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ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 1 tteexxttoo 1 1 PPO OR R U UM MA A D DEEFFIIN NIIÇÇÃ ÃO O FFIILLO OS SÓ ÓFFIICCA A D DA A EED DU UCCA AÇÇÃ ÃO O ccoonnttrriibbuuiiççõõeess ddaa ffiilloossooffiiaa ppaarraa ppeennssaarr oo ffaazzeerr eedduuccaattiivvoo Haveria ainda hoje sentido em se buscar a filosofia para definir a educação O que teria atualmente a filosofia a contribuir para a teoria sobre a educação Para aqueles que a ela não foram introduzidos a filosofia passa freqüentemente por ser um conhecimento abstrato e distante de tudo o que se vive e o seu ensino uma longa enumeração de respostas que autores do passado remoto forneceram a questões que não são mais as nossas que jamais nos ocorreria interrogar Em uma palavra um conhecimento inútil e enfadonho e ainda por cima muito difícil de ser apreendido Se hoje essa maneira de ver as coisas se apóia em velhos preconceitos e em um certo acomodamento mental isso nem sempre foi assim no passado longe de nascer das resistências que a reflexão pode engendrar face ao imediatismo e à rapidez que nosso estilo de vida comporta atualmente ela se constituiu numa reação contra o poder dogmático que em ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 2 nome da filosofia foi exercido pelo Estado pela tradição ou pelos religiosos A substituição da antiga autoridade filosófica pelas referências provenientes do saber científico consolidouse no século passado em função da crescente confiabilidade que esse último alcançou e foi finalmente selada em nossos tempos pela definitiva adoção da identidade que as ciências da educação passaram a conceder à pedagogia Assim resume Franco Cambi no século XX o saber pedagógico se emancipou do modelo metafísico que desde a antigüidade até pelo menos o século XVII dominou a educação fornecendo definições acabadas sobre sua natureza e seus fins o declínio do modelo metafísico da pedagogia tinha começado entre os séculos XVII e XVIII com Locke aumentando depois com Rousseau e Kant com o romantismo e o positivismo para expandirse em nosso século onde permaneceu como apanágio de posições como o idealismo como o pensamento católico neoescolástico ou espiritualístico A centralidade da especulação filosófica como guia da pedagogia foi substituída no pensamento contemporâneo pela centralidade da ciência e de uma ciência autônoma cada vez mais autônoma em relação à filosofia1 A concepção histórica que Cambi defende para a pedagogia a concepção científica mantevese largamente dominante na educação a partir da modernidade sobretudo no que se refere à definição da prática educacional que teria sido libertada da dependência das verdades definidas de uma vez por todas pela metafísica Antes o fazer educativo era apenas um espaço de aplicação das leis e determinações absolutas engendradas pela especulação com o advento da ciência introduzse uma atitude radicalmente diferente que enfatiza e valoriza a criação e 1 Franco Cambi História da Pedagogia São Paulo Ed UNESP 1999 p 402 ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 3 experimentação de novos métodos e procedimentos técnicos para o ensino tanto quanto para a administração da educação escolarizada Na definição cientificista da educação o fazer educativo é campo de permanente exploração das ciências humanas feitas agora ciências da educação Assim a influência da filosofia foi sendo substituída pela autoridade do conhecimento científico que à medida que vai se especializando e complexificando passa a fornecer tantas definições para a educação quantos são os ramos da ciência e em seu interior as correntes assumidas pelos cientistas Para muitos isso representou a superação definitiva do pensamento filosófico como fonte de construção dos sentidos do que é a educação de suas finalidades de como e porque se deve ensinar E de fato para muitos sem o aval que a crença numa verdade absoluta e incorruptível lhe outorgava isso é sem poder recorrer à autoridade metafísica que a ciência havia destronado a filosofia teria que ter seu papel definitivamente reduzido De disciplina específica e soberana que anunciava as verdades que nada nem ninguém poderia contestar tudo a que ela poderia aspirar de agora por diante era ao posto de uma reflexão que as ciências deveriam manter sobre sua própria prática sobre seu método sobre sua coerência interna sobre a validade de seus argumentos definições e deduções em sua contextualização histórica A filosofia havia se transformado em apenas um momento do fazer metodológico do investigador Mas paralelamente a essa redução a que foi submetida pela ciência que a tornou uma etapa especializada de seu fazer investigativo a filosofia se viu como por exemplo no caso da política e da educação objeto do movimento oposto que a ampliou de uma forma inaudita ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 4 Assim no início do século Antonio Gramsci proclamava todos são filósofos2 No campo da educação a concepção gramsciana de filosofia exerceu uma enorme influência sobretudo a partir dos anos 1980 vindo somarse a uma tendência mais antiga de designar como filosofia não mais uma atividade conscientemente realizada mas genericamente um modo de ser de um indivíduo ou de um grupo Na medida de nossas forças construímos então uma filosofia e a ela nos acomodamos tão bem como tão mal em nossa ânsia e inquietação de compreender e de pacificar o espírito Tais filosofias individuais não se articulam porém em sistemas filosóficos Esses quando não são criações pedantes de gabinete mas expressões reais de filosofia representam e caracterizam uma época um povo ou uma classe de pessoas Porque no sentido realístico de que falamos de filosofia tal seja a vida tal seja a civilização tal será a filosofia A filosofia de um grupo que luta corajosamente para viver não é a mesma de outro cujas facilidades transcorrem em uma tranqüila e rica abundância Conforme o tipo de experiência de cada um será a filosofia de cada um3 Ou como resumiu o autor dessas palavras o educador Anísio Teixeira conforme o tipo de experiência de cada um será a filosofia de cada um4 Face à decadência dos grandes sistemas teóricos e das verdades que produziam a filosofia já pode ser confundida com a própria a atividade de pensar5 É bem verdade que essa definição mais democrática da filosofia rompia com o elitismo que consistia em reservar o saber a uma pequena elite afastada do cotidiano dos seres comuns mas em contrapartida ao naturalizar a prática filosófica isso é ao supor que a 2 Antonio Gramsci Introdução ao estudo da filosofia e do materialismo histórico Alguns pontos de referência preliminares in Obras escolhidas Lisboa Editorial Estampa 1974 p 25 3 Anísio Teixeira Pequena introdução à filosofia da educação A Escola Progressiva ou A Transformação da Escola 6 ed Rio de Janeiro DPA 2000 p 170 4 Id ibid p 170 5 Id ib p 168 ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 5 filosofia se realiza sempre e em toda parte espontâneamente sem que seja necessária qualquer decisão deliberada ao identificar inteiramente a cultura de um povo a uma filosofia essa tendência por ocultar o que significou em sua origem a invenção da filosofia Pois a filosofia não começou como um pensar genérico nem apareceu do movimento irrefletido pelo qual as sociedades se constróem estabelecendo valores normas costumes e finalidades comuns sua invenção está historicamente ligada à invenção da democracia correspondendo ao projeto de crítica e superação dos dogmas e das dominações ao projeto de autonomia Decerto esta vocação original da filosofia foi muito cedo interrompida para começar com a escola platônica que se opôs firmemente a mais de duzentos anos de tradição democrática e não há como negar que a história da filosofia é uma história elitista Mas também é preciso dizer que foi como luta contra este elitismo que as mais belas páginas filosóficas foram escritas Há que se temer que a naturalização da filosofia leve não só a desperdiçar esse rico patrimônio que é o de nosso pensamento mas o que é ainda pior a que nossa atualidade rompa definitivamente com ele tornandose cegamente submissa aos novos dogmas e dominações de nossa sociedade Definida como atividade plenamente inserida na vida cotidiana de cada um pesquisador ou homem comum a filosofia tornase o campo das escolhas dos valores Mas questão que os filósofos nunca deixaram de fazer em que então a filosofia a reflexão se apoiaria para fundamentar essa decisão Como para a modernidade a filosofia só é atividade especializada se ela se fizer científica a resposta mais evidente é ela deveria se amparar na crítica racional na razão científica que se emancipou do dogmatismo metafísico Considerando a imensidão do terreno sobre o qual se debruça o pensar e o agir humano como garantir em ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 6 toda parte e sempre o domínio das regras científicas É preciso convir que é impossível fazer caber a realidade humana nos estreitos limites da racionalidade científica Assim deduz Anísio Teixeira tudo que não decorre das certezas rigorosas da razão deve ser comparado à arte à profecia à crença A filosofia não busca verdade no sentido estritamente científico do termo mas valores sentido interpretações mais ou menos ricas de vida Vai às causas últimas para usar a velha expressão porquanto nos deve levar à compreensão mais larga mais profunda e mais cheia de sentido que for possível obter do universo à vista de tudo que o homem fez e conhece na terra A filosofia tem assim tanto de literário quanto de científico Científicas devem ser as suas bases os seus postulados as suas premissas literárias ou artísticas as suas conclusões a sua projeção as suas profecias a sua visão E nesse sentido a filosofia se confunde com a atividade de pensar no que ela encerra de perplexidade de dúvida de imaginação e de hipotético Quando o conhecimento é suscetível de verificação transformase em ciência e enquanto permanece como visão como simples hipótese de valor sujeito aos vaivéns da apreciação atual dos homens e do estado presente de suas instituições diremos é filosofia6 Haveria pois uma produção científica da educação que teria por tarefa a identificação de determinações observáveis de regularidades verificáveis de explicações capazes de dotar o fazer educativo de instrumentos de controle de predição e de planificação e haveria também uma produção filosófica da educação que mantida e apoiada pela própria racionalidade científica estaria presente e atuante nas ciências da educação Quanto àquilo que a razão não pode afiançar essa seria uma elaboração filosófica que não podendo se converter em ciência deveria permanecer como intuição como visão como hipótese de valor 6 Id ibid p 168 ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 7 É que a partir da modernidade a educação como tantos outros domínios da vida social esteve inteiramente subjugada pela valorização do saber ou dos saberes científicos Essa confiança na razão foi tão desmesurada que aquilo que se apresentara originalmente como resposta de ruptura do dogmatismo da metafísica acabou por se tornar como um novo dogma E tal como ocorrera com a filosofia ainda que abrindo espaço para muitos inegáveis avanços a ciência não tardou a pretender apresentarse como saber absoluto Especialmente no campo das ciências humanas e muito particularmente na formação humana a aspiração a um saber totamente objetivo a pretensão à certeza ainda que disfórmica e conflituosa sobre o enigma humano sobre o enigma da educação estão na base do dogma científico e toda a mistificação em torno dos métodos geniais das técnicas todo poderosas e das tecnologias milagrosas Ora da insistência anteriormente metafísica e na modernidade científica na identificação de fontes legítimas para a explicação o controle e a predição do sentido humano e social resulta a incapacidade de lidar com o que não pode ser inteiramente determinado definido de antemão resulta também a tendência a querer eliminar totalmente do horizonte de nossas preocupações o processo pelo qual o homem cria continuamente social e coletivamente as determinações para seu modo de existência individual e coletiva De modo que se sob a influência científica o fazer educacional de fato se emancipou das concepções dogmáticas da filosofia que o reduziam a mero terreno de aplicação de suas verdades foi só para melhor se submetêlo ao domínio da autoridade científica que ela ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 8 também pretendeu estabelecer antecipadamente as regras e os procedimentos pelos quais a educação deveria forçosamente se pautar Assim sendo a natureza indeterminada e indeterminável do fazer educativo pela qual ele existe como criação permanente de um sentido sempre singular e como deliberação racional e razoável que só a liberdade pode colocar em perspectiva acabou mais uma vez sendo ocultada A democracia é o projeto de romper o fechamento em nível coletivo A filosofia que cria a subjetividade com capacidade de refletir é o projeto de romper com o fechamnto do pensamento O nascimento da filosofia e o nascimento da democracia não coincidem eles cosignificam Ambos são expressões e encarnações centrais do projeto de autonomia7 Portanto sob a perspectiva democrática isso é à luz do projeto de autonomia individual e coletiva a filosofia não é a atividade espontânea pela qual as sociedades criam seus costumes valores representações e finalidades mas a forma sistemática e deliberada de interrogar esta criação Ela é a busca de definição em primeiro lugar do espaço que cabe à deliberação e à iniciativa humana individualmente como decisão que constitui a conduta ética e coletivamente como política nessa acepção que em grande escala o autor mencionado compartilhava com Hannah Arendt Do ponto de vista ainda da democracia tampouco a crítica da modernidade ao pensamento metafísico pode ser avaliada pelo que dela resultou ou pelo seu fracasso mais do que um acontecimento meramente intelectual à modernidade corresponderam conquistas 7 Cornelius Castoriadis O fim da filosofia in Encruzilhadas do Labirinto III O Mundo fragmentado Rio de Janeiro Paz e Terra 1991 p 235 ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 9 sociais que a tornaram um momento muito especial de criação socialhistórica Nesse momento e após muitos séculos a definição filosófica da educação voltou a buscar na radicalidade de sua tradição de questionamento seu caráter eminentemente instituinte Essa dimensão instituinte do fazer educativo foi proclamada com insistência durante o período da Revolução Francesa que redescobriu a direta relação entre este fazer e a instituição política da sociedade Decorre daí uma nova definição filosófica da educação uma definição política Aos poucos porém em face das exigências de construção de uma sociedade nova e unificada a autoridade científica foi retomando o poder que havia sido subtraído ao dogma a prática do controle se reinstituiu pela ambição ampliada de uma definição científica da educação que promove as ciências da educação em referências absolutas para os métodos e procedimentos de administração e de realização do fazer educativo Muito particularmente a psicologia no que se refere aos aspectos individuais e a estatística no que se refere ao aspecto coletivo passam a ser irrestritamente valorizadas no campo educativo Não se pode dizer que essas definições especializadas da educação tenham liberado o fazer educativo de seus enigmas apenas ajudaram a ocultálo Sem dúvida nossos tempos já não desconhecem os efeitos nefastos do mito do progresso técnicocientífico que JeanJacques Rousseau começara a denunciar e os riscos da descontrolada ambição de domínio racional da realidade Como diria Agnes Heller hoje sabemos que tudo tem seu preço Mas nem por isso nos tornamos mais capazes de interferir coletivamente sobre esses processos Nem por isso nos tornamos mais imunes à sedução do mito da eficácia das técnicas e da validade universal dos discursos especializados ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 10 Por isso na área da educação as diferentes disciplinas dificilmente convergirão para uma compreensão organizada e harmônica da realidade humana e social e não é essa a função da filosofia Ao contrário sem o questionamento de seus limites essas perspectivas continuarão disputando o privilégio de fornecer a definição acabada e total para a educação sob a forma da resposta mais conveniente para os dilemas que ela coloca Mas a tentação de fornecer as explicações acabadas para o humano e a sociedade é um traço comum entre a ciência e a filosofia da modernidade Um dos maiores expoentes da filosofia moderna Immanuel Kant havia começado a demonstrar os limites do conhecimento científico no que se refere ao homem e à sociedade sob esse aspecto sua contribuição para a definição filosófica da educação é inegável ainda que pouco explorada No entanto ele julgou poder estabelecer não só os fundamentos universais e absolutos para o entendimento humano mas também as bases inquestionáveis de um conhecimento prático sucumbindo à tentação de estabelecer parâmetros universais que reduziriam a educação a uma simples questão de método Todavia qualquer definição que parta apenas das determinações que pesam sobre a natureza humana e social e não igualmente do questionamento dos limites dessas determinações é nefasta para a educação Voltase assim repetidamente à tradição platônica e à herança metafísica Com Platão começa a torção e a distorção platônica que dominou a história da filosofia ou pelo menos a sua principal corrente O filósofo deixa de ser um cidadão Sai da pólis ou colocase acima dela e diz às ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 11 pessoas o que devem fazer deduzindo isso de seu próprio conhecimento8 Começa com Platão diz Cornelius Castoriadis a crença de que se possa encontrar uma teoria única e válida para todas as questões sobre o humano uma ontologia unitária da qual em seguida se tenta derivar o regime político ideal É essa a torção e a distorção que sofrem primeiramente a filosofia e em seguida a ciência moderna a de acreditar que o conhecimento pode e deve substituir a liberdade humana Em fins do século XIX Friedrich Nietzsche afirmava que só seríamos de fato modernos quando enterrando de uma vez por todas a tradição platônica abraçássemos definitivamente o nihilismo Não haveria então outra opção para superar o ideal do saber absoluto Não são poucos os que buscando evitar os erros modernos acabam por ceder ante outras seduções como a do subjetivismo e do relativismo das concepções que pretendem que nada é possível dizer sobre o humano e que suspeitam das intenções dominadoras de todo projeto educativo Dessa forma alguns críticos pósmodernos renunciam à filosofia como práxis e à educação como ação deliberada e racional Mas feita compromisso racional e deliberado com o projeto de autonomia a filosofia pode definir a educação como prática de formação coletiva de subjetividades reflexivas e deliberantes de que a democracia carece Mas não há método ou regra ou receita que garanta antecipadamente o êxito de uma empreitada em que se trata na verdade de socializar os indivíduos com base nas instituições 8 Idem p 236237 ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 12 heterônomas da sociedade e já encarnadas por eles para a criação de um novo modo de existência individual e coletiva em que a autonomia seja possível Não há método ou regra ou receita eficaz para garantir que se vai desistir para sempre de toda ambição de controle da educação ou para garantir que se vá admitir a liberdade a rebeldia o erro a singularidade do aluno sua autocriação concretamente manifestada não como um obstáculo mas como uma condição essencial da construção comum da educação Não há método ou regra ou receita que garanta antecipadamente o êxito de uma empreitada em que se trata de realizar a cada dia a descoberta do imponderável da criação com base em todas as teorias e métodos e técnicas que tomados dogmaticamente acabam por ocultála Não há método ou regra ou receita que garanta antecipadamente o êxito do fazer educativo Eis o que é próprio da definição filosófica da educação à luz do projeto de autonomia humana individual e coletiva elucidar o enigma do fazer educativo cf infra p 22 13 A AN NÍÍS SIIO O TTEEIIXXEEIIR RA A Na medida de nossas forças construímos então uma filosofia e a ela nos acomodamos tão bem como tão mal em nossa ânsia e inquietação de compreender e de pacificar o espírito Tais filosofias individuais não se articulam porém em sistemas filosóficos Esses quando não são criações pedantes de gabinete mas expressões reais de filosofia representam e caracterizam uma época um povo ou uma classe de pessoas Porque no sentido realístico de que falamos de filosofia tal seja a vida tal seja a civilização tal será a filosofia A filosofia de um grupo que luta corajosamente para viver não é a mesma de outro cujas facilidades transcorrem em uma tranqüila e rica abundância Conforme o tipo de experiência de cada um será a filosofia de cada um TEIXEIRA A Pequena introdução à filosofia da educação A Escola Progressiva ou A Transformação da Escola 6 ed Rio de Janeiro DPA 2000 p 170 A filosofia se traduz assim em educação e educação só é digna desse nome quando está percorrida de uma larga visão filosófica Filosofia da educação não é pois senão o estudo dos problemas que se referem à formação dos melhores hábitos mentais e morais em relação às dificuldades da vida social contemporânea Dewey Considerada assim a filosofia como a investigadora dos valores mentais e morais mais compreensivos mais harmoniosos e mais ricos que possam existir na vida social contemporânea está claro que a filosofia dependerá como a educação do tipo de sociedade que se tiver em vista Id p 171 De todos os lados da educação lhe batem à porta De todos os lados as instituições humanas se abalam e se transformam Transformase a família transformase a vida econômica transformase a vida industrial transformase a igreja transformase o estado transformamse todas as instituições as mais rígidas e as mais sólidas e de todas essas transformações chegam à escola um eco e uma exigência A escola tem que dar ouvidos a todos e a todos servir Será o teste de sua flexibilidade da inteligência de sua organização e da inteligência dos seus servidores Esses têm de honrar as responsabilidades que as circunstâncias lhes confiam e só o poderão fazer transformandose a si mesmos e transformando a escola Id p 173 14 CCO OR RN NEELLIIU US S CCA AS STTO OR RIIA AD DIIS S Atravessamos um período de crise prolongada da cultura ocidental À crise pertencem também a proclamação em particular por Heidegger mas não só por ele do fim da filosofia e toda a gama de retóricas desconstrucionistas e pósmodernistas Pois a filosofia é um elemento central do projeto greco ocidental de autonomia individual e social o fim da filosofia significaria nem mais nem menos do que o fim da liberdade A liberdade não está apenas ameaçada pelos regimes totalitários ou autoritários E sim de maneira mais escondida porém não menos forte pela atrofia do conflito e da crítica pela expansão da amnésia e da irrelevância pela incapacidade crescente de questionar o presente e as instituições existentes quer sejam propriamente políticas ou contenham concepções do mundo Nessa crítica a filosofia sempre teve uma parte central ainda que na maior parte do tempo sua ação tenha sido indireta CASTORIADIS C O fim da filosofia in As encruzilhadas do labirinto III o mundo fragmentado Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 pp 239240 Um filósofo escreve e publica porque crê que tem coisas verdadeiras e importantes a dizer mas também porque quer ser discutido Ser discutido implica a possibilidade de ser criticado e eventualmente refutado E todos os grandes filósofos do passado inclusive Kant Fichte e Schelling explicitamente discutiram criticaram e refutaram ou pensaram que refutaram seus predecessores Pensavam com razão que pertenciam a um espaço socialhistórico público e transtemporal na ágora transhistórica da reflexão e que sua crítica pública dos outros filósofos era um fator essencial da manutenção e do alargamento desse espaço como sendo de liberdade É por isso que para um filósofo não pode haver história da filosofia a não ser crítica A crítica pressupõe evidentemente o esforço mais laborioso e mais desinteressado para compreender a obra crítica Mas ela exige também uma vigilância constante quanto às limitações possíveis desta obra limitações que resultam do fechamento quase inevitável de toda obra de pensamento que acompanha a sua ruptura com o fechamento precedente Id p 243244 15 IIM MM MA AN NU UEELL KKA AN NTT O homem é a única criatura que precisa ser educada Por educação entende se o cuidado de sua infância a conservação o trato a disciplina e a instrução com a formação Conseqüentemente o homem é infante educando e discípulo A disciplina transforma a animalidade em humanidade Um animal é por seu próprio instinto tudo aquilo que pode ser uma razão exterior a ele tomou por ele antecipadamente todos os cuidados necessários Mas o homem tem necessidade de sua própria razão Não tem instinto e precisa formar por si mesmo o projeto de sua conduta Entretanto porque ele não tem a capacidade imediata de o realizar mas vem ao mundo em estado bruto outros devem fazêlo por ele KANT I Sobre a Pedagogia Piracicaba UNIMEP 1996 pp 1112 Mas o homem é tão naturalmente inclinado à liberdade que depois que se acostuma a ela por longo tempo a ela tudo sacrifica Ora este é o motivo preciso pelo qual é conveniente recorrer cedo à disciplina pois de outro modo seria muito difícil mudar depois o homem Ele seguiria então todos os seus caprichos Do mesmo modo podese ver que os selvagens jamais se habituam a viver como os europeus ainda que permaneçam por muito tempo a seu serviço O que neles não deriva como opinam Rousseau e outros de uma nobre tendência à liberdade mas de uma certa rudeza uma vez que o animal ainda não desenvolveu a humanidade em si mesmo numa certa medida Assim é preciso acostumálo logo a submeterse aos preceitos da razão Id p 13 O homem não pode tornarse um verdadeiro homem senão pela educação Ele é aquilo que a educação dele faz Notese que ele só pode receber esta educação de outros homens os quais a receberam igualmente de outros Portanto a falta de disciplina e de instrução em certos homens os torna mestres muito ruins de seus educandos Se um ser de natureza superior tomasse cuidado da nossa educação verseia então o que poderíamos nos tornar Mas assim como por um lado a educação ensina alguma coisa aos homens e por outro lado não faz mais que desenvolver nele certas qualidades não se pode saber até onde nos levariam as nossas disposições naturais Id p 15 16 H HA AN NN NA AH H A AR REEN ND DTT A filosofia tem duas boas razões para não se limitar a apenas encontrar o lugar onde surge a política A primeira é a Zoon politikon como se no homem houvesse algo político que pertencesse à sua essência conceito que não procede o homem é apolítico A política surge no entreoshomens portanto totalmente fora dos homens Por conseguinte não existe nenhuma substância política original A política surge no intraespaço e se estabelece como relação Hobbes compreendeu isso b A concepção monoteísta de Deus em cuja imagem o homem deve ter sido criado Daí só pode haver o homem e os homens tornamse sua repetição mais ou menos bemsucedida O homem criado à imagem da solidão de Deus serve de base ao state of nature as a war of all against all de Hobbes É a rebelião de cada um contra todos os outros odiados porque existem sem sentido sem sentido exclusivamente para o homem criado à imagem da solidão de Deus ARENDT H O que é política Rio de Janeiro Bretrand Brasil 1998 p 23 Ao se falar de política em nosso tempo é preciso começar pelos preconceitos que todos nós temos contra a política quando não somos políticos profissionais Não se precisa deplorar e em nenhum caso devese tentar modificar o fato de os preconceitos desempenharem um papel tão extraordinário no cotidiano e com isso na política Pois nenhum homem pode viver sem preconceitos não apenas porque não teria inteligência ou conhecimento suficiente para julgar de novo tudo que exi gisse um juízo seu no decorrer de sua vida mas sim porque tal falta de preconceito requereria um estado de alerta sobrehumano Por isso a política tem de lidar sempre e em toda parte com o esclarecimento e com a dispersão de preconceitos o que não significa tratarse no caso de uma educação para a perda de preconceitos nem que aqueles que se esforcem para fazer tal esclarecimento sejam livres de preconceitos Id p 2829 Se o sentido da política é a liberdade isso significa que nesse espaço e em nenhum outro temos de fato o direito de esperar milagres Não porque fôssemos crentes em milagres mas sim porque os homens enquanto puderem agir estão em condições de fazer o improvável e o incalculável e saibam eles ou não estão sempre fazendo A pergunta hoje quase não é qual é o sentido da política É muito mais natural ao sentimento dos povos que por toda parte se sentem ameaçados pela política e nos quais os melhores se distanciam da política de maneira consciente que a pergunta seja tem a política ainda algum sentido Id p 44 corpo e cidade desafios da formação humana frente à precariedade Lílian do Valle nunca houve humano sem o sentido não apenas de seu corpo mas de sua individualidade ao mesmo tempo espiritual e corpórea1 Meu corpo é contradição 2 Um corpo ausente Na história das práticas educativas o lugar reservado ao corpo foi e continua sendo marcado por uma incontornável ambiguidade sendo o primeiro e mais imediato fiador da presença ele é aquele que desde o início está destinado a desaparecer Pois sua ausência marca na maior parte do tempo o sucesso da empreitada formativa cujo objetivo central no que lhe diz respeito é como sabemos pelo menos desde Foucault o disciplinamento e o controle3 E sobretudo no trato com os recém chegados a turbulenta imediatez deve ser neutralizada de forma que ali onde estava o ímpeto corpóreo seja agora a atenção e a disposição mental para a aquisição de novos hábitos e conhecimentos Assim é forte a tentação de caracterizar o corpo como o grande ausente mas talvez a metáfora do silêncio lhe conviesse melhor no percurso escolar é preciso que os sentidos progressivamente se calem para que se possa instalar a potência da cognição E isso já que como diz a teoria largamente adotada no campo da educação uma bemsucedida exploração do período sensóriomotor deverá conduzir a uma nova etapa em que as operações mentais poderão enfim se realizar livremente Até lá porém será preciso cuidar para que o ponto de apoio da aprendizagem não se transforme em empecilho e em nome da socialização erguese a 1 Marcel Mauss Uma categoria do espírito humano a noção de pessoa a de eu in Sociologia e antropologia São Paulo Ubu 2017 p 371 2 Paul Valéry Tel Quel in Œuvres p 519 3 Michel Foucault Vigiar e punir Petrópolis Vozes 1984 necessidade de acostumar o corpo a habitar o espaço comum de acordo com as regras preestabelecidas de convivência e de disciplina Mas é claro que este retrato idealizado diz mais sobre intenções e expectativas que se enraízam na tradição moderna e que se mantêm até aqui razoavelmente íntegras do que sobre as enormes e sempre crescentes dificuldades que lhes opõe o cotidiano de nossas escolas mas é não exatamente dessa distância que convém finalmente falar Falar por exemplo do que podemos chamar de sujeito isolado esse tipo antropológico central da Modernidade e típico da escola que nesse momento se instituiu e para tanto denunciar as clivagens que cimentaram e continuam a cimentar no campo das imagens de que se servem as práticas formativas corpo x alma interior x exterior razão x experiência pensamento consciência x atividade movimento eu individuação x outro socialização denunciar assim o abandono das dimensões da sensibilidade dos afetos e do enraizamento social e histórico Ora essas clivagens têm todas elas como ponto de origem e de confluência a oposição corpo x alma que desde a Antiguidade se forjou como marca absoluta do pensamento ocidental No entanto o corpo está por toda parte ele é aquele que está irreparavelmente aqui onde estou eu que não posso me deslocar sem ele4 ele é porém ou exatamente por isso aquele que tantas utopias desde Platão inutilmente tentaram superar E eis que mais recentemente o sonho de libertação dessa materialidade limitadora que assombrou a busca do saber desse corpoprisãodoaquieagora já parece possível em um mundo tornado pela tecnologia virtual novos tempos são anunciados nos quais as distâncias e as imposições temporais já não vigem Contudo mais profundamente a cibercultura nos recoloca diante da velha questão do corpo e do sentido que ele tem para a vida comum e para a formação humana Os discursos mais entusiasmados pretendem que estaríamos mesmo diante de uma nova humanidade caracterizada pela coletivização da inteligência virtual pelo livre acesso e produção do conhecimento pela cooperação ilimitada pela multiplicação dos contatos e das trocas No entanto no mundo real em que vivemos esta parusia digital é luxo reservado a poucos é ainda em seus corpos e no espaço de 4 Michel Foucault O Corpo utópico as heterotopias São Paulo N1 2013 httpsjoaocamillopennafileswordpresscom201910foucaultmichelocorpoutopicoasheterotopiaspdfpdf suas moradas que uma parte não desprezível da humanidade sofre da escassez dos recursos da fúria climática dos horrores das guerras engendrando os fenômenos migratórios que só fazem se multiplicar ampliando não a democracia anunciada mas novas fronteiras de xenofobia de racismo e de fechamento Nas cidades a violência disseminada também tem como consequência a transformação do espaço urbano um corpo agora desmembrado cujos órgãos buscam preservação fechandose sobre si mesmos na falsa proteção dos condomínios das grades dos muros5 Mas o corpo é também o grande presente nas práticas sociais que quebram hoje a apatia política generalizada nos movimentos negro feministas e LGBTQIA antirracismo ecológicos nas lutas dos semterra e dos semteto Assim parafraseando Jacques Derrida somos obrigadas a convir que ao menos no que diz respeito a nosso aqui e agora nada há que não se passe com o corpo e não passe pelo corpo6 Talvez por isso mesmo mais do que multiplicidade o corpo é para nós radical ambivalência Na escola na vida individual e na cidade as experiências de corpo se encontram assim misteriosamente suspensas entre um ter e um ser entre conhecimento íntimo e total estranheza entre silenciamento e exaltação entre confinamento e a abertura entre conforto e a dor O humano é um ser encarnado pelo corpo ele está ligado à materialidade do mundo ao mundo das sensações e à sua precariedade que antecipa os perigos e os limites de sua existência Nosso corpo diz Michela Marzano magnifica a vida e suas possibilidades mas proclama igualmente nossa morte futura e nossa finitude7 Porém é ainda ele que nos abre à experiência da alteridade que é a uma só vez o encontro com o amor ratificação da vida em nós e possibilidade de novas experiências de si encontro com a liberdade da autoalteração Por isso mesmo como sublinha a autora o corpo é lugar de interrogação existencial relativa não somente ao nosso ser individual mas à própria existência da sociedade Como sequer pensar em uma educação que não o tenha em lugar central 5 Cf Christian L Dunker A lógica do condomínio Piseagrama número 11 2017 p 102 109 6 Cf Jacques Derrida Le retrait de la métaphore in Psyché Inventions de lautre Paris Galilée 1998 p 65 7 Michela Marzano Philosophie du corps Paris PUF 2007 p 8 De pluralidade e ambivalência A única coisa que eu não posso evacuar pelo pensamento é o pensamento Eis em poucas palavras o argumento eu não posso inteligivelmente duvidar de minha própria existência uma vez que a dúvida é uma forma de pensamento e que se penso eu existo Em contrapartida posso inteligivelmente duvidar que tenha um corpo Resulta daí que não sou idêntico a meu corpo E resulta dessa nova afirmação que eu posso logicamente existir sem corpo8 Eu sou corpo e alma assim fala a criança E por que não se há de falar como as crianças Mas aquele que está desperto e consciente diz Eu sou inteiramente corpo e nada mais a alma não é senão um nome para uma parte do corpo O corpo é um grande sistema de razão uma multiplicidade com um só sentido uma guerra e uma paz um rebanho e um pastor Instrumento de teu corpo tal é também tua pequena razão a que chamas de espírito meu irmão pequeno instrumento e pequeno brinquedo de tua grande razão9 do corpo uno e múltiplo em Aristóteles O corpo de que falam os filósofos foi sucessivamente e conforme os modelos disponíveis comparado a uma prisão um sarcófago uma jaula um relógio um autômato uma máquina um computador Não há como negar os filósofos sempre preferiram meditar sobre a alma e suas paixões investigar o entendimento humano ou ainda criticar a razão pura ao invés de se debruçarem sobre a realidade do corpo e a finitude da condição humana10 mas antes disso foi o prestígio da promessa de uma plenitude a que apenas o saber poderia dar acesso que justificou a criação do princípio de separação de sensibilidade e intelecção de matéria e espírito E de fato a epopeia desconhecia o conceito de um corpo vivo a oporse à 8 Arthur C Danto Le corps dans la philosophie et lart in Cités no 26 20062 p 138 9 F Nietzsche Assim falava Zaratustra São Paulo Martin Claret 2012 p 45 httpwwwebooksbrasilorgadobeebookzarapdf 10 Michela Marzano Philosophie du corps op cit p 3 alma se há uma unidade ela diz respeito à imobilidade do cadáver do corpo após a morte A vida então se diz pela multiplicidade de órgãos com suas variadas e diferenciadas atividades e funções vitais a figura de alguém cada membros de seu corpo a pele11 O que hoje entendemos como o conceito de corpo deve pois sua existência à invenção da noção de alma à emergência do conceito de psique Essa lógica de separação lógica disjuntiva se estabiliza e se institui duravelmente na tradição ocidental por influência platônica em virtude da qual continuamos a conceber o pensamento como abstrato imaterial a despeito de podermos desde Aristóteles entender que sob essa aparência se esconde seu profundo e forçoso enraizamento das ideias na experiência sensível Em Descartes a separação corpo e alma atinge seu ponto máximo o sensível é lugar de confusão e obscuridade somente o cogito fornece acesso à certeza Fecharei agora os olhos tamparei meus ouvidos desviarmeei de todos os meus sentidos apagarei mesmo de meu pensamento todas as imagens de coisas corporais ou ao menos uma vez que mal se pode fazêlo reputálasei como vãs e como falsas e assim entretendome apenas comigo mesmo e considerando meu interior empreenderei tornarme pouco a pouco mais conhecido e mais familiar a mim mesmo Sou uma coisa que pensa 12 Mais ainda na alma repousa segundo Descartes a verdadeira identidade do humano essa alma pela qual eu sou inteiramente distinto do corpo13 Muitos séculos antes disto porém ao oporse ao dualismo platônico o texto aristotélico apresentase como uma das primeiras e até hoje mais importantes contribuições para uma teoria da unidade corpoalma e assim para que possamos tomar alguma distância em relação à dualidade que se enraíza na história do pensamento pelos aportes da espiritualidade cristã e que se renova na Modernidade em virtude de seu culto da razão aquela pela qual a alma define a incorporeidade própria às essências por oposição às armadilhas da experiência própria aos sentidos Sem dúvida foi exatamente a predominância da busca incessante pelo 11 Giovani Reale Corpo alma e saúde O conceito de homem de Homero a Platão São Paulo Paulus 2002 p 14 e seg 12 Descartes Meditações Metafísicas Terceira Meditação São Paulo Martins Fontes 1999 p 47 13 Descartes op cit Quarta Meditação verdadeiro saber pela experiência segura e não menos direta da razão que como observa Richard Bodeüs14 desde sempre instalou o problema da alma do espírito do pensamento da consciência enfim da instância associada à própria identidade humana por oposição aos animais e às coisas justamente ditas inanimadas em uma reflexão de ordem metafísica Assim a dualidade corpoalma nada mais é senão o corolário o prolongamento de uma dualidade entre mundosujeito esta mesma dualidade contra a qual MerleauPonty combateu denominandoa estrabismo da ontologia ocidental15 Mas como não buscar o outro extremo desprezando o cuidado com a reflexão e pensamento Pode o corpo pensar Pode a psique se fazer encarnada16 As questões assim colocadas só fazem ressaltar a novidade da elaboração aristotélica que afirma que a psique a anima dos latinos é o princípio interno comum a todos os viventes naturais isto é a todos os seres que podem ser ditos físicos animais e vegetais que conhecem nascimento crescimento e morte que se mantêm em vida e se reproduzem Psique anima é pois princípio de vida que os humanos compartilham com tudo que é submetido a um movimento que vem da natureza De forma que contrariando frontalmente o pensamento platônico Aristóteles propõe a indissociabilidade da matéria e da forma da essência do sentido ele constrói pois a primeira teoria da unidade do corpo e da alma E ao fazêlo inaugura uma via para a reflexão que não foi ainda suficientemente explorada por aqueles que se interessam pelas coisas humanas17 Cognição e sensibilidade são faculdades que definem partes diferentes da psique Mas isto não significa que se possam pensar estas faculdades ou partes como existindo autonomamente Pelo contrário Aristóteles considera que a alma nada sofre e nada faz sem o corpo Assim encolerizarse transtornarse desejar ou de forma global sentir Esta unidade entre alma e corpo antiplatônica e seguramente anticartesiana marca de maneira especial a crítica à noção de ideias desencarnadas 14 Richard Bodeüs Présentation de De lâme Paris Flammarion 1993 15 M MerleauPonty O visível e o invisível São Paulo Perspectiva 2009 p 271 16 A psique é extensão dizia em nota póstuma Freud 17 No pensamento aristotélico a crítica tanto às concepções materialistas da alma quanto ao idealismo platônico esboçase numa teoria em que sensibilidade e intelecção vêm sempre juntas pois o acesso às realidades sensíveis não se dá sem que se construa um sentido um conceito que se forneça uma forma à experiência assim como o pensamento o acesso às realidades ditas inteligíveis não se faz sem a sensibilidade Entre os viventes os animais se distinguem pela faculdade perceptiva ou sensitiva Platão dizia que estar em vida é afetar e se deixar afetar18 isto é a vida é definida pela capacidade de agir sobre qualquer coisa ou de sofrer uma ação Aristóteles vai também definir o animal pela faculdade sensitiva O próprio da vida animal é a capacidade de distinguir de discriminar no meio em que está aquilo que contribuindo para sua existência lhe é agradável e aquilo que ao contrário lhe é doloroso e deve ser evitado19 Alguns animais são assim dotados de uma capacidade motora que lhes permite o simples deslocamento espacial mas em muitos casos produzemse fenômenos mais complexos aos quais se dá mais apropriadamente o nome de desejo que supera a simples capacidade de distinguir entre o que é vantajoso ou desvantajoso para sua sobrevivência E para além disto a capacidade de discriminar o bem e o mal que faz ser a ética Alguns animais entre os quais de forma muito especial o humano possuem ainda uma alma noética a capacidade de pensar de produzir sentidos Mas o composto humano é ainda dotado de imaginação dita em grego phantasia O humano é capaz graças à imaginação de dar sentido de dar forma àquilo que sente e para ele o pensamento não se dá apesar do corpo mas como atividade de um ser encarnado Assim o corpo que sente é aquele que por ser dotado de imaginação cria sentido para esta experiência tampouco o pensamento é atividade de um ser desencarnado é graças à imaginação que as ideias longe de serem entidades de puros espíritos são sempre produção de um ser dotado de corpo do corpo ambivalente segundo Foucault Mas esta forma de conceber o corpo como unidade insecável de que modo ela pode corresponder à experiência que dele fazemos É finalmente em Foucault que a questão do corpo aparece com toda a ambiguidade que lhe é própria e que as teses filosóficas nem sempre dão a ver O corpo como problema como questão permanentemente colocada sem que uma solução para o enigma que ele introduz venha a obliterar a interrogação aberta Corpo como recusa como sofrimento limite gravidade e prisão mas também e por que não como utopia 18 Platão Sofista 247 e 19 Cf Aristóteles Ética a Nicômaco passim O texto a que fazemos referência resulta de uma bela conferência radiofônica realizada em 1966 pelo canal FranceCulture20 comovente pelo tom intimista autobiográfico e francamente poético que Foucault assume Ali fazse enfim o relato de um corpo que não é da filosofia mas do filósofo e o testemunho pessoal retraça as agruras vividas pelo autor surpreendentemente o corpo é de saída apresentado como impasse como estorvo como o que lhe permite o deslocamento mas impede o movimento mais substancial não que eu esteja por ele pregado no chão já que eu posso não somente moverme e mexerme mas mexêlo movêlo mudálo de lugar no entanto eis que não posso me deslocar sem ele não posso deixálo lá onde está e irme embora eu para outro lugar 21 Esse primeiro instantâneo do percurso vagaroso que nos propõe Foucault é pois do corpo que é o exato oposto de uma utopia um lugar absoluto topos inescapável impiedosa topia diz ele É de estranhamento e de rejeição que nos fala o filósofo de uma ferida desse rosto magro ombros arqueados olhar míope já sem cabelos realmente nada bonito que se apresenta ao espelho como PaulMichel de Foucault ou ao menos como se vê ao espelho PaulMichel de Foucault22 Corpo mal estar jaula que eu não amo lugar de condenação O relato estritamente confessional dessa experiência de ser projetado no que mais se parece uma casca uma cadeia uma armadura que dificilmente se carrega pesada embaraçosa e inconveniente levanos para nossa própria realidade mais ou menos assemelhada mas em seguida transportanos ainda mais longe nos faz imaginar a experiência sem memória do recémnascido que fomos voltar às marcas da adolescência que deixamos para trás vislumbrar o declínio que nos aguarda Experiência que se instala nas entranhas da história no âmago de um sonho que somente à condição de humanidade é dado sonhar Imagino em suma que é contra ele e para suprimilo que se fizeram nascer todas as utopias O prestígio da utopia a beleza o maravilhamento da utopia a que são devidos A utopia é um lugar fora de todos os lugares mas um lugar onde 20 httpstinyurlcomybkmmoza posteriormente publicado em Michel Foucault Le corps utopique Les hétérotopies Paris Ed Lignes 2009 Michel Foucault O Corpo utópico as heterotopias São Paulo N1 2013 21 Id 22 Ibid terei um corpo sem corpo um corpo que será belo límpido transparente luminoso veloz colossal em sua potência infinito em sua duração liberto invisível protegido sempre transfigurado E é bem possível que a utopia primeira aquela que é a mais inerradicável no coração dos homens seja precisamente a utopia de um corpo incorpóreo23 Eis que nos vemos subitamente diante da imortalidade prometida aos heróis e suas pátrias anunciada pelas religiões cobiçada pelo projeto político dos impérios um corpo glorioso transfigurado capaz de vencer o tempo e a morte É assim que Foucault se refere às múmias às tumbas antigas mas também às pinturas e esculturas medievais prolongando na imobilidade uma juventude que não passará jamais almejando uma eternidade propriamente divina24 Chegase por este trajeto tortuoso à mais obstinada mais poderosa das utopias pelas quais nós suprimimos a triste topologia do corpo tratase dessa alma longamente concebida na história ocidental que é capaz de transportar para além da opaca materialidade das coisas de uma alma que escapa quando durmo sobrevive quando morro25 Contudo o corpo resiste a estas utopias que pretendem fazêlo desaparecer diznos Foucault Mas meu corpo na verdade não se deixa reduzir assim tão facilmente Afinal ele tem seus recursos próprios e fantásticos possui ele também lugares sem lugar e lugares mais profundos mais obstinados ainda que a alma que o túmulo que o encanto dos mágicos Ele tem seus porões e seus sótãos ambientes obscuros espaços luminosos26 Incompreensível e opaco o corpo descobre por fim Foucault é modelo e origem de todas as utopias pelas quais se pretendia fugir à corporeidade Pois todas elas dão testemunho da experiência corpórea e mesmo a tentativa de negála acaba por se constituir em sua afirmação Estonteante reversão pela qual o texto de Foucault subitamente parece atualizar em termos poéticos e muito intimistas a teoria hilemorfista do composto humano Uma coisa é certa o corpo humano é o principal ator de todas as utopias27 23 Id 24 Id 25 Id p 3 26 Id p 3 27 Id p 4 Não na verdade não é preciso nem magia nem maravilha não é preciso uma alma ou uma morte para que eu seja a uma só vez opaco e transparente visível e invisível vida e coisa para que eu seja utopia bastame ser um corpo Todas as utopias pelas quais me esquivava de meu corpo eles tinham simplesmente por modelo e por primeiro ponto de aplicação elas tinham seu lugar de origem em meu próprio corpo Eu estava errado quando há pouco dizia que as utopias haviam se formado contra o corpo e destinadas a suprimilo elas nasceram do corpo e talvez tenham se voltado em seguida contra ele Em todo caso uma coisa é certa é que meu corpo humano é o ator principal de todas as utopias28 A tatuagem a maquiagem a máscara as vestimentas rituais sagradas ou profanas dão forma sensível às utopias que marcam o corpo Pois em sua materialidade diz o filósofo o corpo se faz produto de seus próprios fantasmas E de fato não seria o corpo do dançarino um corpo dilatado segundo um espaço que lhe é ao mesmo tempo interior e exterior propõe então Foucault29 Mais o corpo é como o ponto zero do mundo em torno do qual tudo se dispõe para o qual e somente para o qual há uma direita e uma esquerda um acima e um abaixo um próximo e um distante um antes e um depois O corpo não está em nenhum lugar pois ele é um pequeno núcleo utópico a partir do qual eu sonho falo avanço imagino percebo as coisas em seu lugar e as nego também em virtude do indefinido poder das utopias que imagino30 As crianças observa Foucault levam muito tempo até tomarem consciência de que têm um corpo elas têm orifícios cavidades membros que só se organizam em um todo na imagem do espelho E os gregos acrescenta não tinham uma palavra para dizer a unidade corpórea apenas aquela que serve para designar o cadáver O espelho e o cadáver impedem que o corpo seja pura utopia ainda que estejam em um lugar inacessível onde jamais estaremos Mas o texto não se conclui sobre esta nota trágica pois Foucault se volta para a experiência do amor que fornece ao corpo sua redenção máxima sua melhor utopia que está em finalmente fazerse magnífica topia fazendonos definitivamente presentes 28 Id p 34 29 Id 30 Id p 5 sob os dedos do outro percorrendoo todas as partes invisíveis de nosso corpo se põem a existir contra os lábios do outro os nossos tornamse sensíveis diante dos olhos semicerrados nossa face adquire uma certeza há enfim um olhar para ver nossas pálpebras fechadas O amor também ele como o espelho e como a morte pacifica a utopia do corpo fazna calarse a acalma a encerra como que em uma caixa fechada e selada Por isso ele está tão próximo da ilusão do espelho e da ameaça da morte e se apesar dessas duas figuras perigosas que o circundam gostamos tanto de fazer amor é porque no amor o corpo está aqui31 Perspectivas para a formação humana É talvez chegado o tempo de a psicologia começar a se pensar contra ela própria para compreender para além de sua denominação idealista que a define como discurso sobre a psique sobre esta unidade ideal do sujeito que a cultura grega promoveu sob o termo de psykhè Mas pensar contra não significa pensar o contrário ou permanecendo neste mesmo terreno de oposição em que o conflito se vê reabsorvido da mesma forma que foi engendrado Pensar contra significa pensar profundamente mergulhar até as raízes tocando o fundo onde se implanta esse enraizamento Esta operação que abala a solidez das raízes extirpa a psicologia do lugar que ela se atribuiu e portanto a desorienta a subtrai de seu oriente de sua origem histórica32 Corpo e alma mais do que superar a dualidade talvez seja o caso de entender o que de fato podem significar estas expressões estas metáforas se ao menos decidirmos desenraizálas do terreno em que estiveram até aqui solidamente ancoradas A superação da dualidade se possível implicaria na definição de uma nova unidade ideal e talvez a partir disso a formulação de uma pedagogia do corpo Nada mais distante de nossos objetivos Por isto o grande desafio talvez seja poder prosseguir sem um conceito unificador reconquistar a ambivalência do corpo como sugeriu Galimberti que não implica nem numa recusa obscurantista da racionalidade nem muito menos na subserviência a um modelo de razão que já mostrou seus limites 31 Id p 6 32 Umberto Galimberti Les raisons du corps Paris GrassetMollat 1998 p 9 Sabemos hoje que a verdade não está no combate entre o verdadeiro e o falso mas na emergência de um universo de sentido que tem na ambivalência da realidade corpórea o lugar de nascimento de todos os saberes científicos33 É pois uma tarefa de questionamento profundo das representações herdadas e dos esquemas mentais que constituem nosso modo de mais do que pensar ser corpo Fomos ao longo da história socializados para uma concepção dualista do humano educados para a cognição Na escola pública o privilegiamento da cognição responde não apenas pelo modelo antropológico largamente instituído na civilização ocidental e enfatizado pela Modernidade resulta também de exigências próprias à instituição que deveria fixar o projeto de formação comum em bases objetivas facilmente replicáveis de forma a garantir uma uniformização de práticas sujeitas a amplo acompanhamento e estrito controle Por isso mesmo a redução cognitivista insistimos tornouse a verdadeira conditio per quam da institucionalização da educação comum pela escola pública34 Antecipandose às realizações da educação a distância dos tempos atuais na pedagogia cognitivista a abolição do tempo e do espaço não é uma promessa mas a primeira realização simbólica de seu projeto uniformizador que acaba por definir modos de presença e de ação que lhe são próprios Sob sua égide a formação humana é quase inteiramente reduzida à aprendizagem intelectual em detrimento das dimensões ética afetiva e estética que compõem o humano Não se trata assim de pensar o contrário da cognição de propor uma pedagogia do corpo igualmente marcada pela dicotomia metafísica Aliás talvez a palavra pensar se mostre ela própria por demais presa a um solo de sentidos de que convém ganhar alguma distância no caso da educação ousaríamos dizer que é preciso constituir pela reflexão e pela prática um novo modo de ser um novo modo de presença e ação que se dirija ao humano como composto insecável de corpo e de alma de razão de afetividade e de sensibilidade Projeto vastíssimo para o qual a filosofia do corpo contribui ao anunciar a urgência de se passar da pedagogia cognitivista a uma concepção plena de formação humana35 33 Op cit p 14 34 L do Valle Para além do sujeito isolado httpswwwscielobrjrbeduaHJqZhDx8ytbz75tqgJgNTWCformatpdflangptop 35 Reinstalar o corpo talvez implique em liberálo do ostracismo a que foi reduzido no campo de esportes e trazêlo para o centro da prática educativa onde permanecia ignorado Que outra maneira de reintegrar as dimensões estética e ética com ele expulsas das escolas e Universidades a filosofia do corpo não é nada além de uma filosofia que toma como ponto de partida esse corpo que aí está que pensa a partir da finitude que se interroga sobre o sernomundo de cada indivíduo É uma filosofia que busca compreender a ação humana sem jamais esquecer sua dimensão corpórea 36 36 Michela Marzano La philosophie du corps op cit 121122 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO Curso de Licenciatura em Pedagogia Modalidade EAD Avaliação Presencial 1 AP1 Disciplina FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Equipe Lílian do Valle coordenadora Thiago Dantas Carolina Muzitano Ênio Mendes Alunoa Matrícula Polo O exercício que faremos exigirá que você tente se colocar no lugar de um professor ou professora da rede pública de educação do Rio de Janeiro Descreva por favor como você imagina esseessa profissional a escola a série em que ministra suas aulas apresentando os detalhes que julgue conveniente para que possamos entender a perspectiva que será adotada Em seguida QUESTÃO 1 5 PONTOS Analise e critique o Texto 1 QUESTÃO 2 5 PONTOS Analise e critique o Texto 2 MAS ATENÇÃO A avaliação requer uma breve descrição e duas respostas contemplando cada uma um dos textos indicados Respostas curtas sem desenvolvimento ou sem apresentar explicações ou justificativas não serão bem avaliadas Os critérios para a correção da resposta levará em consideração o desenvolvimento textual da proposta da avaliação Qualquer necessidade de modificação ou problema estarei à disposição só comunicar a plataforma que irão me encaminhar sua mensagem Se gostou me avalie positivamente com 5 estrelas sua avaliação é muito importante Descreva por favor como você imagina esseessa profissional a escola a série em que ministra suas aulas apresentando os detalhes que julgue conveniente para que possamos entender a perspectiva que será adotada Em seguida Imagino esse sujeito como um sujeito ativo no processo de formação como comumente ocorre visto como detentor do conhecimento o qual utiliza o método de ensino tradicional onde cabe ao aluno a função da aprendizagem decorativa e ao professor a função do ensino direto Nessa situação os conteúdos repassados são basicamente os valores sociais acumulados com o passar dos tempos com o intuito de os preparar para a vida e esses conteúdos são determinados pela sociedade e ordenados na legislação independente da experiência do aluno e das realidades sociais o ensino independe do aluno pois este não tem o poder de contestar e nem de dar a sua opinião QUESTÃO 1 No texto se vê uma preocupação voltada para a filosofia no âmbito escolar É destacado o fato do ser humano ser a única que precisa ser educada Verificase a importância da utilização da filosofia na escola uma vez que esta é responsável por desenvolver hábitos de pensamento crítico e cuidadoso nos alunos Uma das afirmativas realizadas é que antes o fazer educativo era apenas um espaço de aplicação das leis e determinações absolutas engendradas pela especulação este tratase do método tradicional contudo sabese que este método é falho nele o professor é visto como ditador em sala de aula quase não ocorre relação entre ele e os alunos o professor atua como repassador de conhecimentos sem nenhum sentimento seus alunos são apenas alunos não se consideram as especificidades todos os alunos são iguais diante dele Atualmente o ensino de diversas disciplinas ainda enfrenta aspectos muito tradicionais conteudistas e matemáticos Existe a necessidade de uma escola inclusiva onde todos os alunos tenham o direito de aprender no mesmo espaço e sem distinções para isso é fundamental que a escola se modifique e que cada aluno possa se apropriar de seu aprendizado para que seja efetivado o seu desenvolvimento intelectual e social Com isto surge então a necessidade de novas metodologias de ensino sendo essencial que as disciplinas sejam percebidas pelo aluno que ela parta de um aspecto motivacional e que agregue informações e significados que venham a provocar interesses e questionamentos na sua visão de mundo Também é importante os professores questionarem a opinião dos alunos sobre a aula a fim de melhorar e planejar ações educacionais futuras O ensino de diversas disciplinas pode ser tanto teórico quanto experimental nele se tem a oportunidade de explorar esses dois meios Realizar aulas que demonstram na prática todo aquele conteúdo desenvolve no aluno um interesse e a capacidade de pensar Outro ponto de destaque no texto é a afirmativa sobre a definição cientificista da educação a qual é apontada como a superação definitiva do pensamento filosófico contudo que a redução gerada pela ciência coloca a filosofia como uma etapa especializada de seu fazer investigativo Uma função importante e tradicional da filosofia é promover uma reflexão mais profunda sobre os conceitos métodos e questões que são fundamentais em outras disciplinas Por exemplo embora a explicação científica seja de uma forma ou de outra comum a todas as ciências questões conceituais sobre sua natureza e questões comparativas sobre sua lógica nas diferentes ciências pertencem à filosofia da ciência Algumas dessas questões foram tratadas por cientistas mas raramente com a abrangência e generalidade necessárias para uma compreensão sinóptica do tema A filosofia também examina criticamente os métodos de investigação nas ciências naturais e sociais Toda disciplina gera algumas questões essencialmente filosóficas sobre si mesma QUESTÃO 2 Se tem no texto um destaque para o corpo como assunto principal A presença física dos sujeitos e do corpo permanecem algo primordial e insubstituível nos processos educativos tradicionais Vejo que o corpo citado seria o indivíduo em si Um ponto de destaque não citado diretamente no texto mas me gerou reflexão é que a vulnerabilidade nos permite entrar na vida dos outros e reconhecer que eles já estão implicados na nossa observando que certos vínculos são realmente moldados pela reversibilidade da história É importante no atual contexto superar os elementos tradicionais professores e discentes passivos que envolvem atividades de ensino e centrar as atividades em alunos e professores ativos trabalhos em grupos e aproximação dos alunos Sabese que a relação afetiva do aluno com o professor no processo de aprendizagem é o princípio da construção da autonomia do aluno no âmbito escolar o docente deve buscar priorizar o seu aluno assim o educando também passará a contribuir com as atividades propostas e as maneiras de aplicálas Cabe ao professor propiciar aos seus alunos um ambiente escolar onde ambas as partes possuem direitos e obrigações de interagir refletir e expressar suas opiniões respeitando assim o conhecimento que os alunos trazem do mundo para a sala de aula transformase em ambiente de troca de aprendizagem Para enfrentar os desafios de convivência é necessário haver uma relação de confiança entre alunos e o professor Quando existe confiança em sala de aula os alunos possuem mais propensão para aprender e os professores se sentem mais motivados no aprimoramento de seu processo didático Também é necessário o professor sempre estar aberto às novas experiências aos sentimentos e aos problemas de seus alunos

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ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 1 tteexxttoo 1 1 PPO OR R U UM MA A D DEEFFIIN NIIÇÇÃ ÃO O FFIILLO OS SÓ ÓFFIICCA A D DA A EED DU UCCA AÇÇÃ ÃO O ccoonnttrriibbuuiiççõõeess ddaa ffiilloossooffiiaa ppaarraa ppeennssaarr oo ffaazzeerr eedduuccaattiivvoo Haveria ainda hoje sentido em se buscar a filosofia para definir a educação O que teria atualmente a filosofia a contribuir para a teoria sobre a educação Para aqueles que a ela não foram introduzidos a filosofia passa freqüentemente por ser um conhecimento abstrato e distante de tudo o que se vive e o seu ensino uma longa enumeração de respostas que autores do passado remoto forneceram a questões que não são mais as nossas que jamais nos ocorreria interrogar Em uma palavra um conhecimento inútil e enfadonho e ainda por cima muito difícil de ser apreendido Se hoje essa maneira de ver as coisas se apóia em velhos preconceitos e em um certo acomodamento mental isso nem sempre foi assim no passado longe de nascer das resistências que a reflexão pode engendrar face ao imediatismo e à rapidez que nosso estilo de vida comporta atualmente ela se constituiu numa reação contra o poder dogmático que em ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 2 nome da filosofia foi exercido pelo Estado pela tradição ou pelos religiosos A substituição da antiga autoridade filosófica pelas referências provenientes do saber científico consolidouse no século passado em função da crescente confiabilidade que esse último alcançou e foi finalmente selada em nossos tempos pela definitiva adoção da identidade que as ciências da educação passaram a conceder à pedagogia Assim resume Franco Cambi no século XX o saber pedagógico se emancipou do modelo metafísico que desde a antigüidade até pelo menos o século XVII dominou a educação fornecendo definições acabadas sobre sua natureza e seus fins o declínio do modelo metafísico da pedagogia tinha começado entre os séculos XVII e XVIII com Locke aumentando depois com Rousseau e Kant com o romantismo e o positivismo para expandirse em nosso século onde permaneceu como apanágio de posições como o idealismo como o pensamento católico neoescolástico ou espiritualístico A centralidade da especulação filosófica como guia da pedagogia foi substituída no pensamento contemporâneo pela centralidade da ciência e de uma ciência autônoma cada vez mais autônoma em relação à filosofia1 A concepção histórica que Cambi defende para a pedagogia a concepção científica mantevese largamente dominante na educação a partir da modernidade sobretudo no que se refere à definição da prática educacional que teria sido libertada da dependência das verdades definidas de uma vez por todas pela metafísica Antes o fazer educativo era apenas um espaço de aplicação das leis e determinações absolutas engendradas pela especulação com o advento da ciência introduzse uma atitude radicalmente diferente que enfatiza e valoriza a criação e 1 Franco Cambi História da Pedagogia São Paulo Ed UNESP 1999 p 402 ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 3 experimentação de novos métodos e procedimentos técnicos para o ensino tanto quanto para a administração da educação escolarizada Na definição cientificista da educação o fazer educativo é campo de permanente exploração das ciências humanas feitas agora ciências da educação Assim a influência da filosofia foi sendo substituída pela autoridade do conhecimento científico que à medida que vai se especializando e complexificando passa a fornecer tantas definições para a educação quantos são os ramos da ciência e em seu interior as correntes assumidas pelos cientistas Para muitos isso representou a superação definitiva do pensamento filosófico como fonte de construção dos sentidos do que é a educação de suas finalidades de como e porque se deve ensinar E de fato para muitos sem o aval que a crença numa verdade absoluta e incorruptível lhe outorgava isso é sem poder recorrer à autoridade metafísica que a ciência havia destronado a filosofia teria que ter seu papel definitivamente reduzido De disciplina específica e soberana que anunciava as verdades que nada nem ninguém poderia contestar tudo a que ela poderia aspirar de agora por diante era ao posto de uma reflexão que as ciências deveriam manter sobre sua própria prática sobre seu método sobre sua coerência interna sobre a validade de seus argumentos definições e deduções em sua contextualização histórica A filosofia havia se transformado em apenas um momento do fazer metodológico do investigador Mas paralelamente a essa redução a que foi submetida pela ciência que a tornou uma etapa especializada de seu fazer investigativo a filosofia se viu como por exemplo no caso da política e da educação objeto do movimento oposto que a ampliou de uma forma inaudita ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 4 Assim no início do século Antonio Gramsci proclamava todos são filósofos2 No campo da educação a concepção gramsciana de filosofia exerceu uma enorme influência sobretudo a partir dos anos 1980 vindo somarse a uma tendência mais antiga de designar como filosofia não mais uma atividade conscientemente realizada mas genericamente um modo de ser de um indivíduo ou de um grupo Na medida de nossas forças construímos então uma filosofia e a ela nos acomodamos tão bem como tão mal em nossa ânsia e inquietação de compreender e de pacificar o espírito Tais filosofias individuais não se articulam porém em sistemas filosóficos Esses quando não são criações pedantes de gabinete mas expressões reais de filosofia representam e caracterizam uma época um povo ou uma classe de pessoas Porque no sentido realístico de que falamos de filosofia tal seja a vida tal seja a civilização tal será a filosofia A filosofia de um grupo que luta corajosamente para viver não é a mesma de outro cujas facilidades transcorrem em uma tranqüila e rica abundância Conforme o tipo de experiência de cada um será a filosofia de cada um3 Ou como resumiu o autor dessas palavras o educador Anísio Teixeira conforme o tipo de experiência de cada um será a filosofia de cada um4 Face à decadência dos grandes sistemas teóricos e das verdades que produziam a filosofia já pode ser confundida com a própria a atividade de pensar5 É bem verdade que essa definição mais democrática da filosofia rompia com o elitismo que consistia em reservar o saber a uma pequena elite afastada do cotidiano dos seres comuns mas em contrapartida ao naturalizar a prática filosófica isso é ao supor que a 2 Antonio Gramsci Introdução ao estudo da filosofia e do materialismo histórico Alguns pontos de referência preliminares in Obras escolhidas Lisboa Editorial Estampa 1974 p 25 3 Anísio Teixeira Pequena introdução à filosofia da educação A Escola Progressiva ou A Transformação da Escola 6 ed Rio de Janeiro DPA 2000 p 170 4 Id ibid p 170 5 Id ib p 168 ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 5 filosofia se realiza sempre e em toda parte espontâneamente sem que seja necessária qualquer decisão deliberada ao identificar inteiramente a cultura de um povo a uma filosofia essa tendência por ocultar o que significou em sua origem a invenção da filosofia Pois a filosofia não começou como um pensar genérico nem apareceu do movimento irrefletido pelo qual as sociedades se constróem estabelecendo valores normas costumes e finalidades comuns sua invenção está historicamente ligada à invenção da democracia correspondendo ao projeto de crítica e superação dos dogmas e das dominações ao projeto de autonomia Decerto esta vocação original da filosofia foi muito cedo interrompida para começar com a escola platônica que se opôs firmemente a mais de duzentos anos de tradição democrática e não há como negar que a história da filosofia é uma história elitista Mas também é preciso dizer que foi como luta contra este elitismo que as mais belas páginas filosóficas foram escritas Há que se temer que a naturalização da filosofia leve não só a desperdiçar esse rico patrimônio que é o de nosso pensamento mas o que é ainda pior a que nossa atualidade rompa definitivamente com ele tornandose cegamente submissa aos novos dogmas e dominações de nossa sociedade Definida como atividade plenamente inserida na vida cotidiana de cada um pesquisador ou homem comum a filosofia tornase o campo das escolhas dos valores Mas questão que os filósofos nunca deixaram de fazer em que então a filosofia a reflexão se apoiaria para fundamentar essa decisão Como para a modernidade a filosofia só é atividade especializada se ela se fizer científica a resposta mais evidente é ela deveria se amparar na crítica racional na razão científica que se emancipou do dogmatismo metafísico Considerando a imensidão do terreno sobre o qual se debruça o pensar e o agir humano como garantir em ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 6 toda parte e sempre o domínio das regras científicas É preciso convir que é impossível fazer caber a realidade humana nos estreitos limites da racionalidade científica Assim deduz Anísio Teixeira tudo que não decorre das certezas rigorosas da razão deve ser comparado à arte à profecia à crença A filosofia não busca verdade no sentido estritamente científico do termo mas valores sentido interpretações mais ou menos ricas de vida Vai às causas últimas para usar a velha expressão porquanto nos deve levar à compreensão mais larga mais profunda e mais cheia de sentido que for possível obter do universo à vista de tudo que o homem fez e conhece na terra A filosofia tem assim tanto de literário quanto de científico Científicas devem ser as suas bases os seus postulados as suas premissas literárias ou artísticas as suas conclusões a sua projeção as suas profecias a sua visão E nesse sentido a filosofia se confunde com a atividade de pensar no que ela encerra de perplexidade de dúvida de imaginação e de hipotético Quando o conhecimento é suscetível de verificação transformase em ciência e enquanto permanece como visão como simples hipótese de valor sujeito aos vaivéns da apreciação atual dos homens e do estado presente de suas instituições diremos é filosofia6 Haveria pois uma produção científica da educação que teria por tarefa a identificação de determinações observáveis de regularidades verificáveis de explicações capazes de dotar o fazer educativo de instrumentos de controle de predição e de planificação e haveria também uma produção filosófica da educação que mantida e apoiada pela própria racionalidade científica estaria presente e atuante nas ciências da educação Quanto àquilo que a razão não pode afiançar essa seria uma elaboração filosófica que não podendo se converter em ciência deveria permanecer como intuição como visão como hipótese de valor 6 Id ibid p 168 ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 7 É que a partir da modernidade a educação como tantos outros domínios da vida social esteve inteiramente subjugada pela valorização do saber ou dos saberes científicos Essa confiança na razão foi tão desmesurada que aquilo que se apresentara originalmente como resposta de ruptura do dogmatismo da metafísica acabou por se tornar como um novo dogma E tal como ocorrera com a filosofia ainda que abrindo espaço para muitos inegáveis avanços a ciência não tardou a pretender apresentarse como saber absoluto Especialmente no campo das ciências humanas e muito particularmente na formação humana a aspiração a um saber totamente objetivo a pretensão à certeza ainda que disfórmica e conflituosa sobre o enigma humano sobre o enigma da educação estão na base do dogma científico e toda a mistificação em torno dos métodos geniais das técnicas todo poderosas e das tecnologias milagrosas Ora da insistência anteriormente metafísica e na modernidade científica na identificação de fontes legítimas para a explicação o controle e a predição do sentido humano e social resulta a incapacidade de lidar com o que não pode ser inteiramente determinado definido de antemão resulta também a tendência a querer eliminar totalmente do horizonte de nossas preocupações o processo pelo qual o homem cria continuamente social e coletivamente as determinações para seu modo de existência individual e coletiva De modo que se sob a influência científica o fazer educacional de fato se emancipou das concepções dogmáticas da filosofia que o reduziam a mero terreno de aplicação de suas verdades foi só para melhor se submetêlo ao domínio da autoridade científica que ela ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 8 também pretendeu estabelecer antecipadamente as regras e os procedimentos pelos quais a educação deveria forçosamente se pautar Assim sendo a natureza indeterminada e indeterminável do fazer educativo pela qual ele existe como criação permanente de um sentido sempre singular e como deliberação racional e razoável que só a liberdade pode colocar em perspectiva acabou mais uma vez sendo ocultada A democracia é o projeto de romper o fechamento em nível coletivo A filosofia que cria a subjetividade com capacidade de refletir é o projeto de romper com o fechamnto do pensamento O nascimento da filosofia e o nascimento da democracia não coincidem eles cosignificam Ambos são expressões e encarnações centrais do projeto de autonomia7 Portanto sob a perspectiva democrática isso é à luz do projeto de autonomia individual e coletiva a filosofia não é a atividade espontânea pela qual as sociedades criam seus costumes valores representações e finalidades mas a forma sistemática e deliberada de interrogar esta criação Ela é a busca de definição em primeiro lugar do espaço que cabe à deliberação e à iniciativa humana individualmente como decisão que constitui a conduta ética e coletivamente como política nessa acepção que em grande escala o autor mencionado compartilhava com Hannah Arendt Do ponto de vista ainda da democracia tampouco a crítica da modernidade ao pensamento metafísico pode ser avaliada pelo que dela resultou ou pelo seu fracasso mais do que um acontecimento meramente intelectual à modernidade corresponderam conquistas 7 Cornelius Castoriadis O fim da filosofia in Encruzilhadas do Labirinto III O Mundo fragmentado Rio de Janeiro Paz e Terra 1991 p 235 ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 9 sociais que a tornaram um momento muito especial de criação socialhistórica Nesse momento e após muitos séculos a definição filosófica da educação voltou a buscar na radicalidade de sua tradição de questionamento seu caráter eminentemente instituinte Essa dimensão instituinte do fazer educativo foi proclamada com insistência durante o período da Revolução Francesa que redescobriu a direta relação entre este fazer e a instituição política da sociedade Decorre daí uma nova definição filosófica da educação uma definição política Aos poucos porém em face das exigências de construção de uma sociedade nova e unificada a autoridade científica foi retomando o poder que havia sido subtraído ao dogma a prática do controle se reinstituiu pela ambição ampliada de uma definição científica da educação que promove as ciências da educação em referências absolutas para os métodos e procedimentos de administração e de realização do fazer educativo Muito particularmente a psicologia no que se refere aos aspectos individuais e a estatística no que se refere ao aspecto coletivo passam a ser irrestritamente valorizadas no campo educativo Não se pode dizer que essas definições especializadas da educação tenham liberado o fazer educativo de seus enigmas apenas ajudaram a ocultálo Sem dúvida nossos tempos já não desconhecem os efeitos nefastos do mito do progresso técnicocientífico que JeanJacques Rousseau começara a denunciar e os riscos da descontrolada ambição de domínio racional da realidade Como diria Agnes Heller hoje sabemos que tudo tem seu preço Mas nem por isso nos tornamos mais capazes de interferir coletivamente sobre esses processos Nem por isso nos tornamos mais imunes à sedução do mito da eficácia das técnicas e da validade universal dos discursos especializados ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 10 Por isso na área da educação as diferentes disciplinas dificilmente convergirão para uma compreensão organizada e harmônica da realidade humana e social e não é essa a função da filosofia Ao contrário sem o questionamento de seus limites essas perspectivas continuarão disputando o privilégio de fornecer a definição acabada e total para a educação sob a forma da resposta mais conveniente para os dilemas que ela coloca Mas a tentação de fornecer as explicações acabadas para o humano e a sociedade é um traço comum entre a ciência e a filosofia da modernidade Um dos maiores expoentes da filosofia moderna Immanuel Kant havia começado a demonstrar os limites do conhecimento científico no que se refere ao homem e à sociedade sob esse aspecto sua contribuição para a definição filosófica da educação é inegável ainda que pouco explorada No entanto ele julgou poder estabelecer não só os fundamentos universais e absolutos para o entendimento humano mas também as bases inquestionáveis de um conhecimento prático sucumbindo à tentação de estabelecer parâmetros universais que reduziriam a educação a uma simples questão de método Todavia qualquer definição que parta apenas das determinações que pesam sobre a natureza humana e social e não igualmente do questionamento dos limites dessas determinações é nefasta para a educação Voltase assim repetidamente à tradição platônica e à herança metafísica Com Platão começa a torção e a distorção platônica que dominou a história da filosofia ou pelo menos a sua principal corrente O filósofo deixa de ser um cidadão Sai da pólis ou colocase acima dela e diz às ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 11 pessoas o que devem fazer deduzindo isso de seu próprio conhecimento8 Começa com Platão diz Cornelius Castoriadis a crença de que se possa encontrar uma teoria única e válida para todas as questões sobre o humano uma ontologia unitária da qual em seguida se tenta derivar o regime político ideal É essa a torção e a distorção que sofrem primeiramente a filosofia e em seguida a ciência moderna a de acreditar que o conhecimento pode e deve substituir a liberdade humana Em fins do século XIX Friedrich Nietzsche afirmava que só seríamos de fato modernos quando enterrando de uma vez por todas a tradição platônica abraçássemos definitivamente o nihilismo Não haveria então outra opção para superar o ideal do saber absoluto Não são poucos os que buscando evitar os erros modernos acabam por ceder ante outras seduções como a do subjetivismo e do relativismo das concepções que pretendem que nada é possível dizer sobre o humano e que suspeitam das intenções dominadoras de todo projeto educativo Dessa forma alguns críticos pósmodernos renunciam à filosofia como práxis e à educação como ação deliberada e racional Mas feita compromisso racional e deliberado com o projeto de autonomia a filosofia pode definir a educação como prática de formação coletiva de subjetividades reflexivas e deliberantes de que a democracia carece Mas não há método ou regra ou receita que garanta antecipadamente o êxito de uma empreitada em que se trata na verdade de socializar os indivíduos com base nas instituições 8 Idem p 236237 ffiilloossooffiiaa ddaa eedduuccaaççããoo 12 heterônomas da sociedade e já encarnadas por eles para a criação de um novo modo de existência individual e coletiva em que a autonomia seja possível Não há método ou regra ou receita eficaz para garantir que se vai desistir para sempre de toda ambição de controle da educação ou para garantir que se vá admitir a liberdade a rebeldia o erro a singularidade do aluno sua autocriação concretamente manifestada não como um obstáculo mas como uma condição essencial da construção comum da educação Não há método ou regra ou receita que garanta antecipadamente o êxito de uma empreitada em que se trata de realizar a cada dia a descoberta do imponderável da criação com base em todas as teorias e métodos e técnicas que tomados dogmaticamente acabam por ocultála Não há método ou regra ou receita que garanta antecipadamente o êxito do fazer educativo Eis o que é próprio da definição filosófica da educação à luz do projeto de autonomia humana individual e coletiva elucidar o enigma do fazer educativo cf infra p 22 13 A AN NÍÍS SIIO O TTEEIIXXEEIIR RA A Na medida de nossas forças construímos então uma filosofia e a ela nos acomodamos tão bem como tão mal em nossa ânsia e inquietação de compreender e de pacificar o espírito Tais filosofias individuais não se articulam porém em sistemas filosóficos Esses quando não são criações pedantes de gabinete mas expressões reais de filosofia representam e caracterizam uma época um povo ou uma classe de pessoas Porque no sentido realístico de que falamos de filosofia tal seja a vida tal seja a civilização tal será a filosofia A filosofia de um grupo que luta corajosamente para viver não é a mesma de outro cujas facilidades transcorrem em uma tranqüila e rica abundância Conforme o tipo de experiência de cada um será a filosofia de cada um TEIXEIRA A Pequena introdução à filosofia da educação A Escola Progressiva ou A Transformação da Escola 6 ed Rio de Janeiro DPA 2000 p 170 A filosofia se traduz assim em educação e educação só é digna desse nome quando está percorrida de uma larga visão filosófica Filosofia da educação não é pois senão o estudo dos problemas que se referem à formação dos melhores hábitos mentais e morais em relação às dificuldades da vida social contemporânea Dewey Considerada assim a filosofia como a investigadora dos valores mentais e morais mais compreensivos mais harmoniosos e mais ricos que possam existir na vida social contemporânea está claro que a filosofia dependerá como a educação do tipo de sociedade que se tiver em vista Id p 171 De todos os lados da educação lhe batem à porta De todos os lados as instituições humanas se abalam e se transformam Transformase a família transformase a vida econômica transformase a vida industrial transformase a igreja transformase o estado transformamse todas as instituições as mais rígidas e as mais sólidas e de todas essas transformações chegam à escola um eco e uma exigência A escola tem que dar ouvidos a todos e a todos servir Será o teste de sua flexibilidade da inteligência de sua organização e da inteligência dos seus servidores Esses têm de honrar as responsabilidades que as circunstâncias lhes confiam e só o poderão fazer transformandose a si mesmos e transformando a escola Id p 173 14 CCO OR RN NEELLIIU US S CCA AS STTO OR RIIA AD DIIS S Atravessamos um período de crise prolongada da cultura ocidental À crise pertencem também a proclamação em particular por Heidegger mas não só por ele do fim da filosofia e toda a gama de retóricas desconstrucionistas e pósmodernistas Pois a filosofia é um elemento central do projeto greco ocidental de autonomia individual e social o fim da filosofia significaria nem mais nem menos do que o fim da liberdade A liberdade não está apenas ameaçada pelos regimes totalitários ou autoritários E sim de maneira mais escondida porém não menos forte pela atrofia do conflito e da crítica pela expansão da amnésia e da irrelevância pela incapacidade crescente de questionar o presente e as instituições existentes quer sejam propriamente políticas ou contenham concepções do mundo Nessa crítica a filosofia sempre teve uma parte central ainda que na maior parte do tempo sua ação tenha sido indireta CASTORIADIS C O fim da filosofia in As encruzilhadas do labirinto III o mundo fragmentado Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 pp 239240 Um filósofo escreve e publica porque crê que tem coisas verdadeiras e importantes a dizer mas também porque quer ser discutido Ser discutido implica a possibilidade de ser criticado e eventualmente refutado E todos os grandes filósofos do passado inclusive Kant Fichte e Schelling explicitamente discutiram criticaram e refutaram ou pensaram que refutaram seus predecessores Pensavam com razão que pertenciam a um espaço socialhistórico público e transtemporal na ágora transhistórica da reflexão e que sua crítica pública dos outros filósofos era um fator essencial da manutenção e do alargamento desse espaço como sendo de liberdade É por isso que para um filósofo não pode haver história da filosofia a não ser crítica A crítica pressupõe evidentemente o esforço mais laborioso e mais desinteressado para compreender a obra crítica Mas ela exige também uma vigilância constante quanto às limitações possíveis desta obra limitações que resultam do fechamento quase inevitável de toda obra de pensamento que acompanha a sua ruptura com o fechamento precedente Id p 243244 15 IIM MM MA AN NU UEELL KKA AN NTT O homem é a única criatura que precisa ser educada Por educação entende se o cuidado de sua infância a conservação o trato a disciplina e a instrução com a formação Conseqüentemente o homem é infante educando e discípulo A disciplina transforma a animalidade em humanidade Um animal é por seu próprio instinto tudo aquilo que pode ser uma razão exterior a ele tomou por ele antecipadamente todos os cuidados necessários Mas o homem tem necessidade de sua própria razão Não tem instinto e precisa formar por si mesmo o projeto de sua conduta Entretanto porque ele não tem a capacidade imediata de o realizar mas vem ao mundo em estado bruto outros devem fazêlo por ele KANT I Sobre a Pedagogia Piracicaba UNIMEP 1996 pp 1112 Mas o homem é tão naturalmente inclinado à liberdade que depois que se acostuma a ela por longo tempo a ela tudo sacrifica Ora este é o motivo preciso pelo qual é conveniente recorrer cedo à disciplina pois de outro modo seria muito difícil mudar depois o homem Ele seguiria então todos os seus caprichos Do mesmo modo podese ver que os selvagens jamais se habituam a viver como os europeus ainda que permaneçam por muito tempo a seu serviço O que neles não deriva como opinam Rousseau e outros de uma nobre tendência à liberdade mas de uma certa rudeza uma vez que o animal ainda não desenvolveu a humanidade em si mesmo numa certa medida Assim é preciso acostumálo logo a submeterse aos preceitos da razão Id p 13 O homem não pode tornarse um verdadeiro homem senão pela educação Ele é aquilo que a educação dele faz Notese que ele só pode receber esta educação de outros homens os quais a receberam igualmente de outros Portanto a falta de disciplina e de instrução em certos homens os torna mestres muito ruins de seus educandos Se um ser de natureza superior tomasse cuidado da nossa educação verseia então o que poderíamos nos tornar Mas assim como por um lado a educação ensina alguma coisa aos homens e por outro lado não faz mais que desenvolver nele certas qualidades não se pode saber até onde nos levariam as nossas disposições naturais Id p 15 16 H HA AN NN NA AH H A AR REEN ND DTT A filosofia tem duas boas razões para não se limitar a apenas encontrar o lugar onde surge a política A primeira é a Zoon politikon como se no homem houvesse algo político que pertencesse à sua essência conceito que não procede o homem é apolítico A política surge no entreoshomens portanto totalmente fora dos homens Por conseguinte não existe nenhuma substância política original A política surge no intraespaço e se estabelece como relação Hobbes compreendeu isso b A concepção monoteísta de Deus em cuja imagem o homem deve ter sido criado Daí só pode haver o homem e os homens tornamse sua repetição mais ou menos bemsucedida O homem criado à imagem da solidão de Deus serve de base ao state of nature as a war of all against all de Hobbes É a rebelião de cada um contra todos os outros odiados porque existem sem sentido sem sentido exclusivamente para o homem criado à imagem da solidão de Deus ARENDT H O que é política Rio de Janeiro Bretrand Brasil 1998 p 23 Ao se falar de política em nosso tempo é preciso começar pelos preconceitos que todos nós temos contra a política quando não somos políticos profissionais Não se precisa deplorar e em nenhum caso devese tentar modificar o fato de os preconceitos desempenharem um papel tão extraordinário no cotidiano e com isso na política Pois nenhum homem pode viver sem preconceitos não apenas porque não teria inteligência ou conhecimento suficiente para julgar de novo tudo que exi gisse um juízo seu no decorrer de sua vida mas sim porque tal falta de preconceito requereria um estado de alerta sobrehumano Por isso a política tem de lidar sempre e em toda parte com o esclarecimento e com a dispersão de preconceitos o que não significa tratarse no caso de uma educação para a perda de preconceitos nem que aqueles que se esforcem para fazer tal esclarecimento sejam livres de preconceitos Id p 2829 Se o sentido da política é a liberdade isso significa que nesse espaço e em nenhum outro temos de fato o direito de esperar milagres Não porque fôssemos crentes em milagres mas sim porque os homens enquanto puderem agir estão em condições de fazer o improvável e o incalculável e saibam eles ou não estão sempre fazendo A pergunta hoje quase não é qual é o sentido da política É muito mais natural ao sentimento dos povos que por toda parte se sentem ameaçados pela política e nos quais os melhores se distanciam da política de maneira consciente que a pergunta seja tem a política ainda algum sentido Id p 44 corpo e cidade desafios da formação humana frente à precariedade Lílian do Valle nunca houve humano sem o sentido não apenas de seu corpo mas de sua individualidade ao mesmo tempo espiritual e corpórea1 Meu corpo é contradição 2 Um corpo ausente Na história das práticas educativas o lugar reservado ao corpo foi e continua sendo marcado por uma incontornável ambiguidade sendo o primeiro e mais imediato fiador da presença ele é aquele que desde o início está destinado a desaparecer Pois sua ausência marca na maior parte do tempo o sucesso da empreitada formativa cujo objetivo central no que lhe diz respeito é como sabemos pelo menos desde Foucault o disciplinamento e o controle3 E sobretudo no trato com os recém chegados a turbulenta imediatez deve ser neutralizada de forma que ali onde estava o ímpeto corpóreo seja agora a atenção e a disposição mental para a aquisição de novos hábitos e conhecimentos Assim é forte a tentação de caracterizar o corpo como o grande ausente mas talvez a metáfora do silêncio lhe conviesse melhor no percurso escolar é preciso que os sentidos progressivamente se calem para que se possa instalar a potência da cognição E isso já que como diz a teoria largamente adotada no campo da educação uma bemsucedida exploração do período sensóriomotor deverá conduzir a uma nova etapa em que as operações mentais poderão enfim se realizar livremente Até lá porém será preciso cuidar para que o ponto de apoio da aprendizagem não se transforme em empecilho e em nome da socialização erguese a 1 Marcel Mauss Uma categoria do espírito humano a noção de pessoa a de eu in Sociologia e antropologia São Paulo Ubu 2017 p 371 2 Paul Valéry Tel Quel in Œuvres p 519 3 Michel Foucault Vigiar e punir Petrópolis Vozes 1984 necessidade de acostumar o corpo a habitar o espaço comum de acordo com as regras preestabelecidas de convivência e de disciplina Mas é claro que este retrato idealizado diz mais sobre intenções e expectativas que se enraízam na tradição moderna e que se mantêm até aqui razoavelmente íntegras do que sobre as enormes e sempre crescentes dificuldades que lhes opõe o cotidiano de nossas escolas mas é não exatamente dessa distância que convém finalmente falar Falar por exemplo do que podemos chamar de sujeito isolado esse tipo antropológico central da Modernidade e típico da escola que nesse momento se instituiu e para tanto denunciar as clivagens que cimentaram e continuam a cimentar no campo das imagens de que se servem as práticas formativas corpo x alma interior x exterior razão x experiência pensamento consciência x atividade movimento eu individuação x outro socialização denunciar assim o abandono das dimensões da sensibilidade dos afetos e do enraizamento social e histórico Ora essas clivagens têm todas elas como ponto de origem e de confluência a oposição corpo x alma que desde a Antiguidade se forjou como marca absoluta do pensamento ocidental No entanto o corpo está por toda parte ele é aquele que está irreparavelmente aqui onde estou eu que não posso me deslocar sem ele4 ele é porém ou exatamente por isso aquele que tantas utopias desde Platão inutilmente tentaram superar E eis que mais recentemente o sonho de libertação dessa materialidade limitadora que assombrou a busca do saber desse corpoprisãodoaquieagora já parece possível em um mundo tornado pela tecnologia virtual novos tempos são anunciados nos quais as distâncias e as imposições temporais já não vigem Contudo mais profundamente a cibercultura nos recoloca diante da velha questão do corpo e do sentido que ele tem para a vida comum e para a formação humana Os discursos mais entusiasmados pretendem que estaríamos mesmo diante de uma nova humanidade caracterizada pela coletivização da inteligência virtual pelo livre acesso e produção do conhecimento pela cooperação ilimitada pela multiplicação dos contatos e das trocas No entanto no mundo real em que vivemos esta parusia digital é luxo reservado a poucos é ainda em seus corpos e no espaço de 4 Michel Foucault O Corpo utópico as heterotopias São Paulo N1 2013 httpsjoaocamillopennafileswordpresscom201910foucaultmichelocorpoutopicoasheterotopiaspdfpdf suas moradas que uma parte não desprezível da humanidade sofre da escassez dos recursos da fúria climática dos horrores das guerras engendrando os fenômenos migratórios que só fazem se multiplicar ampliando não a democracia anunciada mas novas fronteiras de xenofobia de racismo e de fechamento Nas cidades a violência disseminada também tem como consequência a transformação do espaço urbano um corpo agora desmembrado cujos órgãos buscam preservação fechandose sobre si mesmos na falsa proteção dos condomínios das grades dos muros5 Mas o corpo é também o grande presente nas práticas sociais que quebram hoje a apatia política generalizada nos movimentos negro feministas e LGBTQIA antirracismo ecológicos nas lutas dos semterra e dos semteto Assim parafraseando Jacques Derrida somos obrigadas a convir que ao menos no que diz respeito a nosso aqui e agora nada há que não se passe com o corpo e não passe pelo corpo6 Talvez por isso mesmo mais do que multiplicidade o corpo é para nós radical ambivalência Na escola na vida individual e na cidade as experiências de corpo se encontram assim misteriosamente suspensas entre um ter e um ser entre conhecimento íntimo e total estranheza entre silenciamento e exaltação entre confinamento e a abertura entre conforto e a dor O humano é um ser encarnado pelo corpo ele está ligado à materialidade do mundo ao mundo das sensações e à sua precariedade que antecipa os perigos e os limites de sua existência Nosso corpo diz Michela Marzano magnifica a vida e suas possibilidades mas proclama igualmente nossa morte futura e nossa finitude7 Porém é ainda ele que nos abre à experiência da alteridade que é a uma só vez o encontro com o amor ratificação da vida em nós e possibilidade de novas experiências de si encontro com a liberdade da autoalteração Por isso mesmo como sublinha a autora o corpo é lugar de interrogação existencial relativa não somente ao nosso ser individual mas à própria existência da sociedade Como sequer pensar em uma educação que não o tenha em lugar central 5 Cf Christian L Dunker A lógica do condomínio Piseagrama número 11 2017 p 102 109 6 Cf Jacques Derrida Le retrait de la métaphore in Psyché Inventions de lautre Paris Galilée 1998 p 65 7 Michela Marzano Philosophie du corps Paris PUF 2007 p 8 De pluralidade e ambivalência A única coisa que eu não posso evacuar pelo pensamento é o pensamento Eis em poucas palavras o argumento eu não posso inteligivelmente duvidar de minha própria existência uma vez que a dúvida é uma forma de pensamento e que se penso eu existo Em contrapartida posso inteligivelmente duvidar que tenha um corpo Resulta daí que não sou idêntico a meu corpo E resulta dessa nova afirmação que eu posso logicamente existir sem corpo8 Eu sou corpo e alma assim fala a criança E por que não se há de falar como as crianças Mas aquele que está desperto e consciente diz Eu sou inteiramente corpo e nada mais a alma não é senão um nome para uma parte do corpo O corpo é um grande sistema de razão uma multiplicidade com um só sentido uma guerra e uma paz um rebanho e um pastor Instrumento de teu corpo tal é também tua pequena razão a que chamas de espírito meu irmão pequeno instrumento e pequeno brinquedo de tua grande razão9 do corpo uno e múltiplo em Aristóteles O corpo de que falam os filósofos foi sucessivamente e conforme os modelos disponíveis comparado a uma prisão um sarcófago uma jaula um relógio um autômato uma máquina um computador Não há como negar os filósofos sempre preferiram meditar sobre a alma e suas paixões investigar o entendimento humano ou ainda criticar a razão pura ao invés de se debruçarem sobre a realidade do corpo e a finitude da condição humana10 mas antes disso foi o prestígio da promessa de uma plenitude a que apenas o saber poderia dar acesso que justificou a criação do princípio de separação de sensibilidade e intelecção de matéria e espírito E de fato a epopeia desconhecia o conceito de um corpo vivo a oporse à 8 Arthur C Danto Le corps dans la philosophie et lart in Cités no 26 20062 p 138 9 F Nietzsche Assim falava Zaratustra São Paulo Martin Claret 2012 p 45 httpwwwebooksbrasilorgadobeebookzarapdf 10 Michela Marzano Philosophie du corps op cit p 3 alma se há uma unidade ela diz respeito à imobilidade do cadáver do corpo após a morte A vida então se diz pela multiplicidade de órgãos com suas variadas e diferenciadas atividades e funções vitais a figura de alguém cada membros de seu corpo a pele11 O que hoje entendemos como o conceito de corpo deve pois sua existência à invenção da noção de alma à emergência do conceito de psique Essa lógica de separação lógica disjuntiva se estabiliza e se institui duravelmente na tradição ocidental por influência platônica em virtude da qual continuamos a conceber o pensamento como abstrato imaterial a despeito de podermos desde Aristóteles entender que sob essa aparência se esconde seu profundo e forçoso enraizamento das ideias na experiência sensível Em Descartes a separação corpo e alma atinge seu ponto máximo o sensível é lugar de confusão e obscuridade somente o cogito fornece acesso à certeza Fecharei agora os olhos tamparei meus ouvidos desviarmeei de todos os meus sentidos apagarei mesmo de meu pensamento todas as imagens de coisas corporais ou ao menos uma vez que mal se pode fazêlo reputálasei como vãs e como falsas e assim entretendome apenas comigo mesmo e considerando meu interior empreenderei tornarme pouco a pouco mais conhecido e mais familiar a mim mesmo Sou uma coisa que pensa 12 Mais ainda na alma repousa segundo Descartes a verdadeira identidade do humano essa alma pela qual eu sou inteiramente distinto do corpo13 Muitos séculos antes disto porém ao oporse ao dualismo platônico o texto aristotélico apresentase como uma das primeiras e até hoje mais importantes contribuições para uma teoria da unidade corpoalma e assim para que possamos tomar alguma distância em relação à dualidade que se enraíza na história do pensamento pelos aportes da espiritualidade cristã e que se renova na Modernidade em virtude de seu culto da razão aquela pela qual a alma define a incorporeidade própria às essências por oposição às armadilhas da experiência própria aos sentidos Sem dúvida foi exatamente a predominância da busca incessante pelo 11 Giovani Reale Corpo alma e saúde O conceito de homem de Homero a Platão São Paulo Paulus 2002 p 14 e seg 12 Descartes Meditações Metafísicas Terceira Meditação São Paulo Martins Fontes 1999 p 47 13 Descartes op cit Quarta Meditação verdadeiro saber pela experiência segura e não menos direta da razão que como observa Richard Bodeüs14 desde sempre instalou o problema da alma do espírito do pensamento da consciência enfim da instância associada à própria identidade humana por oposição aos animais e às coisas justamente ditas inanimadas em uma reflexão de ordem metafísica Assim a dualidade corpoalma nada mais é senão o corolário o prolongamento de uma dualidade entre mundosujeito esta mesma dualidade contra a qual MerleauPonty combateu denominandoa estrabismo da ontologia ocidental15 Mas como não buscar o outro extremo desprezando o cuidado com a reflexão e pensamento Pode o corpo pensar Pode a psique se fazer encarnada16 As questões assim colocadas só fazem ressaltar a novidade da elaboração aristotélica que afirma que a psique a anima dos latinos é o princípio interno comum a todos os viventes naturais isto é a todos os seres que podem ser ditos físicos animais e vegetais que conhecem nascimento crescimento e morte que se mantêm em vida e se reproduzem Psique anima é pois princípio de vida que os humanos compartilham com tudo que é submetido a um movimento que vem da natureza De forma que contrariando frontalmente o pensamento platônico Aristóteles propõe a indissociabilidade da matéria e da forma da essência do sentido ele constrói pois a primeira teoria da unidade do corpo e da alma E ao fazêlo inaugura uma via para a reflexão que não foi ainda suficientemente explorada por aqueles que se interessam pelas coisas humanas17 Cognição e sensibilidade são faculdades que definem partes diferentes da psique Mas isto não significa que se possam pensar estas faculdades ou partes como existindo autonomamente Pelo contrário Aristóteles considera que a alma nada sofre e nada faz sem o corpo Assim encolerizarse transtornarse desejar ou de forma global sentir Esta unidade entre alma e corpo antiplatônica e seguramente anticartesiana marca de maneira especial a crítica à noção de ideias desencarnadas 14 Richard Bodeüs Présentation de De lâme Paris Flammarion 1993 15 M MerleauPonty O visível e o invisível São Paulo Perspectiva 2009 p 271 16 A psique é extensão dizia em nota póstuma Freud 17 No pensamento aristotélico a crítica tanto às concepções materialistas da alma quanto ao idealismo platônico esboçase numa teoria em que sensibilidade e intelecção vêm sempre juntas pois o acesso às realidades sensíveis não se dá sem que se construa um sentido um conceito que se forneça uma forma à experiência assim como o pensamento o acesso às realidades ditas inteligíveis não se faz sem a sensibilidade Entre os viventes os animais se distinguem pela faculdade perceptiva ou sensitiva Platão dizia que estar em vida é afetar e se deixar afetar18 isto é a vida é definida pela capacidade de agir sobre qualquer coisa ou de sofrer uma ação Aristóteles vai também definir o animal pela faculdade sensitiva O próprio da vida animal é a capacidade de distinguir de discriminar no meio em que está aquilo que contribuindo para sua existência lhe é agradável e aquilo que ao contrário lhe é doloroso e deve ser evitado19 Alguns animais são assim dotados de uma capacidade motora que lhes permite o simples deslocamento espacial mas em muitos casos produzemse fenômenos mais complexos aos quais se dá mais apropriadamente o nome de desejo que supera a simples capacidade de distinguir entre o que é vantajoso ou desvantajoso para sua sobrevivência E para além disto a capacidade de discriminar o bem e o mal que faz ser a ética Alguns animais entre os quais de forma muito especial o humano possuem ainda uma alma noética a capacidade de pensar de produzir sentidos Mas o composto humano é ainda dotado de imaginação dita em grego phantasia O humano é capaz graças à imaginação de dar sentido de dar forma àquilo que sente e para ele o pensamento não se dá apesar do corpo mas como atividade de um ser encarnado Assim o corpo que sente é aquele que por ser dotado de imaginação cria sentido para esta experiência tampouco o pensamento é atividade de um ser desencarnado é graças à imaginação que as ideias longe de serem entidades de puros espíritos são sempre produção de um ser dotado de corpo do corpo ambivalente segundo Foucault Mas esta forma de conceber o corpo como unidade insecável de que modo ela pode corresponder à experiência que dele fazemos É finalmente em Foucault que a questão do corpo aparece com toda a ambiguidade que lhe é própria e que as teses filosóficas nem sempre dão a ver O corpo como problema como questão permanentemente colocada sem que uma solução para o enigma que ele introduz venha a obliterar a interrogação aberta Corpo como recusa como sofrimento limite gravidade e prisão mas também e por que não como utopia 18 Platão Sofista 247 e 19 Cf Aristóteles Ética a Nicômaco passim O texto a que fazemos referência resulta de uma bela conferência radiofônica realizada em 1966 pelo canal FranceCulture20 comovente pelo tom intimista autobiográfico e francamente poético que Foucault assume Ali fazse enfim o relato de um corpo que não é da filosofia mas do filósofo e o testemunho pessoal retraça as agruras vividas pelo autor surpreendentemente o corpo é de saída apresentado como impasse como estorvo como o que lhe permite o deslocamento mas impede o movimento mais substancial não que eu esteja por ele pregado no chão já que eu posso não somente moverme e mexerme mas mexêlo movêlo mudálo de lugar no entanto eis que não posso me deslocar sem ele não posso deixálo lá onde está e irme embora eu para outro lugar 21 Esse primeiro instantâneo do percurso vagaroso que nos propõe Foucault é pois do corpo que é o exato oposto de uma utopia um lugar absoluto topos inescapável impiedosa topia diz ele É de estranhamento e de rejeição que nos fala o filósofo de uma ferida desse rosto magro ombros arqueados olhar míope já sem cabelos realmente nada bonito que se apresenta ao espelho como PaulMichel de Foucault ou ao menos como se vê ao espelho PaulMichel de Foucault22 Corpo mal estar jaula que eu não amo lugar de condenação O relato estritamente confessional dessa experiência de ser projetado no que mais se parece uma casca uma cadeia uma armadura que dificilmente se carrega pesada embaraçosa e inconveniente levanos para nossa própria realidade mais ou menos assemelhada mas em seguida transportanos ainda mais longe nos faz imaginar a experiência sem memória do recémnascido que fomos voltar às marcas da adolescência que deixamos para trás vislumbrar o declínio que nos aguarda Experiência que se instala nas entranhas da história no âmago de um sonho que somente à condição de humanidade é dado sonhar Imagino em suma que é contra ele e para suprimilo que se fizeram nascer todas as utopias O prestígio da utopia a beleza o maravilhamento da utopia a que são devidos A utopia é um lugar fora de todos os lugares mas um lugar onde 20 httpstinyurlcomybkmmoza posteriormente publicado em Michel Foucault Le corps utopique Les hétérotopies Paris Ed Lignes 2009 Michel Foucault O Corpo utópico as heterotopias São Paulo N1 2013 21 Id 22 Ibid terei um corpo sem corpo um corpo que será belo límpido transparente luminoso veloz colossal em sua potência infinito em sua duração liberto invisível protegido sempre transfigurado E é bem possível que a utopia primeira aquela que é a mais inerradicável no coração dos homens seja precisamente a utopia de um corpo incorpóreo23 Eis que nos vemos subitamente diante da imortalidade prometida aos heróis e suas pátrias anunciada pelas religiões cobiçada pelo projeto político dos impérios um corpo glorioso transfigurado capaz de vencer o tempo e a morte É assim que Foucault se refere às múmias às tumbas antigas mas também às pinturas e esculturas medievais prolongando na imobilidade uma juventude que não passará jamais almejando uma eternidade propriamente divina24 Chegase por este trajeto tortuoso à mais obstinada mais poderosa das utopias pelas quais nós suprimimos a triste topologia do corpo tratase dessa alma longamente concebida na história ocidental que é capaz de transportar para além da opaca materialidade das coisas de uma alma que escapa quando durmo sobrevive quando morro25 Contudo o corpo resiste a estas utopias que pretendem fazêlo desaparecer diznos Foucault Mas meu corpo na verdade não se deixa reduzir assim tão facilmente Afinal ele tem seus recursos próprios e fantásticos possui ele também lugares sem lugar e lugares mais profundos mais obstinados ainda que a alma que o túmulo que o encanto dos mágicos Ele tem seus porões e seus sótãos ambientes obscuros espaços luminosos26 Incompreensível e opaco o corpo descobre por fim Foucault é modelo e origem de todas as utopias pelas quais se pretendia fugir à corporeidade Pois todas elas dão testemunho da experiência corpórea e mesmo a tentativa de negála acaba por se constituir em sua afirmação Estonteante reversão pela qual o texto de Foucault subitamente parece atualizar em termos poéticos e muito intimistas a teoria hilemorfista do composto humano Uma coisa é certa o corpo humano é o principal ator de todas as utopias27 23 Id 24 Id 25 Id p 3 26 Id p 3 27 Id p 4 Não na verdade não é preciso nem magia nem maravilha não é preciso uma alma ou uma morte para que eu seja a uma só vez opaco e transparente visível e invisível vida e coisa para que eu seja utopia bastame ser um corpo Todas as utopias pelas quais me esquivava de meu corpo eles tinham simplesmente por modelo e por primeiro ponto de aplicação elas tinham seu lugar de origem em meu próprio corpo Eu estava errado quando há pouco dizia que as utopias haviam se formado contra o corpo e destinadas a suprimilo elas nasceram do corpo e talvez tenham se voltado em seguida contra ele Em todo caso uma coisa é certa é que meu corpo humano é o ator principal de todas as utopias28 A tatuagem a maquiagem a máscara as vestimentas rituais sagradas ou profanas dão forma sensível às utopias que marcam o corpo Pois em sua materialidade diz o filósofo o corpo se faz produto de seus próprios fantasmas E de fato não seria o corpo do dançarino um corpo dilatado segundo um espaço que lhe é ao mesmo tempo interior e exterior propõe então Foucault29 Mais o corpo é como o ponto zero do mundo em torno do qual tudo se dispõe para o qual e somente para o qual há uma direita e uma esquerda um acima e um abaixo um próximo e um distante um antes e um depois O corpo não está em nenhum lugar pois ele é um pequeno núcleo utópico a partir do qual eu sonho falo avanço imagino percebo as coisas em seu lugar e as nego também em virtude do indefinido poder das utopias que imagino30 As crianças observa Foucault levam muito tempo até tomarem consciência de que têm um corpo elas têm orifícios cavidades membros que só se organizam em um todo na imagem do espelho E os gregos acrescenta não tinham uma palavra para dizer a unidade corpórea apenas aquela que serve para designar o cadáver O espelho e o cadáver impedem que o corpo seja pura utopia ainda que estejam em um lugar inacessível onde jamais estaremos Mas o texto não se conclui sobre esta nota trágica pois Foucault se volta para a experiência do amor que fornece ao corpo sua redenção máxima sua melhor utopia que está em finalmente fazerse magnífica topia fazendonos definitivamente presentes 28 Id p 34 29 Id 30 Id p 5 sob os dedos do outro percorrendoo todas as partes invisíveis de nosso corpo se põem a existir contra os lábios do outro os nossos tornamse sensíveis diante dos olhos semicerrados nossa face adquire uma certeza há enfim um olhar para ver nossas pálpebras fechadas O amor também ele como o espelho e como a morte pacifica a utopia do corpo fazna calarse a acalma a encerra como que em uma caixa fechada e selada Por isso ele está tão próximo da ilusão do espelho e da ameaça da morte e se apesar dessas duas figuras perigosas que o circundam gostamos tanto de fazer amor é porque no amor o corpo está aqui31 Perspectivas para a formação humana É talvez chegado o tempo de a psicologia começar a se pensar contra ela própria para compreender para além de sua denominação idealista que a define como discurso sobre a psique sobre esta unidade ideal do sujeito que a cultura grega promoveu sob o termo de psykhè Mas pensar contra não significa pensar o contrário ou permanecendo neste mesmo terreno de oposição em que o conflito se vê reabsorvido da mesma forma que foi engendrado Pensar contra significa pensar profundamente mergulhar até as raízes tocando o fundo onde se implanta esse enraizamento Esta operação que abala a solidez das raízes extirpa a psicologia do lugar que ela se atribuiu e portanto a desorienta a subtrai de seu oriente de sua origem histórica32 Corpo e alma mais do que superar a dualidade talvez seja o caso de entender o que de fato podem significar estas expressões estas metáforas se ao menos decidirmos desenraizálas do terreno em que estiveram até aqui solidamente ancoradas A superação da dualidade se possível implicaria na definição de uma nova unidade ideal e talvez a partir disso a formulação de uma pedagogia do corpo Nada mais distante de nossos objetivos Por isto o grande desafio talvez seja poder prosseguir sem um conceito unificador reconquistar a ambivalência do corpo como sugeriu Galimberti que não implica nem numa recusa obscurantista da racionalidade nem muito menos na subserviência a um modelo de razão que já mostrou seus limites 31 Id p 6 32 Umberto Galimberti Les raisons du corps Paris GrassetMollat 1998 p 9 Sabemos hoje que a verdade não está no combate entre o verdadeiro e o falso mas na emergência de um universo de sentido que tem na ambivalência da realidade corpórea o lugar de nascimento de todos os saberes científicos33 É pois uma tarefa de questionamento profundo das representações herdadas e dos esquemas mentais que constituem nosso modo de mais do que pensar ser corpo Fomos ao longo da história socializados para uma concepção dualista do humano educados para a cognição Na escola pública o privilegiamento da cognição responde não apenas pelo modelo antropológico largamente instituído na civilização ocidental e enfatizado pela Modernidade resulta também de exigências próprias à instituição que deveria fixar o projeto de formação comum em bases objetivas facilmente replicáveis de forma a garantir uma uniformização de práticas sujeitas a amplo acompanhamento e estrito controle Por isso mesmo a redução cognitivista insistimos tornouse a verdadeira conditio per quam da institucionalização da educação comum pela escola pública34 Antecipandose às realizações da educação a distância dos tempos atuais na pedagogia cognitivista a abolição do tempo e do espaço não é uma promessa mas a primeira realização simbólica de seu projeto uniformizador que acaba por definir modos de presença e de ação que lhe são próprios Sob sua égide a formação humana é quase inteiramente reduzida à aprendizagem intelectual em detrimento das dimensões ética afetiva e estética que compõem o humano Não se trata assim de pensar o contrário da cognição de propor uma pedagogia do corpo igualmente marcada pela dicotomia metafísica Aliás talvez a palavra pensar se mostre ela própria por demais presa a um solo de sentidos de que convém ganhar alguma distância no caso da educação ousaríamos dizer que é preciso constituir pela reflexão e pela prática um novo modo de ser um novo modo de presença e ação que se dirija ao humano como composto insecável de corpo e de alma de razão de afetividade e de sensibilidade Projeto vastíssimo para o qual a filosofia do corpo contribui ao anunciar a urgência de se passar da pedagogia cognitivista a uma concepção plena de formação humana35 33 Op cit p 14 34 L do Valle Para além do sujeito isolado httpswwwscielobrjrbeduaHJqZhDx8ytbz75tqgJgNTWCformatpdflangptop 35 Reinstalar o corpo talvez implique em liberálo do ostracismo a que foi reduzido no campo de esportes e trazêlo para o centro da prática educativa onde permanecia ignorado Que outra maneira de reintegrar as dimensões estética e ética com ele expulsas das escolas e Universidades a filosofia do corpo não é nada além de uma filosofia que toma como ponto de partida esse corpo que aí está que pensa a partir da finitude que se interroga sobre o sernomundo de cada indivíduo É uma filosofia que busca compreender a ação humana sem jamais esquecer sua dimensão corpórea 36 36 Michela Marzano La philosophie du corps op cit 121122 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO Curso de Licenciatura em Pedagogia Modalidade EAD Avaliação Presencial 1 AP1 Disciplina FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Equipe Lílian do Valle coordenadora Thiago Dantas Carolina Muzitano Ênio Mendes Alunoa Matrícula Polo O exercício que faremos exigirá que você tente se colocar no lugar de um professor ou professora da rede pública de educação do Rio de Janeiro Descreva por favor como você imagina esseessa profissional a escola a série em que ministra suas aulas apresentando os detalhes que julgue conveniente para que possamos entender a perspectiva que será adotada Em seguida QUESTÃO 1 5 PONTOS Analise e critique o Texto 1 QUESTÃO 2 5 PONTOS Analise e critique o Texto 2 MAS ATENÇÃO A avaliação requer uma breve descrição e duas respostas contemplando cada uma um dos textos indicados Respostas curtas sem desenvolvimento ou sem apresentar explicações ou justificativas não serão bem avaliadas Os critérios para a correção da resposta levará em consideração o desenvolvimento textual da proposta da avaliação Qualquer necessidade de modificação ou problema estarei à disposição só comunicar a plataforma que irão me encaminhar sua mensagem Se gostou me avalie positivamente com 5 estrelas sua avaliação é muito importante Descreva por favor como você imagina esseessa profissional a escola a série em que ministra suas aulas apresentando os detalhes que julgue conveniente para que possamos entender a perspectiva que será adotada Em seguida Imagino esse sujeito como um sujeito ativo no processo de formação como comumente ocorre visto como detentor do conhecimento o qual utiliza o método de ensino tradicional onde cabe ao aluno a função da aprendizagem decorativa e ao professor a função do ensino direto Nessa situação os conteúdos repassados são basicamente os valores sociais acumulados com o passar dos tempos com o intuito de os preparar para a vida e esses conteúdos são determinados pela sociedade e ordenados na legislação independente da experiência do aluno e das realidades sociais o ensino independe do aluno pois este não tem o poder de contestar e nem de dar a sua opinião QUESTÃO 1 No texto se vê uma preocupação voltada para a filosofia no âmbito escolar É destacado o fato do ser humano ser a única que precisa ser educada Verificase a importância da utilização da filosofia na escola uma vez que esta é responsável por desenvolver hábitos de pensamento crítico e cuidadoso nos alunos Uma das afirmativas realizadas é que antes o fazer educativo era apenas um espaço de aplicação das leis e determinações absolutas engendradas pela especulação este tratase do método tradicional contudo sabese que este método é falho nele o professor é visto como ditador em sala de aula quase não ocorre relação entre ele e os alunos o professor atua como repassador de conhecimentos sem nenhum sentimento seus alunos são apenas alunos não se consideram as especificidades todos os alunos são iguais diante dele Atualmente o ensino de diversas disciplinas ainda enfrenta aspectos muito tradicionais conteudistas e matemáticos Existe a necessidade de uma escola inclusiva onde todos os alunos tenham o direito de aprender no mesmo espaço e sem distinções para isso é fundamental que a escola se modifique e que cada aluno possa se apropriar de seu aprendizado para que seja efetivado o seu desenvolvimento intelectual e social Com isto surge então a necessidade de novas metodologias de ensino sendo essencial que as disciplinas sejam percebidas pelo aluno que ela parta de um aspecto motivacional e que agregue informações e significados que venham a provocar interesses e questionamentos na sua visão de mundo Também é importante os professores questionarem a opinião dos alunos sobre a aula a fim de melhorar e planejar ações educacionais futuras O ensino de diversas disciplinas pode ser tanto teórico quanto experimental nele se tem a oportunidade de explorar esses dois meios Realizar aulas que demonstram na prática todo aquele conteúdo desenvolve no aluno um interesse e a capacidade de pensar Outro ponto de destaque no texto é a afirmativa sobre a definição cientificista da educação a qual é apontada como a superação definitiva do pensamento filosófico contudo que a redução gerada pela ciência coloca a filosofia como uma etapa especializada de seu fazer investigativo Uma função importante e tradicional da filosofia é promover uma reflexão mais profunda sobre os conceitos métodos e questões que são fundamentais em outras disciplinas Por exemplo embora a explicação científica seja de uma forma ou de outra comum a todas as ciências questões conceituais sobre sua natureza e questões comparativas sobre sua lógica nas diferentes ciências pertencem à filosofia da ciência Algumas dessas questões foram tratadas por cientistas mas raramente com a abrangência e generalidade necessárias para uma compreensão sinóptica do tema A filosofia também examina criticamente os métodos de investigação nas ciências naturais e sociais Toda disciplina gera algumas questões essencialmente filosóficas sobre si mesma QUESTÃO 2 Se tem no texto um destaque para o corpo como assunto principal A presença física dos sujeitos e do corpo permanecem algo primordial e insubstituível nos processos educativos tradicionais Vejo que o corpo citado seria o indivíduo em si Um ponto de destaque não citado diretamente no texto mas me gerou reflexão é que a vulnerabilidade nos permite entrar na vida dos outros e reconhecer que eles já estão implicados na nossa observando que certos vínculos são realmente moldados pela reversibilidade da história É importante no atual contexto superar os elementos tradicionais professores e discentes passivos que envolvem atividades de ensino e centrar as atividades em alunos e professores ativos trabalhos em grupos e aproximação dos alunos Sabese que a relação afetiva do aluno com o professor no processo de aprendizagem é o princípio da construção da autonomia do aluno no âmbito escolar o docente deve buscar priorizar o seu aluno assim o educando também passará a contribuir com as atividades propostas e as maneiras de aplicálas Cabe ao professor propiciar aos seus alunos um ambiente escolar onde ambas as partes possuem direitos e obrigações de interagir refletir e expressar suas opiniões respeitando assim o conhecimento que os alunos trazem do mundo para a sala de aula transformase em ambiente de troca de aprendizagem Para enfrentar os desafios de convivência é necessário haver uma relação de confiança entre alunos e o professor Quando existe confiança em sala de aula os alunos possuem mais propensão para aprender e os professores se sentem mais motivados no aprimoramento de seu processo didático Também é necessário o professor sempre estar aberto às novas experiências aos sentimentos e aos problemas de seus alunos

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