·
Psicologia ·
Psicanálise
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Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 113 ISSN 19821093 A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO NA PSICANÁLISE THE CONSTITUTION OF SUBJECTS IN PSYCHOANALYSIS Luciane Sbardelotto1 Daniele Ferreira2 Maria Ines Luzzi Peres3 Ana Maria Moreno de Oliveira4 Recebido em novembro de 2016 Aceito em março de 2017 1Discente do 4º ano do curso de psicología da UNIPAR Universidade Paranaense Campus Cascavel Email lucianesbarde lottogmailcom Endereço Rua Rodrigues Alves 1786 Parque São Paulo Cascavel PR CEP 85803690 2Discente do 4º ano do curso de psicología da UNIPAR Universidade Paranaense Cam pus Cascavel Email daniele13ferreira hotmailcom Endereço Rua Tranquilo Noro 720 Parque Verde Cascavel PR CEP 85807860 3Discente do 4º ano do curso de psicología da UNIPAR Universidade Paranaense Campus Cascavel Email milleperes hotmailcom Endereço Rua Erechim 1354 Centro Cascavel PR CEP 85803690 4Docente e Supervisora de estágio em Psi cología Clínica do curso de Psicologia da Universidade Paranaense UNIPAR Cam pus Cascavel Psicóloga clínica Email ana mariauniparbr SBARDELOTTO L FERREIRA D PERES M I L OLIVEI RA A M M de A Constituição do sujeito na psicanálise Akró polis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 Resumo Este artigo tratase de uma revisão bibliográfica tendo como objetivo discorrer sobre a constituição do sujeito para a psicanálise o qual tratase do sujeito do inconsciente o sujeito barrado constituído por meio dos processos de alienação e separação Para tanto utilizou se como base a obra de Freud Lacan e outros autores da psicanálise Discorresseá primeiramente sobre o processo de alienação contem plando os conceitos de Estádio do Espelho a relação com o outro se melhante a formação do eu ideal e a formação do registro imaginário posteriormente abordaremos o processo de separação explanando sobre o que se denomina de os três tempos do Édipo a relação com o grande Outro a formação do Superego e o registro simbólico na sequência abordaremos o campo do real e sua relação com o objeto a e para finalizar explanaremos sobre a saída para as três estruturas psíquicas possíveis na psicanálise que são a neurose a psicose ou a perversão PalavRaschave Alienação Constituição do sujeito Estruturas Psica nálise Separação abstRact This paper presents a literature review aiming to discuss the constitution of the subject for psychoanalysis which addresses the subject of unconsciousness the barred subject constituted by means of alienation and separation processes In order to do this the works of Freud Lacan and other psychoanalysis authors are used as a basis It will first address the alienation process contemplating the concepts of Mirror Stage the relationship with peers the formation of the ideal self and the formation of the imaginary register then it will cover the process of separation explaining the three times of Oedipus the re lationship with the Other the formation of the Superego and the sym bolic register it will go on to discuss the actual field and its relation to the object and finally it will explain the output for the three possible psychic structures in psychoanalysis namely neurosis psychosis or perversion KeywoRds Alienation Constitution of the subject Psychoanalysis Se paration structures 114 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 INTRODUÇÃO Ao nascer estão presentes no bebê os instintos os quais estão ligados à manutenção da vida e que buscam ser satisfeitos Para que haja a satisfação dos instintos é necessário um objeto do mundo externo um objeto real pelo qual ele obterá sua finalidade que é a satisfação No entanto o bebê ao nascer não possui maturi dade biológica e psíquica capaz de garantir sua sobrevivência se faz necessário para tal que um outro semelhante um adulto realize uma ação específica capaz de satisfazer as necessidades da criança FREUD 1985 FREUD 1915 Ao ser realizada a ação específica o bebê tem uma experiência de satisfação a qual dei xa marcas no aparelho psíquico chamadas de marcas mnêmicas imagens perceptuais que se rão resgatadas de forma alucinatória assim que uma nova necessidade emergir FREUD1895 O que se alucina é a Coisa a qual su postamente teria salvado o bebê do completo desamparo inicial O seio materno poderia ser aqui um representante dessa Coisa e é a bus ca pela Coisa que inaugura em Freud o con ceito de desejo O desejo estaria assim ligado a uma falta falta da Coisa pela qual o bebê se viu salvo do desamparo O que se deseja é a Coisa que teria o poder de dar a plenitude ao bebê ou seja ser um sujeito autossuficiente sem faltas MURANO 2006 Em Freud 1915 a pulsão é o que está ligada a esse desejo que é marcado pela falta do objeto Essa falta seria de algo que se teve na primeira experiência de satisfação e que se perdeu Esse objeto faltoso em Lacan recebe o nome de objeto a objeto pequeno a o qual não seria um objeto perdido de fato mas sim um ob jeto que nunca se teve na realidade A falta seria assim constitutiva do ser humano e o objeto a atuaria como causa do desejo JORGE FER REIRA 2005 A condição natural de desamparo vivida pelo bebê ao nascer lhe obriga a se relacionar com um outro ser humano para que se garanta a manutenção da vida ou conforme Lacan se assujeitar ao campo do Outro Ao tratar da cons tituição do sujeito Lacan 1964a diz que o su jeito se constitui no campo do Outro imerso da linguagem e efeitos de operações da alienação e separação É esse Outro quem vai nomeando o bebê é ele quem diz ao bebê quem ele é como ele é o que ele sente e nessa operação de nomeação o que vai sendo inserido são significantes que não são do bebê eles são do Outro O bebê vai tomando para si esses ditos do Outro e a partir disso vai ocorrendo o processo que se denomi na de alienação ao Outro QUINET 2012 A condição de desamparo em que o bebê vem à vida faz com que ele se experimente como um corpo despedaçado sem significação e esse caos só se consegue suportar na relação com o Outro A alienação é uma via de salva ção ela é necessária para suportar o despeda çamento do Eu Contudo se assujeitar ao Outro implica em se assujeitar ao desejo desse Outro SIRELLI 2010 O sujeito não pode se desenvolver preso ao desejo do Outro é necessário se separar do Outro para se constituir a partir do seu próprio desejo É a separação que torna o sujeito dese jante desejante porque ao se separar do Outro sua falta é evidenciada e é a falta que move o sujeito em direção a realização do seu desejo LACAN 1964 O sujeito em psicanálise diz do sujeito do inconsciente só existe sujeito se existir falta é ela que funda o sujeito e ela só aparece se hou ver a separação desse Outro É na separação que se funda o inconsciente ocorre uma sepa ração entre o Eu e o Sujeito Sendo assim o su jeito em psicanálise não se trata de um ser de carne e osso propriamente dito o sujeito não nasce ele se constitui por meio do campo da linguagem na relação com o Outro É na relação com o outro que significantes vão sendo dados ao bebê e que ao se articularem vão gerando sentido ELIA 2010 É nessa relação com o Outro na produ ção de sentido que vão sendo constituídos três registros psíquicos que se articulam e consti tuem o sujeito Para Lacan três registros formam o aparelho psíquico são eles o registro imagi nário I o registro simbólico S e o real R Es ses registros estão relacionados com o circuito do desejo do sujeito ou seja o tipo de relação que o sujeito tem com o seu desejo como ele se posiciona diante dele GARCIAROZA 2009 Para que se tenha um sujeito é necessário que os três aros sejam amarrados O que faz essa amarração é o que se denomina de Nomedo Pai uma lei simbólica que funda a falta funda o inconsciente JORGE FERREIRA 2005 Sendo assim este trabalho tem o obje tivo demonstrar a constituição do sujeito para a 115 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 psicanálise discorrendo primeiramente sobre o processo de alienação contemplando dentro dele o Estádio do Espelho a relação com o outro semelhante a formação do eu ideal e a forma ção do registro imaginário posteriormente será abordado o processo de separação explanando sobre o que se denomina de os três tempos do Édipo a relação com o grande Outro a formação do Superego e o registro simbólico na sequên cia abordasseá o campo do real e sua relação com o objeto a e para finalizar será explanado sobre a saída para as três estruturas psíquicas possíveis na psicanálise Salientase que os processos os quais serão discorridos serão separados para fins meramente didáticos o processo de alienação e separação assim como a formação dos três registros I S e R ocorrem ao mesmo tempo e não em etapas definidas 1 A ALIENAÇÃO E O PEQUENO OUTRO RE GISTO IMAGINÁRIO Anteriormente a perda do objeto da pri meira experiência de satisfação a Coisa há um processo denominado de autoerotismo Nes se processo inicial a pulsão energia que instiga constantemente o organismo à ação está liga da a autopreservação da vida e se satisfaz no por meio de apoio nas funções vitais é esse processo de apoio que propicia a emergência da pulsão FREUD 1915 GARCIAROZA 2009 O período em que o bebê não possui a percepção da unidade do corpo é o autoerotis mo isso é decorrente da imaturidade do sistema nervoso que faz com que a criança fantasisti camente se veja como um corpo despedaçado QUINET 2012 No início da vida devido a não existir um Eu formado ainda as pulsões e ins tintos se satisfazem nos próprios órgãos A essa forma de satisfação se dá o nome de autoero tismo Conforme Freud 1915 p 139 Original mente no próprio começo da vida mental o ego é catexizado com os instintos sendo até cer to ponto capaz de satisfazêlos em si mesmo Denominamos essa condição de narcisismo e essa forma de obter satisfação de autoeróti ca No autoerotismo o bebê não possui uma imagem unificada de seu corpo não há um Eu formado para que a libidopulsão seja investi da assim a libido se dirige aos próprios órgãos como objetos de satisfação GARCIAROZA 2009 Um Eu não presente desde o início da vida é frisado por Freud Posso ressaltar que estamos destinados a supor que uma unidade comparável ao ego não pode existir desde no indivíduo desde o começo o ego tem de ser desenvolvido Os instintos autoeróticos contudo ali se encon tram desde o início sendo portanto neces sário que algo seja adicionado ao autoero tismo uma nova ação psíquica a fim de provocar o narcisismo FREUD 1914 p 84 É esta ação psíquica que inaugura o pro cesso de formação do Eu e a partir desse primei ro esboço do Eu a pulsão que era dirigida para os órgãos passa a se investida no Eu O nar cisismo é um processo que se caracteriza pela pulsão colocar o Eu como seu objeto FREUD 1914 O processo de autoerotismo e narcisismo correspondem em Lacan ao Estádio do Espelho É no Estádio do Espelho que ocorre a instala ção do primeiro esboço do Eu que se forma por meio do reconhecimento da imagem corporal um reconhecimento de que eu sou eu ou seja uma identificação consigo mesmo por meio da imagem do outro CHEMAMA 1995 Anteriormente a este estágio a criança se percebe como fragmentada a unificação da imagem se dá perante o reconhecimento da pró pria imagem que é confirmada por um Outro É nessa experiência de identificação da imagem corporal no espelho que o bebê jubila ao se re conhecer eu sou eu GARCIAROZA 2009 O Estádio do Espelho em Lacan 1949 também está ligado ao registro do imaginário que se funda no processo de alienação ao outro semelhante o adulto capaz da ação psíquica em Freud 1914 É no outro semelhante que a criança pode se reconhecer o outro é quem é o espelho a criança reconhece seu corpo no cor po do outro o que traz o caráter imaginário deste processo SIRELLI 2010 Esse estádio vai dos 6 aos 18 meses aproximadamente e deve ser compreendido como uma identificação com a própria imagem sendo que tal identificação provoca no bebê uma transformação se forma a matriz simbólica em que o eu se precipita LACAN 1949 p 97 É essa identificação primária que possibilitará pos teriormente as identificações secundárias O Estádio do Espelho como formador 116 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 da função do Eu pode ser descrito em três tem pos O autoerotismo em Lacan seria um primei ro momento do Estádio do Espelho onde ao ser colocada diante de um espelho criança não se percebe e nem percebe o espelho ou seja a criança não se diferencia da mãe ela e a mãe são uma coisa só o mundo externo não é per cebido Em seguida num segundo momento a criança vê no espelho um outro o que é facil mente verificável na atitude da criança de beijar tentar pegar cheirar lamber a imagem no espe lho que é o que ela também faz com as outras pessoas há aqui uma confusão entre o eu e o outro SIRELLI 2010 CHEMAMA 1995 O que impulsiona a evolução do esta do de narcisismo primário é a condição natural do ser humano de dependência e desamparo É por meio de um outro externo a ele que o bebê obtém a satisfação de suas necessidades FREUD 1915 Os instintos de autopreserva ção causam necessidades corporais as quais são indispensáveis para a manutenção da vida condicionando um relacionamento com o mundo externo para obter satisfação e a consequente manutenção da vida GARCIAROZA 2009 Esse objeto do mundo externo pode ser representado aqui pela mãe ou quem exerce a função materna e mais especificadamente o seio aquilo que lhe fornece alimento O bebê não percebe um dentro e um fora ele não tem a noção da mãe como um todo segundo Freud 1915 p 158 Na medida em que os objetos externos oferecidos sejam fontes de prazer eles são recolhidos pelo Eu que os introjeta em si e inversamente tudo aquilo que em seu próprio interior seja motivo de desprazer o Eu expele de si É por esse motivo que se diz que no narcisis mo primário temse um Eu purificado ou Eu do prazer e isso é fruto da incorporação do objeto que lhe causa satisfação que é do mundo exter no É a incorporação do objeto que vai desenvol vendo o Eu FREUD 1915 Temos então o terceiro momento do Es tádio do Espelho no qual a criança se vê no espelho e volta seu olhar a um Outro que pode ser a mãe o pai o cuidador que confirma a ela que ela é ela como diz Lacan 1949 p99 é condição necessária a visão de um congênere não importa o sexo é o olhar do Outro A crian ça verifica se o Outro percebe que ela se per cebeu O olhar do Outro sustenta a experiência da criança Aqui estaria o ato psíquico do qual Freud 1914 diz ser necessário para a passa gem ao narcisismo primário Segundo Lacan 19531954 p 96 a forma total do corpo humano dá ao sujeito um domínio imaginário do seu corpo prematuro em relação ao domínio real e ainda salienta que o Estádio do Espelho corresponde à primeira experiência em que o homem passa pela ex periência de que se vê se reflete e se concebe como outro que não ele mesmo sendo que tal experiência é essencial para a estruturação do imaginário e a vida de fantasia do sujeito No estádio do espelho a criança jubila ao ter a sensação de domínio do corpo uma satisfação narcísica de saberse um corpo O narcisismo primário representa a onipotência dada por essa sensação de domínio do corpo e pela manutenção desse estado devido o investi mento narcísico dos pais no bebê NASIO 1997 QUINET 2012 Os pais projetam seus sonhos seus an seios ou seja seu ideal de eu no bebê o bebê é tido para os pais como perfeito todo podero so fato traduzido por Freud 1914 como sua majestade o bebê No entanto o que os pais projetam no bebê não é algo real mas sim supo sições de tal perfeição É por intermédio da linguagem que o bebê vai sendo inserido na ordem simbólica e vai percebendo seu lugar no desejo do Outro A medida que o Outro por meio da linguagem articula o objeto do seu desejo na mensagem destinada à criança é que a criança vai se identi ficando como objeto de desejo do Outro e busca sêlo a partir da formação de um eu ideal SI RELLI 2010 Identificação significa ser igual a algo assim ao se identificar com o outro a mãe ou quem exerça a função materna o bebê toma como seu o ideal do eu do outro formando aqui seu eu ideal FREUD 1914 É o eu ideal não correspondente ao ver dadeiro Eu mas sim um ideal de um outro que da a característica imaginaria desse processo A imagem especular formada no espelho não é a imagem do Eu mas sim do outro Contudo ape sar dessa imagem ser enganosa é a partir dela que o bebê vai se reconhecer SIRELLI 2010 Com isso ao mesmo tempo que se for ma uma primeira imagem do Eu o Eu se perde Ao se identificar com o outro o Eu se aliena na imagem que é do outro O Eu aqui está constitu ído pelo outro o Eu é o outro Assim se diz que no Estádio do Espelho há um desconhecimento do Eu O Eu é uma ilusão a imagem do próprio 117 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 corpo é enganosa imaginária QUINET 2012 Essa relação imaginária é chamada de relação dual é demarcada pela percepção de um dentro e um fora uma consciência que logo se perde O que caracteriza a relação dual não é uma relação entre dois sujeitos mas sim a não distinção entre o que de si mesmo e do outro A sensação de domínio e completude do bebê é ilusória pois o narcisismo não é simplesmente uma relação consigo mesmo mas uma relação consigo mesmo através do outro com o qual ele se identifica e se aliena O momento do narci sismo primário é o momento da alienação do Eu GARCIAROZA 2009 A identidade assumida no Estádio do Espelho é uma identidade alienante o Eu tem uma ilusão de autonomia captado pelo desejo do outro o Eu se desconhece se perde no outro A alienação é um véu que mascara a falta dos dois sujeitos sendo assim o que se liga de um no outro é a falta de cada um LACAN 1964 O processo de alienação é necessário para a constituição do sujeito pois o despedaça mento do corpo a falta de sentido só é vencida por meio do investimento de um Outro no bebê ELIA 2010 Lacan 1964b p 205 faz uso da dialética do escravo para explicar essa importân cia do processo de alienação sendo que não há liberdade sem a vida mas não haverá para ele vida com liberdade ainda usa o termo não há algo sem outra coisa Nessa dialética de senhor e escravo é que bebê e mãe completam se alienam A imagem da criança unificada esca moteia a falta e o despedaçamento originário do sujeito A alienação não é percebida pelo sujeito mas ela causa efeitos o outro vira um intruso que invade e rivaliza com ele QUINET 2012 O momento da alienação o momento em que o bebê aceita a posição de escravo é o momento em que o bebê assume a posição de objeto do Desejo da mãe devido a identificação com a falta dessa mãe Isso confere o caráter de Desejo imaginário alienado no outro MELLO 2007 A alienação é como um véu véu que mascara a falta na alienação o bebê não tem falta a fata é mascarada Na alienação quem deseja é o Outro e não o sujeito Para que o sujeito emerja se faz necessário o processo de separação é preciso se separar do Outro para se constituir o próprio desejo mesmo que este desejo seja o desejo do grande Outro MURA NO 2006 Assim a alienação é um processo que precisa ser superado dando espaço a um pro cesso chamado de separação no qual acontece uma tentativa de o sujeito se separar do Outro sair da posição de objeto do desejo do Outro e passar a condição de sujeito desejante LA CAN1964 No registro imaginário a falta é como se não existe existe uma relação de completu de entre o eu e o objeto Para que haja falta é necessário a entrada no registro simbólico pois sem falta não há desejo e sem desejo não há sujeito MELLO 2007 2 A SEPARAÇÃO E O GRANDE OUTRO RE GISTRO DO SIMBÓLICO O simbólico é um conceito na psicanálise que se baseou nos estudos de LéviStrauss em que ele diz que a cultura é um conjunto de sistemas sim bólicos e que esses sistemas simbólicos não são constituídos a partir do momento em que traduzimos um dado externo em símbolos mas ao contrário é o pensamento simbólico que constitui o fato cultural ou social só há social porque há o simbólico Esse simbólico LéviStrauss identificao como a função sim bólica ou o que vem a dar no mesmo com as leis estruturais do inconsciente GAR CIAROZA 2009 p 175 A entrada na dimensão simbólica se dá por meio da cultura O bebê não possui a prin cípio uma estrutura de linguagem uma rede de signos que o possibilite a comunicação esta rede necessita ser estruturada É o Outro que pode ser a mãe a princípio quem enviará seus significantes ao bebê É na relação entre sujeito e estrutura simbólica que advém o Outro o su jeito do inconsciente MELLO 2007 Cabe salientar que nessa relação com o Outro onde por meio da linguagem os signifi cantes vão sendo inscritos no sujeito o sujeito não é passivo ou seja O significado dado ao encontro com o Outro depende portanto do significante é dele subsidiário mas não é por ele totalmente determinado exigindo o trabalho de significação que é feito pelo sujeito ELIA 2010 p 42 Quando se fala em sujeito para a psica nálise tratase do sujeito do inconsciente sujeito dividido ou sujeito barrado O sujeito é o que um significante representa para outro significante 118 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 ou seja uma coisa só é uma coisa em relação a algo WISNIEWSKI 1989a O que gera a significação é a articulação entre significantes que ocorre no inconsciente no Outro sendo que o inconsciente baseado no descrito acima sobre o conceito de simbólico é uma lei de articulação e não uma coisa ou um lugar onde essa articulação se dá As sim sendo a cisão produzida na subjetivida de pela psicanálise não deve ser entendida como a divisão de uma coisa em dois peda ços mas como uma cisão de regimes de for mas de leis GARCIAROSA 2009 p174 O inconsciente é o Outro a outra cena é o lugar dos significantes e onde eles se articu lam A princípio a criança não tem seu Outro o Outro é a mãe a criança necessita se apropriar dos significantes dela para a partir daí fundar seu próprio inconsciente seu Outro Isso só é possível se houver a quebra da relação alie nada ou seja tem que haver a separação um novo significante precisa se inscrever na relação para que a articulação dos significantes acon teça esse significante é o chamado Nomedo Pai ou Lei do Pai ou ainda metáfora paterna Assim segundo Quinet 2012 p 28 O Nome doPai é um significante estruturador de todos os significantes que constituem o inconsciente como discurso do Outro e ainda O resultado da metáfora paterna é a inclusão do Nomedo Pai no lugar do Outro conjunto de significantes e o acesso à significação fálica que permite ao sujeito se situar como homem ou mulher na par tilha dos sexos QUINET 2012 p 29 A Lei do Pai significa aquele que dá li mites que separa que corta a relação de com pletude entre mãe e bebê e que os lembra que o desejo é do impossível MELLO 2007O Complexo de Édipo a separação diz respei to a interdição do desejo e marca a passagem do Imaginário para o Simbólico por mais que o Simbólico esteja presente desde o início e ainda culmina com a fundação do sistema consciente préconsciente e inconsciente GARCIAROZA 2009 Assim o registro simbólico e o advento do sujeito estão ligados à separação do Outro que consiste em um processo de simbolização em que o sujeito sai da posição de objeto do de sejo da mãe e passar a uma relação de satisfazer o seu próprio Desejo ou seja passar de sujeito faltante para sujeito desejante sair da alienação WISNIEWSKI 1989b Essa operação de se paração diz da entrada da Lei do Pai pode ser explicada por meio da vivência do Complexo de Édipo que se dá em três tempos Lacan divide o édipo em três tempos o primeiro tempo tem como característica uma relação dual com a mãe o segundo tem como característica a inserção do pai na relação e o advento do simbólico o terceiro é marcado pela identificação com o pai e início da dissolução do édipo ou declínio GARCIAROZA 2009 21 PRIMEIRO TEMPO DO ÉDIPO O que caracteriza o primeiro momento do Édipo é a frustração e ser ou não o falo da mãe entra em questão JORGE FERREIRA 2005 Segundo Lacan 1964b p 207 É no que seu desejo está para além ou para aquém no que ela diz do que ela intima do que ela faz surgir como sentido é no que seu desejo é des conhecido é nesse ponto de falta que se consti tui o desejo do sujeito Ou seja no processo de identificação com o outro no Estádio do Espelho a criança se identifica também com a falta desse Outro com seu desejo e se põem a ocupar esse lugar faltoso do Outro ele se coloca como falo da mãe objeto da falta No entanto na interação com esse Outro o bebê percebe que este Outro lhe falta que a mãe não se dedica somente a ela o bebê percebe que não é só com o ele que a mãe conversa e que em alguns momentos a mãe não está com ele que não está com ele o tempo todo e nisso ele percebe que o Outro deseja fora dele que é barrado e que ele não é capaz então de ocupar o lugar de falo da mãe A falta que estava coberta pelo véu da alienação volta a ser escancarada e a única sa ída para o sentido é a via do desejo ou seja saber que lugar se ocupa no desejo do Outro e isso é feito por via da fantasia É por meio da fantasia que se tenta produzir o sentido de o que se é no desejo do Outro SIRELLI 2010 No primeiro momento do édipo a criança se vê como o falo da mãe o desejo do desejo da mãe e isso se dá porque a criança se identifica com a mãe O que predomina é o imaginário a alienação à mãe Não há aqui individualidade psíquica a relação é dual Esse período é o do narcisismo da onipotência da criança GARCIA ROZA 2009 Colocar o bebê na posição de objeto do desejo dos pais ou seja no lugar de falo é essencial para a estruturação psíquica dos 119 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 seres humanos é essa posição em que a crian ça é colocada que proporciona a humanização A criança tem que ser o falo da mãe para que se inscreva no simbólico JORGE FERREIRA 2005 Na relação com o Outro para a satisfa ção das necessidades o corpo do bebê vai sen do erogenizado e algo além da satisfação entra em jogo é o prazer A necessidade passa então a se transformar em uma demanda endereçada ao Outro que é de amor A demanda é de amor por que o objeto da satisfação se perdeu na pri meira experiência de satisfação e agora o bebê precisa se fazer amar pela pessoa que suposta mente possui esse objeto esse Dom O sujeito assim está barrado dividido faltoso por um sig nificante que se perdeu representado por esse objeto MELLO 2007 22 SEGUNDO TEMPO DO ÉDIPO O segundo momento do Édipo é onde ocorre a intensificação do registro simbólico e a entrada do pai como aquele que interdita barra a mãe em relação ao filho O pai priva ambos criança da mãe e mãe da criança e esta priva ção ira ocasionar a quebra do narcisismo primá rio pela Lei do Pai GARCIAROZA 2009 O que o pai priva com a Lei é o gozo do sujeito tido ao se colocar como objeto do Desejo da mãe A criança percebe então que o Desejo da mãe não pode ser seu objeto de gozo A Lei serve tanto para a criança como para a mãe no sentido de que proíbe também que a mãe colo que o bebê como seu objeto de gozo seu falo e para a criança mostra que a mãe é também ultrapassada por uma Lei maior que ela QUI NET 2012 O pai passa a ser o falo o pai é a lei ele tem o poder de interditar e deslocar o desejo da mãe O pai é um pai simbólico um o outro com o minúsculo O pai aqui ainda não é o pai real de carne e osso mas sim o pai que se presentifica por intermédio da fala da mãe no momento em que está se submete à Lei do Pai ela deve faltar GARCIAROZA 2009 É fundamental que a mãe reconheça que está submetida a Lei do pai Não é preciso a presença do pai como personagem Uma mãe viúva por exemplo pode perfeitamente exercer a função do pai real Basta que ela diga e de provas de que o objeto de seu de sejo não é o filho pois por detrás dela existe uma mulher que não tem o falo e justamente por isto vai buscar em um homem e não no filho o que ela não tem JORGE FERREI RA 2005 p 54 Aceitar sua própria castração isso faz com que a onipotência da mãe seja transferida para o pai que passa a ser quem possui o falo imaginário o Dom O filho tem de saber que ele não é o objeto de desejo da mãe que a mãe de seja o pai e é a mãe quem deve demonstrar isso ao bebê dizendo mostrando ou seja por meio da linguagem O pai assim reforça a frustração do primeiro tempo do Édipo JORGE FERREI RA 2005 O objeto de gozo da criança é o Desejo da mãe o que a lei faz é barrar o sujeito a esse gozo de ser o objeto da mãe lugar de objeto de gozo do Outro A castração é assim definida como um efeito da separação entre o bebê e a mãe MELLO 2007 A introdução do NomedoPai no lugar do Outro barra o acesso do sujeito ao gozo e ele não mais poderá ocupar o lugar de objeto do gozo do Outro a não ser na fantasia As sim o Outro como lugar dos significantes se torna o Outro como lugar da Lei Essa ope ração tem como resultado a instauração de uma falta que Freud chamou de castração que terá como consequência tornar o Outro inconsciente QUINET 2012 p 29 O pai castra o desejo de união com a mãe e esse desejo é então recalcado culminando na separação e clivagem dos sistemas consciente e inconsciente A criança não se vê mais como sendo o falo da mãe e passa a se questionar sobre ter ou não ter o falo a mãe deixa de ser a Lei agora quem tem o falo é o pai e ele é quem é a Lei GARCIAROZA 2009 23 TERCEIRO TEMPO DO ÉDIPO Freud caracteriza o que impulsiona a dissolução do Complexo de Édipo como conse quências de uma sequência de acontecimentos decepcionantes na vida do bebê segundo Freud 1924 p 195 a ausência da satisfação es perada a negação continuada do bebê deseja do devem ao final levar o pequeno amante a voltar as costas ao seu anseio sem esperança A primeira decepção da criança seria a retirada do seio em seguida a cobrança de que o bebê 120 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 defeque e então o desapontamento em perce ber a diferenciação sexual a qual faz emergir a ansiedade da castração O menino percebe mais cedo ou mais tarde que a menina não possui um pênis fato que ele acreditava assim ser e isso faz com que ele imagine a possibilidade de ele perder o seu Já a menina imagina que tinha um pênis e que foi castrada ou seja a castração é vista como um fato já consumado e sendo assim a ameaça de castração não ocorre na menina O que ela teme é uma perda de amor advinda da intimida ção de sua sexualidade feita pelos cuidadores FREUD 1924 Segundo Lacan 1958 o complexo de castração é o efeito da percepção da castração da mãe a qual seria a última pessoa a ser cas trada devido ela ser inicialmente o Outro pleno ou seja é a barra no desejo da mãe que faz emergir a angústia da castração devido a fazer o próprio sujeito se deparar com a sua própria castração A angústia da castração é que leva a criança ao jogo das identificações e o conse quente declínio do Complexo de Édipo O me nino renuncia ser o falo da mãe e identificase como aquele que é o detentor do falo a menina identificase com a mãe sob a forma de não ter mas de saber onde deve ir buscálo COSTA 2010 No menino isso se deve a impossibilida de de obtenção de satisfação do Complexo de Édipo pois a perda do pênis seria um fato Se ele se colocar como objeto da mãe o pai pode lhe castrar e se ele se identificar com a mãe ele não terá um pênis pois mulheres não o tem O Édipo da menina haveria uma mudança de ob jeto da mãe para o pai e a mudança de desejo de ter um pênis para ter um bebê o bebê entra ria como a possibilidade de ter o falo GARCIA ROZA 2009 FREUD 1924 É nesse jogo de identificações que o su jeito se posiciona sexualmente como homem ou mulher Há duas saídas para o menino se identi ficar com a mãe o que lhe dá o caráter feminino ou intensificar a identificação com o pai o que lhe dá o caráter masculino FREUD 1924 A sa ída para a menina é então se identificar com a mãe e ter o pai como objeto amoroso o que lhe confere a feminilidade ou ao se comparar com os meninos não aceitar sua castração e manter a ligação libidinal com a mãe o que lhe confere o caráter masculino COSTA 2010 O que possibilita o processo descrito aci ma são os mecanismos de introjeção identifica ção e dessexualização O sujeito introjetaria os pais colocariaos para dentro do seu aparelho psíquico se identificaria com eles ou seja se tornaria igual a eles e dessexualizaria os pais tirando sua libido deles e a partir daí dirigila a outros objetos Isso causa uma alteração no Eu que é chamada de Supereu que segundo Freud 1924 p 198 A autoridade do pai é introjetada no ego e aí forma o núcleo do superego que as sume a severidade do pai e perpetua a proibição deste contra o incesto defendendo assim o ego do retorno da catexia libidinal Repressão é o nome dado ao afastamento que o ego sofre da realidade diante do complexo de Édipo O supe reu guia como o sujeito deve ser quanto o que o sujeito não pode serter e com isso ele mantem realcado o Complexo de Édipo Quanto mais forte o Complexo de édipo e mais rápido for o recalque mais severo o superego será FREUD 1923 Esse processo descrito por Freud em termos Lacanianos é descrito como a entrada na ordem simbólica A dissolução do complexo de Édipo se dá devido a simbolização pois Tudo que se refere a libido à pulsão ao gozo está aprisionado nos impasses do ima ginário e no imaginário não há solução pos sível A libido aprisionada no círculo vicioso imaginário deve ser então integrada á ordem simbólica e traduzida em termos de desejo pois a questão do inconsciente só poderá ser resolvida no simbólico MELLO 2007 p 122 É necessário que haja simbolização do imaginário para que haja a falta e dela advenha o desejo Ao estar preso na alienação a falta é como se não existisse o bebê se vê completo na alienação É a Lei do Pai que promove a signi ficação do falo imaginário para o falo simbólico e marca a saída das relações objetais imaginá rias para outros objetos que poderão restaurar a completude MELLO 2007 Ocorre então a passagem do sujeito fal tante para o sujeito desejante A criança sai da relação de objeto com a mãe e passa a uma re lação de satisfazer o seu desejo e não o da mãe percebese a si como um ser passa a experiên ciar as coisas por si mesma GARCIAROZA 2009 WISNIEWSKI 1989b A internalização das figuras parentais 121 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 significa a interiorização da Lei do Pai e o o re calque do desejo É o recalque que então funda o inconsciente funda o Outro funda o sujeito Se houve recalque é porque ocorreu a identi ficação simbólica no édipo e os ditos dos pais foram introjetados dando origem ao Superego QUINET 2012 O Superego é a Lei e o que ela barra é o gozo e não o desejo barra o gozo do sujeito ao se colocar como objeto da mãe Esse gozo a partir da castração só poderá ser realizado a nível da fantasia O resultado disso é a falta que segundo Quinet 2012 p 29 terá como conse quência tornar o Outro inconsciente É a par tir da falta que o desejo pode emergir O que o Outro quer de mim é o que passa a articular o desejo inconsciente O terceiro momento do Édipo caracteri zarseia assim com a passagem do pai ao sim bólico um O grande outro com o maiúsculo o representante da Lei e não mais a Lei em si Aqui o pai também é castrado ninguém mais é visto como falo e nem como Lei GARCIA ROZA 2009 Ter ou não ter o dom caracteriza esta fase marcada pelo declínio do Complexo de Édipo e marcado pela simbolização da Lei O falo imaginário passa a ser simbólico reconhe cese que o pai é também castrado no entanto ele tem algo com valor de Dom Falo se refere ao símbolo do poder e completude Dom e não deve ser confundido com o órgão sexual mas culino JORGE FERREIRA 2005 GARCIA ROZA 2009 De maneira geral podese dizer que no processo de separação é preciso renunciar ao que nunca se foi e ao que nunca se teve mas que um dia se acreditou ser frustração e ter castração para que seja possível a simbo lização do falo como objeto de dom privação JORGE FERREIRA 2005 p55 3 OBJETO a E O REGISTRO DO REAL O sujeito precisa a princípio se alienar no campo do Outro para se salvar mas pos teriormente necessita dele se separar para se constituir como sujeito desejante A operação de separação é realizada no momento em que o significante Nome do Pai se inscreve como uma barra o que causa um corte no sujeito No entanto nesse corte parte da experiência é simbolizada e inscrita no aparelho psíquico fun dando os sistemas consciente e inconsciente mas uma outra parte permanece não simboli zável Esse não simbolizável é assim um resto da operação de separação é algo que cai que se desvela no momento da divisão é o objeto a SIRELLI 2010 O objeto a é do Real do não simbolizá vel ele não pode ser representado no simbólico Em sua vertente real designa das Ding resto resíduo produzido a partir da rela ção do ser vivente com o Outro rebota lho que não é representado no aparelho psíquico configurando um furo um va zio contornado por representações em torno do qual o inconsciente estrutura do como uma linguagem se funda SI RELLI 2010 p 38 É desse vazio que advém o desejo o ob jeto a é assim objeto causa do desejo e causa o desejo devido sua característica de impossi bilidade de recobrimento pelo significante ou seja não há objeto capaz de recobrir tal vazio O desejo que advém do vazio coloca o apare lho psíquico em movimento movimento rumo ao encontro de tal objeto que supostamente foi perdido supostamente porque na verdade o su jeito nunca o teve e que restituiria a satisfação completa SIRELLI 2010 O Desejo é fundado pela falta conforme Mello 2007 p 125 é um espaço vazio que se impõe a partir do simbólico entre um e o outro O Desejo é um vazio o qual move o sujeito na busca de encontrar um objeto que o preencha no entanto o Desejo é um vazio que nunca se preenche por ser estrutural do ser humano Isso nos remete ao que relatamos na introdução des te trabalho sobre a Coisa em Freud a qual se passa a vida a procurar mas que no entanto como diz Lacan é algo que nunca se teve A satisfação assim é sempre parcial por que não há objeto que de conta desse vazio deixado pela queda do objeto a e nem haveria de ter pois isso significaria a morte do sujeito sem desejo não há sujeito Assim buscase nos objetos substitutos algo que tampone essa falta esse vazio algo eu supostamente teria o poder de dar o sentido último a completude Esse ob jeto poderoso na psicanalise é o que o falo re presenta O falo é então aquilo que é visado pelo sujeito por ser investido como o que lhe falta para ser pleno MURANO 2006b p 32 Nesse sentido é que podese diferenciar o obje 122 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 to a do objeto da pulsão O objeto a é o objeto causa do desejo ele pertence ao Real ao não simbolizável enquanto que o falo é o objeto do desejo ou seja o objeto da pulsão que é do simbólico MURANO 2006b Não é possível reencontrar o objeto que supostamente traria a completude porque esse objeto na verdade nunca existiu a falta é estru turante do sujeito assim o movimento desejan te não se estanca de forma que todo encontro com o objeto guarda essa dimensão de encontro com a falta atualizando a certeza de que ain da não era bem isso promovendo um desloca mento metonímico do desejo e dos objetos que a ele se atrelam SIRELLI 2010 p 39 Esse ainda não era bem isso é expli cado por Elia 2010 pela passagem do campo da necessidade ao campo do desejo onde um terceiro elemento entra em cena a demanda Segundo ele baseado em Freud e Lacan na experiência de satisfação do bebê o objeto da necessidade chega até o bebê por alguém que o traz Se não tiver quem traga o objeto não che ga ao bebê Assim a criança passa não querer só o objeto mas também aquele que o traz Po demos dizer aqui que o objeto está relacionado ao pequeno outro e quem traz o objeto está re lacionado ao grande Outro A essência da de manda passa a ser então a presença do Outro e o sujeito passa a se mover em direção ao Outro capaz de trazer o objeto e não mais ao objeto em si O efeito dessa passagem da necessida de para o campo da demanda é o apagamento do rosto do objeto da necessidade porque ele é fragmentado pelo significante e se transforma em pulsão ELIA 2010 Aqui temse então dois aspectos ao ní vel da demanda se quer a presença o amor do Outro e pelo outro a pulsão o move em direção ao objeto perdido fragmentado pelo significan te que falta e que jamais fora conhecido pelo sujeito Assim o que habita a demandaamor é um objeto faltoso que é o objeto a e que causa o desejo no sujeito o objeto a é assim objeto cau sa Objeto do desejo e objeto causa são coisas diferentes quando o desejo se volta para objetos única coisa aliás que ele faz incessante mente ele o faz revestindo o objeto faltoso que o causa com alguma marca algum atri buto de significação que faz o objeto o alvo do desejo Causa e alvo no caso do dese jo portanto jamais coincidem ELIA 2010 p54 Os objetos que de alguma forma são elei tos como objetos do desejo no decorrer da vida do sujeito tem relação com aquilo que é visa do pelo sujeito por ser investido como o que lhe falta para ser pleno MURANO 2006b p32 é o falo para a psicanálise falo como representa ção de um objeto poderoso Nesse sentido é que podemos diferenciar o objeto a do objeto da pul são O objeto a é o objeto causa do desejo ele pertence ao Real ao não simbolizável do sem rosto enquanto que o falo é o objeto do desejo ou seja o objeto da pulsão MURANO 2006b Contudo a pulsão pode fazer vários ca minhos para obter satisfação e se utilizar de ob jetos diferentes para isso O objeto da pulsão é aquilo em que ou por meio de que a pulsão pode alcançar sua meta Ele é o elemento mais variável na pul são e não está originariamente vinculado a ela sendolhe apenas acrescentado em ra zão de sua aptidão para propiciar a satisfa ção Em rigor não é preciso ser um outro ob jeto externo pode muito bem ser uma parte de nosso próprio corpo Ao longo dos diver sos destinos que a pulsão conhecerá o ob jeto poderá ser substituído por intermináveis objetos FREUD 1915b p 149 A satisfação da demanda é assim impos sível pois ela é habitada pelo desejo e não por objetos Segundo Lacan 1958 p 340 Assim sempre desconhecemos até certo ponto o de sejo que quer fazerse reconhecer uma vez que lhe atribuímos seu objeto quando na verdade não é de um objeto que se trata o desejo é de sejo daquela falta que no Outro designa um ou tro desejo É isso que caracteriza que o que se pede nunca irá necessariamente coincidir com o que realmente se deseja assim se diz que há uma mentira estrutural na demanda A demanda não é formulada para ser satisfeita ELIA 2010 A satisfação assim é sempre parcial porque não há objeto que de conta desse vazio deixado pela queda do objeto a e nem haveria de ter pois isso significaria a morte do sujeito sem dese jo não há sujeito Assim buscase nos objetos substitutos algo que tampone essa falta esse vazio algo eu supostamente teria o poder de dar o sentido último a completude objetos que tem valor de falo MURANO 2006b O sentido as respostas que o sujeito 123 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 deseja e que o colocam em busca partem das questões que vem a tona na castração O que quer dizer tudo isso Que queres O que o Outro quer de mim Essas questões surgem diante do insuportável da falta e são respondi das por meio da elaboração da fantasia funda mental que visa às respostas para a falta ou seja a inconsistência do Outro de modo com que o mundo possa ser visto como dotado de sentido e consistente A fantasia é a resposta que faz borda ao vazio que a extração do obje to a causado pela castração deixou ou seja é um emaranhado uma teia de significantes que circula o objeto a articulando o sujeito com seu objeto causa do desejo A partir da castração o sujeito só pode viver o gozo na fantasia a qual diz de uma possibilidade de reencontro com o objeto perdido SIRELLI 2010 A fantasia se refere ao desejo de se en contrar novamente esse objeto a e com isso sermos plenos novamente poder gozar sem restrições MURANO 2006 Seria o retorno ao narcisismo primário ao qual se passa o resto da vida tentando retornar FREUD 1914 O ser hu mano cria a fantasia para preencher o vazio da falta insuportável ele veste objetos que supos tamente dariam a verdade última sobre o ser e é essa fantasia que passa a orientar o desejo e com isso a forma como o ser se relaciona com os outros e com o mundo MURANO 2006b é com uma fantasia fundamental que o sujeito veste sua faltaaser constituindo as sim sua subjetividade pela emergência de um desejo que marca um estilo próprio de ele se haver com o desejo do Outro tentando respondelo e salvandose assim da absoluta inconsistência e da confrontação insuportá vel com o real inapreensível MURANO 2006b p37 Todos os sujeitos irão passar pela con frontação da castração da falta do terrível do Real no entanto a forma com que cada sujeito ira lidar com a sua castração pode ser diferen ciada sendo que a forma como ele se posiciona rá frente ao Real diz do posicionamento do seu desejo A formação da fantasia fundamental diz de um posicionamento de recalcar seu desejo e de não querer saber sobre ele Essa forma de posicionamento é o que funda a estrutura deno minada de neurótica Temse ainda a estrutura perversa e a psicótica Essas três estruturas se rão descritas no item a seguir 4 SAÍDA PARA AS TRÊS ESTRUTURAS Existem três modalidades de defesa pos síveis na dissolução do complexo de édipo que também são chamadas de estruturas são elas neurose psicose ou perversão As três estrutu ras dizem de um modo singular de o sujeito arti cular os três registros que constituem o aparelho psíquico Imáginário Simbólico e o Real Dizem de uma estrutura de linguagem da relação do sujeito com o significante ou seja com o Outro Como o sujeito se posiciona frente a castração do Outro e assim com o seu próprio desejo A castração é um confrontarse com a realidade de que a plenitude é algo do impossível que a satisfação é sempre parcial que se é um ser fal tante e que é necessário renunciar a posição de objeto do desejo e tornarse por si um sujeito de sejante QUINET 2006 MURANO 2006 Segundo Freud 19241923 p 169 a estrutura da neurose se origina por recuarse o ego a aceitar um poderoso impulso instintual do Id ou a ajudálo a encontrar um escoador ou mo tor ou de o ego proibir aquele impulso o objeto que visa Em tal caso o ego se defende contra o impulso instintual mediante o mecanismo da repressão Isso se dá porque o Eu é a instancia psíquica que media a realização dos impulsos instintuais e a realidade externa A estrutura neurótica assim é uma de fesa de algo que diz do insuportável do Desejo que foi construído a partir do conflito entre o de sejo e aquilo que o censura com base no Ideal do Eu MURANO 2006b As exigências sociais éticas e culturais do mundo externo são vividas por todas as pes soas porém cada um reage a elas de maneiras distintas Algumas pessoas fazem o processo de recalcamento e outras não As pessoas que não recalcam é porque não formaram um Ideal ao qual mediriam seu Eu Não existe recalque sem um Ideal o Ideal é condicionante GARCIA ROZA 2009 FREUD 1914 O recalque atuaria então como o signifi cante NomedoPai que é uma barra um não a satisfação plena um não dado pelo Eu à deter minada representação intolerável à determina da moção pulsional que pede satisfação JOR GE FERREIRA 2005 p34 A barra divide o Eu e o sujeito ou seja cinde o aparelho psíquico em dois sistemas PréconscienteConsciente e Inconsciente JORGE FERREIRA 2005 Assim na estrutura da Neurose Verdran 124 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 gung denegase a castração mas conservaa no inconsciente recalcase a Lei aqui O Outro é barrado e se torna inconsciente isso faz com que o Eu se separe do Outro Essa negação irá retornar no simbólico com fenômeno de sintoma Um neurótico não recorda o que aconteceu na infância mas isso se mostra no sintoma QUI NET 2009 QUINET 2012 O desejo recalcado para o inconsciente luta contra o recalque pois ele quer ser satis feito e satisfeito na realidade no entanto para que isso aconteça ele tem que passar pelo Eu para se dirigir a um objeto do mundo externo Como quem o recalcou foi o próprio Eu o desejo se disfarça cria caminhos aos quais o Eu não exerce seu poder ou seja uma representação substitutiva de tal desejo que é o sintoma No entanto nesse processo o Eu acaba por se ver ameaçado pelo sintoma e passa a lutar contra ele da mesma maneira que lutou contra o dese jo original No caso da neurose o Eu entra em conflito com o Id a serviço do supereu herdeiro do complexo de édipo que internalizou as re gras da realidade FREUD 19241923 O sintoma se forma no momento em que a Lei faz a amarração entre os três registros psíquicos ISR Imaginário Simbólico e Real e vem como uma solução dada pelo sujeito frente ao real traumático da castração O sintoma do neurótico faz por um lado que seu desejo seja realizado e por outro ele demonstra que houve o recalcamento do Desejo O sintoma é efeito da entrada do simbólico no real e um sim a Lei NomedoPai É pelo sintoma que o sujei to expressa o que é mais difícil do seu Desejo MURANO 2006 MURANO 2006b JORGE FERREIRA 2005 Lacan fala do sintoma como uma másca ra do desejo ressaltando que o fato de o desejo humano não estar dire tamente implicado numa relação pura e sim ples com o objeto que o satisfaz mas estar ligado a uma posição assumida pelo sujeito na presença desse objeto e a uma posição que e assume fora de sua relação com o ob jeto de tal modo que nada jamais se esgota pura e simplesmente na relação com o obje to LACAN 1958 p 331 É o sintoma resultante da inserção da Lei que barra o Outro e o torna inconsciente que amarra os três registros do aparelho psíquico I S e R o sintoma é o quarto aro que tem uma função de suplência A realidade psíquica é estritamente vinculada ao Édipo que funciona para o neurótico como o sintoma que a susten ta QUINET 2006 p56 Temse como característica da estrutura ção neurótica a influência da realidade no recal que e a reação do Id contra essa repressão e o fracasso do recalque que acaba por formar o sintoma Temse ainda que a causa da repres são é conhecida mas o sujeito volta as costas para ela esquecendoa ou seja há na neurose uma fuga do fragmento da realidade que é in suportável e que tentase por meio da fantasia substituílo por uma realidade que esteja mais de acordo com os desejos FREUD 1924b Lacan 1958 diz que o desejo não é arti culável mas no entanto isso não quer dizer que ele possa ser articulado É por meio da fantasia que o neurótico faz esse processo É a fantasia que consiste na realidade psíquica singular do neurótico e é ela que vai operar como uma ma tiz psíquica que mediará as relações do sujeito com os outros e com o mundo JORGE FER REIRA 2005 Diferentemente da neurose que é o re sultado de um conflito entre o Eu e o Id na psi cose o conflito que se instala é entre o Eu e o mundo externo O mundo externo passa a não ser percebido ou sua percepção passa a não ter efeito algum sobre o indivíduo O eu na psico se cria um novo mundo externo e interno que segundo Freud 19241923 p 170 esse novo mundo é constituído de acordo com os impul sos desejosos do id e que o motivo dessa dis sociação do mundo externo é alguma frustração muito séria de um desejo por parte da realidade frustração que parece intolerável Essa nova realidade criada é uma forma de reparação do dano causado pelo afastamento do Eu da reali dade FREUD 1924b Baseandose na obra de Lacan na psi cose Verwerfung a forma de defesa contra o desejo é denominado de foraclusão do Nome doPai ou seja da Lei Foraclusão significa que não há a inclusão da Lei no lugar do Outro ou seja o Outro não é barrado e com isso não ocor re a divisão do aparelho psíquico em Consciente e Inconsciente Diferentemente do recalque que ocorre na neurose na foraclusão a represen tação psíquica que é insuportável é rechaçada como se nunca tivesse existido não existe traço algum da representação psíquica Podese di zer de outra forma que o psicótico não percebe 125 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 o limite não percebe a Lei não percebe a cas tração QUINET 2006 MURANO 2006 O que foi repudiado frente a realidade ou seja esse fragmento da realidade rejeitado é o que retorna sem parar para ser reparado O que foi rejeitado se impõem à mente da mesma forma como o que foi reprimido na neurose É o que em termos lacanianos se traduz em que a Lei não deixa de existir por que o psicótico não a percebeu ela é negada no simbólico mas re torna no real em forma de delírio e alucinação FREUD 1924b QUINET 2006 QUINET 2009 Uma das características da estrutura da psicose são os distúrbios de linguagem que ocorrem devido a foraclusão Para que haja a ar ticulação de significantes gerando significados e a entrada no mundo da linguagem é necessário que haja a falta de pelo menos um significante e essa falta só é inscrita no sujeito se houver a in ternalização da Lei como isso não ocorre na psi cose pois o Outro continua sendo o lugar dos significantes e não da Lei significante e signifi cado aparecem radicalmente separados Assim o sujeito só tem significado o que confere a falta de sentido a linguagem desconexa do psicótico QUINET 2006 QUINET 2009 Segundo Lacan 1958 o desejo do Ou tro não é simbolizado na psicose o que faz com que a fala do Outro não se torne inconsciente o Outro fica como o lugar da fala e assim fala com o sujeito e fica do lado de fora do sujeito Esse desejo esse Outro rejeitado no simbólico retor na no real em forma de alucinação que nada mais é do que o Outro como falante O sujeito fica assim segundo Lacan 1958 p 493 de pendente da estrutura significante do desejo do Outro Como não há divisão subjetiva no psicó tico a divisão que existe é no próprio Eu e o Outro acaba por estar fora Assim não há dialé tica nas ideias do sujeito e com isso não podem ser colocadas em dúvida e nem questionadas o psicótico tem certeza ao contrário do neurótico que por ter uma divisão subjetiva onde se tem um sim e um não a Lei a dúvida é sua caracte rística QUINET 2009 A foraclusão e a consequente não entra da no simbólico diz da não travessia do Édipo e assim podese dizer que o psicótico fica fixado no narcisismo primário na alienação onde ele não deseja nada é apenas um objeto do desejo do Outro Por falta de referência simbólica ele funciona no registro imaginário onde o outro é tomado como espelho e modelo de identificação imediata formando o eixo euoutro do estádio do espelho É como se o sujeito vivesse se equi librando em um banquinho de três pernas o su jeito na psicose tem assim uma semiestabilida de QUINET 2006 É a travessia do Édipo que possibilita a entrada no simbólico e o posicionamento do su jeito na partilha dos sexos ou seja simbolizar a questão sexual que no inconsciente não tem representação Como o psicótico não passa por esse processo existe aqui uma dificuldade de posicionamento do sujeito frente a sexualidade No momento em que o sujeito se confronta com alguma situação da vida na qual ele precisa se posicionar o psicótico se remete as suas ques tões imaginárias que desencadeiam o delírio e as alucinações que vem para suprir a falta desse significante COSTA 2010 O delírio é a forma que o psicótico tem de fazer as coisas adquirirem uma certa consistên cia O delírio supre a foraclusão ele é colocado no lugar onde ocorreu uma falha na relação do sujeito com a realidade assim o delírio é como uma ponte O delírio atua como um remendo algo que é costurado no lugar em que original mente uma fenda e abriu na relação do Eu com o mundo externo É no delírio que o psicótico constrói o que é chamado de metáfora delirante que consiste em criar algo que atue como subs tituto da Lei seria ele uma tentativa de entrada na Lei e barrar o gozo do Outro A estabilização do delírio ocorre quando a metáfora delirante entra no lugar do nome do pai foracluido pos sibilitando um sentido ao redor dela ou seja A indução do significante permitelhe instituir uma ordem apesar de delirante e reconstruir o mun do QUINET 2006 p43 O gozo que se trata aqui é um gozo além do sexo é um gozo consigo mesmo gozo por sua autossuficiência O sujeito goza com ele mesmo Porque tem o objeto a A não simboliza ção da Lei faz com que o sujeito viva no real do gozo absoluto não seja barrado e com isso não se funde o inconsciente ou seja não há falta no psicótico e consequentemente não há desejo O sujeito psicótico possui o objeto a ele é pleno não necessita do Outro para ter desejo e com isso vive no campo do Real O delírio é justa mente uma tentativa de separação do objeto a tentando localizar o gozo em algum objeto fora de si mesmo QUINET 2006 QUINET 2009 No psicótico o Outro não é barrado e 126 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 portanto ele é possuidor do objeto a sob a forma de voz e de olhar observados facilmente nos de lírios e alucinações É por isso que é caraterísti co no delírio o sujeito ouvir suas próprias vozes mas como se fosse de outra pessoa Na psicose quem fala para o sujeito é um Outro é uma voz que vem de fora dele e que o comanda pois o psicótico se coloca como objeto desse Outro QUINET 2012 Na estrutura perversa a forma de defesa do sujeito frente a castração é denominada de denegação ou desmentido Verleugnung Tal mecanismo é se caracteriza pela aceitação e não aceitação da Lei ao mesmo tempo ou seja um sim e um não simultâneos que culminam na cisão sobre o próprio Eu JORGE FERREIRA 2005 Diferente da psicose que o Eu cinde com a realidade na perversão o Eu se divide em duas partes contraditórias entre si onde uma parte aceita a castração do Outro e a outra a nega sem que uma crença anule a outra A par te que nega a castração fica ligada à realização do desejo e a outra parte fica ligada a realidade FERRAZ 2010 Na perversão a denegação sustenta a crença infantil de que todos possuem um pênis isso ocorre no momento em que a criança per cebe a diferença anatômica dos sexos e se vê tomada pela angústia da castração A sustenta ção dessa crença dificulta o processo de separa ção do Outro e o processo de simbolização que fazem com que o ato ação predomine sobre o pensamento FERRAZ 2010 A denegação da realidade está assim li gada à recusa de aceitar a percepção da reali dade da ausência do pênis na mulher na mãe Essa recusa demonstra uma atitude estritamen te infantil diante da castração da mãe que ape sar de ser percebida esta ausência é negada com o objetivo de neutralizar a angustia de cas tração Como a castração é no fundo percebida o pênis é encarnado em outro objeto do mundo real o objeto fetiche DOR 1991 O fetiche é uma das características da perversão é uma forma de negação da castra ção do Outro É um substituto para a falta do pênis na mulher e tem como característica ser uma presença que substitui uma ausência sig nificando portanto a realização de um desejo FERRAZ 2010 p46 Essa presença se dá de forma ilusória há aqui uma crença ilusória que desempenha o papel na vida psíquica de nega ção da castração da mulher O perverso não desconhece a castração do Outro ele conhece muito bem a Lei mas não quer saber dela ele a ignora não quer saber de limite algum O perverso é aquele que goza justamente na transgressão da Lei MURARO 2006 QUINET 2009 Transgressão da Lei que em um neuróti co acarretaria em culpa é o que no perverso lhe dá uma satisfação O perverso portanto não se encontra sujeito às insatisfações inibições ru minações de culpa dúvidas medos e todas as demais formas de tormento psíquico que nor malmente assolam os neuróticos FERRAZ 2010 p123 Assim o perverso vive em uma base narcísica de gozo excessivo o que faz com que dificilmente ele venha a sofrer dores psíqui cas que o levariam a procurar ajuda CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo discorreu sobre a cons tituição do sujeito para a psicanálise embasan dose na teoria de Freud e Lacan Ao nascer o ser humano é um corpo biológico ele não é um sujeito pois o sujeito tem que ser constituído Devido a condição de imaturidade tanto biológi ca quanto psíquica o bebê necessita de um ou tro semelhante que lhe garanta a satisfação de suas necessidades biológicas para garantir sua sobrevivência e é nessa relação com o outro que o sujeito irá advir Juntamente com a satisfação das necessidades vai ocorrendo a erotização do corpo que propicia que a pulsão apoiada no ins tinto advenha É nesse sentido que Freud diz que o Eu é a princípio um Eu corporal e que o sujeito é pulsional e não está presente desde o início Lacan explica a constituição do sujeito por meio das operações de alienação e separa ção Dentro do processo de alienação podese destacar que ao nascer o bebê é imerso em uma cultura a qual o bebê tem que ser inserido e é o Outro quem vai dando os significantes que vão mostrando para a criança quem ela é e como o mundo é No entanto esses ditos são do Outro e não da criança a criança em um primeiro mo mento se aliena a esses ditos como forma de dar sentido a si mesma e ao mundo até o momen to em eu por si mesma ela consiga dar sentido a sua própria existência Um outro aspecto da alienação é a alienação ao desejo do outro se colocar na posição de objeto do desejo do outro 127 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 para com isso suportar a angústia e o desampa ro natural dos seres humanos A alienação atua como um véu que mascara a falta tanto da crian ça como da mãe A alienação é necessária para a consti tuição do ser humano porém na alienação o ser não é um sujeito na alienação o bebê não dese ja por si só ele está preso em uma relação onde ele só é por meio do Outro e ainda essa relação da a ilusão de que o ser é completo e sem faltas e consequentemente a criança não é um ser desejante Assim a alienação precisa dar espa ço ao processo de separação o qual possibilitara o advento do sujeito desejante tratase do su jeito do inconsciente que diferentemente do Eu que segue o princípio da realidade e da cons ciência segue a lógica do desejo inconsciente O processo de separação é explicado em três tempos que são os três tempos do comple xo de Édipo num primeiro momento a criança e mãe vivem em uma plenitude um completan do a falta do outro em um segundo momento a criança começa percebe que não é tudo para a mãe pois a mãe falta ela não está o tempo todo com ele e dá atenção para outras pessoas que não ele então o pai ou seja a função paterna enquanto Lei barra efetivamente bebê e mãe e a partir daí o desejo surge e move cada um a buscar a realização dele em outros objetos É por meio da entrada de um significante que barre a plenitude do bebê na alienação o significante NomedoPai que o sujeito advém É esse significante que divide o sujeito e o Eu ou seja os sistemas préconscienteconsciente e inconsciente possibilitando que uma falta se funde e pela qual o desejo advenha A partir da separação ou castração o sujeito passa a dese jar por si mesmo e não mais pelo outro Segundo Lacan o que causa o desejo no sujeito é o chamado objeto a que cai pela en trada do significante NomedoPai deixando um vazio sem representação para o sujeito O de sejo advém então desse vazio e coloca o sujeito em movimento pois move o ser em busca de algo que o traria novamente a completude que no entanto nunca existiu e nunca existirá pois a falta é uma condição humana Assim o NomedoPai é uma Lei que faz com que ocorra o recalque do desejo de satis fação plena ou seja barra a pulsão e assim in sere o sujeito na cultura Podese perceber aqui que a inserção na cultura traz um duplo aspecto por um lado o recalque é o que possibilita viver em sociedade por outro lado o verdadeiro su jeito tem que ser apagado que é o sujeito do desejo aquilo que o ser humano realmente é e que é o sujeito a quem a psicanálise se dedica a compreender Pensandose nos três registros do apa relho psíquico I S e R que foram sinalizados no decorrer deste trabalho é a inserção da Lei que faz com que tais registros sejam amarra dos pelo sintoma que é uma saída para a reali zação do desejo recalcado e dotar o mundo de sentido e de consistência o que se observa na estrutura Neurótica Nas estruturas psicótica e perversa o processo de significação da Lei é diferenciado no entanto dentro da psicanalise não são vistas como formas patológicas de se constituir mas sim como maneiras diferentes que o sujeito tem para posicionar seu desejo diante da castração do Outro ou seja da sua própria falta e se rela cionar com o mundo Apesar deste artigo abordar a forma como se dá a constituição do sujeito ele está longe de demonstrar tal constituição em sua pro fundidade Cada processo aqui descrito tem por trás vários outros aspectos os quais não foram descritos devido a inviabilidade de tempo para tal ficando em aberto o estudo mais aprofunda do de cada um podendose concluir com isso que a constituição do sujeito para a psicanalise não é de forma alguma simplista Por fim outro aspecto que é de extrema relevância a ser esclarecido e que explicita ain da mais a maneira não simplista que a psicanali se trata a constituição do sujeito é a observação que os processos que envolvem tal constituição não ocorrem de maneira separada como se fo cem etapas do desenvolvimento mas sim elas ocorrem ao mesmo tempo e por toda a vida do sujeito se reeditando nas experiências do mes mo na relação com o Outro e os outros e com o mundo REFERÊNCIAS CHEMAMA R Dicionário de psicanálise Porto Alegre Artes Médicas Sul 1995 240 p COSTA T Édipo Rio de Janeiro Zahar 2010 89 p DOR J Estruturas e clínica psicanalítica Rio de Janeiro TaurusTimbre 1991 124 p 128 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 ELIA L O conceito de sujeito 3 ed Rio de Janeiro J Zahar 2010 80 p FERRAZ F C Perversão 5 ed São Paulo Casa do Psicólogo 2010 146 p FREUD S Projeto para uma psicologia científica 1895 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 1 p 339410 Sobre o narcisismo uma introdução 1914 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 14 p 75108 Os instintos e suas vicissitudes 1915 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 14 p 115144 Pulsões e destinos da pulsão 1915b In Escritos sobre a psicologia do inconsciente Rio de Janeiro Imago 2004 p 133162 O ego e o id 1923 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 19 p 1382 Neurose e picose 19241923 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 19 p 195201 A dissolução do complexo de Édipo 1924 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 19 p 195201 A perda da realidade na neurose e na psicose 1924b In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 19 p 165173 GARCIAROZA L A Freud e o inconsciente 24 ed Rio de Janeiro J Zahar 2009 236 p JORGE A C FERREIRA N P Lacan o grande freudiano Rio de Janeiro J Zahar 2005 88 p LACAN J A tópica do imaginário 1954 In O seminário livro 1 os escritos técnicos de Freud Rio de Janeiro J Zahar 1998 p 89186 O sujeito e o outro I A alienação 1964a In O seminário livro 11 os quatro conceitos fundamentais da psicanálise 2 ed Rio de Janeiro J Zahar 1998 p 191 204 O sujeito e o outro II A afânise 1964b In O seminário livro 11 os quatro conceitos fundamentais da psicanálise 2ª ed Rio de Janeiro Jorgezahar 1998 p 205 217 O estádio do espelho como formador da função do eu tal como nos é revelada na experiência psicanalítica 1949 In Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar 1998 p 96103 O seminário livro 5 as formações do inconsciente Rio de Janeiro J Zahar 1999 532 p MELLO E N de Narcisismo e desejo In MELLO E N de Entre a lei e o desejo antecedentes à abordagem lacaniana do problema da ética em Kant com Sade São Paulo UFSCar 2007 p 109130 MURANO D Para que serve a psicanálise 2 ed Rio de Janeiro J Zahar 2006 v 21 68 p A transferência uma viagem rumo ao continente negro Rio de Janeiro J Zahar 2006b 78 p NASIO J D O conceito de narcisismo In NASIO J D Lições sobre os 7 conceitos cruciais da psicanálise Rio de Janeiro J Zahar 1997 p 4771 QUINET A Os outros em Lacan Rio de Janeiro J Zahar 2012 84 p A função das entrevistas preliminares In As 41 condições de análise 12 ed Rio de Janeiro J Zahar 2009 p 1334 Teoria e clínica da psicose 3 ed Rio de Janeiro Forense Universitária 2006 238 p SIRELLI N M Alienação e separação a lógica do significante e do objeto na 129 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 constituição do sujeito Minas Gerais UFSJ 2010 95 p WISNIEWSKI L I O sujeito o outro Revista Letras da Coisa Curitiba n 7 p 1522 abr1989a A separação Revista Letras da Coisa Curitiba n 7 p 2934 abr 1989b LA CONSTITUCIÓN DEL SUJETO EN PSICOANÁLISIS Resumen Este artículo es una revisión bibliográfica con el objetivo de discutir la constitución del sujeto para el psicoanálisis que es el sujeto del inconscien te el sujeto barrado constituido mediante procesos de alienación y separación Para ello se utilizó como base la obra de Freud Lacan y otros autores del psi coanálisis Se discurre primeramente sobre el pro ceso de alienación contemplando los conceptos de Estadio del Espejo la relación con otro semejante la formación del yo ideal y la formación del registro imaginario posteriormente abordaremos el proceso de separación explicando sobre qué se denomina los tres tiempos de Edipo la relación con el Otro la formación del Superego y el registro simbólico des pués se discute el campo del real y su relación con el objeto a y para finalizar explanaremos la salida para las tres estructuras psíquicas posibles en psicoaná lisis que son la neurosis la psicosis o la perversión PalabRas clave Alienación Constitución del sujeto Estructuras Psicoanálisis Separación Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 74 AS TRÊS FORMAS DE NEGAÇÃO À CASTRAÇÃO Francisco Ramos de Farias RESUMO A cria humana na travessia do estado de natureza ao estado de cultura dispõe para responder à falta captada no corpo da mulher de três formas de negação São três operações defensivas utilizadas pelo sujeito para não se totalmente reduzido à condição de mero objeto do desejo do Outro Em se tratando do recalque temos a inscrição psíquica do não tem pênis no corpo da mulher substituído por um nãosei o que impulsiona o sujeito a deslizar na cultura à busca de objetos referentes a um tipo de saber marcado pela anterioridade paterna No desmentido temse simultaneamente a negação e afirmação da existência de pênis na mulher mediante a coexistência de duas correntes psíquicas que não se contradizem cujo paradigma é o fetiche Por fim na foraclusão temse a não captação da falta no corpo da mulher colocando o sujeito na posição de ser o falo da mãe PALAVRASCHAVE Defesa Subjetivação Recalque Desmentido Foraclusão Professor do Departamento de Fundamentos da Educação e Coordenador do Programa de PósGraduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Editor de Seção do periódico PsicanáliseBarroco em revista Endereço Postal Rua Voluntários da Pátria 481 apto 803 22270000 Humaitá Rio de Janeiro Telefone 21 25375866 Email frfariasuolcombr As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 75 Sobre o conceito de defesa Pretendemos refletir sobre as três possibilidades defensivas que a cria humana dispõe ao ser lançada no campo da linguagem para produzir respostas ante a castração materna Em princípio abordaremos o recalque mecanismo de funcionamento da linguagem definido no pensamento freudiano como condição da subjetivação neurótica em seguida realizaremos um rastreamento para circunscrever o desmentido como condição estrutural da subjetivação perversa e finalizamos a abordagem focalizando o mecanismo da foraclusão para caracterizar a subjetivação psicótica O processo de humanização é uma travessia que apresenta trilhas sinuosas e difíceis Por se tratar de um processo devemos entendêlo na acepção dinâmica ou seja como aquilo que pode permanecer em estado embrionário ter um começo e estacionar ou progredir Essas são as vicissitudes próprias à constituição da subjetividade que têm como resultados as condições singulares de cada sujeito Mas é preciso salientar que enveredar por quaisquer trilhas desse processo requer para a cria humana confrontarse com obstáculos que se configuram como circunstâncias de cunho traumático Por esse motivo o sujeito tem de se valer de operações psíquicas para apresentar respostas às adversidades próprias das duas diferenças irredutíveis e enigmáticas a diferença de gerações e a diferença sexual Pelo fato de serem diferenças irredutíveis o sujeito produz elaborações diante dos enigmas que elas suscitam e assim recorre a uma defesa psíquica como o mecanismo que propicia seus arranjos subjetivos O conceito de defesa está intimamente relacionado ao Complexo de Édipo Muito já foi escrito sobre o mito de Édipo e também sobre sua função enquanto estrutura que longe de ser um sintoma como acreditam aqueles teóricos que decidem se entregar à ingenuidade representa sobretudo o preço que a cria humana tem de pagar em função de sua caminhada rumo ao simbólico ou seja a entrada no seio da cultura Tratase pois de uma condição de possibilidade de todo o sujeito uma vez que estamos diante do esteio que finca o limite decisivo entre a natureza e a cultura Basta para tanto direcionar nosso olhar para os pilares da literatura e encontrar a estrutura essencial do drama edípico sempre presente como estrutura nuclear de cada relato de cada acontecimento Por isso não Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 76 podemos prescindir das referências literárias se temos a intenção de nos situarmos no âmago da clínica psicanalítica pois as criações poéticas mais que refletir engendram a criação No seio de uma rede inter e intrasubjetiva encontramos o Édipo Lacan 1992 como possibilidade da primeira escolha de objeto objeto do primeiríssimo amor cujas conseqüências pesarão sobre toda a vida do sujeito Não temos somente a primeira escolha mas também a primeira renúncia que em função da defesa coloca frente a frente o narcisismo e o desejo cujo fiel da balança depende de como funciona no sujeito a chamada ameaça de castração do que decorre a instauração do supereu instância estreitamente relacionada ao progresso da civilização O complexo de Édipo e a subjetivação O que a psicanálise formula sobre o sujeito e sua relação com os objetos diferentemente do que é abordado na psicologia na psiquiatria ou na filosofia está intimamente ligado ao conceito de defesa matriz fundamental do entendimento acerca do complexo de Édipo Enquanto o acontecimento que marca a passagem da cria humana da condição natureza à condição de cultura o complexo de Édipo é o ponto por onde se nodula toda rede conceitual do campo psicanalítico portanto remete a uma estrutura subjetiva O conceito de estrutura subjetiva somente tem seu valor se for pensado a partir da castração operador estrutural que em termos de recalque desmentido e foraclusão nos coloca diante dos três destinos possíveis do sujeito Tratase de configurações nas quais o que se inscreve são as três posições subjetivas do sujeito a respeito do desejo O que entendemos como posição é a relação do sujeito à falta de objeto que é o efeito da incidência da linguagem no real Não obstante é pertinente ressaltar que a estrutura não é algo observável pela sua natureza visto não se tratar de uma entidade pois somente se revela naquilo que compreendemos como funções no caso função do significante É assim que pensamos a articulação do complexo de Édipo com o complexo de castração Na As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 77 verdade estamos situando as distintas posições do sujeito em relação à estrutura neurose psicose e perversão posições intimamente vinculadas ao complexo de castração cujo fundamento é a linguagem Considerando também o conceito de defesa frente à castração estabelecemos a distinção entre as três modalidades subjetivas e é esse o mérito da subversão freudiana tanto na descentração operada no sujeito quanto na ruptura do contínuo normalpatológico Desde suas primeiras elaborações Freud 18941976 já nos apontava as diferenças modalidades de funcionamento psíquico ao estabelecer um mecanismo estrutural para explicar a neurose e outro para a psicose O destaque dado ao Édipo surge como um acréscimo a partir da releitura em que Lacan 1995 faz o acento incidir sobre a matriz edípica ao se valer da distinção entre significante e significado como também a distinção entre o três registros real simbólico e imaginário que muito bem podem ser considerados como uma terceira tópica na explicação da dinâmica e do funcionamento psíquico Certamente pensar estes três registros fora da articulação do Édipo com a castração é reduzilos a um nível bastante trivial e anedótico O momento histórico de toda infância é coberto pelo mito em que a psicanálise vai fundar a condição de verdade que por ser de natureza mítica não pode ser enunciada pois alude ao desejo do Outro Tudo o que remete à condição imaginária constituição do Eu a partir do encontro com o semelhante da espécie na relação especular tipicamente narcísica tudo o que é referente à inserção do sujeito na cultura quer dizer a captura do sujeito no simbólico aquisição da linguagem submissão à lei assunção dos ideais e as funções correlativas a cada sexo e bem como tudo o que concerne ao real lugar no qual o desejo pode ser pensado enquanto causado e enquanto articulado a um objeto somente pode ser entendido se tomarmos a noção de defesa como ponto de partida e é justamente como defesa que lemos o percurso referente à travessia edípica Ao introduzir a questão da subjetivação pela utilização do recurso a uma operação defensiva estamos cônscios de que a defesa como conceito psicanalítico serviu a Freud 19331976 para em primeiro lugar romper com a tradição do modelo médico que estabelecia bases diferenciadas na explicação das condições saúde e doença e em segundo lugar representar a marca distintiva do humano que lhe transforma em ser diferenciado de Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 78 algo próprio da natureza Essa diferenciação somente pode ser formulada pelo recurso à noção de estrutura como uma virtualidade própria da engrenagem mítica do sujeito e também como aspecto fundamental na constituição dos arranjos subjetivos Eis o que depreendemos na conferência XXXI A dissecação da personalidade psíquica onde há uma comparação entre o processo psíquico mórbido e a estrutura de um cristal que ao romperse o faz seguindo linhas de fratura que são invisíveis mas que preexistem e que são próprias da constituição da referida estrutura A possibilidade de quebra da estrutura é somente algo da ordem de uma inferência Sendo assim o que há de mais original no sujeito é o fato de sua constituição fazer alusão a um momento pré histórico no qual podemos pensar na articulação do Real com o Simbólico Este momento em que esses registros se cruzam é aquele no qual se estabelece um tipo de esperança antecipadora daquilo que está ainda por vir Eis o sentido dado por Lacan 1998a ao argumentar que a cria humana realiza um percurso que vai da insuficiência à antecipação Ainda como um devir o sujeito é antecipado como perfeição Tratase de um ideal desfeito pela ação do trauma primeiro momento de ruptura O trauma é então o momento em que se evidência o fim da ilusão de completude uma vez que coloca o sujeito no universo da falta o que se consolida pelo recalque originário Estamos admitindo que o ser humano é antecipado e recebe um corpo habitado por uma imagem mas também esse corpo será o lugar onde circula a palavra e por isso representa a morada de um sujeito O corpo entendido como estrutura material é a certeza da finitude daquilo cujo destino é o estado de desintegração finalidade do corpo cadáver Já a substância pensante a alma de natureza imaterial tem como característica o estado de dispersão originária a atividade anímica desalojada do corpo somente pode ser concebida como pura dispersão Com isso queremos assinalar que o corpo em sua materialidade desintegrase pela morte mas o que há de imaterial nele assentado como o pensamento o desejo e o entendimento atravessa os ritmos do tempo Enquanto ponto de ancoragem o corpo é o único suporte para o vazio estrutural expondose desse modo às ações do trauma com a implantação irremediável da falta Temos nisso uma operação da qual resulta um certo aniquilamento do sujeito em termos da quebra do ideal de perfeição especialmente quando o corpo do infans entra As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 79 em cena como matéria pulsante Dito em outras palavras o corpo sofre uma primeira marcação pela imagem sendo nessas condições o real do corpo atravessado pelo imaginário em seguida é marcado pela palavra momento em que é atravessado pelo simbólico Esses dois furos que se processam no corpo são na verdade consequências da defesa Eis o encaminhamento para pensarmos a defesa como a operação em função da qual o sujeito constrói um suporte que é o estatuto simbólico Graças a essa conquista passa da suposta condição de natureza à condição de cultura no momento em que o real é informado pela imagem e que ocorre o acesso à palavra Essa é a consequência da defesa psíquica Se analisarmos a palavra defesa temos que lançar algumas reflexões defesa por quê de quê e em relação a quê Em princípio o que podemos afirmar é que a defesa é uma espécie de proteção em relação a algo que é ameaçador para o sujeito Esse é o sentido atribuído por Freud 18951976 ao admitir que a defesa quando bem sucedida equivale à saúde sendo também a marca distintiva do humano pensada em termos clínicos como a condição estrutural do funcionamento psíquico e o seu fracasso entendido como a possibilidade de adoecimento O que está garantido com a defesa é a posição subjetiva em função da qual o sujeito não seja reduzido apenas a um mero objeto do gozo do Outro Assim sendo tem garantida a condição de ser desejante Mas ao conquistar tal condição o sujeito se encontra diante de uma ameaça perder o que conquistou ou seja a condição de diferenciado de objeto do desejo do Outro Sendo assim podemos afirmar que pela defesa o sujeito tem acesso à demanda imaginária uma vez que fica constatada a falta no Outro isso corresponde a um tipo de barreira entre o desejo do Outro e um saber acerca daquilo que o Outro espera Através desse saber o sujeito se articula no universo da significação marcando também um tipo de funcionamento no campo da linguagem mediante o recurso a uma defesa Por isso as estruturas subjetivas são a consequência de operações defensivas compreendidas em termos do funcionamento da linguagem Os modos possíveis de funcionamento da linguagem correspondem àquilo que a Psicanálise formula como estruturas clínicas Tais estruturas com as quais o psicanalista se confronta na experiência com o inconsciente são estruturas conceituais de Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 80 orientação Não obstante cabe uma observação A vertente estrutural não firma um limite preciso entre as variantes fenomênicas de uma mesma estrutura como entre histeria e obsessão na neurose Igualmente não se pode chegar a nenhum critério formal que permita afirmar a sustentação de um sujeito na psicose em suas variantes melancolia paranóia ou esquizofrenia A vertente estrutural situada em um nível mais radical é encontrada na diferenciação entre principalmente a neurose e a psicose O recalque como modalidade de negação da castração Quando nos referimos às estruturas subjetivas como orientações conceituais estamos aventando as possibilidades que o ser falante dispõe para ingressar no universo da linguagem Para tanto fazse necessário situar os operadores desse processo Em primeiro lugar aludimos à castração materna entendida como a posição em que se encontra o sujeito ante a ausência de pênis captada no corpo da mulher Assim a castração materna é o operador estrutural primordial na constituição dos arranjos subjetivos O que podemos pensar acerca da castração Nada além de uma ocorrência paradoxal que nunca ocorreu não ocorre e nunca ocorrerá mas que é decisiva para a estruturação psíquica No âmbito das formulações das teorias sexuais infantis a castração é captação de uma falta em um vazio absoluto algo que é para a cria humana bastante ameaçador Tal ameaça somente toma sentido para a criança quando esta se vê diante das questões concernentes à sua própria castração especialmente frente ao dilema conflitual ter acesso ao próprio desejo pela práticas autoeróticas e deixar a mãe na falta ou renunciar a condição de ser desejante para ser o objeto da completude materna Eis o momento em que o sujeito tropeça no enigma da falta e ao mesmo tempo na necessidade de apreender algo que a realidade apresenta como a falta no Outro primordial que é a Mãe Frente a esse Outro primordial o sujeito pode seguir caminhos que decorrem da maneira como se porta em função da falta no Outro Em princípio queremos assinalar que a captação da castração materna é algo impactante para a criança uma vez que deverá tomar uma decisão entre duas alternativas continuar sendo o objeto do desejo materno ou As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 81 ter acesso ao seu próprio desejo Isso pelo fato de que a criança foi obrigada a se confrontar com a queda de sua crença acerca da universalidade do pênis em decorrência das evidências da realidade Até o momento da captação da castração materna a criança formulava suas hipóteses acerca do seu entendimento das questões concernentes ao sexo baseada na premissa de que todos os seres são iguais por portarem um mesmo e único atributo o pênis Esta fórmula da universalidade do pênis primeira teoria sexual da criança é desfeita no encontro com a ausência de pênis captada no corpo da mulher O impacto dessa percepção traumática coloca a criança diante da falta a mãe é castrada Daí então o que é evidenciado na realidade vai de encontro às formulações da criança de modo que se inaugura um novo registro o da falta A percepção da castração materna assim entendida somente ocorre se for mediada pela falta A criança ao perceber a falta no Outro primordial reconhece que a mãe é castrada A captação da falta na mãe é para a criança uma questão enigmática um mistério a ser desvendado tarefas as quais se encarrega pela vida No prosseguir de suas pesquisas sexuais principalmente com o propósito de saber por que há a diferença a criança realiza descobertas importantes pois constata que o objeto de sua primeira descoberta já era de conhecimento do pai Assim conclui que o pai já sabia daquilo que ela descobriu muito antes dela Por causa desse saber atribuído ao pai fica explicada para a criança a causa de seu nascimento Em suma pela captação da castração materna chegase à anterioridade paterna formulada em termos de um saber suposto acerca do objeto da demanda materna Esse saber apresenta pelo fato de suposto ao pai como algo que antecede ao sujeito A subjetivação neurótica Quando a criança admite que o pai já detinha um saber acerca da maneira de lidar com a demanda de amor da mãe se estabelece o efeito de anterioridade o qual tem como conseqüência uma espécie de amarração em função da suposição pelo sujeito de que é o pai aquele que detém o saber sobre aquilo que a mãe deseja Configurase assim a estrutura neurótica como aquela na qual um saber é suposto a pelo menos um Quer dizer o Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 82 neurótico é movido por um tipo de saber em razão do qual supõe que há alguém no caso o pai que sabe lidar com a demanda materna Esta suposição é a saída encontrada pelo ser falante para solucionar o impasse em relação à possibilidade de ter acesso à condição de ser desejante Por isso estabelece com aquele que supostamente sabe uma dívida para encontrar uma saída para a dúvida relativa à angústia de castração O neurótico opta por uma dívida par solucionar o dilema que se encontra frente à alternativa de continuar sendo objeto do desejo da mãe e a alternativa de pela prática autoerótica ter acesso ao próprio desejo A opção por uma dívida ao pai é aquilo que vem selar a saída da relação dual com a mãe uma vez que tal relação transformase em triangular no momento em que nela intervém o falo como algo que nem é a criança e tampouco que a mãe possui Dito em outras palavras somente no exato momento em que o falo significa tanto o objeto de desejo da mãe quanto sua falta Diremos pois que a função paterna introduz a partir da dívida constituída pelo sujeito uma distância entre o falo e a falta de modo a conduzir a falta em um nível simbólico nível da castração propriamente dita para situarmos os três níveis de falta elaboradas por Lacan 1995 privação frustração e castração Deixando de lado o personagem real encarnado pelo pai em cada caso ou seja as relações imaginárias que o sujeito estabelece com tal personagem queremos pensar a função paterna em termos simbólicos O que é fundado por esta função e que a sustenta é o Nome do Pai Mas o pai não é apenas um nome Quer dizer como afirma Jullien 1997 é uma ordem simbólica a quem se chama de pai Pela existência desse nome se funda nas sociedades humanas a ordem das gerações e instaura a lei o que torna a sociedade humana radicalmente diferente de todo arranjo natural O nome se encontra na origem do sistema simbólico no qual toda a vida humana se desenvolve a partir de um sistema independente de cada sujeito particular O acesso a esse nome somente acontece na via aberta pela mãe em função da castração A castração somente é possível e somente exerce seu efeito no momento em que a instância paterna produza a ruptura da relação especial dual entre a mãe e a criança Para dizermos em outros termos a significação do falo somente tem efeito quando o significante NomedoPai passa a ocupar o lugar que antes era ocupado pelo desejo da mãe As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 83 um desejo que a criança deseja e ao qual identifica seu objeto imaginário o falo Descobre se desse modo no inconsciente da relação edípica uma autêntica substituição significante operação denominada metáfora paterna A dívida contraída pela cria humana com o pai ou melhor a construção cultural denominada paternidade é a situação que não se tem acesso pela via imaginária Tratase de uma função simbólica efeito do significante NomedoPai Mas do quê se trata tal dívida Certamente a dívida decorre da suposição de um saber ao pai A partir desse saber o sujeito se constitui e também estabelece as significações ditas fálicas em decorrência da intervenção paterna A atribuição de um saber ao pai é uma modalidade de negação à possibilidade do absoluto referido ao gozo materno Como o que está em jogo é a castração do Outro a captação da ausência de pênis no corpo da mãe estamos nos referindo a negação do Édipo que se faz pelo recalque A operação do recalque nega a representação mas conserva aquilo que é negado no inconsciente Essa operação pressupõe a afirmação primordial efeito da constituição do primeiro núcleo de recalcado pelo recalque originário o qual a matriz dos recalques posteriores e também do retorno do recalcado no simbólico Quer dizer à suposição de há alguém que sabe sobre o gozo materno corresponde no sujeito a um não querer saber nada sobre isso Esse modo de negação que ocorre pelo recalque é próprio de um retorno no neurótico a negação recai sobre um tipo de representação e dessa maneira referese ao simbólico Tratase de um processo que se põe em marcha com o retorno do recalcado mas que conduz à revelação do inconsciente por meio das formações sintomáticas Quer dizer aquilo que é negado no âmbito do simbólico a representação retorna no próprio simbólico como formação inconsciente Em quaisquer delas a questão de sentido se faz presente especialmente no sintoma entendido como a presentificação da amnésia da infância devido ao naufrágio do Complexo de Édipo Essa nuance do recalque permite o acesso à organização simbólica que representa o sujeito O recalque como forma de negação corresponde a um processo pelo qual ocorre o deslocamento da criança da posição de saber absoluto para se submeter a algo que lhe antecede o saber do pai sobre o gozo materno Qual então é esse processo Em princípio o neurótico inscreve a ausência de pênis no corpo da mãe e também o Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 84 reconhecimento dessa ausência da seguinte maneira a Diante da percepção da falta de pênis da mãe o neurótico efetua a substituição do nãotem por um nãosei O nãosei é o efeito imediato do recalque b Decorrente disso tem acesso à cultura pois o nãotem relativo à falta de pênis na mãe se inscreve como nãosei no inconsciente Esse não querersabernada sobre isso é o motivo pelo qual como sabernão sabido aparece no discurso O recalque possibilita então o aparecimento desse não saber no inconsciente pelo fato de haver um universo simbólico que nos informa ser o sujeito sabedor de que algo se encontra no regime do recalcado c Na cultura o sujeito vai eleger objetos para tentar solucionar esse nãosei como o discurso intelectual a criação a sublimação d A busca de saber nos indica que o saber do neurótico é parcial visto que se refere somente ao sexual suposto a pelo menos um Sendo assim não se trata de uma totalidade o lugar de parcialidade é o ponto onde se situa a defesa neurótica O desmentido da castração e a subjetivação perversa A posição do sujeito frente à castração no âmbito da subjetivação perversa materna é bastante singular Em primeiro lugar da mesma forma que o ser falante teve acesso à ausência de pênis no corpo da mulher mas diferentemente não se dispõe a fazer o reconhecimento da realidade captada uma vez que se prontifica a desmentir a realidade de sua percepção Em segundo lugar diante da dúvida decorrente da angústia de castração adota uma outra saída que não a dívida de modo a coexistirem nele perverso duas correntes sem o menor conflito na vida psíquica uma que aceita a ausência de pênis no corpo da mulher e outra que nega Freud 19271976 O perverso é pois aquele que se subjetiva escolhendo uma posição em que desmente a castração materna e usurpa o lugar referido a anterioridade paterna Quer dizer quando não se dispõe a reconhecer a falta no corpo da mulher fica sem o efeito da anterioridade paterna Mas por qual modalidade de negação não reconhece essa falta Em certo sentido ou seja na subjetivação perversa o ser falante adota a atitude de preencher essa falta no corpo da mulher utilizandose do fetiche sendo este As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 85 fenômeno o modo utilizado pelo sujeito para não reconhecer que captou uma falta no corpo da mãe Em outras palavras o fetiche é usado para tamponar a falta captada Desse modo fica desmentida a castração materna O acesso à representação da ausência de pênis na mulher é solucionado pelo perverso mediante o desmentido do conteúdo dessa representação de modo não a alijála da consciência mas a fazêla conviver lado a lado com uma outra representação contraditória sem que haja contradição Essa solução duas representações contraditórias coexistindo sem conflito é a saída encontrada pelo perverso frente ao impacto da falta captada na mãe mas é também a perda de um fragmento da realidade não da realidade externa pois o que está em questão é o desmentir de uma realidade psíquica no caso a castração Enquanto conceito o desmentido é referido inicialmente a problemática do complexo de castração e não à perversão especialmente no contexto das formulações que aparecem em A organização genital infantil onde fica marcada a primazia do falo Freud 19231976 É sem sombra de dúvida em torno do conceito de Édipo que começa a se perfilar o conceito de desmentido como o mecanismo pelo qual o sujeito recusa aceitar a evidência de um fato registrado no âmbito de sua percepção Essa definição somente se aprimora no estudo freudiano sobre o fetichismo onde encontramos a construção teórica de que a criança recusa reconhecer a percepção da ausência de pênis na mulher pois reconhecer tal ausência a colocaria diante da possibilidade de ter que aceitar a sua própria castração É conveniente ressaltar que o processo defensivo não implica nessas circunstâncias em uma anulação da percepção processo que parece ocorrer na subjetivação psicótica mas em uma ação bastante enérgica para manter desmentida uma percepção que se mostra sempre presente O fetiche seria o substituto do falo materno em cuja existência a criança não pode deixar de crer permitindo a criação de um compromisso através do qual a crença de que a mulher caso possua um pênis é abandonada e ao mesmo tempo conservada Eis o paradoxo configurado pela coexistência da antiga crença própria da teoria da universalidade do pênis com o saber de algo que veio desmentila Desse modo o perverso estabelece desse modo um compromisso entre o reconhecimento do perigo da castração afirmado pela realidade e o desmentido da castração Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 86 para assim satisfazer seu desejo Esta possibilidade de tomar simultaneamente duas vias opostas de resolução para um conflito exige a introdução de uma nova teoria sobre a divisão do Eu sendo o processo que se apresenta como o corolário lógico do mecanismo do desmentido Não obstante seria um erro acreditar que se trata de categorias que somente se aplicam ao domínio da perversão visto que esse conceito também é utilizado para explicar o processo de constituição do psiquismo na criança O desmentido e a realidade psíquica É prudente salientar que saibamos que em se tratando do desmentido apesar de estarmos nos referindo a um aspecto da realidade externa há uma perda da realidade porém a realidade interna é mantida intocada Aliás a percepção encontrase submetida às teorias sexuais infantis a ponto de a criança desprezar o que é evidenciado na realidade Valas 1990 Estamos diante de uma defesa que somente tem sucesso em médio prazo pois aquilo que é desmentido não desaparece totalmente da vida psíquica pois o ser na subjetivação perversa apesar de não reconhecer ter percebido a ausência de pênis na mulher afirma têlo visto à medida que cria para o pênis um substituto visando livrarse da angústia de castração quando soluciona essa falta pela imposição do fetiche A solução pela criação de um substituto é uma modalidade de negação da castração o que nos faz pensar que a situação do perverso igualmente a do neurótico concerne também ao Édipo O elemento negado a representação da ausência de pênis na mulher é conservado no fetiche Este tipo de negação ocorre no simbólico razão pela qual aquilo que é desmentido é afirmado também constantemente no simbólico sob a forma de algo tomado como substituto de um pênis imaginário na mulher o fetiche Sendo assim podemos pensar que a determinação da estrutura perversa devese ao desmentido da castração do que decorre a não aceitação pelo perverso do efeito da anterioridade paterna Isso tem conseqüências em primeiro lugar o perverso não atribui saber ao Outro uma vez que usurpando o lugar do pai fica sem o efeito da anterioridade paterna e ocupa a posição de saber absoluto Em certo sentido o perverso centraliza nele As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 87 mesmo o saber e é por isso que na posição perversa encontrase a dimensão do saber absoluto O saber do perverso apesar de absoluto é também parcial visto referirse à questão sexual o perverso é cônscio desse de que sabe fazer o Outro gozar sendo seu saber apesar de não suposto a ninguém assumido como algo do próprio sujeito Certamente nesse processo o desmentido como mecanismo estrutural tem uma lógica O perverso desmente o nãotem pênis da mãe afirmando constantemente que ela tem através do fetiche pois esta é a fórmula da qual se utiliza para ingressar na cultura Eis uma semelhança do perverso com o neurótico Mas diferentemente do neurótico o perverso questiona a cultura confrontando o simbólico uma vez que em relação ao gozo elege o fetiche como objeto de exclusividade Esta exclusividade é a maneira de o perverso questionar o simbólico mas a partir tanto da inscrição da ausência de pênis na mulher o que lhe permite a acesso à diferenciação sexual quanto do desmentido dessa inscrição Assim podemos dizer que a perversão é um saber suposto sabido sobre o gozo Não se interroga sabese Lullien 199799 A foraclusão e a subjetivação psicótica Uma importante elaboração no pensamento freudiano com relação à psicose é a formulação de um mecanismo para diferenciála como entidade clínica da neurose Em princípio cabe destacar que o objetivo de Freud 18941976 era encontrar um mecanismo para a psicose análogo ao recalque Uma vez tendo elevado esse conceito à condição de pedra angular da teoria psicanalítica uma questão se impunha ao seu pensamento encontrar um conceito que pudesse ocupar um lugar análogo no campo da psicose Nessa empreitada surgiram os conceitos de projeção de abolição e de recusa Este último mecanismo ganhou conotação especial fazendo parte apenas em relação à castração No entanto esses três mecanismos não ainda o correspondente àquilo que é formulado como foraclusão defesa típica da psicose diferenciada do recalque na delimitação das psiconeuroses de defesa em 1894 Mas ainda nesse contexto a recusa é a modalidade de defesa empregada tanto para definir a confusão alucinatória quanto a paranóia Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 88 O primeiro sentido da palavra foraclusão é o de uma defesa enérgica que em termos de sua operatividade afasta da consciência tanto a representação quanto o afeto a ela relacionado Freud 18941976 Sem dúvida o encaminhamento freudiano acerca desse termo faz alusão ao pensamento de Brentano 1973 que relacionou esse mecanismo a três condições a aplicação de um juízo ao reconhecimento e à rejeição Fundamentandose nessas premissas a conclusão freudiana é a de que a psicose tem de ser pensada a partir de uma operação defensiva sendo que em função da ação de tal operação aquilo que é recusado ou abolido tem um destino especial diferente do recalcado Isso confere ao retorno uma conotação particular mas como delírio ou confusão alucinatória O vazio nos textos freudianos sobre o mecanismo da psicose pode ser pensado em termos de ordens distintas de fatores Em princípio o conceito de foraclusão é inclusive anterior ao conceito de recalque originário Em As neuropsicoses de defesa Freud 18941976 afirma que na psicose algo é recusado e que esse algo é um fato da realidade ou um estado de coisas da realidade Essa definição apresentase como uma negação A questão que nos inquieta é explicar como uma negação radical e eficaz pode desencadear uma psicose Poderíamos pensar no tema da divisão do Eu e também na prevalência de uma corrente na vida psíquica que pela influência da pulsão alijase da realidade externa É pois com referência a não captação da castração materna que a psicose será então pensada cujo efeito imediato é a ausência da anterioridade paterna o que é definido por Lacan 1998b em termos da exclusão de um significante primordial No entanto sabemos que a introdução do termo foraclusão no ensino lacaniano ocorreu de um modo progressivo em que é possível distinguir dois momentos Uma vez analisados cuidadosamente concluímos que o termo foraclusão não é simplesmente uma tradução de Verwerfung e sim a criação de um conceito novo mesmo que herdeiro da tradição freudiana No primeiro desses momentos em Da psicose paranóica e suas relações com a personalidade anterior ao aparecimento do termo foraclusão Lacan 1987 confere um sentido mais preciso ao encontrado para o termo Verwerfung na formulação freudiana de 1894 enquanto a abolição o que será então o conceito chave para a interpretação do Caso Schreber Mas com a ajuda de Jean Hypolite sobre a Verneinung Lacan 1998c apresenta As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 89 sua primeira definição da Verwerfung como abolição simbólica situandoa nas origens da vida psíquica Em De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose Lacan 1998c formula um primeiro tempo lógico do processo de estruturação do sujeito pensado em termos do mecanismo da foraclusão e identificado ao momento de exclusão que constitui o real enquanto território estrangeiro a simbolização Aquilo que o exame do mecanismo da Verwerfung põe em evidência é que o recalcado já faz parte do universo simbólico do sujeito Assim podemos depreender que a foraclusão tem o caráter que vai além de um simples mecanismo defensivo uma vez que está referido à afirmação primordial aquela que inaugura o advento ao mundo para o ser humano à medida que a esta abolição simbólica é atribuída uma função constitutiva Não obstante sabemos que o recalque originário pressupõe também a afirmação primordial uma vez que temos de pensar na constituição de um núcleo originário do recalcado Mas em se tratando da Verwerfung nos encontramos diante de algo que pode ser equiparado à expulsão o que marca a diferença radical entre a defesa da psicose e o recalque Souza 1999 Se na neurose temos um processo que ocorre a partir do retorno do recalcado e que conduz à revelação do inconsciente como formação simbólica na psicose o abolido reaparece no real A oposição entre o real e o simbólico que em certo sentido substitui a oposição dentrofora embora não sejam equivalentes permite uma nova tradução do enunciado através do qual Freud 19111976 havia descrito o mecanismo da paranóia pela formulação de que aquilo que foi abolido dentro retorna desde fora Podemos assim explicar essa colocação freudiana o que fica preso à foraclusão o que fica fora da simbolização geral que estrutura o sujeito retorna desde fora no seio do real como alucinação Esse é o encaminhamento que encontramos em Lacan 1998c Convém assinalar que não foi no caso Schreber que Lacan 1998c encontrou os elementos para ilustrar sua concepção de Verwerfung e sim no historial clínico do Homem dos Lobos principalmente na passagem em que diante da castração o Homem dos Lobos não quis saber nada quer dizer recusouse a captála O sujeito colocado frente ao descobrimento da diferença sexual ignorou a existência da significação genital preferindo conservar a antiga teoria sexual da universalidade do pênis Nesse sentido o mecanismo da psicose é pois anterior a todo juízo consistindo numa exclusão do recusado do campo de Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 90 existência É este o pórtico do qual se vale Lacan 1998d para afirmar que pela foraclusão o sujeito recusa o acesso ao mundo simbólico de algo que sem dúvida já experimentou como ameaça da castração a ausência no registro simbólico de uma não admissão uma falta da afirmação primordial que se confirmará pela alucinação Nessas circunstâncias a castração não existe então para o sujeito uma vez que não foi captada a diferença genital mediante o encontro com o corpo da mulher Em certo sentido aquilo que não é captado irrompe na consciência sob a forma de algo visível Uma significação até então desconhecida impõese ao sujeito no seio do real como absoluta exterioridade visto que no lugar em que ocorre a foraclusão o sujeito nele não se encontra Além do mais aquilo que é objeto de tal processo fica fora do campo da palavra Daí então temos duas consequências no campo clínico da psicose Em primeiro lugar o retorno com exterioridade indica que na psicose não há centralização do saber no sujeito no pai e nem no mundo Em segundo lugar em decorrência da não centralização do saber o psicótico operar com certeza absoluta é dada pela alucinação Quinet 2009 A certeza delirante é uma modalidade de saber não é suposto pois é produzido pelo próprio sujeito enquanto certeza e não comporta dúvida e nem tampouco dívida Disso podemos aventar a concluir que a subjetivação psicótica pode ser pensada no seguinte contínuo parte da não dúvida e funciona pela não dívida A inexistência da dúvida e da dívida é a condição que impossibilita localizar o saber do psicótico o que marca a problemática com relação à filiação Daí afirmarse que o psicótico fica à deriva sem qualquer amarração simbólica Czermak 1991 Pelo fato de operar com certeza o psicótico encontrase na dimensão de totalidade pois não se estruturou pela mediação da falta permanecendo na condição de objeto materno alucinando ser o falo O falo enquanto alucinado é então aquilo que completa a falta na mãe Calligaris 2005 A conseqüência desse fato é não estabelecimento de um espaço entre o sujeito e a falta na mãe Sendo assim o psicótico encontrase no registro de uma eterna presença sem anterioridade paterna privado do acesso ao Édipo devido à abolição simbólica Temos assim um processo primordial de exclusão de um dentro primitivo que não é o dentro do corpo que é um primeiro corpo de significante uma primeira colocação de um sistema significante como aquele que se supõe primordial e indispensável Lacan As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 91 1998d Quer dizer algo é excluído no momento da organização primordial da ordem simbólica como uma falta relativa ao primeiro nó significante em função do qual a psicose é pensada como um buraco uma falta em termos do significante enquanto tal O significante que faz a amarração simbólica é paradoxalmente aquele que nada significa porém funciona de modo a atrair para si todas as significações Quer dizer cria um campo de significações e constitui também a base sem a qual a ordem das significações humanas não pode se estabelecer Enfim tal significante é o que sustenta o ser humano no mundo ou melhor naquilo que Lacan 1985 definiu como as amarras do ser ao se referir à relação do homem com o significante Aludir a esse significante é situar um limite embora saibamos que não é o único visto que a linguagem é também um limite que submete o sujeito às leis da palavra através da função paterna O recurso ao significante que faz a amarração da cadeia simbólica marca o momento de produção da segunda acepção do termo foraclusão em relação ao Édipo Se a foraclusão é a não captação da falta de pênis no corpo da mulher estamos frente a um tipo de negação relativa ao Édipo mas uma negação que não admite o Édipo que nada conserva visto haver a recusa do significante paterno Enquanto negação a foraclusão não deixa nenhum vestígio o que impossibilita a admissão do Édipo no simbólico Estamos com isso no âmbito do conceito lacaniano de foraclusão do NomedoPai Sendo assim o que é negado no simbólico não captação da castração materna retorna no real sob a forma de automatismo psíquico cuja expressão mais evidente é a alucinação Como o retorno é no real o que retorna surge como se fosse algo que se inclui fora do simbólico Desse modo aquilo que retorna aponta para uma exterioridade do sujeito em relação ao simbólico como muito bem ilustram as vozes alucinadas e os pensamentos sonorizados Esses fenômenos são o paradigma da exterioridade do sujeito em relação ao simbólico O que retorna na psicose adquire uma autonomia a ponto de constituirse em uma espécie de automatismo que corresponde a idéias que não são postas em dúvidas nem questionadas Em razão disso o psicótico não habita a partilha do sexo já que é pela dúvida e pela dívida que o sujeito ascende à questão da diferenciação sexual Certamente se não há dúvida como ocorre na neurose em função da divisão há a certeza mas certeza delirante Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 92 O mecanismo da foraclusão não somente propiciou uma nova definição da psicose como também redefiniu as noções de exterioridade e inconsciente o recalque situase no âmbito interno daquilo que o sujeito pode sentir em termos da linguagem porém sem saber sabêlo um inconsciente que de certo modo lhe pertence que foi admitido no sentido da afirmação primordial A foraclusão também tem a ver com um significante inconsciente mas se trata de um inconsciente externo ao sujeito ou seja uma forma de exterioridade a qual o sujeito permanece para sempre ligado Assim podemos dizer que o psicótico fica numa espécie de exterioridade em relação à sexuação Referências BRENTANO F Psychology from an empirical standpoint New York Routledge Kegan Paul 1973 CALLIGARIS C Melancolia hipocondria e paranóia In Actas Freudianas v 1 nº 1 2005 CZERMAK Paixões do objeto Porto Alegre Artes Médicas 1991 FREUD S 1894 As neuropsicoses de defesa Rio de Janeiro Imago v III 1977 1895 Rascunho K vI 1911 Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia v XII 1923 A organização genital infantil uma interpolação na teoria da sexualidade v XIX 1927 Fetichismo v XXI 1933 A dissecação da personalidade psíquica v XXII LACAN J 1932 Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade Rio de Janeiro Forense 1987 1949 O estádio do espelho como formador da função do eu In LACAN J Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1998a As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 93 1954 Introdução ao comentário de Jean Hypolite sobre a Verneinung de Freud In LACAN J Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1998c 195556 O Seminário livro 03 As psicoses Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1985 195657 O Seminário livro 04 A relação de objeto Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1995 1959 De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose In LACAN J Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1998b 196970 O Seminário livro 17 O avesso da psicanálise Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1992 JULLIEN P O manto de Noé Ensaio sobre a paternidade Rio de Janeiro Revinter 1997 QUINET A Teoria e clínica da psicose Rio de Janeiro Forense 2009 SOUZA N S A psicose Rio de Janeiro Revinter 1999 VALAS P Freud e a perversão Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1990 THE THREE MEANS TO NEGATE CASTRATION ABSTRACT When crossing from the natural state to the cultural state the human breed in response to the absence captured in the body of the woman disposes of three means to negate castration They are three defensive means used by the subject to avoid being totally reduced to the condition of a simple object of desire of the Other In dealing with repression we have the psychic inscription there is no penis in the body of the woman substituted by I do not know which drives the subject to glide through culture in search of objects directed to a type of knowledge imprinted by paternal anteriority Concerning disavowal we simultaneously have the negation and the affirmation of the existence of a penis in the body of a woman by means of the two coexisting psychical chains that do not contradict each other and hold the fetish as the paradigm Finally in foreclosure the absence in the body of a woman is not captured placing the subject in the position of being the phallus of the mother KEYWORDS Defense Subjectivity Repression Disavowal Foreclosure Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 94 LES TROIS MANIÈRES DE NEGATION À LA CASTRATION REUMÉ Lenfant lorquil essaie passer du état de nature envers à la culture dispose de trois manières de négation pour répondre à la manque captée dans le corps de la femme Ce sont trois opérations defensives lesquelles lhomme utilize a fin de ne pás être réduit à la condition dobjet du désir de lAutre On sagitant du réfoulement il y a linscription dans le psychisme de labsence de penis dans le corpos de la femme Mais cette absence est remplacée par un type de savoir A cause de ça le sujet cherche dans la culture des objets relatifs a un type espécifique de savoir sur lantériorité du père Dans le cas du démnti on a simultanément la négation et laffirmation de léxistence du pênis dans la femme en raison de deux différentes versantes psychiques sans avoir quelque contradiction comme arrive dans le fétiche Enfin dans la forclusion on a la possibilite de non captation de la manque dnas le corps de la femme et alors le sujet ocuppe la place de fallus de la mère MOTSCLÉS Defense Subjectivité Refoulement Dementi Forclusion Recebido em 090810 Aprovado em 100910
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Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 113 ISSN 19821093 A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO NA PSICANÁLISE THE CONSTITUTION OF SUBJECTS IN PSYCHOANALYSIS Luciane Sbardelotto1 Daniele Ferreira2 Maria Ines Luzzi Peres3 Ana Maria Moreno de Oliveira4 Recebido em novembro de 2016 Aceito em março de 2017 1Discente do 4º ano do curso de psicología da UNIPAR Universidade Paranaense Campus Cascavel Email lucianesbarde lottogmailcom Endereço Rua Rodrigues Alves 1786 Parque São Paulo Cascavel PR CEP 85803690 2Discente do 4º ano do curso de psicología da UNIPAR Universidade Paranaense Cam pus Cascavel Email daniele13ferreira hotmailcom Endereço Rua Tranquilo Noro 720 Parque Verde Cascavel PR CEP 85807860 3Discente do 4º ano do curso de psicología da UNIPAR Universidade Paranaense Campus Cascavel Email milleperes hotmailcom Endereço Rua Erechim 1354 Centro Cascavel PR CEP 85803690 4Docente e Supervisora de estágio em Psi cología Clínica do curso de Psicologia da Universidade Paranaense UNIPAR Cam pus Cascavel Psicóloga clínica Email ana mariauniparbr SBARDELOTTO L FERREIRA D PERES M I L OLIVEI RA A M M de A Constituição do sujeito na psicanálise Akró polis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 Resumo Este artigo tratase de uma revisão bibliográfica tendo como objetivo discorrer sobre a constituição do sujeito para a psicanálise o qual tratase do sujeito do inconsciente o sujeito barrado constituído por meio dos processos de alienação e separação Para tanto utilizou se como base a obra de Freud Lacan e outros autores da psicanálise Discorresseá primeiramente sobre o processo de alienação contem plando os conceitos de Estádio do Espelho a relação com o outro se melhante a formação do eu ideal e a formação do registro imaginário posteriormente abordaremos o processo de separação explanando sobre o que se denomina de os três tempos do Édipo a relação com o grande Outro a formação do Superego e o registro simbólico na sequência abordaremos o campo do real e sua relação com o objeto a e para finalizar explanaremos sobre a saída para as três estruturas psíquicas possíveis na psicanálise que são a neurose a psicose ou a perversão PalavRaschave Alienação Constituição do sujeito Estruturas Psica nálise Separação abstRact This paper presents a literature review aiming to discuss the constitution of the subject for psychoanalysis which addresses the subject of unconsciousness the barred subject constituted by means of alienation and separation processes In order to do this the works of Freud Lacan and other psychoanalysis authors are used as a basis It will first address the alienation process contemplating the concepts of Mirror Stage the relationship with peers the formation of the ideal self and the formation of the imaginary register then it will cover the process of separation explaining the three times of Oedipus the re lationship with the Other the formation of the Superego and the sym bolic register it will go on to discuss the actual field and its relation to the object and finally it will explain the output for the three possible psychic structures in psychoanalysis namely neurosis psychosis or perversion KeywoRds Alienation Constitution of the subject Psychoanalysis Se paration structures 114 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 INTRODUÇÃO Ao nascer estão presentes no bebê os instintos os quais estão ligados à manutenção da vida e que buscam ser satisfeitos Para que haja a satisfação dos instintos é necessário um objeto do mundo externo um objeto real pelo qual ele obterá sua finalidade que é a satisfação No entanto o bebê ao nascer não possui maturi dade biológica e psíquica capaz de garantir sua sobrevivência se faz necessário para tal que um outro semelhante um adulto realize uma ação específica capaz de satisfazer as necessidades da criança FREUD 1985 FREUD 1915 Ao ser realizada a ação específica o bebê tem uma experiência de satisfação a qual dei xa marcas no aparelho psíquico chamadas de marcas mnêmicas imagens perceptuais que se rão resgatadas de forma alucinatória assim que uma nova necessidade emergir FREUD1895 O que se alucina é a Coisa a qual su postamente teria salvado o bebê do completo desamparo inicial O seio materno poderia ser aqui um representante dessa Coisa e é a bus ca pela Coisa que inaugura em Freud o con ceito de desejo O desejo estaria assim ligado a uma falta falta da Coisa pela qual o bebê se viu salvo do desamparo O que se deseja é a Coisa que teria o poder de dar a plenitude ao bebê ou seja ser um sujeito autossuficiente sem faltas MURANO 2006 Em Freud 1915 a pulsão é o que está ligada a esse desejo que é marcado pela falta do objeto Essa falta seria de algo que se teve na primeira experiência de satisfação e que se perdeu Esse objeto faltoso em Lacan recebe o nome de objeto a objeto pequeno a o qual não seria um objeto perdido de fato mas sim um ob jeto que nunca se teve na realidade A falta seria assim constitutiva do ser humano e o objeto a atuaria como causa do desejo JORGE FER REIRA 2005 A condição natural de desamparo vivida pelo bebê ao nascer lhe obriga a se relacionar com um outro ser humano para que se garanta a manutenção da vida ou conforme Lacan se assujeitar ao campo do Outro Ao tratar da cons tituição do sujeito Lacan 1964a diz que o su jeito se constitui no campo do Outro imerso da linguagem e efeitos de operações da alienação e separação É esse Outro quem vai nomeando o bebê é ele quem diz ao bebê quem ele é como ele é o que ele sente e nessa operação de nomeação o que vai sendo inserido são significantes que não são do bebê eles são do Outro O bebê vai tomando para si esses ditos do Outro e a partir disso vai ocorrendo o processo que se denomi na de alienação ao Outro QUINET 2012 A condição de desamparo em que o bebê vem à vida faz com que ele se experimente como um corpo despedaçado sem significação e esse caos só se consegue suportar na relação com o Outro A alienação é uma via de salva ção ela é necessária para suportar o despeda çamento do Eu Contudo se assujeitar ao Outro implica em se assujeitar ao desejo desse Outro SIRELLI 2010 O sujeito não pode se desenvolver preso ao desejo do Outro é necessário se separar do Outro para se constituir a partir do seu próprio desejo É a separação que torna o sujeito dese jante desejante porque ao se separar do Outro sua falta é evidenciada e é a falta que move o sujeito em direção a realização do seu desejo LACAN 1964 O sujeito em psicanálise diz do sujeito do inconsciente só existe sujeito se existir falta é ela que funda o sujeito e ela só aparece se hou ver a separação desse Outro É na separação que se funda o inconsciente ocorre uma sepa ração entre o Eu e o Sujeito Sendo assim o su jeito em psicanálise não se trata de um ser de carne e osso propriamente dito o sujeito não nasce ele se constitui por meio do campo da linguagem na relação com o Outro É na relação com o outro que significantes vão sendo dados ao bebê e que ao se articularem vão gerando sentido ELIA 2010 É nessa relação com o Outro na produ ção de sentido que vão sendo constituídos três registros psíquicos que se articulam e consti tuem o sujeito Para Lacan três registros formam o aparelho psíquico são eles o registro imagi nário I o registro simbólico S e o real R Es ses registros estão relacionados com o circuito do desejo do sujeito ou seja o tipo de relação que o sujeito tem com o seu desejo como ele se posiciona diante dele GARCIAROZA 2009 Para que se tenha um sujeito é necessário que os três aros sejam amarrados O que faz essa amarração é o que se denomina de Nomedo Pai uma lei simbólica que funda a falta funda o inconsciente JORGE FERREIRA 2005 Sendo assim este trabalho tem o obje tivo demonstrar a constituição do sujeito para a 115 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 psicanálise discorrendo primeiramente sobre o processo de alienação contemplando dentro dele o Estádio do Espelho a relação com o outro semelhante a formação do eu ideal e a forma ção do registro imaginário posteriormente será abordado o processo de separação explanando sobre o que se denomina de os três tempos do Édipo a relação com o grande Outro a formação do Superego e o registro simbólico na sequên cia abordasseá o campo do real e sua relação com o objeto a e para finalizar será explanado sobre a saída para as três estruturas psíquicas possíveis na psicanálise Salientase que os processos os quais serão discorridos serão separados para fins meramente didáticos o processo de alienação e separação assim como a formação dos três registros I S e R ocorrem ao mesmo tempo e não em etapas definidas 1 A ALIENAÇÃO E O PEQUENO OUTRO RE GISTO IMAGINÁRIO Anteriormente a perda do objeto da pri meira experiência de satisfação a Coisa há um processo denominado de autoerotismo Nes se processo inicial a pulsão energia que instiga constantemente o organismo à ação está liga da a autopreservação da vida e se satisfaz no por meio de apoio nas funções vitais é esse processo de apoio que propicia a emergência da pulsão FREUD 1915 GARCIAROZA 2009 O período em que o bebê não possui a percepção da unidade do corpo é o autoerotis mo isso é decorrente da imaturidade do sistema nervoso que faz com que a criança fantasisti camente se veja como um corpo despedaçado QUINET 2012 No início da vida devido a não existir um Eu formado ainda as pulsões e ins tintos se satisfazem nos próprios órgãos A essa forma de satisfação se dá o nome de autoero tismo Conforme Freud 1915 p 139 Original mente no próprio começo da vida mental o ego é catexizado com os instintos sendo até cer to ponto capaz de satisfazêlos em si mesmo Denominamos essa condição de narcisismo e essa forma de obter satisfação de autoeróti ca No autoerotismo o bebê não possui uma imagem unificada de seu corpo não há um Eu formado para que a libidopulsão seja investi da assim a libido se dirige aos próprios órgãos como objetos de satisfação GARCIAROZA 2009 Um Eu não presente desde o início da vida é frisado por Freud Posso ressaltar que estamos destinados a supor que uma unidade comparável ao ego não pode existir desde no indivíduo desde o começo o ego tem de ser desenvolvido Os instintos autoeróticos contudo ali se encon tram desde o início sendo portanto neces sário que algo seja adicionado ao autoero tismo uma nova ação psíquica a fim de provocar o narcisismo FREUD 1914 p 84 É esta ação psíquica que inaugura o pro cesso de formação do Eu e a partir desse primei ro esboço do Eu a pulsão que era dirigida para os órgãos passa a se investida no Eu O nar cisismo é um processo que se caracteriza pela pulsão colocar o Eu como seu objeto FREUD 1914 O processo de autoerotismo e narcisismo correspondem em Lacan ao Estádio do Espelho É no Estádio do Espelho que ocorre a instala ção do primeiro esboço do Eu que se forma por meio do reconhecimento da imagem corporal um reconhecimento de que eu sou eu ou seja uma identificação consigo mesmo por meio da imagem do outro CHEMAMA 1995 Anteriormente a este estágio a criança se percebe como fragmentada a unificação da imagem se dá perante o reconhecimento da pró pria imagem que é confirmada por um Outro É nessa experiência de identificação da imagem corporal no espelho que o bebê jubila ao se re conhecer eu sou eu GARCIAROZA 2009 O Estádio do Espelho em Lacan 1949 também está ligado ao registro do imaginário que se funda no processo de alienação ao outro semelhante o adulto capaz da ação psíquica em Freud 1914 É no outro semelhante que a criança pode se reconhecer o outro é quem é o espelho a criança reconhece seu corpo no cor po do outro o que traz o caráter imaginário deste processo SIRELLI 2010 Esse estádio vai dos 6 aos 18 meses aproximadamente e deve ser compreendido como uma identificação com a própria imagem sendo que tal identificação provoca no bebê uma transformação se forma a matriz simbólica em que o eu se precipita LACAN 1949 p 97 É essa identificação primária que possibilitará pos teriormente as identificações secundárias O Estádio do Espelho como formador 116 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 da função do Eu pode ser descrito em três tem pos O autoerotismo em Lacan seria um primei ro momento do Estádio do Espelho onde ao ser colocada diante de um espelho criança não se percebe e nem percebe o espelho ou seja a criança não se diferencia da mãe ela e a mãe são uma coisa só o mundo externo não é per cebido Em seguida num segundo momento a criança vê no espelho um outro o que é facil mente verificável na atitude da criança de beijar tentar pegar cheirar lamber a imagem no espe lho que é o que ela também faz com as outras pessoas há aqui uma confusão entre o eu e o outro SIRELLI 2010 CHEMAMA 1995 O que impulsiona a evolução do esta do de narcisismo primário é a condição natural do ser humano de dependência e desamparo É por meio de um outro externo a ele que o bebê obtém a satisfação de suas necessidades FREUD 1915 Os instintos de autopreserva ção causam necessidades corporais as quais são indispensáveis para a manutenção da vida condicionando um relacionamento com o mundo externo para obter satisfação e a consequente manutenção da vida GARCIAROZA 2009 Esse objeto do mundo externo pode ser representado aqui pela mãe ou quem exerce a função materna e mais especificadamente o seio aquilo que lhe fornece alimento O bebê não percebe um dentro e um fora ele não tem a noção da mãe como um todo segundo Freud 1915 p 158 Na medida em que os objetos externos oferecidos sejam fontes de prazer eles são recolhidos pelo Eu que os introjeta em si e inversamente tudo aquilo que em seu próprio interior seja motivo de desprazer o Eu expele de si É por esse motivo que se diz que no narcisis mo primário temse um Eu purificado ou Eu do prazer e isso é fruto da incorporação do objeto que lhe causa satisfação que é do mundo exter no É a incorporação do objeto que vai desenvol vendo o Eu FREUD 1915 Temos então o terceiro momento do Es tádio do Espelho no qual a criança se vê no espelho e volta seu olhar a um Outro que pode ser a mãe o pai o cuidador que confirma a ela que ela é ela como diz Lacan 1949 p99 é condição necessária a visão de um congênere não importa o sexo é o olhar do Outro A crian ça verifica se o Outro percebe que ela se per cebeu O olhar do Outro sustenta a experiência da criança Aqui estaria o ato psíquico do qual Freud 1914 diz ser necessário para a passa gem ao narcisismo primário Segundo Lacan 19531954 p 96 a forma total do corpo humano dá ao sujeito um domínio imaginário do seu corpo prematuro em relação ao domínio real e ainda salienta que o Estádio do Espelho corresponde à primeira experiência em que o homem passa pela ex periência de que se vê se reflete e se concebe como outro que não ele mesmo sendo que tal experiência é essencial para a estruturação do imaginário e a vida de fantasia do sujeito No estádio do espelho a criança jubila ao ter a sensação de domínio do corpo uma satisfação narcísica de saberse um corpo O narcisismo primário representa a onipotência dada por essa sensação de domínio do corpo e pela manutenção desse estado devido o investi mento narcísico dos pais no bebê NASIO 1997 QUINET 2012 Os pais projetam seus sonhos seus an seios ou seja seu ideal de eu no bebê o bebê é tido para os pais como perfeito todo podero so fato traduzido por Freud 1914 como sua majestade o bebê No entanto o que os pais projetam no bebê não é algo real mas sim supo sições de tal perfeição É por intermédio da linguagem que o bebê vai sendo inserido na ordem simbólica e vai percebendo seu lugar no desejo do Outro A medida que o Outro por meio da linguagem articula o objeto do seu desejo na mensagem destinada à criança é que a criança vai se identi ficando como objeto de desejo do Outro e busca sêlo a partir da formação de um eu ideal SI RELLI 2010 Identificação significa ser igual a algo assim ao se identificar com o outro a mãe ou quem exerça a função materna o bebê toma como seu o ideal do eu do outro formando aqui seu eu ideal FREUD 1914 É o eu ideal não correspondente ao ver dadeiro Eu mas sim um ideal de um outro que da a característica imaginaria desse processo A imagem especular formada no espelho não é a imagem do Eu mas sim do outro Contudo ape sar dessa imagem ser enganosa é a partir dela que o bebê vai se reconhecer SIRELLI 2010 Com isso ao mesmo tempo que se for ma uma primeira imagem do Eu o Eu se perde Ao se identificar com o outro o Eu se aliena na imagem que é do outro O Eu aqui está constitu ído pelo outro o Eu é o outro Assim se diz que no Estádio do Espelho há um desconhecimento do Eu O Eu é uma ilusão a imagem do próprio 117 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 corpo é enganosa imaginária QUINET 2012 Essa relação imaginária é chamada de relação dual é demarcada pela percepção de um dentro e um fora uma consciência que logo se perde O que caracteriza a relação dual não é uma relação entre dois sujeitos mas sim a não distinção entre o que de si mesmo e do outro A sensação de domínio e completude do bebê é ilusória pois o narcisismo não é simplesmente uma relação consigo mesmo mas uma relação consigo mesmo através do outro com o qual ele se identifica e se aliena O momento do narci sismo primário é o momento da alienação do Eu GARCIAROZA 2009 A identidade assumida no Estádio do Espelho é uma identidade alienante o Eu tem uma ilusão de autonomia captado pelo desejo do outro o Eu se desconhece se perde no outro A alienação é um véu que mascara a falta dos dois sujeitos sendo assim o que se liga de um no outro é a falta de cada um LACAN 1964 O processo de alienação é necessário para a constituição do sujeito pois o despedaça mento do corpo a falta de sentido só é vencida por meio do investimento de um Outro no bebê ELIA 2010 Lacan 1964b p 205 faz uso da dialética do escravo para explicar essa importân cia do processo de alienação sendo que não há liberdade sem a vida mas não haverá para ele vida com liberdade ainda usa o termo não há algo sem outra coisa Nessa dialética de senhor e escravo é que bebê e mãe completam se alienam A imagem da criança unificada esca moteia a falta e o despedaçamento originário do sujeito A alienação não é percebida pelo sujeito mas ela causa efeitos o outro vira um intruso que invade e rivaliza com ele QUINET 2012 O momento da alienação o momento em que o bebê aceita a posição de escravo é o momento em que o bebê assume a posição de objeto do Desejo da mãe devido a identificação com a falta dessa mãe Isso confere o caráter de Desejo imaginário alienado no outro MELLO 2007 A alienação é como um véu véu que mascara a falta na alienação o bebê não tem falta a fata é mascarada Na alienação quem deseja é o Outro e não o sujeito Para que o sujeito emerja se faz necessário o processo de separação é preciso se separar do Outro para se constituir o próprio desejo mesmo que este desejo seja o desejo do grande Outro MURA NO 2006 Assim a alienação é um processo que precisa ser superado dando espaço a um pro cesso chamado de separação no qual acontece uma tentativa de o sujeito se separar do Outro sair da posição de objeto do desejo do Outro e passar a condição de sujeito desejante LA CAN1964 No registro imaginário a falta é como se não existe existe uma relação de completu de entre o eu e o objeto Para que haja falta é necessário a entrada no registro simbólico pois sem falta não há desejo e sem desejo não há sujeito MELLO 2007 2 A SEPARAÇÃO E O GRANDE OUTRO RE GISTRO DO SIMBÓLICO O simbólico é um conceito na psicanálise que se baseou nos estudos de LéviStrauss em que ele diz que a cultura é um conjunto de sistemas sim bólicos e que esses sistemas simbólicos não são constituídos a partir do momento em que traduzimos um dado externo em símbolos mas ao contrário é o pensamento simbólico que constitui o fato cultural ou social só há social porque há o simbólico Esse simbólico LéviStrauss identificao como a função sim bólica ou o que vem a dar no mesmo com as leis estruturais do inconsciente GAR CIAROZA 2009 p 175 A entrada na dimensão simbólica se dá por meio da cultura O bebê não possui a prin cípio uma estrutura de linguagem uma rede de signos que o possibilite a comunicação esta rede necessita ser estruturada É o Outro que pode ser a mãe a princípio quem enviará seus significantes ao bebê É na relação entre sujeito e estrutura simbólica que advém o Outro o su jeito do inconsciente MELLO 2007 Cabe salientar que nessa relação com o Outro onde por meio da linguagem os signifi cantes vão sendo inscritos no sujeito o sujeito não é passivo ou seja O significado dado ao encontro com o Outro depende portanto do significante é dele subsidiário mas não é por ele totalmente determinado exigindo o trabalho de significação que é feito pelo sujeito ELIA 2010 p 42 Quando se fala em sujeito para a psica nálise tratase do sujeito do inconsciente sujeito dividido ou sujeito barrado O sujeito é o que um significante representa para outro significante 118 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 ou seja uma coisa só é uma coisa em relação a algo WISNIEWSKI 1989a O que gera a significação é a articulação entre significantes que ocorre no inconsciente no Outro sendo que o inconsciente baseado no descrito acima sobre o conceito de simbólico é uma lei de articulação e não uma coisa ou um lugar onde essa articulação se dá As sim sendo a cisão produzida na subjetivida de pela psicanálise não deve ser entendida como a divisão de uma coisa em dois peda ços mas como uma cisão de regimes de for mas de leis GARCIAROSA 2009 p174 O inconsciente é o Outro a outra cena é o lugar dos significantes e onde eles se articu lam A princípio a criança não tem seu Outro o Outro é a mãe a criança necessita se apropriar dos significantes dela para a partir daí fundar seu próprio inconsciente seu Outro Isso só é possível se houver a quebra da relação alie nada ou seja tem que haver a separação um novo significante precisa se inscrever na relação para que a articulação dos significantes acon teça esse significante é o chamado Nomedo Pai ou Lei do Pai ou ainda metáfora paterna Assim segundo Quinet 2012 p 28 O Nome doPai é um significante estruturador de todos os significantes que constituem o inconsciente como discurso do Outro e ainda O resultado da metáfora paterna é a inclusão do Nomedo Pai no lugar do Outro conjunto de significantes e o acesso à significação fálica que permite ao sujeito se situar como homem ou mulher na par tilha dos sexos QUINET 2012 p 29 A Lei do Pai significa aquele que dá li mites que separa que corta a relação de com pletude entre mãe e bebê e que os lembra que o desejo é do impossível MELLO 2007O Complexo de Édipo a separação diz respei to a interdição do desejo e marca a passagem do Imaginário para o Simbólico por mais que o Simbólico esteja presente desde o início e ainda culmina com a fundação do sistema consciente préconsciente e inconsciente GARCIAROZA 2009 Assim o registro simbólico e o advento do sujeito estão ligados à separação do Outro que consiste em um processo de simbolização em que o sujeito sai da posição de objeto do de sejo da mãe e passar a uma relação de satisfazer o seu próprio Desejo ou seja passar de sujeito faltante para sujeito desejante sair da alienação WISNIEWSKI 1989b Essa operação de se paração diz da entrada da Lei do Pai pode ser explicada por meio da vivência do Complexo de Édipo que se dá em três tempos Lacan divide o édipo em três tempos o primeiro tempo tem como característica uma relação dual com a mãe o segundo tem como característica a inserção do pai na relação e o advento do simbólico o terceiro é marcado pela identificação com o pai e início da dissolução do édipo ou declínio GARCIAROZA 2009 21 PRIMEIRO TEMPO DO ÉDIPO O que caracteriza o primeiro momento do Édipo é a frustração e ser ou não o falo da mãe entra em questão JORGE FERREIRA 2005 Segundo Lacan 1964b p 207 É no que seu desejo está para além ou para aquém no que ela diz do que ela intima do que ela faz surgir como sentido é no que seu desejo é des conhecido é nesse ponto de falta que se consti tui o desejo do sujeito Ou seja no processo de identificação com o outro no Estádio do Espelho a criança se identifica também com a falta desse Outro com seu desejo e se põem a ocupar esse lugar faltoso do Outro ele se coloca como falo da mãe objeto da falta No entanto na interação com esse Outro o bebê percebe que este Outro lhe falta que a mãe não se dedica somente a ela o bebê percebe que não é só com o ele que a mãe conversa e que em alguns momentos a mãe não está com ele que não está com ele o tempo todo e nisso ele percebe que o Outro deseja fora dele que é barrado e que ele não é capaz então de ocupar o lugar de falo da mãe A falta que estava coberta pelo véu da alienação volta a ser escancarada e a única sa ída para o sentido é a via do desejo ou seja saber que lugar se ocupa no desejo do Outro e isso é feito por via da fantasia É por meio da fantasia que se tenta produzir o sentido de o que se é no desejo do Outro SIRELLI 2010 No primeiro momento do édipo a criança se vê como o falo da mãe o desejo do desejo da mãe e isso se dá porque a criança se identifica com a mãe O que predomina é o imaginário a alienação à mãe Não há aqui individualidade psíquica a relação é dual Esse período é o do narcisismo da onipotência da criança GARCIA ROZA 2009 Colocar o bebê na posição de objeto do desejo dos pais ou seja no lugar de falo é essencial para a estruturação psíquica dos 119 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 seres humanos é essa posição em que a crian ça é colocada que proporciona a humanização A criança tem que ser o falo da mãe para que se inscreva no simbólico JORGE FERREIRA 2005 Na relação com o Outro para a satisfa ção das necessidades o corpo do bebê vai sen do erogenizado e algo além da satisfação entra em jogo é o prazer A necessidade passa então a se transformar em uma demanda endereçada ao Outro que é de amor A demanda é de amor por que o objeto da satisfação se perdeu na pri meira experiência de satisfação e agora o bebê precisa se fazer amar pela pessoa que suposta mente possui esse objeto esse Dom O sujeito assim está barrado dividido faltoso por um sig nificante que se perdeu representado por esse objeto MELLO 2007 22 SEGUNDO TEMPO DO ÉDIPO O segundo momento do Édipo é onde ocorre a intensificação do registro simbólico e a entrada do pai como aquele que interdita barra a mãe em relação ao filho O pai priva ambos criança da mãe e mãe da criança e esta priva ção ira ocasionar a quebra do narcisismo primá rio pela Lei do Pai GARCIAROZA 2009 O que o pai priva com a Lei é o gozo do sujeito tido ao se colocar como objeto do Desejo da mãe A criança percebe então que o Desejo da mãe não pode ser seu objeto de gozo A Lei serve tanto para a criança como para a mãe no sentido de que proíbe também que a mãe colo que o bebê como seu objeto de gozo seu falo e para a criança mostra que a mãe é também ultrapassada por uma Lei maior que ela QUI NET 2012 O pai passa a ser o falo o pai é a lei ele tem o poder de interditar e deslocar o desejo da mãe O pai é um pai simbólico um o outro com o minúsculo O pai aqui ainda não é o pai real de carne e osso mas sim o pai que se presentifica por intermédio da fala da mãe no momento em que está se submete à Lei do Pai ela deve faltar GARCIAROZA 2009 É fundamental que a mãe reconheça que está submetida a Lei do pai Não é preciso a presença do pai como personagem Uma mãe viúva por exemplo pode perfeitamente exercer a função do pai real Basta que ela diga e de provas de que o objeto de seu de sejo não é o filho pois por detrás dela existe uma mulher que não tem o falo e justamente por isto vai buscar em um homem e não no filho o que ela não tem JORGE FERREI RA 2005 p 54 Aceitar sua própria castração isso faz com que a onipotência da mãe seja transferida para o pai que passa a ser quem possui o falo imaginário o Dom O filho tem de saber que ele não é o objeto de desejo da mãe que a mãe de seja o pai e é a mãe quem deve demonstrar isso ao bebê dizendo mostrando ou seja por meio da linguagem O pai assim reforça a frustração do primeiro tempo do Édipo JORGE FERREI RA 2005 O objeto de gozo da criança é o Desejo da mãe o que a lei faz é barrar o sujeito a esse gozo de ser o objeto da mãe lugar de objeto de gozo do Outro A castração é assim definida como um efeito da separação entre o bebê e a mãe MELLO 2007 A introdução do NomedoPai no lugar do Outro barra o acesso do sujeito ao gozo e ele não mais poderá ocupar o lugar de objeto do gozo do Outro a não ser na fantasia As sim o Outro como lugar dos significantes se torna o Outro como lugar da Lei Essa ope ração tem como resultado a instauração de uma falta que Freud chamou de castração que terá como consequência tornar o Outro inconsciente QUINET 2012 p 29 O pai castra o desejo de união com a mãe e esse desejo é então recalcado culminando na separação e clivagem dos sistemas consciente e inconsciente A criança não se vê mais como sendo o falo da mãe e passa a se questionar sobre ter ou não ter o falo a mãe deixa de ser a Lei agora quem tem o falo é o pai e ele é quem é a Lei GARCIAROZA 2009 23 TERCEIRO TEMPO DO ÉDIPO Freud caracteriza o que impulsiona a dissolução do Complexo de Édipo como conse quências de uma sequência de acontecimentos decepcionantes na vida do bebê segundo Freud 1924 p 195 a ausência da satisfação es perada a negação continuada do bebê deseja do devem ao final levar o pequeno amante a voltar as costas ao seu anseio sem esperança A primeira decepção da criança seria a retirada do seio em seguida a cobrança de que o bebê 120 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 defeque e então o desapontamento em perce ber a diferenciação sexual a qual faz emergir a ansiedade da castração O menino percebe mais cedo ou mais tarde que a menina não possui um pênis fato que ele acreditava assim ser e isso faz com que ele imagine a possibilidade de ele perder o seu Já a menina imagina que tinha um pênis e que foi castrada ou seja a castração é vista como um fato já consumado e sendo assim a ameaça de castração não ocorre na menina O que ela teme é uma perda de amor advinda da intimida ção de sua sexualidade feita pelos cuidadores FREUD 1924 Segundo Lacan 1958 o complexo de castração é o efeito da percepção da castração da mãe a qual seria a última pessoa a ser cas trada devido ela ser inicialmente o Outro pleno ou seja é a barra no desejo da mãe que faz emergir a angústia da castração devido a fazer o próprio sujeito se deparar com a sua própria castração A angústia da castração é que leva a criança ao jogo das identificações e o conse quente declínio do Complexo de Édipo O me nino renuncia ser o falo da mãe e identificase como aquele que é o detentor do falo a menina identificase com a mãe sob a forma de não ter mas de saber onde deve ir buscálo COSTA 2010 No menino isso se deve a impossibilida de de obtenção de satisfação do Complexo de Édipo pois a perda do pênis seria um fato Se ele se colocar como objeto da mãe o pai pode lhe castrar e se ele se identificar com a mãe ele não terá um pênis pois mulheres não o tem O Édipo da menina haveria uma mudança de ob jeto da mãe para o pai e a mudança de desejo de ter um pênis para ter um bebê o bebê entra ria como a possibilidade de ter o falo GARCIA ROZA 2009 FREUD 1924 É nesse jogo de identificações que o su jeito se posiciona sexualmente como homem ou mulher Há duas saídas para o menino se identi ficar com a mãe o que lhe dá o caráter feminino ou intensificar a identificação com o pai o que lhe dá o caráter masculino FREUD 1924 A sa ída para a menina é então se identificar com a mãe e ter o pai como objeto amoroso o que lhe confere a feminilidade ou ao se comparar com os meninos não aceitar sua castração e manter a ligação libidinal com a mãe o que lhe confere o caráter masculino COSTA 2010 O que possibilita o processo descrito aci ma são os mecanismos de introjeção identifica ção e dessexualização O sujeito introjetaria os pais colocariaos para dentro do seu aparelho psíquico se identificaria com eles ou seja se tornaria igual a eles e dessexualizaria os pais tirando sua libido deles e a partir daí dirigila a outros objetos Isso causa uma alteração no Eu que é chamada de Supereu que segundo Freud 1924 p 198 A autoridade do pai é introjetada no ego e aí forma o núcleo do superego que as sume a severidade do pai e perpetua a proibição deste contra o incesto defendendo assim o ego do retorno da catexia libidinal Repressão é o nome dado ao afastamento que o ego sofre da realidade diante do complexo de Édipo O supe reu guia como o sujeito deve ser quanto o que o sujeito não pode serter e com isso ele mantem realcado o Complexo de Édipo Quanto mais forte o Complexo de édipo e mais rápido for o recalque mais severo o superego será FREUD 1923 Esse processo descrito por Freud em termos Lacanianos é descrito como a entrada na ordem simbólica A dissolução do complexo de Édipo se dá devido a simbolização pois Tudo que se refere a libido à pulsão ao gozo está aprisionado nos impasses do ima ginário e no imaginário não há solução pos sível A libido aprisionada no círculo vicioso imaginário deve ser então integrada á ordem simbólica e traduzida em termos de desejo pois a questão do inconsciente só poderá ser resolvida no simbólico MELLO 2007 p 122 É necessário que haja simbolização do imaginário para que haja a falta e dela advenha o desejo Ao estar preso na alienação a falta é como se não existisse o bebê se vê completo na alienação É a Lei do Pai que promove a signi ficação do falo imaginário para o falo simbólico e marca a saída das relações objetais imaginá rias para outros objetos que poderão restaurar a completude MELLO 2007 Ocorre então a passagem do sujeito fal tante para o sujeito desejante A criança sai da relação de objeto com a mãe e passa a uma re lação de satisfazer o seu desejo e não o da mãe percebese a si como um ser passa a experiên ciar as coisas por si mesma GARCIAROZA 2009 WISNIEWSKI 1989b A internalização das figuras parentais 121 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 significa a interiorização da Lei do Pai e o o re calque do desejo É o recalque que então funda o inconsciente funda o Outro funda o sujeito Se houve recalque é porque ocorreu a identi ficação simbólica no édipo e os ditos dos pais foram introjetados dando origem ao Superego QUINET 2012 O Superego é a Lei e o que ela barra é o gozo e não o desejo barra o gozo do sujeito ao se colocar como objeto da mãe Esse gozo a partir da castração só poderá ser realizado a nível da fantasia O resultado disso é a falta que segundo Quinet 2012 p 29 terá como conse quência tornar o Outro inconsciente É a par tir da falta que o desejo pode emergir O que o Outro quer de mim é o que passa a articular o desejo inconsciente O terceiro momento do Édipo caracteri zarseia assim com a passagem do pai ao sim bólico um O grande outro com o maiúsculo o representante da Lei e não mais a Lei em si Aqui o pai também é castrado ninguém mais é visto como falo e nem como Lei GARCIA ROZA 2009 Ter ou não ter o dom caracteriza esta fase marcada pelo declínio do Complexo de Édipo e marcado pela simbolização da Lei O falo imaginário passa a ser simbólico reconhe cese que o pai é também castrado no entanto ele tem algo com valor de Dom Falo se refere ao símbolo do poder e completude Dom e não deve ser confundido com o órgão sexual mas culino JORGE FERREIRA 2005 GARCIA ROZA 2009 De maneira geral podese dizer que no processo de separação é preciso renunciar ao que nunca se foi e ao que nunca se teve mas que um dia se acreditou ser frustração e ter castração para que seja possível a simbo lização do falo como objeto de dom privação JORGE FERREIRA 2005 p55 3 OBJETO a E O REGISTRO DO REAL O sujeito precisa a princípio se alienar no campo do Outro para se salvar mas pos teriormente necessita dele se separar para se constituir como sujeito desejante A operação de separação é realizada no momento em que o significante Nome do Pai se inscreve como uma barra o que causa um corte no sujeito No entanto nesse corte parte da experiência é simbolizada e inscrita no aparelho psíquico fun dando os sistemas consciente e inconsciente mas uma outra parte permanece não simboli zável Esse não simbolizável é assim um resto da operação de separação é algo que cai que se desvela no momento da divisão é o objeto a SIRELLI 2010 O objeto a é do Real do não simbolizá vel ele não pode ser representado no simbólico Em sua vertente real designa das Ding resto resíduo produzido a partir da rela ção do ser vivente com o Outro rebota lho que não é representado no aparelho psíquico configurando um furo um va zio contornado por representações em torno do qual o inconsciente estrutura do como uma linguagem se funda SI RELLI 2010 p 38 É desse vazio que advém o desejo o ob jeto a é assim objeto causa do desejo e causa o desejo devido sua característica de impossi bilidade de recobrimento pelo significante ou seja não há objeto capaz de recobrir tal vazio O desejo que advém do vazio coloca o apare lho psíquico em movimento movimento rumo ao encontro de tal objeto que supostamente foi perdido supostamente porque na verdade o su jeito nunca o teve e que restituiria a satisfação completa SIRELLI 2010 O Desejo é fundado pela falta conforme Mello 2007 p 125 é um espaço vazio que se impõe a partir do simbólico entre um e o outro O Desejo é um vazio o qual move o sujeito na busca de encontrar um objeto que o preencha no entanto o Desejo é um vazio que nunca se preenche por ser estrutural do ser humano Isso nos remete ao que relatamos na introdução des te trabalho sobre a Coisa em Freud a qual se passa a vida a procurar mas que no entanto como diz Lacan é algo que nunca se teve A satisfação assim é sempre parcial por que não há objeto que de conta desse vazio deixado pela queda do objeto a e nem haveria de ter pois isso significaria a morte do sujeito sem desejo não há sujeito Assim buscase nos objetos substitutos algo que tampone essa falta esse vazio algo eu supostamente teria o poder de dar o sentido último a completude Esse ob jeto poderoso na psicanalise é o que o falo re presenta O falo é então aquilo que é visado pelo sujeito por ser investido como o que lhe falta para ser pleno MURANO 2006b p 32 Nesse sentido é que podese diferenciar o obje 122 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 to a do objeto da pulsão O objeto a é o objeto causa do desejo ele pertence ao Real ao não simbolizável enquanto que o falo é o objeto do desejo ou seja o objeto da pulsão que é do simbólico MURANO 2006b Não é possível reencontrar o objeto que supostamente traria a completude porque esse objeto na verdade nunca existiu a falta é estru turante do sujeito assim o movimento desejan te não se estanca de forma que todo encontro com o objeto guarda essa dimensão de encontro com a falta atualizando a certeza de que ain da não era bem isso promovendo um desloca mento metonímico do desejo e dos objetos que a ele se atrelam SIRELLI 2010 p 39 Esse ainda não era bem isso é expli cado por Elia 2010 pela passagem do campo da necessidade ao campo do desejo onde um terceiro elemento entra em cena a demanda Segundo ele baseado em Freud e Lacan na experiência de satisfação do bebê o objeto da necessidade chega até o bebê por alguém que o traz Se não tiver quem traga o objeto não che ga ao bebê Assim a criança passa não querer só o objeto mas também aquele que o traz Po demos dizer aqui que o objeto está relacionado ao pequeno outro e quem traz o objeto está re lacionado ao grande Outro A essência da de manda passa a ser então a presença do Outro e o sujeito passa a se mover em direção ao Outro capaz de trazer o objeto e não mais ao objeto em si O efeito dessa passagem da necessida de para o campo da demanda é o apagamento do rosto do objeto da necessidade porque ele é fragmentado pelo significante e se transforma em pulsão ELIA 2010 Aqui temse então dois aspectos ao ní vel da demanda se quer a presença o amor do Outro e pelo outro a pulsão o move em direção ao objeto perdido fragmentado pelo significan te que falta e que jamais fora conhecido pelo sujeito Assim o que habita a demandaamor é um objeto faltoso que é o objeto a e que causa o desejo no sujeito o objeto a é assim objeto cau sa Objeto do desejo e objeto causa são coisas diferentes quando o desejo se volta para objetos única coisa aliás que ele faz incessante mente ele o faz revestindo o objeto faltoso que o causa com alguma marca algum atri buto de significação que faz o objeto o alvo do desejo Causa e alvo no caso do dese jo portanto jamais coincidem ELIA 2010 p54 Os objetos que de alguma forma são elei tos como objetos do desejo no decorrer da vida do sujeito tem relação com aquilo que é visa do pelo sujeito por ser investido como o que lhe falta para ser pleno MURANO 2006b p32 é o falo para a psicanálise falo como representa ção de um objeto poderoso Nesse sentido é que podemos diferenciar o objeto a do objeto da pul são O objeto a é o objeto causa do desejo ele pertence ao Real ao não simbolizável do sem rosto enquanto que o falo é o objeto do desejo ou seja o objeto da pulsão MURANO 2006b Contudo a pulsão pode fazer vários ca minhos para obter satisfação e se utilizar de ob jetos diferentes para isso O objeto da pulsão é aquilo em que ou por meio de que a pulsão pode alcançar sua meta Ele é o elemento mais variável na pul são e não está originariamente vinculado a ela sendolhe apenas acrescentado em ra zão de sua aptidão para propiciar a satisfa ção Em rigor não é preciso ser um outro ob jeto externo pode muito bem ser uma parte de nosso próprio corpo Ao longo dos diver sos destinos que a pulsão conhecerá o ob jeto poderá ser substituído por intermináveis objetos FREUD 1915b p 149 A satisfação da demanda é assim impos sível pois ela é habitada pelo desejo e não por objetos Segundo Lacan 1958 p 340 Assim sempre desconhecemos até certo ponto o de sejo que quer fazerse reconhecer uma vez que lhe atribuímos seu objeto quando na verdade não é de um objeto que se trata o desejo é de sejo daquela falta que no Outro designa um ou tro desejo É isso que caracteriza que o que se pede nunca irá necessariamente coincidir com o que realmente se deseja assim se diz que há uma mentira estrutural na demanda A demanda não é formulada para ser satisfeita ELIA 2010 A satisfação assim é sempre parcial porque não há objeto que de conta desse vazio deixado pela queda do objeto a e nem haveria de ter pois isso significaria a morte do sujeito sem dese jo não há sujeito Assim buscase nos objetos substitutos algo que tampone essa falta esse vazio algo eu supostamente teria o poder de dar o sentido último a completude objetos que tem valor de falo MURANO 2006b O sentido as respostas que o sujeito 123 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 deseja e que o colocam em busca partem das questões que vem a tona na castração O que quer dizer tudo isso Que queres O que o Outro quer de mim Essas questões surgem diante do insuportável da falta e são respondi das por meio da elaboração da fantasia funda mental que visa às respostas para a falta ou seja a inconsistência do Outro de modo com que o mundo possa ser visto como dotado de sentido e consistente A fantasia é a resposta que faz borda ao vazio que a extração do obje to a causado pela castração deixou ou seja é um emaranhado uma teia de significantes que circula o objeto a articulando o sujeito com seu objeto causa do desejo A partir da castração o sujeito só pode viver o gozo na fantasia a qual diz de uma possibilidade de reencontro com o objeto perdido SIRELLI 2010 A fantasia se refere ao desejo de se en contrar novamente esse objeto a e com isso sermos plenos novamente poder gozar sem restrições MURANO 2006 Seria o retorno ao narcisismo primário ao qual se passa o resto da vida tentando retornar FREUD 1914 O ser hu mano cria a fantasia para preencher o vazio da falta insuportável ele veste objetos que supos tamente dariam a verdade última sobre o ser e é essa fantasia que passa a orientar o desejo e com isso a forma como o ser se relaciona com os outros e com o mundo MURANO 2006b é com uma fantasia fundamental que o sujeito veste sua faltaaser constituindo as sim sua subjetividade pela emergência de um desejo que marca um estilo próprio de ele se haver com o desejo do Outro tentando respondelo e salvandose assim da absoluta inconsistência e da confrontação insuportá vel com o real inapreensível MURANO 2006b p37 Todos os sujeitos irão passar pela con frontação da castração da falta do terrível do Real no entanto a forma com que cada sujeito ira lidar com a sua castração pode ser diferen ciada sendo que a forma como ele se posiciona rá frente ao Real diz do posicionamento do seu desejo A formação da fantasia fundamental diz de um posicionamento de recalcar seu desejo e de não querer saber sobre ele Essa forma de posicionamento é o que funda a estrutura deno minada de neurótica Temse ainda a estrutura perversa e a psicótica Essas três estruturas se rão descritas no item a seguir 4 SAÍDA PARA AS TRÊS ESTRUTURAS Existem três modalidades de defesa pos síveis na dissolução do complexo de édipo que também são chamadas de estruturas são elas neurose psicose ou perversão As três estrutu ras dizem de um modo singular de o sujeito arti cular os três registros que constituem o aparelho psíquico Imáginário Simbólico e o Real Dizem de uma estrutura de linguagem da relação do sujeito com o significante ou seja com o Outro Como o sujeito se posiciona frente a castração do Outro e assim com o seu próprio desejo A castração é um confrontarse com a realidade de que a plenitude é algo do impossível que a satisfação é sempre parcial que se é um ser fal tante e que é necessário renunciar a posição de objeto do desejo e tornarse por si um sujeito de sejante QUINET 2006 MURANO 2006 Segundo Freud 19241923 p 169 a estrutura da neurose se origina por recuarse o ego a aceitar um poderoso impulso instintual do Id ou a ajudálo a encontrar um escoador ou mo tor ou de o ego proibir aquele impulso o objeto que visa Em tal caso o ego se defende contra o impulso instintual mediante o mecanismo da repressão Isso se dá porque o Eu é a instancia psíquica que media a realização dos impulsos instintuais e a realidade externa A estrutura neurótica assim é uma de fesa de algo que diz do insuportável do Desejo que foi construído a partir do conflito entre o de sejo e aquilo que o censura com base no Ideal do Eu MURANO 2006b As exigências sociais éticas e culturais do mundo externo são vividas por todas as pes soas porém cada um reage a elas de maneiras distintas Algumas pessoas fazem o processo de recalcamento e outras não As pessoas que não recalcam é porque não formaram um Ideal ao qual mediriam seu Eu Não existe recalque sem um Ideal o Ideal é condicionante GARCIA ROZA 2009 FREUD 1914 O recalque atuaria então como o signifi cante NomedoPai que é uma barra um não a satisfação plena um não dado pelo Eu à deter minada representação intolerável à determina da moção pulsional que pede satisfação JOR GE FERREIRA 2005 p34 A barra divide o Eu e o sujeito ou seja cinde o aparelho psíquico em dois sistemas PréconscienteConsciente e Inconsciente JORGE FERREIRA 2005 Assim na estrutura da Neurose Verdran 124 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 gung denegase a castração mas conservaa no inconsciente recalcase a Lei aqui O Outro é barrado e se torna inconsciente isso faz com que o Eu se separe do Outro Essa negação irá retornar no simbólico com fenômeno de sintoma Um neurótico não recorda o que aconteceu na infância mas isso se mostra no sintoma QUI NET 2009 QUINET 2012 O desejo recalcado para o inconsciente luta contra o recalque pois ele quer ser satis feito e satisfeito na realidade no entanto para que isso aconteça ele tem que passar pelo Eu para se dirigir a um objeto do mundo externo Como quem o recalcou foi o próprio Eu o desejo se disfarça cria caminhos aos quais o Eu não exerce seu poder ou seja uma representação substitutiva de tal desejo que é o sintoma No entanto nesse processo o Eu acaba por se ver ameaçado pelo sintoma e passa a lutar contra ele da mesma maneira que lutou contra o dese jo original No caso da neurose o Eu entra em conflito com o Id a serviço do supereu herdeiro do complexo de édipo que internalizou as re gras da realidade FREUD 19241923 O sintoma se forma no momento em que a Lei faz a amarração entre os três registros psíquicos ISR Imaginário Simbólico e Real e vem como uma solução dada pelo sujeito frente ao real traumático da castração O sintoma do neurótico faz por um lado que seu desejo seja realizado e por outro ele demonstra que houve o recalcamento do Desejo O sintoma é efeito da entrada do simbólico no real e um sim a Lei NomedoPai É pelo sintoma que o sujei to expressa o que é mais difícil do seu Desejo MURANO 2006 MURANO 2006b JORGE FERREIRA 2005 Lacan fala do sintoma como uma másca ra do desejo ressaltando que o fato de o desejo humano não estar dire tamente implicado numa relação pura e sim ples com o objeto que o satisfaz mas estar ligado a uma posição assumida pelo sujeito na presença desse objeto e a uma posição que e assume fora de sua relação com o ob jeto de tal modo que nada jamais se esgota pura e simplesmente na relação com o obje to LACAN 1958 p 331 É o sintoma resultante da inserção da Lei que barra o Outro e o torna inconsciente que amarra os três registros do aparelho psíquico I S e R o sintoma é o quarto aro que tem uma função de suplência A realidade psíquica é estritamente vinculada ao Édipo que funciona para o neurótico como o sintoma que a susten ta QUINET 2006 p56 Temse como característica da estrutura ção neurótica a influência da realidade no recal que e a reação do Id contra essa repressão e o fracasso do recalque que acaba por formar o sintoma Temse ainda que a causa da repres são é conhecida mas o sujeito volta as costas para ela esquecendoa ou seja há na neurose uma fuga do fragmento da realidade que é in suportável e que tentase por meio da fantasia substituílo por uma realidade que esteja mais de acordo com os desejos FREUD 1924b Lacan 1958 diz que o desejo não é arti culável mas no entanto isso não quer dizer que ele possa ser articulado É por meio da fantasia que o neurótico faz esse processo É a fantasia que consiste na realidade psíquica singular do neurótico e é ela que vai operar como uma ma tiz psíquica que mediará as relações do sujeito com os outros e com o mundo JORGE FER REIRA 2005 Diferentemente da neurose que é o re sultado de um conflito entre o Eu e o Id na psi cose o conflito que se instala é entre o Eu e o mundo externo O mundo externo passa a não ser percebido ou sua percepção passa a não ter efeito algum sobre o indivíduo O eu na psico se cria um novo mundo externo e interno que segundo Freud 19241923 p 170 esse novo mundo é constituído de acordo com os impul sos desejosos do id e que o motivo dessa dis sociação do mundo externo é alguma frustração muito séria de um desejo por parte da realidade frustração que parece intolerável Essa nova realidade criada é uma forma de reparação do dano causado pelo afastamento do Eu da reali dade FREUD 1924b Baseandose na obra de Lacan na psi cose Verwerfung a forma de defesa contra o desejo é denominado de foraclusão do Nome doPai ou seja da Lei Foraclusão significa que não há a inclusão da Lei no lugar do Outro ou seja o Outro não é barrado e com isso não ocor re a divisão do aparelho psíquico em Consciente e Inconsciente Diferentemente do recalque que ocorre na neurose na foraclusão a represen tação psíquica que é insuportável é rechaçada como se nunca tivesse existido não existe traço algum da representação psíquica Podese di zer de outra forma que o psicótico não percebe 125 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 o limite não percebe a Lei não percebe a cas tração QUINET 2006 MURANO 2006 O que foi repudiado frente a realidade ou seja esse fragmento da realidade rejeitado é o que retorna sem parar para ser reparado O que foi rejeitado se impõem à mente da mesma forma como o que foi reprimido na neurose É o que em termos lacanianos se traduz em que a Lei não deixa de existir por que o psicótico não a percebeu ela é negada no simbólico mas re torna no real em forma de delírio e alucinação FREUD 1924b QUINET 2006 QUINET 2009 Uma das características da estrutura da psicose são os distúrbios de linguagem que ocorrem devido a foraclusão Para que haja a ar ticulação de significantes gerando significados e a entrada no mundo da linguagem é necessário que haja a falta de pelo menos um significante e essa falta só é inscrita no sujeito se houver a in ternalização da Lei como isso não ocorre na psi cose pois o Outro continua sendo o lugar dos significantes e não da Lei significante e signifi cado aparecem radicalmente separados Assim o sujeito só tem significado o que confere a falta de sentido a linguagem desconexa do psicótico QUINET 2006 QUINET 2009 Segundo Lacan 1958 o desejo do Ou tro não é simbolizado na psicose o que faz com que a fala do Outro não se torne inconsciente o Outro fica como o lugar da fala e assim fala com o sujeito e fica do lado de fora do sujeito Esse desejo esse Outro rejeitado no simbólico retor na no real em forma de alucinação que nada mais é do que o Outro como falante O sujeito fica assim segundo Lacan 1958 p 493 de pendente da estrutura significante do desejo do Outro Como não há divisão subjetiva no psicó tico a divisão que existe é no próprio Eu e o Outro acaba por estar fora Assim não há dialé tica nas ideias do sujeito e com isso não podem ser colocadas em dúvida e nem questionadas o psicótico tem certeza ao contrário do neurótico que por ter uma divisão subjetiva onde se tem um sim e um não a Lei a dúvida é sua caracte rística QUINET 2009 A foraclusão e a consequente não entra da no simbólico diz da não travessia do Édipo e assim podese dizer que o psicótico fica fixado no narcisismo primário na alienação onde ele não deseja nada é apenas um objeto do desejo do Outro Por falta de referência simbólica ele funciona no registro imaginário onde o outro é tomado como espelho e modelo de identificação imediata formando o eixo euoutro do estádio do espelho É como se o sujeito vivesse se equi librando em um banquinho de três pernas o su jeito na psicose tem assim uma semiestabilida de QUINET 2006 É a travessia do Édipo que possibilita a entrada no simbólico e o posicionamento do su jeito na partilha dos sexos ou seja simbolizar a questão sexual que no inconsciente não tem representação Como o psicótico não passa por esse processo existe aqui uma dificuldade de posicionamento do sujeito frente a sexualidade No momento em que o sujeito se confronta com alguma situação da vida na qual ele precisa se posicionar o psicótico se remete as suas ques tões imaginárias que desencadeiam o delírio e as alucinações que vem para suprir a falta desse significante COSTA 2010 O delírio é a forma que o psicótico tem de fazer as coisas adquirirem uma certa consistên cia O delírio supre a foraclusão ele é colocado no lugar onde ocorreu uma falha na relação do sujeito com a realidade assim o delírio é como uma ponte O delírio atua como um remendo algo que é costurado no lugar em que original mente uma fenda e abriu na relação do Eu com o mundo externo É no delírio que o psicótico constrói o que é chamado de metáfora delirante que consiste em criar algo que atue como subs tituto da Lei seria ele uma tentativa de entrada na Lei e barrar o gozo do Outro A estabilização do delírio ocorre quando a metáfora delirante entra no lugar do nome do pai foracluido pos sibilitando um sentido ao redor dela ou seja A indução do significante permitelhe instituir uma ordem apesar de delirante e reconstruir o mun do QUINET 2006 p43 O gozo que se trata aqui é um gozo além do sexo é um gozo consigo mesmo gozo por sua autossuficiência O sujeito goza com ele mesmo Porque tem o objeto a A não simboliza ção da Lei faz com que o sujeito viva no real do gozo absoluto não seja barrado e com isso não se funde o inconsciente ou seja não há falta no psicótico e consequentemente não há desejo O sujeito psicótico possui o objeto a ele é pleno não necessita do Outro para ter desejo e com isso vive no campo do Real O delírio é justa mente uma tentativa de separação do objeto a tentando localizar o gozo em algum objeto fora de si mesmo QUINET 2006 QUINET 2009 No psicótico o Outro não é barrado e 126 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 portanto ele é possuidor do objeto a sob a forma de voz e de olhar observados facilmente nos de lírios e alucinações É por isso que é caraterísti co no delírio o sujeito ouvir suas próprias vozes mas como se fosse de outra pessoa Na psicose quem fala para o sujeito é um Outro é uma voz que vem de fora dele e que o comanda pois o psicótico se coloca como objeto desse Outro QUINET 2012 Na estrutura perversa a forma de defesa do sujeito frente a castração é denominada de denegação ou desmentido Verleugnung Tal mecanismo é se caracteriza pela aceitação e não aceitação da Lei ao mesmo tempo ou seja um sim e um não simultâneos que culminam na cisão sobre o próprio Eu JORGE FERREIRA 2005 Diferente da psicose que o Eu cinde com a realidade na perversão o Eu se divide em duas partes contraditórias entre si onde uma parte aceita a castração do Outro e a outra a nega sem que uma crença anule a outra A par te que nega a castração fica ligada à realização do desejo e a outra parte fica ligada a realidade FERRAZ 2010 Na perversão a denegação sustenta a crença infantil de que todos possuem um pênis isso ocorre no momento em que a criança per cebe a diferença anatômica dos sexos e se vê tomada pela angústia da castração A sustenta ção dessa crença dificulta o processo de separa ção do Outro e o processo de simbolização que fazem com que o ato ação predomine sobre o pensamento FERRAZ 2010 A denegação da realidade está assim li gada à recusa de aceitar a percepção da reali dade da ausência do pênis na mulher na mãe Essa recusa demonstra uma atitude estritamen te infantil diante da castração da mãe que ape sar de ser percebida esta ausência é negada com o objetivo de neutralizar a angustia de cas tração Como a castração é no fundo percebida o pênis é encarnado em outro objeto do mundo real o objeto fetiche DOR 1991 O fetiche é uma das características da perversão é uma forma de negação da castra ção do Outro É um substituto para a falta do pênis na mulher e tem como característica ser uma presença que substitui uma ausência sig nificando portanto a realização de um desejo FERRAZ 2010 p46 Essa presença se dá de forma ilusória há aqui uma crença ilusória que desempenha o papel na vida psíquica de nega ção da castração da mulher O perverso não desconhece a castração do Outro ele conhece muito bem a Lei mas não quer saber dela ele a ignora não quer saber de limite algum O perverso é aquele que goza justamente na transgressão da Lei MURARO 2006 QUINET 2009 Transgressão da Lei que em um neuróti co acarretaria em culpa é o que no perverso lhe dá uma satisfação O perverso portanto não se encontra sujeito às insatisfações inibições ru minações de culpa dúvidas medos e todas as demais formas de tormento psíquico que nor malmente assolam os neuróticos FERRAZ 2010 p123 Assim o perverso vive em uma base narcísica de gozo excessivo o que faz com que dificilmente ele venha a sofrer dores psíqui cas que o levariam a procurar ajuda CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo discorreu sobre a cons tituição do sujeito para a psicanálise embasan dose na teoria de Freud e Lacan Ao nascer o ser humano é um corpo biológico ele não é um sujeito pois o sujeito tem que ser constituído Devido a condição de imaturidade tanto biológi ca quanto psíquica o bebê necessita de um ou tro semelhante que lhe garanta a satisfação de suas necessidades biológicas para garantir sua sobrevivência e é nessa relação com o outro que o sujeito irá advir Juntamente com a satisfação das necessidades vai ocorrendo a erotização do corpo que propicia que a pulsão apoiada no ins tinto advenha É nesse sentido que Freud diz que o Eu é a princípio um Eu corporal e que o sujeito é pulsional e não está presente desde o início Lacan explica a constituição do sujeito por meio das operações de alienação e separa ção Dentro do processo de alienação podese destacar que ao nascer o bebê é imerso em uma cultura a qual o bebê tem que ser inserido e é o Outro quem vai dando os significantes que vão mostrando para a criança quem ela é e como o mundo é No entanto esses ditos são do Outro e não da criança a criança em um primeiro mo mento se aliena a esses ditos como forma de dar sentido a si mesma e ao mundo até o momen to em eu por si mesma ela consiga dar sentido a sua própria existência Um outro aspecto da alienação é a alienação ao desejo do outro se colocar na posição de objeto do desejo do outro 127 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 para com isso suportar a angústia e o desampa ro natural dos seres humanos A alienação atua como um véu que mascara a falta tanto da crian ça como da mãe A alienação é necessária para a consti tuição do ser humano porém na alienação o ser não é um sujeito na alienação o bebê não dese ja por si só ele está preso em uma relação onde ele só é por meio do Outro e ainda essa relação da a ilusão de que o ser é completo e sem faltas e consequentemente a criança não é um ser desejante Assim a alienação precisa dar espa ço ao processo de separação o qual possibilitara o advento do sujeito desejante tratase do su jeito do inconsciente que diferentemente do Eu que segue o princípio da realidade e da cons ciência segue a lógica do desejo inconsciente O processo de separação é explicado em três tempos que são os três tempos do comple xo de Édipo num primeiro momento a criança e mãe vivem em uma plenitude um completan do a falta do outro em um segundo momento a criança começa percebe que não é tudo para a mãe pois a mãe falta ela não está o tempo todo com ele e dá atenção para outras pessoas que não ele então o pai ou seja a função paterna enquanto Lei barra efetivamente bebê e mãe e a partir daí o desejo surge e move cada um a buscar a realização dele em outros objetos É por meio da entrada de um significante que barre a plenitude do bebê na alienação o significante NomedoPai que o sujeito advém É esse significante que divide o sujeito e o Eu ou seja os sistemas préconscienteconsciente e inconsciente possibilitando que uma falta se funde e pela qual o desejo advenha A partir da separação ou castração o sujeito passa a dese jar por si mesmo e não mais pelo outro Segundo Lacan o que causa o desejo no sujeito é o chamado objeto a que cai pela en trada do significante NomedoPai deixando um vazio sem representação para o sujeito O de sejo advém então desse vazio e coloca o sujeito em movimento pois move o ser em busca de algo que o traria novamente a completude que no entanto nunca existiu e nunca existirá pois a falta é uma condição humana Assim o NomedoPai é uma Lei que faz com que ocorra o recalque do desejo de satis fação plena ou seja barra a pulsão e assim in sere o sujeito na cultura Podese perceber aqui que a inserção na cultura traz um duplo aspecto por um lado o recalque é o que possibilita viver em sociedade por outro lado o verdadeiro su jeito tem que ser apagado que é o sujeito do desejo aquilo que o ser humano realmente é e que é o sujeito a quem a psicanálise se dedica a compreender Pensandose nos três registros do apa relho psíquico I S e R que foram sinalizados no decorrer deste trabalho é a inserção da Lei que faz com que tais registros sejam amarra dos pelo sintoma que é uma saída para a reali zação do desejo recalcado e dotar o mundo de sentido e de consistência o que se observa na estrutura Neurótica Nas estruturas psicótica e perversa o processo de significação da Lei é diferenciado no entanto dentro da psicanalise não são vistas como formas patológicas de se constituir mas sim como maneiras diferentes que o sujeito tem para posicionar seu desejo diante da castração do Outro ou seja da sua própria falta e se rela cionar com o mundo Apesar deste artigo abordar a forma como se dá a constituição do sujeito ele está longe de demonstrar tal constituição em sua pro fundidade Cada processo aqui descrito tem por trás vários outros aspectos os quais não foram descritos devido a inviabilidade de tempo para tal ficando em aberto o estudo mais aprofunda do de cada um podendose concluir com isso que a constituição do sujeito para a psicanalise não é de forma alguma simplista Por fim outro aspecto que é de extrema relevância a ser esclarecido e que explicita ain da mais a maneira não simplista que a psicanali se trata a constituição do sujeito é a observação que os processos que envolvem tal constituição não ocorrem de maneira separada como se fo cem etapas do desenvolvimento mas sim elas ocorrem ao mesmo tempo e por toda a vida do sujeito se reeditando nas experiências do mes mo na relação com o Outro e os outros e com o mundo REFERÊNCIAS CHEMAMA R Dicionário de psicanálise Porto Alegre Artes Médicas Sul 1995 240 p COSTA T Édipo Rio de Janeiro Zahar 2010 89 p DOR J Estruturas e clínica psicanalítica Rio de Janeiro TaurusTimbre 1991 124 p 128 SBARDELOTTO et al Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 ELIA L O conceito de sujeito 3 ed Rio de Janeiro J Zahar 2010 80 p FERRAZ F C Perversão 5 ed São Paulo Casa do Psicólogo 2010 146 p FREUD S Projeto para uma psicologia científica 1895 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 1 p 339410 Sobre o narcisismo uma introdução 1914 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 14 p 75108 Os instintos e suas vicissitudes 1915 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 14 p 115144 Pulsões e destinos da pulsão 1915b In Escritos sobre a psicologia do inconsciente Rio de Janeiro Imago 2004 p 133162 O ego e o id 1923 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 19 p 1382 Neurose e picose 19241923 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 19 p 195201 A dissolução do complexo de Édipo 1924 In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 19 p 195201 A perda da realidade na neurose e na psicose 1924b In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro Imago 1996 v 19 p 165173 GARCIAROZA L A Freud e o inconsciente 24 ed Rio de Janeiro J Zahar 2009 236 p JORGE A C FERREIRA N P Lacan o grande freudiano Rio de Janeiro J Zahar 2005 88 p LACAN J A tópica do imaginário 1954 In O seminário livro 1 os escritos técnicos de Freud Rio de Janeiro J Zahar 1998 p 89186 O sujeito e o outro I A alienação 1964a In O seminário livro 11 os quatro conceitos fundamentais da psicanálise 2 ed Rio de Janeiro J Zahar 1998 p 191 204 O sujeito e o outro II A afânise 1964b In O seminário livro 11 os quatro conceitos fundamentais da psicanálise 2ª ed Rio de Janeiro Jorgezahar 1998 p 205 217 O estádio do espelho como formador da função do eu tal como nos é revelada na experiência psicanalítica 1949 In Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar 1998 p 96103 O seminário livro 5 as formações do inconsciente Rio de Janeiro J Zahar 1999 532 p MELLO E N de Narcisismo e desejo In MELLO E N de Entre a lei e o desejo antecedentes à abordagem lacaniana do problema da ética em Kant com Sade São Paulo UFSCar 2007 p 109130 MURANO D Para que serve a psicanálise 2 ed Rio de Janeiro J Zahar 2006 v 21 68 p A transferência uma viagem rumo ao continente negro Rio de Janeiro J Zahar 2006b 78 p NASIO J D O conceito de narcisismo In NASIO J D Lições sobre os 7 conceitos cruciais da psicanálise Rio de Janeiro J Zahar 1997 p 4771 QUINET A Os outros em Lacan Rio de Janeiro J Zahar 2012 84 p A função das entrevistas preliminares In As 41 condições de análise 12 ed Rio de Janeiro J Zahar 2009 p 1334 Teoria e clínica da psicose 3 ed Rio de Janeiro Forense Universitária 2006 238 p SIRELLI N M Alienação e separação a lógica do significante e do objeto na 129 A Constituição do sujeito Akrópolis Umuarama v 24 n 2 p 113129 juldez 2016 ISSN 19821093 constituição do sujeito Minas Gerais UFSJ 2010 95 p WISNIEWSKI L I O sujeito o outro Revista Letras da Coisa Curitiba n 7 p 1522 abr1989a A separação Revista Letras da Coisa Curitiba n 7 p 2934 abr 1989b LA CONSTITUCIÓN DEL SUJETO EN PSICOANÁLISIS Resumen Este artículo es una revisión bibliográfica con el objetivo de discutir la constitución del sujeto para el psicoanálisis que es el sujeto del inconscien te el sujeto barrado constituido mediante procesos de alienación y separación Para ello se utilizó como base la obra de Freud Lacan y otros autores del psi coanálisis Se discurre primeramente sobre el pro ceso de alienación contemplando los conceptos de Estadio del Espejo la relación con otro semejante la formación del yo ideal y la formación del registro imaginario posteriormente abordaremos el proceso de separación explicando sobre qué se denomina los tres tiempos de Edipo la relación con el Otro la formación del Superego y el registro simbólico des pués se discute el campo del real y su relación con el objeto a y para finalizar explanaremos la salida para las tres estructuras psíquicas posibles en psicoaná lisis que son la neurosis la psicosis o la perversión PalabRas clave Alienación Constitución del sujeto Estructuras Psicoanálisis Separación Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 74 AS TRÊS FORMAS DE NEGAÇÃO À CASTRAÇÃO Francisco Ramos de Farias RESUMO A cria humana na travessia do estado de natureza ao estado de cultura dispõe para responder à falta captada no corpo da mulher de três formas de negação São três operações defensivas utilizadas pelo sujeito para não se totalmente reduzido à condição de mero objeto do desejo do Outro Em se tratando do recalque temos a inscrição psíquica do não tem pênis no corpo da mulher substituído por um nãosei o que impulsiona o sujeito a deslizar na cultura à busca de objetos referentes a um tipo de saber marcado pela anterioridade paterna No desmentido temse simultaneamente a negação e afirmação da existência de pênis na mulher mediante a coexistência de duas correntes psíquicas que não se contradizem cujo paradigma é o fetiche Por fim na foraclusão temse a não captação da falta no corpo da mulher colocando o sujeito na posição de ser o falo da mãe PALAVRASCHAVE Defesa Subjetivação Recalque Desmentido Foraclusão Professor do Departamento de Fundamentos da Educação e Coordenador do Programa de PósGraduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Editor de Seção do periódico PsicanáliseBarroco em revista Endereço Postal Rua Voluntários da Pátria 481 apto 803 22270000 Humaitá Rio de Janeiro Telefone 21 25375866 Email frfariasuolcombr As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 75 Sobre o conceito de defesa Pretendemos refletir sobre as três possibilidades defensivas que a cria humana dispõe ao ser lançada no campo da linguagem para produzir respostas ante a castração materna Em princípio abordaremos o recalque mecanismo de funcionamento da linguagem definido no pensamento freudiano como condição da subjetivação neurótica em seguida realizaremos um rastreamento para circunscrever o desmentido como condição estrutural da subjetivação perversa e finalizamos a abordagem focalizando o mecanismo da foraclusão para caracterizar a subjetivação psicótica O processo de humanização é uma travessia que apresenta trilhas sinuosas e difíceis Por se tratar de um processo devemos entendêlo na acepção dinâmica ou seja como aquilo que pode permanecer em estado embrionário ter um começo e estacionar ou progredir Essas são as vicissitudes próprias à constituição da subjetividade que têm como resultados as condições singulares de cada sujeito Mas é preciso salientar que enveredar por quaisquer trilhas desse processo requer para a cria humana confrontarse com obstáculos que se configuram como circunstâncias de cunho traumático Por esse motivo o sujeito tem de se valer de operações psíquicas para apresentar respostas às adversidades próprias das duas diferenças irredutíveis e enigmáticas a diferença de gerações e a diferença sexual Pelo fato de serem diferenças irredutíveis o sujeito produz elaborações diante dos enigmas que elas suscitam e assim recorre a uma defesa psíquica como o mecanismo que propicia seus arranjos subjetivos O conceito de defesa está intimamente relacionado ao Complexo de Édipo Muito já foi escrito sobre o mito de Édipo e também sobre sua função enquanto estrutura que longe de ser um sintoma como acreditam aqueles teóricos que decidem se entregar à ingenuidade representa sobretudo o preço que a cria humana tem de pagar em função de sua caminhada rumo ao simbólico ou seja a entrada no seio da cultura Tratase pois de uma condição de possibilidade de todo o sujeito uma vez que estamos diante do esteio que finca o limite decisivo entre a natureza e a cultura Basta para tanto direcionar nosso olhar para os pilares da literatura e encontrar a estrutura essencial do drama edípico sempre presente como estrutura nuclear de cada relato de cada acontecimento Por isso não Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 76 podemos prescindir das referências literárias se temos a intenção de nos situarmos no âmago da clínica psicanalítica pois as criações poéticas mais que refletir engendram a criação No seio de uma rede inter e intrasubjetiva encontramos o Édipo Lacan 1992 como possibilidade da primeira escolha de objeto objeto do primeiríssimo amor cujas conseqüências pesarão sobre toda a vida do sujeito Não temos somente a primeira escolha mas também a primeira renúncia que em função da defesa coloca frente a frente o narcisismo e o desejo cujo fiel da balança depende de como funciona no sujeito a chamada ameaça de castração do que decorre a instauração do supereu instância estreitamente relacionada ao progresso da civilização O complexo de Édipo e a subjetivação O que a psicanálise formula sobre o sujeito e sua relação com os objetos diferentemente do que é abordado na psicologia na psiquiatria ou na filosofia está intimamente ligado ao conceito de defesa matriz fundamental do entendimento acerca do complexo de Édipo Enquanto o acontecimento que marca a passagem da cria humana da condição natureza à condição de cultura o complexo de Édipo é o ponto por onde se nodula toda rede conceitual do campo psicanalítico portanto remete a uma estrutura subjetiva O conceito de estrutura subjetiva somente tem seu valor se for pensado a partir da castração operador estrutural que em termos de recalque desmentido e foraclusão nos coloca diante dos três destinos possíveis do sujeito Tratase de configurações nas quais o que se inscreve são as três posições subjetivas do sujeito a respeito do desejo O que entendemos como posição é a relação do sujeito à falta de objeto que é o efeito da incidência da linguagem no real Não obstante é pertinente ressaltar que a estrutura não é algo observável pela sua natureza visto não se tratar de uma entidade pois somente se revela naquilo que compreendemos como funções no caso função do significante É assim que pensamos a articulação do complexo de Édipo com o complexo de castração Na As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 77 verdade estamos situando as distintas posições do sujeito em relação à estrutura neurose psicose e perversão posições intimamente vinculadas ao complexo de castração cujo fundamento é a linguagem Considerando também o conceito de defesa frente à castração estabelecemos a distinção entre as três modalidades subjetivas e é esse o mérito da subversão freudiana tanto na descentração operada no sujeito quanto na ruptura do contínuo normalpatológico Desde suas primeiras elaborações Freud 18941976 já nos apontava as diferenças modalidades de funcionamento psíquico ao estabelecer um mecanismo estrutural para explicar a neurose e outro para a psicose O destaque dado ao Édipo surge como um acréscimo a partir da releitura em que Lacan 1995 faz o acento incidir sobre a matriz edípica ao se valer da distinção entre significante e significado como também a distinção entre o três registros real simbólico e imaginário que muito bem podem ser considerados como uma terceira tópica na explicação da dinâmica e do funcionamento psíquico Certamente pensar estes três registros fora da articulação do Édipo com a castração é reduzilos a um nível bastante trivial e anedótico O momento histórico de toda infância é coberto pelo mito em que a psicanálise vai fundar a condição de verdade que por ser de natureza mítica não pode ser enunciada pois alude ao desejo do Outro Tudo o que remete à condição imaginária constituição do Eu a partir do encontro com o semelhante da espécie na relação especular tipicamente narcísica tudo o que é referente à inserção do sujeito na cultura quer dizer a captura do sujeito no simbólico aquisição da linguagem submissão à lei assunção dos ideais e as funções correlativas a cada sexo e bem como tudo o que concerne ao real lugar no qual o desejo pode ser pensado enquanto causado e enquanto articulado a um objeto somente pode ser entendido se tomarmos a noção de defesa como ponto de partida e é justamente como defesa que lemos o percurso referente à travessia edípica Ao introduzir a questão da subjetivação pela utilização do recurso a uma operação defensiva estamos cônscios de que a defesa como conceito psicanalítico serviu a Freud 19331976 para em primeiro lugar romper com a tradição do modelo médico que estabelecia bases diferenciadas na explicação das condições saúde e doença e em segundo lugar representar a marca distintiva do humano que lhe transforma em ser diferenciado de Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 78 algo próprio da natureza Essa diferenciação somente pode ser formulada pelo recurso à noção de estrutura como uma virtualidade própria da engrenagem mítica do sujeito e também como aspecto fundamental na constituição dos arranjos subjetivos Eis o que depreendemos na conferência XXXI A dissecação da personalidade psíquica onde há uma comparação entre o processo psíquico mórbido e a estrutura de um cristal que ao romperse o faz seguindo linhas de fratura que são invisíveis mas que preexistem e que são próprias da constituição da referida estrutura A possibilidade de quebra da estrutura é somente algo da ordem de uma inferência Sendo assim o que há de mais original no sujeito é o fato de sua constituição fazer alusão a um momento pré histórico no qual podemos pensar na articulação do Real com o Simbólico Este momento em que esses registros se cruzam é aquele no qual se estabelece um tipo de esperança antecipadora daquilo que está ainda por vir Eis o sentido dado por Lacan 1998a ao argumentar que a cria humana realiza um percurso que vai da insuficiência à antecipação Ainda como um devir o sujeito é antecipado como perfeição Tratase de um ideal desfeito pela ação do trauma primeiro momento de ruptura O trauma é então o momento em que se evidência o fim da ilusão de completude uma vez que coloca o sujeito no universo da falta o que se consolida pelo recalque originário Estamos admitindo que o ser humano é antecipado e recebe um corpo habitado por uma imagem mas também esse corpo será o lugar onde circula a palavra e por isso representa a morada de um sujeito O corpo entendido como estrutura material é a certeza da finitude daquilo cujo destino é o estado de desintegração finalidade do corpo cadáver Já a substância pensante a alma de natureza imaterial tem como característica o estado de dispersão originária a atividade anímica desalojada do corpo somente pode ser concebida como pura dispersão Com isso queremos assinalar que o corpo em sua materialidade desintegrase pela morte mas o que há de imaterial nele assentado como o pensamento o desejo e o entendimento atravessa os ritmos do tempo Enquanto ponto de ancoragem o corpo é o único suporte para o vazio estrutural expondose desse modo às ações do trauma com a implantação irremediável da falta Temos nisso uma operação da qual resulta um certo aniquilamento do sujeito em termos da quebra do ideal de perfeição especialmente quando o corpo do infans entra As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 79 em cena como matéria pulsante Dito em outras palavras o corpo sofre uma primeira marcação pela imagem sendo nessas condições o real do corpo atravessado pelo imaginário em seguida é marcado pela palavra momento em que é atravessado pelo simbólico Esses dois furos que se processam no corpo são na verdade consequências da defesa Eis o encaminhamento para pensarmos a defesa como a operação em função da qual o sujeito constrói um suporte que é o estatuto simbólico Graças a essa conquista passa da suposta condição de natureza à condição de cultura no momento em que o real é informado pela imagem e que ocorre o acesso à palavra Essa é a consequência da defesa psíquica Se analisarmos a palavra defesa temos que lançar algumas reflexões defesa por quê de quê e em relação a quê Em princípio o que podemos afirmar é que a defesa é uma espécie de proteção em relação a algo que é ameaçador para o sujeito Esse é o sentido atribuído por Freud 18951976 ao admitir que a defesa quando bem sucedida equivale à saúde sendo também a marca distintiva do humano pensada em termos clínicos como a condição estrutural do funcionamento psíquico e o seu fracasso entendido como a possibilidade de adoecimento O que está garantido com a defesa é a posição subjetiva em função da qual o sujeito não seja reduzido apenas a um mero objeto do gozo do Outro Assim sendo tem garantida a condição de ser desejante Mas ao conquistar tal condição o sujeito se encontra diante de uma ameaça perder o que conquistou ou seja a condição de diferenciado de objeto do desejo do Outro Sendo assim podemos afirmar que pela defesa o sujeito tem acesso à demanda imaginária uma vez que fica constatada a falta no Outro isso corresponde a um tipo de barreira entre o desejo do Outro e um saber acerca daquilo que o Outro espera Através desse saber o sujeito se articula no universo da significação marcando também um tipo de funcionamento no campo da linguagem mediante o recurso a uma defesa Por isso as estruturas subjetivas são a consequência de operações defensivas compreendidas em termos do funcionamento da linguagem Os modos possíveis de funcionamento da linguagem correspondem àquilo que a Psicanálise formula como estruturas clínicas Tais estruturas com as quais o psicanalista se confronta na experiência com o inconsciente são estruturas conceituais de Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 80 orientação Não obstante cabe uma observação A vertente estrutural não firma um limite preciso entre as variantes fenomênicas de uma mesma estrutura como entre histeria e obsessão na neurose Igualmente não se pode chegar a nenhum critério formal que permita afirmar a sustentação de um sujeito na psicose em suas variantes melancolia paranóia ou esquizofrenia A vertente estrutural situada em um nível mais radical é encontrada na diferenciação entre principalmente a neurose e a psicose O recalque como modalidade de negação da castração Quando nos referimos às estruturas subjetivas como orientações conceituais estamos aventando as possibilidades que o ser falante dispõe para ingressar no universo da linguagem Para tanto fazse necessário situar os operadores desse processo Em primeiro lugar aludimos à castração materna entendida como a posição em que se encontra o sujeito ante a ausência de pênis captada no corpo da mulher Assim a castração materna é o operador estrutural primordial na constituição dos arranjos subjetivos O que podemos pensar acerca da castração Nada além de uma ocorrência paradoxal que nunca ocorreu não ocorre e nunca ocorrerá mas que é decisiva para a estruturação psíquica No âmbito das formulações das teorias sexuais infantis a castração é captação de uma falta em um vazio absoluto algo que é para a cria humana bastante ameaçador Tal ameaça somente toma sentido para a criança quando esta se vê diante das questões concernentes à sua própria castração especialmente frente ao dilema conflitual ter acesso ao próprio desejo pela práticas autoeróticas e deixar a mãe na falta ou renunciar a condição de ser desejante para ser o objeto da completude materna Eis o momento em que o sujeito tropeça no enigma da falta e ao mesmo tempo na necessidade de apreender algo que a realidade apresenta como a falta no Outro primordial que é a Mãe Frente a esse Outro primordial o sujeito pode seguir caminhos que decorrem da maneira como se porta em função da falta no Outro Em princípio queremos assinalar que a captação da castração materna é algo impactante para a criança uma vez que deverá tomar uma decisão entre duas alternativas continuar sendo o objeto do desejo materno ou As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 81 ter acesso ao seu próprio desejo Isso pelo fato de que a criança foi obrigada a se confrontar com a queda de sua crença acerca da universalidade do pênis em decorrência das evidências da realidade Até o momento da captação da castração materna a criança formulava suas hipóteses acerca do seu entendimento das questões concernentes ao sexo baseada na premissa de que todos os seres são iguais por portarem um mesmo e único atributo o pênis Esta fórmula da universalidade do pênis primeira teoria sexual da criança é desfeita no encontro com a ausência de pênis captada no corpo da mulher O impacto dessa percepção traumática coloca a criança diante da falta a mãe é castrada Daí então o que é evidenciado na realidade vai de encontro às formulações da criança de modo que se inaugura um novo registro o da falta A percepção da castração materna assim entendida somente ocorre se for mediada pela falta A criança ao perceber a falta no Outro primordial reconhece que a mãe é castrada A captação da falta na mãe é para a criança uma questão enigmática um mistério a ser desvendado tarefas as quais se encarrega pela vida No prosseguir de suas pesquisas sexuais principalmente com o propósito de saber por que há a diferença a criança realiza descobertas importantes pois constata que o objeto de sua primeira descoberta já era de conhecimento do pai Assim conclui que o pai já sabia daquilo que ela descobriu muito antes dela Por causa desse saber atribuído ao pai fica explicada para a criança a causa de seu nascimento Em suma pela captação da castração materna chegase à anterioridade paterna formulada em termos de um saber suposto acerca do objeto da demanda materna Esse saber apresenta pelo fato de suposto ao pai como algo que antecede ao sujeito A subjetivação neurótica Quando a criança admite que o pai já detinha um saber acerca da maneira de lidar com a demanda de amor da mãe se estabelece o efeito de anterioridade o qual tem como conseqüência uma espécie de amarração em função da suposição pelo sujeito de que é o pai aquele que detém o saber sobre aquilo que a mãe deseja Configurase assim a estrutura neurótica como aquela na qual um saber é suposto a pelo menos um Quer dizer o Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 82 neurótico é movido por um tipo de saber em razão do qual supõe que há alguém no caso o pai que sabe lidar com a demanda materna Esta suposição é a saída encontrada pelo ser falante para solucionar o impasse em relação à possibilidade de ter acesso à condição de ser desejante Por isso estabelece com aquele que supostamente sabe uma dívida para encontrar uma saída para a dúvida relativa à angústia de castração O neurótico opta por uma dívida par solucionar o dilema que se encontra frente à alternativa de continuar sendo objeto do desejo da mãe e a alternativa de pela prática autoerótica ter acesso ao próprio desejo A opção por uma dívida ao pai é aquilo que vem selar a saída da relação dual com a mãe uma vez que tal relação transformase em triangular no momento em que nela intervém o falo como algo que nem é a criança e tampouco que a mãe possui Dito em outras palavras somente no exato momento em que o falo significa tanto o objeto de desejo da mãe quanto sua falta Diremos pois que a função paterna introduz a partir da dívida constituída pelo sujeito uma distância entre o falo e a falta de modo a conduzir a falta em um nível simbólico nível da castração propriamente dita para situarmos os três níveis de falta elaboradas por Lacan 1995 privação frustração e castração Deixando de lado o personagem real encarnado pelo pai em cada caso ou seja as relações imaginárias que o sujeito estabelece com tal personagem queremos pensar a função paterna em termos simbólicos O que é fundado por esta função e que a sustenta é o Nome do Pai Mas o pai não é apenas um nome Quer dizer como afirma Jullien 1997 é uma ordem simbólica a quem se chama de pai Pela existência desse nome se funda nas sociedades humanas a ordem das gerações e instaura a lei o que torna a sociedade humana radicalmente diferente de todo arranjo natural O nome se encontra na origem do sistema simbólico no qual toda a vida humana se desenvolve a partir de um sistema independente de cada sujeito particular O acesso a esse nome somente acontece na via aberta pela mãe em função da castração A castração somente é possível e somente exerce seu efeito no momento em que a instância paterna produza a ruptura da relação especial dual entre a mãe e a criança Para dizermos em outros termos a significação do falo somente tem efeito quando o significante NomedoPai passa a ocupar o lugar que antes era ocupado pelo desejo da mãe As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 83 um desejo que a criança deseja e ao qual identifica seu objeto imaginário o falo Descobre se desse modo no inconsciente da relação edípica uma autêntica substituição significante operação denominada metáfora paterna A dívida contraída pela cria humana com o pai ou melhor a construção cultural denominada paternidade é a situação que não se tem acesso pela via imaginária Tratase de uma função simbólica efeito do significante NomedoPai Mas do quê se trata tal dívida Certamente a dívida decorre da suposição de um saber ao pai A partir desse saber o sujeito se constitui e também estabelece as significações ditas fálicas em decorrência da intervenção paterna A atribuição de um saber ao pai é uma modalidade de negação à possibilidade do absoluto referido ao gozo materno Como o que está em jogo é a castração do Outro a captação da ausência de pênis no corpo da mãe estamos nos referindo a negação do Édipo que se faz pelo recalque A operação do recalque nega a representação mas conserva aquilo que é negado no inconsciente Essa operação pressupõe a afirmação primordial efeito da constituição do primeiro núcleo de recalcado pelo recalque originário o qual a matriz dos recalques posteriores e também do retorno do recalcado no simbólico Quer dizer à suposição de há alguém que sabe sobre o gozo materno corresponde no sujeito a um não querer saber nada sobre isso Esse modo de negação que ocorre pelo recalque é próprio de um retorno no neurótico a negação recai sobre um tipo de representação e dessa maneira referese ao simbólico Tratase de um processo que se põe em marcha com o retorno do recalcado mas que conduz à revelação do inconsciente por meio das formações sintomáticas Quer dizer aquilo que é negado no âmbito do simbólico a representação retorna no próprio simbólico como formação inconsciente Em quaisquer delas a questão de sentido se faz presente especialmente no sintoma entendido como a presentificação da amnésia da infância devido ao naufrágio do Complexo de Édipo Essa nuance do recalque permite o acesso à organização simbólica que representa o sujeito O recalque como forma de negação corresponde a um processo pelo qual ocorre o deslocamento da criança da posição de saber absoluto para se submeter a algo que lhe antecede o saber do pai sobre o gozo materno Qual então é esse processo Em princípio o neurótico inscreve a ausência de pênis no corpo da mãe e também o Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 84 reconhecimento dessa ausência da seguinte maneira a Diante da percepção da falta de pênis da mãe o neurótico efetua a substituição do nãotem por um nãosei O nãosei é o efeito imediato do recalque b Decorrente disso tem acesso à cultura pois o nãotem relativo à falta de pênis na mãe se inscreve como nãosei no inconsciente Esse não querersabernada sobre isso é o motivo pelo qual como sabernão sabido aparece no discurso O recalque possibilita então o aparecimento desse não saber no inconsciente pelo fato de haver um universo simbólico que nos informa ser o sujeito sabedor de que algo se encontra no regime do recalcado c Na cultura o sujeito vai eleger objetos para tentar solucionar esse nãosei como o discurso intelectual a criação a sublimação d A busca de saber nos indica que o saber do neurótico é parcial visto que se refere somente ao sexual suposto a pelo menos um Sendo assim não se trata de uma totalidade o lugar de parcialidade é o ponto onde se situa a defesa neurótica O desmentido da castração e a subjetivação perversa A posição do sujeito frente à castração no âmbito da subjetivação perversa materna é bastante singular Em primeiro lugar da mesma forma que o ser falante teve acesso à ausência de pênis no corpo da mulher mas diferentemente não se dispõe a fazer o reconhecimento da realidade captada uma vez que se prontifica a desmentir a realidade de sua percepção Em segundo lugar diante da dúvida decorrente da angústia de castração adota uma outra saída que não a dívida de modo a coexistirem nele perverso duas correntes sem o menor conflito na vida psíquica uma que aceita a ausência de pênis no corpo da mulher e outra que nega Freud 19271976 O perverso é pois aquele que se subjetiva escolhendo uma posição em que desmente a castração materna e usurpa o lugar referido a anterioridade paterna Quer dizer quando não se dispõe a reconhecer a falta no corpo da mulher fica sem o efeito da anterioridade paterna Mas por qual modalidade de negação não reconhece essa falta Em certo sentido ou seja na subjetivação perversa o ser falante adota a atitude de preencher essa falta no corpo da mulher utilizandose do fetiche sendo este As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 85 fenômeno o modo utilizado pelo sujeito para não reconhecer que captou uma falta no corpo da mãe Em outras palavras o fetiche é usado para tamponar a falta captada Desse modo fica desmentida a castração materna O acesso à representação da ausência de pênis na mulher é solucionado pelo perverso mediante o desmentido do conteúdo dessa representação de modo não a alijála da consciência mas a fazêla conviver lado a lado com uma outra representação contraditória sem que haja contradição Essa solução duas representações contraditórias coexistindo sem conflito é a saída encontrada pelo perverso frente ao impacto da falta captada na mãe mas é também a perda de um fragmento da realidade não da realidade externa pois o que está em questão é o desmentir de uma realidade psíquica no caso a castração Enquanto conceito o desmentido é referido inicialmente a problemática do complexo de castração e não à perversão especialmente no contexto das formulações que aparecem em A organização genital infantil onde fica marcada a primazia do falo Freud 19231976 É sem sombra de dúvida em torno do conceito de Édipo que começa a se perfilar o conceito de desmentido como o mecanismo pelo qual o sujeito recusa aceitar a evidência de um fato registrado no âmbito de sua percepção Essa definição somente se aprimora no estudo freudiano sobre o fetichismo onde encontramos a construção teórica de que a criança recusa reconhecer a percepção da ausência de pênis na mulher pois reconhecer tal ausência a colocaria diante da possibilidade de ter que aceitar a sua própria castração É conveniente ressaltar que o processo defensivo não implica nessas circunstâncias em uma anulação da percepção processo que parece ocorrer na subjetivação psicótica mas em uma ação bastante enérgica para manter desmentida uma percepção que se mostra sempre presente O fetiche seria o substituto do falo materno em cuja existência a criança não pode deixar de crer permitindo a criação de um compromisso através do qual a crença de que a mulher caso possua um pênis é abandonada e ao mesmo tempo conservada Eis o paradoxo configurado pela coexistência da antiga crença própria da teoria da universalidade do pênis com o saber de algo que veio desmentila Desse modo o perverso estabelece desse modo um compromisso entre o reconhecimento do perigo da castração afirmado pela realidade e o desmentido da castração Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 86 para assim satisfazer seu desejo Esta possibilidade de tomar simultaneamente duas vias opostas de resolução para um conflito exige a introdução de uma nova teoria sobre a divisão do Eu sendo o processo que se apresenta como o corolário lógico do mecanismo do desmentido Não obstante seria um erro acreditar que se trata de categorias que somente se aplicam ao domínio da perversão visto que esse conceito também é utilizado para explicar o processo de constituição do psiquismo na criança O desmentido e a realidade psíquica É prudente salientar que saibamos que em se tratando do desmentido apesar de estarmos nos referindo a um aspecto da realidade externa há uma perda da realidade porém a realidade interna é mantida intocada Aliás a percepção encontrase submetida às teorias sexuais infantis a ponto de a criança desprezar o que é evidenciado na realidade Valas 1990 Estamos diante de uma defesa que somente tem sucesso em médio prazo pois aquilo que é desmentido não desaparece totalmente da vida psíquica pois o ser na subjetivação perversa apesar de não reconhecer ter percebido a ausência de pênis na mulher afirma têlo visto à medida que cria para o pênis um substituto visando livrarse da angústia de castração quando soluciona essa falta pela imposição do fetiche A solução pela criação de um substituto é uma modalidade de negação da castração o que nos faz pensar que a situação do perverso igualmente a do neurótico concerne também ao Édipo O elemento negado a representação da ausência de pênis na mulher é conservado no fetiche Este tipo de negação ocorre no simbólico razão pela qual aquilo que é desmentido é afirmado também constantemente no simbólico sob a forma de algo tomado como substituto de um pênis imaginário na mulher o fetiche Sendo assim podemos pensar que a determinação da estrutura perversa devese ao desmentido da castração do que decorre a não aceitação pelo perverso do efeito da anterioridade paterna Isso tem conseqüências em primeiro lugar o perverso não atribui saber ao Outro uma vez que usurpando o lugar do pai fica sem o efeito da anterioridade paterna e ocupa a posição de saber absoluto Em certo sentido o perverso centraliza nele As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 87 mesmo o saber e é por isso que na posição perversa encontrase a dimensão do saber absoluto O saber do perverso apesar de absoluto é também parcial visto referirse à questão sexual o perverso é cônscio desse de que sabe fazer o Outro gozar sendo seu saber apesar de não suposto a ninguém assumido como algo do próprio sujeito Certamente nesse processo o desmentido como mecanismo estrutural tem uma lógica O perverso desmente o nãotem pênis da mãe afirmando constantemente que ela tem através do fetiche pois esta é a fórmula da qual se utiliza para ingressar na cultura Eis uma semelhança do perverso com o neurótico Mas diferentemente do neurótico o perverso questiona a cultura confrontando o simbólico uma vez que em relação ao gozo elege o fetiche como objeto de exclusividade Esta exclusividade é a maneira de o perverso questionar o simbólico mas a partir tanto da inscrição da ausência de pênis na mulher o que lhe permite a acesso à diferenciação sexual quanto do desmentido dessa inscrição Assim podemos dizer que a perversão é um saber suposto sabido sobre o gozo Não se interroga sabese Lullien 199799 A foraclusão e a subjetivação psicótica Uma importante elaboração no pensamento freudiano com relação à psicose é a formulação de um mecanismo para diferenciála como entidade clínica da neurose Em princípio cabe destacar que o objetivo de Freud 18941976 era encontrar um mecanismo para a psicose análogo ao recalque Uma vez tendo elevado esse conceito à condição de pedra angular da teoria psicanalítica uma questão se impunha ao seu pensamento encontrar um conceito que pudesse ocupar um lugar análogo no campo da psicose Nessa empreitada surgiram os conceitos de projeção de abolição e de recusa Este último mecanismo ganhou conotação especial fazendo parte apenas em relação à castração No entanto esses três mecanismos não ainda o correspondente àquilo que é formulado como foraclusão defesa típica da psicose diferenciada do recalque na delimitação das psiconeuroses de defesa em 1894 Mas ainda nesse contexto a recusa é a modalidade de defesa empregada tanto para definir a confusão alucinatória quanto a paranóia Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 88 O primeiro sentido da palavra foraclusão é o de uma defesa enérgica que em termos de sua operatividade afasta da consciência tanto a representação quanto o afeto a ela relacionado Freud 18941976 Sem dúvida o encaminhamento freudiano acerca desse termo faz alusão ao pensamento de Brentano 1973 que relacionou esse mecanismo a três condições a aplicação de um juízo ao reconhecimento e à rejeição Fundamentandose nessas premissas a conclusão freudiana é a de que a psicose tem de ser pensada a partir de uma operação defensiva sendo que em função da ação de tal operação aquilo que é recusado ou abolido tem um destino especial diferente do recalcado Isso confere ao retorno uma conotação particular mas como delírio ou confusão alucinatória O vazio nos textos freudianos sobre o mecanismo da psicose pode ser pensado em termos de ordens distintas de fatores Em princípio o conceito de foraclusão é inclusive anterior ao conceito de recalque originário Em As neuropsicoses de defesa Freud 18941976 afirma que na psicose algo é recusado e que esse algo é um fato da realidade ou um estado de coisas da realidade Essa definição apresentase como uma negação A questão que nos inquieta é explicar como uma negação radical e eficaz pode desencadear uma psicose Poderíamos pensar no tema da divisão do Eu e também na prevalência de uma corrente na vida psíquica que pela influência da pulsão alijase da realidade externa É pois com referência a não captação da castração materna que a psicose será então pensada cujo efeito imediato é a ausência da anterioridade paterna o que é definido por Lacan 1998b em termos da exclusão de um significante primordial No entanto sabemos que a introdução do termo foraclusão no ensino lacaniano ocorreu de um modo progressivo em que é possível distinguir dois momentos Uma vez analisados cuidadosamente concluímos que o termo foraclusão não é simplesmente uma tradução de Verwerfung e sim a criação de um conceito novo mesmo que herdeiro da tradição freudiana No primeiro desses momentos em Da psicose paranóica e suas relações com a personalidade anterior ao aparecimento do termo foraclusão Lacan 1987 confere um sentido mais preciso ao encontrado para o termo Verwerfung na formulação freudiana de 1894 enquanto a abolição o que será então o conceito chave para a interpretação do Caso Schreber Mas com a ajuda de Jean Hypolite sobre a Verneinung Lacan 1998c apresenta As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 89 sua primeira definição da Verwerfung como abolição simbólica situandoa nas origens da vida psíquica Em De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose Lacan 1998c formula um primeiro tempo lógico do processo de estruturação do sujeito pensado em termos do mecanismo da foraclusão e identificado ao momento de exclusão que constitui o real enquanto território estrangeiro a simbolização Aquilo que o exame do mecanismo da Verwerfung põe em evidência é que o recalcado já faz parte do universo simbólico do sujeito Assim podemos depreender que a foraclusão tem o caráter que vai além de um simples mecanismo defensivo uma vez que está referido à afirmação primordial aquela que inaugura o advento ao mundo para o ser humano à medida que a esta abolição simbólica é atribuída uma função constitutiva Não obstante sabemos que o recalque originário pressupõe também a afirmação primordial uma vez que temos de pensar na constituição de um núcleo originário do recalcado Mas em se tratando da Verwerfung nos encontramos diante de algo que pode ser equiparado à expulsão o que marca a diferença radical entre a defesa da psicose e o recalque Souza 1999 Se na neurose temos um processo que ocorre a partir do retorno do recalcado e que conduz à revelação do inconsciente como formação simbólica na psicose o abolido reaparece no real A oposição entre o real e o simbólico que em certo sentido substitui a oposição dentrofora embora não sejam equivalentes permite uma nova tradução do enunciado através do qual Freud 19111976 havia descrito o mecanismo da paranóia pela formulação de que aquilo que foi abolido dentro retorna desde fora Podemos assim explicar essa colocação freudiana o que fica preso à foraclusão o que fica fora da simbolização geral que estrutura o sujeito retorna desde fora no seio do real como alucinação Esse é o encaminhamento que encontramos em Lacan 1998c Convém assinalar que não foi no caso Schreber que Lacan 1998c encontrou os elementos para ilustrar sua concepção de Verwerfung e sim no historial clínico do Homem dos Lobos principalmente na passagem em que diante da castração o Homem dos Lobos não quis saber nada quer dizer recusouse a captála O sujeito colocado frente ao descobrimento da diferença sexual ignorou a existência da significação genital preferindo conservar a antiga teoria sexual da universalidade do pênis Nesse sentido o mecanismo da psicose é pois anterior a todo juízo consistindo numa exclusão do recusado do campo de Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 90 existência É este o pórtico do qual se vale Lacan 1998d para afirmar que pela foraclusão o sujeito recusa o acesso ao mundo simbólico de algo que sem dúvida já experimentou como ameaça da castração a ausência no registro simbólico de uma não admissão uma falta da afirmação primordial que se confirmará pela alucinação Nessas circunstâncias a castração não existe então para o sujeito uma vez que não foi captada a diferença genital mediante o encontro com o corpo da mulher Em certo sentido aquilo que não é captado irrompe na consciência sob a forma de algo visível Uma significação até então desconhecida impõese ao sujeito no seio do real como absoluta exterioridade visto que no lugar em que ocorre a foraclusão o sujeito nele não se encontra Além do mais aquilo que é objeto de tal processo fica fora do campo da palavra Daí então temos duas consequências no campo clínico da psicose Em primeiro lugar o retorno com exterioridade indica que na psicose não há centralização do saber no sujeito no pai e nem no mundo Em segundo lugar em decorrência da não centralização do saber o psicótico operar com certeza absoluta é dada pela alucinação Quinet 2009 A certeza delirante é uma modalidade de saber não é suposto pois é produzido pelo próprio sujeito enquanto certeza e não comporta dúvida e nem tampouco dívida Disso podemos aventar a concluir que a subjetivação psicótica pode ser pensada no seguinte contínuo parte da não dúvida e funciona pela não dívida A inexistência da dúvida e da dívida é a condição que impossibilita localizar o saber do psicótico o que marca a problemática com relação à filiação Daí afirmarse que o psicótico fica à deriva sem qualquer amarração simbólica Czermak 1991 Pelo fato de operar com certeza o psicótico encontrase na dimensão de totalidade pois não se estruturou pela mediação da falta permanecendo na condição de objeto materno alucinando ser o falo O falo enquanto alucinado é então aquilo que completa a falta na mãe Calligaris 2005 A conseqüência desse fato é não estabelecimento de um espaço entre o sujeito e a falta na mãe Sendo assim o psicótico encontrase no registro de uma eterna presença sem anterioridade paterna privado do acesso ao Édipo devido à abolição simbólica Temos assim um processo primordial de exclusão de um dentro primitivo que não é o dentro do corpo que é um primeiro corpo de significante uma primeira colocação de um sistema significante como aquele que se supõe primordial e indispensável Lacan As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 91 1998d Quer dizer algo é excluído no momento da organização primordial da ordem simbólica como uma falta relativa ao primeiro nó significante em função do qual a psicose é pensada como um buraco uma falta em termos do significante enquanto tal O significante que faz a amarração simbólica é paradoxalmente aquele que nada significa porém funciona de modo a atrair para si todas as significações Quer dizer cria um campo de significações e constitui também a base sem a qual a ordem das significações humanas não pode se estabelecer Enfim tal significante é o que sustenta o ser humano no mundo ou melhor naquilo que Lacan 1985 definiu como as amarras do ser ao se referir à relação do homem com o significante Aludir a esse significante é situar um limite embora saibamos que não é o único visto que a linguagem é também um limite que submete o sujeito às leis da palavra através da função paterna O recurso ao significante que faz a amarração da cadeia simbólica marca o momento de produção da segunda acepção do termo foraclusão em relação ao Édipo Se a foraclusão é a não captação da falta de pênis no corpo da mulher estamos frente a um tipo de negação relativa ao Édipo mas uma negação que não admite o Édipo que nada conserva visto haver a recusa do significante paterno Enquanto negação a foraclusão não deixa nenhum vestígio o que impossibilita a admissão do Édipo no simbólico Estamos com isso no âmbito do conceito lacaniano de foraclusão do NomedoPai Sendo assim o que é negado no simbólico não captação da castração materna retorna no real sob a forma de automatismo psíquico cuja expressão mais evidente é a alucinação Como o retorno é no real o que retorna surge como se fosse algo que se inclui fora do simbólico Desse modo aquilo que retorna aponta para uma exterioridade do sujeito em relação ao simbólico como muito bem ilustram as vozes alucinadas e os pensamentos sonorizados Esses fenômenos são o paradigma da exterioridade do sujeito em relação ao simbólico O que retorna na psicose adquire uma autonomia a ponto de constituirse em uma espécie de automatismo que corresponde a idéias que não são postas em dúvidas nem questionadas Em razão disso o psicótico não habita a partilha do sexo já que é pela dúvida e pela dívida que o sujeito ascende à questão da diferenciação sexual Certamente se não há dúvida como ocorre na neurose em função da divisão há a certeza mas certeza delirante Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 92 O mecanismo da foraclusão não somente propiciou uma nova definição da psicose como também redefiniu as noções de exterioridade e inconsciente o recalque situase no âmbito interno daquilo que o sujeito pode sentir em termos da linguagem porém sem saber sabêlo um inconsciente que de certo modo lhe pertence que foi admitido no sentido da afirmação primordial A foraclusão também tem a ver com um significante inconsciente mas se trata de um inconsciente externo ao sujeito ou seja uma forma de exterioridade a qual o sujeito permanece para sempre ligado Assim podemos dizer que o psicótico fica numa espécie de exterioridade em relação à sexuação Referências BRENTANO F Psychology from an empirical standpoint New York Routledge Kegan Paul 1973 CALLIGARIS C Melancolia hipocondria e paranóia In Actas Freudianas v 1 nº 1 2005 CZERMAK Paixões do objeto Porto Alegre Artes Médicas 1991 FREUD S 1894 As neuropsicoses de defesa Rio de Janeiro Imago v III 1977 1895 Rascunho K vI 1911 Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia v XII 1923 A organização genital infantil uma interpolação na teoria da sexualidade v XIX 1927 Fetichismo v XXI 1933 A dissecação da personalidade psíquica v XXII LACAN J 1932 Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade Rio de Janeiro Forense 1987 1949 O estádio do espelho como formador da função do eu In LACAN J Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1998a As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 93 1954 Introdução ao comentário de Jean Hypolite sobre a Verneinung de Freud In LACAN J Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1998c 195556 O Seminário livro 03 As psicoses Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1985 195657 O Seminário livro 04 A relação de objeto Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1995 1959 De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose In LACAN J Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1998b 196970 O Seminário livro 17 O avesso da psicanálise Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1992 JULLIEN P O manto de Noé Ensaio sobre a paternidade Rio de Janeiro Revinter 1997 QUINET A Teoria e clínica da psicose Rio de Janeiro Forense 2009 SOUZA N S A psicose Rio de Janeiro Revinter 1999 VALAS P Freud e a perversão Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1990 THE THREE MEANS TO NEGATE CASTRATION ABSTRACT When crossing from the natural state to the cultural state the human breed in response to the absence captured in the body of the woman disposes of three means to negate castration They are three defensive means used by the subject to avoid being totally reduced to the condition of a simple object of desire of the Other In dealing with repression we have the psychic inscription there is no penis in the body of the woman substituted by I do not know which drives the subject to glide through culture in search of objects directed to a type of knowledge imprinted by paternal anteriority Concerning disavowal we simultaneously have the negation and the affirmation of the existence of a penis in the body of a woman by means of the two coexisting psychical chains that do not contradict each other and hold the fetish as the paradigm Finally in foreclosure the absence in the body of a woman is not captured placing the subject in the position of being the phallus of the mother KEYWORDS Defense Subjectivity Repression Disavowal Foreclosure Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 94 LES TROIS MANIÈRES DE NEGATION À LA CASTRATION REUMÉ Lenfant lorquil essaie passer du état de nature envers à la culture dispose de trois manières de négation pour répondre à la manque captée dans le corps de la femme Ce sont trois opérations defensives lesquelles lhomme utilize a fin de ne pás être réduit à la condition dobjet du désir de lAutre On sagitant du réfoulement il y a linscription dans le psychisme de labsence de penis dans le corpos de la femme Mais cette absence est remplacée par un type de savoir A cause de ça le sujet cherche dans la culture des objets relatifs a un type espécifique de savoir sur lantériorité du père Dans le cas du démnti on a simultanément la négation et laffirmation de léxistence du pênis dans la femme en raison de deux différentes versantes psychiques sans avoir quelque contradiction comme arrive dans le fétiche Enfin dans la forclusion on a la possibilite de non captation de la manque dnas le corps de la femme et alors le sujet ocuppe la place de fallus de la mère MOTSCLÉS Defense Subjectivité Refoulement Dementi Forclusion Recebido em 090810 Aprovado em 100910