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HISTÓRIA Metodologia e Prática do Ensino de História II UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 2 A282m AGUIAR Mara Rocha Metodologia e Prática do Ensino de História II Mara Rocha Aguiar Atualizado por Tathianni Cristini da Silva Santos 2023 62 f Universidade Metropolitana de Santos História 2006 1 Ensino a distância 2 História 3 Ensino de História CDD 907 Créditos e Copyright Vanessa Laurentina Maia Crb8 7197 Bibliotecária UNIMES Este curso foi concebido e produzido pela UNIMES Virtual Eventuais marcas aqui publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários A UNIMES Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso oriundo da participação dos alunos colaboradores tutores e convidados em qualquer forma de expressão em qualquer meio seja ou não para fins didáticos É proibida a reprodução total ou parcial deste curso em qualquer mídia ou formato UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 3 SUMÁRIO Aula 01História Nova outra forma de ver e fazer História 4 Aula 02História das mentalidades 7 Aula 03A Cultura Material e História Imediata 9 Aula 04A História dos Marginais e das Mulheres 13 ResumoUnidade I 17 Aula 05Marxismo e a História Nova 18 Aula 06O tempo pensado em movimento dialético 20 Aula 07Reflexões sobre o tempo contemporâneo 26 Aula 08 A História como processo interminável 29 ResumoUnidade II 33 Aula 09Os fatos na História 34 Aula 10Ciência e História 37 Aula 11A História como perspectiva do futuro e a escrita de livros didáticos 41 Aula 12A Base Nacional Comum Curricular BNCC 44 Aula 13Construindo um novo currículo de História48 ResumoUnidade III 51 Aula 14A evolução dos projetos de pesquisa em sala de aula 52 Aula 15Os projetos de trabalho segundo a concepção construtivista 56 Aula 16O portfólio no projeto de trabalho 60 ResumoUnidade IV 62 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 4 Aula 01História Nova outra forma de ver e fazer História Palavraschave História Nova fragmentação luta social a estrutura e o conteúdo dessa corrente histórica que subverte não só o domínio tradicional da história mas também o das novas ciências humanas e todo o campo de saber Porque repensar os acontecimentos e crises em função de movimentos lentos e profundos da história e obrigar o conjunto das ciências e dos saberes a situarse em outra duração conformar outra concepção do mundo e de sua evolução Le Goff 1993 362 As transformações da prática dos historiadores durante o último século tornaramse possíveis por uma mudança no olhar dos historiadores em relação aos eventos históricos e suas fontes O historiador antigo retirava um acontecimento inédito das ações rotineiras de um povo ou de uma localidade e em seguida procurava as causas pertinentes ao acontecimento O olhar do historiador estava voltado para os acontecimentos extraordinários que se destacavam das ações cotidianas e se perdiam na monotonia de fatos repetitivos Esse era o tipo de atitude que determinava a linha de pesquisa do historiador antigo Essa atitude assemelhavase a dos colecionadores só acumulavam coisas raras e curiosas deixando de lado tudo que era banal cotidiano e usual Dessa maneira a História não possuía muitos vínculos com as ciências sociais como a sociologia economia geografia Apesar disso a História reivindicava para si o status de ciência Para alguns historiadores a História factual deveria ter um caráter mais científico para outros a História deveria se relacionar com as ciências sociais como auxiliares da pesquisa histórica Essa batalha durou muito tempo mas só tomou vulto a partir do trabalho de dois grandes historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre que empreenderam uma ruptura com a tradição não só na maneira de ver a História mas também de fazê la É a partir desses estudos que os fenômenos da História começam a ser vistos com outros olhares com outra concepção de tempo as pesquisas prendemse a partir daí na longa e a curta duração e não mais exclusivamente no acontecimento breve Em outras palavras os pesquisadores passaram a ter mais consciência a UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 5 respeito dos tempos históricos Assim a visão do historiador vai se deslocando do excepcional para o regular do extraordinário para o cotidiano Não se tratava apenas de uma mudança de olhar mas de construir pressupostos teóricos e metodológicos de pesquisa e chegar à convicção de que temos o direito de nos interessarmos não apenas pelo que se move isto é pelo acontecimento extraordinário mas também pelo que permanece constante durante épocas muito remotas Como exemplo podemos citar o Brasil colonial dentro das transformações estruturais do capitalismo europeu Por outro lado a conjuntura econômica e social do Brasil nesse período estava ligada à escravidão que mais tarde vai entrar em conflito com os interesses do capitalismo inglês O que demonstra que a conjuntura local se ajusta ao ritmo do progresso estrutural do capitalismo internacional Dessa maneira o trabalho de compreensão dos eventos precisa procurar relações Cabe ao professor analisar e relacionar as múltiplas determinações que compõem e direcionam os acontecimentos fugindo das soluções simplistas e lineares de ver e fazer a história A contribuição mais efetiva da aprendizagem da história é propiciar ao jovem situarse na sociedade contemporânea para melhor compreendêla Diante disso está a possibilidade de compreensão do tempo enquanto conjunto de experiências humanas Os tempos históricos compreendidos nessa complexidade utilizam a cronologia para situar os momentos históricos em seu processo de sucessão e simultaneidade Procurando ampliar a noção de tempo do meramente linear para o tempo simultâneo identificando também os diferentes níveis e ritmos de duração temporal O conceito de duração tornase nesse nível de ensino a forma mais substantiva de apreensão do tempo histórico ao fazer com que os alunos estabeleçam relações entre continuidade e descontinuidades A noção de duração possibilita compreender o sentido das revoluções como momento de mudanças irreversíveis da história e como forma de relações dialéticas entre o presente o passado e o futuro Ao se repensar o tempo histórico tendo como referência as relações do homem com a natureza podese ampliar a compreensão das diversas temporalidades vividas nas sociedades passadas e presentes nos seus principais UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 6 momentos históricos O primeiro desse longo processo foi a Revolução Agrícola com a criação de formas de plantio responsáveis pela transformação da relação existente entre os homens e a natureza O segundo momento situado entre o século XVIII e XIX foi a Revolução Industrial que impôs um novo ritmo ao processo cotidiano dos homens em sua relação com o meio ambiente estabelecendo novas formas de organização da vida e do trabalho Os ritmos de duração estão inseridos em várias temporalidades A curta duração a dos acontecimentos breves com datas e lugares determinados a média duração no decorrer da qual se dão as conjunturas com tendências políticas e ou econômicas que por sua vez situamse num processo de longa duração estrutural no qual as mudanças são imperceptíveis vigorando a sensação de lentidão do tempo Como exemplo podemos identificar as principais datas da história do Brasil tais como a chegada dos portugueses a independência a abolição da escravidão e a Proclamação da República Tais datas remetem a acontecimentos breves datados e localizados no espaço e que se explicam pelas conjunturas políticas e sociais em resposta às articulações do poder monárquico e das oposições ao regime principalmente ao republicano Entretanto essas datas para serem compreendidas em sua amplitude precisam estar ligadas a um tempo mais longo ou seja ao tempo estrutural próprio do sistema capitalista no qual se desenvolveu o sistema colonial Por fim a história está intimamente relacionada com a manutenção da memória cultural dos povos principalmente em tempos atuais onde o consumismo e a valorização excessiva das novidades podem levar as gerações atuais a esquecerem e anularem a importância das relações que o presente mantém com o passado A importância do saber histórico reside no resgate desta memória como constitutiva de identidades individuais e coletivas O ensino da história organizado com diferentes formas de apreender o tempo especialmente o tempo conjuntural e estrutural favorece a distinção e reavaliação dos valores do mundo de hoje e a relação com as gerações passadas e futuras REFERÊNCIAS LE GOFF Jaques A história nova São Paulo Martins Fontes 1993 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 7 Aula 02História das mentalidades Palavraschave memória mentalidade grupo social duração mudança Não se deve confundir a história das mentalidades com a história das ideias Não foram as ideias dos grandes personagens que influenciaram e conduziram as camadas populares enfim os homens comuns mas a repercussão muitas vezes empobrecida de suas doutrinas Essa história deseja saber o que foi captado mentalmente pelo povo em geral a respeito das ideias da elite como foi adaptada para a vida comum a ideia da cultura dominante As mentalidades também investigam os valores de determinado grupo social como se mantém quais suas relações com outros tipos de mentalidade e como podemos percebêla através dos costumes e das relações de trabalho Para explicarmos a importância da história das mentalidades citaremos a seguinte frase de Philippe Áries Para que nascessem as economias modernas a nossa e suas condições a preocupação com a poupança à vontade de adiar para o futuro um gozo agora moderado o investimento das rendas a acumulação capitalista e enfim a divisão do trabalho foi preciso que antes da tecnologia e das forças de produção mudasse primeiro a atitude mental diante da riqueza e do gozo Áries 1993 170 Tomemos um exemplo utilizado anteriormente a organização do trabalho no engenho durante o período colonial Os engenhos de cana de açúcar no Brasil apresentavam características do processo de produção industrial com a fase da plantação moagem industrialização e comercialização da canadeaçúcar Esse processo está inserido no tempo estrutural das transformações do capitalismo mundial Por outro lado temos as imposições de ordem local como a dificuldade da obtenção de mão de obra e da necessidade de extração máxima da força de trabalho escravo Esse modo de produção está inserido no tempo conjuntural pois se relaciona com as determinações geográficas econômicas e políticas do país Como percebemos existe uma simultaneidade de tempos onde as condições locais muito lentas estão entrelaçadas com as transformações do contexto global Num segundo exemplo essa mesma contradição entre o local e o global foi sentida UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 8 a partir do choque cultural que ocorreu entre a mentalidade burguesa e europeia e o modo de pensar e viver dos povos nativos A mentalidade europeia estava direcionada para a rapidez da exploração territorial para o lucro e o poder enquanto as tribos indígenas organizavam suas relações sociais de maneira lenta estruturada na tradição cultural da comunidade Daí a imposição da religião católica como forma de aculturamento e a destruição da identidade e dos valores dos povos nativos A história das mentalidades compreende uma análise de tempos estruturais longos e subentende que de todos os aspectos sociais econômicos e políticos presentes em determinada sociedade é a mentalidade o aspecto com menor mobilidade temporal pois mesmo quando um modo de produção ou regime político entra em colapso a mentalidade ainda persiste durante um certo tempo Por exemplo podemos analisar a mentalidade escravocrata dos fazendeiros que persistiu mesmo no período de imigração e do início do trabalho assalariado O processo de conversão dos nativos pela Igreja Católica teve como objetivo primordial uma mudança cultural isto é forçar e preparar o nativo para um novo ritmo de trabalho mais intenso e determinado Nas missões jesuíticas todo o processo de trabalho estava organizado em diferentes horários e o sino era o principal regulador do tempo impondo uma nova lógica de vida com tempo dividido para o serviço para o aprendizado para a missa para a alimentação etc Essa divisão do tempo indicava uma nova mentalidade para o trabalho A divisão do tempo na sociedade indígena antes da aculturação baseavase nos ciclos da natureza ou seja o dia e à noite o verão e o inverno Na Inglaterra o relógio já era utilizado no século XVII para organizar o trabalho industrial No Brasil colonial durante o século XV o principal marcador do tempo ainda era o nascer e o pôr do sol foi iniciativa dos padres jesuítas em suas missões de catequese a introdução da organização do tempo nas aldeias usando como instrumento regulador das atividades com os nativos o sino REFERÊNCIAS LE GOFF Jaques A história nova São Paulo Martins Fontes 1993 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 9 Aula 03A Cultura Material e História Imediata Palavraschave artefato arqueologia metodologia História Imediata Nesta aula discutiremos a Cultura Material e História Imediata e seus usos em sala de aula Podemos definir a cultura material como o conjunto de objetos produzidos por uma sociedade Esses objetos nos dão pistas a respeito do nível de progresso técnico das concepções artísticas religiosas e das organizações sociais e econômicas de um povo A cultura material supõe que ela é o resultado de toda forma de pensamento de iniciativas da vida cotidiana e principalmente do tipo e do nível técnico de trabalho que os seres humanos executam para superar as dificuldades do meio ambiente Enfim a cultura material é o resultado de todas as ações humanas na construção de objetos que facilitem o trabalho e as condições de vida que vão desde o machado de pedra dos homens primitivos até os computadores do homem contemporâneo É possível abordar a cultura material como faziam os historiadores antigos isto é procurar apenas os objetos exóticos que representavam um avanço tecnológico no período estudado Entretanto podemos abordar a materialidade no aspecto do cotidiano das pessoas comuns como por exemplo o tipo de alimentação de moradia de vestuário dos instrumentos que faziam parte dos costumes de um determinado povo A cultura material hoje em dia está intimamente ligada à economia É possível traçar através dos hábitos alimentares do vestuário aumento ou queda de produção períodos de fome e escassez de suprimentos importação de gêneros alimentícios e produção de matériasprimas Graças à cultura material foi possível diferenciar as moradias de camponeses e senhores feudais na Idade Média as condições de higiene das cidades medievais e as doenças relacionadas a ela É possível ainda diferenciar a cultura material nos dias de hoje analisando as sociedades tribais e as populações das grandes metrópoles assim como relacionar a situação de vida dos bairros operários ingleses aos bairros populares de hoje em dia buscando diferenças e semelhanças UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 10 As pesquisas sobre a cultura material tiveram maior incentivo no leste europeu principalmente na Polônia com a criação do Instituto de História da Cultura Material O historiador e o professor de História não podem dissociar a cultura material da sociedade dos costumes e da mentalidade dos povos Fica entendido de antemão que é nas relações sociais que se deve buscar a significação dos objetos confeccionados e deixados pelos povos e que a sociedade e a economia explicam os traços da cultura material Essa também trabalha com a evolução das técnicas por exemplo as sociedades feudais possuíam certas tecnologias quando se tratava de armamentos para guerra As armas de fogo e o cavalo garantem à aristocracia militar uma superioridade decisiva de maior rapidez e eficiência no ataque Estes importantes avanços técnicos foram determinantes na conquista e exploração das novas terras pois os nativos desconheciam o cavalo e as armas de fogo A evolução das técnicas vista sob a ótica da cultura material revela as mudanças dos modos de trabalho durante os tempos ou seja a confecção da primeira lança com ponta de pedra do homem primitivo até a invenção da primeira máquina Os historiadores hoje utilizam diversas fontes históricas como os inventários de bens doações registro de posses para estudar a cultura material com seus utensílios de cozinha vestuário objetos de adorno instrumentos de trabalho e armas pois estes revelam muito da cultura de determinado povo Representam ainda importante recurso pedagógico para os professores de história de análise dos objetos e observação prática Uma atividade interessante a realizar com seus alunos pode ser a observação dos modos de vestir existentes atualmente e que variam de acordo com as sociedades eou classes sociais grupos identitários etc História Imediata De acordo com Jean Lacouture é muito difícil conceituar a história imediata dentro de limites precisos e dotados de rigor científico pois o campo de pesquisa é novo e se relaciona de alguma forma com o jornalismo pois o testemunho e o contato de seus autores com o acontecimento constroem e vivificam o fato Podemos citar como exemplo o desenrolar dos acontecimentos no Oriente Médio como a guerra UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 11 do Iraque Muitos jornalistas desempenharam papéis de historiadores porque viveram intensamente o conflito narrando e registrando os acontecimentos É claro que nem sempre de forma rigorosa como faz o historiador mas estes registros acabam por fornecer excelente material de pesquisa para análises futuras dos estudiosos A mídia tem muita importância dentro desta narrativa pois sabemos mais sobre a bomba de Hiroshima através das imagens da televisão do que pelos relatos escritos A história imediata trabalha com uma espécie de reportagem do acontecimento ao vivo onde seus autores também são atores da trama Um destes autores foi Leon Trotsky o qual descreveu os combates da revolução Russa de 1917 Esta história palpitante não está livre de problemas pois é praticada por homens imersos nos acontecimentos cuja proximidade temporal com os fatos pode colocálos sob suspeição Mas os historiadores e os educadores competentes saberão relacionar e identificar posições ideológicas dentro da narrativa pois o historiador não se separa do contexto que descreve mesmo que ele adote certa postura de rigor científico Não basta saber o que foi escrito mas quem escreveu em que condições e por quê É importante saber quais os interesses que se escondiam por trás dos bastidores As diversas interpretações dos fatos muitas vezes se chocam mostrando as posições divergentes dos envolvidos nos conflitos Voltando ao exemplo atual do Oriente médio temos uma versão dos acontecimentos veiculada pelas redes de TV norteamericanas e outra veiculada pela rede de televisão Al Jazeera Sabemos que os historiadores e os professores ao analisarem determinada narrativa devem levar em consideração o seu autor ou seja suas ideias cultura e visão de mundo além do contexto histórico social e econômico da região em que vive o que implica em posições conceitos e opiniões singulares sobre os acontecimentos históricos que não podem ser desprezados pelos estudiosos do assunto UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 12 REFERÊNCIAS BRAUDEL Fernand História e tempo presente In Escritos sobre a história Trad J Ginsburg Tereza Cristina Silveira da Mota São Paulo Perspectiva 1992 COSTA Emília Viotti da Da senzala à colônia 3ª ed São Paulo Brasiliense 1989 LE GOFF Jacques A história nova São Paulo Martins Fontes 1993 SAMARA Eni de Mesquita Org Historiografia brasileira em debate olhares recortes e tendências São Paulo HumanitasFFLCHUSP 2002 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 13 Aula 04A História dos Marginais e das Mulheres Palavraschave minorias classe social lutas conquistas mulheres A historiografia antiga estava firmemente alicerçada na crença do progresso da fé da razão do poder monárquico ou do poder burguês Por isso ela sempre foi escrita de cima descrevendo os feitos das elites que compunham o poder ou como diz JeanClaude Schmitt uma história escrita a partir do centro de poder Todavia o interesse dos historiadores pelas margens da sociedade subverteu a ordem das pesquisas Já no século XIX e início do século XX alguns historiadores debruçaramse em estudos sobre os vagabundos e criminosos do passado arrancados do campo e atirados nas cidades industriais inglesas constituindo uma população de explorados que compunha a cena urbana de criminalidade de violência e de fome A despeito do grande avanço das técnicas e das ciências a violência e o alto índice de criminalidade são produtos diretos da vida nas cidades grandes o que não é muito diferente dos excluídos e estigmatizados de um passado muito recente que vem desde os guetos norteamericanos às favelas brasileiras até aos atuais imigrantes residentes na Europa ou nos EUA cobertos de toda espécie de preconceito Existe dificuldade em conceituar a marginalidade contudo a priori várias noções podem ser distinguidas o centro caracterizase pela supremacia econômica e política e acima de tudo pelo desenvolvimento tecnológico que impõe aos povos segregados no seu interior e além de suas fronteiras No passado a centralidade do poder e a dominação econômica e cultural estiveram presentes no Império Romano em relação aos bárbaros dos Cristãos em relação aos pagãos dos muçulmanos em relação aos infiéis dos civilizados em relação aos nativos enfim a história sempre esteve ligada a exemplos de exclusão e marginalidade imposta a partir dos centros de decisão em relação às populações situadas em suas margens Durante a Idade Média no leque das iniciais atividades urbanas certas atividades foram consideradas desonestas ainda que essenciais à nova economia burguesa pois representavam a nova ordem de poder nascente e portanto perigosa UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 14 para as elites tradicionais representadas pela igreja católica e pelos senhores donos de terras São as profissões de açougueiro carrasco esquartejador de animais pois mantinham contato com o sangue de homens e animais o que pela visão católica constituía em manipulação de coisas impuras É significativo pois que a casa do carrasco seja edificada fora dos contornos da cidade para não contaminar seus habitantes O mesmo desprezo recai sobre limpadores de fossas tintureiros comerciantes Os primeiros por lidar com impurezas os últimos porque manipulam a corrupção do dinheiro Outros comércios desenvolvemse nas cidades o da prostituta que vende o seu corpo o advogado que vende sua palavra e os professores que vendem sua ciência pois segundo a igreja o corpo o tempo a palavra e a ciência pertencem a Deus e não podem ser vendidos Na esteira dos preconceitos contra o comércio burguês nobres em aliança com a igreja agruparam os judeus em bairros separados do resto da população Nesses bairros eles se especializam em emprestar dinheiro a juros principalmente aos nobres Os judeus eram tolerados pois concediam empréstimos a uma nobreza sem dinheiro os nobres por sua vez cobravam dos judeus pela proteção quando havia desentendimentos entre eles os judeus eram expulsos e obrigados a procurarem outro local Com o passar do tempo as atividades inerentes à vida urbana vão se integrando aos valores da sociedade em transformação estabelecendo códigos de conduta aceitos por todos até que novos marginais sejam eleitos História das mulheres As pesquisas sobre a condição feminina emergiram nos anos 1960 reflexos das lutas sociais e feministas estes estudos acabam por desembocar em análises mais amplas em torno dessa identidade essas preocupações abrem um leque de opções que permitiram conhecer melhor as mulheres em diversos tempos e espaços de várias classes sociais e com experiências diversas Nas décadas iniciais do século XX a temática feminina estava ligada à manutenção do casamento e da família Médicos padres moralistas juristas pedagogos sociólogos divulgaram inúmeros argumentos sobre o assunto O centro das discussões estava na preservação da vida conjugal na opção ou negação ao UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 15 casamento nos sentimentos na sexualidade na liberdade de escolha do par e na indissolubilidade ou não do vínculo matrimonial Convocados pelas transformações sociais e econômicas do período os católicos reafirmam suas ideias a respeito do desquite divórcio aborto controle da natalidade amor livre romantismo maternidade educação dos filhos trabalho fora de casa etc na busca da preservação e da reafirmação dos valores da moral cristã tradicional que estava sendo posta em questão A mulher na versão da imprensa era caracterizada como sentimental volúvel inconsequente vaidosa frágil fraca etc Com as rápidas transformações na vida brasileira com o advento da urbanidade as mulheres tornaramse mais presentes nos espaços públicos de trabalho de consumo de lazer redefinindo suas funções sociais e formas de participação na sociedade o que desestabilizava os modelos tradicionais de comportamento feminino As ideias de felicidade feminina estavam associadas ao cumprimento do dever conjugal e ao sacrifício em oposição aos perigos do amor romântico vinculados pelas revistas e pelo rádio A luta pela estabilidade do lar pretendia projetar uma sociedade também estável e harmônica na qual os valores tradicionais da família estariam preservados desde que a mulher permanecesse dentro do lar Se deslocarmos o nosso olhar para a classe operária veremos que a situação feminina adquire maior complexidade Para a mulher de situação financeira estável o trabalho fora do lar representou uma opção de luta pelos direitos femininos em oposição ao modelo familiar patriarcal ou burguês que a considerava dependente do marido e sem direitos de cidadania enquanto para a mulher operária a questão do trabalho esteve ligada à luta pela sobrevivência Nesses termos Engels referiase à situação da mulher da classe trabalhadora na Inglaterra já no século XIX o trabalho da mulher desagrega completamente a família porque quando a mulher passa cotidianamente 12 ou 13 horas na fábrica e o homem também trabalha aí o que acontece às crianças Crescem entregues a si próprias como erva daninha entregamnas para serem guardadas por um shilling e meio por semana e podemos imaginar como são tratadas É por essa razão que se multiplicam de uma maneira alarmante nos distritos os acidentes de que as crianças são vítimas por falta de vigilância As listas dos funcionários de Manchester indicam que em nove meses 69 mortes por queimaduras 56 por afogamento 23 em UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 16 consequência de quedas a mortalidade geral das crianças também aumenta devido o trabalho das mães pois as mulheres voltam ao trabalho na fábrica muitas vezes com 3 ou 4 dias após o parto deixando bem entendido o recémnascido em casa o emprego de narcóticos com o fim de manter as crianças sossegadas não deixa de ser favorecido por este sistema infame 1979 p 122 Segundo Engels as consequências morais do trabalho das mulheres nas fábricas são piores ainda A reunião de pessoas dos dois sexos e de todas as idades na mesma oficina resulta num ambiente promíscuo de assédio e constrangimentos Em resumo independente da classe social as mulheres foram arrancadas do lar em consequência das transformações sociais e econômicas desenvolvidas pelo capitalismo e inseridas num contexto de desenvolvimento urbano As mulheres em um curto espaço de tempo viramse convocadas a frequentar os bondes as grandes avenidas lojas cinemas locais de trabalho As mulheres da classe média tiveram que lutar contra inúmeros preconceitos para se afirmarem como cidadãs Exemplo disso notase no Brasil quando a mulher somente adquiriu o direito ao voto na década de 30 Diferente da mulher de classe média a mulher operária além de lutar contra os preconceitos de uma cultura patriarcal direciona suas reivindicações contra as péssimas condições de trabalho os baixos salários a luta por creches redução da jornada de trabalho entre outras As pesquisas sobre a condição feminina não são novas elas fazem parte desde o século XIX das análises marxistas em relação à mulher operária Durante o século seguinte as pesquisas procuram acompanhar as transformações no papel feminino em decorrência das mudanças sociais e econômicas considerando a situação das mulheres de diferentes classes sociais REFERÊNCIAS COSTA Emília Viotti da Da senzala à colônia 3ª ed São Paulo Brasiliense 1989 LE GOFF Jacques A história nova São Paulo Martins Fontes 1993 SAMARA Eni de Mesquita Org Historiografia brasileira em debate olhares recortes e tendências São Paulo HumanitasFFLCHUSP 2002 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 17 ResumoUnidade I A unidade teve início com as origens e explicações da renovação teórica e metodológica da historiografia Situou a História Nova como precursora destas transformações e elencou os novos temas pesquisados que vão desde a história das mentalidades até a história das mulheres da família escrava e dos marginais E o fez sempre aprofundando sob diferentes ângulos a diversidade de tempos presente na História além de incluir pesquisas recentes com o objetivo de reformular conceitos antigos oriundos da visão tradicional da história que já faz parte do senso comum UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 18 Aula 05Marxismo e a História Nova Palavraschave classe social luta fragmentação escrita da história O marxismo e a História Nova têm em comum primeiramente o fato de rejeitarem as práticas históricas antiquadas factuais e positivistas nesse aspecto elas caminham lado a lado ora aproximandose ora rivalizandose O marxismo depositário de uma longa tradição historiográfica se apresenta como uma filosofia para a história e como uma teoria geral do movimento das sociedades A História Nova identificada com a renovação metodológica historiográfica traz consigo a pesquisa interdisciplinar com as ciências sociais como auxiliares define novos campos de observação para os estudos sugere novos temas e aplica métodos cada vez mais sofisticados de documentação serial Como afirma Le Goff O confronto da História Nova com o marxismo não pode ser simples Em ambos os lados as demarcações internas são demasiado acentuadas para serem negligenciadas no emaranhado confuso e contraditório de ataque das duas correntes Mas permanece o problema entre o que pretende ser uma teoria geral da história e o que pretende ser uma renovação dos métodos históricos existirão pontos de confluência 1990 p 364 Na verdade a renovação metodológica levada a cabo pela história vem de longa tradição da pesquisa marxista na medida em que o marxismo se interessou por uma história global apreendendo diferentes aspectos da vida social como a economia a sociedade o político e o ideológico para alavancar a luta da classe operária contra a exploração capitalista O marxismo orientou seus estudos com base no conceito de estruturas rejeitou os eventos superficiais voltouse para compreensão das ações coletivas que fazem parte do cotidiano Dessa maneira podemos observar muitos pontos de convergência entre as duas correntes que permitam uma superação da história pensada até então Tratase de rever e operacionalizar os conceitos de modos de produção que determinam o acesso aos produtos do trabalho social Na visão crítica de Godelier os modos de produção não ocupam o mesmo lugar não revestem as mesmas formas e não produzem os mesmos efeitos de acordo com as sociedades e as épocas UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 19 Um grande desafio para os historiadores marxistas é manter objetivos e fisionomia próprios ao mesmo tempo em que se lançam em renovação metodológica a fim de desenvolver mais suas capacidades científicas que podem estar numa nova leitura dos conceitos antigos Superar esses entraves para continuar se renovando na pesquisa histórica pode ser também voltar às origens Por outro lado os historiadores da História Nova devem cuidarse para não oferecer uma história fragmentada e sem relações com o contexto global Uma história sem sentido apartada de toda e qualquer política e com grandes riscos de submergir no emaranhado das ciências tidas como auxiliares REFERÊNCIAS FERNANDES Florestan org Karl Marx e F Engels História São Paulo Ática 1983 LE GOFF Jacques A história nova Tradução Eduardo Brandão São Paulo Martins Fontes 1990 MARX K E ENGELS F A ideologia alemã teses sobre Feuerbach São Paulo Moraes 1984 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 20 Aula 06O tempo pensado em movimento dialético Palavraschave dialética marxismo luta classe social movimento Os homens fazem a sua história mas não a fazem arbitrariamente nas condições escolhidas por eles mas nas condições dadas diretamente e herdadas do passado Marx 1984 p 57 No século XIX temos a efetivação da sociedade burguesa e a implantação do capitalismo industrial Desde meados do século passado o capitalismo é criticado como forma de organização da sociedade Nesta linha destacamse dois pensadores Karl Marx e Friedrich Engels Ambos elaboraram uma nova concepção filosófica do mundo materialismo históricodialético Ao fazerem a crítica da sociedade em que viviam apresentaram propostas para sua transformação Acreditavam que a História era a verdadeira ciência e viram na economia o núcleo principal de investigação empírica e elaboração teórica A relação estreita entre teoria e prática culminou em um critério de verificação da verdade que estaria na ação dos homens De um só golpe eliminaram a visão estática da história dos grandes personagens e que convertia o passado em um santuário de arquivos e documentos Para Marx e Engels a história é um processo dinâmico e dialético no qual cada realidade social traz dentro de si as contradições que geram a sua própria superação Para eles a realidade não é estática pois está em movimento constante de transformações a partir das contradições internas O grande pensador idealista que referenda o debate filosófico no início do século XIX é Hegel para quem o mundo é a natureza física acrescida do espírito Para Hegel o espírito é a razão absoluta e oposta à matéria Sob esta ótica idealista a História é apenas manifestação da vontade superior A ação dos homens é desprezada Para contrapor o idealismo Marx propõe As premissas dos quais nós partimos não são arbitrárias mas premissas reais das quais a abstração somente pode ser feita na imaginação Elas são os indivíduos reais suas atividades as condições materiais sob as quais os homens vivem tanto as que eles já encontram estabelecidas quanto àquelas que são produzidas por sua atividade Marx 1978 p 60 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 21 O que aproxima o marxismo do idealismo é o conceito da História como processo mudança transformações Entretanto ao colocar a primazia nas ideias do homem desprezando suas relações com a realidade concreta Hegel é ultrapassado por Marx quando afirma A dialética da ideia não se torna mais do que o reflexo consciente do mundo real A dialética de Hegel foi assim reposta de cabeça para cima ou mais exatamente da posição em que se achava foi posta de novo sob seus pés Marx 1978 60 Em outras palavras podemos afirmar que o mundo material para os marxistas é anterior à consciência pois esta é produto do mundo material Finalmente a dialética é materialista não porque o pensamento é produto do mundo material mas porque a dialética depende de uma prática concreta A dialética se manifesta também na posição do indivíduo em relação à sociedade e à história em que ele é visto como ser condicionado e sujeito das transformações O marxismo inaugura portanto uma nova concepção de tempo mais complexa apesar de defender o caminho histórico como evolutivo faz uma leitura diferente do processo e que não progride em linha reta o desenho que nos vem à mente assemelhase a uma linha traçada em espiral Pensar o tempo histórico é pensar em movimento e transformação Por isso o professor deve considerar a metodologia dialética como instrumento possível de ser manejado no trabalho com a diversidade de tempo presente na história humana Ideias básicas do materialismo dialético O marxismo compreende três aspectos principais o materialismo dialético o materialismo histórico e a economia política As raízes da concepção de mundo de Marx estão unidas às concepções idealistas de Hegel entretanto este privilegiava o espírito e as ideias em detrimento da matéria Ao contrário o marxismo considera que a matéria é o princípio primordial e que o espírito seria o aspecto secundário Segundo o marxismo a realidade concreta existe independentemente da consciência O materialismo dialético não somente tem como base a matéria a dialética e a prática social mas também aspira ser orientador da mudança social O materialismo dialético ressalta a força das ideias e iniciativas capazes de introduzir mudanças nas estruturas econômicas por isso destaca a ação dos partidos políticos UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 22 sindicatos e organizações operárias Lênin definiu a dialética como a ciência da interconexão universal Em outras palavras que existe na realidade do mundo uma interdependência e indissolúvel conexão entre todos os aspectos do fenômeno histórico A categoria essencial do materialismo dialético é a contradição que está na realidade objetiva e se mostra como uma interação inclusiva ou excludente entre interesses e posições contrárias Uma das preocupações dos marxistas era entender por que o trabalhador apesar da superexploração que era submetido não possuía consciência desta exploração Todos os esforços da ação política marxista se encaminharam no sentido de elevar o nível de consciência da classe trabalhadora A consciência está unida à realidade material e com ela estabelece relações contraditórias O homem primitivo antes de ter consciência do mundo que o cercava agiu por intuição e por instinto de acordo com as dificuldades materiais que enfrentava Cada desafio vencido cada mudança no corpo do homem representava um ganho na sua capacidade reflexiva Mas ter consciência apenas da exploração não basta É preciso agir contra ela e para isso o marxismo prega a prática revolucionária contra o sistema capitalista Essa luta não ocorre de forma simples e linear mas de um modo dialético Para Marx toda a história humana se desenrola a partir da luta entre opostos ou seja dos não proprietários contra os proprietários dos escravos contra seus senhores do proletariado contra a burguesia Cada desenrolar dessa luta vai produzindo contradições dentro do sistema antigo e criando condições diferentes que se ampliam e transformam o todo do sistema social e econômico Até que os novos vencedores cheguem ao poder Foi assim com a burguesia e segundo Marx seria assim com a classe operária Embora o marxismo esteja hoje mergulhado em sua pior crise existencial com a derrocada do comunismo no leste Europeu e a permanência vitoriosa do capitalismo lançando novos desafios aos estudiosos os problemas que o comunismo tentou vencer tais como a desigualdade a exploração e a fome persistem em nosso mundo de maneira significativa e com novos contornos A UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 23 realidade mais uma vez nos convoca a reflexão e ao ajuste de nossos conceitos a fim de continuar a luta pelos mesmos objetivos que nos animaram até aqui Sugestões para uma pesquisa utilizando o enfoque dialético O pesquisador que segue a linha teórica baseada no materialismo dialético deve ter consciência da realidade dos fenômenos que quer conhecer Esses princípios devem levar em conta que a realidade objetiva existe independente da consciência e que esta consciência é o resultado das relações que o homem estabelece com seu meio para vencer desafios Não é possível para o pesquisador marxista realizar uma investigação se não tem ideias claras dos conceitos que precisa empregar tais como noção de estrutura relações e modos de produção classes sociais ideologia cultura etc O conhecimento desses conceitos precisa fazer parte da formação do pesquisador sem o que se torna difícil instrumentalizar a pesquisa com o objetivo de esclarecer algum problema social Existe um procedimento geral que orienta o conhecimento do objeto que em síntese pode assim ser esboçado 1 A contemplação viva do fenômeno sensações percepções representações É a etapa inicial do estudo Nela se estabelece o problema a ser resolvido colhido da realidade social Realizamse as primeiras reuniões de materiais de informações observações e análise de documentos que possam dar sustentação teórica e científica ao problema Identificamse as principais características do problema É nessa etapa inicial onde o pesquisador relaciona o problema às hipóteses que o solucionarão 2 Análise profunda do fenômeno em seus diferentes aspectos das partes que o compõem e das relações que estabelece com a realidade objetiva Esta fase é onde o estudioso penetra na dimensão abstrata dele observando os elementos que o integram estabelecendo relações sóciohistóricas do fenômeno elaborando conceitos juízos e possibilidades do objeto a ser estudado Localiza sua situação no tempo e no espaço Determina uma metodologia para o tratamento do fenômeno Busca através da pesquisa de campo ou da estatística por amostragem características representativas das circunstâncias nas quais se apresenta a realidade do fenômeno Interpretamse os dados colhidos da realidade Elaboramse diferentes instrumentos para reunir informações tais UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 24 como questionários entrevistas observações etc Determinamse os traços quantitativos e qualitativos do fenômeno 3 A realidade concreta do fenômeno Para atingir a realidade concreta do fenômeno realizase um estudo das informações observações experimentos levantandose hipóteses Nesse processo fazem parte a descrição a classificação a análise a síntese a busca da regularidade estatística as inferências indutivas e dedutivas a experimentação etc É o momento em que se estabelece uma aproximação da realidade concreta do fenômeno No enfoque marxista todas as pesquisas se orientam para resoluções de problemas sociais A partir daqui exemplificaremos de modo geral as principais diferenças entre o enfoque positivista e o enfoque dialético na pesquisa No enfoque positivista tomando como tema por exemplo o fracasso escolar o interesse do pesquisador voltase para a explicação dele procurando identificar a situação socioeconômica dos alunos e de suas famílias da escolaridade dos pais e a formação profissional dos professores De outro lado no enfoque dialético abordando o mesmo tema a formulação do problema tornase mais complexa Buscamse os aspectos do desenvolvimento do fracasso escolar a nível local regional e nacional e como se apresentam as contradições entre as várias instâncias de ensino e em relação ao currículo Interessase também pela formação e desempenho profissional dos professores localiza a escola e a realidade que a cerca O primeiro enfoque coloca ênfase nas variáveis que devem ser objetivamente medidas Para isso os dados estatísticos são utilizados para atingir esta finalidade Mas talvez seja a visão estática da realidade seu traço mais peculiar Já o enfoque dialético busca a historicidade dos fenômenos ou seja suas relações a nível mais amplo e situam o problema dentro de um contexto complexo ao mesmo tempo em que estabelece novas contradições que se procura desvendar REFERÊNCIAS FERNANDES Florestan org Karl Marx e F Engels História São Paulo Ática 1983 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 25 LE GOFF Jacques A história nova Tradução Eduardo Brandão São Paulo Martins Fontes 1990 MARX K E ENGELS F A ideologia alemã teses sobre Feuerbach São Paulo Moraes 1984 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 26 Aula 07Reflexões sobre o tempo contemporâneo Palavraschave tempo cronologia marcas avaliação temporalidades A peculiaridade pósmoderna é a paixão pelo efêmero pelas imagens velozes pela moda e pelo descartável Berlinck 1989 p172 No passado o progresso humano era medido pela superioridade técnica e cultural que os povos possuíam A História continha a visão do tempo como sequência sem fim rumo ao bem supremo da humanidade Os historiadores da época contribuíram decisivamente para a formação dessa visão ingênua e passional da História movida por povos especiais e personagens extraordinários Se antes os homens caminhavam deliberadamente para um bem supremo tanto a burguesia para o poder quanto os povos subjugados para a liberdade todos ansiavam por mudanças em direção ao progresso A ideia de progresso entretanto foi questionada e agora está fora de moda entre os historiadores Ninguém de bom senso é capaz de negar que apesar de nos considerarmos cidadãos civilizados vivemos uma era em que ainda impera a força bruta basta observar as guerras e os massacres cotidianos dos campos de concentração da limpeza étnica da violência das grandes cidades da exploração e prostituição da infância e da degradação do meio ambiente apesar de todo progresso tecnológico Como pensar a História a partir de uma tradição que trabalha com a ideia de tempo absoluto sem conexões com as diferentes dimensões sociais políticas e intelectuais e que busca situar a sociedade em uma única experiência de tempo Isto é o que a história positivista fez durante toda a sua existência Por outro lado como pensar a natureza do tempo contemporâneo com a concepção de tempo fragmentado repetitivo veloz tempo sem memória Atualmente o principal objetivo da nova geração de historiadores é o tempo presente as ideias de justiça e liberdade tornamse abstrações pois a filosofia foi expulsa dos fundamentos da história e com ela a negação permanente dos interesses humanos futuros Vivemos na era da informática admiramos a velocidade com que as informações nos chegam sem tempo para desfrutar a vida e a lentidão da reflexão UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 27 e do silêncio Presenciamos a era dos ruídos e da fala ininterrupta da televisão e do rádio Nosso tempo se esqueceu de fecundar o silêncio não como ausência da palavra mas como intervalo delas como pausa para a reflexão que dá sentido ao pensamento Mergulhados num excesso de imagens fragmentadas onde não podemos captar o sentido exato das coisas Um mundo que vive exclusivamente no presente acaba por esquecer o seu passado não tendo projetos de futuro Admiramos a novidade técnica e descartamos tudo o que é velho mas o velho já foi novo um dia e o novo se tornará velho Isto quer dizer que o tempo é movimento recíproco entre o antes e o depois e sem eles o presente não possui significado algum As datas como marcas do tempo As datas seriam momentos de uma série dramática as fases de crise e negatividade preparam os avanços da humanidade quer pelo domínio das forças naturais quer pela realização de uma perfeita convivência social se a perspectiva é religiosa pelo triunfo do bem BOSI 1992 p 21 O que são datas Datas são marcas que delimitam determinados acontecimentos no tempo As datas são sinais a que recorremos para não esquecer é um recurso da memória dos quais utiliza um símbolo e o que há de mais simbólico do que o número Datas são números Como diz Alfredo Bosi Datas são pontos de luz sem os quais a densidade acumulada dos eventos pelos séculos e séculos causaria um tal negrume que seria impossível vislumbrar no opaco dos tempos os vultos das personagens e as órbitas desenhadas pelas suas ações A memória carece de nomes e de números A memória carece de números BOSI 1992 p19 O número é um símbolo que representa uma parte em um todo elemento de uma série ordenada onde os fatos se passam um depois dos outros Para contálos é preciso enumerálos Contar o que aconteceu na História exigese que localize o tempo e o espaço O olhar para o tempo em sequência traz a marca de um número disposto em uma série onde o passado momento anterior não volta mais o presente é imperceptível e o futuro ainda não chegou Neste modelo o tempo é visto como série sucessão cadeia de antes e depois mas a questão dos sentidos que separam as datas precisa ser refletida Essa UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 28 visão sintática do tempo dá sustentação a duas visões filosóficas opostas uma que é cumulativa e finalista e outra que é pontual e contingencial Para a primeira concepção a cronologia possui forças causais determinantes que perguntam quais as causas e as consequências de determinado fato Estas perguntas nos conduzem a pensarmos no antes e no depois do acontecimento Elas nos conduzem a uma justificação de progresso da humanidade onde o inferior progride para o superior e instaura o reino da felicidade em um futuro a ser alcançado Para a segunda as potências latentes dos acontecimentos ao se desencadearem se anulariam umas às outras assim como os vencedores que dominam os adversários menos fortes e podem com o tempo ser superados por outros mais fortes Uma sequência também mais sem plenitude de futuro A evidência disto está no conceito das grandes eras econômicas que tende a reforçar a lógica progressiva feudalismo mercantilismo capitalismo industrial socialismo As imagens nos remetem ao progresso e evolução Constituise uma espécie de senso comum da humanidade que é formada por um homem único e que permanece homem enquanto evolui de geração para geração eis os símbolos da crença do progresso contínuo Hoje os historiadores colocam em xeque estes conceitos pois a sequência dos tempos não produz necessária e automaticamente uma evolução do inferior para o superior de modo igualitário basta olhar para os diferentes níveis de cultura existentes no mundo contemporâneo O momento atual convive com vários tempos pois é peculiar em um mundo pósmoderno a coabitação de estilos de vida e de pensamentos distintos sinal de que o tempo que se vive não é homogêneo Sabemos hoje que a cronologia que divide e mede o caminhar da vida humana em unidades progressivas é insatisfatória para compreender as esferas simultâneas do tempo atual Daí a metodologia da diversidade de tempos para compreendêlo REFERÊNCIAS BERLINCK Luciana Chaui Melancolia Rastros de dor e de perda São Paulo Humanitas 2008 BOSI Alfredo O tempo e os tempos In NOVAES Adauto Org Tempo e história São Paulo Cia das Letras 1992 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 29 Aula 08 A História como processo interminável Palavraschave historicidade processo prática mudanças de regime poder A redescoberta dos ideais que animaram os vencidos e o reencontro com eles pode agenciar um processo de generalização do que hoje está in nuce Isso passa por um rigoroso ajuste de contas com o passado especialmente com o nosso passado que permita superar os impasses que se não levaram ao fim da história pelo menos facultaram que esta tese pudesse ter ressurgido com certa credibilidade Este encontro permite estabelecer uma ponte entre passado e futuro compreender a história como um processo sem fim Garcia 1992 p 30 No final do século XX os historiadores das mais diversas tendências ficaram perplexos com uma declaração do norteamericano Francis Fukuyama sobre do fim da história Situando a declaração num contexto histórico mais amplo a emergência do tema tem sido associada a um conjunto de transformações ocorridas no final do último século Em primeiro lugar corresponde à surpreendente e rápida implosão dos regimes socialistas do leste europeu e especialmente da exUnião Soviética A despeito da imperfeição do sistema o socialismo representava um ponto de equilíbrio com as investidas do capitalismo Era uma antecipação mesmo que imperfeita do futuro Em segundo lugar o clima reinante após a queda do muro de Berlim era de um entusiasmo que considerava o sistema capitalista vitorioso Em terceiro lugar as repercussões sobre o fim da História se deram com a constatação do fim da Guerra fria e do sistema bipolar de poder entre a URSS e os EUA Com o fim da Guerra fria e as mudanças na União Soviética e leste europeu os EUA consolidam sua hegemonia única em termos de aparato militar com a intervenção no oriente médio e principalmente com a Guerra do Golfo onde foi demonstrada incontestavelmente a superioridade tecnológica e militar norteamericana Todos esses acontecimentos oferecem o pano de fundo para uma grande arrancada cultural e ideológica do capitalismo onde renasce o discurso liberal neoliberalismo Uma análise menos apressada nos conduziria a algumas conclusões A derrocada do socialismo real não estaria na vitória do capitalismo UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 30 como melhor sistema para a humanidade mas nos problemas e nas contradições não solucionadas do sistema socialista existente Não foi o capitalismo que venceu e sim o projeto de socialismo que se desintegrou diante dos olhos perplexos do mundo Esta crise do socialismo real se deu pela incapacidade dos regimes de economia planificada em resolver os seus maiores problemas 1 De construírem um sistema político alternativo que fosse construído a partir de uma democracia operaria 2 Diminuir os gastos com a indústria militar e os setores a ela ligados 3 Aumentar os investimentos em tecnologia para manter as taxas de crescimento econômico 4 Atender as demandas de consumo de bens em serviços em termos de quantidade e qualidade 5 Resolver os problemas crônicos da agricultura 6 Eliminar definitivamente a pobreza e instaurar de modo consistente a igualdade social 7 Forjar na sociedade uma cultura de solidariedade e de respeito ao espaço público Estes fatos explicam a velocidade do colapso destes regimes e do enfraquecimento dos movimentos sociais a partir de então A História teria chegado ao seu fim se a fome a desigualdade e a miséria houvessem desaparecido da face da terra no entanto eles se intensificam movendo novos sonhos novos estudos e objetivos na construção de um mundo menos injusto A teoria e a prática da aula Dialética Toda teoria não faz sentido sem uma prática efetiva esta é uma premissa da filosofia dialética Nesse sentido a aula enquanto ação efetiva do educador precisa relacionar teoria e prática empregando a metodologia dialética porque se entende que a História é um processo em construção e feita por diferentes sujeitos dotados de vontades ora convergentes e ora conflitantes situados em vários espaços e tempos Nesse sentido concorrem várias concepções de educação e de mundo pais alunos professores e diretores A escola dentro desta perspectiva não está imune UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 31 à realidade que a envolve nem às influências que recebe O professor ciente desta realidade concreta que é dialética que não se apresenta de forma estática mas em constante processo de mudança ajusta seus conceitos e passa a efetiválos no dia a dia O presente é apenas ponto de partida da aula porque o passado está de algum modo vivo no presente Com essa metodologia o professor vai e volta no tempo ligando acontecimentos procurando semelhanças distinguindo diferenças e semelhanças e reconhecendo rupturas tendo como eixo um conceito ou tema específico Os conteúdos organizados em eixos temáticos possibilitam ultrapassar a rigidez dos períodos nesse sentido o professor pode partir em sua narrativa de qualquer ponto da História sem se preocupar em sequenciar assuntos compartimentados Contribuir para as várias noções de tempo em sala de aula é fazer os alunos entenderem que o tempo não é único para todas as culturas e que é possível identificar o ritmo à duração e a velocidade com que as mudanças ocorrem a cada momento Uma aldeia indígena isolada certamente terá uma noção de tempo muito diferente de uma sociedade industrial e capitalista entretanto esta mesma aldeia indígena com seu tempo diferente coexiste com sociedades altamente tecnológicas o que nos faz pensar na simultaneidade de tempos presentes em nossa época Resumindo a noção de tempo é um dado cultural com características próprias Pode ser caracterizada dentro de um tempo muito longo como exemplo podemos citar a cultura tribal que guiada pela tradição dos costumes pouco se transforma Diferentemente da nossa cultura contemporânea que possui uma noção de tempo muito rápida e fragmentada devido ao ritmo das mudanças e inovações tecnológicas sucessivas A finalidade dessa aula foi mostrar para os futuros professores que é possível transformar a teoria em prática a partir de uma metodologia adequada e também da reconsideração do seu papel enquanto pesquisadoreducador e intelectual transformador intelectual e alguém que conhece seu campo e tem uma larga visão sobre outros aspectos do mundo alguém que usa sua experiência para desenvolver teorias e questões e que volta a interrogar a teoria com base em maior experiência Intelectual é também alguém que tem coragem para UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 32 questionar a autoridade e que se recusa a agir contra sua própria vivência e julgamento Gramsci 1976 p 47 Isso impõe a historiadores e professores a compreensão da problemática do nosso tempo e da articulação com outros tempos no ensino da História pois a tarefa de conscientização na formação da cidadania no campo de lutas das causas populares continua atual e permanente REFERÊNCIAS FERNANDES Florestan org Karl Marx e F Engels História São Paulo Ática 1983 LE GOFF Jacques A história nova Tradução Eduardo Brandão São Paulo Martins Fontes 1990 MARX K E ENGELS F A ideologia alemã teses sobre Feuerbach São Paulo Moraes 1984 NETTO J P Relendo a Teoria Marxista da História In História e História da Educação o debate teóricometodológico atual Campinas Autores Associados HISTEDBR 1998 TRIVIÑOS Augusto N S Introdução à pesquisa em ciências sociais a pesquisa qualitativa em educação São Paulo Atlas 1987 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 33 ResumoUnidade II Esta unidade procurou esclarecer os principais conceitos do materialismo dialético diferenciandoo da visão idealista característica do positivismo Relacionou tais diferenças à nova abordagem da História Nova Rejeitando a história tradicional e identificando os pontos de convergência entre a História Nova e o Marxismo Finalmente sugeriu a metodologia dialética como base para o trabalho em sala de aula considerandoa adequada para a construção dos tempos divergentes UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 34 Aula 09Os fatos na História Palavraschave fato documento sociedade indivíduo história No século XIX os historiadores se preocupavam apenas em mostrar como os fatos realmente aconteceram Os positivistas ansiosos por firmar suas convicções da história como ciência contribuíram com sua influência para que os fatos fossem cultuados Essa visão da história se adequava perfeitamente à tradição empirista que pressupunha uma completa separação entre sujeito e objeto do conhecimento Enfatizavam que os fatos são dados da experiência concreta e distinta das conclusões Que é um fato histórico afinal De acordo com o senso comum há certos fatos básicos que são os mesmos para todos os historiadores e que formam a viga mestra da história Fatos como a Revolução Francesa ou a Independência do Brasil estão firmemente assentadas no imaginário de estudantes e professores Quem afinal decidiu se eles poderiam ser considerados como importantes para fazer parte da galeria histórica Quem decidiu que a Marquesa de Santos amante de D Pedro I deveria entrar para a História Sabemos que os historiadores antigos não consideravam as ações das classes marginalizadas como relevantes para a trama histórica por isso esse ponto de vista era descartado O que queremos dizer é que os fatos ao serem estabelecidos passaram por uma série de julgamentos para finalmente serem aceitos como verdadeiros ou relevantes Você poderia contestar alegando que eles estão baseados em documentos cartas registros decretos diários Mas o que dizem os documentos Em geral dizem o que seu autor pensava ou queria que os outros pensassem Daí a necessidade da análise historiográfica Como podemos saber o que os escravos na Grécia Antiga pensavam se os historiadores da época não se preocupavam com eles Daí a escassez de informações sobre o tema Até o século XIX o sentido da história estava baseado numa visão otimista do mundo afinada com a ascensão da burguesia cujo lema era o laissezfaire Os fatos tal como arranjados pelos historiadores rumavam numa linha reta em direção ao bemestar à prosperidade e à confiança UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 35 Todavia afirmamos que para se entender determinado fato do passado é preciso saber quem o escreveu e o que pensava O que pensava foi escrito em consonância ao contexto histórico e econômico da época a mentalidade reinante naquele instante e naquela sociedade Não faz sentido para o estudioso descartar o presente para ser mais objetivo no entendimento dos povos antigos pois ele está entranhado nas experiências do pesquisador Mas qual é realmente o sentido de conhecer povos tão distantes no tempo se não for para compreender o presente Como dizia Croce toda história é história contemporânea esclarecendo que a história consiste em ver o passado através dos olhos do presente e a luz dos seus problemas O trabalho principal tanto do historiador quanto do professor não é narrar os fatos apenas mas avaliálos O desenrolar do processo de desvendamento dos fatos consiste numa interação recíproca entre fatos e interpretação Essa interação de reciprocidade é também uma relação entre o tempo dos fatos e o tempo do historiador Resumindo a história é esse diálogo interminável entre passado e presente A relação da História com a sociedade e com os indivíduos Logo que nascemos o mundo começa a agir sobre nós transformandonos de unidades biológicas em unidades sociais Todo ser humano em qualquer fase da História nasce em sociedade e desde pequeno é moldado pelo meio que o cerca O indivíduo desligado da sociedade seria incapaz de falar ou pensar Com o advento da revolução industrial e do liberalismo o culto ao indivíduo entrou em cena O individualismo foi a base da grande filosofia do século XIX De lá para cá a história humana tem testemunhado uma individualização crescente que acompanhou o surgimento do mundo moderno Nos estágios iniciais do capitalismo as unidades de produção e distribuição estavam nas mãos de indivíduos isolados a ideologia da nova ordem social valorizou o papel da iniciativa individual rumo a um progresso contínuo Daí a historiografia do século XIX reproduzir a biografia dos grandes homens As massas populares só entraram na História após a Revolução Francesa Não é que a visão do homem como indivíduo seja descartada mas o indivíduo é por definição membro de um grupo social A História trata o homem como parte de um todo não lida com individualidades mas com interesses comuns entre os indivíduos O historiador não UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 36 precisa em circunstâncias comuns tomar conhecimento de um camponês insatisfeito e isolado mas milhões de camponeses insatisfeitos em milhares de aldeias representam o fator que nenhum historiador pode ignorar Podemos pensar que todos os movimentos sociais são conduzidos por indivíduos que possuem liderança entretanto essa liderança possui uma multidão de adeptos Números contam para a História Não queremos diminuir a importância do indivíduo na História todos nós sabemos da importância de Napoleão Bismarck e Lênin O que podemos concluir é que o grande homem é um indivíduo e sendo um indivíduo de destaque é também um fenômeno social de grande importância O grande homem de uma época é aquele que sabe falar a linguagem de seu tempo que conhece a vontade predominante e a realiza Ele está à frente do seu tempo porque atualiza a sua época O grande homem é um produto e um agente transformador da História ao mesmo tempo em que representa cria forças sociais que mudam a forma do mundo e do pensamento dos homens Só podemos compreender o presente à luz do passado Capacitar o homem a entender a sociedade do passado e aumentar a sua compreensão da sociedade presente são as duas funções da História REFERÊNCIAS CROCE Beneditto História como história da liberdade São Paulo Topbooks 2015 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 37 Aula 10Ciência e História Palavraschave ciência metodologia técnica causa acidente O moinho manual nos dá uma sociedade com um senhor feudal o moinho a vapor nos dá uma sociedade com um capitalista industrial Marx 1978 p 65 O status das hipóteses usadas pelo historiador no decorrer de seus estudos parece notavelmente semelhante aos das hipóteses usadas pelos cientistas As hipóteses apontam caminhos para novas pesquisas sem elas nos perdemos em meio às complexidades da investigação Tais hipóteses são instrumentos indispensáveis que organizam o pensamento entretanto tais instrumentos são forjados dentro de certa concepção e para atender a determinados objetivos que são específicos A divisão da história em períodos é um desses instrumentos de representação simbólica do tempo uma hipótese enfim que foi construída segundo uma visão linear e progressiva da história E portanto uma única visão dentre outras e que não pode ser generalizada O cientista trabalha com generalizações entretanto temos que avaliar até que ponto estes esquemas gerais se adaptam a acontecimentos específicos Alguns historiadores apressados interpretaram que certos modos de produção no Brasil colonial se ajustavam ao modo de produção feudal este equívoco logo foi esclarecido apoiado por uma afirmação de Marx Acontecimentos surpreendentemente semelhantes mas ocorrendo num cenário histórico diferente levam a resultados completamente diferentes Estudando cada uma dessas evoluções separadamente e então comparandoas é fácil encontrar a chave para a compreensão deste fenômeno 1978 p 65 Isto não quer dizer que devamos descartar toda e qualquer generalização como sabemos elas são guias gerais para ações futuras A história preocupase com a relação entre o particular e o geral Como historiador não se pode separálos ou dar valor excessivo a um ou a outro da mesma maneira que não se pode separar o fato da interpretação UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 38 A história precisa evitar se tornar ultra teórica ou ultra empírica O primeiro risco é perderse em generalizações abstratas desvinculas das realidades especificas O outro é se tornar fracionada e sem ligações com o contexto geral Dialeticamente falando devemos investigar o que é geral dentro do singular Nesse sentido usaremos o mesmo exemplo equívoco sobre o modo de produção feudal no Brasil colonial Estudos recentes nos mostram que o engenho do açúcar se constituía como unidade complexa de produção fabril entretanto o capitalismo estava em ascensão e podia ser percebido pela presença de técnicas importadas ainda que sob regime escravista A causa na História e o acidente na História Apesar do estudo de causas nos dias de hoje estar fora de moda a História em si é um estudo de causas pois o historiador sempre questionará as razões ou forças que contribuíram para o fato Montesquieu no século XVIII em sua obra Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e da sua ascensão e queda entendeu que há causas gerais morais ou físicas para os fatos Mais tarde no Espírito das leis desenvolveu e generalizou esta ideia considerava que o destino cego não era produtor de todos os resultados que vemos no mundo e que o comportamento dos homens seguia certas leis e princípios A partir daí os historiadores estiveram muito ocupados procurando as causas dos acontecimentos históricos e das leis que a regeram Muitos procuraram as causas em termos mecânicos econômicos e psicológicos Ordenaram os acontecimentos do passado numa sequência de causa e efeito Alguns pesquisadores não falam de causas na História mas de explicações ou de interpretações ou ainda de lógica interna dos acontecimentos A nova geração de historiadores da escola dos Annales pode retrucar alegando que esses acontecimentos se referem ao acontecimento breve mas as causas também são procuradas no tempo histórico que perdura através dos tempos pois as mentalidades de determinada época são apontadas muitas vezes como causa dos fenômenos de determinado período Em que pesem as transformações que a historiografia viveu alguns historiadores continuam respondendo a mesma pergunta por que tal fato aconteceu O historiador ao expandir e aprofundar sua pesquisa acumula cada vez mais respostas Ele começa a colocar as causas em uma hierarquia de importância Para UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 39 isso ele precisa avaliar o que é realmente relevante para explicar determinado acontecimento O pesquisador das causas muitas vezes é considerado um determinista uma vez que ao criar modelos de interpretação baseado em hipóteses e leis haverá um certo determinismo que representará um processo inevitável no desenrolar dos acontecimentos Os historiadores da nova geração criticam o fato de não ser levado em consideração o livre arbítrio dos homens Esclarecemos que o determinismo não é um problema da História mas de todo o comportamento humano O ser humano cujas ações não têm causa e portanto são indeterminadas agem por intuição e por acaso Ações cegas não são próprias da mentalidade humana O homem que age conscientemente na História usa o seu livre arbítrio em suas ações e seu pensamento para atingir determinados objetivos portanto o ser humano é determinista Os historiadores sempre perguntarão a causa dos acontecimentos e as consequências que vem depois destes Isto quer dizer que trabalham com duas noções de tempo relacionadas reciprocamente a do passado e do presente O acidente na História Este tema esteve ligado à campanha que se empreendeu contra a suposta inevitabilidade histórica Essa é a teoria de que a História é de um modo geral um capítulo de acidentes uma série de acontecimentos determinados por coincidências do acaso Segundo este ponto de vista EH Carr comenta Algumas batalhas travadas entre a Grécia e o Egito não tiveram causas comumente postulada pelos historiadores mas a paixão de Marco Antonio por Cleópatra Quando o rei Alexandre da Grécia morreu no outono de 1920 devido a uma mordida de um macaco de estimação este acidente acarretou uma série de acontecimentos que levou Churchill presidente da Inglaterra a comentar que 250 mil pessoas morreram devido a esta mordida de macaco Carr 1978 p 80 A relação do acidente na História com o determinismo é que o primeiro não pode ser previsto e não está sob o nosso controle já o determinismo depende das vontades e das ações humanas O que ocorre é que muitos acreditam que não há causas para a visão acidental da História Neste aspecto a História acidental atribui ao acaso a explicação de um acontecimento isto é que aquele acontecimento não UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 40 tem causa determinada ou ainda que a causa atribuída é a de menor importância Podemos esclarecer o assunto com o seguinte exemplo Jonas voltando de uma festa em que bebeu mais do que o habitual num carro cujo freios estavam desregulados num trecho onde a visibilidade é notoriamente fraca atropela e mata Robson que estava atravessando a rua para comprar cigarros Após a confusão encontramonos na delegacia para investigar as causas do ocorrido Teria sido em virtude do estado de embriagues do motorista Diante dessa causa temos a consequência de um processo criminal Será que não foi devido ao defeito nos freios Nesse caso não caberia a responsabilidade a oficina que revisara o carro uma semana antes Ou foi devido à má visibilidade da rua Neste caso não seria necessário alertar as autoridades do trânsito Enquanto estamos discutindo estas questões dois cavalheiros distintos irrompem na sala e explicam se Robson não tivesse ficado sem cigarros naquela noite ele não estaria morto Conclusão o desejo de fumar foi o causador de sua morte Carr 1978 p 81 A História portanto é um processo de seleção em termos de significação histórica É fato que Robson era fumante e que foi morto mas não podemos precisar se sua morte foi em consequência disto O historiador quando reúne várias causas seleciona as mais importantes e as mais objetivas rejeitando aquelas de menor importância histórica Quando falamos de causas e consequências estamos falando de duas dimensões do tempo histórico mas como todos sabemos o presente não é mais do que uma linha divisória e imaginária entre o passado e o futuro O passado e o futuro são partes de um mesmo intervalo de tempo Passado e futuro estão intimamente interligados Além do questionamento sobre as causas dos fatos passados ainda queremos saber para onde estamos indo REFERÊNCIAS CARR Edward H Que é História Rio de Janeiro Paz e Terra 1982 MARX K E ENGELS F A ideologia alemã teses sobre Feuerbach São Paulo Moraes 1984 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 41 Aula 11A História como perspectiva do futuro e a escrita de livros didáticos Palavraschave presentepassado poder ideologia escrita didática A tendência da historiografia atual é livrarse da filosofia que deu sentido à História Os historiadores antigos não se interessaram pelo sentido e pelo destino da História Eles não possuíam sentido de passado portanto também não havia sentido de futuro Como já vimos eles possuíam uma visão cíclica da História Foram os judeus e depois os cristãos que introduziram uma meta em direção da qual se movem os homens na História A partir daí a História adquiriu um sentido e uma finalidade e o sentido linear do tempo Os cristãos tinham como meta a perfeição da situação humana na terra A concepção que temos do sentido da História é o resultado da junção entre as crenças religiosas e o livre arbítrio do homem Essa crença estava voltada para o progresso para a riqueza e para a felicidade Muitos acreditam hoje em dia que o progresso tecnológico e humano nos trará riqueza paz e felicidade enquanto muitos duvidam disto A essência do homem como ser racional é desenvolver suas capacidades acumulando experiências de geração em geração Os historiadores da nova geração dirão que esta perspectiva da História é preconceituosa e diz respeito apenas aos homens civilizados e portadores de uma cultura concebida como superior que podem ser os europeus ou os norteamericanos O que estamos querendo explicar é que a longa trajetória humana ocorreu por incorporar a sua experiência à das gerações anteriores Para muitos historiadores que compartilham a visão cristã o bem será alcançado no final da linha Para os historiadores positivistas progrediremos em termos de conhecimentos e técnicas o que nos levará para uma situação de maior justiça e liberdade pessoal Para os marxistas estamos caminhando para uma sociedade sem classes Para a História Nova o sentido da História e a direção no qual nos movemos é desconhecida e não merece ser buscada Para os estudantes que analisam todas estas correntes de pensamento um pressuposto é evidente a única coisa de que temos certeza é a mudança UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 42 Enquanto caminhamos em direção a um futuro incerto nos transformamos O futuro só começa a tomar forma na medida em que nos deslocamos em sua direção Na medida em que nos movemos para o futuro transformamos nossa concepção do passado Podese fazer História pensando que o futuro está cheio dos benefícios divinos Podese também transformar a História em romance ou literatura A História propriamente dita só pode ser escrita e ensinada por aqueles que acreditam que viemos de algum lugar e que estamos indo para um lugar As camadas populares e a ideologia dos livros didáticos Até recentemente as camadas populares estavam ausentes dos livros didáticos de História Embora a tendência hoje seja do resgate das lutas populares esta tendência é parcial e idealizada pois procura substituir os heróis da classe dominante pelos heróis das camadas populares Além disso não levam em consideração as contradições materiais e mentais destes setores Todavia é fato que ao aparecer nos livros didáticos as lutas populares se sentem valorizadas fortalecendose para a História presente e futura A manutenção da escravidão no Brasil não pode ser atribuída unicamente aos interesses dominantes mas também a incapacidade dos dominados em reagirem O estudo desta incapacidade é tão importante para a compreensão da dominação quanto o estudo da classe dominante Uma História a serviço das camadas populares é aquela que busca uma maior aproximação da realidade seja ela qual for pois objetiva a compreensão do fenômeno da dominação É portanto um compromisso de transformação social O que devemos nos perguntar é até que ponto o livro didático é reprodutor da ordem dominante Tradicionalmente nas poucas páginas que os livros didáticos destinam às camadas populares elas são retratadas como passivas obedientes supersticiosas ou irracionais Basta dar uma lida na vinculação que os livros didáticos fazem à guerra de Canudos O livro didático repassa estereótipos contribuindo para um círculo vicioso de passividade diante da História O eurocentrismo é outra marca dominante nos livros didáticos de História no Brasil como se pode ver pelo retrato da chegada dos europeus à América A História indígena antes de 1500 está ausente E quando aparecem os nativos são vistos mais sob o aspecto folclórico ou pelas contribuições que trouxeram à sociedade UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 43 brasileira O próprio uso dos termos é equivocado como é o caso do conceito de descobrimento A historiografia já abandonou este conceito mas a palavra continua fazendo parte dos livros didáticos O privilégio da história europeia nos livros didáticos obedece mais a um critério ideológico do que científico Com relação à história da escravidão a situação é pior pois os africanos só entram na história do Brasil neste período A História é sempre narrada em relação às ações dos portugueses que compravam os escravos na África e os traziam para o Brasil Nenhuma linha explica a vida dos africanos antes de sua chegada ao Brasil Nada sabemos sobre a cultura destes povos e os únicos e breves relatos se relacionam com a contribuição do negro para a cultura brasileira desvinculadas do contexto da vida dos próprios africanos As poucas informações que trazem são apenas descritivas e não explicativas Ou seja o que é o candomblé De onde vem a capoeira Essa situação deverá ser alterada com a inserção da História da África no currículo do ensino fundamental conforme determinado por lei a partir de 2003 O fato é que o livro didático reproduz uma série de equívocos e o mais grave é o fato de não acompanharem as pesquisas atuais da historiografia encontrando se obsoletos em relação a ela Por isso para a formação do professor é necessário avaliar o papel do livro didático e sua utilização em sala de aula REFERÊNCIAS CARR Edward H Que é História Rio de Janeiro Paz e Terra 1982 HERNÁNDEZ Fernando Transgressão e mudança na educação os projetos de trabalho Porto Alegre Artmed 1998 MARX K E ENGELS F A ideologia alemã teses sobre Feuerbach São Paulo Moraes 1984 NIKITIUK Sônia L org Repensando o ensino de História São Paulo Cortez 2001 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 44 Aula 12A Base Nacional Comum Curricular BNCC Palavraschave BNCC ensino educação normatização Ensino Médio A Base Nacional Comum Curricular BNCC é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação PNE Brasil 2018 p 7 Em dezembro de 2017 foi publicada a Base Nacional Comum Curricular BNCC para o ensino do componente de História no Ensino Fundamental A BNCC publicada em 2018 com a inclusão do Ensino Médio é um conjunto de normas para a Educação Básica brasileira Portanto ela deverá ser seguida por todas as instituições de ensino que atuem na Educação Básica no país É fundamental que cada educador leia a Base para compreensão de suas possibilidades e dimensões de atuação e aplicação Existem duas palavras que são essenciais para o uso da Base quais sejam Competências e Habilidades Elas possuem significados e aplicações bastante específicas e por isso mesmo tomam o lugar de conceitos fundamentais na BNCC Na BNCC competência é definida como a mobilização de conhecimentos conceitos e procedimentos habilidades práticas cognitivas e socioemocionais atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho Brasil 2018 p 8 Grifo nosso São apresentadas 10 dez competências gerais na Base e 07 sete competências específicas por área de conhecimento Ciências Humanas Linguagens e Tecnologias etc e componentes curriculares História Geografia Português etc As competências especificas dialogam diretamente com as competências gerais A área de Ciências Humanas na qual História está alocada trabalha essencialmente com os conceitos tempo e espaço portanto com o raciocínio espaçotemporal e crítico possibilitando a formação do sujeito histórico sujeito UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 45 histórico é aquela pessoa que se reconhece enquanto cidadão consciente de seus atos A área de Ciências Humanas contribui para que os alunos desenvolvam a cognição in situ ou seja sem prescindir da contextualização marcada pelas noções de tempo e espaço conceitos fundamentais da área Cognição e contexto são assim categorias elaboradas conjuntamente em meio a circunstâncias históricas específicas nas quais a diversidade humana deve ganhar especial destaque com vistas ao acolhimento da diferença O raciocínio espaçotemporal baseiase na ideia de que o ser humano produz o espaço em que vive apropriandose dele em determinada circunstância histórica A capacidade de identificação dessa circunstância impõese como condição para que o ser humano compreenda intérprete e avalie os significados das ações realizadas no passado ou no presente o que o torna responsável tanto pelo saber produzido quanto pelo controle dos fenômenos naturais e históricos dos quais é agente Brasil 2018 p 8 Você encontrará no texto da Base frequentemente a expressão Atitude Historiadora Abaixo sua explicação Atitude Historiadora propicia aos alunos e professores desempenharem o papel de agentes do processo de ensino e aprendizagem Brasil 2018 p 398 Elementos para a atitude historiadora Identificação Realizar o maior número possível de questionamentos sobre um objeto ou situação para sua identificação Comparação A comparação em história faz ver melhor o Outro Trevisan 2018 P 57 Contextualização os estudantes devem identificar em um contexto o momento em que uma circunstância histórica é analisada e as condições específicas daquele momento Trevisan 2018 P 57 Interpretação Interpretar fenômenos e objetos para desenvolvimento do pensamento crítico Análise Habilidade complexa que busca problematizar a escrita da História Trevisan 2018 P 57 Assim a BNCC pressupõe o desenvolvimento da autonomia de pensamento logo compreendendo que as pessoas agem e vivem de acordo com seu tempo e espaço Ensino Médio UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 46 A BNCC do Ensino Médio não possui uma atenção específica para cada componente das Ciências Humanas na verdade ela trata de modo amplo todos os componentes da área em conjunto deixando ausentes as especificidades de cada um Segundo o texto da Base o Ensino Médio deve garantir aos estudantes a compreensão dos fundamentos científicotecnológicos dos processos produtivos BRASIL 2018 p 467 para isso propõem os seguintes pontos como essências à formação da juventude compreender e utilizar os conceitos e teorias que compõem a base do conhecimento científicotecnológico bem como os procedimentos metodológicos e suas lógicas conscientizarse quanto à necessidade de continuar aprendendo e aprimorando seus conhecimentos apropriarse das linguagens científicas e utilizálas na comunicação e na disseminação desses conhecimentos e apropriarse das linguagens das tecnologias digitais e tornarse fluentes em sua utilização Brasil 2018 p 467 História está alocada na grande Área das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas junto portanto de Sociologia Filosofia e Geografia Se no Ensino Fundamental a aquisição da conscientização se dá pelo Eu o Outro e o Nós espera se que no Ensino Médio o aluno aprofunde seus conhecimentos e capacidade de análise e reflexão em diferentes temporalidades São as Competências da área 1 Analisar processos políticos econômicos sociais ambientais e culturais nos âmbitos local regional nacional e mundial em diferentes tempos 2 Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços mediante a compreensão das relações de poder 3 Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes grupos povos e sociedades com a natureza produção distribuição e consumo e seus impactos econômicos e socioambientais 4 Analisar as relações de produção capital e trabalho em diferentes territórios contextos e culturas 5 Identificar e combater as diversas formas de injustiça preconceito e violência adotando princípios éticos democráticos 6 Participar do debate público de forma crítica respeitando diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida com liberdade autonomia consciência crítica e responsabilidade Brasil 2018 p 570 Cada competência possui um grupo de habilidades elencadas UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 47 A leitura do código das habilidades é simples Exemplo EM13CHS101 EM Ensino Médio 13 A habilidade pode ser desenvolvida em qualquer ano do ensino médio do 1 ao 3 ano CHS Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 1 Competência 1 01 Habilidade 01 Ou seja 101 habilidade 01 relacionada à competência 1 Essas são algumas das questões centrais que você precisa saber para trabalhar a BNCC em sala de aula Após essa introdução ao tema sugiro que você vá até o Saiba Mais de nossa sala e leia o texto da base na íntegra aos poucos para desenvolver intimidade com ela REFERÊNCIAS BRASIL Ministério da Educação Base Nacional Comum Curricular Educação é a base Brasília MEC 2018 TREVISAN Rita Entenda por que a BNCC incentiva uma nova forma de ler o mundo In BNCC na prática Tudo que você precisa saber sobre Geografia Nova Escola 2018 SILVA Maria Valnice da SANTOS Jean Mac Cole Tavares A BNCC e as implicações para o currículo da educação básica In Anais do Congresso Nacional da Diversidade do Semiárido Natal 2018 Disponível em httpseditorarealizecombrrevistasconadistrabalhosTRABALHOEV116MD1 SA13ID78608102018110158pdf Acesso em 15032023 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 48 Aula 13Construindo um novo currículo de História Palavraschave democratização trabalho coletivo educação ensino currículo Discutir o que acontece o que pode acontecer e o que deveria acontecer em salas de aula não é o mesmo que conversar sobre o tempo Apple 1994 p 20 O ensino e o currículo de História estão ligados intimamente e é de suma importância que se desenvolvam estudos críticos que busquem uma nova concepção de escola e de currículo valorizando o seu caráter social ético e político A palavra escola hoje em dia está associada à crise na educação arcaísmo e anacronismo de concepções que caracterizam nosso sistema escolar A partir dos anos 1980 devido às mudanças no contexto socioeconômico e político começaram a surgir estudos com uma abordagem crítica das questões educacionais a influência norteamericana na construção de currículos no Brasil perde espaço para os autores europeus que questionavam os modelos tradicionais de avaliação e de currículo O currículo foi inserido em um contexto social e cultural deixando de ser percebido como algo estático absorvido passivamente e desinteressado do conhecimento social Por outro lado podemos constatar que o modelo de nosso sistema escolar ainda possui características de um tipo de organização baseada no controle do tempo e de vigilância poder disciplinar que expressam uma visão centralizadora e hierarquizada Esse tipo de visão dificulta as tentativas de uma nova abordagem do ensino de História No Brasil o ensino de História Universal que seguia o modelo francês foi hegemônico por um longo período Este modelo relegava o ensino de História do Brasil a uma posição secundária Com o advento do Estado Novo o ensino de História do Brasil tornouse uma disciplina autônoma A partir daí durante cinquenta anos o currículo de História consolidouse e adquiriu uma característica eurocêntrica política factual cronológica e dos grandes personagens No entanto muitos professores procuraram romper com essa História oficial buscando uma problematização da História presente através da realidade UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 49 vivida Podemos perceber portanto que apesar da mudança curricular empreendida por uma parcela dos professores que acompanharam as transformações na produção educacional e historiográfica o ensino ligado ao passado estereotipado limitado e preso às divisões tradicionais continua presente na maioria das salas de aula Em relação à historiografia as transformações se deram em relação ao objeto de estudo às suas fontes e a uma nova concepção de tempo As contribuições da Física tornaram a concepção de tempoespaço em um fenômeno indissociável inserido em um universo em constante interrelação e movimento Esse novo conceito de tempo mudou a relação do historiador com o seu objeto e estabeleceu a percepção de diferentes ritmos sensações e concepções de tempo Assim na medida em que todo acontecimento é tão histórico quanto qualquer outro o historiador pôde ter a liberdade de escolher o seu objeto de estudo libertandose de uma História factual voltada para os grandes eventos de uma história de tratados e batalhas Abriuse portanto para o historiador o campo do não factual como a História das Mentalidades e do estudo de uma História vista de baixo para cima Nesse contexto surgiram o modelo de História Temática desvinculada da rigidez da noção de tempo linear Todavia trabalhar a História Temática não pressupõe automaticamente um rompimento com a visão determinista O historiador e o professor deverão trabalhar o tema através de uma visão e uma prática crítica e não apenas narrativa Deverá relacionar o tema com os diferentes tipos de tempo e de espaço valorizando temas como a diversidade cultural e as relações sociais Tomando por base esta História crítica outro modo de renovação curricular ou metodológica está ligada à prática da História local pois esta aproxima o aluno do seu cotidiano da sua família e de seu círculo social contribuindo para a compreensão de si mesmo como sujeito histórico agente do seu fazer e do seu viver As novas orientações para o currículo de ensino de História pretendem promover uma prática pedagógica aberta e dinâmica preocupada principalmente com a questão da cidadania capacitando o aluno a ser um agente transformador da História e não apenas um objeto passivo e receptor de conteúdo UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 50 REFERÊNCIAS APPLE Michael A escola e suas decisões curriculares Disponível em httpsmeduquedecaxiasrjgovbrneadBibliotecaFormaC3A7C3A3o20 ContinuadaArtigos20DiversosinternetA20escola20e20decisC3B5es 20curriculareshtm Acesso em jan 2023 SACRISTAN J Gimeno O currículo uma reflexão sobre a prática Porto Alegre Artmed 2000 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 51 ResumoUnidade III A unidade questionou o ensino do tempo linear como modelo ideal para todas as sociedades Reavaliou os conceitos tradicionais de causa e consequência utilizados na interpretação tradicional da História relacionandoos à concepção dialética Essa unidade analisou também o conceito de fato histórico e criticou a concepção de acidente histórico valorizando a ação dos sujeitos como construtores da História Problematizou estas ações como contraditórias e divergentes resultado de diferentes mentalidades e visões de mundo Finalmente propiciou ao aluno uma nova visão curricular do ensino de História diferenciando o currículo estático e factual do currículo problematizador e dialético UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 52 Aula 14A evolução dos projetos de pesquisa em sala de aula Palavraschave projetos variedade realidade imersão O Projeto é sobretudo uma reforma de ordem metodológica que não se impõem ao professor nem à escola mas ao contrário quando o professor deduz a maneira de conseguir a instrução de seus alunos ele inventa e cria livremente o seu projeto Sáinz 1932 p 7879 A escola e suas práticas educativas são parte de um sistema de concepções e valores culturais que fazem com que determinadas propostas tenham êxito quando entram em conexão com necessidades sociais e educativas Os projetos podem ser considerados como uma prática educativa que teve reconhecimento em diferentes períodos deste século desde que Kilpatrick em 1919 levou à sala de aula algumas contribuições de Dewey De maneira especial aquela em que afirma que o motor do pensamento se desenvolve através da solução de um problema Essa ideia de resolver problemas pode servir de fio condutor entre diferentes concepções de projeto métodos de projeto centros de interesse trabalho por temas pesquisa do meio e outros Essas denominações distinguem as diferenças que se tem na concepção de projeto Em 1931 Fernando Sáinz um professor dos movimentos renovadores espanhóis enunciava em forma de perguntas um componente central do método de projetos Por que não organizar a escola seguindo um plano de tarefas semelhantes ao que se desenvolve fora na casa na rua na sociedade O que se pretende é que o aluno não sinta diferença entre a vida exterior e a vida escolar Por isso os projetos devem estar próximos à vida Esse objetivo se tornará viável a partir da noção de construção do conhecimento que é oposta ao decoreba e ao conhecimento passivo Este princípio coloca os jovens em contato com uma forma mais organizada com a herança na sociedade que vivem aprendendo a participar das experiências de trabalho em sala de aula e da vida cotidiana Este enfoque se opunha ao da escola tradicional e compartimentada pois se regia pela multiplicação de matérias cada uma das quais se apresentando por sua vez sobrecarregada de fragmentos desconexos só aceitos UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 53 baseandose na repetição ou na autoridade Temos assim o esboço de algumas das ideias que sustentam esta primeira visão de projetos O professor deve partir de uma situação problemática Levar adiante o processo de aprendizagem vinculado à realidade do aluno e da escola Oferecer uma alternativa viável para o combate da fragmentação das matérias Para isso Dewey apresenta quatro condições na construção de projetos 1 O interesse do aluno deve estar definido pelo tipo de objetivo e atividade que contém 2 As atividades devem ter algum valor intrínseco O que quer dizer que devem ser excluídas as atividades meramente triviais 3 A terceira condição é que no curso de desenvolvimento de um projeto os problemas devem despertar curiosidades criando demandas de informação e estímulo para continuar aprendendo 4 Por último devese levar em conta que para a execução de um projeto devese contar com uma considerável margem de tempo Segundo Dewey o método de projeto não é uma sucessão de atos desconexos e sim uma atividade ordenada na qual um passo prepara a necessidade do seguinte e na qual cada um deles se acrescenta ao que já se fez e o transcende de um modo cumulativo Alguns problemas foram apontados na execução e conclusão dos projetos tais como os conteúdos eram misturados de maneira caótica e de modo não sistematizado e sem rigor lógico Os projetos de trabalho com ideias chaves A partir da metade dos anos 1960 produziuse um segundo momento de interesse por projetos Eles eram conhecidos como trabalho por temas A pergunta que surgiu naquele momento era que conceitos ensinamos e com que critérios os selecionamos Bruner estabeleceu que o ensino deveria estar UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 54 centrado em facilitar o desenvolvimento de conceitos chave a partir das estruturas da disciplina A noção de conceitos chave era uma metáfora que possibilitava delimitar uma série de eixos conceituais que facilitaria a compreensão e aprendizagem das disciplinas Este interesse levou a outra noção a de estrutura das disciplinas Isto quer dizer que cada matéria trabalha com conceitos específicos Por exemplo a História trabalha com a relação de tempos o que permite organizar e ligar os conteúdos entre si Essa visão de projeto dá ênfase ao estudo interdisciplinar já que várias disciplinas possuem conceitos chave comuns Esses conceitos vinculados a um tema começam a se articular a sequenciar Bruner desenvolveu essas ideias a partir da representação do currículo em espiral ou seja o primeiro encontro que os alunos mantêm com as ideias chave se realiza de uma maneira primitiva Depois durante a escolaridade irá abordála de maneira mais complexa Se o professor facilita o trabalho o aluno pode compreender os estudos de maneira cada vez mais aprofundada O ensino por meio dos temas servirá como mediador para ir além das disciplinas Essa proposta atraiu o interesse de grande parte dos educadores facilitando o seu trabalho no cotidiano da sala de aula Outra vantagem deste aprendizado é que qualquer matéria podia ser ensinada de maneira efetiva em qualquer etapa do desenvolvimento Muitos problemas apareceram tais como a diferença entre as disciplinas o que gerava interpretações inadequadas ou ainda a dificuldade que os professores possuíam em transferir situações de um conhecimento ao outro O fato é que até hoje os professores têm muita dificuldade em trabalhar com ideias chave pois tratase de verificar o que há em comum entre as várias disciplinas Este aspecto comum relacionase a um tema que amarra e organiza todo o conhecimento Como exemplo podemos citar o conceito de trabalho que pode ser abordado sob diferentes aspectos disciplinares constituindo um projeto de estudo O conceito de trabalho em História pode ser abordado a partir de comparações entre os tipos de trabalho desenvolvidos através do tempo pela humanidade Em Ciências podese relacionar o conceito de trabalho entre o meio ambiente e a preservação da natureza Em Matemática este mesmo conceito pode ser desenvolvido através de tabelas gráficos equações problemas relacionados ao UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 55 conceito de trabalho de diferentes épocas E assim sucessivamente com todas as disciplinas O trabalho com conceitos chave dá uma grande margem para que o professor crie e invente materiais métodos e relações com os temas assim como a abordagem e interpretação de diferentes conceitos REFERÊNCIAS DEWEY John Experiência e educação Petrópolis Ed Vozes 2023 HERNÁNDEZ Fernando Transgressão e mudança na educação os projetos de trabalho Porto Alegre Artmed 1998 NIKITIUK Sônia L org Repensando o ensino de História São Paulo Cortez 2001 SACRISTAN J Gimeno O currículo uma reflexão sobre a prática Porto Alegre Artmed 2000 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 56 Aula 15Os projetos de trabalho segundo a concepção construtivista Palavraschave projeto democracia construtivismo autonomia Nos anos 1980 ocorreu uma verdadeira revolução na forma de entender o ensino a aprendizagem e as mudanças nas concepções de conhecimento Neste período a sociedade se transformava por meio da expansão dos mercados financeiros das mudanças no trabalho e do papel do Estado como mantenedor das necessidades dos cidadãos Estas transformações explicam por que os projetos voltam a ser objetos de interesse O conhecimento passou a ser visto como um processo em construção daí a palavra construtivismo Iniciase a partir daí uma reconceituação do papel do aluno do professor e da escola em relação à aprendizagem O aluno anteriormente era visto como um ser passivo o professor era aquele que falava e o aluno o que ouvia Com a mudança no conceito de aprendizagem ou seja o ensino como processo em construção permanente os projetos de ensino foram considerados como os mais indicados a esta realidade Mudanças nos objetivos da aprendizagem e na noção de inteligência a partir dos estudos de Gardner de inteligências múltiplas necessitaram de estratégias de planejamento no processo de aprendizagem dos alunos Tudo isso faz com que o conteúdo das disciplinas necessite ser configurados e apresentados de diferentes formas de linguagem que podem ser verbal escrita gráfica e áudio visual Enfim a aprendizagem tornase um processo complexo mediante o qual o conhecimento se situa e se desenvolve Aprender a pensar criticamente requer dar significado à informação analisando sintetizando planejando ações resolvendo problemas e envolvendose profundamente na tarefa de aprendizagem Quando estamos diante de um fato complexo e contraditório tendemos a decompôlo em elementos a fim de eliminar o contraditório Esse proceder supõe que explicar é reduzir Com o método de projeto de trabalho nos instalamos no centro da contradição nos perguntamos de onde esta contradição procede para onde vai e UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 57 qual a sua finalidade Essas visões estão relacionadas com o novo sentido do saber escolar Atividades relacionadas com os projetos em sala de aula favorecem nos estudantes a A autodireção pois favorece as iniciativas individuais e coletivas na resolução de problemas b A inventiva mediante a utilização criativa de recursos métodos e explicações alternativas c A integração pois favorece a síntese de ideias e a relação entre os vários tipos de conhecimento d A comunicação interpessoal pois contrasta as próprias opiniões com os pontos de vista dos outros possibilitando maior clareza de comunicação Todas estas capacidades podem ser transferidas para problemas reais e contribuir para um melhor conhecimento pessoal e coletivo além de favorecer uma preparação profissional mais flexível e mais completa Características da aprendizagem por projetos Os projetos de trabalho não podem ser vistos como um método ou como modelo fixo pois Não possuem uma sequência única e geral para todos os projetos Inclusive quando duas professoras compartilham de uma mesma ideia de projetos o percurso pode ser diferente pois eles precisam estar relacionados com a realidade de cada ambiente escolar O desenvolvimento de um projeto não é linear e nem previsível O professor também pesquisa e aprende Não pode ser repetido pois as realidades e as pessoas são diferentes Contradiz a ideia de que se deve ensinar do mais fácil ao mais difícil ou do mais próximo ao mais distante Questiona a ideia de que se deve ensinar em primeiro lugar as partes para assim se chegar ao todo UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 58 Esse tipo de aprendizagem constituise numa maneira globalizada de aprender Na cultura contemporânea uma questão fundamental para que o indivíduo possa compreender o mundo em que vive é que saiba acessar analisar selecionar relacionar e interpretar diferentes fontes de informação Supõese que a escola favoreça esta aprendizagem que nunca termina o que nos leva a formas cada vez mais elaboradas e relacionais de conhecimento da realidade e de nós mesmos É um tipo de caminho que vai da simples informação ao conhecimento mais profundo e que se faz por diferentes vias ou diferentes estratégias Neste processo as relações que se estabelecem com a informação realizamse à medida que esta vai sendo apropriada pelo aluno Para se chegar a esses objetivos é necessário que o processo seja interativo estabelecido através da mediação entre o professor e o docente Resumindo há uma série de características que os projetos de trabalho possuem Vão além dos limites curriculares Implicam a realização de atividades práticas Os temas são do interesse e do desenvolvimento do aluno São realizadas experiências e vivências como visitas presença de convidados na sala de aula etc O projeto relacionase com a pesquisa Necessitase de estratégias de coleta ordenação e estudo de diferentes fontes de informação Implicam atividades individuais e coletivas em relação com as diferentes habilidades e conceitos que são aprendidos Os principais passos de um projeto de trabalho em sala de aula Para iniciar um projeto podese partir de um tema ou problema discutido com a classe O professor inicia o processo com a elaboração de pesquisa sobre as fontes de informação O professor negocia com a classe etapas de desenvolvimento do projeto Estabelecemse critérios de ordenação e interpretação das fontes Recolhemse novas dúvidas e perguntas Estabelecemse relações dos problemas antigos com os novos Recapitulase e avaliase o que se aprendeu E por fim UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 59 conectase com um novo tema ou problema O que aparece como significativo nessa sequência é que a aprendizagem se realiza num percurso que nunca é fixo mas serve de fio condutor para a atuação do professor com os alunos Para comparar vamos esclarecer tudo o que não é projeto Um percurso descritivo por um tema Uma narrativa do professor enquanto protagonista das decisões Um percurso expositivo sem problemas e sem fio condutor Uma apresentação linear e sequencial de passos vinculadas a um livro texto O trabalho com projetos é uma maneira de entender o sentido da escolaridade baseado no ensino para compreensão pois os estudantes participam da pesquisa que faz sentido para eles e que desenvolvem habilidades de planejamento da própria aprendizagem Os alunos aprendem a conviver com o outro a entender diferentes pontos de vista e a cooperar no desenvolvimento e na conclusão dos trabalhos A finalidade do ensino é promover nos alunos a compreensão dos problemas que investigam Compreender é ser capaz de ir além da mera informação É buscar explicações levantar hipóteses de soluções para eles REFERÊNCIAS HERNÁNDEZ Fernando Transgressão e mudança na educação os projetos de trabalho Porto Alegre Artmed 1998 NIKITIUK Sônia L org Repensando o ensino de História São Paulo Cortez 2001 SACRISTAN J Gimeno O currículo uma reflexão sobre a prática Porto Alegre Artmed 2000 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 60 Aula 16O portfólio no projeto de trabalho Palavraschave portifólio cotidiano escola troca construção O portfólio é uma modalidade de avaliação que pode ser utilizada nos projetos de trabalho No ensino médio é possível realizar um processo de seleção e ordenação de amostras que reflitam a trajetória da aprendizagem de cada estudante de maneira que além de evidenciar o seu percurso e refletir sobre ele possam contrastálo com as finalidades e as intenções educativas e formativas dos docentes A função do portfólio se apresenta como facilitadora da reconstrução e da reelaboração por parte de cada estudante em relação ao curso ou um período de ensino O portfólio oferece a alunos e professores uma oportunidade de reflexão sobre o progresso dos estudantes em sua compreensão da realidade ao mesmo tempo em que possibilita a introdução de mudanças durante o programa de ensino Além disso permite aos professores uma aproximação com os alunos não de maneira pontual como nas provas mas de maneira complexa e interligada Poderíamos definir o portfólio como uma série de documentos notas pessoais experiências de aula trabalhos representações visuais etc que proporciona evidências do conhecimento que foi construído das estratégias que foram utilizadas Mas um portfólio é algo mais do que a compilação de trabalhos pois ele não implica somente a seleção ordenação e formatação deles Como assinala Gardner no portfólio é possível identificar o modo como os estudantes refletem sobre os objetivos de sua aprendizagem aqueles que foram cumpridos ou não onde foi enfocado de maneira inadequada e em que direções se pode enfocálo para o futuro O portfólio permite que cada aluno construa seu processo de aprendizagem O que caracteriza o portfólio é o processo constante de reflexão sobre as finalidades educativas e as atividades realizadas para a sua concretização Avaliar um portfólio requer que o professor construa um diálogo com a classe onde ao mesmo tempo em que cada um avalia as iniciativas e atividades a nível individual também se avalia o desempenho grupal e as relações que estabelecem com o professor e com o objeto da pesquisa UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 61 O portfólio extrapola os limites da classe porque pode ser mostrado como experiência de projeto para toda a escola Instiga o aluno a resolver problemas procurando soluções viáveis elaborando passos na condução da pesquisa e por fim avaliando todo o processo Recolher uma experiência escolar e tornála pública não é tarefa fácil pois como já dissemos não podemos utilizar práticas de projetos de trabalho como modelos para outras realidades Ao mostrar um portfólio a um número maior de estudantes que dele não participaram podese apontar caminhos para a construção de outros projetos de trabalho Esta mostra de experiências pode se tornar um incentivo para a criatividade na elaboração de novos desafios para a aprendizagem Em outras palavras o portfólio é o registro de todas as atividades desenvolvidas dentro ou fora da escola ambas relacionadas Pode conter fotos documentos textos atividades em grupo e demais atividades realizadas durante o ano ou período de aula REFERÊNCIAS HERNÁNDEZ Fernando Transgressão e mudança na educação os projetos de trabalho Porto Alegre Artmed 1998 NIKITIUK Sônia L org Repensando o ensino de História São Paulo Cortez 2001 SACRISTAN J Gimeno O currículo uma reflexão sobre a prática Porto Alegre Artmed 2000 VEIGA Ilma Passos A Projeto políticopedagógico da escola uma construção possível Campinas Papirus 1997 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Ensino a Distância 62 ResumoUnidade IV Esta unidade orientou o aluno a entender os conceitos e a prática dos projetos de trabalho em sala de aula relacionando os conceitos com a aprendizagem construtivista por meio de ideias chave Discorre sobre as principais características da aprendizagem por projetos relacionandoos à avaliação do processo de aprendizagem a partir da criação de portfólios Orientou a condução das pesquisas como a coleta de informações por meio de entrevistas das sugestões de projeto de pesquisa do professor que pode ser aplicado em sala de aula com o objetivo de fazer o aluno entender as várias noções de tempo Desconstruindo Rótulos Jesus Cristo Além das Ideologias Numa São Paulo onde a diversidade de ideias e crenças é tão densa quanto o tráfego nas avenidas um grupo heterogêneo de ativistas políticos se reúne em uma praça no coração da cidade Entre eles estão membros do Partido Comunista Brasileiro PCB e do Partido Libertários LIBER cada um trazendo consigo suas convicções políticas e suas crenças religiosas O objetivo do encontro Dialogar sobre como suas visões políticas se relacionam com suas interpretações da figura de Jesus Cristo Enquanto o sol se põe sobre os arranhacéus Padre Miguel um membro do PCB conhecido por sua eloquência e compromisso com a justiça social ergue a voz para iniciar o debate Ele compartilha sua visão apaixonada de Jesus como um líder revolucionário cujas ações e ensinamentos estavam impregnados de um profundo compromisso com os oprimidos e marginalizados Quando Jesus disse Bemaventurados os pobres ele estava nos convocando a lutar pela justiça social e pela igualdade proclama o padre seu fervor contagiante ecoando pela praça Do outro lado do grupo Pastor Lucas um defensor ardente das ideias libertárias levantase para expressar sua perspectiva única Com uma mistura de fervor religioso e argumentação política afiada ele argumenta que Jesus pregava valores como a liberdade individual e a responsabilidade pessoal Jesus nos ensinou a amar o próximo como a nós mesmos mas também nos deu o livre arbítrio para tomar nossas próprias decisões declara o pastor seus olhos brilhando com convicção Enquanto eles discutiam uma TV perto do local depois de chiados e barulhos ligou sozinha diretamente em um vídeo cujo apresentador era alguém com a semelhança física do personagem bíblico neotestamentário João Batista Depois de um período de silêncio como se estivesse a encarar os debatedores em alto e firme som ele pronuncia Meu Reino não é deste mundo A frase foi seguida pela referência de seu autor Jesus Cristo João 1836 Depois do assombro inicial ao tentarem ver quem tinha espelhado aquele vídeo na TV os homens perceberam que já não conseguiam mais verificar canal histórico ou qualquer rastro da aparição mesmo depois de muito terem pesquisado por algum vídeo parecido disponível na internet Diante desse intrigante acontecimento eles chegaram a conclusão que aquela intervenção divina viera para lhes alertar quanto ao fato de que Jesus enquanto criador do universo jamais poderia estar restrito ou limitado às ideologias humanas sobretudo àquelas que vieram muito tempo depois de sua vinda à Terra por ser esta pretensão um claro sintoma do que chamamos de anacronismo histórico Com este enredo concluise que o anacronismo pode se tornar um vício perigoso para os raciocínios de quem quer perscrutar a realidade das coisas Um personagem grandioso como Jesus que além de dividir a história humana ocidental ao meio ainda arroga para si a transcendência deve ser analisado minuciosamente dentro de sua própria estrutura de pensamento impacto coerência interna e contexto histórico Desconstruindo Rótulos Jesus Cristo Além das Ideologias Numa São Paulo onde a diversidade de ideias e crenças é tão densa quanto o tráfego nas avenidas um grupo heterogêneo de ativistas políticos se reúne em uma praça no coração da cidade Entre eles estão membros do Partido Comunista Brasileiro PCB e do Partido Libertários LIBER cada um trazendo consigo suas convicções políticas e suas crenças religiosas O objetivo do encontro Dialogar sobre como suas visões políticas se relacionam com suas interpretações da figura de Jesus Cristo Enquanto o sol se põe sobre os arranhacéus Padre Miguel um membro do PCB conhecido por sua eloquência e compromisso com a justiça social ergue a voz para iniciar o debate Ele compartilha sua visão apaixonada de Jesus como um líder revolucionário cujas ações e ensinamentos estavam impregnados de um profundo compromisso com os oprimidos e marginalizados Quando Jesus disse Bem aventurados os pobres ele estava nos convocando a lutar pela justiça social e pela igualdade proclama o padre seu fervor contagiante ecoando pela praça Do outro lado do grupo Pastor Lucas um defensor ardente das ideias libertárias levantase para expressar sua perspectiva única Com uma mistura de fervor religioso e argumentação política afiada ele argumenta que Jesus pregava valores como a liberdade individual e a responsabilidade pessoal Jesus nos ensinou a amar o próximo como a nós mesmos mas também nos deu o livre arbítrio para tomar nossas próprias decisões declara o pastor seus olhos brilhando com convicção Enquanto eles discutiam uma TV perto do local depois de chiados e barulhos ligou sozinha diretamente em um vídeo cujo apresentador era alguém com a semelhança física do personagem bíblico neotestamentário João Batista Depois de um período de silêncio como se estivesse a encarar os debatedores em alto e firme som ele pronuncia Meu Reino não é deste mundo A frase foi seguida pela referência de seu autor Jesus Cristo João 1836 Depois do assombro inicial ao tentarem ver quem tinha espelhado aquele vídeo na TV os homens perceberam que já não conseguiam mais verificar canal histórico ou qualquer rastro da aparição mesmo depois de muito terem pesquisado por algum vídeo parecido disponível na internet Diante desse intrigante acontecimento eles chegaram a conclusão que aquela intervenção divina viera para lhes alertar quanto ao fato de que Jesus enquanto criador do universo jamais poderia estar restrito ou limitado às ideologias humanas sobretudo àquelas que vieram muito tempo depois de sua vinda à Terra por ser esta pretensão um claro sintoma do que chamamos de anacronismo histórico Com este enredo concluise que o anacronismo pode se tornar um vício perigoso para os raciocínios de quem quer perscrutar a realidade das coisas Um personagem grandioso como Jesus que além de dividir a história humana ocidental ao meio ainda arroga para si a transcendência deve ser analisado minuciosamente dentro de sua própria estrutura de pensamento impacto coerência interna e contexto histórico