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Adriana Augusto Aquino Agrostologia e forragicultura KLS FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Daniela Feriani Marcos Roberto Mesquita Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Feriani Daniela Moreno ISBN 9788552206149 1 Antropologia 2 Sociologia I Feriani Daniela Moreno II Marcos Roberto Mesquita III Título CDD 300 2018 por Editora e Distribuidora Educacional SA Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio eletrônico ou mecânico incluindo fotocópia gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação sem prévia autorização por escrito da Editora e Distribuidora Educacional SA 2018 Editora e Distribuidora Educacional SA Avenida Paris 675 Parque Residencial João Piza CEP 86041100 Londrina PR email editoraeducacionalkrotoncombr Homepage httpwwwkrotoncombr Presidente Rodrigo Galindo VicePresidente Acadêmico de Graduação e de Educação Básica Mário Ghio Júnior Conselho Acadêmico Ana Lucia Jankovic Barduchi Camila Cardoso Rotella Danielly Nunes Andrade Noé Grasiele Aparecida Lourenço Isabel Cristina Chagas Barbin Lidiane Cristina Vivaldini Olo Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro Revisão Técnica Carla Patrícia Fregni Emanuela Patrícia de Oliveira Editorial Camila Cardoso Rotella Diretora Lidiane Cristina Vivaldini Olo Gerente Elmir Carvalho da Silva Coordenador Letícia Bento Pieroni Coordenadora Renata Jéssica Galdino Coordenadora Thamiris Mantovani CRB89491 F356f Fundamentos antropológicos e sociólogicos Daniela Moreno Feriani Marcos Roberto Mesquita Londrina Editora e Distribuidora Educacional SA 2018 240 p Sociologia e Antropologia um novo pensar 7 A sociedade como objeto de estudo o surgimento de um novo pensar 10 Alguns conceitos e métodos sociológicos e antropológicos 29 Sociologia e Antropologia no Brasil 47 Sumário Unidade 1 Seção 11 Seção 12 Seção 13 Cultura e instituições sociais 71 O conceito de cultura 74 Igualdade e diferenças 91 Instituições sociais continuidades e transformações 108 Unidade 2 Seção 21 Seção 22 Seção 23 Unidade 3 Seção 31 Seção 32 Seção 33 Unidade 4 Seção 41 Seção 42 Seção 43 Trabalho classe social e globalização 127 Trabalho e vida econômica 131 Classe social desigualdade e mundo do trabalho 147 Globalização e diversidade social e cultural 162 A sociologia na era da informação 181 Tecnologia e sociedade 183 Ciências sociais e tecnologia 198 Mídia e indústria cultural 215 Você já se perguntou por que algumas pessoas agem de uma maneira e não de outra Em nosso dia a dia nos deparamos com situações que nos causam surpresa espanto admiração repulsa Quando não conseguimos compreender alguma cena é comum fazermos perguntas por que essas pessoas estão vestidas dessa forma Por que falam assim O que estão fazendo Ao longo deste livro vamos aprender a pensar em algumas dessas perguntas a partir de um olhar crítico e reflexivo Diante dos problemas da vida em sociedade por exemplo o desemprego o choque cultural o suicídio o preconceito a desigualdade a Sociologia e a Antropologia surgiram como modos de conhecimento numa tentativa de compreender as questões que nos envolvem enquanto participantes de um grupo O que podemos e o que não podemos fazer numa vida em sociedade Quais são os alcances e limites de nossas ações Como conciliar a liberdade de expressão com o respeito às diferenças culturais Qual é a influência da mídia em nosso modo de ser e pensar Em que a tecnologia nos ajuda e em que ela atrapalha Vamos aprender que a Sociologia e a Antropologia se constituem como conhecimentos científicos a partir de pesquisas e estudos aprofundados sobre um determinado tema baseandonos em dados análises observação de comportamentos numa tentativa de compreender aquele problema social deixando de lado as opiniões os preconceitos os julgamentos morais e pensar no porquê dele existir como para quê quais são as suas consequências e possíveis soluções Assim ao longo desse aprendizado na Unidade 1 vamos ver como surgiu esse novo pensamento sobre a vida em sociedade quem foram os primeiros pensadores e quais são as questões e os métodos para compreender os problemas sociais Também acompanharemos como essa ciência da sociedade chegou ao Brasil e como alguns sociólogos e antropólogos pensaram a sociedade e cultura brasileiras Já na Unidade 2 vamos refletir sobre o significado de cultura como conviver com um outro tão diferente de mim e conciliar igualdades e diferenças Além disso refletiremos sobre como as relações de gênero a família o Estado e a religião influenciam as nossas vidas Palavras do autor Mais adiante na Unidade 3 entraremos no mundo do trabalho e das classes sociais mostrando como esses conceitos foram pensados de um ponto de vista sociológico bem como algumas questões associadas a eles como desemprego pobreza desigualdade e os impactos sociais e políticos da globalização Por fim na Unidade 4 vamos discutir principalmente a influência da tecnologia em nossa vida social a qual trouxe novas maneiras de viver e compreender o mundo ao redor Assim percorreremos a Terceira Revolução Industrial as consequências sociais da automação do trabalho as inovações tecnológicas na era das comunicações e da internet o poder da mídia e como a Sociologia e a Antropologia podem nos ajudar a pensar em dois fenômenos importantes e atuais como a sociedade de massas e a indústria cultural Ter um pensamento crítico e reflexivo sobre a vida em sociedade é uma importante ferramenta para combater preconceitos compreender situações complexas ver o mundo de uma nova maneira e propor soluções mais eficazes para o convívio em um mundo que seja mais igualitário e tolerante Você está preparado para embarcar nessa viagem a novos mundos e outras maneiras de olhar e pensar Então desperte sua curiosidade e deixe se guiar pela vontade de saber Sociologia e Antropologia um novo pensar Convite ao estudo Você já parou para pensar como são as relações entre homens e mulheres em sua sociedade e por que elas são assim Quando ouvimos que a mulher é mais sentimental e frágil e o homem é mais forte ou homem não chora o que isso significa De onde vêm tais afirmações Quais são os fatores que influenciam nelas A antropóloga norteamericana Margaret Mead estudou de maneira minuciosa e profunda o estilo de vida de três sociedades da Nova Guiné os pacíficos dóceis e suscetíveis Arapesh os guerreiros violentos e agressivos Mundugumor e os Tchambuli entre os quais os homens são carentes frágeis e vaidosos responsáveis pelos ornamentos cuidados com as crianças e atividades domésticas já as mulheres são dominantes práticas e trabalham arduamente Mead conviveu por um longo período com as pessoas observando regras sociais organizações familiares vestimentas hábitos alimentares tipos de trabalho levando em conta diferentes faixas etárias da infância à idade adulta e relações de gênero homens e mulheres A pesquisa científica foi publicada em 1935 no livro Sexo e temperamento a edição em português é de 1969 O livro na época foi bastante ousado e polêmico ao mostrar que as diferenças entre homens e mulheres não se baseavam em diferenças sexuais não sendo determinado pela biologia ou por uma suposta natureza corporal mas que tais diferenças eram aprendidas e transmitidas por meio de comportamentos sociais e culturais O que é considerado feminino e masculino não é assim universal mas varia para cada sociedade Ao Unidade 1 questionar os pressupostos da própria sociedade em que vivia norteamericana e ao mostrar outras possibilidades de ser homem e mulher o estudo de Mead suscitou muitas controvérsias e debates causando uma transformação no modo de pensar as relações de gênero Imagine que você tivesse que escolher viver em uma das três sociedades descritas por Mead Qual você escolheria Por quê Tente imaginar como seria a sua vida nessa nova sociedade Quais seriam as principais vantagens e os principais desafios A incompreensão diante de algo que vimos eou soubemos pode nos levar a ter preconceitos e uma visão negativa e estereotipada daquela situação Como não são fundamentados em dados e análises os preconceitos acabam sendo uma maneira simplista incompleta e muitas vezes distorcida de olhar para uma determinada situação Ao longo desta unidade veremos como é possível ter um novo olhar uma nova maneira de pensar os fenômenos sociais não através de preconceitos mas a partir de conceitos ou seja reflexões fundamentadas em estudos pesquisas de longo prazo com coleta e análise de dados Assim ao invés de simplesmente dizer que os homens não choram ou as mulheres são mais frágeis vamos desconfiar de tais afirmações desnaturalizálas ou seja mostrar que elas se inserem em um contexto específico não sendo portanto universais ou verdades absolutas A Sociologia e a Antropologia buscam problematizar aquilo que o senso comum costuma encarar como natural ou inquestionável e levantam frequentemente questões como será que é isso mesmo Há outras maneiras de ser e pensar Se são assim por que são assim Quais são as suas implicações Vamos ver que a Sociologia e a Antropologia surgem como esse novo pensar sobre a vida em sociedade numa tentativa de compreender as diferentes situações sociais que nos rodeiam em sua complexidade e profundidade Assim vamos percorrer o contexto de surgimento desse outro olhar através das transformações e conflitos resultantes da sociedade moderna de quem foram e o que propuseram os primeiros pensadores e de como a descoberta de outras culturas influenciou nessa nova maneira de pensar a vida social Para conhecer essa nova sociedade moderna e esses novos mundos foi preciso desenvolver métodos questões instrumentos de pesquisa e análise dos dados Assim veremos como a Sociologia e a Antropologia se constituíram como conhecimento científico os seus principais desafios e questões além das novas perspectivas em um mundo que está sempre se transformando Finalizando esta unidade conheceremos o percurso das Ciências Sociais no Brasil quem são os principais sociólogos e antropólogos brasileiros e como a sociedade e a cultura brasileiras foram pensadas por alguns deles Convidamos você aluno a embarcar nessa viagem a novos mundos e outras maneiras de olhar pensar e conhecer a tão complexa e plural vida em sociedade U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 10 A sociedade como objeto de estudo o surgimento de um novo pensar Conforme descrevemos anteriormente o contexto de aprendizagem desta unidade tem suas bases no trabalho de Margaret Mead e a sua análise sobre estilo de vida de três sociedades da Nova Guiné os Arapesh os Mundugumor e os Tchambuli Incialmente lançamos a seguinte reflexão se você tivesse que escolher viver em uma destas sociedades descritas qual você escolheria Por quê Imagine que você chegou à sociedade escolhida Você não conhece as pessoas não sabe quais são as regras para um bom convívio social o que é permitido e o que não é permitido fazer Não consegue compreender por que as pessoas são e agem daquele jeito Vamos supor ainda que você presencie como parte dessa nova cultura um ritual de sacrifício de gatos e cachorros que depois se transformaria em um banquete para todas as pessoas da comunidade Como você se sentiria O que faria Você participaria do banquete como uma maneira de se integrar à sociedade ou recusaria por não concordar com aquilo mesmo que isso possa colocar em risco a sua permanência naquele lugar Como se adaptar a essa nova sociedade Quais estratégias você adotaria para conseguir conviver com as outras pessoas Às vezes nem é preciso sair de sua própria sociedade em nosso dia a dia estamos constantemente vendo lendo sabendo de situações que nos causam desconforto admiração choque repulsa O que fazer com tais reações já que não estamos presos em casulos mas somos pessoas inseridas em um contexto maior em um espaço público compartilhado no qual o convívio com o outro não só é inevitável como necessário O sentimento de espanto diante do que não compreendemos pode nos mover no sentido de querer saber mais sobre aquilo conhecer os motivos de ser e agir daquele modo compreender Seção 11 Diálogo aberto U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 11 de maneira profunda as causas e consequências ouvir as pessoas envolvidas para entender o ponto de vista delas Nesta seção veremos como o advento da sociedade moderna trouxe uma série de transformações e conflitos sociais que exigiram outra maneira de olhar e pensar Émile Durkheim Max Weber e Karl Marx foram importantes pensadores que se esforçaram para compreender a nova sociedade que emergia de maneira crítica séria e profunda Vamos aprender como eles desenvolveram métodos questões e análises para abordar os problemas sociais e como esse novo modo de conhecimento continua importante e eficaz para a compreensão dos problemas e fenômenos sociais presentes nos dias de hoje Se a sociedade moderna abalou as formas de viver e pensar até então vigentes a descoberta de novas culturas por meio de relatos de viajantes também contribuiu para a emergência de um novo modo de conhecimento Se o mundo já não é mais o mesmo é preciso criar novas ferramentas para compreendêlo Surge assim um novo pensar O indivíduo e a sociedade Você já deve ter ouvido falar das histórias de Tarzan e Mogli os meninos lobos que vivem em florestas Mas você sabia que há casos reais de crianças que viveram e aprenderam com animais a se locomover comunicar e comer Um dos casos mais recentes foi o de uma menina russa O pai teria sequestrado a filha ainda bebê e a trancado em um quarto com cães e gatos passando a comida por debaixo da porta Após denúncia da mãe da menina policiais a encontraram suja andando de quatro rosnando e latindo Não falava uma palavra sequer A menina então com 5 anos foi levada a uma clínica para tratamento médico e psiquiátrico Ao lhe oferecerem garfo e faca a menina recusou preferindo comer com as mãos Menina criada com cães já brinca com crianças mas não fala Disponível em httpswww terracombrnoticiasmundomeninacriadacomcaesjabrinca comcriancasmasnaofala1f5a43e78784b310VgnCLD200000bbc ceb0aRCRDhtml Acesso em 28 ago 2017 Não pode faltar U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 12 Para conhecer mais histórias de pessoas que viveram isoladas sem contato humano assista ao seguinte filme O garoto selvagem de François Truffaut 1970 Um menino é encontrado nu em uma floresta na França vivendo com um bando de lobos Não sabia falar andar de maneira ereta ler e escrever Após ser encontrado ele é levado a um médico que tenta ajudálo Trailer disponível em httpwwwseuyoutubercomtrailer1627o garotoselvagem1970html Acesso em 19 set 2017 O que essas histórias nos mostram As pessoas não nascem prontas sabendo como devem ser e agir mas se tornam pessoas sociáveis por meio de um longo e constante aprendizado passado de geração a geração por aqueles que convivem no mesmo grupo social Tornamonos o que somos porque aprendemos desde quando nascemos regras sociais dos grupos com os quais convivemos ao longo da vida como família escola religião etc Em seu estudo sobre o desenvolvimento dos modos de conduta o sociólogo alemão Norbert Elias 1994 mostrou como as atitudes os sentimentos os comportamentos e os gestos aparentemente mais banais e naturais do homem ocidental tais como assoar o nariz comer com garfo e faca tomar banho fazer amor brigar são antes de tudo traços culturais frutos de um processo histórico e social chamado pelo autor de processo civilizador no qual há a aprendizagem e a construção de novos hábitos Não existe portanto atitude natural no homem qualquer gesto faz parte de uma determinada experiência histórica cultural social e política É preciso pois buscar o sentido dessas atitudes e comportamentos não numa natureza ou essência humana mas sim no contexto no qual esse humano está inserido Ninguém nasce mulher tornase mulher BEAUVOIR 1970 p 9 Essa frase da filósofa francesa Simone de Beauvoir em seu livro O segundo sexo também vai no sentido de que nada no ser humano é determinado de antemão mas que seus comportamentos maneiras de ser e pensar são aprendidos socialmente até mesmo ser homem ou ser mulher Não é a biologia ou o órgão sexual Pesquise mais U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 13 que determinam o que um homem ou o que uma mulher é Ter um pênis ou uma vagina não diz nada sobre quem você é como é o que pensa do que gosta etc Ser homem e ser mulher fazem parte de uma série de regras e convenções sociais cada sociedade ensina desde o nascimento como devemos nos comportar agir e pensar Assim pensando em nossa sociedade aprendemos desde cedo que mulheres são delicadas frágeis meigas e mais emocionais enquanto que os homens devem ser fortes e provedores Também podemos ouvir que lugar de mulher é na cozinha ou que homem não chora Nenhuma mulher nasce sendo mais meiga ou frágil assim como nenhum homem nasce sendo mais forte e menos emocional é a sociedade com seus valores comportamentos e regras que nos ensina ou nos impõe a ser dessa maneira Assim desde que nascemos meninas e meninos são ensinados a se comportar de uma determinada maneira a gostar de determinadas cores e coisas Se bonecas panelas bichinhos de pelúcia e vestidos rosas são oferecidos para as meninas aos meninos temos carrinhos bolas de futebol superheróis e camisetas azuis Como acabamos nos acostumando com isso muitas vezes não há qualquer questionamento do porquê ser assim já que podemos ver como algo natural normal verdadeiro universal Porém é só ver as coisas de outro modo para perceber que não é bem assim Se você olhar ao redor verá que há homens muito diferentes entre si uns mais emotivos do que outros mais fracos menos fracos mais românticos menos românticos assim como as mulheres também são muito diferentes nem todas são frágeis delicadas e carentes Não é a biologia pois que nos define mas os comportamentos que aprendemos ao longo de uma vida em sociedade É numa tentativa de compreender os comportamentos as regras sociais as maneiras de ser viver e pensar das pessoas que a Sociologia e a Antropologia se constituem como um modo de conhecimento científico que se propõe a desnaturalizar aquilo que se mostra como natural problematizar o que parece ser simples relativizar o que supostamente é tido como universal tornar conscientes realidades que antes não o eram Não ver os fenômenos sociais como algo natural biológico universal possibilita compreender suas transformações ao longo da história de uma sociedade a outra e propor soluções para os problemas sociais U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 14 Para refletir sobre como as relações de gênero são moldadas pela sociedade veja o vídeo realizado pela BBC que está disponível em httpswwwfacebookcombbcbrasilvideos10154850839847816 Acesso em 2 out 2017 A BBC fez a seguinte atividade pegou duas crianças pequenas uma menina e um menino e trocaram as roupas delas ou seja a menina se vestiu com as roupas do menino e o menino com as roupas da menina Em seguida pediu para quatro adultos voluntários que não estavam sabendo da troca de roupas brincar com as crianças oferecendo brinquedos a elas Quer saber como foram os resultados Veja o vídeo e reflita O vídeo também está disponível no endereço a seguir com um breve texto comentando a atividade proposta httpwwwbbccomportuguese geral40974995 Acesso em 16 out 2017 A vida em sociedade é dinâmica e está sempre se reinventando uma regra que vale aqui pode não valer em outro lugar o que é considerado verdadeiro e belo para um grupo pode não representar o mesmo para outro e o preconceito que existe hoje pode deixar de sêlo amanhã Se por exemplo antigamente as mulheres que se divorciavam eram vistas de maneira negativa hoje sabemos o quanto o divórcio se tornou uma prática comum Ao invés de julgar o estudo sociológico e antropológico busca ouvir as pessoas para compreender os motivos delas agirem e pensarem daquela maneira Assim ao invés de dizer que a greve de professores atrapalha ou que só tem vagabundo no movimento estudantil a Sociologia e a Antropologia investigam o porquê de tais movimentos e grupos existirem Diante dos dados de que os negros têm mais dificuldade para conseguir um emprego o conhecimento sociológico e antropológico vai tentar refletir sobre isso não a partir de afirmações preconceitos como o negro é inferior mas levando em conta por exemplo o processo histórico de escravidão o qual deixou sequelas que se fazem presentes ainda hoje Desconfiar de verdades prontas é ter uma visão crítica profunda reflexiva sobre o mundo complexo e plural em que vivemos E isso pode mudar a nossa maneira de ver ser pensar viver e conviver Pesquise mais U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 15 A sociedade moderna um novo mundo um novo pensar A sociologia surgiu na Europa do século XIX junto com o pleno desenvolvimento do mundo industrial em um momento de grandes transformações sociais que resultaram no advento do capitalismo e na chamada sociedade moderna Com as viagens de descobrimento os europeus entraram em contato com outros continentes e povos o que acabou por expandir as trocas comerciais e ter um acúmulo de riqueza extraordinário Tal crescimento econômico com a expansão da produção de mercadorias para outros lugares criou um contexto favorável à industrialização com a primeira Revolução Industrial urbanização com o crescimento das cidades e o surgimento da burguesia como nova classe dominante uma vez que o sistema feudal deu lugar ao modo capitalista de produção Além da forte expansão econômica o fim dos feudos medievais propiciou uma mudança política com o surgimento dos Estados Nacionais Além disso a Revolução Francesa em 1789 contribuiu consideravelmente para uma nova mentalidade social e política ao proclamar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão até então a França vivia sob o domínio de uma monarquia absolutista por meio dos princípios de liberdade igualdade e fraternidade Havia também na Europa uma efervescência cultural e intelectual O desenvolvimento das ciências e das artes com o Iluminismo promoveu uma crítica à religião lembrando que a Igreja Católica detinha até então um poder considerável sobre a produção e difusão do conhecimento valorizando a razão e a humanidade em oposição à fé e à divindade A concepção teológica do mundo vai sendo substituída pela visão filosófica e racionalista bem como pela concepção científica Além disso a Reforma Protestante também acabou por contestar o catolicismo como a verdade e a única forma de conhecimento da realidade Uma nova forma de pensar o mundo vinha à tona se antes tudo era explicado por Deus o que é conhecido como Teocentrismo tudo passa a ser explicado pelos próprios homens Antropocentrismo O indivíduo assim passa a ser o centro das explicações e ações Todas essas mudanças trouxeram uma nova forma de viver e pensar a sociedade Esse momento turbulento de grandes e U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 16 profundas transformações foi acompanhado de muitos problemas sociais como desemprego violência miséria formação do proletariado aumento de suicídios etc A necessidade de explicar esse novo mundo foi a centelha para que uma nova ciência surgisse Como explicar que mesmo com o crescimento econômico houvesse desigualdade desemprego suicídio Como explicar a existência de sociedades e culturas tão diferentes umas das outras Como explicar a influência da religião e da política em nosso modo de viver e pensar A Sociologia surge portanto como uma tentativa de responder a essas e tantas outras perguntas como um novo conhecimento para entender um novo mundo Surge com a sociedade moderna para ser um meio de refletir sobre ela Não se trata de uma visão ingênua uma visão que só vê avanços no mundo moderno mas uma visão crítica que também leva em conta os problemas sociais os conflitos e não apenas os aspectos positivos que a modernidade nos trouxe Quem inventou a palavra Sociologia socio social logia ciência foi o filósofo francês Auguste Comte 17981857 Os principais pensadores considerados os clássicos da Sociologia são Émile Durkheim Max Weber e Karl Marx Para aprofundar a discussão sobre o que é Sociologia leia o livro MARTINS Carlos B O que é Sociologia São Paulo Nova Cultural Brasiliense 1986 Coleção Primeiros Passos Com uma linguagem simples e acessível o livro aborda em apenas 3 capítulos o surgimento a formação e o desenvolvimento da Sociologia Para visualizar as transformações e conflitos da sociedade moderna assista ao filme Tempos modernos de Charlie Chaplin 1936 Trailer disponível em httpwwwcafecomfilmecombrfilmesos temposmodernos Acesso em 19 set 2017 Pesquise mais U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 17 Os primeiros sociólogos e a consolidação de uma nova ciência Como uma ciência que tinha acabado de nascer a Sociologia como qualquer outra ciência precisou passar por um processo de constituição e consolidação O francês Émile Durkheim 1858 1917 foi um dos primeiros a definir o que seria essa ciência da sociedade propondo questões e métodos Para se diferenciar das outras ciências que já estavam bem consolidadas na época como a Física a Química a Biologia Durkheim lançou a famosa prerrogativa de que a sociedade é sui generis ou seja a sociedade tem uma lógica própria que não se submete a nenhuma outra a sociedade não é uma simples somatória de indivíduos mas uma interação com uma especificidade que é anterior ou seja não depende dos indivíduos Assim como cada ciência tem o seu próprio objeto de estudo os fenômenos sociais também têm uma particularidade e devem ser estudados por uma ciência específica a Sociologia Em As regras do método sociológico Durkheim descreve como a nova ciência deve se desenvolver contribuindo assim para que a Sociologia se consolidasse enquanto um modo de conhecimento eficaz e legítimo Ele queria que a Sociologia fosse reconhecida assim como a Física e a Biologia por exemplo como uma ciência objetiva e racional Assim estabeleceu que o objeto de estudo dessa nova ciência são os fatos sociais ou seja os modos de agir pensar e viver das pessoas enquanto membros de uma sociedade Para ele os fatos sociais devem ser vistos como coisas isto é devem ser estudados de maneira científica com objetividade e racionalidade por meio de coleta e análise de dados deixando de lado opiniões e preconceitos Além disso os fatos sociais são exteriores ou seja não dependem dos indivíduos uma vez que eles já existiam antes mesmo de nascermos e continuarão a existir depois que morrermos gerais pois valem para todos os membros de um grupo e coercitivos porque são impostos a nós e nos conduzem a agir de determinada maneira além de sofrermos punições quando desobedecemos Assim se um aluno aparecer vestido de uma maneira que não está de acordo com as regras da escola ele sofrerá alguma punição Se for a um casamento com trajes de banho poderá ser alvo de chacota pelos convidados além de ser expulso da festa Se for a U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 18 um velório e ficar dando gargalhada você poderá receber olhares recriminatórios pelas demais pessoas As punições podem ser desde mais severas como sanções penais a mais brandas como risos e chacotas Além do modo de se vestir e de se comportar em determinados lugares e situações a religião as leis o sistema monetário e a língua são outros exemplos de fatos sociais Quer mais exemplos de fatos sociais com os quais nos deparamos em nosso dia a dia Émile Durkheim mostra alguns deles no trecho logo a seguir Exemplificando Quando desempenho minha tarefa de irmão de marido ou de cidadão quando executo os compromissos que assumi eu cumpro deveres que estão definidos fora de mim e de meus atos no direito e nos costumes Ainda que eles estejam de acordo com meus sentimentos próprios e que eu sinta interiormente a realidade deles esta não deixa de ser objetiva pois não fui eu que os fiz mas os recebi pela educação Aliás quantas vezes não nos ocorre ignorarmos o detalhe das obrigações que nos incumbem e precisarmos para conhecêlas consultar o Código e seus intérpretes autorizados Do mesmo modo as crenças e as práticas de sua vida religiosa o fiel as encontrou inteiramente prontas ao nascer se elas existiam antes dele é que existem fora dele O sistema de signos de que me sirvo para exprimir meu pensamento o sistema de moedas que emprego para pagar minhas dívidas os instrumentos de crédito que utilizo em minhas relações comerciais as práticas observadas em minha profissão etc funcionam independentemente do uso que faço deles Aliás podese confirmar por uma experiência característica essa definição do fato social basta observar a maneira como são educadas as crianças Quando se observam os fatos tais como são e tais como sempre foram salta aos olhos que toda educação consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver de sentir e de agir às quais ela não teria chegado espontaneamente Desde os primeiros U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 19 momentos de sua vida forçamolas a comer a beber a dormir em horários regulares forçamolas à limpeza à calma à obediência mais tarde forçamolas para que aprendam a levar em conta outrem a respeitar os costumes as conveniências forçamolas ao trabalho etc etc Se com o tempo essa coerção cessa de ser sentida é que pouco a pouco ela dá origem a hábitos a tendências internas que a tornam inútil mas que só a substituem pelo fato de derivarem dela A educação tem justamente por objeto produzir o ser social Essa pressão de todos os instantes que sofre a criança é a pressão mesma do meio social que tende a modelála à sua imagem e do qual os pais e os mestres não são senão os representantes e os intermediários DURKHEIM 1999 p 12 6 Outro sociólogo que contribuiu para a consolidação da Sociologia como modo de conhecimento científico foi o alemão Max Weber 18641920 Diferentemente de Durkheim Weber argumenta que a sociedade não tem uma explicação em si mesma não tem uma lógica própria não tem um sentido intrínseco A sociedade é um enigma e está sempre mudando de acordo com as escolhas e ações dos indivíduos A sociedade não está acima dos indivíduos mas ao contrário depende dos indivíduos porque são eles que dão um sentido a ela Se o principal conceito de Durkheim é o fato social para Weber é a ação social ou seja uma ação que tem um sentido e é voltada para outra pessoa Se duas pessoas se cruzarem na rua isso não constitui uma ação social Mas se elas ao se cruzarem interagirem de alguma forma conversarem brigarem ou até mesmo desviarem uma da outra isso é um exemplo de ação social já que cada uma agiu com um motivo tendo como referência o comportamento da outra pessoa Uma relação amorosa um jogo de futebol uma aula uma greve um ato religioso são outros exemplos de ações sociais Weber com isso valoriza mais a ação do indivíduo do que o funcionamento de regras sociais Para ele o indivíduo é consciente livre e autônomo na construção da sua vontade e é ele que cria o social por meio de seus valores e de suas ações U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 20 Weber propõe um método interpretativo e uma Sociologia compreensiva ou seja como a sociedade não tem um sentido próprio o dever do sociólogo é compreender o sentido da ação social interpretar a vida em sociedade que em si é desordenada conturbada O alemão Karl Marx 18181883 é outro sociólogo considerado fundador da Sociologia Para ele o indivíduo não é nem tão passivo como é para Durkheim ao enfatizar o funcionamento e a imposição das regras sociais nem tão ativo como é para Weber ao privilegiar as ações sociais se o homem faz a história se ele é capaz de mudar a sociedade ele o faz sob condições determinadas Marx não se contentou em explicar a sociedade ele também queria mudála Após estudar profundamente o capitalismo o que lhe deu sua obra mais famosa O capital Marx se tornou um crítico desse modo de produção ao mostrar a desvalorização do trabalhador e as condições precárias de trabalho em detrimento do lucro exorbitante do empregador Para Marx o objeto de estudo da Sociologia é a luta de classes entre operários e burgueses É o fortalecimento da luta de classes que desencadeia os conflitos e as mudanças sociais Assim como o enfrentamento entre os senhores feudais e os servos deu origem ao capitalismo e a uma nova classe dominante a burguesia Marx acreditava que a luta entre o proletariado e a burguesia levaria ao fim do capitalismo surgindo um novo modo de produção o socialismo e por fim o comunismo Para ele o modo de produção o que e como se produz como o feudalismo e o capitalismo e consequentemente a posição dos indivíduos na estrutura produtiva determina em última instância como os indivíduos se relacionam e quais são seus interesses Por isso acreditava que mudando o modo de produção mudaria a forma de viver e a visão de mundo das pessoas Assim com o fim do capitalismo surgiria outra maneira de viver e pensar e o trabalhador seria de fato livre em um sentido pleno uma vez que não mais estaria alienado e subordinado à exploração capitalista Durkheim Weber e Marx como vimos têm diferentes maneiras de pensar a vida social Qual está correta A Sociologia pode abarcar uma diversidade de pontos de vista e paradigmas por vezes antagônicos uma vez que cada um deles consegue dar conta de um aspecto da vida social mas não de todos já que a sociedade U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 21 é extremamente complexa plural e inesgotável Assim Durkheim pode ser mais interessante para a compreensão de como funcionam as regras sociais e elas se mantêm ao longo do tempo Já Weber e Marx podem contribuir para uma reflexão sobre os conflitos e as mudanças sociais enfatizando as ações dos indivíduos Nesse sentido todos estão corretos porque cada um olha para um ângulo da vida social e assim por mais diferentes que possam ser são modos de pensamento que contribuem para a reflexão e para o entendimento da sociedade Como vimos Émile Durkheim Max Weber e Karl Marx foram os primeiros sociólogos a pensar o que e como a Sociologia deveria estudar Cada um elaborou conceitos e métodos importantes que são relevantes ainda hoje para refletir sobre a vida social Se Durkheim enfatizou o funcionamento das regras ao longo do tempo Weber e Marx olharam mais para as mudanças e os conflitos sociais Para deixar mais claro o que cada um propôs como objeto de estudo da Sociologia vamos ler alguns trechos escritos por eles mesmos Boa leitura A Durkheim e os fatos sociais consistem em maneiras de agir de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo e que são dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele Por conseguinte eles não poderiam se confundir com os fenômenos orgânicos já que consistem em representações e em ações nem com os fenômenos psíquicos os quais só têm existência na consciência individual e através dela Esses fatos constituem portanto uma espécie nova e é a eles que deve ser dada e reservada a qualificação de sociais Eles são portanto o domínio próprio da sociologia DURKHEIM 1999 p 34 B Weber e a ação social Assimile U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 22 Nem toda espécie de contato entre os homens é de caráter social mas somente uma ação com sentido próprio dirigida para a ação de outros Um choque de dois ciclistas por exemplo é um simples evento como um fenômeno natural Haveria ação social na tentativa dos ciclistas se desviarem ou na briga ou considerações amistosas subsequentes ao choque WEBER 1977 p 139 C Marx e a luta de classe A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes Homem livre e escravo patrício e plebeu barão e servo mestre de corporação e companheiro numa palavra opressores e oprimidos em constante oposição têm vivido numa guerra ininterrupta ora franca ora disfarçada uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira ou pela destruição das duas classes em luta MARX 1999 p 7 Os homens fazem a sua própria história contudo não a fazem de livre e espontânea vontade pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob as quais ela é feita mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram A tradição de todas as gerações passadas é como um pesadelo que comprime o cérebro dos vivos MARX 2011 p 25 A descoberta de outras culturas e a Antropologia Com as viagens de descobrimento os europeus chegaram à América Ásia África e encontraram povos com estilos de vida e hábitos totalmente diferentes Esse choque cultural ou seja essa diferença considerável entre as culturas trouxe uma grande questão que permanece até hoje como lidar com o outro que é tão diferente de mim O que fazer com a diferença cultural U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 23 Sabemos que esses encontros tiveram consequências trágicas A incompreensão o espanto a incredulidade diante de costumes tão diferentes levou a saques roubos torturas genocídio morte de uma etnia como a morte dos índios pelos colonizadores aliás índio é uma palavra criada pelos europeus como uma tentativa de nomear esse outro tão diferente Se a Sociologia como vimos surge da necessidade de dar respostas aos problemas sociais da sociedade moderna a Antropologia nasce como uma reflexão sobre a diversidade cultural uma tentativa de entender a lógica do outro aprender o sistema de referências daquela sociedade Como compreender essa cultura que é tão diferente Como compreender por exemplo o ritual de antropofagia sem julgar como fizeram os colonizadores como algo absurdo monstruoso demoníaco selvagem mas ouvir o ponto de vista daqueles que o praticam Como ver a poligamia a nudez o canibalismo a magia o incesto o paganismo não como pecados mas como valores e hábitos de uma sociedade Como reconhecer que uma cultura por mais diferente que seja é tão legítima verdadeira e correta como a sua Encontrar respostas para estas questões não é uma tarefa fácil Se índios foram mortos torturados roubados convertidos ainda nos defrontamos constantemente com ações e movimentos intolerantes e não precisamos ir até a uma sociedade indígena para isso Em agosto de 2017 um protesto de extremadireita de pessoas que se autodenominavam nazistas ganhou as ruas de Charlottesville nos Estados Unidos com palavras de ordem contra negros homossexuais imigrantes e judeus Sou nazista sim o protesto da extremadireita dos EUA contra negros imigrantes gays e judeus Ricardo Senra BBC Brasil Disponível em httpwwwbbccom portugueseinternacional40910927 Acesso 28 set 2017 Apesar de não ser algo novo o movimento neonazista já existe faz tempo e já tinha feito outras marchas antes a manifestação causou espanto e preocupação no mundo pois além de indicar o crescimento desse discurso de ódio não foi prontamente repudiada pelo presidente Donald Trump o qual só se pronunciou alguns dias depois Para a antropóloga Ana Lucia Pastore da Universidade de São Paulo USP o protesto nos Estados Unidos e tantas outras situações de intolerância nos trazem uma questão muito importante e urgente como nós nos colocamos no espaço público em relação U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 24 às diferenças Qual é a posição que queremos assumir Quando a liberdade de expressão se torna um discurso de ódio e uma incitação ao crime ainda assim é liberdade Como indivíduo cada um de nós pode ter nossas opiniões sobre as diferenças raciais religiosas de orientação sexual mas como nos colocamos no espaço público como pessoas que vivem numa sociedade não depende apenas de cada um mas de um acordo em comum que saiba reconhecer a diversidade cultural Caso contrário a nossa própria sobrevivência está em jogo Antropóloga comenta os recentes episódios de intolerância em Charlottesville EUA Ana Lucia Pastore vídeo Disponível em httpgntglobocomprogramassaiajusta videos6084673htm Acesso em 19 set 2017 Ao tentarem compreender o ponto de vista dos outros estando eles na mesma sociedade ou em outra a Sociologia e a Antropologia são modos de conhecimentos fundamentais para criticar os preconceitos e respeitar as diferenças contribuindo para a criação de um mundo em comum mais justo igualitário e tolerante Leia atentamente o seguinte trecho É tão pouco habitual tratar os fatos sociais cientificamente que algumas das proposições contidas nesta obra correm o risco de surpreender o leitor Entretanto se existe uma ciência das sociedades cabe esperar que ela não consista em uma simples paráfrase dos preconceitos tradicionais mas nos mostre as coisas diferentemente de como as vê o vulgo pois o objeto de toda ciência é fazer descobertas e toda descoberta desconcerta mais ou menos as opiniões aceitas Ainda estamos por demais acostumados a resolver essas questões com base nas sugestões do senso comum para que possamos facilmente mantê lo a distância das discussões sociológicas Quando nos cremos livres dele ele nos impõe seus julgamentos sem que o percebamos Somente uma prática longa e especial é capaz de prevenir semelhantes lapsos Eis o que pedimos ao leitor para não perder de vista Que tenha sempre presente no espírito que suas maneiras de pensar mais costumeiras são antes contrárias do que favoráveis ao estudo científico dos fenômenos sociais e por conseguinte que se acautele contra suas primeiras impressões DURKHEIM 1999 p XI XII Reflita U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 25 Como vimos a Sociologia e a Antropologia buscam afastar os preconceitos as opiniões os achismos o chamado senso comum para fazer um estudo científico fundamentado na análise de dados Assim ao invés de julgar algo procuram investigar e compreender o porquê de aquilo ser de tal maneira Por exemplo se você for fazer um estudo socioantropológico sobre homossexuais e tiver uma opinião contrária o seu preconceito ou a sua opinião vai influenciar no resultado de seu estudo ao invés de compreender de maneira científica neutra crítica os motivos hábitos pensamentos maneiras de ser e agir daquele grupo ouvir o ponto de vista deles você vai acabar julgandoos como errado ou ruim e isso é contrário ao que propõe a pesquisa científica A Sociologia e a Antropologia não devem dizer se as coisas são boas ou ruins certas ou erradas ou como elas deveriam ser mas buscam compreender como as coisas são e porque são daquela maneira Assim o pesquisador precisa fazer um esforço para que suas opiniões não interfiram na pesquisa suspendê las temporariamente para poder compreender aquilo que está sendo pesquisado Se eu já for com uma opinião pronta se eu já acho algo sobre aquilo por que então fazer pesquisa Por outro lado somos seres humanos pessoas com opiniões julgamentos e preconceitos Todos nós estamos sujeitos a isso Não há problema em ter as nossas opiniões numa conversa de amigos numa mesa de bar numa reunião em família porém quando nos propomos a fazer uma pesquisa científica essas opiniões precisam ser deixadas de lado para que o resultado seja o mais neutro objetivo e verdadeiro possível Como porém fazer isso Como abrir mão de opiniões que nos acompanham há tanto tempo E será que existe neutralidade e objetividade quando se trata de pesquisar outros seres humanos que também têm suas opiniões e julgamentos Vamos retomar essas e outras questões na próxima seção Aguarde O medo do desconhecido pode ser tanto um convite ao aprendizado e deslumbramento quanto à intolerância e repulsa Ao se deparar com uma sociedade diferente com outros hábitos comportamentos valores referências somos acometidos pelo choque estranheza curiosidade Imagine você tendo que participar de um banquete de Sem medo de errar U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 26 cães e gatos Isso provocaria espanto e até mesmo horror repulsa nojo já que em nossa cultura tais animais são vistos como animais domésticos e se tornam companheiros em nossos lares O que é considerado doméstico porém não é um dado pronto mas muda conforme o contexto Se no Brasil a carne de vaca é consumida na Índia isso seria uma afronta já que lá a vaca é um animal sagrado até mesmo os carros param para ela passar Assim também acontece com muitos outros hábitos alimentares cada cultura tem uma definição do que é saboroso consumível repulsivo nojento Tratase de uma escolha cultural que envolve um dilema ético você pode decidir comer a carne de cachorro e gato como uma maneira de demonstrar respeito àquela cultura ainda que não concorde com aquilo construindo com isso uma convivência mais solidária com as pessoas ou até mesmo se sentir pressionado e constrangido a participar do banquete ou ainda você pode recusar a fazêlo o que poderá causar certo desconforto àqueles cujo hábito alimentar é normal podendo colocar em risco sua própria permanência no grupo Vemos assim que não são decisões fáceis e aqueles que se dispõem a fazer pesquisa em outras sociedades e culturas precisam lidar com elas constantemente É normal que em um primeiro momento a gente julgue aquilo que não conhecemos a partir de nossos preconceitos opiniões nossa visão de mundo O senso comum é uma primeira forma de conhecer o mundo em que vivemos e vamos formandoo ao longo de nossa convivência com os grupos nos quais participamos como família escola religião e sociedade Porém se quisermos compreender de fato aquilo que não conhecemos é preciso fazer um esforço para deixar os julgamentos e as opiniões de lado assumir que não sabemos nada sobre aquele grupo ou comportamento ainda que já tenhamos ouvido falar e por isso já temos alguma ideia ou noção É somente quando suspendemos as nossas prénoções que nos colocamos à disposição para ouvir o outro aprender com o seu ponto de vista conhecer a sua visão de mundo sem que a minha interfira ou sem achar que a minha é a correta respeitar a diferença é saber se colocar na situação do outro e compreender que a sua maneira de ser e pensar mesmo tão diferente da minha é tão correta e verdadeira quanto a de outros Se os sociólogos e antropólogos fizeram disso a sua profissão através de pesquisas científicas profundas sérias reflexivas fundamentadas U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 27 em dados e análises a longo prazo não é preciso ser um deles para levar essa postura ao nosso dia a dia assim como não é preciso viajar para uma sociedade distante e exótica para colocála em prática Ter um pensamento crítico desconfiar das verdades prontas ouvir o que o outro tem a dizer ainda que você pense de maneira diferente são os pilares para o amadurecimento tanto como indivíduo quanto como participante de um contexto maior de um mundo em comum que seja tolerante com as diferenças Sabemos o quanto isso não é uma tarefa fácil mas é necessária urgente para que tenhamos uma boa convivência social seja para discutir política e religião discordar dos pais assumir uma orientação sexual defender uma causa tomar uma posição diante de um assunto polêmico argumentar que você não concorda tudo isso pode e deve ser feito mas o como fazer mostra muito sobre quem nós queremos ser Afinal como você quer se colocar no mundo Que atitude você quer ter 1 A Sociologia surgiu na Europa no século XIX em um momento de grandes transformações sociais econômicas e políticas sendo considerada como filha da modernidade e ciência da sociedade Desemprego desigualdade suicídio pobreza eram alguns dos problemas sociais na época Sobre o surgimento da Sociologia assinale a alternativa correta a A Sociologia surgiu como um elogio à sociedade moderna b A Revolução Francesa não teve influência alguma no surgimento da Sociologia c A Reforma Protestante não teve influência alguma no surgimento da Sociologia d A Sociologia surgiu com o feudalismo e Industrialização e Iluminismo contribuíram para o surgimento da Sociologia 2 Leia atentamente o poema a seguir Nada é impossível de mudar Desconfiai do mais trivial na aparência singelo E examinai sobretudo o que parece habitual Suplicamos expressamente Faça valer a pena U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 28 não aceiteis o que é de hábito como coisa natural pois em tempo de desordem sangrenta de confusão organizada de arbitrariedade consciente de humanidade desumanizada nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar Bertolt Brecht poeta alemão Disponível em httpwwwavozdapoesiacom brobraslerphpobraid2176poetaid233 Acesso em 4 out 2017 Como o poema descrito anteriormente se relaciona com o modo de conhecimento da Sociologia e da Antropologia Assinale a alternativa correta a A negação da biologia como ciência b A incitação à revolta e desobediência das leis c A desconfiança em relação ao que dizem ser natural d A valorização dos hábitos como algo inquestionável e A valorização da desordem e confusão 3 Émile Durkheim Max Weber e Karl Marx foram os primeiros sociólogos a contribuir para que a Sociologia fosse reconhecida como um novo modo de conhecimento Com visões diferentes da vida social cada um deles vai propor um objeto de estudo e método para a ciência da sociedade Considerando os conceitos e as teses propostos por cada um dos três autores assinale a alternativa correta a Para Durkheim a sociedade é uma somatória de indivíduos b Para Marx a sociedade é contraditória e caracterizada por conflitos sociais c Weber acredita que o indivíduo é passivo ou seja não tem ação sobre a sociedade d Durkheim valoriza as mudanças sociais diferentemente de Weber quem enfatiza o funcionamento das regras e Marx estudou o capitalismo por considerálo o modo de produção mais eficiente e justo socialmente U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 29 Alguns conceitos e métodos sociológicos e antropológicos No começo desta unidade soubemos de três sociedades da Nova Guiné com estilos de vida diferentes os pacíficos dóceis e suscetíveis Arapesh os guerreiros violentos e agressivos Mundugumor e os Tchambuli entre os quais os homens são carentes frágeis e vaidosos responsáveis pelos ornamentos cuidados com as crianças e atividades domésticas já as mulheres são dominantes práticas e trabalham arduamente Inicialmente propusemos que você escolhesse uma dessas sociedades para viver durante um período Agora imaginemos a seguinte situação após um tempo de convivência ainda sem poder compreender o estilo de vida da nova sociedade em que está vivendo você decide que está mais do que na hora de conhecer aquelas pessoas Resolve assim fazer uma investigação séria profunda um estudo científico ou seja fundamentado em dados análises de resultados sem a interferência de opiniões achismos e preconceitos Para isso você teria que elaborar um roteiro de perguntas que gostaria de fazer às pessoas Quais seriam essas perguntas Como abordálas Tente imaginar como seriam suas ações postura e linguagem como pesquisador Além das perguntas o que mais você poderia fazer para estudar aquela sociedade Como desenvolver a pesquisa Como colocar em prática e responder as suas questões e expectativas como pesquisador Quais são os resultados e os desafios que você espera encontrar Como vimos o senso comum ou seja o conhecimento que adquirimos ao longo de nossa vivência em sociedade baseado em opiniões e julgamentos que vamos formando a partir de nossa história de vida é uma das formas normalmente a primeira de lidar com o desconhecido com aquilo que não compreendemos O problema é que esse tipo de conhecimento pode trazer afirmações falsas preconceitos ou explicações simplistas para situações que normalmente são bem mais profundas e complexas Como é Seção 12 Diálogo aberto U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 30 um conhecimento muito pessoal ele não pode ser generalizado Por exemplo se você participa de uma determinada religião provavelmente você a considera como a mais verdadeira e correta em relação às outras mas apesar de fazer sentido para a sua vida tal sensação pode não ser a mesma para outras pessoas É assim uma verdade para você mas não é a verdade já que nem todo mundo vai pensar e sentir isso da mesma maneira pois pode ter outra religião ou mesmo não ter religião alguma Da mesma forma se você nasceu e conviveu em um grupo que considera que as mulheres são mais frágeis e vulneráveis do que os homens talvez você ache que isso sempre foi assim e que seja em qualquer lugar A Sociologia e a Antropologia porém vão desconfiar do senso comum afastandose de opiniões julgamentos e preconceitos para se aproximarem de um estudo científico do mundo em que vivemos Mas o que significa conhecer algo cientificamente Como fazer isso se a sociedade diferentemente de uma equação matemática não é algo exato não tem uma única resposta possível mas por ser tão complexa e plural permite diferentes possibilidades de reflexão e interpretação Nesta seção vamos conhecer alguns métodos que sociólogos e antropólogos desenvolveram para conhecer os fenômenos sociais sejam aqueles inseridos na própria sociedade ou em sociedades distantes Quais são os desafios de se fazer uma ciência da sociedade Quais são as novas perspectivas em um mundo que está sempre se transformando Vamos conhecer algumas reflexões sobre as relações de gênero feitas por sociólogos e antropólogos exemplificando na prática como estudar uma situação social de maneira científica Se em nossa sociedade homens e mulheres são pensados de determinada maneira como ter uma visão crítica sobre essa forma de pensar mostrando que ela não é a única possível Imagine que você esteja entrando no ritual de iniciação de um cientista social Como pensar o mundo de maneira sociológica e antropológica Quais são os alcances e limites desse modo de conhecimento Avançando nessa viagem da busca pelo desconhecido você vai descobrir novas realidades e maneiras de interpretálas e aprender que o mundo em que vivemos é muito mais complexo plural misterioso e instigante do que imaginamos U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 31 O conhecimento científico nas ciências sociais métodos e questões Como vimos a sociologia nasce como uma reflexão sobre a sociedade moderna os sociólogos começaram estudando situações e fenômenos presentes na própria sociedade Já a antropologia surgiu com a descoberta de outros povos através das viagens de descobrimento e assim como uma tentativa de compreender sociedades e culturas distantes consideradas exóticas ou seja diferentes daquelas em que os antropólogos estavam inseridos Compreender a própria sociedade e compreender outra sociedade tem implicações e métodos diferentes para a pesquisa nas ciências sociais Se a primeira situação requer o processo de transformar o familiar em exótico na segunda tratase de transformar o exótico no familiar nas palavras do antropólogo brasileiro Roberto DaMatta 1978 do qual falaremos mais na próxima seção Fazer um estudo científico sobre a própria sociedade requer que o pesquisador desconfie do senso comum e de afirmações e situações que foram tidas como verdades até então Inserido naquela sociedade com a qual já tem uma convivência participando dos costumes e modos de ser o pesquisador precisa se esforçar para ver tudo aquilo que já é familiar com outros olhos numa tentativa de pensar no porquê de ser daquela maneira e não de outra É preciso assim transformar o familiar em exótico ou seja suspender todo o conhecimento que você tem sobre aquilo que se quer estudar para se colocar numa posição de quem quer conhecer compreender aprender como se não soubesse nada daquilo Tratase de um processo de desligamento emocional do pesquisador com o objeto a ser estudado ou seja uma tentativa de se distanciar para tomar aspectos de nossa vida social considerados como normais e naturais e provocar um estranhamento diante deles para compreender suas razões de ser agir e pensar Se por exemplo você quiser estudar sua própria religião é preciso deixar de lado suas opiniões e crenças como fiel para se posicionar como pesquisador e ter uma visão científica crítica sobre o que significam aquelas crenças e ações o porquê das pessoas pensarem e agirem daquele modo Não pode faltar U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 32 Quando porém você quer olhar e compreender cientificamente outra sociedade diferente daquela na qual você está inserido o movimento é inverso O esforço do pesquisador é aqui no sentido de se aproximar daquilo que à primeira vista é tão diferente e estranho numa tentativa de transformar o exótico em familiar ou seja compreender a lógica daquela sociedade apreender o ponto de vista das pessoas que ali vivem Ao fazer isso você vai perceber que o exótico não é tão estranho assim apesar de diferente aquela sociedade também tem uma lógica um sistema de referências tão coerente e verdadeiro quanto qualquer outro É desse modo que o pesquisador consegue se distanciar dos preconceitos e julgamentos ao invés de dizer que os índios são preguiçosos porque não trabalham ou que os Tchambuli são doidos porque deixam as mulheres dominarem os homens compreender que se trata de estilos de vida diferentes com regras e significados próprios Estudar a própria sociedade e estudar outra sociedade requer métodos e estratégias de pesquisa A Sociologia e a Antropologia fazem uso tanto dos métodos qualitativos quanto quantitativos como dados estatísticos tabelas censos softwares de análise e cruzamento de dados Porém o que de fato as tornam ciências especiais ou seja ciências denominadas humanas ou sociais é porque além de ter um objeto de estudo específico os aspectos sociais e culturais de um grupo ou fenômeno elas têm um olhar próprio uma perspectiva fundamentada em uma análise crítica profunda e reflexiva na qual estudos com diferentes ângulos ou pontos de vista acabam muitas vezes por se complementar Algumas pesquisas se baseiam principalmente na observação e no acompanhamento de pessoas e grupos sociais por longos períodos de tempo o chamado método qualitativo O antropólogo polaco Bronislaw Malinowski 18841942 foi o primeiro a descrever esse método como pesquisa de campo isto é a convivência prolongada com as pessoas a serem estudadas por meio da observação participante a participação nos aspectos da vida social daquele grupo Assim por exemplo se você quer entender porque os Tchambuli são daquele jeito você deve viver como eles por um determinado período participar das situações do dia a dia fazer as refeições junto com eles acompanhar homens e mulheres em seus afazeres diários observar a rotina de trabalho perceber como são as relações familiares como eles se dirigem uns aos outros ficar atento aos U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 33 gestos e comportamentos conversar com eles Após esse longo período de convivência com o grupo social a ser estudado o cientista social faz uma análise do material coletado e escreve sobre isso O antropólogo estadunidense Clifford Geertz 19262006 chama esse método de apresentação e interpretação dos dados sociológicos e antropológicos de descrição densa ou seja uma descrição detalhada e profunda dos aspectos e fenômenos sociais observados ao longo da pesquisa de campo Para ele fazer pesquisa em ciências sociais é como tentar ler um manuscrito estranho cheio de incoerências e buscar o seu significado a sua lógica a sua coerência GEERTZ 1989 Se em um primeiro momento muito do que estiver sendo visto soará como algo estranho e incompreensível com o tempo de convivência as coisas vão se tornando mais familiares e inteligíveis Isso exige que se crie uma relação de confiança entre pesquisador e pesquisado tanto um quanto outro devem permitir que a convivência seja a melhor possível o que não significa porém que não haja conflitos e desafios Para aprofundar o seu entendimento sobre a observação participante leia o artigo OLIVEIRA Roberto Cardoso de O trabalho do antropólogo olhar ouvir escrever Revista de Antropologia São Paulo USP v 39 n 1 p 1337 1996 Desafios e perspectivas a relação entre pesquisador e pesquisado A sociologia e a antropologia são ciências sociais e humanas o que implica numa relação entre pessoas Isso traz um desafio à pesquisa já que o objeto de estudo não sendo um número uma planta ou um animal é ativo fala opina pensa sente e interage Tratase assim de uma ciência especial singular em que a relação que se estabelece entre pesquisador e pesquisado é fundamental para o desenvolvimento e as conclusões da pesquisa Pesquise mais U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 34 Se como vimos um estudo científico é aquele em que deixamos de lado preconceitos e julgamentos para ter uma visão crítica profunda e reflexiva isso não é tão fácil quando se trata de um estudo intersubjetivo ou seja no qual envolve uma relação entre pessoas Se a objetividade e neutralidade são princípios buscados pelo cientista essa busca encontra dificuldades quando estudamos seres humanos uma vez que somos fundamentalmente subjetivos movidos por paixões interesses e expectativas Dessa forma é impossível suspender totalmente nossos juízos e sentimentos em nome de uma objetividade completa mas isso não significa que o pesquisador não deva fazer um esforço nesse sentido para que eles interfiram o menos possível nos resultados da pesquisa Para o antropólogo Geertz nunca me impressionei com o argumento de que como é impossível uma objetividade completa nesses assuntos o que de fato ocorre é melhor permitir que os sentimentos levem a melhor Conforme observou Robert Solow isso é o mesmo que dizer que como é impossível um ambiente perfeitamente asséptico é válido fazer uma cirurgia num esgoto GEERTZ 1989 p 21 Se o pesquisador observa aqueles a serem estudados ele também é observado por eles Nesse sentido é difícil manter uma posição distanciada e neutra quando se trata de conviver com as pessoas participar do dia a dia delas conversar observar perceber gestos e comportamentos A pesquisa de campo implica em envolvimento interação e com isso a barreira entre observador e observado pesquisador e pesquisado tende a se diluir Se o termo objeto é muitas vezes usado para designar aquilo que se estuda cientificamente aqui nas ciências sociais ele se mostra insuficiente pois estamos lidando com pessoas ao invés de coisas inertes e passivas Tratase assim muito mais de sujeito do que de objeto No surgimento da sociologia e antropologia e por um bom tempo foi importante tomar aquilo que se estudava como objeto para que os ideiais de neutralidade e objetividade fossem alcançados e com isso elas fossem consolidadas e reconhecidas como modos de conhecimento científico Assim a relação entre pesquisador e pesquisado era pautada pela assimetria de poder era o primeiro quem U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 35 detinha a palavra e a autoridade para falar em nome do segundo Porém cada vez mais sociólogos e antropólogos questionam a própria posição e autoridade como portavoz e detentor da verdade como se essa fosse única e absoluta do povo estudado se de fato eles têm conhecimento sobre o assunto eles vêm reconhecendo que se trata de um conhecimento parcial e não total ou seja em se tratando de pessoas e sociedades não é possível conhecer tudo mas fragmentos aspectos da vida social assim como a objetividade e a neutralidade completas não existem Isso levou e vem levando a uma mudança de atitude e reflexão sobre o próprio ato de conhecer ao invés de ver o outro como objeto passivo percebêlo como sujeito capaz de falar por si próprio até mesmo discordar e se posicionar em relação a algo que foi dito pelo pesquisador contribuindo com isso de maneira ativa com a pesquisa por meio de uma relação mais simétrica e dialógica Nesse sentido não se trata de um mero objeto de estudo mas de um sujeito também capaz de produzir conhecimento Sociologia e Antropologia são sim ciências mas de um tipo muito especial ser ciência aqui não significa ser uma verdade única universal e absoluta mas uma interpretação verdadeira porque é baseada em dados e análises que não esgota toda a complexidade e pluralidade da vida social Reconhecer os alcances e limites da própria pesquisa através da autocrítica ao invés de enfraquecer os resultados do estudo acaba por tornálos ainda mais potentes uma vez que abre para outras possibilidades de ver pensar e conhecer aqueles aspectos e fenômenos sociais deixando assim a compreensão ainda mais profunda e instigante Os desafios da relação entre pesquisador e pesquisado se tornam ainda mais interessantes quando o que era antes considerado objeto de estudo ou um mero informante aquele que passa informações ao pesquisador se torna autor do próprio conhecimento Recentemente temos visto surgir importantes lideranças indígenas que não se conformam mais com a posição que pesquisadores assumiram posição de autores e produtores É o caso entre outros de Davi Kopenawa um xamã yanomami grupo indígena que vive na Amazônia que tem ganhado notoriedade no Brasil e no mundo como portavoz de seu povo e outros índios ao criticar a exploração capitalista do mundo dos brancos e a destruição das florestas mostrando que é possível viver de outras U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 36 Exemplificando formas além de reivindicar a garantia de direitos indígenas como a demarcação de terras Em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert que estuda os Yanomami há quarenta anos Davi Kopenawa escreveu o belíssimo livro A queda do céu palavras de um xamã yanomami publicado em 2010 na França e em 2015 no Brasil O livro com mais de 700 páginas é um importante relato do modo de vida yanomami como ele se tornou xamã líder espiritual as crenças e os rituais dos espíritos da floresta Ele também conta como foram os primeiros contatos com os brancos a sucessão de epidemias e destruição que se sucederam desde então e como ele se tornou um portavoz em defesa do modo de vida e visão de mundo indígenas e da proteção das florestas Se antes tínhamos apenas relatos de viajantes sobre como foi o encontro com os índios os quais muitas vezes mostraramse perplexos com costumes tão diferentes agora temos cada vez mais relatos de índios contando a sua versão desse encontro os quais também se mostraram atônitos e espantados com o modo de ser agir e pensar dos brancos não índios Conhecer o ponto de vista dos índios por eles próprios é muito importante para de fato vêlos como sujeitos capazes de produzir conhecimento e ter voz ativa reconhecendo a legitimidade de sua visão de mundo através de uma relação mais igualitária e respeitosa Isso tem levado os antropólogos a repensarem o modo de fazer pesquisa já que cada vez se torna mais difícil manter uma posição de autoridade e uma relação desigual com os grupos indígenas estudados O movimento cada vez mais frequente de índios que assumem uma posição de autores do próprio conhecimento e cultura tem sido chamado de antropologia reversa ou antropologia simétrica Davi Kopenawa tem sido um grande nome nesse sentido Para conhecer melhor o teor e a importância desses relatos vejamos algumas das palavras desse importante líder em A queda do céu palavras de um xamã yanomani Os xamãs yanomami não trabalham por dinheiro como os médicos dos brancos Trabalham unicamente para o U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 37 céu ficar no lugar para podermos caçar plantar nossas roças e viver com saúde Nossos maiores não conheciam o dinheiro O dinheiro não nos protege não enche o estômago não faz nossa alegria Para os brancos é diferente Eles não sabem sonhar com os espíritos como nós Preferem não saber que o trabalho dos xamãs é proteger a terra tanto para nós e nossos filhos como para eles e os seus KOPENAWA 2015 p 216217 não maltratamos a floresta como fazem os brancos Sabemos bem que sem árvores nada mais crescerá em sua terra endurecida e ardente Comeremos o quê então Quem irá nos alimentar se não tivermos mais roças nem caça Certamente não os brancos tão avarentos que vão nos deixar morrer de fome Devemos defender nossa floresta para podermos comer mandioca e bananas quando temos a barriga vazia para podermos moquear macacos e antas quando temos fome de carne Devemos também proteger seus rios para podermos beber e pescar Caso contrário vão nos restar apenas córregos de água lamacenta coberto de peixes mortos Antigamente não éramos obrigados a falar da floresta com raiva pois não conhecíamos todos esses brancos comedores de terra e de árvores Nossos pensamentos eram calmos Não falo da floresta sem saber Contemplei a imagem da fertilidade de suas árvores e a da gordura de seus animais de caça Escuto a voz dos espíritos abelha que vivem em suas flores e a dos seres do vento que mandam para longe as fumaças de epidemia Faço dançar os espíritos dos animais e dos peixes Faço descer a imagem dos rios e da terra Defendo a floresta porque a conheço KOPENAWA 2015 p 391 Acho que vocês deveriam sonhar a terra pois ela tem coração e respira KOPENAWA 2015 p 468 É importante dizer para melhor compreensão dos trechos citados anteriormente que os índios Yanomami assim como outros grupos indígenas acreditam que todos os seres são dotados de espírito Assim os animais as plantas e os fenômenos naturais como tempestades raios trovões detêm poder e intencionalidade influenciando assim a vida social Os xamãs como líderes espirituais são capazes através de rituais específicos de ouvir e conversar com esses espíritos passando para o restante do grupo suas profecias aprendizados e orientações de como agir em situações de desordem como doença morte guerra e destruição U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 38 Para conhecer mais sobre Davi Kopenawa importante líder indígena no Brasil e no mundo acesse o link a seguir Davi Kopenawa Yanomami um livro Disponível em httpswww youtubecomwatchv4gWPamU0aXw Acesso em 12 set 2017 O conceito de gênero um panorama Como estamos vendo a sociologia e a antropologia como conhecimentos científicos buscam desnaturalizar situações e afirmações tidas como naturais por certo grupo social ou cultural Assim quando Margaret Mead fez seu estudo nas sociedades de Nova Guiné apresentadas no início desta unidade ela mostrou como as relações entre homens e mulheres mudavam de uma cultura para outra argumentando assim que tais relações longe de serem resultados de uma suposta biologia ou natureza são estabelecidas por meio de comportamentos aprendidos ao longo da vivência em um grupo social Gênero foi um conceito criado por pesquisadoras feministas para se referir ao caráter cultural das distinções entre homens e mulheres bem como as ideias de feminilidade e masculinidade Também serviu como um instrumento analítico e político para denunciar a desigualdade presente nessas relações frequentemente pesando de maneira negativa para as mulheres Por mais que as mulheres de hoje não sejam iguais às de antigamente e tenham conquistado muitos direitos há muito o que caminhar em alguns lugares No Brasil ainda hoje mulheres recebem um salário menor para exercer a mesma função do que o homem além de serem vítimas de violência e crimes como lesão corporal assédio estupro e homicídio pelo simples fato de serem mulheres A mídia através de anúncios publicitários também reforça a imagem da mulher como mãe e dona de casa associada aos afazeres domésticos Os estudos sobre gênero vêm assim como uma maneira de problematizar questionar pensar o porquê de tais estereótipos mostrando como eles não são naturais e biológicos se assim fossem seriam iguais em toda parte do mundo mas são culturais Pesquise mais U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 39 e portanto podem ser transformados ao longo do tempo e da situação tendo influência de religião história de vida classe social e cultura As relações de gênero ultrapassam as relações entre homens e mulheres para se referir aos modos como masculino e feminino masculinidade e feminilidade são definidos e quais as suas implicações para as posições que as pessoas assumem na vida social A categoria gênero assim transcende as categorias homem e mulher uma vez que abarca duas outras mais gerais masculino e feminino As categorias mulher ou homem recobrem um campo de referências mais restrito que as categorias masculino e feminino e as primeiras poderiam ser consideradas como partes das segundas KOFES 1993 p 2829 Não há portanto uma única masculinidade assim como não há uma única feminilidade justamente pelo fato de não estarem restritas respectivamente a homens e mulheres e enquanto categorias serem arbitrárias contingentes e históricas Um objeto uma cor uma vestimenta um artefato qualquer pode ser considerado feminino ou masculino Em algumas sociedades indígenas o tear é visto como uma atividade feminina em outras como masculina o que indica que não há nada naturalmente feminino e masculino O antropólogo estadunidense Marshall Sahlins mostra como as vestimentas a cor a textura dos tecidos e a direção das linhas são marcadas por relações de gênero Desse modo a seda é feminina em contraposição à masculinidade da lã tons pastéis são femininos cores escuras masculinas a linha levemente curvada ondulante é frouxa flexível preguiçosa passiva gentil macia voluptuosa e feminina já a linha reta sugere rigidez precisão e é considerada positiva direta tensa rija inflexível dura rude e masculina SAHLINS 1979 Até mesmo a diferença sexual tida como supostamente natural e biológica é parte da cultura ter um pênis ou uma vagina ganha significados diversos de acordo com o grupo social O órgão sexual em si não quer dizer nada sobre a pessoa não diz sobre o seu caráter nem mesmo sobre a orientação sexual e identidade de gênero Ter um pênis não necessariamente faz você gostar de mulher eou se sentir como homem assim como ter uma vagina não significa gostar de homem eou se sentir mulher O historiador Thomas Laqueur no U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 40 livro Inventando o sexo mostra como as visões sobre o sexo foram sendo construídas ao longo da história e das culturas Segundo ele anteriormente as pessoas não se viam como tendo dois sexos distintos mas apenas um único e mesmo sexo com a diferença de que nas mulheres ele era interno e nos homens externo A visão de que há dois sexos diferentes um masculino e outro feminino nem sempre existiu mas foi uma construção social e histórica Você já deve ter ouvido falar de pessoas que se dizem transgêneros ou seja pessoas que não se reconhecem no órgão sexual com o qual nasceram tem um pênis mas se sente e se comporta como mulher tem uma vagina e se considera como homem Esse sentimento de não se reconhecer no sexo de nascença é tão forte que em algumas vezes a criança tenta se automutilar ao não ver aquele órgão como parte dela por não estar de acordo com o que ela sente pensa vive Além dos transgêneros travestis pessoas com órgão masculino e trajes comportamentos adornos femininos e também pessoas com órgão feminino e trajes masculinos e hermafroditas pessoas com a presença dos dois órgãos sexuais nos mostram o quanto a sexualidade e as relações de gênero são complexas plurais e envolvem um constante processo de descoberta e aprendizagem Essas pessoas questionam a imposição social de ter que assumir um gênero mostrando que há diferentes maneiras de ser homem e mulher bem como a possibilidade de ser uma composição entre essas duas dimensões ou ainda estar além disso Como não se deixam classificar de maneira linear como apenas homens ou mulheres ao embaralhar masculinidades e feminilidades desestabilizando definições prontas e supostamente naturais essas pessoas são muitas vezes incompreendidas e alvo de preconceitos Desvendar e denunciar as posições de poder e desigualdade marcadas pelas relações de gênero e sexualidade bem como pensar em novas possibilidades de articular tais relações na construção de uma vida mais igualitária são objetivos importantes dos estudos sociológicos e antropológicos sobre o tema Nas palavras do antropólogo brasileiro Júlio de Assis Simões A sexualidade humana é uma produção histórica e cultural aberta à mudança à variação ao inesperado portanto Nesse terreno o grande desafio também está em combinar a celebração das diferenças com a redução do sofrimento e da desigualdade SIMÕES 2009 p 190 U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 41 Gênero é um conceito criado por pesquisadoras feministas para se referir às diferenças entre feminino e masculino como sendo categorias culturais ou seja construídas e transformadas ao longo da história e dos grupos sociais Na famosa frase da filósofa francesa Ninguém nasce mulher tornase mulher Nenhum destino biológico psíquico econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade é o conjunto da civilização que elabora esse produto BEAUVOIR 1980 p 9 Ao mostrar como essas categorias mudam de acordo com as sociedades e as culturas a sociologia e a antropologia acabam por desnaturalizálas já que não sendo universais nem naturais dependem dos contextos nos quais estão inseridas Relações de gênero marcam posições de poder não só entre homens e mulheres mas também no que diz respeito a atividades artefatos objetos sexualidades profissões visto que também são classificados como feminino ou masculino como vimos a seda vista como feminina em relação à lã masculina o tear que pode ser feminino em algumas sociedades e masculino em outras e também algumas profissões como enfermagem caminhoneiro babá que podem dependendo do grupo social serem vistas como mais femininas ou mais masculinas Nesse sentido gênero é tanto um instrumento analítico de reflexão e pensamento crítico quanto político ao denunciar a desigualdade presente em algumas das relações pautadas pela relação entre feminilidades e masculinidades Tratase assim tanto de uma maneira de compreender tais relações a partir de uma visão crítica e profunda do porquê delas serem daquela maneira quanto de pensar e propor formas mais justas e igualitárias de convívio social Assimile Leia atentamente o trecho seguinte do filósofo Paulo Ghiraldelli Jr Obter a simpatia das pessoas em relação às leis que protegem minorias depende não raro da quebra da crosta conservadora de uma sociedade Essa crosta não é mágica ela é o que se forma pelo que é dito e por prática de pessoas conservadoras Entre estas há as que se indispõem em relação às minorias única e exclusivamente por não terem refletido de um modo Reflita U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 42 sério sobre o assunto As minorias querem poder viver segundo algumas práticas diferentes das da maioria ou simplesmente querem viver segundo a maioria e precisam de ajuda para isso Essas práticas novas ou os direitos novos em nada atrapalharão a maioria Todavia há o conservador bemintencionado aquele que muitas vezes por desconhecimento do assunto acredita que as minorias possuem práticas que o prejudicam em algum plano de sua vida Mas o que é uma minoria As minorias não são minorias pela questão quantitativa mas por razões que têm a ver com as práticas e as necessidades ou os desejos de seus integrantes como também porque possuem uma representação social eou política menos hegemônica Dentro desse quadro as minorias mais conhecidas são as mulheres os negros ou se quisermos os afrodescentes os gays ou o espectro que acolhe todos os homoafetivos os deficientes ou os portadores de necessidades especiais e os indígenas ou povos originários Nesse caso todo cuidado é pouco Usei a expressão representação social eou política menos hegemônica para deixar claro por exemplo que as mulheres no Brasil podem ser maioria em número ou até mesmo ter suas melhores representantes em importantes cargos de comando político e isso ainda não faz com que as mulheres não sejam uma minoria O que vale é a hegemonia da representatividade ou seja o que impera na sociedade que usos e costumes são de todos nós que não permitem ou dificultam que a mulher se coloque no mesmo plano que o homem na conquista de bens cultura empregos escolha amorosa posições descanso defesa respeito etc GHIRALDELLI 2013 sp O problema das minorias é complexo e polêmico Você já deve ter ouvido ou até mesmo compartilhe da mesma opinião de pessoas que reclamam da existência de cotas raciais por exemplo por considerálas injustas uma vez que todos devem ser vistos como iguais perante as leis e oportunidades afinal vivemos em uma democracia Porém será mesmo que todos são iguais em termos de oportunidades e diante das leis Será que vivemos realmente numa democracia em que as condições de vida são as mesmas para todas as pessoas Como U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 43 explicar a desigualdade os preconceitos a violência que alguns grupos sociais as chamadas minorias como vimos sofrem Quais são os alcances e limites de nossa democracia Como seria viver em um sistema democrático realmente pleno e eficaz Que obstáculos e problemas ainda precisam ser superados Sobre relações de gênero e sexualidade Não gosto dos meninos Depoimentos muito interessantes de histórias de vida e visões de mundo de pessoas homossexuais como descobriram a sexualidade os desafios que enfrentam como pensam a vida o que sentem e conselhos para uma boa convivência em sociedade Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvyjFFbgo9Gi4 Acesso em 12 set 2017 Laertese Documentário sobre a vida do cartunista e artista Laerte Coutinho que com quase 60 anos assumiuse como transgênero passando a se vestir e a se comportar como mulher ser enfim mulher Laerte faz uma reflexão interessantíssima sobre a imposição social dos papéis de gênero e sexualidade e assume que não quer se encaixar em nenhum desses padrões e definições sendo livre para ser o que quiser Trailer disponível em httpswwwyoutubecom watchvXruSkaEMPog Acesso em 12 set 2017 Tabu Brasil Série da National Geographic que traz relatos e histórias de vida de homossexuais e transgêneros ou transexuais Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvfCDeJaGCcs0 Acesso em 12 set 2017 A chegada em outra sociedade ou cultura provoca estranhamento e curiosidade Como vimos ao longo desta seção ter uma visão sociológica ou antropológica sobre um determinado grupo ou fenômeno social significa desenvolver uma reflexão apurada séria e Pesquise mais Sem medo de errar U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 44 profunda fundamentada em um estudo científico e possivelmente em uma pesquisa por meio da convivência observação e participação no dia a dia das pessoas Para de fato entender aquele estilo de vida tão diferente é preciso assumir uma posição de pesquisador em um esforço tanto quanto possível de se afastar de julgamentos morais achismos e preconceitos Vimos que isso não é fácil já que somos pessoas movidas por opiniões interesses paixões Nas ciências humanas ou sociais como são a sociologia e a antropologia a dificuldade é ainda maior já que somos pessoas estudando outras pessoas que também têm seus pontos de vista É preciso assim treinar o olhar para perceber sutilezas gestos comportamentos aguçar o ouvido e o pensamento ter sensibilidade para elaborar uma compreensão que seja a mais verdadeira e respeitosa possíveis Conviver com as pessoas participar das atividades do dia a dia ouvir o que elas têm a dizer buscar compreender os motivos e significados de suas maneiras de agir pensar sentir vestirse alimentarse relacionarse uns com os outros são estratégias importantes para o desenvolvimento de uma pesquisa sociológica e antropológica Cada vez mais a posição e a autoridade do pesquisador têm sido questionadas quando elas se fundamentam em uma relação assimétrica com os sujeitos e não mais objeto de estudo Estar realmente disposto a ouvir fazer participar e aprender com as pessoas é imprescindível para a realização de uma boa pesquisa sociológica e antropológica Quando fazemos isso e compreendemos a visão de mundo de pessoas tão diferentes de nós percebemos que afinal não somos tão diferentes que aquela sociedade também tem a sua coerência a sua lógica os seus motivos para ser daquele jeito e que o convívio portanto não só é possível como necessário se quisermos um mundo mais tolerante 1 Assim como toda ciência tem sua especificidade a sociologia e a antropologia também têm métodos questões e desafios próprios que as fazem ser chamadas de ciências sociais ou ciências humanas Sobre a particularidade da sociologia e antropologia como ciência é correto afirmar que Faça valer a pena U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 45 a Sociologia e antropologia não usam métodos quantitativos b A pesquisa de campo feita na sociologia e antropologia é um método ineficaz para o desenvolvimento destas ciências c Não há qualquer neutralidade e objetividade em sociologia e antropologia d Sociologia e antropologia buscam uma verdade universal e Sociologia e antropologia são conhecimentos parciais 2 Em A queda do céu palavras de um xamã yanomami o líder indígena Davi Kopenawa assim nos apresenta a intenção de seu livro Gosto de explicar essas coisas para os brancos para eles poderem saber Por isso quero mandar minhas palavras para longe Elas não podem acabar Se as escutassem com atenção talvez os brancos parem de achar que somos estúpidos Talvez compreendam que é seu próprio pensamento que é confuso e obscuro pois na cidade ouvem apenas o ruído de seus aviões carros rádios televisores e máquinas KOPENAWA 2015 p 63 e 76 Após ler as frases de Kopenawa e refletindo sobre o processo de produção do conhecimento antropológico é correto afirmar que a O surgimento de lideranças indígenas é uma ameaça aos sociólogos e antropólogos b A antropologia simétrica é uma maneira de compreender o ponto de vista dos índios c Para fazer ciência o pesquisador precisa estudar um objeto neutro e passivo d A relação entre pesquisador e pesquisado não interfere nos resultados da pesquisa antropológica e Davi Kopenawa ao escrever esse livro está abandonando sua própria cultura e dificultando o desenvolvimento da antropologia 3 Analise as citações a seguir A Quando um bebê vai nascer a primeira reação da humanidade antes de saber se está fisiologicamente bem é certificar a respeito do sexo se é menino ou menina E sobre essa base a educação sentimental emocional e o preparo para a vida serão radicalmente diferentes David Barros sexólogo Direção Natgeo Tabu América LatinaEpisódio 2 Mutação sexual National Geographic 2011 B Nascer com uma certa anatomia significa ter que fazer uma coisa e não fazer outra incluindo os sentimentos as emoções tudo está amarrado a um sistema de gênero limitado ao qual eu vivia e sentia E quando você U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 46 vê os efeitos em termos de leis de discriminação você se dá conta que o fato de ser classificado como homem ou como mulher é uma justificativa para pertencer a um status social para definir certas possibilidades Brigitte Bapstiste biólogo 46 anos Direção Natgeo Tabu América LatinaEpisódio 2 Mutação sexual National Geographic 2011 Assinale a alternativa que apresenta corretamente uma tese que esteja de acordo com as ideias presentes nas frases anteriores a A sociedade não interfere nos papéis que se espera de um homem e de uma mulher b Gênero é um conceito para designar as diferenças biológicas entre homens e mulheres c Aquilo que se percebe como naturalbiológico é resultado de uma visão de mundo d A desigualdade que a mulher sofre em relação ao homem é por causa de sua anatomia e O corpo não sofre interferências de relações de poder U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 47 Sociologia e Antropologia no Brasil Imagine que após um longo tempo convivendo e pesquisando as sociedades na Nova Guiné conforme foi apresentado no contexto de aprendizagem da unidade você retornou ao Brasil Com a descoberta de uma nova sociedade com outras regras e estilos de vida e inspirado pelo estudo de Margaret Mead você passou a reparar com mais cuidado as relações entre homens e mulheres presentes em seu convívio social Para completar esta situação hipotética pense que você fará um estudo científico de um ponto de vista sociológico e antropológico e sobre como o gênero é pensado e vivido na sociedade brasileira Tente imaginar como seria fazer esse tipo de pesquisa no Brasil refletindo sobre as especificidades de nosso país em termos de cultura nível socioeconômico religiosidade raça etc Como você descreveria as relações de gênero em nossa sociedade Por que elas são assim Essas relações mudam segundo quais situações contextos e características das pessoas envolvidas Como a cultura e sociedade brasileiras influenciam no modo de pensar e viver as relações entre homens e mulheres Nesta seção vamos saber como as Ciências Sociais são construídas no Brasil bem como os avanços e os recuos as conquistas e os desafios ao longo dessa história Também vamos conhecer alguns sociólogos e antropólogos brasileiros e ver como alguns deles pensaram o Brasil elaborando estudos e pesquisas sobre aspectos de nossa sociedade e cultura Imagine que você tenha que descrever para alguém que não é daqui e não conhece o Brasil como é a nossa cultura e sociedade Quais elementos e dimensões você destacaria Alguns de nossos pensadores elegeram as relações raciais como tema importante para analisar a formação de nossa identidade Além das relações de gênero como nos sugere Margaret Mead se você tentasse compreender o Brasil a partir de suas diversas etnias como você descreveria as interações entre Seção 13 Diálogo aberto U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 48 brancos negros mulatos e índios em nossa sociedade Em que elas nos ajudam a refletir sobre a cultura brasileira Você está preparado para ver o Brasil com outros olhos Para esta descoberta não deixe de ler e estudar o que será discutido nas próximas páginas desta seção As Ciências Sociais no Brasil As chamadas Ciências Sociais são compostas por Sociologia Antropologia e Ciência Política Ainda que haja algumas nuances em relação a métodos temas e questões e até mesmo objetos as áreas que compõem as Ciências Sociais se relacionam entre si através de um objetivo em comum compreender a vida social e cultural em sua complexidade heterogeneidade e densidade de relações aspectos situações conflitos e sujeitos A Sociologia começa a se constituir no Brasil principalmente por meio de iniciativas de inclusão da disciplina no Ensino Médio Segundo Tomazi 2010 a primeira tentativa foi com a reforma educacional de 1891 de Benjamin Constant após a Proclamação da República O ensino religioso era predominante até então e o objetivo dessa reforma foi defender o Estado laico ou seja a separação entre Estado e religião em todos os níveis da vida social como na escola a qual não deveria impor o ensino de uma religião em particular Porém não sendo de fato incluída na grade curricular a Sociologia acaba sendo eliminada pela Reforma de Epitácio Pessoa em 1901 Desde então a Sociologia tem tido uma trajetória de idas e vindas ora é estabelecida como disciplina no Ensino Médio ora é descartada da grade curricular dos cursos Ainda de acordo com Tomazi 2010 em 1925 ela foi adotada regularmente no currículo no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro e três anos depois foi introduzida nos estados de São Paulo Rio de Janeiro e Pernambuco A partir de 1931 com a criação de cursos universitários e centros de pesquisa as Ciências Sociais vão ganhando outros espaços e se consolidando como importante área de ensino e produção de conhecimento científico Em 1933 em São Paulo foi fundada a Não pode faltar U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 49 Escola Livre de Sociologia e Política ELSP sendo um importante local de estudo sobre a realidade brasileira Em 1934 foi fundada a Universidade de São Paulo e em 1935 criouse a Universidade do Distrito Federal UDF espaços em que as Ciências Sociais integram as Faculdades de Filosofia e Ciências Humanas Segundo Tomazi 2010 a partir da Segunda Guerra Mundial até meados da década de 1960 disseminaramse as faculdades de Filosofia Ciências e Letras no Brasil Se durante o golpe militar de 1964 muitos intelectuais foram presos torturados cassados e demitidos também foi um período de intensa mobilização política reflexão social e luta por direitos por professores e alunos Fundada em 1962 a Universidade Estadual de Campinas Unicamp começou a funcionar em 1966 tendo como principal curso o de Medicina O Instituto de Filosofia e Ciências Humanas IFCH foi criado em 1968 com o Departamento de Planejamento Econômico e Social Em 1978 o Instituto ganhou os Departamentos de Filosofia e História e em 1991 os de Antropologia Sociologia e Ciência Política Tomazi 2010 mostra que a partir da década de 1980 expandiramse os cursos de pósgraduação como mestrado e doutorado em Ciências Sociais em todo território nacional intensificando o ensino e a produção de pesquisas nessa área com uma grande diversidade de temas como trabalho saúde família arte violência gênero religião juventude comunicação mundo rural urbanização entre outros Se desde o seu surgimento as Ciências Sociais vêm ganhando cada vez mais espaço em centros universitários institutos de pesquisa e até mesmo em ramos empresariais como setores de Recursos Humanos e Gerenciamento Consultoria e Desenvolvimento de projetos elas também são alvo de contrainvestidas que as deixam em uma constante situação de risco Por mais consolidadas que já estejam enquanto modo de conhecimento para a compreensão da vida social e do mundo em que vivemos ainda assim em algumas situações as Ciências Sociais são estigmatizadas como ciências menores e precisam reivindicar a sua posição e defender a sua importância diante da comunidade Recentemente sob o argumento da crise e contenção de gastos temos visto cortes governamentais às pesquisas como as bolsas de pesquisas Reflita U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 50 de pósgraduação e aos investimentos na ciência de maneira geral sobretudo nas áreas de humanas e ciências sociais muitas vezes vistas como menos úteis uma vez que os produtos de seus estudos não são necessariamente visíveis e palpáveis tais como a construção de uma ponte ou a descoberta de um remédio São porém tão importantes quanto uma vez que contribuem com reflexões e proposições para compreender e lidar com os fenômenos e conflitos sociais Outra mudança recente foi em relação à disciplina de sociologia no Ensino Médio se em 2008 após um amplo movimento de sociólogos a partir da década de 1990 a Sociologia passou a compor oficial e obrigatoriamente a grade curricular Com a Reforma de Michel Temer em 2017 não só ela como também Filosofia e Artes deixaram de ser disciplinas obrigatórias Em um processo concomitante o Supremo Tribunal Federal autorizou o ensino religioso confessional em escolas públicas ou seja a possibilidade da disciplina em questão se vincular a uma religião específica Ainda no governo Temer temos o Escola Sem Partido um projeto que vem suscitando debates e polêmicas ao considerar que alguns assuntos não devem ser abordados em salas de aula por serem supostamente perniciosos ideológicos e prejudiciais como a violência e discriminação por gênero e sexualidade O que tais mudanças sugerem Por que em alguns momentos históricos e políticos as Humanidades Filosofia História Literatura Artes Ciências Sociais sofrem represálias por parte de alguns grupos e governos Pensando no caso do Brasil atual será que essas mudanças podem ser explicadas apenas com a justificativa da crise e contenção de gastos ou tem algo a mais por trás delas Sociólogos e antropólogos brasileiros Gilberto Freyre Sérgio Buarque de Holanda Florestan Fernandes Octavio Ianni e Darcy Ribeiro são autores que mesmo já falecidos permanecem como grandes pensadores brasileiros e seus estudos têm importância até hoje Gilberto Freyre 19001987 foi antropólogo sociólogo e escritor graduado e pósgraduado nos Estados Unidos Seu grande tema de pesquisa foi a formação da sociedade brasileira a partir de uma abordagem cultural Em 1933 publicou Casa grande e senzala sua principal obra na qual se contrapõe ao racismo vigente na época U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 51 o qual via na mestiçagem uma forma de atraso Ao invés disso Gilberto Freyre atribui a riqueza e força cultural dos brasileiros à mistura de etnias valorizando o mestiço e a contribuição africana e indígena na formação da sociedade brasileira Também contribuiu com temas como moda sexualidade clima alimentação morte costumes Além de Casa grande e senzala entre suas obras mais importantes temos Nordeste 1937 e Ordem e progresso 1957 OLIVEIRA 2010 BONEMY FREIREMEDEIROS 2010 Sérgio Buarque de Holanda 19021982 foi historiador sociólogo crítico literário e jornalista Dedicouse a estudar a sociedade brasileira a partir de sua história Graduado em Direito trabalhou grande parte de sua vida na academia e na imprensa Viveu em diversos países mas foi principalmente em Berlim na Alemanha onde se dedicou à carreira intelectual entrando em contato com a escola alemã de Sociologia na qual se identificou com a obra de Max Weber autor que teve grande influência em seu pensamento Ao voltar para o Brasil em 1936 publicou Raízes do Brasil sua obra mais importante a qual teve grande reconhecimento no exterior sendo traduzida para vários idiomas como inglês espanhol italiano alemão francês e japonês Além desse trabalho entre suas obras mais importantes estão Monções 1945 e Visão do paraíso 1959 BONEMY FREIREMEDEIROS 2010 Florestan Fernandes 19201995 estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo USP onde foi professor até 1969 quando foi aposentado compulsoriamente pela ditatura militar Sofreu perseguição e foi obrigado a sair do país lecionando em várias universidades estrangeiras principalmente nos Estados Unidos e no Canadá De volta ao Brasil em 1976 deu aulas na Pontifícia Universidade Católica PUC de São Paulo Fundou uma escola de Sociologia em São Paulo onde trabalhou junto com o expresidente Fernando Henrique Cardoso também formado em Sociologia Florestan Fernandes foi o principal representante da Sociologia Crítica no Brasil tendo como grande tema de estudo as desigualdades sociais por meio de uma reflexão profunda sobre a realidade brasileira De família humilde filho de uma empregada doméstica Florestan Fernandes considera que a sua história de vida foi uma espécie de aprendizagem sociológica a qual teve início já na infância quando aos seis anos precisou trabalhar para ajudar no sustento da família tendo sua educação formal interrompida Trabalhou como engraxate U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 52 e em outros serviços desqualificados continuando a estudar por conta própria Tem uma vasta produção intelectual da qual podemos destacar A organização social dos Tupinambá 1949 A sociologia numa era de revolução social 1963 A integração do negro na sociedade de classes 1965 e A natureza sociológica da Sociologia 1980 OLIVEIRA 2010 BONEMY FREIREMEDEIROS 2010 Octavio Ianni 19262004 se graduou em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo USP onde também fez mestrado e doutorado Em 1969 teve seus direitos políticos cassados pela ditadura militar tendo que deixar o país Voltou ao Brasil em 1977 para lecionar na Pontifícia Universidade Católica PUC de São Paulo e na Universidade Estadual de Campinas Unicamp Fez parte da Escola Paulista de Sociologia cuja principal referência é Florestan Fernandes Teve como temas principais o populismo e o imperialismo Na década de 1990 sua pesquisa se voltou para a crítica à globalização e à nova ordem global Entre suas obras temos Metamorfoses do escravo 1962 Industrialização e desenvolvimento social no Brasil 1963 O colapso do populismo no Brasil 1965 e A sociedade global 1992 OLIVEIRA 2010 Entre os antropólogos destacaremos as trajetórias de Darcy Ribeiro Roberto DaMatta Eduardo Viveiros de Castro e Manuela Carneiro da Cunha Darcy Ribeiro 19221997 chegou a ingressar no curso de Medicina abandonandoo depois de três anos Formouse em 1946 em Ciências Sociais na Escola de Sociologia e Política em São Paulo especializandose em Antropologia De 1949 a 1951 trabalhou no Serviço de Proteção aos Índios antecessor da FUNAI Passou muito tempo pesquisando e convivendo com as sociedades indígenas de Mato Grosso e da Amazônia Colaborou para a fundação do Museu do Índio que dirigiu e a criação do parque indígena do Xingu Trabalhou no Ministério da Educação e Cultura lutando pela defesa da escola pública e ajudou a fundar a Universidade de Brasília sendo reitor em 19621963 Foi ministro da educação em 1961 no governo de Jânio Quadros e chefe da Casa Civil no governo de João Goulart Com o golpe militar de 1964 foi cassado e exilado Viveu em vários países da América Latina defendendo a reforma universitária Foi professor na Universidade Oriental do Uruguai Em 1976 retornou ao Brasil dedicandose à educação pública Quatro anos depois foi anistiado iniciando uma bemsucedida carreira política Em 1982 elegeuse U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 53 vicegovernador do Rio de Janeiro tralhando junto ao governador Leonel Brizola na criação dos Centros Integrados de Educação Pública Ciep Em 1990 foi eleito senador posto em que teve grande destaque Em 1992 passou a integrar a Academia Brasileira de Letras pois também escrevia romances como Maíra O Mulo Utopia Selvagem e Migo Disponível em httpseducacaouolcom brbiografiasdarcyribeirohtm Acesso em 17 out 2017 Entre suas obras antropológicas temos A política indigenista brasileira 1962 O processo civilizatório etapas da evolução sóciocultural 1968 e O povo brasileiro a formação e o sentido do Brasil 1995 Com forte presença na mídia por meio da realização de palestras e entrevistas para o público em geral o antropólogo Roberto DaMatta é segundo Bomeny FreireMedeiros 2010 o quarto autor mais citado em trabalhos acadêmicos em ciências sociais no Brasil ficando atrás apenas de três pensadores estrangeiros os sociólogos alemães Karl Marx e Max Weber já apresentados nesta unidade e o francês Pierre Bourdieu Nascido em 1936 graduado e licenciado em História pela Universidade Federal Fluminense Roberto DaMatta fez o curso de especialização em Antropologia do Museu Nacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro Inicialmente dedicouse a pesquisas sobre populações indígenas Com o decorrer da carreira diversificou os temas estudados abordando a sociedade brasileira em diferentes aspectos principalmente no que se refere aos padrões culturais com pesquisas sobre carnaval futebol comida morte jogo do bicho malandragem relação entre público e privado etc numa tentativa de compreender a identidade nacional Lecionou durante muitos anos na Universidade de Notre Dame nos Estados Unidos onde é professor emérito Essa experiência lhe possibilitou pensar a sociedade brasileira em comparação com a norteamericana Atualmente o antropólogo leciona no Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica PUC do Rio de Janeiro BONEMY FREIREMEDEIROS 2010 Entre algumas de suas obras estão Carnavais malandros e heróis 1979 O que faz do brasil Brasil 1984 A casa e a rua espaço cidadania mulher e morte no Brasil 1985 e Relativizando uma introdução à Antropologia Social 1987 Eduardo Viveiros de Castro é um dos antropólogos brasileiros mais notórios atualmente Nascido em 1951 formouse em Ciências Sociais na PUCRio Fez mestrado e doutorado em Antropologia no Museu Nacional também no Rio de Janeiro Lecionou na França U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 54 e nos Estados Unidos Uma de suas principais contribuições é o desenvolvimento do conceito de perspectivismo a partir de pesquisas com sociedades indígenas da Amazônia Viveiros de Castro mostra como nessas sociedades o humano é um ponto de vista uma perspectiva de um eu que assume uma posição de sujeito na relação com outros seres e outros mundos Assim cada ser se vê como humano e o outro como um não humano a onça por exemplo se vê como humano e vê o caçador como predador ou espírito Isso traz diferentes perspectivas já que cada ser vê coisas diferentes dependendo da posição que assume na relação com outros seres o que para nós é sangue para o jaguar é cauim o que vemos como um barreiro lamacento para as antas é uma grande casa cerimonial CASTRO 1996 p 127 Além da carreira acadêmica o antropólogo tem se envolvido cada vez mais na defesa do meio ambiente denunciando as destruições das florestas e as mudanças climáticas É um importante defensor dos modos de vida indígena mostrando como eles nos ensinam a viver de outra maneira diferente do modo predatório do sistema capitalista Para ele os índios não são o passado mas o futuro já que em um mundo em crise e colapso com um fim cada vez mais próximo devido à devastação dos recursos materiais e naturais são eles os índios que vão nos mostrar como outros mundos e outros estilos de vida não só são possíveis como necessários e urgentes Entre seus livros temos Araweté os deuses canibais 1986 A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia 2002 Há mundo por vir Ensaio sobre os medos e os fins 2014 e Metafísicas canibais 2015 Manuela Carneiro da Cunha também é uma antropóloga que concilia as pesquisas acadêmicas com a militância em defesa das sociedades indígenas e das florestas denunciando mortes de índios desmatamentos e outros tipos de predação Nascida em 1943 luso brasileira fez graduação em matemática pura na Faculdade de Ciências de Paris em 1967 Na França foi aluna do grande antropólogo Claude LéviStrauss referência na abordagem estruturalista De volta ao Brasil ingressou na pósgraduação em Antropologia na Universidade Estadual de Campinas Unicamp compondo a primeira turma de mestrado naquela instituição Desde 1984 leciona no Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo USP onde fundou com outros antropólogos o Núcleo de História Indígena e do U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 55 Indigenismo Também lecionou na Universidade de Chicago nos Estados Unidos No Brasil foi cofundadora e primeira presidente da Comissão PróÍndio de São Paulo de 1979 a 1981 onde estudou a história da legislação indigenista principalmente no que se refere aos direitos territoriais contribuindo na defesa e implantação da demarcação de terras indígenas Organizou junto com seu marido o antropólogo Mauro Almeida a Enciclopédia da floresta 2002 uma importante obra sobre conhecimento tradicional do Alto Juruá uma área de conservação ambiental no Acre e que teve participação de seringueiros índios biólogos e antropólogos É uma importante defensora seja por meio de pesquisas ou de ações de âmbito jurídico dos direitos intelectuais indígenas ou seja o reconhecimento de que os índios também são produtores de conhecimento o qual deve ser preservado e protegido de forasteiros Cunha 2009 Entre seus vários livros temos Os mortos e os outros 1978 Negros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África 1985 Cultura com aspas e outros ensaios de antropologia 2009 e Índios no Brasil 2012 Uma antropologia militante é aquela em que o antropólogo não se contenta em apenas estudar algum povo ou grupo social mas também contribuir com ações práticas seja no âmbito jurídico ou não para que aquela sociedade tenha os seus direitos reconhecidos e garantidos Assim por exemplo o antropólogo Mauro William Barbosa de Almeida participou junto com os índios ribeirinhos e seringueiros da criação da reserva extrativista do Alto Juruá no Acre tornandoa uma área de proteção ambiental e também planejou a Universidade da Floresta Universidade Federal do Acre campus Floresta Este é um centro inovador que promove o ensino e a pesquisa sobre conhecimentos e modos de vida tradicionais na qual índios seringueiros e ribeirinhos possam assumir a posição de professores e autores da própria produção intelectual dialogando assim conhecimento acadêmicocientífico e conhecimento tradicionalindígena Sua esposa Manuela Carneiro da Cunha além de estudar antropologicamente sociedades indígenas também contribui para que suas terras sejam demarcadas e seus modos de vida sejam respeitados e garantidos Assim também Eduardo Viveiros de Castro concilia os estudos acadêmicos com a militância a favor da causa indígena Exemplificando U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 56 Para conhecer mais a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha importante defensora dos direitos e modos de vida indígenas A questão indígena hoje vídeo Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvmnMUUT0dj7M Acesso em 28 set 2017 Para conhecer o importante e inovador projeto da Universidade da Floresta Entrevista com o antropólogo Mauro Almeida um dos realizadores do projeto Disponível em httpsensinosuperiorindigenafileswordpress com201201almeidamaurowb2005sobreauniversidadeda florestapdf Acesso em 28 set 2017 Para conhecer mais o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro Entrevista bemhumorada realizada por Rafucko que se veste de português e simula alguns cenários para falar sobre assuntos sérios vídeo Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvyhdXGoiMOhE Acesso em 28 set 2017 Para conhecer mais o antropólogo Roberto DaMatta Leituras do cotidiano O antropólogo fala sobre os principais temas e aspectos que escolheu ao longo da sua carreira para pensar o Brasil vídeo Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvVQjWvDXdA Acesso em 27 set 2017 Algumas das ideias de Gilberto Freyre Sérgio Buarque de Holanda Florestan Fernandes Darcy Ribeiro e Roberto DaMatta serão discutidas a seguir Estes são pensadores que viram no Brasil não só um local de nascimento e convivência mas também um objeto de estudo dedicandose a elaborar e desenvolver teorias para pensar a sociedade e cultura brasileiras Pesquise mais U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 57 O pensar sobre a sociedade e cultura brasileiras Em sua grande obra Casa grande e senzala publicada em 1933 Gilberto Freyre faz uma análise da formação da sociedade patriarcal a qual se caracteriza por ser agrária escravocrata e híbrida tendo na família a unidade colonizadora Segundo o autor a casa grande e a senzala se completavam em um sistema social econômico e político dando origem à civilização brasileira nos trópicos Levando em conta que são os aspectos sociais culturais históricos e geográficos e não a biologia que caracterizam o comportamento e a personalidade das raças Freyre valorizou além do colonizador português o papel do índio e do negro na constituição da identidade brasileira vendo na miscigenação um fator positivo indo contra assim ao racismo da época em que a via como um fator de atraso para o Brasil Para ele a mescla de raças que formou o povo brasileiro se deu de forma fraterna solidária e generosa A miscigenação teria sido uma maneira de dissolver a violência da colonização permitindo uma confraternização entre senhores e escravos vencedores e vencidos no processo da conquista É então a partir da figura do mestiço enquanto fusão das raças que o autor vai caracterizar o brasileiro uma união de contrários que acaba por dar a identidade a unidade do Brasil Acreditava assim numa democracia racial nas relações entre brancos negros e índios O livro de Freyre reconhecido como uma obraprima gerou debates controversos Se Freyre inovou ao ser contrário ao racismo vigente e valorizar a miscigenação além de ver a raça não como determinante biológico mas a partir de seus aspectos sociais históricos e culturais ele também foi alvo de críticas Uma delas foi o seu olhar elitista ou seja ver a história de um ponto de vista dos vencedores valorizando a colonização portuguesa como um espaço de harmonização das raças como uma escravidão benevolente e suave numa ideia de que ser escravo não era algo ruim já que recebia proteção e alimento dos senhores da casa grande Com isso Freyre desconsiderou a violência e discriminação sofridas por negros e índios no período colonial e que como sabemos permanecem tendo um pensamento muito mais conservador do que crítico da situação contribuindo para criar alguns estereótipos que se fazem presentes até hoje como a ideia de que o brasileiro é receptivo U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 58 tolerante hospitaleiro pacífico e que não há preconceito de raça no Brasil o famoso mito da democracia racial Sérgio Buarque de Holanda também se dedicou a analisar o significado da escravidão e como esse processo histórico resultou no Brasil contemporâneo dos anos 1930 Em seu livro Raízes do Brasil o autor argumentou que a colonização trouxe uma série de elementos culturais europeus para uma outra realidade o que fez com que os brasileiros ficassem como desterrados em sua própria terra dando origem a uma civilização que não se enquadrava com os hábitos que lhe foram trazidos de fora Ao fazer uma diferença entre aventureiro e trabalhador o autor mostrou como a colonização portuguesa foi uma obra muito mais de aventureiros com a apreciação pelo ócio e a presença de projetos vastos predatórios e ambiciosos em que reinou a instabilidade e originou o patriarcado no Brasil Assim ainda que também tenha visto a família patriarcal como o núcleo da discussão tendo percorrido os mesmos temas de Gilberto Freyre Sérgio Buarque de Holanda teve uma visão crítica discutindo a herança cultural da escravidão e colonização ao Brasil vendo essa herança muito mais como um entrave responsável pelo arcaísmo do Brasil e que portanto precisava ser superada Com isso o autor abriu a possibilidade de pensar mudanças sociais propondo ações que vão na direção de uma sociedade mais racional e da cidadania como uma questão importante a ser debatida Principal representante da Escola de São Paulo da qual Fernando Henrique Cardoso também fez parte Florestan Fernandes por sua vez queria compreender as trocas comerciais desiguais as diferenças entre as nações é dessa época que surgem as expressões países de primeiro mundo os desenvolvidos e países de terceiro mundo os subdesenvolvidos e as teorias sobre dependência numa tentativa de pensar em soluções para que o Brasil ainda visto como um país atrasado se incorporasse de fato à modernidade Na época a formação do proletariado o controle do modo de produção e das relações de poder pela burguesia a dualidade entre o campo marcado pela produção de subsistência tradição e agricultura e a cidade com forte industrialização e fortalecimento do mercado levaram os pesquisadores a pensar se havia de fato capitalismo no Brasil U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 59 Pensando na singularidade e nas consequências do sistema capitalista ao Brasil Florestan Fernandes enfatizou a marginalização do negro depois da abolição a dificuldade de adaptação nessa sociedade de classes Por que os negros ocupavam posições marginais Por que havia preconceito racial no Brasil Como explicar a desintegração dos negros no capitalismo Para responder a essas questões Florestan Fernandes voltou ao processo da abolição como algo importante para o ponto de vista do negro e refletiu sobre as consequências para os libertos os quais se viram despreparados para essa nova organização social não tendo havido qualquer política pública para contribuir nessa inserção Apoiandose em censos relatos de viajantes noticiários de época e ensaiosmemórias sobre imigração o autor demonstrou que o Brasil vivia um estado de anomia uma situação conturbada e caótica em que o negro aniquilado como sujeito histórico não tinha condições de sobreviver fora do regime escravocrata Gilberto Freyre Sérgio Buarque de Holanda e Florestan Fernandes olharam o Brasil a partir do mesmo tema a colonização e a escravidão mas de ângulos e pontos de vista diferentes Assim para Freyre a colonização portuguesa foi uma obra elogiosa que possibilitou a civilização brasileira nos trópicos por meio da miscigenação essa mistura entre raças que segundo ele se deu de forma harmoniosa e pacífica Apesar de ser contrário ao racismo vigente na época valorizando o índio e o negro como importantes para a formação da sociedade brasileira e de ter inovado ao ver os comportamentos das raças a partir de seus aspectos sociais e culturais e não biológicos Freyre ao ter um olhar elitista não levou em consideração a violência e desigualdade do período colonial Fernandes por sua vez vai justamente olhar para o que Freyre não viu a desintegração do negro após a abolição a qual não foi suficiente para inserilo em condições de igualdade na nova sociedade Assim para ele a questão principal é pensar a desigualdade e o preconceito racial que se mantiveram no Brasil pós escravocrata Sérgio Buarque de Holanda também teve um olhar crítico vendo a colonização portuguesa como um atraso para o Brasil ao deixar de herança o patriarcado o ruralismo o espírito aventureiro a valorização do ócio ao invés do trabalho a ambição e a predação Para ele o país só se desenvolver á quando essa herança colonial for superada por meio de uma revolução lenta e profunda A seguir temos dois trechos em que ele mostra a crítica à colonização e suas consequências Assimile U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 60 Como esperar transformações profundas em país onde eram mantidos os fundamentos tradicionais da situação que se pretendia ultrapassar Enquanto perdurassem intatos e apesar de tudo poderosos os padrões econômicos e sociais herdados da era colonial e expressos principalmente na grande lavoura servida pelo braço escravo as transformações mais ousadas teriam de ser superficiais e artificiosas HOLANDA 1995 p 78 Trouxemos de terras estranhas um sistema complexo e acabado de preceitos sem saber até que ponto se ajustam às condições da vida brasileira e sem cogitar das mudanças que tais condições lhe imporiam Na verdade a ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais se naturalizou entre nós Só assimilamos efetivamente esses princípios até onde coincidiram com a negação pura e simples de uma autoridade incômoda confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e permitindo tratar com familiaridade os governantes A democracia no Brasil foi sempre um lamentável malentendido HOLANDA 1995 p 160 Gilberto Freyre Sérgio Buarque de Holanda e Florestan Fernandes foram pensadores que aliaram a análise social e cultural com a abordagem histórica tentando compreender o Brasil a partir da colonização e escravidão De uma perspectiva mais antropológica Darcy Ribeiro também vai analisar a formação do povo brasileiro a partir da miscigenação Em seu livro O povo brasileiro última obra escrita quando já estava muito doente de um câncer o autor descreveu o Brasil em 5 tipos o Brasil crioulo formado principalmente pela influência do engenho de açúcar o Brasil sertanejo que se funde e difunde por meio dos currais de gado o Brasil caboclo formado pelas populações da Amazônia como índios e seringueiros o Brasil caipira com influência das atividades de caça dos índios depois da mineração de ouro e diamantes e mais tarde das grandes fazendas de café e industrialização e o Brasil sulino com a presença da cultura gaúcha do pastoreio e de colonizadores imigrantes U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 61 Todos nós brasileiros somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados Todos nós brasileiros somos por igual a mão possessa que os supliciou A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal que também somos Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da malignidade destilada e instalada em nós tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens sobre mulheres sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista RIBEIRO 1995 p 120 Se a mistura étnica contribuiu para a criação de uma identidade brasileira isso não significa que ela tenha sido necessariamente boa Para Darcy Ribeiro o brasileiro formado na e pela interação entre brancos negros e índios traz uma personalidade ambígua em que características positivas e negativas coexistem Essa visão crítica de nossa identidade plural se torna bastante clara no trecho a seguir Também de um ponto de vista antropológico Roberto DaMatta se dedica a pensar nas singularidades da sociedade brasileira a partir de aspectos principalmente culturais enfatizando os rituais e as festas populares como carnaval futebol jogo do bicho parada militar Para ele o Brasil é um país de dilemas em que contrastes tensões e paradoxos como igualdade e desigualdade democracia e autoritarismo coexistem e se complementam de algum modo Assim por exemplo se o brasileiro preza o respeito à lei ele também é aquele que tenta dar um jeitinho quando a situação é desfavorável elaborando estratégias para burlar e tangenciar a lei como furar uma fila estacionar em lugar proibido pegar carona em um ônibus comprar uma carteira de motorista Essa malandragem seria característica de uma identidade nacional brasileira Se algumas dessas estratégias ou quebragalho são mais inofensivas e pacíficas outras já trazem um tom mais autoritário Assim por exemplo se um guarda parar alguém que esteja dirigindo em alta velocidade e essa pessoa for filho do prefeito da cidade ele poderá U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 62 lançar mão do você sabe com quem está falando numa tentativa de se posicionar hierarquicamente ainda que a lei seja válida para todos e se safar da aplicação de uma multa Você provavelmente já viu ou ouviu situações parecidas em que alguém valendose de uma posição supostamente superior tenta se beneficiar por alguma vantagem A fala eu pago o seu salário também pode ser vista como uma variação disso ou ainda filhos de pais influentes seja porque são ricos capital econômico ou porque tem alguma outra notoriedade política e social capital simbólico que ao cometerem algum crime conseguem se esquivar da cadeia ao lançar mão dessa rede de contatos e influências Para DaMatta o carnaval é um importante ritual brasileiro porque nele os papéis cotidianos se invertem o rico se veste de pobre a filha da empregada é a rainha ou seja as pessoas podem ser o que quiserem subvertendo e a ordem ao suspender momentaneamente a hierarquia e desigualdade presentes no país Vimos que o famoso jeitinho brasileiro foi objeto de estudo de Roberto DaMatta como uma característica importante da sociedade brasileira repleta de contrastes e ambiguidades como a valorização da lei e ao mesmo tempo as tentativas hierarquizantes de burlála Para compreender melhor essas situações que fazem parte de nosso dia a dia o antropólogo traz alguns exemplos De fato como é que reagimos diante de um proibido estacionar proibido fumar ou diante de uma fila quilométrica Como é que se faz diante de um requerimento que está sempre errado Ou diante de um prazo que já se esgotou e conduz a uma multa automática que não foi divulgada de modo apropriado pela autoridade pública Ou de uma taxação injusta e abusiva que o Governo novamente decidiu instituir de modo drástico e sem consulta Por tudo isso somos um país onde a lei sempre significa o não pode formal capaz de tirar todos os prazeres e desmanchar todos os projetos e iniciativas Ora é precisamente por tudo isso que conseguimos descobrir e aperfeiçoar um modo um jeito um estilo Exemplificando U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 63 de navegação social que passa sempre nas entrelinhas desses peremptórios e autoritários não pode Assim entre o pode e o não pode escolhemos de modo chocantemente antilógico mas singularmente brasileiro a junção do pode com o não pode Pois bem é essa junção que produz todos os tipos de jeitinhos e arranjos que fazem com que possamos operar um sistema legal que quase sempre nada tem a ver com a realidade social Em geral o jeito é um modo pacífico e até mesmo legítimo de resolver tais problemas provocando essa junção inteiramente casuística da lei com a pessoa que a está utilizando DAMATTA 1984 p 9798 Sugestões de filmes para pensar o Brasil O auto da Compadecida 2000 de Guel Arraes Adaptação da peça de mesmo nome de Ariano Suassuna Cheio de esperteza e malandragem o personagem principal da história vai resolvendo os seus problemas e os dos outros dando um jeitinho aqui e ali Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvtIk8E8Wy68 Acesso em 16 out 2017 Cidade de Deus 2002 de Fernando Meirelles O filme aborda o período inicial décadas de 197080 da formação da Cidade de Deus uma das mais violentas favelas do Rio de Janeiro mostrando a guerra entre duas quadrilhas de traficantes O personagem principal um jovem pobre e negro consegue escapar da criminalidade e se torna fotógrafo profissional Disponível em httpswwwyoutubecomwatchvMTvmYZb5YzU Acesso em 16 out 2017 Ilha das Flores 1989 de Jorge Furtado O curta faz uma reflexão sobre as relações de pobreza desigualdade e consumo Disponível em https wwwyoutubecomwatchvLETSDS8qm9U Acesso em 28 set 2017 Pesquise mais U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 64 Analisar o Brasil ou qualquer outro país não é uma tarefa fácil Como a sociedade é muito complexa heterogênea e plural nenhuma teoria por melhor que seja feita dá conta de sua totalidade sendo assim um conhecimento parcial o que não significa que não seja científico ou não deva ser reconhecido como sério legítimo eficaz e profundo Assim os estudos sobre a sociedade brasileira aqui apresentados há muitos outros têm enfoques diferentes e nos ajudam a pensar em algumas das questões e em alguns dos aspectos que compõem o Brasil mas não o esgotam já que o Brasil é muito mais vasto complexo e plural Se o Brasil pode ser visto pela exuberância de seus recursos naturais pelo clima tropical pela paixão pelo futebol e carnaval pela hospitalidade de seu povo pela imensidão do território pela sensualidade pelo tempero da comida ele também pode ser interpretado através da desigualdade do preconceito racial do machismo da injustiça do desmatamento da negligência com os povos indígenas do desemprego da violência e criminalidade da corrupção Até mesmo falar em sociedade brasileira realidade brasileira ou cultura brasileira é questionável uma vez que não existe uma fórmula uma explicação definitiva uma única definição e como discutiremos principalmente na próxima unidade pertencer a uma cultura não quer dizer que todos nós pensamos sentimos e agimos de maneira igual Ao invés de desanimar alguém que queira fazer uma pesquisa sobre o Brasil a não totalidade do conhecimento sociológico e antropológico pode servir de inspiração ao permitir imaginar outras questões outros temas outras abordagens que ajudem a compreender o nosso país Assim se é possível investigar as relações de gênero e interétnicas uma imensidão de outros aspectos também pode ser investigada Se você tivesse que escolher algum qual seria Inspirado na pergunta de Roberto DaMatta o que faz o brasil Brasil por onde você tentaria respondêla Pela música Pela alimentação Pelos rituais e festas populares Pelo vestuário Pela organização familiar Pela religiosidade Pela organização política A não totalidade do pensamento sociológico e antropológico longe de ser uma fraqueza é o que dá força a esse tipo de conhecimento já que ele sempre poderá se abrir para novas questões novos ângulos Sem medo de errar U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 65 novos desafios Se a sociedade está sempre mudando a Sociologia e a Antropologia também estão 1 A filósofa Hannah Arendt 19061975 foi uma das mais influentes pensadoras do século XX Alemã de origem judaica foi perseguida e presa durante o holocausto e dedicou parte de sua vida ao estudo das formas de totalitarismo como o nazismo e o stalinismo sendo grande defensora da liberdade e igualdade Ela dizia que não existem pensamentos perigosos o ato de pensar é perigoso em si mesmo E mais do que isso o não pensar é mais perigoso ainda Como é possível relacionar o pensamento de Hannah Arendt com a história das Ciências Sociais no Brasil a A compreensão de que pensar é algo perigoso tem levado a medidas de desconfiança e incômodo em relação às Ciências Sociais b Porque pensar é perigoso os sociólogos defendem que as Ciências Sociais não devem ser institucionalizadas como disciplinas em escolas e cursos universitários c Como pensar é perigoso alguns sociólogos e antropólogos brasileiros foram demitidos cassados e deportados na época da ditadura porque desejavam fazer mal ao país d Sociólogos e antropólogos brasileiros defendem que pensar é perigoso porque ao mostrar os problemas sociais atrapalha a vida em sociedade e Se pensar é perigoso a alternativa encontrada por cientistas sociais é não pensar 2 Enem 2004 adaptada A questão étnica no Brasil tem provocado diferentes atitudes I Instituiuse o Dia Nacional da Consciência Negra em 20 de novembro ao invés da tradicional celebração do 13 de maio Essa nova data é o aniversário da morte de Zumbi que hoje simboliza a crítica à segregação e à exclusão social II Um turista estrangeiro que veio ao Brasil no carnaval afirmou que nunca viu tanta convivência harmoniosa entre as diversas etnias Também sobre essa questão estudiosos fazem diferentes reflexões A Entre nós brasileiros a separação imposta pelo sistema de produção foi a mais fluida possível Permitiu constante mobilidade de classe para Faça valer a pena U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 66 classe e até de uma raça para outra Esse amor acima de preconceitos de raça e de convenções de classe do branco pela cabocla pela cunhã pela índia agiu poderosamente na formação do Brasil adoçandoo FREYRE Gilberto O mundo que o português criou Rio de Janeiro José Olympio 1940 B Porém o fato é que ainda hoje a miscigenação não faz parte de um processo de integração das raças em condições de igualdade social O resultado foi que ainda são pouco numerosos os segmentos da população de cor que conseguiram se integrar efetivamente na sociedade competitiva FERNANDES Florestan O negro no mundo dos brancos Rio de Janeiro Global 2007 A partir das atitudes expostas anteriormente e os trechos de livros dos sociólogos Gilberto Freyre e Florestan Fernandes é correto aproximar a a posição de Gilberto Freyre e a de Florestan Fernandes igualmente às duas atitudes b a posição de Gilberto Freyre à atitude I e a de Florestan Fernandes à atitude II c somente a posição de Gilberto Freyre a ambas as atitudes d a posição de Florestan Fernandes à atitude I e a de Gilberto Freyre à atitude II e somente a posição de Florestan Fernandes a ambas as atitudes 3 No romance de Miguel Sousa Tavares o personagem assim descreve o seu primeiro contato com o Brasil enfim uma explosão sociológica incontrolável incompreensível e impossível de catalogar porque no mundo inteiro nunca tinha existido um país assim como o Brasil uma tamanha orgia de raças e proveniências de instintos e emoções de selvagem e de civilizado de primitivo e de moderno de mar e de floresta de cidades e de selva de sons de música de cheiros de cores de amores E sobre tudo isso mesmo sobre as imensas tristezas desgraças injustiças e abusos de toda a ordem sobrava sempre uma incompreensível alegria uma alegria que brotava das montanhas e das florestas por desbravar pairava sobre os morros como os gaviões descia sobre as cidades com um cheiro flutuante a clorofila introduzia se nas conversas dos botequins e dos cafés infiltravase entre o beijo dos namorados incendiando o seu desejo transformavase em sons nas ruas e em música nos bares enrolavase como um novelo sobre a areia das praias e nunca nunca partia pelo mar afora abandonando essa terra brasil TAVARES Miguel S Rio das flores São Paulo Companhia das Letras 2008 p 237 U1 Sociologia e Antropologia um novo pensar 67 Tendo em mente o trecho anterior e os estudos sobre o Brasil é correto afirmar a O Brasil é um país de contrastes o que inviabiliza a sua compreensão b O Brasil é um país de contrastes o que significa que uma teoria sobre ele deva abarcar todos os seus aspectos c O conhecimento sociológico sobre o Brasil é parcial e portanto ineficaz d O conhecimento sociológico sobre o Brasil é parcial e ainda assim é válido e O conhecimento sociológico sobre o Brasil é inexistente por ser um país de contrastes BEAUVOIR Simone de O segundo sexo São Paulo Difusão Europeia do Livro 1970 BOMENY Helena FREIREMEDEIROS Bianca A Sociologia vem ao Brasil Tempos modernos tempos de Sociologia São Paulo Editora do Brasil 2010 p 134259 CASTRO Eduardo Viveiros de Araweté os deuses canibais Rio de Janeiro ANPOCS Jorge Zahar 1986 Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio Mana 2 2 1996 p 115144 A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia São Paulo Cosac Naify 2002 CASTRO Eduardo Viveiros de Metafísicas canibais São Paulo Cosac Naify 2015 CASTRO Eduardo Viveiros de DANOWSKI Déborah Há mundo por vir Ensaio sobre os medos e os fins Rio de Janeiro Instituto Socioambiental ISA e Cultura e Barbárie Editora 2014 CUNHA Manuela Carneiro da Os mortos e os outros uma análise do sistema funerário e da noção de pessoa entre os índios Krahó São Paulo Hucitec 1978 Cultura com aspas e outros ensaios São Paulo Cosac Naify 2009 Negros estrangeiros os escravos libertos e sua volta à África São Paulo Companhia das Letras 2012 Índios no Brasil história direitos e cidadania São Paulo Claro enigma 2012 DAMATTA Roberto O ofício do etnólogo ou como ter Anthropological Blues In NUNES Edison de O A aventura sociológica Rio de Janeiro Zahar 1978 p 2335 DAMATTA Roberto O que faz o brasil Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 Relativizando uma introdução à antropologia social Rio de Janeiro Rocco 1987 Carnavais malandros e heróis para uma Sociologia do dilema brasileiro Rio de Janeiro Rocco 1997 A casa e a rua espaço cidadania mulher e morte no Brasil Rio de Janeiro Rocco 1997 DURKHEIM Émile As regras do método sociológico São Paulo Martins Fontes 1999 ELIAS Norbert O processo civilizador Rio de Janeiro Jorge Zahar 1994 FERNANDES Florestan A organização social dos Tupinambá São Paulo Difusão Europeia do Livro 1963 A sociologia numa era de revolução social Rio de Janeiro Zahar 1976 A natureza sociológica da Sociologia São Paulo Ática 1980 Referências A integração do negro na sociedade de classes São Paulo Globo Editora 2008 FREYRE Gilberto Casa grande senzala São Paulo Global Editora 2003 Sobrados e mucambos São Paulo Global Editora 2003 Nordeste São Paulo Global Editora 2013 Ordem e Progresso São Paulo Global Editora 2013 GEERTZ Clifford Uma descrição densa por uma teoria interpretativa da cultura In A interpretação das culturas Rio de Janeiro LTC 1989 GHIRALDELLI Paulo Velhas e novas minorias In Filosofia política para educadores democracia e direitos de minorias Barueri Manole 2013 HOLANDA Sérgio Buarque de Monções São Paulo Brasiliense 1990 Raízes do Brasil São Paulo Companhia das Letras 1995 Visão do paraíso São Paulo Companhia das Letras 2010 IANNI Octavio Industrialização e desenvolvimento social no Brasil São Paulo Civilização brasileira 1963 O colapso do populismo no Brasil São Paulo Civilização brasileira 1975 Metamorfoses do escravo São Paulo Hucitec 1988 A sociedade global São Paulo Civilização brasileira 1993 KOFES Suely Categorias analítica e empírica Gênero e Mulher Disjunções conjunções e mediações Cadernos Pagu de trajetórias e sentimentos Campinas Publicação do PAGU Núcleo de Estudos de GêneroUNICAMP n 1 p1930 1993 KOPENAWA Davi ALBERT Bruce A queda do céu palavras de um xamã yanomami São Paulo Companhia das Letras 2015 LAQUEUR Thomas Inventando o sexo dos gregos a Freud Rio de Janeiro Relume Dumará 2001 MARTINS Carlos B O que é Sociologia São Paulo Nova Cultural Brasiliense 1986 Coleção Primeiros Passos MARX Karl ENGELS Friedrich Manifesto comunista sl Ridendo Castigat Mores 1999 MARX Karl O 18 de Brumário de Luís Bonaparte São Paulo Boitempo 2011 MEAD Margaret Sexo e temperamento São Paulo Perspectiva 2000 OLIVEIRA Pérsio Santos de Grandes mestres das Ciências Sociais Introdução à Sociologia São Paulo Ática 2010 p 272276 RIBEIRO Darcy A política indigenista brasileira São Paulo Sia 1962 O povo brasileiro a formação e o sentido do Brasil São Paulo Companhia das Letras 1995 O processo civilizatório etapas da evolução sóciocultural São Paulo Companhia das Letras 1998 SAHLINS Marshall La Pensée Bourgeoise a sociedade ocidental enquanto cultura In Cultura e Razão Prática Rio de Janeiro Zahar 1979 SIMÕES Júlio de Assis A sexualidade como questão social e política In ALMEIDA Heloisa Buarque de SZWAKO José Orgs Diferenças igualdade São Paulo Berlendis Vertecchia 2009 Coleção Sociedade em foco introdução às Ciências Sociais TOMAZI Nelson Dacio A Sociologia no Brasil Sociologia para o Ensino Médio São Paulo Saraiva 2010 WEBER Max Ação social e relação social In FORACCHI Marialice e MARTINS José de Souza orgs Sociologia e sociedade Rio de Janeiro Livros Técnicos e Científicos 1977 Cultura e instituições sociais Convite ao estudo Uma situação que aconteceu em fevereiro de 2017 reacendeu uma polêmica sobre apropriação cultural expressão usada para se referir ao uso de símbolos e elementos específicos de uma cultura por um grupo social diferente Na rede social Facebook uma jovem descreveu a seguinte cena reproduzida no jornal El País de 20 Fev 2017 Eu estava na estação com o turbante toda linda me sentindo diva E eu comecei a reparar que tinha bastante mulheres negras lindas aliás que tavam me olhando torto tipo olha lá a branquinha se apropriando da nossa cultura enfim veio uma falar comigo e dizer que eu não deveria usar turbante porque eu era branca Tirei o turbante e falei tá vendo essa careca isso se chama câncer então eu uso o que eu quero Adeus Peguei e saí e ela ficou com cara de tacho Desde então Thauane você deu entrevistas foi xingada e foi elogiada nas redes sociais BRUM 2017 Após a publicação do post uma série de comentários e opiniões sobre o ocorrido circularam pela rede alguns a favor da atitude da jovem outros contra Se você tivesse que tomar uma posição sobre a polêmica qual seria Quais argumentos usaria para defender ou criticar o uso do turbante pela moça branca Tente pensar em outros exemplos de apropriação cultural Por que você acha que eles existem O que as pessoas buscam ao se apropriar desses símbolos O sentido deles muda quando é usado por pessoas de uma cultura diferente da qual eles se originaram Por quê Unidade 2 Nesta unidade vamos desvendar o olhar antropológico e sociológico sobre o conceito de cultura e as instituições sociais como família religião e Estado Ora por que isso é importante Ao longo de nossa convivência em sociedade vemos ouvimos vivemos diversas situações em que a cultura a família a religião e o Estado influenciam nossa maneira de pensar às vezes sem perceber as vantagens e as desvantagens dessas interferências Como vimos o exemplo do uso do turbante pela garota branca traz uma série de elementos para refletir sobre os alcances e os limites de nossa liberdade como indivíduos diante dos aspectos sociais culturais e políticos que nos cercam como membros de uma sociedade Será que somos realmente livres para pensar e viver da maneira como queremos Ou sofremos constrangimentos pressões ponderações que estão fora de nosso controle Vamos descobrir como a Antropologia pensa o conceito de cultura de uma maneira diferente do senso comum e como esse outro olhar pode nos ajudar a lidar com situações com as quais nos deparamos constantemente em nossa vida social Para isso percorreremos as visões e os estudos de alguns autores e perspectivas antropológicas mostrando como a reflexão sobre a cultura foi se desenvolvendo ao longo da disciplina Para a Antropologia o conceito de cultura se desdobra em outros conceitos como os de alteridade etnocentrismo relativismo identidade o que permite complexificar o debate ao mostrar como situações sociais cotidianas tal como a do uso do turbante pela garota branca não se esgotam em soluções fáceis mas implicam em escolhas e dilemas éticos difíceis de serem enfrentados pois como membros de uma sociedade estamos envolvidos em uma rede um emaranhado de sujeitos funções esferas ações causas e consequências que precisam ser levados em conta quando tomamos uma decisão Veremos que a discussão antropológica sobre cultura nos ajuda a revelar as ambiguidades os desafios os conflitos presentes nessas relações nesses fios que nos envolvem numa grande teia social contribuindo para pensar e realizar um mundo em que igualdade e diferenças possam e devam coexistir Nossa viagem ao desconhecido continua Estamos entrando em terrenos ainda mais misteriosos polêmicos curiosos e por tudo isso mais instigantes U2 Cultura e instituições sociais 74 O conceito de cultura Em meio à polêmica sobre o uso do turbante pela garota branca alguém pediu a sua opinião e você decidiu escrever um texto sobre o assunto para postar no Facebook Tente se imaginar na situação quais argumentos mobilizaria você pode ser a favor contra ou ainda assumir uma posição que pese os dois lados da polêmica Para deixar o debate mais interessante você pode se arriscar a pensar no conceito de cultura Como você a definiria e como essa definição pode te ajudar a pensar e analisar a polêmica do uso do turbante pela garota branca A Antropologia nos ajuda a pensar e a lidar com situações cotidianas em que aspectos culturais de uma forma ou de outra estão envolvidos Nesta seção vamos ver como alguns antropólogos pensaram a cultura a partir de ângulos diferentes mostrando os alcances e os limites de cada uma dessas perspectivas como o Funcionalismo de Malinowski e RadcliffeBrown o Estruturalismo de LéviStrauss e a Hermenêutica de Geertz Na visão antropológica o conceito de cultura é pensado de maneira diferente do que normalmente costumamos pensar Isso permite aprofundar o debate em torno de situações polêmicas como a que abriu esta unidade mostrando como elas não podem ser resolvidas de maneira fácil e simplista Assim junto com o conceito de alteridade que também vamos discutir o olhar antropológico sobre a cultura nos ajuda a refletir sobre os dilemas éticos os constrangimentos sociais as causas e as consequências de nossas ações enquanto membros de uma sociedade Com certeza os autores que veremos em Não pode faltar darão elementos importantes para a sua reflexão sobre a cena do uso do turbante e tantas outras com que nos deparamos ao longo da vida em sociedade Seção 21 Diálogo aberto U2 Cultura e instituições sociais 75 Cultura e alteridade Se cultura costuma ser associada como o objeto de estudo da Antropologia ela cada vez mais transborda o campo da academia para se tornar uma palavra usada pelos mais diferentes sujeitos nas mais diferentes situações Índios falam de cultura para reivindicar direitos empresários para selecionar funcionários políticos para atrair votos ambientalistas para solucionar mudanças climáticas Temos a cultura do futebol a cultura da telenovela a cultura do videogame Existe assim no senso comum uma popularização do termo cultura Você já deve ter ouvido frases como os índios estão perdendo sua cultura ou fulano não tem cultura Na primeira delas a cultura é pensada como um conjunto de coisas as quais podem ser perdidas Assim o índio por estar vestido de camiseta e calça jeans usar celular ir para a cidade estaria perdendo sua cultura Já na segunda afirmação a cultura é vista como sinal de erudição e com isso alguns a teriam outros não A Antropologia porém traz uma maneira diferente de olhar para o conceito de cultura rebatendo assim as duas afirmações anteriores ao mostrar que a cultura não é um mero conjunto de coisas mais do que isso ela é um conjunto de símbolos ou seja a capacidade de as pessoas atribuírem significados às suas ações e ao mundo em que vivem Nesse sentido os índios por mais que estejam usando jeans e camiseta falando ao celular vendo televisão não deixaram de ser índios porque seu pensamento seu modo de interpretar seus mitos e rituais continuam particulares e diferentes em relação à maneira como os brancos ou não índios o fazem A cultura portanto é mais complexa e profunda do que um amontoado de coisas é uma forma de pensamento e de visão de mundo Por isso todos têm cultura e ela não acaba simplesmente apesar de estar em constante mudança Podemos questionar nossos próprios modos de pensar e interpretar as coisas e mudá los Assim outro ponto importante para a perspectiva antropológica é que a cultura é dinâmica e híbrida não há culturas estáticas e puras ela se transforma com o passar do tempo e recorre a diversas fontes e interferências de outros grupos sociais Se estamos constantemente em busca de novas tecnologias em um mundo Não pode faltar U2 Cultura e instituições sociais 76 cada vez mais globalizado fazendo uso de diferentes elementos de culturas diferentes por que os índios não poderiam fazer o mesmo Por que para eles isso é visto como perda de cultura e para nós como modernidade Se nós não deixamos de ser brasileiros porque comemos comida japonesa e dançamos tango os índios também não deixam de ser quem são por usar roupa e falar ao celular Vimos que a Antropologia de maneira geral considera a cultura um sistema de símbolos uma perspectiva uma lente para se enxergar o mundo que nos cerca BOBBIO MATTEUCCI PASQUINO 1998 como definiu a antropóloga estadunidense Ruth Benedict em seu livro O crisântemo e a espada Para aprofundar essa discussão veja os interessantes exemplos que o antropólogo Roque de Barros Laraia traz em seu livro Cultura um conceito antropológico Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e portanto têm visões desencontradas das coisas Por exemplo a floresta amazônica não passa para o antropólogo desprovido de um razoável conhecimento de botânica de um amontoado confuso de árvores e arbustos dos mais diversos tamanhos e com uma imensa variedade de tonalidades verdes A visão que um índio Tupi tem deste mesmo cenário é totalmente diversa cada um desses vegetais tem um significado qualitativo e uma referência espacial Ao invés de dizer como nós encontrolhe na esquina junto ao edifício X eles frequentemente usam determinadas árvores como ponto de referência Assim ao contrário da visão de um mundo vegetal amorfo a floresta é vista como um conjunto ordenado constituído de formas vegetais bem definidas A nossa herança cultural desenvolvida através de inúmeras gerações sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade Por isto discriminamos o comportamento desviante Até recentemente por exemplo o homossexual corria o risco de agressões físicas quando era identificado numa via pública e ainda Exemplificando U2 Cultura e instituições sociais 77 é objeto de termos depreciativos Tal fato representa um tipo de comportamento padronizado por um sistema cultural Esta atitude varia em outras culturas Entre algumas tribos das planícies norteamericanas o homossexual era visto como um ser dotado de propriedades mágicas capaz de servir de mediador entre o mundo social e o sobrenatural e portanto respeitado Um outro exemplo de atitude diferente de comportamento desviante encontramos entre alguns povos da Antiguidade onde a prostituição não constituía um fato anômalo jovens da Lícia praticavam relações sexuais em troca de moedas de ouro a fim de acumular um dote para o casamento O modo de ver o mundo as apreciações de ordem moral e valorativa os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural ou seja o resultado da operação de uma determinada cultura Em algumas sociedades o ato de comer pode ser público em outras uma atividade privada Alguns rituais de boas maneiras exigem um forte arroto após a refeição como sinal de agrado da mesma Tal fato entre nós seria considerado no mínimo como indicador de má educação LARAIA 2008 p 6768 7172 A primeira definição de cultura foi do antropólogo inglês Edward Tylor 18321917 como um todo complexo que inclui conhecimentos crenças arte moral leis costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade TYLOR 1871 p 1 A dimensão social portanto é outro ponto importante para a discussão antropológica Cultura de maneira geral é o modo pelo qual o indivíduo constrói seus símbolos suas interpretações do mundo por meio de um longo processo de aprendizado e de convivência em sociedade Por isso apesar de depender da subjetividade e da interpretação do indivíduo a cultura não é algo individualizadoindividualista porque mostra a maneira pela qual as pessoas se relacionam entre si Assim cultura na Antropologia se associa ao conceito de alteridade isto é a relação entre eu e o outro a convivência com a diversidade com o diferente estando ele em uma sociedade longínqua ou sendo nosso vizinho U2 Cultura e instituições sociais 78 Como pensar e lidar com o outro e as implicações sociais éticas e políticas que isso pode trazer para a convivência em um mundo em comum é a grande questão que a Antropologia busca responder Ainda que haja entre os antropólogos um consenso e uma definição mais geral da cultura como capacidade de simbolizar e interpretar o mundo veremos que há diferentes perspectivas usos e implicações do conceito o que traz por sua vez diversas maneiras de ver e lidar com as diferenças Se a cultura pode definir um povo dar uma identidade ela também pode contribuir para criar estereótipos Será que porque compartilhamos uma mesma cultura somos todos iguais Olhando para o Brasil todos os brasileiros pensam e agem da mesma maneira Quais são as semelhanças e as diferenças Quais são os estereótipos por meio dos quais um estrangeiro vê o Brasil como ele nos definiria Você concorda com essas visões sobre o Brasil criadas pelo olhar estrangeiro Como você se sente diante delas Quais são as vantagens e desvantagens que isso pode trazer A primeira vez que vimos um índio Kaapor rir foi um motivo de susto A emissão sonora profundamente alta assemelhavase a imaginários gritos de guerra e a expressão facial em nada se assemelhava com aquilo que estávamos acostumados a ver Tal fato se explica porque cada cultura tem um determinado padrão para este fim Os alunos de uma nossa sala de aula por exemplo estão convencidos de que cada um deles tem um modo particular de rir mas um observador estranho a nossa cultura comentará que todos eles riem de uma mesma forma Na verdade as diferenças percebidas pelos estudantes e não pelo observador de fora são variações de um mesmo padrão cultural Por isso é que acreditamos que todos os japoneses riem de uma mesma maneira Temos a certeza de que os japoneses também estão convencidos que o riso varia de indivíduo para indivíduo dentro do Japão e que todos os ocidentais riem de modo igual LARAIA 2008 p 69 Reflita U2 Cultura e instituições sociais 79 A perspectiva funcionalista Malinowski e RadcliffeBrown O Funcionalismo que tem o antropólogo britânico Aldred Radcliffe Brown 18811955 e o antropólogo polaco Bronislaw Malinowski 18841942 como representantes é uma corrente da teoria social que vê a sociedade como um conjunto de instituições sociais que desempenham funções específicas de modo a garantir a integração e continuidade do todo social Alguns autores como o filósofo e sociólogo inglês Herbert Spencer 18201903 usavam a metáfora do corpo humano para pensar as instituições sociais como partes do corpo como se fossem órgãos que precisam funcionar e interagir bem As instituições como família escola igrejas polícia parlamento são centrais nessas teorias elas precisam funcionar bem e de forma integrada para que a sociedade se mantenha sem conflitos Para o Funcionalismo a cultura serve à satisfação de funções primárias as pessoas criam as regras sociais para satisfazer suas próprias necessidades por exemplo conhecer e classificar os alimentos como meio de saciar a fome Os funcionalistas acreditam assim que as pessoas só passaram a conhecer as espécies de plantas e animais conforme perceberam que eram comestíveis O conhecimento estaria atrelado portanto à utilidade só se conhece aquilo que é útil a cultura sendo a maneira mais eficiente para satisfazer os desejos biológicos primários alimentação reprodução e proteção do ser humano Nessa perspectiva a cultura codifica a relação do ser humano com o mundo material e prático impondo esquemas para organizar a classificação da natureza a qual se relaciona com a satisfação de necessidades básicas Na perspectiva funcionalista o estudo científico das sociedades deve privilegiar a análise da organização social no presente ou num tempo claramente delimitado Empreendese assim uma crítica acirrada à visão evolucionista argumentando que ela se baseia em conjecturas sobre o passado histórico da humanidade que dificilmente poderiam ser comprovadas O evolucionismo é uma corrente da teoria social que foi dominante no final do século XIX e início do XX e via a sociedade como se ela sempre evoluísse para algo melhor mais desenvolvido como se todas as sociedades humanas passassem pelas mesmas etapas desenvolvendose a partir de instituições mais simples para as mais complexas Por exemplo achavam que a humanidade teria tido inicialmente uma U2 Cultura e instituições sociais 80 crença mágica que depois se desenvolveu em religião e que no estágio mais evoluído haveria apenas a ciência A realidade social contemporânea mostra que não é isso que ocorre porque convivem nas sociedades a religião a ciência e a magia A cultura assim era vista como uma sucessão de inovações tecnológicas e científicas Os funcionalistas por sua vez não estão interessados na noção de sobrevivência e nas condições que levam à mudança social Seu foco passa a ser a compreensão das funções das instituições no presente Por exemplo a explicação para a existência do crime é que ele tem a função de dizer quais comportamentos são socialmente aceitáveis e quais não são e portanto o crime é funcional à vida social da mesma forma que do ponto de vista da análise funcionalista a religião e as instituições religiosas servem para gerar e manter a solidariedade Um dos problemas do Funcionalismo é não levar em conta os conflitos sociais vendoos como disfunções de algo que não está indo bem e não como parte da sociedade Nesse sentido o Funcionalismo não questiona as desigualdades de poder Porém é importante realçar que a perspectiva funcionalista coloca em novos termos a diversidade cultural criticando a visão evolucionista de que as sociedades que estariam fora da civilização ocidental seriam atrasadas primitivas ignorantes ou incapazes de raciocínio lógico e que representariam um estágio ultrapassado pelas sociedades europeias Assim para os funcionalistas as sociedades ditas primitivas não são irracionais ou incoerentes mas possuem uma lógica própria a qual pode ser apreendida pelo ponto de vista nativo o qual deverá ser interpretado pelo pesquisador A perspectiva estruturalista LéviStrauss Assim como o Evolucionismo e o Funcionalismo o Estruturalismo também tem várias vertentes mas o interesse principal de todas elas é desvendar estruturas semelhantes subjacentes a fenômenos aparentemente muito distintos mostrando o que é comum e constante em todas as sociedades mesmo que a maneira de aplicar esses invariantes ou essas regras sociais seja diferente em cada uma delas Assim por exemplo o antropólogo belga Claude LéviStrauss 19082009 considerado o maior representante dessa perspectiva fez um amplo estudo sobre os mitos em diversas U2 Cultura e instituições sociais 81 sociedades e buscou para além das variações nas estórias e nos modos de contar os elementos que se repetiam em todas elas montando com isso uma estrutura em comum Essa relação entre universalidade e particularidade das culturas e também do próprio Estruturalismo é descrita por ele do seguinte modo O homem é como um jogador que tem nas mãos ao se instalar à mesa cartas que ele não inventou pois o jogo de cartas é um dado da história e da civilização Cada repartição das cartas resulta de uma distinção contingente entre os jogadores e se faz à sua revelia Quando se dão as cartas cada sociedade assim como cada jogador as interpreta nos termos de diversos sistemas que podem ser comuns ou particulares regras de um jogo ou regras de uma tática E sabese bem que com as mesmas cartas jogadores diferentes farão partidas diferentes ainda que limitados pelas regras não possam fazer qualquer partida com determinadas cartas LÉVISTRAUSS 1999 p 9899 A primeira regra cultural para LéviStrauss é o tabu do incesto proibição de relações sexuais ou do casamento entre homens e mulheres tidos como parentes Tratase para ele de um fundamento da vida social já que impede o fechamento das famílias nelas mesmas Ao obrigar o casamento fora do grupo familiar o tabu do incesto impõe a troca entre famílias o que garante a circulação de bens e a comunicação entre grupos que integram a sociedade É o que marca portanto a passagem da natureza à cultura Existindo em todas as sociedades humanas conhecidas é uma criação universal mas ao mesmo tempo é também particular uma vez que o modo por meio do qual a família e o parentesco são definidos varia muito A definição de quem é parente pode variar mas toda sociedade estabelece laços de parentesco que determinam com quem pelo fato de ser seu parente um indivíduo não pode se casar Diferentemente do Funcionalismo a perspectiva estruturalista não subordina a cultura à satisfação das necessidades básicas Segundo LéviStrauss as espécies de plantas e animais não são conhecidas apenas porque são boas para comer mas porque são sobretudo boas para pensar ou seja são classificadas pelo conhecimento em si e não meramente por uma função utilitária estando portanto os aspectos materiais e as necessidades biológicas em segundo plano U2 Cultura e instituições sociais 82 Assim classificar a natureza antecede a utilidade que ela irá adquirir sendo uma satisfação de ordem intelectual do pensamento em que se conhece para introduzir um princípio de ordem no universo e não para saciar necessidades biológicas Para o autor o que distingue o ser humano do animal é que o primeiro transforma o seu alimento por meio de um traço cultural ao cozinhálo por exemplo ao invés de comêlo cru Nesse sentido o ser humano faz o que faz não apenas para satisfazer suas vontades básicas mas para se afirmar enquanto tal e se diferenciar de outros animais Ao invés de codificar e impor a relação do ser humano com o mundo material e prático a cultura na vertente estruturalista proporciona diversas possibilidades de se relacionar com o meio não havendo uma única opção Tratase aqui de um paradigma mentalista ao invés de materialista como é no Funcionalismo Se para Malinowski a cultura é um sistema funcional e equilibrado formado por instituições interdependentes com funções e características próprias principalmente no que se refere à satisfação de necessidades básicas para LéviStrauss a cultura é um sistema simbólico no qual se incluem a linguagem a arte a ciência a religião as regras matrimoniais e as normas econômicas não estando subordinada ao utilitarismo ou aos aspectos materiais da vida social LéviStrauss também faz uma crítica ao evolucionismo ao mostrar que por mais que os conteúdos sejam diferentes como as diferenças sociais e culturais existe uma estrutura em comum para toda a humanidade que é o pensamento lógico Assim pessoas de sociedades ocidentais e não ocidentais indígenas e não indígenas possuem a mesma capacidade mental ainda que as formas e os produtos desse pensamento variem Não há portanto pensamento prélógico irracional como os evolucionistas imaginavam para as sociedades indígenas por exemplo tidas como atrasadas e inferiores Para Lévi Strauss o pensamento mágico ou o conhecimento tradicional por exemplo não é um esboço um começo ou uma iniciação do pensamento científico mas sim um sistema independente e tão bem articulado e coerente quanto a ciência assim como as sociedades indígenas também têm uma lógica própria A perspectiva hermenêutica Clifford Geertz Crítico do paradigma materialista como é no Funcionalismo U2 Cultura e instituições sociais 83 o antropólogo estadunidense Clifford Geertz 19262006 busca um conceito de cultura mais limitado e especializado e assim teoricamente mais poderoso para substituir o famoso o todo mais complexo de E B Tylor o qual embora eu não conteste sua força criadora pareceme ter chegado ao ponto em que confunde muito mais do que esclarece GEERTZ 1989 p 3 Geertz também critica o excesso de abstração do conceito de cultura o que poderá fazer com que ele se distancie da realidade e dos problemas sociais Segundo ele está sempre presente o perigo de que a análise cultural perca contato com as superfícies duras da vida como as realidades estratificadoras políticas e econômicas dentro das quais os homens são reprimidos em todos os lugares e com as necessidades biológicas e físicas sobre as quais repousam essas superfícies GEERTZ 1989 p 21 Ele diz ter evitado isso ficando atento a essas realidades e necessidades ao ter estudado e escrito sobre nacionalismo violência identidade legitimidade revolução urbanização morte tempo e sobre as tentativas particulares de pessoas particulares de colocar essas coisas em alguma espécie de estrutura compreensiva e significativa GEERTZ 1989 p 21 Geertz propõe enfim ver a cultura como o domínio dos símbolos públicos os quais são atribuídos pelas pessoas como membros de uma sociedade e com os quais interagem e se expressam abrindo um leque de possibilidades de realizar uma prática socialcultural e com isso de se relacionar com o mundo Para ele o ser humano é um animal ligado a teias de significados criadas por ele próprio consideras cultura Aos antropólogos caberia buscar a interpretação desses significados que permeiam os modos de se expressar e as formas de comportamento Geertz é contra tomar a cultura como um conjunto de traços instituições estruturas critica transformar a cultura em folclore e colecionálo transformála em traços e contálos transformá la em instituições e classificálas transformála em estruturas e brincar com elas GEERTZ 1989 p 20 Propondo um conceito semiótico em suas próprias palavras a cultura é tida como um texto que precisa ser interpretado não havendo uma explicação única e U2 Cultura e instituições sociais 84 universal mas a possibilidade de diferentes interpretações ou para Geertz interpretações de interpretações de acordo com aquele que produz e aquele que o lê A cultura como texto e contexto significa que o mais importante não é tanto o que as pessoas fazem mas os significados que elas atribuem ao que fazem São esses sentidos que o antropólogo deve buscar o que ficou conhecido como uma Antropologia Interpretativa ou Hermenêutica Um exemplo bem interessante do autor é a piscadela ou o piscar de olhos Esse simples ato de linguagem corporal pode ter significados diversos de acordo com o sujeito e o contexto Assim em um jogo de truco ele pode sinalizar ao parceiro determinada carta do baralho em outra situação pode ser o sinal de uma conspiração ou um complô o mesmo gesto também pode ser visto como paquera ou ainda simplesmente um desconforto com um cílio que caiu no olho É buscando o sentido naquele contexto específico que o antropólogo poderá interpretar a cena vista Adepto da prática metodológica da descrição densa ou seja conviver com as pessoas a serem estudadas e descrever minuciosamente as atividades cotidianas que compõem o seu modo de vida Geertz elegeu a religião como epítome de cultura e tentou descrever o efeito das concepções e práticas religiosas sobre determinados processos políticos sociais e econômicos KUPER 2002 p 134 Para ele a religião assim como a cultura é tanto uma visão de mundo quanto uma maneira de agir nele Apesar de ter uma nova ótica à Antropologia vendo como uma situação que está sendo vivida por aquelas pessoas naquele momento Geertz segundo Kuper 2002 estaria olhando para a elite de cada sociedade a cultura como uma grande ópera um grande espetáculo feito para a apreciação da elite em que as pessoas representam sempre os mesmos papéis como em um roteiro já estabelecido A generalização da cultura como se fosse a visão de todos os indivíduos de uma mesma sociedade também é uma crítica que o antropólogo Adam Kuper faz para Geertz Para esse autor apesar de Geertz ter feito um esforço de recuperar a história acabou incorporandoa dentro da reprodução de um certo ethos ou visão de mundo que seria comum a todas as pessoas Apesar da crítica à abstração do conceito de cultura o qual acaba por se descolar das realidades e problemas sociais Geertz não teria percebido a pluralidade dos sujeitos envolvidos e acabou cometendo U2 Cultura e instituições sociais 85 aquilo de mais temível nas críticas feitas ao conceito de cultura tomála como totalidade homogênea coerente e permanente como veremos principalmente na próxima seção Assim se cultura é um conceito importante para a Antropologia sua análise corre o risco de levar a um determinismo cultural isto é a cultura é vista como um roteiro para qualquer ação os interesses individuais os processos sociais as relações de poder os eventos os conflitos as manipulações das regras os fatores econômicos são abarcados todos pelo grande guardachuva da cultura Como nos alerta Adam Kuper Uma antropologia que se define como o estudo da cultura desprezará fatores sociais políticos econômicos e também biológicos Ideias e valores serão vistos como as causas do comportamento do crime das práticas trabalhistas das práticas educacionais e não como as consequências de outros fatores tais como a prosperidade e a pobreza relativas as oportunidades de emprego a exclusão dos processos políticos a corrupção e assim por diante KUPER 2002 p 0910 A discussão antropológica sobre cultura traz desafios e dilemas conceituais metodológicos e éticos Veremos a seguir como essa discussão nos ajuda a pensar em alguns problemas sociais com os quais nos deparamos constantemente Ainda que tenha uma definição mais geral como capacidade de simbolizar atribuir significados às ações e ao mundo vimos que o conceito de cultura tem usos e implicações diferentes de acordo com os autores e as perspectivas antropológicas Assim o Funcionalismo toma a cultura como a maneira mais eficiente de satisfazer necessidades básicas como a alimentação a reprodução e a proteção Para essa vertente as pessoas conhecem e classificam as coisas porque elas lhe são úteis Já o Estruturalismo discorda disso mostrando que as espécies de plantas e animais não são conhecidas apenas porque são boas para comer mas porque são sobretudo boas para pensar ou seja o conhecimento é anterior à utilidade e não depende dela A perspectiva interpretativa ou hermenêutica por sua vez toma a cultura como um Assimile U2 Cultura e instituições sociais 86 texto o qual pode ser lido e interpretado de diferentes maneiras de acordo com o contexto no qual está inserido Para deixar ainda mais claras as propostas de cada autor vejamos os trechos a seguir A Funcionalismo a satisfação das necessidades orgânicas ou básicas do homem e da raça é um conjunto mínimo de condições impostas a cada cultura Os problemas apresentados pelas necessidades nutritivas reprodutivas e higiênicas do homem devem ser resolvidos Eles são solucionados pela construção de um novo ambiente secundário ou artificial Esse ambiente que não é mais nem menos do que a cultura propriamente dita tem de ser permanentemente reproduzido mantido e administrado MALINOWSKI 1970 p 43 B Estruturalismo Quando cometemos o erro de ver o selvagem como exclusivamente governado por suas necessidades orgânicas ou econômicas não percebemos que ele nos dirige a mesma censura e que para ele seu próprio desejo de conhecimento parece melhor equilibrado que o nosso os indígenas também se interessam pelas plantas que não lhes são diretamente úteis devido às relações significativas que as ligam aos animais e aos insetos É claro que um conhecimento desenvolvido tão sistematicamente não pode ser função apenas de sua utilidade prática De tais exemplos que se poderiam retirar de todas as regiões do mundo concluirseia de bom grado que as espécies animais e vegetais não são conhecidas porque são úteis elas são consideradas úteis ou interessantes porque são primeiro conhecidas Podese objetar que uma tal ciência não deve absolutamente ser eficaz no plano prático Mas justamente seu objeto primeiro não é de ordem prática Elas antes corresponde a exigências intelectuais ao invés de satisfazer às necessidades LÉVISTRAUSS 1989 p 17 19 24 C Hermenêutica U2 Cultura e instituições sociais 87 O conceito de cultura que eu defendo é essencialmente semiótico Acreditando como Max Weber que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise portanto não como uma ciência experimental em busca de leis mas como uma ciência interpretativa à procura do significado Como sistemas entrelaçados de signos interpretáveis o que eu chamaria símbolos ignorando as utilizações provinciais a cultura não é um poder algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituições ou os processos ela é um contexto algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível isto é descritos com densidade GEERTZ 1989 p 10 Para aprofundar a discussão sobre o conceito de cultura leia o livro SANTOS J L dos O que é cultura São Paulo Brasiliense 1994 Coleção Primeiros Passos Com uma linguagem fácil e concisa o livro aborda os diferentes usos e definições de cultura passando por temas como diversidade e relações de poder Começamos esta unidade com a situação da jovem branca que usou um turbante numa tentativa de esconder a cabeça raspada por causa de um câncer Na estação ela foi abordada por uma mulher negra que teria questionado o uso do turbante por este ser um símbolo da cultura africana Como vimos a cultura é dinâmica não é pura ou seja ela tem influências de outras culturas e está em constante transformação Nesse sentido não é errado fazer uso de símbolos de outras culturas e fazemos isso o tempo todo seja ao comer comida japonesa deitarnos numa rede que foi inventada pelos índios usar determinada tecnologia dançar tango falar inglês etc Fazer esse diálogo e essa apropriação não faz com que deixemos de ser quem Sem medo de errar U2 Cultura e instituições sociais 88 somos pois a cultura é muito mais profunda do que um amontoado de coisas é uma visão de mundo a maneira pela qual interpretamos o que vemos e fazemos Assim poderíamos dizer que a jovem da situaçãoproblema não fez nada de errado ao usar um turbante Porém também temos o ponto de vista da mulher que a questionou Ainda que todas as culturas tenham suas próprias lógicas e referências e todas são legítimas e devem ser reconhecidas e respeitadas sabemos que não é bem assim As culturas também são atravessadas por relações de poder e desigualdade e algumas delas ainda são negligenciadas e vistas como inferiores por exemplo as sociedades indígenas Também podemos dizer que é assim para a cultura africana Nesse sentido uma mulher negra questionar uma garota branca pelo uso do turbante ganha outro significado não só cultural mas também político já que o uso desse símbolo cultural é diferente nos dois casos para as mulheres negras usar o turbante é uma forma de afirmação de identidade luta e resistência contra o preconceito e a desigualdade aos quais são submetidas já para as mulheres brancas estando numa posição social consideravelmente mais confortável e hegemônica o turbante deixa de ter essa conotação política para ser um mero adorno Não é necessariamente errado assumir um dos lados da polêmica Porém quando mergulhamos no debate quando o levamos a sério e pensamos de maneira profunda sobre ele vemos que as escolhas fáceis muitas vezes acabam sendo simplistas e superficiais Quando conseguimos perceber a complexidade do debate que essa e tantas outras cenas do dia a dia nos trazem assumir um lado ou outro pode se tornar difícil porque ponderamos os argumentos e tentamos enxergar os motivos e as referências de cada um deles Não se trata de ficar neutro ou indiferente nem de não se posicionar quando a situação assim exige mas de buscar a compreensão de algo que à primeira vista não compreendemos e com isso ao invés de fazer um julgamento apressado refletir com a seriedade e profundidade que a situação merece Compreender ao invés de julgar é um grande e importante passo para um convívio social mais justo tolerante e saudável U2 Cultura e instituições sociais 89 1 Mesmo embrulhado dentro de uma bela camisa dentro de mim eu continuava sendo um habitante da floresta Por isso costumo repetir aos rapazes de nossa casa Talvez vocês estejam pensando em virar brancos um dia Mas isso é pura mentira Não fiquem achando que basta se esconder nas roupas deles e exibir algumas de suas mercadorias para se tornar um deles KOPENAWA D A queda do céu palavras de um xamã yanomami São Paulo Companhia das Letras 2015 p 289 A frase de Davi Kopenawa líder indígena chama a atenção para alguns dos aspectos presentes na discussão sobre cultura Assinale a alternativa correta a Davi Kopenawa fala de como é possível se tornar branco ao usar roupas e mercadorias b Davi Kopenawa fala de como é possível se tornar branco porque a cultura pode mudar c Davi Kopenawa mostra que não é possível se tornar branco porque a cultura é imutável d Davi Kopenawa diz não ser possível virar branco porque a cultura é mais profunda do que usar vestimentas e mercadorias e Davi Kopenawa diz não ser possível virar branco porque a cultura de um povo sendo profunda não pode ser aprendida por outras pessoas 2 No começo do século XIX o governo do estado de Virgínia nos Estados Unidos sugeriu aos líderes de diversos povos indígenas que enviassem alguns de seus jovens para estudar nas escolas dos brancos Em sua cartaresposta os chefes indígenas recusaram delicadamente a proposta Eis algumas das razões alegadas por eles Nós estamos convencidos de que os senhores desejam o nosso bem e agradecemos de todo coração Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes de ver as coisas e sendo assim os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência Mas quando eles voltaram para nós eram maus corredores ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome Não sabiam como caçar o veado matar o inimigo ou construir uma cabana e falavam muito mal nossa língua Eles eram portanto totalmente inúteis Não serviam como guerreiros como caçadores ou como conselheiros Faça valer a pena U2 Cultura e instituições sociais 90 Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e embora não possamos aceitála para mostrar a nossa gratidão concordamos que os nobre senhores de Virgínia nos enviem alguns de seus jovens que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles homens BRANDÃO 1984 p89 Leia atentamente o texto Tendo em vista a discussão sobre o conceito de cultura responda com a alternativa correta a Os chefes indígenas recusaram a oferta dos Estados Unidos porque consideram que os brancos não têm cultura b Os chefes indígenas recusaram a oferta dos Estados Unidos porque acreditam que a cultura é uma visão de mundo e assim cada povo tem concepções diferentes sobre educação c Os chefes indígenas recusaram a oferta dos Estados Unidos porque acham que as culturas não devem ter relações e interferências umas das outras d Os chefes indígenas aceitaram a oferta dos Estados Unidos e em troca ofereceram que jovens brancos fossem estudar com os índios e Os chefes indígenas aceitaram a oferta dos Estados Unidos porque acreditam que a ciência dos brancos é superior ao conhecimento tradicional 3 OA propõe pensar a cultura como texto e contexto em que as ações e os comportamentos ganham diferentes interpretações de acordo com as situações e os sujeitos envolvidos Para oa a cultura não está subordinada à utilidade ou seja as pessoas classificam a natureza para saciar uma exigência intelectual de colocar ordem no mundo Já oa considera que a cultura atende às necessidades biológicas do ser humano Leia o enunciado da questão e complete os espaços corretamente a Funcionalismo Estruturalismo Hermenêutica b Funcionalismo Hermenêutica Estruturalismo c Estruturalismo Funcionalismo Hermenêutica d Hermenêutica Funcionalismo Estruturalismo e Hermenêutica Estruturalismo Funcionalismo U2 Cultura e instituições sociais 91 Igualdade e diferenças Como vimos na abertura desta unidade o uso do turbante pela garota branca suscitou um debate acalorado na rede social Podemos encontrar os mais diversos posicionamentos a respeito Você pode facilmente encontrar muitas manifestações pela Internet Por exemplo A o fato de cabelos trançados estarem na moda ou turbantes disponíveis em lojas de departamento e estampados em capas de revistas não se traduz em direitos e respeito aos negros e negras no Brasil Eu quando uso turbante na rua as pessoas me apontam e me discriminam Ao mesmo tempo uma pessoa branca com o mesmo acessório é vista como moderna conta Ribeiro Djamila Ribeiro colunista de Carta Capital O uso de turbantes por pessoas brancas é apropriação cultural de Tory Oliveira Disponível em https wwwcartacapitalcombrsociedadeturbanteseapropriacao cultural Acesso em 23 ago 2017 B Assim Thauane eu inicio dizendo a você que não sei o que é receber um diagnóstico de leucemia Não sei como é perder o cabelo aos 19 anos Não sei como é acreditar que encontrou uma saída estética para cobrir a nudez da cabeça e ouvir que esta saída não é ética Não sei Mas tento saber Acredito profundamente em vestir a pele do outro Mas sei também do limite deste gesto Buscamos vestir mas não conseguimos vestir por completo A beleza deste movimento é justamente a busca Ao tentar vestir a sua pele consciente dos limites deste gesto posso sentir o quanto deve ter sido duro ouvir o que você conta ter ouvido Você não pode usar turbante porque é branca É mais fácil para mim vestir a sua pele branca do que vestir a pele negra da mulher que te abordou com um não O que as mulheres negras dizem Thauane é que não querem que o turbante que tão precioso é para elas vire mera mercadoria na nossa cabeça Então Thauane acho que eu e você precisamos escutálas E podemos não usar um turbante Aliás não usar um turbante é bem o mínimo que podemos fazer Se as Seção 22 Diálogo aberto U2 Cultura e instituições sociais 92 mulheres negras me dizem que não posso usar um turbante porque para elas o turbante é um símbolo de pertencimento eu escuto E compreendo que não devo usar um turbante De uma branca para outra o turbante e o conceito de existir violentamente de Eliane Brum Disponível em httpsbrasilelpaiscombrasil20170220 opinion1487597060574691html Acesso em 23 ago 2017 Acesse os links sugeridos assim como outros que também tratem o tema Então perceba se você chegou a mudar a sua opinião sobre a polêmica ou se a manteve Perguntese por quê Entre os vários pontos de vista com qual você concorda e com qual discorda Por quê Quais são as visões dos autores sobre as diferenças culturais que estão em jogo na situação do uso do turbante pela garota branca Como você avalia as opiniões dos autores sobre o assunto ou seja houve preconceitos e estereótipos Nesta seção discutiremos alguns conceitos que nos ajudam a refletir sobre essa e muitas outras situações sociais de nosso dia a dia Etnocentrismo relativismo cultural e identidade são noções muito importantes ao debate antropológico para analisar cenas fenômenos e relatos que envolvem a relação entre igualdade e diferenças Como conciliar essas dimensões tão importantes para a vida social e o mundo em que vivemos Embarque nesse desafio por meio dos autores questões e temas apresentados no Não pode faltar e se sinta instigado a pensar sobre assuntos tão relevantes e polêmicos Etnocentrismo Os índios são preguiçosos os brancos são superiores aos negros a cultura ocidental é a mais evoluída os kamikazes são loucos Você já deve ter ouvido essas frases ou pode pensar do mesmo modo Isso acontece porque como vemos o mundo a partir de nossa própria lente ou seja a partir de nosso próprio ponto de vista tendemos a considerar a nossa visão ou perspectiva a mais correta a mais natural a melhor ou até mesmo como a única possível tomando as outras como inferiores eou incorretas Como a cultura é uma visão de mundo olhamos para ele a partir de nossas próprias referências e valores Essa atitude ganhou o nome de Etnocentrismo Não pode faltar U2 Cultura e instituições sociais 93 ou seja colocar a própria cultura no centro como ponto de partida para olhar as demais que estariam em lugares periféricos Segundo o antropólogo brasileiro Everardo Rocha etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos por meio dos nossos valores modelos e definições do que é a existência No plano intelectual pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença no plano afetivo como sentimentos de estranheza medo hostilidade etc ROCHA 1988 p 5 O Etnocentrismo é uma atitude universal e natural da humanidade pois todos nós olhamos analisamos e julgamos os outros sendo eles de outras sociedades ou nossos vizinhos a partir de nossa própria cultura pois é ela que dá sentido ao mundo ao nosso redor Quando nos deparamos com outros costumes e hábitos é normal se espantar ficar perplexo ter curiosidade diante deles Assim quando colonizadores europeus chegaram às Américas eles ficaram chocados com o estilo de vida indígena vendoo como atrasado selvagem primitivo Do mesmo modo os índios não os compreendiam e questionavam o porquê das roupas dos relógios das armas e de tantos outros objetos e comportamentos Os índios por exemplo têm nomes diferentes para se autodenominarem como humanos homens posicionandose no centro do mundo em contraposição aos demais povos Os australianos chamavam as roupas de peles de fantasmas pois não acreditavam que os ingleses fossem parte da humanidade LARAIA 2008 p 73 Rocha 1988 conta que um pastor veio ao Brasil fazer um trabalho de catequese e evangelização com os índios do Xingu comprando para eles contas espelhos pentes etc Para si o pastor teria comprado um moderníssimo relógio de pulso o qual foi muito cobiçado por um dos índios e depois de muita insistência resolveu dar o relógio a ele Após alguns dias o jovem índio chamou o pastor muito contente em lhe mostrar o seu trabalho no topo de uma árvore o índio fez um altar com penas e contas coloridas tendo o relógio no centro Depois de alguns meses o pastor voltou para casa Buscando inspiração para o seu relatório sobre a experiência de evangelização com os índios olhou as paredes de seu escritório Nelas arcos flechas e cocares formavam uma bela decoração O que afinal essa U2 Cultura e instituições sociais 94 anedota nos conta Para Rocha 2008 tratase de um exemplo de etnocentrismo de ambos os lados tanto o índio quanto o pastor deram um novo significado ao objeto da outra cultura fazendo com que ele tivesse sentido no próprio contexto Como para o índio o relógio enquanto instrumento de medição não tem qualquer sentido uma vez que sua cultura tem outra noção de tempo e maneira de marcálo ele fez do objeto um belo adorno criando um altar para exibilo Pois o mesmo fez o pastor com os arcos flechas e cocares se esses objetos para os índios são instrumentos de caça para o pastor não tendo essa mesma função eles se tornaram adornos nas paredes A lógica dos dois foi a mesma cada um partiu de seu próprio sistema de referências para interpretar e dar um lugar ao objeto do outro Tratase aqui de um etnocentrismo cordial nas palavras de Rocha pois a interpretação que cada um deu não teve maiores consequências Para o pastor o uso inusitado do seu relógio causou tanto espanto quanto o que causaria ao jovem índio conhecer o uso que o pastor deu a seu arco e flecha Cada um traduziu nos termos de sua própria cultura o significado dos objetos cujo sentido original foi forjado na cultura do outro O etnocentrismo passa exatamente por um julgamento do valor da cultura do outro nos termos da cultura do grupo do eu ROCHA 1988 p 7 Os objetos assim não têm um significado próprio inerente a eles só ganham um sentido quando inseridos em determinado contexto cultural O antropólogo estadunidense Marshall Sahlins 1997 mostrou como os índios incorporaram os objetos trazidos pelos estrangeiros de modo a fazer sentido em seu próprio contexto Assim ao ganharem rádios e espelhos por exemplo os índios os desmontavam e com as peças faziam colares e miçangas a serem trocadas em rituais uma vez que tais trocas ao marcar as relações entre as pessoas são muito importantes para eles ao passo que os rádios e os espelhos não o são ou ao menos não como são para nós pois as funções e os significados mudam de um grupo a outro É nesse sentido que a cultura voltando a uma questão que já discutimos não acaba por mais que incorporemos objetos alheios ou estrangeiros fazemos do nosso modo a partir de nossa visão de mundo As culturas com isso estão sempre se transformando U2 Cultura e instituições sociais 95 Por ser uma atitude universal e natural o etnocentrismo não é um problema em si Você pode ver a diferença como uma possibilidade de aprender com ela ou então você pode vêla como uma ameaça O etnocentrismo se torna um problema quando nos leva a transformar diferenças em desigualdades a discriminar dominar eliminar o outro impossibilitando com isso o diálogo e convívio com o diferente É o caso por exemplo de guerras e invasões com a justificativa de levar a civilização ao outro como se por ser diferente ele já não a tivesse É para evitar atitudes radicais e intolerantes como essas e tantas outras que o relativismo cultural se faz tão importante Relativismo cultural O relativismo cultural ou relativização é a compreensão de que cada cultura tem sua lógica e deve ser olhada a partir de seu próprio sistema de referências Quando fazemos isso percebemos que não há cultura superior ou inferior já que cada uma está de acordo com o contexto no qual está inserida e portanto tem sua própria coerência Por exemplo ao invés de dizer que os índios são preguiçosos tomando a nossa cultura como referência compreender que se trata de outra maneira de conceber o trabalho e a vida social Assim os índios não trabalham mais não porque não podem mas porque não querem e não precisam eles trabalham o suficiente para a sobrevivência uma vez que não participam da lógica capitalista na qual se trabalha mais para o acúmulo de capital e consumo Nesse sentido os índios não são preguiçosos mas são coerentes com o sistema de referências e valores de sua própria cultura e estilo de vida O mesmo se pode dizer sobre eles não terem armas de fogo isso não significa que sejam mais atrasados em relação a nós já que lá tal objeto não tem sentido uma vez que o arco e a flecha são eficientes para caçar e estão de acordo com a concepção que eles têm sobre comidaalimentação Tratase assim de outra maneira de ver a natureza e viver em sociedade Quando conseguimos enxergar através do olhar do outro compreendemos os motivos de ele ser agir e pensar daquele modo Nas palavras de Rocha U2 Cultura e instituições sociais 96 Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição estamos relativizando Quando o significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta mas no contexto em que acontece estamos relativizando Quando compreendemos o outro nos seus próprios valores e não nos nossos estamos relativizando Enfim relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento capaz de ter um fim ou uma transformação Ver as coisas do mundo como a relação entre elas Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia em superiores e inferiores ou em bem e mal mas vêla na sua dimensão de riqueza por ser diferença ROCHA 1988 p 9 Se muitas das explicações de outros povos são para nós estranhas e incompreensíveis elas são lógicas porque estão de acordo com a visão de mundo deles O antropólogo Roque de Barros Laraia 2008 traz alguns exemplos nesse sentido Sem estes meios materiais instrumentos de precisão científica por exemplo o homem tem que tirar conclusões a partir de sua observação direta valendose apenas do instrumental sensorial de que dispõe Assim não é nada ilógico supor que é o Sol que gira em torno da Terra pois é esta sua sensação Uma conhecida nossa perguntou a um caipira paulista como é que o sol morre todos os dias no Oeste e nasce no Leste Ele volta apagado durante a noite foi a resposta que obteve Menos que um pensamento absurdo tratase de uma outra concepção a respeito do universo obviamente diferente da nossa que dispomos das informações obtidas por sofisticados observatórios astronômicos Sem o auxílio do microscópio é impossível imaginar a existência de germes daí ser mais fácil admitir que as doenças são decorrentes da intromissão de seres sobrenaturais malignos E consequentemente o tratamento deve ser formulado a partir de sessões xamanísticas capazes de controlar e exorcizar essas entidades LARAIA 2008 p 88 A Antropologia é a ciência que busca compreender o sistema de referências do outro a lógica própria de cada cultura Ela propõe U2 Cultura e instituições sociais 97 o movimento de sair do etnocentrismo em direção à relativização de se abrir ao outro ouvir o que ele tem a dizer ver a diferença não como hostilidade e ameaça mas como possibilidade de aprendizado Cada sociedade tem um medidor diferente para avaliar o grau de sucesso ou não de algum fenômeno Assim no exemplo de Rocha 1988 se tomarmos como referência o futebol o Brasil é melhor do que os Estados Unidos Mas se o parâmetro for bandas de rock nós saímos perdendo Não há portanto um medidor universal e por isso não dá para falar que uma cultura seja superior a outra de maneira geral pois o que é bom para uma sociedade não necessariamente é para outra As culturas são assim equivalentes pois cada uma tem uma visão uma concepção uma lógica própria coerente com o contexto no qual está inserida Reconhecer a pluralidade cultural é um passo importante para a relativização O antropólogo Claude LéviStrauss 19082009 em seu texto Raça e história escrito em 1952 questiona a ideia de superioridade racial e portanto o etnocentrismo Ele faz uma importante crítica à ideia de evolucionismo social ou seja de que as culturas estariam em estágios ou degraus diferentes de desenvolvimento estando as sociedades indígenas no patamar mais baixo tidas como primitivas e as sociedades ocidentais consideradas modernas no topo Para o antropólogo ver desse modo é tomar um sistema de referências como único e universal o sistema ocidental e desconsiderar os outros Em uma de suas famosas frases O bárbaro é em primeiro lugar aquele que crê na barbárie LÉVISTRAUSS 2013 p 364 o autor mostra que o sentido da história depende de quem vê e portanto o que é considerado bárbaro selvagem primitivo muda de acordo com essa visão Isso pode nos ajudar a ponderar algumas expressões de efeito como a guerra contra o terror uma justificativa amplamente usada pelo governo dos Estados Unidos para invadir o Iraque em 2003 A questão passa porém por saber de que terror afinal estamos falando ou ainda quem é o terrorista Essa pergunta não tem uma única resposta é possível ver o terror a partir de diferentes lados dependendo do ponto de vista do observador Se os Estados Unidos podem ter como claro quem é o terrorista para os muçulmanos ou uma parte deles a guerra ao Iraque pode ser caracterizada como um ato terrorista LéviStrauss 2013 é contra a visão de que o progresso é necessário contínuo e linear como se todas as sociedades U2 Cultura e instituições sociais 98 estivessem indo e quisessem ir para a mesma direção Para ele o progresso procede por saltos pulos mutações descontinuidades Tratase de uma transformação e não de uma valorização não de atribuição a um valor positivo ou negativo mas de um processo de alteração que não tem um sentido em si mesmo porque a direção depende da posição daquele que vê No exemplo de LéviStrauss A fim de mostrar que a dimensão e a velocidade do deslocamento dos corpos não são valores absolutos mas funções da posição do observador lembrase que para um viajante sentado junto à janela de um trem a velocidade e o comprimento dos outros trens variam conforme estes se deslocam no mesmo sentido ou num sentido inverso LÉVISTRAUSS 2013 p 375 As sociedades não caminham para uma única e inexorável direção como se subissem uma escada elas não estão indo para o mesmo lugar porque cada uma tem um critério diferente de qual é o melhor caminho a tomar e de onde chegar As sociedades indígenas por exemplo não necessariamente querem ser iguais às sociedades ocidentais É por isso que há a diversidade cultural e por mais forte e presente que seja a globalização ela não vai transformar o mundo em uma mesmice porque sempre haverá pontos de vista diferentes Para LéviStrauss o progresso quando acontece resulta da coligação entre as sociedades quando se reconhece portanto a pluralidade cultural A diversidade pode desencadear transformações no mundo em que vivemos porque ela permite diferentes respostas para diferentes situações abrindo um leque de possibilidades de agir pensar e ser A história com isso tornase um processo de relativização Conhecer o outro em seus próprios termos pode assustar porque ao fazermos isso percebemos que afinal não somos donos da verdade uma vez que há outros sistemas de referências tão coerentes e verdadeiros quanto o nosso É mais fácil julgar o outro como inferior louco selvagem O difícil é estar disposto a compreendêlo pois isso exige esforço uma abertura à escuta do diferente Mas essa abertura é o que nos permite ver a vida em sua complexidade Perceber os desafios sair de si para encontrar o outro é algo que nos transforma enquanto pessoas que compartilham um mundo em comum e um mundo U2 Cultura e instituições sociais 99 que se queira mais tolerante saudável justo no qual identidades igualdades e diferenças possam coexistir Como vimos o etnocentrismo toma o próprio sistema de referências como o centro do universo tido como o mais correto natural verdadeiro até mesmo como o único possível O etnocentrismo está presente em todos os grupos sociais já que cada um vê o mundo a partir de sua própria cultura Isso pode ter consequências menos nocivas como a incompreensão espanto curiosidade em relação aos valores comportamentos maneiras de ser e pensar do outro e mais graves como a intolerância a discriminação e o ódio do diferente A seguir veremos como o líder indígena Davi Kopenawa descreve o primeiro contato que teve com os brancos Hoje nossas crianças não têm mais medo dos brancos Mas eu antes tinha pavor deles Eram mesmo outros Eu os observava de longe e pensava que pareciam serem maléficos da floresta Ficava apavorado só de vêlos Tinham uma aparência horrível Eram feios e peludos Alguns eram de uma brancura assustadora Perguntava a mim mesmo o que podiam ser seus sapatos relógios e óculos Esforçavame para prestar atenção tentando compreender suas palavras mas não adiantava nada Pareciam barulhos soltos Além do mais eles manipulavam sem parar vários tipos de coisas que me pareciam tão estranhas e assustadoras quanto eles próprios Aliás mesmo muito tempo depois dessa primeira visita bastava um desses brancos querer se aproximar de mim para eu sair correndo aos prantos Eles realmente me apavoravam Eu tinha medo até da luz que saía de suas lanternas Mas temia ainda mais o ronco de seus motores as vozes de seus rádios e os estampidos de suas espingardas O cheiro de sua gasolina me deixava enjoado A fumaça de seus cigarros me dava medo de adoecer Em suma eu pensava que deviam mesmo ser seres maléficos famintos de carne humana KOPENAWA 2015 p 244 Se os relatos de colonizadores e missionários europeus mostram o espanto e o horror que sentiram ao entrarem em contato com os Assimile U2 Cultura e instituições sociais 100 índios a fala de Kopenawa nos traz o outro lado ou seja a visão dos índios normalmente silenciada dos livros de história mostrando que eles também ficaram extremamente perturbados e assustados com esse encontro Se esse relato pode ser visto como um exemplo de etnocentrismo ele também pode nos abrir à relativização na medida em que conhecer o ponto de vista do outro ainda mais quando se trata de um grupo marginalizado como os índios é um importante passo para perceber que sua cultura também tem uma lógica Quando ouvimos o diferente seja índio ou não passamos a questionar os nossos próprios valores percebendo que afinal por mais distintos e variáveis que sejam não são tão diferentes assim em relação às outras culturas já que todas elas a seu modo têm uma definição do que seja certo e errado bom e ruim verdadeiro e falso aceitável e abominável Podemos ver essa atitude relativista no trecho a seguir do filósofo e escritor francês Michel de Montaigne 15331592 que teve notícias e chegou a ter contato com alguns índios Tupinambá Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de crueldade mas que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos Estimo que é mais bárbaro comer um homem vivo do que o comer depois de morto e é pior esquartejar um homem entre suplícios e tormentos e o queimar aos poucos ou entregálo a cães e porcos a pretexto de devoção e fé como não somente o lemos mas vimos ocorrer entre vizinhos nossos conterrâneos MONTAIGNE 1984 p 107 O relativismo implica reconhecer compreender e respeitar a diversidade cultural vendo as diferentes maneiras de ser agir e pensar como equivalentes coerentes e verdadeiras Se por um lado isso é fundamental como um contraponto ao etnocentrismo mais radical possibilitando um convívio mais justo saudável e tolerante por outro lado pode nos levar a um esvaziamento da crítica e da ação política Se tudo é afinal ponto de vista isso significa que tudo é permitido Como manter essa posição neutra e passiva diante de situações polêmicas como o corte do clitóris em algumas sociedades muçulmanas como Reflita U2 Cultura e instituições sociais 101 a mulher naquela cultura não pode sentir prazer sexual as meninas acabam tendo o clitóris cortado e muitas morrem por infecção Se o machismo e o rodeio são culturais isso significa que devam ser tolerados Qual é o limite do respeito à diversidade cultural Em que medida um comportamento por ser cultural não pode sofrer qualquer tipo de intervenção Identidade igualdade e diferenças A cultura tanto unifica quanto diversifica a humanidade se ela traz traços específicos de uma espécie como o ser humano diferindoo das demais também atribui valores significados e referências de maneira diferente A grande questão da antropologia é conciliar a igualdade e as diferenças em um mundo comum O conceito de identidade de maneira geral pode ser descrito como o sentimento de pertencimento a um grupo compartilhando regras e condutas próprias Como o etnocentrismo e a relativização o conceito de identidade também deriva da discussão antropológica sobre cultura E assim como a cultura a identidade é dinâmica está em constante transformação não devendo ser tomada como algo fixo único e imutável A identidade não é algo herdado uma vez que nascer dentro de um grupo não significa necessariamente pertencer e se identificar com ele A identidade é histórica algo construído em determinado contexto e reivindicado em determinadas situações identidades novas são criadas outras são descartadas e ainda podemos assumir diferentes identidades de acordo com o momento uma vez que as pessoas são plurais e assumem inúmeras funções e posições ao longo da vida Nesse sentido a identidade tem uma conotação política ao se identificar as pessoas ao mesmo tempo em que se diferenciam de outros grupos lutam por reconhecimento e direitos Assim negros índios mulheres homossexuais enquanto minorias grupos marginalizadosdiscriminados pela sociedade reivindicam uma identidade como instrumento importante para chamar a atenção para as desigualdades que sofrem e com isso exigir que os direitos sejam cumpridos É nessa direção que podemos compreender a Parada Gay e os dias da Mulher do Índio e da Consciência Negra Se a identidade é importante para marcar e reconhecer uma diferença e ao mesmo tempo mostrar que essa diferença não pode U2 Cultura e instituições sociais 102 ser vista como desigualdade ela acaba sendo um problema quando é vista como uma totalidade homogênea coerente e permanente ou seja quando não se leva em conta as divisões e os conflitos internos ao próprio grupo Por mais que as pessoas se identifiquem com algo em comum isso não significa que não haja modos de ser pensar e agir que as diferem Assim para as minorias sociais criar uma identidade é uma estratégia política e cultural importante para reivindicar direitos que lhes são negados porém isso não quer dizer que todas as mulheres todos os negros todos os homossexuais todos os índios sejam iguais como nem todos os brasileiros pensam agem e são do mesmo modo só porque pertencem a um mesmo grupo o Brasil O grande desafio dos movimentos sociais é conseguir perceber o que os une e os diferencia se existe uma causa em comum ela não dissolve as diferenças e os conflitos existentes É preciso portanto conciliar a luta por reconhecimento e igualdade com os interesses opiniões vontades desejos prioridades e estratégias que variam de um indivíduo a outro Se a cultura ajuda a identificar grupos e pessoas ela porém não os determina não dá a eles uma única configuração possível porque a diversidade continua a existir Para mostrar como as identidades são complexas plurais e às vezes contraditórias leia e pense no exemplo a seguir contado pelo sociólogo jamaicano Stuart Hall 19322014 importante estudioso desse tema Em 1991 o então presidente americano Bush ansioso por restaurar uma maioria conservadora na Suprema Corte americana encaminhou a indicação de Clarence Thomas um juiz negro de visões políticas conservadoras No julgamento de Bush os eleitores brancos que poderiam ter preconceitos em relação a um juiz negro provavelmente apoiariam Thomas porque ele era conservador em termos da legislação de igualdade de direitos e os eleitores negros que apoiam políticas liberais em questões de raça apoiariam Thomas porque ele era negro Em síntese o presidente estava jogando o jogo das identidades Exemplificando U2 Cultura e instituições sociais 103 Durante as audiências em torno da indicação no Senado o juiz Thomas foi acusado de assédio sexual por uma mulher negra Anita Hill uma excolega de Thomas As audiências causaram um escândalo público e polarizaram a sociedade americana Alguns negros apoiaram Thomas baseados na questão da raça outros se opuseram e ele tomando como base a questão sexual As mulheres negras estavam divididas dependendo de qual identidade prevalecia sua identidade como negra ou sua identidade como mulher Os homens negros também estavam divididos dependendo de qual fator prevalecia seu sexismo ou seu liberalismo Os homens brancos estavam divididos dependendo não apenas de sua política mas da forma como eles se identificavam com respeito ao racismo e ao sexismo As mulheres conservadoras brancas apoiavam Thomas não apenas com base em sua inclinação política mas também por causa de sua oposição ao feminismo As feministas brancas que frequentemente tinham posições mais progressistas na questão da raça se opunham a Thomas tendo como base a questão sexual HALL 2006 p 1820 Se há avanços da análise cultural na compreensão das diferenças é preciso também reconhecer os seus limites diante da diversidade do imponderável da complexidade da vida social que não se esgota numa teoria Para o antropólogo Clifford Geertz a análise cultural é intrinsecamente incompleta e o que é pior quanto mais profunda menos completa GEERTZ 1989 p 20 As críticas aos conceitos de cultura e identidade quando são vistas como totalidades homogêneas e imutáveis se inserem em um debate mais amplo sobre o ofício do antropólogo ou seja como compreender e representar o outro Como falar sobre esse outro sem cair em um etnocentrismo arrogante e distanciado nem em um relativismo ingênuo e despolitizado Geertz 1999 se propõe a pensar nesse dilema ou seja nos usos que fazemos da diversidade em um mundo colagem um mundo globalizado um mosaico de tradições valores e culturas em que o outro não está mais isolado em um país longínquo e exótico mas está do nosso lado frequentando os mesmos lugares e partilhando as mesmas experiências U2 Cultura e instituições sociais 104 Para Geertz há duas maneiras tradicionais de se lidar com esse outro o universalismo ou o relativismo radical e o etnocentrismo ou o olhar distanciado Se o primeiro nos leva a uma incapacidade de julgamento e ao apagamento das diferenças o segundo nos leva a um obscurecimento de nossa posição em relação ao mundo e no limite a um obscurecimento de nós próprios já que segundo o autor conhecer e lidar com o outro significa compreender e lidar com nós mesmos O filósofo estadunidense Ricard Rorty 19312007 porém tem outra visão e maneira de lidar com a diversidade Para ele o diálogo entre os diferentes só é possível mantendo a distância a partir da sobreposição de alguns valores que são locais mas que merecem ser universais tal como o de justiça processual desenvolvido pelas instituições democráticas que permite abarcar os diferentes sujeitos vindos de diferentes culturas em um ideal de tratamento igualitário Por mais diferentes que sejamos somos livres e iguais mas cada um com sua particularidade ou seja podemos e devemos manter a distância necessária para sermos quem quisermos ser longe dos olhos e das intromissões dos outros Nesse sentido Rorty 1997 une relativismo e etnocentrismo na tentativa de lidar com a diversidade no mundo contemporâneo Para ele Geertz erra ao acreditar na compreensão do outro como algo próprio da humanidade uma vez que existe a possibilidade de não o compreender e por isso para ele a importância de se ter um valor universalizável para regular o convívio entre diferentes Como porém escolher esse valor universalizável sem eleger uma cultura em detrimento de outras Ou ainda quem irá fazer essa escolha A necessidade de uma reflexão que concilie cultura e ação igualdade e diferenças sociedade e indivíduo é consenso na antropologia contemporânea Não se trata de apagar as diferenças mas reconhecer mais delas e os modos complexos nos quais elas se entrecruzam Assim como a cultura não fornece roteiro para tudo uma sociedade desprovida de qualquer constrangimento normativo também é ilusória Como abarcar essas duas dimensões passa por questionamentos não só teóricos e metodológicos o que já seria muito mas também éticos U2 Cultura e instituições sociais 105 Para conhecer mais o ponto de vista dos índios e contribuir com isso para ter uma atitude relativista em relação a eles acesse o link a seguir Disponível em httpwwwvideonasaldeiasorgbr2009 Acesso em 20 out 2017 Importante projeto desenvolvido com as sociedades indígenas em que os índios se tornam autores da própria cultura a partir da realização de vídeos com cenas e relatos do cotidiano No site você poderá assistir aos vídeos produzidos por eles ler notícias e acompanhar as oficinas realizadas Se uma garota branca usa um turbante símbolo da cultura africana e é questionada por outra garota negra é preciso buscar os sentidos por trás dessas atitudes para evitar julgamentos apressados simplistas e às vezes preconceituosos Se o etnocentrismo como vimos é uma atitude natural e universal da humanidade isso não significa porém que não podemos ou devemos refletir sobre ele e ir além Vimos que a cultura é dinâmica e está sempre se reinventando e por isso seus objetos e símbolos circulam por diversos grupos sociais Essas incorporações acabam sendo feitas de modos e com significados diferentes estando de acordo com o novo contexto no qual foram inseridas Assim se a garota branca pode usar um turbante reivindicando sua liberdade de expressão e igualdade de direitos também é importante compreender como isso muda o sentido original desse símbolo na cultura onde ele nasceu Para a mulher negra que a criticou e outras que também concordaram com a crítica o uso do turbante por uma garota branca retira desse objeto a sua importância como instrumento de luta resistência e identidade do movimento negro Isso não significa que todas as mulheres negras foram contrárias ao uso do turbante pela garota branca Como vimos a identidade não se refere a uma totalidade homogênea mas ela também tem seus conflitos e diferenças internos entre os próprios membros do grupo As situações sociais são complexas porque não há unanimidade já que as pessoas não são iguais mas pensam e agem de maneiras Pesquise mais Sem medo de errar U2 Cultura e instituições sociais 106 diferentes às vezes complementares outras antagônicas É por isso que essa e tantas outras cenas sociais que encontramos ao longo de nossa vida em sociedade são polêmicas e implicam escolhas e dilemas culturais políticos e éticos Se o etnocentrismo pode ser uma primeira tentativa de olhar para elas a relativização nos convida a repensar nossos próprios valores atitudes comportamentos e ver as coisas de outro modo Ver a diferença como ameaça ou como possibilidade é uma decisão nem sempre clara e fácil A Antropologia e a Sociologia nos ajudam nesse sentido a pensar em nossas escolhas vêlas de modo mais crítico dosando os alcances e limites de cada uma delas e alterálas quando for necessário É ponderando sobre nós mesmos conhecendonos que poderemos compreender o outro ainda que não concordemos com ele e conciliar assim as diferenças com a igualdade na construção de um mundo em comum 1 Cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra E é natural porque só podemos julgar verdade e a razão de ser das coisas pelo exemplo e pela ideia dos usos e costumes do país em que vivemos Neste a religião sempre é melhor a administração excelente e tudo o mais perfeito MONTAIGNE 1984 Esse trecho é de um texto escrito em 1579 século XVI época da expansão marítima e início da colonização brasileira e de diversas outras terras latinoamericanas Após ler o trecho anterior assinale a alternativa correta a O conceito que melhor caracteriza o trecho é o de relativização porque ajuda a compreender o ponto de vista do outro b O conceito que melhor caracteriza o trecho é o de relativização porque promove o respeito à diversidade cultural c O conceito que melhor caracteriza o trecho é o de etnocentrismo porque faz uma crítica à noção de etnia d O conceito que melhor caracteriza o trecho exposto é o de etnocentrismo porque explica as relações sociais a partir da ideia de etnia e O conceito que melhor caracteriza o trecho exposto é o de etnocentrismo porque coloca a própria cultura no centro do universo Faça valer a pena U2 Cultura e instituições sociais 107 2 Considere as seguintes frases A O etnocentrismo não é exclusividade de determinada época nem de uma única sociedade Talvez o etnocentrismo seja entre os fatos humanos um daqueles de mais unanimidade ROCHA 1988 B A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo BENEDICT 2014 Como podemos relacionar as frases a Como a cultura é uma visão de mundo todos os grupos sociais são etnocêntricos b Como a cultura é uma visão de mundo nem todos os grupos sociais são etnocêntricos c Se a cultura fosse uma visão de mundo não haveria etnocentrismo d Como a cultura não é uma visão de mundo não há etnocentrismo e Como a cultura não é uma visão de mundo há etnocentrismo 3 Cores raças castas crenças Riquezas são diferenças Trecho da música Miséria de Arnaldo Antunes Como o trecho da música se relaciona com o conceito de relativização ou relativismo cultural a Relativizar é relacionar as culturas em níveis diferentes b Relativizar é compreender o outro na cultura dele c Relativizar é julgar o outro a partir da cultura do eu d Relativizar é ver a diferença como uma ameaça e Relativizar é estudar o outro a partir do passado U2 Cultura e instituições sociais 108 Instituições sociais continuidades e transformações O uso do turbante pela garota branca nos permite pensar entre outras questões nos alcances e limites da liberdade de expressão e do respeito à outra cultura Até onde vai a minha liberdade de expressão Quando ela esbarra no sofrimento e na dominação do outro ainda assim é liberdade ou seja ela deve imperar acima de tudo ou há situações em que a liberdade precisa ser delimitada para não se tornar violenta desrespeitosa Em outra situação sobre uso o de símbolos culturais temos a polêmica do uso do véu islâmico por mulheres muçulmanas Em 2010 a França aprovou uma lei que proíbe o uso do véu islâmico em locais públicos como escolas hospitais centros governamentais transportes coletivos Na rua o uso do véu é permitido Desde então Bélgica Bulgária e outras regiões adotaram a lei Em 2016 foi a vez da Holanda Se algumas pessoas consideraram a lei válida porque o Estado é laico ou seja sem interferência religiosa outras argumentaram que a lei fere o direito à liberdade religiosa Quais são as semelhanças e diferenças entre a polêmica do uso do turbante pela garota branca e a proibição do uso do véu por mulheres muçulmanas Como você vê o uso do véu islâmico Você considera ser uma imposição da religião e da família ou uma escolha pessoal Em quais situações o Estado podedeve interferir na liberdade de expressão cultural religiosa etc e em quais situações ele não podedeve Se você tivesse que pensar numa solução ao impasse do uso do véu islâmico qual seria apoiar a lei desaprovar a lei eou propor algo novo Por quê Nesta seção veremos como a análise das instituições sociais como família religião e Estado pode nos ajudar a refletir sobre suas influências em nossa maneira de pensar agir e ser Isso se mostra importante porque como membros de uma sociedade devemos Seção 23 Diálogo aberto U2 Cultura e instituições sociais 109 medir os alcances e limites de nossas escolhas uma vez que elas têm consequências para além de nós e em algumas vezes fogem de nosso controle Assim pensar sobre essas consequências tendo em vista as influências de algumas instituições sociais é uma maneira de considerar os impactos de nossas ações em outras pessoas que participam de uma vida social em comum Em que medida a família a religião e o Estado configuram nossa visão de mundo Como conciliar a liberdade individual com o pertencimento a grupos sociais mais amplos e com regras próprias Quais são os desafios que isso pode trazer Em Não pode faltar vamos acompanhar como a Sociologia e a Antropologia pensaram algumas instituições sociais que fazem parte de nosso dia a dia bem como as conquistas e os dilemas que elas trazem à vida em sociedade Esta seção vai abordar o olhar sociológico e antropológico sobre algumas instituições sociais como família religião e Estado além de provocar reflexões sobre cenas cotidianas em que há uma tensão entre conciliar a liberdade individual e o pertencimento a grupos sociais Família Abordar formas diversas da família em diferentes sociedades em grupos sociais distintos vivendo num mesmo país e as mudanças pelas quais passa essa instituição ao longo da história leva cientistas sociais e historiadores a considerar que o correto seria utilizar essa palavra sempre no plural famílias Boa parte da pesquisa sociológica e antropológica foi consagrada ao estudo das formas de parentesco em sociedades muito diferentes da nossa como as sociedades indígenas oferecendo um leque muito variado de tipos de casamento e formas de descendência Para nós a família nuclear unidade constituída pelo casal e seus filhos dependentes em oposição à família extensa constituída por três ou mais gerações além dos pais os tios e os avós por exemplo é a que mais facilmente encontramos ou reconhecemos Mas não é assim para todas as sociedades uma vez que as relações familiares mudam de um contexto para outro LéviStrauss 1982 critica a visão de que a família nuclear monogâmica seja superior ou Não pode faltar U2 Cultura e instituições sociais 110 mais moderna em relação aos outros tipos vistos como primitivos e promíscuos Além de mostrar que a monogamia também está presente em outras sociedades como as indígenas o antropólogo revela principalmente que há diferentes formas de família sendo a monogamia apenas um modelo possível Em uma das sociedades por ele estudada há ainda a ausência de qualquer forma familiar problematizando com isso a universalidade da família Os trabalhos do antropólogo polonês Bronislaw Malinowski 1884 1942 sobre a sociedade trobriandesa na Oceania são um bom exemplo das possibilidades de composição variadas dos princípios de parentesco casamento e organização do grupo doméstico e permitem ver como uma realidade como a nossa é um arranjo específico entre outras formas possíveis e por isso não pode ser generalizada Naquela sociedade os vínculos entre mães e filhos são essencialmente diferentes daqueles entre pais e filhos Negase a participação do genitor masculino no processo reprodutivo para eles as crianças são concebidas por espíritos que vagam sobre as águas e penetram na vagina das mulheres quando elas se banham Relações sexuais apenas alargam a abertura vaginal a fim de permitir a penetração dos espíritos É o tio materno o irmão da mãe quem ocupa as posições sociais próprias do pai na família nuclear moderna assumindo as funções de autoridade e de transmissão das heranças A família nuclear como a organização mais natural universal e correta não se sustenta A defesa desse modelo em que o homem é tido como o provedor do lar e a esposa se encarrega em tempo integral do cuidado dos filhos e do marido tende a ser feita pela alegação de que ele responderia a uma necessidade biológica e desempenharia papéis fundamentais para a sobrevivência da espécie humana como a regulação da sexualidade a reprodução a socialização das crianças a divisão de trabalho e a cooperação entre os sexos As ciências sociais no entanto mostram que a família nuclear é uma criação relativamente recente na história da nossa sociedade e portanto não pode ser entendida como resposta a uma necessidade biológica ou psicológica dos seres humanos em qualquer época ou lugar Ao contrário é uma construção histórica cujo significado muda de acordo com o contexto e com o grupo social Exemplificando U2 Cultura e instituições sociais 111 Segundo o historiador francês Philippe Ariès 19141984 essa sensibilidade em relação à família nuclear como um espaço do afeto e do cuidado tal como a conhecemos hoje e que se mostra tão onipresente e naturalizada consolidouse enquanto tal no século XIX a partir do momento em que o trabalho o lazer e o convívio familiar passaram a se apresentar como atividades separadas Focalizando a transformação dos afetos e sentimentos Ariès 1981 descreve um processo de longa duração que leva à separação de duas esferas o público e o privado transformando a casa no espaço da intimidade familiar no reduto do privado por excelência A valorização da família nuclear como reino do carinho e do cuidado não pode nos levar a ignorar as relações de poder e os conflitos que podem resultar em violência agressões físicas e psicológicas entre marido e esposa e entre pais e filhos Quem já não ouviu a expressão em briga de marido e mulher ninguém mete a colher É contra essa ideia de um mundo privado e fechado que as feministas criaram a palavra de ordem o pessoal é político levando à criação das delegacias de Defesa da Mulher como uma maneira de intervir em casos de violência doméstica Foram as teorias feministas a partir dos anos 1970 que levaram mais a fundo a crítica à visão idealizada da família nuclear Os estudos de gênero mostraram com clareza que a noção de família tem um peso político prescrevendo maneiras moralmente corretas de conduzir a vida e as formas adequadas de estabelecer trocas cuidados e outras relações entre os seres humanos A família dessa perspectiva é pensada como uma construção ideológica que reitera papéis sociais no intuito de justificar e legitimar a dominação masculina e a violência de gênero As feministas criticam também a noção de maternidade como um valor buscado e desejado por todas as mulheres ao contrário a maternidade como valor pode ser um instrumento de opressão Esses estudos foram fundamentais para problematizar as relações familiares contribuindo para que os crimes ocorridos no ambiente doméstico não fossem mais silenciados mas sim investigados e punidos A família portanto não é única nem universal ela não serve necessariamente à necessidade humana de criação e socialização das crianças não há enfim uma função intrínseca a ela é preciso situála dentro dos processos históricos mais U2 Cultura e instituições sociais 112 amplos contextualizála A vida conjugal e familiar também não está necessariamente fundada sob os pilares do amor respeito e companheirismo sendo muitas vezes um lugar de opressão desigualdade conflito e de muito trabalho para as mulheres O desafio dos estudos sociológicos e antropológicos é justamente mostrar que não existe um modelo natural de família mas que há diferentes formas que mudam de acordo com a sociedade a cultura e a época Os estudos sociológicos e antropológicos têm mostrado a diversidade de arranjos domésticos e formas familiares em função das elevadas taxas de divórcio de recasamentos e de famílias monoparentais formadas pelo pai e os filhos ou a mãe e os filhos e não pelo casal como é o caso da família nuclear Completa ainda esse quadro a diversidade de formas de coabitação quando duas ou mais pessoas vivem juntas sem estarem casadas ou moram com outros parentes como avós tios e primos as famílias recompostas unidades em que pelo menos um dos cônjuges tem filhos de outro casamento os casais homossexuais que conseguiram em vários países o direito de serem definidos como família Esses novos arranjos somados aos avanços das novas tecnologias reprodutivas entre as quais ganha destaque a fertilização in vitro ou seja a fecundação do óvulo pelo espermatozoide em um laboratório indicam que o processo de transformação por que passa a família é de tal forma que esta em um futuro muito próximo poderá conter estruturas relacionais inimagináveis Como sugere com humor a socióloga Ana Maria Goldani 2004 p 224 os filhos in vitro por exemplo podem ter até cinco pais não contando mudanças de possíveis novos casamentos uma mãe doadora a que doa os óvulos para fertilização uma mãe de nascimento aquela que gera a criança uma mãe social aquela que assume e cuida da criança depois do nascimento e que pode não ser a mãe biológica um pai social responsável pela criação da criança e um pai doador o que doou o sêmen para fecundação Essas mudanças nas relações familiares levaram alguns estudiosos a falar em uma crise da família Seria essa uma instituição à beira da extinção ou pelo contrário essas mudanças indicariam a vitalidade das formas da família que tendem a entreter relações cada vez mais igualitárias entre seus membros Reflita U2 Cultura e instituições sociais 113 Para aprofundar na discussão sobre como a família influencia nossas escolhas e pensamentos veja o filme Casamento grego 2002 de Joel Zwick Moça grega tenta convencer a família a aceitar seu noivo estrangeiro Trailer disponível em httpglobotvglobocomredeglobo redeglobovconfiraumtrailerexclusivodofilmecasamento grego1984367 Acesso em 31 out 2017 Religião A religião é constituída por um conjunto de regras seguidas por todos os membros daquele grupo as quais implicam maneiras coletivas de pensar agir e ser tidas como corretas e verdadeiras pelos participantes Porém sabemos que é comum considerar a própria religião a mais correta e verdadeira até mesmo a única possível vendo as outras como inferiores ou falsas Essa atitude etnocêntrica pode levar a guerras e conflitos entre os adeptos de diferentes religiões A Sociologia e a Antropologia ao terem uma visão relativista procuram mostrar que todas as religiões por mais diferentes que sejam são equivalentes pois cada uma tem uma lógica própria devendo ser consideradas verdadeiras e corretas Para o antropólogo Clifford Geertz a religião é um sistema cultural um conjunto de símbolos sagrados que compõem tanto uma visão de mundo a maneira pela qual as pessoas atribuem significados às coisas quanto um modo de agir o estilo de vida os comportamentos e as escolhas morais Nesse sentido Geertz 1989 argumenta que a religião é tão importante quanto uma necessidade biológica discordando assim de quem vê no simbólico ou seja na atribuição de significados e códigos culturalmente compartilhados uma função menor uma vez que compreender o mundo é fundamental para viver nele Ainda que a fé seja algo pessoal já que cada pessoa a sente e vive de uma maneira bem como tem motivos diferentes para seguila os atos religiosos como os cultos os rituais e os símbolos sagrados são acontecimentos sociais como quaisquer outros são tão públicos como o casamento e tão observáveis como a agricultura Pesquise mais U2 Cultura e instituições sociais 114 GEERTZ 1989 p 68 Nesse sentido cada religião tem padrões culturais ou modelos de conduta que independem dos indivíduos É nessa dimensão social pública e compartilhada que o olhar sociológico e antropológico vai se deter buscando a compreensão dos símbolos e atos religiosos dentro de cada contexto específico Émile Durkheim também tem a religião como um de seus temas de análise Em seu livro As formas elementares da vida religiosa publicado pela primeira vez em 1912 o sociólogo se propõe a estudar a religião mais simples aquela que não tem influência de qualquer elemento de outra religião como meio mais fácil para compreender a natureza religiosa do ser humano Ele reconhece a diversidade das religiões mas acredita que há um elemento em comum uma essência presente em todas elas a diferenciação entre sagrado e profano Os ritos e as crenças religiosas exprimem a natureza das coisas sagradas e se afastam do que consideram profano sendo que essas noções ou seja o que é considerado sagrado e profano mudam de uma religião para outra Para Durkheim uma instituição humana não pode se assentar no erro e na mentira porque se assim fosse não poderia perdurar Qualquer mito ou ato religioso por mais estranho que seja traduz alguma realidade social Não é possível assim estabelecer uma hierarquia entre as religiões já que todas são igualmente verdadeiras e corretas porque expressam coisas reais ainda que de modos diferentes sendo a atividade religiosa uma manifestação da própria atividade humana Segundo o sociólogo os primeiros sistemas de representação do mundo são de origem religiosa em outras palavras a religião é uma primeira tentativa de compreender a vida uma primeira forma simbólica de expressar uma categoria de pensamento Por exemplo as categorias de tempo e espaço são de origem religiosa Para Durkheim tanto a ciência quanto a religião têm uma função explicativa mas cada vez menos as pessoas explicam o mundo de maneira religiosa A ciência não tira da religião o direito de existir mas o de especular e dogmatizar a vida do ser humano Isso não significa porém que a religião vai desaparecer ou que a ciência irá substituir a religião uma vez que a ciência tendo um avanço muito lento não é capaz de atender às necessidades das pessoas que são urgentes e dar um sentido à vida Nessa perspectiva a religião tem uma função prática ela nos ajuda a viver a agir no mundo U2 Cultura e instituições sociais 115 O sociólogo Max Weber por sua vez tem como principal questão compreender até que ponto a religião influencia nas relações econômicas percebendo com isso como as crenças religiosas orientam determinadas condutas práticas Em seu livro A ética protestante e o espírito do capitalismo publicado pela primeira vez em 1905 ele mostra como a religião protestante ao favorecer um tipo de conduta individual gerou uma mudança de mentalidade que contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo Ele não está dizendo com isso que o protestantismo deu origem ao capitalismo mas que ajudou com que ele se expandisse pelo mundo Ao partir da constatação de que os homens de negócio os grandes empresários são na maioria protestantes Weber 2002a procura compreender o porquê dessa afinidade entre protestantismo e capitalismo Segundo ele o capitalismo moderno se caracteriza por uma busca racional ou seja sistemática organizada planejada pelo lucro por meio do trabalho Essa necessidade de trabalhar para ganhar cada vez mais dinheiro precisou de uma mudança de mentalidade das pessoas que estavam acostumadas a trabalhar apenas o necessário para a subsistência e não para o acúmulo de capital E é aqui que entra a religião protestante como aquela que teve um importante papel para essa mudança de mentalidade para o protestantismo o sucesso no trabalho é visto como um sinal de fé e virtude um estado de graça uma bênção divina Assim trabalhar é uma vocação uma maneira de mostrar o seu valor a Deus A riqueza aqui não é vista como pecado quando ela provém do trabalho incansável e contínuo Nesse sentido a valorização do trabalho o ganho de dinheiro como prova divina e a formação de uma personalidade disciplinar ética rígida formal o que Weber chama de uma ética protestante estão de acordo com o espírito do capitalismo o que acabou por contribuir para o seu desenvolvimento O risco das pessoas que trabalham cada vez mais é o de levar à rotinização a uma burocracia em que as ações percam o sentido e a vida se torne uma enorme prisão de ferro Para Weber 2002b a modernidade caminha para a racionalização cada vez mais as pessoas explicam o mundo a partir da ciência e tecnologia e não mais por meio da religião O sociólogo chamou esse processo de desencantamento do mundo ou seja o mundo está cada vez mais desencantado porque não há mais explicações encantadas como as religiosas e místicas mas uma valorização das explicações U2 Cultura e instituições sociais 116 científicas baseadas na razão previsão e técnica havendo com isso uma perda das ilusões mágicas e dos mistérios sobre a vida Para Karl Marx 2010 em um tom mais crítico a religião é o ópio do povo como uma expressão real do sofrimento humano a religião é uma necessidade para aliviar a dor tendo assim um efeito parecido com o consumo de uma droga Apesar de considerar a sua importância para aqueles que a seguem o sociólogo vê na religião um modo de alienação das pessoas uma ideologia que pode ser usada pelas classes dominantes como uma maneira de manter e justificar relações de desigualdade social Por exemplo quando uma religião fala que tudo o que acontece é porque Deus quis assim as pessoas acabam por se conformar com a situação na qual se encontram se a pessoa é pobre ela poderá achar que por ser uma vontade de Deus aquilo não precisa ou não deve mudar Segundo Marx isso é uma falsa consciência ou uma falsa liberdade porque ao aceitar ser tudo uma vontade de Deus as pessoas não buscam a compreensão do porquê ser assim e não de outro jeito e com isso não buscam a mudança ficando dessa forma à mercê dos mandamentos divinos Para ele recusar a explicação e o conformismo religiosos e pensar por si próprio são a verdadeira consciência e liberdade A modernidade não acabou com as crenças religiosas mas as deslocou para a esfera mais privada pessoal íntima De qualquer forma a religião permanece como importante instituição social mesmo num mundo em constante transformação Para acompanhar as mudanças a religião também precisa se reinventar e é frequente ela se deparar com conflitos e escolhas éticas Como continuar a condenar o uso do preservativo diante do avanço de doenças sexualmente transmissíveis Como fechar os olhos para o aborto uma vez que ele se tornou um problema de saúde pública Como abominar o divórcio se ele é cada vez mais comum Como caracterizar algumas práticas como pecado se até mesmo os fiéis as fazem É preciso assim abrirse para o novo mundo os problemas sociais o diálogo de temas polêmicos e controversos mas urgentes e necessários e perceber que os fiéis eles próprios estão mudando repensando valores e comportamentos os quais nem sempre estão de acordo com os mandamentos religiosos U2 Cultura e instituições sociais 117 Para refletir sobre a influência da religião em nossa vida veja o filme Lutero 2003 de Eric Till Biografia de Martinho Lutero cuja ruptura com a Igreja católica deu início à Reforma Protestante Trailer disponível em httpswwwyoutubecom watchvpfAEqfVWLUU Acesso em 31 out 2017 Estado Por fim veremos como o Estado foi pensado por alguns autores como uma instituição que regula os conflitos sociais ao garantir o direito à ordem à vida e à propriedade privada trazendo a difícil questão de como conciliar liberdade e autoridade Para o sociólogo Max Weber o Estado é um agrupamento político com regras próprias delimitado por um território e que tem o monopólio do uso legítimo da força ou seja é o único órgão social que pode se utilizar da coerção e da violência para garantir o exercício das leis o que é feito por agentes estatais como os policiais É considerado um uso legítimo porque é visto como um direito e portanto aceito pela sociedade sendo para qualquer outro grupo proibido o uso da força por exemplo uma organização criminosa e uma manifestação ou revolta popular Para Weber o Estado consiste em uma relação de dominação do homem pelo homem WEBER 2002c p 61 Dominação é a probabilidade de encontrar obediência a determinado mandato mando e ela só será estável quando se basear na convicção profunda daqueles que obedecem Assim a dominação é legítima quando é um acordo livre entre cidadãos uma expressão da vontade da maioria Uma dominação baseada apenas na força não é estável já que abre a possibilidade de revolta Para Weber a dominação em si não é algo ruim desde que ela seja legítima e não imposta já que ela ordena e regulamenta a sociedade que como vimos é vista por ele como conflituosa e caótica Karl Marx 1999 2005 2006 por sua vez toma a dominação como algo problemático já que promove a luta de classes por exemplo os conflitos entre operários e burgueses empregados e patrões Segundo o sociólogo o aumento populacional levou à Pesquise mais U2 Cultura e instituições sociais 118 divisão do trabalho especialização em diferentes áreas e profissões possibilitando com isso uma nova desigualdade social e o Estado surge nesse contexto para garantir a propriedade privada e os interesses da classe dominante A ideia de que o Estado representa o povo ou a coletividade é para o autor ilusória uma vez que ele atende aos interesses da classe dominante ou seja o grupo que detém não só o monopólio econômico aquele que tem o dinheiro mas também o intelectual aquele que difunde seus próprios interesses e ideias como se fossem da maioria Em uma sociedade capitalista a burguesia é a classe dominante Após fazer um estudo crítico sobre o Estado como aquele que mantém os interesses capitalistas Marx propõe o fim dessa organização política para que as pessoas sejam de fato livres conscientes e donas de si mesmas e não mais alienadas por instituições como Estado religião e família que exercem grande influência em nosso modo de ser agir e pensar Marx defendia assim uma revolta popular em que os operários o grupo explorado pela burguesia tomassem o poder para difundir suas ideias o que ele chamou de socialismo e com isso desencadear uma mudança de mentalidade que levaria posteriormente ao fim do próprio Estado passando para as mãos do povo a regulação da vida em sociedade e dos meios de produção que seria o comunismo O antropólogo francês Pierre Clastres 13941977 mostra que nem todas as sociedades têm Estado Ao fazer pesquisa de campo com sociedades sulamericanas como os índios Guayaki Guarani e Yanomami o autor descreve outra forma de organização política que não se baseia no poder centralizador e uso da força como é no Estado Nos grupos estudados por ele não há propriedade privada mas coletiva e o trabalho se divide por sexo e idade Com isso não há classes sociais nem luta de classes sendo o poder exercido pela sociedade que é quem toma as decisões de acordo com suas tradições e necessidades O chefe assim não exerce o poder de mando nem a força física tendo a função de representar a comunidade diante de outros grupos sociais regulando por exemplo as guerras entre eles O chefe mantém a paz na sociedade por meio da fala como mediador entre as partes envolvidas quando há algum conflito Em função dessa maneira de se organizar politicamente essas sociedades foram vistas como sociedades sem Estado O U2 Cultura e instituições sociais 119 que Clastres 2003 mostra porém é que não se trata de não ter Estado mas de ser contra o Estado esses grupos inventaram uma organização deliberada para evitar a centralização do poder e o uso da força física escolheram assim ser contra o Estado regulando a vida social de maneira mais coletiva e igualitária Seja a partir de uma visão positiva ou negativa o Estado em nossa sociedade capitalista permanece como importante regulador da vida social Se ele pode ser visto como fundamental para a garantia da ordem ele também pode se tornar autoritário disciplinador ameaçador dos direitos e interesses coletivos ainda que tente se mostrar como democrático O filósofo italiano Giorgio Agamben 1942 critica o excesso de monitoramento a que os indivíduos são submetidos constantemente como câmeras de vigilância formulários fichamentos coleta de impressões digitais revistas e outros procedimentos medidas que segundo ele deveriam ser tomadas apenas com criminosos e não com cidadãos livres em acordo com a lei Se as pessoas tendem a ver isso como normal para o autor é um primeiro passo para uma sociedade autoritária na qual o que deveria ser uma medida provisória e excepcional se torna regra e técnica permanente de governo Para Agamben 20042007 o controle cada vez maior dos cidadãos configura um Estado de exceção em que os direitos civis são anulados por meio da ameaça constante de vigilância e monitoramento como se a cidade se transformasse em um campo de concentração A partir da exacerbação da insegurança e do medo justificamse medidas disciplinares autoritárias com a privatização cada vez maior dos espaços e o consequente confinamento dos indivíduos Esse autoritarismo crescente põe em xeque a legitimidade do Estado abrindo a possibilidade para revoltas movimentos sociais e manifestações populares contrários a esse poder centralizador e repressor Assim como a família e a religião o Estado está em constante transformação assumindo diferentes formas e significados de acordo com a sociedade a época e a situação U2 Cultura e instituições sociais 120 Para aprofundar a discussão sobre Estado poder e política LEBRUN G O que é poder São Paulo Brasiliense 1984 Coleção Primeiros Passos Com uma linguagem didática e acessível o autor percorre os mecanismos do poder e da dominação FOUCAULT Michel Microfísica do Poder 28 ed São Paulo Paz e Terra 2014 O pensamento é a coragem do desespero Nessa entrevista Giorgio Agamben discute situações atuais de abuso de poder pelo Estado e como as pessoas vêm reagindo a isso além de propor algumas reflexões e soluções por meio do pensamento filosófico e social Disponível em httpsblogdaboitempocombr20140828 agambenopensamentoeacoragemdodesespero Acesso em 30 out 2017 Família religião e Estado influenciam nossa maneira de ser pensar e agir As Ciências Sociais buscam mostrar como essas instituições mudam de acordo com a sociedade a época e a situação Assim a família nuclear por exemplo tão presente em nossa sociedade é uma invenção relativamente recente sendo apenas uma das formas de organização familiar existentes A religião também abarca uma multiplicidade de ordenações possíveis as quais por mais diferentes que sejam são vistas pelo olhar sociológico e antropológico como equivalentes já que todas são verdadeiras e corretas porque expressam realidades sociais visões de mundo e modos de agir O Estado por sua vez também implica diferentes configurações funções e significados dependendo do grupo social e do momento histórico Se alguns autores vão vêlo como necessário para a manutenção da ordem outros questionam qual é o limite do exercício do poder estatal uma vez que ele pode se tornar autoritário e repressor mesmo que seja em um governo tido como democrático Uma das grandes questões por trás da análise das instituições sociais é a de como conciliar o pertencimento ao grupo a família a religião o Estado com a liberdade individual de cada um Pesquise mais Assimile U2 Cultura e instituições sociais 121 A polêmica do uso do turbante pela garota branca e a proibição do véu islâmico em países ocidentais nos trazem uma reflexão sobre os alcances e limites de nossa liberdade de expressão e em que momentos essa liberdade pode ou deve sofrer intervenção de instituições sociais como família religião e Estado Se a liberdade de expressão fere alguém ou algum grupo social ainda assim é liberdade Como conciliar a liberdade individual com o respeito à diversidade e o pertencimento a grupos sociais O uso de símbolos culturais ganha significados diversos de acordo com o contexto e o grupo social no qual estão inseridos Nesse sentido o uso do turbante por negros é diferente do uso do turbante por brancos nessa passagem ou nessa apropriação o turbante perde a conotação política de um elemento de luta e resistência como é para o movimento negro uma vez que como sabemos tratase de um grupo discriminado pela sociedade Se do ponto de vista da liberdade individual cada um pode fazer uso de símbolos culturais de outros grupos isso não significa porém que não devemos pensar sobre as consequências dessa escolha No caso aqui não são só consequências culturais mas sim consequências políticas em que a desigualdade social está em jogo Uma reflexão semelhante pode ser feita sobre a proibição do uso do véu islâmico por muçulmanas em países ocidentais O Estado pode proibir algo que diz respeito à expressão religiosa e cultural de um grupo Se o Estado nas sociedades ocidentais é laico ou seja sem interferência religiosa como ele deve agir quando o símbolo religioso em questão vem de outro contexto e cultura Até que ponto em nome da laicidade justificase a proibição da liberdade religiosa do outro Tratase de uma grande questão e não há respostas fáceis mas escolhas e dilemas éticos em que é preciso ponderar as causas e as consequências os limites e os alcances de nossas ações Para nós ocidentais o uso do véu islâmico pode soar estranho e ofensivo como uma imposição cultural religiosa e familiar e uma medida de desigualdade em relação às mulheres o que algumas muçulmanas concordam e assim são contra o uso não mais o fazendo e para isso tiveram que assumir os riscos dessa escolha como a expulsão do grupo familiar e religioso e até mesmo a saída do país Porém para ter uma dimensão mais completa e crítica e perceber Sem medo de errar U2 Cultura e instituições sociais 122 o quão complexa é a situação é preciso olhar e ouvir todos os lados para algumas dessas mulheres não se trata de imposição mas de escolha e identidade pessoal Assim não se sentem ofendidas em ter que usar o véu a ofensa vem quando não é possível usálo Aquelas que se recusaram a deixar de usar acabaram por sair da escolha que frequentavam nos países ocidentais onde estavam Você pode pensar mas por que usar o véu islâmico em um país que não é islâmico Tratase de um elemento político mais até do que religioso ou cultural o uso do véu por muçulmanas em países ocidentais é uma maneira de afirmar algo que normalmente é desrespeitado e discriminado o uso assim é uma forma de resistência de marcar uma identidade muçulmana em países onde o preconceito contra muçulmanos é acentuado Nesse sentido a cultura assim como a religião e a família também é atravessada por relações de poder em que se estabelecem a desigualdade e a dominação entre diferentes grupos Tanto o uso do turbante pela garota branca quanto a proibição do véu islâmico em países ocidentais nos mostram assim os dilemas de se levar em conta o relativismo cultural e o reconhecimento das diferenças Ao longo de nossa vida em sociedade somos constantemente provocados por cenas e situações como essas Como vimos a Sociologia e a Antropologia nos ajudam a olhar para elas de outro modo a conhecer e compreender ao invés de julgar a respeitar e aprender ao invés de discriminar 1 Família família Papai mamãe titia Família família Almoça junto todo dia Nunca perde essa mania Mas quando a filha quer fugir de casa Precisa descolar um ganhapão Filha de família se não casa Papai mamãe não dão nem um tostão Família êh Família ah Família Família êh Família ah Família Faça valer a pena U2 Cultura e instituições sociais 123 Trecho da música Família dos Titãs Considerando a letra da música apresentada e tendo em mente o olhar sociológico e antropológico sobre a família assinale a alternativa correta a A família nuclear é uma invenção recente e não está presente em todas as sociedades b A família nuclear é o modelo mais evoluído de família c A família é necessariamente onde imperam o amor o cuidado e a proteção d A família não influencia a vida em sociedade e Em todas as sociedades a organização familiar é a instituição mais importante 2 Todas são igualmente religiões como todos os seres vivos são igualmente vivos desde os mais simples plastídios até o homem Portanto se nos voltamos para as religiões primitivas não é com a intenção de depreciar a religião em geral porque essas religiões primitivas não são menos respeitáveis que as outras DURKHEIM E As formas elementares da vida religiosa São Paulo Ed Paulinas 1989 Levando em conta a ideia de Durkheim e a discussão que fizemos sobre religião assinale a alternativa correta a As religiões primitivas são inferiores às religiões modernas b As religiões são equivalentes porque são falsas c As religiões são equivalentes porque expressam realidades sociais d As religiões vão acabar com o avanço da ciência e As religiões não contribuem para a vida social 3 Considere o seguinte trecho de Max Weber Por evidência a violência não é o único instrumento de que se vale o Estado não se tenha a respeito qualquer dúvida mas é seu instrumento específico Na atualidade a relação entre o Estado e a violência é particularmente íntima Desde sempre os agrupamentos políticos mais diversos começando pela família recorreram à violência física tendoa como instrumento normal do poder Entretanto nos dias de hoje devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que dentro dos limites de determinado território a noção U2 Cultura e instituições sociais 124 de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física Sem dúvida é próprio de nossa época o não reconhecer com referência a qualquer outro grupo ou aos indivíduos o direito de fazer uso da violência a não ser nos casos em que o Estado o tolere Nesse caso o Estado se transforma na única fonte do direito à violência WEBER M A política como vocação Ciência e Política duas vocações São Paulo Martin Claret 2002 p 60 Sobre o Estado é correto afirmar a O poder do Estado é ilegítimo porque é baseado na violência b Somente o Estado ditatorial faz uso da violência c Porque usa a violência o Estado não pode ser transformado d Só o Estado pode usar a violência porque para ele é um direito e Não existe qualquer relação entre Estado e violência AGAMBEN G Estado de exceção São Paulo Boitempo 2004 Homo sacer o poder soberano e a vida nua I Belo Horizonte Editora da UFMG 2007 ARIÈS P História social da criança e da família Rio de Janeiro Editora Guanabara 1981 BENEDICT R O crisântemo e a espada São Paulo Perspectiva 2014 BOBBIO N MATTEUCCI N PASQUINO G Dicionário de Política São Paulo Editora Universidade de Brasília 1998 BRANDÃO C R O que é educação São Paulo Brasiliense 1984 BRUM E De uma branca para outra o turbante e o conceito de existir violentamente El País 20 fev 2017 Disponível em httpsbrasilelpaiscombrasil20170220 opinion1487597060574691html Acesso em 23 out 2017 CLASTRES P A sociedade contra o Estado pesquisas de antropologia política São Paulo Cosac Naify 2003 DURKHEIM E As formas elementares da vida religiosa São Paulo Martins Fontes 2003 GEERTZ C A religião como sistema cultural Ethos visão de mundo e a análise de símbolos sagrados A interpretação das culturas Rio de Janeiro LTC 1989 p 65103 Os usos da diversidade Horizontes Antropológicos ano 5 n 10 p 1334 maio1999 Disponível em httpwwwscielobrpdfhav5n1001047183 ha5100013pdf Acesso em 20 out 2017 Uma descrição densa por uma teoria interpretativa da cultura A interpretação das culturas Rio de Janeiro LTC 1989 GOLDANI A M Relações intergeracionais e reconstrução do Estado de BemEstar Por que se deve repensar essa relação para o Brasil In CAMARANO A A org Os novos idosos brasileiros muito além dos 60 Rio de Janeiro IPEA 2004 p 211250 HALL S A identidade em questão In A identidade cultura da pósmodernidade Rio de Janeiro DPA Editora 2006 KOPENAWA D A queda do céu palavras de um xamã yanomami São Paulo Companhia das Letras 2015 KUPER A Cultura a visão dos antropólogos Bauru Edusc 2002 LARAIA R de B Cultura um conceito antropológico Rio de Janeiro Jorge Zahar 2008 Referências LÉVISTRAUSS C O pensamento selvagem São Paulo Papirus 1989 Antropologia estrutural In CUCHE Denys A noção de cultura nas Ciências Sociais Bauru Edusc 1999 Raça e História In Antropologia estrutural II São Paulo Cosac Naify 2013 p 357399 Disponível em httpsweriseupnetassets231452RaC3A7a eHistC3B3riaLC3A9viStrausspdf Acesso em 20 out 2017 A família In SHAPIRO H L org Homem cultura e sociedade São Paulo Martins Fontes 1982 MALINOWSKI B Uma teoria científica da cultura Rio de Janeiro Zahar 1970 MARX K Crítica da filosofia do direito de Hegel São Paulo Boitempo 2010 O 18 de Brumário de Louis Bonaparte São Paulo Centauro 2006 MARX K ENGELS F A ideologia alemã São Paulo Martin Claret 2005 Manifesto comunista Ed Ridendo Castigat Moraes 1999 MONTAIGNE M E Ensaios Livro I Dos Canibais São Paulo Nova Cultural 1984 OLIVEIRA T O uso de turbantes por pessoas brancas é apropriação cultural Carta Capital fev 2017 Disponível em copiar link do texto Acesso em 23 ago 2017 ROCHA E P G O que é etnocentrismo São Paulo Brasiliense 1988 RORTY R Acerca do etnocentrismo uma réplica a Clifford Geertz In Objetivismo Relativismo e Verdade Escritos Filosóficos Rio de Janeiro Relume Dumará 1997 SAHLINS M O pessimismo sentimental e a experiência etnográfica por que a cultura não é um objeto em via de extinção Mana v 3 n 1 1997 Disponível em http wwwscielobrscielophpscriptsciarttextpidS010493131997000100002 Acesso em 20 out 2017 TYLOR E Primitive culture Londres John Mursay Co 1871 WEBER M A ciência como vocação Ciência e Política duas vocações São Paulo Martin Claret 2002b A ética protestante e o espírito do capitalismo São Paulo Martin Claret 2002a A política como vocação Ciência e Política duas vocações São Paulo Martin Claret 2002c Unidade 3 Nesta jornada do conhecimento sobre os Fundamentos Antropológicos e Sociológicos você conhecerá o mundo do trabalho a estrutura de classe social desenvolvida nas economias capitalistas e o processo de globalização Você vai compreender que o processo de globalização influencia a organização do mundo do trabalho e a divisão de classes sociais em países capitalistas como o Brasil Assim esta unidade de ensino abordará trabalho e vida econômica classe social desigualdade e mundo do trabalho globalização e diversidade social e cultural Vale destacar que nesta unidade os resultados da aprendizagem são o domínio da análise sociológica sobre as classes sociais o trabalho e a globalização Caro aluno você necessita compreender como se estruturam as classes sociais em uma sociedade capitalista bem como se organiza o mundo do trabalho ideia mais ampla do que mercado de trabalho visto que o último se refere apenas a relação entre trabalhadores e patrões a partir do trabalho assalariado já mundo do trabalho se refere às diversas formas de trabalho existentes em uma sociedade tais como autônomos estagiários cooperados etc e de que forma podese perceber a influência da globalização em sua vida e no seu cotidiano seja em questões econômicas políticas ou mesmo culturais Nas situaçõesproblema desta unidade trataremos de um grupo social que enfrenta uma condição desfavorável no mundo do trabalho a juventude que pela legislação brasileira possui entre 15 e 29 anos Estatuto da Juventude mas que Convite ao estudo Trabalho classe social e globalização para as Organizações das Nações Unidas ONU fazem parte do grupo entre 15 e 24 anos de idade e que quando se é de classe trabalhadora ou da classe média baixa podese ter essas dificuldades ampliadas Vale salientar que no Brasil os indivíduos entre 15 e 17 anos representam 82 da população e o grupo entre 18 e 24 anos representa 135 segundo a Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios PNAD contínua referente ao primeiro trimestre de 2017 realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE A situação de grande parte dos jovens no mercado de trabalho é bastante precária tanto em relação às dificuldades de conquista do primeiro emprego como em relação ao desemprego tal como demonstram os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego PED realizada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos DIEESE A PED está focada em quatro regiões metropolitanas Distrito Federal Porto Alegre Salvador e São Paulo Agora comparamos os dados da taxa de desemprego juvenil nas quatro regiões em junho de 2017 Distrito Federal 429 Porto Alegre 228 Salvador 487 e São Paulo 38 A PED referente a junho de 2017 demonstra ainda que o desemprego juvenil se expandiu em quase todas as regiões metropolitanas estudadas entre junho de 2016 e junho de 2017 exceto em Porto Alegre com queda de 09 Complementando o contexto de aprendizagem descrito aqui deixamos para a sua reflexão a letra de uma música que trata das temáticas discutidas na unidade Música de Trabalho da Legião Urbana Sem trabalho eu não sou nada Não tenho dignidade Não sinto o meu valor Não tenho identidade Mas o que eu tenho É só um emprego E um salário miserável Eu tenho o meu ofício Que me cansa de verdade Tem gente que não tem nada E outros que têm mais do que precisam Tem gente que não quer saber de trabalhar Mas quando chega o fim do dia Eu só penso em descansar E voltar pra casa pros teus braços Quem sabe esquecer um pouco De todo o meu cansaço Nossa vida não é boa E nem podemos reclamar Sei que existe injustiça Eu sei o que acontece Tenho medo da polícia Eu sei o que acontece Se você não segue as ordens Se você não obedece E não suporta o sofrimento Está destinado Mas isso eu não aceito Eu sei o que acontece Mas isso eu não aceito Eu sei o que acontece E quando chega o fim do dia Eu só penso em descansar E voltar pra casa pros teus braços Quem sabe esquecer um pouco Do pouco que não temos Quem sabe esquecer um pouco De tudo que não sabemos Compositores Dado VillaLobos Marcelo Bonfa Renato Russo EMI Music Publishing Após ler a letra desta música reflita sobre as seguintes questões Você se identifica com esta música Por quê A qual classe social você pertence Como chegou a essa conclusão A música trata do tema da desigualdade social e da organização e funcionamento do mundo do trabalho o que você pensa sobre isso U3 Trabalho classe social e globalização 131 Seção 31 Caro aluno Seja bemvindo à Seção 31 Trabalho e Vida Econômica Conforme destacamos no contexto de aprendizagem desta Unidade os jovens das classes trabalhadoras que são os indivíduos que precisam vender a força de trabalho para viver não são empresários têm enfrentado o desemprego e dificuldades para ingressar e permanecer no mundo do trabalho em especial em empregos formais e não precarizados Será sobre esta temática que estudaremos nesta seção e para aprofundar esta discussão propomos a seguinte situaçãoproblema Maria Júlia tem 18 anos moradora de um bairro de periferia acabou há um ano o Ensino Médio estudou em uma escola pública e teve curtas experiências no mercado de trabalho trabalhou em buffets infantis e entregou panfletos de propaganda nos faróis ou seja desde cedo vivenciou experiências em trabalhos precários marcados pela informalidade e uma baixa remuneração Como muitos outros jovens brasileiros ela enfrenta dificuldades de inserção no mercado de trabalho e a sua condição social a obriga a trabalhar para ajudar no orçamento familiar Seus pais possuem baixa escolaridade e trabalhos de baixa remuneração sua mãe é almoxarife na prefeitura de sua cidade localizada no interior paulista e seu pai é serralheiro em uma microempresa local Com a crise dos últimos anos Maria Júlia tem sido pressionada ainda mais pelos seus pais para trabalhar mas ela não tem conseguido emprego e se vê no grupo dos milhares de jovens brasileiros desempregados Além disso Maria Júlia tem dificuldades para elaborar um currículo e participar de processos seletivos Ela sabe que para poder cursar a faculdade de Psicologia seu projeto de vida precisa ter um emprego para custear os estudos Desse modo ela é uma vítima da desigualdade social brasileira e já se sentiu envergonhada de dizer para as pessoas que está desempregada tem medo do que pensarão sobre ela A jovem tem certa facilidade com Informática reconhece Trabalho e vida econômica Diálogo aberto U3 Trabalho classe social e globalização 132 que precisa ter essa habilidade em um mundo globalizado e sabe que necessita estar devidamente preparada para poder ingressar no mercado de trabalho De que forma Maria Júlia pode superar parte dessas dificuldades que encontra para se inserir no mercado de trabalho Como você poderia justificar o fato de a garota ter tido apenas empregos precários e informais O fato da jovem estar desempregada é responsabilidade individual dela Por quê Como a classe social a qual a garota pertence afeta as suas possibilidades de estudar e trabalhar Não pode faltar Este conteúdo propõe reflexões acerca da organização do mundo do trabalho e do conceito sociológico de desemprego Além disso será possível entender os motivos que fazem o desemprego ser mais intenso entre os jovens 1 Conceito de mundo do trabalho Muito se fala em mercado de trabalho mas uma conceituação mais ampla pode ser encontrada no conceito de mundo do trabalho O primeiro está focado apenas na relação entre trabalhador e patrão a partir do trabalho assalariado que pode ser formal com carteira assinada ou informal já o conceito de mundo do trabalho diz respeito a relações mais amplas de trabalho que ultrapassam o trabalho assalariado tais como estagiário empregador cooperado autônomo entre outros No Brasil atual encontramse várias dessas formas de trabalho muitas delas precárias No segundo semestre de 2017 os dados do IBGE apresentam uma pequena queda do desemprego mas que foi possibilitada pela ampliação da informalidade Neste tópico é de grande relevância tratar do conceito de trabalho Araújo Bridi Motim 2011 argumentam que o trabalho na Antiguidade tinha relação com o esforço físico o cansaço e a penalização A origem etimológica da palavra trabalho vem do latim e associa o trabalho a tripalium que era um instrumento de tortura que segundo as autoras era feito de três varas cruzadas nas quais os réus deveriam ser presos Na Antiguidade o trabalho U3 Trabalho classe social e globalização 133 era visto como uma atividade indigna que era reservada aos escravos Ao passo que na Modernidade o trabalho segundo Araújo Bridi Motim mudou de significado pois deixou de ser atividade desprezada passando a ser uma forma de expressão da própria humanidade que levaria à produtividade e riqueza No século XX por exemplo o trabalho se consolidou como uma atividade valorizada inclusive moralmente Uma reflexão interessante sobre o conceito sociológico de trabalho é de Oliveira Santos e Cruz Ao longo da história e na atual conjuntura o trabalho e as relações de trabalho vêm sofrendo mudanças significativas decorrentes em grande parte de transformações que afetam a economia e o modo da produção estabelecendo uma nova cultura de trabalho OLIVEIRA SANTOS E CRUZ 2007 p 3 O trabalho é uma esfera presente na vida social pois para boa parte dos indivíduos apenas trabalhando é que se pode garantir a sobrevivência e ter acesso a mercadorias e serviços são os trabalhadores Diante dessa situação podese pensar no caso dos jovens que poderiam ter no trabalho um meio de integração social e de emancipação da família contudo no contexto atual os grupos juvenis se deparam tanto com um desemprego crescente quanto com barreiras quase intransponíveis à inserção no mundo do trabalho Pesquise mais Procure em sites e artigos científicos como é o perfil da mão de obra brasileira A pesquisa ajudará você a entender a discussão desta seção Sugerese como leitura a entrevista de Marcio Pochmann professor do Instituto de Economia da Unicamp à Revista Carta Capital em junho de 2017 Disponível em httpswwwcartacapitalcombreconomia marciopochmann201camaodeobrabrasileiranaoecara201d Acesso em 31 jan 2018 Vale destacar que o mundo do trabalho tem enfrentado uma série de transformações ao longo do tempo que vão desde as U3 Trabalho classe social e globalização 134 esferas tecnológicas estruturais nas mudanças do capitalismo organizacionais nos modelos de organização e de reestruturação das empresas até as mudanças decorrentes das conjunturas econômicas políticas e sociais Ricardo Antunes 1995 argumenta que nos países centrais têm ocorrido um processo de desproletarização do trabalho industrial manual e fabril o que leva ao encolhimento da força de trabalho industrial e sua migração para o setor de serviços A produção industrial devido ao desenvolvimento tecnológico permite que se empregue cada vez menos funcionários e que se produza cada vez mais Antunes ainda destaca que desde os anos 1980 o Fordismo cedeu espaço para um modelo flexível de produção que acabou por possibilitar uma nova forma de organização produtiva que deixa de lado a produção em massa e responderia de forma imediata às oscilações do mercado Este processo quando se analisa os dias atuais também aconteceu em países periféricos como o Brasil aliado ao crescimento das condições precárias de trabalho contratos informais desrespeito às normas de saúde e segurança do trabalho entre outros fatores e da insegurança no mundo do trabalho já que os trabalhadores convivem com incertezas quanto à possibilidade ou não de se ter um emprego As transformações no mundo do trabalho levam a formas atípicas de desemprego e emprego empregos de duração determinada trabalho temporário e trabalho em tempo parcial Para encerrar o tópico tornase interessante a reflexão abaixo de Antunes 2008 que trata da ampliação do trabalho intelectual e imaterial na dinâmica das empresas que não garantiu melhorias das condições de trabalho e da remuneração dos trabalhadores mas levou à modernização das empresas a partir da ampliação tanto da precarização do trabalho quanto do desemprego tecnológico Há entretanto um elemento importante na nova configuração na nova configuração do mundo do trabalho que devemos mencionar com destaque tratase da ampliação do trabalho cognitivo mais intelectualizado do trabalho imaterial realizado nas esferas da comunicação informação publicidade e marketing próprias da sociedade do logos da marca do simbólico do involucrale do U3 Trabalho classe social e globalização 135 supérfluo do informacional É o que o discurso empresarial chama de sociedade do conhecimento presente no design da Nike na concepção de um novo software da Microsoft nos modelos da Benetton na nova planta da Telefônica e que resultam do labor imaterial que articulado e inserido no trabalho material expressam as formas contemporâneas do valor ANTUNES 2008 p 23 A morfologia do trabalho no mundo globalizado Na próxima seção discutiremos com mais atenção o conceito de Globalização Uma boa caracterização do que é a globalização é realizada por Carneiro 2002 Na visão deste autor ela ocorre no plano doméstico através da progressiva liberalização financeira e no plano externo pela crescente mobilidade de capitais bem como pela importância das corporações transnacionais na redefinição da produção e do emprego Como diz Ianni 1996 a globalização gerou ampla transformação na esfera do trabalho e no modo pelo qual o trabalho se relaciona com a organização social da vida do indivíduo das famílias e das classes sociais Por que se fala aqui em morfologia do trabalho Porque como destacou Antunes 2008 o mundo do trabalho passou por muitas transformações desde os anos 1980 por exemplo com a ampliação dos trabalhadores terceirizados e do desemprego fatores que afetaram negativamente os trabalhadores Ricardo Antunes 2012 faz uma reflexão bastante significativa sobre a ideia de nova morfologia do trabalho e as transformações ocorridas nas últimas décadas Nova morfologia que pode presenciar simultaneamente a retração do operariado industrial estável de base taylorianofordista e por outro lado a ampliação segundo a lógica da flexibilidade toyotizada das novas modalidades precarizadas de trabalho de que são exemplos as trabalhadoras de telemarketing e call center os motoboys que morrem nas ruas e avenidas os digitalizadores que laboram e se lesionam nos bancos os assalariados do fast food os trabalhadores jovens dos hipermercados etc ANTUNES 2012 p 30 U3 Trabalho classe social e globalização 136 Além disso Antunes 2008 demonstra que desde os anos 1970 as empresas têm enfrentado um processo de reestruturação produtiva que se fundamentou na ideia de empresa enxuta que deveria limitar e restringir a quantidade de trabalho vivo mão de obra e ampliar o uso de máquinas e robôs que era chamado por Karl Marx de trabalho morto Essa utilização de máquinas e robôs levou a uma nova organização da empresa diferente do que era no TaylorismoFordismo e permitiu o crescimento da produtividade além de possibilitar que a produção se realizasse em diversas partes do planeta sobretudo naquelas que ofereciam mão de obra barata Sobre isto Antunes 2008 afirma Onde havia uma empresa concentrada podese substituíla por várias pequenas unidades interligadas pela rede com número muito mais reduzido de trabalhadores e produzindo muitas vezes mais ANTUNES 2008 p 21 O resultado desse processo segundo Antunes foi a expansão do desemprego e da precarização do trabalho perda de direitos rebaixamento de salários e ampliação dos trabalhadores terceirizados Essas alterações fizeram os trabalhadores passarem a ser chamados de colaboradores ou parceiros além de precisarem ser polivalentes multifuncionais situação que não vai se verificar apenas na indústria mas também no comércio nos serviços e na agricultura Vale salientar que essas alterações demonstram o que se pensa sobre a morfologia do trabalho no mundo globalizado Antunes argumenta que o trabalho estável com direitos passa a ser substituído pelo trabalho precário terceirizado e de curta duração ou de tempo parcial ou se estimula que o trabalhador se transforme em cooperado experiência marcada também por falsas cooperativas geralmente criadas por empresas para fugir do pagamento de direitos trabalhistas ou empreendedor situação em que ele abre o seu próprio negócio A partir dessa ideia de precarização destacase a reflexão de Antunes É neste quadro de precarização estrutural do trabalho que os capitais globais estão exigindo dos governos nacionais o desmonte da legislação social protetora do trabalho E flexibilizar a legislação social do trabalho significa aumentar ainda mais os mecanismos de extração do sobretrabalho ampliar as formas de precarização e destruição dos direitos sociais que foram arduamente conquistados pela classe U3 Trabalho classe social e globalização 137 trabalhadora desde o início da Revolução Industrial na Inglaterra e especialmente após 1930 quando se toma o exemplo brasileiro ANTUNES 2008 p 22 Vale salientar que no Brasil devido à crise do mundo do trabalho dos últimos anos uma parte dos trabalhadores ao serem demitidos e verificarem perspectivas ruins de conseguir uma nova vaga acabaram por investir o dinheiro recebido com o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FGTS em um pequeno negócio No que se refere à legislação trabalhista tornase relevante refletir sobre a alteração da legislação trabalhista no Brasil chamada de reforma que foi aprovada pelo Senado e sancionada pelo presidente Michel Temer em julho de 2017 e entrou em vigor desde o mês de novembro do mesmo ano O argumento governamental e de instituições empresariais como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FIESP é que a Reforma Trabalhista moderniza as relações de trabalho no Brasil Essa reforma flexibiliza pontos fundamentais da Consolidação da Legislação Trabalhista CLT criada em 1943 pelo governo de Getúlio Vargas como torna o negociado acima do legislado lei extingue o imposto sindical permite a jornada de 12 horas diárias com 36 horas de descanso possibilita a divisão das férias em três partes e o horário de almoço deixa de ser de no mínimo de uma hora e pode passar a ser de apenas 30 minutos além de criar regulamentações para o trabalho parcial e o home office Pesquisadores entidades sindicais e de juízes trabalhistas têm visto a Reforma Trabalhista como retrocesso em relação aos direitos trabalhistas e à cidadania além de entenderem que a reforma alavancará as formas precárias de trabalho e expandirá à desigualdade social Assim podese relacionar essa reforma com a morfologia do trabalho no mundo globalizado Outro ponto destacado por Antunes 2008 é que os jovens viraram cidadãos de segunda classe no mundo do trabalho devido à precarização ocupacional que eles enfrentam juntamente com as altas taxas de desemprego De acordo com Castel 1998 jovens que décadas atrás tinham garantido sua integração ao mercado de trabalho encontramse atualmente condenados a vagar de estágio em estágio ou de um pequeno serviço a outro ou seja estão em busca de estratégias de sobrevivência Nardi 2006 ao analisar o U3 Trabalho classe social e globalização 138 trabalho no mundo atual aponta que os jovens são precocemente expostos à precarização ao emprego informal e ao desemprego Nesta seção você está estudando sobre o mundo do trabalho Lembrese de que o mundo do trabalho não é uma esfera à parte da sociedade já que ele é impactado pelas transformações econômicas políticas e culturais de uma sociedade A Globalização por exemplo vai impactar diretamente no mundo do trabalho Uma reflexão sobre este processo é de Dupas 1999 À medida que exclui progressivamente postos formais do mercado de trabalho o processo de globalização estimula a flexibilização e incorpora a precarização como parte de sua lógica DUPAS 1999 p 225 Assimile Conceito de desemprego e os tipos de desemprego O desemprego passou a ser um grave problema social das sociedades contemporâneas desde as últimas décadas do século XX seja nos países desenvolvidos ou nas nações em desenvolvimento o que tem vínculo com o processo de Globalização Porém o desemprego não atinge todos os grupos sociais da mesma forma já que alguns são mais afetados tais como as mulheres os jovens os negros no caso brasileiro e os indivíduos com mais de 40 anos Convém destacar que a categoria sociológica desemprego é uma construção social política econômica estatística e jurídica uma vez que a sociedade e sobretudo o Estado estabeleceram o que é estar desempregado A categoria desemprego é necessária para se entender o funcionamento do capitalismo e as relações de classe e de produção Além disso foi criado o conceito de taxa de desemprego que seria a proporção que os desempregados representam dentro da População Economicamente Ativa PEA Costa 2002 assinala que o desemprego deixou de ser visto ao longo do tempo como uma questão individual e moral passível de caridade ou de castigo para ser entendido como uma forma de consequência da desorganização social Assim o desempregado deveria ser protegido pelas políticas de proteção social e com isso ter acesso a um seguro público para obter renda o seguro desemprego U3 Trabalho classe social e globalização 139 No entendimento de Marx 1985 e Keynes 1985 o capitalismo em sua dinâmica própria gera uma mão de obra excedente no que se refere à sua utilização no mercado de trabalho Deste modo ela não é consequência do comportamento do mercado de trabalho mas do funcionamento da economia capitalista Na visão de Keynes o desemprego é um fenômeno essencialmente involuntário o que permitiu destruir a imagem de que o desemprego se dava por uma escolha do trabalhador Assim Keynes argumenta que o nível de emprego em uma economia depende da demanda efetiva ou seja da proporção da renda que é usada em consumo e investimento O desemprego não é um problema somente relacionado à esfera econômica mas também à esfera política e social Nas sociedades capitalistas existe a ideia de que desemprego é algo passageiro caracterizado como um período curto entre dois empregos Contudo atualmente nem sempre é o que ocorre pois há desempregados que permanecem anos sem conseguir um lugar no mundo do trabalho No mundo atual todo trabalhador é um possível desempregado quase sempre o desemprego é involuntário Segundo o jornal O Estado de S Paulo de 12 de janeiro de 2017 de cada três novos desempregados no mundo em 2017 um será brasileiro e o Brasil terá maior aumento de desemprego entre os países do G20 Disponível em httpeconomia estadaocombrnoticiasgeraldecadatresnovosdesempregadosno mundoem2017umserabrasileiro10000099759 segundo dados da Organização Internacional do Trabalho OIT Acesso em 31 jan 2018 Exemplificando Para boa parte da bibliografia os principais tipos de desemprego se referem ao desemprego involuntário ou seja aquele em que o indivíduo se encontra sem emprego por não existirem postos de trabalho disponíveis no mercado Na visão de Standing 1982 o desemprego involuntário se manifesta de quatro formas Cíclico ou Conjuntural Friccional ou Natural Tecnológico e Estrutural Abaixo destacamos cada um deles a Desemprego Cíclico ou Conjuntural se manifesta nas alterações de ritmo da atividade econômica e especialmente nas crises econômicas à medida que a produção os investimentos e o poder de compra dos trabalhadores passam por uma U3 Trabalho classe social e globalização 140 diminuição drástica Standing 1982 Durante as recessões a taxa de desemprego aumenta e nas fases de recuperação e expansão da economia ela diminui b Desemprego Friccional ou Natural de maneira constante há trabalhadores mudando de empregos ou seja existe na economia uma parcela de indivíduos que é despedida ou que pede demissão ao passo que outra parcela vai ser contratada Esse desemprego pode ocorrer por exemplo quando empregadores com vagas a serem preenchidas não têm conhecimento da existência de mão de obra desempregada Standing 1982 c Desemprego Tecnológico resulta das alterações na tecnologia de produção e na estrutura produtiva por exemplo o aumento da mecanização e da automação e também da diminuição da procura por trabalhadores que realizam funções braçais já que essas funções foram substituídas por máquinas e robôs Quase sempre as alterações no processo de produção levam à redução do emprego Porém não há como eliminar o progresso tecnológico para diminuir o desemprego pois esse processo está presente na dinâmica do capital Singer 1979 d Desemprego Estrutural ocorre em virtude de mudanças na própria estrutura da sociedade modificações na legislação trabalhista na esfera da produção produtiva nas exigências de qualificação para o trabalho nos fatores ligados à demografia entre outros Standing 1982 Muito se fala sobre o desemprego e seus impactos na vida dos indivíduos A ciência tem deixado claro esses impactos com pesquisas nas áreas de Sociologia e da Psicologia O cinema trata dessa questão no filme Amor sem escalas EUA 2009 dirigido por Jason Reitman e protagonista George Clooney O filme trata da história de um consultor que tem como função demitir pessoas em várias partes dos EUA ele é contratado por diversas empresas para que comunique as demissões aos funcionários que não farão mais parte dos planos O consultor por estar acostumado com o desespero as angústias e as frustrações das pessoas ao serem demitidas tornouse um indivíduo frio Exemplificando U3 Trabalho classe social e globalização 141 Jovens desempregados Inicialmente destacase que se entende como jovens todos os indivíduos que possuem entre 15 e 24 anos conforme definição da ONU contudo no Brasil já se fala que eles se constituem pelos indivíduos que possuem entre 15 e 29 anos tal como é estabelecido no Estatuto da Juventude lei nº 128522013 Em 2017 segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ipea havia no Brasil 43 milhões de jovens desempregados com uma taxa de desemprego de 273 entre esse grupo social O desemprego juvenil é um grave problema social não só no Brasil mas também em outras nações sejam elas centrais ou periféricas Geralmente a taxa de desemprego dos jovens é de pelo menos o dobro da verificada entre os trabalhadores adultos Na visão de DIntignano 2000 muitos jovens ao se encontrarem sem um lugar na estrutura produtiva podem se refugiar na revolta na estrutura da violência e das drogas O desemprego juvenil é um dos graves problemas da sociedade brasileira e um indicador das crises econômica e social do Brasil contemporâneo Na visão de Quadros 2001 a ampliação do desemprego juvenil é resultado da desestruturação do mercado de trabalho brasileiro Pelo fato de atingir atualmente muitos indivíduos e ampliar a desigualdade social e o círculo de pobreza o desemprego juvenil precisar ter a devida atenção do Estado e da sociedade O desemprego acaba por colocar os jovens em uma situação de vulnerabilidade desespero impotência e risco Pelo fato de terem maiores dificuldades para ingressar e permanecer no mercado de trabalho os jovens se tornaram muito dependentes das famílias e das políticas públicas Segundo Bombach 2004 os jovens desempregados enfrentam um momento de desamparo e cerceado pelo fantasma da desilusão O jovem em busca de um espaço de uma inserção social que custa a chegar e que quando chega nem sempre representa a situação por ele esperada ou por seus pais que nele depositaram a esperança de uma vida melhor Bombach 2004 p 67 Por isto existem jovens que com medo em relação às perspectivas profissionais e diante de poucas oportunidades acabam aceitando empregos de baixa qualidade sobretudo aqueles que não garantem os direitos trabalhistas Bombach 2004 U3 Trabalho classe social e globalização 142 menciona que a juventude atual possui como plano de carreira estar empregada no dia seguinte Não se pode esquecer que o desemprego juvenil é superior ao registrado entre os adultos porque os jovens possuem menos diferenciais para disputar um emprego não possuem experiência profissional acumulada e muitas vezes também não têm escolaridade e qualificação elevadas principais exigências das empresas Mesmo aqueles que possuem muitos anos de estudo encontram dificuldades para ingressar e se manter no mercado de trabalho já que há uma baixa na geração de postos de trabalho atualmente além do preconceito dos empregadores com os jovens considerados por muitos sem a devida responsabilidade para o trabalho Conforme Standing 1982 a geração de poucos postos de trabalho por períodos prolongados exerce efeitos negativos sobre os jovens impedindoos de conseguirem um emprego formal Sobre isso Pochmann 2000 afirma As alternativas ocupacionais do jovem estão distantes cada vez mais dos setores modernos da economia e associados geralmente aos segmentos de baixa produtividade e à alta precariedade do posto de trabalho POCHMANN 2000 p 56 Você considera que o mundo do trabalho oferece as mesmas oportunidades para todos Pense sobre a situação das mulheres O preconceito de gênero por exemplo é fortíssimo no mundo do trabalho no Brasil Reportagem do Jornal O Globo de 5 mar 2017 relata essa situação Mulheres estão em apenas 37 dos cargos de chefia nas empresas Quando se verifica os dados para o setor público eles pioram ainda mais pois nesse setor apenas 217 das mulheres possuíam cargos de chefia Em 2016 segundo o IBGE as mulheres representavam 438 dos trabalhadores brasileiros e recebiam em média 76 do salário dos homens Reflita Sem medo de errar Na situaçãoproblema desta seção vimos o caso da Maria Júlia uma jovem que terminou o Ensino Médio está sem emprego U3 Trabalho classe social e globalização 143 e sonha em cursar Psicologia no Ensino Superior Para que você relembre essa situação destacamse a seguir as questões De que forma Maria Júlia pode superar parte dessas dificuldades que encontra para se inserir no mercado de trabalho Como você poderia justificar o fato de a garota ter tido apenas empregos precários e informais O fato de a jovem estar desempregada é responsabilidade individual dela Por quê Como a classe social a qual a garota pertence afeta as suas possibilidades de estudar e trabalhar Quanto à primeira questão destacase que Maria Júlia vive em uma sociedade com muitas pessoas desempregadas e com um mundo do trabalho com muitas mudanças tal como vimos nesta seção A primeira forma de Maria Júlia superar essa condição vai ser continuar estudando talvez iniciar um curso técnico ou superior se não tiver condições de custear essa nova formação ela deve buscar instituições públicas ou privadas que ofereçam bolsas de estudo Outra situação possível é ela buscar empregos que exigem menos qualificações ou experiência para que possa ter uma renda e poder estudar e auxiliar no orçamento doméstico A segunda questão incentiva para que você pense sobre outras questões e possa chegar em uma resposta Maria Júlia teve muitas oportunidades na vida Ela teve condições de estudar línguas e informática em quanto fazia o Ensino Médio Como se estudou nesta seção o desemprego é quase sempre involuntário e é resultado da dinâmica econômica e social deste modo não se pode pensar que a situação de Maria Júlia é de sua exclusiva responsabilidade bem como o desemprego juvenil é consequência da falta de políticas públicas para garantir aos jovens o acesso ao mercado de trabalho O fato de ser de classe popular causa consequências sérias quanto às oportunidades ocupacionais e educacionais visto que Maria Júlia teve de estudar em escolas menos qualificadas e como trabalhava não tinha as mesmas condições de outros alunos para acompanhar as aulas poderia chegar atrasada às aulas faltar mais ter sonolência durante as aulas e até ter uma menor produtividade Deste modo ingressar prematuramente no mundo do trabalho pode implicar seriamente nas oportunidades futuras pois pode gerar menor aprendizagem do que é ensinado ou até evasão escolar U3 Trabalho classe social e globalização 144 Avançando na prática Classe Social desigualdade e mundo do trabalho Descrição da situaçãoproblema João tem 17 anos de idade e é morador de uma cidade de médio porte do interior de um estado brasileiro Ele ainda cursa o primeiro ano do Ensino Médio pois reprovou um ano e abandonou a escola em um outro por causa de um trabalho que arrumou As necessidades econômicas de sua família fizeram que ele começasse a trabalhar aos 10 anos de idade pois precisava ajudar a mãe com as contas de casa Ele não conheceu seu pai No momento estuda no período noturno em uma escola pública estadual e é vendedor em uma pequena loja de sapatos com uma remuneração mensal de um salário mínimo Diante dessa situação você entende que João valoriza o trabalho em detrimento da escola Por quê Resolução da situaçãoproblema João não tem conseguido frequentar as aulas todos os dias porque prefere ficar até mais tarde na loja que trabalha para aumentar a sua comissão Por que ele faz isso Inicialmente porque ainda não percebeu o quanto perde em faltar nas aulas e porque prefere ampliar a renda e ter acesso ao mundo do consumo ter um celular de última geração por exemplo e auxiliar no orçamento doméstico Devido às exigências do mundo do trabalho ele não deveria deixar de lado seu processo educacional Na visão de João e de alguns jovens o acesso a certos bens pode passar uma imagem de melhoria de vida de ascensão social quando na prática não é isso sobretudo porque certos bens são apenas acessíveis por meio do acesso ao crédito 1 Diante de um cenário de dificuldades no mundo do trabalho o economista Marcio Pochmann presidente da Fundação Perseu Abramo defende uma nova agenda do trabalho civilizado com ingresso no mercado apenas depois do curso superior o que já acontece com os filhos dos ricos e com jornada semanal menor Temos uma massa de jovens que são heróis do Brasil porque trabalham e estudam afirmou durante o 20º Faça valer a pena U3 Trabalho classe social e globalização 145 Congresso Nacional dos Procuradores do Trabalho encerrado no sábado Para ele é possível imaginar a entrada no mercado de trabalho depois dos 22 anos e com jornadas semanais cada vez mais reduzidas NUZZI Victor Pochmann defende agenda do trabalho civilizado com jornada menor Rede Brasil Atual 21042015 Disponível em httpwwwredebrasilatual combreconomia201504pochmanndefendeagendadotrabalho civilizadocomjornadamenor5265html Acesso em 31 jan 2018 Sobre esse cenário referente ao mundo do trabalho é possível afirmar que a situação defendida por Marcio Pochmann é a Absurda pois trabalhar depois dos 22 anos faria os jovens não terem uma postura própria para o trabalho b Uma ilusão visto que nosso país é muito desigual e não há interesse do Estado para que os jovens tenham condições de retardar seu ingresso à vida profissional c Algo próprio de países em desenvolvimento exceto no Brasil tanto é que não existe mais denúncias de trabalho infantil em países como a China d Impossível pois diminuir a jornada de trabalho levará a uma queda da produção e da produtividade e Possível a partir de uma precarização do trabalho que se manifesta de forma intensa em países como o Brasil 2 O desemprego diz respeito ao uso em larga escala da tecnologia da informática e das telecomunicações juntamente a técnicas gerenciais que pretendem ampliar a produtividade e diminuir o uso da força de trabalho A alternativa que melhor completa a lacuna da frase acima é a Cíclico b Estrutural c Conjuntural d Juvenil e Tecnológico 3 A precariedade no trabalho pode ser pensada a partir de algumas ideias que estão a seguir I Desrespeito à legislação trabalhista II Incentivos a melhorias de condições de trabalho e respeito ao ser humano U3 Trabalho classe social e globalização 146 III Pressão intensa no cotidiano de trabalho IV Uso diário dos equipamentos de proteção individual V Novas formas de contratação dos empregados e de intensificação do trabalho A partir da leitura das frases escolha a alternativa que indica as que estão corretas a I e II apenas b II III e IV apenas c I II III IV e V d I III e V apenas e III IV e V apenas U3 Trabalho classe social e globalização 147 Seção 32 Caro aluno seja bemvindo à Seção 32 Classe social desigualdade e mundo do trabalho Prosseguindo com a reflexão sobre as condições de vida dos jovens das classes trabalhadoras brasileiras em um contexto de globalização conforme anunciado no contexto de aprendizagem da Unidade questionamos se você já pensou sobre como a inserção precoce e precária no mercado de trabalho afeta a escolarização de adolescentes e jovens Para aprofundar esta discussão resgatamos o histórico de nosso personagem João e apresentamos uma nova situaçãoproblema João morador de uma cidade de médio porte do interior de um estado brasileiro tem 17 anos Ele ainda cursa o primeiro ano do Ensino Médio já que reprovou um ano e abandonou a escola em um outro ano por ter arrumado um trabalho Devido às necessidades econômicas de sua família ele começou a trabalhar aos 10 anos de idade pois precisava ajudar a mãe com as contas de casa Ele não conheceu seu pai No momento estuda no período noturno e é vendedor em uma pequena loja de sapatos com uma remuneração mensal de um salário mínimo Para ter uma renda maior e ajudar a sua mãe a comprar uma casa própria João tem ficado além do seu horário com a intenção de vender mais e aumentar sua comissão mas isso tem feito ele chegar atrasado ou faltar nas aulas o que coloca em risco sua aprovação na escola Como muitos outros jovens ele possui vontade de consumir produtos da moda e de tecnologia sobretudo celular e tablet Assim para se manter conectado aos amigos e às redes sociais ele decidiu comprar de forma parcelada um celular de última geração que equivale a cerca de três salários de João Isso o faz intensificar os dias em que fica além do horário Diante desta situação você entende que João valoriza o trabalho em detrimento da escola Por quê Qual a relação entre mercado de trabalho e consumo Bens materiais representa uma ascensão social A desigualdade social interfere no acesso ao consumo Se sim de que maneira Diálogo aberto Classe social desigualdade e mundo do trabalho U3 Trabalho classe social e globalização 148 Não pode faltar Caro aluno a seguir você vai ter a possibilidade de refletir sobre algo que está presente no cotidiano de nosso país o conceito de classe social de desigualdade social de pobreza de exclusão social e ainda será abordado que a desigualdade social vai além das fronteiras nacionais ela é uma marca do mundo globalizado Conceito sociológico de classes sociais Na Sociologia utilizase o conceito de estratificação social para descrever as desigualdades existentes entre os indivíduos no interior de uma sociedade Podese considerar que as sociedades constituem em estratos em uma hierarquia com os mais favorecidos no topo e os menos privilegiados perto da base GIDDENS 2012 p 311 Historicamente há quatro sistemas básicos de estratificação social escravidão casta estamento e classes sociais Nesta seção nosso enfoque se dá nas classes sociais Vivemos em uma sociedade capitalista em que a divisão social se dá pelas classes sociais Muito se fala sobre isso pois as pessoas são identificadas por serem de certas classes sociais e por isso teriam certas características e estilos de vida A partir disso podese pensar no vínculo entre as classes sociais e o status tal como tratou o alemão Max Weber no texto Classe estamento partido 1974 questão essa que será aprofundada ainda nesta seção Pesquise mais Você deve estudar mais sobre as diferenças de classe social no Capitalismo Como sugestões de pesquisa e estudo destacamos uma reportagem Publicada no site da Folha de SPaulo que trata do crescimento de milionários no país 29 set 2017 Disponível em httpwww1folhauolcombrmercado2017091922834 numerodemilionariosdopaiscresceu11em2016apesarderecessao shtml Acesso em 06022018 e um livro POCHMANN Marcio O mito da grande classe média Capitalismo e estrutura social São Paulo Boitempo 2014 U3 Trabalho classe social e globalização 149 Não se pode tratar de classe social sem falar de desigualdade social Segundo Dias 2014 o conceito de desigualdade social remonta uma condição em que os membros de uma determinada sociedade têm diferentes condições de renda de prestígio e de poder Não se pode esquecer que uma das marcas do capitalismo é a existência de desigualdade social mas em níveis diferentes conforme a organização econômica social e jurídica de uma sociedade A comparação entre o grau de desigualdade de renda no Brasil e o observado em outros países comprova que a desigualdade brasileira é das mais elevadas do planeta Os autores mais discutidos no que se refere à estratificação social são Karl Marx 18181883 e Max Weber 18641920 Marx 2001 foi um dos primeiros autores a utilizar a expressão classe social e entendia que as sociedades industriais eram fundamentadas em relações econômicas capitalistas Marx faz uma reflexão importante sobre as classes sociais e o funcionamento da economia capitalista no fragmento abaixo Duas espécies bem diferentes de possuidores de mercadorias têm de confrontarse e entrar em contato de um lado o proprietário de dinheiro de meios de produção e de meios de subsistência empenhado em aumentar a soma de valores que possui comprando a força de trabalho alheia e do outro os trabalhadores livres vendedores da própria força de trabalho e portanto de trabalho Trabalhadores livres em dois sentidos porque não são parte direta dos meios de produção e porque não são donos dos meios de produção O sistema capitalista pressupõe a dissociação entre os trabalhadores e a propriedade dos meios pelos quais realizam o trabalho MARX 2001 p 828 Na visão marxista a relação entre essas duas classes é de exploração já que o proletariado produz mais durante o seu trabalho do que o valor em que é remunerado isso gera um excedente um lucro para a burguesia que foi chamado por Marx de mais valia Haveria na visão de Marx uma marca na sociedade capitalista que é a luta de classes ele defendia que os trabalhadores deveriam ter uma consciência de classe e se unir para lutar contra o capitalismo e a burguesia e instalar o socialismo Ao mesmo tempo em que a existência de uma classe social pressupõe a existência de outra ou U3 Trabalho classe social e globalização 150 outras Assim não há burguesia empresariado sem a existência de proletariado trabalhadores e viceversa Outro importante autor na discussão de classe social é Max Weber 1974 entendendo que a sociedade se caracteriza por conflitos tanto por poder quanto por recursos tal como demonstra o fragmento abaixo situação de classe que podemos expressar mais sucintamente como a oportunidade típica de uma oferta de bens de condições de vida exteriores e experiências pessoais de vida e na medida em que essa oportunidade é determinada pelo volume e tipo de poder ou falta deles de dispor de bens ou habilidades em benefício de renda de uma determinada ordem econômica A palavra classe referese a qualquer grupo de pessoas que se encontram na mesma situação de classe WEBER 1974 p 212 Na visão de Weber os grupos sociais se diferenciam a partir de certas características como nível de educação renda profissão religião local de moradia rural ou urbano comportamento e prestígio Além disso Weber vincula estratificação social ao poder Assim o modo de estruturação da ordem social influencia a distribuição de poder econômico ou outro dentro de certos limites de cada sociedade Para Weber a estratificação social vai além da questão de classe social situação de mercado pois ele leva em consideração também outros dois aspectos status e partido Giddens 2012 demonstra que a ideia de status para Weber se refere às diferenças existentes entre os grupos sociais vinculadas à honra e ao prestígio social que recebem de outros indivíduos que vão além das classes sociais Os dois principais critérios de diferenciação de status são segundo Weber as oportunidades de vida acesso a bens e serviços possibilidades de consumo e o estilo de vida comportamento valores sociais e religiosos aspirações A ideia de partido tratada por Weber é segundo Giddens uma forma de poder e diz respeito a um grupo de indivíduos que trabalham juntos pois possuem origens metas ou interesses comuns Muitas vezes um partido atua de modo organizado rumo a um objetivo que é relevante para os seus membros U3 Trabalho classe social e globalização 151 Ao se refletir sobre a sociedade capitalista a partir de Weber podese entender que além do partido o status também pode influenciar nas oportunidades de um indivíduo no mundo do trabalho Giddens 2012 argumenta que a posse de riqueza e a ocupação cargo profissão no mercado de trabalho são os principais aspectos utilizados para se pensar as diferenças de classe Vale salientar que as classes não são estabelecidas por medidas legais ou religiosas O indivíduo ao nascer em uma classe social pode não ficar nela por toda a vida já que há a ideia de mobilidade social movimento ascendente ou descendente entre posições de classe de um indivíduo Outro ponto salientado por Giddens é que as classes sociais têm base econômica já que podem se estruturar a partir de diferenças econômicas assim uma forma de visualizar a desigualdade social está nas diferenças de salário e de condições de trabalho dos indivíduos Por exemplo a inserção precoce dos jovens no mercado de trabalho muitas vezes está relacionada à desigualdade social e à falta de oportunidades das famílias em permitir que seus filhos permaneçam somente estudando durante o ensino básico Caro aluno você precisa saber um pouco da biografia de Karl Marx e de Max Weber para entender o processo de organização das classes sociais Karl Marx 18181883 foi um intelectual alemão fundamental para a estruturação da Sociologia e da Economia Ele abordou diversos assuntos em seus trabalhos tais como Política Economia Socialismo História entre outros Como ele percebeu o crescimento industrial ao longo do século XIX quis entender a desigualdade social e a exploração do trabalho resultante desse processo Ele foi um intelectual engajado na luta pelo Socialismo e continua tendo seu pensamento como fonte para entender o capitalismo e seus processos de mudanças Giddens 2012 Max Weber 18641920 foi também um intelectual alemão nasceu em uma influente família judia teve ampla formação acadêmica sendo filho de pai jurista e mãe religiosa Ele escreveu sobre diversos temas relevantes para a Sociologia tais como Economia Direito Filosofia e Religião Ele teve uma grande preocupação com o desenvolvimento do Capitalismo Moderno e a maneira como a sociedade moderna estava Assimile U3 Trabalho classe social e globalização 152 organizada em comparação às sociedades mais antigas Weber focava na investigação da ação social e de seus significados o exemplo mais claro disso é a análise que o autor fez da influência do protestantismo no desenvolvimento do capitalismo Giddens 2012 Completase a discussão deste tópico a partir de uma reflexão sobre o consumo No capitalismo é fundamental que se estimule o consumo para que as empresas possam vender estimulando o crescimento da economia sendo o estímulo ao consumo algo presente em políticas econômicas Na última década a discussão por parte do governo ou por parte de intelectuais sobre consumo no Brasil tem crescido muito especialmente vinculandose consumo à mobilidade social e tratando da formação de uma nova classe média classe C Esta nova classe média seria resultado de uma economia que voltou a crescer desde o meio dos anos 2000 da expansão do mercado de trabalho formal e do acesso a crédito que possibilitaria os indivíduos a financiar a casa própria carros populares e eletrodomésticos Sociologicamente muito se critica esta visão de criação de uma nova classe média por meio do consumo Scalon e Salata 2012 tratam disso De todo modo é importante chamar atenção que a medição do consumo apenas pela posse de bens apresenta limites Uma análise sociológica mais completa demandaria o estudo das práticas de consumo revelando padrões tendências e gostos que podem ser bastante diferenciados entre indivíduos ou grupos de indivíduos que no volumequantidade parecem similares SCALON E SALATA 2012 p 402 Marcio Pochmann 2014 também aborda de forma crítica essa questão de se ter uma nova classe média no país O centro da análise em seu texto é a polêmica em relação à criação de uma nova classe média no Brasil com a implementação das políticas socioeconômicas dos governos petistas O autor argumenta que a utilização do termo nova classe média não só é insustentável frente aos dados socioeconômicos como demonstra uma disputa política pelas transformações que aconteceram na estrutura social brasileira Pochmann explica baseandose nesses dados que U3 Trabalho classe social e globalização 153 não existe uma expansão da classe média no país o que torna injustificado a utilização do termo uma nova classe média O que ele revela é que houve uma redução considerável da base da pirâmide social ou seja uma diminuição da miséria absoluta Pobreza e exclusão social como marcas do capitalismo No entendimento de Giddens 2012 há dois tipos de pobreza absoluta e relativa Pobreza absoluta se baseia na ideia de subsistência recursos para que o indivíduo possa ter uma existência física saudável Assim pessoas que não possuem acesso à alimentação a roupas e à uma moradia vivem em situação de pobreza absoluta O autor afirma que o conceito de pobreza absoluta pode ser aplicado universalmente ou seja pode ter validade em várias partes do mundo Não se pode esquecer que há países em desenvolvimento que possuem boa parte da população vivendo em situação de pobreza Um ponto destacado é que os países desenvolvidos eliminaram a pobreza extrema mas ainda possuem desigualdade social Já nos países em desenvolvimento ainda é comum que as pessoas morram em situações de pobreza absoluta Giddens demonstra que uma técnica comum utilizada para medir a pobreza absoluta é definir a linha da pobreza que se baseia no preço de mercadorias básicas necessárias para que se dê a sobrevivência humana em uma sociedade Quanto à ideia de pobreza relativa na visão do autor é definida culturalmente e não pode ser estabelecida a partir de um padrão pensado universalmente para a questão da privação Utilizase como argumento para isto que as necessidades humanas não são iguais em toda parte pois elas diferem dentro e também entre as sociedades O autor ressalta inclusive que algumas coisas que são vistas como essenciais em uma sociedade podem ser consideradas como luxo em outra há um aspecto cultural a ser levado em consideração Enquanto a ideia de exclusão social está vinculada às diferentes maneiras em que os indivíduos e comunidades passam por situações de exclusão tal como aborda Giddens Uma das formas de pensar a exclusão social diz respeito à ausência de acesso à moradia que está entre as formas mais extremas de exclusão social E ainda na visão do autor a exclusão pode ter uma dimensão espacial bairros variam muito em várias questões como segurança disponibilidade U3 Trabalho classe social e globalização 154 de serviços e instalações públicas e ainda condições ambientais Não se deve esquecer que o conceito de exclusão social é mais amplo que pobreza apesar de abrangêlo Giddens faz uma interessante reflexão sobre o tema A exclusão social referese a maneiras que os indivíduos podem ser separados do envolvimento pleno da sociedade mais ampla Por exemplo pessoas que vivem em conjuntos residenciais degradados com escolas pobres e poucas oportunidades de emprego na área podem ter negadas as oportunidades de melhorar que são oferecidas à maioria das pessoas GIDDENS 2012 p 357 A exclusão social pode se manifestar também pela dificuldade de acesso à cidadania e aos direitos bem como às políticas sociais e ao mercado de trabalho A exclusão do mercado de trabalho pode levar o indivíduo a enfrentar longos períodos de desemprego ou ficar vagando de emprego precário em emprego precário como acontece com muitos jovens sobretudo aqueles mais pobres A exclusão do mercado de trabalho pode levar a outras formas de exclusão social como pobreza exclusão de serviços públicos e até a exclusão de relações sociais segundo Giddens O autor ainda ressalta que a exclusão do mercado de trabalho eleva de forma significativa o risco de exclusão social Podese completar isso com a situação de vulnerabilidade vivenciada pelos indivíduos excluídos no mercado de trabalho que são vistos em um processo de desfiliação que seria a tendência ao enfraquecimento ou mesmo a ruptura dos laços sociais que ligam o indivíduo à sociedade segundo a análise de Robert Castel 1998 Outro ponto que não pode ser esquecido é que pode haver relação entre criminalidade e exclusão social o que não significa que todo pobre será criminoso mas que a falta de certos recursos pode inclinar o indivíduo a praticar ações criminosas A exclusão social está relacionada a situações em que os indivíduos por alguma razão não podem participar plenamente das atividades realizadas pela maioria das pessoas e que ainda podem ampliar o risco de injustiça social Muitas vezes se percebe na sociedade uma invisibilidade social em relação aos grupos excluídos sejam eles crianças e moradores de rua sejam eles desempregados Esta invisibilidade tem relação com U3 Trabalho classe social e globalização 155 a ideia de que esses grupos enfrentam essa condição por não terem devidamente se esforçado e que o esforço e a meritocracia seriam as formas de justificar pobreza e injustiças sociais A ideia de pobreza é clara para a maioria das pessoas mas muitas vezes ela é negada ou desconsiderada por indivíduos que vivem em uma sociedade capitalista tão desigual como a brasileira E nem sempre ter um emprego significa deixar a pobreza Para que fique mais claro esta reflexão leia a reportagem da Folha de SPaulo destacada a seguir httpwww1folhauolcombrmercado2016051772869umterco dosmuitopobrestemempregoapontapesquisamundialdaoit shtml Acesso em 1 fev 2018 Exemplificando Desigualdade social em esfera global Buscase refletir sobre as interferências da globalização na desigualdade social A abertura dos mercados no mundo globalizado junto com o aumento do poder do capital financeiro e à redução do papel do Estado acarretaram o aumento da desigualdade social Completase esta ideia com os argumentos de Dias 2014 que destaca o fato da globalização ter criado novos problemas como o enfraquecimento dos Estados Nação caracterizado por ter um território definido um governo legítimo uma soberania e um povo e acentuado problemas já existentes como o desemprego e a desigualdade social Na visão de Turolla 2004 a Globalização permitiu uma elevação dos fluxos de capitais de mercadorias e de investimentos diretos porém causou expansão da desigualdade entre os países ricos e pobres Na visão do autor por esta expansão da desigualdade social gerouse indivíduos extremamente descontentes com a globalização Sobre o Brasil o autor menciona O Brasil vem participando ativamente do processo de globalização Embora o país tenha elevado o padrão de vida médio de seus cidadãos não reduziu a desigualdade de forma significativa TUROLLA 2004 p 20 No que se refere à globalização Estanque 2005 afirma que a perversidade da globalização pode ser vista na situação precária e desumana dos trabalhadores migrantes O autor complementa U3 Trabalho classe social e globalização 156 isso com os seguintes argumentos E a globalização neoliberal tem vindo a contribuir para acentuar as situações de opressão de exploração precariedade e dependência que hoje caracterizam o mundo laboral ESTANQUE 2005 p 130 Sobre a desigualdade na Globalização Ianni afirma que a globalização do capitalismo implica sempre e necessariamente o desenvolvimento desigual contraditório e combinado Desigual devido aos desníveis e às irregularidades na realização das forças produtivas e das relações de produção Contraditório porque leva consigo tensões e atritos entre os subsistemas econômicos nacionais e regionais enquanto províncias do sistema econômico global E combinado já que a despeito das desigualdades de todos os tipos e das contradições também múltiplas desenvolvese em geral alguma forma de acomodação associação subordinação ou integração nas quais os polos dominantes ou mais dinâmicos subordinam orientam ou administram os emergentes IANNI 1998 p 2829 Já na visão de Giddens outro ponto é mencionado a dinâmica do mundo do trabalho na globalização Ele aborda a ideia de que na globalização houve a ampliação do poder das multinacionais o que tem feito os trabalhadores competirem uns contra os outros por um salário que lhes proporcione viver e ao mesmo tempo aceitarem condições muito precárias de trabalho Você consegue perceber no seu dia a dia as consequências da Globalização Você percebe a redução do papel do Estado em nossa sociedade e o crescimento do poder político e econômico das multinacionais Para pensar sobre estas questões sugerimos a leitura do artigo de opinião intitulado Declínio devido à globalização não representa fim dos Estadosnação de Robert Muggah publicado na Folha de SPaulo em 16112017 Disponível em httpwww1folhauol combrmundo2017111935775decliniodevidoaglobalizacaonao representafimdosestadosnacaoshtml Acesso em 31 jan 2018 Reflita U3 Trabalho classe social e globalização 157 Sem medo de errar O personagem de nossa situação problema João tem 17 anos e é mais um jovem que é afetado fortemente pela desigualdade social no Brasil Por isso ele teve de ingressar prematuramente no mercado de trabalho e isso afeta não apenas suas possibilidades de escolarização como suas oportunidades no futuro Ele desde muito cedo teve sua vida marcada pela convivência entre escola e trabalho Essa situação é típica de um país com má distribuição de renda e ausência de mecanismos que impeçam uma inserção precoce no mercado de trabalho além de poder reproduzir os níveis de pobreza familiar Ele não tem conseguido frequentar as aulas Ensino Médio 1º ano todos os dias porque prefere ficar até mais tarde na loja que trabalha para aumentar as vendas e consequentemente sua comissão o que pode impactar positivamente em sua renda e o afastálo da pobreza Por que ele faz isso se o preço pode ser tão alto no futuro Inicialmente porque ainda não percebeu o quanto perde em faltar nas aulas e porque prefere ampliar a renda e ter acesso ao mundo do consumo ter um celular de última geração por exemplo e auxiliar no orçamento doméstico Devido às exigências do mundo do trabalho ele não deveria deixar de lado seu processo educacional afinal de contas está perdendo conteúdos que podem ser uteis no momento que for fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio Enem ou algum vestibular João ainda não percebeu que quando terminar o Ensino Médio vai precisar continuar estudando para que possa ter outras oportunidades no mercado de trabalho e evoluir na carreira Quando se pensa a história de João e de outros tantos jovens pobres no Brasil devemos considerar que não basta apenas melhorar as leis e as políticas de emprego existentes ou criar novas leis e políticas é preciso gerar melhores condições de vida para a população pobre através da melhor distribuição da renda com o intuito de não a incentivar a colocar seus filhos precocemente no mercado de trabalho Não se pode esquecer que a renda familiar é uma variável importante quando se refere à educação dos jovens sobretudo porque uma renda familiar mais elevada diminui as chances de os jovens trabalharem precocemente Welters 2009 aborda de forma aprofundada esta questão U3 Trabalho classe social e globalização 158 Assim entre os mais pobres podese ter uma antecipação de responsabilidade pelo sustento do lar exigindo sua entrada precoce no mercado de trabalho bem como entre os de renda mais elevada podese constatar situações em que atingem a idade adulta sem assumir os papéis a ela inerentes mantendo a dependência dos pais WELTERS 2009 p 7 Além disso na visão de João e de alguns jovens o acesso a certos bens pode passar uma imagem de melhoria de vida de ascensão social Quando na prática não é isso sobretudo porque certos bens são apenas acessíveis por meio do acesso ao crédito e decidir por sua compra é deixar de lado bens necessários a uma vida saudável como gastar com frutas verduras e alimentos mais saudáveis Finalizase a resolução da situaçãoproblema com alguns argumentos centrais nesta discussão Pense sobre eles e os relacione com a organização social e econômica de nossa sociedade Os jovens que ingressam prematuramente no mercado de trabalho deveriam estar na escola ou só na escola tendo ainda direito ao lazer à cultura ao invés de serem explorados em diversas formas de trabalho Não podemos perder de vista que o trabalho precoce normalmente está vinculado aos mais pobres além de reproduzir o ciclo de pobreza e de expandir a desigualdade social Assim indivíduos que ingressam precocemente no mercado de trabalho têm menores chances de na fase adulta conseguir melhores empregos o que impulsiona um ciclo vicioso de pobreza e de necessidade da mão de obra infantojuvenil para auxiliar no orçamento familiar O trabalho precoce é uma das principais causas de evasão escolar e faz com que muitos jovens se submetam ao subemprego tornandose presas do mercado de trabalho informal e podendo nunca mais sair desse ciclo de baixa escolarização e trabalho precário Todo este contexto só amplia à desigualdade social e as injustiças tão percebidas no cotidiano brasileiro além de destruir o futuro de muitos jovens U3 Trabalho classe social e globalização 159 1 Na nossa sociedade que é baseada no sistema capitalista há uma divisão social que se organiza a partir do acesso dos indivíduos à renda ao trabalho aos direitos e à qualidade de vida Esta divisão indica também a organização econômica e social de um país já que permite perceber o nível de desigualdade social de uma sociedade A divisão social da sociedade capitalista e os nomes dos dois autores da Sociologia mais relevantes na análise dessa divisão são respectivamente a Casta Marx e Durkheim b Classe Durkheim e Weber c Estamentos Marx e Bourdieu d Classe Social Marx e Weber e Casta Weber e Foucault Faça valer a pena 2 Amartya Sem 2000 importante economista indiano e professor de Harvard argumenta que a pobreza pode ser conceituada como uma manifestação da privação das capacidades básicas de um indivíduo e não somente como uma renda inferior a um determinado patamar pré estabelecido O autor faz uma crítica a que tipo de pobreza a Absoluta b Relativa c Extrema d Brasileira e Capitalista 3 A desigualdade social é uma das marcas da sociedade capitalista Em países como o Brasil ela é muito intensa e provoca a inserção precoce no mercado de trabalho a evasão escolar a expansão da pobreza a dificuldade de acesso a direitos entre outras Assinale a alternativa que melhor define desigualdade social a Situação em que não há qualquer diferença econômica entre os indivíduos b Caracterizada pela grande diferença econômica e de oportunidades entre as classes sociais U3 Trabalho classe social e globalização 160 c Condição em que o indivíduo não possui as condições básicas para a sua subsistência d Sistema econômico em que a produção e a distribuição se baseiam na propriedade privada e Condição em que o indivíduo mesmo muito qualificado não consegue se inserir no mundo do trabalho U3 Trabalho classe social e globalização 161 Seção 33 Caro aluno seja bemvindo à Seção 33 Globalização e diversidade social e cultural Você já pensou sobre como o capitalismo e a globalização afetam seu cotidiano inclusive suas possibilidades de inserção no mundo do trabalho Como vimos no contexto de aprendizagem desta Unidade muitos jovens estão desempregados como a situação hipotética da jovem Maria Júlia estudada da seção 31 ou estão em empregos precários e com baixa remuneração como o exemplo fictício do jovem João na seção 32 Agora nesta seção analisaremos uma outra situação representativa dos jovens trabalhadores brasileiros Carlos tem 20 anos é universitário e trabalha em uma multinacional do setor alimentício Acabou de ser promovido ele era aprendiz tem uma trajetória profissional bemsucedida quando comparada a muitos de seus colegas de faculdade Agora trabalha na área de exportação e tem contato com profissionais de diversas partes do mundo inclusive no seu ambiente de trabalho ou seja ele trabalha em um ambiente de diversidade cultural Carlos chegou a fazer piadas sobre os hábitos de um iraniano que trabalha com ele e com a cultura de países islâmicos sobretudo porque esses países exigem que a carne comprada de sua empresa seja cortada de uma forma específica Faz parte da estratégia de sua empresa buscar novos mercados e atender as necessidades de seus clientes e a política de sua empresa prega a valorização da diversidade cultural Como foi repreendido pelos colegas percebeu que estava errado Para mudar teve de conhecer um pouco da cultura dos países de seus colegas estrangeiros de trabalho e dos países que sua empresa exporta produtos Carlos fala muito mal a língua inglesa e tem pouco interesse nesse idioma mas já foi avisado pelo seu superior imediato que terá um ano para ser fluente no idioma necessidade de um mundo globalizado caso contrário não será promovido e poderá até ser desligado da empresa Ele já foi avisado também que terá Diálogo aberto Globalização e diversidade social e cultural U3 Trabalho classe social e globalização 162 de acabar a faculdade no tempo correto e ainda que será avaliado pela empresa e gestores semestralmente e caso sua avaliação não seja como esperada poderá ser demitido Carlos tem se sentido pressionado e ouve dos colegas que não é a globalização que se adapta a gente mas a gente que se adapta a ela por isso tem ficado nervoso e angustiado com o trabalho Se você estivesse na posição de Carlos como analisaria todo esse processo e como agiria para manter seu emprego Afinal o que é globalização Quais são os seus impactos Estes são os mesmos para as diferentes classes sociais De que forma devese lidar com a diversidade social e cultural em um mundo globalizado Não pode faltar Nesta seção trataremos de globalização processo econômico e social que você vivencia diariamente bem como dos impactos da globalização na cultura na economia na sociedade e no mundo do trabalho Sem que você entenda o mundo globalizado dificilmente será possível compreender a sociedade em que você vive Conceito sociológico de globalização A Sociologia traz importantes contribuições para se pensar o processo de globalização especialmente por demonstrar que ele é mais que um processo econômico é também caracterizado pela organização da sociedade da informação Reinaldo Dias 2014 define a globalização como um termo que designa a formação de uma economia mundial que é caracterizada pelo enfraquecimento do EstadoNação e a interdependência cada vez maior entre as várias regiões do planeta A globalização é uma prática complexa que se estruturou ao longo do processo histórico das últimas décadas voltada aos interesses do capitalismo e às estratégias mundiais não apenas dos Estados mas também das multinacionais O poder das multinacionais dependeu muito das mudanças nas políticas estatais sobretudo com a redução do papel do Estado Para que isso se estruturasse foi fundamental a utilização das Tecnologias da Informação TICs que facilitou a comunicação o acesso à informação e as transações comerciais U3 Trabalho classe social e globalização 163 Conforme Octávio Ianni 2000 o mundo está sendo abalado por transformações de amplas proporções intensas e profundas Para o autor ocorrem transformações em modos de vida e trabalho nas formas de sociabilidade de hábitos e de expectativas Ele apresenta a ideia da existência de um novo mapa do mundo um mundo sem fronteira uma aldeia global De acordo com Rogério Haesbaert 1998 a globalização deve ser compreendida como um produto da expansão cada vez mais ampliada do capitalismo e da sociedade de consumo numa sociedade moldada pelo fetichismo da mercadoria relacionado à mercantilização da sociedade e a valorização do consumo e a atração pelo que é produzido pelas multinacionais especialmente roupas e produtos eletrônicos Pesquise mais Para Karl Marx fetichismo da mercadoria diz respeito ao encantamento criado pelas mercadorias nos indivíduos que impedem que eles percebam as relações sociais e econômicas existentes nos produtos que são comprados e consumidos Em Karl Marx o fetichismo corresponde a características que os consumidores buscam nas mercadorias e que não são proporcionadas por suas qualidades materiais mas interferem em seu valor Costa 2010 p 63 Sobre isto leia RETONDAR Anderson Moebus Sociedade de consumo modernidade e globalização São Paulo Annablume 2007 Diversos outros autores falam em uma nova ordem mundial principalmente relacionandoa com o fenômeno da globalização Esta é definida como a intensificação das relações sociais em escala mundial que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e viceversa GIDDENS 1991 p 69 Vale mencionar que a globalização é um processo em curso que segundo Ianni 1998 está gerando novas perspectivas sociais econômicas políticas e culturais bem como transformações de conceitos seculares Sob a perspectiva social Sandro Ruduit 2002 menciona o caso dos shoppings como símbolos do isolamento e do consumismo pois as normas envolvidas no contexto das interações não são discutidas pelos frequentadores uma vez que U3 Trabalho classe social e globalização 164 se trata de espaços privados os indivíduos não vão aos shoppings para trocas sociais mas para observar produtos principalmente Economicamente podemos ressaltar a intensificação das relações de produção distribuição e consumo em âmbito mundial caracterizando a emergência de uma nova economia que opera como uma unidade em tempo real em âmbito planetário CASTELLS 1999 apud RUDUIT 2002 p 82 Politicamente Os Estados passam a depender dos mercados de capitais implicando na perda de autonomia e de legitimidade deslocando poderes do âmbito nacional para o global MUZIO 1999 apud RUDUIT 2002 p 8788 No âmbito cultural assistese à uma combinação do global e local como disputas entre as culturas ocidentais dominantes que tentam impor padrões a serem seguidos e culturas não ocidentais e não dominantes reproduzidas com traços nativos próprios que tentam se afirmar RUDUIT 2002 Cabe ainda completar a discussão do conceito de Globalização com a visão de Anthony Giddens 2012 ao afirmar que as corporações transnacionais multinacionais são centrais na globalização econômica já que elas são responsáveis por cerca de dois terços de todo comércio mundial além de serem relevantes na difusão de novas tecnologias ao redor do planeta e são atores importantes nos mercados financeiros internacionais No nosso cotidiano na publicidade nas questões ligadas a mercados na expansão da poluição e até nos conflitos relacionados com o Estado se percebe o poder das multinacionais Giddens menciona uma série de fatores políticos que levaram à consolidação da globalização destacase a seguir os dois principais O primeiro deles é o colapso do socialismo no leste europeu sobretudo o fim da URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas que na visão de Giddens é também um resultado da própria globalização O segundo fator é o crescimento de mecanismos internacionais e regionais de governo tais como a Organização das Nações Unidas ONU e a Organização Mundial do Comércio OMC que vão reunir EstadosNações em um fórum político global A ideologia econômica da globalização é o Neoliberalismo Sobre ele Piovesan 2012 faz uma interessante reflexão U3 Trabalho classe social e globalização 165 O processo de globalização econômica inspirado na agenda do chamado Consenso de Washington passou a ser sinônimo das medidas econômicas neoliberais voltadas para a reforma e a estabilização das denominadas economias emergentes Tem por plataforma o neoliberalismo a redução das despesas públicas a privatização a flexibilização das relações de trabalho a disciplina fiscal para a eliminação do déficit público a reforma tributária e a abertura do mercado ao comércio exterior PIOVESAN 2012 p 242 O que é Neoliberalismo Na visão de Moraes 2001 é uma forma de ver o mundo social uma ideologia bem como uma corrente de pensamento Um dos seus principais pensadores é o austríaco Ludwing von Mises 18811973 O Neoliberalismo critica a intervenção do Estado na economia repudia o Estado de bemestar social e o Neoliberalismo Solicita a redução do tamanho do Estado por meio das privatizações e dos processos de parceria entre órgãos públicos e privados Assimile Eric Hobsbawn 2007 é outro autor que trata das ameaças da globalização para o poder do Estado de conseguir conduzir suas políticas sejam elas econômicas ou sociais Segundo ele Temos uma economia mundial em rápida globalização baseada em empresas privadas transnacionais que se esforçam ao máximo para viver fora do alcance das leis e dos impostos do Estado o que limita fortemente a capacidade dos governos mesmo os mais poderosos de controlar as economias nacionais HOBSBAWN 2007 p 70 A diversidade cultural no mundo globalizado O historiador inglês Eric Hobsbawn 2007 afirma que a globalização não deve ser entendida como algo novo visto que ela demonstra o funcionamento do capitalismo desde sempre A globalização e a mundialização são processos sociais que transcendem os grupos as classes sociais e as nações e caracterizam a emergência de uma sociedade global visto que há interligação U3 Trabalho classe social e globalização 166 interdependência e conexão entre os países e empresas Ianni 2000 Sob esse prisma a problemática nacional adquire novo sentido Podese pensar inclusive a partir do impacto da língua inglesa que se tornou uma língua global e necessária em vários espaços da mídia do mundo do trabalho da cultura da arte do mundo dos negócios entre outros Segundo Renato Ortiz 1994 a mundialização pressupõe um desenvolvimento do processo tecnológico e econômico da globalização mas se distingue no seu interior Ortiz ainda afirma que existe uma cultura mundializada que se expressa na emersão de uma identidade cultural popular cujos signos estariam dispersos pelo mundo Como exemplos cita redes de alimentos e marcas de produtos de consumo que seriam facilmente identificáveis de um estilo de vida global O iPhone celular produzido pelo Apple está relacionado com esta ideia de produtos que são identificados em um estilo de vida global pois em várias partes do planeta há o desejo de possuir um iPhone o que garantiria um produto de boa qualidade que facilitaria o dia a dia bem como algo que representa certo status Uma notícia do portal UOL de 17102014 faz pensar nisto Jovens pagam até R 170 por aluguel de iPhone para ostentar na balada Disponível em httpstecnologiauolcombrnoticias redacao20141017jovenspagamater170poraluguelde iphoneparaostentarnabaladahtm Acesso em 31 jan 2018 Na visão de Costa 2010 a cultura de massa resultado da mercantilização cultural e artística promovida pela industrialização em larga escala apoiada pela tecnologia da comunicação é um dos processos responsáveis pela globalização pois na medida em que histórias idênticas são ouvidas e programas ou séries são assistidos em várias partes do planeta acabam até por interferir na experiência coletiva de vários grupos Basta pensar na influência do cinema estadunidense para criar hábitos inclusive de consumo instituir visões de mundo e até preconceitos Não se pode esquecer do impacto de provedores globais de séries de televisão via streaming internet como o Netflix que tem mais de 100 milhões de assinantes no cotidiano dos indivíduos em várias partes do mundo Giddens complementa esta discussão U3 Trabalho classe social e globalização 167 As mudanças por que o mundo passa atualmente estão a tornar as diferentes culturas e sociedades muito mais interdependentes do que se passava antigamente À medida que o ritmo de mudança se acelera o que acontece em determinado ponto do mundo pode afetar diretamente outras regiões GIDDENS 2012 p 45 Como há uma grande interdependência entre os países com a globalização mudanças que ocorrem em certos países e em certas culturas acabam por impactar muitas pessoas inclusive aquelas que estão fora do território de onde acontecem essas mudanças Com a globalização incrementouse a tecnologia de comunicação e com isso tornouse facilitada a transmissão dos valores culturais Contudo esse processo não ocorre de forma igualitária pois os países desenvolvidos que possuem maior poder econômico têm condições de transmitir mais a sua cultura A globalização está criando uma cultura global homogênea Reflita sobre exemplos em que a cultura produtos ou mesmo marcas ocidentais alteraram culturas não ocidentais Reflita Os impactos sociais e políticos da globalização Conforme argumenta Ribeiro 2009 a globalização tem apresentado sinais de ser um processo cada vez menos inclusivo o que indica que ela amplia a polarização entre países e classes quanto a três importantes fatores distribuição de riqueza renda e emprego Para entender os impactos sociais da globalização tornase relevante discutir três autores Manuel Castells Anthony Giddens e Ulrick Beck Castells 1942 sociólogo espanhol sempre estudou questões urbanas mas nos anos 1990 decidiu analisar o impacto da mídia e das tecnologias da informação no mundo globalizado Ele trabalha com o conceito de sociedade da informação que indica uma sociedade marcada pela ascensão de redes e de uma economia de rede Castells 1999 O autor demonstra que a nova economia depende das estruturas e das conexões possibilitadas pelas comunicações U3 Trabalho classe social e globalização 168 globais importância dos computadores e dos meios de comunicação globais o que a mantém como uma economia capitalista O autor ainda considera que a internet pode ser uma ferramenta de comunicação preferencial para organizar e mobilizar por exemplo movimentos antiglobalização que questionam o processo de globalização e denunciam os efeitos negativos desse processo entre outros movimentos Os movimentos sociais não deixaram de existir no mundo globalizado ao contrário alguns se tornaram globais e passaram a lutar e questionar a globalização sobretudo ao argumentar que ela amplia as injustiças sociais Nas críticas feitas por esses movimentos sociais estão a perda do poder dos Estados Nações e o poder exagerado das multinacionais Esses movimentos se organizaram sobretudo nos Fóruns Sociais Mundiais que tiveram suas primeiras experiências na cidade de Porto Alegre Brasil Enquanto Anthony Giddens 1938 sociólogo inglês argumenta que o mundo globalizado se baseia em uma rápida transformação em que as formas tradicionais de confiança baseadas em instituições nacionais e burocráticas se dissolvem Contudo vivendo em uma sociedade globalizada nossas vidas são influenciadas por pessoas que nunca vemos ou conhecemos que talvez vivam do outro lado do mundo Giddens 2012 p 83 Exemplos dessas pessoas são cientistas políticos presidentes de empresas militantes de movimentos sociais entre outros Ainda sobre confiança e risco ele menciona o seguinte temos que ter confiança em agências que lidam com regulação alimentar purificação da água ou a efetividade do sistema bancário A confiança e o risco estão intimamente ligados Temos que ter confiança nessas autoridades se quisermos confrontar os riscos que nos rodeiam e reagir a eles de maneira efetiva GIDDENS 2012 p 83 Giddens ainda trata de um conceito considerado por ele essencial para se compreender a vida em uma sociedade globalizada a reflexividade social que diz respeito ao fato de que as pessoas constantemente precisam pensar ou refletir sobre as circunstâncias que vivem suas vidas sobretudo porque no mundo globalizado as mudanças são rápidas e intensas U3 Trabalho classe social e globalização 169 Outro ponto mencionado por Giddens é que as nações perdem um pouco do poder que tinham Por exemplo os países possuem atualmente menos poder de influência sobre as políticas econômicas do que antes devido ao poder das multinacionais e dos agentes multilaterais como o Fundo Monetário Internacional FMI e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento conhecido como Banco Mundial BIRD O terceiro autor é o alemão Ulrick Beck 19442015 crítico da pósmodernidade que aborda a ideia de que se vive atualmente uma segunda modernidade o que tem relação com o fato de que as instituições modernas se tornaram globais enquanto o cotidiano dos indivíduos está cada vez menos influenciado por dois aspectos a tradição e o costume Beck 2010 Ele diz que se passou de uma sociedade industrial para uma sociedade de risco Assim a sociedade de risco se estrutura pelo risco e pela incerteza e a administração do risco passa a ser a principal característica da sociedade global Beck não quer dizer que no mundo contemporâneo haja mais riscos do que em períodos anteriores mas que houve alteração na natureza dos riscos que devem ser enfrentados Por exemplo para Beck os riscos atualmente derivam menos de perigos naturais do que de incertezas geradas pelo desenvolvimento social Beck 2010 argumenta que uma característica da sociedade global é que os seus perigos não são espacialmente temporariamente ou socialmente restritos Desse modo os riscos atuais afetam todos os países e todas as classes sociais tendo consequências globais e não somente pessoais O terrorismo e a poluição são formas para exemplificar de como os riscos atravessam fronteiras nacionais Em relação ao papel do EstadoNação de atuar diante dos riscos globais Beck considera que não há mais como o EstadoNação dar conta desses riscos Por isso Beck defende a necessidade de cooperação transnacional entre os Estados para que os riscos possam ser resolvidos Esta cooperação permite que os países entendam que certas situações e riscos são comuns e que precisam ser resolvidos a partir da integração de suas forças O mundo do trabalho na Globalização O mundo do trabalho atual tem forte impacto da globalização e possui como uma de suas características a criação de novas U3 Trabalho classe social e globalização 170 modalidades trabalho temporário estágios trabalhos terceirizados em tempo parcial entre outras Essas novas modalidades de trabalho se efetivam em vários países e no discurso do mercado global os países que não criarem novos tipos de contrato de trabalho por exemplo flexíveis e temporários com remuneração variável como a Participação em Lucro e Rendimentos PLR estarão impossibilitados de receber novos investimentos e consequentemente novos empregos o que pressiona governos a aprovarem reformas da legislação trabalhista Uma das consequências da globalização é a expansão do desemprego tanto em países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento Se o lema é produzir onde a mão de obra é barata e vender onde ela é cara os trabalhadores dispostos a aceitar salários mais baixos e estar menos protegidos podem obter trabalho Exemplo disso se dá no relato de Nardi A empresa Nike é um bom exemplo desta nova divisão internacional do trabalho A empresa não produz um só par de tênis na Europa ou nos EUA Os 6500 trabalhadores da empresa que estão encarregados da concepção e do marketing são europeus ou norteamericanos e os 75000 trabalhadores que produzem os tênis são trabalhadores subcontratados na Ásia Sabemos que as empresas subcontratadas pela Nike foram diversas vezes denunciadas devido à exploração do trabalho infantil NARDI 2006 p 54 Antônio Ribeiro 2009 demonstra que a globalização levou à adoção de novas tecnologias especialmente computadores e internet e formas de organizar a produção bem como de realizar a gestão nas empresas além de levar à constituição de blocos regionais para fortalecer o comércio regional tais como o Mercosul o Nafta e a União Europeia Este autor aborda a ideia de que algumas empresas se tornaram globais Ribeiro cria um exemplo do que é uma empresa global empresa francesa com capital suíço máquinas coreanas fabricação de seus produtos na chinesa marketing realizado na Itália sócios capitalistas em diversas partes do mundo na Polônia no Marrocos e no México além de vendas realizadas nos Estados Unidos U3 Trabalho classe social e globalização 171 Como diz Ianni 1998 a globalização gerou ampla transformação na esfera do trabalho e no modo pelo qual o trabalho se relaciona com a organização social na vida do indivíduo das famílias e das classes sociais Outro autor que aborda a questão dos efeitos da globalização sobre a força de trabalho é André Gorz 2004 Para ele a globalização aliada à intensificação da concorrência em todos os mercados de todos os países levou ao aumento do desemprego à precarização do trabalho e à deterioração das condições de trabalho devido as alterações nas formas de produzir nas políticas de gestão de pessoas entre outras Atualmente há também a necessidade de os trabalhadores estarem preparados para conviver com colegas de diferentes culturas e nacionalidades pois podese trabalhar com pessoas de diferentes países e nacionalidades tanto em multinacionais como em empresas de outro porte Reflita sobre a globalização e as discussões desta seção a partir de exemplos do seu cotidiano Existem modelos de carros que são produzidos por uma montadora em um determinado país e são vendidos em muitos Exemplo O Toyota Corola produzido em Indaiatuba interior de São Paulo é vendido no mercado interno e é exportado para cerca de quinze países Na Copa do Mundo de 2014 um turista japonês tinha a condição de conhecer a cultura e culinária brasileira e de comprar a bola da Copa a Brazuca Esta bola é de uma marca alemã Adidas fabricada na Ásia e vendida no Brasil Exemplificando Sem medo de errar Retomamos agora a história de Carlos que tem 20 anos e trabalha em uma multinacional Sua carreira está indo bem já que ele ingressou na empresa como aprendiz Contudo para permanecer no emprego Carlos precisa ter a formação esperada por uma empresa multinacional em um mundo globalizado Ele sabe que os impactos da globalização não são idênticos para todos e por ele U3 Trabalho classe social e globalização 172 já cursar o Ensino Superior provavelmente será menos impactado pelas condições do mundo do trabalho Carlos vai precisar saber inglês fluente idioma mais relevante e falado no mundo globalizado uma exigência da empresa juntamente com a pressão para terminar a faculdade no tempo correto sem quaisquer reprovações em disciplinas o que acaba deixandoo pressionado mas consciente de que é assim que tem de agir se quiser seguir carreira na empresa Outro ponto a ser salientado é que Carlos como seus colegas de trabalho sofre a pressão de ser constantemente avaliado por seus superiores para verificar se o funcionário se enquadra no que a empresa espera e para decidir se ele ficará ou não na empresa a partir do cumprimento ou não de metas causandolhe medo e insegurança Ao mesmo tempo essa situação o impele a dedicarse muito às vezes até mais do que o definido para o seu cargo para ser bem avaliado e se manter no emprego Devemos também levar em consideração que essa avaliação ainda o faz competir com seus colegas já que precisa mostrar o tempo todo que está devidamente preparado para o cargo que possui Esta consciência pode fazer que ele deixe de lado alguns valores tais como a ética já que para manter o emprego pode aceitar ou fazer ações que não são devidamente éticas e que podem atrapalhar outras pessoas Por trabalhar em uma multinacional e verificar suas políticas de gestão de pessoas de marketing e de vendas ele percebe na prática um dos elementos centrais da globalização que é o poder acentuado do mercado mas de forma mais acentuada nas multinacionais Outro ponto que o cotidiano profissional deixa claro para Carlos é a necessidade de saber conviver com indivíduos de diferentes nacionalidades e de várias culturas Caro aluno como você viu nas unidades anteriores a questão cultural é muito importante quando se pensa uma sociedade Por isso devese evitar o etnocentrismo que é considerar uma cultura superior a outra portanto Carlos precisa deixar de lado seus preconceitos para respeitar seus colegas estrangeiros de trabalho e poder ser visto como um funcionário devidamente preparado para o mundo global que vai ser uma exigência de sua empresa e uma necessidade para aqueles indivíduos que trabalham com pessoas de diferentes nacionalidades U3 Trabalho classe social e globalização 173 Como Carlos talvez você sinta as pressões vindas do mundo do trabalho e da competitividade capitalista em um mundo globalizado Para saber como agir nesse contexto é fundamental entender o que é e como funciona a globalização fato que abordamos nesta seção Um ponto a ser pensado por você caro aluno a globalização pode levar as pessoas a deixarem de lado certos valores éticos para manter um emprego um status ou certo nível de vida Você concorda com isso Lembrese de que é próprio do capitalismo estimular o individualismo e a ideia de meritocracia e isso se intensifica na globalização o que pode ampliar preconceitos e desrespeitos e gerar conflitos para o convívio social 1 A globalização é um processo econômico político e cultural que afeta pessoas e instituições como os EstadosNações e as empresas Não há como negar que sofremos influências da globalização em nosso cotidiano e em nossas possibilidades de consumir e de ingressar e permanecer no mundo do trabalho Assinale a alternativa que indica duas características da globalização a Protecionismo econômico e pouco poder das multinacionais b Fortalecimento do EstadoNação e grande influência da tecnologia da informação c Facilidade de comercialização de produtos e ampliação do poder das multinacionais d Enfraquecimento dos órgãos multilaterais como a ONU e difusão das ideias neoliberais e Uso da internet como forma de fazer negócio e poder restrito do capital financeiro Faça valer a pena 2 O mundo do trabalho no período da globalização é marcado por mais incertezas maiores exigências de qualificação expansão da precarização do trabalho novos tipos de contrato de trabalho e uma grande competição entre os trabalhadores para conseguir um emprego Outra característica do mundo do trabalho na globalização é a Expansão do desemprego em diversos países desenvolvidos ou subdesenvolvidos relacionada ao avanço tecnológico b Ampliação dos direitos trabalhistas em várias partes do mundo inclusive no mundo subdesenvolvido U3 Trabalho classe social e globalização 174 3 Com a globalização os destinos dos países estão interligados Se é que um dia foi possível analisar cada país como uma ilha definitivamente isso agora não faz mais sentido Não só o crescimento como também a desigualdade de um país como o Brasil por exemplo depende da desigualdade e do crescimento de regiões inteiras do planeta por exemplo do crescimento chinês que impulsionou a expansão da agricultura brasileira na última década O que cada pessoa ganha e o que cada grupo social ganha ou perde dentro de cada país também depende daquilo que acontece na economia global para além das fronteiras de cada nação MEDEIROS Marcelo O mundo é o lugar mais desigual do mundo Folha de SPaulo junho de 2016 Disponível em httppiauifolhauol combrmateriaomundoeolugarmaisdesigualdomundo Acesso em 31 jan 2017 Qual conceito sociológico é tratado no trecho acima Assinale e alternativa correta a Protecionismo b Vantagens comparativas c Classes sociais d Exclusão social e Interdependência c Eliminação de todo tipo de trabalho análogo ao escravo bem como do trabalho infantil d Prática de salários semelhantes entre países subdesenvolvidos e desenvolvidos e Diminuição do uso das tecnologias nas atividades industriais ANTUNES Ricardo Adeus ao trabalho Ensaios sobre as metamorfoses e a centralização do mundo do trabalho São Paulo Cortez 1995 Desenhando a nova morfologia do trabalho as múltiplas formas de degradação do trabalho Revista Crítica de Ciências Sociais Coimbra Portugal Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra nº 83 dez2008 ARAÚJO Silva Maria de BRIDI Maria Aparecida MOTIM BenildeLenzi Sociologia um olhar crítico São Paulo Contexto 2011 BECK Ulrich Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade São Paulo Editora 34 2010 BOBBIO Norberto MATTEUCCI Nicola e PASQUINO Gianfranco Dicionário de Política São Paulo Editora UNB 2004 BOMBACH Luciane Tu jovem nefasto Lendas e fábulas sobre a situação sócio ocupacional juvenil na RMSP Dissertação de Mestrado Instituto de Economia da UNICAMP 2004 BOURDIEU Pierre Contrafogos táticas para enfrentar a invasão neoliberal Rio de Janeiro Jorge Zahar 1998 CARNEIRO Ricardo Desenvolvimento em crise A economia brasileira no último quarto do século XX São Paulo Editora da Unesp 2002 CASTEL Robert As Metamorfoses da Questão Social Petrópolis Vozes 1998 CASTELLS Manuel A sociedade em rede São Paulo Paz e Terra 1990 COSTA Cristina Sociologia questões da atualidade São Paulo Moderna 2010 COSTA Luciano de Souza O desemprego e seus indicadores Tese de mestrado IE Unicamp 2002 DINTIGNANO Beatrice A fábrica de desempregados São Paulo Bertrand Brasil 2000 DIAS Reinaldo Fundamentos de Sociologia Geral Campinas Alínea Editora 2014 DUPAS Gilberto Economia global e exclusão social pobreza emprego Estado e o futuro do Capitalismo Rio de Janeiro Paz e Terra 1999 ESTANQUE Elísio Trabalho desigualdades sociais e sindicalismo Revista Crítica de Ciências Sociais Universidade de Coimbra Portugal nº 71 2005 FARIA V E Brasil Compatibilidade entre a estabilização e o resgate da dívida social in Pobreza e Política Social In Cadernos Adenauer nº 1 São Paulo Fundação Konrad Adeunauer 2000 FOLHA DE SPAULO Número de milionários do país cresceu 11 em 2016 apesar de recessão 29 set 2017 Disponível em httpwww1folhauolcombr mercado2017091922834numerodemilionariosdopaiscresceu11em2016 apesarderecessaoshtml Acesso em 6 fev 2018 Referências GIDDENS Anthony As consequências da modernidade São Paulo Unesp 1991 Sociologia Porto Alegre Penso 2012 GORZ André Misérias do presente riqueza do possível São Paulo Annablume 2004 HAESBAERT Rogério Globalização e fragmentação do mundo contemporâneo Niterói Editora UFF 1998 HALL Stuart A identidade cultural na pósmodernidade Rio de Janeiro DPA 1999 HOBSBAWN Eric Globalização democracia e terrorismo São Paulo Companhia das Letras 2007 IANNI Octávio Globalização e Neoliberalismo In São Paulo em Perspectiva São Paulo Fundação Seade número 122 1998 A era do globalismo Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1996 Teorias da Globalização São Paulo Civilização Brasileira 2000 KEYNES John Maynard A Teoria Geral do Emprego dos Juros e da Moeda São Paulo Atlas 1985 MANCEBO Deise Globalização cultura e subjetividade discussão a partir dos meios de comunicação de massa Psicologia Teoria e Pesquisa Brasília vol 18 n 3 2002 MARX Karl O Capital 2 ed São Paulo Nova Cultural 1985 1 v O Capital crítica da economia política vol 1 São Paulo Civilização Brasileira 2001 MORAES Reginaldo Neoliberalismo São Paulo Editora SENAC 2001 NARDI Henrique Caetano Ética trabalho e subjetividade Porto Alegre Editora da UFRGS 2006 O CORTE Direção de CostaGavras Roteiro CostaGavras Jeanclaude Grumberg Música Armand Amar Bélgica 2005 122 min son color OLIVEIRA Hilderline Câmara SANTOS Joseneide Sousa Pessoa e CRUZ Eduardo Franco Correia O mundo do trabalho concepções e historicidade Anais da 3ª Jornada Internacional de Políticas Públicas São Luís MA Agosto de 2007 ORTIZ Renato Mundialização e cultura São Paulo Brasiliense 1994 PIOVESAN Flávia Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional São Paulo Saraiva 2012 POCHMANN Márcio A Batalha do Primeiro Emprego São Paulo Ed Publisher Brasil 2000 O mito da grande classe média Capitalismo e estrutura social São Paulo Boitempo 2014 QUADROS Waldir O Desemprego Juvenil no Brasil dos Anos Noventa Cadernos do CESIT Campinas IE UNICAMP 2001 RIBEIRO Antonio de Lima Teorias da Administração São Paulo Saraiva 2009 RUDUIT Sandro Globalizações e novas questões sociais In Sociedade em debate Pelotas 8373105 dez 2002 SALGADO Jorge Las desigualdades desde una perspectiva de complejidad haciaunepistemología teóriconormativa delconflicto social Revista de Paz y Conflictos Madrid n 2 p4458 2010 SANTANA Marco Aurélio O mundo do trabalho em mutação as reconfigurações e seus impactos Cadernos IHU Ideias São Leopoldo UNISINOS nº 34 2005 SCALON Celi e SALATA André Uma nova classe média no Brasil da última década O debate a partir da perspectiva sociológica Estado e Sociedade vol 22 nº 2 Brasília UNB maio agosto 2012 SEN Amartya K Desenvolvimento como Liberdade São Paulo Companhia das Letras 2000 STANDING Guy El concepto de desempleo estrutural Revista Internacional del Trabajo v 102 n 2 OIT 1982 TUROLLA Frederico Araújo Globalização e desigualdade In RAE Executivo FGV São Paulo Volume 2 nº4 nov 2003 a jan 2004 VILAS Carlos Seis ideias falsas sobre a Globalização In Estudos de Sociologia Marília UNESP v 4 nº 6 1999 WEBER Max Classe estamento partido In GERTH Hans e MILLS Wright Org Max Weber Ensaios de sociologia Rio de Janeiro Zahar Editores 1974 WELTERS Ângela Os filhos adolescentes e o mercado de trabalho uma análise do perfil socioeconômico familiar e de gênero dos jovens entre 15 e 19 anos no Brasil em 2006 Dissertação de mestrado Instituto de Economia Campinas Unicamp 2009 Unidade 4 Nesta jornada do conhecimento sobre os Fundamentos Antropológicos e Sociológicos você aprenderá na Unidade de Ensino 4 sobre a Terceira Revolução Industrial a ciência a tecnologia os impactos dela na vida das pessoas e nas sociedades as novas tecnologias da comunicação e o poder da mídia A tecnologia está presente no cotidiano das pessoas o que levou a alterações na forma de produção de trabalho e de comunicação Para isso foi fundamental o desenvolvimento das tecnologias da informação sobretudo da informática A sociedade atual não pode ser pensada sem a tecnologia e seus impactos na vida dos indivíduos inclusive no mundo do trabalho A tecnologia no processo produtivo possibilitou avanços na produtividade produzir mais com menos tempo e menos custo mas que não foram acompanhados pela manutenção ou expansão dos empregos ao contrário foi possível expandir a produção reduzindo o número de postos de trabalho o que gera o desemprego tecnológico e assim um problema social grave para os estados e os indivíduos Além disso em alguns setores da economia o uso intenso da tecnologia pode acarretar a precarização do trabalho pois exige que os trabalhadores tenham que se adequar ao ritmo das máquinas Por outro lado o uso da ciência e da tecnologia permitiu expandir a cura de certas doenças e tornou mais confortável a vida de muitos indivíduos em várias partes do mundo porém essas comodidades não são para todos e excluem indivíduos e grupos sociais em diversos locais do planeta de modo mais intenso nos países em desenvolvimento Convite ao estudo A sociologia na era da informação Sem a ciência não seria possível expandir a produção a cura de doenças e entender o funcionamento e a organização das sociedades pesquisas das Ciências Humanas Apesar de ser em diversas partes do mundo financiada pelo Estado a ciência tem seus interesses muitas vezes voltados para as grandes corporações e seus negócios o que faz algumas áreas das Ciências Humanas não terem recursos ou apenas poucos recursos para a realização de certas pesquisas como as que tratam dos impactos negativos da economia capitalista Ainda sobre o tema das novas tecnologias é importante relacionálo à ideia de indústria cultural que se refere à transformação das atividades artísticas e culturais em mercadorias Juntamente à discussão sobre indústria cultural está a da mídia que influencia ideias pensamentos e opiniões em nossa sociedade e que nem sempre ou melhor raramente ajudam na construção de uma sociedade mais justa republicana e democrática Para compreendermos esta discussão acompanharemos de perto um pouco da vivência e dilemas do personagem Raimundo que é morador de uma comunidade na cidade do Rio de Janeiro tem 50 anos e há 20 anos trabalha como cobrador de ônibus urbano Ele gosta de ler de futebol de novelas e não perde o jornal televisivo mais assistido do país U4 A sociologia na era da informação 181 Seção 41 Caro aluno seja bemvindo à Seção 41 Tecnologia e sociedade Você já pensou sobre como a tecnologia interfere na sua vida no seu trabalho e nas suas formas de se comunicar Para refletir mais profundamente sobre este tema vamos tratar da história de Raimundo cobrador de ônibus urbano com 50 anos de idade O setor que ele atua tem passado por muitas alterações com o objetivo de diminuir custos e aumentar a eficiência A empresa em que ele trabalha tem instalado nos ônibus catracas eletrônicas em que os usuários somente poderão fazer o pagamento da passagem com a utilização de cartões eletrônicos recarregados em guichês da empresa ou em outros estabelecimentos Esse processo torna desnecessário o cargo de cobrador e automatiza o processo de passagem nas catracas dos ônibus Raimundo foi avisado nessa semana que pelo período de dois meses continuará como cobrador para auxiliar os passageiros que possuem dificuldades em usar o cartão mas que depois passará por um processo avaliativo que poderá leválo à alteração de cargo ou ao desligamento da empresa Raimundo tem pouca escolaridade apenas o Ensino Fundamental e está muito preocupado com o risco de ser demitido Ele se pergunta Será que não há limite para o uso da tecnologia É justo que ela elimine o seu emprego e de outros cobradores Ao pensar na situação de Raimundo você consegue perceber o quanto a tecnologia está em nosso dia a dia e afeta inclusive as possibilidades de trabalho dos indivíduos O desenvolvimento tecnológico leva em conta os interesses dos diversos grupos sociais Qual a relação entre as tecnologias as grandes empresas e o interesse dos proprietários das indústrias e seus acionistas Diálogo aberto Tecnologia e sociedade U4 A sociologia na era da informação 182 Não pode faltar Caro aluno a seguir você vai ter a possibilidade de refletir sobre algo que está presente no seu cotidiano a tecnologia a ciência e as novas formas de produção além do impacto da tecnologia na vida social e no mundo do trabalho Terceira Revolução Industrial Antes de se discutir a Terceira Revolução Industrial trataremos o conceito de Revolução Industrial bem como o conceito de primeira e de segunda Revolução Industrial Na visão de Zedequias Cavalcante e Mauro Silva 2011 a Revolução Industrial é um marco no desenvolvimento histórico da humanidade pois seus desdobramentos afetaram sociedades economias e países Ela foi um acontecimento que alterou o processo produtivo levando os produtos a deixaram de ser manufaturados e passarem a ser produzidos por máquinas Assim foi possível a produção em massa por meio da ampliação da produtividade produção em escala gastandose menos tempo e com baixo custo Deste modo podese caracterizar a primeira revolução industrial ocorrida entre os séculos XVIII e XIX como aquela em que houve a invenção da máquina a vapor e sua aplicação na indústria têxtil e que implicava em condições bem degradantes de trabalho Segundo Marcio Pochmann 2002 com a primeira Revolução Industrial 17801820 a Inglaterra se tornou pioneira e protagonista da industrialização transformandose na grande oficina do mundo durante o século XIX Cavalcante e Silva 2011 argumentam que a Revolução Industrial vai além de uma mudança tecnológica na produção visto que consolidou o capitalismo aumentou a produtividade do trabalho além de criar novos comportamentos sociais e uma nova visão de mundo Ao mesmo tempo em que contribuiu para dividir a sociedade em duas classes sociais antagônicas empresários burguesia e trabalhadores proletariado Os autores argumentam U4 A sociologia na era da informação 183 É pertinente enfatizar que a Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra no século XVIII foi o grande precursor do capitalismo ou seja a passagem do capitalismo comercial para o capitalismo industrial É fascinante como a revolução industrial mudou a vida das pessoas daquela época e como até hoje seus reflexos continuam transformando o nosso dia a dia com a revolução tecnológica CAVALCANTE E SILVA 2011 p1 Adam Schaff 1995 argumenta que a primeira revolução industrial teve como grande mérito a substituição da produção pela força física do homem pela energia das máquinas primeiro pela utilização do vapor e depois pela eletricidade Já a segunda revolução industrial ampliou as capacidades intelectuais do homem e substituiu trabalhadores por máquinas Podese caracterizar a segunda revolução industrial como aquela que vai da metade do século XIX até a metade do século XX envolve desenvolvimento na indústria química elétrica de petróleo e de aço além do avanço das telecomunicações Essa revolução industrial foi um aperfeiçoamento das tecnologias da primeira revolução industrial Conforme Paul Singer 1996 todas as revoluções industriais causaram acentuado aumento da produtividade do trabalho e dessa forma causaram desemprego tecnológico Mas a Terceira Revolução Industrial a expressão passou a ser utilizada a partir dos avanços científicos e tecnológicos na indústria ocorridos desde a década de 1970 é singular em relação às anteriores gerando acelerado aumento da produtividade do trabalho tanto na indústria quanto nos outros setores da economia além da grande importância das tecnologias da informática Soraia Medeiros e Semiramis Rocha 2004 argumentam que a Terceira Revolução Industrial impactou seriamente no mundo do trabalho sobretudo com o uso de novas tecnologias no trabalho o que acarretou novas formas de organização do trabalho Ao mesmo tempo também gerou ampliação do desemprego e de outros problemas sociais tal como se destaca a seguir U4 A sociologia na era da informação 184 A Terceira Revolução Industrial imprime a marca da exclusão na qual a força de trabalho é dicotomizada em trabalhadores centrais e periféricos desempregados e excluídos dividindo também a parcela de apreensão do conhecimento e a utilização de tecnologias gerando relações desiguais de poder pelo saber e pelo controle econômico colocando no topo da escala os empregados das grandes empresas seguidos dos trabalhadores do setor informal cujo trabalho é precário e parcial No extremo inferior da escala estão os desempregados muitos dos quais não mais conseguirão voltar ao mercado de trabalho MEDEIROS E ROCHA 2004 p 400 No entendimento de Manuel Castells 2000 a revolução tecnológica atual também conhecida como Terceira Revolução Industrial se originou e difundiuse em um período histórico de reestruturação global do capitalismo para o qual foi uma ferramenta básica Além disso ele também afirma que a revolução da tecnologia da informação está presente em todas as esferas da atividade humana O autor ressalta que a tecnologia não determina a sociedade mas a sociedade não consegue controlar totalmente o desenvolvimento científico devido a fatores como a criatividade e a iniciativa empreendedora O autor menciona que a sociedade pode sufocar o desenvolvimento científico por intermédio do Estado Ou o Estado por meio de muitas intervenções na economia pode acelerar o desenvolvimento tecnológico e assim provocar alterações positivas na sociedade e no bemestar dos indivíduos Na verdade o dilema do determinismo tecnológico é provavelmente um problema infundado dado que a tecnologia é a sociedade e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas CASTELLS 2000 p 25 U4 A sociologia na era da informação 185 Você consegue pensar o mundo em que você vive sem a ciência Provavelmente não sem ela a expectativa de vida seria muitas vezes menor sem ela morreríamos de algumas doenças como o sarampo a rubéola o tétano entre outros A ciência possibilitou as vacinas a esperança de curas de várias doenças como o câncer e a Aids o tratamento da água o que significou avanços na qualidade de vida acarretou ainda formas de se produzir mais alimentos sementes modernas e até alteradas em laboratório as chamadas transgênicas que levam a vários debates pelo mundo e até mesmo a produção industrial passou a ter menor impacto no meio ambiente Sem a ciência o seu celular não teria todos os recursos que estão disponíveis como o GPS Exemplificando As tecnologias no processo produtivo Cristina Costa 2010 afirma que alguns fatores acarretam o desenvolvimento industrial o crescimento populacional a expansão do consumo o desenvolvimento científico a descoberta de novas fontes de matériasprimas e as relações de produção vigentes no capitalismo A autora define tecnologia como procedimentos utilizados na produção de bens bem como o processo de invenção e fabricação de equipamentos e máquinas Um sentido mais atual para tecnologia a relaciona a equipamentos produtos ou máquinas que são resultado da aplicação da ciência na produção material ou simbólica de uma sociedade Cabe aqui a definição de Costa sobre o que é uma indústria Dáse o nome de indústria à produção em grande escala resultante do trabalho de muitos operários e de máquinas ocupados em uma atividade planejada e controlada É importante considerar que o surgimento de formas mais complexas de produção material não eliminou as demais COSTA 2010 p 156 U4 A sociologia na era da informação 186 O desenvolvimento e o funcionamento do capitalismo estimulam a mudança tecnológica no setor industrial com o objetivo de ampliar a produtividade e as margens de lucro dos empresários Desde a Primeira Revolução Industrial há um forte vínculo entre a produção industrial e a ciência especialmente para criar formas de diminuir o uso do trabalho humano e assim diminuir os custos empresariais com a produção Costa explica que como o custo do investimento em tecnologia é alto a substituição do trabalho humano por máquinas depende do custo da mão de obra Assim o processo de mecanização ocorreu de forma mais rápida em locais nos quais os salários dos trabalhadores eram mais altos e os benefícios sociais garantidos aos trabalhadores eram maiores Já nos países pobres em que os salários eram mais baixos o investimento em tecnologia foi menor Costa trata de um conceito muito usado na área de Administração de Empresas e que é muito importante neste trabalho que é o de reengenharia de processos Segundo a autora este conceito diz respeito a um modelo de administração de empresas que objetiva repensar a estrutura produtiva a partir do incremento da produtividade além de estimular à divisão do trabalho e criar processos que utilizem poucos trabalhadores O termo reengenharia de processos foi criado por um exprofessor do MIT Massachusetts Institute of Tecnology Instituto de Tecnologia de Massachusetts e consultor de empresas chamado Michael Hammer Giddens 2012 demonstra que o capitalismo promove constantemente uma revisão da tecnologia de produção que é um processo em que a ciência está envolvida A indústria é o setor com grande inovação tecnológica Sobre os computadores Gidddens afirma Em décadas recentes o poder dos computadores aumentou milhões de vezes Na década de 1960 um computador era construído usandose milhares de conectores feitos à mão um aparelho equivalente hoje em dia não apenas é muito menor como requer apenas um punhado de elementos em um circuito integrado GIDDENS 2012 p 101 U4 A sociologia na era da informação 187 As mudanças no mundo globalizado no início do século XXI têm relação com o forte desenvolvimento das tecnologias de informação e de comunicação TICs Para Costa 2010 a tecnologia se transformou em objeto de estudo das Ciências Sociais com o objetivo de se compreender por exemplo as consequências de uma determinada tecnologia em certas esferas variação da produção uso de mão de obra entre outras Na visão de Giddens a Globalização é motivada por avanços nas tecnologias de informação e comunicação que permitiram que se intensificasse a velocidade e o alcance de interações entre as pessoas em várias partes do planeta Um ponto interessante abordado por Giddens é que as tecnologias da informação não estão restritas apenas aos países desenvolvidos Como exemplo disso o autor menciona que o mercado de celular que mais cresce no mundo é o africano Pesquise mais Para aprofundar seu entendimento sobre o conceito de tecnologia sugerese a leitura do livro O que é tecnologia de José Adelino Medeiros e Lucília Atas Medeiros da Coleção Primeiros Passos Editora Brasiliense 2000 O livro trata do conceito de tecnologia das transformações e das contradições geradas por ela bem como da questão do consumo que é possibilitada e estimulada pela tecnologia Além disso Giddens ainda argumenta que o impacto da tecnologia e da ciência na vida das pessoas vai além da esfera econômica especialmente porque a ciência e a tecnologia influenciam os fatores políticos e culturais e são influenciadas por eles Outro aspecto importante da ciência e da tecnologia é que ela ajudou a criar formas modernas de comunicação como a televisão e o rádio veículos que influenciaram a maneira como as pessoas pensam e se relacionam com o mundo inclusive em relação à política Um dos fatores que contribui para a Globalização é a ascensão da tecnologia das comunicações e da informação A internet emergiu como o instrumento de comunicação de crescimento mais rápido já desenvolvido por volta de 140 milhões de pessoas ao redor do U4 A sociologia na era da informação 188 mundo usavam a internet em 1998 e estimase que mais de um bilhão de pessoas a usava em 2007 Giddens 2012 p 104 A tecnologia está fortemente presente no processo produtivo na atualidade pois ela permite que se repense as formas de produzir as máquinas utilizadas a quantidade de mão de obra necessária e ainda possibilita que se produza mais com menos custos Assim a tecnologia é elemento essencial para as empresas especialmente as indústrias Conforme menciona Costa 2010 a aceitação das tecnologias no processo produtivo e na sociedade como um todo dependem de variáveis políticas econômicas e culturais Automação e substituição do trabalho humano Iniciase o tópico com uma definição elaborada por Anthony Giddens 2012 para automação processos de produção monitorados e controlados por máquinas com a mínima supervisão de pessoas p 788 Cabe ainda complementar esta definição com a reflexão de que a automação é organizada como um processo em que o trabalho humano é substituído por máquinas e robôs que vão produzir de forma mais rápida e econômica Um fator a ser mencionado quando se pensa em automação e substituição do trabalho humano é a reestruturação produtiva manifestada pela introdução de inovações tecnológicas combinadas com novas formas de organização e gestão do trabalho O que acarretou a diminuição dos postos de trabalho para diversos tipos de trabalhadores mas de forma mais intensa para grupos desfavorecidos no mercado de trabalho como os jovens Quanto às mudanças no mundo do trabalho provocadas pela tecnologia Giddens argumenta as gerações mais antigas de trabalhadores passavam grande parte de suas carreiras em uma quantidade pequena de organizações burocráticas e duradouras a nova geração é muito mais provável de fazer parte de um número maior de organizações flexíveis e ligadas em rede GIDDENS 2012 p 584 Conforme Mattoso 1995 a tecnologia destrói postos de trabalho empresas ao mesmo tempo em que pode criar novos produtos novas empresas e consequentemente novos empregos Por isso esse autor afirma que a tecnologia não gera desemprego a diminuição dos postos de trabalho é causada pela má administração e gestão da tecnologia juntamente ao baixo crescimento econômico U4 A sociologia na era da informação 189 A reestruturação produtiva a adoção das novas tecnologias e as formas de gestão da força de trabalho vêm causando efeitos sobre o trabalho visto que as empresas estão menos dependentes de mão de obra e demandantes de maior capacitação profissional para que possam contratar um trabalhador Deste modo há uma responsabilidade central do sistema produtivo na produção e ampliação do desemprego De acordo com Antunes 2007 a reestruturação produtiva foi implementada pelas empresas com o objetivo de recuperar o ciclo de reprodução do capital Essa reestruturação criou uma nova divisão do trabalho e um forte movimento de flexibilização da produção dos processos de trabalho e das relações de trabalho O próprio Antunes em texto de 2008 trata de como a tecnologia foi utilizada até para substituir o trabalho intelectual uma vez que parte do saber intelectual é transferida para as máquinas informatizadas que se tornam mais inteligentes reproduzindo parte das atividades a elas transferidas pelo saber intelectual do trabalho Como a máquina não pode eliminar cabalmente o trabalho humano ela necessita de uma maior interação entre a subjetividade que trabalha e a nova máquina inteligente ANTUNES 2008 p 27 Antunes assinala que a reestruturação produtiva dos anos pós 1990 se baseia na ideia de empresa enxuta empresa moderna que restringe e limita o trabalho humano e expande o maquinário técnicocientífico Nesse processo se dá fortemente a redução do trabalho vivo juntamente com a ampliação de sua produtividade Neste contexto vale destacar os argumentos de Giddens 2012 que menciona o fato de que a Globalização juntamente à disseminação da tecnologia da informação teria alterado a natureza do trabalho realizado pelas pessoas sobretudo por ter eliminado empregos de baixa qualificação como nas linhas de produção industrial o que levou também ao declínio da participação desses trabalhadores nos sindicatos Na visão de Giddens a tecnologia da informação pode gerar novas oportunidades de trabalho para os indivíduos altamente qualificados e que trabalham em certas áreas como informática mídia propaganda e design U4 A sociologia na era da informação 190 Reflita sobre os limites do uso da tecnologia Até quando ela pode ser usada Até quando ela pode substituir mão de obra humana Seria justo tributar os robôs que substituem trabalhadores A última questão foi trazida à tona por um dos maiores empresários do mundo Bill Gates que defende que os robôs que geram desemprego devem ser tributados Pense sobre isso e discuta com seus colegas e professores Leia a reportagem Bill Gates se une ao cerco contra o capitalismo dos robôs Proposta do criador da Microsoft de taxar donos de robôs por empregos que destroem alimenta debate El País 5 abr 2017 Disponível em httpsbrasilelpaiscombrasil20170405 tecnologia1491390957573772html Acesso em 19 mar 2018 Reflita Consequências sociais do emprego da tecnologia Na visão de Costa 2010 um dos aspectos característicos do desenvolvimento tecnológico da humanidade é de que esse processo passou por uma crescente aceleração Ele argumenta que a tecnologia traz várias consequências para a sociedade tais como quantidade de mercadoria produzida forma de se organizar a divisão social do trabalho e os tipos de bens disponíveis no mercado A tecnologia faz inclusive com que seja alterado o tipo de trabalhador a sua qualificação e a sua remuneração Uma máquina ou uma nova forma de energia pode ser mais ou menos aceita dependendo das variáveis sociais existentes especialmente o jogo de forças políticas e econômicas COSTA 2010 159 Bauman e May 2010 trazem uma importante reflexão Adquirimos computadores que ao longo de um mês já se tornaram obsoletos pelo aumento de velocidade dos processadores e da capacidade de memória É possível viver com essas mudanças Ou melhor é possível viver sem elas p 236 Uma interessante reflexão acerca da não neutralidade da tecnologia U4 A sociologia na era da informação 191 O desenvolvimento da ciência e da tecnologia tem acarretado diversas transformações na sociedade contemporânea refletindo em mudanças nos níveis econômico político e social É comum considerarmos ciência e tecnologia motores do progresso que proporcionam não só desenvolvimento do saber humano mas também uma evolução real para o homem Vistas dessa forma subentendese que ambas trarão somente benefícios à humanidade Porém pode ser perigoso confiar excessivamente na ciência e na tecnologia pois isso supõe um distanciamento de ambas em relação às questões com as quais se envolvem As finalidades e interesses sociais políticos militares e econômicos que resultam no impulso dos usos de novas tecnologias implicam enormes riscos porquanto o desenvolvimento científicotecnológico e seus produtos não são independentes de seus interesses PINHEIRO ET AL 2007 p 71 Feenberg 2002 demonstra que a filosofia da tecnologia acaba por não considerar que a tecnologia é uma ferramenta sociocultural que não está livre das influências de diversos tipos especialmente históricos políticos e culturais Assim a tecnologia pode estar sujeita até à luta de classes Deste modo a tecnologia e a ciência estão inseridas em uma sociedade que possui relações de poder interesses econômicos e ideologias o que a impede de ser considerada neutra Por isso se faz necessário controlar a tecnologia e não ser controlado por ela Sobre esta discussão tornase interessante destacar a reflexão abaixo de Manuel Castells 2000 embora não determine a evolução histórica e a transformação social a tecnologia ou sua falta incorpora a capacidade de transformação das sociedades bem como os usos que as sociedades sempre em um processo conflituoso decidem dar ao seu potencial tecnológico CASTELLS p 26 U4 A sociologia na era da informação 192 Um ponto relevante nesta seção é entender o que é ciência Para isso utilizase a reflexão de Thomas Kuhn no livro A Estrutura das Revoluções Científicas que foi publicado no ano de 1962 Kuhn disse que a ciência é um método utilizado para resolver problemas usando crenças e valores procedimentos experimentais que vão gerar paradigmas O paradigma seria um exemplo típico ou mesmo um modelo de algo portanto ele é uma representação de um padrão a ser seguido O autor menciona que alguns cientistas como Copérnico Newton Darwin e Einseint quebraram paradigmas e geraram revoluções científicas Assimile Sem medo de errar A tecnologia está presente no cotidiano das pessoas e permitiu ampliar a produção criar novos produtos e quando ela está aliada à ciência é possível até encontrar cura para doenças e tornar mais acessível remédios e produtos Muito se discute os limites da tecnologia e quais interesses estão presentes no seu desenvolvimento Quanto aos limites da tecnologia seria relevante que o Estado tivesse uma agenda e um planejamento para o uso da ciência e da tecnologia sempre dentro de princípios democráticos e republicanos bem como seria necessária a participação da sociedade civil nos projetos tecnológicos e científicos não deixando que a tecnologia fosse determinada somente pelos interesses de mercado em especial das multinacionais A tecnologia deve ser usada para atender aos interesses da sociedade e ser pensada para que os empregos eliminados sejam gerados em outros setores ou com a qualificação daqueles trabalhadores que foram substituídos por máquinas Retornase agora ao caso de Raimundo tratado no início desta seção Ele enfrenta os impactos da tecnologia em seu trabalho e por isso provavelmente irá perder o seu emprego Ele tem pouca qualificação e sabe portanto que terá muita dificuldade para retornar ao mercado de trabalho Como tem família e contas a honrar tais como o aluguel da casa que reside sabe que viverá um momento muito difícil A mudança tecnológica proposta pela empresa que Raimundo trabalha leva em conta apenas os interesses da própria empresa para ter lucro deixa de lado os interesses e as necessidades de seus funcionários U4 A sociologia na era da informação 193 o que amplia os problemas sociais como a desigualdade social e o desemprego O caso de Raimundo permite que se pense o fato de que muitas vezes a tecnologia está voltada mais para interesses privados do que para o desenvolvimento da sociedade ou para as ações do Estado Raimundo e seus colegas cobradores não foram consultados sobre o que achavam da automação dos ônibus apenas foram informados de que suas funções deixariam de existir Isso demonstra uma situação da qual tratamos ao longo desta seção a tecnologia não é neutra e está relacionada aos interesses de determinados grupos e esses interesses muitas vezes geram problemas sociais os quais não serão resolvidos por esses grupos mas pelo Estado e pelos indivíduos 1 Manuel Castells 2000 em seu livro A Sociedade em Rede diz que a tecnologia é a sociedade e que é impossível pensar e entender a sociedade sem considerar suas ferramentas tecnológicas Ele também considera que a tecnologia não determina a sociedade Sobre as ideias de Castells tratadas acima podese afirmar que a A tecnologia estabelece as formas de estratificação social b A sociedade contemporânea pode ser analisada sem que se considere a tecnologia c Ao se pensar na tecnologia percebese que não há relação entre ela e a organização social d A sociedade tem de ser pensada levando em conta a tecnologia e seus impactos e Só se pode pensar em impactos da tecnologia em sociedades com pouca desigualdade social Faça valer a pena 2 Ela ocorreu entre os séculos XVIII e XIX alterou a dinâmica econômica e social da Inglaterra permitiu a expansão da produção a criação de uma classe trabalhadora que deixava o campo para morar nas cidades e que tinha quase nenhum direito trabalhista Tratase de qual processo histórico trabalhado nesta seção a Revolução Francesa b Primeira Revolução Industrial c Revolução da Biotecnologia U4 A sociologia na era da informação 194 3 Cada coisa que você inventa tende a dar vantagem a algumas pessoas e substituir outras diminuindo a utilidade destas últimas do ponto de vista social Uma vez iniciado o jogo já não há retorno Você inventa algo que transforma minhas habilidades em inúteis Se tenho a capacidade cognitiva e legal para te imitar posso recuperar fazendo o mesmo e voltando a ser útil Michele Boldrin em entrevista para o El País em 8 ago 2017 Disponível em httpsbrasilelpaiscombrasil20170719 economia1500475025052040html Acesso em 19 mar 2018 Sobre qual processo social o professor italiano se refere a Expansão da tecnologia e da ciência com a destruição de emprego b Crescimento econômico e do emprego com a inovação c A inovação tecnológica não faz que certas profissões e conhecimentos se tornem inúteis d Processo científico sem influência tecnológica e A inutilidade de certas profissões só ocorre quando não há valorização cultural d Automação e Revolução Científica U4 A sociologia na era da informação 195 Seção 42 Caro aluno seja bemvindo à Seção 42 Ciências Sociais e Tecnologia Você já pensou sobre como se dá a organização e o funcionamento da ciência Para refletir sobre este tema voltemos à situação de Raimundo nosso personagem desta unidade Ele decidiu voltar a estudar vai cursar o Ensino Médio na modalidade EJA Educação de Jovens e Adultos com o objetivo de ter mais chances de emprego pois sabe que devido à tecnologia provavelmente perderá seu emprego de cobrador de ônibus urbano a qualquer momento Ele percebe no seu trabalho no cotidiano da cidade e da sua comunidade nas mudanças decorrentes da tecnologia tais como automatizações de equipamentos inclusive nos ônibus em que trabalha e conclui que não se pode separar a organização da sociedade da influência exercida pela ciência Ele começou a se interessar pelos temas da tecnologia da ciência e da inovação e decidiu comprar mensalmente uma revista especializada nesses temas Aproveita os momentos livres durante as viagens que faz como cobrador para ler as revistas e tem percebido que a tecnologia e o seu uso ao contrário do que muitos pensam faz parte das políticas das empresas dos governos e da organização econômica e política de uma comunidade Como tem ouvido falar bastante sobre inovação e startups na mídia ele decidiu colocar seu filho de 12 anos em um projeto social da sua comunidade vinculado a duas grandes empresas para aprender robótica Raimundo tem falado para as pessoas próximas que se seu filho aprender robótica e cursar engenharia vai criar novas tecnologias talvez como cientista e assim poderá evitar o risco da demissão futuramente como deve acontecer com o seu pai Diante desta situação quais fatores levaram Raimundo a retornar aos estudos Se o seu filho realmente fizer engenharia isso será garantia de que nunca será demitido Por que muitos estudiosos dizem que a ciência não é neutra Você está de acordo com essa ideia A tecnologia e a inovação são controladas por políticas governamentais e empresarias Diálogo aberto Ciências sociais e tecnologia U4 A sociologia na era da informação 196 Não pode faltar Nesta seção conheceremos a relação entre ciências sociais e tecnologia e para isso serão apresentadas as teorias sociológicas a respeito a influência da tecnologia e inovação na transformação da sociedade a tecnologia e as novas formas de organização social o controle e uso da ciência e da tecnologia no mundo globalizado Teorias sociológicas sobre ciência e tecnologia As pesquisas científicas e tecnológicas foram grandes impulsionadoras da Revolução Industrial que por sua vez configurou nossa estrutura social contemporânea A ciência e a tecnologia estão presentes em nossa sociedade seja no aspecto cultural entretenimentos no mercadológico desenvolvimento de novos produtos no da saúde medicamentos e muitos outros Anthony Giddens 2012 define ciência como o uso de métodos sistemáticos de investigação empírica análise de dados pensamento teórico e avaliação lógica de argumentos para desenvolver um corpus de conhecimento sobre um determinado tema de estudo p 43 Já tecnologia é definida por Giddens como a aplicação do conhecimento do mundo material à produção A tecnologia envolve a criação de instrumentos materiais como máquinas usados nas interações humanas com a natureza p 805 Não se pode esquecer que a tecnologia e a ciência são essenciais para o desenvolvimento de países e de empresas Tanto a tecnologia quanto a ciência agregam valores a produtos e podem alavancar a competitividade de empresas e de países num mundo globalizado Podese ver a tecnologia a partir da relação entre ciência e técnica ou como uma forma de ciência aplicada assim percebe se que ambas estão muito vinculadas Durante muito tempo o desenvolvimento científico e tecnológico foi visto de forma positiva e considerado como elemento essencial para o progresso e o bem estar da sociedade Mas com o tempo as teorias sociológicas vão questionar essa ideia e demonstrar que elas não são neutras e que refletem a estrutura social em que estão organizadas Thomas Kuhn 1997 importante teórico da área científica entende que a ciência é a reunião de fatos teorias e métodos reunidos nos textos científicos Os cientistas são os indivíduos que U4 A sociologia na era da informação 197 contribuem nesse processo O desenvolvimento científico é o processo gradativo em que novos conhecimentos são adicionados isoladamente ou em combinação ao conhecimento científico já existente No prefácio de seu livro A estrutura das revoluções científicas 1997 Kuhn apresenta seu conceito de paradigma considero paradigmas as realizações científicas universalmente reconhecidas que durante algum tempo oferecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência KUHN 1997 p 13 Quando um novo paradigma substitui o antigo ocorre aquilo que Kuhn chama de revolução científica Os cientistas que participaram de revoluções científicas forçaram a comunidade científica a rejeitar a teoria anteriormente aceita em favor de uma outra incompatível com aquela A nova teoria repercute inevitavelmente sobre muitos trabalhos científicos já concluídos com sucesso A nova teoria é mais que um incremento ao que já é conhecido Sobre as novas teorias Kuhn afirma uma nova teoria por mais particular que seja seu âmbito de aplicação nunca ou quase nunca é um mero incremento ao que já é conhecido Sua assimilação requer a reconstrução da teoria precedente e a reavaliação dos fatos anteriores Kuhn p 26 Quando falamos da análise sociológica da Ciência e Tecnologia não podemos deixar de lado as contribuições da Escola de Frankfurt principais autores Theodor W Adorno Herbert Marcuse Max Horkheimer Jurgen Habermas entre outros Essa escola foi formada por intelectuais alemães quase todos judeus e marxistas que se exilaram nos Estados Unidos devido ao Nazismo e que analisaram diversas questões com maior ênfase na comunicação As pesquisas da Escola de Frankfurt criaram a teoria crítica que vai se contrapor à teoria tradicional pois demonstram que não dá para falar da neutralidade das teorias e é preciso analisar as condições sociopolíticas da aplicação das teorias Incluise nessa discussão a reflexão sobre a relação entre saber e poder assim como a crítica ao Positivismo que procura entender as coisas do mundo com olhos exclusivamente científicos e ao uso político e ideológico da ciência U4 A sociologia na era da informação 198 Para a Escola de Frankfurt a ciência não é neutra e a técnica é utilizada na dominação de uma classe por outra sendo a Indústria Cultural uma forma de massificação do conhecimento científico Neste sentido Herbert Marcuse 1999 defende a ideia de que não há como produzir ciência neutra já que ela é apropriada pela sociedade capitalista O autor menciona a necessidade de rejeitar que a técnica é neutra e que está além do bem e do mal visto que ela é instrumento de dominação ideológica das sociedades capitalistas No entendimento do autor a ciência tornase um veículo para que se efetivem certos valores ideologias inclusive os não científicos Max Horkheimer e Theodor W Adorno 1995 criticam os fundamentos e resultados da ciência moderna A crítica se aprofunda em relação ao Positivismo Os autores argumentam que enquanto se imagina que a ciência auxilia a vencer o desconhecimento da natureza ela acaba por submeter os indivíduos a novas pressões sociais Os autores também demonstram que muitas pessoas têm uma visão errônea ao considerar o pensamento científico como inquestionável Por fim mencionamos a contribuição de Bruno Latour 1994 Ele defende que o cientista considere em seus trabalhos as controvérsias contemporâneas existentes em nossa estrutura social Ele argumenta que o cientista deve ser um profissional com dedicação exclusiva sobrevivendo como tal o cientista é um profissional que também veicula conhecimentos em revistas de divulgação científica e que demonstra conduta ética que lhe confere prestígio em sua carreira Uma dura realidade apontada por Latour é que o domínio do conhecimento acaba por ser menos importante do que as estratégias que os cientistas precisam ter para convencer seus pares o Estado e a sociedade sobre a existência e relevância do seu trabalho Qual o prejuízo para uma sociedade se a ciência não desenvolver novos paradigmas Como a tecnologia afeta o seu trabalho Como a ciência e a tecnologia estão presentes na sua cidade e no seu bairro Reflita U4 A sociologia na era da informação 199 Tecnologia Inovação e Transformação da Sociedade Ao se refletir sobre o mundo atual não se pode ignorar o impacto da tecnologia em nossa sociedade O avanço da tecnologia é grande o bastante para que o relacionamento entre pessoas de países distantes seja instantâneo eliminação de barreiras físicas e a tecnologia possibilita mudanças aceleradas na forma de produzir de comprar de se comunicar de estudar de realizar tratamento médico de se relacionar com o poder público governo eletrônico entre outras coisas Um objetivo da tecnologia é facilitar a vida dos indivíduos e ela se baseia em formas de aplicar na prática o saber produzido pela ciência Segundo Castells 2000 a tecnologia da informação foi primordial para reestruturação socioeconômica a partir da segunda metade dos anos 1970 redefinindose as relações de produção e de poder O autor trata da ideia de Capitalismo Informacional no mundo globalizado em que há um forte vínculo entre produtividade e inovação e entre competitividade e flexibilidade Ele diz ainda que a tecnologia da informação é atualmente o que a eletricidade representou para a era industrial Para complementar a reflexão de Castells cabe a citação abaixo Uma revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação remodelando a base material da sociedade em ritmo acelerado Economias por todo o mundo passaram a manter a interdependência global apresentando uma nova forma de relação entre economia Estado e a sociedade em um sistema de geometria variável CASTELLS 2000 p 21 Para Castells 2000 vivemos um paradigma da tecnologia da informação em que uma de suas características é que as próprias tecnologias atuam sobre a informação e não apenas o contrário como acontecia na primeira e na segunda revoluções industriais Ou seja as tecnologias transformaramse em verdadeiras matérias primas para o fomento da informação em nossa sociedade atual quando antes a relação era apenas da informação como matéria prima para o desenvolvimento de novas tecnologias Outra característica é que pelo fato de a informação estar fortemente presente na vida das pessoas todos os processos ligados à existência U4 A sociologia na era da informação 200 individual e coletiva dos indivíduos estão diretamente sendo moldados pelas mudanças tecnológicas As redes interativas de computadores estão crescendo exponencialmente criando novas formas e canais de comunicação moldando a vida e ao mesmo tempo sendo moldadas por ela CASTELLS 2000 p 22 Enquanto a inovação se refere à introdução de algo novo ideia procedimento recurso Tidd Bessant e Pavitt 1997 apresentam a inovação como algo inerente ao produto ao processo à estrutura e às pessoas São as pessoas que geram a inovação dentro de uma organização A condição essencial da inovação é ter a capacidade de melhorar as diversas práticas vigentes Segundo Castells 2000 as descobertas tecnológicas ocorrem em agrupamentos portanto a inovação não é uma ocorrência isolada O sistema tecnológico atual que tanto valoriza a inovação teve seu surgimento nos anos 1970 e se concentrou nos Estados Unidos Vale do Silício com o desenvolvimento do microprocessador Foi o Estado e não o empreendedor de inovações em garagens que iniciou a revolução da Tecnologia da Informação nos EUA como em todo o mundo CASTELLS 2000 p 77 No contexto econômico a inovação é vista como um dos elementos essenciais para a competitividade das empresas De acordo com a OCDE 2005 a inovação pode ser entendida como a implementação de um produto bem ou serviço novo ou significativamente melhorado um processo um novo método de marketing ou um novo método organizacional nas práticas de negócios na organização do local de trabalho ou nas relações externas da empresa A lucratividade e a competitividade são os verdadeiros determinantes da inovação tecnológica CASTELLS 2000 p 100 Conforme afirma Maciel 2001 a inovação que deve ser entendida em um sentido amplo tecnológico e social tornouse objetochave para a Ciência Social bem como para as políticas e estratégias de desenvolvimento Esta autora afirma que não existe inovação sem produção acumulação e distribuição do conhecimento Bruno Latour 2000 traz uma reflexão interessante sobre o processo inovativo que ele entende que deve se desenvolver a partir de ações estratégicas dos indivíduos inseridos no processo U4 A sociologia na era da informação 201 de inovação Assim quem inova precisa tanto controlar o contexto social em que se dá a prática da inovação quanto se adaptar a ele Se quem produz inovação não tiver autonomia não terá condições de realizar inovações importantes Os estudos que envolvem as relações entre tecnologia ciência e sociedade devem entender como a ciência se organiza em diferentes sociedades e como as forças sociais e econômicas moldam e controlam o desenvolvimento científico e tecnológico Atualmente as transformações sociais têm forte relação com as aceleradas transformações tecnológicas Nesse cenário constatamos um mundo globalizado em que os computadores ocupam um espaço relevante na sociabilidade já que eles influenciam os mais variados setores da sociedade em questões relacionadas ao comércio aos serviços ao exercício da cidadania ao mundo do trabalho ao acesso à informação e ao relacionamento entre os indivíduos A tecnologia e as novas formas de organização social As Tecnologias de Informação e Comunicação TICs estão presentes no cotidiano das pessoas e são elementos indispensáveis para às comunicações pessoais de trabalho e até de lazer Na visão de Giddens 2012 as comunicações globais foram facilitadas pelos avanços na tecnologia e na infraestrutura de telecomunicações do planeta Sobre o impacto dessas tecnologias Giddens afirma O impacto desses sistemas de comunicação tem sido estarrecedor Em países com infraestrutura de comunicações bem desenvolvidas os lares e escritórios hoje têm várias conexões com o mundo externo incluindo telefones tanto linhas fixas quanto celulares televisão digital por satélite e a cabo correio eletrônico e internet A internet emergiu como o instrumento de comunicação de crescimento mais rápido já desenvolvido por volta de 140 milhões de pessoas ao redor do mundo usavam a internet em 1998 e estimase que mais de um bilhão de pessoas a usava em 2007 GIDDENS p 104 U4 A sociologia na era da informação 202 A internet também chamada de rede mundial de computadores foi criada nos Estados Unidos em 1969 com objetivos militares Desde os anos 1990 as sociedades conseguiram ter acesso à internet Ela permitiu que fossem transmitidos sons imagens vídeos arquivos etc Essa rede mundial gerou uma nova forma de organização social e de comunicação caracterizandose como uma tecnologia revolucionária na forma com que as pessoas se comunicam trabalham e acessam os mais diversos tipos de informações Por exemplo pela internet é possível ter acesso a acervos de vários museus do mundo sem ter a necessidade de sair de casa Ao longo dos últimos 100 anos a tecnologia permitiu duas situações ampliação da capacidade intelectual calculadoras primeiros computadores etc e substituição da capacidade intelectual inteligência artificial simuladores etc Isso remete a uma reflexão de Giddens 2012 sobre as mudanças sociais no mundo moderno que são caracterizadas por modos de vida e instituições que são diferentes dos existentes em um passado recente Não se pode esquecer que o desenvolvimento e o uso de uma nova tecnologia alteram a trajetória do homem provocam mudanças na vida das pessoas nas relações sociais e na vida do homem em sociedade David Harvey 2004 por exemplo afirma que a tecnologia facilita a compreensão do tempo e do espaço inclusive porque o uso da internet tem acelerado e aprofundado a Globalização inclusive em regiões pobres como África e Oriente Médio Não se pode deixar de ressaltar que as pessoas estão se relacionando interconectando por meio da tecnologia o que possibilitou que lugares distantes ficassem menos distantes Como afirma Giddens a disseminação da tecnologia da informação acarretou a expansão das possibilidades de contato entre as pessoas ao redor do mundo bem como tornou mais fácil o fluxo de informações sobre as pessoas e os acontecimentos que se dão em diversas partes do planeta Assim diariamente lembra Giddens as pessoas por meio da mídia global por exemplo a norte americana CNN e a Globo no Brasil recebem notícias imagens e informações sobre várias partes do mundo Exemplo disso foi o ataque de 11 de setembro de 2001 que ficou conhecido por milhões de indivíduos chocou as pessoas e as fez ter medo do terrorismo U4 A sociologia na era da informação 203 Os indivíduos hoje estão mais cientes de sua interconexão com outras pessoas e são mais prováveis de se identificar com questões e processos globais que no passado GIDDENS 2012 p 104 Por isso as pessoas tiveram de perceber que a responsabilidade dos indivíduos e Estados não termina nas fronteiras nacionais já que se estende além delas há até mobilizações globais contra guerras catástrofes ambientais e ditadores Controle e uso da ciência e da tecnologia no mundo globalizado A ciência e a tecnologia proporcionam diversos benefícios para as pessoas e suas sociedades contudo não se pode deixar de lado os riscos que tanto a ciência quanto a tecnologia podem causar aos indivíduos Por exemplo quando a ciência e a tecnologia são utilizadas para beneficiar somente alguns grupos sociais ou apenas algumas empresas ou setores econômicos distanciamse de um uso republicano que geraria benefícios para a sociedade como um todo As discussões sobre a ciência e a tecnologia envolvem também questões polêmicas tais como os debates acerca da reprodução humana das células tronco e até sobre a clonagem que levam à reflexão sobre questões éticas e problemas jurídicos sobre até onde a ciência e a tecnologia podem atuar O poder produz saber não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder FOUCAULT 2010 p 30 A relação entre poder e saber é muito intensa pois o poder como exemplo os investimentos estatais em pesquisas em áreas estratégicas para um país vai produzir saber conhecimento contudo não existe poder sem conhecimento saber uma vez que para ter poder controle e domínio sobre algo ou alguém é preciso utilizar o conhecimento para ganhar uma guerra um país precisa conhecer o seu inimigo inclusive as armas e o território dele Além disso ao pensar o fragmento de Foucault entendese também que não há saber sem poder visto que o conhecimento e a ciência geram poder ou mesmo um diferencial para uma empresa ou um Estado por exemplo uma montadora de carros que investe em pesquisa científica terá automóveis mais modernos e isso gerará para ela maior poder no mercado em que está inserida U4 A sociologia na era da informação 204 Na visão de Francisco Matos 2012 ética é o conjunto de valores e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade A Ética é construída com base nos valores históricos e culturais Além disso Matos afirma que a Ética estuda as ações e o comportamento dos seres humanos e busca descobrir o que está por trás do nosso modo de ser e de agir Assimile Laymert Garcia dos Santos 2003 vai refletir sobre a relação entre tecnologia e sociedade e contribui com reflexões interessantes sobre esse tópico Inicialmente ele questiona qual será o futuro da humanidade em uma sociedade cada vez mais povoada de máquinas inteligentes e superpoderosas Santos afirma que as novas tecnologias informática nanotecnologia genética etc têm provocado transformações profundas e gerado processos novos sem precedentes na história por exemplo a informática possibilitou novas formas de comunicação entre as pessoas e a genética permitiu que a reprodução humana se desse sem que ocorra uma relação sexual Pesquise mais Aprofunde seus estudos e compreenda melhor quais são os pontos positivos e negativos da grande valorização das máquinas e tecnologia pela sociedade Indicamos a leitura de Laymert Garcia dos Santos Politizar as novas tecnologias o impacto sociotécnico da informação digital e genética São Paulo Editora 34 2003 Ler especialmente o capítulo Tecnologia perda do humano e crise do sujeito de direito O livro de Santos se chama Politizar as novas tecnologias porque ele considera que esse seja o caminho para que a humanidade domine as tecnologias e não seja dominada por elas Na visão de Santos 2003 no capitalismo atual emergem duas racionalidades a econômica e a tecnocientífica E emergem juntas as ideias de que não devem existir limites ao capital e ao progresso tecnocientífico A tecnologia segundo Santos permitiu novas formas de reprodução humana inclusive a opção da reprodução assistida para casais que não podem ou não querem ter filhos U4 A sociologia na era da informação 205 pelas vias biológicas naturais Santos diz que esse processo é a possibilidade da procriação sem sexo Assim há inovações como a inseminação artificial clonagem bancos de esperma as células tronco entre outras possibilidades O autor diz que o Direito não está totalmente preparado para atuar nesse contexto Desta forma o Direito no mundo globalizado precisa traçar limites para o mercado e também para a ciência que não representam censura mas garantias para a vida social Quando pensamos no controle e uso da ciência no contexto global enfrentamos algo que sempre se dá nas sociedades o conflito entre os direitos dos indivíduos e os direitos da coletividade A tecnologia pode piorar esse conflito Meksenas 2002 argumenta que na globalização a ciência está reduzida à tecnologia produtiva e à de mercado E nessa lógica os interesses de bemestar humano são substituídos pelos interesses de mercado Pensar sobre o papel da ciência na engenharia genética e a questão ética se torna relevante Portanto assista ao vídeo de um trecho da entrevista de Roberto DÁvila com a geneticista Mayana Zats renomada cientista brasileira e professora da Universidade de São Paulo USP GLOBO NEWS Roberto Dávila entrevista Mayana Zats sd Duração do vídeo 552 min Disponível em httpg1globocomglobo newsrobertodavilavideosvrobertodavilaageneticistamayana zatz6356283 Acesso em 19 mar 2018 Para complementar esta discussão sobre ética e ciência assista a um debate entre Mario Sérgio Cortella e Clóvis de Barros Filho acerca de ética no cotidiano INSTITUTO CPFL Ética no cotidiano com Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho 9 abr 2015 Duração do vídeo 5209 min Disponível em httpwwwinstitutocpflorgbrplayeticanocotidianomario sergiocortellaeclovisdebarrosfilho Acesso em 19 mar 2018 Exemplificando Completase esta discussão com os questionamentos feitos por Meksenas 2002 para que serve a ciência E a quem ela serve A ciência é utilizada para escravizar ou para libertar Por que a ciência às vezes não é utilizada para o bem da humanidade Na citação a seguir o autor realiza uma reflexão sobre esses questionamentos U4 A sociologia na era da informação 206 Todo o rigor de método para elaborar os diversos conhecimentos científicos das naturezas físicas e humanas não são isentos da defesa de interesses particulares da classe social que detém o controle da sociedade MEKSENAS p 48 Para Foucault 1979 a ciência e o conhecimento são formados por meio de relações entre sujeitos entre poderes O autor argumenta que o conhecimento é originário de relações de poder de cada época já que através das formas de organização do poder é que o conhecimento é buscado Na visão de Foucault o poder está em todas as relações indo além do Estado e tanto o saber como o poder podem ser utilizados como formas de controle da na sociedade Por isso os discursos de cada grupo social podem ser relacionados com os mecanismos utilizados para gerar poder Como exemplo disso o autor demonstra a relação entre a medicina e o capitalismo ao longo do século XX Algumas doenças como a hanseníase e suas curas somente foram pesquisadas por causa das necessidades do capitalismo o Estado ou empresários financiaram pesquisas para que certas doenças não atrapalhassem a produção já que era preciso minimizar os impactos de certas doenças para que a classe trabalhadora ficasse menos doente e pudesse produzir mais Gilles Deleuze 1998 atualiza a teoria de Foucault sobre o controle social que era chamado de sociedade disciplinar Deleuze proclama o fim das instituições de confinamento presídio fábrica escola manicômio entre outras que eram utilizadas na visão de Foucault como locais para controlardisciplinar os indivíduos que foram estudadas por Foucault e o aparecimento de novos dispositivos de controle Deleuze chama essa nova estrutura de sociedade de controle que cria a ilusão nos indivíduos de desfrutarem de mais autonomia por terem acesso às facilidades da internet em um mundo globalizado Contudo os comportamentos e hábitos de consumo dos indivíduos podem ser conhecidos por governos por empresas multinacionais por bancos é feito de forma sutil mas muito eficaz Assim a tecnologia ao invés de libertar amplia o controle sofrido pelas pessoas tanto é que a frase comum colocada próxima a câmeras sorria você está sendo filmadoa demonstra a perda de privacidade dos indivíduos no mundo globalizado Além disso a sociedade de controle parte da lógica da técnica e do mercado em que as novas relações de poder estão vinculadas à informação U4 A sociologia na era da informação 207 Sem medo de errar A tecnologia gerou nos últimos 50 anos vários impactos socioeconômicos não apenas em países desenvolvidos mas também naqueles em desenvolvimento Algumas situações elucidam esses impactos o aumento da produção industrial o crescimento da produtividade do trabalho humano a criação de novos produtos a diminuição do trabalho manual realizado pelo homem a produção de medicamentos e equipamentos que deram qualidade de vida para pessoas com certas doenças e deficiências entre outras atividades A relação entre ciência e tecnologia quando bem estruturada e apoiada pelo Estado e pelas empresas pode facilitar que as invenções cheguem mais rapidamente às pessoas e ao mercado com preços acessíveis a boa parte da população Quando se pensa no impacto socioeconômico da tecnologia entendese que ela pode destruir postos de trabalho como acontece com Raimundo Para ampliar as chances de conseguir um novo emprego alguns trabalhadores decidem retornar aos estudos e até mesmo aprender uma nova profissão como é o caso de Raimundo que voltou a estudar e decidiu cursar um supletivo de Ensino Médio Ele e muitos indivíduos possuem a ilusão de que ao estudar certas profissões ampliamse as chances de nunca ser demitido mas não é bem assim pois mesmo trabalhos que exigem conhecimento em tecnologia podem ser mecanizados Tanto é que Raimundo colocou na cabeça que seu filho deve cursar engenharia e estudar robótica o que traria a possibilidade de o filho nunca perder o emprego Contudo com as políticas de reestruturação produtiva e de gestão de pessoas independente do curso da experiência profissional e da faixa etária sempre haverá risco de demissão em um mundo de trabalho inserido na globalização A ciência não é neutra visto que ela está presente em um projeto de sociedade de Estado e de mercado o que faz com que certos interesses da sociedade civil não sejam respeitados e por isso se mecaniza sem pensar no impacto social em certos postos de trabalho Não se pode esquecer que tanto a ciência quanto a tecnologia possuem relevância social e só com o avanço científico foi possível que houvesse as revoluções industriais A Sociologia questiona o funcionamento da ciência e em uma de suas vertentes a Escola de Frankfurt demonstrouse que a ciência não é neutra e pode ser U4 A sociologia na era da informação 208 estruturada para que ocorra a dominação de uma classe social por outra e a necessidade de se levar em consideração as condições sociopolíticas de aplicação das teorias científicas Há também de se pensar sobre o fato de que a ciência pode ser utilizada para o controle social A ciência a tecnologia e a inovação quase sempre se baseiam nos interesses empresariais e governamentais porém mais organizadas nos empresariais devido ao poder das grandes empresas no mundo globalizado As tecnologias da informação impulsionam a globalização e a inovação é uma exigência de nossa contemporaneidade instigando novas formas de comunicação de transações de produção de educação e de organização social Além disso a ciência precisa ser pensada a partir de princípios éticos não apenas para questões como reprodução humana e células tronco mas para o desenvolvimento cotidiano da ciência como na utilização de certas tecnologias que podem afetar a biodiversidade ou que podem acabar com uma determinada profissão Um dado para pensar sobre as escolhas e o uso que se faz da tecnologia e da ciência segundo estudos da Consultoria McKinsey e do Fórum Econômico Mundial apenas no Brasil 157 milhões de pessoas perderão seus empregos por causa da automação PERRIN 2018 Desse modo as transformações científicas e tecnológicas atingem o mundo do trabalho e a estrutura produtiva e ainda têm efeitos sobre as relações sociais e as condições de vida dos indivíduos 1 A neutralidade da ciência é algo questionável por autores de diferentes matrizes teóricas da Sociologia Esse questionamento precisa ser feito sobretudo pelo impacto da ciência no mundo globalizado nas economias e nas sociedades de países desenvolvidos e subdesenvolvidos Uma escola teórica da Sociologia que critica a neutralidade da ciência é a Escola Nova b Weberianismo c Positivismo d Estruturalismo e Escola de Frankfurt Faça valer a pena U4 A sociologia na era da informação 209 2 Leia a seguir o fragmento de reportagem da Folha de SPaulo de 21 jan 2017 3 Leia atentamente o fragmento a seguir A e a tecnologia estão muito e elas permitiram uma série de transformações econômicas sociais e ocorridas no último século Não há mais como viver sem usar um e um smartphone e tornouse impossível viver em um mundo sem internet Escolha a alternativa que melhor complementa as lacunas do fragmento acima a automação atrasadas culturais telefone b ciência avançadas tecnológicas automóvel c ciência interligadas produtivas computador d ética ligadas culturais emprego e medicina desvinculadas conjunturais computador No mundo no período entre 2015 e 2020 o Fórum Econômico Mundial prevê a perda de 71 milhões de empregos principalmente aqueles relacionados a funções administrativas e industriais A avaliação de especialistas da área é que o mercado de trabalho passa por uma grande reestruturação semelhante à revolução industrial A diferença é que agora tudo acontece muito mais rápido desde 2010 o número de robôs industriais cresce a uma taxa de 9 ao ano segundo a Organização Internacional do Trabalho OIT PERRIN Fernanda Automação vai mudar a carreira de 16 milhões de brasileiros até 2030 In Folha Uol 21 jan 2018 Disponível em http www1folhauolcombrmercado201801195190416milhoesde brasileirossofreraocomautomacaonaproximadecadashtml Acesso em 19 mar 2018 A partir da leitura do fragmento acima assinale a alternativa que indica dois impactos negativos dessa alteração na estrutura produtiva e do mundo do trabalho a Desemprego e desigualdade social b Desigualdade social e crescimento econômico c Preconceito de gênero e assédio moral d Poluição e desemprego e Queda da produtividade e do assalariamento U4 A sociologia na era da informação 210 Seção 43 Caro aluno seja bemvindo à Seção 43 Mídia e Indústria Cultural Você já pensou sobre como a mídia está presente na sua vida e de seus conhecidos Aprofundando essa questão pense sobre o seguinte a mídia interfere nas principais decisões de sua vida como quando e que tipo de carro comprar que candidato votar em uma eleição na sua visão sobre crime e corrupção por exemplo Vamos aprofundar essa discussão a partir de nosso personagem Raimundo Ele tem o hábito de assistir diariamente ao jornal das oito da noite e à novela das nove ambos produzidos pela maior emissora de televisão do país TV Globo e isso já ocorre há pelo menos três décadas Com a internet e as suas novas possibilidades Raimundo tem começado a ler sites de notícias de futebol e de novela mas tem percebido que para ter acesso ao conteúdo completo deles precisa pagar e nem sempre possui condições para isso mas não troca a notícia vinda da internet pelo seu jornal televisivo Em muitos momentos de sua vida Raimundo tomou suas decisões com base no que falavam os meios de comunicação desde para comprar certos produtos até para decidir o voto para presidente da República Ele acredita em quase tudo que a mídia fala sem a devida criticidade Muitas vezes ele já teve dificuldade para separar ficção de realidade por exemplo separar o ator da novela do personagem vilão que era interpretado O que faz pessoas como Raimundo serem tão influenciadas pelo que a mídia fala O poder da mídia pode ser visto além da esfera econômica Por que a televisão ainda continua sendo importante fonte de informação no Brasil Qual é o papel da internet na divulgação de notícias e de entretenimento no contexto de globalização Diálogo aberto Mídia e indústria cultural U4 A sociologia na era da informação 211 Não pode faltar O tema de nossa última unidade é Mídia e Indústria Cultural Abordaremos temas como a sociedade de massa as novas tecnologias das comunicações e a internet o poder da mídia no mundo globalizado A Sociedade de massa A sociedade de massa pode ser pensada a partir de uma organização social em que boa parte da população está vinculada à produção e ao consumo de bens e serviços além de possuírem certos comportamentos típicos e sofrerem a influência dos meios de comunicação de massa Mauro Wolf 2011 demonstra que a sociedade de massa foi constituída a partir do pensamento político do século XIX de cunho muito conservador ela foi resultante da crescente industrialização e das mudanças técnicas nos transportes e no comércio além da difusão de valores como a liberdade e a igualdade O pensamento político do século XIX organizouse com base em correntes ideológicas que se dividiam em consonância a favor e dissonância contra o capitalismo As primeiras defendiam ideias como a propriedade privada o lucro economia baseada no mercado etc as segundas defendiam a propriedade coletiva o bemestar coletivo a economia controlada pela própria sociedade etc Exemplos das primeiras o Nacionalismo e o Liberalismo Econômico Exemplos das segundas o Socialismo e o Anarquismo Assimile Sobre o viver em uma sociedade de massa Theodor Adorno e Max Horkheimer 1973 argumentam sempre que se trata de comportamentos específicos das massas é possível descobrir neles um momento de irracionalidade que vai desde o pânico numa sala de teatro até segundo parece às pretensas sublevações de um povo inteiro nas quais os seguidores de alguns líderes sustentam com entusiasmo interesses que com frequência são violentamente opostos à sua razão e à sua autopreservação ADORNO HORKHEIMER 1973 p 73 U4 A sociologia na era da informação 212 Adorno e Horkheimer demonstram que muitas vezes a ideia de massas está vinculada a algo negativo como totalitarismo dominação perda de autonomia e irracionalidade Segundo os autores isso se deu como forma de desqualificar os movimentos operários e socialistas que se organizaram na Europa no início do século XX Na reflexão de Adorno e Horkheimer sobre a sociedade de massa há uma crítica da razão em que eles se referem à razão iluminista que objetivava a emancipação dos indivíduos e também o progresso social mas que acabou por levar a uma grande dominação das pessoas em virtude do desenvolvimento tecnológico e industrial O Iluminismo foi a base da Revolução Francesa 1789 e caracteriza se como um conjunto de ideias que fundamentaram a oposição ao Absolutismo modelo político em que o rei concentra todo o poder e à organização política de países absolutistas Entre as ideias do Iluminismo estão a defesa da igualdade jurídica não econômica já que o Iluminismo defende princípios essenciais para o capitalismo como a diferença econômica entre as classes sociais da liberdade e da fraternidade bem como a divisão de poderes em três Executivo Legislativo e Judiciário e a ideia de que as pessoas devem ser portadoras de direitos a partir de princípios republicanos O Iluminismo defende o pensamento científico e a razão em todas as situações Assimile Por viverem em uma sociedade de massa os membros dessa sociedade se identificam e possuem símbolos comuns ao grupo Além disso como aborda Wolf 2011 a massa também é composta de indivíduos que não se conhecem e que estão espacialmente separados uns dos outros e possuem pouca ou nenhuma possibilidade de interação A massa é portanto um novo tipo de organização social Jean Baudrillard 2008 sociólogo francês compreende a ideia de massa a partir de um corpo que vai amortizar as forças políticas e sociais ou seja a massa faz que os indivíduos se conformem com as relações e estruturas sociais sendo assim o conformismo um dos pilares fundamentais das sociedades de massas O filósofo José Ortega y Gasset 1962 cria a partir da ideia de sociedade de massas a concepção do homemmassa que é U4 A sociologia na era da informação 213 um conceito utilizado para explicar o indivíduo inserido em uma sociedade de massa Para esse autor o indivíduo contemporâneo é conformista em relação às estruturas econômica política e social em que vive Ortega y Gasset argumenta que a individualidade e o próprio indivíduo perdem força na sociedade de massas pois ocorre uma homogeneização das diferenças Desta forma o homemmassa somente se sente confortável quando se vê em conformidade com a massa Além disso o homemmassa se arrisca a deixarse levar por líderes que podem ser medíocres Outra reflexão interessante sobre as sociedades de massas é proposta por Hannah Arendt 1998 Ela demonstra que nas sociedades de massas as pessoas não estão vinculadas a um interesse comum que as façam deixar de lado um interesse individual em prol de um interesse coletivo Arendt ainda argumenta que o indivíduo massificado representa o princípio e o fim do totalitarismo uma vez que a sociedade de massas pretende criar indivíduos coesos de atitudes previsíveis e de uniformidade de pensamento o que facilita a defesa ou simplesmente indiferença a regimes totalitários Ora é muito perturbador o fato de o regime totalitário malgrado o seu caráter evidentemente criminoso contar com o apoio das massas Arendt 2008 p 712 O totalitarismo é um regime político em que um único indivíduo domina o Estado tomando para si todos os poderes vinculados ao Estado Exemplos de momentos históricos em que se teve totalitarismo Nazismo com Hitler e Fascismo com Mussolini Assimile A sociedade de massas leva à criação da sociedade de consumo Baudrillard 2008 afirma que a sociedade pósmoderna é uma sociedade de consumo já que nela os indivíduos são sempre vistos como consumidores Nessa sociedade expandemse os espaços para o consumo que passa a moldar as relações entre os indivíduos Baudrillard vai demonstrar que já não se consomem coisas mas apenas signos o que indica que muitos indivíduos estão mais interessados no significado que os produtos possam ter e menos em suas funcionalidades U4 A sociologia na era da informação 214 Há indivíduos que compram um iPhone de última geração não por suas funcionalidades mas pelo status que este aparelho pode trazer nas suas relações sociais Exemplificando A indústria cultural Fundamentos Antropológicos e Sociológicos Anthony Giddens 2012 menciona que a partir da Teoria Crítica elaborada pelos membros da Escola de Frankfurt surge o conceito de Indústria Cultural que traz em seu bojo uma reprovação aos efeitos da mídia de massa sobre os indivíduos sobre a cultura e até mesmo sobre o comportamento das pessoas Wolf 2011 argumenta que a expressão Indústria Cultural foi utilizada pela primeira vez por Horkheimer e Adorno no livro A Dialética do Esclarecimento publicado em 1947 A Escola de Frankfurt reconhece como Indústria Cultural as empresas do entretenimento cinema televisão rádio jornais revistas músicas que exercem grande influência sobre as culturas das sociedades Os autores dessa escola afirmavam que nas sociedades de massa a produção cultural se tornou padronizada inclusive os gostos do público e dominada pela busca do lucro como já acontecia com outros setores da sociedade e da economia Em uma sociedade de massa a indústria do lazer era usada para induzir valores apropriados entre o público o lazer já não era uma pausa do trabalho mas a preparação para ele GIDDENS 2012 p 534 Os membros da Escola de Frankfurt Adorno Horkheimer Habermas Marcuse entre outros consideram que na sociedade capitalista o tempo de lazer foi industrializado Sobre a Escola de Frankfurt Giddens faz uma relevante reflexão A Escola de Frankfurt foi estabelecida nas décadas de 1920 e 1930 consistindo em um grupo livre de teóricos inspirados por Marx mas que consideravam que as ideias de Marx precisavam de uma revisão radical Entre outras coisas eles argumentavam que Marx não havia dedicado suficiente atenção à influência da cultura nas sociedades capitalistas modernas GIDDENS p 531 U4 A sociologia na era da informação 215 Além disso a Escola de Frankfurt abordou o fato de que a disseminação da Indústria Cultural com seus produtos padronizados e muitas vezes sem qualidade acabou por enfraquecer a capacidade dos indivíduos de pensamento crítico e independente Há também a ideia de que as pessoas não conseguem se livrar da propaganda midiática e por isso tornamse suas presas Wolf 2011 trata do fato de que num mundo baseado na Indústria Cultural o indivíduo não toma mais suas decisões de forma autônoma e a sociedade acaba por manipular o indivíduo O autor ainda menciona que Embora os indivíduos creiam que no período em que não trabalham eximemse dos rígidos mecanismos produtivos na realidade a mecanização determina de modo tão integral a fabricação dos produtos de distração que o que se consome são apenas cópias e reproduções do próprio processo de trabalho WOLF p 77 Horkheimer e Adorno assinalam que as produções artísticas na Indústria Cultural levam os indivíduos a acreditarem que estão em pleno momento de diversão esquecendose de suas dores e evitando a responsabilidade do pensar Não seria uma fuga da realidade segundo os autores mas uma fuga do último pensamento de resistência que ainda poderia ter sido deixado pela realidade A seguir reproduzimos citação de Adorno a esse respeito Na América podemos ouvir da boca dos produtores cínicos que seus filmes devem dar conta do nível intelectual de uma criança de onze anos Fazendo isso eles se sentem sempre incitados a fazer de um adulto uma criança de onze anos ADORNO 1978 p 293 O conceito de Indústria Cultural diz respeito à ideia de que em uma economia capitalista os bens culturais teatro música esculturas cinema etc se transformaram em mercadorias que têm como objetivo garantir lucro aos seus donos ou exploradores Walter Assimile U4 A sociologia na era da informação 216 Benjamim um dos membros da Escola de Frankfurt defende a ideia em seu artigo A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução in A Ideia do Cinema Editora Civilização Brasileira 1969 p 5595 de que devido à Indústria Cultural as obras de arte perderam algumas de suas características por terem se tornado repetitivas e modistas além de terem se transformado em bens de consumo Além disso a Indústria Cultural é portadora da ideologia dominante ou seja da ideologia capitalista que estimula o individualismo A Escola de Frankfurt vai defender que a Indústria Cultural é um importante agente de manutenção das relações de poder da sociedade capitalista As novas tecnologias das comunicações e a internet A sociedade de massas se desenvolveu com a industrialização e gerou uma sociedade de consumo nascendo desse contexto a indústria cultural que vai ser caracterizada pela transformação das atividades culturais reproduzidas como mercadorias em um negócio em um ramo da economia Além disso a indústria cultural acabou por adaptar a produção cultural para o consumo das massas o que pode impactar negativamente na produção cultural especialmente por diminuir a liberdade dos artistas É indiscutível que a internet representou avanços na forma de uma pessoa se comunicar de estudar de trabalhar de ter acesso à informação de buscar emprego de se relacionar com os bancos home banking e até com o Estado que passou a disponibilizar informações e serviços pela internet inclusive para facilitar a relação com o cidadão e tornar os processos administrativos e burocráticos mais transparentes no Brasil houve avanços com o Portal da Transparência em que os governos disponibilizam informações sobre gastos públicos e salários de servidores públicos A internet possui pontos positivos como ter facilitado a comunicação mas há também pontos negativos como usuários que sofrem fraudes e golpes além da violação de seus direitos tais como o direito à privacidade Duas questões podem ser destacadas nessa discussão será que a internet nos tornou mais livres e inteligentes Será que as redes sociais tornaram as pessoas mais felizes Vamos para a primeira questão a internet possibilitou maior acesso à informação contudo isso não foi garantia de que as pessoas tenham ficado mais inteligentes pois na internet veiculam U4 A sociologia na era da informação 217 se informações falsas fake News e se reproduz senso comum assim como preconceito contra vários indivíduos e grupos sociais Já a segunda questão diz respeito ao fato de que as redes sociais nem sempre deixam as pessoas mais felizes pois nelas há pessoas que tornam público seus problemas ou que criam uma imagem que não é verdadeira sobre suas vidas seus trabalhos e vida social com a intenção de ter algum status Sobre as redes sociais Zygmund Bauman em entrevista para o El País no início de 2016 traz considerações importantes Mas nas redes é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias as redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia Muita gente as usa não para unir não para ampliar seus horizontes mas ao contrário para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras As redes são muito úteis oferecem serviços muito prazerosos mas são uma armadilha QUEIROL Ricardo de Entrevista Zygmund Bauman As redes sociais são uma armadilha 9 jan 2016 In El Pais Atualmente é possível acessar à internet a partir de dispositivos que vão além dos computadores como smartphones e tablets o que tornou a internet mais acessível para muitos indivíduos que antes não podiam acessála Além disso houve melhoria na qualidade dos serviços e no tráfego de dados nos últimos anos Contudo como aborda Giddens a internet também é um ambiente dominado pelos interesses privados sobretudo das multinacionais o que pode limitar ou já limita a liberdade dos indivíduos e a democracia na rede Sobre isso o sociólogo inglês ainda afirma A visão da internet nas mãos de vários conglomerados midiáticos opõese em nítido contraste à ideia de um domínio eletrônico livre e irrestrito que os entusiastas da internet imaginavam apenas alguns anos atrás Em seus primeiros U4 A sociologia na era da informação 218 anos a internet era vista como um domínio individualista onde os usuários podiam navegar livremente pesquisando e compartilhando informações fazendo conexões e interagindo fora do domínio do poder corporativo Todavia a presença dos gigantes e anunciantes da mídia corporativa tem ameaçado isso Os críticos preocupamse de que o aumento do poder corporativo sobre a internet afundará tudo exceto a mensagem corporativa e poderá levar a internet a se tornar um domínio restrito acessível apenas a assinantes GIDDENS 2012 p 547 Ainda sobre a internet Manuel Castells 2000 afirma que ela propicia às empresas a capacidade gerencial de atividades que estão descentralizadas e que possuem alta complexidade Já para os indivíduos no entendimento do autor a internet possibilita novas formas de trabalho e emprego além de formas diferenciadas de expressão individual blogs redes sociais entre outras formas e de sociabilidade Castells considera que a internet é muito relevante para as ações dos ativistas políticos já que ela possibilita que se coopere e dissemine várias mensagens ao redor do mundo Castells 2000 denomina de Sociedade da Informação ou Sociedade em Rede esse contexto digital em que se vive atualmente Essa sociedade foi organizada a partir de dois elementos chaves os avanços tecnológicos e a internet que estão presentes nas relações sociais e na organização econômica e política dos países Giddens 2012 vai falar também das redes sociais como o Facebook e o Twitter que permitiram que as comunicações pela rede se tornassem populares para indivíduos de diferentes faixas etárias escolaridades e classes sociais Em relação aos jovens por exemplo o autor afirma que eles têm abandonado a passividade da televisão para aderir a meios mais interativos como as redes sociais e até o YouTube há atualmente jovens que dizem que seus projetos de vida são atuar como youtubers produtores de vídeos para o YouTube Devido à perda de público a televisão teve de alterar seus programas e a relação com os telespectadores agora mais dinâmica graças à internet e às redes sociais Em relação à rede social mais utilizada o Facebook tornase relevante lembrar que Se o Facebook fosse um país ele seria o terceiro maior do mundo atrás apenas da China e da Índia Qualman 2011 p 16 U4 A sociologia na era da informação 219 Quando pensamos na relação entre mídia tradicional e internet uma característica da internet é que ela permite uma grande interatividade o que não era possível com a televisão e o rádio por exemplo O receptor da mensagem pode inclusive selecionar a abrangência e a profundidade com que os temas podem ser tratados tal como demonstra Castells 2001 A ideia do autor é complementada a seguir a mídia eletrônica não só o rádio e a televisão mas todas as formas de comunicação tais como o jornal e a internet passou a se tornar o espaço privilegiado da política Não que toda a política possa ser reduzida a imagens sons ou manipulações simbólicas Contudo sem a mídia não há meios de adquirir ou exercer poder Portanto todos os partidos políticos de ideologias distintas acabam entrando no mesmo jogo embora não da mesma forma ou com o mesmo propósito CASTELLS 2001 p 367 O poder da mídia no mundo globalizado Giddens 2012 argumenta que nas últimas três décadas houve grandes transformações nas empresas de mídia Isso se deu devido ao processo de globalização e também por causa das novas tecnologias da informação que levaram à criação de novas formas de mídia como os portais de notícias na internet O autor diz ainda sobre essas transformações No começo do século XXI o mercado global da mídia era dominado por um grupo de aproximadamente 20 corporações multinacionais cujo papel na produção distribuição e comercialização de notícias e entretenimento podia ser sentido em quase todos os países do mundo GIDDENS 2012 p 543 Há alguns fatores que contribuíram para uma nova ordem global da mídia segundo Giddens tais como a mídia global é dominada por um pequeno número de grandes empresas grande parte delas com sede nos Estados Unidos as empresas de mídia deixam de ser na totalidade ou parcialmente estatais virando um setor organizado U4 A sociologia na era da informação 220 pelo capital privado as grandes empresas de mídia operam em diversos países vão além de fronteiras nacionais as empresas de mídia oferecem vários produtos como a Time Warner que oferecem música notícias filmes programação de televisão etc ou as organizações Globo no Brasil Outro ponto salientado por Giddens é o grande número de fusões entre empresas de mídia Por meio da mídia eletrônica os produtos culturais ocidentais certamente são difundidos de forma ampla ao redor do planeta Como já vimos os filmes norteamericanos estão disponíveis por todo o mundo assim como a música popular ocidental GIDDENS 2012 p 544 Convém salientar que como as principais agências de notícias são de países desenvolvidos há o risco de que as notícias publicadas tenham uma perspectiva baseada nos interesses econômicos políticos e ideológicos de seus países sede inclusive para reproduzir valores capitalistas e da globalização Milton Santos 2000 afirma que a globalização é o ápice da internacionalização do capitalismo Assim um dos aspectos muito importantes do processo de globalização é a aceleração dos fluxos de informações o que resultou em mudanças não só para as pessoas mas também para as empresas e os Estados No capitalismo globalizado em que é demasiada a busca pelo lucro os meios de comunicação de massa são ferramentas essenciais para esse processo pois a mídia tem papel econômico e político que vai além de divulgar notícias já que forma a opinião pública e dita até regras de comportamento dos indivíduos Não se pode deixar de ressaltar que a mídia cria impactos sobre indivíduos de diferentes classes sociais e níveis de escolaridade com o objetivo de impulsionar o consumo mesmo do que não se precisa e manipular a opinião pública Nas propagandas por exemplo os indivíduos recebem mensagens que de certa forma podem ser vistas como agressivas tais como compre este carro mude a sua operadora de telefonia compre uma tevê nova beba tal refrigerante e nessas mensagens muitas vezes está presente o fetichismo da mercadoria desenvolvido por Karl Marx U4 A sociologia na era da informação 221 O caráter fetichista da mercadoria deriva de que as relações sociais entre as pessoas adquirem necessariamente a forma ilusória de uma relação de coisas No mundo das mercadorias os produtos do trabalho humano se relacionam entre si como se fossem coisas autônomas como se tivessem vida própria SOUZA MATTOS 2007 p169 Assimile No mundo globalizado a mídia sobretudo a televisão e a internet em portais de entretenimento vai explorar a vida de pessoas comuns e seus comportamentos nos chamados reality shows que no Brasil ficaram marcados pelo Big Brother exibido pela TV Globo e bastante explorado e noticiado pelo portal Globocom A ideia desses programas é fazer com que as pessoas se interessem por intrigas por algo que não está programado e por pessoas desconhecidas em situações que levam a algum desconforto como ficar isolado do mundo em uma casa com outros desconhecidos por mais de 40 dias em que se expõem intimidades e fraquezas e que teriam reações que interessariam aos telespectadores e internautas Os participantes dos reality shows fazem isso por sonhar receber altas quantias em dinheiro ou mesmo ficar famosos rapidamente Castells 2013 afirma que a mídia no mundo globalizado é uma das fontes decisivas de construção do poder O autor complementa que os meios de comunicação de massa são amplamente controlados por governos e empresas midiáticas Para fugir disso sociedades e indivíduos podem utilizar as formas de comunicação disponíveis como a internet e as plataformas de comunicação sem fio Na visão do autor as redes sociais possibilitam comunicação de forma mais livre sem os impedimentos da mídia tradicional sobretudo porque como ele afirma na última década a mídia não se tornou confiável para indivíduos e instituições como os movimentos sociais Tornase ainda importante trazer as contribuições de um outro livro de Castells Rede de indignação e esperança 2013 em que ele trata da luta dos movimentos sociais em um mundo globalizado e que dispõe de uma nova forma de comunicação a partir da internet Ele trata de importantes lutas da sociedade civil junto a movimentos sociais ocorridos em 2011 a Revolução na Tunísia a Revolução Egípcia e o Occupy Wall Street EUA Sobre o uso da internet na organização dos movimentos sociais Castells afirma U4 A sociologia na era da informação 222 Começou nas redes sociais da internet já que estas são espaços de autonomia muito além do controle de governos e empresas que ao longo da história haviam monopolizado os canais de comunicação como alicerces de seu poder Compartilhando dores e esperanças no livre espaço público da internet conectandose entre si e concebendo projetos a partir de múltiplas fontes do ser indivíduos formaram redes a despeito de suas opiniões pessoais ou filiações organizacionais Uniramse E sua união os ajudou a superar o medo essa emoção paralisante em que os poderes constituídos se sustentam para prosperar e se reproduzir por intimidação ou desestímulo e quando necessário pela violência pura e simples seja ela disfarçada ou institucionalmente aplicada CASTELLS 2013 p 10 Castells analisa um poder que as pessoas e movimentos sociais passaram a ter com a internet e mais especificamente com as redes sociais pois há menos controle das empresas e dos governos na internet As redes sociais permitiram inclusive que as pessoas se organizassem em torno de certas ações e projetos Como afirma Castells foi possível compartilhar dores e esperanças o que foi muito relevante para que os movimentos sociais conseguissem apoio e pudessem se organizar Pesquise mais Como há uma relação entre as reflexões realizadas nesta seção e o jornalismoprodução de reportagens indicamos a leitura do livro Showrnalismo a notícia como espetáculo de José Arbex Júnior editora Casa Amarela 2001 Na obra Arbex faz uma reflexão sobre o funcionamento da mídia e demonstra que muitas vezes é muito sútil a fronteira que separa notícia de espetáculo O capítulo a ser lido é o primeiro chamado Memórias e histórias e os tópicos que indicamos são 1 e 2 Telenovela ou domesticação do imaginário e O império das corporações respectivamente U4 A sociologia na era da informação 223 Sem medo de errar O Brasil sempre esteve entre os países que mais se assiste televisão e que mais se influencia por ela Uma parte dos brasileiros como Raimundo sempre baseou suas decisões no que é noticiado pela imprensa que não é neutra e cria heróis e vilões A baixa escolaridade a despolitização a alienação e a ausência de criticidade permitem que a mídia sobretudo no Brasil a TV Globo exerça um papel de ditar gostos escolhas e posições políticas e ideológicas Não se pode perder de vista que as empresas de mídia buscam lucro são portanto negócios que têm anunciantes e interesses A internet ainda não está acessível a todos no Brasil o que faz a televisão continuar sendo relevante para uma parte considerável da população A internet facilita o contato com o mundo globalizado por meio de notícias de museus online de transações financeiras e de compras A seguir aprofundaremos essas questões A mídia está presente na vida de todos independentemente da classe social da religião do nível de escolaridade e da etnia Como discutiuse ao longo da seção a sociedade atual se caracteriza por ser de massas e por ter uma produção cultural voltada aos interesses de mercado a indústria cultural Vale salientar que algumas pessoas conseguem ter uma criticidade em relação ao que a mídia divulga defende ou critica porém boa parte das pessoas não consegue fazer isso e acaba muitas vezes por aceitar passivamente o que o conteúdo midiático transmite Como vimos nesta seção a partir do pensamento de autores relevantes como Castells Giddens Baudrillard entre outros a mídia possui muito poder e ela é atualmente globalizada e liderada por grupos que geralmente defendem uma visão de mundo baseada nos interesses das grandes multinacionais e de países desenvolvidos Por isso não se pode ter a ilusão de que o poder da mídia é apenas econômico ou político já que ela influencia mentes e corações também no âmbito sociocultural Vimos que a mídia tem pretensão de formar indivíduos acríticos e que possuem um estilo de vida que vai beneficiar os interesses das grandes multinacionais e da elite econômica Você já pensou quantas vezes a mídia cria preconceitos com indivíduos etnias culturas países e profissões O impacto negativo disso é que esses preconceitos são reproduzidos quase que diariamente por pessoas em várias partes do mundo U4 A sociologia na era da informação 224 Mesmo com o avanço da internet a televisão continua sendo poderosa a exemplo da TV Globo Para manter ou reconquistar públicos a televisão teve de se modificar e se tornar mais interativa por exemplo utilizando redes sociais como meios para obter maior contato com seus telespectadores A internet popularizou o acesso a informações e a notícias sobre vários assuntos o que democratiza as informações porém como os principais veículos de produção de notícias e entretenimento estão vinculados a grandes grupos econômicos nem sempre se tem uma pluralidade de informações e de posições sobre os variados temas A internet possibilitou que fossem se desenvolvendo mecanismos alternativos de informações vinculados a blogs e as redes sociais e isso foi fundamental para a comunicação entre os membros e apoiadores dos movimentos sociais tal como argumenta Manuel Castells 2013 1 A sociedade de massa pode ser pensada a partir de uma organização social em que a boa parte da população está vinculada à produção e ao consumo de bens e serviços além de possuírem certos comportamentos típicos e sofrerem a influência dos meios de comunicação de massa A respeito do tema podemos afirmar I A sociedade de massa leva à criação da sociedade de consumo II A massa faz com que os indivíduos se conformem com as relações e estruturas sociais III O próprio indivíduo perde força na sociedade de massas pois ocorre uma homogeneização das diferenças Assinale a alternativa que apresenta as afirmações corretas a I apenas b I e II apenas c II e III apenas d III apenas e I II e III Faça valer a pena U4 A sociologia na era da informação 225 2 Segundo Giddens 2012 as principais empresas de mídia são multinacionais e possuem sede nos países desenvolvidos Elas possuem muito poder e recursos econômicos São exemplos a CNN a Fox a Sony a Warner a Disney entre outras Diante do que apresenta o texto analise as seguintes asserções I Empresas midiáticas multinacionais podem limitar a cobertura jornalística ao que é de seu interesse ou dos governos de onde estão sediadas PORQUE II O maior risco do poder exagerado dessas empresas é o estímulo a uma visão de mundo extremamente democrática Acerca dessas asserções assinale a opção correta a As duas asserções são proposições verdadeiras e a segunda é uma justificativa correta da primeira b As duas asserções são proposições verdadeiras mas a segunda não é uma justificativa da primeira c A primeira asserção é uma proposição verdadeira e a segunda uma proposição falsa d A primeira asserção é uma proposição falsa e a segunda uma proposição verdadeira e Tanto a primeira quanto a segunda asserções são proposições falsas 3 A sociedade de tem como características grande parte da está envolvida com a produção a distribuição e o de bens e são muito influenciados pelos meios de de massa Essa sociedade está relacionada com a sociedade do Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas das frases acima a consumo população transporte comunicação entretenimento b economia comercialização lucro transporte lucro c massa população consumo comunicação consumo d classes mercadoria comércio revolução capital e massa economia lucro comércio consumo ADORNO Theodor W A indústria Cultura In COHN Gabriel Org Comunicação de Massa e Indústria Cultural São Paulo Companhia Editora Nacional 1978 ADORNO Theodor W HORKHEIMER Max A dialética do esclarecimento Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1995 Temas básicos da sociologia São Paulo EduspCultrix 1973 ANTUNES Ricardo O neoliberalismo e a precarização estrutural do trabalho na fase da mundialização do capital In SOUTO MAIOR Jorge Luiz et al Direitos humanos essência do direito do trabalho São Paulo LTr 2007 Desenhando a nova morfologia do trabalho as múltiplas formas de degradação do trabalho Revista Crítica de Ciências Sociais Coimbra Portugal Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra nº 83 dez2008 ARBEX JR José Showrnalismo a notícia como espetáculo São Paulo Casa Amarela 2001 ARENDT Hannah Origens do totalitarismo São Paulo Companhia das Letras 1998 BAUDRILLARD Jean A sociedade de consumo Portugal Edições 70 2008 BAUMAN Zygmunt MAY Tim Aprendendo a pensar com a Sociologia Rio de Janeiro Zahar 2010 CASTELLS Manuel A sociedade em rede São Paulo Paz e Terra 2000 O poder da identidade São Paulo Paz e Terra 2001 Rede de indignação e esperança Rio de Janeiro Zahar 2013 CAVALCANTE Zedequias Vieira e SILVA Mauro Luis Siqueira A importância da Revolução Industrial no mundo da tecnologia VII EPCC Encontro Internacional de Produção Científica Maringá CESUMAR outubro 2011 COSTA Cristina Sociologia questões da atualidade São Paulo Moderna 2010 DÁVILA Roberto Entrevista MayanaZats sd Duração do vídeo 552 min Globo News Disponível em httpg1globocomglobonewsroberto davilavideosvrobertodavilaageneticistamayanazatz6356283 Acesso em 29 jan 2018 DELEUZE Giles Conversações São Paulo Editora 34 1998 Referências FEENBERG A Transforming Technology New York Oxford University Press 2002 FOUCAULT Michel Ciência e Saber In A Arqueologia do Saber 8 ed Rio de Janeiro Forense Universitária 2012 A ordem do discurso São Paulo Editora Loyola 2010 Microfísica do Poder Rio de Janeiro Edições Graal 1979 GIDDENS Anthony Sociologia Porto Alegre Penso 2012 HARVEY David Condição PósModerna São Paulo Edições Loyola 2004 INSTITUTO CPFL Ética no cotidiano com Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho 9 abr 2015 Duração do vídeo 5209 min Disponível em httpwwwinstitutocpflorgbrplayeticanocotidianomariosergio cortellaeclovisdebarrosfilho Acesso em 29 jan 2018 KUHN Thomas S A estrutura das revoluções científicas 5 ed São Paulo Editora Perspectiva SA 1997 LATOUR Bruno Ciência em ação São Paulo Unesp 2000 LATOUR Bruno Jamais fomos modernos Rio de Janeiro Editora 34 1994 MACIEL Maria Lucia Hélices sistemas ambientes e modelos os desafios à Sociologia da Inovação In Sociologias Porto Alegre ano 3 nº 6 juldez 2001 MARCUSE Herbert Cultura e sociedade São Paulo Paz e Terra 1998 Algumas implicações sociais da tecnologia moderna In Kellner D Ed Tecnologia guerra e fascismo São Paulo Unesp 1999 MATOS Francisco Gomes Ética na Gestão Empresarial São Paulo Saraiva 2012 MATTOSO Jorge A desordem do trabalho São Paulo Scritta 1995 MEDEIROS José Adelino e MEDEIROS Lucília O que é tecnologia São Paulo Brasiliense 2000 MEDEIROS Soraya Maria de ROCHA Semiramis Melani Melo Considerações sobre a 3ª Revolução Industrial e a força de trabalho em saúde em Natal Ciência e Saúde Coletiva 92 Rio de Janeiro Junho 2004 MEKSENAS Paulo Pesquisa social e ação pedagógica São Paulo Edições Loyola 2002 OCDE Manual de Oslo Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação 3 ed Paris OCDE 2005 OLIVEIRA André J Entrevista Mario Sergio Cortella Não basta ter informação é preciso saber o que fazer com ela 23 ago 2017 Revista Galileu Disponível em httprevistagalileuglobocomCiencianoticia201708 mariosergiocortellanaobastaterinformacaoeprecisosaberoque fazercomelahtml Acesso em 24 jan 2018 ORTEGA Y GASSET José A rebelião das massas Rio de Janeiro Livro Iberoamericano 1962 PERRIN Fernanda Automação vai mudar a carreira de 16 milhões de brasileiros até 2030 In Folha Uol 21 jan 2018 Disponível em http www1folhauolcombrmercado201801195190416milhoesde brasileirossofreraocomautomacaonaproximadecadashtml Acesso em 29 jan 2018 PINHEIRO Nilceia Aparecida et al Ciência tecnologia e sociedade a relevância do enfoque CTS para o contexto do Ensino Médio In Ciência Educação v 13 nº 1 Bauru Unesp 2007 POCHMANN Marcio O Emprego na Globalização a nova divisão internacional do trabalho e os caminhos que o Brasil escolheu São Paulo Boitempo 2002 QUALMAN Erik Socialnomics Como as mídias sociais estão transformando a forma como vivemos e fazemos negócios São Paulo Saraiva 2011 QUEIROL Ricardo BAUMAN Zygmunt As redes sociais são uma armadilha In El PaisCultura 9 jan 2016 Disponível em httpsbrasil elpaiscombrasil20151230cultura1451504427675885html Acesso em 8 fev 2018 SANTOS Milton Por uma outra globalização Rio de Janeiro Record 2000 SANTOS Laymert Garcia dos Politizar as novas tecnologias o impacto sóciotécnico da informação digital e genética São Paulo 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