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Estudos de Caso\n\nAGRICULTURA ORGÂNICA X AGRICULTURA CONVENCIONAL\nSOLUÇÕES PARA MINIMIZAR O USO DE INSUMOS INDUSTRIALIZADOS\n\nCleide Mary Mariani 1\nJairo Afonso Henkes 2\n\nRESUMO\n\nA agricultura deixou de ter como papel principal a produção de alimentos e passou a ter como principal objetivo a maximização dos lucros, o que tem gerado uma grande preocupação na qualidade dos alimentos e na poluição ambiental. A busca da maior produtividade através da utilização intensa de insumos externos está foi fortemente enraizada no pensamento de maior parte dos agricultores que muitos acabam acreditando que este é o único modo de produção. A partir disso, buscou-se analisar e descobrir, através de material bibliográfico e de entrevistas com produtores de feiras orgânicas de Porto Alegre, os métodos de produção orgânica, o desempenho financeiro, a produtividade dos sistemas agroecológicos, o potencial da agricultura orgânica no desenvolvimento sustentável e os seus benefícios - para os produtores, consumidores e meio ambiente. Neste contexto, foram efetuadas comparações entre a agricultura convencional e a agricultura orgânica em algumas dimensões, bem como complementares. As comparações e os conceitos apresentados englobam basicamente a dimensão ecológica, social e econômica, em diversas perspectivas.\n\nPalavras-chave: Sistema Orgânico de Produção. Sustentabilidade Ambiental. Agricultura Convencional. Produtores Orgânicos. Feira Ecológica.\n\n1 Acadêmica do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental - Unisul Virtual. E-mail: cleide.mariani@unisul.br\n2 Professor do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental e do Programa de Pós Graduação em Gestão Ambienta da Unisul. Mestre em Agroecossistemas. Especialista em Administração Rural. E-mail: jairo.henkes@unisul.br\n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n315 1 INTRODUÇÃO\n\nA preocupação crescente em relação aos impactos negativos dos insumos químicos sobre a sustentabilidade dos agroecossistemas, associados à regulamentações que limitam os tipos de insumos que os produtores podem usar, está despertando um interesse no sentido de resgatar mecanismos de defesa e resistência aos organismos cultivados através de sistemas sustentáveis. Isso pode resultar em mudanças na base de produção agrícola com o intuito de obter o equilíbrio no contexto ambiental.\n\nPor enquanto, esta nas mãos dos pequenos agricultores a possibilidade de reaver o equilíbrio ambiental perdido, e exibir os seus bons resultados, uma vez que há quem duvide de que é possível realizar uma boa produção e obter um adequado rendimento econômico através da produção orgânica. A quantidade de famílias que está aderindo uma produção mais sustentável no Rio Grande do Sul tem expandindo consideravelmente nos últimos anos. Estes produtores estão liderando o caminho no sentido de fazer transformações na agricultura. Essa expansão é notável, pois quanto exemplos existentes de cultivos sustentáveis e economicamente viáveis, revelam a probabilidade de que os sistemas atuais de produção de alimentos.\n\nOs agroecossistemas modernos são instáveis pela ocorrência de surtos recorrentes de pragas em muitos cultivos, o agravamento destes surtos, na maioria das vezes está ligado à expansão das monoculturas, que se dá em detrimento da diversidade vegetal. Essa diversidade é um componente-chave da paisagem que presta serviços ecológicos fundamentais para garantir a proteção das culturas por meio da provisão de habitat e recursos para inimigos naturais de pragas (ALTIERI, 1998).\n\nA agricultura ecológica se baseia em estratégias de diversificação, tais como policulturas, rotações, cultivos de cobertura e integração animal, para melhorar a produtividade, e garantir a saúde do agroecossistema (PENTEADO, 2012).\n\nObservou-se que a biodiversidade permite a manutenção da cadeia alimentar, de forma a propiciar o equilíbrio das espécies, pois quanto mais estabelecido e ecossistem local, menores serão os problemas fitossanitários. Quanto\n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n316 2 TEMA\n\nAtualmente, o Brasil é um dos maiores compradores de agrotóxicos do mundo, entretanto as intoxicações provocadas por estas substâncias, sem aumento tanto entre os trabalhadores rurais, por ficarem expostos diretamente a estes produtos, como entre pessoas que se contaminaram por meio da ingestão de alimentos contaminados (PIGNATI, 2011). Mesmo com a existência de um Receituário Agronômico, a fiscalização sobre a venda e a aplicação dos agrotóxicos é deficiente, deixando o consumidor dependente do bom senso e discernimento dos agricultores, que muitas vezes não têm o devido conhecimento sobre os produtos que aplicam em suas lavouras. Além do que, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o uso incorreto de agrotóxicos pode causar a degradação dos recursos naturais sustentáveis, levando a desequilíbrios biológicos e ecológicos.\n\nO conceito de sustentabilidade está mais presente na vida das pessoas e empresas, e tem gerado certo consenso acerca da necessidade de se propor maiores ajustes na agricultura convencional, de modo a torná-la mais viável e compatível sob o ponto de vista ambiental, social e econômico (GLIESMANN, 2009). O principal foco é a eliminação de agroquímicos, optando por implantar mudanças no manejo que garantam a adequada nutrição e proteção das plantas, por meio de fontes orgânicas de nutrientes e um manejo integrado de pragas (ALTIERI, 2012). Sob este aspecto, Gleissmann, (2009, p.52) afirma que “a sustentabilidade consiste em produzir permanentemente no mesmo solo, através do manejo baseado na agricultura ecológica, apresentando assim capacidade de renovação”.\n\nO sistema convencional é um dos sistemas de produção agrícola no país, cujo processo de produção está baseado no emprego de adubos químicos e agrotóxicos.\n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n317 cos. O sistema orgânico é uma metodologia de produção agrícola que dispensa o uso de insumos químicos e se caracteriza por um processo que leva em conta a re- ligação solo/planta/ambiente com o intuito de preservar o meio ambiente, a saúde dos homens e dos animais (MEIRELLES & RUPP, 2014). Para Pentaedo (2010), o planejamento do uso da terra é fundamental na agricultura orgânica, porque o solo não é somente considerado um meio para a sustentação da planta e fornecedor de nutrientes, mas como abrigo de uma rica fauna e flora. O processo produtivo deve ser planejado com o objetivo de causar o menor impacto poss/nivel no ecossistema local. O sistema de produção orgânica se baseia em normas de produção especificas, cuja finalidade é estabelecer estruturas que sejam sustentáveis, do ponto de vista social, ecológico, e econômico (GLIESMANN, 2009). Conforme o Ministério da Agricultura e Abastecimento (IN 007, de 17 de maio de 1999), o sistema de produção orgânica é: Todo aquele em que se adotam tecnologias que aperfeiçoem o uso de recursos naturais e socioeconômicos, respeitando a integralidade cultural e tendo por objetivo a auto sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não-renováveis e a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os estágios da produção e da transformação (BRASIL, 2011). No entanto, o sistema de produção convencional não consegue estabelecer a sustentabilidade do ponto vista social, ecológico e econômico. No ponto de vista social, a população tem consumido alimentos com a dosagem de agrotóxicos acima do limite máximo autorizado pela ANVISA e, além disso, com ingredientes ativos não autorizados, segundo as amostras analisadas por cultura nos anos de 2011 e 2012 (ANVISA, 2012). O alimento 'campeão' na análise de 2011 foi o pimentão, que a apresentou resíduos de agrotóxicos não autorizados em 84% das amostras analisadas, e ainda apresenta uma quantidade de resíduos acima do limite máximo permitido de em 4,7% das amostras (ANVISA, 2012). As coletas dos alimentos são realizadas pela Vigilância Sanitária (Estadual/Municipal) no local em que a população adquire os alimentos. Em 2011 alimentos como arroz, feijão e cenoura apresentaram todas as amostras insatisfatórias devido à presença de agrotóxico não autorizado para a cultura (ANVISA, 2012). Ainda discutindo o âmbito social, a ação dos agrotóxicos sobre a saúde humana, principalmente nos agricultores, costuma ser deletéria e muitas vezes fatal, provocando desde náuseas, tonturas, dores de cabeça, alergias, lesões renais e hepáticas, até cânceres, infertilidade, alterações genéticas, entre outros (SOARES, 2014). Na cidade de Venâncio Aires – RS, o agrotóxico Tamaron é utilizado em larga escala na cultura do fumo e está associado ao elevado índice de suicídios, em 1995 ocorreram 37 casos (PINHEIRO, 1998). Alguns agrotóxicos apresentaram ainda problemas de alta persistência no ambiente, bioacumulação e toxicidade para organismos aquáticos, abelhas e fauna silvestre e doméstica (TRIVELATO & WESSELING, 1992). A agricultura convencional no Brasil foi fortemente incentivada na década de 70, e originou-se dos pacotes tecnológicos daquele governo, sendo sinônimo de crescimento econômico e foi chamada de Revolução Verde (FILLIPE & CONTERATO, 2009). No âmbito econômico da época, ela pareceu muito adequada, conforme Fillipi & Conterato (2009), como consequência dos resultados da Revolução Verde, obteve-se um aumento significativo da produção agrícola e pecuária nacional, como um série de políticas e ações prioritariamente direcionadas aos estabelecimentos ligados aos grandes produtores e contribuiu tanto para o aumento da produção no meio rural como para a liberação de mão de obra e o crescimento das indústrias. Com a padronização da produção de alimentos, tornou-se possível a negociação no mercado internacional a valores mais atraentes. Portanto, perdeu-se a característica de produzir alimentos para consumo e passa-se a produzir commodities. Assim, os agricultores começaram a gastar com insumos agroquímicos para maximizar a sua produção, mas ao mesmo tempo, seus produtos passaram a valer menos pela grande oferta e competitividade de preços. Isso demonstra a alta demanda de tecnologia e de insumos que esse modelo de agricultura necessita para atender suas necessidades, sendo que a questão ambiental torna-se irrelevante. De acordo com Gliessmann (2009, p.34), '[...] a sua produção é maximizada pelo aporte de insumos apropriados, sua eficiência produtiva é aumentada pela manipulação de seus genes, e o solo simplesmente é o meio em que suas raízes ficam ancoradas'. Na realidade os agricultores ficaram dependentes das multinacionais e, em alguns casos, cada vez mais endividados, na busca de obter todos os aparatos tecnológicos necessários em substituição da mão de obra e na necessidade de aumentar o uso de agrotóxicos, pois o solo torna-se cada vez mais pobre pelo seu abuso desordenado e desgastante, conforme Pentaedo (2012, p.54) '[...] as plantas com nutrição desequilibrada são mais sensíveis às pragas e às doenças e o uso de agrotóxicos se torna cada vez mais intenso, com aplicações mais constantes e venenos mais potentes'. No âmbito ecológico sabe-se que a poluição do solo e da água com resíduos de agrotóxicos provocam efeitos em todos os seres vivos, independente do lugar que ocupam em uma cadeia alimentar. Tomando-se como exemplo os sistemas agroflorestais, as plantas são os produtores primários, que servem de alimento para uma diversidade de insetos, os quais servem de alimento para outros organismos, como os pássaros e pequenos roedores, estes animais por sua vez, podem servir de alimento para outros. Esta cadeia alimentar tem seu fim no nível mais alto do sistema, o qual é representado por grandes mamíferos, inclusive o homem. Sendo assim, a contaminação de um organismo de um nível trófico mais baixo de uma cadeia alimentar, poderá causar efeitos maléficos em organismos pertencentes a níveis mais altos, devido ao efeito residual das moléculas xenobióticas ingeridas (COLEMAN, 1995). Depois da aplicação de um agrotóxico o seu destino no ambiente é governado por processos de retenção (adsorção, absorção), de transformação (decomposição, degradação) e de transporte (deriva, volatilização, lixiviação, escoamento superficial), e por interações desses processos (MARCHETTI & LUCHINI, 2004). A poluição da água provocada por agrotóxico ou fertilizante é a segunda causa de contaminação da água no país, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e, só perdendo para o despejo de esgoto doméstico. Portanto, o risco de consumo de produtos com agrotóxicos não se restringe apenas ao cultivo direto em que é utilizado, visto que os peixes e invertebrados podem acumular os agrotóxicos em concentrações muito acima daquelas encontradas nas águas nas quais eles vivem, pois estes compostos podem se ligar ao material particulado em suspensão que será in geridos pelos organismos aquáticos (NIMMO, 1985).\n\nExistem muitos estudos, principalmente nos EUA, que afirmam que os herbicidas, pesticidas, inseticidas e os fertilizantes causam graves efeitos diretos (comportamentais, retardos no crescimento e desenvolvimento, distúrbios hormonais, maior susceptibilidade a doenças infecciosas e letalidade) e indiretos (via cadeia alimentar) às comunidades de anfíbios, tanto em adultos quanto em fases jovens (SPARLING, 2001). Por conseguinte, os anfíbios estão diminuindo e sendo extintos em muitas partes do mundo. Logo, a agricultura convencional tende a ocasionar inúmeros graves ambientais, que não são contabilizados pelos seus adeptos.\n\nFelizmente, a área ocupada por produtos orgânicos tem aumentado em aproximadamente 20% ano (EMBRAPA, 2011), e ao longo de 2012, a Embrapa estendeu a criação de portfólios de projetos junto aos órgãos responsáveis pelo fomento científico no Brasil, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e fundações estaduais, visando estabelecer critérios de avaliação e decisão que possam priorizar o financiamento de pesquisas voltadas para o fortalecimento da produção orgânica e de base agroecológica (EMBRAPA, 2012).\n\nNo Rio Grande do Sul a procura por produtos mais saudáveis cresceu consideravelmente nos últimos anos, segundo a EMATER/RS (2013), 100 municípios gaúchos contam com feiras que trazem ecologia, totalizando 172 pontos. Em 2013, técnicos da entidade acompanharam cerca de 10 mil produtores envolvidos com a agricultura ecológica ou em transição para tal. A predominância pelo aquisição para consumo de produtos orgânicos no RS é através de feiras livres, que possuem preços mais em conta do que os produtos orgânicos vendidos nos supermercados do estado.\n\n3 OBJETIVOS\n\n3.1 OBJETIVO GERAL\n\nEste trabalho tem por objetivo descrever a analisar métodos de produção de alimentos orgânicos, que poderiam substituir total ou parcialmente o uso de produtos químicos na agricultura.\n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n321 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS\n\n- Apresentar sistemas utilizados na agricultura orgânica de produção de base agroecológica;\n- Descrever Técnicas Fundamentais da Agricultura Orgânica;\n- Demonstrar e analisar sistemas orgânicos possíveis de produção para diferentes alimentos;\n- Analisar o desempenho produtivo de sistemas agroecológicos;\n- Analisar o desempenho financeiro de sistemas agroecológicos frente a sistemas convencionais;\n- Avaliar o potencial da agricultura orgânica no desenvolvimento sustentável e no desenvolvimento regional;\n- Analisar os fatores que levam os produtores a adotarem o sistema de produção orgânica.\n\n4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS\n\n4.1 CAMPO DE ESTUDO\n\nSerá utilizado o método exploratório, utilizando-se da pesquisa bibliográfica.\n\n4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS\n\nEste estudo de caso compreende uma pesquisa sobre a possibilidade do cultivo de alimentos sem agrotóxicos através de entrevistas com agricultores das feiras ecológicas de Porto Alegre.\n\nA escolha da amostra nesta pesquisa será de caráter não-probabilístico intencional. Os instrumentos de coleta de dados adotados neste trabalho são descritos no quadro a seguir.\n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n322 Instrumento de coleta de dados\tUniverso pesquisado\tFinalidade do instrumento\nEntrevista\tAgricultores da feira orgânica de Porto Alegre.\tInvestigar quais os métodos utilizados no cultivo de seus produtos orgânicos.\nDocumentos\tSerão pesquisados manuais de agricultura orgânica, livros, relatórios, sites e artigos científicos.\tFonte de dados para a exploração do tema.\n\nQuadro 1. Instrumentos de coleta de dados.\nFonte: Do autor.\n\n5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA REALIDADE OBSERVADA\n\nA primeira feira ecológica gaúcha surgiu em Porto Alegre no ano de 1989 no bairro Bom Fim, e a partir de então novas feiras ecológicas foram surgindo para tender a crescente demanda por produtos orgânicos. Atualmente há cinco pontos de feiras ecológicas na capital gaúcha (PREFEITURA DE PORTO ALEGRE, 2013).\n\nEntrevistas foram realizadas nas feiras orgânicas dos bairros Menino Deus e Bom Fim com os feirantes, com o intuito de descrever e analisar os métodos utilizados pelos produtores para cultivo de alimentos orgânicos, de como e porque adotaram a produção orgânica, e a sua rentabilidade e produtividade com os produtos ecológicos comparados com os convencionais. Foram entrevistados 20 produtores, sendo 10 deles da feira do bairro Menino Deus e os outros 10 do Bom Fim, dos quais 75% trabalham com agricultura orgânica a mais de 15 anos e o restante de 5 a 10 anos. Eles são de diversas cidades, distantes até 200 km de Porto Alegre, tais como: Torres, Harmonia, Eldorado do Sul, Três Cachoeiras, Itati, Nova Santa Rita, Montenegro, Morrinhos do Sul, Antônio Prado, Gravataí, Terra de Areia, etc.\n\nTodos os entrevistados possuem seus produtos certificados através de Associações de Certificação Participativas, em que os associados da rede podem ser: Or- \n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n323 ganizações (grupo, cooperativa, associação, ONG, processadora, comercializadora) ou colaborador (indivíduo).\nAlgumas das organizações citadas foram: Aecia, Agede, Agroecológica, Pão da Terra, Ecotricus, Apesaa, Arcoiris, Coapal, Apecon, Rama, Acert e Encocert. Para obter o selo da Rede Ecovida, por exemplo, é necessário seguir alguns passos mínimos estabelecidos pela rede. Cada organização pode aprimorar e tornar estes passos mais rígidos e/ou específicos. Apenas um dos entrevistados não pertencia a nenhuma cooperativa/associação e estava associado diretamente a rede Ecovida. A certificação para a grande maioria foi bem rápida, depois de estarem com as suas terras livres de agrotóxicos, em no mínimo 18 meses, para solicitar a certificação, esta fora emitida em menos de 1 ano para 60% dos produtores, de 1 a 3 anos para 25% e mais de 5 anos para 15% deles.\nO monitoramento da certificação é realizado anualmente em todas as propriedades, a fiscalização é executada geralmente por um técnico que visita a propriedade e de faz uma inspeção visual, enquanto que as análises laboratoriais dos alimentos se fiscalizam-se entre si, pois como um produtor comentou: “Se alguém da cooperativa não trabalha bem, todos os outros que estão associados a ela vão ficar com uma imagem ruim, e isso é o que queremos.” A partir destas ideias é possível perceber como a credibilidade dos produtos vendidos e das influências dos grupos de produtores, por entidades responsáveis pelo controle e avaliação da conformidade orgânica e pelo vínculo de confiança com os consumidores.\nApesar da nova regulamentação permitir uma produção paralela de produtos orgânicos e não orgânicos, na mesma propriedade, desde que haja uma separação do processo produtivo entre estes, foi unânime a resposta dos produtores que em suas propriedades eles apenas produzem alimentos orgânicos. Foi possível constatar que a produção de orgânicos pelos entrevistados não é apenas um meio de sobrevivência, mas uma filosofia de vida.\nA faixa etária dos feirantes variou bastante sendo que 27% possuem idade entre 20-35 anos, 42% de 35-50 anos e 31% com mais de 50 anos. Um deles mostrou preocupação quanto ao futuro da produção orgânica quando fez o seguinte comentário: \"A gurizada não quer saber de ficar na terra, de botar a mão na enxada. Estamos envelhecendo e não sei o que vai dar\", lamentou B. S.\nR. gest. sust. ambi., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n324
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Estudos de Caso\n\nAGRICULTURA ORGÂNICA X AGRICULTURA CONVENCIONAL\nSOLUÇÕES PARA MINIMIZAR O USO DE INSUMOS INDUSTRIALIZADOS\n\nCleide Mary Mariani 1\nJairo Afonso Henkes 2\n\nRESUMO\n\nA agricultura deixou de ter como papel principal a produção de alimentos e passou a ter como principal objetivo a maximização dos lucros, o que tem gerado uma grande preocupação na qualidade dos alimentos e na poluição ambiental. A busca da maior produtividade através da utilização intensa de insumos externos está foi fortemente enraizada no pensamento de maior parte dos agricultores que muitos acabam acreditando que este é o único modo de produção. A partir disso, buscou-se analisar e descobrir, através de material bibliográfico e de entrevistas com produtores de feiras orgânicas de Porto Alegre, os métodos de produção orgânica, o desempenho financeiro, a produtividade dos sistemas agroecológicos, o potencial da agricultura orgânica no desenvolvimento sustentável e os seus benefícios - para os produtores, consumidores e meio ambiente. Neste contexto, foram efetuadas comparações entre a agricultura convencional e a agricultura orgânica em algumas dimensões, bem como complementares. As comparações e os conceitos apresentados englobam basicamente a dimensão ecológica, social e econômica, em diversas perspectivas.\n\nPalavras-chave: Sistema Orgânico de Produção. Sustentabilidade Ambiental. Agricultura Convencional. Produtores Orgânicos. Feira Ecológica.\n\n1 Acadêmica do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental - Unisul Virtual. E-mail: cleide.mariani@unisul.br\n2 Professor do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental e do Programa de Pós Graduação em Gestão Ambienta da Unisul. Mestre em Agroecossistemas. Especialista em Administração Rural. E-mail: jairo.henkes@unisul.br\n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n315 1 INTRODUÇÃO\n\nA preocupação crescente em relação aos impactos negativos dos insumos químicos sobre a sustentabilidade dos agroecossistemas, associados à regulamentações que limitam os tipos de insumos que os produtores podem usar, está despertando um interesse no sentido de resgatar mecanismos de defesa e resistência aos organismos cultivados através de sistemas sustentáveis. Isso pode resultar em mudanças na base de produção agrícola com o intuito de obter o equilíbrio no contexto ambiental.\n\nPor enquanto, esta nas mãos dos pequenos agricultores a possibilidade de reaver o equilíbrio ambiental perdido, e exibir os seus bons resultados, uma vez que há quem duvide de que é possível realizar uma boa produção e obter um adequado rendimento econômico através da produção orgânica. A quantidade de famílias que está aderindo uma produção mais sustentável no Rio Grande do Sul tem expandindo consideravelmente nos últimos anos. Estes produtores estão liderando o caminho no sentido de fazer transformações na agricultura. Essa expansão é notável, pois quanto exemplos existentes de cultivos sustentáveis e economicamente viáveis, revelam a probabilidade de que os sistemas atuais de produção de alimentos.\n\nOs agroecossistemas modernos são instáveis pela ocorrência de surtos recorrentes de pragas em muitos cultivos, o agravamento destes surtos, na maioria das vezes está ligado à expansão das monoculturas, que se dá em detrimento da diversidade vegetal. Essa diversidade é um componente-chave da paisagem que presta serviços ecológicos fundamentais para garantir a proteção das culturas por meio da provisão de habitat e recursos para inimigos naturais de pragas (ALTIERI, 1998).\n\nA agricultura ecológica se baseia em estratégias de diversificação, tais como policulturas, rotações, cultivos de cobertura e integração animal, para melhorar a produtividade, e garantir a saúde do agroecossistema (PENTEADO, 2012).\n\nObservou-se que a biodiversidade permite a manutenção da cadeia alimentar, de forma a propiciar o equilíbrio das espécies, pois quanto mais estabelecido e ecossistem local, menores serão os problemas fitossanitários. Quanto\n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n316 2 TEMA\n\nAtualmente, o Brasil é um dos maiores compradores de agrotóxicos do mundo, entretanto as intoxicações provocadas por estas substâncias, sem aumento tanto entre os trabalhadores rurais, por ficarem expostos diretamente a estes produtos, como entre pessoas que se contaminaram por meio da ingestão de alimentos contaminados (PIGNATI, 2011). Mesmo com a existência de um Receituário Agronômico, a fiscalização sobre a venda e a aplicação dos agrotóxicos é deficiente, deixando o consumidor dependente do bom senso e discernimento dos agricultores, que muitas vezes não têm o devido conhecimento sobre os produtos que aplicam em suas lavouras. Além do que, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o uso incorreto de agrotóxicos pode causar a degradação dos recursos naturais sustentáveis, levando a desequilíbrios biológicos e ecológicos.\n\nO conceito de sustentabilidade está mais presente na vida das pessoas e empresas, e tem gerado certo consenso acerca da necessidade de se propor maiores ajustes na agricultura convencional, de modo a torná-la mais viável e compatível sob o ponto de vista ambiental, social e econômico (GLIESMANN, 2009). O principal foco é a eliminação de agroquímicos, optando por implantar mudanças no manejo que garantam a adequada nutrição e proteção das plantas, por meio de fontes orgânicas de nutrientes e um manejo integrado de pragas (ALTIERI, 2012). Sob este aspecto, Gleissmann, (2009, p.52) afirma que “a sustentabilidade consiste em produzir permanentemente no mesmo solo, através do manejo baseado na agricultura ecológica, apresentando assim capacidade de renovação”.\n\nO sistema convencional é um dos sistemas de produção agrícola no país, cujo processo de produção está baseado no emprego de adubos químicos e agrotóxicos.\n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n317 cos. O sistema orgânico é uma metodologia de produção agrícola que dispensa o uso de insumos químicos e se caracteriza por um processo que leva em conta a re- ligação solo/planta/ambiente com o intuito de preservar o meio ambiente, a saúde dos homens e dos animais (MEIRELLES & RUPP, 2014). Para Pentaedo (2010), o planejamento do uso da terra é fundamental na agricultura orgânica, porque o solo não é somente considerado um meio para a sustentação da planta e fornecedor de nutrientes, mas como abrigo de uma rica fauna e flora. O processo produtivo deve ser planejado com o objetivo de causar o menor impacto poss/nivel no ecossistema local. O sistema de produção orgânica se baseia em normas de produção especificas, cuja finalidade é estabelecer estruturas que sejam sustentáveis, do ponto de vista social, ecológico, e econômico (GLIESMANN, 2009). Conforme o Ministério da Agricultura e Abastecimento (IN 007, de 17 de maio de 1999), o sistema de produção orgânica é: Todo aquele em que se adotam tecnologias que aperfeiçoem o uso de recursos naturais e socioeconômicos, respeitando a integralidade cultural e tendo por objetivo a auto sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não-renováveis e a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os estágios da produção e da transformação (BRASIL, 2011). No entanto, o sistema de produção convencional não consegue estabelecer a sustentabilidade do ponto vista social, ecológico e econômico. No ponto de vista social, a população tem consumido alimentos com a dosagem de agrotóxicos acima do limite máximo autorizado pela ANVISA e, além disso, com ingredientes ativos não autorizados, segundo as amostras analisadas por cultura nos anos de 2011 e 2012 (ANVISA, 2012). O alimento 'campeão' na análise de 2011 foi o pimentão, que a apresentou resíduos de agrotóxicos não autorizados em 84% das amostras analisadas, e ainda apresenta uma quantidade de resíduos acima do limite máximo permitido de em 4,7% das amostras (ANVISA, 2012). As coletas dos alimentos são realizadas pela Vigilância Sanitária (Estadual/Municipal) no local em que a população adquire os alimentos. Em 2011 alimentos como arroz, feijão e cenoura apresentaram todas as amostras insatisfatórias devido à presença de agrotóxico não autorizado para a cultura (ANVISA, 2012). Ainda discutindo o âmbito social, a ação dos agrotóxicos sobre a saúde humana, principalmente nos agricultores, costuma ser deletéria e muitas vezes fatal, provocando desde náuseas, tonturas, dores de cabeça, alergias, lesões renais e hepáticas, até cânceres, infertilidade, alterações genéticas, entre outros (SOARES, 2014). Na cidade de Venâncio Aires – RS, o agrotóxico Tamaron é utilizado em larga escala na cultura do fumo e está associado ao elevado índice de suicídios, em 1995 ocorreram 37 casos (PINHEIRO, 1998). Alguns agrotóxicos apresentaram ainda problemas de alta persistência no ambiente, bioacumulação e toxicidade para organismos aquáticos, abelhas e fauna silvestre e doméstica (TRIVELATO & WESSELING, 1992). A agricultura convencional no Brasil foi fortemente incentivada na década de 70, e originou-se dos pacotes tecnológicos daquele governo, sendo sinônimo de crescimento econômico e foi chamada de Revolução Verde (FILLIPE & CONTERATO, 2009). No âmbito econômico da época, ela pareceu muito adequada, conforme Fillipi & Conterato (2009), como consequência dos resultados da Revolução Verde, obteve-se um aumento significativo da produção agrícola e pecuária nacional, como um série de políticas e ações prioritariamente direcionadas aos estabelecimentos ligados aos grandes produtores e contribuiu tanto para o aumento da produção no meio rural como para a liberação de mão de obra e o crescimento das indústrias. Com a padronização da produção de alimentos, tornou-se possível a negociação no mercado internacional a valores mais atraentes. Portanto, perdeu-se a característica de produzir alimentos para consumo e passa-se a produzir commodities. Assim, os agricultores começaram a gastar com insumos agroquímicos para maximizar a sua produção, mas ao mesmo tempo, seus produtos passaram a valer menos pela grande oferta e competitividade de preços. Isso demonstra a alta demanda de tecnologia e de insumos que esse modelo de agricultura necessita para atender suas necessidades, sendo que a questão ambiental torna-se irrelevante. De acordo com Gliessmann (2009, p.34), '[...] a sua produção é maximizada pelo aporte de insumos apropriados, sua eficiência produtiva é aumentada pela manipulação de seus genes, e o solo simplesmente é o meio em que suas raízes ficam ancoradas'. Na realidade os agricultores ficaram dependentes das multinacionais e, em alguns casos, cada vez mais endividados, na busca de obter todos os aparatos tecnológicos necessários em substituição da mão de obra e na necessidade de aumentar o uso de agrotóxicos, pois o solo torna-se cada vez mais pobre pelo seu abuso desordenado e desgastante, conforme Pentaedo (2012, p.54) '[...] as plantas com nutrição desequilibrada são mais sensíveis às pragas e às doenças e o uso de agrotóxicos se torna cada vez mais intenso, com aplicações mais constantes e venenos mais potentes'. No âmbito ecológico sabe-se que a poluição do solo e da água com resíduos de agrotóxicos provocam efeitos em todos os seres vivos, independente do lugar que ocupam em uma cadeia alimentar. Tomando-se como exemplo os sistemas agroflorestais, as plantas são os produtores primários, que servem de alimento para uma diversidade de insetos, os quais servem de alimento para outros organismos, como os pássaros e pequenos roedores, estes animais por sua vez, podem servir de alimento para outros. Esta cadeia alimentar tem seu fim no nível mais alto do sistema, o qual é representado por grandes mamíferos, inclusive o homem. Sendo assim, a contaminação de um organismo de um nível trófico mais baixo de uma cadeia alimentar, poderá causar efeitos maléficos em organismos pertencentes a níveis mais altos, devido ao efeito residual das moléculas xenobióticas ingeridas (COLEMAN, 1995). Depois da aplicação de um agrotóxico o seu destino no ambiente é governado por processos de retenção (adsorção, absorção), de transformação (decomposição, degradação) e de transporte (deriva, volatilização, lixiviação, escoamento superficial), e por interações desses processos (MARCHETTI & LUCHINI, 2004). A poluição da água provocada por agrotóxico ou fertilizante é a segunda causa de contaminação da água no país, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e, só perdendo para o despejo de esgoto doméstico. Portanto, o risco de consumo de produtos com agrotóxicos não se restringe apenas ao cultivo direto em que é utilizado, visto que os peixes e invertebrados podem acumular os agrotóxicos em concentrações muito acima daquelas encontradas nas águas nas quais eles vivem, pois estes compostos podem se ligar ao material particulado em suspensão que será in geridos pelos organismos aquáticos (NIMMO, 1985).\n\nExistem muitos estudos, principalmente nos EUA, que afirmam que os herbicidas, pesticidas, inseticidas e os fertilizantes causam graves efeitos diretos (comportamentais, retardos no crescimento e desenvolvimento, distúrbios hormonais, maior susceptibilidade a doenças infecciosas e letalidade) e indiretos (via cadeia alimentar) às comunidades de anfíbios, tanto em adultos quanto em fases jovens (SPARLING, 2001). Por conseguinte, os anfíbios estão diminuindo e sendo extintos em muitas partes do mundo. Logo, a agricultura convencional tende a ocasionar inúmeros graves ambientais, que não são contabilizados pelos seus adeptos.\n\nFelizmente, a área ocupada por produtos orgânicos tem aumentado em aproximadamente 20% ano (EMBRAPA, 2011), e ao longo de 2012, a Embrapa estendeu a criação de portfólios de projetos junto aos órgãos responsáveis pelo fomento científico no Brasil, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e fundações estaduais, visando estabelecer critérios de avaliação e decisão que possam priorizar o financiamento de pesquisas voltadas para o fortalecimento da produção orgânica e de base agroecológica (EMBRAPA, 2012).\n\nNo Rio Grande do Sul a procura por produtos mais saudáveis cresceu consideravelmente nos últimos anos, segundo a EMATER/RS (2013), 100 municípios gaúchos contam com feiras que trazem ecologia, totalizando 172 pontos. Em 2013, técnicos da entidade acompanharam cerca de 10 mil produtores envolvidos com a agricultura ecológica ou em transição para tal. A predominância pelo aquisição para consumo de produtos orgânicos no RS é através de feiras livres, que possuem preços mais em conta do que os produtos orgânicos vendidos nos supermercados do estado.\n\n3 OBJETIVOS\n\n3.1 OBJETIVO GERAL\n\nEste trabalho tem por objetivo descrever a analisar métodos de produção de alimentos orgânicos, que poderiam substituir total ou parcialmente o uso de produtos químicos na agricultura.\n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n321 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS\n\n- Apresentar sistemas utilizados na agricultura orgânica de produção de base agroecológica;\n- Descrever Técnicas Fundamentais da Agricultura Orgânica;\n- Demonstrar e analisar sistemas orgânicos possíveis de produção para diferentes alimentos;\n- Analisar o desempenho produtivo de sistemas agroecológicos;\n- Analisar o desempenho financeiro de sistemas agroecológicos frente a sistemas convencionais;\n- Avaliar o potencial da agricultura orgânica no desenvolvimento sustentável e no desenvolvimento regional;\n- Analisar os fatores que levam os produtores a adotarem o sistema de produção orgânica.\n\n4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS\n\n4.1 CAMPO DE ESTUDO\n\nSerá utilizado o método exploratório, utilizando-se da pesquisa bibliográfica.\n\n4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS\n\nEste estudo de caso compreende uma pesquisa sobre a possibilidade do cultivo de alimentos sem agrotóxicos através de entrevistas com agricultores das feiras ecológicas de Porto Alegre.\n\nA escolha da amostra nesta pesquisa será de caráter não-probabilístico intencional. Os instrumentos de coleta de dados adotados neste trabalho são descritos no quadro a seguir.\n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n322 Instrumento de coleta de dados\tUniverso pesquisado\tFinalidade do instrumento\nEntrevista\tAgricultores da feira orgânica de Porto Alegre.\tInvestigar quais os métodos utilizados no cultivo de seus produtos orgânicos.\nDocumentos\tSerão pesquisados manuais de agricultura orgânica, livros, relatórios, sites e artigos científicos.\tFonte de dados para a exploração do tema.\n\nQuadro 1. Instrumentos de coleta de dados.\nFonte: Do autor.\n\n5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA REALIDADE OBSERVADA\n\nA primeira feira ecológica gaúcha surgiu em Porto Alegre no ano de 1989 no bairro Bom Fim, e a partir de então novas feiras ecológicas foram surgindo para tender a crescente demanda por produtos orgânicos. Atualmente há cinco pontos de feiras ecológicas na capital gaúcha (PREFEITURA DE PORTO ALEGRE, 2013).\n\nEntrevistas foram realizadas nas feiras orgânicas dos bairros Menino Deus e Bom Fim com os feirantes, com o intuito de descrever e analisar os métodos utilizados pelos produtores para cultivo de alimentos orgânicos, de como e porque adotaram a produção orgânica, e a sua rentabilidade e produtividade com os produtos ecológicos comparados com os convencionais. Foram entrevistados 20 produtores, sendo 10 deles da feira do bairro Menino Deus e os outros 10 do Bom Fim, dos quais 75% trabalham com agricultura orgânica a mais de 15 anos e o restante de 5 a 10 anos. Eles são de diversas cidades, distantes até 200 km de Porto Alegre, tais como: Torres, Harmonia, Eldorado do Sul, Três Cachoeiras, Itati, Nova Santa Rita, Montenegro, Morrinhos do Sul, Antônio Prado, Gravataí, Terra de Areia, etc.\n\nTodos os entrevistados possuem seus produtos certificados através de Associações de Certificação Participativas, em que os associados da rede podem ser: Or- \n\nR. gest. sust. ambient., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n323 ganizações (grupo, cooperativa, associação, ONG, processadora, comercializadora) ou colaborador (indivíduo).\nAlgumas das organizações citadas foram: Aecia, Agede, Agroecológica, Pão da Terra, Ecotricus, Apesaa, Arcoiris, Coapal, Apecon, Rama, Acert e Encocert. Para obter o selo da Rede Ecovida, por exemplo, é necessário seguir alguns passos mínimos estabelecidos pela rede. Cada organização pode aprimorar e tornar estes passos mais rígidos e/ou específicos. Apenas um dos entrevistados não pertencia a nenhuma cooperativa/associação e estava associado diretamente a rede Ecovida. A certificação para a grande maioria foi bem rápida, depois de estarem com as suas terras livres de agrotóxicos, em no mínimo 18 meses, para solicitar a certificação, esta fora emitida em menos de 1 ano para 60% dos produtores, de 1 a 3 anos para 25% e mais de 5 anos para 15% deles.\nO monitoramento da certificação é realizado anualmente em todas as propriedades, a fiscalização é executada geralmente por um técnico que visita a propriedade e de faz uma inspeção visual, enquanto que as análises laboratoriais dos alimentos se fiscalizam-se entre si, pois como um produtor comentou: “Se alguém da cooperativa não trabalha bem, todos os outros que estão associados a ela vão ficar com uma imagem ruim, e isso é o que queremos.” A partir destas ideias é possível perceber como a credibilidade dos produtos vendidos e das influências dos grupos de produtores, por entidades responsáveis pelo controle e avaliação da conformidade orgânica e pelo vínculo de confiança com os consumidores.\nApesar da nova regulamentação permitir uma produção paralela de produtos orgânicos e não orgânicos, na mesma propriedade, desde que haja uma separação do processo produtivo entre estes, foi unânime a resposta dos produtores que em suas propriedades eles apenas produzem alimentos orgânicos. Foi possível constatar que a produção de orgânicos pelos entrevistados não é apenas um meio de sobrevivência, mas uma filosofia de vida.\nA faixa etária dos feirantes variou bastante sendo que 27% possuem idade entre 20-35 anos, 42% de 35-50 anos e 31% com mais de 50 anos. Um deles mostrou preocupação quanto ao futuro da produção orgânica quando fez o seguinte comentário: \"A gurizada não quer saber de ficar na terra, de botar a mão na enxada. Estamos envelhecendo e não sei o que vai dar\", lamentou B. S.\nR. gest. sust. ambi., Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 315 - 338, out. 2014/mar.2015\n324