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A TEORIA DA VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA Objetivos gerais do capítulo Da Linguística à Sociolinguística um breve apanhado histórico do surgimento e desenvolvimento da Teoria da Variação e Mudança Pressupostos teóricos uma introdução aos princípios básicos da Teoria da Variação e Mudança Problemas empíricos para uma Teoria da Variação e Mudança questões que norteiam a pesquisa sociolinguística 1 DA LINGUÍSTICA À SOCIOLINGUÍSTICA No capítulo anterior apresentamos o fenômeno da variação linguística Vimos como a língua que falamos nos põe à disposição diferentes formas para expressar os mesmos significados sem perder sua sistematicidade ou seu poder como instrumento de comunicação Apontamos também que a Sociolinguística é a subárea específica da Linguística com teoria e métodos voltados à compreensão da variação e da mudança nas línguas Para entender melhor os pressupostos teóricos dessa área vamos contextualizar em termos gerais os estudos da linguagem do século xix e do início do século xx Começamos falando rapidamente dos estudos históricocomparativos e os neogramáticos para em seguida tratarmos das perspectivas da linguística suíço Ferdinand de Saussure e do linguista americano Noam Chomsky O objeto da Linguística para o autor não era a fala dos indivíduos mas as intuições de pesquisadores acerca da língua e seus sujeitos sobre a gramaticidade das frases Nessa perspectiva o indivíduo é tido como um falanteouvinte ideal situado numa comunidade de fala homogênea e abstrata Tanto a abordagem neogramática como a estruturalista saussureana e a gerativista concebiam seu objeto de estudo como uma entidade homogênea Além do mais a relação desse objeto com a sociedade que o fazia uso era considerada algo teoricamente irrelevante ou até mesmo intangível Havia porém pesquisadores que diferentemente de Paul Saussure e Chomsky postulavam uma concepção efetivamente social de língua Antoine Meillet foi um deles Ao passagem do século xix para o xx o pesquisador enfatizava em seus textos o caráter social e evolutivo da língua Segundo ele como a língua é um fato social devese recorrer ao domínio social para a compreensão da dinâmica linguística Assim do ponto de vista de Meillet toda e qualquer variação na língua é motivada estritamente por fatores sociais Além de Meillet podemos apontar outros pesquisadores como uma concepção social de língua também no início do século xx Na perspectiva da Linguística soviética para Nicolai Marr por exemplo as línguas são instrumentos de poder refletindo a luta de classes sociais ao passo que o filósofo Mikhail Bakhtincriticava as ideias saussureanas defendendo um enfoque da língua na interação verbal historicamente situada Em Saussure wlh criticam principalmente a visão de língua como uma estrutura autônoma e homogênea desvinculada de fatores externos e a separação entre diacronia e sincronia Da proposta saussureana os autores assumem a noção de língua como sistema embora rejeitem a implicação direta entre sistematicidade e homogeneidade Quanto à proposta chomskyana wlh criticam a concepção de língua como um sistema homogêneo desvinculado de fatores históricos e sociais assim como a noção de comunidade de fala abstracta homogênea composta por falantesouvintes ideais Da mesma forma criticam o fazer científico com base em dados linguísticos correspondentes às intuições do pesquisador eou dos falantes Por outro lado compartilham o postulado de que a língua é um sistema abstrato de regras Nesse contexto que Weinreich Labov e Herzog lançam os fundamentos de uma teoria da variação e mudança empiricamente orientada a nossa concepção Sociolinguística Além disso os autores retoman as contribuições dos estudos que vão a língua como um fenômeno social Desse modo como herança de Meillet volta a ganhar força a noção de língua como fato social dinâmico cuja variedade é explicada por forças externas ao sistema A Sociolinguística bebeu ainda de outras fontes teóricas como os estudos de Paleontologia da Linguística Histórica e de Bilinguismo desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos na primeira metade do século xx Algumas obras foram fundamentais para a proposição e consolidação desse novo programa de estudos Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística Empirical Foundations for a Theory of Language Change publicado em 1968 por wlh Padrões Sociolinguísticos Sociolinguistic Patterns publicado por Labov em 1972 e Building on Empirical Foundations do mesmo autor de 1982 A partir de então Labov consolidou inúmeros trabalhos voltados para o estudo da língua em seu contexto social focando particularmente a variação fonéticofonológica da língua inglesa Seu campo de pesquisa sediado na Universidade da Pensilvânia EUA tornouse um centro irradiador dessa nova e intensa abordagem sociolinguística e Labov até chegou a ganhar referência da área No Brasil as pesquisas sobre a Sociolinguística Laboviana tiveram início na Universidade Federal do Rio de Janeiro na década de 1970 sob a orientação de Anthony Naro Desde então as pesquisas que se ocupam da Sociolinguística no Brasil se multiplicaram Um exemplo de regra categórica no português é o da colocação do artigo em relação ao nome que ele determina o artigo sempre aparece antes do nome dizemos a casa mas nunca casa a Do mesmo modo sabemos que é possível uma construção como o e a mas podemos dizer apenas o duo este dia sem acumular pronome demonstrativo e artigo na mesma posição A Sociolinguística considera esse tipo de regra mas este não é o seu interesse primordial Seu foco são as regras variáveis da língua aquelas que permitem em certos contextos lingüísticos sociais e estilísticos formas de uma forma ou em outros contextos outra forma ou seja que alternamse entre duas ou mais variantes formas que devem ter o mesmo significado referencialrepresentacional e ser intercambiáveis no mesmo contexto A regra variável é uma regra gramatical e sendo assim não é qual quer forma linguística que pode assumir o papel de uma das variantes uma vez que elas sofrem restrições do próprio sistema linguístico Um caso des te tipo de regra pode ser observado nas seguintes ocorrências de variação na marcação da concordância verbal de P4 citadas por Zilles et al 2000 200 e 208 a partir de uma amostra de fala do Varsul 1 Nós falamos corretamente português 2 Ah tá só porque não restaurante lindo dois pisos 3 Então muitas vezes não cansava de jogar um com o outro em apostas pra nos subís e as escadas de joelhos quem chegasse primeiro né 4 Fica só nós Enquanto as variantes linguísticas são opções de dizer a mesma coisa de várias maneiras elas podem se distinguir em sua significação social eou estilística Ao controlar grupos de fatores sociais que atuam no favorecimento ou desfavorecimento de uma das variantes na marcação da concordância de P4 estudos mostraram que escolaridade é uma variável bastante significativa a desinência padrão mos é frequentemente favorecida com o aumento da escolaridade enquanto falantes menos escolarizados tendem a usar preferência pelo morfema zero Notase aqui também uma sistematização de comportamento social como relação ao uso de determinadas regras variáveis Do ponto de vista de adaptação das formas em variação ao contexto imediato do ato de fala entendida aqui como estilo a variação na concordância de P4 também é atestada mostrando comportamento lingüístico sistemático Há uma preocupação muito maior de marcação explícita da concordância em situações de mais formalidade em que o grau de atenção à fala está mais ativado e uma tendência a um uso menor de marcação explícita quando o falante se envolve com o que está relacionado e se esquece de monitorar sua fala Desse modo as regras variáveis da língua são sistemáticas indicando padrões lingüísticos e sociais e estéticos de comportamento O termo padrão nesse caso é entendido como um uso regular e frequente de uma dada variante isto é como uma tendência de comportamento lingüístico Esse aspecto deve somente de modo descritivo ao título do clássico Padrões sociolinguísticos de Labov 2008 1972 As formas variantes como portadores de significado social Prosseguimos nosso contato com a Sociolinguística discutindo um tema bastante caro à área tratase do significado social ou valor social das formas variantes Considerando as sentenças a seguir extraídas de redações de alunos de uma escola pública de Florianópolis 5 Mais útil e três temas 6 Depois a gente começou a shopping e foram de par que diversas 7 Nós tava andando de Bike O que difere às três quanto à ocorrência de um fenômeno variável A primeira nota pois não tem as manifestações de um mesmo fenômeno o da concordância variável entre verbo e sujeito No entanto algo parece nos dizer que elas não são totalmente idênticas na manifestação desse fenômeno para muitos falantes do sul do Brasil por exemplo ao das últimas sentenças são menos aceitáveis que a primeira Isso reflete uma face da variação pela qual a Sociolinguística também se interessa a do significado social das variantes A concordância tu é apesar de não fazer parte de determinadas variedades cultas do português não só do país já se encontra amplamente difundida na fala de diversas camadas socioeconômicas Por sua vez as construções a gente saímos e nós tava nessa região também se encontraram fortemente associadas a certos grupos de falantes especialmente os pertencentes a camadas com baixa renda eou pouca escolaridade Contudo não há nada intrínseco ao fenômeno observado nos três exemplos que torne um melhor que outro tanto é que essa avaliação é feita em grande medida em outras regiões do país O que distingue essas sentenças é o valor atribuído a um estrato da sociedade que usa ou que imaginamos que usa certas construções e não outras Essa confusão entre fazer julgamento a língua e julgamento ao falante é um dos fatores que permitem a existência e a perpetuação do preconceito linguístico em nossa sociedade Como o falso argumento de que uma construção é em si errada abrese espaço para queimaiamentos dos falantes que fazem uso dessa construção Uma das contribuições da Sociolinguística é justamente de desmascarar esse argumento intervetores pesquisadores constantemente vêm notando que não há nada nas formas variáveis de uma língua que permita afirmar que umas sejam melhores do que as outras ou que o uso de uma outra forma tenha qualquer relação com a capacidade cognitiva do falante AS FORMAS DA LÍNGUA VEICULAM ALÉM DE SIGNIFICADOS REFERENCIAIS REPRESENTACIONAIS SIGNIFICADOS SOCIAIS indicadores São elementos linguísticos sobre os quais há pouca força de avaliação podendo haver diferenciação social de uso dessas formas correlacionada à idade à região ou ao grupo social mas não quanto a motivações estilísticas As relações entre variação e mudança Passamos a outro conjunto de princípios e conceitos básicos da TVM em prol da nova de modo que a forma antiga assuma o estatuto de arcaica ou obsoleta e aos poucos deixe de ser usada Nesse caso estamos diante de um processo de mudança linguística A mudança é como dissemos um dos grandes interesses de Wlh e os autores buscaram estabelecer uma série de princípios básicos para a investigação desse processo Um deles diz respeito ao desenrolar da mudança com o tempo e novamente diverge das abordagens tradicionais da Linguística A GENERALIZAÇÃO DA MUDANÇA ATRAVÉS DA ESTRUTURA LINGUÍSTICA NÃO É UNIFORME NEM INSTANTÂNEA Para mostrar que as formas convivem num determinado espaço geográfico num grupo social e até mesmo indivíduo e a mudança não é abrupta impermeável e sistemática os autores trazem estudos dialetológicos e sociolinguísticos que oferecem exemplos da oposição arcaicoinovador bem como de alternativas sociais e estilísticas dentro do comportamento linguístico de uma dada fala Esses estudos serviram de base para a formulação dos problemas empíricos que serão abordados na seção seguinte Também a perspectiva mencionada de Saussure na qual a língua é um sistema que estritamente responde a fatores internos ou seja os fatos linguísticos somente podem ser explicados por outros fatos linguísticos é rejeitada pelos autores em mudança linguística Eles saussureanos possivelmente por conta da necessidade de se delimitar cientificamente o objeto de estudo da Linguística os fatores de natureza extralinguística foram desprezados Por sua vez Wlh introduz no estudo da língua os fatores sociais apontando uma correlação entre a estrutura linguística e a social o que coloca o contexto social como palco da mudança linguística Este é outro dos princípios fundamentais da teoria e mais um dos grandes diferenciais em relação às teorias linguísticas dominantes nos séculos XIX e XX FATORES LINGUÍSTICOS E SOCIAIS ENCONTRAMSE INTIMAMENTE RELACIONADOS NO DESENVOLVIMENTO DA MUDANÇA LINGUÍSTICA EXPLICAÇÕES APENAS EM UM OU OUTRO ASPECTO FALTARÃO AO DESCREVER AS REGULARIDADES QUE PODEM SER OBSERVADAS NOS ESTUDOS EMPÍRICOS DO COMPORTAMENTO LINGUÍSTICO Gráfico 1 Frequência em de próclise ao verbo simples em amostras de peças teatrais catarinenses por ano de nascimento dos autores adaptado de Martins 2009 187 Próclise ao verbo simples No Gráfico 1 vemos a frequência crescente de próclise ao verbo simples nos dois contextos sintáticos com sujeito pronominal eu o vi e com sujeito nominal João o viu A próclise com sujeito pronominal já era uma estratégia bastante utilizada pelos autores nascidos no século XIX os percentuais mais baixos estão na casa dos 60 Com respeito à próclise com sujeito nominal esta apresenta índices baixíssimos no mesmo período nesse momento histórico a taxa de clíticos era anotada à quase categoria A partir da segunda metade do século XIX observase uma curva ascendente a ênclise passa a competir mais substancialmente com a variante virtual a próclise Por fim percebese um uso categórico da próclise estabelecendose como a forma majoritária depois do pico de frequência No estudo da mudança frequentemente o pesquisador se depara com os dois extremos acerca de explicações sobre linguísticos de épocas passadas e de recursos práticos de variaçãomudança dos fenômenos investigados Isso traz uma implicação de outra metodologia relacionada à definição da perspectiva da análise a reconstrução deve ser feita a partir do presente ou do presente para o passado Para dar conta desse questionamento a tvm torna emprestado ao golo o princípio do uniformitarismo O objetivo desse problema é investigar o conjunto de mudanças possíveis e de condições para mudanças que podem ocorrer numa determinada estrutura Em outras palavras buscase generalizações e mesmo princípios universais que governam a estrutura e a mudança linguística a partir dos quais é possível prever direções de uma mudança A busca por restrições linguísticas de caráter universal no entanto não implica que se considere a faculdade da linguagem como uma propriedade isolada que independe da estrutura linguística e social Isso seria conflituoso com a abordagem empírica da Sociolinguística que se ocupa de fenômenos variáveis inseridos na matriz social e sujeitos a ações de fatores de natureza diversa que podem inclusive ser desfavoráveis às essas generalizações Nesse sentido os princípios não são absolutos além de se organizarem mais apontam para regularidades ou tendências gerais A busca por condições possíveis para as mudanças restritivas não se restringe ao estudo de fenômenos isolados numa dada língua Vários fenômenos em mudança precisam ser analisados e correlacionados pois existe possível entre a interlinguisticamente para chegarmos a princípios gerais O ponto de partida para observar os fatores motivadores da variaçãomudança no entanto é como e em que termos linguísticos particulares Vejamos como podemos identificar possíveis condições para uma determinada mudança Sabemos que a concordância verbal é um fenômeno variável no português falado no Brasil Um estudo sobre a variação da concordância verbal de P6 foi realizado por Monguilhott 2009 analisando a fala de moradores de Florianópolis Estabeleceuse como variável dependente a concordância verbal de P6 estabelecendo verificar os contextos favorecedores para cada uma das variantes como a concordância e sem marca verbal de concordância conforme vemos em 8a8 e 8b8 respectivamente a Todas as minhas amigas namoravam e vinham às festas aqui b As pessoas não saí do Ribeirã todo dia para vim no centro a Não eram colunas assim como té hoje b Comia o pai e a mãe na mesa os filho no chão Notamos que dos 613 dados encontrados na pesquisa 487 79 correspondem ao índice de aplicação da regra Apl em estudo nesse caso a marcação verbal de concordância Olhando para os fatores vêse o seguinte há 546 dados com sujeito anteposto como em 8a e 8b dos quais 464 84 apresentam marca verbal de concordância e há 67 dados com sujeito posposto como em 9a e 9b dos quais 23 34 apresentam marca verbal de concordância entre o sujeito e o verbo Vale lembrar que sem encaixar a variaçãomudança no quadro das relações sociais vamos ter uma visão parcial do seu condicionamento uma vez que só os fatores linguísticos externos estão sendo considerados Por este motivo dentro do problema do encaixamento linguístico também do social que pode ser observado quando estudos atestam o grau de correlação entre o fenômeno em variaçãomudança e a estrutura social grupo socioeconômico faixa etária sexogênero escolaridade etc O problema da transição Tabela 3 Percentual de palatalização do t em Florianópolis segundo a faixa etária Pagotto 2001 317 Gráfico 3 Frequência de preenchimento pronominal adaptado de Tarallo 1985 140 DIFUSÃO DA VARIAÇÃOMUDANÇA DE UM GRUPO SOCIAL A OUTRO Por grupo social entendemos assim tanto aqueles que constituem uma dada comunidade de fala como os que se distribuem geograficamente em localidades distintas Para explicar a transição na estrutura social é necessário considerar as direções das mudanças no que concerne às características sociais dos falantes e ao valor atribuído às formas linguísticas em variação Formas de maior prestígio na sociedade costumam agir como uma espécie de gatilho acelerando a difusão da mudança Como geralmente fazem parte do repertório linguístico de indivíduos pertencentes a classes dominantes as mudanças nesse caso são de cima para baixo Um exemplo de mudanças desse tipo é a difusão da palatalização do s na fala carioca que alguns estudiosos atribuem à influência da fala trazida de Portugal pela família real no século XIX Quando a nova forma se expande na língua a partir da fala vernacular temos o tipo de mudança identificado como de baixo para cima Nesse caso a forma não carrega estigma na sociedade e por vezes vem associada a traços identificatórios do grupo O pronome a gente ilustra esse tipo de mudança Eu uso indicialmente predominantemente na fala casual esse pronome tem se difundido para contextos de maior formalidade aparecendo inclusive já em certos gêneros de escrita Com relação à difusão da mudança de uma localidade a outra há mais chances de propagação de formas novas quando o número populacional das localidades é expressivo quando estão geograficamente próximas e quando há densidade de interações verbais mediante contato Vale lembrar porém que as localidades em contato não mantêm uma uniformidade de comportamento Na região Sul por exemplo os três estados apresentam um comportamento linguístico diferenciado em relação ao uso dos pronomes de P2 tu e você enquanto no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina predomina o uso de tu no Paraná o uso de você é praticamente categoria Observase que o pronome você atinge a fala catarinense e gaúcha com mais e menos intensidade respectivamente Como nos lembra Faraco 2005 196 a difusão da mudança tanto no interior da língua quanto no espectro social e no espaço geográfico não se dá uniformemente mas em ritmos e direções diferenciados Para responder à principal questão do problema da transição como as mudanças passam de um estágio a outro o pesquisador precisa atentar aos estágios de natureza linguística e extralinguísticos envolvidos no processo de variaçãomudança Com relação aos estágios de natureza linguística vimos o caso da queda do r final que se difunde de um contexto a outro afetando primeiro palavras da classes de verbos passivamente a afetar palavras de outras classes No que se refere aos estágios de natureza extralinguística observamos que a mudança se propaga partindo de um grupo social e outro como no caso da palatalização do t em Florianópolis e entre um período de tempo e outro como nos casos do preenchimento do sujeito e do objeto pronominal no português do Brasil O problema da avaliação Este problema diz respeito à atitude subjetiva e consciente de falantes em relação às formas linguísticas em variaçãomudança A atitude do falante se manifesta em dois níveis em relação à avaliação social e à avaliação linguistic A avaliação linguística das formas variantes está associada à eficiência comunicativa na interação social isto é à utilidade funcional das formas Os sistemas linguísticos em variaçãomudança possibilitam aos falantes um leque de possibilidades para expressar uma dada informação referencialrepresentacional e os falantes têm competência para compreender e usar as diferentes variantes de acordo com sua significação social o contexto e com as características do interlocutor Pensando como exemplo na construção vou ir disponível no sistema linguístico do português do Brasil Supondose que a construção faça parte da gramática de uma comunidade de fala como expressão de futuridade assim como vou sair e vou vender ela será interpretada como uma forma periférica composta por um verbo auxiliar vou mais um verbo pleno ir A ideia é a construção não entendida como perífrase que expressa futuridade na gramática de outra comunidade e sim como resultado de uso redundante do verbo pleno ir de movimento ir mais ir ela poderá ser rejeitada A aceitação ou a rejeição dessa construção depende entre outros fatores de uma avaliação linguística a respeito de seu significado referencialrepresentacional o que se reflete diretamente no nível de eficiência comunicativa do interlocutor A avaliação linguística é geralmente precedida por uma avaliação social A avaliação social das formas variantes é observada no comportamento do grupo os membros de uma comunidade de fala atribuem significado social às formas linguísticas Conforme vimos na seção sobre comunidade de fala os indivíduos partilham atitudes em relação à língua tendendo a convergir em sua avaliação É no âmbito da avaliação social que se inserem as noções de indicador marcador e estereótipo que podem ser correlacionadas a diferentes estágios de uma mudança linguística O início de uma mudança se situa muitas vezes abaixo do nível de consciência social portanto não sofre avaliação do grupo Um estágio posterior de mudança as formas linguísticas começam a ser motivadas por fatores sociaise sociais Por fim as formas podem vir a receber um reconhecimento social consciente e explícito nesse nível aparecem os estereótipos normalmente associados a reações negativas quanto à forma com relação à forma com relação ao índice de uso e a correção e a direção da forma mais conservadora Em geral a mudança linguística se inicia com um determinado grupo associada a certo valor social e gradativamente se expande para outros grupos até se completar É importante ressaltar que o surgimento e a intensificação de reações negativas podem retardar ou até mesmo impedir a mudança linguística Isso significa que os falantes podem perceber outro processo de mudança numa comunidade seja identificando os seus benefícios ou os rejeitam O nível de Busca de estágios de transmissão e incremento de fenômenos em variaçãomudança Identificação da avaliação linguística e social de fenômenos em variaçãomudança Averiguação da implementação de fenômenos em variaçãomudança Leitura complementar O clássico Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança lingüística de Weinreich Labov e Herzog 2006 1968 estabelece as bases teóricometodológicas do que se conhece hoje como Sociolinguística Variacionista Por seu caráter fundante e por levantar temas ainda atuais sua leitura é indispensável àqueles que buscam um contato maior com a área Em Preconceito lingüístico o que é como se faz Marcos Bagno 1999 discute alguns dos mitos presentes no senso comum a respeito da língua em nosso país e sugere caminhos para que se rompa o círculo vicioso composto por ensino tradicional gramáticas tradicionais e livros didáticos que ajuda a perpetuar o preconceito lingüístico Em Mudança lingüística em tempo real organizado por Maria da Conceição Paiva e Maria Eugênia L Duarte 2003 analisamse distintos fenômenos na mudança da língua falada no Brasil como a monotonia de discurso a inclusão do tema o uso do sujeito pronominal entre outros na perspectiva da mudança em tempo real de curta duração Exercícios 1 Um amigo seu sabe que você está estudando Sociolinguística e diz que tem grande interesse pela área e sempre se admirou com o fato de as pessoas falarem de modos tão diferentes O motivo do interesse segundo ele é que a diferença é evidente e observa como as palavras se tornam erro quando falam português Segundo ele a regra da língua são claras fáceis de entender existe uma forma correta para se dizer cada coisa e tudo está descrito nas gramáticas A pesquisa dele em Sociolinguística portanto seria direcionada a descobrir o que faz as pessoas se equivocar tanto a desenvolver um plano de ação para que todos falassem corretamente Explica para o seu amigo que ao contrário do que pensa a Sociolinguística não costuma observar a língua dessa forma mostre o que então o sociolinguista faz com relação a essas diferenças que percebemos na língua Lance mão dos conceitos teóricos que lhe foram apresentados neste capítulo e dê exemplos concretos de estudos variationistas 2 Weinreich Labov e Herzog no texto clássico Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança lingüística iniciam suas reflexões acerca da mudança linguística com a seguinte questão Afinal se uma língua tem de ser estruturada a fim de funcionar eficientemente como é que as pessoas continuam a falar enquanto a língua muda isto é enquanto passa por períodos de menor sistematicidade Weinreich Labov e Herzog 2006 1968 35 a Como os autores respondem a essa pergunta b A resposta oferecida pelos autores rompe com alguns pressupostos teóricos do estruturalismo saussuriano Quais são eles
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século xx Começamos falando rapidamente dos estudos históricocomparativos e os neogramáticos para em seguida tratarmos das perspectivas da linguística suíço Ferdinand de Saussure e do linguista americano Noam Chomsky O objeto da Linguística para o autor não era a fala dos indivíduos mas as intuições de pesquisadores acerca da língua e seus sujeitos sobre a gramaticidade das frases Nessa perspectiva o indivíduo é tido como um falanteouvinte ideal situado numa comunidade de fala homogênea e abstrata Tanto a abordagem neogramática como a estruturalista saussureana e a gerativista concebiam seu objeto de estudo como uma entidade homogênea Além do mais a relação desse objeto com a sociedade que o fazia uso era considerada algo teoricamente irrelevante ou até mesmo intangível Havia porém pesquisadores que diferentemente de Paul Saussure e Chomsky postulavam uma concepção efetivamente social de língua Antoine Meillet foi um deles Ao passagem do século xix para o xx o pesquisador enfatizava em seus textos o caráter social e evolutivo da língua Segundo ele como a língua é um fato social devese recorrer ao domínio social para a compreensão da dinâmica linguística Assim do ponto de vista de Meillet toda e qualquer variação na língua é motivada estritamente por fatores sociais Além de Meillet podemos apontar outros pesquisadores como uma concepção social de língua também no início do século xx Na perspectiva da Linguística soviética para Nicolai Marr por exemplo as línguas são instrumentos de poder refletindo a luta de classes sociais ao passo que o filósofo Mikhail Bakhtincriticava as ideias saussureanas defendendo um enfoque da língua na interação verbal historicamente situada Em Saussure wlh criticam principalmente a visão de língua como uma estrutura autônoma e homogênea desvinculada de fatores externos e a separação entre diacronia e sincronia Da proposta saussureana os autores assumem a noção de língua como sistema embora rejeitem a implicação direta entre sistematicidade e homogeneidade Quanto à proposta chomskyana wlh criticam a concepção de língua como um sistema homogêneo desvinculado de fatores históricos e sociais assim como a noção de comunidade de fala abstracta homogênea composta por falantesouvintes ideais Da mesma forma criticam o fazer científico com base em dados linguísticos correspondentes às intuições do pesquisador eou dos falantes Por outro lado compartilham o postulado de que a língua é um sistema abstrato de regras Nesse contexto que Weinreich Labov e Herzog lançam os fundamentos de uma teoria da variação e mudança empiricamente orientada a nossa concepção Sociolinguística Além disso os autores retoman as contribuições dos estudos que vão a língua como um fenômeno social Desse modo como herança de Meillet volta a ganhar força a noção de língua como fato social dinâmico cuja variedade é explicada por forças externas ao sistema A Sociolinguística bebeu ainda de outras fontes teóricas como os estudos de Paleontologia da Linguística Histórica e de Bilinguismo desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos na primeira metade do século xx Algumas obras foram fundamentais para a proposição e consolidação desse novo programa de estudos Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística Empirical Foundations for a Theory of Language Change publicado em 1968 por wlh Padrões Sociolinguísticos Sociolinguistic Patterns publicado por Labov em 1972 e Building on Empirical Foundations do mesmo autor de 1982 A partir de então Labov consolidou inúmeros trabalhos voltados para o estudo da língua em seu contexto social focando particularmente a variação fonéticofonológica da língua inglesa Seu campo de pesquisa sediado na Universidade da Pensilvânia EUA tornouse um centro irradiador dessa nova e intensa abordagem sociolinguística e Labov até chegou a ganhar referência da área No Brasil as pesquisas sobre a Sociolinguística Laboviana tiveram início na Universidade Federal do Rio de Janeiro na década de 1970 sob a orientação de Anthony Naro Desde então as pesquisas que se ocupam da Sociolinguística no Brasil se multiplicaram Um exemplo de regra categórica no português é o da colocação do artigo em relação ao nome que ele determina o artigo sempre aparece antes do nome dizemos a casa mas nunca casa a Do mesmo modo sabemos que é possível uma construção como o e a mas podemos dizer apenas o duo este dia sem acumular pronome demonstrativo e artigo na mesma posição A Sociolinguística considera esse tipo de regra mas este não é o seu interesse primordial Seu foco são as regras variáveis da língua aquelas que permitem em certos contextos lingüísticos sociais e estilísticos formas de uma forma ou em outros contextos outra forma ou seja que alternamse entre duas ou mais variantes formas que devem ter o mesmo significado referencialrepresentacional e ser intercambiáveis no mesmo contexto A regra variável é uma regra gramatical e sendo assim não é qual quer forma linguística que pode assumir o papel de uma das variantes uma vez que elas sofrem restrições do próprio sistema linguístico Um caso des te tipo de regra pode ser observado nas seguintes ocorrências de variação na marcação da concordância verbal de P4 citadas por Zilles et al 2000 200 e 208 a partir de uma amostra de fala do Varsul 1 Nós falamos corretamente português 2 Ah tá só porque não restaurante lindo dois pisos 3 Então muitas vezes não cansava de jogar um com o outro em apostas pra nos subís e as escadas de joelhos quem chegasse primeiro né 4 Fica só nós Enquanto as variantes linguísticas são opções de dizer a mesma coisa de várias maneiras elas podem se distinguir em sua significação social eou estilística Ao controlar grupos de fatores sociais que atuam no favorecimento ou desfavorecimento de uma das variantes na marcação da concordância de P4 estudos mostraram que escolaridade é uma variável bastante significativa a desinência padrão mos é frequentemente favorecida com o aumento da escolaridade enquanto falantes menos escolarizados tendem a usar preferência pelo morfema zero Notase aqui também uma sistematização de comportamento social como relação ao uso de determinadas regras variáveis Do ponto de vista de adaptação das formas em variação ao contexto imediato do ato de fala entendida aqui como estilo a variação na concordância de P4 também é atestada mostrando comportamento lingüístico sistemático Há uma preocupação muito maior de marcação explícita da concordância em situações de mais formalidade em que o grau de atenção à fala está mais ativado e uma tendência a um uso menor de marcação explícita quando o falante se envolve com o que está relacionado e se esquece de monitorar sua fala Desse modo as regras variáveis da língua são sistemáticas indicando padrões lingüísticos e sociais e estéticos de comportamento O termo padrão nesse caso é entendido como um uso regular e frequente de uma dada variante isto é como uma tendência de comportamento lingüístico Esse aspecto deve somente de modo descritivo ao título do clássico Padrões sociolinguísticos de Labov 2008 1972 As formas variantes como portadores de significado social Prosseguimos nosso contato com a Sociolinguística discutindo um tema bastante caro à área tratase do significado social ou valor social das formas variantes Considerando as sentenças a seguir extraídas de redações de alunos de uma escola pública de Florianópolis 5 Mais útil e três temas 6 Depois a gente começou a shopping e foram de par que diversas 7 Nós tava andando de Bike O que difere às três quanto à ocorrência de um fenômeno variável A primeira nota pois não tem as manifestações de um mesmo fenômeno o da concordância variável entre verbo e sujeito No entanto algo parece nos dizer que elas não são totalmente idênticas na manifestação desse fenômeno para muitos falantes do sul do Brasil por exemplo ao das últimas sentenças são menos aceitáveis que a primeira Isso reflete uma face da variação pela qual a Sociolinguística também se interessa a do significado social das variantes A concordância tu é apesar de não fazer parte de determinadas variedades cultas do português não só do país já se encontra amplamente difundida na fala de diversas camadas socioeconômicas Por sua vez as construções a gente saímos e nós tava nessa região também se encontraram fortemente associadas a certos grupos de falantes especialmente os pertencentes a camadas com baixa renda eou pouca escolaridade Contudo não há nada intrínseco ao fenômeno observado nos três exemplos que torne um melhor que outro tanto é que essa avaliação é feita em grande medida em outras regiões do país O que distingue essas sentenças é o valor atribuído a um estrato da sociedade que usa ou que imaginamos que usa certas construções e não outras Essa confusão entre fazer julgamento a língua e julgamento ao falante é um dos fatores que permitem a existência e a perpetuação do preconceito linguístico em nossa sociedade Como o falso argumento de que uma construção é em si errada abrese espaço para queimaiamentos dos falantes que fazem uso dessa construção Uma das contribuições da Sociolinguística é justamente de desmascarar esse argumento intervetores pesquisadores constantemente vêm notando que não há nada nas formas variáveis de uma língua que permita afirmar que umas sejam melhores do que as outras ou que o uso de uma outra forma tenha qualquer relação com a capacidade cognitiva do falante AS FORMAS DA LÍNGUA VEICULAM ALÉM DE SIGNIFICADOS REFERENCIAIS REPRESENTACIONAIS SIGNIFICADOS SOCIAIS indicadores São elementos linguísticos sobre os quais há pouca força de avaliação podendo haver diferenciação social de uso dessas formas correlacionada à idade à região ou ao grupo social mas não quanto a motivações estilísticas As relações entre variação e mudança Passamos a outro conjunto de princípios e conceitos básicos da TVM em prol da nova de modo que a forma antiga assuma o estatuto de arcaica ou obsoleta e aos poucos deixe de ser usada Nesse caso estamos diante de um processo de mudança linguística A mudança é como dissemos um dos grandes interesses de Wlh e os autores buscaram estabelecer uma série de princípios básicos para a investigação desse processo Um deles diz respeito ao desenrolar da mudança com o tempo e novamente diverge das abordagens tradicionais da Linguística A GENERALIZAÇÃO DA MUDANÇA ATRAVÉS DA ESTRUTURA LINGUÍSTICA NÃO É UNIFORME NEM INSTANTÂNEA Para mostrar que as formas convivem num determinado espaço geográfico num grupo social e até mesmo indivíduo e a mudança não é abrupta impermeável e sistemática os autores trazem estudos dialetológicos e sociolinguísticos que oferecem exemplos da oposição arcaicoinovador bem como de alternativas sociais e estilísticas dentro do comportamento linguístico de uma dada fala Esses estudos serviram de base para a formulação dos problemas empíricos que serão abordados na seção seguinte Também a perspectiva mencionada de Saussure na qual a língua é um sistema que estritamente responde a fatores internos ou seja os fatos linguísticos somente podem ser explicados por outros fatos linguísticos é rejeitada pelos autores em mudança linguística Eles saussureanos possivelmente por conta da necessidade de se delimitar cientificamente o objeto de estudo da Linguística os fatores de natureza extralinguística foram desprezados Por sua vez Wlh introduz no estudo da língua os fatores sociais apontando uma correlação entre a estrutura linguística e a social o que coloca o contexto social como palco da mudança linguística Este é outro dos princípios fundamentais da teoria e mais um dos grandes diferenciais em relação às teorias linguísticas dominantes nos séculos XIX e XX FATORES LINGUÍSTICOS E SOCIAIS ENCONTRAMSE INTIMAMENTE RELACIONADOS NO DESENVOLVIMENTO DA MUDANÇA LINGUÍSTICA EXPLICAÇÕES APENAS EM UM OU OUTRO ASPECTO FALTARÃO AO DESCREVER AS REGULARIDADES QUE PODEM SER OBSERVADAS NOS ESTUDOS EMPÍRICOS DO COMPORTAMENTO LINGUÍSTICO Gráfico 1 Frequência em de próclise ao verbo simples em amostras de peças teatrais catarinenses por ano de nascimento dos autores adaptado de Martins 2009 187 Próclise ao verbo simples No Gráfico 1 vemos a frequência crescente de próclise ao verbo simples nos dois contextos sintáticos com sujeito pronominal eu o vi e com sujeito nominal João o viu A próclise com sujeito pronominal já era uma estratégia bastante utilizada pelos autores nascidos no século XIX os percentuais mais baixos estão na casa dos 60 Com respeito à próclise com sujeito nominal esta apresenta índices baixíssimos no mesmo período nesse momento histórico a taxa de clíticos era anotada à quase categoria A partir da segunda metade do século XIX observase uma curva ascendente a ênclise passa a competir mais substancialmente com a variante virtual a próclise Por fim percebese um uso categórico da próclise estabelecendose como a forma majoritária depois do pico de frequência No estudo da mudança frequentemente o pesquisador se depara com os dois extremos acerca de explicações sobre linguísticos de épocas passadas e de recursos práticos de variaçãomudança dos fenômenos investigados Isso traz uma implicação de outra metodologia relacionada à definição da perspectiva da análise a reconstrução deve ser feita a partir do presente ou do presente para o passado Para dar conta desse questionamento a tvm torna emprestado ao golo o princípio do uniformitarismo O objetivo desse problema é investigar o conjunto de mudanças possíveis e de condições para mudanças que podem ocorrer numa determinada estrutura Em outras palavras buscase generalizações e mesmo princípios universais que governam a estrutura e a mudança linguística a partir dos quais é possível prever direções de uma mudança A busca por restrições linguísticas de caráter universal no entanto não implica que se considere a faculdade da linguagem como uma propriedade isolada que independe da estrutura linguística e social Isso seria conflituoso com a abordagem empírica da Sociolinguística que se ocupa de fenômenos variáveis inseridos na matriz social e sujeitos a ações de fatores de natureza diversa que podem inclusive ser desfavoráveis às essas generalizações Nesse sentido os princípios não são absolutos além de se organizarem mais apontam para regularidades ou tendências gerais A busca por condições possíveis para as mudanças restritivas não se restringe ao estudo de fenômenos isolados numa dada língua Vários fenômenos em mudança precisam ser analisados e correlacionados pois existe possível entre a interlinguisticamente para chegarmos a princípios gerais O ponto de partida para observar os fatores motivadores da variaçãomudança no entanto é como e em que termos linguísticos particulares Vejamos como podemos identificar possíveis condições para uma determinada mudança Sabemos que a concordância verbal é um fenômeno variável no português falado no Brasil Um estudo sobre a variação da concordância verbal de P6 foi realizado por Monguilhott 2009 analisando a fala de moradores de Florianópolis Estabeleceuse como variável dependente a concordância verbal de P6 estabelecendo verificar os contextos favorecedores para cada uma das variantes como a concordância e sem marca verbal de concordância conforme vemos em 8a8 e 8b8 respectivamente a Todas as minhas amigas namoravam e vinham às festas aqui b As pessoas não saí do Ribeirã todo dia para vim no centro a Não eram colunas assim como té hoje b Comia o pai e a mãe na mesa os filho no chão Notamos que dos 613 dados encontrados na pesquisa 487 79 correspondem ao índice de aplicação da regra Apl em estudo nesse caso a marcação verbal de concordância Olhando para os fatores vêse o seguinte há 546 dados com sujeito anteposto como em 8a e 8b dos quais 464 84 apresentam marca verbal de concordância e há 67 dados com sujeito posposto como em 9a e 9b dos quais 23 34 apresentam marca verbal de concordância entre o sujeito e o verbo Vale lembrar que sem encaixar a variaçãomudança no quadro das relações sociais vamos ter uma visão parcial do seu condicionamento uma vez que só os fatores linguísticos externos estão sendo considerados Por este motivo dentro do problema do encaixamento linguístico também do social que pode ser observado quando estudos atestam o grau de correlação entre o fenômeno em variaçãomudança e a estrutura social grupo socioeconômico faixa etária sexogênero escolaridade etc O problema da transição Tabela 3 Percentual de palatalização do t em Florianópolis segundo a faixa etária Pagotto 2001 317 Gráfico 3 Frequência de preenchimento pronominal adaptado de Tarallo 1985 140 DIFUSÃO DA VARIAÇÃOMUDANÇA DE UM GRUPO SOCIAL A OUTRO Por grupo social entendemos assim tanto aqueles que constituem uma dada comunidade de fala como os que se distribuem geograficamente em localidades distintas Para explicar a transição na estrutura social é necessário considerar as direções das mudanças no que concerne às características sociais dos falantes e ao valor atribuído às formas linguísticas em variação Formas de maior prestígio na sociedade costumam agir como uma espécie de gatilho acelerando a difusão da mudança Como geralmente fazem parte do repertório linguístico de indivíduos pertencentes a classes dominantes as mudanças nesse caso são de cima para baixo Um exemplo de mudanças desse tipo é a difusão da palatalização do s na fala carioca que alguns estudiosos atribuem à influência da fala trazida de Portugal pela família real no século XIX Quando a nova forma se expande na língua a partir da fala vernacular temos o tipo de mudança identificado como de baixo para cima Nesse caso a forma não carrega estigma na sociedade e por vezes vem associada a traços identificatórios do grupo O pronome a gente ilustra esse tipo de mudança Eu uso indicialmente predominantemente na fala casual esse pronome tem se difundido para contextos de maior formalidade aparecendo inclusive já em certos gêneros de escrita Com relação à difusão da mudança de uma localidade a outra há mais chances de propagação de formas novas quando o número populacional das localidades é expressivo quando estão geograficamente próximas e quando há densidade de interações verbais mediante contato Vale lembrar porém que as localidades em contato não mantêm uma uniformidade de comportamento Na região Sul por exemplo os três estados apresentam um comportamento linguístico diferenciado em relação ao uso dos pronomes de P2 tu e você enquanto no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina predomina o uso de tu no Paraná o uso de você é praticamente categoria Observase que o pronome você atinge a fala catarinense e gaúcha com mais e menos intensidade respectivamente Como nos lembra Faraco 2005 196 a difusão da mudança tanto no interior da língua quanto no espectro social e no espaço geográfico não se dá uniformemente mas em ritmos e direções diferenciados Para responder à principal questão do problema da transição como as mudanças passam de um estágio a outro o pesquisador precisa atentar aos estágios de natureza linguística e extralinguísticos envolvidos no processo de variaçãomudança Com relação aos estágios de natureza linguística vimos o caso da queda do r final que se difunde de um contexto a outro afetando primeiro palavras da classes de verbos passivamente a afetar palavras de outras classes No que se refere aos estágios de natureza extralinguística observamos que a mudança se propaga partindo de um grupo social e outro como no caso da palatalização do t em Florianópolis e entre um período de tempo e outro como nos casos do preenchimento do sujeito e do objeto pronominal no português do Brasil O problema da avaliação Este problema diz respeito à atitude subjetiva e consciente de falantes em relação às formas linguísticas em variaçãomudança A atitude do falante se manifesta em dois níveis em relação à avaliação social e à avaliação linguistic A avaliação linguística das formas variantes está associada à eficiência comunicativa na interação social isto é à utilidade funcional das formas Os sistemas linguísticos em variaçãomudança possibilitam aos falantes um leque de possibilidades para expressar uma dada informação referencialrepresentacional e os falantes têm competência para compreender e usar as diferentes variantes de acordo com sua significação social o contexto e com as características do interlocutor Pensando como exemplo na construção vou ir disponível no sistema linguístico do português do Brasil Supondose que a construção faça parte da gramática de uma comunidade de fala como expressão de futuridade assim como vou sair e vou vender ela será interpretada como uma forma periférica composta por um verbo auxiliar vou mais um verbo pleno ir A ideia é a construção não entendida como perífrase que expressa futuridade na gramática de outra comunidade e sim como resultado de uso redundante do verbo pleno ir de movimento ir mais ir ela poderá ser rejeitada A aceitação ou a rejeição dessa construção depende entre outros fatores de uma avaliação linguística a respeito de seu significado referencialrepresentacional o que se reflete diretamente no nível de eficiência comunicativa do interlocutor A avaliação linguística é geralmente precedida por uma avaliação social A avaliação social das formas variantes é observada no comportamento do grupo os membros de uma comunidade de fala atribuem significado social às formas linguísticas Conforme vimos na seção sobre comunidade de fala os indivíduos partilham atitudes em relação à língua tendendo a convergir em sua avaliação É no âmbito da avaliação social que se inserem as noções de indicador marcador e estereótipo que podem ser correlacionadas a diferentes estágios de uma mudança linguística O início de uma mudança se situa muitas vezes abaixo do nível de consciência social portanto não sofre avaliação do grupo Um estágio posterior de mudança as formas linguísticas começam a ser motivadas por fatores sociaise sociais Por fim as formas podem vir a receber um reconhecimento social consciente e explícito nesse nível aparecem os estereótipos normalmente associados a reações negativas quanto à forma com relação à forma com relação ao índice de uso e a correção e a direção da forma mais conservadora Em geral a mudança linguística se inicia com um determinado grupo associada a certo valor social e gradativamente se expande para outros grupos até se completar É importante ressaltar que o surgimento e a intensificação de reações negativas podem retardar ou até mesmo impedir a mudança linguística Isso significa que os falantes podem perceber outro processo de mudança numa comunidade seja identificando os seus benefícios ou os rejeitam O nível de Busca de estágios de transmissão e incremento de fenômenos em variaçãomudança Identificação da avaliação linguística e social de fenômenos em variaçãomudança Averiguação da implementação de fenômenos em variaçãomudança Leitura complementar O clássico Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança lingüística de Weinreich Labov e Herzog 2006 1968 estabelece as bases teóricometodológicas do que se conhece hoje como Sociolinguística Variacionista Por seu caráter fundante e por levantar temas ainda atuais sua leitura é indispensável àqueles que buscam um contato maior com a área Em Preconceito lingüístico o que é como se faz Marcos Bagno 1999 discute alguns dos mitos presentes no senso comum a respeito da língua em nosso país e sugere caminhos para que se rompa o círculo vicioso composto por ensino tradicional gramáticas tradicionais e livros didáticos que ajuda a perpetuar o preconceito lingüístico Em Mudança lingüística em tempo real organizado por Maria da Conceição Paiva e Maria Eugênia L Duarte 2003 analisamse distintos fenômenos na mudança da língua falada no Brasil como a monotonia de discurso a inclusão do tema o uso do sujeito pronominal entre outros na perspectiva da mudança em tempo real de curta duração Exercícios 1 Um amigo seu sabe que você está estudando Sociolinguística e diz que tem grande interesse pela área e sempre se admirou com o fato de as pessoas falarem de modos tão diferentes O motivo do interesse segundo ele é que a diferença é evidente e observa como as palavras se tornam erro quando falam português Segundo ele a regra da língua são claras fáceis de entender existe uma forma correta para se dizer cada coisa e tudo está descrito nas gramáticas A pesquisa dele em Sociolinguística portanto seria direcionada a descobrir o que faz as pessoas se equivocar tanto a desenvolver um plano de ação para que todos falassem corretamente Explica para o seu amigo que ao contrário do que pensa a Sociolinguística não costuma observar a língua dessa forma mostre o que então o sociolinguista faz com relação a essas diferenças que percebemos na língua Lance mão dos conceitos teóricos que lhe foram apresentados neste capítulo e dê exemplos concretos de estudos variationistas 2 Weinreich Labov e Herzog no texto clássico Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança lingüística iniciam suas reflexões acerca da mudança linguística com a seguinte questão Afinal se uma língua tem de ser estruturada a fim de funcionar eficientemente como é que as pessoas continuam a falar enquanto a língua muda isto é enquanto passa por períodos de menor sistematicidade Weinreich Labov e Herzog 2006 1968 35 a Como os autores respondem a essa pergunta b A resposta oferecida pelos autores rompe com alguns pressupostos teóricos do estruturalismo saussuriano Quais são eles