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FARMACOLOGIA E TOXICOLOGIA Maria Fernanda Salomão de Azevedo 2 2 FÁRMACOS E INTOXICANTES QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO Introdução Olá No Bloco 2 vamos estudar os medicamentos e os praguicidas que atuam no sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático as ações farmacológicas que inibem ou induzem o efeito nos receptores adrenérgicos e colinérgicos Bons estudos 21 Sistema Nervoso Autônomo Simpático Agonista e Antagonista Os fármacos dessa classe farmacológica têm uma relevância para prática clínica pois são usados para muitas doenças como as cardiovasculares as respiratórias e as psiquiátricas Os medicamentos que atuam no sistema simpático atuam nos receptores adrenérgicos alfa e beta estão distribuídos amplamente em nosso organismo Por isso a compreensão desses fármacos é muito importante A atividade desses medicamentos é definida por afinidade e seletividade com os receptores alfa e beta e suas subunidades Os agonistas são aqueles que imitam a ação adrenérgica e também são chamados de simpatomiméticos Esses fármacos são divididos em duas categorias De ação direta fármacos que se ligam e ativam os receptores adrenérgicos De ação indireta fármacos que aumentam a liberação ou impedem a recaptação da noradrenalina ou adrenalina endógenas Estes alteram as funções dos neurônios adrenérgicos transportadores enzimas metabolizadas das catecolaminas Observe a imagem a seguir 3 Fonte Whalen Finkel e Pavanelli 2016 A figura a seguir mostra a síntese e a liberação da noradrenalina do neurônio adrenérgico Muitos fármacos que atuam de forma indireta alteram a fisiologia neuronal com o objetivo de liberar eou manter por mais tempo a noradrenalina na fenda sináptica 4 Fonte Whalen Finkel e Pavanelli 2016 Os receptores alfa 1 estão localizados na membrana póssináptica dos órgãos efetores quando ativados principalmente na musculatura lisa provocam contração Os receptores alfa 2 estão localizados nos neurônios présinápticos e controlam a liberação da adrenalina e a sua recaptação então quando ativados retiram a noradrenalina da fenda sináptica Os receptores beta 1 estão localizados principalmente no coração e nos rins Eles são os responsáveis pela contração do músculo cardíaco e a regulação da frequência cardíaca 5 Os receptores beta 2 estão localizados principalmente no pulmão Eles são responsáveis principalmente no controle dos músculos lisos dos brônquios Na tabela a seguir há exemplos dos efeitos fisiológicos quando os receptores adrenérgicos são ativados Fonte Rang et al 2016 6 Como comentado as ações do agonista têm múltiplos usos na prática clínica desde descongestionantes nasais tópicos até medicamentos utilizados na emergência clínica para tratamento de choque anafilático Exemplo de medicamento temos a oximetazolina que é um alfa agonista de ação direta que pode provocar constrição da mucosa nasal porém também pode aumentar a pressão arterial de forma expressiva Outros exemplos temos os agonistas alfa2 seletivos como metildopa que são hipotensores centrais diminuem a pressão arterial muito utilizados na hipertensão na gestação Nos receptores beta há os medicamentos seletivos de beta 1 e outros em beta 2 A dobutamina é um medicamento agonista seletivo em beta 1 portanto aumenta o débito cardíaco Já os seletivos em beta 2 são aqueles que podem provocar broncodilatação como o salbutamol Os antagonistas adrenérgicos são aqueles que provocam bloqueio dos receptores alfa e beta e com isso não provocam reações intracelulares Os fármacos antagonistas também são classificados de acordo com a afinidade dos receptores portanto são denominados betabloqueadores ou alfabloqueadores O carvedilol é um exemplo de fármaco que tem afinidade em ambos os receptores mas são pouquíssimos os medicamentos que conseguem ter afinidade nos dois receptores adrenérgicos de forma simultânea Os betabloqueadores são classificados em não seletivos que atuam nos receptores beta 1 e beta 2 e os seletivos que apenas bloqueiam beta 1 Os que atuam apenas em beta 1 também são chamados de cardiosseletivos Há uma grande utilização na prática clínica para tratamento de hipertensão pós infarto agudo do miocárdio hipertireoidismo profilaxia de crises de enxaquecas tratamento de dor ansiedade entre outros 7 Fonte Whalen Finkel e Pavanelli 2016 8 Antagonistas Adrenérgicos São fármacos que bloqueiam os receptores alfa e beta são utilizados em inúmeras condições clínicas principalmente na hipertensão Na sua maioria bloqueiam de forma seletiva os receptores e suas subunidades É importante entender que com esse bloqueio há uma interrupção dos efeitos do sistema nervoso autônomo simpático Uma minoria de medicamentos não atua de forma seletiva Um exemplo de fármaco que atua de forma não seletiva é o carvedilol ou seja atua tanto em alfa como no receptor beta e dessa forma em uma só molécula é possível tratar a hipertensão e cardiopatias Dentre o grupo de maior utilização se destacam os betabloqueadores que se dividem em bloqueadores seletivos e não seletivos pois atuam em beta 1 e beta 2 como por exemplo propranolol Com o avanço da biologia molecular foi possível desenvolver moléculas seletivas em beta 1 chamados de cardiosseletivos evitando muitos efeitos colaterais pulmonares como por exemplo atenolol Fonte Whalen Finkel e Pavanelli 2016 Esses medicamentos são eficazes para tratamento da hipertensão cardiopatias pós infarto agudo do miocárdio hipertiroidismo e glaucoma Sua utilização é tão ampla que também podem ser utilizados como adjuvante no tratamento de dor crônica ou transtorno da ansiedade generalizada 9 Fonte Whalen Finkel e Pavanelli 2016 22 Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático Agonista e Antagonista Esses fármacos colinérgicos agem sobre os receptores muscarínicos atuam no sítio da acetilcolina Esses são chamados de agonista colinérgicos pois imitam a ação da acetilcolina Eles se dividem em de ação direta ou de ação indireta 221 Ação direta Os fármacos se ligam diretamente nos receptores colinérgicos muscarínicos ou nicotínicos Esses têm ação mais prolongada porém apresentam pouca especificidade nos receptores limitando sua ação É importante dizer que há vários subtipos de receptores muscarínicos no organismo e como não há seletividade o seu uso pode alterar diversas funções orgânicas A sua maior utilização é na oftalmologia em forma de colírios para tratamento do glaucoma Isso se deve pois os colírios têm uma ação mais central e pouca ação periférica como por exemplo a pilocarpina 10 Fonte Whalen Finkel e Pavanelli 2016 Fonte Whalen Finkel e Pavanelli 2016 11 222 Ação indireta Os fármacos de ação indireta são aqueles que promovem um acúmulo da acetilcolina na fenda sináptica Para conseguir esse feito eles inibem a enzima acetilcolinesterase responsável pela degradação da acetilcolina Como resposta há aumento das atividades do sistema nervoso autônomo parassimpático Na prática clínica é muito pouco utilizada essa classe farmacológica devido aos efeitos colaterais Na Toxicologia o mecanismo de muitos agrotóxicos é inibindo a colinesterase e provocando a paralisação respiratória no organismo vivo como em alguns insetos indesejados Veremos mais à frente deste bloco a toxicologia dessas substâncias 223 Antagonistas colinérgicos Esses fármacos bloqueiam os receptores colinérgicos muscarínicos ou nicotínicos consequentemente impedem a ação da acetilcolina Aqueles que bloqueiam os receptores muscarínicos têm uma ampla utilização na prática clínica como medicamentos para cólica e até parada cardíaca Há também os bloqueadores seletivos dos receptores nicotínicos préganglionares porém com pouca utilização na prática clínica Um terceiro grupo muito utilizado nos hospitais e cirurgias é dos bloqueadores neuromusculares que interferem na transmissão dos impulsos para a musculatura esquelética provocando assim relaxamento muscular intenso 12 Fonte Whalen Finkel e Pavanelli 2016 A atropina pode ser utilizada em diversas vias de administração apresenta maior efeito nos brônquios e na excreção do suor e da saliva Fonte Whalen Finkel e Pavanelli 2016 A atropina e seus derivados escopolamina podem ser utilizados para diversas áreas tais como Oftalmologia dilatação das pupilas para exames oftalmológicos 13 Antiespasmódico para relaxamento da musculatura lisa em casos de cólicas menstruais Cardiologia tratamento de paradas cardíacas Antissecretor serve para bloquear a liberação de saliva quando há salivação excessiva Antídoto intoxicação por alguns agrotóxicos Outros fármacos muito utilizados nos problemas respiratórios são o ipratrópio e tiotrópio ambos derivados da atropina Eles são amplamente utilizados na doença pulmonar obstrutiva crônica DPOC e nos casos mais graves da asma pois provocam broncodilatação 23 Toxicologia dos praguicidas Organofosforados e Carbamatos Os praguicidas são substâncias utilizadas no ambiente com a intenção de prevenir destruir ou espantar pragas Ao utilizar esses produtos é necessário pesar os riscos versus benefícios para garantir a segurança à saúde humana e preservar o meio ambiente Entretanto o uso quando bem equilibrado contribui para diminuição das perdas dos alimentos atacados por insetos ou pragas A intoxicação dos praguicidas nos seres humanos se dá pela exposição através da via oral dérmica ou inalatória Ela pode ocorrer por ingestão não intencional principalmente por reutilização de embalagem dos produtos Também há a ingestão intencional onde o indivíduo tenta o suicídio Em ambos os casos a exposição pode ser muito danosa ao organismo e levar ao óbito pois se expõe a uma grande quantidade em um pequeno espaço de tempo Além disso podemos pensar em exposição crônica uma dose pequena e constante como resíduos de praguicidas na água e nos alimentos Ela também é deletéria por isso há leis que asseguram dose quantidade e frequência de utilização Os trabalhadores que aplicam essas substâncias na lavoura estão expostos a maior risco de contaminação pois muitas vezes a exposição dérmica ocorre na hora da aplicação nas plantações ou mesmo a substância pode cair sobre a roupa e gerar uma intoxicação 14 A Organização Mundial de Saúde OMS classifica os praguicidas por capacidade de promover intoxicação os testes são realizados em ratos expondoos aos produtos por via oral e dérmica A seguir a classificação segundo a OMS Fonte Klaassen e Watkins 2012 Os praguicidas que causam mais intoxicação aguda por exposição ocupacional são os organofosforados e carbamatos Os organofosforados e os carbamatos são substâncias que fosforilam a enzima acetilcolinesterase ACH e dessa forma há um acúmulo de acetilcolina nas sinapses pois ocorre interferência na degradação desse neurotransmissor ACH Infelizmente as substâncias não apresentam seletividade então tanto inibem acetilcolinesterase dos insetos e pragas como também do ser humano Os sintomas da intoxicação ocorrem por excitação do sistema nervoso autônomo parassimpático dos receptores muscarínicos e nicotínicos Como esses receptores estão localizados no corpo todo a intoxicação é chamada de síndrome colinérgica A seguir quadro com a descrição da maioria dos sinais e sintomas que aparecem nas intoxicações mais graves Fonte Klaassen e Watkins 2012 15 O tratamento dessa intoxicação é determinado pela via de exposição Na sua maioria a intoxicação ocorre pela derme então o indivíduo contaminado tem que retirar a roupa lavar o corpo com sabão alcalino O antídoto para conter a síndrome colinérgica é o uso da atropina por se tratar de um fármaco antagonista dos receptores colinérgicos Vale ressaltar que os antagonistas têm maior afinidade que o agonista sendo assim a atropina consegue retirar do receptor a acetilcolina finalizando a intoxicação Considerações Finais Chegamos ao final do Bloco 2 Como você percebeu neste bloco temos várias informações importantes dos medicamentos e agentes tóxicos que interferem no sistema nervoso autônomo Além disso ao final pudemos verificar a importância da toxicologia ambiental ocupacional e clínica Bons estudos Referências WHALEN K FINKEL R PAVANELLI A T Farmacologia ilustrada 6 ed Porto Alegre Artmed 2016 Disponível em httpsintegradaminhabibliotecacombrbooks9788582713235 Acesso em 27 abr 2021 KLAASSEN C D WATKINS J B III Fundamentos em toxicologia de Casarett e Doull Porto Alegre AMGH 2012 Disponível em httpsintegradaminhabibliotecacombrbooks9788580551327 Acesso em 27 abr 2021 RANG H P et al Farmacologia 8 ed Rio de Janeiro Elsevier 2016 808 p