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Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 127 EVIDENCIALIDADE E CONSTRUÇÃO DE SENTIDO EM DISCURSOS POLÍTICOS Izabel Larissa Lucena UFCCapes RESUMO este trabalho tem como objetivo investigar a expressão da evidencialidade e sua relação com os graus de comprometimento dos oradores com os conteúdos enunciados na construção da argumentação no discurso político Para tal fim analisamos trinta discursos proferidos no Pequeno Expediente de Sessões Ordinárias da Assembleia Legislativa do Ceará durante o período de 2005 2006 Adotamos principalmente a base teórica funcionalista em que o usuário assume papel central na investigação a descrição linguística inclui portanto referência ao falante ao ouvinte e a seus papeis e estatutos definidos na interação verbal DIK 1989 Os resultados obtidos revelam que na construção da argumentação no discurso político predomina o uso de marcas evidenciais do tipo relatado de fonte definida comprovando que o político prefere não se comprometer com a informação reportada assegurando ao interlocutor a possibilidade de avaliar por si só a validade da informação de acordo com a qualidade da fonte expressa PALAVRASCHAVES Evidencialidade Discurso Político Gramática Funcional ABSTRACT the present research aims at investigating the expression of evidentiality and its relation to the degrees of public speakers commitment with the contents uttered in political speech argumentations construction Thirty speeches delivered in the Small Exp edient of Ordinary Sessions in the State legislature of Ceará from 2005 to 2006 consisted the corpus of analysis We adopted mainly the functionalist theoretical basis in which the user assumes a central role in the inquiry the linguistic description includes therefore reference to the speaker to the listener and to their roles and statutes defined in the verbal interaction DIK 1989 The results reveal that in political speech argumentations construction the use of evidences marks from the cited defined type of source prevails proving that the politician prefers not to commit himself to the reported information assuring to the interlocutor this responsibility to evaluate the validity of the information in accordance with the quality of the expressed source KEYWORDS Evidentiality Political Discourse Functional Grammar 1 INTRODUÇÃO Neste artigo procuramos identificar e analisar os efeitos de descomprometimento provocados pelos diferentes tipos de evidencialidade e sua relação na construção da argumentação no discurso político Analisamos essa categoria linguística quanto aos aspectos sintáticos meios linguísticos posição da expressão evidencial no enunciado semânticos tipo de fonte da informação natureza da evidência o que é considerado como uma estratégia de veiculação da informação no discurso e pragmáticos graus de comprometimento do político com o conteúdo de seu discurso imagens por ele suscitadas no processo argumentativo funções discursivas assumidas pelas marcas evidenciais A evidencialidade é entendida como um fenômeno conceptual funcional inerente às línguas naturais GALVÃO 2001 Ou seja todas as línguas apresentam formas de Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 128 manifestação ou referência à fonte da informação LAZARD 2001 Essa noção abstra ta de evidencialidade só é possível porque o modelo de gramática no qual este estudo se assenta postula que o falante traz para a interação verbal tudo aquilo que integra a sua informação pragmática DIK 1997 Entendendo a evidencialidade como um domínio conceptual funcional universal assumimos que as unidades evidenciais comportam principalmente a fonte da informação das evidências ou das justificativas sobre o conteúdo enunciado Dessa forma o grau de comprometimento do falante em relação à verdade da proposição depende da qualidade da fonte expressa Defendemos portanto que no plano conceptualfuncional a evidencialidade determina o julgamento haja vista a consideração de que para se julgar devese antes conhecer sob pena de se estar apenas especulando GALVÃO 2001 Quanto à organização do artigo apresentamos primeiramente os pressupostos teóricos que norteiam a análise dos dados Além disso definimos a categoria evidencialidade e empreendemos uma breve caracterização do discurso político Em seguida discutimos as categorias de análise e os resultados encontrados no corpus mostrando como esse domínio conceptualfuncional contribui na construção da argumentação no discurso político sobretudo no que diz respeito às imagens que o político deseja construir de si 2 O paradigma funcionalista O presente trabalho se enquadra numa orientação funcionalista nos estudos da linguagem Embora possamos destacar a existência de diferentes modelos funcionalistas todos compreendem que o estudo das expressões linguísticas deve realizar se dentro de um quadro geral de interação social que prioriza a análise das funções dessas unidades linguísticas sobre seus aspectos estritamente formais Neste paradigma a linguagem é compreendida a partir de uma perspectiva instrumental teleológica A expressão linguística passa a ser vista dentro de um contexto do qual fazem parte pelo menos dois participantes suas intenções comunicativas seus papeis e estatutos definidos na interação social DIK 1989 1997 Sendo assim a pesquisa linguística de orientação funcionalista pode tomar como objeto de análise uma categoria de item ou de construção e a partir daí identificar os processos cognitivos e discursivos que estão relacionados a essa categoria a fim de verificar a sua atuação e as funções que realiza dentro de uma língua natural NOGUEIRA 2002 O pressuposto de que há um sistema subjacente às expressões linguísticas sistema este de natureza funcional leva o linguista portanto a investigar por que uma expressão linguística é utilizada de um determinado modo dadas as funções comunicativas que realiza DIK 1989 1997 Ou seja em vez de buscar rotular inequivocamente os itens da língua asconstruções ou expressões linguísticas assumem uma fluidez categorial em vista das pressões do uso Como podemos perceber a análise funcionalista da linguagem se distingue da formalista na medida em que define o sistema linguístico como uma rede de significado paradigmático potencial HALLIDAY 1985 nãolinear que sofre transformações decorrentes do uso e das intenções comunicativas de seus usuários A escolha pela perspectiva funcionalista da linguagem devese ao próprio objeto de análise uma vez que a evidencialidade apresenta um caráter nãodiscreto mas multifuncional Ou seja a plurifuncionalidade dos itens evidenciais nos termos de Halliday 1985 justifica adotarmos um ponto de vista que admita o comportamento dinâmico das expressões linguísticas refletindo assim a variedade de propósitos comunicativos a que elas podem prestarse dependendo das intenções comunicativas do falante e do contexto no qual a interação verbal se realiza Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 129 No modelo teórico funcionalista o usuário assume papel central já que o objetivo da investigação linguística é explicitar como falantes e ouvintes se comunicam entre si de modo eficiente por meio da expressão linguística DIK 1989 Para Dik a descrição funcionalista da linguagem considera que os usuários de uma língua sejam capazes de construir manter e explorar uma base de conhecimento organizado capacidade epistêmica de empregar regras de raciocínio para extrair novos conhecimentos a partir de conhecimentos prévios capacidade lógica de perceber o ambiente e dele derivar conhecimento capacidade perceptual e de usar a linguagem de acordo com a situação de interação capacidade social Essas capacidades não funcionam de modo isolado mas em conjunto produzindo assim cada uma um output fundamental para a produção e interpretação da linguagem Sendo assim para a Gramática Funcional GF a interação verbal é uma atividade cooperativa que envolve no mínimo dois participantes e altamente estruturada por regras Portanto é tarefa dessa abordagem funcionalista empreender uma análise linguística que vise a explicitar dois tipos de sistemas de regras as regras de constituição das expressões linguísticas regras semânticas sintáticas morfológicas e fonológicas e as que governam os padrões de interação verbal em que essas expressões linguísticas são usadas regras pragmáticas DIK 1989 1997 A expressão linguística por sua vez assume um caráter de mediação não no sentido de reproduzir o mundo empírico tal como se apresenta aos nossos olhos mas como um instrumento que relaciona como uma ponte a intenção do falante e a interpretação do ouvinte sendo esta mediação imperfeita na medida em que o significado codificado na mensagem pelo falante não se confunde com a sua intenção e nem se iguala à interpretação final dada pelo ouvinte Nesta perspectiva funcionalista a língua é entendida não como um conjunto de expressões linguísticas arbitrárias que podem ser estudadas fora do contexto de uso mas como um instrumento de interação social entre os seres humanos usado com a intenção de estabelecer primeiramente interações comunicativas Outro aspecto importante da orientação funcionalista adotado neste trabalho consiste na proposta de integração dos níveis de análise ou seja da existência de uma sistematização entre os domínios da sintaxe da semântica e da pragmática Segundo Dik 1997 a pragmática é vista como um quadro abrangente no qual a semântica e a sintaxe devem ser estudadas A semântica é instrumental em relação à pragmática e a sintaxe instrumental em relação à semântica É nesse sentido que os modelos funcionalistas se caracterizam como teorias pragmáticas visto que o estudo da sintaxe e da semântica se desenvolve dentro de um quadro da pragmática o que significa dizer que toda a situação de comunicação deve ser avaliada isto é o propósito enunciativo seus participantes e o contexto no qual se dá essa interação NICHOLS 1984 Sendo assim com base em todos esses pressupostos teóricos podemos afirmar que o uso das unidades evidenciais codificadas nas línguas reflete a interação entre aspectos cognitivos e contextuais ou seja são o resultado da relação entre as decisões comunicativas do falante e o contexto de interação social Esse pressuposto de que o falante opera a codificação das expressões linguísticas a partir da relação entre cognição aspectos contextuais e gramaticais reforça portanto a subdivisão dos evidenciais em subjetivos quanto o falante é a fonte do conhecimento e intersubjetivos quando a fonte é uma comunidade podendo ser incluído o falante e o ouvinte tal como proposto por Nuyts 1993 explicando desse modo o fato de essa categoria se manifestar em certos contextos e em outros não como também a co ocorrência entre a evidencialidade e a modalidade epistêmica nas línguas que não possuem sistemas evidenciais gramaticalizados em termos morfológicos Tendo em vista isso este trabalho visa a analisar a funcionalidade da categoria evidencialidade segundo fatores de ordem Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 130 interpessoal contextual e representacional 3 Evidencialidade definição e delimitação de um domínio conceptualfuncional A categoria evidencialidade está presente nas discussões linguísticas há bastante tempo DENDALE TASMOWSKI 2001 Entretanto os problemas relativos à sua conceituação ainda constituem questões complexas para as pesquisas que se preocupam em analisar como essa categoria se manifesta nas línguas naturais e a relação que ela mantém com a modalidade epistêmica Essas questões estão diretamente relacionadas ao modo como a literatura linguística vem tratando a evidencialidade Segundo Kasper Boye e Peter Harde r 2009 podemos encontrar diferentes pontos de vista sobre o assunto i o primeiro é o de inclusão que coloca a evidencialidade no domínio da modalidade epistêmica ii o segundo é o de disjunção que considera a evidencialidade e a modalidade epistêmica como categorias linguísticas distintas iii o terceiro é o de intersecção ou sobreposição segundo o qual há uma interseção entre os domínios semânticos da modalidade epistêmica e da evidencialidade iv e o quarto é o defendido por De Hann 1997 que afirma ser a evidencialidade uma categoria neutra em relação à modalidade epistêmica codificando apenas a fonte da informação Quanto à sua definição a evidencialidade é geralmente concebida como um categoria que diz respeito à fonte da informação fonte de evidências ou fonte de justificativas BYBEE 1985a ANDERSON 1986 CRYSTAL 1991 AIKHENVALD 2003 2004 No entanto há quem considere a evidencialidade como um elemento que se refere a noções de probabilidade e graus de certeza MITHUN 1986 MAYER 1999 além das acepções de fonte da justificativa ou fonte da informação Chafe 1986 p 262 inclui no âmbito do rótulo evidencialidade não apenas as evidências em sentido estrito mas um vasto leque de considerações epistemológicas Com base em Bybee Fleischmann 1995 consideramos a evidencialidade como um meio de revelação da fonte de um conteúdo proposicional que marca também o grau de comprometimento do falante com a verdade da proposição Em resumo a evidencialidade pode variar mas sem evidência não há a avaliação de um estadodecoisas pois o falante pode simplesmente dizer que não sabe não tem conhecimento NUYTS 1992 1993 Defendemos portanto que a categoria evidencialidade constitui um domínio conceptualfuncional haja vista que essa representação abstrata que coloca a evidencialidade como hierarquicamente superior à modalidade epistêmica pode não ter lugar na manifestação linguística tal como propõe a Gramática Funcional DIK 1997 mas sim nas representações conceptuais humanas Em outras palavras recorrendo a Neves 2006 p 166 não se trata de uma hierarquização da estrutura linguística mas de categorias da estrutura conceptual cujo comportamento tem reflexo na estrutura linguística Dessa forma assumimos que há um nível mais profundo de representação nãomaterial na expressão da gramática das línguas NUYTS 1992 1993 2001 GALVÃO 2001 GONÇALVES 2003 KASPER BOYE E PETER HARDER 2009 Reconhecemos também que embora as qualificações evidencias e modais epistêmicas atuem no nível interpessoal uma vez que são qualificações que auxiliam na composição da expressão do descomprometimento do falante com o valor de verdade da proposição cf Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 131 GALVÃO 2001 p 74 não cabe às expressões evidenciais privativamente o estatuto de expressões modalizadoras pois o descomprometimento do falante pode como especifica Galvão ser expresso por unidades estritamente modais não modais e nãoevidenciais O que queremos reforçar com isso é o fato de que a evidencialidade e a modalidade embora tenham uma natureza intersubjetiva são categorias conceitualmente independentes GALVÃO 2001 já que provêm de experiências cognitivas diferentes uma diz respeito à fonte do conhecimento de uma proposição enquanto a outra indica o grau de comprometimento do falante em relação ao valor de verdade da proposição sendo a evidencialidade a categoria hierarquicamente superior à modalidade epistêmica pois há de se aceitar que toda proposição tem uma fonte que pode ser o falante ou não além disso a fonte da informação pode ser expressa ou não de acordo com o contexto de interação e os propósitos comunicativos do sujeito enunciador Em resumo compreendemos neste estudo que a evidencialidade constitui um domínio conceptualfuncional inscrito nas línguas naturais Sua função mais básica é expressar a fonte da informação sendo o grau de comprometimento do sujeito enunciador decorrent e da qualidade da fonte expressa Além disso essa opção teórica nos leva a considerar que a categoria evidencialidade pode manifestarse nas línguas tanto por meios lexicais como gramaticais devendo ser sua manifestação condicionada nas línguas particula res não apenas por fatores linguísticos mas principalmente por aspectos discursivo pragmáticos 4 Caracterização do discurso político Segundo Maingueneau 2002 o discurso é uma forma de ação sobre o outro Nos termos de Dik 1997 isso significa dizer que ao nos engajarmos em uma interação verbal o fazemos a fim de modificar algo na informação pragmática do nosso interlocutor Tendo em vista alcançar com sucesso essa modificação escolhemos e articulamos as expressões linguísticas em função de nossos propósitos comunicativos Nesse sentido o discurso passa a ser compreendido também como ato de persuasão ou seja como lugar de interação entre os sujeitos onde produzir discurso é influenciar o outro Perelman OlbrechtsTyteca 2005 destacam que a argumentação se caracteriza como um ato de persuasão no sentido de que atinge a vontade as emoções os sentimentos dos interlocutores através de argumentos verossímeis de caráter ideológico subjetivo temporal dirigido a um auditório particular Os autores distinguem esse ato que visa à adesão dos espíritos do ato de convencer que de modo geral está relacionado à razão à lógica e é voltado a um auditório universal uma vez que as conclusões das premissa s resultam do raciocínio tal como ocorre na lógica matemática e cujo caráter é estritamente demonstrativo e atemporal Nesse sentido o discurso político pode ser compreendido como todo e qualquer ato de linguagem que se estabelece no espaço político ou seja nos diversos espaços de discussão de persuasão de decisão no qual a palavra política esteja presente sem ser obviamente confundida com a verdade mas com um jogo em que os sujeitos usam a linguagem para atingir seus propósitos enunciativos Dessa forma o discurso político é um construto no qual não há revelação de verdades mas a construção de verossimilhanças afinal de contas as verdades são relativas ao ponto de vista em que são tratadas Essa concepção de que a verdade é relativa tornase muito pertinente para o estudo da categoria evidencialidade uma vez que o enunciador pode de acordo com seus propósitos comunicativos fundamentar seu discurso com base em diferentes fontes da informação imprimindo diferentes níveis de comprometimento Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 132 Charaudeau 2006 afirma que o discurso político persuasivo é construído por meio da identificação do orador com o seu auditório bem como pela criação de uma dramatização realizada pelo político de modo que corresponda às representações sociais psicológicas comportamentais do povo sempre com o objetivo de seduzir O político que deseja persuadir sua plateia deve dotarse de certo modo de argumentos que o tornem legítimo e fidedigno de representar as aspirações do povo logos de uma imagem que contemple o imaginário desse povo ethos para que assim possa mobilizar argumentos que toquem os seus anseios pathos É por isso que não há adesão isto é mobilização das paixões do povo senão por meio da criação de uma imagem Essa imagem ethos por sua vez é a designação dada pelos antigos à construção de uma imagem de si destinada a garantir o sucesso do empreendimento oratório R oland Barthes retomando os componentes da antiga retórica define o ethos como os traços de caráter que o orador deve mostrar ao auditório pouco importando sua sinceridade para causar boa impressão é o seu jeito O orador enuncia uma informação e ao mesmo tempo diz sou isto não sou aquilo BARTHES 1970 p 315 apud AMOSSY p 10 2005 No caso do discurso político o ethos é voltado ao mesmo tempo para si e para o outro Ele é uma construção de si para que o outro adira siga identifiquese a este ser que supostamente é representado por um outro simesmo idealizado CHARAUDEAU 2006 p 153 5 Procedimentos metodológicos Para análise da categoria evidencialidade no discurso político selecionamos 30 discursos proferidos nas Sessões Ordinárias do Pequeno Expediente da Assembleia Legislativa do Ceará 20052006 subdivididos em dois grupos temáticos a Refinaria de Petróleo 1º grupo e b Transposição do Rio São Francisco 2º grupo totalizando 17532 pal avras Em relação aos procedimentos de análise quantitativa optamos por trabalhar com o programa computacional SPSS versão 75 para Windows Statistical Package for the Social Sciences principalmente com as ferramentas de contagem de frequência Quanto aos parâmetros sintáticos semânticos e pragmáticos inspiramo nos para a elaboração de nossa proposta de análise nos trabalhos de Willet 1988 Galvão 2001 DallAglioHattnher 2001 Gonçalves 2003 Carioca 2005 e Vendrame 2005 A seguir expomos os critérios utilizados e os resultados encontrados procurando ilustrar com ocorrências retiradas do corpus da pesquisa 6 Análise e discussão dos resultados A evidencialidade é analisada integradamente quanto aos aspectos sintáticos meio linguístico posição no enunciado semânticos tipo de fonte estratégia de veiculação da informação no enunciado o que está diretamente relacionado ao modo como o enunciador deseja demonstrar que obteve a informação por ele apresentada e discursivo pragmáticos graus de comprometimento do político com o conteúdo do seu discurso imagens por ele suscitadas no processo argumentativo funções discursivas assumidas pelos itens evidenciais Os resultados obtidos revelam que na construção da argumentação no discurso político predomina o uso de marcas evidenciais do tipo relatado mostrando que o político prefere não se comprometer com seu discurso Quanto às marcas evidenciais atinentes ao eixo do enunciador experiência inferencial e subjetiva estas se apresentam em menor quantidade tal como podemos visualizar no gráfico 01 a seguir Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 133 Gráfico 01 Tipos de evidencialidade no discurso político O Gráfico 01 sugere que a evidencialidade do tipo relatada é a mais recorrente computando um número total de 161 casos 601 Em relação aos outros tipos de marcas de evidencialidade associados ao sujeito enunciador temos respectivamente a subjetiva como a segunda mais recorrente no corpus somando um total de 73 casos 272 seguida pela experiencial com um total de 28 casos 104 e a inferencial como a menos recorrente constando de apenas 06 casos 22 De acordo com os dados é possível generalizar que no discurso político há predominância da isenção de responsabilidade por parte do enunciador no que diz respeito ao conteúdo de seu discurso Em outras palavras essa alta frequência de itens evidenciais do tipo relatado pode estar relacionada ao baixo comprometimento instaurado pelos enunciadores em relação aos temas por eles debatidos Acreditamos que essa menor ocorrência de itens evidenciais pertencentes ao eixo subjetivo devase ao fato de o conteúdo proposicional desses enunciados apresentar um caráter polêmico e controverso A inclusão como fonte de um conteúdo proposicional poderia implicar em cobranças por parte do auditório o que pode comprometer a imagem do político e portanto sua legitimidade enquanto representante do Povo Outro fato importante é o argumento de que a evidencialidade direta é a forma não marcada em língua portuguesa Nesse caso a ausência de marca evidencial pode ser interpretada como diretamente associada ao enunciador Vejamos as ocorrências 01 e 02 a seguir que exemplificam a evidencialidade relatada de fonte definida que ocorre em relação às relatadas de fonte indefinida e de domínio comum em maior número em nosso corpus cerca de 901 do total de relatadas o que corresponde a 145 ocorrências 1 E o Deputado José Guimarães que àquele momento postava se à Mesa disse que era preciso continuar lutando e que já fôssemos pensando imaginando trazer alguma coisa compensadora Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 134 para o Estado do Ceará D6R52159 2 E ele diz olha o que o Bispo diz Que nós temos que dessalinizar a água do mar para abastecer o Nordeste Sem nenhum conhecimento técnico porque a dessalinização só aproveita 25 da água que é tratada Que é um projeto caro caríssimo de uma manutenção que poucos suportam fazer D9T76109 As ocorrências 01 e 02 exemplificam bem as marcas evidenciais r elatadas definidas Em 01 temos um verbo dicendi que parece ser marca típica da evidencialidade citativa Recorrendo ao contexto maior o enunciador faz quase toda sua fala reportando discursos de outros políticos envolvidos na causa da Refinaria Ele visa descomprometerse deixando ao auditório a tarefa de avaliar por si mesmo a validade de seus argumentos As vozes requeridas em seu discurso demonstram o jogo político que pode estar envolvido na capitação de uma grande obra Na ocorrência 02 o político faz referência à greve de fome de um bispo da Bahia O enunciador visa a ridicularizar a proposta do bispo mostrando que ele não tem conhecimento técnico a respeito do tema debatido A atitude do bispo foi bastante discutida na Assembleia tendo repercussão nacional na mídia Percebemos que ao tratarem do tema os enunciadores quase sempre buscaram reportar a voz desse sujeito desqualificando e criticando sua atitude como cidadão e religioso O efeito de sentido de baixo compro metimento em 02 é decorrente da discordância do político com o discurso reportado É possível ainda identificar dois outros tipos de evidencialidade relatada i evidencialidade relatada de domínio comum que corresponde a apenas 93 do total de ocorrências do tipo relatada ii evidencialidade relatada de fonte indefinida cujo percentual de ocorrência é ainda menor apenas 06 do total A evidencialidade relatada de domínio comum indica um compartilhamento de ideias que remete a um efeito de sentido de comunhão com o auditório o que é importante no sentido de preparar o terreno bases epistêmicas comuns para a adesão às teses do enunciador Vejamos as ocorrências 03 a seguir 3 Tenho andado em todo o Sertão Central Deputado Francini Guedes evejo que estamos chegando nos meses dos brobros onde todos sabemos nós que somos do interior que os meses dos brobros são os mais quentes são os mais longos e são aqueles em que o abastecimento de água começa a ficar crítico na grande maioria do interior do Estado D13T 95 109 A ocorrência 03 exemplifica a função mais típica assumida pela evidencialidade relatada de domínio comum Dos quinze casos encontrados em nosso corpus nove se manifestam por meio do predicado de conhecimento saber flexionado na 1ª pessoa do plural A utilização da 1ª pessoa do plural nos casos de evidencialidade de domínio comum indica que o enunciador é portavoz de um saber popular O enunciador ao reportar esse saber constrói uma imagem para si de homem sertanejo A evidencialidade indefinida constitui um relato cuja fonte não é identificada O enunciador pode como foi dito não explicitar essa fonte por duas razões i não sabe quem é essa fonte porque a informação lhe chegou por meio de um boato ou ii não quer se comprometer com essa fonte ou não comprometêla e por isso não a identifica Essa Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 135 estratégia imprime no discurso político um efeito de baixo comprometimento tal como podemos verificar na ocorrência 04 a seguir 4 Quem ainda acredita que a refinaria seja sediada no Porto do Pecém onde tecnicamente há mais vantagem não avalia o peso político decisivo no empreendimento desse porte D10R97 159 Na ocorrência 04 o enunciador reporta em seu discurso um conhecimento de fonte indefinida Utiliza o pronome indefinido quem para designar genericamente um referente discursivo que será qualificado como incapaz de avaliar o significado político envolvido na questão Evitando o ataque direto a um colega em particular o enunci ador critica todos aqueles que acreditam predicado de crença que o investimento em infraestrutura tem maior peso que os interesses políticos envolvidos na questão da Refinaria A evidencialidade pertencente ao eixo do sujeito enunciador representa somandose as três classes pertinentes subjetivo experiencial e inferencial 399 em relação à totalidade do corpus da pesquisa O enunciador pode comprometerse com o conteúdo do seu discurso de três maneiras i pode apresentar a informação como sendo parte de uma experiência sua relacionada à percepção sensorial ii pode apresentar a informação como sendo uma inferência construída por meio da intuição ou da construção lógica ii pode apresentar a informação como sendo uma crença ou opinião sua ou ainda como um saber relevante no estabelecimentomanutenção da persuasão A evidencialidade subjetiva ocorre em 683 73 casos do total de evidencialidade integrante ao eixo sujeito enunciador A evidencialidade subjetiva constitui uma info rmação disponível apenas ao falante Essas informações dizem respeito ao conjunto de crenças opiniões que o sujeito enunciador ativa no momento da interação verbal com a finalidade de provocar alguma modificação na informação pragmática do seu interlocutor A evidencialidade subjetiva imprime um alto grau de comprometimento do enunciador com o seu discurso O político ao construir um argumento com base em uma evidencialidade subjetiva deseja se mostrar como alguém que se posiciona perante os temas debatidos na Assembleia como podemos verificar nos exemplos 05 a seguir 5 Ele é Governador ele sabe que não é um investimento fácil da dificuldade política nacional que existe do interesse do Sul Centro Sul Mas tenho que reconhecer que o Governador Tasso Jereissati fez o que foi possível na época e não veio a Refinaria D4R29159 No exemplo 05 o item evidencial subjetivo reconhecer forma uma perífrase verbal com o auxiliar ter que Como podemos perceber o político é levado por uma obrigação deôntica a reconhecer que o Governador Tasso Jereissati tentou em seu governo trazer a Refinaria para o Ceará O próprio enunciador instaura uma obrigação de ordem ética sobre si mesmo buscando persuadir o auditório de que a tentativa de captação dessa obra é antiga e que envolve forças políticas opostas O enunciador deseja mostrar que há um embate político envolvido na questão da Refinaria A evidencialidade centrada no eixo do enunciador pode ser subdividida em mais dois outros subtipos experiencial e inferencial A experiencial constitui uma evidencialidade relacionada aos sentidos ou seja o falante afirma ter tido contato com um objeto do mundo A inferencial por estar relacionada à percepção e à lógica representa uma evidencialidade também embasada em dados extralinguísticos uma vez que se trata de um construto mental do falante que interage com o contexto para inferir um conteúdo Dentre os três tipos de evidencialidade pertencentes ao eixo do enunciador a subjetiva constitui a mais intersubjetiva Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 136 porque diz respeito àquilo que o falante enquanto fonte da informação acredita pensa etc A evidencialidade experiencial ocorreu em 261 28 casos do total de ocorrências classificadas como pertencentes ao eixo do enunciador Os argumentos construídos com base em uma experiência podem ser considerados por parte do auditório como evidências mais concretas em relação ao assunto debatido uma vez que o político se apresenta como alguém que vê presencia os fatos A ocorrência 06 abaixo exemplifica esse tipo de evidencialidade 6 E durante essa campanha eleitoral eu tive a oportunidade de andar por muitos lugares sobretudo no Sertão Central e presenciamos o esvaziamento dos médios e pequenos açudes do Estado do Ceará naquela Região Central D14T102109 A evidencialidade inferencial por sua vez foi a menos recorrente com apenas 56 6 casos do total de evidencialidade do eixo do enunciador Isso talvez se deva ao fato de termos feito a distinção entre inferências baseadas em fatos mais concretos derivados da percepção ou da lógica tal como concebe Willet 1988 e evidenciais reconhecidas como crenças opiniões do falante que de acordo com Hengeveld 1988 1989 seriam analisadas não como evidencialidade mas como modalidade epistemológica subjetiva Optamos por essa distinção porque é muito difícil uma evidência ser estritamente inferencial uma vez que o sujeito sempre se apresenta como filtro daquilo que veicula em seu discurso Destacamos a ocorrência 07 a seguir em que a evidência pode ser considerada como derivada da observação de fatos ou de uma conclusão lógica 7 Parece que antes da resposta ser dada o Deputado José Guimarães já trouxe essa informação de que realmente foi assinado com o Governo de Pernambuco D5R33159 A ocorrência 07 demonstra que o enunciador derivou um conhecimento a partir da observação dos fatos do contexto O modo como o conhecimento foi gerado causa a impressão de que o falante não pode ser totalmente responsabilizado pelo conteúdo proposicional já que se trata de uma informação produzida por meio da percepção ou do raciocínio lógico O efeito de sentido provocado pelo uso de uma evidência inferencial é de médio comprometimento A partir do que foi discutido é possível propor uma gradação do usofunção da evidencialidade no discurso político tal como demonstra a Figura 01 a seguir Níveis de comprometimento RELATADA INFERENCIAL EXPERIENCIAL SUBJETIVA Figura 01 Graus de comprometimento dos tipos evidenciais LUCENA 2008 Como é possível verificar quanto mais à direita da seta o enu nciador indicar a fonte maior será o grau de comprometimento dele com o seu discurso Essa figura também demonstra que o grau de intersubjetividade do sujeito enunciador tende a diminuir quanto mais à esquerda ele estiver acentuando o seu distanciamento em relação ao conteúdo do discurso Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 137 Quanto aos meios de expressão a evidencialidade Número de Percentual Verbo Substantivo Adjetivo Preposição Advérbio Enunciado Metalingüístico Justaposição Total 226 10 4 14 2 5 7 268 843 37 15 52 07 19 26 1000 Tabela 01 Meio de manifestação da evidencialidade A Tabela 01 demonstra que a evidencialidade se manifesta primordialmente por meio da classe verbal Como é possível verificar ela ocorre em 843 do total de ocorrências encontradas no corpus A preposição é a segunda mais utilizada especificamente para expressão da evidencialidade relatada de fonte definida O substantivo o adjetivo e o advérbio ocorrem em menor frequência Além dessas classes observamos casos em que a fonte é recuperada por meio de todo um enunciado metalinguístico Encontramos também casos em que uma marca evidencial lexical ou gramatical é omitida porém verificase a presença no enunciado da justaposição da fonte da informação em relação ao conteúdo proposicional Apresentamos a seguir apenas dois exemplos de manifestação da evidencialidade relacionados à classe verbal que como dissemos constitui o meio de manifestação mais comum da evidencialidade 8 Nós fazemos Oposição ao Governo de Vossa Excelência mas não fazemos Oposição ao Estado E muito foi investido nesse sentido para que isto aconteça no Ceará e vem o Tribunal e cria dificuldade para uma obra desta natureza Reconhecemos que vocês podem ter divergências com o nosso Governo mas nesta obra creio que não há D8T68109 Dentre os tipos de verbos os de elocução são os mais frequentes Neves 2000 subdivide esse tipo predicado em verbos propriamente de dizer ou dicendi tais como falar dizer protestar comentar e similares e verbos introdutores de discurso que não indicam necessariamente atos de fala como afirmar garantir gritar e similares Vejamos as ocorrências 09 e 10 que ilustram esses tipos de verbos de elocução 9 E quando um Ministro do porte do nosso Ministro Ciro Gomes cearense que quer trazer a Refinaria para cá e tenho certeza que está lutando para isso diz que os cearenses devem apostar que isso seja empurrado com a barriga e a decisão da localização da Refinaria não seja decidida agora por esse Governo Porque se assim o for o Estado está escolhido o Estado de Pernambuco D5R39159 10 Na década de sessenta foi realizado o primeiro estudo técnico sobre a viabilidade da construção e na década seguinte a Petrobrás afirmou que tinha interesse em construir uma refinaria no Nordeste D8R67159 Os Verbos dizer e afirmar dos exemplos 09 e 10 codificam geralmente a evidencialidade relatada de fonte definida imprimindo o efeito de baixo comprometimento em relação aos conteúdos enunciados Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 138 A marca evidencial também pode ser caracterizada em relação à posição que ocupa no enunciado especificamente quanto à fonte e ao conteúdo proposicional Sendo assim a marca evidencial pode ser anteposta intercalada e posposta Ela é considerada anteposta quando precede tanto a fonte da informação quanto o conteúdo proposicional é intercalada quando se apresenta entre a fonte e o conteúdo proposicional é posposta quando se localiza após a fonte e o conteúdo proposicional Nos casos em que a fonte é implícita a marca evidencial é considerada como ocupando a posição anteposta uma vez que o item evidencial está no lugar da fonte da informação Foi possível verificar que a posição intercalada é mais recorrente em nosso corpus 599 seguida pela posição anteposta 388 A posição posposta apareceu em apenas 19 do total das ocorrências Essa opção pela intercalação do item evidencial demonstra que a ordem direta forma nãomarcada do enunciado constitui o uso canônico d a categoria evidencialidade em língua portuguesa tal como podemos observar na ocorrência 11 logo abaixo 11 O Ministro Ciro Gomes falou ontem exatamente aquilo que é conversado é comentado no seio da Petrobrás do ponto de vista técnico e mercadológico a Petrobrás não tem interesse de construir nenhuma Refinaria principalmente no Nordeste D7R62159 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatamos em nosso corpus a predominância de marcas evidenciais que indicam que a informação foi obtida por meio de uma relato de fonte definida Isso pode ser justificado pelas seguintes razões i o enunciador não deseja se comprometer com o conteúdo de seu discurso ii no português a evidencialidade direta constitui uma forma não marcada e iii configurase como uma estratégia eficaz de persuasão no discurso político principalmente quando o político deseja mostrase como alguém mais neutro que sabe o quê e como o outro fala Quanto à evidencialidade pertencente ao eixo do enunciador ma rca experienciais inferenciais e subjetivas verificamos que ao se colocar como fonte de um discurso o político assim o faz porque deseja se mostrar como alguém comprometido com suas ideas e propósitos políticos Esse tipo de evidencialidade se revelou como uma estratégia requerida nos casos em que o enunciador quer se mostrar como um sujeito que diz a verdade ou um legítimo representante do Povo Verificamos que o tipo subjetivo é o mais frequente Esse tipo de evidencialidade constitui um conhecimento pertencente à informação pragmática do enunciador que se apresenta também como a fonte da informação A evidencialidade experiencial e sobretudo a inferencial ocorreram em poucos casos o que pode demonstrar o caráter predominantemente subjetivo dessa categoria O sujeito se apresenta como fonte avaliando ao mesmo tempo a informação que veicula Em relação aos meios de manifestação da evidencialidade os dados demonstram que o verbo constitui a expressão lexical mais recorrente Isso mostra que o predicado pode assumir a função não apenas de núcleo oracional mas em termos semântico pragmáticos pode indicar também a fonte de uma informação Quanto à posição no enunciado os falantes tendem a optar pela ordem nãomarcada ou seja pela intercalação do item evidencial entre a fonte da informação e o conteúdo proposicional Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 139 REFERÊNCIAS AIKHENVALD ALEXANDRA Y Evidentiality in typological perspective In Alexandra Y Aikhenvald Robert M W Dixon eds Studies in evidentiality 131 Amsterdam Benjamins 2003 AMOSSY R Imagens de si no discurso a construção do ethos São Paulo Contexto 2005 BOYE KASPER HADER PETER Linguistic categories and grammaticalization John Benjamins Publishing Company Functions of Language p 943 2009 BYBEE J FLEISCHMEN S edsModality in grammar and discourse Amsterdan Philadelphia John Benjamins 1995a CARIOCA C R A manifestação da evidencialidade nas dissertações acadêmicas do português brasileiro contemporâneo 2005 96f Dissertação Mestrado em Lingüística Programa de PósGraduação em Lingüística Universidade Federal do Ceará Fortaleza CHAFE W NICHOLS J eds Evidentiality the logistic coding of epistemology Norwood NJ Ablex 1986 CHARAUDEAU P O Discurso Político Trad Fabiana Komesu e Dílson Ferreira da Cruz São Paulo Editora Contexto 2006 CRYSTAL DAVID A Dictionary of linguistics and phonetics Oxford Blackwell 1991 DALLAGLIO HATTNHER M M A manifestação da modalidade epistêmica um exercício de análise nos discursos de expresidente Fernando Collor 1995 111f Tese Doutorado em Lingüística e Língua Portuguesa Faculdade de Ciências e Letras Universidade Estadual Paulista Araraquara DE HANN F Evidentialy and epistemic modality Artigo apresentado no 2º ALT meeting Eugene OR 1997a Disponível em httpwwwunnmedufdehanndutchhtm Acesso em 10 jul 2004 DENDALE P TASMOWSKI L Introduction evidentialy and related notions Journal of Pragmatics v 33 2001 DIK CS The theory of functional grammar Parte 1 The structure of the clause Dordrecht Foris Publication 1989 The theory of functional grammar Part 2 Complex and derived Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 140 constructions Berlin Mouton de Gruyter 1997 GALVÃO V C C Evidencialidade e gramaticalização do português do Brasil os usos da expressão diz que 2001 213f Tese Doutorado em Lingüística Faculdade de Ciências e Letras Universidade Estadual Paulista Araraquara GONÇALVES S C L Gramaticalização modalidade epistêmica e evidencialidade um estudo de caso no português do Brasil 2003 250f Tese Doutorado em Lingüística Instituto de Estudos da Linguagem Universidade Estadual de Campinas Campinas HALLIDAY M A K An introduction to functional grammar 2ª ed London Edward Arnold Publishers 1985 HENGEVELD K Illocution mood and modality in a functional grammar of Spanish Journal Semantic v 6 1988 Layer and operators in functional grammar Journal Linguistic n25 1989 LAZARD G On the grammaticalization of evidentiality Jounal of Pragmatics n 33 p 359 367 2001 LUCENA Izabel Larissa A expressão da evidencialidade no discurso político uma análise da oratória política da Assembléia Legislativa do Ceará 2008 110f Dissertação Mestrado em Linguística Programa de PósGraduação em Linguística Universidade Federal do Ceará Fortaleza MAINGUENEAU D Análise de textos de comunicação Trad Cecília P de SouzaeSilva e Décio Rocha São Paulo Cortez 2002 MAYER ROLF Abstraction context and perspectivization Evidentials in discourse semantics Theoretical Linguistics 16 101163 1990 MITHUN MARIANNE Evidential diachrony in Northern Iroquoian In Wallace Chafe Johanna Nichols eds Evidentiality The linguistic coding of epistemology 89112 Norwood Ablex 1986 NEVES Maria Helena de M Texto e gramática São Paulo Contexto 2006 NICHOLS J Functional theory of grammar Annual Review of anthropology v 43 1984 NOGUEIRA M T Processos de constituição dos enunciados predicação referenciação junção e modalização Projeto de Pesquisa Fortaleza Brasília UFC CNPQ ago 2000 ago 2002 NUYTS J Epistemics modal adverbs and adjectives and layered representation of conceptual and linguistic structure Linguistic v 31 p 933969 1993 Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 141 Aspects of a cognitivepragmatic theory of language on cognition functionalism and grammar AmsterdamPhiladelphia John Benjamins Publishing 1992 PERLMAN C OLBRECHTSTYTECA L Tratado da argumentação a nova retórica Trad Maria Ermantina Galvão Pereira São Paulo Martins Fontes 2005 VENDRAME V A evidencialidade em construções complexas 2005 114f Dissertação Mestrado em Análise Lingüística Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista São José do Rio Preto WILLET T A Crosslinguistic survey of the grammaticization of evidentiality Studies in Language v 12 n 1 1988 p 5197
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Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 127 EVIDENCIALIDADE E CONSTRUÇÃO DE SENTIDO EM DISCURSOS POLÍTICOS Izabel Larissa Lucena UFCCapes RESUMO este trabalho tem como objetivo investigar a expressão da evidencialidade e sua relação com os graus de comprometimento dos oradores com os conteúdos enunciados na construção da argumentação no discurso político Para tal fim analisamos trinta discursos proferidos no Pequeno Expediente de Sessões Ordinárias da Assembleia Legislativa do Ceará durante o período de 2005 2006 Adotamos principalmente a base teórica funcionalista em que o usuário assume papel central na investigação a descrição linguística inclui portanto referência ao falante ao ouvinte e a seus papeis e estatutos definidos na interação verbal DIK 1989 Os resultados obtidos revelam que na construção da argumentação no discurso político predomina o uso de marcas evidenciais do tipo relatado de fonte definida comprovando que o político prefere não se comprometer com a informação reportada assegurando ao interlocutor a possibilidade de avaliar por si só a validade da informação de acordo com a qualidade da fonte expressa PALAVRASCHAVES Evidencialidade Discurso Político Gramática Funcional ABSTRACT the present research aims at investigating the expression of evidentiality and its relation to the degrees of public speakers commitment with the contents uttered in political speech argumentations construction Thirty speeches delivered in the Small Exp edient of Ordinary Sessions in the State legislature of Ceará from 2005 to 2006 consisted the corpus of analysis We adopted mainly the functionalist theoretical basis in which the user assumes a central role in the inquiry the linguistic description includes therefore reference to the speaker to the listener and to their roles and statutes defined in the verbal interaction DIK 1989 The results reveal that in political speech argumentations construction the use of evidences marks from the cited defined type of source prevails proving that the politician prefers not to commit himself to the reported information assuring to the interlocutor this responsibility to evaluate the validity of the information in accordance with the quality of the expressed source KEYWORDS Evidentiality Political Discourse Functional Grammar 1 INTRODUÇÃO Neste artigo procuramos identificar e analisar os efeitos de descomprometimento provocados pelos diferentes tipos de evidencialidade e sua relação na construção da argumentação no discurso político Analisamos essa categoria linguística quanto aos aspectos sintáticos meios linguísticos posição da expressão evidencial no enunciado semânticos tipo de fonte da informação natureza da evidência o que é considerado como uma estratégia de veiculação da informação no discurso e pragmáticos graus de comprometimento do político com o conteúdo de seu discurso imagens por ele suscitadas no processo argumentativo funções discursivas assumidas pelas marcas evidenciais A evidencialidade é entendida como um fenômeno conceptual funcional inerente às línguas naturais GALVÃO 2001 Ou seja todas as línguas apresentam formas de Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 128 manifestação ou referência à fonte da informação LAZARD 2001 Essa noção abstra ta de evidencialidade só é possível porque o modelo de gramática no qual este estudo se assenta postula que o falante traz para a interação verbal tudo aquilo que integra a sua informação pragmática DIK 1997 Entendendo a evidencialidade como um domínio conceptual funcional universal assumimos que as unidades evidenciais comportam principalmente a fonte da informação das evidências ou das justificativas sobre o conteúdo enunciado Dessa forma o grau de comprometimento do falante em relação à verdade da proposição depende da qualidade da fonte expressa Defendemos portanto que no plano conceptualfuncional a evidencialidade determina o julgamento haja vista a consideração de que para se julgar devese antes conhecer sob pena de se estar apenas especulando GALVÃO 2001 Quanto à organização do artigo apresentamos primeiramente os pressupostos teóricos que norteiam a análise dos dados Além disso definimos a categoria evidencialidade e empreendemos uma breve caracterização do discurso político Em seguida discutimos as categorias de análise e os resultados encontrados no corpus mostrando como esse domínio conceptualfuncional contribui na construção da argumentação no discurso político sobretudo no que diz respeito às imagens que o político deseja construir de si 2 O paradigma funcionalista O presente trabalho se enquadra numa orientação funcionalista nos estudos da linguagem Embora possamos destacar a existência de diferentes modelos funcionalistas todos compreendem que o estudo das expressões linguísticas deve realizar se dentro de um quadro geral de interação social que prioriza a análise das funções dessas unidades linguísticas sobre seus aspectos estritamente formais Neste paradigma a linguagem é compreendida a partir de uma perspectiva instrumental teleológica A expressão linguística passa a ser vista dentro de um contexto do qual fazem parte pelo menos dois participantes suas intenções comunicativas seus papeis e estatutos definidos na interação social DIK 1989 1997 Sendo assim a pesquisa linguística de orientação funcionalista pode tomar como objeto de análise uma categoria de item ou de construção e a partir daí identificar os processos cognitivos e discursivos que estão relacionados a essa categoria a fim de verificar a sua atuação e as funções que realiza dentro de uma língua natural NOGUEIRA 2002 O pressuposto de que há um sistema subjacente às expressões linguísticas sistema este de natureza funcional leva o linguista portanto a investigar por que uma expressão linguística é utilizada de um determinado modo dadas as funções comunicativas que realiza DIK 1989 1997 Ou seja em vez de buscar rotular inequivocamente os itens da língua asconstruções ou expressões linguísticas assumem uma fluidez categorial em vista das pressões do uso Como podemos perceber a análise funcionalista da linguagem se distingue da formalista na medida em que define o sistema linguístico como uma rede de significado paradigmático potencial HALLIDAY 1985 nãolinear que sofre transformações decorrentes do uso e das intenções comunicativas de seus usuários A escolha pela perspectiva funcionalista da linguagem devese ao próprio objeto de análise uma vez que a evidencialidade apresenta um caráter nãodiscreto mas multifuncional Ou seja a plurifuncionalidade dos itens evidenciais nos termos de Halliday 1985 justifica adotarmos um ponto de vista que admita o comportamento dinâmico das expressões linguísticas refletindo assim a variedade de propósitos comunicativos a que elas podem prestarse dependendo das intenções comunicativas do falante e do contexto no qual a interação verbal se realiza Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 129 No modelo teórico funcionalista o usuário assume papel central já que o objetivo da investigação linguística é explicitar como falantes e ouvintes se comunicam entre si de modo eficiente por meio da expressão linguística DIK 1989 Para Dik a descrição funcionalista da linguagem considera que os usuários de uma língua sejam capazes de construir manter e explorar uma base de conhecimento organizado capacidade epistêmica de empregar regras de raciocínio para extrair novos conhecimentos a partir de conhecimentos prévios capacidade lógica de perceber o ambiente e dele derivar conhecimento capacidade perceptual e de usar a linguagem de acordo com a situação de interação capacidade social Essas capacidades não funcionam de modo isolado mas em conjunto produzindo assim cada uma um output fundamental para a produção e interpretação da linguagem Sendo assim para a Gramática Funcional GF a interação verbal é uma atividade cooperativa que envolve no mínimo dois participantes e altamente estruturada por regras Portanto é tarefa dessa abordagem funcionalista empreender uma análise linguística que vise a explicitar dois tipos de sistemas de regras as regras de constituição das expressões linguísticas regras semânticas sintáticas morfológicas e fonológicas e as que governam os padrões de interação verbal em que essas expressões linguísticas são usadas regras pragmáticas DIK 1989 1997 A expressão linguística por sua vez assume um caráter de mediação não no sentido de reproduzir o mundo empírico tal como se apresenta aos nossos olhos mas como um instrumento que relaciona como uma ponte a intenção do falante e a interpretação do ouvinte sendo esta mediação imperfeita na medida em que o significado codificado na mensagem pelo falante não se confunde com a sua intenção e nem se iguala à interpretação final dada pelo ouvinte Nesta perspectiva funcionalista a língua é entendida não como um conjunto de expressões linguísticas arbitrárias que podem ser estudadas fora do contexto de uso mas como um instrumento de interação social entre os seres humanos usado com a intenção de estabelecer primeiramente interações comunicativas Outro aspecto importante da orientação funcionalista adotado neste trabalho consiste na proposta de integração dos níveis de análise ou seja da existência de uma sistematização entre os domínios da sintaxe da semântica e da pragmática Segundo Dik 1997 a pragmática é vista como um quadro abrangente no qual a semântica e a sintaxe devem ser estudadas A semântica é instrumental em relação à pragmática e a sintaxe instrumental em relação à semântica É nesse sentido que os modelos funcionalistas se caracterizam como teorias pragmáticas visto que o estudo da sintaxe e da semântica se desenvolve dentro de um quadro da pragmática o que significa dizer que toda a situação de comunicação deve ser avaliada isto é o propósito enunciativo seus participantes e o contexto no qual se dá essa interação NICHOLS 1984 Sendo assim com base em todos esses pressupostos teóricos podemos afirmar que o uso das unidades evidenciais codificadas nas línguas reflete a interação entre aspectos cognitivos e contextuais ou seja são o resultado da relação entre as decisões comunicativas do falante e o contexto de interação social Esse pressuposto de que o falante opera a codificação das expressões linguísticas a partir da relação entre cognição aspectos contextuais e gramaticais reforça portanto a subdivisão dos evidenciais em subjetivos quanto o falante é a fonte do conhecimento e intersubjetivos quando a fonte é uma comunidade podendo ser incluído o falante e o ouvinte tal como proposto por Nuyts 1993 explicando desse modo o fato de essa categoria se manifestar em certos contextos e em outros não como também a co ocorrência entre a evidencialidade e a modalidade epistêmica nas línguas que não possuem sistemas evidenciais gramaticalizados em termos morfológicos Tendo em vista isso este trabalho visa a analisar a funcionalidade da categoria evidencialidade segundo fatores de ordem Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 130 interpessoal contextual e representacional 3 Evidencialidade definição e delimitação de um domínio conceptualfuncional A categoria evidencialidade está presente nas discussões linguísticas há bastante tempo DENDALE TASMOWSKI 2001 Entretanto os problemas relativos à sua conceituação ainda constituem questões complexas para as pesquisas que se preocupam em analisar como essa categoria se manifesta nas línguas naturais e a relação que ela mantém com a modalidade epistêmica Essas questões estão diretamente relacionadas ao modo como a literatura linguística vem tratando a evidencialidade Segundo Kasper Boye e Peter Harde r 2009 podemos encontrar diferentes pontos de vista sobre o assunto i o primeiro é o de inclusão que coloca a evidencialidade no domínio da modalidade epistêmica ii o segundo é o de disjunção que considera a evidencialidade e a modalidade epistêmica como categorias linguísticas distintas iii o terceiro é o de intersecção ou sobreposição segundo o qual há uma interseção entre os domínios semânticos da modalidade epistêmica e da evidencialidade iv e o quarto é o defendido por De Hann 1997 que afirma ser a evidencialidade uma categoria neutra em relação à modalidade epistêmica codificando apenas a fonte da informação Quanto à sua definição a evidencialidade é geralmente concebida como um categoria que diz respeito à fonte da informação fonte de evidências ou fonte de justificativas BYBEE 1985a ANDERSON 1986 CRYSTAL 1991 AIKHENVALD 2003 2004 No entanto há quem considere a evidencialidade como um elemento que se refere a noções de probabilidade e graus de certeza MITHUN 1986 MAYER 1999 além das acepções de fonte da justificativa ou fonte da informação Chafe 1986 p 262 inclui no âmbito do rótulo evidencialidade não apenas as evidências em sentido estrito mas um vasto leque de considerações epistemológicas Com base em Bybee Fleischmann 1995 consideramos a evidencialidade como um meio de revelação da fonte de um conteúdo proposicional que marca também o grau de comprometimento do falante com a verdade da proposição Em resumo a evidencialidade pode variar mas sem evidência não há a avaliação de um estadodecoisas pois o falante pode simplesmente dizer que não sabe não tem conhecimento NUYTS 1992 1993 Defendemos portanto que a categoria evidencialidade constitui um domínio conceptualfuncional haja vista que essa representação abstrata que coloca a evidencialidade como hierarquicamente superior à modalidade epistêmica pode não ter lugar na manifestação linguística tal como propõe a Gramática Funcional DIK 1997 mas sim nas representações conceptuais humanas Em outras palavras recorrendo a Neves 2006 p 166 não se trata de uma hierarquização da estrutura linguística mas de categorias da estrutura conceptual cujo comportamento tem reflexo na estrutura linguística Dessa forma assumimos que há um nível mais profundo de representação nãomaterial na expressão da gramática das línguas NUYTS 1992 1993 2001 GALVÃO 2001 GONÇALVES 2003 KASPER BOYE E PETER HARDER 2009 Reconhecemos também que embora as qualificações evidencias e modais epistêmicas atuem no nível interpessoal uma vez que são qualificações que auxiliam na composição da expressão do descomprometimento do falante com o valor de verdade da proposição cf Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 131 GALVÃO 2001 p 74 não cabe às expressões evidenciais privativamente o estatuto de expressões modalizadoras pois o descomprometimento do falante pode como especifica Galvão ser expresso por unidades estritamente modais não modais e nãoevidenciais O que queremos reforçar com isso é o fato de que a evidencialidade e a modalidade embora tenham uma natureza intersubjetiva são categorias conceitualmente independentes GALVÃO 2001 já que provêm de experiências cognitivas diferentes uma diz respeito à fonte do conhecimento de uma proposição enquanto a outra indica o grau de comprometimento do falante em relação ao valor de verdade da proposição sendo a evidencialidade a categoria hierarquicamente superior à modalidade epistêmica pois há de se aceitar que toda proposição tem uma fonte que pode ser o falante ou não além disso a fonte da informação pode ser expressa ou não de acordo com o contexto de interação e os propósitos comunicativos do sujeito enunciador Em resumo compreendemos neste estudo que a evidencialidade constitui um domínio conceptualfuncional inscrito nas línguas naturais Sua função mais básica é expressar a fonte da informação sendo o grau de comprometimento do sujeito enunciador decorrent e da qualidade da fonte expressa Além disso essa opção teórica nos leva a considerar que a categoria evidencialidade pode manifestarse nas línguas tanto por meios lexicais como gramaticais devendo ser sua manifestação condicionada nas línguas particula res não apenas por fatores linguísticos mas principalmente por aspectos discursivo pragmáticos 4 Caracterização do discurso político Segundo Maingueneau 2002 o discurso é uma forma de ação sobre o outro Nos termos de Dik 1997 isso significa dizer que ao nos engajarmos em uma interação verbal o fazemos a fim de modificar algo na informação pragmática do nosso interlocutor Tendo em vista alcançar com sucesso essa modificação escolhemos e articulamos as expressões linguísticas em função de nossos propósitos comunicativos Nesse sentido o discurso passa a ser compreendido também como ato de persuasão ou seja como lugar de interação entre os sujeitos onde produzir discurso é influenciar o outro Perelman OlbrechtsTyteca 2005 destacam que a argumentação se caracteriza como um ato de persuasão no sentido de que atinge a vontade as emoções os sentimentos dos interlocutores através de argumentos verossímeis de caráter ideológico subjetivo temporal dirigido a um auditório particular Os autores distinguem esse ato que visa à adesão dos espíritos do ato de convencer que de modo geral está relacionado à razão à lógica e é voltado a um auditório universal uma vez que as conclusões das premissa s resultam do raciocínio tal como ocorre na lógica matemática e cujo caráter é estritamente demonstrativo e atemporal Nesse sentido o discurso político pode ser compreendido como todo e qualquer ato de linguagem que se estabelece no espaço político ou seja nos diversos espaços de discussão de persuasão de decisão no qual a palavra política esteja presente sem ser obviamente confundida com a verdade mas com um jogo em que os sujeitos usam a linguagem para atingir seus propósitos enunciativos Dessa forma o discurso político é um construto no qual não há revelação de verdades mas a construção de verossimilhanças afinal de contas as verdades são relativas ao ponto de vista em que são tratadas Essa concepção de que a verdade é relativa tornase muito pertinente para o estudo da categoria evidencialidade uma vez que o enunciador pode de acordo com seus propósitos comunicativos fundamentar seu discurso com base em diferentes fontes da informação imprimindo diferentes níveis de comprometimento Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 132 Charaudeau 2006 afirma que o discurso político persuasivo é construído por meio da identificação do orador com o seu auditório bem como pela criação de uma dramatização realizada pelo político de modo que corresponda às representações sociais psicológicas comportamentais do povo sempre com o objetivo de seduzir O político que deseja persuadir sua plateia deve dotarse de certo modo de argumentos que o tornem legítimo e fidedigno de representar as aspirações do povo logos de uma imagem que contemple o imaginário desse povo ethos para que assim possa mobilizar argumentos que toquem os seus anseios pathos É por isso que não há adesão isto é mobilização das paixões do povo senão por meio da criação de uma imagem Essa imagem ethos por sua vez é a designação dada pelos antigos à construção de uma imagem de si destinada a garantir o sucesso do empreendimento oratório R oland Barthes retomando os componentes da antiga retórica define o ethos como os traços de caráter que o orador deve mostrar ao auditório pouco importando sua sinceridade para causar boa impressão é o seu jeito O orador enuncia uma informação e ao mesmo tempo diz sou isto não sou aquilo BARTHES 1970 p 315 apud AMOSSY p 10 2005 No caso do discurso político o ethos é voltado ao mesmo tempo para si e para o outro Ele é uma construção de si para que o outro adira siga identifiquese a este ser que supostamente é representado por um outro simesmo idealizado CHARAUDEAU 2006 p 153 5 Procedimentos metodológicos Para análise da categoria evidencialidade no discurso político selecionamos 30 discursos proferidos nas Sessões Ordinárias do Pequeno Expediente da Assembleia Legislativa do Ceará 20052006 subdivididos em dois grupos temáticos a Refinaria de Petróleo 1º grupo e b Transposição do Rio São Francisco 2º grupo totalizando 17532 pal avras Em relação aos procedimentos de análise quantitativa optamos por trabalhar com o programa computacional SPSS versão 75 para Windows Statistical Package for the Social Sciences principalmente com as ferramentas de contagem de frequência Quanto aos parâmetros sintáticos semânticos e pragmáticos inspiramo nos para a elaboração de nossa proposta de análise nos trabalhos de Willet 1988 Galvão 2001 DallAglioHattnher 2001 Gonçalves 2003 Carioca 2005 e Vendrame 2005 A seguir expomos os critérios utilizados e os resultados encontrados procurando ilustrar com ocorrências retiradas do corpus da pesquisa 6 Análise e discussão dos resultados A evidencialidade é analisada integradamente quanto aos aspectos sintáticos meio linguístico posição no enunciado semânticos tipo de fonte estratégia de veiculação da informação no enunciado o que está diretamente relacionado ao modo como o enunciador deseja demonstrar que obteve a informação por ele apresentada e discursivo pragmáticos graus de comprometimento do político com o conteúdo do seu discurso imagens por ele suscitadas no processo argumentativo funções discursivas assumidas pelos itens evidenciais Os resultados obtidos revelam que na construção da argumentação no discurso político predomina o uso de marcas evidenciais do tipo relatado mostrando que o político prefere não se comprometer com seu discurso Quanto às marcas evidenciais atinentes ao eixo do enunciador experiência inferencial e subjetiva estas se apresentam em menor quantidade tal como podemos visualizar no gráfico 01 a seguir Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 133 Gráfico 01 Tipos de evidencialidade no discurso político O Gráfico 01 sugere que a evidencialidade do tipo relatada é a mais recorrente computando um número total de 161 casos 601 Em relação aos outros tipos de marcas de evidencialidade associados ao sujeito enunciador temos respectivamente a subjetiva como a segunda mais recorrente no corpus somando um total de 73 casos 272 seguida pela experiencial com um total de 28 casos 104 e a inferencial como a menos recorrente constando de apenas 06 casos 22 De acordo com os dados é possível generalizar que no discurso político há predominância da isenção de responsabilidade por parte do enunciador no que diz respeito ao conteúdo de seu discurso Em outras palavras essa alta frequência de itens evidenciais do tipo relatado pode estar relacionada ao baixo comprometimento instaurado pelos enunciadores em relação aos temas por eles debatidos Acreditamos que essa menor ocorrência de itens evidenciais pertencentes ao eixo subjetivo devase ao fato de o conteúdo proposicional desses enunciados apresentar um caráter polêmico e controverso A inclusão como fonte de um conteúdo proposicional poderia implicar em cobranças por parte do auditório o que pode comprometer a imagem do político e portanto sua legitimidade enquanto representante do Povo Outro fato importante é o argumento de que a evidencialidade direta é a forma não marcada em língua portuguesa Nesse caso a ausência de marca evidencial pode ser interpretada como diretamente associada ao enunciador Vejamos as ocorrências 01 e 02 a seguir que exemplificam a evidencialidade relatada de fonte definida que ocorre em relação às relatadas de fonte indefinida e de domínio comum em maior número em nosso corpus cerca de 901 do total de relatadas o que corresponde a 145 ocorrências 1 E o Deputado José Guimarães que àquele momento postava se à Mesa disse que era preciso continuar lutando e que já fôssemos pensando imaginando trazer alguma coisa compensadora Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 134 para o Estado do Ceará D6R52159 2 E ele diz olha o que o Bispo diz Que nós temos que dessalinizar a água do mar para abastecer o Nordeste Sem nenhum conhecimento técnico porque a dessalinização só aproveita 25 da água que é tratada Que é um projeto caro caríssimo de uma manutenção que poucos suportam fazer D9T76109 As ocorrências 01 e 02 exemplificam bem as marcas evidenciais r elatadas definidas Em 01 temos um verbo dicendi que parece ser marca típica da evidencialidade citativa Recorrendo ao contexto maior o enunciador faz quase toda sua fala reportando discursos de outros políticos envolvidos na causa da Refinaria Ele visa descomprometerse deixando ao auditório a tarefa de avaliar por si mesmo a validade de seus argumentos As vozes requeridas em seu discurso demonstram o jogo político que pode estar envolvido na capitação de uma grande obra Na ocorrência 02 o político faz referência à greve de fome de um bispo da Bahia O enunciador visa a ridicularizar a proposta do bispo mostrando que ele não tem conhecimento técnico a respeito do tema debatido A atitude do bispo foi bastante discutida na Assembleia tendo repercussão nacional na mídia Percebemos que ao tratarem do tema os enunciadores quase sempre buscaram reportar a voz desse sujeito desqualificando e criticando sua atitude como cidadão e religioso O efeito de sentido de baixo compro metimento em 02 é decorrente da discordância do político com o discurso reportado É possível ainda identificar dois outros tipos de evidencialidade relatada i evidencialidade relatada de domínio comum que corresponde a apenas 93 do total de ocorrências do tipo relatada ii evidencialidade relatada de fonte indefinida cujo percentual de ocorrência é ainda menor apenas 06 do total A evidencialidade relatada de domínio comum indica um compartilhamento de ideias que remete a um efeito de sentido de comunhão com o auditório o que é importante no sentido de preparar o terreno bases epistêmicas comuns para a adesão às teses do enunciador Vejamos as ocorrências 03 a seguir 3 Tenho andado em todo o Sertão Central Deputado Francini Guedes evejo que estamos chegando nos meses dos brobros onde todos sabemos nós que somos do interior que os meses dos brobros são os mais quentes são os mais longos e são aqueles em que o abastecimento de água começa a ficar crítico na grande maioria do interior do Estado D13T 95 109 A ocorrência 03 exemplifica a função mais típica assumida pela evidencialidade relatada de domínio comum Dos quinze casos encontrados em nosso corpus nove se manifestam por meio do predicado de conhecimento saber flexionado na 1ª pessoa do plural A utilização da 1ª pessoa do plural nos casos de evidencialidade de domínio comum indica que o enunciador é portavoz de um saber popular O enunciador ao reportar esse saber constrói uma imagem para si de homem sertanejo A evidencialidade indefinida constitui um relato cuja fonte não é identificada O enunciador pode como foi dito não explicitar essa fonte por duas razões i não sabe quem é essa fonte porque a informação lhe chegou por meio de um boato ou ii não quer se comprometer com essa fonte ou não comprometêla e por isso não a identifica Essa Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 135 estratégia imprime no discurso político um efeito de baixo comprometimento tal como podemos verificar na ocorrência 04 a seguir 4 Quem ainda acredita que a refinaria seja sediada no Porto do Pecém onde tecnicamente há mais vantagem não avalia o peso político decisivo no empreendimento desse porte D10R97 159 Na ocorrência 04 o enunciador reporta em seu discurso um conhecimento de fonte indefinida Utiliza o pronome indefinido quem para designar genericamente um referente discursivo que será qualificado como incapaz de avaliar o significado político envolvido na questão Evitando o ataque direto a um colega em particular o enunci ador critica todos aqueles que acreditam predicado de crença que o investimento em infraestrutura tem maior peso que os interesses políticos envolvidos na questão da Refinaria A evidencialidade pertencente ao eixo do sujeito enunciador representa somandose as três classes pertinentes subjetivo experiencial e inferencial 399 em relação à totalidade do corpus da pesquisa O enunciador pode comprometerse com o conteúdo do seu discurso de três maneiras i pode apresentar a informação como sendo parte de uma experiência sua relacionada à percepção sensorial ii pode apresentar a informação como sendo uma inferência construída por meio da intuição ou da construção lógica ii pode apresentar a informação como sendo uma crença ou opinião sua ou ainda como um saber relevante no estabelecimentomanutenção da persuasão A evidencialidade subjetiva ocorre em 683 73 casos do total de evidencialidade integrante ao eixo sujeito enunciador A evidencialidade subjetiva constitui uma info rmação disponível apenas ao falante Essas informações dizem respeito ao conjunto de crenças opiniões que o sujeito enunciador ativa no momento da interação verbal com a finalidade de provocar alguma modificação na informação pragmática do seu interlocutor A evidencialidade subjetiva imprime um alto grau de comprometimento do enunciador com o seu discurso O político ao construir um argumento com base em uma evidencialidade subjetiva deseja se mostrar como alguém que se posiciona perante os temas debatidos na Assembleia como podemos verificar nos exemplos 05 a seguir 5 Ele é Governador ele sabe que não é um investimento fácil da dificuldade política nacional que existe do interesse do Sul Centro Sul Mas tenho que reconhecer que o Governador Tasso Jereissati fez o que foi possível na época e não veio a Refinaria D4R29159 No exemplo 05 o item evidencial subjetivo reconhecer forma uma perífrase verbal com o auxiliar ter que Como podemos perceber o político é levado por uma obrigação deôntica a reconhecer que o Governador Tasso Jereissati tentou em seu governo trazer a Refinaria para o Ceará O próprio enunciador instaura uma obrigação de ordem ética sobre si mesmo buscando persuadir o auditório de que a tentativa de captação dessa obra é antiga e que envolve forças políticas opostas O enunciador deseja mostrar que há um embate político envolvido na questão da Refinaria A evidencialidade centrada no eixo do enunciador pode ser subdividida em mais dois outros subtipos experiencial e inferencial A experiencial constitui uma evidencialidade relacionada aos sentidos ou seja o falante afirma ter tido contato com um objeto do mundo A inferencial por estar relacionada à percepção e à lógica representa uma evidencialidade também embasada em dados extralinguísticos uma vez que se trata de um construto mental do falante que interage com o contexto para inferir um conteúdo Dentre os três tipos de evidencialidade pertencentes ao eixo do enunciador a subjetiva constitui a mais intersubjetiva Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 136 porque diz respeito àquilo que o falante enquanto fonte da informação acredita pensa etc A evidencialidade experiencial ocorreu em 261 28 casos do total de ocorrências classificadas como pertencentes ao eixo do enunciador Os argumentos construídos com base em uma experiência podem ser considerados por parte do auditório como evidências mais concretas em relação ao assunto debatido uma vez que o político se apresenta como alguém que vê presencia os fatos A ocorrência 06 abaixo exemplifica esse tipo de evidencialidade 6 E durante essa campanha eleitoral eu tive a oportunidade de andar por muitos lugares sobretudo no Sertão Central e presenciamos o esvaziamento dos médios e pequenos açudes do Estado do Ceará naquela Região Central D14T102109 A evidencialidade inferencial por sua vez foi a menos recorrente com apenas 56 6 casos do total de evidencialidade do eixo do enunciador Isso talvez se deva ao fato de termos feito a distinção entre inferências baseadas em fatos mais concretos derivados da percepção ou da lógica tal como concebe Willet 1988 e evidenciais reconhecidas como crenças opiniões do falante que de acordo com Hengeveld 1988 1989 seriam analisadas não como evidencialidade mas como modalidade epistemológica subjetiva Optamos por essa distinção porque é muito difícil uma evidência ser estritamente inferencial uma vez que o sujeito sempre se apresenta como filtro daquilo que veicula em seu discurso Destacamos a ocorrência 07 a seguir em que a evidência pode ser considerada como derivada da observação de fatos ou de uma conclusão lógica 7 Parece que antes da resposta ser dada o Deputado José Guimarães já trouxe essa informação de que realmente foi assinado com o Governo de Pernambuco D5R33159 A ocorrência 07 demonstra que o enunciador derivou um conhecimento a partir da observação dos fatos do contexto O modo como o conhecimento foi gerado causa a impressão de que o falante não pode ser totalmente responsabilizado pelo conteúdo proposicional já que se trata de uma informação produzida por meio da percepção ou do raciocínio lógico O efeito de sentido provocado pelo uso de uma evidência inferencial é de médio comprometimento A partir do que foi discutido é possível propor uma gradação do usofunção da evidencialidade no discurso político tal como demonstra a Figura 01 a seguir Níveis de comprometimento RELATADA INFERENCIAL EXPERIENCIAL SUBJETIVA Figura 01 Graus de comprometimento dos tipos evidenciais LUCENA 2008 Como é possível verificar quanto mais à direita da seta o enu nciador indicar a fonte maior será o grau de comprometimento dele com o seu discurso Essa figura também demonstra que o grau de intersubjetividade do sujeito enunciador tende a diminuir quanto mais à esquerda ele estiver acentuando o seu distanciamento em relação ao conteúdo do discurso Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 137 Quanto aos meios de expressão a evidencialidade Número de Percentual Verbo Substantivo Adjetivo Preposição Advérbio Enunciado Metalingüístico Justaposição Total 226 10 4 14 2 5 7 268 843 37 15 52 07 19 26 1000 Tabela 01 Meio de manifestação da evidencialidade A Tabela 01 demonstra que a evidencialidade se manifesta primordialmente por meio da classe verbal Como é possível verificar ela ocorre em 843 do total de ocorrências encontradas no corpus A preposição é a segunda mais utilizada especificamente para expressão da evidencialidade relatada de fonte definida O substantivo o adjetivo e o advérbio ocorrem em menor frequência Além dessas classes observamos casos em que a fonte é recuperada por meio de todo um enunciado metalinguístico Encontramos também casos em que uma marca evidencial lexical ou gramatical é omitida porém verificase a presença no enunciado da justaposição da fonte da informação em relação ao conteúdo proposicional Apresentamos a seguir apenas dois exemplos de manifestação da evidencialidade relacionados à classe verbal que como dissemos constitui o meio de manifestação mais comum da evidencialidade 8 Nós fazemos Oposição ao Governo de Vossa Excelência mas não fazemos Oposição ao Estado E muito foi investido nesse sentido para que isto aconteça no Ceará e vem o Tribunal e cria dificuldade para uma obra desta natureza Reconhecemos que vocês podem ter divergências com o nosso Governo mas nesta obra creio que não há D8T68109 Dentre os tipos de verbos os de elocução são os mais frequentes Neves 2000 subdivide esse tipo predicado em verbos propriamente de dizer ou dicendi tais como falar dizer protestar comentar e similares e verbos introdutores de discurso que não indicam necessariamente atos de fala como afirmar garantir gritar e similares Vejamos as ocorrências 09 e 10 que ilustram esses tipos de verbos de elocução 9 E quando um Ministro do porte do nosso Ministro Ciro Gomes cearense que quer trazer a Refinaria para cá e tenho certeza que está lutando para isso diz que os cearenses devem apostar que isso seja empurrado com a barriga e a decisão da localização da Refinaria não seja decidida agora por esse Governo Porque se assim o for o Estado está escolhido o Estado de Pernambuco D5R39159 10 Na década de sessenta foi realizado o primeiro estudo técnico sobre a viabilidade da construção e na década seguinte a Petrobrás afirmou que tinha interesse em construir uma refinaria no Nordeste D8R67159 Os Verbos dizer e afirmar dos exemplos 09 e 10 codificam geralmente a evidencialidade relatada de fonte definida imprimindo o efeito de baixo comprometimento em relação aos conteúdos enunciados Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 138 A marca evidencial também pode ser caracterizada em relação à posição que ocupa no enunciado especificamente quanto à fonte e ao conteúdo proposicional Sendo assim a marca evidencial pode ser anteposta intercalada e posposta Ela é considerada anteposta quando precede tanto a fonte da informação quanto o conteúdo proposicional é intercalada quando se apresenta entre a fonte e o conteúdo proposicional é posposta quando se localiza após a fonte e o conteúdo proposicional Nos casos em que a fonte é implícita a marca evidencial é considerada como ocupando a posição anteposta uma vez que o item evidencial está no lugar da fonte da informação Foi possível verificar que a posição intercalada é mais recorrente em nosso corpus 599 seguida pela posição anteposta 388 A posição posposta apareceu em apenas 19 do total das ocorrências Essa opção pela intercalação do item evidencial demonstra que a ordem direta forma nãomarcada do enunciado constitui o uso canônico d a categoria evidencialidade em língua portuguesa tal como podemos observar na ocorrência 11 logo abaixo 11 O Ministro Ciro Gomes falou ontem exatamente aquilo que é conversado é comentado no seio da Petrobrás do ponto de vista técnico e mercadológico a Petrobrás não tem interesse de construir nenhuma Refinaria principalmente no Nordeste D7R62159 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatamos em nosso corpus a predominância de marcas evidenciais que indicam que a informação foi obtida por meio de uma relato de fonte definida Isso pode ser justificado pelas seguintes razões i o enunciador não deseja se comprometer com o conteúdo de seu discurso ii no português a evidencialidade direta constitui uma forma não marcada e iii configurase como uma estratégia eficaz de persuasão no discurso político principalmente quando o político deseja mostrase como alguém mais neutro que sabe o quê e como o outro fala Quanto à evidencialidade pertencente ao eixo do enunciador ma rca experienciais inferenciais e subjetivas verificamos que ao se colocar como fonte de um discurso o político assim o faz porque deseja se mostrar como alguém comprometido com suas ideas e propósitos políticos Esse tipo de evidencialidade se revelou como uma estratégia requerida nos casos em que o enunciador quer se mostrar como um sujeito que diz a verdade ou um legítimo representante do Povo Verificamos que o tipo subjetivo é o mais frequente Esse tipo de evidencialidade constitui um conhecimento pertencente à informação pragmática do enunciador que se apresenta também como a fonte da informação A evidencialidade experiencial e sobretudo a inferencial ocorreram em poucos casos o que pode demonstrar o caráter predominantemente subjetivo dessa categoria O sujeito se apresenta como fonte avaliando ao mesmo tempo a informação que veicula Em relação aos meios de manifestação da evidencialidade os dados demonstram que o verbo constitui a expressão lexical mais recorrente Isso mostra que o predicado pode assumir a função não apenas de núcleo oracional mas em termos semântico pragmáticos pode indicar também a fonte de uma informação Quanto à posição no enunciado os falantes tendem a optar pela ordem nãomarcada ou seja pela intercalação do item evidencial entre a fonte da informação e o conteúdo proposicional Revista do GELNE PIAUÍ v12 n12 2010 ISSN 22360883 Revista do GELNE Vol 12 Número 12 127141 2010 139 REFERÊNCIAS AIKHENVALD 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