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Psicanálise

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Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 74 AS TRÊS FORMAS DE NEGAÇÃO À CASTRAÇÃO Francisco Ramos de Farias RESUMO A cria humana na travessia do estado de natureza ao estado de cultura dispõe para responder à falta captada no corpo da mulher de três formas de negação São três operações defensivas utilizadas pelo sujeito para não se totalmente reduzido à condição de mero objeto do desejo do Outro Em se tratando do recalque temos a inscrição psíquica do não tem pênis no corpo da mulher substituído por um nãosei o que impulsiona o sujeito a deslizar na cultura à busca de objetos referentes a um tipo de saber marcado pela anterioridade paterna No desmentido temse simultaneamente a negação e afirmação da existência de pênis na mulher mediante a coexistência de duas correntes psíquicas que não se contradizem cujo paradigma é o fetiche Por fim na foraclusão temse a não captação da falta no corpo da mulher colocando o sujeito na posição de ser o falo da mãe PALAVRASCHAVE Defesa Subjetivação Recalque Desmentido Foraclusão Professor do Departamento de Fundamentos da Educação e Coordenador do Programa de PósGraduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Editor de Seção do periódico PsicanáliseBarroco em revista Endereço Postal Rua Voluntários da Pátria 481 apto 803 22270000 Humaitá Rio de Janeiro Telefone 21 25375866 Email frfariasuolcombr As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 75 Sobre o conceito de defesa Pretendemos refletir sobre as três possibilidades defensivas que a cria humana dispõe ao ser lançada no campo da linguagem para produzir respostas ante a castração materna Em princípio abordaremos o recalque mecanismo de funcionamento da linguagem definido no pensamento freudiano como condição da subjetivação neurótica em seguida realizaremos um rastreamento para circunscrever o desmentido como condição estrutural da subjetivação perversa e finalizamos a abordagem focalizando o mecanismo da foraclusão para caracterizar a subjetivação psicótica O processo de humanização é uma travessia que apresenta trilhas sinuosas e difíceis Por se tratar de um processo devemos entendêlo na acepção dinâmica ou seja como aquilo que pode permanecer em estado embrionário ter um começo e estacionar ou progredir Essas são as vicissitudes próprias à constituição da subjetividade que têm como resultados as condições singulares de cada sujeito Mas é preciso salientar que enveredar por quaisquer trilhas desse processo requer para a cria humana confrontarse com obstáculos que se configuram como circunstâncias de cunho traumático Por esse motivo o sujeito tem de se valer de operações psíquicas para apresentar respostas às adversidades próprias das duas diferenças irredutíveis e enigmáticas a diferença de gerações e a diferença sexual Pelo fato de serem diferenças irredutíveis o sujeito produz elaborações diante dos enigmas que elas suscitam e assim recorre a uma defesa psíquica como o mecanismo que propicia seus arranjos subjetivos O conceito de defesa está intimamente relacionado ao Complexo de Édipo Muito já foi escrito sobre o mito de Édipo e também sobre sua função enquanto estrutura que longe de ser um sintoma como acreditam aqueles teóricos que decidem se entregar à ingenuidade representa sobretudo o preço que a cria humana tem de pagar em função de sua caminhada rumo ao simbólico ou seja a entrada no seio da cultura Tratase pois de uma condição de possibilidade de todo o sujeito uma vez que estamos diante do esteio que finca o limite decisivo entre a natureza e a cultura Basta para tanto direcionar nosso olhar para os pilares da literatura e encontrar a estrutura essencial do drama edípico sempre presente como estrutura nuclear de cada relato de cada acontecimento Por isso não Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 76 podemos prescindir das referências literárias se temos a intenção de nos situarmos no âmago da clínica psicanalítica pois as criações poéticas mais que refletir engendram a criação No seio de uma rede inter e intrasubjetiva encontramos o Édipo Lacan 1992 como possibilidade da primeira escolha de objeto objeto do primeiríssimo amor cujas conseqüências pesarão sobre toda a vida do sujeito Não temos somente a primeira escolha mas também a primeira renúncia que em função da defesa coloca frente a frente o narcisismo e o desejo cujo fiel da balança depende de como funciona no sujeito a chamada ameaça de castração do que decorre a instauração do supereu instância estreitamente relacionada ao progresso da civilização O complexo de Édipo e a subjetivação O que a psicanálise formula sobre o sujeito e sua relação com os objetos diferentemente do que é abordado na psicologia na psiquiatria ou na filosofia está intimamente ligado ao conceito de defesa matriz fundamental do entendimento acerca do complexo de Édipo Enquanto o acontecimento que marca a passagem da cria humana da condição natureza à condição de cultura o complexo de Édipo é o ponto por onde se nodula toda rede conceitual do campo psicanalítico portanto remete a uma estrutura subjetiva O conceito de estrutura subjetiva somente tem seu valor se for pensado a partir da castração operador estrutural que em termos de recalque desmentido e foraclusão nos coloca diante dos três destinos possíveis do sujeito Tratase de configurações nas quais o que se inscreve são as três posições subjetivas do sujeito a respeito do desejo O que entendemos como posição é a relação do sujeito à falta de objeto que é o efeito da incidência da linguagem no real Não obstante é pertinente ressaltar que a estrutura não é algo observável pela sua natureza visto não se tratar de uma entidade pois somente se revela naquilo que compreendemos como funções no caso função do significante É assim que pensamos a articulação do complexo de Édipo com o complexo de castração Na As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 77 verdade estamos situando as distintas posições do sujeito em relação à estrutura neurose psicose e perversão posições intimamente vinculadas ao complexo de castração cujo fundamento é a linguagem Considerando também o conceito de defesa frente à castração estabelecemos a distinção entre as três modalidades subjetivas e é esse o mérito da subversão freudiana tanto na descentração operada no sujeito quanto na ruptura do contínuo normalpatológico Desde suas primeiras elaborações Freud 18941976 já nos apontava as diferenças modalidades de funcionamento psíquico ao estabelecer um mecanismo estrutural para explicar a neurose e outro para a psicose O destaque dado ao Édipo surge como um acréscimo a partir da releitura em que Lacan 1995 faz o acento incidir sobre a matriz edípica ao se valer da distinção entre significante e significado como também a distinção entre o três registros real simbólico e imaginário que muito bem podem ser considerados como uma terceira tópica na explicação da dinâmica e do funcionamento psíquico Certamente pensar estes três registros fora da articulação do Édipo com a castração é reduzilos a um nível bastante trivial e anedótico O momento histórico de toda infância é coberto pelo mito em que a psicanálise vai fundar a condição de verdade que por ser de natureza mítica não pode ser enunciada pois alude ao desejo do Outro Tudo o que remete à condição imaginária constituição do Eu a partir do encontro com o semelhante da espécie na relação especular tipicamente narcísica tudo o que é referente à inserção do sujeito na cultura quer dizer a captura do sujeito no simbólico aquisição da linguagem submissão à lei assunção dos ideais e as funções correlativas a cada sexo e bem como tudo o que concerne ao real lugar no qual o desejo pode ser pensado enquanto causado e enquanto articulado a um objeto somente pode ser entendido se tomarmos a noção de defesa como ponto de partida e é justamente como defesa que lemos o percurso referente à travessia edípica Ao introduzir a questão da subjetivação pela utilização do recurso a uma operação defensiva estamos cônscios de que a defesa como conceito psicanalítico serviu a Freud 19331976 para em primeiro lugar romper com a tradição do modelo médico que estabelecia bases diferenciadas na explicação das condições saúde e doença e em segundo lugar representar a marca distintiva do humano que lhe transforma em ser diferenciado de Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 78 algo próprio da natureza Essa diferenciação somente pode ser formulada pelo recurso à noção de estrutura como uma virtualidade própria da engrenagem mítica do sujeito e também como aspecto fundamental na constituição dos arranjos subjetivos Eis o que depreendemos na conferência XXXI A dissecação da personalidade psíquica onde há uma comparação entre o processo psíquico mórbido e a estrutura de um cristal que ao romperse o faz seguindo linhas de fratura que são invisíveis mas que preexistem e que são próprias da constituição da referida estrutura A possibilidade de quebra da estrutura é somente algo da ordem de uma inferência Sendo assim o que há de mais original no sujeito é o fato de sua constituição fazer alusão a um momento pré histórico no qual podemos pensar na articulação do Real com o Simbólico Este momento em que esses registros se cruzam é aquele no qual se estabelece um tipo de esperança antecipadora daquilo que está ainda por vir Eis o sentido dado por Lacan 1998a ao argumentar que a cria humana realiza um percurso que vai da insuficiência à antecipação Ainda como um devir o sujeito é antecipado como perfeição Tratase de um ideal desfeito pela ação do trauma primeiro momento de ruptura O trauma é então o momento em que se evidência o fim da ilusão de completude uma vez que coloca o sujeito no universo da falta o que se consolida pelo recalque originário Estamos admitindo que o ser humano é antecipado e recebe um corpo habitado por uma imagem mas também esse corpo será o lugar onde circula a palavra e por isso representa a morada de um sujeito O corpo entendido como estrutura material é a certeza da finitude daquilo cujo destino é o estado de desintegração finalidade do corpo cadáver Já a substância pensante a alma de natureza imaterial tem como característica o estado de dispersão originária a atividade anímica desalojada do corpo somente pode ser concebida como pura dispersão Com isso queremos assinalar que o corpo em sua materialidade desintegrase pela morte mas o que há de imaterial nele assentado como o pensamento o desejo e o entendimento atravessa os ritmos do tempo Enquanto ponto de ancoragem o corpo é o único suporte para o vazio estrutural expondose desse modo às ações do trauma com a implantação irremediável da falta Temos nisso uma operação da qual resulta um certo aniquilamento do sujeito em termos da quebra do ideal de perfeição especialmente quando o corpo do infans entra As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 79 em cena como matéria pulsante Dito em outras palavras o corpo sofre uma primeira marcação pela imagem sendo nessas condições o real do corpo atravessado pelo imaginário em seguida é marcado pela palavra momento em que é atravessado pelo simbólico Esses dois furos que se processam no corpo são na verdade consequências da defesa Eis o encaminhamento para pensarmos a defesa como a operação em função da qual o sujeito constrói um suporte que é o estatuto simbólico Graças a essa conquista passa da suposta condição de natureza à condição de cultura no momento em que o real é informado pela imagem e que ocorre o acesso à palavra Essa é a consequência da defesa psíquica Se analisarmos a palavra defesa temos que lançar algumas reflexões defesa por quê de quê e em relação a quê Em princípio o que podemos afirmar é que a defesa é uma espécie de proteção em relação a algo que é ameaçador para o sujeito Esse é o sentido atribuído por Freud 18951976 ao admitir que a defesa quando bem sucedida equivale à saúde sendo também a marca distintiva do humano pensada em termos clínicos como a condição estrutural do funcionamento psíquico e o seu fracasso entendido como a possibilidade de adoecimento O que está garantido com a defesa é a posição subjetiva em função da qual o sujeito não seja reduzido apenas a um mero objeto do gozo do Outro Assim sendo tem garantida a condição de ser desejante Mas ao conquistar tal condição o sujeito se encontra diante de uma ameaça perder o que conquistou ou seja a condição de diferenciado de objeto do desejo do Outro Sendo assim podemos afirmar que pela defesa o sujeito tem acesso à demanda imaginária uma vez que fica constatada a falta no Outro isso corresponde a um tipo de barreira entre o desejo do Outro e um saber acerca daquilo que o Outro espera Através desse saber o sujeito se articula no universo da significação marcando também um tipo de funcionamento no campo da linguagem mediante o recurso a uma defesa Por isso as estruturas subjetivas são a consequência de operações defensivas compreendidas em termos do funcionamento da linguagem Os modos possíveis de funcionamento da linguagem correspondem àquilo que a Psicanálise formula como estruturas clínicas Tais estruturas com as quais o psicanalista se confronta na experiência com o inconsciente são estruturas conceituais de Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 80 orientação Não obstante cabe uma observação A vertente estrutural não firma um limite preciso entre as variantes fenomênicas de uma mesma estrutura como entre histeria e obsessão na neurose Igualmente não se pode chegar a nenhum critério formal que permita afirmar a sustentação de um sujeito na psicose em suas variantes melancolia paranóia ou esquizofrenia A vertente estrutural situada em um nível mais radical é encontrada na diferenciação entre principalmente a neurose e a psicose O recalque como modalidade de negação da castração Quando nos referimos às estruturas subjetivas como orientações conceituais estamos aventando as possibilidades que o ser falante dispõe para ingressar no universo da linguagem Para tanto fazse necessário situar os operadores desse processo Em primeiro lugar aludimos à castração materna entendida como a posição em que se encontra o sujeito ante a ausência de pênis captada no corpo da mulher Assim a castração materna é o operador estrutural primordial na constituição dos arranjos subjetivos O que podemos pensar acerca da castração Nada além de uma ocorrência paradoxal que nunca ocorreu não ocorre e nunca ocorrerá mas que é decisiva para a estruturação psíquica No âmbito das formulações das teorias sexuais infantis a castração é captação de uma falta em um vazio absoluto algo que é para a cria humana bastante ameaçador Tal ameaça somente toma sentido para a criança quando esta se vê diante das questões concernentes à sua própria castração especialmente frente ao dilema conflitual ter acesso ao próprio desejo pela práticas autoeróticas e deixar a mãe na falta ou renunciar a condição de ser desejante para ser o objeto da completude materna Eis o momento em que o sujeito tropeça no enigma da falta e ao mesmo tempo na necessidade de apreender algo que a realidade apresenta como a falta no Outro primordial que é a Mãe Frente a esse Outro primordial o sujeito pode seguir caminhos que decorrem da maneira como se porta em função da falta no Outro Em princípio queremos assinalar que a captação da castração materna é algo impactante para a criança uma vez que deverá tomar uma decisão entre duas alternativas continuar sendo o objeto do desejo materno ou As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 81 ter acesso ao seu próprio desejo Isso pelo fato de que a criança foi obrigada a se confrontar com a queda de sua crença acerca da universalidade do pênis em decorrência das evidências da realidade Até o momento da captação da castração materna a criança formulava suas hipóteses acerca do seu entendimento das questões concernentes ao sexo baseada na premissa de que todos os seres são iguais por portarem um mesmo e único atributo o pênis Esta fórmula da universalidade do pênis primeira teoria sexual da criança é desfeita no encontro com a ausência de pênis captada no corpo da mulher O impacto dessa percepção traumática coloca a criança diante da falta a mãe é castrada Daí então o que é evidenciado na realidade vai de encontro às formulações da criança de modo que se inaugura um novo registro o da falta A percepção da castração materna assim entendida somente ocorre se for mediada pela falta A criança ao perceber a falta no Outro primordial reconhece que a mãe é castrada A captação da falta na mãe é para a criança uma questão enigmática um mistério a ser desvendado tarefas as quais se encarrega pela vida No prosseguir de suas pesquisas sexuais principalmente com o propósito de saber por que há a diferença a criança realiza descobertas importantes pois constata que o objeto de sua primeira descoberta já era de conhecimento do pai Assim conclui que o pai já sabia daquilo que ela descobriu muito antes dela Por causa desse saber atribuído ao pai fica explicada para a criança a causa de seu nascimento Em suma pela captação da castração materna chegase à anterioridade paterna formulada em termos de um saber suposto acerca do objeto da demanda materna Esse saber apresenta pelo fato de suposto ao pai como algo que antecede ao sujeito A subjetivação neurótica Quando a criança admite que o pai já detinha um saber acerca da maneira de lidar com a demanda de amor da mãe se estabelece o efeito de anterioridade o qual tem como conseqüência uma espécie de amarração em função da suposição pelo sujeito de que é o pai aquele que detém o saber sobre aquilo que a mãe deseja Configurase assim a estrutura neurótica como aquela na qual um saber é suposto a pelo menos um Quer dizer o Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 82 neurótico é movido por um tipo de saber em razão do qual supõe que há alguém no caso o pai que sabe lidar com a demanda materna Esta suposição é a saída encontrada pelo ser falante para solucionar o impasse em relação à possibilidade de ter acesso à condição de ser desejante Por isso estabelece com aquele que supostamente sabe uma dívida para encontrar uma saída para a dúvida relativa à angústia de castração O neurótico opta por uma dívida par solucionar o dilema que se encontra frente à alternativa de continuar sendo objeto do desejo da mãe e a alternativa de pela prática autoerótica ter acesso ao próprio desejo A opção por uma dívida ao pai é aquilo que vem selar a saída da relação dual com a mãe uma vez que tal relação transformase em triangular no momento em que nela intervém o falo como algo que nem é a criança e tampouco que a mãe possui Dito em outras palavras somente no exato momento em que o falo significa tanto o objeto de desejo da mãe quanto sua falta Diremos pois que a função paterna introduz a partir da dívida constituída pelo sujeito uma distância entre o falo e a falta de modo a conduzir a falta em um nível simbólico nível da castração propriamente dita para situarmos os três níveis de falta elaboradas por Lacan 1995 privação frustração e castração Deixando de lado o personagem real encarnado pelo pai em cada caso ou seja as relações imaginárias que o sujeito estabelece com tal personagem queremos pensar a função paterna em termos simbólicos O que é fundado por esta função e que a sustenta é o Nome do Pai Mas o pai não é apenas um nome Quer dizer como afirma Jullien 1997 é uma ordem simbólica a quem se chama de pai Pela existência desse nome se funda nas sociedades humanas a ordem das gerações e instaura a lei o que torna a sociedade humana radicalmente diferente de todo arranjo natural O nome se encontra na origem do sistema simbólico no qual toda a vida humana se desenvolve a partir de um sistema independente de cada sujeito particular O acesso a esse nome somente acontece na via aberta pela mãe em função da castração A castração somente é possível e somente exerce seu efeito no momento em que a instância paterna produza a ruptura da relação especial dual entre a mãe e a criança Para dizermos em outros termos a significação do falo somente tem efeito quando o significante NomedoPai passa a ocupar o lugar que antes era ocupado pelo desejo da mãe As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 83 um desejo que a criança deseja e ao qual identifica seu objeto imaginário o falo Descobre se desse modo no inconsciente da relação edípica uma autêntica substituição significante operação denominada metáfora paterna A dívida contraída pela cria humana com o pai ou melhor a construção cultural denominada paternidade é a situação que não se tem acesso pela via imaginária Tratase de uma função simbólica efeito do significante NomedoPai Mas do quê se trata tal dívida Certamente a dívida decorre da suposição de um saber ao pai A partir desse saber o sujeito se constitui e também estabelece as significações ditas fálicas em decorrência da intervenção paterna A atribuição de um saber ao pai é uma modalidade de negação à possibilidade do absoluto referido ao gozo materno Como o que está em jogo é a castração do Outro a captação da ausência de pênis no corpo da mãe estamos nos referindo a negação do Édipo que se faz pelo recalque A operação do recalque nega a representação mas conserva aquilo que é negado no inconsciente Essa operação pressupõe a afirmação primordial efeito da constituição do primeiro núcleo de recalcado pelo recalque originário o qual a matriz dos recalques posteriores e também do retorno do recalcado no simbólico Quer dizer à suposição de há alguém que sabe sobre o gozo materno corresponde no sujeito a um não querer saber nada sobre isso Esse modo de negação que ocorre pelo recalque é próprio de um retorno no neurótico a negação recai sobre um tipo de representação e dessa maneira referese ao simbólico Tratase de um processo que se põe em marcha com o retorno do recalcado mas que conduz à revelação do inconsciente por meio das formações sintomáticas Quer dizer aquilo que é negado no âmbito do simbólico a representação retorna no próprio simbólico como formação inconsciente Em quaisquer delas a questão de sentido se faz presente especialmente no sintoma entendido como a presentificação da amnésia da infância devido ao naufrágio do Complexo de Édipo Essa nuance do recalque permite o acesso à organização simbólica que representa o sujeito O recalque como forma de negação corresponde a um processo pelo qual ocorre o deslocamento da criança da posição de saber absoluto para se submeter a algo que lhe antecede o saber do pai sobre o gozo materno Qual então é esse processo Em princípio o neurótico inscreve a ausência de pênis no corpo da mãe e também o Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 84 reconhecimento dessa ausência da seguinte maneira a Diante da percepção da falta de pênis da mãe o neurótico efetua a substituição do nãotem por um nãosei O nãosei é o efeito imediato do recalque b Decorrente disso tem acesso à cultura pois o nãotem relativo à falta de pênis na mãe se inscreve como nãosei no inconsciente Esse não querersabernada sobre isso é o motivo pelo qual como sabernão sabido aparece no discurso O recalque possibilita então o aparecimento desse não saber no inconsciente pelo fato de haver um universo simbólico que nos informa ser o sujeito sabedor de que algo se encontra no regime do recalcado c Na cultura o sujeito vai eleger objetos para tentar solucionar esse nãosei como o discurso intelectual a criação a sublimação d A busca de saber nos indica que o saber do neurótico é parcial visto que se refere somente ao sexual suposto a pelo menos um Sendo assim não se trata de uma totalidade o lugar de parcialidade é o ponto onde se situa a defesa neurótica O desmentido da castração e a subjetivação perversa A posição do sujeito frente à castração no âmbito da subjetivação perversa materna é bastante singular Em primeiro lugar da mesma forma que o ser falante teve acesso à ausência de pênis no corpo da mulher mas diferentemente não se dispõe a fazer o reconhecimento da realidade captada uma vez que se prontifica a desmentir a realidade de sua percepção Em segundo lugar diante da dúvida decorrente da angústia de castração adota uma outra saída que não a dívida de modo a coexistirem nele perverso duas correntes sem o menor conflito na vida psíquica uma que aceita a ausência de pênis no corpo da mulher e outra que nega Freud 19271976 O perverso é pois aquele que se subjetiva escolhendo uma posição em que desmente a castração materna e usurpa o lugar referido a anterioridade paterna Quer dizer quando não se dispõe a reconhecer a falta no corpo da mulher fica sem o efeito da anterioridade paterna Mas por qual modalidade de negação não reconhece essa falta Em certo sentido ou seja na subjetivação perversa o ser falante adota a atitude de preencher essa falta no corpo da mulher utilizandose do fetiche sendo este As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 85 fenômeno o modo utilizado pelo sujeito para não reconhecer que captou uma falta no corpo da mãe Em outras palavras o fetiche é usado para tamponar a falta captada Desse modo fica desmentida a castração materna O acesso à representação da ausência de pênis na mulher é solucionado pelo perverso mediante o desmentido do conteúdo dessa representação de modo não a alijála da consciência mas a fazêla conviver lado a lado com uma outra representação contraditória sem que haja contradição Essa solução duas representações contraditórias coexistindo sem conflito é a saída encontrada pelo perverso frente ao impacto da falta captada na mãe mas é também a perda de um fragmento da realidade não da realidade externa pois o que está em questão é o desmentir de uma realidade psíquica no caso a castração Enquanto conceito o desmentido é referido inicialmente a problemática do complexo de castração e não à perversão especialmente no contexto das formulações que aparecem em A organização genital infantil onde fica marcada a primazia do falo Freud 19231976 É sem sombra de dúvida em torno do conceito de Édipo que começa a se perfilar o conceito de desmentido como o mecanismo pelo qual o sujeito recusa aceitar a evidência de um fato registrado no âmbito de sua percepção Essa definição somente se aprimora no estudo freudiano sobre o fetichismo onde encontramos a construção teórica de que a criança recusa reconhecer a percepção da ausência de pênis na mulher pois reconhecer tal ausência a colocaria diante da possibilidade de ter que aceitar a sua própria castração É conveniente ressaltar que o processo defensivo não implica nessas circunstâncias em uma anulação da percepção processo que parece ocorrer na subjetivação psicótica mas em uma ação bastante enérgica para manter desmentida uma percepção que se mostra sempre presente O fetiche seria o substituto do falo materno em cuja existência a criança não pode deixar de crer permitindo a criação de um compromisso através do qual a crença de que a mulher caso possua um pênis é abandonada e ao mesmo tempo conservada Eis o paradoxo configurado pela coexistência da antiga crença própria da teoria da universalidade do pênis com o saber de algo que veio desmentila Desse modo o perverso estabelece desse modo um compromisso entre o reconhecimento do perigo da castração afirmado pela realidade e o desmentido da castração Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 86 para assim satisfazer seu desejo Esta possibilidade de tomar simultaneamente duas vias opostas de resolução para um conflito exige a introdução de uma nova teoria sobre a divisão do Eu sendo o processo que se apresenta como o corolário lógico do mecanismo do desmentido Não obstante seria um erro acreditar que se trata de categorias que somente se aplicam ao domínio da perversão visto que esse conceito também é utilizado para explicar o processo de constituição do psiquismo na criança O desmentido e a realidade psíquica É prudente salientar que saibamos que em se tratando do desmentido apesar de estarmos nos referindo a um aspecto da realidade externa há uma perda da realidade porém a realidade interna é mantida intocada Aliás a percepção encontrase submetida às teorias sexuais infantis a ponto de a criança desprezar o que é evidenciado na realidade Valas 1990 Estamos diante de uma defesa que somente tem sucesso em médio prazo pois aquilo que é desmentido não desaparece totalmente da vida psíquica pois o ser na subjetivação perversa apesar de não reconhecer ter percebido a ausência de pênis na mulher afirma têlo visto à medida que cria para o pênis um substituto visando livrarse da angústia de castração quando soluciona essa falta pela imposição do fetiche A solução pela criação de um substituto é uma modalidade de negação da castração o que nos faz pensar que a situação do perverso igualmente a do neurótico concerne também ao Édipo O elemento negado a representação da ausência de pênis na mulher é conservado no fetiche Este tipo de negação ocorre no simbólico razão pela qual aquilo que é desmentido é afirmado também constantemente no simbólico sob a forma de algo tomado como substituto de um pênis imaginário na mulher o fetiche Sendo assim podemos pensar que a determinação da estrutura perversa devese ao desmentido da castração do que decorre a não aceitação pelo perverso do efeito da anterioridade paterna Isso tem conseqüências em primeiro lugar o perverso não atribui saber ao Outro uma vez que usurpando o lugar do pai fica sem o efeito da anterioridade paterna e ocupa a posição de saber absoluto Em certo sentido o perverso centraliza nele As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 87 mesmo o saber e é por isso que na posição perversa encontrase a dimensão do saber absoluto O saber do perverso apesar de absoluto é também parcial visto referirse à questão sexual o perverso é cônscio desse de que sabe fazer o Outro gozar sendo seu saber apesar de não suposto a ninguém assumido como algo do próprio sujeito Certamente nesse processo o desmentido como mecanismo estrutural tem uma lógica O perverso desmente o nãotem pênis da mãe afirmando constantemente que ela tem através do fetiche pois esta é a fórmula da qual se utiliza para ingressar na cultura Eis uma semelhança do perverso com o neurótico Mas diferentemente do neurótico o perverso questiona a cultura confrontando o simbólico uma vez que em relação ao gozo elege o fetiche como objeto de exclusividade Esta exclusividade é a maneira de o perverso questionar o simbólico mas a partir tanto da inscrição da ausência de pênis na mulher o que lhe permite a acesso à diferenciação sexual quanto do desmentido dessa inscrição Assim podemos dizer que a perversão é um saber suposto sabido sobre o gozo Não se interroga sabese Lullien 199799 A foraclusão e a subjetivação psicótica Uma importante elaboração no pensamento freudiano com relação à psicose é a formulação de um mecanismo para diferenciála como entidade clínica da neurose Em princípio cabe destacar que o objetivo de Freud 18941976 era encontrar um mecanismo para a psicose análogo ao recalque Uma vez tendo elevado esse conceito à condição de pedra angular da teoria psicanalítica uma questão se impunha ao seu pensamento encontrar um conceito que pudesse ocupar um lugar análogo no campo da psicose Nessa empreitada surgiram os conceitos de projeção de abolição e de recusa Este último mecanismo ganhou conotação especial fazendo parte apenas em relação à castração No entanto esses três mecanismos não ainda o correspondente àquilo que é formulado como foraclusão defesa típica da psicose diferenciada do recalque na delimitação das psiconeuroses de defesa em 1894 Mas ainda nesse contexto a recusa é a modalidade de defesa empregada tanto para definir a confusão alucinatória quanto a paranóia Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 88 O primeiro sentido da palavra foraclusão é o de uma defesa enérgica que em termos de sua operatividade afasta da consciência tanto a representação quanto o afeto a ela relacionado Freud 18941976 Sem dúvida o encaminhamento freudiano acerca desse termo faz alusão ao pensamento de Brentano 1973 que relacionou esse mecanismo a três condições a aplicação de um juízo ao reconhecimento e à rejeição Fundamentandose nessas premissas a conclusão freudiana é a de que a psicose tem de ser pensada a partir de uma operação defensiva sendo que em função da ação de tal operação aquilo que é recusado ou abolido tem um destino especial diferente do recalcado Isso confere ao retorno uma conotação particular mas como delírio ou confusão alucinatória O vazio nos textos freudianos sobre o mecanismo da psicose pode ser pensado em termos de ordens distintas de fatores Em princípio o conceito de foraclusão é inclusive anterior ao conceito de recalque originário Em As neuropsicoses de defesa Freud 18941976 afirma que na psicose algo é recusado e que esse algo é um fato da realidade ou um estado de coisas da realidade Essa definição apresentase como uma negação A questão que nos inquieta é explicar como uma negação radical e eficaz pode desencadear uma psicose Poderíamos pensar no tema da divisão do Eu e também na prevalência de uma corrente na vida psíquica que pela influência da pulsão alijase da realidade externa É pois com referência a não captação da castração materna que a psicose será então pensada cujo efeito imediato é a ausência da anterioridade paterna o que é definido por Lacan 1998b em termos da exclusão de um significante primordial No entanto sabemos que a introdução do termo foraclusão no ensino lacaniano ocorreu de um modo progressivo em que é possível distinguir dois momentos Uma vez analisados cuidadosamente concluímos que o termo foraclusão não é simplesmente uma tradução de Verwerfung e sim a criação de um conceito novo mesmo que herdeiro da tradição freudiana No primeiro desses momentos em Da psicose paranóica e suas relações com a personalidade anterior ao aparecimento do termo foraclusão Lacan 1987 confere um sentido mais preciso ao encontrado para o termo Verwerfung na formulação freudiana de 1894 enquanto a abolição o que será então o conceito chave para a interpretação do Caso Schreber Mas com a ajuda de Jean Hypolite sobre a Verneinung Lacan 1998c apresenta As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 89 sua primeira definição da Verwerfung como abolição simbólica situandoa nas origens da vida psíquica Em De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose Lacan 1998c formula um primeiro tempo lógico do processo de estruturação do sujeito pensado em termos do mecanismo da foraclusão e identificado ao momento de exclusão que constitui o real enquanto território estrangeiro a simbolização Aquilo que o exame do mecanismo da Verwerfung põe em evidência é que o recalcado já faz parte do universo simbólico do sujeito Assim podemos depreender que a foraclusão tem o caráter que vai além de um simples mecanismo defensivo uma vez que está referido à afirmação primordial aquela que inaugura o advento ao mundo para o ser humano à medida que a esta abolição simbólica é atribuída uma função constitutiva Não obstante sabemos que o recalque originário pressupõe também a afirmação primordial uma vez que temos de pensar na constituição de um núcleo originário do recalcado Mas em se tratando da Verwerfung nos encontramos diante de algo que pode ser equiparado à expulsão o que marca a diferença radical entre a defesa da psicose e o recalque Souza 1999 Se na neurose temos um processo que ocorre a partir do retorno do recalcado e que conduz à revelação do inconsciente como formação simbólica na psicose o abolido reaparece no real A oposição entre o real e o simbólico que em certo sentido substitui a oposição dentrofora embora não sejam equivalentes permite uma nova tradução do enunciado através do qual Freud 19111976 havia descrito o mecanismo da paranóia pela formulação de que aquilo que foi abolido dentro retorna desde fora Podemos assim explicar essa colocação freudiana o que fica preso à foraclusão o que fica fora da simbolização geral que estrutura o sujeito retorna desde fora no seio do real como alucinação Esse é o encaminhamento que encontramos em Lacan 1998c Convém assinalar que não foi no caso Schreber que Lacan 1998c encontrou os elementos para ilustrar sua concepção de Verwerfung e sim no historial clínico do Homem dos Lobos principalmente na passagem em que diante da castração o Homem dos Lobos não quis saber nada quer dizer recusouse a captála O sujeito colocado frente ao descobrimento da diferença sexual ignorou a existência da significação genital preferindo conservar a antiga teoria sexual da universalidade do pênis Nesse sentido o mecanismo da psicose é pois anterior a todo juízo consistindo numa exclusão do recusado do campo de Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 90 existência É este o pórtico do qual se vale Lacan 1998d para afirmar que pela foraclusão o sujeito recusa o acesso ao mundo simbólico de algo que sem dúvida já experimentou como ameaça da castração a ausência no registro simbólico de uma não admissão uma falta da afirmação primordial que se confirmará pela alucinação Nessas circunstâncias a castração não existe então para o sujeito uma vez que não foi captada a diferença genital mediante o encontro com o corpo da mulher Em certo sentido aquilo que não é captado irrompe na consciência sob a forma de algo visível Uma significação até então desconhecida impõese ao sujeito no seio do real como absoluta exterioridade visto que no lugar em que ocorre a foraclusão o sujeito nele não se encontra Além do mais aquilo que é objeto de tal processo fica fora do campo da palavra Daí então temos duas consequências no campo clínico da psicose Em primeiro lugar o retorno com exterioridade indica que na psicose não há centralização do saber no sujeito no pai e nem no mundo Em segundo lugar em decorrência da não centralização do saber o psicótico operar com certeza absoluta é dada pela alucinação Quinet 2009 A certeza delirante é uma modalidade de saber não é suposto pois é produzido pelo próprio sujeito enquanto certeza e não comporta dúvida e nem tampouco dívida Disso podemos aventar a concluir que a subjetivação psicótica pode ser pensada no seguinte contínuo parte da não dúvida e funciona pela não dívida A inexistência da dúvida e da dívida é a condição que impossibilita localizar o saber do psicótico o que marca a problemática com relação à filiação Daí afirmarse que o psicótico fica à deriva sem qualquer amarração simbólica Czermak 1991 Pelo fato de operar com certeza o psicótico encontrase na dimensão de totalidade pois não se estruturou pela mediação da falta permanecendo na condição de objeto materno alucinando ser o falo O falo enquanto alucinado é então aquilo que completa a falta na mãe Calligaris 2005 A conseqüência desse fato é não estabelecimento de um espaço entre o sujeito e a falta na mãe Sendo assim o psicótico encontrase no registro de uma eterna presença sem anterioridade paterna privado do acesso ao Édipo devido à abolição simbólica Temos assim um processo primordial de exclusão de um dentro primitivo que não é o dentro do corpo que é um primeiro corpo de significante uma primeira colocação de um sistema significante como aquele que se supõe primordial e indispensável Lacan As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 91 1998d Quer dizer algo é excluído no momento da organização primordial da ordem simbólica como uma falta relativa ao primeiro nó significante em função do qual a psicose é pensada como um buraco uma falta em termos do significante enquanto tal O significante que faz a amarração simbólica é paradoxalmente aquele que nada significa porém funciona de modo a atrair para si todas as significações Quer dizer cria um campo de significações e constitui também a base sem a qual a ordem das significações humanas não pode se estabelecer Enfim tal significante é o que sustenta o ser humano no mundo ou melhor naquilo que Lacan 1985 definiu como as amarras do ser ao se referir à relação do homem com o significante Aludir a esse significante é situar um limite embora saibamos que não é o único visto que a linguagem é também um limite que submete o sujeito às leis da palavra através da função paterna O recurso ao significante que faz a amarração da cadeia simbólica marca o momento de produção da segunda acepção do termo foraclusão em relação ao Édipo Se a foraclusão é a não captação da falta de pênis no corpo da mulher estamos frente a um tipo de negação relativa ao Édipo mas uma negação que não admite o Édipo que nada conserva visto haver a recusa do significante paterno Enquanto negação a foraclusão não deixa nenhum vestígio o que impossibilita a admissão do Édipo no simbólico Estamos com isso no âmbito do conceito lacaniano de foraclusão do NomedoPai Sendo assim o que é negado no simbólico não captação da castração materna retorna no real sob a forma de automatismo psíquico cuja expressão mais evidente é a alucinação Como o retorno é no real o que retorna surge como se fosse algo que se inclui fora do simbólico Desse modo aquilo que retorna aponta para uma exterioridade do sujeito em relação ao simbólico como muito bem ilustram as vozes alucinadas e os pensamentos sonorizados Esses fenômenos são o paradigma da exterioridade do sujeito em relação ao simbólico O que retorna na psicose adquire uma autonomia a ponto de constituirse em uma espécie de automatismo que corresponde a idéias que não são postas em dúvidas nem questionadas Em razão disso o psicótico não habita a partilha do sexo já que é pela dúvida e pela dívida que o sujeito ascende à questão da diferenciação sexual Certamente se não há dúvida como ocorre na neurose em função da divisão há a certeza mas certeza delirante Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 92 O mecanismo da foraclusão não somente propiciou uma nova definição da psicose como também redefiniu as noções de exterioridade e inconsciente o recalque situase no âmbito interno daquilo que o sujeito pode sentir em termos da linguagem porém sem saber sabêlo um inconsciente que de certo modo lhe pertence que foi admitido no sentido da afirmação primordial A foraclusão também tem a ver com um significante inconsciente mas se trata de um inconsciente externo ao sujeito ou seja uma forma de exterioridade a qual o sujeito permanece para sempre ligado Assim podemos dizer que o psicótico fica numa espécie de exterioridade em relação à sexuação Referências BRENTANO F Psychology from an empirical standpoint New York Routledge Kegan Paul 1973 CALLIGARIS C Melancolia hipocondria e paranóia In Actas Freudianas v 1 nº 1 2005 CZERMAK Paixões do objeto Porto Alegre Artes Médicas 1991 FREUD S 1894 As neuropsicoses de defesa Rio de Janeiro Imago v III 1977 1895 Rascunho K vI 1911 Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia v XII 1923 A organização genital infantil uma interpolação na teoria da sexualidade v XIX 1927 Fetichismo v XXI 1933 A dissecação da personalidade psíquica v XXII LACAN J 1932 Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade Rio de Janeiro Forense 1987 1949 O estádio do espelho como formador da função do eu In LACAN J Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1998a As três formas de negação à castração Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 93 1954 Introdução ao comentário de Jean Hypolite sobre a Verneinung de Freud In LACAN J Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1998c 195556 O Seminário livro 03 As psicoses Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1985 195657 O Seminário livro 04 A relação de objeto Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1995 1959 De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose In LACAN J Escritos Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1998b 196970 O Seminário livro 17 O avesso da psicanálise Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1992 JULLIEN P O manto de Noé Ensaio sobre a paternidade Rio de Janeiro Revinter 1997 QUINET A Teoria e clínica da psicose Rio de Janeiro Forense 2009 SOUZA N S A psicose Rio de Janeiro Revinter 1999 VALAS P Freud e a perversão Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1990 THE THREE MEANS TO NEGATE CASTRATION ABSTRACT When crossing from the natural state to the cultural state the human breed in response to the absence captured in the body of the woman disposes of three means to negate castration They are three defensive means used by the subject to avoid being totally reduced to the condition of a simple object of desire of the Other In dealing with repression we have the psychic inscription there is no penis in the body of the woman substituted by I do not know which drives the subject to glide through culture in search of objects directed to a type of knowledge imprinted by paternal anteriority Concerning disavowal we simultaneously have the negation and the affirmation of the existence of a penis in the body of a woman by means of the two coexisting psychical chains that do not contradict each other and hold the fetish as the paradigm Finally in foreclosure the absence in the body of a woman is not captured placing the subject in the position of being the phallus of the mother KEYWORDS Defense Subjectivity Repression Disavowal Foreclosure Francisco Ramos de Farias Psicanálise Barroco em revista v8 n2 7494 dez2010 94 LES TROIS MANIÈRES DE NEGATION À LA CASTRATION REUMÉ Lenfant lorquil essaie passer du état de nature envers à la culture dispose de trois manières de négation pour répondre à la manque captée dans le corps de la femme Ce sont trois opérations defensives lesquelles lhomme utilize a fin de ne pás être réduit à la condition dobjet du désir de lAutre On sagitant du réfoulement il y a linscription dans le psychisme de labsence de penis dans le corpos de la femme Mais cette absence est remplacée par un type de savoir A cause de ça le sujet cherche dans la culture des objets relatifs a un type espécifique de savoir sur lantériorité du père Dans le cas du démnti on a simultanément la négation et laffirmation de léxistence du pênis dans la femme en raison de deux différentes versantes psychiques sans avoir quelque contradiction comme arrive dans le fétiche Enfin dans la forclusion on a la possibilite de non captation de la manque dnas le corps de la femme et alors le sujet ocuppe la place de fallus de la mère MOTSCLÉS Defense Subjectivité Refoulement Dementi Forclusion Recebido em 090810 Aprovado em 100910