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Linguística
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HISTÓRIA DA LÍNGUA PROFA DRA JÚLIANA GEÓRGIA APOSTILA Disciplina História da Língua Portuguesa Curso Letras Língua Portuguesa PORTUGUESA AULAS TEXTOS 1 1808 Introdução apresentação do componente ementa conteúdo e reflexões críticas iniciais Perigo da História Única 2 2508 Que História você quer contar Tatiana Fuly Paulina Chiziane Estereótipos românticos e ideologizados VÍDEO 3 0109 Da colonização linguística portuguesa à economia neoliberal nações plurilínguesMariani 4 0809 Da colonização linguística portuguesa à economia neoliberal nações plurilínguesMariani 5 1509 O negro e a Linguagem Fanon Linguagem e xenofobia Rajagopalan complementar 6 2209 Línguas africanas no Brasil Linguística africana 7 2909 Saberes indígenas e resistência linguística Bibliofagia O Banquete dos deuses Daniel Munduruku 8 0610 Aspectos internos Linguística Africana passado e presente reflexões sobre o contato linguístico nos Palops e a internacionalização da língua portuguesa na África Cronograma de leiturasaulas 9 1310 E se todas as línguas fossem crioulas Um olhar pós colonial sobre a linguística Dewulf Convidado Mamadu Línguas Crioulas 10 2010 Entrega e apresentação do resumo Semana Universitária atividade avaliativa 01 11 2710 Semana Universitária apresentação do trabalho 12 0311 Início dos seminários atividade avaliativa 02 GuinéBissau CaboVerde 13 1011 Moçambique Angola 14 1711 São Tomé e Príncipe e Timor Leste 15 2411 Encerramento 16 0512 Entrega do portfólio atividade avaliativa 03 A U L A 1 HISTÓRIA LÍNGUA Estudo da origem e da formação da Língua Portuguesa considerandose os processos de mudança fonética fonológica morfológica e lexical ocorridos durante a evolução do Latim para o Português bem como o estudo dos acontecimentos políticos sociais e culturais que contribuíram para a expansão dessa língua pelo mundo e para a atual configuração dos espaços lusófonos Descontruindo a EMENTA Na sua opinião essa ementa contempla o projeto UNILAB A nossa história é contada a partir de qual ótica A do colonizador A do colonizado Como nos nomeamos Qual a origem dos nossos nomes RGidentidade Gira dialógica QUESTÕES PARA DESCONTRUIR DESPRENDER 1De onde parte essa Língua Portuguesa Como ela chegou nos países africanos Como ela chegou no Brasil 3 O que significa estudar a história de uma língua 4 A nossa história de confunde com a história da nossa língua 5 Qual é a nossa história E como ela influencia em nossa identidade linguística 6 É possível separar história cultura e língua A língua enquanto fator social é constitutiva de cada ser humano A linguagem atribui a cada indivíduo bem como a sua comunidade linguística um modo particular e peculiar de perceber o mundo e seu entorno A história única cria estereótipos E o problema com os estereótipos não é que eles sejam mentira mas que sejam incompletos Eles fazem uma história tornase única história Chimamanda Adichie O perigo de uma história única Chimamanda Adichie Assista a mídia em httpswwwyoutubecomwatch vqDovHZVdyVQt566s Qual o perigo da história única Quais foram as histórias únicas que forma apresentadas a você Quais entende como verdade e quais você desconfia Ailton Alves Lacerda Krenak mais conhecido como Ailton Krenak é um líder indígena ambientalista filósofo poeta e escritor brasileiro da etnia indígena crenaque Ailton é também professor pela Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF e é considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro possuindo reconhecimento internacional Ailton Krenak fala sobre os cuidados com a memória Assista a mídia em httpswwwinstagramcomreelCuhoc Y8A1RT igshidMTc4MmM1YmI2Ng3D3D Reflita sobre a fala de Ailton Krenak para a rede Povos Indígenas via plataforma Instagram Textos para a aula 2 Que História você quer contar Tatiana Fuly VÍDEO Paulina Chiziane Estereótipos românticos e ideologizados VÍDEO O banquete dos deuses Daniel Munduruku Leitura complementar QUE HISTÓRIA VOCÊ QUER CONTAR CAMINHOS PARA UMA EDUCAÇÃO DECOLONIAL Fuly Tatiana Que história você quer contar caminhos para uma educação decolonial 1 ed Curitiba Appris 2022 134 p 23 cm Educação tecnologias e transdisciplinaridade inclui bibliografia ISBN 9786525024325 1 Educação 2 Decolonialidade I Título II Série CDD 370 PARTE 3 INVISIBILIDADE SOCIAL E O DIREITO DE EXISTIR E na atual sociedade lutamos pela igualdade Sem preconceitos sociais GRES Acadêmicos do Salgueiro 1989 Reverência ao samba que leva à dor temporária e transforma em alegria momentânea os descaminhos causados pelo exterminio em massa que dialoga com a sociedade ao longo dos tempos e resignifica a si mesmo com novas narrativas no combate à intolerância e pelo direito de existir Dito isso o caminho traçado até aqui perpassando pela colonização e seus ataques históricos determinaram aqueles que seriam os povos subalternos Refletir sobre os estragos póscoloniais que acarretam à invisibilidade social é abordar grupos e movimentos sociais que seguem na busca de mecanismos para romper com sua própria invisibilização diante da sociedade Quando Mignolo 2017 aborda Quijano ao tratar dos nós históricos criados pelo sistema para segregar povos por meio dos preconceitos estéticos por sua produção de cultura e pela forma com que se apresentam ao mundo ele denuncia também o caráter devastador dessa história o direito da não existência Sujeitos que são tratados como coadjuvantes da própria história seres imperceptíveis ainda que suas existências estejam ligadas à lógica superaturada de mercado Para Almeida 2019 é importante enfatizar que a educação colonial pressupõe uma relação de poder que está amparada pela ideia produzida histórica cultural e racialmente Dessa forma as histórias das raças é a história de como se deu toda a conjuntura política e econômica das sociedades sendo o sentido específico da ideia de raça constituído por circunstâncias históricas em meados do século XVI 41 TATIANA PEIXY Se antes desse período ser humano relacionavase ao pertencimento a uma comunidade política ou religiosa o expan so comercial burguês e da cultura renascentista abre as portas para a construção do moderno idealista filosófico que mais tarde transforma o europeu no homem universal atentar ao gênero aqui é importante e todos os demais cultures não condicionados com os sistemas culturais europeus em variações menos evoluídas ALMEIDA 2019 p 23 O projeto de transformação social iluminista tinha o homem como seu principal objeto O homem iluminista era aquele sujeito objeto de conhecimento Do ponto de vista intelectual tal projeto elaborou as estra tégias que possibilitaram comparar classificar e objetificar a humanidade a partir de suas características físicas e culturais É nesse contexto que surgirá a ideia de homem primitivo anteriormente com nomenclatura homem selvagem e homem civilizado Assim o iluminismo surgiu como um projeto liberal que deu origem posteriormente a ideias de liberdade política e econômica defendidas pela burguesia que tinha por meta garantir a liberdade e combater as ideias absolutistas e poder da nobreza A transição das sociedades feudais para a sociedade capitalista garante direitos universais e mostrouse fundamental para a constituição da civilização Civilização essa que posteriormente seria levada para os povos tidos como pro mitivos desconhecedores dos benefícios da liberdade da igualdade de direitos dentro de um Estado que se dizia democrático e reorganizador do mundo De acordo com o autor é nesse momento que se registra o início do processo de destruição e morte dos povos considerados subalternos subhumanos não civilizados na medida em que o movimento de le vamento de civilização e racionalidade para grupos considerados ainda irracionais e distantes do processo civilizatório promove o que se denomina colonialismo O perigo de uma história única retrata como nosso conhecimento é formado e formatado e que tipo de narrativas permitiam nosso consciente e subconsciente que nos levaria a criar a imagem que temos da cota por desejamos com base no desejo do outro no desejo de quem nos como que esse é o único desejo possível que fora dele não há alternativa Adichie 2019 adverte para uma literatura única e universal não pluriversal em que as histórias só dão conta de um tipo de sujeito o estereótipo eurocêntrico Figura que se impõe ao imaginário do outro e o invisibiliza imprimindo nesse sujeito seu próprio imaginário Tal artifi cio opera na naturalização do imaginário do invasor na subalternização 42 dos povos não europeus Com isso aposta na própria negação ou no desco nhecimento e até esquecimento de processos históricos sociais cognitivos e culturais por parte desses povos Oliveira e Candau 2010 corroboram esse pensamento ao denunciarem Essa operação se realizou de diversas formas como a sedu ção pela cultura colonialista o fetichismo cultural que o europeu cria em torno de sua cultura estimulando forte aspiração à cultura europeia por parte dos sujeitos subal ternizados Portanto o eurocentrismo não é a perspectiva cognitiva somente dos europeus mas tornase também do conjunto daqueles educados sob sua hegemonia OLIVEIRA CANDAU 2010 p 19 É com base nessa prerrogativa que abordo o perigo de uma única história posta para as gerações A mentira e o perigo das distorções da verdadeira história dos povos que acabam por colocar jovens e adultos desde a infância debruçados em leituras hegemônicas e deslocadas de sua cultura por meio dos quais são inseridos na literatura e em novos mundos porém sem a consciência de que pessoas de sua raça e lugar social podiam ser também sujeitos reais e legítimos dessas histórias Barreira que se rompe à medida que leitor e contexto se encontram Eu amava aqueles livros americanos e britânicos que lia Eles despertaram minha imaginação Abriram mundos novos para mim mas a consequência não prevista foi que eu não sabia que pessoas iguais a mim podiam existir na literatura O que a descoberta de escritores africanos fez por mim foi isto salvoume de ter uma história única sobre o que são os livros ADICHIE 2019 p 14 Ainda que de classe média alta e com pai professor e mãe administra dora Adichie 2019 relata a experiência vivida quando fora fazer faculdade nos Estados Unidos Ao encontrar sua colega de quarto tal foi sua surpresa ao ser questionada onde havia aprendido inglês tão bem sendo o inglês sua língua materna sobre suas músicas tribais de referência ou como sendo africana sabia usar um fogão artifício de uma sociedade moderna A autora relata que essa experiência aponta uma história única a de a que a África traz consigo apenas um legado as mazelas de um povo subhumano incapaz de conhecer para além de sua própria cultura Tal pensamento reforça a ideia de homogeneização dentro do senso comum e reforça a ideia de que um determinado povo mesmo sendo diverso 43 múltiplo e plural traz consigo apenas uma única cultura no singular Ideia que é resultante de um processo de aprisionamento e padronização das mentes de unificação cultural e que na prática retrata a imposição de uma cultura sobre outras Então o olhar que se tem da história contada de geração a geração como ciência do conhecimento embasada na pesquisa e na investigação nada mais é que a história maquiada romantizada por uma elite comprometida com os princípios coloniais que ditam hierarquicamente dentro da lógica capitalista e relação de poder os superiores e os subalternizados dentro das sociedades Tal conceito não vinga como realidade ao considerarmos a constituição das sociedades e vislumbrarmos seu vasto repertório cultural e social Constase aqui que as relações de poder foram forjadas e ainda são mediante o discurso dos que detêm os meios necessários para controlar o que deveria ser dito seja por notícias grupos organizados notícias tendenciosas Assim nasce um perigoso fenômeno que podemos chamar de história única A relação exposta é naturalizada de podersersaber em questão e denota a crença de que povos são superiores a outros e que são incapazes de construir qualidade e equidade assim impostos Adichie 2019 expõe ainda que não possuía consciência de sua africanidade e que compreendia a ideia de sua colega americana ate bemintencionada que relaciona a Africa quando vislumbrava o que de fato era passado sobre seu continente ao restante do mundo por parte da literatura ocidental um lugar com paisagens lindas pobres sob a amaldicoada com pessoas incapazes de se articularrem esperando a salvacao por respeito na miséria incapazes de passar a vida inteira ouvindo uma única história Quando se ou de um outro povo diferentes versões dessas histórias tornamse difíceis e no mesmo contexto a autora acrescenta que é assim que se cria uma história única mostre um povo como uma coisa uma coisa só sem parar e é isso que esse povo se torna ADICHIE 2019 p 22 equidade e contribuição social mas que passaram a ser vistos pelo mundo como causadores da desordem pública vândalos subalternizados e incapazes de serem inseridos em sociedade Conceitos incorporados por uma população cada vez menos dona de seu próprio pensar e fiel aos meios de comunicação que estão a serviço de um grupo privilegiado Não apenas compreender mas também enfrentar os efeitos colaterais do perigo de uma história única que se vincula intrinsecamente ao racismo e ao preconceito é fundamental na construção de um espaço mais justo de equidade Nesse contexto precisamos contestar o papel da mídia enquanto serviço público na construção de narrativas e conceitos que vão permeiar o imaginário popular sendo importante instrumento de manutenção dos estigmas raciais e sociais e na vinculação desses grupos e movimentos subalternizados a violências e vandalismos mas nunca a luta por direitos e justiça social dentro de uma sociedade que precisa construir uma cultura pública comprometida com a democracia Fazse imperativo ressaltar que toda disparidade social racial e cognitiva perpassa pela relação de poder É impossível falar de história única e relações de homogenização existentes nas sociedades sem fazer uma análise crítica das estruturas de poder no mundo chamadas pela autora de mkali que significa ser maior do que o outro Relação a qual estabelece que a legitimação das histórias contadas perpassa pela lógica do poder em que o poder fará dessa história não apenas um enredo mas também história definitiva incontestável Freire 1996 colocanos diante do desafio de uma prática pedagógica pesquisadora e questionadora que testemunhe o que é dito e conceitua por meio da intercomunicação dialógica Ressalta ainda a necessidade de educadores e educandos se posicionarem criticamente ao vivenciarem a educação superando as posturas ingênuas impostas por um sistema colonizador e uma educação estática e monorracional Ainda sobre o poder da palavra e as histórias que são contadas Rufino 2019 diz que para além das lógicas do colonialismo emergem outras vozes que transgridem os limites impostos e exigem o direito de existir e a constituição de um novo mundo possível Logo Adichie 2019 reivindica uma narrativa que contemple todas as histórias de um continente que é marcado tanto por dores e terrores como todos os outros territórios do mundo mas que também é sujeito de tantas outras histórias responsáveis pela constituição do mundo sociedade e cultura Histórias que são invisibilizadas por uma lógica de poder racista que não admite o direito de existir do que é diverso que suprimi suas identidades e subjetividades que rouba dignidades Nessa perspectiva única a autora expõe que pela falta na diversidade de mídias e conteúdos as histórias múltiplas e legítimas mexicanos são vistos como imigrantes pobres são miseráveis nigerianos não leem literatura e enfatiza a urgência de contarmos histórias a partir de múltiplas narrativas que não as impostas pelo modelo eurocêntrico As histórias importam Muitas histórias importam As histórias foram usadas para explorar e caluniar mas também podem ser usadas para empoderar e humanizar Elas podem despedaçar a dignidade de um povo mas também podem reparar essa dignidade despedaçada ADICHIE 2019 p12 Diversos autores inclusive esta que vos fala esclarecem que a opção descolonial não tem como premissa ser única alternativa diante da necessidade de se confrontar o sistema colonial que opera na modernidade pois expõe as diversas trajetórias que já coexistem e sempre coexistirão para que essas tracem seus caminhos sejam de conflito ou de diplomacia porque não há mais lugar neste mundo para uma apenas uma trajetória reinar sobre outras MIGNOLO 2017 p 13 Mignolo 2017 convidanos a refletir sobre o espaço e o tempo em que os saberes são construídos e sobre como as histórias locais são deslocadas dentro da ação e prática educacional em que o localismo reivindica seu próprio espaço de atuação e voz O autor faz um paralelo com o pensamento de Kant o cosmopolitismo e a opção descolonial Acrescenta que o cosmopolitismo em Kant foi fundado dentro das margens e sob domínio europeu para o restante dos povos já o futuro nos exige uma opção que vá de encontro a esse pensamento linear e dominante para dar origem a um localismo cosmopolita que integre Estados e nações para a construção de um mundo verdadeiramente cosmopolita contudo pluriversal e não mais universal Muito precisa ser feito mas a crescente sociedade política global indice que as opções descoloniais aumentaram exponencialmente e assim contribuirão para remapear a fórmula estrada para qual a civilização ocidental e a matriz colonial de poder nos levaram MIGNOLO 2017 p 14 Propõese a construção de um pensamento crítico outro que também como referencial princípio ponto de partida as experiências e histórias dos sujeitos que protagonizaram os desmandos da colonialidade Que se faça a conexão o cruzo de todas as formas de pensamento crítico e questionador dentro de uma perspectiva decolonial de educação Nosso patrono da educação e meu primeiro referencial na busca por uma educação libertadora e crítica Freire 1996 afirma que a prática docente deve estar compactuada com o diálogo e uma ação pedagógica que considera epistemes e saberes múltiplos nas abordagens educativas Ressalta ainda a importância do questionamento e da criticidade educacional que conscientizam em relação à colaboração dos múltiplos sujeitos e suas produções de conhecimento e fazem com que compreendamos a máxima de que ensinar não é transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção FREIRE 1996 p 22 Por se acreditar no estado de rebeldia provocado pela curiosidade epistemológica aguçada propõese uma educação de fato democrática que vê na reflexão crítica que a tudo questiona e a nada se submete caminho para transcender a lógica colonial de condicionamento e submissão Conhecimentos são múltiplos e inacabados assim como os sujeitos Desse modo a leitura do mundo deve estar comprometida em possibilitar que as contextualizações que se criam dentro do aparato educacional deem conta da pluralidade do ser e permitam que outro seja sujeito de si transcendido o que é dito conceituado exposto para que o ato de ensinar e aprender não seja estático mas libertador Abordo aqui a importância dos gestos do professor e de como essas ações marcam de forma significativa a vida de um aluno e contribuem para sua autoconfiança autoestima e capacidade intelectual na medida em que o professor abre possibilidade para que o aluno apresente seu mundo de cultura com o qual ele se identifica Este saber o da importância desses gestos que se multiplicam diariamente nas tramas do espaço escolar é algo sobre que teríamos de refletir seriamente É uma pena que o caráter socializante da escola o que há de informal na experiência que se vive nela de formação ou de formação seja negligenciado Falase quase exclusivamente do ensino de conteúdos ensino lamentavelmente entendido que sempre entendido como transferência do saber FREIRE 1996 p 44 Uma vez que historicamente pessoas aprendiam em seus grupos sociais mediante as experiências em seu dia a dia e assim perceberam a necessidade e a possibilidade de se obter novas maneiras de aprender e ensinar acreditar em uma educação que se dá de modo unilateral seria um erro Educar não é adestrar pessoas mas ensinar a aprender e pensar apostando na solidariedade como princípio norteador da ação docente e estimando as práticas de desumanização que não acreditam na mudança e na transformação Valorizam as experiências informais advindas das ruas dos trajetos dos pátios do cruzamento de vários gestos de todos aqueles envolvidos direta ou indiretamente no processo ensinoaprendizagem e compreendem que educações emergem de todos esses ambientes e relações Assim educar é reconhecer e incorporar ao currículo formal aos conteúdos didáticos pedagógicos todo questionamento toda informação e todo conhecimento que os alunos trazem para o espaço físico da escola Ao levar em consideração a vida progressa do aluno e suas experiências diárias luzescontra o silenciamento dos sujeitos e a tentativa de minimizar seus saberes Proporcionar experiências pedagógicas repletas de desafios e curiosidade e acreditar em uma pedagogia solidária e colaborativa regida pela amorosidade e esperança capaz de superar o falso ensinar e o falso aprender de maneira crítica e questionadora Oliveira e Candau 2010 ao analisarem de que forma podemos refletir a partir das ruínas deixadas pela colonialidade trazem como possibilidade pedagógicas as brechas e margens deixadas pela colonialidade pelas quais podemos agir mirando estratégias educacionais dialógicas Esse enfoque crítico que se constituiu como um projeto contrário ao racismo epistêmico e à colonialidade de diversas existências exprime a intencionalidade de pluralizar espaços e epistemologias pois assim se dará dignidade a seres humanos excluídos de todos os processos de produções de culturas identidades e existências Portanto decolonialidade é visibilizar as lutas contra a colonialidade a partir das pessoas das suas práticas sociais epistêmicas e políticas A decolonialidade representa uma estratégia que vai além da transformação da decolonialidade ou seja supõe também construção e criação Sua meta é reconstrução radical do ser do poder e do saber OLIVEIRA e CANDAU 2010 p 25 Toda a problemática em torno da educação deve visar à superação do padrão eurocêntrico centralizador e de dominação o sistema educacional pautados na dialogicidade pedagógica no respeito pelas diferenças no princípio de equidade e justiça Em concordância com esse pensamento e a partir do reconhecimento da pluralidade da sociedade brasileira evidenciamse os avanços de garantias em lei do ensino e reformas educacionais que se deram por meio das lutas de movimentos sociais e do movimento negro Onde mora a senhora liberdade Não tem ferro nem feitor Amparo do rosário ao negro Benedito Um grito feito pele de tambor Den no noticiário com lágrimas escrito Um rito uma luta um homem de cor E assim quando a lei foi assinada Uma lua atordoada assistiu fogos no céu Aureo feito o ouro da bandeira Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel Meu Deus Meu Deus Se eu chorar não leve a mal Pela lua do candeieiro Libertei o cativeiro social GRES Paraíso do Tuiuti 2018 Tais reinvindicações deram origem à Lei nº 10639 de 9 de janeiro de 2003 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação a qual incluiu no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da presença da temática História e Cultura AfroBrasileira e Africana e afirma Art 26A Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio oficiais e particulares tornase obrigatório o ensino sobre História e Cultura AfroBrasileira 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos a luta dos negros no Brasil a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social econômica e política pertinentes à História do Brasil 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura AfroBrasileira serão ministrados no âmbito do todo o currículo É importante informar que em 2008 o Art 26A foi atualizado pela Lei nº 11645 passando a vigorar o seguinte texto Art 26A Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio públicos e privados tornase obrigatório o estudo da história e cultura afrobrasileira e indígena Redação dada pela Lei nº 11645 de 2008 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura afrobrasileira atribuindo importância à formação da população brasileira a partir de dois grupos ét nicos tais como o estudo da história da África e dos africanos a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil a cultura negra e indígena brasileira e o papel que desempenharam na formação da sociedade nacional bem como suas contribuições nas áreas social econômica e política pertinentes à história do Brasil Redação dada pela Lei nº 11645 de 2008 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afrobrasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras BRASIL 2008 Contudo mesmo com esses avanços a realidade mostra uma política de resistência que insiste em suprimir sujeitos suas histórias e produções culturais abrindo caminho para a necessidade do debate em torno da superação desse modelo por meio de uma educação que tenha como base uma pedagogia decolonial Rufino 2019 reivindica uma pedagogia que exurge a educação de forma encarnada feita por corpos seres potências e diferentes formas de sentir pensar e fazer o mundo Compreende como problemática pedagógica todas as interações sociais que fazem parte do cotidiano dos sujeitos suas experiências vivências e conhecimentos O autor argumenta a respeito da educação que vigora invisibilizadora das educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares que atacam e silenciam territórios esquinas ruas experiências gramáticas saberes e epistemas Nesse sentido propõese uma pedagogia denominada Pedagogia das Encruzilhadas que se desenvolve sobre práticas não excludentes que acredita nas mais variadas narrativas e formas de educação Tratase de validar os diferentes modos de educação praticados nos mais variados espaços como terreiros ruas rodas de samba jongo capoeira uma vez que tal como a educação os sujeitos são amplos e diversos Dentro dessa perspectiva a abordagem pedagógica apresentada elucida estratégias que operam na expansão do corpo e suas múltiplas possibilidades de ver sentir e compreender o mundo São portanto ações de fresta como denomina o autor que cruzam tudo que existe e os refaz de forma transgressora A pedagogia proposta carrega em seu nome seu princípio primordial Operar a partir da lógica de encruzilhada é operar a partir da pluralidade das formas e existências sendo esse projeto não de oposição absoluta às epistêmicas ocidentais em que um modo de educação absolutizese sobrepondose ao outro mas de possibilidade outra dialógica possibilitadora Uma pedagogia que parte da premissa de que existem diversas formas de educação e contextos educativos e que se deixa encantar pelos cruzos que está comprometida com o trabalho dialógico diante de um sistema conservador e antidemocrático e que visa a justiça social e cognitiva Mais uma vez a meta das opções descoloniais não é de dominar mas de esclarecer ao pensar e agir que os futuros globais não poderão mais ser pensados como um futuro global em que uma única opção é disponível afinal quando apenas uma opção é disponível Opção perde inteiramente o seu sentido MIGNOLO 2017 p 14 Além disso Rufino 2019 orienta práticas e tece experiências para fundamentar uma prática pedagógica que esteja comprometida com o outro vindo assim a produzir memórias conhecimentos e aprendizagens multilutas O alinhavar de todas essas experiências efeitos do cruzo que ocorrerá dentro do espaçotempo escolar ou não suas significações e interpretações é o que se deve entender por educação Esses cruzos provocam os efeitos mobilizadores para a emergência de processos educativos comprometidos com a diversidade de conhecimentos No cruzo marcamse as zonas de conflito as zonas fronteiriças zonas propícias às relações dialógicas de inteligibilidade e coexistência RUFINO 2019 p 80 É importante ressaltar que o próprio sentido da palavra pedagogia seu conceito e denominação foi reduzido a um modo de ensinar Tal denominação não dá conta da especificidade dos seres de seus modos de produção próprios e das experiências de aprendizagem Portanto seus diversos compreendem ações dialógicas e pedagogias diversas Freire 2005 chamanos para a reflexão ao analisar os movimentos principalmente dos jovens nas sociedades que se rebelam manifestam e revelam suas necessidades e as peculiaridades existentes nos lugares de onde saíram Isso é um convite para que façamos uma imersão nesse campo plural em que as preocupações dos sujeitos são em estar com o mundo e não apenas no mundo Mais uma vez os homens desafiados pela dramaticidade da hora atual se propõem a si mesmos como problemas Descobrem que pouco sabem de si de seu pôrse no mundo descobrem que pouco sabem de si e se inquietam por saber mais Estar aí no reconhecimento do seu pouco saber de si uma das razões da tragédia descoberta por si mesmo se fazem problemas a eles mesmos Indagam respondem e suas respostas as levam às novas perguntas O problema de sua humanização deve haver sido e um ponto de vista axiológico o seu problema central assim como hoje carregar de preocupação individual FREIRE 2005 p 53 Tal reflexão se dá na medida em que esses grupos e movimentos traziam a lógica de consumo questionam e denunciam as burocracias dos sistemas que não os abrangem e a transformação das universidades onde ainda podemos constatar a rigidez das relações professoraluno o autor afirmação dos homens como sujeitos nos processos de tomada de decisão Ratifica que reconhecer o caráter envelhecido das instituições é necessariamente constatar todo o processo de desumanização e a partir disso formar outras possibilidades que priorizem a sua humanização Dentro desse contexto humanização e desumanização são duas possibilidades reais dentro da história de sujeitos como seres inconclusos conscientes de sua inconclusão vão lutar contra as formas de opressão relacionadas a eles como as diversas injustiças a exploração a opressão parte dos opressores e desumaniza a ambos Os opressores têm anseio por generosidade Um projeto de caridade que ao realizar suas boas ações mantém também a ordem injusta social A ordem social injusta é a fonte geradora permanente dessa generosidade que se nutre da morte do desalent o e da miséria FREIRE 2005 p 34 Desse modo a grande generosidade estaria na luta para que cada vez menos os sujeitos precisassem estender suas mãos em busca de caridade em que prevalecessem mãos transformadoras do mundo Freire 2005 chamanos a atenção para a distorção que se cria em torno da luta dos oprimidos para saírem de seus lugares subalternos Ao lutarem por sua humanidade e suas diferentes formas de recriála são vistos perversamente como opressores ou os opressores dos opressores Portanto é preciso que se reconscientize que a busca por liberdade e contra a opressão é uma luta por restauração da humanidade de ambos em que ao libertaremse de seus algozes os libertam também de serem opressores A questão está em descobrir quem acolhe os opressores em si oprimidos participando de seus próprios processos invisibilizadores e de desumanização Somente na medida em que se descobriram hospedeiros do opressor poderão contribuir para o pertencimento de sua pedagogia libertadora FREIRE 2005 p 34 Apenas reconhecendo quem são seus opressores os sujeitos conseguem movimentarse de forma a engatar uma luta organizada pela sua libertação Isto é à medida que passam a acreditar em si mesmos e rompem com a convivência harmoniosa com um sistema de opressão É importante que se crie consciência crítica nesses sujeitos pois quando se pretende a libertação dos sujeitos sem que esses sejam autores dessas ações seguimos transformandoos em objetos massa de manobra Dai a necessidades de esses sujeitos se reconhecerem historicamene e sentiremse mais que podem mais Freire 2005 diz que a reflexão quando é de fato verdadeira e crítica leva a uma prática a uma ação transformadora capaz de construir uma nova razão dessa antiga consciência oprimida e gera revolução É preciso que acreditemos nos sujeitos que foram subalternizados como seres capazes de construir diálogos necessários para a ação libertadora Devemos traçar um caminho que não tenha como principal demanda a ação de libertar o outro mas o diálogo com elesnão para eles Precisamos estar convencidos de que o convencimento dos oprimidos de que devem lutar por sua libertação não é doação que lhes faça a liderança revolucionária mas resultado de sua conscientização FREIRE 2005 p 61 E ainda Não há outro caminho senão o da prática de uma pedagogia humanizadora em que a liderança revolucionária em lugar Ao argumentar sobre educação bancária e seus pressupostos Freire 2005 é taxativo na crítica em relação à educação tradicional que no lugar de comunicarse faz comunicados e depósitos nos educandos em relação não dialógica em que os sujeitos não são sujeitos de conhecimentos ou produtores desse mas meros receptores de comunicados currículos formalidades Ao receberem pacientemente as informações passadas pelo sistema memorizam e repetem Tal concepção bancária da educação promove uma ação mecânica que oferece aos educandos depósitos para que possam guardálos arquiválos repetílos quando solicitado Dentro de uma visão bancária de educação o saber é uma doação uma espécie de caridade dos que julgam saber e assim foram legitimados pela história aos que julgam nada saber os que foram subalternizados e ocultados A abordagem denunciada denota a pretensão dos opressores que é de transformar a mentalidade do oprimido para que esse pense e aja como outro quer e não a situação em que esse se encontra Quanto mais se adquirem novos saberes em maior condição ficam e não se transforma a maneira de viver pois a estrutura opressora e seus valores de injustiça desigualdade e preconceitos permanecem pois se arraigam nos educadores Se para a concepção bancária a consciência é uma peça em que se entrega de forma pacífica os conteúdos disciplinares impostos concluise que ao educador não cabe nenhuma outra função que não seja a de disciplinar a entrada do mundo exterior e suas verdades absolutas nos educandos e não preparar os educandos para adentrar ao mundo levando consigo a criticidade que esse existe para pensar e agir sobre ele Aqui se denota que o trabalho de educador e educando dentro de um sistema homogêneo e injusto será também o de limitar o mundo e suas reproduções de forma a não questionar o que se ouve e aprende sobre ele Ao professor cabe encher os educandos de conteúdos vazios Ao educando cabe receber os depósitos que se limitam a falsos saberes mas que educadorsistemasociedade legitima como verdadeiros saberes A concepção e a prática de educação que vimos criticando se instauram como eficientes instrumentos para este fim Dai que um dos seus objetivos fundamentais para este fim dele não estejam advindos os frutos do que realizam seu trabalho não é de conscientizar mas sim de pastorear e não se tornam intérpretes mas sim servos do que não são Portanto o autor salienta que é impossível promover uma educação de fato libertadora sem o necessário rompimento com o sistema que aí está posto Fazse necessário então que superemos os esquemas verticais de educação que têm como premissa a falta de diálogo e a absolutização do saber Desta maneira o educador já não é o que apenas educa mas o educado também educa FREIRE 2005 p 79 Quando Freire 2005 aborda o sujeito como um ser inconcluso consciente de sua inconclusão ele sugere também seu movimento constante na busca do ser mais que mero espectador das políticas criadas para ele e não por ele e suas assistências que não promovem mudança social De fato é aí que podemos encontrar os raízes e a base para a revolução da educação como manifestação humana na inclusão dos homens e na consciência que os sujeitos dela têm travamos uma educação permanente na razão da inconclusão dos homens e da crença na mudança da realidade A reflexão proposta está na relação dos sujeitos com o mundo que os cerca que se dá de forma simultânea em que consciência e mundo estão interrelacionados Dessa forma educadores e educandos como centro do processo de aprendizagem numa relação dialógica de troca contínua superam o intelectualismo que causa alienação o autoritarismo e a falsa consciência de mundo Dentro dessa perspectiva o mundo se torna o mediador dos sujeitos da educação o acontecimento para que a ação transformadora ocorra e que dela venha a humanização dos sujeitos desse processo Motivo pelo qual não podemos pensar a educação problematizadora como algo acordado com o opressor Uma educação que promova libertação só poderá ser realizada pela transgressão na medida em que a ordem opressora não aceitaria tampouco acataria suas indagações e questionamentos para aplicála Dentro desse processo de revolução educacional a educação não pode se submeter ao sistema bancário para que perpassando por ele deixe de sêlo mas tem de ousar a transgredilo Freire 2005 vê na dialogicidade a essência da educação como prática da liberdade considerando a palavra reflexãoaçãopráxis Não há palavra verdadeira que não seja práxis FREIRE 2005 p 89 E acrescenta Esta é a razão porque não é possível o diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os que não a querem entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se acham negados deste direito É preciso primeiro que os que assim se encontram negados no direito primordial de dizer a palavra reconquistem esse direito provindo e este assalto desumanizante continue FREIRE 2005 p 91 Dentro desse contexto a palavra o diálogo é uma exigência existencial pois é por meio dela que os sujeitos ganham significação enquanto sujeitos Quando isso lhes é retirado retirase junto o direito a existir A sociedade de modo geral precisa ter atenção a como esse diálogo e a relação dialógica são produzidos pois não existe diálogo sem um verdadeiro amor no mundo e nos homens amor esse que é ação dialógica constante ato de criação e recriação de si mesmo É nessa essência de pensamento que estabelecemos que não há educação dialógica e emancipadora na relação de dominação Nesta o que há é patologia de amor sadismo em quem domina masoquismo nos dominados FREIRE 2005 p 92 Amor é ação permeada pela coragem e pelo comprometimento com os sujeitos que fazem parte do processo de aprendizagem comprometimento com sua causa maior sua libertação Portanto um comprometimento dialógico que por ser dialógico é amoroso não arrogante e cheio de certezas absolutas incapazes de enxergar o outro Arroyo 2014 enfatiza que o repensar é a principal exigência para que a escola pública e o sistema educacional brasileiro adotem práticas democráticas O território das teorias e práticas pedagógicas acolhe as representações sociais dos subalternizados e constata que a educação colabora para a manutenção da segregação e inferiorização desses grupos incentivando didáticas currículos e gestão que não contemplam todos os sujeitos e suas diversidades Tal modelo contribui com a padronização de um sistema que suprime existências Contudo se durante muito tempo o que tínhamos enquanto sociedade eram existências esquecidas levadas a aceitar o lugar subalterno sem lugar de fala isso muda com a consciência de não mais comodismo ou medo Explica que esses corpos por tempos subjugados à medida que reagem não mais se acomodam ou se amedrontam diante das estruturas segregadoras As presenças afirmativas reivindicam espaço e reconhecimento legítimos questionam o Estado sobre estratégias que reconheçam suas presenças e suas histórias Conclamam articulações públicas que desocultem seus corpos seus conhecimentos suas culturas que rompam com as inexistências fomentadas que apresentem novas pedagogias Mais que isso esses coletivos exigem que sejam sujeitos políticos e protagonistas de políticas afirmativas que refletirão sobre seus corpos Solicitam que os deixe apresentar outras educações outras epistemes outras lógicas pedagógicas que foram consideradas inferiores porque diferentes da lógica colonial Dialogar com eles e não apenas para eles requer reconhecer que políticas afirmativas e pedagogias não podem ser construídas sem eles já que serão feitas para eles A participação e o debate dos termos dessas políticas e os padrões de suas afirmações têm de ser pensados e discutidos por eles enquanto sujeitos e não como destinatário final O caráter afirmativo de suas presenças coloca na arena política nos órgãos de formulação análise avaliação de políticas a necessidade de passar essas políticas como pensatórias de desigualdades e de carências para políticas afirmativas da diversidade Um aprendizado político de extrema relevância para os diferentes Uma outra consciência de suas identidades coletivas de destinatários agradecidos de políticas benevolentes do Estado e dos gestores e analistas para serem sujeitos políticos de políticas ARROYO 2014 p 135 Arroyo 2014 chamanos a atenção para como age o padrão colonizador que ao classificar seres humanos instaura a inferiorização natural e nega suas existências Uma vez tendo sua existência negada seus valores sua cultura sua história também lhe são negados É importante abordar outro aspecto crítico que emerge das teorias pedagógicas que consiste na descrença na possibilidade de educação desses sujeitos Tal crença além de gerar práticas pedagógicas inferiorizantes isenta o sistema educacional de suas responsabilidades culpabilizando as vítimas desse sistema Dentro da lógica colonizadora não é o sistema que por ser exclusivo os inferioriza e os reprova mas eles próprios na condição de inferioridade natural o fazem Sendo assim a naturalização de todas as suas condições acaba por legitimar toda a barbarie Corrigir a natureza desses seres subjugados e inferiorizados seria a finalidade principal da educação Realizar a correção de sua irracionalidade e inferioridade de origem Embora as antip pedagogias tenham deformado e causado marcas profundas outras Pedagogias resistem Tais pedagogias desconstróem o caráter racista dos padrões de poder segregador de espaços inferiorizador de identidades e ao apontar o racismo como estruturante revelam a perversidade do sistema Dentro desse contexto em que persiste o profundo esmagamento das identidades e das subjetividades Santos 2019 chamanos a atenção para a experiência por meio dos sentidos uma vez que não é possível que o conhecimento se dê de outra forma que não pela experiência profunda entre sujeitos e os sentidos sentimentos que lhes são despertados através da experiência que nos abrimos para o mundo uma abertura que é concedida apenas pelos sentidos SANTOS 2019 p 237 Uma vez que é pelos sentidos que nos fazemos sujeitos do mundo é imprescindível que as epistemologias que chegam até os sujeitos dialogue com suas experiências de vida Dai porque o autor reivindica epistemologias do sul pois as do norte dão pouca atenção aos sujeitos que não as compreendem É urgente a conscientização de que o conhecimento é corporalizado como tal requer ação corpórea que abranja todos os sentidos possíveis ao sujeito e suas combinações Apenas assim dotados de experiência ampla e diversa que compreenda emoções sensações percepções validaremos a profundidade que existe no sujeito Candau e Russo 2010 vão dizer que se faz portanto necessário que se promovam o reconhecimento e a validação de diversos saberes porque legítimos porque apagados ao longo da história Um diálogo que permita diferentes formas de pensar agir e fazer o mundo que compreenda e valide diferentes formas de conhecimento e combate as mais várias formas de violências produzidas no intuito de desumanizar que construa novos mundos possíveis e projetos outros e de sociedades outras Santos 2019 introduz o conceito de desconcolonização cognitiva e sugere duas problemáticas principais que se pautam na desconolonização do conhecimento e das metodologias pelas quais esse conhecimento é produzido como também na produção de teorias que levam em consideração a mistura de conhecimentos culturas e subjetividades dos sujeitos O autor denuncia a ciência ocidental moderna como um instrumento fundamental para que a dominação moderna se expansisse e se consolidasse Portanto questionálas por meio de epistemologias do sul isto é de perspectivas outras consiste em questionar seu caráter colonial que ao mesmo tempo que produz esconde zonas de não ser em que sujeitos são desconhecidos desvalorizados e submetidos a um modelo patriarcal e capitalista Nesse sentido que não podemos falar em desconolonização sem falar de despatriarcalização e desmedicalização as ciências sociais Tais fundamentos estão na base de um epistemicídio que possui diversas faces As epistemologias do sul pressupõem trabalho teórico e metodológico que consistem em desconstruir os conceitos fundamentados em raízes eurocêntricas tendo como ponto de partida a reconstrução a legitimação de saberes que por vezes não são científicos mas artesanais e que emergem a partir das lutas travadas contrárias à dominação O colonialismo se recusa a reconhecer os sujeitos em sua integralidade e dessa maneira pautado no capitalismo no patriarcalismo e em seus modos de subjugação desvaloriza as trajetórias de tudo que é diferente ao modelo de dominação Não termina com o fim do processo histórico compreendido como colonialismo Ao contrário perda a term como principal aliado o capitalismo sem o qual não seria possível promover uma articulação que exercesse domínio e exploração do outro Do mesmo modo o termo descolonização não tem a ver apenas com independência política mas referese antes a um amplo processo histórico de recuperação ontológica ou seja o reconhecimento dos conhecimentos e a reconstrução da humanidade Inclui é claro o direito inalienável de um povo de ter a sua própria história e de tomar decisões com base na sua própria realidade e na sua própria experiência Santos 2019 p 164 Os conhecimentos que nascem na luta precisam ser validados em diversas dimensões inclusive na esfera cognitiva pois a avaliação desses conhecimentos tornase a avaliação da própria luta de seus processos de suas estratégias e de seus resultados Isso significa que o conhecimento Os conhecimentos nascidos na luta são o reflexo do apoio e ao mesmo tempo constituem uma reflexão sobre a ação Entre muitas outras facetas esse reflexocompresente traz consigo uma dada reflexão que aponta uma mas três tipos de possibilidades reflexivas que podem ser categorizadas porque o presente tem como objetivo principal romper com um passado de injustiças e dominação histórica ou seja o presente enquanto ato de protesto O presente enquanto ação como tarefa a ser cumprida na medida em que questiona a forma com que se luta na defensiva ou no ataque por abrandência de políticas públicas ao mesmo tempo que questiona as mudanças ocorridas e se são de fato mudanças O futuro enquanto projeto é o presente enquanto projeto de futuro que compreende os traços de rompimento com o atual modelo que visa a racionalização e a necessidade de rompimento a partir de uma visão única As formas como essas diferentes concepções do presente interagem determinam a mistura específica de medo e esperança nas lutas dos oprimidos com o medo a apelar à resignação e à esperança a apelar à rebelião Santos 2019 p 195 Refletir a história da educação e a trajetória que suas práticas pedagógicas percorreram é também pensar na responsabilidade com os sujeitos a quem se destina essa educação É repensar todo silenciamento preconiza racismo e inexistências causadas em nome de um sistema colonizador excluente e desumano para superálo dando voz aos próprios inferiorizados Construir pedagogias decoloniais é portanto de libertação como as sugeridas pelos autores já citados é dar voz às existências e resistências traçadas ressignificando suas posições historicamente É reposicionarlos social cultural e politicamente reconhecendo outras formas de pensar e mundo valorizando a diversidade de saberes e culturas na formação de nossa dinâmica enquanto sociedade A U L A 2
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HISTÓRIA DA LÍNGUA PROFA DRA JÚLIANA GEÓRGIA APOSTILA Disciplina História da Língua Portuguesa Curso Letras Língua Portuguesa PORTUGUESA AULAS TEXTOS 1 1808 Introdução apresentação do componente ementa conteúdo e reflexões críticas iniciais Perigo da História Única 2 2508 Que História você quer contar Tatiana Fuly Paulina Chiziane Estereótipos românticos e ideologizados VÍDEO 3 0109 Da colonização linguística portuguesa à economia neoliberal nações plurilínguesMariani 4 0809 Da colonização linguística portuguesa à economia neoliberal nações plurilínguesMariani 5 1509 O negro e a Linguagem Fanon Linguagem e xenofobia Rajagopalan complementar 6 2209 Línguas africanas no Brasil Linguística africana 7 2909 Saberes indígenas e resistência linguística Bibliofagia O Banquete dos deuses Daniel Munduruku 8 0610 Aspectos internos Linguística Africana passado e presente reflexões sobre o contato linguístico nos Palops e a internacionalização da língua portuguesa na África Cronograma de leiturasaulas 9 1310 E se todas as línguas fossem crioulas Um olhar pós colonial sobre a linguística Dewulf Convidado Mamadu Línguas Crioulas 10 2010 Entrega e apresentação do resumo Semana Universitária atividade avaliativa 01 11 2710 Semana Universitária apresentação do trabalho 12 0311 Início dos seminários atividade avaliativa 02 GuinéBissau CaboVerde 13 1011 Moçambique Angola 14 1711 São Tomé e Príncipe e Timor Leste 15 2411 Encerramento 16 0512 Entrega do portfólio atividade avaliativa 03 A U L A 1 HISTÓRIA LÍNGUA Estudo da origem e da formação da Língua Portuguesa considerandose os processos de mudança fonética fonológica morfológica e lexical ocorridos durante a evolução do Latim para o Português bem como o estudo dos acontecimentos políticos sociais e culturais que contribuíram para a expansão dessa língua pelo mundo e para a atual configuração dos espaços lusófonos Descontruindo a EMENTA Na sua opinião essa ementa contempla o projeto UNILAB A nossa história é contada a partir de qual ótica A do colonizador A do colonizado Como nos nomeamos Qual a origem dos nossos nomes RGidentidade Gira dialógica QUESTÕES PARA DESCONTRUIR DESPRENDER 1De onde parte essa Língua Portuguesa Como ela chegou nos países africanos Como ela chegou no Brasil 3 O que significa estudar a história de uma língua 4 A nossa história de confunde com a história da nossa língua 5 Qual é a nossa história E como ela influencia em nossa identidade linguística 6 É possível separar história cultura e língua A língua enquanto fator social é constitutiva de cada ser humano A linguagem atribui a cada indivíduo bem como a sua comunidade linguística um modo particular e peculiar de perceber o mundo e seu entorno A história única cria estereótipos E o problema com os estereótipos não é que eles sejam mentira mas que sejam incompletos Eles fazem uma história tornase única história Chimamanda Adichie O perigo de uma história única Chimamanda Adichie Assista a mídia em httpswwwyoutubecomwatch vqDovHZVdyVQt566s Qual o perigo da história única Quais foram as histórias únicas que forma apresentadas a você Quais entende como verdade e quais você desconfia Ailton Alves Lacerda Krenak mais conhecido como Ailton Krenak é um líder indígena ambientalista filósofo poeta e escritor brasileiro da etnia indígena crenaque Ailton é também professor pela Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF e é considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro possuindo reconhecimento internacional Ailton Krenak fala sobre os cuidados com a memória Assista a mídia em httpswwwinstagramcomreelCuhoc Y8A1RT igshidMTc4MmM1YmI2Ng3D3D Reflita sobre a fala de Ailton Krenak para a rede Povos Indígenas via plataforma Instagram Textos para a aula 2 Que História você quer contar Tatiana Fuly VÍDEO Paulina Chiziane Estereótipos românticos e ideologizados VÍDEO O banquete dos deuses Daniel Munduruku Leitura complementar QUE HISTÓRIA VOCÊ QUER CONTAR CAMINHOS PARA UMA EDUCAÇÃO DECOLONIAL Fuly Tatiana Que história você quer contar caminhos para uma educação decolonial 1 ed Curitiba Appris 2022 134 p 23 cm Educação tecnologias e transdisciplinaridade inclui bibliografia ISBN 9786525024325 1 Educação 2 Decolonialidade I Título II Série CDD 370 PARTE 3 INVISIBILIDADE SOCIAL E O DIREITO DE EXISTIR E na atual sociedade lutamos pela igualdade Sem preconceitos sociais GRES Acadêmicos do Salgueiro 1989 Reverência ao samba que leva à dor temporária e transforma em alegria momentânea os descaminhos causados pelo exterminio em massa que dialoga com a sociedade ao longo dos tempos e resignifica a si mesmo com novas narrativas no combate à intolerância e pelo direito de existir Dito isso o caminho traçado até aqui perpassando pela colonização e seus ataques históricos determinaram aqueles que seriam os povos subalternos Refletir sobre os estragos póscoloniais que acarretam à invisibilidade social é abordar grupos e movimentos sociais que seguem na busca de mecanismos para romper com sua própria invisibilização diante da sociedade Quando Mignolo 2017 aborda Quijano ao tratar dos nós históricos criados pelo sistema para segregar povos por meio dos preconceitos estéticos por sua produção de cultura e pela forma com que se apresentam ao mundo ele denuncia também o caráter devastador dessa história o direito da não existência Sujeitos que são tratados como coadjuvantes da própria história seres imperceptíveis ainda que suas existências estejam ligadas à lógica superaturada de mercado Para Almeida 2019 é importante enfatizar que a educação colonial pressupõe uma relação de poder que está amparada pela ideia produzida histórica cultural e racialmente Dessa forma as histórias das raças é a história de como se deu toda a conjuntura política e econômica das sociedades sendo o sentido específico da ideia de raça constituído por circunstâncias históricas em meados do século XVI 41 TATIANA PEIXY Se antes desse período ser humano relacionavase ao pertencimento a uma comunidade política ou religiosa o expan so comercial burguês e da cultura renascentista abre as portas para a construção do moderno idealista filosófico que mais tarde transforma o europeu no homem universal atentar ao gênero aqui é importante e todos os demais cultures não condicionados com os sistemas culturais europeus em variações menos evoluídas ALMEIDA 2019 p 23 O projeto de transformação social iluminista tinha o homem como seu principal objeto O homem iluminista era aquele sujeito objeto de conhecimento Do ponto de vista intelectual tal projeto elaborou as estra tégias que possibilitaram comparar classificar e objetificar a humanidade a partir de suas características físicas e culturais É nesse contexto que surgirá a ideia de homem primitivo anteriormente com nomenclatura homem selvagem e homem civilizado Assim o iluminismo surgiu como um projeto liberal que deu origem posteriormente a ideias de liberdade política e econômica defendidas pela burguesia que tinha por meta garantir a liberdade e combater as ideias absolutistas e poder da nobreza A transição das sociedades feudais para a sociedade capitalista garante direitos universais e mostrouse fundamental para a constituição da civilização Civilização essa que posteriormente seria levada para os povos tidos como pro mitivos desconhecedores dos benefícios da liberdade da igualdade de direitos dentro de um Estado que se dizia democrático e reorganizador do mundo De acordo com o autor é nesse momento que se registra o início do processo de destruição e morte dos povos considerados subalternos subhumanos não civilizados na medida em que o movimento de le vamento de civilização e racionalidade para grupos considerados ainda irracionais e distantes do processo civilizatório promove o que se denomina colonialismo O perigo de uma história única retrata como nosso conhecimento é formado e formatado e que tipo de narrativas permitiam nosso consciente e subconsciente que nos levaria a criar a imagem que temos da cota por desejamos com base no desejo do outro no desejo de quem nos como que esse é o único desejo possível que fora dele não há alternativa Adichie 2019 adverte para uma literatura única e universal não pluriversal em que as histórias só dão conta de um tipo de sujeito o estereótipo eurocêntrico Figura que se impõe ao imaginário do outro e o invisibiliza imprimindo nesse sujeito seu próprio imaginário Tal artifi cio opera na naturalização do imaginário do invasor na subalternização 42 dos povos não europeus Com isso aposta na própria negação ou no desco nhecimento e até esquecimento de processos históricos sociais cognitivos e culturais por parte desses povos Oliveira e Candau 2010 corroboram esse pensamento ao denunciarem Essa operação se realizou de diversas formas como a sedu ção pela cultura colonialista o fetichismo cultural que o europeu cria em torno de sua cultura estimulando forte aspiração à cultura europeia por parte dos sujeitos subal ternizados Portanto o eurocentrismo não é a perspectiva cognitiva somente dos europeus mas tornase também do conjunto daqueles educados sob sua hegemonia OLIVEIRA CANDAU 2010 p 19 É com base nessa prerrogativa que abordo o perigo de uma única história posta para as gerações A mentira e o perigo das distorções da verdadeira história dos povos que acabam por colocar jovens e adultos desde a infância debruçados em leituras hegemônicas e deslocadas de sua cultura por meio dos quais são inseridos na literatura e em novos mundos porém sem a consciência de que pessoas de sua raça e lugar social podiam ser também sujeitos reais e legítimos dessas histórias Barreira que se rompe à medida que leitor e contexto se encontram Eu amava aqueles livros americanos e britânicos que lia Eles despertaram minha imaginação Abriram mundos novos para mim mas a consequência não prevista foi que eu não sabia que pessoas iguais a mim podiam existir na literatura O que a descoberta de escritores africanos fez por mim foi isto salvoume de ter uma história única sobre o que são os livros ADICHIE 2019 p 14 Ainda que de classe média alta e com pai professor e mãe administra dora Adichie 2019 relata a experiência vivida quando fora fazer faculdade nos Estados Unidos Ao encontrar sua colega de quarto tal foi sua surpresa ao ser questionada onde havia aprendido inglês tão bem sendo o inglês sua língua materna sobre suas músicas tribais de referência ou como sendo africana sabia usar um fogão artifício de uma sociedade moderna A autora relata que essa experiência aponta uma história única a de a que a África traz consigo apenas um legado as mazelas de um povo subhumano incapaz de conhecer para além de sua própria cultura Tal pensamento reforça a ideia de homogeneização dentro do senso comum e reforça a ideia de que um determinado povo mesmo sendo diverso 43 múltiplo e plural traz consigo apenas uma única cultura no singular Ideia que é resultante de um processo de aprisionamento e padronização das mentes de unificação cultural e que na prática retrata a imposição de uma cultura sobre outras Então o olhar que se tem da história contada de geração a geração como ciência do conhecimento embasada na pesquisa e na investigação nada mais é que a história maquiada romantizada por uma elite comprometida com os princípios coloniais que ditam hierarquicamente dentro da lógica capitalista e relação de poder os superiores e os subalternizados dentro das sociedades Tal conceito não vinga como realidade ao considerarmos a constituição das sociedades e vislumbrarmos seu vasto repertório cultural e social Constase aqui que as relações de poder foram forjadas e ainda são mediante o discurso dos que detêm os meios necessários para controlar o que deveria ser dito seja por notícias grupos organizados notícias tendenciosas Assim nasce um perigoso fenômeno que podemos chamar de história única A relação exposta é naturalizada de podersersaber em questão e denota a crença de que povos são superiores a outros e que são incapazes de construir qualidade e equidade assim impostos Adichie 2019 expõe ainda que não possuía consciência de sua africanidade e que compreendia a ideia de sua colega americana ate bemintencionada que relaciona a Africa quando vislumbrava o que de fato era passado sobre seu continente ao restante do mundo por parte da literatura ocidental um lugar com paisagens lindas pobres sob a amaldicoada com pessoas incapazes de se articularrem esperando a salvacao por respeito na miséria incapazes de passar a vida inteira ouvindo uma única história Quando se ou de um outro povo diferentes versões dessas histórias tornamse difíceis e no mesmo contexto a autora acrescenta que é assim que se cria uma história única mostre um povo como uma coisa uma coisa só sem parar e é isso que esse povo se torna ADICHIE 2019 p 22 equidade e contribuição social mas que passaram a ser vistos pelo mundo como causadores da desordem pública vândalos subalternizados e incapazes de serem inseridos em sociedade Conceitos incorporados por uma população cada vez menos dona de seu próprio pensar e fiel aos meios de comunicação que estão a serviço de um grupo privilegiado Não apenas compreender mas também enfrentar os efeitos colaterais do perigo de uma história única que se vincula intrinsecamente ao racismo e ao preconceito é fundamental na construção de um espaço mais justo de equidade Nesse contexto precisamos contestar o papel da mídia enquanto serviço público na construção de narrativas e conceitos que vão permeiar o imaginário popular sendo importante instrumento de manutenção dos estigmas raciais e sociais e na vinculação desses grupos e movimentos subalternizados a violências e vandalismos mas nunca a luta por direitos e justiça social dentro de uma sociedade que precisa construir uma cultura pública comprometida com a democracia Fazse imperativo ressaltar que toda disparidade social racial e cognitiva perpassa pela relação de poder É impossível falar de história única e relações de homogenização existentes nas sociedades sem fazer uma análise crítica das estruturas de poder no mundo chamadas pela autora de mkali que significa ser maior do que o outro Relação a qual estabelece que a legitimação das histórias contadas perpassa pela lógica do poder em que o poder fará dessa história não apenas um enredo mas também história definitiva incontestável Freire 1996 colocanos diante do desafio de uma prática pedagógica pesquisadora e questionadora que testemunhe o que é dito e conceitua por meio da intercomunicação dialógica Ressalta ainda a necessidade de educadores e educandos se posicionarem criticamente ao vivenciarem a educação superando as posturas ingênuas impostas por um sistema colonizador e uma educação estática e monorracional Ainda sobre o poder da palavra e as histórias que são contadas Rufino 2019 diz que para além das lógicas do colonialismo emergem outras vozes que transgridem os limites impostos e exigem o direito de existir e a constituição de um novo mundo possível Logo Adichie 2019 reivindica uma narrativa que contemple todas as histórias de um continente que é marcado tanto por dores e terrores como todos os outros territórios do mundo mas que também é sujeito de tantas outras histórias responsáveis pela constituição do mundo sociedade e cultura Histórias que são invisibilizadas por uma lógica de poder racista que não admite o direito de existir do que é diverso que suprimi suas identidades e subjetividades que rouba dignidades Nessa perspectiva única a autora expõe que pela falta na diversidade de mídias e conteúdos as histórias múltiplas e legítimas mexicanos são vistos como imigrantes pobres são miseráveis nigerianos não leem literatura e enfatiza a urgência de contarmos histórias a partir de múltiplas narrativas que não as impostas pelo modelo eurocêntrico As histórias importam Muitas histórias importam As histórias foram usadas para explorar e caluniar mas também podem ser usadas para empoderar e humanizar Elas podem despedaçar a dignidade de um povo mas também podem reparar essa dignidade despedaçada ADICHIE 2019 p12 Diversos autores inclusive esta que vos fala esclarecem que a opção descolonial não tem como premissa ser única alternativa diante da necessidade de se confrontar o sistema colonial que opera na modernidade pois expõe as diversas trajetórias que já coexistem e sempre coexistirão para que essas tracem seus caminhos sejam de conflito ou de diplomacia porque não há mais lugar neste mundo para uma apenas uma trajetória reinar sobre outras MIGNOLO 2017 p 13 Mignolo 2017 convidanos a refletir sobre o espaço e o tempo em que os saberes são construídos e sobre como as histórias locais são deslocadas dentro da ação e prática educacional em que o localismo reivindica seu próprio espaço de atuação e voz O autor faz um paralelo com o pensamento de Kant o cosmopolitismo e a opção descolonial Acrescenta que o cosmopolitismo em Kant foi fundado dentro das margens e sob domínio europeu para o restante dos povos já o futuro nos exige uma opção que vá de encontro a esse pensamento linear e dominante para dar origem a um localismo cosmopolita que integre Estados e nações para a construção de um mundo verdadeiramente cosmopolita contudo pluriversal e não mais universal Muito precisa ser feito mas a crescente sociedade política global indice que as opções descoloniais aumentaram exponencialmente e assim contribuirão para remapear a fórmula estrada para qual a civilização ocidental e a matriz colonial de poder nos levaram MIGNOLO 2017 p 14 Propõese a construção de um pensamento crítico outro que também como referencial princípio ponto de partida as experiências e histórias dos sujeitos que protagonizaram os desmandos da colonialidade Que se faça a conexão o cruzo de todas as formas de pensamento crítico e questionador dentro de uma perspectiva decolonial de educação Nosso patrono da educação e meu primeiro referencial na busca por uma educação libertadora e crítica Freire 1996 afirma que a prática docente deve estar compactuada com o diálogo e uma ação pedagógica que considera epistemes e saberes múltiplos nas abordagens educativas Ressalta ainda a importância do questionamento e da criticidade educacional que conscientizam em relação à colaboração dos múltiplos sujeitos e suas produções de conhecimento e fazem com que compreendamos a máxima de que ensinar não é transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção FREIRE 1996 p 22 Por se acreditar no estado de rebeldia provocado pela curiosidade epistemológica aguçada propõese uma educação de fato democrática que vê na reflexão crítica que a tudo questiona e a nada se submete caminho para transcender a lógica colonial de condicionamento e submissão Conhecimentos são múltiplos e inacabados assim como os sujeitos Desse modo a leitura do mundo deve estar comprometida em possibilitar que as contextualizações que se criam dentro do aparato educacional deem conta da pluralidade do ser e permitam que outro seja sujeito de si transcendido o que é dito conceituado exposto para que o ato de ensinar e aprender não seja estático mas libertador Abordo aqui a importância dos gestos do professor e de como essas ações marcam de forma significativa a vida de um aluno e contribuem para sua autoconfiança autoestima e capacidade intelectual na medida em que o professor abre possibilidade para que o aluno apresente seu mundo de cultura com o qual ele se identifica Este saber o da importância desses gestos que se multiplicam diariamente nas tramas do espaço escolar é algo sobre que teríamos de refletir seriamente É uma pena que o caráter socializante da escola o que há de informal na experiência que se vive nela de formação ou de formação seja negligenciado Falase quase exclusivamente do ensino de conteúdos ensino lamentavelmente entendido que sempre entendido como transferência do saber FREIRE 1996 p 44 Uma vez que historicamente pessoas aprendiam em seus grupos sociais mediante as experiências em seu dia a dia e assim perceberam a necessidade e a possibilidade de se obter novas maneiras de aprender e ensinar acreditar em uma educação que se dá de modo unilateral seria um erro Educar não é adestrar pessoas mas ensinar a aprender e pensar apostando na solidariedade como princípio norteador da ação docente e estimando as práticas de desumanização que não acreditam na mudança e na transformação Valorizam as experiências informais advindas das ruas dos trajetos dos pátios do cruzamento de vários gestos de todos aqueles envolvidos direta ou indiretamente no processo ensinoaprendizagem e compreendem que educações emergem de todos esses ambientes e relações Assim educar é reconhecer e incorporar ao currículo formal aos conteúdos didáticos pedagógicos todo questionamento toda informação e todo conhecimento que os alunos trazem para o espaço físico da escola Ao levar em consideração a vida progressa do aluno e suas experiências diárias luzescontra o silenciamento dos sujeitos e a tentativa de minimizar seus saberes Proporcionar experiências pedagógicas repletas de desafios e curiosidade e acreditar em uma pedagogia solidária e colaborativa regida pela amorosidade e esperança capaz de superar o falso ensinar e o falso aprender de maneira crítica e questionadora Oliveira e Candau 2010 ao analisarem de que forma podemos refletir a partir das ruínas deixadas pela colonialidade trazem como possibilidade pedagógicas as brechas e margens deixadas pela colonialidade pelas quais podemos agir mirando estratégias educacionais dialógicas Esse enfoque crítico que se constituiu como um projeto contrário ao racismo epistêmico e à colonialidade de diversas existências exprime a intencionalidade de pluralizar espaços e epistemologias pois assim se dará dignidade a seres humanos excluídos de todos os processos de produções de culturas identidades e existências Portanto decolonialidade é visibilizar as lutas contra a colonialidade a partir das pessoas das suas práticas sociais epistêmicas e políticas A decolonialidade representa uma estratégia que vai além da transformação da decolonialidade ou seja supõe também construção e criação Sua meta é reconstrução radical do ser do poder e do saber OLIVEIRA e CANDAU 2010 p 25 Toda a problemática em torno da educação deve visar à superação do padrão eurocêntrico centralizador e de dominação o sistema educacional pautados na dialogicidade pedagógica no respeito pelas diferenças no princípio de equidade e justiça Em concordância com esse pensamento e a partir do reconhecimento da pluralidade da sociedade brasileira evidenciamse os avanços de garantias em lei do ensino e reformas educacionais que se deram por meio das lutas de movimentos sociais e do movimento negro Onde mora a senhora liberdade Não tem ferro nem feitor Amparo do rosário ao negro Benedito Um grito feito pele de tambor Den no noticiário com lágrimas escrito Um rito uma luta um homem de cor E assim quando a lei foi assinada Uma lua atordoada assistiu fogos no céu Aureo feito o ouro da bandeira Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel Meu Deus Meu Deus Se eu chorar não leve a mal Pela lua do candeieiro Libertei o cativeiro social GRES Paraíso do Tuiuti 2018 Tais reinvindicações deram origem à Lei nº 10639 de 9 de janeiro de 2003 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação a qual incluiu no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da presença da temática História e Cultura AfroBrasileira e Africana e afirma Art 26A Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio oficiais e particulares tornase obrigatório o ensino sobre História e Cultura AfroBrasileira 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos a luta dos negros no Brasil a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social econômica e política pertinentes à História do Brasil 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura AfroBrasileira serão ministrados no âmbito do todo o currículo É importante informar que em 2008 o Art 26A foi atualizado pela Lei nº 11645 passando a vigorar o seguinte texto Art 26A Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio públicos e privados tornase obrigatório o estudo da história e cultura afrobrasileira e indígena Redação dada pela Lei nº 11645 de 2008 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura afrobrasileira atribuindo importância à formação da população brasileira a partir de dois grupos ét nicos tais como o estudo da história da África e dos africanos a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil a cultura negra e indígena brasileira e o papel que desempenharam na formação da sociedade nacional bem como suas contribuições nas áreas social econômica e política pertinentes à história do Brasil Redação dada pela Lei nº 11645 de 2008 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afrobrasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras BRASIL 2008 Contudo mesmo com esses avanços a realidade mostra uma política de resistência que insiste em suprimir sujeitos suas histórias e produções culturais abrindo caminho para a necessidade do debate em torno da superação desse modelo por meio de uma educação que tenha como base uma pedagogia decolonial Rufino 2019 reivindica uma pedagogia que exurge a educação de forma encarnada feita por corpos seres potências e diferentes formas de sentir pensar e fazer o mundo Compreende como problemática pedagógica todas as interações sociais que fazem parte do cotidiano dos sujeitos suas experiências vivências e conhecimentos O autor argumenta a respeito da educação que vigora invisibilizadora das educações advindas de outros espaçostempo que não os escolares que atacam e silenciam territórios esquinas ruas experiências gramáticas saberes e epistemas Nesse sentido propõese uma pedagogia denominada Pedagogia das Encruzilhadas que se desenvolve sobre práticas não excludentes que acredita nas mais variadas narrativas e formas de educação Tratase de validar os diferentes modos de educação praticados nos mais variados espaços como terreiros ruas rodas de samba jongo capoeira uma vez que tal como a educação os sujeitos são amplos e diversos Dentro dessa perspectiva a abordagem pedagógica apresentada elucida estratégias que operam na expansão do corpo e suas múltiplas possibilidades de ver sentir e compreender o mundo São portanto ações de fresta como denomina o autor que cruzam tudo que existe e os refaz de forma transgressora A pedagogia proposta carrega em seu nome seu princípio primordial Operar a partir da lógica de encruzilhada é operar a partir da pluralidade das formas e existências sendo esse projeto não de oposição absoluta às epistêmicas ocidentais em que um modo de educação absolutizese sobrepondose ao outro mas de possibilidade outra dialógica possibilitadora Uma pedagogia que parte da premissa de que existem diversas formas de educação e contextos educativos e que se deixa encantar pelos cruzos que está comprometida com o trabalho dialógico diante de um sistema conservador e antidemocrático e que visa a justiça social e cognitiva Mais uma vez a meta das opções descoloniais não é de dominar mas de esclarecer ao pensar e agir que os futuros globais não poderão mais ser pensados como um futuro global em que uma única opção é disponível afinal quando apenas uma opção é disponível Opção perde inteiramente o seu sentido MIGNOLO 2017 p 14 Além disso Rufino 2019 orienta práticas e tece experiências para fundamentar uma prática pedagógica que esteja comprometida com o outro vindo assim a produzir memórias conhecimentos e aprendizagens multilutas O alinhavar de todas essas experiências efeitos do cruzo que ocorrerá dentro do espaçotempo escolar ou não suas significações e interpretações é o que se deve entender por educação Esses cruzos provocam os efeitos mobilizadores para a emergência de processos educativos comprometidos com a diversidade de conhecimentos No cruzo marcamse as zonas de conflito as zonas fronteiriças zonas propícias às relações dialógicas de inteligibilidade e coexistência RUFINO 2019 p 80 É importante ressaltar que o próprio sentido da palavra pedagogia seu conceito e denominação foi reduzido a um modo de ensinar Tal denominação não dá conta da especificidade dos seres de seus modos de produção próprios e das experiências de aprendizagem Portanto seus diversos compreendem ações dialógicas e pedagogias diversas Freire 2005 chamanos para a reflexão ao analisar os movimentos principalmente dos jovens nas sociedades que se rebelam manifestam e revelam suas necessidades e as peculiaridades existentes nos lugares de onde saíram Isso é um convite para que façamos uma imersão nesse campo plural em que as preocupações dos sujeitos são em estar com o mundo e não apenas no mundo Mais uma vez os homens desafiados pela dramaticidade da hora atual se propõem a si mesmos como problemas Descobrem que pouco sabem de si de seu pôrse no mundo descobrem que pouco sabem de si e se inquietam por saber mais Estar aí no reconhecimento do seu pouco saber de si uma das razões da tragédia descoberta por si mesmo se fazem problemas a eles mesmos Indagam respondem e suas respostas as levam às novas perguntas O problema de sua humanização deve haver sido e um ponto de vista axiológico o seu problema central assim como hoje carregar de preocupação individual FREIRE 2005 p 53 Tal reflexão se dá na medida em que esses grupos e movimentos traziam a lógica de consumo questionam e denunciam as burocracias dos sistemas que não os abrangem e a transformação das universidades onde ainda podemos constatar a rigidez das relações professoraluno o autor afirmação dos homens como sujeitos nos processos de tomada de decisão Ratifica que reconhecer o caráter envelhecido das instituições é necessariamente constatar todo o processo de desumanização e a partir disso formar outras possibilidades que priorizem a sua humanização Dentro desse contexto humanização e desumanização são duas possibilidades reais dentro da história de sujeitos como seres inconclusos conscientes de sua inconclusão vão lutar contra as formas de opressão relacionadas a eles como as diversas injustiças a exploração a opressão parte dos opressores e desumaniza a ambos Os opressores têm anseio por generosidade Um projeto de caridade que ao realizar suas boas ações mantém também a ordem injusta social A ordem social injusta é a fonte geradora permanente dessa generosidade que se nutre da morte do desalent o e da miséria FREIRE 2005 p 34 Desse modo a grande generosidade estaria na luta para que cada vez menos os sujeitos precisassem estender suas mãos em busca de caridade em que prevalecessem mãos transformadoras do mundo Freire 2005 chamanos a atenção para a distorção que se cria em torno da luta dos oprimidos para saírem de seus lugares subalternos Ao lutarem por sua humanidade e suas diferentes formas de recriála são vistos perversamente como opressores ou os opressores dos opressores Portanto é preciso que se reconscientize que a busca por liberdade e contra a opressão é uma luta por restauração da humanidade de ambos em que ao libertaremse de seus algozes os libertam também de serem opressores A questão está em descobrir quem acolhe os opressores em si oprimidos participando de seus próprios processos invisibilizadores e de desumanização Somente na medida em que se descobriram hospedeiros do opressor poderão contribuir para o pertencimento de sua pedagogia libertadora FREIRE 2005 p 34 Apenas reconhecendo quem são seus opressores os sujeitos conseguem movimentarse de forma a engatar uma luta organizada pela sua libertação Isto é à medida que passam a acreditar em si mesmos e rompem com a convivência harmoniosa com um sistema de opressão É importante que se crie consciência crítica nesses sujeitos pois quando se pretende a libertação dos sujeitos sem que esses sejam autores dessas ações seguimos transformandoos em objetos massa de manobra Dai a necessidades de esses sujeitos se reconhecerem historicamene e sentiremse mais que podem mais Freire 2005 diz que a reflexão quando é de fato verdadeira e crítica leva a uma prática a uma ação transformadora capaz de construir uma nova razão dessa antiga consciência oprimida e gera revolução É preciso que acreditemos nos sujeitos que foram subalternizados como seres capazes de construir diálogos necessários para a ação libertadora Devemos traçar um caminho que não tenha como principal demanda a ação de libertar o outro mas o diálogo com elesnão para eles Precisamos estar convencidos de que o convencimento dos oprimidos de que devem lutar por sua libertação não é doação que lhes faça a liderança revolucionária mas resultado de sua conscientização FREIRE 2005 p 61 E ainda Não há outro caminho senão o da prática de uma pedagogia humanizadora em que a liderança revolucionária em lugar Ao argumentar sobre educação bancária e seus pressupostos Freire 2005 é taxativo na crítica em relação à educação tradicional que no lugar de comunicarse faz comunicados e depósitos nos educandos em relação não dialógica em que os sujeitos não são sujeitos de conhecimentos ou produtores desse mas meros receptores de comunicados currículos formalidades Ao receberem pacientemente as informações passadas pelo sistema memorizam e repetem Tal concepção bancária da educação promove uma ação mecânica que oferece aos educandos depósitos para que possam guardálos arquiválos repetílos quando solicitado Dentro de uma visão bancária de educação o saber é uma doação uma espécie de caridade dos que julgam saber e assim foram legitimados pela história aos que julgam nada saber os que foram subalternizados e ocultados A abordagem denunciada denota a pretensão dos opressores que é de transformar a mentalidade do oprimido para que esse pense e aja como outro quer e não a situação em que esse se encontra Quanto mais se adquirem novos saberes em maior condição ficam e não se transforma a maneira de viver pois a estrutura opressora e seus valores de injustiça desigualdade e preconceitos permanecem pois se arraigam nos educadores Se para a concepção bancária a consciência é uma peça em que se entrega de forma pacífica os conteúdos disciplinares impostos concluise que ao educador não cabe nenhuma outra função que não seja a de disciplinar a entrada do mundo exterior e suas verdades absolutas nos educandos e não preparar os educandos para adentrar ao mundo levando consigo a criticidade que esse existe para pensar e agir sobre ele Aqui se denota que o trabalho de educador e educando dentro de um sistema homogêneo e injusto será também o de limitar o mundo e suas reproduções de forma a não questionar o que se ouve e aprende sobre ele Ao professor cabe encher os educandos de conteúdos vazios Ao educando cabe receber os depósitos que se limitam a falsos saberes mas que educadorsistemasociedade legitima como verdadeiros saberes A concepção e a prática de educação que vimos criticando se instauram como eficientes instrumentos para este fim Dai que um dos seus objetivos fundamentais para este fim dele não estejam advindos os frutos do que realizam seu trabalho não é de conscientizar mas sim de pastorear e não se tornam intérpretes mas sim servos do que não são Portanto o autor salienta que é impossível promover uma educação de fato libertadora sem o necessário rompimento com o sistema que aí está posto Fazse necessário então que superemos os esquemas verticais de educação que têm como premissa a falta de diálogo e a absolutização do saber Desta maneira o educador já não é o que apenas educa mas o educado também educa FREIRE 2005 p 79 Quando Freire 2005 aborda o sujeito como um ser inconcluso consciente de sua inconclusão ele sugere também seu movimento constante na busca do ser mais que mero espectador das políticas criadas para ele e não por ele e suas assistências que não promovem mudança social De fato é aí que podemos encontrar os raízes e a base para a revolução da educação como manifestação humana na inclusão dos homens e na consciência que os sujeitos dela têm travamos uma educação permanente na razão da inconclusão dos homens e da crença na mudança da realidade A reflexão proposta está na relação dos sujeitos com o mundo que os cerca que se dá de forma simultânea em que consciência e mundo estão interrelacionados Dessa forma educadores e educandos como centro do processo de aprendizagem numa relação dialógica de troca contínua superam o intelectualismo que causa alienação o autoritarismo e a falsa consciência de mundo Dentro dessa perspectiva o mundo se torna o mediador dos sujeitos da educação o acontecimento para que a ação transformadora ocorra e que dela venha a humanização dos sujeitos desse processo Motivo pelo qual não podemos pensar a educação problematizadora como algo acordado com o opressor Uma educação que promova libertação só poderá ser realizada pela transgressão na medida em que a ordem opressora não aceitaria tampouco acataria suas indagações e questionamentos para aplicála Dentro desse processo de revolução educacional a educação não pode se submeter ao sistema bancário para que perpassando por ele deixe de sêlo mas tem de ousar a transgredilo Freire 2005 vê na dialogicidade a essência da educação como prática da liberdade considerando a palavra reflexãoaçãopráxis Não há palavra verdadeira que não seja práxis FREIRE 2005 p 89 E acrescenta Esta é a razão porque não é possível o diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os que não a querem entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se acham negados deste direito É preciso primeiro que os que assim se encontram negados no direito primordial de dizer a palavra reconquistem esse direito provindo e este assalto desumanizante continue FREIRE 2005 p 91 Dentro desse contexto a palavra o diálogo é uma exigência existencial pois é por meio dela que os sujeitos ganham significação enquanto sujeitos Quando isso lhes é retirado retirase junto o direito a existir A sociedade de modo geral precisa ter atenção a como esse diálogo e a relação dialógica são produzidos pois não existe diálogo sem um verdadeiro amor no mundo e nos homens amor esse que é ação dialógica constante ato de criação e recriação de si mesmo É nessa essência de pensamento que estabelecemos que não há educação dialógica e emancipadora na relação de dominação Nesta o que há é patologia de amor sadismo em quem domina masoquismo nos dominados FREIRE 2005 p 92 Amor é ação permeada pela coragem e pelo comprometimento com os sujeitos que fazem parte do processo de aprendizagem comprometimento com sua causa maior sua libertação Portanto um comprometimento dialógico que por ser dialógico é amoroso não arrogante e cheio de certezas absolutas incapazes de enxergar o outro Arroyo 2014 enfatiza que o repensar é a principal exigência para que a escola pública e o sistema educacional brasileiro adotem práticas democráticas O território das teorias e práticas pedagógicas acolhe as representações sociais dos subalternizados e constata que a educação colabora para a manutenção da segregação e inferiorização desses grupos incentivando didáticas currículos e gestão que não contemplam todos os sujeitos e suas diversidades Tal modelo contribui com a padronização de um sistema que suprime existências Contudo se durante muito tempo o que tínhamos enquanto sociedade eram existências esquecidas levadas a aceitar o lugar subalterno sem lugar de fala isso muda com a consciência de não mais comodismo ou medo Explica que esses corpos por tempos subjugados à medida que reagem não mais se acomodam ou se amedrontam diante das estruturas segregadoras As presenças afirmativas reivindicam espaço e reconhecimento legítimos questionam o Estado sobre estratégias que reconheçam suas presenças e suas histórias Conclamam articulações públicas que desocultem seus corpos seus conhecimentos suas culturas que rompam com as inexistências fomentadas que apresentem novas pedagogias Mais que isso esses coletivos exigem que sejam sujeitos políticos e protagonistas de políticas afirmativas que refletirão sobre seus corpos Solicitam que os deixe apresentar outras educações outras epistemes outras lógicas pedagógicas que foram consideradas inferiores porque diferentes da lógica colonial Dialogar com eles e não apenas para eles requer reconhecer que políticas afirmativas e pedagogias não podem ser construídas sem eles já que serão feitas para eles A participação e o debate dos termos dessas políticas e os padrões de suas afirmações têm de ser pensados e discutidos por eles enquanto sujeitos e não como destinatário final O caráter afirmativo de suas presenças coloca na arena política nos órgãos de formulação análise avaliação de políticas a necessidade de passar essas políticas como pensatórias de desigualdades e de carências para políticas afirmativas da diversidade Um aprendizado político de extrema relevância para os diferentes Uma outra consciência de suas identidades coletivas de destinatários agradecidos de políticas benevolentes do Estado e dos gestores e analistas para serem sujeitos políticos de políticas ARROYO 2014 p 135 Arroyo 2014 chamanos a atenção para como age o padrão colonizador que ao classificar seres humanos instaura a inferiorização natural e nega suas existências Uma vez tendo sua existência negada seus valores sua cultura sua história também lhe são negados É importante abordar outro aspecto crítico que emerge das teorias pedagógicas que consiste na descrença na possibilidade de educação desses sujeitos Tal crença além de gerar práticas pedagógicas inferiorizantes isenta o sistema educacional de suas responsabilidades culpabilizando as vítimas desse sistema Dentro da lógica colonizadora não é o sistema que por ser exclusivo os inferioriza e os reprova mas eles próprios na condição de inferioridade natural o fazem Sendo assim a naturalização de todas as suas condições acaba por legitimar toda a barbarie Corrigir a natureza desses seres subjugados e inferiorizados seria a finalidade principal da educação Realizar a correção de sua irracionalidade e inferioridade de origem Embora as antip pedagogias tenham deformado e causado marcas profundas outras Pedagogias resistem Tais pedagogias desconstróem o caráter racista dos padrões de poder segregador de espaços inferiorizador de identidades e ao apontar o racismo como estruturante revelam a perversidade do sistema Dentro desse contexto em que persiste o profundo esmagamento das identidades e das subjetividades Santos 2019 chamanos a atenção para a experiência por meio dos sentidos uma vez que não é possível que o conhecimento se dê de outra forma que não pela experiência profunda entre sujeitos e os sentidos sentimentos que lhes são despertados através da experiência que nos abrimos para o mundo uma abertura que é concedida apenas pelos sentidos SANTOS 2019 p 237 Uma vez que é pelos sentidos que nos fazemos sujeitos do mundo é imprescindível que as epistemologias que chegam até os sujeitos dialogue com suas experiências de vida Dai porque o autor reivindica epistemologias do sul pois as do norte dão pouca atenção aos sujeitos que não as compreendem É urgente a conscientização de que o conhecimento é corporalizado como tal requer ação corpórea que abranja todos os sentidos possíveis ao sujeito e suas combinações Apenas assim dotados de experiência ampla e diversa que compreenda emoções sensações percepções validaremos a profundidade que existe no sujeito Candau e Russo 2010 vão dizer que se faz portanto necessário que se promovam o reconhecimento e a validação de diversos saberes porque legítimos porque apagados ao longo da história Um diálogo que permita diferentes formas de pensar agir e fazer o mundo que compreenda e valide diferentes formas de conhecimento e combate as mais várias formas de violências produzidas no intuito de desumanizar que construa novos mundos possíveis e projetos outros e de sociedades outras Santos 2019 introduz o conceito de desconcolonização cognitiva e sugere duas problemáticas principais que se pautam na desconolonização do conhecimento e das metodologias pelas quais esse conhecimento é produzido como também na produção de teorias que levam em consideração a mistura de conhecimentos culturas e subjetividades dos sujeitos O autor denuncia a ciência ocidental moderna como um instrumento fundamental para que a dominação moderna se expansisse e se consolidasse Portanto questionálas por meio de epistemologias do sul isto é de perspectivas outras consiste em questionar seu caráter colonial que ao mesmo tempo que produz esconde zonas de não ser em que sujeitos são desconhecidos desvalorizados e submetidos a um modelo patriarcal e capitalista Nesse sentido que não podemos falar em desconolonização sem falar de despatriarcalização e desmedicalização as ciências sociais Tais fundamentos estão na base de um epistemicídio que possui diversas faces As epistemologias do sul pressupõem trabalho teórico e metodológico que consistem em desconstruir os conceitos fundamentados em raízes eurocêntricas tendo como ponto de partida a reconstrução a legitimação de saberes que por vezes não são científicos mas artesanais e que emergem a partir das lutas travadas contrárias à dominação O colonialismo se recusa a reconhecer os sujeitos em sua integralidade e dessa maneira pautado no capitalismo no patriarcalismo e em seus modos de subjugação desvaloriza as trajetórias de tudo que é diferente ao modelo de dominação Não termina com o fim do processo histórico compreendido como colonialismo Ao contrário perda a term como principal aliado o capitalismo sem o qual não seria possível promover uma articulação que exercesse domínio e exploração do outro Do mesmo modo o termo descolonização não tem a ver apenas com independência política mas referese antes a um amplo processo histórico de recuperação ontológica ou seja o reconhecimento dos conhecimentos e a reconstrução da humanidade Inclui é claro o direito inalienável de um povo de ter a sua própria história e de tomar decisões com base na sua própria realidade e na sua própria experiência Santos 2019 p 164 Os conhecimentos que nascem na luta precisam ser validados em diversas dimensões inclusive na esfera cognitiva pois a avaliação desses conhecimentos tornase a avaliação da própria luta de seus processos de suas estratégias e de seus resultados Isso significa que o conhecimento Os conhecimentos nascidos na luta são o reflexo do apoio e ao mesmo tempo constituem uma reflexão sobre a ação Entre muitas outras facetas esse reflexocompresente traz consigo uma dada reflexão que aponta uma mas três tipos de possibilidades reflexivas que podem ser categorizadas porque o presente tem como objetivo principal romper com um passado de injustiças e dominação histórica ou seja o presente enquanto ato de protesto O presente enquanto ação como tarefa a ser cumprida na medida em que questiona a forma com que se luta na defensiva ou no ataque por abrandência de políticas públicas ao mesmo tempo que questiona as mudanças ocorridas e se são de fato mudanças O futuro enquanto projeto é o presente enquanto projeto de futuro que compreende os traços de rompimento com o atual modelo que visa a racionalização e a necessidade de rompimento a partir de uma visão única As formas como essas diferentes concepções do presente interagem determinam a mistura específica de medo e esperança nas lutas dos oprimidos com o medo a apelar à resignação e à esperança a apelar à rebelião Santos 2019 p 195 Refletir a história da educação e a trajetória que suas práticas pedagógicas percorreram é também pensar na responsabilidade com os sujeitos a quem se destina essa educação É repensar todo silenciamento preconiza racismo e inexistências causadas em nome de um sistema colonizador excluente e desumano para superálo dando voz aos próprios inferiorizados Construir pedagogias decoloniais é portanto de libertação como as sugeridas pelos autores já citados é dar voz às existências e resistências traçadas ressignificando suas posições historicamente É reposicionarlos social cultural e politicamente reconhecendo outras formas de pensar e mundo valorizando a diversidade de saberes e culturas na formação de nossa dinâmica enquanto sociedade A U L A 2