·
Geografia ·
Geografia
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
2
Plano de Ensino Estagio Curricular Obrigatorio II Geografia
Geografia
UNIA
1
Portfólio- Prticas Pedagógicas Indentidade Docente
Geografia
UNIA
30
Relatorio de Estagio - Modelo Completo para Estudantes
Geografia
UNIA
12
Energias Nao-Renovaveis-Definicao-Tipos-Formacao-e-Reservas-Mundiais-PowerPoint
Geografia
UNIA
68
Plano de Trabalho Estágio Licenciaturas 2024-1: Guia Completo
Geografia
UNIA
11
Capel Horácio Urteaga Luis Las Nuevas Geografias
Geografia
UVA
5
Conceito de Geografia Andrade
Geografia
UNIMONTES
2
Conceito Comtemporâneo de Geografia
Geografia
UMG
2
Epistemologia de Geografia
Geografia
UMG
17
O Estado de Alagoas no Contexto Regional Nordestino
Geografia
UFAL
Preview text
133 A Geografia e a escola muda a geografia Muda o ensino Dra Helena Copetti Callai Professora de Geografia da UNIJUI IjuiRS Correio eletrônico jcallaiunijuitchebr Resumo O artigo propõe a discussão da Geografia como componente curricular para a escola básica e a possibilidade de construção da cidadania Considerase a questão epistemo lógica da Geografia e o seu papel na escola neste início de século Da mesma forma discutese a questão pedagógica contraposta a um conteúdo específico dado pelo ob jeto da ciência e a formação do educador Palavraschave Geografia cidadania educação Terra Livre São Paulo n 16 p 133152 1o semestre2001 HELENA COPETTI CALLAI 134 Introdução O mundo que também a Geografia estuda apresenta um quadro ou mapa se quiser mos que expressa o resultado da luta pela sobrevivência enfrentada pelos diversos povos para a constituição e a manutenção dos seus territórios E hoje mais do que o território que já está construído delimitado e estabelecido muito embora alguns povos estejam envolvidos em luta pelo seu domínio buscase a cidadania quer dizer a garantia dos direitos individuais e sociais É a concretização das leis isto é a acessibilidade concreta ao direito de habitação alimentação saúde educação trabalho segurança bemestar E mais do que isso o direito de buscar a efetivação concreta destas leis no sentido de viver bem construindo a sua história e o seu espaço com dignidade e com consciência clara de ser um sujeito social atuante com lugar para as suas idéias e para satisfação de suas necessidades O mundo tem mudado rapidamente e com ele devem mudar também a escola e o ensino que nela se faz Interessa discutir aqui o ensino de Geografia que afora a sua especi ficidade como ciência é uma matéria presente em todo o currículo escolar da escola básica Nesse sentido a geografia entendida como uma ciência social que estuda o espaço construído pelo homem a partir das relações que estes mantêm entre si e com a natureza quer dizer as questões da sociedade com uma visão espacial é por excelência uma disciplina formativa capaz de instrumentalizar o aluno para que exerça de fato a sua cidadania A partir desta problemática é que nesse ensaio se discute a Geografia como compo nente curricular da educação básica com o objetivo de contribuir para a formação do cidadão Um cidadão que reconheça o mundo em que vive que se compreenda como indivíduo social capaz de construir a sua história a sua sociedade o seu espaço e que consiga ter os mecanismos e os instrumentos para tanto Uma educação para a cidadania tentando romper com a mesmice da escola Desen volvendo uma prática que seja aberta à possibilidade de questionar o que se faz de incor porar de fato os interesses dos alunos e de ser capaz de produzir a capacidade de pensar agindo com criatividade e com autoria de seu pensamento Ao discutir esta postura ques tionamse as propostas prontas implantadas nas escolas até porque elas não têm conse guido entrar em definitivo na vida das escolas O atual ensino de geografia O ensino de Geografia bem como dos demais componentes curriculares tem que considerar necessariamente a análise e a crítica que se faz atualmente à instituição escola situandoa no contexto político social e econômico do mundo e em especial do Brasil Tanto a escola como a disciplina de geografia devem ser consideradas no âmbito da socie dade da qual fazem parte A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 135 Nesta contextualização se integra a questão do objeto da ciência da dinâmica apre sentada pela disciplina na escola e da questão pedagógica que envolve necessariamente a problemática do objeto da ciência e do método Não é possível aceitar que se devam estabelecer planos oficiais com a definição dos conteúdos de cima para baixo a fim de obter através de uma homogeneidade a garantia da qualidade mas nem por isso devese desprezar proposições alternativas de modelos como sugestões em nome de que cada professor deve ter sua autonomia O que não pode acon tecer é se impedir o professor de pensar alternativas de escolher ou de criar Vai depender das suas condições que aliás são um tanto precárias pela própria formação acadêmica que tiveram num momento da história brasileira em que se recebia tudo pronto para não se correr o risco de tentar alternativas que não interessassem Um programa oficial pronto e organizado para se adequaraplicar em todas as escolas passa por cima das contradições existentes na sociedade de um modo mais amplo e da diversidade que existe nos níveis regionais Supõe uma sociedade harmônica e homogê nea e desconhecedespreza as contradições regionalizadas e localizadas É sem dúvida um instrumento de poder e como tal funciona ideologicamente no sentido de se perceber reconhecer apenas os problemas mais gerais sem considerar a realidade concreta em que vivem os alunos e mesmo os professores A questão da definição de uma proposta curricular não é técnica mas fundamental mente política e pedagógica E o que se quer hoje e a sociedade exige da escola é uma educação que desenvolva o raciocínio lógico a criticidade a instrumentalização para usar coerentemente o conhecimento a capacidade de pensar e especialmente de poder cons truir o pensamento com autoria própria As informações e o conhecimento adquirido são instrumentos para o processo de formação dos estudantes e não o objetivo final embora na prática exatamente o que se critica é o que vem acontecendo Portanto acredito necessário haver alguns referenciais no sentido do que deva ser o currículo do que devam ser os programas das várias disciplinas O ideal seria que a escola tivesse claro qual a sua filosofia e sua proposta o que quer formar e daí referilos a este plano pedagógico geral cada disciplina ter a definição do que se quer no interior da escola com ela Definidos estes critérios podese partir então para a explicitação do que estudar do que desenvolver em cada uma das séries do conteúdo de Geografia Para tanto são interessantes propostas alternativas que estejam já em aplicação ou não para que se possa ter opções Embora nenhuma proposta ou modelo deva ser transfe rível e aplicável diretamente noutra situação que não a que lhe deu origem estas devem ser socializadas numa busca de melhorar a qualidade do ensino Sabese e inúmeras pes quisas têm sido feitas a respeito que o professor não tem tido condições objetivas de definir o que vai trabalhar e manter o controle da situação Muito menores são as condi ções de envolver os alunos neste processo As desculpas vão desde as condições de traba lho e de salários que têm sido colocadas prioritariamente hoje até a falta de embasamento teórico tanto da Geografia como do educação em geral evidente pelas questões pedagógi HELENA COPETTI CALLAI 136 cas e de aprendizagem Ficase então entre seguir um livro de preferência com caderno do professor e sugestões de atividades ou fazer uma lista de conteúdos a partir dos progra mas e provas do vestibular Considerando estas pressuposições há que se considerar os seguintes aspectos peda gógicos a questão do método a metodologia e o conteúdo A questão da avaliação embo ra cada vez mais problemática não precisa ser tratada separadamente Ao se ter clara a dimensão pedagógica do ensino e coerência no desenvolvimento do processo está con templada também a avaliação A primeira questão a ser considerada diz respeito ao que se pretende com a escola e no caso com o ensino da Geografia Reconhecendo o objeto da Geografia o seu instru mental e os mecanismos metodológicos que poderá usar o professor deverá propor o estudo que seja conseqüente para os alunos E as experiências concretas deverão ter interligamento e coerência dentro do que é ensinado pois o vivido pelo aluno é expresso no espaço cotidiano e a interligação deste com as demais instâncias é fundamental para a aprendizagem Se o espaço não é encarado como algo em que o homem o aluno está inserido natureza que ele próprio ajuda a moldar a verdade geográfica do indivíduo se perde e a Geografia tornase alheia para ele Resende 1986 p 20 Muito se fala que partir da realidade mais próxima é mais conveniente para a apren dizagem porém muitas vezes forçase uma relação de fora o que torna tudo muito super ficial e até cheio de equívocos O aluno é um ser histórico que traz consigo e em si uma história e um conhecimento adquirido na sua própria vivência O desafio é fazer a partir daí a ampliação e o aprofundamento do conhecimento do seu espaço do lugar em que vive relacionandoo com outros espaços mais distantes e até diferentes Como fazer isto é a grande questão Há sem dúvida uma extrema necessidade de redefinir em novas bases do mundo atual o conteúdo do ensino que fazemos e também de Geografia e de criar e recriar formas pedagógicas capazes de dar um sentido ao nosso trabalho de professores e à aprendizagem que entendemos necessária para os alunos socializando o conhecimento Tratase antes de mais nada de assegurar à Geografia a sua condição de ciência a sua capacidade de analisar o real sem desagregálo e por um caminho que conduza ao seu sentido Resende 1986 p 32 A geografia e a educação para a cidadania A educação para a cidadania é um desafio para o ensino e a Geografia é uma das disciplinas fundamentais para tanto O conteúdo das aulas de Geografia deve ser trabalha do de forma que o aluno construa a sua cidadania E muito se tem falado em educação para a cidadania mas de maneira muitas vezes irreal e inalcançável burocrática ligada ao positivismo e com soluções técnicas definida num ou em vários objetivos que no mais das vezes consideram o sujeito estudante deslocado do mundo em que vive como se fosse um ser neutro e abstrato A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 137 Acreditando e partindo do pressuposto de que a educação para a cidadania perpassa várias disciplinas a questão que me coloco é como a Geografia pode contribuir neste processo Se a formação do educando para ser um cidadão passa pela idéia de preparálo para aprender a aprender para saber fazer o papel das disciplinas escolares e o da Geografia particularmente tem a ver com o método quer dizer de que forma se irá abor dar a realidade E daí insisto a clareza do objeto da Geografia é fundamental pois nos dá os instrumentos o conteúdo as informações geográficas para chegar onde pretendem Porém o encaminhamento é mais complexo e vai desde o conteúdo em si até a rela ção pedagógica que se estabelece entre este conteúdo o professor e o aluno Para refletir sobre esta questão vou me apoiar em Henry Giroux que em seu livro Teoria e resistência em educação 1986 aborda no capítulo Teoria crítica e racionalida de na educação para a cidadania as formas como são tratadas em diversas perspectivas a educação para a formação do cidadão Segundo o autor uma teoria da cidadania teria que redefinir a natureza das discus sões e da teorização que se faz atualmente da educação E no seu lugar deveria ser cons truída uma visão de teoria que integrasse e superasse a divisão artificial entre as discipli nas inspirada numa estrutura mais dialética do conhecimento A nova teoria deveria ser política e social E o questionamento a ser feito é deve a sociedade ser mudada ou deixada como está O que a escola quer o que almejam com o seu trabalho os professores de Geografia Mudar a sociedade é a perspectiva que se vislumbra mesmo que num horizon te que pareça distante Há que se ter claro os limites postos pela sociedade tal como está e os limites que se interporão numa nova sociedade De qualquer modo parece estar claro para a maioria dos professores e demais técnicos envolvidos com educação que não se tem como objetivo ajustar o indivíduo ao meio em que vive Mas é preciso conhecer este meio exercitar a crítica sobre o que acontece e reconhecer possibilidades alternativas para os objetivos que se quer alcançar São todas questões que não se põe na abstração mas na situação históricoconcreta em que vivemos Os teóricos educacionais e mais precisamente uma teoria da educação para a cidadania terão que combinar crítica histórica reflexão crítica e ação social Giroux 1986 p 252 Os próprios conteúdos trabalhados deverão ter uma tríplice função qual seja resgatar o conhecimento produzido cientificamente reconhecer e valorizar o conhe cimento que cada um traz junto consigo como resultado de sua própria vida e dando um sentido social para este saber que resulta Os conteúdos de Geografia que são estudar o mundo as configurações territoriais a organização do espaço e a sua apropriação pelos diversos povos as lutas para tal os interesses políticos e as formas de tratar a natureza se põem como conteúdos que permitem e podem envolver os três itens acima colocados com base para uma educação para a cidadania Esta é em última análise o comprometimento com a construção de uma sociedade melhor conhecendo a realidade compreendendo os mecanismos que a sociedade utiliza reconhecendo no território a sua história e as possibi lidades de mudança HELENA COPETTI CALLAI 138 Nesta perspectiva a educação e o ensino que se faz devem estar referenciados ao contexto em que se vive e jamais podem ser considerados isoladamente A Geografia que estuda este mundo expresso pela produção de um espaço resultante da história das sociedades que vivem nos diversos lugares constituindo os diversos terri tórios tem considerado a necessidade de formar o cidadão A questão é situálo neste mundo e através da análise do que acontece darlhe condições de construir os instrumen tos necessários para efetivar a compreensão da realidade A teoria da totalidade proposta pelo autor nos faz considerar a globalidade que deve estar presente nas análises que fazemos Este enfoque de totalidade não apenas ajuda a ver as práticas educacionais como produtos históricos e sociais mas também suscita questões a respeito de como esses determinantes se revelam nas percepções de senso comum dos professores nas relações de sala de aula e na forma e conteúdo dos materiais curriculares Giroux 1986 p 254 As coisas todas adquirem um outro sentido contextualizadas entre si e num contexto mais amplo as escolas podem ser vistas como parte do universo de significados e práticas culturais mais amplas Giroux 1986 p 255 E ligada a estas questões se impõe a idéia de transformação e a perspectiva da educação deve ser de que não se busca algo pronto e definitivo acabado Mas o que se busca ao nos aproximarmos se modifica os interesses se ampliam se alteram pois a vida e os interesses e necessidades do ser humano e dos grupos sociais são dinâmicos Este conceito de transformação que muitas vezes tem que ser posto em contraposição com o de ajustamento deve estar muito claro para o professor ao desenvolver o seu trabalho pedagógico Especialmente ao trabalhar com os conteúdos de uma disciplina que se expressam muitas vezes pelas práticas que acontecem no nosso cotidiano e que lidam com o relacionamento do homem em nível individual e social entre si e com a natureza Sem um controle constante podese cair em explicações deterministas mecanicistas de ajustamento ao meio de adequação ao que está posto como se os homens devessem se adequar pura e simplesmente ao mundo pronto O encaminhamento deve se dar não no sentido mágico mas no de compreender as práticas sociais como resultantes de uma relação de poder entre os homens e de uso e domínio do meio e da natureza E ainda mais no de compreender o território como o resultado das ações humanas mas que não tem função estática pelo contrário interfere nas próprias relações e práticas sociais O papel do professor No entanto para que se efetive realmente a proposta de educação para a cidadania é necessário que se politize a noção de cultura E aí entra o papel do professor e a questão do poder que lhe é atribuído a partir de sua função de educador considerandose a sua hege monia cultural e ideológica A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 139 O conceito de hegemonia ideológica de acordo com Gramsci pode muito bem ser referido ao professor como educador pois é a partir deste que se difundem na sociedade para toda uma parcela da população idéias valores crenças Vai daí que o poder que o professor possui é exercido por ele como uma forma de dominação cultural Na concep ção gramsciana de hegemonia ela se manifesta de dois modos um pelo domínio outro pela direção intelectual e moral Gramsci apud Mochcovitch 1990 p 21 Consciente ou inconscientemente o professor realiza esta tarefa de direção para a qual possui inúme ras estratégias O conceito de hegemonia elaborado por Mochcovitch diz que é o conjunto das fun ções de domínio e direção exercido por uma classe social dominante no decurso de um período histórico sobre outra classe social e até sobre o conjunto das classes da socie dade Mochcovitch 1990 p 20 Para Gramsci o que interessa é como mudar a hegemo nia pois pensa sempre na perspectiva da transformação da sociedade não da reprodução Mochcovitch 1990 p 24 Nas práticas escolares a noção de cultura como hegemonia ideológica se explicita através de várias situações consideradas corriqueiras e até naturais Se expressa no currí culo formal da escola como tal conhecimento é estruturado nas rotinas e práticas entra nhadas em diferentes relações sociais e aponta para a noção de estruturas sociais como configurações naturais que encarnam e ao mesmo tempo sustentam formas de hegemonia ideológicas Giroux 1986 p 256257 A aula e o conteúdo de geografia E as aulas de Geografia o que são diante disso As aulas de Geografia através de conteúdos que nada têm a ver com a vida dos alunos que não trazem em si nenhum interesse e muitas vezes pouco significado educativo são vistas como naturais Al guém definiu que sejam assim e como tais fossem tratadas E mesmo que não o sejam o professor remete para fora de si a organização dos conteúdos nas diversas séries e nos diversos graus de nosso ensino Se em determinado momento a Geografia serviu para enaltecer o nacionalismo patriótico brasileiro e hoje nós podemos examinálo assim atualmente a maioria dos professores não consegue perceber a qual interesse está ligada a forma de estruturação do conhecimento veiculado nas aulas nos livros nos textos utiliza dos E tem sido um conhecimento estruturado de tal forma que não permite que se conhe ça realmente a realidade que é estudada Sem falar na fragmentação produzida pela divi são em disciplinas e no interior delas no caso da Geografia a fragmentação acontece de tal forma que impede o raciocínio lógico capaz de dar conta do objeto que deve tratar São questões físicas naturais e humanas são termos de relevo vegetação clima população êxodo rural e migrações estrutura urbana e vida nas cidades industrialização e agricultu ra estudados como conceitos ahistóricos abstratos neutros sem ligação com a realida de concreta Embora se queira avançar e no nível da discussão acadêmica muitas coisas HELENA COPETTI CALLAI 140 estejam resolvidas a prática da sala de aula é ainda hoje assim extremamente fragmenta da em itens sem sentido isoladamente e no conjunto sem o encadeamento que lhe permi tisse ter sentido Mais que isto ainda as análises são feitas dividindo o mundo não pelas formas e interesses que se expressam no momento mas por critérios naturais físicogeológico geomorfológicos como se os fenômenos acontecidos no mundo atual fossem decorrentes de configurações naturais ou forças físicas exclusivamente A Geografia vista de dentro por quem trabalha com pesquisa e ensino pode se apresentar como uma disciplina extrema e perigosamente ideológica Esta questão é per cebida no acompanhamento de professores que atuam no magistério e estão cursando a graduação por serem portadores de diplomas do magistério de segundo grau ou de licen ciatura curta Mas é possível reconhecer esta situação também nos eventos que reúnem os professores de geografia e de que temos participado através de trabalhos de extensão universitária ou promoções da Secretaria de Educação de estado ou municipais e mesmo pela AGB Não é exclusividade de um ou outro lugar estado ou município brasileiro ou das escolas pública ou particular Além disso toda a discussão em que estamos envolvidos como docentes de curso de formação de professores estudando os vários documentos propostos pelo MEC as varia das interpretações que estão sendo dadas e a prática na reformulação curricular ouvindo também os alunos de graduação e os professores da escola fundamental e média nos permitem fazer uma caracterização desta realidade Particularmente em resultados de uma pesquisa com professores do ensino médio no final da década de 1990 e com professores das séries iniciais em 19982000 esta última realizada com apoio da FAPERGS encontro eco nesta caracterização possível O professor de Geografia transmite através dos temas com que trabalha a hegemonia de uma cultura de uma sociedade com sua economia que não raro critica e quer condenar Mas na prática exerce fundamentalmente o exercício de ajustar o indivíduo ao meio muito embora não concorde e não queira isto Ao trabalhar com informações desconectadas de explicações mais amplas colabora com a transmissão de idéias que professam a manutenção dentro de regras estabelecidas ao invés de valori zar o conhecimento de cada um resgatando o conhecimento cientificamente produzido e dandolhe um sentido social Isto acontece pelas informações veiculadas quase sempre parciais e muitas vezes preconceituosas eou ideológicas Mas acontece também pelas práticas pedagógicas com que são trabalhados os conteúdos O exercício da cidadania devese dar inclusive no interior da sala de aula É necessá rio situar o conhecimento escolar como integrante de um universo maior do conhecimento e conseguir perceber em que medida ele expressa e veicula interesses de classe A forma com que ele se apresenta já é seletiva e acrescido dos conteúdos tratados a delimitação e seleção que é dada a eles está embutida de princípios ideológicos que na maioria das vezes passam despercebidos Não se trata apenas de criticar de desmontar este conheci A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 141 mento escolar por ser também ideológico Tratase sim de dar conseqüência a uma crítica histórica que se deve fazer decorrendo dela uma ação social e política E acima de tudo reconhecer que neste processo não há neutralidade possível É interessante lembrar a análise que faz Lacoste ao referir que existe uma Geografia dos Estados que tem função estratégica de conhecer o espaço para organizálo a partir e a serviço dos interesses geopolíticos nacionais ou de grupos E que existe também uma Geografia escolar que é basicamente um saber inútil que descreve lugares enumera in formações sem darlhes o significado que realmente possuem O estudo da Geografia na escola nesta perspectiva atua mais para obscurecer o sentido do território nas nossas vidas no que diz respeito às formas que assumem as relações que ocorrem na sociedade e aos resultados dos avanços tecnológicos do que para instrumentalizar o aluno para exer cer e exercitar a sua cidadania E aí entra outro papel ideológico do conteúdo da Geografia e a discussão que existe a respeito do currículo oculto Com referência a currículo oculto e educação para a cida dania Giroux 1986 p 258259 propõe que deve ser considerado que a cultura dominan te não está apenas entranhada na forma e no conteúdo do conhecimento expressos clara mente mas é constantemente reproduzida naquilo que denomina currículo oculto Isto se refere às normas aos valores às atitudes que estão incutidos sem que se perceba nas rela ções que se estabelecem na vida cotidiana dentro da escola na sala de aula e são transmi tidos naturalmente na exigência do cumprimento das regras nos limites impostos Nos conteúdos de Geografia quando se naturalizam questões sociais e políticas reduzindoas à determinações da natureza e mais quando se estudam espaços distantes e estranhos se faz com que a Geografia pareça coisa apenas de livros Ao estudar os lugares como se o que existe neles fosse resultado natural e não construído historicamente e até ao não se conseguir ligar os avanços tecnológicos as guerras as constantes divisões das nações e as regionalizações que formam novos blocos à construção do espaço Ou seja a organização territorial destes fenômenos como a materializaçãoconcretização num dado lugar das idéias interesses políticos e econômicos Ao trabalhar tudo isto sem darlhe um sentido sem estabelecer as origens e raízes e analisando os resultados que aparecem no espaço se está contribuindo para dificultar a compreensão da realidade São todos meca nismos que ficam parecendo naturais A relação do indivíduo com o seu meio a compreensão do espaço construído no cotidiano os microespaços que são os territórios do indivíduo da família da escola dos amigos devem ser incorporados aos conteúdos formais que as listas de Geografia contêm Estes aspectos poderão permitir que se faça a ligação da vida real concreta com as demais informações e análises Na verdade podese constatar que estas questões não são consideradas porque falta clareza suficiente para incorporálas sem que se fique com a sensação de que se está tratando de coisas supérfluas Elas nem seriam o chamado currículo oculto mas têm fun cionado como tal quando são desconsideradas não para serem tratadas mas exatamente HELENA COPETTI CALLAI 142 para funcionarem como armadilhas que impedem a compreensão do que está sendo ensi nado por ficar distante e irreal para a vida do aluno Para os professores implementarem uma noção mais abrangente de educação e cidadania eles terão que entender não apenas as ligações que existem entre o currículo oculto e o formal mas também as conexões que existem entre o currículo e os princípios que estruturam modos semelhantes de conhecimento e as relações sociais na sociedade maior Giroux 1986 p 258 Giroux 1986 p 259262 acrescenta também que se deve considerar em uma educa ção para a cidadania a análise do poder e da transformação ao se procurar entender o significativo das contradições disfunções e tensões existentes na escola mas também no cotidiano mais amplo Devese portanto localizar os conflitos subjacentes na escola e na sociedade e investigar como podem contribuir para a educação para a cidadania Estas contradições disfunções e tensões existem na sociedade mais próxima na fa mília na escola no município e devem ser tratadas isto é conhecidas e analisadas para que o aluno se perceba como um indivíduo que faz parte daqueles grupos e que poderia ter voz ativa ser participante nas decisões E acima de tudo para perceber que o seu território e o de seu município são construídos pelo movimento dos homens e que envolvem inte resses que podem ser localizados reconhecidos e entendidos no processo dinâmico da vida cotidiana Na concepção gramsciana em contraposição à dominação cultural ocorrem sempre formas de resistência pois que ele propõe sempre a transformação e não a manutenção da sociedade e o ajustamento à ela O poder a serviço da dominação nunca é total Giroux 1986 p 260 Esta resistência aparece em sala de aula na escola e na vida social mais ampla de diversas formas que se não forem entendidas e mesmo noutra perspectiva de educação passam a ser consideradas mau comportamento Em geral se expressam na linguagem no vestuário na resistência a fazer em sala de aula o que o professor propõe Ao contrário de subestimála ou desconsiderála cabe à escola preocupada em educar para a cidadania conseguir transformar esta ação muitas vezes isolada dos procedimentos habituais em uma força e ação ampliada para uma forma de resistência mais politizada Esta consciência social representa o primeiro passo para que os estudantes atuem como cidadãos engajados dispostos a questionar e confrontar a base estrutural e a natureza da ordem social Giroux 1986 p 261 Como pode ser a aula de geografia As aulas de Geografia têm tudo a ver dentro deste quadro mas por serem tratadas como simples descrições de espaços parados mortos sem vida não se consegue nada A partir da discussão das contradições e dos conflitos trazidos para a sala de aula pelos A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 143 alunos podese estabelecer uma matriz de análise para a realidade em que vivemos subor dinada a uma ordem social complexa e globalizante Entender vários fenômenos que acon tecem no mundo e particularmente no Brasil e que se materializam em paisagens diversas é buscar as explicações para as relações sociais que acontecem é entendêlas situadas num âmbito maior e explicativo da realidade atual O conteúdo trabalhado nas aulas de Geografia é aquele ligado à forma como o pro fessor reconhece esta ciência portanto não é algo inventado aleatoriamente mas sim um conhecimento do mundo a partir dos processos de construção e apropriação dos territórios diversos Em geral se descrevem paisagens distantes e com as próximas fazemse descrições tão impessoais que não parecem ser o mundo em que se vive O grande desafio é tornar as coisas mais concretas e mais reais Um ensino conseqüente deve estar ligado com a vida ter presente a historicidade das vidas individuais e dos grupos sociais com um sentido para buscar o conhecimento existente e conseguir produzir conhecimento próprio Isto é educar para a cidadania e para que a educação para a cidadania se torne emancipatória deve começar com o pressuposto de que seu principal objetivo não é ajustar os alunos à sociedade existente Giroux 1986 p 262 Nem ajustar e nem transformálos em meros espectadores do que acontece mas fazêlos participantes se não dos problemas e ques tões estudadas em si ao menos tornando estas questões ligadas com a vida das pessoas envolvidas mostrandolhes que são iguais a nós homens e mulheres concretos que vivem em um determinado lugar e não seres abstratos e neutros Eles existem e vivem a luta pela sobrevivência concreta não estão aí apenas para ser estudados No fundo o que se quer é uma educação mais vinculada com a vida um sentido para o que é estudado e num tipo de educação assim sua finalidade primária deve ser esti mular suas paixões imaginação e intelecto de forma que eles sejam compelidos a desafi ar as forças sociais políticas e econômicas que oprimem tão pesadamente suas vidas Giroux 1986 p 262 É um tipo de educação que deve mostrar que é possível desafiar o que está estabelecido exercitar a crítica discutir os encaminhamentos em vez de sim plesmente aceitar Porém para isso é preciso conhecer ter informações saber organizá las mas informações que façam sentido no interior de um quadro de explicações que dê conta das realidades concretas do mundo É um tipo de escola e educação difícil de implementar pois as dificuldades são mui tas e com peso maior que o resto E muito freqüentemente se coloca nos alunos a desculpa da impossibilidade de tal tipo de ensino justificando que lhes falta interesse curiosidade atenção No entanto podese argumentar que a escola está muito atrasada em relação ao mundo e não está em condições de dar conta dos interesses dos jovens Na verdade os educadores devem se perguntar a quem se destina a educação e se existe algo que seja proposto pela escola como exigência e expectativa da sociedade devese procurar reco nhecer quem são e como são realmente estes jovem que devem ser educados para que se consiga chegar neles para encontrar as melhores formas de ação HELENA COPETTI CALLAI 144 Ao contrário a escola em geral tem sido tão ineficiente que diante dos problemas que enfrenta cai na negligência Como se diz popularmente o professor faz de conta que ensina o aluno faz de conta que aprende e os pais fazem de conta que aceitam E na maioria das vezes não se ensina mais nada porque o aluno não se interessa e a cada vez é exigido menos dele a ponto de não se ter uma postura de educação quer dizer o aluno reconhecer que estudar e aprender exige esforço e dedicação O conteúdo de Geografia por ser essencialmente social e ter a ver com as coisas concretas da vida que estão acontecendo e tem a sua efetivação num espaço concreto aparente e visível permite e encaminha o aluno a um aprendizado que faz parte da própria vida e como tal pode ser considerado em seu significado restrito e extrapolado para a condição social da humanidade Em termos mais concretos os estudantes deveriam aprender não apenas a avaliar a socie dade de acordo com suas próprias pretensões mas devem também ser ensinados a pensar e agir de formas que tenham a ver com diferentes possibilidades da sociedade e diferentes modos de vida Giroux 1986 p 263 Embora não se vislumbre condições concretas de mudanças próximas cabe à escola desenvolver a capacidade de perceber que as coisas que as formas de desenvolvimento e organização da sociedade são construções históricas dos homens e portanto passíveis de questionamentos E que é possível a existência de modos de vida diferentes Aliás que são possíveis formas diferentes de agir da escola inclusive E a análise crítica da realidade tal como se põe atualmente permite que se vislumbrem estas novas formas e que se acre dite possível pensar e agir diferente As aulas de Geografia têm tudo a ver com isto pois ao estudar situações concretas problemas que os vários povos enfrentam e a estruturação dos seus territórios que apre sentam paisagens que expressam a realidade vivida o aluno adquire os instrumentos para pensar o mundo de sua vida da vida de todos os homens Ao confrontar várias situações entre si e com as condições concretas do seu próprio mundo próximo ele vai construindo um conhecimento próprio e mais do que isto a compreensão de regras e leis que regem este mundo atual pode inclusive buscar o que as funda e compreendêlas como historica mente construídas A educação para a mudança assume contornos dinâmicos pois o mundo não pára e os fenômenos que a Geografia estuda têm que ser considerados como resultados de um processo histórico situado num determinado local mas também na perspectiva interna cionalglobal Afora ter sido sempre uma característica da Geografia estudar as questões numa perspectiva de escala de análise que dê conta dos diversos níveis territoriais hoje colocamos fundamentalmente como categorias de análise o local e o global acrescido do regional e do nacional Quer dizer os níveis local e regional que são o mundo fisicamente mais próximo do aluno expressos no cotidiano acrescido do nacional se põem sempre A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 145 na perspectiva da mundialização dos aspectos internacionais para que seja possível compreendêlos Num mundo em que a globalização se faz sentir em todos os aspectos afetando as vidas de todos os homens em todos os lugares não faz sentido estudar fenô menos ou lugares isolados mas na complexidade global E tornase hoje fundamental considerar o regional para além dos limites das nações que estão se constituindo em novas realidades mundiais por exemplo o Mercosul Assim contextualizados e considerados em suas características internas os fenôme nos tem uma dinamicidade também em sua estrutura na medida em que eles não finali zam os processos mas têm continuidade e podem mudar também Este é sem dúvida um exercício para o aluno pensar e agir encarando diferentes possibilidades para a sociedade no seu conjunto e as diversas pessoas no seu interior E acima de tudo conseguir dar conta de compreender o mundo em que vive nas suas expressões concretas do cotidiano Segundo Giroux 1986 os alunos devem adotar uma postura de coragem cívica isto é encarar analisar pensar e agir como se vivessem de fato em uma sociedade demo crática que lhes lhes desse oportunidade do exercício político de sua condição de cidadão Mas para assim poderem agir a escola e o professor devem criar as condições de além de trazêlos para dentro da sala de aula proporlhes uma educação que leve em conta os seus interesses e capacidades descentrandose dos aspectos burocráticos em que tem se apoi ado constantemente A aula de geografia deve ir além de passar informações de apresen tar dados e mapas de descrever lugares estranhos Deve deslocar sua preocupação maior em dar o conteúdo para como organizálo de modo mais consistente para ser capaz de ter um significado para além do saber Para chegar a aprender a buscar aprender através destes conteúdos Mas com certeza ir além deles Para que isto aconteça a educação para a cidadania deveria se apoiar em várias pressuposições e práticas pedagógicas Giroux 1986 p 263265 que descreveremos a seguir A possibilidades de tornar a geografia em um ensino que leve à cidadania 1 As aulas devem ser de forma que os alunos possam desafiar engajarse e questionar o que lhes é proposto a partir da forma e da substância do processo de aprendizagem A questão não é portanto apenas de conteúdo mas metodológica ou se se quiser das práti cas pedagógicas adotadas Muda portanto a perspectiva do conteúdo trabalhado pois o saber deve ser visto como mais do que uma questão de aprender determinado corpo de conhecimentos deve ser visto como um engajamento crítico que visa distinguir entre essência e aparência entre verdade e falsidade Giroux 1986 p 263 As paisagens que a Geografia estuda as características naturais dos territórios e sua população não podem ser apenas citadas e descritas devem ser buscadas as explicações para o que as paisagens mostram E estas vão ser dadas pelos movimentos que o capital realiza no mundo pelas formas que ele assume nos diversos pontos dos territórios E este movimento que não é HELENA COPETTI CALLAI 146 causal e pontual deve ser referenciado nas questões gerais da vida no mundo atual A relação da sala de aula deve ser deslocada do professor que sabe que ensina aos alunos que não sabem e devem aprender o que o professor propõe Não que o professor abdique de sua função de condução de sua necessidade de saber o que vai ensinar e saber mais que isto Só que a relação no processo de aprendizagem é que deve ser deslocada do discur so do professor para o aprender do aluno Aos alunos devem ser dadas condições e chances de produzir bem como de criticar os significados da sala de aula Giroux 1986 p 263 O conhecimento não é o fim a finalidade do processo de ensinoaprendiza gem mas o intermediador do diálogo entre os que aprendem Este conhecimento deve ser problemático e problematizador não pronto e acabado e deve ser reconhecido como his tórico e social tal como despojado das suas pretensões objetivas O papel do professor é redimensionado Ele não abdica do que sabe e nem some a hierarquização dos papéis sociais que temos a cumprir Só que em vez de ficar ouvindo a sua própria voz o seu discurso que agrada a si próprio deve intermediar a relação de aprendizagem facilitando o acesso de informações ao aluno e os materiais necessários à realização da aprendiza gem encaminhar leituras e observações e assessorálos 2 Os alunos devem aprender a pensar criticamente a ir além das interpretações literais e dos modos fragmentados de raciocínio Em geral os livros de Geografia trazem verda des que são interpretadas como objetivas e neutras fragmentando as explicações com limites de países com justificativas naturais quando as questões são sociais e são proble mas da humanidade que devido às condições específicas de certos povos de certos países são localmente situados Os temas estudados devem estar inseridos num quadro de referências e explicações que dêem significado para eles que demonstrem a importância de compreender estas realidades que podem ser locais mas que expressamdemonstram questões que são da humanidade E mais que isto não devem ser simplesmente aceitas as explicações que são postas por uma forma única de interpretação por uma única fonte Os alunos devem conseguir operar com um quadro de referências conseguindo dar conta de como ele se constitui e como ele fornece um mapa para se organizar o mundo Giroux 1986 p 264 Mas para isso é necessário ver o mundo de forma globalizada no interior do qual acontecem regionalizados fenômenos que têm necessariamente as expli cações ao nível do global e do local Fatos conceitos problemas e idéias devem ser vistos dentro da rede de conexões que lhes dá significado Giroux 1986 p 264 As aulas de Geografia que apresentam um conteúdo em geral fragmentado encaram aqui um desafio clarear e ou definirconstruir este quadro de referências quais são os elementos fundamentais para tanto Como transitar do local para o internacional fazendo as interco nexões possíveis dos diversos locais entre si no todo que é Como superar a divisão do mundo entre continentes critério geológicogeomorfológico de terras emersas e entendê lo no conjunto dos fenômenos atuais que abalam o mundo hoje A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 147 O significado do estudo não pode estar nas informações nas verdades descritas mas estas devem remeter à formulação de conceitos que o aluno deve construir 3 O desenvolvimento de um modo crítico de raciocínio deve ser usado a fim de capaci tar os alunos a se apropriarem das suas próprias histórias isto é mergulhar em suas pró prias biografias e sistemas de significado Giroux 1986 p 264 Uma postura pedagógi ca que permite ao aluno se dar conta da dignidade e do valor de suas próprias percepções e histórias é uma postura que permite estudar a própria realidade concreta em que se vive superando o senso comum e reconhecendo a história do meio em que vive como a sua própria história A partir daí põese a necessidade de abstrair da situação concreta em que se vive a fim de buscar as explicações gerais que dão conta das realidades locais No sentido de valorizar a dinâmica da própria vida das histórias pessoais e dos gru pos sociais mais restritos dos quais os estudantes fazem parte o estudo do local onde vivem se torna fundamental ao mesmo tempo em que é um importante exercício para entender o mundo da vida O município pode ser uma escala de análise que permite que tenhamos próximos de nós todos aqueles elementos que expressam as condições sociais econômicas políticas de nosso mundo É uma totalidade considerada no seu conjunto de todos os elementos ali existentes mas que como tal não pode perder de vista a dimensão de outras escalas de análise Callai Zarth 1988 p 11 Este estudo pode dar a oportunidade de um reconhecimento e de uma apropriação do que acontece no local e permitir como objetivo entender os fenômenos que acontecem com condições de considerálos na concretude de seu acontecer em contraposição com o idealizado e abstrato E acima de tudo permite resgatar a história da própria vida em um processo que conduz a um tipo de construção do espaço que lhe é imediato próximo e possível de observar concretamente E para além deste reconhecimento é necessário en contrar as explicações universais para estas questões locais isto é reconhecer como é que o universal e o global estão presentes no local e que o que está expresso aí tem um significado para a vida de cada um mas também uma explicação e um significado no nível do movi mento geral do mundo e da humanidade Nesta contraposição o aluno poderá iniciar um processo de abstração e teorização e examinar as verdades que estão postas e os seus signi ficados seja em nível concreto seja nas explicações mais gerais e abrangentes Ao propor o estudo do município como a possibilidade de os alunos se apropriarem das histórias da sua própria vida partese da constatação novamente trazida pelos profes sores dos diversos lugares com que temos trabalhado em cursos de extensão de que a realidade brasileira é muito condicionada pelo nível da divisão administrativa que é o município A maioria das cidades pequenas e muitas são muito pequenas tem neste nível de administraçãoorganização territorial a configuração dos limites de suas possibi HELENA COPETTI CALLAI 148 lidades Suas particulares mas também como grupos sociais que aí vivem No meu enten dimento nada mais adequado do que assentar o estudo neste nível fazendoos olhar para além dos limites administrativos reconhecendo que o que acontece ali naquele espaço e naquele tempo é resultado de uma dinâmica muito mais ampla da sociedade de movi mentos do capital de interesses financeiros e políticos mais gerais e que afetam de uma ou de outra forma todos os lugares Entendendo que a possibilidade de compreensão desta realidade reconhecendo as próprias condições e as suas forças também pode permitir um exercício de cidadania Este nível de divisão espacial como salientado acima é uma escala muito significativa para grande parcela da população brasileira Nas cidades de maior porte fica evidente que a unidade territorial para análise não necessariamente é a que se fecha nos limites administrativos municipais Poderá ser um bairro uma comuni dade assim como poderá ser uma pequena em extensão região que agrupe alguns muni cípios O grande desafio é perceber que a maioria dos professores está trabalhando com a geografia do lugar e que este tem sido o município Restanos conseguir fazer avançar do senso comum teorizando as questões compreendendo a organização espacial como o re sultado da vida dos homens E estudartrabalhar o local para compreender o mundo exige que se soltem as amarras das explicações simplistas e reducionistas que se olhe para além daquilo que se vê empiricamente No fundo exigese uma nova postura do professor no trato com seus alunos com o saber que eles trazem consigo pois embora sempre tenhamos de uma forma ou de outra um tratamento com o que eles trazem na verdade somos juízes desse saber e quase sempre o rejeitamos como nãosaber ou présaber Resende 1986 p 12 E exigese também uma postura do aluno de valorizar o que ele vive de procurar dar e encontrar significado mais geral para as situações cotidianas A educação atual está a exigir de nós uma nova postura pedagógica em que como já foi salientado o conhecimento seja mediador do diálogo entre o que aprende e o que ensina O conteúdo não é um fim em si E nesta perspectiva considero muito importante e significativo o estudo do município como se constroem o espaço a história e a socie dade do lugar em que o aluno vive 4 Os alunos devem aprender que existem valores que devem ser resgatados e considera dos pois são indispensáveis à reprodução da vida humana Giroux 1986 p264 Estes valores não vão ser tratados e considerados como um conteúdo em si mas extraídos dos próprios conteúdos trabalhados cotidianamente Em Geografia a partir dos conteúdos trabalhados podese considerar inúmeros valores decorrentes da forma de organização dos povos da apropriação dos territórios das lutas travadas para tanto das questões étni cas dos valores culturais e religiosos do acesso ao espaço na construção dos territórios seja microespaço particularindividual sejam macroespaços nacionais Valores imbutidos nas questões específicas das populações e sua relação com o espaço ocupado por elas tais como controle da natalidade migrações acesso à moradia a lugar para trabalhar reforma A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 149 agrária a direito de organização social Estes valores devem ser considerados imbrica dos na própria textura da vida humana como eles são transmitidos e que interesses eles apóiam com relação à qualidade da existência humana Giroux 1986 264 Na medida em que os alunos conseguem entender a origem das próprias crenças e de sua ação eles conseguem ter a explicação para os problemas que ocorrem no mundo e no seu diaadia superando talvez o senso comum enraizado nas mentes e na vida de cada um 5 Os alunos devem aprender a respeito das forças ideológicas que influenciam e restrin gem suas vidas Para exemplificar a partir dos Estudos Sociais numa concepção radical Giroux se vale da análise de Glesson e Whitty 1976 que dizem que se deva começar com um reconhecimento de que os processos sociais na escola e na vida influenciam direcionam restringem as oportunidades de vida dos alunos As aulas de Estudos Sociais segundo os autores e considerando a realidade em que vivem podem contribuir para que os alunos consigam ser mais conscientes de suas proposições e mais articulados politica mente na expressão do que é que eles querem da vida e a partir daí chegar a compreender por que muitos dos seus desejos e anseios são frustrados impedidos de se realizar e como se pode fazer frente a isto no intuito de uma ação social para tentar conduzir os interesses que se têm no nível individual e dos grupos a que pertencem Os alunos devem aprender a agir coletivamente para construir estruturas políticas que possam desafiar o status quo Giroux 1986 p 265 Os autores citados por Giroux abordam a questão partindo dos Estudos Sociais o que não é exatamente o nosso caso Considerando a nossa organização curricular não há dúvida de que a História a Sociologia a Antropologia têm como a Geografia o seu lugar nestas questões e cada qual com seus recursos metodológicos contribui para estudar o mundo da vida Na aula de geografia podese analisar o quanto se restringem as possibilidades de acesso à terra para morar e para trabalhar No estudo das relações do homem com a natureza podese perceber que as possibilidades postas pela natureza para seu uso são condicionadas por questões sociais políticas e econômicas Ao fazer o estudo do local podese observar e questionar as habitações as ruas as oportunida des de emprego etc Estas proposições trazem embutidas uma postura pedagógica diferenciada em que o aluno deve ser considerado o sujeito da aprendizagem e o conteúdo o instrumento O conteúdo de Geografia continua a ser o mundo isto é o espaço produzido pelos homens na sua luta contínua para sobrevivência o território O caminho é que tem que ser reconstruído e existem caminhos diversos e alternativas possíveis A escolha destes deve se dar de acordo com as circunstâncias do mundo atual Não se pode querer ter uma estrutura de trabalho assentada nos moldes tradicionais se temos como alunos jovens que vivem num mundo dinâmico e diferente por ser atual e que como adultos vivem e vive rão num mundo que apresentará novos desafios É preciso habilitálos a pensar e agir As formas de organização dos povos o espaço apropriado como resultados dos fenô menos localizados espacialmente num ou noutro lugar devem ser considerados não numa HELENA COPETTI CALLAI 150 perspectiva absolutizada mas contextualizados a em nível geopolítico cultural e social Fenômenos mundiais e nacionais devem ser considerados na localização espacial em que acontecem mas sempre referidos aos problemas cotidianos e locais dos alunos Embora ao longo do tempo permaneça sempre a idéia de espaço como objeto da Geografia é o espaço no sentido mais amplo e a sua apropriação pelos povos quer dizer o território no sentido mais restrito o tema a ser trabalhados A delimitação dos conteúdos não pode ser feita isolada do contexto das problemáticas atuais do mundo Entendo que não é uma lista de conteúdos que se deve ter mas idéias e objetivos que se constituam em elementos básicos que englobem aonde se pretende chegar de que for ma e com que caminhos e daí definir quais os conteúdos que servem para instrumentalizar os interesses definidos Situados neste quadro mais amplo de definições podese estabelecer uma série de conceitos que são fundamentais para compreender a realidade do território e da socie dade Não é o caso de se reinventar o que já existe nem de jogar tudo fora e fazer tudo diferente mas de encarar a realidade e exercitar a crítica constantemente e trabalhar com criatividade A prática da Geografia como componente curricular muito nos tem ensina do no que se refere tanto à Geografia especificamente como às posturas pedagógicas A coragem de avançar de mudar permitenos vislumbrar alternativas para uma geografia e um ensino mais conseqüente e libertador Bibliografia CALLAI Helena Copetti Espaço de poder ou o poder do espaço Contexto e Educação Ijuí Ed UNIJUÍ v 3 p 2532 julset 1986 CALLAI Helena Copetti ZARTH Paulo A O estudo do município e o ensino de História e Geografia Ijuí Livraria Unijuí Editora 1988 GIROUX Henry Teoria e resistência em educação Petrópolis Vozes 1986 GIROUX Henry MCLAREN Peter Linguagem escola e objetidade elementos para um discurso pedagógico crítico Educação e Realidade Porto Alegre v 18 n 2 juldez 1993 GRAMSCI Antônio Os intelectuais e a organização da cultura Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1968 Concepção dialética da história 4ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1981 LACOSTE Yves A Geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra snt MOCHCOVITCH Luna Galano Gramsci e a escola São Paulo Ática 1990 RESENDE Márcia Spyer A Geografia do aluno trabalhador Caminhos para uma Prática de Ensino São Paulo Loyola 1986 A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 151 RESUMEN El artículo propone la discusión de la Geografía como el componente del plan de estudios para la escuela básica y la posibilidad de construcción de la ciudadanía Es con siderado que la cuestion hepistemológica de la Geogra fía y su papel en la escuela en este comienzo de siglo De la misma manera el asunto pedagógico se discute opues to a un contenido específico dado por el objeto de la ciencia y la formación del educador PALABRASCLAVE Geografia ciudadania educación ABSTRACT The paper proposes the discussion of the Geography as curriculum component for the basic school and the pos sibility of construction of the citizenship It is conside red the epistemologic question of the Geography and your role in the school in the early century XXI In the same way the pedagogic subject is discussed opposed to a spe cific content given by the object of the science and the educators formation KEY WORDS Geography citzenship education Recebido para publicação em 9 de junho de 2001 1D Hydr 2D Hydr 3D Hydr Nonpolar HH Permanent dipole moment μ 0 HBr Permanent dipole moment μ 088 D H2 O Permanent dipole moment μ 183 D Polar covalent bonds have the following properties 1 A difference in electronegativity ΔEN 2 A partial charge separation within the molecule due to the unequal sharing of electrons 3 Permanent dipole moment μ top The lattice energy of ionic compounds is less than expected from the charged ion model because covalent interactions between the ions result in partial sharing of electrons Dipole moment D q r qcharge in e rbond distance in cm D charge in esu distance in cm 1 D333 1030 C m 1018 esu cm In a crystal of NaCl each Na ion is surrounded by 6 Cl ions The effective charge on each ion along the diagonal of the cube that can be calculated from the measured lattice energy and interatomic distance is 085e not 1e 1e because the negative ion polarizes the positive ion An example of such polarization is provided by the color center that is an electron charge trapped in a lattice vacancy caused by UV irradiation or by bombardment with an electron beam The Na ion is polarized by one trapped electron charge The polarized anion as well interacts with others leading to small covalent contributions Permanent dipole μ qi ri 2
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
2
Plano de Ensino Estagio Curricular Obrigatorio II Geografia
Geografia
UNIA
1
Portfólio- Prticas Pedagógicas Indentidade Docente
Geografia
UNIA
30
Relatorio de Estagio - Modelo Completo para Estudantes
Geografia
UNIA
12
Energias Nao-Renovaveis-Definicao-Tipos-Formacao-e-Reservas-Mundiais-PowerPoint
Geografia
UNIA
68
Plano de Trabalho Estágio Licenciaturas 2024-1: Guia Completo
Geografia
UNIA
11
Capel Horácio Urteaga Luis Las Nuevas Geografias
Geografia
UVA
5
Conceito de Geografia Andrade
Geografia
UNIMONTES
2
Conceito Comtemporâneo de Geografia
Geografia
UMG
2
Epistemologia de Geografia
Geografia
UMG
17
O Estado de Alagoas no Contexto Regional Nordestino
Geografia
UFAL
Preview text
133 A Geografia e a escola muda a geografia Muda o ensino Dra Helena Copetti Callai Professora de Geografia da UNIJUI IjuiRS Correio eletrônico jcallaiunijuitchebr Resumo O artigo propõe a discussão da Geografia como componente curricular para a escola básica e a possibilidade de construção da cidadania Considerase a questão epistemo lógica da Geografia e o seu papel na escola neste início de século Da mesma forma discutese a questão pedagógica contraposta a um conteúdo específico dado pelo ob jeto da ciência e a formação do educador Palavraschave Geografia cidadania educação Terra Livre São Paulo n 16 p 133152 1o semestre2001 HELENA COPETTI CALLAI 134 Introdução O mundo que também a Geografia estuda apresenta um quadro ou mapa se quiser mos que expressa o resultado da luta pela sobrevivência enfrentada pelos diversos povos para a constituição e a manutenção dos seus territórios E hoje mais do que o território que já está construído delimitado e estabelecido muito embora alguns povos estejam envolvidos em luta pelo seu domínio buscase a cidadania quer dizer a garantia dos direitos individuais e sociais É a concretização das leis isto é a acessibilidade concreta ao direito de habitação alimentação saúde educação trabalho segurança bemestar E mais do que isso o direito de buscar a efetivação concreta destas leis no sentido de viver bem construindo a sua história e o seu espaço com dignidade e com consciência clara de ser um sujeito social atuante com lugar para as suas idéias e para satisfação de suas necessidades O mundo tem mudado rapidamente e com ele devem mudar também a escola e o ensino que nela se faz Interessa discutir aqui o ensino de Geografia que afora a sua especi ficidade como ciência é uma matéria presente em todo o currículo escolar da escola básica Nesse sentido a geografia entendida como uma ciência social que estuda o espaço construído pelo homem a partir das relações que estes mantêm entre si e com a natureza quer dizer as questões da sociedade com uma visão espacial é por excelência uma disciplina formativa capaz de instrumentalizar o aluno para que exerça de fato a sua cidadania A partir desta problemática é que nesse ensaio se discute a Geografia como compo nente curricular da educação básica com o objetivo de contribuir para a formação do cidadão Um cidadão que reconheça o mundo em que vive que se compreenda como indivíduo social capaz de construir a sua história a sua sociedade o seu espaço e que consiga ter os mecanismos e os instrumentos para tanto Uma educação para a cidadania tentando romper com a mesmice da escola Desen volvendo uma prática que seja aberta à possibilidade de questionar o que se faz de incor porar de fato os interesses dos alunos e de ser capaz de produzir a capacidade de pensar agindo com criatividade e com autoria de seu pensamento Ao discutir esta postura ques tionamse as propostas prontas implantadas nas escolas até porque elas não têm conse guido entrar em definitivo na vida das escolas O atual ensino de geografia O ensino de Geografia bem como dos demais componentes curriculares tem que considerar necessariamente a análise e a crítica que se faz atualmente à instituição escola situandoa no contexto político social e econômico do mundo e em especial do Brasil Tanto a escola como a disciplina de geografia devem ser consideradas no âmbito da socie dade da qual fazem parte A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 135 Nesta contextualização se integra a questão do objeto da ciência da dinâmica apre sentada pela disciplina na escola e da questão pedagógica que envolve necessariamente a problemática do objeto da ciência e do método Não é possível aceitar que se devam estabelecer planos oficiais com a definição dos conteúdos de cima para baixo a fim de obter através de uma homogeneidade a garantia da qualidade mas nem por isso devese desprezar proposições alternativas de modelos como sugestões em nome de que cada professor deve ter sua autonomia O que não pode acon tecer é se impedir o professor de pensar alternativas de escolher ou de criar Vai depender das suas condições que aliás são um tanto precárias pela própria formação acadêmica que tiveram num momento da história brasileira em que se recebia tudo pronto para não se correr o risco de tentar alternativas que não interessassem Um programa oficial pronto e organizado para se adequaraplicar em todas as escolas passa por cima das contradições existentes na sociedade de um modo mais amplo e da diversidade que existe nos níveis regionais Supõe uma sociedade harmônica e homogê nea e desconhecedespreza as contradições regionalizadas e localizadas É sem dúvida um instrumento de poder e como tal funciona ideologicamente no sentido de se perceber reconhecer apenas os problemas mais gerais sem considerar a realidade concreta em que vivem os alunos e mesmo os professores A questão da definição de uma proposta curricular não é técnica mas fundamental mente política e pedagógica E o que se quer hoje e a sociedade exige da escola é uma educação que desenvolva o raciocínio lógico a criticidade a instrumentalização para usar coerentemente o conhecimento a capacidade de pensar e especialmente de poder cons truir o pensamento com autoria própria As informações e o conhecimento adquirido são instrumentos para o processo de formação dos estudantes e não o objetivo final embora na prática exatamente o que se critica é o que vem acontecendo Portanto acredito necessário haver alguns referenciais no sentido do que deva ser o currículo do que devam ser os programas das várias disciplinas O ideal seria que a escola tivesse claro qual a sua filosofia e sua proposta o que quer formar e daí referilos a este plano pedagógico geral cada disciplina ter a definição do que se quer no interior da escola com ela Definidos estes critérios podese partir então para a explicitação do que estudar do que desenvolver em cada uma das séries do conteúdo de Geografia Para tanto são interessantes propostas alternativas que estejam já em aplicação ou não para que se possa ter opções Embora nenhuma proposta ou modelo deva ser transfe rível e aplicável diretamente noutra situação que não a que lhe deu origem estas devem ser socializadas numa busca de melhorar a qualidade do ensino Sabese e inúmeras pes quisas têm sido feitas a respeito que o professor não tem tido condições objetivas de definir o que vai trabalhar e manter o controle da situação Muito menores são as condi ções de envolver os alunos neste processo As desculpas vão desde as condições de traba lho e de salários que têm sido colocadas prioritariamente hoje até a falta de embasamento teórico tanto da Geografia como do educação em geral evidente pelas questões pedagógi HELENA COPETTI CALLAI 136 cas e de aprendizagem Ficase então entre seguir um livro de preferência com caderno do professor e sugestões de atividades ou fazer uma lista de conteúdos a partir dos progra mas e provas do vestibular Considerando estas pressuposições há que se considerar os seguintes aspectos peda gógicos a questão do método a metodologia e o conteúdo A questão da avaliação embo ra cada vez mais problemática não precisa ser tratada separadamente Ao se ter clara a dimensão pedagógica do ensino e coerência no desenvolvimento do processo está con templada também a avaliação A primeira questão a ser considerada diz respeito ao que se pretende com a escola e no caso com o ensino da Geografia Reconhecendo o objeto da Geografia o seu instru mental e os mecanismos metodológicos que poderá usar o professor deverá propor o estudo que seja conseqüente para os alunos E as experiências concretas deverão ter interligamento e coerência dentro do que é ensinado pois o vivido pelo aluno é expresso no espaço cotidiano e a interligação deste com as demais instâncias é fundamental para a aprendizagem Se o espaço não é encarado como algo em que o homem o aluno está inserido natureza que ele próprio ajuda a moldar a verdade geográfica do indivíduo se perde e a Geografia tornase alheia para ele Resende 1986 p 20 Muito se fala que partir da realidade mais próxima é mais conveniente para a apren dizagem porém muitas vezes forçase uma relação de fora o que torna tudo muito super ficial e até cheio de equívocos O aluno é um ser histórico que traz consigo e em si uma história e um conhecimento adquirido na sua própria vivência O desafio é fazer a partir daí a ampliação e o aprofundamento do conhecimento do seu espaço do lugar em que vive relacionandoo com outros espaços mais distantes e até diferentes Como fazer isto é a grande questão Há sem dúvida uma extrema necessidade de redefinir em novas bases do mundo atual o conteúdo do ensino que fazemos e também de Geografia e de criar e recriar formas pedagógicas capazes de dar um sentido ao nosso trabalho de professores e à aprendizagem que entendemos necessária para os alunos socializando o conhecimento Tratase antes de mais nada de assegurar à Geografia a sua condição de ciência a sua capacidade de analisar o real sem desagregálo e por um caminho que conduza ao seu sentido Resende 1986 p 32 A geografia e a educação para a cidadania A educação para a cidadania é um desafio para o ensino e a Geografia é uma das disciplinas fundamentais para tanto O conteúdo das aulas de Geografia deve ser trabalha do de forma que o aluno construa a sua cidadania E muito se tem falado em educação para a cidadania mas de maneira muitas vezes irreal e inalcançável burocrática ligada ao positivismo e com soluções técnicas definida num ou em vários objetivos que no mais das vezes consideram o sujeito estudante deslocado do mundo em que vive como se fosse um ser neutro e abstrato A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 137 Acreditando e partindo do pressuposto de que a educação para a cidadania perpassa várias disciplinas a questão que me coloco é como a Geografia pode contribuir neste processo Se a formação do educando para ser um cidadão passa pela idéia de preparálo para aprender a aprender para saber fazer o papel das disciplinas escolares e o da Geografia particularmente tem a ver com o método quer dizer de que forma se irá abor dar a realidade E daí insisto a clareza do objeto da Geografia é fundamental pois nos dá os instrumentos o conteúdo as informações geográficas para chegar onde pretendem Porém o encaminhamento é mais complexo e vai desde o conteúdo em si até a rela ção pedagógica que se estabelece entre este conteúdo o professor e o aluno Para refletir sobre esta questão vou me apoiar em Henry Giroux que em seu livro Teoria e resistência em educação 1986 aborda no capítulo Teoria crítica e racionalida de na educação para a cidadania as formas como são tratadas em diversas perspectivas a educação para a formação do cidadão Segundo o autor uma teoria da cidadania teria que redefinir a natureza das discus sões e da teorização que se faz atualmente da educação E no seu lugar deveria ser cons truída uma visão de teoria que integrasse e superasse a divisão artificial entre as discipli nas inspirada numa estrutura mais dialética do conhecimento A nova teoria deveria ser política e social E o questionamento a ser feito é deve a sociedade ser mudada ou deixada como está O que a escola quer o que almejam com o seu trabalho os professores de Geografia Mudar a sociedade é a perspectiva que se vislumbra mesmo que num horizon te que pareça distante Há que se ter claro os limites postos pela sociedade tal como está e os limites que se interporão numa nova sociedade De qualquer modo parece estar claro para a maioria dos professores e demais técnicos envolvidos com educação que não se tem como objetivo ajustar o indivíduo ao meio em que vive Mas é preciso conhecer este meio exercitar a crítica sobre o que acontece e reconhecer possibilidades alternativas para os objetivos que se quer alcançar São todas questões que não se põe na abstração mas na situação históricoconcreta em que vivemos Os teóricos educacionais e mais precisamente uma teoria da educação para a cidadania terão que combinar crítica histórica reflexão crítica e ação social Giroux 1986 p 252 Os próprios conteúdos trabalhados deverão ter uma tríplice função qual seja resgatar o conhecimento produzido cientificamente reconhecer e valorizar o conhe cimento que cada um traz junto consigo como resultado de sua própria vida e dando um sentido social para este saber que resulta Os conteúdos de Geografia que são estudar o mundo as configurações territoriais a organização do espaço e a sua apropriação pelos diversos povos as lutas para tal os interesses políticos e as formas de tratar a natureza se põem como conteúdos que permitem e podem envolver os três itens acima colocados com base para uma educação para a cidadania Esta é em última análise o comprometimento com a construção de uma sociedade melhor conhecendo a realidade compreendendo os mecanismos que a sociedade utiliza reconhecendo no território a sua história e as possibi lidades de mudança HELENA COPETTI CALLAI 138 Nesta perspectiva a educação e o ensino que se faz devem estar referenciados ao contexto em que se vive e jamais podem ser considerados isoladamente A Geografia que estuda este mundo expresso pela produção de um espaço resultante da história das sociedades que vivem nos diversos lugares constituindo os diversos terri tórios tem considerado a necessidade de formar o cidadão A questão é situálo neste mundo e através da análise do que acontece darlhe condições de construir os instrumen tos necessários para efetivar a compreensão da realidade A teoria da totalidade proposta pelo autor nos faz considerar a globalidade que deve estar presente nas análises que fazemos Este enfoque de totalidade não apenas ajuda a ver as práticas educacionais como produtos históricos e sociais mas também suscita questões a respeito de como esses determinantes se revelam nas percepções de senso comum dos professores nas relações de sala de aula e na forma e conteúdo dos materiais curriculares Giroux 1986 p 254 As coisas todas adquirem um outro sentido contextualizadas entre si e num contexto mais amplo as escolas podem ser vistas como parte do universo de significados e práticas culturais mais amplas Giroux 1986 p 255 E ligada a estas questões se impõe a idéia de transformação e a perspectiva da educação deve ser de que não se busca algo pronto e definitivo acabado Mas o que se busca ao nos aproximarmos se modifica os interesses se ampliam se alteram pois a vida e os interesses e necessidades do ser humano e dos grupos sociais são dinâmicos Este conceito de transformação que muitas vezes tem que ser posto em contraposição com o de ajustamento deve estar muito claro para o professor ao desenvolver o seu trabalho pedagógico Especialmente ao trabalhar com os conteúdos de uma disciplina que se expressam muitas vezes pelas práticas que acontecem no nosso cotidiano e que lidam com o relacionamento do homem em nível individual e social entre si e com a natureza Sem um controle constante podese cair em explicações deterministas mecanicistas de ajustamento ao meio de adequação ao que está posto como se os homens devessem se adequar pura e simplesmente ao mundo pronto O encaminhamento deve se dar não no sentido mágico mas no de compreender as práticas sociais como resultantes de uma relação de poder entre os homens e de uso e domínio do meio e da natureza E ainda mais no de compreender o território como o resultado das ações humanas mas que não tem função estática pelo contrário interfere nas próprias relações e práticas sociais O papel do professor No entanto para que se efetive realmente a proposta de educação para a cidadania é necessário que se politize a noção de cultura E aí entra o papel do professor e a questão do poder que lhe é atribuído a partir de sua função de educador considerandose a sua hege monia cultural e ideológica A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 139 O conceito de hegemonia ideológica de acordo com Gramsci pode muito bem ser referido ao professor como educador pois é a partir deste que se difundem na sociedade para toda uma parcela da população idéias valores crenças Vai daí que o poder que o professor possui é exercido por ele como uma forma de dominação cultural Na concep ção gramsciana de hegemonia ela se manifesta de dois modos um pelo domínio outro pela direção intelectual e moral Gramsci apud Mochcovitch 1990 p 21 Consciente ou inconscientemente o professor realiza esta tarefa de direção para a qual possui inúme ras estratégias O conceito de hegemonia elaborado por Mochcovitch diz que é o conjunto das fun ções de domínio e direção exercido por uma classe social dominante no decurso de um período histórico sobre outra classe social e até sobre o conjunto das classes da socie dade Mochcovitch 1990 p 20 Para Gramsci o que interessa é como mudar a hegemo nia pois pensa sempre na perspectiva da transformação da sociedade não da reprodução Mochcovitch 1990 p 24 Nas práticas escolares a noção de cultura como hegemonia ideológica se explicita através de várias situações consideradas corriqueiras e até naturais Se expressa no currí culo formal da escola como tal conhecimento é estruturado nas rotinas e práticas entra nhadas em diferentes relações sociais e aponta para a noção de estruturas sociais como configurações naturais que encarnam e ao mesmo tempo sustentam formas de hegemonia ideológicas Giroux 1986 p 256257 A aula e o conteúdo de geografia E as aulas de Geografia o que são diante disso As aulas de Geografia através de conteúdos que nada têm a ver com a vida dos alunos que não trazem em si nenhum interesse e muitas vezes pouco significado educativo são vistas como naturais Al guém definiu que sejam assim e como tais fossem tratadas E mesmo que não o sejam o professor remete para fora de si a organização dos conteúdos nas diversas séries e nos diversos graus de nosso ensino Se em determinado momento a Geografia serviu para enaltecer o nacionalismo patriótico brasileiro e hoje nós podemos examinálo assim atualmente a maioria dos professores não consegue perceber a qual interesse está ligada a forma de estruturação do conhecimento veiculado nas aulas nos livros nos textos utiliza dos E tem sido um conhecimento estruturado de tal forma que não permite que se conhe ça realmente a realidade que é estudada Sem falar na fragmentação produzida pela divi são em disciplinas e no interior delas no caso da Geografia a fragmentação acontece de tal forma que impede o raciocínio lógico capaz de dar conta do objeto que deve tratar São questões físicas naturais e humanas são termos de relevo vegetação clima população êxodo rural e migrações estrutura urbana e vida nas cidades industrialização e agricultu ra estudados como conceitos ahistóricos abstratos neutros sem ligação com a realida de concreta Embora se queira avançar e no nível da discussão acadêmica muitas coisas HELENA COPETTI CALLAI 140 estejam resolvidas a prática da sala de aula é ainda hoje assim extremamente fragmenta da em itens sem sentido isoladamente e no conjunto sem o encadeamento que lhe permi tisse ter sentido Mais que isto ainda as análises são feitas dividindo o mundo não pelas formas e interesses que se expressam no momento mas por critérios naturais físicogeológico geomorfológicos como se os fenômenos acontecidos no mundo atual fossem decorrentes de configurações naturais ou forças físicas exclusivamente A Geografia vista de dentro por quem trabalha com pesquisa e ensino pode se apresentar como uma disciplina extrema e perigosamente ideológica Esta questão é per cebida no acompanhamento de professores que atuam no magistério e estão cursando a graduação por serem portadores de diplomas do magistério de segundo grau ou de licen ciatura curta Mas é possível reconhecer esta situação também nos eventos que reúnem os professores de geografia e de que temos participado através de trabalhos de extensão universitária ou promoções da Secretaria de Educação de estado ou municipais e mesmo pela AGB Não é exclusividade de um ou outro lugar estado ou município brasileiro ou das escolas pública ou particular Além disso toda a discussão em que estamos envolvidos como docentes de curso de formação de professores estudando os vários documentos propostos pelo MEC as varia das interpretações que estão sendo dadas e a prática na reformulação curricular ouvindo também os alunos de graduação e os professores da escola fundamental e média nos permitem fazer uma caracterização desta realidade Particularmente em resultados de uma pesquisa com professores do ensino médio no final da década de 1990 e com professores das séries iniciais em 19982000 esta última realizada com apoio da FAPERGS encontro eco nesta caracterização possível O professor de Geografia transmite através dos temas com que trabalha a hegemonia de uma cultura de uma sociedade com sua economia que não raro critica e quer condenar Mas na prática exerce fundamentalmente o exercício de ajustar o indivíduo ao meio muito embora não concorde e não queira isto Ao trabalhar com informações desconectadas de explicações mais amplas colabora com a transmissão de idéias que professam a manutenção dentro de regras estabelecidas ao invés de valori zar o conhecimento de cada um resgatando o conhecimento cientificamente produzido e dandolhe um sentido social Isto acontece pelas informações veiculadas quase sempre parciais e muitas vezes preconceituosas eou ideológicas Mas acontece também pelas práticas pedagógicas com que são trabalhados os conteúdos O exercício da cidadania devese dar inclusive no interior da sala de aula É necessá rio situar o conhecimento escolar como integrante de um universo maior do conhecimento e conseguir perceber em que medida ele expressa e veicula interesses de classe A forma com que ele se apresenta já é seletiva e acrescido dos conteúdos tratados a delimitação e seleção que é dada a eles está embutida de princípios ideológicos que na maioria das vezes passam despercebidos Não se trata apenas de criticar de desmontar este conheci A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 141 mento escolar por ser também ideológico Tratase sim de dar conseqüência a uma crítica histórica que se deve fazer decorrendo dela uma ação social e política E acima de tudo reconhecer que neste processo não há neutralidade possível É interessante lembrar a análise que faz Lacoste ao referir que existe uma Geografia dos Estados que tem função estratégica de conhecer o espaço para organizálo a partir e a serviço dos interesses geopolíticos nacionais ou de grupos E que existe também uma Geografia escolar que é basicamente um saber inútil que descreve lugares enumera in formações sem darlhes o significado que realmente possuem O estudo da Geografia na escola nesta perspectiva atua mais para obscurecer o sentido do território nas nossas vidas no que diz respeito às formas que assumem as relações que ocorrem na sociedade e aos resultados dos avanços tecnológicos do que para instrumentalizar o aluno para exer cer e exercitar a sua cidadania E aí entra outro papel ideológico do conteúdo da Geografia e a discussão que existe a respeito do currículo oculto Com referência a currículo oculto e educação para a cida dania Giroux 1986 p 258259 propõe que deve ser considerado que a cultura dominan te não está apenas entranhada na forma e no conteúdo do conhecimento expressos clara mente mas é constantemente reproduzida naquilo que denomina currículo oculto Isto se refere às normas aos valores às atitudes que estão incutidos sem que se perceba nas rela ções que se estabelecem na vida cotidiana dentro da escola na sala de aula e são transmi tidos naturalmente na exigência do cumprimento das regras nos limites impostos Nos conteúdos de Geografia quando se naturalizam questões sociais e políticas reduzindoas à determinações da natureza e mais quando se estudam espaços distantes e estranhos se faz com que a Geografia pareça coisa apenas de livros Ao estudar os lugares como se o que existe neles fosse resultado natural e não construído historicamente e até ao não se conseguir ligar os avanços tecnológicos as guerras as constantes divisões das nações e as regionalizações que formam novos blocos à construção do espaço Ou seja a organização territorial destes fenômenos como a materializaçãoconcretização num dado lugar das idéias interesses políticos e econômicos Ao trabalhar tudo isto sem darlhe um sentido sem estabelecer as origens e raízes e analisando os resultados que aparecem no espaço se está contribuindo para dificultar a compreensão da realidade São todos meca nismos que ficam parecendo naturais A relação do indivíduo com o seu meio a compreensão do espaço construído no cotidiano os microespaços que são os territórios do indivíduo da família da escola dos amigos devem ser incorporados aos conteúdos formais que as listas de Geografia contêm Estes aspectos poderão permitir que se faça a ligação da vida real concreta com as demais informações e análises Na verdade podese constatar que estas questões não são consideradas porque falta clareza suficiente para incorporálas sem que se fique com a sensação de que se está tratando de coisas supérfluas Elas nem seriam o chamado currículo oculto mas têm fun cionado como tal quando são desconsideradas não para serem tratadas mas exatamente HELENA COPETTI CALLAI 142 para funcionarem como armadilhas que impedem a compreensão do que está sendo ensi nado por ficar distante e irreal para a vida do aluno Para os professores implementarem uma noção mais abrangente de educação e cidadania eles terão que entender não apenas as ligações que existem entre o currículo oculto e o formal mas também as conexões que existem entre o currículo e os princípios que estruturam modos semelhantes de conhecimento e as relações sociais na sociedade maior Giroux 1986 p 258 Giroux 1986 p 259262 acrescenta também que se deve considerar em uma educa ção para a cidadania a análise do poder e da transformação ao se procurar entender o significativo das contradições disfunções e tensões existentes na escola mas também no cotidiano mais amplo Devese portanto localizar os conflitos subjacentes na escola e na sociedade e investigar como podem contribuir para a educação para a cidadania Estas contradições disfunções e tensões existem na sociedade mais próxima na fa mília na escola no município e devem ser tratadas isto é conhecidas e analisadas para que o aluno se perceba como um indivíduo que faz parte daqueles grupos e que poderia ter voz ativa ser participante nas decisões E acima de tudo para perceber que o seu território e o de seu município são construídos pelo movimento dos homens e que envolvem inte resses que podem ser localizados reconhecidos e entendidos no processo dinâmico da vida cotidiana Na concepção gramsciana em contraposição à dominação cultural ocorrem sempre formas de resistência pois que ele propõe sempre a transformação e não a manutenção da sociedade e o ajustamento à ela O poder a serviço da dominação nunca é total Giroux 1986 p 260 Esta resistência aparece em sala de aula na escola e na vida social mais ampla de diversas formas que se não forem entendidas e mesmo noutra perspectiva de educação passam a ser consideradas mau comportamento Em geral se expressam na linguagem no vestuário na resistência a fazer em sala de aula o que o professor propõe Ao contrário de subestimála ou desconsiderála cabe à escola preocupada em educar para a cidadania conseguir transformar esta ação muitas vezes isolada dos procedimentos habituais em uma força e ação ampliada para uma forma de resistência mais politizada Esta consciência social representa o primeiro passo para que os estudantes atuem como cidadãos engajados dispostos a questionar e confrontar a base estrutural e a natureza da ordem social Giroux 1986 p 261 Como pode ser a aula de geografia As aulas de Geografia têm tudo a ver dentro deste quadro mas por serem tratadas como simples descrições de espaços parados mortos sem vida não se consegue nada A partir da discussão das contradições e dos conflitos trazidos para a sala de aula pelos A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 143 alunos podese estabelecer uma matriz de análise para a realidade em que vivemos subor dinada a uma ordem social complexa e globalizante Entender vários fenômenos que acon tecem no mundo e particularmente no Brasil e que se materializam em paisagens diversas é buscar as explicações para as relações sociais que acontecem é entendêlas situadas num âmbito maior e explicativo da realidade atual O conteúdo trabalhado nas aulas de Geografia é aquele ligado à forma como o pro fessor reconhece esta ciência portanto não é algo inventado aleatoriamente mas sim um conhecimento do mundo a partir dos processos de construção e apropriação dos territórios diversos Em geral se descrevem paisagens distantes e com as próximas fazemse descrições tão impessoais que não parecem ser o mundo em que se vive O grande desafio é tornar as coisas mais concretas e mais reais Um ensino conseqüente deve estar ligado com a vida ter presente a historicidade das vidas individuais e dos grupos sociais com um sentido para buscar o conhecimento existente e conseguir produzir conhecimento próprio Isto é educar para a cidadania e para que a educação para a cidadania se torne emancipatória deve começar com o pressuposto de que seu principal objetivo não é ajustar os alunos à sociedade existente Giroux 1986 p 262 Nem ajustar e nem transformálos em meros espectadores do que acontece mas fazêlos participantes se não dos problemas e ques tões estudadas em si ao menos tornando estas questões ligadas com a vida das pessoas envolvidas mostrandolhes que são iguais a nós homens e mulheres concretos que vivem em um determinado lugar e não seres abstratos e neutros Eles existem e vivem a luta pela sobrevivência concreta não estão aí apenas para ser estudados No fundo o que se quer é uma educação mais vinculada com a vida um sentido para o que é estudado e num tipo de educação assim sua finalidade primária deve ser esti mular suas paixões imaginação e intelecto de forma que eles sejam compelidos a desafi ar as forças sociais políticas e econômicas que oprimem tão pesadamente suas vidas Giroux 1986 p 262 É um tipo de educação que deve mostrar que é possível desafiar o que está estabelecido exercitar a crítica discutir os encaminhamentos em vez de sim plesmente aceitar Porém para isso é preciso conhecer ter informações saber organizá las mas informações que façam sentido no interior de um quadro de explicações que dê conta das realidades concretas do mundo É um tipo de escola e educação difícil de implementar pois as dificuldades são mui tas e com peso maior que o resto E muito freqüentemente se coloca nos alunos a desculpa da impossibilidade de tal tipo de ensino justificando que lhes falta interesse curiosidade atenção No entanto podese argumentar que a escola está muito atrasada em relação ao mundo e não está em condições de dar conta dos interesses dos jovens Na verdade os educadores devem se perguntar a quem se destina a educação e se existe algo que seja proposto pela escola como exigência e expectativa da sociedade devese procurar reco nhecer quem são e como são realmente estes jovem que devem ser educados para que se consiga chegar neles para encontrar as melhores formas de ação HELENA COPETTI CALLAI 144 Ao contrário a escola em geral tem sido tão ineficiente que diante dos problemas que enfrenta cai na negligência Como se diz popularmente o professor faz de conta que ensina o aluno faz de conta que aprende e os pais fazem de conta que aceitam E na maioria das vezes não se ensina mais nada porque o aluno não se interessa e a cada vez é exigido menos dele a ponto de não se ter uma postura de educação quer dizer o aluno reconhecer que estudar e aprender exige esforço e dedicação O conteúdo de Geografia por ser essencialmente social e ter a ver com as coisas concretas da vida que estão acontecendo e tem a sua efetivação num espaço concreto aparente e visível permite e encaminha o aluno a um aprendizado que faz parte da própria vida e como tal pode ser considerado em seu significado restrito e extrapolado para a condição social da humanidade Em termos mais concretos os estudantes deveriam aprender não apenas a avaliar a socie dade de acordo com suas próprias pretensões mas devem também ser ensinados a pensar e agir de formas que tenham a ver com diferentes possibilidades da sociedade e diferentes modos de vida Giroux 1986 p 263 Embora não se vislumbre condições concretas de mudanças próximas cabe à escola desenvolver a capacidade de perceber que as coisas que as formas de desenvolvimento e organização da sociedade são construções históricas dos homens e portanto passíveis de questionamentos E que é possível a existência de modos de vida diferentes Aliás que são possíveis formas diferentes de agir da escola inclusive E a análise crítica da realidade tal como se põe atualmente permite que se vislumbrem estas novas formas e que se acre dite possível pensar e agir diferente As aulas de Geografia têm tudo a ver com isto pois ao estudar situações concretas problemas que os vários povos enfrentam e a estruturação dos seus territórios que apre sentam paisagens que expressam a realidade vivida o aluno adquire os instrumentos para pensar o mundo de sua vida da vida de todos os homens Ao confrontar várias situações entre si e com as condições concretas do seu próprio mundo próximo ele vai construindo um conhecimento próprio e mais do que isto a compreensão de regras e leis que regem este mundo atual pode inclusive buscar o que as funda e compreendêlas como historica mente construídas A educação para a mudança assume contornos dinâmicos pois o mundo não pára e os fenômenos que a Geografia estuda têm que ser considerados como resultados de um processo histórico situado num determinado local mas também na perspectiva interna cionalglobal Afora ter sido sempre uma característica da Geografia estudar as questões numa perspectiva de escala de análise que dê conta dos diversos níveis territoriais hoje colocamos fundamentalmente como categorias de análise o local e o global acrescido do regional e do nacional Quer dizer os níveis local e regional que são o mundo fisicamente mais próximo do aluno expressos no cotidiano acrescido do nacional se põem sempre A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 145 na perspectiva da mundialização dos aspectos internacionais para que seja possível compreendêlos Num mundo em que a globalização se faz sentir em todos os aspectos afetando as vidas de todos os homens em todos os lugares não faz sentido estudar fenô menos ou lugares isolados mas na complexidade global E tornase hoje fundamental considerar o regional para além dos limites das nações que estão se constituindo em novas realidades mundiais por exemplo o Mercosul Assim contextualizados e considerados em suas características internas os fenôme nos tem uma dinamicidade também em sua estrutura na medida em que eles não finali zam os processos mas têm continuidade e podem mudar também Este é sem dúvida um exercício para o aluno pensar e agir encarando diferentes possibilidades para a sociedade no seu conjunto e as diversas pessoas no seu interior E acima de tudo conseguir dar conta de compreender o mundo em que vive nas suas expressões concretas do cotidiano Segundo Giroux 1986 os alunos devem adotar uma postura de coragem cívica isto é encarar analisar pensar e agir como se vivessem de fato em uma sociedade demo crática que lhes lhes desse oportunidade do exercício político de sua condição de cidadão Mas para assim poderem agir a escola e o professor devem criar as condições de além de trazêlos para dentro da sala de aula proporlhes uma educação que leve em conta os seus interesses e capacidades descentrandose dos aspectos burocráticos em que tem se apoi ado constantemente A aula de geografia deve ir além de passar informações de apresen tar dados e mapas de descrever lugares estranhos Deve deslocar sua preocupação maior em dar o conteúdo para como organizálo de modo mais consistente para ser capaz de ter um significado para além do saber Para chegar a aprender a buscar aprender através destes conteúdos Mas com certeza ir além deles Para que isto aconteça a educação para a cidadania deveria se apoiar em várias pressuposições e práticas pedagógicas Giroux 1986 p 263265 que descreveremos a seguir A possibilidades de tornar a geografia em um ensino que leve à cidadania 1 As aulas devem ser de forma que os alunos possam desafiar engajarse e questionar o que lhes é proposto a partir da forma e da substância do processo de aprendizagem A questão não é portanto apenas de conteúdo mas metodológica ou se se quiser das práti cas pedagógicas adotadas Muda portanto a perspectiva do conteúdo trabalhado pois o saber deve ser visto como mais do que uma questão de aprender determinado corpo de conhecimentos deve ser visto como um engajamento crítico que visa distinguir entre essência e aparência entre verdade e falsidade Giroux 1986 p 263 As paisagens que a Geografia estuda as características naturais dos territórios e sua população não podem ser apenas citadas e descritas devem ser buscadas as explicações para o que as paisagens mostram E estas vão ser dadas pelos movimentos que o capital realiza no mundo pelas formas que ele assume nos diversos pontos dos territórios E este movimento que não é HELENA COPETTI CALLAI 146 causal e pontual deve ser referenciado nas questões gerais da vida no mundo atual A relação da sala de aula deve ser deslocada do professor que sabe que ensina aos alunos que não sabem e devem aprender o que o professor propõe Não que o professor abdique de sua função de condução de sua necessidade de saber o que vai ensinar e saber mais que isto Só que a relação no processo de aprendizagem é que deve ser deslocada do discur so do professor para o aprender do aluno Aos alunos devem ser dadas condições e chances de produzir bem como de criticar os significados da sala de aula Giroux 1986 p 263 O conhecimento não é o fim a finalidade do processo de ensinoaprendiza gem mas o intermediador do diálogo entre os que aprendem Este conhecimento deve ser problemático e problematizador não pronto e acabado e deve ser reconhecido como his tórico e social tal como despojado das suas pretensões objetivas O papel do professor é redimensionado Ele não abdica do que sabe e nem some a hierarquização dos papéis sociais que temos a cumprir Só que em vez de ficar ouvindo a sua própria voz o seu discurso que agrada a si próprio deve intermediar a relação de aprendizagem facilitando o acesso de informações ao aluno e os materiais necessários à realização da aprendiza gem encaminhar leituras e observações e assessorálos 2 Os alunos devem aprender a pensar criticamente a ir além das interpretações literais e dos modos fragmentados de raciocínio Em geral os livros de Geografia trazem verda des que são interpretadas como objetivas e neutras fragmentando as explicações com limites de países com justificativas naturais quando as questões são sociais e são proble mas da humanidade que devido às condições específicas de certos povos de certos países são localmente situados Os temas estudados devem estar inseridos num quadro de referências e explicações que dêem significado para eles que demonstrem a importância de compreender estas realidades que podem ser locais mas que expressamdemonstram questões que são da humanidade E mais que isto não devem ser simplesmente aceitas as explicações que são postas por uma forma única de interpretação por uma única fonte Os alunos devem conseguir operar com um quadro de referências conseguindo dar conta de como ele se constitui e como ele fornece um mapa para se organizar o mundo Giroux 1986 p 264 Mas para isso é necessário ver o mundo de forma globalizada no interior do qual acontecem regionalizados fenômenos que têm necessariamente as expli cações ao nível do global e do local Fatos conceitos problemas e idéias devem ser vistos dentro da rede de conexões que lhes dá significado Giroux 1986 p 264 As aulas de Geografia que apresentam um conteúdo em geral fragmentado encaram aqui um desafio clarear e ou definirconstruir este quadro de referências quais são os elementos fundamentais para tanto Como transitar do local para o internacional fazendo as interco nexões possíveis dos diversos locais entre si no todo que é Como superar a divisão do mundo entre continentes critério geológicogeomorfológico de terras emersas e entendê lo no conjunto dos fenômenos atuais que abalam o mundo hoje A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 147 O significado do estudo não pode estar nas informações nas verdades descritas mas estas devem remeter à formulação de conceitos que o aluno deve construir 3 O desenvolvimento de um modo crítico de raciocínio deve ser usado a fim de capaci tar os alunos a se apropriarem das suas próprias histórias isto é mergulhar em suas pró prias biografias e sistemas de significado Giroux 1986 p 264 Uma postura pedagógi ca que permite ao aluno se dar conta da dignidade e do valor de suas próprias percepções e histórias é uma postura que permite estudar a própria realidade concreta em que se vive superando o senso comum e reconhecendo a história do meio em que vive como a sua própria história A partir daí põese a necessidade de abstrair da situação concreta em que se vive a fim de buscar as explicações gerais que dão conta das realidades locais No sentido de valorizar a dinâmica da própria vida das histórias pessoais e dos gru pos sociais mais restritos dos quais os estudantes fazem parte o estudo do local onde vivem se torna fundamental ao mesmo tempo em que é um importante exercício para entender o mundo da vida O município pode ser uma escala de análise que permite que tenhamos próximos de nós todos aqueles elementos que expressam as condições sociais econômicas políticas de nosso mundo É uma totalidade considerada no seu conjunto de todos os elementos ali existentes mas que como tal não pode perder de vista a dimensão de outras escalas de análise Callai Zarth 1988 p 11 Este estudo pode dar a oportunidade de um reconhecimento e de uma apropriação do que acontece no local e permitir como objetivo entender os fenômenos que acontecem com condições de considerálos na concretude de seu acontecer em contraposição com o idealizado e abstrato E acima de tudo permite resgatar a história da própria vida em um processo que conduz a um tipo de construção do espaço que lhe é imediato próximo e possível de observar concretamente E para além deste reconhecimento é necessário en contrar as explicações universais para estas questões locais isto é reconhecer como é que o universal e o global estão presentes no local e que o que está expresso aí tem um significado para a vida de cada um mas também uma explicação e um significado no nível do movi mento geral do mundo e da humanidade Nesta contraposição o aluno poderá iniciar um processo de abstração e teorização e examinar as verdades que estão postas e os seus signi ficados seja em nível concreto seja nas explicações mais gerais e abrangentes Ao propor o estudo do município como a possibilidade de os alunos se apropriarem das histórias da sua própria vida partese da constatação novamente trazida pelos profes sores dos diversos lugares com que temos trabalhado em cursos de extensão de que a realidade brasileira é muito condicionada pelo nível da divisão administrativa que é o município A maioria das cidades pequenas e muitas são muito pequenas tem neste nível de administraçãoorganização territorial a configuração dos limites de suas possibi HELENA COPETTI CALLAI 148 lidades Suas particulares mas também como grupos sociais que aí vivem No meu enten dimento nada mais adequado do que assentar o estudo neste nível fazendoos olhar para além dos limites administrativos reconhecendo que o que acontece ali naquele espaço e naquele tempo é resultado de uma dinâmica muito mais ampla da sociedade de movi mentos do capital de interesses financeiros e políticos mais gerais e que afetam de uma ou de outra forma todos os lugares Entendendo que a possibilidade de compreensão desta realidade reconhecendo as próprias condições e as suas forças também pode permitir um exercício de cidadania Este nível de divisão espacial como salientado acima é uma escala muito significativa para grande parcela da população brasileira Nas cidades de maior porte fica evidente que a unidade territorial para análise não necessariamente é a que se fecha nos limites administrativos municipais Poderá ser um bairro uma comuni dade assim como poderá ser uma pequena em extensão região que agrupe alguns muni cípios O grande desafio é perceber que a maioria dos professores está trabalhando com a geografia do lugar e que este tem sido o município Restanos conseguir fazer avançar do senso comum teorizando as questões compreendendo a organização espacial como o re sultado da vida dos homens E estudartrabalhar o local para compreender o mundo exige que se soltem as amarras das explicações simplistas e reducionistas que se olhe para além daquilo que se vê empiricamente No fundo exigese uma nova postura do professor no trato com seus alunos com o saber que eles trazem consigo pois embora sempre tenhamos de uma forma ou de outra um tratamento com o que eles trazem na verdade somos juízes desse saber e quase sempre o rejeitamos como nãosaber ou présaber Resende 1986 p 12 E exigese também uma postura do aluno de valorizar o que ele vive de procurar dar e encontrar significado mais geral para as situações cotidianas A educação atual está a exigir de nós uma nova postura pedagógica em que como já foi salientado o conhecimento seja mediador do diálogo entre o que aprende e o que ensina O conteúdo não é um fim em si E nesta perspectiva considero muito importante e significativo o estudo do município como se constroem o espaço a história e a socie dade do lugar em que o aluno vive 4 Os alunos devem aprender que existem valores que devem ser resgatados e considera dos pois são indispensáveis à reprodução da vida humana Giroux 1986 p264 Estes valores não vão ser tratados e considerados como um conteúdo em si mas extraídos dos próprios conteúdos trabalhados cotidianamente Em Geografia a partir dos conteúdos trabalhados podese considerar inúmeros valores decorrentes da forma de organização dos povos da apropriação dos territórios das lutas travadas para tanto das questões étni cas dos valores culturais e religiosos do acesso ao espaço na construção dos territórios seja microespaço particularindividual sejam macroespaços nacionais Valores imbutidos nas questões específicas das populações e sua relação com o espaço ocupado por elas tais como controle da natalidade migrações acesso à moradia a lugar para trabalhar reforma A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 149 agrária a direito de organização social Estes valores devem ser considerados imbrica dos na própria textura da vida humana como eles são transmitidos e que interesses eles apóiam com relação à qualidade da existência humana Giroux 1986 264 Na medida em que os alunos conseguem entender a origem das próprias crenças e de sua ação eles conseguem ter a explicação para os problemas que ocorrem no mundo e no seu diaadia superando talvez o senso comum enraizado nas mentes e na vida de cada um 5 Os alunos devem aprender a respeito das forças ideológicas que influenciam e restrin gem suas vidas Para exemplificar a partir dos Estudos Sociais numa concepção radical Giroux se vale da análise de Glesson e Whitty 1976 que dizem que se deva começar com um reconhecimento de que os processos sociais na escola e na vida influenciam direcionam restringem as oportunidades de vida dos alunos As aulas de Estudos Sociais segundo os autores e considerando a realidade em que vivem podem contribuir para que os alunos consigam ser mais conscientes de suas proposições e mais articulados politica mente na expressão do que é que eles querem da vida e a partir daí chegar a compreender por que muitos dos seus desejos e anseios são frustrados impedidos de se realizar e como se pode fazer frente a isto no intuito de uma ação social para tentar conduzir os interesses que se têm no nível individual e dos grupos a que pertencem Os alunos devem aprender a agir coletivamente para construir estruturas políticas que possam desafiar o status quo Giroux 1986 p 265 Os autores citados por Giroux abordam a questão partindo dos Estudos Sociais o que não é exatamente o nosso caso Considerando a nossa organização curricular não há dúvida de que a História a Sociologia a Antropologia têm como a Geografia o seu lugar nestas questões e cada qual com seus recursos metodológicos contribui para estudar o mundo da vida Na aula de geografia podese analisar o quanto se restringem as possibilidades de acesso à terra para morar e para trabalhar No estudo das relações do homem com a natureza podese perceber que as possibilidades postas pela natureza para seu uso são condicionadas por questões sociais políticas e econômicas Ao fazer o estudo do local podese observar e questionar as habitações as ruas as oportunida des de emprego etc Estas proposições trazem embutidas uma postura pedagógica diferenciada em que o aluno deve ser considerado o sujeito da aprendizagem e o conteúdo o instrumento O conteúdo de Geografia continua a ser o mundo isto é o espaço produzido pelos homens na sua luta contínua para sobrevivência o território O caminho é que tem que ser reconstruído e existem caminhos diversos e alternativas possíveis A escolha destes deve se dar de acordo com as circunstâncias do mundo atual Não se pode querer ter uma estrutura de trabalho assentada nos moldes tradicionais se temos como alunos jovens que vivem num mundo dinâmico e diferente por ser atual e que como adultos vivem e vive rão num mundo que apresentará novos desafios É preciso habilitálos a pensar e agir As formas de organização dos povos o espaço apropriado como resultados dos fenô menos localizados espacialmente num ou noutro lugar devem ser considerados não numa HELENA COPETTI CALLAI 150 perspectiva absolutizada mas contextualizados a em nível geopolítico cultural e social Fenômenos mundiais e nacionais devem ser considerados na localização espacial em que acontecem mas sempre referidos aos problemas cotidianos e locais dos alunos Embora ao longo do tempo permaneça sempre a idéia de espaço como objeto da Geografia é o espaço no sentido mais amplo e a sua apropriação pelos povos quer dizer o território no sentido mais restrito o tema a ser trabalhados A delimitação dos conteúdos não pode ser feita isolada do contexto das problemáticas atuais do mundo Entendo que não é uma lista de conteúdos que se deve ter mas idéias e objetivos que se constituam em elementos básicos que englobem aonde se pretende chegar de que for ma e com que caminhos e daí definir quais os conteúdos que servem para instrumentalizar os interesses definidos Situados neste quadro mais amplo de definições podese estabelecer uma série de conceitos que são fundamentais para compreender a realidade do território e da socie dade Não é o caso de se reinventar o que já existe nem de jogar tudo fora e fazer tudo diferente mas de encarar a realidade e exercitar a crítica constantemente e trabalhar com criatividade A prática da Geografia como componente curricular muito nos tem ensina do no que se refere tanto à Geografia especificamente como às posturas pedagógicas A coragem de avançar de mudar permitenos vislumbrar alternativas para uma geografia e um ensino mais conseqüente e libertador Bibliografia CALLAI Helena Copetti Espaço de poder ou o poder do espaço Contexto e Educação Ijuí Ed UNIJUÍ v 3 p 2532 julset 1986 CALLAI Helena Copetti ZARTH Paulo A O estudo do município e o ensino de História e Geografia Ijuí Livraria Unijuí Editora 1988 GIROUX Henry Teoria e resistência em educação Petrópolis Vozes 1986 GIROUX Henry MCLAREN Peter Linguagem escola e objetidade elementos para um discurso pedagógico crítico Educação e Realidade Porto Alegre v 18 n 2 juldez 1993 GRAMSCI Antônio Os intelectuais e a organização da cultura Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1968 Concepção dialética da história 4ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1981 LACOSTE Yves A Geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra snt MOCHCOVITCH Luna Galano Gramsci e a escola São Paulo Ática 1990 RESENDE Márcia Spyer A Geografia do aluno trabalhador Caminhos para uma Prática de Ensino São Paulo Loyola 1986 A GEOGRAFIA E A ESCOLA MUDA A GEOGRAFIA MUDA O ENSINO 151 RESUMEN El artículo propone la discusión de la Geografía como el componente del plan de estudios para la escuela básica y la posibilidad de construcción de la ciudadanía Es con siderado que la cuestion hepistemológica de la Geogra fía y su papel en la escuela en este comienzo de siglo De la misma manera el asunto pedagógico se discute opues to a un contenido específico dado por el objeto de la ciencia y la formación del educador PALABRASCLAVE Geografia ciudadania educación ABSTRACT The paper proposes the discussion of the Geography as curriculum component for the basic school and the pos sibility of construction of the citizenship It is conside red the epistemologic question of the Geography and your role in the school in the early century XXI In the same way the pedagogic subject is discussed opposed to a spe cific content given by the object of the science and the educators formation KEY WORDS Geography citzenship education Recebido para publicação em 9 de junho de 2001 1D Hydr 2D Hydr 3D Hydr Nonpolar HH Permanent dipole moment μ 0 HBr Permanent dipole moment μ 088 D H2 O Permanent dipole moment μ 183 D Polar covalent bonds have the following properties 1 A difference in electronegativity ΔEN 2 A partial charge separation within the molecule due to the unequal sharing of electrons 3 Permanent dipole moment μ top The lattice energy of ionic compounds is less than expected from the charged ion model because covalent interactions between the ions result in partial sharing of electrons Dipole moment D q r qcharge in e rbond distance in cm D charge in esu distance in cm 1 D333 1030 C m 1018 esu cm In a crystal of NaCl each Na ion is surrounded by 6 Cl ions The effective charge on each ion along the diagonal of the cube that can be calculated from the measured lattice energy and interatomic distance is 085e not 1e 1e because the negative ion polarizes the positive ion An example of such polarization is provided by the color center that is an electron charge trapped in a lattice vacancy caused by UV irradiation or by bombardment with an electron beam The Na ion is polarized by one trapped electron charge The polarized anion as well interacts with others leading to small covalent contributions Permanent dipole μ qi ri 2