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Odontologia ·
Dentística
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06 Sistemas Adesivos Leandro Augusto Hilgert Everton Nocchi Conceição 120 Capítulo 6 Sistemas Adesivos INTRODUÇÃO A possibilidade de aderir materiais restauradores às estruturas dentais revolucionou a prática odontológica cotidiana O desenvolvimento da adesão caminhou lado a lado com a evolução das resinas compostas a aceitação de uma filosofia de mínima intervenção o entendimento da etiopatogenia da doença cárie e a valorização da estética nos tratamentos restauradores Atualmente a maioria absoluta dos procedimentos restauradores é executada seja de forma direta ou indireta com o auxílio de procedimentos adesivos que unem o material restaurador ao remanescente dental sem a exigência de desgastar tecido hígido através da confecção de preparos cavitários com princípios geométricos preestabelecidos para promover a retenção do material restaurador ao dente Isso possibilita mais preservação de tecido dental sadio que em longo prazo acarreta em maior longevidade na manutenção de dentes saudáveis e em função No desenvolvimento dos sistemas adesivos destacase o trabalho de Buonocore de 1955 que a partir da observação do uso de ácidos para melhorar a adesão de tintas a superfícies metálicas sugeriu o condicionamento ácido do esmalte para promover melhor adesão das resinas acrílicas à estrutura dental1 Os sistemas adesivos evoluíram bastante com diferentes gerações de materiais e técnicas nas décadas que se sucederam O condicionamento ácido do esmalte para restaurações adesivas ficou bem estabelecido entre os clínicos2 Entretanto a adesão à dentina ainda gerava grandes dificuldades Um marco nesta área foram os trabalhos de Fusayama e colaboradores3 realizados no final dos anos 1970 sugerindo o condicionamento com ácido fosfórico também em dentina e a descrição da formação da camada híbrida por Nakabayashi e colaboradores4 em 1982 No entanto apenas em meados da década de 1990 que o condicionamento ácido total de esmalte e dentina foi amplamente aceito e que o entendimento da técnica da adesão úmida5 trouxe sucesso clínico aos sistemas adesivos hoje conhecidos como da estratégia condicione e lave de três passos ou etchandrinse que contêm frascos e etapas separadas para o ácido fosfórico o primer e o adesivo bonding Também na década de 1990 foram introduzidos no comércio sistemas que utilizam uma estratégia adesiva autcondicionante ou selfetch sem a etapa do condicionamento ácido prévio Ambas as estratégias continuam disponíveis atualmente com sistemas comerciais diferentes que apresentam diversas características de composição química e estratégias de uso Isso exige do profissional conhecimento dos princípios de adesão em Odontologia morfologia dos tecidos dentais composição dos materiais restauradores diretos e indiretos e particularidades dos sistemas adesivos para que possa eleger e utilizar de modo adequado os sistemas adesivos na sua rotina clínica O objetivo do presente capítulo é apresentar as características do esmalte e dentina a classificação dos sistemas adesivos e suas indicações vantagens limitações e protocolos clínicos de uso com materiais restauradores diretos e indiretos além de uma análise crítica de sua durabilidade clínica ADESÃO E SUBSTRATOS DENTAIS ESMALTE O esmalte dentário é um tecido altamente mineralizado composto por cerca de 88 de mineral hidroxiapatita 2 de conteúdo orgânico e 10 de água em volume O tratamento mais utilizado para preparar o esmalte para a adesão é o condicionamento ácido e alguns estudos mostraram que o ácido ideal é o fosfórico em concentrações entre 30 e 40 aplicado por 15 a 60 segundos67 O ácido fosfórico aplicado no esmalte provoca dissolução mineral superficial limpandoo e criando uma superfície irregular com mais energia de superfície e maior área de contato com o adesivo Após condicionado lavado e seco o esmalte está apto a receber uma resina adesiva fluida adesivo ou bonding que por capilaridade penetra nas irregularidades superficiais O adesivo é então polimerizado Assim os prolongamentos tags de adesivo embricados na morfologia irregular do esmalte condicionado promovem adesão micromecânica à superfície Figs 61A61C Adesão ao esmalte a Esmalte précondicionamento b Adesivo Esmalte condicionado c 5μm Figura 61 Adesão ao esmalte Desenho esquemático do esmalte A antes e B após condicionamento com ácido fosfórico lavagem secagem e aplicação do adesivo Em C observase microscopia eletrônica de varredura de esmalte condicionado por ácido fosfórico a 37 por 15 segundos Os estudos laboratoriais e acompanhamentos clínicos são claros em demonstrar que a adesão ao esmalte condicionado é eficiente e duradoura e a presença de esmalte nas margens de restaurações adesivas é um fator que contribui para maior longevidade dos tratamentos DENTINA A dentina apresenta uma composição diferente da do esmalte e é nela que os maiores desafios e dificuldades da adesão se apresentam A dentina tem cerca de 50 de mineral 25 de conteúdo orgânico em especial colágeno tipo I e 25 de água Em dentina é essencial entender o papel dos túbulos dentinários dentina inter e peritubular e da lama dentinária smear layer nos processos adesivos Os túbulos dentinários são repletos de fluido dentinário sob pressão pulpar constante Quanto mais próximo à polpa maiores o número e o diâmetro dos túbulos em uma determinada área o que dificulta a adesão na dentina mais profunda devido ao maior volume de água nesta região8 Os túbulos dentinários são circundados por uma dentina mais mineralizada a dentina peritubular e entre túbulos existe a chamada dentina intertubular menos mineralizada e permeada por canais e anastomoses que unem os túbulos uns aos outros Fig 62 Quando a dentina é abrasianada ou cortada durante o preparo cavitário formase na sua superfície uma camada de detritos orgânicos e inorgânicos chamada lama dentinária ou smear layer que tem baixa resistência de união à dentina 5 Mpa A lama dentinária comumente oblitera a embocadura dos túbulos dentinários e as extensões da smear layer dentro dos túbulos são conhecidas como smear plugs Tal obliteração dos túbulos pela lama dentinária reduz a permeabilidade da dentina em cerca de 86 O tipo de interação promovido pelos sistemas adesivos com a smear layer é um dos principais diferenciais entre as estratégias adesivas contemporâneas Enquanto a estratégia que preconiza o condicionamento da dentina com ácido fosfórico condicione e lave remove toda a lama dentinária a estratégia autocondicionante a modifica incorporando a smear layer à camada adesiva Outro detalhe que devemos estar atentos é o de que a dentina é um tecido vital complexo e que sua morfologia varia de acordo com a localização profundidade além de sofrer alterações com a idade ou as patologias Isso gera desafios diferentes para a adesão frente às diversas condições da dentina ao longo do tempo e por suas respostas a estímulos provocados por traumatismo cárie preparo cavitário restaurações antigas ou exposição ao meio oral formando dentina esclerotica Tab 61 SISTEMAS ADESIVOS ATUAIS CLASSIFICAÇÃO Atualmente a classificação mais aceita dos sistemas adesivos é aquela que os divide segundo a estratégia adesiva condicione e lave etchandrinse ou autocondicionante selfetch e de acordo com o número de passos de aplicação9 Assim para a estratégia condicione e lave existem os sistemas de três passos em que ácido primer e adesivo são aplicados em passos distintos e os de dois passos em que o ácido é aplicado em um primeiro momento e após lavagem e remoção da umidade excessiva uma solução única exercendo as funções de primer e adesivo é utilizada Já na estratégia autocondicionante na qual não existe uma etapa prévia em separado para o condicionamento com ácido fosfórico existem os sistemas de dois passos em que um primer ácido exerce as funções de ácido e primer seguido da aplicação do adesivo e os sistemas de um passo nos quais uma solução única exercendo funções de ácido primer e adesivo é aplicada na estrutura dental As estratégias dos sistemas adesivos condicione e lave etchandrinse e autocondicionante selfetch objetivam unir materiais restauradores diretos ou indiretos à estrutura dental Os cimentos de ionômeros de vidro unemse quimicamente à estrutura dental A figura 62 apresenta a classificação atual dos sistemas adesivos LOCALIZAÇÃO Coronária Mais previsibilidade adesiva mas alterações fisiológicas eou patológicas podem influenciar na adesão Cervicoradicular Grande anisotropia estrutural devido a alterações fisiopatológicas ocasionam variabilidade na adesão PROFUNDIDADE Superficial O conteúdo de água da dentina próxima à junção amelodentinária é 1 vol enquanto próximo à polpa é de aproximadamente 22 A densidade de túbulos dentinários é em torno de 20000 por mm2 A resistência de união na dentina superficial é de 30 a 50 maior do que na dentina profunda Profunda A densidade dos túbulos é em torno de 45000 por mm2 além de apresentarem maior diâmetro Menos resistência de união do que na dentina superficial CONDIÇÃO Hígida Mais favorável para a adesão Com o tempo o lúmen tubular diminui pela precipitação mineral passiva dificultando a adesão Após o preparo cavitário Smear layer Durante o preparo cavitário formase uma camada de componentes orgânicos e inorgânicos smear layer que apresenta baixa resistência de união à dentina 5MPa e reduz a permeabilidade dentinária em 86 A forma de tratar a smear layer pode afetar o desempenho dos adesivos pois sua remoção gera aumento de umidade que pode afetar a adesão Afetada por cárie A adesão à dentina afetada por cárie é inferior àquela obtida em dentina hígida devido a sua menor dureza presença de depósitos minerais de cálcio e fosfato na região intratubular e alteração da estrutura secundária do colágeno Esclerótica Lesão não cariosa Mais desafiadora para a adesão do que a dentina hígida pois apresenta depósitos escleróticos condicionados de modo mais lento do que as outras estruturas dentinárias e uma camada de colágeno desnaturado na base da zona hipermineralizada Os sistemas adesivos condicione e lave utilizam a técnica do condicionamento ácido total em esmalte e dentina O gel de ácido fosfórico 30 a 40 é aplicado por 15 a 30 segundos em esmalte e por até 15 segundos em dentina Clinicamente a aplicação do ácido pode ser iniciada pelas margens de esmalte e estendida para a dentina No esmalte o ácido promove a criação de microporosidades e na dentina ocorre a remoção da lama dentinária e dos smear plugs desmineralizando ao redor de 5 µm da dentina Com a remoção da hidroxiapatita da superfície há a exposição de uma densa trama de fibrilas colágenas Esse conteúdo orgânico e úmido faz com que a energia de superfície da dentina condicionada seja baixa o que não favorece a infiltração do adesivo Isso precisa ser revertido por meio do uso de um primer Após a lavagem do ácido o esmalte pode ser seco por jatos de ar porém a dentina deve ser mantida levemente úmida para evitar o colabamento da trama de fibrilas colágenas exposta pela desmineralização superficial da dentina em torno de 5 µm O ácido nos sistemas condicione e lave é o passo número 1 Nos sistemas condicione e lave de 3 passos o primer é aplicado como segundo passo Essa solução de monômeros de baixo peso molecular e bifuncionais com uma extremidade hidrófila que tem afinidade pela dentina desmineralizada e outra hidrófoba capaz de copolimerizar com o adesivo e solventes orgânicos acetona álcool eou água é aplicada ativamente na dentina para que os solventes desloquem a água da superfície da dentina e do interior da trama de fibrilas colágenas e carreiem os monômeros hidrófilos pelos espaços interfibrilares da dentina condicionada aumentando sua energia de superfície para receber o adesivo hidrófobo posteriormente Os solventes do primer devem ser bem volatilizados com o uso de jatos de ar Não é necessário usar o primer sobre o esmalte condicionado10 O terceiro passo é a aplicação de um adesivo hidrófobo no esmalte e na dentina que por capilaridade ocupará as irregularidades e microporosidades da superfície do esmalte condicionado e infiltrará na dentina condicionada e tratada pelo primer ocupando os espaços interfibrilares e muitas vezes penetrando no espaço dos túbulos dentinários formando assim a camada híbrida e os tags resinosos seguido de fotopolimerização por 10 segundos Visando melhorar as propriedades mecânicas das interfaces adesivas é possível que alguns adesivos também contenham componentes inorgânicos partículas de carga em sua formulação Essas partículas nanométricas de sílica 5 a 20 nm sobretudo contribuem na redução da hidrofilia das interfaces e buscam melhorar a resistência compressiva da camada híbrida Um desenho esquemático dos passos da adesão à dentina em sistemas condicione e lave ou convencionais de 3 passos é apresentado na figura 63 A dentina condicionada não deve ser seca com jatos de ar pois isso poderia colabar as fibrilas colágenas dificultando a posterior infiltração do adesivo A dentina é mantida levemente úmida e então é aplicado o primer que com seus solventes orgânicos e monômeros hidrófilos prepara a dentina para receber o adesivo hidrófobo O desenho em D representa a dentina após uso do primer e em E temos uma imagem esquemática após a aplicação do adesivo AD com a formação da camada híbrida CH e dos tags de resina Figura 63 Adesão à dentina A Microscopia eletrônica de varredura de dentina fraturada SL smear layer SP smear plug DI dentina intertubular TD túbulo dentinário DP dentina peritubular Em B observase desenho esquemático da dentina antes do condicionamento ácido evidenciando a smear layer e o smear plug Em C o esquema mostra a dentina póscondicionamento ácido com a remoção da smear layer desmineralização de dentina e exposição de trama de fibrilas colágenas FC A dentina condicionada não deve ser seca com jatos de ar pois isso poderia colabar as fibrilas colágenas dificultando a posterior infiltração do adesivo A dentina é mantida levemente úmida e então é aplicado o primer que com seus solventes orgânicos e monômeros hidrófilos prepara a dentina para receber o adesivo hidrófobo O desenho em D representa a dentina após uso do primer e em E temos uma imagem esquemática após a aplicação do adesivo AD com a formação da camada híbrida CH e dos tags de resina SISTEMAS ADESIVOS CONDICIONE E LAVE DE 2 PASSOS Nos sistemas adesivos condicione e lave de dois passos ao invés de primer e adesivo serem disponibilizados em frascos separados eles são apresentados em frasco único em solução composta essencialmente por monômeros hidrófilos solventes orgânicos e monômeros hidrófobos O primeiro passo de condicionamento ácido lavagem e remoção do excesso de umidade é o mesmo já descrito O segundo passo a aplicação do primeradesivo deve ser realizada ativamente por 15 a 20 segundos os solventes evaporados com jatos de ar e ao menos por mais uma vez essa aplicação e evaporação de solventes repetida como se a primeira camada atuasse como primer e a segunda como adesivo antes da fotopolimerização Na figura 64 podemos observar o aspecto microscópico da interface dentinaadesivoresina composta com a evidência de formação de camada híbrida obtida em sistemas condicione e lave ou convencionais de 2 ou 3 passos Figura 64 Fotografia em microscopia eletrônica de varredura ilustrando a interface dentinaadesivoresina composta condicione e lave ou convencional de 2 passos Imagem gentilmente cedida pelo Prof Dr Mario Fernando de Góes DIFICULDADES CLÍNICAS DOS SISTEMAS ADESIVOS CONDICIONE E LAVE CONVENCIONAIS Uma das principais dificuldades dos sistemas que condicionam a dentina com ácido fosfórico é a manutenção da umidade ideal após a lavagem do ácido Caso for seca demasiadamente a trama de fibrilas colágena exposta colaba e dificulta a infiltração adequada do adesivo Caso a dentina fique excessivamente úmida o sistema adesivo poderá ser diluído ocorrendo separação de fases de seus componentes e deficiência na polimerização A janela entre seco e muito úmido é estreita e torna o procedimento mais sensível ao operador Alguns sistemas adesivos apresentam água na formulação do primer que teria a capacidade de reexpandir as fibrilas colágenas de uma dentina suavemente seca Entretanto essa incorporação de água se colabora na infiltração dos monômeros exige uma maior atenção para a correta e evaporação correta do primer para reduzir o conteúdo aquoso antes da aplicação do adesivo hidrófobo Outra questão é a necessidade de promover infiltração do adesivo por toda a espessura da camada de dentina desmineralizada Uma aplicação incorreta sem respeitar tempos de uso do primer ou primeradesivo ou sem promover agitação vigorosa do produto parece reduzir a capacidade do adesivo de infiltrar todos os espaços interfibrilares Nesses casos as fibrilas não encapsuladas pelo adesivo ficam mais propensas à degradação e a ausência de bom selamento dentinário pode levar à sensibilidade operatória eou a outros problemas oriundos de uma adesão deficiente Nos sistemas condicione e lave os monômeros hidrófilos usualmente utilizados p ex HEMA apresentam interação química muito fraca com a dentina e o mecanismo de adesão concentrase na interpenetração mecânica do adesivo na estrutura desmineralizada de esmalte e dentina camada híbrida Veremos a seguir que mais recentemente há busca por sistemas adesivos capazes de se unirem além de por embricamento mecânico também quimicamente aos substratos dentais Quando são comparados os sistemas adesivos condicione e lave de 2 e 3 passos observase que normalmente há melhor desempenho dos sistemas de 3 passos especialmente em dentina Os sistemas de 2 passos normalmente têm maior concentração de solventes e não apresentam uma camada separada de adesivo hidrófobo Isso cria dificuldades na evaporação correta desses solventes e o polímero formado tem maior hidrofilia Polímeros hidrófilos tendem a apresentar maior sorção de água e consequente maior degradação por hidrólise Também estudos demonstraram que a membrana adesiva produzida por sistemas adesivos simplificados sem uma camada hidrófoba em separado são semipermeáveis à passagem de água dos túbulos dentinários em direção à superfície que será aderida11 Apesar de terem sido desenvolvidos nos anos 1990 para a estratégia condicione e lave os sistemas de 3 passos são ainda hoje considerados o padrãoouro da adesão SISTEMAS ADESIVOS AUTOCONDICIONANTES SELFETCH Os sistemas adesivos autocondicionantes não requerem uma etapa prévia de condicionamento com ácido fosfórico Eles contêm monômeros ácidos que condicionam e infiltram o substrato dentário sem necessidade de lavagem Em dentina por exemplo há uma dissolução e incorporação da smear layer e uma vez que não há etapa de lavagem eliminamse as dificuldades do controle de umidade póscondicionamento relatado para a estratégia condicione e lave Normalmente o protocolo de adesão na estratégia autocondicionante é mais fácil e menos sensível ao operador Os sistemas adesivos autocondicionantes de dois passos apresentam uma primeira etapa que é a aplicação ativa de um primer ácido feita usualmente por 20 segundos e seguida apenas pela evaporação de solventes com jatos de ar sem qualquer tipo de lavagem Como segundo passo é aplicado o adesivo uma resina fluida com caráter hidrófobo que é então polimerizada Os sistemas adesivos autocondicionantes de um passo também chamados de allinone são apresentados como uma só solução que contém o primer ácido e o adesivo promovendo assim todas as etapas da adesão em passo único obs embora a maioria dos sistemas seja apresentada em frasco único alguns são comercializados em dois frascos cujos conteúdos são misturados no momento do uso para formar a solução autocondicionante de um passo O protocolo de uso é a aplicação ativa no substrato por normalmente 20 segundos volatilização dos solventes com jatos de ar e polimerização Alguns fabricantes indicam a repetição dos passos de aplicação e volatilização dos solventes antes da fotopolimerização Todos os sistemas autocondicionantes seja no primer ácido dos de 2 passos ou no sistema allinone necessitam ter água em sua formulação para permitir a ionização dos monômeros ácidos e consequente interação com o substrato Sendo assim é muito importante o passo de volatilização dos solventes com jatos de ar No mecanismo de atuação dos sistemas autocondicionantes é preciso observar fatores como a agressividade do pH do primer ácido em sistemas de 2 passos ou da solução autocondicionante de passo único e o tipo de monômero ácido utilizado Sistemas com pH mais baixo fortes pH 1 intermediáriofortes pH 15 tendem a condicionar a dentina em maior profundidade e a dissolver e incorporar quase toda a smear layer inclusive os smear plugs levando a uma desmineralização de boa parte da hidroxiapatita da dentina intertubular e formando uma camada híbrida não tão distinta daquela dos sistemas condicione e lave Sistemas com pH mais alto leves amenos ou suaves pH 20 ultraleves ultraamenos ou ultrassuaves pH 25 tendem a dissolver e impregnar a smear layer e os smear plugs Também condicionam a dentina em profundidades submicrométricas preservando boa parte da hidroxiapatita que envolve as fibrilas colágenas12 Fig 65 Apesar de delgada a camada híbrida formada por sistemas autocondicionantes de pH mais suave parece promover uma adesão bastante adequada Sistemas autocondicionantes suaves e ultrassuaves são uma tendência da Odontologia contemporânea Nos sistemas autocondicionantes alguns monômeros ácidos funcionais podem se ligar quimicamente por ligações iônicas com o cálcio da hidroxiapatita do substrato dentário Atualmente é comum que sistemas autocondicionantes apresentem monômeros ácidos funcionais como o 10MDP que é capaz de formar uma ligação iônica aparentemente estável com a hidroxiapatita Isso é especialmente interessante em sistemas de pH suave ou ultrassuave nos quais boa parte da hidroxiapatita da dentina entre as fibrilas colágenas é preservada criando sítios para a ligação entre o monômero funcional e o cálcio Acreditase que tal interação química colabore na durabilidade da união O monômero funcional 10MDP unese ao cálcio por meio de seus grupos fosfato formando sais cálciofosfato aparentemente estáveis13 embora trabalhos recentes coloquem em xeque a estabilidade dessa ligação em longo prazo14 Tal monômero está presente na composição do sistema autocondicionante de dois passos Clearfil SE Bond Kuraray tido como padrãoouro para essa estratégia adesiva há cerca de duas décadas Um acompanhamento clínico de restaurações Classe V mostrou taxas de sucesso de 97 após 13 anos para este sistema adesivo15 Mais recentemente com a quebra da patente da monômero 10MDP ele foi introduzido na formulação de sistemas adesivos autocondicionantes por muitas empresas adesivos seja pela complexa formulação química altamente hidrófila que aumenta a degradação hidrolítica do polímero formado os sistemas autocondicionantes de um passo por anos apresentaram resultados inferiores aos demais adesivos Recentemente apesar de ainda não existirem inúmeros trabalhos em longo prazo observase tendência de melhora para esta categoria de sistemas adesivos16 Recentemente foram introduzidos no comércio sistemas adesivos intitulados universais Isso significa que eles podem ser utilizados tanto na estratégia condicione e lave como na autocondicionante com ou sem a técnica do condicionamento ácido seletivo Os sistemas adesivos universais têm composição e apresentação similares àquelas dos autocondicionantes de passo único sendo a maioria dos universais de pH suave ou ultrassuave e contendo monômeros ácidos funcionais estáveis como o 10MDP Apesar da possibilidade de simplificar a técnica e deixar a cargo do cirurgiãodentista escolher a estratégia de adesão alguns estudos sugerem que para aliar a boa adesão obtida em esmalte previamente condicionado à interação química dos monômeros funcionais em dentina suavemente modificada da estratégia autocondicionante a técnica do condicionamento ácido seletivo de esmalte é a ideal1718 Resultados clínicos promissores em curto e médio prazo vem sendo demonstrados para a adesão aos substratos dentais dos sistemas adesivos universais19 A maior parte dos fabricantes de sistemas adesivos já comercializa produtos desta categoria Após apresentarmos neste capítulo uma noção das características morfológicas do esmalte e da dentina além de uma classificação e entendimento de como agem as diversas categorias de sistemas adesivos disponíveis no comércio é interessante destacarmos as indicações vantagens e limitações dos sistemas adesivos As principais indicações clínicas dos sistemas adesivos estão dispostas a seguir e ilustradas na figura 67A67E Restaurações de resina composta direta e indireta a indicação de restaurações de resina composta diretas e indiretas em dentes posteriores e anteriores é atualmente expressiva muito pela evolução simplificação e previsibilidade clínica dos sistemas adesivos ver Capítulos 10 a 13 14 e 16 Restaurações de porcelana o desenvolvimento e a crescente indicação das técnicas restauradoras com porcelana só foram possíveis devido à evolução dos sistemas adesivos Entre as principais técnicas empregadas em Dentística podemos citar laminados inlayonlay e coroa ver Capítulos 16 a 19 Restaurações com ligas metálicas o uso de sistema adesivo e cimento resinoso é uma opção interessante para cimentar inlayonlay metálico ou coroa metalocerâmica pois auxilia na retenção da restauração além de minimizar a microinfiltração Colagem dental com a evolução dos sistemas adesivos a técnica de colagem dental tornouse ainda mais vantajosa pois além de repor o fragmento dental representa uma técnica mais previsível e simplificada ver Capítulo 14 Proteção pulpar o conceito de obter selamento da cavidade através do emprego de sistema adesivo hibridização evitando microinfiltração é cada vez mais empregado como um modo simplificado e eficiente de proteção pulpar dispensando o uso de materiais de base ou forramento Dessensibilização dentinária o uso de sistema adesivo autocondicionante é uma alternativa interessante para o tratamento da hipersensibilidade dentinária pois pode promover alívio da dor imediatamente após sua aplicação ver Capítulo 15 Reparo de restaurações essa indicação dos sistemas adesivos é muito vantajosa pois em muitas situações clínicas é possível reparar defeitos em restaurações de resina composta ou porcelana evitando assim sua substituição Reforço radicular o uso de sistema adesivo resina composta e pino intrarradicular de fibra de vidro permite reforçar internamente a raiz de um dente que eventualmente tenha perdido quantidade significativa de dentina ver Capítulo 18 Cimentação de pinos intrarradiculares a cimentação de pino intrarradicular de fibra de vidro na porção radicular e coronária do dente com sistema adesivo e cimento resinoso apresenta grande capacidade de união à dentina e ao pino ver Capítulo 18 Confecção de núcleos parciais diretos utilizando o sistema adesivo associado com resina composta ou cimento resinoso tipo core é possível confeccionar um núcleo parcial direto em dentes amplamente destruídos que necessitam de uma restauração indireta ver Capítulo 18 Regularização da dentina para procedimentos indiretos uma resina composta associada ao sistema adesivo pode ser usada para preencher áreas de esmalte socavado e regularizar áreas de dentina durante o preparo para inlayonlay ou coroa minimizando o desgaste de tecido hígido e deixando o preparo expulsivo ver Capítulos 16 e 19 Selamento imediato da dentina préhibridização a aplicação do sistema adesivo e de uma fina camada de resina composta no preparo para uma restauração indireta irá proteger o complexo dentinopulpar durante as fases de moldagem e provisório até que a peça indireta seja cimentada Esse procedimento contribui para eliminar a contaminação bacteriana durante a fase de provisório e também evitar sensibilidade pósoperatória ver Capítulos 16 e 17 Colagem de braquetes ou dispositivos ortodônticos em situações clínicas em que é necessário realizar pequenos movimentos ortodônticos previamente à confecção da restauração o uso de sistema adesivo é essencial para viabilizar a fixação de dispositivo ortodôntico permitindo a movimentação dental desejada Restaurações estéticas finas novas técnicas a evolução e previsibilidade dos sistemas adesivos aliados às melhores propriedades das resinas e porcelanas atuais permitiram a introdução de novas técnicas restauradoras como as lentes de contato de porcelana e oclusal veneers ou table tops Essas técnicas permitem reabilitar com um mínimo ou até sem desgaste de tecido hígido empregando espessuras delgadas de material restaurador entre 01 e 05 mm ver Capítulos 16 e 17 VANTAGENS Possibilidade de realizar restaurações estéticas com mínimo ou até mesmo sem desgaste dental preservando o tecido dental hígido Redução da microinfiltração na interface dentematerial restaurador Diminuição da sensibilidade pósoperatória Diminuição de manchamento marginal Melhor distribuição do estresse funcional sobre o dente através da união adesiva Reforço da estrutura dental enfraquecida pela perda de esmalte e dentina devido à cárie e ao preparo cavitário Possibilidade de confeccionar reparos de restaurações deficientes com desgaste dental mínimo Selamento dentinário e proteção pulpar Regularização da dentina e preenchimento de retenções reduzindo a necessidade de desgaste dental no preparo para restaurações indiretas LIMITAÇÕES Atuação do cirurgiãodentista a atuação do cirurgiãodentista é o fator principal para o sucesso de restaurações adesivas pois em muitas situações clínicas a inabilidade do profissional limita significativamente o desempenho dos sistemas adesivos Considerando a grande variedade de sistemas adesivos disponíveis no comércio é importante que o profissional tenha treinamento prévio e siga um protocolo clínico cuidadoso durante a aplicação do sistema adesivo de escolha para que obtenha resultado clínico satisfatório Tipo de substrato devido à diferença substancial de composição entre o esmalte e a dentina a obtenção de união à dentina é mais crítica visto que é um substrato sujeito a alterações fisiológicas de esclerose dentinária em função do processo de envelhecimento ou da resposta a estímulos de cárie abrasão e erosão química ver Tab 61 Composição e armazenagem do adesivo uma diferença importante entre os sistemas adesivos é o tipo de solvente empregado acetona etanol eou água O profissional deve dar atenção especial à manipulação e armazenagem dos adesivos como manter a tampa do frasco fechada logo após o uso pois eles podem apresentar redução significativa da capacidade de união à dentina ao longo do tempo de armazenagem Umidade da dentina é fundamental que o profissional saiba o mecanismo de ação do sistema adesivo selecionado para controlar a umidade da dentina porque para os sistemas adesivos condicione e lave é melhor aplicar em dentina controladamente umedecida como já explicado anteriormente e para os adesivos autocondicionantes ou universais é preferível que esses sejam aplicados em dentina seca Tamanho e forma da cavidade como a contração de polimerização da resina composta gera estresse na interface adesivodente uma relação desfavorável do fator C pode ocasionar aumento do desafio para a união adesiva Pequena cavidade tipo I pode estar relacionada com maior tensão de polimerização do que uma cavidade mais ampla porque quanto maior for o número de paredes em que a resina composta estiver aderida no momento da polimerização maior será o desafio para a união adesiva ou seja maior será o estresse de polimerização ver Capítulo 10 Flexão dental restaurações de lesões de abfração e de dentes de pacientes com parafunção oclusal bruxismo podem gerar estresse especialmente na região cervical dos dentes o que ocasiona maior desafio para a união adesivodente DESEMPENHO CLÍNICO DOS SISTEMAS ADESIVOS CONTEMPORÂNEOS Um procedimento clínico tem seu sucesso mensurado por muitos fatores entre os quais sua durabilidade é certamente o mais importante Restaurações adesivas têm como relevante motivo de insucesso as falhas na união entre dente e restauração Muitos testes laboratoriais procuram prever o comportamento clínico dos sistemas adesivos porém são os estudos clínicos que fornecem as respostas mais confiáveis Os principais estudos clínicos de adesão envolvem restaurações Classe V nas quais não há geometria de preparo retentiva e há sempre margens em esmalte e dentina o que representa um desafio para os sistemas adesivos Uma revisão sistemática de estudos clínicos de acompanhamento de restaurações Classe V foi publicada por Peumans e colaboradores20 em 2014 Os resultados apontaram taxas de falha anual de 25 para sistemas adesivos autocondicionantes de 2 passos com pH suave 31 para condicione e lave de 3 passos 36 para autocondicionantes de 1 passo com pH suave 54 para autocondicionantes de 1 passo de pH forte 58 para condicione e lave de 2 passos e 84 para autocondicionantes de 2 passos de pH forte Como já relatado observase que sistemas autocondicionantes de 2 passos de pH suave e sistemas condicione e lave de 3 passos destacamse com as mais baixas taxas de falhas anuais corroborando seu status de padrãoouro dentro de cada estratégia adesiva Interessante também é a importância do pH suave na estratégia autocondicionante lembrando que a maioria dos novos adesivos desta categoria alia pH suave com monômeros funcionais estáveis Na comparação com estudos mais antigos é notável a melhora no desempenho de sistemas adesivos autocondicionantes de 1 passo com pH suave alguns desses comercializados como adesivos universais Embora a retenção de restaurações Classe V realizadas com sistemas autocondicionantes de pH suave não pareça ser afetada pela execução ou não do condicionamento ácido seletivo de esmalte há evidência de que o uso prévio de ácido fosfórico em esmalte reduz o manchamento marginal21 sendo o procedimento indicado por diversos autores171822 Outra observação relevante é a diferença significativa no sucesso clínico entre marcas comerciais em uma mesma estratégia adesiva pH e modo de aplicação Assim o clínico deve observar atentamente os resultados de estudos laboratoriais e clínicos de um determinado produto comercial antes de selecionálo DEGRADAÇÃO DA CAMADA HÍBRIDA A união entre substrato dentário e resinas compostas mediada pelos sistemas adesivos apresenta degradação com o passar do tempo Em esmalte tecido altamente mineralizado sem conteúdo orgânico considerável a degradação é mais lenta e a adesão mais duradoura Em dentina tecido com relevante teor orgânico e úmido a necessidade de hidrofilia e a exposição de fibrilas colágenas geram maiores dificuldades na preservação da interface adesiva Os dois principais mecanismos de degradação da camada híbrida são a degradação hidrolítica da resina adesiva e a degradação do colágeno causada principalmente por enzimas2324 O adesivo especialmente em sistemas simplificados nos quais não há camada hidrófoba em separado tende a ser degradado hidroliticamente com o passar do tempo Tal degradação parece ser acelerada pela hidrofilia do polímero formado pela má evaporação dos solventes por uma polimerização deficiente entre outros fatores2325 Já o colágeno da camada híbrida formada em dentina tende a ser degradado pela ação de enzimas presentes no próprio tecido dental p ex as MMPs metaloproteinases da matriz que são ativadas quando o colágeno é exposto pela ação dos ácidos Colaboram para a degradação do colágeno uma infiltração inadequada do adesivo na trama de fibrilas colágenas e a degradação do polímero do adesivo que também acaba expondo o colágeno à degradação enzimática232526 Entre diversas alternativas para reduzir ou tornar mais lenta a degradação da adesão estão a aplicação ativa e vigorosa do sistema adesivo na dentina aplicação de repetidas camadas do sistema adesivo e repetida evaporação de solventes antes da fotopolimerização aplicação de uma camada de adesivo hidrófobo nos sistemas adesivos simplificados hidrófilos e aumento do tempo de fotopolimerização23Também se destaca na literatura a tentativa de inibir a atividade das enzimas colagenolíticas como as MMP o que parece ser possível com o uso de substâncias como clorexidina galardin compostos quaternários de amônia entre outras25 Entretanto apesar de resultados iniciais promissores algumas dessas substâncias parecem perder seu efeito inibidor em longo prazo de forma que mais estudos são necessários para elucidar a efetividade clínica real de tais protocolos Outro foco de estudo para reduzir a degradação do colágeno da dentina é utilizar substâncias que aumentem suas ligações cruzadas intra e intermoleculares reforçando o colágeno e também inibindo a ação das enzimas colagenolíticas Entre as substâncias mais estudadas e com potencial para um futuro uso clínico estão as proantocianidinas e a carbodiimida2728 Ainda outras possibilidades em desenvolvimento são a técnica da adesão úmida com etanol29 a indução biomimética da remineralização da camada híbrida3031 e a redução da concentração ou mudança no tipo de ácido recomendado para a estratégia condicione e lave32 Certamente os próximos anos trarão novidades e possíveis mudanças nos protocolos clínicos e materiais disponíveis para se estabelecer união durável entre estrutura dental e materiais restauradores Entretanto apesar de a literatura demonstrar a degradação da camada híbrida com os sistemas adesivos contemporâneos é possível encontrar restaurações adesivas muito longas e com bons resultados clínicos em longo prazo3334 Sendo assim seria a degradação da união dentinaresina de extrema importância clínica24 Apesar de evidente que se deseja a melhor interface denterestauração possível observase que é o risco de cárie do paciente o fator que mais contribui para o insucesso de uma restauração2434 Isso ilustra e reforça a importância da implementação de medidas de promoção de saúde e controle da doença cárie em nossos pacientes ADESÃO AOS MATERIAIS RESTAURADORES INDIRETOS Procedimentos adesivos também podem ser realizados na superfície de materiais restauradores indiretos para serem unidos à estrutura dental hibridizada por meio do uso de um agente de cimentação De acordo com o material restaurador indireto utilizado o tratamento de superfície adequado irá criar as condições para a adesão A seleção correta do cimento resinoso ou de ionômero de vidro como agente de cimentação adesiva de acordo com a técnica restauradora indireta será mais um elo nesta corrente adesiva composta pelo sistema adesivo na superfície dental e superfície interna do material restaurador indireto intermediado pelo cimento Isso sem se esquecer da importância do material de moldagem na técnica convencional ou de um ótimo escaneamento digital do preparo na técnica CADCAM para propiciar um excelente registro das dimensões do preparo favorecendo a melhor adaptação da restauração indireta diminuindo assim a linha de cimentação adesiva e contribuindo para o sucesso do procedimento restaurador PROTOCOLO CLÍNICO Um dos detalhes relevantes para o sucesso das restaurações adesivas é a aplicação correta e cuidadosa do sistema adesivo selecionado por parte do profissional Na Tabela 62 estão dispostos os passos dos diferentes sistemas adesivos do comércio Como orientação final para o profissional ou estudante a figura 67 apresenta os sistemas adesivos relevantes disponíveis no comércio Tabela 62 Tipos de sistemas adesivos e seus respectivos passos de aplicação aspectos clínicos e microscópicos TIPO PASSOS CLÍNICOS CONDICIONE E LAVE 3 PASSOS 1 Ácido fosfórico 1530s Esmalte 15s Dentina 2 Primer 20s Dentina 3 Adesivo Aplique em Esmalte e Dentina seque e fotopolimerize por 10s CONDICIONE E LAVE 2 PASSOS 1 Ácido fosfórico 1530s Esmalte 15s Dentina 2 AdesivoPrimer Aplique em Esmalte e Dentina seque e repita aplicação e fotopolimerize por 10s AUTOCONDICIONANTE 2 PASSOS 1 Condicionamento ácido primer 2 Adesivo opcional realizar condicionamento seletivo do esmalte com ácido fosfórico 37 por 15s antes do passo 1 AUTOCONDICIONANTE 1 PASSO 1 Condicionamento ácido Primer Adesivo allinone opcional realizar condicionamento seletivo do esmalte com ácido fosfórico 37 por 15s antes do passo 1 UNIVERSAL 1 Condicionamento ácido seletivo do esmalte com ácido fosfórico 37 por 15s 2 Condicionamento ácido Primer Adesivo allinone condicionamento seletivo do esmalte é opcional mas preferimos indicálo ASPECTO CLÍNICO MEV ESMALTE MEV DENTINA Figura 67 Exemplos comerciais de sistemas adesivos A Ambar APS FGM B Prime Bond Universal Dentsply Sirona C Scotchbond Universal 3MESPE D Stae SDI e E Optibond FL Kerr 1 RESUMO Resumo do Capítulo Sistemas Adesivos em Odontologia Restauradora Introdução à Adesão Dental e Evolução dos Sistemas Adesivos A adesão de materiais restauradores às estruturas dentárias foi um marco na evolução da odontologia restauradora moderna O surgimento dos sistemas adesivos permitiu a realização de restaurações mais conservadoras e menos invasivas valorizando a preservação da estrutura dental saudável e promovendo maior longevidade funcional dos dentes O desenvolvimento de técnicas adesivas andou lado a lado com a evolução das resinas compostas que passaram a ser amplamente aceitas em procedimentos estéticos e funcionais A prática da adesão na odontologia baseiase no entendimento de processos como a cárie a degradação do tecido dental e a capacidade de restaurar dentes de forma previsível e duradoura Através do uso de sistemas adesivos as cavidades dentárias podem ser preparadas de forma mais conservadora com o objetivo de manter a maior quantidade possível de tecido sadio promovendo assim uma filosofia de mínima intervenção Atualmente a maior parte dos procedimentos restauradores realizados em clínicas odontológicas sejam diretos ou indiretos utiliza sistemas adesivos para unir o material restaurador ao dente remanescente garantindo a longevidade da restauração e prevenindo falhas como infiltrações marginais ou perda de retenção Os sistemas adesivos com o passar do tempo passaram por várias evoluções Inicialmente eram utilizados apenas para aderir resinas acrílicas à estrutura dental especialmente ao esmalte Os primeiros estudos sobre a utilização de ácidos para melhorar a adesão datam de 1955 e sugeriram o uso de ácido fosfórico para condicionar a superfície do esmalte promovendo uma maior capacidade de retenção ao aumentar a energia de superfície Posteriormente estudos avançaram para o condicionamento da dentina embora esta apresentasse maiores desafios para uma adesão eficaz devido à sua maior complexidade estrutural Foi a partir do final da década de 1970 que o condicionamento ácido da dentina passou a ser mais 2 explorado culminando na introdução de sistemas adesivos que incorporam tanto o condicionamento ácido do esmalte quanto da dentina A técnica de adesão úmida introduzida em meados da década de 1990 revolucionou o campo da adesão dentária ao possibilitar que o dentista trabalhasse com a dentina condicionada e mantida levemente úmida prevenindo o colapso das fibrilas colágenas e permitindo uma melhor interação entre o adesivo e a trama colágena exposta O avanço dos sistemas adesivos também permitiu o desenvolvimento de materiais com diferentes características e composições químicas que atendem a uma ampla gama de necessidades clínicas Hoje esses sistemas são amplamente utilizados tanto em procedimentos diretos como restaurações com resinas compostas quanto em procedimentos indiretos como cimentação de pinos intrarradiculares e coroas protéticas O objetivo principal dos sistemas adesivos é garantir uma adesão forte e duradoura entre o material restaurador e a estrutura dental sem comprometer a saúde do tecido remanescente e ao mesmo tempo proporcionando resultados estéticos satisfatórios Assim o entendimento das propriedades químicas e físicas dos sistemas adesivos bem como a escolha adequada para cada situação clínica são fundamentais para o sucesso do tratamento restaurador Tipos de Sistemas Adesivos e Seus Mecanismos de Ação Os sistemas adesivos são comumente divididos em duas categorias principais os sistemas condicione e lave e os sistemas autocondicionantes Os sistemas de condicione e lave também conhecidos como etchandrinse são aqueles que utilizam uma etapa de condicionamento ácido geralmente com ácido fosfórico seguida pela remoção do ácido com lavagem e secagem do substrato dental O ácido fosfórico quando aplicado no esmalte e na dentina promove a desmineralização superficial desses tecidos criando microporosidades no esmalte e removendo a smear layer na dentina Isso facilita a penetração do adesivo nos túbulos dentinários e nas microporosidades do esmalte resultando em uma adesão micromecânica eficaz O condicionamento ácido é um passo essencial para aumentar a energia de superfície do esmalte e da dentina promovendo uma melhor interação entre o adesivo e o substrato dental Em seguida o primer é aplicado para 3 preparar a superfície desmineralizada criando uma interface hidrofílica que facilita a penetração do adesivo Finalmente o adesivo é aplicado penetrando nos túbulos dentinários e nas porosidades do esmalte seguido de fotopolimerização para garantir a adesão Dentro dos sistemas de condicione e lave há subdivisões de acordo com o número de passos necessários para a aplicação Nos sistemas de três passos o ácido o primer e o adesivo são aplicados separadamente enquanto nos sistemas de dois passos o primer e o adesivo são combinados em uma única solução facilitando o procedimento clínico Esses sistemas são amplamente utilizados e considerados o padrãoouro da odontologia restauradora especialmente em procedimentos que envolvem grande quantidade de esmalte como as restaurações diretas de dentes anteriores O principal benefício desses sistemas é a sua alta eficácia em promover uma adesão micromecânica duradoura especialmente quando o esmalte é devidamente preparado Os sistemas autocondicionantes por sua vez dispensam a etapa de condicionamento ácido e lavagem utilizando primers ácidos que promovem a desmineralização superficial da dentina e do esmalte ao mesmo tempo em que primarizam essas superfícies A grande vantagem dos sistemas autocondicionantes é a simplificação do procedimento clínico já que a etapa de lavagem e secagem é eliminada o que reduz a sensibilidade técnica do procedimento e facilita a aplicação em áreas de difícil acesso Esses sistemas são especialmente úteis em situações em que há uma quantidade limitada de esmalte como em cavidades proximais profundas ou em dentina esclerosada onde o condicionamento ácido convencional poderia não ser tão eficaz No entanto sua eficácia em promover adesão ao esmalte é menor em comparação aos sistemas de condicione e lave o que os torna mais indicados para áreas predominantemente de dentina Características do Esmalte e da Dentina e Suas Implicações na Adesão O esmalte é a estrutura mais mineralizada do corpo humano sendo composto principalmente por cristais de hidroxiapatita Devido a essa alta mineralização o 4 esmalte oferece uma superfície altamente receptiva ao condicionamento ácido que cria microporosidades na sua superfície aumentando a área de contato para a penetração do adesivo A técnica de condicionamento ácido com ácido fosfórico a 37 é amplamente utilizada para promover uma adesão eficaz ao esmalte O processo de desmineralização superficial do esmalte permite que o adesivo penetre nas porosidades criadas promovendo uma adesão micromecânica resistente às forças mastigatórias e prevenindo infiltrações marginais A longevidade das restaurações adesivas em esmalte depende em grande parte da qualidade do condicionamento ácido sendo importante respeitar o tempo de aplicação e a correta remoção do ácido antes da aplicação do adesivo Por outro lado a dentina é um tecido mais complexo composto por uma mistura de material mineral orgânico e água Sua estrutura tubular confere à dentina uma maior permeabilidade o que a torna mais suscetível à variação de adesão especialmente em áreas próximas à polpa dental A smear layer formada durante o preparo cavitário pode atuar como uma barreira para a penetração do adesivo o que torna necessário o uso de sistemas adesivos que sejam capazes de remover ou modificar essa camada para garantir uma adesão eficaz O controle da umidade da dentina é essencial durante a aplicação dos sistemas adesivos já que a secagem excessiva pode colapsar as fibrilas colágenas enquanto a umidade excessiva pode dificultar a penetração do adesivo Os túbulos dentinários presentes em maior número e diâmetro nas regiões mais profundas da dentina representam um desafio adicional para a adesão pois permitem a passagem de fluidos dentinários o que pode interferir na formação da camada híbrida A camada híbrida é formada pela interação entre a resina adesiva e a trama de colágeno exposta na dentina condicionada A qualidade e a durabilidade da camada híbrida são fundamentais para o sucesso a longo prazo das restaurações adesivas sendo influenciadas tanto pelo tipo de sistema adesivo utilizado quanto pela técnica de aplicação Sistemas Adesivos Universais Avanços e Aplicações Clínicas 5 Os sistemas adesivos universais representam a mais recente evolução no campo da adesão dental proporcionando maior flexibilidade ao profissional odontológico Esses sistemas podem ser utilizados tanto na técnica de condicione e lave quanto na técnica autocondicionante o que os torna uma escolha versátil para diversas situações clínicas Eles contêm monômeros funcionais que são capazes de se ligar quimicamente à hidroxiapatita do esmalte e da dentina como o monômero 10 MDPEsses monômeros formam ligações estáveis e duradouras com o cálcio presente na hidroxiapatita promovendo uma adesão química além da adesão micromecânica tradicional A presença desses monômeros nos sistemas adesivos universais permite que eles sejam utilizados de maneira eficaz tanto em esmalte quanto em dentina promovendo uma união mais forte e estável Além disso os sistemas universais são compatíveis com diversos materiais restauradores como resinas compostas cerâmicas e até metais o que aumenta sua aplicabilidade em diferentes tipos de restaurações desde procedimentos diretos até cimentações indiretas Esses sistemas também são mais fáceis de manusear pois podem ser aplicados de forma simples e eficiente independentemente do substrato dental Em muitos casos eles eliminam a necessidade de utilizar primers e adesivos separados já que a maioria dos sistemas universais funciona como uma solução allinone combinando as funções de primer e adesivo em um único frasco Além disso eles são indicados para uma variedade de procedimentos como restaurações diretas em esmalte e dentina cimentações de coroas pinos e facetas além de servir para a reparação de restaurações já existentes Essa versatilidade faz com que os sistemas adesivos universais sejam amplamente utilizados em clínicas odontológicas principalmente pela sua praticidade e eficiência Degradação da Camada Híbrida Desafios e Estratégias de Prevenção A camada híbrida formada pela interação entre o adesivo e a trama de colágeno da dentina condicionada é essencial para garantir uma adesão duradoura e eficaz No entanto a degradação dessa camada ao longo do tempo é um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais de odontologia restauradora Dois 6 mecanismos principais contribuem para essa degradação a degradação hidrolítica da resina adesiva e a degradação enzimática do colágeno dentinário A resina adesiva especialmente em sistemas simplificados que não possuem uma fase hidrófoba separada pode ser suscetível à hidrólise resultando na absorção de água e consequentemente na perda de integridade estrutural da camada adesiva Além disso as metaloproteinases de matriz MMPs enzimas presentes na própria dentina podem ser ativadas quando o colágeno é exposto ao condicionamento ácido contribuindo para a degradação da trama de colágeno que compõe a camada híbrida A degradação da camada híbrida compromete a durabilidade das restaurações adesivas levando a falhas como infiltrações marginais sensibilidade pósoperatória e eventualmente perda da restauração Para minimizar esse processo de degradação diversas estratégias têm sido propostas Uma delas é o uso de inibidores de MMPs como a clorexidina que podem ser aplicados após o condicionamento ácido para inibir a atividade dessas enzimas e preservar a trama de colágeno Além disso a aplicação de múltiplas camadas de adesivo e a realização de uma fotopolimerização eficiente também são recomendadas para melhorar a resistência da camada híbrida à degradação hidrolítica Pesquisas mais recentes têm investigado o uso de monômeros bioativos que podem promover a remineralização da dentina desmineralizada fortalecendo a camada híbrida e aumentando a longevidade das restaurações adesivas Vantagens e Limitações dos Sistemas Adesivos Modernos Os sistemas adesivos modernos trazem diversas vantagens para os tratamentos odontológicos Entre as principais está a possibilidade de realizar restaurações estéticas com mínima perda de estrutura dental Isso é particularmente importante em casos onde a preservação do tecido sadio é prioridade como em dentes anteriores ou em pacientes jovens A adesão eficaz proporcionada pelos sistemas modernos também contribui para a distribuição equilibrada das forças mastigatórias sobre a restauração prevenindo fraturas e aumentando a longevidade do tratamento Além disso a redução da sensibilidade pósoperatória é outra vantagem 7 significativa principalmente em restaurações profundas onde o contato com a dentina exposta pode causar desconforto ao paciente Outra vantagem importante dos sistemas adesivos contemporâneos é a sua capacidade de serem utilizados em uma ampla gama de procedimentos clínicos como restaurações diretas cimentação de coroas e facetas colagem de pinos intrarradiculares e até fixação de dispositivos ortodônticos Isso oferece ao profissional de odontologia maior flexibilidade e praticidade no atendimento de diferentes necessidades clínicas com um único sistema adesivo No entanto como qualquer tecnologia os sistemas adesivos também possuem limitações A sensibilidade técnica durante a aplicação é uma das principais desvantagens especialmente em relação ao controle da umidade da dentina Em sistemas de condicione e lave o sucesso da adesão depende fortemente da capacidade do profissional de manter a dentina levemente úmida após o condicionamento ácido evitando tanto o colapso das fibrilas colágenas quanto o excesso de umidade que poderia comprometer a infiltração do adesivo Além disso a degradação da camada híbrida ao longo do tempo permanece sendo um desafio apesar dos avanços em materiais adesivos A manutenção da integridade da camada híbrida é fundamental para garantir a durabilidade da restauração e qualquer falha nesse aspecto pode levar a problemas como infiltrações e sensibilidade Considerações Finais e Perspectivas Futuras A evolução dos sistemas adesivos trouxe melhorias significativas na odontologia restauradora permitindo a realização de tratamentos menos invasivos e mais eficazes Os avanços nos materiais adesivos e nas técnicas de aplicação proporcionaram maior previsibilidade e durabilidade para os procedimentos restauradores No entanto a degradação da camada híbrida continua sendo um dos maiores desafios a serem enfrentados pelos profissionais de odontologia 8 As perspectivas futuras para os sistemas adesivos incluem o desenvolvimento de materiais que resistam melhor à degradação hidrolítica e enzimática garantindo restaurações mais duradouras Pesquisas em andamento buscam criar sistemas adesivos com propriedades bioativas capazes de promover a remineralização da dentina desmineralizada e assim prolongar a vida útil das restaurações Além disso a simplificação dos procedimentos adesivos continua sendo uma prioridade com o objetivo de reduzir a sensibilidade técnica e aumentar a eficiência clínica A escolha do sistema adesivo adequado para cada situação clínica aliada ao domínio das técnicas de aplicação é fundamental para o sucesso dos tratamentos restauradores A constante atualização dos profissionais em relação aos avanços nos sistemas adesivos e o uso adequado desses materiais são essenciais para proporcionar resultados estéticos e funcionais de alta qualidade com longevidade e segurança para os pacientes Referências do texto HILGERT Leandro Augusto CONCEIÇÃO Everton Nocchi Sistemas adesivos In DENTÍSTICA saúde e estética São Paulo Santos 2016 Cap 6 p 120139
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06 Sistemas Adesivos Leandro Augusto Hilgert Everton Nocchi Conceição 120 Capítulo 6 Sistemas Adesivos INTRODUÇÃO A possibilidade de aderir materiais restauradores às estruturas dentais revolucionou a prática odontológica cotidiana O desenvolvimento da adesão caminhou lado a lado com a evolução das resinas compostas a aceitação de uma filosofia de mínima intervenção o entendimento da etiopatogenia da doença cárie e a valorização da estética nos tratamentos restauradores Atualmente a maioria absoluta dos procedimentos restauradores é executada seja de forma direta ou indireta com o auxílio de procedimentos adesivos que unem o material restaurador ao remanescente dental sem a exigência de desgastar tecido hígido através da confecção de preparos cavitários com princípios geométricos preestabelecidos para promover a retenção do material restaurador ao dente Isso possibilita mais preservação de tecido dental sadio que em longo prazo acarreta em maior longevidade na manutenção de dentes saudáveis e em função No desenvolvimento dos sistemas adesivos destacase o trabalho de Buonocore de 1955 que a partir da observação do uso de ácidos para melhorar a adesão de tintas a superfícies metálicas sugeriu o condicionamento ácido do esmalte para promover melhor adesão das resinas acrílicas à estrutura dental1 Os sistemas adesivos evoluíram bastante com diferentes gerações de materiais e técnicas nas décadas que se sucederam O condicionamento ácido do esmalte para restaurações adesivas ficou bem estabelecido entre os clínicos2 Entretanto a adesão à dentina ainda gerava grandes dificuldades Um marco nesta área foram os trabalhos de Fusayama e colaboradores3 realizados no final dos anos 1970 sugerindo o condicionamento com ácido fosfórico também em dentina e a descrição da formação da camada híbrida por Nakabayashi e colaboradores4 em 1982 No entanto apenas em meados da década de 1990 que o condicionamento ácido total de esmalte e dentina foi amplamente aceito e que o entendimento da técnica da adesão úmida5 trouxe sucesso clínico aos sistemas adesivos hoje conhecidos como da estratégia condicione e lave de três passos ou etchandrinse que contêm frascos e etapas separadas para o ácido fosfórico o primer e o adesivo bonding Também na década de 1990 foram introduzidos no comércio sistemas que utilizam uma estratégia adesiva autcondicionante ou selfetch sem a etapa do condicionamento ácido prévio Ambas as estratégias continuam disponíveis atualmente com sistemas comerciais diferentes que apresentam diversas características de composição química e estratégias de uso Isso exige do profissional conhecimento dos princípios de adesão em Odontologia morfologia dos tecidos dentais composição dos materiais restauradores diretos e indiretos e particularidades dos sistemas adesivos para que possa eleger e utilizar de modo adequado os sistemas adesivos na sua rotina clínica O objetivo do presente capítulo é apresentar as características do esmalte e dentina a classificação dos sistemas adesivos e suas indicações vantagens limitações e protocolos clínicos de uso com materiais restauradores diretos e indiretos além de uma análise crítica de sua durabilidade clínica ADESÃO E SUBSTRATOS DENTAIS ESMALTE O esmalte dentário é um tecido altamente mineralizado composto por cerca de 88 de mineral hidroxiapatita 2 de conteúdo orgânico e 10 de água em volume O tratamento mais utilizado para preparar o esmalte para a adesão é o condicionamento ácido e alguns estudos mostraram que o ácido ideal é o fosfórico em concentrações entre 30 e 40 aplicado por 15 a 60 segundos67 O ácido fosfórico aplicado no esmalte provoca dissolução mineral superficial limpandoo e criando uma superfície irregular com mais energia de superfície e maior área de contato com o adesivo Após condicionado lavado e seco o esmalte está apto a receber uma resina adesiva fluida adesivo ou bonding que por capilaridade penetra nas irregularidades superficiais O adesivo é então polimerizado Assim os prolongamentos tags de adesivo embricados na morfologia irregular do esmalte condicionado promovem adesão micromecânica à superfície Figs 61A61C Adesão ao esmalte a Esmalte précondicionamento b Adesivo Esmalte condicionado c 5μm Figura 61 Adesão ao esmalte Desenho esquemático do esmalte A antes e B após condicionamento com ácido fosfórico lavagem secagem e aplicação do adesivo Em C observase microscopia eletrônica de varredura de esmalte condicionado por ácido fosfórico a 37 por 15 segundos Os estudos laboratoriais e acompanhamentos clínicos são claros em demonstrar que a adesão ao esmalte condicionado é eficiente e duradoura e a presença de esmalte nas margens de restaurações adesivas é um fator que contribui para maior longevidade dos tratamentos DENTINA A dentina apresenta uma composição diferente da do esmalte e é nela que os maiores desafios e dificuldades da adesão se apresentam A dentina tem cerca de 50 de mineral 25 de conteúdo orgânico em especial colágeno tipo I e 25 de água Em dentina é essencial entender o papel dos túbulos dentinários dentina inter e peritubular e da lama dentinária smear layer nos processos adesivos Os túbulos dentinários são repletos de fluido dentinário sob pressão pulpar constante Quanto mais próximo à polpa maiores o número e o diâmetro dos túbulos em uma determinada área o que dificulta a adesão na dentina mais profunda devido ao maior volume de água nesta região8 Os túbulos dentinários são circundados por uma dentina mais mineralizada a dentina peritubular e entre túbulos existe a chamada dentina intertubular menos mineralizada e permeada por canais e anastomoses que unem os túbulos uns aos outros Fig 62 Quando a dentina é abrasianada ou cortada durante o preparo cavitário formase na sua superfície uma camada de detritos orgânicos e inorgânicos chamada lama dentinária ou smear layer que tem baixa resistência de união à dentina 5 Mpa A lama dentinária comumente oblitera a embocadura dos túbulos dentinários e as extensões da smear layer dentro dos túbulos são conhecidas como smear plugs Tal obliteração dos túbulos pela lama dentinária reduz a permeabilidade da dentina em cerca de 86 O tipo de interação promovido pelos sistemas adesivos com a smear layer é um dos principais diferenciais entre as estratégias adesivas contemporâneas Enquanto a estratégia que preconiza o condicionamento da dentina com ácido fosfórico condicione e lave remove toda a lama dentinária a estratégia autocondicionante a modifica incorporando a smear layer à camada adesiva Outro detalhe que devemos estar atentos é o de que a dentina é um tecido vital complexo e que sua morfologia varia de acordo com a localização profundidade além de sofrer alterações com a idade ou as patologias Isso gera desafios diferentes para a adesão frente às diversas condições da dentina ao longo do tempo e por suas respostas a estímulos provocados por traumatismo cárie preparo cavitário restaurações antigas ou exposição ao meio oral formando dentina esclerotica Tab 61 SISTEMAS ADESIVOS ATUAIS CLASSIFICAÇÃO Atualmente a classificação mais aceita dos sistemas adesivos é aquela que os divide segundo a estratégia adesiva condicione e lave etchandrinse ou autocondicionante selfetch e de acordo com o número de passos de aplicação9 Assim para a estratégia condicione e lave existem os sistemas de três passos em que ácido primer e adesivo são aplicados em passos distintos e os de dois passos em que o ácido é aplicado em um primeiro momento e após lavagem e remoção da umidade excessiva uma solução única exercendo as funções de primer e adesivo é utilizada Já na estratégia autocondicionante na qual não existe uma etapa prévia em separado para o condicionamento com ácido fosfórico existem os sistemas de dois passos em que um primer ácido exerce as funções de ácido e primer seguido da aplicação do adesivo e os sistemas de um passo nos quais uma solução única exercendo funções de ácido primer e adesivo é aplicada na estrutura dental As estratégias dos sistemas adesivos condicione e lave etchandrinse e autocondicionante selfetch objetivam unir materiais restauradores diretos ou indiretos à estrutura dental Os cimentos de ionômeros de vidro unemse quimicamente à estrutura dental A figura 62 apresenta a classificação atual dos sistemas adesivos LOCALIZAÇÃO Coronária Mais previsibilidade adesiva mas alterações fisiológicas eou patológicas podem influenciar na adesão Cervicoradicular Grande anisotropia estrutural devido a alterações fisiopatológicas ocasionam variabilidade na adesão PROFUNDIDADE Superficial O conteúdo de água da dentina próxima à junção amelodentinária é 1 vol enquanto próximo à polpa é de aproximadamente 22 A densidade de túbulos dentinários é em torno de 20000 por mm2 A resistência de união na dentina superficial é de 30 a 50 maior do que na dentina profunda Profunda A densidade dos túbulos é em torno de 45000 por mm2 além de apresentarem maior diâmetro Menos resistência de união do que na dentina superficial CONDIÇÃO Hígida Mais favorável para a adesão Com o tempo o lúmen tubular diminui pela precipitação mineral passiva dificultando a adesão Após o preparo cavitário Smear layer Durante o preparo cavitário formase uma camada de componentes orgânicos e inorgânicos smear layer que apresenta baixa resistência de união à dentina 5MPa e reduz a permeabilidade dentinária em 86 A forma de tratar a smear layer pode afetar o desempenho dos adesivos pois sua remoção gera aumento de umidade que pode afetar a adesão Afetada por cárie A adesão à dentina afetada por cárie é inferior àquela obtida em dentina hígida devido a sua menor dureza presença de depósitos minerais de cálcio e fosfato na região intratubular e alteração da estrutura secundária do colágeno Esclerótica Lesão não cariosa Mais desafiadora para a adesão do que a dentina hígida pois apresenta depósitos escleróticos condicionados de modo mais lento do que as outras estruturas dentinárias e uma camada de colágeno desnaturado na base da zona hipermineralizada Os sistemas adesivos condicione e lave utilizam a técnica do condicionamento ácido total em esmalte e dentina O gel de ácido fosfórico 30 a 40 é aplicado por 15 a 30 segundos em esmalte e por até 15 segundos em dentina Clinicamente a aplicação do ácido pode ser iniciada pelas margens de esmalte e estendida para a dentina No esmalte o ácido promove a criação de microporosidades e na dentina ocorre a remoção da lama dentinária e dos smear plugs desmineralizando ao redor de 5 µm da dentina Com a remoção da hidroxiapatita da superfície há a exposição de uma densa trama de fibrilas colágenas Esse conteúdo orgânico e úmido faz com que a energia de superfície da dentina condicionada seja baixa o que não favorece a infiltração do adesivo Isso precisa ser revertido por meio do uso de um primer Após a lavagem do ácido o esmalte pode ser seco por jatos de ar porém a dentina deve ser mantida levemente úmida para evitar o colabamento da trama de fibrilas colágenas exposta pela desmineralização superficial da dentina em torno de 5 µm O ácido nos sistemas condicione e lave é o passo número 1 Nos sistemas condicione e lave de 3 passos o primer é aplicado como segundo passo Essa solução de monômeros de baixo peso molecular e bifuncionais com uma extremidade hidrófila que tem afinidade pela dentina desmineralizada e outra hidrófoba capaz de copolimerizar com o adesivo e solventes orgânicos acetona álcool eou água é aplicada ativamente na dentina para que os solventes desloquem a água da superfície da dentina e do interior da trama de fibrilas colágenas e carreiem os monômeros hidrófilos pelos espaços interfibrilares da dentina condicionada aumentando sua energia de superfície para receber o adesivo hidrófobo posteriormente Os solventes do primer devem ser bem volatilizados com o uso de jatos de ar Não é necessário usar o primer sobre o esmalte condicionado10 O terceiro passo é a aplicação de um adesivo hidrófobo no esmalte e na dentina que por capilaridade ocupará as irregularidades e microporosidades da superfície do esmalte condicionado e infiltrará na dentina condicionada e tratada pelo primer ocupando os espaços interfibrilares e muitas vezes penetrando no espaço dos túbulos dentinários formando assim a camada híbrida e os tags resinosos seguido de fotopolimerização por 10 segundos Visando melhorar as propriedades mecânicas das interfaces adesivas é possível que alguns adesivos também contenham componentes inorgânicos partículas de carga em sua formulação Essas partículas nanométricas de sílica 5 a 20 nm sobretudo contribuem na redução da hidrofilia das interfaces e buscam melhorar a resistência compressiva da camada híbrida Um desenho esquemático dos passos da adesão à dentina em sistemas condicione e lave ou convencionais de 3 passos é apresentado na figura 63 A dentina condicionada não deve ser seca com jatos de ar pois isso poderia colabar as fibrilas colágenas dificultando a posterior infiltração do adesivo A dentina é mantida levemente úmida e então é aplicado o primer que com seus solventes orgânicos e monômeros hidrófilos prepara a dentina para receber o adesivo hidrófobo O desenho em D representa a dentina após uso do primer e em E temos uma imagem esquemática após a aplicação do adesivo AD com a formação da camada híbrida CH e dos tags de resina Figura 63 Adesão à dentina A Microscopia eletrônica de varredura de dentina fraturada SL smear layer SP smear plug DI dentina intertubular TD túbulo dentinário DP dentina peritubular Em B observase desenho esquemático da dentina antes do condicionamento ácido evidenciando a smear layer e o smear plug Em C o esquema mostra a dentina póscondicionamento ácido com a remoção da smear layer desmineralização de dentina e exposição de trama de fibrilas colágenas FC A dentina condicionada não deve ser seca com jatos de ar pois isso poderia colabar as fibrilas colágenas dificultando a posterior infiltração do adesivo A dentina é mantida levemente úmida e então é aplicado o primer que com seus solventes orgânicos e monômeros hidrófilos prepara a dentina para receber o adesivo hidrófobo O desenho em D representa a dentina após uso do primer e em E temos uma imagem esquemática após a aplicação do adesivo AD com a formação da camada híbrida CH e dos tags de resina SISTEMAS ADESIVOS CONDICIONE E LAVE DE 2 PASSOS Nos sistemas adesivos condicione e lave de dois passos ao invés de primer e adesivo serem disponibilizados em frascos separados eles são apresentados em frasco único em solução composta essencialmente por monômeros hidrófilos solventes orgânicos e monômeros hidrófobos O primeiro passo de condicionamento ácido lavagem e remoção do excesso de umidade é o mesmo já descrito O segundo passo a aplicação do primeradesivo deve ser realizada ativamente por 15 a 20 segundos os solventes evaporados com jatos de ar e ao menos por mais uma vez essa aplicação e evaporação de solventes repetida como se a primeira camada atuasse como primer e a segunda como adesivo antes da fotopolimerização Na figura 64 podemos observar o aspecto microscópico da interface dentinaadesivoresina composta com a evidência de formação de camada híbrida obtida em sistemas condicione e lave ou convencionais de 2 ou 3 passos Figura 64 Fotografia em microscopia eletrônica de varredura ilustrando a interface dentinaadesivoresina composta condicione e lave ou convencional de 2 passos Imagem gentilmente cedida pelo Prof Dr Mario Fernando de Góes DIFICULDADES CLÍNICAS DOS SISTEMAS ADESIVOS CONDICIONE E LAVE CONVENCIONAIS Uma das principais dificuldades dos sistemas que condicionam a dentina com ácido fosfórico é a manutenção da umidade ideal após a lavagem do ácido Caso for seca demasiadamente a trama de fibrilas colágena exposta colaba e dificulta a infiltração adequada do adesivo Caso a dentina fique excessivamente úmida o sistema adesivo poderá ser diluído ocorrendo separação de fases de seus componentes e deficiência na polimerização A janela entre seco e muito úmido é estreita e torna o procedimento mais sensível ao operador Alguns sistemas adesivos apresentam água na formulação do primer que teria a capacidade de reexpandir as fibrilas colágenas de uma dentina suavemente seca Entretanto essa incorporação de água se colabora na infiltração dos monômeros exige uma maior atenção para a correta e evaporação correta do primer para reduzir o conteúdo aquoso antes da aplicação do adesivo hidrófobo Outra questão é a necessidade de promover infiltração do adesivo por toda a espessura da camada de dentina desmineralizada Uma aplicação incorreta sem respeitar tempos de uso do primer ou primeradesivo ou sem promover agitação vigorosa do produto parece reduzir a capacidade do adesivo de infiltrar todos os espaços interfibrilares Nesses casos as fibrilas não encapsuladas pelo adesivo ficam mais propensas à degradação e a ausência de bom selamento dentinário pode levar à sensibilidade operatória eou a outros problemas oriundos de uma adesão deficiente Nos sistemas condicione e lave os monômeros hidrófilos usualmente utilizados p ex HEMA apresentam interação química muito fraca com a dentina e o mecanismo de adesão concentrase na interpenetração mecânica do adesivo na estrutura desmineralizada de esmalte e dentina camada híbrida Veremos a seguir que mais recentemente há busca por sistemas adesivos capazes de se unirem além de por embricamento mecânico também quimicamente aos substratos dentais Quando são comparados os sistemas adesivos condicione e lave de 2 e 3 passos observase que normalmente há melhor desempenho dos sistemas de 3 passos especialmente em dentina Os sistemas de 2 passos normalmente têm maior concentração de solventes e não apresentam uma camada separada de adesivo hidrófobo Isso cria dificuldades na evaporação correta desses solventes e o polímero formado tem maior hidrofilia Polímeros hidrófilos tendem a apresentar maior sorção de água e consequente maior degradação por hidrólise Também estudos demonstraram que a membrana adesiva produzida por sistemas adesivos simplificados sem uma camada hidrófoba em separado são semipermeáveis à passagem de água dos túbulos dentinários em direção à superfície que será aderida11 Apesar de terem sido desenvolvidos nos anos 1990 para a estratégia condicione e lave os sistemas de 3 passos são ainda hoje considerados o padrãoouro da adesão SISTEMAS ADESIVOS AUTOCONDICIONANTES SELFETCH Os sistemas adesivos autocondicionantes não requerem uma etapa prévia de condicionamento com ácido fosfórico Eles contêm monômeros ácidos que condicionam e infiltram o substrato dentário sem necessidade de lavagem Em dentina por exemplo há uma dissolução e incorporação da smear layer e uma vez que não há etapa de lavagem eliminamse as dificuldades do controle de umidade póscondicionamento relatado para a estratégia condicione e lave Normalmente o protocolo de adesão na estratégia autocondicionante é mais fácil e menos sensível ao operador Os sistemas adesivos autocondicionantes de dois passos apresentam uma primeira etapa que é a aplicação ativa de um primer ácido feita usualmente por 20 segundos e seguida apenas pela evaporação de solventes com jatos de ar sem qualquer tipo de lavagem Como segundo passo é aplicado o adesivo uma resina fluida com caráter hidrófobo que é então polimerizada Os sistemas adesivos autocondicionantes de um passo também chamados de allinone são apresentados como uma só solução que contém o primer ácido e o adesivo promovendo assim todas as etapas da adesão em passo único obs embora a maioria dos sistemas seja apresentada em frasco único alguns são comercializados em dois frascos cujos conteúdos são misturados no momento do uso para formar a solução autocondicionante de um passo O protocolo de uso é a aplicação ativa no substrato por normalmente 20 segundos volatilização dos solventes com jatos de ar e polimerização Alguns fabricantes indicam a repetição dos passos de aplicação e volatilização dos solventes antes da fotopolimerização Todos os sistemas autocondicionantes seja no primer ácido dos de 2 passos ou no sistema allinone necessitam ter água em sua formulação para permitir a ionização dos monômeros ácidos e consequente interação com o substrato Sendo assim é muito importante o passo de volatilização dos solventes com jatos de ar No mecanismo de atuação dos sistemas autocondicionantes é preciso observar fatores como a agressividade do pH do primer ácido em sistemas de 2 passos ou da solução autocondicionante de passo único e o tipo de monômero ácido utilizado Sistemas com pH mais baixo fortes pH 1 intermediáriofortes pH 15 tendem a condicionar a dentina em maior profundidade e a dissolver e incorporar quase toda a smear layer inclusive os smear plugs levando a uma desmineralização de boa parte da hidroxiapatita da dentina intertubular e formando uma camada híbrida não tão distinta daquela dos sistemas condicione e lave Sistemas com pH mais alto leves amenos ou suaves pH 20 ultraleves ultraamenos ou ultrassuaves pH 25 tendem a dissolver e impregnar a smear layer e os smear plugs Também condicionam a dentina em profundidades submicrométricas preservando boa parte da hidroxiapatita que envolve as fibrilas colágenas12 Fig 65 Apesar de delgada a camada híbrida formada por sistemas autocondicionantes de pH mais suave parece promover uma adesão bastante adequada Sistemas autocondicionantes suaves e ultrassuaves são uma tendência da Odontologia contemporânea Nos sistemas autocondicionantes alguns monômeros ácidos funcionais podem se ligar quimicamente por ligações iônicas com o cálcio da hidroxiapatita do substrato dentário Atualmente é comum que sistemas autocondicionantes apresentem monômeros ácidos funcionais como o 10MDP que é capaz de formar uma ligação iônica aparentemente estável com a hidroxiapatita Isso é especialmente interessante em sistemas de pH suave ou ultrassuave nos quais boa parte da hidroxiapatita da dentina entre as fibrilas colágenas é preservada criando sítios para a ligação entre o monômero funcional e o cálcio Acreditase que tal interação química colabore na durabilidade da união O monômero funcional 10MDP unese ao cálcio por meio de seus grupos fosfato formando sais cálciofosfato aparentemente estáveis13 embora trabalhos recentes coloquem em xeque a estabilidade dessa ligação em longo prazo14 Tal monômero está presente na composição do sistema autocondicionante de dois passos Clearfil SE Bond Kuraray tido como padrãoouro para essa estratégia adesiva há cerca de duas décadas Um acompanhamento clínico de restaurações Classe V mostrou taxas de sucesso de 97 após 13 anos para este sistema adesivo15 Mais recentemente com a quebra da patente da monômero 10MDP ele foi introduzido na formulação de sistemas adesivos autocondicionantes por muitas empresas adesivos seja pela complexa formulação química altamente hidrófila que aumenta a degradação hidrolítica do polímero formado os sistemas autocondicionantes de um passo por anos apresentaram resultados inferiores aos demais adesivos Recentemente apesar de ainda não existirem inúmeros trabalhos em longo prazo observase tendência de melhora para esta categoria de sistemas adesivos16 Recentemente foram introduzidos no comércio sistemas adesivos intitulados universais Isso significa que eles podem ser utilizados tanto na estratégia condicione e lave como na autocondicionante com ou sem a técnica do condicionamento ácido seletivo Os sistemas adesivos universais têm composição e apresentação similares àquelas dos autocondicionantes de passo único sendo a maioria dos universais de pH suave ou ultrassuave e contendo monômeros ácidos funcionais estáveis como o 10MDP Apesar da possibilidade de simplificar a técnica e deixar a cargo do cirurgiãodentista escolher a estratégia de adesão alguns estudos sugerem que para aliar a boa adesão obtida em esmalte previamente condicionado à interação química dos monômeros funcionais em dentina suavemente modificada da estratégia autocondicionante a técnica do condicionamento ácido seletivo de esmalte é a ideal1718 Resultados clínicos promissores em curto e médio prazo vem sendo demonstrados para a adesão aos substratos dentais dos sistemas adesivos universais19 A maior parte dos fabricantes de sistemas adesivos já comercializa produtos desta categoria Após apresentarmos neste capítulo uma noção das características morfológicas do esmalte e da dentina além de uma classificação e entendimento de como agem as diversas categorias de sistemas adesivos disponíveis no comércio é interessante destacarmos as indicações vantagens e limitações dos sistemas adesivos As principais indicações clínicas dos sistemas adesivos estão dispostas a seguir e ilustradas na figura 67A67E Restaurações de resina composta direta e indireta a indicação de restaurações de resina composta diretas e indiretas em dentes posteriores e anteriores é atualmente expressiva muito pela evolução simplificação e previsibilidade clínica dos sistemas adesivos ver Capítulos 10 a 13 14 e 16 Restaurações de porcelana o desenvolvimento e a crescente indicação das técnicas restauradoras com porcelana só foram possíveis devido à evolução dos sistemas adesivos Entre as principais técnicas empregadas em Dentística podemos citar laminados inlayonlay e coroa ver Capítulos 16 a 19 Restaurações com ligas metálicas o uso de sistema adesivo e cimento resinoso é uma opção interessante para cimentar inlayonlay metálico ou coroa metalocerâmica pois auxilia na retenção da restauração além de minimizar a microinfiltração Colagem dental com a evolução dos sistemas adesivos a técnica de colagem dental tornouse ainda mais vantajosa pois além de repor o fragmento dental representa uma técnica mais previsível e simplificada ver Capítulo 14 Proteção pulpar o conceito de obter selamento da cavidade através do emprego de sistema adesivo hibridização evitando microinfiltração é cada vez mais empregado como um modo simplificado e eficiente de proteção pulpar dispensando o uso de materiais de base ou forramento Dessensibilização dentinária o uso de sistema adesivo autocondicionante é uma alternativa interessante para o tratamento da hipersensibilidade dentinária pois pode promover alívio da dor imediatamente após sua aplicação ver Capítulo 15 Reparo de restaurações essa indicação dos sistemas adesivos é muito vantajosa pois em muitas situações clínicas é possível reparar defeitos em restaurações de resina composta ou porcelana evitando assim sua substituição Reforço radicular o uso de sistema adesivo resina composta e pino intrarradicular de fibra de vidro permite reforçar internamente a raiz de um dente que eventualmente tenha perdido quantidade significativa de dentina ver Capítulo 18 Cimentação de pinos intrarradiculares a cimentação de pino intrarradicular de fibra de vidro na porção radicular e coronária do dente com sistema adesivo e cimento resinoso apresenta grande capacidade de união à dentina e ao pino ver Capítulo 18 Confecção de núcleos parciais diretos utilizando o sistema adesivo associado com resina composta ou cimento resinoso tipo core é possível confeccionar um núcleo parcial direto em dentes amplamente destruídos que necessitam de uma restauração indireta ver Capítulo 18 Regularização da dentina para procedimentos indiretos uma resina composta associada ao sistema adesivo pode ser usada para preencher áreas de esmalte socavado e regularizar áreas de dentina durante o preparo para inlayonlay ou coroa minimizando o desgaste de tecido hígido e deixando o preparo expulsivo ver Capítulos 16 e 19 Selamento imediato da dentina préhibridização a aplicação do sistema adesivo e de uma fina camada de resina composta no preparo para uma restauração indireta irá proteger o complexo dentinopulpar durante as fases de moldagem e provisório até que a peça indireta seja cimentada Esse procedimento contribui para eliminar a contaminação bacteriana durante a fase de provisório e também evitar sensibilidade pósoperatória ver Capítulos 16 e 17 Colagem de braquetes ou dispositivos ortodônticos em situações clínicas em que é necessário realizar pequenos movimentos ortodônticos previamente à confecção da restauração o uso de sistema adesivo é essencial para viabilizar a fixação de dispositivo ortodôntico permitindo a movimentação dental desejada Restaurações estéticas finas novas técnicas a evolução e previsibilidade dos sistemas adesivos aliados às melhores propriedades das resinas e porcelanas atuais permitiram a introdução de novas técnicas restauradoras como as lentes de contato de porcelana e oclusal veneers ou table tops Essas técnicas permitem reabilitar com um mínimo ou até sem desgaste de tecido hígido empregando espessuras delgadas de material restaurador entre 01 e 05 mm ver Capítulos 16 e 17 VANTAGENS Possibilidade de realizar restaurações estéticas com mínimo ou até mesmo sem desgaste dental preservando o tecido dental hígido Redução da microinfiltração na interface dentematerial restaurador Diminuição da sensibilidade pósoperatória Diminuição de manchamento marginal Melhor distribuição do estresse funcional sobre o dente através da união adesiva Reforço da estrutura dental enfraquecida pela perda de esmalte e dentina devido à cárie e ao preparo cavitário Possibilidade de confeccionar reparos de restaurações deficientes com desgaste dental mínimo Selamento dentinário e proteção pulpar Regularização da dentina e preenchimento de retenções reduzindo a necessidade de desgaste dental no preparo para restaurações indiretas LIMITAÇÕES Atuação do cirurgiãodentista a atuação do cirurgiãodentista é o fator principal para o sucesso de restaurações adesivas pois em muitas situações clínicas a inabilidade do profissional limita significativamente o desempenho dos sistemas adesivos Considerando a grande variedade de sistemas adesivos disponíveis no comércio é importante que o profissional tenha treinamento prévio e siga um protocolo clínico cuidadoso durante a aplicação do sistema adesivo de escolha para que obtenha resultado clínico satisfatório Tipo de substrato devido à diferença substancial de composição entre o esmalte e a dentina a obtenção de união à dentina é mais crítica visto que é um substrato sujeito a alterações fisiológicas de esclerose dentinária em função do processo de envelhecimento ou da resposta a estímulos de cárie abrasão e erosão química ver Tab 61 Composição e armazenagem do adesivo uma diferença importante entre os sistemas adesivos é o tipo de solvente empregado acetona etanol eou água O profissional deve dar atenção especial à manipulação e armazenagem dos adesivos como manter a tampa do frasco fechada logo após o uso pois eles podem apresentar redução significativa da capacidade de união à dentina ao longo do tempo de armazenagem Umidade da dentina é fundamental que o profissional saiba o mecanismo de ação do sistema adesivo selecionado para controlar a umidade da dentina porque para os sistemas adesivos condicione e lave é melhor aplicar em dentina controladamente umedecida como já explicado anteriormente e para os adesivos autocondicionantes ou universais é preferível que esses sejam aplicados em dentina seca Tamanho e forma da cavidade como a contração de polimerização da resina composta gera estresse na interface adesivodente uma relação desfavorável do fator C pode ocasionar aumento do desafio para a união adesiva Pequena cavidade tipo I pode estar relacionada com maior tensão de polimerização do que uma cavidade mais ampla porque quanto maior for o número de paredes em que a resina composta estiver aderida no momento da polimerização maior será o desafio para a união adesiva ou seja maior será o estresse de polimerização ver Capítulo 10 Flexão dental restaurações de lesões de abfração e de dentes de pacientes com parafunção oclusal bruxismo podem gerar estresse especialmente na região cervical dos dentes o que ocasiona maior desafio para a união adesivodente DESEMPENHO CLÍNICO DOS SISTEMAS ADESIVOS CONTEMPORÂNEOS Um procedimento clínico tem seu sucesso mensurado por muitos fatores entre os quais sua durabilidade é certamente o mais importante Restaurações adesivas têm como relevante motivo de insucesso as falhas na união entre dente e restauração Muitos testes laboratoriais procuram prever o comportamento clínico dos sistemas adesivos porém são os estudos clínicos que fornecem as respostas mais confiáveis Os principais estudos clínicos de adesão envolvem restaurações Classe V nas quais não há geometria de preparo retentiva e há sempre margens em esmalte e dentina o que representa um desafio para os sistemas adesivos Uma revisão sistemática de estudos clínicos de acompanhamento de restaurações Classe V foi publicada por Peumans e colaboradores20 em 2014 Os resultados apontaram taxas de falha anual de 25 para sistemas adesivos autocondicionantes de 2 passos com pH suave 31 para condicione e lave de 3 passos 36 para autocondicionantes de 1 passo com pH suave 54 para autocondicionantes de 1 passo de pH forte 58 para condicione e lave de 2 passos e 84 para autocondicionantes de 2 passos de pH forte Como já relatado observase que sistemas autocondicionantes de 2 passos de pH suave e sistemas condicione e lave de 3 passos destacamse com as mais baixas taxas de falhas anuais corroborando seu status de padrãoouro dentro de cada estratégia adesiva Interessante também é a importância do pH suave na estratégia autocondicionante lembrando que a maioria dos novos adesivos desta categoria alia pH suave com monômeros funcionais estáveis Na comparação com estudos mais antigos é notável a melhora no desempenho de sistemas adesivos autocondicionantes de 1 passo com pH suave alguns desses comercializados como adesivos universais Embora a retenção de restaurações Classe V realizadas com sistemas autocondicionantes de pH suave não pareça ser afetada pela execução ou não do condicionamento ácido seletivo de esmalte há evidência de que o uso prévio de ácido fosfórico em esmalte reduz o manchamento marginal21 sendo o procedimento indicado por diversos autores171822 Outra observação relevante é a diferença significativa no sucesso clínico entre marcas comerciais em uma mesma estratégia adesiva pH e modo de aplicação Assim o clínico deve observar atentamente os resultados de estudos laboratoriais e clínicos de um determinado produto comercial antes de selecionálo DEGRADAÇÃO DA CAMADA HÍBRIDA A união entre substrato dentário e resinas compostas mediada pelos sistemas adesivos apresenta degradação com o passar do tempo Em esmalte tecido altamente mineralizado sem conteúdo orgânico considerável a degradação é mais lenta e a adesão mais duradoura Em dentina tecido com relevante teor orgânico e úmido a necessidade de hidrofilia e a exposição de fibrilas colágenas geram maiores dificuldades na preservação da interface adesiva Os dois principais mecanismos de degradação da camada híbrida são a degradação hidrolítica da resina adesiva e a degradação do colágeno causada principalmente por enzimas2324 O adesivo especialmente em sistemas simplificados nos quais não há camada hidrófoba em separado tende a ser degradado hidroliticamente com o passar do tempo Tal degradação parece ser acelerada pela hidrofilia do polímero formado pela má evaporação dos solventes por uma polimerização deficiente entre outros fatores2325 Já o colágeno da camada híbrida formada em dentina tende a ser degradado pela ação de enzimas presentes no próprio tecido dental p ex as MMPs metaloproteinases da matriz que são ativadas quando o colágeno é exposto pela ação dos ácidos Colaboram para a degradação do colágeno uma infiltração inadequada do adesivo na trama de fibrilas colágenas e a degradação do polímero do adesivo que também acaba expondo o colágeno à degradação enzimática232526 Entre diversas alternativas para reduzir ou tornar mais lenta a degradação da adesão estão a aplicação ativa e vigorosa do sistema adesivo na dentina aplicação de repetidas camadas do sistema adesivo e repetida evaporação de solventes antes da fotopolimerização aplicação de uma camada de adesivo hidrófobo nos sistemas adesivos simplificados hidrófilos e aumento do tempo de fotopolimerização23Também se destaca na literatura a tentativa de inibir a atividade das enzimas colagenolíticas como as MMP o que parece ser possível com o uso de substâncias como clorexidina galardin compostos quaternários de amônia entre outras25 Entretanto apesar de resultados iniciais promissores algumas dessas substâncias parecem perder seu efeito inibidor em longo prazo de forma que mais estudos são necessários para elucidar a efetividade clínica real de tais protocolos Outro foco de estudo para reduzir a degradação do colágeno da dentina é utilizar substâncias que aumentem suas ligações cruzadas intra e intermoleculares reforçando o colágeno e também inibindo a ação das enzimas colagenolíticas Entre as substâncias mais estudadas e com potencial para um futuro uso clínico estão as proantocianidinas e a carbodiimida2728 Ainda outras possibilidades em desenvolvimento são a técnica da adesão úmida com etanol29 a indução biomimética da remineralização da camada híbrida3031 e a redução da concentração ou mudança no tipo de ácido recomendado para a estratégia condicione e lave32 Certamente os próximos anos trarão novidades e possíveis mudanças nos protocolos clínicos e materiais disponíveis para se estabelecer união durável entre estrutura dental e materiais restauradores Entretanto apesar de a literatura demonstrar a degradação da camada híbrida com os sistemas adesivos contemporâneos é possível encontrar restaurações adesivas muito longas e com bons resultados clínicos em longo prazo3334 Sendo assim seria a degradação da união dentinaresina de extrema importância clínica24 Apesar de evidente que se deseja a melhor interface denterestauração possível observase que é o risco de cárie do paciente o fator que mais contribui para o insucesso de uma restauração2434 Isso ilustra e reforça a importância da implementação de medidas de promoção de saúde e controle da doença cárie em nossos pacientes ADESÃO AOS MATERIAIS RESTAURADORES INDIRETOS Procedimentos adesivos também podem ser realizados na superfície de materiais restauradores indiretos para serem unidos à estrutura dental hibridizada por meio do uso de um agente de cimentação De acordo com o material restaurador indireto utilizado o tratamento de superfície adequado irá criar as condições para a adesão A seleção correta do cimento resinoso ou de ionômero de vidro como agente de cimentação adesiva de acordo com a técnica restauradora indireta será mais um elo nesta corrente adesiva composta pelo sistema adesivo na superfície dental e superfície interna do material restaurador indireto intermediado pelo cimento Isso sem se esquecer da importância do material de moldagem na técnica convencional ou de um ótimo escaneamento digital do preparo na técnica CADCAM para propiciar um excelente registro das dimensões do preparo favorecendo a melhor adaptação da restauração indireta diminuindo assim a linha de cimentação adesiva e contribuindo para o sucesso do procedimento restaurador PROTOCOLO CLÍNICO Um dos detalhes relevantes para o sucesso das restaurações adesivas é a aplicação correta e cuidadosa do sistema adesivo selecionado por parte do profissional Na Tabela 62 estão dispostos os passos dos diferentes sistemas adesivos do comércio Como orientação final para o profissional ou estudante a figura 67 apresenta os sistemas adesivos relevantes disponíveis no comércio Tabela 62 Tipos de sistemas adesivos e seus respectivos passos de aplicação aspectos clínicos e microscópicos TIPO PASSOS CLÍNICOS CONDICIONE E LAVE 3 PASSOS 1 Ácido fosfórico 1530s Esmalte 15s Dentina 2 Primer 20s Dentina 3 Adesivo Aplique em Esmalte e Dentina seque e fotopolimerize por 10s CONDICIONE E LAVE 2 PASSOS 1 Ácido fosfórico 1530s Esmalte 15s Dentina 2 AdesivoPrimer Aplique em Esmalte e Dentina seque e repita aplicação e fotopolimerize por 10s AUTOCONDICIONANTE 2 PASSOS 1 Condicionamento ácido primer 2 Adesivo opcional realizar condicionamento seletivo do esmalte com ácido fosfórico 37 por 15s antes do passo 1 AUTOCONDICIONANTE 1 PASSO 1 Condicionamento ácido Primer Adesivo allinone opcional realizar condicionamento seletivo do esmalte com ácido fosfórico 37 por 15s antes do passo 1 UNIVERSAL 1 Condicionamento ácido seletivo do esmalte com ácido fosfórico 37 por 15s 2 Condicionamento ácido Primer Adesivo allinone condicionamento seletivo do esmalte é opcional mas preferimos indicálo ASPECTO CLÍNICO MEV ESMALTE MEV DENTINA Figura 67 Exemplos comerciais de sistemas adesivos A Ambar APS FGM B Prime Bond Universal Dentsply Sirona C Scotchbond Universal 3MESPE D Stae SDI e E Optibond FL Kerr 1 RESUMO Resumo do Capítulo Sistemas Adesivos em Odontologia Restauradora Introdução à Adesão Dental e Evolução dos Sistemas Adesivos A adesão de materiais restauradores às estruturas dentárias foi um marco na evolução da odontologia restauradora moderna O surgimento dos sistemas adesivos permitiu a realização de restaurações mais conservadoras e menos invasivas valorizando a preservação da estrutura dental saudável e promovendo maior longevidade funcional dos dentes O desenvolvimento de técnicas adesivas andou lado a lado com a evolução das resinas compostas que passaram a ser amplamente aceitas em procedimentos estéticos e funcionais A prática da adesão na odontologia baseiase no entendimento de processos como a cárie a degradação do tecido dental e a capacidade de restaurar dentes de forma previsível e duradoura Através do uso de sistemas adesivos as cavidades dentárias podem ser preparadas de forma mais conservadora com o objetivo de manter a maior quantidade possível de tecido sadio promovendo assim uma filosofia de mínima intervenção Atualmente a maior parte dos procedimentos restauradores realizados em clínicas odontológicas sejam diretos ou indiretos utiliza sistemas adesivos para unir o material restaurador ao dente remanescente garantindo a longevidade da restauração e prevenindo falhas como infiltrações marginais ou perda de retenção Os sistemas adesivos com o passar do tempo passaram por várias evoluções Inicialmente eram utilizados apenas para aderir resinas acrílicas à estrutura dental especialmente ao esmalte Os primeiros estudos sobre a utilização de ácidos para melhorar a adesão datam de 1955 e sugeriram o uso de ácido fosfórico para condicionar a superfície do esmalte promovendo uma maior capacidade de retenção ao aumentar a energia de superfície Posteriormente estudos avançaram para o condicionamento da dentina embora esta apresentasse maiores desafios para uma adesão eficaz devido à sua maior complexidade estrutural Foi a partir do final da década de 1970 que o condicionamento ácido da dentina passou a ser mais 2 explorado culminando na introdução de sistemas adesivos que incorporam tanto o condicionamento ácido do esmalte quanto da dentina A técnica de adesão úmida introduzida em meados da década de 1990 revolucionou o campo da adesão dentária ao possibilitar que o dentista trabalhasse com a dentina condicionada e mantida levemente úmida prevenindo o colapso das fibrilas colágenas e permitindo uma melhor interação entre o adesivo e a trama colágena exposta O avanço dos sistemas adesivos também permitiu o desenvolvimento de materiais com diferentes características e composições químicas que atendem a uma ampla gama de necessidades clínicas Hoje esses sistemas são amplamente utilizados tanto em procedimentos diretos como restaurações com resinas compostas quanto em procedimentos indiretos como cimentação de pinos intrarradiculares e coroas protéticas O objetivo principal dos sistemas adesivos é garantir uma adesão forte e duradoura entre o material restaurador e a estrutura dental sem comprometer a saúde do tecido remanescente e ao mesmo tempo proporcionando resultados estéticos satisfatórios Assim o entendimento das propriedades químicas e físicas dos sistemas adesivos bem como a escolha adequada para cada situação clínica são fundamentais para o sucesso do tratamento restaurador Tipos de Sistemas Adesivos e Seus Mecanismos de Ação Os sistemas adesivos são comumente divididos em duas categorias principais os sistemas condicione e lave e os sistemas autocondicionantes Os sistemas de condicione e lave também conhecidos como etchandrinse são aqueles que utilizam uma etapa de condicionamento ácido geralmente com ácido fosfórico seguida pela remoção do ácido com lavagem e secagem do substrato dental O ácido fosfórico quando aplicado no esmalte e na dentina promove a desmineralização superficial desses tecidos criando microporosidades no esmalte e removendo a smear layer na dentina Isso facilita a penetração do adesivo nos túbulos dentinários e nas microporosidades do esmalte resultando em uma adesão micromecânica eficaz O condicionamento ácido é um passo essencial para aumentar a energia de superfície do esmalte e da dentina promovendo uma melhor interação entre o adesivo e o substrato dental Em seguida o primer é aplicado para 3 preparar a superfície desmineralizada criando uma interface hidrofílica que facilita a penetração do adesivo Finalmente o adesivo é aplicado penetrando nos túbulos dentinários e nas porosidades do esmalte seguido de fotopolimerização para garantir a adesão Dentro dos sistemas de condicione e lave há subdivisões de acordo com o número de passos necessários para a aplicação Nos sistemas de três passos o ácido o primer e o adesivo são aplicados separadamente enquanto nos sistemas de dois passos o primer e o adesivo são combinados em uma única solução facilitando o procedimento clínico Esses sistemas são amplamente utilizados e considerados o padrãoouro da odontologia restauradora especialmente em procedimentos que envolvem grande quantidade de esmalte como as restaurações diretas de dentes anteriores O principal benefício desses sistemas é a sua alta eficácia em promover uma adesão micromecânica duradoura especialmente quando o esmalte é devidamente preparado Os sistemas autocondicionantes por sua vez dispensam a etapa de condicionamento ácido e lavagem utilizando primers ácidos que promovem a desmineralização superficial da dentina e do esmalte ao mesmo tempo em que primarizam essas superfícies A grande vantagem dos sistemas autocondicionantes é a simplificação do procedimento clínico já que a etapa de lavagem e secagem é eliminada o que reduz a sensibilidade técnica do procedimento e facilita a aplicação em áreas de difícil acesso Esses sistemas são especialmente úteis em situações em que há uma quantidade limitada de esmalte como em cavidades proximais profundas ou em dentina esclerosada onde o condicionamento ácido convencional poderia não ser tão eficaz No entanto sua eficácia em promover adesão ao esmalte é menor em comparação aos sistemas de condicione e lave o que os torna mais indicados para áreas predominantemente de dentina Características do Esmalte e da Dentina e Suas Implicações na Adesão O esmalte é a estrutura mais mineralizada do corpo humano sendo composto principalmente por cristais de hidroxiapatita Devido a essa alta mineralização o 4 esmalte oferece uma superfície altamente receptiva ao condicionamento ácido que cria microporosidades na sua superfície aumentando a área de contato para a penetração do adesivo A técnica de condicionamento ácido com ácido fosfórico a 37 é amplamente utilizada para promover uma adesão eficaz ao esmalte O processo de desmineralização superficial do esmalte permite que o adesivo penetre nas porosidades criadas promovendo uma adesão micromecânica resistente às forças mastigatórias e prevenindo infiltrações marginais A longevidade das restaurações adesivas em esmalte depende em grande parte da qualidade do condicionamento ácido sendo importante respeitar o tempo de aplicação e a correta remoção do ácido antes da aplicação do adesivo Por outro lado a dentina é um tecido mais complexo composto por uma mistura de material mineral orgânico e água Sua estrutura tubular confere à dentina uma maior permeabilidade o que a torna mais suscetível à variação de adesão especialmente em áreas próximas à polpa dental A smear layer formada durante o preparo cavitário pode atuar como uma barreira para a penetração do adesivo o que torna necessário o uso de sistemas adesivos que sejam capazes de remover ou modificar essa camada para garantir uma adesão eficaz O controle da umidade da dentina é essencial durante a aplicação dos sistemas adesivos já que a secagem excessiva pode colapsar as fibrilas colágenas enquanto a umidade excessiva pode dificultar a penetração do adesivo Os túbulos dentinários presentes em maior número e diâmetro nas regiões mais profundas da dentina representam um desafio adicional para a adesão pois permitem a passagem de fluidos dentinários o que pode interferir na formação da camada híbrida A camada híbrida é formada pela interação entre a resina adesiva e a trama de colágeno exposta na dentina condicionada A qualidade e a durabilidade da camada híbrida são fundamentais para o sucesso a longo prazo das restaurações adesivas sendo influenciadas tanto pelo tipo de sistema adesivo utilizado quanto pela técnica de aplicação Sistemas Adesivos Universais Avanços e Aplicações Clínicas 5 Os sistemas adesivos universais representam a mais recente evolução no campo da adesão dental proporcionando maior flexibilidade ao profissional odontológico Esses sistemas podem ser utilizados tanto na técnica de condicione e lave quanto na técnica autocondicionante o que os torna uma escolha versátil para diversas situações clínicas Eles contêm monômeros funcionais que são capazes de se ligar quimicamente à hidroxiapatita do esmalte e da dentina como o monômero 10 MDPEsses monômeros formam ligações estáveis e duradouras com o cálcio presente na hidroxiapatita promovendo uma adesão química além da adesão micromecânica tradicional A presença desses monômeros nos sistemas adesivos universais permite que eles sejam utilizados de maneira eficaz tanto em esmalte quanto em dentina promovendo uma união mais forte e estável Além disso os sistemas universais são compatíveis com diversos materiais restauradores como resinas compostas cerâmicas e até metais o que aumenta sua aplicabilidade em diferentes tipos de restaurações desde procedimentos diretos até cimentações indiretas Esses sistemas também são mais fáceis de manusear pois podem ser aplicados de forma simples e eficiente independentemente do substrato dental Em muitos casos eles eliminam a necessidade de utilizar primers e adesivos separados já que a maioria dos sistemas universais funciona como uma solução allinone combinando as funções de primer e adesivo em um único frasco Além disso eles são indicados para uma variedade de procedimentos como restaurações diretas em esmalte e dentina cimentações de coroas pinos e facetas além de servir para a reparação de restaurações já existentes Essa versatilidade faz com que os sistemas adesivos universais sejam amplamente utilizados em clínicas odontológicas principalmente pela sua praticidade e eficiência Degradação da Camada Híbrida Desafios e Estratégias de Prevenção A camada híbrida formada pela interação entre o adesivo e a trama de colágeno da dentina condicionada é essencial para garantir uma adesão duradoura e eficaz No entanto a degradação dessa camada ao longo do tempo é um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais de odontologia restauradora Dois 6 mecanismos principais contribuem para essa degradação a degradação hidrolítica da resina adesiva e a degradação enzimática do colágeno dentinário A resina adesiva especialmente em sistemas simplificados que não possuem uma fase hidrófoba separada pode ser suscetível à hidrólise resultando na absorção de água e consequentemente na perda de integridade estrutural da camada adesiva Além disso as metaloproteinases de matriz MMPs enzimas presentes na própria dentina podem ser ativadas quando o colágeno é exposto ao condicionamento ácido contribuindo para a degradação da trama de colágeno que compõe a camada híbrida A degradação da camada híbrida compromete a durabilidade das restaurações adesivas levando a falhas como infiltrações marginais sensibilidade pósoperatória e eventualmente perda da restauração Para minimizar esse processo de degradação diversas estratégias têm sido propostas Uma delas é o uso de inibidores de MMPs como a clorexidina que podem ser aplicados após o condicionamento ácido para inibir a atividade dessas enzimas e preservar a trama de colágeno Além disso a aplicação de múltiplas camadas de adesivo e a realização de uma fotopolimerização eficiente também são recomendadas para melhorar a resistência da camada híbrida à degradação hidrolítica Pesquisas mais recentes têm investigado o uso de monômeros bioativos que podem promover a remineralização da dentina desmineralizada fortalecendo a camada híbrida e aumentando a longevidade das restaurações adesivas Vantagens e Limitações dos Sistemas Adesivos Modernos Os sistemas adesivos modernos trazem diversas vantagens para os tratamentos odontológicos Entre as principais está a possibilidade de realizar restaurações estéticas com mínima perda de estrutura dental Isso é particularmente importante em casos onde a preservação do tecido sadio é prioridade como em dentes anteriores ou em pacientes jovens A adesão eficaz proporcionada pelos sistemas modernos também contribui para a distribuição equilibrada das forças mastigatórias sobre a restauração prevenindo fraturas e aumentando a longevidade do tratamento Além disso a redução da sensibilidade pósoperatória é outra vantagem 7 significativa principalmente em restaurações profundas onde o contato com a dentina exposta pode causar desconforto ao paciente Outra vantagem importante dos sistemas adesivos contemporâneos é a sua capacidade de serem utilizados em uma ampla gama de procedimentos clínicos como restaurações diretas cimentação de coroas e facetas colagem de pinos intrarradiculares e até fixação de dispositivos ortodônticos Isso oferece ao profissional de odontologia maior flexibilidade e praticidade no atendimento de diferentes necessidades clínicas com um único sistema adesivo No entanto como qualquer tecnologia os sistemas adesivos também possuem limitações A sensibilidade técnica durante a aplicação é uma das principais desvantagens especialmente em relação ao controle da umidade da dentina Em sistemas de condicione e lave o sucesso da adesão depende fortemente da capacidade do profissional de manter a dentina levemente úmida após o condicionamento ácido evitando tanto o colapso das fibrilas colágenas quanto o excesso de umidade que poderia comprometer a infiltração do adesivo Além disso a degradação da camada híbrida ao longo do tempo permanece sendo um desafio apesar dos avanços em materiais adesivos A manutenção da integridade da camada híbrida é fundamental para garantir a durabilidade da restauração e qualquer falha nesse aspecto pode levar a problemas como infiltrações e sensibilidade Considerações Finais e Perspectivas Futuras A evolução dos sistemas adesivos trouxe melhorias significativas na odontologia restauradora permitindo a realização de tratamentos menos invasivos e mais eficazes Os avanços nos materiais adesivos e nas técnicas de aplicação proporcionaram maior previsibilidade e durabilidade para os procedimentos restauradores No entanto a degradação da camada híbrida continua sendo um dos maiores desafios a serem enfrentados pelos profissionais de odontologia 8 As perspectivas futuras para os sistemas adesivos incluem o desenvolvimento de materiais que resistam melhor à degradação hidrolítica e enzimática garantindo restaurações mais duradouras Pesquisas em andamento buscam criar sistemas adesivos com propriedades bioativas capazes de promover a remineralização da dentina desmineralizada e assim prolongar a vida útil das restaurações Além disso a simplificação dos procedimentos adesivos continua sendo uma prioridade com o objetivo de reduzir a sensibilidade técnica e aumentar a eficiência clínica A escolha do sistema adesivo adequado para cada situação clínica aliada ao domínio das técnicas de aplicação é fundamental para o sucesso dos tratamentos restauradores A constante atualização dos profissionais em relação aos avanços nos sistemas adesivos e o uso adequado desses materiais são essenciais para proporcionar resultados estéticos e funcionais de alta qualidade com longevidade e segurança para os pacientes Referências do texto HILGERT Leandro Augusto CONCEIÇÃO Everton Nocchi Sistemas adesivos In DENTÍSTICA saúde e estética São Paulo Santos 2016 Cap 6 p 120139