos porque todo período funciona com bens que um período anterior preparou para ele e em todo período se produzem bens para uso no próximo Agora para simplificar a exposição expres saremos esse fato pela suposição de que em todo período só são con sumidos produtos que foram produzidos no período anterior e que só são produzidos os que serão consumidos no período seguinte Esse modo de encaixar os períodos econômicos não muda em nada de essencial como se pode ver facilmente De acordo com ele todo bem de consumo requer dois períodos econômicos para seu acabamento nem mais nem menos Agora classificaremos as trocas que são necessárias para efetivar em cada período esse processo econômico simplificado Primeiro des cartaremos aquelas executadas meramente para passar adiante qual quer coisa que seja assim recebida A teoria demonstra que tais trocas devem existir em grande número em toda economia mercantil no en tanto essas transações puramente técnicas não nos interessam aqui50 Então resta a troca dos serviços do trabalho e da terra por bens de consumo que ocorre em toda economia mercantil Sem dúvida essa espécie de troca incorpora o grosso da corrente de bens do sistema econômico e liga sua fonte à sua desembocadura Mas trabalhador e proprietário de terra vendem seus serviços produtivos que somente geram seu produto ao fim de cada período por bens de consumo que já estão disponíveis Mais ainda vendem seus serviços produtivos por bens de consumo mesmo que alguns de seus serviços se dirijam à produção de bens de produção Em cada período os serviços do trabalho e da terra que ainda não estão incorporados aos meios de produção a serem empregados no período em consideração são trocados por bens de consumo que foram terminados no período anterior Tudo que seja contrário aos fatos nessa asserção serve meramente para simplificar a exposição e não afeta o princípio Sabemos quem possui os serviços do trabalho e da terra antes dessa troca Mas quem constitui a outra parte da transação Quem tem nas mãos antes da troca os bens de consumo para pagar pelos serviços A resposta é simplesmente as SCHUMPETER 55 50 Cf Wesen Livro Segundo pessoas que precisam dos serviços do trabalho e da terra nesse período ou seja aqueles que desejam transformar os meios de produção pro duzidos no período anterior em bens de consumo pela adição de mais serviços do trabalho e da terra ou que desejam produzir novos meios de produção Suponhamos em nome da simplicidade que ambas as categorias fazem a mesma coisa em todos os períodos considerados ou seja continuam a produzir bens de consumo ou bens de produção o que se adapta ao princípio de uma economia mercantil com divisão do trabalho Então podemos dizer que aqueles indivíduos que produ ziram bens de consumo no período precedente cedem parte deles no período atual aos trabalhadores e aos proprietários de terra de cujos serviços precisam para a produção de novos bens de consumo para o período seguinte Aqueles indivíduos que produziram bens de produção no período precedente e que desejam agir da mesma forma no presente cederão esses bens de produção aos produtores de bens de consumo em troca daqueles bens de consumo que querem para adquirir novos serviços produtivos Portanto trabalhadores e proprietários de terra sempre trocam seus serviços produtivos apenas por bens de consumo presentes mesmo se os primeiros sejam empregados direta ou apenas indiretamente na produção de bens de consumo Não é necessário que eles troquem seus serviços do trabalho e da terra por bens futuros ou por promessas de bens de consumo futuros ou solicitem quaisquer adiantamentos de bens de consumo presentes É simplesmente uma questão de troca e não de transações a crédito O elemento tempo não cumpre nenhum papel Todos os produtos são apenas produtos e nada mais Para cada empresa é completamente indiferente produzir meios de produção ou bens de consumo Em ambos os casos o produto é pago imediatamente e pelo seu valor total O indivíduo não precisa olhar além do período em curso mesmo que sempre trabalhe para o próximo Simplesmente segue os ditames da demanda e o mecanismo do processo econômico se encarrega de fazêlo ao mesmo tempo prepararse também para o futuro Não está interessado com o que acontece mais tarde aos seus produtos e provavelmente não começaria nunca o processo de produção se tivesse que seguilo até o fim Bens de consumo são também apenas produtos e nada mais produtos aos quais nada acontece além da sua venda aos consumidores Não formam nas mãos de ninguém um fundo para a manutenção dos trabalhadores e assim por diante não servem direta nem indiretamente para fins produtivos posteriores Assim de saparecem todas as questões referentes à acumulação de seus estoques Como se inicia esse mecanismo que uma vez ajustado mantémse continuamente é outra questão Como se desenvolve é um problema diferente de como funciona Seguese de novo que em toda parte mesmo numa economia mercantil meios de produção produzidos não são nada mais do que OS ECONOMISTAS 56 itens transitórios Não encontramos em nenhum lugar um estoque deles preenchendo quaisquer funções por assim dizer por sua própria conta Nenhuma parte do dividendo nacional é reivindicada por eles além dos salários e da renda pelos serviços do trabalho e da terra neles contidos Não se lhes atribui enfim nenhum elemento de renda líquida Nenhuma demanda independente parte deles Pelo contrário em cada período todos os bens de consumo disponíveis irão para os serviços do trabalho e da terra empregados nesse período por isso todos os ren dimentos são absorvidos a título de salário ou renda dos agentes na turais51 Assim chegamos à conclusão de que o processo de troca entre o trabalho e a terra de um lado e os bens de consumo de outro não apenas fornece a direção principal do curso da vida econômica mas sob nossos pressupostos seria o único O trabalho e a terra compar tilham todo o dividendo nacional e há tantos bens de consumo quantos são necessários para satisfazer sua demanda efetiva e não mais E isso está de acordo com o par de dados fundamentais da economia as necessidades e os meios para sua satisfação Também é um quadro fiel daquela parte da realidade econômica que estivemos considerando até agora Isso foi mutilado pela teoria e daí um grande número de ficções e falsos problemas foram artificialmente criados inclusive o problema do que é o fundo pelo qual são remunerados os serviços do trabalho e da terra A organização de uma economia de troca portanto se nos apre senta da seguinte maneira Negócios individuais nos aparecem agora como locais de produção para necessidades alheias e o resultado de toda a produção de uma nação será em primeiro lugar distribuído entre essas unidades Dentre estas últimas contudo não há nenhuma outra função além da de combinar os dois fatores originais de produção e essa função é executada mecanicamente em cada período por assim dizer por iniciativa própria sem requerer um elemento pessoal distinto da superintendência e coisas similares Assim se supomos que os ser viços de terra estão em mãos privadas então abstraindo os monopo listas não há nenhuma pessoa com qualquer direito sobre o produto exceto os que executam algum tipo de trabalho ou colocam os serviços da terra à disposição da produção Sob essas condições não há nenhuma outra classe de pessoas no sistema econômico em particular não há nenhuma classe cuja característica é a de possuir meios de produção produzidos ou bens de consumo Já vimos que a idéia de que em algum lugar há um estoque acumulado de tais bens é absolutamente falsa Ela é evocada principalmente pelo fato de que muitos meios de produção produzidos perduram por uma série de períodos econômicos Entretan to esse não é um elemento essencial e não fazemos nenhuma alteração SCHUMPETER 57 51 O primeiro teorema fundamental da teoria da distribuição repousa nessa afirmação fundamental se limitarmos o uso de tais meios de produção a um período econômico A idéia de um estoque de bens de consumo não tem nem mesmo esse suporte pelo contrário os bens de consumo ge ralmente estão apenas nas mãos dos varejistas e dos consumidores e na quantidade necessária para fazer frente às exigências do momento Encontramos um fluxo contínuo de bens e um processo econômico que se move continuamente mas não encontramos estoques que sejam cons tantes em suas partes componentes ou que sejam renovados constan temente Também não faz nenhuma diferença para uma determinada empresa produzir bens de consumo ou de produção Em ambos os casos ela dispõe dos seus produtos da mesma forma recebe sob a hipótese da concorrência completamente livre um pagamento correspondente ao valor dos seus serviços do trabalho e da terra e nada mais Se preferimos chamar o gerente ou o dono de um negócio de empresário ele então seria um entrepeneur faisant ni bénéfice ni perte52 sem função especial e sem rendimento de tipo especial Se os possuidores dos meios de produção produzidos fossem chamados de capitalistas então só poderiam ser produtores em nada diferindo de outros produtores e como os outros não poderiam vender seus produtos acima dos custos dados pelo total de salários e da renda da terra Do ponto de vista dessa interpretação portanto vemos uma cor rente de bens sendo continuamente renovada53 Só por um momento há qualquer coisa como um estoque de certos bens individuais e mais ainda só se pode falar realmente de estoque em sentido abstrato a saber no sentido de que os bens de um certo tipo e quantidade sempre aparecem por meio do mecanismo da produção e da troca em lugares definidos do sistema econômico Os estoques nesse sentido são mais comparáveis ao leito de um rio do que à água que nele corre A corrente é alimentada pelo fluir contínuo de mananciais de força de trabalho e terra e corre em cada período econômico para os reservatórios que chamamos de renda para ser transformada em satisfação de necessi dades Não nos alongaremos nisso mas apenas observaremos breve mente que isso envolve a aceitação de um conceito definido de renda nomeadamente o de Fetter e a exclusão do seu alcance de todos os bens que não forem regularmente consumidos Num sentido o fluxo circular termina nesse ponto Noutro sentido todavia não o faz pois o consumo gera o desejo de repetição e esse desejo gera por sua vez a atividade econômica Seremos perdoados por não termos falado de quaserendas em conexão com esse problema como deveríamos ter OS ECONOMISTAS 58 52 Uma construção de Walras É verdade contudo que o juro existe como um rendimento em seu sistema de equilíbrio 53 A nítida separação entre fundos e fluxos e o fato de tornála frutífera é um dos méritos do livro tão pouco apreciado de NEWCOMB S Principles of Political Economy Na literatura contemporânea a questão é particularmente enfatizada por Fisher O fluxo circular do dinheiro não está descrito em nenhum lugar mais claramente do que em Newcomb p 316 et seq feito À primeira vista parece ser mais séria a ausência de qualquer menção à poupança No entanto esse ponto também será explicado De qualquer modo a poupança não teria um grande papel nos sistemas econômicos que não apresentem mudanças O valor de troca de qualquer quantidade de uma mercadoria para cada indivíduo depende do valor dos bens que ele pode obter e que realmente tenciona obter com ela Enquanto isso não for decidido esse valor de troca flutuará indubitavelmente segundo as possibilidades concebidas no momento e do mesmo modo sofrerá alteração se o in divíduo alterar a direção de sua demanda No entanto quando for encontrado o melhor emprego na troca de qualquer bem o valor de troca permanece em um e somente em um nível sendo constantes as condições Obviamente tomado nesse sentido o valor de troca de qual quer unidade da mesma mercadoria é diferente para indivíduos dife rentes e não apenas em conseqüência das diferenças primeiramente de seus gostos e em segundo lugar de suas situações econômicas como um todo mas também em terceiro lugar de modo bastante in dependente desses fatos em conseqüência de diferenças nos bens que o indivíduo troca54 Mas a relação entre as quantidades em que dois bens quaisquer são trocados no mercado ou os seus recíprocos o preço de cada bem é a mesma para todos os indivíduos ricos ou pobres como dissemos antes Só ficará bastante claro que o preço de qualquer bem está vinculado aos preços de todos os outros bens se os reduzirmos todos a um denominador comum55 Apresentemos agora esse denominador do preço e do meio de troca e escolhamos o ouro para o papel de mercadoria dinheiro En quanto para os nossos propósitos requeremos muito pouco da teoria familiar da troca e assim pudemos tratála bem brevemente devemos ir um pouco além na teoria do dinheiro Mas também aqui nos limi taremos àqueles pontos que mais tarde serão significativos para nós e mesmo eles só serão considerados na medida em que forem necessários para o que se segue Portanto deixaremos de lado os problemas que não aflorarão de novo neste livro por exemplo o problema do bime talismo ou do valor internacional do dinheiro E substituiremos sem receio as teorias cujos méritos residam em direções que não teremos oportunidade de seguir por outras mais simples ou mais bem conhe cidas desde que igualmente nos sirvam mesmo que sejam muito mais incompletas em outros aspectos56 SCHUMPETER 59 54 Quero dizer em conseqüência das diferenças de gostos e das situações econômicas totais cada indivíduo valora diferentemente até os mesmos bens que outros indivíduos trocam do mesmo modo Mas os indivíduos também trocam bens diferentes 55 Cf Wesen Livro Segundo 56 O leitor encontrará as características principais das minhas idéias sobre o dinheiro e o seu valor em Das Sozialprodukt und die Rechenpfennige In Archiv für Sozialwissenschaft t XLIV 1918 O conceito de dinheiro ali empregado é inteiramente diferente A experiência nos mostra que todo indivíduo avalia seu estoque de dinheiro E no mercado todas essas estimativas individuais de valor levam ao estabelecimento de uma relação de troca definida entre a unidade de dinheiro e as quantidades de todos os outros bens em princípio exatamente como declaramos anteriormente a respeito dos outros bens Da concorrência entre indivíduos e entre possibilidades de emprego resultam sob condições dadas tantos preços definidos do dinheiro quantos outros bens houver Esses preços do dinheiro uma expressão que é completamente definida pelas afirmações prece dentes e que usaremos freqüentemente no que se segue baseiamse portanto como qualquer outro preço nas estimativas individuais de valor Mas em que se baseiam estas A questão se coloca porque aqui no caso do dinheiro não temos a explicação simples que para qualquer outra mercadoria reside na satisfação de necessidades obtida pelo in divíduo mediante seu consumo Respondemos à questão seguindo Wie ser57 o valor de uso da mercadoria material obviamente proporciona o fundamento histórico pelo qual o dinheiro adquire uma relação de troca definida com os outros bens mas seu valor para cada indivíduo e seu preço de mercado podem deslocarse em relação a essa base e efetivamente o fazem Certamente é óbvio que nem a utilidade marginal individual nem o preço de ouro enquanto dinheiro podem desviarse da sua utilidade marginal individual e de seu preço de mercado en quanto mercadoria Pois se isso acontecesse existiria uma tendência contínua a se remover a diferença amoedando o ouro dos objetos de arte ou fundindo moedas de ouro Isso é correto Só que não prova nada Pelo fato de uma mercadoria alcançar o mesmo preço em dois usos diferentes não se pode concluir que um uso determina o preço e que o outro simplesmente o segue Pelo contrário é evidente que ambos os empregos formam juntos a escala de valor do bem e que seu preço seria diferente se um deles deixasse de existir A mercadoria dinheiro está nessa condição Serve a duas possibilidades diferentes de emprego e embora as utilidades marginais e os preços devam certamente ser iguais em ambas se o bem puder se mover livremente de uma para a outra seu valor nunca é explicável pelo seu emprego apenas na ouri vesaria Isso se torna especialmente claro se imaginarmos que todo o estoque da mercadoria dinheiro for amoedado o que de fato seria pos OS ECONOMISTAS 60 57 Schriften des Vereins für Sozialpolitik Relatórios da Sessão de 1909 Sobre isso ver MISES Theorie des Geldes und der Umlaufsmittel 2ª ed e anteriormente WEISS Die moderne Tendenz in der Lehre von Geldwert In Zeitschrift für Volkswirtschaft Sozialpolitik und Verwaltung 1910 O leitor também pode ser remetido ao livro do Professor Von Mises caso suspeite de que a colocação acima implique em raciocínio circular Embora não implique o autor deseja declarar que agora não consideraria satisfatória essa maneira de introduzir o elemento dinheiro mesmo dentro dos limites dos propósitos deste capítulo sível Mesmo assim o dinheiro teria um valor e um preço mas a explicação acima obviamente seria anulada A suspensão da cunhagem por um lado e a proibição de fundir por outro oferecemnos do mesmo modo exemplos dados pela experiência do caráter independente do valor do dinheiro Portanto o valor do dinheiro enquanto dinheiro teoricamente pode ser completamente separado do valor do material Sem dúvida este último é a fonte histórica do primeiro Mas em princípio podemos desprezar o valor do material ao explicar o processo concreto do valor do dinheiro exatamente como podemos desprezar ao considerar o baixo curso de um grande rio a contribuição ao seu volume dada pela sua fonte Podemos imaginar que os indivíduos recebem em proporção à sua posse de bens ou mais de acordo com a expressão em preços desta última uma porção distribuída em unidades de algum meio de troca sem valor de uso pelo qual todos os bens devem ser vendidos em cada período econômico Então esse meio seria avaliado apenas como um meio de troca Seu valor ex hypothesi só pode ser apenas valor de troca58 Cada indivíduo como afirmamos antes em relação a todos os bens produzidos para o mercado avaliará esse meio de troca de acordo com o valor dos bens que com ele pode obter Cada indivíduo portanto avaliará diferentemente seu dinheiro e mesmo que cada um expresse suas estimativas dos valores dos outros bens em dinheiro essas estimativas terão um significado diferente de indivíduo para in divíduo mesmo que sejam numericamente equivalentes No mercado em verdade cada bem terá apenas um preço em dinheiro e também só pode haver apenas um preço em dinheiro no mercado em qualquer momento Todos os indivíduos calculam com esses preços e nesse ponto encontram um terreno comum Mas apenas superficialmente pois embora iguais para todos os preços têm implicações diferentes para cada um significam para cada um diferentes limites para a aquisição de bens Como então é formado esse valor de troca pessoal do dinheiro Nesse ponto ligaremos a teoria do dinheiro com o que acabamos de dizer sobre o fluxo do processo econômico Vemos de imediato que segundo nossa concepção o valor de troca pessoal deve retroceder até os bens de produção Dissemos que os bens de produção são itens transitórios e que não envolvem nenhuma formação de valor indepen dente numa economia de troca Dissemos também que não há nenhum fluxo de renda para aqueles que os possuem em certo momento Por tanto não há aqui nenhuma oportunidade para a construção de um valor de troca pessoal do dinheiro independente Assim como no pro SCHUMPETER 61 58 O dinheiro será avaliado pela sua função de troca E essa é obviamente análoga à função de meio de produção Se se concebe o dinheiro simplesmente como bene strumentale como o fazem muitos italianos a questão fica mais clara cesso econômico nos cálculos em dinheiro do homem de negócios os meios de produção produzidos são itens transitórios segundo nossas proposições Esses indivíduos não avaliarão o dinheiro de acordo com o seu valor pessoal de troca uma vez que não obtêm nenhum bem para seu consumo próprio por meio deste mas simplesmente passamno adiante Assim não podemos buscar aqui a determinação do valor pes soal de troca do dinheiro pelo contrário o valor de troca que está refletido nessas transações deve originarse em outro lugar Assim só permanece o fluxo primário de bens a troca entre serviços do trabalho e da terra por um lado e os bens de consumo por outro Só se valora o estoque próprio de dinheiro de acordo com os valores dos bens de consumo que podem ser obtidos com dinheiro Portanto a troca entre a renda monetária e a renda real é o ponto importante é o ponto do processo econômico em que se forma o valor pessoal de troca e conse qüentemente o preço do dinheiro O resultado é agora fácil de se es tabelecer o valor de troca do dinheiro para cada um depende do valor de uso dos bens de consumo que se pode obter com a renda própria A demanda efetiva total em termos de bens em dado período serve de escala de valor para as unidades de renda disponíveis nesse processo econômico Portanto sob dadas condições há para cada indivíduo uma escala de valor inequivocamente determinada e uma utilidade marginal definida de seu estoque de dinheiro59 A magnitude absoluta desse estoque de dinheiro no sistema econômico é irrelevante Em princípio um estoque menor executa o mesmo serviço que um maior Se supu sermos que a quantidade de dinheiro existente é constante então ha verá a mesma demanda de dinheiro ano após ano e estabelecerseá o mesmo valor do dinheiro para cada indivíduo O dinheiro estará distribuído de tal forma no sistema econômico que surgirá um preço uniforme do dinheiro Isso se dará quando forem vendidos todos os bens de consumo e pagos todos os serviços do trabalho e da terra A troca entre serviços do trabalho e da terra por um lado e entre bens de consumo por outro é dividida em duas partes a troca entre serviços do trabalho e da terra e dinheiro e entre dinheiro e bens de consumo Uma vez que os valores e preços do dinheiro devem ser iguais por um lado aos valores e preços dos bens de consumo e por outro aos valores e preços dos serviços do trabalho e da terra60 é claro que as OS ECONOMISTAS 62 59 Com uma determinada técnica da troca no mercado e determinados hábitos de pagamento Cf a respeito a obra de MARSHALL Money Credit and Commerce Ou a de KEYNES Tract on Monetary Reform E também SCHLESINGER Theorie der Geld und Kreditwirtschaft 60 Para simplificar consideramos aqui repito um sistema econômico isolado já que a inclusão de relações internacionais complicaria a exposição sem contribuir com nada de essencial Similarmente estamos considerando um sistema econômico em que todos os indivíduos calculam perfeitamente em dinheiro e estão ligados uns aos outros linhas essenciais de nosso quadro não são alteradas pela inserção de elos intermediários que o dinheiro só tem a função de um instrumento técnico mas não acrescenta nada de novo aos fenômenos Para em pregar uma expressão usual podemos dizer que o dinheiro representa nessa medida apenas o disfarce das coisas econômicas e nada de es sencial é deixado de lado ao fazermos abstração dele À primeira vista o dinheiro aparece como um comando geral sobre diferentes quantidades de bens61 ou como poderíamos dizer um poder de compra em geral Todo indivíduo considera o dinheiro antes de tudo como meio de obtenção de bens em geral se vender seus serviços do trabalho ou da terra os vende não por bens definidos mas por assim dizer por bens em geral Se se olhar mais de perto porém as coisas tomam um aspecto diferente Pois todo indivíduo avalia real mente a sua renda em dinheiro conforme os bens que efetivamente obtiver com ela e não conforme os bens em geral Quando ele fala do valor do dinheiro o rol de bens que costumeiramente compra flutua mais ou menos claramente diante de seus olhos Se grupos inteiros de compradores subitamente mudassem o dispêndio de suas rendas então obviamente o preço do dinheiro e também o valor de troca pessoal do dinheiro teriam indubitavelmente que mudar Ordinariamente porém isso não acontece Em geral um plano definido de gastos é assumido como sendo o melhor e não muda rapidamente É por isso que na prática todos podem normalmente contar com valor e um preço do dinheiro constantes e só se precisa ajustálos gradualmente às condições modificadas Portanto podese também dizer do dinheiro o que disse mos anteriormente de todos os outros bens a saber que para cada parte do poder de compra existente há uma demanda pronta em algum lugar do sistema econômico uma oferta de bens e que a maior parte do dinheiro como a maior parte dos meios de produção e dos bens de consumo vai pelo mesmo caminho ano após ano Aqui também podemos afirmar que não mudamos nada de essencial se imaginarmos que toda peça de dinheiro individual passa exatamente pela mesma rota em cada período econômico Essa relação entre a renda real e a renda monetária também determina as mudanças no valor do dinheiro62 Até aqui consideramos o dinheiro apenas como um meio de cir culação Tivemos em vista a determinação do valor apenas daquelas quantidades de dinheiro que efetivamente são usadas para movimentar periodicamente a massa de mercadorias Obviamente também há em SCHUMPETER 63 61 Essa concepção já pode ser encontrada em Berkeley Nunca se perdeu e J S Mill mais recentemente tornoua idéia corrente Na literatura alemã contemporânea é encontrada principalmente em Bendixen Não contradiz a teoria quantitativa a do custo de produção nem a do equilíbrio 62 Cf WIESER Loc cit todo sistema econômico por razões bem conhecidas quantidades de dinheiro nãocirculantes e a determinação de seu valor ainda não foi explicada Pois até agora não tomamos conhecimento de nenhum em prego do dinheiro que necessite de uma acumulação maior do que a medida que capacita o indivíduo a pagar suas compras atuais Devemos retornar mais tarde a esse ponto Não penetraremos mais a fundo nele aqui mas contentarnosemos com o fato de ter explicado a circulação e a determinação do valor daquelas quantidades de dinheiro que cor respondem às principais transações de troca que descrevemos De qual quer modo no fluxo circular normal que temos em vista aqui não seria necessária nenhuma manutenção de importantes estoques de di nheiro para outros propósitos Também desprezamos outro elemento O poder de compra é em pregado não apenas para levar a cabo a troca de bens de consumo pelos serviços do trabalho e da terra mas também para transferir a posse da própria propriedade fundiária e além disso o próprio poder de compra é transferido Poderíamos facilmente levar em conta todos esses elementos mas eles têm para nós um significado essencialmente diferente do daqueles que podemos analisar dentro do quadro de nossa presente discussão Podemos apenas apontar brevemente que dentro do processo econômico continuamente recorrente que estivemos des crevendo não haveria muito lugar para essas coisas Transferências de poder de compra enquanto tais não são elementos necessários desse processo Este ao contrário continua a fluir como se fosse por iniciativa própria e em essência não torna necessária nenhuma transação a cré dito Já salientamos que não é feito nenhum adiantamento para os trabalhores e proprietários de terra mas que simplesmente os seus meios de produção são comprados deles Isso não se altera pela intervenção do dinheiro e um pagamento adiantado de dinheiro não é mais necessário do que um adiantamento de bens de consumo ou de meios de produção Obviamente não precisamos excluir o caso em que os indivíduos obtêm poder de compra de outros e em troca lhes transferem uma parte de suas forças produtivas originais a terra por exemplo Tal é o caso de empréstimos com o propósito de consumo ao qual não se atribui nenhum interesse especial Si milar como mostraremos abaixo é o caso das transferências de trabalho e terra em geral e portanto podemos dizer que o dinheiro não tem nenhum outro papel no fluxo circular do que o de facilitar a circulação de mercadorias Podese acrescentar também que por uma razão similar não falamos dos instrumentos de crédito É claro que não apenas uma parte mas todo o processo de troca pode ser saldado por esses recursos creditícios Não é sem interesse imaginar que só circulam digamos OS ECONOMISTAS 64 letras de câmbio ao invés de dinheiro metálico de verdade Isso por exemplo nos ensina que a asserção sobre uma necessidade original de ter o dinheiro um valor de mercadoria não significa que a mercadoria dinheiro particular deva efetivamente circular Pois de fato nada mais é necessário para pôr o dinheiro numa relação fixa com os valores dos outros bens do que o fato de que ele deve estar vinculado a algo de valor definido O processo econômico portanto poderia ser levado a cabo sem a intervenção do dinheiro metálico Quem quer que fornecesse serviços do trabalho e da terra receberia uma letra por um determinado montante de unidades monetárias e então compraria com ela bens de consumo para receber de novo no período seguinte se nos manti vermos fiéis à nossa concepção da identidade das rotas percorridas pelo dinheiro periodicamente o mesmo montante de unidades sob a forma de outra letra de câmbio Supondo um funcionamento re gular e uma aceitabilidade geral tal meio de troca preenche per feitamente o papel do dinheiro e porque o faz será valorizado pelos indivíduos exatamente como o dinheiro metálico e mudará de mãos pelos mesmos preços expressos nas mercadorias Isso é verdade mesmo que nunca entre em questão o resgate mas haja simples mente um processo contínuo de compensação recíproca de direitos à moeda legal Haverá portanto uma demanda desse meio de troca que segundo nossas proposições sempre encontrará uma oferta cor respondente Mas como vimos que o preço da unidade de dinheiro metálico simplesmente espelha o preço dos bens de consumo e por conseguinte dos bens de produção seguese que o preço de nossas letras de câmbio hipotéticas fará o mesmo Assim elas serão nego ciadas pelo seu valor nominal total ou em outras palavras estarão sempre ao par Pois não existe nenhum motivo para se conceder um desconto Esse argumento nos ensina de um modo um tanto mais prático do que anteriormente o fizera que não apareceria ne nhum juro no sistema econômico segundo nossas proposições e que portanto a lógica das coisas econômicas como foi aqui descrito não explica o fenômeno do juro Mas à parte esta não há nenhuma razão para que aqui nos ocupemos ainda dos meios creditícios de pagamento Se os instrumentos de crédito apenas substituem um dinheiro metálico já existente então o seu uso não produzirá por si mesmo nenhum fenômeno novo Se ano após ano é estabelecida uma transação de troca particular por meio de tais instrumentos de crédito então estes últimos cumprem o mesmo papel que o montante correspondente de dinheiro metálico teria e até agora não há nenhum incentivo para uma súbita introdução do crédito no fluxo circular que devêssemos levar em consideração Por essa razão mas também porque o elemento crédito mais tarde se tornará muito SCHUMPETER 65 importante para nós e porque queremos muito contrastálo rapidamente com a função do dinheiro aqui descrita suporemos que nossa circulação monetária consiste até agora apenas em dinheiro metálico63 na ver dade para simplificar as coisas em ouro Para manter a separação entre os dois elementos entenderemos de modo geral por dinheiro apenas o dinheiro metálico E incluímos esse conceito no de meios de pagamento juntamente com instrumentos de crédito que não substi tuem simplesmente quantidades de dinheiro previamente existentes O problema de saber se os meios de pagamento creditícios são dinheiro será tratado mais tarde64 Assim correspondendo à corrente de bens há uma corrente de dinheiro cujo sentido é oposto ao da corrente de bens e cujos movimentos são apenas reflexos dos movimentos dos bens supondose que não ocor ra nenhum aumento de ouro ou qualquer outra mudança unilateral Com isso concluímos a descrição do fluxo circular Para uma economia de trocas como um todo há a mesma continuidade e dadas as mesmas suposições a mesma invariabilidade que existe para uma economia que não seja de trocas continuidade e constância não apenas dos processos mas também dos valores Seria de fato uma deturpação dos fatos falar em valorações sociais Os valores psíquicos devem viver numa consciência e por isso se se espera que a palavra tenha qualquer significado devem por natureza ser individuais Os valores que aqui têm interesse para nós têm sentido não em referência ao ponto de vista de todo o sistema econômico mas apenas ao do indivíduo O fato social aqui como em todas as valorações está na circunstância de que os valores individuais são interrelacionados e não são independentes um do outro A totalidade das relações econômicas constitui o sistema econômico justamente como a totalidade das relações sociais consti tuem a sociedade Se não se pode falar em valores sociais há no entanto um sistema social de valores um sistema social de valores individuais Esses valores estão interrelacionados de modo similar aos valores na economia do indivíduo Eles atuam um sobre o outro mediante a relação OS ECONOMISTAS 66 63 A quantidade de dinheiro metálico num tal sistema econômico não corresponde apenas a um nível de preços definido mas também a uma determinada velocidade de circulação do dinheiro Se todos os rendimentos fossem pagos anualmente então obviamente reque rerseia um maior montante de dinheiro ou todos os preços deveriam ser mais baixos do que se fossem pagos semanalmente Supomos que essa velocidade de circulação é constante uma vez que dentro dos limites dessa discussão concordamos com Wieser quando diz loc cit p 522 et seq que as modificações na velocidade de circulação como a quantidade dos meios de pagamento creditícios não são causas independentes de modificações do nível de preços já que de nosso ponto de vista é melhor dizer na medida em que são induzidas pelos movimentos das mercadorias Cf também AUPETIT Théorie de la Monnaie DEL VECCHIO Teoria della Moneta In Giornale degli Economisti 1909 64 Cf a respeito do conceito de poder de compra entre outros DAVENPORT Value and Distribution de troca de modo que influenciam e são influenciados por todos os valores dos outros indivíduos65 Nesse sistema social de valores se re fletem todas as condições de vida de um país nele são expressas em particular todas as combinações O sedimento do sistema social de valores é o sistema de preços É uma unidade no mesmo sentido Se guramente os preços não expressam uma espécie de estimativa do valor social de um bem Na verdade eles não são de modo algum a expressão imediata de um valor definido mas apenas o resultado de processos que atuam sob a pressão de muitas valorações individuais SCHUMPETER 67 65 Há uma interdependência geral entre eles Cf Wesen Livro Segundo para maiores detalhes sobre esse ponto CAPÍTULO II O Fenômeno Fundamental do Desenvolvimento Econômico I O processo social que racionaliza66 nossa vida e nosso pensa mento afastounos do tratamento metafísico do desenvolvimento social e nos ensinou a ver a possibilidade de um tratamento empírico mas fez o seu trabalho de maneira tão imperfeita que devemos ser cuida dosos ao tratar do próprio fenômeno mas ainda do conceito com o qual o compreendemos e mais do que todos da palavra com a qual desig namos o conceito e cujas associações podem desencaminharnos para todo tipo de direções não desejadas Toda busca de um sentido da história mesmo que em si mesma não seja um preconceito metafísico está intimamente vinculada ao preconceito metafísico mais preci samente às idéias que se originam de raízes metafísicas e se tornam preconceitos se fazemos com que realizem o trabalho da ciência empí rica desprezando lacunas intransponíveis O mesmo vale para o pos tulado de que uma nação uma civilização ou mesmo toda a humani dade deve mostrar algum tipo de desenvolvimento uniforme unilinear já que foi assumido até por uma mente tão presa aos fatos quanto Roscher e que os inúmeros filósofos e teóricos da história na longa e brilhante linha de Vico a Lamprecht o tiveram e ainda o têm por certo Aqui também se incluem todos os tipos de pensamento evolucionista que se centram em Darwin ao menos se isso não significar nada além do raciocínio por analogia e também o preconceito psicológico que consiste em ver nos motivos e atos da vontade mais do que um 69 66 É usado aqui no sentido dado por Max Weber Como o leitor verá racional e empírico significam aqui coisas que se não são idênticas são no entanto cognatas São em igual proporção diferentes de e opostas a metafísico que implica ir além do alcance tanto da razão quanto dos fatos ou seja além do reino da ciência Para alguns tornouse hábito usar a palavra racional quase no mesmo sentido em que usamos metafísico Assim não está fora de lugar uma advertência evitando malentendidos reflexo do processo social Mas a idéia evolucionista está agora desacre ditada em nosso campo especialmente com os historiadores e os etnólogos ainda por uma outra razão À acusação de misticismo nãocientífico e extracientífico que cerca as idéias evolucionistas se acrescenta a de diletantismo Com tantas generalizações apressadas em que a palavra evolução cumpre um papel muitos de nós perderam a paciência Devemos nos afastar de tais coisas Ainda permanecem dois fatos primeiramente o fato da mudança histórica pela qual as condições sociais se tornam indivíduos históricos no tempo histórico Essas mudanças não constituem nem um processo circular nem movimentos pendulares em torno de um centro O conceito de desenvolvimento social é definido por essas duas circunstâncias juntamente com o outro fato o de que sempre que não conseguimos explicar adequadamente um dado estado de coisas histórico a partir do precedente reconhecemos de fato a existência de um problema não resolvido mas não insolúvel Isso é válido antes de tudo para o caso individual Por exemplo entendemos a história da política interna da Alemanha em 1919 como um dos efeitos da guerra precedente Vale também contudo para problemas mais gerais O desenvolvimento econômico até agora é simplesmente o objeto da história econômica que por sua vez é meramente uma parte da história universal só separada do resto para fins de explanação Por causa dessa dependência fundamental do aspecto econômico das coisas em relação a tudo o mais não é possível explicar a mudança econômica somente pelas condições econômicas prévias Pois o estado econômico de um povo não emerge simplesmente das condições econômicas pre cedentes mas unicamente da situação total precedente As dificuldades de análise e de exposição que surgem daí são muito diminuídas na prática se não em princípio pelos fatos que formam a base da inter pretação econômica da história sem sermos compelidos a tomar uma posição a favor ou contra essa visão podemos afirmar que o mundo econômico é relativamente autônomo pois abrange uma parte tão gran de da vida da nação e forma ou condiciona uma grande parte do res tante pelo que escrever a história econômica por si mesma é obviamente uma coisa diferente do que escrever digamos a história militar A esse fato devese acrescentar ainda um outro que facilita a descrição em separado de qualquer das divisões do processo social Cada setor da vida social é por assim dizer habitado por um conjunto distinto de pessoas Os elementos heterônomos geralmente não afetam o pro cesso social em qualquer desses setores diretamente como a explosão de uma bomba afeta todas as coisas que estiverem no lugar em que explodir mas apenas através de seus dados e do comportamento de seus habitantes e mesmo que ocorra um evento como o sugerido pela nossa metáfora da explosão de uma bomba os efeitos só ocorrem sob a roupagem particular com que o vestem os primariamente interessa dos Portanto assim como a descrição dos efeitos da ContraReforma sobre OS ECONOMISTAS 70 a pintura italiana e a espanhola sempre continua sendo história da arte descrever o processo econômico continua sendo história econômica mesmo que a verdadeira causalidade seja largamente nãoeconômica O setor econômico outrossim está aberto a uma variedade sem fim de pontos de vista e tratamentos que se podem ordenar por exem plo de acordo com a amplitude de seu alcance ou do mesmo modo poderíamos dizer de acordo com o grau de generalidade que implicam De uma explanação sobre a natureza da vida econômica do mosteiro de Niederaltaich no século XIII até a explanação de Sombart sobre o desenvolvimento da vida econômica na Europa ocidental passa um fio contínuo logicamente uniforme Uma explanação tal como a de Sombart é teoria e de fato teoria do desenvolvimento econômico no sentido que por enquanto lhe damos Mas não é teoria econômica no sentido em que o conteúdo do primeiro capítulo deste livro é teoria econômica que é o que tem sido entendido por teoria econômica desde os dias de Ricardo A teoria econômica nesse último sentido na verdade tem um papel numa teoria como a de Sombart mas totalmente subordinado a saber quando a conexão entre os fatos históricos é bastante compli cada a ponto de necessitar de métodos de interpretação que vão além dos poderes analíticos do homem comum a linha de pensamento toma a forma oferecida por aquele aparato analítico Contudo quando for simplesmente uma questão de tornar inteligível o desenvolvimento ou o seu resultado histórico de elaborar os elementos que caracterizam uma situação ou determinam uma saída a teoria econômica no sentido tradicional não tem quase nada com que contribuir67 SCHUMPETER 71 67 Se não obstante os economistas sempre tiveram algo a dizer sobre esse tema é apenas porque não se restringiram à teoria econômica mas e na verdade em geral muito superficialmente estudaram sociologia histórica ou fizeram afirmações sobre o futuro econômico A divisão do trabalho a origem da propriedade privada da terra o controle crescente sobre a natureza a liberdade econômica e a segurança legal eis os mais im portantes elementos constitutivos da sociologia econômica de Adam Smith Relacionamse claramente com estrutura social do curso econômico dos acontecimentos não a nenhuma espontaneidade imanente do último Também se pode considerar o tema como a teoria do desenvolvimento de Ricardo digamos no sentido dado por Büchner que ademais exibe a linha de pensamento que lhe valeu a caracterização de pessimista a saber o prognóstico hipotético de que em conseqüência do crescimento progressivo da população aliado à exaus tão progressiva da potência do solo que segundo ele pode ser interrompida apenas tem porariamente por aperfeiçoamentos na produção eventualmente apareceria uma posição de imobilidade que deve ser distinguida toto coelo da posição momentânea ideal de imobilidade do equilíbrio da teoria moderna na qual a situação econômica se caracterizaria por hipertrofia da renda da terra que é algo totalmente diferente do que é entendido acima por teoria do desenvolvimento e ainda mais diferente do que entenderemos por isso neste livro Mill elaborou mais cuidadosamente a mesma linha de pensamento e também distribuiu diferentemente a cor e o tom Em essência todavia seu Livro Quarto Influence of the Progress of Society on Production and Distribution é exatamente a mesma coisa Até esse título expressa o quanto o progresso é considerado como algo nãoeconômico como algo enraizado nos dados que apenas exerce uma influência sobre a produção e a distribuição Em particular o seu tratamento dos aperfeiçoamentos das artes da produção é estritamente estático O aperfeiçoamento de acordo com essa visão tradicional é algo que simplesmente acontece e cujos efeitos devemos investigar ao passo que não temos nada a dizer quanto à sua ocorrência per se O que se passa por alto com isso é o assunto de que trata este Não estamos interessados aqui numa teoria do desenvolvimento nesse sentido Não será indicado nenhum fator histórico evolutivo sejam eventos individuais como a aparição da produção americana de ouro na Europa no século XVI sejam circunstâncias mais gerais como modificações na mentalidade do homem econômico no âmbito do mundo civilizado na organização social nas constelações políticas na técnica produtiva e assim por diante nem serão descritos seus efeitos para casos individuais ou para grupos de casos68 Pelo contrário a teoria econômica cuja natureza foi suficientemente exposta ao leitor no ca pítulo I simplesmente será aperfeiçoada para seus próprios fins cons truindose a partir dela mesma Se isso também capacitar essa teoria a executar melhor do que até agora o seu serviço em relação ao outro tipo de teoria do desenvolvimento ainda restará o fato de que os dois métodos estão em planos diferentes Nosso problema é o seguinte A teoria do capítulo I descreve a vida econômica do ponto de vista do fluxo circular correndo essen cialmente pelos mesmos canais ano após ano semelhante à circu lação do sangue num organismo animal Ora esse fluxo circular e os seus canais alteramse com o tempo e aqui abandonamos a analogia OS ECONOMISTAS 72 livro ou melhor sua pedra angular J B Clark Essentials of Economic Theory cujo mérito reside em ter separado conscientemente a estática e a dinâmica viu nos elementos dinâmicos uma perturbação do equilíbrio estático Essa visão é semelhante à nossa e também de nosso ponto de vista é uma tarefa essencial investigar o efeito dessa perturbação e o novo equilíbrio que surge então Mas enquanto ele se confina a isso e como Mill vê aí o significado da dinâmica daremos antes de tudo uma teoria dessas causas de pertur bações na medida em que são mais do que meras perturbações para nós e na medida em que nos parece que fenômenos econômicos essenciais dependem de seu aparecimento Em particular duas das causas de perturbação enumeradas por ele crescimento do capital e da população são para nós como para ele meramente causas de perturbação qualquer que seja sua importância como fatores de mudança para outra espécie de problema apenas indicado no texto O mesmo é verdadeiro quanto a uma terceira mudanças na direção do gosto dos consumidores o que será fundamentado mais adiante Mas as outras duas mudanças na técnica e na organização produtiva requerem análise especial e causam algo diferente de perturbações no sentido teórico O nãoreconhecimento disso é a mais importante razão isolada para o que nos parece insatisfatório na teoria econômica Dessa fonte aparentemente insignificante brota como veremos uma nova concepcão do processo econômico que supera uma série de dificuldades fundamentais e assim justifica a nova exposição do problema no texto Essa exposição do problema é mais exatamente paralela à de Marx Pois segundo ele há um desenvolvimento econômico interno e não uma mera adaptação da vida econômica a dados que mudam Mas a minha estrutura só cobre uma pequena parte de seu campo 68 Por isso um dos malentendidos mais incômodos que surgiram a partir da primeira edição deste livro foi o de que essa teoria do desenvolvimento despreza todos os fatores históricos de mudança exceto um a saber a individualidade dos empresários Se a minha apresentação tivesse a intenção de ser o que essa objeção supõe seria obviamente uma tolice Mas não está interessada de modo algum nos fatores concretos de mudança mas no método pelo qual estes atuam com o mecanismo da mudança O empresário é meramente o portador do mecanismo da mudança E não levei em conta um fator sequer de mudança histórica nem mesmo um Temos ainda menos a fazer aqui com os fatores que explicam em particular as mudanças na organização econômica no costume econômico etc Esse é ainda um outro problema e embora haja pontos em que todos esses métodos de tratamento se encontrem significaria estragar o fruto de todos se não fossem mantidos separados e se a cada um não fosse concedido o direito de crescer por si mesmo com a circulação do sangue Pois embora esta também mude ao longo do crescimento e do declínio do organismo só o faz continuamente ou seja muda por etapas das quais podemos escolher um tamanho menor do que qualquer quantidade definível por menor que seja e sempre muda dentro do mesmo limite A vida econômica também experimenta tais mudanças mas experimenta outras que não aparecem continua mente e que mudam o limite o próprio curso tradicional Essas mu danças não podem ser compreendidas por nenhuma análise do fluxo circular embora sejam puramente econômicas e embora sua explicação esteja obviamente entre as tarefas da teoria pura Ora essas mudanças e os fenômenos que surgem em seu curso são o objeto de nossa inves tigação Mas não perguntamos que mudanças dessa espécie levaram efetivamente o moderno sistema econômico a ser o que é ou quais as condições dessas mudanças Apenas perguntamos e no mesmo sen tido que a teoria sempre pergunta como acontecem tais mudanças e quais os fenômenos econômicos que as ocasionam A mesma coisa pode ser colocada de maneira um tanto diferente A teoria do capítulo I descreve a vida econômica do ponto de vista da tendência do sistema econômico para uma posição de equilíbrio ten dência que nos dá os meios de determinar os preços e as quantidades de bens e pode ser descrita como uma adaptação aos dados existentes em qualquer momento Em contraste com as condições do fluxo circular isso não significa por si só que ano após ano as mesmas coisas acon teçam pois apenas significa que concebemos os vários processos do sistema econômico como fenômenos parciais da tendência para uma posição de equilíbrio mas não necessariamente para a mesma A po sição do estado ideal de equilíbrio do sistema econômico nunca atingido pelo qual continuamente se luta é claro que não conscientemente muda porque os dados mudam E a teoria não está desarmada frente a essas mudanças dos dados Está construída de modo a aplicarse às conseqüências de tais mudanças tem instrumentos especiais para esse fim por exemplo o instrumento chamado quaserenda Se a mudança ocorrer nos dados nãosociais condições naturais ou nos dados sociais nãoeconômicos aqui se incluem os efeitos da guerra as mudanças na política comercial social ou econômica ou no gosto dos consumidores não parece ser necessária nenhuma revisão fundamental nos instru mentos teóricos Esses instrumentos só falham e aqui esse argumento se junta ao precedente quando a vida econômica em si mesma mo difica seus próprios dados de tempos em tempos A construção de uma estrada de ferro pode servir de exemplo As mudanças contínuas que podem eventualmente transformar uma pequena firma varejista numa grande loja de departamentos mediante adaptação contínua feita em inúmeras etapas pequenas estão no âmbito da análise estática Mas a análise estática não é apenas incapaz de predizer as conseqüências das mudanças descontínuas na maneira tradicional de fazer as coisas SCHUMPETER 73 não pode explicar a ocorrência de tais revoluções produtivas nem os fenômenos que as acompanham Só pode investigar a nova posição de equilíbrio depois que as mudanças tenham ocorrido Essa ocorrência da mudança revolucionária é justamente o nosso problema o proble ma do desenvolvimento econômico num sentido muito estreito e formal A razão pela qual colocamos assim o problema e nos afastamos da teoria tradicional não reside tanto no fato de que as mudanças econô micas especialmente se não unicamente na época capitalista ocor reram efetivamente assim e não mediante adaptação contínua mas reside no fato de serem elas fecundas69 Entenderemos por desenvolvimento portanto apenas as mu danças da vida econômica que não lhe forem impostas de fora mas que surjam de dentro por sua própria iniciativa Se se concluir que não há tais mudanças emergindo na própria esfera econômica e que o fenômeno que chamamos de desenvolvimento econômico é na prática baseado no fato de que os dados mudam e que a economia se adapta continuamente a eles então diríamos que não há nenhum desenvolvi mento econômico Pretenderíamos com isso dizer que o desenvolvimento econômico não é um fenômeno a ser explicado economicamente mas que a economia em si mesma sem desenvolvimento é arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta e que as causas e portanto a explicação do desenvolvimento devem ser procuradas fora do grupo de fatos que são descritos pela teoria econômica Nem será designado aqui como um processo de desenvolvimento o mero crescimento da economia demonstrado pelo crescimento da população e da riqueza Por isso não suscita nenhum fenômeno qua litativamente novo mas apenas processos de adaptação da mesma es pécie que as mudanças nos dados naturais Como desejamos dirigir nossa atenção para outros fenômenos consideraremos tais incrementos como mudanças dos dados70 Todo processo concreto de desenvolvimento repousa finalmente sobre o desenvolvimento precedente Mas para ver claramente a es sência da coisa faremos abstração disso e admitiremos que o desen volvimento surge de uma situação sem desenvolvimento Todo processo de desenvolvimento cria os prérequisitos para o seguinte Com isso a forma deste último é alterada e as coisas se desenrolarão de modo diferente OS ECONOMISTAS 74 69 Os problemas do capital crédito lucro empresarial juro sobre o capital e crises ou ciclos econômicos são questões pelas quais será aqui demonstrado que elas são fecundas No entanto com isso não será exaurida a sua fecundidade Para o teórico especializado aponto como exemplo as dificuldades que cercam o problema do retorno crescente a questão dos múltiplos pontos de intersecção entre as curvas da demanda e da oferta e o elemento tempo que mesmo na análise de Marshall não foi superado 70 Fazemolo porque essas mudanças são pequenas per annum e portanto não são um obstáculo à aplicabilidade do método estático Não obstante seu aparecimento freqüentemente é uma condição de desenvolvimento no sentido que damos a este Mas mesmo que amiúde elas tornem possível este último não o criam a partir de si mesmas do que o teriam feito se cada fase concreta do desenvolvimento tivesse sido primeiro compelida a criar suas próprias condições Todavia se quisermos chegar à raiz da questão não podemos incluir nos dados de nossa explicação elementos daquilo que deve ser explicado Mas se não o fizermos criaremos uma aparente discrepância entre o fato e a teoria o que pode constituir uma grande dificuldade para o leitor Se eu tiver sido mais bemsucedido em concentrar a exposição sobre o essencial e em resguardála contra malentendidos do que na primeira edição então não são necessárias explicações próprias adi cionais das palavras estática e dinâmica com seus inúmeros sig nificados O desenvolvimento no sentido em que o tomamos é um fenômeno distinto inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo perturbação do equilíbrio que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente Nossa teoria do desenvolvimento não é nada mais que um modo de tratar esse fenômeno e os processos a ele inerentes71 II Essas mudanças espontâneas e descontínuas no canal do fluxo circular e essas perturbações do centro do equilíbrio aparecem na esfera da vida industrial e comercial não na esfera das necessidades dos consumidores de produtos finais Quando aparecem mudanças espon tâneas e descontínuas no gosto dos consumidores tratase de uma questão de súbita mudança dos dados a qual o homem de negócios deve enfrentar por isso é possivelmente um motivo ou uma oportuni dade para adaptações de seu comportamento que não sejam graduais mas não de um outro comportamento em si mesmo Portanto esse caso não oferece nenhum outro problema além de uma mudança nos dados naturais nem requer nenhum método novo de tratamento razão pela qual desprezaremos qualquer espontaneidade das necessidades dos con sumidores que possa existir de fato e admitiremos que os gostos são dados Isso nos é facilitado pelo fato de que a espontaneidade das necessidades é em geral pequena Certamente devemos sempre começar SCHUMPETER 75 71 Na primeira edição deste livro chameio de dinâmica Mas é preferível evitar aqui essa expressão uma vez que nos desvia muito facilmente do caminho por causa das associações que se vinculam a seus vários significados Melhor então dizer simplesmente a que nos referimos mudanças da vida econômica ela muda parcialmente por causa das mudanças dos dados às quais tende a se adaptar Mas esse não é o único tipo de mudança econômica há outro que não é causado pela influência dos dados externos mas que emerge de dentro do sistema e esse tipo de mudança é a causa de tantos fenômenos econômicos importantes que parece valer a pena construir uma teoria para ele e para isso isolálo de todos os outros fatores de mudança O autor toma a liberdade de acrescentar uma definição mais exata que tem o hábito de usar o que estamos prestes a considerar é o tipo de mudança que emerge de dentro do sistema que desloca de tal modo o seu ponto de equilíbrio que o novo não pode ser alcançado a partir do antigo mediante passos infinitesimais Adicione sucessivamente quantas diligências quiser com isso nunca terá uma estrada de ferro da satisfação das necessidades uma vez que são o fim de toda produção e a situação econômica dada em qualquer momento deve ser entendida a partir desse aspecto No entanto as inovações no sistema econômico não aparecem via de regra de tal maneira que primeiramente as novas necessidades surgem espontaneamente nos consumidores e então o aparato produtivo se modifica sob sua pressão Não negamos a pre sença desse nexo Entretanto é o produtor que via de regra inicia a mudança econômica e os consumidores são educados por ele se ne cessário são por assim dizer ensinados a querer coisas novas ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito de usar Portanto apesar de ser permissível e até necessário considerar as necessidades dos consumidores como uma força indepen dente e de fato fundamental na teoria do fluxo circular devemos tomar uma atitude diferente quando analisamos a mudança Produzir significa combinar materiais e forças que estão ao nosso alcance cf capítulo I Produzir outras coisas ou as mesmas coisas com método diferente significa combinar diferentemente esses mate riais e forças Na medida em que as novas combinações podem com o tempo originarse das antigas por ajuste contínuo mediante pequenas etapas há certamente mudança possivelmente há crescimento mas não um fenômeno novo nem um desenvolvimento em nosso sentido Na medida em que não for este o caso e em que as novas combinações aparecerem descontinuamente então surge o fenômeno que caracteriza o desenvolvimento Por motivo da conveniência de exposição quando falarmos em novas combinações de meios produtivos só estaremos nos referindo doravante ao último caso O desenvolvimento no sentido que lhe damos é definido então pela realização de novas combinações Esse conceito engloba os cinco casos seguintes 1 Introdução de um novo bem ou seja um bem com que os consumidores ainda não estiverem familiarizados ou de uma nova qualidade de um bem 2 Introdução de um novo método de produção ou seja um método que ainda não tenha sido testado pela experiência no ramo próprio da indústria de transformação que de modo algum precisa ser baseada numa descoberta cientificamente nova e pode consistir também em nova maneira de manejar comercialmente uma mercadoria 3 Abertura de um novo mercado ou seja de um mercado em que o ramo particular da indústria de transformação do país em questão não tenha ainda entrado quer esse mercado tenha existido antes quer não 4 Conquista de uma nova fonte de oferta de matériasprimas ou de bens semima nufaturados mais uma vez independentemente do fato de que essa fonte já existia ou teve que ser criada 5 Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria como a criação de uma posição de monopólio por exemplo pela trustificação ou a fragmentação de uma posição de monopólio Ora duas coisas são essenciais para os fenômenos inerentes à OS ECONOMISTAS 76 realização dessas combinações novas e para a compreensão dos fenô menos envolvidos Em primeiro lugar não é essencial embora possa acontecer que as combinações novas sejam realizadas pelas mesmas pessoas que controlam o processo produtivo ou comercial a ser deslocado pelo novo Pelo contrário as novas combinações via de regra estão corporificadas por assim dizer em empresas novas que geralmente não surgem das antigas mas começam a produzir a seu lado para manter o exemplo já escolhido em geral não é o dono de diligências que constrói estradas de ferro Esse fato não apenas coloca sob uma luz especial a descontinuidade que caracteriza o processo que queremos descrever e por assim dizer cria ainda um outro tipo de descontinui dade além da mencionada acima mas também explica características importantes do curso dos acontecimentos Especialmente numa econo mia de concorrência na qual combinações novas signifiquem a elimi nação das antigas pela concorrência explica por um lado o processo pelo qual indivíduos e famílias ascendem e decaem econômica e so cialmente e que é peculiar a essa forma de organização assim como toda uma série de outros fenômenos do ciclo econômico do mecanismo da formação de fortunas privadas etc Numa economia que não seja de troca por exemplo numa economia socialista as combinações novas também apareceriam freqüentemente lado a lado com as antigas Mas as conseqüências econômicas desse fato estariam em certa medida au sentes e as conseqüências sociais estariam totalmente ausentes E se a economia concorrencial for rompida pelo crescimento de grandes car téis como ocorre crescentemente hoje em dia em todos os países então isso deve se tornar mais e mais a verdade quanto à vida real e a realização de combinações novas deve se tornar em medida cada vez maior a preocupação interna de um mesmo corpo econômico A dife rença assim criada é suficientemente grande para servir de divisor de água entre duas épocas da história social do capitalismo Devemos notar em segundo lugar apenas parcialmente em co nexão com esse elemento que sempre que estivermos interessados em princípios fundamentais não devemos nunca supor que a realização de combinações novas tem lugar pelo emprego de meios de produção que por acaso estejam sem ser usados Na vida prática isso ocorre muito freqüentemente Há sempre trabalhadores desempregados ma tériasprimas nãovendidas capacidade produtiva nãoutilizada e as sim por diante Esta certamente é uma circunstância que contribui como condição favorável e mesmo como incentivo para o surgimento de combinações novas mas um grande índice de desemprego é apenas conseqüência de eventos nãoeconômicos como por exemplo a Guer ra Mundial ou precisamente do desenvolvimento que estamos in vestigando Em nenhum dos dois casos a sua existência cumpre um papel fundamental na explicação e não pode ocorrer em um fluxo circular bem equilibrado do qual partimos Tampouco o incremento SCHUMPETER 77 anual normal o provocaria já que seria em primeiro lugar pequeno e também porque normalmente seria absorvido por uma expansão cor respondente da produção dentro do fluxo circular e se admitimos tais incrementos devemos pensálos como estando ajustados a essa taxa de crescimento72 Como regra a nova combinação deve retirar os meios de produção necessários de algumas combinações antigas e por razões já mencionadas suporemos que sempre o fazem para dar um nítido relevo ao que consideramos ser a linha essencial de contorno A realização de combinações novas significa portanto simplesmente o emprego diferente da oferta de meios produtivos existentes no sistema econômico o que pode fornecer uma segunda definição de desenvol vimento no sentido em que o tomamos Aquele rudimento de uma teoria econômica pura do desenvolvimento que está implícito na doutrina tradicional da formação de capital sempre se refere apenas à poupança e ao investimento de pequenos acréscimos anuais a ela atribuíveis Nisso não afirma nada de falso mas passa totalmente por cima de coisas muito mais essenciais O lento e contínuo acréscimo no tempo da oferta nacional de meios produtivos e de poupança é obviamente um fator importante na explicação do curso da história econômica através dos séculos mas é completamente eclipsado pelo fato de que o desenvolvimento consiste pri mariamente em empregar recursos diferentes de uma maneira diferente em fazer coisas novas com eles independentemente de que aqueles re cursos cresçam ou não No tratamento de períodos mais curtos isso é ainda mais certo num sentido mais tangível Métodos diferentes de em prego e não a poupança e os aumentos na quantidade disponível de mãodeobra mudaram a face do mundo econômico nos últimos cinqüenta anos De modo especial o crescimento da população como também das fontes a partir das quais se pode poupar tornouse possível em grande parte pelo emprego diferente dos meios então existentes O próximo passo de nosso raciocínio também é evidente por si só o comando sobre os meios de produção é necessário para a realização de novas combinações A obtenção dos meios de produção é um problema especial das empresas estabelecidas que trabalham dentro do fluxo circular Pois elas já obtiveram esses meios ou então podem obtêlos comumente com o lucro da produção anterior como foi explicado no capítulo I Não há aqui nenhum hiato fundamental entre a receita e a despesa que pelo contrário necessariamente correspondem uma à outra justamente porque ambas correspondem aos meios de produção oferecidos e aos produtos demandados Uma vez colocado em movi mento esse mecanismo funciona automaticamente Ademais o proble ma não existe numa economia que não seja de trocas mesmo se nela OS ECONOMISTAS 78 72 Em geral é muito mais correto dizer que a população cresce devagar até o limite das possibilidades de qualquer ambiente econômico do que dizer que ela tem certa tendência a excedêlo tornandose com isso uma causa independente de mudança forem realizadas novas combinações pois o órgão dirigente por exem plo um Ministério da Economia socialista está numa posição em que dirige os recursos produtivos da sociedade para novos usos exatamente como pode dirigilos para seus empregos anteriores Sob certas cir cunstâncias o novo emprego pode impor sacrifícios temporários pri vações ou aumento de esforços para os membros da comunidade pode pressupor a solução de problemas difíceis por exemplo a questão de saber de qual das antigas combinações devem ser retirados os meios produtivos necessários mas não se trata de obter meios de produção que já não estejam à disposição do Ministério da Economia Finalmente o problema também não existe numa economia concorrencial no caso da realização de novas combinações se aqueles que as realizam têm os meios de produção necessários ou podem obtêlos em troca de outros que tenham ou de qualquer outra propriedade que porventura possuam Não se trata do privilégio da posse de propriedade per se mas apenas do privilégio da posse de propriedade da qual se possa dispor ou melhor que seja utilizável imediatamente na realização da combinação nova ou na troca pelos bens e serviços necessários73 Caso contrário e esta é a regra assim como este é um caso fundamentalmente interes sante o possuidor da riqueza mesmo que seja o maior dos cartéis deve recorrer ao crédito se desejar realizar uma nova combinação que não pode como numa empresa estabelecida ser financiado pelos re tornos da produção anterior Fornecer esse crédito é exatamente a função daquela categoria de indivíduos que chamamos de capitalistas É óbvio que esse é o método característico do tipo capitalista de so ciedade e suficientemente importante para servir de sua differentia specifica para forçar o sistema econômico a seguir por novos canais para colocar seus meios ao serviço de novos fins em contraste com o método de uma economia que não seja de trocas do tipo que consiste simplesmente em exercer o poder de comando do órgão dirigente Não me parece possível contestar de modo algum a afirmação precedente A ênfase sobre o significado do crédito se encontra em todo livro de texto Nem mesmo a ortodoxia mais conservadora dos teóricos pode negar que a estrutura da indústria moderna não poderia ter sido erigida sem ele que ele torna o indivíduo até certo ponto independente dos bens herdados que o talento na vida econômica cavalga sobre suas dívidas em direção ao sucesso Nem é para ofender ninguém a conexão estabelecida aqui entre o crédito e a realização de inovações uma conexão a ser elaborada posteriormente Pois é tão claro a priori como está estabelecido historicamente que o crédito é primariamente necessário às novas combinações e que é por estas que ele força seu SCHUMPETER 79 73 Um privilégio que o indivíduo também pode atingir pela poupança Numa economia do tipo artesanal esse elemento teria que ser mais enfatizado Os fundos de reserva dos industriais supõem a existência de desenvolvimento caminho dentro do fluxo circular de um lado porque foi necessário originalmente para a fundação do que agora são as empresas antigas e de outro porque seu mecanismo uma vez em funcionamento também se apodera das combinações antigas por razões óbvias74 Primeiro a priori vimos no capítulo I que tomar emprestado não é um elemento necessário da produção no fluxo circular normal em canais costumeiros não é um elemento sem o qual não poderíamos entender os fenômenos essenciais deste último Por outro lado na realização de combinações novas o financiamento como um ato especial é fundamentalmente necessário na prática como na teoria Segundo historicamente os que tomam e concedem empréstimos para fins industriais não aparecem cedo na história O prestamista précapitalista fornecia dinheiro para fins outros que não os negócios E todos nos lembramos do tipo de industrial que sentia estar perdendo prestígio ao tomar um empréstimo e que portanto se esquivava dos bancos e das letras de câmbio O sistema de crédito capitalista cresceu e prosperou a partir do financiamento de combinações novas em todos os países mesmo que de forma diferente em cada um a origem dos bancos alemães organizados por ações é es pecialmente característica Finalmente não se pode constituir em nenhum empecilho nossa referência ao recebimento de crédito em dinheiro ou substitutos do dinheiro Certamente não afirmamos que com moedas se pode produzir notas ou saldos bancários e não negamos que os serviços do trabalho matériasprimas e ferramentas são as coisas de que preci samos Estamos apenas falando de um método para sua obtenção Não obstante há aqui um ponto no qual como já foi dado a entender nossa teoria diverge da visão tradicional A teoria aceita vê um problema na existência dos meios produtivos necessários para pro cessos produtivos novos ou na verdade para qualquer processo pro dutivo e portanto essa acumulação tornase uma função ou serviço distinto Não reconhecemos de modo algum esse problema parecenos que ele é criado por uma análise defeituosa Não existe no fluxo circular porque o funcionamento deste pressupõe quantidades dadas de meios de produção Mas tampouco existe para a realização de combinações novas75 porque os meios de produção requeridos por estas são retirados do fluxo circular quer já existam na forma desejada quer tenham que ser produzidos primeiro pelos outros meios de produção lá existentes Ao invés desse problema existe para nós um outro o problema de OS ECONOMISTAS 80 74 A mais importante delas é o aparecimento do juro produtivo como veremos no capítulo V Assim que o juro aparece em algum lugar do sistema expandese por todo ele 75 Evidentemente os meios produtivos não caem do céu Na medida em que não são dados pela natureza ou de modo nãoeconômico foram e são criados em algum momento pelas ondas individuais de desenvolvimento no sentido que damos a este e a partir daí incor porados ao fluxo circular Mas toda onda individual de desenvolvimento e toda combinação individual nova em si mesma provém novamente da oferta de meios produtivos do fluxo circular existente um caso da galinha e do ovo destacar meios produtivos já empregados em algum lugar do fluxo circular e alocálos nas novas combinações Isso é feito pelo crédito por meio do qual quem quer realizar novas combinações sobrepuja os produtores do fluxo circular no mercado dos meios de produção reque ridos E embora o significado e o objeto desse processo repouse num movimento dos bens de seus antigos usos em direção aos novos não pode ser descrito inteiramente em termos de bens sem que se passe por cima de algo essencial que acontece na esfera do dinheiro e do crédito e do que depende a explicação de fenômenos importantes na forma capi talista de organização econômica em contraste com outros tipos Finalmente mais um passo nessa direção de onde vêm as somas necessárias à aquisição dos meios de produção necessários para as combinações novas se o indivíduo em questão por acaso não as tiver A resposta convencional é simples vêm do crescimento anual da pou pança social mais aquela parte dos recursos que anualmente pode tor narse livre Ora a primeira quantidade foi de fato tão importante antes da Guerra talvez possa ser estimada em 15 do total da renda privada na Europa e na América do Norte que junto com a última soma que é difícil de obter estatisticamente não refuta de imediato essa resposta quantitativamente Ao mesmo tempo também não se dispõe atualmente de um número que represente a extensão de todas as operações de negócios envolvidas na realização de combinações no vas Mas não podemos nem mesmo começar com a poupança total Pois a sua magnitude só é explicável pelos resultados do desenvolvi mento anterior Sua maior parte decididamente não vem da parci mônia em sentido estrito ou seja da abstenção por alguém do consumo de parte de sua renda regular mas consiste em fundos que são eles próprios resultado de inovação bemsucedida e nos quais reconhece remos mais tarde o lucro empresarial No fluxo circular não haveria por um lado nenhuma fonte tão rica de poupança e por outro essen cialmente haveria menor incentivo para se poupar Os únicos grandes rendimentos por ele conhecidos seriam as receitas de monopólio e as rendas de grandes proprietários de terra enquanto provisões para os reveses ou para a velhice talvez também por motivos sem razão seriam os únicos incentivos O incentivo mais importante a chance de parti cipar dos ganhos do desenvolvimento estaria ausente Por isso num tal sistema econômico não haveria nenhum grande reservatório de po der de compra livre para o qual pudesse se voltar quem desejasse formar novas combinações e a sua própria poupança só seria sufi ciente em casos excepcionais Todo o dinheiro circularia estaria fixado em determinados canais estabelecidos Ainda que a resposta convencional à nossa questão não seja cer tamente absurda há no entanto um outro método de obter dinheiro para esse propósito que chama nossa atenção porque diferentemente do referido não pressupõe a existência de resultados acumulados do SCHUMPETER 81 desenvolvimento anterior e por isso pode ser considerado como o único disponível dentro de uma lógica estrita Esse método de obter dinheiro é a criação de poder de compra pelos bancos A forma que toma é imaterial A emissão de bilhetes de banco não cobertos totalmente por moeda metálica retirada da circulação é um exemplo óbvio mas os métodos dos bancos de depósitos prestam o mesmo serviço quando aumentam a soma total do dispêndio possível Ou podemos pensar nos aceites bancários na medida em que servem como dinheiro para fazer pagamentos no comércio atacadista É sempre uma questão não de transformar o poder de compra que já existe em propriedade de alguém mas da criação de novo poder de compra a partir do nada a partir do nada mesmo que o contrato de crédito pelo qual é criado o novo poder de compra seja apoiado em garantias que não sejam elas próprias meio circulante que se adiciona à circulação existente E essa é a fonte a partir da qual as novas combinações freqüentemente são fi nanciadas e a partir da qual teriam que ser financiadas sempre se os resultados do desenvolvimento anterior não existissem de fato em al gum momento Esses meios de pagamento creditícios ou seja meios de paga mento criados com o propósito e pelo ato de conceder crédito servem tanto quanto o dinheiro sonante no comércio em parte diretamente em parte porque podem ser imediatamente convertidos em dinheiro sonante para pequenos pagamentos ou pagamentos às classes nãoban cárias em particular aos assalariados Com sua ajuda os que rea lizam combinações novas podem obter acesso aos estoques existentes de meios produtivos ou quando for o caso podem capacitar àqueles de quem compram os serviços produtivos a obter acesso imediato ao mercado de bens de consumo Nunca há nesse nexo concessão de crédito no sentido de que alguém precise esperar pelo equivalente em bens do seu serviço e contentarse com um direito preenchendo com isso uma função especial nem mesmo no sentido de que alguém tenha que acumular meios de manutenção para trabalhadores ou proprietá rios de terra ou meios de produção produzidos que seriam todos pagos apenas com os resultados finais da produção Economicamente é ver dade há uma diferença essencial entre esses meios de pagamento se forem criados para novos fins e o dinheiro ou os outros meios de pagamento do fluxo circular Estes últimos podem ser concebidos de um lado como uma espécie de certificado de que a produção foi com pletada e de que foi efetuado um aumento no produto social por meio dela e de outro como uma espécie de comando sobre ou direito a parte desse produto social Os primeiros não têm a primeira dessas duas características Também eles são comando com que se pode obter imediatamente bens de consumo mas não certificados de produção prévia Acesso ao dividendo nacional usualmente só pode ser conseguido com a condição de que algum serviço produtivo tenha sido previamente OS ECONOMISTAS 82 prestado ou algum produto previamente vendido Essa condição nesse caso ainda não foi preenchida Só o será depois que as novas combi nações forem completadas com sucesso Assim esse crédito afetará o nível de preços nesse espaço de tempo Portanto o banqueiro não é primariamente tanto um intermediário da mercadoria poder de compra mas um produtor dessa mercadoria Contudo como toda poupança e fundos de reserva hoje em dia afluem geralmente para ele e nele se concentra a demanda de poder livre de compra quer já exista quer tenha que ser criado ele substitui os capi talistas privados ou tornouse o seu agente tornouse ele mesmo o capi talista par excellence Ele se coloca entre os que desejam formar combi nações novas e os possuidores dos meios produtivos Ele é essencialmente um fenômeno do desenvolvimento embora apenas quando nenhuma au toridade central dirige o processo social Ele torna possível a realização de novas combinações autoriza as pessoas por assim dizer em nome da sociedade a formálas É o éforo da economia de trocas III Chegamos agora ao terceiro dos elementos com que a nossa aná lise trabalha a saber a nova combinação de meios de produção e o crédito Embora os três elementos formem um todo o terceiro pode ser descrito como o fenômeno fundamental do desenvolvimento econô mico Chamamos empreendimento à realização de combinações novas chamamos empresários aos indivíduos cuja função é realizálas Esses conceitos são a um tempo mais amplos e mais restritos do que no uso comum Mais amplos porque em primeiro lugar chamamos empresá rios não apenas aos homens de negócios independentes em uma economia de trocas que de modo geral são assim designados mas todos que de fato preenchem a função pela qual definimos o conceito mesmo que sejam como está se tornando regra empregados depen dentes de uma companhia como gerentes membros da diretoria etc ou mesmo se o seu poder real de cumprir a função empresarial tiver outros fundamentos tais como o controle da maioria das ações Como a realização de combinações novas é que constitui o empresário não é necessário que ele esteja permanentemente vinculado a uma empresa individual muitos financistas promotores etc não são e ainda po dem ser empresários no sentido que lhe damos Por outro lado nosso conceito é mais restrito do que o tradicional ao deixar de incluir todos os dirigentes de empresas gerentes ou industriais que simplesmente podem operar um negócio estabelecido incluindo apenas os que real mente executam aquela função Não obstante sustento que a definição acima não faz mais do que formular com maior precisão o que a doutrina tradicional realmente pretende transmitir Em primeiro lugar nossa definição concorda com a comum no ponto fundamental da distinção entre empresários e capitalistas independentemente de os últimos SCHUMPETER 83 serem vistos como proprietários de dinheiro de direitos ao dinheiro ou de bens materiais Essa distinção hoje em dia é geralmente aceita e o tem sido por um tempo considerável Nossa definição coloca também a questão de que o acionista comum é um empresário enquanto tal e descarta a concepção do empresário como aquele que corre riscos76 Além disso a caracterização comum do empresário por expressões tais como iniciativa autoridade ou previsão aponta diretamente em nossa direção Pois há um pequeno raio de ação para tais qualidades dentro da rotina do fluxo circular e se essa tivesse sido separada claramente da ocorrência de mudanças nessa própria rotina a ênfase na definição da função dos empresários teria se transferido automati camente para estas últimas Finalmente há definições que poderíamos simplesmente aceitar Em particular há a definição bem conhecida que remonta a J B Say a função do empresário é combinar os fatores produtivos reunilos Como isso é uma atuação de tipo especial apenas quando os fatores são combinados pela primeira vez ao passo que é mero trabalho de rotina quando feito no curso da operação de um negócio essa definição coincide com a nossa Quando Mataja em Unternehmergewinn define o empresário como quem recebe lucro só temos que acrescentar a conclusão do capítulo I de que não há nenhum lucro no fluxo circular para que essa formulação também remonte à nossa77 E essa visão não é estranha à teoria tradicional como é de monstrado pela explicação do entrepreneur faisant ni bénéfice ni perte que foi rigorosamente elaborada por Walras mas pertence a muitos outros autores A tendência é de que o empresário não tenha nem lucro nem prejuízo no fluxo circular ou seja ele não tem ali nenhuma função de tipo especial simplesmente ele não existe mas em seu lugar há dirigentes de empresas ou gerentes de negócios de um tipo diferente e é melhor que não sejam designados pelo mesmo termo É um preconceito acreditar que o conhecimento da origem his OS ECONOMISTAS 84 76 O risco obviamente recai sempre sobre o proprietário dos meios de produção ou do capi taldinheiro que foi pago por eles portanto nunca sobre o empresário enquanto tal veja capítulo IV Um acionista pode ser um empresário Pode até dever o poder de atuar como empresário ao fato de possuir uma participação com a qual detém o controle Os acionistas per se contudo nunca são empresários mas apenas capitalistas que em consideração ao fato de se submeterem a certos riscos participam nos lucros Isso não é razão para con siderálos como qualquer um e não como capitalistas como está demonstrado pelos fatos de que primeiro o acionista médio normalmente não tem nenhum poder para influenciar a administração de sua companhia e em segundo lugar a participação nos lucros é freqüente em casos em que todos reconhecem a presença de um contrato de empréstimo Compare por exemplo o foenus nauticum grecoromano Seguramente essa interpretação é mais fiel à vida do que a outra que seguindo uma orientação legal defeituosa que só pode ser explicada historicamente atribui ao acionista médio funções que ele dificilmente pensa desempenhar algum dia 77 A definição do empresário em termos do lucro empresarial e não em termos da função cujo desempenho cria o lucro empresarial obviamente não é brilhante Mas temos ainda outra objeção a ela veremos que o lucro empresarial não cabe ao empresário por neces sidade no mesmo sentido que o produto marginal do trabalho cabe ao trabalhador tórica de uma instituição ou de um tipo nos mostra imediatamente sua natureza sociológica ou econômica Tal conhecimento freqüente mente nos leva à sua compreensão mas não produz diretamente uma teoria a seu respeito Ainda mais falsa é a convicção de que as formas primitivas de um tipo também são ipso facto as mais simples ou as mais originais no sentido de que mostram sua natureza de modo mais puro e com menos complicações do que as posteriores Muito freqüentemente ocorre o contrário entre outras razões porque a espe cialização crescente pode permitir que sobressaiam nitidamente funções e qualidades que são mais difíceis de reconhecer em condições mais primitivas quando estão misturadas com outras Assim é em nosso caso Na posição geral do chefe de uma horda primitiva é difícil separar o elemento empresarial dos outros Pela mesma razão a maior parte dos economistas até o tempo do mais moço dos Mill não conseguiu distinguir entre capitalista e empresário porque o industrial de cem anos atrás era ambas as coisas e certamente o curso dos acontecimentos desde então facilitou a realização dessa distinção como o sistema de arrendamento de terras na Inglaterra facilitou a distinção entre agri cultor e proprietário da terra ao passo que no Continente essa distinção ainda é ocasionalmente desprezada especialmente no caso do camponês que lavra sua própria terra78 Mas em nosso caso há ainda mais difi culdades como essas O empresário dos tempos mais antigos não só era via de regra também o capitalista mas freqüentemente era ainda como ainda é hoje no caso de estabelecimentos menores seu próprio perito técnico enquanto um especialista profissional não fosse chamado para os casos especiais Da mesma forma era e ainda é muitas vezes seu próprio agente de compras e vendas o chefe de seu escritório seu próprio diretor de pessoal e às vezes seu próprio con sultor legal para negócios gerais mesmo que na verdade via de regra empregasse advogados E era executando algumas dessas funções ou todas que ele preenchia regularmente os seus dias A realização de novas combinações não pode ser mais uma vocação do que a tomada e a execução de decisões estratégicas embora seja essa função e não o seu trabalho de rotina o que caracteriza o líder militar Portanto a função essencial do empresário deve sempre aparecer misturada com outros tipos de atividade que via de regra devem ser muito mais importantes que o essencial Por isso é que a definição marshalliana do empresário que trata a função empresarial simplesmente como ad ministração no sentido mais amplo atrai naturalmente a maior parte de nós Não a aceitamos simplesmente porque não ressalta o que con SCHUMPETER 85 78 Só esse desprezo explica a atitude de muitos teóricos socialistas para com a propriedade camponesa Pois a pequenez da propriedade individual só faz diferença para o pequeno burguês não para o socialista O critério do emprego de trabalho que não seja o do pro prietário e de sua família só é economicamente relevante do ponto de vista de uma espécie de teoria da exploração que praticamente não é mais sustentável sideramos ser o ponto chave e o único que distingue especificamente a atividade empresarial de outras Não obstante há tipos que apresentam a função empresarial com uma pureza particular o curso dos acontecimentos desenvol veuos paulatinamente O promotor certamente só se enquadra entre eles com algumas qualificações Pois deixando de lado as associações relativas ao status social e moral que estão ligadas a esse tipo o pro motor freqüentemente é apenas um agente que recebe uma comissão na intermediação que executa o trabalho da técnica financeira para lançar uma nova empresa Nesse caso não é o criador nem a força propulsora desse processo Contudo também pode ser esta última e então será algo como um empresário profissional Mas o tipo moderno de capitão de indústria79 corresponde mais estritamente ao que que remos expressar aqui especialmente se se reconhece por um lado a sua identidade digamos com o empresário comercial da Veneza do século XII ou entre os tipos mais modernos com John Law e por outro com o potentado da aldeia que combina a sua agricultura e o seu comércio de gado digamos com uma cervejaria rural um hotel uma loja Mas qualquer que seja o tipo alguém só é um empresário quando efetivamente levar a cabo novas combinações e perde esse caráter assim que tiver montado o seu negócio quando dedicarse a dirigilo como outras pessoas dirigem seus negócios Essa é a regra certamente e assim é tão raro alguém permanecer sempre como em presário através das décadas de sua vida ativa quanto é raro um homem de negócios nunca passar por um momento em que seja empresário mesmo que seja em menor grau Como ser um empresário não é uma profissão nem em geral uma condição duradoura os empresários não formam uma classe social no sentido técnico como por exemplo o fazem os proprietários de terra os capitalistas ou os trabalhadores Evidentemente a função empresa rial levará o empresário bemsucedido e sua família a certas posições de classe Também pode pôr o seu selo numa época da história social pode formar um estilo de vida ou sistemas de valores morais e estéticos mas em si mesma não significa uma posição de classe não mais do que pressupõe tais coisas E a posição de classe que pode ser alcançada não é enquanto tal uma posição empresarial mas se caracteriza como de proprietário de terras ou de capitalista de acordo com o modo pelo qual se usa o produto do empreendimento A herança do fruto pecu niário e das qualidades pessoais então tanto pode manter essa posição por mais de uma geração como tornar mais fácil para os descendentes o empreendimento adicional mas a função do empresário em si mesma OS ECONOMISTAS 86 79 Cf por exemplo uma boa descrição em WIEDENFELD Das Persönliche im modernen Unternehmertum Embora tenha aparecido no Schmollers Jahrbuch em 1910 este trabalho não me era conhecido quando a primeira edição deste livro foi publicada não pode ser herdada como é suficientemente bem demonstrado pela história das famílias industriais80 Mas agora surge a questão decisiva por que então a realização de combinações novas é um processo especial e o objeto de um tipo especial de função Cada indivíduo leva adiante seus afazeres eco nômicos tão bem quanto pode Seguramente suas próprias intenções nunca são realizadas com perfeição ideal mas em última instância o seu comportamento é moldado pela influência exercida sobre ele pelos resultados de sua conduta de modo a adequarse a circunstâncias que via de regra não mudam subitamente Se um negócio não pode nunca ser absolutamente perfeito em qualquer sentido pode no entanto com o tempo aproximarse de uma relativa perfeição considerandose o mundo ao redor as condições sociais o conhecimento do momento e o horizonte de cada indivíduo ou de cada grupo Novas possibilidades continuamente são oferecidas pelo mundo circundante em particular descobertas novas são continuamente acrescentadas ao estoque de co nhecimento existente Por que o indivíduo não deveria justamente fazer uso das novas possibilidades tanto quanto das antigas e conforme a posição de mercado tal como ele a entende criar porcos em vez de vacas ou até escolher uma nova rotação de culturas se isso puder ser visto como mais vantajoso E que tipo de fenômenos ou problemas novos especiais não encontráveis no fluxo circular estabelecido podem surgir daí Enquanto no fluxo circular habitual todo indivíduo pode agir pron ta e racionalmente porque está seguro do terreno em que pisa e se apóia na conduta ajustada a esse fluxo circular por parte de todos os outros indivíduos que por sua vez esperam dele a atividade habitual ele não pode simplesmente fazer isso quando se defronta com uma nova tarefa Enquanto nos canais habituais é suficiente a própria ap tidão e experiência do indivíduo normal quando se defronta com ino vações precisa de orientação Enquanto ele nada a favor da corrente no fluxo circular que lhe é familiar se quiser mudar o seu canal ele nada contra a corrente O que anteriormente era um auxílio tornase um obstáculo O que era um dado familiar tornase uma incógnita Quando terminam as fronteiras da rotina muitas pessoas não podem ir além e outros só podem fazêlo de uma maneira altamente variável A suposição de que a conduta é rápida e racional é uma ficção em todas as situações Mas prova ser suficientemente próxima à realidade se as coisas tiverem tempo de fixar a lógica no homem Onde isso tiver acontecido e dentro dos limites em que tiver acontecido é possível ficar contente com essa ficção e sobre ela construir teorias Não é pois verdade que o hábito o costume ou os modos nãoeconômicos de pensar SCHUMPETER 87 80 Sobre a natureza da função empresarial compare também minha exposição no artigo Un ternehmer In Handwörterbuch der Staatswissenschaften causem uma diferença irremediável entre os indivíduos de classes épo cas ou culturas diferentes e que por exemplo a economia da bolsa de valores seria inaplicável digamos aos camponeses de hoje ou aos artesãos da Idade Média Pelo contrário o mesmo quadro teórico81 em seus contornos mais amplos se ajusta a indivíduos de culturas bem diferentes qualquer que seja o seu grau de inteligência e de ra cionalidade econômica e podemos estar certos de que o camponês vende o seu novilho exatamente com tanta astúcia e egoísmo quanto o corretor da bolsa de valores vende a sua carteira de ações Mas isso só vale quando um semnúmero de precedentes formaram a conduta através de décadas e em seu fundamento através de centenas e milhares de anos e eliminaram o comportamento nãoadaptado Fora desses limites nossa ficção perde sua proximidade da realidade82 Apegarse também a isso como faz a teoria tradicional é encobrir uma coisa essencial e ignorar um fato que contrastando com outros desvios de nossas su posições em relação à realidade é teoricamente importante e fonte da explicação de fenômenos que não existiriam sem esse fato Portanto ao descrever o fluxo circular devese tratar as combi nações de meios de produção as funções de produção como dados como possibilidades naturais e admitir apenas variações pequenas83 na margem tais que todo indivíduo pode realizar ao adaptarse às mudanças em seu ambiente econômico sem desviarse materialmente das linhas habituais Portanto a realização de combinações novas é ainda uma função especial e o privilégio de um tipo de pessoa que é muito menos numeroso do que todos os que têm a possibilidade ob jetiva de fazêlo Portanto finalmente os empresários são um tipo especial84 e o seu comportamento um problema especial a força motriz OS ECONOMISTAS 88 81 O mesmo quadro teórico obviamente não o mesmo quadro sociológico cultural etc 82 Até que ponto é esse o caso é mais bem visto hoje em dia na vida econômica daquelas nações e dentro de nossa civilização na economia daqueles indivíduos que o desenvolvimento do último século ainda não lançou completamente em sua corrente por exemplo na economia do camponês da Europa central Esse camponês calcula não há nele nenhuma deficiência na maneira econômica de pensar Wirtschaftsgesinnung No entanto não pode dar um passo fora do caminho trilhado sua economia não mudou nem um pouco durante séculos exceto talvez pelo exercício da força e influência externas Por quê Porque a escolha de novos métodos não é simplesmente um elemento do conceito de ação econômica racional nem algo lógico de se esperar mas um processo distinto que tem necessidade de explicação especial 83 Pequenas perturbações que podem realmente como mencionamos anteriormente somarse com o tempo até tornarse grandes montantes O ponto decisivo é que o homem de negócios nunca altera sua rotina apesar de fazer adaptações O caso comum é o de pequenas perturbações à exceção do caso de grandes grandes uno actu Apenas nesse sentido a ênfase é posta aqui sobre a pequenez A objeção de que não pode haver em princípio nenhuma diferença entre as perturbações pequenas e grandes não é válida Pois é falsa em si mesma na medida em que se baseia na desconsideração do princípio do método infinitesimal cuja essência repousa no fato de que em certas circunstâncias podese afirmar sobre pequenas quantidades o que não se pode afirmar sobre grandes quantidades Mas o leitor que se ofender com o contraste grandepequeno pode se quiser substituílo pelo contraste adaptadoespontâneo Pessoalmente não estou disposto a fazêlo porque esse úl timo método de expressão é muito mais facilmente mal interpretado do que o primeiro e realmente demandaria explicações ainda mais longas SCHUMPETER 89 84 Em primeiro lugar é uma questão de um tipo de conduta e de uma categoria de pessoa na medida em que essa conduta é acessível em medida muito desigual e para relativamente poucas pessoas de modo que isso constitui sua característica destacada Como a exposição da primeira edição foi censurada como tendo exagerado e se enganado quanto à peculiaridade dessa conduta e como tendo deixado de lado o fato de que é ela mais ou menos aberta a todos os homens de negócios e como a exposição num artigo posterior Wellenbewegung des Wirtschaftslebens In Archiv für Sozialwissenschaft foi acusada de introduzir uma categoria intermediária homem de negócios meioestático podese argumentar o seguinte A conduta em questão é peculiar de duas maneiras Em primeiro lugar porque é dirigida a algo diferente e significa fazer algo diferente de outra conduta Podese na verdade incluíla com a última numa unidade mais elevada mas isso não altera o fato de que existe uma diferença teoricamente relevante entre as duas e que apenas uma delas é adequada mente descrita pela teoria tradicional Em segundo o tipo de conduta em questão não apenas difere do outro em seu objetivo sendolhe peculiar a inovação mas também por pressupor aptidões que diferem em tipo e não apenas em grau daquelas do mero compor tamento econômico racional Ora essas aptidões presumivelmente são distribuídas numa população eticamente homo gênea exatamente como outras ou seja a curva de sua distribuição tem uma ordenada máxima desvios de cada lado que se tornam mais raros quanto maiores são Similarmente podemos supor que todo homem saudável pode cantar se quiser Talvez metade dos indi víduos num grupo eticamente homogêneo tem a capacidade para isso num grau médio um quarto em medida progressivamente menor e digamos um quarto numa medida superior à média e dentro dessa quarta parte por uma série de habilidade para cantar continuamente crescente e um número continuamente decrescente de pessoas que a possui chegamos finalmente aos Carusos Apenas nessa quarta parte nos impressionamos em geral pela habilidade para cantar e apenas nas instâncias supremas isso pode tornarse a marca característica de uma pessoa Embora praticamente todos os homens possam cantar a habilidade para cantar não deixa de ser uma característica diferenciadora e um atributo de uma minoria na verdade não exatamente de uma categoria porque essa característica diferentemente da nossa afeta relativamente pouco o total da personalidade Vamos nos concentrar nisso mais uma vez um quarto da população pode ser tão pobre em termos dessas qualidades digamos aqui provisoriamente da iniciativa econômica que a deficiência se faz sentir pela pobreza de sua personalidade moral e cumpre um papel desprezível nos menores assuntos da vida privada e profissional em que esse elemento é requerido Reconhecemos essa categoria e sabemos que muitos dos melhores funcionários que se distinguem por sua devoção ao dever seus conhecimentos especializados e sua cor reção pertencem a ela Então vem o mediano o normal Estes provam ser melhores nas coisas que mesmo dentro dos canais estabelecidos não podem simplesmente ser des pachadas erledigen mas também devem ser decididas entscheiden e realizadas durch setzen Praticamente todos os homens de negócios se enquadram aqui de outro modo não teriam atingido nunca suas posições a maior parte representa uma seleção individual ou hereditariamente testada Um industrial têxtil não percorre um caminho novo quando vai a um leilão de lã Mas as situações ali não são nunca as mesmas e o sucesso do negócio depende tanto da habilidade e iniciativa para comprar a lã que o fato de que a indústria têxtil não tenha até agora mostrado uma trustificação comparável com a da indústria pesada é indubitavelmente explicável em parte pela relutância dos industriais mais talen tosos em renunciar à vantagem de sua própria habilidade para comprar a lã A partir daí subindo na escala chegamos finalmente à quarta parte mais elevada às pessoas que são da categoria caracterizada por qualidades de intelecto e de vontade acima do normal Dentro dessa categoria não apenas há muitas variedades comerciantes industriais financistas etc mas também uma variedade contínua de graus de intensidade de iniciativa Em nosso raciocínio ocorrem tipos de todos os graus de intensidade Muitos podem rumar por um caminho seguro onde ninguém ainda esteve outros seguem por onde antes alguém passou primeiro outros ainda vão apenas com a multidão mas nesta entre os primeiros Assim também o grande líder político de todas as espécies e tempos constitui uma categoria no entanto não uma coisa única mas apenas o ápice de uma pirâmide abaixo do qual há uma variação contínua até o meio e deste para valores abaixo do normal E no entanto não apenas liderar é uma função especial mas o líder também é algo especial distinto razão por que não há nenhum sentido em perguntar em nosso caso Onde começa então essa categoria e então exclamar Este não constitui de modo algum uma categoria de um grande número de fenômenos significativos Assim nossa posição pode ser caracterizada por três partes correspondentes de oposições Primeiramente pela oposição de dois processos reais o fluxo circular ou a tendência para o equilíbrio por um lado uma mudança dos canais da rotina econômica ou uma mudança espontânea nos dados econômicos que emergem de dentro do sistema por outro Em segundo lugar pela oposição de dois aparatos teóricos o estático e o dinâmico85 Em terceiro lugar pela oposição de dois tipos de conduta que seguindo a realidade podemos descrever como dois tipos de indivíduos os meros adminis tradores e os empresários E portanto o melhor método de produzir no sentido teórico deve ser concebido como o mais vantajoso dentre os métodos que foram testados empiricamente e se tornaram conheci dos Mas não é o melhor dos métodos possíveis no momento Se não se faz essa distinção o conceito tornase sem sentido e precisamente os problemas que tencionamos atender com a nossa interpretação per manecem sem ser resolvidos Formulemos agora precisamente o traço característico da conduta e do tipo em discussão A menor ação diária abrange um enorme esforço mental Todo colegial precisaria ser um gigante mental se ele próprio tivesse que criar por meio de sua própria atividade individual tudo o que sabe e usa E todo homem precisaria ser um gigante de sabedoria OS ECONOMISTAS 90 85 Objetouse contra a primeira edição que ela às vezes define estática como uma construção teórica às vezes como o esboço de um estado efetivo da vida econômica Creio que a presente exposição não dá nenhum sustento a essa opinião A teoria estática não supõe uma economia estacionária também trata dos efeitos das mudanças nos dados Propria mente falando portanto não há nenhuma conexão necessária entre teoria estática e rea lidade estacionária Só na medida em que se pode apresentar a forma fundamental do curso econômico dos acontecimentos com a máxima simplicidade numa economia que não muda é que essa suposição se recomenda à teoria A economia estacionária é por incontáveis milhares de anos e também nos tempos históricos em muitos lugares por séculos um fato incontrovertível à parte o fato que Sombart enfatizou de que além disso há uma tendência para o estado estacionário em cada período de depressão Assim compreendese facilmente como esse fato histórico e aquela construção teórica aliaramse de uma maneira que levou a alguma confusão O autor não usaria agora as palavras estática e dinâmica no sentido que têm acima em que são simples expressões curtas para teoria do fluxo circular e teoria do desenvolvimento Mais uma coisa a teoria emprega dois métodos de interpretação o que pode talvez trazer dificuldades Se se deve mostrar como todos os elementos do sistema econômico são determinados um pelo outro no equilíbrio esse sistema de equilíbrio é considerado como ainda não existente e é construído ab ovo diante de nossos olhos Isso não quer dizer que o seu viraser é com isso geneticamente explicado Apenas são tornados logicamente claros a sua existência e o seu funcionamento pela dis secção mental E as experiências e os hábitos dos indivíduos são considerados como exis tentes Como exatamente essas combinações produtivas surgiram não é explicado com isso Além disso se se investigam duas posições de equilíbrio contíguas então às vezes nem sempre como na Economics of Welfare de Pigou a melhor combinação produtiva na primeira é comparada com a melhor na segunda E isso novamente não precisa mas pode significar que as duas combinações no sentido dado aqui diferem não apenas por pequenas variações na quantidade mas em toda a sua estrutura técnica e comercial Aqui também o viraser da segunda combinação e os problemas ligados a este não são inves tigados mas apenas o funcionamento e o resultado da combinação já existente Mesmo que justificado até o ponto em que foi esse método de tratamento passa longe de nosso problema Se se subentendesse a asserção de que este é resolvido por aquele seria falso e vontade se tivesse que criar de novo todas as normas com as quais guia sua conduta cotidiana em todos os casos Isso é verdadeiro não apenas quanto às decisões e ações da vida individual e social cujos princípios são o produto de dezenas de milhares de anos mas também quanto aos produtos de períodos mais curtos e de uma natureza mais especial que constituem o instrumento particular para a execução de tarefas profissionais Mas precisamente as coisas cuja execução de acordo com isso deveriam acarretar um esforço supremo em geral não demandam nenhum esforço individual especial as que deveriam ser especialmente difíceis são na realidade especialmente fáceis o que deveria demandar capacidade sobrehumana é acessível ao menos dotado desde que tenha saúde mental Em particular dentro da rotina ordinária não há nenhuma necessidade de liderança É claro que ainda é necessário estabelecer as tarefas para as pessoas manter a disciplina etc mas isso é fácil e é uma função que qualquer pessoa normal pode aprender a cumprir Dentro das linhas conhecidas de todos mesmo a função de dirigir outras pessoas embora ainda necessária é um mero trabalho como qualquer outro comparável ao serviço de cuidar de uma máquina Todas as pessoas conseguem reconhecer suas tarefas diárias e estão aptas a fazêlas do modo costumeiro e de ordinário as executam por si próprias o diretor tem sua rotina como elas têm a delas e a sua função diretiva serve meramente para corrigir as aber rações individuais Isso é assim porque todo conhecimento e todo hábito uma vez adquirido incorporamse tão firmemente em nós como um terrapleno ferroviário na terra Não requerem ser continuamente renovados e cons cientemente reproduzidos mas afundam nos estratos do subconsciente São transmitidos normalmente quase sem conflitos pela herança pelo ensino pela educação pela pressão do ambiente Tudo o que pensamos sentimos ou fazemos muito tornase freqüentemente automático e nos sa vida consciente fica livre desse esforço A enorme economia de força aqui envolvida na raça e no indivíduo não é suficiente contudo para tornar a vida diária um fardo leve e para evitar que as suas demandas esgotem a energia média apesar de tudo Mas é grande o suficiente para tornar possível satisfazer os reclamos ordinários Isso vale da mesma forma para a vida econômica diária E daí se segue também para a vida econômica que cada passo fora da rotina diária encontra dificuldades e envolve um elemento novo É esse elemento que constitui o fenômeno da liderança A natureza dessas dificuldades pode ser enfocada nos três se guintes pontos Primeiro fora desses canais habituais o indivíduo está desprovido dos dados para as suas decisões e das regras de conduta que em geral são conhecidos por ele de modo muito acurado dentro deles É claro que ainda deve prever e julgar com base na sua expe rência Mas muitas coisas devem permanecer incertas outras ainda SCHUMPETER 91 são determináveis apenas dentro de limites amplos outras talvez só possam ser adivinhadas Isso é certo em particular quanto àqueles dados que o indivíduo luta para alterar e os que deseja criar Agora ele deve fazer realmente em alguma medida o que a tradição faz para ele na vida cotidiana a saber planejar conscientemente a sua conduta em todos os particulares Haverá muito mais racionalidade consciente nisso do que na ação costumeira que como tal não necessita de modo algum que se reflita sobre ela mas esse plano necessariamente deve estar exposto não apenas a erros maiores em grau mas também a outros tipos de erros que não são os que ocorrem na ação costumeira O que já foi feito tem a realidade aguda de todas as coisas que vimos e experimentamos o novo é apenas o fruto de nossa imaginação Levar a cabo um plano novo e agir de acordo com um plano habitual são coisas tão diferentes quanto fazer uma estrada e caminhar por ela Tornase claro o quanto isso é diferente se se tem em mente a impossibilidade de examinar exaustivamente todos os efeitos e contra feitos do empreendimento projetado Mesmo os que poderiam em teoria ser averiguados se se tivesse tempo e meios ilimitados devem na prática permanecer obscuros Como a ação militar deve ser decidida numa dada posição estratégica mesmo que todos os dados potencial mente obteníveis não estejam disponíveis assim também na vida eco nômica a ação deve ser decidida sem a elaboração de todos os detalhes do que deve ser feito Aqui o sucesso de tudo depende da intuição da capacidade de ver as coisas de um modo que depois prove ser correto mesmo que não possa ser estabelecido no momento e da captação do fato essencial descartandose o nãoessencial mesmo que não seja pos sível prestar contas dos princípios mediante os quais isso é feito Um meticuloso trabalho preparatório conhecimento especializado profun didade de compreensão intelectual talento para a análise lógica podem em certas circunstâncias ser fontes de fracasso Quanto mais acura damente porém aprendemos a conhecer o mundo natural e social mais perfeito se torna nosso controle dos fatos e quanto maior a ex tensão com o tempo e a racionalização progressiva em que as coisas puderem ser calculadas simples rápida e seguramente mais decresce o significado dessa função Portanto a importância da categoria em presário deve diminuir justamente como já diminuiu a importância do comandante militar Não obstante uma parte da essência mesma de cada tipo está vinculada a essa função Assim como esse primeiro ponto repousa na tarefa o segundo repousa na psique do próprio homem de negócios Não apenas é obje tivamente mais difícil fazer algo novo do que fazer o que é conhecido e testado pela experiência mas o indivíduo se sente relutante em fazêlo e assim seria mesmo que as dificuldades objetivas não existissem É assim em todos os campos A história da ciência é uma grande con firmação do fato de que consideramos excessivamente difícil adotar OS ECONOMISTAS 92 um ponto de vista científico ou um método novos O pensamento volta repetidamente à trilha habitual mesmo que tenha se tornado inade quada e mesmo que a inovação mais adequada em si mesma não apre sente nenhuma dificuldade particular A própria natureza dos hábitos arraigados de pensar a sua função poupadora de energia se funda no fato de que se tornaram subconscientes que produzem seus resultados automaticamente e são à prova de crítica e até de contradição por fatos individuais Mas precisamente por causa disso tornamse gri lhões quando sobrevivem à sua utilidade Assim é também no mundo econômico No peito de quem deseja fazer algo novo as forças do hábito se levantam e testemunham contra o projeto em embrião É portanto necessário uma força de vontade nova e de outra espécie para arrancar dentre o trabalho e a lida com as ocupações diárias oportunidade e tempo para conceber e elaborar a combinação nova e resolver olhála como uma possibilidade real e não meramente como um sonho Essa liberdade mental pressupõe um grande excedente de força sobre a de manda cotidiana e é algo peculiar e raro por natureza O terceiro ponto consiste na reação do meio ambiente social contra aquele que deseja fazer algo novo Essa reação pode se manifestar primeiro que tudo na existência de impedimentos legais ou políticos Mas desprezandose isso qualquer conduta divergente por parte de um membro de um grupo social é condenada embora em grau alta mente variável conforme o grupo social esteja ou não acostumado a tal conduta Mesmo um desvio do costume social em coisas como a vestimenta ou os costumes desperta oposição e é claro que essa será maior nos casos mais graves Essa oposição é maior nos estágios pri mitivos da cultura do que nos outros mas não está nunca ausente Até mesmo o mero espanto para com o desvio mesmo sua simples observação exerce uma pressão sobre o indivíduo A manifestação da condenação pode trazer de imediato conseqüências perceptíveis em seu rastro Pode até levar ao ostracismo social e finalmente ao distancia mento físico ou ao ataque direto Nem o fato de que a diferenciação progressiva enfraquece a oposição especialmente por ser o próprio desenvolvimento que desejamos explicar a causa mais importante desse enfraquecimento nem o fato adicional de que a oposição social age em certas circunstâncias e sobre muitos indivíduos como um estímulo mudam em princípio qualquer coisa em seu significado Superar essa oposição é sempre um gênero especial de trabalho que não existe no curso costumeiro da vida trabalho que também requer um gênero es pecial de conduta Em questões econômicas essa resistência se mani festa antes de tudo nos grupos ameaçados pela inovação depois na dificuldade para encontrar a cooperação necessária finalmente na di ficuldade para conquistar os consumidores Mesmo que esses elementos ainda sejam efetivos hoje em dia a despeito do fato de que um período de desenvolvimento turbulento acostumounos à aparição e à realização SCHUMPETER 93 de inovações eles podem ser mais bem estudados nos primórdios do capitalismo Mas são tão óbvios ali que seria tempo perdido para os nossos propósitos estendernos a respeito Há liderança apenas por essas razões liderança quer dizer como um tipo especial de função em contraste com uma mera diferença de posição que existiria em todo corpo social no menor como no maior em combinação com o qual essa diferença sempre aparece Os fatos aludidos criam uma fronteira além da qual as pessoas em sua maioria não agem prontamente por si mesmas e requerem a ajuda de uma minoria Se a vida social tivesse em todos os aspectos a imutabilidade relativa do mundo astronômico por exemplo ou se sendo mutável essa mutabilidade fosse no entanto incapaz de ser influenciada pela ação humana ou finalmente se sendo capaz de ser assim influenciada esse tipo de ação fosse no entanto igualmente aberto para todos então não haveria nenhuma função especial de liderança distinta do trabalho de rotina O problema específico da liderança surge e a figura do líder apa rece apenas quando novas possibilidades se apresentam É por isso que ele é tão fortemente marcante entre os normandos ao tempo de suas conquistas e tão debilmente entre os eslavos nos séculos de sua vida sem mudança e relativamente protegida nos pântanos do Pripet Nossos três pontos caracterizam a natureza da função assim como a conduta ou comportamento que constitui o símbolo do líder Não é parte de sua função descobrir ou criar novas possibilidades Elas estão sempre presentes abundantemente acumuladas por toda sorte de pessoas Freqüentemente elas também são conhecidas de modo geral e são discutidas por autores literários ou científicos Em outros casos não há nada a descobrir sobre elas porque são bem óbvias Para tomar um exemplo da vida política não foi absolutamente difícil ver como as condições sociais e políticas da França no tempo de Luís XVI po deriam ter sido melhoradas de modo a evitar a queda do ancien régime Na verdade numerosas pessoas o viram Mas ninguém estava em po sição de assumilo Ora é nesse assumir as coisas sem o qual as possibilidades estão mortas que consiste a função do líder Isso vale para todos os tipos de liderança tanto as efêmeras como as mais du radouras As primeiras podem servir de exemplo O que deve ser feito numa emergência casual é via de regra muito simples A maioria das pessoas ou todas elas podem vêlo no entanto querem que alguém fale claramente lidere e organize Mesmo a liderança que influencia me ramente pelo exemplo como a liderança artística ou científica não consiste simplesmente em descobrir ou criar a coisa nova mas em impressionar com ela o grupo social de modo a arrastálo em sua esteira É portanto mais pela vontade do que pelo intelecto que os líderes cumprem a sua função mais pela autoridade pelo peso pessoal etc do que por idéias originais OS ECONOMISTAS 94 A liderança econômica em particular deve pois ser distinguida da invenção Enquanto não forem levadas à prática as invenções são economicamente irrelevantes E levar a efeito qualquer melhora mento é uma tarefa inteiramente diferente da sua invenção e uma tarefa ademais que requer tipos de aptidão inteiramente diferentes Embora os empresários possam naturalmente ser inventores exata mente como podem ser capitalistas não são inventores pela natureza de sua função mas por coincidência e viceversa Além disso as ino vações cuja realização é a função dos empresários não precisam ne cessariamente ser invenções Não é aconselhável portanto e pode ser completamente enganador enfatizar o elemento invenção como fazem tantos autores O tipo empresarial de liderança enquanto distinto de outros tipos de liderança econômica tais como os que esperaríamos encontrar numa tribo primitiva ou numa sociedade comunista é evidentemente colorido pelas condições que lhe são peculiares Nada tem do encanto que ca racteriza outros tipos de liderança Consiste em cumprir uma tarefa muito especial que apenas em raros casos apela à imaginação do pú blico Para o seu sucesso a perspicácia e a energia não são mais es senciais do que uma certa exigência que agarra a chance imediata e nada mais O peso pessoal por certo não é desprovido de importância No entanto a personalidade do empresário capitalista não precisa cor responder e geralmente não corresponde à idéia da maioria de nós sobre como parecer um líder tanto assim que há alguma dificuldade na constatação de quem entra na categoria sociológica de líder Ele conduz os meios de produção para novos canais Mas não faz isso convencendo as pessoas da conveniência da realização de seu plano ou criando confiança em sua liderança à maneira de um líder político o único homem a quem tem que convencer ou impressionar é o banqueiro que deve financiálo mas comprandoas ou comprando os seus serviços e então usandoos como achar adequado Também lidera no sentido em que arrasta ao seu ramo outros produtores atrás de si Mas como são seus concorrentes que primeiro reduzem e então ani quilam seu lucro esta é por assim dizer uma liderança contra sua própria vontade Finalmente presta um serviço cuja apreciação plena demanda o conhecimento de um especialista Não é tão facilmente entendido pelo público em geral como um discurso bemsucedido de um político ou uma vitória de um general no campo de batalha para não insistir no fato de que parece agir e muitas vezes de modo desagradável somente em seu próprio interesse Entenderemos por tanto que não observamos nesse caso o surgimento de todos aqueles valores afetivos que são a glória de todos os outros tipos de liderança social Acrescentese a isso a precariedade da posição econômica tanto do empresário individual quanto dos empresários enquanto grupo e o fato de que quando o seu sucesso econômico o eleva socialmente SCHUMPETER 95 ele não tem nenhuma tradição cultural ou posição a recorrer mas se move na sociedade como um novorico de cujas maneiras riem facil mente e entenderemos por que esse tipo nunca foi popular e por que mesmo a crítica científica passa rapidamente por ele86 Finalmente tentaremos dar o último toque em nosso quadro do empresário da mesma maneira em que sempre na ciência como na vida prática tentamos compreender o comportamento humano a saber analisando os motivos característicos de sua conduta Qualquer tenta tiva de fazêlo deve evidentemente enfrentar todas aquelas objeções contra a intromissão do economista na psicologia que uma longa série de autores tornou conhecidas Não podemos entrar aqui na questão fundamental da relação entre a psicologia e a economia É suficiente manifestar que os que em princípio desaprovam qualquer consideração psicológica numa discussão econômica podem omitir o que estamos prestes a dizer sem com isso perder contato com a discussão dos ca pítulos seguintes Pois nenhum dos resultados a que pretendemos con duzir com nossa análise se mantém de pé ou cai com a nossa psicologia do empresário ou poderia estar viciado pelos erros desta Não há em nenhum lugar como o leitor pode facilmente verificar necessidade alguma de ultrapassarmos as fronteiras do comportamento observável Os que não desaprovam toda psicologia mas apenas a espécie de psicologia que conhecemos pelo livrotexto tradicional verão que não adotamos ne nhuma parte do quadro tradicional da motivação do homem econômico Na teoria do fluxo circular a importância de examinar os motivos é muito reduzida pelo fato de que as equações do sistema de equilíbrio podem ser interpretadas de modo a não implicar em nenhuma dimensão psíquica como demonstrado pela análise de Pareto e de Barone Essa é a razão por que mesmo uma psicologia bastante deficiente interfere muito menos nos resultados do que se esperaria Pode haver conduta racional mesmo na ausência de motivo racional Mas assim que dese jamos realmente penetrar na motivação o problema prova não ser nada simples Dentro dos hábitos e circunstâncias sociais dados a maior parte do que as pessoas fazem todos os dias lhes aparece pri mariamente do ponto de vista do dever e traz consigo uma sanção social ou divina Nisso há muito pouco de racionalidade consciente ainda menos de hedonismo e de egoísmo individual e quanto dessas características que se pode dizer com segurança que existe é de cres OS ECONOMISTAS 96 86 Portanto pode não ser supérfluo salientar que a nossa análise do papel do empresário não acarreta qualquer glorificação do tipo como alguns leitores da primeira edição deste livro pareceram pensar Sustentamos que os empresários têm uma função econômica distinta digamos dos ladrões Mas não descrevemos todo empresário como um gênio ou como um benfeitor da humanidade nem desejamos expressar nenhuma opinião sobre os méritos comparativos da organização social em que ele desempenha o seu papel ou sobre a questão de que o que ele faz não poderia ser efetuado de modo mais barato ou eficiente por outras maneiras cimento comparativamente recente Não obstante enquanto nos con finarmos às grandes linhas da ação econômica constantemente repetida podemos vinculála com as necessidades e o desejo de satisfazêlas sob a condição de que sejamos cuidadosos para reconhecer que o motivo econômico assim definido varia muito em intensidade no tempo é a sociedade que molda os desejos particulares que observamos que as necessidades devem ser tomadas com referência ao grupo no qual o indivíduo pensa quando decide o curso de sua ação a família ou qualquer outro grupo menor ou maior do que a família que a ação não acompanha prontamente o desejo mas apenas corresponde a este de modo mais ou menos imperfeito que o campo para a escolha indi vidual está sempre delimitado embora de maneiras muitos diferentes e em graus muito diferentes pelos hábitos ou convenções sociais e coisas semelhantes ainda é amplamente verdadeiro que dentro do fluxo circular todos se adaptam ao seu meio ambiente de modo a satisfazer certas necessidades dadas suas ou dos outros do melhor modo que possam Em todos os casos o significado da ação econômica é a satisfação de necessidades no sentido de que não haveria nenhuma ação econômica se não houvesse nenhuma necessidade No caso do fluxo circular podemos também pensar na satisfação das necessidades como o motivo normal O último não é verdadeiro para o nosso exemplo Em certo sentido pode ser chamado o mais racional e o mais egoísta de todos Pois como vimos a racionalidade consciente entra muito mais na realização de novos planos os quais devem ser elaborados antes de que se possa atuar com base neles do que na mera direção de um negócio estabe lecido que é em grande parte uma questão de rotina E o empresário típico é mais egocêntrico do que os de outra espécie porque menos do que estes conta com a tradição e a conexão e porque a sua tarefa característica teórica como historicamente consiste precisamente em demolir a velha tradição e criar uma nova Embora isso se aplique primariamente à sua ação econômica também se estende às conse qüências morais culturais e sociais desta Evidentemente não é mera coincidência que o período de ascensão da figura do empresário também tenha dado origem ao Utilitarismo Mas a sua conduta e o seu motivo não são racionais em nenhum outro sentido E em nenhum sentido a sua motivação característica é do tipo hedonista Se definimos motivo hedonista da ação como o desejo de satisfazer as próprias necessidades podemos realmente fazer com que as necessidades incluam quaisquer impulsos do mesmo modo como podemos definir o egoísmo de forma a incluir também todos os valores altruísticos baseandose no fato de que também significam algo no sentido da autogratificação Mas isso reduziria a nossa definição à tautologia Se desejamos darlhe significado devemos restringila às necessidades tais que sejam capazes de ser satisfeitas pelo consumo SCHUMPETER 97 de bens e àquele tipo de satisfação que se espera deste Então não é mais verdade que nosso modelo esteja agindo de acordo com um desejo de satisfazer suas necessidades Pois a menos que admitamos que os indivíduos de nosso exemplo são impulsionados por uma ânsia insaciável de satisfação hedonista a atuação da lei de Gossen no caso dos líderes dos negócios logo poria um ponto final nos esforços posteriores A experiência ensina todavia que os empresários típicos se retiram da arena apenas quando e porque sua força está gasta e não se sentem mais à altura de sua tarefa Isso não parece confirmar a imagem do homem econômico confrontando os resultados prováveis com a desutilidade do esforço e alcançando em tempo hábil um ponto de equilíbrio além do qual ele não está disposto a ir O esforço em nosso caso não parece pesar de modo algum pelo fato de ser sentido como uma razão para parar E a atividade do tipo empresarial é obviamente um obstáculo ao gozo hedonista daqueles tipos de mercadorias que comumente são adquiridos por rendimentos que vão além de certa medida porque o seu consumo pressupõe lazer Hedonisticamente portanto a conduta que geralmente observamos em indivíduos de nosso exemplo seria irracional Evidentemente isso não provaria a ausência de motivo hedonista No entanto aponta para uma outra psicologia de caráter nãohedo nista especialmente se tivermos em conta a indiferença ao gozo he donista que amiúde é notório em espécimens ilustres de nosso exemplo e que não é difícil de entender Antes de tudo há o sonho e o desejo de fundar um reino privado e comumente embora não necessariamente também uma dinastia O mundo moderno realmente não conhece nenhuma colocação desse tipo mas o que pode ser alcançado pelo sucesso industrial ou comercial ainda é para o homem moderno a melhor maneira possível de se aproximar da nobreza medieval Sua fascinação é especialmente forte para as pessoas que não têm nenhuma outra chance de atingir distinção social A sensação de poder e independência nada perde pelo fato de ambos serem em grande parte ilusões Uma análise mais cuidadosa levaria à descoberta de uma variedade sem fim dentro desse conjunto de estímulos desde a ambição moral até o mero esnobismo Mas essa necessidade não nos detém Basta assinalar que os estímulos desse tipo embora mais próximos à satisfação dos consumidores não coin cidem com esta Há então o desejo de conquistar o impulso para lutar para pro varse superior aos outros de ter sucesso em nome não de seus frutos mas do próprio sucesso Nesse aspecto a ação econômica tornase afim do esporte há competições financeiras ou melhor lutas de boxe O resultado financeiro é uma consideração secundária ou pelo menos avaliada principalmente como índice de sucesso e sinal de vitória cuja exibição mui freqüentemente é mais importante como fator de altos OS ECONOMISTAS 98 gastos do que o desejo dos bens de consumo em si mesmos Novamente poderíamos encontrar incontáveis nuances algumas das quais como a ambição social se interpenetram com o primeiro conjunto de estí mulos E novamente nos defrontamos com uma motivação caracteris ticamente diferente da satisfação de necessidades no sentido definido acima ou da adaptação hedonista para dizer a mesma coisa em outras palavras Finalmente há a alegria de criar de fazer as coisas ou simples mente de exercitar a energia e a engenhosidade Esse é um motivo que está perto de ser ubíquo mas em nenhuma outra parte sobressai como um fator independente de comportamento com qualquer coisa como a clareza com que se impõe em nosso caso Nosso exemplo procura dificuldades muda por mudar deliciase com a aventura Esse conjunto de estímulos é o mais distintamente antihedonista dos três Apenas no primeiro conjunto de estímulos a propriedade privada enquanto resultado da atividade empresarial é um fator essencial para tornála operante Nos outros dois não é O ganho pecuniário é real mente uma expressão muito acurada de sucesso especialmente de su cesso relativo e do ponto de vista do homem que luta por ele tem a vantagem adicional de ser um fator objetivo e em grande parte inde pendente da opinião dos outros Essas e outras peculiaridades inerentes ao mecanismo da sociedade aquisitiva tornam muito difícil substituílo como motor do desenvolvimento industrial mesmo que descartássemos a importância que tem para a criação de um fundo disponível para o investimento Não obstante é verdade que o segundo e o terceiro con juntos de estímulos empresariais podem em princípio ser protegidos por outros arranjos sociais que não impliquem o ganho privado me diante inovação econômica Que outros estímulos poderiam ser propor cionados e como poderiam ser postos a funcionar tão bem como o fazem os capitalistas são questões que estão além do nosso tema São referidas mui ligeiramente pelos reformadores sociais e completa mente ignoradas pelo radicalismo fiscal Mas não são insolúveis e podem ser respondidas pela observação detalhada da psicologia da atividade empresarial ao menos para dados momentos e lugares SCHUMPETER 99 CAPÍTULO III Crédito e Capital A natureza e a função do crédito87 A noção fundamental de que a essência do desenvolvimento eco nômico consiste num emprego diferente dos serviços existentes do tra balho e da terra nos leva à declaração de que a realização de combi nações novas tem lugar mediante a retirada de serviços do trabalho e da terra de seus empregos anteriores Com relação a toda forma de economia em que o líder não tenha nenhum poder direto de dispor desses serviços isso nos leva novamente a duas heresias primeiro à heresia de que o dinheiro e já então à segunda heresia de que também outros meios de pagamento desempenham uma função essencial daí que os processos em termos de meios de pagamento não são meramente reflexos dos processos em termos de bens Em todos os estilos possíveis com rara unanimidade até com impaciência e indignação moral e in telectual uma linha muito longa de teóricos nos assegurou o contrário A economia quase na época em que se tornou uma ciência resistiu continuamente aos erros populares que se ligam ao fenômeno do di 101 87 A linha de pensamento que é exposta sem alteração no fundamental recebeu nesse meio tempo uma consolidação valiosa e um aperfeiçoamento pelas investigações de A Hahn em seu Volkswirtschaftliche Theorie des Bankkredits 1ª ed 1920 2ª ed 1926 O leitor é remetido expressamente a esse livro original e meritório que desenvolveu essencialmente o nosso conhecimento do problema Equivalente do mesmo modo em muitos aspectos paralelo é W G Langworthy Taylor em The Credit System Talvez os fenômenos do pós guerra e as discussões quanto ao papel do crédito bancário no auge e na depressão tenham removido do que tenho a dizer boa parte da aparência paradoxal Hoje em dia todas as teorias do ciclo econômico consideram o fato do crédito adicional na prosperidade e têm em conta a questão levantada por Keynes de que o ciclo poderia ser mitigado ao ser influenciado pelo lado monetário Isso ainda não significa aceitação de meu ponto de vista Mas deve conduzir a ela Cf também meu artigo Kreditkontrolle no Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik 1925 Recentemente Robertson em Banking Policy and the Price Level chegou a resultados similares sobre isso cf PIGOU Economic Journal junho 1926 nheiro muito corretamente Esse foi um de seus serviços fundamen tais E quem quer que medite sobre o que foi dito até agora conver cerseá facilmente de que nenhum desses erros se mantém aqui É claro que se alguém fosse dizer que o dinheiro é apenas um meio para facilitar a circulação dos bens e que nenhum fenômeno importante pode estar ligado a ele isso seria falso Se alguém criasse a partir daí uma objeção contra nosso raciocínio então seria refutado imediata mente por nossa prova de que em nosso caso um emprego diferente do potencial produtivo do sistema não pode ser alcançado de outro modo que não por alteração no poder relativo de compra dos indivíduos Vimos que em princípio não é possível o empréstimo dos serviços do trabalho e da terra pelos trabalhadores e proprietários da terra Nem pode o próprio empresário tomar emprestado meios de produção pro duzidos Pois no fluxo circular não haveria estoques ociosos para as necessidades do empresário Se em um lugar ou outro porventura exis tirem exatamente os meios de produção produzidos de que o empresário necessita então é claro que este pode comprálos para isso contudo precisa outrossim de poder de compra Mas não pode simplesmente tomálos emprestados pois são necessários para os propósitos para os quais foram produzidos e o possuidor não pode e não quer esperar pelo seu retorno que o empresário pode realmente devolverlhe mas apenas mais tarde e também não pode e não quer arcar com nenhum risco Se não obstante alguém o faz então ocorrem duas transações uma compra e uma extensão do crédito Ambas não são apenas duas partes legalmente distintas de um mesmo processo econômico mas dois processos econômicos muito diferentes a cada um dos quais cor respondem fenômenos econômicos muito diferentes como será visto mais tarde Finalmente o empresário também não pode adiantar88 bens de consumo a trabalhadores e senhores de terra simplesmente porque não os tem Se os comprar precisa de poder de compra para esse propósito Não podemos passar por cima desse ponto uma vez que se trata sempre de retirar bens do fluxo circular Com relação ao empréstimo de bens de consumo vale o mesmo que em relação ao empréstimo de meios de produção produzidos Não afirmamos pois nada de misterioso ou estranho Evidentemente não haveria nenhum sentido em objetar que nada de essencial pode depender do dinheiro Efetivamente o poder de compra é o veículo de um processo essencial quanto a isso não pode haver dúvida alguma Ademais a objeção realmente não pode ser feita de modo algum porque todos reconhecem o fenômeno análogo de que as mudanças na quantidade ou na distribuição de dinheiro podem ter OS ECONOMISTAS 102 88 A construção teórica que essa concepção irreal reforçou desde os dias de Quesnay refutase assim por si mesma E é tão importante que se pode falar em economias de adiantamentos Vorschussökonomie efeitos de muito longo alcance Mas até agora essa observação foi dei xada de lado No entanto a comparação é muito esclarecedora Aqui também não há necessariamente uma mudança na esfera dos bens uma causa precedente do lado das mercadorias à qual se possa recorrer em busca de explicação Os bens comportamse muito passivamente em qualquer caso Não obstante sua espécie e sua quantidade são como todos sabem muito influenciadas por tais mudanças Nossa segunda heresia também está longe de ser tão perigosa quanto parece Também repousa em última análise num fato que não só é simplesmente demonstrável mas mesmo óbvio e também geral mente admitido São criados no sistema econômico meios de pagamento que em sua forma externa é verdade são representados como meros direitos a dinheiro mas que diferem essencialmente de direitos a outros bens por desempenharem exatamente o mesmo serviço ao menos temporariamente que o próprio bem em questão de modo que podem em certas circunstâncias tomarlhe o lugar89 Não apenas isso é reco nhecido na literatura sobre o dinheiro e as transações bancárias como também na teoria no sentido mais estrito Isso pode ser visto em qualquer compêndio Não temos nada a acrescentar à observação mas apenas à análise Os problemas cuja discussão tiveram mais relação com o reconhecimento do fato foram as questões do conceito e do valor do dinheiro Quando a teoria quantitativa montou a sua fórmula para o valor do dinheiro a crítica primeiro agarrouse ao fato dos outros meios de pagamento É também bastante sabido que a velha questão de que esses meios de pagamento mais especialmente os créditos ban cários são dinheiro foi respondida afirmativamente por muitos dos melhores autores Mas é suficiente que tenha sido colocada De qualquer modo o fato que nos interessa foi reconhecido sem exceção que eu saiba mesmo por aqueles autores que responderam negativamente à questão Sempre tem sido explicado também em maior ou menor de talhe como e em que forma é tecnicamente possível Isso implica reconhecer que os meios de circulação assim criados não representam meramente uma quantidade igual de dinheiro metá lico mas que existem em tais quantidades que não seria possível serem todos resgatados imediatamente e mais ainda que não apenas subs tituem por questão de conveniência somas de dinheiro que circulavam anteriormente mas também aparecem recémcriados lado a lado com as somas existentes Do mesmo modo achamos que concorda com a concepção predominante o ponto de modo nenhum essencial para nós mas que mantemos para fins de exposição de que a criação de meios SCHUMPETER 103 89 Embora em geral não se possa somar direitos a bens com os próprios bens não mais do que espigas e grãos de cereal no entanto a questão apresenta aqui claramente certa diferença Enquanto não posso fazer um direito montar em um cavalo posso em certas condições fazer exatamente o mesmo com os direitos a dinheiro e com o próprio dinheiro ou seja comprar de pagamento centrase nos bancos e constitui sua função fundamental A criação de dinheiro pelos bancos ao estabelecer direitos contra si próprios que é descrita por Adam Smith e na verdade por autores ainda mais antigos de uma forma completamente livre de erros vul gares tornouse um lugarcomum hoje em dia com o que apressome a acrescentar que para os nossos propósitos tanto faz se considera a expressão criação de dinheiro como teoricamente correta ou não Nos sas deduções são completamente independentes dos pontos particulares de qualquer teoria monetária Finalmente não pode haver dúvida de que esses meios de cir culação passam a existir no processo de concessão de crédito e são criados especialmente desprezandose os casos em que há apenas uma questão de evitar o transporte de dinheiro metálico com o propósito de conceder crédito Um banco segundo Fetter Principles of Economics p 462 é um negócio cujo rendimento deriva principal mente do empréstimo de suas promessas de pagamento Até agora não disse nada de controverso e até agora nem mesmo vejo a possibi lidade de uma diferença de opinião Ninguém pode me acusar de con trariar a afirmação de Ricardo de que as operações bancárias não podem aumentar a riqueza de um país ou de tornarme culpado di gamos de uma especulação nebulosa90 no sentido dado por Law Além disso quem negaria o fato de que em alguns países talvez 34 dos depósitos bancários são simplesmente créditos91 e que em geral o ho mem de negócios primeiro tornase devedor do banco para tornarse depois seu credor que primeiro toma emprestado o que uno actu deposita para não falar do fato de que apenas uma fração desprezível de todas as transações são e podem ser efetuadas pelo dinheiro em sentido estrito Portanto não mais considerarei aqui essas coisas com tanto cuidado Realmente não há nenhum propósito em dar aqui ex plicações que podem ser encontradas em todos os livros elementares por aqueles a quem elas ofereçam qualquer coisa de novo Também é tido como indiscutível que todas as formas de crédito dos bilhetes de OS ECONOMISTAS 104 90 Cf J S Mill Além disso todo economista admitirá que a afirmação de Ricardo não é muito correta mesmo sendo ele sempre tão conservador sobre esse ponto Cf por exemplo J L Laughlin que diz em seu Principles of Money O crédito não aumenta o capital ou seja os meios de produção mas o mobiliza e o torna mais eficiente e conduz assim a um aumento do produto Teremos algo similar a dizer 91 Apenas poucos bancos mostram em seus balanços periódicos que parte de seus depósitos consiste em depósitos reais A estimativa acima é baseada em balanços ingleses que o mostram ao menos indiretamente e provavelmente equivalem a uma communis opinio Isso não vale para a Alemanha por exemplo porque lá não é prática simplesmente creditar a um cliente o montante do empréstimo Todavia a essência da teoria não é diferente por causa disso Estritamente falando ademais todos os depósitos bancários são baseados em simples créditos como Hahn enfatizou corretamente apenas os créditos que derivam de somas pagas são cobertos de uma maneira especial e não aumentam o poder de compra dos depositantes banco aos créditos contábeis são essencialmente a mesma coisa e que em todas essas formas o crédito aumenta os meios de pagamento92 Até agora só um ponto pode ser dado como controvertido A maior parte dos meios de circulação obviamente não pode ser criada sem uma base que consista em moeda legal ou mercadorias Creio que não me engano quando digo que para o homem de negócios assim como para o teórico a letra de câmbio do produtor aparece com o exemplo típico de tais meios de circulação O produtor depois de concluir a sua produção e vender o seu produto saca contra seus fregueses para transformar imediatamente seus direitos em dinheiro Então esses produtos servem de base in concreto digamos conhecimentos de embarque e mesmo que o título não esteja respaldado por dinheiro existente está ao invés baseado em bens existentes e assim ainda num certo sentido em poder de compra existente Os depósitos men cionados acima obviamente também surgem em grande parte do des conto de papel comercial dessa espécie Esse bem poderia ser conside rado o caso normal de concessão de crédito ou de colocação de instru mentos de crédito nos canais do comércio e todos os outros casos seriam chamados anormais93 Mas mesmo nos casos em que não se trata de liquidar uma transação normal de mercadorias geralmente exigese uma caução e portanto o que chamamos criação seria apenas uma questão de mobilização dos ativos existentes Nesse ponto deveríamos portanto retornar à concepção tradicional De fato a última parece triunfar porque então não apenas não haveria nenhum meio de cir culação sem uma base mas mesmo o dinheiro poderia ser supresso e assim tudo teria seu caminho traçado de volta à troca de mercadorias por mercadorias ou seja de volta a processos puramente da esfera dos bens Essa interpretação também explica por que em geral se acre dita que a criação de dinheiro é meramente uma questão técnica sem maior significado para a teoria geral da vida econômica que pode ser relegada com segurança para o capítulo sobre os métodos bancários Não concordamos totalmente com isso Por enquanto só precisa ser enfatizado que o que a prática designa de anormal é apenas a criação de meios de circulação que aparentam ser o resultado de tran SCHUMPETER 105 92 Evidentemente há sempre teóricos que tomam o ponto de vista do leigo que encaram com espanto as somas gigantescas nos bancos É mais surpreendente que os autores financeiros às vezes também adotem uma linha similar Como exemplo veja o livro que de outro modo é muito útil A Money Market Primer de Clare que realmente não aceita totalmente esse ponto de vista mas no entanto define as somas disponíveis para a concessão de crédito como dinheiro de outras pessoas o que evidentemente é verdade apenas em parte e mesmo assim somente em sentido figurado 93 Aqui estou desprezando desde o início o caso em que os negócios regulares de um sistema econômico são despachados com meios de pagamento creditícios e o produtor recebe uma letra ou outro instrumento de crédito de seus fregueses e com isso compra imediatamente bens de produção Aqui não há nenhuma concessão de crédito em qualquer sentido relevante e o caso não é fundamentalmente diferente de transações à vista por meio de dinheiro metálico corrente Esse caso do qual nada mais diremos aqui foi mencionado no capítulo I sações regulares de mercadorias sem que seja esse o caso Isso à parte títulos financeiros não são simplesmente algo anormal Não são na verdade criações de crédito para financiar novas combinações mas freqüentemente vêm a ser algo muito parecido Quanto à caução que em tais casos não pode ser de produtos existentes mas apenas de outras coisas seu significado em princípio não é o de que os ativos que constituem a caução são mobilizados pela concessão de crédito Essa não é uma boa caracterização da natureza da coisa Pelo contrário devemos distinguir dois casos Primeiro o empresário pode ter alguma espécie de garantia que possa empenhar no banco94 Essa circunstância certamente lhe torna muito mais fácil na prática a obtenção de crédito Mas isso não faz parte da natureza da coisa em sua forma mais pura A função empresarial em princípio não está vinculada à posse de riqueza como a análise e a experiência igualmente ensina mesmo que o fato acidental da posse de riqueza constitua uma vantagem prática Em vista dos casos em que essa última circunstância está ausente essa interpretação dificilmente pode ser constatada e seguese então que a afirmação de que o crédito por assim dizer a moeda proprie dade não é uma formulação suficiente da questão Ou segundo o empresário pode empenhar bens que adquire com o poder de compra que toma emprestado A concessão de crédito vem primeiro e a caução deve ser dispensada ao menos a princípio por mais que seja curto o intervalo Desse caso a concepção da colocação de ativos existentes em circulação recebe ainda menos apoio do que do primeiro Pelo contrário é perfeitamente claro que é criado poder de compra ao qual não cor responde nenhum bem no primeiro caso Disso seguese portanto que na vida real o crédito total deve ser maior do que poderia ser se houvesse apenas crédito totalmente coberto A estrutura de crédito se projeta não apenas além da base existente de ouro mas também além da base existente de mercadorias Novamente esse fato como tal não pode ser negado Só a sua significação teórica pode ser posta em dúvida A distinção entre crédito normal e anormal é contudo importante para nós O crédito normal cria direitos ao dividendo social que representam e podem ser pensados como com provante dos serviços prestados e da entrega prévia de bens existentes Aquela espécie de crédito que é designada pela opinião tradicional como anormal também cria direitos ao produto social que contudo OS ECONOMISTAS 106 94 Ademais se se trata de coisas como terra ou ações que não circulam ou não estão no mercado de bens então a criação de dinheiro tem exatamente o mesmo efeito na esfera das mercadorias e sobre os preços de uma emissão a descoberto Isso é freqüentemente deixado de lado Cf o erro análogo no caso do dinheiro fiat do Governo quando esse dinheiro é baseado em terra O apoio freqüente dessa categoria de meios de pagamento sobre alguma espécie de caução apenas elimina a insegurança que existiria de outro modo mas não altera o fato de que não há nenhuma oferta de produtos correspondente à nova demanda por produtos que daí procede Cf capítulo II na ausência de serviços produtivos passados só poderiam ser descritos como certificados de serviços futuros ou de bens ainda a serem pro duzidos Assim há uma diferença fundamental entre as duas categorias tanto em sua natureza como em seus efeitos Ambas servem ao mesmo propósito como meios de pagamento e são externamente indistinguíveis Mas uma abarca meios de pagamento para os quais há uma contribuição correspondente ao produto social a outra abrange meios de pagamento aos quais não corresponde até agora nada ao menos nenhuma con tribuição ao produto social mesmo que essa deficiência seja freqüen temente compensada por outras coisas Após essas observações introdutórias cuja brevidade espero que não cause nenhum malentendido passo ao tema deste capítulo Pri meiro devemos provar a afirmação tão estranha à primeira vista de que em princípio ninguém além do empresário precisa de crédito ou o corolário mas de imediato uma afirmação muito menos estranha de que o crédito serve ao desenvolvimento industrial Já foi estabelecido que o empresário em princípio e via de regra não precisa de crédito no sentido de uma transferência temporária para ele de poder de compra para produzir para ser capaz de realizar suas combinações novas para tornarse empresário E esse poder de compra não flui automaticamente para ele como para o produtor do fluxo circular pela venda do que produziu em períodos precedentes Se por acaso ele não o possuir e se o possuísse isso seria simplesmente conseqüência de desenvolvimento anterior deve tomálo emprestado Se ele não o conseguir então obviamente não pode tornarse empresário Nisso não há nada de fictício é meramente a formulação de fatos geralmente conhecidos Ele só pode tornarse empresário ao tornarse previamente um devedor Tornase um devedor em conseqüência da lógica do pro cesso de desenvolvimento ou para dizêlo ainda de outra maneira sua conversão em devedor surge da necessidade do caso e não é algo anormal um evento acidental a ser explicado por circunstâncias par ticulares O que ele quer primeiro é crédito Antes de requerer qualquer espécie de bens requer poder de compra É o devedor típico na sociedade capitalista95 A argumentação deve ser completada agora com a prova negativa de que o mesmo não pode ser dito de qualquer outro tipo e de que ninguém mais é devedor pela natureza de sua função econômica Evi dentemente há na realidade muitos outros motivos para tomar ou con ceder empréstimos Mas a questão é que a concessão de crédito não aparece então como um elemento essencial do processo econômico Isso SCHUMPETER 107 95 O empresário também é um devedor num sentido mais profundo como pode ser enfatizado aqui recebe bens da corrente social em princípio antes de ter contribuído para esta com alguma coisa Nesse sentido é por assim dizer um devedor da sociedade Sãolhe transferidos bens aos quais ele não tem aquele direito que é a única coisa que em outros casos dá acesso ao dividendo nacional Cf capítulo II vale antes de tudo para o crédito ao consumo Desprezandose o fato de que o seu significado só pode ser limitado ele não é um elemento das formas e necessidades fundamentais da vida industrial Não faz parte da natureza econômica de nenhum indivíduo que deva contrair empréstimos para o consumo nem da natureza de nenhum processo produtivo que os participantes devam incorrer em dívidas para o pro pósito de seu consumo Portanto o fenômeno do crédito ao consumo não tem maior interesse para nós aqui e a despeito de toda a sua importância prática o excluímos de nossa consideração Isso não im plica nenhuma abstração reconhecemolo como um fato apenas não temos nada particular para dizer a respeito Exatamente o mesmo vale para os casos em que surgir uma necessidade de crédito somente para a manutenção de um negócio que foi perturbado talvez por con tratempos Esses casos que reúno sob o conceito de créditos consun tivosprodutivos também não fazem parte da natureza de um processo econômico no sentido de que o seu tratamento integra a compreensão da vida do organismo econômico Também não são aqui de maior in teresse para nós Uma vez que toda espécie de extensão de crédito para fins de inovações é por definição a concessão de crédito ao empresário e constitui um elemento do desenvolvimento econômico então a única espécie de concessão de crédito que resta para ser considerada aqui é o crédito para a condução de um negócio no fluxo circular Betriebs kredit Nossa prova será conseguida se pudermos explicálo como não essencial no sentido que lhe damos O que importa isso então Vimos no capítulo I que não faz parte da natureza do fluxo circular que o crédito Betriebskredit seja correntemente tomado e concedido96 quando o produtor terminou seus produtos então segundo a nossa concepção os vende imediatamente e começa de novo a sua produção com os resultados dessa venda Seguramente as coisas não ocorrem sempre assim Pode ser que ele deseje começar a produzir antes de ter entregue os produtos ao seu freguês Mas o ponto decisivo é que podemos sem deixar de lado nada de essencial representar o processo dentro do fluxo circular como se a produção fosse financiada corren temente pelas receitas O crédito na rotina ordinária do negócio esta belecido deve sua importância prática somente ao fato de que há de senvolvimento e de que esse desenvolvimento carrega consigo a pos sibilidade de empregar somas de dinheiro que estão temporariamente ociosas Assim todo homem de negócios tirará proveito dessas receitas tão pronto quanto possível e depois tomará emprestado o poder de OS ECONOMISTAS 108 96 Devese esperar que o leitor não vá confundir esse crédito corrente no fluxo circular com a soma que deve também ser fornecida ao empresário para o funcionamento em contraste com a fundação do negócio ou seja especialmente com o propósito de pagamento dos salários correntes compra que possa requerer Se não houvesse desenvolvimento nenhum então as somas de dinheiro necessárias à realização de transações nor malmente precisariam ser mantidas realmente em todas as empresas e famílias e teriam que permanecer ociosas durante o tempo em que delas não se necessitasse É o desenvolvimento que altera isso Logo varre para longe os tipos cujo orgulho era o de nunca terem demandado crédito E no fim quando todos os negócios antigos como novos são lançados dentro do círculo do fenômeno do crédito os banqueiros até preferirão essa espécie de crédito por envolver menor risco Muitos bancos particularmente os do tipo depósitos e também quase todas as casas antigas fazemno efetivamente e se restringem mais ou menos a tal crédito corrente Mas essa é apenas uma conseqüência do de senvolvimento já em plena atividade Essa interpretação não nos coloca tanto em oposição à predomi nante quanto se pode pensar97 Pelo contrário afirmamos por ela em completa concordância com a visão geral que podemos dispensar o crédito se quisermos captar o processo econômico do fluxo circular Apenas porque a teoria predominante adota a mesma visão e como nós não vê no financiamento das transações correntes de mercadorias pelo crédito nada de essencial para o entendimento da questão é que pode eliminar esse procedimento de seu tratamento das características principais do processo econômico Só por isso pode restringir sua visão da esfera dos bens Evidentemente dentro do mundo dos bens podese encontrar algo como as transações a crédito mas já chegamos a um entendimento sobre isso De qualquer modo a teoria predominante não reconhece a necessidade de criar novo poder de compra nesse ponto como nós tampouco e o fato de que também não vê tal necessidade em qualquer outro ponto mostra de novo que é meramente estática Esse crédito corrente pode portanto ser eliminado de nosso tra tamento com a mesma justificativa que para o crédito ao consumo Chegamos à seguinte conclusão a partir do conhecimento de que se trata apenas de uma questão de expediente técnico de troca no fluxo circular é claro porque com o desenvolvimento seria algo bem diferente pela razão mencionada expediente que não tem maior efeito sobre o processo econômico Para contrastar nitidamente o crédito corrente com o crédito que desempenha um papel fundamental e sem o qual a compreensão completa do processo econômico é impossível suporemos que no caso do fluxo circular todas as trocas são efetuadas com dinheiro metálico que existe numa quantidade dada de uma vez SCHUMPETER 109 97 Além disso é comprovada diretamente pelos fatos Por muitos séculos só havia praticamente crédito ao consumo Depois não havia mais do que crédito para a fundação de um negócio E o fluxo circular continuou sem ele O crédito corrente só obteve a sua importância atual nos tempos modernos E uma vez que a fábrica moderna não difere economicamente de uma oficina medieval em nenhum outro aspecto fundamental chegase à conclusão de que a primeira não necessita em princípio de nenhum crédito por todas e com uma dada velocidade de circulação Obviamente toda a circulação de uma economia sem desenvolvimento também pode con sistir em meios de pagamento creditícios Como esses meios de paga mento contudo funcionariam exatamente como o dinheiro metálico por serem certificados dos bens existentes e dos serviços passados e como não há portanto nenhuma diferença essencial entre eles e o di nheiro metálico ao usar esse recurso expositivo apenas indicamos que o que consideramos como o elemento essencial no fenômeno do crédito não pode ser encontrado no crédito corrente dentro do fluxo circular Com isso tanto provamos a nossa tese quanto formulamos pre cisamente o sentido que pretendemos darlhe Apenas o empresário então em princípio precisa de crédito este só cumpre um papel fun damental para o desenvolvimento industrial ou seja um papel cujo exame é essencial para compreensão de todo o processo Ainda mais vêse imediatamente a partir dos argumentos do capítulo II que o correlato da tese também é válido a saber a afirmação de que onde não há nenhum poder direto dos líderes de dispor dos meios de pro dução o desenvolvimento é em princípio impossível sem o crédito A função essencial do crédito no sentido em que o tomamos consiste em habilitar o empresário a retirar de seus empregos anteriores os bens de produção de que precisa ativando uma demanda por eles e com isso forçar o sistema econômico para dentro de novos canais Nossa segunda tese agora se coloca na medida em que o crédito não puder ser concedido a partir dos resultados de empreendimento passado ou em geral a partir das reservas de poder de compra criadas pelo desenvolvimento passado só pode consistir em meios de pagamento creditícios criados ad hoc que não podem ser respaldados pelo dinheiro em sentido estrito nem por produtos já existentes Pode realmente ser coberto por outros ativos que não os produtos ou seja por qualquer espécie de propriedade que o em presário porventura possua Mas em primeiro lugar isso não é necessário e em segundo não altera a natureza do processo que consiste em criar uma nova demanda sem simultaneamente criar uma nova oferta de bens Essa tese não precisa aqui de nenhuma prova adicional mas seguese dos argumentos do capítulo II Ela nos fornece uma conexão entre o emprés timo e os meios de pagamento creditícios e conduznos ao que considero a natureza do fenômeno do crédito Uma vez que o crédito no caso em que é essencial ao processo econômico só pode ser concedido a partir de tais meios de pagamento recémcriados desde que não haja nenhum resultado de desenvolvi mento prévio e uma vez que inversamente apenas nesse caso espe cífico a criação de tais meios de pagamento creditícios cumpre mais do que um papel meramente técnico então nessa medida a concessão de crédito envolve a criação de poder de compra e o poder de compra recémcriado é útil apenas na concessão de crédito ao empresário é necessário somente para esse propósito Esse é o único caso em que OS ECONOMISTAS 110 não podemos substituir os meios de pagamento creditícios por dinheiro metálico sem prejudicar a veracidade de nosso quadro teórico Pois podemos supor que uma certa quantidade de dinheiro metálico existe em qualquer momento uma vez que nada depende de sua magnitude absoluta mas não podemos supor que um crescimento deste apareça justamente no momento e no local certos Portanto se excluirmos dos empréstimos assim como da criação de instrumentos de crédito os casos em que as transações a crédito e os instrumentos de crédito não de sempenham nenhum papel essencial então os dois devem coincidir se desprezarmos os resultados de um desenvolvimento anterior Nesse sentido portanto definimos o cerne do fenômeno do crédito da seguinte maneira o crédito é essencialmente a criação de poder de compra com o propósito de transferilo ao empresário mas não sim plesmente a transferência de poder de compra existente A criação de poder de compra caracteriza em princípio o método pelo qual o de senvolvimento é levado a cabo num sistema com propriedade privada e divisão do trabalho Através do crédito os empresários obtêm acesso à corrente social dos bens antes que tenham adquirido o direito normal a ela Ele substitui temporariamente por assim dizer o próprio direito por uma ficção deste A concessão de crédito opera nesse sentido como uma ordem para o sistema econômico se acomodar aos propósitos do em presário como um comando sobre os bens de que necessita significa con fiarlhe forças produtivas É só assim que o desenvolvimento econômico poderia surgir a partir do mero fluxo circular em equilíbrio perfeito E essa função constitui a pedra angular para a moderna estrutura de crédito Assim embora a concessão de crédito não seja essencial ao fluxo circular normal porque nele não existe necessariamente nenhuma bre cha entre os produtos e os meios de produção e porque se pode supor que ali todas as compras de bens de produção feitas por produtores são transações à vista ou que em geral qualquer um que seja com prador tenha vendido previamente bens do mesmo valor em dinheiro é certo que tal brecha existe na realização de combinações novas Trans por essa brecha é uma função do prestamista e ele a cumpre colocando à disposição do empresário poder de compra criado ad hoc Então os ofertantes de bens de produção não precisam esperar e no entanto o empresário não precisa adiantarlhes nem bens nem dinheiro exis tente Assim é fechada a brecha que de outro modo tornaria o desen volvimento extraordinariamente difícil se não impossível numa eco nomia de trocas em que prevalece a propriedade privada Que nisso reside a função dos prestamistas ninguém nega Diferenças de opinião só existem quanto à natureza da ponte Creio que nossa concepção longe de ser mais audaciosa e estranha à realidade do que as outras está mais próxima da realidade e torna supérflua toda uma rede de ficções No fluxo circular do qual sempre partimos os mesmos produtos são produzidos todos os anos da mesma maneira Para cada oferta existe SCHUMPETER 111 à espera uma demanda correspondente em algum lugar do sistema econômico para cada demanda uma oferta correspondente Todos os bens são negociados a preços determinados com oscilações simples mente insignificantes de modo que se pode considerar que toda unidade de dinheiro percorre o mesmo caminho em cada período Em qualquer momento uma dada quantidade de poder de compra está disponível para adquirir a quantidade existente de serviços produtivos originais para então passálos às mãos de seus proprietários e depois serem gastos novamente em bens de consumo Não há nenhum mercado para os portadores dos próprios serviços produtivos originais especialmente para a terra e também não há nenhum preço para eles dentro do fluxo circular normal98 Se desprezarmos o valor do material das unidades monetárias como nãoessencial o poder de compra então realmente não representa nada além de bens existentes O seu total não nos diz nada mas sim a participação nele por parte das famílias e das empresas Se agora forem criados e colocados à disposição dos empresários meios de pa gamento creditícios poder de compra novo no sentido que lhe damos então ele toma o seu lugar junto aos produtores anteriores e o seu poder de compra toma lugar junto ao total anteriormente existente Obviamente isso não aumenta a quantidade de serviços produtivos existente no sistema econômico No entanto a nova demanda tornase possível num sentido muito óbvio Provoca um aumento nos preços dos serviços produtivos Disso decorre a retirada de bens de seu uso an terior à qual nos referimos99 O processo significa a compressão100 do poder de compra existente Em certo sentido nenhum bem e certamente nenhum bem novo corresponde ao poder de compra recémcriado OS ECONOMISTAS 112 98 Cf a explanação feita no capítulo I pela qual fica claro por que não menciono os meios de produção produzidos com os serviços do trabalho e da terra embora o poder de compra obviamente também seja aplicado neles e não apenas nos serviços da terra e do trabalho 99 Nesse ponto discordo de Spiethoff Seus três artigos Die äussere Ordnung des Kapital und Geldmarktes Das Verhältnis von Kapital Geld und a Güterwelt e Der Kapital mangel in seinem Verhältnisse zur Güterwelt in Schmollers Jahrbuch 1909 também independentemente sob o título Kapital Geld und Güterwelt têm acima de tudo o mérito de ter atacado o problema Em um bom número de pontos anteciparam o que é dito neste capítulo A possibilidade de criar novos substitutos do dinheiro também foi expressamente enfatizada por exemplo no segundo artigo p 85 Mas para esta há um limite econômico intransponível na oferta de bens existente Apenas na proporção em que essas medidas artificiais podem pôr em circulação bens até então ociosos é que elas podem funcionar Se exceder esse limite os preços sobem O último certamente é correto mas o ponto importante para nós está precisamente aqui Evidentemente concordamos que a escassez de dinheiro não pode ser eliminada pela criação de poder de compra ou de qualquer modo só pode sêlo quando se tratar de um pânico momentâneo 100 Em primeiro lugar o poder de compra dos produtores anteriores no mercado de bens de produção será comprimido depois o poder de compra no mercado de bens de consumo daquelas pessoas que não recebem nenhuma cota ou só recebem uma cota insuficiente das rendas monetárias aumentadas resultantes da demanda do empresário Isso explica a ele vação de preços em períodos de alta Se não estou enganado foi Von Mises quem cunhou a expressão extremamente feliz poupança forçada erzwungenes Sparen para esse processo Mas um lugar para ele é aberto à custa do poder de compra anterior mente existente Isso explica a maneira como funciona a criação de poder de com pra O leitor pode ver que não há nada de ilógico ou místico nela101 A forma externa dos instrumentos de crédito é bastante irrelevante Seguramente a questão é vista de modo mais claro no caso da nota de banco sem cobertura Mas também um título que não substitua dinheiro existente e que não esteja baseado em bens já produzidos tem o mesmo caráter se realmente circular Evidentemente isso não será correto se apenas registrar a obrigação do empresário para com o seu credor ou se apenas for descontado mas somente quando for usado no pagamento de bens E todas as outras formas de instrumentos de crédito mesmo o simples crédito na contabilidade de um banco podem ser consideradas do mesmo ponto de vista Assim como quando se introduz gás adicional dentro de um recipiente a parte do espaço ocupada por cada molécula do gás anteriormente existente é diminuída pela compressão também o influxo do novo poder de compra no sistema econômico comprimirá o poder de compra antigo Quando se completam as mudanças de preços que se tornam assim necessárias quaisquer mercadorias dadas se trocam por novas unidades de poder de compra nos mesmos termos que pelas antigas sendo apenas que as unidades de poder de compra agora existentes são todas menores do que as que existiam antes e sua distribuição entre os indivíduos se alterou Isso pode ser chamado de inflação creditícia Mas se distingue da inflação creditícia com propósitos de consumo por um elemento muito essencial Nesses casos também o novo poder de compra toma o seu lugar junto ao antigo os preços sobem há uma retirada de bens que resulta favorável a quem recebe o crédito ou àqueles a quem este paga com as somas emprestadas Aí o processo se rompe os bens retirados são consumidos os meios de pagamento criados permanecem em cir culação o crédito deve ser continuamente renovado e os preços subiram permanentemente Pode ser então que o crédito seja pago com a corrente normal de renda por exemplo por um aumento dos impostos Mas essa é uma operação nova especial deflação que tendo um prosse guimento bem conhecido restaura novamente a saúde do sistema mo netário que se não fosse por ela não retornaria ao seu estado anterior Em nosso caso contudo o processo segue adiante vi impressa O empresário deve não apenas devolver legalmente o dinheiro ao seu banqueiro mas deve também devolver economicamente as mercadorias ao reservatório de bens o equivalente aos meios produtivos empres tados ou como o exprimimos deve em última instância cumprir a condição com a qual os bens podem normalmente ser retirados da SCHUMPETER 113 101 Cf também HAHN A Kredit In Handwörterbuch der Staatswissenschaften corrente social O resultado de seu empréstimo o capacita a cumprir essa condição Após completar o seu negócio portanto em nossa concepção após o período ao fim do qual os seus produtos estão no mercado e os seus bens produtivos foram gastos se tudo correu de acordo com as suas expectativas ele enriqueceu a corrente social com bens cujo preço total é maior do que o crédito recebido e do que o preço total dos bens direta ou indiretamente gastos por ele Assim a equivalência entre o dinheiro e as correntes de mercadorias é mais do que restaurada a inflação creditícia mais do que eliminada os efeitos sobre os preços mais do que compensados102 de modo que se pode dizer que não há nenhuma inflação creditícia nesse caso antes talvez deflação mas apenas um aparecimento nãosincrônico de poder de compra e das mercadorias a ele correspondentes o que temporaria mente produz a aparência de inflação Ademais o empresário pode agora pagar a sua dívida montante creditado mais juros em seu banco e normalmente ainda reter um saldo credor lucro empresarial que é retirado do fundo de poder de compra do fluxo circular Apenas esse lucro e juros necessariamente permanecem em circulação o crédito bancário original desapareceu de modo que o efeito deflacionário em si mesmo e especialmente se não forem financiados continuamente novos e maiores empreendi mentos seria muito mais grave do que o indicado acima É verdade que na prática duas razões evitam o desaparecimento rápido do poder de compra recémcriado primeiro o fato de que a maior parte dos empreendimentos não são terminados em um período mas na maioria dos casos apenas depois de uma série de anos A essência do problema não se altera com isso mas o poder de compra recémcriado permanece por mais tempo na circulação e o resgate na data legal toma fre qüentemente então a forma de uma prorrogação Nesse caso não se trata economicamente de nenhum resgate mas de um método de testar periodicamente a solidez do empreendimento Economicamente isso de veria na verdade chamarse apresentação para exame das contas ao invés de apresentação para pagamento quer a coisa a ser resgatada seja uma letra ou um empréstimo pessoal Além disso se é verdade que os empreendimentos de longo prazo são financiados por crédito de curto prazo cada empresário e cada banco tentará por razões óbvias trocar essa base assim que for possível por outra mais permanente e na verdade considerará uma façanha se puder saltar completamente a etapa inicial num caso individual Na prática isso coincide aproxi madamente com a substituição do poder de compra criado ad hoc pelo já existente E isso geralmente acontece no caso do desenvolvimento OS ECONOMISTAS 114 102 Só isso explicaria a queda dos preços em períodos de depressão e efetivamente explica a queda tradicional do nível de preços em momentos que nenhuma outra causa por exemplo a descoberta de ouro pode evitála como veremos no capítulo VI em plena marcha que já acumulou reservas de poder de compra isso por razões que a nossa própria teoria explica e que não depõem contra ela e na verdade em dois passos Em primeiro lugar são criados títulos e ações e seus montantes são creditados para o em preendimento o que significa que os recursos bancários ainda financiam o empreendimento Depois dispomos dessas ações e títulos e estes são pagos gradualmente nem sempre de imediato pelo contrário as contas dos fregueses subscritores freqüentemente são apenas debitadas pelos subscritores a partir de ofertas de poder de compra reservas ou poupanças existentes Assim como se pode exprimir são reabsor vidos pela poupança da comunidade O resgate dos instrumentos de crédito é pois consumado e estes são substituídos por dinheiro vivo Mas esse ainda não é o resgate final da dívida do empresário o resgate em bens Este último só vem mais tarde mesmo nesse caso Em segundo lugar ainda um outro fato evita o desaparecimento rápido do novo poder de compra Os instrumentos de crédito podem desaparecer no caso de sucesso final e têm por assim dizer a tendência de fazêlo automaticamente Mas mesmo que não desapareçam ne nhuma perturbação ocorre nem na economia individual nem na social pois agora existem as mercadorias que constituem um contrapeso ao novo poder de compra e a única espécie realmente significativa de cobertura para esse poder que é precisamente o que está sempre ausente no caso do crédito ao consumo E assim o processo de produção pode sempre ser repetido de novo com o auxílio da renovação do crédito embora isso não seja mais empreendimento novo em nossa concepção Logo os instrumentos de crédito não apenas não têm nenhuma outra influência sobre os preços mas perdem até mesmo a que originalmente exerciam Na verdade essa é a mais importante das maneiras pelas quais o crédito bancário força a sua entrada no fluxo circular até que tenha se estabelecido ali de tal modo que seja necessário esforço ana lítico para reconhecer que a sua fonte não está ali Se não fosse assim a teoria convencional não apenas seria falsa como é de qualquer modo mas indefensável e incompreensível Se portanto a possibilidade de conceder crédito não está limitada pela quantidade de recursos líquidos existentes independentemente da criação para o próprio propósito de concessão de crédito nem pela quan tidade de bens existentes ociosa ou total pelo que está ela limitada Primeiro no que diz respeito à prática suponhamos que temos um padrãoouro livre ou seja resgate das notas de banco em ouro à sua apresentação a obrigação de vender ouro ao preço legal e a livre exportação de ouro Suponhamos também que temos um sistema ban cário agrupado em torno de um banco emissor central mas que não há nenhuma outra barreira e norma legais para a gestação de negócios bancários por exemplo nenhuma regulamentação quanto a reservas para as notas etc no banco central nem regulamentação quanto a SCHUMPETER 115 reservas para os depósitos etc nos outros bancos Isso representa o caso dominante cujo tratamento é facilmente aplicável a outros casos Então toda nova criação de poder de compra que precede o apareci mento de quantidades correspondentes de bens e assim eleva os preços terá a tendência a elevar o valor do ouro contido na moeda de ouro acima do valor da unidade monetária Isso levará a uma diminuição da quantidade de ouro em circulação mas acima de tudo à apresen tação de meios de pagamento bancários para o resgate primeiro de notas de banco depois todos os outros direta e indiretamente em outro sentido para outro propósito e por outra razão que o que aca bamos de descrever E se a solvência do sistema bancário nesse sentido não deve ser posta em perigo os bancos só podem conceder crédito de modo tal que a inflação resultante seja realmente temporária e além disso permaneça moderada Mas só pode continuar temporária se o complemento em mercadoria do poder de compra recémcriado chega ao mercado no devido tempo e se o banqueiro intervir com poder de compra retirado do fluxo circular por exemplo com dinheiro poupado por outras pessoas nos casos de falência em que esse complemento não aparece de modo algum no mercado e nos casos de produção de longa duração em que ele só aparece depois de muitos anos Assim a necessidade de manter uma reserva que atue como um freio sobre o banco central bem como sobre os outros bancos Concorrendo com esse nexo está a circunstância de que todos os créditos concedidos se de compõem em somas pequenas no comércio diário e para servir a este último deve ser trocado por moedas ou notas pequenas ao menos na maioria dos países que não podem ser criadas pelos bancos Finalmente a inflação creditícia deve provocar um escoamento de ouro para o exterior portanto um perigo adicional de insolvência Pode ocorrer contudo e na verdade às vezes isso de certo modo acontece que os bancos de todos os países estendam seu crédito quase simul taneamente Portanto mesmo que não possamos pela natureza das coisas e com as suposições feitas estabelecer o limite à criação de poder de compra tão acuradamente como digamos o limite à produção de uma mercadoria e mesmo que o limite deva variar de acordo com a mentalidade do povo com a legislação etc no entanto podemos estabelecer que em qualquer momento esse limite existe e quais as circunstâncias que normalmente garantem a sua manutenção A sua existência não exclui a criação de poder de compra no sentido que lhe damos nem altera o seu significado Mas faz de seu volume em qualquer momento uma grandeza elástica embora determinada A questão fundamental em consideração aqui é na verdade res pondida apenas muito superficialmente pelo que foi dito acima do mesmo modo como é respondida superficialmente a questão relativa às razões para uma taxa de câmbio ao se dizer que esta deve estar entre os pontos do ouro no caso de um padrãoouro livre universal OS ECONOMISTAS 116 Contudo assim como no último caso consideramos o essencial se omi tirmos o mecanismo do ouro e considerarmos os pontos de mercadorias subjacentes também em nosso caso pelo mesmo princípio chegamos a uma explicação mais fundamental do fato de que a criação de poder de compra tem limites definidos embora elásticos se considerarmos um país como um padrãopapel ou digamos com nada além de meios de pagamento bancários Uma vez que o caso dos países que comerciam uns com os outros não oferece nada de fundamentalmente novo dei xamos sua análise ao leitor Aqui então o limite é dado pela condição de que a inflação creditícia em favor dos novos empreendimentos deva ser apenas temporária ou que não haja nenhuma inflação no sentido de elevação permanente do nível de preços E o freio que garante a manutenção desse limite é o fato de que qualquer outra conduta frente à grande demanda dos empresários por crédito significaria uma perda para o banco em questão Essa perda sempre ocorre se o empresário não conseguir produzir mercadorias pelo menos iguais em valor ao crédito mais o juro Só quando conseguir fazêlo é que o banco terá feito um bom negócio então e só então contudo não haverá também nenhuma inflação como demonstramos ou seja nenhuma infração do limite Disso podem derivar as normas que determinam a magnitude da criação possível de poder de compra em casos individuais Apenas num outro caso se fosse liberado da obrigação de resgatar os seus meios de pagamento em ouro e se fosse suspensa a consideração pela troca internacional o mundo bancário poderia provocar inflação e determinar arbitrariamente o nível de preços não apenas sem perdas mas até mesmo com lucro a saber se injetasse meios de pagamento creditícios no fluxo circular ou tornando boas as más obrigações me diante criação adicional de novos meios de circulação ou concedendo créditos que realmente servem a fins de consumo Em geral nenhum banco isolado poderia fazêlo Pois enquanto a sua emissão de meios de pagamento não afetasse apreciavelmente o nível de preços a má obrigação permaneceria má e o crédito ao consumo se tornaria ruim se não ficasse dentro dos limites em que pudesse ser devolvido pelo devedor a partir de sua renda Mas todos os bancos juntos poderiam fazêlo Segundo nossas proposições eles poderiam conceder continua mente crédito adicional e precisamente por seu efeito sobre os preços tornar bom o concedido anteriormente E que isso seja possível até certo ponto mesmo sem essas suposições é a razão principal pela qual são efetivamente necessárias na prática restrições legais especiais e válvulas especiais de segurança Essa última afirmação é realmente evidente por si mesma Como o Estado em certas circunstâncias pode imprimir notas sem nenhum limite determinável assim também os bancos poderiam fazer o mesmo se o Estado pois se trata disso lhes transferisse o direito no interesse e para os propósitos deles e o senso comum não os impedisse SCHUMPETER 117 de exercêlo Mas isso não tem nada a ver com o nosso caso a saber a concessão de crédito e a criação de poder de compra para a realização de novas combinações que sejam remunerativas ao nível vigente de preços103 portanto nada a ver com o significado a natureza e a origem da criação de poder de compra empresarial em geral Enfatizo isso expressamente porque a tese concernente ao poder ilimitado que têm os bancos de criar meios de circulação tornouse um ponto de ataque e um motivo para a rejeição da nova teoria do crédito depois de ser repetidamente citada não apenas sem as qualificações neces sárias mas também fora do contexto em que se encontra104 Capital Já é tempo de dar expressão a um pensamento que esteve lon gamente à espera de formulação e que é familiar a todo homem de negócios A economia capitalista é a forma de organização econômica na qual os bens necessários à nova produção são retirados de seu lugar estabelecido no fluxo circular pela intervenção de poder de compra criado ad hoc enquanto aquelas formas de economia em que isso acon tece por meio de qualquer tipo de poder de comando ou por meio de um acordo de todos os interessados representam a produção nãocapi talista O capital não é nada mais do que a alavanca com a qual o empresário subjuga ao seu controle os bens concretos de que necessita nada mais do que um meio de desviar os fatores de produção para novos usos ou de ditar uma nova direção para a produção Essa é a única função do capital e por ela se caracteriza inteiramente o lugar do capital no organismo econômico Ora o que é essa alavanca esse meio de controle Certamente não consiste em nenhuma categoria definida de bens em nenhuma parte definível da oferta existente de bens Geralmente concluímos que encontramos o capital na produção e que de algum modo ele é útil no processo produtivo Portanto devemos também vêlo em operação em algum lugar em nosso exemplo da realização de combinações novas Ora todos os bens de que o empresário necessita estão no mesmo nível de seu ponto de vista Ele carece dos serviços dos agentes naturais do trabalho da maquinaria da matériaprima de todos igualmente exatamente no mesmo sentido e nada distingue essas necessidades umas das outras Evidentemente isso não quer dizer que não haja nenhuma diferença relevante entre essas categorias de bens Pelo con OS ECONOMISTAS 118 103 Nossa teoria foi interpretada como se ela afirmasse que a criação de crédito facilita a realização de coisas novas ao elevar os preços tornando com isso remunerativo o que de outra maneira não o seria Isso não é o que ela diz 104 Cf o artigo sob outros aspectos excelente Kredit de Hahn no Handwörterbuch der Staatswissenschaften Contra a sua formulação pareceme correto dizer a quantidade de poder de compra novo que é possível criar é sustentada e limitada pelos bens futuros embora não pelos bens existentes e repetindo pelos bens futuros a preços atuais trário certamente há diferenças mesmo que seu significado tenha sido e ainda seja superestimado por muitos teóricos Mas está claro que o comportamento do empresário é o mesmo em relação a todas essas categorias ele compra todas elas com dinheiro pelo qual calcula ou paga juros sem distinção sejam ferramentas terra ou trabalho Todas cumprem o mesmo papel são igualmente necessárias para ele Em particular é bem irrelevante se ele começa a sua produção ab ovo ou seja simplesmente compra trabalho e terra ou se também adquire de imediato produtos intermediários existentes ao invés de ele próprio produzilos Finalmente se precisasse adquirir bens de consumo isso também não faria nenhuma diferença fundamental Não obstante pa receria que os bens de consumo teriam maior direito a serem enfati zados especialmente se se aceitasse a teoria de que o empresário adianta bens de consumo aos possuidores de meios produtivos no sentido mais restrito da palavra Nesse caso esses bens teriam carac terísticas diferentes de outros bens desempenhariam um papel especial e na verdade precisamente o papel que atribuímos ao capital Disso se seguiria que o empresário trocaria serviços produtivos por bens de consumo Então deveríamos dizer que o capital consiste em bens de consumo Contudo essa possibilidade já está resolvida Deixando de lado essa última interpretação não há nenhuma razão para fazer qualquer tipo de distinção entre todos os bens que o empresário compra e conseqüentemente nenhuma razão para incluir qualquer grupo deles sob o nome de capital Não é necessário nenhum argumento para mostrar que a definição do capital que o faz consistir em bens é aplicável a todas as organizações econômicas e assim não é adequada para caracterizar a economia capitalista Além disso não é verdade que se se perguntasse ao homem de negócios em que consiste o seu capital ele indicaria qualquer dessas categorias de bens Se mencionar sua fábrica incluirá o terreno sobre o qual esta se assenta e se quiser responder de maneira completa não esquecerá o seu capital de giro no qual estão incluídas compras de serviços do trabalho direta ou indiretamente O capital de um empreendimento contudo também não é o agre gado de todos os bens que servem aos seus propósitos Pois o capital se defronta com o mundo das mercadorias Os bens são comprados com capital o capital é investido em bens mas esse mesmo fato implica o reconhecimento de que a sua função é diferente da dos bens adquiridos A função dos bens consiste em servir a um fim produtivo que corresponde à sua natureza técnica A função do capital consiste em obter para o empresário os meios com que produzir O capital se coloca como um terceiro agente necessário à produção numa economia de trocas entre o empresário e o mundo dos bens Constitui a ponte entre eles Não faz parte diretamente da produção ele próprio não é SCHUMPETER 119 elaborado pelo contrário desempenha uma tarefa que deve ser feita antes que a produção técnica possa começar O empresário precisa ter capital antes que possa pensar em se abastecer de bens concretos Há um momento em que ele já tem o capital necessário mas não ainda os bens de produção e nesse momento se pode ver mais claramente do que nunca que o capital não é algo idêntico a bens concretos mas é um agente independente E o seu único propósito a única razão pela qual o empresário precisa de capital recorro a fatos óbvios é simplesmente a de servir como um fundo com o qual os bens produtivos podem ser pagos Ademais enquanto essa compra não terminar o capital não tem absolutamente nenhuma relação com algum bem definido Evidentemente ele existe quem poderia negálo mas sua qualidade característica é precisamente a de não entrar em consideração como uma categoria concreta de bens a de não ser empregada tecnicamente como um bem mas como um meio de prover esses bens para serem empregados na produção em sentido técnico Mas quando se completa essa compra o capital do empresário consiste então em bens concretos todas as espécies de terra assim como ferramentas compradas mas ainda assim em bens Se alguém exclamar com Quesnay Parcourez les fermes et les ateliers et vous trouverez des bâtiments des bestiaux des semences des ma tières premières des meubles et des instruments de toute espèce do nosso ponto de vista devese ainda acrescentar serviços da terra e do trabalho e também bens de consumo isso não se justifica após a compra O capital já cumpriu agora a função que lhe foi atribuída por nós Se os meios produtivos necessários e como suporemos também os serviços do trabalho necessários estão comprados então o empresário não tem mais o capital que foi colocado à sua disposição Entregouo em troca de meios produtivos Foi dissolvido em rendimentos A con cepção tradicional atualmente é a de que o capital consiste agora em bens adquiridos Na verdade um pressuposto dessa interpretação é o de que a função do capital de obter bens é completamente ignorada e substituída pela hipótese irreal de que ao empresário são emprestados os bens mesmos de que precisa Se não se faz isso e se seguindo a realidade se distingue o fundo com o qual os bens de produção são pagos desses próprios meios produtivos não pode haver em minha opinião a menor dúvida de que é a esse fundo que se refere tudo o que se costuma chamar de capital e tudo o que designamos por fenô meno capitalista Se isso é correto é ainda mais claro que o empresário não possui mais esse fundo porque acabou de gastálo e que as partes dele nas mãos dos vendedores de meios produtivos não podem ter um caráter diferente das somas recebidas com a venda de pão nas mãos do padeiro O método habitual de expressão freqüentemente encontrado que descreve como capital os meios produtivos comprados não prova nada ainda mais quando acompanhado da outra expressão a saber OS ECONOMISTAS 120 que o capital está incorporado a esses bens Esse último método de expressão só pode estar correto no sentido em que também se pode dizer que o carvão está incorporado a uma viga de aço ou seja no sentido de que o uso do carvão levou à criação da viga de aço Mas por tudo isso o empresário não tem ainda o seu capital E não pode ele ao menos retirar de novo o seu capital desse investimento em bora o mesmo carvão não possa ser obtido de novo Creio que essas questões podem ser respondidas satisfatoriamente Não o empresário gastou o seu capital Em troca deste adquiriu bens que não empregará como capital ou seja como fundo para pagamento de outros bens mas na produção técnica Entretanto se mudar de idéia e desejar desfazerse desses bens haverá constantemente outras pessoas prontas a comprá los e então pode novamente entrar na posse de um maior ou menor montante de capital Desse ponto de vista uma vez que os seus meios produtivos podem não apenas servir como meios produtivos mas tam bém indiretamente como capital na medida em que pode usálos para obter primeiramente poder de compra e depois outros meios pro dutivos está certo ao chamálos por elipse de seu capital Realmente eles são a única fonte de poder de compra sob seu comando se ele tiver necessidade disso antes que sua produção se complete Chegare mos ainda a uma outra razão para essa interpretação A segunda ques tão agora também está respondida o empresário pode obter capital novamente vendendo seus bens de produção Evidentemente ele não pode obter de novo o mesmo capital na maioria dos casos nem mesmo a mesma soma Mas como isso não importa a expressão plástica retirar o seu capital tem um sentido que embora figurado é no entanto bastante correto Isso não entra em conflito com a nossa interpretação O que é então o capital se não consiste nem em uma espécie definida de bens nem em bens em geral A essa altura a resposta é bastante óbvia é um fundo de poder de compra Só enquanto tal pode desempenhar sua função essencial a única função para a qual o capital é necessário na prática e para a qual o conceito de capital tem um uso na teoria que não pode ser substituído com igual adequação pela enumeração de categorias de bens Colocase agora a questão do que exatamente constitui esse fundo de poder de compra Essa questão parece ser muito simples Em que consiste o meu fundo de poder de compra Ora em dinheiro e nos meus outros ativos calculados em dinheiro Essa resposta nos levaria praticamente ao conceito de capital de Menger Certamente chamo isso de meu capital inúmeras vezes Além disso também não há nenhuma dificuldade em distinguilo enquanto fundo do fluxo de rendimen tos de modo que aqui damos um passo em direção a Irving Fisher Novamente é lícito dizer que posso aplicar num empreendimento essa mesma soma ou emprestála a um empresário Contudo essa visão aparentemente tão satisfatória à primeira SCHUMPETER 121 vista infelizmente não é completamente adequada Não é verdade que posso entrar nas fileiras dos empresários apenas com essa soma Se posso sacar uma letra que será tomada em pagamento então posso também comprar bens de produção no seu montante Poderseia dizer agora que simplesmente contraio uma dívida com isso o que está longe de aumentar o meu capital Poderseia dizer ainda que os bens com prados com a letra me são simplesmente emprestados No entanto olhemos mais atentamente Se eu for bemsucedido poderei resgatar a letra com dinheiro ou com letras que não provêm do meu capital mas dos resultados financeiros do meu produto Assim aumentei meu capital ou se houver alguma relutância em admitilo fiz algo que me presta exatamente o mesmo serviço que um aumento de meu capital sem incorrer em dívidas que posteriormente diminuiriam novamente o meu capital Poderseia objetar que o meu capital teria crescido se eu não tivesse que pagar dívidas Contudo essas dívidas foram pagas com um ganho que nem mesmo podemos ter certeza de que teria sido acrescentado ao meu capital se este me fosse devolvido inalterado Pois eu poderia usálo para adquirir bens de consumo caso em que seria contrário a toda espécie de tratamento descrevêlo como uma parte do capital Se é correto que a função do capital só consiste em assegurar ao empresário o controle sobre os bens de produção então não podemos fugir à conclusão de que o meu capital seria aumentado pela criação da letra Se o leitor tiver em mente o que foi dito ante riormente em combinação com o que se segue nossa conclusão perderá muito de sua aparência paradoxal É verdade que não me tornei mais rico pela criação da letra Mas o termo riqueza Vermögen torna possível levar em consideração esse outro aspecto do problema Mas também não é verdade que a expressão em termos de di nheiro baste para emprestar um caráter de capital no sentido em que o tomamos à propriedade que não for ela mesma mantida na forma de dinheiro Se alguém possui alguma espécie de bens não será possível em geral obter os bens de produção de que necessita pela troca direta Pelo contrário sempre será preciso vender os bens que se tem e depois empregar o resultado da venda como capital ou seja na obtenção dos bens de produção requeridos Na verdade a concepção que está sendo considerada também reconhece isso ao enfatizar o valor em dinheiro dos bens que alguém possui É fácil verificar quando se descreve esses bens próprios como capital que se trata apenas de um modo de ex pressão elíptico ou figurativo O mesmo também é verdade quanto aos meios de produção comprados como já se mencionou que essa con cepção também trata como capital Até agora nossa definição é por um lado mais ampla e por outro mais estreita que a de Menger e de outras a ela rela cionadas Apenas meios de pagamento são capital não meramente dinheiro mas meios de circulação em geral de qualquer espécie OS ECONOMISTAS 122 que possam ser contudo nem todos os meios de pagamento mas apenas os que efetivamente cumprem a função característica em que estamos interessados Essa limitação reside na natureza da coisa Se os meios de pa gamento não servem para prover um empresário dos bens de produção e retirar estes últimos de seu emprego anterior com esse propósito então não são capital Num sistema econômico sem desenvolvimento não há portanto nenhum capital ou exprimindo de outra maneira o capital não cumpre a sua função característica não é um agente independente Ou dito ainda em outras palavras as várias formas de poder de compra em geral não constituem capital nesse ponto são simplesmente meios de troca meios técnicos para a realização de trocas habituais Com isso o seu papel no fluxo circular está completo a não ser esse papel técnico elas não têm nenhum outro de modo que podem ser desprezadas sem que se deixe de lado nada realmente es sencial Na realização de combinações novas contudo o dinheiro e seus substitutos tornamse um fator essencial e exprimimos isso ao descrevêlos como capital Assim de acordo com o nosso ponto de vista o capital é um conceito do desenvolvimento ao qual nada corresponde no fluxo circular Esse conceito incorpora um aspecto do processo eco nômico que somente os fatos do desenvolvimento nos sugerem Gostaria de chamar a atenção do leitor para essa afirmação Muito contribui ela para a compreensão do ponto de vista aqui desenvolvido Se se fala em capital com a conotação que a palavra tem na vida prática então sempre se pensa não tanto em coisas mas em processos ou em certo aspecto das coisas isto é na possibilidade de atividade empresarial ou na possibilidade de controle sobre meios produtivos em geral Esse aspecto é algo comum a muitos conceitos de capital e os esforços para pôlo em relevo explicam em minha opinião as qualidades proteiformes da definição real Segundo ela nada em si mesmo é realmente capital incondicionalmente e em virtude de qualidades imanentes mas o que é designado como capital o é apenas na proporção em que satisfaz certas condições ou apenas de um certo ponto de vista Definiremos o capital então como a soma de meios de pagamento que está disponível em dado momento para transferência aos empre sários No momento em que o desenvolvimento começa a partir de um fluxo circular em equilíbrio apenas uma parte muito pequena dessa soma de capital poderia de acordo com a nossa interpretação consistir em dinheiro pelo contrário deveria consistir em outros meios de pa gamento recémcriados com esse propósito Se o desenvolvimento já foi desencadeado ou se o desenvolvimento capitalista se associa a uma forma nãocapitalista ou intermediária começará com um suprimento de recursos líquidos acumulados Mas na teoria estrita não poderia fazêlo E mesmo na realidade quando uma coisa realmente significa tiva deve ser feita pela primeira vez isso é sempre impossível SCHUMPETER 123 O capital então é um agente na economia de trocas Um processo da economia de trocas está expresso na imagem do capital a saber a transferência de meios produtivos ao empresário Em nossa concepção portanto há realmente somente capital privado e não social Os meios de pagamento só podem desempenhar seu papel de capital nas mãos de indivíduos particulares Assim não haveria muito propósito em falar de capital social com esse sentido Não obstante a soma de capitais privados nos diz algo dános a dimensão do fundo que pode ser posto à disposição dos empresários a dimensão do poder de retirar meios de produção de seus canais anteriores Portanto o conceito de capital social não é desprovido de sentido105 embora não haja tal capital numa economia comunista No entanto em geral se pensa no estoque de bens de uma nação quando se fala de capital social e somente os conceitos de capital real conduziram ao de capital social O mercado monetário Ainda há um passo a ser dado O capital não é nem o todo nem uma parte dos meios de produção originais ou produzidos Tampouco o capital é um estoque de bens de consumo Ele é um agente especial Como tal deve ter um mercado naquele sentido teórico em que há um mercado para bens de consumo e para bens de produção E a esse mercado teórico deve corresponder na realidade algo similar ao que ocorre no caso desses outros dois Vimos no capítulo I que há mercados para os serviços do trabalho e da terra e para bens de consumo nos quais está assentado tudo de essencial ao fluxo circular enquanto os meios de produção produzidos itens transitórios não têm um tal mer cado independente No desenvolvimento que introduz esse novo agente o capital no processo econômico deve haver ainda um terceiro mercado em que ocorre algo interessante o mercado de capital Isso existe a realidade nôlo mostra diretamente muito mais diretamente do que nos mostra os mercados de serviços e de bens de consumo Ele é muito mais concentrado muito mais bem organizado muito mais fácil de observar do que os outros dois É o que o homem de negócios chama de mercado monetário aquele a respeito do qual todo jornal noticia diariamente sob esse título Do nosso ponto de vista o nome não é totalmente satisfatório não é simplesmente o dinheiro que é negociado e poderíamos em parte nos juntar ao protesto dos economistas contra essa concepção dele Mas aceitamos o nome De qualquer modo o mercado de capital é a mesma coisa que o fenômeno que a prática descreve como mercado monetário Não há nenhum outro OS ECONOMISTAS 124 105 Isso é sobretudo verdadeiro se se mede cada unidade de capital pelos montantes de bens de produção obteníveis com ela num dado momento Se se faz isso podese falar também de capital real mas apenas em sentido figurado mercado de capital106 Esboçar uma teoria do mercado monetário seria uma tarefa atraente e proveitosa Até agora não temos nenhuma107 Seria especialmente interessante e proveitoso coletar e testar o signi ficado teórico das regras práticas da experiência que determinam as decisões do homem prático e o seu julgamento de situações particulares Na verdade são formuladas de modo estrito em sua maior parte e guiam todo autor de artigos sobre o mercado monetário Essas regras práticas de previsão econômica são atualmente muito desligadas da teoria embora o seu estudo auxilie profundamente a compreensão da vida econômica moderna Não podemos aqui entrar nesse assunto Só diremos o que for necessário para os nossos propósitos Isso pode ser feito em poucas palavras Numa economia sem desenvolvimento não haveria tal mercado monetário Se ela fosse extremamente organizada e suas transações fossem liquidadas com meios de pagamento creditícios haveria um escritório central de liquidações uma espécie de câmara de compen sação ou de centro contábil do sistema econômico Nas transações dessa instituição se refletiria tudo o que acontece no sistema econômico por exemplo o pagamento periódico de salários e impostos os requisitos para proceder às colheitas e para os feriados Mas esses seriam apenas problemas de cômputo Ora essas funções também devem ser desem penhadas quando há desenvolvimento Com desenvolvimento além dis so há sempre emprego para o poder de compra que esteja momenta neamente ocioso E finalmente com o desenvolvimento como já foi enfatizado o crédito bancário penetra nas transações do fluxo circular É assim então que essas coisas se tornam na prática elementos da função do mercado monetário Tornamse uma parte do organismo do mercado monetário E assim os requisitos do fluxo circular são acres centados à demanda do empresário no mercado monetário por um lado e por outro o dinheiro do fluxo circular aumenta a oferta de dinheiro nesse mercado Por isso sentimos em todo artigo sobre o mercado monetário a pulsação do fluxo circular por isso vemos que a demanda de poder de compra aumenta na época da colheita quando vence o prazo dos impostos etc ao passo que depois desses momentos a oferta aumenta Mas isso não deve impedirnos de distinguir as tran sações no mercado monetário que pertencem ao fluxo circular das ou tras Apenas estas últimas são fundamentais as primeiras são acres centadas a elas e de qualquer modo o fato de que apareçam no mercado monetário é meramente uma conseqüência do desenvolvimento Todos os efeitos recíprocos que obviamente juntam as duas não alteram o SCHUMPETER 125 106 Podese no máximo com Spiethoff loc cit distinguir o mercado de capital como o mercado para o poder de compra de longo prazo do mercado monetário como o mercado para empréstimos a curto prazo Mas o poder de compra é a mercadoria de ambos 107 Cf contudo HAHN A Zur Theorie des Geldmarkets In Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik 1923 fato de que mesmo na prática elas podem ser distintas em todos os casos e de que no mercado monetário é sempre possível dizer o que pertence ao fluxo circular e o que pertence ao desenvolvimento O cerne da questão reside nos requisitos de crédito dos novos empreendimentos Evidentemente que devemos recordar que a influên cia das relações internacionais nas quais todo sistema econômico se insere e da intervenção nãoeconômica à qual todo sistema econômico está exposto são desprezadas aqui para abreviar e simplificar a ex posição Assim passam fora da nossa vista os fenômenos da balança de pagamentos nacional do comércio de barras de ouro etc Com essa condição só acontece uma coisa fundamental no mercado monetário em relação à qual tudo o mais é acessório pelo lado da demanda aparecem empresários e do lado da oferta produtores e negociantes de poder de compra isto é banqueiros ambos com suas equipes de agentes e intermediários O que acontece é simplesmente a troca de poder de compra presente por futuro Na luta cotidiana de preços entre as duas partes é decidido o destino das novas combinações O sistema de valores futuros nessa luta de preços aparece primeiro de forma prática tangível e em relação com as condições dadas do sistema econômico Seria to talmente errôneo acreditar que o preço do crédito de curto prazo é uma questão indiferente para as novas empresas uma vez que é de crédito de longo prazo que elas precisam Pelo contrário em nenhum lugar se expressa tão claramente toda a situação econômica em todos os momentos quanto no preço dos empréstimos de curto prazo O em presário não toma necessariamente um empréstimo para todo o período no qual precisa de crédito mas à proporção que vai surgindo a neces sidade e freqüentemente quase de um dia para o outro Além disso os especuladores freqüentemente conservam ações especialmente de novos empreendimentos com esse crédito de curto prazo que pode ser concedido hoje e negado amanhã Podemos observar dia a dia como os requisitos de crédito da indústria se manifestam e como o mundo ban cário às vezes apóia e encoraja e às vezes refreia a demanda Enquanto em outros mercados a demanda assim como a oferta mostra certa constância mesmo no desenvolvimento aqui surpreendentemente apa recem dia a dia grandes flutuações Explicaremos isso pela função es pecial do mercado monetário Todos os planos e perspectivas quanto ao futuro do sistema econômico o afetam todas as condições da vida nacional todos os acontecimentos políticos econômicos e naturais Di ficilmente há uma notícia que não influencie necessariamente as de cisões relativas à realização de novas combinações ou à posição do mercado monetário e as opiniões e intenções dos empresários O sistema de valores futuros deve se adaptar a cada situação nova Evidentemente isso não é efetuado meramente pelas variações no preço do poder de compra Freqüentemente a influência pessoal atua somandose a estas OS ECONOMISTAS 126 últimas ou em lugar delas Mas não há necessidade de entrar nesses detalhes bem conhecidos O mercado monetário é sempre por assim dizer o quartelgeneral do sistema capitalista do qual partem as ordens para as suas divisões individuais e o que ali é debatido e decidido é sempre em essência o estabelecimento de planos para o desenvolvimento posterior Todas as espécies de requisitos de crédito vêm a esse mercado nele todas as espécies de projetos econômicos travam relação uns com os outros e lutam por sua realização todas as espécies de poder de compra saldos de toda sorte fluem para ele a fim de serem vendidos Isso dá origem a um bom número de operações de arbitragem e de manobras de in termediação que podem com facilidade esconder o fundamental Não obstante creio que no fundo a nossa concepção quase não precisa temer a contradição Assim a função principal do mercado monetário ou de capital é o comércio de crédito com o propósito de financiar o desenvolvimento O desenvolvimento cria e alimenta esse mercado No curso do desen volvimento lhe é atribuída ainda uma outra ou seja uma terceira função ele se torna mercado das próprias fontes de rendimentos Con sideraremos mais tarde a relação entre o preço do crédito e o preço das fontes de rendimentos permanentes ou temporários Aqui fica claro o seguinte a venda de tais fontes de retornos representa um método de adquirir capital e a sua compra um método de empregar capital conseqüentemente a negociação de fontes de retornos não pode ser muito afastada do mercado monetário O comércio de terra também se inseriria aqui e somente circunstâncias técnicas impedem que apa reça na prática como uma parte das transações do mercado monetário mas não há falta de ligação causal entre os dois SCHUMPETER 127 CAPÍTULO IV O Lucro Empresarial108 Os primeiros três capítulos assentaram as bases sobre as quais se apóia tudo o que se segue Como primeiro fruto chegamos à explicação do lucro empresarial e de modo tão fácil e natural que para manter este capítulo breve e simples prefiro pôr algumas discussões mais difíceis cujo lugar realmente seria aqui no próximo capítulo onde todos os problemas espinhosos podem ser tratados como um todo O lucro empresarial é um excedente sobre os custos Do ponto de vista do empresário é a diferença entre receitas e despesas no negócio como nos foi dito por grande número de economistas Por superficial que seja essa definição é suficiente como ponto de partida Por despesas entendemos todos os desembolsos que o empresário deve fazer direta ou indiretamente na produção A isso se deve acres centar um salário apropriado para o trabalho desempenhado pelo em presário uma renda apropriada para qualquer terra que porventura lhe pertença e finalmente um prêmio de risco Por outro lado não insisto aqui em que o juro sobre o capital deva ser excluído desses custos Na prática é incluído neles visivelmente ou se o capital per tence ao próprio empresário pelo mesmo método de cômputo que o dos salários pelo seu trabalho pessoal ou da renda pela sua terra pró pria Isso pode bastar por enquanto ainda mais que muitos teóricos põem o juro sobre o capital na mesma categoria que a renda e os salários Deixo agora neste capítulo a critério do leitor desprezar a existência de juros sobre o capital no sentido de nossa interpretação ou reconhecêlo no sentido de qualquer teoria de juros como um ter 129 108 As teorias mais importantes sobre os lucros podem ser caracterizadas nos seguintes termos teoria da fricção teoria dos salários teoria do risco teoria da renda diferencial Remeto para sua discussão a Wesen Livro Terceiro e não entrarei aqui numa crítica delas Para a história da doutrina ver Pierstorff e Mataja Ao mesmo tempo J B Clark cuja teoria é a mais próxima à minha pode ser citado aqui cf seu Essentials of Economic Theory ceiro ramo estático de rendimento e incluílo nos custos do negócio De qualquer modo sua natureza e sua origem não nos interessam aqui Com essa definição das despesas pode parecer duvidoso que haja qualquer excedente sobre os custos Provar que há um excedente é portanto a nossa primeira tarefa Nossa solução pode ser assim bre vemente expressa no fluxo circular as receitas totais de um negócio abstraindo o monopólio são suficientemente grandes para cobrir as despesas Nele só há produtores que não ganham lucros nem sofrem perdas e cujo rendimento é suficientemente caracterizado pela frase salários de administração E uma vez que as novas combinações que são realizadas se há desenvolvimento são necessariamente mais van tajosas do que as antigas as receitas totais devem nesse caso ser maio res do que os custos totais Em honra a Lauderdale109 que foi o primeiro a tratar de nosso problema começarei com o aperfeiçoamento do processo produtivo com o exemplo tradicional do tear mecânico o que também é recomendado pelo fato de ter sido submetido a uma análise minuciosa por Böhm Bawerk110 Muitos se não a maioria dos feitos dos líderes da vida econômica moderna são desse gênero em particular a nova era dos séculos XVIII e XIX apresenta esforços nesse sentido É verdade que nesse período encontramos as várias funções que devem ser diferen ciadas no processo de introdução de aperfeiçoamentos na produção ain da menos separadas do que hoje em dia Homens como Arkwright inventaram e ao mesmo tempo colocaram em prática as suas invenções Não tinham à sua disposição o nosso moderno sistema de crédito Con tudo espero que tenha levado o leitor tão longe que eu possa fazer uso de nossas ferramentas analíticas em sua forma mais pura sem maiores explicações e repetições A questão então aparece da seguinte maneira Se alguém num sistema econômico no qual a indústria têxtil produza apenas com tra balho manual vê a possibilidade de fundar um negócio que use teares mecânicos se se sente à altura da tarefa de transpor todas as inume ráveis dificuldades e tomou a decisão final então antes de tudo precisa de poder de compra Tomao emprestado de um banco e cria o seu negócio É absolutamente irrelevante se constrói ele mesmo os teares mecânicos ou se manda uma outra empresa construílos de acordo com suas diretrizes para se limitar a utilizálos Se um trabalhador pode com esse tear produzir agora seis vezes mais do que um traba lhador manual num dia é óbvio que dadas três condições o negócio deve render um excedente sobre os custos uma diferença entre receitas e despesas Primeiro o preço do produto não deve cair quando a nova OS ECONOMISTAS 130 109 Inquiry into the Nature and Origin of Public Wealth É verdade que ele tinha em vista um objetivo completamente diferente a saber a explicação do juro 110 Em seu Capital and Interest VII 3 oferta111 aparecer ou então não deve cair numa proporção tal que o produto maior por trabalhador não produza receitas maiores agora do que o produto menor obtenível pelo trabalho manual produzia ante riormente Em segundo lugar os custos do tear mecânico por dia pre cisam ficar abaixo dos salários diários dos cinco trabalhadores despe didos ou então abaixo da soma que permanece depois de abater a possível queda no preço do produto e deduzir o salário do trabalhador requerido A terceira condição suplementa as outras duas Essas duas cobrem os salários dos operários que trabalham junto aos teares e os salários e a renda que vão em pagamento aos teares Até agora tomei o caso em que esses salários e rendas são simplesmente aqueles que imperavam antes que o empresário preparasse seus planos Se a sua demanda for relativamente pequena podemos nos contentar com isso112 Se não for porém os preços dos serviços do trabalho e da terra se elevam por causa da nova demanda Pois os outros estabelecimentos têxteis de início continuam funcionando e os meios de produção ne cessários não precisam ser retirados diretamente deles mas da indús tria em geral Isso ocorre por meio de um aumento de preços E por tanto o homem de negócios que deve antever e estimar a alta de preços no mercado de bens de produção que se segue ao seu apareci mento não pode simplesmente incluir em seus cálculos os salários e rendas anteriores mas deve acrescentar um montante apropriado de modo que ainda um terceiro item deve ser deduzido Apenas se as receitas excederem as despesas após o abatimento dos três conjuntos de mudanças é que haverá um excedente sobre os custos Essas três condições cumpriramse na prática inumeráveis vezes Isso prova a possibilidade de um excedente sobre os custos113 Todavia obviamente não se cumprem sempre e quando não o fazem e o fato é previsto o novo negócio não é organizado se esse fato não for previsto não resulta nenhum excedente mas perda Se as condições forem cum pridas contudo o excedente realizado é ipso facto um lucro líquido Pois os teares geram um produto físico maior do que poderiam gerar com o método anterior os serviços da terra e do trabalho neles contidos embora no caso de preços constantes dos bens de produção e dos pro dutos esse último método também permitisse que a produção fosse realizada sem perda Além disso os teares obviamente estão disponíveis para o nosso empresário pelo preço de custo desprezamos a possi SCHUMPETER 131 111 Aqui partimos do exemplo de Lauderdale para permanecermos fiéis a toda a nossa concepção do processo e ao mesmo tempo à realidade 112 Esse seria o caso da concorrência completamente livre para cujo conceito é necessário que nenhuma empresa seja forte o suficiente para influenciar os preços pela sua própria ação sobre a oferta e a demanda 113 Devese notar que nessa afirmação não há um apelo à realidade de um fenômeno ainda a ser explicado do tipo encontrado em muitos representantes da teoria da produtividade em relação ao fato do juro Quanto ao resto uma maior fundamentação virá depois bilidade de patenteamento por julgála incompreensível sem outras con siderações Assim tem origem uma diferença entre as receitas que são determinadas de acordo com os preços que eram de equilíbrio ou seja o custo quando só o trabalho manual estava sendo utilizado e as despesas que agora são essencialmente menores por unidade de produto do que para os outros estabelecimentos E essa diferença não precisa ser aniqui lada pelas mudanças de preços ocasionadas pelo aparecimento do indivíduo em questão pelo lado da demanda e da oferta Isso é tão claro que podemos dispensar uma formulação mais rigorosa desse ponto Mas agora vem o segundo ato do drama O encanto está quebrado e os novos estabelecimentos estão surgindo continuamente sob o im pulso dos lucros sedutores Ocorre uma reorganização completa da in dústria com aumento de produção luta concorrencial superação dos estabelecimentos obsoletos possível demissão de trabalhadores etc Cuidaremos melhor desse processo mais adiante Apenas uma coisa nos interessa aqui o resultado final deve ser uma nova posição de equilíbrio na qual com os novos dados reine novamente a lei do custo de modo que os preços dos produtos agora sejam de novo iguais aos salários e rendas dos serviços do trabalho e da terra que estão incor porados nos teares mais os salários e rendas dos serviços do trabalho e da terra que ainda devem colaborar com os teares para que o produto possa vir a existir O incentivo a produzir mais e mais produtos não cessará antes que se alcance essa condição nem antes que o preço caia como resultado do crescimento da oferta Conseqüentemente o excedente do empresário em questão e de seus seguidores imediatos desaparece114 Não em seguida é verdade mas em regra apenas após um período maior ou menor de diminuição progressiva115 Não obstante o excedente é realizado constitui em dadas condições um montante definido de retornos líquidos mesmo que apenas temporários Ora a quem caberá ele Obviamente aos in divíduos que introduziram os teares no fluxo circular não aos meros inventores mas também não aos meros produtores ou usuários deles Aqueles que os produzem sob encomenda apenas receberão seu preço de custo aqueles que os empregam de acordo com as instruções os comprarão tão caro de início que dificilmente receberão algum lucro O lucro caberá àqueles indivíduos cuja façanha seja introduzir os teares quer os produzam e usem quer apenas os produzam ou apenas os usem Em nosso exemplo a grande importância associase ao emprego mas isso não é essencial A introdução é realizada pela fundação de novos estabelecimentos quer para a produção quer para o emprego ou para ambos Com o que os indivíduos em consideração contribuíram para isso Apenas com a vontade e a ação não com bens concretos OS ECONOMISTAS 132 114 Cf BÖHMBAWERK Loc cit p 174 115 Para simplificar porém a exposição confinamos o processo em geral a um período econômico pois compraram estes de outros ou de si mesmos não com poder de compra com o qual os compraram pois tomaram este emprestado de outros ou se também levarmos em consideração a aquisição em períodos anteriores de si mesmos E o que fizeram Não acumularam nenhuma espécie de bens não criaram nenhum meio de produção original mas empregaram os meios de produção existentes de modo diferente mais apropriadamente de maneira mais vantajosa Eles realizaram novas combinações São empresários E o seu lucro o excedente ao qual não corresponde nenhuma obrigação é um lucro empresarial Assim como a introdução de teares é um caso especial da intro dução de maquinaria em geral também a introdução de maquinaria é um caso especial de todas as mudanças no processo produtivo no sentido mais amplo cujo objetivo é produzir uma unidade de produto com menos dispêndio e assim criar uma discrepância entre o seu preço existente e seus novos custos Muitas inovações na organização dos negócios e todas as inovações nas combinações comerciais se incluem nisso Para todos esses casos se pode repetir o que foi dito palavra por palavra A introdução de estabelecimentos industriais de larga es cala num sistema econômico no qual eram anteriormente desconhe cidos é representativa do primeiro grupo Num negócio em larga escala são possíveis um arranjo mais adequado e uma utilização dos fatores de produção melhor do que em negócios menores e além disso é possível a escolha de uma localização mais favorável Mas a introdução de ne gócios de larga escala é difícil Em nossas proposições todas as condições necessárias estão faltando trabalhadores pessoal treinado condições necessárias de mercado Resistências inumeráveis de caráter político e social trabalham contra E a organização em si mesma ainda des conhecida requer uma capacidade especial para ser construída Con tudo se alguém tem em si o que faz parte do sucesso nessas circuns tâncias e se pode obter o crédito necessário então pode colocar uma unidade de produto no mercado a um preço mais baixo e se as nossas três condições se realizaram terá um lucro que ficará em seu bolso Mas também triunfou para os outros abriu o caminho e criou um modelo para os que podem copiar Podem e vão seguilo primeiramente os indi víduos e depois multidões inteiras Novamente ocorre aquele processo de reorganização que deve resultar na aniquilação do excedente sobre os custos quando a nova forma de negócio tiver se tornado parte do fluxo circular Mas anteriormente foram feitos lucros Repetindo esses indiví duos não fizeram nada mais do que empregar os bens existentes com maiores efeitos realizaram novas combinações e são empresários no sen tido que lhes damos O seu ganho é um lucro empresarial Como exemplo dos casos de combinações comerciais podese citar a escolha de uma fonte nova e mais barata para o fornecimento de um meio de produção talvez uma matériaprima Essa fonte de for necimento não existia anteriormente para o sistema econômico Não SCHUMPETER 133 existia nenhuma conexão direta e regular com o seu país de origem se fosse estrangeira por exemplo nem linha de navegação a vapor nem correspondentes estrangeiros A inovação é arriscada impossível para a maioria dos produtores Mas se alguém estabelece um negócio relacionado com essa fonte de fornecimento e tudo vai bem então pode produzir uma unidade de produto de modo mais barato ao passo que de início os preços vigentes continuam substancialmente a existir Então tem um lucro De novo não contribuiu com nada mais do que vontade e ação não fez nada mais do que recombinar fatores existentes De novo se trata de um empresário seu lucro é lucro empresarial E novamente este último e também a função empresarial enquanto tal aparece no vórtice da concorrência que segue atrás deles Vem aqui o caso da escolha de novas rotas de comércio Análogo aos casos de simples aperfeiçoamento do processo de produção é o caso da substituição de um bem de produção ou consumo por outro que serve para o mesmo propósito ou aproximadamente ao mesmo sendo porém mais barato Exemplos concretos são oferecidos pela substituição parcial da lã pelo algodão no último quartel do século XVIII e por toda a produção de substitutos Esses casos devem ser tratados exatamente como os que acabamos de mencionar A diferença de que os novos produtos aqui certamente não trarão os mesmos preços que os anteriormente produzidos na indústria em consideração é apenas de grau como pode facilmente ser visto Quanto ao resto vale exata mente o mesmo Novamente é irrelevante se os indivíduos em questão produzem eles próprios o novo bem de produção ou de consumo ou se apenas o usam ou dele dispõem conforme seja o caso e o retiram com esse propósito de seus possíveis usos existentes Aqui também esses indivíduos não contribuem nem com bens nem com poder de compra Aqui também têm entretanto um lucro que está ligado à realização de novas combinações Reconhecemolos conseqüentemente como em presários Aqui também o lucro não durará muito A criação de um novo bem que satisfaça mais adequadamente as necessidades existentes e anteriormente satisfeitas é um caso um tanto diferente A produção de instrumentos musicais aperfeiçoados é um exem plo Nesse caso a possibilidade de lucro repousa no fato de que o preço mais alto recebido por uma mercadoria melhor excede os seus custos que são do mesmo modo mais altos na maioria dos casos É fácil convencerse de sua existência Além disso a adaptação de nossas três condições a esse caso não apresenta dificuldades e pode ser deixada ao leitor Se existe um excedente e portanto ocorre a introdução de melhores instrumentos então aqui também se manifestará uma tendência à reorganização da indústria que finalmente restaurará a vigência da lei dos custos Assim também aqui há claramente uma nova combinação dos fatores existentes uma ação empresarial e um lucro empresarial mesmo que não sejam permanentes Uma combinação do caso da melhor satisfação de uma ne OS ECONOMISTAS 134 cessidade com o caso do custo mais baixo por unidade de produto seguindose ao aparecimento de um aumento muito grande da deman da é apresentada pelo exemplo da construção de ferrovias e canais A busca de novos mercados nos quais um artigo ainda não tenha se tornado familiar e no qual não é produzido é uma fonte extraordi nariamente rica de lucro empresarial e antigamente era muito dura doura Os lucros de comércio primitivos entram aqui e a venda de contas de vidro para uma tribo de negros pode servir de exemplo O essencial do problema é que a nova mercadoria é valorizada pelos compradores como ocorre com as dádivas da natureza ou os quadros dos velhos mestres ou seja o seu preço é determinado sem que se leve em consideração o custo de produção Daí a possibilidade de se vender acima dos custos incluindo todos os gastos ligados à superação das inumeráveis dificuldades da aventura A princípio apenas uns pou cos vêem o novo empreendimento e são capazes de realizálo Esta também é uma ação empresarial a realização de uma combinação nova e rende um lucro que permanece no bolso do empresário É verdade que a fonte seca mais cedo ou mais tarde Hoje em dia logo passaria a existir uma organização apropriada e o comércio de contas de vidro muito em breve não mais daria lucro O que foi dito acima abrange ao mesmo tempo o caso da produção de um bem completamente novo Um tal bem deve antes de tudo ser imposto aos consumidores talvez até ser dado gratuitamente Uma série de obstáculos aparece Mas quando estes são superados e os con sumidores são atraídos pela mercadoria seguese um período de de terminação do preço com base somente na valorização direta e sem levar muito em consideração os custos que aqui também consistem fundamentalmente nos preços dos serviços necessários do trabalho e da terra vigentes até então Assim pode existir um excedente que permaneça nas mãos dos produtores bemsucedidos Estes são nova mente empresários que apenas contribuíram com a vontade e a ação e apenas realizaram combinações novas dos fatores produtivos exis tentes Novamente há um lucro empresarial E esse desaparece de novo quando a nova mercadoria se torna parte do fluxo circular e o seu preço se coloca na relação normal com os custos Esses exemplos nos apresentam a natureza do lucro como resul tado da realização de novas combinações Mostramnos também como se pode imaginar esse processo essencialmente como o emprego novo de bens de produção existentes O empresário não poupa para obter os meios de que necessita nem acumula qualquer bem antes de começar a produzir Ademais quando um negócio não é estabelecido de uma vez em sua forma definitiva mas se desenvolve lentamente a questão não é tão diferente quanto se poderia crer Se a força do empresário não se exaurir em um projeto e ele ainda continuar a con duzir o mesmo negócio então procederá a novas mudanças que serão SCHUMPETER 135 sempre empreendimentos de acordo com a nossa terminologia fre qüentemente com meios retirados de seus lucros passados O processo então parece ser diferente mas sua natureza é a mesma O mesmo é correto se um novo empreendimento é iniciado por um produtor na mesma indústria e está ligado à sua produção anterior Essa não é de modo algum a regra os novos empreendimentos são em sua maior parte fundados por homens novos e os negócios antigos submergem na insignificância Mas mesmo que um indivíduo que an teriormente conduziu o seu negócio através da reposição anual de sua parte no fluxo circular se torne um empresário nenhuma mudança se verifica na natureza do processo O fato de que nesse caso o próprio empresário já tenha os meios de produção necessários em parte ou totalmente ou conforme o caso possa pagar por eles com os recursos auferidos de seu negócio não muda a sua função de empresário É verdade que então nossa concepção não se ajusta aos fatos em todos os detalhes O novo empreendimento ainda coexiste com os outros ne gócios que de início continuam a operar da maneira usual mas não aumenta a demanda de meios de produção nem oferece necessariamente novos produtos Entretanto só organizamos assim a nossa explicação porque o caso mais importante o exige na prática e porque ela nos mostra o princípio do problema e especialmente o fato de que os novos negócios não precisam se originar diretamente dos antigos Interpretada apropriadamente ela também se ajusta a esse caso no essencial Aqui também se trata apenas da realização de novas combinações e nada mais O empresário nunca é aquele que corre o risco116 Em nosso exemplo isso está bem claro Quem concede crédito sofre os reveses se a empresa fracassar Pois embora qualquer propriedade possuída pelo empresário possa responder pelos prejuízos no entanto essa posse de riqueza não é essencial embora vantajosa Mas mesmo que o empresário se autofinancie pelos lucros anteriores ou que contribua com os meios de produção per tencentes ao seu negócio estático o risco recai sobre ele enquanto ca pitalista ou possuidor de bens não enquanto empresário Correr riscos não é em hipótese nenhuma um componente da função empresarial Mes mo que possa arriscar sua reputação a responsabilidade econômica direta do fracasso não recai nunca sobre ele Podese agora observar brevemente que o lucro tal como é aqui concebido é o elemento principal do fenômeno descrito como lucro do fundador promoters profit117 Além disso seja o que for o lucro do OS ECONOMISTAS 136 116 Cf capítulo II p 74 et seqs 117 Na verdade promoters profit seria mais bem traduzido por lucro do empresário não fosse a especificidade do conceito de empresário na obra de Schumpeter Lucro do fundador também não é uma boa solução por sua tendência a provocar confusão com a obra de Hilferding em que o conceito de lucro do fundador é bem particular e nada tem a ver com o promoters profit de Schumpeter Optei no entanto por esse termo por me parecer mais adequado ao que o autor tem em mente N do T fundador sua base é o excedente temporário das receitas sobre os custos de produção num novo empreendimento Na verdade o fundador pode ser como vimos o tipo mais puro do gênero empresário É então o empresário que se confina mais estritamente à função empresarial característica a realização de novas combinações Se durante a fun dação de um negócio tudo se desenrolasse corretamente com perfeição ideal e com previsão de todos os aspectos o lucro seria o que perma necesse nas mãos do fundador É claro que na prática é muito diferente Mas isso ainda fornece o princípio da questão É verdade que isso se aplica apenas ao fundador real e não ao agente que às vezes executa o trabalho técnico de organizar uma companhia e freqüentemente tam bém recebe essa designação Este último recebe apenas uma remune ração que tem o caráter de salário Finalmente na maioria dos casos nem tudo de novo que é criado numa companhia fica perfeito com sua promoção Pelo contrário seus dirigentes muitas vezes se dedicam continuamente a novos empreendimentos com o que dão seqüência então ao papel do fundador original e são empresários qualquer que seja sua posição oficial dentro da companhia Se supusermos todavia que a companhia uma vez fundada é simplesmente posta a funcionar então o fundador é o único que exerce atividade empresarial em relação a esse negócio Suponhamos que os preços dos meios de produção118 sejam representados por títulos que os rendimentos maiores capitali zados pelas fontes duradouras de ganho associadas ao empreendimento sejam representados por ações e que também haja ações do fundador que lhe são transferidas gratuitamente Então essas ações do fundador não produzirão um rendimento duradouro mas apenas trarão ao fun dador aquele excedente temporário que existe antes que o empreen dimento seja incorporado pelo sistema econômico e então se tornarão sem valor Num tal caso o lucro apareceria em sua forma mais pura Essa imagem do lucro deve ser agora mais bem elaborada E isso se dá ao nos fazermos a pergunta do que corresponde a esse fenômeno numa outra forma de sociedade que não a capitalista A economia mercantil simples ou seja a espécie de sistema econômico na qual há troca de produtos mas na qual o método capitalista é desconhecido não nos oferece nenhum problema novo para resolver Nas unidades de uma tal sociedade deve haver uma espécie diferente de poder de disposição sobre os meios de produção em relação ao qual a economia de trocas possa ser tratada como no caso que tomaremos a seguir Quanto ao resto vale o mesmo que para o sistema capitalista Portanto para evitar repetições voltarmeei para a economia simples nãomercantil SCHUMPETER 137 118 Ou seja falando de modo estrito os preços dos meios de produção que constituem o material do investimento que correspondem aos seus valores em seus empregos até então vigentes sem considerar o novo em questão mesmo que na prática fosse preciso pagar mais na maioria dos casos Aqui entram em consideração dois tipos de organização O primeiro é o de uma propriedade senhorial isolada na qual a maior parte dos meios de produção pertencem ao senhor e todas as pessoas estão sujeitas a ele O segundo é o de uma sociedade comunista isolada na qual o órgão central dispõe de todos os bens materiais e serviços do trabalho e expressa todos os julgamentos de valor A princípio ambas as formas podem ser tratadas em comum Em ambas alguns indivíduos têm controle absoluto sobre os meios de produção Não esperam das outras unidades econômicas nem cooperação na produção nem a oferta de possibilidades de se fazer lucros O mundo dos preços não existe e só o dos valores permanece Assim quando passamos da consideração de nossos exemplos à análise de uma economia nãomercantil começamos a investigação dos fenômenos do valor que estão na base do lucro Sabemos que aqui também há um fluxo circular no qual a lei do custo é a norma estrita no sentido de igualdade entre o valor dos produtos e o valor dos meios de produção e de que aqui também o desenvolvimento econômico no sentido que lhe damos só é obtido na forma da realização de novas combinações dos bens existentes Poder seia pensar que a acumulação de estoques de bens seria necessária aqui e formaria uma função especial O primeiro ponto é correto em parte nem sempre é verdade mas com freqüência a acumulação de estoques é um passo em direção ao fim da realização de novas com binações Mas nunca constitui uma função especial à qual possam se ligar fenômenos especiais relativos ao valor Um emprego diferente dos bens é simplesmente prescrito pelo dirigente ou pelo órgão diretor do sistema É completamente irrelevante se o resultado desejado é alcançado diretamente ou apenas indiretamente através de um estágio preparatório de acúmulo de estoques É do mesmo modo irrelevante se todos os participantes individualmente concordam com os novos ob jetivos e estão dispostos a empreender a acumulação de estoques Os dirigentes não fazem nenhum sacrifício e não tomam conhecimento de um possível sacrifício temporário dos dirigidos se e enquanto as rédeas permanecerem firmes em suas mãos Se a execução de planos de longo alcance diminuir o consumo presente das pessoas liberadas o que não é necessário mas é possível estes últimos se oporão àqueles se puderem119 Sua oposição pode tornar esses planos impos síveis Mas deixando isso de lado eles não têm nenhuma influência econômica e direta no que pode acontecer em particular não é seu serviço voluntário a contração do consumo e a acumulação de estoques OS ECONOMISTAS 138 119 Pois terão em vista apenas a perda imediata enquanto o ganho futuro possivelmente tem tão pouca realidade como se não fosse existir nunca Isso se aplica a todos os estágios da civilização de que temos algum conhecimento através da história o elemento força nunca esteve ausente quando se tratava de uma questão de desenvolvimento que pressupusesse a cooperação de grandes massas Em muitos casos é verdade não foi exigido do povo nenhum sacrifício Portanto isso também não implica nenhuma função especial que deva ser inserida em nosso esboço do processo de desenvolvimento Se o dirigente prometer um prêmio ao povo não significa mais do que quan do um general promete aos seus soldados alguma remuneração especial é um presente com a intenção de tornar o povo mais dócil mas não faz parte da essência do problema e não constitui nenhuma categoria especial puramente econômica Assim a diferença entre o senhor e o dirigente de uma economia comunista é apenas de grau Não constitui nenhuma diferença fundamental o fato de que de acordo com a idéia de uma sociedade comunista as vantagens conseguidas devam ir para toda a comunidade enquanto o senhor possivelmente só tem em vista os seus próprios interesses Daí também se segue que o elemento tempo não pode ter aqui nenhuma influência independente É verdade que os dirigentes devem comparar o resultado da combinação escolhida não só com o resultado que os mesmos fatores produtivos poderiam produzir no mesmo tempo em seu método de emprego anterior mas também com os resultados de outras combinações novas que poderiam ser realizadas alternativa mente com os mesmos meios E se estas últimas requererem menos tempo devese ter em conta os resultados de tantas outras combinações quantas as que poderiam ser realizadas no tempo poupado na esti mativa da importância relativa dos métodos concorrentes Portanto o elemento tempo certamente aparecerá numa economia nãomercantil enquanto no sistema capitalista sua influência é expressa pelo item juro como veremos mais tarde Isso todavia é evidente por si só Mesmo aqui o tempo não desempenha nenhum outro papel por exem plo não transforma em fatores especiais a necessidade de esperar ou o desejo menor por prazeres futuros Só se espera de má vontade porque e na medida em que se pode fazer algo nesse meio tempo Prazeres futuros só parecem menores porque quanto mais longe no futuro está a sua realização maiores se tornam as deduções sob a rubrica de prazeres realizáveis em outra parte Assim o dirigente de tal comunidade qualquer que seja sua po sição retira uma certa quantidade de meios de produção de seus usos anteriores e realiza com eles uma nova combinação por exemplo a produção de um novo bem ou a produção por um método melhor de um bem já conhecido No último caso é bastante irrelevante se ele retira os meios de produção necessários do ramo da indústria que até então manufaturava a mesma mercadoria ou se permite que as em presas existentes continuem a funcionar da maneira habitual e começa a produzir lado a lado com elas com o novo método e retira os meios de produção necessários de ramos da indústria bastante diferentes Os novos produtos serão ex hypothesi de valor maior do que os produzidos anteriormente pelas mesmas quantidades de meios de produção de qualquer modo que sejam formadas as avaliações em tal sociedade SCHUMPETER 139 Como procede o processo de imputação em relação aos novos produtos No momento em que se completa a combinação e os novos produtos passam a existir é determinado o seu valor Como se formarão os valores dos fatores que participaram É melhor ainda escolher o mo mento em que se toma a decisão de realizar a nova combinação e supor que tudo acontece exatamente de acordo com a decisão Antes de tudo deve ser feita pelos produtores uma avaliação o valor dos novos produtos deve ser comparado com o valor dos produtos que os mesmos meios de produção vinham produzindo até então no fluxo circular normal Essa avaliação é perfeitamente necessária para se fazer qualquer estimativa da vantagem da nova combinação e sem ela não seria possível nenhuma ação A questão central para o nosso problema agora é saber qual dos dois valores alternativos que podem ser produzidos pelos meios de produção será imputado a estes últimos O que está claro antes de ser tomada a decisão quanto à realização da nova combinação apenas o valor que corresponde ao emprego antigo Pois não haveria sentido em imputar antes o valor excedente da nova combinação aos meios de produção uma vez que a realização desta então não apareceria mais como uma vantagem e a base para a com paração necessária dos valores nos dois usos estaria perdida Mas como fica a questão uma vez que a decisão tenha sido tomada O ganho total em satisfação não deveria ser imputado no sentido mengeriano120 aos meios de produção justamente como no fluxo circular uma vez que agora eles realizam um valor maior de modo que se tudo funcionar com perfeição ideal todo o valor dos novos produtos refletirseá nos meios de produção usados Respondo que não e afirmo que mesmo aqui os serviços do tra balho e da terra devem ser estimados por seus valores antigos e pelas duas seguintes razões Primeiro os valores antigos são familiares Lon ga experiência os determinou e eles estão estabelecidos nas consciências dos indivíduos Só são alterados com o correr do tempo e sob a pressão de mais uma longa experiência Seus valores são estáveis em alto grau ainda mais se os próprios serviços do trabalho e da terra não mudaram Os valores dos novos produtos pelo contrário permanecem tão fora do sistema de valores existentes quanto os preços dos novos produtos no sistema capitalista Não estão ligados de modo contínuo aos valores antigos mas estão discretamente separados Daí a justificativa do mé todo de interpretação121 de acordo com o qual a qualquer bem produtivo só é atribuído o valor que realizaria num outro emprego que não o efetivamente seu Pois apenas esse valor qual seja em nosso caso seu valor vigente até aqui depende dos meios de produção concretos OS ECONOMISTAS 140 120 Cf WIESER Natürlicher Wert p 70 et seq 121 Com o qual não concordo inteiramente cf Wesen Livro Segundo Bemerkungen über das Zurechnungsproblem In Zeitschrift für Volkswirtschaft Sozialpolitik und Verwaltung 1909 Se deixassem de existir seriam substituídos por outras unidades desses outros empregos Nenhuma unidade de uma mercadoria pode ter valor mais alto do que outra unidade idêntica se elas existem simultanea mente Ora os serviços do trabalho e da terra empregados na nova combinação e os empregados simultaneamente são homogêneos se não o fossem haveria de fato uma diferença de valor mais facilmente explicável sem afetar o princípio e portanto não podem ter valores diferentes entre si Mesmo no caso extremo se todas as forças produ tivas do sistema econômico fossem postas a serviço da nova combinação teriam que ser investidas nesse estágio pelos valores até então vigentes Em caso de fracasso tais valores poderiam ser recuperados novamente e sobre os mesmos se basearia a dimensão das perdas se aquelas forças fossem completamente aniquiladas Portanto a realização bem sucedida de novas combinações também resulta num valor excedente numa economia nãomercantil não apenas na capitalista e de fato um valor excedente no sentido de uma quantidade de valor para a qual não há nenhum direito correspondente de imputação pelos meios de produção não meramente um excedente de satisfação comparado à posição anterior Como podemos também apresentálo o valor exce dente122 no desenvolvimento não é apenas um fenômeno privado mas também social e até agora é em todos os aspectos a mesma coisa que o lucro empresarial capitalista que vimos anteriormente Em segundo lugar o mesmo resultado pode ser alcançado com uma outra abordagem A atividade empresarial do dirigente que de fato é uma condição necessária para a realização da combinação pode ser concebida como um meio de produção Não a concebo comumente assim porque há mais interesses no contraste entre empresário e meios de produção Mas aqui esse método de consideração presta um bom serviço Portanto vamos estabelecer por enquanto a função de liderança como terceiro fator produtivo original Então fica claro que alguma parte do valor dos novos produtos lhe deve ser imputada Mas quanto O dirigente e os meios de produção são igualmente necessários e o valor excedente dos novos produtos como um todo depende da coope ração de ambos Isso não requer nenhum comentário a mais e não é contraditório com o que disse no parágrafo precedente As dimensões apropriadas de todas as categorias de valor só são determinadas pela força da concorrência seja de bens seja de indivíduos Já que essa segunda espécie de concorrência não existe numa economia nãomer cantil e como nesta a diferença entre o que é e o que não é lucro é também de significado muito menor do que numa economia de trocas como logo veremos o seu valor não apareceria sempre com a mesma SCHUMPETER 141 122 Somente esse excedente que aparece como lucro e juro sobre o capital do ponto de vista econômico privado pode ser descrito como valor excedente no sentido marxiano Não existe nenhum outro excedente clareza com que acontece quando a diferença é muito essencial Mas não obstante podemos especificar na maioria dos casos quanto deve ser imputado à função do empresário Na maioria dos casos como dissemos os meios de produção são substituíveis mas não o dirigente123 Portanto aos primeiros será imputado aquele valor que estará perdido na eventualidade de ser necessária uma substituição e à função de liderança será atribuído o restante À função de liderança é imputado o valor dos novos produtos menos o valor que poderia ser realizado sem ela Portanto o excedente aqui corresponde a um direito especial à imputação e portanto não pode em nenhum caso avolumar o direito que se origina nos meios de produção Quanto a isso não se deve esquecer contudo que não seria muito correto se falássemos sempre da imputação do valor até então vigente aos meios de produção O valor marginal de fato cresce nos usos an teriores em conseqüência de se retirar deles os meios de produção Já observamos o mesmo fenômeno no sistema capitalista O aumento dos preços dos meios de produção em conseqüência da nova demanda dos empresários no sistema capitalista corresponde exatamente a esse processo de estimativa dos valores Nosso modo de expressar deve ser corrigido de acordo com isso Todavia nada muda no fundamental Esse aumento do valor não deve ser confundido evidentemente com a imputação aos meios de produção no valor devido ao desenvolvimento Ninguém pode afirmar que o processo de estimativa dos valores descrito acima não seja real e que o lucro enquanto dimensão especial de valor não teria nenhum sentido numa economia nãomercantil Mes mo uma economia nãomercantil deve saber exatamente o que está fazendo que vantagem suas novas combinações proporcionam e tam bém a que se deve atribuir essa vantagem Podese afirmar contudo que o lucro não tem nenhum significado enquanto categoria distribu tiva numa economia nãomercantil Em certo sentido isso é verdade Na economia nãomercantil do tipo feudal o senhor de fato pode dispor livremente da quantidade de produto correspondente ao seu serviço mas nela o senhor pode dispor livremente de todos os rendimentos pode dar aos trabalhadores mais ou também menos do que corresponde à sua produtividade marginal Na economia do tipo comunista o lucro cabe inteiramente ao povo como um todo ao menos em teoria Isso em si não nos diz respeito Mas não se pode inferir daí especialmente para a economia comunista que o lucro seja absorvido nos salários que a realidade elimine a teoria do valor e que os salários abranjam todo o produto Não é preciso distinguir a natureza econômica de um rendimento daquilo que acontece a este A natureza econômica de um OS ECONOMISTAS 142 123 Mesmo que a atividade do dirigente concorra com um meio de produção insubstituível perdura um excedente de valor em favor do primeiro Pois no momento da introdução da inovação ao último só deve ser atribuído o seu valor até então vigente rendimento se apóia sobre um serviço produtivo Nesse sentido cha mamos de salário o rendimento que é imputado a um serviço do tra balho Em livre concorrência numa economia de trocas esse rendi mento vai para o trabalhador mas apenas porque o princípio da livre concorrência é a remuneração de acordo com a significação marginal Isso ocorre necessariamente apenas no sentido de que precisamente no sistema capitalista esse salário é que suscita o esforço Se se asse gurasse o esforço por outro método pelo sentimento de dever social ou talvez pela coerção o trabalhador poderia receber menos mas o seu salário seria não obstante determinado pela produtividade mar ginal do trabalho e o montante em que sua remuneração estivesse abaixo disso deveria ser classificado como uma dedução de seu salário econômico Essa dedução também seria salário no mesmo plano que o do salário pago ao trabalhador Numa sociedade comunista o dirigente certamente não receberia lucro E decididamente não se pode afirmar que isso tornaria o desenvolvimento impossível Pelo contrário é pos sível que as pessoas numa tal organização eventualmente pensassem tão diferentemente que não reivindicariam o lucro mais do que um estadista ou um general desejariam conservar para si totalmente ou em parte o espólio da vitória Mas o lucro permaneceria lucro Que não seria possível caracterizálo como salário do trabalho podese ver pela adaptação do argumento da formulação clássica de BöhmBawerk com relação ao juro124 Isso também se aplica à renda da terra na qual do mesmo modo a natureza e o valor da contribuição produtiva da terra devem ser distintos da receita recebida pelos indivíduos particulares125 O lucro seria designado como salário de quais trabalhadores São concebíveis duas respostas a essa questão Em primeiro lugar podese dizer como parte do salário dos trabalhadores que trabalharam no novo produto Ora isso não pode ser Pois então esses trabalhadores receberiam ex hypothesi salários mais altos do que os seus companheiros Estes úl timos porém não executam menos trabalho nem trabalho de qualidade inferior de modo que se aceitarmos essa possibilidade entraremos em conflito com um princípio econômico fundamental que proíbe que partes diferentes de bens homogêneos tenham valores diferentes À parte a in justiça que residiria nessa medida seriam evidentemente criados por ela trabalhadores privilegiados O arranjo é possível mas o excedente recebido por esses trabalhadores não seria salário A outra resposta concebível é os valores que chamamos de lucro e os montantes de produto a eles correspondentes simplesmente cons tituem uma parte do dividendo nacional e devem ser distribuídos igual mente por todos os serviços do trabalho com que se contribuiu no período econômico em questão supondose a homogeneidade dos ser SCHUMPETER 143 124 Positive Theorie capítulo final 125 Cf Wesen Livro Terceiro viços ou conforme o caso levandose em conta as disparidades por algum modo aprovado Nesse caso os trabalhadores que não tiverem trabalhado nos novos produtos recebem mais do que o produto de seu trabalho Nunca foi ainda associado um significado econômico a um salário que fosse maior do que o valor produzido total Portanto será fácil admitir que nesse caso os trabalhadores recebem a sua parte não inteiramente enquanto um salário econômico mas parcialmente a tí tulo nãoeconômico Seguramente esse arranjo também é possível e igualmente muitos outros A comunidade deve de fato dispor de algum modo de seu lucro assim como de todos os outros rendimentos Deve dispor dele em favor dos trabalhadores uma vez que não há mais ninguém com direito a ações Quanto a isso pode proceder de acordo com os princípios mais variados pode por exemplo distribuir segundo a intensidade da necessidade ou desenvolver os objetivos gerais sem distribuílo Mas isso nada altera nas categorias econômicas No fluxo circular normal não é possível aos trabalhadores tampouco à terra receber direta ou indiretamente mais do que o seu produto econômico pois não existe mais Se isso é possível em nosso caso é somente porque algum outro agente não recebe o seu produto Se definirmos a ambígua expressão exploração de modo que a exploração ocorra quan do um agente necessário da produção ou o seu possuidor conforme seja o caso receber menos do que o seu produto no sentido econômico então podemos dizer que esse pagamento extra aos trabalhadores só é possível pela exploração dos dirigentes Se restringimos essa expres são ao caso em que algum serviço pessoal é privado de seu produto para impedir a aplicação à terra do conceito de exploração pois considerando a inexistência de senhores da terra na sociedade comu nista a expressão estaria aí fora de lugar ainda podemos dizer que ocorre a exploração dos dirigentes seguramente sem querer ex primir nenhum julgamento moral Portanto o lucro não se torna salário no sentido econômico nem mesmo se for distribuído totalmente para os trabalhadores É impor tante na prática para um sistema comunista reconhecer isso claramente e sempre separar o lucro dos salários Pois a compreensão geral de sua vida assim como as decisões quanto a questões concretas dependem manifestamente de tal reconhecimento Toda essa consideração nos mostra a independência do fenômeno em relação à forma concreta da organização econômica E então há uma verdade geral o lucro enquanto um fenômeno do valor especial e independente está vinculado funda mentalmente ao papel de liderança no sistema econômico Se o desen volvimento não requisesse nenhuma direção nem nenhuma força então o lucro existiria seria uma parte dos salários e rendas mas não seria um fenômeno sui generis Na medida em que não é esse o caso ou seja na medida em que a maioria das pessoas tenham a mais ligeira semelhança com as massas de todas as nações das quais temos algum OS ECONOMISTAS 144 conhecimento então nem todo o rendimento pode ser imputado aos serviços do trabalho e da terra mesmo no caso idealmente perfeito de um processo econômico sem fricções e intemporal126 Mas também na economia nãomercantil o lucro não vive eter namente Aqui também necessariamente aparecem mudanças que lhe põem um fim A nova combinação é realizada seus resultados estão à mão todas as dúvidas são silenciadas as vantagens e ao mesmo tempo a maneira de obtêlas são portanto evidentes Há ainda ne cessidade no máximo de um gerente ou de um chefe mas não do poder criativo de um dirigente Só é necessário repetir o que foi feito antes para obter as vantagens equivalentes E isso pode e vai ser feito sem um dirigente Mesmo que ainda seja preciso superar resistências oriundas das fricções o problema tornouse essencialmente diferente e mais fácil As vantagens se tornaram realidade para todos os membros da comunidade e os novos produtos uniformemente distribuídos no tempo estão continuamente ante seus olhos estes os liberam no sen tido do que dissemos sobre esse ponto no capítulo I de todo sacrifício ou necessidade de esperar pelo término de mais produtos Não se espera mais que o sistema econômico avance mas apenas que assegure a continuidade da corrente de bens existente Podemos esperar isso dele Então o novo processo de produção se repetirá127 E para isso a atividade empresarial não é mais necessária Se a concebermos de novo como um terceiro fator produtivo podemos então dizer que na mera repetição das novas combinações já familiares desaparece um dos fatores de produção que eram necessários para realizálas inicial SCHUMPETER 145 126 Uma palavra sobre o argumento tão freqüentemente ouvido hoje em dia de que o empresário nada produz e a organização produz tudo de que nenhum produto de alguém é dele mesmo mas do todo social No fundo disso está a verdade de que cada um é produto de seu meio ambiente pessoal herdado e que ninguém pode produzir nada sem que existam condições Mas não podemos fazer nada com isso no reino da teoria em que o interesse não é moldar os homens mas os homens já formados Até os representantes dessa interpretação respon deriam rispidamente de modo afirmativo à questão de saber se a iniciativa individual tem uma função Além disso é preciso e correto em relação aos fenômenos secundários do desenvolvimento Quanto ao resto é baseado meramente no preconceito popular de que apenas o trabalho físico é realmente produtivo e na impressão de que todos os elementos do desenvolvimento funcionam harmoniosamente juntos e cada fase do desenvolvimento tem como base as fases precedentes Isso contudo é o resultado do desenvolvimento que já foi colocado em movimento e nada explica O princípio de seu mecanismo é a questão principal 127 Poderseia objetar que se a inovação se afastar demais dos métodos habituais a compulsão ainda será necessária Devemos estabelecer a seguinte diferença Primeiramente num tal caso ela ainda não foi compreendida e não se tornou familiar Então a nova combinação simplesmente não é realizada ainda Supomos que isso tenha acontecido e que possa durar um tempo indefinidamente longo Depois disso a compulsão do tipo inerente à organização especialmente ao nível dos trabalhadores das classes mais altas e mais baixas certamente será sempre necessária Mas é algo diferente da compulsão para realizar coisas novas Finalmente na organização feudal pode estar ligado à inovação um dano direto às massas Então também é necessária a compulsão para que ela seja realizada Mas isso também é uma coisa diferente Para a manutenção de algo já existente não é necessário o nosso modelo de dirigente mas apenas um governante mente Ao mesmo tempo o direito à imputação a ele associado é abolido e os valores dos outros ou seja dos serviços do trabalho e da terra aumentam até que esgotem o valor do produto Apenas estes são agora necessários eles sozinhos criam o produto A imputação é só para eles em primeiro lugar para os serviços do trabalho e da terra que são efetivamente usados na produção dada mas subseqüentemente de acordo com princípios bem conhecidos igualmente para todos Os va lores dos serviços anteriores do trabalho e da terra primeiro crescerão e depois se difundirão por todos os outros Assim sendo os valores de todos os serviços do trabalho e da terra aumentarão de modo correspondente Esse aumento contudo deve ser distinguido do que apareceu com a realização da nova com binação não apenas em grau mas também em qualidade Não significa nenhum aumento em sua escala de valores mas apenas em sua uti lidade marginal em conseqüência do fato de que por causa da retirada dos meios de produção de seus usos até então predominantes a pro dução não pode ser levada tão longe quanto antes e assim apenas as necessidades de maior intensidade do que antes podem ser satisfeitas No outro caso ocorre algo bastante diferente a saber a entrada do valor dos novos produtos na escala de valores dos meios de produção Isso também pode elevar a utilidade marginal destes últimos mas eleva também o seu valor total uma diferença que tem importância prática quando se tratar da disposição de maiores quantidades de fa tores Assim os valores dos meios de produção exprimem agora o fato de que o novo aumento da satisfação depende deles e apenas deles que o produto do trabalho e da terra tornouse maior Não lhes serão atribuídos mais os valores que tinham no antigo fluxo circular mas os que eles realizam no novo fluxo circular No momento da transfor mação não havia sentido em imputarlhes um valor maior do que o seu valor existente de reposição Agora o seu valor de reposição já inclui o valor do novo emprego O aumento no valor do produto social arrasta consigo o valor dos meios de produção e o novo estado dos negócios logo substituirá o antigo valor tradicional por um novo que no fim tornarseá o habitual baseado na nova produtividade marginal Assim se restabeleceria o contato entre o valor do produto e o valor dos meios de produção Não haverá discrepância entre as duas cate gorias de valores no novo sistema mais do que havia no anterior E se tudo funcionar com perfeição ideal a sociedade comunista es tará bastante certa agora se considerar todo o produto resultante como um rendimento permanente de seu trabalho e de sua terra e o distribuir entre os seus membros para o consumo128 Os fatos não o desautorizariam OS ECONOMISTAS 146 128 Como faz também o sistema capitalista à sua maneira Até agora a eliminação do lucro numa economia nãomercantil se desenrola de uma maneira bastante análoga à sua eliminação no sistema capitalista Mas a outra parte desse processo no sistema ca pitalista a saber o rebaixamento do preço do novo produto em con seqüência do aparecimento de empresas concorrentes deve estar au sente numa economia nãomercantil É verdade que aqui também os novos produtos precisam ser incorporados ao fluxo circular que também aqui os seus valores devem se colocar em relação com os valores de todos os outros produtos Teoricamente ainda podemos distinguir como duas coisas diferentes a realização da inovação e o processo de sua incorporação ao fluxo circular Mas se vê facilmente que faz uma con siderável diferença na prática se ambos efetivamente ocorrem uno actu ou não Numa economia nãomercantil a demonstração da existência de um excedente atribuível à atividade empresarial é o suficiente para resolver o nosso problema Num sistema capitalista esses excedentes só podem encontrar o seu caminho até o empresário com o auxílio do mecanismo do mercado e só lhe podem ser arrancados novamente por meio desse mecanismo Assim além do simples problema do valor há o adicional de como é que o lucro efetivamente chega até o empresário E esse mecanismo cria muitos fenômenos que devem estar ausentes numa economia nãomercantil A despeito disso não apenas a natureza mais profunda do lucro é a mesma em todas as formas de organização mas também o é a natureza mais profunda do processo que o elimina Em todos os casos o problema gira em torno da eliminação das obstruções que impedem que todo o valor do produto seja imputado aos serviços do trabalho e da terra ou conforme o caso que os seus preços sejam nivelados ao preço do produto Os princípios reguladores são sempre de que o pro cesso econômico se desobstruído primeiramente não tolera excedentes de valor no caso de produtos individuais e em segundo lugar sempre força para cima os valores dos meios de produção até alcançarem os dos produtos Esses princípios são imediatamente válidos numa eco nomia nãomercantil e são realizados pela livre concorrência num sis tema capitalista Neste último os preços dos meios de produção em livre concorrência devem ser tais que esgotem o preço do produto Na medida em que isso não for possível o preço do produto deve cair de modo correspondente Se nessas circunstâncias existe qualquer lucro é apenas porque a transição de uma posição na qual não há nenhum excedente para outra posição nova na qual novamente não há nenhum excedente não pode acontecer sem o auxílio do empresário e sem que a condição adicional necessária num sistema capitalista seja também cumprida a saber que o lucro não lhe possa ser arrancado imediata mente pela concorrência SCHUMPETER 147 O lucro não se adere aos meios de produção a não ser no sentido em que o faz o esforço de um poeta ao seu manuscrito parcialmente terminado Nenhuma parte do lucro lhes é imputada nem o conteúdo da função empresarial é a posse e o fornecimento deles E acima de tudo como vimos o lucro não deve ser procurado no permanente au mento de valor que os meios de produção experimentam em conse qüência do novo emprego Consideremos o caso de uma economia es cravista na qual a terra e os trabalhadores pertencem ao empresário que os comprou com o propósito de realizar novas combinações Po derseia dizer nesse caso se é possível dizêlo em algum lugar que será pago um preço pela terra e pelos trabalhadores correspondente aos seus empregos até então vigentes e que o lucro é o montante a mais que a terra e trabalhadores produzem então permanentemente Mas isso estaria errado por duas razões Primeiro as receitas dos novos produtos atingirão uma altura a partir da qual a concorrência deve trazêlas de novo para baixo de modo que essa concepção não admitiria um elemento de lucro Segundo o montante duradouro de excedente na medida em que não é quaserenda economica mente é apenas um aumento dos salários do trabalho que na ver dade cabe aqui ao proprietário do trabalho não ao trabalhador e um aumento da renda da terra Escravos e terra certamente têm agora um valor maior para o seu proprietário mas ele se tornou permanentemente mais rico como seu proprietário e não enquanto empresário se se deixa de lado o lucro temporário ou ocasional Mesmo se um agente natural da produção só começa a existir com a nova combinação por exemplo um riacho enquanto energia hi dráulica a questão não é de modo algum diferente Não é a energia hidráulica que rende o lucro O que ela rende permanentemente é renda no sentido em que a tomamos Assim uma parte do que em primeira instância é lucro se transforma em renda Com isso a natureza econômica da quantidade em questão é modificada Suponhamos que um plantador que tenha cultivado antes canadeaçúcar mude para o cultivo de algodão que até recentemente era mais lucrativo do que agora129 Essa é uma combinação nova o homem tornase com isso um empresário e obtém lucro Por ora a renda da terra aparece na lista dos custos apenas no montante apropriado ao cultivo de canadeaçúcar Como efeti vamente aconteceu suporemos que a concorrência mais cedo ou mais tarde força para baixo as receitas Se ainda permanecer um exce dente contudo como se deve explicálo e o que é ele economica OS ECONOMISTAS 148 129 Escrito em 1911 mente Desprezandose a fricção esse resultado só pode ocorrer porque a terra seja diferentemente apropriada para o cultivo de algodão ou porque a renda da terra cresceu em geral como resultado dos novos empregos em princípio isso é sempre conseqüência de am bos os elementos Isso caracteriza de imediato a parte do aumento do rendimento total que é permanente enquanto renda da terra A função empresarial desse homem desaparece se continuar a cultivar algodão e o rendimento inteiro é doravante imputado aos fatores originais de produção Uma palavra sobre a relação entre lucro e receita de monopólio Uma vez que o empresário não tem concorrentes quando os novos produtos aparecem pela primeira vez a determinação de seu preço se processa inteiramente ou dentro de certos limites segundo os princí pios do preço de monopólio Assim há um elemento de monopólio no lucro numa economia capitalista Suponhamos agora que a nova com binação consiste em estabelecer um monopólio permanente talvez em formar um trust que absolutamente não precisa temer nenhum con corrente de fora Então o lucro obviamente deve ser considerado sim plesmente como receita permanente de monopólio e a receita de mo nopólio simplesmente como lucro E no entanto existem dois fenôme nos econômicos bastante diferentes A realização da organização mo nopolista é um ato empresarial e o seu produto é expresso no lucro Uma vez que esteja funcionando sem problemas a preocupação nesse caso vai para o ganho de um excedente que doravante contudo deve ser imputado às forças naturais ou sociais sobre as quais repousa a posição de monopólio tornouse uma receita de monopólio O lucro da fundação de um negócio e o retorno permanente são distintos na prática o primeiro é o valor do monopólio o último é apenas o ren dimento da condição de monopólio Essas discussões não podem ser levadas mais adiante no âm bito desse trabalho Talvez já estejam longas demais Mas se devo repreenderme por ter cansado demais o leitor com essas coisas ainda não posso pouparme a reprimenda por não estarem todos os pontos explicados exaustivamente e por não estarem excluídas todas as interpretações errôneas possíveis Os aspectos fundamentais da questão devem ser elucidados Mais umas poucas observações antes de deixarmos o assunto O lucro empresarial não é uma renda como o rendimento das vantagens diferenciais nos elementos permanentes de um negócio nem é um rendimento do capital qualquer que seja o modo como se defina capital De maneira que não há razão para falar de uma tendência no sentido de igualar os lucros que não existe de modo algum na realidade pois apenas o embaralhamento de juro e lucro explica por que muitos SCHUMPETER 149 autores sustentam tal tendência130 embora possamos observar lucros tão extraordinariamente diferentes num mesmo e único lugar ao mes mo tempo e na mesma indústria Queremos finalmente enfatizar que o lucro também não é salário embora a analogia seja tentadora Cer tamente não é um simples resíduo é a expressão do valor daquilo com que o empresário contribui para a produção exatamente no mesmo sentido em que os salários são a expressão em valor do que o traba lhador produz Não é um lucro de exploração tampouco o são os salários Contudo enquanto os salários são determinados segundo a produtividade marginal do trabalho o lucro é uma exceção notável a essa lei o problema do lucro reside precisamente no fato de que as leis do custo e da produtividade marginal parecem excluílo E o que o empresário marginal recebe é inteiramente indiferente para o su cesso dos outros Todo aumento de salários é difundido por todos os salários quem tem sucesso como empresário temno sozinho a prin cípio Os salários são um elemento do preço o lucro não o é no mesmo sentido O pagamento de salários é um dos freios à produção o lucro não Podese dizer deste último mas com mais direito o que os eco nomistas clássicos disseram da renda da terra a saber que ela não entra no preço dos produtos Os salários são um ramo permanente de renda income o lucro não é absolutamente um ramo da renda se se considerar a repetição regular de um rendimento como um dos traços característicos da renda income Ele escapa do alcance do empresário logo que é desempenhada a função empresarial Está ligado à criação de coisas novas à realização do futuro sistema de valores É ao mesmo tempo o filho e a vítima do desenvolvimento131 Sem o desenvolvimento não há nenhum lucro sem o lucro ne nhum desenvolvimento Para o sistema capitalista deve ser acrescen tado ainda que sem lucro não haveria nenhuma acumulação de riqueza Ao menos não haveria o grande fenômeno social que temos em vista este é certamente uma conseqüência do desenvolvimento e de fato do lucro Se desprezarmos a capitalização das rendas e da poupança no sentido estrito da palavra à qual não atribuímos nenhum papel muito importante e finalmente os presentes que o desenvolvimento em suas repercussões e oportunidades atira ao colo de muitos indiví duos que na verdade são em si temporários mas que podem levar à acumulação de riqueza se não forem consumidos permanece ainda OS ECONOMISTAS 150 130 Outros como por exemplo Lexis sustentam também a uniformidade da taxa de juros O problema que trouxe tantas dificuldades a Marx desaparece se nossa conclusão for aceita 131 Como isso corresponde de perto à realidade e como representa claramente uma visão sem preconceitos está claro na observação de Adam Smith que qualquer homem prático poderia ter feito e efetivamente faz na vida cotidiana de que os novos ramos da produção são mais lucrativos do que os antigos como a fonte sem dúvida a mais importante de acumulação de riqueza da qual se originam a maioria das fortunas O nãoconsumo do lucro não é poupança em sentido próprio pois não é uma usurpação em relação ao padrão costumeiro de vida E assim podemos dizer que é a ação empresarial que cria a maioria das fortunas Pareceme que a realidade de modo persuasivo dá fundamento a essa derivação da acumulação de riqueza a partir do lucro Embora eu tenha deixado o leitor livre neste capítulo para pôr o juro sobre o capital junto aos salários e renda como uma despesa da produção conduzi a investigação entretanto como se todo o exce dente sobre os salários e a renda passasse ao empresário Na verdade ainda deve pagar juros sobre o capital Para que eu não possa ser censurado por designar uma soma primeiramente como lucro e depois como juro que se note expressamente que esse ponto será plenamente elucidado mais tarde A dimensão do lucro não está determinada tão definitivamente quanto a amplitude dos rendimentos do fluxo circular Em particular não se pode dizer dele como dos elementos do custo neste último que é suficiente apenas para provocar precisamente a quantidade reque rida de serviços empresariais Não existe uma tal quantidade teori camente determinável E o montante total de lucro efetivamente obtido num dado tempo assim como o lucro realizado por um empresário individual pode ser muito maior do que o necessário para provocar os serviços empresariais que foram efetivamente operantes É verdade que esse montante total freqüentemente é superestimado132 É verdade que se deve manter em mente que mesmo o sucesso individual obvia mente desproporcional tem a sua função porque a possibilidade de obtêlo atua como um incentivo mais forte do que aquele que é racio nalmente justificado pela sua dimensão multiplicada pelo coeficiente de probabilidade Tais expectativas também entram por assim dizer na remuneração daqueles empresários para quem elas não se reali zam Não obstante é bastante claro que em muitos casos montantes menores e especialmente montantes totais menores teriam o mesmo efeito assim como também está claro que a conexão entre a qualidade de serviço e sucesso privado é muito mais fraca aqui do que por exem plo no mercado de trabalho profissional Isso é importante não apenas para a teoria da tributação mesmo que a importância desse ele mento na prática seja limitada pela necessidade de se ter em conta a acumulação de capital no sentido de aumentar a oferta de meios de produção produzidos mas também explica por que o empresário SCHUMPETER 151 132 Cf a respeito STAMP Wealth and Taxable Capacity p 103 et seq pode ser privado de seu lucro de modo relativamente tão fácil e por que o empresário assalariado por exemplo o gerente industrial que tão freqüentemente desempenha o papel empresarial pode em geral ser adequadamente remunerado com muito menos do que o montante total do lucro Quanto mais a vida se torna racionalizada nivelada democratizada e quanto mais temporárias se tornam as relações do indivíduo com pessoas concretas especialmente no círculo familiar e com coisas concretas com uma fábrica concreta ou com um lar ances tral mais perdem sua importância muitos dos motivos enumerados no capítulo II e mais o controle do empresário sobre o lucro perde a sua força133 A progressiva automatização do desenvolvimento corre paralela a esse processo e isso também tende a enfraquecer a signi ficação da função empresarial Hoje em dia assim como na época em que ainda não se conhecia os primórdios desse processo social a função empresarial é não apenas o veículo de contínua reorganização do sistema econômico mas também o veículo de mudanças contínuas nos elementos que constituem os estratos mais altos da sociedade O empresário bemsucedido ascende socialmente e com ele a sua família que adquire a partir dos frutos de seu sucesso uma posição que não depende imediatamente de sua conduta pessoal Esse representa o fator mais importante de ascensão na escala social no mundo capitalista Como isso ocorre com a des truição pela concorrência de negócios antigos e portanto das vidas deles dependentes sempre corresponde a um processo de declínio perda de prestígio de eliminação Esse destino também ameaça o empresário cujos poderes estejam em declínio ou os seus herdeiros que receberam sua riqueza sem sua habilidade Isso não acontece apenas porque todos os lucros individuais se esgotam não tolerando o mecanismo concor rencial nenhum valor excedente permanente mas antes aniquilan doos exatamente por meio desse estímulo da luta pelo lucro que é a força propulsora do mecanismo mas também porque no caso normal as coisas acontecem de modo que o sucesso empresarial se incorpore à propriedade de um negócio e esse negócio usualmente é levado à frente pelos herdeiros no que em breve se tornam linhas tradicionais até que novos empresários o suplantem Um adágio americano o ex prime três gerações de macacão a macacão E assim pode ser134 Ex ceções são raras e são mais do que compensadas pelos casos em que a queda é ainda mais rápida Como há sempre empresários parentes OS ECONOMISTAS 152 133 Cf a respeito meu artigo Sozialistische Möglichkeiten von heute In Archiv für Sozial wissenschaft 1921 134 Só dispomos de poucas investigações desse fenômeno fundamental Cf no entanto por exemplo CHAPMAN e MARQUIS The Recruiting of the Employing Classes from the Ranks of the Wage Earners In Journal of the Royal Statistical Society 1912 e herdeiros de empresários a opinião pública e também a fraseologia da luta social prontamente passam por cima desses fatos Eles cons tituem os ricos uma classe de herdeiros que estão afastados da ba talha da vida Na verdade os estratos superiores da sociedade são como hotéis que de fato estão sempre cheios de pessoas mas pessoas que estão continuamente mudando Tratase de pessoas que são re crutadas de baixo numa extensão muito maior do que muitos de nós estamos dispostos a admitir Com o que se descobre ainda uma multidão de problemas e somente a solução destes nos mostrará a verdadeira natureza do sistema competitivo capitalista e da estru tura de sua sociedade SCHUMPETER 153 CAPÍTULO V O Juro Sobre o Capital Observações preliminares Depois de maduras considerações submeto ao leitor pela se gunda vez a teoria do juro que publiquei originalmente na primeira edição deste livro inalterada a não ser por modificações verbais bem pouco importantes A todas as objeções que me chegaram ao conheci mento minha única resposta é remeter ao texto original Elas apenas me induziram a não encurtálo mais De outro modo eu teria ficado satisfeito em fazêlo Mas uma vez que as coisas que me pareceram mais prolixas e elaboradas e que prejudicam a simplicidade e o poder de convencimento do argumento se anteciparam corretamente às ob jeções mais importantes elas adquiriram um direito à existência que talvez não tivessem originalmente Em particular a exposição anterior deixou isso tão claro que não nego que o juro seja um elemento normal na economia moderna o que de fato seria absurdo mas pelo contrário tento explicálo que mal posso entender a afirmação de que o neguei O juro é um prêmio ao poder de compra presente por conta do poder de compra futuro Esse prêmio tem várias causas Muitas delas não constituem nenhum problema Um desses casos é o juro sobre empréstimos ao consumo Que alguém por um revés inesperado por exemplo se o fogo destruir uma empresa ou com expectativa de um aumento futuro da renda por exemplo se um estudante é herdeiro de uma tia bem situada e de saúde frágil dê muito mais valor a 100 marcos no presente do que a 100 futuros não requer nenhuma explicação e é evidente que o juro pode existir em tais casos Todas as categorias de crédito gover namental se enquadram aqui Sempre houve tais casos de juros e ob viamente eles também poderiam existir no fluxo circular em que não há nenhum desenvolvimento Mas não constituem o grande fenômeno 155 social que precisa de explicação Este consiste no juro sobre emprés timos produtivos Produktivzins Pode ser encontrado em toda parte no sistema capitalista e não apenas onde se origina ou seja nos em preendimentos novos Apenas desejo mostrar que o lucro produtivo tem a sua fonte nos lucros que por natureza é uma ramificação destes últimos e que como aquilo que chamo de aspecto juro dos rendimen tos se espalha por todo o sistema econômico a partir dos lucros ine rentes à realização bemsucedida de novas combinações e até força a sua passagem para a esfera dos negócios antigos em cuja vida não seria um elemento necessário se não houvesse nenhum desenvolvimen to Isso é tudo o que quero dizer com a afirmação a economia estática não conhece o juro produtivo que certamente é fundamental em nossa abordagem da estrutura e funcionamento do capitalismo E não é isso quase evidente por si mesmo a partir da análise passada Nin guém pode negar que assim como a situação dos negócios decide o movimento da taxa de juros e situação dos negócios significa nor malmente quer dizer desprezandose os efeitos das forças nãoeconô micas simplesmente o ritmo existente de desenvolvimento assim também o dinheiro necessário para inovações constitui o fator principal da demanda industrial no mercado monetário Haveria uma distância tão grande dessa afirmação para o reconhecimento de que o principal fator real é também o fator teórico fundamental apenas pelo qual a outra fonte da demanda desempenha um papel enquanto a última ou seja a demanda dos velhos negócios na rotina continuamente testada e repetida normalmente não precisaria procurar o mercado mone tário uma vez que os velhos negócios estão adequadamente financiados pelo rendimento corrente da produção Disso procede o resto especial mente o teorema de que o juro se vincula ao dinheiro e não aos bens Estou interessado na verdade e não na originalidade da minha teoria Em particular baseiome de bom grado sobre a teoria de Böhm Bawerk tanto quanto possível por mais decididamente que este tenha recusado qualquer participação em comum Do seu ponto de vista deve também tratarse de uma questão de poder de compra em primeiro lugar mesmo que passe imediatamente ao prêmio para os bens presentes Na verdade das três famosas razões em que ele baseia o prêmio em valor ao poder de compra presente rejeito apenas uma o desconto sobre os prazeres futuros na medida em que BöhmBawerk nos pede para aceitála como uma causa e não que ela mesma precise de alguma explicação Por outro lado eu poderia alegar que a razão que ele chama de relação cambiante entre as necessidades e os meios de satisfação é uma fórmula à qual se ajusta a minha teoria E quanto à terceira os métodos indiretos de produção Se BöhmBawerk tivesse se mantido estritamente fiel à sua expressão adoção de métodos in diretos de produção e se tivesse seguido a indicação que ela contém isso seria um ato empresarial um dos muitos casos subordinados OS ECONOMISTAS 156 do meu conceito de realização de combinações novas Não o fez e creio que isso pode ser demonstrado com a ajuda de sua própria análise de que não fluiria nenhuma renda líquida da mera repetição de métodos indiretos de produção que já tivessem sido realizados e incorporados ao fluxo circular Logo chega um ponto em que nossa explicação entra por um caminho fundamentalmente diferente Contudo a nossa análise preenche completamente os requisitos da teoria do valor de BöhmBa werk e em nenhum ponto está exposta a qualquer das objeções de BöhmBawerk apresentadas até agora135 1 O juro sobre o capital assim nos ensina a experiência é um rendimento líquido permanente que flui para uma categoria determi nada de indivíduos De onde e por quê Primeiramente há a questão da fonte dessa corrente de bens para que possa fluir antes de tudo deve existir um valor do qual possa provir136 Em segundo lugar há a questão da razão por que esse valor se torna presa desses indivíduos particulares a questão da causa dessa corrente no mundo dos bens Finalmente há a questão sem dúvida a mais difícil que pode ser descrita como o problema central do juro sobre o capital como é que essa corrente de bens pode fluir permanentemente e como o juro pode ser um rendimento líquido que alguém pode consumir sem prejudicar a sua posição econômica A existência do juro constitui um problema porque sabemos que no fluxo circular normal todo o valor do produto deve ser im putado aos fatores produtivos originais ou seja aos serviços do tra balho e da terra assim sendo todas as receitas da produção devem ser divididas entre trabalhadores e proprietários de terra e não pode haver nenhum rendimento líquido permanente que não os salários e a renda A concorrência por um lado e a imputação por outro devem aniquilar qualquer excedente das receitas sobre as despesas qualquer excesso de valor do produto por sobre o valor dos serviços do trabalho e da terra nele incorporados O valor dos meios de pro dução originais deve se ligar com fidelidade de uma sombra ao valor SCHUMPETER 157 135 Isso deve ser tão enfatizado porque fora de um círculo estreito de especialistas nem mesmo a parte crítica da contribuição de BöhmBawerk foi ainda plenamente absorvida Mas pressuponho um conhecimento dela O que se segue tem relação com ela em todos os pontos e quem quer que ainda sustente que o juro é evidente por si mesmo e não veja o problema decisivo deve achar o que se segue desnecessariamente tortuoso em grande parte incompreensível e até mesmo falso Na obra de BöhmBawerk contudo o leitor pode encontrar tudo o que for necessário e referências a quase toda a literatura Um conhecimento geral dela é necessário Finalmente não desejo repetir o que eu já disse Cf Wesen Livro Terceiro 136 Cf BöhmBawerk por exemplo no que diz sobre Say I 142 O método de expressão de BöhmBawerk contudo já é influenciado ali pelo fato de que tem em mente uma teoria definida do juro do produto e não poderia permitir que existisse a menor brecha per manente entre os dois137 Mas o juro é um fato E então Esse dilema é difícil muito pior do que o análogo no caso dos lucros que foi superado com relativa facilidade porque ali se tratava apenas de uma corrente de bens temporária e não permanente e conseqüentemente não entramos num conflito tão agudo com os fatos fundamentais e indubitáveis da concorrência e da imputação pelo con trário pudemos chegar sem problemas à conclusão de que os serviços do trabalho e da terra são as únicas fontes de renda cujo rendimento líquido não é reduzido a zero por esses fatos Em face desse dilema podemos proceder de duas maneiras diferentes Primeiro ele pode ser aceito Parece então que o juro deve ser explicado como uma espécie de salário ou renda e como esta não é factível então como salário como espoliação dos assalariados a teoria da explo ração como salário do trabalho dos capitalistas teoria do trabalho no sentido literal ou como salário do trabalho incorporado aos instrumentos de produção e às matériasprimas na concepção por exemplo de James Mill e McCulloch Todas as três tentativas de explicação foram feitas Só tenho a acrescentar à crítica de BöhmBawerk que nossa análise do empresário especialmente quando o isolamos dos meios de produção tam bém mina uma parte da base das duas primeiras variantes Em segundo lugar a conclusão teórica que leva a que o dilema deva ser contestado Aqui novamente podemos estender a lista dos custos ou seja afirmar que com os salários e a renda ainda não foram pagos todos os meios de produção necessários ou procurar no meca nismo da imputação e da concorrência um freio escondido que impeça permanentemente que os valores dos serviços do trabalho e da terra alcancem o valor do produto de modo que reste um permanente ex cedente de valor138 Passo à rápida discussão dessas duas possibilidades Estender a lista dos custos nesse sentido não significa meramente afirmar que o juro representa um gasto regular na contabilidade de um negócio Isso seria evidente por si mesmo e não teria poder expli cativo Significa muito mais conceber o juro como um elemento do custo no sentido mais estrito e especial que foi formulado no capítulo I Isso é equivalente a constituir um terceiro fator produtivo original que cria o juro como o trabalho recebe salário Se isso fosse conseguido satisfatoriamente as nossas três questões a questão da fonte a da base e a do nãodesaparecimento do juro seriam obviamente todas respondidas de uma vez e o dilema seria contornado A abstinência poderia ser esse terceiro fator Se fosse um serviço produtivo indepen dente todos os nossos requisitos estariam preenchidos de modo livre de objeções e a existência e a fonte de um rendimento líquido perma OS ECONOMISTAS 158 137 Cf BÖHMBAWERK Op cit I 230 138 Cf as considerações finais de BÖHMBAWERK Op cit I 606 et seq nente assim como sua atribuição a indivíduos determinados estariam explicados sem sombra de dúvida Apenas teria que ser ainda provado que na realidade o juro se apóia sobre esse elemento Mas infelizmente essa explicação não é satisfatória porque tal elemento independente não existe como já foi demonstrado por BöhmBawerk e não precisa ser mais discutido aqui Os meios de produção produzidos também poderiam constituir um terceiro fator produtivo independentemente da abstinência Com eles é o contrário Não pode haver dúvida sobre o seu efeito produtivo Isso é tão claro que o olhar do observador logo lhe caiu em cima e hoje em dia a proposição fundamental da igualdade entre o valor do produto e dos serviços do trabalho e da terra ainda provoca espanto É tão claro que ainda hoje em dia é extremamente difícil como ensina a experiência afastar até mesmo especialistas dessa trilha errada No entanto não explica um rendimento líquido permanente Seguramente os meios de produção produzidos têm a faculdade de servir na produção de bens Podese produzir mais bens com eles do que sem eles E esses bens também têm um valor mais alto do que os que poderiam ser produzidos sem os meios de produção produzidos139 Mas esse valor mais alto também deve levar a um valor mais alto desses instrumentos de produção e isso de novo a um valor mais alto dos serviços do trabalho e da terra empregados Nenhum elemento de valor excedente pode manterse permanentemente ligado a esses meios de produção inter mediários Pois por um lado não pode existir permanentemente ne nhuma discrepância entre o valor dos produtos a lhes ser imputado e o seu próprio valor Por maior que seja a quantidade de produtos que uma máquina possa ajudar a produzir a concorrência deve sempre rebaixar o seu preço até que se estabeleça a igualdade Por outro lado por mais que a máquina produza muito além do trabalho manual uma vez introduzida deixa de poupar trabalho de novo de modo que não rende continuamente um novo lucro As receitas extraordinárias devidas a ela que são tão consideráveis a soma total que o usuário está pronto a pagar por ela devem ser entregues aos trabalhadores e proprietários da terra Em geral ela não produz o valor que adiciona ao produto como muitas vezes se supõe ingenuamente140 mas este último só se associa a ela temporariamente como foi argumentado no capítulo anterior Um casaco contendo uma nota de banco tem real mente na medida em que seja esse o caso um valor correspondente mente maior para o seu dono mas só recebeu esse valor maior de fora e não o produziu Similarmente uma máquina tem um valor corres pondente ao seu produto mas só o recebeu141 dos serviços do trabalho SCHUMPETER 159 139 Cf BÖHMBAWERK Op cit I 132 Sobre o conceito de produtividade tanto física como em valor dos meios de produção produzidos 140 Cf as observações de BöhmBawerk por exemplo sobre Say e Roesler e da terra que existiram antes que ela fosse criada aos quais o valor como um todo já foi imputado É verdade que uma corrente de bens flui para a máquina mas também flui através dela Ela não é represada nesse sentido para formar um reservatório para o consumo O possuidor da máquina não obtém permanentemente mais do que deve desem bolsar nem em valor computado nem em preços A própria máquina é um produto e portanto exatamente como um bem de consumo o seu valor segue adiante para um reservatório do qual não pode fluir mais nenhum juro Assim com base nos argumentos dos capítulos I e IV e na refe rência a BöhmBawerk podemos afirmar que o que foi dito acima não abre nenhum caminho para sair do dilema e que não existe aqui ne nhuma fonte de valor para o pagamento de juros No máximo ocorre uma dificuldade no caso de bens dos quais se diz que crescem auto maticamente por exemplo as sementes de cereais ou o gado usado para reprodução Estes não asseguram a seu proprietário mais cereal e mais rebanho no futuro e esse gado e esse cereal a mais não devem ser mais valiosos do que as sementes e o gado originais Todos aqueles a quem essas idéias são familiares sabem quão firmemente a maioria das pessoas está convencida de que elas são a prova da existência de um incremento do valor Mas sementes de cereal e gado reprodutor não crescem automaticamente pelo contrário itens bem conhecidos de gasto devem ser deduzidos de seu rendimento Todavia é decisivo que mesmo o resíduo que fica após essa dedução não representa nenhum ganho em valor pois a safra e os rebanhos certamente dependem das sementes e do gado reprodutor e estes devem portanto ser ava liados de acordo com os valores dos primeiros Se as sementes e o gado reprodutor fossem vendidos então supondo não ser possível nenhuma substituição o valor da safra e do rebanho depois de deduzidos os custos em que ainda se incorreria e de se fazer um abatimento para os riscos estaria expresso totalmente em seu preço Seu preço seria igual ao preço dos produtos a eles imputado E o cereal e os animais seriam empregados na reprodução até que o seu emprego não rendesse mais um lucro e o seu preço cobrisse apenas o gasto necessário com salários e renda da terra A utilidade marginal do produto deles ou seja da parcela do produto a eles imputada conseqüentemente tenderia para zero 2 Gostaria de observar aqui que não é correto ou melhor não é conveniente significa comprometerse com uma visão determinada OS ECONOMISTAS 160 141 À máquina é atribuído o valor de seus produtos aos serviços do trabalho e da terra ne cessários à produção da máquina é atribuído o valor desta última Conseqüentemente os serviços já têm o valor do produto final e se se tornarem uma máquina esta simplesmente tomará o lugar deles Nesse sentido dizemos que a máquina recebe o valor dos serviços produtivos Devese esperar que eu não seja mal compreendido como se derivasse o seu valor de seus custos caracterizar o estado de coisas representado nesse estágio da dis cussão da seguinte maneira Não podemos explicar desse modo a la cuna entre o valor do produto e o valor dos meios de produção Mas ela existe efetivamente E devemos tentar explicála de outra forma Pelo contrário nego a existência fundamental de tal lacuna perma nente Defrontamonos apenas com um fato nãoanalisado e seria me lhor suspeitar como acredito que uma olhada na realidade nos mostra que é uma conseqüência do juro sobre o capital que deve ser ex plicado de maneira muito diferente do que suspeitar que é um fato primário que explica independentemente o juro Os indivíduos podem avaliar os meios de produção abaixo dos produtos porque precisam pagar juros na passagem dos primeiros aos segundos mas não pagam forçosamente juros porque avaliam os primeiros abaixo dos segundos por outros motivos Isso é muito importante Aqui só desejo chamar a atenção para o fato de que a dificuldade que toda a minha exposição deve enfrentar é especialmente grande no caso do juro a saber a dificuldade de que à parte certos pontos fundamentais tornamonos habituados a simplesmente aceitar uma série de fatos nãoanalisados e em vez de penetrar mais profundamente no interior das coisas con siderar como elementos muitas coisas que são combinações complexas Uma vez adquirido esse hábito apenas prosseguimos adiante na análise com muita relutância estamos sempre inclinados a apontar esses fatos como objeções reais A abstinência é um desses fatos A asserção de que o valor do capital é simplesmente o valor capitalizado do retorno é outro E como ao fazer essa asserção as pessoas sempre se posicionam sobre a experiência esta não oferece uma contradição suficientemente enfática Por enquanto todavia ainda devemos reter essa concepção da lacuna Agora são necessárias umas poucas observações para se formular precisamente o processo de computação Einrechnungsvorgang Até aqui sempre falamos do processo de imputação e traçamos o seu ca minho de volta do seu ponto de apoio no valor do produto até os serviços do trabalho e da terra Poderia parecer agora que a imputação poderia dar ainda um outro passo que poderia levar a corrente de valor ainda mais para trás a saber para o próprio potencial de trabalho e para a própria terra Uma vez que não há razão numa economia de trocas para tomar consciência do valor do potencial de trabalho enquanto tal e como se houvesse valeria o mesmo para ele como para a terra limitarnosemos a essa última e com relação ao potencial de trabalho apenas acentuamos de novo que só apresentaria um problema especial se o encarássemos o que não fazemos como um produto dos meios de subsistência do trabalhador e de sua família Ora poderseia antes de tudo conceber os serviços da terra como produtos da terra e esta em si como o verdadeiro meio de produção original para o qual a imputação deve arrastar o valor de seu produto Isso seria logicamente incorreto142 Pois a terra não é mercadoria independente separada de seus próprios SCHUMPETER 161 serviços mas apenas um feixe desses serviços Portanto é melhor não falar em imputação nesse caso Pois a imputação envolve a transfe rência de valor a bens de ordens cada vez mais altas Ela opera de tal modo que em nenhuma parte deixa pendente alguma parcela de valor Contudo algo mais está envolvido na determinação do valor da terra a saber a derivação de seu valor a partir dos valores dados dos elementos em que consiste economicamente que foram determinados pela imputação Aqui é melhor falar em computação Einrechnung No caso de cada bem seja de consumo seja de produção esses dois processos devem ser distinguidos Apenas os seus serviços têm valores definidos determinados143 diretamente pela escala de necessi dades ou indiretamente pela imputação a partir da qual se deve derivar o seu valor Mas enquanto esse último processo é extremamente sim ples no caso dos bens produzidos e é reduzido a regras fixas e conhe cidas pela necessidade de sua reprodução que surge mais cedo ou mais tarde no caso da terra ele é complicado pelo fato de que é inerente à terra uma série ilimitada de usos que se reproduzem automatica mente e em princípio sem custos144 Assim colocase a questão por causa da qual nos envolvemos nessa discussão não deve ser infinita mente grande o valor da terra e assim a renda enquanto rendimento líquido não desaparece através da computação Respondo a essa ques tão de uma maneira diferente de BöhmBawerk145 Primeiro mesmo que o valor da terra fosse infinitamente grande eu ainda descreveria a renda como um rendimento líquido Pois a fonte do rendimento não poderia então ser exaurida pelo consumo e expli carseia uma corrente contínua de bens para o proprietário da terra A mera adição de rendimentos líquidos não pode nunca abrogar o seu caráter de rendimentos líquidos Apenas a imputação nunca a com putação aniquila um rendimento líquido Em segundo lugar na vida real evidentemente o preço de um pedaço de terra nunca é infinita mente grande Contudo minha concepção não deve ser acusada de levar a esse valor infinito ou seja a uma conclusão absurda Não é OS ECONOMISTAS 162 142 Cf BÖHMBAWERK Rechte und Verhältnisse vom Standpunkte der Volkswirtschaftlichen Güterlehre Também suas observações sobre as teorias do juro baseadas no uso que são do mesmo modo aplicáveis ao nosso caso Ao mesmo tempo posso observar que excluo de minhas considerações a idéia fundamental da teoria do juro baseada no uso porque não tenho nada a acrescentar aos argumentos de BöhmBawerk 143 Falando estritamente esse método de expressão só é adequado ao caso da economia não mercantil Numa economia mercantil o valor dos meios de produção não é reconhecido em nenhum lugar como valor de uso indireto Não obstante também aqui a concepção deles enquanto produtos potenciais dá o princípio da formação de seu valor E um método mais correto de expressão apenas leva ao mesmo resultado 144 O caso de autoreprodução dos serviços da terra se distingue do caso do aumento de um rebanho pelo fato de que se pode deixar este aumentar de um modo tal que o valor de um animal finalmente caia ao nível de seu custo em trabalho e terra Os serviços da terra se reproduzem automaticamente apenas pelo mesmo montante em todo período econômico Não são é verdade incapazes de crescimento mas seu crescimento acarreta custos 145 Cf Kapital und Kapitalzins v II minha concepção que é equivocada mas a idéia fundamental da teoria dominante da capitalização a saber que o valor de uma propriedade que gera rendimentos é formado apenas pela adição dos rendimentos apropriadamente descontados Pelo contrário a determinação desse valor é um problema especial razoavelmente complicado que será es tudado neste capítulo Neste como em todos os casos de estimativa de valor é necessário considerar os propósitos concretos em vista Não há aqui nenhuma regra rígida de adição uma vez que quantidades de valores não são simplesmente aditivas na maioria dos casos No curso normal do fluxo circular não há nenhuma razão para se ficar ciente do valor da terra enquanto tal É diferente com a máquina todo produto deve ter um valor total definido uma vez que é necessário para decidir a questão da sua reprodução E a regra da adição também se aplica aqui A concorrência a impõe Se se pudesse obter uma má quina por menos do que ela produzisse ganharseia um lucro o que necessariamente elevaria a demanda e o preço das máquinas se cus tasse mais do que o seu uso o rendesse o resultado seria uma perda o que rebaixaria a demanda e o preço A terra por outro lado não é vendida no fluxo circular normal mas apenas os seus usos Portanto apenas os seus valores e não o valor da terra enquanto tal são ele mentos do planejamento econômico E os processos do fluxo circular normal não nos podem ensinar nada sobre a determinação do valor da terra Só o desenvolvimento cria o valor da terra capitaliza renda mobiliza terra Num sistema econômico sem desenvolvimento o valor da terra não existiria como um fenômeno econômico geral Um relance sobre a realidade o confirma Pois a única ocasião em que há algum sentido em estar ciente do valor da terra é na sua venda E efetivamente esta dificilmente ocorre em estágios econômicos em que a realidade econômica mais se aproxima da concepção de fluxo circular O mercado para o comércio de terras é um fenômeno do desenvolvimento e só pode ser entendido a partir dos fatos do desenvolvimento somente nos quais podemos encontrar a chave para esse problema Por enquanto ainda não sabemos nada a respeito Assim até agora podemos dizer que nossa concepção não leva a um valor infinito mas a nenhum valor em geral que os valores dos serviços da terra não devem ser relacio nados com nenhum outro valor e por conseguinte são rendimentos líquidos Caso se objete que não obstante devem surgir incentivos à venda devese dizer que esses incentivos necessariamente devem ser esporádicos e que as condições pessoais como reveses desperdício ob jetivos nãoeconômicos e coisas semelhantes devem ser decisivas Nada mais se pode afirmar a essa altura Onde quer que a regra da adição produza um valor infinito fa lamos de um rendimento líquido exatamente como no caso dos salários Pois nossa única preocupação aqui é a de que uma corrente permanente de bens flua para um indivíduo e que não seja preciso que este os SCHUMPETER 163 passe adiante E a computação que produz um resultado infinito longe de excluir a possibilidade de uma tal corrente de bens é um sintoma de sua existência Este de fato é um elemento essencial à compreensão da teoria do juro a ser exposta 3 Ainda há um segundo método para escapar ao dilema do juro A questão de como é possível um excedente permanente sobre o valor dos serviços do trabalho e da terra também pode ser respondida apon tandose para um freio a este Se houvesse um tal freio então estaria indubitavelmente provada a possibilidade de um excedente de valor permanente e deverseia atribuir à circunstância que o provocasse ao menos do ponto de vista privado produtividade de valor no sentido mais amplo Ela ou a mercadoria em que estivesse incor porada produziria um rendimento líquido Um excedente de valor especial e independente ocorreria em todo processo econômico O juro não seria então um elemento do custo no sentido real deveria sua existência a uma discrepância entre os custos e o valor ou preço do produto seria um excedente real sobre os custos Um caso desses ocorre numa economia de trocas quando um produto é monopolizado monopólios dos fatores produtivos originais não nos interessam aqui porque está claro desde o início que o juro não pode se basear neles A posição de monopólio efetivamente funciona como um freio e traz um rendimento líquido permanente ao monopo lista Consideramos a receita de monópolio um rendimento líquido com o mesmo direito e pela mesma razão que o fazemos em relação à renda Nesse caso também a regra da adição daria um resultado infinito E também aqui isso não tiraria o caráter de rendimento líquido da receita Por que motivo o valor do monopólio digamos de uma patente per pétua não é infinito contudo não nos interessa nesse ponto a res posta aparecerá depois Finalmente também aqui a determinação do valor do monópolio é um problema especial e ao resolvêlo não devemos esquecer que no fluxo circular normal não existe nenhum motivo para que se forme um tal valor por isso o ganho não deve ser relacionado a nenhuma outra grandeza Como quer que seja tudo isso o monopo lista pelo menos não pode dizer nunca Não obtenho lucro nenhum porque atribuo um valor extremamente alto ao meu monopólio Isso é bastante certo Ao discutir a teoria do juro de Lauderdale BöhmBawerk também comenta o caso em que é monopolizada uma máquina poupadorade trabalho e portanto produtoradelucro Acentua ele corretamente que essa máquina será tão cara que ao seu emprego não estará ligado nenhum lucro ou apenas o mínimo bastante para induzir as pessoas a comprála ou alugála Até aqui está certo No entanto indubitavel mente há um lucro ligado à sua produção tão permanente quanto a patente Poderseia dizer que a posição de monopólio é para o mono OS ECONOMISTAS 164 polista algo análogo a um fator produtivo Verificase uma imputação com relação aos serviços desse quasefator de produção exatamente como em relação aos outros fatores A máquina enquanto tal não é uma fonte de valor excedente nem o são os seus meios de produção mas o monopólio torna possível obter um valor excedente com a má quina ou com seus meios de produção Obviamente nada muda se ad mitimos que o produtor e o usuário coincidem numa única pessoa Por conseguinte temos um rendimento líquido sui generis Se o que se chama de juro fosse o mesmo que isso tudo estaria bem Nossas três questões seriam respondidas satisfatoriamente Haveria uma fonte de valor excedente cuja existência seria explicada pela teoria do mo nopólio haveria também uma razão para que se atribuísse um rendi mento aos monopolistas e finalmente estaria explicado o fato de que nem a imputação nem a concorrência anulam o rendimento Contudo tais posições de monopólio não ocorrem regularmente e em número suficiente para que essa explicação seja aceita e além disso o juro existe sem elas146 Outro caso em que se poderia falar em um atraso permanente e regular do valor dos serviços do trabalho e da terra em relação ao valor do produto existiria se os bens futuros fossem sistematicamente e em princípio avaliados abaixo dos bens presentes O leitor já sabe que não se aceita isso aqui mas é necessário mencionar o caso uma vez mais Enquanto em todos os casos tratados até agora uma fonte permanente de rendimento resultou simplesmente de um serviço per manente e produtivo ao menos do ponto de vista privado esse caso envolveria algo diferente a saber um movimento nos próprios valores Enquanto anteriormente a explicação residia na determinação do valor de alguns serviços produtivos sui generis aqui residiria na determinação do valor dos serviços do trabalho e da terra por um lado e dos bens de consumo por outro Aqui haveria um excedente do valor do produto acima do valor dos meios de produção num sentido mais estrito e mais real do que no caso do monopólio E excedente sobre os custos significaria ipso facto um rendimento líquido e exce dente acima do valor do capital dos meios de produção produzidos Assim estaria provado ipso facto que o rendimento nem desapareceria nem seria absorvido pelo processo de computação Pois o valor pleno de um produto futuro não pode ser imputado e computado se no mo mento de se empreender a imputação e a determinação do valor dos meios de produção aparece não com a sua grandeza real mas menor A possibilidade de uma corrente permanente de bens estaria assim indubitavelmente provada quer fosse ou não o juro que observamos SCHUMPETER 165 146 No entanto foi feita uma tentativa muito elaborada nesse sentido Cf CONRAD Otto Lohn und Rente Todas as outras sugestões dessa espécie de explicação do juro não se classificam como uma teoria elaborada na vida real Nossa primeira questão estaria respondida existiria uma fonte de valor da qual o juro pode provir A segunda questão a saber por que a corrente de bens vai para aqueles indivíduos particulares obviamente não seria difícil de responder E a terceira por que os rendimentos não desaparecem decisivamente a parte mais espinhosa do problema do juro seria supérflua Uma vez que o excedente em valor teria sido explicado em razão da nãoimputação não haveria sentido em explicar por que não é imputado Assim se a mera passagem do tempo tivesse um efeito primário sobre a estimativa dos valores e se o que a realidade nos mostra ser a sua influência não fosse simplesmente um fato nãoanalisado que por sua vez repousa fundamentalmente sobre a existência de juro que por outro lado deve ser explicado por outros motivos essa linha de argumentação seria em si bastante satisfatória mesmo que em minha opinião nos coloque em conflito com o curso efetivo do processo econômico Em termos puramente lógicos isso estaria livre de objeções Mas a passagem do tempo não tem esse efeito primário independente E mesmo o crescimento do valor de muitos bens com o correr do tempo não prova nada Uma vez que esse fato é especialmente proeminente e desempenhou um certo papel na literatura sobre o assunto algumas palavras lhe podem ser devotadas Há dois tipos desses crescimentos do valor Primeiramente os serviços efetivos ou potenciais de um bem podem se alterar au tomaticamente no correr do tempo e o valor do bem crescer Uma floresta jovem e um estoque de vinho são exemplos freqüentemente citados O que acontece em tais casos Ora tanto a floresta quanto o vinho certamente se tornam bens mais valiosos mediante processos naturais que demandam tempo Todavia o seu valor só cresce fisica mente economicamente esse valor mais alto já existia nas arvorezinhas da floresta jovem e no vinho recémadegado porque depende deles Essas arvorezinhas e esse vinho portanto devem ser por enquanto do ponto de vista dos fatos com que já estamos familiarizados exatamente tão valiosos quanto a madeira pronta para ser derrubada e o vinho amadurecido Na medida em que a madeira e o vinho também podem ser vendidos aos consumidores antes que estejam bem maduros os seus possuidores se perguntarão qual das duas alternativas produ zirá o maior rendimento por período econômico deixar o tempo passar para maior amadurecimento ou vender agora e produzir de novo Es colherão a alternativa que produzir o maior rendimento e de acordo com esta estimarão os valores das árvores e do vinho e dos serviços necessários do trabalho e da terra desde o começo Na realidade isso não é assim Pois a floresta e o vinho aumentam continuamente de valor pari passu com a aproximação da maturação Isso contudo se deve fundamentalmente ao risco material e pessoal especialmente o risco de vida e ao fato de que o juro já existe um fato que em certas OS ECONOMISTAS 166 condições faz do tempo um elemento do custo como veremos em breve Se não fosse por esses fatores não haveria tal crescimento do valor Se for decidido deixar a floresta e o vinho amadurecerem mais do que se intencionava originalmente só pode ser porque se descobriu que é mais vantajoso fazêlo Ocorre então um novo método de empregar a floresta e o vinho que obviamente deve resultar no momento da decisão num aumento do valor Mas em geral não há nenhum crescimento real contínuo do valor com a passagem do tempo enquanto fenômeno primário e independente Em segundo lugar freqüentemente acontece que os serviços de um bem permanecem absolutamente os mesmos fisicamente no entanto aumentam de valor com o correr do tempo Isso só pode se atribuir ao aparecimento de uma nova demanda e é um fenômeno do desen volvimento É fácil ver como se deve considerar esse caso Se o aumento da demanda não for previsto então haverá um ganho mas não que constitua um aumento permanente do valor Se pelo contrário for previsto então deve ser imputado desde o começo ao bem em questão de modo que novamente não há aumento do valor Se não obstante na realidade parece que há explicáloemos do mesmo modo que no caso do aperfeiçoamento das qualidades físicas 4 Exaurimos as linhas mais importantes de pensamento que nos poderiam ter feito sair do dilema do juro e com resultado negativo Assim nos vemos levados de volta novamente àqueles valores exceden tes dos quais já falamos repetidamente e que podemos com a cons ciência tranqüila considerar como excedentes líquidos a saber os ex cedentes de valor dos produtos acima do valor das quantidades de bens de produção neles incorporados Devem eles sua existência a al guma circunstância especial que eleva o valor dos produtos acima do valor de equilíbrio que a mercadoria em questão teria no fluxo circular O caráter de rendimento líquido e de fonte de um fluxo de bens de tais excedentes está com isso ipso facto estabelecido tanto quanto o estaria no caso de subvalorização sistemática dos bens futuros Circunstâncias que elevem o valor do produto acima do de seus meios de produção de modo que com a ajuda destes últimos possa se obter um lucro também ocorrem numa economia sem desenvolvi mento Erros e imprevistos desvios nãointencionais e inesperados dos resultados em relação às expectativas situações de infortúnio e de superabundância acidental essas e muitas outras circunstâncias po dem produzir excedentes mas essa espécie de desvio dos valores efe tivos em relação aos normais e ao mesmo tempo dos valores dos meios de produção usados é de pouca importância Passamos àqueles valores excedentes que devem a sua existência ao desenvolvimento e que são muito mais interessantes Já os dividimos em dois grupos principais Um abrange os valores excedentes que o desenvolvimento SCHUMPETER 167 necessariamente traz consigo em cuja criação consiste num certo sen tido o desenvolvimento e que se explicam pela escolha de usos novos mais vantajosos dos bens de produção cujos valores foram determi nados previamente segundo outros usos menos vantajosos O segundo grupo abrange os valores excedentes que têm por base as repercussões do desenvolvimento ou seja aumentos efetivos ou esperados da de manda de certos bens que o desenvolvimento provoca Repetindo todos esses valores excedentes são como BöhmBa werk também admitiria excedentes verdadeiros e reais em qualquer sentido concebível e não têm nada a temer nem da Cila da computação nem da Caribde da lista de custos Todas as correntes de bens que fluem para indivíduos a quaisquer outros títulos que não de salários renda e receita de monopólio devem direta ou indiretamente lhes ser devidas Recordemos todavia a proposição já deduzida de que a concorrência e o funcionamento das leis gerais da estimativa de valores tendem a eliminar todos os excedentes acima dos custos147 Por exemplo se um negócio súbita e inesperadamente precisa de máquinas de certo tipo o valor das últimas subirá e ao possuidor de tais máquinas será assegurado o valor excedente no todo ou em parte Mas se a nova demanda for prevista então se deve admitir que muitas dessas má quinas já tenham sido produzidas e sejam ofertadas agora pelos pro dutores concorrentes Então ou não se realizará nenhum lucro especial ou se a produção não puder ser aumentada apropriadamente o exce dente será imputado aos fatores produtivos naturais e originais e en tregue aos seus proprietários de acordo com regras conhecidas Mesmo que a nova demanda não seja prevista o sistema econômico finalmente se ajustará a ela e não se associará às máquinas nenhum valor exce dente permanente 5 Podemos formular agora cinco proposições da nossa teoria do juro que se seguem automaticamente da primeira conclusão elementar de que o juro é o fenômeno do valor e um elemento do preço temos isso em comum com todas as teorias científicas do juro e que terão que ser completadas mais tarde por uma sexta proposição Primeiro o juro provém essencialmente dos valores excedentes que se acabou de considerar Não pode provir de nada mais uma vez que não há nenhum outro excedente no curso normal da vida econômica Evidentemente isso só é válido para o que chamamos de juro produtivo no sentido mais estrito que não inclui o juro consuntivoprodutivo148 Pois na medida em que o juro é apenas um OS ECONOMISTAS 168 147 Cf a argumentação do capítulo IV 148 Wesen Livro Terceiro cap III também cap III Parte Primeira da presente obra Exemplo se uma fábrica for destruída por acidente e se for reconstruída por meio de um empréstimo o juro sobre esse empréstimo é o que designamos de consuntivoprodutivo parasita no corpo dos salários e da renda obviamente não tem nada a ver diretamente com esses valores excedentes Mas a grande corrente de bens de fluxo regular da qual a classe capitalista vive e que flui para esta em todos os períodos econômicos a partir dos lucros da pro dução esta só pode provir dos nossos valores excedentes Esses pontos serão depois examinados mais cuidadosamente Além disso há um valor excedente que não é dessa espécie a saber a receita de monopólio Nossa tese supõe portanto que a fonte típica do juro não é a receita de monopólio Isso contudo como eu já disse deveria estar suficien temente claro Assim sem o desenvolvimento com as qualificações mencionadas não haveria juro é uma parte das grandes ondas que o desenvolvimento ocasiona no mar dos valores econômicos Nossa tese se apóia antes de tudo na prova negativa de que a determinação do valor no fluxo circular exclui o fenômeno do juro essa prova por sua vez se apóia primeiro sobre o conhecimento direto do processo que determina os valores e em segundo lugar sobre a insustentabilidade das várias tentativas de estabelecer diferenças decisivas entre os va lores dos produtos e dos meios de produção numa economia sem de senvolvimento Depois acrescentamos a prova positiva de que tal di ferença de valor ocorre no desenvolvimento A tese perderá muito da sua estranheza no curso da discussão seguinte Podese enfatizar aqui de imediato contudo que ela não está como poderia parecer tão longe de um tratamento sem preconceitos da realidade pois o desenvolvi mento industrial é certamente no mínimo a fonte principal da forma juro da renda income149 Em segundo lugar os valores excedentes no desenvolvimento de ságuam como vimos em dois grupos o lucro empresarial e os valores que representam as repercussões do desenvolvimento Evidentemente o juro não pode se prender a estas últimas Podemos afirmálo tão facilmente porque o processo em que se cria essa espécie de excedente é bastante evidente de modo que podemos ver imediatamente o que cabe e o que não cabe nele Consideremos o exemplo de um comerciante que em conseqüência do estabelecimento de fábricas em sua aldeia recebe por um tempo mais do que a renda de equilíbrio Então obtém um determinado lucro Esse lucro não pode em si ser juro pois não é permanente e é logo varrido pela concorrência Mas tampouco flui juro dele supondo que o comerciante não tenha feito nada mais para adquirilo do que simplesmente ficar em sua loja e elevar os preços para os seus consumidores pois absolutamente nada mais acontece ao lucro o comerciante o embolsa e o usa como lhe aprouver O processo todo não deixa espaço para o fenômeno do juro Portanto o juro deve partir do lucro empresarial Essa é uma conclusão indireta à qual é SCHUMPETER 169 149 Apenas a regularidade do juro fundamenta a préconcepção de que ele deva ser explicado estaticamente mas levamos em conta essa regularidade claro dou uma importância apenas secundária se comparada com ou tros fatos que apóiam essa tese O desenvolvimento pois de algum modo leva de roldão uma parte do lucro do capitalista O juro fun ciona como um tributo sobre o lucro Em terceiro lugar contudo é óbvio que nem o lucro todo nem mesmo uma parte dele podem ser direta e imediatamente juro porque é apenas temporário E analogamente vemos de imediato que o juro não se prende a nenhuma classe de bens concretos Todos os valores excedentes que se prendem a bens concretos devem ser por natureza temporários e mesmo que tais excedentes surjam constantemente num sistema econômico em pleno desenvolvimento tanto que se requer uma análise mais profunda para se reconhecer a efemeridade de qual quer um deles no entanto não podem formar imediatamente uma renda permanente Uma vez que o juro é permanente não pode ser entendido simplesmente como um valor excedente proveniente de bens concretos Embora ele provenha de uma classe definida de valores ex cedentes nenhum valor excedente per se é juro Essas três proposições de que o juro enquanto um grande fe nômeno social é um produto do desenvolvimento150 que provém do lucro e que não se prende a bens concretos são a base de nossa teoria do juro A sua aceitação põe um fim a todas as tentativas continuamente repetidas de encontrar um elemento do valor dos bens concretos cor respondente ao juro151 e com isso concentra num campo bem pequeno o trabalho relativo ao problema do juro 6 Chegou o momento de tomar mais firmemente a questão fun damental e dominála A questão principal cuja solução é decidi damente o ponto mais importante do problema do juro segue agora como a partir dos lucros transitórios sempre mudando se extrai essa corrente permanente de juros fluindo sempre para o mesmo capital Essa apresentação da questão incorpora as conclusões até aqui obtidas e é independente da direção em que continuamos Se for respondida satisfatoriamente o problema do juro estará então respondido de maneira que satisfaz a todas as demandas que a análise de BöhmBawerk provou serem indispensáveis e quais quer que sejam os outros defeitos que possa ter não está exposta a todas as objeções fatais às teorias anteriores OS ECONOMISTAS 170 150 Cf Wesen Livro Terceiro cap III 151 Disso se seguem de imediato duas conclusões práticas Primeira o assim chamado juro comercial primitivo não é juro Na medida em que não seja receita de monopólio ou salários deve ser lucro empresarial apenas temporário também Segunda aluguel não é juro Aluguel é compra parcial e não pode incluir nenhum elemento de juro no fluxo circular A renda líquida de uma casa só poderia ser renda da terra e salários de superinten dência Verseá automaticamente a partir de nossa argumentação como um elemento de juro pode no desenvolvimento entrar no aluguel O fato de que o juro já existente sobre o capital torne o tempo um elemento dos custos é especialmente importante Prosseguimos com a nossa quarta tese que difere totalmente das teorias usuais com exceção da teoria da exploração e que tem contra si o peso da autoridade mais competente numa sociedade co munista ou nãomercantil em geral não haveria juro enquanto fenômeno de valor independente Obviamente não se pagaria nenhum juro Ob viamente ainda existiriam os fenômenos de valor dos quais provém o juro numa economia de trocas Mas enquanto fenômeno do valor es pecial enquanto quantidade econômica mesmo enquanto conceito o juro não existiria aí ele depende da organização de uma economia de trocas Formulemos isso ainda mais precisamente Salários e renda da terra também não seriam pagos numa organização puramente co munista Mas os serviços do trabalho e da terra ainda existiriam seriam avaliados e os seus valores seriam um elemento fundamental no plano econômico Nada disso vale para o juro O agente ao qual se paga juro simplesmente não existiria numa economia comunista Então não po deria ser objeto de uma avaliação E conseqüentemente não poderia haver um rendimento líquido correspondente à forma de juro de renda O juro é pois de fato uma categoria econômica não criada direta mente por forças nãoeconômicas mas que só surge numa economia de trocas Por que não há nenhum juro numa sociedade comunista embora haja numa economia de trocas Essa questão nos leva à nossa quinta tese Abrenos uma primeira visão da natureza do aparelho de sucção que arranca dos lucros uma corrente permanente de bens O capitalista certamente tem algo a ver com a produção E tecnicamente a produção é sempre o mesmo processo qualquer que seja a organização em que porventura ocorra Tecnicamente sempre requer bens e nada além de bens Portanto não pode existir aqui nenhuma diferença Mas em outra parte há uma diferença A relação do empresário com os seus bens de produção numa economia de trocas é essencialmente diferente da do órgão central numa comunidade nãomercantil Este último dispõe di retamente deles o primeiro deve antes de tudo obtêlos por aluguel ou compra Se os empresários estivessem em posição de confiscar os bens de produção de que necessitassem para levar a efeito seus novos planos ainda haveria lucro do empresário mas nenhuma parte deste precisaria ser desembolsada por eles como juro Nem haveria nenhum motivo para que considerassem parte dele como juro sobre o capital que despen dessem Pelo contrário tudo o que obtivessem acima dos custos seria para eles lucros e nada mais É somente porque outras pessoas têm o comando sobre os bens de produção necessários que os empresários precisam chamar o capitalista para ajudálos a remover o obstáculo que a propriedade privada dos meios de produção ou o direito de dispor livremente de seus próprios serviços pessoais põem em seu caminho Tal ajuda não é necessária para produzir no fluxo circular pois em SCHUMPETER 171 presas já em funcionamento podem ser e em princípio são financiadas correntemente por suas receitas anteriores que fluem para elas sem a intervenção de nenhum agenciamento capitalista distinto Assim não se obscurece nada de essencial ao quadro do fluxo circular se se supõe que os meios com os quais a produção é levada em frente con sistem em produtos dos períodos precedentes mas no caso das novas combinações os empresários não têm tais produtos com os quais obter meios de produção Aqui pois entra a função do capital e tornase evidente que não pode existir nada a ela correspondente nem numa sociedade comunista nem mesmo numa sociedade nãocomunista mas estacionária 7 Gostaria de chamar a atenção do leitor para o fato de que nossa concepção do problema do juro envolve algo diferente da concepção usual Embora isso seja realmente óbvio não obstante não será su pérfluo elucidar ainda mais esse ponto Com esse propósito partirei da distinção usual entre juros sobre empréstimos e juros originais sobre o capital Ela está presente nos primórdios das investigações quanto à natureza do juro e tornouse uma das pedras angulares da teoria A especulação sobre o problema do juro começou como seria lógico com o juro sobre empréstimos ao consumo Antes de tudo é natural que começasse com o juro sobre tais empréstimos porque se sobressai como um ramo independente de renda caracterizado por muitos traços nítidos É sempre mais fácil entender conceitualmente um ramo de renda que também é externa mente característico do que um que precise primeiro ser limpo de uma mistura de outros elementos por isso a renda da terra foi notoria mente reconhecida primeiro na Inglaterra onde não apenas existia mas também era como regra geral paga separadamente Mas o juro sobre empréstimos ao consumo também foi o ponto de partida porque era a forma mais importante e mais bem conhecida nos tempos antigos e na Idade Média É verdade que não deixava de existir juro sobre empréstimos produtivos mas na antigüidade clássica ele operava num mundo que não filosofava ao passo que o mundo que filosofava só observava as coisas econômicas de passagem e só prestava atenção ao juro que podia ser observado em sua esfera E também mais tarde os elementos duma economia capitalista que existiam eram familiares apenas a um círculo que era um mundo em si e que nem meditava nem escrevia O padre da Igreja o canonista ou o filósofo dependente da Igreja e de Aristóteles todos eles só pensavam no juro sobre empréstimos ao consumo que se fazia notar dentro de seu horizonte e de maneira muito desagradável De seu desprezo pela extorsão do necessitado e pela exploração do imprudente do libertino de sua reação contra a pressão exercida pelo usuário surgiu a sua hostilidade para com a cobrança de juros e isso explica as várias proibições do juro OS ECONOMISTAS 172 Outra concepção se formou da observação da vida dos negócios quando a economia capitalista ganhava força Seria um exagero dizer que o juro sobre empréstimos produtivos foi positivamente uma des coberta de autores mais recentes Mas com efeito a ênfase dada a isso veio a ser quase uma descoberta Esta logo tornou claro que a concepção antiga simplesmente ignorava uma parte do fenômeno e na verdade a que então era sem dúvida a parte mais importante e ao mesmo tempo aquela que o devedor de modo algum se torna cada vez mais pobre por pedir emprestado Isso tirou a força da razão principal para a hostilidade em relação ao juro e levou cientificamente a um passo adiante Toda a literatura inglesa sobre o juro até a época de Adam Smith está imbuída da idéia de que um empréstimo amiúde leva o prestatário a um lucro No lugar do fraco devedor aparece na mente do teórico um forte devedor no lugar de plangentes multidões de pobres desafortunados e descuidados senhores de terra aparece uma figura de outra estirpe o empresário não definido muito clara e precisamente é verdade mas ainda assim suficientemente visível E é esse o ponto suscitado pela teoria aqui exposta Mas o juro produtivo ainda é juro sobre empréstimos para esse grupo de teóricos O lucro empresarial é reconhecido como a sua fonte Contudo daí não se segue que o lucro empresarial é simplesmente juro assim como não se segue do fato de que as receitas totais são a fonte dos salários que essas receitas totais de produção sejam salários Se se pode dizer qualquer coisa definida em vista da brevidade dos argumentos desses autores sobre o juro é que pelo menos não con fundiram juro e lucro nem os viram como de caráter idêntico Pelo contrário perceberam como se pode ver em Hume152 a diferença entre os dois e estavam longe de não ver no lucro nada mais do que o juro sobre o próprio capital Explicam eles o lucro de uma maneira que de modo algum é aplicável ao juro sobre empréstimos enquanto tais mas apenas a uma outra espécie de lucro que é a fonte do juro sobre os empréstimos153 Todos esses autores seguiram o juro de volta até o lucro nos negócios como sua fonte mas não disseram que este último em si é apenas um exemplo e na verdade o principal exemplo do juro O seu lucro profit não pode ser traduzido por juro mesmo quando ocorre na frase lucro do capital profit of capital Eles não resolveram o problema do juro Mas não seria correto dizer que eles meramente seguiram de volta ao caminho de uma forma derivada juro sobre empréstimos até juro original e real sem explicar este úl timo Simplesmente não conseguiram eles provar por que o credor com o seu capital está em posição de exigir essa fração do lucro por que SCHUMPETER 173 152 Também poderíamos citar Petty Locke e Steuart 153 Isso explica efetivamente a desarmonia que se apresenta num primeiro relance na teoria de Locke como enfatiza BöhmBawerk Cf Kapital und Kapitalzins 2ª ed I 52 o mercado de capitais sempre decide a seu favor Ademais o problema central de cuja solução depende a compreensão do fenômeno do juro reside certamente no lucro dos negócios contudo não porque o lucro nos negócios seja em si o verdadeiro juro mas porque sua existência é um prérequisito do pagamento do juro produtivo Finalmente o em presário é certamente a pessoa mais importante em toda a questão não todavia porque seja o auferidor verdadeiro original típico de juros mas porque é o típico pagante de juros No exemplo de Adam Smith ainda podemos perceber um traço da visão segundo a qual lucro e juro simplesmente não coincidem Apenas com Ricardo e seus epígonos os dois são plenamente sinônimos Só então a teoria passou a ver no lucro dos negócios em geral o único problema e de fato o problema do juro só então a questão de saber por que o empresário obtém um lucro nos negócios tornouse o problema do juro e finalmente é só então que o significado dos autores ingleses é corretamente captado se o seu lucro profit for traduzido por lucro sobre o capital Kapitalgewinn ou juro primário ursprunglicher Zins Isso de modo algum constitui meramente uma substituição ino fensiva do juro contratual sobre o capital emprestado pelo juro sobre o capital próprio mas uma nova asserção a saber que o lucro do empresário é essencialmente juro sobre o capital Os fatos seguintes devem ter contribuído para o que do nosso ponto de vista claramente aparece como um desvio do caminho certo Antes de tudo essa apresentação da questão é extraordinariamente óbvia A renda agrícola contratual certamente é apenas uma conseqüência do fenômeno original a saber da parte do produto que é imputável à terra Nada mais é do que este último em si o rendimento líquido da agricultura do ponto de vista do proprietário da terra Salários contratuais são apenas conseqüência da produtividade econômica do trabalho são simplesmente rendimento líquido da produção do ponto de vista do tra balhador Por que deveria ser diferente no caso do juro Sem uma razão especial ele não será considerado como sendo assim A conclusão de que ao juro contratual há um correspondente juro original e que este último é a renda típica do empresário tanto quanto a renda da terra é a renda típica do proprietário da terra parece ser perfeitamente natural quase evidente por si só Na prática o empresário computa o juro sobre o seu próprio capital isso aparece como uma sanção incontestável se for inteiramente necessário O excedente do valor dos produtos acima de seus custos então é realmente o fenômeno fundamental do qual também depende o juro E aparece nas mãos do empresário É de se admirar que só esse pro blema tenha sido visto e que se esperasse que tudo estivesse resolvido com a sua solução Os economistas tinham acabado de se ver livres das superficialidades mercantilistas e tinham se acostumado a olhar os bens concretos que jazem atrás do véu monetário Enfatizavase OS ECONOMISTAS 174 que o capital consiste em bens concretos e a tendência era fazer com que esse capital constituísse um fator produtivo especial Esse ponto de vista uma vez aceito leva diretamente a considerar o juro como um elemento do preço dos estoques dos bens e assim foi simplesmente identificado com o que o empresário obtém por meio desses estoques Como o juro indubitavelmente vinha do lucro e representava assim uma parte do lucro este ou de qualquer modo a maior parte deste tornouse inadvertidamente juro de maneira bastante automática no momento em que o juro foi vinculado aos bens concretos de que o empresário faz uso na produção É uma reflexão mais remota do que se poderia pensar a de que os salários não se tornam similarmente juro porque o juro pode ser pago com eles A análise insatisfatória da função empresarial contribuiu pode rosamente para generalizar essa visão Talvez não seja muito correto dizer que o empresário e o capitalista foram simplesmente agregados um ao outro Mas de qualquer modo partiuse da observação de que o empresário só pode obter o seu lucro com a ajuda de capital no sentido de um estoque de bens e colocouse ênfase nessa observação que não merecia Viase e isso era muito natural no emprego do capital a função característica do empresário e por ela o distinguiam do trabalhador Ele era encarado em princípio como o que emprega capital o usuário de bens de produção assim como o capitalista era encarado como o fornecedor de algum tipo de bens A apresentação dada acima da questão prontamente então se insinua deve aparecer simplesmente como uma apresentação mais precisa e mais profunda da questão concernente aos juros sobre empréstimos Isso obviamente deve ter tido graves conseqüências para o pro blema do juro Havia juro sobre empréstimos porque havia o juro ori ginal e este aparecia nas mãos dos empresários Com isso todo o aparato para a solução do problema foi concentrado no empresário Ora isso levou a um grande número de pistas falsas Muitas tentativas de ex plicação como a teoria da exploração e algumas teorias do trabalho enquanto explicações do juro tornaramse possíveis pela primeira vez Pois só quando o juro está vinculado ao empresário é que pode surgir a idéia de explicálo pelo seu serviço de trabalho ou pelo trabalho contido nos bens de produção ou pela luta de preços entre empresário e trabalhadores Outras tentativas tais como por exemplo todas as teorias da produtividade mesmo que não tenham sido viáveis não obstante se tornaram essencialmente mais óbvias por essa maneira de formular o problema do juro Isso tornou impraticável uma teoria correta sobre empresários e capitalistas dificultou o reconhecimento de um lucro empresarial especial e arruinou a sua explicação desde o começo Mas sem dúvida a pior conseqüência dessa interpretação foi a criação de um problema que se tornou uma espécie de perpetuum mobile econômico SCHUMPETER 175 O juro como a experiência ensina é uma renda permanente Tem origem nas mãos do empresário Conseqüentemente uma renda permanente sui generis tem origem nas mãos do empresário E a ques tão com que se defronta a teoria tradicional do juro é de onde ele vem Por mais de um século os teóricos têm atacado essa questão impossível na verdade uma questão sem sentido Nossa posição é inteiramente diferente Se a teoria tradicional vincula o juro contratual aos lucros dos empresários apenas delineia o problema até o que considera ser o seu caso fundamental e depois de fazêlo ainda tem que desempenhar a parte principal da tarefa Se conseguirmos vincular o juro aos lucros dos empresários teremos re solvido todo o problema porque os lucros dos empresários não são eles mesmos outro caso de juros mas algo diferente disso que já foi ex plicado A afirmação de que há juros sobre empréstimos porque há lucros nos negócios só tem valor para a teoria predominante enquanto apresentação mais precisa da questão ao passo que para nós já tem um valor explicativo Para nós está solucionada a questão mas de onde vem o lucro dos negócios que para a teoria predominante contém um apelo a que faça o seu trabalho principal Para nós resta apenas a questão como surge o juro a partir do lucro empresarial Foi necessário chamar especialmente a atenção do leitor para essa apresentação diferente e mais restrita da questão em nosso problema do juro porque a objeção de que não se faz aqui nada mais do que reduzir o juro aos lucros o que a teoria já fez há muito tempo seria particularmente aborrecida Assim se justifica bem a repetida ênfase sobre coisas que o leitor poderia facilmente ter dito a si mesmo Agora procederemos à sexta e última proposição de nossa teoria do juro 8 O excedente que constitui a base do juro sendo um excedente de valor só pode surgir com uma expressão em valor Portanto numa economia de trocas só pode ser expresso na comparação de duas somas de dinheiro Isso é evidente e prima facie completamente incontro verso Em particular nenhuma comparação de quantidades de bens não pode em si mesma assegurar nada quanto à existência de um excedente em valor Onde quer que se fale em quantidades de bens num tal contexto elas aparecem apenas como símbolos de valores Na prática se usa a expressão em valor e o juro é representado somente na forma de dinheiro De qualquer modo podemos aceitar esse fato mas interpretálo muito diversamente Poderíamos chegar à conclusão de que esse aparecimento do juro na forma de dinheiro depende me ramente da necessidade de um padrão de valor e não tem nada a ver com a natureza do juro Essa é a visão predominante Segundo ela o dinheiro serve como forma de expressão e nada mais ao passo que o juro pelo contrário surge nos bens de certo tipo como um excedente dos próprios bens Também adotamos essa visão no caso do lucro em OS ECONOMISTAS 176 presarial Também é necessária uma medida de valor para expressálo e a representação em dinheiro é portanto utilizada por uma questão de conveniência Mas a despeito disso a natureza do lucro empresarial não tem em absoluto nada a ver com o dinheiro Inquestionavelmente no caso do juro também é extraordinaria mente tentador procurar afastarse do elemento dinheiro tão rapida mente quanto possível e trazer a explicação do juro para a área em que os valores e os rendimentos surgem a saber o reino da produção de bens Contudo não podemos nos desviar É verdade que em todos os casos há um prêmio aos bens de certa espécie correspondente ao juro em dinheiro ou seja ao prêmio ao poder de compra É verdade que para produzir no sentido técnico é necessário bens e não dinheiro Mas se daí concluirmos que o dinheiro é apenas um elo intermediário com importância meramente técnica e começarmos a substituílo pelos bens que com ele são obtidos e pelos quais portanto o juro é numa última análise pago perdemos imediatamente o terreno sob nossos pés Ou expressando mais corretamente podemos efetivamente dar um passo ou mesmo alguns passos no sentido de nos afastar da base monetária e adentrar o mundo das mercadorias Mas o caminho acaba subitamente porque esses prêmios às mercadorias não são permanentes e então vemos imediatamente que esse caminho estava errado pois uma característica essencial do juro é que ele é permanente Portanto é impossível atravessar o véu monetário para se chegar aos prêmios para os bens concretos Se alguém penetrar por ele penetrará no vazio154 Assim sendo não podemos nos afastar da base monetária do juro Isso constitui uma prova indireta de que se deve preferir uma segunda interpretação do significado da forma dinheiro em que o juro chega a nós a saber a de que essa forma dinheiro não é uma casca mas é o cerne Obviamente uma tal prova não poderia sozinha justificar inferências de grande alcance Mas se ajusta aos nossos argumentos anteriores quanto ao tema do crédito e do capital em virtude dos quais podemos entender o papel cumprido aqui pelo poder de compra Assim como resultado disso podemos apresentar agora a nossa sexta propo sição o juro é um elemento do preço do poder de compra considerado como um meio de controle sobre os bens de produção É claro que essa proposição não atribui nenhum papel produtivo ao poder de compra No entanto a maioria das pessoas a rejeitam a limine a despeito do fato de que o juro flutua no mercado monetário com a oferta e a demanda de dinheiro o que indubitavelmente aponta no sentido de nossa interpretação155 Podese acrescentar imediatamen SCHUMPETER 177 154 Aqui não entrarei mais nos convenientes estoque de bens de consumo e estoque de serviços do trabalho e da terra acumulados 155 Cf as observações de Marshall perante a Comissão sobre a Depressão do Comércio Na discussão da relação entre a quantidade de moeda e os preços das mercadorias diz ele falando de um aumento na quantidade de moeda Devo dizer que atuaria de imediato te outro ponto Ficar molhado quando chove não é mais evidente para o homem de negócios do que a queda dos juros quando aumenta a disponibilidade de crédito permanecendo tudo o mais invariável Na realidade se o Governo imprimisse dinheiro de papel e o emprestasse aos empresários o lucro não cairia E o Estado não poderia receber juros por ele A conexão dos juros com as taxas de câmbio e os movi mentos do ouro não falam suficientemente claro Há um espectro ex tremamente amplo e significativo de observações cotidianas que aqui nos corrobora Não obstante apenas poucos teóricos significativos introduziram esses fatos na discussão do fenômeno do juro Sidgwick representa uma interpretação na qual com BöhmBawerk percebo essencialmente uma teoria da abstinência Mas antes da sedes materiae o capítulo sobre o juro ele trata do juro no capítulo sobre o valor do dinheiro e aí o relaciona ao dinheiro e reconhece a influência da criação do poder de compra sobre o juro na afirmação Devemos considerar que o banqueiro em ampla medida produz o dinheiro que empresta e que facilmente pode ter condições para vender o uso dessa mercadoria a um preço materialmente menor do que a taxa de juros sobre o capital em geral156 Essa afirmação contém muitos pontos acerca dos quais não podemos nos regozijar Além disso não fornece nenhum funda mento sólido para o processo Finalmente não se tira nenhuma con clusão adicional para a teoria do juro No entanto tratase de um passo em nossa direção obviamente feito com referência a Macleod Davenport se concentra muito mais no assunto mas sua análise tam bém não chega a nada Avança com muita habilidade e vontade para o obstáculo mas se recusa a retirálo As teorias predominantes des prezam completamente o elemento dinheiro deixamno para os au tores sobre finanças como uma questão técnica sem interesse teórico Essa posição é tão generalizada que deve apoiarse em algum elemento de verdade e de qualquer modo precisa de uma explicação Podese dizer menos em relação à tentativa de negar a ligação estatística entre a taxa de juros e a quantidade de dinheiro R Georges Lévy157 comparou a taxa de juros com a produção de ouro e como era de se esperar concluiu que não existe nenhuma correlação significativa Deixando de lado o fato de que o método estatístico empregado era falho isso não justifica a conclusão de que a taxa de juros e a quantidade de dinheiro não têm nada a ver uma com a outra Em primeiro lugar não é de se esperar uma correlação exata no tempo Depois a oferta OS ECONOMISTAS 178 sobre Lombard Street e tornaria as pessoas dispostas a emprestar mais incharia os de pósitos e saldos contábeis e assim habilitaria as pessoas a aumentar a sua especulação Alquém que diz isso e quem poderia negálo não pode rejeitar facilmente a nossa inter pretação 156 Principles of Political Economy 3ª ed p 251 157 Journal des Economistes 1899 de ouro mesmo nos bancos não é simplesmente proporcional ao volume de crédito concedido e apenas a concessão de crédito tem significado para a taxa de juros Finalmente nem toda a produção de ouro vai para o empresário Tampouco a refutação indutiva tentada por Irving Fisher The Rate of Interest p 319 et seqs afeta o nosso argumento Médias anuais não provam absolutamente nada em comparação com as observações que po dem ser feitas nos detalhes das negociações cotidianas em dinheiro Além disso comparou a circulação de dinheiro per capita com a taxa de juros tornando assim a comparação completamente irrelevante Mas evidentemente os economistas do século XVIII tinham todas as razões para enfatizar que o juro é pago em última instância pelos bens Tinham que combater não apenas os erros dos mercantilistas mas todos os outros tipos de erros tanto dos homens de negócio quanto dos filósofos e ao fazêlo eles de fato estabeleceram verdades válidas e expuseram uma longa lista de enganos populares Law Locke Mon tesquieu e outros indubitavelmente estavam errados ao fazer a taxa de juros depender simplesmente da quantidade de dinheiro e Adam Smith estava certo ao mostrar158 que um aumento na quantidade de dinheiro coeteris paribus elevará os preços e que a um nível mais alto tenderá a se restabelecer a mesma relação entre rendimento e capital que reinava antes Até mesmo o efeito imediato de um aumento do dinheiro em circulação seria elevar a taxa de juros ao invés de dimi nuíla Pois a previsão de tal aumento deve ter esse efeito159 e a de manda de crédito será estimulada pela elevação dos preços Mas tudo isso embora explique e em alguma medida justifique a aversão que a maioria de nossas mais altas autoridades demonstram para com qual quer teoria monetária do juro não tem entretanto nada a ver com a nossa proposição Também podemos descobrir outros elementos de verdade no ponto de vista hostil a explicações monetárias160 Homens de negócio e au tores sobre finanças enfatizam freqüentemente de uma maneira errada a importância da política de desconto e do sistema monetário O fato de que o banco central pode influenciar a taxa de juros não prova que o juro é o preço do poder de compra mais do que o fato de que o Estado pode fixar os preços prova que os preços em geral são explicáveis pela ação governamental A taxa de juros sem dúvida pode ser influenciada SCHUMPETER 179 158 Cf seu pequeno e fecundo argumento no Livro Segundo cap IV da Wealth of Nations 159 Cf FISHER The Rate of Interest p 78 160 Por exemplo o seu justificado desdém pela conexão causal entre o juro e a quantidade de moeda na forma seguinte se existe mais dinheiro então o valor do dinheiro cai e por esse dinheiro menos valioso é pago menos juro Evidentemente não há nisso nenhum aspecto de resgate Não discuti absolutamente essa interpretação neste texto mas acredito que ela contribuiu largamente para afastar os economistas de uma vez por todas desse nexo entre dinheiro e juro pela atenção prestada ao estado da liquidez mas o significado teórico desse fato em si mesmo não vai muito longe É um caso de influência sobre os preços por motivos situados fora do mercado A visão de que mediante o sistema monetário e a política de desconto a taxa de juros de um país pode ser mantida mais baixa do que a de outros países e de que tal política estimula o desenvolvimento econômico nada mais é do que um julgamento précientífico A organização de um mercado monetário é tão capaz de ser aperfeiçoada quanto a do mercado de trabalho mas nada pode ser alterado por isso nos processos fundamentais 9 Nosso problema se reduz agora simplesmente à questão quais são as condições para o aparecimento de um prêmio ao poder de compra presente por conta do poder de compra futuro Por que é que se eu empresto um certo número de unidades de poder de compra posso estipular que um número maior de tais unidades seja devolvido em alguma data futura Esse é obviamente um fenômeno de mercado O mercado que devemos estudar é o mercado monetário E é um processo de deter minação de preços o que temos que investigar Toda a transação de empréstimo individual é uma troca real A princípio parece estranho talvez que uma mercadoria seja por assim dizer trocada por si mesma Depois dos argumentos de BöhmBawerk quanto a esse ponto161 con tudo não é necessário entrar em maiores detalhes a troca de presente por futuro não é uma troca entre coisas iguais e por isso sem sentido diferente da troca de algo em um lugar por algo em outro lugar Assim como o poder de compra em um lugar pode ser trocado por poder de compra em outro lugar assim também o poder de compra presente pode ser trocado pelo futuro A analogia entre transações de emprés timos e a arbitragem do câmbio é óbvia e podese chamar a atenção do leitor para isso Se conseguirmos provar que em certas circunstâncias digamos de uma vez no caso do desenvolvimento o poder de compra presente deve regularmente obter um prêmio por conta do poder de compra futuro no mercado monetário então a possibilidade de um fluxo per manente de bens para os possuidores de poder de compra é explicada teoricamente O capitalista pode então obter uma renda permanente que em todos os aspectos se comporta como se surgisse no fluxo circular embora as suas fontes individualmente não sejam permanentes e em bora sejam efeitos do desenvolvimento E nenhuma imputação ou com putação pode alterar algo no caráter dessa corrente de bens enquanto rendimento líquido Agora podemos indicar diretamente que altura pode ter o valor OS ECONOMISTAS 180 161 Cf BÖHMBAWERK Kapital und Kapitalzins v II total de uma anuidade interminável Deve ser a soma que se empres tada a juros produzirá um rendimento igual à anuidade pois se fosse menor os emprestadores competiriam para comprar a anuidade e se fosse maior os compradores potenciais prefeririam emprestar seu di nheiro a juros comprála Essa é a regra real da capitalização que já pressupõe a existência de uma taxa de juros Daí se segue de novo que a avaliação dos rendimentos permanentes não lhes pode retirar o caráter de renda líquida Portanto teremos respondido a todas as três questões nas quais consiste o problema do juro se resolvermos o problema do prêmio ao poder de compra presente A prova de um fluxo permanente de bens aos capitalistas do qual não se deve fazer nenhuma dedução e que não é para ser passado para outros indivíduos resolve completamente a questão e explica ipso facto que esse fluxo também represente um ganho ou seja um rendimento líquido Procederemos agora à elabo ração dessa prova desenvolvendo passo a passo a nossa explicação do intrincado problema do juro 10 Já se disse que mesmo no fluxo circular podem surgir e certa mente surgirão casos em que as pessoas estarão prontas a tomar em prestado mesmo com a condição de ter que pagar de volta uma soma maior do que a que receberem Qualquer que seja o motivo reveses temporários expectativas de um aumento futuro da renda deficiência de vontade ou de previsão tais pessoas serão capazes de expressar a sua avaliação do poder de compra presente em termos de poder de compra futuro o que determina a sua curva de demanda pelo primeiro da maneira comum Por outro lado pode haver e em geral haverá pessoas dispostas a satisfazer a sua demanda desde que recebam um prêmio que lhes compense de sobra as perturbações que o empréstimo de somas conservadas com propósitos definidos deve acarretar Por tanto também podemos construir curvas de oferta e quase não é ne cessário mostrar em detalhes como nesse mercado aparecerá um preço um prêmio determinado Mas transações dessa espécie não poderiam normalmente ser de grande importância e acima de tudo não seriam elementos necessários na direção de negócios Emprestar e tomar emprestado só podem se tornar uma parte da rotina normal da indústria e do comércio e o juro só pode adquirir econômica e socialmente a importância que efetiva mente tem se o controle do poder de compra presente significar mais poder de compra futuro para o prestamista Como a perspectiva de lucro é o pivô em torno do qual efetivamente gira a avaliação de somas de poder de compra presente colocaremos de lado por enquanto todos os outros fatores que podem dar origem ao juro mesmo quando não houver desenvolvimento Ora dentro do fluxo circular e num mercado que está em equi SCHUMPETER 181 líbrio é impossível com uma dada soma de dinheiro obter uma soma de dinheiro maior Como quer que eu empregue um valor de cem uni dades monetárias de recursos incluindo a administração no âmbito das possibilidades conhecidas e costumeiras não posso obter por elas receitas maiores do que exatamente cem unidades monetárias Quais quer que sejam as possibilidades existentes de produção em que possa aplicar cem unidades monetárias nunca receberei mais do que cem unidades monetárias possivelmente contudo receberei menos Pois essa é precisamente a característica da posição de equilíbrio a de re presentar a melhor combinação nas condições dadas em sentido amplo das forças produtivas O valor da unidade monetária é nesse sentido necessariamente o valor ao par pois ex hypothesi todos os ganhos de arbitragem já foram obtidos e portanto estão excluídos Se eu comprar serviços do trabalho e da terra com as cem unidades mo netárias e com estes realizar a produção mais lucrativa verificarei que posso colocar o produto exatamente por cem unidades monetárias Foi precisamente em vista dessas possibilidades mais lucrativas de emprego que foram estabelecidos os valores e os preços dos meios de produção e esse emprego mais lucrativo também determina o valor do poder de compra no sentido em que o tomamos Apenas no curso do desenvolvimento a questão é diferente Só então posso obter um rendimento maior pelo meu produto quer dizer se realizar uma nova combinação das forças produtivas que comprei com cem unidades monetárias e conseguir colocar no mer cado um novo produto de maior valor Pois os preços dos meios de produção não foram determinados em vista apenas desse emprego mas em vista dos usos anteriores Aqui pois a posse de uma soma de dinheiro é o meio de se obter uma soma maior Por causa disso nessa medida normalmente se estimará para uma soma presente um valor mais alto do que para uma futura Portanto as somas presentes de dinheiro enquanto somas potencialmente maiores por assim dizer terão um prêmio em valor que também conduz a um prêmio no preço E nisso reside a explicação do juro No de senvolvimento a concessão e a obtenção de crédito se tornam parte essencial do processo econômico Ali aparece o fenômeno que foi descrito pelas expressões escassez relativa de capital e atraso da oferta de capital em relação à demanda e outras semelhantes Ape nas se e por que a corrente social de bens se torna mais ampla e rica o juro se destaca com tanta nitidez e finalmente nos coloca de tal modo sob a sua influência que se requer um longo esforço ana lítico para perceber que ele não aparece sempre automaticamente quando os homens atuam economicamente 11 Observemos agora mais atentamente o processo de formação do juro Depois do que foi dito isso significa que examinaremos mais atentamente o método de determinação do preço do poder de compra OS ECONOMISTAS 182 Com esse fim vamos nos limitar estritamente de início ao caso que reconhecemos como fundamental e ao qual também se dirigiu a dis cussão nos capítulos anteriores a saber o caso da troca entre empre sários e capitalistas Mais tarde seguiremos as ramificações mais im portantes do fenômeno do juro Em nossas proposições presentes as únicas pessoas que têm uma estimativa mais alta do poder de compra presente em relação ao poder de compra futuro são os empresários Apenas eles são os portadores da quele movimento do mercado em favor do dinheiro presente ou daquela demanda que eleva o preço do dinheiro acima do par como o definimos Os capitalistas pelo lado da oferta confrontamse com os em presários pelo lado da demanda Iniciemos com a suposição de que os meios de pagamento necessários à realização de novas combinações devem ser retirados do fluxo circular e que não há criação de meios de pagamento creditícios Além disso como estamos considerando uma economia sem resultados de desenvolvimento anterior não há grandes reservas de poder de compra ocioso pois estas como foi demonstrado acima só são criadas pelo desenvolvimento Um capitalista seria assim alguém que estivesse disposto em certas condições a transferir ao em presário uma soma definida retirandoa de seus usos habituais ou seja restringindo seus gastos quer na produção quer no consumo Supomos ainda que a quantidade de dinheiro no sistema não cresce de nenhuma outra maneira por exemplo pela descoberta de ouro A troca se desenvolverá entre empresários e possuidores de di nheiro desenrolandose como em qualquer outro caso Temos curvas de oferta e demanda definidas para todos os indivíduos que trocam A demanda do empresário é determinada pelo lucro que pode conseguir com a ajuda de uma certa soma monetária ao explorar as possibilidades que pairam diante dele Seguiremos a prática de supor que essas curvas de demanda são contínuas exatamente como fazemos no caso de outros bens embora um empréstimo muito pequeno digamos de poucas uni dades monetárias tenha pouco uso para o empresário e em certos pontos quais sejam onde se tornam possíveis inovações importantes as curvas de demanda individuais sejam de fato descontínuas Além de certo ponto a saber além da soma que é necessária para a realização de todos os planos que o empresário tenha concebido a sua demanda cairá abruptamente talvez a zero Todavia ao considerar todo o pro cesso econômico ou seja ao considerar muitos empresários essas cir cunstâncias perdem muito da sua importância Portanto imaginaremos que o empresário é capaz de atribuir determinadas quantidades de lucro empresarial às unidades monetárias individuais de zero até o limite dos fins práticos do mesmo modo como todo indivíduo atribui certos valores às sucessivas unidades de qualquer bem A avaliação que qualquer indivíduo normal faz de seu estoque de dinheiro por período econômico resulta do valor de troca subjetivo SCHUMPETER 183 de qualquer unidade como foi explicado no capítulo I As mesmas normas também são válidas para um aumento do dinheiro além de seu estoque habitual Disso resulta uma curva de utilidade definida para todos os indivíduos e também uma curva definida de ofertas potenciais no mercado monetário162 de acordo com princípios bem co nhecidos E agora temos que descrever a luta de preços entre os empresários e os potenciais ofertantes de dinheiro Como ponto de partida suponhamos que alguém oferece para experiência um certo preço pelo poder de compra no nosso mercado monetário que poderia ser visto como semelhante a uma bolsa de valores Com nossas atuais proposições esse preço precisaria ser muito alto uma vez que o emprestador teria que perturbar seriamente todos os seus planos particulares e de negócios Suponhamos então que esse preço do poder de compra presente expresso em poder de compra futuro seja de 140 por um ano Com um prêmio de 40 só poderiam exercer uma demanda efetiva aqueles empresários que esperassem fazer um lucro empresarial de pelo menos 40 ou mais corretamente um lucro de mais de 40 todos os outros estariam excluídos Suponhamos que existisse um certo número dos primeiros De acordo com o princípio melhor trocar com vantagem pequena do que não trocar em absolu to163 esses empresários realmente estariam dispostos a pagar essa taxa de juros por uma certa quantidade de poder de compra Do outro lado do mercado haveria do mesmo modo emprestadores que não tro cariam nem mesmo a essa taxa Supondo por outro lado que um certo número de pessoas considerasse essa compensação adequada ponde rariam sobre a questão de quanto deveriam emprestar A 40 existe uma compensação suficiente apenas para uma certa soma para todos há um limite além do qual a dimensão do sacrifício no período econômico presente deve exceder a dimensão do aumento da utilidade no próximo Mas o empréstimo deve ser também efetivamente tão grande que um aumento leve a um excedente de desvantagem pois na medida em que fosse menor o empréstimo de unidades monetárias adicionais àque la taxa permitiria um excedente de vantagens de que de acordo com princípios gerais nenhum indivíduo pode privarse A oferta e a demanda portanto são determinadas inequivoca mente em todos esses casos de preços experimentais Se por acidente elas fossem igualmente grandes então o preço manteria em nosso caso uma taxa de juros de 40 Se todavia os empresários puderem utilizar mais dinheiro a essa taxa do que o oferecido cada um cobrirá o lance do outro com o que alguns deles se retirarão e novos empresários aparecerão até que seja atingido o equilíbrio Se os empresários não OS ECONOMISTAS 184 162 Cf para detalhes Wesen Livro Segundo Aqui não estamos interessados numa exposição elaborada da teoria dos preços 163 Cf BÖHMBAWERK Kapital und Kapitalzins v II puderem usar tanto dinheiro quanto o oferecido a essa taxa então alguns emprestadores darão lances menores do que outros com o que alguns deles se retirarão e novos empresários aparecerão até que seja atingido o equilíbrio Assim na luta da troca no mercado monetário estabelecerseá um preço definido para o poder de compra exatamente como em qualquer outro mercado E uma vez que em regra ambas as partes dão valor mais alto para o dinheiro presente que para o futuro o empresário porque o dinheiro presente significa para ele mais dinheiro futuro o emprestador porque segundo nossas proposi ções o dinheiro presente torna possível o curso ordenado de sua ativi dade econômica ao passo que o dinheiro futuro é meramente acrescentado à sua renda o preço estará praticamente sempre acima do par O resultado de nossa discussão até esse ponto pode ser expresso em termos da teoria marginalista exatamente como no caso de qualquer processo de determinação de preços Por um lado o juro será igual ao lucro do último empresário que é simplesmente aquele que espera da realização de seu projeto um lucro apenas suficiente para tornar possível o pagamento do juro Se classificarmos os empresários tendo na devida conta o elemento variedade dos riscos de acordo com a dimensão dos lucros que esperam obter de forma que a capacidade para tomar emprestado que têm os empresários caia à medida que avançamos na classificação e se imaginarmos essa série como algo contínuo então deve sempre haver ao menos um empresário cujo lucro compense exatamente o juro e que esteja entre os que obtêm lucros maiores e os que são excluídos da troca no mercado monetário porque o seu lucro é menor do que o juro a ser pago Na prática o último empresário ou o empresário marginal também deve reter um pequeno excedente mas às vezes haverá empresários para quem esse excedente é tão pequeno que eles só podem exercer demanda de poder de compra ao juro efetivamente vigente e não a uma taxa mais alta por menor que seja o total Estes estão na posição que corresponde ao empresário marginal teórico Podemos então dizer que o juro deve ser sempre igual ao menor lucro empresarial efetivamente realizado Com essa afirmação aproximamonos de novo da interpretação usual Por outro lado o juro também deve compensar o valor da esti mativa que o último capitalista ou o capitalista marginal faz de seu dinheiro O conceito de tal capitalista marginal é obtido mutatis mu tandis exatamente da mesma maneira que o de empresário marginal Podese ver facilmente que desse ponto de vista o juro deve ser igual à avaliação do último emprestador e além disso também deve ser igual à avaliação do último empresário Também é óbvio como esse resultado poderia ainda ser mais desenvolvido o que já foi feito com freqüência na literatura econômica Apenas um ponto ainda deve ser mencionado A avaliação do último emprestador apóiase na importân cia que este atribui ao curso habitual de sua vida econômica e isso SCHUMPETER 185 se pode exprimir dizendo que o empresário acarreta um sacrifício e para o capitalista marginal um sacrifício marginal que corresponde à avaliação do aumento na renda pela receita do juro Então o juro também é igual ao maior sacrifício ou sacrifício marginal que deve ser feito para satisfazer a demanda de dinheiro existente a uma dada taxa de juros E com isso nos aproximamos do método de expressão da teoria da abstinência 12 O juro teria que ser determinado dessa maneira se o desenvol vimento industrial efetivamente fosse financiado com recursos do fluxo circular Todavia observamos que o juro também é pago por poder de compra criado ad hoc quer dizer por meios de pagamento creditícios Isso nos conduz de volta às conclusões desenvolvidas nos capítulos II e III deste livro e é hora de introduzilas aqui Vimos ali que numa sociedade capitalista o desenvolvimento industrial poderia em princí pio ser levado a cabo somente com meios de pagamento creditícios Agora adotamos essa concepção Recordamos mais uma vez que as grandes reservas de dinheiro que existem efetivamente surgem como conseqüência do desenvolvimento e portanto devem a princípio ser dei xadas de lado Com a introdução desse elemento o nosso esboço anterior da reali dade se altera mas não se torna inutilizável em seus traços principais O que dissemos sobre a parte da demanda do mercado monetário per manece provisoriamente inalterado Agora como antes a demanda provém dos empresários e de fato da mesma maneira que no caso que acabamos de considerar Só há muita alteração pelo lado da oferta A oferta é posta agora sobre uma outra base aparece uma nova fonte de poder de compra de natureza diferente que não existe no fluxo circular A oferta também provém agora de pessoas diferentes de capitalistas definidos diferente mente a quem chamamos banqueiros em conformidade com o que foi dito anteriormente A troca à qual o juro deve sua origem nesse caso e que de acordo com a nossa interpretação também é típica entre todas as outras trocas concernentes ao dinheiro na sociedade moderna ocorre entre o empresário e o banqueiro Assim se pudermos dar as condições que governam a oferta de meios de pagamento creditícios teremos captado o caso fundamental do fenômeno do juro Já sabemos por quais forças essa oferta é regulada primeiro tendo em consideração os possíveis fracassos dos empresários e em segundo lugar tendo em consideração a possível depreciação dos meios de pagamento creditícios Podemos eliminar de nossas conside rações o primeiro elemento Com esse propósito só precisamos consi derar como incluído de uma vez por todas no preço ao par do em préstimo um acréscimo pelo risco que é conhecido empiricamente Isso significa que se se sabe por experiência que 1 dos empréstimos é irrecuperável então diremos que o banqueiro recebe a mesma soma OS ECONOMISTAS 186 que emprestou se efetivamente receber um adicional de aproximada mente 101 de todas as dívidas que não forem frias E há natural mente um elemento de salário para a atividade profissional do ban queiro que também desprezamos A dimensão da oferta será então determinada apenas pelo segundo elemento ou seja considerandose a necessidade de evitar uma diferença de valor entre o poder de compra existente e o recémcriado Devemos demonstrar que o processo de determinação do valor e do preço também cria um prêmio ao poder de compra recémcriado No caso tratado anteriormente não era totalmente impossível que ocorresse juro negativo Poderia ocorrer no caso em que a demanda de dinheiro para novos empreendimentos fosse menor do que as ofertas das pessoas para quem farseia um favor cuidando temporariamente de seu dinheiro Aqui todavia isso está descartado O banqueiro que recebesse de volta menos do que tivesse concedido sofreria um prejuízo teria que cobrir a falta uma vez que não estaria completamente ca pacitado a satisfazer os direitos de saque sobre ele Portanto nesse caso o juro não pode cair abaixo de zero Mas em geral estará acima de zero porque a demanda dos em presários por poder de compra se distingue em um aspecto importante da demanda ordinária por bens A demanda no fluxo circular deve sempre se apoiar numa oferta real de bens senão deixa de ser efetiva A demanda do empresário por poder de compra todavia contrastando com a sua demanda por bens concretos de que ele necessita não está sujeita a essa condição Pelo contrário só é restringida pela condição muito menos severa de que o empresário seja posteriormente capaz de devolver o emprés timo com juros Assim mesmo que não houvesse juro o empresário só demandaria crédito no caso de ser capaz de obter um lucro com o auxílio do empréstimo pois de outro modo não teria nenhum incentivo econômico para produzir também podemos dizer que a demanda do empresário está sujeita à condição ou é efetiva com a condição de que possa obter lucro com o empréstimo Isso conduz à relação entre oferta e demanda Em qualquer tipo de situação econômica o número de inovações possíveis é praticamente ilimitado como foi explicado no capítulo II Mesmo o sistema econômico mais rico não é absolutamente perfeito e não pode sêlo Sempre se pode fazer aperfeiçoamento e a busca de aperfeiçoamento é sempre limitada pelas condições dadas e não pela perfeição do que existe Todo passo adiante abre novas pers pectivas Todo aperfeiçoamento leva a uma maior distância da apa rência da perfeição absoluta A possibilidade do lucro portanto e com ela a demanda potencial não tem limite definido Conseqüentemente a demanda a um juro nulo seria sempre maior do que a oferta que é sempre limitada Todavia essas possibilidades de lucro são impotentes e irreais SCHUMPETER 187 se não se apoiarem na personalidade do empresário Até agora só sa bemos que inovações que rendem lucro são possíveis na vida econô mica não sabemos nem mesmo se serão sempre adotadas por indivíduos concretos em tal medida que a demanda por poder de compra com um juro de zero seja sempre maior do que a oferta Podemos ir ainda mais além O fato de que possam existir sistemas econômicos sem desen volvimento nos mostra que pode ser até que nem existam indivíduos que sejam capazes ou que estejam inclinados a realizar tais inovações Não se poderia concluir disso que também é possível que tais indivíduos existam num número tão pequeno que a oferta de poder de compra não seja exaurida ao invés de ser insuficiente para a satisfação de todos Não haveria absolutamente nenhuma criação de poder de compra e a oferta total de meios de pagamento creditícios simplesmente de sapareceria164 se não existisse nenhuma ou apenas uma insignificante demanda por poder de compra Mas se existe qualquer demanda de empresários por crédito então é impossível que seja menor do que a oferta a um juro de zero Pois o aparecimento de um empresário facilita o aparecimento de outros No capítulo VI demonstrarseá que os obs táculos com os quais as inovações se defrontam se tornam menores quanto mais a comunidade se acostuma com o aparecimento de tais inovações e que em particular as dificuldades técnicas para se fundar novos empreendimentos se tornam menores porque as conexões com mercados estrangeiros as formas de crédito etc uma vez criadas be neficiam os epígonos dos pioneiros Portanto quanto maior o número de pessoas que já tenham fundado com sucesso novos negócios menos difícil se torna agir como empresário A experiência mostra que os sucessos nesse plano como em todos os outros trazem em sua esteira um número sempre crescente de interessados donde cada vez mais pessoas procedem continuamente à realização de novas combinações A demanda por capital em si mesma engendra continuamente nova demanda E portanto no mercado monetário há uma oferta efetiva limitada por maior que seja em contraste com uma demanda efetiva que não tem nenhum limite definido Isso deve elevar o juro acima de zero Assim que esse passa a existir muitos empresários são eliminados e à medida que ele sobe mais e mais empresários desaparecem Pois embora as possibilidades de lucro sejam praticamente ilimitadas diferem em tamanho e eviden temente a maioria delas é pequena O aparecimento do juro eleva por outro lado a oferta que não está fixada em termos absolutos mas o juro não obstante deve continuar a existir e o fará Iniciase uma guerra de OS ECONOMISTAS 188 164 Para evitar malentendidos podese observar que seria possível que as trocas no fluxo circular fossem efetuadas com o auxílio de meios de pagamento creditícios Estes circulariam sem juro e ao par Mas para que haja um incentivo para se criar mais meios de pagamento creditícios o juro é certamente necessário preços no mercado monetário que não descreveremos novamente e sob a influência de todos os elementos do sistema econômico se esta belece um preço definido para o poder de compra que deve conter juro 13 Agora temos que ligar os fatos empíricos que até aqui foram excluídos ao princípio fundamental relativo ao juro Em primeiro lugar devemos enumerar todas as fontes de poder de compra existentes por contraste com o recémcriado que efetivamente alimentam o grande reservatório do mercado monetário e em segundo lugar devemos mos trar como a partir de sua base bastante estreita o juro se espalha por toda a economia de trocas permeia por assim dizer todo o sistema econômico de modo que o juro parece ocupar muito mais espaço do que se poderia esperar por nossa teoria Só podemos considerar nosso problema como resolvido se se puder explorar exaustivamente do nosso ponto de vista toda a área do problema do juro nessas duas direções A primeira tarefa não apresenta dificuldades Antes de tudo toda fase concreta de desenvolvimento começa como dissemos acima com uma herança das fases anteriores Um reservatório de poder de compra pode já estar formado pelos elementos que a economia de trocas pré capitalista criou e assim sempre haverá quantidades maiores ou me nores de poder de compra no sistema econômico que estão à disposição de novos empreendimentos seja permanentemente seja por algum tem po Além disso quando o desenvolvimento capitalista está em funcio namento uma corrente sempre crescente de poder de compra disponível flui para o mercado monetário Distinguiremos três ramificações dela Em primeiro lugar a parte do lucro empresarial que é sem dúvida a maior é empregada dessa forma o lucro será investido Aqui em princípio é bastante irrelevante se um empresário investe o seu lucro em seu próprio negócio ou se a soma em questão chega ao mercado Em segundo lugar se o caso do afastamento de empresários ou talvez de seus sucessores da vida ativa de negócios leva à liquidação do em preendimento somas maiores ou menores ficam liberadas sem que outras somas sempre e necessariamente fiquem ao mesmo tempo imo bilizadas Em terceiro e último lugar os lucros que o desenvolvimento carreia por assim dizer para outras pessoas que não os empresários e que se apóiam nas repercussões do desenvolvimento virão em maior ou menor medida direta ou indiretamente para o mercado monetário Observemos aqui que esse processo é acessório ainda num outro sentido além daquele segundo o qual essa soma deve sua existência apenas ao desenvolvimento é o fato de que o juro existe a possibilidade de receber juro por essa soma de dinheiro que drena para o mercado monetário o poder de compra disponível A aquisição de juro é o único motivo que leva o seu possuidor a oferecêlo se não houvesse juro o poder de compra seria armazenado ou gasto em bens Isso ocorre de modo semelhante no caso de um outro elemento SCHUMPETER 189 Vimos que o significado da poupança num sistema econômico sem de senvolvimento165 seria relativamente muito pequeno e que aquilo que usualmente se designa como dimensão da poupança de uma nação moderna não é nada mais do que a soma dos lucros do desenvolvimento que nunca se tornam elementos de renda Ora a importância da pou pança num sentido real não poderia ser tão grande mesmo num sistema com desenvolvimento a ponto de exercer um papel decisivo em relação aos requisitos industriais a não ser pelo fato de que aparece uma nova espécie de poupança na verdade de poupança real que está ausente num sistema sem desenvolvimento O fato de que se possa assegurar uma renda permanente pelo empréstimo de uma soma de dinheiro atua como um novo motivo para poupar É concebível que exatamente porque uma soma poupada aumenta automaticamente e em conseqüência sua utilidade marginal cai seja às vezes poupado menos do que se não se recebesse nenhum juro Contudo em geral a existência do juro que abre um novo método de empregar o dinheiro poupado leva claramente a um considerável aumento da atividade de poupar o que evidentemente não significa que todo aumento do juro deva resultar num aumento proporcional ou em qualquer aumento da poupança Disso se segue que a poupança efetivamente observável é em parte uma conseqüência do juro existente e aqui também há uma corrente acessória de poder de compra chegando ao mercado monetário Uma terceira fonte que abastece o mercado monetário é o dinheiro que está ocioso por um período de tempo maior ou menor e que também é emprestado se se puder obter juro por ele Consiste em capital de empresa momentaneamente disponível etc O banco reúne essas somas e uma técnica altamente desenvolvida capacita cada unidade monetá ria mesmo que esteja guardada para um gasto iminente a contribuir para o aumento da oferta de poder de compra Um outro fato ainda cabe aqui Vimos que a natureza dos meios creditícios de pagamento e a explicação de sua existência não devem ser buscadas no esforço de economizar dinheiro metálico Evidentemente os meios creditícios de pagamento fazem com que seja usado menos dinheiro metálico do que o que deveria ser usado se as mesmas transações devessem ser levadas a cabo somente com dinheiro metálico Mas essas transações só surgiram com o auxílio dos meios creditícios de pagamento enquanto até hoje não ocorre nenhuma economia de dinheiro em relação às exigências de dinheiro que teriam se desenvolvido no mesmo tempo se não tivesse havido nenhum meio creditício de pagamento No entanto devemos reconhecer agora que à parte os meios creditícios de paga mento a que o desenvolvimento dá origem outras transações que talvez fossem realizadas anteriormente por meio do dinheiro metálico são OS ECONOMISTAS 190 165 Cf capítulo II liquidadas com crédito pelos bancos sob a pressão do desejo de aumentar a quantidade de poder de compra portador de juros ou seja meios creditícios de pagamento são do mesmo modo criados pela técnica ban cária conseqüentemente provém dessa fonte ainda um aumento adi cional da quantidade de dinheiro disponível Todos esses elementos aumentam a oferta no mercado monetário e fazem o juro cair muito abaixo do nível no qual estaria se eles não estivessem presentes Reduziriamno a zero muito em breve se o de senvolvimento não criasse continuamente novas possibilidades de em prego Quando o desenvolvimento estagna dificilmente o banqueiro sabe o que fazer com os fundos disponíveis e freqüentemente se torna duvidoso se o preço do dinheiro contém mais do que a soma de capital mais um prêmio pelo risco e uma compensação pelo trabalho Espe cialmente então e particularmente nos mercados monetários de nações muito ricas o elemento da criação de poder de compra freqüentemente retrocede para o último plano e podese criar facilmente a impressão tão cara à teoria econômica assim como à prática bancária de que o banqueiro não é nada mais do que um intermediário entre os que emprestam e os que tomam empréstimos A partir dessa concepção há apenas um passo simplesmente para substituir o dinheiro do em prestador pelos bens concretos de que o empresário necessita ou mesmo pelos bens concretos de que precisam os que transferem para o em presário os meios de produção necessários Podese observar ainda que há casos como BöhmBawerk já en fatizou nos quais só se demanda e se paga juro porque é possível demandálo e pagálo O juro sobre os saldos bancários é um exemplo Ninguém transfere o seu poder de compra ao banco com a intenção de investir seu capital dessa forma Pelo contrário o dinheiro é depo sitado apenas na medida em que é desejável ter um suprimento de poder de compra disponível por razões pessoais ou para negócios Isso aconteceria mesmo que se tivesse de pagar algo em troca Mas na realidade o depositante recebe na maioria dos países uma espécie de participação nos juros que a soma em questão coloca nas mãos do banqueiro E uma vez que isso tenha se tornado habitual as pessoas não se disporão a deixar um saldo num banco que não pague juro Aqui o juro é pago ao depositante sem que este tenha que fazer nada de sua parte Ora esse fenômeno tem um alcance muito grande dentro da vida econômica O fato de que toda partícula de poder de compra possa obter juros atribuilhe um prêmio qualquer que seja o propósito a que sirva Assim o juro força sua entrada nos negócios das pessoas que por si mesmas não têm nada a ver com combinações novas Todas as unidades de poder de compra devem lutar por assim dizer contra a corrente que tenta drenála para o mercado monetário Além disso é óbvio que em todos os casos em que alguém precisa de crédito por SCHUMPETER 191 qualquer razão a transação de empréstimo empréstimos estatais e outros estará vinculada ao fenômeno fundamental 14 Desse modo o fenômeno do juro se estende gradualmente sobre todo o sistema econômico e portanto apresenta ao observador uma frente muito mais ampla do que se suspeitaria a partir de sua natureza íntima Assim o tempo em si mesmo se torna um elemento do custo num certo sentido como já foi indicado Esse fenômeno resultante que a doutrina predominante aceita como o fato fundamental explica e ao mesmo tempo justifica a discrepância entre ela e a nossa in terpretação Mas ainda temos um outro passo a dar a saber explicar o fato de que o juro finalmente se torne uma forma de expressão para todos os rendimentos com exceção dos salários Na prática falamos da terra como rendendo juro do mesmo modo que uma patente ou qualquer outro bem que renda uma receita de monopólio Falamos em portador de juros até mesmo no caso de um rendimento não permanente dizemos por exemplo que uma soma de dinheiro empregada em especulação mesmo uma mercadoria empre gada em especulação rendeu juros Isso não é contraditório com a nossa interpretação Isso não mostra que o juro é uma renda derivada da propriedade de bens que é uma categoria completamente diferente do que seria segundo a nossa interpretação Esse método de expressar os rendimentos gerou um fruto definido em termos de teoria entre os economistas americanos O impulso veio do Professor Clark Chamou ele os rendimentos oriundos dos bens de produção concretos de renda rent o mesmo rendimento concebido como resultado do fundo econômico duradouro de poder produtivo que ele chama de capital chamou de juro Aqui então o juro aparece meramente como um aspecto especial dos rendimentos e não mais como uma parte independente da corrente da renda nacional O Pro fessor Fetter166 desenvolveu a mesma idéia de modo mais forte ainda e de maneira um pouco diferente Mas aqui estamos interessados mais do que tudo na teoria do Professor Fisher exposta em seu trabalho The Rate of Interest O Professor Fisher explica o fato do juro simples mente pela subestimativa da satisfação das necessidades futuras mais recentemente167 expressou sua teoria na afirmativa O juro é a im paciência cristalizada numa taxa de mercado Em conformidade com isso ele liga o juro a todos os bens separados no tempo do consumo final E como todos os rendimentos destes últimos podem ser capita lizados conseqüentemente expressos na forma de juro o juro não é uma parte mas o todo da corrente de renda salários são juros sobre OS ECONOMISTAS 192 166 Cf meu artigo Die neuere Wirtschaftstheorie in den Vereinigten Staaten In Schmollers Jahrbuch 1910 167 Scientia Rivista di Scienza 1911 o capital humano a renda da terra é juro sobre o capital na forma de terra e todos os outros rendimentos são juros sobre o capital produzido Toda renda é valor produzido descontado de acordo com a taxa de desvalorização das satisfações futuras É claro que não podemos aceitar essa teoria porque não reconhecemos nem mesmo a existência de seu elemento fundamental Isso é exatamente tão claro quanto para Fisher esse elemento se torna um fator central na vida econômica que deve ser introduzido para explicar quase todos os fenômenos econômicos O princípio fundamental que entra aqui em consideração e que deveria nos conduzir à compreensão da prática universal de se expres sar os rendimentos na forma de juro é o seguinte De acordo com a nossa interpretação os bens concretos nunca são capital No entanto quem possui bens concretos pode obter capital vendendoos num sis tema que é concebido como estando em pleno desenvolvimento Nesse sentido os bens concretos podem ser chamados de capital potencial ao menos o são do ponto de vista de seu possuidor que pode trocálos por capital Com referência a isso contudo apenas a terra e as posições de monopólio168 entram em consideração por duas razões Em primeiro lugar não se pode evidentemente vender o próprio potencial de trabalho enquanto tal se desprezarmos a questão da escravidão Mas não há nenhum estoque de bens de consumo e de meios de produção produzidos no sentido asseverado pela doutrina predominante assim em prin cípio voltamos imediatamente à terra e aos monopólios E em segundo lugar apenas a terra e as posições de monopólio são diretamente ge radoras de renda Uma vez que o capital também é gerador de renda o seu proprietário não o trocaria por bens que não rendessem nenhuma renda líquida ou somente o faria se lhe fosse concedida uma tal redução de preço que ele pudesse obter um lucro com os bens no período econômico corrente e então reinvestir o seu capital indene mas nesse caso o vendedor sofreria um prejuízo ao qual só se decidiria em condições anormais es pecialmente no desespero como logo se demonstrará Os possuidores dos agentes naturais e os monopolistas têm pois toda a razão se houver desenvolvimento em comparar sua renda com o rendimento que poderiam obter sobre o capital ao vender os seus agentes naturais ou o seu monopólio uma vez que tal venda poderia ser vantajosa E os capitalistas têm razão em comparar sua renda proveniente do juro com a renda da terra ou a receita de monopólio permanente que podem obter com seu capital Ora em quanto se ele vará o preço de tais fontes de renda Nenhum capitalista na medida em que se coloque na posição de comprador pode estimar um valor para um pedaço de terra que seja mais alto do que a soma de dinheiro que rende tanto juro quanto a renda gerada por aquele Nenhum ca SCHUMPETER 193 168 Embora use esse método de expressão não tenciono lançar dúvidas sobre o fato fundamental de que as posições de monopólio não são bens como facilmente veremos pitalista pode estimar um valor menor para a terra com as mesmas qualificações Se o pedaço de terra custasse mais seria invendável deixandose de lado elementos secundários óbvios nenhum capitalista o compraria Se custasse menos surgiria uma concorrência entre os capitalistas o que elevaria o seu preço até aquele nível Nenhum pro prietário de terras que não estivesse em apuros estaria disposto a entregar a sua terra por uma soma menor do que aquela que lhe rendesse tanto juro quanto a pura renda da terra que o seu pedaço lhe gerasse Mas tampouco poderia obter uma soma mais alta por ele porque uma grande quantidade de terra seria oferecida imediatamente ao capitalista que estivesse pronto a concedêla Assim o valor de capital das fontes permanentes de renda é inequivocamente determi nado As conhecidas circunstâncias que fazem com que seja pago mais ou menos na maioria dos casos não afetam o princípio Nessa solução do problema da capitalização o fator fundamental e central é o juro sobre o poder de compra O rendimento de todas as outras fontes permanentes de renda é comparado a ele e de acordo com ele em conseqüência da existência do juro o seu preço é fixado pelo mecanismo concorrencial de tal modo que não se comete nenhum erro na prática ao se conceber o rendimento do capital potencial como juro real Na realidade portanto todo rendimento permanente está ligado ao juro mas apenas externamente apenas na medida em que a magnitude a que está relacionado é determinada pelo nível do juro Não é juro o método oposto de expressão é meramente na prática um breve jogo de palavras E não depende diretamente do juro como seria o caso se a natureza do juro fosse caracterizada corretamente pela expressão desconto temporal Nossa conclusão também pode ser estendida aos rendimentos líquidos não permanentes por exemplo às quaserendas Não é difícil ver que em livre concorrência um rendimento líquido temporário será vendido e comprado pela soma de dinheiro que se investida a juros no momento da conclusão do negócio produziria ao ser acumulada a mesma soma ao tempo em que cessasse o rendimento líquido que todos os rendimentos líquidos gerariam se fossem emprestados à me dida que fossem sendo obtidos Aqui também na prática falaremos do capital do comprador como rendendo juros e com o mesmo direito que no caso dos rendimentos permanentes embora o comprador não tenha mais o seu capital e tenha se transformado de capitalista em rentista E que soma digamos o proprietário de um altoforno poderá obter por este se não é gerador de um rendimento líquido permanente talvez monopólico ou temporário mas é um negócio do fluxo circular ou seja sem lucro abstraindo a renda da terra que aqui deixaremos de lado Ora nenhum capitalista investirá o seu capital em tal negócio Se é que a transação deva ser efetuada deve lhe render não apenas a reposição de seu capital depois que a aparelhagem já OS ECONOMISTAS 194 estiver gasta mas também um rendimento líquido durante a sua vida útil correspondente ao juro que de outro modo poderia obter Conse qüentemente se o comprador não tiver nenhum outro objetivo com o forno além de simplesmente juntar os seus rendimentos do fluxo cir cular ou seja se não for chamado a cumprir um papel numa nova combinação deve ele ser vendido a um preço mais baixo do que o custo O vendedor deve resolverse a ter um prejuízo pois apenas assim o comprador poderia obter um lucro igual ao juro que de outro modo poderia obter com o dinheiro da compra Em todos esses casos a interpretação e a expressão do homem de negócios não estão corretas Mas em todos esses casos a incorreção não tem nenhuma conseqüência prática e está bem claro por que o homem de negócios faz uso dessa interpretação inadequada No sistema econômico moderno a taxa de juros é de tal modo um fator normativo o juro é em tal medida um barômetro de toda a situação econômica que é necessário leválo em consideração no que diz respeito a prati camente todas as ações econômicas e ele entra em todas as deliberações econômicas Isso conduz ao fenômeno observado pela teoria desde tem pos imemoriais pelo qual todos os rendimentos de um sistema econô mico vistos de um certo ângulo tendem a se igualar 15 A expressão elíptica do homem prático que está sempre implícita quando se fala em juros sobre bens concretos conduziu a teoria para o caminho errado Mas quero demonstrar agora que o erro teórico que está sempre presente nessa extensão da idéia de juros além de sua base real também traz em sua esteira erros práticos O aspecto juro dos rendimentos é uma visão inofensiva para se adotar no caso dos rendimentos permanentes ou seja renda da terra e receitas permanentes de monopólio mas não o é em outros casos Consideremos primeiramente o nosso exemplo do forno para demonstrar isso De acordo com as nossas proposições o comprador do forno recebe durante a vida útil deste o suficiente para recuperar o dinheiro da compra e além deste o juro que vamos supor ele gasta como renda Ora se todas as condições econômicas permanecerem inalteradas quando o forno estiver completamente gasto pelo uso ele poderá construir outro169 exatamente do mesmo tipo e do mesmo custo que o do antigo Mas se esse custo é mais alto que originalmente o indivíduo em questão deve acrescentar algo ao seu fundo de amortização a fim de cobrilo E doravante o forno não lhe renderia mais um ren dimento líquido de acordo com isso Ora se o comprador do forno percebesse claramente essas condições ele não levaria à frente a cons SCHUMPETER 195 169 O leitor verá facilmente que o argumento não é alterado se admitimos que o comprador que deseja manter o forno em atividade não o deixa deteriorarse para reconstruílo de novo mas o preserva mediante permanentes consertos trução mas investiria em outro lugar a soma recuperada Se não as percebesse se se deixasse enganar pelo aspecto juro então seria ele o perdedor embora o vendedor também pudesse ter sido de sua parte o perdedor e o comprador naquele momento acreditasse corretamente que tinha feito um bom negócio À primeira vista o caso parece sur preendente Mas não acrescentarei nenhuma outra palavra de expli cação porque a questão deve estar clara ao leitor que lhe der a devida atenção Tais casos não são raros na prática e são conseqüência do hábito de se atribuir rendimentos líquidos permanentes a bens que não os geram É claro que outros erros também podem levar a tais decepções Por outro lado as decepções podem deixar de se materializar em conseqüência de circunstâncias particularmente favoráveis Mas acredito que todos devem encontrar em sua experiência provas sufi cientes do que foi dito O caso é semelhante se realmente existirem rendimentos líquidos mas não permanentes se por exemplo um negócio ainda rende algu mas poucas parcelas de lucro empresarial receitas monopólicas tem porárias ou quaserendas Se não obstante se falar em coisas tais como geração de juros não haverá problemas desde que se esteja cons ciente do caráter temporário desses rendimentos Mas no momento em que eles são explicados como juros é óbvia a tentação de encarálos como permanentes na verdade às vezes a expressão já é um sintoma desse erro E então é claro que se experimenta a mais desagradável das surpresas Esse juro sempre arranja um jeito de diminuir obsti nadamente até mesmo de acabar subitamente O homem de negócios se queixa nesse caso de que os tempos estão ruins e clama por tarifas protecionistas assistência governamental e outros recursos ou se con sidera vítima de um grande infortúnio ou com mais razão como vítima de nova concorrência Tais ocorrências são muito freqüentes e fundamentam a nossa argumentação de modo notável No entanto obviamente levam de volta ao erro fundamental que conduz na prática a passos em falso e a amargas decepções e na teoria às explicações do juro que estamos criticando Freqüentemente se ouve a afirmação de que o negócio de alguém rende digamos 30 Evidentemente não se trata simplesmente de juro Na maioria dos casos o resultado é alcançado ao não se ter em conta a atividade do empresário como uma despesa e conseqüente mente não incluindo nos custos o seu pagamento Se essa não for a explicação então o rendimento não pode ser permanente As experiên cias dos negócios fundamentam completamente essa conclusão da nossa interpretação Pois que negócio rende juro permanentemente É ver dade que freqüentemente o homem de negócios não se dá conta desse caráter temporário do rendimento e imagina as mais diversas hipóteses quanto à sua crescente redução E o comprador mui freqüentemente é seduzido pela expectativa de que tal rendimento se mantenha no OS ECONOMISTAS 196 máximo reconhece que a experiência do proprietário anterior pode ter algo a ver com o tamanho do rendimento Então aplica automaticamente a fórmula do juro ao invés do método correto de cálculo Se fizer es tritamente isso ou seja se capitalizar o rendimento à taxa de juros corrente então se seguirá o fracasso O rendimento de todo negócio cessa depois de certo tempo todo negócio que permanece inalterado logo cai na insignificância O estabelecimento industrial individual não é uma fonte perma nente de qualquer outro rendimento que não os salários e a renda da terra O indivíduo que está mais propenso a esquecer isso no cotidiano e a sofrer a experiência desagradável indicada acima é o típico acionista Poderseia pensar que uma objeção contra a nossa teoria poderia ser montada a partir do fato de que um acionista pode obter um rendi mento permanente mesmo sem mudar periodicamente o seu investi mento Segundo a nossa visão o capitalista teria primeiro que em prestar o seu capital a um empresário e depois de um certo tempo a outro uma vez que o primeiro não pode estar permanentemente em condições de pagar juros Como caracterizamos os acionistas como me ros contribuintes de dinheiro e no entanto eles retiram um rendimento permanente de um mesmo e único empreendimento a objeção pareceria ser muito forte Mas precisamente o exemplo do acionista e de todo credor que compartilha permanentemente da sorte de um empreendi mento mostra quão fiel à realidade é a nossa interpretação Pois esse fato é muito discutível As companhias vivem eternamente e pagam dividendos para sempre Certamente há as que o fazem mas de modo geral apenas dois grupos delas Primeiramente há ramos da indústria algumas ferrovias por exemplo que têm um monopólio se não perpétuo ao menos assegurado por um longo período Aqui o acio nista recebe simplesmente receita de monopólio Depois há espécies de empreendimentos que por natureza e programa estão continuamente fazendo coisas novas e nada são realmente além de formas de em preendimentos sempre novos Aqui os objetivos se alteram incessan temente e as personalidades dirigentes também mudam de modo que é da natureza da coisa que sempre apareçam nos cargos de direção pessoas de considerável habilidade Estão sempre surgindo novos lu cros e se o acionista perder o seu rendimento o que não é realmente necessário será apenas um infortúnio a ser explicado pelo caso indi vidual Mas desprezandose essas duas categorias ou seja se uma companhia simplesmente opera um negócio determinado sem uma po sição de monopólio há no máximo a renda dos agentes naturais en quanto rendimento permanente e nada mais Ora a experiência o confirma notavelmente embora na prática a concorrência não atue prontamente e assim as empresas permaneçam na posse de excedentes por um tempo considerável Nenhuma companhia industrial do tipo indicado gratifica os seus acionistas com uma chuva constante de ouro SCHUMPETER 197 pelo contrário logo declina a um estágio que tem a mais lamentável semelhança com uma fonte que seca Assim freqüentemente a devo lução do capital está escondida nos dividendos mesmo que o desgaste das máquinas etc seja sempre levado conscienciosamente em conside ração nos cálculos de depreciação De modo muito correto portanto freqüentemente se amortiza muito mais do que a depreciação e muitas companhias se esforçam por amortizar todo o capital o mais breve possível Pois para cada uma chega o momento em que o negócio fica realmente sem valor ou seja quando os seus rendimentos apenas co brem os custos Desse modo não existe uma coisa tal como uma renda permanente proveniente de juros auferidos do mesmo e único negócio como qualquer um que não acredite e aja de acordo poderá aprender à sua custa Assim a receita de dividendos dos acionistas não depõe contra a nossa interpretação muito pelo contrário 16 Resta ainda para ser visto o quanto essa teoria se mostrará um instrumento eficiente na análise de material estatístico e na investi gação das questões que surgem em relação ao juro Certamente isso parece trazer o fato do dinheiro do crédito e dos procedimentos ban cários para mais perto da teoria pura do que fazem outras interpre tações O autor espera poder propor as conclusões de algum trabalho nessa linha em um livro a ser publicado em futuro próximo onde serão discutidos problemas como por exemplo a relação entre reservas de ouro e juro a influência do sistema monetário sobre o juro as diferenças entre taxas de juro de diferentes países e a correlação entre taxas de câmbio e de juros Nossa argumentação também deveria explicar o movimento no tempo da taxa de juros É dessa classe de fatos que se deveria esperar antes de tudo a verificação da idéia fundamental Se o juro da vida de negócios o que comumente se chama juro produtivo tem as suas raízes no lucro empresarial ambos deveriam se mover bem juntos Na verdade isso é válido para flutuações de curto prazo Em períodos mais longos ainda podemos observar alguma relação entre a predo minância de combinações novas e o juro mas há tantos elementos a serem levados em conta e outras coisas permanecem tão imperfeita mente iguais assim que ultrapassamos o período digamos de uma década que a verificação tornase extremamente complicada Então não apenas é necessário admitir as dívidas governamentais a migração de capital e os movimentos do nível geral de preços mas há também questões mais delicadas que não podem ser abordadas aqui Não há nada em nossa teoria que apóie a antiga visão que adquiriu a força de um dogma para muitas pessoas a partir dos eco nomistas clássicos em diante de que o juro deve necessariamente apresentar uma tendência secular a cair Podese demonstrar todavia que a impressão desse efeito que parece se impor tão fortemente é OS ECONOMISTAS 198 devida em grande parte ao elemento risco que é responsável pelas cifras medievais e que a taxa real de juros não apresenta nenhuma tendência secular clara que a sua história mais confirma a nossa in terpretação do que a desautoriza Essas observações devem bastar Por mais que os nossos argu mentos estejam incompletos e por mais que exijam formulações mais precisas e modificações acredito que o leitor não obstante encontrará neles alguns elementos para a compreensão daquela parte dos fenô menos econômicos que até aqui apresentou maiores dificuldades Só tenho uma coisa a acrescentar desejava explicar o fenômeno do juro mas não justificálo O juro não é como o lucro por exemplo fruto direto do desenvolvimento no sentido de ser um prêmio pelas suas realizações Ao contrário é antes um freio um freio necessário numa economia de trocas ao desenvolvimento uma espécie de imposto sobre o lucro empresarial Certamente isso não é suficiente para con denálo mesmo que se inclua nas tarefas de nossa ciência a condenação ou a aprovação de coisas Contra o veredito condenatório podemos as severar a importância da função desse éforo do sistema econômico e podemos concluir que o juro só tira alguma coisa do empresário que de outro modo caberia a este mas não tira nada de outras classes deixandose de lado os casos do crédito ao consumo e do crédito pro dutivoconsuntivo No entanto esse fato juntamente com o fato de que o fenômeno do juro não é um elemento necessário em todas as organizações econômicas sempre resultará em que a crítica das con dições sociais encontre mais o que objetar no juro do que em qualquer outra coisa Portanto é importante afirmar que o juro é apenas con seqüência de um método especial de se realizar novas combinações e que esse método pode ser mudado com muito mais facilidade do que as outras instituições fundamentais do sistema concorrencial SCHUMPETER 199 46 Evaluation Performance Testing The developer will be responsible for evaluating the system to ensure it meets all user requirements and performs optimally This includes conducting unit tests integration tests and system tests The performance of the software will be analyzed under different conditions to guarantee its scalability reliability and responsiveness User feedback will be collected and incorporated to improve the system further ensuring a userfriendly and efficient product CAPÍTULO VI O Ciclo Econômico Observações Preliminares A teoria seguinte que trata das crises mais corretamente das flutuações econômicas recorrentes tem ainda menos pretensão a ser considerada uma representação satisfatória do assunto em questão do que as teorias da função empresarial do crédito do capital do mercado monetário do lucro e do juro que já foram expostas Uma teoria sa tisfatória exigiria hoje mais do que nunca um tratamento abrangente do material notavelmente ampliado o exame das numerosas teorias individuais baseadas nos diferentes índices das condições dos negócios e de sua relação mútua O meu trabalho nesse sentido é truncado a promessa de um tratamento exaustivo ainda não foi cumprida170 e de acordo com o meu programa de trabalho deve permanecer assim por longo tempo Não obstante apresento novamente esse capítulo sem nenhuma alteração exceto quanto à exposição não apenas porque agora ele tem o seu lugar na investigação das crises mas também porque ainda o considero correto não apenas porque creio que ele contenha a contribuição da argumentação deste livro dada ao tema mas também porque essa contribuição coloca a essência da questão Assim estou disposto a aceitar críticas com base neste capítulo 201 170 Desde então publiquei sobre o tema além do artigo no Zeitschrift für Volkswirthchaft Sozialpolitik und Verwaltung 1910 o artigo Die Wellenbewegung des Wirtschaftslebens In Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik 1914 Até hoje minha teoria das crises é citada com base nesse artigo Também foi exposta em 1914 numa conferência na Uni versidade de Harvard quando foi dado um passo além deste capítulo na formulação e na fundamentação factual mas sem nenhuma mudança essencial Além disso há um artigo Kreditkontrolle ibid 1925 que estava primariamente preocupado com outras coisas Oude en nieuwe Bankpolitiek In EconomischStatistischen Berichten 1925 Esse artigo também mal toca na questão fundamental Expus isso detalhadamente numa conferência na Escola Superior de Comércio em Roterdam em 1925 Finalmente para uma exposição breve veja The Explanation of the Business Cycle In Economica 1928 O estudo das objeções que chegaram ao meu conhecimento rati ficou minha convicção Mencionarei apenas duas Primeiro há a crítica de que minha teoria é meramente uma psicologia das crises Essa objeção foi feita tão gentilmente por uma autoridade da maior compe tência e que é para mim da mais alta estima que de minha parte devo formular o seu real conteúdo com maior precisão para que o leitor veja o que ela realmente significa Psicologia das crises significa uma coisa bem definida diferente de psicologia do valor por exemplo significa insistir naquelas aberrações tragicômicas do temeroso mundo dos negócios que notamos e especialmente temos notado no passado em todas as crises Enquanto teoria das crises portanto significaria basear uma explicação científica seja sobre os fenômenos que obvia mente acompanham ou resultam da crise pânico pessimismo etc seja o que seria apenas um pouco menos ruim sobre tendências altistas prévias febre de promoções etc Tal teoria é estéril tal explicação não explica nada Mas não é essa minha posição Não apenas discuto sempre a conduta exterior de modo que só se pode encontrar psicologia no meu argumento no sentido em que estaria implícita em qualquer afir mação quanto aos fatos econômicos mesmo a mais objetiva mas explico o fenômeno das flutuações econômicas quer estejam realmente ocor rendo agora quer não somente por uma corrente de causação objetiva que percorre automaticamente o seu curso ou seja pelo efeito do apa recimento de novos empreendimentos sobre as condições dos já exis tentes uma corrente de causação que decorre dos fatos explicados no capítulo II Depois há a objeção formulada por Loewe minha teoria não explica a periodicidade das crises171 Não compreendo assim Duas coi sas podem ser chamadas de periodicidade Em primeiro lugar o simples fato de que todo boom é seguido por uma depressão toda depressão por um boom Mas isso minha teoria explica Ou em segundo lugar podese chamar assim a duração efetiva do ciclo Mas isso nenhuma teoria pode explicar numericamente porque obviamente depende dos dados concretos do caso individual No entanto minha teoria dá uma resposta geral o boom termina e a depressão começa após a passagem do tempo que deve transcorrer antes que os produtos dos novos em preendimentos possam aparecer no mercado E um novo boom se sucede à depressão quando o processo de reabsorção das inovações estiver terminado Mas Loewe tem algo mais em vista que foi formulado por Emil Lederer172 como se segue Dizse que o meu tratamento é insatisfatório porque não tenta explicar por que os empresários aparecem periodi OS ECONOMISTAS 202 171 In Festschrift für Brentano II 351 172 Cf seu notável trabalho Konjunktur und Krisen In Grundriss der Sozialökonomik v IV Parte Primeira p 368 camente por assim dizer em enxames quais são as condições nas quais eles podem aparecer e se sempre aparecerão e por que se as condições lhes forem favoráveis Ora podese afirmar que não expliquei de modo decisivo o aparecimento em bloco dos empresários que com os fenômenos conseqüentes constitui a única causa dos períodos de boom Mas pareceme insustentável que não tenha nem tentado expli cálo quando toda a minha argumentação o objetivava As condições nas quais os empresários podem aparecer deixandose de lado as condições econômicas e sociais gerais da economia concorrencial estão apresentadas no capítulo II e podem ser formuladas incompleta e brevemente como a existência de novas e mais vantajosas possibili dades do ponto de vista econômico privado uma condição que deve ser sempre cumprida a acessibilidade limitada dessas possibilidades por causa das qualificações pessoais e circunstâncias exteriores que são necessárias173 e uma situação econômica que permite um cálculo razoavelmente confiável Por que os empresários aparecem nessas con dições não é mais problemático se se aceita as proposições implícitas em nosso conceito de empresário do que o fato de que qualquer pessoa se apodera de um ganho que esteja imediatamente ante seus olhos Sem nenhuma intenção crítica e somente para permitir que as idéias sobressaiam mais claramente gostaria agora de comparar minha teoria com o que é sem dúvida o trabalho mais profundo feito nesse campo o de Spiethoff174 por menos que seja comparável com este último em minuciosidade e perfeição O ponto de vista tomado de Juglar de acordo com o qual a flutuação econômica em forma de onda e não a própria crise aparece como a coisa fundamental a ser explicada é comum a ambos Somos concordes na concepção que é estabalecida por mim não apenas neste mas também no capítulo II de que as situações alternantes Wechsellagen Spiethoff são a forma que o desenvolvimento econômico toma na era do capitalismo Assim também somos concordes na visão de que o capitalismo com pletamente desenvolvido deve ser datado historicamente apenas a par tir do momento em que tais situações alternantes começam inequivo camente a ocorrer ou seja na Inglaterra apenas a partir de 1821 segundo Spiethoff na Alemanha a partir da década de 40 do século XIX Além disso concordamos que os dados do consumo de ferro são o melhor índice das condições dos negócios ou seja esse índice que Spiethoff descobriu e elaborou não tenho nenhum trabalho a apre sentar nesse sentido também é reconhecido por mim como o certo SCHUMPETER 203 173 A nova formulação do cap II também esclarece a objeção de Loewe que ele exprime com o conceito de homem de negócios semiestático 174 Cf suas exposições mais recentes sobretudo o artigo Krisen no Handwörterbuch der Staatswissenschaften mas também a exposição no Hamburger Wirtschaftsdienst 1926 caderno I e a sua conferência Moderne Konjunkturforschung perante os Amigos e Pa tronos da Universidade de Bonn do ponto de vista da minha teoria Concordamos que o nexo causal começa antes de tudo com os meios de produção que são comprados com o capital e que o boom se materializa antes de tudo na produção de plantas industriais fábricas minas navios ferrovias etc Final mente concordamos com a concepção de que o boom surge como Spiet hoff coloca porque se investe mais capital este se fixa em novos negócios e de que o impulso se difunde então pelos mercados de ma tériasprimas trabalho equipamento etc Também entendemos a mes ma coisa pelo termo capital no sentido que é significativo aqui com a exceção de que a criação de poder de compra cumpre um papel fun damental na minha argumentação o que não acontece na de Spiethoff Até aqui só teria uma coisa a acrescentar que o investimento de capital não é distribuído uniformemente no tempo mas aparece en masse por intervalos Esse é obviamente um fato muito fundamental e para isso ofereço uma explicação não oferecida por Spiethoff Aceito a concepção de Spiethoff do ciclopadrão Musterkreislauf A diferença entre nós reside na explicação da circunstância que corta o boom e ocasiona a depressão Para Spiethoff essa circunstância é a superprodução de bens de capital com relação por um lado ao capital existente e por outro à demanda efetiva Como descrição dos fatos efetivos eu também poderia aceitar isso Mas enquanto a teoria de Spiethoff pára nesse elemento e tenta nos fazer entender que cir cunstâncias induzem os produtores de equipamentos fabris de material de construção etc a produzir periodicamente mais do que os seus mercados são capazes de absorver no momento minha teoria tenta explicar o estado dos negócios da maneira que aparece neste capítulo que pode ser resumida como se segue O efeito do aparecimento de novos empreendimentos en masse sobre as empresas antigas e sobre a situação econômica estabelecida tendo em consideração o fato esta belecido no capítulo II de que em regra o novo não nasce do velho mas aparece ao lado deste e o elimina na concorrência é o de mudar de tal modo todas as condições que se torna necessário um processo especial de adaptação Essa diferença entre nós seria ainda mais re duzida por uma discussão mais detalhada Foi impossível manter concisa minha antiga exposição e ao mesmo tempo tornála invulnerável Não obstante sintetizeia mais ainda para que a idéia fundamental sobressaísse mais claramente Pela mesma razão enumerarei os passos da argumentação 1 A nossa questão é todo esse desenvolvimento que estivemos des crevendo prossegue com uma continuidade ininterrupta é similar ao crescimento orgânico gradual de uma árvore A experiência nos res ponde negativamente É fato comprovado que o sistema econômico não anda sempre para a frente de modo contínuo e sem tropeços Ocorrem movimentos contrários contratempos incidentes dos tipos mais varia OS ECONOMISTAS 204 dos que obstruem o caminho do desenvolvimento há colapsos no sis tema de valores econômicos que o interrompem Por que isso Aqui nos defrontamos com um novo problema Se esses desvios do sistema econômico em relação a uma linha uniforme de desenvolvimento fossem raros dificilmente constituiriam um problema com direito especial à atenção do teórico Numa economia desprovida de desenvolvimento o indivíduo pode se defrontar com re veses que para ele são muito sérios sem que haja nenhuma razão para que a teoria aborde tais fenômenos Do mesmo modo fatos que talvez pudessem destruir o desenvolvimento econômico de toda uma nação não exigiriam nenhuma investigação geral se fossem raros se pudessem ser concebidos como contratempos isolados Mas os movi mentos contrários e os contratempos de que estamos aqui falando são freqüentes tão freqüentes que algo semelhante a uma periodicidade necessária parece se insinuar à primeira vista Isso torna impossível praticamente em todos os casos se não do ponto de vista da lógica que façamos abstração dessa classe de fenômenos Além disso se ocorresse que após tal contratempo ser superado o desenvolvimento anterior começasse de novo do ponto alcançado antes que fosse interrompido o peso desse contratempo não seria em princípio muito grande Poderíamos dizer que tínhamos levado em conta todos os fatos fundamentais do desenvolvimento mesmo que não pudéssemos explicar esses próprios incidentes perturbadores ou simplesmente deles abstraíssemos Contudo não é esse o caso Os movimentos contrários não apenas entravam o desenvolvimento mas põemlhe um fim Uma grande quantidade de valores é aniquilada as condições e os pressu postos fundamentais dos planos dos dirigentes do sistema econômico se alteram O sistema econômico precisa se reanimar antes de poder caminhar de novo para a frente o seu sistema de valores precisa se reorganizar E o desenvolvimento que então começa novamente é um novo e não simplesmente a continuação do antigo É verdade e a ex periência nos ensina que ele se moverá numa direção mais ou menos similar à anterior mas a continuidade do plano é interrompida175 O novo desenvolvimento provém de condições diferentes e em parte da ação de pessoas diferentes muitas esperanças e valores antigos são enterrados para sempre e surgem outros completamente novos Em piricamente pode ocorrer que as linhas principais de todos esses de senvolvimentos parciais situados entre os contratempos coincidam com as linhas gerais do desenvolvimento total mas teoricamente não po demos considerar apenas os contornos do total Os empresários não podem saltar a fase dos contratempos e deixar os seus planos intactos SCHUMPETER 205 175 Evidentemente sempre menos à medida que progride a trustificação para a próxima fase de desenvolvimento e tampouco a explicação cien tífica pode fazêlo sem perder completamente o contato com a realidade Precisamos investigar agora essa classe de fenômenos que tão nitidamente se destaca aparentemente com certa oposição dos outros fenômenos do desenvolvimento De início existem as seguintes possi bilidades Em primeiro lugar as crises podem ou não ser um fenômeno uniforme Os colapsos peculiares do desenvolvimento que conhecemos pela experiência e descrevemos como crises aparecem sempre mesmo às mentes ingênuas como formas de um único fenômeno Todavia essa homogeneidade das crises certamente não vai longe Pelo contrário existe principalmente apenas numa similaridade dos efeitos sobre o sistema econômico e sobre os indivíduos e no fato de que certos eventos habitualmente ocorrem na maioria das crises Tais efeitos e tais even tos contudo apareceriam com as perturbações internas e externas mais variadas da vida econômica e não são suficientes para provar que as crises são sempre o mesmo fenômeno Efetivamente distin guemse diferentes espécies e causas de crises E nada justifica que suponhamos de antemão que as crises tenham mais em comum umas com as outras do que o elemento do qual partimos a saber que todas são eventos que fazem parar o desenvolvimento econômico precedente Em segundo lugar sejam fenômenos homogêneos sejam hetero gêneos as crises podem ou não ser passíveis de uma explicação pura mente econômica Evidentemente não se pode duvidar de que as crises pertencem essencialmente à esfera econômica Mas de modo nenhum é óbvio que pertençam à natureza do sistema econômico ou mesmo a qualquer tipo de sistema no sentido de que resultariam necessaria mente do funcionamento dos fatores econômicos considerados em si mesmos Pelo contrário seria bem possível que as causas reais das crises existissem fora da esfera puramente econômica ou seja que fossem conseqüências de perturbações que atuassem de fora sobre estas últimas A freqüência e mesmo a regularidade das crises tantas vezes confirmada não seria em si mesma nenhum argumento conclusivo uma vez que se pode facilmente conceber que tais perturbações devam ocorrer na vida prática Uma crise seria então simplesmente o processo pelo qual a vida econômica se adapta a novas condições No que concerne ao primeiro ponto podemos de início dizer uma coisa Se falamos em crises sempre que nos defrontarmos com grandes perturbações então não há nenhum atributo geral para além do fato da perturbação Por enquanto é melhor conceber as crises nesse sentido amplo Em conformidade com isso os processos econômicos são divididos em três classes nos processos do fluxo circular nos do desenvolvimento e nos que impedem o curso deste último sem perturbações Essa classi ficação de modo algum é alheia à realidade Podemos claramente manter as três classes separadas na vida real Só uma análise mais detalhada mostrará se alguma delas se subordina a uma das outras duas OS ECONOMISTAS 206 A ausência de um atributo geral nas perturbações é provada pela história das crises Tais perturbações já irromperam em todos os lugares concebíveis do corpo econômico e além disso de maneiras muito di ferentes nos diferentes lugares Às vezes aparecem pelo lado da oferta às vezes pelo lado da demanda no primeiro caso às vezes na produção técnica às vezes nas relações do mercado ou de crédito no último caso às vezes mediante mudanças na direção da demanda por exemplo mudanças de moda às vezes mediante mudanças no poder de compra dos consumidores Em sua maior parte os vários grupos industriais não sofrem da mesma maneira mas primeiro uma indústria sofre mais depois outra Às vezes a crise se caracteriza por um colapso do sistema de crédito que afeta especialmente os capitalistas às vezes sofrem mais os proprietários de terra ou os trabalhadores Os empresários também podem se comprometer de diferentes maneiras À primeira vista a tentativa de procurar os elementos comuns das crises nas formas de seu surgimento parece ser mais promissora Efetivamente foi esse elemento que nos levou à convicção popular e científica de que as crises são um mesmo e único fenômeno Contudo é fácil perceber que essas características externas que podem ser apreendidas superficialmente não são comuns nem essenciais a todas as crises na medida em que vão além de um elemento de perturbação do desenvolvimento O elemento pânico por exemplo é muito óbvio Foi um aspecto destacado das primeiras crises Mas também há pânicos sem crises E além disso há crises sem pânico real A intensidade do pânico de qualquer modo não mantém uma relação necessária com a importância da crise Finalmente o pânico é muito mais uma con seqüência do que uma causa do irrompimento das crises Isso também é verdadeiro quanto a termos difundidos como febre especulativa superprodução176 etc Uma vez que tenha irrompido uma crise que tenha alterado toda a situação econômica grande parte da especulação pode parecer sem sentido e grande demais qualquer quantidade de bens produzidos embora ambas fossem perfeitamente apropriadas ao estado de negócios anterior ao irrompimento da crise Similarmente a falência de estabelecimentos individuais a falta de uma relação apro priada entre os ramos individuais da produção a incongruência entre produção e consumo e outros elementos semelhantes são mais efeitos do que causas O fato de que embora na literatura que descreve o tema reapareça invariavelmente um certo número de crises e no en tanto além desse ponto as enumerações individuais das crises não estejam de acordo umas com as outras indica que não há nenhum critério satisfatório das crises nesse sentido Chegamos agora à outra questão a de saber se as crises são ou SCHUMPETER 207 176 Não nos referimos com isso às minuciosas teorias da superprodução mas apenas à referência popular a esse elemento não fenômenos puramente econômicos ou seja se elas e todas as suas causas e efeitos podem ser entendidos por meio de fatores explicativos resultantes do estudo do sistema econômico Evidentemente esse não é sempre e necessariamente o caso Admitirseá de imediato que a deflagração de uma guerra por exemplo pode causar perturbações suficientemente grandes para que se fale em crise Seguramente essa não é de modo algum a regra As grandes guerras do século XIX por exemplo em sua maior parte não levaram imediatamente a crises Mas o caso é concebível Suponhamos que uma nação insular que tenha um comércio ativo com outras nações e cujo sistema econômico possa ser concebido como em pleno desenvolvimento no sentido em que o tomamos seja isolada do resto do mundo por uma frota inimiga As importações e exportações são igualmente paralisadas o sistema de preços e valores é desmantelado as obrigações não podem ser res peitadas a âncora do crédito se quebra tudo isso é concebível ocorreu na realidade e certamente representa uma crise E essa crise não pode ser explicada de maneira puramente econômica uma vez que a causa a guerra é um elemento estranho ao sistema econômico Pela atuação desse corpo estranho na esfera econômica é que ao mesmo tempo a crise surge e é explicada Tais fatores externos explicam mui freqüentemente as crises177 Um exemplo importante é o das más co lheitas que evidentemente podem provocar crises e como é bastante sabido tornaramse até mesmo a base de uma teoria geral das crises Mas mesmo circunstâncias que não atuem de modo tão destacado sobre o sistema econômico a partir de fora quanto as guerras ou as condições meteorológicas devem ser vistas do ponto de vista da teoria pura como efeitos de causas externas de perturbação e assim em princípio como acidentais Para tomar um exemplo a súbita abolição de tarifas protecionistas pode causar uma crise Tal medida comercial é certamente um fato econômico Mas não podemos afirmar precisa mente nada sobre o seu aparecimento somente podemos investigar os seus efeitos Do ponto de vista das leis da vida econômica é simples mente uma influência vinda de fora Assim há crises que não são puramente fenômenos econômicos no sentido que lhes damos E como não o são não podemos dizer nada em geral sobre as suas causas do ponto de vista puramente econômico Para nós devem passar por de sastrosos acidentes Colocase agora a pergunta existe alguma crise puramente eco nômica no sentido em que a tomamos uma crise que apareceria sem os estímulos externos dos quais acabamos de dar exemplos De fato OS ECONOMISTAS 208 177 Não apenas cabem aqui os fenômenos parecidos com os de uma crise da época da deflagração da Guerra Mundial como também as crises de pósguerra de todos os países natureza das quais além disso não é exaustivamente descrita com os lugarescomuns crise de estabilização ou crise de deflação conforme o caso é concebível a perspectiva que foi realmente sustentada de que as crises sempre são efeitos de circunstâncias externas E isso indubita velmente é muito plausível Se ela for correta não há então nenhuma teoria econômica real das crises e nada podemos fazer além de esta belecer simplesmente esses fatos ou no máximo tentar classificar essas causas externas das crises Antes de respondermos à nossa pergunta devemos desfazernos de um tipo especial de crise Se a indústria de um país é financiada por outro e se uma onda de prosperidade inunda este último oferecendo ao capital emprego mais rentável do que encontrava até então no pri meiro país existirá uma tendência a retirar o capital de seus inves timentos anteriores Se isso ocorrer rápida e irrefletidamente pode perfeitamente provocar uma crise no primeiro país Esse exemplo deve mostrar que causas puramente econômicas numa região econômica po dem dar origem a crises em outra O fenômeno é freqüente e geralmente reconhecido Obviamente isso pode acontecer não apenas entre dois países diferentes mas também entre partes diferentes de um mesmo país e finalmente em certas circunstâncias dentro de uma região econômica entre os diferentes ramos da indústria Quando uma crise irrompe num local envolve em geral outros locais Agora a pergunta é tais fenômenos são puramente econômicos do tipo que estamos bus cando A resposta é negativa As condições econômicas de outras regiões são pontos de referência para qualquer sistema econômico dado e só podem desempenhar o papel de elementos nãoeconômicos na explicação de fenômenos no interior desse sistema Para o sistema econômico considerado eles são acidentes e seria ocioso tentar encontrar uma lei geral para tais crises Finalmente depois de descartar todas as causas exógenas das crises ainda encontramos outras que são de caráter puramente eco nômico no sentido de que brotam de dentro do sistema econômico mas que não obstante não apresentam um problema teórico novo Toda combinação nova para usar a nossa velha expressão está exposta ao perigo óbvio de vir a ser um fracasso Embora sejam raros os casos em que ramos inteiros da indústria cometam erros fatais no entanto eles acontecem e se a indústria em questão for suficientemente im portante a maioria dos sintomas de uma crise podem ser provocados por eles Porém mais uma vez eventos desse tipo são meramente contratempos a serem explicados individualmente em cada caso e não inerentes ao processo econômico no sentido de serem resultado de algum elemento ou fator essencial a ele Se considerarmos essa lista de possíveis causas de perturbações é bem possível que fiquemos na dúvida se restará qualquer coisa ao abstrairmos todos esses itens e se portanto podemos dizer algo mais sobre a causação das crises além de que elas ocorrem se em conse qüência de acidentes externos ou internos algo bastante importante SCHUMPETER 209 vai mal A história não entraria em contradição com essa teoria Pois em quase todos os casos históricos há tantos acidentes que podem ser responsabilizados pela crise que ocorre realmente sem nenhum disparate evidente que a necessidade de qualquer busca de causas mais gerais e fundamentais é menos óbvia do que alguns de nós parecem acreditar Podese observar de passagem que como quer que decidamos essa questão o cenário individual da maioria das grandes crises da história é mais importante para a explicação dos acontecimentos efe tivos observados em cada caso do que qualquer coisa que entre numa teoria geral supondo que tal teoria seja possível que portanto nunca pode ser tomada como produzindo mais do que uma contribuição tanto ao diagnóstico quanto à política de correção em qualquer caso real Se os homens de negócios quase sempre tentam explicar qualquer crise por circunstâncias especiais ao caso em questão não estão intei ramente errados Também não o está o antagonismo do empirista em relação a qualquer tentativa de construir uma teoria geral sem fundamento embora não seja antagonismo o que se requer nesse caso mas uma distinção clara entre duas tarefas inteiramente diferentes A descoberta decisiva que resolveu a nossa questão e ao mesmo tempo pôs o nosso problema em bases um tanto diferentes consistiu em estabelecer o fato de que há de qualquer modo alguns tipos de crises que são elementos ou pelo menos componentes regulares se não necessários de um movimento em forma de onda que alterna pe ríodos de prosperidade e depressão que têm permeado a vida econômica desde o início da era capitalista178 Esse fenômeno emerge então da massa de fatos variados e heterogêneos que podem ser responsabili zados pelos retrocessos e colapsos de toda espécie O que temos que explicar primeiramente são essas grandes peripécias da vida econômica Assim que dominarmos esse problema não apenas estaremos justifi cados mas forçados para fins de análise teórica a supor a ausência de todas as outras perturbações externas e internas às quais está exposta a vida industrial para isolar a única questão interessante do ponto de vista da teoria Ao fazêlo não devemos contudo esquecer nunca que aquilo que descartamos não é por isso de menor importância e que se a nossa teoria for mantida dentro dos estreitos limites de nossa pergunta deverá se tornar desproporcional a todos os esforços analíticos de maior alcance que objetivem fornecer um aparato para o pleno entendimento do curso efetivo das coisas Aquela pergunta pode agora ser formulada da seguinte maneira por que é que o desenvolvimento econômico como o definimos não avança uniformemente como cresce uma árvore mas por assim dizer OS ECONOMISTAS 210 178 Essa descoberta e a clara percepção de suas conseqüências se devem a Clément Juglar espasmodicamente por que apresenta ele esses altos e baixos que lhe são característicos 2 A resposta não pode ser mais curta e precisa exclusivamente porque as combinações novas não são como se poderia esperar segundo os princípios gerais de probabilidade distribuídas uniformemente atra vés do tempo de tal modo que intervalos de tempo iguais pudessem ser escolhidos a cada um dos quais caberia a realização de uma com binação nova mas aparecem se é que o fazem descontinuamente em grupos ou bandos Agora essa resposta deve a ser interpretada depois esse apa recimento em grupos deve b ser explicado e então c devem ser ana lisadas no 3 deste capítulo as conseqüências desse fato e o curso do nexo causal provocado por elas O terceiro ponto contém um novo problema sem a solução do qual a teoria estaria incompleta Embora aceitemos a afirmação de Juglar de que a única causa da depressão é a prosperidade o que significa que a depressão nada mais é do que a reação do sistema econômico ao boom ou a adaptação à situação à qual o boom submete o sistema de modo que a sua explicação também está enraizada na explicação do boom no entanto a maneira pela qual o boom leva à depressão permanece uma questão em si como o leitor pode ver de imediato na diferença que existe quanto a esse ponto entre Spiethoff e eu Também será visto imediatamente que essa questão é respondida pela nossa argumentação sem dificuldade e sem ajuda de fatos novos ou de novos instrumentos teóricos a Se os novos empreendimentos em nossa concepção apare cessem independentemente um do outro não haveria nenhum boom ou depressão enquanto fenômeno especial reconhecido notável regu larmente recorrente Pois o seu aparecimento seria então em geral contínuo eles seriam distribuídos uniformemente no tempo e as mu danças que seriam efetuadas por eles no fluxo circular seriam cada uma delas relativamente pequenas assim as perturbações teriam im portância apenas local e seriam facilmente superadas pelo sistema econômico como um todo Não haveria nenhuma perturbação conside rável do fluxo circular e portanto nenhuma perturbação do crescimento Devese notar que isso é válido para qualquer teoria das crises com relação ao elemento que a teoria considera como causa em particular para todas as teorias da desproporcionalidade o fenômeno nunca se torna inteligível se não se explica por que a causa qualquer que ela seja não pode atuar de maneira a permitir que as conseqüências sejam contínua e correntemente absorvidas179 SCHUMPETER 211 179 Com o que quero dizer que essa parte de nossa argumentação deve simplesmente ser admitida por todas as teorias das crises Pois mesmo que estejam livres de outras objeções nenhuma explica precisamente essa circunstância Mesmo assim haveria tempos bons e ruins A inflação do ouro ou qualquer outra ainda apressaria o crescimento econômico a deflação o obstruiria os eventos políticos e sociais e a legislação econômica ainda exerceriam sua influência Um fato como a Guerra Mundial por exemplo com o ajustamento do sistema econômico às exigências de guerra impostas por ele com a liquidação necessária após a sua con clusão com a perturbação de todas as relações econômicas suas de vastações e sublevações sociais a destruição de importantes mercados a alteração de todos os dados teria ensinado aos homens como são as crises e depressões se é que ainda não o soubessem Mas não haveria o tipo de prosperidade e depressão que está sendo aqui considerado Tais eventos não seriam regulares ou necessários no sentido de que emergem do funcionamento do próprio sistema econômico mas preci sariam ser explicados por causas externas especiais como já foi sufi cientemente enfatizado Devese recordar particularmente uma circuns tância favorável que sempre facilita e parcialmente explica um boom a saber o estado dos negócios criado por todo período de depressão Como se sabe há geralmente massas de desempregados estoques acu mulados de matériasprimas máquinas edifícios etc oferecidos abaixo do custo de produção e via de regra há uma taxa de juros irregular mente baixa Na verdade esses fatos cumprem um papel em quase todas as investigações do fenômeno como por exemplo a de Spiethoff e a de Mitchell Mas é evidente que não podemos nunca explicar o fenômeno por essas suas conseqüências se quisermos primeiro abster nos de derivar a depressão do boom e depois derivar este da depressão Portanto aqui onde se trata apenas do princípio da questão e não de uma apresentação exaustiva das circunstâncias más colheitas180 rumores de guerra etc que operam concretamente no auge ou na crise deixaremos completamente de lado essas conseqüências Três circunstâncias aumentam o efeito do aparecimento em con junto dos novos empreendimentos sem serem no entanto causas reais iguais a ele Em primeiro lugar nossa argumentação no capítulo II nos permite esperar e a experiência o confirma que a grande maioria das combinações novas não brotará das empresas antigas nem tomará imediatamente o seu lugar mas aparecerá a seu lado e com petirá com elas Do ponto de vista da nossa teoria esse elemento não é novo nem independente nem é essencial para a existência de booms e depressões embora seja obviamente muito importante na explicação da amplitude do movimento em forma de onda Em segundo lugar o fato de que a demanda empresarial aparece OS ECONOMISTAS 212 180 As boas colheitas por exemplo facilitam e prolongam o boom ou suavizam e encurtam a depressão Freqüentemente são mais importantes na explicação de uma situação individual H L Moore certamente demonstrou isso Mas nunca são da mesma importância teórica que o nosso nexo causal apenas operam através dele en masse significa um aumento muito substancial do poder de compra por toda a esfera dos negócios Isso inicia um boom secundário que se espraia por todo o sistema econômico e é o veículo do fenômeno da prosperidade geral que só pode ser completamente entendido desse modo e não pode ser explicado satisfatoriamente de outra maneira Somente porque o novo poder de compra vai em grande volume das mãos dos empresários para os proprietários de meios materiais de produção para todos os produtores de bens para o consumo reprodu tivo Spiethoff e para os trabalhadores e então se difunde por todos os canais econômicos é que todos os bens de consumo são vendidos finalmente a preços sempre crescentes Com isso os varejistas fazem encomendas maiores os industriais estendem as operações e com esse propósito meios de produção cada vez mais desfavoráveis e em geral já abandonados voltam de novo ao uso E somente por causa disso é que a produção e o comércio rendem temporariamente um lucro em toda parte exatamente como num período de inflação por exemplo quando as despesas de guerra são financiadas com papel moeda Muitas coisas flutuam nessa onda secundária sem nenhum impulso novo e direto da força propulsora real e no fim o prognóstico especulativo adquire um significado causal Os sinais de prosperidade por si mesmos tornamse finalmente um fator de prosperidade de modo como sabemos Evidentemente isso é muito importante para os índices da teoria dos negócios e para a compreensão da situação dos negócios como um todo Para o nosso objetivo todavia só é essencial a divisão entre as ondas primária e secundária e é suficiente notar que esta última pode se remontar à primeira e que numa teoria elaborada com base em nosso princípio tudo o que sempre foi observado no movimento cíclico en contraria o seu lugar definido Mas numa exposição como a presente não se pode fazer justiça a tais coisas pois pode surgir uma impressão de afastamento da realidade que na verdade não se justifica181 Em terceiro lugar seguese de nossa argumentação que os erros devem desempenhar um papel considerável no começo do boom e no curso da depressão Em sua maior parte as teorias das crises usam de fato esse elemento de uma maneira ou de outra Contudo os erros não ocorrem normalmente na extensão máxima requerida a produção é iniciada por homens sensatos e somente com base numa investigação mais ou menos cuidadosa dos fatos Embora possam ocorrer erros de SCHUMPETER 213 181 Em particular todas as circunstâncias que em outras teorias das crises atuam como causas encontram o seu lugar dentro da estrutura da nossa teoria como o leitor pode facilmente observar se estiver inclinado a pensar cuidadosamente nessa questão Neste livro obvia mente nossa explicação do ciclo permanece sempre exposta a uma objeção similar à que foi feita contra a teoria do desenvolvimento no capítulo II a saber que enfatiza unilate ralmente e de modo exagerado um elemento entre muitos Essa objeção confunde o problema de explicar a natureza e o mecanismo do ciclo com o problema de uma teoria dos fatores concretos de ciclos individuais cálculo numa escala que pode facilmente pôr em perigo uma firma individual em casos excepcionais talvez toda uma indústria não é em geral suficiente para pôr em perigo o sistema econômico como um todo Então como é que erros tão gerais podem ser feitos de tal modo que todo o sistema seja afetado e na verdade como uma causa indepen dente e não meramente como uma conseqüência da depressão que deve ser explicada Uma vez que tenha começado por outras razões a de pressão certamente transtorna muitos planos que anteriormente eram perfeitamente razoáveis e torna perigosos certos erros que de outro modo seriam facilmente retificados Os erros iniciais requerem uma explicação especial sem a qual nada se explica Nossa análise fornece essa explicação Se o traço caraterístico de um período de boom não é meramente a ampliação da atividade econômica enquanto tal mas a realização de combinações novas e ainda não experimentadas fica então imediatamente claro como já foi mencionado no capítulo II que aí o erro deve desempenhar um papel especial qualitativamente diferente do seu papel no fluxo circular Não obstante não se econtrará aqui nenhuma teoria do erro Pelo contrário para evitar tal impressão isolaremos esse elemento Na verdade ele é um elemento acidental de apoio e reforço mas não uma causa primária necessária à com preensão do princípio Ainda haveria movimentos cíclicos embora de forma mais suave mesmo que ninguém nunca fizesse qualquer coisa que pudesse ser descrita como falsa de seu ponto de vista mesmo que não houvesse nenhum erro técnico ou comercial febre especulativa ou otimismo e pessimismo sem fundamento e ainda que todos tivessem o dom de uma ampla presciência A situação objetiva que o boom necessariamente cria explica exclusivamente a natureza da coisa182 como veremos b Por que os empresários aparecem não de modo contínuo ou seja individualmente a cada intervalo escolhido apropriadamente mas aos magotes Exclusivamente porque o aparecimento de um ou de poucos empresários facilita o aparecimento de outro e estes provocam o apa recimento de mais outros em número sempre crescente Isso significa primeiro que pelas razões explicadas no capítulo II a realização de combinações novas é difícil e acessível apenas a pessoas com certas qualidades como se vê melhor por um exemplo dos tempos antigos ou por uma situação econômica no estágio que mais se parece a uma economia sem desenvolvimento a saber o estágio de grande estagnação Apenas poucas pessoas têm essas qualidades de liderança e só algumas podem ter sucesso nesse sentido numa tal OS ECONOMISTAS 214 182 O que é óbvio não significa que se negue a importância prática do elemento erro nem a dos elementos que comumente são designados por febre especulativa fraude etc categoria à qual também pertence a superprodução Afirmamos apenas que todas essas coisas são em parte conseqüências e que mesmo que não seja esse o caso a natureza do fenômeno não pode ser entendida a partir delas situação ou seja numa situação que em si ainda não é um boom Contudo se um ou alguns tiverem avançado com êxito muitas difi culdades desaparecem Outros podem então seguir esses pioneiros como o farão certamente sob o estímulo do sucesso agora atingível O seu sucesso torna ainda mais fácil para mais pessoas seguirem o exem plo mediante remoção cada vez mais completa dos obstáculos anali sados no capítulo II até que finalmente a inovação se torna habitual e sua aceitação uma questão de livre escolha Em segundo lugar uma vez que como vimos a qualificação em presarial é algo distribuído num grupo etnicamente homogêneo se gundo a lei do erro como muitas outras qualidades aumenta conti nuamente o número de indivíduos que satisfazem padrões em dimi nuição progressiva nesse aspecto Assim desprezando casos excepcio nais dos quais seria um exemplo a existência de uns poucos europeus numa população negra com a progressiva simplificação da tarefa cada vez mais pessoas poderão tornarse empresários e o farão razão pela qual o aparecimento bemsucedido de um empresário é seguido pelo aparecimento não simplesmente de alguns outros mas de um número cada vez maior de empresários embora progressivamente me nos qualificados É assim que se dá na prática cujo testemunho me ramente interpretamos Em indústrias nas quais ainda há concorrência e grande número de pessoas independentes vemos antes de tudo o aparecimento singular de uma inovação em grande parte dos casos em firmas criadas ad hoc e depois vemos como as firmas existentes a agarram com rapidez e perfeição variáveis primeiro algumas firmas depois muitas outras Já nos deparamos com esse fenômeno em conexão com o processo de eliminação do lucro empresarial Aqui isso entra novamente em consideração embora de outro ponto de vista183 Em terceiro lugar isso explica que os empresários apareçam em grupos na verdade a ponto de eliminar o lucro empresarial antes de tudo no ramo da indústria em que aparecem os pioneiros A realidade também revela que todo boom normal começa em um ou em poucos ramos da indústria construção de ferrovias indústrias químicas e elé tricas etc e que recebe o seu caráter das inovações na indústria em que se inicia Mas os pioneiros removem os obstáculos para os outros não apenas no ramo da produção em que primeiro aparecem mas também ipso facto em outros ramos devido à natureza desses obstá culos Muitas coisas podem ser copiadas por esses outros o modelo enquanto tal também age sobre eles e muitos empreendimentos tam bém servem diretamente a outros ramos como por exemplo a abertura de um mercado estrangeiro deixandose inteiramente à parte as cir SCHUMPETER 215 183 Pois a eliminação do lucro empresarial prevista em sua maior parte não é a causa em nossa teoria das crises Cf 3 2º parágrafo cunstâncias de importância secundária que logo aparecem preços crescentes etc Assim os primeiros líderes são eficientes além da sua esfera imediata de ação e desse modo o grupo de empresários cresce ainda mais e o sistema econômico é impulsionado mais rápida e com pletamente do que o seria por qualquer outro meio para o processo de reorganização tecnológica e comercial que constitui o significado dos períodos de boom Em quarto lugar quanto mais o processo de desenvolvimento se torna comum e é visto como um simples problema de cálculo para todos os interessados e quanto mais fracos se tornam os obstáculos no correr do tempo menor a liderança que será necessária para sus citar inovações Assim se tornará menos pronunciado o aparecimento conjunto dos empresários e mais suave o movimento cíclico E de modo evidente essa conseqüência de nossa interpretação também é notavel mente confirmada pela realidade A trustificação progressiva da vida econômica atua no mesmo sentido mesmo que hoje em dia um grande conglomerado com suas vendas e exigências financeiras ainda seja tão dependente da situação de mercado que é determinada em medida considerável pela concorrência de tal modo que só é possível espora dicamente o adiamento totalmente vantajoso de suas inovações espe cialmente da construção para os períodos de depressão como é exem plificado pela política das ferrovias norteamericanas Mas na medida em que opera esse elemento também confirma a nossa interpretação Em quinto lugar o aparecimento de novas combinações em conjunto explica fácil e necessariamente os traços fundamentais dos períodos de boom Explica por que o aumento do investimento de capital é o primeiro sintoma do boom que chega por que as indústrias produtoras de meios de produção são as primeiras a apresentar estimulação acima do normal e acima de tudo por que aumenta o consumo de ferro Explica o apare cimento em grande volume184 de novo poder de compra com isso o au mento característico dos preços durante os booms o que obviamente ne nhuma referência a aumento das necessidades ou a aumento dos custos pode sozinha explicar Além disso explica o declínio do desemprego e a elevação dos salários185 a elevação da taxa de juros o aumento dos fretes a crescente pressão sobre os saldos e as reservas bancárias etc e como dissemos a produção de ondas secundárias a difusão da prosperidade por todo o sistema econômico OS ECONOMISTAS 216 184 Pelo que não é muito necessário enfatizar que nossa teoria não está entre as que procuram a causa do ciclo no dinheiro e no sistema de crédito por mais importante que seja em nossa interpretação o elemento da criação de poder de compra Não obstante não negamos que os movimentos cíclicos poderiam ser influenciados e mesmo evitados pela política cre ditícia com eles na verdade também esse tipo de desenvolvimento econômico em geral 185 Em princípio também deve subir a renda da terra Mas onde a terra for alugada por longo prazo essa renda não pode subir e adicionalmente muitas circunstâncias evitam a rápida elevação desse ramo da receita 3 c O aparecimento de empresários em grupos que é a única causa do boom tem sobre o sistema econômico um efeito qualitativamente diferente do de um aparecimento contínuo distribuído uniformemente no tempo na medida em que não significa como esse último apareci mento uma perturbação contínua e mesmo imperceptível da posição de equilíbrio mas uma perturbação espasmódica uma perturbação de uma ordem de grandeza diferente Enquanto as perturbações causadas por um aparecimento contínuo de empresários poderiam ser absorvidas continuamente o aparecimento em grupo necessita de um processo de absorção especial e distinto de incorporação de coisas novas e de adap tação a elas do sistema econômico de um processo de liquidação ou como eu costumava dizer de aproximação a um novo estado estático Sta tisierung Esse processo é a essência das depressões periódicas que por tanto podem ser definidas do nosso ponto de vista como o combate do sistema econômico no sentido de uma nova posição de equilíbrio sua adaptação aos dados alterados pela perturbação trazida pelo boom A essência da questão não reside no fato de que o empresário individual interessado apenas em planejar o seu próprio empreendi mento não leva em conta o bando de seguidores e assim sofre um revés De fato é verdade que a conduta que é correta do ponto de vista da firma individual pode ser despojada de seus frutos pelo efeito geral da conduta similar de muitos Identificamos o exemplo mais im portante disso quando explicamos como os produtores em sua luta real pelo lucro máximo põem em movimento o mecanismo que tende a eliminar o valor excedente no sistema Similarmente aqui também o efeito geral pode tornar falso o que era correto para o indivíduo e esse elemento efetivamente desempenhará um papel na maioria das crises pois embora o bando de seguidores do empresário seja conhecido de antemão por este e não possa apanhálo desprevenido a magnitude e o ritmo podem ser com freqüência avaliados erroneamente Contudo a essência da perturbação causada pelo boom não reside no fato de que amiúde transtorna os cálculos dos empresários186 mas nas três circunstâncias seguintes Em primeiro lugar a demanda do novo empresário por meios de produção que é baseada sobre o novo poder de compra a conhecida disputa pelos meios de produção Lederer num período de prospe ridade eleva os preços destes Na realidade essa tendência é en fraquecida pelo fato de que ao menos alguns dos novos empreendi mentos não aparecem lado a lado com os antigos mas brotam deles e que as antigas empresas não funcionam simplesmente sem lucro mas ainda podem receber alguma quaserenda Podemos porém elucidar melhor a natureza da operação se supusermos que todas as inovações SCHUMPETER 217 186 Nem no fato de que a conseqüente extensão geral da produção prove ser errada se corporificam em empresas recémestabelecidas financiamse somen te com poder de compra recémcriado e tomam o seu lugar ao lado das empresas que pertencem estritamente ao fluxo circular e trabalham sem lucro e que portanto em conseqüência do aumento de seus custos começam a ter prejuízo A realidade entra em contradição com essa construção menos do que se poderia imaginar Na verdade apenas a atmosfera que paira sobre o período de boom esconde o fato de que logo em seu começo e na medida em que é expresso simplesmente na demanda aumentada o boom significa dificuldades para muitos pro dutores embora ele diminua novamente quando entra em cena a ele vação dos preços de seus produtos Essas dificuldades são uma forma do processo pelo qual os meios de produção são retirados das empresas antigas e colocados à disposição de novos propósitos como está expli cado no capítulo II Em segundo lugar os novos produtos chegam ao mercado depois de alguns anos ou mais cedo e concorrem com os antigos o complemento em mercadoria do poder de compra criado previamente teoricamente mais do que contrabalançando este último entra no fluxo circular Novamente as conseqüências desse processo são atenuadas na prática pelas causas mencionadas na seção precedente e além disso pelo fato de que como alguns investimentos são distantes dos produtos finais esse complemento só aparece gradualmente Mas isso não atinge a natureza do processo No início do boom os custos se elevam nas em presas antigas mais tarde suas receitas são reduzidas primeiramente nas empresas com as quais concorre a inovação mas depois em todas as empresas antigas na medida em que a demanda dos consumidores se altera em favor da inovação À parte a possibilidade de lucrar secundariamente com a inovação o seu funcionamento com prejuízo só é impedido pelo amortecedor da quaserenda que é efetivo apenas temporariamente E esse funcionamento com prejuízo não leva ime diatamente ao colapso apenas porque firmas antigas são em sua maioria bem estabelecidas e aparecem como especialmente merecedoras de cré dito A sua quebra parcial afeta o sucesso das novas iniciativas A quebra é atenuada pelo fato que se ajusta tão bem à estrutura da nossa interpretação de que o boom de início nunca é geral mas se concentra em um ramo ou em poucos ramos industriais sem perturbar as outras áreas e subseqüentemente só afeta estas últimas de uma maneira diferente e secundária Assim como os empresários aparecem en masse o mesmo acontece com seus produtos porque os primeiros não fazem coisas diferentes mas muito semelhantes e assim os seus produtos aparecem no mercado quase simultaneamente O tempo mé dio187 que deve decorrer antes que os novos produtos apareçam OS ECONOMISTAS 218 187 Esse tempo é determinado primeiro tecnicamente depois pelo ritmo em que a multidão segue os líderes embora seja óbvio que dependa de muitos outros elementos explica fundamentalmente a duração do boom Esse aparecimento dos novos produtos ocasiona uma queda dos preços188 que por sua vez põe fim ao boom pode levar a uma crise deve levar a uma depressão e inicia todo o resto Em terceiro lugar o aparecimento dos efeitos dos novos empreen dimentos leva a uma deflação creditícia porque agora os empresários estão em condição de pagar suas dívidas e têm todo o incentivo para isso e uma vez que não entram em seu lugar outros tomadores isso leva ao desaparecimento do poder de compra criado há pouco exatamente quando surge o seu complemento em bens e que doravante pode ser produzido repetidamente à maneira do fluxo circular Essa tese requer cuidadosa reserva Em primeiro lugar essa deflação deve ser distinguida de dois outros tipos O aparecimento de novos produtos deve resultar em deflação não apenas com relação ao nível de preços do período de boom mas também teoricamente com relação ao período de depressão precedente mesmo que nenhum meio de pagamento de saparecesse no pagamento das dívidas pelos empresários pois a soma dos preços dos novos produtos obviamente deve ser normalmente maior do que o montante dessas dívidas Isso teria o mesmo efeito que a liquidação das dívidas apenas numa menor extensão mas agora es tamos pensando no efeito da redução das dívidas A deflação também ocorre numa depressão já em andamento ou que é esperada pelo mundo bancário porque os bancos procuram restringir seu crédito por sua própria iniciativa Esse fator é muito importante na prática e freqüen temente dá início a uma crise real mas é acessório e não inerente ao processo Aqui tampouco estamos pensando nesse fator embora não neguemos sua existência nem sua importância mas apenas seu papel de causa primária189 Então mais adiante nossa formulação contém duas abstrações que farão com que o essencial se destaque mais cla ramente mas que excluem influências moderadoras de grande impor tância prática Primeiro ela despreza o fato de que os novos produtos geralmente contêm apenas pequenas cotas para depreciação dos in vestimentos feitos em sua produção pelo que apenas uma parte na maioria das vezes pequena do gasto total do período do boom chega ao mercado numa forma vendável quando os novos empreendimentos estão aptos a produzir portanto o poder de compra recémcriado só sai de circulação gradualmente em parte apenas quando períodos pos teriores de boom tiverem trazido solicitantes de crédito ao mercado SCHUMPETER 219 188 Essa queda dos preços na prática é geralmente adiada devido a muitas circunstâncias Cf infra sobre isso Todavia o estado subjacente dos negócios só se acentua e não se elimina pelo adiamento da queda dos preços A única coisa eliminada com isso é a utilidade dos índices de preços como sintomas do ciclo 189 Papel de causa primária porque a restrição creditícia iniciada pelos bancos é certamente a causa de ocorrências posteriores que de outro modo não seriam esperadas monetário A reabsorção do novo poder de compra pela poupança nada altera desse processo deflacionário mas faz diferença o fato de que muitos Estados municípios e bancos hipotecários agrícolas entrem no lugar da demanda empresarial decrescente À parte esse desapareci mento apenas gradual das dívidas dos empresários devese ter em mente que no sistema econômico moderno no qual o juro penetrou até mesmo no fluxo circular o crédito pode ficar permanentemente na circulação na medida em que agora há todo ano bens produzidos que lhe correspondem o que é o segundo fator a atenuar ainda mais o processo Mas a tendência deflacionária é atuante por tudo o que foi dito e ocorre a liquidação das dívidas pelos empreendimentos bem sucedidos de modo que a deflação mesmo que de forma suave deve sempre aparecer automaticamente a partir da lógica da situação ob jetiva quando o boom já estiver suficientemente afastado Uma veri ficação digna de nota nessa teoria que leva à conclusão de que no curso do desenvolvimento o nível secular de preços deve cair é de fato dada pela história dos preços no século XIX Os dois períodos que não foram perturbados por mudanças monetárias revolucionárias ou seja o período das guerras napoleônicas às descobertas de ouro na Califórnia e o período 187395 efetivamente apresentam a caracterís tica que esperaríamos de nossa teoria a saber a de que toda baixa periódica é mais profunda que a precedente e que a curva dos preços se move para baixo eliminando as flutuações cíclicas Finalmente ainda se deve explicar por que outros empresários à procura de crédito não entram sempre no lugar dos que liquidam sua dívida Há duas razões às quais na prática se adicionam outras que podem ser descritas seja como conseqüências dos elementos que chamamos de fundamentais seja como acidentais seja como influências que operam a partir de fora e nesse sentido como secundárias não essenciais ou acessórias Em primeiro lugar se sob o estímulo do su cesso na indústria em que ocorre o boom brotam tantos empreendi mentos novos que produziriam em atividade plena uma quantidade de produto que eliminaria o lucro empresarial pela queda nos preços e elevação dos custos o que naturalmente ocorre mesmo se a in dústria em questão obedecer à chamada lei dos rendimentos crescentes então se esgota o impulso para um avanço a mais nessa direção Na prática mesmo numa sociedade concorrencial a eliminação do lucro é apenas uma ameaça próxima e o processo não exclui a sobrevivência de algum lucro nem a ocorrência imediata de prejuízos O limite até onde podem ir o aparecimento de empresários em outras indústrias e os fenômenos criados pelas ondas secundárias de desenvolvimento é determinado de modo análogo Quando esse limite é alcançado esgo tase o impulso desse boom A segunda razão explica por que simples mente não se segue um novo boom porque a ação do grupo de em presários alterou nesse meio tempo os dados do sistema transtornou OS ECONOMISTAS 220 o seu equilíbrio e assim deu início a um movimento aparentemente irregular do sistema econômico que concebemos como uma luta por nova posição de equilíbrio Isso em geral torna impossível o cálculo preciso mas especialmente para o planejamento de novos empreendi mentos Na prática apenas o último elemento a incerteza caracte rística que resulta das novas criações do boom é sempre imediata mente observável o primeiro limite mencionado se manifesta na maio ria das vezes apenas em pontos isolados Ambos os limites são todavia ofuscados primeiro pelos fenômenos conseqüentes que muitos indiví duos prevêem Alguns indivíduos começam antes de outros a sentir a pressão como acontece com os bancos ou a elevação dos custos e de outros elementos como no caso de muitas empresas antigas e reagem à altura na maioria dos casos tarde demais é verdade mas quando o fazem estão tomados de pânico especialmente os mais débeis Em segundo lugar são ofuscados por eventos fortuitos que sempre ocorrem mas que a partir da incerteza criada pelo boom adquirem uma im portância que não tinham antes Isso explica por que o homem prático em quase todas as crises pensa que pode por exemplo aduzir como causas acontecimentos fortuitos rumores políticos desfavoráveis e por que de fato o impulso freqüentemente provém desses fatores Em ter ceiro lugar são ofuscados pelos atos de intervenção vindos de fora dos quais em geral o mais importante é feito pelo banco central ao puxar conscientemente as rédeas 4 Se o leitor pensar cuidadosamente no que foi dito e testálo com algum material factual ou com os argumentos de qualquer teoria das crises e do ciclo econômico deve compreender como o boom que está explicado agora cria por si mesmo uma situação objetiva que mesmo deixando de lado todos os elementos acessórios e fortuitos dá fim ao boom facilmente conduz a uma crise necessariamente a uma depressão e assim a uma posição temporária de relativa fixidez e ausência de desenvolvimento Podemos chamar a depressão como tal de processo normal de reabsorção e liquidação ao curso de acontecimentos ca racterizado pela irrupção de uma crise pânico colapso do sistema de crédito epidemia de falências e suas conseqüências posteriores podemos chamar de processo anormal de liquidação Completando e repetindo alguns pontos temos agora mais algumas coisas a dizer sobre esse processo mas apenas sobre o normal já que o anormal não apre senta nenhum problema fundamental O que foi dito leva diretamente à compreensão de todos os as pectos primários e secundários do período de depressão que agora aparecem como parte de um único nexo casual O boom em si neces sariamente leva muitas empresas a funcionar com prejuízos causa uma queda dos preços além da que é devida à deflação e adicionalmente provoca deflação mediante a contração do crédito fenômenos esses SCHUMPETER 221 que crescem secundariamente no curso dos acontecimentos Além disso explicase tanto a diminuição do investimento de capital190 e da ativi dade empresarial como por isso a estagnação das indústrias produ toras de meios de produção e a queda no índice de Spiethoff consumo de ferro e nos indicadores similares tais como as encomendas não executadas da United States Steel Corporation Com a queda da de manda de meios de produção também caem o volume de emprego e a taxa de juros se for removido o coeficiente de risco Com a queda das rendas monetárias que remonta em termos causais à deflação mesmo que seja aumentada pelas falências etc a demanda de outras mercadorias finalmente cai e então o processo terá penetrado todo o sistema econômico O quadro da depressão está completo Todavia duas razões evitam que essas características apareçam na ordem cronológica que corresponderia à sua posição no nexo causal Em primeiro lugar o fato de que não apenas são precipitadas pela conduta dos indivíduos mas também precipitadas em graus muito de siguais Isso acontece especialmente em mercados nos quais a especu lação profissional tem um papel importante Assim o mercado de va lores apresenta às vezes crises especulativas preliminares muito antes que se chegue a um real ponto de reversão que então são superadas e abrem espaço a um movimento a mais para cima que ainda pertence ao mesmo boom assim foi em 1873 e em 1907 Mas uma outra coisa é muito mais importante Exatamente como na prática o aumento do preço do produto freqüentemente é anterior ao aumento dos custos que não obstante é a sua causa assim também aparece aqui um fenômeno semelhante A queda do investimento de capital no sentido indicado acima a queda paralela da atividade empresarial e a estag nação das indústrias de bens de produção podem ocorrer por exemplo antes que o boom tenha atingido o seu ponto culminante externamente no que concerne à lógica do processo mas não é necessário que ocorram Pelo contrário se esses sintomas ocorrerem regularmente antes do fim do boom é porque estão sob a influência de fatores que antecipam com relativa rapidez o que está por vir Em segundo lugar contudo muitas circunstâncias fazem com que no curso efetivo dos aconteci mentos elementos secundários freqüentemente se destaquem com maior proeminência do que os primários A ansiedade dos prestamistas por exemplo se expressa numa elevação da taxa de juros e somente quando a depressão já estiver avançada é que aparece o efeito que pela natureza das coisas apareceria bem cedo no curso normal dos acontecimentos A redução da demanda de trabalho deveria ser um OS ECONOMISTAS 222 190 O fenômeno em discussão agora deve ser distinguido da diminuição do investimento im plicada na contração de crédito pela liquidação da dívida Referese aqui ao investimento para propósitos novos adicionais E as estatísticas da emissão de ações e títulos que na prática são um bom índice dos negócios Spiethoff refletem principalmente embora não unicamente um terceiro elemento a consolidação do crédito bancário mediante poupança sintoma muito inicial da mudança mas assim como os salários não sobem imediatamente na prosperidade porque via de regra há tra balhadores desempregados também os salários e o montante de em prego em geral não caem tão rapidamente quanto seria de se esperar porque aparece uma série de obstáculos bem conhecidos O mundo dos negócios tenta defenderse de uma queda nos preços e ali onde a con corrência não é completamente livre como na prática não é em lugar nenhum e quando os bancos emprestam o seu apoio ele resiste com sucesso temporário de modo que o nível máximo de preços freqüen temente é posterior ao ponto de reversão Estabelecer todas essas coisas é uma tarefa fundamental da investigação das crises Mas aqui é suficiente declarar sem maiores fundamentações que tudo isso não altera a essência da questão mais do que os fenômenos análogos em outros campos aos quais me referi acima sustentam objeções à teoria dos preços O curso dos acontecimentos em períodos de depressão apresenta um quadro de incerteza e irregularidade que interpretamos do ponto de vista de busca de um novo equilíbrio ou de adaptação a uma situação geral que mudou de maneira relativamente rápida e considerável A incerteza e a irregularidade são bastante compreensíveis Os dados costumeiros se alteram para todos os negócios A extensão e a natureza da mudança contudo só podem ser apreendidas com a experiência Há novos concorrentes deixam de aparecer antigos fregueses e distri buidores devese encontrar a atitude correta para com fatos econômicos novos a qualquer momento podem ocorrer acontecimentos imprevisí veis recusas inesperadas de crédito O mero homem de negócios se defronta com problemas que estão fora de sua rotina problemas aos quais não está acostumado e em face dos quais comete erros que se tornam então uma importante causa secundária de novos transtor nos A especulação é uma outra causa devido aos reveses que ela traz aos especuladores assim como pelo fato de que estes antecipam uma queda posterior dos preços de modo que todos esses elementos conhe cidos se incrementam mutuamente O resultado final não pode ser visto claramente em nenhuma parte pontos fracos que em si nada têm a ver com a crise podem vir à tona em qualquer lugar A contração dos negócios ou sua extensão podem finalmente mostrarse como o tipo correto de reação sem que seja possível no momento propor razões confiáveis para uma ou outra Essa complicação e a pouca clareza da situação da qual na minha opinião a teoria faz um uso injustificado para explicar as causas da depressão tornase realmente um fator importante nos casos objetivos A incerteza dos dados e valores envolvidos no novo ajuste as perdas que aparentemente ocorrem de modo irregular e não passível de cálculo criam a atmosfera característica dos períodos de depressão De modo especial sofrem os elementos especulativos que formam o juízo da bolsa de valores e que na prosperidade são tão significativos SCHUMPETER 223 comercial e socialmente As condições parecem essencialmente piores do que são para muitas pessoas particularmente para a classe espe culativa e para os produtores de bens de luxo que dependem parcial mente da sua demanda para eles parece que chegou o fim de tudo O ponto de reversão aparece subjetivamente para os produtores es pecialmente se eles resistem à queda inevitável dos preços como uma deflagração da superprodução latente até então e a depressão como sua conseqüência A invendabilidade das mercadorias já produzidas ainda mais a das produzíveis a preços que cobrem os custos provoca o conhecido fenômeno posterior da carência de dinheiro possivelmente o da insolvência que é tão típico que todas as teorias do ciclo econômico devem estar em condição de explicálo A nossa teoria o faz como o leitor pode ver mas não utiliza esse fato típico como uma causa primária e independente191 A superprodução é acentuada pela distorção do boom que já notamos e explicamos Essa circunstância por um lado e por outro a discrepância entre a oferta efetiva e a demanda efetiva que deve ocorrer em muitas indústrias durante a depressão tornam possível descrever a forma externa da depressão na linguagem de várias teorias da desproporcionalidade O âmago de todas essas teorias está na ma neira com que tentam explicar o aparecimento da desproporcionalidade e nas quantidades particulares entre as quais se considera que existe desproporcionalidade Para nós a desproporcionalidade entre quanti dades e preços de bens que aparece em muitos pontos por causa da perda do equilíbrio no sistema econômico é um fenômeno intermediário exatamente como a superprodução e não é uma causa primária Em relação a isso pode haver desproporcionalidade entre as rendas das indústrias individuais mas não entre as rendas das diferentes classes econômicas pois os lucros empresariais não demonstram nenhuma pro porção normal com as rendas das outras pessoas que poderiam ser prejudicadas e as outras rendas com a exceção das fixadas em termos monetários têm a tendência a moverse pari passu e a ganhar ou perder terreno à custa ou em vantagem das rendas fixas deixando inalterada a demanda total dos consumidores OS ECONOMISTAS 224 191 Toda teoria das crises em que a superprodução desempenha o papel de uma causa ou mesmo de uma causa primária pareceme estar exposta à objeção de raciocinar circularmente à parte a objeção já formulada por Say mesmo que não afirme a superprodução geral Desse jul gamento devo excluir a teoria de Spiethoff Os argumentos muito curtos com que ele tenta fundamentar a superprodução periódica de bens para o consumo reprodutivo não permitem nenhum julgamento final Além disso devese observar que o objetivo de Spiethoff é uma análise penetrante de todos os detalhes do problema Os elementos que governam o aspecto externo certamente cabe aqui a estagnação nas indústrias produtoras de meios de produção são realmente em relação às causas primárias muito mais importantes para tal análise do que para uma exposição como esta Finalmente na ênfase dada às indústrias produtoras de meios de produção há uma referência aos fatores que em minha opinião constituem a natureza do problema de modo que não é absolutamente correto descrever a análise de Spiethoff simplesmente como uma teoria da superprodução uma exposição mais detalhada de sua teoria mostraria talvez uma concordância ainda maior do que suponho agora A distorção do boom tem a conseqüência entre outras de que a pressão e o perigo na situação não tenham a mesma dimensão para todos os ramos da indústria A experiência também ensina como Af talion192 já demonstrou que muitos ramos não são em absoluto pre judicados outros o são relativamente pouco Dentro de cada indústria os novos empreendimentos geralmente se comprometem consideravel mente mais do que os já estabelecidos o que parece contradizer a nossa interpretação Isso deve se explicar da seguinte maneira uma empresa antiga tem o amortecedor da quaserenda e o que é mais importante geralmente tem reservas acumuladas Está envolvida em relações protetoras em geral é apoiada com segurança por ligações bancárias de muitos anos Pode estar perdendo terreno há anos sem que os seus credores fiquem apreensivos Portanto resiste muito mais tempo do que um novo empreendimento que é fiscalizado rigorosa mente e mantido sob suspeita que não tem reservas mas no máximo apenas facilidade de saque a descoberto e que só precisa dar um sinal de embaraço para ser considerado um mau devedor Assim a reação da mudança de todas as condições sobre os novos empreendimentos pode tornarse visível mais cedo e mais destacadamente do que as condições sobre as empresas antigas E portanto nos primeiros tal reação leva muito mais facilmente à conseqüência final à falência do que nas últimas em que mais provavelmente inicia uma queda lenta Isso distorce a imagem da realidade e é também a razão por que nas crises só se pode falar em um processo seletivo com uma significativa classificação pois a firma que tiver maior sustentação e não a que em si é mais perfeita é a que tem maior chance de sobreviver à crise Mas isso não afeta a natureza do fenômeno 5 Embora seja evidente que o processo de ajustamento e reabsorção que compõe o período de depressão causa incômodos aos elementos mais vigorosos do sistema econômico os que fazem mais no sentido de criar o estado de espírito do mundo de negócios e embora tal processo aniquile necessariamente muitos valores e existências mesmo que tudo ocorra com perfeição ideal sua natureza e seus efeitos no entanto seriam captados inadequadamente se fossem vistos apenas pelo as pecto da cessação do impulso à prosperidade ou descritos meramente por características negativas Há nela mais aspectos agradáveis que são muito mais característicos dela do que as coisas que acabamos de indicar Primeiro a depressão conduz como já foi colocado a uma nova SCHUMPETER 225 192 Les Crises Périodiques de Surproduction Livro Primeiro Na verdade destacase muito mais claramente o outro fato diferente do que temos em vista aqui de que o movimento cíclico é sempre marcado de maneira particularmente forte nas indústrias produtoras de novas plantas Evidentemente isso não entra em contradição com a interpretação aqui apresentada antes pelo contrário posição de equilíbrio Para nos convencermos de que tudo o que acontece nela deve ser realmente compreendido desse ponto de vista e é só aparentemente sem sentido e anormal consideremos uma vez mais o comportamento dos indivíduos num período de depressão Devem eles se adaptar à perturbação causada pelo boom ou seja pelo aparecimento de grupos de combinações novas e de seus produtos pelo seu apare cimento lado a lado com as antigas firmas e pela unilateralidade de seu aparecimento As firmas antigas ou seja teoricamente todas as existentes com exceção das formadas no boom e também com ex ceção na prática das afastadas do perigo por uma posição de monopólio pela posse de vantagens peculiares ou de técnica especial duradoura se defrontam com três possibilidades decair se forem inadaptáveis por razões objetivas ou pessoais recolher as velas e tentar sobreviver numa posição mais modesta finalmente com seus próprios recursos ou com a ajuda externa mudar para outra indústria ou adotar outros métodos técnicos ou comerciais que significam aumentar a produção a um custo menor por unidade As novas firmas precisam passar pelo seu primeiro teste que é muito mais difícil do que aquele pelo qual teriam que passar se aparecessem continuamente e não em grupos Uma vez estabelecidas devem ser incorporadas apropriadamente ao fluxo circular e mesmo que não tenha sido cometido nenhum erro quando foram fundadas deve haver muito o que corrigir sob vários aspectos Enfrentam problemas e possibilidades semelhantes aos que as antigas firmas enfrentam mesmo que por causas diferentes e se cundárias e como mencionado acima são em muitos aspectos menos capacitadas a lidar com eles do que as antigas A conduta característica dos homens de negócios na depressão consiste em medidas correção de medidas e novas medidas para resolver esse problema todos os fenômenos à parte o pânico sem fundamento nos fatos e as conse qüências de erros que caracterizam o curso anormal dos aconteci mentos em uma crise podem ser incluídos nessa concepção da si tuação criada pelo boom e da conduta dos homens de negócios por ele forçada da perturbação do equilíbrio e da reação a ela da mudança dos dados e da adaptação a ela seja bemsucedida ou abortiva Exatamente como a luta por uma nova posição de equilíbrio que incorporará as inovações e dará expressão aos seus efeitos sobre as empresas antigas assim é o significado real de um período de depressão como o conhecemos pela experiência assim também pode demonstrar do mesmo modo que essa luta deve efetivamente conduzir a uma es treita aproximação com uma situação de equilíbrio por um lado o impulso que impele o processo de depressão teoricamente não pode parar até que tenha feito a sua parte tenha realmente conduzido a uma nova posição de equilíbrio por outro lado nenhuma perturbação nova na forma de um novo boom pode até então surgir do sistema econômico em si mesmo A conduta dos homens de negócios no período OS ECONOMISTAS 226 de depressão é inteiramente regida pelo princípio do prejuízo efetivo ou iminente Mas prejuízos ocorrem ou são iminentes não necessa riamente em todo o sistema econômico mas nas partes expostas ao perigo enquanto todos os estabelecimentos e assim o sistema como um todo não estiverem em equilíbrio estável o que na prática é o mesmo que dizer até que produzam novamente a preços que aproxi madamente cubram os custos Em conseqüência há depressão teori camente enquanto tal equilíbrio não for em grande parte alcançado E nem esse processo será interrompido por um novo boom antes que tenha desempenhado sua parte nesse sentido Pois até então necessa riamente há incerteza sobre quais serão os novos dados o que torna impossível o cálculo de combinações novas e torna difícil obter a coo peração dos fatores requeridos Ambas as conclusões se ajustam aos fatos se se mantiver em vista as qualificações seguintes Algum co nhecimento do movimento cíclico e de seu mecanismo que é peculiar ao moderno mundo dos negócios permite aos homens de negócios prever o boom que virá e especialmente os seus fenômenos secundários quando o pior tiver passado a adaptação de muitos indivíduos e assim de muitos valores ao novo equilíbrio freqüentemente é retardada ou evi tada pela expectativa de que se eles pelo menos conseguirem resistir o que em geral é do interesse de seus credores facilitar poderão liquidar as dívidas em termos favoráveis no próximo boom ou não achar necessário liquidálas o que é especialmente importante em épocas mais prósperas e salva muitas empresas que realmente não são aptas para sobreviver assim como muitas que o são mas de qualquer modo retarda ou evita que se alcance uma posição firme de equilíbrio A trustificação progressiva da vida econômica facilita a continua ção permanente de desajustes dentro dos próprios conglomerados gran des e conseqüentemente fora deles pois na prática só pode haver equi líbrio completo se houver livre concorrência em todos os ramos da produção Além disso em conseqüência da força financeira de algumas empresas especialmente das mais antigas o ajuste nem sempre é muito urgente não é uma questão imediata de vida ou de morte Há também a prática de ser o apoio externo estendido a empresas ou a indústrias inteiras em dificuldades por exemplo os subsídios governamentais dados com a suposição de bona ou mala fide de que a dificuldade é apenas temporária criada por circunstâncias exógenas Em tempo de depressão também há freqüentemente um clamor por tarifas protecio nistas Tudo isso atua da mesma maneira que a força financeira das firmas antigas Além disso há o elemento acaso por exemplo uma boa colheita que ocorra no momento certo Finalmente as anormali dades no curso da depressão às vezes têm o efeito de produzir excesso de compensações se por exemplo um pânico injustificado tiver depreciado indevidamente as ações de uma empresa e em conseqüência começar nessas ações um movimento corretivo ascendente esse movimento para SCHUMPETER 227 cima pode por sua vez ultrapassar os limites manter as ações a uma cotação impropriamente alta e conduzir a um pequeno pseudoboom que em certas circunstâncias pode durar até que comece um real Evidentemente a posição alcançada no fim nunca corresponde completamente ao quadro teórico de um sistema sem desenvolvimento no qual não haveria mais renda sob a forma de juro Somente a duração relativamente curta das depressões evita isso Não obstante sempre ocorre a aproximação de uma posição sem desenvolvimento e esta sendo relativamente estável pode ser de novo um ponto de partida para a realização de novas combinações Nesse sentido portanto che gamos à conclusão de que conforme nossa teoria deve sempre haver um processo de absorção entre dois booms terminando numa posição que se aproxima do equilíbrio cuja execução é a sua função Isso é importante para nós não só porque existe efetivamente uma tal posição intermediária e a sua explicação é uma incumbência de qualquer teoria do ciclo mas também porque apenas a prova da necessidade de uma tal posição periódica de quaseequilíbrio completa o nosso argumento Porque começamos com uma posição a partir da qual surge a onda de desenvolvimento sem levar em conta se ou quando historicamente foi este o caso Poderíamos até mesmo assumir meramente um estado estático inicial para deixar que se destacasse claramente a natureza da onda Mas para que a nossa teoria explique a essência do fenômeno não é suficiente que uma baixa siga efetivamente todas as cristas das ondas deve fazêlo necessariamente o que não pode simplesmente ser suposto nem pode uma prova ser substituída por indicar o fato Por essa razão pareceu ser necessário nessa seção usar certa dose de formalismo Em segundo lugar à parte a assimilação das inovações que acaba de ocupar a nossa atenção o período de depressão faz algo mais que não salta tanto à vista quanto os fenômenos aos quais deve o seu nome cumpre o que o boom prometeu E esse efeito é duradouro ao passo que os fenômenos sentidos como desagradáveis são temporários A corrente de bens é enriquecida a produção parcialmente reorganizada os custos de produção diminuídos193 e o que a princípio aparece como lucro empre sarial incrementa depois as rendas reais permanentes de outras classes OS ECONOMISTAS 228 193 Falamos duas vezes dos efeitos do boom no aumento dos custos primeiro a demanda dos empresários impulsiona para cima os preços dos bens de produção depois a demanda que se segue das pessoas que vêm nas ondas secundárias de desenvolvimento os impulsiona ainda mais Esses custos crescentes não têm nada a ver com a elevação secular sustentada pelos economistas clássicos com base em sua suposição de uma progressiva ultrapassagem das possibilidades de produção de meios de subsistência pelo aumento da população Ora os custos decrescentes em questão acima não são o complemento desses custos crescentes em termos monetários São a conseqüência do progresso produtivo realizado pelo boom e significam uma queda dos custos reais por unidade de produto primeiro nos novos em preendimentos em relação aos antigos depois também nestes últimos uma vez que devem se adaptar por exemplo reduzindo sua produção e se restringindo às melhores possi bilidades ou desaparecer Depois de todo boom o sistema econômico enquanto tal produz a unidade de produto com menor dispêndio de trabalho e terra Essa conclusão que resulta da nossa teoria cf também o capítulo IV se justifica a despeito de inúmeros obstáculos com que esses efeitos se defrontam de início pelo fato de que o quadro econômico de um período normal de depressão194 não é tão negro como levaria a crer o estado de espírito que o permeia Deixandose de lado o fato de que grande parte da vida econômica permanece em geral quase intocada o volume físico do total de transações na maioria dos casos só cai em proporção insigni ficante Como são exageradas as concepções populares quanto aos danos causados por uma depressão se demonstra por qualquer investigação oficial sobre as crises195 Isso não vale apenas para a análise em termos de bens mas também em termos de dinheiro a despeito do fato de que o movimento cíclico acarretando inflação na prosperidade e deflação na depressão deve ser especial e fortemente marcado na expressão monetária A renda total não cresce no boom nem cai na depressão mais do que de 8 a 12 se comparada aos números para os anos médios mesmo nos Estados Unidos Mitchell onde a intensidade do desenvolvimento presumivelmente faz com que as flutuações sejam marcadas mais fortemente do que na Europa Aftalion já demonstrou que a queda dos preços durante a depressão cons titui apenas uma porcentagem baixa da média e que as flutuações real mente grandes têm suas causas nas condições especiais dos artigos indi viduais e têm pouco a ver com o movimento cíclico O mesmo pode ser demonstrado para todos os movimentos gerais realmente grandes como por exemplo o período do pósguerra Quando desaparecerem os fenômenos do curso anormal dos acontecimentos pânico epidemia de falências etc que estão se tornando cada vez mais fracos e com eles a ansiedade quanto a perigos incalculáveis a opinião pública também julgará diferen temente as depressões Entendemos o verdadeiro caráter de um período de depressão quan do consideramos o que ele traz para diferentes categorias de indivíduos e o que delas tira sempre abstraindo os fenômenos relativos ao curso anormal dos acontecimentos que aqui não tem nenhum interesse Tal período retira a possibilidade de lucro dos empresários e de todos os seus seguidores em especial dos que fortuita ou especulativamente se benefi ciam dos frutos da alta dos preços durante o boom vantagem que SCHUMPETER 229 194 Evidentemente a depressão do pósguerra não foi normal Em minha opinião é um erro tentar compreender os resultados gerais da teoria do ciclo econômico no material do pós guerra Mas é um erro cometido freqüentemente Assim muitos juízos dos modernos tera peutas das crises por meio da política creditícia se explicam pelo fato de que eles afirmam para o movimento cíclico normal o que só é verdadeiro para a crise do pósguerra 195 Cf por exemplo as de Verein für Sozialpolitik ou os relatórios ingleses no período das depressões predominantes anterior a 1895 como o famoso Third Report on the Depression of Trade Investigações acuradas são apenas de data mais recente como por exemplo no Special Memorandum no 8 do London and Cambridge Economic Service de J W F Rowe ou para os Estados Unidos os dados e estimativas no Report of a Committee of the Presidents Conference on Unemploymente Um método interessante que leva ao mesmo resultado para o ano de 1921 embora este não tenha sido simplesmente um ano de depressão cf a nota precedente devese a C Snyder in Administration Maio de 1923 especialmente no caso da especulação só é substituída de modo muito imperfeito pelas possibilidades do mercado surgidas na baixa No caso normal o empresário obteve o seu lucro e o incorporou às empresas agora estabelecidas e ajustadas mas não obtém mais nenhum lucro pelo contrário é ameaçado pelos prejuízos No caso geral seu lucro empresarial secaria sua outra renda empresarial estaria em seu mí nimo mesmo no curso ideal dos acontecimentos No curso real dos acontecimentos sobrevêm muitas influências adversas embora mitiga das por alguns fatores já mencionados As pessoas ligadas aos estabe lecimentos antigos que agora estão sendo sobrepujados na concorrên cia evidentemente sofrem Os que têm rendas monetárias fixas ou rendas que só se alteram depois de um longo tempo tais como pen sionistas rentistas funcionários públicos e proprietários de terra que a tiverem alugado por um longo período são os típicos beneficiários da depressão O conteúdo em mercadorias de suas rendas monetárias que é comprimido na prosperidade agora se expande e na verdade em princípio deve se expandir mais do que foi comprimido antes como já foi demonstrado cf acima 3 em terceiro lugar Os capitalistas com investimentos de curto prazo ganham pelo aumento do poder de compra da unidade da renda e do capital e perdem pela taxa de juros mais baixa teoricamente devem perder mais do que ganham mas numerosas circunstâncias secundárias por um lado o perigo de pre juízo por outro prêmios altos de riscos e demanda em pânico retiram desse teorema sua importância prática Os proprietários de terra cujas rendas da terra não estiverem fixadas em dinheiro por contratos de longos períodos acima de tudo portanto o agricultor proprietário estão no fundamental exatamente na mesma posição que os tra balhadores de forma que aquilo que se argumentar agora quanto aos trabalhadores também é válido para eles As diferenças importantes na prática que não se podem considerar teoricamente são conhecidas de modo tão generalizado que não entraremos no mérito delas196 No boom os salários devem subir Porque a nova demanda pri meiro a dos empresários e depois a de todos os que aumentam as operações com a alta da onda secundária é direta ou indiretamente de modo especial uma demanda de trabalho Portanto primeiro o em prego deve crescer e com ele a soma total dos salários do trabalho depois a taxa do pagamento de salários e com ela a renda do trabalhador individual É dessa elevação dos salários que provém o aumento da demanda por bens de consumo que resulta na elevação do nível geral de preços E como parte das rendas dos proprietários de terra os quais OS ECONOMISTAS 230 196 Do mesmo modo não é necessário dedicarnos aqui aos diferentes graus em que a depressão afeta as diferentes indústrias por exemplo as indústrias de bens de luxo mais do que as produtoras de alimentos O que há de interesse teórico nisso já foi referido em vários tópicos deste capítulo teoricamente são da mesma categoria e importância que os trabalha dores capítulo I não se eleva com os salários pelas razões mencio nadas tampouco crescem as rendas fixas o aumento dos salários totais não é meramente nominal mas equivale a uma maior renda real do trabalho e esta por sua vez a uma maior participação no produto social que não cresceu até então Esse é um caso especial de uma verdade geral nenhuma inflação pode ser imediatamente prejudicial aos interesses dos trabalhadores se e na medida em que o novo poder de compra deve primeiro atuar sobre os salários antes que possa afetar os preços dos bens de consumo É apenas na medida em que este não for o caso ou em que a elevação dos salários se defrontar com obstáculos externos como por exemplo na Guerra Mundial que os salários podem ficar de fasados197 da maneira tão freqüentemente retratada Se na verdade for o veículo de um excesso no consumo como por exemplo se uma guerra for financiada pela inflação o empobrecimento conseqüente198 do sistema econômico também deve reagir sobre a posição dos trabalhadores mesmo que não tão severamente quanto sobre a posição de outros grupos de indivíduos Mas em nosso caso ocorre exatamente o oposto Numa depressão o poder de compra da unidade de salário cresce Por outro lado cai a expressão monetária da demanda efetiva de tra balho em conseqüência da deflação automática que o boom provoca Na medida em que ocorresse apenas isso a demanda efetiva e real199 SCHUMPETER 231 197 A verificação estatística dessa teoria se defronta com várias dificuldades Antes de tudo os nossos dados sobre os preços a varejo dos artigos consumidos pelos trabalhadores não se reportam suficientemente ao passado com a amplitude desejável e o simples movimento dos salários monetários obviamente não significa nada fundamentaria a nossa tese é ver dade se fosse possível contentarse com eles A medida do aumento do emprego é ainda menos satisfatória e no entanto não podemos passar sem ela Pelo que eu sei não era mesmo possível antes da guerra medir o trabalho em tempo parcial e o desemprego completo apenas com a ajuda dos dados dos sindicatos e de censos ocasionais Hoje em dia a tentativa teria maior êxito mas por razões já mencionadas apenas as cifras de antes da guerra entram em consideração para os nossos objetivos Já temos um trabalho que tenta encontrar exatamente o que precisamos a saber o de WOOD G H Real Wages and the Standard of Comfort since 1850 In Journal of the Royal Statistical Society Março de 1909 Esse trabalho se reporta até 1902 e confirma a nossa expectativa Todavia na virada do século apareceu o movimento de preços nãocíclico e nesse sentido secular que distorce o quadro e também implica uma aberração das linhas do movimento cíclico De acordo com a conti nuação da obra de Wood feita pelo Professor Bowley e também segundo o trabalho da Sra WOOD The Course of Real Wages in London 19001912 in Journal of the Royal Statistical Society dezembro de 1913 e o de HANSEN A H Factors Affecting the Trend of Real Wages in American Economic Review março de 1925 que na verdade não estão preo cupados com o aumento do emprego a teoria não se ajusta aos fatos Mas é fácil ver que nossa conclusão seria confirmada se a elevação secular dos preços fosse eliminada Quanto à questão da conexão entre a produção de ouro e o nível de salários cf PIGOU Economic Journal junho de 1923 A argumentação que se segue agora no texto é suficientemente apoiada pelos números Os salários reais caem regularmente na depressão no entanto apenas numa parte do montante a que subiram no boom Isso é exatamente o que deveríamos esperar 198 Mesmo sem o emprego de métodos financeiros inflacionários apareceria o empobrecimento e as suas conseqüências e portanto também a inflação relativa no caso de uma quantidade relativamente constante de meios de pagamento O texto se refere à intensificação dos efeitos que o papelmoeda ou a inflação creditícia trazem consigo de trabalho poderia permanecer sem perturbações A renda real do trabalho então seria ainda não apenas mais alta do que na posição anterior de equilíbrio aproximado mas também do que no boom Pois o que antes era lucro empresarial vai teoricamente e de acordo com a nossa concepção em seu todo mas na prática apenas de modo gradual e incompleto para os serviços do trabalho e da terra na medida em que não for absorvido pela queda do preço do produto capítulo IV Mas as circunstâncias abaixo enumeradas o evitam temporaria mente e ocasionam a queda temporária da renda real que é efetiva mente mostrada pelas estatísticas ao passo que a elevação final que deve ser esperada em conformidade com a nossa teoria é em geral ofuscada na realidade pelo aparecimento do boom seguinte a Primeiro os fatos que chamamos de incerteza e irregularidade aparente dos dados e acontecimentos no período de depressão ainda mais o pânico e os erros no curso anormal dos fatos transtornam muitas empresas e reduzem outras por certo tempo à ociosidade Isso deve resultar entre outras coisas em desemprego cujo caráter essen cialmente temporário não altera o fato de que é para os envolvidos um grande revés em certas circunstâncias aniquilador e de que o medo do desemprego contribui substancialmente para o clima de de pressão simplesmente por causa da imprevisibilidade da sua ocor rência Este desemprego é típico dos períodos de depressão e é a fonte de ofertas de trabalho movidas pelo pânico resultando assim na perda de muito terreno ganho pela ação sindical e às vezes embora não necessariamente numa severa pressão sobre os salários cujo efeito pode ser maior do que se poderia pensar tendo em vista o número de desempregados b Devemos distinguir dessas coisas o fato de que os novos em preendimentos eliminam completamente os estabelecimentos antigos ou então os forçam a restringir suas operações Opondose ao desem prego assim causado há seguramente a nova demanda de trabalho para a realização de novas combinações O exemplo da ferrovia e da diligência mostra com quanta freqüência essa demanda contrabalança o desemprego criado Mas isso não é necessariamente assim e mesmo que fosse pode haver dificuldades e conflitos que com o funcionamento incompleto do mercado de trabalho têm um peso desproporcionalmente alto na balança c A nova demanda de trabalho mencionada acima que surge quando a prosperidade está em plena marcha também perde impor OS ECONOMISTAS 232 199 Esse novo conceito significa aqui simplesmente a demanda expressa em unidades de um padrão ideal que não sofre mudanças cíclicas do tipo provocado por alterações na quantidade de meios de circulação assim indica apenas as mudanças reais na demanda total de trabalho e não as que são meramente nominais tância pelo fato de que eventualmente cessa a demanda dos empresários pelo trabalho que criou os novos investimentos d Via de regra o boom significa afinal um passo na direção da mecanização do processo produtivo e assim necessariamente uma diminuição do trabalho requerido por unidade de produto e freqüen temente embora não necessariamente implica também uma diminui ção da quantidade de trabalho requerido na indústria em questão a despeito da extensão da produção que ocorre Demonstrase assim que o desemprego tecnológico é uma parte integrante do desemprego cíclico e não deve ser colocado em oposição a este como se não tivesse nada a ver com o ciclo Esse elemento presente praticamente em toda depressão acar reta dificuldades grandes e dolorosas mas em sua maior parte apenas transitórias200 Pois a demanda real total de trabalho não pode em geral cair permanentemente porque deixando de lado todos os ele mentos compensadores e todos os secundários o gasto da parte do lucro empresarial que não é aniquilado pela queda dos preços neces sariamente é mais do que suficiente para evitar qualquer contração duradoura Mesmo que tal lucro fosse gasto apenas em consumo de veria se converter em salários e em renda da terra pois repito que tudo o que foi dito aqui também vale teoricamente para eles Quando e na medida em que for investido ocorre um aumento da demanda real de trabalho e O boom diretamente ou por seus efeitos pode baixar perma nentemente a demanda de trabalho apenas de uma maneira se nas novas combinações desloca a relativa significação marginal do trabalho e da terra que era obtida nas antigas combinações produtivas com suficiente desvantagem do trabalho Então não apenas pode cair per manentemente a participação do trabalho no produto social mas tam bém o montante absoluto de sua renda real Mais importante do que esse caso na prática mas também não necessariamente de natureza permanente é um deslocamento na demanda em favor dos meios de produção produzidos já existentes Com essa ressalva retornamos então à nossa conclusão de que a natureza econômica da depressão reside na difusão das conquistas do boom por todo o sistema econômico por meio do mecanismo da luta pelo equilíbrio e que somente reações temporárias que apenas em parte são necessárias ao sistema é que obscurecem esse traço funda mental e produzem o clima expresso pela palavra depressão assim como a repercussão que apresentam até mesmo aqueles índices que não pertencem ou não exclusivamente à esfera do dinheiro do crédito SCHUMPETER 233 200 Quanto a isso cf meu artigo Das Grundprinzip der Verteilungslehre In Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik t 42 e dos preços e não refletem simplesmente a deflação automática ca racterística de períodos de depressão 6 A irrupção de uma crise desencadeia um curso anormal de acon tecimentos ou origina o que é anormal no curso dos acontecimentos Como foi mencionado isso não levanta nenhuma questão téorica nova Nossa análise nos mostra que o pânico as falências os colapsos do sistema creditício etc não precisam mas podem facilmente aparecer no momento em que a prosperidade dá lugar a depressão O perigo persiste por algum tempo mas é tanto menor quanto mais completa mente o processo de depressão tiver feito o seu trabalho201 Se ocorrer pânico então os erros que se cometem em tal situação ou que sim plesmente ganham relevo com ela as condições da opinião pública etc tornamse causas independentes o que não poderiam ter sido no curso normal dos acontecimentos tornamse causas de uma depressão que apresenta traços diferentes e conduz a resultados finais diferentes do normal O equilíbrio que finalmente se estabelece aqui não é o mesmo que se teria estabelecido em outras circunstâncias Os erros graves e a ruína em geral não podem ser corrigidos e reparados novamente e criam situações que por sua vez têm outros efeitos os quais devem se esgotar significam novas perturbações e forçam processos de adap tação que de outro modo seriam dispensáveis Essa distinção entre o curso normal e o anormal de acontecimentos é muito importante não apenas para a compreensão da natureza da coisa mas também para as questões teóricas e práticas a ela relacionadas Vimos em contraste com a doutrina que vê o ciclo econômico essencialmente como um fenômeno monetário ou como um fenômeno que tem sua raiz no crédito bancário e que hoje está especialmente associada aos nomes de Keynes Fisher e Hawtrey e à política do Federal Reserve Board que nem os lucros de um boom nem os prejuízos de OS ECONOMISTAS 234 201 À medida que prossegue a depressão tornase cada vez menor o perigo de um colapso do sistema econômico e de sua estrutura creditícia Essa afirmação é compatível com o fato de que a maioria das falências não ocorre exatamente no ponto de reversão nem próximo a ele mas só mais tarde às vezes só quando já passou o perigo para o sistema econômico Pois mesmo um golpe mortal em uma firma não causa necessariamente sua falência ime diata Pelo contrário todas resistem o tempo que for possível E a maioria das firmas pode fazêlo por um período maior ou menor Elas ficam esperando e com elas os seus credores por tempos mais favoráveis Ponderam recorrem a artifícios buscam novos pontos de apoio às vezes com sucesso às vezes ao menos com o êxito bastante para tornar possível uma liquidação com acordo mais freqüentemente é verdade sem êxito mas mesmo então a luta mortal resulta no adiamento da falência ou da reorganização em geral até o próximo movimento ascendente de modo que a submersão ocorre quando já se avista a terra Esse não é o resultado de novos contratempos cujo perigo se reduz progressivamente mas é a conseqüência final do que aconteceu há muito tempo Aqui como em outros lugares estamos interessados nas causas primárias e na feição característica da explicação não na questão de quando as causas se tornam visíveis Isso cria uma discrepância aparente entre a nossa teoria e a observação Mas todas essas discrepâncias só podem se tornar objeções se se demonstrar que não estão satisfatoriamente explicadas uma depressão são desprovidos de sentido ou de função Pelo contrário onde o empresário privado em concorrência com os seus iguais ainda desempenha um papel eles são elementos essenciais do mecanismo do desenvolvimento econômico e não podem ser eliminados sem mutilar este último Esse sistema econômico não pode se realizar bem sem a ultima ratio da destruição completa dos elementos existentes que estão irrecuperavelmente associados aos inadaptados sem esperança Mas os prejuízos e a destruição que acompanham o curso anormal de acon tecimentos são realmente sem sentido e função A justificativa para as várias propostas de uma profilaxia e de uma terapia das crises se baseia principalmente neles O outro ponto de partida certo para uma política terapêutica é o fato de que mesmo a depressão normal ainda mais a anormal afeta indivíduos que não têm nada a ver com a causa e o significado do ciclo sobretudo os trabalhadores O remédio mais importante à la longue e o único que não está sujeito a nenhuma objeção é o aperfeiçoamento do prognóstico do ciclo econômico A familiaridade sempre crescente entre os homens de ne gócios e o ciclo juntamente com a trustificação progressiva é a razão principal para que estejam se tornando mais fracos os fenômenos da crise real202 não importando aqui acontecimentos como a Guerra Mundial e momentos como o período do pósguerra O adiamento de novas construções para os períodos de depressão ordenado pelos em preendimentos governamentais ou pelos grandes conglomerados apa rece do nosso ponto de vista como um abrandamento das conseqüências do aparecimento de grupos de combinações novas e como uma atenuação da inflação do boom e da deflação da depressão como um meio efetivo pois de amenizar o movimento cíclico e o perigo de crises Um aumento indiscriminado e geral das disponibilidades de crédito significa sim plesmente inflação exatamente como acontece com as emissões de pa pelmoeda pelo Governo É possível que esse aumento obstrua comple tamente o processo normal bem como o anormal E a ele se contrapõe não apenas a argumentação antiinflacionária em geral mas também o argumento de que ele destrói o critério de seleção que ainda pode ser atribuído à depressão e sobrecarrega o sistema econômico com os inadaptados e com as firmas que não têm condições para viver Em SCHUMPETER 235 202 A previdência exagerada também enfraquece o movimento cíclico normal Mas não pode evitálo como se reconhecerá caso nossa argumentação for esquadrinhada desse ponto de vista Portanto T S Adams vai longe demais quando afirma que Prever o ciclo é neu tralizálo É diferente o que acontece em relação ao elemento mencionado anteriormente 2 b em quarto lugar pelo qual no curso do tempo o desenvolvimento econômico se torna cada vez mais uma questão de cálculo Rechenstift Esse elemento é algo diferente da familiaridade e da previdência das quais estamos falando agora Também suaviza o movimento cíclico mas por outra razão tende a eliminar a causa fundamental do boom e portanto atua muito mais lentamente mas por tendência de modo muito mais completo do que a mera previsão do curso do movimento cíclico que é não obstante inevitável enquanto existir a causa É diferente também o que acontece com a trustificação esta suaviza o curso normal e o anormal dos acontecimentos pelas mesmas razões contraste com isso a restrição creditícia que comumente é empreendida pelos bancos assistematicamente e sem muita previdência aparece sob a luz de uma política que ao menos está aberta à discussão a política de curar o mal deixando que as suas conseqüências agudas sigam o seu curso Esse procedimento poderia ser suplementado por outras medidas que tornariam difícil aos produtores individuais resistir à ne cessária queda dos preços Mas também é concebível uma política cre ditícia por parte dos bancos individuais enquanto tais mas ainda mais por parte dos bancos centrais com a sua influência sobre o mundo bancário privado que diferenciaria entre os fenômenos relativos ao processo anormal que destroem e não têm função É verdade que essa política iria longe na direção de uma variedade especial de planeja mento econômico que aumentaria infinitamente a influência de fatores políticos sobre os destinos de indivíduos e de grupos Mas isso acarreta um julgamento político que não nos interessa aqui Os prérequisitos técnicos de tal política uma visão abrangente dos fatos e das possibi lidades de vida econômica e cultural embora teoricamente obteníveis com o tempo indubitavelmente não são disponíveis no presente Mas em teoria é conveniente estabelecer que essa política não é impossível e não deve ser classificada simplesmente como quimera ou como medida inadequada por natureza para a obtenção de seus fins ou finalmente como medida cujas reações contrárias são necessariamente mais do que suficientes para compensar seus efeitos diretos Os fenômenos do curso normal e os do curso anormal dos acontecimentos não são dis tinguíveis meramente em termos conceituais Na realidade são duas coisas diferentes e com um discernimento bastante profundo de modo que mesmo hoje em dia os casos concretos geralmente podem ser reconhecidos imediatamente como pertencentes a um ou ao outro Essa política teria que distinguir dentre as numerosas empresas ameaçadas pelo desastre em qualquer depressão dada aquelas que se tornaram obsoletas técnica ou comercialmente com o boom daquelas que pare cessem estar em perigo por circunstâncias reações e acidentes secun dários deixaria as primeiras sozinhas e apoiaria as últimas com con cessão de crédito E poderia ser bemsucedida no mesmo sentido em que uma política consciente de higiene racial pode levar a sucessos não obteníveis se as coisas forem deixadas a funcionar automatica mente De qualquer maneira contudo as crises desaparecerão antes do sistema capitalista do qual são filhas Mas nenhuma terapia pode obstruir permanentemente o grande processo econômico e social pelo qual as empresas as posições indivi duais as formas de vida os valores e ideais culturais descem de nível na escala social e finalmente desaparecem Numa sociedade com pro priedade privada e concorrência esse processo é o complemento ne cessário do aparecimento contínuo de novas práticas econômicas e so ciais e de rendas reais sempre crescentes em todos os estratos sociais OS ECONOMISTAS 236 O processo seria mais suave se não houvesse flutuações cíclicas mas não se deve completamente a estas últimas e se completa independen temente delas Essas mudanças são teórica e praticamente econômica e culturalmente muito mais importantes do que a estabilidade econô mica sobre a qual esteve concentrada por tanto tempo toda a atenção analítica E à sua maneira especial tanto a ascensão quanto a queda de famílias e empresas são muito mais características do sistema eco nômico capitalista de sua cultura e de seus efeitos do que qualquer das coisas que se podem observar numa sociedade que seja estacionária no sentido de que os seus processos se reproduzam a uma taxa constante SCHUMPETER 237 ÍNDICE TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Introducão 5 Nota do Tradutor da edição inglesa 17 Prefácio à edição inglesa 19 CAP I O fluxo circular da vida econômica enquanto condicionado por circunstâncias dadas 23 CAP II O fenômeno fundamental do desenvolvimento econômico 69 CAP III Crédito e capital 101 A natureza e a função do crédito 101 Capital 118 O mercado monetário 124 CAP IV O lucro empresarial 129 CAP V O juro sobre o capital 155 Observações preliminares 155 CAP VI O ciclo econômico 201 Observações preliminares 201